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ORTODONTIA

Capítulo 2

Aplicações Interdisciplinares de
Mini-Implantes Ortodônticos

Rafael Pinelli Henriques


José Fernando Castanha Henriques
Fernanda Pinelli Henriques
Lucelma Vilela Pieri
Willian J. G. Guirro
Bolivar Pimenta Júnior
Gustavo Silva Siécola
Priscila Tirloni

INTRODUÇÃO
A Ortodontia é baseada no diagnóstico para a elaboração do plano de tratamento, assim determinar a melhor mecânica para cada
caso e chegar ao resultado esperado. Durante o planejamento de um tratamento ortodôntico, o ortodontista se depara com
dificuldades e metas a serem alcançadas, sendo a ancoragem ortodôntica a mais importante delas1-4. A ancoragem ortodôntica foi
definida por Vigorito5 como “a resistência que um ou mais elementos dentários oferecem à movimentação, quando submetidos à
aplicação de uma força de pressão ou tração”. A deficiência de ancoragem ocorre quando os dentes de suporte não a fornecem em
quantidade suficiente ou o paciente não é cooperador, o que dificulta a movimentação dentária1,6.
Em casos que requerem mecânicas ortodônticas complexas, com movimentos dentários difíceis de realizar com técnicas
convencionais, o ortodontista deve utilizar procedimentos eficientes que facilitem a terapêutica ortodôntica, diminuam o tempo de
tratamento, reduzam os efeitos colaterais advindos da mecânica e não dependam da colaboração do paciente durante o
tratamento1,3,7-12. Assim, os mini-implantes surgiram da necessidade de resolver a falta de ancoragem adequada.

REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO


A movimentação dentária ocorre no osso alveolar por meio do periodonto, uma vez que este responde às forças aplicadas sobre os
dentes com a reabsorção óssea no lado de pressão e aposição no lado de tensão 1,4,13,14. Essa resposta tecidual gera um movimento
recíproco, o qual nem sempre é bem visto na terapia ortodôntica, pois as forças geradas para viabilizar a movimentação dentária são
ancoradas em outros dentes e as forças aplicadas sobre a unidade de ancoragem vão desencadear as mesmas reações ocorridas na
unidade ativa1,3,15-18.
Os implantes protéticos foram cogitados na Ortodontia como um reforço de ancoragem, já que os mesmos permaneciam estáveis
quando submetidos aos esforços ou stress necessários para a movimentação ortodôntica19-22. Creekmore e Eklund (1983 apud
Marassi et al., 2004) foram os primeiros a publicarem o uso de um implante com formato de parafuso, um dispositivo de vitálio, na
região da espinha nasal anterior, como ancoragem absoluta no tratamento ortodôntico para fazer a intrusão dos incisivos
superiores23.
Em artigo inter-relacionando a Ortodontia e a Implantologia, Roberts et al.20, em 1984, concluíram que os implantes dentários
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permaneciam estáveis quando submetidos aos esforços necessários para a movimentação ortodôntica. Portanto, o implante poderia
ser considerado uma ancoragem absoluta, pois terá efeito somente no local onde está sendo aplicada a força, isto nos movimentos de
retração, distalização, intrusão e outros.
Onze anos depois, em estudos em macacos e cães, Block e Hoffman24, apresentaram um novo dispositivo de ancoragem
