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ELBEN M.

LENZ CÉSAR

PRÁTICAS
DEVOCIONAIS
3 ª reimpressão

Ultimato
EDITORA
1999
rnDICf
Introdução 5
1. Prática da Leitura da Bíblia 9
2. Prática da Oração 15
3. Prática do Desabafo 25
4. Prática da Confissão 31
5. Prática da Restauração 41
6. Prática da Humildade 49
7. Prática da Introspecção 57
Copyright © 1993 by Elben Magalhães Lenz César
8. Prática da V igilância 65
Publicado com autorização e com todos os direitos reservados
9. Prática do Discernimento 69
EDJTORA ÜLTIJ'v1ATO LTDA. 10. Prática do Equilíbrio 73
Caixa Postal 43
36570-000 Viçosa MG 11. Prática da Espera 77
Telefone: (031) 891-3149 - Fax: (031) 891-1557
E-mail: ultimato@homenet.com.br
12. Prática da Descomplexação 83
13. Prática da Confiança 89
14. Prática da Ousadia 95
Projeto Gráfico: l;cJitora Ultimato 15. Prática da Resistência 101
1' Edição: 1993
2 ª Edição (ampliada): 1994 16. Prática do Poder 107
Capa: Fotografia do 1•itral da Igreja de Si. Laurentius, em Niederkalhach (Alemanha)
17. Prática da Vontade 113
18. Prática da Alegria 117
rn1QODílÇAO
N

As práticas devocionais são exercícios de sobrevivência


e de plenitude espiritual. No critério de Paulo, a prática de
conservar-se espiritualmente apto" é muito mais importan­
te que o exercício corporal, e é um revigorante para tudo o
que você faz" (1 Tm 4.8 em A Bíblia Viva). As práticas
devocionais abarcam todos os exercícios que produzem,
aperfeiçoam e sustentam a perfeita comunhão do pecador
salvo e redimido por Jesus Cristo com o próprio Deus. Elas
acabam com a distância que há entre Deus e o homem e
levam o crente ao ponto máximo da cmnunhão, tornando-o
amigo de Deus (2 Cr 20.7, Jo 15.14-15). Graças a esta perfeita
e contínua ligação com Cristo, o cabeça da Igreja (Ef 5.23),
o corpo, "suprido e bem vinculado por suas juntas e liga­
mentos, cresce o crescimento que procede de Deus" (Cl
2.19).
As práticas devocionais demandam trabalho, esforço e
tempo. Assim como a criança sua para sorver o leite mater­
no e o seio produz o leite na medida em que é sugado, o
crenh� não pode ser leviano na busca de Deus. Assim como
as plantas que vivem mais de um ano no deserto do Saara
são obrigadas a ter raízes muito compridas para colher a
umidade nas profundezas do subsolo, o crente precisa se
adaptar até descobrir e explorar os veios cheios de água
viva para se manter vivo e vigoroso.

Junto às águas

É quase exaustivo ler todos os textos bíbhcos que men­


cionam a expressão junto às águas. Mas vale a pena! Este
Práticas Dcvocionais - 7
6 - Introdução
o e
e as suas r aízes para o ribeir
junto às águas, que estend de;
é o segredo da_ folha sempre verde, da árvore carregada de al or, mas a su a f o
lha fica ver
n ão receia quando vem o c
frutos _ e d� vida em abundância Go 10.10). As práticas perturba nem deixa de dar
�evocionats nos levam obrigatoriamente para j unto das e no ano da sequ idão não se
fruto". s d e situa-
aguas e o res,�o é ��nseqüência natural desta proximidade. ade e as mud ança
Os contratempos, a adversid
Gn 41.22- Jose e u m ramo frutífero., ramo fr utífero junto interromper a produç ão de
, ç ão não são s ufici entes para
a fonte; seus galh os se estendem sobre o muro". s verdes da árvore, gr aç as ao
Mesmo vendido pelos irmãos como escravo aos ismaeli­ fru tos nem par a secar as f olha
às águas.
tas, mesmo calu niado pela m1:1Iher de Potifar, mesmo j oga­ fato de estar planta da junto
d o nun::1a masmorra por u m cnme que não co meteu , mesmo
Rios de águas vivas
esquecido pelo copeiro-chefe de Faraó, mesmo em tempos
de_vacas magras -os braços de José foram feitos a tivos pelas inhança das águas se destin
N ão se deve pensar que a viz
a

maos do P�deroso de_ Jacó, que o abençoou c om as bênç ãos iritualmente.


a penas a nos alim
entar e nos fazer crescer esp
re
d os altos c�us. A e�pl�caçã_o do sucesso contínuo de_���-�ITI iment o e sucess? está semp
9u a.lquer circunstancia foi anotada pelo próprio pai_ José O propósito de qualquer c resc v nta de
glória de Deus. E da
ligado ao desempenho da
o

e u m ramo frutífero j unto à fonte. os estas águas t amb


ém para n os
soberana de Deus que usem s do
, SI 1.3 - "Ele é como árvore plantada junto a corrente de a correr pelas regiões ár ida
a�as qu e, n o devido tempo, dá o seu fruto., e cu j a folhagem t ornar rios de águas vivas viv as v ão
os: "Rios de águ as
m undo e pelos desert os alhei lia
nao mu rcha; e t udo quanto ele f az será bem sucedido ". ê em mim" (Jo 7.38 em A Bíb
j orrar do coraç ão de quem cr ras
Es_t� texto s� ap!ica a qu alque r pessoa que, além de não duas passagens das Escritu
Pª:hc1par �a rmp1edade, se deleita em meditar de dia e de na Lingu agem de Hoje). Há str m
a este propósito. Elas m
que devem ser lembradas
o a

noite na le1 do Senhor. O sucesso é inevitável. s de água viva :


até onde podem ir estes ri o
Sl 23.2 - "E!e me faz :'epousar em gast os verdejantes. (Ez 47.1-12). Na visão de
De Jerusalém ao Mar Morto lo,
Leva-me para Junto das aguas de descanso; refrigera-me a deb aixo d a entr ada do Temp
Ezequ iel, as águ as nascem
alma".
para o oriente, atravessam
v ão se engrossando, seguem
o

O cu idado é do próp ri o De us, do própri o Pastor. Ele qu er Ao sub ir o io


rn n o Mar M orto.
r
deserto da Judéia e deságua do .
abastecer a ovelha e renovar as suas forças e O seu entusias­ feta enc ontra tudo modifica
mo com a proximidade das águas de volt a a Jerusalém, o pro fr u tíferas de
r i o havia ár vores
Ao long o das margens do todo
·JJ-=- Is 44.3-4 - "Derramarei água sobre o sedento, e torrentes frutos o ano todo, ém de
t odo tipo e car regadas de
al
que
sobre � terra seca., . der ramarei �_meu Espírito sobre a tua Por causa deste mesmo ri
tip o de animais e d e peixes.
o
ce e
p ostend_ade, e a minha bênç ão. sobre os te us descende�tes; gada do Mar M orto vira do
e b ro,tarao corno a ervê-L-co�_c:>_�_algll�gps jt!_n1QJ� vem do Templo, a água sal n Ma r
. .c.o.rrentes
·-····- e de pescadores corn
o mar se enche de peixes
o o

das aguas .
11

Mediterrâne o.
A �omparélç ão_ com_.9�-�aJgueiro§ é op..ar.iuna, po is es+es rto e para o Mar Me diter-
De Jerusalém para o Mar Mo de
� �_<!!!1 ., florescia m e f.9rr-n_ªyªmg1gjJ.as seJnpre
· ·- ···· pe ·· rto·····das
· ém suceder á que cor rerão
râneo: "Naqu ele di a tamb nt ,e
ª-��s (Lv 23.40, Sl 137.2, Ez 17.5). e delas para o mar or i
Jerusalém águ as vivas, metad
e al

Jr 17.7-8 � "Bendito o homem q ue confia no Senh or, e cuja no inverno


a outra metade até
o mar ocidental, no ver ão e
esperança e o Senhor. Porque ele é como árvore plantada
'
CAPITil101
8 - Introdução

sucede rá is to " (Zc 14.8). Ago ra as águas vivas de Je rusa lé m


não cor rem ape nas para a direção do nascente do sol, mas
t ambé m para a direção oposta , o poente do sol, até o
Mediterrâneo. Uma vez derramadas rto Mediterrâneo, que
não é um mar fech ado como o M ar Morto, a água viva se
espalh a po r todos os oc eanos do mundo, lig ado s entre si,
cumprindo assim o propósito missio nário de Deus .

Avivamento e práticas devocionais

Avivamento sem prátic as devocionais não existe. Torna­


se evento e nã o mo vimento . Fic a só na euf oria, na excitação,
na f esta , na bu sca de sinais e prodígios , n a superficialid a de. Prática da Leitura da B{blia
Cedo há de dis sipar-se, não se manté m, não sobrevive ao
t empo, não tem corno sustentar-s e, passado o impacto ini­
cial. Nem sempre produz santid ade de vida, nem sempre
m exe co m o caráter do crente, nem s empre elimina certos A prática da leituhor
ra da Palavra de Deus é a arte de
nas páginas das Sag�adas
defeitos de comportamento, n em sempre provoc a renún­ procurar o Sen
eza
cias co rajos as e definitivas. Escrituras até acha" a arte de enxergar a nqu de
a voz
A maio r glória d e u m avivamento é levar o s crentes às toda que está atrás da mera letra, de ouvir
t ef:_o o
práticas devocionais . Se a partir do avivamento, a igreja de Deus, de_relac_iQnar te_:rlQ çor11_!_e_� _qg_§_l:!:_g!!:f Qnas
to e
ita, frJrij o
Deus se entreg ar à prática regular da leitur a da Bíbli a, d a leite contido na Palavra revelada_ e escr
oração, do desab af o, da confissão, da res taura çã o, d a hu­ passagens mais claras como nas passa�ens
um a
m ild ad e, d a introsp e cção, da vigilância, do discernimento, aparentemente merzos atraent�s, atrav�� �e
do Esp z17-_to Santo.
d o equilíbrio, da esp era, da descomplexação, da confiança, leitura responsável e do auxflw
d a ousadia, d a resistência, do poder, da vo ntad e e da
alegri a, então a vida a b und an te de q ue falou Jesus Go 10.10)
será uma d eliciosa e continuada realid ade.
A Bíblia é a Palavra de Deus. Isto quer dizer m uita coisa.
Neste c aso, por causa d a profundidade e da manutenção Significa qu e ela encerra a auto-revelação de Deus e expres­
cu idadosa do a vivam ento, os r iscos de distorção desapare­ s a a vontade tod a de Deus em maté ria de fé e cbnduta . Quer

cem ou são mantidos à distância. As práticas devocionais ainda dizer que você não se encontra desesperadamente e�
vão mant er o a vivamento e a plenitude do Espírito . estado d e absoluta desinformação q uanto a Deus, q uanto a
vida e quanto à eternidade. Você tem_ em sua própria lín gua
u m livro de texto e de de voção q ue enc er ra o prog rama todo
de Deus, uma espécie de enciclopédia q ue fornec e toda
sorte de inform ação teológica n ecessária , um m an ual de
avaliação q ue mostra a diferença entre o certo e o errado.
10 - Práticas Devodonaís
Prática da Leitura da B{blía - 11
Além de inspirada por Deus, toda Escritura é extre ma­
sai da boca de Deus é como a chuva e a ne ve que desc e m
mente útil (2 T m 3.16). Ela fornece alimento para o espírito:
"Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra qu e dos céus e para lá não tornam sem que primeiro regu e m
II

a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar semente ao


procede da boca de Deus" (Dt 8.3, Mt 3.4). Ela-gera cQ_aj}e­
seme ador e pão ao que come" (Is 55.10-11). A Palavra de
cirn�n_to, � c_on\Ticção e espera:r:!S_a. Ela promove comunhão
Deus não volta para ele vazia, mas fará o que lhe apraz, e
com Deus e comunhão com os homens. Ela produz conforto
em meio a lágrimas e angústias. Ela repreende e corrige,"a prosperará naquilo para q ue ele ª,�esignou. Você nãoy� de
perder a noção e a ce rte za de que a Palavra de Deus e v1va
fim de q ue o homem de Deus seja perfeito e perfeitam.ente _
e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois
habilitado para toda a boa obra" (2 T m 3.17). Ela se rv e de
gumes, 'e pene tra até ao ponto de dividir alma e espírito,
ponto de apoio em_ situações adversas: "Sobre a tua palavra
juntas e medulas, e apta para disc ernir os pe nsamentos e
lançarei as redes" (Lc 5.5).-Ela exerce influência poderosa
propósitos do coração" (Hb 4.12). Em_�!:l_tf.9-�__pªJªyras, a /
nas tomadas de decisão. Ela cria uma mentalidade religio­
sa. Ela se acomoda nos poré5f2� d9. subconsciente e forma Escritura �ªgrada, uITia vez cori:gtªm�nte.Jida, p:r.9_y. _ 9�a
uma !�Y.�!!IS.ª-9 dentrç>""' de você, �esce_�9f>)1:Jgé1I�S. _m_ªis
uma bagagem de valor inestimável, que aflora naturalmen­
profuncios, rrn:>_xe E:>JJJ._htdo.'Estas coisas aconte cem por c_a�- /
te nos momentos mais necessários.
sa d9_yªlor irl!_rín_��c::g da PaL:1vra e por ca�isa clª-º12.�XªÇ�=to
Ingestão do Espí:rito $,ant<2-

Metodo logia
Contudo, para que este volume enorme de riqueza se
torne seu é necessário comer" a Palavra de Deus, à seme­
II
Para s er altament e prov e itosa, a prática da leit u:a da
lhança de Ezequiel, que encheu as suas entranhas do rolo
Palavra de Deus de pende da qualidade do e mp ��nd imen­
de um livro (Ez 2.8 - 3.3). Basta comer. O resto é com Deus. _
A ingestão da Sagrada Escritura depende de você. Trata-se to, qu e se consegue através das segu in:es pr_?videncia�:
de um exercício voluntário, consciente e pessoal. Faz-se isto 1. Ler. Pe rcorra com a vista o que esta e scnto, pro!ennd�
por meio da leitura cuidadosa e regular da Palavra. A ou não as palavras. Tome conhecimento do texto. Busc�i
l e itura formal, superficial, ocasional, desordenada ou su ­ no livro do Senhor, e lede" (Is 34.16). O rei de Israe l dev e :1ª
e scre v er um tratado da lei do Se nhor para ler todos os dias
persticiosa rende muito po u co ou nada. Be m como a leitura
feita para satisfazer apenas o intelecto. Abre b e m a t u a
11
da sua vida (Dt 17.18-20).
boca", diz o Senhor,"e ta encherei" (SI 81.10). Você precisa 2. Meditar. Meditar é mais do que ler. Examine o texto
aprender a arte de abrir a boca" para mete r a Palavra d e
II
lido. Reflita sobre ele. Gaste alg um tempo para ficar por
Deus dentro do espírito. dentro da me nsagem que o texto en�e rra. Veja ª �isposição
_ ,
do salmista: "Os meus olhos antecipam as vig1has notur­
Digestão nas, para que eu medite nas tuas palavras�' (SI 119.148). Só
n e ste Salmo, o verbo me ditar apar� ce seis ve�es , �quele
;
que medita na le i do Se nhor de di� e d n01te e como
Diferente da ingestão, a digestão é a assimilação da Sa­
árvore plantada junto a corrente de aguas;, (SI 1.3).
grada Escritura e m se u interior. O processo é inconsciente, � .
3. Memorizar. Meta na cabeça o q ue voc e leu e medito u.
automático e irreversível. Uma vez ingerida, a Palavra qu e
Entregue-o à me mória, retenha-o, não o de ixe escapar.
Prática da Leitura da B{blia - 13
12 - Práticas Devoci.onais
Fez muito bem a Pedro lembrar-se de que Jesus lhe dissera:
Decon�, se não as palavras, pelo menos a mensagem do
"Hoje três vezes me negarás, antes que o galo cante'; (Lc
texto hd o. G�arde-a na despensa interior. Veja o propósito
_ 22.61).
do salmrsta: Induzo o coração a guardar os teus decretos,
para sempre, até ao fim" (SI 119.112). Para precaver-se do
pecado, o jovem deve conservar dentro de si os mandamen­ Sugestões
tos de Deus, e escrevê-los na tábua de seu coração (Pv 7.1-3).
Por causa do temperamento, do estilo pessoal de ler e de
4. Inculcar. Enfie bem para dentro a Palavra de D�us.
estudar e da disponibilidade de tempo, cada um deve
Coloque-a nas entranhas, "no mais íntimo do coração" (Pv
descobrir e adotar a maneira própria mais indicada de ler
4.21). Torne-a propriedade pessoal. Provoque uma impreg­
a Bíblia. Os métodos alheios servem apenas de exemplos.
naçao da Sa?rada Escritura em todo o seu ser. Era isto que_
Considere, todavia, mais estas sugestões:
Isr�el deveria fazer com as crianças: "Estas palavras que�.
1. Reserve a hora mais propícia do dia para ler a Bíblia.
hoJe te ordeno, tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo· caminho e ao Isto varia muito de pessoa para pessoa. Seja exigente neste
deitar-te e ao levantar-te" (Dt 6.6-9). sentido e evite a hora menos propícia.
2. A preocupação maior deve ser com a qualidade da
5. �onferi�. Compare texto com texto. Não só para des­
leitura e não com a quantidade. Você não precisa ler a Bíblia
cob�rr o sentido exato da passagem lida, mas também para
durante o ano, mas precisa ler a Bíblia com proveito o ano
ennquecer o seu conhecimento de toda a Escritura, consult­
inteiro.
ando outras passagens paralelas. Por exemplo, digamos
3. Procure ler toda a Bíblia/ Não necessariamente de
que você está lendo a Epístola de Paulo a Tito e encontra a
Gênesis ao Apocalipse. Leia grupàs de livros: os livros
fras:: "E�tas <:_Oisas são excelentes e proveitosas" (3.8). A
poéticos, as Cartas de Paulo, os profetas menores, o Penta­
partrr dai voce pode descobrir várias coisas excelentes ao
teuco, os quatro Evangelhos, os livros históricos e assim por
correr da Bíblia: o mais excelente nome (Hb 1.4), 0 mais
diante. Para i seu controle pessoal, coloque a data do início
excelente sacrifício (Hb �1.4), o mais excelente óleo (Am
_ e do final da leitura em cada livro.
6.6), o mars excelente caminho (1 Co 12.31), a excelência do
4. Sublinhe o que você achar mais interessante. Faça
episcopado (1 T m 3.1), o espírito excelente de Daniel (Dn
pequenas notas às margens ou num bloco à parte. Por uma
5.12) e a menção a Rúben, "o mais excelente em altivez e 0
questão de ordem é bom numerá-las. Uma numeração para
:11-ais excelente em poder", contudo "impetuoso co�o a
,, cada livro lido. O esforço de escrever as notas torna a leitura
agua (Gn 49.3-4). Ora, este esforço é altamente compensa­
e a meditação mais sérias e ajuda a memorizar as lições
dor. Esclarece, edifica, enriquece e lhe dá uma visão global
aprendidas.
das Escrituras.
5. Use a Concordância Bíblica da Sociedade Bíblica do
6. Lembrar. Aprenda a fazer uso prático do que foi guar­
Brasil, baseada na Edição Revista e Atualizada no Brasil da
dad? na :11��ória e na� entranhas. Retire do con1putador o
� Tradução de João Ferreira de Almeida ( 1100 páginas e
qu� Ja foi digitado, retire do banco o que _iá foi depositado,
300.000 linhas), para conferir escritura com escritura.
retire da despensa o que já foi armazenado, e sirva-se à
6. Se tiver tempo, quando necessário, consulte outras
vontade. Você nunca vai ficar na mão, sem assistência sem
versões em português (ou outras línguas) e a paráfrase A
!_@t a!1}�J:tt_(),Sempªo. É só lembrar e apli�:-É nesse se:1Üdo
Bíblia Viva, para entender melhor o texto e fugir da rotina
que Jesus disse: "Lembrai-vos da mulher de Ló" (Lc 17.32).
14 - Práticas Devodonais

CAPITIJ10 �
f

de uma mesma tradução a vida inteira. Além da tradução


ª.
de Al�eida, ma� usada, você pode recorrer às antigas
trad uçoes de F1guerredo e Versão Brasileira e à mais recente
A Bíblia na Linguagem de Hoje, e à B1blia de Jerusalém
(das Edições Paulinas).
7. Só cons ulte as notas de rodapé, comentários e dicioná­
rios bíblicos depois do esforço próprio de entender o texto.
Evite a preguiça mental.
8. P�a sempre o auxílio do Espírito Santo para entender
as Escrituras e se beneficiar delas, seja por meio de uma
p equena �ração º1! por meio de uma atitude de dependên­
_
cia e humildade. E o Espírito quem levanta o véu e deixa
você ver a riqueza toda que está atrás da mera letra. Prática da Oração

A prática da oração é a arte de entrar no Santo dos


Santos e de se colocar na presença do próprio
Deus em espírito, por meio da fé, valendo-se do
sacrifício de Cristo, e falar com Deus com toda
liberdade através da palavra audível ou silenciosa.

