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Copyright© 2019 by Jussara Leal

Victória Brandão
1ª Edição
Capa: E.S. Design
Diagramação: Thainá Brandão - Casillas Editorial
Revisão: Bianca Bonoto
Modelos: Marco Farah e Pollyanna M. Costa
Fotográfo: Gabriel - @ga.oficial
Editora: M10 Marketing Digital.
Todos os direitos reservados à Jussara Leal. Nenhuma parte desta obra pode
ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo
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conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto
Legislativo nº54, de 1995)
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• Jogada aos seus pés:
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Esta obra contém algumas situações perturbadoras, conteúdo
maduro, linguagem forte. Pode conter gatilhos para vítimas de abuso. Não
recomendado para menores de 18 anos.
Há também um mocinho que contém excesso de fofura. Sim, ele é
considerado o mais fofo de todos os fofos e pode ser que você se apaixone
perdidamente.
E Victória? Ela é apenas quente e incontrolável!

Nesta obra de ficção, as personagens e acontecimentos são ou fruto


da imaginação do autor ou são usados de modo inteiramente ficcional.
Certos locais poderão existir, mas os eventos são fictícios.
ITÁLIA, AOS DEZOITO ANOS DE IDADE
Hoje é aquele dia exaustivo, onde não estou aguentando mais nada.
Falta pouco para minha filha nascer, eu e Gi estamos lutando contra o
tempo, organizando todo o quarto de Isis. Aliás, se eu não tivesse Gi em
minha vida durante esse período, nem sei o que teria sido de mim. Talvez eu
não teria sido tão forte e não teria conseguido suportar tudo.
Quando terminamos de arrumar a última gaveta, nos deitamos no
chão e rimos.
— Bom, vou fazer um macarrão. Quero ver você conseguir ficar de
pé com esse barrigão. — Ela zomba da minha fase barriguda, mas, me
ajuda a ficar de pé. —– Pronto, senhorita.
— Vou tomar banho.
— Estarei te esperando na cozinha. — Sorrio e caminho para o meu
quarto.
Não demoro muito no banho. Quando termino, visto uma camisola
larga e confortável, e uma calcinha gestante nada bonita. Mas, e daí?
Conforto é melhor que beleza!
Me junto a Gi para jantarmos. Morar na Itália é terrível. Eu como
tantas massas, que vou explodir a qualquer momento.
— Acho que não falta mais nada. — Gi comenta enquanto
comemos.
— Também acho. — Concordo com ela, mas me falta animação. Eu
nunca pensei em ser mãe, ainda mais nessas condições. Porém, aconteceu e
aqui estou, tentando ter essa criança de maneira segura, sem correr riscos.
Ela não pode ser vítima do meu passado de forma alguma, ela é a única
lembrança que terei de Matheus, a coisa mais importante. Acho que é por
isso que nunca, em momento algum, me passou pela cabeça fazer uma
loucura. Mantê-la é o que me ajuda a seguir, porque é uma parte do garoto
mais incrível que já tive o prazer de conhecer. Sou jovem demais, eu sei,
mas seria loucura considerá-lo como o amor da minha vida? Porque eu
sinto que jamais serei capaz de amar outro alguém como o amor. Só de
pensar nisso, sinto-me enojada.
Meu psicológico está bagunçado de todas as maneiras possíveis. É
tudo tão confuso, tudo tão instável. Mal posso compreender de onde estou
tirando forças para seguir em frente. Na Verdade, eu posso. Isis. Essa garota
que eu nem conheço ainda, parece ter vindo ao mundo com o propósito de
me salvar, porque é assim que me sinto todas às vezes em que ela dá suas
cambalhotas em minha barriga: sendo salva.
— Um dia você será extremamente feliz, Vic. Precisa confiar. Tudo
vai mudar, por mais tempo que leve. — Meus olhos enchem-se de lágrimas
e Gi me abraça. — Você é tão jovenzinha, meu coração fica pequeno dentro
do peito. Não deveria enfrentar tantos acontecimentos sozinha.
— Não há opções. Se eu contar a todos, eles correrão riscos. Não
posso perdê-los, Gi.
— É, eu sei. — Ela se afasta contrariada. — É tão injusto.
— Eu aprendi da pior maneira que viver pode ser um castigo.
— Não gosto quando coloca a vida dessa maneira, mas você possui
seus motivos. Não importa, eu estarei aqui Vic.
— Graças a Deus! — Exclamo.

Como todas as noites, após lavar as louças e assistir um pouco de


TV com Gi, sigo para meu quarto. Me preparo para dormir, e caminho até o
closet. Pego meu diário, uma caneta e me acomodo em minha cama. Nele
escrevo como foi minha rotina do dia. No final de tudo, vou até as folhas
finais em busca do meu objeto de tortura diária: uma foto do pai da minha
filha. Engulo a seco, como sempre, sentindo o impacto forte em mim.
Deixo meu diário de lado e me deito observando a foto, lembrando de toda
a loucura que só esse garoto é capaz de oferecer.
Ele é tão diferente de tudo e de todos. É engraçado, carinhoso,
voraz, dramático, possui tantas características marcantes, mas, a maior delas
é o coração gigantesco. Matheus é de uma benevolência que eu vi em
poucas pessoas. E... e eu apenas não deveria pensar nisso, porque me
destroça de todas formas possíveis.
Respiro fundo, tentando espantar a dor. Guardo a foto e apago o
abajur ao lado da cama. Os pensamentos ainda estão aqui, dançando a
melodia que esmaga meu coração. Com muita dificuldade adormeço, mas,
no meio da noite acordo sentindo fisgadas tipo cólica.
Me levanto e é aí que o terror surge, quando percebo que estou
molhada e não tem absolutamente nada a ver com xixi. Um soluço escapa
de mim, porque eu já sei o que vem a seguir. E, por mais que eu tenha que
ser racional neste momento, minha mente está levando para outro caminho,
um onde Matheus está ao meu lado, juntamente com a minha família.
Com os olhos turvos de lágrimas, caminho até meu closet e pego
uma bolsa onde coloco todas as coisas que posso vir a precisar. Eu choro
porque queria a praticidade da minha mãe, choro porque queria a calma do
meu pai, choro porque queria o apoio incondicional dos meus irmãos e
avós.
Levo meu tempo arrumando tudo, e até mesmo tomo banho. As
dores começam a aumentar gradativamente e eu mal consigo vestir uma
calcinha.
— Giii!!! — Grito em alto e bom tom, até a louca irromper pela
porta em desespero.
— O que?
— Vai nascer. Você precisa pegar a bolsa que deixamos separada
para Isis. — Gi leva as duas mãos ao rosto, boquiaberta e é preciso que eu
implore para que ela tome a atitude de ir.
Em menos de uma hora estou no centro cirúrgico, sendo preparada
para uma cesariana, sozinha. Há toda a equipe médica, mas eu nunca me
senti tão sozinha em toda a minha existência. Eu olho para meu lado direito
e não vejo ninguém. Olho para o lado esquerdo e também não há qualquer
pessoa. Isso me faz começar a chorar.
— Olá, senhorita, precisa de alguém para segurar suas mãos? — O
anestesista, um senhor na faixa dos 60 anos, pergunta sorridente e eu apenas
aceno positivamente com a cabeça.
Ele segura minhas duas mãos e me dá um beijo na testa, isso não
ajuda. Ele me lembra tanto meu pai, que eu apenas sigo chorando.
— Não sei o motivo por estar sozinha, mas, fique tranquila, há
todos esses médicos, mas, principalmente, há Deus aqui com você e um
anjinho querendo vir ao mundo. — Aceno com a cabeça novamente.
Fecho meus olhos e só há Matheus.
Como ele estaria? Será que ele teria ficado feliz por uma gravidez
precoce? Será que ele estaria aqui meu lado? Por que diabos eu tenho tanta
certeza que ele estaria completamente radiante, fazendo toda a equipe
médica rir com as suas baboseiras?
Sim, ele faria tudo isso.
Será que um dia ele vai saber da existência da filha?
Será que ele vai me perdoar?
Metade dele está nascendo de mim. Isis é a nossa metade, é o que
restou de tudo que vivemos.
Eu paro de respirar quando ouço um choro e volto a viver quando a
tenho em meus braços. Por que eu choro agarrada a minha filha chamando
o nome de Matheus?
Porque metade de mim é Matheus e a outra metade é o amor: o
amor é Isis! Ela o ser humano que sempre nos manterá conectados, mesmo
distantes.
“Nós podemos construir um universo aqui
O mundo poderia desaparecer
Eu só preciso de você por perto”
Zara Larsson

O trabalho dignifica o homem. Essa expressão, tão comumente


usada, evidencia o quão relevante é o trabalho na vida pessoal e social.
Acontece que, acordar numa segunda-feira, após uma incrível semana na
ilha e tendo sua mulher nua esparramada pela cama, torna o trabalho muito
menos atrativo. Essa porra agora parece indigna!
Talvez, parte do meu mal humor não seja apenas por isso. Quem em
sã consciência marca uma reunião para as sete da manhã de uma segunda-
feira? O pai da ninfa bebê! Um dos clientes milionários e mais importantes
do escritório.
Eu retiro a minha gravata porque essa merda enche o saco e então
vejo minha garota. Puta merda! Estou chorando de duas maneiras
contemplando essa bunda perfeita.
Dou um último suspiro antes de caminhar até ela e deixar um beijo
na ondulação mais linda que já vi em minha existência. Minha
pequenininha é perfeita demais!
Feito isso, há uma princesa que eu amo acima de todas as coisas
nessa vida e ela merece uma visita matinal também.
Isis está devidamente desmaiada. Toda vez que eu olho para ela
penso que estou fodido pra caralho. Essa menina é apenas a mais linda do
mundo, não desmerecendo as demais. Mas, é a realidade. Para completar
ela tem os olhos mais azuis que eu já vi, até mais azuis do que os olhos do
meu pai. Nunca vi uma garota dessa, nunca. Eu que fiz!
E o tanto que eu amo? O peito chega a doer. Beira ao inexplicável.
Dou um beijo em sua testa e enfim tomo coragem para seguir em
frente.
Na cozinha eu encontro um bolo com cobertura de chocolate, que
não estava nessa casa ontem, juntamente com um bilhete:
"Eu sou muito perfeita, pode falar?! Acordei durante a madrugada
para fazer um bolo para meu namorado gato. Eu sou foda!
Ps: tirei uma foto da sua traseira nua magnífica. Você beira ao
absurdo de tão lindo, Matheus Albuquerque. Eu amo você tão grande, meu
gostoso."
Isso me faz sorrir amplamente. Alguém está aprendendo a fazer
gracinhas comigo.
Porra, eu vou lá acordá-la.
Não, caralho, você não vai.
Vou, merda!
Não, você não vai!
Puta que pariu, eu estou muito fodido nessa vida mesmo!
Eu decido por não acordá-la, levando em consideração que ela terá
um dia trabalhoso arrumando as coisas para levar para o nosso mais novo
lar e ainda foi capaz de acordar durante a madrugada para fazer um bolo
que parece bem apetitoso.
O que está acontecendo com a minha vida desde que ela voltou?
Eu, solteiro convicto, agora estou dando o maior passo da minha
vida. Eu quero me casar, ter nove filhos, três cachorros, um sítio.
Controle-se, cara!
Como um pedaço de bolo acompanhado de uma Coca-Cola
estupidamente gelada. Meu humor está até melhor.
Eu vou acordá-la!
Porra! Eu não vou!
Soco o balcão e então subo as escadas correndo. Ela permanece na
mesma posição. Eu dou mais um beijo em sua bunda perfeita e então subo
pelas suas costas até alcançar sua nuca. Seguro seus cabelos com firmeza e
beijo sua nuca indo até seu ouvido. Ela enfim desperta dando um sorriso
preguiçoso e então faz um golpe de jiu-jitsu saindo debaixo de mim, me
jogando de costas na cama e montando em meu colo.
— Puta que pariu! Fodida Sadgirl do meu caralho! Mulher do cão!
— Bom dia, Matheus Albuquerque! — Ela sorri desfivelando meu
cinto e abrindo minha calça.
— Como você fez essa merda? — Questiono e então sua boca está
em meu pau. Por Deus! Eu devo ter sido uma pessoa muito boa em outras
vidas para merecer uma benção dessas. Puta merda, vou chegar atrasado na
reunião, mas o que é um contrato milionário perto de um boquete da minha
namorada? Eu já disse antes, mas preciso ressaltar a regra número 1 do
código de honra: Um sujeito macho nunca nega uma trepada matinal.
Minha pequeninha está com uma voracidade assustadora. Lógico que estou
sentindo um tesão absurdo, mas também sinto medo. Se ela perder a linha e
morder meu brinquedo vai ser foda. E se ela arrancar um pedaço? Puta que
me pariu! — Calma aí, gata. — Digo tentando acalmá-la.
— Do que você me chamou? — Ela pergunta me dando um olhar
assassino.
— Gata?
— Isso é tãooo... solteiro e impessoal. Eu odiei essa merda! —
Esbraveja agarrando meus cabelos e então lambe minha boca. Essa mulher
está possuída hoje, é sério. Leva muito de mim para suportar a tortura e me
manter firme em meu propósito de ir trabalhar. Caso contrário, levaríamos
um tempo presos dentro desse quarto.
— Sadgirl, você acordou atacada, mulher. Santo Deus! Vou te
exorcizar.
— Cale a sua boca para que eu termine meu serviço. Eu preciso
terminar o que comecei, é como se eu dependesse disso para viver. —
Sorrio colocando minhas mãos atrás da cabeça e deixando ela fazer o que é
necessário para sua sobrevivência, só porque não quero que ela morra.
Eu me sinto bem pra caramba observando as duas mãos pequenas e
delicadas contornando algo muito acordado. Me sinto melhor ainda quando
sua boca quase não consegue suportar uma parte mínima de mim. Mas, eu
me sinto um soldado ferido quando ela mostra que não precisa me ter por
completo em sua boca para me levar ao nocaute. A minha mulher,
pequenina, delicada, com rostinho de um anjo lindo, é como uma
profissional. Uma semideusa do sexo. Eu retiro minhas mãos de trás da
cabeça e as coloco em seus cabelos quando ela traça um caminho delirante.
Pareço um adolescente no cio gemendo, mas porra, se ela hoje não acordou
inspirada e superar qualquer merda que eu já tenha recebido!
— Senhor! Vic... — Eu ofego seu nome e ela me olha nos olhos.
Isso derruba um macho alfa muito fácil. — Saia se não quiser que eu... Puta
que pariu... — Eu não sei o que ela acabou de fazer, mas sou nocauteado.
Ela sorri vitoriosa e então traça com dois dedos todos os resquícios do meu
orgasmo e os leva à boca, chupando os dedos provocativamente.
Agora sim, eu jogo minha cabeça para trás. Maldita seja.
— Bom dia, meu amor, tenha um excelente dia de trabalho. Eu
espero que isso tenha sido um bom motivo para você não olhar para bunda
de ninguém na rua. Se for um bom garoto, a noite termino meu trabalho. —
Ela diz saindo de cima de mim e ouço a porta do banheiro bater em seguida.
Que porra é essa de olhar para bunda de outra mulher? Um boquete
matinal enlouquecedor é o artifício que as mulheres usam para manter seus
homens ligados? Se for, parabéns! Funciona mesmo.
Com as calças arriadas, caminho rapidamente para o banheiro
social. Me limpo com lenços umedecidos Pampers Sensitive. — Limpeza
mais delicada com menos passadas. — Arrumo meu pau “objeto” duro na
cueca e choro quando estou entrando no meu carro.
Mentira, eu não choro. Mas foi por pouco.
No escritório, mais precisamente na sala de reuniões, encontro
Beatriz, ninfa bebê e seu pai. Beatriz me dirige um olhar raivoso e eu quase
a mando tomar no cu.
— Bom dia senhores, desculpe a demora. Tive que trocar o óleo do
motor. — Informo da maneira mais educada.
— O que? — Minha irmã questiona e eu chuto seu pé por baixo da
mesa.
— Do carro. — Explico. — Bom, vamos ao que interessa...
A reunião dura pouco mais de uma hora e sou obrigado a lidar
sendo o centro das atenções de Emily. Sabe quando uma pessoa fica te
olhando fixamente por mais de uma hora? Dá uma vontade de perguntar se
ela perdeu algo, mas, então eu penso que ela pode dizer que perdeu e eu sou
um homem fiel pra caralho que só consegue enxergar a cena que aconteceu
mais cedo na cama de Vic. A quem eu quero enganar? Não é apenas isso...
É além. Outros infinitos...
Eu amo demais. Deveria ter um tratamento.

Na hora do almoço vou ao shopping com Beatriz. Como se um imã


estivesse me atraindo, me pego parado de frente para uma joalheria
observando todos os anéis.
— Vai casar? — Ela pergunta rindo e eu permaneço sério. Isso
basta para que ela comece a me importunar. — Sério? Há quanto tempo
vocês estão juntos? Puta que pariu! Matheus, é sério? Tipo, não pelo tempo,
mas que puta que pariu mano, que tiro! Você está pensando nisso? O céu
vai cair sobre nós. É sério? — Belo linguajar, mano!
— Cala a boca, retardada. Você tem uma ameba no lugar do
cérebro? — Questiono rindo e ela me bate.
— Puta merda! Eu acho que vou ligar para mamãe!
— Não vai ligar coisa nenhuma. — Digo tomando o telefone das
mãos dela. — Ninguém vai se casar. Eu só estou olhando joias.
— Joias na parte de alianças?
— Cala a boca, Beatriz, vai chupar um canavial de pau! — Ela
continua rindo e coloca seu braço entre o meu.
— Está bem, você precisa pegar um anel dela escondido para
comprar o tamanho ideal.
— Como vou saber que é o anel do dedo anelar? — Questiono e ela
para de andar me encarando como se eu fosse uma aberração.
— Sabia! Você quer se casar com Victória! Você é muito lerdo!
Caiu na minha dica... — Ela ri de dobrar a barriga e eu a deixo sozinha.
Foda-se! Essas mulheres são todas malucas.
Ouço o tilintar dos seus saltos correndo atrás de mim, por isso,
começo a andar mais rápido. Eu rio até trombar com Pietro e Jéssica.
— Oi. — Digo sem graça.
— Oi. — Os dois respondem juntos.
— Olá família! — Beatriz diz rindo como hiena.
— Tudo bem? — Pergunto à Jéssica.
— Sim. Nós estamos fazendo hora até dar o horário da minha
consulta com o psicólogo.
— Será que nós podemos aproveitar e conversar um pouco? —
Pergunto a ela e então olho para Pietro. — Isso se você não se opor.
— Tudo bem. Vou tomar um sorvete com Beatriz. — Ele concorda
e se vai, nos deixando.
— Oi. — Sorrio para ela.
— Quando foi que você se tornou impessoal?
— Não me tornei. — Respondo. — Bom, vamos nos sentar em
algum lugar?
— Sim. — Responde e andamos juntos até encontrarmos uma
cafeteria. Eu afasto a cadeira para ela se sentar e me sento de frente.
Peço uma torta alemã e ela me acompanha.
— Então, dona Jéssica, agora que as coisas parecem ter acalmado,
nós precisamos conversar.
— Sim. Theus, eu estou com vergonha de mim mesma.
— Como está se sentindo? Digo, com a gestação. Tem passado
mal?
— Absolutamente nada. Hoje pela manhã fiz o exame de sangue
que confirmou. Tia Mari marcou consulta com o ginecologista dela,
amanhã. Talvez amanhã dê para descobrir de quem é o bebê, ou talvez só
através de um exame de DNA. Isso é confuso. Nunca tive interesse em
informações sobre gestação, desconheço por completo esse universo.
— Eu irei a consulta. — Anúncio e ela me encara embasbacada.
— O que?
— Desde a possibilidade que essa criança pode ser minha, me sinto
na obrigação e no direito de acompanhá-la.
— Matheus! — Exclama enquanto noto algumas lágrimas
escorrendo em seus olhos. — Eu não imaginei... Essa atitude sua é...
— Eu estarei ao seu lado, sendo meu filho ou não. Se não for meu
filho, será meu sobrinho assim como Maria Flor, Heitor e Enzo. Embora eu
não tenha aprovado a forma como conduziu as coisas, eu amo você e você
sabe disso. Você é minha família, mesmo que tenhamos transado.
— Eu tive medo de ficar sozinha. — Ela confessa.
— Você foi estúpida de pensar algo assim. — Digo e então percebo
a brutalidade das minhas palavras. — Desculpe Jé, mas como você pôde ao
menos cogitar isso?
— Eu nem mesmo sei quem é o pai do meu filho, é mais que
compreensível eu me sentir uma grande merda, Theus. Minha cabeça entrou
em paranoia, eu perdi o controle dos meus atos. Conversei muito com seus
pais, com Pietro e até com os pais dele. Eu reconheço que há traumas que
precisam ser cuidados, estou aceitando o tratamento.
— Jé, eu sempre estarei ao seu lado, seja para o que for necessário.
Você precisa realmente. Assim como Vic precisou e ainda precisa. O caso
dela é mais complexo, mas isso não diminui o seu caso. As duas possuem
traumas e todo trauma deve ser analisado, tratado ou controlado. Sei que ser
mãe nunca esteve em seus planos, mas aconteceu. Como uma mulher
madura você precisa encarar os fatos de cabeça erguida. Não é vergonha
estar na dúvida nesse caso. Nós estávamos solteiros, contamos a todos que
transamos, não ocultamos nada de ninguém. E, você não transou sozinha,
na verdade eu fui muito insistente. Eu queria aquilo. Foi bom, nos
divertimos, não foi?
— Sim. — Ela diz corando. É complicado mesmo falar de sexo
dessa maneira, eu devo ser muito autêntico, puta merda.
— Então, foi uma fase legal onde ambos estavam solteiros, fim.
Quem faz sexo corre riscos. Nós vamos descobrir juntos de quem é o filho,
e como eu disse, sendo meu ou não, ainda será um pouco meu porquê serei
um tio presente. Eu respeito você, pra caralho.
— Eu amo você, Theus, muito. Obrigada! Não esperava menos do
que isso.
— Promete para mim que vai se cuidar e vai controlar suas
atitudes? Palavras ferem, Jé. Eu fiquei chateado com tudo que você disse.
Você desdenhou do problema grave que Victória sofre, e nem você ou
qualquer outra pessoa sabem a fundo a complexidade como eu sei. É
extremamente pesado, é algo que destruiria Bernardo, Eliza e até mesmo o
seu marido. Nós contamos a parte que dava para contar, se eu entrar em
detalhes...
— É mais grave do que tudo que já sabemos?
— Muito mais. Enfim, apenas não faça mais aquilo. Por favor. —
Peço.
— Me desculpe, eu não estava em mim. Vou esperar passar essa
confusão de médicos e entrarei em contato com ela para mais uma
conversa. — Ela informa.
— Não faça isso por mim ou pelo fato de eu estar falando sobre
isso. Só faça quando seu coração mandar. Tudo bem?
— Tudo bem. — Ela sorri.
— Não gostei do seu cabelo loiro. — Aviso para quebrar um pouco
da conversa tensa.
— Foda-se, o cabelo é meu.
— Está parecendo um mico leão. Porra, Jéssica, onde você estava
com a cabeça? Foi fetiche de Pietro ou mais uma de suas ideias fodidas?
Tudo bem, você é bonita de qualquer jeito, mas caramba... Só não te bato
porque sei que você gosta e agora sou um homem de família. — Brinco.
— Eu odiei! — Ela diz tapando o rosto, numa confissão dolorosa
que quase me faz rir. — Eu nem mesmo posso pintar devido a gestação.
Vou ter que esperar ou ver se a médica libera.
— Mas está de boa, você pode comprar uma peruca enquanto é
isso. Se quiser eu te dou uma.
— Vá para o inferno, Matheus! — Enfim, sinto que voltamos um
pouco à normalidade. Na verdade. estou forçando isso.
— Bom Jé, preciso ir. Tenho que ir ao fórum e fazer uma mudança
ainda no dia de hoje. — Informo pedindo a conta. — Mande um SMS com
o endereço e horário da sua consulta amanhã.
— Como eu entrarei com dois homens no consultório?
— É médica ou médico? — Questiono.
— Médica.
— Eu jogo meu charme e ela libera. — Sorrio.
— Oh Deus do egocentrismo! Tudo bem. Obrigada mais uma vez,
Theus.
— Amo você, Jessicat. — Digo segurando sua mão. — Você é uma
mulher fantástica, possui um coração enorme. Só está perdida. Eu, nossa
família e seu marido estaremos aqui para ajudá-la a reencontrar-se sempre
que necessário for. Você não é o tipo de pessoa que abrimos mão.
— Oh, eu já estou morrendo segurando choro.
— No woman no cry. — Cantarolo ganhando um chute na canela.
— Você está extremamente bem-humorado.
— Nada que um bo...
— Cale a boca, Matheus! Não me interessa sua vida sexual. — Ela
ri. — Mas um boquete tem o poder.
— Pra caralho, você não faz ideia. Deveria fazer isso com Pietro
todos os dias, ele parece lerdo. Vic tem o dom... Puta merda... Sou muito
apaixonado por ela. — Eu virei um tapete por aquela mulher! Sou capaz de
deixá-la fazer o que quiser comigo.
Ok, só não permito que enfie um consolo na minha traseira ou
qualquer outra merda. Aliás, passe longe do meu ânus!
— As aparências enganam. Chega disso! Fico feliz que você tenha
se dado conta sobre Vic.
— Você não deveria estar arrumando as coisas? — Minha mãe
pergunta irrompendo pela sala. Parece um tornado.
— Sim. Já arrumei muitas... Só estou comendo um pedaço desse
bolo fantástico! — Sorrio e ela fica me encarando. — O que foi?
— Você está mais bonita ainda. — Elogia. Levanto-me do chão e
voo sobre minha incrível mãe a jogando no sofá. — Merda, Victória!
— Eu estou tão felizzz!!! — Grito eufórica e então deito minha
cabeça em sua perna. — Mãe, eu estou muito feliz, você pode ficar muito
feliz também? Sou a mais feliz do mundo!
— Eu estou feliz por você filha, mais que você mesma, eu posso
garantir. Vê-la feliz é tudo que importa. — Ela sorri mexendo em meus
cabelos. — Você é minha princesa.
— E você é minha rainha.
— Ok, eu já estou chorando e não quero isso. Cadê minha neta?
— Arthur veio buscá-la para escola, já que Matheus proibiu o
transporte escolar. — Sorrio.
— Ele só quer a segurança de vocês. — Eu sei disso, mas também
sei que ele vai se aproveitar disso para manter seu controle sobre mim. O
que pode vir a ser quente, como pode ser um pé no saco. Eu espero que seja
apenas a parte quente. — Vamos logo com isso. Você ainda tem a consulta
com a ginecologista hoje.
— Eu desmarquei com ela e com Ricardo. Remarquei para amanhã,
no horário do almoço tenho a ginecologista e após o trabalho tenho o
Ricardo.
— Jéssica tem consulta com ele hoje. — Ela divaga olhando para o
além.
— Sim. Ele vai trazê-la de volta, estou certa disso. Ele é muito
bom, mãe. Ricardo consegue fazer uma mulher enxergar a si mesma,
enxergar qualidades que nem se dava conta possuir.
— Prefiro Matheus! — Meu namorado já tem uma torcida
organizada grande.
— Oh! Eu também. Matheus talvez seja mais psicólogo hein... —
Rio. — Ricardo me ajudou enxergar qualidades e Matheus me ajuda a
colocá-las em prática. Ele me mantém sã grande parte do tempo.
— Ai, o amor! — Ela ri. — Anda, Victória Brandão! Temos muito
serviço. Ainda tem as coisas dos seus avós, mas isso eu pedi ajuda para
duas funcionárias do abrigo.
— Eles não estão gostando muito da ideia não é mesmo? —
Questiono sentindo um pouco de pesar por eles estarem indo morar em um
apartamento no prédio dos meus pais.
— Eles entendem que é por motivos de segurança.
— Pobrezinhos, eu sinto muito mãe. Nunca quis arrastá-los para
toda essa situação. Deus é minha testemunha, fiz tudo o que pude para
evitar que qualquer coisa chegasse até vocês.
— Chega de sentir muito Vic. Está tudo bem ok? — Ela diz me
dando um beijo na testa.
Quando nos levantamos, ela segura minhas mãos e começa a chorar.
— O que foi, mãe?
— Desculpe. Só fiquei emocionada.
— Oh mãe, por favor, não chore. — Peço a abraçando. — Eu estou
bem, muito feliz.
— Eu sei. Eu acho que preciso colocar Botox.
— Que? — Pergunto tentando não rir.
— Estou com umas rugas na testa. Estou ficando muito velha. —
Ela chora indo até o espelho e eu a acompanho.
— Mãe, a senhora é uma cinquentona impecável de linda.
— Oh Deus, eu estou muito velha.
— Mãe, você coloca muitas meninas de vinte no bolso. Até eu
mesma. — Sorrio. — Eu me acho tão parecida com a senhora.
— Não me chame de senhora, merda!
— Ok, mãe, você está na menopausa? — Questiono seus atos.
— Ainda não. Eu só estou... Seu pai... ele é tão lindo!
— E você também é linda. São um casal lindo.
— Mas há meninas novas se jogando em cima dele. Ontem tinha
um bilhete colado no vidro do carro com um número de telefone e o nome
da garota. Ela é tão jovem. Procurei o perfil dela, filha... — Meu Deus,
minha mãe está soluçando. — Ela tem vinte e dois anos, seios gigantes e
um corpo...
— Mãe, apenas pare! Meu pai não tem olhos para outra mulher.
Não há motivos para insegurança.
—Você acha? Talvez seja interessante colocar um silicone. — Será
que eu terei esse tipo de crise aos cinquenta anos? Meu namorado é muito
lindo e acredito que aos cinquenta anos ele ainda será muito lindo. Lindo e
quente.
— Não, mãe. Você é impecável e elegante e linda e tem o corpo
perfeito. Eu ficaria horas enumerando todas as suas qualidades. Mas, mãe, é
a lei da vida envelhecermos. Não precisamos seguir nenhum padrão de
beleza.
— Ele é muito bonito, gostoso, inteiro e anda como modelo pelas
ruas. Oh Deus, eu sinto que vou morrer de infarto aos cinquenta anos de
idade. — Que drama Jesus! — Nós brigamos. — Confessa.
— Vocês brigaram?
— Sim.
— Por quê?
— Ele fez a barba toda, cortou os cabelos... e então ele tem aqueles
gominhos na barriga... e ele parece jovem demais e faz musculação... a
barba ajudava ocultar um pouco da sua jovialidade e os cabelos mais
compridos se mostravam grisalhos o bastante. E ele vai chegar aqui em
alguns minutos porque eu saí como louca de carro. — Diz tudo tão rápido
que fico até confusa.
Outro rompante entra pela porta e eu consigo entender o motivo
dela estar assim. Eu começo a rir, mas de nervoso. Ele coloca as mãos no
bolso e então solta um suspiro aliviado olhando para minha mãe.
— Olha isso, Victória! — Minha mãe grita apontando para ele.
— A sua mãe... — Ele passa as mãos pelos cabelos que agora estão
escassos o bastante. — Sua mãe está me enlouquecendo, Victória. Você está
ficando louca, Eliza?
— Oh Deus, o mundo é injusto! — Minha mãe está chorando muito
e é sério isso. Será a menopausa?
— Mãe...
— Você vai sentir isso um dia, Victória, e eu estarei sentada na
minha cadeira da vovó, usando dentaduras e rindo! — Gente, ela pegou o
drama dos Albuquerque’s? Estou impactada.
— Pai, você está muito gato! — Digo rindo. Eu pegaria meu pai se
ele não fosse meu pai e eu fosse solteira. Ele tem 49 anos e parece ter trinta
e cinco.
— Traidora!
— Pai, pegue ela e a leve para casa. Eu não preciso de ajuda
realmente.
— Não ouse! Você é... um tirano, traidor, você me prometeu que ia
ficar de barba e grisalhão! — Minha mãe diz pegando um livro e o
ameaçando.
— Eliza, para de graça, amor. Vamos embora conversar.
— Tudo bem. Eu só vou porque você veio atrás de mim. — Ela
sorri entre lágrimas vindo me dar um beijo e então sai pela porta como se
absolutamente nada tivesse acontecido.
—Ela está ficando maluca, me informe o número do seu psicólogo
por e-mail. — Meu pai pede antes de me dar um beijo na testa e se despedir.
— Até mais.
Eu fico rindo e os observo, cada um em seu respectivo carro. É
sério isso? Será que eu terei uma crise dessas? Estou realmente preocupada.
Faltam vinte e cinco anos para isso.
Enfim, volto ao meu trabalho suado. Empacoto todas as minhas
roupas e as roupas da Isis. Ficam apenas alguns brinquedos, mas estou
exausta.
Tomo um banho, visto uma roupa decente e, quando estou descendo
as escadas, meus pés congelam ao ver uma pequena princesa com um buquê
de flores cinco vezes maior que ela.
— Mama! É do meu papa! Ele te ama! — Ela diz feliz da vida e
eu tento não chorar.
— Sadgirl, eu te amo. — Ele surge da cozinha sorrindo e subindo
os degraus, eu sorrio de volta. — Tem o número de flores que cabem em
doze buquês.
— Os doze buquês... — Sorrio. — Eu devo te bater por estar me
dando flores, como eu fiz da primeira vez? — Pergunto baixo para que
apenas ele ouça.
— Dependendo das circunstâncias, até deixo você me bater. —
Anuncia me pegando em seus braços e me levando até o térreo.
Eu pego minha filha e a encho de beijos.
— Como foi a escola? — Pergunto tentando pegar o buquê.
— Meu avô Arthur falou palavrão com o segurança.
— Ok, nós precisamos advertir vovô Arthur. — Digo tentando não
rir, mas falho. Pego o buquê ao chão e meus braços nem fecham em volta
dele. — Eu amei as flores. Quero muito chorar agora.
— Eu seguro para você chorar. — Matheus diz o tomando da minha
mão e então eu me jogo em seu braço livre.
Eu choro agarrada a ele e sinto um mini ser abraçando minha
cintura. É tão bom estar assim, com os dois amores da minha vida. Minutos
depois, me recomponho e Isis corre até o sofá, onde pega um mini buquê de
flores rosa bebê.
— Essas são minhas, mamma, papai disse que me ama também. —
Eu quero chorar de novo e gritar um “puta que pariu”, mas me contenho.
— São lindas, princesinha. Esse papai é o melhor do mundo.
— Eu sou foda mesmo. — Ele diz orgulhoso de si mesmo e então
ri. — Desculpa, não fale essa palavra filha, é muito feia. Mamãe vai colocar
papai de castigo.
— Vou mesmo! — Aviso. Minha pequena dá uma gargalhada e
então sobe as escadas correndo com seu buquê em mãos. Empurro Matheus
até a parede da cozinha, o agarro pelo casaco e então o beijo.
— Selvagem.
— Vou te chupar todinho de novo. — Digo em seu ouvido e então o
mordo.
— Você não leu o cartão. — Diz no seu modo dramalhão, com um
enorme bico de tristeza. Isso me faz correr até a sala e pegar o cartão.
"Sua bunda é tão linda que nenhuma outra me interessa. Eu a beijei
algumas vezes enquanto você dormia como um anjo. Sardinhas bonitinhas,
você tem minhas bolas em suas mãos e meu pau em sua boca. Sempre você,
só você. Deve ser algum tipo de vodu, só isso explica essa doença, esse
vício e essa fixação. Hoje é o primeiro dia que dividiremos o mesmo teto, o
primeiro de uma eternidade. Eu te amo.
Fodida Sadgirl do meu caralho!
Ps: Pelo menos doze rosas aí são pelo presente fantástico que
recebi essa manhã. Você é tão linda, meu amor, gostosa, safada. Enquanto
estou escrevendo esse bilhete meu pau está muito duro, pra caralho."
Eu rio do romantismo único que só Matheus Albuquerque possui.
— Eu sou foda!
— Você é. O pior de tudo é que você realmente é, meu Sadboy. —
Digo o puxando de volta para mim e ele me encara sério.
— Vamos para nossa casa, Victória Brandão Albuquerque.
“Nos seus olhos
A luz, o calor
Estou completa
Eu vejo a porta, para mil igrejas
A resolução, todas as infrutíferas buscas”
Banks – In your eyes

Com o carro devidamente abastecido com algumas malas de roupas,


seguimos rumo ao primeiro dia de muitos que virão. Eu estou indo morar
com a minha namorada e nossa filha. Indo morar com a minha sardinhas
bonitinhas, a garota que esperei por tanto tempo e que sempre teve tudo de
mim.
Vic está sentada no banco do carona e sempre que possível eu
arrisco um olhar para ela. Ela está sorrindo para o nada, sorrindo com esse
rosto lindo cheio de sardinhas bonitinhas, e seus olhos estão brilhando em
satisfação. É muito mais que um prazer vê-la assim. É algo inexplicável.
Vejo também nossa pequena filha, atenta à visão noturna do mar,
perdida em seu mundinho encantado. Eu acho que ela vai amar seu novo
lar. Na verdade, estou ansioso para que ela veja todas as surpresas que
preparei para ela.
Eu quero dar tudo o que não pude dar durante 7 anos, isso inclui
muitos mimos. Quero dar à minha garota, também. Victória merece ser feliz
e buscarei isso diariamente.
Quando paro no sinal, pego a delicada mão da minha pequeninha.
Dá um contraste e tanto perto da minha.
Embora eu esteja feliz, meu bom humor está conflitante. O que
Jéssica disse na ilha apenas está tomando uma parcela grande dos meus
pensamentos. Não importa o quê, eu estarei ao lado dela. Porém, eu ficaria
extremamente grato se esse bebê não fosse meu. Por vários motivos, mas
principalmente por ela mesma. Eu imagino como a cabeça de Pietro deve
estar e como ficará se for dito que o bebê é meu. Involuntariamente isso vai
afetar a todos. A Pietro, Victória, Liz e Bernardo, até mesmo aos meus pais.
Vai afetar a mim também. Eu gostaria que todos os meus filhos fossem de
uma só mulher. Errei em não me precaver. Errei comigo e com ela. Fui
inconsequente e agora estou pagando um preço por isso.
Quero ser pai.
Dos filhos de Victória.
Ainda preciso dizer à Sadgirl que acompanharei Jéssica à consulta
médica, e isso é um pouco fodido. Talvez ela não entenda minhas intenções.
Mas, acontece, que se aquele bebê for meu, eu acompanharei tudo.
Responsabilidade fez parte da minha educação e, se fiz sexo desprotegido e
resultou em uma gestação, responderei por tudo da melhor forma que puder.
Tento afastar os pensamentos conflitantes quando avisto a entrada
do condomínio. Faço retorno e em poucos segundos estamos passando
pelos blocos e blocos de prédios. Preciso dizer que agora estou bastante
ansioso. Quero ver a reação delas.
Estaciono, desço do carro, pego um carrinho para colocar as malas
e levá-las até a cobertura. Isis salta do carro empolgada e Vic tenta controlá-
la. Por fim, eu a pego e a coloco sentada no alto do carrinho, só assim ela se
mantém um pouco controlada. Seguimos para o elevador ao som dos seus
gritos animados.
É estranho, mas sinto que nasci para ser pai. Eu acho que sou muito
bom nisso. Não é uma brincadeira de superego como sempre costumo fazer.
A paternidade transforma a vida de um homem, assim como a maternidade
transforma a vida de uma mulher. Você descobre que é pai e então você
muda seus pensamentos, sua conduta, suas ações, sua visão e até mesmo a
capacidade de compreensão. É incrível.
A mesma mudança acontece quando você encontra aquela pessoa
especial. Aquela que faz seu coração bater mais rápido, que faz parte dos
seus pensamentos diários serem revertidos a ela. Melhora quando vocês
possuem uma conexão grande e você passa a fazer planos, a dar passos
grandiosos, a pensar num futuro ao lado da pessoa. E, nada além dela
importa. Nenhuma outra importa e até mesmo existe. Apenas ela. Você se
sente um caso perdido por não conseguir olhar para outras bundas. Você
tenta, tenta e nada. Olha seios, bundas, rostos lindos, mas não adianta. Você
se vê como um soldado perdido, porque há apenas uma que você deseja e
nenhuma outra é capaz de atrair sua atenção. É aí que você desiste dessa
tentativa ridícula que querer provar a si mesmo que não foi pego pelas
bolas.
É meu amigo, é nesse momento que você duela entre se entregar ou
não.
Você pondera de todas as maneiras possíveis, mas, mesmo existindo
várias possibilidades, em todas elas seu pensamento final é ficar junto da
diaba da mulher. Você se sente um viciado do caralho, um camisolão, um
filho criado com vó, um tapete. Mas, isso também não importa. Nada disso
importa. Você dá o passo adiante mesmo quando inúmeras forças ocultas
invadem seus pensamentos e tentam impedi-lo. Você apenas as manda
tomar no cu e se joga de cabeça. E, quando você dá esse passo, ele parece
tão fodidamente certo. Você descobre que sua masculinidade não foi ferida
realmente e sim aumentada em grandes proporções, assim como apetite
sexual desvairado e a vontade de ser a porra de um homem fofo. Ser fofo é
o final da sua carreira, meu caro. Você anda na rua, vê ursinhos de pelúcia e
quer comprar cada um deles. Você está de carro, passa em frente a uma
floricultura e se controla para não comprar cada uma daquelas benditas
flores para sua mulher. Você vai ao shopping e para diante de uma vitrine de
lingeries e fica perdido, olhando e imaginando como uma única mulher (a
sua mulher) ficaria dentro de cada uma delas. E pior, você ganha uma
ereção e então tem que fugir como se fosse um maluco, porque todos vão
ver seu pau no auge da plenitude acordado (e você não quer que ninguém
veja o que pertence à sua mulher).
Sabe o que mais? Quando está fugindo da ereção ou ao menos
tentando controlá-la, você passa em frente a uma imponente joalheria e
para. Seus pés nem mesmo obedecem aos comandos do seu cérebro. E, ao
invés de olhar a merda de um relógio diferente para você ou correntes de
prata, você está ali, fodido, com suas duas bolas batendo pesadamente ao
chão, olhando todas as alianças possíveis e estudando qual delas ficaria
bonita no dedo da maldição. E aí vem a pior parte, o rombo no seu bolso
(não que você se importe com isso realmente, mas apenas para frisar a
dimensão do quão louco você está). Sabe por que você está louco? Por que
você está tão apaixonado, que nenhum daqueles anéis expostos na vitrine
servem para sua mulher. E aí você pondera por longos minutos. Você anda
pelo restante do shopping, mas seu pensamento está nos anéis. Então você
para de lutar contra o inevitável e volta até a bendita joalheria e encomenda
o mais caro e lindo de todos os anéis. Um modelo exclusivo que só sua
mulher terá, porque ela é única. Um à altura de tudo que ela significa para
você. E você acha que é só isso? Não meu caro, você vai muito além disso.
Quando você está prestes a efetuar o pagamento, um par de olhos azuis
fantásticos invadem sua mente, você sorri e a atendente suspira. Você para
de sorrir e quase a manda paro inferno, porque o seu sorriso pertence a duas
mulheres: sua amante e sua filha. Mas aí, os olhinhos azuis surgem
novamente e você encomenda um anel menor porque você tem uma filha e
você quer se casar com as duas mulheres da sua vida. Você pondera até
mesmo o tamanho das pedras que custaram seus rins, analisando-as
minuciosamente para ver se vai ficar bonitinha no dedinho pequeninho
(tanto da sua mulher quanto da sua filha), porque você agora é um homem
fofo.
O mais fofo de todos os fofos.
Eu quero dar três tiros na cabeça pensando em todas essas coisas.
Mas, é quando estou sentindo-me perdido, que suas risadas me tiram de
todos os pensamentos. Esse som só não supera o som que minha mulher faz
quando está com tesão.
Olho para ela e eu quero apenas trancá-la dentro de casa para que
possamos fazer mais vinte filhos. Eu a amo pra caralho e ela me deu a
criança mais linda do mundo como filha. Nós temos potencial, podemos
fazer mais algumas obras de arte.
Vocês agora conseguem entender a gravidade da minha situação?
Eu quero ser pai, para caralho, mas eu quero ser pai dos filhos da minha
sardinhas bonitinhas. Quero ter gêmeos, trigêmeos e quadrigêmeos, porque
eu sei que ela vai ser a porra da grávida mais perfeita desse mundo e eu vou
ficar mais alucinado do que já sou. Quero engravidá-la. Ela. Apenas ela.
— Eu sou muito fofo. — Penso alto.
— O que? — Vic pergunta rindo com Isis em seus braços.
— Nada. Eu pensei alto. — Sorrio empurrando o carrinho pelo
corredor.
Quando chego de frente a porta do apartamento meu coração salta e
é tudo por Isis. Eu quero que ela goste da surpresa que está a esperando.
Uma surpresa que foi escolhida cuidadosamente tendo em vista que é para
uma criança.
Abro a porta e permito que elas entrem primeiro. Porque sou fofo!
Como esperado elas cagam para a decoração da sala e da cozinha. As duas
mulheres da minha vida correm direto para enorme varanda que tem vista
total para o mar, enquanto eu me fodo com as malas. Mas, eu as carregaria
até pelas escadas se fosse necessário. Porque sou fofo!
Elas estão tão distraídas que nem se dão conta que há um outro
integrante em nossa família. Eu me sento ao chão com ele, dois cachorros
abandonados. Era essa a surpresa, mas a vista para o mar surpreendeu mais.
Estou devastado.
Quando a vida parece não fazer mais sentido, vejo o momento exato
em que Isis se vira e nos observa. Tudo volta a valer a pena quando ela
agarra Victória e começa a chorar. Essa minha garotinha é emotiva, não sei
quem ela puxou. Ou sei. Vic chora também, com isso eu quero deitar nesse
bendito chão e chorar em desespero. Por que, Deus? Por que fizestes isso
comigo?
Ao invés de chorar eu sorrio para meu amigo cão sem nome. Eu
acho que estou apaixonado por ele também. Estou muito amoroso, pra
caralho mesmo. Que porra fizeram comigo? É a maldição!
— Papai, é meu cachorrinho? — Isis se aproxima chorando e eu
solto um suspiro. Ela é linda demais.
— Eu acho que ele é meu, vocês estão chorando, deve ser porque
não gostaram. — Dramatizo e ela se joga sobre nós dois.
— Ele é tão peludo!
— Ele é lindo! — Vic diz vindo até nós. — Ele tem os olhos iguais
aos seus, Theus.
— Você está me comparando a um cachorro?
— Um cachorro lindo, não qualquer cachorro. — Ela ri e então
finalmente sai para conhecer a casa, deixando-me com Isis.
— Você gostou, princesa do papai?
— Eu estou emocionada. — Confessa de uma maneira tão
encantadora que quero mordê-la.
— Precisamos de um nome para nosso amigo cão. Qual será?
— Theus!
— Nada disso! Theus é o nome que a mamãe chama o papai. —
Digo rindo.
— Eu gosto desse nome, Theus. — Justifica levantando seus
ombrinhos.
— Isis, quando a mamãe chamar “Theus”, como saberemos quem
ela está chamando?
— Eu ouvi a mamãe te chamando de pimpolho. — Ela diz séria e
eu vou matar Victória mais tarde no sexo punitivo.
— Eu sou Theus, ele o pimpolho, pode ser?
— Eu gosto de pimpolho! — Ela diz satisfeita. Porra, eu destruí
com nosso próprio cachorro sugerindo pimpolho.
— Eu ameiii a nossa camaaa... eu vou viver nela com... Desculpa!
— A sem freio diz pulando como se fosse uma criança e eu deixo Isis com
pimpolho.
— Filha, cuidado com a cabeça do pimpolho. — Aviso e Victória
me dá um tapa no braço. — É o cachorro, merda.
— O cachorro se chama pimpolho? — Pergunta boquiaberta.
— Ela queria Theus, mas a convenci sobre ser pimpolho. —
Explico.
— Oh Deus! Isso vai ser complicado. — Ela ri se jogando em meus
braços.
— Eu acho que você estava falando da nossa cama... esse assunto
muito me interessa.
— Eu amei a nossa cama. Eu amei tudo na verdade, sua mãe tem
um tremendo bom gostoso e parece criar decorações voltadas ao sexo. Há
apenas uns espelhos espalhados pelo quarto todo, o banheiro de vidro e há
aquela barra de ferro acima da cama... e eu quero prendê-lo lá.
— Repita comigo: eu quero ser presa.
— Eu quero ser presa. — Ela repete e então morde seu lábio
inferior.
— Exatamente isso sardinhas bonitinhas. Há também dois lugares
ao pé da cama onde posso prender suas pernas.
— Sério?
— Não foi dona Mariana quem escolheu a nossa cama. A cama foi
escolha minha, assim como o quarto de Isis. Todo o restante foi mérito de
Mariana. — Sorrio para ela.
— Eu não entrei no quarto de Isis...
— Isis, vamos conhecer seu quarto? — A convido a se desgrudar de
pimpolho e então ela vem correndo até nós.
Andamos até seu quarto que fica duas portas antes do nosso (Por
quê? Porque a mãe dela pode ser barulhenta). Assim que abro a porta, o
choro começa mais uma vez.
— Caramba, vocês só choram! — Exclamo abalado
psicologicamente.
— É o quarto mais lindo que eu já vi em toda minha vida! —
Victória diz me abraçando.
Quer fazer sua namorada parar de chorar? Siga o tutorial abaixo:
Tutorial de como fazer sua namorada parar de chorar:
— Mereço sua porta dos fundos hoje. — Falo baixo em seu ouvido
enquanto Isis escorrega pela sua cama.
— Você é ridículo, Matheus Albuquerque! — Ela esbraveja me
batendo e então suas lágrimas não existem mais. Viu? É certeiro.
— É mais bonito que o da Maria Florzinha! — Isis argumenta.
Caramba, de quem ela puxou esse ciúme?
— Isis, a mamãe já conversou com você sobre isso.
— Mas é verdade, mamma, ela vai querer um igual! — Mulheres!
— Isis! — Vic repreende num tom mais firme e então minha
princesinha se desculpa me surpreendendo.
—Desculpa mamãe, desculpa papai. Não vou mais falar essas
coisas.
— Princesas não brigam. — Aviso e ela compreende. É bonitinho
que em um momento ela chame Vic de Mamma e no outro de mamãe.
— O pimpolho vai poder ficar aqui comigo?
— Em alguns momentos sim, mas ele tem a própria casinha dele
para dormir. — Explico.
—Tudo bem! Eu amei papa, obrigada, eu sou a menina mais feliz
do mundo. — Isso bate forte no meu peito. Forte pra caralho mesmo. Eu e
minha fofura engolimos o choro.
Só que não.
As lágrimas descem quando eu a abraço, quase esmagando a
pobrezinha.
— Eu te amo, filha. Te amo muito.
— Também te amo, papai. Você é o melhor pai do mundo todooo!
— Oh... merda! — Obrigada, mamãe, eu amo meu pai.
— Não tenho condições. — Vic foge chorando.

Horas mais tarde...


Já são onze da noite. Esperei Isis dormir para tomar um banho e
conversar com Victória.
Estou deitado na cama vislumbrando ela fazer xixi. Esse vidro
aberto é um lembrete para eu cagar apenas no banheiro social. Aliás, eu
gostaria de saber por que Vic só se limpa com lenços umedecidos Pampers
ao invés de fazer uso do papel higiênico Neve Supreme folha tripla. Pelo
menos tem o lado bom, sua florzinha sempre está perfumadinha e limpa.
Ela termina suas necessidades e toma um banho não muito
demorado. Sou um homem de sorte tendo uma bela visão. Quando termina,
ela passa diante de mim enrolada em sua toalha e demora alguns minutos no
closet. Quando volta, eu vou direto para o inferno, cumprimento o capeta, o
mando tomar no cu e subo de volta à terra.
— Você vai dormir vestida assim? — Questiono me cobrindo da
cintura para baixo. Puta que pariu! Sério mesmo, isso mata um sujeito
macho!
— Você vai reclamar até das roupas que uso para dormir? —
Questiona.
— Isso mata um sujeito macho Victória, pelo amor de Deus, me
mata de uma vez. — Foca na conversa seu filho da puta, não olhe para a
tentação diante de você, não olhe. Sorrindo, a diabólica se acomoda ao meu
lado. Anjos da ereção me ajudem. Ela se vira de lado, eu tento fugir de
todas as maneiras, mas sua voracidade ganha e sou puxado pela cueca
ferozmente. Essa mulher quer me levar para o caminho da perdição. Eu sou
um santo perto dela.
— Quero você enterrado em mim. Todinho. — Olha isso! Olha!
— Eu também quero, amor, mas há apenas uma coisa que eu
preciso te dizer. — Deus, me ajude! Por favor! Sou um menino bom!
— Agora não. — Informa e então está em cima de mim. Como
resistir a esse caralho?
— Eu não quero ser filho da puta com você. Se eu transar agora,
serei um garoto malvado, porque depois do que eu tenho para falar, pode ser
que você desista de uma noite quente de sexo. — Explico.
— Assim como pode ser que eu quebre essa cama fazendo tudo o
que quero com você.
— Santo anjo do sadismo. — Suspiro e ela pega algo embaixo do
seu travesseiro. Eu sou surpreendido com uma camisinha e nem consigo me
defender quando a vejo abrindo o involucro. Eu sou inocente, vocês estão
vendo, porra!
Ela se levanta para abaixar minha cueca e então desliza o
preservativo em toda minha extensão. O diabo sorri e então abre o lacinho
que prende sua camisola.
— Esses seios... eu os idolatro porra. — Digo perdendo minha
mente e a jogo na cama me encaixando entre suas pernas.
Eu os chupo com força e enquanto enfio meu pau de uma só vez em
sua entrada escorregadia após chegar sua calcinha para o lado.
— Meu Deus, você é tão grande Matheus... eu amo isso.
— Eu amo você.
— Diga-me o que você quer falar... — Pede.
— Agora?
— Sim, faz o serviço sujo aqui e joga a bomba sobre mim ao
mesmo tempo, assim fico calminha.
— Amanhã à tarde eu irei a consulta do pré-natal de Jéssica. —
Digo segurando em suas coxas. Bom pra caralho...
— O que??? — O diabo começa a agir e eu tento contê-la. Ela
arranha minhas costas com tanta força que me faz arquear o corpo.
— Porra... Eu preciso ir. Seu irmão também vai... Pode ser que dê
para descobrir através da ultrassonografia o número exato de semanas, e
então quem é o pai. — Explico e levo um tapa na cara acompanhado de um
puxão de cabelo. Minha fúria está quase explodindo...
— Você é um safado que transou sem camisinha com Jessicat.
Fodido Sadboy do meu caralho. — Ela esbraveja e não sei com que forças
inverte nossa posição, pairando sobre mim mais uma vez. A diaba me lança
um sorriso maquiavélico e outro tapa explode em meu rosto. Eu vou
desmaiar essa filha da puta... nós vamos destruir esse prédio se ela
continuar com essa porra...
Eu agarro seus cabelos e trago seu rosto para perto, ouvindo os sons
dos seus gemidos intensificarem. Isso me deixa mais louco, minha mulher
gosta muito.
— Fodida Sadgirl do meu caralho! Eu preciso arcar com as
consequências dos meus atos impensados. — Argumento.
— Eu irei junto com você. — Decreta. — Você vai me buscar no
trabalho, vamos até minha ginecologista e então vamos almoçar, você vai
me levar no psicólogo e então eu vou te dando um bom momento até o
consultório. Eu estarei lá com você, entendeu? Eu estarei lá Sadboy, porque
você me pertence, você é meu. — O que um homem pode querer da vida?
Nada mais! Esse “bom momento” significa o que me faz feliz todas as
manhãs.
— Toda vida, meu amor. — Eu vou me casar com essa mulher. Sou
muito submisso e fofo agora. É isso. Eu me tornei submisso e fofo pra
caralho. E a maneira louca que ela está me montando? Não parece aquela
sardinhas bonitinhas de minutos atrás. Sou o mais fofo, submisso e
apaixonado.
Já disse que sou submisso?
Porra, ejaculação precoce fode com a vida de um sujeito macho...
Preciso retomar o controle.
Eu salto da cama com ela em meus braços agradecendo aos deuses
do crossfit e a jogo contra a parede. Ela grita com tamanha força que efetuo
a invasão e eu mostro a ela que com um único pau eu faço um iate
completo. Canoa é para os fracos.
Nunca levei tanto tapa na cara em toda minha vida e nunca dei
tantos tapas numa única bunda.
Eu quase a sufoco segurando seu pescoço. É um sexo estilo inicial
sádico.
Só paro quando ela goza com força, me molhando com sua
excitação. Em seguida, tomamos banho, deito-me na cama e coloco minhas
mãos atrás da cabeça, sentindo-me o próprio Sadboy supreme men care. O
rei da pentada violenta!
Eu achava que minha mãe era louca, porém, Victória supera ela.
Ps: Ganhei um boquete quando acordei.
Ps: Boquete matinal diário simboliza sucesso no casamento.
Ps: Eu marquei sua bunda e isso fodeu minha manhã.
Ps: Eu sou o melhor do melhor do mundo.

— É sério que você ainda está emburrado? — Questiono ao meu


namorado entrando em seu carro.
— Não estou bom hoje. — Responde me entregando mais um
buquê de flores. Com esse totalizam cinco no dia de hoje. Não sei esse, mas
os outros quatro continham cartões de ursinhos pedindo desculpas. É fofo,
mas irritante ao mesmo tempo. É só uma marquinha na bunda... Porra, ele
já deve ter feito isso com centenas de mulheres.
—Theus, eu amo seu cuidado, amei as flores, mas está exagerando
muito.
— Eu estou com medo de ser pai do bebê da Jé, eu marquei minha
namorada, está apenas foda lidar com isso hoje. — Eu compreendo suas
palavras. Coloco minha mão em sua coxa enquanto ele dirige, tentando
mantê-lo sob controle.
Nós paramos no estacionamento de um restaurante e então
descemos. Eu seguro a vontade de rir quando ele rouba uma flor do jardim e
me entrega, tudo isso com o semblante pesado, como se ele realmente
estivesse arrasado. É tão... fofo. Quantas flores ganharei até a noite?
Matheus definitivamente não está mesmo para conversa hoje.
Almoçamos no mais completo silêncio. Ele só responde as minhas
perguntas e nada além delas.
Quando vamos embora ele pega mais uma flor e coloca em meu
cabelo.
— Eu me esqueci...
— De? — Questiono.
— Você vai vestida assim para o psicólogo? Puta que pariu, mais
um motivo para eu estar mal no dia hoje. — Estou vestindo uma saia preta
levemente rodada, uma camiseta básica e sandálias de salto. Não há nada
errado aqui, mas, para ele esse é quase o fim do mundo. Homem das
cavernas perde para Matheus.
— Ah! Matheus Albuquerque, não vejo tantos motivos assim não.
Você está parecendo um bebezão grande. Nem Isis dá essas crises. —
Repreendo e ele me encara com suas covinhas lindas.
— Maldição!
— Vai ficar de castigo se continuar malcriado. — Ameaço.
— Ah é? Vai me castigar como? — Pergunta abrindo a porta do
carro para eu entrar.
— O deixando sem sexo por uma semana. E saiba, sou bastante
firme em meu propósito. — Ele sorri, finalmente.
— Eu estava só brincando. Juro. — Argumenta com seu rostinho
angelical.
— Que ótimo, meu amor, eu adoro que você tenha estado apenas
brincando. Mas, já fica o aviso se for verdade! — Ele fecha a cara
novamente e seguimos rumo ao consultório de Ricardo.
Rei do drama, seu nome é Matheus Albuquerque!

No consultório, Matheus começa seu próprio ritual de marcar


território. Ele até mesmo ajusta o decote da minha blusa, que é quase
inexistente. Quero rir, mas consigo conter. Além de dramático, o homem
pode ser ciumento, muito ciumento.
— Vic! — Ricardo exclama ao me chamar e Matheus paralisa suas
mãos em meu pescoço, o encarando.
— Senhorita Victória, futura SENHORA. — Meu covinhas diz e
me dá um beijo casto nos lábios. — Vá, Sadgirl. — Sussurra. — Vou
matá-lo.
— Senhorita Victória, você está bastante sumida. — Ricardo diz,
seguindo à risca o que Matheus disse, assim que fecha a porta atrás de nós.
— Está linda.
— Obrigada. — Sorrio. — Aconteceram muitas coisas nos últimos
dias, eu vou demorar ao menos três consultas explicando tudo. Mas,
especialmente hoje, eu preciso apenas da sua ajuda para me manter sã. Eu
não quero assustar meu namorado, estou lutando firme como nunca lutei.
Travando uma batalha interna. Eu estou tão desesperada... — Me deito e
tapo meu rosto com as mãos.
— O que está acontecendo?
— Matheus pode descobrir hoje se será pai... pai do filho da mulher
do meu irmão. Você entendeu?
— Ele transou com a mulher do seu irmão? — Ricardo pergunta
aparentemente chocado.
— Ela não estava com meu irmão e nem Matheus estava comigo.
Ambos estavam solteiros. Ela foi criada como irmã dele, então eu achei isso
bastante absurdo, mas, tentei me manter liberalzinha. Porém, a dita cuja
engravidou e a possibilidade dessa criança ser dele está me tornando
psicopata. — Confesso, sentindo-me aliviada por poder desabafar.
— Há algum campo da sua vida que não seja tão complicado? —
Ele pergunta sorrindo e eu o amo por isso. Ricardo sempre consegue
dissipar a tensão e conduz as conversas como um amigo.
— Apenas um, a maternidade. É sério Ricardo, eu estou com
instinto violento aflorado desde o dia em que essa possibilidade surgiu.
Eu... me desculpe falar, mas preciso falar. Estou tendo sexo alucinante e
nada parece suficiente para conter essa fúria. Quando mais sexo violento
tenho, mais eu quero ter.
— Há necessidade de dor?
— Não, não por enquanto. Há a necessidade de marcá-lo, muito
grande. Eu sinto que estou perdendo um pouco a linha. Tenho tomado
minhas medicações, mas, ainda assim, há aquela necessidade de marcá-lo.
Você compreende? Eu quero ter tudo dele de forma que não sobre nada para
mais ninguém. Eu não vou entrar em detalhes íntimos, mas estou perdendo
a noção sexualmente dizendo.
— Dominação?
— Sim. Eu não posso fazer isso com ele. Não posso. Eu só preciso
que você me ajude a lidar com isso, apenas isso... Você sempre encontra
palavras certas e sabe como lidar. Ricardo, eu me sinto agindo como uma
dominadora, levando a relação sexual para o que fui acostumada ter e com
Matheus isso apenas não pode acontecer. Ele não merece, eu não mereço
mais. Só estou um pouco descontrolada. — Explico. — Você sabe, fui
iniciada com todas aquelas coisas horrorosas e aquilo acabou tornando-se
parte de mim, porém, agora isso precisa acabar.
— Vamos lidar com isso. — Diz e eu realmente acredito que ele
vá me ajudar.

— Pelo menos, em breve, poderemos transar sem equipamento de


proteção individual. — Matheus simplesmente diz isso do nada.
— E por que você está dizendo isso assim, do nada? — Questiono
sentada na recepção da clínica da obstetra de Jéssica, onde aguardamos a
chegada da ilustríssima e meu irmão.
— Porque estou pensando em sexo para desviar a tensão. —
Justifica.
— Entendi. Sente aqui do meu lado, amor. — O puxo pela blusa e
então ele se senta. — Eu entendo que seus planos não era se tornar pai
agora...
— Eu me tornaria pai agora, de mais um filho seu.
— Matheus, você está entendendo perfeitamente o que estou
falando. — Repreendo e ele sorri.
— Ok, só estou expondo minha vontade.
— Você quer um filho agora? Sério mesmo? — Pergunto chocada.
— Apenas controle-se. Você está sendo impulsivo em relação a isso. Eu não
posso ser mãe agora, amor. Preciso focar em meu tratamento, há muito pela
frente.
— Acidentes acontecem, não vê Jéssica, não vê nosso acidente de
olhos azuis? Pode acontecer um acidente e você ficar grávida de um bebê
meu.
— É. Um acidente, Matheus. Eu estava andando e cai em cima do
seu pau desprotegido! — Quase falo alto demais e ele começa a gargalhar.
— Voltando ao que interessa e falando realmente sério agora, Matheus, sem
gracinhas. Sabemos que não era o seu plano, mas ficar tenso desse jeito não
vai resolver, ok? Você é exemplo de força, você precisa usar isso agora.
Aconteça o que acontecer, seja o resultado que for, nós vamos estar juntos.
— Não sei como estou conseguindo dizer isso a ele quando me encontro
muito mais descontrolada que qualquer pessoa aqui.
— Promete que isso não vai abalar nosso relacionamento? — Ele
permite mostrar-se vulnerável e engulo a seco todos os meus medos e
terrores. Preciso dar isso a ele. Ele tem estado comigo em todos os
momentos, é a minha vez de mostrar a ele que posso ser seu porto seguro.
— Eu prometo. — Tento passar convicção quando eu nem mesma
possuo.
— Oi. — Pietro diz chegando com Jéssica e eu e Theus nos
levantamos para cumprimentá-los. Felizmente, ela parece bem melhor do
que estava na ilha.
— Então, nós já podemos entrar? — Matheus pergunta ansioso.
Jéssica vai conversar com a recepcionista e seguro a mão dele. Meu coração
está pequeno pela forma como ele retribui o aperto, como se esse simples
gesto fosse capaz de deixá-lo mais calmo e confiante.
— Podemos entrar. — Jéssica avisa e eu solto meu namorado para
abraçar meu irmão.
— Seja forte, por favor, Pi. —Digo em seu ouvido para que apenas
ele ouça.
— Eu estou tentando duramente.
— Eu também. — O abraço mais forte e volto para Matheus.
— Eu te amo muito, meu amor. Eu estarei aqui por você, como
você esteve por mim quando eu mais precisei. Eu amo você, demais,
demais e demais.
— Eu te amo, você vai casar comigo, Sadgirl. — Avisa piscando
um olho. Vejo Jéssica nos observando e respiro fundo antes de caminhar até
ela. Tenho a completa certeza de que ela está tão fodida ou mais fodida que
Pietro e Matheus.
— Ei, eu estou torcendo para que o resultado seja de acordo com a
sua vontade.
— Obrigada, Vic.
— Independente do que disserem lá dentro, essa criança vai ter uma
ligação comigo. Eu estarei aqui por você. — Ela limpa algumas lágrimas
que surgem e me abraça forte.
— Vamos saber através das semanas, se der. Eu espero que dê tudo
certo, Victória, espero de coração. Reze para que dê para obtermos a
confirmação. Por favor.
— Eu rezarei. — Ela balança a cabeça em agradecimento e os três
seguem rumo ao consultório sob olhar curioso das recepcionistas.
Fico sentada por alguns minutos, me levanto, ando de um lado para
o outro, eu quero gritar, me arranhar, eu quero tantas coisas. Nem mesmo a
maior das fortalezas é impenetrável. Eu me sinto desestruturada agora, por
completo. Estou desesperada.
Cinco minutos se passam.
Dez minutos se passam.
Vinte minutos se passam.
Vinte e três minutos e então meu namorado surge saindo do
consultório.
Ele está branco como a folha de um papel e isso faz meus
batimentos aceleram de uma só vez.
— Theus... — Engulo seco. — Há um resultado?
— Há.
— Oh meu Deus! — Exclamo quase desmaiando. Ele é pai do filho
da Jéssica?? Meu Deus!
— Jéssica está grávida de quatro semanas. O filho não é meu, é de
Pietro. — Ele diz e eu voo em seus braços voltando a respirar livremente.
Puta que pariu! Eu morri mil mortes até esse momento!

Eu nunca precisei usar tanto da minha fé como nos últimos dias. A


crise de Jéssica está devidamente controlada, ela já foi a uma consulta
psicológica e estamos tentando seguir o curso normal das coisas. Tentando.
No fundo estou carregando comigo o peso do medo e da insegurança.
Dois fantasmas terríveis.
Pior, eu vejo o mesmo medo na cara de Matheus, porém, por
motivos diferentes. Eu o compreendo.
Nossa sensatez tem sido alvo de críticas e elogios entre os
familiares. Mas, que porra eu posso fazer? Há a mulher que eu amo e um
bebê no meio de toda essa confusão. É complexo, louco, instável, é uma
porrada de coisas.
Eu e ele estamos sentados diante da médica, calados, enquanto
Jéssica está se trocando. A ansiedade e palpável e o silêncio é barulhento
em minha mente.
A situação é constrangedora, não há como negar. Principalmente
para mim, que sou casado com Jé. Eu imagino o que essa médica está
pensando nesse momento, e não é nada bom.
Matheus está tão fodidamente insano que não aguenta e acaba se
levantando. Ele vai até a janela e apoia os cotovelos no beiral. Eu decido o
acompanhar porque está foda pra mim também.
— Foda né. — Digo ao lado dele olhando a imensidão do mar
diante de nós.
— Cara, a culpa é minha. Eu espero que o meu erro não prejudique
a vida conjugal de vocês dois. De coração. Espero muito que esse filho seja
seu, mas se ele for meu eu ficarei feliz em dividi-lo com você. E se ele for
seu, será meu sobrinho de qualquer forma.
— Espero que isso seja resolvido hoje ou sinto que vou enlouquecer
com a incerteza. — Desabafo e ele coloca uma mão em meu ombro.
— Somos dois, ou talvez sejamos quatro enlouquecidos. Jéssica vai
ser prejudicada e eu sei que Victoria também. Teremos que contar com a
sorte agora.
— Tudo em família, isso complica ainda mais. — Confesso e ele
abaixa sua cabeça. O arrependimento está ali, bem no rosto dele, embora eu
saiba que ele não vai admitir.
— É.
— Nós dois não tivemos oportunidade de conversar, então eu
gostaria de agradecê-lo por tudo que fez e tem feito pela minha irmã. —
Digo. — Nós nunca suspeitaríamos de algo dessa proporção. É gratificante
saber que as pessoas que fizeram isso enfim estão pagando. Antes tarde que
nunca.
— A luta está começando, haverá audiências, julgamentos por
vários crimes, mas, felizmente, responderão presos pelo fato de vários dos
crimes cometidos serem inafiançáveis. Eu darei meu melhor para que eles
morram lá.
— Eu os mataria com as minhas próprias mãos. — Eu os mataria
mesmo. Até agora a ficha de tudo que Vic viveu ainda não caiu cem por
cento.
— Pronto. — Minha mulher diz ganhando nossa atenção. Meu
coração volta a acelerar no ritmo descompassado.
Pelo amor de Deus, estou com medo pra caralho. Ansioso ao
extremo.
Ela se senta em uma cadeira, pronta para ser submetida ao exame.
A médica pega um aparelho bastante estranho e Matheus interrompe a
situação.
— Só um momento, a senhora vai enfiar esse.... essa... isso nela? —
Matheus pergunta.
— É um aparelho de ultrassonografia transvaginal. Não vai
machucá-la. — Ela explica pacientemente.
— Oh merda! Não olharei. Digam quando eu puder ver. — Ele diz
ficando atrás de Jéssica virado para a parede. Isso quase me faz rir, porém,
eu olho para Jéssica e o riso morre.
Ela está me olhando com um olhar que está me destroçando. Me
aproximo e seguro sua mão fria.
Por que ela fez uma merda dessas? Transar com Matheus já era
muito, transar sem camisinha é foda pra caralho. Agora, por conta dessa
merda, estamos aqui, três fodidos, visivelmente abalados e infelizes.
Quero que isso acabe hoje. Por favor, Deus, permita que isso acabe
hoje.
— Bom, vamos lá. — A médica introduz o aparelho em Jéssica e
uma imagem surge na tela. Primeiro tudo escuro, mas, após alguns
segundos surge um pontinho mínimo. Um pontinho que faz meu coração
parar de bater alguns segundos.
— Eu já posso olhar? — Matheus pergunta tirando minha atenção.
— Pode.
— Oh meu Deus! Aquilo é um bebê? — Questiona levando sua
mão até a boca e eu volto meu olhar a Jéssica. Ela está impassível, como se
estivesse em transe. Ela nem mesmo está olhando para a tela agora, seu
olhar está fixado em mim.
— Bom Jéssica, está tudo certinho. Há um bebê aqui. Você disse
que o teste constou oito semanas ou mais?
— Sim.
— Pelo que estou verificando seu bebê está com no máximo quatro
semanas. — Eu retiro minha mão da dela e as deposito sobre meus joelhos.
Puta que pariu! A médica está falando uma série de coisas e eu nem mesmo
consigo escutar nada. Eu só preciso respirar. É isso. Respirar e soltar a porra
toda que estava presa dentro de mim.
Aquele pontinho ali na tela fui eu quem fiz.
Puta que pariu! Graças a Deus, graças a Deus!
Quando enfim levanto minha cabeça Matheus está abraçado a
Jéssica, que finalmente está reagindo às emoções.
— Você vai ser feliz, Jé, pra caralho. Eu te amo muito, muito, com
todo meu coração. Estou feliz por você e por Pietro. — Ele termina de falar
e se afasta. Surpreendo-me com as lágrimas em seus olhos quando caminha
até mim. — Cara, mais uma vez, me desculpe. Estou feliz pra caralho por
ser seu. Eu amo sua irmã, quero que ela seja a mãe de todos os meus filhos.
Serei um bom tio para esse garotão ou essa princesa.
— Vá lá, ela deve estar tacando fogo na recepção.
— Puta merda! Isso foi muito fodido! — Ele exclama
visivelmente perturbado. — Só estou conseguindo respirar normal agora.
— Eu também. Serei pai. — Sorrio aliviado.
— É bom pra caralho, embora eu não tenha tido a sorte de
acompanhar Vic. — Isso é fodido, eu imagino. — Vou lá ver minha garota.
Boa sorte para vocês dois. Eu amo você, Jé!
— Amo você, Theus.
— Não fique puto, é amor fraternal mesmo que... enfim. — Ele me
dá um tapa nas costas e sai.
Eu sei que eu os conheci ouvindo-os dizer esse "eu te amo", mas,
depois do que aconteceu, tudo isso é desconcertante e complicado para
aceitação. Decido dispensar os pensamentos desagradáveis, agora há outras
coisas que requerem minha dedicação completa.
— Você já pode se trocar. Enquanto é isso, farei alguns pedidos de
exames necessários. — A médica diz e então Jéssica se levanta e vai se
trocar.
Me acomodo mais uma vez na cadeira de frente para a médica e
espero até que Jéssica esteja sentada ao meu lado.
A médica passa alguns minutos conversando conosco, explicando
algumas questões, inclusive explica que até a nona semana conseguiremos
saber se é uma gravidez múltipla levando em conta meu histórico gemelar.
Saímos do consultório de mãos dadas e no mais absoluto silêncio.
Caminhamos até o condomínio e, quando chegamos em casa, Jéssica joga
sua bolsa em cima do sofá e se desfaz de todas as roupas, deixando-as
caídas no chão da sala antes de seguir para nosso quarto.
Eu vou atrás tentando entendê-la e a encontro embaixo do chuveiro,
com as mãos apoiadas na parede, chorando. Chorando como eu nunca a vi
chorar antes.
Me desfaço das roupas, me desfaço da raiva, do medo, me desfaço
de todos os nós que estavam me sufocando. Me coloco ao seu lado e então a
pego em meus braços, mais uma vez. Isso é amar, não é? Eu estou fazendo
a minha parte.
— Você acredita em milagre? — Ela pergunta ainda chorando
olhando em meus olhos.
— Eu acho que sim.
— Eu pedi a Deus, mas, eu pedi também aos meus pais. Eu nunca
os pedi nada. Passei minha vida toda tentando esquecer da perda. Acredite,
eu nunca, nunca os pedi nada, Pietro. Nunca. Eu os pedi ontem pela
primeira vez. Eu os pedi que me ajudassem, que fizessem esse bebê ser seu.
Se o resultado tivesse sido diferente eu estaria destruída agora, isso afetaria
a vida de todos, não apenas a minha. Pi, eu nunca quis ser mãe. Mas, desde
quando o resultado do teste de farmácia saiu eu passei a me concentrar num
único propósito, ser mãe do seu filho. Eu quis tanto que ele fosse seu, tanto.
E, Deus, acompanhando dos meus pais, me deram isso. Eles me deram a
chance de fazer tudo diferente com você. — Ela escorrega pelo meu corpo,
caindo de joelhos ao chão. Não consigo esboçar reação alguma. Só quero
entendê-la. Mas, então, ela agarra minhas pernas e isso se torna demais para
mim. — Me perdoa por tudo que eu já te fiz. Por favor, Pietro, me perdoa
por tudo.
—Jé, levanta-se.
— Não, deixe... deixe eu falar tudo. Preciso disso, preciso falar
agora. — Ela parece fraca. Isso me faz me ajoelhar junto e pegá-la em meus
braços mais uma vez. Tudo que tenho feito nos últimos dias é pegá-la
quebrada. — Pi, eu sei tudo de errado que fiz. Eu te larguei algumas vezes
porque algo em minha mente sempre gritou que você precisava de alguém
melhor que eu. Talvez eu tenha falhado em demonstrar meus sentimentos a
você, falhei em tantas coisas, Pi. Mas agora eu não tenho como voltar atrás
mais e corrigir, posso apenas recomeçar. Nós seremos uma família. Algo
que nunca imaginei constituir e que está acontecendo. Vou tentar ser a
melhor por você e pelo nosso filho. Eu quero ser melhor, quero mostrar a
você o quão enganado você estava se algum dia pensou que eu não te
amasse. Porque eu te amo Pietro, eu te amo, eu só não sei como demonstrar.
Você faz isso tão fácil... e eu? Eu apenas não consigo. Guardo tudo e não
exponho. Mas te amo Pi, eu te amo como meu homem. Um homem que faz
um monte de loucuras comigo, um homem ousado, destemido, um homem
seguro e generoso, um homem perfeito que Deus quis que fizesse parte da
minha vida. Não vou mais fugir Pi, não vou. Farei o que necessário for,
tratamentos, exorcismos, qualquer merda que seja necessária.
— Sabe qual é seu problema? O único problema, Jéssica? Um que
arruína todo o resto?
— Não.
— Falta de fé em si mesma. Eu não me apaixonei por você pelo seu
corpo lindo, pela sua loucura. Eu me apaixonei pela mulher foda que você
é. Porque mesmo que sofra alguns transtornos de personalidade, você
consegue ser um mulherão do caralho. Eu vou dizer isso uma última vez Jé,
eu juro por Deus que será a última. Você é incrível, é a minha maior
incentivadora, ajudou eu ser o homem que sou hoje, esteve ao meu lado em
todos os momentos, até mesmo quando estávamos separados você sempre
me oferecia apoio quando eu precisava. Você possui uma infinidade de
qualidades. Eu não vou ficar provando a você o seu valor, não mais. Eu só
peço que você os enxergue. Você enxergando o quão valiosa é, todo resto
vai dar certo. Eu proponho começarmos nossa vida juntos a partir de hoje.
O ontem não vai mais existir. Nós precisamos apagar da mente os últimos
acontecimentos e precisamos nos concentrar na nossa família.
— Você quer casar comigo? — Ela pede olhando em meus olhos.
— Nós já somos casados.
— União estável não muda status civil. Eu quero me casar com
você, de verdade. — A anti-casamentos quer se casar de verdade?
— De véu e grinalda? — Questiono. Isso é algo que ela sempre
abominou, com todas as forças. Ela sorri em meio as lágrimas, porque sabe
que é exatamente nessa linha de raciocínio que estou pensando.
— De véu e grinalda. — Afirma me surpreendendo.
— Oh, temos aqui um belíssimo avanço. — Brinco e ela enfia seus
dedos entre meus cabelos. Eu deveria cortá-los, mas ela é apenas
enlouquecida neles.
— Eu amo você, de verdade. Desde o início. Desde o primeiro
beijo. Eu só sou travada em me doar, Pi. Mas, sei que vou conseguir mudar,
quero isso. Eu sinto que o tratamento vai me ajudar muito e me arrependo
por ter fugido todas as vezes em que Tia Mari tentou me forçar. — Eu
também sinto muito. Provavelmente isso teria nos livrado de muitos
momentos ruins.
— Nós vamos nos casar, Jé...
— Nós vamos? Você aceita de verdade?
— É a nossa última grande chance de fazer o certo. — Eu espero
muito que dê certo.
— Eu agarrarei essa chance com toda minha força, prometo a você.
— Eu consigo ver verdade em seus olhos. Eu amo essa mulher,
extremamente, nos mais diversos sentidos da palavra amor.
— Eu agarrarei você agora então, mamãe.
— Tudo bem, papai.
— Não aqui, na nossa cama. Quero fazer amor com você Jé, como
eu nunca fiz antes. Eu apenas pensei que a perderia e que dessa vez seria
para sempre. — Confesso apertando-a em meus braços.
— Eu pensei a mesma coisa. Não quero perdê-lo, não mais. Nunca
mais.
— Por favor, diga-me quando estiver se perdendo e então eu a
encontrarei. — Peço grudado em sua testa.
— Eu estarei perdida em você dentro de alguns minutos.
— Eu te encontrarei em mim, então. Te amo.
“Aparecendo, desaparecendo
À beira do paraíso
Cada pedaço da sua pele é um Santo Graal que tenho que encontrar
Só você pode incendiar meu coração”
Ellie Goulding – Love me like you do

PELO AMOR DE DEUS!


PUTA MERDA!
Estou num momento onde a necessidade de gritar está absurda. Que
alívio!
Minha Sadgirl está em meus braços e nesse momento há um
conflito de sentimentos digladiando em meu interior. Alívio, adrenalina,
fúria, ira, entre outros. Porra, mil vezes porra! Acho que nunca passei por
uma situação que testasse tanto o meu autocontrole e minha fé. Eu espero
me ver livre de problemas por pelo menos quatro décadas, mas, sei que isso
não é o que vai acontecer. Esse problema foi causado pela minha falta de
juízo e serviu de lição.
Finalmente, após dias de tortura interna, consigo voltar a respirar.
— Eu tive tanto medo, Victória. — Confesso sem vergonha alguma
por estar chorando de alívio.
— Eu também tive, Theus, estava desesperada. Quando você saiu
daquela sala completamente branco eu pensei que você me diria algo
completamente oposto ao que acabou de dizer. — Ela faz sua confissão,
deixando-me um pouco preocupado.
Por todos os traumas que ela possui, a privei de saber do meu
desespero. Eu preciso estar no controle, preciso passar minha força a ela,
mesmo que em alguns casos, tipo esse, tudo vacile em mim.
— Foi uma situação desagradável para caramba, eu me senti avulso
ali, mas, era algo que eu precisava passar, entende? Porém, ainda assim, eu
era o intruso no meio do casal. Não foi agradável, na verdade, foi
desesperador, Vic.
— Estou orgulhosa por você ter assumido a possibilidade e a
possível responsabilidade. Você é um grande homem, Theus. Suas atitudes
são realmente honráveis. Você sabe que errou e então deu tudo de si para
tentar assumir as consequências. É honrável, mesmo que eu tenha ficado
com ciúmes e num completo desespero. — Ela diz agarrada ao meu
pescoço.
— Você sentiu ciúmes, pequeninha?
— Eu morri. — Sua confissão toca algo em meu interior.
— Não precisa sentir ciúmes, você é a única que quero para ser mãe
dos meus bebês.
— Eu me lembrei da primeira vez que fui à obstetra, sozinha. —
Ela desabafa num tom quase inaudível. — Vê-lo tão preocupado a ponto de
ir à consulta com Jéssica doeu um pouco em mim. Eu imaginei como teria
sido minha primeira consulta se você estivesse ao meu lado. E então isso
doeu, Theus. Doeu porque eu sei que você teria estado comigo em todos os
momentos. Doeu porque foi uma escolha unicamente minha afastá-lo e
privá-lo desse momento. Eu imaginei se você ficaria emocionado, se
seguraria minha mão, como seria após sairmos do consultório... — Isso faz
meu peito doer. Aquele leve fisgadinha. Minha garota quebrada ainda sente
tantas dores.
— Ainda teremos esse momento, Vic e eu já te adianto, ficarei
emocionado. Serei o mais bobo de todos os homens. É o meu sonho vê-la
grávida. — Confesso.
— Você é tão perfeito e eu fui tão filha da puta. — Ela choraminga.
Foi mesmo, mas, após saber de todas as coisas que ela passou, é bastante
compreensivo.
— Eu entendo você agora, amor. Não quero ficar tocando mais
nesse assunto. Nós agora estamos um passo à frente de tudo isso.
— Você me perdoou de verdade verdadeira? — Porra, ela também é
fofa muitas vezes. Mas, nem mesmo sua fofura vai acalmar o monstro que
quer sair de dentro de mim nesse momento.
— Pequeninha, eu te amo, princesa.
Foda-se se minha namorada está em meus braços agora. Eu apenas
preciso sair daqui.
Com ela agarrada a mim, ando em direção aos elevadores.
— Me solte.
— Não.
— Você está me espremendo. — Ela protesta e por nada desse
mundo a colocarei no chão.
— Eu estou. — Respondo e ela fica quietinha. É bom que minha
garota se acostume, eu sei ser tão louco ou mais. Para que levar a vida tão à
sério? Ser divertido e louco é a melhor coisa que uma pessoa pode fazer por
si mesmo.
Entramos no elevador cheio, onde todos os olhares estão sendo
dirigidos a nós. Eu espero que nenhum engraçadinho diga algo ou ele
experimentará meu soco de direita.
O elevador faz algumas paradas filhas da puta até que consigamos
chegar ao carro. E, quando chegamos, eu a acomodo dentro, mesmo
querendo ter um momento quente em cima do capô. É sério. Eu acho que
nunca senti tanta vontade de transar em toda minha vida. É a adrenalina, o
alívio, é essa porra toda. Eu apenas preciso da minha mulher bem forte e
duro. Neste momento, nem mesmo quero pensar que marquei sua bunda.
Dirijo um pouco apressado. Quando paro no sinal vejo Victória
contendo um sorrisinho enquanto morde o lábio. Estou falando, essa mulher
é pior que o diabo. Na verdade, eu acho que ela quem ensinou o diabo a ser
o diabo. Essa mulher é safada, pra caralho, em grandes proporções. Eu sou
capaz de apostar que ela está pensando em foder, assim como eu.
— Que sorrisinho é esse? — Pergunto curioso e inocente. Sou
muito inocente às vezes, é verdade.
— Eu quero que você me leve para casa e foda minha bunda.
— Claro. — Rio e então me dou conta que ela pediu para eu foder
sua bunda. — Repita por favor. — A encaro um pouco chocado. Ela se vira
de lado e então coloca sua delicada mão por cima da minha calça.
— Quero que me pegue por trás, Sadboy, acha que pode fazer isso
ou é difícil demais para você?
— Quer casar comigo? Sério mesmo! Eu me lembro de um dia na
cozinha da sua casa você ter dito que eu era o homem perfeito e enumerou
dezenas de qualidades. Até aí tudo bem. Ambos sabemos que possuímos
defeitos e que aquilo que você estava dizendo era um exagero. Mas, agora
vamos falar de você. A sua maneira sexual de corrigir os problemas, puta
que pariu, Victória! Se você está puta quer foder como uma louca, se está
triste quer foder moderado, mas, o seu moderado ainda é terror e pânico. Se
está feliz quer me dar a porta dos fundos. Meu bom Jesus! Muito obrigado
senhor, obrigado! Eu vou morar e morrer na sua bunda, meu amor!
— Ok, eu entendi, mas não precisa do Rio de Janeiro ouvir que
você vai morar na minha bunda, meu amor.
— Ok, eu só estou muito louco hoje, você é doida de me oferecer
isso quando me encontro descontrolado pra caralho. Eu lutaria UFC agora e
ganharia aquela merda, mataria Anderson Silva na porrada. — O sinal se
abre e eu dirijo com um pouco mais de urgência. Aperto o botão ao lado
volante e então ligo para minha mãe.
— Oi, neném da mamãe.
— Mãe, preciso que busque Isis quando for buscar Heitor e
Arthurzinho. — Vic dá uma risadinha baixa e eu quero dar três tapas nessa
cara de safada.
— Aconteceu algo? Já sabe o resultado? Diga, inferno!
— Pietro o pai.
— Oh meu cu, não acredito! É sério? Ai meu Deus, estou tão feliz
por minha Jé e por Pietro e por você e pela Vic e por todos e... É bem feito,
seu filho da puta, é bem feito que você tenha passado por uma situação
dessas. Você já imaginou se tivesse sido com uma desconhecida? Já
imaginou se neste momento você estivesse esperando o resultado de um
exame de HIV ao invés de o resultado de uma gravidez? Eu espero que isso
não se repita, Matheus Albuquerque. — Ela grita.
— Eu nunca transei com mulheres aleatórias sem encapar meu
garoto. — Vic me dá um olhar assassino. O que posso fazer? Já tive sexo
com outras mulheres, ué.
— Transou com Jéssica, e transou com Victória aos dezessete anos,
quando ainda eram crianças. — Dona Mari solta sua fúria.
— Criança que faz criança não é criança. — Rebato usando uma
frase que ela mesma já falou.
— Você foi irresponsável, Matheus. Eu não estou brincando agora.
— Eu sei mãe, já acabou. A sorte hoje resolveu cooperar com
todos. — Olha o sermão aí minha gente. Enquanto é isso Vic está com cara
de quem está amando o esporro.
— Mas poderia ter sido diferente, Matheus. Todos iriam sofrer.
— Eu sei disso, mãe. Ouso dizer que ninguém sabia mais disso do
que eu.
— Oi, Mari! — Victória diz contendo o ataque de dona Mariana.
— Ei Vic, meu amor. Estão indo namorar, né? Isis pode até dormir
aqui, eu não ligo não. Você viu a cama? Dá para colocar algemas e movê-
las, há alguns espelhos estratégicos onde dá pra você observar Matheus te...
— Mãe!
— Sexo é vida! — Minha mãe diz sua frase tão falada enquanto
Victória está num acesso de riso constante.
— Oh Deus, sua mãe é a melhor pessoa. — Elogia batendo sua
cabeça na janela do carro. Bem feito. — Merda! Isso doeu!
— Mãe, vou desligar, ninguém está muito normal hoje. Eu pego Isis
mais tarde.
— Deixe-a dormir aqui! — Minha mãe pede, mas não podemos. Se
eu for deixar minha princesa com a minha mãe todas as vezes que for
transar com Vic, minha garotinha vai morar lá. Eu quero muito transar, mas,
quero muito mais exercer a minha paternidade do que transar.
— Não mãe, eu preciso sentir como é a vida em família. Acabamos
de mudar, quero aproveitar esse primeiro momento. — É verdade. Viver em
família é abrir mão de algumas escolhas e controlar outras. Eu quero tudo, o
bom e o ruim.
— Oh meu bebezão mais lindo da mamãe, meu orgulho esse
menino, gente! Ai meu coração! Eu fiz filhos maravilhosos demais! —–
Sorrio.
— Mãe, vou desligar. — Digo revirando a porra dos meus olhos.
— Tchau, Mari!
— Tchau, Vic...
— Eu amo sua mãe, sério. Sua mãe deve acabar com seu pai entre
quatro paredes, eu fico até imaginando.
— Você imagina meus pais transando, Victória? — Pergunto
atordoado.
— Claro, quem não imaginaria? Os dois são os mais engraçados,
Theus.
— Eu não quero imaginar uma merda dessas não! Foque em nós e
nós. — Peço por gentileza.
— Tudo bem, bebezão, lindo da mamãe, pimpolho...
— Quero ver se você vai me chamar disso na hora que a cabeça do
pimpolho invadir um certo lugar. — Isso cala sua boquinha linda e, enfim,
me concentro apenas no trânsito.
Fodida Sadgirl do meu caralho!
Eu permito pensar com a cabeça de cima agora. E, todos os meus
pensamentos são dirigidos para possíveis hipóteses. Definitivamente, a
hipótese de ter quase me tornado pai há minutos atrás está fodendo minha
mente. Eu estou grato a todos os santos por ter sido tudo diferente,
felizmente.
Jéssica merece ser feliz. Ela é uma mulher incrível, um ser humano
ímpar. Ela sempre ajudou as pessoas sem pedir nada em troca. Sem dúvidas
eu quero muito que ela seja feliz e que o tratamento dê certo, assim como
sua vida de casada. Eu torço para que esse bebê traga estabilidade
emocional a ela. Tenho certeza de que um acontecimento desse porte muda
tudo.
Pensando nisso...
— Esqueci de passar na farmácia para comprar suas pílulas. —
Comento. Tomara que ela esqueça essa merda.
— Não são pílulas. Eu disse, mas você estava em outro mundo,
meu amor. É um adesivo contraceptivo. — Victória explica enquanto
estaciono na garagem do prédio. — Aqui, sinta. — Ela diz pegando meu
dedo e levando em seu braço que eu nem vi possuir tipo um adesivo
quadrado. Isso é o anticoncepcional?
— Doeu, pequeninha?
— Claro que não. — Ela diz rindo.
— Desculpe não ter percebido, amor. Quando começa a fazer
efeito?
— A médica disse que já começa, mas, eu quero esperar. Não quero
arriscar. Esperar ao menos sete dias. — Essa mulher teme engravidar com
todas as forças enquanto eu quero que isso aconteça muito rápido. Mas, o
que posso fazer? Nada!
Nada além de sexo.
— Tudo bem, amor. Eu te amo muito. Obrigado por estar lá
comigo.
— Você esteve comigo quando mais ninguém esteve. Você me
salvou de tantas coisas, Theus. Sempre estarei aqui por você. — Diz
sorridente. — Você parece mais calmo agora.
— Mas não estou. Vamos para casa. — Sorrio e então ela salta do
carro.

