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2022
Copyright © 2022 Paula Domingues
Revisão: Paula Domingues
Diagramação Digital: Paula Domingues
Capa: Alice Prince
Esta é uma obra ficcional.
Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera
coincidência.
Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização por
escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Será que os padrões estabelecidos pelo Vaticano conseguirão afastar duas
almas que se perderam?
Juan Carlo Hernandez tinha todo um futuro pela frente; planejado e moldado
na mais densa escuridão de quem é nascido no berço da máfia. Não havia espaço
para brechas, ainda mais na vida dele, que deveria assumir o comando da
organização mais perigosa de toda Espanha, os tradicionais Sparrow’s.
Todavia, um atentado a sua vida fez os planos mudarem, pois ele acabou
perdendo a memória.
Agora, Juan se tornou Gregório, o Padre de uma pequena Paróquia no interior
do Texas, para onde foi transferido.
Respeitado.
Amado.
Não havia espaço para a escuridão trazida de seu legado; ele era apenas um
homem.
No entanto, a chegada de uma doce garota, fará a tranquilidade desse “bom
padre” se desvanecer. E entre, a tentativa de protegê-la e livrá-la de todo mal que a
rodeia, seu próprio passado vira à tona.
Juan o “Black Sparrow”, Dom da Máfia Sparrow’s, ou Padre Gregório? Quem
ele realmente era?
Pode a vocação ser mais forte que o amor?
Em que momento o santo, se torna o pecador?
Foi delicioso escrever esse livro, a história do Juan, ou Padre Gregório, e da
Emma, fluiu como se eu estivesse assistindo a um filme. Eu tentei ao máximo deixar
uma história leve e descontraída, baseada no clichê do amor proibido apenas. Espero
que vocês gostem da leitura, e que se apaixonem por esses dois assim como eu
estou.
Esta é uma obra fictícia, ambientada entre o universo do catolicismo e o
submundo da Máfia. As ordens religiosas, regras e lugares aqui citadas, são em sua
maioria fatos, já as Máfias e suas regras e leis são obras ficcionais. O livro tratará
sobre gatilhos religiosos em maior parte, e mesmo falando sobre o Catolicismo, é
independente de qualquer religião. Contém cenas de violência, autoflagelo e sexo
explícito.
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
AVISO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
EPÍLOGO
PRÓXIMO LANÇAMENTO
LAUREM E GUILHERME
PRÓLOGO
PASSADO
— Por que você sempre provoca nosso pai? — Meu irmão pergunta torcendo o
nariz para cena diante de seus olhos. — Sabe que ele fica puto com isso.
— E você sabe que não dou a mínima. — Respondo admirando minha obra-
prima. — Agora se me der licença, tem um futuro artista aqui, querendo trabalhar.
Meu pai odeia que eu adore pintar, principalmente porque meus modelos de
referência são em sua maioria mulheres nuas, pinto nu artístico, e não nego que, em
geral, faço uma junção perfeita entre meu passatempo e minha libido.
— A Soraya chega hoje, e mandamos preparar um jantar especial para ela,
seria muito interessante se você comparecesse. — Meu irmão fala já saindo do meu
ateliê.
Somos três irmãos, a Soraya que é nossa meia irmã, filha do primeiro
casamento do nosso pai, eu, e o Yago, nosso caçula, a diferença de idade entre nós é
bem pequena, meu pai se casou com nossa mãe mais pelo intuito de que ela cuidasse
da pequena Soraya na época, que ainda era um bebê de pouco mais e um ano. E
então, um tempo depois nasci, e dois anos após de mim meu irmãozinho.
Atualmente eu vou fazer vinte e um, minha irmã tem vinte e cinco quase vinte
e seis e meu irmão dezenove, mas apesar de estar na idade de assumir meu posto de
Dom como mandam as leis da nossa Organização, eu não estou preparado, não me
“sinto” preparado.
Eu gosto de viver intensamente, sou do voto do “viva e deixe viver” já meus
irmãos são mais preocupados, minha hermana[1] só tem olhos para os clubes que ela
toma conta na América, desde que nosso pai lhe passou essa função, “depois dela
rejeitar cinco casamentos, e ameaçá-lo de trabalhar como civil em outro lugar,” ela
tomou para si, triplicar os ganhos, dando um giro de 180° graus naqueles muquifos
que eram chamados de boates.
Ela está conseguindo fazer um ótimo trabalho, já meu irmão, ao invés de
aproveitar a juventude e adolescência, fica todo preocupado com o que eu faço, e
por que não estou treinando para ser o futuro Dom. Ele se preocupa comigo, apesar
de ser mais novo, ele acha que não dou a importância merecida para o assunto, mas
eu sei que, na verdade, é porque ele deseja tanto ser Dom quanto eu, ou seja, desejo
nenhum.
Apesar de que ele leva mais jeito para coisa.
Eu não quero, nunca quis, nasci no berço da máfia, sei das minhas
responsabilidades, fui treinado, ou melhor dizendo, “espancado” para ser um bom
Chefe, mas se pudesse escolher, seria bem diferente.
Amanhã é meu aniversário de vinte e um anos, por isso a Sosso[2] está vindo
para casa, e amanhã também é o dia do meu julgamento final. Dia que meu velho
pai me passará o trono, “por mim, daria a um dos meus irmãos, não faço a menor
questão de chefiar os Sparrow’s.[3]”
Quando finalizo meu trabalho do dia, tanto na arte como na minha cama, após
horas de muita concentração, e de um sexo alucinante, dispenso minha modelo
deliciosa, tomo um bom banho, e vou para um bar, onde uns amigos me esperam
para um Happy Hour, não será nada muito extravagante, afinal, tenho de estar 100%
para amanhã.
Minha mãe está organizando esse “evento,” sim porque nem parece meu
aniversário, só se fala na ascensão do novo Dom, e ela ficaria magoada se eu me
atrasasse ou que estivesse de ressaca.
Assim que chego, Pablo, um amigo de infância, filho de um dos Gerentes da
nossa Organização, vem em minha direção.
— Achei que não viria mais Black, por que demorou? — Pergunta, abrindo um
sorriso, e em seguida dispensando o que eu ia falar com um gesto de mão. — Não
precisa nem dizer. A modelo da vez era bonita?
Red, Black, e Blue Sparrow[4], são os apelidos que nós, eu e meus irmãos,
ganhamos ainda pequenos, sendo Red minha irmã, Blue meu irmão, e eu Black, não
sei por que fiquei com o Pardal Negro, sou um amorzinho, mas somos conhecidos
assim desde a época de colégio, acredito que só os mais chegados do nosso meio
sabem nossos nomes verdadeiros.
— Sim cara, ela era linda, mas era somente uma modelo para minhas telas, e
um corpo quente para aquecer minha cama. — Respondo me sentando onde
estavam alguns outros conhecidos, e para minha surpresa, meus irmãos.
— Soube que se eu quisesse ter a honra de vê-lo teria que vir vadiar com você
irmãozinho. — Minha irmã fala ironicamente me dando um abraço e um beijo nas
bochechas.
Olho feio para o Yago que está sentado bebendo seu drink, fingindo que não
sabe de nada.
— Não seja exagerada Red, sabe que eu iria ao seu jantar. — Falo soltando-me
de seu abraço apertado “demais,” de irmã mais velha. E depois que passo na
inspeção, como se ainda tivesse doze anos, sentamos todos para aproveitar a noite.
— Soube que anda rebelde em questão ao grande dia. — Minha irmã comenta
rindo.
— Vou arrancar sua língua. — Falo apontando o meu irmão. — Não estou
rebelde Sosso[5], só acho que ainda é cedo demais para assumir tamanha
responsabilidade, e de verdade... — falo pensativo. — Não sei se estou preparado,
ou pior, se quero esse posto.
— Você fará vinte e um, Juan, não é bem uma questão de escolha. — O Yago
me lembra do óbvio.
— Eu sei disso, mas se pudesse adiar só mais um pouquinho. — Digo fazendo
gesto de pequeno juntando os dedos.
E como sempre, naquele momento extremamente fora de hora, meu amigo
levanta um brinde ao meu grande dia.
— Quero fazer um brinde a um grande amigo, nosso futuro Dom. — O idiota
fala em alto e bom-tom, um pouco arrastado devido a embriagues.
— Cala a boca Pablo! — Minha irmã o adverte, para ser mais cauteloso.
— Você! Não tem o direito de falar assim comigo sua megera sem coração.
— Pronto, ele vai começar. — Meu irmão resmunga.
— Você me abandonou no altar Red[6], agora não pode mais falar comigo.
— Ah, pelo amor de Deus homem! Se contenha. — Minha irmã responde
irritada. — Eu abandonei um moleque de dezesseis anos na época, cujo pai sem
noção, tramou um casamento com o meu pelas minhas costas. E pelo que vejo, foi a
melhor decisão da minha vida.
— Não perca seu tempo, minha querida. — Falo dando um beijo em seu rosto
me levantando.
— Aonde você vai? — O Yago pergunta quando me vê pegando as chaves do
carro.
— No banheiro. — Quer ir junto? Segurar para mim?
— Não, idiota. — Só perguntei, por que você não acha que bebeu demais para
dirigir?
— Não tomei nem dois drinks inteiros, Blue[7][7], estou ótimo. — Respondo
levantando uma perna formando um quatro perfeito sem bambear. — Nosso pai me
mata se amanhã eu estiver de ressaca, e isso chatearia nossa mãe.
— E não se atreva a atrasar. — A Soraya adverte.
— Se eu sumir, o Blue assume meu lugar. — Falo com uma piscada, quando
ele me joga um guardanapo sorrindo e responde:
— Quero esse posto tanto quanto você, maninho. Então trate de estar em casa
no horário, e sem desculpas.
Depois que saio do bar, respiro um pouco do ar fresco da noite, e sigo até o
carro, estou cansado e pretendo ir direto para casa, mas resolvo passar no meu ateliê
antes pegar umas coisas.
Moramos numa cidadezinha charmosa nas províncias do famoso Mosteiro de
Montserrat[8], que atrai muitos turistas, mantendo assim o comércio local.
Estou dirigindo até que cautelosamente, pois a estrada está bem escura, e no
caminho até em casa, tem umas curvas bem fechadas, e uns penhascos de arrepiar
qualquer um. Quando do nada, aparece um carro em alta velocidade, me fazendo
desviar, virando o meu com tudo, e com isso provocando uma cena digna de filme.
Vi meu carro girar, capotar, e rodar feito uma pelota por cima da mureta que
sei, leva a um precipício. Não sei como, acho que por puro instinto de
sobrevivência, eu consigo me soltar do cinto e pular do veículo antes que ele
despenque daquele penhasco medonho.
Estou todo arrebentado, cada músculo e osso do meu corpo dói, principalmente
minha cabeça depois da pancada que dei ao pular do carro, quando vejo o veículo
explodir no fundo daquele abismo, e me deixo levar pela dor e inconsciência que
ameaça tomar conta de mim no momento.
Acho que morri e fui para o céu, se é que isso seria possível para pessoas como
eu, quando sinto mãos me arrastando para algum lugar, mas estou oscilando entre o
subconsciente e o inconsciente, com o inconsciente ganhando de lavada, então eu
apago, me deixando ser levado sei lá para onde.
YAGO
MANSÃO DOS SPARROW
— Yago você viu se o Juan saiu? Ontem, ele disse que viria direto para casa,
mas até agora não vi nem sinal dele. — Minha irmã pergunta assim que entra na
copa tomar seu café. — Já são quase dez horas, e a cama dele está arrumada.
— Você foi no quarto dele? Sabe que ele odeia que o acorde. — Falo
levantando só uma sobrancelha.
— Tive um sonho ruim, aí passei no quarto de vocês, verificar se estava tudo
bem, e você dormia até babando quando entrei no seu, já o Juan não havia chegado
em casa ainda.
— Você entrou no meu quarto enquanto eu dormia? Porra Soraya, e se durmo
pelado?
— Como se eu nunca tivesse visto vocês dois pelados. — Ela responde fazendo
sinal com a mão como se não fosse nada demais.
Enquanto discutimos, sobre ela ter entrado no meu quarto sem bater, nosso pai
chega com uma expressão abatida, muito sofrida para ser sincero. Logo depois dele,
nossa mãe entra chorando, indo direto para ele, nem reparando estarmos presentes.
— Diga que é mentira Javier, diga que não era o carro do meu Juan, do meu
menino. — Minha mãe fala chorando compulsivamente.
Paramos de discutir, nos levantando, e indo na direção deles, na mesma hora.
— O que foi mamãe? O que aconteceu? — A Soraya pergunta ajudando-a a
sentar-se, e tentando acalmá-la.
Mas quem responde à pergunta é nosso pai.
— O Juan sofreu um grave acidente de carro está madrugada — diz e nos olha
profundamente, a tristeza em seus olhos chega ser palpável, e suas palavras,
desmoronam não só meu mundo, mas o da Soraya também.
— Meu Juan sofreu o acidente, indo para a casa dele pelo caminho que estava,
e devido ao horário, ninguém viu como aconteceu, só se ouviu a explosão, mesmo a
distância — mamãe diz soluçando, tentando conter as lágrimas. — E o carro dele foi
identificado no fundo do penhasco, próximo ao Montserrat, totalmente carbonizado,
disseram que não sobrou nada, nem o corpo do meu menino para enterrarmos.
Seu choro convulsivo se mistura ao nosso, não consigo controlar as lágrimas,
pois imaginar que nunca mais verei meu irmão, meu melhor amigo, dói na alma.
Sou trago de volta ao presente com o grito inconsolável, e o choro da Soraya.
— Como assim não tem nem corpo? Tem que ter, frito, torrado, mas tem que
ter algo. — Falo tentando me acalmar e pensar com clareza.
— Não sobrou quase nada do carro, muito menos do corpo do seu irmão, fora a
queda de centenas de metros, a explosão consumiu tudo. — Meu pai responde.
Eu não podia acreditar, eu não queria acreditar, não meu irmão, aquilo tinha
que ser um maldito pesadelo. A Soraya depois de surtar, entrou em estado
catatônico, parecia um robô, eu não a julgava, eu estava passado, sem conseguir
pensar direito, mas minha mãe estava inconsolável, quase histérica, então, minha
irmã falou o óbvio, nos trazendo de volta a realidade.
— Mesmo não tendo um corpo para prestarmos nossa última homenagem,
faremos um funeral, e será digno de um Sparrow, mas guardem minhas palavras, eu
nunca, vou aceitar esse detalhe peculiar de “não ter restado nada,” que fosse
somente os ossos carbonizados, teria que ter algo.
— Eu nunca descansarei enquanto não descobrir o que aconteceu, não pense
que se importa mais que nós que somos pais. — Nosso pai comenta levantando-se, e
se retirando da sala. — Aguardo vocês no salão hoje, mas ao invés da festa que
teríamos, faremos uma cerimônia fúnebre.