A oração parece uma decantada loucura. Como pode o


homem comunicar-se com o próprio Deus em qualquer
tempo, em qualquer lugar e em qualquer situação, se este
é o Senhor de todo o Universo, e aquele um miserável
habitante de um pequeno planeta que integra o sistema
solar, que por sua vez é somente uma parte minúscula de
uma galáxia chamada Via-Láctea, composta de mais de 100
bilhões de estrelas relativamente semelhantes ao sol? O
espanto é muito maior quando se sabe que existem 100
bilhões de galáxias (23 para cada habitante da Terra), além
dos distantes e brilhantes quasares!
Mesmo não havendo seres inteligentes senão neste mo­
desto planeta, corno pode Deus ouvir as orações diárias
qu e, pelo menos os 1,6 bilhões de cristãos lhe dirigem? Os
16 - Práticas Deuocionais
Prática da Oração - 17

críticos dizem que a oração é válida, não porque penetra para a ansiedade: "Não andeis ansiosos de coisa alguma;
"até aos ouvidos do Senhor dos exércitos" (Tg 5.5), mas em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas
porque é emocionalmente saudável para quem ora.,No petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça; e
entanto, aqueles que oram corretamente estão convencidos_, a-paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará
de que sua oração chega de fato "até à santa habitação de os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus" (Fp
Deus, até aos céus" (2 Cr 30.27). E ainda perguntam com 4.6-7).
uma pequena dose de malícia: "O que fez o ouvido, acaso 2. Resultados espirituais. A oração força o exercício da
não ouvirá?" (SI 94.9). piedade e da disciplina pessoal, ajusta o homem aos padrõ­
Apesar desta aparente irracionalidade, a oração é"a mais es de fé e de comportamento. O esquema é muito simples:
alta atividade da qual o espírito humano é capaz", segundo você ora porque precisa de Deus, mas, para ser ouvido, é
o professor E. A. Judce, da Universidade de Sidney, Austrá­ necessário que você compareça de mãos limpas perante o
lia. O homem ora porque tem necessidade interior de orar, Senhor. Ou, pelo menos, que inicie sua prece com arrepen­
porque sabe que Deus existe e é "galardoador dos que o dimento e confissão de pecado, pois "Deus não atende a
buscam" (Hb 11.6), porque precisa de Deus e reconhece que pecadores" (Jo 9.31). Veja a percepção do salmista a este
ele não é semelhante aos deuses da mitologia greco-romana respeito: "Se eu tivesse guardado lugar para o pecado no
1
nem aos ídolos, que "têm ouvidos, e não ouvem" (SI 115.6). meu coração, Deus nunca me teria ouvido" (Sl 66.18 em A
Bíblia Viva). A oração bem sucedida depende de uma es­
.Resultados treita união com Cristo: "Se permanecerdes em mim e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que
Outra coisa estranha, mas óbvia em vista da onisciência quiserdes, e vos será feito" (Jo 15.7). Pedro chega a dizer
de Deus, é que o propósito da oração não é tornar Deus que a falta de compreensão entre marido e mulher, o egoís­
ciente de nossa dor e de nossa necessidade. A oração é o mo de um e de outro e outros problemas conjugais causam
instrumento pelo qual confessamos duas coisas ao mesmo orações sem resposta da parte de Deus (1 Pe 3.7). Foi a
tempo: a estreiteza de nossos recursos e a extrema largueza necessidade imperiosa e urgente de ser atendido por Deus,
dos recursos do poder e do amor de Deus. A prática da a propósito da aproximação do irmão Esaú e do bando de
oração é um dos mais extraordinários meios de graça de 400 homens armados que o acompanhavam, que fez Jacó
que o homem pode dispor. A oração é a outra via de admitir que era um suplantador e d�ixar-se corrigir por
comunhão com Deus. A primeira via é a leitura da Palavra Deus, numa noite de oração do ouho lado do vau de
de Deus. Por esta via, Deus fala com você; por aquela via Jaboque (Gn 32.22 - 33.17). ·
você fala com Deus. 3. Resultados em termos de atendiinento. Deus respon­
É possível classificar em três grupos distintos os efeitos de as orações de seus filhos, não necessariamente como
da oração: pedimos, mas a seu modo e de acordo com a sua soberarlia.
1. Resultados psicológicos. Por meio da oração, você Não poucas vezes, ele"é poderoso para fazer infinitamente
pode superar a tensão, a ansiedade, a angústia, certos tipos mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, confm·me
de depressão, o sentimento de culpa e outros estados emo­ .
o seu poder que opera em nós" (Ef 3.20). Sem oração v,ocê
cionais desagradáveis. É perfeitamente possível relç1xar du­ não alcança certas bênçãos. Jesus deixou claro: "Pedi, e
rante e depois da oração. A oração é uma das alternativas dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á" (Mt
Prática da Oração - 19
18 - Práticas Devodonaís
a sair de
7.7-8). Tiago vai mais além e declara com sua pe culiar você entra no santuár io de Deus (Sl 73.16-17) par
1.18, Mt
franqueza: ,,Nada tendes, porque não p edis" (fg 4.2). A semblante não mais carregado nem triste (1 Sm
oração t em um alcance enorme: "Muito pode, por sua 11.29).
e or a em
eficácia, a súplica do justo" (Tg 5.16). 5. Na intercessão, você se exercita no altruísmo
ios e das
favor do sofrimento alheio, dos problemas alhe
u p r Ped ro (Lç
necessidades alheias, assim como Jesus or o o
Elementos da oração .E
Hb 7.25)
2 2.32) e ora por t odos nós (Jo 17.20, Rm 8.34,
rcede p or
b om lembrar também que o própr io Espírito inte
II

A maior P:=1-rte de nossas orações são só orações de súpli­ is" (Rm 8.26-
ca. Para mu itos, oração e súplica são sinônimos perfeit os. nós sobremaneira com gemidos inexprimív e
de°::
2 7). A intercessão não é uma escolha, mas uma ?
r
Na verdade não é assim. A oração no contexto bíblico tem ode rr maIB
pelo menos seis elem entos, que não precisam marcar pre­ "Orai uns pel os o utros" (Tg 5.1?)- As vezes p
sença numa única pre ce, mas devem ser lembrados se mpre : l onge: "Orai pelos que vos perseguem" (Mt 5.4 �)-
ades pes­
1. Na adoração, você exalta o caráter de Deus, a imensi­ 6. Na súplica, você apresenta as suas ne cessid
u espor ádi­
dão, a perfeição e a beleza da cr iação e de todas as suas soais, familiares e comunitár ias, costumeiras o
c l a m a p ela
obras p osteriores, e se delicia com o próprio De us. A razão cas, q ue f o r m am u m le qu e e n o r m e , e
sta de D eus
máxima da adoração é "porque a sua misericórdia dur a intervenção amor osa e sábia de Deus. A respo
ter orado
para sempre", como declarou em uníssono o povo de Israel às vezes tarda, como no caso de Isaque, que deve
sa: era d e 40
p or ocasião da inaugur ação do templo de Jer usalé m (2 Cr vinte anos a favor d o engravidamento da espo
gêmeos
7.3) e como aparece rep etidamente no Salmo 136. anos quando se casou e de 60 quando nasceram os
e Isabel, a
2. Nas ações de graça, você agradece nominalmente as Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). No caso de Zacar ias
u, os dois eram
manifestaçõ es da misericórdia, do amor e do pod er de D eus d emora foi mu ito maior: quando ela conceb e

em s ua vida, na família e na co m unidade. Esta é uma n avançados em dias" (Lc 1.7,1


8 e 36).
o brigação a que você p re cisa s e impor : Bendiz e, ó minha
11

alma, ao Senhor, e não te es queças de nem um só de seus O direito da súplica


b enefícios" (SI 103.2). Cuidado par a não repetir a grosser ia
dos nove leproso s mal-agradecidos: Não eram dez os que
11
Peça sem con str angimento. N ão é necessário substit uir a
foram cur ados? Onde estão os nove?" (Lc 17.17). súplica pelo louvor. E D eus q uem abre a porta da oraç ão e
3. Na confissão, você se abre e cont a a Deus suas mazelas diz: "Pede-me o que queres que te dê" (1 Re 3.5), "Invoca­
e fraquezas, pecado d e qualquer natureza, admitindo se m­ me, e te responderei" (Jr 33.3), Pedi, e dar-se-vos-á" (Mt
11

pre a própria culpa e r ecorrendo à misericórdia divina. É 7.7), Se dois dentre vós concordarem a r espeito de q ual­
11

como disse C. S. L e wis, todos nós t emos p ecados suficien­


11
quer coisa que porventura pedirem, ser -lhes-á conce dido
t es para se rmos intragáveis". Ponha este lixo para for a na p or meu Pai que está n o céu" (Mt 18.19), Tudo q uanto 11

prática da oração. O p ecado ar mazenado é uma desgraça pedirdes em oração, crendo, recebereis" (Mt 21.22) e Se me 11

(Os 13.12). pedirdes algu ma coisa em meu no me, eu o farei" (Jo 14.14).
4. N o extravazamento, você derrama a sua al m a perante S e o "amigo" (Lc 11.5-8), o pa i" (Lc 11.11-13) e o "j u iz" (Lc
11

D eus e fala de seus sustos e medos abertamente com o firme 18.4-5), mesmo sendo maus, dã o alguma coisa aos que lhe
propósito de descansa r no Senhor. É nesta hor a solene que pedem, quanto mais vosso Pai que está nos céus", arg u-
11
20 - Práticas Devocionais
Prática da Oraçíw - 21
menta com força o Senhor Jesus, "dará boas coisas aos que
lhe
havia consumido extremidades do arraial, se apago u (Nm
pedirem?" (Mt 7.11). Porém é preciso tomar alguns
cuidados: 11.1-3). Manoá orou para que o anjo que anun�iou o nasci­
1. O motivo das o rações de ve ser co nstantemente burila­ mento de Sansão viesse mais uma vez e ele veto (Jz 13.8-9).
d o das tentaçõe s d o egoísmo e do consumismo. Uma das S--alomão implorou a bênção de Deus sobre o templo d�
razões do não -atendimento das orações é porque o objetivo Jerusalém e este o ouviu (1 Re 9.3). Em vários Salmos, Dav1
delas está todo errado: "Vocês pedem coisas para usá-las tem prazer e m testemunhar que o Se nhor ouve as suas
orações (SI 4.3, 5.3, 6.8-9, 18.6, 31.22, 40.1). Ezequias orou ao
para os seus próprios prazere s" (Tg 4.3 e m A Bíblia na
Linguagem de Hoje). Senhor por sua doença mortal e Deus o cu�o u (2 Re 20.5!.
Jonas fe z uma aflita oração no ventre do peixe e este vomi­
2. Não se deve orar apenas por saúde, cura física, sucesso,
prosperidade m od e rada, felicidade e família. Há certas t ou O prof,eta numa praia do Mediterrâneo (Jn 2.1-10).
carências muito sérias que podem se r supridas por meio da Zacarias também orou em favor de sua esposa para que ela
oraçã o . De vemos partir daquele aviso d e Tiago: "Se algum
fosse fértil e Isabel lhe deu João Batista (Lc 1.13).
de vós necessita de sabedoria, peça-a a De us, que a todos Mas Deus também diz não a não po ucas orações, mesmo
dá l iberalmente, e nada lhe s impropera; e ser-lhe-á conce­ que elas sejam proferidas por pesso as de caráter e de �é.
dida" (T g 1.5). Se e m se u caso, a carência não é de sabedoria, Moisés implorou ao Senhor permissão para passar o Jordao
e ver a terra da promessa e Deus lhe disse: "Basta; não me
mas de al egria, entusiasmo, humildade, paciência, amor,
poder, pureza, ousadia, capacidade para o trabalho, equilí­ fales mais nisto" (Dt 3.23-29). Apesar d� ser um h omem _ d e
_
oração, Davi orou sentidamente pelo filh? rece m-: asc1do
brio, fé ou qualquer outra coisa, você tem o dire ito e o deve r 17
de levar insistenteme nte e sta necessidade a Deus em ora ­ gravemente enfermo e Deus levou a cnança apos uma
ção. É para pedir o que não se te m, no raciocínio de Tiago. semana de intensa· oração e jejum (2 Sm 12.15-23). Paulo
A posse de stes valores extraordinários contribui para o se u conta que em três ocasiões diferente s imploro u a Deus pa _ �a
be m total e para o progre ss o do e vangelho. Este tipo de ficar livre do espinho na carne e cada vez o Senhor lh e d1z1a
oração se gue de perto o modelo apre sentado por Jesus não (2 Co 12.7-9). O mesmo apóstolo deve !e� o�ado pela
_
Cristo, pois santifica o nome de Deus, promove o seu reino saúde de Timóteo e de Trófimo, mas não ha md1caçao d e
e implanta a sua v ontad e " assim na terra corno no céu" (Mt
que eles tenham sido curados (1 Trn 5.23 e 2 T m 4.20).
6.9-10).
Oração e ação
O sim eo não
A oração não elimina a ação nem. a ação eli:11ina a oração.
Deus diz sim a muitas de nossas orações. É animador Ninguém melhor que Neemias soube valorizar uma� o� ­
listar os sins de Deus nas oraçõe s contidas na história tra, como se pode observar nesta info rmação do propno
bíblica. Isaque orou por sua mulhe r estéril e Rebeca conce­ punho do governador da Palestina na época d� reconstr1:­
beu (Gn 25.21). Isra el clamou contra a dura servidão de ção de Jerusalém: "Todos procuravam ate�onzar-nos, d:­
Faraó e Deus ouviu o se u gemido e os tirou de lá com zendo: As suas mãos largarão a obra, e nao se efetuara.
poderosa mão (Ex 2.23-25, Nm 20.14-16, Dt 26.5-9, A.t 7.34). Agora, pois, ó Deus, fortalece as minhas mãos." (Ne 6.9)
Moisés interc e deu pelo povo e o fogo do Senhor, que já D ois grandes cristãos do século XVI, um protestante e
alemão, e outro, católico e espanhol, escreveram frases
22 - Práticas Devocíonais Prática da Oração - 23

semelhantes sobre o equilíbrio entre a oração e a ação. O 3. Oração conforme a necessidade. Não é preciso esperar
mais velho, Lutero (1483-1546), dizia: "É preciso orar como a "hora nona de oração" para orar. Você é livre para orar
se todo trabalho fosse inútil e trabalhar como se todo orar em qualquer lugar, momento e situação. Depende da sua
fosse em vão". O mais novo, Loyola (1491-1556), afirmava: necessidade e de sua vontade. Você pode orar na rua, no
"Devo orar como se tudo dependesse de Deus, trabalhar trabalho, atrás de uma junta de bois, numa quadra de
como se tudo dependesse de mim". esportes, ao volante de um carro, numa fila de banco e
assim por diante. Neemias é formidável quanto a isto:
A frequência da oração quando Artaxerxes se dispôs a ajudá-lo e perguntou-lhe
como, na mesma hora Neemias fez uma oração relâmpago
Quantas vezes se deve orar? Só aos domingos, na igreja? para pedir a direção e a bênção de Deus, sem fechar os
Todos os dias na hora de levantar ou na hora de dormir? olhos, sem se expressar em voz alta e sem sair da presença
Somente para dar graças às refeições? Só em caso de fome, do rei (Ne 2.4). Estando em agonia, Jesus orava mais inten­
doença e morte? A Bíblia tem respostas para estas indaga­ samente ali no Getsêmane (Lc 22.44).
ções. 4. Oração contínua. O "orai sem cessar" ,de Paúlo (1 Ts
1. Períodos rígidos de oração. Porque a oração é de 5.17) significa uma abertura total à oração. E como se você
grande importância e porque o homem é naturalmente vivesse vinte e quatro horas por dia dentro de uma oração.
indisciplinado, é bom que haja algum horário fixo de ora­ É a manutenção pura e simples do espírito de oração em
ção, como acontece até hoje entre judeus e muçulmanos. todas as coisas, mesmo sem se ajoelhar e sem falar. O que
Daniel se obrigava a orar de joelhos três vezes ao dia (Dn caracteriza este tipo nobre de oração é o sentimento cons­
6.10). O próprio Davi fazia o me1?mo em intervalos regula­ tante de suas carências, a permanente dependência de Deus
res quem sabe de seis horas: A tarde, pela manhã e ao
11
e a cuidadosa manutenção de uma confiança total em Deus.
meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá A oração contínua é mais do que a oração noite e dia
a minha voz" (Sl 55.17). Em Atos, encontramos duas refe­ daquela viúva de 84 anos que não deixava o templo de
rências à hora nona de oração (três horas da tarde), tanto Jerusalém e que tinha estado casada apenas 12,6% de seus
no templo (At 3.1) como em casa do centurião romano que dias (Lc 2.36-37).
absorveu este costume dos judeus (At 10.30).
2. Períodos especiais de oração. Os horários fixos e diá­
rios de oração não dispensam algo como um dia inteiro de
oração, uma noite de oração, três dias de oração e jejum
(como aconteceu aos judeus que se achavam em Susã na
época de Ester), uma semana de reuniões de oração, etc.
Jesus tinha o hábito de passar uma noite inteira orando a
II

Deus" (Lc 6.12). Os dias seguintes eram para ele de granàe


importância: a escolha dos doze apóstolos (Lc 6.12-16), a
cura do jovem possesso (Lc 9.37-43), o encontro com a
mulher adúltera Oo 8.1-11) e a sua prisão, julgamento e
morte (Mt 26.36-27.56).
,
CAPIM05

Prática do Desabafo

A prática do desabafo é a arte de derramar a alma


perante o Senhor, retirando de dentro e colocando
para fora todo e qualquer melindre, mágoa,
ressentimento, tristeza, queixume, inquietação,
ansiedade, medo, indignação desmedida, revolta e
coisas assim. Dá-se através de uma abordagem firme
e corajosa na presença de Deus de problemas reais,
de problemas de gravidade exagerada e de problemas
inexistentes. O desabafo bem feito provoca a
interrupção de uma situação de intensa e contínua
amargura.

O desabafo é tão saudável quanto o lazer. O excesso de


ansied,ade provocado pelo acúmulo de problemas, dificul­
dades,. decepções, frustrações e sofrimento desmantela
qualqÚer esquema de felicidade pessoal. Os casos mais
grave�. podem levar ao álcool e à droga, podem causar
distúrbios emocionais e doenças mentais e podem dar oca­
1

sião ab suicídio. A falta de desabafo faz mal à alma e ao


corpos Não só ao sistema nervoso, rnas aos sistemas circu-
26 - Práticas Devocionais Prática do Desabafo - 27

l atório, re spiratório e diges tivo. O desabafo é uma n ecessi­ de espírito, Davi deveria ser um excelent e
am argúrados
da�e e uma po ssibilidade. esmo , naq uela
ouvidor de desab afos (1 Sm 22.2). Ele m
E uma p ossibilidad e porque a Bíblia está cheia d e d esa­ constante amea-
altura d a vida, era um exilad o político sob
bafo s. Dois livros do Velho Test amento tr atam quase excl u ­ ç a de morte.
sivamente d e d esabaf os : Jó e S almos . Algurnas passagens
2. Desabafo clínico. É o desabafo realizad� �i ante d e u m
t razem um insistente convite ao desabafo: tro rehg10so , d e u m
conselheiro capacitado , d e um minis
"Confiai nele, ó povo, em todo o tempo; derramai perante ele o psicólogo psicoterapeut a ou psiquiatra . Trat a-se d e u ma
vosso coração: Deus é o nosso refúgio" (SI 62.8). assistênci; técnica, ora de o rdem religi
osa , ora d e ord em

médica ora de o rdem religiosa e médica .


"Levanta-te, clama de noite no princípio das vigz1ias; derrama
3. De�abafo espiritual. E o desab afo feito diant e de D eus
o teu coração como água perante o Senhor; levanta a ele as tuas
mãos, pela vida de teusfilhinhos, que desfalecem de fome à entrada
em oração, tão segu ro ou mais__ seguro ?º q ue q u ':l q�er
de todas as ruas" (Lm 2.19). outro mesmo sendo um exercíc 10 essen
cialment e nushco.

D epe�de d e um certo grau de confian�a em D eus e �


"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e
e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). alguma experiência religiosa, co rn o s e v e n e sta de c lar a çao
O título d o SI 102 é muito preciso q uanto à prática do de Davi q uando se escondia de Saul numa cav erna d e
desab afo: "Oraçã o do aflito que d esf alecido, derrama o se u
En-Gedi: "Ao Senhor ergo a minha v o z e clamo, co_m a
q ueixume perante o S enhor". minha vo z suplico ao Senhor. Derramo perant: ele a_m!;1ha
que ixa , à sua presença exponho a minha tnbulaçao (SI
Os parceiros do desabafo
142.1-2).
Aq ui e stá uma q uestão muito sé ri a: com quem des abafar. Desabafo não é pecado
Não se pode desabafar com as paredes, com os móve is, com
os objetos de uso p essoal, xll"%ando , esmurrando , derr u ­ Desabafo é desabafo . Por tanto, não é de se estr a�ar a
b ando e q u ebrando as coisas. E preciso q ue haja um par de qu antidade e a q ualidade de coisas retiradas do coraçao _na
ouvidos p ara ouvir. Alguns d os amargurad os d e espírit o se prática do desabafo . Quem desab afa P: ecisa f alar, p rectsa
contentam co m um p ar de ouvidos q ue finge qu e e stá ficar solto , precisa ter lJberdade. E le es�a pon�o par a fora o
ouvindo, tal a n ecessid ade de desab afo. Nes ta área há três qu e estav a lá dentro . E possível q ue diga c01sas ab surda�,
tipos de desab af o: mas é melhor pro ferir absurdos do q ue armazenar e multi­
1. Desabafo mútuo. É o desabaf o entre marido e mu lh er, plicar absurdos na mente. Deus não se of ende quando ouv e
ligad os pelo am o r e p ela carne. Ent re pai s e filhos, ligad os estas coisas nem pune q uem se apresenta diante dele para
pelo amor e pelo sangue . Entre irmãos na fé, ligados pelo chorar e queixar-se de sua situação. Em seus m omentos
amor e pela crenç a. Entre amigos , ligados pelo amor e pelo mais difíceis, Elias não pediu a Deus a morte (1 Re 19.4)?
conhecimento. E stes sã o, ou d everiam ser, os parc eira.s Jonas não fez O mesmo CTn 4.3)? N_:> entanto, D eus tr atou a
naturais d o desabafo : "Partilhem as dificuldad es e proble­ ambos com acentuada cornpreensao .
mas un s dos outros, obedecendo desta forma à ordem do O exemplo mais dramático de desabafo o d e Jo. Est e
nosso Senhor" (Gl 6.2 em A Bíblia Viva). Por t erem se homem da terra de Uz, q ue perdeu todos os bens , todos � s
juntado a ele cerca de 400 homens em situação difícil e _
filhos , toda a saúde e todo s os admir adores, foi mu ito mats
Prática do Desabafo - 29
28 - Prátiais Devodonais

101:ge que E�ias e J�nas. Jó amaldiçoou a noite em que seu fez votos ao Senhor. A despeito da desnecessária e infeliz
pai e sua mae coabitaram e ele começou a existir, amaldi­ interferência do sacerdote Eli, que a teve por embriagada,
ç<:'ou a gravidez tranqüila e sem interrupção da mãe, amal­ Ana, ali mesmo no templo, colheu os benefícios do desaba­
diçoou o seu dia natalício e os peitos carregados de leite frr. perdeu o semblante triste e recuperou a vontade de se
alimentar. Poucas semanas depois, a ausência da menstrua­
°;ªterno que impediram a sua morte ao nascer CTó 3.1-26). ção deixou-a convencida de que Deus ouvira tambémª- sua
J� quer morrer, quer parar de sofrer, não agüenta mais
viver. Daí as perguntas próprias ao seu desabafo: súplica e lhe estava dando um filho (1 Sml.1-28)./ ·
í:P�r que se concede luz ao miserável, e vida aos amargurados A história do desabafo de Ana não para aí. E preciso
de anzmo, que esperam a morte e ela não vem?" CTó 3.20). acrescentar que ela se engravidou outras cinco vezes e que
"Por que espe�ar se já não tenho forças? Por que prolongar a o primeiro filho foi um dos mais famosos homens de Deus
. do Velho Testamento (Jr 15.1), líder do reavivamento que
vida se meu fim e certo?" (Jó 6.11).
ºPor que me tiraste da madre? Ah! se eu morresse, antes que tirou a nação do estado moral deplorável deixado pela
olhos nenhuns me vissem!" CTó 10.18). inescrupulosa liderança dos filhos de Eli (1 Sm 2.12 - 7.17).
�mbora não compreendido e repreendido por seus três
amigos, Jó é considerado íntegro, reto e temente ao Senhor, Outros desabafos
ao� olhos do próprio Deus CTó 1.1,8 e 22; 2.3). O que ajudou
a Jo a sobreviver foram os seus contínuos desabafos. Qualquer problema que gera intraqüilidade é motivo de
desabafo diante de Deus. A carta malcriada e desafiadora
O desabafo de Ana que o rei da Assíria enviou para o rei de Judá foi motivo
para Ezequias subir à casa do Senhor e estender a carta
diante de Deus em oração (2 Re 19.14-19). Algum tempo
O mais detalhado desabafo da Bíblia é o de Ana, nmlher
depois, o mesmo Ezequias adoece de uma enfermidade
de Elcana e mãe do extraordinário profeta Samuel. Ela tinha
mortal e volta à prática do desabafo: ele chora, ora e recla­
uma tremenda desvantagem física, a incapacidade de con­
ma, e Deus ouve a sua oração, vê as suas lágrimas e restaura
ceber e engravidar, numa época em que não ter filhos era a
a sua saúde (2 Re 20.1-11).
coisa mais humilhante possível para a mulher casada. A
No caso de Asafe, que era chefe da música no tempo de
outra esposa do marido bígamo (Penina) se valia desse
Davi (1 Cr 16.4-5) e autor de doze Salmos (50 e 73 a 83), o
problema para a irritar excessivamente. O marido nada
problema foi muito diferente e extremamente grave. Ele
podia fazer. Ana começou a entrar em pânico e tornou-se
candida!a certa a um desequilíbrio emocional de graves teve uma crise de fé tão séria que os seus pés quase se
resvalaram e pouco faltou para que se desviassem os seus
proporçoes. Ela passou a ter freqüentes crises de choro e de
passos do caminho do Senhor (SI 73.2). O que o salvou desta
anore�ia. Então veio a idéia de um desabafo cheio e vigo­
complexa e perigosa crise foi a prática do desabafo. Duran­
toso diante de Deus. Aproveitando a visita anual da família
te o desabafo no santuário de Deus, Asafe enxergou coisas
a. Silo para adorar e sacrificar ao Senhor, Ana permaneceu
que não tinha visto antes e recuperou a confiança anterior
a sós n o templo, onde chorou abundantemente e expôs a
no Senhor (Sl 73.16-28).
Deus o seu drama íntimo. Ela se demorou em orar, destam­
pou a alma, derramando-a em oração, pôs para Jora o
excesso de sua ansiedade, suplicou a graça da concepção e
'
CAPI�O 4

Prática da Confissão

A prática da confissão é a arte de se apresentar


constantemente diante de Deus para se declarar
culpado de pecados pessoais e específicos, depois de
suficientementé alertado e repreendido pela boa
consciência, pela Palavra de Deus e pelo Espírito,
com o propósito de obter perdão e purificação,
mediante a obra vicária de Jesus Cristo. A confissão
verdadeira remove a crise provocada pelo pecado e
restaura a comunhão perdida ou arranhada. A sua
comprovação depende mais da fé do que de
sentimentos. Por meio da contínua confissão de
qualquer transgressão e de qualquer omissão é
perfeitamente possível manter a higiene da alma.