É engraçado como Matheus fala de sexo como se estivesse brincando. Você


acha que é apenas uma brincadeira pela forma como ele conduz as palavras.
Mas, basta estarmos completamente sozinhos em um ambiente para
perceber que absolutamente nada do que ele falou era brincadeira. As mil e
uma nuances de Matheus Albuquerque, se levadas a sério, o transformam
em uma bomba nuclear em todos os sentidos da palavra.
Ele está mexendo seu pescoço num ato que demonstra um certo
nervosismo. Seu rosto está tomado por uma expressão nunca vista antes,
algo que nem consigo decifrar. Sombrio descreveria. Como pode uma
pessoa se transformar em várias outras? Ele é assim. Num momento é uma
criança pirracenta, no outro é o divertimento em pessoa, no outro ele
totalmente paternal, é quente, e agora estou conhecendo um Matheus muito
sombrio.
É excitante.
É excitante para mim que adora rir na cara do perigo.
O elevador enfim chega na cobertura e então ele caminha a frente para abrir
a porta. A segura para que eu entre e a tranca com uma força que me faz
fechar os olhos ao mesmo tempo em que minha boca fica seca.
Ele retira a bolsinha de minhas mãos e a joga no sofá. O vejo caminhar
diretamente para o quarto e o sigo, ansiando por tudo. É estranho todo esse
silêncio, mas é excitante na mesma proporção.
Em nosso quarto, percebo uma iluminação mais fraca quando fecho a porta
atrás de mim.
Quando ele começa a abrir sua camisa de botões, eu paraliso meus pés o
observando. O corpo desse homem deveria ser proibido.
Seus braços são tão fortes que às vezes me assusta, seu peitoral... Eu olho e
milhares de pensamentos pervertidos rondam minha mente, imagino-me o
lambuzando com óleo corporal comestível e escorregando sobre ele.
Conforme joga os braços para trás para se livrar da camisa, sua calça cai um
pouco mostrando suas maravilhosas entradas rumo ao caminho do paraíso.
Sim, isso é algo que eu nunca me canso de ver. Eu tenho esse homem
todinho para mim, com todos atributos físicos capazes de destruírem a
mente de uma mulher e todo um pacote de qualidades interiores que me
fazem dobrar aos seus pés e reverenciá-lo. É uma aberração de homem. O
pacote completo que eu nunca imaginei ter novamente.
Ele me encara tão profundamente, retira seus tênis, suas meias. Em seguida,
chega na calça e meus olhos brilham em ansiedade. É a parte principal da
brincadeira.
É tão sexy vê-lo se despir.
Matheus é tão masculino. Eu não estou me referindo a gênero. Estou
dizendo em atitudes excessivamente masculinas. Tudo nele grita
testosterona. Sua respiração, sua voz, seu corpo, as veias saltadas, as
atitudes... um verdadeiro homão.
Sua cueca carrega o peso da sua excitação e eu me questiono em qual
momento ele ficou duro, porque eu perdi esse detalhe enquanto me perdia
em pensamentos sujos.
Ele se aproxima de mim a passos largos e então estou em seus braços,
sendo espremida mais uma vez. A pegada dele é algo que eu não consegui
descrever também. É aquele tipo de pegada que você teme pelos ossos do
seu corpo e que parece que vai te faltar ar de tão firme. É uma pegada que
mostra que, tanto estou protegida, quanto corro sérios riscos. Compreende?
Ele não me beija na boca. Ele apenas retira minhas roupas, deixando-me
apenas de calcinha e minhas sandálias. Sentindo o calor emanando de seu
corpo, sou conduzida até a cama, onde ele me faz deitar de bruços. Sinto
seu peso vindo sobre meu corpo e logo uma de suas mãos estão em meus
cabelos, os puxando com força, de uma maneira que eu amo.
— Theus...
Chamo seu nome como se fosse uma oração e ele aperta minha bunda com
sua mão livre.
Ele chega no cós da minha calcinha e começa a lamber minhas costas de
um jeito insano. Arrepia até meu último fio do cabelo e me faz contorcer
sob seu corpo. Ele sobe até minha nuca e a beija como se estivesse beijando
a minha boca indo até minha orelha, sinto sua barba raspar por onde passa e
isso acende um fogo desesperador em meu interior.
Agarro o edredom tentando controlar minha excitação, mas, a verdade é que
a forma como seu corpo está pressionando o meu é o bastante para me
deixar insana.
Descendo os beijos ele para mais uma vez em minha calcinha e abaixa cada
um dos lados dela de maneira tortuosa e uma lentidão desesperadora. Eu
arqueio meu corpo e o ajudo a livrar dessa peça que está bloqueando seus
atos.
— Mantenha sua cabeça na cama, se levantar a brincadeira está acabada. —
Ordena e torno-me uma garotinha completamente obediente.
Levando uma mão por baixo, até minha barriga, ele levanta um pouco meus
quadris e eu já me antecipo gemendo sabendo exatamente o que meu
homem está prestes a fazer. Primeiro eu ganho uma mordida na bunda e
então depois ele lambe minha intimidade. Começa pela minha boceta, em
seguida se afasta deixando-me sôfrega.
— Não levante a merda da cabeça. — Ordena novamente quando eu
descumpro a regra.
— Não me torture! — Imploro sentindo meu coração saltar pela adrenalina.
Quando ele volta, sua mão estala em minha bunda de um jeito que sei que
vai ficar marcada. Ele parece não ligar para isso nesse momento. Eu sempre
disse, Matheus tem tendências dominadoras. É exatamente isso que ele está
fazendo: dominando, ordenando e exigindo.
Sua respiração é de um predador extremo que anseia pela sua presa. Não
chega a ser um gemido, mas é tão bom quanto. Eu movo minha cabeça e
então sua mão está de volta em meus cabelos, segurando minha cabeça
presa ao colchão. Isso me faz arquear mais a bunda e ele gosta, porque
enfim solta um gemido em satisfação.
Ofego quando o sinto escorregar para dentro de mim, impiedosamente,
preenchendo tudo. Eu amo isso, amo bruto, amo nervoso, amo, amo e amo.
Quanto mais forte, mais perto meu corpo se aproxima do prazer. Eu amo
isso, nunca foi e nunca será um tabu. Há muito prazer sobre isso, basta fazer
com uma pessoa que saiba como fazer. É prazer, puramente prazer.
Matheus percebe isso, porque toma um ritmo que me leva muito rápido a
atingir o orgasmo. Eu não tenho tempo de recuperar. Ele não está satisfeito.
Seus dedos fazem movimentos circulares em meu clitóris e eu fico um
pouco mais insana agora.
— Oh Deus, por favor Matheus, mova-se. — Eu amo a dor, eu amo como
esteja doendo como o inferno. Ele é grande, é grosso, é perfeito para minha
dor
— Sério? Não está bom o bastante?
— Foda-se, eu quero isso, muito. Eu te amo, apenas faça isso. — Imploro
enlouquecida e então é o que faltava para ele explodir sua fúria. Eu sou
totalmente subjugada à sua vontade.
Meu homem se transforma, libertando-se de todos os instintos que ele tenta
conter. O sinto perder-se em suas próprias ações e seus próprios limites.
Sou puxada pelos cabelos e minhas costas encontram seu peitoral. Ele
segura firme meu pescoço e sinto seus lábios deslizando pela minha pele,
indo até o meu pescoço onde ele beija e seguindo caminho à minha orelha,
onde ele deixa uma mordida. Com sua mão livre, ele trabalha em meu
clitóris e eu estremeço. Acho que nunca havia doado tudo de mim como
estou fazendo agora.
— Puta merda! Victória, você é muito sádica. — Ele sussurra em meu
ouvido e então me joga de volta a posição em que eu estava.
Ele me trata de uma forma diferente, puramente carnal, deixando de lado
todo carinho que sempre tem. Eu sinto tanto prazer, que meu corpo se
desfaz mais uma vez.
— Fodida Sadgirl do meu caralho! Você é insana!
— Toda sua. Perfeita para você, Sadboy. Se perca em mim, como eu me
perco em você. — Provoco sentindo que ele também precisa dessa fúria
após o susto que passamos.
— Eu vou, Vic, puta merda, eu vou me perder por completo. — Ofega com
urgência e eu sorrio vitoriosa sentindo seu corpo explodir em prazer. —
Deus, Vic! Você é tão perfeita. — Geme me espremendo contra a cama
enquanto tenta se recuperar. — Tão louca e gostosa.
— Sua. Para você.
— Toda minha, para sempre, Vic.
— Para sempre, Theus. Nós podemos nos perder um no outro, entre quatro
paredes.
— Podemos. Eu e você podemos tudo, meu amor. — Sorrio e ele beija meu
ombro. — Eu te amo demais. Vamos tomar banho?
— Pode ir na frente, estou morrendo. — Ele sorri e sai de dentro e de cima
de mim. Quando ele se vai, enfio meu rosto no travesseiro tentando retomar
a sanidade.
O que foi tudo isso?
Fomos eu e ele. Sempre.
Estou morta. Dormiria agora sem nem mesmo me limpar, porém, meu
homem das cavernas volta com força total, me vira de frente e se encaixa
entre minhas pernas. Não sei como consigo, mas nós fazemos sexo
novamente e eu quase desmaio no final.
—Vamos tomar um banho, Sadgirl do meu caralho. Temos uma filha pura e
inocente para buscar. Quero levá-las para jantar em um restaurante no
shopping.
— Sério? Eu não sou capaz de levantar dessa cama agora. — Estou tão
destruída fisicamente, não quero ir.
— Eu correria a São Silvestre e chegaria em primeiro lugar. É bom começar
a acompanhar meu ritmo. — Não há como acompanhá-lo, mas vê tão feliz e
animado é quase revigorante. Quase.
— Ok! Garanhão fodedor.
— Estou feliz e mais tarado que o normal. Acho bom que fique boa, minha
Sadgirl, quando voltarmos eu quero você novamente — Avisa se
levantando e caminhando mais uma vez para o banheiro.

Chegamos ao prédio para buscar Isis e eu nem mesma sou capaz de


ir até o apartamento dos meus pais. Estou morta, acabada, exausta. É sério.
Já Matheus... parece ter voltado de uma sessão de ioga onde deve ter tido
muita maconha.
— Olá família! — Ele grita animado quando entramos e Isis corre
saltando em seu colo. Ela ama esse pai, é a coisa mais linda de ser ver.
— Pelo amor de Deus, Victória! Você está muito acabada! —
Mariana “elogia” quando eu me sento no sofá com um pouco de
dificuldade. — O que você fez com ela, neném da mamãe? — Pergunta à
Matheus e eu quero ver como ele vai responder por essa acusação.
— Mãe, Isis está em meu colo. — Ele justifica o fato de não poder
responder abertamente e eu acabo rindo.
— Como foi? — Ela me pergunta baixo.
— Oh, foi realmente incrível! Eu dormiria nos próximos três dias
consecutivos. — Confesso rindo.
— Esse é meu sangue mesmo! Sexo anal é vida. — Como ela sabe
que fizemos sexo anal? Não tenho muito tempo para levantar essa questão,
já que meu namorado surge com uma lata de Red Bull em mãos e me
entrega. O encaro séria, porém, ele começa a rir eu acabo rindo também,
como uma drogada.
— O que é isso papai? — Isis questiona.
— Energético, filha. Red Bull dará asas e forças para sua mãe. —
Ele diz rindo. — Mamãe malhou muito, está cansada, destruída,
pobrezinha. Vamos aproveitar a ida no shopping para comprarmos alguns
produtos que revitalizem a energia, tipo guaraná em pó.
— Ele é bem filho da puta. — Digo baixo. — Sem te ofender, Mari.
— Não me ofendeu, meu amor. — Ela sorri. — Matheus é bem
filho da puta mesmo. Ele deve ser como o pai, cara de santo, mas não
presta.
— Bora, Victória! Acorde, mulher! Vamos para o shopping! — Ele
está cheio das gracinhas.
— Ebaaaa! — Isis grita enquanto ele a segura em um braço e me
puxa com o outro.
Eu até tomo o Red Bull. Nunca um energético foi tão necessário.
Nos despedimos de todos e seguimos para o shopping. Minha sogra
sabe que eu fiz sexo anal! Eu acho que estou perdendo a noção completa.
Ficando mais louca do que já fui algum dia. Estou sendo contaminada.
Estamos andando pelos corredores, Isis está de mãos dadas comigo
assim como Matheus também está. Sua mão firme está esmagando a minha
e eu me pergunto se ele bateu com a cabeça hoje, porque parece
completamente louco, mais que o normal.
— Tio Rhael! — Isis grita feliz da vida. Merda, ela deve estar com
um pouco de saudades dele. Eu começo a rezar para que não toque nesse
nome novamente, porém, ela solta minha mão e sai correndo.
Meu sangue gela ao ver Rhael e Matheus estremece ao ver a filha se
jogando nos braços de um homem desconhecido para ele. Puta merda!
Destino cruel!
Ele me olha e eu fecho os olhos mordendo meu lábio inferior de
nervoso. O que diabos Rhael está fazendo aqui?
— Quem é aquele cara? Por que minha filha está o abraçando como
se ele fosse a melhor pessoa do mundo? — Meu namorado pergunta um
pouco irado. Não posso mentir.
— É Rhael.
— Ok, eu já entendi que ele se chama Rhael. Mas, quem é Rhael?
Eu quero saber. — Pergunta sério, realmente sério.
— Meu ex namorado italiano. — Digo esperando o apocalipse
acontecer.
— O que fez meu papel de pai por pouco mais de seis anos? — Ele
questiona e então eu engulo seco.
“Bem-vindo ao meu lado escuro
Vai ser uma longa noite
Bem-vindo à minha escuridão, eu estive aqui por um tempo
Nublando a luz do sol, sofrendo por um sorriso”
Bishop Briggs – Dark Side

Que situação desconfortante! Por Deus! Em alguns momentos pergunto-me


o que fiz em outras vidas para pagar tão caro nessa. Rhael não é uma ameaça, mas,
Matheus parece não enxergar esse pequeno grande detalhe. Ele está tomado por uma
raiva que está o cegando e o levando a falar asneiras. Rhael tinha que aparecer justo
no dia em que Matheus está um pouco fora de controle?!
— Ele nunca foi pai de Isis, Matheus Albuquerque. Isis nunca teve um pai
antes de você. Não existe qualquer homem nesse mundo que tenha feito o papel de
pai que pertence a você. Nunca permiti isso. — Informo.
— Parece que teve, olha como ela está agarrada a ele. — Há um peso em
suas palavras, como se vê-la com ele o machucasse. — Ela é minha filha e você é
minha futura esposa!
— Não sou sua futura esposa, não fui pedida em casamento!
— Eu não preciso pedir, você é MINHA! — Diz alto e então solta um
suspiro. Olá, homem das cavernas.
— Olha, nós estamos parecendo duas crianças discutindo no shopping por
conta de uma crise de ciúme infundado.
— Infundado? Aquele homem ali conviveu com a minha filha parte da vida
dela, mais tempo do que eu. Você me disse que ele sabia exatamente lidar com você
em determinadas situações, principalmente em crises, quando eu não sei e me cago
sobre isso. Você acha que é infundado? — Meu Deus!
— Compreendo você, Matheus. Porém, não há nada a temer. Ele pode ter
feito tudo isso, mas, há algo que ele nunca conseguiu. Acredite, ele tentou com todas
as forças, ele implorou, e todas as tentativas foram devidamente fracassadas.
— O que?
— Rhael nunca conseguiu fazer com que eu o amasse ou que eu ao menos
me apaixonasse por ele. Você é meu primeiro, único e último amor, Matheus. —
Digo e ele não esboça reação alguma. Seus olhos estão fixados em Rhael, que tem
uma Isis bastante contente em seus braços.
— Você já viu meus braços? — Matheus pergunta.
— O que? — Questiono observando os enormes braços dele.
— Observe bem meus braços. Observou? — Pergunta.
— Sim. Eles são grandes, assustadores, sinto-me protegida a cada vez que
estou entre eles, e, sinto tesão também. — Ele finge não ter ouvido.
— Os meus braços são, pelo menos, três vezes maiores que os braços dele.
Eu luto Jiu-jitsu, Box, MMA, faço Crossfit e musculação. Tenho um preparo físico
que poucos possuem.
— E? — Questiono.
— E eu vou matá-lo. Basta que ele se aproxime de você com segundas
intenções, Victória. Eu não estou brincando agora. Nunca tive que lutar por qualquer
mulher. Nenhuma mulher que tenha entrado em minha vida significou um décimo do
que você significa. NENHUMA. Sempre foi você. Não sei lidar com situações como
essa, portanto, se algo acontecer vou sair explodindo a merda fora de mim.
Principalmente por ter minha filha envolvida.
Sua ameaça me estremece, principalmente por saber que se trata de um aviso
real. Matheus pode ser brincalhão, agir como um garoto muitas vezes, mas ele é
adulto e maduro o bastante quando é necessário e, neste momento, ele está
mostrando que a brincadeira acabou.
Não sei se estou sendo inocente, mas, acredito que o que existiu entre Rhael
e eu, teve um ponto final quando voltei a Milão. Exceto a amizade, essa sempre irá
existir. Rhael foi um grande amigo e parceiro por bons anos. Na verdade, com todos
esses acontecimentos na minha vida em tão pouco tempo, eu o deixei de lado. Parei
de manter contato. Isso talvez seja um erro. Não é porque estou em um
relacionamento sério com o pai da minha filha que tenho me privar de amizades,
assim como Matheus não tem que se privar. É uma situação chata. Assim como
tenho ciúmes e implicância com Jéssica, sei que neste momento ele está sentindo a
mesma coisa referente à presença imponente do meu passado. Ele ainda tem que
lidar com o fato de que Isis ama Rhael. Eu o entendo.
Meu sangue gela quando ele se aproxima e oferece um aperto de mão a
Matheus, que força mais ainda seus musculosos braços. Guerra de testosterona
ativar!
— Madonna mia! Questa ragazza sembra belíssima, Victória. — Ele está
dizendo que Isis está linda e me abraça.
— Grazie, Rhael. Cosa ti porta qui? — Pergunto educadamente o que o traz
aqui.
— Ah, puta que me pariu! Vou ter que ligar o tradutor de áudio do meu
celular. — Matheus reclama e eu seguro o riso. — Se ele estiver falando que você é
linda, eu vou quebrar todos os dentes da boca dele!
— Mi manchi tantissimo. — Puta que me pariu mesmo! Se Matheus ouvir
isso... Ele acabou de dizer na frente do meu namorado que sente muito minha falta.
— Ma sono venuto a lavorare.
— Que porra ele está dizendo?
— Que veio a trabalho. — Explico apenas a última parte.
— Avise que eu vou matá-lo. Não, espere, eu vou pesquisar no Google
tradutor e eu mesmo falo.
— Amor, apenas pare, Matheus! Controle-se. — Peço tentando não rir.
— Sono andato in uno dei tuoi rifugi di famiglia ma non eri lì. — Rhael,
está dizendo que foi até um dos abrigos, porém eu não estava.
— Sono stato attraverso alcuni imprevisti. — Digo que estou passando por
imprevistos e ele sorri.
— Sério, estou começando a ter uma ereção ouvindo você falar italiano.
Porra! Isso é quente! Quando estivermos transando mais tarde você pode falar
assim? — Misericórdia, Matheus Albuquerque, fodido Sadboy!
— Matheus! Ele provavelmente não te entende, mas, todo o restante das
pessoas ao nosso redor sim, inclusive sua filha. — Advirto.
— Rimarrò in Brasile per alcuni mesi. Ti ho mandato una mail, per favore
rispondi. Voglio davvero parlare con te. — Ele acabou de dizer que ficará alguns
meses no Brasil... Uow. Alguns meses.
— Ele está falando que te mandou um e-mail. Estou ficando foda no
Italiano! Me passa a senha do seu e-mail. — Matheus solicita e eu finjo não ter
ouvido.
— Ti risponderò, Rhael. Sono felice di vederti. — Digo a ele que
responderei e que estou feliz por vê-lo.
— Anch'io. Ho perso questa ragazza. — Ele diz que também está feliz, que
sentiu falta de Isis e então sorri.
— Tomar no meu cu, essa merda! Ele está falando como se só estivesse
vocês duas aqui. — Matheus protesta o encarando sério. — Esse cara é modelo? —
Pergunta e eu seguro mais uma vez a vontade de rir. Matheus com ciúmes é um tanto
quanto diferenciado. E Rhael é bonito, muito. Não tanto quanto Matheus. Matheus
parece inalcançável na beleza, mas Rhael pode realmente tirar o fôlego de uma
mulher.
— Ele deve estar no mínimo sem graça, Matheus. Você está falando sem
parar e ele apenas não compreende muito bem. E não, ele não é modelo, é
engenheiro civil. — Explico.
— Eu sou advogado, resolvo seu caso na minha vara! Sou infinitamente
melhor que esse imbecil! — Eu amo um Matheus muito ciumento.
— Dobbiamo andare ora a Rahel. Sono contento di averti trovato. Isis ti
ama molto. — Digo que precisamos ir e que estou contente por vê-lo.
— Meu pau! Ela é minha filha! Ela ama a mim e não a ele!
— Va bene. Piacere. — Ele diz a Matheus.
— Mama me olhando! — Matheus entrega sua mão a ele e eles ficam nesse
aperto por longos e incontáveis segundos. Um olhando nos olhos do outro.
O que salva (ou não) é Isis agarrando Rhael mais uma vez.
— Zio Rhael, ti amo.
— Oh mio piccolo, ti amo anch'io. — Ele diz a beijando na testa e então me
puxa para um abraço forte. — Victória, a presto. — Se despede dizendo “até breve”.
— Ho capito alcune cose che ha detto. Sono, ancora qui per combattere. — Diz que
entendeu algumas coisas que Matheus falou e que está aqui para lutar. Eu engulo
seco fingindo não ter ouvido esse absurdo, ou Matheus vai mesmo matá-lo.
— A presto, Rhael.
— Não presta porra nenhuma, esse Italiano filho de uma puta! Sou mais eu!
E essa criança, que eu fiz com tanto amor e carinho está se rebelando para o lado
dele. Ingratidão fere alma! — Meu namorado protesta enquanto Isis chora vendo
Rhael ir. — Merda, ela está chorando. Eu odeio vê-la chorando. — Meu malvado
favorito se compadece e a pega em seus braços. — Não chora princesinha, papai está
aqui com você. Para sempre. Papai é muito mais legal. — Ele se parece como uma
criança agora, isso me faz rir de verdade.
—Tio Rhael, papai... — Isis soluça.
— Eu vou mata... — Matheus começa a dizer e eu o corto.
— Não! Tio Rhael, voltará filha, tudo bem?
— Meu...
— Matheus Albuquerque!
— Ok filha, ele voltará. — Diz passando a mão no cabelo de Isis e então
resmunga. — Na outra eternidade.

Nosso jantar gira em torno de Isis. Toda nossa atenção está voltada para
nossa filha. E isso é apenas porque estamos fugindo um do outro neste momento. Eu
sei que teremos problemas assim que chegarmos em casa, sinto isso. Nosso primeiro
problema por ciúmes ou seria o terceiro? Tem a Jéssicat cara de vedete! Eca!
Estou pensando em qual luta Rhael vai tornar-se um combatente. Me
recordo perfeitamente de nossa última conversa e lembrar dessa conversa, me leva
direto a tempos sombrios...

" —Estou perplexo. Onde está Victória Brandão? — Sorri. — Eu estou


feliz por ouvir tudo isso e triste porque sinto que não existirá mais um eu e você.
Eu tinha esperanças.
— Eu sinto muito. — Digo e ele balança a cabeça em concordância."
Merda!
"— Entregue senhorita. — Diz abrindo a porta do carro para eu sair.
— Grazie signore! — Faço uma reverência e ele me pega pela cintura
colando nossos lábios sem chance de escapatória.
Eu o afasto tentando conter a situação e ele solta um suspiro frustrado
dando um soco no carro.
— Eu não quero que vá para sempre. Eu quero ficar com você.
— Rhael, não é possível agora. Há muitas coisas acontecendo e muitas
coisas que você não sabe. — Digo segurando em sua camisa e olhando em seus
olhos.
— Eu fui paciente demais, Vic. Deveria ter sido um homem mais firme, ter
abalado seu mundo e reivindicado você como minha. Tive todas as chances e sinto
que as desperdicei. "
Mil vezes merda!
"— Ele pode dar o que você gosta, Vic? — Isso me faz pensar e eu sorrio
chegando a uma resposta."
Meu Theus, ele me dá muito mais do que qualquer ser humano conseguirá.
"— Não. Mas ele tem o poder de fazer mudar tudo que eu sempre gostei.
Ele tem o poder de me fazer gostar de todas as coisas que eu nunca fui
acostumada a ter.
— Amo você, Vic."

Tento desviar meus pensamentos, mas não consigo.

"Eu reluto no primeiro instante e isso traz Rhael um pouco mais violento,
exatamente como eu gosto e preciso. Ele segura firmemente em meu pescoço e
rosna como um cão raivoso.
— Aceite, Victória. — Ordena e eu começo a sentir meus pulmões lutando
pelo ar..."

Algemas, açoites, plugs, grampos, tortura, chibatas....

Merda!!! Merda e merda!


— Eu quero ir embora. — Anúncio um pouco desesperada.
— Já pedi a conta. — Matheus diz me olhando assustado. — Está tudo bem?
— Não.
— Ok, nós já estamos indo. Vamos resolver o que quer que seja. — Afirma
segurando minha mão.
—Tudo bem.
"Um frio objeto de metal invade minha intimidade e eu começo a luta pelo
controle sonoro. Ele me tortura até eu estar devidamente ofegante e, quando meu
corpo começa a curtir a invasão, ele retira o objeto e o substitui pelo seu membro
rijo, indo tão forte quanto possível. Enquanto ele me penetra pela frente o objeto
de metal passeia por meu ânus pedindo passagem."
— Eu quero ir embora Matheus...
— Vic, nós já estamos indo amor. O que está acontecendo?
"Pulsos feridos, os mamilos doloridos e algumas marcas vermelhas
espalhadas pelo corpo. "
"Me procure, venha até mim e eu saberei como lidar com você. Eu saberei
substituir sua dor, sempre soube."
Eu odeio me lembrar de Túlio... eu o odeio. O odeio porque ele sempre
estava certo... ele sabia lidar comigo. Não da forma grotesca que seu pai lidava, mas
de uma forma que acalmava a fúria dentro de mim. Todos eles estão gritando em
minha mente agora. Todos. Eu consigo ver o rosto de todos aqueles malditos homens
naquela sala nojenta... eu nunca mais quero vê-los, nunca mais.
" Chegou numa etapa em que eu passei associar sexo com a dor. Eu não
conhecia outra maneira, a dor para mim era o normal até eu conhecer você."
Eu respiro fundo algumas vezes tentando esconder isso de Matheus.
Simplesmente não quero que me veja assim, ele não merece passar por isso. Ele
pode me deixar... eu não quero que ele me deixe, nunca.
Estou em meio a uma crise. Uma crise de abstinência como uma drogada. Eu
deveria pegar meu celular e ligar para Ricardo, deveria estar com minhas pílulas em
mãos, mas eu apenas não estou.
"Quando a crise aumentar, tente lembrar de quem você era antes de tudo
isso acontecer. Procure ajuda, exponha o que está passando em sua cabeça. Me
ligue a qualquer hora. Você não tem que procurar a dor como alívio, você tem que
tentar conter a vontade de sentir dor. Não vai adiantar você pedir seu namorado
para te espancar, Victória, porque nenhuma pessoa normal fará o que você pedir.
É tudo sobre lidar com seu autocontrole."
Pego o restante do vinho na garrafa e despejo em meu copo feliz por
Matheus estar tentando distrair nossa filha.
Há alguns dias eu venho sentindo que algo iria explodir. Foram tantos
acontecimentos e então eu tive que me manter firme sobre eles. Ver Rhael foi o
suficiente para a bomba explodir. Ele nunca me fez mal, nunca. Sempre foi tão
bondoso, generoso, carinhoso. Vê-lo ativou algo em mim, algo que não é saudade ou
qualquer outra coisa. Ativou lembranças do quão sombria eu posso ser em algumas
situações. Não adianta... eu estou lutando contra meus demônios com toda a raça que
possuo, mas, até os mais fortes as vezes fraquejam.
Eu e Theus... Nós vamos brigar. Eu não posso brigar com ele. Não posso
perdê-lo.
— Vamos, amor. — Ele diz me oferecendo sua mão e eu a pego. — Está
gelada e tremendo. Você precisa ir ao médico? — Eu nego e então ele pega Isis em
seus braços para andarmos mais rápido.
Em casa, eu dou um beijo em minha filha e então vou direto para o quarto.
Entro no closet e então vou em busca de algo que preciso. Eu preciso me
conectar com quem eu era... é isso. Primeiro eu pego meu frasco de pílulas e tomo
duas de uma só vez. Em seguida, começo a minha busca. Eu quero meu livrinho rosa
com estrelas brilhantes, meu livrinho de pensamentos e frases, a espécie de um
diário.
Eu jogo todo o conteúdo de algumas caixas organizadoras no chão e, após
muita bagunça, o encontro e arrebento o cadeado dele de uma só vez.
"Tente lembrar quem você era..."
— Vic, o que está acontecendo? Você gosta daquele cara? É isso? —
Matheus surge perguntando.
— Me deixe, ok?
— Nunca! Diga-me o que está acontecendo. Vamos lidar com isso. Você
sentiu algo quando o viu? Você sente falta do que ele te dava? — Pergunta receoso,
sendo mais um amigo do que um amante agora.
— Não. Eu gosto dele, como amigo. Só isso. Não pense o contrário disso,
nunca. Eu amo você.
— O que tem nesse caderno, amor? — Pergunta preocupado.
— Quem eu era.
— Como assim? Explique para mim. — Pede carinhosamente sentando-se
diante de mim e me puxando para seus braços.
É a maneira dele de me manter sã. Eu acho que o amo ainda mais por isso.
"Hoje é o primeiro dia do ano. Nós estamos em Cancun. Meus irmãos estão
fingindo que sabem surfar para chamar atenção de algumas garotas. Elas são
atiradas, tanto que bastava apenas eles ficarem sentados e não passarem essa
vergonha gratuita. Meus pais estão ali na areia, abraçados como se fossem um só.
Eu nunca gostei de um garoto assim. Eu os acho bonitos, mas então é apenas isso.
Um dia quero estar nos braços de alguém dessa mesma maneira."
— Você quem escreveu isso? — Pergunta brincando com meus cabelos.
— Sim.

Paciência, é apenas o que preciso ter para compreender o que está


acontecendo com minha namorada agora. É assustador para caralho. Ela está branca,
tremula e fria. Está agindo de maneira estranha e eu já li algumas coisas sobre isso,
felizmente. O suficiente para me arriscar a lidar com essa situação.
Vou conversar para que ela possa se libertar do que quer que seja. Preciso
distraí-la um pouco.
— É bonito, Vic. Quantos anos você tinha? — Pergunto fazendo carinho em
seus cabelos.
— Treze, foi antes... meses antes de... — Merda fodida!
— O que mais tem escrito aí? — Mudo o seu foco.
"Eu estou ansiosa para completar a maioridade. Quero comandar a
empresa e os abrigos juntamente com meus irmãos, para que meus pais possam
descansar. Quero ser uma mulher exatamente igual a minha mãe. Forte, firme,
inteligente, audaciosa. Quero ter a bondade e a generosidade do meu pai."
— Você realizou esse feito, meu amor. Só não está na empresa junto com
seus irmãos, mas, acho que foi por escolha sua. Não é mesmo? Você ajuda centenas
de crianças agora, minha princesa. Isso é grande, não é? Tenho muito orgulho de
você.
— Theus, eu realizei algo que estava no primeiro texto que li. — Ela está
falando como uma garotinha indefesa, isso está me rasgando.
— Qual delas? Me conte tudo, não esconda nada.
— Eu estou em seus braços, como se fossemos um só. — Suspira e noto
lágrimas escorrendo pelos seus olhos.
— Você está em meus braços. Meus braços são seus, pequeninha. Para todo
o sempre. Eu amo você.
— Você promete que não vai me deixar, Theus? Promete? — Pede
completamente tomada pela vulnerabilidade. — Eu sou tão feia.
— Você não é feia. Você só teve que lidar com coisas ruins, meu amor. Eu
prometo, Vic, não vou deixá-la. Sou incapaz de voltar a viver sem você. Esperei sete
anos para tê-la e não vou largá-la. Conte o que está passando em sua cabeça.
— Eu queria ser machucada, sentir dor, ser açoitada... — Puta que pariu! —
Eu queria muito isso agora. Mas, estou lutando contra isso. Você me perdoa por
querer isso? — Engulo seco e digo a única coisa que consigo:
— Eu te amo, Victória. — Ela abaixa a cabeça e começa a buscar uma
página que não sei qual é. Quando finalmente encontra, ela me olha nos olhos e
volta a abaixar a cabeça para ler.
" Eu ganhei novos vizinhos. Eles são barulhentos e felizes demais. Isso é tão
irritante às vezes. Ao mesmo tempo que penso que me irrita, penso que eles nunca
passaram por problemas como eu. Por conta disso, me julgo por egoísta, pela
felicidade alheia me incomodar. Não quero que ninguém passe pelo o que eu passei.
Eu só queria ser como eles, mas eles não têm culpa por eu ser assim, nenhum deles.
A culpa é minha, sempre será minha.
Há uma garota, ela parece ter a minha idade. Ela é linda e é feliz. Ela
provavelmente não tem que fingir isso. Ela provavelmente não finge que é a filha
perfeita sem problemas. Eu tenho dezessete anos e, os últimos três anos da minha
vida, foram uma farsa. Sou a filha virgem, exemplar, estudiosa e meiga por fora. Por
dentro eu sou uma garota que foi bolinada, espancada, estuprada, fodida de
maneiras absurdas. Nenhuma parte do meu corpo é virgem. Nem mesmo minha
alma.
Há um garoto, a beleza dele é algo que eu não consigo descrever. Eu nunca
vi nada igual em toda a minha vida. Ele alto, já possui músculos salientes, tem
covinhas em seu rosto. Seus olhos são maravilhosamente lindos, eles têm uma cor
âmbar que combinam diretamente com seus cabelos..."
Ela chora e então eu não posso mais conter minhas lágrimas.
" Ele deve possuir centenas de garotas normais aos seus pés. Ele é
simpático, sorridente e a cada vez que sorri eu perco uma batida do meu maldito
coração... Ele não é sombrio como Túlio e nem como eu. Eu deveria não pensar nele
desta maneira, mas, eu mal posso controlar isso agora. Da janela do meu quarto eu
ouço sua voz. Ele fala tantos palavrões absurdos e então ele dá gargalhadas altas.
Ele chama sua mãe de "minha gata"..."
— Você escreveu sobre mim, Sadgirl. — Digo enquanto ela folheia páginas
em busca de algo. Ela olha em meus olhos novamente, antes de voltar a ler.
" Estou me sentindo uma desvairada neste momento. Eu e Matheus fomos
comprar roupas no shopping, em seguida fomos ao cinema. Ele me beijou. Um beijo
diferente de tudo que eu estava acostumada. Eu acho que o assustei e provavelmente
ele terá outros pensamentos sobre mim agora. Mas, não consegui me conter e o fiz
me chupar no cinema, ajoelhado ao chão. Ele fez isso tão bem... como ninguém. Oh
claro, a parte assustadora... eu o chupei antes. Merda, ele é apenas perfeito e eu não
posso continuar com essa brincadeira. Ainda sinto o gosto dele em minha boca,
ainda sinto seu cheiro em meu corpo. Nunca desejei sexo, essa é apenas a primeira
vez que eu gostaria de sentir alguém normal dentro de mim. Um único alguém:
Matheus. Ele é tão quente que estou apertando minhas pernas firme nesse momento.
Ele beija tão bem que eu o imagino beijando cada parte do meu corpo. Eu gostaria
de senti-lo em toda sua glória, me fodendo e dizendo as coisas mais sujas. "
— Fodida Sadgirl do meu caralho! Eu estou ficando duro ouvindo esses
devaneios eróticos. — Meu caso requer internação? Porque estou ficando louco!
Ouvir essas coisas é uma tortura para mim, mas, parece que é uma terapia
para Victória. Ela está retomando a cor do seu rosto e seu corpo agora está um pouco
mais quente sobre o meu. Se ela continuar lendo contos eróticos dessa maneira, vai
ser foda...
"Movida por uma coragem inexplicável, fui até Ítalo me desligar de toda
aquela merda. Ele riu da minha cara. Me ameaçou de todas as maneiras, me
mostrou vídeos dos meus pais, dezenas deles. Ele sabe até mesmo o horário que eles
malham.
Ele me estuprou mais uma vez.
Por fim, disse que me deixaria ir porque eu já estava devidamente fodida e
não apenas sexualmente. Ele está tão certo. Eu estou devidamente fodida. Há
feridas internas que jamais serão cicatrizadas. Há algo negro em minha mente que
me faz querer sentir dor, porque a dor é tudo que eu convivi nos últimos três anos.
Eles me ensinaram que a dor é a melhor forma, e eu não consigo me desvencilhar
disso..."
Vic foi estuprada depois que estivemos juntos pela primeira vez.
— Pare Vic! Por favor, meu amor. Eu sei que isso está te fazendo bem, mas
isso me mata. Eu não posso ouvir você contando o que eles fizeram com você agora,
ainda mais narrando tudo. Não, amor. Não mesmo. — Peço dilacerado.
— Eu sou tão fodida, Theus. — Ela soluça. — Não consigo sair disso cem
por cento. — Confessa desesperada.
— Nós vamos achar uma maneira de lidar com isso, Vic. Prometo a você,
meu amor. É só uma crise, ok? Apenas uma crise. Vamos superar isso, juntos.
— Eu tenho medo que você perceba o quão quebrada sou e se afaste. Há
milhares de mulheres perfeitas querendo você, enquanto eu, sou tão imperfeita
quanto possível. — Ela não sabe o que eu sinto... definitivamente. Acho que ela não
leva fé cem por cento em todas as minhas palavras.
— Olhe para mim e compreenda. Só existe uma mulher a qual eu sempre
quis de verdade, com todas as minhas forças, Victória, uma única. Você. Com
defeitos, sem defeitos, perfeita, imperfeita. Só você. Por favor, acredite em mim. —
Peço.
— Eu achei que brigaria comigo por causa de Rhael. — Suspiro frustrado.
— Não posso dizer que estou feliz com a presença dele, Victória. Ele teve
mais tempo com minha filha do que eu mesmo. Ela o ama e ele ama você. Nem tente
me dizer o contrário. Ele não está aqui no Rio de Janeiro por coincidência, Vic.
— Ele disse que veio a trabalho.
— Assim como, quando você chegou, eu fui até sua casa usando como
desculpa estar preocupado com você.
— Você não estava preocupado? — Ela questiona.
— Eu estava preocupado, mas não apenas isso. Fui porque queria ficar com
você, estar perto. — Confesso.
— Theus, eu me sinto culpada por ele ter convivo mais com Isis.
— Nós já conversamos sobre isso. Apenas sou louco de ciúmes, Vic. É algo
que não sei lidar. Irei para cima dele se ele vier com interesses sobre você. — Aviso
cortando seu momento de culpa. — Irei, Vic, e, sinto muito te dizer, não existe crise
alguma nessa vida que vá me impedir. Serei o único com crise, crise de ciúmes e
ódio. Vou atropelá-lo, basta que ele se aproxime do que é meu.
— Theus...
— Eu vou agir como um homem maduro. Isis gosta dele, isso mostra que ele
não é uma merda completa. Eu sei tudo que vai estar escrito no e-mail que ele te
enviou. Ele vai querer sair para um almoço ou um jantar, vai querer ver minha filha,
eu não vou impedir. Mas, eu estarei ligado Vic, totalmente ligado, porque você é
minha. Eu nunca quis que uma mulher fosse minha antes. Então eu a tenho e você é
tudo que eu quero. Eu a possuo, como um homem das cavernas mesmo. Bem rústico
e exigente. Eu posso fazer concessões, mas não abro mão de você por nada nesse
mundo. Eu sei que você vai me respeitar, mas, se ele faltar com respeito ao nosso
relacionamento, não responderei por mim, Victória.
— Você é meu. — Afirma porque minha garota é tão possessiva sobre mim
quanto sou sobre ela.
— Eu sou, Victória.
— Eu não abriria concessões, porque eu sou louca Matheus, eu sou sádica,
eu perco a noção. — Ela diz muito séria e eu sorrio. O fogo e a gasolina namorando.
Muito bacana isso, até explodir tudo.
— Você se sente melhor? — Pergunto ficando de pé e a trazendo comigo.
— Por incrível que pareça, sim.
— Então acho que aprendi como lidar com você, pequeninha. De uma forma
diferente, sem precisar usar da dor. Não é mesmo?
— Eu acho que sim, Theus. — Ela sorri limpando seu rosto.
— Vamos dormir, pequeninha. Amanhã arrumamos essa bagunça. — Digo
memorizando bem onde seu caderninho rosa se encontra.
— Eu não quero dormir.
— Não? — Questiono.
— Não.
— O que você quer fazer? — Ela sorri e então se gruda em meu corpo de um
jeitinho safado. Eu pondero suas ações, mas, ela parece devidamente controlada.
Não está arisca, afobada ou desesperada. Está calma.
Ela beija meu pescoço lentamente e automaticamente meus braços envolvem
seu corpo, como um imã.
— Quero que faça amor comigo, lento. Quero me sentir como na primeira
vez...
"Ele beija tão bem que eu o imagino beijando cada parte do meu corpo." —
Recito sua frase. — Assim que você quer, Sadgirl?
— Sim, por favor, cada parte do meu corpo.
— Cada pequeno pedacinho?
— Cada um. — Ela responde envolvendo suas pernas em torno da minha
cintura. Sorrio levando-a para a nossa cama.
— Por onde sugere que eu comece?
— Pela minha boca.
— Tudo bem, senhorita. Você está preparada para ser amada por mim? —
Pergunto enquanto ela sorri... esse sorriso e esse rosto repleto com as sardinhas
bonitinhas. — Porque eu vou te amar agora, com todo amor que carrego dentro do
meu coração. Isso pode ser demais para você.
— Me ame.
— Eu vou, meu amor. Vou amar você até o meu último suspiro. Você é a
minha vida, Victória.
“Estive esperando uma vida toda por você
Estive despedaçando uma vida toda por você
Não estava procurando por amor até te encontrar
Eu serei sua por um milhão de noites”
Liam Payne & Rita Ora – For You

Aprender a lidar com situações adversas, extremas ou não, é algo tem sido bastante
necessário. Acho que pela primeira vez na vida estou tendo que usar todo
conhecimento que meus pais me passaram durante toda a vida e estou imensamente
grato a eles neste momento.
Minha mãe é um pouco explosiva e impulsiva. Já meu pai, foi o grande
responsável por me ensinar a ter calma e pensar em casos extremos. Isso chama-se
sabedoria. Diante de qualquer dificuldade, mantenha a calma. Essa é a frase que ele
sempre disse.
Minha garota quebrada... não, ela não é quebrada. Ela é inteira para caralho.
Prova disso é a forma como ela escolheu lutar contra seus demônios internos.
Vejamos: Ela entrou em uma crise bem diante de mim no restaurante. O que
ela fez? Ela pediu para vir embora. Sim. Tudo bem, vir embora parecia o certo.
Então nós viemos para a nossa casa, eu fui fazer Isis dormir e quando chego em
nosso quarto a pego no closet, sentada ao chão com um caderninho rosa em suas
mãos. Eu pergunto o que ela está fazendo, e o que ela responde? Que está tentando
lembrar quem ela é. E porra, eu a amo mais por isso! Essa garota deitada sob mim é
meu orgulho.
Ela poderia ter feito uma estupidez, poderia ter pedido para que eu fizesse
algo absurdo. Mas não, caralho! Ela enfrentou a porra do seu ataque e agora está
pedindo para que eu ame, como eu fiz na nossa primeira vez.
Olho para seus olhos e vejo os mais belos castanhos intensos imersos em
uma escuridão profunda. Eles estão fixados aos meus, penetrando em minha alma
como se pudesse ver além.
Quebrando contato, desço para seu rosto e é impossível não sorrir ao
contemplar suas sardinhas bonitinhas. O riso morre quando chego em sua boca.
Neste momento eu estou questionando mentalmente todas as forças celestiais. Como
pode alguém ser tão perfeita? Linda da cabeça aos pés.
Sim. Exatamente isso.
Seus cabelos são perfeitos, sua testa delicada, suas sobrancelhas bem
desenhadas assim como seus olhos, Cílios longos por natureza, nariz delicado,
bochechas sardentas lindas e sua boca? Sua boca... sua boca arranca minha chance
de raciocinar.
— Theus?
— Oi?
— Você não vai fazer nada? — Pergunta e eu a olho nos olhos.
— Fazer o que?
— Fazer amor comigo. — Ela diz e então suas bochechas estão rosadas. É
uma coisinha linda.
— Vou. Eu só estou fazendo algumas análises sobre minha futura esposa. —
Digo. — Você vai casar comigo, Vic.
— Não houve um pedido formal. — Explica com sua boquinha esperta e eu
pontuo mais uma vez para que ela perceba que não há chance de fuga.
— Você vai casar comigo, Vic.
— Você não...
— Ouça. — Digo calando sua boca. — Você vai casar comigo, nós teremos
gêmeos e então mais dois filhos depois. Serão cinco ao todo.
— É? Mais o que? — Pergunta preguiçosamente.
— Vamos nos casar em Belo Horizonte, onde meus pais se casaram. Eu amo
aquele lugar e quero me casar com a mulher da minha vida lá. — Ela sorri. — Será
lá que faremos os gêmeos, poucas horas após você dizer “sim” a mim diante do altar.
A levarei para um chalé e consumaremos o casamento de uma maneira romântica,
onde você ficará gravida dos meus bebês.
— É um roteiro? — Pergunta e então é minha vez de sorrir.
— Sim.
— Eu amo suas covinhas. — Diz beijando minha bochecha. — Eu amo
muito essas covinhas. Acho que seu sorriso é capaz de desarmar uma guerra, Theus.
É tão verdadeiro e puro. — Vou abaixando lentamente as alças de seu vestido e ela
então suspira.
Ela quer minha boca em cada parte do seu abençoado corpo. Eu quero seu
corpo nu sob o meu. Minha mulher é meu próprio sonho erótico e eu amo, com
todos os clichês que tenho direito.
Eu o desço pelos seus braços e então pelos seus seios. Um simples passar de
dedos pelo seu corpo enquanto retiro sua roupa e eu a tenho ofegante.
Me afasto para desvencilhar por completo da peça e então é a minha vez de
ficar nu.
Retiro meus tênis, minhas meias, minha camisa. Em seguida, concentro-me
em sua pequena calcinha preta. Engancho meus dedos pelas laterais e a retiro
deixando um beijo delicado em sua marquinha. A linda marquinha delicada de onde
saiu nossa pequena princesa. Sou louco por isso.
Minha Sadgirl agora está nua para mim. Por mais que eu tente, a atração
sexual vem à tona com uma violência à qual tenho que lutar. Ela quer meu amor e
isso que ela terá.
Fico alguns segundos contemplando a imagem e então começo a me igualar
a sua nudez.
Meu membro salta livre, pesado e necessitado. Eu o seguro em minha mão e
ouço minha garota suspirar alto, quase um gemido.
Pego seu pé direito e começo a distribuir beijos delicados. Subo pela sua
canela fina, sua panturrilha, seu joelho delicado e então suas coxas devidamente
torneadas. Beijo a parte interna e então, passando por sua pélvis, eu recomeço em
sua perna esquerda. De cima para baixo agora. Eu beijo sua coxa esquerda deixando
uma leve mordida próximo à sua intimidade e desço até alcançar seu pé. Não
deixando um único espaço sem atenção.
De joelhos sobre a cama, eu massageio seu pé ganhando gemidos de
satisfação. Quando termino sigo para sua marquinha delicada e a beijo por completo
indo até seus quadris e voltando. Beijo seu umbigo, o pontinho sensível em sua
barriga, suas costelas e vou subindo até estar entre seus seios. Eu seguro cada um
deles em minhas mãos e beijo o vão que os separa. Beijo seus ombros, seu pescoço,
beijo sua boca.
Deus do céu! Quando eu beijo sua boca, quase perco o controle. É preciso se
afastar...
— Theus...
— Cada parte do seu corpo. — Aviso e logo estou entre suas pernas. Eu
começo com beijos moderados, até estar pegando um ritmo mais urgente. Com
minha mão livre, toco meu membro que clama por alívio.
Vic segura em meus cabelos um pouco desesperada eu paro de chupá-la. Há
algumas outras partes...
— Volte! — Ela esbraveja. — Merda, eu amo vê-lo tocando punheta. —
Eita, porra! Essa mulher fala muitas besteiras. Sou um romântico agora e ela está
tentando me levar para o caminho da safadeza.
— Vire-se. — Ordeno. Gostando de ser ordenada, ela se vira mais que
rapidamente quase me dando um chute na cara. Vic não saber fazer amor.
Definitivamente!
Nem eu sabia.
Ela abre suas pernas achando que eu estou indo comê-la, pobrezinha.
Seguro suas pernas e então beijo cada uma delas. Beijo suas coxas e sua
bunda perfeita, devidamente arrebitada. A aperto em minhas mãos e beijo suas
costas, cada maldito pedacinho até chegar em sua nuca. Eu agarro seus cabelos em
uma mão, deito parte do meu corpo sobre ela e beijo sua nuca, indo até sua orelha.
— A primeira vez não foi assim, Vic. — Digo em seu ouvido enquanto ela
empurra sua bunda de encontro a mim.
— Não. Mas, ainda assim, foi amor.
— A primeira vez foi na escadaria do prédio. Você montou meu pau com
tanta vontade. Mas, eu te amei. Eu amei cada parte do seu corpo. Porque ali, naquele
momento, você já era minha. Mesmo que tenha fugido disso por longos anos. Onde
você está agora, Vic?
— Com você.
— Exatamente. E o que isso significa? — Pergunto e ela não diz nada. —
Significa que não adianta fugir. Estava escrito, Vic. Em algum lugar estava escrito
que no dia de hoje você estaria abaixo de mim, remoendo de prazer. Estava escrito
que juntos nós enfrentaríamos quaisquer obstáculos. Estava escrito que, naquela
última noite que transamos na Ilha há sete anos atrás, nós faríamos uma filha. Estava
escrito que agora eu vou virá-la de frente novamente e então beijarei sua boca
enquanto faço amor com você. Não adianta fugir Vic, você vai se casar comigo,
porque eu sei que isso está escrito. Eu sempre vou pegá-la, porque você é minha.
Compreende? Você fugiu todos esses anos de tudo, incluindo dos seus problemas.
Você apenas adiou o inevitável. Porém, agora que eu a tenho, nós vamos juntos lutar
contra toda a escuridão que habita em seu interior. Nós vamos encontrar a luz, eu e
você, juntos.
— Eu te amo.
— Eu te amo também, Victória, imensamente. Você nasceu para ser minha.
— Digo saindo de cima dela e a virando de frente.
Eu beijo sua testa, seu nariz, suas bochechas, seu queixo e então sua boca.
Seguro meu membro e então o guio em sua boceta apertada. Ela me recebe abrindo
bem suas pernas e formamos um só.
— Eu estou amando você, Vic. — Digo e então ela puxa meu cordão
grudando nossos lábios. — Eu sou louco por você.
O beijo se intensifica e as batidas de nossos corpos também. Suas mãos
deslizam pelas minhas costas e grudo nossas testas. Minhas mãos se encaixam
abaixo de sua bunda e então eu impulsiono de encontro a mim.
— Sim Theus. — Ela diz choramingando e então eu pressiono mais sobre
ela.
Minha garota está tão entregue, profundamente entregue a mim e a
intensidade do momento. Suas unhas fincam em minhas costas e eu beijo sua boca
enquanto ela goza.
— Você é tudo. Tudo. — Diz começando a chorar e porra... Eu me torno
fofo no sexo. Que merda! Eu sempre me torno fofo. Tudo me leva a ser fofo. A porra
do amor é fofo. O amor é um ataque de fofura.
— Pequeninha, meu amor, não chore. — Peço e ela as mãos até minha
bunda a apertando. Chorando e fodendo, parabéns, Victória, você destrói meu
psicológico!
— Você pode gozar agora? — Pede entre lágrimas e eu sorrio. Que fofa
cara! Que inferno!
— É o que você quer?
— Sim. — Responde e então eu começo a fodê-la forte. Ela se agarra em
meu pescoço e logo estou dando o que ela pediu. A preenchendo com... merda. Ela
vai ficar puta. Arruinamos tudo.
Ou talvez, vá que meus espermatozoides vencedores tenham emplacado um
gol certeiro!
— Vic, é o momento ideal para eu dizer que acabamos de fazer um
amorzinho gostoso, mas eu não lembrei da porra de um preservativo e você não está
com adesivo algum?
— Não diga nada! — Ela coloca um dedo em minha boca e me puxa por
completo para cima dela. Eu sinto que estou a esmagando, mas ela está bem com
isso.
Viro-me de lado a trazendo junto e ficamos juntinhos, enquanto ela traça
círculos pelo meu peitoral.
— Você tem sardinhas bonitinhas. — Diz baixinho.
— Eu tenho, pequeninha. Sabe por quê? Porque elas foram feitas para
combinar com as suas. Nós somos o casal sardinhas bonitinhas.
— Eu amo como você cuida de mim. Você me completa, Theus. Você é tão
louco. — Ela sorri limpando as lágrimas. — Theus, você realmente não desiste de
mim. Quando estou fugindo para a escuridão, sempre dá um jeito de me mostrar a
luz. Quando estou me perdendo, sempre me encontra e me mostra a direção. Você
me dá motivos para continuar tentando, para continuar sonhando. Seu coração é de
ouro e sou tão sortuda por ter sido a mulher que você escolheu. — Estou quase
chorando agora, merda! — Você é um homem fodão e imponente no escritório.
Quando está por trás daquele terno dá um certo medo. E então vem para casa e
transforma-se num garotão cheio de loucuras. Tem um coração tão grande que é
capaz de pegar a dor de todas as pessoas para si mesmo e lutar a batalha dos outros.
É generoso, paciente, sensato, divertido, um pai excepcional. Um amante voraz,
dedicado, cúmplice. Eu tento enxergar defeitos em você, mas eu apenas não consigo.
Porque até com ciúmes você é perfeito, até sua possessividade me atrai. É quente. Eu
amo o “Theus ciumento”. Você me faz rir até quando eu não quero. Parece um
bebezão grande e é tão fofo. — Eu sou fofo! Já aceitei isso. — E, entre quatro
paredes, transforma-se em uma fera, dominador, exigente, mandão. Você é tantos em
um só.
— Eu sou fofo, meu amor. — Brinco e ela ri enfiando sua cabeça em meu
pescoço.
— Você é um mega fofo.
— Mas, deixarei de ser assim que aquele babaca encostar um único dedo em
você.
— Meu malvado favorito.
— Chega de apelidos fofos, fiquei de mal humor agora. Vamos limpar essa
bagunça que eu fiz em você, meu amor. Estou orando a Deus que o anticoncepcional
ainda não esteja fazendo efeito. — Confesso. —– Desculpa, eu não quis dizer isso,
Vic. Seu tratamento e tal. Compreendo. O que? Você quer um filho? Não se importa
com o tratamento? Ótimo, Vic, eu farei um filho em você no chuveiro! — Minha
garota sorri ao mesmo tempo em que me dá um tapa no braço. Sorrio e mordo seu
ombro direito.
Ela puxa meus cabelos e eu aperto sua bunda.
Ela arranha minhas costas e eu mordo seu pescoço.
Ela geme e meu pau ganha vida dentro dela mais uma vez.
Ela me dá um tapa na cara e então eu puxo seus cabelos.
— Acabou o momento amor Matheus Albuquerque. — Avisa
diabolicamente e eu fico de pé a arrastando até o banheiro. Ligo a ducha e fodeu!
Nós não somos para o amor lento. Nós somos o caos!

Matheus está no banho e Isis está se arrumando para ir para a escola,


enquanto estou preparando o café da manhã. Enquanto a máquina de café trabalha,
eu vejo dezenas de buquês de flores para serem devidamente espalhados pela casa.
Incluindo no banheiro.
Busco alguns vasos no armário da cozinha e felizmente encontro cinco. Abro
todos os buquês e vou formando arranjos uniformes. Coloco um vaso na mesa da
cozinha, outro na mesa de jantar, um na mesa de centro, um em meu quarto e outro
numa mesinha no hall de entrada. Pego alguns jarros menores e distribuo o restante
das flores que sobraram. Eu coloco um jarrinho em cada banheiro e em cada quarto.
Ainda resta o maior buquê, o que contém doze buquês em um só. Me sentindo como
uma adolescente, decido que ele será devidamente guardado, apenas para mim. Ele
ficará no meu quarto.
Quando a cafeteira apita, termino de arrumar as xícaras sobre a mesa. Estou
concentrada quando um "grito" surge atrás de mim, quase me levando à morte. Puta
merda!
— Porra de doméstica gostosa! Isso é um sonho erótico, Deus? Não me
acorde, Senhor!
— HAHAHA, eu estou rindo, por dentro. — Digo dando um selinho em
meu namorado.
— Vic, agora é sério, realmente sério. Você fica uma delícia fazendo
serviços domésticos. Não quero mais uma empregada, eu acho que nós dois
podemos cuidar de tudo e eu posso ter algumas ereções constantes a vendo assim.
— Você vai lavar banheiro? — Questiono.
— Você acha que eu sou filhinho de papai? Que decepção, Victória. Eu
morava sozinho em Nova York, dispensava a empregada direto e arrumava minhas
próprias coisas. Nasci para ser do lar. — Argumenta.
— Por que você dispensava a empregada? — Questiono cruzando meus
braços.
— Você não vai querer saber, meu amor. — Não vou mesmo. Maldito!
— Bom dia papai, bom dia mamãe. — Isis diz feliz da vida.
— A salvação da minha vida! — Matheus diz sorridente e a pega no colo. —
Bom dia, princesinha do papai. Eu já disse que te amo hoje? Não? Isso é um
absurdo! Papai ama você. — Eu engulo seco a emoção. Ainda não me acostumei a
isso. É tão fantástico.
— Te amo, papai. — Ela sorri o abraçando e então olha para mim. — Te
amo mamãe, mais que o infinito.
— Mamãe ama você, princesa. Adivinha o que fiz para o café da manhã???
— Pergunto e ela desce dos braços de Matheus.
— Bolo de cenoura com cobertura de chocolate? — Pergunta empolgada.
— Sim, senhorita!!!
— Você vai casar comigo! — Meu namorado informa se acomodando em
uma das cadeiras e eu pego o bolo em cima do balcão.
Matheus está no seu momento "você vai casar comigo". Ele diz isso ao
menos quatro vezes por dia.
Nós tomamos café da manhã morrendo de rir das piadas que ele ensina a
Isis. Em seguida, o homem perfeito dobra sua camisa, coloca um avental e decidi
lavar a louça. Eu e Isis ficamos debruçadas no balcão contemplando o momento
“Matheus doméstico”. Ela inocente e eu com todas as maldades possíveis na cabeça.
Quando termina, ele abre seu sorriso de covinhas e eu suspiro.
— Eu sou muito doméstico e fofo.
— Você realmente é. — Digo rindo quando ele se aproxima para que eu
possa ajeitar sua gravata.
— Eu odeio gravata, essa porra enche o saco.
— Eu gosto. Amo você sendo advogado. — Sorrio.
— Você fica bonito, papai.
— Se minhas duas princesas gostam, eu amo gravata a partir de hoje. — Diz
para Isis sorridente. — Filha, escove os dentes e pegue sua mochila.
— Está bom, papai. — Ela salta da banqueta e sai correndo para o seu
quarto.
Matheus segura em minha cintura e me beija com gosto de brigadeiro.
— Hummm, beijo bom. — Digo.
— Eu amei a noite de ontem, eu amei acordar com você enroscada em meu
corpo hoje, eu amei seu bolo, o seu café e eu amo você.
— Eu amo você todo.
— Qual a senha do seu e-mail? — Pergunta angelicamente e eu mordo meu
lábio para não rir. Inclino minha cabeça para trás e o encaro.
— O que? — Sondo mais o provocando do que qualquer outra coisa.
— É brincadeira, mas toda brincadeira tem um fundo de verdade. —
Assume.
— Confia em mim?
— Confio, Vic. É apenas ciúmes.
— Eu contarei a você o que quer que seja. — Digo beijando sua mão.
— Se ele aparecer lá... Merda, Victória! O que esse cara está fazendo aqui?
Inferno!
— Só há espaço para você e nossa filha, nada além disso. Nós somos uma
família agora, eu nunca poria essa conquista em jogo.
— Tudo bem, eu vou me controlar. — Suspira. — Mas, te ligarei trinta vezes
no dia de hoje e espero ser atendido.
— Senhor possessivo, controlador, ciumento! — Exclamo e sua expressão se
atenua. Não sei mais o que dizer. Nos últimos dias tudo que tenho feito é me
declarado. Nunca tive que lidar com ciúmes, me sinto um pouco perdida, mas, sei
que é algo a que devo me acostumar. Meu Sadboy é ciumento, fazer o que? — Você
tem consciência sobre ser um dominador nato?
— Dominador? Dominador tipo sexual? Tipo chicotadas?
— Dominador não é apenas isso. É muito além de chicotes, açoites. —
Explico. — Eu vou mandar alguns artigos para você hoje. Leia e você irá se
encontrar. Isso pode ser divertido.
— Você quer me levar para o lado negro da força, Victória? — Pergunta
sorrindo brincando com dedo em meu decote.
— Você já é o próprio lado negro da força, só não tem consciência.
— Estou pronta papai. — Isis surge pondo fim ao nosso momento
safadinho. Matheus beija minha testa e corre até o nosso quarto para escovar os
dentes.
— Ei, meu amorzinho, comporte-se na escolinha, tudo bem? — Digo à
minha pequena.
— Mamãe, você está mais linda do mundo.
— Duvido! É humanamente impossível alguém ser mais bonita que você,
garotinha. — Sorrio deixando um beijo em sua testa.
Minutos depois, eles se vão e eu fico na porta feito uma idiota.
É legal ter família. Não tinha consciência de que seria tão maravilhoso criar
minha filha junto ao pai. Só queria não ter demorado tanto.
Tomo um banho, visto uma roupa que combine com meu humor e sigo para
o trabalho.

Passo parte da manhã arrumando todos os trabalhos atrasados.


Definitivamente minha vida precisa entrar nos eixos e eu preciso estar mais
comprometida com os abrigos.
Estou bastante distraída em alguns arquivos quando ouço uma batida na
porta.
Me levanto para a abri-la e, encostado na barra de ferro em frente minha
porta, está Rhael.
— Olá, Vic.
— Olá, Rhael. — Sorrio abrindo a porta mais. Um convite para ele entrar.
Ele caminha até mim e me assusto quando suas mãos deslizam pela minha
cintura. Quase não tenho tempo de desviar de seu beijo. Foi por um segundo que
meu reflexo me salvou e fez com que o beijo pegasse no canto da boca. Eu
cambaleio para trás e ele se afasta colocando suas mãos no bolso. Seu nervosismo é
visível quando entra e analisa toda a sala.
— Escritório bonito, Vic.
— Obrigada, Rhael. Sente-se. Aceita uma água? Um café? Um suco?
— Não, obrigado. — Ele sorri e então aponta para minha cadeira indicando
que eu me sente. Eu me acomodo, cruzo às mãos à minha frente e espero o que quer
que ele queira dizer. — Você está linda.
— Obrigada, Rhael. Você também está muito bonito. —Digo. Ele está
realmente. Rhael sempre foi muito bonito.
— Eu adorei conhecer os abrigos, são muito bem organizados e de uma
grandiosidade impressionante.
— Você conheceu todos os abrigos? — Pergunto curiosa.
— Eu conheci, como investidor, incluindo a faculdade. O trabalho que
fazem aqui incrível, Vic.
— Você continua doando? — Sorrio. — Que incrível! Rhael, estou muito
feliz por isso.
—Eu estou feliz por vê-la sorrir.
— E então, o que te traz ao Brasil? — Pergunto fugindo da intensidade do
seu olhar.
— Você. Resolvi expandir meus negócios em parceria com uma construtora
aqui do Rio de Janeiro. — Eu fico tensa com suas palavras e muda também. Como
eu? Eu não o trouxe ao Brasil, não senhor! — Vamos almoçar juntos?
— Eu não sei se é uma boa ideia. — Confesso sentindo a tensão se instalar e
meu pulso acelerar.
— Independente do rumo que as coisas irão tomar, a amizade e o carinho
devem prevalecer. Nós sempre fomos amigos, não deixe isso mudar agora. —
Argumenta e eu engulo seco. Ok, um almoço. Preciso apenas avisar para Matheus,
eu prometi que avisaria se Rhael aparecesse.
— Ok, acho que podemos sim almoçar. Onde?
— Me diga você. Não conheço muito. — Ele sorri.
— Tudo bem. Há apenas um detalhe, não posso demorar, meu trabalho está
todo atrasado devido aos últimos acontecimentos.
— O que aconteceu? — Ele questiona sério.
— Ítalo e Túlio aconteceram. — Digo lembrando do terrorismo que vivi.
— Eles fizeram algo contra você?
— Quase. Ítalo me sequestrou. — Relato e ele dá um forte murro na mesa.
— Eu avisei que seria perigoso para você, Vic. Como você pôde voltar?
Como pôde se colocar em risco? E mais, como pôde colocar Isis em risco? —
Questiona ficando de pé e eu fico de pé também apoiando minhas mãos sobre a
mesa.
— Eles estão presos. Irão responder por tudo, Rhael, estão começando a
pagar. — Explico.
— Mas poderia ter acontecido o pior! Volte à Itália comigo, Vic. Nós
podemos... Você não está segura aqui. — É nesse momento em que o furacão
Matheus Albuquerque irrompe pela porta me fazendo cair sentada.
— Ela está segura sim. Ela tem a mim. Você fala português fluente? Que
grande filho da puta! Por que estava conversando com a minha mulher em italiano?
Por que não me disse que ele falava português, Victória?
Talvez porque só agora que me dei conta disso. Merda! Rhael fala português
fluente!
“Tem uma tempestade se formando
E estou preso no meio disso tudo
E isso toma o controle
Da pessoa que eu pensei que eu era”
Dean Lewis – Waves

Estou em meio ao fogo cruzado. Matheus não está olhando para


mim, seus olhos estão fixados em Rhael. Não consigo ver seu rosto, mas,
consigo ver sua expressão corporal que esbanja uma boa dose de tensão
misturada com raiva e com uma quantia exagerada de testosterona
explodindo. Eu sinto que ele vai explodir e se isso acontecer... Eu apenas
não posso perdê-lo. Não posso.
— Theus...
— Agora não, Victória. Eu e você nos resolveremos mais tarde. —
Avisa com um pouco de hostilidade, o suficiente para me fazer estremecer.
— O que você quer com a minha mulher? O que você veio fazer no Brasil?
— Ele pergunta num tom assustadoramente calmo.
— Sua mulher?
— Minha mulher. Minha filha. Minhas! — Matheus responde e
Rhael sorri de maneira debochada. Eu quero matá-lo agora porque isso vai
trazer um Matheus mais violento e eu não sei o que é um Matheus mais
violento. Eu temo.
— Você sabe lidar com a sua mulher? Você sabe o que ela precisa?
O que ela gosta? O que fazer em momentos de crise? Sabe quem é Ítalo? —
Rhael questiona.
— O que é lidar com Victória para você? Algemá-la em uma cama
e fodê-la? Chicoteá-la? Espancá-la? Me diga. — Matheus questiona.
— Vic tem necessidades. — Afirma.
— Quão estúpido você é? — Matheus pergunta e então se vira para
mim. — Você namorou um imbecil, Victória.
— Theus...— Ele se vira de novo para Rhael e eu sinto minhas
pernas ficarem bambas. Meu coração vai explodir a qualquer momento.
— A minha mulher sofre alguns transtornos. Ela está se tratando
como deve ser feito, de uma maneira normal. Aliás, isso deveria ter sido
feito anos atrás. Seria ignorância eu tratá-la como uma cadela a amarrando
em lugares diversos e espancando. Seria ignorância oferecer uma versão
mais light de tudo que ela viveu. Isso não estaria a ajudando, muito pelo
contrário. É como um vício, não é? Agora pense e me responda, você
consegue curar um viciado em cocaína apenas dando doses menores de pó
para ele? Isso para você é ajudar? Isso é curar? Isso é lidar? Você acha que a
subjugando, batendo, sendo bruto, usando coisas que remetem às torturas
que ela passou, é ser bom? Acredita que dessa maneira ela irá em busca de
você para dar isso a ela? — Pergunta. — A minha mulher foi estuprada, a
minha mulher foi induzida a um mundo sombrio, perverso e cruel. Eu estou
lidando com ela muito bem, não que seja da sua conta. Estou lidando com
ela como um homem, não como um covarde que espanca mulheres. Porque,
sinceramente, passar anos a fazendo de submissa após ter consciência de
todos os traumas que ela viveu é covardia. Você para mim é tão cruel como
todos aqueles caras. E é por isso que eu vou dizer a você, se há alguém aqui
que não sabe lidar com Victória esse alguém é você, meu caro. Porque eu
lido com a minha mulher muito bem.
— Palavras bonitas. Mas, e na prática? — Rhael pergunta
debochado novamente. Matheus o agarra pela camisa o grudando na parede.
— Ele é bom o bastante para você na prática, Vic? – Meu Deus!
— Cale a boca Rhael, por favor. — Imploro temendo uma morte.
De repente, estou imóvel e sem ação. Observando tudo no mais
profundo silêncio. Eu nunca estive em uma situação dessa antes. Parece que
estou em um filme de ação, terror, tudo junto e misturado.
— Victória falou bem sobre você. Você foi legal com ela, foi legal
com a minha filha. Você não passou de um cara legal, burro, porém, legal.
— Theus ri. — Está perdendo seu tempo aqui. Victória vai casar comigo,
nós somos uma família. Se a sua forma de lidar com ela fosse tão eficaz,
posso te garantir que ela não estaria aqui hoje. Ela estaria com você. Você
fez a merda de um trabalho fodido com ela. Ela foi embora de um jeito e
então voltou totalmente fodida, tão fodida que deixou bastante óbvio que
sofria problemas. Se você tivesse feito a coisa certa ela...
É então que tudo perde o controle.
— Você está sugerindo que eu sou responsável pela piora de
Victória? — Rhael grita empurrando Matheus.
— Eu estou afirmando, não trabalho com sugestões.
— Vic, diga a esse idiota, amore mio. — Rhael diz me olhando e
então eu tapo meus olhos quando Matheus o soca. Rhael arrisca retribuir,
mas Matheus está sobre ele e eu não sou capaz de contê-los. Puta que pariu,
o que eu faço? Na dúvida, opto por pedir ajudar.
Eu corro gritando por ajuda e logo quatro seguranças surgem
subindo as escadas.
Três deles são necessários para conter apenas Matheus e tirá-lo de
cima de Rhael. Eu não quero ver o estrago. Eu não posso ver. Eu sou a
culpada por toda essa merda.
Rhael foi absurdamente estúpido por suas provocações. Amore mio
foi exatamente o que faltava para Matheus perder a cabeça. Por que ele está
fazendo essa idiotice? Inferno!
Um estouro me faz saltar e sair correndo de volta para a sala. O que
eu encontro me faz colocar as mãos na boca. Há cinco homens caídos o
chão: Os quatro seguranças e Rhael. Como? Eu não sei!
— Matheus...
— Eu disse, eu avisei. Por falta de aviso não foi. — Ele grita e eu
me encolho. Ele bateu em cinco homens. Alguém me explique como?!
Ele passa as mãos pelos cabelos, dá um soco no armário que quase
faz um rombo, em seguida sai me deixando sozinha com cinco pessoas
caídas ao chão, machucadas. Corro atrás dele e ele finge não me escutar,
então num ato de loucura eu me jogo em suas costas.
— Theus...
— Merda, Victória!
— Fale comigo.
— Não vou falar com você agora. Não vou falar quando estou no
auge da minha ira, uma ira que eu nem mesmo sabia possuir. Não vou falar
com você agora porque se eu falar sei que vou dizer coisas desnecessárias.
Então por favor, pelo amor que eu sinto por você e você sente por mim,
deixe-me ir. A noite nos encontraremos na NOSSA casa. — Ele pontua o
“nossa” e me tira das suas costas.
Ele é forte. Absurdamente. Eu sabia que ele era forte, mas não
nesse nível inexplicável e absurdo.
Eu seguro suas mãos e elas estão trêmulas, sujas de sangue. Tento
de todas as maneiras conter um soluço, mas ele sai de qualquer forma. Eu
me jogo em seus braços, e surpreendentemente, Matheus retribui meu
abraço o mais forte que é capaz.
— Ninguém vai tirar você mim, Vic. Nenhum outro homem vai
tocar em você enquanto eu existir. Eu tenho tanto medo, Vic. Tanto medo de
perdê-la, medo que você passe por todas aquelas merdas novamente. —
Confessa. — Você é minha, para amar e cuidar. — Diz com nossas testas
grudadas. — Avise a ele isso, por favor. Eu preciso ir. — Deixando um
beijo casto em minha testa, ele entra em seu carro e se vai.
Fico por alguns minutos no estacionamento, olhando para nada. Eu
acho que agora me dei conta do quão forte é amor de Matheus. Eu sabia que
ele me amava, mas não tinha ideia da dimensão do sentimento. Em meio ao
caos, eu perco a noção de ação e reação, como se estivesse num estágio de
transe. Não sei dizer por quanto tempo fico em choque.
— Dona Vic, já temos alguns funcionários cuidando dos seguranças
e do seu amigo na enfermaria. — A secretária diz.
— Quão fodido todos estão? — Pergunto de um jeito nada elegante.
— Não muito. Apenas seu amigo que está um pouco pior. Há um
corte no supercílio, outro na boca, o olho dele está inchado. Seu namorado é
bem forte. — Ela diz sem graça.
— Sim, acabei de presenciar o quão forte ele pode ser.

— Como você está? — Pergunto me acomodando ao lado de Rhael,


que está sentado já pronto para ir embora.
— Esse cara é maluco, Victória. Matheus é violento. Ele pode vir a
machucá-la.
— Você abusou, Rhael. Por que fez aquilo? Era só se calar.
— Você está noiva? — Pergunta.
— Não. Mas estou morando junto com ele, isso é um casamento por
si só.
— Isis está feliz?
— Imensamente. — Digo e então ele me puxa para um abraço. Um
abraço longo.
— É necessário mais que uma porrada para que eu deixe amar você,
Vic. Mas, por ora, estou indo embora para o hotel.
— Desista. — Peço segurando suas mãos. — Por favor, desista.
Não há chance. Eu o amo com todas as minhas forças. Não há como você
lutar contra um sentimento tão forte, Rhael. Eu não o deixarei. Não há
absolutamente nada no mundo que me faça deixá-lo, nem mesmo a maior
de todas as minhas crises. Eu o amo, compreende? — Confesso e ele se
levanta.
— O mesmo que você sente por ele, eu sinto por você. Você
deixaria de lutar por ele? — Questiona e eu não respondo o óbvio. — Você
sabe o que eu estou sentindo, Victória. — Sorri cabisbaixo e então se vai.
Que merda está acontecendo com a minha vida?

Eu perco o apetite, a concentração, o foco... eu perco tudo.


Pego minha bolsa, o carro e decido que preciso ficar sozinha um
pouco. Respirar.
Passo em casa, visto um biquíni e aproveito o pouco movimento na
praia para pensar. Eu preciso me reencontrar. O meu momento comigo
mesma é sempre necessário.
Me acomodo cima de uma enorme pedra, dobro meus joelhos e os
abraço. Fecho meus olhos e inspiro a brisa marítima enquanto o vento
bagunça meus cabelos. Eu aprecio a voz do silêncio, tento acalmar meu
coração e minha mente. Há um momento em que o silêncio se torna
esmagador. Esse momento é quando imagens desagradáveis surgem na
minha mente. Um arrepio frio percorrer meu corpo e eu abro meus olhos.
Há tantos medos guardados em mim. Medo de quem alguém possa
destruir a nova vida que estou construindo com Matheus. Medo da minha
filha sofrer. Medo, medo e medo.
Há tanta culpa, também.
Há tanto desespero.
Há tanto amor.
Um amor imenso, daquele tipo que dói até a alma. Um amor que
me faz perder um pouco a respiração e acelera as batidas do meu coração. É
um sentimento que também dá medo. Tenho medo sobre até onde ele pode
me levar. Estou habitando em uma terra desconhecida pela primeira vez.
Como andar sobre cacos de vidros.
Nesse momento eu sinto que não há ninguém que possa me ajudar a
lidar com isso senão eu mesma.
Há lutas internas pelas quais apenas nós mesmos podemos lutar. Há
respostas que apenas nós mesmos podemos nos dar.
Não existe terapia para isso.
— Olá, senhorita. — Uma voz surge ao meu lado me fazendo sorrir.
— Eu estava pensando em terapia nesse momento.
— Oh! Aqui está seu terapeuta. Também lido com leitura de
pensamentos. — Ricardo diz piscando um olho e se acomoda, sentando-se
ao meu lado. — Vejamos senhorita, qual o drama dessa sua conturbada
vida? Deveria virar um seriado. — Ele sorri.
— Meu ex.
— O dominador? — Pergunta.
— Sim. Ele está no Brasil e está certo sobre me querer de volta.
Não há chance, Ricardo. — Suspiro. — Matheus e ele quase se mataram
hoje. — Digo. — Quer dizer, Matheus quase o matou.
— Uau, eu deveria virar roteirista. Ainda bem que eu não o
desafiei, sou novo para morrer e tenho um filho para criar! — Brinca. — E
como você está se sentindo?
— Um estorvo, uma causadora de problemas, culpada.
— Compreensivo. E como escolheu lidar com isso? Vindo à praia
pensar na vida?
— Um psicólogo me ensinou a tentar achar minha essência nos
momentos mais difíceis. Estou aqui, tentando buscar minha essência e o
controle que eu sei que está escondido aqui. — Confesso o fazendo sorrir.
Seus olhos até mesmo brilham em orgulho.
— Esse seu psicólogo é muito bom. Está conseguindo infiltrar
algumas coisinhas nessa cabeça. Ele me disse que amanhã tem uma
consulta com você, onde vocês poderão discutir mais a fundo sobre o
assunto. Hoje ele está aqui como amigo, curtindo um dia ensolarado. — Diz
referindo a si mesmo na terceira pessoa.
— Obrigada. — Agradeço segurando sua mão. — O que está
acontecendo com a minha vida?
— Você ficou afastada de si mesma durante sete anos. — Explica.
— Você voltou e agora está descobrindo como é a vida após o coma
induzido. Há coisas que você deixou para trás e está resgatando, há outras
que não querem ser deixadas para trás, por isso tanto caos.
— É, faz sentido. Passei sete anos vivendo isolada de grandes
acontecimentos. Minha única batalha era contra minha mente e, mesmo
assim, eu nada fazia para mudar a situação. Era bem-sucedida no trabalho,
na maternidade, possuía dinheiro o suficiente e tinha uma vida sexual ativa
sem cobranças. Não havia cobranças Ricardo, cobrança alguma. Também
não havia muitas pessoas. Eu era mais sozinha e vazia. — Desabafo.
— Agora você voltou a viver, Victória. É comum muitos
acontecimentos. Digamos que está levando uma nova vida, um
relacionamento sério, constituindo sua família. Tudo mudou, você só
precisa aprender se adaptar às mudanças. O mais importante estou vendo
em você, está tentando, se esforçando, lutando. Estou feliz e orgulhoso por
isso.
— Sabe, ainda bem que eu tenho você para me ajudar nessa parte
mental. É exaustivo. — Confesso. — Agora eu entendo a importância em
relação a terapia. Tem me ajudado imensamente. Eu quase tive uma crise
ontem. E, quando eu estava quase enlouquecendo, sua voz veio em minha
mente. Eu segui sua voz Ricardo, seus conselhos e só assim consegui
acalmar. Conversei com Matheus, expus a situação e ele foi compreensivo.
Eu quase escondi para não o assustar, mas então eu resolvi compartilhar,
como você ensinou. Ele soube lidar com isso tão bem. Ele me fez tão bem e
foi tão paciente, tão compreensivo.
— É isso aí, garota! — Exclama satisfeito. — O homem ama você,
ele estará com você em todos os momentos.
— Como ele pode me amar depois de tudo? Eu não faço ideia. Mas
ele ama tão forte, tão desesperadamente. Assim como eu o amo. Nosso
amor é explosivo. —Comento sorridente.
— O verdadeiro amor é paciente, não guarda rancor, Vic.
— Graças a Deus por isso. — Rio e então o observo distraído
olhando para o lado. Eu me lembro da sua tatuagem e volto meu olhar para
o seu peitoral, onde ele disse possuir a bendita tatuagem em italiano.
— Enfim estou vendo sua tatuagem. — Comento e ele volta o olhar
para mim, sorrindo. Ricardo também é muito bonito. O que há em minha
vida com todos esses homens bonitos?
— Eu disse que veria apenas se me encontrasse na praia ou em
outra situação. Calhou de ser na praia. — Responde brincalhão.
— Noi siamo ciò pensiamo[1]. — Leio. — Isso diz muitas coisas.
Agora entendo por que você trabalha tanto com essa linha de raciocino...
Sobre encontrar a essência, encontrar quem eu sou.
— Nós somos o que pensamos, Vic. Então pense na pessoa incrível
que é e foque nisso. — Ele sorri beijando minha mão. — Agora eu preciso
ir. Há uma criança que eu preciso buscar na escolinha.
— Tudo bem. Obrigada mais uma vez por ser um bom leitor de
pensamentos e surgir aqui. Me salvou de um ataque de pelancas.
— Oh, um ataque de pelancas é algo gravíssimo. Isso levaria à
internação. — Diz rindo. — Eu estarei sempre disponível, seja a hora que
for. — Sorri saltando da pedra. — Adeus, senhorita Victória! — Acena me
fazendo rir.
— Quantos malditos homens eu terei que socar por causa de você?
— É a vez de Matheus surgir molhado, jogado água em mim. — Pelo amor
de Deus, diga que ele não estava te cantando ou caso contrário saltarei
daqui para matá-lo afogado.
— Você está aqui.
— Eu precisava me acalmar. — Diz suspirando. — Estou um pouco
fodido.
— Me desculpe por isso.
— Por que não me avisou que ele iria te buscar para almoçar?
— Eu não fazia ideia, Matheus. — Digo sincera. — Ele surgiu do
nada. Eu iria comunicá-lo, mas você chegou minutos antes. — Explico-me.
—Ele avisou em seu e-mail. — Me avisa esse pequeno detalhe que
eu desconhecia.
— What[2]?
— Italiano e agora inglês? Você precisa trabalhar nesses idiomas
em nossa cama. — Diz sério.
— Eu não olhei meu e-mail, mas, me diga, como você sabe que ele
me enviou um e-mail quando nem eu mesma sei?
— Sua senha é ridícula, Victória. É o aniversário da nossa filha.
— Quem te deu a permissão de invadir minha privacidade? —
Pergunto tentando não sorrir.
— Você disse que sou dominador e possessivo, está aí, eu sou essa
porra toda com acréscimo de controlador.
— Eu posso te processar. — Ameaço mexendo em meus cabelos.
— Vai mover sua ação contra mim?
— Vou!
— Eu te levo na vara, Vic. — Brinca e então está sério novamente.
— Você mentiu para mim. Você não disse que ele falava português e
provavelmente não me contou sobre tudo que ele disse no shopping. Não
quero uma explicação, prefiro pensar que você fez isso por medo. Mas, por
favor, eu espero que essa tenha sido a primeira e última vez. Eu sou fofo,
sou compreensivo, sou amoroso, mas, não sou idiota. O fato de eu amar
você com todas as minhas forças não me torna cego ou babaca. E mais, nós
vamos resolver nossos problemas e esquecer desse pedaço de merda que
você namorou. Eu não vou dormir brigado com você Vic, mas, precisa ser
mais firme em seu propósito, precisa ter voz ativa e impor um NÃO bem
grande. Eu sou homem, sei quando alguém está com interesses além de uma
singela amizade. Eu vi isso nele desde o shopping. — Comenta olhando
para o mar. — Quando eu te disser, me ouça por favor. Não estou a
proibindo de ter amizades masculinas, mas eu sei reconhecer quando
querem o que é meu, sei reconhecer quando um homem quer uma mulher.
Ele quer você. Isso é o suficiente para eu não querer mais qualquer amizade
entre vocês. O cara é um imbecil, ele não respeitou nem mesmo o fato de
sermos uma família. Ele não foi de todo legal com você. Ele nutriu a porra
do vício, te deu mais corda para um enforcamento. Ele teve chance de te
mostrar um outro caminho e não o fez. Enfim, Rhael é tóxico Vic. Você já
avançou tanto, não há porque deixar memórias desagradáveis foderem sua
mente. Não há motivo para um retrocesso. Precisamos fazer isso funcionar,
Vic. Não sou capaz de fazer sozinho, preciso que você queira, que olhe na
mesma direção que eu.
Me encaixo entre suas pernas e ele me abraça.
— Eu esperei uma vida por você. — Diz fazendo meus olhos
nublarem.
— E eu por você.
— Ninguém vai destruir Vic, promete para mim? Me dê sua
palavra.
— Você a tem. Ninguém vai, Theus. — Afirmo. — Eu amo estar
em seus braços.
— Eles são o seu lugar, pequeninha. Sempre.
— Você é tudo.
— Vamos dar um mergulho, senhora Victória Albuquerque? —
Convida e eu topo no mesmo segundo.
Descemos da pedra, eu retiro minha saída de praia e saímos
correndo para o mar. Mergulhamos de mãos dadas e morro de rir quando o
louco me pega no colo.
— Você saiu mesmo com essa roupa? — Pergunta do seu jeito
louco.
— Eu viria para a praia de burca?
— Deus sabe que é isso que eu queria. Seu corpo é chamativo
demais, eu fico um pouco desesperado. — Confessa fazendo um bico
enorme.
— Meu corpo não é nada chamativo. Sou magra, normal. Não sou
essas mulheres com corpão. — Argumento.
— Você é pequeninha, tem todas as coisas certinhas no lugar, tem
seios incríveis, bunda grande, tudo de acordo com sua estrutura corporal. É
perfeita, parece nunca ter sido tocada. Nem parece que ontem...
— Shiuuuu! — Sorrio colocando um dedo sobre seus lábios. —
Quietinho, pimpolho.
— Essas sardinhas destroem meu psicológico. — Diz apertando
minhas bochechas. — Aiii, Victória Brandão, você é uma maldição na
minha vida. — Sorrio arrumando seus cabelos.
— Seus cabelos estão grandinhos, Theus. Eu os amo.
— Vou cortar, para ficar mais jovem.
— Contanto que dê para eu puxar, não vou me opor. — Informo. —
Vamos embora? Estou com fome.
— Também estou, faminto. — Ele pisca um olho e sei que sua fome
não é de comida. Isso fica em evidência minutos depois, quando, após
tomarmos uma ducha para tirarmos a areia do corpo, ele me carrega em
seus braços e entramos no elevador.
Quando as portas se fecham, escorrego pelo seu corpo, sentindo
meus pés tocarem o chão. Olho para o par de olhos mais expressivos que
conheço e, como uma atração magnética, nossos lábios se grudam de
maneira nada gentil.
Vou me apegar na possibilidade desse fogo todo ser apenas por
estarmos no início do relacionamento. É surreal sentirmos tanto desejo
assim.
— Theus. — Sussurro afastando nossos lábios numa tentativa de
conter o inevitável. Ele segura meu rosto e beija minha testa.
— Foi só uma provinha. — Sussurra e sorri. Como um garoto
inconsequente, seus lábios estão de volta aos meus, possessivos. Ah meu
Deus! Como resistir dentro de um elevador? Sua língua mergulha fundo em
minha boca enquanto seus quadris pressionam com firmeza meu corpo. Eu
agarro seus cabelos entorpecida. Nesse momento eu não me importa que
seja contra as regras dar uns pegar no elevador.
O elevador apita informando sobre nosso andar, novamente sou
conduzida em seus braços. Ele abre a porta do apartamento e voltamos a
nos beijar. Um beijo quente, molhado e faminto.
Minhas costas encontram a mesa e Matheus retira minha saída de
praia.
— Eu quero você, Vic. Diga que me quer. Eu preciso de você.
Preciso apagar as merdas da minha mente, preciso da nossa conexão de
volta.
— Eu também quero você, eu também preciso de você. — Digo e
de repente suas mãos estão por todo meu corpo enquanto sua boca me
devora.
— Diga que é minha. — Ordena cessando os movimentos.
— Eu sou sua. Mova-se.
— Você é minha. Eu cuido do que é meu. Eu luto pelo que é meu.
Eu sacio o que é meu.
— Você sacia, realmente sacia. — Sorrio e sou invadida fortemente.
Meu corpo chega a ir para frente e Matheus sorri.
— Não fuja, Sadgirl.
— Eu amo você. Me desculpa pelos transtornos, Theus. — Peço e
ele cala minha boca com um beijo avassalador.
Quando atingimos o ápice do prazer ele se deita sobre mim, em
cima da mesa, e me abraça possessivamente. Nós ficamos num silêncio
absoluto, perdidos em pensamentos. Não é nada confortável ficar sobre a
mesa, tão pouco aceitável. Mas, foda-se as regras.
— Você é forte. — Comento do nada.
— Eu pratico atividades físicas desde criança. Tenho um preparo
absurdo. Sou faixa preta em Jiu-jitsu, luto box, já fiz MMA, quando criança
fiz Judô. Sempre fiz musculação, inclusive estou parado, preciso voltar para
a academia. — Explica.
— Você derrubou cinco homens, Matheus! Como?
— Os seguranças não levaram porrada. Eu só os joguei ao chão.
Ninguém me segura, Vic, nenhum deles era capaz naquele momento.
— Percebi. Eu tive medo de você matá-lo. — Confesso ganhando
uma gargalhada de brinde.
— Eu tive vontade. Porém, sou fofo, não mato nem uma barata,
Vic. Eu só dei um aviso.
— Theus, você é mesmo fofo. — Sorrio encantada com meu
pimpolho.
— Até os fofos surtam Vic, tenha isso como aviso. — Avisa sério.
— Tudo bem. — Digo traçando círculos em seu braço. —
Obrigada por estar aqui.
— Pare de agradecimentos, Vic. Onde eu estaria? Nós somos um
casal, moramos juntos, você vai se casar comigo.
— Só mediante a um pedido. — Informo e ele sorri.
— Vic, há algo sério para eu dizer. — Puta merda! Deve ser sério
mesmo, ele até se levanta.
— Diga. — Peço. Ele sorri e então balança a cabeça. Talvez não
seja tão sério assim.
Se ele está sorrindo é algo bom...
— Vic, nós não usamos preservativo.
“Oh querida, minha alma
Você sabe que ela urge pela sua
E você tem preenchido este espaço desde que você nasceu
Porque você é a razão pela qual eu acredito no destino
Você é o meu paraíso
E farei qualquer coisa para ser seu amor, ou ser seu sacrifício
Porque eu te amo até o infinito
Eu te amo até o infinito”
Jaymes Young – Infinity
Duas semanas depois...
Eu estou com algo precioso em mãos. Uma encomenda de um valor
inestimável. Eu apenas não consigo pensar em uma maneira original de fazer
isso. Já pensei em mil e uma coisas, mas, nenhuma delas parece boa o
suficiente.
Estou analisando atentamente, como se a pedra tivesse o poder de
trazer alguma inspiração divina. Quero fazer isso do nosso jeito, acho que
não é necessário saltar de um helicóptero para isso. Basta ir lá e dizer as
palavras, isso combina mais comigo. Combina mais conosco.
Estou distraído quando o telefone toca e eu recebo a pior notícia dos
últimos tempos, uma que faz meu coração errar algumas batidas:
— Pequeninha do Theus. — Atendo sorridente e então ela grita:
— Desceuuu!!! Desceuuu merda, caralho, puta que pariu, desceu!
Theus! — Afasto o telefone do meu ouvido, quase ficando surdo pelos
gritos.
— Quem desceu, quando e onde?
— Eu estou menstruada, meu Deus! Eu mal posso me conter de
felicidade. É uma benção, como um presente de natal antecipado.
Misericórdia! Não tenho estrutura para ser mãe de outra criança agora. Há
muitas coisas acontecendo... — Ela não para de falar, e está falando rápido
demais. — Nós teremos um bebê, mas não agora. Meu Deus, estou numa
cólica desgraçada, estou socando a mesa, mas isso é tão bom agora. Parece
que vai sair um monstro da minha vagina de tanta dor... Puta que pariu! Eu
queria transar com você agora sobre essa mesa, contra a parede e no chão do
escritório para comemorar. Mas, infelizmente, estou interditada, isso não é o
máximo?! Nós não faremos sexo nos próximos quatro dias e isso é
maravilhoso!!! Nunca foi tão bom abster de sexo!!!
— A parte da frente está interditada, mas, ainda há a porta dos
fundos. — Penso alto e então a ficha cai sobre mim. Eu não fiz gêmeos,
porra! Meus espermatozoides não foram vencedores. Estou com muito mal
humor agora. Tanto que fecho a caixinha em minha mão e a distancio do
meu alcance. — Você não tem coração, Victória. Elsa! Coração de gelo!
Tomara que você sinta cólica em dobro pelos meus gêmeos. Tomara que saia
o Hulk da sua vagina e que ele vomite gosma verde na sua cara. Agora com
licença, eu sou um homem sério que precisa trabalhar.
— Você está bravo? É isso mesmo? — Ela pergunta num tom de
perplexidade.
— Eu estou na TPM masculina. Adeus, Victória Brandão, nos vemos
em casa. Devo comprar colete a prova de balas?
— Aí... Está doendo num nível internacional. — Ela grita e a ouço
socando a mesa.
— Bem feito! Não quis fazer filhos comigo. Lalalalaaa. Vai doer o
triplo.
Duas horas depois...
— Eu não quis dizer aquilo pequeninha, eu te amo muitão. Do
tamanho do universo. Não te desejei isso, de verdade. Você é tão lindeza.
— Está doendo tanto... — Ela chora enquanto recebe medicação na
veia e eu quero chorar junto. Porra! Me mata ver essa mulher chorando!
— Vai sarar, amorzinho, princesinha do Theus, teteia da minha vida.
— A enfermeira estava te olhando. — Comenta com sua voz de
psicopata.
— Ciúmes no hospital, Victória? — Pergunto deixando a fofura de
lado.
— Óbvio. As pessoas não podem nem ficar doentes que vem esse
tipo "rouba maridos..."
— E o médico? Dele você não fala, né? Ele elogiou suas sardinhas.
Eu quis matá-lo.
— Ele só disse que a cor do meu rosto estava voltando... — Ela
merece uns cinco tapas nessa cara de pau!
— Meu pau! Ele disse que suas sardinhas eram "fofas". Fofo é meu
pau!
— Matheus, ele deve ter pelo menos sessenta anos de idade. —
Pontua me encarando como se eu fosse uma aberração.
— Não interessa! Com 60 anos de idade eu ainda estarei ficando
ereto por você! — Ela suspira e então fica quieta. Minha mulher está
visivelmente irritada devido aos dias sangrentos, mesmo que esteja feliz. Na
verdade, ela está oscilando pra caralho e estou assustado. Monstroação é
foda demais, puta merda! — Eu já volto pequeninha. — Informo me
levantando e soltando sua mão.
— Onde você vai? Volte aqui! Há rouba maridos... — Ela berra e eu
começo a temer essa merda.
— Calma, cara, eu vou ali comprar um negócio. — Aviso a ouvindo
soltar um suspiro frustrado.
Saio rapidamente do quarto e procuro no Google algumas coisas que
minimizem os efeitos dessa MONSTROação dela.
Vou até ao mercado de frente ao hospital e compro dezenas de
chocolates de todas as formas cores e tamanhos. Compro também alguns
ingredientes para fazer o jantar e uma sobremesa gostosa. Deixo todas as
compras no carro e volto para minha garota.
Ela está um pouco abatida. Não sei onde o médico viu a cor do rosto
dela voltando. Não sabia que um período menstrual poderia ocasionar isso.
Nunca vi minha mãe ou minha irmã dessa maneira. Agora estou ligeiramente
preocupado.
— Como você está, amor? — Pergunto me acomodando ao seu dela
na cama.
— Eu me sinto fraca e ainda dói.
— Você se alimentou direito hoje? — Questiono verificando as
horas.
— Só almocei uma salada e uma carne.
— Senhor, desculpe-me, mas não pode ficar deitado junto a
paciente. — A enfermeira que estava me olhando surge dizendo.
— Posso sim. É minha mulher e ela não está em coma ou qualquer
coisa parecida. Não estou tocando no braço onde ela está recebendo a
medicação, que por sinal não está valendo de nada. — Rebato.
— Senhor, estou dizendo o que me foi ordenado.
— Então queira fazer a gentileza de chamar o médico, por favor. —
Peço me levantando e Vic tenta me conter enquanto a enfermeira sai.
— Theus, não precisa brigar. — Pede com sua voz baixa.
— Nós estamos aqui há quase duas horas, já era para estar um pouco
melhor.
— Pois não senhor. — O médico surge na porta.
— Não melhorou, há algo errado. — Informo direto ao ponto e Vic
dá um grito abafado se contorcendo na cama. Ela começa a chorar e eu entro
em desespero. — Vic, fala comigo, amor. Faça alguma coisa! — Grito ao
médico.
— Faremos alguns exames e vamos tentar aumentar a dose. O
senhor pode esperar lá fora?
— Não, eu não posso!
— Theus, por favor amor, faça o que ele está pedindo. — Ela pede
chorando e meu coração está como? Destruído. Eu já disse que odeio vê-la
chorar? Pois eu digo mais uma vez: eu odeio vê-la chorar!
Decido não a contrariar. Lanço um olhar assassino para o médico
antes de deixá-los. Me acomodo na recepção, mas não consigo ficar mais de
um minuto sentado. Eu imagino como ficaria se fosse um parto... Eu
colocaria essa merda abaixo, mataria os médicos e enfermeiros.
Meu celular vibra e o nome do meu pai brilha na tela.
— Oi, pai.
— Oi, filho! Como Victória está? — Pergunta direto.
— Estava gritando e chorando, o médico pediu para que eu me
retirasse para fazer alguns exames e tal.
— É apenas cólica? — Questiona.
— Aparentemente sim, eu espero que seja. Ela disse que sofre com
isso em determinados meses.
— Bom, Isis vai dormir aqui. Eu e Mari vamos levar as crianças no
cinema para distraírem. Mantenha-nos informado. Estarei com o celular. —
Informa.
— Pai, como você pediu a mamãe em casamento? — Pergunto
movido pela curiosidade e ele se engasga. — Pai?
— Só um momento. — Ele desaparece por alguns segundos e volta.
— Você quer mesmo saber? A versão light ou a versão sem cortes?
— Eu gostaria de saber a versão sem cortes. — Digo já me
arrependendo amargamente. Sei que vem merda.
— Bom, lembrando que foi você quem pediu e que eu aprendi a ser
despudorado com sua mãe... Sua mãe estava quase tendo um orgasmo, então
eu, malandramente, coloquei o anel em seu dedo. — Puta que me pariu! —
Quando os tremores de seu corpo pós-orgasmo cessaram ela, enfim,
percebeu a aliança em seu dedo, ficou emocionada e então continuamos a
fo... namorar. Fazer amor puro e inocente. Celebrar a união através da carne.
— Você está falando sério? Ou é apenas uma historinha para ser
engraçado? — Pergunto em estado de choque e horror.
— Só um momento, Matheus. — Ele diz e então minha mãe surge
ao telefone.
— Oi, neném da mamãe. Então, você quer saber como fui pedida em
casamento. Eu fui FODIDA em casamento, Matheus Albuquerque e não
pedida realmente. Não é o máximo? Foge dos clichês, você deveria
experimentar algo assim. É realmente chocante e inesquecível. Me lembro
de cada detalhe, foi num quarto de um hotel cinco estrelas, o seu pai estava
por cima, me dominando... — Ela suspira. — Estou emocionada
relembrando, Tutu. Foi lindo.
— Tchau mãe, até amanhã quando eu for capaz de olhar para a cara
de vocês dois e não imaginar essa cena. — Digo encerrando a ligação.
Quem em sã consciência propõe a mulher em casamento dessa
maneira? Meu pai! Que foda! Ele teve a porra da melhor ideia! Eu preciso
fazer algo além... algo chocante e surpreendente. Eu quero casar com minha
Sadgirl.
Meu humor não é dos melhores neste momento, mas, não consigo
deixar de sorrir ao pensar em mais um enorme passo que pretendo dar.
Sempre tem aquela pessoa que vai fazer você mudar a porra da sua
vida todinha. E ela vai fazer isso de maneira involuntária, sem forçar
absolutamente nada. Você vai ficar tão desesperado que vai querer atropelar
o mundo só para garantir que ela seja sua de todas as formas possíveis.
O amor é o sentimento mais forte, realmente. Ele pode até duelar
com o ódio, mas, ele vence. Ele derruba e não adianta lutar bravamente
contra isso. É uma potência que faz o mundo virar do lado avesso.
Eu ainda sinto pela escolha de Vic em relação a Isis. Mas, isso se
tornou tão pequeno diante da intensidade de sentimentos que sinto. Eu optei
por compreender, quis descobrir os motivos e hoje não a julgo mais.
Porém, embora eu tenha o mínimo de noção sobre os motivos que a
levam a não querer ter outro filho agora, o desejo pulsa grande e forte dentro
de mim. Um desejo de acompanhar tudo, desde o início. Eu acho que o
segundo dia mais feliz da minha vida será o dia em que ela me disser que
está grávida. O primeiro foi quando descobri Isis. Minha garota de olhos
azuis é o maior de todos os presentes.
Pode parecer estranho, mas eu sinto que Isis veio ao mundo com
alguns propósitos: Manter Victória forte, sã, consciente. E, principalmente,
unir. Ela veio para nos unir, embora mil e uma escolhas erradas foram
tomadas, involuntariamente ela nos uniu. Isis veio para quebrar os
paradigmas.
Se ela não tivesse sido concebida, talvez eu nunca mais teria visto
Victória, ou pior, talvez Vic teria cometido uma estupidez.
Esse simples pensamento faz surgir uma pontada no meu peito.
— Senhor, sua namorada está chamando. — A enfermeira diz e eu
suspiro fundo em alívio.