Depois que ele sai, minha irmã o segue com o olhar analítico até ele fechar a
porta, então nos entreolhamos e como uma promessa selada, nós juramos que
também não descansaremos enquanto não descobrirmos o que aconteceu de fato
com corpo do nosso querido irmão. E ainda tentando consolar nossa mãe, nos
preparamos para o dia mais horrível de nossas vidas.
CAPÍTULO 01
DOZE ANOS DEPOIS
Hoje, vi o Agente Duncan, sentado na primeira fila de bancos durante a missa,
estranhei, pois desde que nos conhecemos no funeral de seu avô, há uns dois anos
aproximadamente, logo que fui transferido e cheguei no Texas, eu nunca mais o vi,
e só vim saber que ele era um Agente tempos depois, através de sua família, devotos
fiéis de minha paróquia, principalmente Dona Rose, sua mãe, que não perde uma
missa de Domingo junto da neta, Isabella.
— Sua benção Padre!
— Deus lhe abençoe filho! — Respondo cada um dos meus fiéis na porta da
igreja após o término da missa.
— Sua benção Padre! Será que podemos conversar depois? — O Duncan pede,
dando espaço para sua mãe e sobrinha.
— Claro meu jovem! Será um prazer. — Respondo enquanto cumprimento as
pessoas que vão saindo.
Ao fim de tudo, entramos, e seguimos para sacristia, uma sala que mantenho
como uma espécie de escritório na parte de trás do altar, e que interliga a casa
paroquial à igreja.
— Em que posso ajudá-lo Patrick? — Pergunto me sentando em uma poltrona,
indicando a outra para ele.
— Como o senhor bem sabe, trabalho para o FBI com sede em Dallas, e a um
pouco mais de um mês, resgatamos duas testemunhas de um caso de homicídio.
Elas estão sob custódia provisória, pois ainda não completaram vinte e um, e como
já sofremos alguns atentados contra as garotas, tenho que remanejá-las de local, e
não posso levá-las para o escritório. Então pensei que o senhor poderia me ajudar,
cuidando das meninas por algum tempo, aqui mesmo, na casa paroquial.
— Você sabe que jamais eu me recusaria a ajudar qualquer pessoa, ainda mais
duas meninas que “precisam” de ajuda, mas porque não as leva para a fazenda do
seu irmão? Lá elas terão mais conforto na estadia. — Falo não entendendo seu
pedido inusitado.
— Na Coração do Texas[9] elas teriam, sim, mais conforto, mas como é só por
umas duas semanas no máximo, achei que na igreja seria o último lugar que alguém
pensaria em procurá-las, ao contrário das terras da minha família. — Ele responde o
óbvio. — E liguei para uma velha amiga, ela disse que cuidará das meninas para
mim, até o dia do julgamento em que testemunharão, só que a Red[10] está na casa da
família na Espanha, e só volta em quinze dias.
— E quando pretende trazer as garotas?
— Então o senhor aceita? Lógico que o senhor não terá despesa nenhuma com
elas, o FBI está arcando com todos os custos, e vamos recompensá-lo por este
serviço prestado.
— Não estou prestando serviço ao FBI, e sim ajudando duas filhas do senhor
que precisam de apoio. Não confunda as coisas Patrick.
— Desculpe Padre, não quis ofender.
— Não ofendeu meu filho, mas em momento algum pense que aceitarei
qualquer tipo de bonificação por tê-las ajudado.
— Amanhã as trarei, já entrei em contato com minha amiga, e assim que ela
chegar de viagem virá buscar as meninas. — Fala levantando-se, e me dando a mão
em cumprimento. — Agora vou indo, pois minha mãe e a Belinha estão me
esperando, e mais uma vez obrigado Padre.
— Gregório, me chame somente de Gregório.
— Vou tentar, prometo. — Responde sorrindo, e já saindo. — Até amanhã.
Na manhã seguinte, pedi para a senhora que me ajuda com os afazeres da casa,
deixar o segundo quarto da casa paroquial arrumado, e que colocassem outra cama,
pois segundo o Patrick eram duas moças, irmãs pelo que entendi.
Estava tomando meu café quando Dona Rose entrou toda, sorrisos com um
cheirosíssimo bolo de fubá, embrulhado numa toalha e ainda morno.
— Desse jeito terei que mandar alargar minha batina para a missa, devo ter
engordado uns bons 5 kg desde que cheguei. — Falo sorrindo quando a vejo.
— Benção Padre. — Fala como de costume sempre que me vê, não importa
quantas vezes no dia. — Meu filho disse que o senhor receberá as meninas que ele
está protegendo, e vim oferecer ajuda se precisar.
— Este assunto não era para ser confidencial? — Pergunto cortando meu
pecado da gula em forma de bolo.
— Desde quando meu menino consegue esconder algo de mim? Sugere com
um sorriso carinhoso ao mencionar o filho. — E eu ficaria sabendo de qualquer
forma, já que ele trará as meninas, e elas ficarão na casa paroquial. — Fala com
olhar inquisitivo.
— Por que está me olhando assim Dona Rose?
— O senhor sabe que o povo vai comentar né?
— Comentar o quê?
— O senhor me perdoe o que vou falar, mas o senhor nem parece Padre, é
muito novo e muito bonito, nunca vi tanta moça na missa como tem agora, isso
desde que o senhor chegou. — Fala sentando e se servindo do bolo, enquanto parei
de comer olhando para ela, só ouvindo onde aquilo ia dar. — E duas moças
solteiras, pelo que meu filho comentou, muito bonitas e novinhas ainda, acredito
que não vai pegar bem ficarem na casa paroquial.
— Prefiro pensar que não entendi o que acabou de insinuar. — Falo dando o
café por encerrado. — Se a senhora me dá licença, tenho de terminar minhas
orações matinais, e muitas providências a tomar antes que as garotas cheguem, fique
à vontade, e obrigado por me alertar sobre a maledicência do povo.
O problema de cidade pequena era isso, essa gente não tinha mais o que fazer
da vida, e ficavam perdendo tempo cuidando da dos outros.
— Não quis ofender e nem insinuar nada Padre, até porque o senhor sabe que
não sou dessas carolas que só sabem ver defeito em tudo, só gostaria que soubesse
que se precisar deixar as meninas na Coração do Texas, minhas portas estarão
sempre abertas. — Ela responde tentando se redimir.
— Não se preocupe Dona Rose, eu sei me cuidar no que diz respeitos a nobres
senhoras que frequentam minha paróquia, e obrigada pelo oferecimento, mas o
Patrick mesmo afirmou que elas ficarão somente por uns dias, depois amiga dele
vem buscá-las.
Dito isso, sai da sacristia indo para casa paroquial ver se precisaria de mais
alguma providência.
Já se passava um pouco das 17 horas, eu estava fazendo minhas orações da
tarde, e me preparando para me recolher, quando a senhora que me ajuda com a
limpeza da paróquia, veio me informar ter uns homens engravatados pedindo para
falar comigo, e perguntando se ela os manda entrar.
— Mande-os para sacristia, estarei lá em um minuto. — Respondo já
arrumando a gola da camisa por cima do clérgima[11] que havia retirado, pois já
estava a ponto de me recolher.
Não uso batina fora das missas e ocasiões especiais, e como no Texas faz um
calor extremamente forte, uso sempre uma camisa de meia manga, de um tecido
leve, com o colarinho clerical, calça jeans, e botas de cowboy. Afinal, não dá para
percorrer as fazendas, ou andar por essas estradas de sapatos normais.
Entrando na sacristia vejo que os homens a quem minha curiosa ajudante se
referiu, eram os agentes do FBI que trariam as garotas, dentre eles estava o Patrick,
que veio em minha direção já se desculpando pelo atraso.
— Sua benção Padre! Perdoe-me o atraso, mas tivemos de fazer umas paradas
antes de chegarmos aqui. E como não viemos direto, o tempo estimado triplicou.
— Deus te abençoe meu filho. Mas onde estão a meninas? — Pergunto
olhando em volta, procurando-as. — Não me diga que as deixou no carro com este
calor?
— Foi necessário Padre! Aliás, prazer sou Hilary Moore. — Uma mulher altiva
e com semblante sério fala se apresentando. — Agente Moore.
— O prazer é meu, minha querida. — Respondo lhe dispensando um aperto de
mão em cumprimento.
— As garotas ficarão no máximo uns quinze dias, depois uma conhecida virá
buscá-las, e as levará para outro local seguro. — O Patrick reitera o que já havia me
dito antes.
— Bom, então tragam as moças, pelas horas de viagem que passaram, as
pobrezinhas devem estar exaustas, e está muito calor lá fora. — Peço realmente
preocupado, pois para quem não está acostumado, o calor do interior do Texas pode
fazer até mal para saúde.
Quando as meninas entram, um pouco tímidas, eu sinto algo estranho quando
vejo a garota mais velha, uma sensação de conhecimento, de pertencimento, como
quando você não, vê alguém há muito tempo, e essa pessoa volta para casa, não sei
explicar, mas é muito forte a sensação.
Ambas olham tudo em volta, então a mais nova pergunta:
— Cadê o Padre? — Já que ficaremos aqui, ele não deveria nos receber? — Ou
vocês estão nos escondendo aqui sem avisar ninguém?
— Dora! A mais velha a repreende dando um puxão de leve em sua mão.
— Estou aqui querida. — Respondo, e noto às duas me olharem espantadas.
A mais nova, notei, não tem muito filtro dos pensamentos para boca, pois fala
em tom de descrença, me olhando de cima a baixo.
— Não! Você não é — faz uma careta fofa. — Padres são idosos, calvos e
rechonchudos, e cadê sua batina?
— Isadora! Juro que vou costurar sua boca. — A outra se intromete antes que a
irmã fale algo mais. — Desculpe minha irmãzinha Padre, apesar de já ter dezessete
anos, ela ainda age como se tivesse cinco às vezes.
— Não se preocupem, me chamo Gregório, e vocês?
— Emília Wilson, mas todos me chamam de Emma, e essa espevitada, é minha
irmã, Isadora Wilson, ou Dora.
A tal Dora se adianta pedindo desculpas, mas não consegue esconder que está
chocada com minha aparência, e aposto que idade. Quando cheguei em Valle dos
Lobos[12] no intuito de substituir o antigo Padre, as pessoas tiveram a mesma reação,
e umas mal me aceitaram ainda como pároco local.
Quebrando um pouco o clima estranho que se instalou, eu digo para ambas:
— Imagino que estejam cansadas, e com fome? Se me acompanharem, mostro
onde ficarão neste período, e podem desfazer as malas e descansar.
— Na verdade, não temos muita bagagem, como estamos sempre saindo de um
local que era para ser seguro, e indo para outro, decidimos carregar somente o
necessário. — A menina chamada Emma quem responde olhando feio para os
agentes.
— Nós avisamos que não é seguro ficar muito tempo no mesmo lugar, e que
vocês estariam se mudando constantemente até o julgamento. — O Patrick responde
se defendendo.
— Sim nós sabemos disso, mas é cansativo e chato.
— Bom agora que as meninas estão seguras, acho que podemos deixá-las
descansar. — Falo encaminhando os agentes para fora da sacristia, a fim de
acompanhá-los até a porta.
— Está nos expulsando? Ou é impressão minha? — A tal Hilary pergunta com
semblante indignado, mas rindo em simultâneo.
— Estou lhes dizendo que não precisam se preocupar, que as garotas ficarão
bem, e que já está tarde, e vocês têm uma longa viagem de volta a Dallas.
— Quando minha mãe descobrir que enfim fui expulso de uma igreja ela não
vai acreditar. — Um dos outros agentes comenta, fazendo todos rirem, até mesmo
eu.
Depois que todos saem, volto para sacristia, instalar minhas hóspedes em seus
aposentos.
CAPÍTULO 02
— Para de mexer em tudo Dora! — Falo torcendo o nariz para minha irmã.
— Só estou curiosa, vai dizer que você também não está? — Responde
olhando uma imagem que está num altar separado dos outros. — Que santa será que
é?
— Não faço ideia, mas é muito bonita. — Respondo me aproximando, e
admirando a imagem da santinha também.
— Esta é Nossa Senhora do Monte Serreado, padroeira da Catalunha, a trouxe
comigo da Espanha quando fui transferido para cá. — O Padre responde parado
perto da porta, e nós duas olhamos para trás assustadas por sermos pegas em
flagrante.
Quando chegamos e o vi pela primeira vez, senti algo estranho, um aperto no
peito, uma sensação sufocante, como se de repente, ficasse mais difícil respirar. Mas
também uma sensação de que enfim eu estava em paz, uma sensação de estar em
casa, acho que todos os Padres passam essa serenidade né, tem que ser.
— Desculpe, não queríamos xeretar. — Falo vermelha feito um tomate, e um
pouco sem graça por passar má impressão no primeiro dia. O que ele não ia pensar
de nós duas fuçando nas imagens da sacristia.
— Mas eu sou curiosa! O senhor é espanhol? De que lugar da Espanha? —
Minha irmã faz a pergunta que eu queria fazer, mas não sei por que, desde que
cheguei, e o conheci, que perto do Padre Gregório eu travo, me sinto idiota, sem
conseguir articular nem uma palavra, preciso descansar, é isso.
— Sou de Monistrol de Montserrat, na província de Barcelona, me ordenei
Padre pela Abadia de Montserrat e fui transferido logo em seguida para o Texas. E
fiz de Vila dos Lobos minha casa desde então, isso já faz dois anos. — Ele responde
com um sorriso lindo, fazendo covinhas, que deveria ser proibido em um Padre.
— Será que poderíamos tomar um banho? Ficamos horas na estrada, nos
trouxeram de carro, e sinto que tem poeira até no meu cérebro. — Falo brincado, e
tentando dispersar aquele sorriso pecaminoso de tão sexy da mente.
— Mais é claro, sigam-me, vou lhes mostrar seu quarto. — Ele responde nos
encaminhando para uma porta que dá acesso a uma casa interligada com a igreja.
Quando entramos, vi que nossas coisas que estavam no porta-malas dos carros
haviam sido tragas para cá, não carregamos muita bagagem, só algumas malas com
roupas sapatos e objetos pessoais, nossos notebooks, e nossos kindle, já que não
podemos carregar livros físicos.
— Você sabe quanto tempo ficaremos aqui? — Minha irmã pergunta tirando
suas coisas da mala e arrumando para irmos tomar um banho.
— Ouvi o agente Duncan dizer para a tal Hilary, que uns quinze dias
aproximadamente. — Respondo torcendo o nariz, e me sentando na beira da cama.
— Por que essa carinha de quem chupou limão? Não gostou do lugar? Vamos
ficar quinze dias com o Padre gostosão.
— Olha o respeito Dora!
— Vai dizer que também não achou ele bonitão?
