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1ª Edição

2022
Copyright © 2022 Paula Domingues
Revisão: Paula Domingues
Diagramação Digital: Paula Domingues
Capa: Alice Prince
Esta é uma obra ficcional.
Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera
coincidência.
Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização por
escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Será que os padrões estabelecidos pelo Vaticano conseguirão afastar duas
almas que se perderam?
Juan Carlo Hernandez tinha todo um futuro pela frente; planejado e moldado
na mais densa escuridão de quem é nascido no berço da máfia. Não havia espaço
para brechas, ainda mais na vida dele, que deveria assumir o comando da
organização mais perigosa de toda Espanha, os tradicionais Sparrow’s.
Todavia, um atentado a sua vida fez os planos mudarem, pois ele acabou
perdendo a memória.
Agora, Juan se tornou Gregório, o Padre de uma pequena Paróquia no interior
do Texas, para onde foi transferido.
Respeitado.
Amado.
Não havia espaço para a escuridão trazida de seu legado; ele era apenas um
homem.
No entanto, a chegada de uma doce garota, fará a tranquilidade desse “bom
padre” se desvanecer. E entre, a tentativa de protegê-la e livrá-la de todo mal que a
rodeia, seu próprio passado vira à tona.
Juan o “Black Sparrow”, Dom da Máfia Sparrow’s, ou Padre Gregório? Quem
ele realmente era?
Pode a vocação ser mais forte que o amor?
Em que momento o santo, se torna o pecador?
Foi delicioso escrever esse livro, a história do Juan, ou Padre Gregório, e da
Emma, fluiu como se eu estivesse assistindo a um filme. Eu tentei ao máximo deixar
uma história leve e descontraída, baseada no clichê do amor proibido apenas. Espero
que vocês gostem da leitura, e que se apaixonem por esses dois assim como eu
estou.
Esta é uma obra fictícia, ambientada entre o universo do catolicismo e o
submundo da Máfia. As ordens religiosas, regras e lugares aqui citadas, são em sua
maioria fatos, já as Máfias e suas regras e leis são obras ficcionais. O livro tratará
sobre gatilhos religiosos em maior parte, e mesmo falando sobre o Catolicismo, é
independente de qualquer religião. Contém cenas de violência, autoflagelo e sexo
explícito.
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
AVISO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
EPÍLOGO
PRÓXIMO LANÇAMENTO
LAUREM E GUILHERME
PRÓLOGO
PASSADO
— Por que você sempre provoca nosso pai? — Meu irmão pergunta torcendo o
nariz para cena diante de seus olhos. — Sabe que ele fica puto com isso.
— E você sabe que não dou a mínima. — Respondo admirando minha obra-
prima. — Agora se me der licença, tem um futuro artista aqui, querendo trabalhar.
Meu pai odeia que eu adore pintar, principalmente porque meus modelos de
referência são em sua maioria mulheres nuas, pinto nu artístico, e não nego que, em
geral, faço uma junção perfeita entre meu passatempo e minha libido.
— A Soraya chega hoje, e mandamos preparar um jantar especial para ela,
seria muito interessante se você comparecesse. — Meu irmão fala já saindo do meu
ateliê.
Somos três irmãos, a Soraya que é nossa meia irmã, filha do primeiro
casamento do nosso pai, eu, e o Yago, nosso caçula, a diferença de idade entre nós é
bem pequena, meu pai se casou com nossa mãe mais pelo intuito de que ela cuidasse
da pequena Soraya na época, que ainda era um bebê de pouco mais e um ano. E
então, um tempo depois nasci, e dois anos após de mim meu irmãozinho.
Atualmente eu vou fazer vinte e um, minha irmã tem vinte e cinco quase vinte
e seis e meu irmão dezenove, mas apesar de estar na idade de assumir meu posto de
Dom como mandam as leis da nossa Organização, eu não estou preparado, não me
“sinto” preparado.
Eu gosto de viver intensamente, sou do voto do “viva e deixe viver” já meus
irmãos são mais preocupados, minha hermana[1] só tem olhos para os clubes que ela
toma conta na América, desde que nosso pai lhe passou essa função, “depois dela
rejeitar cinco casamentos, e ameaçá-lo de trabalhar como civil em outro lugar,” ela
tomou para si, triplicar os ganhos, dando um giro de 180° graus naqueles muquifos
que eram chamados de boates.
Ela está conseguindo fazer um ótimo trabalho, já meu irmão, ao invés de
aproveitar a juventude e adolescência, fica todo preocupado com o que eu faço, e
por que não estou treinando para ser o futuro Dom. Ele se preocupa comigo, apesar
de ser mais novo, ele acha que não dou a importância merecida para o assunto, mas
eu sei que, na verdade, é porque ele deseja tanto ser Dom quanto eu, ou seja, desejo
nenhum.
Apesar de que ele leva mais jeito para coisa.
Eu não quero, nunca quis, nasci no berço da máfia, sei das minhas
responsabilidades, fui treinado, ou melhor dizendo, “espancado” para ser um bom
Chefe, mas se pudesse escolher, seria bem diferente.
Amanhã é meu aniversário de vinte e um anos, por isso a Sosso[2] está vindo
para casa, e amanhã também é o dia do meu julgamento final. Dia que meu velho
pai me passará o trono, “por mim, daria a um dos meus irmãos, não faço a menor
questão de chefiar os Sparrow’s.[3]”
Quando finalizo meu trabalho do dia, tanto na arte como na minha cama, após
horas de muita concentração, e de um sexo alucinante, dispenso minha modelo
deliciosa, tomo um bom banho, e vou para um bar, onde uns amigos me esperam
para um Happy Hour, não será nada muito extravagante, afinal, tenho de estar 100%
para amanhã.
Minha mãe está organizando esse “evento,” sim porque nem parece meu
aniversário, só se fala na ascensão do novo Dom, e ela ficaria magoada se eu me
atrasasse ou que estivesse de ressaca.
Assim que chego, Pablo, um amigo de infância, filho de um dos Gerentes da
nossa Organização, vem em minha direção.
— Achei que não viria mais Black, por que demorou? — Pergunta, abrindo um
sorriso, e em seguida dispensando o que eu ia falar com um gesto de mão. — Não
precisa nem dizer. A modelo da vez era bonita?
Red, Black, e Blue Sparrow[4], são os apelidos que nós, eu e meus irmãos,
ganhamos ainda pequenos, sendo Red minha irmã, Blue meu irmão, e eu Black, não
sei por que fiquei com o Pardal Negro, sou um amorzinho, mas somos conhecidos
assim desde a época de colégio, acredito que só os mais chegados do nosso meio
sabem nossos nomes verdadeiros.
— Sim cara, ela era linda, mas era somente uma modelo para minhas telas, e
um corpo quente para aquecer minha cama. — Respondo me sentando onde
estavam alguns outros conhecidos, e para minha surpresa, meus irmãos.
— Soube que se eu quisesse ter a honra de vê-lo teria que vir vadiar com você
irmãozinho. — Minha irmã fala ironicamente me dando um abraço e um beijo nas
bochechas.
Olho feio para o Yago que está sentado bebendo seu drink, fingindo que não
sabe de nada.
— Não seja exagerada Red, sabe que eu iria ao seu jantar. — Falo soltando-me
de seu abraço apertado “demais,” de irmã mais velha. E depois que passo na
inspeção, como se ainda tivesse doze anos, sentamos todos para aproveitar a noite.
— Soube que anda rebelde em questão ao grande dia. — Minha irmã comenta
rindo.
— Vou arrancar sua língua. — Falo apontando o meu irmão. — Não estou
rebelde Sosso[5], só acho que ainda é cedo demais para assumir tamanha
responsabilidade, e de verdade... — falo pensativo. — Não sei se estou preparado,
ou pior, se quero esse posto.
— Você fará vinte e um, Juan, não é bem uma questão de escolha. — O Yago
me lembra do óbvio.
— Eu sei disso, mas se pudesse adiar só mais um pouquinho. — Digo fazendo
gesto de pequeno juntando os dedos.
E como sempre, naquele momento extremamente fora de hora, meu amigo
levanta um brinde ao meu grande dia.
— Quero fazer um brinde a um grande amigo, nosso futuro Dom. — O idiota
fala em alto e bom-tom, um pouco arrastado devido a embriagues.
— Cala a boca Pablo! — Minha irmã o adverte, para ser mais cauteloso.
— Você! Não tem o direito de falar assim comigo sua megera sem coração.
— Pronto, ele vai começar. — Meu irmão resmunga.
— Você me abandonou no altar Red[6], agora não pode mais falar comigo.
— Ah, pelo amor de Deus homem! Se contenha. — Minha irmã responde
irritada. — Eu abandonei um moleque de dezesseis anos na época, cujo pai sem
noção, tramou um casamento com o meu pelas minhas costas. E pelo que vejo, foi a
melhor decisão da minha vida.
— Não perca seu tempo, minha querida. — Falo dando um beijo em seu rosto
me levantando.
— Aonde você vai? — O Yago pergunta quando me vê pegando as chaves do
carro.
— No banheiro. — Quer ir junto? Segurar para mim?
— Não, idiota. — Só perguntei, por que você não acha que bebeu demais para
dirigir?
— Não tomei nem dois drinks inteiros, Blue[7][7], estou ótimo. — Respondo
levantando uma perna formando um quatro perfeito sem bambear. — Nosso pai me
mata se amanhã eu estiver de ressaca, e isso chatearia nossa mãe.
— E não se atreva a atrasar. — A Soraya adverte.
— Se eu sumir, o Blue assume meu lugar. — Falo com uma piscada, quando
ele me joga um guardanapo sorrindo e responde:
— Quero esse posto tanto quanto você, maninho. Então trate de estar em casa
no horário, e sem desculpas.
Depois que saio do bar, respiro um pouco do ar fresco da noite, e sigo até o
carro, estou cansado e pretendo ir direto para casa, mas resolvo passar no meu ateliê
antes pegar umas coisas.
Moramos numa cidadezinha charmosa nas províncias do famoso Mosteiro de
Montserrat[8], que atrai muitos turistas, mantendo assim o comércio local.
Estou dirigindo até que cautelosamente, pois a estrada está bem escura, e no
caminho até em casa, tem umas curvas bem fechadas, e uns penhascos de arrepiar
qualquer um. Quando do nada, aparece um carro em alta velocidade, me fazendo
desviar, virando o meu com tudo, e com isso provocando uma cena digna de filme.
Vi meu carro girar, capotar, e rodar feito uma pelota por cima da mureta que
sei, leva a um precipício. Não sei como, acho que por puro instinto de
sobrevivência, eu consigo me soltar do cinto e pular do veículo antes que ele
despenque daquele penhasco medonho.
Estou todo arrebentado, cada músculo e osso do meu corpo dói, principalmente
minha cabeça depois da pancada que dei ao pular do carro, quando vejo o veículo
explodir no fundo daquele abismo, e me deixo levar pela dor e inconsciência que
ameaça tomar conta de mim no momento.
Acho que morri e fui para o céu, se é que isso seria possível para pessoas como
eu, quando sinto mãos me arrastando para algum lugar, mas estou oscilando entre o
subconsciente e o inconsciente, com o inconsciente ganhando de lavada, então eu
apago, me deixando ser levado sei lá para onde.
YAGO
MANSÃO DOS SPARROW
— Yago você viu se o Juan saiu? Ontem, ele disse que viria direto para casa,
mas até agora não vi nem sinal dele. — Minha irmã pergunta assim que entra na
copa tomar seu café. — Já são quase dez horas, e a cama dele está arrumada.
— Você foi no quarto dele? Sabe que ele odeia que o acorde. — Falo
levantando só uma sobrancelha.
— Tive um sonho ruim, aí passei no quarto de vocês, verificar se estava tudo
bem, e você dormia até babando quando entrei no seu, já o Juan não havia chegado
em casa ainda.
— Você entrou no meu quarto enquanto eu dormia? Porra Soraya, e se durmo
pelado?
— Como se eu nunca tivesse visto vocês dois pelados. — Ela responde fazendo
sinal com a mão como se não fosse nada demais.
Enquanto discutimos, sobre ela ter entrado no meu quarto sem bater, nosso pai
chega com uma expressão abatida, muito sofrida para ser sincero. Logo depois dele,
nossa mãe entra chorando, indo direto para ele, nem reparando estarmos presentes.
— Diga que é mentira Javier, diga que não era o carro do meu Juan, do meu
menino. — Minha mãe fala chorando compulsivamente.
Paramos de discutir, nos levantando, e indo na direção deles, na mesma hora.
— O que foi mamãe? O que aconteceu? — A Soraya pergunta ajudando-a a
sentar-se, e tentando acalmá-la.
Mas quem responde à pergunta é nosso pai.
— O Juan sofreu um grave acidente de carro está madrugada — diz e nos olha
profundamente, a tristeza em seus olhos chega ser palpável, e suas palavras,
desmoronam não só meu mundo, mas o da Soraya também.
— Meu Juan sofreu o acidente, indo para a casa dele pelo caminho que estava,
e devido ao horário, ninguém viu como aconteceu, só se ouviu a explosão, mesmo a
distância — mamãe diz soluçando, tentando conter as lágrimas. — E o carro dele foi
identificado no fundo do penhasco, próximo ao Montserrat, totalmente carbonizado,
disseram que não sobrou nada, nem o corpo do meu menino para enterrarmos.
Seu choro convulsivo se mistura ao nosso, não consigo controlar as lágrimas,
pois imaginar que nunca mais verei meu irmão, meu melhor amigo, dói na alma.
Sou trago de volta ao presente com o grito inconsolável, e o choro da Soraya.
— Como assim não tem nem corpo? Tem que ter, frito, torrado, mas tem que
ter algo. — Falo tentando me acalmar e pensar com clareza.
— Não sobrou quase nada do carro, muito menos do corpo do seu irmão, fora a
queda de centenas de metros, a explosão consumiu tudo. — Meu pai responde.
Eu não podia acreditar, eu não queria acreditar, não meu irmão, aquilo tinha
que ser um maldito pesadelo. A Soraya depois de surtar, entrou em estado
catatônico, parecia um robô, eu não a julgava, eu estava passado, sem conseguir
pensar direito, mas minha mãe estava inconsolável, quase histérica, então, minha
irmã falou o óbvio, nos trazendo de volta a realidade.
— Mesmo não tendo um corpo para prestarmos nossa última homenagem,
faremos um funeral, e será digno de um Sparrow, mas guardem minhas palavras, eu
nunca, vou aceitar esse detalhe peculiar de “não ter restado nada,” que fosse
somente os ossos carbonizados, teria que ter algo.
— Eu nunca descansarei enquanto não descobrir o que aconteceu, não pense
que se importa mais que nós que somos pais. — Nosso pai comenta levantando-se, e
se retirando da sala. — Aguardo vocês no salão hoje, mas ao invés da festa que
teríamos, faremos uma cerimônia fúnebre.
Depois que ele sai, minha irmã o segue com o olhar analítico até ele fechar a
porta, então nos entreolhamos e como uma promessa selada, nós juramos que
também não descansaremos enquanto não descobrirmos o que aconteceu de fato
com corpo do nosso querido irmão. E ainda tentando consolar nossa mãe, nos
preparamos para o dia mais horrível de nossas vidas.
CAPÍTULO 01
DOZE ANOS DEPOIS
Hoje, vi o Agente Duncan, sentado na primeira fila de bancos durante a missa,
estranhei, pois desde que nos conhecemos no funeral de seu avô, há uns dois anos
aproximadamente, logo que fui transferido e cheguei no Texas, eu nunca mais o vi,
e só vim saber que ele era um Agente tempos depois, através de sua família, devotos
fiéis de minha paróquia, principalmente Dona Rose, sua mãe, que não perde uma
missa de Domingo junto da neta, Isabella.
— Sua benção Padre!
— Deus lhe abençoe filho! — Respondo cada um dos meus fiéis na porta da
igreja após o término da missa.
— Sua benção Padre! Será que podemos conversar depois? — O Duncan pede,
dando espaço para sua mãe e sobrinha.
— Claro meu jovem! Será um prazer. — Respondo enquanto cumprimento as
pessoas que vão saindo.
Ao fim de tudo, entramos, e seguimos para sacristia, uma sala que mantenho
como uma espécie de escritório na parte de trás do altar, e que interliga a casa
paroquial à igreja.
— Em que posso ajudá-lo Patrick? — Pergunto me sentando em uma poltrona,
indicando a outra para ele.
— Como o senhor bem sabe, trabalho para o FBI com sede em Dallas, e a um
pouco mais de um mês, resgatamos duas testemunhas de um caso de homicídio.
Elas estão sob custódia provisória, pois ainda não completaram vinte e um, e como
já sofremos alguns atentados contra as garotas, tenho que remanejá-las de local, e
não posso levá-las para o escritório. Então pensei que o senhor poderia me ajudar,
cuidando das meninas por algum tempo, aqui mesmo, na casa paroquial.
— Você sabe que jamais eu me recusaria a ajudar qualquer pessoa, ainda mais
duas meninas que “precisam” de ajuda, mas porque não as leva para a fazenda do
seu irmão? Lá elas terão mais conforto na estadia. — Falo não entendendo seu
pedido inusitado.
— Na Coração do Texas[9] elas teriam, sim, mais conforto, mas como é só por
umas duas semanas no máximo, achei que na igreja seria o último lugar que alguém
pensaria em procurá-las, ao contrário das terras da minha família. — Ele responde o
óbvio. — E liguei para uma velha amiga, ela disse que cuidará das meninas para
mim, até o dia do julgamento em que testemunharão, só que a Red[10] está na casa da
família na Espanha, e só volta em quinze dias.
— E quando pretende trazer as garotas?
— Então o senhor aceita? Lógico que o senhor não terá despesa nenhuma com
elas, o FBI está arcando com todos os custos, e vamos recompensá-lo por este
serviço prestado.
— Não estou prestando serviço ao FBI, e sim ajudando duas filhas do senhor
que precisam de apoio. Não confunda as coisas Patrick.
— Desculpe Padre, não quis ofender.
— Não ofendeu meu filho, mas em momento algum pense que aceitarei
qualquer tipo de bonificação por tê-las ajudado.
— Amanhã as trarei, já entrei em contato com minha amiga, e assim que ela
chegar de viagem virá buscar as meninas. — Fala levantando-se, e me dando a mão
em cumprimento. — Agora vou indo, pois minha mãe e a Belinha estão me
esperando, e mais uma vez obrigado Padre.
— Gregório, me chame somente de Gregório.
— Vou tentar, prometo. — Responde sorrindo, e já saindo. — Até amanhã.

Na manhã seguinte, pedi para a senhora que me ajuda com os afazeres da casa,
deixar o segundo quarto da casa paroquial arrumado, e que colocassem outra cama,
pois segundo o Patrick eram duas moças, irmãs pelo que entendi.
Estava tomando meu café quando Dona Rose entrou toda, sorrisos com um
cheirosíssimo bolo de fubá, embrulhado numa toalha e ainda morno.
— Desse jeito terei que mandar alargar minha batina para a missa, devo ter
engordado uns bons 5 kg desde que cheguei. — Falo sorrindo quando a vejo.
— Benção Padre. — Fala como de costume sempre que me vê, não importa
quantas vezes no dia. — Meu filho disse que o senhor receberá as meninas que ele
está protegendo, e vim oferecer ajuda se precisar.
— Este assunto não era para ser confidencial? — Pergunto cortando meu
pecado da gula em forma de bolo.
— Desde quando meu menino consegue esconder algo de mim? Sugere com
um sorriso carinhoso ao mencionar o filho. — E eu ficaria sabendo de qualquer
forma, já que ele trará as meninas, e elas ficarão na casa paroquial. — Fala com
olhar inquisitivo.
— Por que está me olhando assim Dona Rose?
— O senhor sabe que o povo vai comentar né?
— Comentar o quê?
— O senhor me perdoe o que vou falar, mas o senhor nem parece Padre, é
muito novo e muito bonito, nunca vi tanta moça na missa como tem agora, isso
desde que o senhor chegou. — Fala sentando e se servindo do bolo, enquanto parei
de comer olhando para ela, só ouvindo onde aquilo ia dar. — E duas moças
solteiras, pelo que meu filho comentou, muito bonitas e novinhas ainda, acredito
que não vai pegar bem ficarem na casa paroquial.
— Prefiro pensar que não entendi o que acabou de insinuar. — Falo dando o
café por encerrado. — Se a senhora me dá licença, tenho de terminar minhas
orações matinais, e muitas providências a tomar antes que as garotas cheguem, fique
à vontade, e obrigado por me alertar sobre a maledicência do povo.
O problema de cidade pequena era isso, essa gente não tinha mais o que fazer
da vida, e ficavam perdendo tempo cuidando da dos outros.
— Não quis ofender e nem insinuar nada Padre, até porque o senhor sabe que
não sou dessas carolas que só sabem ver defeito em tudo, só gostaria que soubesse
que se precisar deixar as meninas na Coração do Texas, minhas portas estarão
sempre abertas. — Ela responde tentando se redimir.
— Não se preocupe Dona Rose, eu sei me cuidar no que diz respeitos a nobres
senhoras que frequentam minha paróquia, e obrigada pelo oferecimento, mas o
Patrick mesmo afirmou que elas ficarão somente por uns dias, depois amiga dele
vem buscá-las.
Dito isso, sai da sacristia indo para casa paroquial ver se precisaria de mais
alguma providência.
Já se passava um pouco das 17 horas, eu estava fazendo minhas orações da
tarde, e me preparando para me recolher, quando a senhora que me ajuda com a
limpeza da paróquia, veio me informar ter uns homens engravatados pedindo para
falar comigo, e perguntando se ela os manda entrar.
— Mande-os para sacristia, estarei lá em um minuto. — Respondo já
arrumando a gola da camisa por cima do clérgima[11] que havia retirado, pois já
estava a ponto de me recolher.
Não uso batina fora das missas e ocasiões especiais, e como no Texas faz um
calor extremamente forte, uso sempre uma camisa de meia manga, de um tecido
leve, com o colarinho clerical, calça jeans, e botas de cowboy. Afinal, não dá para
percorrer as fazendas, ou andar por essas estradas de sapatos normais.
Entrando na sacristia vejo que os homens a quem minha curiosa ajudante se
referiu, eram os agentes do FBI que trariam as garotas, dentre eles estava o Patrick,
que veio em minha direção já se desculpando pelo atraso.
— Sua benção Padre! Perdoe-me o atraso, mas tivemos de fazer umas paradas
antes de chegarmos aqui. E como não viemos direto, o tempo estimado triplicou.
— Deus te abençoe meu filho. Mas onde estão a meninas? — Pergunto
olhando em volta, procurando-as. — Não me diga que as deixou no carro com este
calor?
— Foi necessário Padre! Aliás, prazer sou Hilary Moore. — Uma mulher altiva
e com semblante sério fala se apresentando. — Agente Moore.
— O prazer é meu, minha querida. — Respondo lhe dispensando um aperto de
mão em cumprimento.
— As garotas ficarão no máximo uns quinze dias, depois uma conhecida virá
buscá-las, e as levará para outro local seguro. — O Patrick reitera o que já havia me
dito antes.
— Bom, então tragam as moças, pelas horas de viagem que passaram, as
pobrezinhas devem estar exaustas, e está muito calor lá fora. — Peço realmente
preocupado, pois para quem não está acostumado, o calor do interior do Texas pode
fazer até mal para saúde.
Quando as meninas entram, um pouco tímidas, eu sinto algo estranho quando
vejo a garota mais velha, uma sensação de conhecimento, de pertencimento, como
quando você não, vê alguém há muito tempo, e essa pessoa volta para casa, não sei
explicar, mas é muito forte a sensação.
Ambas olham tudo em volta, então a mais nova pergunta:
— Cadê o Padre? — Já que ficaremos aqui, ele não deveria nos receber? — Ou
vocês estão nos escondendo aqui sem avisar ninguém?
— Dora! A mais velha a repreende dando um puxão de leve em sua mão.
— Estou aqui querida. — Respondo, e noto às duas me olharem espantadas.
A mais nova, notei, não tem muito filtro dos pensamentos para boca, pois fala
em tom de descrença, me olhando de cima a baixo.
— Não! Você não é — faz uma careta fofa. — Padres são idosos, calvos e
rechonchudos, e cadê sua batina?
— Isadora! Juro que vou costurar sua boca. — A outra se intromete antes que a
irmã fale algo mais. — Desculpe minha irmãzinha Padre, apesar de já ter dezessete
anos, ela ainda age como se tivesse cinco às vezes.
— Não se preocupem, me chamo Gregório, e vocês?
— Emília Wilson, mas todos me chamam de Emma, e essa espevitada, é minha
irmã, Isadora Wilson, ou Dora.
A tal Dora se adianta pedindo desculpas, mas não consegue esconder que está
chocada com minha aparência, e aposto que idade. Quando cheguei em Valle dos
Lobos[12] no intuito de substituir o antigo Padre, as pessoas tiveram a mesma reação,
e umas mal me aceitaram ainda como pároco local.
Quebrando um pouco o clima estranho que se instalou, eu digo para ambas:
— Imagino que estejam cansadas, e com fome? Se me acompanharem, mostro
onde ficarão neste período, e podem desfazer as malas e descansar.
— Na verdade, não temos muita bagagem, como estamos sempre saindo de um
local que era para ser seguro, e indo para outro, decidimos carregar somente o
necessário. — A menina chamada Emma quem responde olhando feio para os
agentes.
— Nós avisamos que não é seguro ficar muito tempo no mesmo lugar, e que
vocês estariam se mudando constantemente até o julgamento. — O Patrick responde
se defendendo.
— Sim nós sabemos disso, mas é cansativo e chato.
— Bom agora que as meninas estão seguras, acho que podemos deixá-las
descansar. — Falo encaminhando os agentes para fora da sacristia, a fim de
acompanhá-los até a porta.
— Está nos expulsando? Ou é impressão minha? — A tal Hilary pergunta com
semblante indignado, mas rindo em simultâneo.
— Estou lhes dizendo que não precisam se preocupar, que as garotas ficarão
bem, e que já está tarde, e vocês têm uma longa viagem de volta a Dallas.
— Quando minha mãe descobrir que enfim fui expulso de uma igreja ela não
vai acreditar. — Um dos outros agentes comenta, fazendo todos rirem, até mesmo
eu.
Depois que todos saem, volto para sacristia, instalar minhas hóspedes em seus
aposentos.
CAPÍTULO 02
— Para de mexer em tudo Dora! — Falo torcendo o nariz para minha irmã.
— Só estou curiosa, vai dizer que você também não está? — Responde
olhando uma imagem que está num altar separado dos outros. — Que santa será que
é?
— Não faço ideia, mas é muito bonita. — Respondo me aproximando, e
admirando a imagem da santinha também.
— Esta é Nossa Senhora do Monte Serreado, padroeira da Catalunha, a trouxe
comigo da Espanha quando fui transferido para cá. — O Padre responde parado
perto da porta, e nós duas olhamos para trás assustadas por sermos pegas em
flagrante.
Quando chegamos e o vi pela primeira vez, senti algo estranho, um aperto no
peito, uma sensação sufocante, como se de repente, ficasse mais difícil respirar. Mas
também uma sensação de que enfim eu estava em paz, uma sensação de estar em
casa, acho que todos os Padres passam essa serenidade né, tem que ser.
— Desculpe, não queríamos xeretar. — Falo vermelha feito um tomate, e um
pouco sem graça por passar má impressão no primeiro dia. O que ele não ia pensar
de nós duas fuçando nas imagens da sacristia.
— Mas eu sou curiosa! O senhor é espanhol? De que lugar da Espanha? —
Minha irmã faz a pergunta que eu queria fazer, mas não sei por que, desde que
cheguei, e o conheci, que perto do Padre Gregório eu travo, me sinto idiota, sem
conseguir articular nem uma palavra, preciso descansar, é isso.
— Sou de Monistrol de Montserrat, na província de Barcelona, me ordenei
Padre pela Abadia de Montserrat e fui transferido logo em seguida para o Texas. E
fiz de Vila dos Lobos minha casa desde então, isso já faz dois anos. — Ele responde
com um sorriso lindo, fazendo covinhas, que deveria ser proibido em um Padre.
— Será que poderíamos tomar um banho? Ficamos horas na estrada, nos
trouxeram de carro, e sinto que tem poeira até no meu cérebro. — Falo brincado, e
tentando dispersar aquele sorriso pecaminoso de tão sexy da mente.
— Mais é claro, sigam-me, vou lhes mostrar seu quarto. — Ele responde nos
encaminhando para uma porta que dá acesso a uma casa interligada com a igreja.
Quando entramos, vi que nossas coisas que estavam no porta-malas dos carros
haviam sido tragas para cá, não carregamos muita bagagem, só algumas malas com
roupas sapatos e objetos pessoais, nossos notebooks, e nossos kindle, já que não
podemos carregar livros físicos.
— Você sabe quanto tempo ficaremos aqui? — Minha irmã pergunta tirando
suas coisas da mala e arrumando para irmos tomar um banho.
— Ouvi o agente Duncan dizer para a tal Hilary, que uns quinze dias
aproximadamente. — Respondo torcendo o nariz, e me sentando na beira da cama.
— Por que essa carinha de quem chupou limão? Não gostou do lugar? Vamos
ficar quinze dias com o Padre gostosão.
— Olha o respeito Dora!
— Vai dizer que também não achou ele bonitão?
— Sim, achei, mas ele é Padre, e deve ser pecado só pensar assim. — Digo
pegando minhas coisas e entrando no banheiro batendo a porta na sua cara.
— Te conheço maninha, você não fica nervosinha à toa, então, bora pecar?
Abro só uma frestinha da porta e respondo:
— Para de inventar coisas na sua cabecinha sonhadora, e me deixa em paz.
— Não estou inventando nada, só digo o que vejo. — Ela fala colada na porta,
já que fechei a mesma na sua cara.
Tomo meu banho rápido para minha irmã também tomar o banho dela, e assim
podermos comer algo, confesso que até não pensar no assunto não sabia estar com
tanta fome, e o cheiro que vem da cozinha está fazendo meu estômago roncar em
protesto.

Bem como imaginei, havia um ensopado de galinha com pão caseiro


maravilhoso nos esperando quando chegamos à cozinha. O Padre Gregório nos
aguardava, e assim que entramos me deparei com a cena mais improvável que
poderia imaginar, e um tanto engraçada, ele estava usando um avental de
vaquinhas, fofo, se não estivesse só pendurado em seu pescoço, e, se não fosse o
contraste bizarro que deu, com seus quase, um metro e noventa de músculos, e que
nem em sonho, eu imaginaria que se tratava de um Padre se não soubesse.
Ele deveria ser obrigado a usar batina, daquelas que parecem vestidão, bem a
moda antiga, é quase obsceno essa calça jeans com camisa, marcando um corpo
másculo e muito lindo, mais parecendo um cowboy do que o santo padre.
— Espero que estejam famintas, normalmente a senhora que me ajuda com a
limpeza da igreja e da casa paroquial, deixa a comida pronta, mas como a dispensei
por hoje, tive que improvisar. — Ele fala colocando a panela em cima da mesa.
— Com a fome que estou, comeria um cavalo. — Minha irmã responde
brincando.
Ela é leve e descontraída, e normalmente também sou, até divertida, mas não
sei explicar os porquês, mais perto do Padre eu me sinto tímida.
— Onde ficam os pratos? — Pergunto disposta a ajudar.
— Segunda porta à esquerda no armário. — Ele responde. — Pegue as
cumbucas, para sopa é melhor.
Sentamo-nos e obviamente antes de começarmos a comer ele conduziu os
agradecimentos em oração.
— Padre, não sei onde aprendeu a cozinhar, mas essa sopa está divina. — Falo
lambendo o beiço, e afundando o miolo do pão no caldo.
— Na verdade, não sei responder, só me lembro de como fazer. — Ele
responde nos deixando curiosas, mas quem fez a pergunta que sua resposta gerou,
foi minha irmã.
— Desculpe se estiver sendo enxerida, mas como assim, só lembra de como
fazer? Não se lembra de quem lhe ensinou?
— Á doze anos, acordei na Abadia de Montserrat, não me lembrava de nada,
nem de como cheguei lá, na época os monges disseram que me resgataram de um
acidente de carro, que fiquei meses desacordado, literalmente quase morri, quando
recobrei a consciência nem meu nome eu lembrava, depois disso fui ficando, me
afeiçoei a vida no mosteiro, tanto que iniciei no seminário, e cá estou. — Ele
responde sorrindo e voltando sua atenção a sopa.
— Então seu nome não é Gregório? — Pergunto sem conter a curiosidade.
— Não. Esse foi o nome que me deram no Mosteiro.
— Nunca mais recuperou sua memória? — Minha irmã pergunta focada em
seu rosto. — Digo, nunca teve de volta suas lembranças?
— Infelizmente não, acredito que o acidente foi intenso, e o trauma foi bem
forte. — Ele fala pensativo. — Mas apesar de tudo, eu sou feliz onde estou, e por
ser merecedor de uma segunda chance.
— Eu iria querer saber mais do meu passado, sei lá, é um pedaço da sua vida.
— Minha irmã comenta.
Fico somente analisando as palavras dele, as respostas que dá a Dora, tão
espontâneas, serenas, e sinto que gostaria de ficar mais tempo, de conhecer mais
sobre a história do Padre Gregório, descobrir seu verdadeiro nome, por exemplo.
Ficamos até um pouco tarde conversando, ele foi muito gentil o tempo todo,
falamos de várias coisas, até um pouco sobre nós, mesmo o agente Duncan nos
tendo proibido de comentar sobre o caso que nos levou à proteção à testemunha,
falamos mais de nossa infância.
Quando fomos dormir, demorei a pegar no sono, pensando sobre o pouco que
ele contou sobre sua história, fiquei bastante curiosa para saber mais, porém, se nem
ele se lembrava, como eu poderia descobrir mais a seu respeito.
CAPÍTULO 03
— Bom dia meu amigo! O que te traz a cidade tão cedo? — Pergunto ao
Theodor, filho mais velho da Dona Rose e proprietário da fazenda Coração do
Texas, da qual ele raramente sai, vive enfurnado em meio aos seus cavalos e gado,
por isso estranho sua presença em minha paróquia logo cedo, já que nem à missa de
domingo ele costuma frequentar.
— Bom dia Padre! — Responde tirando o chapéu em cumprimento. —
Desculpe aparecer aqui essa hora, mas soube que meu irmão trouxe as meninas
ontem, e vim oferecer meu apoio no que precisar.
— Dona Rose te obrigou a vir? — Pergunto sorrindo pela careta que ele faz
quando menciono sua mãe.
— Sabe como ela consegue ser insistente quando quer, ela cismou que as
meninas ficariam mais seguras na fazenda, e não colocaria o senhor em perigo, caso
quem esteja tentando machucá-las descubra onde elas estão. — Responde coçando a
cabeça e rindo sem graça.
— Agradeço a preocupação de vocês, mas logo uma amiga do Patrick virá
buscá-las, acho que em cerca de uns quinze dias, ele me disse que ela está na
Espanha visitando os familiares, e que quando chegar virá direto pegar as garotas.
— Ele disse o nome dessa amiga?
— Não, ele a chamou de Red[13], não mencionou seu nome verdadeiro. Mas
você conhece seu irmão, tudo que ele fala é praticamente em código.
— Red? O senhor tem certeza? — Pergunta com um semblante preocupante de
desagrado.
— Sim, por quê? O que há de errado?
— Porque ela é dona da maior casa de shows de Manhattan, a Private Club[14],
que além de ser uma rede de boates espalhadas em todo canto do mundo, também é
onde você pode encontrar acompanhantes do mais alto escalão, e só associados
frequentam.
— Um prostíbulo? — Pergunto indignado de imaginar que o Patrick sequer
considerou que eu deixaria que levassem as meninas para um antro como esse.
— Não chega a isso, pois pelo que sei, nenhuma das garotas são obrigadas a
nada, mas as que aceitam o programa, trabalham sob contrato.
— Entendi, mas não se preocupe Theo, e tranquilize sua mãe, porque ninguém
irá tirar as meninas daqui se não for para finalizar essa história do julgamento que
elas estão aguardando, seja com, ou sem boas intenções. — Falo com toda certeza
em minhas palavras.