Meu namorado louco, possessivo e dominador está me fazendo


passar a maior de todas as vergonhas no hospital. Estou sendo carregada em
seus braços como um bebê saindo da maternidade. A vergonha é tanta que
tenho minha cabeça enterrada em seu pescoço e me nego a tirá-la daqui.
Ele me deposita sobre o acento do carro e prende o cinto em torno de
mim. Só então se acomoda em seu acento e dá partida. Essa cólica foi apenas
a pior de toda minha existência. Apenas preciso de uma consulta com a
minha ginecologista, porque segundo ela o adesivo diminuía as cólicas.
Chegamos em casa e, mais uma vez, estou nos braços do super-
homem.
— Eu posso andar, Theus.
— Tem certeza? Eu posso levá-la e voltar para pegar as compras. —
Diz preocupado. Ele é fofo!
— Não há necessidade. Vamos subir com as compras de uma vez. —
Digo e ele acaricia meu rosto com a ternura e preocupação estampadas em
seus olhos.
Ele está me olhando atento, de um jeito intimidador. Talvez esteja
apenas buscando indícios de que estou realmente bem ou fingindo. Para falar
a verdade, não me sinto muito bem ainda. Ainda há uma leve dor
incomodando e tive que fingir estar bem para sair daquele hospital. Eu odeio
hospitais com todas as minhas forças.
Claro, diminuiu bastante, mas ainda dói. Um tipo de dor que não é
legal ou suportável. Irônico para mim, eu sei. Logo eu, a pessoa que tem
intimidade com a dor...
Passo minha mão em seu lindo rosto e ele a pega deixando um beijo
carinhoso. Eu amo esses momentos "relax com Matheus Albuquerque". Ele
sorri, em seguida deposita um beijo em minha testa.
— Te amo, pequena.
— Não. Pequeninha. Pequena não tem graça. — Protesto.
—Pequeninha. Vamos, preciso alimentá-la. — Theus pega as
compras e eu luto para ajudá-lo a carregar, porém é tempo perdido. O
homem das cavernas não permite.
Quando entramos no apartamento, vou direto tomar um banho (no
banheiro social porque a transparência em dias sangrentos não é algo legal) e
Matheus faz o mesmo, no banheiro do nosso quarto.
Eu levo meu tempo — um longo e proveitoso tempo — deixando a
água morna cair sobre minha cabeça em abundância. Quando termino coloco
uma calcinha para eventos menstruais, me enrolo em um roupão e visto uma
pantufa.
Chego vagarosamente na cozinha e me acomodo em uma banqueta
para vislumbrar meu doméstico gostosão. Meu mega hiper namorado está
tão concentrado nas panelas que nem sequer da conta da minha presença.
Aproveito para embeber da sua imagem, como sempre. Ele está usando em
seus pés uma Havaianas branca. Vestindo uma cueca boxer preta e um
avental, nada além disso. É um sonho erótico ao qual só poderei desfrutar
apenas com os olhos por hoje.
É incrível, quando não podemos fazer algo é quando mais queremos
fazer.
— Você estava olhando para minha bunda.
— Estava, até você se virar e eu ver uma saliência na parte baixa do
seu avental. — Sorrio.
— Não tenho culpa, realça mesmo quando está dormindo. —
Justifica rindo. Eu sei bem. Realça até em suas bermudas largas. Matheus é
alvo das mulheres "manja rolas", estou certa disso.
— Senhor big pau, o cheiro de sua comida está abrindo meu apetite
vorazmente. — Confesso enquanto ele se aproxima e me beija.
— Você está melhor?
— Melhor que antes. Vou tomar o remédio que ele receitou, e que
felizmente eu tenho, assim que jantarmos. — Explico.
— Você fica assim todos os meses? — Pergunta voltando aos seus
afazeres culinários.
— Não. Devo ter no máximo umas 4 crises por ano. Porém, dessa
vez foi um pouco pior. Eu não entendo muito sobre isso Tenho tomado as
medicações inibidoras prescritas pelo psiquiatra, o adesivo anticoncepcional,
talvez isso tenha algo ligado a dor.
— Se você estivesse grávida ficaria nove meses livre disso. — Ele
brinca.
— Sim. Matheus, você ao menos sabe que o pós-parto envolve pelo
menos quinze dias de sangramento? — Pergunto e ele me encara perplexo.
— Sério? Quinze dias sangrando? — Questiona interessado.
— Exatamente.
— Você ficou assim quando ganhou Isis?
— Sim. É uma grande merda, meu amor. O que alivia é ter um
pequeno motivo nos braços. Você acaba se esquecendo do sangramento e
parece apenas uma menstruação normal. Mas, na verdade não é,
principalmente nos sete primeiros dias. É intenso. Há um absorvente que se
parece mais com uma fralda geriátrica do que tudo. É extremamente sexy,
Matheus. E para completar, nos primeiros dias é uma merda tomar banho, é
horrível manter a postura ereta, se abaixar, levantar os braços. Tudo dá um
nervoso absurdo. Você mal consegue lavar as partes intimas, mas é obrigada
a se esforçar. Não é bonito. Quer dizer, é bonito ter filho, mas nós mulheres
sofremos muito nos primeiros dias, mesmo que seja um momento
maravilhoso. — Relembro e ele está chocado.
— Eu teria te ajudado a tomar banho. Teria te ajudado a se mover.
Eu farei isso quando estiver grávida novamente.
— Veremos.
— Vic, não agora porque sei que essa não é sua vontade e temos
coisas importantes em andamento, mas, num intervalo de um ano, você me
dá outro filho? — Ele pede tão bonitinho. — Por favor.
— Nós faremos um filho, eu prometo a você. Vamos planejar tudo.
Estamos apenas começando, Theus.
— Eu sei, mas é que para mim não é um começo, é uma
continuação. Eu estou ansioso para vivermos tudo. — Meu coração até
dispara no peito.
O homem que eu achava ser inalcançável é completo e totalmente
apaixonado por mim. Assim como eu sou por ele.
— Nós faremos tudo. — Afirmo e ele sorri satisfeito.
— Acomode-se à mesa senhorita Victória Brandão. O jantar está
pronto. — Eu salto lentamente da banqueta e faço o que me foi solicitado.
Está tudo tão bonitinho. Ele cuidou até da decoração.
Meu chefe de cozinha mega-hiper-ultra-power-sexy coloca as tigelas
com as comidas sobre a mesa e traz uma jarra de suco de maracujá. Isso
quase me faz rir.
— Suco de maracujá, hein?! — Provoco.
— Não sei o que esperar da sua TPM. — Confessa sorrindo e
servindo a refeição em meu prato. — Medalhão ao molho de mostarda, arroz
com brócolis e batatas douradas. — Diz orgulhoso.
— Incrível! Eu espero que esteja tão gostoso quanto o cozinheiro e
quanto ao cheiro magnífico. — Sorrio e começamos a comer.
Oh, Deus!!!
Você já teve um orgasmo alucinante? É essa a sensação quando levo
a primeira garfada até a boca. Quão sortuda eu sou por ter Matheus? Nem
mesmo faço ideia sobre isso. Acho que foi o presente que Deus me deu após
passar anos sendo torturada. Não basta ser perfeito em um monte de coisas,
o filho de uma boa mãe ainda arrasa na culinária. Matheus deixa as coisas
injustas para os meros mortais.
— Está bom? — Pergunta, ansioso e receoso.
— Bom? Eu estou falando de boca cheia! Isso é fantástico! Você
acaba de ser promovido a cozinheiro da casa! —Brinco.
— Tudo por você e pela nossa filha. Se vocês me querem na
cozinha, na cozinha eu estarei.
— Oh, esse homem é o mais incrível! — Exclamo segurando sua
mão por cima da mesa, mas o solto logo para devorar a comida.
Eu como duas vezes, uma quantidade enorme de comida, que nem
mesmo deixa espaço para a sobremesa. Sabe quando foi a última vez que
comi tanto? Não me recordo.
— Que isso! Estou surpreso com esse apetite.
— Se não posso foder, desconto minha ira na comida. — Explico-
me fazendo-o se engasgar com suco.
— Que romântica, minha princesa! Por isso que eu amo tanto. —
Ironiza rindo.
— Eu te amo infinitamente, Matheus. Você é e sempre foi o amor da
minha vida. — Declaro sorridente e meu sorriso vai se desfazendo ao notar a
maneira instigante e séria que ele está me olhando. Algo de errado não está
certo.
— Eu pensei em mil e uma formas de fazer isso. — Confessa. Não
faço ideia do que ele está falando.
— Fazer o que? — Pergunto.
Ele se levanta, deixando-me em estado de alerta, se aproxima mais
de mim. Ele se ajoelha ao chão, ao meu lado, e me faz virar de frente para si.
Minha garganta de repente fica seca. O que está acontecendo? Misericórdia!
— Eu pensei em saltar de um helicóptero, pensei num jantar íntimo
e então pensei num jantar com toda nossa família. Pensei em cobrir a casa de
flores, pensei em mandar enigmas, em fechar o cristo redentor para um
jantar, pensei em alguma viagem extravagante, em levá-la até meu lugar
favorito no mundo... Mas, então me liguei, meu lugar favorito no mundo é
você. — Estou arrepiada, sem conseguir desconectar meus olhos dos olhos
brilhantes que ele possui. — Se você é o meu lugar preferido, se você é o
meu lugar no mundo, acho que não preciso de um jantar, de qualquer outra
coisa. Só preciso estar com você, assim, do nada, jantando de cueca
enquanto você está embrulhada num roupão e usando uma pantufa de
porquinho rosa em seus pés. Não preciso fazer sexo para selar esse
momento, não preciso de grandes comemorações ou de fazer disso um
evento, só preciso ter meus braços em volta de você, amor. — Ele sorri e eu
juro, que em questão de segundos todo um filme da nossa história passa em
minha mente. Eu nunca, nunca, nem mesmo em meus poucos sonhos bons
imaginei que esse momento chegaria. — Eu não sei deixar de ser impulsivo,
espero que você não leve isso em conta. Quero que, de alguma forma, isso
que farei agora fique marcado em sua memória, porque ficará na minha. Eu
sonhei com isso por tantos anos, e estou tão certo. — Diz balançando a
cabeça. — Vic, desculpa se não saiu da maneira como você sonhou algum
dia, se é que você sonhou com isso.
— Por favor, diga logo!
— Você daria a honra de ser minha esposa? Aceita se casar comigo?
Aceita ter meu sobrenome e ser mãe de uma porrada de bebês meus? —
Uma lágrima desce dos seus olhos e eu não sou capaz de formular uma
resposta.
Ele disse as palavras...
Ele está me pedindo em casamento...
Esse é um daqueles momentos que a mente paralisa e então você
sente que precisa de um sacode para acordar. Matheus Albuquerque Barcelos
está me propondo casamento! Embora ele tenha feito algumas dezenas de
insinuações, eu não imaginei que ele proporia algo assim, tão repentino.
— Vic, meu amor, eu esperei por esse momento uma vida inteira.
Não me torture com a espera...
— Eu nunca imaginei que esse momento chegaria. Nunca imaginei
que o teria de volta e que um dia me tornaria sua esposa. — Confesso
limpando minhas lágrimas. — Eu quero ser Victória Albuquerque. Eu nasci
para carregar seu sobrenome, Theus.
— Você aceita? — Pergunta como se não estivesse acreditando.
— Você não precisava pedir, eu já sou sua desde sempre, mesmo que
tenhamos nos separado por um longo tempo. O dia que demos nosso
primeiro beijo, nosso destino foi selado. Sou sua mulher, serei sua esposa.
Theus, hoje é um dos dias mais felizes de toda a minha vida. — Eu choro o
agarrando. — Eu não consigo parar de chorar agora, porque eu te amo tanto,
tanto, tanto, que chega a doer meu coração, me falta o ar agora, Theus. Você
é meu amor, minha paz, minha razão, meu sonho. Obrigada por me fazer
feliz, por me amar e por querer que eu seja sua esposa.
— Não chora pequeninha, eu fico fodido quando você chora, mesmo
que o choro seja de alegria.
— Apenas retire a parte de ter uma porrada de bebês. — Brinco
voltando a encará-lo. — Três filhos é o máximo, não acha?
— Mais quatro e eu ficarei satisfeito. Duas gestações múltiplas.
— Oh merda, apenas uma múltipla, é o meu limite.
— Não! Você me deve duas gravidezes. — Justifica emburrado e
pega algo dentro do avental.
Quando ele surge com a caixinha de veludo, o soluço alto escapa de
mim. Não acredito, Deus! Muito obrigada! Eu definitivamente não merecia,
mas, alguém lá em cima achou diferente e está me dando isso.
— Theus... — Minhas lágrimas voltam a rolar soltas quando ele abre
a caixinha revelando dois anéis idênticos, porém, um é mini.
— Pare de chorar, pequeninha. — Diz pegando minha mão
esquerda. — Eu amo suas unhas pintadas de vermelho.
— Obrigada. — Sorrio entre lágrimas.
— Victória Albuquerque, receba essa aliança em prova do meu amor
e da minha fidelidade. — Diz sério.
— Ownnn... Você é tão fofo! — Exclamo enquanto ele desliza o anel
em meu dedo.
— Essa é da nossa filha. Eu preciso pedi-la em casamento também.
Vocês são as duas mulheres da minha vida. Quer dizer, há minha mãe e Bia,
mas são num outro contexto e ... — Eu calo sua boca com um beijo.
— Eu te amo, Theus.
— Eu te amo pra caralho, Vic Sadgirl pequeninha sardinhas
bonitinhas Albuquerque.
— Fofo!
— Eu sou muito fofo, realmente fofo, totalmente fofo. Seu fofo.
— Um excesso de fofura! — Sorrio o beijando mais uma vez.
— Bom, sendo assim, amanhã começaremos organizar nosso
casamento. Eu espero que aconteça logo e também... — Ele sempre estraga
os momentos emocionantes com sua loucura.
Ele passa pelo menos meia hora organizando nosso casamento em
sua cabeça e me mata de rir com sua empolgação.
Eu estou indo me casar com homem da minha vida! Quão incrível
isso é?! Três meses... puta merda! Ele quer que nos casemos em três meses!
“E este velho mundo é um novo mundo
E um mundo arrojado
Para mim”
Nana Simone – Feeling Good
Dominador/ô/adjetivo substantivo masculino1.que ou o que domina;
que ou o que detém o poder, a autoridade que ou aquele que tem um caráter
autoritário e procura dominar.
"O exercício da dominação é algo que leva tempo e que demanda
inúmeras experiências ao longo da vida. Portanto, é um processo contínuo,
um longo aprendizado. E é justamente através desta vivência que o Homem
de Verdade poderá se transformar no Dominador de Verdade. Alguém que
seja capaz de cuidar e ser responsável pelo poder que conquistar diante de
outra pessoa. Somos humanos e por consequência, sujeitos a mutações.
Influências externas nos mudam (nem sempre para melhor). Fatores como
ambiente, pessoas e até o tempo que passa nos lapida e aperfeiçoam (alguns
se desgastando, mofando e apodrecendo)."
"Tanto a submissão quanto à Dominação não são uma questão de
querer, mas, sim de ser... ou não ser. (eis a questão). Ambas, são
características e não uma opção que escolhemos. Podemos facilmente
perceber instintivamente se uma pessoa é, dominante ou submissa. E elas se
revelam, líderes ou liderados."
"Baunilha é um termo de origem norte-americana que define em
essência toda a realidade afetiva básica que nos cerca. Por extensão,
relação baunilha é toda a relação que ocorre no mundo baunilha chamado
pelos americanos de "Vanilla World".
Enquanto Universo BDSM é formado por hierarquia e verdade, o
Mundo Baunilha é formado por aparências e sexo.
Baunilha (Vanilla) — A pessoa comum que se satisfaz com sexo
comum, apesar da infinidade de possibilidades disponíveis na vitrine da
afetividade e sexualidade humanas. Sexo Baunilha (Vanilla sex) — Sexo
comum. Relações Baunilha (Vanilla relationships) — Namoro, noivado,
casamento, amantes, "relações estáveis" e as "ficadas" são as mais comuns
para os baunilhas (Vanilla people)..Baunilha Apimentado (Pepper vanilla)
— Quando os baunilhas começam a ver o que existe mais longe, não se
satisfazendo mais com relações mornas e normais, passam a colocar um
tempero nelas, pegando emprestado práticas e atitudes dos Universos
superiores
"As relações BDSM são bem simples e começam sempre com o
Dominador/dominado e podem migrar com o tempo para a relação de
possuidor/posse. Iniciantes de ambos os lados do chicote, que tentam pular
etapas, invariavelmente terminam sendo protagonistas de histórias com
finais infelizes. Com o tempo, tudo ficará mais claro e você saberá
exatamente quando a pessoa passou de dominada para posse."

É um mundo diferente.
Estou grande parte da manhã mergulhando virtualmente nesse
universo desconhecido, surpreso em como, em algumas partes da pesquisa,
tenho percebido que pode ser que esse universo não seja tão desconhecido
assim. Eu me encontrei em muitas características, em muitos trechos de
artigos diversos.
É um estudo interessante, levando em conta o histórico sombrio de
Victória. Inclusive, descobri que nem tudo nesse universo tem a ver com a
dor, com a humilhação. Há práticas únicas e exclusivas para uma excitante
troca sexual. Há como tornar as coisas lúdicas, longe de causar dor,
ferimentos e abalar psicologicamente a parceira.
Eu era leigo nesse assunto, completamente. Mas, estou um pouco
chocado com as descobertas. Quando não se tem um entendimento sobre o
assunto, a mínima noção que seja, costumamos criar julgamentos infundados
e absurdos. Quando se lê a palavra BDSM você já pensa em espancamento e
humilhação automaticamente. Claro, eu descobri que há práticas voltadas a
esse tipo mais sombrio. Descobri que há centenas de simpatizantes do
sadismo. Essa sigla aborda tudo. Porém, eu gostei mesmo foi da parte BD
(boundage e dominação). A dominação foi onde consegui ver muito de mim,
já na boundage, há algumas ressalvas sobre coisas absurdas que eu nunca
faria com Victória, mas também, existem outras que são bastante
interessantes.
Eu e Vic somos uma dupla quente e selvagem sexualmente. Há
bastante práticas saudáveis que podem ser agregadas ao nosso
relacionamento sem que isso cause danos graves. Talvez nós possamos
começar a brincar de “subsadgirl” ...
Minha garota disse que eu possuo o perfil dominador. Ela é
visionária, eu descobri que ela pode estar muito certa sobre isso. Mas, assim
como eu possuo perfil dominador, Victória possui o perfil submisso. Ela
tenta às vezes dominar a situação, mas, nunca segue firme seu propósito. Ela
sempre termina sendo subjugada por mim na cama e isso a excita de uma
maneira louca e assustadora. Ainda assim, preciso pesquisar mais a fundo e
descobrir melhor, lembrando sempre que minha garota está em fase de
tratamento e eu prezo pelo seu bem-estar psicológico.
Eu sinto que posso mostrar ela o outro lado, um lado onde ela é
amada, respeitada e seu prazer está acima de todas as coisas...
— Interessante. — Uma voz surge ao meu lado fazendo com que eu
feche rapidamente a porra do meu notebook.
— Arrombada parideira! Não sabe bater na porta? Filhote de Deus
me livre!
— Christian Grey Albuquerque. Sou capaz de ouvir o som do
chicote estalando na raba de Victória. Pobrezinha...
— Saia! Intrometida! — Ordeno ficando de pé.
— Ui, ele é dominador mesmo gente! — Ela ri e então dá um soco
em minha mesa. A filha da puta chega o dedo na minha cara e diz: —
Comigo não, bonitão. Eu te quebro na porrada!
— Saia, Beatriz! Vá caçar uma ocupação.
— Enquanto você está aí brincando de Grey, há uma reunião
agendada para daqui vinte minutos.
— Vai ensinar minha mãe a fazer filha! Eu tenho responsabilidade.
Além do mais, a reunião é apenas com você e nosso pai. — Rebato.
— Você está estressado, está precisando transar, Matheus. Vic está
dormindo de calça jeans?
— Não, Vic está tendo seu período e isso não é da sua conta. —
Esbravejo.
— Credo, ela que está no período e você que fica estressado? Vocês
irão ao baile beneficente?
— Óbvio.
— Credo, Matheus! Tchau! Você está um merda. — Ela sai batendo
os pés e então eu a puxo para um abraço.
— Desculpa, maninha, é que você às vezes é invasiva demais. Eu te
amo do tamanho do mundo inteiro.
— Também amo você, bebezão. — Diz sorrindo. — Eu nem vi o
conteúdo, apenas vi que era um site de BDSM. — Ela ri. — Sério, vou te dar
alguns livros que podem ser interessantes.
— Mande a lista e eu os comprarei. — Pisco um olho e a maluca se
vai após apertar minha bunda.
Corro até o notebook e começo a pesquisar livros nessa temática.
Compro alguns pela internet e coloco o escritório como endereço de entrega.
Não quero que minha garota saiba do meu interesse repentino.
Minutos depois...
— Infelizmente as duas reuniões coincidem de ser no mesmo dia. É
a vez de vocês mostrarem que estão aqui como meus sucessores realmente.
São os dois maiores clientes do escritório, não existe uma maneira de
remarcarmos com qualquer um dos dois. Isso nos faria perder a
credibilidade. — Meu pai explica. — Tendo em vista que Enzo ainda é
bastante dependente, eu decidi que Beatriz ficará com a reunião aqui do Rio,
e você terá que fazer uma pequena viagem até Belo Horizonte, filho.
— Pai, eu vou comandar uma reunião sozinha? — Beatriz pergunta
um pouco chocada e eu seguro o impulso de rir.
— Você irá. É a sua vez de mostrar a que veio. Estudou para isso.
Confio em você o bastante para saber que tirará isso de letra.
— Mas...
— Sem “mas”. Você foi treinada, Bia. Você é como sua mãe. — Ele
sorri e eu penso que estou ficando igual a ele em relação a Victória. — Vai
reclamar também, Matheus?
— Não. Estou acostumado. Em Nova York participei de muitas
reuniões com clientes importantes. — Digo provocando Beatriz que me
mostra o dedo do meio.
— Eu reservarei minha passagem. Vou pegar o primeiro voo
amanhã. — Informo.
— Excelente. — Ele sorri e me entrega uma pasta. — Estude o caso.
Não é muito burocrático e nem tão extenso. Hoje não há mais clientes, então
vocês dois podem ir almoçar em casa e trabalhar home office.
— Eu prefiro ficar. Enzo vai me consumir em casa e não terei tanta
atenção. — Beatriz informa preocupada.
— Eu prefiro ir e pegar minha garota para almoçarmos fora.
— Estou com diabetes. — Alguém tem uma irmã tão fodida quanto
a minha?
— Não tenho culpa se seu marido não te surpreende. — Digo rindo.
— Você não sabe da missa a metade, Christian Grey. Cinquenta tons
de chibata.
— Que porra é essa? — Meu pai questiona.
— Oh papai, não queira saber. — A filha da puta diz rindo e se
levanta. — Aliás, ao invés de pedir Vic em casamento dando um anel,
mande ser confeccionado uma coleira de diamantes com as iniciais do seu
nome. Bem estilo submissa...
— Vou fazer uma para ela e outra para você. Cadela filha da puta!
— Puta que pariu em vocês dois! — Meu pai esbraveja se
levantando. — Estou indo para casa, vocês parecem ter cinco anos de idade.
Arthurzinho é mais maduro que os dois juntos.
Porra, não quis contrariar meu pai, mas não estava nos meus planos
uma viagem de última hora. A única coisa que me anima é poder estar de
volta à casa onde vivi os momentos mais incríveis em minha infância e
adolescência.
Eu queria voltar lá levando minha mulher e nossa filha.

É tão bom poder ficar livre do ar condicionado e respirar ar puro.


Hoje o dia está lindo. Quente, porém, não insuportável. As janelas
da minha sala estão devidamente abertas e o vento está entrando a todo
vapor.
Estou organizando os últimos detalhes de mais um baile beneficente
dos abrigos. Tão centrada que nem noto sua presença:
— Olá, Sadnoiva! — A voz surge diante de mim e eu sorrio.
— Olá, Sadnoivo! Que bons ventos o trazem aqui? — Pergunto me
levantando e o abraço.
— Vim buscar minha Sadnoiva, que por sinal é a mais linda de todo
o universo, para almoçar.
— Eu nem estava lembrando de almoço. — Confesso cheirando seu
pescoço. — Advogato gostoso.
— Você está sentindo bem? Teve mais alguma dor?
— Felizmente não. Eu tive um bom médico durante toda a noite. —
Sorrio. — Então, acho que tenho uma horinha para almoçar com meu
Sadnoivo, Sadboy, pimpolho, covinhas, sardinhas bonitinhas, príncipe,
papai.
— Oh, papai aquece meu coração do ódio que sinto quando você me
chama de pimpolho. — Ele diz rindo.
— Credo, ódio é uma palavra muito forte.
— Pimpolho também é. Destrói minha imagem de macho alfa. —
Argumenta rindo e apertando minha bunda. — Porra, quero foder você.
— Vai ter que esperar, Sadboy. Estou impossibilitada. — Ele faz um
beicinho e eu rio. — Mas, isso não impede de eu te fazer um agradinho.
— Que tipo de agrado?
— Eu posso chupá-lo, tocá-lo... — Digo o puxando pela gravata.
— Não. Eu estarei em penitência com você. Faltam quantos dias?
— Dois.
— Daqui dois dias eu vou fodê-la, meu amor. Por ora, vou ficar de
pau duro mesmo. — Ri moendo seu corpo ao meu. — Hum, está foda. Não
podemos fazer um sexo no chuveiro no estilo lavou está novo? Não ligo!
— Não, Matheus Albuquerque... Isso seria meio absurdo. Não rola.
É incrível o fogo que surge quando estamos nos dias sangrentos...
— Sad pequeninha, eu terei que viajar amanhã. — Avisa enquanto
beijo seu pescoço.
— Viajar?
— Uma reunião importante em Belo Horizonte. Vou pegar o
primeiro voo. — Explica e eu faço um bico gigante.
— Que dia volta?
— Se tudo der certo, amanhã mesmo. Nem mesmo queria ir. Mas, já
que vou, passarei na antiga casa dos meus pais.
— Você ama sua antiga casa. — É bonitinho como ele fala com
tanto carinho de lá.
— Muito. É linda Vic, vamos morar lá?
— Sério?
— Se você quiser... Nossos filhos teriam espaço de sobra e o
pimpolho também. — Nossos filhos... Planos a longo prazo incluindo nosso
cachorro.
— Depois falamos sobre isso.
— Sim, depois. Vamos almoçar, pequeninha. Estou com fome. —
Diz me arrastando.
— Calma, eu preciso pegar meu celular e minha bolsa.

Quando Matheus me deixa de volta no abrigo, é o momento de


retomar as atividades. Agora me sinto mais disposta para cumprir o resto do
expediente. A parte engraçada e meio trágica foi a forma como os
seguranças olharam para meu Sadboy, como se ele fosse uma bomba
nuclear. Como pode 4 homens terem medo de 1?
— Olá... — A voz de Pietro desvia meu foco do trabalho.
— Ei, Pi! — Levanto-me para cumprimentá-lo portando um enorme
sorriso.
— Como você está?
— Muito bem, e o senhor, papai? — Pergunto animada para ser tia
mais uma vez.
— Muito maravilhosamente bem. A médica disse que daqui algumas
semanas conseguiremos descobrir se são gêmeos.
— Eu não tive gêmeos. Mas, pode ser que você tenha sido
presenteado com algo dessa grandeza. Imagina? Gêmeos! Eu acho que
ficaria um pouco louca. — Brinco.
— Estou ansioso.
— E Jéssica? Como ela está?
— Está muito bem. Indo ao tratamento psicológico, aceitando a
maternidade. Parece que sua crise está normalizada agora. Ela está realmente
bem. Começou a sentir muito sono. Mas, acredito que isso seja normal. —
Ele diz com brilho nos olhos.
— É muito normal. Na gravidez de Isis eu sentia um sono absurdo,
porém, a faculdade exigia muito de mim. Não tinha como me render ao
cansaço.
— Há um anel ostentação em seu dedo anelar direito. Perdi algo? —
Questiona.
— Matheus e eu ficamos noivos ontem. Na verdade, ninguém, além
de nós dois, sabe desse feito. Por favor, não conte ou mamãe irá me matar a
sangue frio. — Peço juntando as mãos. — Iremos oferecer um jantar para
fazer o anúncio.
— Minha irmãzinha gêmea vai se casar! — Ele exclama animado.
— Você merece ser feliz, Vic, muito, imensamente, perdidamente.
— E você também, irmãozinho.
— Bom, agora vamos ao que interessa: trabalho. Vim verificar a
logística... — Ele sorri se levantando e eu o acompanho até a porta. — Nos
vemos depois maninha.
— Foi bom ver você, Pi. Te amo demais!
— Amo você, Vic. —Ele se despede me dando um beijo na testa e se
vai.
Enfim dedico cem por cento ao trabalho. Organizo, através de um
mapa, a concentração de convidados, nomeio mesas através de uma planilha,
termino de fechar os últimos detalhes com o buffet e com a decoradora.
Busco um Dj para o pós-jantar e distribuo tarefas em gerais para alguns
funcionários.
São cinco e quarenta quando percebo que preciso me alimentar
novamente. Ligo para a cantina e peço um lanche, e então vou organizar
algumas pastas no armário. Estou distraída quando ouço uma voz que faz
meu corpo gelar.
— Olá, little girl.
— Túlio? — Pergunto quase perdendo as forças das minhas pernas.
Respiro fundo algumas vezes antes de criar coragem para virar de
frente. E, quando viro, diante de mim está ele, com todas as suas tatuagens e
com seus reluzentes olhos azuis.
— Eu vim em missão de paz. — Avisa levantando as mãos.
— O que você está fazendo solto?
— Habeas corpus. Mas, sei que será revogado, então eu pensei em
aproveitar os últimos momentos da minha liberdade conversando com você.
Não me olhe como se eu fosse um monstro capaz de matá-la, Vic. — Pede
num tom que deixa claro a dor que está carregando. Há lágrimas em seus
olhos. — Por favor, deixa eu falar com você. Só quero falar, Vic.
— Você levou uma facada...
— Levei. — Reafirma levantando sua blusa, expondo uma enorme
cicatriz. — É preciso muito mais que uma facada para me matar, Vic. Eu
tentei salvá-la... eu só queria salvá-la, mas ele não deixou. Me desculpe, eu
tentei impedir, tentei muito. — Diz chorando enquanto passa as mãos pelos
cabelos. — Eu queria tirá-la daqui, propus isso porque eu sabia o que ele
planejava. Você não quis fugir comigo Vic, porque eu fui um monstro para
você. Mas, eu sempre te amei, desde o início. Eu só não podia... Só não
conseguia ser diferente...
— Sente-se Túlio. — Aponto para a cadeira e me sento atrás de
minha mesa.
— Vic, eu mesmo vou me entregar de vez. Vou confessar tudo, cada
mínimo detalhe. Eu só não fiz ainda porque precisava falar para você o quão
fodido sou, Vic. — Pelo amor de Deus, Túlio está desesperado. Nunca o vi
assim. — Eu não sei nem meu sobrenome mais. Meu pai não é meu pai. Ítalo
nunca existiu, sempre foi Humberto. Ele matou minha mãe, Vic. Eu não sou
mais Túlio Salvatore, eu sou Túlio e só isso. Ele mentiu tudo, ele modificou
tudo, como isso foi possível? Eu cresci acreditando em tudo, fui obrigado a
ser como ele, e mesmo que eu tentasse pegar leve com você, as vezes eu
tinha que ser rude, para te proteger, Vic. No início ele ameaçava a mim
mesmo, mas então, ele descobriu que eu amava você e começou a usar isso
como forma de chantagem. Se eu não fosse bruto, ele ameaçava matar seus
pais e até você, little girl. Eu não podia perdê-la ou vê-la sofrer sem pai e
mãe, porque eu sei a dor que é....
—Túlio, vou pegar um copo de água para você.
— Não, Vic, eu sei que vai aparecer alguém aqui e então a conversa
estará arruinada. Há uma ordem de restrição quanto me aproximar de você,
no momento em que me descobrirem aqui perderei minha liberdade
provisória... Deixe-me falar.
— Sim. — Meu Deus do céu! Não sei lidar com Túlio assim.
— Vic, quando você cresce em meio à sombra, voltado inteiramente
ao negativismo, quando você cresce em meio ao ódio, à ira, à destruição,
você passa associar aquilo para sua vida. Pois é tudo que você conhece. Eu
fui rejeitado, subjugado, me tornei um selvagem repleto de ódio. Fui
treinado para foder o corpo e a mente de garotas indefesas. Meu pai... ele
canalizou minha raiva para o sadismo. Eu vivia revoltado com tudo e com
todos. Tinha ódio de mim mesmo, brigava na escola, tinha pavio
extremamente curto, era grosseiro... — Desabafa e meu coração se contorce
imaginando sua infância e tudo que passou. — Eu aprendi a lidar com a dor
física muito cedo. Lidar com a dor externa é fácil, Vic, porém a interna é
fodido, porque não há um remédio pra deixar de doer. Nunca me ensinaram
a lidar com a dor interna, com o sofrimento ... — Ele dá uma pausa e então
passa as mãos pela cabeça. — Eu nunca havia conhecido o amor, até
conhecê-la. Eu cresci sem esse sentimento. Era desconhecido. Mas, então
meu pai mostrou você... Vic, você era tão linda. Uma coisinha inocente, com
sardinhas no rosto, carinhosa e cheia de amor. Eu quis você. Mesmo que
estivesse sendo controlado pelo meu pai, eu queria você, eu quis, eu me
apaixonei. Mas foi feio, eu tive que fazer todas aquelas coisas, eu tirei sua
pureza, sua inocência, eu destruí sua vida, seu psicológico. E, quando meu
pai não estava, você ficava mais entregue, porque eu a conduzia tão bem.
Sem dores, sem ordens, sem plateia... Eu tentava apaziguar a situação fodida
para você. Tentava mostrar que nem tudo era tão fodido, tentava te dar amor.
Eu tentava, Victória, mas eu nunca fui capaz de conseguir isso.
— Túlio...
— Eu não quero que me perdoe. Não mereço seu perdão, não
mereço você. Eu só quero que você entenda que minha vida foi uma merda
desde o dia em que nasci. Entenda que eu lidava com você daquela maneira,
porque ela sempre foi a única que conheci. — Ele abaixa sua cabeça e soluça
alto. — Vic, eu estou com tanto medo da prisão. Estou com medo pra
caralho..., mas, esse medo não chega nem perto do medo que eu sentia sobre
a perspectiva do meu pai fazer qualquer tipo de maldade maior a você ou sua
família. — Engulo o nó que se forma em minha garganta. De repente, tudo
que quero é chorar. Ele é visivelmente mais fodido que eu. Não há ninguém
para segurar suas mãos, nenhuma pessoa, nenhum apoio. É apenas ele por si
mesmo.
Túlio não tem quaisquer familiares como base de apoio, nenhum
incentivador, nenhum motivo para lutar. Túlio precisa de tratamento, ele não
é um homem mau. Não estou sendo tola por pensar assim, mas é o que é. Eu
pude ver um homem bom que há dentro dele algumas dezenas de vezes.
— Que bom que você tem alguém que te ama, Vic. Alguém que vai
consertar o estrago que eu fiz em você, little girl. Eu vou pagar cada maldito
dia, cada segundo pelo que fiz, vou pagar por você. Qualquer sofrimento,
qualquer dor, qualquer porra, serão suportadas, porque a cada vez que eu
estiver sendo rasgado ao meio, sentirei na pele tudo de ruim que fiz com
você e aí todas as minhas dores valerão à pena.
— Isso que está falando é pesado demais, Túlio.
— Eu só quero que seja feliz, que o tratamento ao qual está sendo
submetida tenha um efeito positivo e consiga dissipar um pouco das
memórias ruins que você tem. Eu quero que você recomece, que case, tenha
filhos, viaje, sorria, que seja feliz, minha Vic. Por favor, seja feliz. Se você
for feliz, isso ajuda aliviar um pouco a minha culpa interior. Prometa para
mim, little girl. Prometa que será feliz?
— Isso parece uma despedida. — Estou devastada, completamente
devastada.
— É uma despedida. — Afirma. — Eu não vou tirar minha vida,
Vic, isso seria um ato covarde. Mereço sentir na pele, mereço que doa e
mereço pagar. Estou indo pagar pelos meus crimes e então, se um dia eu sair
de lá, será para recomeçar em um outro lugar. Longe daqui, longe de você.
— Ele se levanta e eu acompanho seu ato.
Nós dois estamos chorando quando ele se aproxima e me abraça.
Um abraço puramente de despedida. É impossível não lembrar do garoto de
dezesseis anos que conheci. Um que disse palavras tão lindas quando me viu
pela primeira vez. Um que fora transformado em um monstro pelo próprio
pai. Enquanto ele me abraça eu vejo meu passado todinho, dói como um
maldito inferno. Uma dor dilacerante.
Eu vejo cruzes, espinhos, chibatas, velas... eu vejo palmatórias,
algemas, coleiras... eu vejo um garoto de dezesseis anos pedindo desculpas
com olhar e então tirando minha virgindade. Vejo ele fazendo de tudo para
me proteger, mesmo que suas tentativas fossem fracassadas. A verdade é que
ele era uma criança também, mesmo que tivesse dezesseis anos, dois a mais
que eu. Túlio era uma criança perdida, sendo obrigado a fazer todas as coisas
ruins que lhe era ordenado.
Túlio ainda é uma criança. Ele ainda é um garoto perdido e eu oro a
Deus para que, em algum momento da vida, ele consiga alguém que o faça
descobrir o quão grande ele pode ser. Alguém que ilumine sua vida, que faça
algum sentido, que seja o motivo para ele seguir em frente e perdoar-se a si
mesmo. Ele merece, porque ele é tão fodido quanto eu, ou mais. Os abusos
sobre ele começaram logo após seu nascimento e ele passou por todas as
coisas mais terríveis durante a vida inteira.
É um filme da minha vida passando através de um abraço. É a minha
despedida do passado, eu sinto isso. O ponto final.
— Eu te amo muito. Me perdoe. Eu sinto muito por tudo, por cada
dor, por cada humilhação.
— Eu perdoo você.
— Mamãeee... — Isis chega gritando e abro meus olhos para ver
Matheus atrás dela. Túlio se afasta limpando as lágrimas e eu fico petrificada
observando um Matheus tomado pela ira e pela dor. Ele não será capaz de
compreender, nem por toda explicação dessa vida. Matheus nunca irá
compreender.
— O que está acontecendo aqui?
“Acho que eu achei o inferno
Acho que eu achei alguma coisa
Acho que achei alguma coisa na tela da minha televisão
Acho que descobri que eu não tenho nada
Que eu não tenho nada para mim nesse lugar
[...]
Eu assisti tudo na minha cabeça
Num sentido perfeito
Esse programa que eu assisti enquanto adormecia
Me fez cair de joelhos
Rezando para qualquer coisa que tenha a ver com Deus
Para me mandar um anjo da guarda”
The Neighbourhood – Female Robbery
— Isis, por favor, tio Pietro está passeando pelo abrigo, você pode
ir encontrá-lo? — Peço tentando livrá-la de uma cena.
— Por que você está chorando, mamãe? E seu amigo? Por que ele
está chorando? — Minha filha curiosa pergunta preocupada.
— Filha, faça o que mamãe pediu, por favor, princesinha. —
Matheus pede e ela acata ao pedindo. Minha pequena sai correndo em busca
do tio, deixando-nos a sós.
— Eu não vim fazer mal a Victória. Só precisava conversar. Não
olhe para ela como se ela tivesse culpa. — Túlio argumenta e então
Matheus está sobre ele. O mais estranho é que Túlio não revida. Está com
os braços abaixados e lágrimas em seus olhos.
— Theus, por favor, não faça nada estúpido. — Peço antes que ele
possa socar a cara de Túlio.
— Estúpido? — Ele pergunta soltando Túlio e se vira para mim. —
Você é estúpida de receber esse cara, Victória. Isso é estupidez, esse homem
te estuprou.
— Ele... ele só veio conversar. — Tento explicar, mas ele não quer
ouvir.
— É mesmo, Victória? Ele só veio conversar? Foi nessa de
conversar que ele fez o que fez com você! O que você espera de mim, Vic?
Você espera que eu seja impassível? Espera que eu aceite vê-la sendo
abraçada pelo cara que destruiu parte da sua vida? Se você não tivesse tão
fodida psicologicamente talvez eu tivesse tido o prazer e a honra de ver
minha filha nascer. — Isso dói. — Talvez não tivéssemos ficado sete
malditos anos separados. Esse cara aqui... — Ele grita apontando para o
Túlio. — Ele é um desgraçado, Victória. Eu jurei que nunca gritaria com
você, mas isso que eu acabei de presenciar é absurdo. Seus pais certamente
reagiriam da mesma forma. Seus irmãos... — Ele suspira frustrado e então
pega seu celular no bolso.
— O que você está fazendo? — Pergunto e ele me encara com uma
expressão endurecida.
— Ele infligiu a ordem de restrição. Esse sujeito não pode se
aproximar de você mais e eu não vou permitir ou deixar passar batido! —
Grita.
Enquanto Matheus fala ao telefone meus olhos estão em Túlio. Essa
situação é bastante fodida.
— Eu já estava preparado. — Túlio diz baixo e engulo a seco.
Estranho que ele está calmo, como se tivesse realmente esperando por esse
acontecimento. Estou arrasada, pra caralho.
Estou com tanto medo, tanto medo. Não sei o que fazer.
Me acomodo em minha cadeira e apoio minha cabeça nas mãos. Por
alguns minutos mantenho meus olhos fechados e esqueço de tudo ao meu
redor. Eu estou vivendo oscilações constantes entre felicidade e destruição.
Me pergunto quando todo o inferno astral acabará e quando deixarei de
viver encoberta pela sombra do meu passado. O passado está fodendo meu
presente e pode vir a interferir no meu futuro.
Não sei quanto tempo me perco em mim mesma, mas, de repente, a
porta da sala se abre violentamente e eu dou um sobressalto. Três policiais
civis entram e Túlio levanta as mãos se entregando prontamente. Querendo
ou não essa é uma cena a qual não irei esquecer. É bastante impactante ver
uma pessoa sendo presa, não que ele não tenha que pagar. Ele tem. Mas,
ainda assim, é algo imensamente triste.
Ele levanta seu olhar para mim e pisca um olho. Isso me faz cair de
joelhos no chão, chorando.
— Seja feliz, little girl. —Diz quando os policiais o levam e então
Matheus dá um soco na mesa.
— Chega, Victória!
— Theus...
— Chega! Eu lutei feito um filho da puta tentando prender aqueles
dois, você ficou em risco, quase deu errado e agora você estava abraçada,
chorando com aquele desgraçado. CHEGA! Eu tenho sido um homem
quase perfeito para você. Tenho feito tudo que está ao meu alcance e até
mesmo o que não está para poder fazê-la feliz. Não vou aceitar isso que
acabou de acontecer. Minha consciência está tranquila, como um homem
nobre e digno que fez tudo pela mulher. — Diz nervoso. — Eu não posso
lutar sozinho, já disse isso algumas vezes. Mas, se você não quer se ajudar,
se você quer manter sua vida em risco, eu lavo minhas mãos por você Vic.
Sinto muito, não vou ficar lutando em vão. Você é tão inocente que não
enxerga maldade... você não enxergou as segundas intenções de Ricardo,
não enxergou o mesmo em Rhael e não enxergou agora com esse filho de
uma puta.
— Você está me deixando? — Pergunto movida pelo medo.
— Não, eu não estou. Estou dando um tempo para você colocar a
merda da sua cabeça no lugar e decidir o que quer da vida. Eu não aceito
Rhael, não aceito Túlio na sua vida. Eu aceito Ricardo porque pelo menos
ele tem ajudado você e foi homem para enfrentar uma conversa comigo.
Pondere e veja quem você quer que permaneça, Vic. — Suspira. — Estou
antecipando minha viagem. Quando eu voltar conversamos. Leve Isis para
casa e a mantenha segura, por favor! Não a coloque no meio dessa merda!
— Quando você volta?
— Não sei, Victória. Aquele homem... Eu o mataria com as minhas
próprias mãos. Entenda a gravidade e o que ele significa para mim. Ele
deveria significar o mesmo para você. ESTUPRO, VICTÓRIA!
SADISMO! ESPANCAMENTO! TORTURA PSICOLÓGICA! Se isso não
significa nada para você... — Diz andando furioso e se vai.

— Papai! — Isis me grita. Limpo minhas lágrimas rapidamente e


viro-me para encontrá-la.
— Olá, princesinha!
— Você está indo embora? E eu? — Porra! Isso parte meu coração.
— Papai teve um imprevisto de trabalho. Terei que fazer uma
viagem rápida e logo estaremos juntinhos novamente, tudo bem?
— Você estava chorando. — Afirma. — Você e a mamãe não são
mais namorados, papai? Não somos uma família mais?
— Claro que somos, para sempre. Papai está indo apenas porque
precisa mesmo trabalhar, caso contrário, estaria ficando grudado com você,
com pimpolho e com sua mãe. — Argumento tentando passar segurança a
ela. — Ei, você promete que vai cuidar e dar amor a mamãe? Você sabe, ela
é muito bagunceira, precisa de alguém cuidando dela. — Ela sorri.
— Vou cuidar e dar amor. Vou dormir na sua cama com ela, papai.
— Isso, faça isso por mim, ok? — A pego em meus braços e dou
um abraço apertado. — Te amo, comporte-se direitinho, como uma
princesa. Trarei um presente bem legal para você.
— Está bem, papai. Te amo até o céu e mais.
— Eu te amo além desse mais aí. — Sorrio a colocando no chão. —
Agora vá. Tio Pietro deve estar te procurando.
— Até mais, papai.
— Até mais, minha princesa.

Caminho até o carro destroçado até a alma. Há certas coisas que


fogem da minha capacidade de compreensão. Sou humano, merda. Eu tenho
o direito de sentir dor, de possuir fraquezas, de ser irracional. A minha
mulher tem um passado fodido e, desde que a reencontrei, tenho tido que
ser forte o tempo inteiro. Tenho mascarado a dor, mascarado tudo de ruim.
Todas as minhas dores estão sendo devidamente guardadas em algum lugar
muito secreto para que eu possa me manter forte por ela, para dar a força
que ela merece e precisa. Mas, aquilo que acabei de ver, foi demais para
mim. Nunca serei capaz de compreender e tão pouco quero ouvir
explicações.
Não importa. Por causa daquele homem, seja ele tendo sido
obrigado ou não, Vic passou pelas maiores provações da vida. Ela foi
estuprada, foi subjugada, foi torturada. Teve que renunciar ao convívio
familiar, teve que esconder a existência de uma filha, teve a merda de uma
vida fodida. E, agora que ela está conseguindo alguns progressos, vê-la
abraçada com ele foi como receber um tiro no peito e isso não tem
absolutamente nada a ver com meu lado dramático.
Eu conheci o verdadeiro inferno quando os encontrei abraçados.
Nunca irei aceitar.
Nunca!
Apertando minhas mãos fortemente em torno do volante, dirijo para
casa.
Quando chego, ligo para meu pai vir e vou até o quarto arrumar
minha mala. Talvez eu não fique apenas um dia. Não posso lidar com
Victória quando estou nervoso e descontrolado, não quero feri-la com
minha fúria.
Vinte minutos se passam e o interfone toca, informando a chegada
de meu pai. Quando ele entra no apartamento, eu me sinto como o garoto de
quatro anos que acabou de cair e ralar os joelhos. Eu corro para seus braços
e ele me abraça fortemente, permitindo que eu chore até esvaziar os
recipientes de lágrimas por completo. Quando me acalmo, sento-me no
sofá e ele surge com um copo de água.
— Sente-se pronto para falar? Você e Vic terminaram, é isso?
— Não. Mas temo por isso. Não sou capaz de aceitar tudo, pai. Não
posso aceitar tudo. — Confesso.
— Onde tudo é aceito, não há amor. — Ele diz. — O que houve?
— Eu a peguei abraçada com Túlio Salvatore, no meio do
escritório, pai. — Ele arregala os olhos e eu balanço a cabeça. — Não posso
lidar com isso, pai. Eu o olho e consigo ver tudo o que fez com Vic. Você
não faz ideia de como o corpo dela estava marcado quando fui encontrar
Vic, não faz ideia de todas as malditas coisas que ela me contou. Além de
tudo, dói tanto que eu não tenha acompanhado os primeiros sete anos da
minha filha. Pai, tudo teria sido diferente se ele e o pai não tivessem
aparecido para foder a mente da minha mulher. Ela era apenas uma criança,
só tinha quatorze anos... Isso dói tanto.
— Vocês conversaram?
— Não, ou eu falaria um monte de merda e tudo acabaria mal. Eu
só te chamei, porque eu também preciso desabafar, pai. Tenho me mantido
forte o tempo todo, mas agora, depois de ter visto essa merda, eu fraquejei
um pouco, pai.
— Não fraqueje. Você está no caminho certo, Matheus. Está
fazendo o que precisa ser feito, ser forte por você e por Vic. É difícil, uma
luta diária, pois tudo entre vocês oscila o tempo todo. Num dia estão se
amando, no outro Vic está quebrada. Num dia se encontram, no outro ela é
sequestrada. Há muito peso na história de vocês e, um dos dois precisa estar
no controle. Essa pessoa é você. Pode parecer fodido, eu reagiria da mesma
maneira que você, mas, há algum motivo por trás de Victória ter estado
abraçada com ele e não esboçar ódio, rancor. Apenas acalme sua mente, seu
coração e dialogue. O diálogo é a parte mais intima do relacionamento e
mais importante também. Não fraqueje, filho. Seja forte. É só uma
tempestade.
— Tentarei.
— Você está indo para BH agora, pelo que parece. — Balanço a
cabeça em confirmação. — Vamos, o levarei até o aeroporto. Não se
preocupe, cuidarei de Vic por você.
— Você acha que ela pode vir a ter uma crise?
— Isis estará com ela, isso te diz alguma coisa? Isis a salvou
durante sete anos. Ela poderá salvá-la agora novamente.

Em três horas estou entrando na casa que amo. Deixo minha mala
no hall e respiro o cheiro incrível desse lugar.
Em minha mente, eu vejo crianças correndo pela sala, vejo uma
sardinhas bonitinhas muito linda sorrindo, vejo a minha vida neste local.
Uma vida feliz, longe de todas as pessoas ruins, longe de Túlio.
Gostaria mesmo de entender por que ela estava nos braços dele,
mas nenhuma explicação no mundo fará com que eu aceite.
Estou sofrendo, mais uma vez.
O apartamento sem Matheus é vazio e sufocante.
Já passam das onze da noite. Isis está dormindo e Pimpolho
também. Restaram apenas eu, minha insegurança, meu medo e o desespero
esmagador.

No dia seguinte entro de cabeça no trabalho, tanto que esqueço de


comer.
— Victória, nós precisamos ter uma conversa. — Minha mãe
irrompe pela sala como um furacão e apoia suas mãos sobre a mesa me
encarando. — Você perdeu a merda do seu maldito juízo? — Grita e eu me
encolho. — Você é estúpida ou o que? — Ok, Matheus já contou a todos.
Excelente!
— Ele sofreu também, mãe. Túlio não é má pessoa completa.
— Ah claro, ele é má pessoa incompleta. — Ela debocha. — Não
existe isso, Victória. Ele pode ter sido torturado pelo pai sim, mas o que ele
fez com você é imperdoável, inaceitável. É um absurdo. Você sabe o quanto
eu e seu pai nos torturamos pelo ocorrido com você? Victória Brandão,
tentei ocultar, mas você precisa ouvir umas verdades. Você precisa saber
que a cada dia o passado nos corroí, precisa saber que eu e seu pai estamos
lutando bravamente contra culpa e a favor da aceitação. Seus irmãos se
culpam, Matheus se culpa, seus avós, eu, seu pai... O que aconteceu com
você impactou na vida de todos grandiosamente. Tenha o mínimo de
respeito por nós, já que não respeita a si mesma!
— Ninguém me deixa falar, merda! — Grito perdendo o controle.
— Me deixem falar...
— O que você quer falar? Suas palavras são inúteis perto de tudo o
que esse homem fez você passar junto com o monstro do pai dele. Victória,
eu tive minha filha de 14 anos estuprada, eu morro um pouco a cada dia por
conta disso. Não adianta você querer justificar, filha. Isso dói e se dói é
porque você é importante para mim, para Matheus e para toda nossa
família. Eu estou desesperada. — Ela chora. — Esse homem é perigoso,
Victória. Se ele precisa de tratamento, que ele procure isso longe de você.
Eu não vou permitir qualquer tipo de aproximação e se você insistir, eu juro
por Deus Victória, eu esqueço que um dia tive filha e mais, eu salvo minha
neta dessa merda de convivência com pessoas ruins! Passar bem!
Ela se vai com a mesma intensidade que veio. Sem ao menos deixar
que eu explique...
Eu ligo para Matheus algumas dezenas de vezes e ele só responde a
uma mensagem à noite, com uma pergunta:
— Está tudo bem com Isis?
— Sim, eu preciso falar com você. — Respondo.
— Eu ainda não estou calmo o bastante para uma conversa. Não
quero dizer coisas que machuquem você. Beijos.

Três dias sem Matheus!


Eu já me sinto no auge de um surto. Nem sei como estou
conseguindo ser forte. Aliás, eu sei, às sessões com Ricardo e a presença
constante de Isis. Tanto na sessão de ontem, quanto na de hoje, eu fui ao
consultório apenas para chorar. Não ajudou muito. Ricardo também é do
time Matheus quando se trata de Túlio.
— Victória Brandão! — Qual é de todas as pessoas entrarem na
minha sala dessa forma explosiva?
— Mari? Aconteceu algo? — Pergunto à minha sogra que está
parada diante de mim portando um semblante bastante sério.
— Ainda não, mas, vai acontecer em duas horas. Victória, não sou
de intrometer onde não sou chamada. Não estou aqui como mãe do
Matheus. Estou aqui como uma mulher madura, vivida e experiente. Quero
te fazer uma pergunta, uma única: você vai mesmo permitir que ele saia da
sua vida com essa facilidade?
— Mari eu... ele... nem... — Não consigo falar. Dói.
— Oh! Victória, você foi tola de ao menos cogitar que Matheus
entenderia o que você fez. Enfim, eu não vim para criticá-la. Matheus está
há três dias sozinho em Belo Horizonte. Sabe quando eu deixaria Arthur
sozinho em qualquer lugar do mundo por três dias? NUNCA! Esses
Albuquerques são uma raça desgraçada de homens gostosos, dominadores,
tesudos, pirocudos. Veja, Arthurzinho tem só sete anos e já exibe uma pica
de responsa. — Ela grita e então sorri. Sei que ela está dizendo todas essas
baboseiras apenas para tentar aliviar a situação. Eu amo Mariana. — O que
falta para você ir atrás dele?
— Ele disse que voltaria...
— Já era para ele ter voltado há dois dias, mas, ao invés disso, ele
está lá, por algum motivo que apenas ele sabe. Então, querida, para não
dizer que eu sou uma sogra megera, aqui está sua passagem só de ida. Seu
voo sai em aproximadamente duas horas. É o tempo de você correr em casa,
pegar algumas roupas e sumir da minha frente.
— Mariana, há um baile...
— Foda-se o baile, querida. Há um homem incrível dando mole em
Belo Horizonte. Veja bem, Matheus, alto, cabelos castanhos dourados,
olhos cor de mel, 1.87 de pura testosterona, um corpo dos deuses, uns 23
centímetros de pau... Se você soubesse com as mineiras são quentes...
Ainda por cima tem minha sobrinha, filha de Alice, um espetáculo da
natureza que sempre deu mole para Matheus, eu não arriscaria. — Ela diz
fingindo lixar as unhas e eu entro em desespero pegando minha bolsa.
— Você está mesmo falando sério? Há uma prima?
— Há uma prima, há inúmeras mulheres "come quieto", há
puteiros, zonas, há de graça também...
— Você não está me ajudando dessa maneira. — Protesto e ela
engancha seu braço ao meu.
— Não há nada que um bom terrorismo não resolva.
— Mari, é sério que Arthurzinho tem uma pica de responsa com
apenas sete anos? — Pergunto curiosa enquanto caminho para o carro.
— Não. — Ela ri. — Mas, ele terá. Matheus aos doze era
assustador. É de família, Vic. Eles são filhos de Arthur Albuquerque. —
Merda, não quero olhar para Arthur e imaginar o tamanho assustador do
pau de Matheus. — Vá, meu amor. Busque seu futuro marido.

Mari me seguiu em seu carro até o apartamento. Ela colocou em


minha mala algumas dezenas de roupas intimas sensuais e escolheu uma
para eu já ir preparada para combater as forças ocultas, palavras dela.
Agora, no aeroporto aguardando o voo, ela acaba de me entregar o
endereço e dá as coordenadas sobre o que devo fazer assim que pousar em
Belo Horizonte. Inclusive informa que minha entrada já está autorizada no
condomínio.
Quando enfim o voo é anunciado me jogo em seus braços.
— Obrigada por me incentivar, por dar um enorme empurrão.
— Não permita que estraguem o que vocês estão construindo, Vic.
A propósito, esse anel em seu dedo é maravilhoso. — Ela sorri piscando um
olho. — Vá, querida. Traga meu filho de volta nem que seja arrastado.
— Eu trarei. — Digo impressionada com a minha própria firmeza.
Dez minutos depois estou acomodada em meu acento no avião. Há
um frio na barriga incontrolável.
A comissária oferece uma taça de champanhe e eu bebo duas. Eu
não havia pensado nas coisas que Mariana pensou. Eu não pensei em outras
mulheres, não pensei em absolutamente nada. Apenas aceitei e fiquei
aguardando até o presente momento, porque sempre fui assim, submissa e
comodista. Acho que o medo me fez ficar quieta, apenas esperando.
Quando digo medo, é medo das palavras e ações de Matheus, é o medo dele
decidir que é o fim. Não estou preparada para perdê-lo, só de pensar nisso
me dá uma vontade absurda de vomitar.
Cinquenta e cinco minutos, contados no relógio, pousamos e então
meus níveis de adrenalina passam a comandar meus atos.
Pego minha mala e saio correndo pelo aeroporto em busca de um
táxi.
— Por favor, preciso ir para o condomínio Alphaville Lagoa dos
Ingleses.
— Sim senhora.
Pela janela vou conhecendo um pouco da cidade que Matheus tanto
ama. É uma cidade grande e aparentemente evoluída. Nós passamos por
parques, shoppings, empresas, e então passamos por uma série de motéis.
Um ao lado do outro. São pelo menos uns quinze. Isso me faz rir.
Meia hora depois eu vejo ALPHAVILLE escrito em letras garrafais
e então começo a surtar internamente. Mordo meu lábio inferior, mordo
meu dedo, faço o caralho a quatro. Estou ansiosa e desesperada.
O motorista para na portaria, dou meu nome para o acesso ser
liberado e seguimos. Estou impactada. Esse condomínio parece uma
pequena vila luxuosa. Acho que nunca vi tantas casas imponentes em toda
minha vida.
— Alameda Alphaville quatro, senhora. Pode me informar o
número da residência?
— 1001.
— É um pouco para baixo. — Ele informa e então continuamos
seguindo até chegar ao final da rua. — É aqui, senhorita. — Informa e eu o
pago rapidamente dando uma graninha mais. Desço do carro e minha boca
vai ao chão quando olho a casa diante de mim. Isso explica muito a paixão
do Matheus. É apenas uma das casas mais lindas que eu vi nesse lugar e
tem vista privilegiada para a lagoa.
— Puta merda! — Digo para mim mesma deslumbrada. Ok, meus
pais são ricos, o apartamento luxuoso e antiga casa também, mas, nada se
compara a isso!
Respiro fundo algumas vezes, deixando o deslumbre de lado, e
tomo o impulso de caminhar até a porta. Conto até dez e então bato a
campainha.
1
2
3
4
4,5
5
6
6,25
Merda!!! Matheus não está em casa!
Eu quero chorar, mas, ao invés disso, sento-me no degrau da
entrada e espero.
Espero uma hora, espero duas e três. E, quando estou quase
desistindo o vejo saltar de um carro. UM CARRO CONDUZIDO POR
UMA MULHER!
Eu fico de pé no mesmo instante e o vejo se dar conta da minha
presença. Ele cruza os braços e me encara muito seriamente. O maldito fica
alguns longos segundos assim, até enfiar a cabeça dentro do carro, dizer
algo a motorista e ela ir embora. Eu vou matá-lo!
Retiro meus sapatos e miro em sua cabeça antes de tacá-los. Eu os
jogo sem pensar duas vezes.
— Você é maluca? — Pergunta enquanto se esquiva. Não satisfeita,
jogo minha bolsa. Quero matá-lo, mas, quando estou prestes a jogar a mala,
ele vem como um monstro para cima de mim.
— Filho de uma puta! É para isso que você ficou aqui? Diga,
traidor! Eu odeio você, Matheus Albuquerque, vou matá-lo... — Grito
enquanto ele tenta me segurar. Eu miro meu joelho em seu pau e quando
estou prestes a acertá-lo ele se desvencilha. O filho da mãe sabe como se
esquivar de todos os golpes.
— Porra, o que te deu? Um ataque de sadismo? Puta que pariu! —
Pergunta. Estou tão louca, que me jogo em cima dele mais uma vez. Ele
agarra minhas pernas e me joga em seu ombro. Então desce e cata minhas
coisas jogadas na rua enquanto o espanco.
Eu começo a chorar incapaz de lutar contra a dor maçante. Traidor
de uma figa.
— Eu odeio você!!! Me solte, seu filho da mãe!!! Você me traiu...
Quem era a piranha? — Pergunto arranhando suas costas e tentando chutar
suas partes intimas.
Eu aperto sua bunda e então distribuo socos. Essa bunda...
— Me coloque no chão, Hulk, ogro das montanhas.
— Cale a boca, você está dando uma cena do caralho. — Diz
abrindo a porta de casa.
Ele joga minhas coisas dentro e em seguida chuta a porta, fechando-
a
— Eu posso soltá-la, pequeno animalzinho? — Pergunta e eu
desconto minha ira em suas costas. — Ai filha da mãe! Isso doeu! — Ele
grita me colocando no chão.
Retiro meus cabelos do rosto e limpo minhas lágrimas. Nós ficamos
nos encarando alguns segundos antes de eu voar sobre ele mais uma vez.
Dessa vez meu foco é seu pescoço.
— Puta merda, Victória!
— Eu odeio que você tenha me traído, seu merda!!! — O chuto
enquanto ele mantém meus braços imobilizados. — Me solte, filho da puta!
Eu vou matar você, Matheus! Estou falando sério!
— Ok, eu vou soltá-la. Missão de paz, Victória. Controle-se,
caralho! — Pede e eu finjo me acalmar para que ele me solte. Não
sobrevivo sem dar uma joelhada nesse homem!
O infeliz me solta, mas sai correndo subindo a escadaria, fugindo da
minha fúria. Eu fico paralisada pelo fato de haver uma pequena lagoa
dentro de casa, bem abaixo da escadaria de vidro. Mari gosta mesmo de
vidro. Me distraio alguns segundos apenas, até lembrar que tenho um
homem para matar. Subo correndo atrás dele.
— Cadê você? Seja homem, covarde! — Grito procurando por ele
em todos os cômodos. Essa casa tinha que ser tão gigante? — Arghhhh...
Eu odeio você Matheus. — Digo chorando.
— Está quente, Victória Brandão.
— Quente é o inferno, Matheus! Foda-se você. Foi um erro... tudo
está sendo um erro. Minha vida é um erro. — Choro encostada na parede e
o infeliz aparece soprando minha orelha. — Arghh... Que ódio de você! —
Me viro para ele e tento dar um tapa em sua cara. Porém, ele pega minha
mão no ar.
— Tapa só se for de amor, Sadnoiva.
— Sad seu cu, babaca!!! — Eu dou a joelhada e dessa vez é
certeiro. Ele se agacha ao chão com a dor e eu entro em desespero. —
Desculpaaa... não foi minha intenção... desculpa.
— Você tem cinco segundo para correr, Victória. Na hora que eu
levantar, você é uma mulher morta. — Ameaça gemendo e eu rodo feito
uma barata tonta em volta dele. — Cinco, quatro, três, dois...
— Merda!!! Idiota! — Grito correndo até um dos quartos e quando
vou trancar a porta ele empurra quase me fazendo cair ao chão.
— Você está no meu quarto, Sadnoiva. — Informa num tom
assustador.
— Me deixe.
— Você está cometendo várias infrações hoje. — O filho da mãe
enlaça um braço em minha cintura e começa a subir meu vestido. Que
merda está acontecendo?
— Foda-se, Matheus! O que você pensa que está fazendo?
— Sabe o que acontece com mocinhas que invadem quartos
alheios? — Pergunta em meu ouvido.
— Não.
— Elas são fodidas Im-pi-e-do-sa-men-te. — Oh... Esse homem é
mais louco que eu.
— Eu não quero transar com você. Eu quero me explique quem era
aquela vadia.
— Sabe o que acontece com meninas desobedientes que falam
palavrão? — Pergunta novamente em meu ouvido.
— Foda-se!
— Elas são fodidas bem forte. Im-pi-e-do-sa-men-te
— Hahaha! Não há graça, eu não estou com tesão. Estou com ódio.
— Aviso.
— Sabe o que acontece com meninas debochadas? Não, você não
sabe Sadnoiva. Elas têm suas bundas estapeadas com força. — Inferno de
tesão! Quer dizer, não estou com tesão, ou não estava. Tudo muda em
segundos. É uma maldição! Mas, não vou cair nessa. Eu decido entrar no
seu joguinho apenas para provar meu ponto.
Passo a língua pelo seu pescoço e vou até seu ouvido. Theus ofega,
mostrando-se afetado e eu sorrio.
— Sabe o que acontece com homens infiéis?
— Não. — Responde sorrindo, olhos nos olhos. Sem pensar, dou
um tapa bem dado em seu rosto. Ele fica imóvel me encarando. Sua
respiração está ligeiramente alterada e eu estou engolindo seco repetidas
vezes. Eu cruzei uma linha tênue entre sexo e violência neste momento.
Ele se afasta e me dá as costas. As lágrimas teimam em surgir em
meus olhos e eu luto contra isso.
Estou envolvida num mar de arrependimento quando ele se vira de
frente, caminha até mim e rasga meu vestido. Eu ofego assustada quando
ele, praticamente, me joga contra a parede devorando minha boca com uma
ferocidade assustadora. Eu não consigo protestar, apenas tento acompanhá-
lo ou minha boca será seriamente ferida.
Ele me beija até perder o fôlego e eu tento recobrar minha sanidade.
— Safada. — Ele diz em meu ouvido enquanto trabalha em abrir o
zíper da sua bermuda. Eu não vou resistir. Nem por um caralho irei resistir.
— Minha safada. — Eu sou tão dele. Toda.
— Eu te amo. Sou louca por você.
— Você é, completamente louca por mim, como uma maldita
viciada, Sadgirl.
— Sim. — Concordo. Merda! Há uma espécie de vicio mesmo.
Somos viciados um no outro.
Ele desliza para dentro de mim e eu ofego, sentindo meu corpo se
ajustar à invasão.
— Linda.
— Theus...
— Sabe como se acalma uma Sadnoiva em meio a uma crise de
sadismo? — Sorrio e ele aperta meu pescoço. Deus! Eu sou muito louca por
gostar dessa brutalidade!
— Não.
— Vou te mostrar, Victória. — Avisa caminhando comigo até a
cama, onde me coloca de uma maneira nada delicada e me faz virar, de
forma que eu fique de quatro. — Diga-me Victória, você gosta de ser
tratada assim? — Pergunta agarrando meus cabelos e voltando a me invadir.
— Eu te fiz uma pergunta.
— Gosto. — Respondo.
— Você vai me bater de novo? — Pergunta.
— Vou.
— Vai? — Ele dá uma risada nervosa e eu sorrio. — Por que você
vai? Por que gosta de ter as coisas saindo do controle? Gosta da ira? —
Questiona mordendo minhas costas e eu tento tomar controle da fodida
situação em que me encontro. Me forço a ser solta e ele agarra mais forte
meus cabelos. Matheus deixa a brincadeira de lado, pressionando forte de
maneira que eu caio deitada de bruços. Então tudo vira uma grande loucura.
Eu agarro o edredom e permito que ele faça tudo comigo e que meu corpo
responda à todas as investidas. Meu orgasmo vem forte e isso parece deixá-
lo mais insano. Não é apenas eu quem perco o controle, ele também perde,
mesmo que se arrependa depois.
Ele me vira de frente e eu o acompanho como uma marionete. Sua
boca vem até a minha, enquanto seu corpo segue em seu ritmo punitivo
contra o meu.
— A vadia que me trouxe, é minha tia Alice. — Diz. — Eu estou
muito puto agora por você ter cogitado a hipótese de uma traição.
— Mais forte.
— Assim é forte o suficiente para você? — Pergunta quase
destruindo meu útero. — Responda.
— Sim... Bem forte assim.
— Quando te vi, voltei ao carro para pedir a gentileza dela ir
embora, porque eu estava louco de saudades de você e precisava pegá-la
para mim. Se ela descesse, teríamos que adiar por pelo menos duas horas.
— Eu pensei que você iria terminar comigo. — Choramingo e ele
volta a segurar meu pescoço.
— Eu quis. — Confessa e então salta da cama comigo em seus
braços. Mais uma vez na parede, ele grita em alto e bom som: — EU TE
AMO. Você é tudo que eu quero nessa vida. É a mulher que eu escolhi para
ser minha esposa. E, foda-se se você não gostou de eu ter ficado puto. Eu
ficarei puto uma, duas, mil vezes e, ainda assim, você continuará sendo
minha. Agora eu preciso que me dê tudo de você, tudo, cada parte de você,
porque eu estava insano de saudade e eu odiei cada maldito minuto em que
estivemos separados.
— Apenas faça tudo isso. — Imploro com urgência.
— Eu mando, Victória, você obedece. — Ele está sério agora. Eu
gosto disso, gosto dele mandando. Isso mexe fortemente com algo em meu
interior. Me excita num nível absurdamente insuportável e faz a adrenalina
correr livre por todo meu corpo até explodir a mente... Sim. Essas palavras
fodem minha mente e eu nem mesmo quero me lembrar que isso é errado,
tendo em vista meu histórico. Mas gosto... eu gosto absurdamente.
Sem pensar, abaixo minha cabeça e digo:
— Sim senhor.
— Goze! — Ele ordena ainda parado. Puta merda! Matheus está
diferente e estou ficando louca por fazer o que ele ordena. Eu me torno
insana, me esfregando contra ele até o inacreditável acontecer rapidamente.
Eu nasci para ser submissa desse homem, e isso é tão louco. — Você é uma
garota obediente, subsadgirl. Bem-vinda ao meu novo mundo!
“Eu quero te tocar
Eu quero respirar bem em você
Veja, eu tenho que caçar você
Eu tenho que te trazer ao meu inferno
Baby, eu quero foder com você
Eu quero sentir você em meus ossos
Eu vou te amar
Vou me dilacerar dentro de sua alma”
Meg Myers — Desire
— O que seria seu novo mundo? Você está diferente, parece
possuído! — Vic exclama sob meu corpo e sorrio, arremetendo forte contra
ela. Eu estou com fome. Uma fome descontrolada por essa mulher. Eu vou
quebrá-la.
Quanto mais a tenho, mais eu quero. A cada vez que olho para o seu
rosto isso aumenta. Pense numa mulher linda com o rosto tomado pelo
tesão, as bochechas rosadas e as sardinhas em evidência? É a minha
mulher!
Eu a quero em todos os cômodos da casa, de todas as maneiras.
Quero matar minha sede, saciar minha fome e então começar tudo
novamente. Nós vamos aproveitar esse final de semana, não há menor
chance de deixá-la ir. Merecemos um momento a sós, para lidarmos com
algumas questões e nos reconectarmos.
Meu corpo me trai, e eu tenho mais um orgasmo. A parte engraçada
disso é ver Victória me encarando assustada, por apenas continuar
mantendo o ritmo.
Aqui aguenta a pressão, Sadgirl.
— Você é uma máquina de prazer. — Sussurra. Respondo com um
sorriso, a seguro firme e sigo rumo ao banheiro. Precisamos limpar essa
bagunça para que possamos continuar.
A coloco sobre a bancada da pia, pego uma toalhinha e a molho
com água morna da pia. Eu agarro minha garota pelos cabelos e beijo sua
boca antes de fazer o que realmente é necessário.
— Coloque os pés em cima da bancada e abra suas pernas para
mim. — Peço. Ela abre a boca e fecha pelo menos três vezes. — Vamos,
Vic. — Ela faz com um pouco de timidez e isso me faz sorrir. Como pode?
Ela é bastante experiente e fica intimidada com algo tão bobo. — Expulse.
— O que?
— Você sabe... O contrário de contrair é expulsar. Expulse a minha
bagunça de dentro de você.
— Theus, isso é...
— Não seja puritana agora, por favor. Isso é algo normal. — Ela
cede aos meus argumentos e faz. Meu líquido escorre viscoso pela toalha
enquanto a limpo delicadamente. Minha garota safada geme, esse é o
indício para eu estar dentro dela novamente.
Jogo a toalha longe e logo ela está em meus braços. Dessa vez a
coloco sobre o sofá do meu quarto. A imagem da sua bunda lisinha
empinada para mim faz a adrenalina voltar com força total.
Trabalho em seu corpo, usando todos os meios que possuo. Minhas
mãos tocam os lugares certos, assim como minha boca. Estou
completamente perdido na minha mulher e ela está desesperada pra caralho.
— Oh meu Deus! Matheus!
— Está bom, meu amor? Diga para mim. — Peço e minhas palavras
fazem o efeito desejado.
Seu corpo fica mole, realmente mole e eu mordo seus ombros
enquanto permaneço implacável.
— Eu vou desmaiar...
— Não vai. Você é uma garota forte. Mais um pouco e eu decidirei
se você merece um descanso.
— O que te deu, Matheus Albuquerque??? — Ela diz tentando se
desvencilhar e então eu a faço ficar ereta com suas costas grudadas contra
meu peitoral. — Aii...
— Me deu que eu sou louco por você, cada dia mais. Cheio de
tesão. Está ruim?
— Não. Mas, há tantas coisas...
— Há, primeiro eu vou matar a saudade e então as “tantas coisas”
discutiremos depois.
— Eu quero você por cima. Não quero montá-lo, você por cima. Eu
gosto de ter você por cima. — Pede gemendo.
Eu concedo seu pedido. A viro de frente para mim, a deito sobre o
sofá e então estou por cima, indo tão profundamente quanto é possível,
observando todas as reações da minha garota.
Nossos lábios se encontram ao mesmo tempo em que meu polegar
encontra seu inchado clitóris.
Ela geme meu nome e eu fecho os olhos tentando conter o impulso
de ir mais forte. Me sinto como um selvagem querendo foder como se fosse
um animal. Suas unhas arranham minhas costas por todos os lados e suas
mãos sobem para os meus cabelos. Eu aperto mais firme sobre ela e então o
desespero carnal a toma. Ela se contorce sob meu corpo e agarra minha
bunda querendo aumentar o impossível. Suas mãos estão por todos os lados,
minha garota louca.
— Oh Deus... Eu vou desmaiar de verdade agora. — Diz cravando
seus dentes em meu pescoço.
— Pare de se conter Vic, pare de lutar contra... — Peço. Sem
fôlego, seus olhos encontram os meus. — Boa garota. — Digo e então eu
sinto, mais uma vez, lentamente, seu interior se contraindo em torno de
mim. Ela se desfaz libertando e perdendo o controle sobre seu corpo, dessa
vez mais intenso e prolongado. Vic tem seus olhos fechados agora e sua
cabeça jogada para trás. Suas mãos escorregam do meu corpo e eu arremeto
uma última vez ante de gozar e preenchê-la, pela terceira vez.
Puta merda! Essa foi uma senhora sessão de sexo! Estou realmente
com dó da minha garota, que está quase desmaiada.
— Te amo. — Cochicho em seu ouvido e me levanto tomando um
cuidado para não a machucar.
Ela sorri preguiçosamente quando a pego em meus braços e
caminho rumo ao banheiro.
A acomodo sobre a pia enquanto coloco a banheiro para encher e
volto para minha garota bamba. Eu amo quando ela descansa sua cabeça no
vão do meu pescoço.
— Você está fraquinha hoje, Sadgirl.
— Você está possuído. Esses dias têm sido um maldito inferno,
Matheus. — Confessa me agarrando e então começa a chorar. Têm sido
infernais para mim também, mas, o que me moveu foi a necessidade de
colocar minha cabeça no lugar.
Desde que Victória voltou estou envolvido em seus problemas. Eu
os peguei para mim. Descobrir tudo que ela viveu foi de longe a maior
surpresa fodida da minha vida. Eu quis vingar tudo que ela passou. Eu
mataria aqueles homens se não fosse meu pai me controlando. Foi suado
conseguir um avanço e prendê-los, fora à luta para manter ela e Isis seguras.
Quase deu errado... e eu não sei o que teria acontecido se não tivesse toda
uma equipe envolvida na investigação.
Chegar no abrigo e vê-la abraçada com aquele desgraçado foi como
receber uma punhalada no peito. Ninguém pode pedir para que eu seja
complacente com qualquer um daqueles homens. Por mais benevolente que
eu consiga ser, perdoá-los, aceitá-los é algo que nunca irei fazer. Não
importa o que os tenha levado, principalmente Túlio. Aos dezesseis anos
um garoto já é bastante capaz de saber o que é certo e o que é errado. Ele
podia tê-la livrado dessa merda. Até mesmo quando o pai dele não estava
presente ele exercia seu domínio sobre Vic. Agora, inúmeras desculpas
serão inventadas, culpas serão jogadas, mas nada, absolutamente nada vai
arrancar a culpa que ele tem. O estrago e o impacto foram destrutivos o
bastante.
Assim que a banheira está devidamente cheia a pego em meus
braços e entro. Me encaixo entre suas pernas e ela me abraça forte.
— Você sentiu minha falta pequeninha. — Afirmo afagando seus
cabelos.
— Você me deixou.
— Não, Vic. Primeiro eu tive uma reunião importante a qual se
estendeu por dois dias, o que foi bastante inesperado. E então eu precisei de
um tempo, mas soube de cada um dos seus passos. Eu estive com você
mesmo quando você pensou que não. Estive com você e com nossa filha.
— Você não atendia minhas ligações.
— Não atendia. Minhas atitudes não costumam ser muito boas
quando estou nervoso, por isso prefiro me afastar e acalmar antes de ter
qualquer tipo de conversa. Já disse isso para você algumas vezes.
— Vocês apenas não me deixam falar. Ninguém me deixou falar
nada. — Ela diz.
— Eu sei tudo o que você vai falar Victória. A resposta é NÃO. Ele
não é vítima. Você é. E foda-se se ele foi instruído pelo pai, ainda assim, ele
fez tudo. Seu arrependimento não apaga os danos que fez. Vic, ninguém vai
entender. Mas, se você quer falar, fale.
— Ele foi lá pedir perdão. — Ela diz o óbvio e eu me calo. — Ele
foi obrigado pelo pai. Era ameaçado assim como eu. Além de tudo, o pai
dele ameaçava me matar... Ele não tinha escolha.
— Tinha, Victória. Ele podia ter contado à polícia, podia ter agido
em silêncio, podia ter buscado ajuda na própria escola. Com certeza eles
não seriam omissos. Teria livrado não apenas você, mas ele também. O que
está acontecendo é que ele ainda exerce o mínimo de controle mental sobre
você e está tentando romantizar uma situação descabida, Vic. Você foi
embora para Itália e ele ainda continuou sabendo tudo sobre sua vida. Você
acha isso normal, Victória? Ele tem o que, uns vinte e oito anos?
— Por aí. — Responde.
— É um homem feito, Victória. Você esteve lá naquele clube sujo
quando voltou e voltou para a casa totalmente destruída. O que ele fez para
impedir isso, Vic? Por favor, tente enxergar a visão que eu, seus pais e todos
que estamos de fora temos. Não seja ingênua amor. Me dói ver essa
ingenuidade em você.
— Eu sei, mas é que é tão fodido tudo, Matheus. Eu não sei lidar.
Ele estava lá, diante de mim, chorando e visivelmente arrasado. Eu sei de
tudo que ele me fez, quero que ele pague por isso, mas... eu já vi bondade
nele.
— Uma bondade doentia, Vic. Não é saudável. O que ele sente por
você é perigoso e doentio. E olha que estou certo sobre não saber cem por
cento da história. Sei que há muitas coisas que não foram contadas. É
apenas doentio e abusivo, Victória. Não posso, não quero e não vou aceitar
isso.
— Eu não soube como agir. — Confessa.
— Agora ninguém mais entrará no abrigo sem autorização. Já
conversei com seus pais. A política sobre isso será rígida. — Informo. —
Por favor, não se coloque em risco. Há Isis, seus pais, até mesmo eu, Vic.
Demorou tanto tempo para podermos viver nossa história. Você é a mulher
da minha vida, nós vamos nos casar, temos uma vida pela frente. Não corra
riscos desnecessários que podem prejudicar principalmente a si mesma.
— Não fuja mais. — Ela pede grudando sua testa à minha.
— Eu não fugi. Tudo que tenho feito é te preservar, Victória. De
todos e de mim mesmo. Quando eu me calar ou me afastar, pode saber que
é pensando única e exclusivamente em você. Não quero feri-la com
palavras. — Deixo um beijo casto em seus lábios e suspiro. — Me desculpe
pela ausência, ok? É apenas minha maneira de agir até ter a mente
funcionando corretamente. Eu odiei vê-la nos braços dele. Ele quem te
roubou de mim no passado... Tudo poderia ter sido diferente.
— Eu sei.
— Ele roubou sua inocência, sua felicidade... — Pontuo.
— Eu sei. Você a trouxe de volta. — Ela diz. — Desculpe também.
Eu me sinto perdida em situações extremas.
— Nós estamos vencendo, Vic. Devagar nós estamos conseguindo.
Estamos atravessando a escuridão, ultrapassando as sombras. Você já
avançou, nós avançamos. Juntos. Estamos crescendo a cada dia.
— Eu te amo.
— Eu amo você, pequeninha. Tão forte! — Declaro a abraçando
mais forte. — Vamos esquecer essa situação. Você está aqui, nos meus
braços. Como veio parar aqui?
— Sua mãe. Ela disse que havia uma prima, puteiros, zonas, que
você é um Albuquerque e tem um pau de 23 cm. — Explica séria.
— É sério isso?
— Sim. Ela disse que eu tinha que vir resgatá-lo, que eu estava
sendo tola de ficar esperando você voltar. Ela estava certa.
— Sim, ela estava. Eu estou com você no meu lugar preferido do
mundo. Gostaria de morar aqui com você e nossos nove filhos. — Confesso
a fazendo sorrir.
— No seu mundo que eu terei nove filhos!
— No meu novo mundo, meu amor. Novamente, bem-vinda ao meu
mundo. — Sorrio e a maluquinha geme. Tão descontrolada.
— Seu sorriso, é tão perfeito. Deus! — Grita antes de começar a
beijar meu rosto por todas as partes. — Coisa mais linda da minha vida.
Você é tão lindo... tão lindo... tão lindo. O homem mais lindo. MEU!!!
— É... Estamos nos tornando um casal fofo. — Divago sorrindo.
— Só quando não estamos transando feito dois selvagens. Por falar
nisso, estou com muita fome. Muita. — Ela protesta sorrindo.
— Vou levá-la ao restaurante de um amigo do meu pai. O cardápio
é assustador, mas, ele já está acostumado com a família Albuquerque
pedindo coisas variadas. — Explico. — Vamos tomar um banho decente
agora e então pedirei um táxi.
— Ok! Eu te amo!
— Eu também amo você. Senti sua falta pra caralho, pequeninha.
Saudade de tê-la enroscada em meu corpo todas as manhãs.