denominado “onplant,” que consistia de um disco fino de titânio texturizado coberto por hidroxiapatita de um lado e por uma rosca
interna no lado oposto (2 mm de espessura por 10 mm de diâmetro) inserido subperiostalmente. Concluíram que após
osseointegrado, ele resistia a forças de aproximadamente 350 gramas e poderia ser facilmente removido após o tratamento.
Em 1996, Glatzmaier et al.25 relataram que os implantes reabsorvíveis (polylactide) ancorados no palato, criados exclusivamente
para ancoragem ortodôntica, eram resistentes às forças horizontais (50 g) e de tracionamento (155 g), sendo um método de
ancoragem vantajoso por não requerer uma segunda intervenção para a sua remoção. Porém, os resultados afetavam a eficiência do
sistema in vitro, necessitando de estudos clínicos para avaliar a sua biocompatibilidade.
Kanomi26 em um caso clínico com curva de Spee e trespasse vertical acentuados, após 4 meses utilizando mini-implantes de 1,2 mm
de diâmetro por 6 mm de comprimento entre raízes de incisivo central inferior, intruiu os incisivos inferiores em 6 mm por meio de
ligaduras entre o fio ligado ao braquete e ao mini-implante, não encontrando nenhuma patologia periodontal, nenhuma reabsorção
apical, demonstrando que o mini-implante é pequeno suficiente para áreas entre raízes no osso alveolar. Alem disso, os mini-
implantes do sistema K1 poderiam ser utilizados na intrusão e distalização de dentes anteriores superiores e inferiores, na correção
de sorriso gengival e na fixação intermaxilar pós-cirurgia ortognática. Este sistema possui parafusos de titânio comercialmente
puro, de 4, 6 ou 8 mm de comprimento, com a necessidade de reabertura para a sua remoção, requerendo de 3 a 6 meses para
aplicação de carga. Estes mini-implantes têm vantagens sobre o uso dos convencionais pelo fato de requererem menor espaço para
sua inserção, podendo ser colocados entre as raízes dentárias com procedimentos cirúrgicos simples de colocação e remoção7,26-28.
Em 1998, Wehrbein e Merz17 indicaram o uso de implante palatino para substituir a ancoragem extrabucal na retração ântero-
superior e para a distalização de molares superiores. Este dispositivo tem parafusos com diâmetro de 3,3 mm e comprimento de 4 ou
6 mm, necessitando de um período de osseointegração e remoção com morbidade relativa.
Em virtude das limitações relacionadas com o local de inserção/instalação, o custo elevado e o período de espera para a
osseointegração dos implantes24, surgiram os dispositivos de ancoragem temporária8,29-31, os mini-implantes29-32, considerados como
ancoragem absoluta nos tratamentos ortodônticos1,7,8,23,26,28,31,33-36. Devido ao pequeno tamanho quando comparados aos implantes
convencionais, passaram a ser empregados de forma rotineira na clínica ortodôntica27,37 com desconforto mínimo para o paciente1,6-
8,26,28,31,34-37
. Como uma modalidade de ancoragem adicional, eles praticamente aboliram a cooperação do paciente com o uso de
aparelhos extrabucais ou aparelhos labiais visíveis, que devido à estética e preocupações sociais, nem sempre eram usados
corretamente e geralmente resultava em perda de ancoragem27.

