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Paloma “Lola” Gerard foi moldada pelos pais para ser a dama
perfeita, entretanto, um acaso do destino, permitiu com que se libertasse e
pudesse correr atrás de seus verdadeiros sonhos. Lola passou a repudiar
tudo o que a beleza exterior podia causar, escondendo-se por completo de
todos.
Ela estaria a salvo, se não fosse o homem de sorriso fácil e olhar
carinhoso que lhe despertava muito além de amizade. Pedro Soares era
inalcançável para ela, era um fato. Porém, uma noite acaba por mudar tudo
e Lola se vê entregue. Mas nem sempre o fim da noite perfeita corrobora
com o final...
Um amor sufocado pelos anos.
Uma atração que desencadeia a pior e melhor noite de suas vidas.
Um homem insistente.
Uma mulher apaixonada.
O que sobrará dessa atração?
Playlist
Call out my name – The Weeknd
Catch me – Demi Lovato
Deixe-me ir – 1kilo
Feels like home – Chantal Kreviazuk
Happier – Ed Sheeran
Havana – Camila Cabello
Heaven – Julia Michaels
In my blood – Shawn Mendes
Love me like you do - Ellie Goulding
Mercy – Shawn Mendes
Peak – Anne-Marie
Pray – Sam Smith
SexyBack – Justin Timberlake
Skinny love – Birdy
Teatro dos vampiros – Legião Urbana
Then – Anne-Marie
To good at goodbyes – Sam Smith
Worst in me – Julia Michaels
Prólogo
No passado
Lola
— André, eu não posso! — seus olhos se encheram de lágrimas,
assim como os meus. — Eu sinto muito, mas não podemos nos casar
porque nossos pais querem.
— E o que vou fazer, Lola? — leva as mãos aos cabelos negros,
bagunçando-os com raiva. — Sei que a fortuna de nossas famílias não
significa nada pra você, mas eu... Eu amo o que faço, e não quero perder a
futura presidência.
— Isso é arcaico e cruel. — digo com raiva e ele assente,
encostando-se contra o pequeno muro do jardim. — Não podemos ser
coniventes com algo tão...
— Frio. — complementa e eu assinto.
André Ferreira é meu amigo desde que me entendo por gente.
Nossas famílias sempre foram próximas, já que nossos pais são melhores
amigos. Mesmo círculo de pessoas, escola, amigos, festas... Nós somos o
par perfeito que ambas as famílias necessitam para se unir. Porém, nosso
sentimento nunca ultrapassou qualquer linha de amizade. André é como um
irmão para mim, e eu me nego, de todas as formas, a me casar com ele.
— Dé, eu tive uma ideia. Na realidade, aquele velho plano. — digo
de uma vez, e ele me encara espantado.
— Não! — vem até mim, tocando meu rosto. — Não vai
simplesmente fugir para outro lugar, só porque...
— Vai arruinar nossas vidas. — insisto em alto e bom som,
fechando os olhos. — Sei o quanto as empresas significam pra você, e sei
também como Lua é apaixonada por ti. Ambos sabemos que é recíproco.
— Não, Lola! — nega veemente. — Eu a amo, mas não quero
obrigá-la a nada.
— Acredite, talvez, esse seja o destino intervindo por vocês. — toco
seu rosto, e sinto uma lágrima em meus dedos. — Eu amo você, Dé. Mas
me nego a passar o resto da vida ao seu lado, vendo a infelicidade minha,
sua, e da minha irmã.
— Eles não vão aceitar... Eles vão atrás de você...
— Não, porque eu vou para o Rio e simplesmente desaparecer.
Nona vai estar ao meu lado, e você sabe, apenas ela se importa comigo de
todos os grandes Gerard. — debocho, porém, meu coração por dentro se
quebra.
Tinha me acostumado de certa forma a não ser querida por meus
pais e familiares, porém, a dor por ser apenas uma boa moeda de troca, ou
uma dama perfeita para cada um deles, faz-me ressentida a cada dia. O
dinheiro que me cercou até hoje, nunca será o suficiente para tapar os
buracos em meu coração, pela falta de carinho, atenção e principalmente,
amor.
— Lola, somos jovens, talvez...
— Temos apenas dezoito anos, mas teriam nos casado aos doze se
fosse permitido pela lei. — limpo suas lágrimas, e seus olhos escuros
parecem apagados. — Eu nunca sonhei com esse destino, sabe que sonho
em construir uma vida longe daqui.
— Como vai se esconder, Lola?
— Não vai ser difícil. — dou de ombros. — Se preocupe apenas em
ser feliz, e por favor, trate Lua como a princesa que ela é.
— Eu te amo, Lola. — sorrio, e o puxo para o forte abraço.
— Eu também, Dé.
Suspiro fundo, agarrando-me ao único homem que me passou
segurança, e que infelizmente ficará para trás em minha vida.
Semanas depois...
— Nona, acha mesmo que vai dar tudo certo? — pergunto insegura,
e ela apenas segura minha mão, enquanto o avião pousa.
Minutos se passam, desembarcamos, pegamos as malas, e não
obtenho resposta alguma.
— Nona...
Ela então para de andar, e sorri fracamente, tocando meu rosto. Ela é
minha avó materna, mas sempre fez mais do que minha própria mãe. Além
de tudo, apoiou minha decisão de não coibir com o casamento forjado com
André, e construir minha própria história. Nona odeia a forma como meus
pais veem o mundo, pois assim como eu, quer algo além de dinheiro –
amor.
— Um dia, quando fui forçada a casar com seu avô, jurei a mim
mesma que não permitiria que tal coisa acontecesse a minha família mais
uma vez. A vida me abençoou ao colocar em meu caminho, naquela igreja,
além do desconhecido, o homem que sempre será minha alma gêmea. Sua
mãe não foi obrigada a nada, mas Rachel sempre foi ambiciosa demais. Ela
casou por dinheiro, e felizmente, se apaixonou por Tales, que seguiu o
mesmo caminho... Ambos compartilham algo bonito, mas frágil. Por isso, o
casamento forçado entre você e André seria uma segurança.
— Para que eles nunca fiquem sem dinheiro? — pergunto, sentindo
meu estômago revirar.
— Para que não corram o risco de perder um ao outro, pois não
sabem o que é amar sem toda a fortuna que carregam. — sorri triste, e tento
controlar as lágrimas. — Eu falei com ambos antes de virmos, eles sabem
de sua decisão, minha querida. E não vão de forma alguma intervir.
— Porque eles têm Lua para usar. — abaixo a cabeça, sentindo-me
culpada.
— Não, eu não permiti tal coisa. — encaro-a sem entender. —
Jamais deixaria que controlassem o seu futuro ou de Lua, por isso estamos
aqui.
— O que quer dizer, nona?
— Lua tem apenas dezessete anos, e vai estudar fora do país alguns
bons anos... — arregalo os olhos, e ela pela primeira vez, sorri
verdadeiramente. — Sei que ela gosta de André, e ele dela, mas se vão ficar
juntos, eles têm o direito de escolher a hora certa. Não suas respectivas
famílias.
— Mas...
— Sua mãe terá que arcar com as consequências caso não cumpra o
que pedi. — diz tranquilamente.
— Como assim, nona?
— Se te deixasse com eles em Porto Alegre, nunca conseguiria fugir
das garras e cobranças de ambos.
— Meu sonho sempre foi vir para o Rio, nona.
— Por isso, quando completou dezoito te contei sobre o plano de
virmos morar juntas aqui. Sua mãe perde tudo na herança caso intervenha
novamente na sua vida ou na de Lua.
— Nona! — exclamo assustada, e ela sorri de lado, maliciosamente.
— Fui paciente demais... Deixei com que moldassem minhas netas,
mas não vou deixar que vivam presas nos sonhos deles. Vocês são livres,
querida. E tudo o que quero, estando aqui, ao seu lado, é que viva seus
sonhos.
— Obrigada, nona! — abraço-a com força, e choro copiosamente.
Um alívio paira sobre meus ombros, pois mesmo tentando apenas
fazer o melhor, saindo de Porto Alegre, destinei minha irmã a um
casamento, o qual sim, ela até quer, porém, não é sua primeira escolha com
essa idade. Agora, estou eu, no Rio de Janeiro, pronta para recomeçar
minha vida. Finalmente, sinto-me livre.
Parte I
“Os teus olhos sempre me disseram mais que a tua boca. Neles
sempre encontrei a tristeza que você duramente se esforçava pra esconder
atrás de um sorriso. Alguns dizem que os olhos são a janela da alma. Os
seus são a casa inteira.”
[1]
Capítulo 1
No presente
Lola
— Sophie, o que faz aqui? — pergunto curiosa, ao ver minha
melhor amiga entrar em meu escritório. Sophie não é do tipo de pessoa que
passa de vez em quando para dar “oi”.
— Que tal, passando para dar um oi! — sorri amplamente, e eu
bufo.
Mentirosa!
— Sei... — ela se senta à minha frente, e apenas continuo a
encarando. — Desembucha logo o que aconteceu.
— Tá! — bate na mesa, mais animada do que o normal. — Eu
consegui a vaga como assistente executiva!
— O que? — praticamente grito, e me levanto, indo até ela.
— Isso mesmo! — fica estática por alguns segundos. — O chefe
que trabalhava no exterior voltou e precisava de uma assistente daí...
— Meu Deus, Sophie! — grito, e a puxo pra mim, abraçando-a com
força. — Você merece, garota! Logo logo vai conseguir a vaga de
economista e...
Ela então me afasta e bate em meu ombro.
— Vamos apenas comemorar o fato de que depois de três anos
consegui subir de cargo e quem sabe, possa permanecer com ele. — assinto,
e sorrio para ela, abraçando-a novamente.
Sophie Moraes mais do que ninguém em minha vida, merece tudo
de melhor. A conheci na faculdade, poucos meses depois que comecei a
estudar administração. Ela era quieta, mas não do tipo que analisa as
pessoas, apenas sossegada em seu canto. Por incrível que pareça, e ainda
mais com a forma que mudei para não me lembrar dos tempos ao lado de
minha família, ela não se envergonhou quando fizemos um trabalho juntas
em uma disciplina comum entre nossos cursos.
As pessoas gostavam muito de status em nossa faculdade, e
felizmente eu não aparentava a riqueza da qual venho. Uma escolha que fiz,
é não parecer mais com a mulher que meus pais me moldaram para ser.
Mudei, me escondo com roupas largas, e com o rosto sem nenhuma
maquiagem. Porque a qualquer momento que penso em usar algo dessa
forma, lembro-me da forma como tudo se sucedeu em minha vida há alguns
anos.
— Que tal almoçar aqui? — pergunto, e Sophie fica um pouco sem
jeito. — É por conta da casa, mulher!
— Lola, não, eu...
— Relaxa, é o meu presente para a comemoração do seu mais novo
cargo. — sorrio, tentando convencê-la, e felizmente, ela aceita.
Sophie batalha muito para se sustentar, e ainda ajudar a mãe que
mora no interior. Eu sei como é difícil para ela, então da forma que consigo,
às vezes, dando algumas voltas nela para que não negue ou ache que faço
demais, a ajudo. Ela é a única que sabe sobre a história de minha família, e
tudo o que sofri há alguns anos. Sempre foi como uma rocha ao meu lado,
dando-me apoio em momentos que nem pensei que suportaria.
Descemos as escadas do meu escritório, direto para o primeiro
andar, onde fica o restaurante. Olho ao redor e sorrio, vendo quase todas as
mesas ocupadas.
— Uau, hoje é um bom dia! — bate palmas e eu gargalho.
Andamos mais um pouco, e deixo-a em minha mesa favorita, que
felizmente está desocupada.
— Vai escolhendo o que quer, que eu já volto. — pisco pra ela, e
saio.
A passos rápidos vou até a cozinha, e procuro Luís, para fazer um
pedido especial para Sophie. Poderia pedir a Pedro, meu sócio, e o principal
o chefe do restaurante, porém, há alguns dias venho apenas me afastando do
mesmo, tentando de alguma forma, blindar meu coração. Felizmente, ele
teve que sair para resolver um problema pessoal, e Luís é tão bom quanto
ele na cozinha.
— Ei, o que temos aqui? — Luís diz, assim que me vê, e fico apenas
parada num lugar estratégico para não atrapalhar ninguém em seus
respectivos serviços.
— Oi, Luís. — sorrio e ele me encara desconfiado. — Ocupado
demais?
— Bom, não muito... Por que?
— Sabe aquela torta de morango magnífica que fez no meu
aniversário? — assente, e eu levanto as mãos em sinal de expectativa. —
Então, minha melhor amiga está aqui e...
— Eu faço, Lola! — pisca do seu jeito cafajeste e eu solto um
gritinho, fazendo todos me olharem.
— Desculpe! — mordo o lábio, completamente sem jeito.
— Pode demorar um pouco para ficar pronta. — avisa.
— Sem problema, eu levo pra casa dela como surpresa se for
preciso. — sorrio pra ele. — Obrigada, Luís.
— Você que manda, chefe! — sorrio, e saio da cozinha.
Assim que dou alguns passos em direção a área das mesas do
restaurante, lembro-me de que deixei minha agenda no escritório, e preciso
confirmar se realmente fiz uma ligação pela manhã. Cabeça de vento!
Refaço meus passos e subo as escadas novamente para o segundo
andar, e assim que abro minha sala, levo um susto.
— Por Deus! — digo, levando as mãos ao peito, o qual tento
acalmar.
— Ah, oi, Lola! — Pedro diz, e apenas o analiso, sem entender sua
intromissão.
— Precisa de algo?
Ele me encara por alguns instantes e tento não demonstrar
absolutamente nada. O que ele faria, caso soubesse de meus reais
sentimentos? Isso com certeza não resultaria em algo bom.
— Na verdade sim... — suspira fundo, e o encaro sem entender. —
Eu... Olha, você é uma mulher e...
Espero que continue sua fala, porém ele se cala de repente.
— E? — incentivo-o, e logo o vejo ficar completamente sem jeito.
— Quer dizer... É que... Merda! Não sei como simplesmente fazer
uma pergunta.
Parece falar consigo mesmo, enquanto anda de um lado para o
outro, deixando-me completamente confusa.
— Pedro! — chamo-o, e ele me encara, um pouco sem jeito. —
Apenas pergunte.
Ele me encara por alguns segundos, mas nada sai de sua boca. Sinto
novamente aquela pequena dorzinha em meu peito, quando tenho a certeza
de que ele nunca conseguiu me enxergar além de sua sócia.
— O que um cara teria que fazer para te conquistar? — arregalo os
olhos, e tenho certeza que minha cara de espanto é assustadora. — Digo,
hipoteticamente.