— Sim, achei, mas ele é Padre, e deve ser pecado só pensar assim. — Digo
pegando minhas coisas e entrando no banheiro batendo a porta na sua cara.
— Te conheço maninha, você não fica nervosinha à toa, então, bora pecar?
Abro só uma frestinha da porta e respondo:
— Para de inventar coisas na sua cabecinha sonhadora, e me deixa em paz.
— Não estou inventando nada, só digo o que vejo. — Ela fala colada na porta,
já que fechei a mesma na sua cara.
Tomo meu banho rápido para minha irmã também tomar o banho dela, e assim
podermos comer algo, confesso que até não pensar no assunto não sabia estar com
tanta fome, e o cheiro que vem da cozinha está fazendo meu estômago roncar em
protesto.
Quando voltamos para a igreja, após passar a tarde passeando em lojas, com o
moço que a Bela chamou de Zeca, muito carrancudo, andando atrás da gente, vou
direto para a pequena cozinha que tem na casa, a fim de deixar as coisas que
comprei para fazer uma Paella[15], gosto bastante com frutos-do-mar, mas no interior
do Texas seria impossível conseguir os ingredientes, então vai ser com frango
mesmo.
— Como foi o passeio? — O Gregório pergunta recostado no batente da porta,
me assustando por estar distraída, e me fazendo derrubar uns itens que estava
tirando da sacola. — Desculpe-me, não queria assustá-la.
— Não foi nada, eu estava distraída. — Falo me abaixando para pegar umas
coisas que caíram no chão, e no momento que faço, ele também se abaixa, ficando
tão próximo, que consigo sentir o calor que emana de seu corpo, sentir sua
respiração, meu corpo todo reage de forma muito inapropriada para com um Padre,
não sou nenhum mulherão experiente, mas já tive namorados, dei uns amassos, e sei
bem como é a sensação provocada por tensão sexual, não que eu tenha chegado ao
ato, sempre fiquei nos beijos, nunca me permitindo passar disso, já que não me
achava pronta. Mas puta que pariu, eu não devia estar me sentindo desse jeito, não
com ele.
— Não sabia que você cozinhava. — Ele diz com a voz rouca, olhando minha
boca, e umedecendo os lábios, tão visivelmente afetado quanto eu, que se tentar
levantar agora, com certeza irei me esborrachar no chão, pois minhas pernas
parecem um pudim mole.
— Adoro, na verdade, me distrai bastante. — Respondo, tentando reunir todas
minhas forças para conseguir levantar e parar de pecar em pensamentos com a boca
desse homem lindo, ah pronto, acabou de comprar um bilhete para descer de
tobogã para o inferno, minha mente fala debochando de mim. — Eu lembrei que o
senhor disse que veio da Abadia de Montserrat na Espanha, e decidi fazer uma
Paella para agradecer por cuidar de nós.
— Já pedi que não me chame de senhor, somente Gregório. — Fala me
prendendo de novo nos movimentos de seus lábios, na covinha que faz quando sorri.
Por Deus, eu devo estar ficando louca, mas não consigo evitar, cada parte de
mim grita que este homem é o pecado encarnado, colocado na igreja para testar o
juízo das mulheres desavisadas.
— Emma deixei o xampu no banheiro para você, se quiser vou picando as
coisas para adiantar. — Minha irmã fala, entrando com tudo na cozinha, e
quebrando o clima que se formou, e novamente, percebo que não era somente eu
quem estava presa nessa tensão luxuriosa que impregnou o ar.
— Posso te ajudar Dora, enquanto sua irmã toma um banho e descansa um
pouco. — Ele oferece disfarçando. — Só vou me refrescar também, e já venho para
fazermos o jantar juntos. Que acham?
— Por mim está ótimo. — Minha irmã fala já começando a ajeitar as coisas na
pia para picar, enquanto o Gregório sai da cozinha para “se refrescar” e lá está
minha imaginação me levando para o inferno de novo. — Puta merda Emma!
Começa a falar, me conta tudinho, o que foi isso que vi agora pouco?
— Não sei do que você está falando Dora. — Respondo vermelha feito um
tomate, colocando a sacola que ainda segurava na pia e saindo.
— Essa tensão sexual que estava até cheirando à luxúria entre você e o Padre!
— Fala rindo com os olhinhos brilhando, e prevejo uma fanfic a caminho.
Minha irmã adora romances clichês, e vê amorzinho em praticamente tudo, até
em assuntos improváveis.
— Vou tomar um banho, já volto para terminarmos o jantar. — Falo já
correndo da cozinha para não ter que explicar o que nem eu estou entendendo.
CAPÍTULO 05
Passo as mãos na cabeça, estressado com o que acabou de acontecer na
cozinha. O que foi aquilo senhor?
Desde que decidi me ingressar ao seminário, do dia que optei pelo celibato e
fiz meus votos de castidade, nunca senti uma atração tão forte por alguém. Sou
padre, sim, mas também sou homem, não fui castrado e nem me tornei eunuco
quando entrei para ordem, e quando bate a necessidade física da ejaculação, sempre
me alívio no banho, mas nunca senti literalmente nada por mulher nenhuma depois
que me ordenei, nunca foi por tesão, por querer aquilo, precisar daquilo, sempre foi
mais por uma necessidade básica do corpo, nunca mais fiquei excitado, ou em
poucas palavras, “de pau duro,” perto de mulher nenhuma.
E naquele momento na cozinha, meu corpo inteiro gritava por ela, por sentir o
toque de suas mãos em mim, quando a flagrei cobiçando minha boca, eu quase
perco o juízo, a vontade de beijá-la ali, estava suplantando a razão, e após doze anos
de uma jornada de purificação física e mental, eu estava lá, excitado, latejando,
necessitado de qualquer migalha de aproximação que ela me desse.
Quando a irmã dela entrou na cozinha quebrando nossa conexão, eu agradeci a
todos os santos por não me deixarem cometer um ato impulsivo. Agora estou aqui,
parecendo um animal enjaulado, tentando retomar o autocontrole.
Entro debaixo do chuveiro e deixo a água fria cair sobre minha cabeça, lavando
todas essas sensações impróprias, pecaminosas, então pela primeira vez após anos,
pelo menos que me lembre, me permito sentir o prazer do ato, não só a necessidade,
e deixo a mão descer sobre meu membro que está duro ao ponto de doer
fisicamente, começo a me masturbar, subindo e descendo, a mão fechada sobre o
comprimento, apertando de leve a glande, que está inchada, saindo o líquido inicial
de pré-sêmen, vou devagar a princípio, mas conforme as cenas da cozinha começam
a vir como filme em minha mente, relembro ela umedecendo os lábios, baixando o
olhar para minha boca, relembro que vi a gula, a fome em seus olhos, e acelero o
movimento.
Gemo baixo quando sinto uma tensão em todo meu corpo, e sem parar de subir
e descer a mão, agora mais rápido, imaginando como eu quis morder aquela boca,
provar de seu gosto. Recosto a cabeça no piso gelado do box, um urro contido,
abafado suficiente para não ser ouvido, me escapa da garganta, quando sinto o gozo
vir com toda força, e não paro de masturbar até sentir que não resta mais nada, dessa
vez não foi somente mais uma ejaculação, eu gozei, eu senti cada movimentação da
minha mão imaginando a boca dela em volta de mim, pude ver minha menina
ajoelhada na minha frente enquanto eu entrava em sua boca.
Então ela veio, com os dois pés no peito, aquela sensação de pecado, de errado,
ainda nu, debaixo da ducha, eu me ajoelho, totalmente confuso, deixando as
lágrimas da culpa rolarem por meu rosto, pedindo perdão, eu pequei, e o pior do
meu pecado, é que desejo mais.
Depois de um tempo enrolando para sair e enfrentar minhas tentações em
forma de uma linda jovem de cabelos castanhos, decido ir até à cozinha onde as
meninas estão preparando o jantar, o cheiro está maravilhoso, há muito tempo não
como Paella, então paro e me pego tentando lembrar quando comi tal iguaria, e
percebo que nunca, mas que sei até o gosto que tem, e isso me arremete a uma
lembrança de outrora. Então me vejo sentado em uma mesa farta, rindo e comendo
desse prato, mas não vejo de quem são os risos em volta.
Quando entro elas param o que estão conversando e com um sorriso tímido me
olham com carinha de culpadas.
E como ainda estou muito preso ao furacão de emoções de agora pouco, não
percebo que suas carinhas de culpa, provém de uma garrafa de vinho no canto sob a
pia, e que ambas, tem uma taça cheia escondida atrás de seus corpos.
— Nenhuma das duas tem idade para beber, muito menos a senhorita, Isadora.
— Falo fingindo ralhar com elas, mas muito aliviado por elas não poderem ver o
conflito interno que me encontro.
— Por que você demorou tanto lá na igreja Emma? — Minha irmã pergunta se
virando na cama para ficar de frente para mim.
— Estava conversando com o Gregório. — Respondo ainda deitada de barriga
para cima, encarando o teto, com a mente no que “quase” aconteceu.
Eu nunca passei de beijos com os namoradinhos que tive no colégio, mas sinto
que se o Gregório me beija-se naquele momento, não ficaríamos só nisso. Ele não é
um adolescente, e por mais estranho que pareça, com ele, “para ele” me sinto
pronta, como se cada parte minha lhe pertence-se.
— Você está distante, que tipo de conversa foi essa? — Ela pergunta me
encarando.
— Nada de mais, e para de me encarar, é estranho. — Respondo rindo.
Ela suspira após rir também e fala:
— Amanhã a amiga do Agente Duncan chega, e eu não quero ir embora
Emma. Gosto daqui, me apeguei ao lugar. — Diz fazendo beicinho.
— Se apegou a cidade, ou a fazenda Coração do Texas e seu dono? — Insinuo
com um risinho provocador.
— Pode parar tá. — Fala rindo, mas na mesma hora, ficando séria de novo. —
Quem diria que iríamos perder nossos corações em uma cidadezinha no interior do
Texas. Você e seu Padre, e eu com meu cowboy, que nem me nota.
— Por que você acha que ele não te nota? — Pergunto me virando para ela,
deitando-me de lado na cama.
— Acho que ele me vê como a Bela, apesar de todo meu esforço para aparentar
um mulherão da porra. Deve me achar ridícula isso sim.
— Eu acho o oposto. Já vi como ele te olha quando pensa que ninguém está
vendo.
— E como ele me olha?
— Com os olhos brilhantes, como quem viu a flor mais linda. — Respondo
sorrindo.
Ela fecha os olhos, então fala convicta:
— Precisamos dar um jeito de não precisar ir com a moça que vem nos buscar.
— Daremos Dora! Pois não há nada neste mundo que vá conseguir me afastar
do meu Gregório.
— Desculpa minha irmã, mas tem sim! Uma batina.
— Me contento em poder ficar só perto se for o caso, é melhor que nada né. —
Respondo com o choro embargado na garganta.
CAPÍTULO 10
Estou terminando de coar o café, não consegui dormir a noite toda, pensando
no que “quase” aconteceu ontem no confessionário, eu ainda conseguia sentir o
cheiro dos cabelos dela, a quentura de seu corpo que incendiava cada fibra do meu,
mesmo não a tocando.
Senti-me um viciado de frente para sua tentação, então pulei da cama a fim de
tomar um banho frio e relaxar, estava começando a amanhecer, o sol já dava
indícios de que teríamos um dia bem quente, aproveitei que as meninas estavam
dormindo e fui à padaria comprar pão e mais algumas guloseimas para o café.
— O cheiro está maravilhoso. — A Emma comenta toda, sorrisos entrando
seguida da Dora.
— Na minha opinião não existe cheiro melhor logo de manhã, do que de um
bom café — comento colocando o bule na mesa, e me virando para pegar o leite.
— Deixa que eu pego. — A Dora fala se virando para o refrigerador onde
estava o leite e o suco.
— Acordaram cedo hoje, por quê? — Pergunto passando manteiga em um
pãozinho tipo broa que comprei de manhã.
— Acho que estamos um pouco ansiosas demais, e isso, misturado com vários
outros detalhes, me fez perder totalmente o sono. — Minha Emma responde
mordendo seu pãozinho, com as bochechas absurdamente rubras, parecendo que
todo sangue de seu corpo centralizou ali.
— Por que ansiosas?
— Hoje a amiga do Agente Duncan vem nos buscar, e não queremos ir Padre.
— Quem responde é a Dora, cabisbaixa.
— Vocês não precisam ir se não quiserem. Não são obrigadas. — Falo sentindo
um aperto no peito, só de imaginar meu anjo longe de mim.
— Claro que somos obrigadas Gregório. — A Emma fala com a voz
embargada, e percebo que está segurando o choro fazendo um biquinho muito lindo.
— Eu ainda tenho dezenove, e a Dora vai fazer dezoito só daqui a uns dias, estamos
sob a tutela de um juiz, e só não estamos em um orfanato, porque depois de dois
atentados contra nossas vidas, ficamos sob proteção do FBI também — suspira
remexendo os ovos com bacon em seu prato.
— E se o Agente Duncan nos mandar ir com a amiga dele, não teremos escolha
senão arrumar as malas de novo e partir só Deus sabe para onde. — A Dora fala,
também com carinha de choro.
E tudo que menos preciso no momento é de duas mulheres chorando na minha
cozinha, então, meio em pânico, comento:
— Vou ver o que pode ser feito, mas nem por decreto vocês duas vão a algum
lugar contra à vontade.
Nesse momento, nem vi quando às duas se levantam chorando e se jogam em
cima de mim num abraço molhado de lágrimas, e agora tenho uma de cada lado do
meu ombro, soluçando um obrigado agoniado.
Chegando no Mosteiro, lógico que não fomos bem recebidos, e nem entramos
direto. Somente depois de uma boa quantia em doação, que conseguimos
autorização para conversar com o Monsenhor da Abadia.
— A que devo a honra da visita Senhora Hernandez? — Ele nos cumprimenta,
acenando para que nos sentássemos.
Ele nos recebeu em uma sala reservada como escritório, com muitas estantes,
uma lareira acesa no canto, e uma escrivaninha no centro.
— Eu deveria começar perguntando por que ocultou que meu filho estava vivo
da família dele? Mas como sei que não vai responder, nem essa, nem nenhuma outra
pergunta, vou ser bem direta sobre o porquê vim até aqui, antes de ir atrás do meu
menino. — Fala abrindo a bolsa como se fosse pegar algo corriqueiro.
Então vi quando ela simplesmente sacou sua GLOCK G28[23] com silenciador
na ponta, e de forma rápida e precisa, simplesmente meteu uma bala no meio dos
olhos do velho padre.
— E como não estou com paciência para desculpas esfarrapadas, decidi te
conceder uma passagem só de ida para conhecer o criador. — Fala após atirar. — Se
é que você vai para lá. Acredito que depois de tudo que já deve ter feito, vá descer
direto para o quinto dos infernos.
