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O VILÃO
JOSIANE VEIGA
2021
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou
banco de dados sem autorização escrita da autora.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação. Qualquer semelhança
com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera coincidência.
Romance
ISBN – 9798590619702
O abandono tornou Pedro um homem difícil e sem sentimentos. Até encontrar alguém
tão destroçado na vida quanto ele.
Dayanne e Pedro, duas figuras sofridas, unidas pelo acaso, avassaladas pelo desejo.
Sumário
Sinopse:
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
Capítulo Quinze - Final
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Prólogo
Pedro
Alguém havia mijado na estação de Sapucaia. Não em um canto, onde você podia fugir do
fedor insuportável indo para outro lado, mas em todo lugar, como um cachorro marcando território.
Ergui meu pulso e observei meu relógio. Meu Xiaomi Mi Band apontou 08:16. Suspirei
nervosa. Estava atrasada.
O som de um trovão ao longe me indicou que iria chover. Estava quente como o inferno, e
quando chovia no verão quase sempre resultava em alagamentos.
Realizar melhorias nas áreas alagadas era um dos planos de governo do meu chefe, o deputado
estadual Pedro Antunes. Eu era sua secretária principal, tanto na área política quanto pela empresa
que ele gerenciava, a P.A. Construções e Empreendimentos. Na verdade, eu era sua faz tudo, já que o
homem parecia incapaz de se virar sozinho.
Ele me ligava o tempo inteiro, mil vezes por dia. Mesmo nas folgas e nas férias. Aliás, era nas
férias que eu pensava seriamente em pedir demissão. Ele sempre surtava quando eu pedia alguma
folga ou dias de direito. Simplesmente porque não sabia onde estavam seus documentos, ou sua
agenda. Ou simplesmente porque ninguém sabia quanto de açúcar colocar no seu café ou em como ele
gostava que eu separasse o caderno de esportes assim que recebia o jornal, sua leitura favorita.
O cheiro me fez espirrar. Ergui minha blusa e escondi meu nariz embaixo do tecido perfumado
da minha roupa.
Eu me sentia sua mãe, apesar de ter apenas vinte e cinco anos. Cuidar de cada detalhe da vida
do deputado era tão devastador que não tinha tempo para mais nada.
Eu não pude concluir minha faculdade de administração por pura falta de tempo. Eu não saia e
não tinha amigos nem namorado porque não conseguia respirar fora do trabalho, ocupada o tempo
todo com os problemas de Antunes.
Então, eu pensava sim em pedir demissão. Seria como respirar depois de quase perder a vida
embaixo d’agua. O problema é que o emprego pagava minhas contas e meu aluguel, e eu sabia que
não seria tão fácil achar outro.
Não nessa crise que anda o país desde a pandemia.
O som do Trensurb se aproximando me fez agradecer a Deus. Minha prece foi interrompida
quando percebi o local abarrotado de gente.
De onde surgia tanta gente, meu deus do céu?
Dei um passo para frente e o cheiro de suor e rabo azedo (as oito da manhã!) me tocou.
Retrocedi, sabendo que a urina parecia menos pavorosa.
O trem partiu. Decidi esperar por outro, já dando os ombros para o atraso.
As coisas não estavam fáceis para Antunes, não seria meu atraso que iria atrapalhar sua vida
de alguma forma.
Ele já estava fodido. Literalmente. Como se um homem grande o tivesse arriado as calças e lhe
metido sem dó.
A Polícia Federal o tinha levado no dia anterior. Acusado de usar sua empresa para negociar
acordos políticos. O jornal Zero-Hora do dia estampou sua face surpresa na primeira capa.
O tiraram da cama, usando calção vermelho com bolinhas amarelas. Um palhaço. Eu ri quando
vi a imagem. Apesar de cuidar de cada detalhe do seu trabalho, não estava ciente das suas falcatruas.
Não que duvidasse que ele as cometesse. Trabalho com Antunes há cinco anos e já vi de tudo dentro
do seu gabinete.
Certa vez ele e um deputado da oposição se xingaram quase ao ponto de saírem aos socos em
plena Assembleia Legislativa. Depois da confusão, ambos estavam rindo e tomando café no gabinete,
como se fossem dois excelentes atores num teatro bem armado chamado Brasil.
Olhei meu relógio de pulso novamente.
Preso ou não, a P.A não podia parar. A empresa precisava de mim, pois havia obras honestas
em andamento. E, eu sabia que o único filho do meu chefe havia chegado da Espanha há poucos dias
para assumir a administração.
Estava ansiosa para conhecê-lo, e temerosa também, pois não sabia como o filho querido – e
provavelmente mimado - do meu chefe era. Pedro costumava usar sua paternidade como palanque
político, falando das dificuldades de ser pai solo. Alguns anos antes, quando o filho completou
dezoito anos, ele o despachou para a Espanha, a fim de se graduar em administração. Depois, ele fez
sua pós lá.
Desde que a Polícia Federal começou a investigar as obras feitas em Porto Alegre sob a
vigilância de Antunes, Pedro Antunes Junior havia sido comunicado para retornar. Ouvi comentários
no escritório de que ele, primeiramente, mandou o próprio pai a merda, mas posteriormente decidiu
assumir a empresa.
Balancei meu corpo enquanto voltava a recolher meu nariz embaixo da blusa. O cheiro estava
me asfixiando, tanto quanto o trabalho que eu realizava.
Quando o deputado foi preso, as atenções se voltaram para mim. Era óbvio que eu não estava
na fraude, era uma coitada sem casa própria, morando num apartamento acabado e alugado, vendendo
o almoço para comer a janta. Minhas contas estavam atrasadas, e minha conta de água estava com
aviso de corte. O síndico já havia me chamado a atenção duas vezes.
A verdade é que eu ganhava pouco. Isso, ou o custo de vida estava cada vez pior. O deputado
nunca me deu qualquer bônus, e toda vez que o sindicato exigia um aumento mínimo ele reclamava
tanto que quase me fazia desistir.
Mesmo assim, a PF me interrogou. A imagem que tiveram de mim é de que eu era uma estupida
burra que não percebia o que acontecia embaixo do meu nariz.
Talvez fosse verdade. Eu realmente não conferi que eles estavam cobrando R$ 300 reais pelo
saco de cimento. Nem que o metro quadrado que normalmente ficava em torno de um mil reais a
construção, estava sendo realizada por 200 mil. Simplesmente havia sido desviada da parte da
contabilidade para cuidar de coisas menos importantes como a agenda do deputado e de atendimento
ao seu pleito.
Agora entendo que ele não me considerava de confiança. Era quase elogioso, pois ele me via
como alguém incapaz de corrupção.
Talvez estivesse certo. Provavelmente estava.
E assim eu iria morrer pobre porque ninguém nesse país consegue nada se não roubar.
Balancei a fronte, negativamente.
Não era verdade. Um dia eu iria conseguir construir minha própria empresa. Honesta. Tudo
daria certo. Contudo, no momento, eu tinha que me preocupar em atender as demandas do novo chefe.
Será que ele seria tão cretino quanto seu pai?
Eu devia desistir. Outra, em meu lugar, faria isso.
Mas, eu precisava do salário, do vale alimentação, do vale transporte, da segurança da carteira
assinada. Quando se cresce sem saber se vai ter o que comer a noite, a segurança da CTPS parece
mais importante que terminar os estudos e ser empreendedora.
Enfim outro metrô surgiu nos trilhos. Olhei feio para dois caras que logo estavam perto de
mim, quase sempre preparados para se esfregar caso o transporte estivesse cheio.
Cheia estava eu. Cansada. Exausta. Precisava sumir. Se algum pervertido me tocasse hoje,
sairia dali sem seu pinto.
Entrei, e caminhei no corredor até um vão de pessoas em meio a duas pilastras de aço. Logo
senti a respiração de homens na minha nuca, e respirei fundo, tentando manter a calma. O trem
começou a se mover e a respiração foi ficando cada vez mais próxima.
— Ei, dá pra dar espaço? — uma voz máscula como um trovão soou através do corredor.
Eu girei o rosto e vi um homem enorme, usando terno, e de cabelos escuros, observando os
outros caras. Era como se ele tivesse um efeito poderoso sobre eles, porque antes que pudessem
reagir, o cara posicionou-se ao meu lado e deixou claro através de sua postura que iria me proteger
ali.
Eu perdi o fôlego, o ar.
Eu sei que dizem que às vezes você encontra alguém por acaso na rua, por acaso numa festa, ou
por acaso numa viagem, e essa pessoa gira sua vida em 180 graus de tal forma que você nunca mais
será a mesma.
Era como eu me sentia.
Foi imediato, principalmente levando-se em conta de que isso jamais aconteceu comigo antes.
Eu sequer tive um namorado antes. Atração assim – e tão poderosa – parecia coisa de filmes ou
novelas.
Mas... Deus... Ele era lindo.
Lindo de morrer.
E por alguns instantes me permiti sonhar de que seu gesto era mais do que a generosidade de
um estranho para uma mulher desamparada.
Nós teríamos filhos lindos! Nosso casamento seria na praia, em Torres, e nós envelheceríamos
em alguma cidade pequena da serra, comendo salame e tomando vinho artesanal.
Escondi o sorriso, porque a fantasia era ridícula.
Ele ergueu o braço e observou as horas. Seu pulso era escurecido por pelos castanhos. O
punho da camisa era excessivamente branco, e o botão estava aberto. Cara, ele até parecia aqueles
personagens de livro que eu lia. Podia enxergar Penny Jordan ou Lynne Graham escrevendo sobre
ele.
Apesar do seu cavalheirismo ele não me olhou. Eu estava parada ao lado dele, mas ele não
queria conversar. Nem sei por que iria querer. Esse era o tipo de cara que saia com atrizes ou
modelos. Devia ter as pencas aos pés dele.
E eu? Nem comento.
Sou do tipo comum que ninguém olha duas vezes. Pernas grossas, bunda grande, cintura média
com pneuzinhos, peito pequeno, rosto redondo e nariz proeminente. Eu era feia. Era isso. Feia. Você
sabe quando é feio. Sou do tipo de pessoa que quando posta uma foto no Facebook só mulheres
comentam me chamando de bonita. E falsamente, claro.
— Você está bem? — ele indagou, me tirando do transe.
Tentei me virar para ver se ele estava falando com outra pessoa.
— Oi?