A confissão de pecados é uma bênção e um direito outor­


gado por Deus para uso contínuo. Até que venha o Senhor
e transforme "o nosso corpo de humilhação para ser igual
ao corpo de sua glória" (Fp 3.21). É a providência divina
para sanar as fraquezas cometidas ao longo da caminhada
cristã: "Estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se,
32 - Práticas Devocionais Prática da Confissão - 33

todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Embora você não tenha chegado ao ponto de satisfazer a
Cristo, o justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados" vontade de pecar, é justo que você lamente diante de Deus
(1 Jo 2.1-2.) Poucas coisas provocam tanto bem-estar como o potencial pecaminoso de que é portador. Já é um trans­
a prática da confissão: "Bem-aventurado aquele cuja iniqüi­ torno e sinal de decadência a vontade de mentir, a vontade
dade é perdoada, cujo pecado é coberto" (Sl 32.1). Não de adulterar, a vontade de aparecer, a vontade de roubar, a
obstante, é bom ficar bem claro que a confissão remove a vontade de difamar. Neste caso, você confessa não o pecado
culpa e a sujeira moral, mas não remove as conseqüências cometido, mas o pecado desejado. Este tipo de confissão é
naturais do pecado, embora possa aliviá-las. saudável, pois revela que você tem consciência pessoal da
O texto bíblico que mais encoraja a prática da confissão queda, da vulnerabilidade e da necessidade do auxílio?º
é de João: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e alto. Observe como o salmista se queixa de alguma cmsa
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda que o acompanha sempre: "A minha dor está sempre pe­
injustiça" (1 Jo 1.9). Se você acredita nesta dupla promessa rante mim" (Sl 38.17), "A minha ignomínia está sempre
- a promessa do perdão e a promessa da purificação - e faz diante de mim" (SI 44.15) e "O meu pecado está sempre
a confissão devida, você pode e deve levantar-se de seus diante de mim" (SI 51.3). A melhor confissão da pecamino­
joelhos na certeza de que alcançou ambas as bênçãos. sidade latente foi escrita e assinada por Paulo e se encontra
na Epístola aos Romanos: "Eu sei que em mim, isto é, na
O que confessar minha carne, não habita bem nenhum" (7.18).

Algumas pessoas têm dificuldade de confessar. Não sa­ 3. Confesse o seu envolvimento com a estrutura pecaminosa
bem exatamente o que declarar diante de Deus. Porque a deste mundo e com os pecados dos outros.
confissão deve ser consciente e precisa, aqui estão algumas
lembranças: Muito mais freqüentemente do que pensamos, certa�
atitudes nossas provocam o pecado alheio e vice-versa. E
1. Confesse o pecado cometido. muito fácil ser "cúmplice de pecados de outrem" (1 Tm
5.22). Os pais podem irritar os filhos, o marido bru�o e
_
egoísta pode levar à infidelidade a esposa, os patroes ricos
Deus exige que você confesse"aquilo em que pecou" (Lv
e sovinas podem causar desânimo e rebeldia aos tra��lh�­
5.5). Cite-o pelo nome certo. Talvez seja a inveja, a maledis­
dores, os governos injustos podem provocar desobed1encia
cência, a dificuldade de perdoar, a irritação, a palavra
impiedosa, a indelicadeza, o egoísmo, a soberba, a conten­ civil e anarquia. Esta quota de participação com o pec�do
geral precisa ser confessada. Isaías se declarou perdido
da, a lascívia, a falta de amor, a apropriação indébita, a
profanação do nome de Deus, o mau trato dispensado ao porque era homem de lábios impuros e habitava "no meio
cônjuge ou ao filho, a acepção de pessoas, a incredulidade dum povo de impuros lábios" (Is 6.6).
para com Deus e muitas outras coisas. Declare sua falha,
4. Confesse as faltas que lhe são ocultas.
desobediência e culpa.
Há pecados tão cornqueiros, costurneiros, generalizados
2. Confesse a pecaminosidade latente. que não são de imediato e fácil discernimento. Mesmo
Prática da Confissão - 35
34 - Práticas Devodonais

a ssim devem ser confessa dos, a exemplo de Da vi: "Quem Obstácutos à conf issão
sou eu p ar a saber os pecados que se escondem em meu
interior? Por favor, Senhor, perdoa estes meus pecados!" (SI O homem que cometeu adultério com Bateseba e m an­
19 .12 em A Bíblia Viva). Junto com esta c onfissão, vo cê deve dou m at ar o marido dela admite que perdeu muito tempo
fazer a súplica do Salmo 139: "So nda-me, ó Deus, e conhece enqua nto calou os seus pecados. A mão de Deus pesava
o meu coração; prova -me e conhece os meus pensa mentos;
sobre ele dia e noite e o seu vigor se tornou em sequidão de
vê se há em mim a lgum caminho mau, e guia -me pelo estio. Ele precisav a desesper a d amente do perdão de Deus
ca minho eterno". e da perfeita paz, que só viria m depois da confissão. Davi
mesmo se prejudicou e se desgastou desnecess ariam�nte,
atra sando o processo d a cur a do pec ado (Sl 32.1-5). E de
Formas de confissão t odo necessário co nhecer e analisa r os obstáculos que tor ­
n am morosa e tar dia a prátic a da confissão:
Tome cuidado com a confissão formal, generalizada de­
m ais, extremamente vaga, b ase ada em chavões, qu a se sem­ 1. Orgulho.
pre desacompa nhada de convicção real de pecad o e de pro­
o utro ingrediente indispensável, que é o arrependimento . O pecador não quer admitir que pecou e resiste ao
"Não
A confissão pode ser individual e coletiva. N a primeir a, cesso que o levaria a ter co nvicção de pec ado. Ele diz:
r ex t men te c nt r ár i o :
v ocê usa , o verbo n a primeira pessoa do singul ar: "Eu pequei", quando deveria dize a a o o
d r gr aç as
pequei". E o caso de D avi: "Pequei contra o Senhor" (2 Sm "Pequei". O fariseu da paribola de Jesus cheg a a a
ais homens, nem a ind a
12.13). E t ambém do principal personagem da parábola do a Deus porque não era como os dem
dia nte de
f�ho pród�go: "Pai, pequei co ntra o céu e diante de ti; já como aquele publicano que se declar ava culp ado
Deus (Lc 18.1-14). Tais pessoas preferem fugir a vida inteira
nao sou digno de ser chamado teu filho" (Lc 15.21). N a ivo e
::eg:1nda, você ,;1s,a o verbo n a primeir a pessoa do plur al: d a justiça divin a, à semelhança de C aim: "Serei fugit
N os pecamos . E o caso de Neemias na cidadela de Susã err a nte pela terra" (Gn 4.14).
ao t om ar conhecimento d a situação de Jerus a lém: "Eu e�
ca sa de meu p ai temos pecado" (Ne 1.6). N a confissão 2. Consciência endurecida.
coletiva, c ada um a ssume a sua própria culpa, como f amília
(eu e meus filhos pecamos), como igreja (eu e meus irmãos O pecador não percebe o seu próprio pecado. Enxerga
pecamos! e ,:orno na ção �eu e meus compatriot as pecamos). com facilidade e, às vezes com lentes de aumento, o pecado
alheio, mas é incap az de se ver "infeliz, miserável, pobre,
, A conf_rss�o pode ser amda normal e especial. A primeir a cego e nu", como aconteceu com o a njo da igreja em Laodi­
e a conf1ss ao de pecados e deslizes recentes, feita com o
o bjetivo de manter a higiene da alma . Depende de um a
céia (Ap 3.17). Este é um fenômeno comum. Qua ndo acu­
c�:mstante e apur ada sensibilidade e da prática da vigilâlit­ sa do, o pec ador sempre pergunt a: "Por que nos a mea ça o
cra. A segunda é a confissão de pecados e deslizes acumu­ Senhor com todo este gr ande mal? qu al é a nossa iniqüida­
l a d o s, tr a zid o s à ton a em ép o c a s de re a viv a ment o. de, qual é o nosso pecado, que cometemos contr a o Senhor
Depende de um mover podero so do Espírito de Deus na no sso Deus?" (Jr 16.10). Esta dificuldade lev a o pecador às
igreja . r a ia s do cinismo: "Em que despreza mos o teu no me?", "Em
36 - Práticas Devodonais Prática da Confissãn - 37

q ue o enfadamos?", "Em que havemos de tornar?" "Em 1. A diminuição ou a perda da paz de Cristo.
q ue te roubamos?" e "Que temos falado contra ti?" (MI
1.6,
2.17, 3.7,8 e 13). A paz interior e continuada é uma das maiores riquezas
dõ'"evangelho: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou" (Jo
3. Medo de pecar outra vez. 14.27). É sinal de comunhão perene com Deus e de confian­
ça nele: "Tu conservar ás em p erfeita paz aqu ele cujo pro­
O pecador admite qu e pecou, mas já cometeu o mesmo pósito é firme" (Is 26.3). Qualqu er alteração desta paz pode
P:cado outras �ezes e não E_:Stá suficientemente seguro que indicar a presença de alguma coisa errada no compo rta­
_ mento. Daí a palavra de Paulo: "Seja a paz de Cristo o
n �o � �o�etera mais. Entao, ele prefere não confessar a
r e mcidencia. Ele teme o cinismo, o que é uma virtude. árbitro em vossos corações" (Cl 3.15).
Ac<:>nt ec e, porém que a falta de confissão, além de outros
pr eJuízos� vai deixar a po rta aber'ta ao pecado. Se houver 2. A interrupção brusca da alegria.
arrepend1mento, nada impede que ele volte à confissão
qu antas vezes forem necessárias. Ora, se Jesus nos ensinou A rigor, salvo algum momento de tribulação, a alegria é
a p erdo:3-r "até setenta vezes sete" (Mt 18.22), não nos uma constante na vida do crente. Basta lembrar a famosa
p �rdoana o mesmo tanto se dele nos aproximarmos para advertência de Paulo: "Alegrai-vos sempre no Senhor" (Fp
d12er mais uma vez: "Estou arrependido" (Lc 17.3-4)? 4.4). Mas a alegria não combina com o pecado: "Suporto
tristeza por causa do meu pecado" (Sl 38.18). A escassês de
4. Noção de pecado. alegria está relacionada com o pecado. Por esta razão, ao
confessar o seu adultério com Bate-Seba, Davi suplica ao
Senhor: "Restitui-me a alegria da tua salvação" (Sl 51.12).'
O p ecador não sabe ao certo o que é pecado. Ele é capaz
de co�r o mos9-uito e engolir o camelo (Mt 23.24). Dá mais 3. O desagradável senso de culpa e de sujidade espiritual.
atença? à tradição cultur al do que à Palavra de Deus (Mt
15.6). A_s vezes, só enxerga o pecado sexual; outr as, só toma Invariavelmente o ser vo de Deus que comete pecado
conhec1mento do pecado social. Para resolver esta dificul­ sente em seguida, ou algum tempo depois, uma necessida­
dade realmente séria é necessário recorrer ao conceito de de enorme de perdão e de purificação. A experiência de
p ecado tão bem resun::1-ido nestas palavras: "Pecado é qnal­ Davi foi muito marcante quanto à sensação de imundícia
q u er falta �e conformidade com a lei de Deus, o u q ualquer moral. Ele chegou a pedir a Deus: "Não me repu lses da tua
transgressao dessa lei". p resença" (Sl 51.11). Suplicou também q ue o Senhor o
lavasse completamente da sua iniqüidade e o purificasse
Os alarmas de Deus de seu pecado (Sl 51.2), para que ele ficasse "mais alvo que
a neve" (51 51.7).
. Assim como a febre anuncia a existência de uma anorma­
lidade qu alquer do or ganismo, Deus faz uso de alguns 4. A pressão da boa consciência.
_
expedientes para levar o pecador à prática da confissão.
Entre eles, é possível mencionar: Se a consciência na.o for de todo perdida nem danificada,
Prática da Confissão - 39
38 - Práticas Devodonais
ado, o homem não
sup?rta
dor" (Lé 5.8). Por causa do pec
ela exe ��e �m papel acusatório muito válido . Jesus agu çou a voz de D eus na transfigu­
a glória do Senhor. O só ouvir ssem d e
a consc1encra d aquel es escribas e fariseus que levaram à sua edro , Tiago e João caí
ração de Jesus, fe z com que P mesmo
presença a mulher surpreendida em adultério, de tal modo medo (Mt 17.6). O
qu� eles abandonaram o local um por u m, a começar pelos bruços , tomados de grande país de Sansão (Jz
eão (Jz 6.22), com os
aconteceu com Gid
n:1,:3-1s :Velhos, deixando só Jesus e a mulher (J o 8.9). A cons­ João n a ilha de Patmos
cre ncia pura gaba-se de feitos tremendos. 13.20,22), com Isaías (Is 6.6) e coma em glória, or a atra vés
est
(Ap 1.17). D eus ainda se manif
, r atr vés d e uma mensagem pode­
d e um t exto sagrado o a a
5. O peso da mão do Senhor. riência pessoal com o Senhor.
rosa, ora atra vés de uma expe
A _ mão do S enhor abençoa (Ed 7.9, 8.18), mas também
castiga (Ex 7.5, 1 Sm 5.6). A experiência de muitos coincide 8. A palavra acusatória de alguém.
co m a de Davi: "De dia e de noite sentia a mão d e D eus a gora
es introspectivos até
pesando sobre mim, fazendo co m as minhas forças O que a Em certos casos, os expedient nam sozi­
a do ou não funcio
�ca faz com um pequ eno riacho" (SI 32.4 em A Bíblia Viva). apresentados não dão result
a ao pecador qu e le pecou.
e
E :ss e e stado de fra queza que aproxima o pecador d a
_ nhos. É preciso que alguém dig (2 Sm
a vi: "Tu és o home m"
pratica d a confissão. Foi o que Natã f ez com o rei D 29) e o
re i Aca be (1 Re 21.
12.7). Ou o que Elias f ez com o
6. A Ceia do Senhor. que Paulo f ez com Cef as (Gl 2.1
1-14).

Porqu� e xige uma auto-sondagem - "Examin e-se O ho­ 9. O escândalo.


mem a s1 mes m o, e assim coma do pão e beba do cálice " (1
Co 11.28) -, a c e leb ração eucarística pode d esencadea r ver­ r confessados e perdo ados
_ Os pecados ocultos podem se
d �d e rras e pre�i?sas co�issões de p ecado. Além de pre ve ­ mente a público. Quando,
_ sem que venham obr igatoria o é u:11-a
nir que a parhc1paç:3-o rrresponsável da Ceia é per igosa (1 rr ência do escânda l
Co 11.27-�0)� o apostolo mostra a grande vanta gem da porém, ist o não acontece , a oco e d e im­
expediente doloroso
nece ssidade . Trata-se de um
aut�-avahaçao_do comungante na pres ença do Senhor: "S e l par a acabar com o pecado
voces se e xaminarem cuidadosame nte a si mesmo s antes pacto, mas extremamente úti essei-t e o
ia confissão: "Conf
d e comer, não precisarão s er julgados e punidos" (1 Co secreto e provocar a n ecessár l e " (Sl
meu pecado e a mi
nha iniqüidade não m ais ocu � �
11.31 em A Bíblia Viva). nalmente respo nsabilizado
32.4). Só de pois de s er n a cio que Ac ã
a tomada de Ai é
7. O confronto com a santidade de Deus. pela derr ota do s israelitas n i contra o
adeir amente pe que
confessou o seu crime: "Verd á,
e assim" (Js 7.20). Jud
1!1:1 p e q ue no mo mento
n a pres ença da glória de Deus� S enhor D eus de Israe l, e fiz assi.In
um dos se is filhos d
e J acó e Lia , só admit
iu a he d ion d e z d

e

suficiente para abalar profundamente qualq uer pecador. quando o seu rela ciona me
Ele e nx erga claramente tanto a santidad e absoluta de Deus s eu pecado e de sua hipocrisia a é e la do
eio à tona: "Mais j u st
co mo a sua ��pra vaçã o I? esso al. Entã o é cap az d e reagir t o carnal com a nora Tamar v
-
como Pedro. S enhor, re trr a -te de mim, porqu e sou peca - que eu " (Gn 38.26).
40 - Práticas Devodonais
'
10. A disciplina eclesiástica.

Pode acontecer que o pecador não enxergue ou não se


CAPITU10 J
valha das várias oportunidades de confissão que Deus lhe
dá. Neste caso, para o bem dele e da igreja, será necessária
a disciplina eclesiástica. Esta medida terapêutica, embora
extrema, quando bem feita, pode dar excelente resultado.
O membro da igreja de Corinto que possuiu a mulher de
seu próprio pai e que foi duramente disciplinado por Paulo
(1 Co 5.1-5), alcançou mais tarde a bênção da plena restau­
ração de seu vergonhoso comportamento (2 Co 2.5-11).

Prática da Restauração

A prática da restauração é a arte de se colocar


contritamente nas mãos do divino Oleiro para
que ele refaça o vaso quebrado e lhe dê a forma e a
beleza anteriores, depois de qualquer crise ou
desastre de ordem religiosa. A restauração depende
da submissão ao tratamento dispensado
soberanamente por Deus e baseia-se na sua imensa
misericórdia.

São os vasos quebrados que precisam parar nas mãos do


Oleiro para serem outra vez modelados. Embora igualmen­
te desintereirados, desintegrados e esvaziados de seu res­
plendor antigo, nem todos os vasos partidos têm a mesma
história. Certamente eles se enquadrarão em um ou mais
de um dos seguintes danos ou ocorrências:

1. Perda do primeiro amor.

Você está no fundo do poço porque perdeu gradativa­


mente o entusiasmo, perdeu o gosto pela leitura da Bíblia,
42 - Práticas Devocíonais Prática da Restauração - 43

perdeu a vontade de orar, perdeu o gozo da comunhão com não é a' vara, mas a própria videira (Jo 15.5). Você trocou a
Deus, perdeu a força da esperança cristã, perdeu a capaci­ plenitude de Deus pela plenitude de seu próprio eu.
dade de crer, perdeu o poder da fé. Tornou-se frio, insensí­
vel, incrédulo e apático. Você trocou a Casa do Senhor (SI A capacidade do Restaurador
122.1) pela sua casa.
Basta passar os olhos na história da redenção para você
2. Perda das obrigações morais. descobrir ou redescobrir: a capacidade sem medida do Res­
taurador. Não importa o tamanho do estrago. Nem as
Você está no fundo do poço porque se desobrigou grada­ diferentes áreas em que se deram os estragos.
tivamente dos mandarnentos de Deus. Você se soltou. Fez
concessões à carne, ao mundo e ao diabo. Ao invés de não 1. Restauração física.
se conformar com este mundo (Rm 12.2), você passou a não
se conformar com a obrigação imposta por Jesus de negar­ Deus restaura a saúde ao doente (Is 38.16), a vista ao cego
se a si mesmo (Lc 9.23). Você trocou o fruto do Espírito pelas (Lc 4.12), a fala ao mudo (Me 7.35) e o juízo ao endemoni­
obras da carne (Gl 5.16-24). nhado (Me 5.15). Devolve à posição erecta a mulher por
dezoito anos encurvada (Lc 13.13). Restaura a mão até
3. Perda da pureza doutrinária. então ressequida (Lc 6.10).

Você está no fundo do poço porque foi se distanciando


2. Restauração espiritual.
gradativamente do compromisso doutrinário. Tudo come­
Deus restaura o homem da queda e do pecado, justifican­
çou quando você perdeu a noção da autoridade da Palavra do-o, santificando-o e glorificando-o. Ressuscita-o de entre
de Deus. A partir daí você passou a crer no Jesus histórico os mortos. Dá-lhe corpo novo, revestido de incorruptibili­
e não no Verbo que se fez carne (Jo 1.14). Você passou a crer
dade e de imortalidade (1 Co 15.53). Torna-o igual a Jesus
na reencarnação dos vivos e não na ressurreição dos mor­ Cristo (Rm 8.29-30, 2 Co 3.18, Fp 3.20-21, 1 Jo 3.2).
tos. Você passou a sobrecarregar cada vez mais os homens
e a dispensar cada vez mais o concurso de Deus. Você
3. Restauração do culto.
trocou a glória de Deus pela glória dos homens, trocou a fé
pelas obras.
Deus restaura o altar, o tabernáculo, o templo, os muros
e a cidade de Jerusalém, as tribos de Israel e a glória de Jacó
4. Perda do senso de dependência. (Na 2.2). Restaura a sorte de Judá e de Israel, edificando-os
como no princípio (Jr 33.7).
Você está no fundo do poço porque se envaideceu grada,­
tivamente até ao ponto de acreditar que não precisa mais 4. Restauração ecológica.
da sabedoria de Deus, da graça de Deus, do poder de Deus,
da presença de Deus. Você pode tudo, você dá conta de Deus restaura o planeta que o homem poluiu e estragou.
tudo, você está sempre certo, a última palavra é sua. Você Estende outra vez a camada de ozônio. Despolui rios, lagos,
44 - Práticas Devocionais Prática da Restauração - 45

mares, praias e oceanos. Replanta a flora e recria a fauna. interessado no bem-estar de Urias quando mandou buscá­
Cria novos céus e nova terra (2 Pe 3.13). Redime a criação lo da frente da batalha para Jerusalém: o rei queria apenas
do cativeiro da corrupção "para a liberdade da glória dos que ele se deitasse com a mulher para que a gravidez dela
filhos de Deus" (Rm 8.21). fhsse atribuída ao esposo. O presente que Davi lhe deu era
um instrumento para beneficiar o rei e não o valente oficial
5. Restauração final. do exército. Pior de tudo foi a encenação de Joabe e de Davi
para justificar a morte de Urias perante a opinião pública.
Deus em Cristo tira o pecado do mundo, refaz o que o Foi um caso de extrema corrupção, da qual Bate-Seba não
homem fez de errado. A história não termina com a notícia parece estar isenta (2 Sm 11.6-27).
de que "por um só homem entrou o pecado no mundo" Ora, depois de tanta miséria, o autor do Salmo que
(Rm 5.12), mas com a notíciq de que Jesus é "o Cordeiro de descreve a onisciência e a onipotência de Deus (Sl 139) está
Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). em pandarecos (SI 6.2-3), sob o peso esmagador da mão de
Deus (SI 32.4) e dentro de um tremedal de lama (Sl 40.2).
A restauração de Davi Ele gàsta pelo menos nove meses para reconhecer e confes­
sar tudo de errado que havia feito (2 Sm 12.13, SI 32.5).
É quase inacreditável que um homem como Davi, a quem Suplica a misericórdia de Deus na forma de perdão para o
se atribui a autoria de 73 dos 150 Salmos, e que possuía pecado (SI 6.1-7) e na forma de purificação para a injustiça
certos traços de caráter muito especiais (1 Sm 24.6, 26.8-11, (SI 51.1-12). Aceita a morte da criança, o incesto de Amnon,
2 Sm 23.13-17, 1 Cr 21.18-27), tenha descido tanto e come­ as trapalhadas de Absalão, a provocação de Simei, a mal­
tido pecados tão grosseiros depois de uma carreira acen­ dade de Aitofel, a morte de Absalão e a sedição de Seba -
tuadamente bem sucedida e depois de conquistar a �orno conseqüências diretas ou indiretas de seu mau exem­
admiração de todo o povo. Os pecados deste "mavioso plo (2 Sm 12.10-12).
salm�ta do Senhor" (2 Sm 23.1) não foram banais. Davi O processo de restauração tinha que incluir todos estes
cometeu adultério com Bate-Seba, cujo esposo não era ju­ acontecimentos e demorou mais de dez anos. Ao cabo de
deu, n1.as teria abraçado o judaísmo. Nesta ocasião, Urias, tudo, Davi recupera o prestígio, a autoridade, o trono, a
o heteu, mencionado como um dos trinta e sete valentes de comunhão com Deus, a delicadeza de seu caráter, as bên­
Davi (2 Sm 23.39), achava-se ausente da esposa por estar a çãos de Deus e a experiência de que "ond� abundou o
serviço do exército de Israel no assédio à Rabá (2 Sm 11.1). pecado, superabundou a graça" (Rm 5.20). E ele mesmo
O segundo grande pecado de Davi foi o assassinato de quem conta: "De todos os meus filhos, porque muitos filhos
Urias, "com a espada dos filhos de Amom" (2 Sm 12.9). Ele me deu o Senhor, escolheu ele a Salomão para se assentar
rnatou um homem virtuoso, que não aceitava privilégios se no trono do reino do Senhor sobre Israel" (1 Cr 28.5). Ora,
outros estivessem privados deles (2 Sm 11.6-13). Curiosa­ este Salomão era filho "da que fora mulher de Urias" (Mt
rnente, neste sentido, Urias era muito parecido com o rei - 1.6). Criado pelo profeta Natã (2 Sm 12.25), o mesmo que
Davi também não quis beber a água do poço de Belém acusou Davi de adultério, Salomão foi também escolhido
porque ela quase custou a vida de seus amigos (2 Sm por Deus para edificar o Templo do Senhor em Jerusalém
24.13-17). O terceiro grande pecado de Davi foi a conexão (1 Cr 28.6). O ponto mais alto da graça de Deus, porém, está
dos dois prin1.eiros pecados com a hipocrisia. Ele não estava na presença de Davi e Bate-Seba na árvore genealógica de
46 - Práticas Deuodonais Prática da Restauração - 47

Jesus Cristo, ao lado da virtuosa Maria e de algumas mu­ declaração de amor e a tríplice comissão haviam cancelado
lheres - Tamar, Raabe e Rute -, que jamais estariam ali se emocionalmente a tríplice negação de Pedro, livrando-o da
não fosse a maravilhosa e soberana graça de Deus (Mt "excessiva tristeza" (2 Co 2.7), curando-o de qualquer com­
1.1-1 7). A Bíblia também registra que Davi "morreu em plexo e tirando-o outra vez da pesca para o apostolado (Jo
ditosa velhice, cheio de dias, riquezas e glória" ( 1 Cr 29.28). 21.15-23).
Talvez seja o exemplo mais extraordinário de restauração
de toda a Escritura! O caminho da restauração

A restauração de Pedro Para sair do fundo do poço é preciso fazer alguma coisa.
Não o impossível. Apenas o possível. O impossível corre
A maneira como Jesus restaurou a Pedro é uma verdadei­ por conta de Deus. São coisas simples, mas fundamentais:
ra aula de psicologia e terapia pastoral. O apóstolo havia
cometido vários erros: não levou a sério o aviso de Jesus de 1. Entre com o desejo.
que o negaria por três vezes consecutivas, não se lembrou
de que a temperatura do ambiente espiritual não é obriga­ Este é o início de todo o processo. O "eu não quero" (Sl
toriamente a mesma em circunstâncias diferentes (a dife­ 81.11, Ap 2.21) atrapalha tudo. Lembre-se do lamento de
rença era enorme entre o Cenáculo e o Getsêmani) e emitiu Jesus sobre Jerusalém: "Quantas vezes eu quis reunir os
cheques muito altos sem o necessário suprimento: "Ainda teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo
que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo das asas, e vós não o quisestes!" (Mt 23.37). Mas até para
te negarei" (Mt 26.35). Por causa desta falta de avaliação querer é possív_el contar com o auxílio do Senhor: "Deus
adequada e justa, Pedro negou o Senhor as três vezes está operando em vocês, ajudando-os a desejar obedecer­
consecutivas e ficou arrasado: "E, caindo em si, desatou a lhe, e depois ajudando-os a fazer aquilo que ele quer" (Fp
chorar" (Me 14.72). Logo ele, a quem Jesus havia dito na 2.13 em A Bíblia Viva).
presença de todos: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edifica­
rei a minha igreja" (Mt 16.18). 2. Entre com o pedido.
A pública restauração de Pedro se deti a menos de qua­
renta dias depois da ressurreição de Jesus, num cenário Comece a orar perseverantemente para Deus o tirar "do
idêntico ao de sua chamada para ser pescador de homens, poço da perdição, dum tremedal de lama" (SI 40.2). Veja o
cerca de três anos antes (compare Lc 5.1.11 com Jo 2 1.1- 23). tríplice pedido de restauração de Israel no Salmo 80, cada
Após a pesca maravilhosa e após a refeição, ali mesmo na um dele encompridando o nome de Deus: "Restaura-nos,
praia, estando todos reunidos em torno do Senhor ressus­ ó Deus" (v.3), "Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos" (v.7) e
citado, sem mais nern menos, Jesus pergunta três vezes "Restaura-nos, ó Senhor Deus dos Exércitos" (v.19).
consecutivas a Pedro se ele o amava, dando ao apóstolo«
oportunidade de declarar também por três vezes consecu­ 3. Lembre-se onde, quando e como começou a crise que o
tivas em voz alta o seu amor por Jesus. A cada resposta de deixou no fundo do poço.
Pedro, o Senhor lhe dizia: "Apascenta as minhas ovelhas".
No final daquele encontro, a tríplice indagação, a tríplice Você precisa pegar o fio da meada outra vez. Foi este o
,
CAPlTIJ10 6
48 - Práticas Devocionais

conselho de Jesus àquele que havia abandonado o seu


primeiro amor: "Lembra-te de onde caíste" (Ap 2.5). Em
outras palavras: assuma o que você fez de errado. Note
bem, é preciso lembrar para confessar.

