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Resumo
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura em relação ao tratamento da
má oclusão esquelética de Classe II com a utilização do splint maxilar removível associado à
tração alta, realçando sua influência no crescimento ósseo e seus benefícios. Através do relato
do caso clínico será mostrada a confecção e os efeitos do aparelho de Thurow quando utiliza-
do no período da dentadura mista, para a correção da Classe II esquelética.
* Estagiária da Disciplina de Ortodontia Preventiva da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto FORP - USP.
** Especialista em Radiologia e Mestranda em Odontopediatria na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto - FORP - USP.
*** Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
**** Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Professora Doutora e Responsável pela Disciplina de
Ortodontia Preventiva FORP - USP.
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Uso do aparelho de Thurow no tratamento da má oclusão esquelética de Classe II
posicionado sobre a superfície oclusal e incisal dos compressivas sobre a sutura pterigopalatina, que
dentes superiores. Este aparelho é rígido e pro- são responsáveis pela rotação horária do comple-
porciona controle em massa de todos os dentes xo maxilar9.
em todas as direções, inclusive mésio-distalmente.
A superfície acrílica oclusal desoclui os dentes eli- RELATO DO CASO CLÍNICO
minando as interferências oclusais durante o pe- A paciente P.V.O., leucoderma, gênero femi-
ríodo de aplicação da força, o que não só facilita nino, 8 anos de idade, foi encaminhada para tra-
a movimentação dos dentes superiores, mas tam- tamento na clínica de Ortodontia Preventiva da
bém permite a correção das displasias funcionais Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP,
mandibulares. tendo como queixa principal a protrusão dos inci-
O arco externo deve ser inclinado na direção sivos centrais superiores. No exame geral foi cons-
aproximada ao centro de resistência da maxila, tatado que a saúde da paciente era boa, não havia
minimizando a rotação da mesma e, ao mesmo defeitos congênitos e os hábitos de higiene bucal
tempo, proporcionando uma retenção adequada eram satisfatórios. Ao exame clínico constatou-se
para o splint23. Esta rotação é reduzida quando a assimetria facial, deglutição atípica, respiração bu-
inclinação do arco externo, que deve ser encurta- cal e um perfil facial convexo (Fig. 1). O exame
do no nível do primeiro molar permanente, for de clínico intrabucal mostrou que a paciente estava
preferencialmente 45 graus acima do plano oclu- na dentadura mista com presença de mordida
sal, associado a uma tração alta posterior, sendo a cruzada funcional posterior direita e um overjet
força dirigida para o centro de resistência da ma- acentuado (8mm). A relação molar era de Classe II,
xila, e as forças compressivas direcionadas para as 1ª divisão, subdivisão direita (Fig. 2). A análise da
três suturas maxilares primárias - frontomaxilar, dentadura mista pelo método de Moyers demons-
zigomaticomaxilar, e pterigopalatina. Isto produz trou discrepância ósseo dentária positiva em am-
forças tensionais sobre a sutura frontomaxilar e bos os arcos.
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FIGURA 7 - Aparelho de Thurow instalado.
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FIGURA 8 - Modelos de estudo finais.
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FIGURA 10 - Radiografia cefalométrica final com seu respectivo cefalograma.
tricos inicial e final (Fig. 11) mostrou que houve sentido do crescimento normal.
restrição do crescimento maxilar tanto no sentido A sobreposição parcial da maxila mostrou que
vertical quanto no ântero-posterior, enquanto que esta girou levemente no sentido horário e houve
a mandíbula projetou-se mais para baixo do que um pequeno crescimento na ENA e ENP (Fig.12).
no sentido ântero-posterior, ou seja, no mesmo A sobreposição parcial da mandíbula mostrou um
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crescimento vertical mais acentuado. O cresci- palatino para verificar a movimentação dentária
mento horizontal foi mascarado pela rotação da mostrou que tanto o molar quanto o incisivo fo-
mandíbula no sentido horário (Fig.13). ram distalizados e extruídos (Fig. 14). Esta extru-
A sobreposição parcial da maxila sobre o plano são foi devida ao crescimento vertical da maxila.