— Você está me olhando fixamente há uns cinco minutos.
Eu queria cavar um buraco e sumir, naquele instante.
— Ah, só quero te agradecer.
— Me convida para um café, então — ele brincou, piscando o olho direito o que me fez
arregalar os meus.
— O quê?
O trem parou. O homem se aproximou da porta automática. Mas, antes de sair, virou na minha
direção e entregou um papel na minha mão.
— Meu cartão. Me liga. A gente pode tomar um café, quando você quiser.
Eu, ele, uma casa com jardim, três filhos, o cachorro no quintal.
Ok. Lá estava eu sonhando novamente, mas foi inevitável. O cara me entregou seu número de
contato e, caso eu fosse uma super fodastica mulher cheia de autoestima e dona de si, eu ligaria.
Ele desceu e eu o observei correndo pela estação, como se estivesse atrasado.
Lá se vai meu príncipe encantado...
Mas, ao menos eu tenho seu cartão para me lembrar que não foi um sonho.
Desci meus olhos para o papel. O timbre me arrepiou porque eu o reconheci de imediato.
Abaixo, o nome escrito quase me fez desmaiar.
Pedro Antunes Junior.
Fodeu, fodeu, fodeu.
Meu príncipe encantado era meu novo chefe?
Prendi a respiração quando bati em sua porta. Quando cheguei no escritório, já haviam me
avisado que o chefe estava me esperando. Odiava chegar após o patrão, porque a imagem de que era
relapsa dominava minha mente, mas respirei fundo e tentei me concentrar na minha desculpa:
“O trem lotado das 08:16 não me permitiu chegar antes. E quando cheguei em Porto Alegre
meu salto quebrou no meio da rua já repleta de água da chuva. Os alagamentos estão terríveis.”.
Precisei comprar um superbonder e passar pela vergonhosa experiência de colar meu salto e
esperar secar sentada na calçada, perto de dois drogados que me encaravam com ar de riso.
Bati. Antes mesmo de minha mão tocar a maçaneta, ele gritou:
— Entre!
Meu coração acelerou. Entrei e o observei de braços cruzados sobre o peito largo. Seu aspecto
parecia divergir do doce cavalheiro da manhã, mas tentei manter a calma enquanto respirava fundo.
Percebi que ele me reconheceu. Um breve sorriso surgiu no canto de sua boca:
— Nossa, você realmente está interessada em tomar um café comigo.
— Pois é. Coincidência — murmurei.
— Coincidência. Ainda maior levando-se em conta de que desci em uma estação antes para
resolver um problema de negócios, e ainda consegui chegar antes de você ao trabalho.
— Sinto muito. Eu tive um pequeno incidente com meu salto.
Ele observou meus pés. Depois subiu seu olhar até chegar ao meu rosto. Sua expressão era
uma incógnita.
— Dayanne é seu nome.
— Isso. Igual ao da princesa.
— Da princesa se escreve Diana.
— Minha mãe não sabia disso. Então enfiou um N a mais e um E no final. — Sorri. Depois, me
aproximei e estendi a mão em sua direção. — É um prazer conhecê-lo, Sr. Pedro. Estou ansiosa para
trabalharmos juntos.
Ele aceitou meu cumprimento. Logo, seus olhos volveram para o papel que estava em sua
mesa, percebi ser minha ficha cadastral.
— Você trabalha há muito tempo para meu pai.
— Sim, foi meu primeiro emprego de carteira assinada. Antes, eu só conseguia estágios. Sou
muito grata ao deputado.
— O emprego foi promessa de campanha?
— Como?
— Você não tem qualificação.
Senti como se tivesse levado um soco no estômago. Eu sabia disso, mas pobre só consegue
estudar quando tem tempo e dinheiro. Me faltava os dois. Claro que um cara rico, filho de um
deputado, jamais entenderia isso.
— Posso lhe garantir que sou mais qualificada que qualquer outra secretária. Realmente me
falta estudo, mas aprendi na prática. Controlo tanto a empresa quanto o gabinete do deputado.
— E, ainda assim, cometeram crime perante seus olhos e você nada soube?
Mordi o lábio. Meu príncipe encantado era um sapo.
— Sempre estive por dentro do meu trabalho. Serviços alheios a ele, não eram de minha
alçada.
Ele sorriu como se estivesse estudando minha resposta e gostando dela.
— Ok, Dayanne com dois Ns e um E. Quer tomar um café? Porque acho que será uma ótima
maneira de nós nos conhecermos, já que acredito passaremos boa parte de nossas vidas juntos.
Isso se eu não pedisse as contas antes.
A quem estava enganando, eu jamais pediria demissão. Aquele emprego era tudo que eu tinha.
Limpei a garganta e me endireitei tentando parecer profissional. Todavia, o nervosismo
começou a tomar controle.
— Sei que deve ser comum chefes saírem para tocar café com secretárias, mas aqui na
Construtora isso não acontece. Se tornaria uma fofoca.
— E daí?
Ele se levantou e estendeu a mão na minha direção, me guiando até a porta. Minha boca secou,
meu corpo inteiro entrou em combustão. Eu sabia que aquele calor que me dominou tinha algo a ver
com o que estava acontecendo entre minhas pernas.
— Pode tomar café comigo, Dayanne. Mas, advirto que não sou como meu pai. Imagino a
imagem que tem de Pedro Antunes, mas sou outra pessoa.
Suas palavras eram uma incógnita. Mesmo assim, não pude recusá-las.
Capítulo Dois
Pedro
Vinte e cinco anos de vida sem um beijo na boca. Um aperto mais forte. Sem o toque de um
homem. Sem sexo.
Se alguém soubesse, acharia que é mentira, mas o que dizer? Entre uma infância miserável,
meu começo de vida adulta correndo atrás de emprego, minha tentativa frustrada de estudar, meu
cargo com o deputado, e minhas contas quase sempre atrasadas, eu não tive tempo de tentar.
Não é bem verdade. Certa vez até fui a uma igreja, um encontro de jovens, e esperei qualquer
olhar. Não aconteceu nenhum. Nem mesmo os homens que se diziam procurar uma mulher virtuosa
viram na minha figura patética qualquer atrativo.
É isso. Ninguém nunca me olhou. Não ao menos que eu ficasse sabendo. E quando Pedro
Antunes me disse todas aquelas coisas enquanto bebíamos café, eu soube que era tudo ou nada.
O que eu tinha a perder? O cara era lindo de morrer e eu havia ficado imediatamente atraída
por ele no trem.
E meus sonhos? A casa, os filhos... o cachorro... Aff...
Dei os ombros. Bom, eles não se realizariam de qualquer maneira.
Eu sabia que depois de me comer, ele basicamente iria me descartar como se faz a toda mulher
fácil, mas isso não seria nenhuma perda para mim. Por que eu iria me entristecer por perder algo que
nunca tive?
Ah, o que há de errado comigo?
Eu não devia fazer isso.
Apertei o botão do elevador. Entrei. 8º Andar.
Eu estava fervendo em muitos pontos, ansiosa para viver o que lia em romances. Mas, sabia
que meu coração podia estar em jogo aqui. Porque não seria apenas sexo e depois nunca mais se ver.
Pedro Antunes Junior era meu chefe. Meu chefe lindo de morrer. E eu o veria todos os dias no
escritório, após isso.
Todos os dias, talvez por anos, para me lembrar do que se seguiria.
Ainda assim, estava aqui. Ansiosa por algo que nem sabia como funcionava ou como era.
A porta do elevador abriu. Caminhei em passos trôpegos até a porta da suíte. As luzes do
corredor marrom iam se acendendo conforme eu seguia. Meu coração estava aos saltos.
Parei diante da porta que o recepcionista me indicou lá da recepção. Bati. Ela se abriu e a
figura potente e máscula daquele homem fez minhas pernas vacilarem.
Seu sorriso quase me derrubou. Ele havia tirado o terno e estava com a camisa branca
desabotoada até o peito. Seus pelos negros como a noite coroavam seu tórax definido.
Ele se moveu lentamente em minha direção. Tentei desviar o olhar, mas não consegui, porque
cada vez que tentava, ficava hipnotizada pelos olhos dele.
— Entre Dayanne. Não precisa me temer. Eu não mordo.
Mordia sim. Eu via pelo seu sorriso, aqueles dentes brancos prestes a se cravar na minha pele
pálida.
Era isso. Uma parte de mim gritava desesperadamente: “O que diabos você está fazendo?
Corra agora!”, mas eu segui em frente.
O quarto tinha cheiro de lavanda. Eu me lembrei dos livros da Josiane Veiga, onde tudo tinha
cheiro de lavanda. O aroma me deixou leve.
Girei em sua direção. O jeito que seu sorriso me tomou deixou minha calcinha
automaticamente molhada.
Ele avançou. Estávamos a centímetros um do outro. Tentei recuar, mas meus pés estavam
presos. Era como se eles quisessem ficar para que pudessem saber o que ele faria a seguir.
Pedro me puxou com tanta força e eu senti a agressividade do seu monte endurecido contra meu
ventre. Minha boca abriu, num gemido estranho, e eu queria morrer de tanta vergonha por estar me
sentindo assim por um homem que eu mal conhecia.
— Eu não sei se isso é certo.
— Você se preocupa demais com o certo ou errado. Já te disse que isso é pensamento imposto.
Se você quer dar pra mim e eu quero te comer, é tudo que importa.
Ele foi me levando até a cama. Eu até entendia a sua frase, aquela historinha pra boi dormir de
que as mulheres na Europa era livres do machismo, e blábláblá, papo usado para transar comigo...,
mas, me fazer de besta parecia fácil para me desculpar pelo fato de que estava prestes a ir para a
cama com um cara que eu conheci poucas horas antes.
— Você está nervosa — ele constatou. — Isso é só porque sou seu chefe e porque acabamos
de nos conhecermos?
— Eu não tenho muita experiência — admiti.
— Isso significa o quê? Você tem quantos anos?
— Vinte e cinco.
— Com quantos caras já dormiu para ter pouca experiência? Vinte e cinco anos já não é
nenhuma menininha.
Eu não consegui responder. Desviei meu olhar, meu constrangimento era gritante.
— Vamos fazer o seguinte. Estou louco para provar sua boceta, então vou deixar para te foder
em outro momento. Fica melhor assim?
Provar?
Como assim, provar?
