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Alinhamento, Nivelamento e Biomecânica de Fechamento de Espaços

da Filosofia de Aparelhos Pré-Ajustados MBT™

No início da década de 1970, Lawrence Andrews realizou uma célebre


pesquisa em uma amostra de 120 modelos com oclusão normal natural, ou seja,
sem nunca terem sido submetidos a nenhuma intervenção ortodôntica. Utilizando
uma metodologia própria, ele verificou em todos os dentes os valores de
angulação, inclinação e as espessuras das coroas. Em seguida, ele tomou as
médias de cada dente, fez algumas alterações e transferiu os valores para o
aparelho Edgwise dando origem ao aparelho Straight-Wire™, que ficou conhecido
como a primeira geração dos aparelhos pré-ajustados.

No início, o aparelho Straight-Wire™ contava com uma prescrição


única. Mas, devido às imperfeições da prescrição e dos próprios ortodontistas da
época – ainda apegados à biomecânica de forças pesadas do aparelho Edgwise –
Andrews se viu obrigado a fazer alterações lançando prescrições distintas para se
ajustarem de acordo com as diferentes más oclusões. Ele chamou o aparelho
Straight-Wire™ de totalmente programado. No entanto, a proposta de se ter
bráquetes totalmente programados fazia com que os profissionais mantivessem
um grande estoque de material em seus consultórios e, além disso, com certa
regularidade eles se viam obrigados a realizar dobras de 3ª ordem nos fios.

Em 1975, Ronald H. Roth, seguindo os conceitos de Andrews de


trabalhar com arco retangular de aço .021” x .025”, na canaleta .022" x .028",
durante a fase de fechamento de espaço e na fase final de tratamento, tentou
solucionar os problemas de controle de estoque resultantes de um sistema que
continha vários tipos de bráquetes. Assim, Roth projetou um sistema de aparelho
que consistia em uma quantidade mínima de bráquetes que, segundo ele, poderia
ser usado em casos com extração e em casos sem extração. Esse sistema ficou
conhecido como a segunda geração de bráquetes pré-ajustados, sendo aceito
com bastante entusiasmo pelos clínicos, alguns dos quais haviam tido muita
dificuldades de entendimento com a grande variedade de bráquetes do aparelho
Straight-Wire™. Após estas modificações propostas por Roth os aparelhos pré-
ajustados caíram no gosto dos ortodontistas e passaram a ser cada vez mais
utilizados.

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Com o intuito de melhorar as prescrições dos aparelhos, simplificar a
biomecânica e reduzir a necessidade de inserir dobras nos arcos, vários outros
pesquisadores propuseram modificações aos aparelhos pré-ajustados. Em 1997,
com o objetivo de superar as inadequações do aparelho Straight-Wire™ original,
McLaughlin, Bennett e Trevisi trabalharam em conjunto no redesenho de um
sistema de bráquetes. Tais autores fizeram uma revisão da pesquisa de Andrews
e, também consideraram resultados de pesquisas provenientes de fontes de
estudos japoneses. Surgia, assim, o processo de desenvolvimento do sistema
MBT, ou seja, a terceira geração dos aparelhos pré-ajustados. Tal sistema
manteve o que havia de melhor nos sistemas originais e, ao mesmo tempo,
introduziu aprimoramentos e alterações nas prescrições de bráquetes a fim de
solucionar os problemas clínicos. Este novo sistema de bráquetes baseou-se em
um equilíbrio de bases científicas e em vinte e cinco anos de experiência clínica
dos autores. Este novo aparelho que estava surgindo apresentava formato
rombóide e prescrição para que se aplicasse a biomecânica de deslize e se
trabalhasse com fio .019" x .025" na canaleta .022" x .028", na fase de fechamento
de espaço.

Biomecânica de deslize

Os autores McLaughlin, Bennett e Trevisi, antes de desenvolverem a


Filosofia MBT™, trabalharam com diversas prescrições de bráquetes. Tal fato
ajudou-os a adequar a prescrição do aparelho MBT™ ao novo conceito de
biomecânica de deslize com forças leves. Basicamente, são as biomecânicas e os
níveis de forças que determinam a elaboração do aparelho ortodôntico, e não o
contrário.

