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Capa: VT Designer
Diagramação e Revisão: Silmara Izidoro
AVISO: LEIAM!
Silmara Izidoro.
PRÓLOGO
O Primeiro do Último
NÃOOOOOOOOOO!
Em cinco, no escritório.
De frente para a janela, aliso a barba enquanto
admiro o extenso terreno que encobre tanto uma infinita
quantidade de riquezas minerais, quanto de inimigos do
Black Panthers que descansam em nosso fodido
cemitério particular — por terem tentado nos destruir
—, além de esconder entre jardins, lagos e construções
modernas, a essência do motoclube.
Um verdadeiro inferno.
A porta do escritório se abre, mas não me atrevo a
olhar para trás.
Fecho os olhos, incorporando a energia vibrante
que emana de cada um dos meus irmãos e me deleito
com o ódio, a sede de vingança e o desejo de levar o
sofrimento aqueles que desafiam a porra da lei.
A nossa fodida lei.
Todos vão pagar por cada minuto desperdiçado
que afasta um pouco mais o general de armas da sua
cadela; por cada gota de sangue derramada do irmão
da contadora; e por cada abuso sofrido pelo irmão da
minha filha mexicana.
E eles vão pagar, porra!
— Snake — Damon murmura meu nome e toca
meu ombro. — Estamos aqui, pode começar.
Inspiro profundamente, solto o ar devagar e giro o
corpo.
Meu olhar percorre o escritório mais cheio do que
de costume, embebedando-me com a falta de
compaixão e o excesso de adrenalina, que consome e
transborda da alma dos irmãos e das cadelas.
Foda pra caralho!
— Os filhos da puta estão implorando por uma
guerra contra o Black Panthers e nós daremos o que
eles tanto querem, mas ao contrário do que estamos
acostumados a fazer, desde a década de cinquenta,
depois de matar os fodidos e nos certificar de que não
sobrou nenhum, vamos cavar no nosso cemitério para
encher as covas apenas com seus corpos. — Minha
voz é baixa, fria e sem qualquer emoção, numa maldita
discrepância do que corre em minhas veias. Sorrio de
lado, cínico pra caralho. — Porque suas malditas
cabeças serão penduradas em nossos portões as
vistas de todos como troféus de luxo, para que todos
saibam o que acontece com aqueles que desafiam o
MC Black Panthers.
Vejo a mudança imediata no olhar de cada um
deste grupo de insanos amaldiçoados, que
compartilham o prazer de causar dor da pior espécie,
sem qualquer vestígio de compaixão ou
arrependimento.
Bando de psicopatas da porra.
O meu bando.
A minha fodida família.
Os irmãos que escolhi, por quem eu morreria
E sei que, fodidamente, morreriam por mim.
DAMON
Uma metamorfose do caralho, só pode ser.
Não tem outra explicação para o que aconteceu de
ontem para hoje, quer dizer, de algumas poucas horas atrás
para este exato momento.
Claro que havia uma tensão pairando sobre nossas
cabeças por causa do Dumb e de toda sua merda que
envolve a Pink, a cadela que o idiota deixou escapar por
entre os dedos com a nossa ínfima parcela contribuinte,
ainda que sem qualquer pretensão.
A falha foi geral e isso é um fato incontestável, porém
em cima do palco fazemos questão de culpar única e
exclusivamente o diretor mais irritante, arrogante e sem
nenhuma fodida noção, mas nos bastidores confidenciamos
nosso erro e temos plena consciência de que a cadela
merecia mais de todos nós.
Entretanto, ninguém sabia, ou ao menos imaginava
que por trás da casca grossa, empoderada, independente e
insensível que Pink exibe com tanto orgulho, habita uma
cadela fodidamente insegura, que se recusa a aceitar
pedidos de desculpas ou explicações que divirjam dos fatos.
E como eu já disse, é fato que todos nós falhamos,
miserável e vergonhosamente com a cadela que se propôs
a ajudar a todos, todas as vezes que precisamos da sua
ajuda, sem cobrar nada, nem exigir algo em troca. Tudo que
ela queria era ser aceita, se sentir parte do grupo.
E Pink fodidamente era, no entanto, não tivemos uma
maldita chance de corrigir, tampouco de explicar.
Um terço da merda está em admitir que até mesmo
Claws, o diretor mais resistente a aceitar acréscimos ao
grupo, já considera Pink como uma fodida irmã. Cadela
inteligente pra caralho, foi o que disse o executor sobre a
líder do MC feminino da Califórnia.
O segundo terço da merda consiste em ter que lidar
com as nossas próprias cadelas, por causa da falta de...
sensibilidade, com a cadela de cabelo cor-de-rosa. No meu
caso, especificamente, cada vez que o nome da Pink é
mencionado, seja por qualquer motivo, recebo um olhar de
pura decepção da minha ruiva.
E caralho se essa merda não acaba comigo.
Porra, eu preferia que ela me xingasse, esbravejasse
e me deixasse de castigo por um fodido mês sem sexo. Ok,
uma semana estava de bom tamanho, mas eu não me
importaria de passar trinta fodidos dias batendo punheta, se
ela parasse de me olhar dessa maneira, como se o meu
erro fosse maior justamente por eu ser o presidente.
O último terço da merda se encarrega das
consequências que a nossa maldita falha — embora
involuntária — trouxe para o clube, especialmente para o
general de armas, e como uma fodida consequência da
consequência, agora para Nate, um dos irmãos da
contadora.
Uma grande e fodida merda.
Todos nós vimos que o Dumb estava de quatro pela
líder do MC Shadow Princesses, porra!
Até um cego poderia ver, porque não tinha como não
ver o óbvio. No entanto, o único que deveria ter visto não
viu, ou se recusou a ver, não sei, e não faço a mínima ideia.
O problema é que a cadela traz uma bagagem
peculiar, tão pesada quanto um container e sigilosa como
um maldito cofre de segurança máxima.
Pink não tem nada de comum ou normal, começando
pela cor do cabelo e a maneira de encarar o sexo.