Estávamos conversando sobre assuntos triviais e sobre uma pequena reforma


que eu pretendia fazer na igreja, quando as meninas junto da Isabela, todas eufóricas
por algo, entraram quase correndo na sacristia.
— Padre! Sua Benção. — Fala rápido, beijando minha mão, fazendo um
pedido em seguida. — Nós podemos dar uma volta na cidade? O Zeca pode nos
acompanhar, queria mostrar o lugar para a Emma e a Dora.
Zeca é o capataz da Coração do Texas, e um bom homem, de muita confiança.
— Claro que podem, só não se distanciem muito. — Digo apresentando as
meninas ao Theodor. — Emma, Dora, deixe-me lhes apresentar o tio dessa
sapequinha.
Ele se levanta, tirando o chapéu novamente para cumprimentar as garotas, que
se apresentam automaticamente, e não sei por que, mas não gostei da parte quando
ele deu um beijo no rosto de cada uma, na verdade, quando ele tocou na mão da
Emma, senti uma sensação estranha, um ímpeto de afastá-lo dela. Mas dei o
máximo de mim para disfarçar, isso não estava certo.
— É um prazer conhecê-las meninas! Espero, que gostem de Vila dos Lobos.
— Ele fala sorrindo todo galanteador, beijando a mão de cada uma, e que Deus me
perdoe, mas estou com muita vontade de jogá-lo pela janela.
Me intrometo nas apresentações chamando a atenção para mim, fazendo com
que ele solte a mão das meninas, “ou melhor” da Emma.
— Só não se afastem muito da igreja, não sei se é seguro. — Digo me impondo
no meio deles, basicamente, entrando na frente.
— Não se preocupe Padre, o Zeca vai nos acompanhar, e só vamos dar uma
volta pelas lojas aqui perto. — A Bela responde toda, sorrisos.
Quando elas saem, acompanho-as até a porta e fico observando se o Zeca
realmente irá acompanhá-las, então sinto uma mão em meu ombro, e me volto para
olhar, me lembrando que o Theo ainda está aqui.
— Com todo respeito Padre, mas você está muito ferrado. — Ele comenta com
um sorrisinho sarcástico olhando entre as meninas e eu.
— Não sei "de que" você está falando.
— Gregório, meu amigo, antes do Padre, existe o homem.
— Não fale besteiras Theodor, vamos ao assunto que interessa. — Respondo
mudando de conversa, pois suas palavras, não sei dizer como, mas mexeram
comigo.
Na verdade, não sei explicar muito bem quais as sensações que sinto quando a
doce Emma está por perto, desde o momento em que a vi pela primeira vez, me
sinto estranho, são emoções muito diferentes das que estou acostumado, afinal, não
me lembro literalmente de nada da minha vida antes de acordar na abadia, e nunca
senti nada parecido desde daquele momento. É uma atração muito forte, me sinto
como uma mariposa indo em direção a luz, mesmo sabendo que ela pode me ferir.
— Não falo por mal Padre, mas percebi como olha para a mais velha das
meninas, sou homem também, sei detectar o interesse em seus olhos, e não são nada
cristãos, se me permite dizer.
— Como disse, não fale bobagem meu caro. Elas são minhas protegidas até o
momento que puderem caminhar livres de toda essa história de julgamento, e não
correrem mais perigo.
— Só blinde seu coração meu amigo. — Ele fala com a mão no meu ombro.
CAPÍTULO 04
Saímos da igreja bem rápido, antes que o tio da Isabela decidisse que ela não
poderia ir, ou que, o Padre Gregório acha-se que não seria prudente, já que estamos
de certa forma, escondidas nesta cidade.
Achei o lugar bem bonitinho, calmo para os padrões de onde morávamos,
muito aconchegante, e com cidadãos bastante hospitaleiros, “curiosos” em sua
maioria, afinal, percebi que eu e minha irmã somos a atração por aqui, já que
estamos hospedadas na igreja. Também percebi que o Padre Gregório é bem
popular, principalmente entre as moças, e até algumas senhoras já casadas, e isso
não me deixou nada surpresa, mas também nada feliz, não gostei da forma
sonhadora e até libidinosa que todas se referem a ele, duvido que em sua presença
sejam tão sem vergonha desse jeito.
— Emma! Você ouviu o que eu disse? — Minha irmã pergunta me trazendo de
volta de meus devaneios.
— Desculpa, Dora, eu estava distraída. Pode repetir?
— Posso saber em que você estava pensando? Ou melhor, em quem?
Lanço meu olhar matador de... Pode parar! E ela me devolve um sorrisinho
zombeteiro, com aquele olhar de... Você não me escapa depois!
— Nada demais. Eu só estava distraída mesmo — digo, tentando mudar de
assunto.
— A Isabela perguntou se podemos passar o final de semana com ela na
fazenda, e eu respondi que precisamos pedir ao Padre, já que somos hóspedes dele.
— Minha irmã repete o que havia falado antes, quando eu literalmente não estava
prestando atenção.
— Foi o tio Path, quem trouxe vocês para cá, então acho que estarão seguras
em nossa casa também. — A Bela fala se lambuzando em seu sorvete, que
compramos ainda pouco.
Ela é uma menina doce, ainda é nova como minha irmã, não que eu seja velha,
deve ter uns quinze, dezesseis, no máximo, e percebi ser bastante carente de amigas,
pelo que entendi, ela mora com a avó e o tio na fazenda desde que perdeu os pais.
— Pediremos a ele quando chegarmos. — Digo voltando a atenção ao meu
sorvete, que já está meio que derretendo.
— Quando a amiga do Agente Duncan vem nos buscar? — Minha irmã
pergunta fazendo careta.
— Ouvi ele falando para o Gregório que em uns quinze dias, ela está viajando
pelo que entendi, depois vem nos buscar. — Respondo também fazendo careta, pois
descobri que não quero ir.
— Eu ouvi minha avó conversando com o tio Theo, e ela disse para ele
convidar vocês para ficarem na fazenda conosco, mas era para pedir com jeitinho,
porque ela tentou, e o Padre não aceitou a ideia muito bem. — A Isabela fala com
um risinho de criança quando faz bagunça.
— Por que esse riso? — Pergunto desconfiada. — O que mais você os ouviu
dizendo?
— Pelo que entendi, a vovó insinuou para o Padre que seria “indecoroso”
vocês ficarem sozinhas com ele na casa paroquial, e ele não achou nada legal.
— Queria ter visto a cara dele. — Minha irmã comenta rindo também.
— O que aconteceu de fato para vocês irem parar sob a proteção do FBI? — A
Bela pergunta.
— Na verdade, minha irmã não tem nada a ver com o acidente, ela nem estava
em casa no dia, eu havia acabado de chegar, quando ouvi tocarem a campainha e
logo em seguida várias vozes alteradas. — Falo perdida em pensamentos. — Aí
desci para ver o que estava acontecendo, quando vi aquele homem atirar primeiro no
meu pai, depois na minha mãe, não sei por que ele fez aquilo, mas sei que por puro
instinto eu gritei e joguei um vaso pesado que tinha no beiral da escada, atingindo-o
na cabeça, e ele desmaiou. Quando a polícia chegou eu estava catatônica, sentada na
escada, chorando e olhando os corpos já sem vida dos meus pais.
— Nossa Emma, que horrível deve ter sido para você. — A Bela fala
segurando minha mão.
Minha irmã está me olhando e chorando, como sempre faz toda vez que conto
essa história.
— E como não temos família aqui nos Estados Unidos, e a única que temos por
parte de pai não quis “essa responsabilidade,” como eles falaram, nós ficamos sob a
tutela do governo até a Emma completar maior idade e poder assumir minha guarda,
até "eu" completar vinte e um. — A Dora fala, e percebo um certo ressentimento em
suas palavras, principalmente quando mencionou os tios do nosso pai.
— E pelo fato de ter presenciado e até atingido o assassino dos nossos pais,
entramos na proteção à testemunha, porque depois disso já tentaram nos matar umas
duas vezes. — Comento torcendo o nariz.
— Meu tio deve ter comentado algo porque a vovó estava realmente
preocupada, por isso pediu para o tio Theo fazer o convite de hospedagem. Mas se
vocês forem passar o final de semana, posso sequestrar vocês e só devolver quando
a amiga do tio Path vir buscá-las.
— Não sei, Bela, acho melhor ficarmos quietinhas na casa paroquial mesmo,
vamos adorar passar o dia com você, mas hospedagem, foi seu próprio tio que nos
deixou sob os cuidados do Padre Gregório. — Falo lembrando-as desse detalhe. —
Acho que não seria prudente fazer o oposto do que eles decidiram ser para a nossa
segurança.
— Eu concordo com minha irmã, mas quando toda essa merda acabar a gente
volta te visitar. — A Dora fala abraçando uma Isabela com cara de que não vai
desistir assim tão fácil.

Quando voltamos para a igreja, após passar a tarde passeando em lojas, com o
moço que a Bela chamou de Zeca, muito carrancudo, andando atrás da gente, vou
direto para a pequena cozinha que tem na casa, a fim de deixar as coisas que
comprei para fazer uma Paella[15], gosto bastante com frutos-do-mar, mas no interior
do Texas seria impossível conseguir os ingredientes, então vai ser com frango
mesmo.
— Como foi o passeio? — O Gregório pergunta recostado no batente da porta,
me assustando por estar distraída, e me fazendo derrubar uns itens que estava
tirando da sacola. — Desculpe-me, não queria assustá-la.
— Não foi nada, eu estava distraída. — Falo me abaixando para pegar umas
coisas que caíram no chão, e no momento que faço, ele também se abaixa, ficando
tão próximo, que consigo sentir o calor que emana de seu corpo, sentir sua
respiração, meu corpo todo reage de forma muito inapropriada para com um Padre,
não sou nenhum mulherão experiente, mas já tive namorados, dei uns amassos, e sei
bem como é a sensação provocada por tensão sexual, não que eu tenha chegado ao
ato, sempre fiquei nos beijos, nunca me permitindo passar disso, já que não me
achava pronta. Mas puta que pariu, eu não devia estar me sentindo desse jeito, não
com ele.
— Não sabia que você cozinhava. — Ele diz com a voz rouca, olhando minha
boca, e umedecendo os lábios, tão visivelmente afetado quanto eu, que se tentar
levantar agora, com certeza irei me esborrachar no chão, pois minhas pernas
parecem um pudim mole.
— Adoro, na verdade, me distrai bastante. — Respondo, tentando reunir todas
minhas forças para conseguir levantar e parar de pecar em pensamentos com a boca
desse homem lindo, ah pronto, acabou de comprar um bilhete para descer de
tobogã para o inferno, minha mente fala debochando de mim. — Eu lembrei que o
senhor disse que veio da Abadia de Montserrat na Espanha, e decidi fazer uma
Paella para agradecer por cuidar de nós.
— Já pedi que não me chame de senhor, somente Gregório. — Fala me
prendendo de novo nos movimentos de seus lábios, na covinha que faz quando sorri.
Por Deus, eu devo estar ficando louca, mas não consigo evitar, cada parte de
mim grita que este homem é o pecado encarnado, colocado na igreja para testar o
juízo das mulheres desavisadas.
— Emma deixei o xampu no banheiro para você, se quiser vou picando as
coisas para adiantar. — Minha irmã fala, entrando com tudo na cozinha, e
quebrando o clima que se formou, e novamente, percebo que não era somente eu
quem estava presa nessa tensão luxuriosa que impregnou o ar.
— Posso te ajudar Dora, enquanto sua irmã toma um banho e descansa um
pouco. — Ele oferece disfarçando. — Só vou me refrescar também, e já venho para
fazermos o jantar juntos. Que acham?
— Por mim está ótimo. — Minha irmã fala já começando a ajeitar as coisas na
pia para picar, enquanto o Gregório sai da cozinha para “se refrescar” e lá está
minha imaginação me levando para o inferno de novo. — Puta merda Emma!
Começa a falar, me conta tudinho, o que foi isso que vi agora pouco?
— Não sei do que você está falando Dora. — Respondo vermelha feito um
tomate, colocando a sacola que ainda segurava na pia e saindo.
— Essa tensão sexual que estava até cheirando à luxúria entre você e o Padre!
— Fala rindo com os olhinhos brilhando, e prevejo uma fanfic a caminho.
Minha irmã adora romances clichês, e vê amorzinho em praticamente tudo, até
em assuntos improváveis.
— Vou tomar um banho, já volto para terminarmos o jantar. — Falo já
correndo da cozinha para não ter que explicar o que nem eu estou entendendo.
CAPÍTULO 05
Passo as mãos na cabeça, estressado com o que acabou de acontecer na
cozinha. O que foi aquilo senhor?
Desde que decidi me ingressar ao seminário, do dia que optei pelo celibato e
fiz meus votos de castidade, nunca senti uma atração tão forte por alguém. Sou
padre, sim, mas também sou homem, não fui castrado e nem me tornei eunuco
quando entrei para ordem, e quando bate a necessidade física da ejaculação, sempre
me alívio no banho, mas nunca senti literalmente nada por mulher nenhuma depois
que me ordenei, nunca foi por tesão, por querer aquilo, precisar daquilo, sempre foi
mais por uma necessidade básica do corpo, nunca mais fiquei excitado, ou em
poucas palavras, “de pau duro,” perto de mulher nenhuma.
E naquele momento na cozinha, meu corpo inteiro gritava por ela, por sentir o
toque de suas mãos em mim, quando a flagrei cobiçando minha boca, eu quase
perco o juízo, a vontade de beijá-la ali, estava suplantando a razão, e após doze anos
de uma jornada de purificação física e mental, eu estava lá, excitado, latejando,
necessitado de qualquer migalha de aproximação que ela me desse.
Quando a irmã dela entrou na cozinha quebrando nossa conexão, eu agradeci a
todos os santos por não me deixarem cometer um ato impulsivo. Agora estou aqui,
parecendo um animal enjaulado, tentando retomar o autocontrole.
Entro debaixo do chuveiro e deixo a água fria cair sobre minha cabeça, lavando
todas essas sensações impróprias, pecaminosas, então pela primeira vez após anos,
pelo menos que me lembre, me permito sentir o prazer do ato, não só a necessidade,
e deixo a mão descer sobre meu membro que está duro ao ponto de doer
fisicamente, começo a me masturbar, subindo e descendo, a mão fechada sobre o
comprimento, apertando de leve a glande, que está inchada, saindo o líquido inicial
de pré-sêmen, vou devagar a princípio, mas conforme as cenas da cozinha começam
a vir como filme em minha mente, relembro ela umedecendo os lábios, baixando o
olhar para minha boca, relembro que vi a gula, a fome em seus olhos, e acelero o
movimento.
Gemo baixo quando sinto uma tensão em todo meu corpo, e sem parar de subir
e descer a mão, agora mais rápido, imaginando como eu quis morder aquela boca,
provar de seu gosto. Recosto a cabeça no piso gelado do box, um urro contido,
abafado suficiente para não ser ouvido, me escapa da garganta, quando sinto o gozo
vir com toda força, e não paro de masturbar até sentir que não resta mais nada, dessa
vez não foi somente mais uma ejaculação, eu gozei, eu senti cada movimentação da
minha mão imaginando a boca dela em volta de mim, pude ver minha menina
ajoelhada na minha frente enquanto eu entrava em sua boca.
Então ela veio, com os dois pés no peito, aquela sensação de pecado, de errado,
ainda nu, debaixo da ducha, eu me ajoelho, totalmente confuso, deixando as
lágrimas da culpa rolarem por meu rosto, pedindo perdão, eu pequei, e o pior do
meu pecado, é que desejo mais.
Depois de um tempo enrolando para sair e enfrentar minhas tentações em
forma de uma linda jovem de cabelos castanhos, decido ir até à cozinha onde as
meninas estão preparando o jantar, o cheiro está maravilhoso, há muito tempo não
como Paella, então paro e me pego tentando lembrar quando comi tal iguaria, e
percebo que nunca, mas que sei até o gosto que tem, e isso me arremete a uma
lembrança de outrora. Então me vejo sentado em uma mesa farta, rindo e comendo
desse prato, mas não vejo de quem são os risos em volta.
Quando entro elas param o que estão conversando e com um sorriso tímido me
olham com carinha de culpadas.
E como ainda estou muito preso ao furacão de emoções de agora pouco, não
percebo que suas carinhas de culpa, provém de uma garrafa de vinho no canto sob a
pia, e que ambas, tem uma taça cheia escondida atrás de seus corpos.
— Nenhuma das duas tem idade para beber, muito menos a senhorita, Isadora.
— Falo fingindo ralhar com elas, mas muito aliviado por elas não poderem ver o
conflito interno que me encontro.

Enquanto comíamos, ficamos conversando sobre o que aconteceu com elas de


fato, elas me contaram suas histórias, algumas aleatórias ao acidente, lembranças
que tinham. Eu estava absorto em cada palavra que a Emma dizia, sua voz era
hipnotizante, também acompanhei às duas em uma taça de vinho, na verdade, tomei
o que a Dora estava bebendo e lhe passei um copo de suco de laranja que fizemos.
— Padre, a Bela nos convidou para passarmos o fim de semana com ela na
fazenda. — A Isadora comentou atraindo nossa atenção. — Se o senhor permitir
lógico.
— Primeiro, me chame somente de Gregório ok? — Peço sorrindo,
descansando o garfo sobre o prato e limpando a boca com o guardanapo. —
Segundo, eu não tenho de permitir nada minha querida, vocês não são prisioneiras, e
sim, minhas hóspedes, podem ir para onde quiserem. Só não aconselho ficarem
andando por aí, temos dois agentes hospedados na pensão dos Torres, mas ainda
assim é arriscado.
— Então podemos ir? — A Emma pergunta me olhando inquisitiva.
— Vocês querem ir para dormir lá? Ou seria somente um passeio? — Pergunto,
e ambas se entreolham.
Não gostei nem um pouco da ideia das meninas, ou melhor, da Emma dormir
na Coração do Texas, longe de mim, dos meus olhos, e se algo lhe acontecesse? Eu
jamais me perdoaria.
— Podemos ligar para à Bela, e dizer que vamos domingo, para um almoço, e
passamos a tarde lá. — A Emma sugere. — E assim você viria conosco certo? Não
quero ir sem você.
Notei que a última parte ela disse quase sussurrando, baixando os olhos para o
prato diante de si. E se eu não estivesse tão preso em cada movimento dela não teria
escutado.
— Liguem para a Isabela, digam que domingo depois da missa eu levarei vocês
até lá, e passaremos a tarde com eles. — Falo ainda olhando para Emma.
— Ebaaa, vou ligar agora. — A Dora fala levantando-se num pulo, e para
minha surpresa, me dando um abraço e um beijo na bochecha. — Obrigada Greg. O
abraço é meu, e o beijo da minha irmã, que sei que não terá coragem de dar.
Olho de uma para outra, e sinto que perdi algo, mas aceito o gesto carinhoso e
espontâneo, como tudo nessa menina, ela irradia vida e luz.
Depois que a Dora sai correndo da cozinha, a fim de ligar para nova amiga, me
viro para Emma que continua sentada, mexendo na comida em seu prato, e noto que
está com as bochechas extremamente coradas.
— Por que não teria coragem de me dar um beijo de agradecimento como sua
irmã? — Pergunto, mesmo me sentindo um bastardo, pois sei a resposta, ou melhor,
sinto a resposta, mas preciso ouvi-la dizer, e ter a certeza de que não estou
imaginando coisas.
Ela me olha por uns segundos, que mais pareceram uma eternidade, então
responde.
— Porque o beijo que quero, ou melhor, que desejo lhe dar, não é tão casto e
puro como esse que minha irmã deu. — Ela fala encarando minha boca, e percebo,
por não me olhar nos olhos, que tirou coragem de onde não tinha para dizer essas
palavras abertamente.
— Não podemos Emma! É errado. É pecado. — Sussurro mais para mim, do
que para ela ouvir, porém, dizendo outra coisa com o olhar, dizendo o quanto ela
está virando meus pensamentos de cabeça para baixo, o quanto eu queria esse beijo
também.
— Eu sei, mas nunca me senti assim antes, tão conectada a alguém que acabei
de conhecer. Desculpe Padre, é mais forte que eu. — Ela diz levantando-se e
virando de costas para mim, apoiando-se na beira da pia com a respiração ofegante.
Levanto-me e vou em sua direção, paro logo atrás dela, aspirando o perfume de
seus cabelos, louco de vontade de abraçá-la e dizer que me sinto da mesma forma,
mas não posso, não devo.
Ela se vira de frente para mim, seu corpo emana um calor insuportável de
resistir, mas tenho de ser forte, não é uma simples tentação, sei que no momento que
eu ceder estarei perdido.
Então, com as mãos travadas na lateral do corpo — salientando cada músculo e
veia do meu braço pelo esforço que faço para não a puxar para mim e beijá-la,
marcar sua boca e seu corpo como meu — fecho os olhos, respiro fundo e com um
sussurro de: "não posso", saio a passos largos da cozinha, antes de fazer uma
besteira.
Entro em meu quarto fechando a porta e colando a testa na madeira, de olhos
fechados, respirando com dificuldade, porque estou exigindo tudo de mim para não
voltar naquela cozinha, tomá-la em meus braços e dizer, que apesar de não fazer
nem dois dias que nos conhecemos, sinto como se a conhece-se há muito tempo, que
meu corpo só estava aguardando seu retorno.
Então depois de um bom tempo ali, rezando, tentando me manter firme, eu
consigo acalmar meus instintos e apago ao me deitar.
CAPÍTULO 06
Depois do episódio ocorrido na cozinha anteontem, não tocamos no assunto,
agimos como se nada tivesse acontecido, mas a tensão entre nós, era quase palpável.
Hoje durante a missa, notei que a família Duncan estava toda presente, até os
filhos da Dona Rose, que vem todos os domingos para o almoço, mas nunca na
missa estavam aqui hoje, a Isabela quando chegou, foi direto conversar com as
novas amigas, elas se entenderam bem, e isso era ótimo, tanto para Bela, que foi
sempre uma menina sozinha em quesito amizades, como para minhas meninas, que
não conheciam ninguém aqui, somente ela, com quem fizeram amizade, "minhas
meninas", era estranha essa conexão que senti com as irmãs logo que chegaram,
essa atração fortíssima que sinto em relação à Emma que está desestabilizando todos
meus conceitos.
Conduzi a missa como sempre faço, no sermão falei sobre conflitos, dever, e
amor ao próximo, na hora da comunhão notei que tanto a Emma, como a Dora
continuaram sentadas, quietinhas, e não vieram comungar. Guardei para mim esse
detalhe, para perguntar o porquê depois.
No final, quando eu estava me despedindo do meu rebanho na porta da igreja,
pedi que elas conduzissem os, Duncan para sacristia, que logo eu entraria e iriamos
para a fazenda com eles.
— Sua Benção Padre! — Dona Rose me cumprimenta assim que entro na
sacristia onde todos estão me esperando.
— Deus te abençoe minha filha. — Respondo e em seguida cumprimento os
demais. — Isso tudo é para ter certeza que iremos com vocês hoje?
— Na verdade, se não viéssemos a mamãe nos traria pelas orelhas como
meninos desobedientes, principalmente quando o Path resolveu que viria se
certificar de que seria seguro levar as garotas. — O Octávio fala com sorriso aberto
como sempre.
— E você acha que eu seria louco de não as levar, e encarar a fúria assassina da
nossa mãe? Tenho amor a vida Tavio. — O Patrick responde dando um empurrão
com o ombro no irmão, que estava ao lado dele. — Só disse preferir vir buscá-los,
para maior segurança.
— Você não quer os agentes seguindo o Padre e as meninas até nossa casa isso
sim. — O Theo, que estava em pé encostado na parede com o chapéu na mão,
comenta com risinho zombeteiro de quem pegou o irmão no flagra. — Aí, vindo
buscá-los, dispensa os dois guarda-costas, assim eles não descobrem o caminho.
— Como se não bastasse só perguntar onde fica e seguir o GPS. — Dessa vez
quem fala debochada é a Bela, que estava só observando a conversa dos tios.
— Vou me trocar, e logo podemos ir. — Falo indo para casa paroquial com
passagem adjacente a sacristia, ligando-a a igreja. — E, obrigada Patrick, por se
preocupar, e vir nos buscar.
Antes que ele responda ouço sua mãe falar resmungando.
— Preocupação uma ova, ele está preocupado com o trabalho dele, isso sim.
— Mãe! Pode falar mais baixo. — Ouço ele dizendo em reposta.
Depois que entrei na casa, fui tirando a batina antes mesmo de chegar ao meu
quarto, iria só trocar a camisa, pois o calor estava de matar, quando ouvi as meninas
junto da Bela entrarem comentando sobre biquínis e saídas de banho, e pelo anjo, só
de imaginar a Emma em um biquíni na frente dos tios da Bela eu engoli em seco,
pelo sentimento nada amistoso que senti.
Pelo jeito o dia ia ser longo.

— O almoço estava delicioso, senhora Rose. — A Emma comenta enquanto


todos vão se retirando para sala depois que foi servida a sobremesa.
— Delicioso é pouco! Nosso Senhor dos gulosos, essa torta é um pecado para
meu regime. — A Dora fala chupando a ponta dos dedos de olhos fechados, após
devorar o terceiro pedaço da famosa torta de pêssego da Dona Rose.
Percebi que a danada comeu bem pouco no almoço, como se estivesse
guardando espaço para a sobremesa. Fatalmente a Bela comentou sobre a torta que a
avó fazia e como uma boa formiguinha que ela se mostrou ser até agora, não deixou
por menos.
— Se quiser mais pode se servir, minha querida. — Dona Rose fala sorrindo
encantada por ver uma adolescente sem frescuras como as de hoje em dia.
— Ah! Obrigada, mas não cabe nem um suspiro em meu corpinho. — Ela
responde fazendo uma careta brincalhona.
— Fiz uma para vocês levarem mais tarde, cortesia e presente de Boas-vindas.
— Não precisava Dona Rose, e pelo amor de Deus, não repare na gula da
minha irmã. — Minha Emma fala olhando feio para a irmã, mas com um misto de
carinho.
— Sabe a quanto tempo não comemos comida caseira? Só expressos e fast
food? Eu mereço me esbaldar numa deliciosa torta de pêssego com creme. — Ela
fala rindo, e brincando, passa o dedo no creme que restou em seu prato levando a
boca para provocar a irmã.
Bem nessa hora o Theo entra na cozinha e vejo que trava na porta com a cena,
mas olha para o lado rapidamente tentando disfarçar o brilho carregado que
apareceu em seus olhos com a cena sensual que a Dora acaba de protagonizar,
mesmo sem intenção.
Ah meu amigo, como te entendo, entendo bem esse conflito em seus olhos,
penso, e mudo de assunto para salvá-lo desse desconforto, que sei se instalou em seu
peito. Ele percebe que notei seu embaraço, e tenta entrar no assunto que iniciei para
desanuviar a mente.
— Sei que acabamos de almoçar, mas queria saber se vocês gostariam de
cavalgar, “se souberem lógico”. Podemos ir até à cachoeira. — Ele fala entrando na
cozinha. — A Bela disse que vocês trouxeram roupa de banho, e o sol está de matar,
então achei que seria mais divertido que a piscina.
— Nunca cavalguei na vida, mas aprendo rápido. — A Dora novamente, sem
perceber por onde andam os pensamentos do pobre Theo, fala sem pensar no duplo
sentido de suas palavras na mente de um homem, ainda mais um homem que acabou
de vê-la chupando os dedos e quase tropeça como um adolescente pego
desprevenido.
— Pensando bem, acho melhor irmos de caminhonete, a estrada chacoalha um
pouco, mas é bem mais seguro, já que vocês nunca andaram a cavalo.
— Ah, para cowboy, sou boa aluna, mas posso ir na sua garupa, se não tem
paciência de ensinar, e a Emma vai na garupa do agente Duncan.
E pela feição azeda que devo ter feito com essa menção, ela continuou com a
provocação descarada.
— Ou você vem também Padre? — Aquela espevitada pergunta, e noto a
malícia em suas palavras dessa vez. — Aí ela pode ir com o senhor, já que assim
como eu, nunca chegou nem perto de um cavalo.
— Acho que prefiro ir de caminhonete Dora, morro de medo de cair e me
machucar. — A Emma fala animada com o passeio.
— Eu te levo Emma, e não se preocupe, não vou deixar você cair. — Falo
sorrindo, mas me torturando em imaginá-la tão próxima novamente.