A biomecânica de deslize com forças leves consiste em executar os


movimentos dentários durante as diversas fases do tratamento ortodôntico. As
fases de alinhamento de nivelamento se caracterizam pelos deslizes dos
bráquetes nos fios. Arcos de alinhamento são mais finos e, portanto suportam
maiores deflexão. Arcos de nivelamento são mais calibrosos, porém ainda devem
sofrer deflexão a fim de colocar as canaletas dos bráquetes no mesmo plano.
Nestas duas fases, os dentes só movimentaram se os arcos deflexionarem. Na
fase de biomecânica de fechamento de espaço é diferente, objetivando diminuir o
atrito, os arcos não devem sofrer mais deflexões e, é o arco é quem desliza nas
canaletas dos bráquetes e tubos dos dentes posteriores (Figuras 1 e 2).

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Figura 1. Primeira fase de fechamento de espaço com a utilização de Lace-
back – o bráquetes desliza no arco. Figura 2. Segunda fase de fechamento
de espaço com a utilização de retração – o fio desliza nos bráquetes e
tubos da região posterior.

Durante as execuções das diferentes fases do tratamento ortodôntico,


deve-se ficar atento ao controle de resultantes indesejáveis que aparecem
naturalmente devido às prescrições incorporadas nos bráquetes. Também
contribuem para isso, o excesso de força e o preenchimento em demasia da
canaleta nas fases iniciais do tratamento. As fases de alinhamento, nivelamento e
biomecânica são mais tranquilamente realizadas quando não há pressa em fazer
a troca dos arcos e os níveis de força são mantidos baixos.

Aparelho Autoligado SmartClip™

O aparelho Autoligado SmartClip™, se caracteriza por ser um aparelho


autoligado passivo. Isto significa, que neste sistema não há necessidade de
nenhum tipo de ligadura elástica ou metálica para amarrar o fio no bráquete. O
desing do bráquete do aparelho SmartClip™ é idêntico ao dos bráquetes ligados
gêmeos convencionais, porém com dois clips independentes de níquel-titânio nas
proximais que promovem a retenção dos fios (Figura 3). Este aparelho possue as
principais características dos aparelhos ligados com a vantagem da diminuição
drástica do atrito clássico – que é o atrito provocado pelo sistema de amarração –
e a consequênte falicitação da biomecânica de deslize.

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Figura 3. Bráquetes do aparelho autoligado SmartClip™
com dois clipes de memória nas laterais.
Com este aparelho, o tratamento ortodôntico se necessário pode ser
finalizado utilizando-se os arcos .019”x.025” ou .018”x.025”,o que propicia boa
execução da biomecânica de deslize com bom controle tridimensional dos dentes,
nos segmentos anteriores e posteriores de ambas as arcadas.

Seqüência de arcos

Basicamente, a movimentação ortodôntica é realizada por meio da ação


dos arcos dentro das canaletas dos bráquetes. No caso dos aparelhos ligados
convencionais, os arcos podem ser presos aos bráquetes por meio de ligaduras
metálicas ou elásticas. Nos aparelhos autoligados, a retenção dos fios depende do
sistema de fechamento da canaleta. Citando mais especificamente o aparelho
SmartClip™, o arco ortodôntico é preso aos bráquetes por meio de dois clipes de
níquel-titânio, localizados nas laterais dos bráquetes.

O desing deste aparelho é idêntico ao dos bráquetes ligados gêmeos


convencionais, porém ele dispensa a utilização das ligaduras de amarração.
Portanto, este aparelho associou as principais características dos aparelhos
ligados covencionais com a diminuição drástica do atrito clássico, pois o fio
trabalha livremente dentro das canaletas.

O tramento ortodôntico é dividido em fases distintas e cada arco tem a


sua indicação exata. Abaixo seguem algumas sugestões de sequência de arcos. A
tabela 1 mostra uma sequência de arcos mais indicada para o aparelho ligado
convencional. As sequências de arcos das tabelas 2 e 3, são mais específicas
para o aparelho autoligado.

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Tabela 1

Tabela 2

Tabela 3

Alinhamento e Nivelamento

O alinhamento é a primeira fase do tratamento ortodôntico e tem como


objetivo principal a correção das más posições individuais dos dentes,
restabelecendo os pontos de contato dos dentes e dando início à forma ideal das
arcadas. Caso haja falta de espaços, possíveis extrações deverão ser realizadas
permitindo assim a correção dos apinhamentos.