— Hummm... Isso é muito bom! — Minha garota dá um de seus


gemidos ao apreciar a magnífica picanha.
— Eu disse. Se você ler o cardápio nunca irá decifrar que eles
fazem picanha.
— Por que desse cardápio diferenciado? — Ela questiona.
— Ele nunca soube explicar. — Respondo rindo. — Você se
mudaria para Belo Horizonte? Nós podíamos trazer a ideia dos abrigos para
cá. — Proponho.
— Essa seria uma grande expansão. Podemos conversar melhor
sobre isso. Pelo pouco que vi, a cidade parece bastante acolhedora.
— Além de ser bem mais segura que o Rio de Janeiro, Vic. Acho
aqui o lugar ideal para criarmos nossos filhos.
— Gosto quando planeja nossos filhos. — Diz sorrindo. —
Teremos mais filhos, Matheus, eu prometo a você.
— Eu sei que teremos. — Afirmo com a convicção de quem vai
trabalhar duro nesse propósito.
— Estou ansiosa para voltarmos para casa. Quero conhecer cada
canto dela. O pouco que vi é de tirar o fôlego.
— Pensei que você queria voltar para podermos foder mais algumas
vezes.
— Isso também, mas, antes quero conhecer a casa. — Ela sorri e
parece infinitamente leve. Gosto de vê-la assim. — O que me diz sobre sua
prima?
— Digo que ela é um risco grandioso.
— Você confessa então? — Minha Sadgirl, nervosinha e ciumenta,
aparece. Gosto disso. Mas ela não sabe quem é minha querida prima Maria
Alice.
— Um risco para mim. Ela foi passar uns dias em Nova York e
então a levei para algumas baladas. Digamos que fui trocado por ela. Vic,
ela pega as mulheres mais gatas! Eu perdi umas três para ela, fiquei
realmente duvidando da minha capacidade de conquista. — Argumento
lembrando do episódio quase trágico.
— Ela é lésbica? — Pergunta interessada.
— Ela é tudo. É uma mulher livre, que curte tanto homens, quanto
mulheres. Mas, nunca deu em cima de mim, minha mãe queria te
aterrorizar. — Sorrio.
— Será que ela vai querer me pegar?
— Provavelmente. — Rio.
— Hum, interessante. Talvez eu vá gostar de pegá-la, será que vai
rolar? — Pergunta e eu deixo meu talher cair. Eu, o cara que sempre gostou
de foder duas ou mais, não sou capaz de imaginar minha garota beijando
outra mulher, sendo dividida, compartilhada, tocada por qualquer outra
pessoa. Se essa ideia tivesse vindo de uma ficante qualquer eu ficaria hiper
animado. Mas, com Vitória eu sou extremamente egoísta. Ela é minha e
apenas minha.
— Você é maluca de pensar que eu permitiria.
— Só queria ver sua cara de pateta. Eu gosto de piroca. — Ela diz
chupando seu suco pelo canudinho e passa seu pé em minha perna.
— Victória!
— Da sua. Eu amo demais, sou uma viciada! — Reafirma.
— Vic.
— Eu quero chupá-lo e fazer mais um monte de coisas pervertidas.
— Eita!
— Puta que pariu Victória! Termine de comer.
— Você quer me comer, Matheus Albuquerque? Agora que estou
com a minha primeira fome saciada, posso admitir, estou com uma vontade
de te dar absurda. — A diaba diz sorrindo.

Meu Sadboy noivo está vermelho, respirando com dificuldade


enquanto bebe seu vinho. Enquanto é isso, eu mastigo minha refeição
lentamente, gemendo a cada porção.
Já tomei quatro taças de vinho e uma dose de cachaça mineira que o
chef do restaurante fez questão que eu experimentasse, isso me deixou um
pouco mais soltinha e devidamente tarada.
Matheus já terminou sua refeição e está com a cabeça apoiada nas
mãos me aguardando, impacientemente.
Eu quero ajoelhar aos pés de Mariana e agradecer a ideia dessa
viagem. Como eu não havia pensado nisso antes? Foi a ideia mais
fantástica! Porém, temo voltar em uma cadeira de rodas.
Apenas nunca lutei por algo. Sempre esperei. Sair da zona de
conforto é extremamente excitante e proveitoso. Excitante está no topo.
Termino de comer a maravilhosa refeição e Matheus sorri aliviado.
— Vou pedir a conta.
— Não. Quero o tal pudim que ele sugeriu. De repente, estou louca
de vontade de comer um doce. — Sorrio angelicalmente e ele sorri de volta.
— Você quer comer um doce?
— Muito!
— Ok. — Ele diz acenando para o garçom.
— Pois não, senhor, em que posso ajudá-lo?
— Um pudim inteiro para viagem. — Pede e eu arregalo meus
olhos com sua audácia. Ele arqueia as sobrancelhas para mim e passo meu
pé por sua ereção fazendo seu sorrisinho pretensioso morrer.
Levante daqui com uma ereção monstra, Matheus Albuquerque!
— Minha princesa vai comer muito doce. Tudo por você, meu
amor. — Diz sorridente e ficamos duelando com os olhos até o garçom
voltar com uma sacola chique contendo um pudim inteiro e a conta.
Meu lindo Sadboy paga e eu fico de pé o esperando.
— Você sabe que todo mundo vai ver o tamanho do que só pertence
a você? — Pergunta.
— Sei. Mas, como você mesmo disse, só pertence a mim. Todas
podem querer, mas é MEU!
— Hum, possessiva. — Sorri se levantando e eu foco em sua dureza
que transparece através da calça. Solto um suspiro e trato logo de tampar a
situação. Não é mais agradável que todos possam ver.
Pegamos um dos táxis que estão na porta e eu vou o tocando por
cima da calça por todo caminho. Ele não exibe qualquer tipo de reação,
apenas seu pau está totalmente duro.
Quando o táxi nos deixa em casa, ele me oferece sua mão para me
ajudar a descer. Eu a pego com um sorrisinho que ele não retribui.
Subimos os degraus que nos levam até a porta de entrada que deve
ter no mínimo cinco metros de alturas e Matheus a abre dando passagem
para que eu entre. Assim que ponho meus pés para dentro, toda a casa se
ilumina. Uau! É tudo sensorial!
— Eu realmente amei esse laguinho abaixo da escadaria de vidro.
— Também gosto. — Meu homem dominador passa por mim indo
rumo ao desconhecido e eu o sigo.
Enfim chegamos a uma cozinha gigantesca e eu sinto que estou
apaixonada por essa casa.
Ele pega uma colher na gaveta, retira o pudim da sacola, me lança
um olhar impenetrável que me faz arrepiar.
— Espere só um minuto. — Solicita indo e eu fico admirando o
local.
Caminho até a parede de vidro com vista para área externa e fico
deslumbrada com o pouco que vejo. Imagino um mini Matheus correndo
pelo gramado, Beatriz se jogando na piscina. Imagino o quanto eles foram
felizes nesse lugar. Isso aquece meu coração. Pode ser uma excelente ideia
morarmos aqui. Essa casa parece ter sido planejada para crianças.
O sinto atrás de mim e logo o fecho traseiro do meu vestido está
sendo aberto. Tento virar, porém, sou impedida.
A peça cai sobre meus pés e ele pega meus braços levando minhas
mãos para trás e as amarra em algo que não consigo distinguir. Só sei que é
um tecido. Novamente tento me virar, porém, dessa vez ele gruda meu
corpo contra a parede e venda meus olhos. Matheus tem estado diferente,
um diferente muito bom. Parece que ele resolveu assumir seu papel de
dominador, não sei. Não falamos sobre isso realmente. Mas, ele está ainda
mais intenso, como se isso fosse possível.
É. Eu vou morrer!
Sou virada de frente abruptamente, impedida de ver ou tocar. Ele
me pega pela cintura e então me senta sobre o balcão. Se afasta e eu
começo a ficar seriamente inquieta. Eu amo e odeio poder apenas esperar e
sentir.
Ouço sons e após longos segundos ele está entre minhas pernas.
— Abra a boca. — Ordena com sua voz rouca e eu abro. O gosto
magnífico de pudim enche minha boca e eu suspiro em apreciação. Esse
pudim é dos deuses.
— Mais. — Peço e ele dá. Enquanto estou me maravilhando sinto
algo gelado entre meus seios e então sua língua toca a extremidade
lambendo e beijando. Sinto todo meu corpo se arrepiar.
Ele abre o fecho frontal do meu sutiã, suas mãos avançam
envolvendo-os, os apertando e esfregando meus mamilos. Sua boca desliza
pelo meu pescoço onde ele beija e morde me fazendo gritar. E então sobe
até minha orelha e me chama de inúmeros xingamentos sujos...
Sou devorada pelo meu noivo como se não tivéssemos tido o
bastante.
Inauguramos a cozinha e terminamos na sala, caídos no sofá.
— Puta merda, Vic! — Ele exclama ofegante.
— Puta merda! — Concordo.
— Puta merda, caralho!
— Puta merda, Matheus!
— Porra! Victória!!! — Estou rindo agora.
— Porra! Matheus!
— Pare de me copiar!
— Não. — Rio. — Te amo.
— Te amo também, maluquinha. Gostou da sobremesa?
— Melhor sobremesa, ever!
— Vamos tomar banho e descansar, amanhã à noite te levarei a um
lugar. — Diz misterioso.
— Um lugar?
— Eu estive pesquisando nos últimos dias o que você disse. —
Sobre ele ser dominador? Uau! — Esses três dias afastados estive
envolvido em pesquisas mais profundas sobre o assunto, eu vi muito de
mim, Vic. — Explica como se estivesse confessando algo a si mesmo. Eu
tento compreender o que ele está tentado dizer. — Descobri alguns clubes
extremamente seletos e rigorosos, tanto no Rio quanto aqui em BH. Enfim,
quero entender um pouco mais sobre meu lado dominador. — Eu quase caio
do sofá!
“Todos estão olhando
Eu sei o que você está esperando
Esta não é sua decisão
Menina, isso não é nenhuma porta mágica
Eu não quero te foder desse jeito
Eu não quero te tocar desse jeito
Eu sei que você quer confiar em mim desse jeito”
SOMO – Control
A vida é mais feliz quando se dorme enroscada em Matheus
Albuquerque!
Acontece que eu só dormi realmente. Eu Gostaria de ter acordado,
mas, assim que me desperto ele já não está mais na cama. Isso é
decepcionante!
De qualquer forma, preciso manter o bom humor pós-sexo-
selvagem-sem-limites. É com esse pensamento que salto da cama e vou
fazer minha higiene matinal sorridente e animada. Afinal, hoje o dia
promete grandes emoções.
Quando estou devidamente apresentável, decido ir em busca do
meu noivo tarado. Desço as escadas correndo e sorrio ao contemplar a visão
do sol através de um teto de vidro. Ele está reluzindo na pequena lagoa
embaixo da escada e eu estou ainda mais apaixonada. Enfim, acho que hoje
conhecerei toda a casa.
Corro pelo corredor e encontro Matheus na cozinha lendo um
jornal. Está de cueca boxer branca, usando seus óculos de grau estilosos e
no braço descansa seu relógio, acompanhado de uma pulseira de couro. É
engraçado um Matheus seminu usando relógio.
Seu olhar levanta e captura o meu. Ele não ri e isso faz meu
estômago se contorcer. Afinal, essas borboletas no estômago existem
mesmo, acabo de comprovar.
Deus do céu! Eu não sei dizer o que está acontecendo conosco...
Fico parada o encarando e o observo colocar o jornal sobre a mesa e
retirar seus óculos. Ele caminha até mim determinado a algo que eu não
consigo decifrar. Esse homem está um tanto quanto louco esses dias.
Sou pega pela cintura ao mesmo tempo que seus lábios capturam os
meus devastadoramente. Meu corpo, que ainda se encontrava desligado do
mundo, ganha uma onda de adrenalina e fogo. Ele me pega de jeito e eu o
agarro em busca de estabilidade. Ele desliza meu short pelas minhas pernas
e então afasta nossos lábios para retirar minha camiseta. Levanto os braços
para facilitar seu serviço e me assusto com a seriedade de seu olhar. Suas
mãos enormes envolvem meus seios por cima do sutiã e ele os aperta com
força me fazendo arfar. Descanso minha cabeça na parede quando sinto
suas mãos deslizarem para a minha bunda. Primeiro ele apenas passeia com
ela do início ao fim, mas depois, a aperta com força moendo sua ereção
extremamente dura contra mim. Eu sinto minha calcinha sendo inundada
pelo tesão e pelo desejo de tê-lo infiltrado dentro de mim.
Ele beija minha boca como se tivesse fome de mim e então move
minha bunda contra seu corpo. Eu perco a capacidade de raciocinar jogando
meu corpo para ele.
Do nada, sou pega novamente e ele caminha pela cozinha comigo
em seus braços. Quando penso que estamos indo para o quarto, ele apenas
me deita sobra o balcão e eu ganho a consciência de que serei seu café da
manhã, seu almoço e sua janta.
Algo mudou entre nós nesses dias afastados. Eu gostaria de
descobrir o quê. Não é uma reclamação, mas, Matheus está mais intenso e
quente. Eu só preciso aproveitar essa fase gostosa. Não quero desperdiçar
um segundo disso.

Tempos depois...
— Sabe uma das coisas que me deixam mais louco em você? — Ele
pergunta massageando meus ombros dentro da banheira de hidromassagem.
— Não.
— Você gosta de sexo, Vic. — Afirma. — Você não o faz por fazer,
para me agradar ou qualquer outra coisa. Você faz porque gosta de fazer
comigo, porque somos totalmente compatíveis até mesmo na vontade.
— Sim... — Gemo com seu toque.
— Você é entregue e despudorada. Sente um prazer absurdo com
qualquer coisa que eu faça em seu corpo. Você simplesmente se entrega e
gosta. Nunca houve um único episódio onde fez sexo comigo por se sentir
na obrigação ou porque apenas queria suprir minha necessidade sexual. Seu
apetite é tão grandioso quanto o meu. E, quando você quer sexo, não
importa o que eu esteja fazendo, você simplesmente vem até mim e
reivindica o que está querendo. Isso a torna ainda mais quente, Victória.
Eu realmente gosto de sexo. Meu apetite sexual nunca atingiu
grandes picos antes. Sempre fui bastante controlada, assim como minha
libido. Eu fazia sexo, mas, numa frequência baixa e na maioria das vezes
buscando apagar acontecimentos da minha mente. Com Matheus eu faço
única e exclusivamente pelo prazer de ambos. Eu faço porque ele me faz
sentir em chamas e atiça meu desejo apenas com sua presença. Eu faço
porque ele ama isso, se perde, se entrega, se doa... nos perdemos um no
outro e então nos reencontramos. Nossa troca sexual é inexplicável e
incomparável.
— A nossa relação sexual é insana, Victória. Sentimos fome, tesão
incontrolável, emanamos tensão sexual onde quer que estejamos. É a coisa
mais louca que já vivi, desde a primeira vez. Nada mudou, apenas
intensificou com os anos. Sinto que nós podemos ir além, Vic. Eu estou
interessado em ir além com você. Não há limite entre quatro paredes
quando se trata de nós.
— Não há. — Concordo sorrindo. O que seria esse “ir além”? Estou
curiosa.
— Você quer ir além? — Pergunta mordendo meu ombro direito.
— Sim. Eu vou onde quer que você queira nos levar. — Ele vira
meu pescoço e captura meus lábios.
Meu Deus!
Não, definitivamente acho que não é de Deus.
Ou talvez seja.
Uma maravilha dessas tem que ser algo celestial!
— Bom dia meu amor. — Diz sorrindo e respirando com
dificuldade.
— Muito bom! — Digo levemente embriagada pelo meu homem.
— Me sinto bêbada.
— E eu me sinto ainda mais louco por você. — Responde sorrindo.
— Estou feliz que esteja aqui, meu amor. Estávamos precisando de um
momento nosso, embora eu esteja sentindo falta da nossa filha.
— Sim. Eu também estou sentindo falta dela, mas, estou feliz por
estarmos apenas eu e você.
— Vamos nos casar e viajar por pelo menos quinze dias. Eu e você.
— Eu e você. — Sorrio o beijando delicadamente.

Após um café da manhã reforçado em uma cafeteria, vamos para o


shopping em busca de roupas de gala. Sim, o tal lugar onde iremos a noite
tem exigências até com roupas.
— Parece que estou revivendo a primeira vez que fomos ao
shopping, onde a beijei pela primeira vez. — Theus comenta sorrindo
enquanto caminhamos pelo corredor regado de lojas.
— É, você pagou meu vestido e então me beijou. — Relembro. —
Você era gay e então me beija do nada...
— Eu nunca fui gay. — Rebate fazendo uma careta engraçada. —
Acho que deveríamos reviver tudo. Vou levá-la ao cinema e receber um
boquete incrível enquanto assisto filme.
— Oh, engraçadinho!
— Porra! Nem posso lembrar daquele dia. — Diz atento às vitrines.
— Esse! — Aponta para uma vitrine onde há um vestido incrível. — É
lindo, Vic. Discreto sem deixar de ser sensual. Mostra pouco do que me
pertence. — Sorrio impactada com seu bom gosto e sua possessividade. Da
primeira vez que fomos ao shopping, aos dezessete anos de idade, foi ele
quem escolheu o vestido que comprei também e devo dizer que era um dos
mais lindos da loja, assim como esse que está na vitrina é um luxo só.
— Vou experimentar. — Sorridente, sigo sugestão e entramos na
loja. Tem cerca de seis atendentes e as seis ficam olhando meu noivo.
— Boa tarde! — Ele diz sorrindo com suas covinhas. — Minha
noiva quer experimentar aquele vestido da vitrine, tamanho P de
pequeninha. — Diz me abraçando e eu rio. Matheus versão fofa ativado. As
mulheres estão quase suspirando. Podem olhar amiguinhas, ele é meu e
apenas meu. — Precisa de uma sandália? —Me pergunta.
— Sim, eu não trouxe nada que combine com aquele vestido.
— Vamos ver se achamos uma aqui. — Diz segurando minha mão e
andamos pela loja olhando todas as prateleiras. Matheus com seu olhar
avaliativo e minucioso encontra uma no tom ideal. — Seu pezinho deve ser
35, acertei?
— Você acertou, amor. — Rio. — Por favor, pode pegar a 35 para
eu experimentar junto com o vestido? — Peço à atendente.
Dois minutos depois estou caminhando até os provadores com meu
namorado a tira colo. Ele se acomoda em uma cadeira de frente para a porta
do provador em que estou, sorrio antes de fechá-la e começar a me despir.
Estou tão feliz hoje, que mal posso conter meus sorrisos.
Visto o vestido e calço a sandália. Olho o resultado no espelho e me
empolgo com tamanha perfeição. O vestido é soltinho e fresco o bastante, e
a sandália, mesmo sendo de alto agulha, é confortável o bastante.
Abro a porta do provador e resolvo brincar de desfilar para meu
noivo.
— Maravilhosa, Victória! — Elogia enquanto a atendente fica o
encarando quase boquiaberta. — Já disse hoje que você é a mulher mais
linda do mundo? — Pergunta se levantando e me pega pela cintura sem se
importar com a plateia.
— Não me lembro.
— Você é a mulher mais linda do mundo! Minha futura senhora
Albuquerque. — Diz me dando um beijo casto. — Você gostou do vestido e
da sandália? Não é obrigada a escolhê-los porque gostei. — Ele sorri e eu o
amo tanto....
— Eu amei. Ficaram perfeitos. Seu bom gosto é inquestionável,
Matheus Albuquerque, vou levá-los. — Digo voltando ao provador.
Quando saio Matheus não está. O encontro no caixa e suspiro um
pouco revoltada.
— Você pagou? — Pergunto incomodada enquanto a atendente
pega o vestido e o sapato de minhas mãos.
— Sim.
— Theus, eu sei que você é um gentleman[3], mas, eu não gosto de
ser bancada. Tenho dinheiro, bastante.
— Eu sei, senhorita riquinha. Mas, eu quis te presentear, pode
apenas aceitar caladinha?
— Tudo bem, mas apenas pare, ok? Nós podemos dividir as
despesas de tudo. É mais justo. Você simplesmente agora banca Isis em
tudo e quer me bancar. Não! Isso está errado. Eu trabalho, tenho um bom
dinheiro no banco e...
— Meu pau! Victória Brandão! — Eu encaro a caixa que está
visivelmente segurando o riso. — Use seu dinheiro para comprar lingeries
para repor todas que vou rasgar. — Pelo amor de cristo! A mulher quase
geme ao ouvir as palavras que ele diz.
— Theus! — Repreendo e o filho da mãe dá uma gargalhada.
Quando saímos da loja, como no passado, ele me para no corredor.
Olhando fundo em meus olhos se aproxima e eu pulo em seus braços.
Ficamos nos encarando por alguns segundos e eu sorrio ao ouvir as
palavras:
— Eu vou te beijar. — Diz e me beija delicadamente, como da
primeira vez, sem se importar com dezenas de pessoas passando por nós.
— Você não é gay? — Pergunto provocando com sua boca ainda na
minha.
— Acho que agora, após tantos anos, você deve saber perfeitamente
que não sou gay. Aliás, eu tenho lhe mostrado o quão gay sou diariamente.
— Sim. Você é bem gay realmente "Theteus". — Digo o irritando.
— Oh, nem fodendo, Victória! Theteus não! Sem essa.
— E pimpolho?
— E calar a boquinha? Ainda preciso achar um smoking.
— Oh merda! Haja calcinha para aguentar vê-lo vestido em um
smoking e uma gravata borboleta...
— Haja pau para apagar esse fogo! — Diz rindo.
São onze da noite.
Estou na sala bebendo uísque e esperando minha mulher descer.
Diante de mim estão nossas máscaras. Hoje seremos um casal mascarado
em um clube altamente seleto. Confesso que a curiosidade está me
deixando ansioso. Já estive em locais voltados ao sexo, mas, não em um
clube seleto de BDSM em busca de conhecer melhor algumas coisas sobre
esse universo. Fiz uma pesquisa bastante cuidadosa até tomar a decisão de
conhecer.
— Como estou? — Sua voz me atrai e eu me viro para encontrá-la.
Agora ela está com uma maquiagem mais forte. Em seu pulso descansa uma
pulseira delicada e em sua mão uma pequena bolsinha que compramos
porque, segundo ela, mulheres não podem sair sem bolsa.
— Eu ficaria até amanhã se fosse descrever o quão linda você está.
Sempre linda. — Exalto a beleza da minha mulher colocando meu copo
sobre a mesinha e então me aproximando. Seu perfume delicioso entra em
minhas narinas assim que a abraço. —Deliciosa da cabeça aos pés. Esse seu
perfume é incrível!
— Você está absurdamente quente dentro desse smoking. — Ela diz
enfiando suas mãos por dentro do meu casaco. — Sério Matheus, você se
superou.
— Somos um casal bonito, Sadnoiva. Vamos?
— Sim. — Ela diz sorridente e eu vou em busca da chave do carro
que aluguei. — Pegue as máscaras, amor. — Grito da cozinha, pego minha
carteira e a chave do carro.

O trajeto é silencioso. Ambos estamos ansiosos. Talvez eu esteja até


mais que Victória.
Não demora muito para chegarmos e logo na entrada do
estacionamento já somos parados.
— Boa noite, senhor! Queira por gentileza nos informar a senha? —
Um segurança pergunta.
— Reed Sensation. — Informo e Vic solta um "uau" que me faz rir.
Nossa entrada é liberada e eu estaciono o carro. Saio rapidamente e
abro a porta para ajudar minha garota a descer. Ajudo colocar sua máscara e
ela ajuda a colocar a minha.
A faixada do local é como um castelo medieval. É surreal, nunca
imaginei que existia algo assim em Belo Horizonte.
— Caramba! Esse lugar é sensual já no estacionamento. — Minha
garota diz empolgada enquanto caminhamos até a porta. Para ela ser aberta,
tenho que usar outra senha, que nos caso são cinco batidas na porta de
madeira.
Demora pelo menos dois minutos até que decidam abri-la e então
Vic aperta minha mão com possessividade ao ver três mulheres mascaradas
— Bem-vindos ao Clube Sensation. — Elas dizem uníssono.
— Obrigado.
— É a primeira vez dos senhores? — Uma delas questiona.
— Sim. — Victória confirma.
— Sejam bem-vindos! Esperamos que possam aproveitar todas as
sensações maravilhosas do nosso clube.
Elas nos dão passagem e então entramos em um outro universo.
— Uau! — Vic exclama e eu também estou um pouco surpreso.
Agora entendo porque é tão seleto e tão caro. O lugar é extremamente
luxuoso e bem frequentado.
A iluminação é toda a luz de velas e tochas de fogo. Há um palco.
De repente eu me sinto dentro de um teatro assistindo um espetáculo de
dança. Há uma banda onde todos os integrantes estão vestidos de branco e
no meio do palco há dançarinos e dançarinas envolvidos numa dança
sensual. Parece um cabaret luxuoso. Posso dizer que estou realmente
fascinado com esse ambiente.
— Dança burlesca. — Diz Sadgirl em meu ouvido e um garçom
passa servindo uísque. Tanto eu quanto Vic pegamos. Ela parece entender
bem disso. Pergunto-me internamente se ela costumava frequentar esses
lugares. Uma pontada de ciúme me invade por tais pensamentos e tendo
dissipá-los.
Se lá fora era sensual, aqui dentro é erótico. Tem uma pegada
diferente, um clima totalmente voltado ao sexo, ao erotismo e à
sensualidade.
Nós encontramos a mesa que eu havia reservado e nos acomodamos
para assistir. Há mais pessoas que eu imaginei. Há casais de todas as idades,
jovens, meia idade, até mesmo casais mais velhos. Talvez aqui seja só a
entrada que nos prepara para algo a mais. Sobre a mesa há dois guias
informativos e eu me sinto agradecido quando abro um deles.
Há algumas explicações sobre os outros dois ambientes. O terceiro
é onde ocorre o BDSM extremo. Isso não é do meu interesse e fico feliz por
não ser o de Victória quando ela diz:
— Fora dos limites o terceiro ambiente. — Avisa me fazendo sorrir.
— Graças a Deus!
— Theus, eu não quero nada extremista. Eu disse que você é
dominador porque é, todas suas atitudes deixam em evidência. Sei que nós
estamos aqui apenas para descobrirmos formas legais de usar isso a nosso
favor. Mas, preciso que saiba: não quero o extremo, não quero a dor, não
busco o BDSM. Eu gosto da sensualidade do ambiente, de alguns
brinquedos, mas é só isso. Quero você, quero brincar com você, nada além
disso. Nós podemos brincar de dominador e submissa de uma forma
saudável. Não precisa de BDSM para que seja dominador. Quando digo
dominador, não diretamente nos leva a chicotes, açoites, à prática do
BDSM. — Explica mexendo em minha gravata.
— Eu sei disso, meu amor. Nós vamos brincar, muito. — A vejo
morder o lábio inferior e então a puxo para um beijo. — Estou feliz por
estar aqui com você. Por estar conhecendo esse novo mundo cheio de
possibilidades com você.
— Eu também estou. Nem consigo acreditar que estamos em um
clube BDSM. Estou aqui com meu noivo! — Exclama sorridente. —
Obrigada por isso, por estar saindo da zona de conforto.
— Vamos explorar o local? — A convido segurando sua mão e ela
balança a cabeça em concordância.
Fico de pé a ela me acompanha. Dessa vez pegamos uma taça de
champanhe e passamos através de um tecido vermelho. Estamos num
segundo ambiente e eu estou um pouco surpreso. É uma atmosfera ainda
mais excitante. A iluminação é mais baixa e com luzes vermelhas. Há
cabines de vidro onde casais estão transando abertamente para todos verem,
isso é um pouco estranho, mas, está dentro do contexto que me foi passado.
Victória começa a rir atraindo minha atenção.
— Você está engraçado. Parece que está vendo uma aberração.
— É estranho. Você já esteve em um desses? — Pergunto.
— Na Itália. Mas, não era tão luxuoso quanto esse e não podíamos
ver abertamente os acontecimentos. A iluminação quase não permitia
visibilidade e eu não transei. Você sabe, tenho um pouco de aversão sobre
plateia. — Eu sinto uma leve fisgada no peito. Pobrezinha. Entendem por
que eu mataria Túlio e Humberto? Isso é fodido! Desfaço dos pensamentos
e tento mudar o foco.
— Vamos! — Digo a puxando através de alguns espectadores,
possessivo o bastante para não permitir que alguém a toque. Felizmente,
mesmo em meio a toda perversão, sinto que estou em um lugar onde as
pessoas se respeitam. Eu nunca faria sexo com ela com espectadores.
Quando conversei com os responsáveis foi me dito que poderíamos praticar
ou apenas ver. Nós estamos indo apenas ver.
Passamos por uma galeria onde há uma música ambiente bastante
sedutora. Há dezenas de casais transando em cabines diferentes, há alguns
que compartilham também. Há cenas onde são casais homossexuais, há
cenas héteros, de tudo um pouco. Os espectadores são casais, assim como
eu e Vic. Não é permitido vir sem acompanhante.
Eu fico um pouco chocado quando vejo em uma das cabines uma
mulher fodendo o homem com um consolo gigante. Aqui não entra, só sai!
Em outra cabine tem um trio de mulheres, mas, Victória me arrasta
para longe rapidamente. Isso me faz rir.
Em outra há uma mulher toda amarrada por cordas. Isso me lembra
o quão machucada Vic ficou quando a reencontrei.
— Eu sei o que você está pensando. Mas, nem sempre é assim. Eu
me machuquei porque pedi por aquilo e porque Ítalo era devidamente ruim.
Aquela mulher parece estar sentindo dor? — Pergunta e eu observo melhor
a cena.
— Não. Ela não parece sentir dor.
— Há técnicas para isso, Matheus. Isso se chama Shibari, é uma
técnica japonesa. São projetadas para ressaltar algumas partes do corpo
como os seios, as coxas, a cintura. Eu acho sensual. Priva a nossa
capacidade de tocar e aprofunda bastante a capacidade de sentir. O corpo
fica muito mais sensível e desperto. — Diz me olhando e então volta a olhar
para o casal. Ela gosta disso. É fácil perceber.
O homem ainda está devidamente vestido. Em suas mãos há um
chicote de couro que ele usa para bater na bunda da mulher. Não é agressivo
e isso me deixa um pouco impressionado. Por que eles machucaram
Victória daquela maneira? Isso me fez ter uma imagem bem deturpada
sobre essa prática, mas, agora estou vendo que dá para ser bem razoável. O
casal parece estar realmente se divertindo. Tudo parece voltado ao prazer de
ambos.
— Vamos ver outros. — Minha garota sedenta segura minha mão e
nos leva a outras cenas.
Eu fico parado observando um senhor dominando duas mulheres. É
interessante.
— Você sente tesão por duas mulheres? — Sadnoiva questiona
olhando em meus olhos.
— Já senti. Na verdade, eu tive uma fase onde só transava com duas
ou mais. Antes de voltar para o Brasil acordei na cama com cinco mulheres.
— Confesso a fazendo me encarar num total estado de choque. — Nem
comece, não estávamos juntos. Agora você vale por mil, Vic.
— Eu espero que sim, nunca permitirei um outro alguém entre nós
dois.
— Acho excelente, porque compartilho do seu pensamento. —
Sorrio a fazendo soltar um longo suspiro.
Passamos por dezenas de casais, mas, há um específico que captura
nossa atenção em especial.
Há um homem sentado vestindo um terno completo e uma mulher
deitada em suas pernas vestida apenas lingerie e com sua bunda para cima.
Ela tem os pés e as mãos presos em algemas de couro, uma venda em seus
olhos, uma mordaça em sua boca e a espécie de uma coleira em seu
pescoço. O homem está estapeando sua bunda e a cada vez que o tapa estala
a mulher solta um gemido e se contorce de prazer. Em determinados
momentos ele puxa os cabelos dela com força e eu penso em como faço
isso com minha mulher deliciosa.
Eu paro de observar a cena e passo a dedicar minha atenção
exclusivamente à minha noiva. Mesmo com uma máscara cobrindo parte do
seu rosto sou capaz de perceber sua excitação. Seu peito está subindo e
descendo rapidamente demonstrando o quão descompassada sua respiração
está. A forma como ela está segurando firmemente sua taça de champanhe
também só ajuda a confirmar minhas suspeitas. Ela leva a taça em sua boca
e bebe um pouco, então passa a língua nos lábios e meu pau se contrai. Se
antes eu estava com dúvidas sobre tomar esse caminho, agora elas
desapareceram dando lugar à certeza.
Não é nada absurdo a cena. É algo que mesmo um casal que vive
dentro da normalidade pode fazer. É realmente excitante ver a maneira
como o homem controla a mulher e conduz a cena com total dominância.
Na cabine ao lado há dois homens e uma mulher. A mulher é a
dominadora, isso captura minha atenção.
Os dois homens estão ajoelhados ao chão, nus, com suas mãos para
trás e coleiras de couro em seus pescoços. Não gosto da ideia de Victória
ver dois paus ao vivo e a cores, mas é interessante a cena. A mulher parece
impiedosa. Ela faz com que um deles se deite de bruços e finca o salto
agulha em sua bunda enquanto chicoteia as costas do outro. Isso é meio
doido. Prefiro voltar a atenção para a cena que capturou a atenção da minha
mulher.
Eu a grudo em meu corpo e deslizo minha mão livre em sua cintura.
Nós observamos o momento exato em que o homem coloca a mulher de pé
e abre o fecho de sua calça. Ele retira a mordaça da garota e a faz ficar de
joelhos. Porra, é um filme pornô ao vivo!
Ele guia seu pau na boca dela e arremete impiedosamente, entrando
e saindo. Como ela tem as mãos algemadas, é obrigada a sucumbir há tudo
da maneira que ele quer conduzir.
— Isso te excita? — Pergunto no ouvido da minha garota enquanto
deslizo minha mão até a barra de seu vestido e o subo lentamente apenas
para tocar suas coxas.
— Sim. — Responde deitando sua cabeça sobre meu peitoral.
— Você quer que eu faça aquilo com você? — Eu olho para o lado
e sinto que posso avançar um pouco mais em seu vestido. Arranho
levemente sua coxa e ela segura minha mão tentando conter o movimento.
— Sim.
— O quanto você quer isso? —Questiono retirando sua mão da
minha e sigo meu caminho até a beira de sua calcinha.
— Me toque. — Implora me fazendo sorrir. Sadgirl é uma garota
sacana.
— Não, querida. Ninguém vai vê-la sendo tomada por mim. Você
quer ser observada? — Pergunto curioso.
— Eu quero você, foda-se se serei observada.
— Fodida Sadgirl do meu caralho!
— Por favor! — Ela implora levando sua mão para trás apertando
minha ereção em sua pequena mão.
Essa mulher está fazendo com que eu perca a minha mente.
— Você quer isso?
— Sim. Muito. — Responde ofegante em meio a um gemido e eu
chuto a porra dos meus propósitos.
— Vamos em busca de uma cabine.
“Podemos continuar colidindo e aperfeiçoando e amando de forma tão
selvagem
Você sabe que eu quero mostrar
Hoje à noite eu quero te mostrar, querida, deixe—me mostrar
Bela senhorita
Você está me deixando louco
Podemos fazer algumas coisas que você nem nunca fez antes
Eu vou ser o seu professor, você vai aprender todos os detalhes
Então, eu estou em uma prova, você só vai seguir o líder”
SOMO – Show Off
Sim, eu estou perdendo a mente, a cabeça, a noção completa. Eu
tenho aversão a ser vista devido todo o meu passado, mas agora o tesão está
expandindo de todas as aversões. São situações bastante diferentes. Com
Ítalo e Túlio eu era obrigada. Nunca foi pelo tesão e muito menos para o
prazer. Eles faziam aquilo pela humilhação. Meu rosto estava estampado
para todos verem, assim como meu corpo.
Já nesse clube é um ambiente totalmente diferente. Eu estou
acompanhada de um homem que me ama acima de todas as coisas, estamos
num lugar onde o respeito é visível e harmônico, voltado exclusivamente
para o prazer consensual. Matheus está saindo da zona de conforto e isso
me mostra que eu também posso, me impulsiona a testar e descobrir o lado
bonito dos atos de dominação. Eu só conheço o feio.
É preciso muita confiança, isso é exatamente o que Matheus me
transmite. Eu confio nele, confio em seus cuidados comigo, em sua
possessividade. Sei que, o que quer que façamos, ele vai estar muito mais
ligado ao meu prazer do que ao seu próprio, isso me deixa ainda mais
excitada e corajosa.
Essa, sem sombra de dúvidas, é a maior aventura que nunca me
imaginei fazendo.
Matheus está meio que me libertando agora. Não há inibição, tão
pouco medo. É tão quente, tão íntimo. É algo que guardaremos como nosso
segredo sujo pelo resto dos nossos dias. É mais fácil quando você sabe que
é amada com devoção e eu sei que sou.
Minha ansiedade é tanta que, enquanto meu noivo resolve tudo o
que é necessário, eu tento me concentrar no palco onde há dançarinas
dançando uma música sensual. Eu amei esse lugar, nem de longe esperava
algo dessa grandiosidade e sofisticação. Me remete a um cabaret totalmente
luxuoso, um pouco diferente do que vemos em filmes. A iluminação é
baixa, toda a luz de velas e há tochas de fogo espalhadas por todos os
cantos. Torna tudo ainda mais quente. Nunca imaginei que um único
ambiente fosse capaz de me deixar tão à flor da pele.
Sinto sua mão possessivamente tocando minha cintura e meus
cabelos são afastados quando sua boca encontra meu ouvido:
— Você quer isso? Está certa disso, Victória? Uma vez naquela
cabine e não há mais como voltar atrás. — Pergunta com sua voz grave,
fazendo cada pedacinho do meu corpo se arrepiar. É um nível excitação
extremo em que me encontro.
Ele não colabora subindo com uma mão até meu pescoço e o
apertando levemente enquanto vira minha cabeça para o lado. Nossos olhos
digladiam em chamas...
— Eu quero você, não importa como ou onde. — Respondo segura.
— Não há reservas sobre ser observada? — Pergunta. — Você disse
que tem aversão.
— Não quando estou sendo conduzida pelo homem que eu amo.
Estou entregue ao que você quiser.
— A minha possessividade não permite que eu a dívida com
alguém, nem mesmo com os olhos de outras pessoas. Só queria testá-la. É
incrível saber quanto confia em mim, meu amor. Eu a amo com a minha
alma. — Isso me faz sorrir. Eu já esperava por isso e, nesse momento,
estou ainda mais orgulhosa do homem que possuo. Um de nós precisa
manter o controle, no caso, Matheus está se mostrando dominador o
mantendo por nós dois. Um dominador completo! — Você é minha, seus
gemidos sãos meus, seus suspiros, seu rosto banhado pelo prazer... Toda
minha, tudo meu.
— Sua.
— Minha! — Afirma com possessividade e então se afasta.
Segurando minha mão ele nos guia novamente ao corredor. Eu acho
que estamos no fim, mas, o que se parece a parede final é apenas uma
passagem secreta.
— Uau! Nunca imaginaria algo assim! — Exclamo surpresa e
encantada. É um corredor estilo medieval iluminado por tochas de fogo.
Ele nos leva até uma porta, em seguida pega um cartão em seu
bolso, a abre indicando que eu entre primeiro. Eu sinto a adrenalina correr
quente pelo meu sangue assim que a porta se fecha.
É um quarto luxuoso, todo iluminado por velas e decorado por
tecidos vermelhos. Há algumas algemas de couro sobre a cama e alguns
apetrechos sexuais devidamente organizados em outra parede. Mordo meu
lábio para segurar a vontade de sorrir. Nunca me imaginei em um ambiente
assim com Matheus. De repente, estou curiosa para ver o que ele fará.
Extremamente ansiosa para ver o que vai rolar nesse ambiente. Ao mesmo
tempo que estou certa sobre sua característica dominadora, eu nunca o
imaginei agindo como tal.
A primeira coisa que ele faz é retirar sua máscara.
A segunda é sorrir.
— Eu costumava fazer piadinhas sobre seus gostos singulares. —
Diz. — Aqui estamos nós, Victória Brandão. Me diga, qual feitiço você
jogou sobre mim?
— Você parece estar bem, em meio a excentricidade. — Respondo
sua pergunta com uma afirmação.
— Está surpresa?
— Bastante, embora eu esteja certa sobre a dominação ser uma
característica inerente que possui. Bem intrínseco. — Respondo o fazendo
sorrir.
— Você não faz ideia sobre todas as coisas que eu quero fazer com
você, Victória. Não faz ideia de toda a perversão que tenho guardada dentro
de mim, apenas para te dar prazer, nada além.
— Mostre-me. — O incentivo e ele balança a cabeça de um modo
quase imperceptível.
— Vire-se de costas. — Ordena e eu me viro prontamente.
Ouço o barulho de algo sendo aberto e então ouço passos lentos
vindo em minha direção. Eu o sinto atrás de mim, é como seu estivesse
perto da fonte de energia do universo. O poder e eletricidade que emanam
do seu corpo são quase palpáveis e me trazem uma nova gama de luxúria.
Usando apenas o auxílio de seus dedos, retira minha máscara e
coloca sua mão em meu pescoço elevando minha cabeça para trás.
Deixa um beijo em minha testa e em seguida coloca uma venda em
meus olhos. Agora meu desejo sexual está ampliado à primitivo e
pecaminoso. Eu quero tudo.
Matheus se afasta novamente e eu fico na expectativa sobre qual
será seu próximo passo.
Após alguns segundos tortuosos, ele está de volta, escorregando as
alças do meu vestido e fazendo com que ele caia sobre meus pés. O roçar
do tecido em meu corpo deixou meus mamilos devidamente rijos e
necessitados. Minha intimidade está terrivelmente quente e úmida, assim
como todo o restante do meu corpo está em meio a uma turbulência de
hormônios.
Eu o sinto rodeando meu corpo e então sinto algo deslizando em
meus seios. Parece uma pena, mas não sei se é realmente. Apoio uma mão
na lareira e a outra está fechada em punho ao lado do meu corpo.
Ele passa pelo meu pescoço, pela minha orelha e então desliza ela
novamente em meus seios descendo pela barriga e indo até a coxa.
— Está arrepiada e suas pernas estão instáveis. — Afirma em meu
ouvido e então agarra meus cabelos com uma mão e me beija
alucinadamente.
Puta que me pariu, essa pegada Matheus Albuquerque é abrasadora.
Todo meu corpo fica mole e ele me guia até a cama. Cuidadosamente me
deita e então desaparece por longos segundos.
Movida pela excitação me contorço agarrando os lençóis.
O sinto se aproximar e então ele pega minha mão esquerda e coloca
uma algema de couro. Repete o mesmo ato com a direita e estou
impossibilitada de tocar o que quer que seja quando ele as prende acima da
minha cabeça.
— A demora está te deixando mais necessitada, Victória. —
Divaga.
— Sim.
— Não foi uma pergunta. — Diz me calando e eu volto a me
contorcer na cama.
Sinto um sopro em meu pescoço e algo gelado escorrendo pelos
meus seios. É um contraste bem-vindo em meio a toda quentura em que me
encontro. Gotas pingam em minha boca fazendo com que eu passe a língua
em meus lábios provando. E, antes que eu possa raciocinar, ele está
deslizando o gelo pelo meu pescoço, na direção da minha garganta e
descendo lentamente pelo meu corpo sem deixar qualquer pedacinho livre.
— Theus.
— Eu quero você calada. — Informa deslizando o gelo até a base
da minha calcinha. Ele deixa a pedrinha sobre meu umbigo e gruda seus
lábios aos meus em mais um beijo avassalador. Eu quero tocá-lo, quero vê-
lo, mas, a única coisa que estou permitida é sentir.
Eu mordo seu lábio inferior quando ele tenta se afastar e sua mão
vem ao meu pescoço para me manter firme sobre a cama.
Ouço barulho de sapatos sendo retirados, ouço seu cinto caindo ao
chão..., mas, o som que mais ouço, é da corrente de ferro que liga as
algemas batendo contra as grades da cama. Sou uma mulher desesperada
agora.
Outro objeto é passado pelo meu corpo. Dessa vez parecem
centenas de tiras de couro. Eu daria um rim para ver Matheus conduzindo
um chicote de tiras, isso me faz sorrir.
— Deixe-me observá-lo?
— Não!
— Diga-me se isso é um chicote de tiras? — Imploro e ele bate
lentamente o objeto em minha barriga. É. Puta que pariu!!! É impossível
não comparar. Enquanto Ítalo e Túlio me espancavam com isso, Matheus
está me dando um prazer absurdo com sua delicadeza. É algo novo, algo
que nunca vivenciei antes. — Deus! Eu apenas preciso vê-lo portando
chicote! Deve ser a imagem mais quente que jamais serei capaz de superar!
— Eu disse que quero você calada, Victória! — Repreende sério.
Outra perspectiva de dominação... Outra vida... Outro toque...
Eu me sinto devidamente amada, amparada e dominada.
O objeto desliza até meus pés e volta em minha intimidade.
— Abra as pernas. — Ordena e eu as abro para receber uma
chicotada um pouco mais forte que quase me dá um orgasmo. Ele repete o
ato e eu solto um gemido desesperado. Isso o leva a repetir o ato algumas
vezes.
— Oh, eu estou descobrindo a porra do paraíso! — Exclama
aumentando seus movimentos enquanto sinto uma explosão se formando
em meu ventre. Puta que pariu! Para terminar de me destruir, ele usa sua
mão livre para apertar meu seio esquerdo fortemente, isso me leva mais
rápido. Quando estou quase gozando ele retira o objeto me privando do
orgasmo.
— Theus... — Grito e choramingo enquanto ele desliza minha
calcinha pelas minhas pernas. Ele está querendo me enlouquecer, com toda
certeza.
Ele abre minha intimidade com seus dedos, acaricia meu clitóris
levemente e então começa a fazer movimentos circulares. Se encaixa entre
minhas pernas e passeia com seu membro duro em minha entrada.
Prende meu clitóris entre seu polegar e indicador, e penetra
fortemente em mim fazendo com que meu corpo vá mais trás.
— Caralho! — Grita saindo e então volta mais uma vez. Dessa vez
meu corpo explode me dando um alívio momentâneo.
Seu corpo cai sobre o meu e ele retira a venda dos meus olhos,
assim como as algemas das minhas mãos. Livres, elas vão diretamente para
as suas costas enquanto ele passa um braço por trás do meu pescoço e me
abraça.
— Te amo pra caralho!
— Eu também amo você.
— Você está gostando dessa brincadeira? — Meu Sadboy está
preocupado, é por isso que ele me soltou.
— Muito.
— Eu nunca irei machucá-la. Nunca! — Afirma mais uma vez.
— Eu sei disso.
— Você não faz ideia do que significa para mim. — Continua
dizendo em meu ouvido. — Você é dona do meu coração, Vic. — Meu
coração começa a bater mais forte e é preciso que eu engula a seco para
respondê-lo.
— E você é dono do meu.
— Obrigado por ter vindo até Belo Horizonte. — Acho que perdi as
contas de quantas vezes ele me agradeceu por isso. É tão fofo.
— Desculpa por ter demorado a vir. — Digo beijando sua bochecha
enquanto ele se move lentamente comandando nossos corpos.
— Agora vamos foder direito. — Avisa apoiando suas mãos na
cama e então nos leva a um outro nível. O nível Matheus Albuquerque de
destruição!

Eu e Vic passamos o sábado muito mortos sobre a cama comendo


porcarias, assistindo uma série mulherzinha que ela inventou. Gossip Girl.
Eu me sinto um maricas completo, mas, fazer o que? Essa mulher tem
minhas bolas nas mãos e meu pau em sua boca...
No domingo acordamos cedo. É hora de voltarmos às nossas
obrigações. Enquanto eu vou entregar o carro que aluguei, Vic fica em casa
arrumando nossas coisas.
Quando volto, ela está devidamente pronta e linda.
— Você não parece feliz por estarmos voltando para casa. — Ela
diz bagunçando meus cabelos.
— Eu gosto daqui. Estava com saudades dessa casa.
— Eu aceito. — Informa e eu franzo a testa.
— Aceita o que?
— Morar aqui, claro, se você ainda quiser. — Explica e eu a pego
em meus braços.
— Pequeninha, você é foda! Eu sempre sonhei em criar meus filhos
aqui.
— Então podemos organizar tudo para nos mudarmos nas férias de
Isis.
— Você acha que ela vai se adaptar? — Pergunto ligeiramente
preocupado.
— Isis é bastante adaptável, felizmente. — Sorri.
— Obrigado por isso! Eu sinto que seremos bastante felizes aqui.
Há apenas um problema, seu tratamento.
— Eu posso tentar continuar por vídeo chamada. — Explica. — Eu
já me acostumei com Ricardo, ele já sabe grande parte das coisas. Não
gostaria de recomeçar um tratamento.
— Vamos resolver isso, pequeninha. Agora vamos embora, o táxi
está nos esperando.
— Eu meio que me apaixonei por essa casa. — Choraminga
fazendo um biquinho.
— Aqui é apaixonante. — Dou um tapa em sua bunda e vou pegar
nossas malas.

Mais tarde, no Rio, o táxi nos deixa no condomínio de nossos pais e


subimos.
Vic vai para o apartamento dos pais dela e eu vou para o
apartamento dos meus.
— Olá! Saúdem o rei! — Digo e Arthurzinho vem correndo para
meu colo. — Olá, garotão! Você está estiloso com esse moicano.
— Mamãe fez.
— Ficou maneiro, moleque! — Rio. — Onde está sua sobrinha?
— Ela está na casa da vovó Liz.
— Entendo. E qual a boa? Pegando gatinhas no colégio? —
Questiono o fazendo rir.
— Matheus! Ele tem apenas sete anos de idade! — Minha mãe
repreende.
— Meu pau está grandão! — Ele diz e eu começo a gargalhar.
— Merda! Arthurzinho, eu já te falei sobre ficar falando do
tamanho do seu órgão genital. — Meu pai esbraveja e eu o coloco no chão.
— Como foi a viagem, filho? — Mamãe pergunta com um
sorrisinho malicioso.
— Excelente, proveitosa, fechei grandes negócios. — Abri outros...
Minha mulher é gostosa demais!
— Abriu outros... — Ela diz como se estivesse lendo meus
pensamentos. Eu tenho a quem puxar!
— Também, mas esses são pequeninhos.
— Interessante essa conversa. — Meu pai debocha. — E a reunião?
Você já me disse por telefone, mas quero saber se eles gostaram de você.
— Gostaram tanto que me chamaram para beber no final. Achei
engraçado, são pessoas bilionárias e extremamente simples e fáceis de lidar.
— A reunião da sua irmã também foi bem-sucedida, tirando o fato
de um diretor enviar flores para ela e o Bernardo dar uma crise. — Diz
rindo.
— Falem bem, falem mal, falem de mim! — Beatriz surge das
profundezas do inferno com Bernardo e Maria Flor.
—Tio Theus! — Maria Florzinha do caralho! Eu amo essa garota!
— Amor da minha vida! — Sorrio a pegando. — Você está muito
linda, garota!
— Eu sou uma princesa. — Afirma.
— Qual princesa você é?
— Rapunzel, porque posso usar meu próprio cabelo para fugir do
castelo. — Ela sorri diabolicamente.
— Não seria para o príncipe subir por elas? — Questiono.
— Sim, o príncipe sobe por elas e me ajuda a fugir. — Responde
com toda sua sagacidade e geniosidade. Ela nem tem idade para ser tão
inteligente assim.
— Nada de fugir mocinha! — Repreendo.
— Tio Theus, vai ter outro show das poderosinhas, você pode me
levar? Eu te chamo de pai.
— Por que ela te chamaria de pai? — Victória surge, também das
profundezas.
— Seu querido parceiro do crime pagou Heitor, Arthurzinho e
Maria Flor para chamarem ele de papai no show da Anitta, só para
conquistar as mães solteironas. — Beatriz filha do satã!
— É sério isso? — Sadgirl pergunta.
— Você acha que eu seria capaz de usar três crianças indefesas? —
Pergunto com minha cara de inocente e Victória me lança um olhar bastante
instigante.
— Ele pagou, tia Vic, eu comprei pôneis.
— Você é muito dedo duro Maria Florzinha, tio Theus não irá levá-
la ao próximo show. — Ameaço.
— É mentira, tia Vic, é uma pegadinha.
— Uma salva de palmas para o descaramento dessa criança! —
Digo rindo. — Está ensinando certinho, Beatriz, você e o frouxo do seu
marido.
— Meu pau babaca! Como foi a viagem? — Bernardo pergunta.
— Bastante excitante, não foi amor? — Provoco ele puxando minha
noiva. — Sua irmã é gostosa pra caralho! Não saímos do quarto.
— Vocês ninaram tio Theus? — Maria Flor pergunta.
— Matheus as vezes defeca pela boca. — Beatriz esbraveja tirando
a garota de mim.
— Deliciosa, Bernardo. — Rio e ele mostra o dedo do meio. —
Mas, é verdade, não é Vic? Conte para ele que sua cabeça até doeu de tanto
que puxei seus cabelos.
— Vai tomar no seu cu babaca! Sua irmã também tem sofrido as
consequências...
— Não fale da sua vida sexual com a minha filha! — Meu pai
repreende se retirando da sala com Maria Flor.
— Cadê Isis? — Pergunto.
— Está assistindo filme com Heitor e meus pais. — Vic responde
beijando meu pescoço e vejo Bernardo me encarando.
— Isso está me deixando excitado, amor. — Provoco e ele joga uma
almofada em nós dois.
— Fiz pão de queijo! — Minha mãe grita da cozinha e eu solto
minha garota. O pão de queijo dela é indispensável.
Nos acomodamos na mesa e minha mãe começa o terrorismo:
— Alguém está noiva.
— Quem? — Bernardo questiona e eu rio.
— Victória Brandão será Victória Albuquerque. — Informo.
— Você pediu a mão dela aos meus pais? — Ele questiona.
— Ainda não, mas pedirei, babaca. Está achando que eu sou um
merda igual você?
— Estou feliz por você, Vic. É uma pena que seu noivo seja uma
bosta completa. Pelo menos ele é de boa família.
— Vocês dois são tão imaturos! — Victória diz rindo. — Obrigada,
irmãozinho. Estamos em família.
— Precisamos começar a organizar tudo! — Minha mãe diz
empolgada.
— Mãe, quero me casar na chácara dos meus avós, como você e
meu pai.
— Ohhhh, neném da mamãe! Meu pimpolho, meu orgulho! Você
acaba de me deixar emocionada. — Diz vindo me abraçar. — Estou tão
contente.
— O que está pegando? — Meu pai a pega pela cintura e então se
senta em uma cadeira com ela em seus braços.
— Matheus e Vic vão se casar na chácara, não é incrível?
— Parabéns! Estou muito feliz por você filho e por você Victória, é
como uma filha para mim. — Ele diz e Vic se emociona.
— Bom, há outra coisa. Pretendemos morar em Belo Horizonte.
Vocês sabem que sinto falta de lá. Esses dias só confirmaram o quanto
quero isso. Eu posso continuar trabalhando de lá, fazendo viagens quando
necessário. São apenas cinquenta minutos de avião.
— Não nos veremos mais com tanta frequência. — Minha mãe
protesta.
— Nos veremos sim, eu prometo a vocês. Como eu disse, de avião
é rápido.
— Eu sinto pelo fato de vocês se distanciarem, mas, fico feliz ao
mesmo tempo. Eu e Mariana vivemos dias incríveis naquele lugar. Tenho
certeza que vocês dois serão felizes lá. — Meu pai sorri.
— Mamãe já sabe disso? — Bernardo pergunta a Vic.
— Não. Nós ainda faremos o anúncio do noivado e dos planos. —
Vic explica. — Mas, estou com ideia de levar o projeto de um abrigo para
lá. Vou estudar as possibilidades, uma coisa de cada vez. Tenho certeza que
Matheus vai me enlouquecer com o casamento. — Ela ri.
— Que bom que já carrega essa certeza meu amor. — Beijo seu
pescoço, e minha mãe suspira.
— Estou com diabetes! — Beatriz faz uma careta.
— Ela é frigida do jeito que parece, Bernardo? — Questiono.
— Nem um pouco. Ela só gosta de passar a imagem de rebelde para
vocês.
— Frigida é a puta que te pariu! — A satã responde e eu rio.
— Aí mãe, ela está te chamando de puta! — Digo à minha mãe.
— Matheus, quanto anos você tem? — Victória pergunta apertando
minha perna.
— Dois, o meu e o seu. — Ela revira os olhos, mas ri. — Eu amo
seu ânus, Vic.
— Porra!!! —Bernardo soca a mesa e eu começo a rir.
“Nós vamos dar um passo além
Eu encontrei a verdade
As estrelas são você”
Bipolar Sunshine — Daydreamer

TRÊS MESES DEPOIS


Em três meses couberam tantos acontecimentos. Parece que eu e
Matheus estamos juntos há anos. Porém, estamos juntos a menos de seis
meses e daqui dois dias estaremos nos casando.
Nesses últimos três meses aconteceram dezenas de coisas: Rhael
aconteceu mais uma vez e com isso enfrentei mais duas crises. A última
delas foi a mais grave, porque cheguei a me machucar e, mais uma vez, fui
salva pelos braços do meu noivo. As sessões com Ricardo se intensificaram
devido a isso e Rhael, teve um braço quebrado e dois olhos roxos. Dessa
vez não houve seguranças para apartar a briga. Houve apenas eu me
jogando no meio da briga e, com isso, Matheus parou seu punho a poucos
centímetros do meu rosto. Isso me rendeu vinte e quatro buquês de flores,
algumas dezenas de bombons e uma gargantilha de ouro (tipo coleira). Tão
dominador e submissa!
Mês passado eu tive outra crise durante a menstruação e fui parar
no hospital. Dessa vez eu tive que ficar vinte e quatro horas em observação
e meu chip anticoncepcional (que eu havia colocado após a primeira crise)
teve que ser retirado. Agora estou fazendo uso novamente de adesivo, um
outro modelo, mas, realmente não estou certa se essa foi uma boa opção.
Matheus e sua ferocidade desgovernada estourou três preservativos dentro
de mim e eu já lavei minhas mãos quanto a isso.
Tenho estado muito bem emocionalmente e psicologicamente. Mais
próxima do convívio familiar, curtindo intensamente estar vivendo junto
com Matheus e nossa filha. Temos feito muitos programas infantis,
inclusive eu e ele levamos todas as crianças no show das poderosinhas.
Acontece que no show estava uma mulher que Matheus conheceu quando
levou as crianças ainda solteiro e isso causou um leve alvoroço entre nós
dois. No fim, tudo deu certo.
Agora eu, Mariana, Beatriz, Jéssica (que está grávida de duas
meninas), minha mãe, Giovanna, Alice, Sabrina (filha de Alice, que por
sinal não tira os olhos dos meus seios) Enzo, Maria Flor e Isis estamos em
Belo Horizonte para a cerimônia do meu casamento. Enquanto todos os
homens (incluindo Arthurzinho e Heitor) estão no Rio de Janeiro. Viemos
dias antes da cerimônia para acompanharmos de perto todos os
preparativos. Os avôs de Matheus, assim como os meus, estão na chácara,
enquanto nós estamos na antiga casa de Mari, que após o casamento será
meu mais novo lar.
Há apenas um detalhe que deve ser levado em consideração,
Ricardo é meu padrinho de casamento junto com Giovanna. E é também o
mais novo grande amigo de Matheus. Tudo começou assim que voltamos de
Belo Horizonte para o Rio, após o episódio do clube. Matheus marcou uma
consulta com Ricardo e desde então eles se tornaram grandes amigos. O que
foi falado na consulta? Não sei, mas, acredito que tenha sido relacionado à
nossa vida sexual (que por sinal está realmente incrível e ainda mais
intensa). Sempre que possível temos brincado de maneiras diferentes. Nós
agora temos uma parte secreta do closet reservada para brinquedos sexuais.
Não é sempre que brincamos de dominador, muitas vezes as coisas apenas
acontecem e isso é o mais incrível do nosso relacionamento. Esse outro lado
fica apenas para diversificarmos e tem sido muito satisfatório.
Está tudo dando certo. Eu pensei que nunca seria feliz e aqui estou,
em plena felicidade. Satisfeita e completa em todos os campos da minha
vida.
Estou deitada com Isis nesse momento, a fazendo dormir. Mas, a
verdade é que ela está empolgada, tudo porque Matheus disse que haverá
uma surpresa para ela em nosso casamento. Então, estamos conversando e
pensando em várias possibilidades, incluindo a dela ganhar um pônei de
verdade. Eu espero que não seja isso!
— E se for uma viagem para a Disney, mamãe?
— Isso eu acho que não é. Nós iremos nas próximas férias. — Digo
sorrindo.
— Eu não faço ideia então.
— Bom, garotinha, eu acho que o quanto antes você dormir, mais
rápido chegará sábado e ficaremos sabendo logo. — Argumento.
— Mamãe, você está ansiosa? — Pergunta e eu já sinto falta do seu
sotaque Italiano.
— Muito, grandão!
— Eu acho que você vai ficar igual uma princesa da Disney vestida
de noiva.
—E você ficará como uma mini princesinha da Disney vestida de
noivinha mirim. — Sorrio imaginando como minha princesa ficará. Foi
Matheus quem ajudou na escolha do vestido de Isis, houve algumas grandes
discussões até chegarmos num comum acordo.
Matheus quer dominar tudo!
— Mamãe, obrigada por ter me dado meu pai. — Ela agradece e
meu coração falha uma batida.
— Isis, você me deixou sem palavras agora, filha.
— Eu sou muito feliz por você e meu pai serem um casal. Eu pedi
muito a papai do céu. Eu sou a garota mais feliz, porque tenho uma família.
— Merda, eu não consigo conter as lágrimas.
— Que bom, princesinha! Mamãe está muito feliz com nossa
família.
— Papai disse que daria um jeito de trazer pimpolho.
— Ele trará, tenho certeza disso. — Sorrio limpando as lágrimas.
— Mamãe, você pode me abraçar para eu dormir?
— Claro que posso. Você é minha conchinha preferida. — Digo
beijando sua cabeça e a abraço.
Nós ficamos assim por pelo menos quarenta minutos até ela se
render ao sono. Minha princesa está tão feliz, indo tão bem no psicólogo.
A única coisa que ainda não conseguimos mudar é o ciúme dela em relação
ao pai, mas estamos tratando isso a cada dia.
Ouço uma batida na porta, que afasta logo meus pensamentos. Pego
meu celular e vejo que ainda são onze da noite. Há algumas dezenas de
mensagens de Matheus "o controlador", mas, antes de ler decido abrir a
porta. É Beatriz, que está vestida com um vestido tubinho vermelho
levemente indecente, uma sandália da mesma cor e toda trabalhada na
maquiagem. Ela me puxa pelo braço e mal tenho tempo de fechar a porta
para segui-la.
— Onde você vai? — Pergunto.
— Na sua despedida de solteira. — Avisa sorridente.
— Oi? — Questiono e ela me arrasta até o andar de baixo onde
todas as mulheres estão vestidas para uma balada. — Eu não estou indo! Eu
e Matheus combinamos que não haveria nada disso! — Aviso.
— Essa roupa ficará linda! — Mariana avisa trazendo um pedaço
de pano para eu vestir.
— Mari, você sabia que Matheus é seu filho? — Pergunto
realmente chocada com a ousadia.
— Claro que sei, sei até como e quando ele foi feito. — Responde
rindo. — Anda, vá até o banheiro se vestir. Até Jéssica que está grávida irá
na nossa jornada pela night.
— E Isis? E Enzo? E Maria Flor? — Pergunto chocada. Matheus
vai me matar!
— Ficarão com a bisa Ana! — Dona Ana surge e eu fico
boquiaberta. — O máximo que pode acontecer é eu colocar uísque na
mamadeira de Enzo. Vão em paz.
— Mas... a senhora não estava na chácara? — Pergunto.
— Victória, vá trocar de roupa agora. — Minha mãe diz e então eu
reparo que ela está vestindo um vestido quase indecente também. Algo me
diz que meu pai, Arthur, Pietro, Bernardo e Matheus ficarão sabendo disso.
Meu sexto sentido está gritando isso.
Mariana, por exemplo, está com um mega decote e um vestido que
tem um rasgo até a coxa. Jéssica é a mais comportada de todos e, ainda
assim, está bastante sensual.
Pego a roupa das mãos de Mari e então entro no banheiro agarrada
ao meu celular.
Eu abro as mensagens e então estou certa de que em algum
momento fugirei delas e voltarei para casa.
"Pequeninha, você me abandonou. Eu estou desesperado de
saudade. "
"Pequeninha, por que não me responde? Eu te amo do tamanho
do universo."
"Fodida Sadnoiva do meu caralho, vou te dar um castigo para
cada mensagem não respondida"
"Victória, eu estou falando sério."
"Merda, como você está? E nossa filha? Por favor, eu sou um
noivo desesperado."
Eu respondo:
"Eu estava fazendo Isis dormir amor, eu te amo do tamanho do
infinito. O que está fazendo?"
Visto minha roupa, deixo que as malucas façam minha maquiagem
e, até a hora de sair de casa, Matheus ainda não respondeu.
Há uma limusine preta parada na porta. Eu começo a rir. Já até sei
de quem foi a ideia brilhante. Minha sogra é a chefe da quadrilha!
O chofer nos ajuda a subir. Uma vez dentro, eu fico embasbacada
pela quantidade de bebidas que há e como interior do carro mais se parece
uma boate do que com um carro.
— Eu me sinto a própria Blair Waldorf! — Grito começando a ficar
animada, lembrando de ter assistido Gossip Girl com meu noivo.
— Eu sou a Serena! — Beatriz diz animada pegando uma garrafa
de uísque. Por que eu sinto que essa está sendo de longe a pior ideia de
todas?
O motorista coloca uma música eletrônica e Mariana faz com que
todas nós viremos quatro shots de tequila, exceto Jéssica.
O líquido desce rasgando pela garganta. Merda! Eu sempre fui fraca
para bebida, quatro shots já me deixam bem alegre.
Até minha mãe está bebendo. Isso beira ao absurdo. Elas estão
cagando para a sociedade, para os maridos, para a porra toda!
— MAIS UM CARALHO!!! — Alice grita e eu quase salto da
poltrona com o susto.
Nós bebemos mais quatro até chegarmos em frente a uma boate
chamada Swingers. O nome sugestivo me faz ficar quietinha no carro
enquanto todas descem. Eu espero que não seja uma casa de swing!
— Desce, Victória! — Mariana ordena.
— Gente, sério, somos todas casadas. Deveríamos ir para um
barzinho família. — Argumento.
— Eu e Gi não somos casadas. — Sabrina grita já bêbada.
— Mariana, você conhece seu filho. Só minha roupa já é o bastante
para ele ficar muito puto. — Digo desesperada.
— Ah, pau no meu cu! Vamos logo! — Ela grita enquanto minha
mãe dobra a barriga de rir. Eu desço e quase caio de cara no chão. Me apoio
no carro e tento manter minha visão estabilizada. Ok. Vamos nessa bagaça!
Se Matheus brigar a culpa é da Mariana!
Endireito meu corpo e caminho junto com elas para dentro da boate.
Fico chocada ao ver dançarinos sobre os balcões de bebida. Tanto homens
seminus, quanto mulheres seminuas.
— É muito bom ser vida louca! — Mari diz batendo palmas. —
Isso me lembra minha juventude, quando eu escalava paredões de som e
balcões de boates.
— Sério isso? — Minha mãe pergunta.
— Seríssimo, pergunte a Arthur. Ele já me salvou de um desses. —
Diz apontando para os dançarinos.
Eu a imagino solteira. Meu sogro deve ter sofrido para dobrá-la.
Caminhamos até o bar e bebemos mais alguns shots. Em seguida,
vamos para a pista dançar. Eu me sinto soltinha igual arroz de festa, acho
que nunca fiz uma loucura dessas. Nunca fui de baladas e bebidas.
Jéssica é a única em sã consciência. Sinto que preciso do seu apoio
moral nesse momento.
— Ele vai ficar puto, não vai? — Pergunto em seu ouvido.
— Todos eles, inclusive Pietro, mesmo eu estando barriguda.
— Ok. Então eu apenas devo continuar já que vou tomar no cu de
qualquer jeito nesse caralho. — Digo.
— Você está muito bêbada. Uma bêbada muito desbocada e
engraçada. — Ela afirma rindo e eu faço uma careta. E, nesse momento, o
Dj muda do eletrônico para o funk, fazendo a galera gritar. Puta que pariu!
Como não dançar? É uma batida muito doida que faz qualquer ser humano
dançar!
Mariana parece no céu. Gi, que não está acostumada com isso,
parece no paraíso. Minha mãe está descendo até o chão batendo quadris
com Alice, e Sabrina... está beijando uma garota perfeita perto do balcão.
Cara, a mulher que ela está beijando beira à imoralidade de tão linda.
— Vai ligar para ela e chamar ela pro motel. — Mariana canta a
música me deixando chocada. De onde saiu essa mulher? — Pra ligar pra
ela, pra ligar pra ela, hoje deu uma vontade...
— Gente! Não estou bêbada o suficiente... — Digo indo até o bar.
Me acomodo em uma banqueta e peço mais algumas doses de tequila.
Preciso ficar o mais louca possível para aguentar essa noite. Estou sentindo-
me careta.
— Oi, gata. — Um homem diz no meu ouvido e eu salto da
banqueta. Se Matheus vê isso, esse homem voa longe.
— Oi. Tchau. — Me despeço e viro mais duas doses antes de voltar
para a minha louca família. Agora sim eu me sinto louca para enfrentá-las.
Mariana está fazendo o quadradinho e eu peço para ela me ensinar.
Eu demoro pelo menos quatro tentativas para conseguir fazer bem mais ou
menos. Então começa um funk com a batida mais sensual e todas nós nos
acabamos, até a gestante da turma. Eu deveria ter frequentado mais
baladas...
Outra música começar e eu estou crazy[4] o bastante para
enlouquecer. Até esqueci meu nome.
Fazemos um trenzinho e chamamos atenção de uma galera. Quando
dou por mim, o trenzinho tem pelo menos trinta pessoas e está sendo guiado
pela minha mãe.
Atraímos atenção de todos os homens, até mesmo Alice, minha mãe
e minha sogra estão tendo que lutar contra os "pega coroas gostosas".
Alguns homens já chegam segurando em minha cintura e eu piso no pé de
cada um deles de salto quinze. Eu deveria estar em casa. Eu sei. Merda!
Isso vai dar B.O.
Meu celular vibra em minha bolsinha contra minha bunda e eu o
pego. O nome de Matheus surge na tela. Não sou capaz de atender. O que
eu poderia dizer a ele? Que eu estou fodida? Pau no meu cu!
Desculpe amor, sua mãe me fodeu legal e eu estou bêbada!
Tenho certeza que ele surgiria aqui em segundos!
Bebemos mais algumas doses e minha mãe já está mais louca que o
Batman.
Minha mãe está com problemas psiquiátricos sérios, caralho!
Eu estou distraída batendo bunda com Giovanna quando vejo
Mariana em cima de um sofá.
— Puta merda! — Levo minha mão a boca e vou até Jéssica. —
Mano de Deus!
— É, eu sei.
— Estou indo tirá-la dali! — Anúncio tirando meus sapatos e os
entrego para Jéssica.
Estou quase a alcançando quando bato numa parede de músculos.
— Saia, filho do Hulk! — Grito antes de dar uma joelhada na
pessoa e continuo minha caminhada. Meus pés congelam ao ver Arthur a
retirando de cima do sofá e a jogando em seu ombro.
Fodeu! Puta que pariu! Agora fodeu! Sem lubrificante! Olho para
todos os lados travando uma fuga.
Me viro para fugir e bato novamente numa parede de músculos.
— Sai!!! Merda!!! — Grito para o peitoral e então começo a rir de
desespero. Eu estou tão fodida merda! Eu nem sei se terei um casamento
depois dessa.
Saio do peitoral e então praticamente corro pela boate atrás do resto
da tropa de elite. Só encontro Sabrina.
— Cadê todo mundo? Fodeu para calharo[BB1]!!! —Grito.
— Caralho! Fodeu até para Gi. Um tal de Ricardão a pegou pelos
cabelos. Vai foder para você também, priminha. — Ela avisa rindo e eu
engulo seco. Não quero olhar para trás. Ricardão seria o Ricardo? Se até
Ricardo veio, Matheus... Puta merda!
Eu faço o que qualquer pessoa bêbada faria: saio correndo pela
boate a fora sendo observada por todos e vou em busca da saída. Eu bato
novamente no peitoral e tento dar outro chute, em vão. O cara parece que
luta artes marciais.
— A primeira pergunta é: que espécie de roupa você está vestindo?
Isso é uma saia? E essa blusa? É um sutiã? Como você saiu de casa com
essa roupa, Victória Brandão? — A voz de Matheus surge em meu ouvido e
eu me viro para fugir.
— Fodeu, fodeu pra caralho!!! É cilada Bino! — Grito quando não
consigo dar mais que dois passos e sou pega pela cintura.
— Fodeu mesmo, Victória. — Ele avisa me segurando como seu eu
fosse uma boneca e me leva para fora da boate.
— Meus sandálias.
— MINHAS sandálias. — Ele esbraveja.
— Não são suas!!! São minhas!!! — Grito.
— Cala a boquinha, Victória!
— Você não pé meu pai.
— Não pé? — Ele ri e então eu chuto sua canela. — Filha da puta!
— Cadê todo mundo???— Está todo mundo muito fodido.
Principalmente minha mãe e a sua. Uma estava no sofá e a outra no balcão.
E você estava indo para o mesmo caminho e ainda me deu uma joelhada no
pau.
— Theus, eu não queria vir, eu juro de mindinhoooooo. Não
queria!!! —Choramingo enquanto ele para diante de um carro mega ultra
power maravilhoso. —Uau! Deixa eu dirigir????
— Você é louca? — Ele questiona muito bravo.
— UAUUU!!!
— Merda, Victória, você está muito louca! — Meu noivo gostoso e
excitante diz e então me coloca sentada e devidamente amarrada no banco
do carona. Assim que ele se afasta eu retiro o cinto e me ajoelho no assento.
Que carro!!! — Sente-se, VICTÓRIA!
— Esse carro é uma máquinaaaaaa! É seu???
— Sim.
— Então é meu também, marido!!!! —Grito batendo palmas e
escorrego até o banco de trás. — É apertado para fazer sexo. Gosto disso, é
muito adulto!
— Victória, eu estou falando muito sério com você. Você está toda
errada, Vic. Todinha errada. Então, para não piorar a situação, acho melhor
você voltar e se acomodar no seu devido lugar. — Ele fala tão sério que eu
escorrego pelo banco e caio de cabeça no chão. — Puta que pariu! O que
você bebeu, demônia? — Pergunta me puxando e eu só consigo rir.
Depois de muitas tentativas ele consegue me acomodar
devidamente e prende o cinto em meu corpo novamente.
— Isso me excita. — Digo mordendo meu lábio inferior e fazendo
voltinhas em meu cabelo.
— Prender o cinto te excita?
— Ser amarrada por você. — Sorrio. — Theus, vamos brincar?
Vamos naquele clube? Quero que você me prenda e me foda duro.
— Me interne se eu transar com você nesse estado. Nem sei se você
verá meu pau pelos próximos meses, Victória. Ultrapassou todos os limites.
Eu pensei que tivéssemos combinado.
— Quero namorar nua com você! — Grito batendo no painel do
carro. — Por favor!!!! —Imploro e ele liga o carro acelerando forte antes de
sairmos. É tão sexy! Uma máquina dirigindo outra máquina. O carro parece
pequeno com um homão desses dentro. — Homão da porra!
— Que caralho é esse? — Pergunta mal-humorado.
— Você é um homão da porra.
— Victória, eu poderei te deixar em casa ou devo levá-la para um
lugar longe da civilização até que consiga filtrar as palavras novamente?
— Me leve para o clube... por favor. Vamos no sexo selvagem.
Vamos mostrar que não precisa de chibata quando se tem um big pau
Matheus Albuquerque.
— Olha, Victória, eu só vou me casar com você porque não sou
capaz de deixar os convidados plantados esperando. — Eu rio e soco o
vidro do carro.
— Você vai casar comigo porque me mama.
— Te mamo toda hora, mas, nem por isso tenho que me casar com
você depois de ter saído seminua, enchido o cu de cachaça e estar
defecando pela boca. Mamar você não é um motivo para se casar. Além do
mais, só vou casar com você porque estou sem nada pra fazer esse final de
semana!
— Eu só vou me casar com você porque amo seu pau. Então, tu
pega o telefone, desbloqueia a tela, vai no seu contato e procura o número
dela... Pra ligar pra ela, pra ligar pra ela, hoje deu uma vontade de... —
Canto rindo. Mari me ensinou essa canção.
— Porra! Que maldição fizeram com minha pequeninha? — Ele
pergunta enquanto fecho meus olhos e rio ao som da música que não está
tocando.
— Theus me dá uns tapas na bunda e na cara? — Peço abrindo meu
body acima do pescoço.
— Veste essa porra, Victória! — Ele grita freando o carro e então
está sobre mim, subindo minha blusa. Aproveito a oportunidade para
arranhar sua barriga por baixo da camisa. — A próxima vez que quiser sair
mostrando os seios me avisa antes para que eu possa preparar os papéis do
divórcio, filha do cão!
Ele está mesmo bravo.
Subo meus pés para o acento e me encolho em minha
insignificância. Eu sabia que ia dar merda. Sabia!!!
Ele volta a dirigir e então eu fico olhando a paisagem. Isso me dá
um enjoo monstro e, assim que ele para em frente nossa casa, eu salto do
carro e corro em direção a lagoa.
— PORRA, VICTÓRIA!!! SE VOCÊ PULAR EU VOU TE
MATAR!!!
Só tenho tempo de levar meus cabelos para trás e então vomito tudo
que eu bebi. Meus olhos saem uma cachoeira de lágrimas, logo Matheus
está sustentando meu corpo e segurando meus cabelos. Sim, eu acabo de
batizar a lagoa dos ingleses! Me sinto doente pra caralho!
Quando não há mais nada para sair eu desmaio e não vejo mais
nada.

Ser ou não ser, eis a questão!


Após dar um banho em Victória desmaiada, visto uma camisa
minha nela e a coloco sobre a cama do quarto de hóspedes. Acabo de
chegar à conclusão de que eu a amo mesmo. Só muito amor para me fazer
estar aqui agora.
Ela agarra a coberta e se cobre até a cabeça. Aproveito seu estado
de coma para sair.
Na sala estão Jéssica e Pietro. Os únicos que parecem em paz.
— Como ela está? — Jéssica pergunta.
— Em um estado deplorável, tipo semi-coma-alcoólico.
— Eu sou testemunha, Matheus, ela não queria ir. As responsáveis
são Alice, Liz e sua mãe. — Jéssica defende.
— Quando um não quer, dois não brigam. — Suspiro levemente
puto. — Como ela se comportou?
— Ela é fraca para bebida, ficou bêbada rápido, mas não fez nada
estúpido. Estava apenas dançando entre nós, nada além disso.
— Nenhum engraçadinho? — Pergunto e então Jéssica se cala.
Porra!!! —Quantos?
— Não contei, Matheus. Você acha que vou ficar contando todos os
homens que chegaram em todas? — Ela pergunta. — Mas, Vic não fez nada
realmente, Matheus. Quando se está numa balada sozinha é óbvio que
homens vão chegar. Chegaram até na tia Mari. — Ela ri.
— E em você? — Pietro pergunta e o riso dela morre.
— Mas, então... —Tento salvá-la. — Você vai ficar aqui? —
Pergunto à Pietro. — Cadê meu pai, Ricardo, Luiz, Bernardo's?
— Seu pai e Mari não chegaram. Bê e Bia foram para o quarto
numa discussão épica. Ricardo veio apenas pegar uma roupa para Giovanna
e Luiz foi mandado embora por Alice, que gritava que aqui era lugar de
vaginas, meu pai e minha mãe eu não sei.
— Eu vou embora. Jé, por favor, se Victória acordar mal me ligue.
— Peço. — De manhã ligo para saber notícias de Isis e da maluca.
— Pode deixar.
— Vou com ele, amor, senão depois vou ter que caçar um táxi de
madrugada. — Pietro diz a beijando. — Não faça merda, Jéssica. Há dois
seres em seu ventre.
— Não fiz merda alguma, já disse isso algumas vezes! — Ela
esbraveja ficando de pé e ele beija sua barriga.
Porra, quero Vic grávida!
Mas, minha mulher é muito doida.
Não, não quero. Ela saiu para balada soltinha na pista e quase nua.
Mas, se ela ficar grávida eu vou gostar dessa porra.
Não, não vou! Ela estava muito vida louca hoje! Ela está foda de
engravidar.
Vou pensar se vou casar com ela mesmo. Não sou obrigado a passar
por essas provações.
Ela é linda até bêbada!
Filha da puta!!!
Odeio essa diaba!!!
Linda!!!
Sardinhas bonitinhas!!!Não quero um filho com ela mais!
Sadnoiva!!!
Fodida Sadgirl do meu caralho!!!
Pequeninha linda!!!
Queria ao menos três duplas de filho.
FILHA DA PUTA!!!
Eu a amo pra caralho!!!
GAME OVER!
Há pelo menos cem pessoas acomodadas nos bancos da capela,
incluindo parte de nossos familiares.
Minha mãe está ao lado direito do altar acompanhada pelo meu pai
e por Eliza. Meus avós estão sentados na primeira fileira, assim como os
avós de Victória, Jéssica, Pietro e as crianças Heitor, Enzo e Arthurzinho.
Bernardo e Beatriz estão no altar, assim como Giovanna e Ricardo. São
nossos padrinhos de casamento. Ricardo se tornou um grande amigo nos
últimos meses e ele tem sido essencial para Victória. Esse simples fato o
torna uma pessoa muito foda para mim.
Estou rindo, mas é de nervoso!
Pego um lenço em meu paletó e limpo o suor frio da minha testa.
Quem está me vendo neste momento, está pensando no mínimo que estou
segurando uma diarreia desgraçada. Mas, na verdade, só estou segurando
meu coração nas mãos.
Hoje é o grande dia da minha vida, um marco na minha história
com toda certeza, a realização de um grande sonho. Sim meus amigos, hoje
vai ser o dia que eu mais vou foder na história da minha vida, baterei todos
meus recordes de foda! Só de pensar nisso meu pau dá uma pulsada em
minha calça. Vou foder pra caralho mesmo!!! Vai ter foda de punição, foda
de matar a saudade, foda de foda, foda de núpcias, foda de viagem, foda de
festa, foda do meu pau...
Agora não, amigo. É meu casamento, parceiro. Há algumas
dezenas de pessoas me olhando.
Confiro no relógio e descubro, para meu desespero, que Sadnoiva
está onze minutos atrasada. Vou dar seiscentas e sessenta chicotadas em sua
bunda perfeita, uma para cada segundo de atraso. Fora as que ela merece
por ter aprontado na quinta-feira. Até esse momento não falei com ela,
rejeitei todas suas ligações e só respondi suas mensagens muito vagamente.
Fodida Sadnoiva atrevida, afrontosa e enlouquecedora do meu caralho.
Coisa mais linda da minha vida. Sou louco mesmo por essa mulher. É por
isso que estou aqui, a esperando para dar meu sobrenome a ela.
Vejo uma movimentação se formar e as portas da capela são
fechadas. Meu coração parece que vai parar a qualquer momento.
Uma trombeta começa a tocar, assim como os sinos da capela. Vou
infartar! Vou morrer sem ver minha mulher vestida de noiva! Sofrendo, levo
minha mão até o coração, engolindo a seco um nó que se forma em minha
garganta. Que tiro foi esse? Puta que me pariu!
Esse som bate lá no fundo do meu coração, parece que tem um
feitiço nessa porra para fazer homens chorar. Eu sinto que vou chorar como
um garotinho. Na verdade, minha vontade agora é de me sentar no chão,
abaixar minha cabeça e chorar. Mas, aí eu perderei o que esperei a vida
inteira para ver...
Olho para meus pais, vejo minha mãe e Liz com lágrimas em seus
olhos e estou quase indo lá acompanhá-las nessa sofrência. Puta que me
pariu! Eu vou ver minha garota vestida de noiva caminhando em minha
direção! Vou morrer, estou falando sério, realmente sério. Eu sofri parte da
vida por causa dessa mulher, mal posso acreditar que vamos nos casar.
— Pai! — Chamo e ele não ouve. — Paiii. — Liz o cutuca e ele
dirige seu olhar para mim. Com um sinal, ele se aproxima.
— Algum problema? — Questiona preocupado.
— Pai, você chorou no seu casamento? — Pergunto com meus
olhos nublados e então o som da Clarinda Real e os sinos da capela cessam,
dando lugar à marcha nupcial... — Você chorou pai? Pelo amor de Deus...
— Boa sorte com as lágrimas! — É tudo que ele diz antes de voltar
para seu lugar.
As portas se abrem revelando a mulher mais linda que eu já vi em
toda minha vida. O inevitável acontece e as lágrimas escorrem pelo meu
rosto em rompantes. Meu Deus do céu! Eu sinto até mesmo minhas pernas
fraquejarem. Sou muito fofo mesmo, maldição. Queria ser porra louca, ser
frio, sério, reservado, osso duro de roer.
Ela se parece como uma princesa dos contos de fadas tamanha
perfeição. Eu gravo cada mínimo detalhe para nunca esquecer. Seu vestido
é justo da cintura para cima e da cintura para baixo é esvoaçante como de
princesas, há uma coroa em sua cabeça e isso parece a perfeição. A minha
princesa acaba de me tirar o fôlego.
Ela caminha de braços dados com seu pai. Passos lentos e
calculados, como uma verdadeira dama. Minha Sadesposa.
Quando falta poucos metros para ela se aproximar, eu desço do altar
e vou buscá-la. Bernardo me dá um abraço e logo me entrega sua filha. A
mulher mais linda do mundo, eu já disse isso, mas, eu direi uma centena de
vezes só hoje. Eu coloco minha mão sobre a dela e então todo o restante
desaparece. Há apenas eu e ela.
— Olá. — Ela diz sorridente e eu limpo as lágrimas em seus olhos
enquanto ela tenta limpar as minhas.
— Eu te amo tanto. Você está tão linda, tão linda, Victória!
— Eu estou grávida. —Diz entre lágrimas e eu sorrio. — Eu fiz o
exame ontem, passei muito mal devido à bebida e então fui até a unidade de
pronto atendimento e foi assim do nada o tiro... Nós deveríamos andar até o
altar e casar. Depois falamos sobre isso. Eu apenas deveria ter mantido a
informação para depois. É, eu sinto realmente que deveria ter me contido,
mas, eu queria que você fosse o primeiro a saber. Merda, Matheus, reage.
Você está ficando branco.
Eu sorrio.
Ela é muito linda. Toda sardinhas bonitinhas.
Isso me faz sorrir mais amplamente.
Ela é minha Sadesposa.
Eu sorrio.
Sorrio.
Deus, obrigado por ter me dado a mulher mais linda do universo.
Obrigado por tê-la trazido de volta para mim. Obrigado, meu Deus! Eu
serei eternamente grato.
Sorrio olhando suas sardinhas lindas.
Eu só... Ela disse algo importante.
— Você está o que? — Questiono ganhando uma grande percepção.
Saindo do estado de choque.
— Eu estou grávida. — Ela diz e minha mente captura suas
palavras dessa vez. Meu coração para de bater e dessa vez é sério. O mundo
começa a girar diante de mim, um redemoinho completo. Eu vejo Isis, vejo
Vic, vejo bebês. Ela disse que está grávida. Ela está grávida de mais um
bebê meu! Minha mulher está grávida! Eu consegui engravidá-la. Eu a verei
barriguda dessa vez. Eu tento me apoiar em algo, mas, apenas não há nada.
— Matheus... — É a última coisa que ouço antes do chão me
engolir.
“Então eu pego sua mão e então nós vamos
Todos os olhos em você”
Mako — Breathe