Antes que eu pudesse ter a chance de dizer qualquer coisa, Pedro me forçou contra a cama, e
agachou-se diante de mim. Ele ergueu minha saia e puxou minha calcinha. Sua cabeça se moveu
rapidamente entre minhas pernas, sua língua deslizou pela minha rachadura como se estivesse
degustando um doce.
Engasguei-me, contendo um grito de prazer.
Sua boca me tocou. A língua brincando sobre meu clitóris, dando pequenas batidinhas que me
causaram combustão. Logo, a língua passou a dar longos golpes entre meus lábios, com força, me
deixando desesperada.
Segurei sua cabeça, movendo minha boceta contra ele, cavalgando em sua boca. Eu não
conseguia me segurar, apesar de jamais ter experimentado algo parecido com isso antes. Nem algo
não parecido. Céus, quantos anos sem imaginar o quão desesperador podia ser um desejo?
— Você gosta, não é, minha putinha? — ele mordeu meu lábio maior, os dedos acariciando
minha virilha.
Eu gritei. Não queria reagir assim, mas estava pegando fogo. Queria aquele homem, e queria
mais dele do que sua boca.
— Por favor — implorei.
Ele subiu no meu corpo, me fazendo experimentar a sensação de seus músculos contra minha
fragilidade. Era gostoso demais.
— Quem manda aqui, Daya?
Zonza, eu apenas me esfregava contra ele, querendo mais.
— Quem manda? — exigiu, mais firme.
— Você... você...
— Nunca se esqueça disso.
Um dedo masculino se moveu para baixo e o deslizou dentro de mim. Ele enrolou meu clitóris
enquanto sua língua se enfiou na minha boca.
Meu primeiro beijo. Não delicado como já sonhei, mas agonizado em prazer.
Eu me contorci, chorando, explodindo em mil pedaços quando o gozo me tomou, gritando como
uma puta da Avenida Farrapos.
— Gostou, Daya? — ele indagou quando meu corpo parou de convulsionar.
— Sim...
— E quer que eu te foda?
— Sim...
Ele riu.
— Não hoje. Quando eu quiser. É assim que vai ser. Vai ser minha putinha para quando eu
quiser.
De repente ele se levantou, me deixando vazia da sua sensação.
— Tome um banho porque está toda melada. Depois volte ao escritório. Temos um
compromisso ainda de manhã.
Ele era frio. Só agora eu entendia que para ele tudo ali era mecânico. Alívio do corpo, e só.
O observei enquanto ele ia ao banheiro para lavar as mãos. Depois, abotoou a camisa e vestiu
o paletó. Saiu sem sequer olhar para trás.
Senti-me um lixo. E ainda assim sabia que faria de novo, todas as vezes que ele quisesse.
Capítulo Quatro
Pedro
Pois é, eu havia ultrapassado todos os limites do aceitável quando levei Dayanne para a cama.
Não a fodi, mas lambi a vagina da minha secretária, porque estava louco por isso, desde o momento
da estação.
Essa merda era contra meus princípios de não me envolver com alguém com quem trabalhava.
Sempre dava problema, e era questão de tempo até ela começar a ter crises e achar que algo a mais
rolasse entre nós.
Porque não aconteceria.
O fato de eu querer morder suas nádegas não quer dizer que eu quisesse qualquer compromisso
com ela. Especialmente sabendo quem ela é, mais uma das vadias do meu pai.
Desci para a recepção, saindo pela porta da frente do hotel. Cruzei o Largo Vespasiano Júlio
Veppo e me deparei com aquela fila de táxis vermelhos. Entrei em um disponível e lhe forneci o
endereço da empresa.
O homem sucinto começou a locomover o automóvel enquanto ligava o rádio. A voz de Pedro
Ernesto ao fundo falava sobre futebol. Suspirei, decidido a ir à Arena ver o Grêmio qualquer dia.
Dizem que o novo jogador, Ferreirinha, brilha e tem futuro.
Notícias, agora.
O single de informações da rádio gaúcha me fez prestar mais atenção. Ao fundo, o que eu temia
foi anunciado.
“O Deputado Pedro Antunes foi solto agora a pouco, mas a investigação permanece...”, o
resto da frase foi cortada pela voz maçante do taxista.
— Quanta perseguição a esse homem de Deus — ele me disse. — O Deputado é um homem
muito honrado, frequentou minha Igreja várias vezes.
Revirei os olhos, incapaz de retrucar. Eu sabia o que meu pai faria agora. Sem poder se
aproximar da empresa por conta das investigações, ele tentaria me comprar.
— Você pode parar no Gasômetro?
O taxista logo me deixou na antiga usina, hoje ponto turístico da cidade. Precisava respirar e o
ar frio do lago Guaíba parecia acalmar meu coração corroído.
Caminhei ao longo da margem, observando o movimento da água. Voltar ao Brasil era apenas
um dos passos para destruir meu pai. Mas, como eu poderia fazer isso sem acabar com a empresa
dele? Não que me importasse com aquele patrimônio, mas muita gente trabalhava lá.
Uma pequena parte de mim se preocupava com os funcionários. Nem sei por que, não era
muito de me importar com o destino das pessoas, mas não queria ser o culpado de algum pai ou mãe
de família não ter o que dar para os filhos.
Provavelmente herdei essa faceta de minha avó, cujo nome eu não me lembrava.
Um quero-quero gritou ao longe, e seu voo de asas largas me encantou.
Vi minha mãe numa revista de subcelebridades há uma semana. Ela reclamava de quão difícil
era a vida das mulheres com mais de cinquenta anos. Eu percebi que estava falida porque seu Botox
não estava em dia, e ela murmurava sobre beleza interior e o quanto a sociedade pressionava as
mulheres para uma aparência perfeita.
Quanto tempo demoraria até ela bater na minha porta implorando por dinheiro? E depois que
eu recusasse, quanto tempo levaria até ela correr até algum portal de notícias choramingando sobre o
abandono do único filho?
Lembrei-me de um ensinamento do meu pai: Mulheres são sempre vítimas. Não importa a
merda que fizeram, são sempre as coitadinhas. E se você apontar isso, é o machista escroto.
Puxei a carteira de cigarros do bolso e acendi um, mentolado. Aspirei a fumaça adocicada
enquanto pensava em Dayanne. Sua fragilidade gritante realmente a fazia parecer uma pobre menina
desamparada. Seu gosto doce ainda dançava em minha língua.
Apaguei o cigarro no chão e depois volvi em direção a outro táxi.
Dayanne ainda não havia retornado quando voltei ao escritório. Não importava, sabia que ela
devia estar se corroendo na culpa pelo prazer compartilhado. Essa faceta das brasileiras me
surpreendia. Sempre se sentiam culpadas por ter prazer. Todas as conterrâneas que encontrei na
Espanha, e que levei para a cama, tinham essa característica.
Observei sua mesa perante a minha porta e escrevi um bilhete. Que me encontrasse na sala de
conferências, eu iria fazer uma reunião com os principais gestores. Quando terminei de rabiscar,
pensei se o texto não era um pouco frio.
Logo larguei o papel.
Não importava.
Um a um, todos foram se assentando perante a enorme mesa. Na cabeceira, observei seus
rostos ansiosos, sabendo que muitos ali se preocupavam com a maneira que eu iria administrar a
empresa.
O deputado estava fodido. Literalmente. As denúncias eram graves e quando a Polícia Federal
pega no seu pé, não solta. Mas, teoricamente, as falcatruas que ele fez usando a empresa não geraram
lucro para ela. Tudo era embolsado por sua ganância.
— Bom dia — disse, assim que todos se sentaram. Pigarreei. — Meu nome é Pedro. Como
sabem, irei assumir a administração da P.A. Tenho algumas...
— E seu pai? — Um homem mais velho indagou, cortando-me.
Houve um curto silêncio, um olhando para o outro, temerosos.
— Meu pai está afastado de seu cargo, e não retornará enquanto estiver sob investigação.
Eles se entreolharam de novo. Havia uma cumplicidade culpada entre eles que era quase
palpável.
— Eu sei que todos nós teremos um trabalho difícil nos próximos meses. As ações da empresa
caíram, muita gente não quer nossos serviços, e muitas empresas parceiras estão cancelando seus
contratos. Por conta disso, precisamos revisar tudo, todo o sistema, ter certeza de que está tudo limpo
e de que as coisas que ainda não foram investigadas pela polícia não fizeram parte dos esquemas do
meu pai. Vamos continuar apenas com contratos honestos, e com uma nova gestão, provar que não
estamos envolvidos nos erros do meu pai.
— E se acharmos alguma coisa?
— Passem a informação para mim. Eu mesmo irei denunciar.
— Irá denunciar seu pai?
— Irei denunciar um crime, independente de quem esteja envolvido. Caso alguém aqui dentro
dessa sala esteja enfiado na sujeira do meu pai, é melhor sair agora e pedir demissão, porque pode
se complicar ainda mais.
Uma mulher bonita, de cabelos escuros e olhos amendoados chamou minha atenção através de
um gesto com a mão. Meu olho cravou nela.
— Estamos no Brasil — ela disse. — Aqui ninguém é punido. A imagem da empresa é mais
preocupante do que a situação de quem fez coisa errada.
Senti meu sangue esquentar.
— Se eu pegar alguém fazendo coisa errada dentro da empresa, pode ter certeza de que a
polícia vai ficar sabendo. E, também saberá que a impunidade é o conforto da maioria.
Silêncio.
— Dispensados — disse.
Esperei todos saírem enquanto eu gravava cada rosto. Era difícil saber se eles estavam
enfiados na sujeira ou eram vítimas da ambição de Pedro Antunes.
Assim que a sala ficou vazia, outra pessoa apareceu na porta. Me levantei, observando
Dayanne parada, ajeitando a saia que parecia querer subir por suas coxas grossas.
Meu pau ficou duro pensando nas coxas deliciosas que ela tinha.
— Está atrasada.
— Perdão — ela pediu, apressada. — O trânsito no Centro Histórico estava terrível.
— Você sempre vai arrumar uma desculpa para não estar no trabalho?
Ela arregalou os olhos, assustada.
— Foi um atraso.
— Eu não suporto incompetência. Você não tem qualificação, e não é responsável com o
horário. Se é esse tipo de secretária, acredito que não será a minha.
Senti algo apertar em meu peito quando seus olhos ficaram repletos de lágrimas. Era difícil vê-
la magoada, e eu nem sabia o porquê.