— Bom, hipoteticamente... — encaro seus olhos azuis, e tento
manter meu coração seguro.
Teria que ser você – penso em dizer, porém me xingo mentalmente
por tal besteira.
— Ser legal, charmoso, atencioso... Mas além de tudo, verdadeiro.
— respondo sem jeito, e ele presta atenção em cada palavra. — Alguém
que me visse além da aparência, que fosse além de uma simples atração.
— Certo. — passa as mãos pelos cabelos loiros. — Mas e se esse
cara fosse isso tudo, e ao mesmo tempo completamente fascinado por você,
só que nunca deu uma chance pra ele? Ou sabe, demonstrou interesse nele?
O tom de sua voz muda, e fico completamente estática, sem sequer
saber o que responder. Como queria que cada palavra fosse destinada a
mim.
— Atitude. — dou de ombros. — Acho que me faria o olhar de
outra forma. Talvez falte mostrar para essa mulher que a quer.
— Mas... Acho que ela me vê apenas como um amigo, e sabe, não
confia muito nas pessoas.
Uma pulga se instala atrás da minha orelha e sinto meu coração se
despedaçar aos poucos. É horrível a sensação de saber que o homem que
ama, está fascinado por outra mulher.
— Bom, tomar alguma atitude é o melhor! — engulo o choro e tento
me mostrar forte. — Talvez assim ultrapassem a linha de amizade.
Antes que ele responda, pego meu celular sobre a mesa, e saio
rapidamente, sem sequer me despedir. O mundo paira sobre meus ombros,
meu corpo parece sentir o impacto de cada palavra dele como um soco, mas
abro um sorriso, assim que vejo Sophie de longe. É o seu dia, e por ela, vou
ficar inteira.
Capítulo 2
Lola
Pedro
— Há quanto tempo?
— Fala logo pra que ligou, idiota. Tenho que trabalhar. — digo
nervoso, e jogo uma toalha nas costas, indo para o banheiro.
Coloco o celular em viva-voz, e deixo em cima da bancada da pia,
enquanto tiro minha roupa.
— Pois é, minha mãe está me enchendo o saco, perguntando onde
diabos o sobrinho favorito dela se meteu.
— Eu sou o único, Chris! — ele gargalha assim como eu. — Mas
diga a tia Lea que domingo passo na casa de vocês, certo?
— Ok, falo pra ela. Agora...
— O que? — coloco o celualr novamente na orelha, e ligo a ducha,
testando a água com uma das mãos.
— Está tomando banho por acaso?
— Claro, com o celular debaixo d’água. — ironizo. — Fala logo
porque ligou.
— Ok. — ouço sua risada baixa. — Como vão as coisas com sua
princesa inabalável?
— Já falei pra não a chamar assim! — sinto a raiva tomar conta do
meu ser, e Chris gargalha com força. — Estou falando sério, Christopher!
— Ok, ok... Mas me diz, algum avanço?
— Não entendo porque tanto interesse na minha vida amorosa. —
bufo, e encosto-me contra a parede de frente a pia.
— Que vida amorosa, Pedro? — reviro os olhos. — Sério, quando
foi a última vez que transou com alguém?
— Débora, há umas duas semanas. — respiro fundo, sem querer
lembrar de como foi um desastre. — Aliás, a culpa é sua, ela vive me
ligando e querendo repetir a dose.
— Eu? Minha culpa?
— Você que nos apresentou, ou não se lembra? — ironizo. — Além
do mais, devia ter me falado que ela...
— Adora homens com nomes respeitados e dinheiro? — respondo
um simples “sim”.
Realmente, ela é desse jeito.
— Mesmo assim, estou a ponto de mandá-la atrás do Soares mais
rico. — provoco.
— O que? Nem pensar! — diz nervoso. — Sério, Pedro!
— Ok, idiota. Agora posso tomar meu banho em paz e trabalhar,
mamãe?
— Não estou te impedindo. — ele é realmente um babaca. — Aliás,
vou fazer uma visitinha a minha administradora favorita.
— Não, nem pensar! — praticamente grito. — Christopher, você
não ousaria...
Noto o silêncio descomunal do outro lado da linha, e encaro o
celular. Ele desligou! Filho da mãe!
Praticamente jogo o celular sobre a pia, e entro debaixo da ducha.
Tentando pensar em outra coisa que não seja socar a cara de Christopher até
que desfaça suas palavras. Ele ainda insiste em cercar Lola, tentando
entender porque ela não dá bola para ele, e a nenhum outro homem ao
redor. Mas eu conheço seu jogo, ele quer me ajudar com ela. Porém,
Christopher Soares não é nem de longe um bom partido para isso.
Ser de uma família conhecida numa das cidades mais famosas do
país, nunca foi uma dificuldade. Porém, encontrar pessoas que não se
importem com tal coisa, sempre foi o problema. Posso contar nos dedos de
uma mão as pessoas que realmente são meus amigos, pelo que sou, não
pelo sobrenome que carrego. Além de que sou a parte dos Soares que não
vive sob holofotes.
Minha mãe sempre odiou a exibição, e meu tio Rodrigo, fez o
máximo para protegê-la. Ainda mais quando se tornou mãe solteira aos
dezoito anos, e meu pai sequer fez questão de me assumir. Os boatos sobre
meu pai foram tantos, pelo que ela me conta, que até filho de um jogador de
futebol famoso me consideraram. As pessoas deveriam é xingar o babaca
que abandona uma mulher grávida com medo do futuro. Porém, a sociedade
enxerga o lado que dá mais audiência, e claro, dinheiro. Por isso, falar da
jovem Clarissa Soares, grávida aos dezoito, foi a melhor matéria naquele
momento.
Mamãe até hoje ri do que aconteceu naquela época, mesmo que
tenha sido difícil. Ela é minha heroína, pois lutou cada dia sem se deixar
abater, por minha causa. Por ela, eu serei eternamente grato. Teve uma
época que meu pai tentou uma aproximação, isso depois que descobriu que
tinha dinheiro. Seria cômico se não fosse trágico. Um pai, anos depois,
decide ser pai, apenas por dinheiro. Porém, isso não me machuca, porque
algo que aprendi com minha mãe faz sentido: só nos machuca, aquilo que
amamos. Quando a dor vem de onde menos esperamos, aí sim, é dor.
A água desce por meu corpo, e meus pensamentos voam para Lola.
Ela é uma completa incógnita para mim. Nos últimos meses que finalmente
consegui alguma aproximação com ela, pensei que teria alguma chance de
mostrar que quero ser mais que um amigo. Porém, ela sempre deixou bem
clara sua posição. Lola é impenetrável, e sinto que a cada dia fica mais
difícil de manter nossa amizade. Um passo para frente e dois para trás, a
cada vez que nos vemos.
Há quatro anos que temos o restaurante juntos, e sei que cada um
deles foi difícil para Lola. Por mais fechada que seja, eu soube que ela
estava destruída no momento que a conheci, pois no seu primeiro dia como
administradora, sua vó acabou falecendo. Fiquei do seu lado, cada
momento que pude, mesmo ainda sendo apenas um desconhecido. Ela me
permitiu de certa forma ajudá-la, mas aos poucos foi se afastando. Nunca,
em toda minha vida, senti-me tão fascinado por uma mulher. Eu quis, e
ainda quero, protegê-la de tudo no mundo. Mesmo que que soe clichê e
romântico demais, pois ela desde o primeiro olhar, deixou-me
completamente encantado.
Termino meu banho, ainda com os pensamentos nela, e assim que
me enxugo, encarando meu reflexo no espelho, abro um sorriso. Ela aceitou
sair comigo, mesmo não sabendo que se trata de um encontro. O primeiro
passo para ser notado é tomar alguma atitude – palavras dela. Mesmo que
não saiba que meu objetivo é conquistá-la. Sempre notei a forma como se
esconde debaixo de roupas grandes, e a falta de maquiagem. Porém, não é
como se faltasse algo nela, que a deixe menos perfeita. Lola é linda de
qualquer forma, vi isso, analisando-a sempre que posso.
Arrumo-me rapidamente para o trabalho, e assim que abro a porta
da frente, dou de cara com Gael, meu melhor amigo desde a faculdade.
— Caiu da cama? — pergunto, fechando a porta, e ele dá de
ombros.
— Vim saber como andam as coisas com Lolita. — encara-me
curioso, e franzo o cenho, odiando a forma como ele se refere a ela.
— Vão bem. — dou de ombros, indo em direção ao elevador.
Gael segue o mesmo caminho, já que somos vizinhos, e com certeza
passou em minha casa apenas para fofocar algo. Ele sempre foi previsível,
porém, tenho odiado a cada dia mais sua proximidade com Lola. Segundo
ele, se conseguir uma amizade com ela, pode me ajudar a conquistá-la. Pior
que Christopher pagando de cupido, apenas Gael.
— Tá com cara de quem comeu e não gostou. — provoca, e
encosto-me contra a parede do elevador.
— Apenas tentando acordar para mais um dia. E você? Como vão as
coisas com Karina?
— No de sempre. — dá de ombros. — Ela quer namorar, e tento
evitar ao máximo chegar a esse assunto. Aí ela diz pra nunca mais voltar ao
apartamento dela, mas quando apareci lá ontem, ela pareceu não ter
lembrado disso.
— Qual o problema, cara? Vocês estão juntos desde o final da
faculdade, e ainda a enrola. — constato o óbvio, e seu olhar muda, como se
pensasse em algo aleatório.
— Karina não é a mulher certa. — encaro-o surpreso.
— Que?
— É a verdade. Não me olhe assim! — levanta as mãos em sinal de
rendição. — Vai me dizer que achou que me casaria com ela?
— Então por que ainda fica com ela? Deixa ela seguir a vida e...
— Há coisas que nunca vai entender, Pedrão! — bate em meu
ombro, no mesmo instante que a porta do elevador se abre. — Te vejo mais
tarde?
Assinto, e o vejo ir em direção a seu carro. Faço o mesmo, e assim
que entro no meu, sinto-me mal por Karina. Realmente tem coisas que
nunca vou entender, e até prefiro que seja assim. Ficar com alguém apenas
para não ser sozinho, faz-me querer ainda mais apenas a companhia de mim
mesmo.
Capítulo 4
Lola
Jogo minha bolsa sobre a mesa, e tento encarar esse dia como outro
qualquer. Porém, não passa de uma mentira que digo a mim mesma todos
os anos. Essa data traz consigo meus piores demônios. Quatro anos em que
perdi a parte sólida de minha vida. Minha querida e amada nona.
Olho ao redor do apartamento, e a passos incertos vou até o quarto
que costumava ser seu, que mantenho da mesma forma que deixou. Abro a
porta devagar, temendo desabar em algum momento. Assim que meus olhos
encaram o interior do cômodo, as lembranças mais felizes de minha vida
me atingem como uma flecha. Suspiro fundo, vendo cada parte colorida do
lugar, que ainda a representa.
As flores em minhas mãos são para levar ao cemitério, o que todo
ano tento fazer, mas acabo não conseguindo. Lembrar do dia de seu enterro,
da forma que tudo aconteceu, faz-me sentir doente. Dói sua perda, e ainda
mais lembrar o circo que nossos familiares fizeram em torno de tudo. A
única coisa que realmente importou para cada um deles foi a herança. Se
Nona estivesse viva, apenas daria de ombros, pois ela já não se surpreendia
com nenhuma ação de nossos parentes, e pior, de minha mãe, sua própria
filha.
Sento-me em sua cama, e deixo as rosas sobre a colcha branca. Em
seu criado mudo, pego uma foto nossa, do primeiro dia no Rio de Janeiro,
de como foi incrível conhecer o Cristo Redentor e as praias. Sentar na areia
e assistir o entardecer que acabou se tornando nosso passeio especial de
todos os domingos. Sorrio de nossa semelhança física, olhos azuis, cabelos
loiros, pele clara que não fica bronzeada de forma alguma. Porém, o que
mais me orgulha, é por sermos principalmente, parecidas por dentro.
Lágrimas descem por meu rosto, e nem faço questão de limpá-las.
Ainda são sete da manhã, e o dia nublado, parece tão cinza quanto meu
coração. Meu celular toca, e nem preciso olhar para saber quem é. André
sempre me liga todos os anos no mesmo horário, como se fosse nossa
promessa silenciosa.
— Oi, Dé! — respiro fundo, tentando me acalmar.
— Ei, pequena. — ouvir sua voz é como sentir um abraço apertado
nesse momento tão doloroso. — Como estão as coisas?
— Bom, tentando levar. — sou sincera. — Nem parece que se
passaram quatro anos. O tempo voou e a cada dia parece que dói mais.
— Adélia não ia te querer assim, Lola. — diz, e sei que está certo.
— Lembra que tudo o que ela sempre quis foi sua felicidade.
Nona me ensinou o que realmente importa na vida – viver com
plenitude, sem medo. Mas ainda não tinha descoberto como o fazer sem ela.
— Eu sei. — digo, completamente vencida. — E Lua?
— Bom, presa no banheiro, sem me dizer porquê. — conta, e franzo
o cenho sem entender.
— Como assim?
— Espera... — escuto-o falar algo com minha irmã, e de repente um
grito.
— Dé! Lua! — chamo, e demora alguns segundos para obter
resposta.
— Lola! — minha irmã diz, e sinto meu coração mais calmo.
Lua é a melhor parte minha, que felizmente, meus pais não
conseguiram mudar ou estragar. Ela fez seu próprio caminho, assim como
André. Estudou alguns anos fora, e logo após terminar, convenceu André a
ir vê-la. Casaram-se na Itália, e só saíram de lá no dia que André assumiu a
presidência da empresa de sua família. Eles vivem no sul, mas sei que
sonho de ambos é voltar a viver no exterior. Com certeza, o realizarão um
dia.
— O que são esses gritos que ouvi? — pergunto intrigada.
— Hoje é um dia de merda, todos sabemos disso! — direta como
sempre. — Mas, acho que nossa nona, é tão especial que quis tornar esse
dia em algo melhor.
— Como assim? — pergunto, completamente perdida.
— Estou grávida, maninha!
Fico estática, sem saber o que dizer.
— Lua.. Isso é... Meu Deus! — levo a mão a boca, ainda digerindo a
notícia. — Eu vou ter tia! — grito animada.
Lua começa a falar algo, e ao mesmo tempo, encaro a foto de nossa
nona. É como se o sorriso dela para a câmera, iluminasse mais uma vez este
apartamento. Como se de alguma forma, ela tenha transformado esse dia
tão horrível, ao menos, em uma data com algo bom para se recordar. O dia
em que descobri que serei tia, e ainda, que Lua e André serão pais. Um
sobrinho ou sobrinha... Mais um componente da pequenina e real família
que tenho.