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FIGURA 13 - Sobreposição total da mandíbula. FIGURA 14 - Sobreposição parcial da maxila mostrando o movimento dentário
dos molares e dos incisivos molares e dos incisivos.
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Armstrong1 e Watson26 defendem o uso de força no plano sagital, havendo uma melhora no perfil
contínua, assim como Caldwell et al.5, que afir- facial graças ao desenvolvimento anterior da man-
mam que os pacientes sempre utilizam o aparelho díbula, afirmando ser possível o controle da dire-
por tempo menor do que o recomendado. ção de crescimento durante o tratamento. Segun-
Vários tipos de aparelhos extrabucais acopla- do o autor, a localização do centro de resistência
dos a aparelhos removíveis foram propostos na da maxila está situado na área póstero-superior
literatura para corrigir a má oclusão esquelética de da sutura zigomaticomaxilar. O prognóstico da
Classe II. Todos estes aparelhos têm em comum, o reação à aplicação da força é feito de acordo com
intuito de promover um efeito de controle vertical a direção desta em sua relação a este centro de
do crescimento da maxila, o que já provou ser um resistência16.
importante fator no tratamento das discrepâncias O uso do splint maxilar, descrito por Thurow23,
sagitais, como a Classe II. Caldwell et al.5 sugeri- em pacientes jovens com má oclusão severa de
ram o uso do splint maxilar associado à tração alta Classe II tem como vantagem a redução da vulne-
em pacientes com síndrome da face longa devido rabilidade dos incisivos superiores à ocorrência de
ao controle sobre o crescimento vertical exibido fraturas, reduzindo concomitantemente a displa-
sobre a maxila. sia esquelética, portanto diminuindo o período de
Henriques et al.9 descreveram o splint maxilar correção ortodôntica corretiva. Outras vantagens
modificado composto por uma placa de acrílico são a fácil confecção e a sua aplicação clínica, o
que se estendia lateralmente às cúspides vestibu- que o torna um aparelho atrativo em clínicas ou
lares dos dentes posteriores e anteriormente às instituições que têm como preocupação principal
superfícies palatinas dos incisivos. Segundo estes o volume de pacientes, a freqüência de visitas e os
autores o acrílico deveria ser o mais fino possí- fatores econômicos10. No caso apresentado, pôde
vel para evitar qualquer translação dos côndilos ser observado um controle da maxila tanto no
ou aumentar a altura facial inferior. Foi proposto, sentido vertical como ântero-posterior, consegui-
também a colocação de um torno expansor ao ní- do devido à aplicação de tração alta e do direcio-
vel dos segundos molares decíduos para permitir namento da força de forma a passar próxima ao
ajustes laterais dos segmentos posteriores, evitan- centro de resistência da maxila.
do o desenvolvimento da mordida cruzada poste- Normalmente uma segunda fase objetivando
rior. O arco extrabucal apresentava-se embutido um perfeito alinhamento dos dentes e uma finali-
no acrílico na região dos molares decíduos. A fim zação satisfatória do tratamento pode ser necessá-
de aumentar a retenção do aparelho os autores ria, entretanto, esta segunda fase será mais rápida
acrescentaram um arco vestibular de Hawley e e fácil uma vez que as discrepâncias esqueléticas
grampos de Adams. já foram corrigidas ou amenizadas durante a pri-
Yokota et al.30 associaram a tração alta com arco meira fase o que torna este tipo de tratamento
extrabucal a um aparelho funcional removível com bastante atrativo.
o intuito de promover um crescimento anterior da
mandíbula. Bernstein4 utilizou força extrabucal as- CONCLUSÃO
sociada a um aparelho removível maxilar, obtendo Em pacientes em fase de crescimento, a apli-
apenas movimento dentário. cação de força extrabucal na maxila, por meio do
Teuscher22 defende a utilização do aparelho splint maxilar, é um método eficaz para a corre-
ativador combinado à tração alta posterior, onde ção inicial da má relação ântero-posterior da ma-
o arco se encaixa no ativador, afirmando ser possí- xila e mandíbula. O efeito mais expressivo é a
vel aproveitar ao máximo o crescimento condilar correção da má oclusão esquelética de Classe II.
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