Dependendo da quantidade de problemas individuais é recomedado se


iniciar esta fase com arcos redondos de baixo calíbre .014” nitinol ou .016” nitinol.
Se o aparelho utilizado for ligado convêncional pode-se utilizar arcos de memória
nitino clássico. Se a opção é pela utilização do aparelho autoligado SmartClip™ a
indicação é de utilização de arcos nitinol superelásticos. Caso haja necessidade
para correção de pequenas rotações, neste aparelho pode-se instalar os arcos

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014” nitinol +.016” nitinol superelásticos, aos mesmo tempo. Com este
procedimento, as canaletas dos bráquetes são preenchidas completamente
promovendo a correção de pequenas rotações remanescentes. Estes dois arcos
devem ser inseridos, inclusive nos tubos.

O nivelamento somente deve ser iniciado quando todos os problemas


individuais forem resolvidos. A remoção do atrito clássico no aparelho autoligado
SmartClip™ é benéfica na maioria das situações. Porém, isto deixa este aparelho
com uma certa deficiência na expressão das inclinações contidas nos bráquetes.
Portanto, neste aparelho recomenda-se instalar arcos retangulares mais cedo, ou
seja, já na fase de alinhamento.

Durante o nivelamento, o profissional deve avaliar o grau de mordida


profunda existente e a curva de Spee. Caso estes problemas estejam presentes,
recomenda-se a utilização de arcos de aço australiano e, sempre que possível, a
inclusão dos segundos molares no tratamento o mais rapidamente possível. Estes
procedimentos são recomendados em ambos os aparelhos.

Os pontos principais a serem observados antes da finalização do


nivelamento são: o restabelecimento dos pontos de contato, bom formato das
arcadas, as correções das angulações, o nivelamento das canaletas, a correção
da sobremordida e a curva de Spee. Quando esses pontos acima mencionados
forem verificados e corrigidos, o tratamento estará apto a passar para a fase de
biomecânica.

Biomecânica de Fechamento de espaço

Com a evolução das técnicas ortodônticas, a biomecânica de deslize


tem demonstrado ser a mais eficiente durante a execução de fechamento de
espaço em casos com ou sem extrações dentárias quando se utilizam aparelhos
pré-ajustados.

Na biomecânica de deslize, a utilização do aparelho autoligado


SmartClip™ tem suas vantagens, já que sua utilização elimina o atrito provocado
pelas amarras das ligaduras metálicas e elásticas, permitindo diminuir os níveis de
força aplicados nas biomecânicas. Para se ter uma ideia, cada ligadura elástica
pode provocar entre 50grs à 150grs de resistência ao deslizamento. Ou seja, nos
aparelhos ligados convencionais a aplicação da força da biomecânica deve
primeiramente quebrar a resistência provocada pela ligadura para em seguida
promover a movimentação dentária. Isto faz com que os níveis de força
necessários sejam mais elevados.

Na fase de biomecânica, recomenda-se a utilização de arcos


retangulares de aço. Nos aparelhos convencionais o tamanho do arco
recomendado é o .019”x.025”. No aparelho SmartClip™, o arco utilizado pode ser

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o .018”x.025”. Seria um contrassenso a utilização de um arco de menor tamanho
em um aparelho que apresenta um pior controle de torque. Porém, como neste
caso os níveis de força são diminuídos não há necessidade de nos preocuparmos
tanto com o controle de torque.

Fechamento de espaço com arcos retangulares de aço e ligadura


metálica associada a módulo de elastique (retração) ou molas de nitinol

Durante a execução da biomecânica de deslize com arcos retangulares


de aço, ganchos de fio de latão com espessura 0,70mm devem ser soldados nos
fios exatamente entre os caninos e os incisivos laterais. Eles também devem ficar
voltados para cervical. O procedimento de solda é bem simples e não deve
ocasionar o destemperamento do fio retangular de aço.