4. Confesse o iceberg todo.

Não é para confessar apenas o pecado mais grosseiro ou


apenas os pecados mais leves. É preciso confessar tudo: a
segurança demasiada, as brincadeiras "inocentes", as pe­
quenas e grandes concessões, a falta de vigilância, a negli­
gência devocional e o pecado de rebelião. Note bem, é
preciso confessar para não mais lembrar. Prática da Humildade
5. Renove a aliança.

Você precisa voltar "à prática das primeiras obras" (Ap A prática da humildade é a arte da contenção e
2.5). Aquelas que você observava com zelo e com alegria no privação da soberba e seus semelhantes: o
passado. Comprometa-se outra vez. Faça uma nova profis­ orgulho, a vaidade, a jactância, a altivez de espírito,
são de fé. Enfie de novo o pescoço debaixo do jugo liberta­ a auto-suficiência e a estima exagerada. Por sua
dor de Cristo: "Tomai sobre vós o meu jugo" (Mt 11.29). natureza, a humildade tem que se alojar primeiro no
íntimo para só depois se exteriorizar"'
6. Deixe o resto com Deus.

Este resto é o n1ais difícil, mas ele o fará. Deus vai curar A humildade não é a negação pura e simples de dons,
as feridas, cuidar das cicatrizes, consertar os traumas, recu­
1
capacitação e virtudes pessoais, mas o sentimento constan­
perar o tempo perdido, acabar tom os complexos, comis­ te da necessidade de Deus para se ter uma vida de vitória
sionar outra vez, devolver a alegria perdida e acalmar o seu sobre o pecado e sobre as circunstâncias e cheia q.e frutos
coração. Fique certo disso: "Entrega o teu caminho ao verdadeiros e saudáveis. Não é a mera rejeição de prêmios
Senhor, confia nele, e o mais ele fará" (SI 37.5). e coroas, mas a transferência destes para quem de direito,
como aconteceu com os vinte e quatro anciãos no Apoca­
lipse de João (Ap 4.9-11). Não é a auto-desclassificação, não
é a renúncia da inteligência, da sabedoria, da experiência,
da força de vontade e do trabalho árduo, mas a associação
disto tudo com os recursos que promanam de Deus. Não é
a inatividade, mas a atividade comandada e alimentada
pela sabedoria e pela providência de Deus. Não há como
50 - Práticas Devocionais Prática da Humildade - 51

quilíb rio, Vict or


negar, a humildad e é uma das virtud es mais difíceis e mais co nto rnar a soberba e manter o necessário e
os j or nais q �e
raras, p o ssível ap enas com au xílio do próprio Deus e pela Hugo , após ouvir os el ogios dos amigos, lia
r o p ecad o d o orgulh o d e nao
zelosa imitaçã o da humildade de J esus. o enxovalhavam. E para evita
na França d?
A dificu ldade da humildade decorre do fato de que ela t erem transgredido, os m onges de Cluny,
te d os que ti-
t�m 9- u e se r au�êntica. Não p ode s�r aparente. Nã o pode ser sécu lo 11, eram ob rigados a se curvar dian
fmgida. Ou e xiste ou não e xiste. E uma virtude par a Deus nham transgredido.
v er e não para o homem ve.r. Há pessoas soberbas que o da sob erba.
c o nsegu em dar uma aparência d e humildade, o que nã o A Bíb lia trata c om muita severidade o p ecad
t em valor nenhum diante de Deus. Há p essoas verdad eira ­ Eis aqui algu ns e xemplos:
m ente humildes, mais interessadas na h umildad e interi or,
que �ventualmente p o dem dar a impressã o de que nã o são 1. A oração de Davi.
h umildes. Cer tamente é o caso do salmista quando diz:
igo da sob erba,
"C o1:1preendo mais d o que tod os os meus mestres, porque Se nã o tivesse convicção p essoal do per
m da soberba
m�dito nos teus t este munh o s. Sou mais entendido d o que Davi nã o teria feit o esta súplica: "També
min e; e ntã� �erei
o s id o s os, porque guar do os t eu s p rec eitos". (SI 119.99-100).
guarda o t eu servo, que ela não me d o
transgressao (Sl
Na :7erdade, o que o autor faz aí é uma apologia das irrep reensível, e ficarei livre de grande
Escr itur as Sagradas e não d e si m esm o. Este é o te m a d e 19. 13).
todo o Salm o 119. É precis o t omar m uito cuidado com a
falsa hu mildad e. A per feita humildade de J esus nu nca foi 2. O provérbio de Salomão.
sequer arranhada p or frases com o estas: "Eu sou o pã o viv o
que de sceu do céu" (Jo 6.51), "Eu sou a luz do mu ndo" (Jo
Uma das frases mais suscinta e m ais sábia sobre o orgu ­
8.12), "Eu sou o bom pastor" (Jo 10.11), "Eu e o Pai som os
lho é da lavra de Salomão: "A soberba p recede a ruína, e a
u m" (Jo 10.30), "Eu, quand o f or le vantado da t erra, a trairei
altivez d e espírit o a queda" (Pv 16.18). A Bíblia Viva p r�f ere
todo s a mim m esm o" (Jo 12.32) e "Eu sou o caminho, a parafrasear assim: "A desgraça está um passo dep ois do
v erdad: e a vida: ninguém :em ao Pai senão p or mim" (J o orgulho; logo depois da vaidade vern a que da".
14.6). Sao Ber nardo tem, po is, t oda razão quando de fine a
virtude da h umildade com o "o mais perfeito co nh ecime nto
d e nós m e smosu . 3. A citação de Pedro.

A soberba é coisa séria Tanto Tiago (Tg 4.6) como P edro (I P e 5.5) trouxeram para
o Nov o Testament o outro provérbio de Salomã o sobre a

�esmo na vida secular a soberba é tratada com o algo soberba: "No trato uns com os outros, cingi-vos to dos d e
_ humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo
p erigoso . Diz-se com freqüência que a soberba tem sido um
� os motivo s d e derrotas surpreend entes no mu ndo espor­ aos humildes concede a sua graç a". O nosso comp orta ­
tivo . Os e ufóric os jogadores deixam a ch uteira à b eira do m ento nesta área determina a atuação d e Deus.
gr amado e entram no camp o d e salto alto, com enta a
t orcida para zombar da auto-suficiência dos atletas. Para 4. O cântico de Maria.
52 - Práticas Devocionais Prática da Humildade - 53

Por ter sido escolhida para ser a mãe de Jesus, Maria ficou profecia do Senhor e a árvore cuja altura chegava até ao céu
impressionadíssima com o trato que Deus dispensa aos foi de súbito derrubada: Nabucodonosor teve um distúrbio
soberbos de um lado e aos humildes do outro. O Poderoso mental que o levou a passar algum tempo na companhia
dispersou os que no coração alimentavam pensamentos c:tos animais do campo, como se fosse um deles, até apren­
soberbos, derrubou de seus tronos os poderosos e despe­ der que o"Altíssimo tem dornínio sobre o reino dos ho­
diu vazios os ricos. Todavia exaltou os humildes, encheu mens, e o dá a quem quer" e "pode humilhar aos que
de bens os famintos e amparou a Israel (Lc 1.46-55). O anjo andam na soberba" (Dn 4.1-37).
Gabriel disse que ela era "muito favorecida" (Lc 1.28),
Isabel disse que ela era "bendita entre as mulheres" (Lc Prevenção da soberba
1.42) e as gerações futuras diriam que ela era uma mulher
bem-aventurada (Lc 1.48), mas Maria se dizia "serva do Outro expediente que mostra a seriedade e o malefício
Senhor" (Lc 1.38,48). da soberba foi o cuidado de Deus em colocar em Paulo o
estranho mas eficaz espinho na carne, que no entendimento
Tratamento de choque do ap:óstolo era"mensageiro de Satanás, para me esbofe­
tear, a fim de que não me exalte". (A paráfrase da Bíblia
A soberba é um problema tão sério que exige urna série Viva diz:"Deus ficou receoso de que eu me inchasse".)
de medidas de caráter radical para acabar com a doença. Todos os homens são propensos à vaidade, sobretudo
Veja estes dois exemplos: depois do sucesso, depois de certos privilégios, depois dos
elogios. Paulo não era excessão à regra. Ele havia sido
1. O caso do Egito. arrebatado ao terceiro céu e ouvido palavras inefáveis. O
espinho na carne, embora incômodo e humilhante, tinha o
Foram necessários quarenta anos de desolação e disper­ propósito de reduzir o risco de Paulo começar a chamar a
_
sao para curar a soberb a do Egito e tornar o país"o mais atenção dos outros para si mesmo e para aquela experiência
humilde dos reinos". A vaidade de Faraó desta época era inaudita. O apóstolo por três vezes orou ao Senhor para que
tanta que ele dizia a respeito do rio Nilo:"O rio é meu, e eu o retirasse e por três vezes Deus não satisfez o seu desejo e
o fiz para mim mesmo" (Ez 29.1-16). lhe disse: "O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Ao
final, Paulo entendeu o que estava acontecendo e aceitou
2. O caso de Nabucodonosor. alegremente as regras do jogo:"Quando estou fraco, então
sou forte - quanto menos tenho, mais dependo dele" (2 Co
A soberba do rei da Babilônia foi semelhante a do rei do 12.10 em A Bíblia Viva). Graças a esta medida preventiva,
Egito. Mesmo prevenido em sonhos por Deus com um ano Paulo nunca foi encostado, nunca deixou de produzir fru­
de antecedência e exortado por Daniel a pôr termo em seus tos, nunca cometeu escândalo."O primeiro passo rumo à
pecados pela prática da justiça, Nabucodonosor não se humildade", lembra C. S. Lewis,"é o reconhecimento do
humilhou diante do Senhor:"Não é esta a grande Babilônia nosso orgulho". Os espinhos na carne que Deus distribui
que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso por aí ajudam os homens a recusar vezes sem conta o
poder, e 1:ara glória da minha majestade?" Logq após pedestal que a cultura mundana associada à vontade de
_
proferir taIS palavras cheias de arrogância, cumpriu-se a aparecer quer construir para eles.
Prática da Humildade - 55
54 - Práticas Devodonaís
e " (Fp
Sucesso com humildade eia de Paulo: "Tudo posso naquele que me fortalec
4.13).
O sucesso faz parte dos planos de Deus para o homem.
Sucesso na vida devocional, no matrimônio, na criação e 2. O papel da humildade.
educação dos filhos, nas relações hu manas, no exercício da
ae
profissão e no desempenho dos dons do Espíritp. Deste Porque impede o desenvolvimento da auto-suficiênc�
leva o crente a buscar constantemente a direção, o au :xíl10
e
sucesso global depende, sob a perspectiva humana, a velo­
numa
cidade da implantação e da plenitude do reino de Deus na bênção de Deus, a verdadeira humildade redunda
ando sou
t erra. Uma vez satisfeitas todas as exigências de Deus, o vida bem sucedida. Daí o raciocínio de Paulo: "Qu
qu e
sucesso está garantido: "Tão-somente sê forte e mui cora­ fraco, então é que sou forte" (2 Co 12.10). A e xplicação
d José mqu al q
a Bíblia dá para o fenomenal sucesso
joso para teres o cuidado de fazer segundo toda lei qu e meu e e uer
_
1to) e
s�rv.? Moisés te ordenou: dela não te d esvies, nem para a lugar (na casa de Potifar, no cárcere � no _trono do E?
drrelta nem para a esquerda, para que sejas bem sucedido em qualquer circu nstância (amado,
mvepdo, calu niado e
" (Gn
por onde quer que andares" (Js 1.7). Na verdade, o sucesso honrado) é sempre a mesma: "O Senhor era com José
s cesso
39.2, 3, 21, 23). A expressão é aplicada também ao
é ine vitável para quem está plantado junto às águas: "Tudo u
2 Sm
quanto ele faz ser á bem sucedido" (SI 1.3). Esta promessa de Davi: "O Senhor era com Davi" (1 Sm 18.12, 14, 28;
não se encontra apenas no Velho Testamento. Jesus chego u 5.10, 7.3, 8.14).
a dizer que o sucesso de seus discípulos é uma das expres­
sõ es de louvor a Deus: "Nisto é glorificado meu Pai, em que 3. O papel da vigilância.
deis muito fruto" (Jo 17.8).
Todavia há algu mas coisas que deve m ser cuidadosa­ conl
mente lembradas: Se a humildade não for pru dentemente mantida,
a vez,
certeza o sucesso fomentará a soberba e esta, por s u
inex orav elme n­
a ruína. Assun, uma história de sucesso vai
leva ao
1. O papel da videira. t e por água abaixo. É neste caso que o sucesso
lamar
fracasso. Daí o cuidado de algumas pessoas em proc
s do Senh or: "Para
O sucesso está condicionado ao relacionamento pessoal não as suas virtudes mas as grandeza
forte
muitos sou como um portento, mas tu és o me
u
e permanente com Jesus: "Eu sou a videira, vós os ramos.
r, já a
Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; refúgio" (SI 71.7), "Se não fora o au xílio do Senho
(Sl 94.17 )1 "Não
porque sem mim nada podeis fazer" CTo 17.5). Paulo tam­ minha alma estaria na região do silêncio"
as nos
bém fala sobre isto: "Graças a Deus que em Cristo sempre fosse o Se nhor, que esteve ao nosso lado, as águ
ia vem
nos conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta em t eriam submergido" (SI 124.1-5) e "A nossa suficiênc
a sobe rba/ o
todo lugar a fragrância do seu conhecimento" (2 Co 2.14t­ de Deus" (2 Co 3.5). Como prevenção contra
e nt os
Assim como a locomotiva movida a eletricidade não corre povo de Israel deveria ter em memória per�an � a
t u cora çao: A mmh
se não estiver continuamente se encostando num fio d e alta benefícios do Senhor: "Não digas no e
rique -
t ensão, o crente não anda e não prod uz nada se não estiver força e o poder do meu braço me adquiriram estas
ligado à fonte de todo poder, que é Deus. Esta é a experiên- zas" (Dt 8.17).
,
CAPITll101
56 - Práticas Devocionais

Humildade sem medo

Muitos têm medo da humildade. Acreditam que ela não


leva a nada, não produz resultado algum, é perda de tempo,
é nadar contra a correnteza, é expôr-se à exploração alheia.
O medo decorre da lei do mais forte que prevalece desde a
queda do homem e cada vez ma.is se amplia. A cultura
mundana valoriza a soberba e não a humildade. Dá mais
valor à roupa, ao nome, aos títulos, aos diplomas, aos anéis,
ao dinheiro, ao status social, à pose, ao poder, e não reco­
nhece o valor da piedade, da religiosidade, da santidade de
vida e da modéstia cristã. Daí o medo de ser esmagado pela
multidão ao tentar sair dela e ser diferente. Embora até Prática da Instrospecção
certo ponto razoável, o medo da humildade desaparece
quando o crente se conscientiza de que ela é de fato a chave
do verdadeiro sucesso e de que, na difícil prática da humil­
dade, ele pode contar com a proteção da poderosa mão de A prática da introspecção é a arte de investigar-se
Deus: "Sejam humildes debaixo da poderosa mão de Deus acuradamente a si mesmo com o propósito de
para que ele os honre no tempo certo" (1 Pe 5.6). Entre ser localizar os erros e os acertos, as qualidades boas e as
honrado aqui e agora pelos homens e ser honrado por qualidades más, a virtude e o pecado, o sucesso e o
Deus, a diferença é enorme. A humildade também tem fracasso, sempre sob a perspectiva cristã. Embora a
galardão, tanto nesta vida como na que há de ser. É melhor Bfblia ensine e reforce o valor da auto-sondagem,
perder qualquer medo! não se pode dispensar a sondagem realizada pelo
próprio Deus, em resposta à oração.

Depois do Pai Nosso, a oração talvez mais repetida pelos


cristãos é a fa1nosa oração do r�i Davi: 11 Sonda-me, ó Deus,
e conhece o meu coração: pri:>Va-me e conhece os meus
pensamentos; vê se há em mim algum cam�o mau, e
guia-me pelo caminho eterno 11 (Sl 139.23-34). E bom notar
que no início do Salmo, Davi reconhece a plenitude da
onisciência de Deus e por esta razão faz as seguintes asse­
verações: 11 tu me sondas e me conheces 11 , 11 Sabes quando me
assento e quando me levanto", 11 De longe penetras os meus
pensamentos 11 , 11 Ainda a palavra me não chegou à língua, e
i�u, Senhor, já a conheces toda 11 e "Tal conhecimento é mara-
Prática da Introspecção - 59
58 - Práticas Devocionais
é possível conhec�r
vilhoso demais para mirn. 11 (SI 139.1-6). É muito provável d e uma sonda, este aparelho com o qu al
que este pedido de sondagem esteja intimamente relacio ­ 0 fundo do mar, o subsolo
, a atmosfera ( sonda met ereol o­
(sonda lu na:) � o
nado co m a tremenda dificuldade d o salmista em admitir gica), 0 espaço (sonda espacial), a lua ,
ple namente o grave pecado que e le cometeu co ntra Urias, o rganismo (s onda uretral,
sonda vesical, etc). Dai a suphca _
-m ( nfia ma nda d entre d e m1112:),
c o ntra a f arnília, contra o pov o e contra Deus por o casião do salmista: 11 So nda e e u so
11 139.23). Salomao
de s eu adultério com Bate -Seba (2 Sm 12.1-15). A prática da ó Deus e conhece o meu c oração (SI
introspecção é em extrem o necessária por causa da dificul­ e nsina �ue a sondag em de
D eus é mais válida que ª,ªu �o ­
to aos se us propnos
dade nata que todos temos de admitir e nomear as próprias crítica: 7odo caminho do homem é re 1
1

o s corações 1 (Pv 21.2 ).


faltas: 11 Quem há que p ossa discernir as próprias faltas? 11 (Sl o lhos mas o S enh or s onda
o d e submet er
19.12). 4. Ó quarto verbo é provar e denota a açã
rno e la p ensa, sente
a pessoa a um teste qualquer para v er co o ouro,
o l prova a prata e o forno
Os verbos da introspecção e r eage . Assim com o o cr is
0 S enhor prova o s c orações
(Pv 17.3)'. O q�e acontece u com
gigante sca, d a �ual
Há pelo men os quatro verbos nas Sagradas Escrituras Abraão no m onte Mor iá foi uma pr ova cid o
e tremendament e for tale
que expre ssam a ação da investigaçã o d o conteúdo huma­ 0 patriarca saiu v encedor
;

eu I saque
o fo i posto à prova, oferec
1

no , de seu comportamento , de suas tendências, de seus 1 Pe la fé Abraão , qu and


1

d esejos e de seus segred os. Embora não se jam sinônim os (Hb 11.17).
p erfeitos, todos eles levam à introspecçã o.
1. O primeiro é examinar e denota a ação de c onsiderar, Áreas de sondagem
investigar, observar, analisar atenta e minuciosamente . É
ondag e m tem que
usado nas instruções para a celebração da Ceia do Senhor : Para v ocê se conhecer a si mesmo, a s
e su a vida d ev e ser
11 Examine-se o h omem a si m esm o , e assim c oma d o pão e s er ampla e profunda. Nenhuma área d
e numa d el�s, p ode
b eba do cálice 11 (1 Co 11.28). O mesmo verbo aparec e nes ta poupada deste e xame m eticuloso, porqu e p os ­
ecção m oral d e que v o ce
e x ortação : 11 Concentra-t e e e xamina-te, ó nação , que nã o e star alo jad o o fo co da inf
edo , sem rese rv,�:,5-
t ens pudor, antes que v enha sobre ti o furo r da ira d o suidor. Façà um exame completo, sem m
sem t ratam ent o nao
S enhor 11 (Sf 2.1). Sem diagnóstico não há tratament o e
2. O segundo é esquadrinhar e denota a ação de investi­ há cura.
gar a área toda miudamente, pedaço por pedaço, quadri­
n ho p o r quadrinho. N o Salm o 10 lê-s e qu e D e us 1. É preciso sondar a nascente de tudo.
e squadrinha a maldade d o p erv erso até nada mais achar
s, Deus é, capaz de
(v.10). O autor d o famoso Salmo 139 diz: 11 Esquadrinhas o Na lingu ag em d o profeta J eremia1
11.20). E dele �ue
m e u andar º ( o hom em na posição vertical, na parte clar a d o provar 1 0 mais íntimo d o c or11 açã o 1 (Jr
1

d ia) 11 e o meu deitar 11 (o hom em na posição horizo ntal, .n.a. 11 pro cedem as f o nte
s da vida (Pv 4.23). Daí a conhecida
, e conhece o m eu coração (Sl
11

parte escura d o dia), "e c onhec es todos os meus caminhos 11 oração: 11 S onda-me, ó Deus
(v.3). 139.23).
3. O t erceiro é sondar e d eno ta a ação de examinar
profundament e tod o o interior, como se f osse com o auxílio 2. É preciso sondar as razões pessoais.
60 - Práticas Devocionais Prática da Introspecção - 61
Por que penso assim? Por que falo assim? Por que me 6. É preciso sondar a fé.
comporto assim? Por que ajo assim? Nem sempre a moti­
vação é pura. Nem sempre conhecemos a verdadeira moti­ Veja a exortação: 11 Examinai-vos a vós mesmos se real­
vação. Por exemplo, os que pregam o evangelho nem mente estais na fé" (2 Co 13.5). Pode dar-se o caso de você
sempre o fazem por amor a Cristo ou por causa da conde­ ter fé sem obras (fg 2.14), pequena fé (Mt 6.30) ou fé
nação eterna dos que se perdem, mas "por inveja e porfia", nenhuma (Mt 13.58). Como também pode dar-se o caso
como registra o apóstolo Paulo (Fp 1.15). contrário de você ter fé sem hipocrisia (1 Tm 1.5), grande fé
(Mt 15.28) ou estar cheio de fé (At 6.5). Investigue a quali­
3. É preciso sondar as reações a que estamos sujeitos. dade e o nível de sua fé.