Quando o Zeca trouxe os cavalos selados e prontos, as meninas saíram com


umas cestas cheias de guloseimas, animadas para um piquenique a beira da
cachoeira.
— Cadê meu cavalo? — A Bela pergunta contando as montarias ali presentes,
e em quantos estávamos.
Ela sabia que a Emma e a Dora iriam de garupa, então quando viu somente
quatro cavalos selados, indagou sobre o seu.
— Você vai comigo ué. — O Octávio responde já montando o seu, e dando a
mão para ajudá-la.
— Não fiquei doida. Desculpa tio, mas tem mais de um ano que você e o tio
Path não montam, e prefiro não arriscar. — Ela fala balançando a cabeça. — Vou de
carro com o Zeca, assim levo as cestas de piquenique.
— Isso é um absurdo. — O Patrick responde fingindo indignado. — Não é
porque o Tavio cavalga feito moça que você não deva confiar em mim também.
— Na verdade, prefiro mesmo que ela vá com o Zeca. — O Theo comenta
enquanto ajuda uma Dora toda desajeitada a montar. — Não quero que minha única
sobrinha caia do cavalo e seja pisoteada no processo.
— Exagerado, aposto que chegamos antes de vocês. — O Tavio responde à
provocação desafiando-o.
— Sabe que com garupa eu nunca aceitaria, mas na volta as meninas podem vir
de carro e vemos quem ganha no mano a mano. — O Theo fala com sorriso de
quem já ganhou.
Ao contrário do Theo que está tentando subir a Isadora primeiro, eu monto no
cavalo e dou a mão para a Emma, puxando-a em seguida, e acomodando-a em
minha frente no cavalo.
— Assim não é mais fácil que subir primeiro? — A Dora pergunta olhando a
irmã já montada na minha frente.
— Não! Você está com medo, mesmo que eu te puxe você ainda pode se
machucar. — O Theo responde.
— Como você conseguiu subir nesse cavalão, Emma? — A Dora pergunta
bufando frustrada.
— Eu confio no Gregório. — Foi a única resposta que a Emma deu.
Então a Dora para, respira fundo com os olhos fechados, e quando os abre, dá
aquele sorriso radiante de menina sapeca, e em seguida um beijo na bochecha do
Theo dizendo:
— Eu confio em você cowboy, só não me machuca.
Não fui o único que percebeu, "como sempre" o duplo sentido de suas
palavras, pela cara de encantado, misto com apavorado que o Theo está, e o pigarro
que o Path deu chamando a atenção para ele.
— Então, vamos? O Zeca e a Bela já devem ter chegado na cachoeira.
Nesse momento o Theo pega na cintura da Dora levantando-a como se ela
fosse uma boneca, e a coloca perfeitamente em cima do cavalo, montando logo atrás
em seguida.
É visível em seus olhos que as palavras da menina mexeram com ele.
Quando começamos a ir em direção a estrada que leva a cachoeira, imagino
que deva estar visível o quanto estou tenso, e de nada tem a ver com o cavalo, e sim,
com meu pecado particular, sentada na minha frente, e que com cada metro
cavalgado, sinto sua bunda roçar meu membro, o que não está ajudando em nada a
manter meu autocontrole.
CAPÍTULO 07
Estamos cavalgando lentamente, e a cada centímetro percorrido, só consigo
sentir a respiração dele, na minha nuca, o calor de seu corpo, que está fazendo-me
sentir contrações e espasmos em regiões bem reservadas, me deixando úmida e
quente, fora que esse movimento que nossos corpos fazem com o trotar do cavalo, é
quase erótico, e não está ajudando em nada para manter minha mente vaga e sã.
Tento me ajeitar em cima do cavalo, pois percebo que estou meio torta, e para
disfarçar que sensações estou sentindo, então me afasto um pouco para trás, e travo
quando ele solta um gemido baixo, sinto seu membro duro esfregando meu quadril
conforme me mexo, me causando uma descarga de choque por todo corpo.
Imaginar que ele possa estar tão afetado quanto eu, é uma coisa, agora sentir o
quanto eu o afeto também, é outra bem diferente.
Gemo seu nome baixinho, tentando afastar a nuvem densa de desejo que brotou
na minha mente.
— Não faz isso meu anjo. — Ele sussurra em meu ouvido com a voz rouca.
Tombo a cabeça para trás, fingindo estar enjoada devido ao trotar, apoiando em
seu ombro, e disfarçadamente para que ninguém perceba, deixo um beijo casto em
seu pescoço.
— Emma! — Ele fala tão baixo, soltando um suspiro, que quase não ouço. —
Não podemos.
— Mas queremos. — Respondo.
— Sim, queremos. — Diz apertando minha cintura, deixando um beijo singelo
no meu ombro, e voltando a atenção a estrada.
Quando chegamos ao local onde fica a cachoeira, vimos que a Bela e o Zeca já
haviam arrumado as toalhas com os lanches que foram preparados para nossa tarde
de domingo, eles escolheram a sombra de umas árvores que tinha perto da
cachoeira, e que davam um ar até romântico para o lugar, já que o sol estava
castigando, e o calor estava de matar um, mas ali corria uma brisa suave.
Desci do cavalo com ajuda do Gregório, posso dizer que ele me carregou,
porque pode parecer fácil, mas é super alto para “apear[16]” como eles chamam, eu ia
literalmente desmontar no chão, feito uma fruta madura.
Com ele me ajudando eu quase caí, imagina sozinha.
No que ele me colocou no chão, aproveitei mais um pouco para sentir seu
corpo sob minhas mãos, me apoiando em seus ombros, deslizando as mãos pelo seu
peito em um gesto de carinho, deixando nossos corpos tão colados, que pude sentir
seus batimentos cardíacos tão acelerados quanto os meus.
— O que você está fazendo comigo menina? — Ele pergunta baixo, ainda me
segurando, ou melhor, me apertando contra seu corpo.
— Deixando meus instintos me guiarem, e como cada célula do meu corpo
grita quando você se aproxima, tento aproveitar cada resquício de aproximação que
consigo ter. — Respondo olhando seus lábios, implorando um toque, sedenta de
apenas um beijo.
Com a ponta dos dedos em meu queixo, ele levanta meu rosto, prendendo meu
olhar no seu, buscando algo, mas a única coisa que acredito que consegue encontrar,
é uma garota nitidamente envolvida em um sentimento que nem ela própria sabe
explicar.
Como ainda estamos um pouco afastados do pessoal, perto de uma das árvores,
onde todos deixaram os cavalos descansando, podemos nos dar ao luxo desse
momento de proximidade, que juro por Deus, eu não quero que acabe.
— O que faço com você minha Emma? — Pergunta colando nossas testas, de
olhos fechados.
Sinto seu tormento em cada respiração, a luta que deve estar em sua mente,
entre o desejo, e o proibido, e, enquanto me sinto culpada por fazê-lo sentir-se
assim, eu quero que ele me olhe, me veja como mulher.
— Me diga que não sente o mesmo que eu, que isso tudo é coisa da minha
imaginação tola. — Falo segurando sua mão em meu peito, para sentir como estou,
com a respiração cortada, coração acelerado.
— Não é imaginação! Mas não posso ser para você, o que você espera, você
ainda é uma menina, cheia de vida e sonhos, e eu além de ser bem mais velho, sou
um padre, fiz votos, tenho conceitos a seguir. — Fala segurando meu rosto, me
obrigando a olhá-lo, e sinto que cada palavra que saí de sua boca lhe dói como um
corte profundo.
Deito o rosto em sua mão com um sorriso triste, deixando um beijo na palma e
falo:
— Eu entendo, mas sinto-me indefesa quando se trata de você! Pois é a você
que quero ficar presa, você me reivindicou para si quando te conheci, no momento
que te vi soube estar perdida.
— Por Deus Emma, não diga coisas assim. — Diz me abraçando apertado, mas
logo se afastando, como se o simples fato de me abraçar fosse iniciar uma guerra. —
Vamos linda, você tem uma tarde inteira para aproveitar.
Eu trocaria tudo por uns momentos ao seu lado, penso seguindo-o para junto
dos outros.

— Achei que tinham desistido do banho de cachoeira e voltado para casa. — A


Bela fala sorrindo vindo em nossa direção.
— Jamais! Com esse calor, não vejo a hora de entrar na água. — Respondo
procurando pela Dora já que não a vejo em lugar nenhum. — Cadê minha irmã?
— Ah ela não perdeu tempo, assim que chegamos já arrancou a blusa e o
shorts, ficando de biquíni e correu para água. — O Zeca comenta rindo.
— E, por que você está rindo? — O Gregório pergunta curioso, sentando-se ao
lado da toalha, que estava estirada no chão com vários lanchinhos.
— Porque ela quase faz o Theo ter um infarto quando ele viu que ela foi na
direção da segunda queda d’água.
— O que tem demais na segunda queda d’água? — Pergunto tirando a blusa, e
quando estou prestes a tirar o short, o Gregório me interrompe.
— A Segunda queda é muito perigosa, além de ser muito alta, é cheia de
buracos como veias, que formam fortes correntezas, se transformando em um
sumidouro[17]que deságua na represa a uns quilômetros daqui. — Fala me olhando
com cara de quem chupou limão.
E neste exato momento, decido que vou conquistar esse homem, nem que custe
minha alma no processo, por pecar desta forma, cobiçando um Padre.
CAPÍTULO 08
Eu não esperava ouvir as palavras que a Emma me disse, e que agora estão
coladas em minha mente, me castigando, me torturando. “
— Eu entendo, mas sinto-me indefesa quando se trata de você! Pois é a você
que quero ficar presa, você me reivindicou para si quando te conheci, no momento
que te vi soube estar perdida.”
Eu também me senti perdido no momento que a vi, cada célula do meu corpo
gritou “MINHA” mesmo sabendo ser errado, e ainda me sinto assim, um bastardo
egoísta, um pecador, porque eu não deveria sentir nada disso, sou um padre que fez
os votos, que sempre honrou a batina, mas que neste momento só tem vontade de
jogá-la no ombro e levá-la embora antes que ela tire esse maldito short, e acabe com
minha razão e autocontrole de vez.
— Não sei se seria apropriado ficar somente de biquíni, Emma. — Falo
pigarrando, coçando a garganta para não deixar transparecer o quanto estou tenso e
me corroendo de ciúme.
— E entrar de roupa na água? — A Bela pergunta indignada, já se levantando e
ficando de roupa de banho também. — Nem pensar, vem Emma, a Dora já está
jogando vôlei com meus tios, só falta a gente.
Vi quando o Zeca arrumou as roupas numa sacola e deixou em um canto,
tirando a camisa e ficando só de bermuda, assim como os outros.
Eu também estava de bermuda por debaixo do jeans, mas não estava
tencionando entrar na água, porém, vendo minha menina seminua, só com aquele
pedacinho de pano tapando seu corpo, não pensei duas vezes, e fiquei só com a
bermuda e uma camiseta de malha. E puta merda, quase esqueço da nossa pequena
plateia quando ela me olha de cima a baixo com olhos gulosos, e umedece os lábios
com o desejo nítido.
Peguei sua mão com desculpa de guiá-la na descida até a piscina natural que a
queda d’água formava, porque nem por cima do meu cadáver alguém tocaria nela,
nesses trajes.
— Emma! Vem logo, a água está uma delícia. — A Dora fala de cima de uma
pedra que tem em um canto, onde as pessoas usam de trampolim, pronta para pular.
— Pronto acabou de conseguir. — A Emma fala levantando os braços para
cima. — Me deu um mini infarto agora te ver aí em cima. Desce agora Isadora!
— Tá bom irmãzona mais velha! — A Dora debocha pulando sentada e
jogando água para todo lado.
— Você tem uma tatuagem? — Posso ver? — A Emma pergunta quando entro
na água e a camiseta que estou, molha, ficando transparente.
— Tenho, mas não sei se significa algo, eu sinto que sim, porém nunca
consegui me lembrar de nada da minha vida antes de acordar na Abadia. —
Respondo puxando um pouco da camiseta para mostrar a tatuagem de três pardais
que tenho no peito.
— É lindo! — Ela fala tocando meu abdômen de leve com a ponta dos dedos, e
eu simplesmente travo, não consigo sequer lembrar de como respirar.
Seu toque é como uma descarga elétrica percorrendo todo meu corpo, por onde
sua pequena mão passa, sinto que deixa um rastro de puro fogo.
— São lindos, e as cores são tão vívidas. — Fala hipnotizada olhando a
tatuagem. — Não se lembra de nadinha? Porque é nítido que deve ter um
significado, ou não seriam nessas cores específicas né.
— Eu já vi uma tatuagem parecida, para não dizer idêntica, porque a que vi, se
bem me lembro, terminava com o pardal vermelho acima dos outros, não com o
negro como a sua. — O Patrick comenta se aproximando e analisando minha
tatuagem de longe.
Abaixo rápido a camiseta, não quero outros olhos que não da minha menina me
olhando, não está certo.
— Deve ser uma tatuagem comum, se já viu igual, só devem mudar as cores a
“bel” prazer. — Falo tentando mudar de assunto.
Percebo que ele me olha analítico, como se soubesse de algo, mas não tem
certeza se deve comentar.
— Sim deve ser. — Ele fala e volta para junto dos outros.
— Emma! Vem aqui, vamos jogar. — A Bela chama jogando uma bola dessas
de boia em nossa direção. Então entramos mais na água.
Se bem que aqui desce lado da cachoeira é raso, bate no meu peito, mas para
Emma e as meninas acredito que não de altura para ficarem de pé. Elas são
pequenas, então no que ela segue em direção das garotas eu mergulho e levanto com
ela no meu ombro, jogando-a na água em seguida, numa brincadeira, que
automaticamente todos começam a fazer o mesmo.
Revezamos entre o mergulho mais demorado, e o pular da “pedra do rei”,
como eles batizaram a pedra que tem bem debaixo da queda d’água, em menção ao
filme do Rei Leão, e com isso o dia passou que nem percebemos.
Estamos sentados, comendo uns lanchinhos de patê que as meninas trouxeram
e conversando quando a Emma comenta sobre daqui a alguns dias ser o aniversário
de dezoito anos da Dora, fazendo um pedido ao Patrick.
— Agente Duncan! Posso lhe pedir um favor?
— Pode começar me chamando de Path ou Patrick como todos. — Ele
responde sorrindo e abrindo uma cerveja que o Zeca trouxe no cooler. — Aceita
uma, Gregório? — Pergunta já pegando uma garrafinha.
— Não obrigado, ainda vou dirigir hoje, e não gosto de cerveja, na verdade. —
Falo sorrindo.
— Sua amiga chega Sábado nos buscar pelo que você falou sobre quinze dias.
Mas será que poderíamos ficar um pouco mais? — A Emma pergunta e noto em
seus olhos que ela não quer ir embora.
— Bem, na verdade, Patrick eu precisava conversar com você sobre isso. —
Digo me sentando e pegando uma lata de refrigerante que a Emma me passa. —
Creio que não será preciso sua amiga levar as meninas para outro lugar, elas estão
seguras aqui.
— Concordo! — O Theo fala se aproximando com a Dora.
Eles tinham ido com o Tavio na segunda queda d’água, pois a Dora queria
conhecer.
— Eu percebi que vocês gostaram bastante daqui. Mas não posso misturar as
coisas, a segurança de vocês duas é primordial, já que tivemos vários atentados
antes de trazê-las para cá. — O Patrick responde. — E não tenho contato direto com
a Red, não para simplesmente dizer para ela que não preciso mais.
— Ela vir buscá-las é uma coisa, agora ela levá-las é outra bem diferente. —
Digo convicto de minhas palavras. — As meninas não são prisioneiras, e não irão a
lugar nenhum se não quiserem.
Com essas palavras a Isadora veio em nossa direção abraçando a irmã pela
cintura, e vi quando o Theo levou as mãos para trás do corpo disfarçando, e virou-se
para pegar uma cerveja, pois no que ela saiu de perto dele, notei que sua mão foi
automática em direção a cintura dela, com intuito de segurá-la.
— Olha, faremos assim. — O Patrick fala olhando para garrafinha em sua mão.
— Quando a Red chegar, nós explicamos que a princípio vocês iriam com ela, mas
que se instalaram bem aqui, que estão confortáveis na casa paroquial, e que é um
lugar onde ninguém jamais desconfiaria que vocês pudessem estar. Assim ficamos
todos felizes, ok?
— Às duas pulam em cima dele num abraço coletivo, quase derrubando-o, e
juro que o que senti vendo a Emma abraçar outro homem não foi nada amistoso, um
gosto amargo subiu a minha boca, e eu só queria puxá-la de volta para perto de mim
e escondê-la do mundo.
CAPÍTULO 09
QUATRO DIAS DEPOIS
Estamos há mais de meia hora sentadas, nesse banco duro, esperando. Hoje é
dia de confissões, e a igreja está bem movimentada; o pobre do Gregório não parou
nem para comer direito. Mal beliscou um lanche e teve de voltar ao confessionário.
— Que tanto esse povo confessa? Que pecado se pode cometer nesse fim de
mundo, além de roubar a galinha do vizinho e fazer uma canja? — indaga, minha
irmã, indignada com o fluxo de pessoas.
— Para de zombar, Dora — falo baixinho, como se estivesse brava, mas estou
segurando o riso.
— Ah, já deu meu limite! Me diz, Emma, o que uma idosinha daquelas teria
para confessar? — pergunta, fazendo uma careta fofa. — A pessoa mal consegue
andar sozinha.
— E você vai se confessar, né? “Padre, perdoe-me, pois pequei. Eu fiquei o dia
todo sentada perto do altar, tirando sarro das pessoas que vinham se confessar” —
falo, imitando a voz dela. — E não se esqueça de mencionar que anda flertando com
um certo fazendeiro, deixando o pobre coitado doido.
— E quais seriam seus pecados, irmãzona? “Padre, perdoe-me, pois pequei."
Estou apaixonada pelo senhor, mas não tenho coragem de dizer em voz alta por
medo de descer de escorregador para o inferno — fala, imitando à forma como falei
anteriormente.
— Não seja debochada Dora, e respeita a fé dos outros.
— Não estou desrespeitando a fé de ninguém, só não entendo como esse povo
pode ter pecados em um lugar como Vila dos Lobos.
— Ei! Vocês não vão confessar? — A Bela pergunta saindo do confessionário e
se ajoelhando para pagar sua penitência.
Eu e minha irmã olhamos para ela fazendo uma careta de... “Sério?”
— E que pecados você poderia ter cometido, Bela? — A Dora pergunta
torcendo o nariz.
— Mais é claro que não vou te contar né Isadora.
— Não vai contar por que nem deve ser considerado pecado, e o Gregório te
expulsou da casinha. — Minha irmã comenta resmungando, fingindo que
acompanha a Bela nas orações.
— Primeiro não é “casinha” sua herege, é confessionário, e sim, minha
penitência foi pequena, já que sou um anjinho do senhor. — Bela cochicha rindo,
para que somente nós ouvíssemos.
Não aguentamos segurar o riso, e nós três até nos engasgamos na tentativa de
disfarçar.
— Não sei o motivo da conversa e dos risos, mas podem parar suas pestinhas.
— O Zeca fala, e aí sim que nos ajoelhamos, e fingindo rezar de cabeça baixa,
caímos na gargalhada.
Sabe aquele momento que não é apropriado para crises de riso? Então, estou
sofrendo de uma bem agora.
— Vamos Bela, o dia de confissões acabou. — O Theo a chama, quando sai
acompanhando Dona Rose.
— Final de semana vocês vão para fazenda de novo? Podemos fazer um
passeio diferente, desta vez. — Ela pergunta empolgada.
— Vamos ver, Bela, esse final de semana acredito que a amiga do seu tio vem
nos buscar, e ainda não sabemos como será. — Respondo desanimada com a ideia
de ir embora e me afastar daquele que a cada dia se torna parte de mim, e dos meus
pensamentos. Meu Santo Padre.

Depois que todos se foram, eu e a Dora fechamos as portas da igreja,


trancando-as por dentro, e vamos direto para casa, precisamos de um banho e de
arrumar algo para comer. Hoje o dia foi puxado, não parece mais ser assistente do
Padre, em dia de confissões, não é fácil com esse povo pecador.
Quando passamos perto do confessionário percebo que as luzes ainda estão
acesas, então peço para minha irmã ir entrando e adiantando as coisas, que vou
averiguar se está tudo ok, e apagar as luzes.
Ao me aproximar, percebo que a porta da cabine interna do confessionário está
aberta, me aproximo devagar, e vejo que o Gregório ainda está lá, sentado numa
poltrona que tem dentro do lugar, com a cabeça tombada para trás de olhos
fechados, e uma expressão bem cansada.
— Gregório! — Chamo baixo, me aproximando mais.
Ele abre os olhos, mas sem levantar a cabeça, responde:
— Eu senti você se aproximar Emma. — Fala com a voz rouca. — Seu
perfume é inconfundível, e não sei como explicar, mas sinto quando você está perto.
Me aproximo mais, até ficar de frente para ele, como está sentado, me ajoelho
em sua frente, no intuito de ficar na altura de seu rosto.
Ele levanta a cabeça abruptamente, e me olha diretamente nos olhos.
— O-o que, está fazendo Emma?
— Não sei. — Digo deitando a cabeça de lado em seu colo. — Mas não me
mande sair, eu preciso disso, preciso de você Gregório.
Ele geme baixo, abaixando, se debruçando sobre mim, e me abraçando.
— Não faz isso meu anjo, posso ser um Padre, mas não sou de ferro, Emma. —
Diz com a voz embargada, um pouco rouca, levantando meu queixo para que o olhe.
— Sei que é errado, que vou para o inferno por isso, mas não consigo me
controlar perto de você. — Falo pegando sua mão que segura meu rosto, beijando as
palmas, e as pontas dos dedos. — Desde o momento em que fomos apresentados, eu
sonho com seus lábios Gregório, com suas mãos me tocando, estou faminta em
meio ao deserto do proibido, me alimentando das migalhas de afeto que pode me
dar.
— Isso não está certo meu anjo, mas por Deus, eu me sinto igualmente
faminto. — Confessa passando os dedos pelos meus lábios, contornando-os e
engolindo em seco a luxúria que se instalou sobre nós.
Então me levanto, me aproximando, disposta a perder o juízo de vez, e quando
tomo coragem de me sentar em seu colo, já que ele continua sentado na poltrona,
dentro da cabine do confessionário, e sinto que ele não vai me impedir, pois está tão
preso nessa aura, nessa tensão devastadora que se impregna em nós dois, ouço a
Dora me chamar a distância, quebrando a magia e o transe que estávamos, nos
trazendo de volta ao real.
— Já vou Dora! Só estamos terminando aqui e já estamos indo. — Respondo
trêmula, engolindo em seco as sensações que ainda habitam cada célula do meu
corpo.
— Se errado ou não, você me tem menina, sou seu, estou cansado de lutar
contra meus sentimentos. — Fala me segurando pela nuca, com os dedos
embrenhados em meus cabelos, e a testa colada na minha.
Então, ainda se segurando que posso ver, ele se levanta, me pegando pela mão
e saímos dali, indo para casa, onde minha irmã nos espera.

— Por que você demorou tanto lá na igreja Emma? — Minha irmã pergunta se
virando na cama para ficar de frente para mim.
— Estava conversando com o Gregório. — Respondo ainda deitada de barriga
para cima, encarando o teto, com a mente no que “quase” aconteceu.
Eu nunca passei de beijos com os namoradinhos que tive no colégio, mas sinto
que se o Gregório me beija-se naquele momento, não ficaríamos só nisso. Ele não é
um adolescente, e por mais estranho que pareça, com ele, “para ele” me sinto
pronta, como se cada parte minha lhe pertence-se.
— Você está distante, que tipo de conversa foi essa? — Ela pergunta me
encarando.
— Nada de mais, e para de me encarar, é estranho. — Respondo rindo.
Ela suspira após rir também e fala:
— Amanhã a amiga do Agente Duncan chega, e eu não quero ir embora
Emma. Gosto daqui, me apeguei ao lugar. — Diz fazendo beicinho.
— Se apegou a cidade, ou a fazenda Coração do Texas e seu dono? — Insinuo
com um risinho provocador.
— Pode parar tá. — Fala rindo, mas na mesma hora, ficando séria de novo. —
Quem diria que iríamos perder nossos corações em uma cidadezinha no interior do
Texas. Você e seu Padre, e eu com meu cowboy, que nem me nota.
— Por que você acha que ele não te nota? — Pergunto me virando para ela,
deitando-me de lado na cama.
— Acho que ele me vê como a Bela, apesar de todo meu esforço para aparentar
um mulherão da porra. Deve me achar ridícula isso sim.
— Eu acho o oposto. Já vi como ele te olha quando pensa que ninguém está
vendo.
— E como ele me olha?
— Com os olhos brilhantes, como quem viu a flor mais linda. — Respondo
sorrindo.
Ela fecha os olhos, então fala convicta:
— Precisamos dar um jeito de não precisar ir com a moça que vem nos buscar.
— Daremos Dora! Pois não há nada neste mundo que vá conseguir me afastar
do meu Gregório.
— Desculpa minha irmã, mas tem sim! Uma batina.
— Me contento em poder ficar só perto se for o caso, é melhor que nada né. —
Respondo com o choro embargado na garganta.
CAPÍTULO 10
Estou terminando de coar o café, não consegui dormir a noite toda, pensando
no que “quase” aconteceu ontem no confessionário, eu ainda conseguia sentir o
cheiro dos cabelos dela, a quentura de seu corpo que incendiava cada fibra do meu,
mesmo não a tocando.
Senti-me um viciado de frente para sua tentação, então pulei da cama a fim de
tomar um banho frio e relaxar, estava começando a amanhecer, o sol já dava
indícios de que teríamos um dia bem quente, aproveitei que as meninas estavam
dormindo e fui à padaria comprar pão e mais algumas guloseimas para o café.
— O cheiro está maravilhoso. — A Emma comenta toda, sorrisos entrando
seguida da Dora.
— Na minha opinião não existe cheiro melhor logo de manhã, do que de um
bom café — comento colocando o bule na mesa, e me virando para pegar o leite.
— Deixa que eu pego. — A Dora fala se virando para o refrigerador onde
estava o leite e o suco.
— Acordaram cedo hoje, por quê? — Pergunto passando manteiga em um
pãozinho tipo broa que comprei de manhã.
— Acho que estamos um pouco ansiosas demais, e isso, misturado com vários
outros detalhes, me fez perder totalmente o sono. — Minha Emma responde
mordendo seu pãozinho, com as bochechas absurdamente rubras, parecendo que
todo sangue de seu corpo centralizou ali.
— Por que ansiosas?
— Hoje a amiga do Agente Duncan vem nos buscar, e não queremos ir Padre.
— Quem responde é a Dora, cabisbaixa.
— Vocês não precisam ir se não quiserem. Não são obrigadas. — Falo sentindo
um aperto no peito, só de imaginar meu anjo longe de mim.
— Claro que somos obrigadas Gregório. — A Emma fala com a voz
embargada, e percebo que está segurando o choro fazendo um biquinho muito lindo.
— Eu ainda tenho dezenove, e a Dora vai fazer dezoito só daqui a uns dias, estamos
sob a tutela de um juiz, e só não estamos em um orfanato, porque depois de dois
atentados contra nossas vidas, ficamos sob proteção do FBI também — suspira
remexendo os ovos com bacon em seu prato.
— E se o Agente Duncan nos mandar ir com a amiga dele, não teremos escolha
senão arrumar as malas de novo e partir só Deus sabe para onde. — A Dora fala,
também com carinha de choro.
E tudo que menos preciso no momento é de duas mulheres chorando na minha
cozinha, então, meio em pânico, comento:
— Vou ver o que pode ser feito, mas nem por decreto vocês duas vão a algum
lugar contra à vontade.
Nesse momento, nem vi quando às duas se levantam chorando e se jogam em
cima de mim num abraço molhado de lágrimas, e agora tenho uma de cada lado do
meu ombro, soluçando um obrigado agoniado.

Estou na sacristia, onde administro os interesses da igreja, vendo uns papéis de


orçamento referente a troca do telhamento da paróquia e da casa adjacente.
Na verdade, se fosse fazer tudo que necessita ser feito no local seria mais
pudente derrubar e construir outra igreja, porque o lugar está cheio de pequenas
reformas para serem feitas, fora a restauração de algumas imagens e dos bancos. O
antigo pároco que deus o tenha, não ligava muito para esses detalhes.
— Licença Padre. Tem umas pessoas lá fora querendo falar com o senhor. — A
senhora que me ajuda com os afazeres da igreja e da casa paroquial fala entrando na
sacristia.
— Diga que já estou indo Dona Rita, só vou guardar umas coisas aqui. —
Respondo coçando a ponte do nariz, pois essa reforma já está me dando dor de
cabeça.
Quando estou saindo em direção onde estão me aguardando, minhas meninas
saem de um canto, como se estivessem escondidas, e vem em minha direção. Vejo
em seus olhos o pavor estampado, carregando de uma súplica de “não nos deixe ir”,
então compreendo que deve ser a amiga do Patrick, me aguardando.
— A mulher lá fora deve ser gente importante, pelo tanto de segurança que tem
em volta da igreja e com ela, e fora que vi, quando antes dela descer do carro, eles
fizeram vistoria em todo canto, até dentro da igreja. — A Dora fala cochichando.
— Como assim fizeram vistoria dentro da igreja? — Pergunto indignado com
esse absurdo.
— O Agente Duncan chegou logo depois dela, vi ele e mais outros agentes que
cuidavam de nós. — A Emma fala pegando minha mão num aperto forte, e se
escondendo atrás de mim. Aliás, às duas estão me usando de escudo.
Chegando aonde todos me aguardavam, notei mesmo, um exército de
seguranças, havia uma mulher de costas conversando calorosamente com os
agentes, e pelo tom de sua voz, dava para perceber discutirem.
— Padre! Deixe-me lhe apresentar a amiga de quem falei — o Patrick diz
vindo em minha direção.
Sinto as mãozinhas pequenas da Dora apertarem meu braço, do qual ela está
agarrada, e minha Emma meio escondida atrás de mim, mas ainda segurando minha
mão firmemente, como se precisasse desse contato para “se” segurar.
No momento em que ele se aproxima pronto para as apresentações, a mulher
que ainda estava de costas quase rosnando para a Hilary se vira, e como se tivesse
visto uma assombração, de tão pálida que fica, ela simplesmente trava assim que me
vê, a tensão em seu corpo é quase palpável.
— Juan? — Pergunta ainda travada no lugar.
— Perdoe-me minha filha, deve estar me confundindo com alguém. — Falo me
aproximando com a mão estendida em cumprimento. — Me chamo Gregório. Sou o
pároco local, e atual responsável pelas irmãs Wilson. — Imponho minha posição,
deixando claro que, é comigo que ela irá lidar.
Ela pisca, votando de uma espécie de transe, então fala:
— Me desculpe Padre, é que o senhor me lembrou uma pessoa muito querida, a
semelhança física é fascinante. — Responde apertando minha mão, e sinto que a sua
está gelada.
— Você também não me é estranha — digo assimilando seus traços. Então me
lembro quando o Patrick comentou que ela estava na Espanha visitando os parentes.
— O Agente Duncan mencionou que você é da Espanha, de que lugar? Podemos já
ter nos vistos por lá, já que também sou espanhol.
— Minha família mora em Monistrol, na Catalunha. — Responde me olhando
nos olhos.
— Então está explicado por que te acho familiar. — Falo sorrindo, por saber
que ela é uma conterrânea da mesma cidade do mosteiro que vivi. — Sou do
Mosteiro de Montserrat, fui transferido para cá, a dois anos apenas.
— Maleïts monjos[18]. — Ela resmunga “em catalão”, tão baixo que não consigo
ouvir direito o que falou.
— O que disse?
— Nada Padre. Foi apenas um pensamento alto. — Responde com sorriso
amplo. — Não querendo ser grosseira, mas mudando de assunto, podemos
conversar em um lugar mais reservado?
— Mais é claro. — Respondo um pouco aliviado, pois estranhamente, o clima
ficou um pouco tenso — me acompanhem — digo seguindo em direção a sacristia.
— Não se preocupe Padre, não vamos demorar. — A Hillary fala logo que
entramos.
— Nem sei por que vocês estão aqui. — A Red diz sentando-se em um sofá
que tem no canto da sala.
— Vocês duas não vão começar de novo né? — Pergunta um Patrick já se
pondo entre elas.
— Vocês aceitam um café, ou um suco? — pergunto tentando distraí-los do
que aparenta ser uma discussão antiga e inapropriada.
— Eu aceito um suco se estiver gelado, por favor. — A Red fala ignorando
totalmente os dois agentes.
— Deixa que vou buscar Gregório, fiz um de maracujá ainda a pouco bem
gelado — minha menina fala sorrindo para moça. — Mais se quiser posso fazer um
de laranja, caso não goste de maracujá.
— Adoro maracujá, bem docinho, se não for abusar querida.
— Pode deixar, trago o potinho de açúcar e a senhora adoça, assim não arrisco
exagerar.
— Me chame somente de Red minha linda.
Então a Emma sai em direção a cozinha da casa buscar os sucos e copos
deixando a Dora ainda bem retraída perto da porta.
— Vocês não querem ir embora, acertei? — A Red pergunta direcionada a
Dora, que me olha como uma cordeirinha assustada.
— Não! — Ela responde baixinho. — Na verdade, nós gostamos daqui,
fizemos amizades, e nós sentimos seguras.
E no momento que a Red vai responder, o Theo entra na sacristia conversando
com o Patrick, e vejo quando a Dora corre em sua direção com um lindo sorriso.
— Theo! Você veio. — Diz abraçada a sua cintura, agarrada eu diria, bem
como estava em meu braço minutos antes.
— Sempre, minha princesa! — Fala devolvendo o abraço, com um beijo no
alto da cabeça. — Vim assim que soube que a comitiva de seguranças da Red estava
na cidade, e que meu irmãozinho também estava com outros agentes, apesar de me
prometer que avisaria quando viesse buscar vocês.
Esse gesto não passou despercebido por ninguém, principalmente pelos olhos
atentos da tal Red que observava tudo com muita atenção.
Nesse momento a Emma chega com a bandeja de sucos e na mesma hora vou
ajudá-la, pois vejo que está se equilibrando para não deixar nada cair.
— Deixa que coloco na mesa anjo. — Digo, me esquecendo totalmente das
pessoas presentes.
— Compreendo por que você e sua irmã não querem ir embora da cidade. — A
Red fala sorrindo. — Mas não se preocupem meninas, vocês não vão a lugar algum,
que não queiram.
— Red! — O Patrick fala segurando a ponte do nariz. — Eu respondo ao
governo, e meus superiores me deram ordens expressas de que, se elas não forem
para outro local seguro, ou seja, com você, terei de remanejá-las.
— Quem é o juiz que está com o caso? — Ela pergunta tomando seu suco.
— Por que quer saber? — Ele responde com outra pergunta, levantando
somente uma sobrancelha, enquanto todos os presentes na sala parecem seguir uma
partida de ping-pong, olhando de um para o outro.
— Isso não importa, só me dê o nome.
— Juiz Solomon. — Ele responde olhando-a curioso.
Neste momento noto um sorriso cheio de malícia nos lábios da tal Red, como
quem aprontou ou vai aprontar algo.
— Padre! — Ela me chama, e como todas às vezes que se direcionou a mim,
noto que seus olhos brilham. — Sabe me dizer se tem algum hotel bom por perto em
que eu possa me hospedar, e a minha equipe?
— O único estabelecimento de hospedaria é a pensão dos Torres, a duas
quadras daqui. — Respondo, e vejo quando o Patrick vai falar algo, mas ela o cala,
dispensando-o como se ele fosse apenas um curioso e não um agente.
— Vou me instalar na pensão, como sabem acabei de chegar de uma viagem
longa e cansativa, e preciso colocar a mente em ordem — diz levantando-se, e
caminhando em direção a minha Emma e a Dora que estavam quietas somente
observando tudo e todos. — Amanhã volto e resolvemos este impasse ok?
— Vou te acompanhar. — O Patrick fala indo em sua direção.
— Não vai! Tenho meus seguranças, não preciso de escolta. — Ela fala
dispensando todos, quase empurrando porta afora.
Dou uma risada Contida com essa cena, e fico um pouco aliviado que esse dia,
que poderia ser bem um completo desastre tenha terminado relativamente bem.
Veremos amanhã o que nos aguarda.
CAPÍTULO 11
Sabe aquele suspiro de alívio, de quando você está segurando para não surtar, e
volta a respirar? Então, me senti exatamente assim.
Quando a senhora Red saiu levando consigo os agentes e nos deixando na
igreja, mesmo prometendo voltar no dia seguinte, eu senti uma ponta de esperança
de que tudo daria certo. Olhei para meu Gregório toda sorridente, e quando vi em
seus olhos o mesmo brilho que os meus estampavam, foi perfeito, e me derreti toda
com a intensidade que ele me olhava.
— O que acham que acontecerá agora? — A Dora pergunta tão aliviada quanto
eu.
— Não conheço a Red, mas pelo pouco que meu irmão comenta sobre a pessoa
dela, ela não é de muitas palavras, e não faz promessas que não vá cumprir. — O
Theodor responde com ar pensativo.
— Não sei explicar muito bem, mas a achei meio familiar, não só pela hipótese
de já termos nos vistos na Espanha, mas sim, por aquela sensação de
reconhecimento. É estranho. — O Gregório comenta, mas muda de assunto na
mesma hora. — Bom, o importante é que pelo que parece ela não vai obrigar vocês
a irem com ela — diz levantando da cadeira que estava sentado até então.
— Nada contra seu irmão. — Comento fazendo uma careta. — Mas só dela,
nos tirar das mãos do FBI já será perfeito.
— O que pretendiam fazer hoje? Tinham algum plano para o dia? — O Theo
pergunta voltado a todos, mas olhando para minha irmã.
— Na verdade, o único plano para hoje era nos esconder dos agentes e da moça
que iria nos levar embora, porque não queríamos ir. — Falo rindo, pois até para
mim, soou infantil essa atitude.
— A Bela está com o Zeca, esperando na praça. — Ele fala como se tivesse
acabado de se lembrar, desse detalhe. — Acredito que ainda estejam lá.
— Você esqueceu sua sobrinha e seu amigo na praça, e não fica nem vermelho
por constatar isso somente agora? — O Gregório pergunta rindo do fato.
— Nem era para aqueles dois terem vindo junto, o Zeca nem parece ter a idade
que tem — comenta torcendo o nariz. — Se tratando da Bela, ele volta aos quinze
anos que já passou faz tempo.
Todos rimos e concordamos que aqueles dois juntos são duas figuras, parecem
cão e gato, mas não se largam, acho que até quando ele sai para namorar é bem
capaz de levá-la junto.
Disperso esse pensamento e volto ao que importa. “De que nós ainda estamos
aqui”
— Vamos tomar um sorvete daqueles cheios de guloseimas para comemorar
que vocês ainda estão comigo? — O Gregório pergunta já pegando minha mão, e
para disfarçar quando percebe sua atitude, pega a da Dora também nos levando para
fora da sacristia.
Vejo quando o Theo, como quem não quer nada, puxa a Dora para perto dele, e
juro que vi um brilho possessivo em seus olhos.
— O que acham de amanhã, depois que a Red nos informar o que decidiu e
resolveu sobre o caso, vocês irem para fazenda? Podem dormir por lá, e ficar o final
de semana. — O Theo pergunta nos seguindo para fora da igreja, de onde podemos
ver a bela ainda na praça, com carinha de quem chupou limão.
— Me esqueceu aqui né tio? — Ela pergunta assim que nos aproximamos.
— Claro que ele esqueceu! Falei para você que era melhor entrarmos, ou era
capaz dele ir embora e só lembrar de nós depois que chegasse em casa. — O Zeca
fala rindo.
— Em minha defesa, eu estava tentando convencer as meninas de passarem o
final de semana conosco na Coração do Texas.
— Há! Diz que vocês vão. — A Bela pede dando pulinhos.
— Eu vou, mas a Emma acho que não vá dar para ir, não enquanto a moça que
veio para nos buscar ainda estiver na cidade. — A Dora fala com um sorriso
cúmplice para mim. Ela sabe que nem em sonho eu iria ficar longe do meu
Gregório.
— Precisarei ficar, pois vai que aconteça algo que tenhamos de decidir, aí eu só
peço para alguém buscar você Dora. — Falo entrando na desculpa esfarrapada que
ela deu, e pelo que notei, só a Bela, que ainda é inocente nesse quesito, engoliu.
— Tudo bem, mas você está me devendo. — A Bela fala sorrindo, e todos nós
seguimos para sorveteria que fica logo na esquina.
Aquele dia foi bastante tenso no início, mas conforme foi passando, e pude ver,
que não teríamos de partir, o alívio foi inevitável.
Quando saímos da sorveteria, a Dora decidiu começar seu final de semana mais
cedo, e foi com a Bela e os rapazes para a fazenda, aí como eu fiquei sozinha com o
Gregório, o que ainda estou decidindo se foi prudente, resolvi fazer um jantar
diferente, leve devido ao calor, afinal se não fosse por ele, a essa hora estaríamos
sabe-se lá onde.
— O cheiro está delicioso. — Ele fala entrando na cozinha, após passar o resto
do dia enfurnado na sacristia.
— Queria fazer algo especial, mas não achei muitas opções no mercado, então
opinei pelo clássico filé com fritas. — Falo fazendo um biquinho enquanto tempero
a salada. — Vá se arrumar, que já está quase pronto.
— Agora está difícil, porque a cena de você fazendo nosso jantar está muito
linda para perder um segundo sequer. — Ele diz recostado no batente, me olhando
com o sorriso mais lindo que já vi, e que me deixa de pernas bambas e cheia de
borboletas no estômago, toda vez que vejo.
— Mas terá de perder este capítulo. — Respondo brincando. — Já terminei,
vou tomar um banho, e te encontro aqui para jantarmos?
— Pode apostar que sim, meu anjo.