A retração é realizada utilizando fio de ligadura metálica .008” ou


.020mm, associado a módulos de elastique de boa qualidade. O sistema consiste
em instalar primeiramente a ligadura metálica nos molares, depois, colocar o
módulo de alastique na ligadura metálica e, em seguida, conectar o módulo de
alastique no gancho soldado no arco (Figuras 4 e 5). Recomenda-se tencionar o
módulo de elástique 3mm fazer a troca deste sistema no máximo a cada 30 dias.

Figuras 4 e 5. Retrações instaladas nos ganchos soldados nos


arcos no aparelho ligado e autoligado.

Quando o segundo molar estiver participando do aparelho, as retrações


devem ser estendias, incluindo este dente, a fim de aumentar o nível de ativação e
impedir a abertura de possíveis espaços entre o primeiro e o segundo molar.

A biomecânica de fechamento de espaço também pode ser executada


com molas de nitinol de fechamento de espaço. A instalação da mola dá-se da
mesma maneira que a do sistema de retração, ou seja, primeiramente instala-se a
mola no gancho do primeiro molar e, em seguida, ao gancho soldado no arco na
mesial do canino (Figura 6.). As molas de fechamento de espaço propiciam maior
controle da força aplicada, com ação contínua em todo o período de sua
aplicação. Este sistema permite que o controle do tratamento seja feito em um
período maior que 30 dias. Quando o segundo molar estiver incluído na

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biomecânica, recomenda-se conjugar o segundo molar no primeiro molar,
utilizando ligadura metálica.

Figura 6. Retrações sendo realizadas com molas


de nitinol próprias para fechamento de espaços.

Fechamento de espaço com arcos retangulares de nitinol


superelástico

A biomecânica de fechamento de espaço também pode ser realizada


quando estiver sendo utilizados arcos retangulares de memória. A recomendação
de tamanho segue a mesma: .019”x.025” no aparelho convencional ligado e
.018”x.025” no aparelho autoligado SmartClip™. No entanto, algumas
recomendações devem ser observadas antes de realizar este procedimento. Por
serem arcos de memória, estes arcos são mais flexíveis, quando comparados com
arcos de aço do mesmo tamanho. Portanto, ao aplicar-se a biomecânica de
fechamento de espaço estes arcos sofrem uma quantidade de deflexão maior. Isto
significa que em algumas ocasiões pode acontecer um aprofundamento da
mordida na região anterior. Desta forma, a realização desta fase do tratamento
utilizando-se arcos de memória é mais indicada em pacientes que apresentem
pequenas mordidas abertas.

Os arcos memória não permitem soldar os ganchos. Duas alternativas


para instalação da biomecânica seriam a instalação de kobayashis ou a utilização
de bráquetes de caninos com ganchos. Entretanto, recomenda-se a instalação de
um conjugado anterior, com ligadura metálica .20mm, por baixo dos arcos. Tal
procedimento visa impedir abertura de espaço no segmento anterior.

De acordo com a preferência pessoal ou a indicação de cada caso,


para o fechamento dos espaços podem ser utilizados as retrações ou as molas de
nitino próprias para fechamento de espaço.

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Controle de ancoragem

A escolha do sistema de ancoragem a ser utilizado é bastante


importante na execução de um tratamento ortodôntico. A necessidade de
ancoragem deve ser definida antes do início do tratamento, na montagem do
plano de tratamento, pois a compreensão e o respeito às forças de reação da
biomecânica podem ser um diferencial na obtenção do melhor resultado clínico.

A análise de movimentação ortodôntica (VTO) simula em um diagrama


a movimentação dentária ântero-posterior desejada para o tratamento ortodôntico,
auxiliando na montagem do plano de tratamento. Inicialmente, ele é construido
com base em informações consideradas problemas, ou seja, aquelas que
necessitem de espaços para serem solucionadas. Estas informações são
coletadas nos modelos inferiores dos pacientes e, de maneira bastante simples,
são aferidos em cada um dos lados o tamanho do apinhamento, a profundidade
da Curva de Spee, o desvio da linha média inferior e a projeção final da posição
do incisivo inferior. Estes problemas somados definem a quantidade e a direção
dos movimentos dos caninos inferiores. A simulação da movimentação dos
demais dentes é feita com base na movimentação dos caninos inferiores e na
relação inter-arcos inicial.