Deixo meu buquê ao chão e me abaixo até meu noivo enquanto


todo mundo vem nos rodear.
—Theus, você está brincando com a minha cara? — Pergunto
dando leves tapas em seu rosto e ele não reage. — Matheus Albuquerque, é
nosso casamento, todos estão vendo você caído ao chão, amorzinho. Se for
brincadeira eu vou matá-lo.
— Olha! A mocinha desmaiou de emoção! — Bernardo debocha,
literalmente, passando mal de rir. Nesse momento eu lanço um olhar fatal
para ele.
— Vamos tirá-lo daqui! Ele precisa de ar puro, todos em cima dele
agora não é bom. — Arthur sugere e concordo. Em seguida, ele, meu pai,
Pietro, Ricardo e Luiz ajudam a pegar meu super-homem do chão.
É sério, ele realmente está apagado. Nunca imaginei isso. Eu só
disse que estava grávida, nada demais.
— Você é um imbecil, Bernardo! — Exclamo apontando o dedo na
cara do meu irmão que nem mesmo tem forças para ajudá-los. Eu mesma
mandarei Matheus dar um soco nessa carinha bonitinha.
Beatriz dá um tapa na cabeça dele, só assim ele para de rir.
— Não estou bom com você ainda! — Avisa sério.
— Problema é seu. Quem perde é você! Vou dançar até o chão na
festa e beber até o dia amanhecer. — Ela sorri e sai andando, o deixando
para trás. Gosto dela! Mitou! É uma cópia da minha sogra.
— O que aconteceu? — Mari pergunta me acompanhando aonde
quer que eles estejam indo levar meu noivo.
— Não sei, estávamos trocando algumas ideias e então ele
desmaiou. — Minto me justificando. Quer dizer, não é mentira, é apenas
omissão. Nesse primeiro momento quero poder curtir a novidade apenas
com Matheus. Se ele sobreviver...
— E o casamento é o momento exato para trocarem ideias? — Mais
uma pergunta difícil de responder, tanto que apenas levanto meus ombros.
— Ainn, você está tão linda!!! — Elogia me puxando para um abraço. —
Está uma verdadeira princesa! Matheus estava tão impaciente, precisava ver
a carinha dele quando as portas se abriram e você entrou. Foi como se nada
mais no mundo existisse.
— Obrigada! Você é a melhor sogra! Sou muito grata por estar me
recebendo em sua família, Mari. — Agradeço ligeiramente emocionada.
— Você sempre foi da minha família. Só tivemos um intervalo,
mas, talvez tenha sido esse intervalo que mostrou o quão forte é o
sentimento que une vocês dois. — Eu a abraço mais uma vez.
— Senhora Victória, o que precisamos fazer? Estamos um pouco
perdidas. — A cerimonialista questiona acompanhada de duas assessoras.
— Desculpem pelo transtorno. — Digo educadamente. —
Mantenha Isis entretida e escondida. Não quero que ela veja o pai
desmaiado e nem que as pessoas a vejam antes do momento certo. Quero
que ela surpreenda Matheus. — Peço. — Peça, por favor, para que os
convidados esperem meia horinha. Se puder e quiser, peça o buffet para
servir alguns bombons para os distraírem dentro da capela.
— Tudo bem. A senhora vai acompanhá-los? Vai sujar o vestido no
gramado.
— Merda! Você pode me ajudar a levantá-lo e ir comigo até a casa?
Preciso acompanhá-lo, mais que nunca. — Justifico.
— Claro. — Ela sorri solicita e me ajuda a descer os degraus que
nos leva ao gramado. Caminhamos apressadas.
Na casa, encontro meu noivo deitado no sofá ainda desmaiado.
Dona Ana surge com um pano embebido com alguma coisa e coloca em seu
nariz. Demora alguns minutos para que ele desperte e então o observo abrir
seus olhos e tentar se situar.
É quase engraçado um homão desses desmaiado.
Do nada, o maluco dá um salto do sofá e fica sentado. Passa as
mãos no rosto e me busca com seus olhos, até me encontrar. Até recém-
saído de um desmaio seu olhar é hipnótico. Ele abre seu sorriso gigante por
alguns segundos, mas, logo depois, cai de joelhos ao chão, apoia as duas
mãos nas coxas, abaixa a cabeça e começa a chorar.
Oh meu Deus! O que deu nesse homem? Eu quero me ajoelhar e
levantá-lo, mas, o vestido impede.
— Merda! O que está acontecendo com ele? — Arthur pergunta e
eu ouço Bernardo rindo.
— Vocês podem nos deixar sozinhos por favor? — Peço.
— Não vai ter mais casamento? — Eu nunca quis tanto matar
Bernardo!
— É claro que vai haver casamento, retardado! — Esbravejo. — Só
precisamos de um minuto. — Senhor! Matheus está chorando sem se
importar com a plateia.
Após alguns segundos todos saem e eu tento ajoelhar diante dele.
— Não. Eu já vou ficar de pé. Apenas me dê um segundo. — Ele
diz.
Eu não sabia que meu anúncio mexeria com ele tanto. Estou
boquiaberta. Achei que ele explodiria de felicidade apenas. Porém, parece
que desencadeou um monte de emoções.
Passa alguns longos segundos até que ele limpe suas lágrimas e se
levanta.
— Theus, eu não imaginei essa reação. — Confesso e sou pega pela
cintura.
— Você está grávida mesmo, pequeninha? — Pergunta mordendo o
lábio inferior para segurar o choro. Merda, eu não consigo segurar e
começo a chorar também. Serei a noiva cadáver após minha maquiagem se
desfazer.
— Eu estou. Quase quatro semanas. Não fazia ideia, fui pega de
surpresa. Não contei para ninguém.
— Vic, um sadbebê! — Exclama rindo entre lágrimas e me abraça.
— Nós teremos outro filho.
— Nós teremos.
— Obrigado. Obrigado, Vic! — Me agradece aos prantos.
— É nosso bebê. Nós o fizemos juntos. — Digo sorrindo em meio
as lágrimas. Meu Deus, porque ele tinha que ser excessivamente
maravilhoso?
— Podemos manter isso apenas para nós até a lua de mel? — Pede
se afastando e olhando em meus olhos.
— Nós podemos. — Meu lindo noivo/quase marido, pega um lenço
de seu casaco e delicadamente limpa as lágrimas do meu rosto. — Eu devo
estar horrível.
—Não. Você está linda, sua maquiagem está intacta. E, nem mesmo
precisava de maquiagem, porque você é a mulher mais linda e perfeita que
pode existir. Eu amo você, amo que seja a mãe da minha filha, amo que
esteja carregando mais um filho em seu ventre. Victória, a ficha não caiu
ainda. — Confessa sério.
— Logo ela cairá. Nós teremos mais um filho, não planejado, assim
como Isis. Mas, dessa vez estamos juntos e seremos imensamente felizes.
— Vic, acompanharei cada segundo da sua gestação, eu verei nosso
bebê nascer. Não tenho palavra, Vic... não tenho. Não existe homem algum
no mundo que esteja tão feliz quanto eu estou. — Confessa limpando seu
rosto. —Eu nunca agradecerei o suficiente. Mas, agora, nós precisamos
casar.
— E você precisa bater em meu irmão que está rindo como um
filho da puta porque você desmaiou.
— Ele não sabe o tamanho do sentimento que eu carrego comigo.
Só eu sei, Victória, nem mesmo você sabe. Isso que você acabou de me
dizer, significa demais, amor. — Diz sorrindo e deposita um beijo em minha
testa. Se ajoelha mais uma vez e tenta levantar meu vestido.
— Não.
— Eu só quero beijar sua barriga. — Argumenta. — É um dos
maiores sonhos da vida tê-la grávida e poder acompanhar isso. Você não faz
ideia, não faz.
— Não é o momento. Eu também quero que você beije, mas, não
estrague a surpresa do que há aqui embaixo. Você terá a noite inteira para
beijar minha barriga. — Peço e isso o faz levantar novamente, agora
portando um sorriso cafajeste que só ele sabe dar.
— Falta muito para tudo acabar e eu tê-la só para mim por uns dias?
— Se sairmos correndo para a capela isso vai acontecer mais
rápido. — Seguro seu paletó e ele me beija delicadamente. — Preciso que
me ajude com o vestido para irmos.
— Com todo prazer. — Ganho mais de um de seus sorrisos com
covinhas lindas e ele me pega em seus braços, ao invés de apenas levantar
meu vestido e me ajudar a andar.
Quando saímos da casa, há uma galera nos aguardando do lado de
fora.
— Vazem todos que eu estou indo casar com minha mulher! —
Matheus grita e todos aplaudem. Tudo vira festa, como sempre. Eu amo
essa família, tanto que mal sou capaz de descrever.
— Mocinha! — Bernardo debocha mais uma vez.
— Bernardo, você terá o seu na festa! Não adianta ninguém tentar
me segurar. Já estou ciente de toda situação! — A ameaça sai direto como
uma flecha e Bernardo para de rir no mesmo instante. Ele caga de medo do
meu Theus, megaforte!
Enquanto todos caminham de volta a capela, eu e Matheus ficamos
um pouco para trás.
Quando finalmente chegamos, as portas são fechadas e tudo
recomeça. Primeiro o som das clarinadas...
— Esse troço tem pacto com alguma força oculta. — Matheus
sussurra apertando firmemente minha mão enquanto a cerimonialista traz de
volta meu buquê.
— Você se sente melhor? — Pergunto enquanto ele bebe um copo
de água.
Meu Sadboy dá um sorrisinho com os olhos brilhando, esbanjando
felicidade. Eu amo vê-lo feliz assim.
— Sim. Não sei se continuarei quando eu ver nossa filha.
— Ownnn, você é tão fofo!!! — Exclamo rindo.
— Eu sou fofo mesmo! — Diz fazendo carinha de bravo e então a
marcha nupcial começa e, junto com ela, mais uma vez, o frio na barriga.
Porém, dessa vez estou nos braços do meu par. — Você está grávida!
As portas se abrem e todos estão sorrindo quando caminhamos até o
altar a passos lentos.
Chegamos até o altar e o padre fica olhando para Matheus com uma
cara engraçada. Eu seguro a vontade de rir e aperto a mão do meu
“praticamente” marido. Em alguns minutos serei Victória Brandão
Albuquerque, mal posso acreditar.
O Padre diz algumas palavras saudando a todos os convidados e a
nós:
— Caros noivos, eu estive aqui a muitos anos atrás celebrando o
matrimônio de Arthur e Mariana. Estou feliz por estar, após mais de vinte e
cinco anos, celebrando o casamento de um de seus filhos, Matheus Barcelos
Albuquerque. — Informa me deixando boquiaberta. Olho para Mari e ela
está com um sorriso enorme em seu rosto.
— Esse padre é o The Best[5]! — Ela diz e vejo Arthur apertar a
mão dela.
— Esse povo me envergonha às vezes. — Matheus cochicha em
meu ouvido e eu rio.
— Estamos reunidos aqui para celebrarmos a realização de um
sonho, a realização do matrimônio de Matheus e Victória. — O padre sorri.
— Bom, assim como no casamento de Arthur e Mariana, já vos digo que
nós estamos indo direto ao ponto, porque sei que há um buffet incrível nos
esperando e o querido noivo atrasou meia hora de comes e bebes. —
Informa fazendo todos rirem e eu me pergunto se até meu casamento será
louco. —Enfim, farei algumas citações e conselhos que julgo necessários.
Saudações a todos aqui presentes. — Ele diz e todos fazemos sinal da cruz.
“Matheus e Victória.
Eu sempre celebro casamentos citando dez coisas importantes que
todo relacionamento deve possuir. Eu digo que são os Dez mandamentos de
um casamento feliz. Não é receita, é um projeto de construção da felicidade
no casamento.
Sejam sábios: Nunca se irritem um com o outro ao mesmo tempo.
— Diz.”
Ok, talvez isso não caiba a nós dois. Na verdade, nos damos muito
bem, mas, sempre rola uma irritação dupla que termina em sexo. Deus me
perdoe por pecar diante do altar! Amém.
— Sejam inteligentes: Lembrem-se que quando um não quer, dois
não brigam.
— Você está escutando isso? Pois escute atentamente Victória! —
Matheus diz baixinho. — O senhor poderia repetir?
— Sejam inteligentes: Lembrem-se que quando um não quer, dois
não brigam. — O padre repete e Matheus sorri.
— Muito obrigado, senhor, acho que agora ela conseguiu entender.
— Deixe ao menos nosso casamento ser algo normal??? —Peço
gentilmente e todos começam a rir.
— Sejam gentis: Jamais gritem um com o outro a não ser que a
casa esteja em chamas. — Eu rio e Matheus também. Chamas... Nesse
momento estou em chamas!
— Sejam amigos: Se um tiver que ganhar a discussão deixe que
seja o outro.
— Eu sempre estou certa. — Digo baixinha e Theus faz uma careta.
— Sejam honestos: Se cometerem um erro reconheçam e peçam
perdão. — Sim! Isso nós conseguimos.
— Sejam companheiros: Se tiverem que criticar que seja para
somar nunca para dividir.
— Sejam positivos: Não remoam erros passados. Águas passadas
não movem moinhos. — Poxa vida. Essa doeu lá no fundo da minha alma.
Eu estou chegando lá, estou esquecendo meu passado. Theus entrelaça
nossos dedos agora. Isso significa muito. Ele é o homem mais foda do
planeta!
— Sejam criativos: Inovem sempre, namorem sempre, fujam da
mesmice sempre.”
— Padre, o senhor é o The Best como minha mãe falou! — Matheus
diz rindo. — Ao cinquenta ton...
— Shiu! — Aperto sua mão e ele para de sorrir.
— Desculpa, senhor, pode continuar.
— Sejam amorosos: Pelo menos uma vez ao dia digam ao outro
uma palavra de carinho.
— Eu te amo pequeninha!
— Eu te amo mais! — Sorrio o abraçando.
— Sejam bons amantes: Nunca durmam com mágoas. Por que
perder uma noite de amor? —
— É um desperdício! — Theus afirma.
— Matheus Albuquerque!!! — Repreendo.
— Bom, nem mesmo seus pais foram tão falantes durante o
casamento. — O padre diz fazendo todos rirem.
“Senhoras e senhoras, irmãos, Oremos!
Que o Deus que paradoxalmente mora nas alturas dos céus e na
interioridade de cada pessoa, nos ouça na petição que iremos fazer com os
pensamentos voltados para estes que hoje se tornam uma só pessoa.
Mensagem:
Gênesis 2.18
"Então o Senhor Deus declarou: 'não é bom que o homem esteja só;
farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda". — Ele diz e todos
dizemos Amém.
Victória e Matheus, viestes aqui para celebrar o vosso Matrimônio.
É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo?
Nós dois respondemos:
— Sim.
Padre:
— Vós que seguis o caminho do Matrimônio, estais decididos a
amar-vos e a respeitar-vos, ao longo de toda a vossa vida?
Dizemos:
— Sim.
Padre:
Estais dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de
Deus?
Matheus aperta minha mão e abre um sorriso ao mesmo tempo que
as lágrimas escorrem em seus olhos.
— Nós estamos. — Respondo por mim e por ele.
— Você não vai parar de chorar? — O padre pergunta.
Misericórdia, que espécie de casamento estamos tendo?
— Ele vai! Em algum momento. — Explico sorrindo ouço
Bernardo rir enquanto limpo o rosto do meu marido perfeito.
Padre:
— Uma vez que é vosso propósito contrair o santo Matrimônio, uni
as mãos direitas e manifestai o vosso consentimento na presença de Deus e
da sua Igreja.
Neste momento eu e meu garoto chorão viramos um para o outro e
unimos nossas mãos, porém uma música começa e sei que esse é o
momento da noite.
— Oh meu Deus! — Matheus exclama olhando nossa filha. —
Você mudou o vestido dela?
— Eu mudei.
— Deus! Minha filha é a mais linda desse mundo! Até mais linda
que você. — Ele está deslumbrado assim como eu. Isis é a coisa mais linda
desse mundo, mas...
— Ela não está com as alianças. — Aviso assustada.
— Estão comigo. — Theus informa e nossa garota para diante de
nós com os olhinhos brilhando em lágrimas e as bochechas rosadas de
vergonha.
Matheus e eu oferecemos nossas mãos e então ela está entre nós
dois.
— Então meus queridos, vamos prosseguir aos votos agora com a
menina mais linda que eu já vi em toda minha vida. — O padre diz
sorrindo. — Isso é falta de educação!
— Ela é linda igual a mãe.
— Igual ao avô. Não podemos esquecer que Mariana pensou que
ela era minha filha. — Arthur diz rindo. Deus, cale a boca das pessoas!
Matheus respira e inspira tentando controlar sua emoção e diz as
palavras que eu jurava que nunca iria ouvir na vida... Enquanto retira a
aliança de uma caixinha e a desliza pelo meu dedo.
— Eu, Matheus Albuquerque Barcelos recebo por minha esposa a
ti, Victória ALBUQUERQUE (diz frisando bastante o Albuquerque), e
prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e
na doença, por todos os dias da nossa vida. Eu amo você, com todas as
minhas forças. — Diz sorrindo. — Bom, eu gostaria de fugir um pouco do
usual. — Ele se ajoelha e então segura as mãos de nossa filha. Levo minha
mão a boca no mesmo momento.
“Eu não estou casando só com sua mamãe, filha. Estou casando
com você também. — Ele surge com uma aliança idêntica à minha em
tamanho miniatura e agora eu levo a mão até o coração. Acho que vou
desmaiar! — Você é de longe o maior presente que eu já ganhei na minha
vida, Isis. Quando eu te vi pela primeira vez, antes mesmo de saber que era
seu pai, eu senti algo inexplicável. Uma força maior nos ligava. Por você,
eu e sua mama nos aproximamos. Você é o grande laço que nos uniu,
mesmo que não saiba disso. E, mesmo que talvez não esteja entendendo
nada do que estou falando, você só precisa entender uma única coisa: você
é o amor da minha vida. Papai ama você acima de todas as coisas. Você é
todo meu coração, todinho. Você aceita se casar com o papai? — Ele
pergunta e eu estou impressionada com a firmeza e a veracidade sendo
transmitida através de suas palavras. Eu nunca imaginei algo assim, nunca.
A igreja está aos prantos, assim como eu e Isis. A pobrezinha só consegue
balançar a cabeça em concordância e então Matheus coloca ao anel em seu
dedo médio. Ele beija sua pequena mãozinha, a pega em seus braços
ficando de pé. Isis agora está agarrada a seu pescoço chorando e ele a
abraça forte.
Todos começam a aplaudir e os abraço.
— Papai te ama muito, apenas não chore. Papai não quer mais fazer
vergonha hoje, filha. Por favor. Me mata ver você e sua mãe chorando. —
Ele implora baixinho e eu rio em meio à confusão de lágrimas.
— É minha vez de fazer os votos! — Aviso me afastando e só assim
para Isis parar de chorar.
Eu digo:
— Eu, Victória ALBUQUERQUE, recebo por meu esposo a ti,
Matheus Albuquerque, e prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. — Deslizo a
aliança pelo seu dedo e beijo sua mão. — Eu também tenho direito de sair
do usual!
— Você tem!
— Eu quero dizer que... —Engulo seco. — Quando eu estava mais
perdida em minha vida, em minha escuridão, quando todos me julgavam e
quando você tinha tudo para me odiar, você resolveu mostrar que é
diferente, apenas me segurou em seus braços com a maior de todas as
generosidades e me ofereceu o conforto e o acalanto. —Digo. — Quando
eu me afogava em minha escuridão, você com seu sorriso repleto de pureza,
sua força invejável, me segurou pela mão e me tirou de lá. Quando eu me
machuquei terrivelmente, você esteve lá para limpar minhas feridas, você
tentou me entender, foi paciente, compreensivo. Você não precisava fazer
aquilo, mas você fez. Todos dizem que eu sou exemplo de força e
superação, mas talvez nenhum dele saibam que é você quem é o exemplo
de força e superação. Porque você me segurou, me acolheu, me levantou e
mais, você superou todo o passado, todos os meus erros e me ofereceu o
mais puro de todos os amores. Você me mostrou que a minha dor poderia
ser curada com seu amor. E, por mais que eu tenha estado me tratando, foi
você quem me impulsionou a isso. Foi o seu amor.
“Além de tudo isso que eu disse, você é meu super-herói. Você me
salvou dos vilões e me salvou de mim mesma, Theus. Você me salva a cada
dia... Eu enfrentei o inferno para estar aqui firme e forte, me recuperando de
traumas terríveis. Eu enfrentaria tudo de novo, se na metade do caminho eu
encontrasse você para me guiar. Você e nossos... nossa filha, são a minha
força. A cada dia, cada passo que dou, é pensado em vocês. Você é o mais
fofo de todos os fofos dos últimos tempos. O meu malvado favorito, o meu
covinhas lindas, o meu sardinhas bonitinhas, meu pimpolho, o meu Sadboy,
meu Sadmarido, meu Sadpai. E, graças Deus, eu estou construindo uma
família com você. Agradeço aos seus pais, por terem criado um ser humano
ímpar em todas as qualidades e com um coração imensamente grandioso.
Entre vícios e virtudes, você é a melhor pessoa que já conheci em toda
humanidade. É algo que nunca vi igual. Matheus Albuquerque, você é
minha preciosidade, dono de todo o meu amor. Obrigada por ter escolhido
ser meu Sadmarido! E, obrigada por ter me ensinado que eu mereço ser
feliz.
— Oh merda Victória! — Ele diz escondendo sua cabeça no ombro
de nossa filha e eu começo a rir e chorar. Uma bagunça completa. — Eu sou
um maricas!
— O que é maricas papai?
— Nada, bonequinha! Você pode ir ficar com a vovó agora? — Ele
pede chorando e ela sorri.
— Sim papai, você vai beijar a noiva.
— Eu vou. — Responde limpando as lágrimas e coloca Isis no
chão. Ela corre e então, sem que eu esteja esperando, ele me pega pela
cintura e me dá um beijo digno de filmes. Um beijo devidamente imoral
para ser dado diante de um altar e uma plateia.
Quando nos afastamos, estou bamba e completamente tonta.
— Você está bem? — Pergunta preocupado e eu balanço a cabeça
negando.
— Apenas não me solte. — Peço.
— Minha Sadgrávida! —Diz em meu ouvido e eu sorrio. — Eu te
amo! Eu amo essa mulher padre! Ela é mãe de todos os meus filhos! Eu te
amo Vic, eu te amo, eu te amo! — Diz me pegando em seus braços e então
nosso casamento está arruinado!

Eu serei pai de um bebê!!!


Puta merda!!! EU VOU VER VICTÓRIA GRÁVIDA!!! EU VOU
VER O NASCIMENTO DO MEU BEBÊ!!!
Mal posso me conter.
Estamos em meio a uma sessão de fotos para o álbum de família e
estou certo que estarei com cara de idiota em todas elas. Isis está em meu
braço, assim como Maria Florzinha, que está “boladona” porque entrou só
depois distribuindo flores.
Assim que a sessão acaba, todos se dirigem para o salão de festas.
Eu e Vic vamos de carro. A ajudo a se acomodar no banco de trás e então
levo minha esposa cuidadosamente.
— Você não trouxe outra roupa, amor? Essa vai ser um pouco
desconfortável. — Pergunto.
— Trouxe, após dançarmos eu irei trocá-la.
— Eu quero tirá-lo. — Informo.
— O que?
— Quero tirar seu vestido.
— Hum, vou pensar se deixarei. — Ela brincando jogando um de
seus pés para frente, esbarrando em meu braço.
— Lindo pezinho. Até seu pé é meu, Vic. — Aviso. — Diga-me
mais uma vez que está grávida. — Peço.
— Eu estou grávida, Theus. — Música para os meus ouvidos,
porra! — Você ainda não acredita? — Pergunta sorrindo.
— Estou flutuando ainda com essa notícia, senhora Victória
Albuquerque. É muito para digerir no dia de hoje. A garota pela qual me
apaixonei aos dezessete anos é minha esposa agora e mãe de meus filhos.
— Nossos filhos são tão sortudos. Você é o melhor pai, Theus! —
Eu me encho de orgulho com suas palavras. Quero ser o melhor. Eu tento
ser para Isis e quero ser também para o bebê. Será que serão gêmeos? Estou
tão ansioso com tudo isso.
— Chegamos, princesa. — Aviso estacionando e saltando do carro.
Abro a porta e, como um marido perfeito, a ajudo a sair com seu lindo
vestido. — Eu nunca me esquecerei do quão linda você está hoje.
— Matheus, eu estou ficando ainda mais alucinada por você. Pode
diminuir um grauzinho da sua fofura? — Pede me fazendo sorrir.
— Eu sou fofo, meu amor. — A puxo para um beijo e o que começa
lento torna-se explosivo. Minha esposa agora está gemendo em meus lábios
e eu a afasto, levando minha mão em seu pescoço como ela gosta.
— Preciso de você. — Anuncia ofegante.
— Não fale isso, Vic, ou não participaremos da festa. Precisamos
recepcionar os convidados e ficar com Isis. Estamos indo viajar sem ela.
Mas, confesso que seu desejo é o mesmo que o meu. Eu preciso de você
também.
— Eu sei. Mas, quando eu for trocar o vestido, você irá junto. —
Impõe me fazendo sorrir.
— Eu só vou porque quero saber o que está escondido embaixo
desse vestido e quero beijar meu bebê em sua barriga.
— Tudo bem. — Ela abre seu sorriso devasso e então me puxa até o
salão com a porra de uma ereção gigante.
Passamos meia hora cumprimentando a todos. Há alguns amigos
clientes, uma família enorme, alguns amigos dos meus pais e de Liz e Bê.
Quando terminamos os cumprimentos, vamos ver a decoração do salão
juntos. Está lindo. Há muitos lustres luxuosos, arranjos de flores aéreo
descendo do teto em uma ornamentação suspensa, velas espalhadas por
todos os lados, flores brancas e folhagens combinando com ambiente. Não
sou muito de ligar para essas coisas, mas está de tirar o fôlego. Minha
esposa merecia todo esse cuidado.
Após longos minutos, é chegada o momento da valsa. A primeira
dança da noite é com Isis e a música foi devidamente escolhida por mim.
Caminho até ela e seu sorriso enche meu coração de amor:
— Preparada, pequena princesa? — Pergunto a acomodando em
meus braços.
— Sim, papai.
— Quem cantar melhor ganha uma viagem para a Disney! —
Anúncio e ela abre a boca em surpresa.
— E se eu não souber a música?
— Você vai saber. Assistimos esse filme seis vezes nos últimos
meses. — Ela sorri e então os acordes da canção começam, a fazendo dar
uma gargalhada. — Nada de rir, é hora de cantar! — Advirto brincando. —
Se eu ganhar, vou querer uma viagem para a terra da Frozen. — Ela me
olha desesperada começando a cantar acompanhada por mim.
Livre estou, livre estou
Não posso mais segurar
Livre estou, livre estou
Eu saí pra não voltar
Não me importa o que vão falar
Tempestade vem
O frio não vai mesmo me incomodar.
De longe tudo muda
Parece ser bem menor
Os medos que me controlavam
Não vejo ao meu redor
É hora de experimentar
Os meus limites vou testar
A liberdade veio enfim
Pra mim
Canto e ela morre de dar gargalhadas.
— Papai, você sabe tudo!!!
— Papai sabe! Agora vamos cantar juntos, combinado? — Ela se
empolga.
Livre estou, livre estou
Com o céu e o vento andar
Livre estou, livre estou
Não vão me ver chorar
Aqui estou eu e vou ficar
Tempestade vem...
Palmas quebram nosso momento magico e eu descubro que existem
pessoas além de nós dois. Estou passando pouca vergonha no dia de hoje.
Primeiro desmaio, choro, agora eu canto a música da Frozen. Ok. Tudo
pelas minhas garotas!
— Acho que agora é a dança da mamãe! — Ela grita assim que
nossa canção termina e eu a coloco no chão.
Caminho até minha mulher chorona e a pego.
— Pare de ser chorona!
— Falou a pessoa que desmaiou e chorou o casamento todo. —
Rebate ferindo meu ego e as luzes do salão diminuem conforme eu pedi. —
Uau!
— Eu sou um fofo romântico.
— Você é a porra toda, caralho! — Ela está ficando tão desbocada
quanto minha mãe.
— Estragou o momento, Victória. — Provoco sorrindo e ela passa
fixa o olhar nos meus quando a música começa.
— Sério? — Pois é. Eu preciso fazer jus ao meu posto de melhor
marido.
— Sério!
— Como você pode fazer isso? — Pergunta me abraçando e então
começa a chorar.
— Eu te amo.
— Oh meu Deus... Essa música, Matheus Albuquerque.
É a música que eu cantei para ela em sua última crise. Apenas saiu
dos meus lábios quando eu não fazia a mínima ideia do que fazer. Eu estava
praticamente entrando em crise junto e essa música veio em minha mente.
Eu cantei para ela enquanto limpava algumas feridas que ela fez em seus
braços com as unhas. Ela se acalmou no mesmo instante. A partir daquele
dia, parece que nossa conexão aumentou ainda mais e essa se tornou nossa
música.
Heaven only knows where you been
Só Deus sabe onde você esteve
But I don't really need to know
Mas eu realmente não preciso saber
I know where you're gonna go
Eu sei onde você está indo
On my heart where You're resting your head
No meu coração, onde você está descansando sua cabeça
And you just look so beautiful
E você está tão bonita
Just like you were an angel
Como você fosse um anjo
Can I stop the flow of time
Posso parar o fluxo do tempo
Can I swim in your divine
Posso nadar em sua divindade?
Cos I don't I think I'd ever leave this place
Porque eu não acho que deveria deixar este lugar

Ooh oh Turn the lights, turn the lights Down low Yeah
Ooh, apague lentamente, lentamente as luzes lá embaixo, sim
Now I'm feeling you, breathing slow
É, agora sinto você respirando devagar
Cause baby we're just reckless kids
Porque baby, somos só crianças imprudentes
Trying to find an island in the flood
Tentando encontrar uma ilha no dilúvio
Just turn the lights, turn the lights Down low oh
Ooh, apague lentamente, lentamente as luzes lá embaixo
Under heavy skies in the rain
Embaixo dos céus pesados de chuva
You're dancing In your bare feet
Você está dançando com seus pés descalços
Just like we're in a movie
Como se estivéssemos em um filme
Grab my hand and we're chasing the train
Pegue minha mão e perseguiremos a chuva
I catch you looking back at me
Eu pego você olhando de novo pra mim
Running through a cloud of steam
Correndo por uma nuvem de vapor
And I would give you everything baby
E eu gostaria de dar-lhe tudo, baby
Can you feel this energy take it
Você pode sentir essa energia levá-la
You can have the best me baby
Você pode ter o melhor de mim, baby
And I would give you anything
E eu daria qualquer coisa
Can you feel this energy take it
Você pode sentir essa energia? Pegue-a
You can have the best of me baby
Você pode ter o melhor de mim, baby

Beijo minha esposa por grande parte da música. Assim que a


canção termina, não estamos prontos ainda para quebrarmos a conexão.
— Eu sinto que preciso me ver livre desse vestido agora. — Vic
sussurra quando nossos lábios se desconectam.
— Eu sinto que preciso ajudá-la nessa missão.
— Nós ainda voltaremos para a festa? — Pergunta mordendo seu
lábio.
— Com toda certeza. Eu vou desmaiar seu irmão na cachaça e vou
filmar. — Aviso a fazendo rir. — E a senhorita precisa comer. Nada de
bebidas alcoólicas. E vai comer em curtos intervalos de tempo.
— Eu sabia! Já começou o controle exagerado! Nem comece,
Matheus Albuquerque. Essa é a nossa primeira briga oficial como casados.
— Protesta.
— Você disse que eu era dominador, aqui estou eu. Dominando a
porra toda. — Pisco um olho e a pego em meus braços.
“E eu quero ser seu tudo e mais
E eu sei que todos os dias você diz
Mas eu só quero que você tenha certeza
Que eu sou sua
Se me sinto pesada
Você me tira da escuridão
Seus braços me mantêm segura
Então nada poderia desmoronar”
Ella Henderson — Yours
Após despistarmos os convidados, eu e Matheus saímos pelos
fundos do salão de festa.
Ele me pega em seus braços e nos conduz até o carro, onde
pacientemente me acomoda, tomando um cuidado especial com o vestido.
Ele dirige até um chalé onde passaremos essa noite, já que amanhã
cedo pegaremos nosso voo rumo à lua de mel. Dubai! Meu Deus!!! Eu
estou tão ansiosa!!!
Após me ajudar a descer do carro, sou pega em seus braços mais
uma vez. Tão protetor e seguidor de tradições...
— Bem típico de recém-casados! — Brinco enquanto ele luta para
abrir a porta.
— Porra, vou quebrar essa porta! — Avisa impaciente.
— Me coloque no chão e todos seus problemas serão solucionados,
senhor quebrador de portas!
— É mais fácil eu quebrar a porta do que quebrar o ritual de recém-
casados! — Avisa bravinho e então finalmente a porta se abre.
— Mas, nem é uma lua de mel ainda, é apenas uma troca de roupas.
— Provoco.
— É bom que você esteja ciente sobre isso agora, é apenas uma
troca de roupas neste primeiro momento. — O safadinho dá uma risada e
me coloca no chão. — Merda! — Tão logo protesta, nossas bocas colidem
num beijo arrebatador. Foram sete dias... sete longos dias sem isso. Sem
essa conexão, sem a eletricidade, a energia, o fogo... nadando em chamas!
Retiro seu casaco o deixando cair ao chão e suas mãos começam a
trabalhar na abertura do meu vestido. Quase morro quando ele para o beijo,
deixando-me ofegante e sedente, trazendo suas mãos em meu rosto.
— Vire-se. — Pede e eu tento beijá-lo mais uma vez. — Vire-se.
Soltando um suspiro frustrado, eu me viro.
A primeira coisa que ele faz é retirar meu véu com delicadeza.
— Você sabe a simbologia do véu? — Pergunta em meu ouvido
enviando arrepios por todo meu corpo.
— Não.
— Simboliza a pureza, a virgindade. — Explica. — Você se
considera pura?
— Não.
— Hummm, você não é pura, muito menos virgem. Eu já estive por
todo seu corpo. Será que somos pecadores, Victória? — Pergunta ainda em
meu ouvido descendo o fecho do vestido.
— Nós somos.
— Deus! Vic, eu já consigo vislumbrar o que há por baixo. Você é
mais pecadora que eu! Couro! Você se casou com uma lingerie de couro.
Você vai para o inferno e eu irei junto. — Diz levando seus dedos até a alça
do vestido e deslizando-a para baixo até ter o vestido caído aos meus pés
como uma poça. — Santa porra, Victória! — Há necessidade em sua voz,
que parece mais rouca que o normal.
— Gostou? — Pergunto olhando para a parede a minha frente.
— Oh fodida Sadgirl, eu não gostei. Eu amei. — Elogia descendo
suas mãos até minha cintura.
Ele me levanta ao ar e desvencilha meus pés do vestido. Feito isso,
estou de volta ao chão e ele está me rodeando numa análise minuciosa que
faz meu coração acelerar.
— Primeiramente. — Diz ficando de joelhos ao chão e se
aproximando de minha barriga. Agora, uma mão está rodeando minha
cintura e a outra descansa em meu quadril. Ele leva sua boca em meu ventre
e o beija delicadamente por alguns segundos. Eu engulo a seco a vontade de
chorar e me permito sentir um pouco de culpa, por saber que ele seria
exatamente assim anos atrás, quando eu dissesse que estava grávida.
— Eu amo você grávida de mim. — Confessa mais uma vez
visivelmente satisfeito e emocionado. — O papai ama você, bebê, com
todas as forças do mundo. — Novamente estou tentando não chorar. Minha
cabeça chega a estar latejando de tanto choro.
Coloco minhas mãos entre seus cabelos e contemplo uma imagem
que ficará em minha memória pelo resto da vida. Ele já ama essa criança
incondicionalmente. É visível.
— Victória, se eu colocar minhas mãos em você agora, nós não
sairemos daqui. — Avisa levantando-se de repente. — Eu quero tê-la tanto,
que nem de longe você é capaz de imaginar. Eu estou por um fio do meu
autocontrole. Quero fazer amor com você, demais. Vou te amarrar nessa
cama e destruir seu psicológico, muito. Estou quase tendo um orgasmo só
por vê-la assim. — Suspira levando sua mão em sua ereção gritante e então
me puxa grudando nossos corpos. Misericórdia! É tudo o que penso quando
sua boca está em meu ouvido. — Nós temos duas opções: voltar para a festa
e fazer o que é certo, curtir a recepção com nossa filha e nossa família ou
então nos rendermos a porra da foda mais louca das nossas vidas. Há
apenas algumas vantagens em voltar para nossa família: primeiro ficaremos
um tempo com nossa garota, curtiremos a festa e, quando a festa acabar,
Vic, imagine como nós dois estaremos? Imagina como chegaremos nesse
chalé? Eu vou estar tão louco, Vic...
— Sim... Eu imagino. — Ofego
— Qual sua escolha? — Pergunta enquanto cheiro seu pescoço.
— Voltarmos a festa.
— Você quer uma brincadeira pesada, não é? — Pergunta.
— Sim.
— Sendo assim, ótima escolha, Sadesposa. — Diz como um
homem de negócios. — Faltam apenas algumas horinhas para que eu possa
estar dentro de você, amor. E, quando isso acontecer, não sairei até que
esteja no horário do voo.
— Estou tão excitada... — Gemo em frustração.
— Eu também. Mas, não vou fazer nada a respeito disso. Vou
apenas me segurar, mesmo que eu fique duro a noite inteira. Você pode
fazer o mesmo por mim? Segurar à vontade? Sem travar uma fuga ao
banheiro para se aliviar sozinha?
— Posso. — Choramingo e meu marido se afasta decidido.
— Diga-me que há um estoque de lingeries em sua mala?!
— Há. — Sorrio.
— Porque em uma das minhas malas há algumas dezenas de
brinquedinhos. — Ele joga a informação me deixando boquiaberta. — Vá
se trocar, amor. Mais tarde tirarei você dessa lingerie com a minha boca.

Quarenta minutos de ausência e já consigo ver algumas pessoas


alcoolizadas.
Eu e Matheus nos sentamos com Isis para jantarmos. Maria Flor,
mega ciumenta, se junta a nós.
— Titia, por que você tirou o vestido de princesa e soltou os
cabelos?
— Porque o vestido de princesa incomoda para andar, sentar e
dançar. — Explico para ela que está sentada na perna de Matheus.
— Só o titio que está vestido de príncipe.
— E você e Isis estão de princesas. — Theus diz fazendo cocegas
na barriga dela.
— A senhorita princesinha já comeu? — Pergunto e ela balança a
cabeça negando. — Então abre um bocão bem grandão igual da Isis para o
avião entrar! — Digo e as duas abrem rindo.
Eu passo pelo menos vinte minutos dando comida a ela. Logo em
seguida, as duas correm para a mesa de doces e começam o ataque. Ser
criança é a melhor coisa do mundo.
— Satisfeita? — Theus pergunta e eu não me sinto satisfeita.
— Não, ainda estou com fome. Agora vou comer bolo e doces!
— Nem partimos o bolo para fotografarmos. — Diz fazendo
biquinho.
— Eu já retirei meu vestido.
— Não me lembre de você sem o vestido. — Ele geme socando a
mesa. — Ok, vamos ao bolo e aos doces.
— Alguém está desesperado. — Provoco.
— Eu achei que conseguiria me manter bem. — Confessa
segurando minha mão. — Vou comer doces e beber uísque!
— Hum... E se você exagerar na bebida e desmaiar? Lembrando
que hoje você desmaiou... — Provoco segurando o riso.
— Você vai desmaiar hoje também, pode apostar! Fodida Sadgirl
do meu caralho! — Promete em meu ouvido e dá um tapa forte em minha
bunda. Misericórdia! Falta muito para acabar tudo?

Cada camada do bolo tem um recheio diferente. Eu escolho o


recheado com Ferrero Rocher e Matheus me acompanha. É quase um
orgasmo.
— Eu quero uma marmita! Não importa se é feio, eu preciso de
uma marmita desse bolo!!! Eu mataria por isso.
— Ohhhh, minha pequeninha! Isso é desejo? — Ele pergunta com
seu jeito fofo.
— Não, é cedo para desejos. — Sorrio.
— É desejo! — Afirma me fazendo revirar os olhos. — Eu vou
pedir para embrulharem uma parte grande. — Diz pegando seu caminho até
a cozinha. Eu fico rindo e o riso morre quando olho para a pista de dança.
Puta merda!
Minha mãe e meu pai estão envolvidos numa dança sensual. Eu
estava certa sobre a loucura da minha mãe, mas a loucura do meu pai é uma
grande surpresa. A mão dele está quase sobre a bunda dela, e eles estão
quase dentro um do outro. Não sou obrigada a ver!
Outra surpresa é Ricardo e Giovanna. Também estão envolvidos
numa dança, porém, ela está de costas para ele e a mão dele está subindo
pela coxa dela através do "rasgo" do vestido. Estou tão atenta que vejo o
momento exato em que Sabrina chega por trás dele e eles formam um trio
quase erótico. Não sou capaz de opinar diante do choque que estou tendo.
— O que foi pequeninha?
— Olhe para a pista de dança. Devemos avisar que há crianças
aqui? — Pergunto rindo.
— Ricardo vai comer as duas, fato. Só se for idiota que não. —
Matheus diz e eu dou um tapa em seu braço. — Porra, Victória!
— Está muito engraçadinho!
— Ele é solteiro, caralho. Estou falando dele, não de mim. Eu só
vou comer uma. — Diz me abraçando por trás e grudando sua tromba em
minha bunda.
— Caramba, sabe, nunca imaginei Ricardo dessa maneira. Nem
mesmo quando ele tentou ter algo comigo. Nunca imaginei Ricardo e sexo
no mesmo pensamento. Sei lá, ele meio que se tornou meu amigo gay, mas
ele não é gay.
— Eu acho ótimo que você nunca tenha imaginado sexo com ele,
Victória Albuquerque.
— Hum, Albuquerque soa bom. — Sorrio me virando e o puxando
pela gravata. — Estou com uma vontade de te...
— Não diga nada relacionado a sexo, meu amor. Nesse momento
estou indo embebedar seu irmão e ele vai pagar por me chamar de viadinho.
— Isso eu não perco por nada. — Rio e ele me beija gemendo.
— Gostosa.
— Não diga nada disso agora. — Repreendo e nos afastamos. É
melhor ficarmos distantes nesse momento.
Eu observo Matheus indo até onde estão Arthur, Bernardo, Pietro e
Luiz conversando. Ele chega sorrateiramente e até mesmo abraça Bernardo.
Enquanto é isso eu vou me sentar com Jéssica, Mariana e Alice.
— Já deram a primeira? — Mari pergunta. — Você sabe, no chalé...
trocar de roupa... tradição familiar...
— Não! — Digo corada. — Foi apenas uma troca de roupa mesmo.
— Ah, vocês são fracos! É tradição! — Alice diz rindo.
— Tradição? — Questiono curiosa.
— É, eu e Arthur fizemos sexo antes da festa lá. Alice e Luiz
também... Beatriz só não fez porque se casou na ilha. — Que grande merda
que elas estão falando! Vou entrar lá agora e imaginá-las transando.
— Não vai beber? — Jéssica pergunta e eu seguro a vontade de
sorrir.
— Não. Ontem fui parar no hospital por conta de bebida. Hoje
quero evitar. — Ela franze a testa e me observa, fixando seu olhar em
minha barriga.
Me remexo em meu assento e tento puxar algum assunto banal para
fugir do assunto bebida.
De onde estou, vejo o momento exato em que Matheus se afasta de
todos e vai pegar Enzo no carrinho. Ele pega meu sobrinho dormindo e abre
um sorriso gigante olhando para o rostinho sereno. Seu olhar agora muda o
foco para mim e eu vejo seus olhos brilhado de emoção. Basta olhar para
ele e eu sei que essa gestação será completamente diferente da gestação de
Isis. Isso me dói um pouco, eu só queria o dom de poder voltar no passado e
corrigir tudo. Mas agora, apenas tenho que esquecer dos erros e me
direcionar às conquistas que tenho feito a cada dia.
Hoje é o segundo dia mais feliz da minha vida. E eu quero parar de
questionar meu merecimento e de me auto infringir dor relembrando do
passado. Matheus tem me ensinado aos poucos que sou merecedora dos
grandes acontecimentos que têm ocorrido em minha vida. Mas, sendo
humana, passível de erro e em fase de aprendizagem, eu ainda questiono se
o mereço. E agradeço a Deus grandiosamente por ter me dado uma nova
chance de tê-lo em minha vida.
Às vezes tudo que precisamos é de nos reinventar, tentar mudar
nossas ações, nossos pensamentos, pois, continuar portando as mesmas
atitudes, os mesmos pensamentos, nos afasta de um final diferente e feliz. É
tudo parte de um aprendizado doloroso e nem todas as pessoas estão
dispostas e abertas às mudanças. Há Aquelas que preferem desperdiçar
chances a aceitar que precisa de mudança. Graças a Deus, eu não sou uma
delas.
— Ok Victória, sei que meu filho é lindo, mas a baba está
escorrendo demais. — Mari diz atraindo meu olhar. — Esses Albuquerques
são foda.
— São! — Concordo. — Então... o que aconteceu na boate? —
Pergunto e ela sorri.
— Arthur ficou muito, muito, imensamente bravo. Inclusive minha
bunda ainda dói consideravelmente.
— Oh! — Exclamo um pouco abismada e Jéssica começa a rir. —
Isso é bom? Porque você está dizendo rindo.
— Não tão bom. Foi difícil dobrá-lo. Eu achei que não conseguiria
desta vez.
— Arthur sempre se dobra para você, Mariana. — Alice argumenta
virando um copo de Martini.
— Sim, porém, dessa vez foi sinistro de verdade. — Minha sogra
explica pensativa.
— Tipo a vez do bronzeamento? — Questiona Alice e eu estou
extremamente interessada na conversa.
— Não. Na do bronzeamento eu achei que era nosso fim. Eu não
tive culpa, não autorizei a mulher a colocar fotos e vídeos na internet. —
Ela diz rindo. — Se Arthur pudesse, certamente colocaria minha bunda num
seguro bilionário.
— É, ele tem fixação com sua bunda. — Alice diz com
naturalidade.
— Tem.
— Gente... estou perplexa. — Digo rindo.
— Não fique, Matheus parece pior que ele, querida. E Arthurzinho
é praticamente o pai com acréscimo do irmão. Acho que de toda a família,
Arthurzinho será o mais foda. Posso até errar, mas, meu sexto sentido
maternal me diz isso.
— Como? Puto igual Matheus era? — Merda! Vou relevar ter
ouvido isso pela quantidade de cachaça que Alice está ingerindo.
— Não! Algo me diz que Arthurzinho vai ser homem de uma
mulher só. — Mari responde.
— E como Arthur é? — Pergunto.
— Ciumento, possessivo, controlador, louco, intenso, abrasador,
quente como o inferno, louco, louco, quente novamente, dominador,
controlador... levemente violento.
— Tudo em dobro... — Dou uma gargalhada e paro... —
Violento??? — Pergunto chocada.
— Oh sim... do tipo que quase arranca meus cabelos fora e dá tapas
inquestionáveis... Quando o conheci, ele era muito sério e fechado. Ele
ainda é, para quem não tem convivência. Muito sério, inteligente,
compenetrado. Em casa ele é louco e em quatro paredes é uma
monstruosidade sexual.
— Lembrando que ele ficou louco depois que conheceu Mariana,
assim como eu. — Alice argumenta. — Agora me diga Victória, como meu
sobrinho é.
— Dominador. — Comento vagamente pegando um copo de suco.
— E?
— Dominador. Extremamente dominador. — Reafirmo.
— Na cama? — Mari pergunta e eu olho para Jéssica que, por sorte,
está envolvida numa conversa em seu celular. Merda! Matheus diz que
nunca teve nada igual o que tem comigo, mas sei lá. Ele já dormiu com
Jéssica. Que ódio!
— Dominador. — Resumo.
— Oh! Dominador... dominador do tipo chicotes? — Alice pergunta
rindo e zombando.
— Dominador do tipo algemas, chicotes, tapas... dominador.
— Oh!!! —Mariana quase grita na mesma e Alice me encara
boquiaberta.
— Caralho! Nunca imaginei! — Mariana é a melhor, não sei
quantas vezes direi isso.
— Nem eu. — Sorrio. — Quer dizer, quando éramos adolescentes
ele já demonstrava um pouco ser dominador, mas, naquela época eu sempre
conseguia tomar o controle da situação. Agora não mais. Eu nunca estou
controle. Só quando ele está muito exausto ou quando o surpreendo no
trabalho... Merda, eu estou falando da minha vida sexual para minha sogra!
Nunca falei da minha vida sexual.
— Mas, nada do que você era acostumada, não é mesmo? — Ela
pergunta em código.
— Nada. Totalmente diferente. É apenas uma brincadeira. Com ou
sem algemas, Matheus é dominador até na cozinha. — Sorrio. — É algo
natural dele.
— Eu e Arthur também brincamos, Alice e seu digníssimo marido
também. É ótimo brincadeiras para sair da rotina, isso mantém o casamento
interessante. E você, Jé? — Mari pergunta e Jéssica guarda o celular.
— Eu?
— Sua vida sexual com Pietro.
— Quente.
— Isso é óbvio. — Alice diz revirando os olhos. — Nos dê mais.
Vic acaba de nos dizer que Matheus é um Grey dominador.
— Oh. — Ela diz sem graça. — Bom, eu e Pietro, como dizer isso
na frente da irmã dele?
— Dizendo. — Sorrio a incentivando.
— Nós meio que somos exibicionistas.
— Que??? — Pergunto em choque. — Como?
— Gostamos da possibilidade de sermos pegos transando.
Obviamente, quero deixar bastante claro, que gostamos de ser vistos por
pessoas que não são da família. Nós costumamos frequentar casa de swing
apenas pelo fetiche de ter pessoas olhando.
— Ow! Que tiro viado!!! — Mari exclama. — Sério isso? Eu vi
essa menina crescer, Jesus!
— É interessante. O fato de as mulheres no clube quererem estar
em meu lugar me excita, assim como o contrário excita Pietro. As mulheres
matariam para dar para ele... É incrível.
— Gente! Eu beberia uma garrafa de vodca agora, após essa
confissão. — Digo rindo.
— Mas, não há troca de casais? — Alice pergunta.
— Nunca! Eu jamais correria esse risco. Pietro é um espetáculo de
homem, não sou nem louca de liberá-lo para qualquer brincadeira. —
Jéssica é firme em sua colocação. — Ele também é bastante possessivo,
olhando para ele ninguém faz ideia do quão possessivo pode ser. Nós dois
nos bastamos.
— Gente, apenas parem! É meu irmão gêmeo.
— Do que estão falando? — Beatriz diz sentando-se conosco.
— Da vida sexual. — Digo e ela começa a rir. — Como é a sua vida
sexual? Vamos lá, aproveite que eu já fiquei sabendo do meu irmão gêmeo.
— Quente.
— E? Que caralho! Todas sabemos que deve ser quente. Nos dê
mais informações. — Alice diz batendo na mesa já levemente alcoolizada.
— Queremos características sexuais de Bernardo. O perfil sexual.
— Informo e observo Mariana caladinha e atenta.
— Digamos que somos equilibrados. Nós dois nos dominamos. Eu
o enlouqueço sempre que possível, o levo a perder o controle quase sempre,
ele também as vezes me deixa no limite da insanidade. Nada demais. Tenho
vinte e seis anos e três filhos... Se eu não tivesse feito implante
contraceptivo teria mais uns seis.
— Mariana purinha. — Alice Ri.
— Não, minha mãe é mais louca. — Beatriz se defende.
— Vamos ao quis Mari, um tapinha doí ou não? — Alice questiona.
— Não. Nada melhor que um tapinha no sexo. — Minha sogra diz
rindo.
— Merda, mãe!
— Só lido com a sinceridade, perguntou vai ouvir. — Mari
argumenta bebendo seu vinho.
— Responda, Victória, um tapinha doí ou não? — Eu quase
engasgo com o ar. Se elas soubessem o que um tapinha faz comigo...
— Não dói. — Respondo vagamente.
— A Victória tem cara de que dá na cara do meu irmão, ela é a
dominatrix da relação. Matheus é muito carinhosinho, mimimi, fofinho.
— Eu sou a submissa da relação. Você passou longe do que
Matheus é em quatro paredes.
— Eu pagaria um ingresso para ver Matheus e Victória transando.
— Ela diz rindo. — Sério que você é a submissa?
— Sério. — Rio. Ela sabe da história, então no mínimo deve achar
que eu sou a sádica dominadora.
— Xingamentos? — Alice questiona.
— Existe alguém na face da terra que não goste de umas palavras
de baixo calão na hora do sexo? — Mari pergunta e eu volto a pensar em
Matheus... Puta merda.
"Minha vagunda..."
Eu preciso transar!!!!!!!!!!!!
— Merda, Matheus já deu cinco copos uísque para Bernardo. —
Beatriz diz se levantando e vai até eles.
— Sabe o que é engraçado nessa vida? Os homens estão ali,
reunidos. Eu aposto um rim que eles estão falando de futebol ou negócios.
Nada além disso. Já nós, estamos aqui, falando da vida sexual, falando de
putaria. — Mari diz rindo.
— Homens reunidos igual a negócios, mulheres reunidas igual
putaria. Lei da vida. O bom é que todas somos casadas e estamos falando
dos nossos próprios maridos porque somos bobas apaixonadas. — As
palavras de Jéssica fazem todo sentido. É verdade. Estamos reunidas
falando dos amores das nossas vidas.
— Como é transar grávida? — Pergunto na cara de pau.
— Você... você já esteve grávida.
— Mas, eu não transei grávida. — Justifico. — A gravidez de Isis
foi diferente. Eu era jovem, assustada, sozinha. Fiquei 1 ano sem sexo.
— É incrível transar grávida. — Mari responde. — Nas três
gestações eu fiquei maníaca sexual. Você sabe, os hormônios estão em
plena ebulição. Não muda muita coisa Vic, só no último trimestre que
começa a ficar realmente ruim de posição.
— Eu e Pietro continuamos transando normalmente, nada mudou
ainda.
— Sabe o que é incrível, Vic? Meio que as coisas seguem seu curso
naturalmente. Até mesmo as posições vão se ajustando naturalmente, sem
precisar forçar nada. É muito importante ter uma vida sexual ativa durante a
gestação. É saudável para mente, para o relaxamento, para o casamento,
porque querendo ou não o marido se sente ameaçado pela chegada do bebê.
Ocorre aquele questionamento "será que vamos continuar como éramos ou
será que agora vamos focar apenas no filho" Eu mesma questionei... —
Mariana explica. — Então é importante demonstrar que as coisas podem
continuar sendo quentes. É tudo questão de ajustar.
— Obrigada por isso. — A agradeço pela explicação.
— Você está grávida??? — Ela grita.
— Não! — Minto. — Só curiosidade porque vi Jéssica já
ostentando uma barriga...
— Está legal, como Mari diz, as coisas vão se ajustando
naturalmente. — Jéssica explica.
— Só uma última pergunta. Vocês vão em casa de swing estando
grávidos? — Pergunto.
— Não. Bom, como você sabe, eu custei ame acostumar com a
gestação, e, agora que me acostumei, respeito o momento. Eu quero apenas
curtir essa fase com Pietro, na nossa casa, no nosso canto. Não precisamos
de nada disso agora. Apenas nos curtir e curtir a gravidez. São outras
prioridades.
— Ok. Só curiosidade mesmo. — Sorrio.
— E a lua de mel? Animada? — Mari pergunta.
— Sim. Dubai! Estou realmente empolgada, sempre quis conhecer.
Só não estou preparada para ficar vinte horas em um avião. — Sorrio e
então Isis chega sentando-se em meu colo. — Oi princesa.
— Mamãe, estou com sono.
— Ahhh não!!! Vamos dançar um pouco? — A convido e ela
aceita.
“Eu sinto a escuridão, quando eu fujo de você
Não pare de me amar, não me abandone
Não pare por nada, você é o que eu sangro
Aprendi a te amar da maneira que você precisa
Pois eu sei o que é dor, isso não é a mesma coisa
Eu não seria nada, nada, nada, nada sem você”
The Weekend – Nothing without you

De longe, observo minhas garotas dançando funk na pista. Isis e


Maria Flor estão de mãos dadas, enquanto Vic, Beatriz e minha mãe estão
dançando até o chão.
Estou bastante chocado com a maneira que Sadgirl está dançando.
Sua bunda parece ter vida própria e ela está fazendo uns movimentos que
tornam impossível não pensar em sexo. Eu já a imagino montada sobre mim
inverso, rebolando enquanto admiro sua bunda incrível e outras coisas mais.
Minha esposa desce até o chão e então sobe balançando os quadris,
repete isso numa frequência mais rápida e empina sua bunda fazendo um
movimento diferenciado. Isso preenche minha mente com ideias
pecaminosas para mais tarde.
Incapaz de ficar apenas observando, me aproximo e seguro em sua
cintura. Ela dá uma rebolada faceira e eu tento manter seu corpo parado.
— Faz o meu pau de trampolim? Assim, assim... — Canto em seu
ouvido a versão proibida da música que está tocando.
— Sério isso? — Pergunta rindo. — A letra é essa?
— Sim, na versão proibida. — Explico rindo. — Escutei na rádio
outro dia.
— A versão proibida? — Pergunta chocada.
— Exatamente.
— Vou fazer quadradinho! Sua mãe me ensinou! — Diz.
— Que diabos é quadradinho?
— Olhe. — Ela se afasta e faz o movimento com a bunda que ela
estava fazendo antes. Eu rio, ao mesmo tempo que quero pegá-la pelos
cabelos e tirá-la daqui. Ela repete o movimento algumas vezes antes de se
virar para mim eufórica e se jogar em meus braços. — Eu conseguiii!!!
— Quero ver fazer isso entre quatro paredes. Na verdade, estou
ansiando por isso. — Sussurro em seu ouvido.
— Farei! — Promete. — Estou eufórica para nossa lua de mel. Há
tantas coisas que quero fazer...
— Hum, gostei disso!
— Você disse que está levando brinquedos. — Sorri. — Então,
estou levando outras coisinhas.
— Se nossa mala tiver que ser revistada fodeu! — Rio.
— Somos um casal de tarados em lua de mel, Theus.
— Somos, realmente. — Concordo.
— Agora preciso me afastar de você, ou corre sérios riscos de eu
prendê-lo em algum canto e fazer uma coisa ou outra. — A tentação me dá
um beijo casto e se afasta, com um sorriso diabólico em seu rosto perfeito.
Solto um suspiro de tesão reprimido e decido que é o momento de
acabar com a festa de Bernardo.
Caminho a passos lentos, porém, decididos até ele e sorrio ao me
aproximar.
— Bebe mais uma comigo, camarada? — O convido entregando a
décima dose de uísque. Eu tomei quatro, as outras seis eram guaraná, mas,
ele não precisa saber disso.
— Porra! — Meu cunhado protesta fazendo uma careta e eu jogo
meu charme que funciona até com homens. Ou seria drama? Ainda não
decidi sobre isso.
— É meu casamento, parceiro! Casamento da sua irmã mais nova.
E a comemoração??? Pensei que você era meu brother.
— Cara, eu sou seu brother. — Diz embolando a língua e eu seguro
a vontade de rir.
— Porra, aí sim! Te considero pra caralho, brother! Mesmo eu
comendo sua irmã, te considero um irmão. — Provoco.
— Vai tomar no seu cu, eu comi a sua irmã primeiro.
— Eu comi a sua quase na mesma época que você comeu a minha.
— É verdade, cara. — Concorda levantando seu copo e brindando
ao meu. — Um brinde à Victória e a Beatriz, aquela cadela desalmada da
sua irmã. Eu a amo cara, puta que pariu, eu amo sua irmã, mas, confesso,
tenho vontade de matá-la, tipo agora. — Eu olho para onde seu olhar está
direcionado e vejo Beatriz sensualizando em cima de uma cadeira, quase
tirando sua roupa. Bebidas deveriam ser proibidas nas festas da minha
família.
— Se fosse minha mulher eu não deixava não! — Digo com
firmeza e ele suspira em frustração.
— Sua irmã é o diabo, cara. Eu não consigo nem ficar puto muito
tempo. Eu não consigo... Ela roubou meu coração. — Ah! Não posso perder
a oportunidade! Bernardo está tri-louco! Pego meu celular o entregando
para tio Luiz gravar. É o momento de gravar a cena. — Olha lá, a diaba em
cima da cadeira se dando ao desfrute, mulher infernal. Maria Madalena
arrependida! Gostosa pra caralho essa filha da puta, eu a amo, pra caralho.
A Vic pelo menos é de boas...
— Só você que pensa isso.
— Vic é de boas, Matheus. Minha irmãzinha... Você é um basbaca
se falar que ela não é de boas!!! — Ele não sabe da missa a metade e estou
tendo que segurar o riso. Bernardo não está falando coisa com coisa mais.
— Que isso, brother! Você está falando isso com o irmão da mulher
da sua vida? — Pergunto e ele me encara sério antes de se aproximar de
mim, sem se dar conta da gravação, e me abraçar.
— Cara, eu te amo pra caralho! Obrigado por cuidar da minha irmã,
ela está feliz. — E o feitiço virou contra o feiticeiro. Porra! Não é o
momento para eu ficar fofo. Aí é foda! O cara está me agradecendo por
cuidar da irmã dele... merda... eu deveria não ser fofo!
Ele te chamou de viadinho e riu de você! Meu diabinho interior
alerta.
— Você está ficando meio “viadinho”. — Provoco.
— Meu pau no seu cuzinho. — Responde rindo e então, quando vai
se afastar cai de bunda no chão. — Merda! — Esbraveja e eu o ajudo a
ficar de pé. — Cara, você desmaiou no casamento. Isso é coisa de broxa.
— É, minha broxa deve ter uns vinte e quatro centímetros.
— Vai tomar no cu, Kid Bengala.
— Pergunta sua irmã. — Rio me sentindo um adolescente.
— Vai se foder.
— Daqui a pouco. Vou me foder com sua irmã. Lua de mel. — Ele
tenta me dar um soco, mas, falha miseravelmente.
— Eu vou foder a sua, imbecil!
— Isso se você conseguir ter ereção após estar completamente
embriagado. Aproveita e faz mais uns três filhos aí.
— Tá maluco? Você tem ideia do que é ter três filhos??? É viver
num círculo de fogo. É ter horário para fo... namorar. É estar quase lá... e
alguém bater na porta e te fazer broxar. São três crianças!!! Maria Flor é
uma miniatura da Mariana, eu estou tão fodido que às vezes tenho vontade
de chorar.
— Quero ter cinco filhos com sua irmã, contando com Isis.
— Você não sabe o que está falando. — Diz rindo.
— Eu estou convicto do que estou falando.
— Você é um frouxo, filho da puta! — Encho seu copo de uísque e
o louco vira todo o líquido. Em seguida, caminha rumo a pista de dança e
leva o segundo tombo. Beatriz é quem vai socorrê-lo enquanto estou quase
mijando de rir
— Bernardo, não me faça passar vergonha, inferno! — Beatriz
esbraveja tomada pela ira.
— Vai lá, mulher da vida. Você estava sensualizando, rebolando a
bunda e quase tirando a roupa. Isso é traição!!! — Meu cunhado argumenta
bravo.
— Eu estou dançando sozinha, já que meu marido prefere beber
como um gambá.
— Ah! Eu não deixava minha esposa me tratar assim. — Digo
rindo. — Vai deixar minha irmã sair por cima? Vai permitir que ela fale
assim com você? — Provoco pensando na minha idade mental.
— É, isso mesmo. — Bernardo concorda com as minhas palavras.
—Não sou frouxo, sou macho, porra! — Diz batendo no peito. — Vaza,
Beatriz!!!
— Quer que eu bata na sua cara na frente de todos, amorzinho? —
Minha irmã pergunta angelicalmente e eu começo a rir.
— Só no quarto, gostosa.
— Oh, o respeito caralho! É minha irmã. Rompida e parideira, mas,
ainda assim, é minha irmã. — Digo ganhando um tapa.
— Depois não reclama, Bernardo Brandão!!! — Ela avisa.
— Beatriz Brandão, eu sou seu marido, você me deve respeito e
obediência.
— Só no quarto, gostoso! — Ela imita as palavras dele e sai o
puxando pela gravata. Pego meu celular com tio Luis e fico encostado em
um canto. A ficha sobre o dia de hoje ainda não caiu. Eu ainda não consigo
acreditar que me casei com Victória, tão pouco que ela está grávida. É
impossível conter todos os pensamentos em minha mente e eles possuem
até trilha sonora. É um filme que começou aos dezessete anos de idade e
não foi muito bonito. Estamos tendo uma nova chance de fazer diferente e
sinto que estamos no caminho certo. Eu quero que sejamos para sempre.

Vic surge com Isis e Maria Flor a tira colo e dá um sorriso.


— Elas querem dormir.
— Jéssica disse que levaria elas com Pietro. — Informo para minha
esposa, que se ajoelha ao chão para alcançar os olhinhos lindos de Isis.
— Amanhã, mamãe vai acordá-la antes de viajar, ok? — Informa
com lágrimas nos olhos e acabo me ajoelhando também. Odeio ver Vic
chorando!
— Mamãe, não chora. Eu vou para ilha com vovó e vovô. — Isis é
mesmo um anjo. Tão madura para sua pouca idade.
— Por favor, leve seu tablet, o carregador, tudo direitinho. Eu e
mamãe vamos querer falar com você todos os dias. — Digo e ela sorri.
— Está bem, papai. — Minha princesa sorri.
— Titio, você fala comigo também? — Maria Florzinha pede me
fazendo rir.
— Mas é claro!!! Quem é a princesa da vida do titio? Minha Maria
Florzinha!
— Tia Vic, sou da sua vida também?
— Você tem dúvidas??? Não acredito!!! — Vic faz uma cena. —
Você é a minha florzinha. — Vic a agarra em um abraço esmagador.
Minutos depois, Pietro pega florzinha no colo e nos despedimos de
Isis. Confesso que dá uma dorzinha no peito deixá-la, mas, é uma lua de
mel que eu e Vic precisamos.
— Comporte-se, princesa. Obedeça a seus avós ok?
— Sim, mamãe. Eu vou obedecer.
— Amanhã iremos te dar um beijo antes de ir, princesinha. — Digo
a abraçando. — Papai te ama, demais.
Quando ela enfim se vai, ficamos de pé e eu vejo Bernardo rodando
sua gravata no alto.

— Você o embebedou!
— Claro! Ele riu do meu desmaio emocional. Não se faz mais
homens como eu nesse mundo. — Justifico levando minha mão ao peito e
Victória ri.
— E então... Vamos? — Convida com uma carinha safada e eu a
puxo para mim.
— Hummm, essa sua carinha de sapeca e mal-intencionada...
— Vamos dançar. — Ela revisa os olhos. — Era esse o meu convite.
Tem certeza que sou eu quem estou mal-intencionada?
— Tenho. — Afirmo.
— Você errou, Sadboy! Estou muito mais que mal-intencionada.
Mas, por enquanto, vou ali dançar. — Avisa piscando um olho e se
desvencilha dos meus braços. Fodida Sadgirl!
Eu bebo mais um copo de uísque e volto a avaliar os convidados.
Já tem algumas situações que vão acontecer hoje, posso ver. Uma
delas será Ricardo com Giovanna e minha prima. As duas estão em seus
braços e ele parece bastante animado, assim como elas.
De outro lado, minha mãe e meu pai estão se beijando
apaixonadamente, enquanto meus avós estão sentados observando a cena.
Há outros convidados dançando, mas, tudo dentro da normalidade. Os
únicos anormais são meus familiares. Todas as festão são esse fiasco de
loucuras. Mas, pelo menos é engraçado.
Bernardo agora está deitado em cima de uma mesa e tio Luiz está
fotografando tudo em seu celular...
Outra situação bastante empolgante, está acontecendo entre Liz e
meu querido sogro. Eles parecem um casalzinho de quinze anos de idade. É
até bonito. Ao menos eles estão juntos, diferente da minha mãe, que estava
nos braços do meu pai e agora está jogando suas sandálias longe e subindo
em cima de um banco acompanhada de Beatriz e...
— Victória!!! — Grito colocando meu copo em qualquer lugar.
Está tocando uma música eletrônica e a maluca está sobre um banco
dançando, GRÁVIDA de um sadbebê!
— Desça! — Ordeno.
— Não!
— Desça!
— Nãooooo!!!
— Desça agora!!!
— Não!!!! — Ela ri dançando e então eu a pego a força.
— Ai! Você é muito mandão.
— Você está grávida. Um único passo em falso e você pode cair. —
Ela sorri me agarrando.
— Papai gostoso.
— Mamãe safada e desajuizada.
— Posso dançar para você? — Pede e eu a encaro desconfiado.
— Como seria isso?
— Vem!!! —Diz animada me puxando. Ela me posiciona num
canto escondido do salão e então pega uma cadeira me fazendo sentar. Ela
vai até o Dj, cochicha algo em seu ouvido e então a luz do salão diminui
consideravelmente. Ouço gritos de satisfação e percebo que todo mundo
está para o crime.
Dizer que meu pau está duro em antecipação seria... Porra!
— Você deveria fazer isso no quarto. — Suspiro pesado quando ela
abre minhas pernas e se posiciona entre elas. Uma música feita
exclusivamente para um strip-tease começa a tocar e ela me lança um
sorriso que me faz afrouxar o nó da gravata.
Maquiavélica sob medida, ela se vira de costas para mim, dando a
magnifica visão da sua traseira e começa a se mover no compasso da
música.
Ela rebola e desce até esbarrar em minha ereção. Então senta e
rebola lentamente em meu colo, se esfregando desavergonhadamente. Faz
isso mais uma vez e se afasta fazendo aquele tal de quadradinho, o que não
tem nada a ver com a música, mas, é quente da mesma maneira.
Minhas mãos estão depositadas em minhas pernas. Não a toco. Ela
quer judiar de mim, eu judiarei dela. É um jogo. Sou quase um soldado
ferido em missão quando ela se vira de frente e coloca seu pé sobre meu
pau. Seu vestido tem um rasgo indecente que nem eu mesmo sabia, ele vai
quase até o quadril e com esse movimento sua perna está nua, exceto pela
cinta linga preta que é uma mistura de renda com couro.
Ela traz suas mãos em meus cabelos e puxa meu rosto para seus
seios. Eu passo minha língua pelo vão entre eles e ela se afasta para
continuar sua tortura. Parece que a festa está prestes a acabar para nós
dois...
A vejo levantar parte do seu vestido, quase expondo demais e desce
até o chão lentamente. Sorrindo, começa a se levantar, traz seu rosto
próximo ao meu e me puxa pela gravata. Ela fecha minhas pernas e então
abre as suas e se senta em meu colo, bem próximo de onde eu a quero e
preciso. Porém, preciso dela nua...
— Victória, há pessoas aqui. — Digo em seu ouvido enquanto subo
minhas mãos pelas suas coxas.
— Eu estou dançando para o meu marido.
— Repita. — Peço e ela sorri.
— Eu estou dançando para o meu marido. — Repete dando uma
rebolada lenta.
— Seu marido, sad esposa, gostei disso. — Ela tenta ficar de pé e
eu a prendo. — Não.

— Mas... — Eu a beijo. No início um beijo calmo, mas aos poucos


ele vai atingindo outros níveis de excitação.

Sadgirl perde um pouco a noção desfazendo por completo o nó da


minha gravata e abrindo alguns botões da minha camisa. E eu, perco a
noção apertando sua bunda e forçando seu corpo contra o meu.
Ela joga sua cabeça para trás e minha boca voa em seu pescoço. Ela
geme alto e eu acordo para a vida. Merda!
Me levanto a carregando comigo. Deu de festa por hoje!
— Matheus!
— Agora não, Vic. Ninguém vai me impedir. — Aviso a carregando
até o primeiro banheiro que encontro. Acontece que ele já está ocupado e eu
até sou capaz de ouvir os gemidos.
— Você ouviu isso? — Vic pergunta rindo.
— Sim. — Respondo a observando grudar seu ouvido na porta. Ela
fica escutando alguns segundos e me encara em choque.
— O que foi? Se for meus pais não quero saber!
— Ricardo... e... uau!
— Duas? — Questiono e ela balança a cabeça afirmando. Agora
sou eu quem colo o ouvido na porta. Aliás, nós dois. Merda, eu não gostaria
que ninguém ouvisse minha mulher gemendo, mas, como não é minha
mulher foda-se.
—O que está rolando aqui? —A voz da minha mãe me faz saltar.
— Parece que há alguém... você sabe... sogrinha. — Vic responde.
— Transando? — Ela pergunta espantada.
— "Alguéns". Parece que é um trio. Um ménage... — Digo e ela me
puxa para fora da porta e gruda seu ouvido.
— Oh!!! Essa voz é da... Sabrina?
— A voz do homem é do Ricardo e eu ouvi a voz da Giovanna. —
Vic termina de entregar o trio.
— Eita porra!!! Que tiro!!!
— O que está acontecendo aqui? — Tia Alice surge também.
— Sua filha. — Minha mãe fala na lata e eu mordo Vic para não rir.
— O que tem minha filha?
— Está participando de um ménage. — Dona Mariana diz rindo.
— Que merda! Onde eu errei? Ménage no banheiro é foda.
— Você foi pega transando com Luiz no casamento de Beatriz! —
Minha mãe diz rindo.
— Sabrina está num ménage com o psicólogo gostosão? — Beatriz
pergunta surgindo diretamente do inferno.

— Parece que sim. — Victória responde.


— Então você acha Ricardo gostosão? — Questiono minha esposa.
— Não disse isso. Disse que parece que Sabrina está num ménage
com o psicólogo... Merda. Não foi nesse sentido, Matheus!
— Deus está vendo, Victória Albuquerque! Ricardo gostosão está
fodendo minha prima gostosona. — Aviso ficando puto e então escutamos
um gemido gutural.
— PUTA MERDA! — Minha mãe quase grita rindo.
— É Giovanna merda... Que horror... Minha amiga gemedeira.
— Você não geme não, né? — Pergunto a Sadesposa.
— Pare de falar da nossa vida sexual.
— Theus, Vic disse que você é dominador estilo Grey. — Beatriz
diz rindo.
— Pare de falar da nossa vida sexual! — Repreendo minha esposa
que está gargalhando. Ainda bem que ela não bebeu, senão eu estaria
fodido!
— Mas é verdade? Você usa o chicote do poder? Plugs anais?
Grampos de mamilos? Consolos gigantes? Você leva dedada no cu,
Matheus?
— O único consolo da Victória é meu pau. E dedada no cu deve
levar o frouxo do seu marido, rompida do caralho!
— Sério que você está discutindo a vida sexual do seu irmão? —
Minha mãe pergunta para Beatriz. — Mas você usa plug anal, Vic? Acho
pequeno e frio.
— Oh Deus! — Vic exclama escorregando pela parede enquanto ri.
— Porra, levante-se Sadgirl. — Puxo minha mulher e ela não
consegue se levantar de tanto rir. Merda. Parece bêbada.
— Gente, o psicólogo gostosão é quente!!! Puta merda!!! Olha o
ritmo das estocadas!!! — Beatriz cochicha e Vic sai engatinhando para
ouvir.
— Quer dizer que o psicólogo é gostoso, BEATRIZ BRANDÃO!!!
— Agora é Bernardo quem surge.
— Não foi isso, Bê...
— Foi sim! Eu escutei!
— Não foi, Bezinho. Desculpa!
— Não tem perdão. Vou começar a chamar as mulheres de gostosa
na rua. Fica aí com o psicólogo gostosão. Mulher da vida!
— Bê, nós estamos tri bêbados. — Ela se defende.
— Mas o álcool não me faz chamar outras mulheres de gostosa.
— Mas não foi nesse sentido... É que esse acabou sendo o apelido
dele... Porque ele não é um velho barrigudo. Você sabe que eu te amo,
Bezinho.
— Bezinho meu pau no seu cuzinho! Vou beber até morrer e você
vai ficar viúva! — Dramatiza indo embora cabisbaixo e Beatriz vai atrás.
— Esse povo tem problemas sérios! — Minha mãe diz
—Fica aí ouvindo Ricardão gemer ao invés de vir gemer comigo!
— Deixo Victória infiel e vou beber com meu cunhado.

Pego um copo de uísque e me acomodo na mesa onde Beatriz e ele


estão numa discussão acalorada. Eu fico escutando tudo e rindo. Até
Victória chegar e se sentar no meu colo.
— Vai lá, vai ouvir seu psicólogo/ex pretendente gemer.
— Para de graça.
— Não paro!
— Para.
— Não paro! — Digo e ela pega meu pau por cima da calça. Filha
da puta! — Tire a mão daí, nossos irmãos estão sentados diante de nós. —
Aviso e ela tenta abrir o fecho da calça. — Pare, Victória BRANDÃO.
— Albuquerque!
— Brandão. Albuquerque é só quando você não quer ouvir seu
psicólogo fodendo.
— Pare com gracinhas, Matheus, eu estava ouvindo geral e não
apenas Ricardo. Ele nem geme muito...
— Então você realmente estava atenta, infiel, assuma as
consequências dessa traição. — Retiro sua mão da minha perna e ela agarra
meu pescoço. — Solte, Victória.
— Não, Theus... É nosso casamento.
— Solte.
— O único homem que gosto de ouvir todos os sons é você,
pimpolho. — Diz baixinho dando uma mordida em minha orelha e eu estou
fácil demais hoje para ignorar as investidas da minha esposa. Já deu de festa
por hoje.
— Vamos embora para o chalé. — Aviso deixando a mesa e fugindo
mais uma vez pela saída dos fundos.
— Mas, e os demais convidados?
— Você não estava preocupada com eles quando estava rebolando e
me deixando duro.
— Eu perco a noção quando sexo com você está em jogo. — Diz
provocando e isso basta para que eu a jogue sobre o capô do carro.
A puxo pelos cabelos com uma mão e grudo seu corpo ao meu com
a outra.
— Nós faremos isso aqui no estacionamento mesmo? — Questiona
com um sorrisinho.
— Porra... Eu iria. Inferno! Entra no carro, amorzinho. — Ordeno a
soltando e ela escorrega até o chão.
Abro a porta e ela se acomoda bonitinha em seu lugar, então me
acomodo no banco do motorista e os motores logo ganham vida.
— Esse carro é perfeito! — Minha esposa exclama batendo palmas,
animada o bastante.
— Com emoção ou sem emoção? — Pergunto e ela solta um grito
"com emoção".
Manobro o carro e acelero jogando terra e grama para o alto. Vic
vai gritando empolgada até eu estacionar no chalé, parece uma adolescente
feliz por estar cometendo infrações.
A garota aventureira, nem mesmo espera que eu abra a porta para
ela descer. Ela simplesmente salta do carro, retira os sapatos e os joga
longe. Em questões de segundos a tenho em meus braços, ambos
desesperados para matar quem está nos matando. Eu nem abro a porta com
chave, apenas a chuto até estarmos dentro.
Coloco minha esposa contra a parede, beijando sua boca como um
maldito esfomeado, enquanto ela puxa minha camisa para fora da calça. Eu
me afasto a deixando ofegante. Observo a imagem perfeita de uma mulher
louca de tesão.
Sorrio e não penso duas vezes antes de avançar até ela e rasgar seu
vestido ao meio.
— Isso vai ser louco. — A danada sussurra ofegante, jogando o que
sobrou do seu vestido longe. — Quero você em pé, paradinho. — Pede e
aproveito para apagar a luz e acender a luminária, deixando um ambiente
mais romântico. Não que vá rolar qualquer romantismo, mas... eu me
esforço.
Vic corre até a cômoda, pega seu celular e coloca a mesma música
que estava dançando para mim no salão. Caralho, está foda hoje!
Com um sorriso de quem sabe que está me torturando, ela move seu
corpo ao ritmo da música, porém, de maneira mais ousada agora.
Eu me encosto na parede e tento segurar a fera que habita em meu
interior, enquanto ela está disposta a me levar no limite da insanidade
remexendo os quadris e sua bunda. A maldita começa a se desfazer de suas
roupas íntimas lentamente e sorrio, nervoso. Sou espectador acalorado em
muitos sentidos. Aproveito a oportunidade para me livrar de minhas
próprias roupas. Isso a mantém paralisada por alguns segundos. Dois
podem jogar esse jogo.
Nu, segurando o cinto em minhas mãos, aguardo que ela termine o
show erótico. O gran finalle é quando ela retira o sutiã, o tacando em meu
rosto.
— Você vai me bater? — Pergunta apontando para o cinto em
minha mão.
— Você quer apanhar? — Ela sorri, indicando que sim. Fodida
Sadgirl!
Deixando o cinto cair no chão, a pego em meus braços e a conduzo
até a cama. Me encaixo entre suas pernas e o simples fato de estarmos tão
próximos me faz gemer em apreciação, sentindo todo o calor do seu corpo
sob o meu.
— Eu amo você gemendo. — Ela sorri e eu me apaixono um pouco
mais.
— Só você me faz gemer, Victória.
— Estou tão sensível. — Choraminga ofegante e eu beijo seu
queixo delicado.
— Está, amor? Estava com saudade?
— Muita. Eu amo você dentro de mim, amo você selvagem e amo
você carinhoso como agora. É tão quente.
— Então eu darei mais alguns motivos para você continuar me
amando loucamente. — Sorrio e em seguida trabalho em meu propósito.
Uma vez meu pai me disse que setenta por cento de um
relacionamento deve ser reservado para o sexo...
Que venham os próximos quinze dias de lua de mel!
“Eu acredito em você
você conhece a porta para minha alma
Você é a luz em minhas horas mais escuras e profundas
Você é minha salvação quando eu caio”
SOMO (version) – How Deep Is Your Love

Meu Jesus! Até nos sonhos Matheus me persegue. Puta merda...


Estou recebendo o melhor de todos os sexos orais que ele já me fez. Sua
língua e sua boca experiente trabalham duramente em conjunto, numa
perfeita sincronia contra minha intimidade. Um profissionalismo impecável,
digno de um Oscar pornô oral.
Me desperto quando estou quase gozando e percebo que não é um
sonho. Meu marido está com sua cabeça enterrada entre minhas pernas e
isso me leva diretamente a um orgasmo incrível. Meu corpo treme por
completo e eu perco minha mente enquanto tento me recuperar desse tiro
certeiro. Um rosto perfeito surge diante do meu e seu sorriso de covinhas
me faz crer que sou uma tremenda de uma sortuda.
— Good morning, wife[6]. — Diz imitando Christian Grey e eu
tenho um acesso de riso. Fodeu com força. Por que o deixei ler os livros e
assistir os três filmes? Ok, os filmes foram decepcionantes, mas, foram um
pouco explicativos para meu marido e agora ele quer encarnar o
personagem.
— Good morning, husband[7]. —– Respondo sorridente.
— Anastasia, vá se trocar, quero você no quarto de jogos! —
Brinca quase me fazendo morrer engasgada com a minha própria saliva, de
tanto rir. — Pare de rir, Sadgirl!
— Não tem como! — Informo. Meu riso se vai quando ele desce
até minha barriga, transformando o momento de diversão em algo
realmente emocionante. Há um ser humano aqui, eu mal posso acreditar que
serei mãe novamente.
— Nosso pontinho está aqui dentro. — Diz com lágrimas nos olhos.
— Eu amo você. Amo nossa menina. Amo esse bebê. Amo nossa família.
— Nós amamos você, papai. Eu amo você, com todo o meu coração
e toda a minha alma. — Declaro bagunçando ainda mais seus cabelos. —
Obrigada pelo orgasmo matinal.
— Disponha. — Sorri. — Vic, atrasados dez minutos. E, não
precisa agradecer o orgasmo matinal. Quero substituir seus enjoos matinais
por orgasmos.
— Oh! Essa é a melhor notícia que eu poderia receber no dia de
hoje! — Digo rindo e ele beija minha testa.
— Já para o banho, Sadesposa. Temos que tomar um café da manhã
e despedir da nossa menina.
— Eu pensei que estava sonhando, mas era real. Você estava com a
cabeça entre minhas pernas e eu quero mais que sua cabeça... — Peço o
fazendo soltar um suspiro.
— Teremos que adiar isso para Dubai, meu amor ou então fazer
uma foda aérea. Você está grávida, podemos usar isso a nosso favor.
— Sério? Quer usar meu estado atual para fazermos sexo? — Digo
levantando minha pélvis de encontro a ele. Que homem gostoso... Estou
com um apetite sexual insaciável. Preciso relatar isso a Ricardo, é sério.
— Vic, levante-se e vá tomar banho. Eu sei o que você está
tentando fazer e nesse momento é meio que impossível de acontecer.
— Não é não.
— É sim.
— Não é não. — Salto da cama e meu marido começa a fugir de
mim igual o diabo foge da cruz.
— Vic, apenas tome seu banho.
— Quero banho de língua.
— Victória, nós temos um voo em duas horas. — Ele é tão lindo
nervosinho.
— Ok. É terrível ter que insistir para transar com o marido!
Casamos ontem e já estamos passando por crise sexual. — Provoco
fingindo seriedade e ele me encara como se eu fosse um Alien.
— Caralho! Victória, transamos até quando o dia estava quase
amanhecendo. — Uau, ele me chamou de Victória, só não é tão sério
porque ele está fazendo biquinho e cruzando os braços. — Você já está
insatisfeita com o casamento... — Choraminga e me jogo diretamente sobre
ele.
— Eu te amooo! Você é o melhor marido do mundo inteiro! MEU
MARIDO! — Grito e ele me pega no colo. Após um beijo delicado, o
obedeço indo tomar meu banho e fazer minha higiene matinal.
Ele entra no banho assim que eu saio e vou me trocar.
Propositalmente coloco um vestidinho que parece mais com uma blusa,
deixando uma outra roupa separada. Estou passando um Gloss quando meu
gato molhado sai do banheiro enrolado em uma toalha.
— Estou pronta, gato molhado. — Informo saltitante e ele me
analisa de cima a baixo.
— Desistiu da viagem? — Oh! É louco dizer que amo até a
dramaturgia do meu marido? Ele é muito engraçado.
— Não, meu amor. Estou pensando no meu conforto. — Sorrio.
Theus suspira frustrado enquanto caminha até sua mala. Eu apenas fico
observando e me surpreendo quando ele pega um de seus camisões e vem
até mim. Seguro a vontade de rir quando ele me manda levantar os braços e
prende a camisa em minha cintura. O homem é além de controlador, mas,
tudo bem. Estou mesmo indecente com esse vestido, quase mostra minha
bunda.
— Linda! — Elogia me beijando e sai como se nada tivesse
acontecido. De proposito agora irei exatamente assim.

Após colocar nossas malas no carro, ele dirige até a casa principal
onde todos, exceto as crianças e nossos avós, estão reunidos na mesa
tomando café da manhã e com cara de ressaca. Meu olhar primeiro vai
diretamente para Sabrina, que está com a mesma roupa de ontem e uma
cara de acabada quase dormindo sobre a mesa
— Aeee casal!!! — Mariana grita e leva sua mão à cabeça em
seguida. — Merda! Ressaca do caralho!
— Bom dia família!!!! Vim trazer o lençol que comprova que
minha mulher era pura... pura safadeza. — Matheus anuncia com seu humor
renovado e eu estapeio seu braço. — Nosso casamento foi devidamente
consumado. Estou mentindo, Victória?
— Isso aqui não é caminho das índias não, querido. — Mariana
avisa ao desavisado.
— É caminho da consumação! — Meu marido brinca.
— Menos, filho. — Agora é meu sogro quem entra em minha
defesa.
— Bernardo, sua irmã é...
— Matheus, eu sinto muito, mas não quero saber o que se passou
entre você e minha filha em quatro paredes. — Meu pai informa dando um
olhar reprovativo para meu marido que continua rindo, levando todos a
rirem juntos.
— Calma, sogro. Eu juro que nunca encostei na sua filha. Isis é
fruto da cegonha safada e parideira, assim como os filhos de Beatriz... —
Minha mãe engasga com sua bebida e começa a rir descompensada.
—Esse garoto é excelente! — Ela diz limpando sua boca o
guardanapo enquanto meu pai a encara. — Que foi, bezinho?
— Você está cada dia mais...
— Obrigada, meu amor. — Ela responde dando um beijo na
bochecha do meu pai e eu os olhos fazendo uma careta em descrença. Esse
povo resolveu ficar louco.
— Cada dia mais insana! — Meu pai conclui.
— Frouxo! — Matheus taca um guardanapo em Bernardo me
levando a revirar os olhos.
— Cala a boca, babaca! Você me embebedou! — Meu irmão
protesta.
— Por falar nisso, tio Luiz fez algumas filmagens, talvez você
queira vê-las. Theus avisa pegando o celular e sei que vem merda pela
frente. O nível de maturidade me assusta.
Me acomodo em uma cadeira, começo a devorar tudo que vejo pela
frente. Todos os celulares apitam e Matheus dá uma gargalhada. Como
estou sem o meu, acompanho a treta pelo celular de Beatriz, que está
vermelha nesse momento.
— Você é um idiota, Matheus!!!! — Ela grita e eu vou vendo uma
seleção de fotos e vídeos de Bernardo passando vergonha. Há alguns vídeos
onde ele cai repetidas vezes, há vídeos dele deitado sobre a mesa e um onde
ele abraça Matheus e diz que o ama.
— Quem ri por último ri melhor, Bernardo Brandão! — Matheus
debocha dando gargalhadas.
— Vou te processar por difamação e uso ilegal da minha imagem.
— Vou resolver seu caso na vara, cunhadinho. Mas será em outra
vara, não a minha. Minha vara é dá sua irmã.
— Nossa, eu fico encantada a cada dia com o nível da maturidade
que rola entre vocês dois. — Beatriz diz.
— Concordo com você cunhadinha. Onde Pietro está? — Pergunto.
— Dormindo. — Jéssica responde corada.
— Hum, sim. — Sorrio.
— Puta merda, eu nunca passei tanto mal em toda minha vida. Me
deem licença. — Mariana diz ficando de pé e sai corre para o banheiro.
Arthur se levanta e vai atrás como um rompante de possessividade. Esses
homens são bem possessivos, credo! Eu já sei que Matheus será igual ou
pior nos próximos meses, ou talvez a vida toda. Será que Arthur implica
com as roupas de Mari?
— Sério, existe algo melhor que pão com mortadela defumada? —
Meu marido pergunta com a boca cheia e eu me sinto enjoada só de olhar o
pão em sua mão. Inferno, eu amo pão com mortadela, mas sei lá, hoje
apenas não estou conseguindo olhar. Tomo um copo de suco e como mais
alguns pães de queijo. Provo também uma deliciosa broa com goiabada que
me arranca suspiros. Vou virar uma leitoa morando em Minas Gerais. Essa
culinária é algo fantástico, indescritível, insuperável.
Olho para Matheus e ele está com os olhos fixados em mim. Sorrio
ganhando uma piscadela de olho. No mínimo ele deve estar admirado com
meu apetite. Meu Sadboy supremo se levanta e caminha até a geladeira.
Pega um enorme pote e o coloca à minha frente.
— Seu bolo, Sadgirl. — Pelo amor de Deus! Eu o puxo pela camisa
e beijo sua boca em agradecimento. Ele realmente lembrou do bolo do
casamento. Eu sou louca nesse homem!
— Nossa, que melação de cueca, puta que pariu. — Bernardo
protesta.
— Recém-casados é foda mesmo. — Alice explica rindo. — Viva o
amor!
— Pega na minha e balança! — Matheus diz fazendo um gesto
obsceno para meu irmão. — Por falar em recém-casados, hein tia... Olá
Sabrina! Como andam suas forças? — Eu deveria mat-lo.
—´Andam excelentes. Sua esposa tem um excelente psicólogo. Por
sinal, ele tem um preparo invejável para aplicar seu tratamento mega
eficaz... É incrível realmente.
— Sabrina! — Alice repreende.
— Ele quem começou!
— Ele aguentou dar duas viagens? — Matheus pergunta
provocando.
— Ele deu mais de duas viagens, querido. Vic está muito bem
amparada ao lado de um excelente profissional... do sexo. O cara manja
muito. Acho que vou propor um romance a três, Vic se quiser há vaga. Eu
te daria uma pegada responsa. Se três é bom, quatro é o paraíso.
— Seu rabo! — Matheus soca a mesa e eu seguro a vontade de rir.
— Vamos lá, Theus. Você é meu primo, porém, sou espírito livre.
Podemos dividir sua esposa. Eu iria delirar. Victória é quente e gata.
— Eu te afogo na piscina antes de permitir que encoste um dedo em
minha esposa.
— Theus, menos, amor. Ela está apenas te provocando. — Digo e
Beatriz se levanta.
— Sabrina, você gemendo me deixou até excitada! — Minha
cunhada também não perde a piada. — Sente do lado da sua esposa,
querido irmãozinho. — Matheus a puxa para um abraço.
— Te amo, parideira.
— Te amo, mela cueca. — Ela responde rindo e ele se acomoda ao
meu lado. Nós dois devoramos grande parte do bolo. Se antes eu tinha
receio de explodir, agora tenho certeza que isso irá acontecer. Bolo de
Ferrero Rocher é sacanagem!
— Esse bolo é o melhor. — Theus elogia.
— Muitooo! Podemos levar o resto para o avião? — Peço e todos
me encaram.
— O que deu nela? Está comendo como um trator desgovernado. —
Alice comenta e eu quase fico com vergonha. Quase.
— Fome, nunca ouviram falar? — Muito bom ter meu marido para
me defender. —Vamos embora Sadgirl, vamos acordar nossa princesa. Vou
pegar um potinho com doces e bolos e levar para você comer no avião,
cremosa, deliciosa, gostosa, amor da minha vida!
— Ownnn... — O coro se forma e eu começo a rir.
Limpo a boca em um guardanapo e seguimos em busca da nossa
filha. Entramos no quarto, onde ela e Maria Florzinha estão apagadas. São
tão lindas quanto é possível!
— Merda! Vic, estou com dó de acordá-la. — Theus cochicha.
— Eu prometi a ela. Se não fizermos, ela pode vir a ficar triste. —
Argumento morrendo de dó também.
— Ok. Vamos. — Ele se aproxima a passos lentos. É tão perfeito
quando o vejo mexer na cabeleira da nossa pequena de maneira carinhosa.
Eu sempre me emociono com essas cenas. É algo tão puro e verdadeiro,
destoa tanto da personalidade dele comigo entre quatro paredes. Matheus se
derrete pela filha. — Princesinha do papai, vamos acordar?
— Papai? — Ela diz esfregando seus olhinhos. Quando cai em si,
abre um sorriso perfeito que quase me faz chorar. Minha princesa é meu
coração.
— Olá, pequena princesa! — Cumprimento sentando-me em sua
cama e ela se senta também. — Viemos nos despedir.
Matheus a abraça com lágrimas nos olhos, isso parte meu coração
ao meio. Ser pai e mãe é a coisa mais louca da vida. Inexplicável e
impossível descrever todas as sensações.
— Papai vai sentir saudades. — Ownnn, ele é fofo chorando!
Limpo minhas lágrimas salientes e me junto ao abraço.
— Jajá vocês voltam, papai. Eu vou pra Ilha com a vovó. — Ok,
minha filha está com terceiras intenções porque vai para Ilha e está cagando
para mim e Matheus. Eu a compreendo, aquela Ilha é mágica em todos os
sentidos. Fico feliz por ela ter a possibilidade de curtir dias no paraíso da
família Albuquerque, pretendo curtir também em breve.

Ela boceja, caindo de sono. Isso nos leva a afastar. É o momento de


despedirmos real.
— Comporte-se, filha. Não esqueça, leve seu tablet, o carregador, o
celular, tudo. Queremos falar com você diariamente. Obedeça a seus avós,
não brigue com Maria Florzinha. Você é mais velha e tem que dar exemplo,
ok? — Theus adverte carinhosamente.
— Está bom, papai. Prometo.
— Nós te amamos, pequena! — Digo a puxando para mais um
abraço.
— Amo vocês. — Minha pimpolha princesa sorri com seu corpinho
mole e então se deita para Matheus cobri-la. Ficamos ao lado dela até tê-la
adormecida novamente, damos um beijo em sua testa, um beijo em
florzinha e seguimos rumo a lua de mel após despedirmos de todos.
Arthur nos leva até o aeroporto e, enquanto nosso voo não é
chamado, ficamos na sala VIP tomando champanhe. Quer dizer, Matheus
fica né, eu fico no suco de laranja.
Quando o voo é anunciado eu começo a temer pela vistoria da mala.
Eu rezo para todos os santos quando passo pelo detector de metal e,
temerosa, espero Matheus. Está tudo muito lindo e perfeito até o detector
apitar. Ele me olha fazendo mais um biquinho engraçado antes de tirar algo
do bolso e colocar em uma cestinha. Tento de todas as formas ver, mas não
consigo.
O vejo conversar com o segurança por alguns minutos, gesticulando
e debatendo algo. Eu estou pretérita mais que perfeita trocando meus pés e
quase roendo minhas unhas. Parece demorar 1 ano, até ele pegar o objeto da
cestinha e voltar a colocar em seu bolso.
De forma segura, todo dono de si, meu marido caminha até mim
confiante e segura minha mão para andarmos.
— O que foi aquilo? — Pergunto movida pela curiosidade.
— Um segredo secretíssimo. — Responde piscando um olho. Eu
quero matá-lo por não me contar!
— Theus, por favor, estou curiosa.
— Vinte horas dentro de um avião, meu amor. Precisei recorrer a
brincadeiras que me distraiam. Não sou muito fã de aviões. — Explica
vagamente.
— Que tipo de brincadeiras? —Questiono extremamente curiosa e
preocupada.
— Você vai saber no momento certo, Sadesposa. Agora fique
caladinha e vamos seguir o fluxo. Confia em mim?
— Sim. — Respondo.
— Vou fazer essa viagem ser inesquecível, a começar pela nossa
"estadia" a bordo do avião. — Promete com um sorriso confiante no rosto.