Não me surpreendi com sua atitude, ela estava muito calma e quieta desde que
dei a notícia, apesar de sentir nos ossos a tormenta que se instalava em sua mente, e
não tirava suas razões, eu mesmo estava me contendo para não o ter matado no
momento que soube o que havia feito. Mas essa merda ia feder.
— Mãe! Se eu soubesse de suas intenções, não teria deixado que tantas pessoas
tivessem nos vistos entrando falar com esse velho bastardo. — Falo com meio
sorriso, e orgulhoso da minha rainha, meu exemplo de mulher.
— Não se preocupe meu querido, somente mande limpar tudo, e vamos para o
Texas — fala já levantando da poltrona que estava e indo em direção a porta.
Sim! Mandarei. — Respondo, pegando sua arma, limpando-a na batina do
padre, "apesar de ela estar de luvas" depois jogando-a na lareira acessa, trabalhando
intensamente em fogo alto. Sempre fui ensinado que nada escapa ao fogo, nem
provas.
— Senhor, não há onde pousar nas redondezas, só avistei uma fazenda com
pista para pouso, mas preciso de autorização para descer. — Meu piloto avisa
esperando minhas ordens. E fico puto por não ter pensado nisso.
Na verdade, eu nunca imaginei que minha irmã tivesse vindo de carro, por isso
deduzi haver onde pousar o avião.
Liguei para Soraya para saber se havia outra pista por perto que pudéssemos
usar, e por pura sorte, ela estava com o dono da fazenda ao lado, pois me concedeu
autorização para pouso na mesma hora.
— Devia ter visto isso antes de vir de avião, Blue! — Ela fala em tom
acusatório. — Sorte sua que eu o “Padre” e as meninas estamos aqui na fazenda, e
vimos o avião rondando, então deduzi ser você. Já ia te ligar.
O celular estava na viva voz, e quando ela disse que o “padre” estava ali, meu
coração deu um salto no peito, por antecipação de rever meu irmão, meu melhor
amigo, e nossa mãe, caiu em lágrimas na mesma hora.
— Estamos pousando, até daqui a pouco querida.
Quando descemos, a Soraya, seus seguranças, e mais três homens altos e muito
parecidos, estavam nos aguardando.
— Sejam bem-vindos a Coração do Texas! Me chamo Patrick, sou amigo da
Red. — O agente fala nos cumprimentando, sim, esse eu conheço de nome. — Estes
são meus irmãos, Theodor e Octávio.
— O prazer é nosso. — Respondo apertando sua mão firmemente.
Depois dos cumprimentos, a Soraya fala olhando a menina que está
parcialmente escondida atrás de mim.
— Você deve ser Helena! Sou a Red, a moça que cuidará de você, meu bem.
Minha mãe a pega pela mão pequenina, ela é toda delicada, uma boneca eu
diria.
— Ela está assustada minha filha, seu irmão teve de salvá-la de uma situação
horrível.
— Seu secretário, sei lá o nome do vagabundo, tentou estuprá-la. — Falo
trincando o maxilar.
— O QUÊ? — Ela pergunta em choque com o que falei. — Mas ele não
gostava de garotas até onde sei.
— Não era o que parecia! — O Pablo responde com tom cavernoso na voz.
— Mas não se preocupe, meu anjo, ele não teve tempo de fazer nada. — Minha
mãe fala abraçando a menina pela cintura.
A Red me olha pedindo mais explicações com o olhar, e só digo que
conversamos depois.
— O moço ruim não teve tempo de chegar muito perto. — A Helena sussurra
de cabeça baixa, em posição submissa. — Eu me escondi, e o Yago chegou bem na
hora que ele abriu a calça dizendo o que pretendia fazer comigo — fala se soltando
dos braços da minha mãe e voltando para meu lado, buscando minha mão como se,
se sentisse segura comigo.
Gostei que todos vissem que qualquer um que tentasse se aproximar dela, teria
um fim igual, senão pior.
— Vamos entrar? Vocês devem estar cansados da viagem, e nossa mãe
preparou um café da tarde bem reforçado. — O homem que parecia ser o mais velho
dos irmãos fala rumando em direção a casa.
Enquanto todos o seguem, eu só observo e absorvo o que me espera lá dentro,
preparando meu espírito e coração para reencontrar meu amado irmão.
CAPÍTULO 15
NO DIA ANTERIOR
Eu não consigo tirar o beijo que o Gregório me deu da cabeça, preciso falar
com alguém ou vou surtar, então decidi tentar a sorte, e confiar na moça que até
meus vinte e um será minha tutora. Já que minha irmã está na fazenda, e inacessível
no momento.
Hoje à tarde a Red foi na igreja, informar que conseguiu nos tirar das mãos do
governo e do FBI, e que a partir de agora seremos suas protegidas, e pelo tom que
usou, senti que isso deva significar muito.
Então agora estou aqui em frente a pensão que ela está hospedada, pronta para
me abrir e pedir seus conselhos, sobre o que devo fazer.
— Olá! Eu gostaria de falar com a senhora Red. — Falo para a mulher no
balcão da recepção.
— Ela está jantando agora. — Ela responde educada, então me diz onde
encontrá-la — é só seguir reto, última porta a esquerda, dá na parte que separamos
para servir de restaurante.
— Obrigada! — Digo seguindo pelo corredor que ela apontou.
Á vejo sentada em uma mesa no canto, comendo e lendo algo em um iPad
posto ao lado do prato sob a mesa.
— Boa Noite! Desculpe, sei que é um horário inadequado, mas eu precisava
conversar com alguém. — Digo me aproximando.
Ela me olha com curiosidade, mas em seguida fala:
— Boa Noite querida! Sente-se, me acompanhe no jantar — responde sorrindo
quando me vê. — Em que posso ajudá-la?
— Eu preciso de conselhos — falo sem graça, pois vendo agora, me sinto uma
tola por vir até aqui.
— Sobre? — Ela pergunta levantando somente uma sobrancelha.
Retorço a ponta da minha blusa, buscando palavras coerentes, mas não
encontro nenhuma. Como dizer em voz alta que estou apaixonada pelo padre.
— Se está buscando palavras para me dizer o óbvio, não perca seu tempo
querida. É nítido seus sentimentos pelo Gregório meu anjo.
— E o que faço? — Pergunto com o choro meio embargado na garganta. — Eu
o amo, mas não como o santo padre.
Ela arrasta a cadeira mais perto da minha, enxuga uma lágrima teimosa que
insiste cair, pega minha mão, e me olhando nos olhos diz:
— Vou te dizer, o que disse para o Gregório hoje de tarde. Siga seu coração,
meu bem, e não se preocupe com o que pode ou não acontecer. — Ela fala de forma
intensa. — O que está em seu destino, nunca poderá ser mudado, mesmo que
tenhamos a ilusão de controle, isso está fora de nosso alcance.
— Acha que devo tentar conquistá-lo? Mesmo ele sendo um padre.
— Acho que você já o conquistou. Agora precisa que ele também veja que o
futuro dele é em seus braços, e não nos braços da igreja.
— Sabe, sei que é estranho para meus dezenove anos, mas eu não tenho muita
experiencia com namoros e conquistas, tive um namorado no colégio, mas nunca
passou de uns amassos — falo sem jeito, e um pouco envergonhada. — E mesmo
esses “amassos” não se comparam ao beijo que o Gregório me deu.
Mordo a língua na mesma hora quando percebo que falei demais.
— Vocês se beijaram? — Ela pergunta com um brilho diferente no olhar. Como
se fosse, “esperança.” — Assim tudo fica bem mais fácil.
— Como? Se desde que me beijou ontem, ele está me evitando — falo
chateada.
— Primeiro ele não está “te” evitando, e sim tentando não cometer um ato que
ele julga ser pecado e errado da parte dele, por ser padre. — Ela diz sorrindo aberto.
— Eu vou te ajudar, mas terá de fazer tudo do jeitinho que eu mandar, mesmo que
se sinta tentada a fazer diferente, ok?
Olho para ela decidindo se posso confiar, mas o que tenho a perder? Então, ali,
selamos nosso trato.
— Primeiro ele tem que enxergar o que vai perder se insistir em se afastar. O
primeiro passo você já deu sozinha, que foi, fazê-lo desejá-la.
— Pode deixar, serei a aluna perfeita, se isso me der o amor que escolhi para
mim. — Falo cheia de esperanças agora.
Inspirada nos conselhos que a Red me deu, quando cheguei na casa paroquial
onde estou hospedada com meu amor, decidi que ia tomar um banho, ficar muito
cheirosa, e depois fazer um suco bem gelado para acompanhar a pizza que comprei
quando vinha embora.
Ela me disse para comprar um bom vinho, me deu até um nome e uma marca, e
me garantiu que o Gregório ia adorar, mas como não encontrei no mercado, optei
pelo suco mesmo.
Na hora que cheguei não o vi em lugar nenhum, acho que ainda estava na
sacristia, já que virou seu esconderijo, por pouco tempo, penso com uma risadinha
maligna. Vou para cozinha preparar o suco, decidi colocar um short curtinho de
malha fria, e uma blusinha de alcinha, estou descalça com fones no volume máximo
para me distrair, já que ela deixou claro que é para eu fingir que não aconteceu beijo
nenhum, e tratá-lo normalmente como se não estivesse quase derretendo de amores.
— Onde você foi? Vi que não estava quando entrei, fiquei preocupado. — Ele
fala encostado na porta que vai para o corredor dos quartos.
Finjo que só sua voz não me deixa de pernas bambas, e com o coração saindo
pela boca, então suspiro e me viro de frente sorrindo com a jarra de suco na mão.
— Vamos jantar? Comprei pizza de calabresa e de queijo, espero que goste. —
Falo sorrindo e arrumando a mesa para começarmos comer.
Ele se senta ainda me olhando de forma inquisitiva, sei que está estranhando a
mudança em meu comportamento, já que até hoje de manhã eu ainda mostrava ser a
boba apaixonada.
— Você não respondeu minha pergunta, Emma. — Fala servindo-se de um
pedaço de pizza, enquanto me olha intensamente. — Onde você estava? Fiquei
realmente preocupado.
— Preocupado, ou curioso por eu sair sem conhecer ninguém na cidade?
— Preocupado mesmo, meu anjo, não ter você por perto, e não saber onde
você está, não foi uma experiência que desejo repetir.
— Fui somente no mercado, mas não tinha os ingredientes que queria para
fazer o jantar, então me decidi por pizza, e fiquei esperando ficar pronta, o que
demorou um pouco, aí, fiquei conversando com o rapaz que atende na pizzaria, e
depois vim embora.
— Aquele menino bobão, filho dos Bernardi? Acho ele estranho, meio lento
para idade dele.
— Eu o achei super fofo. — Respondo colocando um pedaço de pizza na boca.
Vejo quando ele trava o maxilar, e para de comer, respira fundo, como se
contasse até dez para enfim me responder:
— Por que está fazendo isso Emma? Se está tentando me provocar, saiba que
apesar de ser um padre eu não tenho sangue de barata.
— Por que seria provocação eu fazer amizade e conversar com outros rapazes?
Sou solteira, livre e descomprometida, e já que o homem que escolhi para amar não
me quer, vou encontrar quem possa retribuir meus sentimentos.
Ele se levanta muito rápido, e quando me dou conta já está do meu lado, me
pega no colo e me senta em cima da mesa, se posicionando no meio das minhas
pernas, e, segurando meu rosto com às duas mãos, fala bem próximo, roçando seu
nariz no meu:
— Eu não consigo sequer imaginar outro homem te tocando, chega doer
fisicamente, porque dói aqui — diz colocando minha mão sobre seu peito, no seu
coração.
Posso sentir como está acelerado, bem como o meu, sua respiração está pesada,
o peito subindo e descendo sob minha palma. Limpo a garganta, e tento juntar toda
coragem do mundo, por medo da rejeição, mas, olhando em seus olhos sem desviar
minha atenção, eu me aproximo, juntando nossos lábios em um beijo calmo, passo a
língua no contorno de sua boca, antes de pedir passagem e invadi-la com a minha,
aprofundando, puxando-o pela nuca, me apertando contra seu corpo.
Ele corresponde o beijo com a mesma intensidade, apertando minha cintura,
me puxando para si, possuindo minha boca com sua língua, se apossando
novamente de todos meus sentidos e desejos, beija meu maxilar, descendo para o
pescoço, mas antes deixando uma mordida suave no lóbulo da minha orelha.
Suas mãos percorrem toda lateral do meu corpo, passando pelas minhas coxas,
ele segura minha perna, prensando seu corpo contra o meu. Posso sentir a dureza de
seu membro me cutucando sobre o jeans, roçando minha vagina por cima dos
shorts, e isso está tirando toda consistência do meu corpo e raciocínio da minha
mente.
— Gregório! — Gemo baixo quando ele deixa pequenas mordidas e chupões
em minha clavícula. Me agarro em seus cabelos, buscando sua boca novamente.
Ele para de me beijar, ofegante, colando sua testa na minha, suas mãos ainda
segurando minhas pernas em volta da sua cintura, então diz com a voz rouca de
desejo:
— Não posso Emma, ainda não.
— Você não me quer? Não sente o mesmo que eu? — Pergunto com medo de
ouvir a resposta.
— Você é minha perdição, anjo. Meu céu e meu inferno misturados, pois é
tudo que mais quero. E exatamente tudo o que não posso ter.
Ele me dá, um selinho suave, suspira profundamente, então sai da cozinha, me
deixando sentada na mesa, com o gosto de seus lábios na boca, e seu cheiro grudado
no meu corpo.
CAPÍTULO 16
Estou parecendo um animal enjaulado dentro do quarto, andando de um lado
para o outro, louco para voltar naquela cozinha, pegar minha menina nos braços e
amar cada pedacinho do seu corpo. Estou um caos mentalmente, e emocionalmente
confuso pra caramba.
Decido tomar um banho frio, para acalmar os ânimos, e tentar focar em decidir
o que fazer com todo esse turbilhão de emoções e sentimentos que sinto quando
estou com minha menina, meu anjo.
DIA SEGUINTE, NA FAZENDA
Se dou confiança para Dona Rose, como um boi sozinho, estamos todos na
área da piscina, já que os rapazes decidiram fazer um churrasco, ao invés de almoço.
E pode parecer impressão minha, mas a matriarca da família Duncan está tentando a
todo custo “casar” um dos filhos com a Red.
— Posso estar equivocada senhora Duncan, mas é impressão minha ou a
senhora está destacando as qualidades de seus meninos de propósito? — A Red
comenta rindo, se deliciando com a famosa torta de pêssegos que a senhora faz, mas
que jura que dessa vez foi o Patrick quem cozinhou.
— Culpada! — Dona Rose levanta as mãos se rendendo. — Mas me dê um
desconto, quero mais netos, só que pelo andar da carruagem é bem capaz de ganhar
bisnetos antes.