A necessidade de ancoragem é peculiar a cada caso, sendo definida no


início do tratamento de acordo com as discrepâncias existentes nos arcos
dentários. Quanto maior o apinhamento anterior e a protrusão dentária, maior
deverá ser o controle do movimento mesial dos dentes posteriores. Em um
tratamento ortodôntico, pode ser preciso o uso de três sistemas de ancoragem:
ancoragem recíproca, ancoragem moderada e ancoragem máxima.

A Filosofia MBT™ utiliza a biomecânica de deslize para promover a


movimentação dentária. Nos casos de extração de pré-molares, dividimos o
fechamento dos espaços em duas fases. A primeira fase é executada durante o
alinhamento, onde logo após a extração dos pré-molares inicia-se a retração
individual dos caninos com o uso dos Lacebacks (figura do laceback). Nesta fase,
utilizam-se arcos de memória de baixo calibre e os movimentos distais dos
caninos são interrompidos logo após a dissolução do apinhamento anterior. É
importante lembrarmos que, neste momento, a movimentação é obitida por meio
do deslize dos bráquetes dos caninos nos fios ortodônticos. Após o término do
alinhamento, executa-se a fase de nivelamento e, em seguida, entra-se na fase de
biomecânica, retomando ao fechamento dos espaços. Nesta fase, utilizam-se
arcos de retangulares de aço .019”x.025”, nos aparelhos convencionais ligados,
ou .018”x.025”, no aparelho autoligado SmartClip™, e os sitemas de retração são
usados para promoverem o deslize dos arcos nos bráquetes e nos tubos dos
dentes posteriores, obtendo-se, assim, a movimentação dentária (figura retração).
Os espaços serão fechados em blocos, sendo que, no VTO, o bloco anterior é
representado pelos caninos e o bloco posterior pelos primeiros molares. É

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possível saber com precisão a quantidade e a direção do movimento de cada
bloco e visualizar as unidades de ancoragem necessárias para cada quadrante.

Sistema de Ancoragem Recíproca

O sistema de ancoragem recíproca é recomendado quando a somatória


dos problemas anteriores é igual a metade do espaço deixado pelas extrações dos
pré-molares. Nestas situações, os espaços serão fechados 50% pelo movimento
distal do bloco anterior e 50% pela perda de ancoragem do bloco posterior (Figura
7.). A movimentação mesial dos blocos posteriores pode contribuir para a irrupção
dos terceiros molares. Nos casos onde este sistema é o indicado, recomenda-se
dois protocolos. No primeiro protocolo realizam-se as extrações dos primeiros pré-
molares, sem que haja necessidade do uso de aparelhos auxiliares de ancoragem
ou de extração e, no segundo protocolo extraem-se os segundos pré-molares e
extende-se o aparelho até os segundos molares.

Figura 7. Conceito de angoragem recíproca.

Sistema de Ancoragem Moderada

O sistema de ancoragem moderada é recomendado quando a


somatória dos problemas anteriores é maior que a metade do espaço deixado
pelas extrações dos pré-molares. Nesta situação, a maior parte do espaço deixado
pelas extrações deve ser consumido pelo bloco anterior, para que ocorra o
tratamento das discrepâncias anteriores (Figura 8.). Nestes casos, é comum a
presença de apinhamentos anteriores combinados com protrusão dentária. Afim
de evitar que ocorram movimentos mesiais dos blocos posteriores, recomenda-se
o uso de aparelhos auxiliares de ancoragem. Como em uma primeira fase, neste
sistema, a ancoragem máxima é almejada e os mini-implantes têm indicação
precisa. Geralmente, os mini-implantes devem permanecer instalados desde o
início do tratamento até o final da fase de nivelamento. Após a remoção dos
aparelhos de ancoragem, os espaços serão fechados no sistema de ancoragem
recíproca. Ou seja, o sistema de ancoragem moderada é uma mescla entre os
sistemas de ancoragem máxima e reciproca. As extrações só devem ser indicadas
após a instalação dos mini-implantes.

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Figura 8. Conceito de ancoragem moderada.