— Eu estava no trabalho, o senhor que me tirou daqui — ela rebateu e eu inflamei em mil
pontos.
Ela tinha garras, essa gatinha.
Levantei-me. Cruzei a extensão da sala e fiquei diante dela. O cheiro dela me tocou, assim
como o gosto dela ainda me fazia ferver.
— Eu te tirei daqui para foder. E nem isso você me deu. Estava tão nervosa que tive que me
contentar em te chupar. Sorte sua que eu gostei. Mas, o fato de eu estar louco pra meter em você não
vai facilitar seu trabalho. Você não pode me comprar com sexo.
— Não sou uma prostituta — ela devolveu e percebi a sensibilidade na voz magoada.
Ergui minha mão levemente, tocando uma madeixa escura de seus cabelos.
— Bom saber. Prazer, prazer... Negócios a parte.
Capítulo Cinco
Dayanne
Minha caneta lilás tamborilava na mesa do escritório, enquanto minha mente voava sobre a
situação em que me coloquei.
A trouxa aqui, essa mesma que você conhece por Dayanne, conseguiu a façanha de se tornar
puta e péssima funcionária ao mesmo tempo, em apenas poucas horas.
Era inacreditável.
Na única vez na vida que me deixei levar pelas circunstâncias, acabei com o nome manchado
dentro do trabalho. Pedro Junior agora acreditava piamente que eu fui ao hotel com ele para ter
vantagens diante da minha incompetência.
Suspirei.
O trovão ao lado do prédio me indicou que seria complicado sair do escritório naquele final
de tarde. Sempre que chovia forte, Porto Alegre ficava embaixo d’água. Anos e anos de má
administração não davam em outra.
Mesmo assim, inacreditavelmente, o povo amava o deputado. Acho que as idas dele nas
igrejas da região, suas falas sobre Jesus Cristo – eu duvidava muito que ele já tivesse lido a Bíblia –
e seus ataques ao partido da esquerda contribuíam para isso.
Obviamente, eram ambos a mesma coisa, direita e esquerda. Claro que deviam ter seus
membros sinceros, alguns jovens estavam concorrendo nas últimas eleições e realmente pareciam
verdadeiros, mas a grande maioria apenas fazia o teatro para o público.
O Brasil era pão e circo. Na semana anterior a prisão do deputado, participei de uma reunião
com o presidente do partido esquerda, onde minhas anotações foram confiscadas pelo meu chefe. O
homem dizia que precisava aprovar a lei do aborto no Brasil. Para o público: questão de saúde
pública e direito feminino a escolher o que fazer com o bebê em seu ventre. Internamente, aos seus
amigos políticos – incluindo meu chefe conservador – ações e investimentos em uma clínica
internacional de aborto que lhe valeria milhões.
Enquanto as pessoas se deixassem levar por discursos falsos e populistas, não haveria saída
para o país.
Outro trovão.
Sempre que ia votar, escolhia candidatos de fala crua. Pessoas que não mascaravam o que
eram com gentileza e falsa esperança.
O país estava uma bosta, estava quebrado, estava afundado em corrupção. Eu vivenciava isso
todos os dias. Não adiantava nada escolher os mesmos de sempre. Renovação era a chave, mas
renovação longe de filhos, esposas ou parentes dos atuais políticos.
Pensei no meu novo chefe de fala dura.
Ele seria o tipo de candidato que eu votaria, apesar de ser filho de quem é.
Olhei no relógio. Dezoito horas.
Graças a Deus.
Comecei a recolher minhas coisas, quando o telefone tocou. O som denotava que era o interno.
Resmunguei baixinho, dividida entre fingir que já fui embora ou atender.
Não havia escolha.
Pedro Junior já me considerava uma funcionária incompetente, sair sem avisá-lo seria atestar
isso com diploma.
— Dayanne, preciso da contabilidade da última obra feita por meu pai. Aquela perto de
Alvorada.
— O posto de saúde?
— Isso. Quero todos os documentos que encontrar sobre essa obra.
Já eram seis horas, pelamor de Deus!
— Eu vou te pagar hora extra — ele disse, perante meu silêncio.
Enrubesci, sem saber direito o que responder. Estava claro que ele havia percebido pela minha
respiração que eu não estava a vontade de ficar após o horário. Mais uma vez, deve ter pensado que
eu não era focada no trabalho e não servia para ser sua secretária.
Ele vai me demitir. Estava óbvio. Talvez não hoje, nem amanhã, mas com certeza dentro do
mês. Talvez já estivesse buscando uma nova secretária.
Comecei a mexer nas caixas organizadoras, buscando os documentos dos quais ele falou. Não
tinha muita coisa.
O que eu faria se perdesse meu emprego? O maior problema é que eu não tinha estudo, e sem
estudo não me restava muitas opções. E essas opções indicavam baixo salário. Eu não conseguiria
me manter com salário-mínimo.
Aluguel, água, luz, telefone, transporte, alimentação, internet... Cara... eu não tinha luxos, então
não poderia simplesmente cortar o que não precisava. Com um salário menor, teria que me virar em
comer menos, gastar menos água, luz e talvez ir morar num lugar pior.
E eu já morava num cubículo.
Levantei com a papelada e me aproximei da sua porta. Ergui a mão para bater, quando sua voz
me chamou.
— Está aberta.
Empurrei a porta e observei o semblante impassível do meu chefe. Caminhei até ele e coloquei
a papelada sobre a mesa. Seus olhos me observaram enquanto eu cumpria a tarefa, e eu ardi, nem sei
exatamente o porquê.
— O senhor precisa de mais alguma coisa?
— Está louca para ir embora, não é?
— Foi um dia cheio. Mas, posso ficar caso o senhor deseje.
— Então fique.
E foi tudo. Nenhuma indicação do porquê, o que mais ele queria. Acreditei que no fundo seu
desejo era me ver sentada igual uma idiota perto da mesa, apenas aguardando suas ordens.
— Sim, Senhor.
Girei meu corpo, pronta para voltar para a minha mesa, quando sua voz potente me estancou.
— Aonde você está indo?
Meu semblante demonstrou minha confusão:
— Para minha mesa.
— E quem a liberou para ir lá?
— Eu achei...
— Você não acha. Você é minha para o que eu quiser. E no momento tudo que quero é vê-la
cavalgando no meu pau grosso.
Capítulo Seis
Pedro
Não sei exatamente o que estava acontecendo comigo. Não era cruel assim com as mulheres,
mas esse desejo mesclado a certeza de que Dayanne era apenas uma vigarista como minha mãe, me
fazia ser duro na mesma medida que quente.
A garota era um poço de incompetência, mas era funcionaria a anos do meu pai. Ele não era
nenhum filantropo, o que indicava que ela devia ser amante dele. Mulheres como ela eu conhecia
desde que nasci, garotas que se sujeitavam a um pau gordo por dinheiro e oportunidades.
— Eu acho que tudo foi um erro... — ela murmurou e eu quase ri.
Aquela encenação de candura não combinava com sua bunda grande, seus peitos empinados, e
com a sua decisão de ir até o hotel ser chupada por mim.
— Vamos terminar o que começamos de manhã — avisei.
— De manhã, eu não devia ter feito o que eu fiz. Sinto muito.
Ah, tah! Cu doce pra cima de mim?
Lentamente tirei minha gravata, depois meu casaco, e joguei no sofá. A chuva torrencial lá fora
me dava mais tesão. Eu gostava de transar com o som calmo da chuva.
Havia muita coisa para ser feita, contudo. Os papeis que ela trouxe provavelmente entregariam
vários esquemas do meu pai. Eu tinha uma ideia do que o deputado estava aprontando e teria ali as
provas. Mas, as provas podiam esperar...
— Dayanne, não sou fã de pudicas. Você estava louca pra foder de manhã, então não precisa
fazer essa cara de cão arrependido, com o rabo entre as pernas. Como eu já falei, para mim é tudo
muito simples. Rolou química, vamos aproveitar.
Comecei a desafivelar meu cinto, minha única intenção era baixar um pouco as calças porque
não queria minha bola tocando o zíper. Dayanne abriu a boca num “O” de quem realmente estava
surpresa com a situação.
Qual era a porra do problema? Ela nunca tinha visto um cara baixando as calças antes?
Toquei meu pau intumescido que se elevava por cima do tecido. Aproximei-me dela, deixando
claro que essa necessidade que eu sentia era pelo corpo delicioso que ela tinha.
Eu tinha fome e ela tinha carne sobrando. Era perfeito.
Quero morder cada pedaço dessa mulher, degustar todos os seus sabores.
— Sabe o que é, sr. Pedro...? — ela murmurou. — Eu realmente acho que essa não é a melhor
ideia...
Eu tinha muita coisa para fazer. Merda! Milhares de papeis para analisar e investigar. Foder
com o resto da vida do meu pai era o principal. Mas, estava me dando o direito de aproveitar um
pouco o momento. Contudo, não queria isso contra a vontade da garota. Por mais que soubesse que
ela pingava por mim, não iria me impor.
Até porque queria ouvi-la gritando meu nome.
— Muito estranho te chamar de Sr. Pedro, né? — ela divagou. — Parece que estou falando
com o seu pai.
Então o velho já a comeu muitas vezes nesse escritório? Não que fosse surpresa, eu imaginei
isso desde a primeira vez que li seu curriculum, mas foi inegável a sensação de queimação no meu
estômago.
Por quê? Não sei. Não importava para quantos uma puta como ela já havia dado, eu só seria
mais um. E estava tudo bem. Era só lavar que estava novo.
— Como eu ia dizendo, não é uma boa ideia... — murmurou, quando eu me aproximei o
suficiente para tocar meu caralho no ventre dela.
— Tira a roupa — pedi.
— É sério. Hoje de manhã foi algo... eu nem sei explicar.
— Foi tesão — completei.
— Pode ser. Mas, continuar com isso não é a melhor coisa.
— Quer dizer que eu te chupei, mas você não vai me chupar? Meio injusto isso.
Seus olhos arregalaram. Enquanto ela pensava na nossa troca de prazer, e na cobrança que eu
estava fazendo, abri os botões de sua camisa.
Seus seios não eram proporcionais ao seu corpo grande. Era pequenos, quase rasos. E embaixo
seu ventre tinha duas dobrinhas de gordura que me fez rir.