Se eu tivesse que arriscar um palpite, apostaria que
um anjo caído do mais profundo quintos dos infernos,
trancafiou a alma de um homem no corpo da cadela apenas
por diversão para ensinar algumas lições primorosas a um
certo diretor insolente, chato pra caralho, que passou a
maior parte da sua vida zombando dos irmãos que, em
algum momento de distração, se transformaram em vira-
latas adestrados e desistiram de se envergonhar por terem
suas bolas amarradas com barbantes inquebráveis a uma
única boceta, além de desejarem seu felizes para sempre
até que a morte os separem.
Não satisfeitos depois de tanto tempo de castração,
quando deveriam ter enjoado de foder as mesmas cadelas
e cederem a todos os tipos de chantagem para não serem
privados de um prazer que aumenta a cada ano, ao invés
de diminuir, ainda tentam trapacear das formas mais
bizarras para fazer uma meia dúzia de rebentos, só para
garantir que elas nunca, em hipótese alguma, não sonhem,
anseiem ou cogitem deixá-los.
Fodidos paus mandados, com orgulho do caralho.
Posso ter sido o primeiro a cair, mas graças a Deus
não fui o único e espero ansiosamente, pela vez do meu
irmão caçula, e assistir o idiota rastejar para reconquistar a
cadela tinhosa de cabelo colorido.
Dumb vai estrelar o maior bolão da história do clube,
porra!
Snake começa a falar e, no mesmo instante, vejo a
mudança em cada um dos irmãos, mas é o que sinto que
me dá a certeza que preciso para não vacilar, temer ou
duvidar de qualquer merda que está por vir.
O sequestro de Nate declarou a guerra e estamos indo
para matar todos os filhos da puta que pegaram o nosso
garoto, pois foi exatamente para fazer isso que fomos
treinados desde que nascemos.
E fazemos bem pra caralho.
GHOST
A postura relaxada mantém no privado o maremoto
podre que inunda minha alma febril; longe dos olhares
treinados, inalcançável para os curiosos e inexistente para
os desatentos.
Respira, porra!
A frequência cardíaca acelerada, hoje não sinaliza a
chegada de mais uma fodida crise. Não. Nem fodendo. As
batidas descompassadas do meu coração que desafiam a
capacidade de contenção da caixa torácica é fruto da
ansiedade, da expectativa e da maldita inanição.
Tenho fome e sede.
De dor.
Mas não uma indisposição qualquer ou um incômodo
muscular. A necessidade que beira à irracionalidade é da
mais intensa, profunda e horrenda dor. VIS.CE.RAL.
Fodidamente doentia e perversa.
Aquela que agoniza antes de pulverizar; inflama e
infecciona antes de amputar; rasga, contamina, enche de
pus e passa por todas as fases da putefração, ainda em
vida, consciente e de olhos abertos, enquanto minha vítima
acompanha passo a passo o início do seu fim.
É esse tipo de dor que meu corpo anseia em causar, e
ele vai, muito em breve. Logo que eu der de cara com os
fodidos covardes que surraram Nate, irmão mais novo da
Lyn, o garoto que sonha em ser pastor e, assim como eu,
conheceu o inferno ainda criança, mas diferente de mim que
fiz do demônio meu confidente, Nate se afastou de tudo que
representava o mal numa tentativa ilusória de purificar sua
alma.
Uma ilusão do caralho!
Estou esfomeado como há tempos não ficava e as
primeiras palavras do VP abrem ainda mais o meu apetite,
mas é a expressão de merda do general de armas que
aumenta a minha sede.
Dumb está se esforçando e sei que para ele manter o
controle na frente de todos é tão essencial quanto
convencer a Pink de que a paralisação que o incapacitou de
atirar na Lindsay, naquela fatídica noite no estacionamento
do clube, teve tudo a ver com os métodos de treinamento
do seu fodido avô e nada a ver com ela, ou qualquer merda
de indecisão sobre qual das duas cadelas era mais
importante para ele.
O problema é que o sequestro do garoto que se
dedica a pregar a palavra de Deus na cidade de Houston,
atrasou nossa saída do clube, pois precisamos esperar a
chegada dos irmãos do MC Blackout, que estão vindo para
nos ajudar e de Roober, que também está a caminho de
Green Hill, junto com a Stela, tia do Claws.
E isso aumenta a vantagem de Pink sobre ele para
mais de quarenta e oito horas, o que para uma cadela
normal não seria uma grande diferença, mas para a líder do
MC Shadow Princesses, oferece uma margem fodidamente
favorável para que ela se coloque em um risco ainda maior,
no intuito de resgatar Benício Xavier e todos os meninos
que estão sendo mantidos como malditos prisioneiros na
região de Gold Cowntry.
O general de armas conhece a Pink melhor do que eu,
mas eu conheço o general de armas melhor do que
ninguém, e sei que a essa altura ele já está calculando
mentalmente quantos fodidos vai ter de mandar para o
inferno até poder arrastar o traseiro da sua cadela de volta
para o clube, mais precisamente para o seu quarto.
Snake anuncia as mudanças na estratégia que, aliás,
foram muitas.
Damon, Claws, Oásis e Bund seguem para Dallas. O
presidente e o executor do Blackout irão como sombras do
presidente e do executor do Black Panthers, em uma fodida
escolta armada.
Meu destino mudou e estou indo para Houston, na
companhia de Ryan e Zach, sob os protestos de Lyn. A
contadora não se conforma de ficar de fora do resgate do
seu irmão. No entanto, o olhar enviesado do VP delega
apenas uma ordem para mim:
Encontre o garoto e faça os filhos da puta sofrerem.
Assinto, satisfeito, e retribuo o mesmo olhar para Lyn,
garantindo que os fodidos que pegaram seu irmão terão o
fim que merecem. A cadela agradece, silenciosamente,
ainda que não esteja plenamente feliz.
Alívio me toma quando Snake determina que Megan
fique no clube para ajudar a cuidar de Angus e Angel, junto
com o VP, Stela, Roober e mais seis irmãos do MC
Blackout, enquanto Lyn vai com Madison para Los Angeles
e Dumb corre até a fazenda com Trap.