Sistema de Ancoragem Máxima

O sistema de ancoragem máxima é recomendado quando a somatória


dos problemas anteriores coresponde a todo o espaço deixado pelas extrações. O
movimento mesial do bloco posterior deve ser completamente evitado, caso
contrário, ao final do fechamento do espaço continuará a existir discrepância
anterior. Nesta situação, 100% dos espaços deverão ser ocupados pela
distalização do bloco anterior (Figura 9.). Quanto maior a necessidade de se
fechar os espaços das extrações dos pré-molares por meio de distalização do
bloco anterior, maior será a preocupação com as unidades de ancoragem.
Geralmente, os casos preocupantes são aqueles que apresentam grandes
quantidades de apinhamentos anteriores combinados às protrusões dentárias. Os
mini-implantes apresentam-se como a alternativa mais viável para evitar a
mesialização do bloco posterior, pois proporcionam ancoragem absoluta. Eles
devem ser instalados no início do tratamento e permanecem até o final da
biomecânica de fechamento dos espaços. As extrações só devem ser indicadas
após a instalação dos mini-implantes.

Figura 9. Conceito de ancoragem máxima.

Atrito

Em ortodontia, o atrito é um fator que ocorre entre a canaleta dos


bráquetes e o arco ortodôntico durante a execução das biomecânicas, sendo o
resultado da não eliminação das angulações, da não eliminação das rotações, da
não eliminação das inclinações, de nivelamentos inacabados e da pressão das

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ligaduras metálicas ou elásticas. Esses fatores dificultam o deslize do bráquete no
fio ortodôntico e vice-versa, exigindo aumento das forças aplicadas nas
biomecânicas, aumentando os efeitos colaterais das biomecânicas e interferindo
no tempo do tratamento ortodôntico. O atrito é influenciado pelo tipo, tamanho e
material de fabricação dos bráquetes e arcos, e ocorre tanto em bráquetes
autoligados quanto em bráquetes convencionais ligados. Para uma execução mais
tranquila, não só da biomecânica de fechamento de espaço, mas de todo o
tratamento, cabe ao ortodontista identificar onde está ocorrendo movimentação e
eliminar as resistências.

Fase final da biomecânica de fechamento de espaço

Após o fechamento dos espaços, recomenda-se manter as retrações


instaladas por mais uma sessão. Este procedimento permite às raízes
expressarem a angulação incorporada no bráquete. Se não for tomado este
cuidado, poderá haver abertura de pequenos espaços na região das extrações.

Em seguida, as retrações deverão ser substituídas pelos conjugados


passivos (lacebacks), que saem dos ganchos soldados nos arcos e se estendem
até o último molar com tubo colado. Os conjugados passivos, além de manterem
os espaços fechados contribuem para o assentamento dos torque e das
angulações contidas nos bráquetes.

Fase final de detalhes e acabamentos

Antes de iniciar o assentamento da oclusão, devem-se verificar vários


aspectos do tratamento ortodôntico. Recomenda-se observar a relação inter-arcos
de molares, pré-molares e caninos; observar a linha média; verificar o paralelismo
das raízes observando a radiografia panorâmica; verificar os objetivos
cefalométricos e de perfil facial através da radiografia cefalométrica, os pontos de
contato, as rotações, a curva de Spee, a curva de Wilson, o trespasse vertical e
horizontal de caninos e incisivos, o alinhamento dos arcos, os objetivos funcionais
da oclusão e examinar a articulação temporomandibular. Após a avaliação desses
itens, pode-se, então, dar início à fase de detalhes a fim de obter-se o
assentamento final da oclusão.

O assentamento final da oclusão deverá ser obtido utilizando arco


retangular .019" x .025" braided instalando-o na arcada dentária superior e
inferior. O arco Braided, através da sua flexibilidade, permite pequenos ajustes
das peças dentárias no sentido vertical melhorando a intercuspidação dos dentes.
No entanto, antes da instalação do arco, o profissional deverá conjugar todos os
dentes com ligadura metálica .008" para impedir que a biomecânica de
assentamento abra espaços em algum setor da arcada dentária, (Figura 10.).
Nesta fase de tratamento, deve-se avaliar a oclusão dos segundos molares e, se
os mesmos apresentarem boa oclusão, não há necessidade de incluí-los nesta
fase do tratamento. Assim, será possível instalar o arco de assentamento .019" x

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.025" Braided, devendo-se pedir ao paciente que use elástico de intercuspidação
3/16” de 4 Oz. continuamente. A avaliação do resultado é clínica e cabe a cada
ortodontista identificar o momento de correto de interromper este procedimento.
Em seguida o paciente é orientado a manter a utilização dos elásticos com uso
noturno por uma sessão.