Ela era gordinha e fofinha. Bem macia. Puxei sua saia para baixo, revelando sua calcinha de
algodão. Porra, eu não lembrava direito da calcinha de manhã, mas agora curti os coraçõezinhos
amarelos na cor rosada.
— Você quer, não quer? Apesar de eu ter brigado com você o dia todo porque você é a pior
secretária que eu já vi, ainda assim você está louca pra cavalgar no meu pau.
Prendi seu corpo na minha mesa. Então, eu a beijei nos ombros, deixando com que ela
saboreasse o toque dos corpos.
— Eu quero, mas é errado — ela assumiu.
Desci minhas mãos, invadindo sua calcinha e a puxando para baixo. Escorreguei ela por suas
pernas, desfrutando suas coxas deliciosamente grossas. Quando retornei para cima, capturei seu seio
com a minha boca, seu mamilo sendo amassado por minha língua sedenta.
Ela se contorceu duas vezes, até permitir que um gemido gutural escapasse de seus lábios.
Esfreguei meu pau forte contra ela e percebi-a melada entre as pernas, louca para dar pra mim.
Sentei-a na mesa. Abri suas pernas. Me posicionei.
— Minha nossa, isso é enorme, você vai acabar comigo.
Era para ser um elogio – acho eu. —, mas saiu diferente. Quase que assustado. Eu ri.
— E fica maior conforme vou metendo... e ele vai ficando mais duro também — brinquei.
— É mesmo?
O que diabos estava acontecendo? Era como se ela não soubesse disso.
Uma parte de mim acendeu um alerta. Quase gritante. EM LETRAS GARRAFAIS. Mas, estava
duro demais para me importar. Movi um dedo contra suas dobras. Estava tão molhado e macio, quase
um ninho quente de pura paixão.
Dayanne segurou meus ombros, enquanto parecia experimentar aquela sensação pela primeira
vez na vida. Ela mordeu o lábio inferior, e eu agonizei de tesão com aquela pequena demonstração de
prazer.
Céus, eu ia gozar pra caralho nessa mulher.
Mergulhei mais em direção ao seu clitóris e bati nele, com força. Ela começou a esfregar-se
contra meu dedo. Eu não pude segurar mais. Tirei a mão e encaixei o pau. Foi ela que se moveu
contra mim, me arrancando um gemido forte de prazer.
— Ai! — ela gritou, o que fez meus olhos se arregalarem.
Não era possível, era?
Movi meu pau e ela pareceu desesperada.
— Não... não! Está doendo!
Ok. Estou fodido. Literalmente. Se o Kid Bengala aparecesse no escritório agora e me fodesse
por trás, eu não estaria tão fodido.
— Você é virgem, mulher?
— Você não sabia?
— Como diabos eu ia saber?
— Achei que soubesse... Você falou de pôr na balança hoje de manhã... pensei que...
— Você não dormia com o meu pai?
— O quê? Que absurd...
— Como você conseguiu ser secretária dele por anos sendo tão ruim?
— Eu gostaria de te xingar, mas só quero que você fique quietinho — ela disse, e eu me senti
estranho.
E agora, o que eu faço?
De repente, a boceta dela me sugou.
Foi muito forte, era como se dissesse que estava preparada. Eu sabia que devia tirar e erguer
as calças, me desculpar e fingir que aquilo nunca aconteceu, mas não consegui evitar.
Comecei a me mover. Bati meu quadril contra ela, mesmo diante de seus gritos de dor e
súplicas para que eu parasse.
De repente me senti o cara mais macho do universo. Os músculos da boceta de Dayanne
apertaram meu pau e eu sabia que não poderia segurar meu clímax por mais tempo. Eu vibrava com
cada impulso, me derramando inteiro dentro daquela boceta deliciosa, batendo com tanta força até
que ela gritasse desesperadamente de puro prazer.
Tirei meu pau, conforme ia respirando. Gotas de esperma deslizaram por sua coxa e caíram na
mesa. Então vi o sangue. O vermelho com o branco me deixou zonzo.
Ok. Para tudo na vida tem solução. Como eu poderia devolver a virgindade de uma mulher?
Porque sinceramente, não queria ser o primeiro. O primeiro é especial e eu sou muito merda para
algo tão importante.
Ela se moveu e eu percebi seu olhar com dor. Dayanne se colocou em pé, silenciosamente, e
buscou pela calcinha e a saia.
— Er... — busquei as palavras. Francamente, não sabia o que dizer. — Eu te machuquei?
Ela olhou para mim e eu me senti comovido pela primeira vez na minha vida.
— Eu sinto muito, eu não sabia.
— Eu sei. Você achou que eu era apenas mais uma que dormia com seu pai por benefícios.
— Sim, foi um erro. Vou recompensá-la.
— Não sou uma prostituta — ela afirmou, irritada com minha última frase.
— Está certa. Perdoe-me.
Ela se vestiu, enquanto eu a observava.
— Posso levá-la para casa? — indaguei.
— Não, obrigada.
E saiu.
Fiquei parado no meio do escritório sem saber como reagir a tudo que havia acontecido.
Vera Regina Fagundes fungou diante de mim com olhos lacrimejantes e gentis.
— Meu Deus, como você cresceu — ela apontou. — Está um homem feito.
Não graças a você.
— Ah, Junior... você não imagina como foi difícil. Eu era tão jovem, e minha mãe, que me
ajudava a cuidar de você, faleceu... Eu precisei te entregar ao seu pai. Deus, foi o dia mais difícil da
minha vida!
Resvalei para trás na minha cadeira de presidente. O som da reclinável foi audível no silêncio
que se seguiu.
Minha mãe ainda era bonita. Tinha seus cinquenta e poucos anos, mas a vida na bebedeira e
festas cobraram seu preço. Apesar de claramente ela ainda manter o corpo malhado e o rosto
cirurgicamente perfeito, se notava as rugas e a gravidade fazendo seu trabalho.
— O que você quer?
— Ver você... Ser sua mãe.
— Agora que eu já tenho mais de trinta anos?
— Sei que está magoado...
— Magoado? Você me deixou com minha avó desde que nasci. Depois, quando ela faleceu, foi
incapaz de assumir qualquer responsabilidade e me abandonou com um homem cruel que me odiava.
E agora surge no meu trabalho, sem ser convidada, falando em ser minha mãe?
— Filho... — ela murmurou.
— Diga logo o que quer? – a cortei. — Dinheiro?
Vera ficou ereta na cadeira, pareceu meditar nas palavras que diria. Era calculista, mas não
chegava a ser imprevisível.
— A vida artística é muito difícil depois que se passa dos cinquenta anos. A sociedade
machista...
— Ah, não vem com esse papo para cima de mim!
— Você me julga por ser mulher. Se fosse um homem que tivesse deixado o filho com uma
mulher, ninguém julgaria.
Ok. Ela era imprevisível. E inacreditável.
— Vou te dizer algo, Vera. Preste atenção: eu voltei ao Brasil para foder com a vida do meu
pai. Estranhamente, nunca quis foder com a sua. Não te amo, não te respeito, mas só vejo em você
uma fracassada sem talento que me usou de moeda de troca muitos anos atrás. Mas, meu pai é
diferente. Ele me destruiu pelo único motivo de ter me deixado viver com ele. Então, não vou fazer
nada contra você, mas tudo pode mudar se não sair agora do meu escritório e me deixar em paz.
Seu semblante mudou. Não mais a arrependida e sofrida mulher, a figura frágil da dor. Agora,
era a mulher de quem me lembrava. A mulher que me arrastou para aquela casa na área nobre de
Porto Alegre e me deixou nas mãos de um homem que não me queria.
— Você se acha grande coisa para ousar me ameaçar, não é? Eu te dei a vida. Você tem
obrigação.
— Não tenho obrigação de nada.
— Vamos ver se a opinião pública terá o mesmo conceito quando eu chorar para o jornal
dizendo que meu único filho me abandonou.
Ela se levantou, a bolsa firmemente contra o peito.
— Quero dez mil. Até amanhã. E para começar. Depois disso me faça uma proposta de mesada
mensal.
Então saiu do escritório com uma pose digna de uma rainha.
Rainha do inferno.
Quando você cresce sem amor, não espera nada da vida. Mas, a visita e ameaça da minha mãe
me surpreendeu.
Eu queria mandá-la a merda, mas me vi parado diante da mesa, os olhos focados na porta, mal
conseguindo respirar ou me mexer.
Que poder era esse que ela emanava e que conseguiu me derrubar em um único golpe?
A porta abriu e eu vi a figura confortável de Dayanne, e senti que sua presença podia me
acalmar como nada até então.
Era estranho, quase sem explicação. Eu a magoei, a fodi sem cuidado, a tratei como uma
retardada, e mesmo assim ela estava sempre por perto, sem nada condenatório em seu olhar.
— Trouxe o levantamento do orçamento que pediu — ela disse.
Seu olhar me mediu alguns segundos. Ela não havia me observado atentamente desde o que
aconteceu entre nós. Mesmo gentil, ela me temia. Agora, contudo, pareceu sentir que, após a saída de
minha mãe, eu estava destroçado.
— Você está bem, Sr. Antunes?
— Pedro... — murmurei. — Você pode me chamar assim.
Ela fez uma pausa.
— Quer um copo de água?
— Como é seu relacionamento com seus pais, Dayanne? — indaguei, fazendo-a arquear as
sobrancelhas, muito surpresa.
— Como assim?
— Convive com seus pais?
Ela respirou fundo. Seus dedos começaram a se contorcer e eu sabia o que significava.
— Meu pai era traficante — contou. Fiquei muito surpreso. — No meu RG consta como “pai
desconhecido”, mas a verdade é que ele disse para minha mãe se virar com a barriga dela. Foi uma
época difícil, ela era doméstica, e mal tínhamos o que comer. Eu saí de casa depois que ela se
ajuntou com um cara. Meu padrasto é um homem complicado, não queria sustentar a filha de outro.
Então, quando fiz dezoito, eu tive que ir me virar. Assim, não convivo com meu pai, e vejo minha
mãe no Natal.
Assenti. De alguma forma, senti-me conectado pela história dela.
— Tem algum compromisso para depois das seis?
Ela negou.
— Vamos jantar juntos?
Seu rosto adquiriu uma tonalidade avermelhada. Sabia o que se passava em seu íntimo, mas eu
realmente não estava pensando em sexo.
— Sabe aquele boteco Exportação? — Ela disse, e estava animada.
— Não. Não conheço muito Porto Alegre.