Snake pensou em tudo e agora que cada um sabe
exatamente o que tem de fazer, só nos resta esperar a
chegada dos irmãos à cidade para cair na estrada e fazer o
que fazemos de melhor: causar dor a todos que tentam
foder o MC Black Panthers, e dessa vez o sofrimento
promete ser maior já que cabeças vão rolar, literalmente.
E como todo maldito esfomeado, vou poder matar a
minha fome.
Respira, porra!
CAPÍTULO 12
LYN
Espero os novatos e as cadelas saírem do
escritório, impaciente. Quando a porta se fecha, paro à
frente do VP e pergunto olhando no fundo dos seus
olhos:
— Que merda é essa?
Snake não se intimida, cruza os braços e sustenta
o meu olhar.
— Desembucha de uma vez.
— Por que não quer que eu vá para Houston?
— Você sabe porquê.
— Não sei.
— Sabe, mas se quiser a verdade eu posso te
ajudar.
— Sou uma cadela crescida, não me poupe —
desafio, ciente de que os diretores estão atentos ao
nosso embate de merda.
— O Nate é seu irmão.
— Isso é um problema?
— Esse é o maldito problema.
— Eu posso dar conta daqueles fodidos.
— Ninguém disse que você não pode.
— Então por que não me deixa ir no lugar do
Ghost?
— Porque o Nate é seu irmão, e você vai seguir
sua intuição e não a sua cabeça quando encontrar o
garoto.
Não retruco, pois ele tem razão, no entanto, não é
o suficiente para me convencer.
— Nós temos a localização e os meios de invadir
aquela espelunca para resgatar o Nate em menos de
cinco minutos.
— É por isso que você é a contadora e eu sou o
estrategista — Snake fala em tom de chacota, me
enfurecendo ainda mais.
— Não quero ir para Los Angeles.
— Não é uma opção.
— Ele é meu irmão!
— E os fodidos armaram uma cilada, caralho! —
esbraveja o VP. — Será que você ainda não percebeu,
porra?
Estreito os olhos, em dúvida. Snake alisa a barba
e bufa, irritado.
— O que você não está me contando? —
pergunto e pego a troca de olhar, relâmpago, entre ele
e o executor.
Claws sabe de alguma coisa que eu não sei e pelo
visto sou a única no escuro. Odeio essa merda de
superproteção dos idiotas que insistem em me tratar
como uma maldita cadela sensível.
— Nós temos a localização, Lyn, mas o Nate não
está lá — responde o VP, com apreensão.
— Onde ele está?
— Ainda não sabemos.
— O quê? — Minha voz ganha vários tons mais
altos.
— Eles pegaram o Nate na igreja, montaram o
cenário, tiraram a foto e enviaram para você, mas
saíram logo depois.
— Como você sabe?
— Porque é o meu trabalho saber.
— Mas não tem certeza.
— Tenho.
— Como pode ter certeza, Snake?
— Porque é exatamente isso que eu faria se
quisesse pegar você.
— Eles não querem me pegar!
— Querem, Lyn.
— Não — Nego com a cabeça. — Eles querem a
Pink.
Snake segura meus braços com força, me
impedindo de me mover.
— Presta atenção, cadela. Domenico quer o
Claws e sequestrou o Nate para atrair você até
Houston. A Pink é apenas uma distração. A contadora
do Black Panthers é o verdadeiro alvo daquele italiano
de merda.
Viro a cabeça na direção do executor, meu
homem, meu amor. Meus olhos cravam nos dele,
prateados e tão frios quanto o inverno polar,
impenetráveis, como no dia em que ele matou Elliot
Walker, pai da Emma.
— É verdade? — pergunto num fio de voz. Snake
me solta e se afasta, dando espaço para Claws que se
aproxima e toma o seu lugar.
— Provavelmente — ele responde, indiferente, e
enfia as mãos nos bolsos.
— Por que não me contou?
— Porque não quero que se preocupe comigo,
nem com o Nate.
— Desde quando você sabia?
— Snake me falou quando desconfiou que era
uma armadilha.
— E vocês dois chegaram juntos a essa
conclusão... — balbucio, fodidamente decepcionada. —
Eu não posso ir para Houston porque vocês acham que
é uma armação do Domenico para me usar como
moeda de troca, mas você pode ir para Dallas tomar
um café com o desgraçado que quer te convencer a
aceitar um maldito cargo naquela merda de máfia —
desdenho, me controlando para não chorar. — O que
mais você está escondendo de mim?
Claws me fita, fodidamente sério.
Expressão inabalada e postura relaxada, mas há
um brilho nebuloso em seu olhar, diferente e
desconfiado. Seu silêncio me desconcerta, é como se
ele pudesse me enxergar por dentro, saber como me
sinto e ler meus pensamentos.
Meu coração acelera com essa possibilidade, pois
não quero que ele enxergue, saiba ou leia nada. Não
agora, quando estamos no meio de uma guerra e
nossas vidas estão em perigo.
O executor encurta a nossa distância, abaixa a
cabeça e sussurra em meu ouvido:
— Essa pergunta é minha, não sua. O que você
está escondendo de mim, criança?
Fecho os olhos, engolindo em seco quando a
primeira lágrima escorre pelo meu rosto e a verdade
chega como uma bofetada na minha cara, tão violenta
quanto o arrependimento por não ter contado para ele.
Não sei há quanto tempo Claws descobriu, mas
no instante que ele se afasta e seus olhos voltam a fitar
os meus, sou desmascarada na frente dos diretores,
sem qualquer opção além de admitir a triste verdade:
Eu sou uma fodida mentirosa.
CLAWS
1 semana. T
2 semanas. M
3 meses. A
4 meses. R
1 mês. D
1 ano. L
15 dias. S
6 meses. C
2 meses. G
Nunca. G
CAPÍTULO 16
PINK
Depois de gozar na minha boca, Kyler decide abrir
o jogo e me conta como descobriu onde estou
hospedada e quem são as pessoas que querem a
minha cabeça.