Figura 10. Arcos Braided superior e inferior, associados a elásticos


de intercuspidação.

Para facilitar a utilização dos elásticos, recomenda-se a colagem de


bráquetes que possuam ganchos. Caso não seja possível, outra opção seria a
instalação de kobayashis.

Contenção ortodôntica

A escolha do aparelho a ser utilizado nas contenções ortodônticas está


relacionada ao conforto e à má oclusão original do paciente. Recomenda-se
primeiramente remover o aparelho fixo superior e, somente após 30 dias, remover
o aparelho fixo inferior. Tal procedimento permite que a ação muscular e a
atividade mastigatória do paciente atuem favoravelmente nos dentes superiores,
ajustando naturalmente a oclusão nesta fase inicial de contenção.

Contenção superior

A contenção da arcada dentária superior é feita utilizando a placa de


Hawley, podendo associar-se, também, a algumas contenções individuais a fim de
impedir que ocorram recidivas individuais tais como giroversões ou diastemas.

A Placa de Hawley deve ser confeccionada tendo o arco vestibular


contínuo até o último dente erupcionado (distal de primeiro ou segundo molares)
(Figura 11.). Devem ser checados os movimentos funcionais e a máxima
intercuspidação a fim de verificar que não há toque dos dentes inferiores na placa.

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Figura 11. Placa de Hawley como contenção superior.

Contenção inferior

Basicamente, na arcada inferior existem dois tipos de contenção a


serem utilizadas, fixas e removíveis. Se durante o tratamento não foi promovida a
expansão da arcada inferior recomenda-se a utilização de contenção fixa. Caso
tenha havido expansão a Placa de Hawley removível, até o último molar
erupcionado, é mais indicada.

Com relação às contenções fixas, o que difere é se o caso foi tratado


com ou sem a extração de pré-molares. Nos casos sem extração, a indicação é da
contenção semi-rígida contínua 3x3 (Figura 12.). Nos casos de extração a
indicação é da contenção semi-rígida contínua 4x4. Em ambos os casos, elas são
confeccionadas com fio .016” twist-flex. Os pacientes devem ser muito bem
orientados com relação a higienização desta região, já que o acumulo de detritos
associado á proximidade desta área com o ducto salivar sublingual contribuem
sobremaneira para o acúmulo de tártaro.

Figura 12. Contenção fixa inferior 3x3.

Figura 13. Contenção fixa inferior 4x4.

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Autores:

André Trevisi Zanelato


Mestre em Ortodontia pela Universidade Metodista de São Paulo
Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da Escola de Odontologia de Cuiabá - MT
Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da FAMOSP de Presidente Prudente – SP
Professor do Curso de Clínico de Ortodontia da Consolidar e Validar, Porto – Portugal
Professor Adjunto de Ortodontia da Universidad del Desarrollo, Concepicon - Chile

Adriano César Trevisi Zanelato


Especialista em Ortodontia pela ABO, secção Campo Grande - MS
Mestre em Ortodontia pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP
Especialista em Radiologia pela USP, Bauru - SP
Coordenador do Curso de Especialização de Ortodontia da Escola de Odontologia de Cuiabá – MT
Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da FAMOSP de Presidente Prudente – SP
Professor do Curso Clínico de Ortodontia da Consolidar e Validar, Porto – Portugal
Professor Adjunto de Ortodontia da Universidad del Desarrollo, Concepicon - Chile

Reginaldo César Trevisi Zanelato


Especialista em Ortodontia pela Sociedade Paulista de Ortodontia - SPO
Mestre em Ortodontia pela Universidade Metodista de São Paulo - UMESP
Coordenador do Curso de Especialização de Ortodontia da FAMOSP, de Presidente Prudente - SP
Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da Escola de Odontologia de Cuiabá - MT
Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da APCD, de Presidente Prudente – SP
Professor do Curso de Clínico de Ortodontia da Consolidar e Validar, Porto – Portugal
Professor Adjunto de Ortodontia da Universidad del Desarrollo, Concepicon - Chile

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