— Lola, diz alguma coisa! — minha irmã diz, e pisco, vendo que
sequer prestei atenção.
— Desculpe, eu...
— Vai ser madrinha, sim! — arregalo os olhos. — A resposta é sim
ou claro. Pode dizer!
— Meu Deus, Lua! É claro que vou! — sorrio, em meio as lágrimas
que descem por meu rosto. — Obrigada por esse presente!
— Eu é que vou ficar louca daqui nove meses com ele ou ela... Você
vai fazer sua obrigação de nos ajudar. — sorrio, sabendo que mesmo
brincando ela fala sério.
— Ok, maninha. Eu vou! — respondo ainda emocionada. — Como
André está?
— Caído na cama, encarando o teto, como se perguntasse: como
vou ser pai?
Gargalhamos, e consigo imaginar a cena perfeitamente.
— Ele vai dar conta.
— Claro que vai! Deu conta de fazer, agora...
— Sem detalhes, pelo amor! — corto-a rapidamente, e ela gargalha.
— Agora, vou beijar meu marido até desmaiar. — diz animada. —
Eu te amo, maninha! Antes que imagine vou te visitar!
— Ok, pentelha. Eu também te amo.
Ela desfaz a ligação e fico sorrindo em direção ao celular, enquanto
lágrimas tomam conta de mim. Olho pela janela, e vejo o sol sair dentre as
nuvens. Como pode tudo parecer tão sincronizado?
Passo as mãos de leve pelas rosas sobre a cama de nona, e acabo as
pegando. Preciso tomar coragem, por ela, pela vida, de ao menos dessa vez,
ir até o cemitério. Não que ela esteja lá, mas por poder criar alguma
lembrança menos dolorosa daquele lugar.
Lola
Assim que Pedro sai de meu campo de visão, solto o ar que nem
sabia que segurava. Essa conversa só tenderia piorar caso ele insistisse.
— Então... — encaro Chris, que limpa sua garganta para chamar
minha atenção. — Agora entendi o porquê de não me dar bola.
— Chris. — penso em como enganá-lo, ou até mesmo mentir,
porém seu olhar é tão penetrante que não consigo fugir. Além de que estou
cansada de esconder tal sentimento. — Obrigada.
— De nada, minha não mais incógnita favorita. — provoca, e tento
não sorrir mas é em vão.
— Chris... Por favor, não...
— Fique tranquila. — pisca em minha direção. — A história
pertence a vocês.
Abro a boca para dizer algo, porém ele é mais rápido.
— Passei apenas para dar um oi, tenho uma reunião agora. Até
mais, Lola!
— Até! — então o vejo sair pela porta da frente.
Encaro novamente o doce em minhas mãos, e sei que é exatamente
disso que preciso. Que o açúcar me dê o foco necessário para terminar esse
dia, pois ele nunca pareceu tão surpreendente. Retomo meu caminho para o
escritório, e assim que entro, ao olhar para as flores que Gael trouxe,
lembro-me de fato a dor que assola meu peito. Ao menos, a conversa
estranha com Pedro e Chris, fez-me esquecer um pouco da realidade. Sento-
me em frente aos intermináveis papéis, e abro meu doce, já sentindo o
cheiro maravilhosos de chocolate. Torço para que o chocolate faça o
mesmo, consiga me desligar do mundo.
Capítulo 6
Pedro
O expediente se encerra, e saio pela porta dos fundos do restaurante,
tentando espairecer minha mente. Já tirei a touca e o avental, que são
usados para garantir ainda mais a higiene de cada prato preparado. Sorrio,
mesmo muito cansado, após mais um longo dia de trabalho. É gratificante
trabalhar com o que amo – cozinhar.
Passo as mãos por meus cabelos, e novamente mexo as mãos de
forma nervosa, a ansiedade me atingindo com força. Pego rapidamente um
chiclete no bolso traseiro da calça, e o jogo na boca. Comecei a fumar com
dezoito anos, e facilmente me viciei. Foi difícil abandonar o cigarro, mas
aos poucos e insistindo muito, pelo meu sonho, acabei conseguindo. Mas
nunca falta um chiclete em meu bolso, para tentar aliviar a tensão de
momentos que apenas consigo pensar na nicotina como calmante.
Retorno para dentro do restaurante, e me despeço dos últimos
funcionários. Logo a cozinha se encontra vazia, e sorrio olhando ao redor.
Esse lugar foi meu sonho desde o primeiro momento que entrei no mesmo,
quando ainda era um garoto. Chandel, o nome do meu restaurante favorito
na infância, e agora, meu restaurante. Quem diria?
Saio dali, e assim que chego próximo ao balcão de doces, encontro
Lola, um pouco enrolada com um buquê de rosas nas mãos. Mas o que?
— Ei! — digo, tentando retrair minha curiosidade e desconforto,
mas parece impossível.
— Oi. — me encara, pegando algo na bolsa, e quase derrubando as
flores no chão.
Não seria algo ruim, de todo jeito.
— Precisa de ajuda? — pergunto solícito
Ela bufa baixinho, e meio sem jeito me entrega o buquê. A vontade
que tenho é de arremessá-lo longe, ou melhor, no lixo mais próximo. Quem
teria lhe dado flores?
Apenas fico parado, vendo-a procurar algo na enorme bolsa, e
ignorando meus ciúmes, aproveito o momento para admirá-la. Deus, nunca
vi mulher mais linda! Os cabelos loiros longos de tonalidades diferentes em
cada mecha, a pele clara que só consigo imaginar com a marca de meus
beijos, o corpo curvilíneo que percebo mesmo debaixo de uma blusa larga
que ela usa junto a uma calça jeans não muito justa.
— Achei! — diz animada, e mostra-me uma chave.
Porém, fico parado, encantado com o azul de seus olhos, a boca
naturalmente rosada e a pele livre de qualquer maquiagem. Essa mulher é
um pecado, ou melhor, meu pecado mais lindo.
— Terra chamando Pedro! — pisco algumas vezes, vendo que
sequer ouvi uma palavra dela.
— Oi, desculpe. — digo sem jeito e ela sorri de lado.
— Anda no mundo da lua. — provoca, e dou de ombros. Se ela
soubesse o mundo que ando... — Achei as chaves do carro, quase tive um
treco pensando que as perdi.
— Isso não seria algo bom. — ela assente. — Onde quer que deixe
essas flores? — pergunto, um pouco desdenhoso.
— Ah, vou levá-las para casa. — as pega, e noto como olha com
admiração para cada rosa. — Está indo embora?
— Sim, apenas vou terminar de fechar tudo.
— Bom, eu já vou indo então. — sorri, e passa por mim.
— Ah, Lola! — chamo-a, e ela se vira para me encarar. — É alguma
data especial? Digo, por conta das flores. — explico-me, um pouco sem
jeito, e vejo seu semblante mudar por completo.
Notei que ela passou o dia todo trancada no escritório, raro o
momento que a vi conversando com meu primo, e pude vê-la. Algo estava
estranho com ela por todo dia, e me senti um idiota por não saber.
— Faz quatros anos que comecei a trabalhar aqui. — diz baixo,
como se as palavras doessem.
Por um segundo não consigo entender porque não está feliz pelo
tempo que completa aqui. Porém, rapidamente a realidade me dá um soco.
Há quatro anos, no mesmo dia, sua avó veio a falecer.
— Eu...
Não sei o que dizer, e ajo por instinto. Dou dois passos até ela, e
puxo-a para meus braços. Lola não nega, entregando-se a meu aperto.
Escuto-a fungar, e sei que seu choro corre livre. Nunca fomos tão íntimos,
mas sei como a morte de sua avó a marcou, e até hoje, o faz.
Lembro-me de ter comentado com Gael a respeito disso há alguns
dias, enquanto falava sobre Lola, só não sei como me esqueci por completo
de falar com ela justamente hoje. Sinto-me um completo imbecil.
— Ela com certeza tem muito orgulho da mulher que se tornou. —
digo baixinho em seu ouvido, ouvindo-a suspirar fundo.
Afastamo-nos um pouco, e passo as mãos por seu rosto, limpando
cada lágrima com meus dedos.
— Não devia ter vindo trabalhar. — digo com carinho, ainda sem
conseguir me afastar.
Ela sorri um pouco sem jeito, e uma mecha cai sobre seus olhos.
Como no momento mais clichê de minha vida, coloco a mecha atrás de sua
orelha esquerda, e pela primeira vez, vejo-a demonstrar algo. Ela cora
lindamente, fazendo-me sentir o homem mais sortudo do mundo. Porque
por mais indiferente que ela seja a mim, ao menos, consegui causar algo.
— Está tudo bem. Precisava distrair a cabeça. — passa as mãos nos
olhos, e afasto as minhas, dando um passo para trás. — Obrigada! — sua
sinceridade é nítida.
Sei que nesse momento ela simplesmente vai se virar e ir embora.
Então dou novamente um passo e a puxo, dando um leve beijo em sua testa.
— Estou aqui, para o que precisar. — deixo meu coração falar, e
sinto seu corpo relaxar.
— Eu sei, Pedro. — encara-me, e me surpreendendo por completo,
deixa um leve beijo em meu rosto. — Até amanhã!
Ela então se vira e vai embora. Esqueço-me por completo das flores,
e de meus ciúmes, apenas sentindo o lado esquerdo de meu rosto formigar.
Feito um verdadeiro adolescente, fico ali, completamente estático. Levo a
mão esquerda até minha bochecha e sorrio feito bobo. Pela primeira vez na
vida cogito a possibilidade de nunca mais lavar o rosto.
Capítulo 7
Lola
Pedro
Seu olhar está preso no meu, e tudo o que consigo pensar é em ter o
gosto dos seus lábios. O ar fica ainda mais pesado, a boca de Lola se abre,
como se quisesse dizer algo, e por um segundo, temo que fuja. Porém, no
seguinte, o som alto de buzinas me faz voltar a realidade, e Lola vira
rapidamente a cabeça em direção a janela. Saio com o carro, com os
pensamentos ainda mais confusos. Por um breve momento, tive a certeza de
que ela me quer também.
Capítulo 9
Lola
Pedro finalmente para o carro de frente a um belo restaurante, e
solto o ar profundamente, tentando não focar no homem lindo ao meu lado.
— A festa também vai ser aqui? — indago incerta, notando que o
local não parece tão amplo para acomodar uma festa pós jantar de negócios
como o mesmo tinha comentado.
— Bom... — encaro-o, e ele ajeita as mangas da blusa social cinza
chumbo. — Foi o que me passaram. Acho que não será algo de grande
parte.
Assinto, já tendo em mente como a cabeça da maioria das pessoas
que negociamos funciona. Muitos adoram esbanjar dinheiro. Então, um
jantar seguido de uma festa, com certeza é a cara deles, ainda mais para
comemorar, quem sabe, um novo contrato.
Tiro o cinto de segurança, e escuto a porta de Pedro abrir, e
rapidamente, ele dá a volta no carro, abrindo a minha. Sorrio sem jeito,
assim que encontro seu olhar no meu. Ele parece um pouco sem jeito, o que
me deixa intrigada. Noto como me encara, e uma pequena pontada acerta
meu coração. Será que minha aparência mudou tanto que ele sequer me
reconhece?
Saio do carro, e o vejo entregar a chave a um rapaz simpático do
restaurante que vai estacioná-lo.
— Obrigada.
Incrível como não me sinto tão estranha sobre um salto alto fino,
estando agora ainda mais próxima de Pedro. Ele então sorri de lado, o que
me faz quebrar por dentro, sem conseguir evitar uma nova análise. Com
toda certeza é o homem mais lindo que já vi. Não sei descrever ao certo
como o faz, mas sua presença é tão imponente, assim como o olhar doce
que me lança. Por um segundo é como se lesse minha alma, sinto-me
completamente exposta.
— Vamos! — tomo coragem de dizer, e ele assente, oferecendo-me
seu braço.
Abro a boca uma vez pensando no que dizer e acabo desistindo.
Olho-o novamente, e o sorriso nervoso em seu rosto, faz-me sentir pela
primeira vez na noite uma mulher poderosa. De alguma forma, Pedro está
afetado.
Engancho-me em seu braço, e no mesmo instante, sinto seu perfume
ao meu redor, inebriando-me. Como no carro, a tensão no ar parece
palpável. Tento afastar os pensamentos de que há poucos minutos senti que
o mesmo ia me beijar. Minha sonhadora e tola cabeça apaixonada, como
sempre, armando para meu coração.
— Tudo bem? — pergunta baixinho, e recuso-me a olhá-lo.
Sinto como se essa noite fosse a primeira que vivo em anos. Pedro
parece entender meu silêncio e logo adentramos o restaurante. Enquanto o
mesmo fala sobre nossa reserva com uma mulher que o encara como um
belo pedaço de carne, tento me segurar para não o tocar como quero, e
deixar claro a quem ele pertence. Ao menos, em meus pensamentos, posso
sonhar com isso.
Vejo-o sorrir de forma sedutora para a mulher e meu sangue ferve,
como nunca antes. Eu sei bem que ele não é um santo, mas o assistir em
ação é completamente diferente do que vê-lo dispensando alguém.
— Pedro. — chamo-o sem conseguir me segurar.
Ele então parece lembrar de minha presença e dá alguns passos em
minha direção, já que me afastei, na falha tentativa de disfarçar meu foco
em “seu momento”.
— Oi, desculpe. — diz um pouco sem jeito. — Parece que os
anfitriões não virão, a mulher de um deles passou mal e foram ao hospital,
minutos antes de chegarmos.
Arregalo os olhos, surpresa com a situação.
— Nossa! Mas ela está bem? — Pedro fica branco feito papel, e
franzo o cenho sem entender.
— Vou mandar uma mensagem para o marido dela e desejar
melhoras. — força um sorriso, e mal o reconheço.
O Pedro que conheço é solto, alegre, brincalhão.... Nunca tão rígido
como o que está a minha frente.
— Então, nós já vamos? — pergunto sem graça, sem conseguir
pensar diante de sua imponência.
— Por que não aproveitamos a reserva e jantamos juntos? —
surpreende-me por completo. — Claro se não tiver...
— Tudo bem. — digo rapidamente, finalmente tomando uma
atitude.
Pela primeira vez em anos, me maquiei, coloquei saltos e um
vestido sexy, e simplesmente não consigo jantar com ele?