Nesta hora ela fala olhando como uma ave de rapina para piscina onde as
meninas jogam uma bola gigante dessas de boia, e o Zeca finge tentar pegar.
— Estou quase surtando desde ontem, depois do beijo que eu e minha garota,
demos, e eu simplesmente não consegui “me acalmar” se é que me entendem. E
para colaborar com meu mini infarto, ela hoje me aparece só de biquíni,
comportado, mas é o mesmo que sair de calcinha e sutiã na frente de todos na minha
opinião.
Só não pedi para ela colocar um short e uma blusa, porque sei que não tenho
esse direito, pelo menos, não enquanto ela não for minha, mas minha vontade é de
cobri-la, ou não deixar mais que saia da água. Meus pensamentos quando vejo
alguém olhando para ela, não são nada cristãos.
Só se forem comparados a época da Santa Inquisição, aí, sim, eu seria um
devoto fiel, matando, estripando, ou pelo menos arrancando os olhos de qualquer
um que olhasse para minha Emma.
— Não queria ser o alvo de seus pensamentos agora. — A Red fala rindo e
olhando em direção a piscina também.
— Não entendi! — Respondo, fingindo que não compreendi.
— Sim Padre! Você entendeu. — Fala bebericando sua bebida. — Aliás, está
bem óbvio, você se apaixonou Gregório.
— Eu sou um padre, não me apaixono.
— Você é um homem antes de ser um padre, com um coração batendo no
maldito peito — ela responde com ironia, mas de forma ríspida. — Então, sim!
Você se apaixona.
— Como você conseguiu fazer com que o juiz Solomon te passasse a tutela das
meninas? — O Patrick pergunta quebrando a tensão que estava começando se
formar devido à discussão que estávamos tendo baixinho.
— Oportuno como sempre! — A Red fala com um sorriso azedo para o Path.
— Já te respondi isso umas mil vezes, homem, sossegue.
— Mas nenhuma delas de forma satisfatória. — Ele retruca sentando-se no
banco ao meu lado.
— Você não precisa se satisfazer em nada nesse assunto. As meninas são
minhas agora, os serviços do FBI não são mais necessários. Aceita que dói menos.
E com essa deixa da discussão calorosa dos dois, eu aproveito e saio de
fininho.
Estou recostado em uma árvore com a uma distância curta da piscina,
admirando meu anjo de longe, achando estar sendo discreto, mas acho que devo
estar até babando.
— É complicado né? Querer e não poder. — O Theo fala me passando uma
cerveja, e encostando na mesma árvore olhando as meninas brincarem na água.
— Por que você não poderia? O que te impede? — Pergunto curioso.
— Quinze anos de diferença? — Comenta torcendo o nariz. — Ela ainda é
menor de idade. Está deslumbrada com um mundo que ela não conhecia.
— Você está se ouvindo? — Pergunto incrédulo com a desculpa que ele
arrumou para se manter distante da pequena Isadora.
— Por quê? Não acha que é um obstáculo forte?
— Não! Acho que você está buscando desculpas para não admitir para si
mesmo que está interessado na menina.
— E você Gregório? O que está te impedindo de aceitar o óbvio? Que está
apaixonado pela Emma.
— Dez anos de seminário e um sacerdócio? — Comento como ele fez, com
sarcasmo.
— Mas você não é obrigado a viver como padre para o resto da vida, fez votos,
mas não perpétuos — ele comenta me encarando agora.
E só então percebo que o intuito era me cutucar para entrar no assunto. Que ele
está muito bem resolvido com suas decisões, principalmente a respeito da Dora.
— Não era mais fácil falar direto? — pergunto agora sorrindo de lado.
— Não! Me fazer passar pela sua situação, e te fazer enxergar que quem coloca
empecilhos nas coisas somos nós mesmo, foi mais divertido.
— Idiota! — Brinco tomando minha cerveja.
— Padre pode xingar?
— Paga pra ver! — Digo empurrando seu ombro com o meu.
Enquanto conversamos distraídos, ouvimos o ronco de um avião, desses jatos
particulares, rondando a fazenda. Então a Red vem em nossa direção conversando
com alguém no celular, e direcionando-se ao Theo fala:
— Theodor! Meu irmão está pedindo autorização para poder pousar na sua
pista, já que ele inventou de vir de avião sem se certificar de que teria onde pousar.
— Ela fala, e ouvimos um resmungo alto através do celular.
— Tudo bem! Diga a ele que pode pousar — ele reponde, e se vira para mim.
— Depois conversamos mais meu amigo, vou com a Red buscar o irmão dela.
Entro no quarto e a coloco de pé, preciso vê-la, preciso ter certeza de que
estamos na mesma página, então ela me beija, me puxando para si, como se quisesse
nos fundir em apenas um.
Retribuindo o beijo, invadindo sua boca e explorando cada pedacinho com a
língua, desço as mãos percorrendo seu corpo, e só então percebo que está com um
short curtinho de malha e uma blusa de alças finas, que usa para dormir.
Meu anjo safado, foi até mim com intensão de me provocar, como tem feito
todos esses dias. Só não esperava que hoje eu não a afastaria novamente.
Sigo beijando seu pescoço, descendo para seu ombro, puxando as alças de sua
blusa, com a intenção de despi-la. Paro e olho para seu rosto, esperando que me
pare, mas ela se contorce nos meus braços.
Me sento na cama, trazendo-a para meu colo, encaixando suas pernas de cada
lado da minha cintura, beijando, lambendo e mordendo seu rosto, pescoço, desço a
alça de sua blusinha, desnudando seus seios, que pulam em meu rosto, pequenos,
empinados, com as auréolas rosadas, e o bico chamando pela minha boca. Não
resisto, então encho minha boca com um enquanto aperto, amasso o outro com
volúpia, passo a língua nos bicos, que estão túrgidos, revezando minha atenção de
uma para o outro.
Ela geme alto, totalmente entregue as sensações que minha boca provoca em
seu corpo. Quando dou uma mordidinha no biquinho do seu peito, beliscando o
outro, e assopro de leve, ela aperta os dedos em minha nuca, agarrando meus
cabelos, começa se esfregar em mim, e é angustiante a sensação, pois estou prestes a
explodir, pelo desejo acumulado, a vontade de estar assim com ela.
— Se continuar fazendo isso, eu não vou aguentar Emma. — Digo segurando
sua cintura, para parar seus movimentos involuntários, de puro instinto. — Há mais
de dez anos que fiz votos de castidade, entenda anjo, não quero te frustrar, e nem
“me” frustrar no processo.
Ela para os movimentos, me olha, e então com um sorriso lindo fala:
— Eu nunca estive assim, tão intimamente com ninguém, mas sou bem
curiosa, e já assisti alguns vídeos — olha para os lados para disfarçar como suas
bochechas ficaram rubras.
— Vídeos é? Que tipo de vídeos? — Pergunto curioso.
— Posso te mostrar?
E se ela estava com as bochechas vermelhas, agora parece que todo sangue de
seu corpo foi para seu rosto.
Então, mesmo tímida, ela se levanta, ajoelha na minha frente, entre minhas
pernas, e começa beijar meu pescoço, descendo para meu peito, se afasta um pouco,
ainda ajoelhada, e com suas mãozinhas tenta desafivelar meu cinto.
— Posso te ajudar? — Pergunto beijando e deixando mordidinhas em seu
ombro.
Ela faz que sim, com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Mas agora estou
querendo ver até onde vai sua coragem, e tiro o cinto, mas mantenho a calça
fechada. Minha ereção é visível mesmo pelo jeans, e juro que só de vê-la sentada
assim, em posição submissa, estou quase gozando.
Minha perdição, e um pouco de vergonha acontece no momento que ela abre o
botão e o zíper, pegando meu membro, desajeitada a princípio, mas só de sentir sua
mão se fechar no meu pau, eu não aguento, e no primeiro movimento que faz, eu
gozo em sua mão, jogando meu corpo para trás, apoiado sob os cotovelos.
— Desculpa anjo. Eu disse que não ia conseguir aguentar.
Ela me olha com luxúria, pois apesar de ter vergonhosamente gozado só dela
ter me tocado, ainda estou duro, pronto para ela.
Quando ela se abaixa, ainda segurando meu membro, movimentando a mão
para cima e para baixo, olhando-o gulosa, e percebo o que vai fazer, eu travo, são
muitas emoções para um único dia, minha menina, apesar de pelo que disse, ainda
ser virgem, prestou muita atenção nos vídeos que andou assistindo.
Engulo em seco, pois imaginar sua boca em mim, me faz quase gozar de novo,
feito um adolescente precoce.
Ela me olha com um sorrisinho travesso, me masturbando, acariciando todo o
comprimento do meu pau, então passa a ponta da língua suavemente na cabeça que
está agora com uma baba de pré-sêmen.
— Ele é grande, e bonito — fala corando de novo.
— Achou ele bonito é? Vem aqui, me deixa te sentir também. — Peço me
deitando e fazendo-a subir na cama e montar de quatro em cima de mim, ficando
exposta, com a bocetinha na minha cara, enquanto me chupa.
Não sei dizer quando comecei a desejá-la, mas acredito que desde que a
conheci, mas desde quando a beijei pela primeira vez, que imagino como seria o seu
gosto.
Então tiro seu short bem devagar, desenhando a curva de sua bunda com os
olhos, não quero perder nada. Quando tiro tudo, deixando aquele botão de rosa
exposto para mim, chego a salivar, só de vê-la pingando de tesão.
— Essa é a visão mais perfeita que já tive o prazer de deslumbrar. — Falo
admirando aquela perfeição.
Passo os dedos em sua fenda, abrindo-a para mim, lambuzando ainda mais essa
parte de seu corpo, com sua própria excitação, e me sinto um maldito sortudo por
saber que somente eu tive o prazer de tocá-la e de vê-la assim.
Chupo meus dedos, apreciando o que é agora meu sabor predileto no mundo. E
começo a lambê-la, de cima a baixo, de boca aberta, me esbaldando com a delícia
que é aquele botão de rosa desabrochando na minha boca.
Enfio o dedo em seu canal, alargando-a, enquanto chupo seu clítoris, ela
empina a bunda, apertando meu dedo com suas paredes internas, e sei que vai gozar,
apesar de não me lembrar nem quando foi a última vez que estive com uma mulher,
é instinto, eu só sei que vai gozar. Coloco outro dedo, e com o polegar começo
massagear e brincar com seu ânus, enquanto estímulo seu orgasmo sugando sua
boceta suculenta.
Quando goza, eu não me seguro, e gozo novamente, mas agora em sua boca, e
para meu deleite, ela engole tudo, sem se engasgar, lambendo até a última gota.
Levanto, deitando-a, e me colocando por cima, e não sei se devido ao tempo
que passei apenas satisfazendo as necessidades básicas do meu corpo sozinho, mas
mal gozei, e estou duro de novo. Foi só encostar meu pau em sua boceta, que o
safado acordou na mesma hora.
Eu a beijo, sentindo meu gosto em sua boca, fazendo com ela sinta o sabor do
próprio néctar também, e perdido no beijo, com suas mãos em minha nuca, eu me
encaixo entre suas pernas, devagar, já que meu anjo é virgem, e não quero machucá-
la.
Coloco só a cabeça em sua entrada, testando meu autocontrole, pois se eu achar
que não vou conseguir me segurar, eu paro, e fazemos amor outra hora. Se bem, que
não sei se conseguiria parar agora.
Entro devagar, rasgando-a, tomando posse do que é meu, fazendo-a minha, só
minha, meu amor, minha mulher. A cada centímetro penetrado, cubro seu rosto de
beijos, então desço a mão entre nossos corpos, a fim de estimular seu clítoris, para
que se lubrifique mais, e para que o prazer suplante a dor do momento.
Quando sinto romper sua barreira, ela morde meu ombro, cruza as pernas na
minha cintura e me trava com a pressão de seu corpo.
— Puta merda, isso dói. — Fala cravando as unhas nas minhas costas.
Paro de me mexer, esperando que ela se acostume com minha invasão, e meu
tamanho. Mas estou quase enlouquecendo de tanto tesão, então falo:
— Vai doer só agora, relaxa amor, logo a dor passará, prometo. — Digo
voltando a beijá-la. — Mas preciso me mexer, ou acho que explodirei.
— Pode mexer — diz começando a movimentar o quadril devagar, rebolando
em mim, tentando se adaptar a situação.
Então começo uma dança ritmada em seu interior, entrando e saindo conforme
ela se movimenta, e aumenta a intensidade do nosso beijo. Quando sinto sua boceta
começar a apetar meu pau, me dizendo que vai gozar novamente, acelero os
movimentos, entrando fundo, socando com força. E com um urro de prazer, me
esparramo dentro da minha menina, gozando junto dela, beijando todo seu rosto.
— Eu amo você, Emma! E sou todinho seu.
CAPÍTULO 18
Após passarmos a noite fazendo amor, meu anjo adormeceu em meus braços, e
acabei de descobrir que vê-la dormir, calma e segura, é meu passatempo favorito.
Levanto-me com cuidado para não a acordar, e vou como sempre fazer o nosso
café, hoje decidi sair comprar umas broas, descobri que ela gosta, e quero mimar
meu anjo.
Quando chego a padaria, percebo uma movimentação estranha para o horário,
como se tivessem mais carros que o normal nas ruas. Não sei por que, mas meus
pelos da nuca se arrepiam, como um pressentimento ruim, uma sensação de
incômodo me atinge forte, quase fazendo com que eu desista das broas, e volte
correndo para casa, já que minha Emma ficou dormindo e sozinha.
Após comprar as coisas para nosso dejejum, volto a passos largos para casa,
com a sensação de estar sendo seguido, mal vejo quando, quase derrubo a Red, que
estava correndo, e já cedo falando no celular através de um fone sem fio, bastante
distraída.
— Me desculpe, juro que apesar de estar olhando, não foquei, e me distraí. —
Fala se apoiando em meu braço para não se desequilibrar e cair.
— Está tudo bem, minha querida. Só cuidado para não acabar se acidentando
de forma mais grave que ser atropelada por outro distraído logo pela manhã. —
Respondo brincando para descontrair.
Ela é muito perceptiva, e no momento que comento estar distraído aparece um
vinco de preocupação no meio de sua testa.
— E o que te faria ficar distraído a essa hora?
— Nada de mais, só um cenário diferente do cotidiano. — Digo sorrindo. —
Sou meio paranoico por controle, e quando algo está diferente, mesmo que um
ínfimo detalhe, eu percebo.
— Agora você tem toda minha atenção padre — diz sentando-se no banco que
tem na calçada, e me convidando a sentar-me também.
— Não quero ser rude, mas prefiro que me acompanhe, e te conto mais sobre
minhas paranoias. — Falo convidando-a para ir comigo até a casa paroquial. —
Deixei a Emma dormindo, sozinha, e não estou gostando de umas coisas hoje. E
comprei broas de milho para o café.