Enquanto jantamos toco em um assunto que vem martelando na minha mente


desde tarde.
— Gregório, posso te fazer uma pergunta?
— Sempre. O que foi?
— Hoje, quando a tal Red te viu, te chamou de Juan, e pela expressão dela, foi
como se tivesse te reconhecido de algum lugar. — Falo olhando-o para absorver
suas feições. — E quando ela disse ser da mesma cidade que você, pensei que talvez
ela realmente tenha te reconhecido, mas de antes de você perder a memória.
— Também pensei nisso. — Ele diz apoiando os talheres no prato. — Eu
espero que amanhã possamos conversar sobre esse detalhe, já que hoje não deu
tempo para nada, eu fiquei bastante curioso.
— Espero que possa obter respostas satisfatórias. — Falo segurando sua mão
por cima da mesa.
— Eu também, pois os monges nunca souberam me dar informações sobre
minha vida anterior ao acidente. — Ele fala pensativo, como se tentando lembrar-se
de algo. — Eles sempre só diziam, que me encontraram no acostamento da rodovia
extremamente ferido, e que fiquei vários meses desacordado, e conforme o tempo
foi passando, eu simplesmente me acomodei, e nunca procurei saber mais a respeito.
Neste momento não resisto ao impulso de me levantar e ir em sua direção.
— Vai dar tudo certo! E não importa o que venha descobrir, eu sempre estarei
aqui com você — falo com o corpo inclinado à sua frente, apoiada sob os
calcanhares.
Ele olha para mim, com o olhar perdido em pensamentos, mas logo que me
foca, sorri, e com as costas da mão faz um carinho gostoso em meu rosto.
Não consigo controlar um gemido baixo de satisfação com esse gesto.
— Você me faz questionar tudo, sabia? — Ele pergunta baixinho, com a voz
rouca.
— Não quero que você se questione! Quero que você sinta — falo levando sua
mão ao meu peito — sinta as batidas do meu coração como estão aceleradas, sei que
é precoce afirmar, mas tenho de confessar. — Eu me apaixonei por você, no
momento que te vi pela primeira vez, no dia que fomos apresentados, senti como se
meu corpo levitasse, e a gravidade me levasse até você.
— Não diga essas coisas meu anjo! Eu não posso te dar o que você busca. —
Ele fala com o rosto tão próximo, que posso sentir sua respiração. — Eu quero! Mas
não posso.
Depois de suas palavras sobre querer, eu perco totalmente o controle sob meus
atos, e mesmo timidamente, corro as mãos em cada lado de seu rosto, sentindo o
pinicar de sua barba por fazer.
Fecho os olhos inspirando seu cheiro delicioso, então umedeço os lábios que
estão ressequidos, imaginando como seria... “Neste momento só desejo sentir”.
Sentir tudo que eu poderia, e que eu gostaria de fazer.
— Eu te amo! Meu Gregório. — Falo sussurrado ainda de olhos fechados.
— E-Emma! — sua voz sai tão baixa que mal ouço.
Então, num impulso de coragem, eu toco seus lábios com os meus, bem suave,
um roçar apenas. E nada me prepara para sua reação.
Ele me segura pela nuca, embrenhando seus dedos em meus cabelos, me
puxando possessivo, faminto, e no momento que me beija, sinto sua língua invadir
minha boca, reivindicando, tomando posse de muito mais que o beijo. A conexão
que sinto ser transmitida é de puro instinto, cru e primitivo.
Enlaço seu pescoço com os dois braços, aprofundando o beijo, gemendo em
sua boca. Então ele solta um grunhido quase animalesco, e se levanta, me pegando
no colo sem interromper nosso momento, caminha comigo para fora da cozinha,
beijando meu pescoço, deixando pequenas mordidas em meu ombro, e me coloca
sentada no balcão que tem no corredor entre os quartos.
Neste momento, o puxo mais para mim, não quero que se afaste, e buscando
sua boca, cruzo as pernas em sua cintura, sei que se não pararmos agora nosso único
destino é terminarmos nus enroscados e nos amando. E juro por Deus que é tudo o
que mais desejo.
— Gregório! Gemo, meio ronronando, e mordendo o lóbulo da sua orelha,
quando suas mãos correm por dentro da minha blusa, e posso sentir através de seu
toque, como seu corpo está quente, pegando fogo, assim como o meu.
Quando levo as mãos meio trêmulas ao cós de sua calça, ele trava. Geme
baixo, quase dolorido, pois é visível o quanto está excitado também. E segurando
minha mão com delicadeza, me impede de desafivelar seu cinto.
— Não podemos, meu anjo! — Ele fala quase em agonia. — Não está certo, é
pecado.
— É pecado amar? — Pergunto tristonha, beijando seus dedos que ainda
seguram minhas mãos.
— Não anjo! Amar não. — Responde, levantando meu rosto para que o olhe.
— O pecado está nesse desejo que sinto por você, neste sentimento que a muito não
sentia, e que venho me negando desde o momento que te vi pela primeira vez, nesta
vontade de gritar ao mundo que você é minha, mesmo tendo passado todos esses
anos tendo a certeza da minha vocação, de amar cada pedacinho do seu corpo, e me
render aos instintos mais primitivos que habitam em mim no processo.
— E por que um sentimento tão puro e lindo seria pecado? — Pergunto
fazendo biquinho.
— Porque bem antes de te conhecer minha Emma. — Ele fala me dando um
beijo casto nos lábios, “um selinho” na verdade. — Eu sou um padre! Que se
ordenou, e fez seus votos, não posso simplesmente me desviar do meu caminho e
me perder de mim mesmo. — Explica me olhando nos olhos. — Eu quero viver e
sentir tudo isso, minha menina! Mas vou fazer tudo da forma correta.
CAPÍTULO 12
HORAS ANTES
Assim que saio do banho, decido ligar primeiro para o Simon, ou juiz
Solomon, como todos o conhece.
Início uma chamada de vídeo pelo meu notebook, pois quando converso com
alguém, gosto de olhar nos olhos da pessoa.
— A que devo a honra de uma ligação Red? — Ele pergunta ironicamente, já
que nunca ligo para ninguém, somente em último caso. “Como o assunto que
pretendo tratar agora”.
— Você sabe que não sou de delongas, Simon. — Respondo torcendo o nariz
para sua ironia, não gosto de intimidades como essa sem que eu lhes dê tal
liberdade. — Soube por fontes seguras que você está presidindo um caso de guarda
de duas menores, que testemunharam o assassinato dos pais.
— Eu ainda vou descobrir como você obtém certos tipos de informações. —
Ele comenta me interrompendo.
— Um dia, quando você crescer, eu te ensino — brinco, pois ele é uns vinte
anos mais velho que eu. Já deve estar na casa dos sessenta. — Então, como eu dizia,
você obtém a guarda provisória das irmãs Wilson, e quero que as transfira para
mim.
— E por que eu faria isso?
— Porque você me deve, e estou cobrando.
— Red! Veja bem. As coisas não funcionam desta forma, é muita burocracia
envolvida.
— E como juiz responsável, e maior autoridade neste caso, sei que você pode
dar um jeitinho. — Falo sorrindo.
Ele suspira como se estivesse cansado, olhando para algo além do monitor de
seu computador, então se volta para tela, e fala:
— Sim, eu posso! Mas quero um favor em troca.
E antes que eu responda algo, ele pede que eu escute, com um gesto de mão.
— Você se lembra do juiz Tompson?
— E como não lembrar daquele pedófilo de quinta. — Respondo com visível
desagrado. — Se fosse nos tempos de hoje, ele estaria apodrecendo atrás das grades.
— A garota tinha dezoito, e não foi forçada a nada, não seja tão dura.
— Para um velho bastardo de quase setenta? Aquele maldito devia viver a base
de comprimidos para ereção, isso sim. Pois duvido que o pau dele ainda
funcionasse. — Comento rindo aberto desta vez.
— Então! O “pau” dele, tanto funcionava, que ele engravidou aquela menina
na época.
E quando eu achei que nada mais nesse mundo evasivo me surpreenderia, ele
me vem com essa bomba.
— Mas a garota sumiu! Ninguém nunca mais ouviu sequer falar dela. —
Respondo, agora curiosa.
— Na época ele a escondeu em um pequeno convento na Toscana, e até onde
sei, lá ela ficou, mesmo após dar à luz.
— Falei que ele era um bastardo filho da puta, ao invés de assumir a cagada
que fez, empurrou para debaixo do tapete. — Comento fazendo uma careta
indignada.
— A esposa dele era viva na época, e ele tentou cobrir o escândalo
estratosférico que isso seria. — Ele fala como se a atitude daquele verme fosse
óbvia. — Ele era o juiz da vara da infância e juventude, casado e muito bem-
conceituado, se envolver com uma menina quase quarenta anos mais jovem,
acabaria com a carreira dele, e causaria impacto até nas carreiras dos filhos.
— Está bem, mas não estamos aqui para falar dos motivos pessoais daquele
maleït siguis[19], — Falo cortando o assunto, pois já está embrulhando meu estomago
vê-lo defender o sujeito.
— Então... a garota na época deu à luz a uma menina, e sofreu de depressão
pós-parto, levando-a a óbito alguns meses após o nascimento do bebê. — Fala como
se estivesse explicando algo trivial. — E com isso, foram as irmãs do convento
quem criou a pequena. Deram-lhe o nome de Helena, e desde então o juiz Tompson
passou a manter o convento financeiramente, após um acordo com a Madre
Superiora, para que criassem a menina, e guardassem segredo sobre sua paternidade.
— Ah! Mas não está ajudando em nada você me contar os podres deste
déspota. — Falo já irritada com a história.
— Vou ser mais direto. — Ele responde se ajeitando em sua poltrona e visando
o monitor.
— Obrigada! Me poupe de tantos detalhes irrelevantes.
— Só estava te contando a história para entender melhor a situação da garota,
que está agora com quinze anos.
— Puta merda! Quinze? E nunca saiu do convento?
— Não! Ela foi criada pelas irmãs desde que nasceu, e não conhece nada além
dos muros da Abadia.
— A menina é praticamente uma freira então? Se é o único mundo que
conhece.
— Ela não é nem noviça. Ainda não tem idade para se vincular a congregação.
— Ele fala de novo pensativo. — Neste convento que ela estava, a idade mínima
para entrar para congregação e se tornar noviça é de dezoito.
— Estava? Por que estava? — Pergunto agora realmente interessada.
— Porque como padrinho e tutor dela, tive de tirá-la do convento. Depois da
abertura do testamento do Tompson, onde ele deixou literalmente “todos” seus bens
para ela, os dois filhos dele não aceitaram muito bem.
— Está me dizendo que aqueles vira-latas atentaram contra uma criança de
quinze anos? — Pergunto sentindo um gosto amargo na boca.
— Sim! E, meu pedido é esse: você esconde e cuida da menina para mim, até
ela completar vinte e um, assim podendo reivindicar sua herança de direito, e com
isso te passo a tutela legal das três. Das irmãs Wilson, como me pediu, e da Helena.
— Ela está ciente que vai ficar como tutelada até os vinte e um? E depois?
Porque é certeza que os filhos do Tompson não darão paz para ela.
— Eu acredito que depois de seis anos com você, ela aprenderá se defender. —
Ele fala sorrindo.
Só então percebo o que está tentando fazer. E pelo risinho sarcástico ele sabe
que já conseguiu o que queria, nunca que eu deixaria uma garota indefesa como
essa, solta com dois predadores do naipe dos irmãos dela em sua cola.
— Então, temos um acordo. Me mande os papéis cabíveis para assinar, e a
menina. Cuidarei dela até que complete idade suficiente e maturidade para caminhar
sozinha. — Falo encerrando nossa conversa. — Antes que eu me esqueça, mande a
garota para meu escritório segunda de manhã, homens de minha extrema confiança
a trarão até mim, e os papéis, depois que eu assinar, despacho para você.
— Combinado então. — Ele responde, e finalizamos a chamada de vídeo.
Em seguida ligo para meu irmãozinho, para contar-lhe as novidades, ele vai
surtar quando souber que nosso Juan está muito vivo e bem.
— Oi, meu pardalzinho! — cumprimento sorrindo assim que ele atende a
chamada, pois sei que ele odeia esse apelido.
— Sosso! Se alguém te ouve me chamando assim, não vai pegar bem. —
Reclama, mas sorrindo, pois, sabe o quanto o amo, que ele sempre será meu
pardalzinho. Mesmo hoje sendo o “Poderoso Chefão” da nossa Organização, e mais
parecer um falcão do que um pardal.
— Lembra aquele caso que te falei de que fiquei devendo um favor para o
Agente Duncan do FBI de Dallas?
— Claro que me lembro, tudo que envolve você e a mamãe fica colado em
minha mente. Mas o que tem?
— Ele me cobrou esse favor, me pedindo para esconder e proteger duas irmãs
que estavam sob proteção à testemunha — começo, em primeiro lugar, explicando
como eu vim parar nos cafundós do Texas.
— Que ousadia da parte dele, te cobrar o favor. — Comenta indignado.
— Então! Como eu estava na Espanha quando ele me fez esse pedido, ele
trouxe as meninas para a cidadezinha onde sua família tem uma fazenda no interior
do Texas.
— Defina interior, minha querida — ele pede brincando, pois sabe que nem do
Texas eu gosto, acho muito quente, que dirá, “interior”, sou urbana demais para isso.
— Vila dos Lobos. E não adianta procurar porque não consta no mapa. —
Respondo torcendo o nariz. — Não deve chegar a três mil habitantes. Mas não foi
para te contar que estou no meio do nada que te liguei.
— Pois fale. Agora fiquei curioso para saber por que você ainda está aí.
— Como sabe que ainda estou na cidade? — Pergunto já um pouco nervosa,
pois não sei como falar o que preciso de fato.
— Meu anjo, olhe a sua volta, você está nitidamente hospedada em algum
lugar, e a julgar a simplicidade, mas conforto da mobília, é óbvio que está no
interior.
Fico olhando por uns segundos para meu irmão caçula, tentando arrumar
palavras para lhe dar a notícia sobre nosso, até então, “falecido irmão”. Então
decido ser direta.
— Eu encontrei o Juan!
Ele para de sorrir na mesma hora, e se aproxima mais da tela do notebook. Esse
assunto sempre foi delicado, e uma incógnita, para todos nós, pelo fato de nunca ter
havido um corpo para enterrar.
— Como assim “Encontrou o Juan?” Como pode saber se é ele de fato?
— O agente Duncan escondeu as irmãs na igreja local, por achar que lá,
ninguém iria pensar em procurá-las. O que convenhamos foi uma ideia brilhante.
— Falo parando para pensar no assunto. — Eu mesma, Yago, só entrei na igreja
porque precisava pegar as garotas.
— Para de enrolar Soraya! O que tem a ver a igreja, com nosso irmão?
— Aí que está anjo. Ele é o Pároco local.
— O quê? Como assim? Ele some por mais de dez anos e aparece na puta que
pariu como padre?
— Ah! Meu querido irmão, a história, pelo pouco que colhi de informações, é
longa.
Então narro todos os detalhes desse reencontro desde o momento que cheguei
na cidade até agora, que estamos aqui conversando. Ele está tão chocado quanto eu
fiquei, na verdade, ainda estou.
— Vou fazer uma visita ao Mosteiro de Montserrat. E aquele velho safado do
Monsenhor terá muitas explicações a dar. — Fala de punho cerrado na mesa, dá para
ver pela tela do monitor. — Depois estou embarcando para o Texas, quero vê-lo
com meus olhos. Então Sosso, me espere aí.
— Antes de vir para cá, você poderia me fazer um favor querido? Passa no
meu escritório e pega duas encomendas para mim na segunda?
— Claro! O que seria?
— Uns papéis para eu assinar, e uma garota de quinze anos.
Ele me olha inquisitivo, com uma sobrancelha levantada, então pergunta:
— Como assim uma garota de quinze anos? O que você anda fazendo sem que
eu saiba?
— Não é o que você está pensando! E me magoa saber que sequer cogita a
ideia de que eu seja assim. — Falo indignada com ele. — Para conseguir a tutela das
irmãs, que estão debaixo da batina do nosso irmão, e assim me aproximar mais
deles, eu tive que assumir a tutela de "outra órfã", afilhada do juiz que estava com a
causa.
— Quando eu chegar conversamos melhor, e você me explica direitinho essa
história. — Ele fala preocupado. — Não gosto de você metida com essa raça do
governo, você sabe disso.
— Eu também te amo maninho. Agora tenho que desligar. — Falo mandando
beijos e encerrando a ligação, antes que ele me encha de perguntas que não estou
disposta a responder.
O dia foi longo, e pressinto que o final de semana será ainda mais. Então, após
fazer as ligações que precisava, me permito descansar.
CAPÍTULO 13
Desde ontem, depois que beijei minha menina, não paro de pensar em cada
momento, ainda posso sentir o gosto de seus lábios, de seu cheiro, posso ouvir os
gemidos contidos que ela dava a cada movimento meu, e apesar de desejar sentir
tudo novamente, a culpa está me matando.
Eu não deveria me sentir dessa forma, eu tenho a obrigação para com meus
princípios de me afastar dela, mas quem disse que desta vez estou conseguindo
cogitar a ideia de ficar longe da minha Emma, só de pensar na hipótese de ficarmos
distantes um do outro, tudo em mim berra contra.
Estou na sacristia organizando o cronograma da missa das 19 h, escrevendo o
sermão de hoje, e até isso, faço sentindo que estou errando, não consigo me
concentrar no que preciso.
Quando o Theo entra, pedindo licença, como sempre, com seu inseparável
stetson[20] na mão.
— Bom dia. Padre!
— Me chame de Gregório, meu amigo. — Falo sorrindo. — Já te pedi isso
várias vezes.
— Sim pediu! Mas é que parece desrespeito sabe. E a Dona Rose me bate se
me vir faltar com o respeito desta forma com você. Comenta sorrindo ao mencionar
a mãe.
— Acho que não estou sendo muito merecedor de todo esse respeito
ultimamente. — Falo baixo, “mais para mim mesmo, do que para ele ouvir”, porém
ele escuta, e com o olhar estreito se aproxima perguntando:
— Está tudo bem Gregório?
— A pergunta é de um amigo, ou de um fiel preocupado? — Respondo com
outra pergunta.
— De um amigo meu caro! — Responde me olhando curioso.
Respiro fundo, apertando a ponte do nariz, e criando coragem para desabafar
com alguém, pois não sou muito chegado em falar da minha vida com ninguém,
ainda mais um assunto tão delicado como esse.
— Eu beijei a Emma! — Solto de uma vez, e fico observando sua reação a
respeito. E o que me surpreende, é que ele não esboça nenhuma. — Não vai dizer
nada?
— O que você espera que eu diga? No coração a gente não manda Gregório.
— Mas eu sou Padre! Isso está muito errado.
— Não, meu amigo! Errado seria, se fosse uma situação em que a menina
estivesse dependendo da sua proteção e você se aproveitasse para seduzi-la. — Ele
fala com toda certeza em cada palavra.
— Então por que me sinto errado?
— O que te fez decidir pelo Sacerdócio afinal? Sempre fui curioso para saber o
que levaria um homem optar por uma vida sem mulher. — Pergunta com sorriso de
lado, um pouco sem graça.
Analiso sua pergunta, e não vejo julgamento, nem nada parecido, então decido
confiar nele, e desabafar, o que até hoje só contei para minha Emma e sua irmã.
— Quando acordei no Mosteiro, confuso e assustado, após meses desacordado,
“pelo menos é o que os monges sempre contaram” eu não me lembrava de nada da
minha vida anterior, até hoje não lembro para ser sincero — falo com um suspiro
frustrado. — Então fui ficando, me acostumando a rotina dos Monges, e decidi
entrar para o seminário. Não via outra vida para mim no horizonte.
Ouvimos um suspiro abafado perto da porta, cheguei pensar que seria a Emma,
mas quando me levantei e fui até o corredor que separa a igreja da sacristia, vi uma
Red de costas, como se tentasse esconder algo, mas logo se recompôs.
— Bom dia. Padre! Desculpe interromper, a senhora que estava limpando o
altar disse que eu podia entrar, que te encontraria aqui. — Ela fala de uma vez, sem
descanso.
— Está tudo bem, minha querida, eu só estava conversando com um amigo. —
Falo curioso pela sua reação depois que, com certeza, ouviu minha conversa com o
Theo. — Entre, vou pedir para Dona Rita nos trazer um suco.
— Eu não quero atrapalhar, posso voltar outra hora, sem problema. — Ela
responde tentando se esquivar.
Sempre fui muito direto, e ainda estou curioso por ela ter me confundido com
alguém assim que me viu. Então decido que preciso de respostas, e com essa atitude
após ouvir o que acabei de dizer sobre o Mosteiro, ela só fez despertar ainda mais
minha curiosidade.
— Não vai atrapalhar, venha, junte-se a nós, afinal acredito que o que a trouxe
aqui, o Theo também irá querer saber.
— Soube que a mais nova está na fazenda dele. — Ela diz com malícia.
— Sim! Ela foi passar o fim de semana com a Isabela.
No momento que voltamos para sacristia, o Theo se levanta quando vê a Red,
cumprimentando-a, mas me olha com cara de... “Ainda temos muito o que
conversar”
— O que te traz a cidade Theodor? Achei que estaria cuidando da minha
menina, já que a levou para lá e a escondeu debaixo do seu chapéu. — A Red fala
brincando enquanto se senta no sofá.
— Sua menina? — Falamos junto!
— Sim, eu peguei a tutela das irmãs Wilson para mim, até completarem vinte e
um de cada uma. — Ela responde toda – sorrisos.
— Como conseguiu? — Pergunto curioso.
— Lembra quando o Patrick disse que o juiz responsável se chamava
Solomon? Então, eu o conhecia, e ele me devia um favor. — Ela responde torcendo
o nariz. — Se bem que ele saiu em vantagem, ele sabe que sou meio paranoica em
relação à segurança, e só me deu a tutela das meninas se eu assumisse a guarda de
outra que também estava sob seus cuidados.
Ela nos pôs a par de tudo, até de suas intenções de comprar uma fazenda nas
redondezas, ou uma casa aqui na cidade mesmo, para poder deixar as meninas, e
trazer a mãe que mora na Espanha, e que segundo ela, “precisa de cuidados e do ar
puro do interior,” percebi muitos pontos vagos, mas como eu prefiro a privacidade,
decidi não forçar uma resposta que ela não queira dar.
— Emma! O que faz aqui anjo. — Digo indo em sua direção quando a vejo
parada na porta, como se não soubesse que forma agir, e me sinto um idiota por tê-la
evitado desde ontem depois do que aconteceu.
Ou melhor! Do que “quase aconteceu.”
— A senhora veio nos buscar? — Minha menina pergunta olhando para Red, e
noto tristeza em seu olhar, quando ela me olha com um pedido mudo de não me
deixe ir.
— Não, minha linda! Vim contar as novidades e pedir um favor ao padre.
— Que favor? Até agora você só contou as novidades. — Falo voltando a
atenção para Red, depois de literalmente “secar” minha Emma de cima a baixo,
lembrando de cada maldito detalhe do beijo que demos, e do seu cheiro que ainda
está impregnado no meu corpo e sistema.
E pelo olhar que ela nos dá, é nítido que notou algo diferente, até um tolo
repararia, imagina uma mulher experiente como ela.
— Como eu estava dizendo, o juiz Solomon só me passaria a tutela das
meninas, se eu aceitasse cuidar de outra garota, a quem ele disse ser sua afilhada —
diz fazendo uma leve careta. — E com isso preciso que me ajude a encontrar uma
boa propriedade, pode ser uma casa por hora, para que eu possa deixar as meninas,
logicamente que com toda segurança apropriada para às três, já que esta outra, que
meu irmão está trazendo, também está sob risco de atentados.
— O meu irmão já sabe? Digo, que você ficará responsável por elas a partir de
agora? — O Theo pergunta se referindo ao agente Duncan.
— Acredito que o FBI será informado que estão dispensados da proteção à
testemunha. — Ela responde com um sorriso bem sarcástico, aposto que
imaginando a cara de todos os agentes quando souberem que não são mais
necessários.
— Red! Posso te fazer uma pergunta? — A Emma pergunta meio sem jeito.
— Claro querida.
Minha menina limpa a garganta antes de perguntar, e discretamente vem para
trás da mesa ao meu lado, e segura minha mão, como que buscando apoio. E isso
destrói qualquer muro que eu estivesse tentando levantar entre nós, me faz um bem
danado saber que ela confia em mim, não por ser um padre, mas por ser apenas eu.
— Se você está procurando uma propriedade para ficarmos, significa que não
nos levará embora, estou certa?
— Sim.
— Então moraremos juntas? Eu, minha irmã, essa moça que comentou e você?
Queria saber qual seu nome. — Diz acanhada. — Red não é feio, mas é tão formal,
e se vamos morar juntas, seria bom termos algo que quebre esse gelo.
— Eu não vou morar aqui com vocês, meu bem. As deixarei aqui, muito bem
resguardadas, mas me mudar para cá não posso, e jamais levaria vocês três para o
meio em que vivo. Lá não é lugar para vocês. — A Red responde se aproximando
da minha garota. — Porém, me chame de Soraya, Red foi um apelido de berço, uma
coisa que tenho entre mim e meus irmãos. — Diz sorrindo, mas esse sorriso não
chega ao olhar pelo que posso notar.
— Enquanto vocês não encontram uma casa ou fazenda como você pediu Red,
as meninas podem continuar aqui na casa paroquial, ou ficar na minha casa pelo
tempo que precisarem, incluso a moça que irá chegar. — O Theo oferece.
— Na verdade, a “moça” é uma menina de apenas quinze anos, nascida e
criada dentro de um convento, mas que deu azar de ser filha de quem é.
— E nós vamos querer sabem de quem se trata o pai da menina? — O Theo
pergunta curioso.
— Isso não vem ao caso, o que importa é que a partir de agora, nem Cristo se
aproxima da menina. — Ela responde brincando, e me olha assustada na mesma
hora. — Desculpe, esqueci que estou em uma sacristia, não foi por desrespeito.
— Não se preocupe, sei diferenciar trocadilhos, e não sou um tirano. — Falo
sorrindo também.
— Preciso avisar a Dora, que poderemos ficar. — A Emma comenta ao que o
Theo responde na mesma hora.
— Se quiser posso avisá-la, ou também poder vir comigo para fazenda e dizer
você mesma.
— Amanhã eu a levo depois da missa matinal. — Respondo antes dela, e olho
feio para ele, pois percebi estar provocando-me.
— Obrigada por tudo, todos vocês. — Ela diz com aquele sorrisinho lindo que
me quebra totalmente. — Mas vou deixar para ir amanhã.
Falando isso ela pede licença saindo da sacristia, pois disse ter um bolo no
forno.
— Não estou fazendo nenhum julgamento, mas é óbvio que a menina está
apaixonada por você padre. — A Red comenta ainda olhando para porta, por onde a
Emma saiu. E troco um olhar cúmplice com o Theo, afinal eu havia acabado de
contar meu estado de dúvida, pouco antes dela chegar.
— E, por que você acha isso? — Pergunto, disfarçando a recíproca do
interesse.
— Eu sou mulher Gregório. Sei o que digo. — Ela responde como se fosse
óbvio. — Sabe, uma vez meu irmão do meio me disse para seguir meu coração, que
o que está escrito em nosso destino, por mais que tenhamos a ilusão de controle, não
pode ser mudado. Resumindo em poucas palavras: “O que tiver que ser será.”
— Seu irmão é sábio. — O Theo fala e concordo com um aceno.
— Sim, ele era.
— Por que era? — Pergunto sem disfarçar a curiosidade.
— Ele foi tirado de mim há muito tempo, mas prefiro não falar sobre isso
agora. — Responde mudando de assunto.
— Amanhã, se quiser ir com o Gregório e a Emma para a fazenda, será bem-
vinda Red. — O Theo convida, quebrando o clima que se formou.
— Aceito o convite, preciso arranjar algo para fazer nessa cidade antes que eu
enlouqueça. — Ela fala já indo em direção a porta. — Passo aqui depois da missa,
abraços meus queridos e até amanhã.
Ficamos observando enquanto ela sai, então o Theo diz:
— Siga o conselho dela, meu amigo, e segue seu coração. Tenha um bom dia e
até amanhã Gregório. — Acena colocando o chapéu, saindo também.
CAPÍTULO 14
Não sei dizer o que estou sentindo depois da ligação da Soraya, nunca me
conformei com a morte do nosso irmão, mas aí descobrir que ele está vivo, e que se
tornou padre em uma cidadezinha bem longe de casa, foi um pouco demais, até para
o meu coração que há muito tempo, só tem espaço para as mulheres da minha vida,
minha mãe e irmã.
Ainda estou sentado no meu escritório, estático, sem ação, olhando para o
celular em minha mão, tentando resolver o que fazer com esta informação. Se conto
agora para nossa mãe, pois nem em sonho eu esconderia dela algo deste porte, se
vou ao Mosteiro tomar satisfações, antes ou depois, de rever o Juan, estou confuso
pra caramba.
Então decido contar per la meva mare[21] sobre o Juan, para então irmos juntos
para o Texas, mas só após passar em Washington pegar os papéis que a Red pediu, e
a garota.
Sei que não será nada fácil, mas não posso adiar a notícia ou ficará pior. Então
me levanto e vou até à estufa de rosas que ela cultiva com esmero[22], e seja o que
Deus quiser.
Sou o atual Dom de nossa Máfia, o Chefe, quem manda na porra toda, cargo
esse que era para ser do meu irmão, e que agora, com seu retorno, não sei o que
fazer, preciso dos conselhos de nossa mãe. Abro as portas da estufa e a vejo sentada
em um canto, podando algumas folhas que estão secas, pigarro para me fazer
presente e da melhor forma possível, sigo em sua direção, me sento ao seu lado e
começo a lhe contar a notícia que acabei de receber, da melhor forma possível.
— Mãe! A Soraya acabou de ligar, para me dar uma notícia sobre o Juan,
ótima, porém muito forte.
— Encontraram os restos mortais do meu menino? Vou poder enterrá-lo para
que ele possa descansar em paz? — Ela pergunta ansiosa, me desestabilizando, e
engulo em seco sem saber por onde começar.
— Sim, ela o encontrou — pauso dramaticamente, pois estou perdido, sem
saber como dar uma notícia desse tipo. — Mas ela não encontrou exatamente o
“corpo dele” para enterramos mamãe.
— O-o que quer dizer com isso? — Pergunta me olhando assustada.
— Lembra daquele caso que ela comentou semana passada, quando esteve aqui
em casa? Sobre cuidar de duas irmãs como favor para o tal agente do FBI que ela
tem amizade?
— Claro que me lembro, até me opus, não a ela cuidar das meninas, isso ainda
disse que ela poderia até deixá-las aqui conosco, mas a ela se envolver com essa
raça de agentes do governo.
— Então. O Agente Duncan escondeu as irmãs em uma igreja numa
cidadezinha no interior do Texas, e quando a Soraya foi buscá-las, ela conheceu o
pároco local, que quis o destino ser nosso Juan.
Paro observando sua reação, que varia entre choque, felicidade, incredulidade,
esperança, volta ao choque. Depois de uns segundos muda, estática, olhando para o
nada, ela pergunta:
— Padre? Meu Juan, se tornou um Padre?
— A Soraya contou que ele comentou ter sido transferido do Mosteiro de
Montserrat, que talvez por isso ela tenha achado que o conhecia. — Falo tentando
aceitar as novidades também. — Ela o chamou de Juan, mas ao que parece ele não
se lembra de nada.
— Como assim não se lembra de nada?
— Ele aparentemente perdeu a memória mãe, diz se chamar Gregório, porque
deve ter sido o nome que os monges lhe deram na Abadia. Por isso nunca nos
procurou, nos fazendo acreditar na sua morte.
— Aqueles malditos monges esconderiam meu menino com que propósito? —
Ela fala torcendo o nariz de indignação. — E não me diga que eles não sabiam de
quem se tratava. Pois não tem um cão de rua nessa cidade que não conheça meus
três pardais.
— Somente perguntando diretamente a eles para entender por que esconderam.
— É o que faremos, e agora — ela fala levantando-se. — Eu nunca acreditei
que meu Juan tivesse nos deixado de fato — comenta olhando os pardais que
criamos em um viveiro, no canto de sua estufa. — Mas nunca, em meus mais loucos
devaneios, imaginei que ele estava no Mosteiro todo esse tempo.
— Quem poderia imaginar mãe?
— Mande o motorista deixar o carro arrumado, eu tenho uma longa conversa
com o Monsenhor daquele lugar para pôr em dia.
— Vou com a senhora! E não adianta dizer que não.
— Eu sei que vai, meu querido.