— Senhor e senhora Albuquerque, bem-vindos! — Uma comissária


nos recepciona logo antes de subirmos os degraus. Como ela sabe? Gostei
disso! Ela ganhou minha admiração por esse "Senhor e senhora
Albuquerque." Me sinto estilo Mr. and Mrs Smith.
— Obrigado! — Matheus agradece solicito e eu sorrio
transbordando simpatia. Nós subimos os degraus, quando entramos,
percebo que estamos dentro de um dos aviões mais luxuosos que já vi.
— Senhor e senhora Albuquerque, queiram nos acompanhar. —
Um senhor grisalho nos recebe todo sorridente. O seguimos e eu vou
analisando todo ambiente.
Há dezenas de assentos comuns de primeira classe enquanto
andamos por todo o corredor, ele não nos leva a qualquer um deles. Quando
penso que estamos no fim, ele aperta um botão e uma porta se abre
mostrando outras quatro portas. Ele nos da passagem, em seguida nos guia
até a quarta porta e a abre.
Minha boca vai ao chão. É como se fosse uma suíte de um hotel. Há
uma enorme cama, roupões, chinelos, há som, frigobar, luminárias e até
mesmo um banheiro privativo. Não sabia que existia esse tipo de serviço a
bordo, provavelmente é algo novo e limitado a quatro casais apenas. Isso
deve custar uma fortuna, já que apenas uma passagem comum custa mais de
nove mil reais.
— Qualquer coisa que precisarem, basta nos comunicar pelo painel
de controle. Tenham um excelente voo e aproveitem o conforto da estádia a
bordo de nosso avião. — Diz sorridente e sai me deixa perplexa.
— Isso existe? — Questiono ao meu marido sorridente.
— Para quem se disponibiliza pagar existe. — Explica e eu balanço
a cabeça.
— Eu definitivamente não sabia.
— Presente de casamento do meu pai. — Ele sorri e eu o abraço.
— Isso é um sonho.
— Não. Isso é a vontade de foder nas alturas sem precisar esconder
das comissárias no banheiro. — Explica rindo.
— Tão romântico! — Sorrio me jogando na cama e me surpreendo
com a maciez do colchão. — Isso é estar no céu, literalmente!
— No céu você estará daqui alguns minutos quando eu te pegar de
jeito. Vamos lá senhora Albuquerque, vamos tirar nossas roupas e vestir os
roupões para facilitar e adiantar os trabalhos. — Theus sugere tirando o
objeto do seu bolso e jogando sobre a cama. Aproveito a deixa para pegá-lo.
É algo totalmente metalizado. Há um botão que o faz abrir e o conteúdo é
bem intrigante.
— O que é isso?
— Vibrador de bolso. Daqui a pouco você irá senti-lo. — Anuncia
com naturalidade.
— É sério mesmo, Matheus?
— Merda, pequeninha! Pare de perguntar se tudo que estou falando
é sério. — Protesta rabugento. — É sério, meu amor. Aperte o botãozinho
na parte traseira se quiser confirmar. — Indica e eu o faço. O objeto
realmente começa a vibrar e com isso abro a boca escandalizada. Ele ri da
minha cara. — Me dê sua bolsa, Vic.

Eu a entrego despretensiosa, mas Matheus está realmente decidido a


fazer dessa viagem um evento. Ele a segura e faz a retirada de objetos que
eu não sabia estar carregando. Como ele colocou isso? E se eu tivesse sido
parada na revista??? Eu o mataria!
Há uma venda e uma algema de couro. Esse homem está possuído
pelas forças dominadoras e aventureiras. Há até mesmo uma embalagem
transparente com um líquido rosa comestível.
— É só uma brincadeirinha aérea. — Justifica. — O melhor está
guardado na minha mala, Sadesposa. Vamos nos trocar e esperar o avião
decolar para iniciarmos os trabalhos. Hoje acordei com vontade insana de
provar você de todas as maneiras. — Ele até mesmo dá um leve gemido
após dizer.
Puta merda!
Esse homem é meu marido!
Esse homem lindo, tarado, devasso, puto, gostoso, safado é meu
marido!
Isso é um sonho!
Tudo foi um sonho. Vou acordar e cair da cama, e então estarei na
Itália, na minha vidinha triste de antes. É isso!
— Victória? — Sua voz me tira do transe e eu o encaro.
— Matheus!
— Vamos, meu amor, venha aqui. — Theus me puxa pelos braços,
fazendo com que eu fique de pé, retira sua blusa da minha cintura e levanta
meu vestido lentamente tomando cuidado com meus brincos. Chuto meus
sapatos longe, e continuo permitindo que ele se livre de todas as minhas
roupas. Quando estou devidamente nua, meu marido rasga uma embalagem
contendo um roupão e o envolve em meu corpo.
Agora é minha vez de agir como voyeur, observando tirar suas
roupas. Ele está excitado, em toda sua glória. Como pode isso? Esse homem
é uma máquina! Parece que só de esbarrar, ele fica extremamente pronto
para o sexo.
— Que foi amor da minha vida? — Pergunta enquanto engulo seco.
— Nada.
— Escolha algo na TV, vou ao banheiro. — Pede me entregando
um controle e eu vou em busca de uma TV. Está atrás de mim, uma enorme
tela chiquérrima.
Engatinho pela cama, me acomodo e coloco num canal qualquer.
Pego o pote de doces do casamento na minha bolsa, ficando devidamente
relaxada até meu marido sair do banheiro e se acomodar ao meu lado. Ele
rouba um bombom de licor de morango e a calda escorrer em sua boca. O
puxo pelos cabelos levando minha língua em seus lábios, lambendo todo o
líquido.
— Hummm... — Gemo em apreciação. — Eu amei esse bombom.
— Você provoca. — Diz rindo, mordendo o restante do bombom.
— Falta muito para o avião decolar? — Questiono completamente
excitada.
— Faltam cinco minutos. — Responde.
Olhando sua cara de safado chego à conclusão de que há duas
opções: ou faremos o avião cair ou o explodiremos. Nós dois estamos
prestes a entrar em combustão e ninguém será capaz de conter isso.
“Sim, eu vou te dar tudo
Toda a minha atenção, para todas as suas dimensões
Vamos fazer as coisas que somos feitos para fazer
E deixar nossos corpos falarem
Vamos fazer como ninguém mais, ninguém está assistindo
E se você me deixar, eu quero pegar, eu quero pegar
Lento oh oh, todo o caminho
Você é um fogo, você é um fogo
Eu quero queimar”
Marnik — Burn
INFORMAÇÕES PARA O CAPÍTULO
SHIBARI: Assim como em qualquer outra prática sexual, não
importa quem amarra ou é amarrado (o casal pode, inclusive, revezar!), o
que vale é o prazer
Assim como em qualquer outra prática sexual, não importa quem
amarra ou é amarrado (o casal pode, inclusive, revezar!), o que vale é o
prazer. Além disso, essas ataduras especiais foram projetadas para
ressaltar a beleza do corpo feminino, marcando os seios, a cintura, o
quadril... o que deixa tudo ainda mais sexy. E, importante, quem define o
limite da brincadeira é a pessoa que está imobilizada.
A sensação de estar à mercê do parceiro, ou da parceira, e (o que
dispara no organismo nosso sistema de defesa, descarregando uma
quantidade enorme de adrenalina, endorfina, dopamina e outros
neurotransmissores que também são responsáveis pela excitação) é o
grande tesão dos praticantes de bondage. A mesma lógica se aplica ao
Shibari, com um plus: a corda é entrelaçada de modo a estimular diversos
pontos do corpo ligados à energia sexual.
Confiança é fundamental
Assim como acontece com outras práticas de BDSM (sigla para
Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo), não
se pratica o Shibari com um parceiro em quem a gente não confia. A
brincadeira só fica gostosa se tivermos a certeza absoluta de que todos os
limites serão respeitados, e que o prazer dos dois é considerado igualmente
importante.
(Fonte: Cosmopolitan)

O sol está brilhando através das janelas do avião, ainda parado.


Enquanto isso, me embebo da visão de Victória se deliciando com os
bombons do nosso casamento. A imagem quase me faz rir. Acabo de
descobrir que serei pai e então minha esposa agora está comendo feito uma
desesperada. Já no café da manhã pude notar isso.
Quem diria... Todos esses acontecimentos me levam a pensar no
passado. Um passado não muito distante. Foi há oito, quase nove, anos atrás
que eu a conheci. Victória me atraiu desde a primeira vez em que coloquei
meus olhos sobre ela. Não foi pelo corpo, pela beleza física. O que me
atraiu de imediato foi o fato dela ser diferente de todas as garotas que eu já
havia conhecido.
Era extremamente educada, centrada, responsável e séria.
Demonstrava até mesmo uma inocência encantadora. Aquilo me atraia,
como a mariposa atraída pela chama, exatamente assim.
Desde muito jovem eu fui acostumado com garotas se jogando em
cima de mim, propostas altamente indecorosas, pedidos de defloração
vaginal e anal... era bem baixo mesmo. E então, ela surgiu me oferecendo
nada mais nada menos que sua amizade, pelo fato de nossos irmãos estarem
envolvidos. Já que teríamos que estar perto, foi através da amizade que
começamos tudo.
Eu gostava de conversar com ela e, na maior parte das vezes, Pietro
estava junto. Descobri que estava muito na dela quando fui surpreendido
por mim mesmo querendo um afastamento do garoto. Quando dezenas de
meninas do condomínio se jogavam sobre mim, eu trocava todas elas
apenas para ficar envolvido em conversas banais com Victória. Sua
inteligência sempre foi algo que me atraiu absurdamente, e ainda atrai.
Nunca, em hipótese alguma, desconfiaria de tudo que ela viveu.
Era uma garota doce, encantadora, apaixonada pela família, leitora
compulsiva de romances e de uma generosidade ímpar.
E então, por trás de toda docilidade, descobri que aquela garota que
demonstrava inocência, era uma amante exigente e quase insaciável. Aquele
dia no cinema foi o dia em que eu descobri que Victória se portava
maravilhosamente como uma dama na sociedade. Tão bem que escondia
perfeitamente sua devassidão entre quatro paredes. O tipo de mulher
perfeita, que escolhia a dedo seus adversários e que só havia se entregue a
um homem naquela época. (Eu não fazia ideia que eram dois: Túlio e Ítalo,
Humberto, diabo). Quando questionei sua experiência ela disse que havia
tido um parceiro sexual em toda sua vida e que eu seria o seu segundo. E eu
fui.
Não foi em uma cama, foi na escadaria de segurança e incêndio do
andar de nossos apartamentos. Eu me lembro daquele dia tão
perfeitamente. Quando ela permitiu que eu avançasse sobre ela do jeito que
eu queria foi um susto imenso. Todos me avisavam para não brincar com a
garota, pois ela era menina de família e virgem. Ela brincou comigo. Ela
simplesmente me pegou pelas bolas e fodeu comigo como se o mundo fosse
acabar naquela noite.
Eu deitei em minha cama naquela noite e me peguei rindo.
Enquanto virava de um lado para o outro, só enxergava seu rosto, só ouvia
seus gemidos e só sentia seu corpo sobre o meu. Me apaixonei. Eu,
Matheus Albuquerque, nunca tinha me apaixonado. Nem mesmo uma
paixonite de criança. Mas, Victória me fez apaixonar antes mesmo do sexo,
e foi naquela noite que constatei esse fato. Antes de tudo que rolou na
escadaria, eu já estava completamente louco por ela.
A partir daquele acontecimento, percebi que não saberia mais ficar
horas longe dela. Eu passei a prossegui-la a distância, impunha minha
presença, ela fazia tudo e qualquer coisa que quisesse comigo. Foi algo
esplêndido e avassalador. Houve noites que passei em claro chorando pelo
fato dela não assumir o que existia entre nós. E eu sabia que ela sentia o
mesmo. Eu me sentia um merda, um incapaz e, todas as vezes em que eu
tentava chutar o balde, ela esperava que todos saíssem de casa e se
infiltrava em meu quarto, roubando tudo de mim. E aí eu passei a fazer o
mesmo com ela. Foi um ano repleto de insanidades até o grand finale. Mas,
ainda assim, depois do grand finale, tivemos uma última transa louca,
provavelmente a transa que ocasionou Isis. Foi na terceira semana da
faculdade, no banheiro da faculdade, na merda do vaso sanitário da
faculdade. Lembrar disso é quase repugnante.
— Merda! Vic, Isis foi feita no banheiro, no vaso sanitário da
faculdade. — Digo chocado com essa lembrança.
— Provavelmente. Mas, antes disso teve uma vez na Ilha que pulei
a sacada para o seu quarto e você não resistiu.
— Tomara que tenha sido na Ilha. — Divago comigo mesmo e
volto a me perder em pensamentos.
Eu lembro do nosso último beijo, quando eu estava indo para Nova
York. Aquela porra me rasgou tanto por dentro que eu tive que colocar
óculos escuro mesmo sendo noite. Eu me acomodei no assento, conectei
fones de ouvido e então chorei tentando reprimir o barulho do choro. Isso
fez com que eu sentisse falta de ar e palpitações. Eu achei que morreria de
amor. Ok, isso foi pesado, mas é verdade. Eu amava essa filha da puta num
grau...
Fiquei um período de luto, até conseguir levantar e infiltrar em
minha mente que eu a esqueceria. E eu juro que tentei, da pior forma, mas
tentei.
Ao longo dos sete anos que ficamos afastados, estive envolvido
com as mais diversas mulheres. De todos os tipos, idades, formas... algumas
em grupos, outras em dupla, outras avulsas mesmo. Eu não me recordava
com frequência de Victória, mas, quando acontecia eu me perdia por
completo e doía como uma maldição.
Nunca procurei saber notícias sobre ela, mas fiquei sabendo que ela
tinha se mudado para Itália. Teve uma única vez que, no auge de uma
embriaguez, eu quis ir em busca dela. Mas não fui. Eu havia sido feito de
bobo o suficiente, era isso que infiltrei na mente.
Quando a vi no palco do baile, após passar sete anos sem vê-la, eu
fui surpreendido novamente. Meu coração bateu acelerado quando ouvi seu
nome sendo anunciado, e então parou de bater quando ela andou até o
microfone usando um vestido longo com detalhes dourado. Eu fui embora
deixando uma garota, voltei encontrando uma mulher. Uma mulher
fodidamente linda e gostosa. E, como um soldado perdido, o primeiro local
onde meus olhos pousaram foi em seu rosto, onde vi as sardinhas
estampadas. Naquele momento eu tive que conter um sorriso, mas, em
seguida, meus olhos desceram para seu decote em V. Você deve estar
achando que eles foram para os seios redondinhos e levemente maiores,
mas não. Eles foram diretamente para as sardinhas que ela tem acima deles
e que se espalham até os ombros.
Aí sim os pensamentos pervertidos começaram.
Eu me imaginei segurando em sua cintura com uma mão e puxando
seus cabelos com a outra. Me imaginei a beijando e então desfazendo o laço
que pendia seu vestido ao corpo. A imaginei nua diante de mim e me
imaginei contemplando cada parte do seu corpo. Imaginei centenas de
coisas que eu tentaria fazer com ela... Até encontrar com os olhos azuis
mais hipnotizantes que já vi na vida.
Eu tentei odiá-la. Na verdade, eu a odiei por algumas horas. Pensei
em tudo que poderíamos ter feito por sete anos, pensei em como teria sido
criar nossa filha... Eu a odiei até o momento em que a vi completamente
destruída.
Desde aquele dia foram muitos acontecimentos. A minha luta
constante para tirá-la da mente, a luta dela para conseguir ter algo a mais de
mim, revelações dilacerantes, lutas, tratamento, prisões... tudo isso nos
levaram à noite de ontem. A noite do nosso casamento.
Eu me casei com a única mulher que amei em toda minha vida.
Uma mulher que cometeu erros e deu sua cara a tapa para corrigi-los. Uma
mulher que é o meu maior exemplo de força e superação. Que enfrentou
julgamentos de cabeça erguida, que sofreu e que tenho certeza que ainda
sofre internamente por tudo. Uma mulher que Deus colocou em minha vida
para amá-la acima de todas as coisas e para me ensinar a cada dia lições de
grande importância. Ela diz que sou seu herói, eu digo que ela é minha
heroína, por tudo que enfrentou.
Vic, viu o pior lado da vida, algo que era para tê-la destruído por
completo, e, ainda assim, há oito anos atrás ela se entregou a mim. Ela
permitiu que eu a amasse da forma como queria, me ensinou a ser
selvagem, me deu uma filha. E, quando o mundo desabava em sua cabeça,
enfrentou uma gravidez sozinha, optou pelo afastamento para proteger a
mim, à sua família e à nossa filha. Educou Isis com uma magnitude
impressionante e honrável. Enfrentou a verdade, o medo e a todos os
julgamentos. Enfrentou a mim mesmo após eu ter dito palavras horríveis.
Enfrentou a si mesma e a todos seus demônios internos. Tem travado uma
luta diária com o passado e tem conseguido se superar. E agora está aqui,
com sua boca suja de bombom, carregando um filho meu em seu ventre e
dando um sorriso descarado de quem quer uma foda alucinante.
Oh! Maldição! Minha doce garota está exalando feromônios.
— Onde será que Sadbaby foi feito? — Pergunto roubando um
bombom.
— Três semanas... Talvez tenha sido naquela noite que nos
escondemos no seu antigo quarto na casa da sua mãe.
— Talvez tenha sido no seu escritório. — Digo.
— Ou no seu... — Ela sorri.
— Ou no carro, no estacionamento do nosso prédio.
— Ou talvez no... Merda Matheus, não sei como não fomos pegos!
Você é maluco! Insano e inconsequente.
— Eu??? — Pergunto a encarando muito sério.
— Sim, você! Nossa filha seria expulsa da escola. Foi tão horrível
aquilo.
— Horrível e você virou os olhinhos pedindo mais. Faltavam vinte
minutos para aula terminar e o carro estava no estacionamento de trás,
tampado pelo insulfilme. E, me lembro bem, foi a senhora que subiu em
cima de mim. Eu estava lá, indefeso e inocente. — Me defendo a fazendo
rir.
— O pior foi você ligando para a sua mãe buscar a Isis porque
estava numa reunião importante e ela parada a três carros de distância
fingindo acreditar. Merda, quando ela buzinou eu quase morri!
— Isis ia querer nos abraçar e estávamos sujos. Nunca iria encostar
na minha princesinha após uma foda no carro.

— Nós fizemos muitas loucuras nos últimos meses. Não sei em


qual delas nosso bebê foi gerado... — Uma voz soa pelo alto falante e
minha Sadesposa dá um salto da cama. — Merda!
— Estamos em um avião, embora pareça um quarto comum de
hotel. — Relembro e ela sorri ficando quietinha conforme foi ordenado pelo
som.
O avião começa a andar lentamente pela pista e aos poucos vai
ganhando forças até sair do chão. Eu sempre sinto um frio na barriga
quando isso acontece e Victória parece sentir o mesmo.
— Esse friozinho na barriga misturado com tesão é quase um
orgasmo.
— Está com tesão, Victória Albuquerque? — Pergunto fazendo-me
de bobo e então deixo um pouco do licor do bombom cair em meus lábios.
Minha Sadesposa lambe os seus próprios lábios com os olhos fixados aos
meus, como se tivesse fome.
Passo minha língua lentamente e como o restante do bombom.
— O avião já está nas nuvens. — Comenta impaciente e eu viro
meu olhar para a janela.
— Sim. É bonito ver a cidade ficando pequeninha lá embaixo.
— É...
— Me conte um pouco sobre sua infância... — Sugiro cutucando a
onça.
— Claro. A minha infância foi toda planejando, sonhando com o
dia em que eu me casaria com você e viajaríamos em lua de mel num avião
mega chique que tem um quarto. Eu pensava também em como você me
foderia em cada canto do quarto.
— Interessante sua infância. Já era safada desde novinha. Moleca
piranha purinha.
— Você me chamou de quê, Matheus Albuquerque? — Pergunta
em um tom ameaçador.
— Moleca piranha. Mas, não se preocupe, é apenas minha moleca
piranha. — Sorrio. — Será que o ar condicionado está funcionando? Estou
sentindo o quarto quente. — Digo sério ficando de pé e desfazendo o nó do
roupão. Quando o deixo cair ao chão Vic sobe na cama e arranca seu
próprio roupão do corpo numa agitação extrema. — Você também está com
calor?
— Pare!
— É sério Victória. Você está grávida, não quero que fique com
mal-estar por conta do calor.
— Deus, essa sua bunda. Não sei se você é mais perfeito indo ou
vindo. — Ela é safadona ela.
— Minha bunda está fora dos limites. — Aviso e ela engatinha
como uma gata pela cama.
— Deixa-me lamber você todinho?
— Não. — Nego com o dedo. — Deixe-me lamber você todinha?
— Sim, por favor. — Concorda no mesmo instante, virando-se e
deitando de barriga para cima. Isso que eu chamo de vontade de foder...
— Levante-se. — Ordeno e ela engole a seco se levantando
prontamente. — Quero você diante de mim, senhorita. — Ela se aproxima
prontamente. Pego a venda sobre a cama e coloco sobre seus olhos,
prendendo-a atrás de sua cabeça. Em alguns momentos me assusto com o
modo submisso de Vic. Num completo ato de submissão, suas mãos estão
caídas ao lado de seu corpo, aguardando todo o meu direcionamento. Isso
me deixa quase insano.
— Deite-se. — Ordeno.
— Eu quero você. Preciso de você. — Choraminga.
— Deite-se, Vic. Quanto antes estiver deitada, mais rápido terá o
que precisa. — Informo e ela se deita prontamente.
Resisto ao impulso de jogar tudo para o alto e dar o que ela quer.
Caminho até sua bolsa, pegando em um compartimento secreto uma corda.
Pego também as algemas sobre a cama e sorrio. Sad fodida girl vai gostar
disso...
— Levante suas pernas, passe seus braços por baixo delas,
impulsionando-as para cima de você. — Dou os comandos e então ela faz
me dando uma belíssima visão. Pelo amor de Deus, definitivamente esse
lance de dominador tem que ser apenas uma brincadeira. Meu autocontrole
é pequeno demais quando se trata da minha mulher nua e exposta para mim.
Me ajoelho na cama e ela solta um gemido sem que eu nem mesmo
tenha encostado nela. Seguro suas mãos e as algemo por trás das pernas.
— Theus...
— Victória, eu permiti que você falasse? — Pergunto e ela balança
a cabeça negando.
Passo minhas mãos pelas suas pernas e a vejo reprimir seus
gemidos.
— Eu quero ouvi-la gemer, apenas controle a altura dos seus
gemidos pois estamos em um avião. — Peço e continuo explorando duas
pernas até chegar em seus pés.
Pego a corda e os amarro juntos, impressionado com as novas
técnicas que estou aprendendo e Victória não sabe. Shibari... Vamos
começar pelo mais básico e então, no decorrer da lua de mel, irei mostrar a
minha esposa o que andei aprendendo...
— Permita-me falar, senhor? — Ela pede e eu ainda não me
acostumei com isso de "senhor". Acho desnecessário, mas ela gosta e fica
excitada.
— Fale.
— Isso é Shibari, Matheus Albuquerque? — Pergunta empolgada.
— Isso sou eu te dando algo diferente. Agora fique caladinha, amor.
Vamos voltar a brincadeira.
— Sim senhor... PUTA QUE PARIU! Meu marido brincando de
dominador é a porra mais quente que temos para hoje!
— Vou te amordaçar se falar mais qualquer outra palavra.
— Sim, desculpe, senhor. Foi empolgação. — Pego uma pluma
também na bolsa dela e caminho em volta da cama tentando decidir por
onde devo começar. Descido começar pelos seus seios.
Deslizo o objeto primeiro pelo seu pescoço e logo desço por entre
seus seios. Minha garota geme controladamente quando círculo seus
mamilos com a pluma. Desço até seu umbigo e então a passo pelas suas
pernas jogadas para o alto.
Ando até onde quero estar e me ajoelho ao chão puxando-a pelas
pernas até que ela esteja na beirada da cama. Feito isso, passo a pluma por
sua delicada intimidade, a fazendo arquear.
Repito o ato algumas vezes antes de pressionar meu polegar acima
do seu clitóris. Ela se remexe até onde é possível e eu me sinto esfomeado o
bastante para torturá-la mais. Deslizo minha língua em sua entradinha e
então exploro todo o território. Deixo meus dentes rasparem por seu clitóris
e então fecho minha boca entorno dele o chupando com precisão. Minha
língua quente se mistura com o calor penetrante de sua intimidade e isso me
deixa louco.
Traço círculos com o polegar e decido usar meus dedos para
aumentar a intensidade enquanto a chupo. Vic se contorce, e vou mais
fundo, atingindo seu ponto G. Essa é apenas outra técnica a qual fazia sem
realmente entender profundamente o assunto. Basta enfiar dois dedos (de
forma que suas unhas fiquem para baixo), e levá-los ao fundo como se fosse
pescar algo. Você vai descobrir algo fantástico ao movê-los em sincronia...
o ponto G. Um único toque e todo o corpo de Victória está tremulo.
— Vic, controle os gemidos. — Peço começando a movê-los mais
rapidamente. Em questão de segundos ela está gozando. Retiro os dedos
rapidamente e a chupo com vontade saboreando seu aroma fodidamente
afrodisíaco.
Não satisfeito, a devoro com a minha boca uma vez e outra,
maltratando meu próprio pau que implora para entrar na brincadeira.
Quando ela está quase tendo um segundo orgasmo eu decido me render à
necessidade. Estou dentro da minha mulher, e ela está enlouquecida,
gozando mais uma vez. Seguro seus pés, arremetendo duramente, deixando
minha garota mais desesperada. Ela quase grita e sou obrigado a repreendê-
la. Preciso de isolamento acústico em todos os lugares que formos!
— Vic, a boca!
— Eu vou morrer... — Ela começa a chorar quando a faço gozar
pela terceira vez, deixando meu próprio prazer explodir. Retiro
rapidamente a corda dos seus calcanhares e solto as algemas. Desesperado,
a me acomodo ao seu lado e a aninho em meus braços.
— Eu machuquei você? — Questiono preocupado.
— Não. — Diz chorando pra caralho. Seu choro é quase como
receber um balde de água fria.
— Eu preciso repetir que me mata vê-la chorando?
— Obrigada.
— Vic, você está agradecendo o quê? Você está chorando e então
me agradecendo? Não estou compreendo. — Argumento pacientemente.
— Você me deu a possibilidade de sentir prazer com coisas que
antes me assombravam...
— O que? — Questiono e ela fica alguns longos minutos agarrada a
mim, apenas chorando e tentando se acalmar. Respeito o seu momento
silencioso, fechada consigo mesma. Apenas brinco com meus cabelos e a
mantenho firme contra mim.
— Eu te amo.
— Eu também amo você, Vic.

— Você... — Diz fungando. — Tem minha eterna gratidão, assim


como meu amor. Quando penso que já me encheu de prazer o suficiente,
você vem e faz algo inusitado. Você usou um objeto que eu tremia de ver,
mas acabou de me mostrar o quão prazeroso pode ser quando usado
corretamente.
— A corda? — Questiono receoso. Merda... eu habitei num campo
perigoso, se for sobre a corda que ela está falando...
— Sim.
— Você pareceu gostar desde quando a prendi... — Digo buscando
uma maior explicação.
— Sim, mas apenas porque eu sabia que tudo terminaria assim, com
prazer, amor, carinho e principalmente com respeito. Foi intenso. Eu não sei
te explicar, mas foi além de intenso. Não senti dor, Theus, eu só senti
prazer. — Começa a chorar de novo. — Você acabou de enterrar um trauma
que eu possuía e me mostrou uma outra perspectiva. Mostrou que algo que
me fazia sentir dor, pode servir unicamente para o prazer. — Eu engulo a
seco no momento em que suas palavras fixam em minha mente. Eu gostaria
de abraçá-la e então chorar junto. Me sinto extremamente honrado nesse
momento..., mas, ao invés disso, eu opto por fazê-la sorrir, porque seu
sorriso me leva direto ao céu e apaga a leve dor que eu senti por alguns
segundos...
— O nosso objetivo é satisfazer, senhora Albuquerque. — Brinco
levantando sua cabeça e ela sorri entre lágrimas.
— Mr. Matheus Albuquerque.
— Mrs. Victória Albuquerque. — Sorrio e a beijo limpando suas
lágrimas. — Eu amo você, meu amor. Sempre e para sempre. Até o céu e
mais.
“Você me mantém conectado a você como se eu fosse sua sombra
Você está dando respostas para todas as minhas perguntas aqui no meu
travesseiro, oh
Nada pode ficar entre nós, baby
Nós estivemos esperando por esse momento por tanto tempo
Quando eu coloco meus lábios em você
Você sente os arrepios subirem e descerem por sua espinha por mim
Faço você chorar por mim
Quando eu coloco meus lábios em você
Eu ouço sua voz ecoando durante toda a noite para mim”
Maroon 5 – Lips on you
De olhos fechados, penso em minha vida.
É engraçado como em determinados momentos, após
acontecimentos extraordinários, nos tornamos extremamente sentimentais e
nós pegamos fazendo balanços da vida em curtos intervalos de tempo.
Talvez seja a incredulidade ou apenas a ficha que está demorando tempo
bastante para cair. É apenas o que é. Não há como fugir dos "balanços" em
determinados períodos, hoje é um deles.
Minha vida está tão magnificamente perfeita, de um jeito que nunca
imaginei que estaria algum dia. Finalmente parece que estou me vendo
longe das sombras do passado, minha saúde psicológica melhorou
significativamente e estou conseguindo trilhar meu caminho sem maiores
empecilhos.
Após um sexo altamente comandado pelo meu esposo dominador,
acabei me rendendo ao sono. Não tivemos muito tempo para dormir na
noite anterior ou durante a madrugada... Matheus me consumiu. E, quanto
mais ele me consumia, mais o fogo se alastrava dentro de mim. Queimando,
ardendo em chamas, delirando de tesão. É, parece um exagero, mas não é.
Não sei quando acertei na vida para merecer tudo isso. Mas, sei exatamente
o que devo fazer para conservar: apenas continuar lutando.
Levo minha mão em minha barriga e sorrio. Há um ser aqui dentro.
Um ser no início de sua formação. Não estava nos planos, assim como Isis
não esteve. Mais uma vez uma gestação não planejada. Porém, agora é tudo
diferente. Estou grávida numa perspectiva totalmente nova. Estou casada
com o pai dos meus filhos, estou perto da minha família e, principalmente,
estou grandiosamente feliz.
Sabe?! Por mais feliz que esteja e por mais que não queira levar
meus pensamentos para o lado sombrio, é meio que impossível isso. Tenho
medo que essa gravidez afete Isis de alguma forma. Afinal, ela vai
acompanhar o pai cuidando do irmão desde o início e isso é algo que ela
não teve. Também verá todos os familiares em torno do bebê. Mesmo que
todos a amem e dê atenção, isso me preocupa. Não quero que minha garota
se sinta mal por não ter tido o que irmão ou irmã terá. Não quero que ela
faça comparações ou até mesmo me culpe. E, nem mesmo sei como
trabalhar sua cabecinha para os novos acontecimentos. Me resta rezar,
envolvê-la cem por cento na gestação e aguardar suas reações. Pretendo
estar mais focada em suas reações a partir de agora, para quando surgir um
único detalhe que destoe de sua personalidade passível eu possa tomar
providências cabíveis.
Isis já fez tratamento psicológico durante seis meses, desde que
mudamos para o Brasil. Ela foi extremamente bem-sucedida, de forma que
a psicóloga informou que ela não precisava mais de um acompanhamento
constante. Mas, tendo em vista o bem que o tratamento com Ricardo tem
feito em minha vida, talvez seja interessante que eu busque algum
psicólogo para ela em Belo Horizonte, apenas para ter um acompanhamento
quinzenal. Julgo o acompanhamento psicológico bom por inúmeros fatores.

Ok Victória, é sua lua de mel, apenas relaxe a mente, pare de


pensar em todas as questões.
Conto de um a cinco e então mudo o foco dos pensamentos. A
maternidade é assim, preocupações diárias mesmo quando tudo está
caminhando na mais perfeita ordem.
Abro os olhos e me espreguiço exageradamente, alongando
satisfatoriamente meu corpo e soltando um longo gemido em apreciação.
Me sinto totalmente relaxada. Olho para o lado e encontro um belo par de
olhos âmbar, tão penetrantes e bonitos que me fazem perder alguns longos
segundos fixada neles.
Meu marido.
Meu Sadboy.
Meu Sadesposo.
Meu Saddominador.
A necessidade de tocá-lo surge, por isso, levo minha mão em seu
rosto. Como pode um ser humano ser tão lindo assim? Como pode existir
tanta perfeição, não apenas física? Meu garoto grande é tão fantástico, em
todos os sentidos. Às vezes parece uma criança, outras vezes se comporta
como um adolescente e então vira um homão destruidor, e não apenas
sexualmente. Matheus se transforma num homem “fodidamente” foda, que
sabe usar as palavras corretas, que tem atitudes magnânimas, que chega e
faz. Controlador, dominador, as vezes irracional, impulsivo e perfeito na
maior parte do tempo. Tudo o transforma nesse homem gigante perfeito, até
mesmo suas imperfeições. É tão surpreendente. Mil e uma características
para um único homem. Um único homem para uma grandiosidade sem
limites.
— Linda. — Diz com sua voz completamente rouca pelo sono e os
olhinhos meio puxados.
— Lindo.
— Está anoitecendo. — Diz olhando na direção das janelas atrás de
mim enquanto eu volto meu olhar às janelas atrás dele. La fora, entre
nuvens, o céu está escurecendo com milhares de estrelas.
— Nós dormimos bastante.
— Seis horas seguidas. — Afirma e sorri com suas covinhas
encantadoras. Quando Matheus sorri, eu vejo uma criança perfeita. Seu
sorriso é tão puro e genuíno.
— Lindo.
— Linda, minha sardinhas bonitinhas. Você é tão linda acordando.
— Você é tão fofo na maioria das vezes. — Sorrio e ele me puxa
para ficarmos mais perto. Descanso minha perna direita entre suas pernas e
então tenho minha cabeça encostada em seu peitoral.
Traço um dedo em sua tatuagem e descubro que até hoje não
consegui entendê-la de verdade. É quase ilegível.
— Você nunca quis me contar o significado.
— Quando fizermos trinta anos de casados eu contarei. — Avisa me
fazendo revirar os olhos.
— Vou fazer uma tatuagem secreta também.
— Só depois que tiver nosso Sadbebê e com uma tatuadora. — Oh,
ele já se mostrando cuidadoso com nosso bebê é algo lindo. Mas, como nem
tudo é perfeito, ele decide sobre tatuadora e eu sinto vontade de socá-lo. —
A minha ficha sobre o Sadbebê ainda não caiu, Vic.
— A minha também não. — Sorrio. — Seu pau está duro.
— Sim. É involuntário. Você está grudada em mim, logo meu pau
fica duro.
— É, percebo isso diariamente. — Sorrio. — Theus, você acha que
Isis vai sentir?
— Sobre nosso bebê?
— Sim.
— Ela me pediu um irmão. Foi então que sugeri um cachorro. O
primeiro pedido que ela me fez foi um irmão. — Comenta dando uma
risadinha. — Eu ofereci um zoológico inteiro a ela no lugar de um irmão, e
agora estou aqui, com minha esposa grávida.
— Esposa, que grande avanço para nós dois, senhor Matheus
Albuquerque.
— Não é mesmo, senhora Victória Albuquerque? — Sorri beijando
o topo da minha cabeça. — Sobre Isis, nós dois vamos conseguir tirar
quaisquer pensamentos indesejados da cabecinha dela, tenho certeza. Ela é
uma garota pura, inteligente, carinhosa e extremamente compreensiva. Você
fez um bom trabalho com ela, Vic. Por esse motivo, acho que as coisas
serão mais fáceis.
— Sinto um orgulho de mim mesma a cada vez que ouço isso. —
Confesso sorrindo.
— Você tem mil e um motivos para ser orgulhar de si mesma.
— Um dos motivos é estar casada com um homão da porra.
— Eu te dou porra mesmo. — Diz rindo.
— Theus... eu não sei você, mas eu...
— Vem por cima agora...— Diz me cortando achando que estou
falando de sexo. Esse homem... irei voltar de cadeira de rodas ao final da
viagem.
— Estou com fome.
— Oh, claro amor! Vou pedir o jantar de uma vez e então mais tarde
lanchamos, o que acha? — Questiona. Eu saio dos seus braços, realmente
faminta.
— Perfeito.
— Sadbebê precisa se alimentar. Eu serei pai novamente,
inacreditável. — Suspira cheio de emoção e orgulho pelo feito. A sorte está
ao meu lado realmente. — Está rindo de que, esposa?
— Da sua alegria, da sua espontaneidade.
— Hum, você é doida comigo né?! — Provoca ficando de pé,
completamente nu. Meu riso morre. — Se eu fosse mulher iria querer me
dar também.
— Oh, deus do egocentrismo!
— Mas, sou homem e fui agraciado de conseguir me casar com a
mulher mais linda e gostosa, e ainda por cima fazer mais um filho nela!
Talvez você não faça ideia do quão linda é, Vic. É tão perfeitinha, da cabeça
aos pés. E tem uma senhora bunda. Quem te vê de frente nunca desconfiará
do que tem na parte traseira.
— Obrigada? — Questiono rindo.
— Todinha minha. Agora se levante, mostre-me sua nudez e então
se vista. Vou pedir o jantar e precisamos estar apresentáveis. — Theus
modo mandão ativado!
Eu me levanto provocativamente, abusando da sensualidade que sei
que não tenho nesse momento pós-sono-coma.
— Continue com isso e você será minha refeição. — Avisa me
fazendo rir. Me assusto com a bagunça que fizemos na cama. Está
completamente desarrumada. Não sabia que poderíamos ser tão
“bagunceiros”.
— Você não usou o brinquedinho elétrico. — Argumento rindo.
— Temos pelo menos mais umas onze horas dentro desse avião. Há
um brinquedinho elétrico e um óleo comestível para serem usados ainda. —
Pisca um olho e some pelo banheiro.
Mordo meu lábio reprimindo um sorriso assim como reprimo meus
pensamentos sujos. Decido arrumar a cama, tomando o cuidado especial de
guardar as algemas e os demais acessórios em minha bolsa.
Caminho até o banheiro e meu marido gostosão está no banho. Faço
xixi sob seu olhar atento, isso é tão... estranho. Esse lance de intimidade é
estranho, mas, desde que a família investe em banheiros de vidro, estou
meio que adaptada fazer xixi diante dele. Assim que me limpo decido que
também preciso de um banho para acordar para a vida. Um banho com meu
marido não é nada ruim...
Assim que entro, sou virada de costas e ele molha meus cabelos
gentilmente. O ouço pegar o shampoo e logo suas mãos voltam
massageando todo meu couro cabelo de um jeito delicioso.
— Hum, isso me dá um pouco de preguiça. — Comento
completamente relaxada. Daria tudo por uma hidromassagem.
Theus enxágua meus cabelos, tirando toda a espuma, suas mãos
agora descem para meus ombros numa massagem divina que inclui meu
pescoço. O ouço abrindo algum frasco e logo em seguida suas mãos estão
em meus seios, os lavando tortuosamente e aproveitando para enlouquecer
meus mamilos já rijos.
Uma mão escorrega em minha barriga enquanto a outra desliza pela
minha bunda.
— Abra as pernas para mim. — Pede me fazendo arrepiar em
expectativa. Isso é insano. Era para ser um banho normal...
Eu as abro e a mão que estava em minha barriga desliza em minha
intimidade, assim como ele tenta conseguir passagem entre minha bunda
usando dois dedos.
— Por que está gemendo? Estou apenas dando banho em você.
— A versão “Matheus Albuquerque” de banho é mais excitante que
qualquer outra versão que exista nesse mundo. — Respondo precisando
apoiar minhas mãos na parede.
Quando ele me toca mais intimamente, eu não posso conter um
gemido.
— Santa merda, Vic!
— Mais. — Peço sem qualquer tipo de vergonha. Eu preciso de
mais disso.
— Você quer transar aqui, assim? — Oh, que pergunta! É claro que
quero! Mas, a forma como ele está movendo-se, me faz não ter forças para
responder. — Você não respondeu, Vic...
— É claro que sim, não precisava perguntar. — Ofego soltando um
gemido e então ele para de mover sua mão.
— Resposta errada, Victória. Estamos dentro de um avião, se
houver qualquer turbulência podemos nos desequilibrar nessa água e você
pode vir a se machucar. Enquanto houver um bebê em sua barriga teremos
que ser mais cuidadosos. — Merda, nós estamos a bordo de um bendito
avião! Por alguns minutos eu me senti em casa, mas, aí percebo que só me
senti dessa maneira porque ele mesmo é meu lar, aonde quer que estejamos
Matheus é minha casa.
Minha ansiedade agora acaba de me arruinar. Eu entro de cabeça
embaixo da ducha e deixo que água cuide de esfriar meu corpo. Ele me
pega novamente, virando—me de frente, e seus lábios tomam os meus, num
beijo lento, apaixonado, que me deixa completamente bamba.
Os hormônios estão bagunçando comigo, mesmo eu achando tão
cedo para isso. Há fome de comida e fome de sexo, tudo na mesma
proporção. Na gestação de Isis eu estava tão fodida emocionalmente que
nem mesmo meus hormônios pareciam estar em combustão. Só sentia enjoo
os três primeiros meses e depois foi como se nada estivesse acontecendo.
Talvez, nessa gravidez eu sinta tudo o que não senti na dela, principalmente
o desejo sexual desenfreado. — Como se isso fosse novidade. — Desde que
decidimos ficar juntos, está tudo muito desenfreado.
Suas mãos fazem carinho em meu rosto e seus lábios deixam os
meus. No momento em que o momento acaba, eu quase escorrego pela
parede.
— Porra, vic! — Ele exclama me ajudando a ficar de pé. — O que
diabos aconteceu?
— Minhas pernas não aguentaram a pressão. — Explico sorrindo
preguiçosamente. — Eu amo seus beijos.
— Você está ficando malucona, cara! Estou começando a me
preocupar. Venha, mantenha-se firme. — Diz me pegando e eu realmente
estou bamba.
Após desligar a ducha, ele me enxuga por completo e me leva para
a cama, onde fico sentadinha esperando nossa refeição. É engraçada a
maneira como ele está me olhando, como se eu fosse maluca.

É estranho, descobri ontem sobre a gravidez e hoje já estou notando


algumas diferenças em Victória. Talvez não percebesse antes por não saber
sobre o bebê. Mas, agora por exemplo, ela está devorando uma segunda
refeição enquanto eu já estou na sobremesa, uma deliciosa torta alemã.
Não falo nada, não quero que ela se sinta mal por eu dizer que ela
está absurdamente linda comendo como uma maníaca compulsiva. Mas,
isso me dá um orgulho do caralho. Orgulho de macho possessivo, tipo
homem das cavernas, sabe? Isso tudo apenas por saber que ela está
comendo dessa maneira porque há um filho meu em seu ventre. Ou filhos...
não se sabe.
Pelo que percebo em mim mesmo, a partir de agora serei um
homem extremamente foda em avaliar. Já estou avaliando cada ato de
minha Sadgirl desde que anunciou a gravidez, nada está passando
despercebido. Nada!
Ela está engraçada dessa maneira, parecendo muito mais insana do
que realmente é. Não posso nem mesmo esbarrar nela sem querer que já
quase causa um orgasmo. Será que isso faz parte da gestação ou é fogo pela
lua de mel? De um jeito ou de outro pressinto que grande parte da lua de
mel vai ser reservada só para sexo.
Ricardo tornou-se meu amigo nos últimos meses e eu pude debater
muito sobre a minha vida sexual com ele. É incrível como ele nos deixa à
vontade para fazer desabafos e nos ajuda gratuitamente a conseguir
entender as situações. É um talento natural que o cara possui.
Conversamos sobre todo sexo que eu e Vic temos tido. E, o desejo
descontrolado dela está totalmente ligado aos traumas do passado, porém,
de uma maneira boa. Como se ela tivesse descoberto o significado do prazer
em mim, já que antes só lidava com coisas fodidas. O fato de termos ficado
anos separados, também contribui para isso. Ricardo me explicou que tudo
o que está acontecendo entre nós é normal, saudável, principalmente porque
sabemos ter controle. Eu estava achando anormal um casal transar quase
todos os dias, mas, no fim, descobri que não é.
Calma! Quando eu era solteiro eu fazia sexo quase diariamente,
então parece hipocrisia estar preocupado sobre isso. Mas, a única razão da
preocupação é em relação ao passado de Vic, é o medo por não ser saudável
ou por todo apetite dela ser uma fuga, ou qualquer merda relacionada aos
traumas. Graças a Ricardo, o medo foi devidamente controlado e eu e
minha esposa estamos imensamente felizes.
Termino minha sobremesa no mesmo minuto em que ela termina
sua refeição. Quase rio quando ela coloca as duas mãos na barriga e geme.
— Quero torta holandesa. — Porra!
— Vic, amor, você realmente quer uma torta holandesa? —
Pergunto tentando controlar minha incredulidade.
— Por favor.
— Tudo que você quiser. — Digo pegando no frigobar a torta. A
entrego e então ela geme deliciosamente ao colocar a primeira colher na
boca. Puta merda! Que descontrole!
Baixo um joguinho no meu celular e finjo jogar enquanto a observo
quase ter um orgasmo comendo. Estou assustado, sinto que ela vai passar
mal. Por sorte ela larga a torta pela metade e me entrega.
— Satisfeita? — Questiono sério lutando contra a vontade de sorrir.
— Imensamente. Essa comida deles é fantástica. Diga que
voltaremos nesse mesmo avião?
— Voltaremos.
— Vou cochilar uns minutos, me acorde para fazermos um pouco
de atividades sexuais. — Avisa se jogando na cama e cobrindo sua cabeça.
— Ok. Sadgirl está ligeiramente perturbada. Eu ia perguntar se ela vai
escovar os dentes, mas, é melhor deixar para lá...
Ligo para a comissária e ela vem retirar nossas bandejas. Verifico
meus e-mails e então, sem nada de legal para fazer, durmo.

Sou acordado daquela maneira feliz que tanto amo. Sorrio antes
mesmo de abrir os olhos.
— Você funciona bem até dormindo. — Ouço minha esposa elogiar
e me sinto muito foda por fazer justiça até dormindo. Ok, foi péssimo,
mas...
— Vic, você está tarada pra caralho. — Suspiro abrindo meus
olhos, levantando a cabeça e retirando seus cabelos do rosto. — Você é uma
tentação, Victória.
Ela sorri e volta à tentativa de me desonrar. Quando ela está prestes
a atingir o propósito, dou um golpe delicado e a viro, invertendo a posição e
deixando-a sob meu corpo. Não falamos nada dessa vez, apenas nos
perdemos um no outro, mais uma vez.
Fico parado alguns segundos enquanto ela se move embaixo de
mim, completamente excitada. Minha garota roubou meu controle agora, e
eu, nem mesmo sou maluco de tirar isso dela. Se ela me quer assim, ela
terá.
Não sei quanto tempo nos perdemos um no outro, mas sei que em
algum momento dormimos, pois sou desperto com uma batida na porta que
quase me faz cair da cama. É a comissária, com toda certeza. Pelo jeito, um
aviso de que estamos chegando ao nosso destino.
— Merda! — Vic protesta.
— Calma, não precisa desesperar. Vamos tomar um banho rápido e
então sairemos. Estamos no ar ainda, amor. — Tranquilizo minha esposa.

Tomamos banho, nos vestimos e ainda ficamos algum tempo


aguardando o avião pousar. Fico jogando criminal case e até convenço
minha esposa a baixar o joguinho. Somos tão adultos!
Quando enfim estamos em terra firme, finalmente esticamos nossos
corpos em gestos exagerados e inapropriados. Foda-se! Estou quebrado
como se tivesse praticado cinco treinos de Crossfit seguidos.
Mesmo dolorido, pego Victória e desço as escadas com ela em
meus braços, sem me importar com dezenas de olhares direcionados a nós.
Ela ri agarrada ao meu pescoço e para de sorrir quando chegamos embaixo
e a comissária nos grita.
Ela está usando uma luva e segurando objetos. Eu mordo meu lábio
para não rir quando ela mostra o vibrador e o gel comestível em mãos. Vic
esconde sua cabeça em meu peitoral enquanto permito deixar a gargalhada
escapar.
— Os senhores esqueceram no quarto. — Avisa sem graça me
entregando.
— Muitíssimo obrigado, minha esposa me mataria se chegasse no
hotel e não encontrasse os brinquedinhos. —Envergonho Victória ainda
mais e ela crava as unhas fortemente em minhas costas.
— Tenham uma excelente lua de mel, senhores. — A comissária
está completamente corada, porém, segue educada e sorridente. Quando ela
se vai, eu permito-me rir com vontade.
— Diga-me que isso não aconteceu, Matheus Albuquerque. — Vic
implora e eu rio mais.
— Aconteceu.
— Meu Deus, Matheus! — Exclama com suas sardinhas exaltadas
pela vermelhidão de seu rosto. — Quanta vergonha passaremos até o final
da viagem? — Questiona.
— Muitas, estou pagando no débito. — Brinco beijando sua cabeça.
— Vamos, esposa. Estou ansioso para chegarmos ao hotel.
Só penso em tomar um banho e relaxar pelo resto do dia. Amanhã
pensaremos em sair para conhecer a cidade. Casamento, lua de mel
antecipada, incontáveis horas dentro de um avião, sexo no avião. Eu preciso
de pelo menos quatorze horas de sono sem interrupções, mas, algo me diz
que Sadgirl não vai permitir.
— Também não vejo a hora de chegarmos no hotel. — Ela dá um
sorriso diabólico e eu começo a pensar que meu pau vai afinar e encolher.
Minha mente é muito fértil, fico impressionado.
Pegamos nossas malas, em seguida vamos em busca de um táxi.
Meu inglês fluente é uma das melhores coisas que possuo, acho que vamos
nos virar bem nos Emirados.
Quando paramos em frente ao hotel, Victória fica completamente
deslumbrada olhando a arquitetura diante de nós. Minha mãe amaria esse
lugar, posso apostar. Foda é que ela voltaria para o Brasil e iria redecorar
todas as propriedades que possui.
— Puta merda! Isso é incrível! — Vic exclama
— Esse hotel é incrível pelas fotos. Há várias paradas maneiras. —
Sorrio a abraçando enquanto um funcionário leva nossas malas.
Passamos pela recepção para efetuar o check-in e sou praticamente
obrigado a convencer Victória a subirmos para o quarto. O hotel parece um
palácio, cheio de atrações incríveis para os hospedes, mas, realmente
preciso descansar. Além do mais, estou ansioso para minha esposa ver o
quarto que reservei para nós. Nada mais, nada menos que a suíte
presidencial do hotel. Porém, não é o luxo que vai atrair a atenção dela e
sim a cama, posso quase apostar.
Assim que o elevador nos deixa no andar da suíte, a pego
novamente.
— Você é realmente um recém-casado tradicional. — Ri cheirando
meu pescoço.
— Sou tradicionalíssimo. Prezo a moral e os bons costumes. — Ela
ri e eu quero beijá-la. Sou um “trouxiano”, isso sim. Louco por essa mulher
num nível quase inacreditável. Eu só quero que ela seja feliz, como está
demonstrando nesse momento. Sua felicidade é a minha felicidade, não me
importo de ser um babão completo.
Pego o cartão e o "garoto das malas", apelidado por mim mesmo,
abre a porta para que eu possa entrar com minha mulher.
A coloco no chão e então ela grita.
— Mentira!!!
— Thank you so much[8]. — Agradeço o garoto dando uma gorjeta
e então estamos a sós. — Verdade.
—Oh meu Deus! Você é muito sujo, Matheus Albuquerque. Muito
depravadinho.
— Vou te amarrar em cada uma dessas barras. Há até mesmo no
banheiro. — Comunico enquanto ela me encara em choque.
— Eu estou perdida em possibilidades do que fazer aqui...
— Vamos lá, lua de mel serve para que? — Questiono.
— Namorar. — Responde mordendo o lábio.
— Não. Vou repetir a pergunta fazendo uma pequena alteração. —
Comunico. — A NOSSA lua de mel serve para que? — Pergunto e então
fico olhando seu rosto corar.
— Foder. — Oh Sadgirl, fodida Sadgirl do meu caralho! Ela
falando foder é... foda!
— Exatamente. Se nós vamos foder, as possibilidades são infinitas
nessa suíte. Ela possui dois andares. — Nós vamos poder praticar muito por
todos os cantos...
— Uau!!! Essa cama vai quebrar, nós não temos maturidade para
uma suíte desse porte! — Grita tirando as sandálias e pulando sobre a cama.
Se você a ver, jamais dirá que esse ânimo todo é sobre sexo, mas é. Ela se
parece uma criança, porém, a comemoração não tem nada de inocente.
— Não temos. — Concordo plenamente.
— Bora praticar... — Convida e eu franzo a testa.
— Praticar o que?
— O que você aprendeu a fazer com cordas, shibari e sua infinidade
de amarrações. — Sorri angelicalmente retirando sua roupa. Isso acaba de
matar um sujeito macho no auge do cansaço.
— Não está cansada?
— Oh, você está mortinho, né Sadmarido? Devo pedir uma catuaba
ou um Viagra? — Pergunta me provocando e eu arranco a roupa fora como
um selvagem.
Preciso provar um ponto que talvez, em todos esses meses de
convivência, ela ainda não tenha entendido.
Meu nome é Matheus Albuquerque Barcelos, eu não nego fogo. Eu
incendeio!
“Eu estou deixando esta casa e essa cidade para queimar”
Louis the child – Fire

Após longos dias curtindo os prazeres carnais, enfim nossa viagem


chegou ao fim.
Nossa passagem de volta teve como destino o Rio de Janeiro.

Assim que aterrissamos, pegamos um táxi rumo ao condomínio.


Estou realmente ansiosa para ver minha filha. Nunca ficamos tanto tempo
afastadas.
Matheus pediu que Mariana organizasse um jantar em
comemoração à nossa chegada, mas, na verdade, foi apenas uma desculpa
para reunirmos todos os familiares e contarmos a novidade.
Quando finalmente o táxi chega ao condomínio, descemos
carregando duas malas cada um.
— Deixe as suas na portaria que eu voltarei para buscá-las. — Meu
cavalheiro da armadura brilhante avisa.
— São de rodinhas, não estão pesadas.
— Não quero arriscar. — Diz piscando um olho e isso significa que
não tem discussão. Sim, se antes era 70% protetor, agora ele passou dos
100%. Está preocupado e antenado a tudo relacionado a mim e a minha
saúde. Preocupa-se até com a minha ingestão de água. É fofo, mas, é
irritante também em determinados
momentos.
Entramos no elevador, ele deixa nossas malas num canto e avança
sobre mim. Vai ser difícil nos acostumarmos novamente com a civilização.
Foram dias de insanidade total. Eu mal conseguiria descrever o que foi tudo
aquilo. Só sei que Ricardo vai ter que me ouvir e dizer que não é tudo uma
grande loucura e que estamos doentes.
— Você é uma delícia! — Ele sussurra em meu ouvido, apertando
minha bunda.
— Theus, há câmeras. — Argumento contendo um sorriso.
— É verdade. — Suspira frustrado.
— Não cansou de todas as atividades na lua de mel? — Pergunto o
segurando pela camisa.
— Eu nunca me cansarei de ter uma dose de você, princesa. Eu
sinto fome de você. Estou triste por voltamos a rotina, mas também estou
feliz. Triste por não tê-la vinte e quatro horas por dia, feliz por estar com
nossa princesa, em nossa nova casa, vivendo nossa vida de casados. — Diz
me deixando em choque. Esse homem é um veneno. Os MEUS hormônios
estão afetando ELE.
— Lembre-se, nós sempre temos as noites. — Sorrio passando as
mãos em seu lindo rosto.
— Eu sei que sim, meu amor. Assim como sei que nossas noites são
bastante bem aproveitadas. — Ele me beija mais uma vez, porém de forma
bem menos acalorada.
Quando chegamos no hall todos estão nos esperando, e quando digo
todos, são todos mesmo.
— Aeee!!! — O grito deve ter sido escutado por todo o
condomínio. Meus olhos se fixam em um par de olhos azuis expressivos e
eu caio de joelhos para abraçar minha filha, como se não houvesse qualquer
outra pessoa aqui. Ela é tudo que importa neste momento.
— Que saudade, princesa! — A aperto em meus braços, me
rendendo as lágrimas. — Eu senti tanto a sua falta, tanto.
— Também senti, mama.
— Papai também sentiu filha. — Theus nos abraça e então vira uma
choradeira só. Não nos importamos com os demais espectadores, nesse
momento só há uma única que nos interessa: nossa pequena princesa.
Seu cheirinho de morango, seu sorriso genuíno, seu abraço apertado
e tão sincero. Seu simples toque traz uma sensação de reconforto
inexplicável. Eu estou abraçada ao meu anjo e ao meu marido. A dor, que
havia desaparecido por um longo período, resolve dar o ar da graça. Mas,
dessa vez é uma dor de amor, bem daquele tipo que quando não
conseguimos mais segurar e ela transborda.
Não fazia ideia que seria tão doloroso ficar sem essa garota por
longos e incansáveis dias, por mais perfeito que a lua de mel tenha sido.
Tento conter a maneira como meu coração se expande em meu
peito, um lembrete silencioso sobre o tamanho do meu amor por essas duas
pessoas que estão enroscadas a mim. É aqui que eu me lembro que não
seremos mais três... Nós provavelmente seremos quatro ou cinco. Isso faz
meu peito inflar.
— Merda, caiu um cisco no meu olho. — Matheus diz escondendo
seu rosto em meu pescoço.
— Maior frouxo, bebê chorão. — Meu irmão grita.
— Meu ovo, filho da puta! — Meu marido esbraveja. — Desculpa,
filha. Papai disse uma palavra muito feia.
Eu rio e escuto Arthurzinho gritando "meu ovo" para Heitor. Essas
crianças têm um futuro regado de palavras inapropriadas pela frente.
— "Ovo deve ser minhas bolas" — Arthurzinho diz rindo.
Fechando meus olhos, sacudo a cabeça. Não há argumentos capazes
de fazer com que Matheus e todo o restante da família contenham a boca
suja. É inevitável e eu estaria perdendo meu tempo lutando por essa causa.
Quando Isis começa a se mexer incomodada com a força com a
qual estamos a apertando, a soltamos. Ela toma uma longa respiração e
sorri. Eu e Matheus a fizemos, tem lógica?
— Puta merda, eu estou tão fodido! Vou tirar o porte de arma ainda
esse ano. — Theus desabafa me colocando de pé. — Bom, vamos ficar
todos aqui no corredor? E a senhora, dona Ana? — Ele sorri e abraça a vó
materna, em seguida repete o ato com a paterna e eu fico rindo.
— Você engordou! —Minha mãe diz me abraçando e eu sorrio. Eu
engordei, por inúmeros motivos. — Está linda, Vic. Acho que nunca a vi
tão linda.
— Puxei minha mãe! — Elogio minha rainha e então é a vez de
abraçar meu pai.
— Filha, você está linda.
— Sou filha de um modelo famoso. — Brinco o abraçando.
— Sentimos sua falta. Não gosto mais da ideia de ficar longe, estou
arrasada por estarem indo para Belo Horizonte. — Minha mãe choraminga.
— Quarenta minutos de avião nos separam, mamãe. Prometo que
viremos sempre, assim como quero que todos vocês vão nos visitar com
frequência. — É importante passar isso a eles, após todos os
acontecimentos ficamos mais unidos e sei quão sentidos todos estão pela
distância. Mas, é verdade, estaremos sempre juntos. Há uma fonte
inesgotável de otimismo em mim nesse momento. Estou feliz por estar aqui
com toda nossa família, mas, também estou ansiosa para que eu, Matheus e
Isis possamos ir para a nossa casa em Belo Horizonte, recomeçarmos uma
vida agora casados.
Com os olhos, encontro Giovanna e Ricardo. Sorrio ao vê-lo
protetoramente com os braços em torno da cintura dela. Formam um
belíssimo casal. Minha Gi, ela apenas merece toda a felicidade do mundo.
Ela está ficando no apartamento do Matheus e estou tentando de todas as
maneiras possíveis levá-la para Belo Horizonte, enquanto minha mãe quer
que ela fique e ocupe meu lugar nos abrigos. Tendo em vista o quão
conectada ela está a Ricardo, acho que perdi a disputa.
Eu e Matheus cumprimentamos os demais familiares e quando
todos finalmente entram no apartamento de Mari, ele impede que eu e Isis
entramos.
— Vamos buscar as outras malas. — Ele informa à Arthur que está
nos esperando na porta e eu não compreendo. — Acho que temos algo para
comunicar a todos, mas, em primeiro lugar há uma garotinha que precisa
saber antes de todo o restante das pessoas. — Explica e eu sorrio. Olho para
meu sogro, ele parece já ter capturado a mensagem, pois seus olhos estão
levemente nublados e ele mal consegue formular uma frase. Apenas acena
com a cabeça.
Entramos no elevador e, de repente, percebo que estou ansiosa o
bastante. Isis está com sua cabeça deitada no ombro de Theus e eu brinco
com seu nariz.
— Linda.
— Você, mamãe. — Own, eu sou muito apaixonada.
— Eu tenho as duas mulheres mais lindas comigo.
— E nós temos o homem mais lindo. O melhor papai e o melhor
marido. — Sorrio e Isis o abraça mais forte.
— Te amo, papai.
— Merda. — Ele a agarra forte e eu temo pelas costelas da minha
princesa.
— Vai matá-la, Matheus!
— Caiu mais um cisco em meu olho. — Ele chora real e me viro
para limpar suas lágrimas. Quão sensível e dramático ele pode ser? Theus é
um ursão!
Chegamos ao térreo e caminhamos pela calçada do condomínio até
pararmos em uma pracinha, de frente para a lagoa. Em seguida, nos
acomodamos em um banco e estou ansiosa para saber como ele vai
conduzir isso. Sei que ele terá as palavras certas, ele sempre tem.
— Filha, eu e mamãe temos uma novidade para contar. — Anuncia
direto ao ponto, entrelaçando nossos dedos.
— O que é? — Ela pergunta sorridente.
— Você foi promovida.
— Promovida, papai? O que é promovida? — Pergunta franzindo a
testa.
— É... Como eu explico isso a ela? — Ele me pergunta.
— Filha, promovida é quando você se torna algo a mais do que já é.
Quando você... não sei explicar isso a uma criança de sete anos. — Me dou
por derrotada e Matheus ri.
— Entendi. — Ela sorri. — É como ficar em primeiro lugar? —
Matheus afirma com a cabeça e ela franze a testa. — Por que estou em
primeiro lugar? — Pergunta.
— Você foi promovida a irmã mais velha. — Theus diz e ela me
olha com espanto.
— O que isso significa?
— Que você vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha. — Ele
explica emocionado e então ela me olha mais uma vez.
Seus olhinhos passeiam até minha barriga e as palavras parecem
cair em sua compreensão. Suas mãozinhas voam até sua boca e ela começa
a chorar copiosamente. Meu Deus... Isis será a minha morte. Ela é
realmente filha de Matheus!

Ela se joga nos braços do pai e eu me jogo também, porque estou


perdida. Dois chorões me fazem ser chorona também. Ela chora de soluçar
e eu não consigo me conter. Minha filha está feliz, de uma maneira que eu
nunca fui capaz de fazê-la antes. Não que ela tenha sido infeliz antes, mas é
que agora ela está irradiando felicidade, de todas as maneiras possíveis. Ela
está realizando todos os seus sonhos, um por um deles. Ela possui uma
família numerosa, primos, amigos, cachorrinho... ela possui um pai que ama
incondicionalmente e agora está ganhando seu tão sonhado irmão ou irmã.
Esse momento é mais um daqueles em que olho para trás e vejo que tudo de
ruim que passei valeu a pena e está sendo devidamente recompensado.
Agora somos só amor. Três vidas repletas de amor.
— Me mata ver vocês duas chorando. — Meu marido, que está
chorando, diz sua repetitiva frase me fazendo rir.
— Então vamos apenas parar de chorar. — Sugiro me afastando e
limpando (sem classe) meus olhos na blusa dele. — Você está feliz, filha?
— Pergunto à minha garota chorona e ela apenas balança a cabeça em
concordância.
— Obrigada, papai e mamãe.
— Oh meu Deus! Vou me jogar naquela lagoa de tanto chorar. —
Digo passando as mãos em meus cabelos. Deveria ser proibido crianças
falarem essas coisas fofas.
— Ok, vamos todos parar de chorar! — Matheus anuncia limpando
seu rosto e em seguida limpa o rosto de Isis. — Sem chorar, ok? É uma
notícia feliz, temos que rir e comemorar muito. Nada de choro filha.
— Estou emocionada, papai.
— Aí inferno de cisco no meu olho. — Ele diz voltando a se sentar
e apoia a cabeça em suas mãos. Ele chora de soluçar enquanto eu e Isis nos
encaramos em choque.
— Theus...
— Só um momento. — Pede levantando uma mão.
— Papai, não chora. Me matar ver você chorando. — Eu rio com as
palavras de Isis. Tenho uma mini ele em casa! Estou fodida!
— Nós precisamos agradecer a mamãe por tudo que ela tem feito
por nós. A mamãe me deu você e agora está me dando outro bebê. — Ele
conversa com Isis que limpa seus olhos e eu sinto que vou desmaiar, de
verdade.
— Nada disso, apenas pare com Isso, Matheus! Eu quem
agradeço...
— Shiu! — Diz calando minha boca. — Você concorda com o
papai, Isis?
— Sim. Obrigada mamãe por ter me dado meu papai e meu irmão.
Por ter me dado meus avós, meus tios e meus primos.
— Isis, não vá na cabeça do seu pai. — Digo chorando novamente.
— Não faça mamãe desidratar.
— O que é desidratar?
— É quando uma pessoa chora muito até passar mal. — Theus
explica bem mais ou menos e eu o abraço. — Mas mamãe não vai
desidratar. Nós só queríamos agradecer você, mamãe. Você é incrível, é a
melhor, Vic. É a nossa vida, não é Isis?
— É mamãe. — Ela concorda sorrindo.
— Vocês são minha vida. — Digo sentindo-me tonta de repente.
— Merda, Vic. — É a última coisa que ouço antes de apagar.

Puta merda! Minha Sadgirl está caída em meus braços.


— A mamãe morreu? — Isis pergunta ficando desesperada,
começando a chorar.
— Não filha, ela apenas desmaiou. — Explico pegando Vic direito.
— Segure a camisa do papai para atravessarmos a rua.
Ela segura e então saio carregando minhas duas garotas até o
prédio.
Duas recepcionistas me ajudam abrindo a porta e o elevador. Nesse
momento é uma bosta que nossos pais morem na cobertura. Eu fico
contando os andares através do painel e quando chegamos Isis corre para
abrir a porta.
— O que aconteceu? — Bernardo grita e todos saem correndo
enquanto tento passar com Victória.
— Preciso colocá-la na cama. Mãe ligue o ar condicionado do meu
quarto. — Peço e minha corre para atender meu pedido.
— O que houve com ela? — Pietro questiona.
— Ela desmaiou. — Informo o óbvio, a colocando sobre minha
cama. Retiro seus sapatos e então minha vó Ana surge com um paninho
embebido de álcool.
— O casal fodido para desmaiar! — Beatriz debocha rindo.
— Vocês podiam sair, não é bom ficar todo mundo em cima dela
agora. — Meu pai pede expulsando todos. Ficamos apenas eu, minha avó,
minha mãe, os pais de Vic e meu pai. E meu pau também, porque ele é uma
pessoa.
— Não pretendia que soubessem assim, dessa maneira, mas Vic
está grávida. — Comunico e a merda está feita. O choro começa e eu quase
choro junto, mais uma vez. Juro que já estou ficando com dor de cabeça de
tanto chorar.
Minha vó se afasta e aos poucos Vic começa a despertar, graças a
Deus.
— Theus...
— Você está bem? — Pergunto.
— Estou com fome, me sinto fraca.
— Vamos levá-la a uma emergência. — Anúncio consumido pelo
medo. Desmaios fazem perder o bebê? Merda, não quero pensar nisso. Não
mesmo.
— Theus, é bom levarmos ao médico sim, mas, desmaios são
supernormais. — Liz explica limpando as lágrimas. — Beatriz vivia
desmaiando.
— Mas ela não tinha desmaiado até agora. E é perigoso. Imagina se
ela desmaia e bate a cabeça? — Bernardo, meu sogro, ri do meu desespero,
mas, na prática sou marinheiro de primeira viagem.
— As duas gravidezes de Liz foram descobertas por desmaios, a
primeira eu quase morri, havia uma quantia generosa de sangue na cabeça
dela.
— Pelo menos era na cabeça. — Liz diz suspirando. — Realmente,
eu o compreendo, Matheus. Desmaios são realmente perigosos, precisamos
ver algo para conter esses episódios. Ela está a muito tempo sem comer?
— Não. Ela comeu a viagem inteira e tran... e deve ter umas 3
horas, não é princesa? — Questiono e ela balança a cabeça em
concordância. Talvez devêssemos ter trepado menos na viagem. Isso a fez
gastar muitas energias. Acho que vamos abrir mão do sexo por um tempo...
tipo uma hora. Não, merda! Preciso abrir mão de sexo, é sério isso. Posso
fazer justiça com as próprias mãos enquanto Vic está carregando nosso
Sadbebê. Mas, puta merda, ela é tão selvagem e fogosa... merda! Estou
abrindo mão de sexo com minha esposa gostosa, por amor. Eu expulso a
partir de agora todo ato sexual da minha vida! Sexo só daqui... fodeu, quase
1 ano essa porra se for contar com o resguardo. 1 ano sem foder, um ano
sem entrar nos buracos da minha sad wife, 1 ano sem pôr a jiripoca para
piar, dar uma bombada, dar uma pistolada, sem fazer lepo-lepo, dar uma
pentada, furunfar, sem amassar o capô do fusca, sem empurrar a janta,
nhanhar, dar uma pedrada na vidraça, passar a vara, molhar o pincel, molhar
o biscoito, afogar o ganso, vestir a peruca no careca, bater virilha ...quase 1
ano sem foder! Puta que pariu!
— Quantas semanas? — Meu pai pergunta tirando meu foco dos
pensamentos.
— 1 ano. — Explico e todos me encaram. — O que?
— A Vic está grávida a 1 ano?
— Oh, porra! É disso que vocês estão falando. 5 semanas. —
Informo. — Vamos ao médico em Belo Horizonte semana que vem.
— Vou preparar algo para ela comer. — Minha mãe diz sorridente e
vira-se para minha esposa: — Não prefere jantar, Vic?
— Eu amaria jantar! — Olha o apetite desenfreado.
— Tem certeza que está bem? É só uma fraqueza mesmo? —
Pergunto.
— Sim, Theus.
— Parabéns filha, eu nem consigo expressar o quanto estou feliz
por vocês. — Liz parabeniza agora com o choro contido.
— Obrigada, mãe. Também estou muito feliz, nem mesmo consigo
expressar. —Sadesposa... estou orgulhoso de mim mesmo por estar
conseguindo fazê-la feliz. Eu venço na vida a cada vez que ela diz esse tipo
de coisa.
— Eu também estou feliz, filha. — Bernardo diz emocionado. —
Sem palavras. Mais um bebê para nossa família.
— Ou dois. — Digo. — Quero muito que sejam dois.
— Licença. — Jéssica diz entrando com uma bandeja em mãos e
uma barriga de melancia. Vic vai ficar assim. Estou ansioso. — Tia Mari
pediu para entregar, há algumas coisas do jantar que ainda não estão
prontas, é só um lanche leve. — Explica.
— Obrigada, Jé. — Agradeço dando um beijo em sua testa e
pegando a bandeja.
— Você está bem, Vic?
— Vou melhorar, Jéssica. Obrigada pela preocupação. E as
princesinhas?
— Estão destruindo minhas costelas, mas estão bem. — Jé sorri.
— Teremos tantos bebês!!! — Liz exclama empolgada.
— Tantos bebês?
— Estou grávida. — Vic conta e Jéssica abre a boca em choque.
— Meu Deus, parabéns! — Jéssica parece realmente feliz com a
novidade. — Theus, que felicidade! — Ela me abraça e então caminha até a
cama pegando a mão de Vic. — Estou muito feliz por vocês, de coração.
Minhas garotas terão priminhos! Isso é demais.
— Obrigada, Jé! — Vic sorri e então começa a devorar seu lanche.
— Você também come dessa maneira? — Questiono a Jéssica.
— Já engordei doze quilos, isso responde sua pergunta? —
Responde, certeza. — Bom, vou deixá-los. Vou guardar a novidade dos
demais para vocês terem o prazer de contar.
— Agradeço por isso, Jé. — Sorrio e ela se vai.
— Vamos deixá-los descansar um pouco da viagem. Nos
encontramos no jantar. — Bernardo se despede saindo com Liz, ficando
então apenas eu e Victória.
Aos poucos a cor do seu rosto vai voltando, para meu alívio. Ela
come todo o lanche e bebe todo suco, em seguida abre um lindo sorriso e
me puxa pela camisa.
— Quero você. — Diz me puxando sério para cima dela.
— O que? — Pergunto atônito e surpreso.
— Por favor. Só uma rapidinha.
— Nem uma, nem meia. Nós estamos extinguindo o sexo do nosso
relacionamento. — Aviso me desvencilhando dela e ficando de pé.
— Repita o que você disse! — Ela ordena ficando de pé também,
agora possuída pelas forças malignas. Ela parece a menina do exorcista.
— Eu disse que o sexo está extinto do nosso relacionamento a partir
de agora até o resguardo acabar. Não quero que se preocupe com sexo ou
gaste suas energias com sexo. Quero você bem e saudável.
— Você está delirando que não vamos transar em o que? Dez
meses? Isso é quase 1 ano!!!
— Fale baixo, mulher! Você está gritando.
— Não tem como. Você está querendo me privar de sexo, Matheus!
— Eu estou me privando também, pela sua saúde! — Justifico.
— Saúde é meu cu, Matheus Albuquerque! — Ulala, Sadgirl está o
veneno! Se ela não estivesse grávida nós íamos dar um show pornográfico
ao vivo.
— Sossegue! Você desmaiou, caralho! — Suspiro frustrado. —
Deite-se, pequeninha. Apenas deite e fique bonitinha. Eu amo você e
Sadbaby, quero vocês bem.
— Você vai transar comigo agora! — Diz decidida caminhando até
mim. Eu corro até meu banheiro e então tento trancar a porta. A diaba força,
e o medo de machucá-la ou exigir muito de sua força, me faz abrir.
— Vic...— Tento ser racional, mas a mulher está louca. Ela me
puxa pela calça e abre o fecho, sinto o zíper sendo deslizado e sua mão
encontra meu pau. — Vic! — A seguro e ela começa a chorar. Maldição!
Está todo mundo chorando o tempo todo, até eu.
— Por favor. — Pede tão bonitinha, que acabo cedendo porque sou
um idiota!
Ela arrasta minha calça até os joelhos e sem seguida faz o mesmo
com minha cueca. Vai me levando até o vaso sanitário, fecha a tampa e me
empurra fazendo com que eu sente. Em seguida, paira sobre mim, afasta sua
calcinha para o lado e desliza por completo sobre meu corpo, ela parece
delirar quando me tem por completo.
Estou um pouco perplexo, tanto que me sinto incapaz de esboçar
qualquer reação.
— É uma praga! Quero você o tempo inteiro. — Desabafa para
mim o que está bastante óbvio. — Você não pode me negar isso, não me
negue sexo.
— Jesus! Victória! — Exclamo tomando posse de sua cintura e
começo a comandar os movimentos. Me sento mais para a beirada e
envergo um pouco do meu corpo para trás. Assim ela fica grudada ao
máximo ao mim e meu pau fica atolado até o talo. Era isso que ela queria.
Remexo trazendo seu corpo para frente e para trás, puta merda, tão
bom! Tornei-me um insaciável, juntamente com minha esposa. Acho que
nem mesmo dormir consegue ser tão bom quanto transar.
Quando estamos transando, nosso corpo parece desperto para tudo.
A sensação de prazer é tão boa, tão incrível. É como saltar em queda livre
para o país das maravilhas. É muito bom ter essa conexão, mas, é melhor
ainda quando você está praticando com a pessoa que ama. Sei lá, é
diferente. Há ainda mais prazer, mais desejo, mais satisfação. Eu amo sentir
prazer e amo como sou capaz de sentir prazer vendo minha mulher sentir
prazer. Sou um amante generoso, que antes de pensar em si próprio, pensa
no prazer da mulher. Só não sei explicar como proporcionar prazer a ela,
pode causar tanto prazer em mim.
— Que delícia! — Minha mulher geme. — Theus, é tão bom senti-
lo quase furando meu útero. — Péssima escolha de palavras! Eu quase
convulsiono a tirando de cima de mim. Deus me livre! Minha esposa
grávida está dizendo que estou quase furando seu útero, isso é aterrorizante,
nem mesmo consigo ter pensamentos racionais que me levem à lógica de
que é impossível meu pau furar o útero dela. Acontece que, ela dizer essa
merda, me fez lembrar que há o nosso bebê ali e isso me aterrorizou. —
Merda! Matheus, foi só uma expressão...
— Nós estamos sem sexo, Vic! Deus me livre furar seu útero!
Nosso Sadbebe...
— Nosso filho vai nascer com cara de pau! — Isso detém meus
passos e minha fuga. Um filho com cara de pênis é foda! Imagino a cabeça
do moleque, se for menina ao menos os cabelos cobririam um pouco...
— Isso não existe!
— Não vamos correr o risco. — Ela sai me puxando e eu a sigo
como um cachorro. Então, voltamos à posição. Eu torno a me sentar e ela
torna a me montar. Luto para não brochar, pois nesse momento estou
imaginando um bebê com cara de pênis. Merda!
Decido afastar os pensamentos e me render ao prazer.
Santa misericórdia divina! Algo entre um gemido e um ruído,
ribomba em meu peito sem que eu consiga segurar. De repente, alcançar o
orgasmo dela vira um caso de vida ou morte para mim. Estou segurando
minha vontade de gozar de uma maneira dolorosa. Ela está decidida a me
matar e estou fodido. Choques de prazer disparam pelo meu corpo a cada
vez que ela segura um gemido e suas mãos apoiam-se em meu peitoral.
Vic se perde fechando seus olhos, enquanto sinto suas paredes
comprimindo ainda mais em torno de mim. Minha garota faz uma bela
bagunça em minha assim que atinge o orgasmo.
É quase como uma ejaculação feminina, se não for. Isso me leva ao
limite.
— Vic...— Eu chamo seu nome alto a agarrando forte contra meu
corpo. Estou trêmulo, ofegante e arrepiado. Estou tarado pra caralho.
— Eu...
— Ejaculou. Tão sensível, Vic, fodidamente sensível. — Em minha
voz, há um tom de adoração. Vic tem ejaculado com frequência na última
semana. Acho que essa é a quarta vez.
— Eu molhei você, merda! Nós estamos sem roupas, minhas malas
ainda estão na recepção e as suas estão na sala. — Ela diz desesperada.
— Devo ter alguma roupa aqui ainda. Tome um banho, princesa.
Vou achar uma bermuda e então irei buscar sua mala.
— Não vai tomar banho? Está com cheiro de sexo. — Diz
mordendo o lábio e choraminga. — Você é uma delícia, Matheus
Albuquerque. Você me deixa tão completamente satisfeita.
— Eu amo você, Vic. Sempre irei te satisfazer... após o resguardo!
Essa foi a última vez transamos. Foda de saideira.
— Você está certo disso? — Questiona saindo de cima de mim.
— Estou. — Minto.
— Tudo bem. Comprarei um brinquedinho para substituir seus 24
cm.
— Você diz com tanta propriedade que meu pau tem 24
centímetros, tem ideia do que são 24 cm? — Rio. — Vamos lá dona
Victória insaciável, vá tomar um banho e eu vou cuidar de tudo.
— Vamos medir quando chegarmos em nossa casa. — Ela retira seu
vestidinho exibindo seu lindo corpo e... É doentio a maneira como reajo.
Me levanto e estou bastante molhado pelos nossos líquidos.

— Merda, não temos uma toalha aqui. Vou pedir minha mãe.
— Mais um episódio constrangedor na minha vida! Está ficando
difícil, senhor! — Ela protesta pronta para passar vergonha. O que posso
fazer? Enrolar uma toalha na cintura e ir pedir por ajuda. Dona Mariana
sempre pode ajudar nesses casos.
A grito e logo ela surge.
—Oi. — Nem preciso dizer que só pelo seu sorriso, ela sabe
exatamente que eu e Victória estávamos tendo um momento íntimo.
— Precisamos de toalhas. Pode conseguir? —Peço.
— Estava transando, né? Descarado! Sabia que a casa está cheia de
visitas que estão esperando por vocês? Eu transei no banheiro, no seu chá
de bebê. A casa estava cheia e eu arrastei Arthur para... — Eu a corto antes
que possa terminar a frase.
— Pode pedir meu pai para buscar as malas da Vic lá embaixo e
então trazer as minhas para o quarto também? — Ela revira os olhos. —
Vamos lá, minha gata.
— Eu sei que estavam transando.
— Estávamos mesmo, mãe. — Afirmo rindo. — Vic parece uma
ninfomaníaca. É normal? —Pergunto ganhando uma gargalhada gostosa.
— Pergunte ao seu pai quando ele vier trazer as malas. Já trago as
toalhas. — Ela pisca um olho e sai andando.
Não sei se devo perguntar meu pai. É arriscado que eu fique
traumatizado após a resposta dele.
5 MINUTOS DEPOIS
— Pai, minha mãe disse que eu deveria perguntar a você. É normal
a mulher ficar com um apetite sexual extremo durante a gravidez? —
Pergunto na cara de pau. Eles sempre me deram a liberdade de falar
abertamente sobre sexo, nesse momento estou grato a isso. Preciso saber
mais do universo que estou habitando.
— Se Victória for como sua mãe, preciso dizer que suas
madrugadas nunca mais serão as mesmas. — Diz batendo em meu ombro.
— Sabe, teve um momento em que eu estava quase pedindo arrego e
sucumbindo ao uso de Viagra. — Puta merda! Viagra é caso sério, caralho!
— O lençol está molhado, favor colocá-lo na máquina de lavar assim que
tomar banho. — Ele dá uma risada e então sai do quarto.
Olho para baixo e há a marca do meu pau molhado no lençol.
Inferno.
Minhas madrugadas nunca mais serão as mesmas? Quando Sadbaby
nascer que ele quis dizer, não é?
Vamos falar sobre sexo, baby
Vamos falar sobre você e eu
Vamos falar sobre todas as coisas boas
E as coisas ruins que podem existir
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É incrível o que o simples fato de saber que está grávida faz com
uma mulher.
Sério, nem barriga tenho, mas, de alguma forma estou agindo como
se estivesse grávida de pelo menos seis meses. Estou com as mãos
posicionadas nos quadris me olhando no espelho como se eu estivesse
extremamente barriguda.
Me viro de lado e nada acontece. Claro que não aconteceria,
imbecil! Continuo sendo eu, como se nenhuma mudança estivesse
acontecendo em meu interior. Isso mexe com meu humor. Ok, estou
parecendo maluca, eu sei. São os malditos hormônios que estão varrendo
minha sanidade para fora de mim.
Matheus chega por trás e coloca sua cabeça no vão do meu pescoço.
Suas mãos escorregam até minha barriga, quentes e firmes. Eu sorrio, mas
ele está sério agora.
— Parte da minha vida está aqui, sardinhas bonitinhas. — Diz
fazendo carinho em meu ventre e eu me viro de frente para ele.
— Parte da minha vida está aqui. — Coloco a mão sobre seu peito,
onde seu coração bate ritmadamente.
— Eu acho que temos que ir contar a todos que minha esposa está
esperando um bebê. — Um bebê nosso. Que felicidade!
Visto um vestido e, tão logo estou pronta, seguimos para a sala,
onde todos estão conversando e rindo. As crianças estão no tapete jogando
um jogo, exceto Enzo que está dormindo no carrinho e Maria Flor que está
emburrada no colo de Bernardo, que explica algo pacientemente a ela. Eu
acho a coisa mais linda ver meu irmão no modo pai. Nunca imaginei isso.
Imaginava Pietro, mas Bernardo, por ser muito fechado, nunca me ocorreu.
Ele é um pai paciente, engraçado, amoroso do tipo que transborda. É
engraçado ver como ele se tornou uma pessoa divertida quando passou
grande parte da vida sendo um jovem completamente sério. Agora, meu
irmãozinho, fala palavrões, brinca o tempo inteiro e não tem freio na língua.
Acho que é especialidade dos Albuquerques transformarem pessoas. Uma
transformação para melhor. Não há espaço para tristeza quando se está no
meio deles. É apenas alegria, leveza, sinceridade, diversão, loucuras.
Acho que todas as pessoas que se aproximam de Mari e Arthur são
devidamente contagiadas pelo amor e pela felicidade que eles possuem.
Sem contar que, mesmo em meio a toda loucura, Mariana e Arthur são pais
incríveis. Eles deram à luz a três seres humanos fantásticos e os educaram, e
educam, os transformando em pessoas do bem, que exalam bondade,
educação e inúmeras qualidades que poucos seres humanos possuem.
Arthurzinho por exemplo, é uma criança modelo. Parece um príncipe de tão
educado. Beatriz, louca como a mãe, tem um coração incrível, é uma pessoa
do bem, educada, centrada, trabalhadora, uma supermãe. Matheus? Eu sinto
que esgotei minha quota de elogios para ele. Um rompante de loucura,
cavalheirismo, possessividade, adrenalina, generosidade, genuinidade, um
pai magnífico que se preocupa a todo instante com a filha, um marido
magnificamente incrível, um amante singular. Um homem bom,
extremamente bom.
De alguma forma, a convivência com ele e com sua família, faz
com que eu me sinta uma pessoa melhor também. Hoje consigo ver valores
em mim que eu não via antes. Sou mais leve, mais feliz, mais
inconsequente. Sou tantas coisas desde que ele entrou em minha vida. Sou
até mesmo mãe...
Ali no tapete está minha primogênita. Ela é uma Albuquerque com
todas as suas qualidades. Mas, também é Brandão. Meus pais não poderiam
ficar de fora da minha observação.
Vejamos meu pai; eu me pergunto se existe algum ser humano mais
incrível que ele na vida. O histórico dele é o mais absurdo que já vi. A vida
dele daria um filme. Foi morador de rua por muitos anos, teve tudo para
entrar para um mundo negro, mas escolheu continuar seguindo a educação
que meus falecidos avós o deram. Ele lutou para chegar onde chegou.
Passou por cima dos preconceitos impostos pela sociedade, passou por cima
da timidez e da vergonha, passou por cima de cada um dos obstáculos e
atingiu minha mãe de um jeito implacável.
Minha mãe, aos vinte anos de idade comandava uma megaempresa
sozinha! Perdeu os pais e assumiu um império deixado pelo meu avô. Uma
garota que poderia se rebelar com a vida, escolheu lutar pelos ideais e
continuar seguindo os ensinamentos dos pais. Aos vinte cinco anos de
idade, ela e meu pai já possuíam o primeiro abrigo da família, aos quarenta
e poucos anos de idade possuem mais de cinco, fora uma faculdade e os
demais projetos sociais que ajudam centenas de jovens. Criaram três filhos
incríveis e ainda deram conta de criar centenas de crianças ao longo dos
anos. Os dois nasceram para ficar juntos, se conectam de uma maneira
surpreendente e possuem os mesmos propósitos na vida: ajudar o próximo.
Pietro, meu irmão gêmeo, é outra pessoa incrível. Eu o observo tirar
uma selfie com Jéssica. Os olhos brilhando e um sorriso incrivelmente
lindo, assim como ela. Às vezes eu a odeio por ser tão bonita,
principalmente grávida. A desgraçada é bonita pra caralho! A odeio nesse
momento, mas a amo também. Ela, de uma forma ou de outra, faz bem ao
meu irmão. Mesmo que já tenha cometido centenas de erros e agido como
uma cadela. Pietro não a amaria se ela não valesse a pena. Acho que eu
gostaria de conhecer a Jéssica que meu irmão tanto ama.
O histórico de vida dela também não é algo bonito e nem dos
melhores. Aos nove perdeu os pais, aos onze perdeu a avó e então teve que
se conformar em ser cuidada por Arthur e Mari. Na verdade, foi
privilegiada, mas eu sei que não é a mesma coisa. Mari e Arthur
infelizmente não possuem a capacidade de suprirem a perda dos pais dela.
Deve ser algo muito difícil você saber que não tem um único parente de
sangue vivo, mais difícil ainda carregar a dor de ter a mãe morta em seus
braços. Acho que nem todos conseguem lidar com isso com facilidade.
Outra pessoa linda é Giovanna. Meu grande anjo da guarda que me
acompanhou desde que cheguei à Milão. Ela esteve comigo durante toda a
gestação, esteve comigo no parto, cuidou da minha filha para eu estudar e
trabalhar. Gi também não possuía ninguém quando a conheci e de alguma
forma nos tornamos irmãs, cúmplices, amigas. Não consigo descrever
minha felicidade por tê-la aqui e por vê-la feliz nos braços de Ricardo (meu
outro anjo da guarda). O meu casal de anjos. Ricardo é foda. Um ser
humano fora de série, dedicado, preocupado, batalhador, insistente. Ele
cuida de mim com um carinho e com uma paciência absurda. Serei grata
aos dois pelo resto da vida.

Há também os quatros avós de Matheus. São dois casais


inexplicáveis. Eu diria que são minha meta na vida. Quero seguir assim
com Matheus, juntos até o fim. Assim como minha vó Luz e João também,
que estão sentados na mesa da cozinha conversando com meus pais.
Olhando todos, pego uma das cenas mais lindas. Mariana e Arthur
rindo de algo, não sorrindo, rindo com vontade. Tão felizes, sem medo de
esconderem isso.
Isso me deixa curiosa. Gostaria de saber de que estão rindo tão
largamente e qual o segredo para serem exatamente assim, como são: livres,
insanos, despudorados e incríveis.
Estando tão próxima de todas essas pessoas eu tento sufocar a
emoção. Estou cercada pelos melhores. Um lugar onde só há espaço para o
amor e nada além disso.
— É realmente bonito ver, não é, Sadesposa? — Theus pergunta em
meu ouvido. —Todas as pessoas que amamos reunidas em um só lugar.
— Não sei explicar o que sinto. — Digo com a voz embargada.
Quando estava na Itália, sonhava em um dia experimentar essas
sensações extraordinárias. Estou agradecida por ter chegado o momento,
por estar aqui, por estar realmente feliz ao lado de todos que amam, sem
medo, sem espaço para coisas ruins.
— Atenção! — Matheus grita fazendo com que eu tape meus
ouvidos. — Obrigado pela atenção! — Palhaço! — Isis, venha aqui. — Ele
chama e nossa filha vem descalça e saltitante. Ele a pega no colo e então me
abraça. — Bom, eu Isis e Victória temos um comunicado muito importante!
— Sim!!!!! —Isis grita e então todos riem. Minha filha está ficando
mais solta que arroz de festa.
— Sim! Queremos comunicar a todos que Isis foi promovida a irmã
mais velha! — Meu marido anuncia orgulhoso e todos começam a aplaudir
rindo. Uma lagriminha escorrer dos meus olhos e eu a limpo. — Vic está
grávida de mais ou menos seis semanas.
Pietro é o primeiro a vir nos abraçar e felicitar, então sai com Isis
em seus braços e se acomoda ao lado da Jéssica. O último é Bernardo que
leva um tapa na cabeça.
— Foi por isso que desmaiei, idiota! Babaca! E já te aviso, não foi a
porra da cegonha não...
— Vai se foder, imbecil. O mesmo que faz com a minha irmã, eu
faço com a sua. Em breve seremos nós a dar a notícia! — Bernardo o
provoca.
— Porra! Mais um filho? — Matheus grita atraindo atenção de
todos.
— O QUE??? Beatriz está grávida??? — Mariana questiona. —
Vocês dois não têm televisão em casa não?
— Não, sogra, ela ainda não está grávida, mas estamos trabalhando
duro nesse propósito.
— Vá se foder! — Arthur esbraveja.
— Caralho, parideira, quer povoar o mundo, filha da puta? —
Matheus pergunta levando um tapa de Mariana.
— Não fale assim com sua irmã. — Mari repreende. — Mas
caralho, quantos filhos vocês pretendem ter?
— Alguns sogra. — Bê responde rindo.

— Nós vamos bater vocês! — Matheus anuncia. — Eu e Vic


teremos no mínimo seis filhos!
— No seu sonho. — Rebato o absurdo que ele está falando.
— Nós teremos, Victória!
— Eu também tenho participação nessa decisão, querido esposo. A
minha resposta para isso é NÃO!
— Você gera eles em seu ventre, dá à luz e eu cuido. — Pisca um
olho e me deixa com Bê.
— Parabéns princesa, estou muito feliz por vocês. Amo você, Vic.
— Meu irmão me abraça forte.
— Também amo você Bê, muito.
— Tia Vic, há um bebê na sua barriga? — Maria Flor surge entre
nós dois e eu quero mordê-la.
— Há, um bebezinho nadando na barriga da tia Vic. — Sorrio me
agachando até ela.
— É menino ou menina?
— Tia Vic não sabe ainda, mas, assim que ficar sabendo prometo
ser a primeira a te contar.
— Eu queria ser irmã mais velha, mas sou a irmã do meio, papai me
disse isso. — Ela brinca com uma mexa de seus cabelos e eu a abraço.
— Eu e seu tio Pi, somos irmãos mais novos do seu papai.
— Mas... como?
— Nós somos gêmeos, nascemos no mesmo dia. — Explico e ela
franze a testa.
— Mas vocês não são iguais.
— Não mesmo. Só em alguns traços. — Sorrio.
— Tia Vic, você podia ter gêmeos.
— Podia. Tia Vic ainda não sabe se é só um bebê ou se são dois.
— Eu quero que sejam dois! — Ela diz sorridente. — A cegonha
não te falou?
— Oh não, acredita? Ela não me disse nada! A cegonha estava com
muita pressa para levar outros bebês. Não deu para tia Vic conversar com
ela.
— Que pena, tia Vic, eu vou pedir para ela trazer gêmeos para
minha mãe.
— Oh, será que sua mãe vai gostar dessa ideia? — Pergunto rindo e
ela encolhe os ombros, então sai correndo.
Quando Mari anuncia que o jantar está servido me acomodo ao lado
de Matheus e sirvo nossos pratos. Ele, Beatriz, Bernardo e Arthur estão
discutindo assuntos de advocacia sobre um novo contrato da empresa da
minha mãe. Enquanto é isso, me concentro em comer, comer e comer. Noto
vários olhares direcionados a mim e quando encaro a todos um coro de risos
se faz.