É verdade, eu sei.
Contudo, por agora quero esquecer e aproveitar a
vida, porque este é o outro lado da moeda, mas igualmente
verdadeiro. Eu perdi mais do que merecia perder e não
morri, pelo menos não completamente, ainda que me sinta
morta de vez em quando.
Visto uma calça preta, top preto frente única e calço os
sapatos pretos de salto alto da mesma cor.
Escovo os fios curtos, retoco a maquiagem, guardo o
celular no bolso traseiro e dou a última olhada no espelho,
antes de trancar a porta do quarto e caminhar sem pressa
pelo extenso corredor em direção ao bar.
A música alta é a primeira distração, seguida pelo vai
e vem de desconhecidos que se conectam em busca de
prazer; o cheiro de cigarro, sexo e depressão.
Mas esta noite o que realmente me distrai é a
carência, tanto física quanto emocional, única característica
que encontro em todas as pessoas que transitam pela
boate. Todas, sem exceção.
Desde o vira-lata careca de olhos azuis, servindo
bebidas atrás do balcão, até a aniversariante que
comemora seus trinta anos euforicamente, como se
soubesse que não vai festejar o trigésimo primeiro.
Sento-me no último banco, do lado oposto de onde
Kyler está atendendo para que ele não me veja.
Peço uma cerveja ao barman e por quase uma hora
me distraio, observando em silêncio e aprendendo um
pouco mais sobre o ser humano.
Estou bem, aliás, me sinto muito bem com a
companhia da solidão, até que três palavras sussurradas
em meu ouvido alteram o curso da noite.
E depois de muito tempo dizendo tudo que penso,
sobre tudo e para todos, finalmente, não sei o que dizer.
CAPÍTULO 20
DUMB
A cadela está nua e disponível. Meu pau está duro
e implora por alívio, mas por incrível que pareça minha
cabeça de cima está muito mais determinada a não
compartilhar a ideia, irônica, por sinal, de compartilhar
uma boceta com Trap.
O novato percebe a hesitação quando recuo e lhe
dou espaço para comer a cadela contra a parede.
Eu me encosto em um dos armários de ferro e
assisto a foda, excitado, mas sem a menor vontade de
participar.
Trap investe com força, arrancando gemidos e
xingamentos da cadela, que é arremessada para frente
cada vez que o pau dele desaparece no meio da sua
bunda.
A cena é quente e boa pra caralho de se olhar,
principalmente quando o novato empurra a cadela para
baixo, me dando ampla visão dele entrando e saindo
furiosamente da boceta que esteve na sua boca
minutos antes.
— Que delícia, porra! — Trap rosna, dá um tapa
na bunda branca e me encara. — Tem certeza que não
quer? — Sua voz é rouca e as palavras reverberam
trêmulas.
— Estou bem — afirmo.
— Apertada pra caralho, irmão, parece bocetinha
virgem.
Eu me aproximo deles e me abaixo ao lado da
cadela, que apoia uma mão na parede e a outra no
chão. Aposto que ela é frequentadora assídua da
academia, pois está praticamente dobrada ao meio e
não demonstra nenhum sinal de incômodo na posição.
— Tá gostoso, putinha? — murmuro, acariciando
sua bochecha; rosada e suada, com as costas da mão.
A cadela revira os olhos, mordendo o lábio inferior.
— Deus, sim!
— Seu namorado não vai gostar de saber que
você está dando a boceta para o meu amigo. —
Deslizo os dedos do seu pescoço até o ombro.
— Eu... não tenho... namorado... — ela fala entre
gemidos.
Trap entende o que estou fazendo e enfia um
dedo no cu da cadela, diminuindo o ritmo das
estocadas.
— Não? E aquele idiota que estava lá fora?
— Kyler é meu patrão, o dono da boate.
Levanto a cabeça e aceno para o novato,
indicando para deitar a cadela em cima da mesa.
O novato segura seus ombros e a puxa para cima.
Com delicadeza, ele sai de dentro dela, gira seu corpo
e a beija com furor, antes de erguê-la e deitá-la de
costas sobre a madeira, com as pernas apoiadas em
seus ombros, e volta a comer sua boceta.
Contorno a mesa, me posicionando ao lado da
cabeça da cadela, de frente para ele. Ela me vê e joga
os braços para trás, tentando abrir minha calça.
— Deixa eu te chupar.
Sorrio de lado e seguro seu pulso direito.
— Hoje é tudo para você — falo, trazendo sua
mão à minha boca e chupo seus dedos, enquanto
acaricio o mamilo rosado com a outra. A cadela
espreme os olhos e grita, se contorcendo de prazer.
Abaixo a cabeça, mordisco sua orelha e murmuro:
— O Kyler sabe que você gosta de ser fodida
como uma putinha?
A cadela arregala os olhos. Atento, Trap acelera
os movimentos.
— Aquele idiota sabe que a funcionária dele
parece uma menininha inocente, mas quer foder como
uma vadia? — O novato grunhe, metendo mais forte,
excitado pelas palavras sujas.
— Quantas vezes seu patrão enfiou o pau dele
nessa bocetinha apertada e gulosa?
Seus peitos balançam conforme Trap soca com
desespero. Ele está louco para gozar, mas se contem
para prolongar meu tempo com a cadela.
— Me dá seu pau... — ela ronrona. — Põe na
minha boca.
— Quer mamar, safada?
— Quero... por favor...
— Então responde, porra! — Belisco o mamilo,
girando o biquinho entre meus dedos asperamente, ao
mesmo tempo que chupo seu pescoço.
— O Kyler já te comeu?
— Já...
— Quantas vezes?
— Muitas... ah, Deus... ah Deus...
— Por que ele estava com raiva?
— Não sei...
Trap cospe na palma da mão e usa o cuspe para
lubrificar o cuzinho. O novato entra com tudo, se
enterrando até o talo no buraco enrugado e arranca um
grito estridente da cadela.