— Me ganhou nas broas de milho. — Ela fala brincando, mas percebo que está
preocupada.
Quando chegamos a casa, a Emma está passando o café, com os mesmos trajes
de dormir da noite anterior, me levando a lembranças de nós dois, do gosto de sua
boceta, que ainda posso sentir na ponta da língua.
Disperso meus pensamentos rápido, mas não tão rápido antes de ficar de pau
duro. Sento-me depressa, antes que seja descoberto, e convido a Red a sentar-se
também. A Emma pede licença e corre para o quarto se trocar. Afinal, ela jamais
poderia imaginar que teríamos visita a essa hora.
— Vejo que vocês se entenderam. — A Red fala bebericando o café que
acabou de servir numa xícara.
— Não entendi o que quis dizer. — Falo me servindo de café e um pouco de
leite. — Broa? — Ofereço fingindo realmente não saber o que ela está
mencionando.
— O lobo perde a memória, mas não perde o costume. Fingido. — Ela
resmunga baixinho, mas eu ouço.
— Agora não entendi de fato. Você sempre faz insinuações a respeito, mas
sempre muda de assunto. — Falo colocando a broa no prato. — Sinto que me
esconde algo importante, e acho que tenho o direito de saber.
— Tudo dentro do seu devido tempo, Gregório. — Ela responde depois de uma
pausa, como se pensasse no que dizer.
Neste momento, a Emma entra na cozinha, sorrindo, ainda envergonhada por
ser pega quase pelada fazendo nosso café, afinal aquele conjuntinho de dormir não
deixa nada para imaginação.
Então, sentando-se na cadeira ao meu lado, se serve de um copo de suco de
maçã, desses de caixa, e uma broa.
— O que te tirou da cama tão cedo hoje, Soraya? — A Emma pergunta
chamando a Red pelo nome. Minha menina não há chama mais de Red desde que
ela lhe deu permissão para tratá-la pelo nome de batismo.
— Na verdade, ainda não dormi, aí resolvi correr um pouco, depois tomar um
banho, e ver se com o corpo cansado, conseguiria pegar no sono. — Ela responde.
— Mas voltando ao assunto que iniciamos antes de vir para cá, você disse que me
contaria mais sobre suas paranoias.
— Chamo de paranoias porque desde que cheguei em Vila dos Lobos, nunca vi
a cidade tão movimentada, muito menos logo pela manhã.
— Como assim movimentada?
— Sempre vou buscar pãozinho para o café neste horário, logo que abre a
padaria. E sempre, sem distinção de dias, as ruas estão desertas. — Falo, enquanto
passo manteiga na minha broa. — Mas hoje, além de vários carros que nunca vi por
aqui, havia umas pessoas pelas ruas, como se estivessem caminhando, mas era
nítido que não estavam.
— E, porque você acha que não estavam apenas caminhando, assim como a
Soraya estava correndo? — A Emma pergunta me olhando preocupada.
— Sei lá, talvez pressentimento, ou paranoia como disse. Mas algo estava
muito estranho.
A Red demorou para voltar, apareceu no hospital já era noite, e veio com o
irmão e a Helena, que haviam acabado de chegar, pelo que soube. Fora um exército
de seguranças, mais outra tropa que estava do lado de fora do hospital.
Passaram-se horas sem ninguém falar nada, ninguém saiu do hospital antes de
ter notícias. Minha irmã disse que só saia de perto de mim depois de saber que
estava tudo bem. Então o Theo, a Dona Rose e as meninas ficaram esperando
também, até porque eles também estavam preocupados.
A agonia tomava conta do ambiente, até a Soraya ameaçar entrar lá dentro e
buscar informações por conta própria.
Então o médico saiu e nos deu notícias sobre o estado clínico do meu amor.
— A bala não atingiu nenhum órgão, apesar de passar raspando o coração, a
cirurgia para retirada do projétil foi bem-sucedida, e agora o padre está fora de
perigo. — Ele fala sorrindo, satisfeito com a notícia.
— Claro que ele está sorrindo aliviado. — Minha irmã fala em deboche. — Se
ele perde o paciente, a Soraya mete uma bala no meio da testa dele, igual fez com o
maluco que tentou atirar em você lá na igreja. Fora que o irmão dela parece que vai
matar alguém só com o olhar.
— Dora para de ser maldosa! — A Bela fala, mas rindo baixinho para não ser
repreendida.
— Estou sendo realista.
Eu não sei se rio ou se choro. Pois não sei o que faria se perdesse o amor da
minha vida.
— Quando posso vê-lo doutor? — Pergunto ansiosa. Por mim já entrava lá e
ficava de guarda, velando seu sono.
— Ele está sedado, mas assim que acordar, faremos mais alguns exames e
então ele poderá receber visitas. — O médico responde e sai da sala de espera, nos
deixando em um misto de aliviados e agoniados.
— Você precisa ir para casa, tomar um banho e descansar um pouco, minha
linda. — A Red fala passando as mãos no meu cabelo.
— Não vou! — Falo movimentando a cabeça em negação. — Só saio daqui
quando o Gregório tiver alta também.
— Vou à casa paroquial buscar umas peças de roupa para ela. — Minha irmã
fala para Red, segurando minha mão. — Será que aqui tem onde tomar um banho?
— Nossa mãe também se recusa a sair daqui, vou ver se tem um quarto vago
que possa ser usado para elas se trocarem e descansar. — O Yago comenta saindo
em direção a recepção. — Também quero saber quando será seguro para transferi-lo
para Dallas, pois lá os recursos de atendimento são melhores.
— Depois do ataque, eu mandei que retirassem todas suas coisas e as do
Gregório da casa paroquial. Lá não é mais seguro. — A Red fala, me entregando um
copo de vitamina de mamão.
— Eu não quero, obrigada. — Falo olhando o copo em sua mão e sentindo meu
estomago embrulhar, ainda estou angustiada pelo acontecido.
— Você precisa comer algo, está desde cedo sem pôr nada no estômago. — Ela
fala empurrando o copo na minha mão. — Vai acabar ficando doente.
Me forço a tomar a vitamina, mas está difícil até para engolir.
O Yago volta informando que conseguiu subornar a diretoria do hospital e
arrumar um quarto para que eu e sua mãe pudéssemos tomar um banho e nos trocar.
Então quando o Théo e a Dona Rose avisam que já estão indo, mas que qualquer
coisa é só ligar, que eles vêm na mesma hora, ele pega a mão da Helena que é tão
pequena perto dele que chega perecer uma criança.
— Você vai com eles boneca. — O Yago fala para ela. — Estou mandando
alguns seguranças com você. E assim que resolvermos tudo por aqui vou buscá-la
tudo bem?
— Eu não quero ir, quero ficar aqui com vocês. — Ela fala baixinho.
— Eu sei linda, mas não é um bom momento. Estou de cabeça cheia, assim
que tudo se resolver vou te buscar.
Vejo quando ela o olha, com a mesma adoração que existe em meus olhos
quando olho para meu amor.
Logo após todos irem para fazenda, a Dona Angelita foi para o quarto, após
muita insistência dos filhos, e até que conseguiu dormir um pouco. Eu bem que
tentei, mas não consigo, estou exausta, com o corpo todo dolorido, mas a
necessidade de estar perto do meu amor é maior, e a única coisa que faço é chorar.
Já faz quase uma semana desde o tiro que o Gregório levou durante a missa,
depois que saiu da UTI, após o período de observação pós-cirurgia, ele teve uns
períodos de febre, de delírios, mas agora, segundo o médico, está bem melhor, não
corre mais risco de vida.
Estou sentada na poltrona ao seu lado na cama, arrastei-a até ficar bem
encostada, e estou com a cabeça apoiada no colchão ao seu lado, segurando sua
mão.
Desde que o médico me permitiu entrar no quarto, não tem quem me tire do
lado dele. Só saio do seu lado para tomar um banho e me trocar, mas faço isso aqui
no quarto dele mesmo. Durmo na poltrona que posicionei bem do lado da cama, que
me deixa de frente para ele, olhando-o, admirando sua beleza.
— Se continuar me olhando assim, vou acreditar que nasceu um chifre de
unicórnio no meio da minha testa. — Ele fala com a voz rouca, pela falta de uso, e
um sorrindo lindo, abrindo os olhos devagar.
Levanto-me da poltrona num pulo, quase subindo em cima da cama.
— Você acordou amor! — Digo enchendo seu rosto e sua boca de beijos. — Eu
tive tanto, tanto medo.
— Hei! Estou bem meu anjo. — Fala fazendo carinho na minha cabeça com a
mão que não está ligada ao soro.
— Nunca mais faça isso entendeu? — Digo abraçando seu corpo, deitando a
cabeça em seu ombro.
— Ai! — Ele geme de dor. — Pode deixar meu amor, não pretendo te deixar
sozinha tão cedo — diz me dando um selinho suave. Agora, você poderia chamar a
Soraya e minha mãe por favor?
— Você se lembrou? — Pergunto olhando-o assustada. — Dona angelita me
contou a história do acidente e tudo mais, enquanto você estava apagado.
— Sim! Não sei se tudo que me recordo é real, principalmente alguns
momentos, é muita informação, e estou bem confuso. — Ele fala me dando a mão e
me puxando para perto novamente. — Acho melhor apertar a campainha da
enfermeira, não te quero longe, minha Emma, minha menina, meu amor.
Quando a família dele entrou, regada de muito choro, me afastei um pouco
para lhes dar privacidade.
— Onde, você vai anjo? — Ele pergunta, segurando minha mão apertado.
— Só vou aproveitar que está acordado e bem, e vou caçar algo para comer,
pois agora me deu até fome. — Digo beijando sua mão que está segurando a minha,
como algemas, me prendendo a ele. — Assim também, vocês terão mais
privacidade para conversar — falo olhando para a família dele.
— Me traz um x-burguer. — Pede brincalhão, e estou amando esse Gregório,
ou Juan, não sei como ele vai preferir ser chamado.
CAPÍTULO 21
Tive muitos sonhos estranhos, ou memórias, não sei dizer, e no momento, não
conseguia discernir o que é fato e o que não é, mas quando abri os olhos e vi minha
menina me olhando como se eu fosse um deus encarnado, meu peito se encheu, e a
única certeza que tive neste redemoinho de imagens, e informações na minha mente,
foi dos meus sentimentos por ela.
Minha Emma. Meu amor.
Olho para minha mãe que não para de chorar desde que entrou no quarto. Meus
irmãos. E por Deus estou puto.
Por que o Monsenhor Jeremia não me contou quem eu era? Quem era minha
família. Qual o motivo para me ocultar algo desta importância.
— Blue! — Chamo meu irmão, que está encostado nos pés da cama, sorrindo
como o menino que me lembro, mas as feições de seu rosto estão diferentes. Está
um homem, com a barba bem-feita, rente no rosto, mais velho. Puta que pariu! Eu
perdi mais de uma década da vida das pessoas mais importantes da minha vida.
— Diga Black, estou aqui irmão. — Fala se aproximando, pegando minha mão
que não está parecendo uma peneira de tantas agulhas enfiadas.
— Eu vi quem estava dirigindo o outro carro no dia do meu acidente. — Falo
fazendo com que ele e a Soraya se aproximem mais.
Os olhos de ambos brilham com um desejo assassino.
— Quem foi? — A Red pergunta — sei que agora vou ter que dividir você com
conceitos religiosos, mas essa informação você não vai esconder, e nem impedir que
eu faça tudo, que sonhei em fazer, com o desgraçado que tirou você de nós por mais
de uma década.
— Calma, meu pardalzinho. — Falo brincando com o trocadilho do nome da
organização. — Eu vou contar tudo que me lembro para vocês. Só não quero saber o
que vocês pretendem fazer a respeito — digo torcendo o nariz. — E sim Red, eu
ainda sou um padre.
— Por falar em padre, não sei se você se lembra, mas você anunciou na missa,
antes do bastardo assinar o próprio óbito, que está renunciando. — Minha mãe
comenta, meio que perguntando.
— Sim mãe! Eu me sinto bem com minha fé, nunca vou perder os
ensinamentos que tive no seminário, mas eu me apaixonei. — Digo sorrindo feito
bobo. — E quero criar uma família com minha menina. Mas para isso, não posso
estar preso ao clérigo, pois meus votos não me permitem.
Conversamos por um tempo, mas eu estava agoniado porque a Emma disse que
não ia demorar e já fazia mais de uma hora que ela havia saído.
Quando eu estava prestes a pedir para meu irmão ir buscá-la para mim, ela
entrou como se estivesse fugindo e se escondendo de alguém.
— O que aconteceu amor? — Pergunto tentando me levantar, mas sou
impedido pelas mãos firmes da minha mãe e da Soraya.
— Nada. — Diz com um sorriso sapeca. — É que eu não podia entrar com isso
— fala mostrando dois sacos de papel com a logomarca da padaria neles.
— Não acredito que conseguiu contrabandear isso? — O Yago fala pegando os
sacos da mão dela e xeretando o conteúdo. Só o cheiro deu fome.
— Tira a mão e o focinho, minha mulher trouxe para mim. — Falo tomando os
sacos da mão dele. — Vai comprar para você.
— Ah, nem gosto de X-Burguer, prefiro X-Bacon. — Ele fala sorrindo.
Ficamos conversando neste clima descontraído por um bom tempo, enquanto a
Soraya comia meu X-Burguer e minha broa de milho.
Quando todos saíram, minha menina ficou aqui comigo, seus olhos brilhavam e
aquele sorriso lindo, que eu tanto amo, não se desprendia de seus lábios.
— Você vai dormir aí? — Pergunto quando a vejo se acomodar com uma
colcha e um kindle na poltrona ao lado da cama.
— Claro, não saio daqui nem que me arrastem pelos cabelos. — Ela diz em
tom de brincadeira. Mas só de imaginar alguém tendo a audácia de tocá-la desta
forma, eu sinto um gosto amargo na boca, e o rosto esquentar de ódio. — Que foi?
Por que essa cara?
— Não gostei de imaginar alguém te tocando assim, te ferindo.
— Não foi literal, seu bobo. O único que deixo me pegar pelos cabelos e puxar
é você. E não falo desse jeito grosseiro. — Ela diz lambendo o lóbulo da minha
orelha.
— Isso não é justo! — Reclamo gemendo baixo, sentindo meu pau ficar duro
na mesma hora.
É lógico que ela percebe, estou só de cueca por baixo dos lençóis que me
cobrem. O que deixa evidente minha excitação. Bom, pelo menos não estou com
aquelas camisolas de hospital que deixam a gente com a bunda de fora.
— Se não estivesse dodói, eu poderia te ajudar com isso. — Diz passando a
mãos de leve por cima do meu comprimento, alisando devagar.