Indicações e contra-indicações de mini-implantes


Os mini-implantes estão indicados para alcançar qualquer movimento dentário sem perda de ancoragem20, sejam eles de intrusões,
tração horizontal, distalizações superiores e inferiores1,7,9,23,24,26,28,37-40, tracionamento de caninos impactados38, na ortodontia lingual41 e
também na distração osteogênica1,26.
As contra-indicações médicas gerais para a utilização de mini-implantes envolvem os distúrbios metabólicos do osso, o tabagismo,
a gestação, o etilismo, a osteoporose, as cardiopatias, a hipertensão, a higiene bucal, as patologias locais e os acidentes
anatômicos1,42. Já as contra-indicações médicas locais são a macroglossia, as inserções baixas dos freios, a presença de infecções, a
higiene bucal deficiente, a queilite, a hiperplasia gengival, a quantidade e a qualidade inadequada do osso, as patologias ósseas, a
doença periodontal e a presença de dentes impactados1,42.
Após a análise das indicações e contra-indicações dos mini-implantes, deve-se fazer a avaliação da inserção e carga a ser utilizada
nesse mecanismo de auxílio de ancoragem.

Locais de inserção ou instalação de mini-implantes


Muitos estudos vêm sendo realizados na busca do local ideal para instalação desses dispositivos2,38,43,44. Os mini-implantes podem
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Mini-Implante Ponta Transmucoso


Cabeça Diâmetro microrrosca Média D.P . Média D.P.
Convencion al 1,5 mm - 11,57 0,5 28,99 0,7
Convencion al 1,5 mm Sim 11,94 1 32,34 0,6
Convencion al 1,8 mm - 23,5 1,8 34,7 1,7
Convencion al 1,8 mm Sim 22,4 1,9 36,8 2,4
Convencion al 2,0 mm - 26,8 0,5 38,9 1,8
Convencion al 2,0 mm Sim 27,26 2,4 40,3 3,6
Tabela I - Tipos de mini-implantes
bracket, 1 slot 1,5 mm Sim 14,4 1,2 30,32 1,9 autoperfurantes usados nos ensaios
bracket, 1 slot 1,8 mm Sim 23,64 1,3 42,2 2,5 mecânicos e valores de resistência à
bracket, 2 slots 1,5 mm Sim 13,62 0,3 35,24 3,7 fratura por torção (em N.cm), de acordo
bracket, 2 slots 1,8 mm Sim 24,8 2,2 44,78 3,1 com Elias, Ruellas e Marins33.

FONTE: Elias, Ruellas e Marins33.

ser utilizados em qualquer área de tecido ósseo, seja ela alveolar ou apical27,36, porém estes só devem ser implantados em áreas de
osso com qualidade adequada e em locais sem perda de dentes há longo tempo, pois nesses casos não haverá osso alveolar
suficiente para a implantação de ancoragem.
Segundo Melsen e Verna44, os locais que oferecem melhores condições para instalar o mini-implante na maxila são: a espinha nasal
anterior, a crista infra-zigomática e o palato. A sutura palatina mediana, qual é formada por osso cortical mais denso, pode ser
considerada o melhor local para instalação desse dispositivo de ancoragem temporária na maxila45. Na mandíbula, os melhores
locais são: na região retromolar, no processo alveolar vestibular e na sínfise44.
A localização do mini-implante em relação ao tecido gengival é um fator importante a ser considerado, podendo ser inserido na
gengiva livre ou na gengiva ceratinizada. Se a inserção do mini-implante é na gengiva ceratinizada, a cabeça do mesmo deve ficar
exposta e o paciente deve ser instruído para uma perfeita higienização1,38,44,46. Por outro lado, a inserção do mini-implante na gengiva
livre, o mini-implante deverá ficar sob a gengiva e um amarrilho deixado para receber a mola, como nos tracionamentos de caninos.
Os maiores índices de insucesso com mini-implantes estão relacionados à inserção dos mesmos em mucosa não-ceratinizada1,2,38.

Resistência às fraturas
Em 2011, Elias, Ruellas e Marins33 realizaram ensaios mecânicos de torção para quantificar a resistência à fratura da ponta e do
perfil transmucoso de mini-implantes (MI) com três diâmetros (1,5, 1,8 e 2,0 mm), diferentes formatos de cabeça (convencional e
tipo bracket), com e sem microrrosca próximo ao perfil transmucoso, Tabela I. Os resultados mostraram que quanto maior o
diâmetro, mais resistente é o mini-implante, pois quanto maior a secção útil da peça, maior será o torque necessário para ruptura do
mini-implante, maior é a sua estabilidade primária47. Quanto à resistência do perfil transmucoso dos MI autoperfurantes, a presença
de microrrosca não influenciou significativamente na resistência mecânica do pescoço dos MI autoperfurantes. Assim, o formato
do mini-implante está diretamente relacionado com sua resistência, concordando com outros achados de Pithon et al.48.

Aplicação de carga
De acordo com vários estudos6-8,26,28,31,34-36, o mini-implante é a forma mais simples e eficaz de se conseguir ancoragem absoluta no
tratamento ortodôntico. As limitações do uso de mini-implantes como auxiliares na ancoragem para a movimentação ortodôntica,
estão relacionadas somente a fatores biomecânicos como excesso de força, como por exemplo, as forças utilizadas em tratamentos
ortopédicos mecânicos1,42.
Segundo Bae et al.49, Kanomi26e Gray et al.50, os mini-implantes submetidos a uma força de 200 a 300g não requerem
osseointegração e podem ser removidos a qualquer momento. Outros autores8,44,49,51-53 recomendam a aplicação de carga imediata
sobre o mini-implante, devido ao sucesso mecânico da interdigitação entre este e o osso alveolar, desde que esta força não exceda
200 gramas. Cheng et al2, Ohmae et al.54, Park, Lee e Kwon37 indicam aplicação de força variando entre 100 e 200 gramas. Para
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Locais diâm etro comprimento inclinação