— Eles têm uma feijoada incrível.
— Comer feijoada de noite?
— Viva um pouco, Sr. Antunes — ela me deu uma piscadela que me arrepiou dos pés à cabeça.
— Pedro — a corrigi, novamente. — Só Pedro.
Capítulo Sete
Dayanne
Feijoada, arroz, batata frita, bife a cavalo, cebolas e cerveja. Isso que era vida.
— Você adora comida, não é? — ele indagou e eu percebi o divertimento no seu olhar.
— Comer é a alegria da minha vida. — Suspirei profundamente, enquanto tomava um gole de
cerveja. — Você deve me considerar uma gorda idiota.
— Eu sei o valor da comida — ele negou. — Eu me lembro do quanto queria comida ou leite
na infância, e não tinha.
Fiquei pasma com sua colocação. Sempre o imaginei um filhinho de papai mimado que teve
tudo o que quis.
— Como assim? O deputado...
— Meu pai assumiu minha guarda após a morte da minha avó. Mas, ele nunca me quis. Nunca
fez questão de me ter na casa. Caso ele fosse jantar fora com seus amigos políticos – o que acontecia
com frequência – eu não jantava porque as empregadas eram ordenadas a só prepararem refeição
quando meu pai se encontrava. Ele odiava desperdiço. Uma vez mandou uma faxineira embora
porque ela comeu um iogurte.
Ele riu, desgostoso da própria história.
— Era só um iogurte e ela estava com fome. A fome faz a gente fazer muitas coisas.
— Não sabia nada sobre isso. Seu pai sempre deu a entender que era um pai amoroso.
— Eu sei. Mas, você lidou com ele por muito tempo e sabe que ele não passa de um mentiroso.
Aliás, deve ter a pior imagem possível dos políticos.
— Assim como todos os brasileiros.
Pedro respirou fundo, esboçando outro sorriso triste.
— É como se a gente vivesse num país sem esperança, não é?
— Eu tinha esperança na direita. — Confessei. — Mesmo sabendo que seu pai pertence a esse
partido.
— Não tem mais?
— Alguns políticos, não seu pai – disse rapidamente – mas alguns políticos bons da direita se
elegeram e eu tive esperança na mudança; contudo, mal conseguem governar porque homens como
seu pai fazem alianças e atacam o próprio partido e as pessoas honestas. Acredito que aconteça o
mesmo na esquerda.
Ele pareceu interessado na minha posição.
— O que a faz permanecer trabalhando para meu pai?
— Dinheiro. Pagar as contas. Mal consigo sobreviver, desemprego me assusta.
— Mas você tem sonhos?
Eu olhei para o meu prato com interesse. Pedro permaneceu me observando com atenção. Ao
longe podia ouvir o som do Anjos do Hangar numa caixa de som. Fazia muito tempo que não ouvia
suas canções.
— Sonhos...
— Sim?
— Eu tinha. Tenho, talvez. Não sei dizer. A cada ano percebo que me tornar dona do meu
próprio negócio é tão difícil.
— Um negócio próprio? Estilo o quê?
— Eu gosto de papeis e organizar contratos, então eu gostaria de ter uma corretora de seguros
ou imobiliária. Ou talvez uma empresa de gestão. Enfim, tudo isso dependeria de estudo, algo que
você já sabe que não possuo.
— E por que não começa?
— A vida custa caro, Pedro — comentei, mordiscando um pedaço da batata frita.
Depois disso, terminávamos nossa refeição em silêncio. Pedro pagou, então saímos.
— Você mora em Sapucaia? — ele questionou. — Vou chamar um táxi.
— Eu pego o Trensurb.
— Bobagem. Eu te levaria, mas ainda não tive tempo de ir atrás de um carro. Então, vou pedir
um...
Pus a mão sobre a dele, impedindo-o de ligar com o celular. Seu olhar encontrou o meu
naquele instante. Seu sorriso despontou, malicioso, quando desviei meus olhos, um rubor inegável no
meu rosto.
De repente, ele se inclinou para frente
— Dayanne — estremeci ao som de sua voz.
Meu olhar se ergueu e enfim nos encaramos. Havia uma mágica lá que eu não era capaz de
entender.
— Você é linda — ele afirmou e minha barriga doeu.
Engasguei quando ele se curvou perante mim, seus lábios tocando delicadamente os meus.
Porém, logo aquele curto momento foi interrompido.
— Eu não posso me apaixonar por você — ele disse, firme, como se estivesse sendo
apunhalado. — Então, nunca espere nada de mim.
Concordei.
Eu nunca esperava nada de ninguém.
Ela não apareceu para trabalhar. Nem ligou informando por que faltou. Ela simplesmente
desapareceu sem deixar nenhuma pista ou palavra, o que me causou instantâneo desespero.
Foi assim que comecei aquela manhã: ciente de que era um bosta, ciente de que ela havia me
visto com outra, ciente de que a machuquei, e ciente de que ela talvez nunca mais voltasse.
O lugar parecia vazio. Eu quase podia ouvir o som ritmado do enorme relógio de parede que
ficava atrás da mesa dela.
Mas, o cheiro dela ainda estava lá, aquele aroma de flores num jardim.
Acalmava-me como nada até então.
A minha vida sempre havia sido uma merda cheia de problemas e confusão. Uma mãe que me
abandonou, um pai que me tratava como um lixo, minha fuga do Brasil, descobrir que meu pai estava
sendo investigado, minha vontade de fazer justiça e vingança... Eu não tive tempo de ser bom, um
cara do bem. Talvez, se eu buscasse no fundo da alma, na criação da minha avó, eu conseguisse
encontrar uma réstia em mim de qualquer coisa positiva, mas era tão difícil...
Contudo, conforme meus dias iam passando ao lado de Dayanne, eu fui sendo transportado
para um sentimento gentil, bom, de quem quer bem...
Fechei os olhos, recostando-me na patente da porta, sentindo-me um lixo.
Desde que percebi que ela não era experiente e vivida na área sexual, devia ter tido cuidado e
respeito. Eu não devia ter sido o merda que fui.
Suspirei, meditando que ela havia desistido. E eu não podia culpá-la. Nenhuma mulher em seu
lugar aguentaria tudo que ela tolerou. Eu a insultei, fui frio quando tirei sua virgindade, a tratei como
uma incompetente e uma prostituta, e em nenhum momento ela fez qualquer menção de que se deu a
mim por dinheiro ou privilégios.
Ela trabalhava duro na empresa e merecia mais respeito. Especialmente, não merecia ter me
visto se esfregando em outra mulher.
Talvez se eu conversasse com ela e pedisse desculpas. Ela conseguiria voltar a ficar perto de
mim?
Busquei a carteira na mesa do escritório e rumei para fora. Andei até o metrô em passos
largos, ansioso para chegar logo em Sapucaia do Sul. A região metropolitana era enorme, e imaginei
porque ela morava longe do trabalho.
Talvez para ficar perto da mãe...
Cheguei na estação, meu pé batendo forte, ansioso, o trem parecia demorado para chegar.
Eu precisava vê-la. Dizer que Luna havia sido um erro, e que não rolou nada. Precisava que
ela soubesse que não a tirei da cabeça desde que a conheci, numa estação fedendo a urina, numa
manhã chuvosa...
Eu devia ter tentado falar com ela. Porra, nem tentei entrar em contato com Dayanne depois do
que ela viu.
O trem chegou e eu entrei com pressa, como se minhas pernas não fossem mais controladas por
mim.
Enquanto me sentava num dos bancos, busquei o celular e liguei para ela. Estava desligado. Eu
ainda tinha uma pequena esperança de que pudéssemos nos falar, mas imaginei que ela não iria
querer ouvir minha voz.
Meia hora depois, o Trensurb parava em Sapucaia. Desci rapidamente, buscando as escadas.
Sai da estação e cortei espaço entre dois taxistas que me ofereceram corrida. O endereço de
Dayanne indicava que ela morava muito perto da estação.
Logo vi seu prédio, um lugar pavoroso, sujo, sem pintura, onde drogados se aglomeravam na
porta. Andei até o lugar, imaginando o quão difícil devia ser para ela viver ali.
Eu devia tirá-la desse lugar. Colocá-la num apartamento confortável, num ambiente onde ela...
— Pai?
Meu pensamento morreu quando percebi um carro parando diante do prédio e um homem
saindo do veículo. Era meu pai. Aquele velho nojento que destruiu minha sanidade e minha
capacidade de amar alguém.
Até encontrar Dayanne...
Deus, ela me mudou. Não sei exatamente em que momento, de que maneira, mas ela me mudou.
— Ah, Junior — ele sorriu na minha direção. — Olha que coincidência, nós dois no mesmo
lugar... Não nega que é meu filho, mesmo. Já soube da novidade?
Ele estava vestido com um de seus caros ternos. A última vez que o vi, ele vestia uma camiseta
de campanha e comia pastel com pobres numa feira. Era um ator incrível.
— O que diabos está fazendo aqui? — indaguei.
— Que mal educado. Não se fala assim com quem te deu a vida e te sustentou até virar adulto.
Eu estreitei meus olhos e apertei meus lábios.
— Vá se foder.
— Eu? Me foder? Por quê? Não soube da novidade? Algumas pessoas armaram para mim.
Roubaram dinheiro público e colocaram em suas contas, deixando com que a fraude caísse nas
minhas costas. Sou uma vítima da situação. Essa moça, Dayanne, foi uma delas. Mas, justiça seja
feita, ela está presa.
— O quê?
— E a imprensa chegará em poucos minutos e irá me flagrar gritando com a mãe dela, que se
encontra no apartamento. Vou questionar por que, depois de todo bem que fiz a sua filha, ela roubou
das pessoas?
Eu apenas fiquei parado, boquiaberto, estupefato. Porque com certeza devo ter ouvido errado.
— Você não fez isso.
Ele balançou sua cabeça.
— Ela é só uma gorda pobre e sem valor. Ao menos agora está sendo útil.
Não raciocinei após isso. Avancei e lhe desferi um soco no rosto, fazendo-o curvar-se. Então
outro. Se ele iria aparecer na imprensa naquele dia, seria com a cara arrebentada e cheia de sangue.
— Seu moleque desgraçado — ele gritou, e correu para seu carro. — Eu vou te matar.
— Eu vou te matar antes!
Que os deuses dissessem amém.