Decidi no momento que aceitei o convite que nessa é a noite na qual
quero mostrar a Pedro tudo o que conseguir sobre mim, ao menos, algo que
ele ainda não tenha visto ou conheça. Esconder-me feito uma boba e não ter
atitude alguma, não mudará a situação. Vou continuar sendo apenas a sócia
que suspira pelos cantos e não consegue assumir o que sente.
Mas eu quero mais... muito mais. Seja lá o que Pedro possa me
oferecer, nessa noite, vou além.
Lola
Pedro
Acordo sentindo a luz do sol tocando minha pele, e antes mesmo de
abrir os olhos, imagens da noite que passei com Lola vem em minha mente.
Sorrio, jogando meu corpo para o lado, e com cuidado coloco meu braço
sobre...
Abro os olhos espantado, assim que não encontro Lola ao meu lado
da cama, e ainda pior, os lençóis frios. O que?
Sento-me na cama e fico olhando ao redor por alguns segundos,
tentando me reorientar. Onde Lola se meteu? Levanto-me, e pego a cueca
jogada sobre o piso, colocando-a rapidamente. Caminho até o banheiro e
bato na porta, esperando por alguma resposta.
— Lola?
Bato mais algumas vezes na porta e novamente fico sem resposta.
Toco a maçaneta e resolvo tentar abrir, e me surpreendendo, a porta se abre.
Feito um tolo vasculho o banheiro com o olhar, apenas confirmar de fato
que ela não está.
Passo as mãos por meus cabelos, sentindo-me um pouco perdido e
vou em direção a cozinha. Os minutos se passam e acabo apenas não
olhando debaixo da cama, mas cada canto da casa foi vasculhado, e nenhum
sinal de Lola. Frustrado, sento-me novamente sobre a cama e pego meu
celular, discando seu número.
Na primeira tentativa a chamada vai direto para a caixa-postal e me
seguro para não jogar o celular contra a parede. Solto-o contra a cama, e
levo as mãos à cabeça, tentando entender por que ela foi embora. A noite foi
perfeita... na realidade, a madrugada toda em que nos amamos.
Por que ela simplesmente foi embora sem me dizer nada?
As perguntas giram em minha mente e não consigo encontrar
nenhuma resposta. Mando uma mensagem para ela, tentando ao menos ter
algum sinal, porém, permaneço sem uma resposta qualquer. Acabo ficando
feito um louco, andando de um lado para o outro no apartamento,
procurando algum sentido para sua fuga.
Talvez eu esteja pensando demais, e encarando como algo ruim.
Afinal, foram anos lado a lado como amigos, e em uma noite, que ela
sequer imaginava ou cogitava a possibilidade, acabamos nos envolvendo.
Talvez ela só precise digerir o que aconteceu, e possamos conversar sobre.
Isso, Pedro! Raciocina!
Se ela soubesse que quero muito mais que conversar... Depois dessa
noite, eu jamais terei o suficiente de Lola. Ela me tem desde o primeiro
olhar, mas após nossa noite, apenas reafirmei que é perfeita, sob medida
para mim. Eu a quero por completo.
— Merda!
Xingo para o nada, e pego o celular novamente, finalmente tomando
ciência de que para ela a noite pode parecer apenas uma confusão, ou até
mesmo, nada demais. Mas vi em seus olhos, em seu toque, suas reações...
Ela pareceu me querer tanto a ponto de minha mente tola viajar,
imaginando que ela sente o mesmo.
Porém, tenho paciência para esperar, para que ela me escute, e ainda
mais, para fazê-la me amar. Assim, digito uma mensagem, e espero a
resposta por alguns instantes, porém, como na outra, não obtenho nada.
Tentando negar a mim mesmo a frustração de não acordar ao lado
da mulher que amo, após fazer amor com ela a noite toda, vou para debaixo
do chuveiro. Ali, enquanto a água quente cai sobre meu corpo, sorrio,
sabendo que estou literalmente de joelhos por essa mulher.
Lola
Lola
Semanas depois...
Lola
— Já disse o quanto ficou linda com esse cabelo curto? —
Christopher diz mais uma vez, e reviro os olhos.
Depois de tantos anos finalmente tinha cortado meus cabelos, e essa
mudança foi um passo crucial. Uma forma de dizer tanto a mim mesma,
quanto ao próprio Pedro de que não estou aqui para seus caprichos.
Ele tinha dito, em mais uma tentativa falha de conversarmos que
amava meus cabelos longos, e minha raiva foi tanta, que virei as costas e fui
embora, sem sequer dar uma resposta. Ele me cercava sempre que podia, e
assim, com toda raiva acumulada, ainda mais por vê-lo com Melissa dentro
do restaurante, simplesmente fui ao cabelereiro e cortei chanel.
Como disse a minha melhor amiga, Sophie, ao menos, tirei o gosto
dele de achar algo bonito em sua segunda opção. O mais louco de tudo é
Sophie estar envolvida com Daniel Lourenzinni, o irmão de Melissa. O
mundo é mesmo muito pequeno.
— Não adianta tentar, não vai me ganhar com essa cantada barata e
esse sorrisinho fácil. — provoco Christopher, que dá de ombros, olhando-
me com mais atenção. — O que foi?
— Nem me olhe assim, você que está distante faz tempo.
Por que ele tem que ser tão perspicaz?
— Pedro comentou que passa mais tempo fora do restaurante do que
dentro, aliás acabei reparando. Claro que esse é um direito seu, já que é
uma das sócias majoritárias, mas nunca o fez desde que abriram o
restaurante.
— É complicado, Chris. — sorrio sem vontade. — Mas por que
todo esse interesse?
— Sei quando meu primo sofre, e por mais maricas que pareça, eu
me preocupo com ele. — dá de ombros, e tento absorver suas palavras.
— Como assim? Por que ele está sofrendo?
O nome de Melissa vem em minha mente, e me sinto uma completa
idiota. Por que não consigo simplesmente seguir em frente?
— Por você.
— Eu? — praticamente grito, e Christopher sorri amplamente.
— Não se abandona um cara da forma como você fez. — coro no
mesmo instante, e Chris gargalha, vendo meu embaraço. — Pedro está
ficando louco com essa distância.
— Você entendeu que gosto dele naquele dia, há alguns meses... Por
que só agora tocou no assunto?
— Porque meu primo está sendo um pé no saco. — brinca, porém o
olho com determinação e ele cede. — Porque não consigo entender você. O
deixou e o ignora, sendo que acabou de readmitir que gosta dele.
— É complicado lutar pelo coração de alguém, Chris. Não estou
pronta pra isso.
— Para o amor, você quer dizer? — assinto com pesar, vendo que
não consigo falar abertamente sobre Pedro.
— Podemos só... não conversar mais sobre isso? — ele assente, e
agradeço internamente.
— Que bons ventos te trazem?
Essa voz...
Os dois Soares a minha frente se cumprimentam, e me perco por
alguns segundos na beleza de Pedro. Por que simplesmente não o espanto
de minha vida? Por que meu coração insiste em bater de forma tão
desesperada por ele? Nem mesmo a mágoa parece capaz de me fazer
esquecer.
— Oi, boneca. — tento fingir que o apelido não me afeta, e forço
um sorriso.
Pedro não tem sido muito sútil depois que percebeu que não vou
tocar no assunto daquela noite. Além de que resolvi passar mais tempo
trabalhando em casa do que no restaurante, afastando-o ainda mais. Mesmo
assim, nos poucos momentos que nos encontramos, ainda mais, quando
estou em busca de algum doce no balcão e acabo ficando exposta, ele tenta
chamar minha atenção.
Tudo o que me pergunto é: por que?
— Bom, vou deixar vocês conversarem. — coloco o brigadeiro
inteiro na boca, e abro um sorriso sem dentes, dando um tchauzinho para
Chris.
Saio dali, em direção ao banheiro, feito um foguete. Assim que abro
a porta, a cena que me recebe, me assusta por completo. Olho com desgosto
para Débora que segura o braço de uma mulher ruiva, claramente
incomodada.
— Algum problema aqui? — pergunto desconfiada.
— Tudo ótimo. — Débora diz com desdém, e solta o braço da outra
mulher. — Olha aqui empregadinha...
Débora escolheu o dia errado para me provocar. Estou farta de
tantas coisas na vida, que ela não tem ideia do que está procurando.
— Olha aqui você! — digo com um falsa calma. — Eu te conheço
há tempos Débora, assim como ronda Pedro e o primo dele, sei que dá em
cima de todos os outros clientes ricos do restaurante. Você só entrou aqui
hoje porque convenceu algum velho idiota pra te trazer.
— Olha aqui...
— Ah, cala a boca! Sai logo daqui, antes que eu chame os
seguranças. — ela enrubesce, claramente furiosa, mas não cedo.
— Quem você pensa que é Lola? — pergunta e me encara, em claro
desafio. — Não passa da empregadinha que dá pro chefe e...
Sua frase nem termina e simplesmente acerto seu rosto com força.
Seu rosto vira, e em meus pensamentos, até a imagino me agradecendo por
ter sido um tapa, mal sabe ela a força do meu soco. Eu estou simplesmente
farta de ouvir calada seus insultos.
— Pra você é Paloma! — uso meu tom mais afiado, as palavras
simplesmente correm soltas. — E sobre dar para o chefe, pelo menos ele é
solteiro e me quer, não é? — pergunto com deboche, e no mesmo instante
Débora tenta revidar o tapa, o qual não consegue, já que sou mais rápida e
seguro sua mão no ar. — Não, não! Vamos sair daqui!
Saio praticamente arrastando Débora para fora do banheiro e deixo-
a ao lado de um segurança que está próximo ao corredor.
— Segure ela aqui, não deixe que ela se mexa! — exijo, e ele
apenas assente.
— Eu trabalho para o marido daquela mulher, estávamos apenas
conversando! — Débora diz furiosa. — Vou processar essa espelunca!
Só então interligo a imagem do homem que vi junto a mulher ruiva
no banheiro, e acabo entendendo tudo. Lembro-me bem dele, quando o
encontrei num mercadinho perto de casa, claramente perdido. Um homem
lindo e perdido. Pelo jeito muito bem casado, e Débora a fim de se
aproveitar da situação.
— Tente! — enfrento-a e olho novamente para o segurança. —
Segure ela aqui, eu já volto!
Volto para o banheiro, pois sei que não devia tratar uma cliente
daquela forma, muito menos na frente de outra.
— Me desculpe pelo transtorno, mas eu já estava sem paciência há
meses com Débora. Aliás, ela gritou um pouco quando a coloquei pra fora,
dizendo que trabalha para o seu marido, e se seu marido for aquele pedaço
de mau caminho lá fora, minha filha, sei que ela não tem chance.
— O que? — pergunto já perdida.
— Sou Paloma Gerard, mas todo mundo me chama de Lola. Quer
dizer, todo mundo menos a Débora. Bom, eu meio que sou perspicaz com
algumas coisas e me intrometo na vida das pessoas, sinto muito por isso.
Mas encontrei seu marido há um tempo no mercado perto de casa, ele
estava olhando para as bebidas sem saber qual comprar. Na hora eu fiquei
pensando: que homem como ele não sabe o que beber? Mas já senti que
tinha algo a ver com mulher, e no caso, a mulher é você. Espero que esteja
tudo bem. — nessa hora percebo que sempre falo demais com
desconhecidos. Isso é um mal que não consigo mudar.
— Eu...
— Nem diz nada, vai lá com o teu homem. — digo e ela sorri. — É
um prazer...
— Carla Gutterman! — arregalo os olhos diante de sua
apresentação.
— Meu Deus! Aquele lá é Ricardo, o irmão de Levi? — pergunto
assustada, e ela assente.
— Por quê?
— É que minha melhor amiga é enrolada com o irmão da Melissa,
ex-mulher do Levi. — explico sem jeito e felizmente, ela sorri.
— Sim, somos uma bagunça.
— Bom, espero que isso não faça você odiar o restaurante, e, aliás,
vou pedir para preparem a melhor sobremesa, por conta da casa. — digo
sem graça, e lhe dou uma piscadela.
— Não precisa, já...
— Claro que precisa. — dou de ombros, sorrindo. — Tenho que
voltar, pois sei que vou ouvir algumas idiotices daqui a pouco. Até mais,
Carla!
— Mas...
Saio dali, já perdida em meio as coincidências da vida, e no mesmo
instante que encontro Débora com o segurança, agradeço-o, e a pego pelos
braços, levando até a saída.
— Me solta! — Débora diz, e eu a ignoro, indo pela cozinha,
colocando-a pra fora, pela porta de trás do restaurante. — Eu vou falar com
Pedro e isso...
— Ah, faça-me o favor, Débora! — reviro os olhos. — Ok, transou
com Pedro e blá blá. E daí? Isso não muda nada.
— Assim como não mudou pra você, né empregadinha? — zomba e
sorri, com o rosto vermelho do tapa que dei.
Dou um sorriso forçado, e já me viro pra entrar no restaurante, mas
consigo ouvir suas palavras.
— Sempre será apenas mais uma pra ele.
Fecho a porta atrás de mim e respiro fundo, então um dos ajudantes
da cozinha passa e me encara um pouco sem jeito. Abro um falso sorriso e
já tento sair de perto, mas assim que dou dois passos para ir até meu
escritório, escuto a voz de Pedro.
— Merda!
— Merda é o que o senhor que está sozinho na mesa esperando
Débora voltar vai pensar desse restaurante. — diz, então me viro pra ele.
Malditos olhos claros!
Maldito cabelo perfeitamente bagunçado!
Maldita barba por fazer!
— Ah. — dou de ombros, fazendo-me de desentendida. — Não fiz
nada demais.
— Lola...
Saio andando em direção ao segundo andar, e subo rapidamente,
tentando o mais rápido possível ficar longe dele. Tem sido assim entre nós,
tudo acaba em uma briga desnecessária.
Abro a porta do meu escritório, e antes que eu possa fechá-la, ele
entra também, praticamente me derrubando.
— O que quer ouvir, Pedro? — pergunto e ele leva as mãos à
cabeça, claramente nervoso. — Débora estava incomodando uma cliente no
banheiro, dizendo barbaridades. Queria que eu a deixasse aqui, causando na
frente de todos?
— E você pode causar? — devolve a pergunta e eu gargalho.
— Carla adorou o que fiz, aliás, se está tão incomodado, devia ligar
para Débora. Ela está louca esperando uma ligação sua. — implico, e me
viro, pegando minha bolsa sobre a mesa.
— Sabe muito bem que a única mulher que quero... — ele me
prensa contra a mesa e suspiro fundo. — É você. — sussurra em meu
ouvido.
— Olha, ele e o papo maluco sobre a noite que transamos. — digo e
me viro em sua direção. — Aquela noite não foi nada, sabe disso.