Maxila e man díbula re gião anteri or 1,3 a 1,6 De 5 a 6 mm De 60 a 90 graus

Maxila vestibular p osterio r 1,3 a 1,6 De 6 a 8 mm De 30 a 60 graus


Maxila palatina poste rior 1,5 a 1,8 De 7 a 9 mm De 30 a 60 graus Tabela II - Tabela preconizada por
Sutura palatin a medi ana 1,6 a 2,0 De 5 a 6 mm De 90 a 11 0 graus Marassi, 200538 para os diâmetros,
comprimentos e inclinações de
Mandíbula vestibular p osterior 1,3 a 1,6 De 5 a 7 mm De 30 a 90 graus inserção de mini-implantes nos
diferentes locais da maxila e da
Área e dê ntula o u retr o-molar 1,6 a 2,0 De 7 a 9 mm 0 gra u mandíbula.

FONTE: Marassi et a, 200538

Melsen e Verna44, o correto seria a utilização de forças leves de 50 gramas para intrusão; e a linha de ação de força sempre passando
pelo mini-implante, em diferentes direções. De acordo com esses autores, um estudo exato das forças que serão utilizadas deve ser
feito antes de decidir pelo mini-implante. Segundo Favero, Brollo e Bressan55, quando a força é aplicada prematuramente, um
tecido fibroso é formado entre o mini-implante e o osso, sendo este fenômeno considerado favorável, uma vez que facilita a
remoção dos mesmos após a finalização da movimentação ortodôntica e não compromete a estabilidade do mini-implante durante o
tratamento.
Miyawaki et al.46, em 2003, examinando a taxa de sucesso de três tipos de mini-implantes de titânio e mini-placas, e também os
fatores associados à estabilidade dos mini-implantes usados na região posterior da mandíbula como ancoragem ortodôntica,
concluíram que os mini-implantes com diâmetro maior que 1 mm são mais seguros para esse tipo de ancoragem e podem receber
carga imediata, desde que a força aplicada seja menor do que 200 gramas. Para Soares e Tortamano42, os principais fatores para a
estabilidade do mini-implante são a espessura e a densidade do osso cortical, que variam de acordo com as regiões anatômicas.
Também, o vetor de crescimento, pois pacientes com tendência de crescimento vertical possuem o osso cortical vestibular mais
fino. Portanto, para pacientes braquicefálicos ou mesocefálicos, a escolha deverá recair em mini-implantes menos calibrosos. Em
contrapartida, em pacientes dolicocefálicos que, frequentemente, apresentam o osso cortical mais fino, deve-se optar por mini-
implantes mais calibrosos42. Em 2005, Marassi38 apresentou uma tabela (Tabela II) com os diâmetros, os comprimentos e as
inclinações de inserções de mini-implantes nos diversos locais da maxila e da mandíbula. Em relação à inserção de mini-implantes,
os colocados em 90º apresentam a mais baixa e homogênea distribuição do stress seguidos pelos inseridos em 30, 70 e 45 graus.
Quanto à aplicação da força, a maior alteração na distribuição do stress ocorre em mini-implantes com inserção em 90 graus,
enquanto com 70 graus tem a menor quantidade de stress em relação aos inseridos com 30 e 45 graus56.
Para Marassi12, existe uma variação de força dependendo do movimento desejado. As forças por ele citadas são apenas uma
referência inicial, tendo que ser ajustadas de acordo com a resposta individual do paciente. Para movimentos de retração da bateria
anterior, o autor recomenda o uso de uma força de aproximadamente 250 gramas; para o movimento de intrusão dos molares
superiores, uma força de aproximadamente 200 gramas; para a distalização de molares superiores, aproximadamente 400 gramas; e
para a intrusão de incisivos, uma força aproximada de 120 gramas.