Capítulo Onze
Dayanne
Um cachorro de rua cruzou por mim. O vento forte que soprava do Guaíba me gelou a face.
Escondi o rosto embaixo da manta de lã e aguardei.
Pelamor de Deus, era verão, por que estava tão frio?
Ao meu lado, o taxista me observou curioso.
— Vou pagar seu tempo — expliquei e ele sorriu.
Dinheiro significava tudo.
Logo Dayanne cruzou a esquina acompanhada de Benjamin Gatti. Seu rosto parecia surpreso
ao me ver, mas aparentemente o advogado já a havia comunicado que eu havia o contratado.
O homem que busquei numa cidade do interior e do qual eu era ciente que representava alguns
grandes traficantes da capital me estendeu a mão.
— Bom dia, Pedro.
Retribui o aperto.
— Agradeço por tudo, doutor.
Ele fez menção de se afastar em direção ao próprio carro que estava do outro lado da rua
quando pareceu se lembrar de algo:
— Não se esqueça daqueles documentos que me prometeu.
— Vou lhe mandar tudo até amanhã.
Com um sorriso de despedida, ele se foi.
Só então meu rosto focou-se em Dayanne. Ela parecia nervosa e cansada. Senti-me ansioso
para levá-la para um lugar seguro.
— Pedro - disse ela, sua voz fria. — Por que você me ajudou?
Corri meus olhos sobre ela. Seu cabelo estava bagunçado e havia olheiras. Sua pele parecia
pálida.
— Aqui, não. Entre. — E abri a porta do táxi.
Ela pareceu pestanejar alguns segundos, mas depois entrou. Lá dentro, o taxista pareceu
aliviado por iniciar a corrida.
Dayanne se sentou e pareceu desabar. Lágrimas escorreram pelos seus olhos, enquanto ela
mordia o lábio inferior, o olhar focado na rua movimentada.
— Tudo bem, Dayanne... Eu estou do seu lado.
— Como vou ter certeza disso? Como não saber que você é um aliado do seu pai? — ela me
encarou. — Você sabe que ele armou pra mim, não sabe?
— Sim. Eu sei. Não se preocupe. Você vai ser inocentada e de quebra a gente vai colocar
Pedro Antunes na cadeia.
O táxi parou defronte a meu prédio de classe média, e ela desceu logo após eu pagar o taxista.
— Onde estamos?
— Eu moro aqui.
— Achei que me levaria até a estação para eu pegar um trem para ir para casa.
Sorri, triste.
— Bem, não... nós temos que conversar.
Havia tanta coisa que eu queria dizer a ela. Tanta coisa que estava engasgada na minha
garganta.
— Eu te peço perdão — comecei, hesitantemente, após um minuto de silêncio. — Por favor,
vamos entrar. Eu vou te explicar tudo.
Ela assentiu. Então passamos pela portaria e caminhamos até o elevador.
— É um prédio bonito — ela comentou.
— Oh, sim... Eu gosto muito.
— Mas, é simples. Nenhum pouco parecia com o de luxo que eu imaginei que você moraria.
— Bom, é o que eu posso pagar.
Seus olhos volveram para mim, arregalados.
— Seu pai não te deu?
— O quê? Não! Meu pai é um merda que só me chamou para assumir a empresa dele porque
está ferrado na lei, mas que vai me colocar na rua assim que se inocentar.
A porta automática abriu e saímos. O corredor parecia longo, mas eu tentava não apressar
meus passos.
Como eu conversaria com ela?
Como eu diria tudo que queria dizer?
Nunca me expressei para alguém antes. Nunca precisei.
Dayanne observou um quadro de paisagem que eu tinha na parede de entrada.
— É algum lugar que você conhece?
Eu ri.
— Comprei na rua, perto da Farrapos, de um artista desempregado.
— Você é um cara legal — ela falou.
Eu tentei alçar se havia algum deboche ou ironia em sua voz, mas não havia nada. Era
simplesmente Dayanne, vendo o monstro com seus olhos inocentes.
— Você não era amante do meu pai. Por que aceitou a forma com que lhe tratei?
Ela voltou para mim. Deu os ombros.
— Ah, Pedro... Estou tão cansada... Você pode dizer logo o que quer?
— Responda-me! Quando lhe tratei como uma vagabunda, porque não bateu na minha cara, não
gritou, não se protegeu, por que simplesmente aceitou tudo sem demonstrar nada?
Seus olhos ficaram marejados.
— Não sei dizer. Iria adiantar de alguma coisa?
— Céus, claro que sim. Ao menos me faria pensar...
— Eu não tenho forças — ela me cortou. — Sabe, quando eu era criança e minha mãe chegava
exausta do trabalho, e não havia comida, eu não sabia cozinhar... — Sua voz se atropelou e tremeu e
eu soube que ela estava desabafando algo que nunca havia dito antes. — Enfim, quando ela chegava e
meu padrasto estava gritando, bebendo, reclamando, minha mãe colocava um pacote de bolacha
recheada no meu colo e dizia que era minha janta. Então eu comia tudo. E depois que ela me via
comendo, ela ficava gritando que eu era uma gorda que não me esforçava para emagrecer...
— Dayanne...
— Então quando eu virei adolescente, eu não conseguia parar de comer porque parecia aliviar
algo na minha alma... e na escola, debochavam de mim, e eu ficava fazendo regimes horríveis
tentando perder peso, e eu não perdia peso... Enfim, eu desistia...
— Você é linda... — murmurei, e era sincero.
Deus, eu havia reparado nela no mesmo instante que a vi.
— Desistir é tão fácil. Quando seu pai me forçava a trabalhar sem folga, quando você gritava,
enfim, é tão simples simplesmente fingir que não é comigo. Minha mãe faz isso. Quando ela apanha,
ela finge que não é com ela, que ela vive uma relação completa e perfeita...
Não pude ouvir mais. Aproximei-me dela com rapidez e a trouxe para meus braços.
Meu abraço foi tão firme e forte que talvez a tenha machucado, mas Dayanne não se importou.
Ela deslizou as mãos em volta dos meus braços e me deixou confortá-la.
— Preste atenção, Dayanne — pedi. — Você é uma mulher linda, competente, grande
profissional. Eu fui um babaca, descontei em você o ódio que eu tinha da minha própria vida. Mas,
eu vou mudar...
— E por que você mudaria?
— Você não percebeu ainda? Estou apaixonado por você.
Dayanne retrocedeu dois passos. Se eu acreditava que fosse se atirar em mim, fui seriamente
contrariado.
— Você estava com outra mulher...
— Eu sei..., mas, não rolou nada.
— Eu vi o beijo — perseverou. — Não minta, por favor...
— O que você viu foi uma tentativa desesperada de fugir do que eu estou sentindo por você.
Avancei dois passos.
— Só uma chance. Só uma. Me deixe te amar, e eu juro que nunca vou te decepcionar e nunca
vou fazer você desistir. Deixe-me te ensinar a ser forte; me ajude a ser forte também. Vamos ser a
força um do outro.
Capítulo Treze
Dayanne
Senti o toque suave de seus dedos sobre meu rosto. Foi tão cuidadoso e delicado que meu
coração transbordou.
Quando Pedro me pegou e me puxou contra ele, meu mundo girou fora do eixo. Éramos como a
Lua e a Terra, rodando na mesma sintonia mística, atraindo-se um ao outro sem conseguir escapar.
E então ele me beijou. Não aquele beijo esmagador da primeira vez. Era firme, mas era gentil
e delicado. Sua língua dançou dentro da minha boca e eu precisei me afastar para respirar.
— Não pense... — ele pediu. — Se você pensar, não vai me dar uma chance. Porque eu não
mereço. Mas, estou implorando... — ele me puxou de volta, mordendo meu lábio inferior e, depois,
beijando meu pescoço.
A imagem da minha mãe destruída apareceu na minha mente. Antagonizou-se com a minha
própria solidão. Eu não era minha mãe e Pedro não era meu padrasto nem meu pai.
Eu devia lhe dar uma chance?
Acima disso tudo, eu queria saber no que ia dar. Eu queria experimentar a sensação de ser e ter
alguém pela primeira vez.
Mergulhei para encontrar sua boca e ele chupou minha língua enquanto passava suas mãos
fortes pelo meu corpo. Meus joelhos ficaram fracos e ele sentiu isso. Logo seus braços fortes me
ergueram, e Pedro me levou até seu quarto.
Eu não sei descrever a suíte, porque nem a vi. Meus olhos nublados de desejo estavam focados
no seu corpo maravilhoso. Ele me colocou na cama e arrancou a camisa, a calça, mostrando seu
corpo incrível, cheio de músculos deliciosos que minha língua queimava na ânsia de lamber.
Os braços de Pedro me abraçaram com força quando sua boca voltou a me beijar. Naquele
momento, eu soube que era sincero e que ficaríamos juntos. Havia uma verdade tão forte entre nós
que era palpável.
Éramos dor e solidão. Havíamos nos encontrado. Podíamos agora ser alegria e união.
Ele ficou instantaneamente duro quando resvalou para baixo de mim. Seu tamanho pressionado
contra a parte inferior da minha coxa me melou forte. Eu me mexi em cima dele enquanto
continuamos a nos beijar.
Pedro afastou minhas pernas com o joelho e se acomodou na minha entrada. Ele estava pronto
e eu também, mas me deixou guiar conforme minha vontade.
Montei nele, minhas coxas espalhadas em volta do seu tórax. Sentei-me devagar, deixando com
que seu pau brincasse com o tecido da minha calcinha.
Era incrível a sensação de beijar e se esfregar ao mesmo tempo. De repente, os botões da
minha blusa voaram em todas as direções. Meu peito surgiu diante dele e fiquei um pouco
envergonhada.
Pedro se sentou, levando os mamilos até a boca. Sugou, acariciando a pele mais escura em
volta do mamilo.
Soltei um gemido suave. Ele rosnou em aprovação.
— Tire a calcinha — ele pediu e eu me retesei, lembrando-me imediatamente da primeira vez.
Porém, estava quente demais, com tesão demais, para resistir.
Me levantei e removi a saia e a calcinha. Logo, retornei à posição montada, seu pau ereto
diante da minha boceta um tanto temerosa.
Ele me puxou em sua direção até que estivéssemos cara a cara, me deu um beijo rápido, depois
me colocou de costas novamente. Nossos olhos ficaram presos enquanto ele deslizou entre minhas
coxas. Pedro se colocou entre minhas dobras e brincou com meu clitóris antes de entrar em mim.