— Você sabe e se não me contar, meu amigo e eu
vamos embora. Quer que ele pare de te comer? Quer
que eu pare de te tocar?
— Não! — Seu grito é atormentado. — Eu preciso
de mais — ela choraminga, agarrando a barra da minha
camiseta.
— Nós vamos dar tudo que você quiser, se me
disser por que o Kyler estava com raiva.
Trap segura os tornozelos dela e abre suas
pernas, deixando a cadela arreganhada. Os olhos
cravados no seu pau, hipnotizados pelos movimentos,
enquanto ele desliza para frente e para trás,
fodidamente lento, o que facilita a resposta.
— Ele... quis transar comigo hoje e eu não quis...
— Eu também ficaria com raiva se você negasse a
boceta pra mim — falo baixo, descendo minha mão por
sua barriga. — Por que você negou?
A cadela amaldiçoa quando meus dedos
alcançam seu clitóris.
— Porque o Kyler levou aquela mulher para o
quarto dele e ele nunca leva ninguém para lá... oh,
Senhor... — Ela se contorce no instante que abocanho
um seio e roço a ponta do polegar no grelinho inchado
ao mesmo tempo que Trap passa a foder seu rabo com
mais força.
— Ele não leva ninguém para o quarto dele?
— Só eu — ela cicia, fracamente.
Não tenho tempo sequer de abrir a boca, pois a
cadela finca as unhas no meu jeans e se agarra a ele
fazendo uma careta.
— Vou gozar! Deus, vou gozar... — anuncia,
completamente alucinada. — Ah... Ahhhhhh...
— Porra! Porra! — Trap brada, jogando a cabeça
para trás.
Olhos apertados, testa franzida, mandíbula
cerrada e os ombros encolhidos. Se eu não soubesse
que ele está gozando, podia jurar que está tendo um
AVC e sua expressão deformada é devido a dor.
Fico de pé, ajeito meu pau dentro da calça, a
pistola no cós, e falo:
— Preciso de uma cerveja.
O novato respira com dificuldade e abre os olhos.
— Preciso de mais bocetas como essa. — Ele
abaixa as pernas da morena, que está desfalecida em
cima da mesa. — E preciso foder essa cadela de novo.
Eu te encontro no bar.
— Ok. — Sigo até a porta.
— Dumb. — A voz de Trap às minhas costas
impede que eu saia. Olho por sobre o ombro,
encontrando os dele, estreitos. — É ela.
Assinto com um maneio de cabeça, confirmando
que sei do que o novato está falando, ou melhor, de
quem ele está falando.
Pink é a mulher que o tal de Kyler levou para o
seu quarto, foi por causa dela que a cadela morena
negou sua boceta para ele e a deu de mão beijada para
nós.
Sem sequer imaginarmos, Trap e eu oferecemos a
oportunidade perfeita para a cadela rejeitada se vingar
do idiota que a dispensou para ficar com outra, em
contrapartida, ela não faz ideia de quem somos, nem
de como viemos parar aqui, ou quem estamos
procurando, e o pior, porque nos aproximamos dela.
De qualquer forma, todas as partes saíram
lucrando e o fodido aeroporto de mosquito teve o que
merecia. Uma maldita vingança em dose dupla, ainda
que por tabela, já que o único que comeu a boceta da
morena foi o novato.
Este é o timing perfeito para notificar a todos que,
graças a Pink, tive a péssima experiência de gozar com
o pau de outro.
Foda-se! Nem isso diminui a minha satisfação de
saber que o cabeça de ovo vai sentir na pele o que eu
senti, quando descobri que ele provou o que deveria
ser apenas meu para provar.
No corredor, olho ao redor, estranhando a
ausência de câmeras de segurança neste andar, e
estranho ainda mais quando desço as escadas e
constato que a falta de monitoramento na boate é geral.
Com certeza o idiota pegou tanto sol na sua meia-
lua brilhante, que seus neurônios tiveram insolação e
sofreram danos gravíssimos.
Não existe nenhuma desculpa para a sua
displicência que, aliás, só poderia ser justificada com a
sua arrogância, ainda mais se tratando de um lugar
apropriado para que as pessoas extravasem, percam o
maldito controle das suas emoções e
consequentemente das suas ações.
O que atesta que o capacete de astronauta tende
muito mais a ser burro do que pretensioso,
independente se ele tem, ou não, sua bunda protegida
por algum pau no cu metido a criminoso.
Chego à pista de dança e encosto um ombro na
parede, de frente para o único corredor vigiado por um
segurança armado.
Estou tentado a descobrir o que escorregador de
percevejo esconde de tão importante por detrás
daquela porta para necessitar de escolta armada.
Claro que não precisa ter um QI acima de 150
para deduzir o óbvio, mesmo assim, decido esperar
Trap terminar seu trabalho na boceta da cadela para
irmos juntos.
Peço uma cerveja ao garçom, dispenso alguns
convites para dançar e me concentro no herdeiro de
ameba que anda de um lado para o outro atendendo os
clientes no bar, como um maldito barman da era
nazista.
Se Kyler está trabalhando é bem provável que
Pink esteja por aqui, e o reconhecimento acelera as
batidas do meu coração pela expectativa de
reencontrar minha cadela.
Quero acreditar que Pink não conhecia o espelho
côncavo e o encontro dos dois foi uma merda de
coincidência, no entanto, as palavras do novato sobre
as atitudes e motivações da cadela confundem ainda
mais o que já estava fodidamente confuso.
Se Trap estiver certo e Pink fez uma escala em
Tucson de propósito, é bem provável que ela conheça
o Kinderovo de outros carnavais e veio atrás dele em
busca de ajuda.
Maldição!
Ela pode ter escolhido essa merda de cidade
justamente para se consolar no pau do autódromo de
piolho.
Bebo minha cerveja, verificando cada ação do
projeto de Hitler, mas minha visão é bloqueada por um
grupo de cadelas bêbadas que comemora o aniversário
de uma delas na pista de dança.