— Eu sei que você foge de mim desde então, e não entendo por que.
— Porque eu cansei. — digo e abro um sorriso falso, tocando em
seu rosto. — Aliás, eu tenho que encontrar alguns fornecedores e você
cuidar do restaurante, querido sócio.
— Nós ainda vamos falar sobre aquela noite. — diz e eu tiro a mão
de seu rosto, saindo de perto dele. — Isso é uma promessa, Lola!
Abro a porta do escritório e fico estática por um instante.
— Mais uma promessa que vai quebrar... — digo baixinho, e saio,
deixando para trás o homem que amo, mas que infelizmente, nunca me
olhou antes de tudo.
Antes de minhas roupas mudarem, da maquiagem se tornar um
hábito... Antes de me entregar de corpo e alma, e simplesmente sair
completamente machucada. Pedro é uma incógnita, e a cada dia apenas dói
mais.
A cada dia sinto-me sufocar, e quero gritar tudo em seu rosto. Gritar
que sei a verdade, sobre o que sente pela tal Melissa, e que não quero mais
sua insistência. Não quero mais apenas tê-lo como parte de um sexo
incrível. O quero por inteiro. Infelizmente, não tenho esse direito.
Saio do restaurante, e bato de frente com um corpo de alguém que
me segura, e tento não quebrar ali. Estou cansada e completamente exausta.
Não tenho cabeça para o trabalho, não diante da dor que carrego no peito.
Amar Pedro me sufoca.
— Desculpe.
A mulher a minha frente apenas sorri, e saio dali, andando em
direção a meu apartamento. O trabalho que espere, a vida que me deixe...
Preciso apenas permitir que a dor se esvaia. Chego em casa, e jogo a bolsa
no chão, indo até a cozinha, e pegando a garrafa de meu vinho favorito.
Rio de mim mesma e o abro, dando um gole generoso. Vi
tantas vezes em filmes e livros meus personagens afogando as mágoas no
álcool, que, bom, essa é minha vez. Torcendo que em meio a falta de
lucidez esqueça meus sentimentos. Que esqueça por completo que sou uma
verdadeira covarde.
Capítulo 14
Pedro
Olho para as portas fechadas do restaurante, e completamente
perdido caminho até meu carro. Mais um dia em minha vida, onde tento
entender o porquê não posso ter a mulher que quero ao meu lado. Qual é o
meu maldito problema?
Entro no carro, e antes de dar partida, olho rapidamente o celular,
em busca de uma mensagem dela. Estou há meses esperando algum indício
de Lola, para podermos conversar, mas tudo o que ela tem feito é fugir.
Sinto-me acuado, com medo de agir de cabeça quente, e acabar estragando
tudo de vez. Mas estragar o que? Se nossa noite parece não ter significado
nada pra ela.
O celular vibra em minhas mãos e atendo no mesmo instante em que
o nome “Boneca” aparece na tela.
— Lola. — digo rapidamente. — Oi.
Deus, eu sequer sei falar com ela ao telefone!
— Como vai, gostosão? — franzo o cenho diante de suas palavras.
— Como vão as coisas?
— Lola... Você está bem? — pergunto, e escuto sua gargalhada.
— Melhor do que nunca! — praticamente grita, e pisco algumas
vezes, encarando o celular rapidamente, confirmando que é mesmo seu
número.
— Lola, me diz, o que está acontecendo?
Fico em alerta, e novamente escuto sua risada.
— Eu amo um homem. — fecho os olhos com força, sentindo-me
quebrar. — Mas ele não me quer... O que eu faço?
Suas palavras saem um pouco embaralhadas, e seu tom está
completamente fora do habitual. A dor dilacera meu peito, por agora saber o
que de fato a afasta de mim, seu coração já tem um dono. Mas apenas foco
na forma como ela parece estar, por sua voz, completamente bêbada.
— Boneca, apenas me diz onde está. — peço calmo, e de repente
escuto um choro baixinho. — Lola?
— Eu quero que ele me ame. — seus soluços são mais altos. — Por
que ele não pode me amar?
— Boneca, por favor... — meu peito dói ainda mais por vê-la sofrer
dessa forma. — Você está em casa?
— Aham. — diz baixo, e escuto seu suspiro profundo. — Por favor,
traz o homem que eu amo.
Ela então desfaz a ligação e encaro o celular completamente
preocupado. Lembro-me que seu apartamento fica a algumas quadras daqui,
e que por muitas vezes ela vem a pé, quando não tem compromissos fora do
restaurante ao decorrer do dia. Deixo meu carro no estacionamento, e
aciono o alarme. A passos rápidos chego a frente de seu prédio, discando
várias vezes seu número, já que não tenho o número de seu apartamento.
Assim que paro a frente da portaria, ligo mais uma vez para ela, e
novamente toca várias vezes, até a chamada ser encaminhada para a caixa-
postal.
— Merda!
— Soares? — viro minha cabeça rapidamente, e encaro o homem a
minha frente, reconhecendo-o. — Como vai, Pedro?
— Vou bem, Gustavo. — o cumprimento, e ele permanece sério,
como sempre. — E você?
— Parece que num dia melhor que o seu. — olha-me com atenção.
— Precisa subir? — indica o prédio e assinto sem jeito.
— Uma amiga me ligou bêbada, e agora não atende o telefone, e
sequer sei o número do apartamento... — passo as mãos por meus cabelos.
— Pareço um idiota.
— Parece apaixonado. — arregalo os olhos diante de sua
declaração.
Gustavo Di Lucca não é o verdadeiro exemplo de conhecido que
acaba dando sua opinião sobre algo. Ele parece muito mudado. Ao menos,
em relação a época que o via pra cima e pra baixo com meu primo mais
velho, Caleb. O encontro ultimamente em festas em comum, que ele
participa por sua empresa, e eu, na representação do Chandel.
— Pode-se dizer que sim. — dou de ombros. — Ela é diferente.
— Bom, se quiser pode subir comigo.
— Sério? — pergunto de relance, sem acreditar.
— Mas precisa descobrir o apartamento da sua amiga, e o andar...
Porque senão vai ser impossível a encontrar.
— Merda! — reclamo, e disco novamente o número de Lola.
Gustavo vai a minha frente, entrando no prédio, assim o sigo, e logo
estamos no elevador. Ele aperta o botão da cobertura, e sequer me espanto,
já que mesmo sendo de uma família rica, sei o quanto os Di Lucca são
poderosos.
Após três andares Lola finalmente atende, e agradeço internamente
por isso.
— Boneca, por favor, me diz qual é o seu andar e o apartamento. —
praticamente suplico, e de relance, noto o olhar evasivo de Gustavo.
Ao menos ele disfarça bem a curiosidade.
— Eu tava tentando atender, mas...
— Lola! — chamo sua atenção. — Apenas me dê os números.
— Sexto andar, apartamento 609. — diz meio embolada, mas aperto
rapidamente no painel o número seis.
— Ok, estou chegando! — ela sussurra um simples “ok”, e apenas
continuo ouvindo sua respiração através do telefone.
Finalmente o elevador para no sexto andar, e as portas se abrem.
Olho rapidamente para Gustavo, e ele apenas acena com a cabeça.
— Obrigado! — ele apenas assente.
Logo saio do elevador, e as portas se fecham. Suspiro fundo,
caminhando até seu apartamento, e ela permanece em silêncio o outro lado
da linha.
— Boneca, estou aqui na frente. — digo, no mesmo instante que
paro a frente de sua porta. — Vou tocar a campainha, aí você abre, ok?
— Tá bom!
Toco a campainha, e deixo o celular fora da orelha. Em poucos
segundos a porta se abre, e uma Lola completamente diferente do habitual
aparece. Suspiro fundo, vendo a dor em seus olhos, e a forma como parece
afetada.
— Você. — diz com um sorriso, em meio as lágrimas já derramadas
em seu rosto. — Você trouxe ele.
— Ei, boneca.
Ela então abre mais a porta, e me dá espaço para entrar. Posso ver
pela forma como me encara, que o álcool ainda está alto em seu organismo.
Ela então fecha a porta, trancando-a em seguida, e logo deixa seu celular
sobre uma mesinha.
Encaro seu apartamento rapidamente, e logo volto minha atenção
para ela. Está a um passo de mim, mesmo assim, nunca a senti tão distante.
Todo esse tempo longe dela abriu uma cratera entre nós. Depois de tê-la por
completo, apenas imaginei que as coisas mudariam para melhor, não que a
teria a um braço de distância, e que ela fugiria. Mas isso não importa agora,
pois preciso apenas verificar se ela está bem.
— O que aconteceu, boneca? — pergunto baixo, e ela suspira.
Em um passo ela me alcança, e seus pequenos braços me envolvem.
Suspiro fundo, abraçando-a, tendo-a em minhas mãos novamente. Por um
segundo, sinto-me completo. Tê-la é como um bálsamo para todos os
problemas.
Porém, vê-la bêbada dessa forma pelo tal homem que ama, apenas
me atinge por inteiro. Ela ama e sofre, assim como eu... O quão perdido
meu sentimento por ela deve se tornar?
— Você trouxe ele. — aconchega-se em meu peito, inalando meu
cheiro, deixando-me completamente inerte. — Você trouxe.
— Do que está falando? — pergunto com carinho, afastando-me um
pouco para encará-la. — Preciso te colocar num banho e fazer um café bem
forte. Onde fica o banheiro?
— Não. — diz de repente, e fica na ponta dos pés, tocando meu
rosto.
— Lola.
— Você trouxe... não pode mais ir. — sua voz sai fraca, e noto a
confusão em seus olhos.
— O que eu trouxe, boneca? — sorrio, vendo que ela está apenas
distorcendo a realidade.
— O homem que amo.
Por um segundo prendo a respiração, sem saber o que dizer, muito
menos o que responder. Ela está bêbada! Fora da razão... por isso está
dizendo isso. Porém, minha mente funciona a todo vapor, tentando não
acreditar que é real. Entretanto, o que mais quero, é que de fato seja.
— Eu? — acabo perguntando, mesmo me sentindo um idiota.
Ela sorri lindamente, passando a mão com carinho por meu rosto.
— Sempre foi você. — confessa, e sinto meu coração bater
freneticamente. — Pra sempre você, Pedro Soares.
Tento dizer a mim mesmo que não é real, que ela está me
confundindo com alguém. Porém meu nome saiu de seus lábios, e mesmo
bêbada, noto que me diz a verdade. Talvez, o álcool apenas tenha colocado
seus sentimentos reais a mostra. Ela me ama?
Eu preciso ouvir isso de minha boneca, só que com ela sóbria.
— Eu também te amo, boneca. — confesso, e toco seu rosto com
todo amor que sinto. — Mas primeiro precisa de um banho, e em seguida
um café forte. Depois vamos conversar, tudo bem?
— Você me ama?
Praticamente pula em meu colo, e a seguro com carinho, e aproveito
sua entrega para procurar pelo banheiro. Assim que entramos num dos
últimos cômodos, noto que é seu quarto, e vejo uma porta ao fundo, que
felizmente é o banheiro.
Lola permanece em meu colo, deitada em meu ombro, sussurrando
que me ama. Se isso é um sonho, por favor, que eu nunca mais acorde.
Capítulo 15
Lola
Minha cabeça dói de forma estrondosa, e levo uma mão até o couro
cabeludo, massageando-o. A dor parece apenas piorar, e tento me mover,
ficando sentada na cama. Respiro fundo algumas vezes, antes de abrir os
olhos e focar na luz que entra pela janela. Que horas devem ser?
Com o apoio da cabeceira da cama, tento me levantar, porém,
apenas sinto uma forte náusea e tudo girar, fazendo com que meu corpo caia
novamente na cama. Suspiro fundo, sem entender ao certo como estou
dessa forma.
— Merda!
— Ei, boneca. — braços fortes me amparam, e arregalo os olhos.
Olho-o sobre meu ombro e fico chocada com sua imagem relaxada
sobre minha cama.
— O que faz aqui? — pergunto de uma vez, sentindo-me culpada no
segundo seguinte pelo tom grosso que saiu de minha boca.
— Eu... — suspira fundo, afastando seus braços de meu corpo. —
Você me ligou bêbada e fiquei preocupado.
— Ah. — fecho os olhos por um instante, sentindo a vergonha me
atingir. — Me desculpe. — sou sincera. — Há anos que não bebo, e com
toda certeza meu corpo não está mais acostumado a passar de algumas taças
de vinho.
— Você bebeu a garrafa toda, boneca.
Arregalo os olhos, e ele sorri, deixando a situação um pouco menos
desconfortável. Não sei o que fazer, ao olhar para o homem que amo, sobre
minha cama, olhando-me de forma tão profunda. Não quero me iludir mais
uma vez, e vê-lo assim, faz-me querer apenas mergulhar em seu ser... Ser
dele mais uma vez.
— Eu estou bem. — tento soar calma. — Desculpe por te preocupar.
— Boneca, eu não consigo entender o que está acontecendo
conosco. — diz de repente, e tenta me tocar, mas acabo me afastando,
ficando longe dele.
— Não faz isso, Pedro. — peço, e tento de algum jeito, fingir que
não me afeta.
Mas é impossível. Estou entregue há tanto tempo, apenas tentando
fazer com que ele me olhe, e que de alguma forma seja recíproco. Porém,
só depois de mudar, mostrar a parte “bonita” superficial, que ele me notou.
Dói ver que nunca seria a mulher escolhida por ele, se não fosse alguns tons
de maquiagem, e roupas bonitas.
— Lola, eu...
— Só me deixa. — peço, e saio de perto dele, em direção a sacada.
Noto que estou com as mesmas roupas do trabalho de ontem, e
imagino que devo ter apagado na cama. Suspiro fundo, ao abrir a porta de
vidro, e o ar frio encontrar com meu corpo. Sinto-me quebrada, sem saber o
que fazer. Eu quero Pedro, não sei como fugir de tal sentimento, mas temo a
despedida. Temo me entregar novamente, e nunca mais me sentir inteira.
Então, sinto os braços fortes de Pedro me cercarem, e meu coração
acelera, minha boca seca e todo meu corpo implora para ficar ali para
sempre.
— Você disse que me ama.
Fecho os olhos com força, digerindo suas palavras. O que?
— Não! — soltei baixo, sem acreditar no que fui capaz de fazer. —
Não pode ser!
— Você disse. — virou-me para si, encarando-me, e não sei como
fugir. — Disse muitas vezes, mas eu sei que não estava sóbria. Até porque
no momento que me afastei para tentar preparar um banho, quando voltei,
já estava adormecida na cama.
— Me desculpe, eu...