— Eu não levei um tiro no pau. — Falo com sorrisinho sacana, imaginando a
boca deliciosa dela em volta de mim.
— Sossega Gregório. Teremos muito tempo para brincar quando você sair
daqui. — Diz sorrindo toda malvada. — Por falar nisso, como prefere ser chamado
amor? — Ela pergunta com os dedos no queixo como se estivesse pensando. — De
Gregório ou de Juan?
— Por você? Somente de amor. Mas, em geral, prefiro Juan, meu nome de
batismo, ou Black, meu apelido de berço.
— Já vi a Red chamando o Yago de Blue. — Ela comenta curiosa. — Por que
cores?
— Red Sparrow, Black Sparrow e Blue Sparrow. Assim que somos conhecidos
por todos, desde crianças. — Respondo beijando a ponta de seus dedos, distraído.
— The Sparrow’s é o nome de nossa Organização.
— O nome “Os Pardais” surgiu por vocês? — Ela pergunta interessada e
curiosa. — E por que você é o Pardal Negro?
— Não me lembro de onde que surgiram as cores, e muito menos porque,
sobrou o negro para mim — falo fazendo careta, tentando lembrar. — Acho que foi
aleatório, porque me chamam de Black desde que me conheço por gente.
Ficamos um bom tempo conversando, até a enfermeira nos atrapalhar, me
aplicando, analgésicos no soro, e me fazendo apagar.
— Dorme aqui comigo. — Falo sonolento, dando a mão para minha menina vir
se deitar ao meu lado. E só depois que sinto seu corpo se aninhando ao meu, que
deixo a inconsciência me levar.
Esses dias internado eu fiquei muito estragado, minha mãe veio diariamente me
visitar, minha Emma estava literalmente internada comigo, pois não saiu de perto de
mim para nada. Até no banho era ela quem me ajudava.
Ela deixou bem claro que meu corpo nu, e minha bunda pelada, eram só para
seus olhos gulosos. E eu adorei saber que meu amorzinho era ciumenta, se bem que
eu era suspeito, porque odiava quando era enfermeiro do sexo masculino que vinha
trocar meu curativo, e ficavam puxando assunto com ela. Já expulsei dois daqui por
isso.
Eu também descobri que a população da cidade não estava ressentida por eu
renunciar ao posto de padre da paróquia local. Segundo minha cunhadinha, ela e a
Bela, usando a ideia da Helena, criaram até um grupo de oração para minha
recuperação, chamado #Gremma, e que a maioria “senão todos” habitantes da
cidade entraram. E que elas fanficaram minha história de amor, e que era assim que
todos viam, um amor proibido com um final feliz.
Lógico que meus irmãos debruçaram de rir quando descobriram sobre o
#Gremma, onde a Dora e a Bela mantinham a população informada sobre minha
recuperação, e sobre quando será o casamento.
Até perguntei o que isso tinha a ver com um grupo de recuperação, já que toda
vez que elas comentam de algo dito lá, elas riem, mas parece grupo de fofocas, isso
sim.
Recebi a visita de alguns, presentes de outros, mas meu maior presente foi
depois de quase um mês internado, o médico entrar no quarto e dizer que eu estava
liberado, que podia voltar para casa.
— Faz um bom tempo que não venho para Itália. — Meu irmão comenta
quando descemos do carro em frente ao Tribunal Diocesano. — E para ser sincero,
no Vaticano eu nunca vim.
— Não vamos demorar muito por aqui. Só vou assinar a carta de desligamento,
e depois aguardar a dispensa que será emitida, e enviada pelo correio. Acredito que
hoje em dia, por e-mail. — Falo enquanto entramos no local.
— E depois que receber esse certificado poderá se casar com sua menina?
— Sim! Não vejo a hora de poder chamá-la de minha esposa.
— Fico feliz por você encontrar alguém especial, meu irmão.
— Você também encontrou. Acha que não percebi o carinho e o cuidado que
tem com a Helena? — Falo sorrindo da careta que ele faz.
— Ela só tem quinze anos. Não fala besteira. — Ele diz áspero. — A vejo
como uma irmãzinha que precisa da minha proteção, só isso.
— Aham! Continua dizendo isso até ela fazer dezoito. Quem sabe até lá você
se convence. — Digo rindo da cara azeda que ele está agora.
Fiz tudo que me foi mandado fazer para meu desligamento da diocese.
Inclusive a solicitação de um novo pároco para Vila dos Lobos.
Então quando terminei tudo que tinha de ser feito, e me foi dito somente para
aguardar o certificado dispensa e então eu poderia voltar a ser um homem comum.
Eu e meu irmão voamos para Monistrol.
Tínhamos assuntos pendentes por lá para serem resolvidos.
CAPÍTULO 23
— Não estou me sentindo bem hoje, Dora. — Falo cobrindo a cabeça, quando
ela entra no meu quarto abrindo as cortinas.
— Pode parar, já são quase dez horas, e para quem sempre se levanta antes das
sete todos os dias, você está me assustando. — Fala subindo na cama para me
descobrir. — Cruzes Emma. Você está horrível!
— Eu falei que não estou bem. — Digo sentindo o teto girar quando tento me
sentar.
— Vou chamar a Dona Angelita, ela entende mais dessas coisas.
— Não precisa, logo passa. Deve ter sido algo que comi, e não me fez bem.
— A Dona Angelita pediu para trazer seu café Emma. — A Helena fala
enquanto entra empurrando um carrinho.
— Não abre! — Peço já pulando da cama quando ela ameaça tirar a tampa da
bandeja do meu café. E só o cheiro dos ovos com bacon quase me faz vomitar ali
mesmo.
Corro para o banheiro da suíte que tem no quarto, e vomito até o rim, na força
da expressão. Quando saio, a Dona Angelita está sentada na beira da minha cama,
enquanto a Dora está com a Helena na poltrona do estofado que tem no canto.
— As meninas disseram que você não está bem, querida. O que está sentindo?
— Ela pergunta me estendendo as mãos para que eu volte para cama.
— Só estou enjoada, já tem uns três dias, mas hoje parece que atingi o limite. E
um pouco zonza, acho que devido ao esforço para vomitar e não sair nada. —
Respondo já com ânsia só de pensar em vomitar.
— Meu anjo, quando foi sua última menstruação? — Ela pergunta com as
sobrancelhas levantadas.
Minha irmã me olha espantada na mesma hora. Só não mais que eu, que acabei
de me dar conta que desde que cheguei na cidade só menstruei uma vez. Isso a uns
quatro meses já.
— Será? — A Dora fala com um sorriso radiante.
— Será o quê? — A Helena pergunta, perdida na conversa.
— Eu vou ser titia! — Minha irmã grita se jogando na cama e me abraçando.
Dona Angelita está visivelmente emocionada, afinal, além de ganhar seu filho
de volta, ainda veio de brinde o primeiro neto.
— Levante, querida. Vamos ao hospital fazer um exame de sangue, e confirmar
que meu neto ou neta está a caminho. — Ela fala indo em direção a porta. — E ligue
para o meu filho após confirmarmos, mas não conte sobre a gravidez. Só diga que
está passando mal, e que precisa dele aqui.
— Ele deve estar ocupado, Dona Angelita. Não quero atrapalhar. — Falo
sentindo meu peito sufocar de emoção e felicidade, de imaginar que posso estar
grávida, esperando um filho do amor da minha vida.
Quando saio do hospital, com o resultado do exame, cujo qual, a minha sogra
exigiu que ficasse pronto no mesmo dia, estou radiando felicidade por todos os
poros. Ainda não abri, mais em meu coração eu sinto que deu positivo.
Estou sendo mais que paparicada, isso porque ainda nem confirmei, minha
irmã está toda boba com o afilhado ou afilhada.
— Sabe que sou a madrinha né? Problema do Juan se tiver outros planos. —
Ela diz se empanturrando em uma taça de sorvete. — Ele que faça outro filho em
você depois. E se reclamar muito, o outro é meu também.
— Nada disso, se ele fizer outro filho na Emma, será meu e do Yago. Não seja
gulosa. — A Helena se manifesta, fazendo tanto eu, quanto minha irmã e até minha
sogra, olharmos para ela chocadas.
Quando se dá conta do que disse, ela fica com as bochechas tão vermelhas que
parece que levou uns tapas.
— Eu sabia! — Minha irmã diz dando um soco no ar. — Que história linda,
você se apaixonou à primeira vista pelo seu herói.
— Eu nunca saí do colégio, que também era um convento. — Diz cutucando o
chantilly do seu sorvete na taça. — Mas eu sinto aqui, que é, ao lado dele que tenho
que ficar. — Fala com a mão no peito, em cima do coração. — Me sinto completa
quando ele está perto, e vazia quando ele está longe.
— Sei como é, me sinto da mesma forma com o Juan. — Comento entendendo
suas palavras. E vejo minha irmã desviar o olhar pensativo para outro lado.
— Você ainda é muito novinha e pura em todos os sentidos. — Minha sogra
fala segurando a mão dela. — Mas se quando tiver idade para amar um homem
como eu amei meu marido, e a Emma ama meu Juan, você ainda se sentir assim em
relação ao meu Yago, eu serei a primeira a apoiar essa relação.
— Obrigada! Isso é muito importante para mim. — A Helena responde quase
chorando.
Depois disso todas sorrimos e continuamos falando de roupinhas e compras.
— O dia foi maravilhoso amor, só não foi mais perfeito porque você não está
aqui. — Digo para meu Juan, e em seguida pauso.
Não quero contar por telefone sobre a gravidez, mas também não quero que ele
deixe tudo que está resolvendo e venha correndo para casa. Porque se ele não
terminar o que tem para fazer, terá de voltar depois, e não quero me afastar de novo.
Então, aguento mais um pouco, para tê-lo só para mim.
— As coisas por aqui não saíram bem como planejei, ou seja. Rápido. — Ele
fala frustrado. — Mas assim que tudo estiver resolvido, pelo menos a minha parte,
eu volto correndo para você, meu amor.
— Acho bom! Tenho várias novidades para te contar, e estou morta de
saudade. — Falo com voz manhosa. — T'estimo molt amor meu.[27]
— Aprendeu Catalão, minha vida? Quando eu chegar, quero que repita isso
muitas vezes enquanto eu estiver dentro de você. — Ele fala com a voz rouca de
desejo.
— Sua mãe está ensinando a mim e a Helena algumas palavras. E pedi para ela
me ensinar essa, e outra, hoje, para poder te dizer. Mas a outra, só digo falo quando
você chegar. — Digo manhosa, sabendo que com isso o deixei curioso.
— Isso não é justo. — Responde com um gemido frustrado. — Fala agora
amor, por favor! Não vou conseguir dormir desse jeito.
— Então vem logo para casa, mas agora tenho que desligar. Deixei a banheira
enchendo e quero relaxar pensando em você aqui comigo.
— Agora você passou do limite da maldade. — Ele fala com um suspiro. —
Acho que amanhã fechamos os pontos que falta e poderemos voltar para vocês. Et
trobo a faltar! [28]
— O que significa? — Pergunto curiosa.
— Quando chegar te conto. — Responde vingativo.
— Maldoso! — Falo rindo, e desligamos.
Entro na banheira, e deixo meu corpo relaxar. Então, passando a mão na minha
barriga, dou um sorriso.
— Como não percebi que você estava aí, meu pardalzinho? — Falo alisando
meu ventre ainda pequeno, mas dá para perceber uma leve saliência que antes eu
não tinha.
CAPÍTULO 24
Eu achei que resolver as questões da Organização fosse ser mais simples. Mas
como eu estava enganado.
Desde que recuperei minhas lembranças, e contei para meus irmãos quem
estava dirigindo o carro que causou meu acidente, eu não perguntei mais o que eles
iriam fazer.
Como padre, eu não poderia permitir que alguém se machucasse por minha
causa. Mas como o Black Sparrow, eu queria que o infeliz fosse devidamente
punido. Na verdade, desde que acordei no hospital, após o atentado na igreja, a
única certeza que tenho é do amor incondicional que sinto pela Emma.
E é pensando nela e nos planos que tenho para nós dois, que estou aqui,
sentado nesta poltrona, olhando para vários rostos que a muito eu não via. Alguns
amigos, outros nem tanto.
A sala de reuniões da mansão Sparrow está lotada, todos os membros do
conselho de anciãos, membros de suma importância para o fluxo de nossos
negócios. Só estamos esperando a chegada da Red, para começarmos a finalizar os
motivos de estarmos aqui.
— É um milagre sua história, meu amigo — Um dos homens do conselho de
nossa organização fala com a mão no meu ombro.
— Sim é, mas uma coisa que não perdi em todo esse tempo, e esse milagre não
afetou, foi a aversão ao toque. — Respondo olhando para sua mão.
Ele à tira rápido, sem graça pela ousadia.
Eu e meus irmãos, somos um pouco exagerados e excêntricos, e sempre em
reuniões de suma importância, nós nos vestíamos segundo as cores de nossos
apelidos.
Começamos essa brincadeira, “esse trocadilho” entre nós três, ainda
adolescentes. A diferença, é que na época, a Red usava vestidos, e hoje, ela está em
um belíssimo terno de corte feminino, toda de vermelho, mudando somente as
tonalidades do terno para camisa e sapatos. Enquanto eu estou de negro, do terno a
camisa e a gravata, já o Blue, está como a Red, variando as tonalidades de azul,
entre o Terno que é marinho escuro, a camisa e a gravata que são azuis, anil, mas os
sapatos são pretos trabalhados com branco.
Ele sempre foi o mais vaidoso e estiloso entre nós, adorava lançar moda.
— Já que, pelo visto, todos que interessam estão presentes, vamos dar início a
nossa reunião. — Meu irmão fala alto, chamando a atenção para si. — Como todos
aqui bem sabem, a mais de uma década meu irmão, nosso Black Sparrow foi dado
como morto, devido a um grave acidente que sofreu.
Todos começam a murmurar entre si, suas teorias.
Como eu e a Red estamos sentados, um de cada lado dele, na cabeceira da
mesa, podemos ver, que ele se recosta na poltrona, dando uma pausa, olhando cada
um, demorando uns poucos segundos no homem que causou o acidente.
— Como eu dizia antes de ser interrompido. A poucos meses a Red
reencontrou nosso irmão bem vivo na América, porém sem lembrança nenhuma de
seu passado. — Ele prossegue falando, e todos automaticamente se calam.
Olho em volta enojado com os semblantes falsos, com os olhares invejosos e
até de ódio que vejo em seus rostos, todos direcionados a nós três, principalmente ao
Blue. Que é o atual Dom.
Noto que os seguranças da Red e os homens de confiança do Blue trancam as
portas da sala, e recostam nelas, como uma muralha de proteção. Volto minha
atenção ao Blue quando ele fala:
— O que não lhes foi comunicado, é que a pouco mais de um mês, meu irmão
recobrou totalmente a memória. — Diz olhando cada rosto presente.