Elas mal se equilibram em suas pernas enquanto
cantam gritos de guerra juvenis, como uma revoada de
andorinhas drogadas voando sem rumo em pleno
inverno ártico.
No entanto, depois de vários minutos de histeria,
tropeços e alguns tombos épicos, o DJ decide diminuir
o ritmo da balada e espanta o grupo de volta para as
mesas, aumentando meu campo de visão.
Por um segundo, penso que estou sonhando
quando vejo uma cadela sentada no canto oposto do
bar tomando uma cerveja, sozinha.
Ela não tem cabelo comprido, tampouco cor-de-
rosa, mas eu reconheceria Pink até mesmo se seu
corpo estivesse pintado de verde com bolas roxas.
Minha garganta está seca, meus olhos estão
aprisionados na figura elegante perdida em seu próprio
mundo, alheia a tudo ao seu redor.
Para qualquer homem, uma cadela comum como
tantas outras que estão na boate esta noite.
Para mim, a única que consegue despertar os
sentimentos mais complexos de um cara que sempre
exigiu a simplicidade.
Atravesso a multidão endoidecida sem ver
ninguém, toda minha fodida atenção está nela, é dela e
para ela. Contorno duas pilastras me espreitando por
trás de Pink, temendo que a cadela saia correndo se
antecipar minha chegada.
A menos de dois passos de alcançá-la, estou mais
nervoso do que jamais estive, mais ansioso que um
adolescente na véspera do vestibular e fodidamente
apavorado.
Minha frequência cardíaca é quase como o ensaio
do baterista de uma banda de heavy metal; brusca,
descompassada, totalmente fora de controle.
Não cheguei a pensar no que falaria quando a
encontrasse, talvez por não acreditar que esse
reencontro realmente iria acontecer, muito menos em
uma casa de swing no Arizona, e agora nada parece
bom o bastante para convencê-la da veracidade de
tudo que estou sentindo.
Então decido me contaminar com a sua mais
nobre qualidade, e torço para que seus ouvidos
perspicazes permitam que Pink sinta em minhas
palavras o que estou prestes a dizer.
Puxo uma longa respiração, avanço dois passos e
sussurro a porra da verdade:
— Senti sua falta.
CAPÍTULO 21
PINK
Os pelos do meu corpo arrepiam, nenhum é
poupado da descarga elétrica que as três palavras
provocam quando são sussurradas em meu ouvido, e a
sensação é tão entorpecente quanto a de uma
overdose.
Fecho os olhos, minhas mãos suam sobre o
balcão e meu coração descompassa, atormentado pelo
que elas representam: saudade.
Então me dou conta de quem é o homem atrás de
mim, e a realidade vem com tudo, trazendo suas garras
afiadas que chacoalham minha cabeça como se
estivesse preparando um milk-shake de miolos
salpicado de recordações recentes e decepcionantes,
mas, na verdade, ela está apenas me fazendo um
imenso favor, firmando o nó em torno do meu coração e
impedindo que ele saia voando por aí, com asas
emprestadas.
Viro a cerveja, bebendo tudo num gole só, antes
de girar o corpo e ficar de frente para ele que, aliás,
pode ser considerado meu segundo erro da noite, já
que o primeiro foi ter saído do quarto.
Seus olhos negros estão nos meus, lindos e
brilhantes, como sempre foram. Encaro Dumb. Dumb
me encara. Espero seu olhar descer pelo meu corpo
para falar alguma besteira, mas sou surpreendida, pois
o ponto mais afastado que ele chega é até a minha
boca e, ainda assim, somente por poucos segundos.
Logo estão de volta aos meus.
Mais negros, lindos e brilhantes. Mais intensos
também. A música soa ao fundo, pessoas circulam ao
nosso redor, luzes coloridas piscam sobre nossas
cabeças e a cacofonia comum em lugares como este
entope nossos tímpanos, mas é como se não houvesse
nada além de nós dois e nossos olhares cravados um
no outro, tornando o silêncio perturbador.
Tudo que escuto são as batidas do meu coração.
O tum tum tum é alto, violento e frenético. Eu sinto a
pressão, pressinto a aceleração e confesso que não
gosto de nada disso.
Nenhum desses sinais corresponde a doação e
todos estão diretamente relacionados a entrega.
Bom, não vou me entregar. Não dessa vez. Na
verdade, nunca mais.
— Perdido? — pergunto, com voz firme ocultando
o coração mole.
— Procurando — Dumb responde.
— Espero que encontre.
— Acabei de encontrar.
Não resisto e sorrio. Meu sorriso convoca o dele e
o general de armas também sorri, mas não é apenas
isso que ele faz. Dumb afasta minhas pernas e se
encaixa entre elas.
O gesto é tão simples que me deixa sem reação.
As mãos dele descansam no balcão atrás de mim,
ao lado do meu corpo, e a proximidade permite que eu
inale sua respiração, seu cheiro de couro, segredos e
promessa de sexo bruto.
— Está longe de casa — murmuro, mantendo
meus olhos nos seus, por mais que eles estejam
agoniados para dar um passeio por seu corpo.
— Estava. Não estou mais.
Para nós não passa de um jogo essa coisa de
ignorar o tesão e priorizar o resto, como se tivéssemos
que provar que podemos ser como a grande maioria,
fingindo que sentimos igual e valorizamos os
sentimentos muito mais do que o prazer; que Dumb
não é o vira-lata superficial e eu não sou a mulher
insensível que todos pensam que somos.
Uma merda de jogo.
— Se mudou para Tucson?
Dumb faz que não com a cabeça e se inclina para
frente. Seus lábios macios escorregam pela minha
bochecha e se acomodam em meu ouvido.
— Vim buscar o que me pertence.
Estremeço quando calafrios perpassam meu
corpo como flechas em chamas, ardentes, incendiando
cada terminação nervosa. E queimam.
— Se fosse seu, você não teria perdido, em
primeiro lugar — fecho os olhos, ofegante.
— Culpado, mas em minha defesa, nem eu sabia
que era meu.