Reação é resposta que você dá "a uma ação qualquer por 7. É preciso sondar o amor.
meio de outra ação que tende a anular a precedente" (Au­
rélio). O estudo de nossas reações revela o conteúdo de O amor a Deus e ao próximo é de suma importância. Dele
nossa espiritualidade. Veja a reação de Caim quando Deus dependem "toda a Lei e os profetas" (Mt 22.40). Deus nos
não se agradou de sua oferta (Gn 4.5), a reação de Lameque submete a testes para provar a sinceridade, o tamanho e a
quando um rapaz lhe pisou (Gn 4.23), a reação de Moisés força de nosso amor. O amor não pode ficar só em palavras
quando viu a adoração do bezerro de ouro (Ex 32.11) e a - o próprio Deus diz que ama e prova esse amor 11 pelo fato
reação do jovem rico quando Jesus ordenou que ele ven­ de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores 11
desse os seus bens em favor dos pobres (1vk 10.22). (Rm 5.8). Deixe que de vez em quando Jesus lhe faça a
mesma pergunta dirigida a Pedro: 11 Tu me amas?° (Jo 21.15).
4. É preciso sondar a consciência.
8. É preciso sondar o trabalho.
Nem sempre é seguro apoiar-se na consciência. Com o
apoio dela você pode fazer bobagens e cometer erros gra­ Por vezes há mais palavras do que ação, há mais plane­
ves. Lembre-se que a consciência pode ser boa (1 Tm 1.5), jamento do que execução, há mais promessas do que esfor­
limpa (1 Tm 3.9) e pura (2 Tm 1.3) e também fraca (1 Co ço, há mais relatórios do que atividade, há mais dispersão
8.7), corrompida (Tt 1.15) e cauterizada (1 Tm 4.2). do que concentração, há mais foguetório do que amor, há
mais ambição do que prestação de serviço. São riscos a que
você está sujeito. Daí a validade da exortação: 11 Prove cada
5. É preciso sondar o caráter.
um o seu labor" (Gl 6.4). Esta sondagem deve ser levada
muito a sério à vista da seleção que Deus há de fazer de
O seu modo tradicional de ser, de sentir: e de agir inclui nossas obras no dia de Cristo: o que for comparado à
só qualidades boas? Não havia em todo I�rael homem tão madeira, feno e palha há de ser destruído pelo fogo, e o que
celebrado por ;sua beleza e perfeição física �1.uanto Absalão, for comparado a ouro, prata e pedras preciosas há de ser
mas este filho de Davi tinha um péssimo caráter (2 Sm preservado (1 Co 3.10-15).
14.25). Já Timóteo não parecia fisicamente muito saudável
(1 Tm 5.23), mas possuía um caráter provado (Fp 2.22). 9. É preciso sondar o comportamento diário.
62 - Práticas Devodonais Prática da Introspecção - 63

O que você pensou hoje, o que você viu e ouviu hoje e o a sua vida irregular: "Não tenho marido 11 (Jo 4.16-18). Foi
que você fez hoje - foi tudo do agrado de Deus? A santifi­ assim com o jovem rico: 11 Vai, vende tudo o que tens, dá-o
cação progressiva depende deste cuidado, desta avaliação, aos pobres, e terás um tesouro no céu; então vem, e segue­
desta sondagem. Sem ela não pode haver confissão de me 11, e deu certo, pois o moço deve ter enxergado a distância
pecado e restauração. É a sondagem bem feita que nos que ainda o separava da vida eterna, não obstante o seu
transporta do caminho mau para o caminho eterno (SI compromisso moral com o Decálogo (Me 10.21-22).
139.24).
Auto-sondagem e sondagem alheia
Sondagem de cima
O homem, porém, não está isento da auto-sondagem.
As Escrituras atribuem o exercíci� da sondagem especial­ Tem a obrigação de examinar-se a si mesmo (1 Co 11.8),
mente a partir da atuação de Deus. E ele quem esquadrinha esquadrinhar os seus caminhos (Lm 3.40) e provar o seu
(SI 139.1-6), quem sonda (Ap 2.23) e quem prova (SI 11.5). labor (Gl 6.4). Para tanto é necessário parar de mentir a si
E a sondagem mai:3 séria, mais profunda, mais completa, próprio, acabar com as eternas desculpas, confessar tudo
mais justa e mais confiável. Deus é o sondador por excelên­ que sabe de errado, cultivar a capacidade de ouvir repreen­
cia: 11 Todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sões, preocupar-se primeiro com a trave que está em seu
sonda mente e corações 11 (Ap 2.23). Ele provoca, incita, próprio olho e depois com o argueiro que está no olho de
excita e leva a cabo a prática da introspecção. Deus é seu irmão (Mt 7.3) e dar-se ao trabalho de conhecer o seu
extremamente sábio, eficiente e original no exercício desta íntimo.
misericórdia. Em alguns casos a sondagem se inicia e até mesmo se
1. Uma simples pergunta de Deus é suficiente para levar desenrola através da participação de um parente, amigo,
alguém a conhecer-se a si mesmo. Foi assim com Adão: irmão na fé ou guia religioso. Davi precisou do profeta Natã
11
Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de para tomar conhecimento de sua grave crise espiritual (2
que te ordenei que não comêsseis?" (Gn 3.11). Foi assim com Sm 12.1-15). Daí a validade da mútua exortação preconiza­
Caim: 11 Por que andas irado? e por que descaiu o teu sem­ da na Epístola aos Hebreus: 11 Exortai-vos mutuamente,
blante? 11 e ainda: 11Onde está Abel, teu irmão?" (Gn 4.6,9). cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fi.In de que
Foi assim com Elias, quando o profeta estava profunda­ nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado"
mente desanimado no interior de uma caverna do monte (3.13).
Horebe: 11Que fazes aqui, Elias? 11 (1 Rs 19.9,13). Foi assim Precisamos temer o endurecimento progressivo. Ele pro­
com Jonas: 11 É razoável essa tua ira? 11 CTn 4.4). Foi assim com voca a perda da sensibilidade espiritual. E o caso do pastor
o leproso agradecido: "Não eram dez os que foram cura­ da igreja em Laodicéia, que se dizia rico e abastado quando,
dos? Onde estão os nove? 11 (Lc 17.17). Foi assim com Pedro: na verdade, era "infeliz, miserável, pobre, cego e nu 1 1. Este
1
1 Amas-me mais do que estes outros?" Go 21.15). personagem é aconselhado a usar colírio para enxergar-se,
2. Outras vezes, Deus produz o mesmo resultado através antes que fosse definitivamente vomitado da boca de Deus
de uma ordem qualquer, aparentemente sem muito nexo. (Ap 3.14-22).
Foi assim com a mulher samaritana: 11 Vai, chama o teu
marido e vem cáU, e deu certo, pois a mulher trouxe à bai..la
CAPlMO�

Prática da Vigilância

A prática da vigilância é a arte de estar atento,


estar de sobreaviso, estar de sentinela, estar
apercebido contra qualquer perigo que põe em risco a
perfeita comunhão com Deus. Depende
primeiramente de uma avaliação pessoal nem muito
otimista nem muito pessimista. Ordenado por Jesus
Cristo, é um exercício de natureza preventiva, que
associa a humildade com a prudência, muito bem
expressa nesta advertência: "Aquele que julga estar
em pé, tome cuidado para não cair" (1 Co 10.13 em
A Bfblia de Jerusalém). A vigilância não pode ser
confundida nem com o medo nem com a ansiedade.
É apenas uma dose equilibrada de cuidado com a
soberana e completa vontade de Deus.

Para proteger o gado, a lavoura e os centros urbanos, os


judeus construíam as chamadas torres de vigia. Elas eram
encontradas nos pastos (Mq 4.8), nas vinhas (Is 5.2) e nas
cidades (Sl 127.1). Em alguns casos, uma torre distanciava­
se da outra apenas trinta e dois metros, para melhor segu -
66 - Práticas Deuocionaís Prática da Vigilância - 67

rança da população. De forma quadrada ou cilíndrica, as orai, para que não entreis em tentação: o espírito, na verda­
torres eram construídas a dois metros à frente do muro ou de, está pronto, mas a carne é fraca 11 (Mt 26.41). São duas
em cima deste. Na época de Esdras e Neemias, havia uma atividades que se misturam e se completam. Não basta
torre em Jerusalé1n chamada a Torre dos Cem - talvez orar: é preciso vigiar cuidadosamente. Não basta vigiar: é
porque tivesse cem côvados de altura, ou porque fosse preciso orar para alcançar sabedoria e poder para vencer
alcançada por uma escada de cem degraus, ou ainda por­ tentações e provações.
que reunisse uma guarnição de cem homens (Ne 3.9). As A Bíblia diz que o rei Uzias edificou torres de vigia no
torres serviam de proteção contra animais selvagens, ladrõ­ deserto e cavou muitas cisternas, porque tinha muito gado,
es e exércitos invasores. A vigilância era de dia e de noite e tanto nos vales como nas campinas (2 Cr 26.10). Esta asso­
os guardas ansiavam pelo romper da manhã (SI 130.6). A ciação entre torres e cisternas coincide com a associação
necessidade de vigilância estava tão arraigada que, ao plan­ entre vigiar e orar. O gado de Uzias precisava de proteção
tar uma vinha, era costume construir não só a cerca e o e de água. O rebanho de Deus também precisa de vigilância
lagar, mas também a torre de vigia, assegurando assim a e de comunhão. De vigilância, para não ser despedaçado
posse dos frutos (Mt 21.23). por lobos vorazes (At 2.0.29) e levado por ladrões que
roubam, matam e destroem (Jo 10.10). De comunhão, para
Vigilância espiritual matar a sede profunda de Deus (SI 130.6). Vigiar sem orar
seria muito cansativo e poderia redundar em perniciosa
Jesus insiste muito na prática da vigilância. O imperativo arrogância. Orar sem vigiar seria uma temeridade.
1
1vigiai 11 aparece três vezes na parábola da figueira (Me
13.32, 35 e 37), uma vez na parábola das dez virgens (Mt Áreas de vigilância
25.13) e duas vezes na cena do,Getsêmani (Me 14.34 e 38).
O texto de Me 13.37 é muito enfático: 11 0 que, porém, vos 1. É preciso vigiar a passagem obrigatória da palavra:
digo, digo a todos: Vigiai! 11 1
1 Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus

A ordem de vigiar não está apenas no ensino de Jesus. lábios 11 (SI 141.3).
Paulo dirige-a aos presbíteros de Éfeso (At 20.31) e às igrejas 2. É preciso vigiar a mente: "Tudo o que é verdadeiro,
de Corinto (1 Co 16.13) e Tessalônica (1 Ts 5.6). Aos cristãos tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é
judeus expulsos de J�rusalém e espalhados pelo Porto, puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se
Galácia, Capadócia, Asia e Bitínia, Pedro escreve: "Sede alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que
sóbrios e vigilantes 11 (1 Pe 5.8). A igreja em Sardes recebe a ocupe o vosso pensamento11 (Fp 4.8).
mesma exortação (Ap 3.2). Depois de glorificado, Jesus 3. É preciso vigiar o olhar: 11 Não porei urna coisa vil
declara que é 11 bem-aventurado aquele que vigia e guarda diante dos meus olhos" (SI 101.3 em A Bíblia de Jerusalém).
as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua 4. É preciso vigiar o patrimônio religioso: 11 Segura com
vergonha 11 (Ap 16.15). firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa"
(Ap 3.11 em A Bíblia de Jerusalém).
Torres e cisternas 5. É preciso vigiar o trato dispensado ao sexo oposto:
"Trata as mulheres mais moças como irmãs, com toda a
Jesus associou o verbo vigiar com o verbo orar: 11 Vigiai e pureza" (1 Tm 5.2 e1n A Bíblia na Linguagem de Hoje).
68 - Práticas Devodonaís ,
6. É preciso vigiar o tempo: 11 Aproveitem bem o tempo
porque os dias em que vivemos são maus" (Ef 5.16 em A
Bíbli é: na Linguagem de Hoje).
CAPIMO�
7. E preciso vigiar as oportunidades: "Se você pode se
tornar livre, então aproveite a oportunidade º (1 Co 7.21 em
A Bí�lia na Linguagem de Hoje).
8. E preciso vigiar o amor: 1Tenho contra ti que abando­
naste_ o teu primeiro amor 11 (Ap 2.4).
9. E preciso vigiar a fé: "Examinem-se para ver se estão
firmes na fé; façam a prova vocês mesmos 11 (2 Co 13.5 em A
Bíblia !1ª Linguagem de Hoje).
10. E preciso vigiar as intenções, os meios, a qualidade
do trabalho, a correção doutrinária e até o zelo: 11 Procura Prática do Discernimento
apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem
de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade 11 (2 Tm 2.15).
11. É preciso vigiar as coisas tidas de somenos impor­ A prática d� discen:imento 1 a arte de distingüir
tância: 11 Peguem as raposas, apanhem as raposinhas, antes com a maior precisão posszvel entre duas ou mais
que elas estraguem a nossa plantação de uvas, que está em coisas, cujas diferenças nem sempre aparecem à
flor 11 (Çt 2.15 em A Bíblia na Linguagem de Hoje). primeira vista. Sem a prática do discernimento é
12. E preciso vigiar especialmente os calcanhares de possível chamar o mal de bem e o bem de mal, a
Aquiles, aquelas áreas mais vulneráveis que estão no fun­ escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o
clo do coração humano: 11 0 que sai do homem, isso é o que amargo de doce e o doce de amargo (Is 5.20).
o contamina 11 (Me 7.20).
O assuhto é de tanta complexidade e importância que
Salomão, logo que assumiu o trono de Israel, levou-o em
oração a Deus: 11 Dá a teu servo coração compreensivo para
julgar o teu povo, para que prudentemente discirna entre
o bem e o maP1 (1 Rs 3.9).

' Áreas de discernimento

1. É preciso discemir entre o hem e o mal

Nem sempre o mal parece rnal, ne1.n sempre o bem parece


bem. Uma das tarefas dos sacerdotes na história do povo
70 - Práticas Devocionais Prática do Discernimento - 71

de Israel era ensinar-lhe a distingüir entre o santo e o 4. É preciso discernir entre a falta alheia e a falta propria.
profano, entre o imundo e o limpo (Ez 44.23). Mas em
época de decadência, até os sacerdotes tinham dificul­ Com muita facilidade e com muito risco enxerga-se a
dade de enxergar a diferença entre uma coisa e outra falta alheia, enquanto que a falta própria passa desaperce­
(Ez 22.26). bida (Sl 19.12). Foi o que aconteceu com Davi ao ser con­
frontado por Natã. Con1 incrível rapidez o salmista
2. É preciso discernir entre o falso e o verdadeiro. discerniu a injustiça do homem rico da parábola do profeta
e nem passou por sua cabeça que a ele se referia a dura
acusação (2 Sm 12.1-6). Judá, um dos doze filhos de Jacó,
O falso é falso. Não é verdadeiro. Mas sempre tem discerniu claramente o pecado da nora Tamar e chegou a
semelhanças com o verdadeiro, para passar por verda­ condená-la à morte, mas não enxergou o seu próprio peca­
deiro, sem ser verdadeiro. Aqui está uma área de muito do, senão depois de acusado (Gn 38.12-26).
risco: agarrar-se ao falso e deixar escapar o verdadeiro.
Há uma porção de coisas falsas, desde falso testemunho 5. É preciso discernir entre os acontecimentos comuns e os
(Ex 20.16) até espírito falso (1 Rs 22.20-23, 1 Jo 4.1). Entre grandes momentos de Deus.
um e outro, há notícias falsas (Ex 23.1), falsa acusação
(Ex 23.7), falso juramento (Lv 6.3), língua falsa (Pv 21.5), A destruição de Jerusalém aconteceu porque os judeus
falsa pena (Jr 8.8), visão falsa (Jr 14.14), falsa circuncisão "não reconheceram a oportunidade da sua visitação 11 (Lc
(Fp 3.2), falsa humildade (Cl 2.23), falsos irmãos (2 Co
19.44). O Verbo, que estava com Deus e era Deus, fez-se
11.26), falsos profetas (Mt 7.15, 24.11), falsos mestres (2
carne e "veio para o que era seu", mas "os seus não o
Pe 2.1), falsos apóstolos (2 Co 11.13) e falsos cristas (Mt
receberam" (Jo 1.11). Há dias especí.ais no calendário de
24.24).
Deus, que devem ser conhecidos e distingüidos dos dias
comuns. A u:nportância destes dias é que eles são "o dia dos
3. É preciso discernir entre a vontade própria e a vontade de humildes começos" (Zc 4.10).
Deus.
O trigo e o joio
Nem sempre a vontade própria expressa a vontade de
!)e�s: Muitas vezes uma é contrária a outra. Mas para Há dois elementos que tornam a prática do discern­
Justificar-se e acalmar a consciência, é fácil chamar a von­ imento bastante difícil. Um é o pecado, que confunde, que
tade própria de vontade de Deus. José soube discernir cega e que cauteriza. Outro é a atuação satânica que ilude,
perfeitamente a vontade própria, despertada pela sedução que engana e que torna o mal parecido com o bem. O ímpio
da mulher de Potifar, da vontade de Deus e realilzou esta é capaz de abjurar o discernimento e a prática do bem (SI
e não aquela (Gn 39.7-12). Talvez fosse da vontade própr+a 26.3) e Satanás é capaz de se transformar em anjo de 1 uz (2
de Davi vingar-se de Saul e tirar-lhe a vida, mas a vontade Co 11.14). A parábola do joio explica realisticamente este
de Deus era outra e não essa (1 Sm 24.1-7). Quando não se drama terrível da parecência dos filhos do maligno com os
faz a distinção entre a vontade pessoal e a vontade de Deus filhos do reino, pelo menos no início. A semelhança do joio
a desobediência é certa. com o trigo é tão grande que qualquer providência para
72 - Práticas Devocionais

separar um d� �utro antes da colht::�êa é barrada pelo dono


da� terras. Ate a c?nsu�ação do século é preciso aprender
a hdar com essa s1tuaçao confusa criada pelo maligno (Mt
13.24-30, 36-43).

Prática do Equil{brio

A prática do equilfbrio é a arte de se aproximar o


máximo possível da medida certa no tempo certo,
pelo acurado exercício do bom senso e sob a
orientação da Palavra de Deus em seu todo e do
Espírito Santo. O verdadeiro equilíbrio nunca é
neutralidade, hesitação contínua, ausência de
posicionamento, passividade, medo de riscos, desejo
de agradar gregos e troianos ou fuga de
responsabilidade. Ao contrário do que se pensa, a
prática do equilfbrio em geral é a mais trabalhosa e a
mais criticada das posições, pois não conta com o
apoio das multidões que se encontram num extremo
e no outro.

O comportamento de Pedro na cerimônia do lava-pés


exemplifica a tendência humana para o desequilíbrio. De­
pois de garantir a Jesus Cristo: 11 Nunca m1e lavarás os pés"
(Jo 13.8), o apóstolo passou imediatamente para o outro
lado: "Senhor, não somente ?S meus pes, mas também as
mãos e a cabeça" (Jo 13.9). E a perniciosa filosofia do ou
74 - Práticas Devocionais Prática do Equilíbrio - 75

tudo ou nada, também conhecida por ou oito ou oitenta, 2. A virtude da sobriedade é recomendada inúmeras
transportada para a conduta religiosa. vezes no Novo Testamento. Outra vez o apelo é dirigido
tanto à igreja (1 Co 15.34, Fp 4.5, 1 Ts 5.6, Tt 2.12, 1 �e 1-13,
,
Equilfbrio e sucesso 4.7 e 5.8) comoà sua liderança (1 Tm 3.2, Ttl.7-8).ATrmoteo
a exortação é mais ampla: 11 Tu, porém, sê sóbrio em todas
O sucesso contínuo na vida e na liderança cristã prende­ as coisas 11 (2 Tm 4.5). Os que criam problemas na igreja,
se demais à prática do equilíbrio, corno se vê neste recado precisam de um "retorno à sensatez 11 (2 Tm 2.26).
de Deus a Josué: 11 Não te apartes dela (de toda a lei), nem
para a direita nem para a esquerda, para que triunfes em Áreas de equilfbrio
todas as tuas realizações CTs 1.7 em A Bíblia de Jerusalém).
O rei Josias foi largamente usado por Deus porque II imitou 1. No conceito pessoal.
em tudo o proceder de Davi, seu pai, sem se desviar para a
direita nem para a esquerda 11 (2 Rs 22.2 em A Bíblia de A Bíblia ensina que ninguém deve pensar de si mesmo
Jerusalém). além do que convém (Rm 12.3). A justa estima I?roíbe
É preciso ter em conta que o perigo não está apenas numa também o outro extremo: ninguém deve pensar de s1 mes­
posição extremada de um lado, mas também na posição mo aquém do que convém. O primeiro extremo abre cami­
extremada do lado oposto. Por exemplo, um erro é sacrifi­ nho para o sentimento de superiorida� e; º segur;do para o
. _ _
car o valor da fé por causa da importância das obras, e outro sentimento de inferioridade. Ambos sao mdese1ave1s e de­
é sacrificar o valor das obras por causa da importância da sastrosos. Se a pessoa pensa além, deve recuar; se pensa
fé. Não se pode colocar Paulo contra Tiago nem Tiago aquém, deve avançar. O equilíbrio acaba com o orgulho e
contra Paulo. O que ambos os pilares da doutrina evangé­ jactância de um lado, e com a inveja e ciúme do outro.
lica querem ensinar é que a salvação é pela graça "mediante
a fé 11 (Ef 2.8) e que a fé sem obras 1 está morta 11 (Tg 2.17) ou
1 2. No estado de espírito.
"é rnorta 11 (Tg 2.26).
A falta de equilíbrio cria divisões na igreja, dá à luz A Bíblia ensina que o servo de Deus precisa ser prudente
movimentos heréticos, gera fanatismo e pode até produzir como as serpentes e ao mesmo tempo símpli.ce corno as
monstros religiosos. pombas (Mt 10.16). Entre o otimismo fácil e beato de alguns
e o pessimismo excessivo ou doentio de outros há 1:m 1 ugar
O mandamento do equilfbrio intermediário. 11 A euforia como o desalento, tambem pode
ser maléfica 11 , disse alguérn.
As Escrituras Sagradas estão cheias de apelos ao equilí­
brio, como se pode ver a seguir: 3. Na experiência do prazer.
1. A orientação para não se desviar nem para a direit.­
nem para a esquerda aparece várias vezes no Velho Testa­ A Bíblia ensina que nada aproveita ao homem ganhar o
mento. O apelo é dirigido insistentemente ao povo de Israel mundo inteiro e perder sua alma (Me 8.36). O prazer não é
(Dt 5.32-33, 28.14, Js 23.6 e Pv 4.27) e aos seus líderes (Dt grátis: sempre custa um preço, às vezes, bem elevado. A
17.20, Js 1.7). troca de Esaú não foi boa - o direito de primogenitura por
,
CAf)ITfilO 11
76 - Práticas Devodonais

um repasto. Mas a troca de Moisés não podia ser melhor -


o galardão eterno pelos prazeres transitórios do pecado
(Hb 11.24-26).

4. No relacionamento das gerações.

A Bíblia diz: 11 Geração vai, e geração vem; mas a terra


permanece a mesma 11 (Ec 1.4). A geração velha entra com a
tradição e a geração nova com a contestação. Uma precisa
da outra. A tradição fornece o barro e a contestação trabalha
o barro. O equilíbrio não está em aderir à tradição ou à
contestação, mas em permitir uma simbiose entre ambas.

5. No conceito de sexo.
Prática da Espera
A Bíblia diz: 11 Bebe a água da tua própria cisterna, e das
correntes do teu poço 11 (compare Pv 5.15 com 1 Co 7.2). O
ponto mais extremo de um lado diz que o sexo é pecado e
o ponto mais extremo do outro lado diz que nenhuma A prática da espera é a arte de aguardar
e�pressão sexual é pecaminosa. Se o excessivo pudor asso­ tranqüilamente a hora de Deus, sem deixar de
ciado com a chamada atividade sexual subterrânea do
fazer o que é de nossa competência e sem fazer o que
passado foi um desastre, o despudor generalizado dos dias
é da competência de Deus, deixando de lado toda
em curso é desastre também.
impaciência e todo esmorecimento.