— Minha Magali! — Theus me beija e Isis pergunta:


— Magali da turma da Mônica, papai?
— Sim filha, a comilona! Mas, em defesa da mamãe, ela agora
come por dois, três ou quatro...
— No máximo dois, pelo amor de Deus! — Brinco.
— Nós temos mais um apelido a acrescentar na nossa enorme lista
Sadesposa. —Ele diz em meu ouvido e Mari traz quatro travessas de
pudim. Meus olhos brilham, meu estômago protesta e eu esqueço mais uma
vez de todos à mesa.
Eu como três pedaços distintos de pudim!
— Satisfeita? — Theus pergunta rindo.
— Só se mais tarde você roubar um pedaço e me deixar comer no
seu corpo. — Seu riso morre e ele olha para todos os lados para ver se mais
alguém ouviu o que disse. Além de tarada, comilona, agora me tornei sem
filtro. Isso é realmente preocupante.
O mais engraçado é perceber que meu marido parece com medo de
mim. Saberei usar isso para aterrorizá-lo!

Estou realizando um dos meus maiores sonhos. Esperei por esse


momento desde os meus dezessete anos, quando mudei para o Rio de
Janeiro. Enfim, estou voltando para o meu verdadeiro lar.
Estamos viajando de volta a Belo Horizonte no carro de Vic. Eu,
ela, Isis e Pimpolho que está dentro de uma caixa de transporte. No Rio,
deixamos todos em lágrimas. Não foi uma decisão fácil mudar para Belo
Horizonte e deixar todos. Mas, às vezes, para realizarmos sonhos,
precisamos abrir mãos de algumas coisas.
Eu sinto que em Belo Horizonte, Victória estará mais segura, assim
como nossa filha. Sim, a decisão foi tomada não apenas visando minha
paixão por Minas Gerais. Por trás de todos os meus discursos de amor
incondicional à capital mineira, havia a segurança da minha mulher e da
minha filha. Há algo no Rio de Janeiro que me faz sentir correndo riscos.
Não confio na prisão de Humberto e não confio em Túlio. Prefiro me
refugiar ao ver qualquer merda acontecendo com elas.
Em alguns momentos, me sinto sendo egoísta, tirando Vic de perto
dos pais após ela ter ficado tantos anos afastados. Dentro de mim, carrego a
certeza de que farei tudo o possível para estarmos sempre próximos. Eu
tenho esse compromisso com eles e com meus familiares. Minha intenção
não é prejudicar minha filha ou minha esposa. Isis já se habituou a uma
enorme família, então a convivência é importante para mim.
Apenas, em meu peito, sinto que estou fazendo a coisa certa. Nós
vamos recomeçar em um outro lugar. Um lugar onde me sinto seguro, em
meio a natureza, numa cidade menos violenta e mais acolhedora.
Me sinto honrado por poder mostrar às duas mulheres da minha
vida o lugar onde nasci, cresci e passei por momentos surreais. Anseio por
isso.
Nesse exato momento estamos subindo a serra de Petrópolis e Isis
está bastante maravilhada. Ela está tagarelando desde o momento em que
saímos do Rio de Janeiro. Está sendo divertido. Ela e Vic estão realmente
empolgadas e isso faz meu coração vibrar mais forte a cada segundo.
Quando chegamos numa determinada parte da estrada eu paro em
um mirante, onde há uma linda vista. Nos descemos para observar a vista e
abraço Vic por trás, quanto Isis está diante dela maravilhada.
— Eu me sinto perto do céu! — Sadgirl diz. É como estar no céu
mesmo, mas, a nossa visão de céu é diferente.
— Eu estou abraçado a ele. — Digo em seu ouvido e ela sorri.
— Você é meu céu. — Sorrio.
— Você está me imitando, seja mais original. — Provoco.
— Você e Isis são o meu céu.
— Agora sim. Você e Isis são o meu céu. Não é mesmo, Isis? —
Pergunto a abraçando junto a nós.
— Sim, papai.
— Vou pegar pimpolho para dar uma respirada. — Aviso e corro até
o carro para buscá-lo. Aproveito e pego meu celular para capturar a linda
imagem das minhas garotas perdidas em pensamentos admirando a vista.
Pimpolho se sente feliz quando chegamos até elas. Ele fareja o chão
e então busca um lugar estratégico para fazer suas necessidades.
Ficamos mais alguns minutos e decidimos seguir para nossa
próxima parada: Casa do Alemão. Isis se apaixona pelo mesmo sanduíche
que eu e Vic mal conversa, de tanto comer. Lanchamos, compramos vários
pacotes de biscoitos e bombons para levarmos para nossa casa.
A segunda parada é em Juiz de[BB2] Fora, onde compramos alguns
quilos da linguiça mais famosa de Minas. Confesso, sou um amante de um
bom arroz, angu molinho, couve, feijão e linguiça mineira. Aliás, sou
amante de toda e qualquer comida mineira.
A terceira parada é em Congonhas do Campo, onde compramos
nada mais nada menos que sete rocamboles recheados com doce de leite,
vários potes de doce e até uma garrafa de pinga artesanal.
A quarta parada é em Belvedere, uma lanchonete próxima à Belo
Horizonte, onde vende o famoso pão com linguiça. Eu realmente fico
admirado com a capacidade de Victória comer um sanduíche inteiro.
Também, após horas de viagem e tantas paradas, já estávamos com fome.
Por fim, percebo que refiz todo o trajeto que meus pais faziam,
parei em cada lugar e fiquei feliz por todos eles ainda existirem. Era um
sonho, um sonho bobo, mas ainda assim um sonho. Em breve poderei fazer
isso com nosso sadbebê entre nós.

Na estrada, avisto em letras garrafais o nome do nosso condomínio


e suspiro feliz por estarmos chegando após seis horas de viagem.
Na portaria apresento o cartão de morador e a cancela se abre
liberando nossa entrada.
Provavelmente o quarto de Isis já foi todo montado, assim como
meu quarto e de Vic sofreu alterações nos últimos dias. Estou ansioso para
ver alguns objetos pessoais nossos espalhados pela casa.
Aperto o controle que abre a garagem e então estaciono.
Isis retira seu cinto e salta do carro. Ela está empolgada, mas o
cansaço está evidente em seu rosto já que ela passou a viagem toda
acordada.
Libero pimpolho da prisão e então pego minha Sadgirl que está
chorando do nada.
— Que foi princesa? — Pergunto tentando não rir, mas falho. Vou
ficar ainda mais louco tendo Vic grávida e instável.
— Você fica rindo da minha emoção.
— Você está emocionada meu amor? Por quê? — Pergunto
segurando sua mão enquanto andamos até a segunda entrada da casa.
— Porque chegamos.
— Ah, sim, meu amor. Nós chegamos ao nosso novo lar. — A
surpreendo pegando-a no colo assim que abro a porta. Isis sai correndo pela
casa e eu caminho até a sala com minha esposa chorona.
— O tradicionalismo não morre. — Ela ri assim que a coloco no
chão, porém fica completamente tonta, a ponto de seus braços escorregarem
das minhas costas. A seguro firme a colocando sentada no sofá, ela ri. —
Eu não estou morrendo. Você me olha como se eu estivesse, mas não estou,
amor. É normal.
— Você sentiu isso na gravidez de Isis?
— Na verdade não, sentia muito enjoo, o dia todo. Agora não sinto,
só de manhãzinha. Porém estou tendo tonturas. — Explica sorrindo.
— Vamos marcar a consulta com a médica que minha mãe
aconselhou ainda essa semana. Fique aí, vou retirar as malas e nossas
compras do carro.
— Eu te ajudo.
— Para você ajudar terá que passar por cima de mim! — Aviso e
ela dá um sorriso.
— Adoro passar por cima de você. Isso me deixa com tanto tesão.
— Victória está ficando ainda mais devassa, incontrolável eu diria.
— Quando nossa filha dormir resolvo esse pequeninho problema.
— Eu acho que posso ser um problemão, Matheus Albuquerque.
— Eu não tenho dúvidas sobre isso. Essa pequena mulher é um grande
problema. Grande em várias dimensões.

— Nada que eu não consiga resolver com meu talento sexual e


minha pica de 24 centímetros. — Sorrio e ela geme.
— Até suas panturrilhas são excitantes. — Rio da sua frase insana.
— Seus pés são tão masculinos.
— Talvez seja pelo fato de eu ser homem?
— Não, Matheus! Ouça...
— Diga Victória. — Cruzo meus braços e dou total atenção e ela e
suas insanidades.
— Seus pés são realmente bonitos. Suas panturrilhas são malhadas
e possui essa tatuagem de triangulo que atrai toda uma atenção. Suas coxas
são grossas e musculosas, então subimos até sua pélvis e há alguns poucos
cabelos dourados e uma pica digna de um Oscar. Até quando está mole seu
pênis é realmente lindo e volumoso. Há essas bolas perfeitas, grossas e
pesadas. Subindo você encontra um caminho V e alguns pelinhos loiros que
levam até seu umbigo, que também é perfeito. Então uma barriga toda
marcada, esculpida por anos de academia e pela bondade divina. E então há
um peitoral firme, bem definido, onde até seus mamilos são lindos. E Deus,
em sua infinita bondade, ainda contemplou cada pedacinho do seu corpo
com esses benditos pelinhos dourados que dão um contraste filho da puta.
Ainda há seu pescoço, com essa tatuagem próxima a orelha que dá vontade
de morder. Há seu rosto onde encontra-se uma boca incrível que dá vontade
de beijar e ao mesmo tempo tê-la em cada parte do meu corpo. Há um
sorriso de dentes perfeitamente alinhados e brancos, há essas covinhas que
dizem ser defeitos dos músculos, mas são a coisa mais sexy do universo.
Sério Matheus, essas covinhas são o seu maior charme, principalmente
quando sorri. Há um nariz super desenhado. E seus olhos? São
incrivelmente belos, mel. Um mel que você se perde olhando, um mel tão
mel que nunca vi igual. E para terminar, esses cabelos fodidamente
perfeitos. Volumosos, sedosos, bagunçados. A cada vez que olho para você
sinto vontade agarrá-los entre minhas mãos e puxá-los. Então há suas
costas, com essa bendita tatuagem que é perfeita. Há uma cintura e então
mais abaixo encontramos uma bunda desgraçada de gostosa que dá vontade
de morder... ainda há o agravante de ser estiloso. Todos esses seus tênis
diferenciados, essas pulseiras que usa no pulso... Deus, você é
completamente lindo, exageradamente lindo, absurdamente lindo,
ilimitadamente lindo. É gostoso que faltam palavras...
— Papai! — A voz de Isis atrai minha atenção gritando do segundo
andar. Victória está ficando realmente maluca, estou ligeiramente
preocupado. Temo que ela vá me estuprar a qualquer momento pela forma
como está falando e me olhando.
— Depois continuamos sua análise. — Fujo segurando o riso e vou
até o quarto de Isis subindo a escada de dois em dois degraus. — Oi,
princesa.
— Não sabia que meu quarto aqui era igual. — Ela diz rindo e se
joga em meus braços.
— Eu pedi para ser transferido, só tivemos que acrescentar duas
prateleiras para ocupar o espaço que faltava. — Explico. — Agora há
dezenas de livros para a senhorita ler.
— Eu amo livros. Você pode contar uma história na hora de dormir?
— Claro que sim. — Sorrio beijando seu rosto. — Papai vai buscar
as malas. Vovó disse que há muitas roupas suas no closet já. Poderia ir
tomar um banho, mocinha, para ficar bem fresquinha e podermos descansar
da viagem, o que acha?
— Uma ótima ideia. Mas, depois do banho posso brincar um pouco
de lego e ver filme da Barbie? — Como negar? Se Victória tem minhas
bolas nas mãos e meu pau em sua boca, Isis tem meu coração todinho.
— Claro que pode. — A coloco no chão e desço para esvaziar o
carro.

Eu e Victória estamos deitados na cama de Isis. Ela está entre nós.


Estou contando a minha história e de Vic, numa versão mais lúdica
e bonita, ocultando toda a parte ruim e exaltando as partes bonitas.
Vic é a primeira a dormir. Minutos depois, nossa filha se rende ao
cansaço. Incapaz de acordar minha Sadgirl, a cubro junto com a nossa filha
e apago a luz.
Sigo para o quarto e não estou com sono o bastante. Tento achar um
livro para ler, mas só encontro os romances de Vic. Pego um com um que se
chama Toda Sua de um tal de Sylvia Day e me acomodo na cama para ler.
Gosto do tal Gideon. O homem tem atitude e já impôs sua presença logo de
cara. Rio da parte onde ele pergunta na lata se ela está dormindo com
alguém e então diz que quer fodê-la. Esse cara aí é melhor que aquele tal de
Grey. Gosto de como ele capta no ar que Eva está realmente interessada em
dar para ele e me questiono por que a maioria das mulheres gostam de
postergar o inevitável.
Essas merdas de romances já não são tão mais merdas. Estou
realmente gostando da história. É bem escrita, detalhista e está conseguindo
prender minha atenção. Leio até a página 50 e decido dormir. A porra da
cama, que já é grande, sem minha pequeninha fica ainda maior. Eu e meu
pau não conseguimos dormir sem ela, definitivamente.
Quando são duas da manhã desisto e me arrasto da cama. Assim
que abro a porta do nosso quarto a encontro no corredor, vindo a passos
apressados. Não falamos nada, ela apenas se joga em meus braços
completamente esfomeada e eu a pego para mim, avassaladoramente.
A puxo para dentro do quarto e transamos contra a parede. Nem
mesmo sou capaz de retirar sua camisola. Apenas afasto sua calcinha para o
lado e me perco em minha esposa até estarmos exaustos o bastante.
“Quando você fecha os olhos, o que você vê?
Você segura a luz ou a escuridão está por baixo?
Em suas mãos, há um toque que pode curar
Mas nessas mesmas mãos, há o poder para matar
Você é um homem ou um monstro?
Quando você olha para si mesmo, você é um homem ou um monstro?
É tão difícil dizer de que lado você está
Um dia é o inferno, o dia seguinte é o amanhecer
As linhas estão borradas, você continua esfregando os olhos
As mesas viram, agora é hora de sobreviver”
Sam Tinnesz ft. Zayde Wolf — Man or a Monster

Quão louco sou por me sentir mais em casa dentro de um presídio


do que me sentia dentro de uma mansão?
Eu me sinto. Porém, em alguns momentos sinto um medo se
apossar de mim, principalmente durante as madrugadas, quando o silêncio
reina. Um único ruído, e eu me pego sentando na cama, respirando com
dificuldade e tentando controlar as batidas frenéticas do meu coração. Essa
é a única parte ruim de estar preso, a única. Em muitos momentos sinto-me
como quando era apenas um garoto de cinco anos, sozinho, ansioso,
aguardando o monstro surgir e arruinar tudo como ele sempre fazia
diariamente.
Pode parecer tolo, mas estando aqui, no mais absoluto silêncio,
nesse lugar frio e sombrio, eu sinto as mesmas sensações ruins do passado.
Porém, sinto que estou mais seguro aqui do que estaria dentro da minha
própria casa.
Passo as mãos pelo meu rosto, tentando aplacar o desespero e volto
a deitar. Conforme fecho os olhos, imagens começam a dançar em minha
mente; uma canção triste e ao mesmo tempo angustiante.

“— Não!!! — O grito de minha mãe ecoa pelas paredes da sala


enquanto me encolho ao lado do sofá. — Ele é apenas uma criança, Ítalo!
Bata em mim, mas deixe-o ir.
— Mudei de ideia. Vou bater nos dois. Vocês são dois vermes
imundos! — Sua voz me causa calafrios. Antes que eu possa correr, sou
pego pelos cabelos e arrastado até estar perto de minha mãe. Dói. Minha
cabeça lateja. — Se você chorar, será pior. Homem não chora, seu
merdinha! Aprenda a ser como eu.
— Ele é uma criança, Ítalo. — Minha mãe volta a dizer, mas dessa
vez ela parece sem forças.
— Sete! Virem-se de costas. — Ele ordena. Minha mãe olha para
mim, chorando e lutando contra isso. Ela segura minha mão e eu sinto
vontade de abraçá-la.
— Eu sinto muito, filho. Sinto Muito. — Ela se desculpa me fazendo
levantar e virar de costas para o meu pai.
— Que cena linda! De joelhos, os dois. — Fazemos que ele manda
e eu já sei o que vai acontecer. — 7! — Avisa. — 1... — Ele conta e o ardor
vem com tudo em minhas costas. Eu sinto o couro me rasgar mesmo por
cima da camisa. Ítalo não é piedoso. Parece que quanto mais choro, mais
forte ele vem. Ele parece sentir prazer em causar dor, porque ele solta sons
de satisfação. Minha mãe aperta minha mão tanto, como se isso pudesse
diminuir a dor. Mas, não diminui. Tudo que faço é fechar os olhos e contar
junto.
2
3
4
5
6
7
Um dia o matarei, com sete tiros certeiros.”

Volto a me sentar, sentindo a dor corroer minha mente, minha alma,


meu coração, meus ossos. Apanhar doía menos. Sorrio desse pensamento.
Quando a pessoa chega a preferir a dor física à dor mental, é porque
as coisas são mais fodidas do que parecem.
Fico acordado por mais um tempo, até sentir sono. Então, quando
acontece, eu apago todas as memórias da mente e adormeço.
— Túlio. — Ouço um sussurro e tento buscar quem está me
chamando. Não encontro e o som fica mais alto. — Túlio, aqui. — Encontro
um dos agentes penitenciários escondido num canto, aguardando por mim.
— O que há? — Pergunto assim que me aproximo.
— Eliza e Victória, são nomes conhecidos para você? — Ele
pergunta baixo.
— Sim, muito conhecidos. Está tudo bem com elas?
— Por enquanto sim. — Diz olhando para os lados e me puxa para
uma sala fechada. Caminhamos até uma mesa, onde ele me faz sentar de
frente para si. — Vou direto ao ponto. Mas, isso tem que morrer aqui ou
sofrerá consequências.
— O que há com Liz e Vic?
— Seu pai me deu quinhentos mil reais para facilitar a fuga dele
numa rebelião armada. — Eu engulo a seco, não conseguindo compreender
o que ele quer dizer com isso. — O único propósito dele é matar as duas.
Não é apenas eu na jogada, há mais homens. Porém, eu pesquisei o
histórico delas e descobri que elas ajudam crianças carentes.
— Sim, a família possui vários abrigos para ajudar crianças.
— Elas são pessoas de bem e seu pai é um monstro, como você
bem sabe. — Ele suspira e eu estou perdido, fodido. — Eu preciso do
dinheiro, minha mulher está com câncer e com essa grana eu posso dar um
tratamento mais adequado a ela.
— Meu pai não pode matá-las. Elas não fazem mal a ninguém. Ele
abusou de Vic quando ela tinha quatorze anos de idade, fodeu com a vida da
garota. Eu também.
— Te passarei as coordenas conforme ficar sabendo. Te darei a
chance de salvá-las, mas isso tem que ficar entre nós ou ambos estaremos
fodidos, provavelmente mortos. Não posso morrer, Túlio. Tenho esposa e
filhos.
— Ficará entre nós. — Afirmo.
— No dia, conseguirei uma condução para você, te darei uma Colt
M4A1. Sabe atirar? É bom de mira?
— Sim.
— Espero que você consiga salvá-las, de qualquer maneira, tentarei
te dar cobertura caso as coisas fujam de controle.
— Eu o matarei antes que ele encoste nelas. — Aviso.
— Espero que sim.
— Sobre o tratamento da sua esposa... quando Tobias vier me
visitar, mandarei que ele entre em contato com você. Guarde os quinhentos
mil para o futuro dos seus filhos. Arcarei com o tratamento da sua esposa. É
o mínimo que posso fazer.
— Não foi essa a intenção ao vir te dizer, mas, agradeço. Temos um
trato, cara.
— Levarei isso comigo. — Agradeço ficando de pé e volto para o
pátio.

Agora sim estou nervoso pra caralho. Algo me diz que, a partir de
agora, todos meus pensamentos estarão voltados ao possível acontecimento
e serei infernizado por essa maldição. Eu torço para que os planos deem
certo e que eu consiga evitar a tragédia. Se Victória morrer, eu morrerei
também. Eu mesmo tirarei minha vida.

Ódio ondula através de mim enquanto contemplo a visão do homem


que deveria ser meu herói, mas preferiu ser um monstro a vida toda.
É hoje. Ele está pronto e impaciente, eu consigo ver. Ele se
comunica com vários outros homens através do contato visual. Passaria
despercebido se eu não soubesse seus planos.
Estou tremendo. Meus batimentos estão descontrolados. Eu quero
chorar porque hoje, provavelmente, será a última vez que irei vê-lo. Ele é
meu pai. Eu tentei ganhar seu amor uma vida inteira e nunca consegui.
Nunca. Se eu tivesse o poder de mudar as pessoas, o transformaria no pai
que sempre sonhei possuir. Durante toda a minha vida eu tive inveja dos
meus amigos na escola, de como eles eram amados, cuidados, como viam
os respectivos pais como heróis, enquanto eu, só via o monstro, o feio.
Ele quer matar pessoas inocentes, pessoas que nunca fizeram mal a
ele. Entre elas e ele, eu escolho elas.
Victória sabe o que é possuir uma família feliz, sabe o que é ser
amada pelo pai e pela mãe. Eu não. Me dói ter que fazer o pior. É tão fácil
dizer que vou matar meu pai, mas, na realidade é a decisão mais difícil da
minha vida. Eu não gostaria de fazer, mas essa é a única maneira de salvar a
garota que fui obrigado a desgraçar anos atrás. É o mínimo que posso fazer.
É como se libertar de tudo que me conduziu a escuridão.
Vendo-o gargalhar alto, meu sangue aquece de uma só vez e eu me
pego caminhando em sua direção. Eu o puxo pela camisa, fazendo seu
sorriso vacilar.
— Que merda você está fazendo?
— Só me diga o porquê, por favor, eu preciso de respostas. — Peço
sentindo lágrimas queimarem meus olhos. — Por que você é assim? Por que
sempre me odiou? Por que quer matar Victória?
— Porque a vida é uma grande orquestra e eu sou o maestro. —
Responde e dá uma gargalhada. — O que foi, merdinha? Vai sentir saudades
da sua... da nossa... little girl?
— Por que você nunca gostou de mim? Eu era só uma criança.
— Porque eu nunca quis tê-lo. A vadia da sua mãe relutou. —
Responde.
— Eu amava você. — Digo incapaz de segurar o choro. — Eu
queria que você me amasse de volta. Eu era só um garotinho. Passei a vida
tentando fazer você me amar.
— Todas as tentativas foram fracassadas? Eu tentei te amar, Túlio,
mas você nunca fez nada para conseguir isso. Você é tolo, idiota, bonzinho.
Relutava e reluta para cumprir todas as ordens que te dou. Na verdade, não
tentei de amar, porque o amor não existe. O amor desgraça a vida das
pessoas. Eu tentei gostar de você, apenas.
— Por que quer matá-las?
— Porque eu amo. Amo as duas. Amo mãe e amo filha. E elas
nunca serão minhas, então elas não serão de ninguém. Eles as tiraram de
mim, merecem sentir na pele o que eu senti. Eu não sou feliz, você não é,
eles não serão.
— Pai... isso é doentio. — Digo ganhando um tapa no rosto.
— Não ouse vir dizer o que é certo ou errado. Não ouse me impedir
ou ...
— Ou?
— Eu matarei você também. — Ameaça.
— Não se eu te matar antes. — Minhas palavras arrancam outra
gargalhada dele, então, ele se aproxima e segura minha orelha esquerda
com força.
— Você é um verme, Túlio. Um fantoche nas mãos de todos. É
covarde. Não há uma veia sua voltada para a coragem. Você tem dó de
matar uma barata. Se cagava todo quando eu ordenava causar um pouco de
dor à sua little girl. — Ele ri. — Era divertido vê-lo chorando pelos cantos,
sentindo a culpa massacrar seu coração e sua alma. Diga-me Túlio, o que
você já construiu nessa vida? — Engulo a seco. — Nada! E nunca
construirá. Você morrerá nessa prisão, porque ninguém gosta de você, nem
mesmo seu pai.
— Eu odeio você. — Digo o empurrando longe. — Eu odeio você.
Você vai apodrecer no inferno!
— Não antes de você. — Ele avisa e sai andando.
Em poucos minutos a merda está feita.
Todos correndo.
Pessoas fugindo.
Sirenes tocando.
— Vamos, Túlio. É agora!
Começo a corrida contra o tempo...
Eu preciso salvar Victória.
“Você pode ouvir o vento que está uivando
Através das árvores de concreto
Você está orando de joelhos
Em face do perigo, somos todos corajosos
Até a arma disparar, bater, bater
É um mundo cruel, cruel
Sem piedade”
Tommee Profitt – Cruel World

As mãos soando frias, o coração acelerado, suor escorrendo na


testa, uma forte dor no peito, falta de ar. Algumas pessoas diriam que estou
tendo um princípio de infarto. Eu vos digo que estou aguardando a primeira
ultrassonografia do Sadbebê.
É indescritível o que estou sentindo agora. Isis está ao meu lado,
debruçada sobre Vic que está parcialmente deitada. A doutora se aproxima
e então Victória ri da minha cara de desespero ao vê-la pegar um troço
esquisito. Ela não vai enfiar isso no lugar onde só meu precioso pau entra,
vai? É o mesmo aparelho assustador que foi introduzido em Jéssica.
Passo as mãos pelos cabelos e isso faz com que Vic solte uma
gargalhada descontrolada. Filha da puta, ela está rindo do meu desespero.
Está rindo na cara do perigo. Vou dar trinta chicotadas nessa bunda e vou
mesmo! Dessa vez não é piadinha relacionada aos gostos singulares de
minha esposa.
— Calma, é normal, não machuca.
— Normal? Isso não é normal! Olha o tamanho dessa merda. —
Tapo os ouvidos de Isis e explico porque não é normal. — Está certo que
meu... meu órgão é mais grosso e tal, mas isso aí é uma aberração, Victória.
Não tente dizer que isso é normal. — Digo. — Doutora, a senhora não vai
enfiar isso na minha esposa. Quero aquela tradicional, por cima da barriga.
— Matheus, precisamos fazer esse tipo de ultrassonografia. É
importante para sabermos se está tudo bem com Victória e o bebê nesse
primeiro momento. Não vai machucá-la, o aparelho é grande, mas não será
introduzido por completo. — Doutora Inês me explica, mas, ainda não estou
tranquilo sobre isso.
— Não confio na senhora! — Aviso com sinceridade, tirando
minhas mãos dos ouvidos da minha princesa.
— Deveria confiar, sou eu quem trarei seu filho ao mundo bonitão.
— Ela mete um chute no meu peito com suas palavras enquanto Vic
continua rindo igual hiena.
— Não tem graça, Victória. Você vai pagar por essa crise de riso
desnecessária! — Eu me viro de costas, incapaz de continuar observando o
troço entrando na pequeninha da minha esposa. Então um barulho atrai
minha atenção e me viro.
Há uma coisinha pequena na tela. Meu Sadbebê. Está bom que é
apenas um girino no começo, mas ele está ali, guardadinho. Quero chorar,
porém, como ando muito chorão e prezo pela minha integridade, engulo o
choro.
Envolvido em diversas sensações há um sentimento transbordando
em meu peito: gratidão. Gratidão a Deus pelo presente, gratidão à minha
esposa por estar gerando o meu bebê, gratidão por poder estar
acompanhando esse momento de perto, participando de cada detalhe.
Eu não ouço nada que a médica está dizendo, apenas abraço minha
Isis e mantenho meus olhos fixados no monitor. E, como se não bastasse a
primeira imagem de Sadbebê, ouço também um som, o som de batimentos
cardíacos ritmados. Os meus próprios batimentos param e é necessário que
eu respire fundo para digerir toda a emoção.
Desvio os olhos do monitor por alguns segundos, apenas para olhar
para a minha Sadmamãe. Ela está com os olhos nublados olhando para mim
e para Isis como se fossemos o centro do seu mundo.
Ela e meus filhos são o centro do meu.
— É meu irmão ali? — Isis pergunta.
— Sim, filha. Pequenino. — Sorrio.
— Já dá para saber se é gestação gemelar? — Vic questiona e então
meu coração para de bater novamente.
— Vic, sua gestação está com sete semanas. Já daria para saber. Há
apenas um embrião aqui.
— Não chame meu filho de embrião! — Alerto e doutora Inês
começa a rir.
— Sadbebê, não é assim que você o chama? — Pergunta. É bom
que ela entre na loucura.
— Exatamente assim! — Ela ri colhendo mais informações e então
nosso momento termina.
Vic se troca e a doutora passa uma lista de exames a serem feitos,
vitaminas e tudo mais. Converso com ela sobre as tonturas. Não é prescrito
qualquer tipo de medicamento, mas ela passa uma série de coisas que
ajudam a controlar isso, como ingerir muita água, não se levantar rápido,
não usar roupas tão apertadas, alimentar em curtos intervalos de tempo.
— Espero você em duas semanas, Vic.
— A senhora errou. É espero vocês, no plural, porque eu virei com
minha esposa! — Provoco a médica. Ela era ginecologista da minha mãe.
Não foi a obstetra que fez o parto, mas foi ginecologista de dona Mari
durante muitos anos.
— Você é igual ao seu pai, igualzinho. Só não tem olhos azuis.
— Para compensar, minha filha tem. — Sorrio.
— Prepare-se, sua filha é uma das garotas mais lindas que já vi em
toda minha existência. — Isso faz meu riso morrer, consumido por um
ciúme ainda maior do que o que sinto pela minha mulher. Não quero pensar
em Isis adulta e nem no estrago que ela vai fazer a cada vez que sair de
casa. Esse simples pensamento me faz pegá-la em meu colo e abraçá-la.
Minha princesinha. Vou matar o primeiro moleque que ousar fazê-la triste
ou usá-la.
Nós saímos da consulta, vamos almoçar fora e, em seguida,
seguimos para o antigo escritório do meu pai.
Basta colocar os pés e eu consigo sentir a presença dele, como se
estivesse aqui. É emocionante, um marco em minha história com certeza.
— Então, advogado quente, seguidor dos passos do pai, preparado
para assumir a cadeira que foi dele por anos? — Vic pergunta.
— Nunca chegarei à altura do que meu pai foi e é.
— Pois eu acho que você já está à altura. É tão bom quanto. Me
diga uma única causa perdida?! — Isso me faz sorrir. — Você e Beatriz são
excelentes, aprenderam com os melhores. Você já está fazendo seu nome,
Theus. E acho que nossa mudança pode implicar em um crescimento maior
ainda. Expandir os negócios da família Albuquerque.
— No primeiro momento vou usar o escritório apenas para
reuniões. Como vou trabalhar com Bia a distância, vou trabalhar do
escritório de casa. Assim, consigo estar mais perto de você e Isis, auxiliá-la
durante a gravidez.
— Você é perfeito sabia? Me diga um defeito? Não consegui
enxergar nada até agora.
— Já enumerei vários. Ciumento, possessivo, controlador,
ciumento...
— Ciumento duas vezes? — Questiona me abraçando enquanto Isis
corre conhecendo o lugar.
— Duas garotas, dois tipos de ciúmes diferentes.
— Hum! Compreendo. Mas, até seu ciúme é quente, Matheus
Albuquerque.
— Vou te mostrar outra coisa quente essa noite, Victória
Albuquerque. — Anúncio em seu ouvido e ela morde o lábio para segurar
um sorriso. — Bom, agora que minhas garotas conheceram o escritório,
acho que deveríamos tomar um sorvete.
— Ebaaa!!!— Isis grita.
— Hum, quero aquele do Mc Donald’s, Mc colosso com calda de
chocolate! — Vic diz quase gemendo.
— Te dou cinquenta sorvetes daquele, meu amor. Vamos, Isis.

Dois meses depois...


— Bom, vamos ver se esse Sadbebê vai se mostrar hoje. — A
doutora diz movendo o aparelho sobre o ventre da minha mulher. —
Vejamos aqui...
— É claro que vai dar para ver. Se for menino com certeza o pau
dele deve ser do tamanho das perninhas. — Brinco fazendo a doutora me
encarar em choque e Victória rir.
— Matheus, não defeque pela boca, meu amor.
— Oh! Acho que encontramos algo hein...
— Diga logo, torturadora de pais. — Ordeno recebendo um
beliscão de Vic. — Doeu merda.
— Matheus estava certo. O órgão genital do garoto cobre todo o
corpo. — Eu dou uma risada. Essa médica é da zoeira. — É um garoto,
papais. Parabéns! — Eu quase desmaio ao ouvir. Um garotinho, um mini
eu.

Vic chora de quase rolar e eu acabo chorando também merda. Um


filho! Puta merda, eu jamais serei capaz de agradecer a Deus por tudo isso.
— Victor. Victor Albuquerque. — Eu digo fazendo minha esposa
chorar mais.
— Eu não mereço.
— Você merece. Você é vitoriosa, assim como quero que nosso
filho seja. Não o imagino com outro nome senão esse, pequeninha. Nosso
Victor!
— Victor Albuquerque é imponente, hein, Vic? — A médica diz
sorridente. —Imagina ele numa balada: Prazer, Victor Albuquerque! Puta
merda, esse garoto vai fazer um estrago.
— Vai pra caralho! — Me empolgo. — Vai pegar mulher pra
caralho.
— Isis também será fodona. — Vic diz exterminando meu
momento orgulho masculino. — E Victor pode ser gay, assim como Isis
pode ser lésbica.
— É verdade isso aí. — Digo. — Ele pode ser o que quiser, de
qualquer forma sempre me orgulharei do meu filho. E, se ele for hétero, vai
pegar mulher pra caralho. E Isis, nem vou te falar. Não gosto de imaginar
minha garotinha com outra mulher, mas por experiência própria é quente
viu...
— Imbecil! Isso não teve graça, Matheus Albuquerque! — Eu
apanho da minha esposa ainda deitada.
— Então, parto natural, Vic?
— Nem por um caralho! Eu vou morrer se ela tiver parto natural,
doutora. Estou falando sério. Pelo amor de Deus, Vic, já conversamos sobre
isso. Eu vou desmaiar e não vou ver o nascimento do meu filho.
— Cesariana, como foi o da Isis. — Graças a Deus.
— Seu marido tem um grande poder de convencimento e persuasão.
— Grande mesmo. — Vic safadona diz. — Mas, parto natural ou
normal nunca foi uma possibilidade. Não quero mais sentir dor de espécie
alguma. — Merda! Minha pequeninha...
Ela melhora a cada dia, mas, esquecer é algo que eu acho que ela
nunca irá conseguir.
Voltamos para casa, felizes e tranquilos. Ainda temos três horas
antes de Isis chegar da escola, que é aqui dentro do condomínio.
Vic vai direto para o banho enquanto eu, com ajuda de Ruth (nossa
auxiliar), preparo um lanche saudável para nós.
Quando noto sua demora, caminho até nosso quarto e a encontro
admirando sua barriga no espelho, usando apenas uma calcinha “filha da
mãe”.
— Essas calcinhas gestantes te deixam extremamente fodível. —
Sorrio.
— Existe algum momento em que você não me ache fodível? —
Ela pergunta colocando suas mãos por cima das minhas.
— Não, não existe. Mas, que Deus me perdoe, você grávida é a
porra mais quente que já vi. Ainda usa essas calcinhas sexys e seus seios
estão devidamente mais volumosos... Você grávida simboliza eu querendo
sexo o tempo inteiro. Como se os hormônios bagunçados fossem os meus.
— Eu quero comer e então quero ser comida em seguida. Acha que
pode lidar com isso?
— É tudo que tenho feito. — Sorrio. — Graças à minha mãe que
me obrigava a tomar Biotônico Fontoura hoje sou um homem de ferro,
pequeninha. Dou conta de você até estando num período de apetite sexual
voraz.
— Verdade, marido gostoso. Devo agradecer sua mãe? — Ela
questiona se virando de frente para mim e então sua bunda reflete no
espelho.
— Que bunda magnífica minha esposa tem.
Ela suspira e me arrasta até a cama. Antes que ela possa me jogar,
eu a deito. Meu primeiro alvo é seu pescoço, onde beijo lentamente, sem
pressa.
Não adianta quantos meses tenham se passado, a forma como ela
está completamente sensível ao toque me afeta completamente.
Desço meus lábios aos seus seios, assim como minhas mãos.
Atenciosamente, os apertos e chupo seus mamilos rijos. Minha mulher arfa
e geme impulsionando seu corpo para cima, em busca de mais.
Me afasto para contemplar seu rosto e sua forma excitada. Ela se
contorce sob meu corpo tão deliciosamente necessitada.
Continuo minha exploração, descendo pela sua barriga
protuberante. É nela que eu demoro mais tempo. Algo tão puro e genuíno,
que foi capaz de deixar minha Vic mais insana e safada. A complexidade de
uma gestação é incrível.
Chego em sua calcinha e me afasto para retirá-la. Vic, mais que
depressa, me ajuda nessa missão. Isso me faz sorrir. Chego no seu monte
rosado e passo minha língua sentindo o gosto da sua excitação.
Me afasto apenas para ficar livre da bermuda e da cueca, e volto
deitando-me sobre a cama e levando minha boca em sua intimidade. Eu a
chupo lentamente.
A verdade é que desde que a barriga dela começou a crescer me
tornei um amante do amor, da lentidão. Não que não tenhamos os
momentos de foda louca, mas, quando ela está mais controlada é quando
aproveito para amar cada pedacinho do seu corpo.
Rodeio minha língua em seu clitóris inchado e o sugo. Ela grita
arqueando seu corpo e eu não sou mais capaz de aguentar. Me movo para
cima e beijo sua boca enquanto me posiciono em sua entrada quente e
úmida.
Nossos lábios estão conectados quando empurro centímetro por
centímetro dentro dela. Tão apertada, nunca irei me acostumar com isso,
assim como nunca irei ter o suficiente. Ela ofega quando estou dentro por
completa e então eu me mantenho parado por um tempo, apenas
consumindo sua boca.
Seu corpo fica tenso, e ela começa balançar contra mim. Sorrio com
sua urgência começando a mover sobre ela, investindo mais fundo e num
ritmo um pouco m ais rápido. Minha garota não serve para fazer amor, ela
gosta de foder. Mas, estou mais do que disponível para modificar isso.
Dentro de alguns meses a loucura terá que cessar, é bom que ela se
acostume ao lento e suave.
— Ei pequeninha, você pode fazer amor comigo?
— Você é tão gostoso. — Sorrio com sua confissão desesperada.
— Vem por cima de mim. — Não preciso repetir o pedido. Ela me
empurra na cama.
Sentado ela me monta e então toma o controle da forma como quer.
Suas mãos estão numa luta entre meus cabelos e meus braços. Seu corpo
está quente, suado e quase incontrolável. Quase. Passo minhas mãos em
suas costas e subo até seus ombros, onde impulsiono seu corpo para baixo.
Ela grita e seu orgasmo vem quase prontamente. Eu estou no controle até
mesmo quando tento passar a ela. Conheço todas as fraquezas da minha
fodida Sadgirl do caralho.
Seus seios roçam contra meu peitoral e eu agarro seus cabelos
enquanto impulsiono os movimentos em busca da minha própria libertação.
Ela gruda sua boca à minha e então gozo rugindo como um animal
selvagem.
Ficamos abraçados alguns minutos. Quando nossas respirações
acalmam, levanto-me e busco uma toalha no banheiro, molhada com água
morna, e limpo a bagunça entre suas pernas.
— Tão cuidadoso, meu marido.
— Tão linda, minha esposa.
Victória é a coisa mais perfeita do mundo.
— Seu telefone está tocando. — Avisa e eu caminho até a cômoda
para pegá-lo. É minha mãe.
— Oi, minha gata.
— Ahhh!!!! — Ela grita. — As gêmeas vão nascer!!!
— Sério? Vamos pegar o próximo voo.
— Vou mandar o nome do hospital por WhatsApp. — Grita mais
uma vez e desliga o telefone na minha cara.
— O que houve? — Sadgirl já está de pé ao meu lado.
— Liz e Maria Luíza vão nascer. — Ela se joga em meus braços
feliz da vida.
— Que lindas! Diga que nós estamos indo vê-las?! Por favor! Eu
preciso estar com meu irmão.
— Isis está em prova, vou pedir tia Alice para vim ficar com ela.
Nós pegaremos o primeiro voo.
— Eu te amo, Matheus Albuquerque!
— Eu também te amo, Victória. Agora vá comer seu lanche na
cozinha, senão não sai dessa casa em hipótese alguma.
— Ui, que medo! — Debocha vestindo um roupão e então sai
empolgada.
— Não corra e desça os degraus devagar.
— Ok, papai. — Diz rindo.

Após ligar para minha tia, arrumo uma única mala com roupas
suficiente para mim e para Sadesposa.
Tomo um banho, visto uma roupa e então desço. Vic já acabou de
comer e conversa animadamente com Ruth falando sobre Pietro.
— Amor, vou lanchar. Vá tomar um banho, você sabe... — Digo a
fazendo corar.
— Ok.
— Tem um voo em duas horas. Ainda quero passar na escola para
despedir de Isis. — Explico ganhando um beijo na bochecha.

Já acomodados no avião, penso em algo inusitado que ocorreu. Isis


deu uma crise de choro que nunca deu antes agarrada a mim. Ela implorou a
plenos pulmões para que eu, especificamente eu, não fosse. Essa merda
meio que acabou com meu dia. Só consigo enxergar minha garotinha
chorando. Me mata vê-la chorar.
Uma hora e meia depois chegamos ao hospital de mala e cuia.
Somos encaminhados para uma sala onde toda nossa família está bebendo
champanhe. Isso é normal?
— Aeeee! — Minha mãe grita.
— Mariana, nós estamos na porra de um hospital, caralho! — Meu
pai esbraveja antes de abraçar minha Vic.
— Foi sem querer. Perdoe-me, marido. — Ela diz fazendo cara de
santa e então se joga em meus braços. — Neném da mamãe! Coisinha mais
linda da minha vida, meu pimpolho rechonchudo, que saudade!
— Saudade também, minha gata. Te amo, mãe.
— Own, eu te amo mais, meu filho. Elas nasceram. Já já Pietro vai
poder trazê-las atrás daquele vidro ali. — Diz apontando.
— É um berçário particular? — Questiono.
— Sim, exatamente isso.
— Interessante isso. Gostei.
— Em Belo Horizonte possui um hospital tão bom quanto. —
Explica me dando um beijo na bochecha e pegando minha esposa dos
braços de Liz. Bem carinhosamente mesmo.
— Fala, bichona. — Bernardo diz vindo me abraçar e eu dou uma
sarrada para ele sentir o tamanho da bichona. — Vai tomar no seu cu,
babaca!
— Também te amo cunhadinho. Cadê minha parideira? Como estão
os preparativos para fazer novos bebês?

— Se forem bebês no plural vou morrer! — Beatriz diz.


— Serão! Por falar nisso, eu e Vic temos algo a anunciar. — Digo
atraindo atenção de todos.
— Sim, é verdade!
— Escondam as garotinhas da cidade, Victor Albuquerque está
chegando! — Comunico orgulhoso, ganhando um monte de abraços.
— Eu amei esse nome, é tão foderoso! — Minha mãe diz rindo. —
Victor Albuquerque, puta merda.
— Vocês desmerecem o Brandão. — Vic reclama. — Victor
Brandão Albuquerque, isso sim é nome foderoso.
— Realmente. O Brandão dá um ar de ÃO né, tipo HOMÃO,
PINTÃO, FODÃO, PUTÃO.
— Menos, Mariana. — Meu pai repreende.
— Arthur, você está bem chato hoje. O que foi? TPM? — Ela
questiona, mas meu pai não tem tempo de responder. Pietro surge com dois
pacotinhos rosa em seus braços. Todos nós tentamos arrumar um espaço no
vidro que nos separa.
— Ai meu Deus! Elas são perfeitinhas, lindas! — Victória diz
chorando e até eu me emociono. Dentro de alguns meses serei eu passando
por esse momento.
— São lindas, cara. Lindas. — Elogio minhas sobrinhas.
— Minhas netinhas... — Liz diz chorando com sua mão apoiada no
vidro.
Ficamos por alguns minutos, até Pietro ter que se afastar.
Até bebo uma taça de champanhe para comemorar.
Pietro se vai e a médica informa que as visitas estarão liberadas
apenas amanhã. Informa também que os bebês estão bem, saudáveis, assim
como Jé.
Nos juntamos todos e vamos comemorar em um jantar num
restaurante. Depois, eu e Vic seguimos para o apartamento dos meus pais,
namoramos um pouco e nos rendemos ao sono dos justos.

Acordo num sobressalto. Um desespero me invade quando não


encontro Victória ao meu lado, nem mesmo sei explicar o motivo. Visto
uma bermuda rapidamente e saio do quarto, rumo a cozinha. Meus pais
estão sentados na mesa, tomando café da manhã e rindo de algo.
— Bom dia família, cadê minha esposa? — Questiono.
— Ela foi caminhar com Liz pela trilha do condomínio. — Meu pai
explica com a testa franzida. Ok, estou parecendo desesperado mesmo, mas
sei lá. Algo está me deixando nervoso, com pressentimento ruim.
— Ok, vou atrás delas.
— Deixa as duas, Matheus Albuquerque, parece psicopata! —
Dona Mari repreende e eu sorrio.
— Dona Mari, você é minha gata, mas apenas preciso ver Victória
agora.
— Credo! — Ela diz passando as mãos pelos braços.
— Vocês brigaram? — Meu pai pergunta.
— Não. Só quero vê-la, preciso vê-la. Já sentiu isso alguma vez na
vida? — Questiono.
— Não. Se você sente que precisa ir vê-la, vá. — Ele diz levemente
preocupado.
De volta ao meu quarto, calço um tênis, pego um boné. Na cozinha,
pego um pão de queijo e deposito um beijo na testa de minha mãe antes de
ir atrás de Vic e Liz.
Coloco meus fones de ouvido e começo a correr pela trilha em volta
da lagoa. Durante todo trajeto vou observando alguns micos pulando pelas
árvores. O sol está começando a ficar forte e, até o exato momento, não as
encontrei. O caminho começa a ficar mais fechado pelo mato, mas, algo me
impulsiona a continuar. Meu coração está disparado e estou sentindo um
medo descomunal. Corro mais rápido e é então que as encontro.
Meu sangue gela por completo e meu coração falha algumas longas
batidas.
Humberto está com uma arma apontada na cabeça de Liz que grita
para Victória correr.
— Chegou mais um convidado. — Ele diz rindo.
— Matheus, tire ela daqui. — Liz grita em desespero. — Pelo amor
de Deus, salve Victória. Tire minha filha daqui. — Implora.
—Que tal eu matá-lo e ficar com vocês duas? Só fiz sexo com
gestante uma vez. — Ele é doente, suas palavras me dão nojo. Eu
definitivamente não sei o que fazer agora. — Que tal eu matar sua filha e
fugir com você, Liz? Escolha.
— Deixe-a ir, por favor. Você pode fazer o que quiser comigo,
apenas deixe minha filha. Me mate, me leve, faça qualquer merda,
Humberto. Deixe-a ir. Por favor. Eu imploro, Humberto. Deixe minha
garota ir. — Liz pede em desespero.
— Não, mãe. — Vic chora e eu me aproximo para segurá-la. — Me
leve no lugar da minha mãe. — Ela grita e eu quero morrer nesse momento.
Eu gostaria que fosse um pesadelo maldito.
Tento pensar em alguma ação, mas estou completamente
desprovido de possibilidades. Não possuo uma arma ou qualquer outra
coisa que possa detê-lo. Estou em completa desvantagem e isso é uma
morte lenta dentro de mim. Minha sogra na mira de uma arma, minha
esposa grávida... É um maldito pesadelo.
— Solte-a, Humberto. O que você vai ganhar com isso? — Tento
argumentar enquanto Vic soluça alto.
— Eu mofei naquela cadeia, desgraçado. Essa vagabunda fodeu
minha vida há anos atrás! — Diz batendo com a arma na cabeça de Liz que
tenta a todo custo reprimir o choro.
— Por favor, deixe os dois irem. Me leve com você. — Ela implora.
— Eu fico com você, Beto. Tenho dinheiro, nós podemos sumir.
— Não mãe, por favor não. — Vic tenta correr e sou obrigado a
segurá-la. Humberto dá outra porrada na cabeça de Liz com a arma a
fazendo desmaiar. Ela cai no chão e vejo sangue. Eu rezo internamente para
que seja apenas um desmaio. O pensamento me faz estremecer e as
lágrimas turvam meus olhos. Vic não vai suportar isso. Não vai.
Eu assisto a cena e morro um pouco a cada segundo.
— Mãe! — Vic grita tentando se soltar e Humberto mira a arma
para ela. Por Deus, minha mulher não, eu prefiro a morte ao vê-la morrer
diante de mim.
— Você, vagabunda mirim, me entregou a esse desgraçado. Você
também fodeu minha vida. Vocês dois merecem morrer. — Ele diz e em
minha mente surge a imagem de Isis chorando. Ela sentiu... ela sentiu que
eu e sua mãe morreríamos. Mas, o desespero maior dela era por mim, não
sei que merda significa, mas tudo faz sentido agora.
Por favor Deus... nos proteja. Proteja minha garota e nosso bebê
pelo menos. Ela merece ser feliz depois de tudo. Vic merece ser feliz e criar
nossos bebês. Se alguém tiver que morrer, que seja eu. Não ela.
— Theus. — Vic choraminga interrompendo minha oração
silenciosa.
— Calma. — Digo baixo. — Por favor, Humberto, não faça
nenhuma estupidez. Vai ser pior para você depois. Vamos conversar como
adultos. — Peço colocando Vic atrás de mim. — Coloque a arma no chão.
— Ela está grávida. — Ele diz rindo e chorando. Não compreendo.
— A cadela mirim está grávida.
Enquanto ele passa as mãos pelo rosto em total estado de loucura,
eu me adianto três passos à frente. Ele não vai me matar minha esposa. Ele
vai matar a mim. Ela não.
— Não, Matheus. — Vic implora baixo.
— Você vai morrer se der mais um único passo. — Ele alerta
mirando a arma em minha direção.
— Não faça isso. Libere apenas minha esposa. Eu e Liz ficamos
com você. — Eu estou pedindo clemência ao homem que desgraçou a vida
da minha mulher uma vez e está querendo desgraçar pela segunda vez.
Vic corre desesperada e, quando ela vai se jogar na minha frente,
ele mira arma sobre ela. Eu a empurro a tempo de evitar o pior recebendo o
disparo em seu lugar, diretamente em meu peito sinto a queimação quase
insuportável. É algo inexplicável.
Levo minha mão sobre o local e o melado de sangue indica que é
real. Eu consigo ficar de pé o suficiente para ver Túlio surgir do nada e
atirar contra o pai repetidas vezes.
O corpo morto de Humberto cai ao chão ao mesmo tempo que o
meu. Acabou. O homem que abusou sexualmente e psicologicamente da
minha garota está morto. Túlio salvou minha garota. Túlio matou o próprio
pai para salvar minha garota. Eu quero agradecê-lo por salvar a minha
mulher e nosso filho, mas apenas não consigo.
Obrigado Túlio, obrigado.
Eu ainda consigo escutar grito de horror da minha esposa. Olho
para o lado e a vejo correndo. Então ela está diante de mim. Não consigo
escutar o que ela está falando. Apenas seguro suas mãos e sorrio. Minha
pequeninha, minha Sadgirl, minha sardinhas bonitinhas, a única mulher que
amei em toda minha vida finalmente está salva do maior de todos os
demônios do seu passado: Humberto está morto!
— Você está livre, pequeninha. — Penso em meu interior e então a
dor se torna insuportável demais. Eu vejo imagens da minha esposa grávida,
vejo os olhos azuis da nossa filha...
Junto a última gama de força que possuo apenas porque preciso que
ela saiba. Se eu morrer agora, não terá sido em vão. Ela, nosso bebê e nossa
Isis estão salvos. Graças a Deus.
— Eu te amo, Victória, sempre te amei. — Suspiro a observando
chorar. — Lembra que você me deve alguns desejos? — Pergunto e ela
balança a cabeça confirmando. — Eu quero que faça um deles agora. —
Peço.
— Não, Theus... Por favor não.
— Me ouça. — Imploro. — Se eu morrer, promete ser forte e
cuidar dos nossos filhos? Promete, Vic? Promete que vai ser forte, por
favor. Seja forte, meu amor. Eu vou te amar até meu coração parar de bater,
sardinhas botinhas. E, mesmo depois, sempre estarei com você, não importa
onde...
— Não vai morrer, Matheus, eu te proíbo. — Ela grita em
desespero.
— Promete? Por favor. — Pergunto lutando duramente contra o
mal-estar.
— Eu prometo, Theus. Não me deixe, por favor. — Ela implora
deslizando suas mãos suaves em meu rosto. Não quero deixá-la, Deus. Não
me deixe morrer.
— Eu te amo Vic, lembre-se disso, você é o amor da minha vida.
Obrigado por voltar para mim, por criar minha filha. Cuide do nosso Victor
e dela, por mim. Eu amo você, Vic. Até meu último suspiro. — Sorrio e
então sou imerso à escuridão, sem chance de lutar.
“Eu não quero ser tocada pelo medo em seus olhos
Eu não quero ficar para trás para meus demônios me acharem
Quando as folhas somem e a batida termina
O mundo estremece
Diga-me você, vai me abraçar na pós vida dourada?
É, você
Você não tem que morrer sozinho esta noite
Eu vou te encontrar em um céu ardente”
Zella Day – Sacrifice
Não! Isso é um filme de terror.
Eu olho para o rosto do amor da minha vida e ele está ligeiramente
pálido.
Minha visão está completamente turva pelas lágrimas e banhada
pelo desespero. Ele não morreu. Ele não morreu. Ele não pode fazer isso
comigo. Não pode me deixar.
Não vou desistir do meu Theus, não vou. Me forço a pensar
positivamente, mas, no fundo, bem no fundo do meu consciente, temo que
Victor não seja capaz de conhecer o quão maravilhoso o pai é. Temo que ele
nunca seja capaz de se perder nos olhos âmbar, temo que ele não seja capaz
de ouvir alguma das gracinhas de Matheus.
Eu, que todos intitulam como exemplo de força e superação, sei que
nunca serei capaz de superar a perda se ele realmente se for... Eu nunca irei
superar. Nunca irei superar.
Uma fisgada forte em minha barriga faz meu o desespero aumentar.
Eu opto por ficar sentada, quieta, devido ao medo infernal de que qualquer
outro acontecimento surja após toda essa desgraça que estou vivendo. Não
posso suportar mais. Não posso.
Ouço algumas palavras e então minha atenção é desperta:
Tiro
No peito
Grave
Um morto
Dois feridos
Estado crítico
Pancada na cabeça
Desacordados
Helicóptero
Levanto minha cabeça e encontro Túlio medindo algo no pescoço
do meu Theus enquanto fala no telefone.
— Sim. Não dá para esperar, porra! — Seu grito com a pessoa do
outro lado telefone faz todo meu corpo estremecer.
O que Túlio está fazendo aqui?
Ele me salvou, ele salvou Matheus de ser estraçalhado por balas.
Não importa mais saber o motivo pelo qual ele está aqui, assim
como não importa sobre Ítalo. A merda foi feita, o estrago foi feito, o corpo
do meu marido está estirado ao chão, ao meu lado. Ele não responde aos
meus comandos.
E minha mãe está atirada a poucos metros.
Eu sei que ela está bem, apenas desacordada. Isso já é um grande
conforto, mas, ainda assim não alivia o peso da dor que estou sentindo.
Nunca em minha vida imaginei uma cena dessas.
Mantenho minhas mãos grudadas às mãos do meu marido. Dói
sentir que meu aperto não é retribuído e que ele não esboça qualquer tipo de
reação. Não posso ser forte, eu prometi, mas eu não consigo.
Não consigo ser forte, não consigo agir, não consigo respirar.
— Vic, você precisa falar comigo, ok? Olhe para mim. — Túlio
pede se aproximando de mim. — Eles estão vivos Vic, eles estão vivos, ok?
Eu preciso que me passe um telefone para avisar sua família. — Eu entrego
meu celular e ele franze a testa. — Qual a senha?
— Sadboy. — Digo. — Há o número dos meus sogros. Mariana e
Arthur. — Informo e me abaixo para beijar Matheus. Eu soluço alto vendo
o sangue encharcar sua camisa branca. Eu odeio sangue, eu odeio. Eu odeio
ainda mais por ser dele. Só eu posso sangrar, Matheus não! Ele é tão bom,
tão bom. — Você não pode morrer Sadmarido, não pode. Por favor, seja
forte. Há um Sadbebê para você ver nascer, Theus. Há uma princesa para
você ver crescer e espantar os garotinhos. Não me deixe, pelo amor de
Deus, não me deixe nunca.
— Vic, eu já fiz tudo o que podia fazer. Preciso ir. Tente se manter
forte e mantenha a fé. O socorro está chegando assim como seus familiares.
Conte tudo a polícia, inclusive sobre mim. Eu mesmo irei me entregar, ok?
Fique bem, Vic, vai dar tudo certo. Ele está vivo, você e seu bebê também.
— Obrigada. Obrigada por tudo. Eu nunca agradecerei o suficiente.
Você salvou nossas vidas. Se você não tivesse chego... — Digo aos prantos.
— Eu te amo, Vic, te amo que dói. Eu destruí sua vida uma vez, não
poderia deixar que meu pai terminasse com isso... Eu te amo. Você vai ser
feliz, você merece ser feliz. — Ele diz me dando um beijo na testa. —Eu te
amo muito, little girl, a ponto de saber que não sou bom o suficiente e a
ponto de renunciar a você. Deus vai ajudá-los, você é uma pessoa boa e
merece ser feliz. Deus não será injusto com você, não depois de tudo...
— Obrigada! — Agradeço mais uma vez. Ele olha uma última vez
para mim e então fica de pé. Suspira profundamente como se estivesse
sentindo dor. Isso me dói, absurdamente. Ele não é ruim. Ele foi criado para
ser, mas não é.
Túlio se vai sem ao menos dirigir um único olhar para o corpo do
pai.
Obrigada, Túlio. Obrigada para sempre!
— Meu filho! — Mariana grita de longe e como na cena de um
filme ela vem correndo e cai de joelhos acompanhada de Arthur. Ele pega
Matheus em seus braços, o abraça e chora em desespero.
— Você não pode morrer, porra! Não pode! — Arthur grita.
— Ele está vivo? Meu filho está vivo? — Mari questiona em
desespero e eu não sou capaz de responder.
É então que um helicóptero surge sobrevoando o condomínio, no
mesmo tempo em que surgem duas viaturas, uma ambulância e um carro da
defesa civil.
Largo a mão do meu marido incapaz de compreender esse circo dos
horrores, assim, do nada minha vida mudou. Nós tivemos uma noite tão
incrível e de repente tudo ruiu. Sinto que minha mente agora está passando
por um momento de dormência. O caos está destruindo tudo à minha volta.
Meu coração chacoalha fortemente em meu peito levando tremores
para todo meu corpo enquanto lembranças dos últimos meses insistem em
maltratar ainda mais meu coração:
"Você vai vestida assim mesmo ou há um casaco ou qualquer merda
para cobrir?"
"Eu estou lutando sua batalha, Vic."
"...eu ainda estarei aqui para ver as armas que você utilizara para
meu possuir"
"A marquinha do nascimento da nossa filha... isso me deixa doido,
Victória."
"Estou cuidando de você de longe, sempre cuidarei."
"Eu não vou embora Vic, não vou deixá-la".
Eu volto a soluçar. Sinto que ele está me deixando... ele prometeu
que não deixaria. Uma profunda sensação de vazio está presente, rasgando
cada parte de mim.
Estou sozinha. Acho que nunca estive tão sozinha como agora.
Me afasto rastejando pelo chão e vejo a equipe médica em torno de
Matheus. Olho para frente e então outra equipe médica está cuidando da
minha mãe, que nesse momento está sendo amparada pelo meu pai e meu
irmão.
Não sei porque, mas minhas lágrimas agora estão contidas. É
como se eu tivesse acabado de perder a capacidade de sentir e exprimir a
dor.
É Beatriz que vem até mim. Ela fala, fala, fala e eu não ouço uma
só palavra.
Eu sei que há algumas fisgadas fortes em meu ventre. Não posso
perder meu bebê.
— Eu vou perder meu filho. Não quero perdê-lo também... ele é...
meu segundo Matheus. — É a única coisa que consigo dizer e ela parece
compreender.
Sou pega por dois enfermeiros, antes que eu me dê conta estou
deitada sobre uma maca. Eles me carregam correndo enquanto suspiro e
fecho meus olhos. Não quero sentir mais dor. É insuportável.

BEATRIZ ALBUQUERQUE BRANDÃO


Meu irmão...
Minha sogra...
Minha cunhada...
Meus pulmões queimam, assim como meu peito está afiado pelo
esforço para conseguir respirar.
"Eu vou perder meu filho também".
Essa frase provavelmente nunca mais sairá da minha mente, assim
como toda a cena que estou vendo.
Vic e Liz são levadas pela ambulância acompanhadas pelo meu
sogro. O barulho da sirene chia me fazendo estremecer por completo.
Elas se foram numa velocidade impressionante, mas, meu irmão
ainda está aqui... deitado, agora, sobre uma maca. Estão fazendo vários
procedimentos e eu temo pelo pior. Eles estão retirando os pertences dele, o
celular, a aliança, as pulseiras de couro e o cordão.
Eu pego os objetos que me entregam e então arrisco olhar para seu
rosto perfeito.
Ele está sem cor.
Ele parece sem vida.
Eu nunca senti nenhuma dor mais forte do que essa.
— Ele vai ficar bem Bia, ele vai ficar bem. — Bê se aproxima e
então me envolve em seus braços. Eu quero morrer de chorar, quero bater
em Matheus e mandá-lo acordar, quero confortar meus pais. Mas, estou
aqui, fodida psicologicamente.
— Eu morri e voltei, ele vai voltar não vai? — Pergunto a meu
marido.
— Ele não está morto. Eu escutei falando que havia batimento
cardíaco. Ele é forte, assim como você, Bia.
— Sua mãe e Vic? — Pergunto.
— Elas vão ficar bem. Victória está em estado de choque.
— Ela me disse que perderia Victor, Bê... isso não pode acontecer.
— Digo e finalmente uma lágrima escorre dos meus olhos. Eu sou mãe, e
por isso a frase dela se entranhou na minha mente como uma potência
destruidora.
A equipe médica carrega meu irmão para o helicóptero. Meus pais o
acompanham e então eu e Bernardo ficamos para conversar com a Polícia.
— Eu não sei explicar o que houve agora. A única pessoa capaz de
responder foi levada em estado de choque para o hospital. — Explico.
— O homem que está morto abusou sexualmente da minha irmã por
anos. Ele é ex namorado da minha mãe. Tanto ele, quanto o filho, estavam
presos. O filho dele eu não sei onde se encontra, mas, gostaria de entender o
que ele está fazendo aqui, num condomínio repleto de segurança, morto...
Quero saber por que minha mãe está ferida, meu cunhado está em estado
grave e minha irmã está do jeito que está. Me digam vocês, o que um
prisioneiro faz solto??? — Bê desabafa e eu sou capaz de sentir a dor em
cada uma de suas palavras.
— Houve uma rebelião em uma das penitenciarias, há pelo menos
70 refugiados. — O policial explica. — Nós vamos até a administração do
condomínio pedir imagens da câmera de segurança. Iremos ao hospital
interrogar a garota.
Eu não fico para ver a perícia. As pessoas que importam não estão
aqui. Cada uma delas está lutando suas batalhas internas neste momento. Eu
espero que meu irmão trave uma luta com toda força que possui, assim
como espero que minha cunhada não sofra danos maiores do que já sofreu.
Espero que minha sogra não se culpe como se culpou por tudo que
aconteceu com Victória. Espero... apenas espero que tudo dê certo. Tem que
dar.
Neste momento alguém precisa estar no controle.
— Nós precisamos de ajuda. Precisamos do Ricardo, precisamos
que alguém fique com as crianças, precisamos de Giovanna, precisamos de
toda ajuda e suporte. — Digo.
— Dona Jô pode ficar com as crianças. É o celular da Vic. — Ele
aponta para algo no chão e então abaixa para pegá-lo. — Merda, ela vai
ficar bem. Ela precisa ficar bem. — Diz para si mesmo.
— Tenho o número da Giovanna. Vou ligar pedindo apoio.
Passo os próximos dez minutos ao telefone e consigo resolver ao
menos a situação das crianças e de Isis. Gi vai pegar o próximo voo para
BH e Ricardo desmarcou todas as consultas e está indo para o hospital.
Agora é a vez de me manter firme e ir apoiar minha família no
hospital. Pelo menos meu telefone não tocou, isso já é um bom sinal, não é?
Notícia ruim sempre chega rápido.
Bernardo dirige um pouco desatento, enquanto eu tento rezar
milhões de orações. Meu Theus, eu preciso dele para me chamar de
rompida parideira, preciso dele para me chamar de arrombada, de qualquer
merda que ele quiser. Ele possui um vocabulário próprio e eu apenas
preciso de toda sua merda.

A cena que encontro na sala de espera do hospital me faz perder a


força das pernas.
Minha mãe está sentada e meu pai está ajoelhado no chão, com sua
cabeça jogada contra as pernas dela chorando. Corro até eles e os abraço.
— Ele vai ficar bem. Ele é um Albuquerque pai.
— Ele está passando por cirurgia, não sabemos se ele vai sair de
lá... não sabemos. — Minha mãe diz e seu desespero é evidente. Ele tem
que sair! Eu nunca senti tanto medo.
— Ele vai sair, Mari. Beatriz saiu, ele também sairá. — Bê diz.
— Não acertou o coração, graças a Deus. Foram três dedos acima,
mas é grave. Fez um estrago... — Não digo nada, não entendo sobre isso.
Apenas a abraço forte e tento confortá-la, em vão obviamente. — Ele vai
sair dali vivo, ele vai. Ele não pode não sair vivo dali.
Enquanto minha mãe está chorando a plenos pulmões, meu pai está
chorando em silêncio. Isso me preocupa.
— Pai, ele vai ficar bem.
— Eu quase perdi você uma vez e agora Matheus. Eu não quero
perdê-lo, Beatriz. Um pai nunca está preparado para perder um filho, eu não
posso perdê-lo, ele é o meu garoto. — Meu pai... Me mata vê-lo assim.
— Você não vai perdê-lo. Nós não vamos perdê-lo. — Digo com
uma confiança que está fora de mim. Nós não vamos, eu preciso acreditar
nisso.
— Vocês precisam verificar Victória e Eliza. Eu ficarei aqui com
sua mãe. — Ele diz e então eu deixo um beijo em sua cabeça. — Verifique
se está tudo bem com o bebê.
— Pode deixar, pai. Tudo vai dar certo. — Afirmo.
Eu e Bê caminhamos juntos. Cada uma delas está em um quarto.
— Liz está sedada. A pancada foi forte, terá que ficar em
observação. — Meu sogro anuncia com o semblante carregado. Deus, todos
nós estamos fodidos, completamente. Há só devastação. — Vic está em
choque. Seria bom Ricardo vir.
— Ele está vindo, pai. — Bê explica.
— Ao menos aquele desgraçado está morto. Acho que agora o
inferno acabou. Na verdade, é o que espero e anseio. Não dá mais. — O
abraço tentando levar um pouco de conforto. Acho que nunca precisei ser
tão forte antes. Nem mesmo quando era eu em cima de uma cama, lutando
pela minha própria vida.
— Acabou, meu sogro. Se Deus quiser, acabou.
— Já têm notícias de Matheus? — Ele questiona e eu balanço a
cabeça negativamente.
— Vai dar tudo certo Bia, ele é um garoto forte e saudável.
— Pai! — Pietro chega um pouco desesperado. — Como todos
estão?
— Sua mãe vai ficar bem. Matheus está passando por cirurgia e
Victória ainda não obtive respostas. Beatriz e Bernardo estão indo vê-la. —
Meu sogro explica.
— Matheus... O quão grave foi? — Questiona.
— Grave. — Respondo e ele compreende.
— Eu posso entrar para ver minha mãe? — Pergunta.
— Por enquanto só podemos vê-la através do vidro, filho. —
Bernardo diz o abraçando.
Eu os deixo e vou em busca do local onde Vic está. Não demoro a
encontrar. Está num quarto como o da minha mãe, no final do corredor.
Ela está acordada. Está deitada de lado, com um olhar
assustadoramente vazio voltado para a parede. Não nota minha presença,
por isso caminho até uma enfermeira para obter notícias.
— Ela e o bebê estão bem. Ela está tomando medicação na veia
devido a oscilação da pressão. Precisamos controlá-la ou pode ser
prejudicial. — A enfermeira explica.
— Não corre riscos? — Questiono.
— Não. Ela parece em choque completo. Nem mesmo conversou
ou tentou lutar contra nós. Permitiu que fizéssemos todo o procedimento.
— Olá. — A voz de Ricardo surge e eu realmente respiro um pouco
aliviada.
— Que bom você chegou!
— Eu já soube sobre Matheus e sua mãe. — Diz sentido e então vê
Vic através do vidro. — Como ela está?
— Não entendo de psicologia o bastante, mas ela está em choque,
como se tivesse se desligado do mundo.
— Bloqueio emocional. — Ele diz enquanto a observa.
— Como? Ela está bloqueando os sentimentos? Como isso
funciona? — Questiono curiosa.
— É um mecanismo de defesa no qual o inconsciente oculta
memórias de dor e acontecimentos para evitar o sofrimento. Infelizmente
isso é algo ruim, tendo em vista que a situação dolorosa não deixa de existir
e uma hora ela terá que enfrentar. Esse tipo bloqueio, essas emoções
reprimidas não são bem recebidas pelo organismo, pode transformar-se até
em doenças. Eu estou aqui para impedir isso.
— Você é tipo o super-herói dela. — Afirmo dando um sorriso
fraco.
— Gostaria de ser um super-herói, mas sou apenas um mero mortal
disposto a ajudar às pessoas a lidarem com problemas emocionais e
traumáticos. — Ele é maravilhoso, um ser humano foda! — Posso entrar?
— Questiona a enfermeira.
— Não estamos autorizados, mas, levando em conta que o senhor é
psicólogo, acho que deve entrar sim. — Ela autoriza a entrada e então me
sento em um sofá do lado de fora, abaixo minha cabeça e volto às minhas
orações.
Não vamos suportar perder Matheus.

Submersa a escuridão. Lutando dolorosamente para bloquear tudo.


Mas, lá no fundo do meu subconsciente eu sei de tudo que está acontecendo
a minha volta. Não tive nenhuma notícia do meu marido. As únicas coisas
que sei é que eu e meu bebê estamos a salvo, e que Ricardo acaba de se
sentar ao meu lado e está segurando minhas mãos.
— Olá, paciente mais linda. — Ele cumprimenta e eu o invejo por
estar com a voz tão firme quando eu nem sei se sou capaz de falar.
Eu aperto sua mão e tento sorrir, falhando completamente.
— Vamos conversar um pouco? — Indaga.
— Sim.
— Eu já sei de tudo que aconteceu. — Claro que sabe. — Estou
aqui para dar suporte não apenas a você, mas a toda sua família. Primeiro
quero te informar que Giovanna neste exato momento está num voo para
Belo Horizonte. Ela está indo distrair Isis por uns dias. — Isso me traz um
pouco mais de calma. Não sou capaz de lidar com a minha própria filha
nesse momento, me sinto péssima por isso. Me sinto péssima por ela estar
longe. Me sinto péssima por ter trazido tanto sofrimento para todos. —
Você tem notícias da sua mãe?
— Não.
— Sua mãe está bem. Ela está apenas sedada e em observação por
conta da forte pancada na cabeça. Há um edema no local e precisa ser
observado. Ela não corre riscos. — Eu consigo respirar pela segunda vez
com essa notícia.
— Obrigada.
— Agora vamos falar de você.
— Matheus? — Questiono.
— Nós chegaremos a ele. — Informa. — Eu estou falando como
amigo psicólogo, não apenas como psicólogo. Eu realmente imagino quão
fodido é tudo que você está tendo que enfrentar no dia de hoje, Victória.
Você é a única pessoa que pode dizer cada detalhe do aconteceu. A única
coisa que sabemos é que Humberto está morto, sua mãe estava caída
desmaiada e Matheus levou um tiro. Nada além disso. Você está calada,
isolada dentro de si mesma, o que é compreensível tendo em vista todo o
histórico de situações traumáticas pelas quais já passou. É compreensível,
mas não é saudável. Você está tentando se proteger dos acontecimentos e da
dor. — Explica. — Você sabia que há um bebezinho na sua barriga que
absorve tudo?
— Eu não quero prejudicar meu filho. — Afirmo levando a mão em
meu ventre. — Eu prometi a Theus...
— Eu sei que não quer prejudicá-lo, Vic, mas isso se torna
involuntário. Involuntariamente você acaba o prejudicando por se fechar.
Você pensa que não sente dor fazendo isso. Pensa que está conseguindo
guardar todos os sentimentos e se isolar dos acontecimentos, mas não está.
Seu subconsciente está apenas pregando uma peça. Então, tendo em vista
todo o tratamento que estamos fazendo até o dia de hoje, acho que seria
interessante você parar de se segurar e extravasar. Eu, com o seu médico,
sei que você não sofre de transtorno de bloqueio emocional. É a primeira
vez que está fazendo isso, então estou aqui para te tirar disso. Vamos
enfrentar tudo o que aconteceu juntos? Você, sua família, eu.
— Matheus? — Pergunto mais uma vez.
— Matheus está sendo operado, Vic. É uma operação delicada,
demorada. O mais importante é que ele está vivo. O projétil não atingiu o
coração ou uma área que o levaria a óbito instantaneamente, graças a Deus
Humberto era ruim de mira.
— Ele corre riscos? — Pergunto mesmo sabendo a resposta.
— Vamos enfrentar. Ele é forte, saudável. Há inúmeros motivos
para ele estar lutando, você Isis, seu bebê. Precisamos acreditar que ele está
dando o melhor para sair da atual situação.
— Túlio nos salvou. — Confesso e ele tenta não parecer assustador.
— Túlio? — Eu me sento e então as barragens se abrem como
compotas.
— Eu e minha mãe saímos para caminhar na trilha, como fazíamos
quando eu era adolescente. — Explico entre lágrimas. — Então, quando
estávamos no final da trilha, Ítalo ou Humberto, surgiu. Ele disse que
mataria minha mãe e a pegou pelo pescoço. Disse que mataria ela diante de
mim. Mataria ela por tê-lo deixado e o humilhado, e mataria na minha
frente para eu carregar a culpa porque eu o entreguei a polícia e iria pagar.
Ele disse que a próxima vítima seria Isis, que a encontraria até no inferno.
— Soluço e ele aperta minhas mãos. — Então Matheus chegou. Ele tentou
conversar com Humberto, mas Humberto estava insano, completamente.
Humberto deu uma coronhada na cabeça da minha mãe e ela desmaiou.
Então Matheus entrou na minha frente, para impedir que Humberto atirasse
sobre mim. Ele ameaçou que mataria nós dois... ele mirou a arma para o
Matheus e eu entrei em desespero. Eu corri para entrar na frente, mas Theus
me empurrou levando o tiro em meu lugar. Eu sou a culpada... se ele morrer
eu sou culpada.
— Não Vic. Você não é a culpada. Você, sua mãe, Matheus são
vítimas. Eu teria feito o mesmo que ele para defendê-la, para defender
qualquer um que amo. Nós extinguimos a culpa da sua vida há bons meses
Vic, você agora compreende que é vítima, não podemos retroceder o
tratamento, apenas avançar, você me prometeu isso.
— Eu não consigo quando meu marido corre risco de morrer. —
Confesso.
— Mas você precisa enfrentar, precisa conseguir. Há duas pessoas,
além de Matheus, que precisam disso, Vic. Esse bebê e uma linda garota,
aliás, a garota mais linda que já vi na vida. Isis. Não é o momento para você
bloquear o sofrimento Vic, é o momento de você mostrar sua força,
enfrentar a situação de cabeça erguida e ter esperança.
— Túlio apareceu assim que Humberto estava dando o primeiro
tiro. Ele estava com uma arma em mãos e então atirou contra o próprio pai
repetidas vezes, o impedindo de atirar mais sobre Matheus e sobre mim.
Ítalo ia nos matar Ricardo, a morte estava brilhando em seu rosto. Túlio não
permitiu. Ele me deu uma segunda chance de continuar... se ele não tivesse
chegado...
— Túlio, por tudo que me falou, é um cara completamente
quebrado e desestruturado, mas não é uma pessoa voltada totalmente para
maldade. Ele precisa de ajuda.
— Ele também verificou se minha mãe e Matheus estavam vivos,
ligou para a polícia e para o socorro, porque eu não tinha capacidade de
fazer... eu teria ficado ali, perdida, bloqueada, sem ação. Se ele não tivesse
agido rápido... o helicóptero, a ambulância, as viaturas chegaram muito
rápido, graças a Deus. Eu não tive como chamá-los... não tive. Foi Túlio
Salvatore, ele nos salvou do pior.
— Fico feliz que você esteja falando Vic, continue assim.
— E então, eu vi Mari sobre ele... Eu comecei a bloquear tudo.
Tudo. Foi como se minha vida tivesse acabado. A única coisa que me
trouxe de volta alguns segundos foi meu bebê. Eu tive medo de perdê-lo
também. Senti dores. Mas ele está aqui, porque ele é filho de Matheus
Albuquerque, ele é forte. — Digo limpando as lágrimas. — Ele é forte
como o pai.
— Ele é forte como a mãe e como o pai. Você não faz ideia da força
que possui, Vic. Você possui força, coragem, determinação, boa vontade. E
o mais importante, você aceita ouvir, aceita os próprios erros, aceita os
conselhos, aceita cuidados, tratamentos... É uma das mulheres mais
incríveis que tive o prazer de conhecer.
— Ele vai sobreviver. — Digo com firmeza não a Ricardo, mas a
mim mesma. — Ele vai.
— Ele vai Vic, nós precisamos focar nisso. Todo o resto não
importa agora. Você terá que prestar depoimento à polícia, terá que contar
tudo a eles.
— Eu não me sinto pronta para isso agora. — Informo.
— Claro que não. Mas você terá que enfrentar isso em um outro
momento. Preciso que esteja forte. Todos nós precisamos da sua força,
querida. Você não está sozinha mais.
— Ele me pediu... ele pediu que eu fosse forte e criasse nossos
bebês caso ele morresse. Eu não conseguirei, Ricardo. Eu não consigo
pensar na possibilidade de perdê-lo.
— Então não pense que vai perdê-lo. Pense na capacidade de
recuperação. Ele está passando por uma cirurgia, ele vai se recuperar. Pense
que é apenas um intervalo curto necessário. — Eu balanço a cabeça
afirmativamente e então o puxo para um abraço.
Ele me abraça forte e eu choro tudo que não chorei até o momento.
Existem dois seres humanos no mundo inteiro que sabem perfeitamente
como lidar comigo: Um está nos meus braços, me acalentando e abrindo
minha mente para uma força que não sei se possuo. E o outro está entregue
nas mãos de Deus e dos médicos. Eu sei que Matheus é um ser humano
ímpar, mas espero que Deus não o queira ao seu lado tão cedo.
Por favor, Deus, deixe meu sadmarido comigo... não o tire de mim.
O senhor não vai querer ouvir as piadinhas infames dele, mas eu quero. Eu
o amo com toda minha força.
“Agora que sei o que me falta
Você não pode simplesmente me deixar
Respire dentro de mim e torne-me real
Traga-me para a vida”
Evanescence – Bring me to life

Quarenta minutos de conversa.


Eu gostaria que todas as pessoas no mundo tivessem um amigo
como Ricardo. Um amigo para ouvir, para desabafar, para ampliar sua visão
sobre as coisas e te mostrar alguns sentidos. Sem pedir nada em troca. Meu
amparo. Meu amuleto da sorte, que me fez retornar da escuridão e está me
impulsionando a buscar a luz, não apenas nesse momento, mas desde o
início do tratamento.
— Você parece melhor, Victória. — A enfermeira diz retirando a
bendita agulha do meu braço e colocando um adesivo no local.
— Eu tenho um ótimo psicólogo.
— Ele é ótimo aos olhos e foi bom para você. Está menos pálida.
— Eu posso descer e ficar com minha família? — Questiono.
— Você pode, mas irei aferir sua pressão de meia em meia hora.
Evite ficar andando. Acomode-se em um lugar confortável e fique quieta.
Se eu a pegar abusando, terei que trazê-la de volta. — Adverte.
— Tudo bem. A senhora tem notícias sobre meu esposo? —
Pergunto esperançosa.
— Infelizmente não tenho notícias sobre o centro cirúrgico, mas
adianto que existem operações que duram até dez horas. A senhorita precisa
relaxar, aguardar e ter fé.
— Ok, eu farei isso. Obrigada, pelos cuidados e pelas palavras. —
A agradeço dando um abraço e então Ricardo segura minha mão
firmemente quando saímos do quarto.
Primeiro vou conferir minha mãe.
Meus irmãos e meu pai não estão no quarto, ela parece bem, graças
a Deus! Minha mãe está realmente bem! Isso já alivia um pouco da minha
dor.
Conforme descemos pelo elevador até a recepção, eu me sinto um
pouco mais estimulada.

Eu me encho de coragem e fé.


Eu visto minha armadura e minha máscara de força.
Decido que Matheus sairá dessa ainda mais forte, mais louco e mais
voraz.
Respirando fundo, lutando internamente contra a devastação, eu
entro na sala de recepção. Seis rostos viram-se para mim. Todos eles
tomados pelo susto, pela surpresa e pelo medo.
— Como você está filha? — Meu pai é o primeiro a se aproximar.
— Melhor, confiante.
— Mamãe está dormindo. — Sorrio fracamente.
— Sim, sedada.
— Pelo menos ela está bem pai, graças a Deus. Acabou. Nós agora
seguiremos sem mais problemas. — Digo confiante.
— Há ainda um para ser eliminado. — Diz e eu engulo a seco.

Não há, papai. Túlio matou Ítalo. Túlio impediu que Ítalo matasse a
mim e a Matheus. Se ele não tivesse chego... o pior teria acontecido. Eu,
Matheus e mamãe não estaríamos aqui.

— Bom, é horário de almoço. Nós deveríamos almoçar. — Sugiro


alto, fugindo de uma conversa séria agora, para que todos possam ouvir.
Mariana e Arthur não reagem, por isso eu guardo minha própria dor
e caminho até eles. Ambos estão sentados lado a lado no sofá, então me
ajoelho entre os dois.
— Ele não vai morrer. Vocês precisam acreditar. Ele nunca faria
isso com a gente. Há um sonho dele dentro do meu ventre. Ele é pai de duas
crianças, quer acompanhar cada detalhe da gestação, quer ter um bebê. Há
Isis, Victor. Há a mim. Há vocês. Ele nunca nos decepcionaria. Eu sei que
meu marido está lutando de alguma forma, eu acredito nisso. Mari, ele não
vai me deixar. Ele não vai deixar vocês. — Digo entre lágrimas. — Arthur...
você é o super-herói dele. Talvez os dois desconheçam a importância que
têm para ele. Vocês dois sabem a força que o filho de vocês possui, porque
ele nasceu de vocês, ele foi criado por vocês e ele é exatamente como
vocês. Exemplo de força e invencibilidade. — Suspiro e ouço Beatriz se
acabando de chorar. Então me levanto decidida. Alguém precisa ser forte,
eu serei por todos, porque eu acredito que meu marido vai sobreviver, eu
acredito! — Todos ficarão chorando? Vão deixar o desespero tirar a fé de
vocês? Vocês acham que Matheus ficaria feliz de saber que todos nós
estamos aqui, fodidos e com medo, enquanto ele está numa sala de cirurgia
lutando para sobreviver? Seu último pedido antes de fechar os olhos foi
para que eu seja forte, e sinceramente, não quero decepcioná-lo. Estou indo
almoçar com Ricardo porque estou grávida, preciso comer por dois e
preciso estar forte para apoiar Matheus assim que ele sair daquele centro
cirúrgico. Vocês decidam se querem ficar aqui chorando ou se querem lutar
junto comigo!
— Nós iremos com vocês. — Bia anuncia e então todo mundo se
levanta, incluindo Arthur e Mariana. Eu sinto que acabei de fazer uma
revolução.
Todos caminhamos para o restaurante do hospital.
Ricardo abraçado a mim. Meu irmão abraçado ao meu pai. Bia,
Mari e Arthur abraçados. Matheus socaria Ricardo se visse essa cena, mas
realmente é reconfortante ter alguém junto a mim, para ajudar a carregar a
dor nesse momento.
— Você foi irreconhecível. — Ricardo diz em meu ouvido.
— Eu estou quebrada de todas as maneiras possíveis, estou apenas
lutando. Foi isso que ele me pediu, isso que você me pediu. É isso que a
situação exige. Cada um de nós estamos carregando a dor, o peso de
pensamentos indesejados.
— Exatamente.
Nós almoçamos num silêncio confortável. Ninguém ousa perguntar
o que realmente aconteceu e eu me sinto grata por isso. Comemos
sobremesa (depois que eu exigi), e então voltamos para a recepção. De meia
em meia hora minha pressão é medida, assim como a pressão de Mariana e
Arthur.
O dia se arrasta.
Eu vejo o ponteiro do relógio marcar 1, 2, 3, 4, 5 da tarde.
A espera é agoniante e desestabilizadora. Os minutos parecem não
passar.
Felizmente tenho Ricardo, que percebe o momento exato em que
estou prestes a surtar e me acalma com conversas que desviam meu foco.
São seis horas quando finalmente o médico cirurgião surge na
recepção:
— Ele está bem? — Mari pergunta se levantando e eu apenas
abaixo minha cabeça, fecho meus olhos e aguardo a sentença. O medo está
aqui, vivo, em plena erupção.
— A cirurgia foi realizada com sucesso. O paciente agora está na
UTI e ficará por vinte e quatro horas. — Eu repito as palavras do médico na
mente e tento voltar a respirar. A cirurgia foi realizada com sucesso, meu
Theus está vivo, seu coração ainda bate.
— Não podemos vê-lo? — Arthur pergunta.
— Infelizmente não. As primeiras vinte e quatro horas são as que
exigem um maior monitoramento. A cirurgia não foi fácil. Foi bastante
complexa e precisamos monitorá-lo. Aconselho vocês irem para a casa.
Fizemos tudo que estava em nosso alcance e o estado dele é estável.
Qualquer mínima alteração entraremos em contato.
— Ele corre riscos? — Bia questiona e meu coração para mais uma
vez.
— Nós acreditamos que não. Como eu disse, precisamos monitorá-
lo. — Eu finalmente respiro.
— Se em vinte e quatro horas tudo correr bem ele poderá ir para o
quarto? — Questiono recuperando minha voz.
— Sim. De qualquer forma vocês precisam saber que ele está sob o
poder de sedativos e será monitorado mesmo no quarto. Alguns exames
serão realizados de seis e seis horas, outros uma vez por dia. A sedação será
realizada visando ao bom acoplamento do paciente e à redução da
ansiedade.
— É como coma induzido? — Bia pergunta.
— Não. Nós vamos trabalhar tirando a sedação uma vez por dia
para vermos como o paciente reage. Se tivesse sido uma cirurgia cardíaca,
certamente seria mais complexo. Se tudo correr bem, esperamos a
recuperação completa por volta de quatro semanas.
— Após essas vinte e quatro horas ele poderá ter acompanhante e
receber visitas? — Pergunto.
— Sim, poderá, mas já peço que sejam cuidadosos. Vamos dar a
vez apenas para os familiares mais próximos.
— Obrigada doutor, obrigada por salvar meu filho. Eu serei
eternamente grata. — Mari agradece chorando.
— Eu fiz o que estava dentro do meu alcance. Acredito que ele vá
ficar bem.
Chego no antigo quarto de Theus, tomo um banho demorado e
então me deito em sua cama. É nesse momento que consigo raciocinar
sobre a gravidade dos fatos. Eu tento expulsar os acontecimentos da mente
e então foco em lembranças sobre coisas incríveis que já fizemos nesse
quarto...
"— O que diabos você está fazendo no meu quarto, assombrada?
— Ele pergunta com uma toalha enrolada em sua cintura.
— Vim estudar para o teste.
— Que teste, Victória?
— Teste sexual. — Sorrio e o vejo lutar para reprimir à vontade
sorrir.
— Vic, são quatro da tarde, meus pais estão em casa e você não é o
tipo de garota silenciosa.
— Você sabe que eu sei ser silenciosa quando necessário. —
Realmente sei... nós fizemos silêncio na ilha.
— Mas eu não estou bom com você. Você não aceitou meu pedido
de namoro. — A primeira flechada no meu coração do dia....
— Mas isso não significa que não podemos transar.
— Mas eu te amo, eu quero que seja minha namorada.
— Pare de falar sobre isso. — Peço tentando conter a dor...
— Você parece sentir dor quando eu digo que amo você.
— Talvez seja porque dói.
— Então aceite namorar comigo. É evidente que você sente o
mesmo.
— Eu preciso ir. — Digo fugindo mais uma vez... "
Oh, certamente aquele dia foi um dos episódios tristes da nossa
história. Mas, houve outros realmente incríveis... como ontem.

"— Fodida Sadgirl do meu caralho, cale a boquinha...


— Mais forte...
— Nós vamos quebrar a cama, porra. Os vizinhos de baixo vão
interfonar a qualquer momento. Você precisa se controlar... Porra, é muito
bom ser vida louca, caralho. É bom demais foder não é, pequeninha?
— É, Theus.
— Vic, nós ainda vamos tentar gêmeos, não vamos?
— Matheus, você está me broxando... Estou grávida, estamos
fodendo e você está pensando em gêmeos.
— Por favor, nunca te pedi nada. — Não, ele nunca me pediu nada.
Eu sou a chapeuzinho vermelho.
— Eu serei a rompida parideira.
— Seja minha parideira... — Oh meu Deus! Matheus me fodendo
no modo fofo... — Me dê mais sadsbebês.
— Eu te darei, Theus.
— Obrigado, Deus! — Diz dramatizando e me invertendo nossas
posições na cama...Eu estava por cima, agora estou por baixo. — Agora
vou te dar uma foda de agradecimento, você está preparada?
— Por favor.
— Nosso objetivo é satisfazer, senhora Albuquerque! “

Eu só quero que ele sobreviva à provação em que foi colocado e


que tenha saúde para continuarmos tocando nossas vidas e nossos projetos.
Eu não acreditava que conseguiria dormir, mas dormi por mais de
nove horas seguidas.
Após tomar banho e me preparar psicologicamente para enfrentar
mais um dia difícil, saio do quarto e vou tomar café da manhã.
Arthur e Mari estão na mesa, ambos abatidos.
— Bom dia, minha linda. — Mari cumprimenta.
— Bom dia. Vocês dormiram? — Questiono.
— Pouco.
— Vocês sabem que ele vai sair dessa, não sabem? — Pergunto.
— Vic, eu sabia que você era forte, mas não sabia que sua força era
quase sobre humana. Eu estou feliz por você e com um pouco de inveja.
Nós já quase perdemos Beatriz, agora Matheus... é muito difícil conseguir
ter forças nessa situação, principalmente porque é impossível não pensar
que poderia ter sido pior. Eu acredito sim no poder de recuperação dele. Ele
vai sair de lá, meu amor. — Ela diz pegando em minha mão. — Eu sei que
no fundo você está com medo, mas eu admiro o quão forte você está
lutando para se manter firme. É importante para você, para seu bebê, para
Matheus e para nós.
— Vic, eu consegui que os investigadores viessem até aqui colher
seu depoimento. Você está grávida, todos nós estamos abalados e uma
delegacia não é o melhor lugar para frequentarmos. — Arthur explica. —
Você se sente pronta para falar o que aconteceu com detalhes aos
investigadores?
— Eu me sinto. — Digo. — Eu vou contar tudo.
— Foi Matheus quem matou aquele homem?
— Não. Foi Túlio Salvatore. — Digo e Mariana se engasga.
— Túlio? O filho de Humberto?
— Sim. — Afirmo. — Se não fosse ele chegar, eu, Matheus e
minha mãe estaríamos mortos.
— Eu o odeio, ao mesmo tempo que devo muito a ele. — Arthur
diz passando as mãos pelos cabelos. — E o que ele disse?
— Que ele mesmo se entregaria polícia e que era para eu contar
tudo, inclusive sobre ele. — Explico. Mariana parece incrédula.
— Deus, ele matou o próprio pai para salvar vocês!
— Ele fez. — Eu ainda não acredito que Túlio foi capaz disso para
me salvar, mas ele fez... — Eu serei eternamente grata.
Não falamos mais sobre isso. Arthur e Mariana estão podados,
provavelmente tentando me proteger.
A campainha bate e então meu pai entra.
— Bom dia.
— Como Liz está? — Mari questiona.
— Em casa. Vim avisar vocês. — Comunica com uma cara de
cansaço. — Como você está, filha?
— Confiante, bem. Consegui dormir, estou me alimentando. Os
investigadores virão até aqui.
— Eu quero estar presente, quero saber o que aconteceu, como
aconteceu. Me avise ok? — Pede me dando um forte abraço.
— Eu avisarei, pai. Irei ver, mamãe. — Como o último pedaço de
bolo e então o sigo para ver minha mãe.
A encontro deitada em sua cama, olhando para o teto. Há um
curativo em sua cabeça.
— Mãe?
— Acabou filha. Aquele monstro nunca mais colocara as mãos
sobre você. — Diz. — Ele está morto, graças a Matheus!
— Não foi Matheus, mãe. Foi Túlio. — Confesso e então ela se
senta bruscamente.
— Túlio Salvatore? — Ela está chocada.
— O mesmo.
— Como? — Questiona.
— Humberto deu um tiro, então Túlio já chegou disparando sobre
ele. Se ele não tivesse surgido, mãe... nós não estaríamos aqui hoje.
Humberto parecia louco. Mais do que sempre foi.
— Então eu devo nossas vidas ao homem que ajudou o pai a... —
Não permito que ela termine a frase.
— Ele é vítima, tanto quanto eu. Reconheço que ele deveria ter
tomado atitudes antes, ele poderia ter nos salvo de toda essa podridão. Mas,
ele foi vítima, mãe. Vocês precisam acreditar quando eu digo isso.
— Tudo bem, nós estamos aqui filha e Matheus em breve estará
junto. — Seus braços me envolvem e eu inspiro seu cheiro confortante. É
impressionante como mães possuem seus próprios cheirinhos. Eu amo o da
minha mãe. Tem cheiro de lar, de conforto, de paz.
— Vai ficar tudo bem, eu sei que vai, mãe. — Digo confiante.
— Vai sim, filha. Você é tão forte, meu maior orgulho. Eu sei que
Matheus ficará bem.
— Eu preciso ir. Preciso ligar para Isis e então enfrentar um
depoimento.