Chegando no Mosteiro, lógico que não fomos bem recebidos, e nem entramos
direto. Somente depois de uma boa quantia em doação, que conseguimos
autorização para conversar com o Monsenhor da Abadia.
— A que devo a honra da visita Senhora Hernandez? — Ele nos cumprimenta,
acenando para que nos sentássemos.
Ele nos recebeu em uma sala reservada como escritório, com muitas estantes,
uma lareira acesa no canto, e uma escrivaninha no centro.
— Eu deveria começar perguntando por que ocultou que meu filho estava vivo
da família dele? Mas como sei que não vai responder, nem essa, nem nenhuma outra
pergunta, vou ser bem direta sobre o porquê vim até aqui, antes de ir atrás do meu
menino. — Fala abrindo a bolsa como se fosse pegar algo corriqueiro.
Então vi quando ela simplesmente sacou sua GLOCK G28[23] com silenciador
na ponta, e de forma rápida e precisa, simplesmente meteu uma bala no meio dos
olhos do velho padre.
— E como não estou com paciência para desculpas esfarrapadas, decidi te
conceder uma passagem só de ida para conhecer o criador. — Fala após atirar. — Se
é que você vai para lá. Acredito que depois de tudo que já deve ter feito, vá descer
direto para o quinto dos infernos.
Não me surpreendi com sua atitude, ela estava muito calma e quieta desde que
dei a notícia, apesar de sentir nos ossos a tormenta que se instalava em sua mente, e
não tirava suas razões, eu mesmo estava me contendo para não o ter matado no
momento que soube o que havia feito. Mas essa merda ia feder.
— Mãe! Se eu soubesse de suas intenções, não teria deixado que tantas pessoas
tivessem nos vistos entrando falar com esse velho bastardo. — Falo com meio
sorriso, e orgulhoso da minha rainha, meu exemplo de mulher.
— Não se preocupe meu querido, somente mande limpar tudo, e vamos para o
Texas — fala já levantando da poltrona que estava e indo em direção a porta.
Sim! Mandarei. — Respondo, pegando sua arma, limpando-a na batina do
padre, "apesar de ela estar de luvas" depois jogando-a na lareira acessa, trabalhando
intensamente em fogo alto. Sempre fui ensinado que nada escapa ao fogo, nem
provas.

Depois do ocorrido na Abadia, a dois dias, viemos direto para Washington,


minha mãe queria vir no mesmo dia para a América, mas como eu precisava passar
no escritório da minha irmã antes, resolvi esperar e aproveitar para “aparar as
arestas” do ocorrido no Mosteiro.
Minha intenção era simplesmente pegar o que precisava e voar direto para o
Texas, por isso deixei minha mãe esperando dentro do avião enquanto eu saia buscar
os papéis que a Red mencionou, e a menina, que ela disse estar me aguardando em
seu escritório, enquanto isso o piloto preparava o embarque para Vila dos Lobos.
Eu só não esperava flagrar a cena na minha frente. Quando entrei no escritório,
já achei estranho o secretário dela não estar em sua mesa, mas ao abrir a porta da
sala, meu sangue ferveu na mesma hora.
Aquele filho da puta estava com as calças arriadas, sorrindo feito uma hiena,
indo em direção a uma menina encolhida num canto do estofado, chorando de
soluçar, e aparentemente rezando de olhos fechados.
Fiquei tão cego de ódio, pois não há nada que me deixe mais louco, que um
bastardo como esse se aproveitando de uma pessoa inocente. O chamei, e ele estava
tão preso em sua loucura, que não me reconheceu de imediato, mas quando o fez,
tentou se recompor rápido, como se fosse conseguir negar o que presenciei.
— Senhor Blue! Eu posso explicar. — Ele disse lutando para se recompor e
arrumar a calça que ainda estava aberta com seu pau nojento de fora. — Essa
putinha queria, ela me provocou.
Não dei tempo para sair mais nem uma palavra de merda da sua boca maldita.
Simplesmente saquei minha arma e dei dois tiros no seu pau podre, um estourando a
glande, já que estava excitado e era cabeçudo pra caralho, e outro acertando o saco.
O monte de merda desmaiou na mesma hora, tirando a graça do ato.
— Acho que nem preciso perguntar por que fez isso! — O Pablo, um velho
amigo de infância, e hoje meu Conselheiro fala ao entrar na sala após ouvir os
disparos.
— Venha querida, está tudo bem. — Falo me abaixando para ajudar a garota se
levantar.
Ela se encolhe ainda mais na posição que está. E algo em meu peito se parte
com a cena, minha vontade é de matar o desgraçado de vez, mas sei que a Red vai
querer cuidar dele pessoalmente quando descobrir a cagada que fez.
— Está tudo bem, pode confiar em mim. — Falo colocando uma mecha de
seus cabelos atrás da orelha.
Com isso ela volta de seu estado de choque, e olhando minha mão estendida
pergunta;
— E-ele, e-está morto? — Ela pergunta, tentando controlar o choro.
— Ainda não! Mas vamos sair daqui boneca, minha irmã te aguarda em outro
lugar.
Só assim ela segura minha mão, e para minha surpresa, se agarra em meu
pescoço num abraço apertado, e volta chorar.
— O-obrigada! Você é o anjo que pedi ao Senhor para me salvar.
E isso meche comigo, não sei explicar de que forma, não sou um anjo, mas por
Deus, eu juro que nada nesse mundo vai se aproximar dessa menina novamente.
Não enquanto eu viver.

— Senhor, não há onde pousar nas redondezas, só avistei uma fazenda com
pista para pouso, mas preciso de autorização para descer. — Meu piloto avisa
esperando minhas ordens. E fico puto por não ter pensado nisso.
Na verdade, eu nunca imaginei que minha irmã tivesse vindo de carro, por isso
deduzi haver onde pousar o avião.
Liguei para Soraya para saber se havia outra pista por perto que pudéssemos
usar, e por pura sorte, ela estava com o dono da fazenda ao lado, pois me concedeu
autorização para pouso na mesma hora.
— Devia ter visto isso antes de vir de avião, Blue! — Ela fala em tom
acusatório. — Sorte sua que eu o “Padre” e as meninas estamos aqui na fazenda, e
vimos o avião rondando, então deduzi ser você. Já ia te ligar.
O celular estava na viva voz, e quando ela disse que o “padre” estava ali, meu
coração deu um salto no peito, por antecipação de rever meu irmão, meu melhor
amigo, e nossa mãe, caiu em lágrimas na mesma hora.
— Estamos pousando, até daqui a pouco querida.
Quando descemos, a Soraya, seus seguranças, e mais três homens altos e muito
parecidos, estavam nos aguardando.
— Sejam bem-vindos a Coração do Texas! Me chamo Patrick, sou amigo da
Red. — O agente fala nos cumprimentando, sim, esse eu conheço de nome. — Estes
são meus irmãos, Theodor e Octávio.
— O prazer é nosso. — Respondo apertando sua mão firmemente.
Depois dos cumprimentos, a Soraya fala olhando a menina que está
parcialmente escondida atrás de mim.
— Você deve ser Helena! Sou a Red, a moça que cuidará de você, meu bem.
Minha mãe a pega pela mão pequenina, ela é toda delicada, uma boneca eu
diria.
— Ela está assustada minha filha, seu irmão teve de salvá-la de uma situação
horrível.
— Seu secretário, sei lá o nome do vagabundo, tentou estuprá-la. — Falo
trincando o maxilar.
— O QUÊ? — Ela pergunta em choque com o que falei. — Mas ele não
gostava de garotas até onde sei.
— Não era o que parecia! — O Pablo responde com tom cavernoso na voz.
— Mas não se preocupe, meu anjo, ele não teve tempo de fazer nada. — Minha
mãe fala abraçando a menina pela cintura.
A Red me olha pedindo mais explicações com o olhar, e só digo que
conversamos depois.
— O moço ruim não teve tempo de chegar muito perto. — A Helena sussurra
de cabeça baixa, em posição submissa. — Eu me escondi, e o Yago chegou bem na
hora que ele abriu a calça dizendo o que pretendia fazer comigo — fala se soltando
dos braços da minha mãe e voltando para meu lado, buscando minha mão como se,
se sentisse segura comigo.
Gostei que todos vissem que qualquer um que tentasse se aproximar dela, teria
um fim igual, senão pior.
— Vamos entrar? Vocês devem estar cansados da viagem, e nossa mãe
preparou um café da tarde bem reforçado. — O homem que parecia ser o mais velho
dos irmãos fala rumando em direção a casa.
Enquanto todos o seguem, eu só observo e absorvo o que me espera lá dentro,
preparando meu espírito e coração para reencontrar meu amado irmão.
CAPÍTULO 15
NO DIA ANTERIOR
Eu não consigo tirar o beijo que o Gregório me deu da cabeça, preciso falar
com alguém ou vou surtar, então decidi tentar a sorte, e confiar na moça que até
meus vinte e um será minha tutora. Já que minha irmã está na fazenda, e inacessível
no momento.
Hoje à tarde a Red foi na igreja, informar que conseguiu nos tirar das mãos do
governo e do FBI, e que a partir de agora seremos suas protegidas, e pelo tom que
usou, senti que isso deva significar muito.
Então agora estou aqui em frente a pensão que ela está hospedada, pronta para
me abrir e pedir seus conselhos, sobre o que devo fazer.
— Olá! Eu gostaria de falar com a senhora Red. — Falo para a mulher no
balcão da recepção.
— Ela está jantando agora. — Ela responde educada, então me diz onde
encontrá-la — é só seguir reto, última porta a esquerda, dá na parte que separamos
para servir de restaurante.
— Obrigada! — Digo seguindo pelo corredor que ela apontou.
Á vejo sentada em uma mesa no canto, comendo e lendo algo em um iPad
posto ao lado do prato sob a mesa.
— Boa Noite! Desculpe, sei que é um horário inadequado, mas eu precisava
conversar com alguém. — Digo me aproximando.
Ela me olha com curiosidade, mas em seguida fala:
— Boa Noite querida! Sente-se, me acompanhe no jantar — responde sorrindo
quando me vê. — Em que posso ajudá-la?
— Eu preciso de conselhos — falo sem graça, pois vendo agora, me sinto uma
tola por vir até aqui.
— Sobre? — Ela pergunta levantando somente uma sobrancelha.
Retorço a ponta da minha blusa, buscando palavras coerentes, mas não
encontro nenhuma. Como dizer em voz alta que estou apaixonada pelo padre.
— Se está buscando palavras para me dizer o óbvio, não perca seu tempo
querida. É nítido seus sentimentos pelo Gregório meu anjo.
— E o que faço? — Pergunto com o choro meio embargado na garganta. — Eu
o amo, mas não como o santo padre.
Ela arrasta a cadeira mais perto da minha, enxuga uma lágrima teimosa que
insiste cair, pega minha mão, e me olhando nos olhos diz:
— Vou te dizer, o que disse para o Gregório hoje de tarde. Siga seu coração,
meu bem, e não se preocupe com o que pode ou não acontecer. — Ela fala de forma
intensa. — O que está em seu destino, nunca poderá ser mudado, mesmo que
tenhamos a ilusão de controle, isso está fora de nosso alcance.
— Acha que devo tentar conquistá-lo? Mesmo ele sendo um padre.
— Acho que você já o conquistou. Agora precisa que ele também veja que o
futuro dele é em seus braços, e não nos braços da igreja.
— Sabe, sei que é estranho para meus dezenove anos, mas eu não tenho muita
experiencia com namoros e conquistas, tive um namorado no colégio, mas nunca
passou de uns amassos — falo sem jeito, e um pouco envergonhada. — E mesmo
esses “amassos” não se comparam ao beijo que o Gregório me deu.
Mordo a língua na mesma hora quando percebo que falei demais.
— Vocês se beijaram? — Ela pergunta com um brilho diferente no olhar. Como
se fosse, “esperança.” — Assim tudo fica bem mais fácil.
— Como? Se desde que me beijou ontem, ele está me evitando — falo
chateada.
— Primeiro ele não está “te” evitando, e sim tentando não cometer um ato que
ele julga ser pecado e errado da parte dele, por ser padre. — Ela diz sorrindo aberto.
— Eu vou te ajudar, mas terá de fazer tudo do jeitinho que eu mandar, mesmo que
se sinta tentada a fazer diferente, ok?
Olho para ela decidindo se posso confiar, mas o que tenho a perder? Então, ali,
selamos nosso trato.
— Primeiro ele tem que enxergar o que vai perder se insistir em se afastar. O
primeiro passo você já deu sozinha, que foi, fazê-lo desejá-la.
— Pode deixar, serei a aluna perfeita, se isso me der o amor que escolhi para
mim. — Falo cheia de esperanças agora.
Inspirada nos conselhos que a Red me deu, quando cheguei na casa paroquial
onde estou hospedada com meu amor, decidi que ia tomar um banho, ficar muito
cheirosa, e depois fazer um suco bem gelado para acompanhar a pizza que comprei
quando vinha embora.
Ela me disse para comprar um bom vinho, me deu até um nome e uma marca, e
me garantiu que o Gregório ia adorar, mas como não encontrei no mercado, optei
pelo suco mesmo.
Na hora que cheguei não o vi em lugar nenhum, acho que ainda estava na
sacristia, já que virou seu esconderijo, por pouco tempo, penso com uma risadinha
maligna. Vou para cozinha preparar o suco, decidi colocar um short curtinho de
malha fria, e uma blusinha de alcinha, estou descalça com fones no volume máximo
para me distrair, já que ela deixou claro que é para eu fingir que não aconteceu beijo
nenhum, e tratá-lo normalmente como se não estivesse quase derretendo de amores.
— Onde você foi? Vi que não estava quando entrei, fiquei preocupado. — Ele
fala encostado na porta que vai para o corredor dos quartos.
Finjo que só sua voz não me deixa de pernas bambas, e com o coração saindo
pela boca, então suspiro e me viro de frente sorrindo com a jarra de suco na mão.
— Vamos jantar? Comprei pizza de calabresa e de queijo, espero que goste. —
Falo sorrindo e arrumando a mesa para começarmos comer.
Ele se senta ainda me olhando de forma inquisitiva, sei que está estranhando a
mudança em meu comportamento, já que até hoje de manhã eu ainda mostrava ser a
boba apaixonada.
— Você não respondeu minha pergunta, Emma. — Fala servindo-se de um
pedaço de pizza, enquanto me olha intensamente. — Onde você estava? Fiquei
realmente preocupado.
— Preocupado, ou curioso por eu sair sem conhecer ninguém na cidade?
— Preocupado mesmo, meu anjo, não ter você por perto, e não saber onde
você está, não foi uma experiência que desejo repetir.
— Fui somente no mercado, mas não tinha os ingredientes que queria para
fazer o jantar, então me decidi por pizza, e fiquei esperando ficar pronta, o que
demorou um pouco, aí, fiquei conversando com o rapaz que atende na pizzaria, e
depois vim embora.
— Aquele menino bobão, filho dos Bernardi? Acho ele estranho, meio lento
para idade dele.
— Eu o achei super fofo. — Respondo colocando um pedaço de pizza na boca.
Vejo quando ele trava o maxilar, e para de comer, respira fundo, como se
contasse até dez para enfim me responder:
— Por que está fazendo isso Emma? Se está tentando me provocar, saiba que
apesar de ser um padre eu não tenho sangue de barata.
— Por que seria provocação eu fazer amizade e conversar com outros rapazes?
Sou solteira, livre e descomprometida, e já que o homem que escolhi para amar não
me quer, vou encontrar quem possa retribuir meus sentimentos.
Ele se levanta muito rápido, e quando me dou conta já está do meu lado, me
pega no colo e me senta em cima da mesa, se posicionando no meio das minhas
pernas, e, segurando meu rosto com às duas mãos, fala bem próximo, roçando seu
nariz no meu:
— Eu não consigo sequer imaginar outro homem te tocando, chega doer
fisicamente, porque dói aqui — diz colocando minha mão sobre seu peito, no seu
coração.
Posso sentir como está acelerado, bem como o meu, sua respiração está pesada,
o peito subindo e descendo sob minha palma. Limpo a garganta, e tento juntar toda
coragem do mundo, por medo da rejeição, mas, olhando em seus olhos sem desviar
minha atenção, eu me aproximo, juntando nossos lábios em um beijo calmo, passo a
língua no contorno de sua boca, antes de pedir passagem e invadi-la com a minha,
aprofundando, puxando-o pela nuca, me apertando contra seu corpo.
Ele corresponde o beijo com a mesma intensidade, apertando minha cintura,
me puxando para si, possuindo minha boca com sua língua, se apossando
novamente de todos meus sentidos e desejos, beija meu maxilar, descendo para o
pescoço, mas antes deixando uma mordida suave no lóbulo da minha orelha.
Suas mãos percorrem toda lateral do meu corpo, passando pelas minhas coxas,
ele segura minha perna, prensando seu corpo contra o meu. Posso sentir a dureza de
seu membro me cutucando sobre o jeans, roçando minha vagina por cima dos
shorts, e isso está tirando toda consistência do meu corpo e raciocínio da minha
mente.
— Gregório! — Gemo baixo quando ele deixa pequenas mordidas e chupões
em minha clavícula. Me agarro em seus cabelos, buscando sua boca novamente.
Ele para de me beijar, ofegante, colando sua testa na minha, suas mãos ainda
segurando minhas pernas em volta da sua cintura, então diz com a voz rouca de
desejo:
— Não posso Emma, ainda não.
— Você não me quer? Não sente o mesmo que eu? — Pergunto com medo de
ouvir a resposta.
— Você é minha perdição, anjo. Meu céu e meu inferno misturados, pois é
tudo que mais quero. E exatamente tudo o que não posso ter.
Ele me dá, um selinho suave, suspira profundamente, então sai da cozinha, me
deixando sentada na mesa, com o gosto de seus lábios na boca, e seu cheiro grudado
no meu corpo.
CAPÍTULO 16
Estou parecendo um animal enjaulado dentro do quarto, andando de um lado
para o outro, louco para voltar naquela cozinha, pegar minha menina nos braços e
amar cada pedacinho do seu corpo. Estou um caos mentalmente, e emocionalmente
confuso pra caramba.
Decido tomar um banho frio, para acalmar os ânimos, e tentar focar em decidir
o que fazer com todo esse turbilhão de emoções e sentimentos que sinto quando
estou com minha menina, meu anjo.
DIA SEGUINTE, NA FAZENDA
Se dou confiança para Dona Rose, como um boi sozinho, estamos todos na
área da piscina, já que os rapazes decidiram fazer um churrasco, ao invés de almoço.
E pode parecer impressão minha, mas a matriarca da família Duncan está tentando a
todo custo “casar” um dos filhos com a Red.
— Posso estar equivocada senhora Duncan, mas é impressão minha ou a
senhora está destacando as qualidades de seus meninos de propósito? — A Red
comenta rindo, se deliciando com a famosa torta de pêssegos que a senhora faz, mas
que jura que dessa vez foi o Patrick quem cozinhou.
— Culpada! — Dona Rose levanta as mãos se rendendo. — Mas me dê um
desconto, quero mais netos, só que pelo andar da carruagem é bem capaz de ganhar
bisnetos antes.
Nesta hora ela fala olhando como uma ave de rapina para piscina onde as
meninas jogam uma bola gigante dessas de boia, e o Zeca finge tentar pegar.
— Estou quase surtando desde ontem, depois do beijo que eu e minha garota,
demos, e eu simplesmente não consegui “me acalmar” se é que me entendem. E
para colaborar com meu mini infarto, ela hoje me aparece só de biquíni,
comportado, mas é o mesmo que sair de calcinha e sutiã na frente de todos na minha
opinião.
Só não pedi para ela colocar um short e uma blusa, porque sei que não tenho
esse direito, pelo menos, não enquanto ela não for minha, mas minha vontade é de
cobri-la, ou não deixar mais que saia da água. Meus pensamentos quando vejo
alguém olhando para ela, não são nada cristãos.
Só se forem comparados a época da Santa Inquisição, aí, sim, eu seria um
devoto fiel, matando, estripando, ou pelo menos arrancando os olhos de qualquer
um que olhasse para minha Emma.
— Não queria ser o alvo de seus pensamentos agora. — A Red fala rindo e
olhando em direção a piscina também.
— Não entendi! — Respondo, fingindo que não compreendi.
— Sim Padre! Você entendeu. — Fala bebericando sua bebida. — Aliás, está
bem óbvio, você se apaixonou Gregório.
— Eu sou um padre, não me apaixono.
— Você é um homem antes de ser um padre, com um coração batendo no
maldito peito — ela responde com ironia, mas de forma ríspida. — Então, sim!
Você se apaixona.
— Como você conseguiu fazer com que o juiz Solomon te passasse a tutela das
meninas? — O Patrick pergunta quebrando a tensão que estava começando se
formar devido à discussão que estávamos tendo baixinho.
— Oportuno como sempre! — A Red fala com um sorriso azedo para o Path.
— Já te respondi isso umas mil vezes, homem, sossegue.
— Mas nenhuma delas de forma satisfatória. — Ele retruca sentando-se no
banco ao meu lado.
— Você não precisa se satisfazer em nada nesse assunto. As meninas são
minhas agora, os serviços do FBI não são mais necessários. Aceita que dói menos.
E com essa deixa da discussão calorosa dos dois, eu aproveito e saio de
fininho.
Estou recostado em uma árvore com a uma distância curta da piscina,
admirando meu anjo de longe, achando estar sendo discreto, mas acho que devo
estar até babando.
— É complicado né? Querer e não poder. — O Theo fala me passando uma
cerveja, e encostando na mesma árvore olhando as meninas brincarem na água.
— Por que você não poderia? O que te impede? — Pergunto curioso.
— Quinze anos de diferença? — Comenta torcendo o nariz. — Ela ainda é
menor de idade. Está deslumbrada com um mundo que ela não conhecia.
— Você está se ouvindo? — Pergunto incrédulo com a desculpa que ele
arrumou para se manter distante da pequena Isadora.
— Por quê? Não acha que é um obstáculo forte?
— Não! Acho que você está buscando desculpas para não admitir para si
mesmo que está interessado na menina.
— E você Gregório? O que está te impedindo de aceitar o óbvio? Que está
apaixonado pela Emma.
— Dez anos de seminário e um sacerdócio? — Comento como ele fez, com
sarcasmo.
— Mas você não é obrigado a viver como padre para o resto da vida, fez votos,
mas não perpétuos — ele comenta me encarando agora.
E só então percebo que o intuito era me cutucar para entrar no assunto. Que ele
está muito bem resolvido com suas decisões, principalmente a respeito da Dora.
— Não era mais fácil falar direto? — pergunto agora sorrindo de lado.
— Não! Me fazer passar pela sua situação, e te fazer enxergar que quem coloca
empecilhos nas coisas somos nós mesmo, foi mais divertido.
— Idiota! — Brinco tomando minha cerveja.
— Padre pode xingar?
— Paga pra ver! — Digo empurrando seu ombro com o meu.
Enquanto conversamos distraídos, ouvimos o ronco de um avião, desses jatos
particulares, rondando a fazenda. Então a Red vem em nossa direção conversando
com alguém no celular, e direcionando-se ao Theo fala:
— Theodor! Meu irmão está pedindo autorização para poder pousar na sua
pista, já que ele inventou de vir de avião sem se certificar de que teria onde pousar.
— Ela fala, e ouvimos um resmungo alto através do celular.
— Tudo bem! Diga a ele que pode pousar — ele reponde, e se vira para mim.
— Depois conversamos mais meu amigo, vou com a Red buscar o irmão dela.

Estou conversando com a Dona Rose, e as meninas ainda estão na piscina,


quando os rapazes voltam com a Red e o que deve ser sua família.
Uma senhora na faixa de seus sessenta, um rapaz que não deve ter mais de
trinta e uma menina, que, aliás, por estar escondida atrás dele, e com um uniforme
escolar, deve ser a menina que a Red mencionou que seria sua tutelada também, e
ele buscaria para ela.
— Dona Rose, esta é minha mãe, Angelita Hernandez. — A Red apresenta a
senhora elegante, que está de braço dado com ela. — E estes são, meu irmão, Blue,
e minha afilhada, Helena.
Noto que quando menciona a menina, chamando-a de afilhada, a garota a olha
com os olhos marejados, e emocionados, mas continua discretamente segurando o
tal Blue pelo braço.
Eu não diria segurando, mas como se ela gravitasse[24] em volta dele
inconscientemente.
— Prazer! Sejam bem-vindos a minha casa. — A senhora Rose os
cumprimenta toda – sorrisos.
As meninas e o Zeca pararam a brincadeira, saindo da piscina e vindo em nossa
direção para receber e conhecer os convidados, e na mesma hora pego uma toalha
para cobrir minha Emma, que está tremendo de frio, e porque está exposta demais
para meu gosto.
Apesar do calor, que já estou acostumado, estou de calça jeans e uma camisa
de meia manga, de um tecido bem leve, com meu inseparável colarinho clerical.
Que, por sinal, sempre foi meu orgulho, mas de uns dias para cá, chega a apertar
meu pescoço como se fosse uma coleira de grilhões[25].
— Padre! Deixe-me lhe apresentar minha pequena mais amada família. — A
Red me chama, e me viro para cumprimentá-los. Porém, sem perceber meu ato,
ainda seguro a Emma pela cintura, perto de mim.
— Muito prazer! Me chamo Gregório, espero que gostem de sua estadia em
Vila dos Lobos. — Falo a todos, e percebo que a senhora, mãe da Red, está com os
olhos vermelhos, segurando as lágrimas, como se tivesse dificuldade para respirar, e
seu irmão está pálido, também, com olhar lacrimoso. Porém, este disfarça muito
rápido.
— É um enorme prazer conhecê-lo Gregório! Sou Yago, mas todos me
chamam de Blue, porém, deixo a seu critério como me chamar. — Ele fala sorrindo
enquanto aperta minha mão, e em seguida me dá um abraço, qual percebo foi
inusitado. Porque a Red tenta disfarçar algo que ainda não consegui identificar.
— Oh menino! Você ainda é muito novo para ser padre, não acha? E muito
bonito também. — A mãe deles brinca, também me abraçando, depois que consigo
me soltar do agarre do seu filho.
— A vocação não tem idade, senhora — respondo retribuindo o abraço
saudoso e apertado que ela me dá. E mesmo tentando disfarçar o máximo que
consegue, percebo que segura além do limite o choro.
— As apresentações estão emocionantes, mas vocês devem estar com fome e
cansados. Venham, sirvam-se, fiquem à vontade. — O Octávio fala quebrando o
clima que se formou.
Após todos devidamente apresentados, até as meninas, vamos para perto da
churrasqueira pôr o assunto em dia, enquanto a Bela, a Dora e minha Emma,
roubam a nova amiga da muralha do irmão da Red.
Antes de ir, ela o olha como se pedisse permissão, e isso não passa
despercebido pela Red e pelo Path, que presta atenção em tudo, em silêncio.
CAPÍTULO 17
Depois das palavras do Theo sobre eu poder deixar o celibato, passei a noite
toda pensando a respeito, e após me revirar várias vezes na cama, decidi que não
conseguirei mais seguir com minha vocação.
Não posso me dedicar ao Clérigo com pensamentos profanos e impuros na
mente, como purificar a mente, se meu único pensamento se resume a paixão e ao
desejo que sinto pelo meu anjo, minha Emma.
Hoje me levantei bem cedo, e como sempre, fiz nosso café, já que ela voltou
comigo para casa. A Dora pediu se podia ficar na fazenda até a Red arrumar a casa,
e a Dona Rose fez questão que a deixássemos, prometendo cuidar muito bem da
menina.
Já faz quase uma semana desde que viemos da fazenda, a mãe da Red vem
todos os dias na igreja, com desculpa de ajudar, mas percebi que ela não sabe o que
fazer para se manter perto.
Eu e a Emma já jantamos com elas na pensão umas três vezes nesta semana,
minha menina está ajudando a senhora a encontrar uma casa por perto, mas me disse
ontem que se eu permitir, ela não quer mudar.
— Gregório! Posso te fazer um pedido?
— Sempre meu anjo. O que você quer?
Ela me olha por um tempo, e depois desvia o olhar e responde:
— A Red está negociando aquele casarão que tem no final da rua, que dá na
rodoviária. — Ela fala dando nós na ponta da blusa, demonstrando seu nervosismo.
— E ao que parece, pelo que ela disse, a reforma que ele necessita, levará somente
alguns meses.
— E o que tem?
— Não quero partir. Sei que só vou me mudar de casa, mas não quero sair de
perto de você.
— Emma!
— Me deixe terminar, por favor — ela pede ainda nervosa. — Sei que o amor
que sinto, e que desejo, você nunca poderá me dar, mas eu aceito o que posso ter. Só
não me afaste de você.
Ela se aproxima, parando bem na minha frente e sussurra, encostando a testa
no meu peito.
— Ficar longe de você me dói fisicamente — fala repetindo minhas palavras
de outro dia. — Dói aqui. — diz colocando minha mão sobre seu peito, em seu
coração.
Neste momento, todas minhas dúvidas que ainda restavam a respeito sobre o
abandono do clérigo, se esvaem. Eu estou apaixonado, não tem lógica negar.
Levanto seu rosto, segurando-a pelo queixo, e falo após deixar um beijo casto
em seus lábios, como um selo de promessa.
— Você é minha, Emma, e se você deseja ficar ao meu lado, eu nunca
permitirei que se afaste.
Lembrando desse momento, me concentro na carta que estou escrevendo para
enviar ao Vaticano, com meu pedido de exoneração do clérigo. Nela, explico meus
motivos para querer abandonar a batina, e voltar a ser um homem descomprometido,
e livre para amar, me casar, ter uma família com a mulher por quem me apaixonei.
Já está um pouco tarde, minha Emma já deve ter ido dormir, então decido ir até
à igreja, preciso me purificar, preciso de um momento de conexão comigo mesmo,
esses últimos dias, tem sido um martírio, pois a dúvida e o sentimento de culpa que
estavam me seguindo e torturando, foram implacáveis.
Entro na igreja, acendendo as velas que ficam no velário, perto do altar, não
quero ascender as luzes, para o que pretendo fazer não preciso de muita iluminação.
Após ascender todas, tiro meus sapatos e minha camisa, ficando somente de jeans.
Em frente ao altar, me ajoelho, faço uma prece curta, pedindo libertação, e
sabedoria, pedindo uma luz para a escuridão de dúvidas que habitam meus
pensamentos.
Me deito de bruços na nave, com os braços abertos e a testa colada no chão.
Então fecho os olhos e me deixo levar em minhas súplicas e orações.
Não percebo quanto tempo deva ter passado, só volto a mim quando sinto o
cheiro floral dos cabelos da minha menina, e o toque de suas mãos pequenas em
minhas costas.
— O que está fazendo Gregório? O chão está muito frio, você pode ficar
doente meu amor.
Abro os olhos, com o corpo totalmente retesado, tenso pelo desejo que não sei
explicar como, mas neste momento está consumindo cada célula de meu sistema.
Não me sinto o santo padre que passei mais de dez anos me preparando para
ser, ali sou um santo pecador. Um homem comum, um viciado, que tem em sua
frente o vinho mais saboroso.
— E-Emma! Entre, por favor. — Peço ainda de cabeça baixa, tentando
controlar minha respiração e as batidas do meu coração.
— Não! Cansei de você me afastar Gregório. — Fala ajoelhando-se ao meu
lado, sentada sob as pernas. — Vejo o que está fazendo, e me recuso a aceitar.
Não sei explicar em que momento, lágrimas de frustração começam a descer
livres pelo meu rosto, o desejo que estou sentindo agora, chega ser doloroso,
psíquica e fisicamente. Quando sinto seus lábios tocando suavemente minhas costas,
chego ao meu ápice, a ruína do meu autocontrole.
Viro de frente, me sentando, e puxando-a para meu colo. E a facilidade com
que o corpo dela responde ao meu, é assustadora.
— Eu te amo Gregório. E por mais que você me afaste, eu nunca vou desistir
de você, de nós.
Suas palavras ficam gravadas em mim como uma segunda pele, então respondo
ainda a segurando sentada em meu colo.
— Você não precisa lutar sozinha, anjo, porque eu também não quero, e não
vou desistir de nós.
Então a beijo, com toda fome e lasciva, que sinto agora. Ela geme em meus
lábios, se posicionando, encaixando melhor seu corpo contra o meu.
Desço-a do meu colo, sem parar de beijá-la, e me levanto, trazendo-a junto,
abraçando seu corpo pequeno, colando-o a mim.
— Eu não posso, mas não consigo me afastar — falo percorrendo seu rosto
com beijos, a cada toque uma promessa, lambo seu maxilar até chegar em sua
orelha, onde dou uma leve mordida no lóbulo e sussurro.
— Eu também te amo, minha menina, e preciso de você, preciso sentir você.
Ela me abraça mais apertado, e olhando em meus olhos responde, com gemidos
contidos, devido aos beijos que dou em seu pescoço e ombros.
— Me faça sua mulher, meu amor! Já me sinto sua, mas também preciso desse
momento, preciso de nós dois assim, conectados — diz pegando minha mão, e
saindo em direção a sacristia, que nos leva a casa paroquial.
Beijo a ponta de seus dedos, e a pego nos braços, voltando a beijá-la, e
seguindo para meu quarto. Sei que não é certo, que eu deveria esperar, mas meus
sentimentos são muito mais fortes que eu, e hoje, farei exatamente o que ela me
pediu.
Farei desta menina, minha mulher.