Um dos maiores transtornos do homem é não saber nem


querer esperar alguriLa coisa ou algum acontecimento de­
sejado ou necessário. Assim como 11 a substância ainda in­
forme 11 (Sl 139.16) gasta nove meses para se transformar
numa criancinha aptéi para sair do ventre materno e sobre­
viver fora dele, muitas de nossas carências não são nem
podern ser satisfeitas unediatamente, ao toque de uma
varinha de condão, como muitos querem Jesus esperou
trinta anos para iniciar seu r:ninistério público (Mt 4.17), três
dias para ressuscitar dentre os mortos (Mt 16.21) e quarenta
dias para ser assunto aos céus (At 1.3).
78 - Práticas Devocionaís Prática da Espera - 79

A difícil arte de esperar Hagar(Gn 16.1-16). É também o caso de Saul que adiantou­
se a Samuel e fez o que não lhe era permitido (1 Sm 13.8-15).
A prática da espera é difícil por causa da impaciência, por
causa. da pressa, por causa da ansiedade, por causa do Esperas comuns
imediatismo e por causa da curiosidade. É preciso aprender
a lidar com todos estes elementos que tornam a espera A espera é muito mais freqüente do que se pensa. E esta
dolorosa demais senão impossível. Um erro é não esperar longa lista de espera envolve tanto o crente comq o descren­
nada, outro é não saber esperar. te. Paulo lidava com as mesmas esperas com as quais
lidamos hoje: a espera de alguém (At 17.16, 1 Co 16.10-11),
O método certo a espera de notícias (1 Ts 3.5) e a espera de uma oportuni­
dade para viajar (1 T m 3.14, Rm 15.23-24), etc. Em certas
1. É preciso esperar numa atitude de confiança: circunstâncias, a espera é desgastante. Numa de suas Epís­
tolas, Paulo confessa: "Já não me sendo possível continuar
11 Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para
esperando, mandei indagar o estado de vossa fé, temendo
mim e me ouviu quando clamei por socorro 11 (SI 40.1) que o tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso
labor" (1 Ts 3.5).
2. É preciso esperar numa atitude de paciência:
Esperas muito especiais
ºDepois de esperar com paciência, obteve Abraão a pro­
messa 11 (Hb 6.15). 1. É preciso aprender a esperar o fim da "tempestade".

Isto é, o fim da provação, o fim da tentação, o fim do


3. É preciso esperar numa atitude de tranqüilidade:
período de vacas magras, o fim do infortúneo, como o de
Jó ou o de Davi (quando era perseguido por Saul), etc. No
Vou esperar, tranqüilo, o dia em que Deus castigará
11
caso da tempestade propriamente dita, que caiu sobre o
aqueles que nos atacam11 (Hc 3.16 em A Bíblia na Lingua­ Mediterrâneo na altura de Creta e provocou o naufrágio do
gem de Hoje). navio no qual viajava Paulo, a tormenta durou catorze dias
sem sol nem estrelas (At 27.33).
As tentações da espera
2. É preciso aprender a esperar a hora de Deus.
Na prática da espera, uma tentação é deixar de esperar,
abandonar a esperança, cansar-se de uma espera que pare­ Ele enfaixou em suas mãos os tempos e as épocas e exerce
ce longa demais. Outra é intrometer-se, resolver de qual.­ autoridade sobre eles (At 1.7). O relógio humano não é o
quer modo a questão, assumir a responsabilidade de relógio de Deus.
providenciar o que estava nas mãos de Deus. As duas
tentações se entrelaçam e só causam a.J,orrecimentos. É o 3. É preciso aprender a esperar a evolução dos
caso de Abrão e Sara, que lançaram mã'o do expediente de acontecimentos.
Prática da Espera - 81
80 - Práticas Devocionais
que vem 0
Todos os ac onte cimentos r elacionados c o m a vida de A e spera é contínua pois "não sabeis o dia e m
)
Jo sé, por mais e stranhos e injustos que pareçam, tinham vosso Senhor (Mt 2 4.42, At 1.11 .
11

ligação c om a p o sição que ele assumiu c omo gover nador


d o Egito (Gn 45.5). Deus e stá acima da histó ria. - 3. É preciso esperar a redenção do corpo.
4. É preciso aprender a esperar a resposta à oração. Seja pe la ressurreição, seja pela súbita transfor m�çã? do
cor po atual. Na verdade , "ge memo s em nosso 1ntuno,
!saque e Rebe ca e sperar am vinte anos de oração para se aguar dando a redenção do nosso corpd (Rm8.23).
t or nar em finalmente pais de Esaú eJacó(Gn2 5.19-2 6).Jesus
diz que Deus apenas parece d e mor ado e m responder as 4. É preciso esperar a glória total.
or ações (Lc 18.7).
1
Os sofrime ntos do te mpo presente não têm prop orção
1
5. É preciso aprender a esperar a direção do Senhor. c o m a glór ia que dever á revelar-se e m nós" (Rm 8.18 e m A
Bíblia de Jer usalém).
Ne m sempre a direção que parece 1ógica e certa é a
direção de De us. Paulo queria continuar na Ásia, mas Deus
o queria na Eur opa. Daí a atuação do Espírito obstr uindo a
5. É preciso esperar novos céus e nova terra.
viagem para Bitínia e o apelo macedônio (At 16.6-10). ).
Esta é uma das promessas de De us (2 Pe 3.13
6. É preciso aprender a esperar a morte.
6. É preciso esperar a plenitude do Reino de Deus.
Há pessoas que e stão doentes e "amargur adas de ânimo " a 1: ( Mt 6.1O)
(caso de Jó), que estão cansadas de tanto ver pro sperar o A oração d uas ve zes mile nar "Venha o_teu rein a espera
e . Dai
mal (cas o de Elias) o u que estão ansio sas para estar com ainda não foi respo ndida na sua amplitud
m ndo se t�rn ou
Cr isto (caso de Paulo). Embora não queiram mais viver (Jó daquele dia quando se dirá: "O reino d� �
a pelos seculo s
3.20-22, 1 Rs 19.4 e Fp 1.23), elas estão proibidas de provo car de nosso Senhor e do seu Cristo , e ele remar
a mor te . dos séculos" (Ap 11.15).

Esperas escatológicas Esperas indevidas

1. É preciso esperar o desenvolvimento da salvação. 1. Não é mais preciso esperar a vinda do Messias.
ndo _dis�e a
A salvação é mais do que o perdão de pecados. Daí a Este foi o erro da mulher samaritana qua
o Cristo (Jo
palavra de Paulo: "A nossa salvação está agora mais perto Jesus: 11 Eu sei que há de vir o Messias, chamad
do que quando no p rincípio cremo �" (Rm 13.11). 4.25).

2. É preciso esperar a volta de Jesus. 2. Não é mais preciso esperar a efusão do Espírito.
CAPITfilO n
82 - Práticas Devodonais
,
Tal derrame já se det:i"no dia de Pentecoste, pouco depois
da ascensão de Jesus (At 2.1-4).

3. Não é mais preciso esperar a proclamação do evangelho.

Apli;a-se a nós o que os quatro leprosos disseram na


época de Eliseu: "Não fazemos bem: este dia é dia de boas
novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã
seremos tidos por culpados; agora, pois, vamos, e o anun�
ciemos à casa do rei 11 (2 Rs 7.9).

Prática da Descomplexação

A prática da descomplexação é a arte da soltura


consciente e progressiva de amarras relacionadas
originalmente ao pecado e também a certos
problemas pessoais decorrentes da educação e de
experiências frustrantes, através dos multiformes
beneficias do evangelho e das terapias do Espírito.

O homem é por demais complicado. Há muitas razões


para isto. Os motivos são profundos e intrincados. Devem
ser descobertos e analisados. Sem dúvida a causa mais
remota de toda complicação emocional e mental é esclare _.
cida pelo capítulo da Teologia que trata da queda do ho­
mem. Neste ponto, há uma declaração de Salomão muito
oportuna: "Deus fez o homem reto, e este procura compli­
cações sem conta" (Ec 7.29 em A Bíblia de Jerusalém).
O distúrbio individual e coletivo começou quando o
homem teve medo de Deus e dele se escondeu por causa
da primeira desobediência. Quando se viu e se sentiu estra­
nhamente nu e precisou de cintas para se cobrir. Quando
perdeu para sempre a naturalidade e passou a conhecer o
Prática da Descomplexação - 85
84 - Práticas Devocionais
Mas também não é portento, super-homem ou semideus.
bem e o mal. Quando desconfiou do caráter de Deus e Como pode ser portento, se você "não passa �e um caco de
rompeu com ele. Este é o problema básico. Todos os outros barro entre outros cacos" (Is 45.9), se você amda depende
têm relação com o chamado pecado original. t@talmente da misericórdia de Deus? Você precisa de Deus
É extremamente necessário que o homem se liberte de para viver, para ser salvo, para vencer a tentação e a pro:
suas complicações ou aprenda a l idar com elas. Se us ados vocação, para enfrentar a tristeza e a d�r, para chegar a
correta e equilibradamente, os exercícios religiosos são de imortalidade ao novo corpo, aos novos ceus e nova terra e
grande valia. à "glória por'vir a ser revelada em nós" (Rm 8.18)? Você é
um vaso de barro, isto é, quebrável (2 Co 4.7). Portanto,
Nem verme nem portento acabe com este outro complexo.
Jesus foi tratado como verme e não como homem por Nem além nem aquém
seus inimigos (SI 22.6). O pior é quando alguém se acha
verme. T ais pessoas são muito infelizes e também difíceis A Bíblia ensina que ninguém deve pen�ar de _si mesmo
de trato. Elas se dizem miseráveis, incapazes de tudo, além do que convém, "mas um� justa �stuna, ditad� pela
reduzidas em extremo. Não se sentem val orizadas. Elas sabedoria, de acordo com a medida da fe que Deus dispen­
mesmas se diminuem e são diminuídas pelos demais. Es­ sou a cada um" (Rm 12.3 em A Bíblia de Jer�salé1;1)- Esta
condem-se, então. E, às vezes, como reação n atural, agri­ justa estima proíbe também o outro extremo: runguem deve
dem. pens ar de si mesmo aquém do qu: convem._ S� voceA se
Outros, no entanto, vão para o l ado oposto. Se dizem exalta sem medida, o seu problema e de super:ond_ade. � e
portentos. Contam numerosas histórias de sucesso: fecha­ você se diminui sem medida, o seu problema e de inferio­
ram bocas de leões, puseram em fuga exé rcitos de estran­ ridade. Ambos são igualmente indesejáveis e �esastrosos.
geiros, escapar am ao fio da espada. Andam empertig ados. É preciso haver honestidade na av aliação de st mes�.o. S:
São acentuadamente arrogantes. Julg am possuir todos os você está além da medida, terá que recuar; se voce :sta
dons e todas as vantagens. Eles mesmos se exal tam e pro­ aquém da medida, terá que avançar: Deste modo voce se
vocam a exaltação alheia. livrará de muitos sentimentos peca�mosos, desgastantes e
Nos dois casos, porém, há erros grosseiros. Na verdade, feios: orgulho e jactância no caso de uma avaliação e�ag�­
ninguém é verme e ninguém é portento. Como pode ser rada para mais; e inveja e ciúmes, no caso de uma avahaçao
verme, se você é "por um pouco menor do que Deus" (SI exagerada para menos.
8.5), se el e l he deu o domínio sobre as obras de suas mãos
e de g lória o coroou? Não tem jeito. Você não é verme: é Nem tudo nem nada
nova criatura em Cristo (2 Co 5.17), é santuário do Espírito
Santo (1 Co 6.19), é filho de Deus CTo 1.12), é herdeiro de A vida de Moisés está dividida em três períodos iguais
Deus e co-herdeiro com Cristo (Rm 8.17), é mais que ven­ de quarenta anos: quarenta anos na corte de Faraó, quaren­
cedor por meio de Cristo (Rm 8.37) e é candidato certo à t a anos na terra de Midiã e quarenta anos nos desertos da
gl ória de Deus (Rm 8.18). Acabe com esta bobagem, com Arábia. No primeiro período, Moisés foi educado em toda
esta mentira, com este complexo. Você não é verme, e a ciência dos egípcios e tornou-se poderoso em palavras e
a ssunto encerrado.
86 - Práticas Devocionais Prática da Descomplexaçíio - 87

obras (At 7.22). Ao final do segundo período, encontramos de ambos os problemas. Eis aqui algumas providências que
um Moisés complicado, que não quer aceitar a tarefa de podem ajudar:
retirar o povo de Deus do Egito, sob a alegação de que
nunca foi homem eloqüente, nem outrora, nem agora, pois 1. Oração.
é pesado de boca e de língua (Ex 4.10, 6.12, 30). No terceíro
período, Moisés é aquele líder extraordinário que liberta Abra o seu coração diante de Deus em oração perseve­
Israel do jugo dos faraós e o conduz às portas de Canaã, rante. Ore sobre o assunto até superar o proble:gia. Lembre­
não obstante a obstinação do Egito, a cerviz dura do pró­ se da disposição de Paulo de enfrentar a questão do espinho
prio povo e de todas as circunstâncias especiais do êxodo. na carne: "Por causa disto três vezes pedi ao Senhor que o
Foi o pregador inglês Frederick B. Meyer, falecido em 1929, afastasse de mim" (2 Co 12.8).
quem melhor definiu o pensamento de Moisés nestes três
distintos períodos: nos primeiros quarenta anos, Moisés 2. Espírito de luta.
pensava que era tudo; nos segundos quarenta anos, foi para
o outro extremo e dizia que não era coisa alguma; e nos No que depender de você para remover a dificuldade,
últiinos quarenta anos, descobriu que Deus era tudo. esforce-se ao .máximo. Veja o conselho de Paulo: "Você é
O caminho certo não é passar de toda auto-suficiência escravo? Não deixe que isso o atoPtnente - mas, natural­
para nenhuma auto-suficiência, mas para a suficiência de mente, se lhe vier a oportunidade de ficar livre, aproveite­
Deus. Nem qe nenhuma auto-suficiência para toda auto­ a" (1 Co 7.21 em A Bíblia na Linguagem de Hoje). Não fiq:1 e
suficiência. E esta importante verdade que Paulo quer parado. Não fique se queixando e se amargurando. Rea3a.
transmitir quando afirma: "A nossa suficiência vem de Faça alguma coisa. Lute.
Deus" (2 Co 3.5). Deus provê tudo: as idéias, a força, o
poder, os recursos, o livramento, a proteção e até a perse­ 3. Aceitação.
verança. E ainda cobre tudo com a sua bênção. Você precisa
abrir mão tanto da soberba como da timidez. Para vencer Se Deus disser não a você, como disse a Paulo, a respeito
a soberba, você conta com o auxílio da humildade; para do espinho na carne, e a Da�i, a respeito da vida da crian­
vencer a timidez, você conta com o auxílio da ousadia. As cinha, aceite paciente e alegremente a situação. Há certas
duas virturdes - a humildade e a ousadia - são fundamen­ coisas inevitáveis, irreparáveis, irremovíveis e irreversíveis
tais para a expansão do reino de Deus. Não são opostas. por causa da desordem geral provo� ada pelo pr?prio _ho:­
Completam-se. mem, desde as gerações passadas ate agora. Mas isto nao e
motivo suficiente para destruí-lo. Aprenda a dizer "seja
O caminho da descomplexação feita a vontade do Senhor" na hora certa e no caso certo,
não levianamente, para se desculpar da preguiça, do medo
Porque o sentimento de inferioridade pode descambar e da acomodação. A ausência de aceitação significa rebelião
no complexo de inferioridade, que é algo doentio, e porque contra Deus, que é loucura, e só agrava o problema. Não se
o sentiinento de superioridade é uma forma de supercom­ obrigue a ter necessariamente os mesmos dons, a mesma
pensação do complexo de inferioridade - é de todo impres­ inteligência, a mesma capacidade, os mesmos recursos _?U
cindível que você se livre e se cure o mais depressa possível a mesma história de seus semelhantes. Todos eles tem
r

CWlru10 B
88 - Práticas Devodonais

também as suas limitações e senos problemas. É Qeus


quem reparte os dons com os h omens a seu bel prazer.
Afaste-se da inveja. Existe sempre a mesma compensaçã o
para todos:" A minha graça te basta" (2 Co 12.9).

4. Aproveitamento.

Aprenda a transformar a desvantagem em vantagem.


Aqueles que estã o ac ostumados a fazer do Senhor a sua
f orça "são capazes de transformar lugares sec os em f ontes,
transformar tristezas e sofrimentos em alegrias e bênçã os,
em lugares cobertos de flores e frutos com a chuva da
primavera; sempre que surge dificuldade, eles recebem a Prática da Confiança
f orça de Deus, vã o sempre ao templ o de Siã o para adorar
o Senhor" (SI 84.5-7 em A Bíblia Viva). As mais notáveis
obras s o ciais foram realizadas p or pessoas que tinham
desvantagens e, por causa delas, se aplicaram ao estud o e A prática da confiança é a arte de colocar em Deus
ao trabalho para diminuir o sofrimento alheio . Lembre-se toda a capacidade de crer, em qualquer lugar, em
também de que mui.tos de seus problemas e complex os são qualquer te7:1po e en: qualqu�r sftuação, atravé! da
mero resultado de convenções e m odismos de uma socie­ negação da mcredulzdade pror:na e da afirmaçao da
dade divorciada de Deus, que jaz n o maligno e não tem onipotência divina. É a capacidade de amarra_r-se a
autoridade para impôr us os e costumes. São c oisas banais, Deus e não aos problemas que tolhem a alegna d�
mas capazes de transtornar a auto -imagem e a liberdade viver. A plena confiança ocupa todo o espaço vazzo
c o m qu e Cristo n os libertou. entre Deus e o homem, reduz drasticamente a taxa
de ansiedade e traz benefícios incalculáveis para a
saúde mental e para o bom funcionamento dos
aparelhos que desempenham as Junções vitais do
corpo humano.

A plena confiança não surge de uma hor� para outra. Ela


é gradativa, vai crescendo aos p ou�os, va1 se ap o �er�n�o
da pessoa, vai se avolumando , vai enchen�o a distancia
entre Deus e o homem. Assim foi com Abraao:
1. Ele saiu de sua terra e de sua parentela para urna terra
' que Deus lhe mostraria (Hb 11.8).
2. Depois de marchas e c ontramarchas, ele acreditou q ue
90 - Práticas Devocíonais Prática da Confiança - 91

c pes : "Não
seria o pai de uma grande nação, tão numerosa como as 4. É preciso confiar em Deus e não _ em prí� �
açao (Sl 1 46.3)
estrelas do céu, como o pó da terra ou como a areia da praia, confieis em príncipes, em quem não ha salv :
as falsas.
mesmo tendo uma esposa estéril e avançada em anos, 5. É preciso confiar em Deus e não em palavr
me smo levando em conta o seu corpo já marcado p ela 1
1 Eis que vós confiais em
palavras falsas, que para nada vos
morte (Rm 4.18-21, Hb 11.11-12). 11
aproveitam (Jr 7.8).
.
e nquezas
.
3. Por fim, depois de nascido e crescido o filho d a pro­ 6. É preciso confiar em De us e n�� em b en� �
messa, Abraão, quando posto à prova, oferece u Isaque na "Qu em confia nas suas riqu ezas carra , mas os 3ustos rever
decerão como a folhagem (Pv 11.28).
11
certeza de que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo
s � cavalos:
dentre os mortos, caso o sacrifício do menino se consumas­ 7. É preciso confiar em Deus e não em carro _
se (Hb 11.17). 11 Ai dos que confiam em
carros, porque !ªº muitos, e em
atentam p ara 0
Entre o chamado de Abraão e o que aconteceu na terra cavaleiros porque são mui fortes, mas nao
).
Santo de I�rael, nem buscam ao Senhor (Is 31.1
11
de Moriá passaram-se talvez uns quarenta anos. Nesse
período, a confiança de Abraão cresceu poderosam ente,
não sem erros (como o caso de Ismael) e alguns fracassos Confiança em qualquer situação
(como o uso de e xpedientes escusos para proteger-se contra
Faraó e Abimele que). e válida em
A prática da confiança se faz a partir da primeira resposta A confiança posta em Deus .é es1_:: ecia�n;e1�t
dada aos apelos de D eus e às promessas da Palavra de circunstâncias adversas e em sltuaçoes dif1ce1s.
e pelo vale
D eus. Ela precisa crescer a ponto de aprender a esperar 1. É preciso confiar em Deus ainda que eu and
II

da sombra da morte (Sl 23.4).


11
contra a esperança, isto é, a t er fé e e sperança mesmo , . se
em Deus ainda que um exe
rcito
quando não há o menor motivo para cre r, como aconteceu 2. É preciso confiar11
11

com Abraão. Este é o clirnax da confiança. acarnye contra mim (Sl 27.3). .
m D s ' ind a que as aguas tumul�
3. E preciso confiar e e
� '. a
e e strem e çam
Confiança frustrante tuem e espumejem, e na sua funa os montes s
(Sl 4�.1-3). . . . _
rras nao
4. E preciso confiar em Deus ainda que as frgu�
11

O home m t em sido tentado a pôr a sua confiança em s; ainda que


p essoas e coisas que não suportam o peso de ssa confiança produzem frutas, e as parreiras não dêem uva
para colher;
e em promessas que D eus nunca fe z. Daí as exortaçõ es da
não haja azeitonas para apanhar nem trigo
ainda que não haja mais ovelhas
nos campos ne m g�do nos
Palavra d e Deus para não confiar nelas. Ho3e ).
1. É preciso confiar e m Deus e não em si me smo: "Qu em currais 11 (Hc 3.17 em A Bíblia na Linguagem de
confia em seu bom senso é insensato" (Pv 28.26).
2. É preciso confiar em Deus e não na carne : "Bem que eu A base da confiança
poderia confiar na carne ... mas o que era para mim lucrQ_,
isto c,onsiderei perda por causa de Cristo" (Fp 3.4-11). A possibilidade e a obrigação do exercício da plen a con­
3. E preciso confiar em Deus e não em hom ens: "Maldito fiança repousam nos seguintes fatos:
o homem que confia no homem, f91 da carne mortal o seu
braço, e aparta o seu coração do Senhor" CTr 17.5). 1. As promessas de Deus.
92 - Práticas Devocionais Prátíca da Confiança - 93

Deus tem o hábito de fazer 1 1 santas e fiéis promessas 11 (At 1. Por meio da comunhão com Deus.
13.34). Ele nos tem dado 11 suas preciosas e mui grandes
promessas'\ para que por meio delas nos tornemos partici­ A pessoa em contínua e profunda comu�ão. com De� s
pantes da natureza divina ( 2 Pe 1. 4). Uma delas é a efusão âbsorve consciente e inconscientemente muito v1.gor, muita
do Espírito, já realizada (At 1. 4 e 2 .33). Portanto não há energia, muita coragem, muita seiva.
lugar para o vazio.
2. Por meio da oração.
2. O caráter de Deus.
É perfeitamente correto e válido confessar diante de �eus
O Deus que faz as promessas "não pode mentir" (ft 1.2). a pequenês de nossa confiança e suplicar urna conf1.ança
Ele 11 não é homem, para que minta 11 (Nm 23.19). Portanto mais ousada.
não há lugar para a desconfiança.
3. Por meio da Palavra de Deus.
3. A graça e o amor de Deus.
A leitura e meditação da Palavra de Deus alimenta o
O Deus que faz as promessas e que não pode mentir é espírito e transmite valores extraordinários.
extremamente dadivoso (Tg 1. 5). "Se Deus não poupou o
seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porven­ 4. Por meio de exemplos.
tura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 11
(Rm 8.32). Portanto não há lugar para a ansiedade. São notáveis os exemplos de confiança plena em Deus de
Abraão, Josué e Calebe (Nrn 14.1-12 ), Davi (1 Sm 17.31-40),
,
4. O poder e os recursos de Deus. Ezequias (Is 36.1-37) e Paulo (At 27.1- 44), alem de outros,
.
retirados da história eclesiástica. Todos encoraJam, desa­
fiam e fortalecem a prática da confiança.
O Deus que faz as promessas, que não pode mentir e que
é extremamente dadivoso tem todo poder no céu e na terra,
5. Por meio da experiência.
sobre tudo e sobre todos. Daí a exortação: "Aquietai-vos e
sabei que eu sou Deus" (SI 46. 10). Portanto não há lugar É preciso aprender a confiar, não desanimar com as crises
para o medo. de falta de fé, levantar-se depois da queda, quantas vezes
for necessário, e seguir adiante.
O fortalecimento da confiança
galardões da confiança
A confiança precisa ser fortalecida. ABíblia diz que Jôna­ : Os
tas fortaleceu a confiança de Davi em Deus (1 Sm 23.16). A • Aprática da confiança não deve �er abai:dc:nada, porq�e
ela tem 1 grande galardão , como diz enfaticamente a Epis­
esta altura, Davi já havia dado mostras de uma enorme 1 11

confiança em Deus ao enfrentar o gigante filisteu (1 Sm tola aos Hebreus (10.35).