Instalação de mini-implante
A avaliação do caso para a instalação de mini-implantes deve ser realizada por meio dos modelos de gesso; e dos guias cirúrgico e
radiográfico (GCR) do paciente. O uso dos GCR é utilizado para orientação tanto do raio-X como dos procedimentos cirúrgicos e
garantindo uma direção coincidente para o raio-X e para a inserção da broca, diminuindo o risco de dano às estruturas anatômicas1,57.
Na avaliação das radiografias panorâmica, periapical, ou interproximal, serão obtidos dados importantes como o posicionamento
das raízes dentárias, os acidentes anatômicos e a qualidade do osso, que serão primordiais para definir o comprimento e o diâmetro
do mini-implante a ser utilizado. A localização da inserção do mini-implante é uma das maiores dificuldades de sua instalação, pois
na maioria das vezes é próximo às raízes dentárias. Portanto, para evitar iatrogenias, uma avaliação criteriosa dos modelos, do GCR
e das radiografias do paciente deve ser feita antes do procedimento cirúrgico.
13

Figura 1 - Anestesia local terminal infiltrativa. Figura 2 - A osteotomia.

Figura 3 - Inserção do mini-implante com o


auxílio de contra-ângulo e fresa helicoidal
(A) e com o auxílio de contra-ângulo e
chave bidigital (B).

No procedimento cirúrgico, o preparo da sala cirúrgica é realizado com a desinfecção do ambiente com digluconato de clorexidina
2%. Depois, é feita a paramentação do operador, a anti-sepsia extra e intrabucal com digluconato de clorexidina 2% e a instalação de
campos estéreis1.
Em seguida, é aplicada uma anestesia local terminal infiltrativa com cloridrato de lidocaína 2% 1:100:000, não sendo necessário o
bloqueio regional (Figura 1).
Caso seja necessário o acesso cirúrgico, esse é realizado com lâmina nº 15 montada em cabo de bisturi nº 3. Com o auxílio de um
instrumento cirúrgico é realizado o descolamento mucoperiostal da área com interesse ao tecido ósseo. Atualmente, no
procedimento cirúrgico, descarta-se a necessidade da realização de um acesso mucoperiostal extenso. Assim, a aosteotomia é
realizada preferencialmente sobre a mucosa ceratinizada diminuindo a morbidade do paciente e simplificando o procedimento
clínico para o profissional. A osteotomia, a qual não deve ser extensa, deverá ser realizada com fresa helicoidal, compatível com o
sistema de mini-implantes, de diâmetro variando entre 1,0 mm a 1,8 mm, montada em contra-ângulo com redução de 1:16, numa
unidade elétrica e micro-motor com velocidade de perfuração de 300rpm, com abundante irrigação com solução salina (Figura 2)
para romper a cortical óssea1.
A inserção do mini-implante é realizada com contra-ângulo com redução de 1:16, em velocidade reduzida de 10 a 20rpm, com
torque de, no máximo, 10Ncm, conforme protocolo do fabricante (Figura 3 A), ou com chave bidigital (Figura 3B), até o limite de
inserção do mini-implante. Em casos onde o mini-implante, no momento cirúrgico, não obtiver retenção mecânica, pode-se lançar
mão de um mini-implante de emergência, que apresenta diâmetro maior, proporcionando uma melhor retenção e estabilidade
primária, necessária para um reparo ósseo que propiciará uma ancoragem estável para a mecânica ortodôntica1.
Somente nos casos onde há exposição óssea, a “sutura” é realizada. Utiliza-se uma agulha semilunar de ponta triangular com fio de
14

Figura 4 - Vistas extrabucais. Frontal (A), Perfil (B) e frontal


sorrindo (C).

Figura 5 - Vistas
intrabucais iniciais.
Lateral direita (A), frontal
(B) e lateral esquerda (C).

Figura 7.
Telerradiografia em
norma lateral inicial.
Figura 6 - Radiografia panorâmica inicial.

nylon 5.0 para fazer os pontos do tipo simples interrompidos1.


Prescreve-se o uso de colutório de gluconato de clorexidina 0,12% por sete dias. Também, a ingestão de analgésicos, duas horas
após a instalação do mini-implante. Para instalações com retalho ou em casos de complicações durante o procedimento cirúrgico,
pode ser considerado o uso de antiinflamatório e antibiótico38. Também, dar cera de proteção ortodôntica ao paciente para que com
o seu uso evite o desconforto e a laceração na mucosa bucal1.