Entro no quarto e a coloco de pé, preciso vê-la, preciso ter certeza de que
estamos na mesma página, então ela me beija, me puxando para si, como se quisesse
nos fundir em apenas um.
Retribuindo o beijo, invadindo sua boca e explorando cada pedacinho com a
língua, desço as mãos percorrendo seu corpo, e só então percebo que está com um
short curtinho de malha e uma blusa de alças finas, que usa para dormir.
Meu anjo safado, foi até mim com intensão de me provocar, como tem feito
todos esses dias. Só não esperava que hoje eu não a afastaria novamente.
Sigo beijando seu pescoço, descendo para seu ombro, puxando as alças de sua
blusa, com a intenção de despi-la. Paro e olho para seu rosto, esperando que me
pare, mas ela se contorce nos meus braços.
Me sento na cama, trazendo-a para meu colo, encaixando suas pernas de cada
lado da minha cintura, beijando, lambendo e mordendo seu rosto, pescoço, desço a
alça de sua blusinha, desnudando seus seios, que pulam em meu rosto, pequenos,
empinados, com as auréolas rosadas, e o bico chamando pela minha boca. Não
resisto, então encho minha boca com um enquanto aperto, amasso o outro com
volúpia, passo a língua nos bicos, que estão túrgidos, revezando minha atenção de
uma para o outro.
Ela geme alto, totalmente entregue as sensações que minha boca provoca em
seu corpo. Quando dou uma mordidinha no biquinho do seu peito, beliscando o
outro, e assopro de leve, ela aperta os dedos em minha nuca, agarrando meus
cabelos, começa se esfregar em mim, e é angustiante a sensação, pois estou prestes a
explodir, pelo desejo acumulado, a vontade de estar assim com ela.
— Se continuar fazendo isso, eu não vou aguentar Emma. — Digo segurando
sua cintura, para parar seus movimentos involuntários, de puro instinto. — Há mais
de dez anos que fiz votos de castidade, entenda anjo, não quero te frustrar, e nem
“me” frustrar no processo.
Ela para os movimentos, me olha, e então com um sorriso lindo fala:
— Eu nunca estive assim, tão intimamente com ninguém, mas sou bem
curiosa, e já assisti alguns vídeos — olha para os lados para disfarçar como suas
bochechas ficaram rubras.
— Vídeos é? Que tipo de vídeos? — Pergunto curioso.
— Posso te mostrar?
E se ela estava com as bochechas vermelhas, agora parece que todo sangue de
seu corpo foi para seu rosto.
Então, mesmo tímida, ela se levanta, ajoelha na minha frente, entre minhas
pernas, e começa beijar meu pescoço, descendo para meu peito, se afasta um pouco,
ainda ajoelhada, e com suas mãozinhas tenta desafivelar meu cinto.
— Posso te ajudar? — Pergunto beijando e deixando mordidinhas em seu
ombro.
Ela faz que sim, com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Mas agora estou
querendo ver até onde vai sua coragem, e tiro o cinto, mas mantenho a calça
fechada. Minha ereção é visível mesmo pelo jeans, e juro que só de vê-la sentada
assim, em posição submissa, estou quase gozando.
Minha perdição, e um pouco de vergonha acontece no momento que ela abre o
botão e o zíper, pegando meu membro, desajeitada a princípio, mas só de sentir sua
mão se fechar no meu pau, eu não aguento, e no primeiro movimento que faz, eu
gozo em sua mão, jogando meu corpo para trás, apoiado sob os cotovelos.
— Desculpa anjo. Eu disse que não ia conseguir aguentar.
Ela me olha com luxúria, pois apesar de ter vergonhosamente gozado só dela
ter me tocado, ainda estou duro, pronto para ela.
Quando ela se abaixa, ainda segurando meu membro, movimentando a mão
para cima e para baixo, olhando-o gulosa, e percebo o que vai fazer, eu travo, são
muitas emoções para um único dia, minha menina, apesar de pelo que disse, ainda
ser virgem, prestou muita atenção nos vídeos que andou assistindo.
Engulo em seco, pois imaginar sua boca em mim, me faz quase gozar de novo,
feito um adolescente precoce.
Ela me olha com um sorrisinho travesso, me masturbando, acariciando todo o
comprimento do meu pau, então passa a ponta da língua suavemente na cabeça que
está agora com uma baba de pré-sêmen.
— Ele é grande, e bonito — fala corando de novo.
— Achou ele bonito é? Vem aqui, me deixa te sentir também. — Peço me
deitando e fazendo-a subir na cama e montar de quatro em cima de mim, ficando
exposta, com a bocetinha na minha cara, enquanto me chupa.
Não sei dizer quando comecei a desejá-la, mas acredito que desde que a
conheci, mas desde quando a beijei pela primeira vez, que imagino como seria o seu
gosto.
Então tiro seu short bem devagar, desenhando a curva de sua bunda com os
olhos, não quero perder nada. Quando tiro tudo, deixando aquele botão de rosa
exposto para mim, chego a salivar, só de vê-la pingando de tesão.
— Essa é a visão mais perfeita que já tive o prazer de deslumbrar. — Falo
admirando aquela perfeição.
Passo os dedos em sua fenda, abrindo-a para mim, lambuzando ainda mais essa
parte de seu corpo, com sua própria excitação, e me sinto um maldito sortudo por
saber que somente eu tive o prazer de tocá-la e de vê-la assim.
Chupo meus dedos, apreciando o que é agora meu sabor predileto no mundo. E
começo a lambê-la, de cima a baixo, de boca aberta, me esbaldando com a delícia
que é aquele botão de rosa desabrochando na minha boca.
Enfio o dedo em seu canal, alargando-a, enquanto chupo seu clítoris, ela
empina a bunda, apertando meu dedo com suas paredes internas, e sei que vai gozar,
apesar de não me lembrar nem quando foi a última vez que estive com uma mulher,
é instinto, eu só sei que vai gozar. Coloco outro dedo, e com o polegar começo
massagear e brincar com seu ânus, enquanto estímulo seu orgasmo sugando sua
boceta suculenta.
Quando goza, eu não me seguro, e gozo novamente, mas agora em sua boca, e
para meu deleite, ela engole tudo, sem se engasgar, lambendo até a última gota.
Levanto, deitando-a, e me colocando por cima, e não sei se devido ao tempo
que passei apenas satisfazendo as necessidades básicas do meu corpo sozinho, mas
mal gozei, e estou duro de novo. Foi só encostar meu pau em sua boceta, que o
safado acordou na mesma hora.
Eu a beijo, sentindo meu gosto em sua boca, fazendo com ela sinta o sabor do
próprio néctar também, e perdido no beijo, com suas mãos em minha nuca, eu me
encaixo entre suas pernas, devagar, já que meu anjo é virgem, e não quero machucá-
la.
Coloco só a cabeça em sua entrada, testando meu autocontrole, pois se eu achar
que não vou conseguir me segurar, eu paro, e fazemos amor outra hora. Se bem, que
não sei se conseguiria parar agora.
Entro devagar, rasgando-a, tomando posse do que é meu, fazendo-a minha, só
minha, meu amor, minha mulher. A cada centímetro penetrado, cubro seu rosto de
beijos, então desço a mão entre nossos corpos, a fim de estimular seu clítoris, para
que se lubrifique mais, e para que o prazer suplante a dor do momento.
Quando sinto romper sua barreira, ela morde meu ombro, cruza as pernas na
minha cintura e me trava com a pressão de seu corpo.
— Puta merda, isso dói. — Fala cravando as unhas nas minhas costas.
Paro de me mexer, esperando que ela se acostume com minha invasão, e meu
tamanho. Mas estou quase enlouquecendo de tanto tesão, então falo:
— Vai doer só agora, relaxa amor, logo a dor passará, prometo. — Digo
voltando a beijá-la. — Mas preciso me mexer, ou acho que explodirei.
— Pode mexer — diz começando a movimentar o quadril devagar, rebolando
em mim, tentando se adaptar a situação.
Então começo uma dança ritmada em seu interior, entrando e saindo conforme
ela se movimenta, e aumenta a intensidade do nosso beijo. Quando sinto sua boceta
começar a apetar meu pau, me dizendo que vai gozar novamente, acelero os
movimentos, entrando fundo, socando com força. E com um urro de prazer, me
esparramo dentro da minha menina, gozando junto dela, beijando todo seu rosto.
— Eu amo você, Emma! E sou todinho seu.
CAPÍTULO 18
Após passarmos a noite fazendo amor, meu anjo adormeceu em meus braços, e
acabei de descobrir que vê-la dormir, calma e segura, é meu passatempo favorito.
Levanto-me com cuidado para não a acordar, e vou como sempre fazer o nosso
café, hoje decidi sair comprar umas broas, descobri que ela gosta, e quero mimar
meu anjo.
Quando chego a padaria, percebo uma movimentação estranha para o horário,
como se tivessem mais carros que o normal nas ruas. Não sei por que, mas meus
pelos da nuca se arrepiam, como um pressentimento ruim, uma sensação de
incômodo me atinge forte, quase fazendo com que eu desista das broas, e volte
correndo para casa, já que minha Emma ficou dormindo e sozinha.
Após comprar as coisas para nosso dejejum, volto a passos largos para casa,
com a sensação de estar sendo seguido, mal vejo quando, quase derrubo a Red, que
estava correndo, e já cedo falando no celular através de um fone sem fio, bastante
distraída.
— Me desculpe, juro que apesar de estar olhando, não foquei, e me distraí. —
Fala se apoiando em meu braço para não se desequilibrar e cair.
— Está tudo bem, minha querida. Só cuidado para não acabar se acidentando
de forma mais grave que ser atropelada por outro distraído logo pela manhã. —
Respondo brincando para descontrair.
Ela é muito perceptiva, e no momento que comento estar distraído aparece um
vinco de preocupação no meio de sua testa.
— E o que te faria ficar distraído a essa hora?
— Nada de mais, só um cenário diferente do cotidiano. — Digo sorrindo. —
Sou meio paranoico por controle, e quando algo está diferente, mesmo que um
ínfimo detalhe, eu percebo.
— Agora você tem toda minha atenção padre — diz sentando-se no banco que
tem na calçada, e me convidando a sentar-me também.
— Não quero ser rude, mas prefiro que me acompanhe, e te conto mais sobre
minhas paranoias. — Falo convidando-a para ir comigo até a casa paroquial. —
Deixei a Emma dormindo, sozinha, e não estou gostando de umas coisas hoje. E
comprei broas de milho para o café.
— Me ganhou nas broas de milho. — Ela fala brincando, mas percebo que está
preocupada.
Quando chegamos a casa, a Emma está passando o café, com os mesmos trajes
de dormir da noite anterior, me levando a lembranças de nós dois, do gosto de sua
boceta, que ainda posso sentir na ponta da língua.
Disperso meus pensamentos rápido, mas não tão rápido antes de ficar de pau
duro. Sento-me depressa, antes que seja descoberto, e convido a Red a sentar-se
também. A Emma pede licença e corre para o quarto se trocar. Afinal, ela jamais
poderia imaginar que teríamos visita a essa hora.
— Vejo que vocês se entenderam. — A Red fala bebericando o café que
acabou de servir numa xícara.
— Não entendi o que quis dizer. — Falo me servindo de café e um pouco de
leite. — Broa? — Ofereço fingindo realmente não saber o que ela está
mencionando.
— O lobo perde a memória, mas não perde o costume. Fingido. — Ela
resmunga baixinho, mas eu ouço.
— Agora não entendi de fato. Você sempre faz insinuações a respeito, mas
sempre muda de assunto. — Falo colocando a broa no prato. — Sinto que me
esconde algo importante, e acho que tenho o direito de saber.
— Tudo dentro do seu devido tempo, Gregório. — Ela responde depois de uma
pausa, como se pensasse no que dizer.
Neste momento, a Emma entra na cozinha, sorrindo, ainda envergonhada por
ser pega quase pelada fazendo nosso café, afinal aquele conjuntinho de dormir não
deixa nada para imaginação.
Então, sentando-se na cadeira ao meu lado, se serve de um copo de suco de
maçã, desses de caixa, e uma broa.
— O que te tirou da cama tão cedo hoje, Soraya? — A Emma pergunta
chamando a Red pelo nome. Minha menina não há chama mais de Red desde que
ela lhe deu permissão para tratá-la pelo nome de batismo.
— Na verdade, ainda não dormi, aí resolvi correr um pouco, depois tomar um
banho, e ver se com o corpo cansado, conseguiria pegar no sono. — Ela responde.
— Mas voltando ao assunto que iniciamos antes de vir para cá, você disse que me
contaria mais sobre suas paranoias.
— Chamo de paranoias porque desde que cheguei em Vila dos Lobos, nunca vi
a cidade tão movimentada, muito menos logo pela manhã.
— Como assim movimentada?
— Sempre vou buscar pãozinho para o café neste horário, logo que abre a
padaria. E sempre, sem distinção de dias, as ruas estão desertas. — Falo, enquanto
passo manteiga na minha broa. — Mas hoje, além de vários carros que nunca vi por
aqui, havia umas pessoas pelas ruas, como se estivessem caminhando, mas era
nítido que não estavam.
— E, porque você acha que não estavam apenas caminhando, assim como a
Soraya estava correndo? — A Emma pergunta me olhando preocupada.
— Sei lá, talvez pressentimento, ou paranoia como disse. Mas algo estava
muito estranho.

Depois de tomarmos um café até que reforçado, e ficarmos mais um tempo


conversando a respeito das minhas teorias, a Red pediu licença dizendo que agora o
sono bateu em cheio.
Enquanto eu retirava as coisas da mesa, a Emma a acompanhou até a saída, e
quando voltou ficou parada na porta da cozinha, encostada no batente me olhando
lavar os pratos e copos do café.
— Senti um vazio estranho quando acordei e você não estava lá. — Fala se
aproximando toda manhosa, me abraçando por trás e beijando minhas costas.
A sensação de ter suas mãos pequeninas em torno do meu corpo é deliciosa.
Então seco as mãos e me viro de frente, fazendo-a encarar meu peito, já que sua
cabeça não passa do meu queixo.
— Você não faz ideia de como foi difícil sair daquela cama hoje de manhã. Por
mim eu passava o dia todo fazendo amor com você, enterrado dentro do seu corpo.
— Digo beijando sua orelha, enquanto ela começa se aconchegar em mim como
uma gatinha pedindo colo. — Alguém pode entrar, amor.
— Eu tranquei a porta que dá acesso à casa, estamos seguros de um flagra. —
Diz beijando meu peito, desabotoando minha camisa.
— Por que estou achando que você tinha tudo planejado?
— Nos meus planos, eu acordava com você do meu lado, e te enchia de beijos,
e faríamos um amor bem gostosinho — diz sem parar de me beijar, tirando minha
camisa e se ajoelhando na minha frente.
— Você não está dolorida? Ontem acho que exageramos para sua primeira vez.
— Pergunto, tirando o colarinho clerical que ficou pendurado quando ela tirou
minha camisa, e jogando a cabeça para trás, no momento que sinto suas mãozinhas
maldosas tirando meu pau para fora da cueca, me masturbando lentamente.
— Estou um pouco ardida, e sim um tantinho dolorida, mas nada neste
momento, vai me impedir de senti-lo dentro de mim novamente. — Fala molhando
os lábios, olhando meu membro, em seguida passando a ponta da língua na cabeça,
que está inchada e pulsando. — Uma vez li em um livro a mocinha pedindo leitinho,
quando chupou seu homem pela manhã, na hora não entendi, mas agora que entendo
o significado, eu quero — diz com os olhos brilhando e gulosos.
Engulo em seco, respirando com dificuldade, olhando sua expressão de desejo,
enquanto está ajoelhada na minha frente, segurando e me lambendo timidamente, do
saco a ponta da cabeça.
— Minha menina quer leitinho? — Pergunto passando meu pau em sua boca.
— Então abra a boca para mim, amor, me deixa entrar o máximo que aguentar.
Obediente, ela abre a boca, e se segura, apertando minha bunda, me puxando
para si. E isso acaba com meu autocontrole, como sempre, ela me desarma.
Começo a foder sua boca, entrando e saindo, segurando-a num aperto firme
pelo cabelo.
— Relaxa mais a boca, assim não vai se engasgar. — Falo entrando mais
profundo, ela baba em volta do meu pau, apertando com os lábios por cima dos
dentes.
— Puta merda Emma! Onde você aprendeu a fazer isso? — Pergunto urrando
de tesão, quase gozando.
Ela me olha, de boca aberta, e a cena de ver meu pau sumir em sua boca, de tê-
la ali, me engolindo o máximo que aguenta, me deixa louco de tesão, a cena é muito
erótica. E sua submissão a mim naquele instante me deixa até zonzo.
Aumento as investidas e então gozo com força, jorrando meu leitinho como ela
pediu, no fundo, de sua garganta, enquanto ela me segura, sugando cada gota.
Quando termino de gozar, a puxo para mim, pegando-a no colo, e beijando,
devorando sua boca, sentindo meu gosto em seus lábios.
— Eu disse que posso não ser experiente como muitas mulheres, mas já vi
alguns filmes, e aprendo rápido. — Fala me abraçando com as pernas, encaixando-
se em mim, enquanto a levo de volta para meu quarto. — Só quero ser perfeita para
você.
Como estou nu, minha roupa ficou no chão da cozinha, e ela está usando só um
vestido leve, empurro sua calcinha para o lado, e entro nela, mantendo-a no meu
colo, encosto-a na parede, metendo com força, desço as alças de seu vestido, pois
quero seus peitos na minha boca, e sigo mamando um de cada vez, sem deixar de
dar atenção a nenhum.
— Você é perfeita para mim, meu anjo! — Falo sugando seu mamilo, enquanto
meto fundo dentro dela.
A levo para o quarto, nos deitando na cama, saindo de dentro de seu corpo,
tempo suficiente para tirar sua calcinha e seu vestido, com pressa, com fome, me
deito ao seu lado por trás, levantando sua perna e segurando, entro novamente,
bombando com força, rápido, afundando meu pau até o talo em sua bocetinha.
— Gostosa demais. — Gemo em seu ouvido, enquanto ela se contorce nos
meus braços, tentando me tocar. Quando sinto suas paredes me apertarem,
ordenhando meu pau dentro de si, aumento a velocidade, amassando seus peitos,
mordendo seu ombro, e juntos chegamos ao ápice do tesão.
Urrando como dois animais no cio, gozamos, misturando-nos, mais uma vez,
nos tornando apenas um.
Depois do sexo maravilhoso matinal que fizemos, eu peguei minhas roupas na
cozinha, tomei um banho, e fui para sacristia, minha garota estava exausta e acabou
dormindo de novo. Então só deixei um beijo suave em seus lábios e sai, fechando a
porta do meu quarto.

Estou a um tempão analisando os papéis de orçamento, sobre a reforma do


telhamento, e, já reli uma mil vezes a carta de renúncia que escrevi para enviar ao
Vaticano, o mais rápido possível.
Amanhã, durante a missa, pretendo informar aos meus fiéis que será a última
ministrada por mim.
— Você não parou nem para almoçar hoje meu amor, então eu arrumei um
pratinho e trouxe para você. — A Emma fala entrando, se equilibrando com uma
bandeja nas mãos.
Levanto-me rápido indo em sua direção, pegando a bandeja de suas mãos,
colocando em cima da mesa.
— Desculpe anjo, me esqueci totalmente da hora.
— Está desde cedo analisando esses papéis. O que são? — Ela pergunta
arrumando as coisas para eu comer.
Acho graça, e fico encantado com sua dedicação para comigo. Vejo ser natural
dela, a preocupação, o carinho.
— Lembra que hoje temos de ir até à fazenda para o aniversário de dezoito
anos da Dora, né? — Ela pergunta enquanto enche o copo de suco.
— Claro que sim, vamos lá pelas 18 h tudo bem?
Enquanto conversamos e vou almoçando, apesar de ser horário do café da
tarde, vejo a diferença de humor e comportamento da minha menina. Ela está mais
leve, mais solta, visivelmente mais feliz, e isso me deixa com o coração apertado,
por saber que se eu não fosse teimoso, ela poderia estar assim bem antes, e eu
também.
Me sinto completo, apesar das lacunas da minha falta de memória, eu me sinto
suficiente.

Quando chegamos na fazenda, acompanhados da senhora Angelita e da Red,


que também foram convidadas, a Dora veio correndo em nossa direção.
— Ahh! Sua nojenta, como assim você me abandona por uma semana inteira?
— Ela fala puxando a Emma para um abraço de urso.
— Também senti sua falta, irmãzinha, e não te abandonei, liguei todos os dias.
Quando me aproximo seguido da Red e de sua mãe, ela vem em minha direção,
me abraçando pela cintura.
— Obrigada por cuidar da minha irmã Gregório — fala me dando um beijo no
rosto. E nesse instante percebo que ela já sabe sobre nós, sobre o upgrade que nosso
relacionamento deu.
— Eu sempre vou cuidar da sua irmã cunhadinha. — Respondo baixinho, só
para ela ouvir.
— Achei que vocês não viriam — A Bela fala, vindo nos cumprimentar
também.
Só observo enquanto as meninas conversam entre si, e minha garota me olha
sorrindo, quando é arrastada para a parte da piscina, onde estão assando o churrasco,
e a música está mais alta.
— Pensou no que falei? — O Theo pergunta me trazendo uma cerveja, e
sorrindo como se soubesse mais do que deveria.
Na mesma hora imagino que minha Emma tenha contado para irmã sobre nós,
e ela obviamente contou para ele.
— Por que você acha isso? — Digo me fazendo de desentendido.
— Tirando que sua garota ligou para irmã contando as novidades, e ela me
contou. Me cobrou, para ser mais direto. — Fala torcendo o nariz. — Está escrito no
seu olhar, na forma que olha para Emma e ela corresponde.
— Não exagera, se a Dora não tivesse dito nada, você não faria a mínima ideia
— digo rindo, batendo de leve em seu ombro.
— É, pior que não mesmo.
— Mas o que a Dora te cobrou para essa cara de quem chupou limão.
— Ahh! Meu amigo. Isso é história para outro dia. — Diz tomando sua
cerveja.
Estamos conversando descontraídos, quando a Red se aproxima com um copo
de vinho na mão.
— Gregório! Esqueci de te dizer que investiguei sobre suas paranoias de hoje
de manhã.
— E descobriu algo?
— Que paranoias? — O Theo pergunta.
— O Gregório acha que a cidade estava movimentada demais para às seis da
manhã, com pessoas que nunca viu — ela responde olhando o horizonte. — E
tirando meus soldados, não soube de nada diferente. Mas pelo sim e pelo não,
reforcei a segurança na igreja.
— E por que você faria isso? — Pergunto realmente curioso, pois ela, com seus
segredos, estão me intrigando bastante. Para que aumentar a segurança da igreja?
Não confia em seus "soldados"?
— Como já disse! Deixe o tempo te responder, meu querido. — Responde
levantando-se, antes que eu possa perguntar de novo.
A festa foi tranquila, pequena, só para família e amigos mais próximos, mas foi
gostosa, regada a muitos risos e dança. Voltamos para casa já havia passado alto a
madrugada, e eu previa uma ressaca de sono na hora de ministrar a missa de
amanhã.
CAPÍTULO 19
— Bom dia, meu amor! — A Emma me acorda, cobrindo meu corpo de beijos.
— Bom dia! — Respondo sonolento, espreguiçando o corpo, que está todo
dolorido, devido à noite mal dormida, e o fato de ter de me levantar cedo.
Na verdade, já são mais de duas noites mal dormidas, me levantando cedo sem
repor o sono, por isso meu corpo está reclamando, me punindo por tratá-lo mal. Mas
quando lembro o porquê passei mais de duas noites em claro, dou um sorriso de
canto, pois vale cada esforço.
— Tenho uma coisa para te dizer. — Falo para meu anjo, me sentando na
cama, e recostando na cabeceira.
— Eu vou querer ouvir? — Pergunta já tristonha.
— Hei! Por que essa carinha triste? — Falo levantando seu rosto, segurando a
ponta de seu queixo.
— Tenho medo de você achar que o que estamos fazendo é errado, e terminar
comigo.
— Bom. O que estamos fazendo “é errado”, pois ainda sou um padre. Mas, não
deixa de ser certo aqui — falo colocando a mão sobre o peito, na direção do
coração.
— O que é? Que quer me dizer.
— Eu escrevi uma carta para enviar ao Vaticano. Nela solicito minha renúncia
do clérigo. — Falo segurando sua mão. — Eu pensei muito a respeito, mesmo antes
de tocar você e tornar nossa relação mais íntima. E conclui que minha fé não mudou
em nada, mas minha vocação sim.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer, que estou apaixonado por você, e que só de pensar na hipótese
de ter você longe de mim, me machuca. E se me sinto assim, não posso mais seguir
sendo padre, pois o que quero ter com você, meus votos nunca me permitiriam —
falo olhando em seus olhos, absorvendo suas reações. — Hoje vou anunciar minha
renúncia no sermão da missa, avisarei que será a última ministrada por mim, mas
queria que você soubesse antes, lógico.
Ela está com os olhos marejados em lágrimas, e quando termino de falar,
simplesmente se joga em meus braços, me beijando carinhosamente, calmo,
sentindo cada batida dos nossos corações.
Então, como não nos resistimos, fazemos amor, mas diferente das outras vezes
que transamos, agora é calmo, lento, cada penetração é uma adoração do corpo um
do outro, cada beijo é uma promessa de cuidados, amor e devoção. Faço do corpo da
minha Emma, meu altar, e aqui, adorando cada pedacinho dela, eu vejo que se um
dia tencionei ser um santo, eu só consegui ser um pecador por achar que poderia.