— Não existem culpados. Estudos comprovam
que a culpa distorce a verdade — rebato, coibindo o
calor escaldante que a sua declaração espalha pelo
meu peito e transforma em fornalha o meio das minhas
coxas.
— Foi o medo que me paralisou — ele sussurra,
desanimado.
— Conheço uma ótima psicóloga.
— Preciso de uma chance, não de terapia.
Agora estou irritada, pois para tudo há um limite e
Dumb acaba de ultrapassar o dele. Espalmo as mãos
em seu peito e o empurro para trás.
— Sai de cima de mim — rosno, meus dentes
cerrados.
— Nem estou encostando em você — ele fala,
achando graça da minha braveza.
— Claro que está.
— Onde?
Dumb não se move um centímetro sequer.
Olho para baixo à procura da resposta e me
frustro ao ver que ele tem razão. O vira-lata está em
cima de mim e, ao mesmo tempo, não está.
É deprimente admitir que sua presença
esmagadora me deu a falsa impressão do seu toque.
— No meio das minhas pernas.
— Não estou encostando em você e mesmo se
estivesse, você não pode me mandar sair daqui.
— Claro que posso.
— Não pode.
— As pernas são minhas.
Sinto sua expiração pesada no meu pescoço,
quando ele fala:
— Aqui é o meu lugar, Pink. Fodidamente meu, e
você sabe disso.
Minha garganta se fecha, ressecando minha boca.
Por cima da sua camiseta, meus dedos escorregam e
caem sobre os meus joelhos, numa clara demonstração
de cansaço extremo.
O pico da exaustão.
A boca é a única parte do seu corpo a me tocar,
efetivamente. Seus braços mal resvalam os meus e
suas pernas pouco roçam o interior das minhas.
Porém, a simples percepção do contato instiga e
atiça, cínica e despretensiosamente, tipo a amostra
grátis de um produto caro que traz informações básicas
e o aviso:
Disponível apenas para degustação.
Dumb é, sem dúvida, uma oferta tentadora e
sedutoramente atrativa para quem nunca teve o prazer
de provar.
Para mim, a experiência foi a mais saborosa de
todas, mas o aprendizado me fez degustar o gosto
mais amargo de todos.
Um que eu não pretendo saborear nunca mais.
DUMB
— Para trás — ela ordena, ofegante.
Afasto meu tronco o suficiente para olhar em seus
olhos.
— Não acredita em mim? — pergunto sem rodeios.
— No que você quer que eu acredite?
— Em tudo.
— Não tem nada para acreditar.
— Sinto sua falta — admito, deslizando os dedos pelo
seu cabelo.
— Também sinto a sua e isso é normal, porque
passamos um tempo juntos. — Pink encolhe os ombros.
— Eu quero ficar com você.
— Estamos em uma casa de swing, podemos pegar
um dos quartos.
Descanso minha testa na dela, fecho os olhos e roço
meu nariz no seu. A cadela sabe o quanto eu gosto de sexo
e vai fazer de tudo para me afastar usando minha própria
fraqueza.
No entanto, ela está se esquecendo que é o seu ponto
fraco também.
— Não estou falando de uma noite.
— Eles alugam por hora.
— Sarcasmo não combina com você.
— Depende do ponto de vista.
— Eu só tenho um.
— Que não é o meu.
— É o único que importa.
— Não para mim.
— Existem outras maneiras de fingir que é uma cadela
alienada. A mentira também não é uma boa combinação.
— Talvez eu goste de ser sarcástica e mentirosa.
— Aposto que está cansada pra caralho.
— Cansada do quê?
— De fingir.
— Errou de novo, garanhão.
Deposito um beijo demorado em sua testa e sussurro
em seu ouvido, antes de encará-la:
— É perda de tempo mentir para alguém que fingiu a
vida inteira.
— Se você conseguiu, posso conseguir também.
— Não. — Beijo sua bochecha. — Essa missão é
impossível para uma cadela como você.
— Por que eu sou mulher? — Ela apoia as mãos no
meu peito e tenta me empurrar de novo, mas fracassa outra
vez, pois não me movo.
Beijo a outra bochecha, apreciando cada reação do
seu corpo. Pink respira com dificuldade, está toda arrepiada
e as palavras tremulam em sua boca.
Gotículas de suor brilham em sua testa e umedecem
as palmas das suas mãos. A cadela jamais vai admitir o
motivo pelo qual está tão relutante em acreditar em mim e
me dar uma chance de provar que cometi um erro e quero
corrigi-lo, mas pretendo deixá-la saber que ela não precisa
se esforçar tanto para isso, por uma única e óbvia razão:
Eu fodidamente sei.
— Não. — Meus lábios tocam os seus, fechados e
secos.
— Quer que eu implore? — Pink teima em me distrair
com a sua ironia, mas estou mais interessado na forma com
que o seu peito desce e sobe rápido, suas pupilas dilatam,
seus mamilos endurecem sob a blusa preta e sua língua
desliza entre os lábios.
— Não quero que implore, é só pedir. — Beijo o canto
da sua boca.
— Responde minha pergunta.
Beijo o outro canto.
— Desculpa, mas estou muito distraído com uma
cadela que só demonstra interesse pelo meu corpo — falo e
acabo sorrindo quando Pink dá um tapa no meu braço. —
Que pergunta, porra?
— Por que você disse que fingir é uma missão
impossível para mim?
Seguro seu rosto entre as duas mãos e beijo um olho
de cada vez.
— Porque... — começo a responder, mas sou
interrompido pelo filho da puta que está do outro lado do
balcão.
— O que está fazendo aqui, Pink?
Ela salta no banco, assustada com a abordagem hostil
do idiota.
O ódio por ele aumenta em grandes proporções e
minha vontade é de estourar a cabeça do desgraçado, no
entanto, contenho meu desejo sombrio por saber que se
fizer o que quero, estarei arruinando qualquer mísera
chance que ainda tenho de reivindicar a cadela.
— Mas que merda! — Pink olha por sobre o ombro, e
nem preciso ver sua expressão para saber que está furiosa.