A Red está batendo as unhas no tampo da mesa, sem olhar para ninguém, mas
posso sentir a tensão em cada músculo de seu corpo.
— Isso é uma boa notícia. — Um dos gerentes que cuida dos negócios no norte
da Itália fala.
— Você se lembra quem foi o futuro defunto que tentou te matar? — O Senhor
Malaquias, um dos anciãos pergunta, com os punhos fechados.
— Na verdade, essa questão não está em pauta na reunião de hoje, e sim, o
fato, de que depois de mais de uma década, afastado, eu construí outros conceitos, e
a vida de violência e matança que envolve no dia a dia da Máfia não me cabe mais.
— Falo respondendo a todos em geral. — Estou aqui hoje, pois a quase treze anos,
era para eu ter ascendido ao cargo de Dom, sucedendo o lugar do meu pai.
— E vai tomar posse do cargo agora? Já que é seu por direito? — O Pablo,
Consigliere do meu irmão e antigo amigo, desde infância, pergunta.
— Justamente o contrário. Vim comunicar a todos, que meu retorno a vida, não
afetara em nada o progresso, e a rotina dos negócios da organização. E que meu
irmão continuará sendo, e sempre será, o Dom da Máfia Sparrow's — Respondo e
todos murmuram em concordância.
— Mesmo sendo seu direito, por linhagem de sangue se tornar o Dom? — Ele
insiste na pergunta.
Vejo quando a Red olha para meu irmão, pedindo permissão, e ele concede
com um leve aceno de cabeça.
— Sabe Pablo, desde adolescente você consegue ser inoportuno. Sempre te
achei um palerma arrogante. — Minha irmã fala, levantando-se, andando feito uma
serpente, pronta para dar o bote, circulando a mesa até chegar por trás da cadeira em
que ele está sentado. — Imagina minha surpresa quando descobri que aquele garoto
ranheta que achava que iria se casar comigo, teve a audácia de tentar matar meu
irmão, e ainda conseguiu conquistar a confiança do atual Dom e se tornar seu
Conselheiro.
— Sinal de que não sou tão palerma como você pensa, não acha? — Ele
pergunta engolindo em seco, pois sabe o que vai lhe acontecer.
Quando ela para logo atrás dele, com as mãos em seus ombros, segurando um
colar de contas em fio de níquel, eu peço licença para meu irmão, levanto-me, e me
retiro da sala. Não faz parte de quem me tornei, presenciar atos de barbárie como os
cometidos nas Máfias, e ficar indiferente.
Mal chego até a porta, quando ouço o gorgolejar estrangulado. E mesmo sem
olhar, sei que a Red cortou a garganta dele.
É desta forma que ela age. Apertando as traqueias com um fio de níquel até
atingir o degolamento. O que leva segundos, dependendo da força empreendida.
Pauso, respiro fundo, e saio.
Desde que dei entrada no hospital, meu Juan não saiu do meu lado. Eu sabia
que assim como eu, ele também estava ansioso para conhecer o rostinho da nossa
filha, mesmo que para isso, nossa pestinha estivesse querendo me rasgar ao meio.
— Vou chamar a enfermeira — ele me avisa, aflito com meus gemidos e
resmungos de dor. — Não aguento mais te ver sofrendo assim meu anjo.
Falando isso, me deu um beijo na testa e saiu do quarto num rompante.
Voltei a me encolher na maca, sentindo novas contrações. De repente, um
líquido quente escapou por entre minhas pernas, cheguei pensar que tinha urinado,
pois a dor era tanta que acredito não estar em total controle do meu corpo; nesse
momento, o Juan voltou com uma das enfermeiras, que se apressou para me
examinar.
— O-o que é isso? — perguntei, assustada. — Senti algo quente, mas não estou
com vontade de fazer xixi.
— Foi sua bolsa que terminou de romper, querida — a enfermeira avisou,
pedindo licença para me tocar lá embaixo. Fiz uma careta, porque além da timidez
que me constrangia, esse simples toque era bastante dolorido. — E você já está com
dez dedos de dilatação. Sua filha quer nascer. — Sorriu.
Meu Juan veio para meu lado, buscando minha mão. Seus olhos me diziam que
ele estava assustado, embora, ansioso.
Nos próximos minutos, que pareceram horas, fui levada para a sala de parto,
onde o médico já me aguardava. O Juan fez questão de me acompanhar, mesmo eu
alegando que não precisava.
— Quero ver quem vai conseguir me afastar de vocês duas. — Ele diz beijando
minha mão que estava segurando.
Após longos minutos de muita dor, mas muita dor mesmo, suor e lágrimas, o
som agudo do choro da nossa filha inundou o ambiente, fazendo meu coração — já
acelerado — querer sair pela boca de pura emoção e felicidade.
Eu chorava e ria ao mesmo tempo.
Meu amor se colocou ao lado do médico, que perguntou se ele queria cortar o
cordão umbilical. Ele olhou assustado para o doutor, mas aceitou. Segundos depois,
o amor da minha vida, meu homem, pegou nossa menina nos braços e voltou para
mim, deitando nossa chorona em meu peito.
— Nosso anjinho é a coisinha mais linda que já vi — soprou ele, com os olhos
cheios de lágrimas. — Linda como a mãe.
Eu mal estava conseguindo enxergar devido às lágrimas que se acumularam em
meus olhos.
— Sim, ela é — murmurei com a voz embargada. — Linda e nossa. — Abracei
a pequena. — Nossa filha, fruto do nosso amor, Juan.
Ele se inclinou, abraçando a nós duas. Senti o toque de seus lábios em minha
testa, seguido por um beijo no rosto da nossa filha.
— Obrigado — disse chorando emocionado. — Obrigado por me fazer o
homem mais feliz do mundo.
EPÍLOGO
DEZ MESES DEPOIS
Demorou, mas enfim chegou. Olho para o envelope com o brasão do Vaticano
na minha mão. Meu certificado de dispensa.
Com ele em mãos, fico livre para me casar com minha menina. Para realizar
nosso sonho, ou melhor. Para concretizar nosso sonho, porque indiretamente já
somos casados.
Temos uma boa casa, uma filha linda, estamos tentando arduamente fazer um
irmãozinho para nossa Helô. Trabalho com a parte burocrática, e financeira da
organização. Afinal, como ex padre, eu não serviria para fazer parte da rotina de
ação que tem nesse meio, mas trabalhando com números, ninguém pode me acusar
de desertar, e ganho dinheiro suficiente para proporcionar uma vida confortável e
até luxuosa para minha família.
— Posso entrar? — O Theo pergunta parando na porta do escritório da minha
casa, que uso como local de trabalho.
— Claro! — A que devo a honra da visita? — Pergunto debochado, pois sei
muito bem o que ele veio conversar comigo.
— Você sabe que eu gosto da Isadora.
— E quem não sabe?
— Eu queria sua permissão para levá-la no circuito de rodeio que vai ter mês
que vem — ele pede, com ares de que está só me informando que ela vai.
— Por que eu acho que ela está de malas prontas? — Pergunto rindo.
— Porque você conhece sua cunhada — responde rindo também. — Mas achei
que seria melhor pedir, e até mesmo porque não estou disposto a levar os seguranças
dela junto.
— Se você quebrar o coração dela, eu quebro sua cara. — Falo apontando o
lápis em sua direção.
— Você era padre, tem que ser contra violência.
— E sou, mais quando se trata da minha família, eu abro algumas exceções. —
Falo encostando na cadeira.
Depois de um bom tempo conversando, não somente sobre ele levar nossa
Dora em uma viagem, mas também sobre negócios. Ele sai combinando de vir
buscá-la no final de semana.
— Isso é o que estou pensando? — Minha Emma fala entrando com nossa
anjinha no colo, e olhando o envelope em cima da escrivaninha.
— Sim! Finalmente chegou. — Respondo me levantando, e pegando nossa
filha, para dar um descanso para seus braços.
— Sabe que para mim, o mais importante, foi que você me escolheu. Que está
aqui comigo, e me deu meu maior presente, o nosso pequeno milagre. — Ela diz me
abraçando, e beijando a cabecinha de nossa pequena.
— Mas eu quero me casar com você, quero que você tenha tudo e muito mais.
Quero você caminhando na nave da igreja até mim, mas como minha noiva. — Falo
beijando seus lábios num selinho casto, e coloco minha filha adormecida no cesto
acolchoado, que foi todo arrumado no meu escritório, para que eu possa cuidar dela
quando minha mulher precisa de um tempo para descansar.
— E nós vamos nos casar meu amor, eu também quero ser sua esposa no papel.
Porque aqui — diz com a mão no coração. — Eu sou tua até na alma.
— Como pode a cada dia eu te amar mais e mais? — Pergunto puxando para
meus braços. Beijando seu rosto, seu pescoço, buscando sua boca.
— Porque é recíproco. Porque eu te amo hoje, e vou te amar para sempre. —
Responde me puxando pela camisa, e andando de costas e me beijando, indo em
direção ao sofá um pouco a frente.
E como sempre acontece quando ela me beija e sinto suas mãos em meu corpo,
pegamos fogo. É quase uma combustão instantânea. Pego-a no colo, cruzando suas
pernas em minha cintura, e levo-a até o estofado, me sentando com ela ainda
encaixada em mim.
Ela começa se esfregar em cima do meu pau, por cima do jeans, gemendo
necessitada. Nem se dá ao trabalho de desabotoar minha camisa, simplesmente puxa
fazendo os botões voarem.
— Quero comer você sentada no meu pau anjo — digo lambendo o lóbulo de
sua orelha, apertando sua bunda, enquanto ela ainda se esfrega em mim com
sofreguidão.
— Se me quer cavalgando você, tem que aproveitar agora, porque daqui a uns
meses não acredito que eu vá conseguir. — Fala abrindo meu zíper, tirando meu pau
e me masturbando gostoso.
— Você está querendo dizer que estamos grávidos outra vez? — Pergunto
olhando-a nos olhos. E pelo seu sorriso é exatamente isso. — Eu vou ser pai de
novo?
— Sim. Fiz o teste hoje e deu positivo. — Fala com o sorriso mais lindo do
meu mundo.
E quando eu penso que esta mulher não pode me deixar mais feliz, ela
consegue me surpreender.
Depois dessa notícia maravilhosa, fizemos um amor calmo e gostoso, e agora
estamos deitados no sofá, daqueles reclináveis, que viram uma cama praticamente, e
enquanto ela dorme nos meus braços penso em tudo que vivemos para chegarmos
até aqui. Em como nossa história foi perfeita desde o início.
E principalmente. Em como eu amei essa menina desde o primeiro dia que a vi,
e como amo cada respiração dela, e sempre vou amar.
FIM
LAUREM E GUILHERME
Eu não sabia o que esperar depois de três anos sem vê-la. Ela disse que estava
apaixonada por mim no seu aniversário de quinze anos.
Mas puta que pariu, ela só tinha quinze anos.
E nunca, nem em sonho iria me aproximar dela romanticamente, até tentei
outros relacionamentos, mas a única coisa boa que saiu dessas tentativas
catastróficas, foi minha filha.
Agora estou aqui, com minha menina no colo, esperando a Lauren chegar.
Ansioso, e com saudade.
Da última vez que a vi, foi quando o bebê da Nat nasceu, mas foi tão rápido,
que mal tive tempo de falar oi.
Fiquei só na vontade de conversar com ela, saber como estava. Sondar se ainda
pensava em mim, ou se havia me esquecido.
Quando ela chega, com o irmão e a esposa dele, nada me prepara para a mulher
que surge em meu campo de visão. Não restou nada da menina que me lembro,
tirando o sorriso e o olhar.
— Pelo menos disfarça a baba. — O Felipe comenta.
— Cala a boca. — Falo realmente quase babando no mulherão que vejo.
E quando ela vem em minha direção, olhando de mim para minha filha com
curiosidade, sinto que eu tô muito ferrado.
Pois pareço aqueles desenhos que saem corações dos olhos do personagem,
quando vê a gatinha, ou como no meu caso, passarinha.
“Minha passarinha”
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[1]
Irmã em espanhol
[2]
Apelido carinhoso para Soraya.
[3]
Máfia fictícia criada para o livro.
[4]
Pardal Vermelho, Preto e Azul.
[5]
Soraya
[6]
Soraya
[7]
Yago
[8]
O Mosteiro de Montserrat, localizado no Monte Serreado, no município de Monistrol de Montserrat, na
província de Barcelona, na Catalunha, na Espanha, é um mosteiro beneditino que abriga a famosa imagem de
Nossa Senhora do Monte Serreado, a padroeira da Catalunha. É um dos cinco santuários marianos.
[9]
Guardem bem esse nome, será a sede da história de um próximo livro
[10]
Soraya
[11]
O clérgima, ou colarinho clerical, é uma gola branca que envolve o pescoço e é geralmente fechada na
parte de trás, formando um quadrado na frente.
[12]
Cidade fictícia criada para história.
[13]
Soraya, irmã biológica do Padre Gregório
[14]
Atentem a esse nome, pode ser que venha novas histórias.
[15]
A paelha, é um prato à base de arroz, típico da gastronomia valenciana — daí que em Portugal seja
comumente conhecido como arroz à valenciana e no Brasil como paelha valenciana — e popularizado por toda a
Espanha e noutros países, convertendo-se numa referência da gastronomia espanhola.
[16]
fazer descer ou descer de montaria, ou veículo; desmontar(-se).
[17]
Sumidouro é o ponto em que um curso d'água penetra no solo. Trata-se de uma abertura natural que se
comunica com uma rede de galerias e através da qual o curso de água adentra o subsolo.
[18]
Malditos monges.
[19]
Maldito em espanhol Catalão.
[20]
Chapéu de cowboy
[21]
Para minha mãe
[22]
cuidado extremo em qualquer tarefa, trabalho, serviço etc.
[23]
Arma tática tipo pistola, leve, segura e com boa precisão, fabricada parte em polímero (frame), parte
em aço carbono com acabamento teniferizado (cano, ferrolho e outras peças pequenas).
[24]
mover-se (em órbita ou para determinado ponto) sob efeito da gravitação.
[25]
são uma corrente de metal, formada por anéis, em forma de cadeado. Grilhões também pode ser um
cordão de ouro, ou algemas, de mãos ou de pés. Outro significado para grilhões é o de cadeia; prisão.
[26]
A ressuscitação cardiopulmonar, ou RCP, é o conjunto de medidas emergenciais que possibilitam o
salvamento de um paciente que esteja enfrentando um quadro de falência cardiovascular e/ou respiratória.
[27]
Eu te amo muito meu amor
[28]
Estou com saudade
[29]
Você vai ser pai meu amor
Table of Contents
SINOPSE
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
AVISO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
EPÍLOGO
PRÓXIMO LANÇAMENTO
LAUREM E GUILHERME