A igreja está cheia, como sempre fica, em todas as missas dominicais. A


Emma, a Dora e a Bela estão sentadas juntas na primeira fila de bancos, atrás delas
está a Dona Rose, a senhora Angelita e por mais incrível que pareça, hoje a Red está
junto da mãe.
Falo assim, pois pelo que pude notar, ela não é muito de frequentar igrejas, que
dirá assistir uma missa.
Durante o sermão, como havia dito a minha menina, eu comuniquei a todos na
cidade que este seria meu último ato como padre, pois estava renunciando, e a partir
deste domingo eu não celebraria mais as missas.
Como esperado, o choque das pessoas foi unanime, os murmúrios pareciam
abelhas zumbindo. Depois de um tempo, que as deixei cochichar suas teorias, eu
sabia que viraria motivo de fofocas, coloquei um basta, seguindo com a missa e
conduzindo a comunhão.
Vi que a Emma, as meninas, e até a Red com a mãe e Dona Rose, olhavam feio
para todos a sua volta, por conta dos murmúrios. Na verdade, a Red estava com cara
de quem ia cortar a língua de alguém.
Com o silêncio, e os cochichos cessados, dei continuidade a missa. E no
momento da comunhão, por todos estarem de pé, indo e vindo de seus lugares, e o
coral cantando alto seguido do órgão, não notei quando um homem se levantou e
sacou uma arma, apontando para minha Emma.
Foi tudo muito rápido, e, ao mesmo tempo, em câmera lenta, quando vi o
sujeito apontar a arma na direção do meu amor, eu gelei, foi como se estivesse
prestes a perder minha alma, vi seu sorriso desvanecer ao me olhar, e me ver
assustado, vi quando a Red seguiu meu olhar e sacou uma arma, não imagino de
onde, e só agi, não pensei, eu não estava raciocinando, meu único foco era proteger
minha Emma.
Joguei-me de onde estava, um pouco a sua frente, no altar, ficando frente a
frente com ela, segurando-a, abraçando-a, apertando-a contra meu peito, me
certificando de que ela estava bem.
Ouvi seus gritos de desespero, e não entendi o porquê.
— Está tudo bem meu amor! Você está bem. — Falo segurando seu rosto,
secando as lágrimas que caem contínuas.
— Alguém chama a maldita ambulância. — Ouço a Red gritar com todos a sua
volta.
Está tudo em câmera lenta, até as vozes das pessoas está fora de foco,
arrastadas. Então percebo que estou apagando, como se tivesse anestesiado, vejo
quando a Red e minha Emma se sobrepõe acima de mim, ambas chorando, minha
Emma está chorando muito, e isso está partindo meu coração, ela se abaixa beijando
meu rosto, meus lábios, me pedindo para não a deixar.
Mas, por que eu faria isso? Porque eu deixaria o amor da minha vida assim,
inconsolável.
Sinto leves golpes em meu peito, então percebo quando a Red abre minha
camisa, chorando e murmurando algo incoerente, e começa a aplicar uma RCP[26] em
mim, seguida de golfadas de ar pela boca. Quero dizer para ela que não preciso
disso, mas não sou mais dono de meus movimentos nem minha voz.
Estou preocupado com a Emma, ela está chorando muito, mas estou me
sentindo numa linha tênue, entre a consciência e a inconsciência. Ouço a Red falar
enquanto tenta me manter acordado.
— Não faz isso comigo Juan, eu já te perdi uma vez, não vou te perder de
novo. Tá me ouvindo? — diz praticamente socando meu peito.
Vejo suas mãos sujas de sangue, “meu sangue,” então percebo que o tiro que
aquele infeliz deu acertou a mim, não minha menina, e isso me faz sorrir, meu amor
está bem.
— Você está rindo de que seu palhaço? Não fecha os olhos Juan — A Red fala
chorando, e vejo que a Emma a olha espantada, mas chorando muito também.
Estou oscilando entre acordado e apagado, a escuridão quer me levar, mas
preciso me certificar que a Emma está bem antes.
— E-Emma! — Chamo com toda força que faço para voz sair.
— Estou aqui, amor! Por favor, não me deixa. — Ela pede andando ao meu
lado, segurando minha mão.
Por que ela está andando? Onde estou?
— Emma! — Chamo de novo, mas até para mim, minha voz sai como um
mero sussurro. — E-eu te amo!
— Eu também te amo!
É só o que ouço e sou engolido pela escuridão.
CAPÍTULO 20
Catatônica, assim que me descrevo agora. Não consigo pensar, nem, articular
qualquer palavra que seja, minha boca está seca, parece que comi areia.
Vejo a Soraya andar de um lado para o outro, berrando ordens no celular, ela
está toda suja de sangue, do sangue do meu Gregório. Sua mãe está inconsolável,
chorando como uma criança, murmurando de “novo não”.
Também estou com minha blusa e calça sujas de sangue, eu me agarrei ao meu
amor e só com muita calma e um pouco de força, um dos seguranças da Red
conseguiu me tirar de perto da maca, para poderem levar o Gregório para dentro.
Agora ele está em cirurgia, o tiro o acertou no ombro do lado esquerdo, e eu
não me conformo, sinto que sou a culpada por agora ele estar assim, ferido, lutando
para viver.
— Toma — minha irmã me traz um copo de água, mas ao invés de beber, fico
olhando para ele, tremendo, então começo a chorar de novo.
— É tudo minha culpa, Dora! Aquele maldito ia atirar em mim, mas meu
Gregório entrou na frente. — Falo soluçando, sem conseguir controlar as lágrimas.
— Se eu não tivesse ficado na casa paroquial, talvez ele estivesse bem agora.
— Não é sua culpa! — Ela diz me abraçando pelos ombros. — E lógico que
ele pulou na sua frente, ele te ama minha irmã.
— Ele não devia ter feito isso, e se ele morrer, o que faço? — Pergunto
deixando as lágrimas descerem livres pelo meu rosto. — Acho que morro junto.
Não quero viver sem meu amor, Dora, não consigo — falo chorando de soluçar, pois
não consigo parar.
A senhora Angelita, que está sentada quase de frente para mim, só me observa,
quieta, posso ver que está rezando, e chorando também, pois vejo suas lágrimas
descerem livres por seu rosto, então, depois dessa declaração que faço, ela fala:
— Meu menino não vai morrer. Ele é forte, e Deus não faria isso comigo — diz
enxugando uma lágrima silenciosa. — Não posso perder meu filho pela segunda
vez, meu coração não vai aguentar.
— Seu filho? — Eu e a Dora perguntamos juntas, nitidamente espantadas.
Então, ela nos conta toda a história, desde o acidente a mais de uma década,
que o deu como morto para toda família, até agora, quando a Red o reencontrou.
— Não se culpe menina. Você foi o anjo que Deus enviou para nos trazer até
este lugar, e encontrá-lo. — Ela diz sentando-se ao meu lado.
— Nossa, parece história de livro. — Minha irmã comenta segurando a mão da
Dona Angelita.
— Sim parece! Eu diria que uma bela história de amor. — A senhora responde.
— Por que acha que seria uma história de amor? — Pergunto tímida, agora que
descobri que a senhora imponente é minha futura sogra.
— Não é óbvio? Meu Juan te ama, ele entrou na frente de uma bala por você.
— Diz fazendo um carinho nos meus cabelos. — E vejo seu desespero pelo medo da
perda. Fico muito feliz que ele tenha você na vida dele.
— O Yago está vindo para cá, chega em algumas horas, e o Brian conseguiu
pegar um comparsa do filho da puta que teve a ousadia de tentar atirar na Emma,
acertando o Juan no processo. — A Red fala se aproximando.
— Se seu irmão quiser, a Helena pode ficar na fazenda com as meninas
enquanto vocês resolvem os problemas. — O Theo fala se aproximando também. —
Imagino que ele trará a garota junto, já que tomou para ele o cargo de protetor da
garota — diz com um sorrisinho de lado.
— Sim, ela vem junto. E em defesa dele, ela que grudou nele, desde que ele a
salvou do desgraçado no meu escritório.
— Eu não vou sair daqui. — Falo olhando para o Theo, como se ele tivesse me
pedido para pular de uma ponte.
— Sabemos que não querida. Mas a Bela e a Dora vão. — Ele responde
olhando às duas com cara de quem não aceita argumentos.
— Então está combinado, assim que meu irmão chegar, as meninas vão com
você e mais alguns de nossos homens para fazenda. — A Red fala decidida. — Mãe,
vou dar um pulinho na pensão que estamos para tomar um banho e me trocar, não
demorarei nada ok? — Diz abaixada de frente a senhora Angelita.
— Faça-o falar, minha filha. E mande ele rezar para meu menino sobreviver,
ou ele vai se arrepender do dia que nasceu. — A senhora Angelita fala segurando as
mãos da Red.
— Nem precisa pedir. — A Red fala com um sorriso diabólico. — Tenho
peninha dele, quando o Yago chegar.

A Red demorou para voltar, apareceu no hospital já era noite, e veio com o
irmão e a Helena, que haviam acabado de chegar, pelo que soube. Fora um exército
de seguranças, mais outra tropa que estava do lado de fora do hospital.
Passaram-se horas sem ninguém falar nada, ninguém saiu do hospital antes de
ter notícias. Minha irmã disse que só saia de perto de mim depois de saber que
estava tudo bem. Então o Theo, a Dona Rose e as meninas ficaram esperando
também, até porque eles também estavam preocupados.
A agonia tomava conta do ambiente, até a Soraya ameaçar entrar lá dentro e
buscar informações por conta própria.
Então o médico saiu e nos deu notícias sobre o estado clínico do meu amor.
— A bala não atingiu nenhum órgão, apesar de passar raspando o coração, a
cirurgia para retirada do projétil foi bem-sucedida, e agora o padre está fora de
perigo. — Ele fala sorrindo, satisfeito com a notícia.
— Claro que ele está sorrindo aliviado. — Minha irmã fala em deboche. — Se
ele perde o paciente, a Soraya mete uma bala no meio da testa dele, igual fez com o
maluco que tentou atirar em você lá na igreja. Fora que o irmão dela parece que vai
matar alguém só com o olhar.
— Dora para de ser maldosa! — A Bela fala, mas rindo baixinho para não ser
repreendida.
— Estou sendo realista.
Eu não sei se rio ou se choro. Pois não sei o que faria se perdesse o amor da
minha vida.
— Quando posso vê-lo doutor? — Pergunto ansiosa. Por mim já entrava lá e
ficava de guarda, velando seu sono.
— Ele está sedado, mas assim que acordar, faremos mais alguns exames e
então ele poderá receber visitas. — O médico responde e sai da sala de espera, nos
deixando em um misto de aliviados e agoniados.
— Você precisa ir para casa, tomar um banho e descansar um pouco, minha
linda. — A Red fala passando as mãos no meu cabelo.
— Não vou! — Falo movimentando a cabeça em negação. — Só saio daqui
quando o Gregório tiver alta também.
— Vou à casa paroquial buscar umas peças de roupa para ela. — Minha irmã
fala para Red, segurando minha mão. — Será que aqui tem onde tomar um banho?
— Nossa mãe também se recusa a sair daqui, vou ver se tem um quarto vago
que possa ser usado para elas se trocarem e descansar. — O Yago comenta saindo
em direção a recepção. — Também quero saber quando será seguro para transferi-lo
para Dallas, pois lá os recursos de atendimento são melhores.
— Depois do ataque, eu mandei que retirassem todas suas coisas e as do
Gregório da casa paroquial. Lá não é mais seguro. — A Red fala, me entregando um
copo de vitamina de mamão.
— Eu não quero, obrigada. — Falo olhando o copo em sua mão e sentindo meu
estomago embrulhar, ainda estou angustiada pelo acontecido.
— Você precisa comer algo, está desde cedo sem pôr nada no estômago. — Ela
fala empurrando o copo na minha mão. — Vai acabar ficando doente.
Me forço a tomar a vitamina, mas está difícil até para engolir.
O Yago volta informando que conseguiu subornar a diretoria do hospital e
arrumar um quarto para que eu e sua mãe pudéssemos tomar um banho e nos trocar.
Então quando o Théo e a Dona Rose avisam que já estão indo, mas que qualquer
coisa é só ligar, que eles vêm na mesma hora, ele pega a mão da Helena que é tão
pequena perto dele que chega perecer uma criança.
— Você vai com eles boneca. — O Yago fala para ela. — Estou mandando
alguns seguranças com você. E assim que resolvermos tudo por aqui vou buscá-la
tudo bem?
— Eu não quero ir, quero ficar aqui com vocês. — Ela fala baixinho.
— Eu sei linda, mas não é um bom momento. Estou de cabeça cheia, assim
que tudo se resolver vou te buscar.
Vejo quando ela o olha, com a mesma adoração que existe em meus olhos
quando olho para meu amor.
Logo após todos irem para fazenda, a Dona Angelita foi para o quarto, após
muita insistência dos filhos, e até que conseguiu dormir um pouco. Eu bem que
tentei, mas não consigo, estou exausta, com o corpo todo dolorido, mas a
necessidade de estar perto do meu amor é maior, e a única coisa que faço é chorar.
Já faz quase uma semana desde o tiro que o Gregório levou durante a missa,
depois que saiu da UTI, após o período de observação pós-cirurgia, ele teve uns
períodos de febre, de delírios, mas agora, segundo o médico, está bem melhor, não
corre mais risco de vida.
Estou sentada na poltrona ao seu lado na cama, arrastei-a até ficar bem
encostada, e estou com a cabeça apoiada no colchão ao seu lado, segurando sua
mão.
Desde que o médico me permitiu entrar no quarto, não tem quem me tire do
lado dele. Só saio do seu lado para tomar um banho e me trocar, mas faço isso aqui
no quarto dele mesmo. Durmo na poltrona que posicionei bem do lado da cama, que
me deixa de frente para ele, olhando-o, admirando sua beleza.
— Se continuar me olhando assim, vou acreditar que nasceu um chifre de
unicórnio no meio da minha testa. — Ele fala com a voz rouca, pela falta de uso, e
um sorrindo lindo, abrindo os olhos devagar.
Levanto-me da poltrona num pulo, quase subindo em cima da cama.
— Você acordou amor! — Digo enchendo seu rosto e sua boca de beijos. — Eu
tive tanto, tanto medo.
— Hei! Estou bem meu anjo. — Fala fazendo carinho na minha cabeça com a
mão que não está ligada ao soro.
— Nunca mais faça isso entendeu? — Digo abraçando seu corpo, deitando a
cabeça em seu ombro.
— Ai! — Ele geme de dor. — Pode deixar meu amor, não pretendo te deixar
sozinha tão cedo — diz me dando um selinho suave. Agora, você poderia chamar a
Soraya e minha mãe por favor?
— Você se lembrou? — Pergunto olhando-o assustada. — Dona angelita me
contou a história do acidente e tudo mais, enquanto você estava apagado.
— Sim! Não sei se tudo que me recordo é real, principalmente alguns
momentos, é muita informação, e estou bem confuso. — Ele fala me dando a mão e
me puxando para perto novamente. — Acho melhor apertar a campainha da
enfermeira, não te quero longe, minha Emma, minha menina, meu amor.
Quando a família dele entrou, regada de muito choro, me afastei um pouco
para lhes dar privacidade.
— Onde, você vai anjo? — Ele pergunta, segurando minha mão apertado.
— Só vou aproveitar que está acordado e bem, e vou caçar algo para comer,
pois agora me deu até fome. — Digo beijando sua mão que está segurando a minha,
como algemas, me prendendo a ele. — Assim também, vocês terão mais
privacidade para conversar — falo olhando para a família dele.
— Me traz um x-burguer. — Pede brincalhão, e estou amando esse Gregório,
ou Juan, não sei como ele vai preferir ser chamado.
CAPÍTULO 21
Tive muitos sonhos estranhos, ou memórias, não sei dizer, e no momento, não
conseguia discernir o que é fato e o que não é, mas quando abri os olhos e vi minha
menina me olhando como se eu fosse um deus encarnado, meu peito se encheu, e a
única certeza que tive neste redemoinho de imagens, e informações na minha mente,
foi dos meus sentimentos por ela.
Minha Emma. Meu amor.
Olho para minha mãe que não para de chorar desde que entrou no quarto. Meus
irmãos. E por Deus estou puto.
Por que o Monsenhor Jeremia não me contou quem eu era? Quem era minha
família. Qual o motivo para me ocultar algo desta importância.
— Blue! — Chamo meu irmão, que está encostado nos pés da cama, sorrindo
como o menino que me lembro, mas as feições de seu rosto estão diferentes. Está
um homem, com a barba bem-feita, rente no rosto, mais velho. Puta que pariu! Eu
perdi mais de uma década da vida das pessoas mais importantes da minha vida.
— Diga Black, estou aqui irmão. — Fala se aproximando, pegando minha mão
que não está parecendo uma peneira de tantas agulhas enfiadas.
— Eu vi quem estava dirigindo o outro carro no dia do meu acidente. — Falo
fazendo com que ele e a Soraya se aproximem mais.
Os olhos de ambos brilham com um desejo assassino.
— Quem foi? — A Red pergunta — sei que agora vou ter que dividir você com
conceitos religiosos, mas essa informação você não vai esconder, e nem impedir que
eu faça tudo, que sonhei em fazer, com o desgraçado que tirou você de nós por mais
de uma década.
— Calma, meu pardalzinho. — Falo brincando com o trocadilho do nome da
organização. — Eu vou contar tudo que me lembro para vocês. Só não quero saber o
que vocês pretendem fazer a respeito — digo torcendo o nariz. — E sim Red, eu
ainda sou um padre.
— Por falar em padre, não sei se você se lembra, mas você anunciou na missa,
antes do bastardo assinar o próprio óbito, que está renunciando. — Minha mãe
comenta, meio que perguntando.
— Sim mãe! Eu me sinto bem com minha fé, nunca vou perder os
ensinamentos que tive no seminário, mas eu me apaixonei. — Digo sorrindo feito
bobo. — E quero criar uma família com minha menina. Mas para isso, não posso
estar preso ao clérigo, pois meus votos não me permitem.
Conversamos por um tempo, mas eu estava agoniado porque a Emma disse que
não ia demorar e já fazia mais de uma hora que ela havia saído.
Quando eu estava prestes a pedir para meu irmão ir buscá-la para mim, ela
entrou como se estivesse fugindo e se escondendo de alguém.
— O que aconteceu amor? — Pergunto tentando me levantar, mas sou
impedido pelas mãos firmes da minha mãe e da Soraya.
— Nada. — Diz com um sorriso sapeca. — É que eu não podia entrar com isso
— fala mostrando dois sacos de papel com a logomarca da padaria neles.
— Não acredito que conseguiu contrabandear isso? — O Yago fala pegando os
sacos da mão dela e xeretando o conteúdo. Só o cheiro deu fome.
— Tira a mão e o focinho, minha mulher trouxe para mim. — Falo tomando os
sacos da mão dele. — Vai comprar para você.
— Ah, nem gosto de X-Burguer, prefiro X-Bacon. — Ele fala sorrindo.
Ficamos conversando neste clima descontraído por um bom tempo, enquanto a
Soraya comia meu X-Burguer e minha broa de milho.
Quando todos saíram, minha menina ficou aqui comigo, seus olhos brilhavam e
aquele sorriso lindo, que eu tanto amo, não se desprendia de seus lábios.
— Você vai dormir aí? — Pergunto quando a vejo se acomodar com uma
colcha e um kindle na poltrona ao lado da cama.
— Claro, não saio daqui nem que me arrastem pelos cabelos. — Ela diz em
tom de brincadeira. Mas só de imaginar alguém tendo a audácia de tocá-la desta
forma, eu sinto um gosto amargo na boca, e o rosto esquentar de ódio. — Que foi?
Por que essa cara?
— Não gostei de imaginar alguém te tocando assim, te ferindo.
— Não foi literal, seu bobo. O único que deixo me pegar pelos cabelos e puxar
é você. E não falo desse jeito grosseiro. — Ela diz lambendo o lóbulo da minha
orelha.
— Isso não é justo! — Reclamo gemendo baixo, sentindo meu pau ficar duro
na mesma hora.
É lógico que ela percebe, estou só de cueca por baixo dos lençóis que me
cobrem. O que deixa evidente minha excitação. Bom, pelo menos não estou com
aquelas camisolas de hospital que deixam a gente com a bunda de fora.
— Se não estivesse dodói, eu poderia te ajudar com isso. — Diz passando a
mãos de leve por cima do meu comprimento, alisando devagar.
— Eu não levei um tiro no pau. — Falo com sorrisinho sacana, imaginando a
boca deliciosa dela em volta de mim.
— Sossega Gregório. Teremos muito tempo para brincar quando você sair
daqui. — Diz sorrindo toda malvada. — Por falar nisso, como prefere ser chamado
amor? — Ela pergunta com os dedos no queixo como se estivesse pensando. — De
Gregório ou de Juan?
— Por você? Somente de amor. Mas, em geral, prefiro Juan, meu nome de
batismo, ou Black, meu apelido de berço.
— Já vi a Red chamando o Yago de Blue. — Ela comenta curiosa. — Por que
cores?
— Red Sparrow, Black Sparrow e Blue Sparrow. Assim que somos conhecidos
por todos, desde crianças. — Respondo beijando a ponta de seus dedos, distraído.
— The Sparrow’s é o nome de nossa Organização.
— O nome “Os Pardais” surgiu por vocês? — Ela pergunta interessada e
curiosa. — E por que você é o Pardal Negro?
— Não me lembro de onde que surgiram as cores, e muito menos porque,
sobrou o negro para mim — falo fazendo careta, tentando lembrar. — Acho que foi
aleatório, porque me chamam de Black desde que me conheço por gente.
Ficamos um bom tempo conversando, até a enfermeira nos atrapalhar, me
aplicando, analgésicos no soro, e me fazendo apagar.
— Dorme aqui comigo. — Falo sonolento, dando a mão para minha menina vir
se deitar ao meu lado. E só depois que sinto seu corpo se aninhando ao meu, que
deixo a inconsciência me levar.
Esses dias internado eu fiquei muito estragado, minha mãe veio diariamente me
visitar, minha Emma estava literalmente internada comigo, pois não saiu de perto de
mim para nada. Até no banho era ela quem me ajudava.
Ela deixou bem claro que meu corpo nu, e minha bunda pelada, eram só para
seus olhos gulosos. E eu adorei saber que meu amorzinho era ciumenta, se bem que
eu era suspeito, porque odiava quando era enfermeiro do sexo masculino que vinha
trocar meu curativo, e ficavam puxando assunto com ela. Já expulsei dois daqui por
isso.
Eu também descobri que a população da cidade não estava ressentida por eu
renunciar ao posto de padre da paróquia local. Segundo minha cunhadinha, ela e a
Bela, usando a ideia da Helena, criaram até um grupo de oração para minha
recuperação, chamado #Gremma, e que a maioria “senão todos” habitantes da
cidade entraram. E que elas fanficaram minha história de amor, e que era assim que
todos viam, um amor proibido com um final feliz.
Lógico que meus irmãos debruçaram de rir quando descobriram sobre o
#Gremma, onde a Dora e a Bela mantinham a população informada sobre minha
recuperação, e sobre quando será o casamento.
Até perguntei o que isso tinha a ver com um grupo de recuperação, já que toda
vez que elas comentam de algo dito lá, elas riem, mas parece grupo de fofocas, isso
sim.
Recebi a visita de alguns, presentes de outros, mas meu maior presente foi
depois de quase um mês internado, o médico entrar no quarto e dizer que eu estava
liberado, que podia voltar para casa.

Minha mãe, e meus irmãos, junto da Emma, me ajudaram a arrumar minhas


coisas na casa paroquial, para levar até a casa que a Red comprou, para deixar nossa
mãe com as meninas. “Essa era a desculpa na época”, já que eu não tinha
lembranças da minha família.
Mas agora a conversa é bem diferente, descobri que ela comprou a casa no meu
nome, ou seja, era minha. Fiquei abismado com a rapidez que a reforma do velho
casarão se deu, sendo totalmente reformado, e mobiliado.
E pensar que eu ficava estudando o orçamento das doações da igreja para
reformar o telhamento. Agora sabendo que tenho dinheiro de sobra para construir
outra igreja se eu quiser, pretendo fazer a reforma que minha paróquia pede.
Não sou mais o padre local, mais sempre terei um xodó pelo lugar. Afinal, foi
lá que conheci o amor da minha vida, e foi lá que minha irmã me encontrou.
Quando chegamos na nova casa, descobri que moraríamos eu e minha Emma, a
Isadora, e minha mãe. O lugar era enorme, com mais de oito quartos, salas,
escritório, a Red mandou adaptar até uma estufa na área de lazer, fora uma piscina
espetacular e enorme para as meninas.
— Quando viemos com o Path não tínhamos tanta coisa né? — A Dora fala
fazendo uma careta para o tanto de malas, bolsas e mochilas que a Bela e o Theo a
ajudaram a descarregar da caminhonete do meu amigo.
— Não sei por que você trouxe tudo, só para dar trabalho de levar de volta. —
Meu amigo fala descarregando a última mala da caçamba.
— Talvez, por que eu vou morar aqui agora? — Ela responde com uma
pergunta.
— Por pouco tempo. — Ele fala em seu ouvido.
Mas eu ouço, e retruco em defesa da honra da minha cunhada, e como ele fez
comigo, como um empurrão para ele sair de cima do muro.
— Mas ela só sai daqui para morar com você na fazenda, se você enfiar uma
aliança no dedo esquerdo dela. E, principalmente, só se ela quiser. — Falo com
sorriso maligno, devido à cara de quem chupou limão que ele faz.
Hoje o dia foi cheio, e tudo que quero é me deitar e descansar, agarrado na
minha menina mulher.
CAPÍTULO 22
TRÊS MESES DEPOIS
Não parece, mas o tempo não passa, ele voa. Depois que sai do hospital, decidi
não enviar a carta para o Vaticano, e sim, ir pessoalmente para lá, e solicitar minha
desvinculação diretamente no Tribunal Diocesano. Assim os procedimentos a serem
tomados serão mais rápido, preciso do certificado de dispensa que é emitido
somente pelo Papa, que permitirá que eu me case com minha Emma.
Acredito que se eu for pessoalmente, essa dispensa seja emitida mais
rapidamente. E depois vou com o Yago para Monistrol, pois meu retorno dos mortos
requer algumas providências em nossa organização.
Vou viajar para Dallas amanhã de manhã, e de lá eu e meu irmão vamos direto
para Itália. E como vou ter de me ausentar por umas semanas, deixando minha
mulher, minha mãe e as meninas sozinhas, selecionamos um destacamento de mais
de trinta soldados, fora a segurança pessoal para cada uma.
Pode até parecer exagero, mas enquanto minha menina não depor no maldito
julgamento, que graças a Deus foi marcado para daqui a dois meses, e essa história
terminar, eu não vou ficar em paz e confiante que ela e a irmã estão bem.
Isso sem contar que a Helena está ficando com elas na casa, e tem dois
psicopatas tentando matá-la.
A garota se apegou de uma forma obsessiva ao meu irmão, desde que ele a
salvou do tarado do secretário da Red.
Soube que o infeliz não aguentou e acabou falecendo com o tiro que meu irmão
deu em seu pau nojento. E que a Red, quando voltou para Washington, passou o
rodo nos Clubes que toma conta.
— Está pensando em desistir? — A Emma fala entrando no escritório.
— Desistir de quê? — De você? De ser seu marido? — Pergunto arrastando
minha poltrona e puxando-a para meu colo. — Nunca!
— Não queria que precisasse ir para Roma. — Fala sentando-se no meu colo,
se encaixando em mim, como sempre faz.
Aperto sua bunda, puxando-a para mais perto, esfregando seu corpo no meu
pau por cima do jeans
— Continua assim que não te deixo viajar. — Ela ronrona feito uma gatinha,
mordendo meu ombro, já abrindo minha camisa.
Ela está de saia jeans, e com uma blusa dessas tomara que caia, daquelas que
eu amo e odeio. Amo porque é só puxar o paninho para baixo e seus peitos saltarem
no meu rosto, pulando para dentro da minha boca ávida. E odeio quando ela sai de
casa com essas coisas indecentes, e todo homem dessa cidade fica secando o que é
meu.
Nunca resisto quando meu amor se senta dessa forma, escarranchada no meu
colo, de frente para mim, e como está de minissaia, só levantei seu corpo um pouco,
abrindo o zíper da minha calça, tirando meu pau, puxando sua calcinha para o lado,
e descendo-a gostoso nele.
Quando baixo sua blusa, seus peitos pulam para dentro da minha boca,
enquanto a fodo gotoso sentada no meu colo, e noto que estão maiores, redondos.
Conheço o corpo da minha mulher como a palma da minha mão, e nunca que
deixaria esse detalhe passar.
— Seus peitos estão maiores, ou é impressão minha? — Pergunto mamando, e
amassando cada um, enterrando meu rosto no meio daqueles dois montes deliciosos,
e ela quica no meu pau, em um sobe e desce torturante.
Ela se apoia no meu ombro, e desce com força, inclinando o corpo, enfiando os
peitos ainda mais no meu rosto.
— Está reclamando meu amor? Não gostou?
Rosno com seu comentário, me levantando, e virando-a de bruços na mesa,
com a bunda empinada para mim. Então me abaixo, e começo comer sua bocetinha
com a boca, chupando o nervo inchado de seu clítoris, e me lambuzando de seu
gosto que é meu paraíso.
— Não existe nada em você e no seu corpo que eu não goste, meu amor. —
Falo pincelando sua bunda com a cabeça do meu pau, lambuzando seu buraquinho
atrás, com sua própria lubrificação. — Posso? — Peço me encaixando entre suas
nádegas, ameaçando entrar.
— Quero! — Ela geme incoerente, rebolando e empinando mais o traseiro para
mim, me convidando a prosseguir.
Então me encaixo, e começo entrar devagar, abaixo mordendo seu ombro, e
com uma mão massageio sua fenda, beliscando de leve seus lábios vaginais, e com a
outra amasso seu peito, enquanto entro e saio devagar de sua bunda.
Ela começa a rebolar, pedindo mais rápido. Aumento a velocidade, fodendo
minha garota anal, fazendo dela minha mulher de todas as formas.
— Gostosa pra caralho! — Falo dando um tapa na sua bunda branquinha, que
fica vermelha na mesma hora.
— Mais rápido amor! — Ela pede jogando a cabeça para trás, buscando minha
boca.
— Vou gozar querida. Não estou aguentando.
— Eu também. — Ela fala gemendo alto, se segurando na mesa, enquanto a
fodo por trás.
Então tiro meu pau de sua bunda, entrando em sua boceta, metendo até o talo,
com força, me esparramando dentro dela, enquanto à sinto lambuzar meu pau com
seu gozo.
Depois de um amor selvagem, e delicioso. Abro a gaveta da escrivaninha, pego
uma caixinha de toalhas de papel, para limpar meu amor.
Me sinto primitivo, mas adoro ver minha porra escorrer por suas pernas.
Marcá-la como minha, só minha.

— Faz um bom tempo que não venho para Itália. — Meu irmão comenta
quando descemos do carro em frente ao Tribunal Diocesano. — E para ser sincero,
no Vaticano eu nunca vim.
— Não vamos demorar muito por aqui. Só vou assinar a carta de desligamento,
e depois aguardar a dispensa que será emitida, e enviada pelo correio. Acredito que
hoje em dia, por e-mail. — Falo enquanto entramos no local.
— E depois que receber esse certificado poderá se casar com sua menina?
— Sim! Não vejo a hora de poder chamá-la de minha esposa.
— Fico feliz por você encontrar alguém especial, meu irmão.
— Você também encontrou. Acha que não percebi o carinho e o cuidado que
tem com a Helena? — Falo sorrindo da careta que ele faz.
— Ela só tem quinze anos. Não fala besteira. — Ele diz áspero. — A vejo
como uma irmãzinha que precisa da minha proteção, só isso.
— Aham! Continua dizendo isso até ela fazer dezoito. Quem sabe até lá você
se convence. — Digo rindo da cara azeda que ele está agora.
Fiz tudo que me foi mandado fazer para meu desligamento da diocese.
Inclusive a solicitação de um novo pároco para Vila dos Lobos.
Então quando terminei tudo que tinha de ser feito, e me foi dito somente para
aguardar o certificado dispensa e então eu poderia voltar a ser um homem comum.
Eu e meu irmão voamos para Monistrol.
Tínhamos assuntos pendentes por lá para serem resolvidos.
CAPÍTULO 23
— Não estou me sentindo bem hoje, Dora. — Falo cobrindo a cabeça, quando
ela entra no meu quarto abrindo as cortinas.
— Pode parar, já são quase dez horas, e para quem sempre se levanta antes das
sete todos os dias, você está me assustando. — Fala subindo na cama para me
descobrir. — Cruzes Emma. Você está horrível!
— Eu falei que não estou bem. — Digo sentindo o teto girar quando tento me
sentar.
— Vou chamar a Dona Angelita, ela entende mais dessas coisas.
— Não precisa, logo passa. Deve ter sido algo que comi, e não me fez bem.
— A Dona Angelita pediu para trazer seu café Emma. — A Helena fala
enquanto entra empurrando um carrinho.
— Não abre! — Peço já pulando da cama quando ela ameaça tirar a tampa da
bandeja do meu café. E só o cheiro dos ovos com bacon quase me faz vomitar ali
mesmo.
Corro para o banheiro da suíte que tem no quarto, e vomito até o rim, na força
da expressão. Quando saio, a Dona Angelita está sentada na beira da minha cama,
enquanto a Dora está com a Helena na poltrona do estofado que tem no canto.
— As meninas disseram que você não está bem, querida. O que está sentindo?
— Ela pergunta me estendendo as mãos para que eu volte para cama.
— Só estou enjoada, já tem uns três dias, mas hoje parece que atingi o limite. E
um pouco zonza, acho que devido ao esforço para vomitar e não sair nada. —
Respondo já com ânsia só de pensar em vomitar.
— Meu anjo, quando foi sua última menstruação? — Ela pergunta com as
sobrancelhas levantadas.
Minha irmã me olha espantada na mesma hora. Só não mais que eu, que acabei
de me dar conta que desde que cheguei na cidade só menstruei uma vez. Isso a uns
quatro meses já.
— Será? — A Dora fala com um sorriso radiante.
— Será o quê? — A Helena pergunta, perdida na conversa.
— Eu vou ser titia! — Minha irmã grita se jogando na cama e me abraçando.
Dona Angelita está visivelmente emocionada, afinal, além de ganhar seu filho
de volta, ainda veio de brinde o primeiro neto.
— Levante, querida. Vamos ao hospital fazer um exame de sangue, e confirmar
que meu neto ou neta está a caminho. — Ela fala indo em direção a porta. — E ligue
para o meu filho após confirmarmos, mas não conte sobre a gravidez. Só diga que
está passando mal, e que precisa dele aqui.
— Ele deve estar ocupado, Dona Angelita. Não quero atrapalhar. — Falo
sentindo meu peito sufocar de emoção e felicidade, de imaginar que posso estar
grávida, esperando um filho do amor da minha vida.

Quando saio do hospital, com o resultado do exame, cujo qual, a minha sogra
exigiu que ficasse pronto no mesmo dia, estou radiando felicidade por todos os
poros. Ainda não abri, mais em meu coração eu sinto que deu positivo.
Estou sendo mais que paparicada, isso porque ainda nem confirmei, minha
irmã está toda boba com o afilhado ou afilhada.
— Sabe que sou a madrinha né? Problema do Juan se tiver outros planos. —
Ela diz se empanturrando em uma taça de sorvete. — Ele que faça outro filho em
você depois. E se reclamar muito, o outro é meu também.
— Nada disso, se ele fizer outro filho na Emma, será meu e do Yago. Não seja
gulosa. — A Helena se manifesta, fazendo tanto eu, quanto minha irmã e até minha
sogra, olharmos para ela chocadas.
Quando se dá conta do que disse, ela fica com as bochechas tão vermelhas que
parece que levou uns tapas.
— Eu sabia! — Minha irmã diz dando um soco no ar. — Que história linda,
você se apaixonou à primeira vista pelo seu herói.
— Eu nunca saí do colégio, que também era um convento. — Diz cutucando o
chantilly do seu sorvete na taça. — Mas eu sinto aqui, que é, ao lado dele que tenho
que ficar. — Fala com a mão no peito, em cima do coração. — Me sinto completa
quando ele está perto, e vazia quando ele está longe.
— Sei como é, me sinto da mesma forma com o Juan. — Comento entendendo
suas palavras. E vejo minha irmã desviar o olhar pensativo para outro lado.
— Você ainda é muito novinha e pura em todos os sentidos. — Minha sogra
fala segurando a mão dela. — Mas se quando tiver idade para amar um homem
como eu amei meu marido, e a Emma ama meu Juan, você ainda se sentir assim em
relação ao meu Yago, eu serei a primeira a apoiar essa relação.
— Obrigada! Isso é muito importante para mim. — A Helena responde quase
chorando.
Depois disso todas sorrimos e continuamos falando de roupinhas e compras.