17.37). O fortalecimento da confiança dá-se: 1. Ela produz uma sensação de felicidade: "Bem-aventu-
cw1ruio 1{
94 - Práticas Devocíonais
'
rado o homem que põe no Senhor a sua confiança, e não
pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à menti­
ra" (Sl 40.4).
2. Ela produz paz de espírito: 11 Tu, Senhor, conservarás
em perfeita paz aquele cujo propósito é firme, porque ele
confia em ti 11 (Is 26.3).
3. Ela produz firmeza: "Os que confiam no Senhor são
como o monte de Sião, que não se abala, firme para sempre"
(SI 125.1).
4. Ela produz ausência de temor: "Em Deus, cuja palavra
eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada
temerei" (SI 56.4).
5. Ela realiza proezas: "Em Deus faremos proezas" (Sl
60.12).
Prática da Ousadia

A prática da ousadia é a arte de portar-se


corajosamente diante das obrigações,
oportunidades e desafios da vida cristã e do
ministério decorrente da vocação celestial, em Junção
do poder de Deus e dos recursos que ele coloca à
disposição de todos que o cercam e de todos que o
servem. O exercício da ousadia não prejudica o
exercício da humildade nem o exercício da
humildade prejudica o exercício da ousadia. Uma
virtude não ofusca nem danifica a outra virtude.
Ousadia não é esbravejar, ameaçar, bazofiar,
autopromover-se, prometer mundos e fundos, mas
simplesmente dar conta do recado com permanente
disposição, plena confiança em Deus e com o devido
acompanhamento da modéstia cristã.

Não é pequeno o número de tímidos. E por causa da


timidez, o homem não faz tudo que poderia fazer, não
alcança todas as vitórias que poderia alcançar. Fica parado,
sonhando sempre, desejando sempre, planejando sempre,
Prática da Ousadia - 9 7
96 - Práticas Devocionais
eito em
temunho a meu resp
pois d o modo p or que deste tes
tendo sempre as mesmas b oas intenções. Com o preguiç os o e t ambém o faças em Roma"
acontec� o rne�rno, mas o mal de muitos nã o é exatamente Jerusalém, assi.J:n i.J:nporta qu
a preguiça e, s_ �, o receio, o medo, a vergonha, o aco ba r ­ (At 23.11).
da�ento. A timidez, todavia, favorece a preguiça e a pre-
Ousadia para quê?
guiça fav orece a timi dez.
-1'.:1- timidez é tratada com r igor na Palav ra de Deus. Entre entrar com naturalidade
1. Precisamos de ousadia para
0 _s Judeus, o soldado "medroso e de cor açã o tímid o" deve­ a Epístola aos Hebreus
no Santo dos Santos, como diz de em
na v oltar pa r a casa: além de inapto, ele pode ria contagi ar os r ecebe e nos at en
os outros coi:n a s�a timidez (Dt 20.8). E Jesus fez uma (10.1 9), certos de que Deus n
_ Cristo.
p_ergunta muito sena aos discípulos p or ocasião da tr aves­ a sair da rotina e fazer
2. Precisamos de ousadia par 11 ousadia
sia d o ma r de Geneza r é: 11 Por que so is assim tími do s?" (Me roezas (Sl 60.12). A
proezas: 11 Em Deus faremos p ulo: 1 Tudo
4.40). A�sta per�unta, o medroso p recisa dar urna resposta, os à experiênci a de Pa
1
esp ir tua l pode c ond uz ir-n
descobrir as r azoes de sua timidez e livra r -se dela. i
" (Fp 4.1 3).
posso naquele que me for talece
a seguir os caminhos d o
3. Precisamos de ousadia par sis­
Coragem!
Senhor, indo contra a op inião pública, contrari ando o
so deste munda° (Ef 2.2 ), nã o
tema, nadando cont ra 0 cur
11
A _ o rdem "Sê forte e corajoso" é muito insistente nas ulo (Rm 1 2.2). São alv s
nos conformando c om este séc
o

Esc�itur as. F oi dirigida ao povo de Isr ael em ocasi ões de gem sér ia e constante intre­
profundamente difíceis, que exi u-se-lhe
perigo e desa!io, na época de M oisés (Dt 31.6), Josué (Js ia de Josafá: "Tor n o
pidez. Veja-se só a experiênc
s caminhos do Senhor (2 Cr
11
1 0.25) � �zeq uias (2 C r 3 2.7). Foi dirigida a Josué, o sucess o r
ousado o coração para seguir o
de Mc:_:nses, segui d as vezes (Dt 31 .7,23; Js 1 .6,7,9,1 8). Mais
1 7.6 ).
de quinhentos anos depois, Davi achou por bem repetir as confiar em Deus, 111 ainda
4. Precisamos de ousadia para 23.4), 1 ainda
mesmas palavras a Salomã o, seu filho e herdeiro do tron o ombra da morte (Sl
11
qu e eu an de pe l va le da s
montes se abalem no seio dos
o
(� Cr 22.13, 28.1 0). Jesus usava com freqüência urna expres­
que a terra se transtorne, e os
sao semelhante: 11 Tem bom ânimo 11 , que a Bíblia na Lingua­ a figueira não floresce, nem
mares" (Sl 46.2), e II ainda que
gem de H oje reduz pa r a uma palavr a só: 11 Coragem!". O 9). Apesar de maltratados e
há fruto na vide" (Hc 3.1 7-1
Senh? r deu este conselh o a o pa ralítico de Cafarnaum (Mt Silas tiver am ousada c_onfi an­
ultrajados em Filipos, Paulo e
9.2), a mulher hemor r ágica (Mt 9.22), aos discípulos (Mt ngelho aos t essalon1censes,
1 �.2?), ao cego de Jeri có (Me 1,'._0.49) e mais urna vez aos
ça em Deus para anunciar o eva
).
"em meio a muita luta" (1 Ts 2.2
��c1pulos: 1 No mundo passais por aflição; mas tende bom ra tornar conhecido o evan-
5. Precisamos de ousadia pa
1

animo, �u venci o mundo " (Jo 1 6.33). À tripulação e aos iar a Palavr a de �
eus,_ para
gelho do reino, para anunc mc r edulo,
passage�o� do barco seriamente ameaçado de naufrágio r a um mundo
ensinar, para falar, para prega
n as proxrnudades da ilha de Malta, no Mediter r âneo Paulo cego e zombador, como acon­
corrompido, desinteressado, cheios do Espírito11
aco nse�hava com insistência: "Senhores, tenham ba'm âni­ olos: 11 Todos ficaram
t ece u c om os apóst
mo, p ois eu c�nfio em Deus" (At 27.22,25). O p róprio Paulo, nciavam a Palavr a de Deus
Santo, e, com intrepidez, anu
ante_ s desta viagem a Roma na qualidade de pr isioneiro, 26, 19.8 e 28.30,31 ). Só com
(At 4.3 1, 9.27 e 28, 13.46, 1 4.3, 18.
o uviu a oportuna adver tência de Jesus Cristo: "Co ragem!
Prática da Ousadia - 99
98 - Práticas Devodonaís
r grande ousa dia1 1 (2 Co
muita ousadia é possíve l alargar, alongar e firmar bem a s plica -Pau lo , podemos pre ga
li
com

estacas , transbo rdando para a direita e pa ra a e squerda, 3.12 , em A Bíblia Viva ).


não importa sej amos fraco s e pouco s (Is 54.1-3).
adia.
6. Prec isamos de ousadia para enfrentar o sofrimento, 3. A oração é outra base para a ous
para não deix ar de se guir para Je rusalém, para bebe r o , o rar
lg é s l va n ta t1m 1· do depois de
cálic e do sac rifício , para pa ssa r pela prova de es cárnio s e Dificilmen t
orado, �emeu � 1,u��r ��d;
e a u m e e

a çoites, de a lgemas e prisões, de to rtu ra e mo rte, para - se fervorosamente : uTendo e les S t


necess ário for - ser se rrados pe lo meio (Hb 11.35-38). Está esta va m re uni-d os;
todos ficaram c he10s do E spin
u (A .31 ) .
t4
registra do no Evange lho deLuca sque Jesus, quando e stava e com intrepide z, a
nu nciavam a Palavra de Deus
a igrej m seu f_av
para s er morto, "manifesto u no se mblan te a intrépida re so­ Ó apóstolo so lic itava a s orações d ange\� o com m :;;�::
lu ção de ir para Jeru salém" (Lc 9.51). e le fazer conhecido
o mistério do Ev
(Ef 6.19).
comunhão com Deus.
As bases da ousadia
4. A ousadia depende também da
1. A ousadia é possível po r causa de Jesus. . , d io r econheceu que a convivência de Pe dro e João
O
repidez (At 4.13). Os qu��:
comsJe:u: lhe s havia dado int
Por m eio de Cristo Je sus, nos so Senho r, "temo s ousadia nhor e ne le permanecem e
demoram na presen ça do Se irem' entre outras
e aces so c om confiança , mediante a fé ne le (Ef3.13). Por que a s O o 15 ·5) · Adqu
11
po sib ilid d inl ns - com
. çao
cor agem para enfrentar a o pos1
a es e
Jesus é v erdadeiramente o Filh o de Deus , porque Jesus é o
s
coisas, a nece ss ária
supremo sacerdote, porque Jes us su biu aos cé us e e stá à .
sab e doria e vitória
direita de Deus, porque Jesus é capaz de condoer- se das
nossas fraquezas , por que Jesus é o Auto r e Consu mador da sucessos acumulados, a
5. Outra fonte de ousadia siio os
fé e porque Jesus em troca da alegria que lhe es tava pro pos ­ experiência obtida.
ta su portou a cru z- somo s to mado s de grande ousadia para
e x plicou ao rei S a 1
: uo
ir até o próprio trono de Deus e permanecer lá 11 para rece­ Foi isto que o inlberbe Davi
do leão, e da s do u rso ;J _me
bermos a sua mi se ricórdia e acha rmos graça pa ra nos aju ­ Senhor me livrou das garras
e

(1 Sm 17.37). IIQs que esem-


d ar e m nossos te mpos de necessidade" (Hb 4.14-16 e livrará da mão deste filisteu" :para
12.1-3).
penhare m bem o diacona to\. lembr a_Pa�lo, a� cançam
li

. � fe em
si mes mos j usta preem
mencia e muita mtreptd ez na
2. A ousadia é possível po r causa da esperança. Cristo Jesu s" (1 Tm 3. 13).
r: o estímulo alltei?, por
A espera nça da glória vindoura nos faz andar a ltane irq,; 6 Há mais uma coisa a considera avra, gera ousadia.
mente (Hc 3.19), co mo filhos do Rei, como irmãos do pró­ . meio do exemplo e por meio da pal
prio Jesus, como h erdeiros de Deus e co-herdeiros com irmãos, esti-
Cristo (Rm 8.17). A esperança em sijá é ousadia (Hb 3.6).
.
VeJa-se a c1·taçao - de Pau lo-· IIA maioria dos
as a lge mas , o u m fa1 ar com
mulados no Senhor por minh
s a
"Já que sabemos que esta nova glória nunca acabará", e x-
100 - Práticas Devocionais

mais desas sombro a palavra de D eus " (Fp 1.14). A ssim


como o soldado tímido gera timid ez, o soldado corajoso
gera bravura. A ousadia é tão contagiante quanto o medo.

Ousadia pecaminosa

Ne m toda ousadia é virtude. Existe a ousadia pecamino­


sa. O ímpio também pode se r ousado. Paulo s e queixa de
alguns fals os irmãos 11 que faz em ousadas asse veraçõ es 11 (1
Tm 1.8). O israe lita que trouxe para d entro do arraial,

"pe rante os olho s de Moisés e de toda congregaçãd, a • A
a
mulhe r midianita para se deitar com e la no int erior da
t end a (Nm 25.6-15), foi de uma ousadia enorme. Judas foi
Prática dà Res1stenc1
muito ousado ao c ensurar Maria por motivos interes seiros
(Jo 12.4-6) e mais ainda ao procurar o sumo sacerdote para
ver quanto este lh e daria s e el e, Judas, lhe entreg asse Jesus
ão
a�rt e de não cede r n
prática da resistencia e soe
(Mt 26.14-16). Aque le que é naturalmente ousado, precisa
onc�s s, não se dei xa;
,

A
A •

re laxar, -não Jazer c nao se render· É virtude se a


tomar cuidado com a sua ousadia: ela pode ser uma bênção
se for u sad a corretamente , e uma tre menda desgraça, se for
arr s d obrar em o
d q ual quer força q ue t
res�ist:::1 Jfrigida ado de rem over o crent e do
usada e m função do pecado. Ao mandar buscar a mulhe r
p ropósit o c laro ou ve l �n
de Urias para se d e itar com e la, Davi foi muito ousado (2
v ontad s ob � articu lar de D eu s .
da �,_ �::resistênci a é dirigida
Sm 11.3-4). Mas esta ousadia foi n egativa e lhe trouxe
centr o e
za tra g_ e
Mas é fraq Espírit o
seríssimos probl ema s.
z�a, aos imp u ls os do
e
sc1enci
ue
ditame da c on
aos av ra de Deus (At , 7.51).
ou à in strução da Pal
s

ência
Exemplos de resist
r (Gn 39.1-
23), n ao
i à _m� � er de Pot ifa ul­
1. José resist . a dela na realização do ad
u l
a m _ i t n c: v el
obstante a atrevid c�cui::tsta eia extr emamente favorá
s s e

obsta�.te a stan te a
t ér io, não
a vi nm g ;ém em casa), não ob
a o adultério
(nao h a
.
tua çao de José (f
- ora de ,ca sa
28 a n o ) e a si
idade (entre 16 e
s

e da fanúlia).
Prática da Resistência - 103
102 - Práticas Devocionaís

2. Elias resistiu aos prof et as de Baal (1 Rs 18.20-40), nã o Exemplos de não-resistência


o bstante o exc essivo número deles (450), não obstante o
ente e o pecado entro �
u o
ap oio total e ostensivo que a mulh er de Ac abe d ava a eles 1 . A mulher não resistiu à serp (Rm 5.l ).
( Gn 3 · 1-7 ) · Corno pecado entr ou a morte
( foi Jezabel quem os trouxe de Tiro e os sustentava), nã o mundo ·
2 Davi não resistiu à concupISC . e� ncra dos Olhos e. com et eu
obstant e a oposição sistemática e violenta q u e Jezabel mo­ o ch a-
via contra os prof etas do Senhor. ad�ltério ( 2 Sm 11.1-4
). Com o adultério, um abism
mou outro abismo (SI 42.7). Ihe;es
3. Jó resistiu aos seus infortúnios (Jó 1.22, 2.1 0 e 19.25), amores de suas mu .
3 Salomão nã o resistiu aos d 1-8). Com a ido a-
não o bstante a opu lência anterior (sete mil o velha s, três mil eu idol atr� (1 Rs 11.
es�angeira s e comet
:moÂl Rs
e queli.il)Sa lo mão
camel os, mil bo is e q uinhentas jumentas), não obstante a
d escarga impiedosa d e desgraças que caiu sobre ele (perda tria veio a desinteg ração d'? r
4. O jovem carecente de JIDZO,
ª-ª '_
não
dos bens, perda dos filhos e perda da saúde), não o bstante var icou(� 7.6 27):
resis . t·m a' mulher adúltera e com ela pre•
nou-se igua1 ao b oi que vai
º
o desânimo atro z da esposa , que lhe dizia: Amaldiçoa a
Com a prevaricação, o rapaz t or
º
Deus e morre (Jó 2.9).
para o mat adouro º':1 ao ce�vo que c_orre p
ara a r ed
traiu o Senhor (L c �2.3-6).
4. Neemias resistiu aos seus adver sários (Ne 4.1-23), nã o 5 Judas não resistm ao diabo e enc arg o
e outro to mou o seu
o bstante a preg a ção d emolidora de Sambalá e Tobias, não Co� a traição , veio o suicídio
o bstante as amea ç as d e luta arm ada que os inimig os lh e (At 1 .15-26).
mundana e ab ando nou a
faziam, não obstante a dificuldade e m orosidade da obra 6 Demas não resistiu à atração
0). Com o ab andono, certa-
co�panhia de P aulo (2 Tm 4.1 � .
1._19!. , .
empre endid a ( a reconstrução dos muros de Jerusalém e a
re cupera çã o do cu lto). mente naufrag ou na fé (1 Tm
tiu� in?:1-encia de Jez� be l
5. Daniel resistiu ao decreto do rei da Pérsia e nã o deixou 7. A igreja em Tiatira não resis
ituiçoes (Ap 2.19 20),"
contaminou com as suas prost
d e orar a Deus (Dn 6.1-28), não obstante a irrevog abilidade ser uma igreja ir repreens1 -
d as leis dos medos e dos persas, não obstante o seu alto ��: a contaminação, deixou de
.
cargo no g overno de Dario (um dos t rês presidentes dos 120 vel como a igreja em Fil adélfia
sátrap as do império), nã o obstante a sentença de morte
p avorosa a que estava sujeito se não obedecesse a ordem o campo da resistência
d o rei ( cova de leões). a qualquer tipo d_e p ;s
re ão
A resistência d eve ser dirigida ao (o og o
esde a mer a sug e s�
6. Jesus resistiu a o diabo (Mt 4.1-11) e a Pedro (Mt 16.22- contrária à vont ade de Deus, d �).
surda (o f ogo mais alt
nt a�ão f or mu lada nao P º:
23), não obstante a fome gerada por um jejum de quarenta mais brando) até a tentação ab
dias, não obstante a ousadia de Sat anás ( 1'Tudo isto te darei 1 . A mera sugestão é aquela te
s e, prostrado , m e ador ares º ), não obstante a sutileza das or anj os c a1 dos, mas Jêº
r pare�1-te ��
ess oa s do mundo nem p
P . nçoe s pos s1 v eis
t entações. amigos e u· rrLa - os na fé' com as melhores inte
, v e1 . E a ten t a
7. Paulo resistiu a Pedro (Gl 2.11), não obstante a posição e dentro de uma lóg
ica aparente mente aceü • a
. -
ami gos Ih e
f i s ubm e tido D avi, q uando seus
de Pedro na liderança inicial da Igreja, não obstante ser ção a que o
d o
Senhor lhe tinhc: e ntr�? ª
m ais novo na fé do que Pedro, nã o o bstante a pressão que disseram com certe za que o
(1 Sm 24.1-22). E t am e m a
estava atrás de P ed ro. S aul para ser m orto por el e
Prática da Resistência - 105
104 - Práticas Devocionais

tenta�ão a que foi submetido o próprio Jesus, quando Pedro 3. É preciso resitir até o fim:
lhe disse para ter compaixão de si me smo e evitar o sofri­
Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo " (Mt
mento e a mor te e m Jerusalém (Mt 16.21-23). 11

2. A !entação �bsurda é aquela tentação ou�a da, ar rogan­ 24.12).


t e, mais descabida d o que qualquer outra. E a tentação a
que Jesus foi subme tido por Satanás quando este o levou a 4. É preciso resistir até ao sangue:
um monte muito alto, m ostrou-lhe todos os reinos do mun­
o, ainda não tendes
do e a glória deles, e lhe disse : 11 Tudo isto te darei se , Qra, na vossa luta c11 ontra o p ecad
1
1

pros trado, me adorares 11 (Mt 4.8-10). É a tentação daquele resistido até ao sangue
(Hb 12.4).
h om em cas to que sentiu tremenda vontade de ir a um
prostíbulo na véspera de seu casam ento com uma mulher 5. É preciso resistir até à morte:
amada e bonita.
roa da vida (Ap 2.10).
11
3. A tentação comum é aqu ela t entaçã o, de todo o dia, 1
1
Sê fiel até à mort e, e dar-te-ei a co
situada entre a mera sugestão e a tentação absurda. É
hor:
precis�" of�recer re sistência à incredulidade, ao egoísmo, à 6. É preciso resistir até a vinda do Sen
rmpa ciencra, ao comodism o, à va ida de , ao d esânimo, à 11
vinda do Senhor (Tg
t riste za, ao ódi o, à vingança, ao medo, à ans iedade, ao falso "Sede, pois, irmãos, pacientes, até a
t est emunho, à lascívia, ao tédio, à preguiça, e assi..m por 5.7).
diante.
A resistência no "dia mau"
O volume da resistência estões climát icas, 1:,
or
Por questões orgânicas, por qu q
istór icas, p � est oe s
questões geogr áficas, por quest_õe� 1: _
or
A r esistência tem que ir até as últimas conseqüências, no ogicas , por que�toes
li­
sentimentais, por questões soc10l
re
e�orço e n o temp o. Não p ode parar n o meio do caminho, eterna m esm ice, com
o
na o pode s ofrer interrupções, não pod e ser abandonada. A giosas e outras, o tempo não é uma
demora da consumação de todas as coisas nãd) deve enfra­ l embra o Eclesiastes (3.1-8).
de surgir, d e repen-
que cer ou interromper a pr ática da res istência, como acon­ No calendário de qualquer pessoa po da
e fala Paulo : Tomai t o
11

d sag dáv el II dia mau II de qu


teceu com o servo irresp ons ável da parábola ' d e Jes us (Lc t , o e ra
que possais resistir n o dia mau,
e

12.45-46). a armadura de D eu s, para


e, depois de t erdes vencid
o tudo, permanecer inab aláveis"
(Ef 6.13). _ .
1. É preciso resistir "até setenta vezes sete" (Mt 18.22). di da ten t çã , dia d a provaç ao, o dia
Ess e dia mau é o o
stida satânica, ? dia
o a a

do cerco, o dia do aperto, o dia da inve


frustração, o dia da
2. É preciso resistir até terminar a obra iniciada: da t empestade, o dia da cr ise, o dia da
a, o dia d� morte, o
d epressão, o dia da dor, o dia da doenç
ega e tambem pas�a.
"Assim se executo u toda a obra de Salmnão, des de o dia dia da tragédia. Mas é um dia que ch
resistência p recisa
da fundação da casa do Senhor, até se acabar 11 (2 Cr 8.16). Especialmente neste dia a capacidade da
,
cwrru101o
106 - Práticas Devodonaís

estar em forma, revestida de redobrada força. Daí a asso­


ciação que Paulo faz do dia mau com a armadura de Deus.
De posse desta armadura espiritual qualquer membro do
corpo de Cristo pode Jresistir no dia mau e sair dele são e
salvo. As peças principais desta armadura incluem o escu­
do da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito. Com
o auxílio e bom uso da chamada armadura de Deus é
perfeitamente possível obter vitória no dia ntau, mesmo
sendo um embate envolvendo os principados, as autorida­
des e os dominadores deste mundo tenebroso.
Os recursos da resistência podem ser achados também na
plena confiança em Deus (SI 23.1), no exercício da piedade
pessoal (1 Trn 4.7-8), na prática da humildade cristã (2 Co
12.10), no poder do Espírito (At 1.8 e Rrn8.13) e na inaudita
Prática do Poder
certeza de que Deus é fiel e 11 não permitirá que sejais
tentados além das vossas forças (1 Co 10.13).
A prática do poder é a arte de se apropriar
continuadamente, por meio da fé, do poder de
Deus, colocado à disposição do crente que reconhece
suas tremendas limitações e deseja permanecer fiel a
Deus e seruí-lo de maneira abundante na medida de
seu chamamento e dons.