— Qual é o seu problema?
Ela é ignorada, pois a atenção de Kyler está toda
concentra em mim.
Sustento seu olhar colérico com um maldito sorriso de
comedor de merda nos lábios, deslizando o nariz pelo
cabelo dela, zombeteiro pra caralho, deixando claro para o
tobogã de piolho que Pink é a única que pode decidir,
contudo ela não mostra nenhum interesse em sair do aperto
em meus braços, tão possessivo quanto o dela, que me
prende entre suas pernas.
— Você me disse que ia ficar no quarto — Kyler
finalmente rosna, desviando seus olhos para Pink.
— Mudei de ideia — a cadela fala com uma frieza
assustadora.
— Há quanto tempo você está no bar?
Os ombros dela tencionam e por mais que eu queira
incentivá-la a mostrar suas belas garras para o fodido,
aperto suas mãos nas minhas numa tentativa de acalmá-la
e até consigo, mas não tanto como gostaria.
— Vou perguntar de novo — ela vocifera entredentes,
sem poupar o babaca da sua fúria. — Qual. O. Seu. Maldito.
Problema?
Kyler fica surpreso com a reação da Pink, o que é
compreensível se comparar a cadela passiva que ele gosta
de foder e a onça indomável que não atura desaforo de
ninguém, especialmente de quem mal a conhece.
A situação do pouca telha, que já não é muito boa,
piora com a chegada de Trap e da morena que o novato
tem pendurada em seu braço como um acessório de luxo, e
azeda de vez no instante que Kyler tenta reverter o jogo e,
espumando de raiva, responde a pergunta que Pink fez:
— Meu problema é você agarrada com outro homem.
Kyler não sabe que Pink herdou a delicadeza dos
hipopótamos e no quesito graciosidade, perde até para uma
lagartixa, mas admito que estou ansioso para ver a cara do
idiota quando ele souber o quão paciente ela é.
Eu fodidamente, sei. E gosto pra caralho!
CAPÍTULO 22
PINK
— Meu problema é você agarrada com outro
homem — Kyler late para mim, em alto e bom tom,
para que alguns clientes que estão empoleirados no
balcão possam ouvir.
O corpo de Dumb retesa próximo ao meu,
intensificando o aperto na minha mão. Sua
preocupação comigo quase me comove, no entanto, o
quase não chega a ser suficiente para me impedir de
me soltar e cravar meus dedos na gola da camisa de
Kyler, e com um forte puxão que ele não esperava,
arrastar seu corpo para frente.
Quando ele está com o peito grudado no balcão e
nossas cabeças niveladas, rosno na sua cara, olhando
no fundo dos seus olhos:
— Eu não sou sua e não sou um problema seu,
mas se usar esse tom para falar comigo de novo,
garanto que vai arrumar um problema muito maior do
que me encontrar agarrada com outro homem.
O vira-lata careca arregala os olhos, o azul
escurece e ofusca o brilho, tornando as duas bolas
nebulosas, foscas. Ele empurra meu braço e se força
para trás, ao mesmo tempo que Dumb me puxa,
aumentando a distância entre Kyler e eu, assim como a
tensão entre nós.
Algumas mulheres estão com os celulares virados
em nossa direção, provavelmente filmando o embate e
só então me dou conta de que ter meu rosto divulgado
em qualquer rede social é uma grandessíssima merda.
Kyler também desperta do transe momentâneo e
em vez de recuar, ele escolhe me enfrentar novamente
e avança para cima de mim, mas estaca no lugar
quando seu olhar captura alguma coisa por sobre o
meu ombro. Eu espero, ansiosa para socar sua cara,
porém o vira-lata parece enfeitiçado. Viro a cabeça
para trás, desconfiada, e faço uma careta.
Definitivamente, eu não deveria ter saído do
quarto.
— Acabou, Pink.
— Não — sussurrei, absurdamente cansada. —
Ainda não...
London entrelaçou nossas mãos e falou baixo,
para que a enfermeira não escutasse enquanto aferia
minha pressão arterial.
— Você não está mais sozinha, e o vira-lata vai
matar o Mason se ele te ameaçar outra vez. — Abri a
boca, mas ela cobriu meus lábios com o indicador. — O
Dumb te ama e provou que merece uma chance de te
fazer feliz. Você também ama aquele idiota e mais do
que ninguém merece uma chance de ser feliz.
— Ele lutou por mim...
— Ele lutou e fez isso sozinho, sem pedir ou
esperar nada em troca. O general de armas lutou
aquela guerra por você. Por amor a você. Agora presta
bem atenção porque eu nunca mais vou repetir isso. —
London olhou para os lados e deu uma risadinha. —
Dumb teria vencido os italianos de qualquer jeito,
mesmo sem a nossa ajuda. Não sei onde ele aprendeu,
nem quem ensinou para ele, mas quem fez, sabia o
que estava fazendo. O general de armas do Black
Panthers, pode ser um babaca quando quer, mas se
um dia eu precisasse escolher um dos diretores para
lutar ao meu lado, com certeza ele seria a minha
escolha. No campo de batalha, o melhor exército não é
o que tiver a melhor tática de defesa, a melhor
estratégia de ataque, nem o melhor comando ou as
melhores armas. Só vence uma batalha, o exército que
tiver o melhor soldado.
Pisquei algumas vezes, tentando conter as
lágrimas que desciam livremente e encharcavam meu
rosto.
— O Dumb vai querer saber tudo sobre o Logan e
a Eugênia e eu não sei se quero que ele saiba.
— Conta tudo, amiga. Você precisa enterrar o
passado e seguir em frente. Abre o seu coração para o
homem que você ama e deixa ele decidir se quer
entrar.
— Vou fazer isso — sentindo minhas pálpebras
ficarem cada vez mais pesadas. — Vou contar tudo.
— Boa noite, Stephanie.
— Boa noite, Violet.
Corredor, agora.
Em cinco, no Abrigo
Não demora
Algum problema?
FIM
A saga do MC BLACK PANTHERS
continua...
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