CASO CLÍNICO
Diagnóstico
A paciente D. I. W., de 25 anos e 2 meses de idade, leucoderma, procurou tratamento ortodôntico com a queixa de espaços
remanescentes, decorrentes de extrações realizadas em tratamento anterior. Na avaliação facial, a paciente apresentava selamento
labial passivo e perfil facial suavemente convexo. Em norma frontal, não apresentava assimetria significativa (Figura 4). Na
análise clínica intrabucal, ela possuía uma relação molar e de caninos de ¾ de Classe II direita e esquerda e as linhas médias
dentárias, superior e inferior, coincidentes (Figura 5). Na avaliação radiográfica da radiografia panorâmica foi detectada a
inclinação dos dentes posteriores para o espaço das extrações (Figura 6). Na avaliação da telerradiografia obtida em norma lateral,
havia uma boa relação entre as bases ósseas, com os incisivos superiores e inferiores retruídos e inclinados para palatino e lingual,
respectivamente, (Figura 7).
15

Figura 8 - Vistas
intrabucais final do
alinhamento e nivelamento:
lateral direita (A), frontal
(B), lateral esquerda (C) e
oclusal inferior (D).

Figura 9 - Vistas intrabucais laterais com


ômega loop: lateral direita (A) e lateral
esquerda (B).

Figura 10 - Local de inserção dos Figura 11 - Radiografia panorâmica demonstrando Figura 12 - Vista lateral direita
mini-implantes. a inclinação das coroas dos molares para a aproximada do braço auxiliar para a
mesial durante a mesialização dos mesmos. verticalização dos molares.

Progresso do tratamento
Foi colocado aparelho fixo completo nos arcos superior e inferior e realizado o alinhamento e o nivelamento dos dentes nos arcos
com curva de Spee acentuada no arco superior e curva reversa no inferior nos fios de aço inoxidável; o uso de elástico 1/8”cruzado
do primeiro molar superior direito para o primeiro molar inferior direito. No final da fase de alinhamento e nivelamento, Figura 8.
A, B, C, D, foi adicionado um ômega loop na mesial dos primeiros molares inferiores, Figura 9, para manter o comprimento do arco
durante a mesialização dos dentes 35 e 45. Para a mesialização dos molares, optou-se por um dispositivo de ancoragem transitória
(mini-implantes) em um local que facilitasse a movimentação, fornecesse uma boa retenção mecânica e possibilitasse a aplicação
de carga imediata, Figura 10. Durante a mesialização dos molares inferiores, observou-se a inclinação das coroas destes dentes para
mesial, Figura. 11. Portanto, foi desenvolvido um braço de força construído com fio 0,9 mm de aço inoxidável e soldado ao tubo
auxiliar, Figura 12, para que a força fosse aplicada próxima ao centro de resistência para a verticalização dos molares. A ativação
16

Figura 13 - Vistas intrabucais após mesialização da bateria póstero-inferior: lateral direita (A), frontal (B) e lateral esquerda (C).

Figura 14 - Vistas intrabucais: lateral direita (A), frontal (B) e lateral esquerda (C).

para mesialização da bateria póstero-inferior foi realizada a cada 21 dias, com a utilização de elástico corrente, do mini-implante ao
braço de força, Figura 13. Após o fechamento dos espaços, iniciou-se a coordenação dos arcos superior e inferior, Figura 14, para
finalização do tratamento.

Remoção do mini-implante
A remoção do mini-implante é um procedimento simples, que deve ser realizado com anestesia terminal infiltrativa e com o auxílio
de uma chave bidigital com torque reverso imprimindo manualmente uma pequena força. Assim, o parafuso é removido.

CONCLUSÃO
Os mini-implantes, os quais constituem um sistema de ancoragem transitória ou temporária, devem fazer parte do planejamento, ou
inseridos durante o tratamento ortodôntico, principalmente nos casos onde os efeitos colaterais provenientes dos sistemas
convencionais de ancoragem dificultam a movimentação dentária necessária para a finalização do tratamento ortodôntico, isto
associada à falta de colaboração do paciente. Assim, com os mini-implantes, o ortodontista consegue obter resultados previsíveis e
eficientes, reduzindo o tempo de tratamento.

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