Poder secular e poder espiritual

Existe poder aquisitivo, poder público, poder temporal,


poder moderador, poder naval, poder negro, poder jov:m,
poder político, poder internacional, poder mental. Exrste
também poder espiritual, que difere substancialmente de
qualquer outro poder e reúne urna porção enorme de valo­
res relacionados com a vida em estreita e permanente co­
munhão com Deus. Tais valores são: aptidão, autoridade,
capacidade, eficácia, energia, entusiasmo, força, influência,
meios, possibilidades, recursos e vigor.
No sentido profano, o poder pode depender da posição
social, das vantagens pessoais, da capacidade, do dinheiro,
108 - Práticas Devocionais Prática do Poder - 109

da propaganda, da política, do vok, da força, da tirania, da inteligência para elaborar desenhos e trabalhar na constru­
opressão, do suborno. No sentido cristão, a origem do ção do tabernáculo (Ex 31.1-5, 36.1). Os juízes Otniel (Jz
poder é totalmente diversa e tem propósitos também diver­ 3.10), Gideão (Jz 6.34), Jefté (Jz 11.29) e Sansão (Jz 13.25,
sos. Só os que se fazem pequenos têm direito ao revestimen­ 1"'-1..6 e 19, 15.14) foram homens especialmente capacitados
to do poder de Deus: "O poder se aperfeiçoa na fraqueza" pelo Espírito de Deus para subjugar reinos e tirar força da
(2 Co 12.9). Enquanto na vida secular o poder em quase fraqueza (Hb 11.32-35).
todos os casos é exercido em benefício próprio, o poder Esta concessão de poder torna-se mais notória e mais
outorgado por Deus é exercido em benefício da expansão universal após a ascensão de Jesus. Ele mesmo ordenou aos
do reino de Deus. discípulos que não se ausentassem de Jerusalém "até que
do alto sejais revestidos de poder" (Lc 24.49) e acrescentou:
O poder pertence a Deus "Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo" (At
1.8). Na oração de Paulo em· favor dos efésios, o apóstolo
Aqui está o testemunho do salmista: "Uma vez falou roga a Deus que eles sejam fortalecidos com poder, median­
Deus, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus" te o seu Espírito no homem interior, isto é, no íntimo (Ef
(SI 62.12). O mesmo Davi volta a proclamar esta solene 3.16). Uma vida, pois, que não entristece (Ef 4.30) nem
verdade na oração feita perante toda a congregação de apaga (1 Ts 5.19) o Espírito, anda no Espírito (Gl 5.16),
Israel, pouco antes de morrer: "Tua, Senhor, é a grandeza, semeia para o Espírito e não para a carne (Gl 6.8) e busca a
o poder, a honra, a vitória e a majestade... Teu, Senhor, é o plenitude do Espírito (Ef 5. 18) - será também cheia de poder
reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. Na tua mão há (At 6.8).
força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força"
(1 Cr 29.11-12). Poder para quê?
Embora a última frase da oração dominical não esteja em
todos os textos gregos, os cristãos do mundo inteiro repe­ O poder não é dado para deleite próprio nem para pro­
t �m há quase dois mil anos a bela doxologia, que pode ter moção pessoal. Isto precisa ficar bem claro. Simão, o mago
sido tomada da oração de Davi acima citada: de Samaria, assustou os apóstolos Pedro e João quando
"Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém." revelou a sua ignorância sobre a natureza do poder do
(M,t 6.13.) Espírito Santo, ao oferecer dinheiro para comprar o dom de
E de todo saudável consagrar a declaração de que o poder Deus (At 8.9-24).
pertence a Deus . E esse poder é imenso, suficiente para Deus nos reveste de seu poder para:
"subordinar a si todas as coisas" (Fp 3.21).
1. Fazerfrente ao pecado.
Espírito Santo e poder
O pecado tem uma força tremenda e "o corpo é fraco"
Desde o Velho Testamento o Espírito Santo é o instrumen­ (Mt 26.41). Para não ter uma vida de f:acasso, você precisa
to do poder que promana de Deus. Faraó percebeu que José do auxílio sobrenatural do Espírito. E por meio do poder
era um homem possuído pelo Espírito de Deus (Gn 41,.39). do Espírito que você vai mortificar os reclamos da sua
Bezalel foi cheio do Espírito de Deus para ter habilidade e natureza humana (Rm 8.13).
110 - Práticas Devocionaís Prática do Poder - 111

2. Exercer o ministério para o qual fomos chamados. minha existência; estou fraco por causa das minhas aflições;
até mesmo os meus ossos estão se gastando!" (SI 31.10 em
No caso de Sara, ela recebeu poder para ser mãe, não A Bíblia na Linguagem de Hoje). Qualquer ato de amor
obstante ser uma mulher estéril e idosa (Hb 11.11). No caso implica em dt.,sgaste. O bom samaritano gastou energia,
de Maria, ela recebeu poder para ser a mãe de Jesus, não tempo e dinheiro para salvar o semimorto da morte (Lc
obstante fosse uma mulher virgem (Lc 1.35). No caso dos 10.33-35). As curas operadas por Jesus provocavam nele um
apóstolos e dos setenta, eles receberam poder para expulsar desgaste de poder (Lc 6.19). Embora muitqs das multidões
demônios e realizar curas (Lc 9.1, 10.9). No caso de Paulo, o apertassem (Lc 8.42), o caso.da mulher hemorrágica foi
ele recebeu poder para levar o evangelho de Jerusalém ao diferente. Por isso Jesus insistiu com Pedro: "Alguém me
Ilírico (Rm 15.18-21, 1 Co 2.1-5). tocou, porque senti que de mim saiu poder" (Lc 8.46).
Porque há dEsgaste, a renovação do poder é uma neces­
3. Testemunhar a morte e a ressurreição de Jesus "tanto em sidade constante. Daí a conhecida passagem de Isaías: "Os
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem,
confins da terra" (At 1.7-8, Lc 24.49). mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças,
sobem com asas corno águias, correm e não se cansam,
O derrame espetacular e geral do Espírito Santo no dia caminham e não se fatigam" (40.30-31). Esta renovação de
de Pentecostes tinha este propósito. Por esta razão, a peque­ forças não tem nada a ver com a idade cronológica nem com
na comunidade cristã de Jerusalém, imediatamente após a o desgaste físico: "Ele é quem farta de bens a tua velhice,
descida do Espírito, passou a falar em outras línguas as de sort� que a tua mocidade se renova corno a da águia" (Sl
grandezas de Deus (At 2.11). Em apenas trinta anos de 103.5). E como Paulo escreveu aos coríntios:"Ainda que o
missões, a igreja primitiva alcançou os mais importantes e nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovan­
populosos centros urbanos do mundo de então e neles se do dia a dia" (2 Co 4.16).
estabeleceu. Pela prática do poder, o crente se abastece outra vez de
força no mesmo momento em que despende alguma ener­
Desgaste e renovação gia para fazer frente à tentação, ao sofrimento, à renúncia
e ao desempenho de suas obrigações de amar a Deus e ao
A manutenção do compromisso cristão e o exercício con­ próximo. É extrerrtamente necessário deixar a água entrar
tinuado de qualquer atividade em favor da expansão do novamente todas as vezes que o nível da caixa-d'água
reino de Deus importam em sensíveis desgastes. Em parte começar a baixar. Ela precisa permanecer sempre cheia:
porque estamos sempre nadando contra a correnteza (Ef "Buscai o Senhor e o seu poder, buscai perpetuamente a sua
2.1-3). Em parte porque a seara é enorme e os trabalhadores presença" (SI 105.4)!
são poucos (Mt 9.35-38). Em parte porque o sofrimento que
nos rodeia é intenso e variado. O desgaste é uma experiân­
cia natural e constante, como se pode ver em Paulo: "Eu de
boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol
de vossas almas" (2 Co 12.15). Ou em Davi: "A tristeza tem
encurtado a minha vida; as lágrimas têm diminuído a
Prática da Vontade

A prática da vontade é a arte de gerir o dom do


livre arbítrio com inteligência, responsabilidade e
acer.to, submetendo cada desejo ao crivo do certo e
errado, ao crivo da conveniência e ao crivo da
exaltação do nome de Deus, na certeza de que de
todas as coisas este mesmo Deus pedirá conta.

O homem não se dirige apenas por instinto, mas por livre


escolha. Neste sentido ele é imagem e semelhança de Deus.
A vontade faz parte da natureza humana e é algo impres­
cindível: a vontade de viver, a vontade de trabalhar, a
vontade de amar, a vontade de dar, a vontade de ser bem
sucedido, a vontade de agradar a Deus, e até a vontade de
deixar esta vida e estar com Cristo" (Fp 1.23). O dom da
vontade, outorgado por Deus, facilita muito a vida, torna
tudo agradável e transfere uma dose enorme de responsa­
bilidade ao indivíduo.
114 - Práticas Devocionais Prática da Vontade - 115
Vontades contraditórias 2. A vontade de errar.

É a vontade de satisfazer os desejos da carne, de andar


Todavia, há um fenômeno muito estranho: o homem tem segundo o curso deste mundo e segundo a liderança do
simultânea ou sucessivamente vontades opostas entre si. mal. Esta vontade de errar também encontra sérios obstá­
Ele tem uma vontade agora e outra depois. Ou ambas ao culos, especialmente quando se trata de uma pessoa edu­
mesmo tempo. Sob o ponto de vista teológico, ele é domi­ cada no temor do Senhor e comprometida com Jesus Cristo.
nado por duas vontades igualmente fortes: a vontade de O maior de todos é a atuação do Espírito Santo dentro do
acertar e a vontade de errar. crente: 11 0 Espírito milita contra a carne 11 (Gl 5.17). Uma
porção de outros elementos se juntam ao Espírito no afã de·
1. A vontade de acertar. dificultar e impedir a realização da vontade de errar: a
noção da santidade de Deus, o não-conf ormisrno da nova
natureza implantada pela educação religiosa e em virtude
É a vontade de rejeitar o mal e abraçar o bem. A vontade da regeneração, os compromissos anteriormente assumi­
de levar a sério o Decálogo, o Sermão da Montanha e a dos com a luz, a consciência devidamente alimentada, a
santidade de vida. A vontade de obedecer, de amar a Deus visão mais profunda e mais sábia da vida, a lembrança das
de todo o coração, de agradar a Deus, de negar-se a si miragens e frustrações anteriores, o patrimônio moral e
mesmo dia após dia, de crucificar a carne, de andar no espiritual até então acumulado, a repreensão da igreja e dos
Espírito, de não arredar o pé do caminho apertado que irmãos e o temor do castigo da desobediência.
conduz à vida. Não obstante nobre, esta vontade encontra
sérios obstáculos. O primeiro é a pecaminosidade latente, Vontade alheia
fruto da queda. Este fardo incômodo ele carrega consigo no
mais interior de seu ser, do nascimento à morte. É por esta Da infância ao fim de seus dias, o homem está sujeito à
razão que Jesus explicou: 11 0 que sai da pessoa é o que a faz vontade alheia e dela recebe constante e forte bombardeio.
ficar impura 11 (Me 7.20 em A Bíblia na Linguagem de Hoje). A vontade alheia usa desde a propaganda subliminar até a
Daí a descoberta de Paulo: 11 0 pecado habita em mim" (Rm propaganda ostensiva: a literatura e as artes, o dircurso e a
7.20). O segundo é :1 estrutura pecaminosa da cultura ou persuasão, a insistência e a saturação, a mentira e o engano,
da sociedade no meio da qual se vive: ºTudo que há no a chantagem e a manipulação. Todavia, a decisão final está
mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos no exercício da vontade própria. A vontade própria é tão
olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede determinante que tanto o bem sorno o mal a respeitam e
do mundo" (1 Jo 2.17). O terceiro é a atuação das forças tentam atraí-la e dobrá-la. No Edem, tanto Deus como a
espirituais do mal: 11 0 diabo, vosso adversário, anda em serpente respeitararn a vontade da mulher: Deus não pôs
derredor, como leão que ruge procurando alguém par-a uma grade em torno da árvore da ciência do bem e do mal,
devorar" (1 Pe 5.8). Os três obstáculos aparecem juntos na nem a serpente enfiou o fruto proibido na boca da mulher.
Epístola de Paulo aos Efésios: o curso deste mundo, o Foi ela que tornou o fruto e comeu (Gn 3.6). A vontade
príncipe da potestade do ar e as inclinações da carne (Ef própria é uma barreira tremenda ora para as forças do mal
2.1-3). ora para as forças do bem.
116 - Práticas Devocionaís

A escolha final

De um lado, há a vontade de provar o fruto proibido, a


vontade de deitar com a mulher de Urias, a vontade de ser
amada pelo marido de outra mulher, a vontade de furtar
uma barra de ouro, a vontade de não levar desaforo para
casa, a vontade de não repartir coisa alguma, a vontade de
ajuntar tesouros exclusivamente sobre a terra, a vontade de
espalhar uma informação mentirosa, a vontade de matar o
desafeto, e muitas outras. De outro lado, há a vontade de
pagar o mal com o bem, a vontade de perdoar até setenta
vezes sete, a vontade de ser sal da terra e luz do mundo a
vontade de ser limpo de coração, a vontade de crucifica; o
Prática da Alegria
eu e espancar a carne, a vontade de seguir a Jesus até à
prisão ou atà morte, a vontade de evangelizar, a vontade
de chorar com os que choram, a vontade de distribuir todos
os bens com os pobres, e muitas outras. No meio destas A prática da alegria é a arte de se oferecer
vontades fortes e opostas está o dom do livre arbítrio. resistência à tristeza através do gozo
proporcionado pela presença de Deus na vida
A vontade de Deus daquele que o busca honesta e continuamente.
Depende da descoberta e exploração das muitas e
A única maneira de não satisfazer a vontade alheia a variadas minas de alegria que estão à margem do
concupiscência da carne, o curso deste mundo posto �o caminho em difeção à vida eterna.
maligno e as insinuações dos demônios é fazer um alinha­
mento da vontade própria com 11 a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus 11 (Rrn 12.2). Então o resultado será: 11 arnor, A alegria não é só urna opção de vida. É urna ordem de
alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fideli­ Deus ao seu povo. Em Cristo é urna aberração não ser
dade, mansidão, domínio próprio 11 (Gl 5.22-23). alegr�. É um mau testemunho. É uma contra-evangeliza­
ção. E urna falta de coerência. O mandamento da alegria
está espalhado nas Escrituras Sagradas: nos livros da lei (Dt
16.11), nos Salmos (Sl 32.11), nos profetas (Zc 9.9), nos
Evangelhos (Lc 10.20), nas Epístolas (Fp 4.4) e no Apocalip­
se (Ap 19.7).
A Bíblia ensina urna alegria teimosa, aparentemente ar­
rogante, não científica, baseada na fé e não na instabilidade
das circunstâncias de tempo e lugar, comprometida mais
com a saúde da alma do que com o bem-estar físico. Este
118 - Práticas Devocíonais Prática da Alegria - 119

tipo resistente e durável de alegria pode ser visto na famosa gunta Tiago, para advertir em seguida: "Cante louvores"
oração de Habacuque: "Embora as figueiras tenham sido (Tg 5.13). O Salmo 42 lembra com saudades da multidão
totalmente destruídas e não haja flores nem frutos, embora em festa por ocasião das procissões à casa de Deus, "entre
as colheitas de azeitonas sejam um fracasso e os campos gritos de alegria e louvor" (versos 4 e 5). O povo comemo­
estejam imprestáveis, embora os rebanhos morrem pelos rou a renovação da aliança na época do sacerdote Joiada
pastos e os currais estejam vazios, eu me alegrarei no "com alegria e com canto, segundo a instituição de Davi"
Senhor! Ficarei muito feliz no Deus da minha salvação!" (2 Cr 23.18). É muito difícil separar a alegria do louvor, o
(H� 3.17-18 em A Bíblia Viva). louvor da música e a música da expressão corporal (dança):
E importante lembrar que Paulo achava-se num cárcere "Louvai a Deus ao som da trombeta, com saltério e com
quando escreveu a Epístola aos Filipenses, na qual enfatiza harpa, com adufes e danças, com instrumentos de corda e
a prática da alegria:"Alegrai-vos sempre no Senhor, outra com flautas, com címbalos sonoros e com címbalos retum­
vez digo, alegrai-vos" (Fp 4.'4). Nesta mesma carta, o após­ bantes" (Sl 150.3-5). Momentos de intensa alegria foram
tolo declara ter aprendido a viver contente em toda e descarregados na música e na dança: por Miriã, logo após
qualquer situação: "Tanto de fartura, como de fome, assim a travessia do mar Vermelho (Ex 15.20-21); pela filha de
de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que Jefté, logo após a vitória do pai sobre os filhos de Amom (Jz
me fortalece" (Fp 4.12-13). 11.34); e por Davi, logo após a recuperação da arca do
Senhor (2 Sm 6.14-15).
Gritos de alegria
A fonte primeira
A Bíblia descreve o regozijo do povo de Deus no correr
dos anos e não economiza palavras para mencionar a in­ Na verdade a maior fonte de alegria é a presença de Deus
tensidade e a qualidade desta alegria. na vida diária do homem: "Na tua presença há plenitude
Fala-se em grande alegria (Lc 24.52, At 8.8, Fm 7), em de alegria, na tua destra há delícias perpetuamente" (SI
alegria completa (Jo 16.24, 1 Jo 1.4, 2 Jo 12), em abundância 16.11). Daí a oração de Moisés: "Sacia-nos de manhã com a
de alegria (2 Co 8.2), em alegria transbordante (Mt 13.44, tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos ale­
At 13.52), em plenitude de alegria (SI 16.11), em alegria gremos todos os nossos dias" (Sl 90.14).
indizível (1 Pe 1.8), em alegria eterna (Is 35.10) ou perpétua Davi e Salomão, pai e filho, confirmam esta verdade.
alegria (Is 51.11), em alegria em extremo (Jn 4.6) e até em Porque pecou e se retirou da presença de Deus, D�vi perdeu
gritos de alegria (SI 42.4). As vozes da alegria provocada a alegria que lhe era uma experiência normal. E por esta
pela restauração e dedicação dos muros de Jerusalém na razão que ele pede duas vezes no famoso Salmo de confis­
época de Esdras e Neemias foram ouvidas a uma grande são e arrependimento o retorno deste estado de espírito:
distância (Ne 12.43). Salomão descreve a alegria do coração "Faze-me ouvir júbilo e alegria para que exultem os ossos
como um banquete contínuo (Pv 15.15). E Jesus faz questii,o que esmagaste" e "Restitui-me a alegria da tua salvação"
de dizer que a alegria provocada por sua ressurreição seria (SI 51.8 e 12). Já Salomão, seu filho, se distanciou de Deus
permanente: "A vossa alegria ninguém poderá tirar" (Jo por causa de suas mulheres estrangeiras (1 Re 11.1-8) e
16.22). peregrinou atrás de alegrias duvidosas e efêmeras, entre­
A alegria propicia o louvor."Está alguém alegre?", per- gando-se sem reserva a todos os seus desejos (Ec 2.10),
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tendo chegado por fim à feliz conclusão de que, separado O crescimento quantitativo e qualitativo da Igreja no �ivro
de Deus,"quem pode alegrar-se?" (Ec 2.25). de Atos foi celebrado com muita alegria (At 15.3), justifi­
Esta lição foi duramente aprendida tanto por Davi como cando o provérbio de Salomão:"Quando se multiplicam os
por Salomão. O primeiro confessou: "O Senhor, tenho-o iustos o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso,
sempre posto à minha presença" (Sl 16.8). O segundo escre­ o povo suspira" (Pv 29.2).
veu um dos apelos mais convincentes e bonitos das Escri­ O fruto do penoso trabalho é também fonte de alegria.
turas contra a frustração e o tédio e a favor da colocação de Até para Jesus:"Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua
Deus na linha de frente do pensamento humano:"Lembra­ alma e ficarásatisfeito" (Is 53.11). Paulo correu risco de vida
te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que em Tessalônica (At 17.1-10), não obstante muito se alegrou
venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: com os resultados de seu trabalho naquela cidade e escre­
Não tenho neles prazer" (Ec 12.1). veu aos tessalonicenses:"Vós sois realmente a nossa glória
Quando se fala em alegria na Bíblia, repetidas vezes e a nossa alegria!" (1 Ts 2.20). Na pequena epístola dirigida
refere-se à alegria no Senhor. Veja-se os Salmos de Davi a Gaio, João se abre: "Não tenho maior alegria do que esta,
(9.2, 32.11 e 63.11), a oração de Habacuque (Hc 3.18) e a a de ouvir que meus filhos (na fé) andam na verdade" (3 Jo
epístola de Paulo aos Filipenses (Fp 4.4). 4).
As promessas de Deus são outra fonte de alegria muito
Minas de alegria séria: "Alegro-me nas tuas promessas, como quem acha
grandes despojos" (SI 119.162). A esperança produz alegria
A alegria não é tão difícil quanto os pessimistas pensam. antecipada e diminui sensivelmente o impacto da dor,
Ela é provocada por coisas simples sempre relacionadas como se vê em Paulo: "Para mim tenho por certo que os
com a pessoa de Deus. Basta lembrar que a alegria é fruto sofrimentos do tempo presente não são para comparar com
do Espírito (Gl 5.22), conseqüência inevitável de quem está a glória por vir a ser revelada em nós" (Rm 8.18). Os heróis
em Cristo e anda no Espírito e não na carne. Esta verdade da fé listados na Epístola aos Hebreus não obtiveram em
é reforçada por mais este texto:"Vocês receberam a mensa­ vida a concretização da promessa, mas viveram debaixo da
gem com aquela alegria que vem do Espírito Santo, embora alegria e do entusiasmo daquilo que Deus prometeu fazer
tenham sofrido muito" (1 Ts 1.6 em A Bíblia na Linguagem a seu tempo (Hb 11.39-40). Entre Zacarias e o nascimento
de Hoje). de Jesus há pelo menos cinco séculos, mas o profeta anun­
Outra fonte de alegria é a segurança do perdão e da ciou à sua geração"Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta,
salvação:"Alegrai-vos, não porque os espíritos vos subme­ ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador,
tem, e, sim, porque os vossos nomes estão arrolados nos humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de
céus" (Mt 10.20). jumenta" (Zc 9.9).
Todas as vezes que Deus se manifesta e aviva a sua obra Enquanto entre os secularizados a alegria depende do ter
no decorrer dos anos e a faz conhecida (Hc 3.2), há muita e não do ser, depende de receber e não de dar, entre os
alegria: "Quando o Senhor restaurar a sorte de seu povo, cristãos um dos segredos da alegria é a ordem inversa:
éntão exultará Jacó, e Israel se alegrará" (SI 14.7, 53.6). "Mais bem-aventurado é dar que receber" (At 20.35). Esta
Talvez seja uma das mais poderosas fontes de alegria do palavra atribuída a Jesus, encontra comprovação na expe­
povo de Deus (2 Cr 15.15, 29.36, 30.23-27, Ed 6.22,Ne 12.43). riência do povo de Deus tanto na época da construção do
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primeiro templo (1 Cr 29.9) como na época da restauração 9.9)-e o "Não te alegres" (Os 9.1). O "alegra-te" é para as
da casa do Senhor, cerca de 150 anos depois (2 Cr 24.10). coisas que Deus faz (Sl 118.24) e o "não te alegres" é para
Em ambos os textos se lê que o povo se alegrou por ter dado as coisas que o homem faz de errado (fg 4.9).
liberalmente a sua contribuição voluntária. A tristeza tem que ser bem dosada. Tem que ser passa­
geira. Tem que ser usada por Deus para provocar humilda­
Tempos de alegria de, arrependúnento e mudança de comportamento (2 Co
7.10). Tem que ser resolvida pela consolação das Escrituras
Por causa do pecado, por causa da depravação humana, (Rm 15.4) e pela consolação do Espírito (Jo 14.16). Tem que
por causa da ordem política e social injusta, por causa da ser amenizada pela esperança cristã (1 Ts 4.18). Tem que ser
incredulidade, por causa da atuação satânica, por causa do sucedida pela alegria, como se preconiza neste Salmo: "Ao
orgulho humano, por causa da fome e da miséria, por causa anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã"
da enfermidade e da morte, por causa da rejeição do evan­ (SI 30.5). Tem que ser positiva como as dores da mulher que
gelho e por causa dos erros cometidos pela liderança civil está para dar à luz, prontamente aliviadas ao nascer a
e religiosa - nem todo o tempo é tempo de alegria. O livro criança (Jo 16.21- 22). Te1n que ser vencida e subjugada pela
de Eclesiastes ressalta esta verdade: "Há tempo de chorar, alegria do Senhor. Para tanto, é necessário recorrer a Deus:
e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de "Alegra-nos por tantos dias quanto nos tens afligido, por
alegria" (Ec 3.4). tantos anos quantos suportamos a adversidade" (SI 90.15).
O póprio Jesus, a fonte de toda alegria, teve momentos
de tristeza. Jesus chegou a chorar ao ver Maria, irmã de
Lázaro, em prantos por causa da morte do irmão (Jo 11.33-
35). Chorou outra vez, na entrada triunfal em Jerusalém, ao
ver, do alto do Monte das Oliveiras, a cidade impenitente
e marcada para a completa ruína (Lc 19.41-44). A sua maior
tristeza, porém, foi no jardim do Getsêmani, quando bus­
cou a simpatia de Pedro, Tiago e João:"A minha alma está
profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comi­
go" (Mt 26.38).
Em certas situações muito especiais a tristeza torna-se
virtude e a alegria torna-se pecado. Paulo se mostra virtuo­
so ao se preocupar com a incredulidade dos judeus, a
despeito de todas as prerrogativas do povo eleito, seus
ir�ãos e compatriotas segundo a carne: "Tenho grande
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tristeza e rncenssante dor no coração" (Rm 9.1-5). Ao mes­
mo tempo Jó também se mostra virtuoso porque não se
alegrou com a desgraça daquele que lhe devotava ódio (Jó
31.29). Aliás, está escrito que"o que se alegra da calamida­
de não ficará impune" (Pv 17.5). Existem o"Alegra-te" (Zc

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