— Tudo o que quis, é que sã, repetisse cada palavra. — suspira
fundo, tocando meu rosto. Fico completamente inerte, sem saber para onde
isso caminhará. — Eu sou louco por você, boneca.
— Pedro.
— Lola.
Nossos rostos se aproximam, e nenhum de nós fala nada. A atração
é palpável, assim como a forma que meu coração pela primeira vez está
exposto para ele, por completo. Sinto-me cair mais uma vez, sem querer
esquecer que da última vez fui quebrada.
Amar um homem que ama outra mulher, é o mesmo que pedir para
ter uma transa inesquecível e em algum momento ter que ouvi-lo suspirar
por ela. Assim que os lábios de Pedro tocam os meus, suspiro fundo,
sentindo-me quebrar. Não consigo.
— Não posso. — digo de uma vez, afastando-me, e me nego a
encará-lo. — Por favor, vá embora!
— Mas, boneca...
— Lola. — corto-o, e continuo encarando meus pés. — Meu nome é
Lola.
— Por que está me afastando, boneca? — noto sua voz trêmula, e
arrisco olhá-lo. — Por que?
Seu olhar está quebrado, como reflexo do meu. O que ele quer me
mostrar? Por que não se contentou apenas com uma noite e pula para a
próxima mulher? Por que pisar em meu coração?
— Sabe o que sinto, Pedro. — o olho determinada, e tento respirar
direito. — Mas isso não muda nada.
— Isso muda tudo, bone... Quer dizer, Lola. — sua voz é
completamente diferente do habitual, e tento de alguma forma não me
iludir. — Isso é tudo o que esperei.
— Por favor, eu não posso! — insisto, e passo por ele, saindo da
sacada. — Só quero ficar sozinha. Peço desculpas por ser uma bêbada
idiota, não vai se repetir.
— Lola...
— Apenas vá, Pedro!
— Mas eu te amo, porra!
Meu coração falha uma batida, e tento fingir que não me atingiu.
Uma lágrima desce por meu rosto, e sei que nunca estive tão perdida. Ele
chamou a mulher que ama após passarmos uma noite incrível juntos... E
agora, aparece dizendo que me ama. Não, Pedro Soares não me ama. Sou
apenas a segunda opção disponível, e isso me mata por dentro.
— Vá embora! — insisto, sem olhá-lo.
— Eu disse que te amo, Lola. — sua voz é mais baixa. — Você
ouviu?
— Ouvi. — suspiro, tentando segurar as lágrimas. — E isso não
muda nada.
— Eu...
Sinto então o silêncio recair sobre o quarto, e apenas espero que o
mesmo vá embora. Contrariando-me, ele me puxa para seu corpo, forçando-
me a encará-lo.
— Olhe pra mim! — toca meu rosto, e me nego. — Eu sou seu, o
tanto quanto é minha. — diz determinado. — Talvez precise de um tempo
para ter certeza, mas foi minha desde o momento em que atravessou o
Chandel há quatro anos. Eu te amo, boneca, e vou te esperar.
Sinto então um beijo sobre minha testa, e em poucos segundos, o
corpo do homem que amo se afasta, deixando-me sozinha. Ouço a porta da
sala bater, e desabo, sem saber o que fazer. Não consigo entender mais
nada, nem mesmo sei no que acreditar... Uma hora ele ama Melissa, na
outra, se declara como um homem apaixonado por mim. Preciso de tempo
para pensar, mas por um instante, permito-me quebrar. Choro por todo amor
que sinto, e por não saber por onde seguir.
Capítulo 16
Lola
Pedro
Caminho perdido pelo parque, sem saber muito bem o que fazer, ou
para onde ir. Na realidade, o que quero realmente é voltar para o
apartamento da mulher mais teimosa que conheço e fazê-la me ver como
seu. Passo as mãos por meus cabelos e tento controlar a ansiedade que me
atinge. Porém, como aceitar novamente que meus sonhos ruíram?
Lola mal sabe o quanto é importante para mim, e no momento que
resolvo finalmente confessar meu amor, ela é reticente, e além de tudo,
manda-me embora. Suspiro, completamente frustrado. Olho ao redor e vejo
as pessoas sorrindo umas para outras, casais claramente apaixonados, e
crianças ao redor... O que daria para sermos nós, nessa exata situação?
Se alguém me perguntasse, anos antes de conhecer Lola, que meus
sonhos envolveriam casamento e filhos, negaria por completo. Entretanto,
foi necessário apenas seus olhos azuis encararem os meus, para qualquer
plano se dissolver.
Lola se tornou meu plano pessoal, instigando e levando-me a
loucura sem ao menos perceber. Nunca fui crédulo sobre amor à primeira
vista, mesmo que em minha antiga casa tenham centenas de romance
espalhados, e muitos com toda certeza falam a respeito. Clarissa Soares,
minha mãe, acreditou no amor após o canalha do meu pai, tanto que vive
seu conto de fadas com meu padrasto. Contudo, amor à primeira vista
parece tão surreal que apenas livros podem retratá-lo. Ledo engano, eu caí
perdidamente por Lola na primeira vez que nos esbarramos. Ela foi e ainda
é, minha incógnita favorita.
Sinto um calafrio percorrer meu corpo, e acabo me sentando em um
banco. Não sei explicar de onde vem esse mal-estar. Passo as mãos por meu
rosto e em seguida encaro o nada... De repente, o nada se torna meu tudo.
Abro um sorriso ao vê-la tão livre e solta, sorrindo animada para algo, com
uma casquinha de sorvete em mãos.
Levanto-me no mesmo instante e penso em ir até Lola, porém, no
segundo passo, meu corpo trava por completo. Um homem o qual não
conheço enlaça sua cintura, fazendo-a rir ainda mais, e a vejo olhá-lo com
carinho e até mesmo... amor. Sinto-me quebrar nesse instante.
A minha frente está a resposta que tanto quero a respeito de nós.
Finalmente entendo... “Nós” nunca existiu. A declaração de Lola com
certeza se deveu ao fato de me confundir com o cara, quem sabe. Eles então
se abraçam, e sinto todo meu corpo ser movido pela adrenalina.
Em meio segundo estou ao lado deles, e a puxo levemente para me
encarar. Seus olhos se arregalam, e vejo que fica perdida entre me olhar, e
olhar para ele. Nem perco tempo respirando fundo, e apenas ajo de impulso.
— É por ele? — pergunto, e as palavras saem amargas de minha
boca. — É por isso que tem brincado tanto comigo? O quão engraçado tem
sido rir pelas minhas costas?
— Pedro...
— Ei, cara! Vamos nos acalmar e...
— Chega, Lola! — solto seu braço e seguro as lágrimas que querem
descer. — Vou fazer o que tanto me pediu.
— Pedro. — sua voz sai fraca e ela segura minha mão.
Nossos olhos se encontram e nunca me senti tão humilhado como
nesse instante.
— O que quer? — solto-me dela, e me viro de costas. — Não sei o
que queria, mas sei de algo que conseguiu. — viro-me apenas para encará-
la sobre meus ombros. — Você quebrou a porra do meu coração!
Finalmente saio dali, a passos largos até meu carro. Não olho para
trás, sentindo-me o maior idiota do século, isso para não dizer, trouxa.
Assim que entro em meu carro, tento segurar a raiva e dor que se acumulam
em meu ser. Quando finalmente estou no meu apartamento, olho ao redor, e
soco a primeira coisa que encontro – a parede. Meus dedos sangram, a dor
se instaura no local, mas não me incomodo. Vou até o pequeno barzinho e
pego dali um uísque, o primeiro gole desce queimando minha garganta, mas
não me importo.
Sou um idiota por beber para esquecer um amor não correspondido,
e ainda mais, um amor que brincou comigo. Mas que se dane qualquer tipo
de razão! Beber é a única forma de esquecer Paloma Gerard e meus
sentimentos por ela, nem que fosse por alguns segundos. Pois uma certeza
permanece, eu ainda a amo, apesar de tudo.
Capítulo 17
Lola
Lola
Karina
Lola
Pedro
Lola
— Não precisam de uma casa, podem muito bem ficar aqui comigo!
— digo, mais uma vez, encarando meu melhor amigo.
André toma um pouco de café, encostado contra a geladeira. Minha
irmã nunca foi de acordar cedo, e com a gravidez, André disse que o sono
dela triplicou, ou seja, continua apagada na cama, e deve sair de lá por volta
do meio-dia. Minha irmã só assumiria seu novo cargo numa galeria em
algumas semanas, e André tinha flexibilidade entre o escritório de
advocacia novo e trabalhar em casa.
— Não é tão simples, pequena. — dá de ombros.
— É sim! — bufo, pegando minha bolsa sobre o balcão. — Esse
apartamento é enorme, Dé!
— Lola...
— Vou deixar que pensem sobre, ok? — digo, indo até ele e dando
um leve beijo em seu rosto. — Vejo vocês mais tarde.
— Sim, senhora! — pisca sorrindo.
Escuto o interfone tocar, assim que estou próxima da porta, e me
viro, vendo André atendê-lo. Ele sorri malicioso em minha direção e logo
coloca o telefone no gancho.
— O que foi? — pergunto curiosa.
— O porteiro disse que Pedro Soares está aí embaixo, te
esperando... — deixa a frase no ar.
— Mas nós não combinamos de nos ver antes do trabalho.
— Talvez ele queira te surpreender. — dá de ombros. — Vai logo,
mulher!
— Ok. — sorrio.
Saio de casa e assim que entro no elevador, começo a ponderar se
em algum momento combinei de me encontrar com Pedro a frente de meu
prédio. Tudo bem que meu apartamento fica a poucas quadras do
restaurante, mas sei que o dele fica no mínimo há uns quinze minutos de
carro, isso em um dia com o trânsito tranquilo, pelo que me contou.
Assim que chego a saída do prédio, ando um pouco cautelosa,
procurando-o ali na frente. Cumprimento meu porteiro, que sorri de forma
cordial como sempre, e logo abre os portões. Olho para o lado esquerdo e
não vejo nada, pegando meu celular no mesmo instante. Porém, quando
viro meu olhar para o outro lado, a imagem que tenho faz meu coração
acelerar.
Pedro Soares com seu sorriso sedutor está encostado próximo de
uma árvore, e logo vem em minha direção. O momento parece passar em
câmera lenta, quando noto que ele traz um buquê de rosas vermelhas nas
mãos, e a cada passo, sinto meu corpo implorar pelo seu.
Ele então fica a minha frente, olhando-me profundamente, e antes
que possa dizer algo, seus lábios estão nos meus. Um leve selinho, mas que
faz o dia realmente começar a ser bom, e relembrar o porquê amo tanto esse
homem. Estar perto dele é como encontrar uma paz que nunca imaginei ser
capaz de desfrutar. Pedro com toda certeza é o amor que minha nona tanto
falou, o amor de várias vidas, que só com um olhar, reconhece-se.
Me afasto o máximo para poder tocar seu lindo rosto, e ele dá um
beijo em minha mão. Sorrio apaixonada, não sabendo como agradecer por
toda felicidade que me atinge.
— Oi, boneca. — diz carinhoso, e me oferece as flores. — Bom dia.
— Bom dia.
Pego as rosas com cuidado e toco com carinho, inalando o cheiro,
que logo percebo é o seu perfume.
— Bom, minha mãe disse que o melhor cheiro em rosas é do
homem que as manda. — conta, com um sorrisinho de lado.
Por um segundo me questiono se sua mãe já sabe sobre nós, e fico
um tanto apavorada.
— Ei, dona Clarissa sabe de você há muito tempo. — arregalo os
olhos, e ele enlaça minha cintura. — Mamãe é minha confidente.
— Têm uma relação linda pelo que me conta. — assente, e toca meu
rosto. — Eu amei as flores, obrigada! — dou-lhe um leve beijo.
— Bom, resolvi pegar minha garota para irmos ao nosso restaurante.
— diz um pouco sem graça. — Exagerei?
— Em aparecer de surpresa com rosas, e ainda por cima me chamar
de “sua garota”? — nego com a cabeça. — Nenhum exagero, eu amei! —
ele sorri amplamente. — Mas seu olhar me acusa que tem algo mais para
me dizer. — digo, notando que parece se conter.
— Bom... — respira fundo. — Isso só mais tarde.
— Pedro. — lança-me um sorriso de lado e dou-lhe um tapa no
peito. — Me fala.
— Mais tarde, boneca. — afasta-se, entrelaçando nossos dedos, e
sorrio pelo gesto. — Agora vamos para o trabalho.
— Mandão. — reviro os olhos, andando ao seu lado.
— Nunca imaginei que fosse curiosa. — sorri, tocando meu rosto.
— Tem até um bico nesse rosto, Lola.
— Eu sou virginiana, gosto de ter controle sobre tudo e saber tudo o
que acontece. — confesso, como se fosse uma bela desculpa, e Pedro
apenas sorri.
Quando finalmente chegamos ao restaurante, penso a respeito da
forma que todos nos encararão. Acho que ninguém desconfiava sobre nós
ou até mesmo pensou que seus chefes poderiam ficar juntos. Porém, não me
afasto de Pedro, sentindo-me completa por tê-lo ao meu lado, e quando
passamos pela recepção do restaurante, e encontramos alguns funcionários
pelo caminho, noto sorrisos em vários lugares.
Todos parecem animados ao notar nossos dedos entrelaçados, e
quando vejo Luís, um sorriso enorme se abre em seu rosto.
— Finalmente, chefe! — pisca pra mim. — Quer dizer, chefes.
Olho em direção a Pedro, que parece mais do que confortável em
sua própria pele.
— Finalmente consegui conquistar a minha boneca. — diz em alto e
bom som, fazendo-me corar diante de todos.
Subimos as escadas para nossos escritórios e antes que possa abrir
minha porta, Pedro praticamente me arrasta até a sua sala. Após trancar,
apenas sinto o buquê ser tirado de minhas mãos e no momento seguinte
estou contra a porta de sua sala sendo beijada da forma mais desejosa
possível. Correspondo o beijo com fervor, segurando com força contra seu
corpo, tendo a certeza de que nunca terei o suficiente desse homem.
Aos poucos o beijo vai se acalmando, e os lábios de Pedro migram
para meu pescoço, dando leve mordidas.
— Pedro... — tento raciocinar, mas fica difícil.
— Senti sua falta, boneca. — olha-me com desejo e dou-lhe um leve
selinho.
— Também.
Logo ele me solta de forma que posso ficar de pé sozinha, porém
não tira as mãos de minha cintura.
— Desculpe por isso, mas eu já não conseguia me conter. —
confessa, um pouco envergonhado. — Nunca agi dessa forma antes, e
pareço um desesperado por você.