— O dia foi maravilhoso amor, só não foi mais perfeito porque você não está
aqui. — Digo para meu Juan, e em seguida pauso.
Não quero contar por telefone sobre a gravidez, mas também não quero que ele
deixe tudo que está resolvendo e venha correndo para casa. Porque se ele não
terminar o que tem para fazer, terá de voltar depois, e não quero me afastar de novo.
Então, aguento mais um pouco, para tê-lo só para mim.
— As coisas por aqui não saíram bem como planejei, ou seja. Rápido. — Ele
fala frustrado. — Mas assim que tudo estiver resolvido, pelo menos a minha parte,
eu volto correndo para você, meu amor.
— Acho bom! Tenho várias novidades para te contar, e estou morta de
saudade. — Falo com voz manhosa. — T'estimo molt amor meu.[27]
— Aprendeu Catalão, minha vida? Quando eu chegar, quero que repita isso
muitas vezes enquanto eu estiver dentro de você. — Ele fala com a voz rouca de
desejo.
— Sua mãe está ensinando a mim e a Helena algumas palavras. E pedi para ela
me ensinar essa, e outra, hoje, para poder te dizer. Mas a outra, só digo falo quando
você chegar. — Digo manhosa, sabendo que com isso o deixei curioso.
— Isso não é justo. — Responde com um gemido frustrado. — Fala agora
amor, por favor! Não vou conseguir dormir desse jeito.
— Então vem logo para casa, mas agora tenho que desligar. Deixei a banheira
enchendo e quero relaxar pensando em você aqui comigo.
— Agora você passou do limite da maldade. — Ele fala com um suspiro. —
Acho que amanhã fechamos os pontos que falta e poderemos voltar para vocês. Et
trobo a faltar! [28]
— O que significa? — Pergunto curiosa.
— Quando chegar te conto. — Responde vingativo.
— Maldoso! — Falo rindo, e desligamos.
Entro na banheira, e deixo meu corpo relaxar. Então, passando a mão na minha
barriga, dou um sorriso.
— Como não percebi que você estava aí, meu pardalzinho? — Falo alisando
meu ventre ainda pequeno, mas dá para perceber uma leve saliência que antes eu
não tinha.
CAPÍTULO 24
Eu achei que resolver as questões da Organização fosse ser mais simples. Mas
como eu estava enganado.
Desde que recuperei minhas lembranças, e contei para meus irmãos quem
estava dirigindo o carro que causou meu acidente, eu não perguntei mais o que eles
iriam fazer.
Como padre, eu não poderia permitir que alguém se machucasse por minha
causa. Mas como o Black Sparrow, eu queria que o infeliz fosse devidamente
punido. Na verdade, desde que acordei no hospital, após o atentado na igreja, a
única certeza que tenho é do amor incondicional que sinto pela Emma.
E é pensando nela e nos planos que tenho para nós dois, que estou aqui,
sentado nesta poltrona, olhando para vários rostos que a muito eu não via. Alguns
amigos, outros nem tanto.
A sala de reuniões da mansão Sparrow está lotada, todos os membros do
conselho de anciãos, membros de suma importância para o fluxo de nossos
negócios. Só estamos esperando a chegada da Red, para começarmos a finalizar os
motivos de estarmos aqui.
— É um milagre sua história, meu amigo — Um dos homens do conselho de
nossa organização fala com a mão no meu ombro.
— Sim é, mas uma coisa que não perdi em todo esse tempo, e esse milagre não
afetou, foi a aversão ao toque. — Respondo olhando para sua mão.
Ele à tira rápido, sem graça pela ousadia.
Eu e meus irmãos, somos um pouco exagerados e excêntricos, e sempre em
reuniões de suma importância, nós nos vestíamos segundo as cores de nossos
apelidos.
Começamos essa brincadeira, “esse trocadilho” entre nós três, ainda
adolescentes. A diferença, é que na época, a Red usava vestidos, e hoje, ela está em
um belíssimo terno de corte feminino, toda de vermelho, mudando somente as
tonalidades do terno para camisa e sapatos. Enquanto eu estou de negro, do terno a
camisa e a gravata, já o Blue, está como a Red, variando as tonalidades de azul,
entre o Terno que é marinho escuro, a camisa e a gravata que são azuis, anil, mas os
sapatos são pretos trabalhados com branco.
Ele sempre foi o mais vaidoso e estiloso entre nós, adorava lançar moda.
— Já que, pelo visto, todos que interessam estão presentes, vamos dar início a
nossa reunião. — Meu irmão fala alto, chamando a atenção para si. — Como todos
aqui bem sabem, a mais de uma década meu irmão, nosso Black Sparrow foi dado
como morto, devido a um grave acidente que sofreu.
Todos começam a murmurar entre si, suas teorias.
Como eu e a Red estamos sentados, um de cada lado dele, na cabeceira da
mesa, podemos ver, que ele se recosta na poltrona, dando uma pausa, olhando cada
um, demorando uns poucos segundos no homem que causou o acidente.
— Como eu dizia antes de ser interrompido. A poucos meses a Red
reencontrou nosso irmão bem vivo na América, porém sem lembrança nenhuma de
seu passado. — Ele prossegue falando, e todos automaticamente se calam.
Olho em volta enojado com os semblantes falsos, com os olhares invejosos e
até de ódio que vejo em seus rostos, todos direcionados a nós três, principalmente ao
Blue. Que é o atual Dom.
Noto que os seguranças da Red e os homens de confiança do Blue trancam as
portas da sala, e recostam nelas, como uma muralha de proteção. Volto minha
atenção ao Blue quando ele fala:
— O que não lhes foi comunicado, é que a pouco mais de um mês, meu irmão
recobrou totalmente a memória. — Diz olhando cada rosto presente.
A Red está batendo as unhas no tampo da mesa, sem olhar para ninguém, mas
posso sentir a tensão em cada músculo de seu corpo.
— Isso é uma boa notícia. — Um dos gerentes que cuida dos negócios no norte
da Itália fala.
— Você se lembra quem foi o futuro defunto que tentou te matar? — O Senhor
Malaquias, um dos anciãos pergunta, com os punhos fechados.
— Na verdade, essa questão não está em pauta na reunião de hoje, e sim, o
fato, de que depois de mais de uma década, afastado, eu construí outros conceitos, e
a vida de violência e matança que envolve no dia a dia da Máfia não me cabe mais.
— Falo respondendo a todos em geral. — Estou aqui hoje, pois a quase treze anos,
era para eu ter ascendido ao cargo de Dom, sucedendo o lugar do meu pai.
— E vai tomar posse do cargo agora? Já que é seu por direito? — O Pablo,
Consigliere do meu irmão e antigo amigo, desde infância, pergunta.
— Justamente o contrário. Vim comunicar a todos, que meu retorno a vida, não
afetara em nada o progresso, e a rotina dos negócios da organização. E que meu
irmão continuará sendo, e sempre será, o Dom da Máfia Sparrow's — Respondo e
todos murmuram em concordância.
— Mesmo sendo seu direito, por linhagem de sangue se tornar o Dom? — Ele
insiste na pergunta.
Vejo quando a Red olha para meu irmão, pedindo permissão, e ele concede
com um leve aceno de cabeça.
— Sabe Pablo, desde adolescente você consegue ser inoportuno. Sempre te
achei um palerma arrogante. — Minha irmã fala, levantando-se, andando feito uma
serpente, pronta para dar o bote, circulando a mesa até chegar por trás da cadeira em
que ele está sentado. — Imagina minha surpresa quando descobri que aquele garoto
ranheta que achava que iria se casar comigo, teve a audácia de tentar matar meu
irmão, e ainda conseguiu conquistar a confiança do atual Dom e se tornar seu
Conselheiro.
— Sinal de que não sou tão palerma como você pensa, não acha? — Ele
pergunta engolindo em seco, pois sabe o que vai lhe acontecer.
Quando ela para logo atrás dele, com as mãos em seus ombros, segurando um
colar de contas em fio de níquel, eu peço licença para meu irmão, levanto-me, e me
retiro da sala. Não faz parte de quem me tornei, presenciar atos de barbárie como os
cometidos nas Máfias, e ficar indiferente.
Mal chego até a porta, quando ouço o gorgolejar estrangulado. E mesmo sem
olhar, sei que a Red cortou a garganta dele.
É desta forma que ela age. Apertando as traqueias com um fio de níquel até
atingir o degolamento. O que leva segundos, dependendo da força empreendida.
Pauso, respiro fundo, e saio.

O avião está pronto? — Pergunto pegando umas coisas que comprei de


presente para minha Emma.
— Sim e já estamos indo. — A Red responde.
— Você vai conosco até Vila dos Lobos, ou só vai de carona até Dallas? — O
Yago pergunta para ela, enquanto pega o blazer para sairmos.
— Vou para Vila, tenho que combinar umas coisas com a Emma e a Dora para
o julgamento. — Fala pegando a bolsa. — Não confio no FBI, e não quero eles se
metendo com minhas garotas.
Estou ansioso para chegar, morto de saudade, louco para encher meu amor de
beijos e passar a noite amando cada pedacinho do seu corpo.
Quando chegamos, pousamos na pista da fazenda, já que o Theo deixou
liberado nosso tráfego. O Yago quis pagar para ele pelo uso, até construirmos uma
pista para jatos de pequeno porte, e um heliporto na cidade para uso geral,
principalmente nosso, na verdade.
Desde que nossa mãe decidiu ficar aqui, tanto o Yago, como a Red, fez o pobre
prefeito suar frio na cadeira. Eles não pediram permissão para fazerem umas
melhorias, simplesmente informaram que fariam.
Como a encomenda gigante de novos aparelhos e utensílios hospitalares, que a
Red fez, e a construção de uma ala ambulatorial. Ela alegou, quase morrer de
infarto, quando eu fui baleado, e o hospital poderia não ter capacidade de me salvar
por falta de recursos.
— Onde estão as meninas e nossa mãe? — Pergunto para mulher, contratada
para ajudar nos serviços domésticos da casa.
— A Emma acordou passando mal hoje, e a Dona Angelita a levou no hospital.
— Ela responde como se fosse algo normal. — Já a Dora e a Helena foram à
fazenda com a Belinha.
Parei de ouvir quando ela disse que minha Emma estava doente. Puta merda,
ela estava doente e eu fora.
— Onde, você está indo? — O Yago pergunta quando estou saindo.
— No hospital, lógico. — Respondo andando a passos largos. Afinal o hospital
fica a duas quadras de nossa casa.
— Vou com você! — A Red fala seguindo ao meu lado. — E você, pega o
carro e vá buscar as meninas na fazenda para mim. Preciso conversar com elas —
diz para o Yago.
Quando entro no hospital, minha mãe e minha Emma estão saindo. Então eu
me aproximo dando um beijo no rosto da minha mãe, e puxo a Emma para meus
braços.
— Você está bem, amor? — Pergunto analisando cada pedacinho de seu corpo,
e beijando todo seu rosto. — Quase infarto quando a Elisa me contou que vocês
estavam no hospital, porque você passou mal.
— Calma, amor, não foi nada demais. Só um mal-estar.
— Ah! Isso eu entendo. Quem não passa mal nesse calor dos infernos.
— Emma, você está muito pálida, e ninguém vai parar no hospital por um mal-
estar. — Falo agoniado.
Ela me olha sorrindo, e deita a cabeça, beijando a palma da minha mão.
— Não queria falar aqui, mas como você não vai me deixar ir para casa se não
disser, vou falar assim mesmo. — Comenta, pegando minha mão de seu rosto e
descendo para sua barriga.
Olho para seu lindo rosto, e percebo que está com os lábios mais grossos que o
normal, são nuances pequenas, mas para mim, que conheço cada milímetro da
minha mulher, isso é uma diferença enorme.
Estou catatônico, ainda assimilando o que ela quis dizer com isso, mesmo já
imaginando a resposta. Então com o maior sorriso do mundo pergunto:
— É o que estou achando?
— Seràs un pare amor meu[29]! — Ela fala sorrindo e começando a chorar.
— Puta que pariu! — Eu vou ser titia? — A Red praticamente grita sorrindo
para minha menina.
Estou sem fala, me ajoelho na sua frente, abraçando sua cintura. E beijando sua
barriga consigo falar:
— Obrigado, meu amor. Obrigado por me fazer o homem mais feliz desse
mundo, em todos os sentidos — digo olhando seu rosto, agarrado no seu quadril.
Ignoro totalmente, quem passa e olha curioso a cena. — E você garotão ou
garotona, pega leve, não judia da mamãe, porque seu pai, é um cagão que sofre
junto.
CAPÍTULO 25
Depois que saímos do hospital, e meu Juan só não me carregou até em casa,
porque sua mãe ameaçou bater de chinelo nele por exagerar, e passamos na padaria
comprar umas guloseimas para o café da tarde.
Decidi fechar a boca e esperar do lado de fora com a Red, pois tudo que eu
falava ou olhava, o Juan comprava para eu não ficar com vontade.
— Olha, eu sei que vou ser uma tia babona, mas que o Juan já está dando
vexame, ele está. — Ela comenta rindo. — Você já fez ultrassonografia? Está de
quanto tempo? — Pergunta segurando minha mão.
— Estou com um pouco mais de 12 semanas, ou seja, acabei de virar o terceiro
mês, segundo sua mãe. E ainda não fiz o ultrassom, estava esperando o Juan para
irmos juntos. — Respondo sorrindo.
— Imagino a cena, ele vai te dar mais trabalho que a própria gravidez. — Ela
comenta olhando para dentro da padaria.

Quando chegamos a nossa casa, o Yago já havia chegado com as meninas.


Então fomos direto para o escritório, pois a Red disse que o que tinha para falar era
importante.
Ela nos instruiu, a mim e a Dora, sobre como agir no dia do julgamento. Disse
que vai estar lá com alguns seguranças, lógico.
— O Path estava na fazenda, e, também me deu umas instruções de como agir
no dia, e disse que também estará lá. — A Dora fala sentada ao meu lado na
poltrona, segurando minha mão. — Só queria que esse dia não acontecesse. Não vou
depor nem nada, mas minha irmã vai estar com a gravidez bem avançada, e se ela
passar mal?
Com isso ela ganhou a atenção de todos na sala.
— Como assim eu vou ser tio e ninguém me conta? — O Yago pergunta
indignado. — Sou o Dom aqui, mereço mais respeito — fala rindo.
— Ah, cala boca, Yago! — A Red brinca. Você é nosso Dom, mas só na
organização. Aqui, e agora, você é nosso caçulinha.
— Achei que as meninas iriam te contar no caminho. — Digo me defendendo
por não ter falado nada.
— Você por acaso está me chamando de linguaruda? — A Dora pergunta
fingindo estar indignada.
— Gente, eu não sei nada de nada, desde que me lembro, eu só estive no
convento onde fui criada, e tudo para mim é novidade. Mas eu acho que a Isadora
tem razão. — A Helena fala toda tímida, sentada ao lado do Yago. — A Emma vai
estar muito grávida, e não pode passar nervoso. E se ela passar mal?
— Será que pelo fato da gravidez conseguiríamos adiar? — O Juan pergunta
vindo em minha direção.
— Não dá. Mas vou ver o que posso fazer. — A Red fala trocando um olhar
significativo com o Yago. — Vou precisar da sua ajuda Dom.
Ele dá um sorriso maligno e assustador quando ela o chama assim.
DIA DO JULGAMENTO
— Você está bem? — O Juan me pergunta pela milésima vez.
— Estou nervosa, e isso me deixa um pouco enjoada. — Respondo passando a
mão na minha enorme barriga de cinco meses. Juro que se não tivesse feito o
ultrassom e visto que é um bebê apenas, eu diria serem gêmeos, de tão enorme que
estou.
Estamos em Chicago, onde eu morava antigamente com meus pais, e desde que
chegamos, que não tenho um minuto de paz. Até o corredor do quarto do hotel em
que nos hospedamos está cheio de policiais e alguns agentes que estão quase me
enfiando em uma caixa e me trancando lá, desde que descobriram minha gravidez o
excesso de cuidados se redobrou.
O Juan fez minha obstetra vir junto, para que caso eu passe mal, ela possa me
atender na mesma hora.
— A audiência vai ser as 14 h. — A Agente Moore fala entrando na sala que
tem no quarto do hotel. — Como você é a principal testemunha do caso, será a
última interrogada.
— Juro que se pudesse não testemunhar, eu não iria. — Falo tomando outro
copo gigante de água.
— Depois que o Path me contou sobre sua gravidez, nós bem que tentamos
adiar, ou fazer seu testemunho via online. Mas o Juiz foi irredutível quanto a
importância de sua presença.
— Só quero que esse dia acabe logo. — Falo resmungando.
No momento que estamos de saída para ir ao tribunal, a agente Moore recebe
uma ligação, e faz sinal para esperarmos um minuto.
— Em que canal Duncan? — Ela pergunta ligando a TV.
Quando coloca no canal que ele deve ter informado, podemos ver uma imagem
aérea do presídio estadual em chamas, em uma boa parte, e os repórteres
anunciando o acontecido.
Foi-nos informado que o fogo deu início na ala leste do local, onde se
localizam os detentos com alto grau de periculosidade. Até agora são mais de trinta
feridos e onze mortos.
Estou em choque olhando para tv, pois entre os nomes dos mortos, está o do
Senador, o mesmo qual, eu ia depor contra hoje.
— Se ele está morto, o que isso significa? — Pergunto para a agente que ainda
está conversando com o Path no celular.
— Você pode esperar só uns minutos querida? Vou verificar os procedimentos
a serem tomados agora, e já volto. — Ela responde saindo do quarto.
— O que você acha que aconteceu amor? — Pergunto para o Juan, que assiste
a tv com olhos atentos, e um sorrisinho estranho.
— O Yago e a Red aconteceram. — Ele responde me puxando para seu colo.
— Pelo menos você está livre, meu anjo. Não existe mais porque depor — fala
beijando meu rosto.
— Então devemos ligar para agradecer. Porque eu não queria ter de depor hoje.
Aliás, eu não queria ter de ver a cara feia daquele infeliz nunca mais. — Falo
manhosa em seu colo.
— E não vai precisar amor.
QUASE CINCO MESES DEPOIS
— Eu não consigo nem ver meus pés. — Reclamo quando me levanto com a
ajuda da Dora.
— Logo teremos nossa princesa fora daí. — Ela fala cutucando minha barriga.
Desde que descobrimos que estou esperando uma menina, que a Dora e a Red
já inventaram mil nomes, fora que o quarto que estava em branco até mês passado,
pois minha princesa esperou até a última hora para nos deixar ver o sexo, está todo
rosa, vermelho e branco.
Todos os dias chegam presentes dos tios babões da minha filhota, quando não é
de Washington por parte da Red, vem de Monistrol, Espanha, por parte do Yago e da
Helena. “E sim, ela se apegou a ele de uma forma desmedida”, todos achamos que
com o passar do tempo, conforme ela for conhecendo mais do mundo fora dos
muros do convento, ela desgrude dele um pouco.
Mas a Soraya jura que vai ser a madrinha desse casamento.
— Hoje acordei estranha. — Comento com minha irmã, enquanto ela me ajuda
a tomar um banho.
— O que está sentindo? — Ela pergunta enquanto entro na ducha.
— Estou com uma dorzinha chata nas costas, tipo uma pontada na lombar.
— Falou para o Juan? Quer ir ao médico?
— Acho que deve ser normal, pelo peso da minha barriga, e o tanto que estou
pesada. Não parece, mas minha Heloisa está bem pesada. — Comento lavando o
cabelo.
— Heloisa? — Pergunta levantando uma sobrancelha. — Quem escolheu?
— Eu. — Digo sorrindo. — Estava escolhendo um nome que o apelido
combinasse e fosse bonito. Assim como o seu.
— É, meu nome é lindo. — Ela fala toda metida.
Quando vou jogar espuma nela, sinto uma pontada aguda dessa vez. E não só
uma dorzinha chata.
— O que foi? — Minha irmã pergunta me segurando, pois no que me abaixei
segurando as costas, devido à dor, quase escorrego e caio de barriga no chão.
— Puta merda! Está doendo demais — falo meio debruçada, e encostada na
parede do box.
— Vem, te ajudo a se secar, e você se deita de novo.
Depois que me seco, visto uma camisola de algodão, dessas que parecem uma
camiseta grande, uma calcinha tipo tanga e me deito devagar, pois a cada pontada,
meu corpo fica mais dolorido.
— Vou chamar a Dona Angelita, e ligar para sua médica, ok? — Minha irmã
pergunta me cobrindo com o edredom, antes de sair do quarto.
Não sei quando eu dormi. Mas acordei dando um grito de dor, e segurando a
barriga literalmente, era um repuxar doído que vinha das costas e refletia na minha
barriga. Tudo em mim, doía. E a última pontada que me deu, pareceu estarem
puxando minhas entranhas para fora, sem anestesia.
— O que foi amor? — O Juan pergunta entrando num rompante no quarto.
— Está doendo muito. — Falo chorosa.
— Calma, anjo, vem, vou te levar no hospital. — Ele fala me pegando no colo
e me sentando na poltrona para me ajudar a me trocar.
— Acho que nossa menina está querendo fazer uma entrada triunfante. — Falo
sorrindo, quando ele coloca uma das calças de moletom dele em mim, e uma
camiseta.

Desde que dei entrada no hospital, meu Juan não saiu do meu lado. Eu sabia
que assim como eu, ele também estava ansioso para conhecer o rostinho da nossa
filha, mesmo que para isso, nossa pestinha estivesse querendo me rasgar ao meio.
— Vou chamar a enfermeira — ele me avisa, aflito com meus gemidos e
resmungos de dor. — Não aguento mais te ver sofrendo assim meu anjo.
Falando isso, me deu um beijo na testa e saiu do quarto num rompante.
Voltei a me encolher na maca, sentindo novas contrações. De repente, um
líquido quente escapou por entre minhas pernas, cheguei pensar que tinha urinado,
pois a dor era tanta que acredito não estar em total controle do meu corpo; nesse
momento, o Juan voltou com uma das enfermeiras, que se apressou para me
examinar.
— O-o que é isso? — perguntei, assustada. — Senti algo quente, mas não estou
com vontade de fazer xixi.
— Foi sua bolsa que terminou de romper, querida — a enfermeira avisou,
pedindo licença para me tocar lá embaixo. Fiz uma careta, porque além da timidez
que me constrangia, esse simples toque era bastante dolorido. — E você já está com
dez dedos de dilatação. Sua filha quer nascer. — Sorriu.
Meu Juan veio para meu lado, buscando minha mão. Seus olhos me diziam que
ele estava assustado, embora, ansioso.
Nos próximos minutos, que pareceram horas, fui levada para a sala de parto,
onde o médico já me aguardava. O Juan fez questão de me acompanhar, mesmo eu
alegando que não precisava.
— Quero ver quem vai conseguir me afastar de vocês duas. — Ele diz beijando
minha mão que estava segurando.
Após longos minutos de muita dor, mas muita dor mesmo, suor e lágrimas, o
som agudo do choro da nossa filha inundou o ambiente, fazendo meu coração — já
acelerado — querer sair pela boca de pura emoção e felicidade.
Eu chorava e ria ao mesmo tempo.
Meu amor se colocou ao lado do médico, que perguntou se ele queria cortar o
cordão umbilical. Ele olhou assustado para o doutor, mas aceitou. Segundos depois,
o amor da minha vida, meu homem, pegou nossa menina nos braços e voltou para
mim, deitando nossa chorona em meu peito.
— Nosso anjinho é a coisinha mais linda que já vi — soprou ele, com os olhos
cheios de lágrimas. — Linda como a mãe.
Eu mal estava conseguindo enxergar devido às lágrimas que se acumularam em
meus olhos.
— Sim, ela é — murmurei com a voz embargada. — Linda e nossa. — Abracei
a pequena. — Nossa filha, fruto do nosso amor, Juan.
Ele se inclinou, abraçando a nós duas. Senti o toque de seus lábios em minha
testa, seguido por um beijo no rosto da nossa filha.
— Obrigado — disse chorando emocionado. — Obrigado por me fazer o
homem mais feliz do mundo.
EPÍLOGO
DEZ MESES DEPOIS
Demorou, mas enfim chegou. Olho para o envelope com o brasão do Vaticano
na minha mão. Meu certificado de dispensa.
Com ele em mãos, fico livre para me casar com minha menina. Para realizar
nosso sonho, ou melhor. Para concretizar nosso sonho, porque indiretamente já
somos casados.
Temos uma boa casa, uma filha linda, estamos tentando arduamente fazer um
irmãozinho para nossa Helô. Trabalho com a parte burocrática, e financeira da
organização. Afinal, como ex padre, eu não serviria para fazer parte da rotina de
ação que tem nesse meio, mas trabalhando com números, ninguém pode me acusar
de desertar, e ganho dinheiro suficiente para proporcionar uma vida confortável e
até luxuosa para minha família.
— Posso entrar? — O Theo pergunta parando na porta do escritório da minha
casa, que uso como local de trabalho.
— Claro! — A que devo a honra da visita? — Pergunto debochado, pois sei
muito bem o que ele veio conversar comigo.
— Você sabe que eu gosto da Isadora.
— E quem não sabe?
— Eu queria sua permissão para levá-la no circuito de rodeio que vai ter mês
que vem — ele pede, com ares de que está só me informando que ela vai.
— Por que eu acho que ela está de malas prontas? — Pergunto rindo.
— Porque você conhece sua cunhada — responde rindo também. — Mas achei
que seria melhor pedir, e até mesmo porque não estou disposto a levar os seguranças
dela junto.
— Se você quebrar o coração dela, eu quebro sua cara. — Falo apontando o
lápis em sua direção.
— Você era padre, tem que ser contra violência.
— E sou, mais quando se trata da minha família, eu abro algumas exceções. —
Falo encostando na cadeira.
Depois de um bom tempo conversando, não somente sobre ele levar nossa
Dora em uma viagem, mas também sobre negócios. Ele sai combinando de vir
buscá-la no final de semana.
— Isso é o que estou pensando? — Minha Emma fala entrando com nossa
anjinha no colo, e olhando o envelope em cima da escrivaninha.
— Sim! Finalmente chegou. — Respondo me levantando, e pegando nossa
filha, para dar um descanso para seus braços.
— Sabe que para mim, o mais importante, foi que você me escolheu. Que está
aqui comigo, e me deu meu maior presente, o nosso pequeno milagre. — Ela diz me
abraçando, e beijando a cabecinha de nossa pequena.
— Mas eu quero me casar com você, quero que você tenha tudo e muito mais.
Quero você caminhando na nave da igreja até mim, mas como minha noiva. — Falo
beijando seus lábios num selinho casto, e coloco minha filha adormecida no cesto
acolchoado, que foi todo arrumado no meu escritório, para que eu possa cuidar dela
quando minha mulher precisa de um tempo para descansar.
— E nós vamos nos casar meu amor, eu também quero ser sua esposa no papel.
Porque aqui — diz com a mão no coração. — Eu sou tua até na alma.
— Como pode a cada dia eu te amar mais e mais? — Pergunto puxando para
meus braços. Beijando seu rosto, seu pescoço, buscando sua boca.
— Porque é recíproco. Porque eu te amo hoje, e vou te amar para sempre. —
Responde me puxando pela camisa, e andando de costas e me beijando, indo em
direção ao sofá um pouco a frente.
E como sempre acontece quando ela me beija e sinto suas mãos em meu corpo,
pegamos fogo. É quase uma combustão instantânea. Pego-a no colo, cruzando suas
pernas em minha cintura, e levo-a até o estofado, me sentando com ela ainda
encaixada em mim.
Ela começa se esfregar em cima do meu pau, por cima do jeans, gemendo
necessitada. Nem se dá ao trabalho de desabotoar minha camisa, simplesmente puxa
fazendo os botões voarem.
— Quero comer você sentada no meu pau anjo — digo lambendo o lóbulo de
sua orelha, apertando sua bunda, enquanto ela ainda se esfrega em mim com
sofreguidão.
— Se me quer cavalgando você, tem que aproveitar agora, porque daqui a uns
meses não acredito que eu vá conseguir. — Fala abrindo meu zíper, tirando meu pau
e me masturbando gostoso.
— Você está querendo dizer que estamos grávidos outra vez? — Pergunto
olhando-a nos olhos. E pelo seu sorriso é exatamente isso. — Eu vou ser pai de
novo?
— Sim. Fiz o teste hoje e deu positivo. — Fala com o sorriso mais lindo do
meu mundo.
E quando eu penso que esta mulher não pode me deixar mais feliz, ela
consegue me surpreender.
Depois dessa notícia maravilhosa, fizemos um amor calmo e gostoso, e agora
estamos deitados no sofá, daqueles reclináveis, que viram uma cama praticamente, e
enquanto ela dorme nos meus braços penso em tudo que vivemos para chegarmos
até aqui. Em como nossa história foi perfeita desde o início.
E principalmente. Em como eu amei essa menina desde o primeiro dia que a vi,
e como amo cada respiração dela, e sempre vou amar.
FIM
LAUREM E GUILHERME
Eu não sabia o que esperar depois de três anos sem vê-la. Ela disse que estava
apaixonada por mim no seu aniversário de quinze anos.
Mas puta que pariu, ela só tinha quinze anos.
E nunca, nem em sonho iria me aproximar dela romanticamente, até tentei
outros relacionamentos, mas a única coisa boa que saiu dessas tentativas
catastróficas, foi minha filha.
Agora estou aqui, com minha menina no colo, esperando a Lauren chegar.
Ansioso, e com saudade.
Da última vez que a vi, foi quando o bebê da Nat nasceu, mas foi tão rápido,
que mal tive tempo de falar oi.
Fiquei só na vontade de conversar com ela, saber como estava. Sondar se ainda
pensava em mim, ou se havia me esquecido.
Quando ela chega, com o irmão e a esposa dele, nada me prepara para a mulher
que surge em meu campo de visão. Não restou nada da menina que me lembro,
tirando o sorriso e o olhar.
— Pelo menos disfarça a baba. — O Felipe comenta.
— Cala a boca. — Falo realmente quase babando no mulherão que vejo.
E quando ela vem em minha direção, olhando de mim para minha filha com
curiosidade, sinto que eu tô muito ferrado.
Pois pareço aqueles desenhos que saem corações dos olhos do personagem,
quando vê a gatinha, ou como no meu caso, passarinha.
“Minha passarinha”
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[1]
Irmã em espanhol
[2]
Apelido carinhoso para Soraya.
[3]
Máfia fictícia criada para o livro.
[4]
Pardal Vermelho, Preto e Azul.
[5]
Soraya
[6]
Soraya
[7]
Yago
[8]
O Mosteiro de Montserrat, localizado no Monte Serreado, no município de Monistrol de Montserrat, na
província de Barcelona, na Catalunha, na Espanha, é um mosteiro beneditino que abriga a famosa imagem de
Nossa Senhora do Monte Serreado, a padroeira da Catalunha. É um dos cinco santuários marianos.
[9]
Guardem bem esse nome, será a sede da história de um próximo livro
[10]
Soraya
[11]
O clérgima, ou colarinho clerical, é uma gola branca que envolve o pescoço e é geralmente fechada na
parte de trás, formando um quadrado na frente.
[12]
Cidade fictícia criada para história.
[13]
Soraya, irmã biológica do Padre Gregório
[14]
Atentem a esse nome, pode ser que venha novas histórias.
[15]
A paelha, é um prato à base de arroz, típico da gastronomia valenciana — daí que em Portugal seja
comumente conhecido como arroz à valenciana e no Brasil como paelha valenciana — e popularizado por toda a
Espanha e noutros países, convertendo-se numa referência da gastronomia espanhola.
[16]
fazer descer ou descer de montaria, ou veículo; desmontar(-se).
[17]
Sumidouro é o ponto em que um curso d'água penetra no solo. Trata-se de uma abertura natural que se
comunica com uma rede de galerias e através da qual o curso de água adentra o subsolo.
[18]
Malditos monges.
[19]
Maldito em espanhol Catalão.
[20]
Chapéu de cowboy
[21]
Para minha mãe
[22]
cuidado extremo em qualquer tarefa, trabalho, serviço etc.
[23]
Arma tática tipo pistola, leve, segura e com boa precisão, fabricada parte em polímero (frame), parte
em aço carbono com acabamento teniferizado (cano, ferrolho e outras peças pequenas).
[24]
mover-se (em órbita ou para determinado ponto) sob efeito da gravitação.
[25]
são uma corrente de metal, formada por anéis, em forma de cadeado. Grilhões também pode ser um
cordão de ouro, ou algemas, de mãos ou de pés. Outro significado para grilhões é o de cadeia; prisão.
[26]
A ressuscitação cardiopulmonar, ou RCP, é o conjunto de medidas emergenciais que possibilitam o
salvamento de um paciente que esteja enfrentando um quadro de falência cardiovascular e/ou respiratória.
[27]
Eu te amo muito meu amor
[28]
Estou com saudade
[29]
Você vai ser pai meu amor
Table of Contents
SINOPSE
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
AVISO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
EPÍLOGO
PRÓXIMO LANÇAMENTO
LAUREM E GUILHERME

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