Estranhamente, não doeu. Dessa vez, não precisei pedir para ele parar, ele mesmo ficou imóvel
alguns segundos, deixando meu corpo se acostumar ao seu.
De repente, uma sensação cresceu dentro de mim novamente.
Era algo gostoso, bom, me fez contorcer-me... eu precisava...
— Deus, sua bocetinha me puxa tanto — ele gemeu no meu ouvido e eu senti que a vontade
ultrapassou meus limites.
O corpo perfeito de Pedro começou a empurrar seu pau. Saia e voltava com um ritmo
cadenciado, louco... Eu o empurrei de volta, rolando meus quadris para sentir mais da sua carne, sua
delícia.
Seu corpo bateu contra o meu, novamente e novamente. A repetição aqueceu nossas mentes, o
calor aumentou quando colidimos juntos em estocadas desesperadas. Assim que eu alcancei uma
sensação tão poderosa, quase me fazendo gritar, ele se manteve firme e me empurrou no ritmo
perfeito. Nós explodimos juntos, ele derramando-se em mim como se eu fosse parte dele.
Eu não conseguia parar de tremer, mesmo depois que ele caiu em cima de mim. Minhas mãos o
apertaram num abraço gentil e ele sorriu.
Uma parte de mim ainda queria estar com raiva dele. E não apenas porque ele foi um canalha
comigo. Uma parte de mim ainda queria se proteger de tudo que eu estava experimentando.
Fechei meus olhos.
— Eu estou tão cansada e preciso de um banho — murmurei.
Ele assentiu.
— Vamos tomar banho juntos? — pediu. — Depois eu te empresto uma camiseta e você pode
dormir o dia todo aqui. E passar a noite... Quem sabe você queira ficar o resto da vida?
Capítulo Catorze
Pedro
Eu tinha certeza de que podia passar o resto da vida assim, apenas olhando sua figura singela
respirando vagarosamente enquanto dormia num sono pesado.
Dayanne estava exausta da noite na delegacia, e nossa aventura após isso só contribuiu para
seu esgotamento.
Após tomar banho, ela colocou uma camiseta de algodão e se deitou embaixo das cobertas. Eu
tinha muitas coisas para dizer a ela, mas não pude atrapalhar seu sono. Ela precisava descansar e eu
precisava ter calma para as coisas que estavam por vir.
— Pedro — ela murmurou, me despertando dos pensamentos.
— Oi...
— Você está me encarando? — ela abriu os olhos.
Eu sorri.
— Desculpe, não era minha intenção te deixar desconfortável. Mas, a gente precisa
conversar...
— Sobre seu pai?
Assenti.
— Estou apavorada pelo que ele fez, Pedro...
— E saiba que você não é a única de suas vítimas.
Ela pareceu surpresa, então sentou-se na cama, ansiosa.
— Dois milhões é um troco para meu pai. Ele não teria roubado apenas isso em quase quarenta
anos de política.
Respirei fundo, segurei sua mão. Estava fria.
— Você lembra quando eu te pedi todos os documentos sobre a obra do posto de saúde?
— Sim..., Mas, aquela obra...
— Sim, aquela obra não renderia dois milhões, mas por causa daquela obra ele conseguiu mais
de vinte milhões, porque foi dela que ele teve nomes e documentos para usar pessoas inocentes como
bodes expiatórios para uma leva de crimes.
— Há mais gente?
— Sim. Basicamente pedreiros e serventes. Investiguei brevemente e já encontrei cinco
serventes e dois mestres de obra que vivem na área da pobreza com contas bancárias enormes, e
movimentações financeiras maiores ainda.
— Meu Deus...
— Meu pai usava a PA para pegar documentos de funcionários. Com esses documentos, ele
falsificava dados e abria contas em bancos estrangeiros. Ele usou em especial o Banco do Vaticano
para lavar dinheiro. Depois do dinheiro estar fora do país, ele o investia em empresas
multinacionais, e quando o dinheiro voltava para ele, era de forma limpa, declarado na receita
federal, como fruto de lucros internacional. E eu tenho provas disso, Dayanne. Na verdade, eu queria
aguardar e conseguir mais provas, para nunca o tirar de trás das grades, mas quando soube que foi
presa, precisei me antecipar. Vai ser a forma de te inocentar.
Dayanne parecia tão insegura. Eu queria puxá-la e colocá-la no meu colo. Mas, tudo que fiz foi
apertar seus dedos na minha mão.
— O que eu faço?
— Estou repassando os documentos para Benjamin Gatti, que vai trabalhar unido ao Ministério
Público. Contudo, acredito que a melhor coisa a se fazer é pedirmos demissão da PA. É melhor se
afastar de tudo, e deixar meu pai se incomodar com a Justiça Federal. Sem te ver ou saber de você,
ele nem vai considerar que você está por trás disso.
— É muito difícil para mim, eu preciso trabalhar para viver...
— Eu vou te demitir sem justa causa, assim você receberá auxílio desemprego.
— Certo — ela pareceu respirar mais aliviada. — Vou poder sacar meu FGTS também...
Posso até usar essa pausa para estudar... — De repente, pareceu entender algo: — Você disse
“pedirmos demissão”? Está se incluindo?
— Depois de você sair, eu também vou. Meu pai é um homem perigoso e por dinheiro pode
muito bem tentar nos matar. A melhor coisa é sairmos do radar dele, uma vida pacífica longe da
bagunça. Benjamin Gatti já me avisou que nosso nome não será envolvido como denunciantes, e o seu
nome será destacado apenas como mais uma vítima da investigação. Para isso eles vão quebrar teu
sigilo bancário e saber sobre sua renda e gastos mensais.
— Vão saber que estou devendo até a alma?
Eu ri.
— Está difícil pagar o aluguel?
— Sim — ela foi sincera. De repente, sorriu. — Eu queria ter um cachorro, sabe? Mas, a vida
está tão complicada, e quando coloquei na calculadora sobre ração e vacinas, desisti... Não sei como
tem pais e mães de família que conseguem sustentar seus filhos com um salário-mínimo, se eu,
ganhando um pouco mais, nem posso ter um cachorro.
Eu respirei fundo novamente, e a olhei profundamente.
— Já te pedi antes, mas vou repetir: vem morar comigo. Você vai economizar no aluguel e eu
poderei ficar tranquilo porque estará num prédio seguro.
— Está louco, Pedro? Nós mal nos conhecemos.
— O que a gente sabe um do outro é o que importa.
Ela pareceu pensar por alguns segundos.
— E eu poderei ter um cachorro?
Minha gargalhada não cessou, mesmo quando eu a puxei para um beijo caloroso.
Algumas semanas depois...
Os olhos de Dayanne brilharam e eu observei enquanto ela piscava para afastar as lágrimas.
Ela olhou para baixo, como se buscasse forças, mas apenas por um momento, antes de levantar a
cabeça novamente.
Na tela do televisor da nossa sala, a imagem do meu pai sendo preso pareceu um ponto final
nos nossos problemas.
— Então, o que acontece agora? — Uma pequena ruga apareceu em sua testa que
provavelmente significava que ela estava confusa e preocupada.
— Ele será julgado e condenado. E se Deus quiser, ficará preso muitos anos.
Ela se aproximou de mim e acariciou meu braço. Estávamos ambos em pé na sala, diante da
TV.
— Você tem muita raiva dele, não é?
Eu meio que suspirei, meio ri.
— Dayanne, sem ofensa, mas ele é muita pouca coisa para eu ficar guardando mágoas quando
estou vivendo provavelmente o melhor momento da minha vida.
Ela abriu a boca, apenas para fechá-la novamente, enrubescida.
— Eu tenho você, quero mais que o velho se foda.
— E sua mãe? Agora que saiu do trabalho, vai continuar dando o dinheiro que ela pediu?
Inacreditavelmente a voz do meu pai soou no televisor:
“Isso foi armado, sou inocente. Meu filho com Vera Fagundes armou para mim. Ele é um
desgraçado que ignora a própria mãe. Vera me disse que ele se nega a ajudá-la financeiramente.
Demos tudo a esse garoto, mas ele é ingrato!”
Eu ri de novo. Minha mãe estava possessa porque eu não paguei a mesada que ela me
estipulou.
Peguei o controle e desliguei o aparelho.
— Acho que isso responde a sua pergunta.
Depois de manter a postura defensiva por um momento, seu corpo se suavizou, seu olhar foi se
transformando em gentileza.
— Se você estiver triste ou precisando desabafar, eu estou aqui, Pedro...
— Dayanne, está tudo bem. Essas duas pessoas me colocaram no mundo, mas nunca foram
meus pais. Eu passei muito tempo afundado em solidão e dor, mas agora eu descobri que há mais no
mundo. Você é meu mundo, Daya... Nós dois, crescendo juntos... Você está terminando alguns cursos
e eu estou estudando para fazer a prova de corretor de seguros. Vamos abrir nosso próprio negócio,
ter nossa vida, cuidar um do outro e, quem sabe, ter um filho em breve.
Eu a observei atentamente, procurando algum sinal diante da minha fala. Quando, depois de
alguns momentos de silêncio e quietude, ela relaxou, meu corpo fez o mesmo, porque sabia que tudo
ficaria bem.
— E o cachorro, não se esqueça — completou.
Pela felicidade crescendo em seus olhos enquanto meus lábios se contorciam em um sorriso
encantado, eu sabia que aquilo que surgiu entre nós era eterno e intenso.
— Certo! Quase me esqueci do cachorro! Vamos num pet shop?
— Vamos num abrigo adotar?
— Um vira-latas?
— Um pequenino abandonado, como nós já fomos.
Assenti.
— Eu te amo, Daya...
Ela sorriu e o mundo inteiro passou a girar no paraíso.
— Eu também te amo.
Capítulo Quinze - Final
Dayanne
Meus dedos ágeis puxam a calcinha dela para o lado. Eu sinto seus pelos eriçados contra meus
dedos. Quero afundar a boca ali, mas tudo que faço e forçar sua boceta contra meu caralho duro.
Eu quero responder, mas nem consigo respirar enquanto começo a roçar meu pau duro através
de nós, para cima e para baixo. Estou vestido, mas mesmo as roupas, não tiram a intimidade gritante
do ato.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr
Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte livros, dos quais, vários se destacaram
em vendas na Amazon Brasileira.
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