Sorrio de sua confissão e sei exatamente como se sente. Uma
atração como a nossa é forte demais para ser evitada após todos os
tormentos que passamos. Mas o que toca meu coração é saber que somos
muito além disso. Por um segundo a pergunta do que realmente somos
passa por minha mente, porém a deixo de lado. Nunca fui adepta a rótulos,
e com toda certeza, não o seria agora.
— Vai ser difícil trabalhar sabendo que está tão perto. — toca meu
rosto com carinho. — Me pergunto por que perdemos tanto tempo.
— Porque o amor não é fácil. — mordo o lábio inferior, sabendo
que minha alma romântica está solta. Pedro me olha com tanto carinho que
acabo por continuar. — Amar alguém nunca é simples, e ainda mais, duas
pessoas tão confusas como nós. — ele sorri assim como eu.
Estar nos seus braços é como finalmente ter meu lar.
Lola
Lola
— Uau!
Minha irmã bate palmas e solta um gritinho ao me ver, e faço uma
pose na porta do closet. Pisco para ela, que gargalha e parece suspirar.
— Você tá linda!
Sorrio em sua direção, andando até a penteadeira, e olhando para as
diversas maquiagens que tinha reposto há pouco tempo. Olho para meu
reflexo no espelho e não me sinto mal com isso, ainda mais depois de ter
enfrentado o meu medo mais interno – minha própria mãe.
Depois de chorar no colo de Pedro e lhe contar o que tinha
acontecido, ele sugeriu para apenas ficarmos em casa juntos, mas jamais
abriria mão do nosso encontro, ainda mais por apenas ter sido um momento
de desabafo. Foi difícil convencê-lo, mas passaria em minha casa por volta
das 21h30, e me levaria a um lugar surpresa.
Escolhi um vestido branco curto que delineia meu corpo, alças finas
chamando atenção para a fina gargantilha, e aos outros acessórios. Começo
a me maquiar e de relance escuto o que minha irmã diz a respeito de
Rachel. Contar a ela sobre o que aconteceu foi muito fácil, Lua tem um
coração que mal cabe em seu peito. Claro que não entrei em detalhes da
vida de Rachel, minha irmã merece saber disso diretamente por ela. Mas só
de saber que seu neném terá avós presentes, Lua chorou emocionada.
Depois de finalizar a maquiagem com um batom rosa queimado, me
viro em direção a Lua que parece perdida em seu próprio mundo, deitada
em minha cama.
— O que acha? — pergunto um pouco receosa.
Minha irmã me encara com lágrimas nos olhos e fico um pouco
perdida.
— O que foi, Lua? — levanto-me da cadeira e vou até ela, parando
a sua frente. — Está sentindo algo?
— Nostalgia conta? — uma lágrima desce por seu rosto. — Olhar
você tão de perto, apenas me lembra o quanto sempre me inspirei em você.
— arregalo os olhos diante de sua confissão. — Sempre foi a mais forte de
nós, Lola. Sempre buscando seus sonhos, suas conquistas, e te ver assim,
tão feliz, me faz finalmente poder aceitar minha própria felicidade.
— Ei! — toco seu rosto. — Que besteira é essa?
— Sempre torci pela sua felicidade, da mesma forma que tanto você
e nona lutaram pela minha, quando sequer tive escolha. — sorri com
carinho. — Eu te amo muito, irmã.
— Eu também, baixinha. — puxo-a para um abraço, e acaricio sua
barriga. — E o meu afilhado ou afilhada. — ambas sorrimos.
— Dá pra acreditar que vou ser mãe?
— Você vai ser a melhor. — sou sincera. — E prometo ser a melhor
madrinha do mundo.
— Você já é a melhor irmã, não será muito difícil.
Abraço-a novamente, e finalmente estou completa. As coisas foram
complicadas para todos, mas realmente, nunca imaginei que Lua pensasse
em mim dessa forma. Nunca me vi como patamar para alguém se inspirar,
muito menos que fosse uma boa irmã. Só posso agradecer por tê-la em
minha vida.
Passo pelos portões de meu prédio e então procuro por Pedro, que já
tinha tocado meu interfone. Encontro-o novamente perto da mesma árvore e
ele vem em minha direção com seu sorriso sedutor. Logo estou em seus
braços, e ele me analisa minuciosamente.
— Linda. — toco seu rosto com carinho, e noto um brilho diferente
em seu olhar. — O que foi, boneca?
— Parece ansioso. — ele sorri de lado, misterioso. — Pedro!
— Vamos? — corta-me e bufo baixinho. — Curiosa, minha boneca.
Sem conseguir mais resistir, sentindo a barba por fazer em meus
dedos, olhando-o perfeitamente vestido em uma camisa azul clara, com as
mangas arregaçadas até os cotovelos, moldando perfeitamente seu corpo,
puxo-a para mim, e o beijo com toda vontade que sinto.
Pedro me corresponde com fervor, e por um segundo me esqueço
que estou no meio da calçada, onde qualquer um pode nos ver. Com certeza
precisamos aprender a lidar com essa atração.
— Me ajuda, boneca. — pede, praticamente implorando. — Não
sabe o que faz comigo.
— O mesmo que faz comigo? — implico, e noto seu olhar nublado
pelo desejo. — Mas sei que é um cavalheiro. — provoco.
— Sou tudo o que quiser, milady. — sorrio, no mesmo instante que
ele se curva e deixa um leve beijo em minha mão direita.
Entramos em seu carro e logo sua mão está sobre minha coxa
esquerda, no aperto doloroso que me faz lembrar de nossa primeira noite
juntos. Pedro dirige devagar, e antes que uma música sequer comece a
tocar, vejo-o fazer uma curva muito conhecida por mim, e parando no nosso
restaurante.
Franzo o cenho sem entender, mas antes que possa perguntar algo,
Pedro sai do carro, e está ao lado da minha porta, abrindo-a.
— Milady? — brinca, e tiro meu cinto, dando-lhe minha mão.
Sentindo novamente a brisa do Rio de Janeiro em meu corpo, olho-o
um pouco perdida. Ainda mais por reparar que as luzes do Chandel estão
completamente diferentes do habitual.
— O que está acontecendo? — arrisco perguntar.
Pedro praticamente me ignora, enlaçando minha cintura, e levando-
me em direção a entrada do restaurante. Olho-o completamente perdida e
antes que possa dizer algo, adentramos o restaurante.
Minha boca se abre, e nenhum som sai. Noto que há apenas uma
mesa no enorme salão, e tudo está com o clima mais romântico possível.
Velas espalhadas, uma meia luz vermelha, deixando um ambiente ainda
mais aconchegante, e para brindar em cheio, uma foto minha e de Pedro
está colocada sobre o balcão principal, num porta-retratos delicado.
Uma foto antiga, de quanto reabrimos o restaurante há quatro anos.
Passo a mão com carinho por nossas feições, e só assim noto o olhar
apaixonado de ambos pelo nosso negócio.
— Nós dois nos conhecemos aqui. — ouço a voz de Pedro atrás de
mim. — Me apaixonei por você aqui, e... — suspira fundo, abraçando-me
por trás. — Só quero poder continuar nossa história junto ao nosso sonho.
Nunca pensei que o Chandel me traria algo além do amor por esse lugar.
Mas me trouxe você... — viro meu olhar para o seu. — Trouxe nós.
— Pedro.
Ele então se afasta um pouco, e antes que possa dizer algo, ele se
ajoelha, tirando uma caixinha de veludo do seu bolso traseiro.
— Meu Deus! — levo as mãos a boca, completamente
embasbacada.
— Pensei em fazer isso depois do jantar. — começa, claramente
nervoso. — Mas eu não consigo mais esconder. Sou um homem paciente
em muitos aspectos da vida, boneca. Sei que pode parecer cedo, para
muitos, claramente é. Mas eu te amo, você me ama... Não quero passar
mais tempo longe do seu toque, do seu ser.
Ele então abre a caixinha, mostrando uma linda aliança prata,
delicada, com uma rosa ao redor da pedra de cor azul claro.
— Tenho dois pedidos a fazer, boneca. — olho-o tentando segurar a
emoção. — Um pode parecer óbvio. — sorri em direção a aliança. — O
outro, é sobre não conseguir mais ficar longe.
— Pedro...
— Os dias com você no meu apartamento foram os melhores em
tempos. — confessa. — Te ter lá, na minha cama... É o que quero todos os
dias.
Ele então fica em silêncio, claramente buscando as palavras certas.
— Pode dizer, amor. — digo, sorrindo pra ele.
— Aceita namorar comigo, boneca? — sorrio em meio as lágrimas e
assinto várias vezes.
Pedro se levanta, beija-me com fervor, ao mesmo tempo que coloca
a bela aliança em meu dedo anelar direito.
— Continua. — peço, tocando seu rosto, já tendo a noção sobre seu
segundo pedido.
— Não se assusta, por favor. — sorrio, beijando seu rosto. — Mora
comigo?
Seguro com as duas mãos seu rosto, incrédula diante dele. Não por
suas propostas, pois assim que começou a falar, Pedro transpareceu tudo o
que queria. Ele é assim, aberto com seus sentimentos. Mas estou perplexa
por encontrar alguém disposto a ter tudo comigo. Ainda mais, sem medo de
dar um passo adiante.
— Tem certeza? — pergunto, receosa por ele ter medo de pular.
Eu já estou em queda-livre por ele há muito tempo.
— O que mais quero é acordar e poder ver a confusão loira de seu
cabelo ao meu lado. Poder ter seu corpo agarrado ao meu. — suspira,
tocando meu rosto. — Eu te amo muito, boneca.
— Eu também. — sorrio, e ele limpa algumas lágrimas que descem
por meu rosto. — E eu aceito.
— Sério? — ele arregala os olhos como se não acreditasse.
— Com você, eu quero tudo. — abraço-o com carinho.
Ele então me puxa para cima, fazendo-me enlaçar sua cintura, e
sorrio na curva do seu pescoço.
— Apenas com você, boneca.
Agarro-me a ele, e uno nossos lábios. Uma noite perfeita, a entrega
ao homem que amo. É a realidade, ambos não queremos esperar, sem medo
de que não dê certo, que seja muito cedo. O amor as vezes apresenta
urgência, após tanto tempo de calmaria. Com ele, não tenho que pensar
duas vezes em me lançar ao desconhecido. O desconhecido mais importante
e bonito de toda minha vida.
Capítulo 24
Semanas depois...
Lola
Olho para atendente da farmácia e tento respirar fundo, tentando
controlar todo o nervoso que toma conta de meu ser. Ela me dá a cestinha
com os três testes dentro e sigo rapidamente para o caixa. Assim que pago,
pego a sacola e praticamente corro até meu carro. Respiro fundo ao encarar
a sacola no banco do carona, tentando entender como tudo se sucedeu até
aqui.
Uma única vez me vem em mente... Quando eu e Pedro nos
acertamos. Não nos lembramos de nada naquele instante além de nossos
próprios corpos. Levo a mão a cabeça sem saber direito o que pensar, mas
tendo a certeza que preciso fazer os testes de gravidez. Suspiro fundo, no
mesmo instante que meu celular toca. Pego-o meio desesperada e olho para
o nome no visor – Amor.
Passo as mãos por meu rosto, tentando me controlar. Ainda sequer
sei qual será o resultado, tudo o que me fez desconfiar, é minha
menstruação ter atrasado, sendo que nunca aconteceu.
Calma, Lola!
Pode ser apenas por conta das mudanças na sua vida!
O celular continua a tocar e fico sem coragem de atender, pois tudo
o que quero fazer é perguntar a Pedro a respeito de filhos. Deus do céu!
Deixo o celular de lado e resolvo me acalmar. Coloco o cinto de segurança
e no instante que o encaixo, encaro minha barriga plana. Imaginar que ela
pode estar arredondada e maior daqui alguns meses, faz um desespero
completo tomar conta de meu corpo.
— Respira, Lola! — digo repetidas vezes, enquanto dirijo até o
apartamento de Pedro, ou melhor, nosso apartamento.
As últimas semanas tinham passado tão rápido, tão animadas, tão
completas... Nada ao redor me chamou a atenção, a não ser olhar para o
homem dormindo serenamente ao meu lado todos os dias. Olhar Pedro em
seu sono tornou-se um vício, o qual pratico todas as manhãs, sem conseguir
acreditar que chegamos a esse patamar.
Compartilhando muito mais que um sentimento, uma vida, uma
casa... E agora? Penso a respeito de ser mãe e todo o medo do mundo se
instala em meu ser. Toda a figura de nona me vem mente, como aquela que
tenho para seguir. Mas não sou ela, muito menos Rachel, o que serei? Meu
maior medo é decepcionar meu filho ou filha.
Meu peito se aperta pois já estou praticamente considerando a
gravidez sem ter prova alguma. Pirando diante de algo que não é real... ao
menos, ainda não. Estaciono o carro na vaga, e vou direto para o elevador.
Com a sacola em mãos, digito rapidamente uma mensagem para Pedro,
alegando que estava dirigindo. O celular toca cerca de um minuto depois de
minha mensagem ser enviada, e resolvo atendê-lo, tentando ao máximo não
falar demais.
— Oi, boneca.
— Oi amor. — suspiro fundo, tentando não pirar diante dos testes de
gravidez que refletem no espelho do elevador.
— Tem certeza que não precisa de ajuda em casa?
Sorrio, finalmente me acalmando um pouco. É tão gostoso ouvi-lo
me tratar dessa forma, preocupado e ao mesmo tempo, zeloso. Pedro é
realmente um homem de mil faces, e cada descoberta, o amo ainda mais.
— Tenho. — o elevador para e eu saio. — Ainda mais que minha
irmã vem aqui antes, pra dar uma ideia melhor da disposição na mesa.
— Sabe que se...
— Pedro, está tudo bem. — corto-o rapidamente. — O dia no
restaurante está corrido, sei que precisa ter atenção na cozinha. Consigo dar
conta de arrumar o apartamento, fica tranquilo.
— Ok, eu...
Escuto um grito ao fundo: Chefe!
— Vai lá, amor! — interrompo-o. — Eu te amo, até mais tarde.
— Eu te amo, boneca.
Desfaço a ligação antes que ele continue, já que Pedro sempre pensa
que posso desmanchar a cada segundo. Como se quisesse me proteger de
tudo ao redor, mesmo sabendo que o que mais me fere sou eu mesma.
Deixo a bolsa sobre o sofá, e pego a sacola em mãos,
completamente perdida. Escuto o barulho da mensagem, e vejo ser André,
falando que Lua está praticamente apagada na cama e que duvida que
conseguirá levantar dali tão cedo. Sorrio, respondendo rapidamente. Os dois
por fim aceitaram ficar com meu apartamento, que na realidade, nona
deixou para mim e Lua.
Olho para sacola em minha mão e acabo deixando-a do lado de uma
almofada, sem conseguir pensar se faço ou não os testes antes do jantar. A
ansiedade me corrói, entretanto, não sei como lidar com tudo, além de meus
pais virem, e conhecer os pais de Pedro. Eu sou um desastre, completo.
Fecho os olhos, me imaginando com uma mini versão minha e de
Pedro. Tudo se refazendo em minha mente, desde o primeiro momento que
o vi, até onde viemos parar. Somos rápidos em relação a muitos casais,
porém, ainda fico perdida em meio a intensidade de nossos sentimentos. É
algo que não conseguimos controlar ou fingir.
A campainha toca e vou até a porta sem muita vontade, já
imaginando ser Gael. Tínhamos nos tornado amigos, após Pedro me contar
quais eram mesmo as intenções dele, e ainda mais, ele mesmo ter pedido
desculpas. Torço profundamente para que ele se acerte com a mulher que
ama. Porém, ele me lê muito bem e com certeza vai perceber que tem algo
errado.
Abro a porta com um sorriso forçado e quase caio para trás para
quem vejo a minha frente. Clarissa Soares tem um sorriso enorme no rosto,
e antes que possa dizer algo, ela me puxa para seus braços. Sem saber como
ou por que, faço o mesmo, sentindo que de alguma forma, a mesma mulher
que temo tanto desapontar, por ser a mãe do homem que amo, abraça-me de
forma como uma mãe realmente faz.
Quando nos afastamos, ela me encara completamente carinhosa.
— Oi, querida. — sorri mais amplo se possível. — Sou Clarissa,
mas isso já deve saber.
Sorrio sem graça, dando-lhe espaço para entrar no apartamento.
— Sou Paloma Gerrard, mas todo mundo me chama de Lola. — ela
passa por mim, e sorri.
— Finalmente vejo cores nesse apartamento. — diz animada. —
Gosto de você desde que Pedro me falou que estava apaixonado. Aquele
menino é muito especial para não escolher alguém como você.
Sinto meu rosto queimar no mesmo instante.
— Calma, querida. Vim mais cedo pra poder te conhecer antes.
Pedro me falou por cima que tem medo de mim. — brinca e arregalo os
olhos. — Ele exagera um pouco, tenho certeza. Mas que tal conversarmos?
E assim, te ajudo a arrumar tudo.
— Eu fico muito feliz, ah... — travo, pois não sei ao certo como
chamá-la.
— Clarissa. — pisca em minha direção. — Ou pode me chamar de
sogra, sem receio.
— Desculpe por fugir todo esse tempo. — digo com pesar. —
Fiquei receosa de que não me aprovasse.
— Aprovar o que? — revira os olhos. — Você faz meu filho feliz,
isso basta.
— Desculpe mesmo assim. — digo mais à vontade.
— Bom, por onde podemos começar? — olha ao redor, e parece se
lembrar de algo. — Ah, um minuto, lembrei de algo.
Ela então mexe na almofada no sofá e arregalo os olhos. Antes que
possa impedi-la, a sacola cai no chão, esparramando os testes. Olho-a
completamente perdida e Clarissa leva as mãos a boca, claramente
envergonhada.
— Eu queria pegar o controle da tv. — conta rapidamente. — Pedro
sempre o deixa perto dessa almofada e... Desculpe, querida!
— Tudo bem. — digo meio gaguejando, e com medo de sua reação.
— Quer falar a respeito?
Fico chocada com sua reação e tento encontrar as palavras corretas.
— Estou com... medo. — respiro fundo, confessando. — Nunca me
imaginei como mãe, e... Nem sei o que imaginar.
— Vem cá. — chama-me para perto, levando-me até o sofá.
Sento-me ao seu lado e não consigo encará-la.
— Quando descobri que estava grávida, meu namorado me deixou.
— diz com descaso. — Mas sabe qual foi meu maior medo? — nego com a
cabeça, finalmente levantando meu olhar. — Não ser uma mãe boa o
suficiente, para o que descobri mais tarde, serem dois.
— Mas a senhora é incrível. — confesso, através de tudo o que
Pedro me contou.
— Bom, mas o medo sempre está aqui. — aponta para meu peito.
— Ser mãe é algo que muda nossas vidas, querida. Tenho certeza que se
aquele teste der positivo, você vai se empenhar e dar tudo pelo sorriso do
seu pequeno ou pequena. Além de que meu filho vai surtar com a notícia.
— Sequer pensei na reação dele. — digo envergonhada. — Só
pensei que não quero ser uma mãe ruim.
— Pelo que Pedro me contou sobre você, por ver o desespero no seu
olhar agora, sei que vai tirar de letra. — sorri carinhosa. — Serão muitas
noites sem dormir, mas querida, vale cada hora de sono perdida.
— Acha que devia fazer agora? — pergunto perdida.
— O que você acha?
— Não faço ideia. — levo as mãos à cabeça, completamente fora de
minha mente. — Parece um sonho estranho.
— Pode ser a realidade mais linda da sua vida.
Olho-a de relance e acabo decidindo. Pego os testes caídos no chão
e olho para minha sogra que sorri, claramente emocionada.
— Vou fazer. — digo decidida.
— Estarei bem aqui.
Saio da sala rapidamente e vou em direção ao banheiro do quarto.
Faço os três testes e um minuto nunca demorou tanto para passar em toda
minha vida.
Respiro fundo após o celular apitar e olho para os testes. Uma
divisão clara se abre dentro de mim, ao ver as duas listrinhas em cada teste.
É real, estou grávida. Lágrimas banham meu rosto e não consigo me
controlar. Saio do banheiro praticamente devastada, e rumo em direção a
sala. Clarissa levanta no mesmo instante que me vê, e sem precisar dizer
algo, ela me abraça, chorando junto a mim. Nossa vida mudou, por
completo.
Pedro
Meu apartamento com toda certeza tinha mudado em vários
aspectos. Não era mais tão cinza, nem preto, muito menos escuro. Lola,
desde que se mudou há algumas semanas, trouxe uma luz que sequer
imaginei dentro do meu próprio lar, porém, faz-me ainda mais feliz aqui
dentro.
É tarde da noite, mais certo um sábado. Todas as pessoas
importantes para nós estão presentes. Lola conversou comigo a respeito de
marcar um encontro com seus pais, mas que pudesse não ser algo
intimidador. Algo que os acolhesse em sua vida e de sua irmã. A ideia de
fazer isso trazendo meus pais fez com que Lola negasse a princípio, porém,
tinha a boa desculpa de poder finalmente apresentá-la a minha mãe.
Lola corre de Clarissa Soares como o diabo foge da cruz. Mamãe
percebeu isso de início, quando contei que moraria junto com Lola, e a todo
custo quis nos visitar. Porém, Lola pareceu tão reticente, que acabamos
adiando. Não sei o porquê, mas Lola parece ter taquicardia só de pensar em
conhecer minha mãe. Já lhe falei que sua preocupação é desnecessária, e
que minha mãe sem ao menos conversar com ela a adora, por fazer o filho
dela feliz. Nessa noite, Lola não tem como fugir.
— Ei, cunhado.
Sorrio em direção a Lua, após abrir a porta, e a mesma beija meu
rosto. Ela é a cópia de Lola, mostrando apenas diferença na altura e agora,
na barriga arredondada de grávida. Por um segundo, enquanto cumprimento
André, sinto-me viajar e imaginar Lola dessa forma. Com toda certeza, é
um sonho o qual quero compartilhar com minha boneca.
— Cara, você tá muito ferrado.
André diz, como se lesse meus pensamentos. Com certeza não fui
muito sútil.
— Cedo demais para sonhar em ser pai? — sussurro e ele dá de
ombros.
— Lola nunca falou a respeito, mas com você ela parece tão feliz
que duvido não querer filhos num futuro próximo.
Sorrio já mais animado, se o melhor amigo dela acha isso, quem sou
eu para discordar?
Fecho a porta atrás de mim, e acomodo-os no apartamento. Vejo
meu padrasto tomando vinho na cozinha, conversando animado com
Christopher, que como sempre, está com o uísque, sua bebida favorita.
Sophie, a melhor amiga de Lola, que me fez no mínimo cem ameaças
quando ajudou Lola a se mudar, está abraçado ao namorado, Daniel
Lourenzinni. Todos bem entrosados, conversando algo de viagens.
Apresento-lhes Lua e André, e logo eles embarcam numa conversa. Isso
para mim é mais do que importante, ter a família de ambos os lados se
dando bem.
— Pai. — chamo Fábio, que me olha rapidamente. — Onde mamãe
se meteu?
— Ela saiu atrás de Lola há alguns minutos. — sorri. — Conhece
bem sua mãe, não vai parar até conseguir fazer daquela menina uma filha
pra ela.
— Mamãe não tem jeito. — sorrio, e vou em direção aos quartos,
onde Lola tinha dito que ia.
A campainha soa mais uma vez e mudo meu caminho, indo em
direção a porta. Abro-a rapidamente, e me espanto um pouco ao ver Karina
com os dedos entrelaçados aos de Gael. Olho meu melhor amigo com
curiosidade, e ele dá de ombros.
— Boa noite, gente. — Karina parece um pouco sem jeito, então
primeiro a cumprimento. — Continua linda, Ka.
Ela sorri sem graça, corando lindamente, e logo Gael a tira de meus
braços.
— Espaço, por favor. — Gael diz, claramente enciumado, e
gargalho.
— Entra logo, babaca. — sorrio, e Karina o encara um tanto
espantada. — Fiquem à vontade.
Assim que vou fechar a porta, levanto meu olhar e me surpreendo
ao ver duas pessoas ali, paradas, como se não soubessem como
simplesmente falar “boa noite”. Reconheço-os após alguns segundos, e
sorrio em sua direção. Ambos parecem um pouco mais calmos, e em
seguida se aproximam da porta.
— Boa noite, senhor e senhora Gerard. — estendo minha mão para
o pai de Lola, que logo a aperta, e em seguida para sua mãe. — Sou Pedro
Soares, namorado da filha de vocês. É um prazer conhecê-los.
Um pouco acanhados os dois me saúdam, e logo os levo para dentro
do apartamento. Apresento-lhes a todos ali, e me surpreendo ao ver Lua
abraçar tanto a mãe quanto o pai. Ela parece claramente emocionada por tê-
los por perto.
— Eu senti tanta saudade. — ouço-a dizer baixinho, nos braços da
mãe.
Sorrio em direção a cena, e vejo o quanto Lola merece ver, e quem
sabe, até mesmo participar.
— Fiquem à vontade, eu já volto!
Saio da cozinha em direção ao nosso quarto, e logo noto a porta
entreaberta. A cena que me espera, deixa-me espantado, mas ao mesmo
tempo, muito feliz. A mulher que amo está abraçada a minha mãe. Sorrio, e
penso em sair dali, e esperar que retornem para a sala, mas volto em minha
vontade, quando noto lágrimas no rosto de minha boneca.
Bato levemente na porta, e o olhar de minha mãe é o primeiro a me
encontrar.
— O que houve? — pergunto com cautela, e mamãe sorri
enigmática.
— Segredo de mulher. — mamãe se adianta.
Vou até Lola e toco seu rosto com carinho, dando um leve beijo em
sua testa. Logo noto um sorriso contido em seu rosto, e fico ainda mais
curioso.
— Sério que vão me esconder algo? — Lola assente. — Boneca!
— Já quase me matou de curiosidade várias vezes, amor. —
provoca, e me calo, sabendo que é verdade. — Prometo que depois falamos
sobre, ok?
— Ok. — concordo sem muita vontade.
— Não seja um sapo, Pedro. — mamãe puxa minha orelha, fazendo-
me rir. — Te criei pra ser um príncipe, garoto.
— Eu sou. — sorrio para mamãe, beijando seu rosto.
— Ok, vou deixar se iludir.
Lola gargalha de minha mãe e faço-me de ofendido.
— Isso é complô?
— É a realidade, amor. — dá-me um leve selinho. — Vamos para a
sala, tudo bem?
Sem me dar chance de respostas, ela sai a minha frente, e sigo ao
lado de minha mãe, que sorri amplamente.
— Quem não te conhece que te compre, dona Clarissa. — olha-me,
fazendo-se de confusa. — “Segredo de mulher”.
— Me respeita, garoto.
Ela então dá passos largos, e fico completamente chocado. Elas
estão escondendo algo, e me retorço por dentro pela curiosidade. Assim que
chego a sala, a cena que me aguarda, faz-me esquecer de tudo por um
momento. Lola está abraçada aos pais, junto a Lua. Com certeza, essa noite
está seguindo para o melhor caminho.
“Eu amo você. Eu sou quem eu sou por sua causa. Você é toda a razão, toda a esperança e
todos os sonhos que eu já tive na vida, e aconteça o que acontecer no futuro, cada dia que estamos
juntos é o melhor dia da minha vida. Serei sempre sua. E você, meu querido, será sempre meu.”[6]
TRILOGIA SOARES
O homem que não amei – Livro 1: aqui
A mulher que amei – Livro 2: aqui
A quem amei para sempre – Livro 3: aqui
Eu te amei – Livro bônus: aqui
CONTOS
De encontro ao amor: aqui
Me dê seu amor: aqui
[1]
Trecho do livro Querido John escrito por Nicholas Sparks.
[2]
Adeus em francês.
[3]
Canção intitulada Can't Take My Eyes Off You do artista Frankie Valli, 1967. Você é boa
demais para ser verdade/Não consigo tirar meus olhos de você/Você é como tocar o céu/Quero tanto
te abraçar/Enfim, o amor verdadeiro chegou/E agradeço a Deus por estar vivo/Você é boa demais
para ser verdade/Não consigo tirar meus olhos de você/Perdoe a maneira como te olho/Não há nada
que se compare/Ver você me enfraquece/Não restam palavras para falar/Então se você sente como
me sinto/Por favor, deixe-me saber que isso é real/Você é boa demais para ser verdade/Não consigo
tirar os meu olhos de você.
[4]
Trecho do livro A última música escrito por Nicholas Sparks.
[5]
Trecho da canção Índios, da banda brasileira Legião Urbana.
[6]
Trecho do livro Diário de uma paixão escrito por Nicholas Sparks.
Table of Contents
Sumário
Agradecimentos
Sinopse
Playlist
Prólogo
Parte I
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Parte II
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Bônus
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo
Nota da autora
Contatos da autora
Outras obras