Às 18 horas, exatamente vinte e quatro horas após a cirurgia, eu,


Mari, Arthur e Beatriz aguardamos na recepção do hospital por notícias.
Quando o médico surge sorrindo, eu tiro um peso gigante das costas
e do coração.
— Boa noite!
— Ele está bem? — Mari, sempre desesperada, pergunta.
— Muito bem. Já está no quarto, porém está dormindo. — Explica.
— Todos os exames estão ótimos, e acreditamos numa recuperação rápida.
— Vãos vocês vê-lo primeiro. — Digo. — Como passarei a noite,
me conformo em esperar.
— Dois de cada vez, ok? Evitem falar, demonstrar emoções
excessivas. — O médico aconselha e então Arthur e Mari se vão.
— Você vai mesmo passar a noite, Vic? — Bia pergunta.
— Sim. Arthur solicitou uma cama de acompanhante no quarto.
— Esse hospital é tipo um hotel de luxo. — Ela sorri. — É o
mesmo que fiquei quando morri e voltei dos mortos. Ok, isso foi um humor
pesado.
— Ainda bem que você sabe. — Sorrio. — Estou tão aliviada.
Pensei que o perderia.
— Eu odeio dizer isso, mas eu pensei que ele não sobreviveria.
Mesmo quando você disse todas aquelas palavras de força, eu sentia que
podia perdê-lo.
— Nós não o perdemos, não o perderemos. — Afirmo.
— Não mesmo. Quem irá fazer gracinhas o tempo todo? Ninguém!
Matheus é místico, inigualável e insuperável.
— Insuperável. — Confirmo. Muito insuperável. Ninguém se
compara a ele.
Irradia alegria, vivacidade, diz o que quer sem podar, exala
masculinidade ao mesmo tempo que é profundamente fofo e sensível. Meu
Theus é um ser único.
Uma hora e meia depois todos se vão e é a minha vez de vê-lo.
Sinto que estou indo para um pic-nic, já que há dezenas de lanches em
minha mala de acompanhante.
Quando o elevador para no andar correto, quase tropeço em meus
pés. Parece que essa é a primeira vez que estou caminhando para vê-lo. Na
verdade é, estou caminhando para vê-lo numa situação nunca vista antes.
Diante da porta do quarto, é necessário que eu respire fundo
algumas vezes antes de criar coragem para girar a maçaneta.
Eu encontro três enfermeiras em torno dele, mas ainda não sou
capaz de olhar para seu rosto.
— Olá, boa noite. — As cumprimento. — Sou Victória, a esposa
dele.
— Boa noite, senhora Victória. Estamos diminuindo a sedação para
ver como ele e o organismo irão reagir. — Uma delas me explica um pouco
apreensiva.
—Tudo bem. — Dou um sorriso contido e vou verificar o quarto.
Parece uma suíte presidencial de um hotel de luxo. Fico imensamente
insatisfeita ao descobrir que a cama reservada para mim fica num segundo
ambiente. Há duas telas de TV: uma que mostrar o local onde Matheus está
e outra que provavelmente é de um sistema de TV mesmo. Descubro um
frigobar cheio de sucos e sanduíches naturais.
— Senhora, há um interfone nos dois ambientes, basta ligar caso
ocorra qualquer coisa. Há o número também do restaurante do hospital caso
queira solicitar qualquer coisa.
— Ok. Como ele está? — Pergunto a uma das enfermeiras.
— Ele é forte, está se recuperando muito bem e é
surpreendentemente bonito. Todas as enfermeiras estão brigando para virem
cuidar dele. — Ela diz sorrindo. — Mas, como eu sou a chefe da
enfermagem, não se preocupe, cuidarei pessoalmente e designarei as menos
assanhadas para acompanharem seu marido. — Brinca.
— Oh, fico grata. — Sorrio. — Ele é realmente lindo.
— Nunca tivemos um paciente desse nível de beleza antes. — Isso
me faz sorrir novamente. — Mas, vamos falar a verdade, a senhora também
é linda. São o casal sensação do hospital, tenho certeza.
— Muito obrigada!
— Bom, a sedação foi diminuída, pode ser que ele acorde a
qualquer momento. Quando isso acontecer, nos chame imediatamente, por
favor.
— Eu ainda não tive coragem de vê-lo. Ele está intubado? —
Pergunto receosa.
— Não. Ele está apenas com um respirador. Não se preocupe, não é
uma imagem feia certamente. — Ela sorri e eu gosto dela automaticamente.
— Meu nome é Maria, qualquer coisa já sabe. — Ela pisca um olho e se
vai.
— Obrigada, Maria!
— Não agradeça.
Lavo minhas mãos no banheiro antes de caminhar até meu marido.
Há uma faixa branca em torno de todo seu peitoral. Seu rosto está um pouco
mais corado e seu corpo está numa boa temperatura. O bip constante do
monitor cardíaco se torna meu som preferido.
Puxo uma cadeira para perto, me acomodo ao seu lado e seguro sua
mão. É horrível ver seu braço todo furado com medicamentos. É estranho
ver um homão desses, com braços gigantes, num momento de completa
vulnerabilidade. Mas, eu sei, no fundo sei, que ele lutou mesmo quando não
tinha forças. É por isso que está aqui, diante de mim, tendo uma boa
recuperação.
Faço uma oração em agradecimento, assim como rezo para Túlio.
Eu espero que ele um dia consiga encontrar a luz. Ele salvou o amor da
minha vida, ele salvou a mim, a minha mãe. Isso tem estado na minha
cabeça desde então. Imagino tudo que ele irá enfrentar, além do que já
estava enfrentando, fora que, mesmo que ele odeie o pai, ele nunca tirará da
sua mente que o matou. Túlio é um garoto quebrado. Espero que algum dia
ele encontro alguém bom, igual eu encontrei Matheus. Arthur disse que a
morte do pai pode ser usada como legítima defesa e se propôs a se inteirar
de toda a situação para ajudá-lo, em forma de agradecimento. Não preciso
dizer a grandeza dessa família. Tanto Brandão, quanto Albuquerque. São
gigantes pela própria natureza.
Hoje falei com Isis ao telefone. Felizmente ela está muito bem e
Giovanna já está fazendo seu efeito devastador "Tia Gi" sobre ela. Alice e
Sabrina também estão com ela. É bom saber que minha garota está cercada
de pessoas de bem nesse momento. A parte triste foi quando ela pediu para
falar com o pai e eu tive que inventar que ele estava de piriri no banheiro.
Ao menos isso arrancou gargalhadas dela.
É tão estranho que ela tenha sentido que algo iria acontecer. É como
se ela tivesse uma ligação extremista com Matheus. É bonito, mas
assustador. Sinto que a partir de agora serei mais atenta a todas suas
palavras. Só não posso me tornar neurótica.
Eu acabo adormecendo e acordo com a enfermeira entrando no
quarto.
— Desculpa senhora, apenas verificando se ele acordou.
— Ainda não. Que horas são? — Questiono perdida.
— Passam da meia noite. Não quer comer nada? A senhora está
grávida.
— Eu adormeci e esqueci do mundo. — Explico. — Vou comer
alguma coisa sim. Há sanduíches no frigobar.
— Se quiser pode solicitar o jantar. — Informa.
— Não, vou no sanduíche hoje. — Sorrio.
— Bom, avise se ele acordar ok? — Pede e eu balanço a cabeça
afirmativamente.
Faço meu lanche no segundo ambiente. Evito ligar a TV devido ao
barulho.
Quando termino, faço minha higiene bucal, retiro minhas sandálias
as substituindo por um chinelo e volto a me acomodar ao lado dele.
Seguro sua mão e brinco com seus cabelos incríveis. Estou com
tantas saudades de ouvir as gracinhas que só ele é capaz de fazer. Isso me
deixa com um pouco de nostalgia. Parece que faz anos que ele está aqui.
São duas horas da manhã quando estou quase dormindo e sou
desperta por um aperto em minha mão. Meu coração dispara no mesmo
instante. Encontro expressivos olhos âmbar inundados pelas lágrimas. O
monitor cardíaco se altera e tento acalmá-lo segurando a vontade de chorar.
— Calma, você precisa ficar calmo. — Peço observando-o se
esforçar para se levantar. — Matheus Albuquerque! Eu mato você, merda!
Fique quieto. — Ordeno o observando suspirar em derrota. — Você
acordou, Theus. — Digo deixando as lagrimas rolarem soltas, infelizmente
é impossível contê-las. Ele leva sua mão ao respirador e o retira.
— Pequeninha. — A voz dele está mais rouca do que já é...
— Você está vivo!
— Isis...
— Ela está bem. Está com Alice, Gi e Sabrina em Belo Horizonte.
— O tranquilizo e ele balança a cabeça negando... não compreendo.
— Ela sabia que eu ia morrer... — Diz com a voz fraca, como se
doesse para falar.
— Você não morreu, graças a Deus! Eu pensei que perderia você.
— Estou prestes a me jogar sobre ele e abraçá-lo fortemente, mas, vejo o
respirador que me lembra que isso não poderá acontecer tão cedo. Por
enquanto, teremos apenas os apertos de mãos.
— Dói.
— Eu vou chamar a enfermeira. Elas estão brigando para cuidar de
você, devo matá-las? — Questiono limpando meu rosto.
— Deve. Elas vão querer ver meu pau. — Meu Theus voltou! Ele é
o ser humano mais incrível do universo todinho. Como ele pode fazer
piadinhas mesmo fodido?
— Elas vão. — Sorrio.
— Vão ficar chocadas com o tamanho e a grossura.
— Com certeza. — Rio. — Obrigada por ter voltado para mim.
— Sadbebê...
— Ele está aqui, feliz por você acordar. — Digo o observando
chorar.
— Dói. — Diz mais uma vez.
— Merda, vou chamar a enfermeira.
— Eu levaria mil tiros para salvar você. Você é o meu coração. Eu
te amo mais que a mim mesmo... — O ouço dizer enquanto interfono. Meu
Deus... meu Theus está acordado, lutando para falar quando está sofrendo
de dor. Graças Deus! Graças a Deus! Graças a Deus!
— Ela já vem. Vai parar de doer.
— Ainda bem que ele não mirou no meu pau. — Diz gemendo.
— Graças a Deus. Seria terrível. — Beijo sua testa. Meu Deus, que
alívio! Tanto que tenho vontade de gritar.
— Dói pra caralho mesmo.
— Pare de falar então, tagarela, por favor. Não queremos que doa.
Preciso de você bem. — É quase como implorar. Eu preciso do meu Theus
por completo, bem.
— Você é meu coração, Victória. — Eu volto a chorar...
— Você é meu, Theus. Obrigada por lutar. Pensei que você
morreria, eu não suportaria perdê-lo para a morte. Se eu o perdesse para a
vida, ainda seria possível lutar para reconquistá-lo, mas, para a morte, eu...
não suportaria.
— Eu vi nosso filho, vi você, vi nós dois e mais outras três
crianças... nós teremos cinco filhos.
— Vou mandar te sedarem. — Brinco.
— É sério. Cinco sad filhos. — Respira com dificuldade. — Dizem
que quando morremos nós vemos tudo...
— Você está inventando, você não morreu.
— Você precisa confiar em mim, Vic... eu vi. — Ele começa a
gargalhar e em seguida a chorar. — Dói pra caralho. Sou muito frouxo,
igual seu irmão.
— Olá. Ele realmente está sem o respirador? — Maria surge quase
me matando de susto.
— Exatamente, Maria. Inclusive, acho que deveria sedá-lo. —
Brinco.
— Não vai olhar meu pau! — Meu Theus! Estou uma bagunça de
risos e lágrimas.
— Sinto muito Matheus, mas terei que olhar em algum momento.
Vamos lá. Com o está se sentindo?
— Dói, eu quero minha mãe. — Ele chora como um bebê. Logo,
fica bastante claro que esse período o hospital será tumultuado. Matheus
gosta pouco de fazer drama, embora eu saiba que não é drama quando ele
fala da dor. Mas, ele vai usar isso para ser mimado, é certeza. Ela coloca o
respirador de volta nele e ele me olha com os olhos brilhando. Não consigo
decifrar se é de diversão ou de dor. Talvez sejam as duas coisas.
Ele pode destruir todo o hospital, pode enlouquecer a mim e as
enfermeiras se quiser. Ele pode fazer tudo. O que realmente importa é que
Matheus Albuquerque está vivo.
Meu Sadmarido sobreviveu!

“O que vem depois de pequenas fraturas?


O que vem depois...
Pequenas fraturas?”
Illenium — Fractures

— Vic, tem uma sonda no meu pau! Isso é horrível!


— Eu imagino, meu amor. — Digo segurando a vontade de rir.
— Eu prefiro levantar e fazer xixi, porra! — Ele olha para Maria e
assim começa o drama hospitalar! — Por favorzinho, diz que eu posso
levantar e fazer minhas necessidades com um sujeito macho!
— Oh senhor sujeito macho, fique calminho. Mal chegou e já quer
se sentar na janelinha? Nada disso. Amanhã vamos testar suas habilidades.
Por enquanto, terá que se contentar com o cateter.
— Daqui a quanto tempo vou poder sair daqui? — Pergunta
fazendo beicinho. Aperto minhas mãos em punhos para não as levar em sua
bochecha e espremê-las, de tão fofo!
— Acho que oito semanas. — Maria mente e o vejo arregalar os
olhos.
— Oito semanas? Que tipo de cirurgia eu fui submetido? Cerebral?
— Questiona tentando levantar o corpo, mas não consegue. — Vic, eu
quero minha mãe! Você pode chamá-la?
— Oh bebê da mamãe, são quase três horas da manhã, pimpolho.
Não queremos acordar sua mãe.
— Não me chama de pimpolho! — Pede choramingando. Deus, eu
estou tão feliz! Obrigada Deus, muito obrigada!!! Meu Theus está aqui,
vivo, em toda sua loucura. — Está doendo.
— Já estou colocando o medicamento.
— E eu vou ficar desmaiado? Sem vida? — Dramaturgia está
perdendo esse ser humano.
— Vai dormir, descansar e deixar seu organismo reagir. — Maria
explica.
— Mas e minha pequeninha? Ela pode dormir comigo? — Sorrio.
— Ela vai dormir na cama de acompanhante. — Maria informa com
firmeza e Matheus faz um bico gigante.
— Eu dormiria melhor com ela em meus braços. — Ownnn... Ele
está muito fofo, caralho!!!
— Theus, é melhor ser um garoto obediente. Quanto mais
obediente, mais rápido estaremos em casa, na nossa cama.
— Quanto tempo tenho que ficar sem transar? — Eu quase tenho
um infarto ao ouvir sua pergunta.
— Matheus, eu agradeceria se você tivesse o mínimo de senso. —
Repreendo.
— Bom, vamos lá, depende de você mesmo se sentir confortável.
Se tudo correr bem, muito em breve terá alta e poderá ir para casa. Apenas
não pode forçar, tem que ser quando se sentir bem, disposto. Foi uma
cirurgia complicada, o médico certamente virá falar com vocês e então
poderá esclarecer todas as dúvidas.
— Vic, ela está aplicando maconha intravenosa. Estou meio
viajando agora...
— Daqui algumas horas você vai acordar meu amor. Não lute,
apenas durma, descanse e se recupere. — Tento tranquilizá-lo.
— Você promete que vai ficar comigo e vai ligar para minha mãe?
— Pede.
— Prometo, Theus. Agora durma ok?
— Não deixa ninguém pegar no meu pau. Promete?
— Ele tem problemas com o pau, né? — Maria pergunta rindo.
— Parece que sim.
— Vic, meu pau te ama! — Ele solta um suspiro, fica caladinho e
acaba adormecendo. As lágrimas correm livres pelo meu rosto, misturando-
se com meu sorriso.
— Ele tem um senso de humor incrível, não é mesmo? — Maria
pergunta.
— Ele tem. É perfeito.
— Então garota, aproveite para dormir também. Vamos deixá-lo
dormir por seis horas ininterruptas.
— Ótimo. Irei dormir um pouco então. Agora já sei que ele está
realmente bem. — Sorrio.
— Pela manhã teremos um enfermeiro, Marcos.
— Tudo bem. — Agradeço e dou um beijo na testa de Matheus
antes de ir me deitar.
Eu desmaio em questão de segundos, entregue ao descanso
merecido.

Quando acordo, o enfermeiro está entrando no quarto. Me apresso


para tomar um banho e me tornar o mínimo apresentável.
Jatos fortes de água caem sobre minha cabeça, me fazendo acordar
de uma vez por todas. O banheiro daqui tem uns 5 jatos, parece até uma
massagem de tão bom. Saio do banho com as energias renovadas.
Matheus está despertando quando entro na "ala" dele. Ainda está se
situando.
Ele olha para mim e dá um sorriso preguiçoso. Olha para o
enfermeiro e quase dá um salto da cama. Eu o compreendo, o cara parece
um armário de tão grande. Estou segurando muito à vontade de rir da cara
que Matheus está fazendo nesse momento.
— Bom dia, como está se sentindo? Sou Marcos, seu enfermeiro até
as dezoito horas. — Matheus retira o respirador e então começa com a
dramatização:
— Puta merda! Isso é provação, não é? Eu estou pagando meus
pecados nesse hospital.

— Já fui notificado sobre seu senso de humor. — Marcos avisa


rindo.
— Não é senso de humor, meu caro. É filme de terror mesmo. Você
vai pegar no meu pau!
— Eu estou tão triste quanto você por isso. Mas, são ossos do
ofício. Vamos lá, me dê esse pau! — O cara provoca a fera. Meu pobre
marido puxa a coberta para cima e me olha com cara de horror.
— Puta merda! Vic, cadê minha mãe?
— Calma, Matheus. É apenas brincadeira. Relaxa aí! — Marcos diz
se curvando de rir e eu viro o centro da atenção do meu marido. Estava
demorando.
— Você vai vestida assim?
— Vou onde? — Questiono sorrindo.
— Ficar comigo.
— Há algum problema com minha roupa??? — Oh Matheus
Albuquerque é um tanto louco.
— Posso começar a enumerar? Esse vestido marca sua bunda
deliciosa todinha e seus seios inchados. Marca Sadbaby também, mas... O
que você está olhando para a minha mulher? — Ele questiona a Marcos.
— Mais fácil eu querer ter algo quente com você, Matheus. Só
estou observando onde você quer chegar reclamando do vestido da sua
mulher. Ele é sempre assim? — Marcos pergunta a mim, mas Matheus o
corta.
— Caralho, você vai mesmo querer pegar meu pau. Agora é sério,
Victória, liga para minha mãe.
— Ele tem problemas com o pau? — É a segunda pessoa que me
pergunta isso desde a madrugada.
— Tem, mas, permita-me explicar. É tudo culpa minha, porque fiz
um tratamento de choque nele, então ele sabe que o pau dele pertence única
e exclusivamente a mim. Foi tipo uma lavagem mental no modo turbo.
Então, só eu posso tocá-lo e vê-lo. Meu marido segue os comandos à risca.
— Entro na brincadeira.
— Pensei que o problema é por ser muito pequeno... — O cara
brinca demonstrando seriedade.
— Fala para ele, Vic... Fala o quão pequeno pode ser... — Ainda
bem que eu sei que ele está brincando, não está?
— Chega de falarmos de pau! — Informo.
— Concordo com sua esposa, Victória, não é?
— Sim. Prazer Marcos. — Sorrio dando um aperto de mão a ele.
— Você já comeu, pequeninha? — Theus pergunta.
— Não, vou fazer o pedido e chamar sua mãe.
— Isso, chama minha mãe! — Diz parecendo um bebezão.
— Vamos lá, Matheus. Agora estamos falando sério. Terei que tirar
a sonda, companheiro. Mas, veja pelo lado bom, se tudo der certo você
poderá ir sozinho fazer suas necessidades, assim como poderá voltar a se
alimentar, obviamente seguindo uma dieta. — Os deixo conversando e
então vou em busca do celular e do meu café da manhã.
Enquanto aguardo o café ligo para Mariana, que grita eufórica
fazendo com que eu tenha que afastar o telefone do meu ouvido.
Quando termino o telefonema, Matheus já está sentado na cama,
aparentemente livre da sonda e com uma cara emburrada.
— Que foi meu amor?
— É ruim me sentir um inválido. — Choraminga sem tom de
brincadeira agora. Eu me aproximo e faço o que quis fazer desde ontem: o
abraço apertado.
— É temporário, Theus. Graças a Deus você está aqui, vivo, firme e
forte. Eu pensei que o perderia...
— Eu pensei que morreria. Essa possibilidade doeu mais que o tiro
naquele momento. Só conseguia ver você e Isis. Mas, não quero falar disso,
não quero mais pensar em nada ruim. Felizmente o problema foi eliminado
e agora vamos poder seguir sem mais impasses.
— Como se sente hoje? — Questiono beijando seu rosto.
— Bem melhor. Há um incomodo, mas bastante suportável. Tipo
uma queimação no local. Terei que passar por alguns exames em alguns
minutos.
— Já já estaremos em casa e com a vida normalizada. — Tento
incentivá-lo a suportar por mais alguns dias.
— Você está bem? Como foi depois que...
— Eu entrei em estado de choque. Então eu tive que ser trazida para
o hospital e fiquei um tempo em observação. Ricardo me salvou do que
tinha para ser a maior de todas as crises que já tive. — Confesso.
— Ricardo?
— Sim. Ele ficou aqui até o fim da cirurgia. Conversou bastante
comigo, me explicou algumas questões e então eu passei a reagir. Porque eu
estava bloqueando os sentimentos e as reações, apenas para parar de doer.
Ele me mostrou que fazer isso não é saudável. Logo, precisei voltar ao meu
estado normal. Tive que colocar minhas forças e minha fé para funcionar.
Estavam todos extremamente abalados, e eu meio que os impulsionei a
acreditarem que você ficaria bom, que não morreria na sala de cirurgia.
— Ela esqueceu de dizer que possui uma força sobre humana e que
esfregou na nossa cara que você sairia desse hospital com vida. — Mari diz
entrando no quarto.
— Você fez isso, pequeninha?
— Ela fez. Vic tirou onda com nossa cara e estava certa! — Arthur
diz limpando as lágrimas.
— Neném da mamãe! Você está vivo! — Eu me afasto para que
Mari possa abraçá-lo e então estou nos braços do meu sogro.

— Obrigado, Vic. — Ele sussurra em meu ouvido e eu apenas


aceno com a cabeça.
— Meu pimpolho mais lindo, txuc txuc, princeso, bebezinho, meu...
— Mãe! — Meu marido odeia esses apelidos, mas eu acho super
engraçado quando Mari os diz.
— Coisa mais linda da minha vida. Eu morri mil vezes até aquele
médico surgir com notícias positivas. Agora só falta Arthurzinho passar por
uma merda dessas... eu não sei se sobrevivo a uma terceira.
— Ele não vai passar, mãe. Eu não deixarei. —Theus afirma com a
convicção de quem sempre cuidará do irmão e eu sinto tanto orgulho ao
ouvir as palavras.
— Licença, família. — Marcos diz. — Desculpe interrompê-los,
mas preciso levá-lo para realizarmos alguns exames necessários. Já o trago
de volta.
— Mãe, ele quer ver meu pau e minha bunda pelada.
— Você não tem com o que se preocupar. Há uma jiboia entre suas
pernas e sua bunda é lisinha e bonita, usei muito Jhonson's baby para isso.
— Mari diz rindo.
— Realmente, a bunda de Matheus é épica. Talvez você queira
aproveitar e dar uma olhada de leve, Marcos. É uma bela visão. — Provoco.
— Vou me lembrar disso. — Marcos responde e pisca um olho em
divertimento.
— Duvido você falar isso com as enfermeiras taradas. Duvido!
Também vou mostrar meu pau para geral!
— Rebelde! — Digo rindo.
— Ele realmente está vivo, graças a Deus! — Arthur exclama e se
aproxima para beijá-lo na testa. — Eu morri por algumas horas, Matheus.
— Eu estou aqui, pai. — Theus diz emocionado e então Arthur
apenas balança a cabeça engolindo a seco.
— Vamos tentar ficar de pé e seguiremos para a cadeira de rodas.
De acordo? — Marcos pergunta e Matheus acena em concordância. Eu fico
abraçada a Mari e Arthur observando toda a cena.
Primeiro ele se senta com as pernas para fora da cama. O
complicado é que ele não consegue movimentar direito o lado onde recebeu
o projétil, por isso é um pouco mais difícil e é necessário a ajuda de Marcos
para que ele consiga ficar de pé. Porém, quando finalmente consegue, ele
quase cai.
— Porra!
— É normal a tontura devido aos medicamentos fortes. — Marcos
explica o segurando.
— Isso é um inferno. Parece que o quarto está girando rapidamente.
— Reclama.
— Passei por isso após o nascimento da Isis. — Exponho e ele
dirige o olhar a mim.
— E eu passei após o nascimento de Bia, Theus e Arthurzinho. —
Mari completa.

— Hoje você vai começar a andar um pouco.


— Vou poder mijar sozinho? Essa porra de cateter feriu meu pau.
— Matheus, diga pênis, meu filho. Você está em um hospital. —
Arthur repreende.
— Até parece... é pau. Pênis é pau! — Mari protesta.
— Pode ter outros nomes, como cacete, caralho... — E assim
começa Arthur e Mariana discutirem nomes penianos.
— Já sei quem Matheus puxou. — Marcos anuncia enquanto meus
olhos estão fixados em meu marido, que acaba de começar a dar passos
lentos.
Ele está sem camisa. Há a faixa em torno de todo seu peito. Está
vestindo uma calça azul bebê do hospital que o deixa realmente sexy. É,
sem sombras de dúvida, um paciente bom de ser apreciado. Eu seria sua
enfermeira muito feliz da vida.
Parece que ele está lendo meus pensamentos pecaminosos, porque
morde o lábio e dá um sorriso de lado, bem no estilo Matheus cafajeste.
É pecado eu estar com tesão?
É, Victória!
Me perdoe, Deus. Num dia eu clamo ao Senhor a vida do meu
marido e no outro já estou seriamente pensando numa maneira de tê-lo de
forma carnal sobre mim.
Quando Matheus finalmente consegue se acomodar na cadeira, de
uma maneira bastante dramática, ele chama pela mãe. Eu e Arthur
reviramos os olhos juntos e começamos a rir.
Marcos o leva e meu café da manhã chega num carrinho imponente.
— Isso parece um hotel! — Exclamo empolgada pelo atendimento
vip personalizado. Nem em hotéis fui tão bem tratada. — Me acompanham?
— Convido Mari e Arthur, eles aceitam apenas sentarem comigo de
companhia.
Eu realmente encarno a Magali e tenho um café da manhã bruto,
comendo um pouco de cada coisa. Arthur fica me olhando maravilhado e
Mariana sorrindo.
— Mari comia assim, como uma cavala. — Ele comenta.
— Eu estou comendo como uma cavala? — Questiono arqueando
uma sobrancelha.
— Não. Mas, Mari comia.
— Cavala é a senhora sua mãe! — Mariana esbraveja.
— Mas eu gostava, amor. Não lembra? Eu achava fofo. Gostava de
vê-la comendo com fartura. — Ele pega a mão dela e deposita um beijo.
— Matheus também gosta de me ver comendo. Acho que isso é de
família. — Comento.
— Bom, eu, quando era apenas a Mariana Barcelos, levava a fama
de louca. Mas, nada se compara à loucura dos Albuquerques, querida. Eles
são realmente loucos, psicóticos, possuem gostos singulares.

— Percebi isso, Mari. — Concordo sorrindo.


— Theus acordou essa madrugada?
— Sim, por pouco tempo. Estava sentindo muita dor, mas estava
bem-humorado. Eu disse que ele é forte como vocês.
— Agora vamos focar na melhora completa dele. Vic, esqueça todo
seu passado, meu amor. Seu passado morreu. Eu desejo que você e meu
filho sejam infinitamente felizes e que driblem todos os obstáculos que a
vida impor. Porque eles vão surgir, só espero que não sejam tamanha
grandiosidade. — Mari suspira. — O mundo não é um mar de rosas e
casamento também não. Apesar de que eu e Arthur nos damos muito bem,
mas rolam as diferenças sempre. Nós brigamos, discutimos, debatemos.
Isso faz parte. O importante é ficarem juntos, lutar e se amar acima de todas
as coisas. O amor é o maior de todos os sentimentos. Se há amor, há o
principal tempero da felicidade conjugal. Torço para sigam a vida de vocês,
sejam felizes e esqueçam tudo o que não deu certo um dia. Foquem no
presente e no futuro. Vivam com intensidade, briguem e então façam as
pazes. — Ela sorri olhando para Arthur. — A melhor parte certamente é
fazer as pazes. Às vezes eu e Arthur brigamos só para chegar no momento
de reconciliação.
— É exatamente isso que a Mari acabou de falar, Vic.
Principalmente a parte de brigar e fazer as pazes. É sempre bom. — Meu
sogro diz rindo. — Eu e Mari brigamos quase todos os dias.
— Entendo. — Digo baixo segurando o riso.
— Sejam felizes, amor. Vocês felizes, todos nós felizes.
— Nós seremos, eu prometo a vocês! — Exclamo segurando as
mãos dos dois.
Matheus volta para o quarto com cara de poucos amigos. Ele
mesmo se levanta da cadeira e, sem ajuda, se acomoda na cama. Cruza os
braços e parece um menino pirracento.
Mari e Arthur se despedem porque informam que há mais dois
visitantes esperando para subir. Então, a visita que certamente não faltaria,
chega!
— Aí viadinho, ressuscitou!
— Ah, tira esse merda daqui! Isso é bullying! Vou te processar,
filho da puta! — Theus esbraveja e Marcos me entrega a bandeja da
refeição de Matheus.
— Vou deixá-los, qualquer coisa me chame. Victória, pequenas
doses, ok?
— Ok, Marco. Muito obrigada! — Agradeço.
Arrumo tudo para ele comer. Coloco um canudinho no copo de
iogurte e parto uma bisnaguinha integral que está recheada com uma geleia
de morango. Me acomodo ao seu lado na cama e então começo a dá-lo.
— Puta merda, eu vivi para ver essa cena! — Bernardo diz rindo.
— Você fazia o mesmo por mim, imbecil! — Beatriz joga na cara e
ele para de rir. — Como você está, Theus?
— Bem, parideira. Não foi dessa vez que passei dessa para uma
pior. — Theus e seu humor sombrio.
— Dói? — Ela pergunta apontando para o local da cirurgia.
— Sim. Dói e queima. Agora está bem melhor do que estava de
madrugada. Está mais suportável.
— Estou feliz por você estar bem. — Ela diz dando um beijo na
testa dele.
— Eu te amo Bia, mesmo você tendo casado com esse merda aí.
— Ele é meu irmão! — Repreendo.
— Um frouxo, você sabe que sim, Vic. Seu irmão é um frouxo do
caralho. — Matheus tem 3 anos de idade e Bernardo 2.
— Você que é um frouxo, mimadinho. Não levou tiro porra
nenhuma, fez foi uma cirurgia de mudança de sexo. — Bernardo provoca.
— A cirurgia foi para diminuir dez centímetros de pica, porque sua
irmã não estava aguentando.
— Meu pau! Eu diminuí quinze centímetros ano passado. — Eles
são surpreendentes. — Por falar em pau Vic, já contou para ele que tinha
outro candidato a ser meu cunhado aqui ontem? — Eu vou matar Bernardo!
Vou mesmo! As brincadeiras dele não conhecem limites.
— Que diabos significa isso, Victória?
— Ele está falando isso porque Ricardo estava ao lado dela o tempo
todo, Theus. Não ouça as gracinhas do meu marido. — Bia aconselha.
— Então ele se aproveitou da minha morte? — Matheus esbraveja e
eu coloco o canudinho na boca dele, para ele ficar caladinho. Ele suga o
iogurte e eu tento explicar algo que não precisa ser explicado realmente.
— Nada disso, Matheus Albuquerque! — Digo. — Não teve
nenhum tipo de intenção além da ajuda. Bernardo é um frouxo realmente!
— Vic deu uma crise, se fechou. Eu precisei chamá-lo. — Bia
explica.
— Você sabe que eu o mato, não sabe? Daqui a pouco ele vai querer
te incluir na surubada dele. Vou matá-lo porra!
— Sua prima até queria me pegar... — Brinco enfiando um pedaço
de bisnaguinha na boca dele.
— Vic, eu morro antes de deixar qualquer pessoa tocar em você. —
Eu quase começo a rir escandalosamente.
— Ui! Medo dela descobrir que a concorrência é melhor! —
Bernardo provoca.
— Bernardo, vaza daqui diabo! — Esbravejo.
— Sério, agora parei. Pensei que Zé Maria ia te abraçar, porra...
fiquei triste mesmo.
— Quem é Zé Maria? — Questiono.
— A morte. — Bê responde sério. Ele e Beatriz são o casal “humor
estranho”. — Sério cara, estou feliz por você estar bem. Você é frouxo, mas
eu te amo como irmão.
— Também te amo, cara. — Theus responde com lágrimas nos
olhos enquanto eu e Beatriz nós olhamos chocadas. Acabamos rindo ao ver
os dois chorando.
Mais tarde, quando todos se vão, Matheus faz com que eu compre
alguns e-books. Eu me acomodo em sua cama, do lado direito e então leio
trechos de um livro que ele diz estar lendo.
"A ligação entre nós era absurdamente intensa. Emocional. Mental.
Eu nunca tinha me sentido tão completamente... entregue. Possuída."
— Me identifico...
"O que diabos eu deveria fazer, Eva? Eu não sabia que você estava
lá fora." A voz de Gideon se aprofundou, áspera. "Se eu soubesse, eu teria
te caçado. Eu não teria esperado um segundo para encontrá-la. Mas eu
não sabia, e me acomodei por menos. E você também. Nós dois nos
desperdiçamos nas pessoas erradas."
— Você é como a Eva. Aquela Ana do outro livro... eu a achei
muito água com açúcar. Você faz mais o estilo Eva. Mulherão, impetuosa,
gostosa, forte. — Comenta atento à leitura.
— Você está lendo muito romance erótico, Theus. — Brinco.
— Eu gostei. Nunca me imaginei lendo essas coisas, mas é
interessante. Consigo me identificar.
— Então você agora será meu Gideon? — Pergunto brincando.
— Eu serei eu mesmo. — Anuncia olhando fixamente em meus
olhos.
Ele será ele mesmo.
Meu próprio herói literário é meu marido.
Quem é Gideon, Eric, Grey, entre outros heróis literários, quando se
tem Matheus Albuquerque?
— Vic, eles aplicaram maconha na minha veia de novo.
— Durma, amor. — Beijo sua cabeça e ele suspira.
— Eu te amo Vic, obrigado por ficar comigo na saúde e na doença.
— ...E por todos os dias de nossas vidas!
“Respire, respire-me, prove minhas palavras
Deixe-me explodir sua mente
Vou levá-la longe, muito longe
Eu vou fazer você se sentir bem
Você tem que implorar e persegui-lo
Até que você esteja perto o suficiente para prová-lo
Eu posso te dar o que você precisa”
Alina Baraz – Make You Feel
— Mãe, está chato ficar aqui! Quero ir para casa. — Matheus
reclama enquanto Mari faz cafuné em seus cabelos e eu finjo ler um livro
pelo celular. — Já faz cinco dias. Já ando normal, mijo, cago, tenho ereção,
o que mais falta?
Falta ele criar vergonha na cara e entender que passou por uma
cirurgia complicada, apenas isso! Teoricamente ele teria alta hoje, mas o
médico, vendo seu atual estado de inquietamento, está preferindo que ele
fique por mais dois dias. O que é vergonhoso o bastante para um homem de
26 anos.
Desde que retiraram o sedativo, posso dizer que Matheus está se
achando o incrível Hulk. Sim, o incrível Hulk ataca novamente. Ele só fica
na cama quando ameaço ir embora e deixá-lo aqui sozinho. Caso contrário,
ele fica sassaricando e seduzindo as enfermeiras involuntariamente.
Um homão desses, com essa carinha fofa e esse corpo do pecado
desfilando descamisado tem me irritado profundamente! Já foi apelidado
como "Mister" por toda equipe de enfermagem do hospital. Elas realmente
brigam para cuidar dele e então eu demarco território todas as vezes.
— Oh neném da mamãe, você já vai sair daqui princeso lindo da
minha vida. — Reviro os olhos para não rir. Mariana tem sido
extremamente louca desde que Matheus acordou. Ela só falta limpar a
bunda dele no banheiro, porque de resto ela já fez de tudo, até dar comida
de aviãozinho, e o descarado está adorando ser mimado e ter se tornado o
centro do mundo de todos.
Ok, eu confesso. Tenho feito o mesmo que ela. Tenho o mimado de
todas as maneiras, apenas por doer vê-lo aqui, dentro desse quarto, trancado
se recuperando de algo que foi causado involuntariamente por mim. Mas,
não vou me arrepender ou ser consumida pela culpa, não dessa vez.
Se fosse antes do tratamento, certamente eu teria cortado meus
pulsos e estaria me culpando por todos os acontecimentos. Agora eu
enxergo que somos vítimas. Enxergo que fui vítima. Minha mãe foi vítima,
Theus foi vítima... E tenho em minha cabeça que acabou.
Só de saber que aquele ser humano detestável não existe mais,
consigo respirar melhor, viver melhor, mesmo estando dentro de um
hospital. Todo o medo que eu carregava internamente agora foi substituído
pela esperança de que dias melhores estão por vir. Meu foco agora é único
exclusivamente às conquistas que tenho feito, nada além disso.
Resiliência[9] é algo que eu deveria ter aprendido há anos atrás,
porém, passei a ser seguidora fiel agora. Ser resiliente virou meu foco,
mesmo que eu tenha quase fraquejado a cinco dias atrás.

— Pequeninha, está na hora de você comer. — Sua voz aguda me


dissipa dos pensamentos. Sim, eu preciso comer, assim como preciso
transar por dez horas seguidas. Como transar está fora dos limites, eu estou
investindo toda minha carga de energia acumulada em comer.
— Vou pedir um lanche, estou enjoada de sanduíche natural. Vocês
querem algo? — Pergunto.
— Não, nós já estamos quase indo embora. — Arthur diz chateado.
— O horário de visita está prestes a encerrar. Tem certeza que não quer que
eu durma com ele ao menos um dia?
— Tenho. Estou realmente bem, meu sogro. É confortável o
bastante e não quero sair de perto do meu marido. — Sorrio.
— Ela me ama, pai.
— Victória é santa, Matheus, por estar te aturando nesse hospital.
Parece uma criança mimadinha. — Mari joga na cara dele e ele faz a
carinha de criança de três anos emburrada. — Não fique assim, neném da
mamãe! — Ela o chama de mimado e então volta a mimá-lo. A
contraditoriedade impera!
— A Mariana trata Matheus como se ele tivesse dois anos de idade.
— Arthur protesta. — Isso é loucura. O cara é casado, tem dois filhos, já
transa. Merda! Pare com essa porra.
— Não transo não. — Matheus diz em alto e bom tom. — Há seis
dias não transo... ou cinco... sei lá. Só sei que não transo! Inclusive, gostaria
de deixar registrado aqui, que eu gostaria de transar, Victória.
— Ele vai morrer porque não transa, Arthur. Isso é grave. Talvez
deva pedir Marcos para sedá-lo com uma injeção na bunda! — Sugiro
maquiavelicamente.
— Mãe, a Vic está me tratando mal. — Oh meu Deus! Nem Isis fica
assim quando está doente.
— Ah Matheus, me fode! — Esbravejo e então dou de cara com
Arthur me fitando intensamente. Sorrio como uma garota comportada, mas
não cola.
— Já foi infectada pelo sangue da Mariana, fodeu!
— Há um Albuquerque na barriga dela, querido marido. Isso não
tem nada a ver com Mariana. Mariana é Barcelos! Arthur é Albuquerque,
ou seja, você é o responsável por toda essa merda.
— Não, Mariana é Albuquerque, está comprovado nos documentos.
— Ele diz. — E há Barcelos no nome de Matheus. Barcelos é o que fodeu
nossa família, querida. Se todos fossem apenas Albuquerque, seria o melhor
dos mundos. Tudo seria dentro da normalidade.
Os deixo na discussão acalorada e vou até o "meu quarto" ligar para
o restaurante. Por fim, decido que preciso respirar um pouco de ar puro e ir
comer na lanchonete.
— Vou comer lá, vou aproveitar e ligar para Isis.
— Você vai vestida assim? — Matheus questiona.
— Não, ela vai pelada! — Arthur informa ao desavisado e eu quase
dou uma gargalhada. Só não dou porque Matheus está um tanto quanto puto
me encarando.
O que tem de mais na minha roupa? Uma blusa e uma saia, apenas!
Nada muito... ousado.
— Fui! — Digo fugindo e ouvindo um "VICTÓRIA
ALBUQUERQUE" pelo corredor. Agora o senhor
neurose/dominador/controlador/ciumento/psicótico vai ficar putinho por
alguns bons minutos. Minha sogra disse que reconciliações são quentes,
estou contando com isso quando retomarmos nossa rotina.
Quando chego no térreo vejo Ricardo sentado na recepção. Franzo
minha testa e caminho até ele.
— Ei!
— Oi Vic, estou esperando os pais de Matheus saírem para visitá-
lo. — Explica ficando de pé e me dando um abraço.
— Oh sim, estou fazendo um lanche, me acompanha?
— Claro. — Sorrio e ele me segue até a lanchonete. — Como você
está?
— Muito bem. Eu preciso agradecê-lo. Foram suas palavras
naquele momento de terror que abriram minha mente para novas
possibilidades. Não quero mais ser quem eu costumava ser. Quero a minha
nova versão. A "eu" que virei desde as sessões de terapia intensiva, desde a
minha aproximação com Matheus. Sinto que cansei de todo o passado. Não
posso te afirmar que estou curada, porque você mesmo sabe que a mente
prega peças nos momentos mais inoportunos. Mas, estou disposta a me
sentir curada, a me sentir bem comigo mesma, compreende o que estou
dizendo?
— Compreendo. — Ele sorri. — Meu orgulho, senhora Victória
Albuquerque. Mas, vamos continuar com o tratamento, seguindo tudo à
risca mesmo que esteja se sentindo uma nova mulher. Nós estamos um
pouco longe do fim, Vic.
— Eu sei disso. Parar com as sessões nunca foi uma possibilidade.
— Sorrio. — Eu vou comer um pedaço de empadão e um suco de acerola e
você?
— Só um café.
Fazemos o pedido e então nos sentamos em uma mesa.
— E Gi? — Questiono comendo como uma draga. Sim, sou uma
individua que come sem parar!
— Vou me casar com ela. — Uau!
— Serei madrinha! — Brinco.
— Certamente será, Victória. Aliás, me desculpe pelo episódio no
seu casamento.
— Já que você entrou nesse assunto... como anda essa situação? —
Minha mãe sempre dizia, curiosidade matou o gato... e o rato também. Mas,
eu realmente estou curiosa.

— Por incrível que pareça, era um fetiche da Gi. Nós fizemos, foi
legal, mas acabou ali. Meu foco exclusivo está sobre ela e apenas ela. Ela já
matou a curiosidade, se divertiu, vida que segue.
— Eu mataria, Matheus! Não nasci para dividir, sou egoísta e
possessiva. — Confesso. Eu sei que o rei da piroca de ouro já fez isso
inúmeras vezes, mas eu prefiro não pensar ou imaginar sobre isso.
— Você e Matheus são o casal mais possessivo que já conheci. —
Dou uma gargalhada, porque é verdade.
— Extremamente, por falar nisso, Matheus quer te bater porque diz
ele que você aproveitou de mim no momento em que ele tinha morrido. —
Conto o fazendo dar uma gargalhada.
— Ele se superou nessa hein? Talvez seja eu a bater nele por ao
menos cogitar essa possibilidade.
— Culpa do meu irmão linguarudo.
— Eles parecem ter cinco anos de idade quando se juntam. — Isso
me faz sorrir.
Eu acho que amo isso nos dois. Bê e Theus parecem mais como
irmãos do que cunhados. Pietro já é mais na dele, quieto. Também não
posso exigir que Pi vire best friend forever de Matheus quando o mesmo
sabe que a esposa já teve noites de sexo incansável com o cidadão. Assim
como eu não consigo ser melhor amiga intima da Jéssica.
Nos tratamos com educação, cordialidade e isso é tudo o que
importa. Jéssica é mãe das minhas sobrinhas, esposa do meu irmão. A
convivência pacífica é necessária, mas o extremismo não.
Conversamos um pouco mais e então subimos para o quarto
escondidos, já que Theus não pode receber mais de duas visitas no mesmo
momento.
Quando entramos, meu homem possessivo está de pé, em toda sua
glória e masculinidade. Ele parece ter saído do banho, já que seus cabelos
estão molhados. Fico satisfeita por vê-lo usando uma camisa. Amém
senhor! Estou cansada de ver todas as mulheres perguntando sobre suas
tatuagens.
— Você... — Ele diz apontando para Ricardo. — Esperou eu morrer
para querer dar um cato na minha gata selvagem.
— Gata selvagem é o cúmulo da breguice, Matheus. — Ricardo diz
rindo. — Como você está, companheiro?
— Não foi dessa vez que você se viu livre de mim.
— O bom humor permanece.
— Não é bom humor, se eu tivesse morrido e você desse em cima
da minha mulher, eu iria te assombrar, filho da puta! Você se arrependeria
amargamente por isso... — Eu não estou ouvindo isso!
— Depois dessa é melhor irmos embora, Mari. — Arthur diz e
então abraça Ricardo, Matheus e eu.
— Princeso da minha vida, amanhã mamãe volta. —Mari se
despede e Theus a abraça tomando cuidado com o local da cirurgia.
— Te amo, minha gata. — Eu acho tão lindo a forma como ele trata
Mari. Beatriz é carinhosa com os pais, mas Matheus chega a dar diabetes de
tão doce. Dizem que isso diz muito sobre como um homem vai tratar uma
mulher. Isso explica muitas coisas. Matheus é um "princeso" real. Ele me
trata como uma rainha, assim como trata Isis como uma princesa. O homem
é perfeito em todas as maneiras, isso ainda me desconcerta.
Após se despedir de todos, eles se vão deixando apenas eu, Theus e
Ricardo.
— Como você está, Matheus? Só soube notícias pelo telefone.
Parece bem. — Ricardo pergunta sério.
— Estou bem. Só os três primeiros dias que foram um pouco
chatos, mas a recuperação está a todo vapor, felizmente. Eu gostaria de
agradecê-lo pelo suporte que deu à Victória. — Viu? Meu Theus é apenas
brincalhão. Ele sabe ser maduro quando é necessário. É isso que me atrai
nele, a capacidade de brincar com tudo e então transforma-se no homão
maduro que é.
— Estamos aqui para isso. E, não se preocupe, não quis dar “uns
pegas” na sua mulher, apenas tirei algumas casquinhas.
— Meu pau que tirou! — Meu homem esbraveja me puxando para
si. — Ela é minha!
— Oh, vamos lá, temos que dividir.
— Você aprendeu com Bernardo isso, Ricardo? — Questiono
sorrindo.
— Vic não quer fazer a “surubinha de leve” com você não, amigão.
Se contente com seu ménage organizado. — O filtro as vezes falta nele...
— Foi só uma experiência nova para minha namorada. Não sou
adepto à bigamia. Sou homem de uma mulher só. — Ricardo argumenta.
— Acho excelente, porque a minha está fora dessa brincadeira.
Mas, me conta... foi da hora? — Ele questiona e eu quase dou uma
cotovelada em sua costela. Sorte dele que está operado.
— Sempre é. Mas prefiro apenas Gi. Sabrina é muito... digamos que
afoita. Ela não sabe brincar de ménage. Ela não sabe se quer pau, se quer...
compreende? — Ele fica sem graça de falar diante de mim. — Enfim. Fica
perdidinha. Mas ela é maneira, divertida. Somos bons amigos.
— Tem que ser muito mente aberta para isso. — Digo chocada.
— Bom, vim apenas dar uma olhada pessoalmente. O horário de
visita está chegando ao fim. Estimo melhoras, Matheus. Qualquer coisa que
precisar, sabe onde me encontrar. Talvez seja interessante algumas sessões
de terapia pós-traumática... como já virei psicólogo da família mesmo, me
procure. Atendo de graça. — Oferece rindo.
— Pode deixar. Obrigado por vir. E, mais uma vez, obrigado pelo
suporte dado à minha esposa. Foi muito importante ela ter alguém como
você por perto. Só não fique tão perto se houver uma próxima vez. —
Alerta brincando.
— Não terá próxima vez, não diga isso nem de brincadeira. —
Acabo o abraçando forte e ele não reclama. Apenas retribui o abraço com
toda força que consegue. Deus me livre perder esse homem. Não quero
pensar nisso!
Ricardo se vai e eu continuo grudada em Matheus como se ele
pudesse desparecer a qualquer momento.
— Ei, pequeninha.
— Ei, Theus.
— Não vou a lugar algum, ok? — Balanço minha cabeça em
concordância e ele puxa meus cabelos fazendo com que eu levante minha
cabeça.
Seus lábios tocam os meus e ele me beija possessivamente, como
não beijava em dias. Durante os últimos cinco dias foram apenas beijinhos
estalinhos. Agora é beijo desentupidor de pia total.
Estou quase escalando sobre ele quando a porta se abre avisando a
chegada de Maria. Fico abraçada a ele incapaz de olhá-la.
— Como está sentindo, Matheus?
— De bolas roxas. — Ele solta a granada e eu belisco sua bunda. —
É um saco ficar aqui de castigo como uma criança de sete anos. — Protesta.
— Se tivesse ficado quieto, já teria tido alta, bem feito. — Ela diz.
— Maria, você é um pé no meu saco! Uma empata foda do caralho.
— Eu ouvir a palavra foda? — Ela pergunta.
— Não, Maria. Ele está apenas fazendo gracinha como sempre. Ele
já estava indo se deitar. Acabou de sair do banho. — Explico observando
Matheus sorrir.
— É isso mesmo que minha mulher falou, aliás, você deveria ser
dispensada, Maria. Victória é a melhor enfermeira que eu respeito.
— Nossa, feriu meus sentimentos, Matheus. — Ela finge dramatizar
e dá uma risada.
— Vic, vá ao sex shop comprar uma fantasia de enfermeira e vem
cuidar de mim. — O engraçadinho brinca e eu o arrasto para a cama. Hora
de sossegar!
Maria o entrega dois comprimidos e ele os engole fazendo uma
careta.
— Sério, Maria, que dia vou sair daqui?
— Dentro de dois dias. Bom, estou indo. Se precisar de alguma
coisa liguem. — Informa. Enfim sós novamente. Assim que ela fecha a
porta, Matheus ameaça saltar da cama.
— Vou foder você, Vic. — Avisa.
Sabe aquele arrepio que vem da cabeça aos pés e mistura com um
frio na barriga? É assim que me sinto ao ouvir as palavras proferidas.
— Não vai não senhor! Principalmente nesse horário que as
enfermeiras estão fiscalizando os pacientes, nada disso, senhor princeso.
Não mesmo. — Preciso soar convincente, na verdade estou tentando
convencer a ele e a mim mesma disso.
Eu transaria com ele agora e não seria nada bonito, muito menos
silencioso. Os hormônios estão bagunçados em meu interior, tanto que
nesse momento eu só consigo pensar em sexo. É uma necessidade louca e
beira ao incontrolável. É a tortura que tenho que passar por ser casada com
um homem lindo, gostoso e altamente sexual.
Passo pela provação de ficar deitada ao lado dele lendo livro erótico
e respiro aliviada quando o remédio forte o derruba.
Deposito um beijo em sua testa, o cubro e decido dormir um pouco.
Só não estava nos meus planos acordar com sua cabeça entre
minhas pernas e sua língua deslizando em minha entrada tortuosamente....
“Meu namorado está de volta
E ele está mais interessante do que nunca (cale-se, cale-se)
Não há mais noite
Céus azuis para sempre
Tire, tire
Tire todas as suas roupas”
Lana Del Rey — Lust For Life (feat. The Weekend)

Acordar com a cabeça de Matheus entre minhas pernas foi


realmente fantástico, mas a tentativa de ir além disso, foi um fiasco.
O incrível Hulk está impossibilitado ainda. E, o fato de estarmos no
hospital dificulta muito os trabalhos de darmos um jeitinho brasileiro de
transar. Ele chorou. Ele chorou mesmo. E eu tive que consolá-lo. Ele dizia
que seu pau estava (está) em perfeito estado, que ele só queria brincar. E eu
tive que lutar bravamente para não rir.
Agora, finalmente, estamos voltando para a nossa casa. Foram ao
todo onze dias no hospital, tudo pelo mal comportamento de Matheus, que
dramatiza e enlouquece na mesma proporção.
A inquietação está se remexendo no assento do avião como se o
local estivesse cheio de formigas. Ele deveria ser estudado por psicólogos,
psiquiatras, pela NASA. Matheus é única, cheio de peculiaridades e
particularidades.
— O que foi, Theus?
— Estou ansioso para ver Isis. — Confessa.
Ele me quebra sempre. Esse jeitinho especial é a coisa mais fofa do
universo. É louco dizer que, na maioria das vezes, Matheus consegue ser
mais fofo que bebês? Não tenho maturidade ou estrutura para lidar com ele.
— Estamos praticamente pousando.
— Eu queria pegar ela no colo e não vou poder. — Diz colocando
os óculos escuros e eu sei que ele está emocionado agora.
— É só por um tempo, meu amor. Precisa ser paciente. É uma sorte
imensa que você esteja vivo, graças a Deus. Só precisa ter um pouco mais
de paciência, nossa rotina logo voltará ao normal.
— E foder? — Questiona demostrando insatisfação. Parece um
bebezão esse princeso!
— É só por um tempo.
— É, por um tempo de algumas horas apenas. — Avisa como uma
criança pirracenta, cruzando os braços no peito. — Não fico mais vinte e
quatro horas sem pegar você de jeito, Victória.
— Theus, você está sentindo dor quando se esforça. Mantenha o
pau dentro da cueca. — Reviro meus olhos, embora seja bastante tentador.
Misericórdia! Cada dia estou valendo menos e a culpa é
exclusivamente do meu marido.
— Não vou mais discutir sobre isso. Estamos chegando. Quero ver
minha princesa, ela sim me ama incondicionalmente. Não é como umas e
outras que dizem me amar. — Argumenta me causando uma enorme
vontade de rir.
Eu fico em silêncio. Como minha vó sempre diz "com maluco não
se discute".
O avião pousa e eu pego nossa mala após uma longa discussão.
Matheus e seu protecionismo desenfreado as vezes é muito irritante. Ele
acha que a gravidez me torna incapacitada de puxar uma mala de rodinhas.
Pegamos um táxi para nossa casa e ele vai o tempo todo com a
cabeça encostada na janela. Eu compreendo que esteja sendo difícil para
ele, mas não justifica esse mal humor. Também não posso pegar tão pesado
com ele. Em todo o tempo em estamos juntos, essa é a primeira vez que o
vejo mal-humorado. Preciso apenas abstrair e tentar fazer com que ele se
sinta melhor, meu marido tem créditos.
Pedi a dona Ruth que preparasse um lanche especial para o meu
bebê grande. Talvez um pouco da culinária mineira faça seu ânimo
melhorar.
Vou conversando com minha mãe através de mensagens até o táxi
parar diante da nossa casa. Após pagar a corrida, o motorista pega a mala
no porta-malas e me entrega.
— Obrigada! — Sorrio solicita e Matheus sobe os degraus até a
porta principal apressadamente. Ele quer mesmo ver Isis. Durante todo o
tempo no hospital ele só sabia falar da nossa filha. Talvez seja por ela ter
sentido que algo aconteceria. Isso mexeu com a cabeça dele
consideravelmente.
Eu sigo atrás dele e pego mais uma das cenas emocionantes
protagonizadas pelos dois amores da minha vida. Eu sinto que ainda
morrerei com as emoções que os dois me fazem sentir.
Matheus está de joelhos no chão esmagando Isis em seus braços e
chorando baixinho. Torna-se impossível não se emocionar. Atrás deles, à
minha frente, estão Ruth e Giovanna, completamente emocionadas, assim
como eu. Ninguém consegue conter o choro por muito tempo.
Só agora eu consigo respirar aliviada. Chegamos em nossa casa
após dias de tensão. Eu mal posso acreditar que ele sobreviveu, que eu
sobrevivi à tempestade. Durante todos os dias me mantive forte, inabalável,
porque era preciso. Agora? Acho que posso chorar. Eu tive tanto medo que
mal sou capaz de explicar.
— Eu senti sua falta, princesa. Contei cada um dos segundos para
poder abraçar você! — O ouço sussurrando no ouvido dela.
— Eu te amo. papai. Eu e pimpolho sentimos sua falta. — Ela diz o
fazendo rir.
— Eu senti falta do pimpolho também. Onde ele está?
— Papai, nós temos um problema. — Isis diz séria.
— Um problema? — Theus pergunta com a testa franzida.
— Pimpolho gosta muito de ficar na piscina.
— Oh, isso é um grande problema! — Theus exclama. — Você
ouviu isso mamãe?
— Ouvi. Nós temos um problemão. Vamos ter que fazer uma
piscina especial para o pimpolho. — Digo sorrindo e caminho até estar
perto deles. Isis o solta e me abraça fortemente.
— Mamãe, senti sua falta e a falta do meu irmão.
— Ele está quietinho na barriga da mamãe, princesa. Nós morremos
de saudades! Muita! Eu te amo, meu cheirinho gostoso! — Digo a
apertando.
— Quando ele vai nascer? — Pergunta. — Quero vê-lo.
— Em breve ele nascerá e brincará muito com você. Aliás, como
irmã mais velha, você terá que ensinar muitas coisas a ele, está preparada?
— Pergunto rindo.
— Estou! — Confirma empolgada. — Papai, a tia Ruth fez bolo de
cenoura com cobertura de brigadeiro!
— Nosso preferido! — Matheus sorri ficando de pé. — Papai vai
levar mamãe para tomar banho e lavarmos as mãos, então vamos comer
juntos, ok?

— Ok papai. — Ela corre para o jardim e cumprimentamos direito


Ruth e Gi.
— Que bom que estão aqui. Você me deu um puta susto, Matheus.
Não faça isso novamente! — Ruth chora abraçando meu marido e o solta
logo em seguida.
— Não foi como se eu tivesse tido a chance de escolher, Ruthinha.
Era eu ou Vic. Preferi que fosse eu. Eu não teria forças para ver minha
mulher no hospital, entre a vida e a morte. Minha esposa é uma fortaleza.
— Theus diz beijando o topo da minha cabeça e eu tento desviar o foco, já
que fico ligeiramente emocionada.
— Como Isis ficou? — Questiono Gi após abraçá-la.
— Bem. Só falava do Matheus o tempo todo. Era assustador, Vic.
Eu tive medo algumas vezes. Ela falava de você normalmente, mas dele ela
sempre falava com cara de tristeza, como se estivesse sentindo dor. Foi
assustador.
— Isso é bem assustador, realmente. Mas, estamos de volta, deu
tudo certo. Acabou!
— Graças a Deus acabou! — Meu marido diz. — Aquele filho da
puta está sete palmos abaixo da terra. Isso compensa o tiro que levei. Mas,
vamos esquecer, nós agora estamos livres do perigo.
— Exatamente. — Sorrio. — Vamos tomar um banho e então
desceremos para comer.
— Estaremos esperando.
Subimos carregando a mala e então inspiro o cheiro gostoso que
essa casa possui. Eu estava sonhando com nossa cama, com nossa
privacidade, com o conforto. Por mais que o hospital parecesse um hotel
cinco estrelas, nada se compara a sensação de estar em casa.
Jogo meus sapatos longe e então observo os sapatos de Matheus
alcançarem os meus. Retiro minha calça a jogando a frente e então a calça
dele se junta a minha. Retiro minha camisa e ela se encontra com a dele no
chão. Quando tiro o sutiã ele suspira pesadamente. E, quando jogo minha
calcinha no meio das demais roupas ao chão, sua cueca surge para fazer
companhia. A privacidade pela primeira vez será algo difícil.
Arrisco virar de frente para ele e seu membro está completamente
ereto.
Ao subir o olhar, encontro suas pupilas levemente dilatadas e seus
olhos brilhantes, com algum tipo de emoção que não consigo decifrar. Sua
boca esculpida nesse momento é um convite para ser beijada. Aquela velha
sensação de algo sendo retorcido em meu ventre aparece com força total, e
sei perfeitamente que isso não tem absolutamente nada a ver com meu filho.
Matheus sorri ao ver minha avaliação intensa, se vira e caminha até
o banheiro me dando a visão da sua bunda incrível e suas costas largas.
Ouço o barulho do chuveiro sendo aberto e vou atrás de tomar um banho na
companhia quente do meu marido.
O pego num momento de vulnerabilidade. Ele ainda não consegue
levantar o braço esquerdo totalmente por repuxar um pouco a cirurgia.
— Eu lavo para você. — Ofereço entrando atrás dele.
— Mas você é pequeninha.
— E você é grandão. Abaixe um pouco. — Peço e ele se vira de
frente para mim capturando meus lábios sem me dar chance de protestar.
Nos beijamos com desejo, paixão, fogo, tesão. Suas mãos deslizam pela
minha bunda e sinto que ele está prestes a me pegar.
— Não podemos fazer assim Matheus.
— Eu preciso sentir você Vic, pelo amor de Deus, não me negue
isso. — Pede com o semblante carregado de desespero e frustração sexual.
— Não é confortável aqui. Vamos fazer melhor que isso. — Aviso.
Saio do box e vou até a banheira. Despejo alguns sais e a coloco para
encher. Em seguida, me acomodo e o chamo.
— Vem, princeso. — O convido sorridente.
— Princeso é meu pau! — Resmunga e então vem. Ele se acomoda
de frente para mim e com seu braço esquerdo me puxa, fazendo com que eu
o monte.
Aí... Eu senti tanta falta desse contato direto.
Respiro fundo umas cinquenta vezes quando minha querida vagina
encontra com sua extensão gigante.
— Você se sente bem? — Pergunto preocupada.
— Eu me sinto um merda porque você acha que sou incapaz.
— Não acho isso. Só tenho medo que se machuque.
— Está estampado em seu rosto. Eu sou capaz, Victória. Há dias me
sinto capaz, só que você fugiu todas as vezes em que tentei porque acha que
eu sou um cristal precioso que vai quebrar a qualquer momento.
Compreendo seu medo e sua preocupação, mas eu não tentaria se não me
sentisse capaz. — Pontua com seriedade.
— Você sentiu dor na primeira tentativa.
— A dor não é o bastante para cobrir o desejo que sinto por você.
— Suspira. — Eu quero tanto você Vic, que não existe espaço para
qualquer outra merda. Tenho que consciência que não poderei sair fazendo
manobras sexuais como antes por um tempo, mas nós podemos nos
adequar. Eu passo o controle a você por um tempo. A cirurgia não foi no
meu pau.
— Só me preocupo. — Justifico minha preocupação quase
excessiva. — Você é tudo para mim e sim, é como meu cristal precioso.
— Então pare de se preocupar e pare de negar o que quero. Eu
quero você, eu preciso de você. Preciso senti-la, tocá-la, amá-la, fodê-la, eu
preciso de você para tudo, Vic. Eu quero tudo. — Diz se movendo abaixo
de mim e pressionando seu membro em minha entrada.
Conforme vai me penetrando lentamente, me dou conta do quanto
senti falta disso. Me apoio em seus ombros e levanto minha cabeça para
pegá-lo olhando fixamente para meu rosto, de uma forma indecente e
intensa. Suas mãos seguram meus quadris e então ele força sua entrada
completa de uma só vez.
— Meu... Deus! — Exclamo impactada com a pressão.
— Te amo. Eu senti falta disso, Vic...
— Eu também.
— Você está no controle, amor. — Ofega levando meus quadris
para frente e para trás. Quando eu pego o controle para mim, suas mãos
sobem pelas minhas costas e entram em meus cabelos. Ele me beija
enquanto fazemos amor lento. Hoje, no atual momento de instabilidade em
que ele se encontra, sei que a pressa é realmente inimiga da perfeição. —
Eu te amo tanto.
— Eu te amo mais.
— Você esteve comigo em todos os momentos mais fodidos que
vivi.
— Retribuindo tudo o que fez por mim. E, mesmo que não tivesse
feito, eu ainda estaria com você, porque você é o amor da minha vida,
Theus. Você é o amor da minha vida toda. Eu morri e só voltei a viver
quando soube que estava bem. Meu coração ficou tão pequeninho...
— Não vamos mais lembrar disso, pequeninha. Promete?
— Prometo. — É uma grande mentira. Acho que nunca serei capaz
de esquecer os dias de horror que vivi. Eu achava que estar no inferno era
ser açoitada, machucada, usada por Ítalo. Mas, estar no inferno é ver o amor
da sua vida entre a vida e a morte. Nada se compara ao desespero e o medo
que senti de perdê-lo.
— Então mete comigo. — Pede me beijando e fazendo com que eu
perca a cabeça.
Meu super-homem resistente mostra todo seu potencial. Ele me
ensina que mesmo lento, nós dois somos muito bons e o sexo pode ser
extremamente intenso. Meu lindo marido, profissional em me deixar louca,
me faz gozar duas vezes antes de se deixar levar pelo prazer. Eu perco até a
noção do tempo enquanto ficamos nos amando dentro da banheira.
— Você é meu exemplo de força. — Sussurra cabisbaixo. — Eu
achei que morreria, Vic. Por um momento eu achei que morreria. Eu lutei
por você e pelos nossos filhos, foi tudo tão injusto. Eu só pensava em você,
em nosso bebê e Isis quando levei aquele tiro. Eu quis amaldiçoar a tudo e a
todos, porque seria injusto pra caralho eu morrer depois de tudo que
passamos. Seria injusto não vê-la ainda mais barriga, seria injusto não ver
minha Isis crescer, seria injusto não poder tocar você. — Ele está chorando
e isso faz meu coração se apertar no peito.
— Nós somos fortes. Nosso amor é forte, Theus. Você está vivo.
— Eu estou vivo e sou louco por você. — Sorrio.
— Eu sou louca por você, meu amor.

Os dias estão passando rápido demais. Por um lado, isso é bom. A


cada dia que passa mais perto fico de ter meu Sadbebê em meus braços. Por
outro lado, a fase gestante da Vic está passando rápido demais. Mas, estou
curtindo cada momento, felizmente.
Nada está passando batido. Estou registrando todos os detalhes. Eu,
nossa filha e ela estamos vivendo o momento mais incrível de nossas vidas.
Graças a Deus!
Tem apenas uma parte triste, Victória não tem sido uma grávida
cheia de desejos, eu realmente queria que ela fosse, mas ela só tem um
único desejo: transar! De manhã, a tarde, a noite, de madrugada, no quarto,
na sala, na cozinha, no carro, no escritório, no banheiro do shopping, no
banheiro do restaurante. É insana pra caralho, eu gosto disso, porra! Eu
nunca fiz tanto sexo em toda minha vida e já estou planejando a terceira
gravidez, que será logo após Victor nascer. Vic ainda não sabe disso, mas
ficará sabendo em breve.
A minha quase morte ainda não foi esquecida completamente. Às
vezes me pego pensando que poderia ter sido diferente e que nesse exato
momento eu poderia não estar aqui. Acho que essa lembrança nunca será
apagada. Foram cinco longas e tortuosas semanas até eu me encontrar cem
por cento apto e capacitado para voltar à minha rotina normal. Tive que
passar por acompanhamento médico por três meses.
Outro grande acontecimento ocorreu há dois meses atrás: fui,
pessoalmente, até a prisão agradecer a Túlio. Não foi fácil. Na verdade, foi
muito difícil para mim. Mas, era algo que eu precisava fazer. Não é fácil
você estar frente a frente com um homem que já fodeu sua mulher de todas
as maneiras mais perversas, um homem que abusou sexualmente dela
quando a mesma possuía apenas quatorze anos de idade, um homem que
tem participação gigante em todos os traumas que ela adquiriu e vem
lutando bravamente. Não é fácil estar diante do homem que matou o próprio
pai por amor à minha esposa. Não foi por mim, foi por Victória. Ele disse
isso mesmo eu tendo total compreensão.

Dois meses atrás...

— Você está mesmo certo sobre isso? — Meu pai pergunta


enquanto aguardamos a polícia autorizar minha entrada.
— Estou. É o mínimo que posso fazer, pai. Ele salvou minha vida e
a de Victória.
— Victória não sabe dessa visita. — Pontua mais uma vez, como se
temesse isso.
— Eu contarei depois. Ela está passeando com mamãe e Liz, não
quis atrapalhar o momento trazendo esse assunto novamente.
— Tudo bem. —Ele está nervoso, visivelmente. Estou prestes a
enfrentar um dos meus maiores inimigos porque me sinto na obrigação de
agradecê-lo. É contraditório para mim "agradecer" o cara que fodeu a
vida da minha mulher durante anos. Foi por causa dele e do pai que não
fiquei sabendo da existência da minha filha por sete anos. Foi por causa
deles que Vic não conseguia seguir adiante comigo. Eu perdi quase oito
anos da minha sardinhas bonitinhas...
— Matheus, o senhor poder entrar. — O agente penitenciário
informa e eu me levanto. Meu pai agarra meu pulso preocupado.
— Haja como meu filho. — É a única coisa que ele diz e eu aceno a
cabeça tendo total compreensão do que ele acabou de pedir. Ser filho de um
grande homem requer muita responsabilidade.
Caminho por um corredor escuro e frio. Esse lugar não é o melhor
lugar do mundo, realmente. A atmosfera aqui é carregada, sombria, como
um filme de terror. Eu já tinha estado em uma penitenciária em Nova York,
mas se parecia com um hotel 2 estrelas, no mínimo. Era claro, limpo,
completamente diferente do que estou vendo aqui.

Nós paramos diante de uma sala onde Túlio está sentado de cabeça
baixa. O policial abre a porta e eu respiro fundo antes de entrar. Me sento
diante dele e nem sei explicar o que sinto.
— É a primeira visita, além do meu advogado, que recebo. — Ele
diz antes que eu possa começar. A primeira visita? Isso é um pouco fodido.
— Eu sinto muito por isso. Poderia ter sido diferente para você.
— Meu pai era um monstro. Eu nasci de um monstro, então não,
não poderia ter sido diferente para mim. Minha mãe morreu, matei meu
pai. Não há qualquer pessoa que tenha a obrigação de vir aqui. No fundo
eu sempre soube que acabaria neste lugar. — Diz com frieza.
— Você não vai acabar aqui. Em breve estará solto e poderá
recomeçar sua vida. Sei que seu advogado é bom e está trabalhando.
— Em breve... Isso significa alguns anos. — Ele sorri. — Eu não
estou revoltado por estar aqui agora. Estou revoltado por não ter estado
antes. Eu deveria tê-lo matado na primeira oportunidade, quando eu tinha
dezesseis anos e Victória quatorze. Eu te peço perdão por ter demorado,
mas estou feliz em saber que você sobreviveu. Meu advogado me deu essa
notícia poucos dias após o ocorrido.
— Eu não sei como era seu relacionamento com seu pai, não sei o
que existia entre vocês dois. Mas, o fato de tê-lo matado para salvar
Victória... não consegui assimilar ainda. Apenas...
— Eu mataria qualquer pessoa que tentasse fazer mal a ela. —
Pelo seu olhar eu sei que ele realmente faria isso. Ele a ama.
Provavelmente tanto quanto eu a amo.
—Eu também mataria, porém, naquele momento, fui pego de
surpresa. Eu não tinha como protegê-la e você fez isso em meu lugar. — É a
verdade.
— Eu nunca o deixaria tocar nela novamente. E ela está grávida...
— Como você sabia da gravidez? — Questiono.
— Eu sabia tudo sobre ela, Matheus. Tudo. Não me julgue. Era a
forma de mantê-la um pouco em segurança. Meu pai tinha capangas
espalhados, Vic sempre foi um alvo, assim como Eliza e Bernardo. A ideia
do meu pai era matar toda a família de Liz, incluindo os três filhos e os
avós de Victória. Eu mantinha uma equipe a acompanhando por fora
apenas para controlá-la de longe. Rhael, aquele desgraçado foi designado
a cuidar dela por mim, e então ele se apaixonou.
— Rhael foi mandado por você? — Pergunto um pouco chocado.
— Ele é Italiano, frequentador de um clube BDSM ao qual eu tinha
acesso. Eu o contratei para cuidar dela de longe, mas então, ele resolveu
que cuidaria de perto. Eu acabei permitindo porque ele compreendia
Victória, ele sabia lidar com toda a merda dela e ele era bom com a filha
dela.
— Aquele desgraçado! — Soco a mesa. Eu sabia que aquele filho
da puta não prestava. Sabia!
— Ele se apaixonou pra caralho, meu caro. Ele a ama como eu e
você a amamos. Ele ama a garotinha também. Achei que seria interessante
você saber disso. Ele não vai fazer e nem mesmo seria capaz de fazer mal a
ela, mas ele pode tentar se aproximar para tentar pegá-la de volta, como
tentou meses atrás. Ele sabe lidar com a mente dela.
— Ele não sabe mais. Eu sou o único que sei. — Afirmo com toda
segurança que possuo.
— Fico feliz por Victória ter encontrando um bom homem.
— Eu não gosto de você, Túlio. Vou ser bastante sincero, você para
mim é um fodido doente. Mas, estou satisfeito em saber que você está tendo
acompanhamento psicológico e está sendo bem amparado juridicamente. O
propósito dessa visita é agradecê-lo por mim e por Victória. Você quis
salvar a vida dela, mas acabou salvando a minha também. Estou aqui como
homem, me senti na obrigação de vir agradecê-lo pessoalmente. É difícil
para mim estar cara a cara com você mais uma vez. Mas aqui vai, muito
obrigado por ter poupado nossas vidas. Por ter poupado a vida do meu
filho. É com todo meu coração que eu agradeço você. Minha gratidão
eterna. Eu espero que um dia você saia daqui bem, de cabeça erguida.
Espero que tudo que tenha passado sirva de lição para você enfrentar o
futuro e se tornar um ser humano melhor.
— Eu faria de novo para garantir a felicidade dela, portanto não
agradeça. E, se eu sair daqui e souber que mais alguém quer fazer a mal à
Vic, farei a mesma coisa. Quantas vezes forem necessárias. — Ok, isso foi
psicótico.
— Eu mesmo irei garantir a segurança da minha mulher. — Digo
ficando de pé. — Muito obrigado. — Estendo minha mão e ele a pega. O
cara tem tatuagens até nos dedos, puta merda. Deve ter até no cu. Vic é
exótica, preciso dizer isso a ela. — Obrigada mesmo, do fundo do meu
coração. Espero que você consiga dar a volta por cima e seja feliz.
— Não faço questão, nem mesmo precisa agradecer. Mas, fico feliz
por ter vindo. É bom conversar com pessoas diferentes.
Eu estou um pouco abalado quando ando pelo corredor, de volta ao
meu pai. O abraço dele me reconforta e eu me pego mais uma vez chorando
em seu ombro como um garotinho.
— Você é meu orgulho, filho!
— Obrigado, pai.

— Vic, Túlio tem tatuagem até no cu, não é mesmo? — Pergunto a


minha esposa horas depois.
— Tem tatuagens por todo o corpo, inclusive no pau. Há também
um piercing na glande. No cu eu não sei, porque não abri o cu dele para
ver, Matheus.
— Merda, Victória!!!! Eu não gosto de lembrar que você viu o pau
de outro homem! — Grito.
— Foi você quem perguntou, princeso. — A filha da mãe ri e eu
fico emburrado.
— Vou dormir com minha filha! Ela sim me ama! Vou ligar para
minha mãe.
Eu não contei a ela sobre Rhael. Vic não precisa de mais uma
decepção em sua vida. Ela merece ser feliz! Eu farei com que ela se sinta
feliz!

Demorou cinco malditas semanas para que eu pudesse transar com


Vic de jeito e pudesse retomar o controle total do ato. Isso foi a merda de
um desperdício, mas recuperamos o tempo perdido com dignidade. Eu
recuperei como um sujeito macho!
Porém, agora, nesse exato segundo, estou no meu momento fofo
trocando umas ideias com Victor Fodão Albuquerque. Ele já é um sujeito
macho, sinto isso. Ele tem fodido com as costelas da minha Sadesposa e às
vezes chuta como se fosse rasgar a barriga dela. É sacanagem ele fazer isso,
mas ao mesmo tempo acho maneiro pra caramba.
Eu descobri o quão engraçado é ficar olhando para a barriga dela.
Eu observo ela se mover conforme Victor bagunça a situação. Dá para ver o
pezinho indo de um lado para o outro. As vezes faz um ovo certinho de um
lado só, em outras vezes se espalha. Esse virou meu passatempo preferido.
Eu e Isis tentamos capturá-lo em alguns momentos, mas Vic nos repreende.
— Olá Sadbaby, como anda essa força? — Pergunto ao meu filho e
ele me dá um belo chute no rosto. Não, pobrezinho, ele chutou a barriga da
mãe. Sei que ele não tinha intenção de me bater. — Cara, você deveria
pegar mais leve com a mamãe, papai já disse isso. Deixa para ser selvagem
quando tiver onze anos e começar a pegar as garotas. Mas, tem que ser com
respeito, deixa para dar a pegada bruta no momento certo. Papai vai te
ensinar.
— Meu ovo, Matheus! Onze anos? Você é maluco?
— Doze, que seja. Não ouça sua mãe, filho. Papai está com você.
Somos a dupla fechamento. Você é muito lindo, não é? Deve parecer com a
mamãe. Papai está ansioso para conhecê-lo.
— Sim, mas você pode ficar um pouco mais aí, princeso da mamãe.
— A megera indomável diz.
— Não ouça a mamãe, Vitão!
— Vitão é o murro que eu vou te dar Matheus! Não chame Sadbebê
de Vitão! — Sadgirl xinga. Essa mulher é o cão.
— Filho papai vai ter que dar um corretivo na mamãe, depois
conversamos. — Informo ao meu filho e me levanto. — Não fale em
violência perto do meu filho!
— Você está surtado!
— Dentro de duas semanas Sadbaby nascerá! — Sorrio orgulhoso e
ansioso!
— Sim! — Ela se levanta da cama e meus hormônios atrapalhados
se rebelam em meu corpo.
— Deveria ser proibido uma grávida ser tão gostosa assim. — Santa
Maria, me perdoe por pecar nesse momento tão angelical da vida de
Victória!
Ela sorri e caminha até mim. A filha da puta é provocadora
máxima.
— Deveria ser proibido um pai desses.
— Que tal a gente fazer um papai e mamãe? — Convido já tirando
minha blusa.
— Eu adorei essa ideia! — Ela concorda puxando minha bermuda
para baixo num impulso só. Meu pau, que estava semiereto, agora cresce
grandiosamente.
Abaixo as alças do seu vestido indecente e o puxo para baixo. Há
uma enorme protuberância entre nós agora, mas isso não impede que eu a
puxe para um beijo.
Enquanto me perco em seus lábios, brinco com seus seios que estão
incrivelmente maiores. Essa mulher está um tesão, um mulherão do caralho.
Sexo com ela é sinônimo de longevidade!
Mamo seus seios como um bezerro, ok, não é sexy essa
comparação. Mamo seus seios como um macho faminto, apertando sua
bunda grande em minhas mãos e roçando meu pau em sua... barriga. Ok,
isso também não é legal. Nada está sendo legal, na verdade. Tudo que
importa é que estou indo me perder nela por um tempo.
A deito em nossa cama e retiro sua calcinha gestante sexy.
Inclusive, quero deixar registrado meu agradecimento a quem inventou
essas maravilhas! Obrigado, porra!
Minha esposa, que tem andando sensível além dos limites da
normalidade e da aceitação, se contorce quando passo a língua por sua
intimidade rosadinha. Ela agarra meus cabelos com força e começa a
implorar pelo meu pau desesperadamente. Ela não sabe mais brincar de
sexo oral, por isso realizo seu pedido. Me ajusto entre suas pernas e deslizo
com facilidade para dentro dela devido ao seu nível extremo de excitação.
— Eu quero com força, Theus, por favor. — Implora enquanto
brinco em seu clitóris. Pego um ritmo mais violento, porém, não com toda
pressão que a acostumei. Nos últimos meses tenho tido que me controlar. A
foda forte que ela pede é o amor que costumávamos fazer antes dela estar
grávida.
Eu a faço gozar uma vez e a preparo para uma segunda. Ela
enlouquece tentando me puxar e eu seguro firme em seus quadris para
manter a pressão das estocadas. Está tão maravilhosamente bom que não
consigo conter meu orgasmo. Eu gozo a levando ter o segundo, porém, ela
goza esguicho dessa vez. É assustador. Ela já ejaculou algumas vezes, mas
não nessa proporção.
Me afasto ficando de pé ao lado da cama. Ela é linda pra caralho...
— Eu amo quando você esguicha, de verdade, me sinto foda por
conseguir fazê-la explodir em grandes proporções. Mas, dessa vez levei um
banho completo, assim como nossa cama. — Digo rindo e a vejo me
encarar com uma seriedade absoluta. Ela se arrasta pela cama e então fica
de pé, eu a noto observar a cama e suas próprias pernas. É aí que meu
coração para de bater ao ver mais líquido escorrendo entre elas.
— Não foi esguicho. — Avisa me olhando receosa. Pelo amor de
Deus! Meu cu trancou!
— O que é? — Pergunto levando uma mão ao peito e a outra em
meu pescoço, porque, de repente, sinto que vou morrer.
— Eu acho que minha bolsa estourou. — Ela confirma o que eu
estava imaginando. O ar começa a faltar em meus pulmões. — Theus? —
Me chama receosa. — Respire, Matheus, vamos lá.... respiração
cachorrinho... Matheus, reage merda! — Ela pede me chacoalhando. —
Merda, Matheus você vai desmaiar agora? Você está nu, como vou pedir
ajuda para alguém resgatar meu marido nu? Pelo amor de Deus, Theus,
deixa para desmaiar depois. Precisamos tomar um banho, arrumar as coisas
e ir para o hospital. Matheus Albuquerque! — Seu grito me faz acordar.
— Você pode ligar para minha mãe? — Peço perdendo a força nas
minhas pernas. Me sento, desesperado, emocionado, insano, nem consigo
explicar. Eu começo a fazer a respiração cachorrinho repetidas vezes. Puta
que me pariu!
Sadbaby vai nascer!
“Você realmente me conhece
A futura e a velha eu
Todos os labirintos e a loucura da minha mente
Você realmente me ama
Você me conhece e me ama
E é o tipo de coisa que eu sempre esperei encontrar, sim
Sempre achei que eu fosse difícil de amar
Até que você fez parecer tão fácil, tão fácil”
Camila Cabello – Easy
— Matheus Albuquerque, você só pode estar brincando comigo! —
Esbravejo olhando para o rosto sem cor do meu marido. — Theus, respire,
inspire ... por favor, Theus... você precisa respirar. — Imploro batendo em
seu rosto. Ele parece estar em outra atmosfera. Isso beira ao absurdo. Eu
aumento a força do tapa e ele leva a mão em seu rosto.
— Você precisa ter paciência comigo, Victória. Calma, muita
calma! Estou apenas assimilando tudo. Nós precisamos ir para o hospital.
Ok, hospital ver meu filho nascer! Tudo bem. Precisamos tomar banho
antes, arrumar os últimos detalhes da bolsa maternidade, avisar nossos
familiares. Ligar para tia Alice para ela ficar com Isis no hospital enquanto
o restante da família não chega...
— Precisamos fazer isso tudo realmente. — Concordo.
— Meu filho vai mesmo nascer? — Misericórdia, eu deveria matá-
lo!
— Não. Ele vai ficar na minha barriga para sempre. — Provoco
segurando a vontade de rir. Se eu contar, ninguém acredita.
— Ok, tenha paciência comigo! TENHA PACIÊNCIA COMIGO.
— Ele pede mais uma vez e fica de pé. Seu estado de descontrole beira ao
inacreditável. Está desorientado e andando como uma barata tonta.
Estou apenas observando quando ele vem em minha direção e me
pega em seus braços.
— O que você está fazendo? — Questiono.
— Indo dar banho em você. — Avisa entrando no banheiro. —
Você está sentindo alguma coisa?
— Por enquanto não.
— Eu não entendo disso, mas vi minha mãe entrar em trabalho de
parto com Arthurzinho. A bolsa estourou e então demorou um tempo até
que ela começasse a sentir incomodo. — Explica ligeiramente preocupado.
— Você consegue ficar de pé?
— Consigo, Theus. Não estou morrendo. — Sorrio e ele me beija
apaixonadamente quando me coloca de pé dentro do box.

Eu faço um coque em meu cabelo para não o molhar e meu marido


começa a me dar banho como se eu estivesse completamente incapaz. Não
o repreendo. Ele está sendo apenas fofo e zeloso, mesmo em meio ao
desespero que eu sei que ele se encontra.
Quando estou completamente limpa, ele se lava rapidamente e me
enxuga. Me coloca sentada sobre a cama e busca uma roupa para que eu
possa vesti-la, obviamente com sua ajuda.
Eu fico sentada quieta o observando se mover. Ele já não está
pálido agora. Está no telefone falando com Arthur enquanto veste uma
calça jeans.
Eu achei que ele iria desmaiar, mas então ele se tornou um homem
decidido a resolver todas as questões. Ele liga para Alice, para os meus
pais, para Giovanna, para Beatriz e por último liga para a médica que passa
todas as coordenadas a ele. Acho que as ligações estão servindo de
distração.
Eu fico de pé porque não aguento ficar parada. Decido ir para o
quarto de Victor — que foi todo escolhido pelo pai que tem um excelente
gosto — terminar de arrumar a bolsa, mas então meu homem super protetor
vem atrás de mim e aqui estou eu, sentada mais uma vez, dessa vez na
cadeira de amamentação. Ele vai conferindo toda a lista de coisas que
precisaremos levar, enquanto eu gravo escondida pelo meu celular. É tão
lindo!
— Sabonete líquido, cotonete , álcool 70%, pomadinha para
possíveis assaduras, lenço umedecido, 1 pacote de fraldas recém-nascido,
chupeta, 1 saquinho plástico para roupa suja, 1 trocador, 2 cueiros,1
macacão, 1 body, 1 calça ou mijão, meias, 3 mantas, 1 cobertor, luvinhas e
touca caso faça frio, 4 toalhinhas de boca, 2 fraldas de pano, 2 toalhas
fraldas, saída maternidade com macacão e manta . Eu vou colocar mais
peças de roupas, ok? É melhor prevenir do que Sadbaby ficar sem roupa no
hospital e eu ter que vir buscar.
— Excelente, papai.
— Agora precisamos ver a sua mala. — Diz centrado.
— A minha já está pronta desde a semana passada. — Explico. —
Precisamos ver uma para você, porque estou certo de que você vai morar no
hospital enquanto eu estiver lá. — Ele sorri.
— Vou mesmo. Vou pegar algumas roupas. São só dois dias, não
são?
— Sim, se tudo estiver bem com nosso filho e comigo. — Explico e
ele se senta ao meu lado.
— Tudo estará bem, tenho certeza. E agora?
— Isis está dormindo. É melhor que ela continue, ou caso contrário
ficará muito agitada. Amanhã pedimos Alice para levá-la ao hospital.
— Temos apenas que esperar tia Alice chegar então? — Questiona.
— Sim.
— Sentindo algo?
— Nada. — Sorrio passando a mão em seu rosto. — Você é
perfeito.
— Você é perfeita! — Ele sorri e então seu celular toca. — Oi mãe.
Sim, foi agorinha. — Diz colocando no viva voz.
— Se foi transando, foi igual os três partos da mamãe! — Ouço
minha sogra dizer e começo a rir.
— Ok mãe, obrigado pela informação. — Diz rindo.
— Como Victória está?
— Estou bem, Mari. Por enquanto está tudo sob controle. —
Informo.
— Arthur e Bernardo estão fretando um voo familiar para irmos.
Nós devemos chegar em no máximo duas horas. — Ela informa. — Se não
der tempo de chegarmos para te dar um abraço, eu já desejo de uma vez que
tenha um excelente parto, que tudo corra bem.
— Obrigada, Mari. — Digo emocionada. Tudo tão diferente do
parto da Isis. É impossível não lembrar.
— Filha! — Minha mãe surge na linha. — Você está bem, princesa?
Está sentindo algo?
— Está tudo sob controle mãe, não se preocupe.
— Já já estarei aí com você. Fique calma ok?
— Eu estou calma, vocês estão muito mais nervosos que eu. —
Estou rindo quando o interfone toca. — Mãe, nós precisamos desligar.
Alice e Luiz chegaram para ficar com Isis.
— Ok, já já estaremos aí. Boa hora, filha! Vai dar tudo certo.
— Eu sei que sim. Obrigada, mãe, amo você!
— Eu também amo você. — Ela responde aos prantos. Por que
todos têm que ser tão dramáticos? Minha mãe não era assim, foi
contaminada pelos Albuquerque’s.
Matheus me ajuda a levantar e então corre ao andar de baixo para
receber Alice, Luiz e Sabrina que também veio.
Eles sobem a escada e sou abraçada pelos três.
— Que linda!!! — Alice elogia. — Parabéns a vocês, meus amores.
— Obrigada por terem vindo. — Agradeço a eles começando a
sentir um leve incomodo. — Vou despedir de Isis.
— Está sentindo algo? — Theus questiona.
— Sim. Por isso precisamos despedir logo de Isis e precisamos
seguir para a maternidade.
— Você está tão calma, merda!!! Eu sinto que vou morrer a
qualquer momento. Acho que meu coração nunca bateu tão forte em toda
minha existência. Como você consegue? — Meu marido desesperado
começa a surtar.
— Se eu entrar em desespero serão dois loucos desesperados e isso
nunca acaba bem. — Explico rindo e faço um sinal para que ele fique
calado quando abro a porta do quarto de Isis. Levo um susto ao encontrá-la
sentada na cama penteando o cabelo de uma boneca. — O que foi filha?
— Desculpa mamãe! — Ela diz escondendo a boneca.
— Por que está acordada, princesa?
— Ansiosa para o meu irmão nascer. — Explica me fazendo
arrepiar. Olho para Matheus e ele está boquiaberto. — Eu sonhei que ele
parece com o papai. Que ele tem cabelos castanhos dourados como os do
papai e os olhos como os olhos do papai.
— Então ele será um lindo garotinho, não é mesmo? — Sorrio
limpando as lágrimas.
— Filha, seu irmãozinho resolveu nascer hoje. — Theus comunica
se ajoelhando ao lado da cama. — Tia Alice, tia Sabrina e tio Luiz vieram
ficar com você porque papai precisa levar a mamãe para a doutora trazer
Victor para brincar com você.
— Ele vai nascer hoje??? — Ela pergunta começando a chorar.
— Sim, filha. O papai vai levar mamãe agora e de manhã bem cedo
venho buscá-la para conhecê-lo, pode ser? — Ele pergunta e ela balança a
cabeça em concordância.
Ela salta da cama e vem correndo me abraçar. Distribui dezenas de
beijos na minha barriga e Matheus a pega no colo para que eu possa beijá-
la.
— Comporte-se, ok princesa? Te vejo de manhã. — Digo beijando
sua testa.
— Está bem, mamãe.
Nos despedimos e Matheus me ajuda a descer as escadas. Luiz
carrega nossas bolsas e as arruma no porta malas. Me acomodo no carro
cuidadosamente e fico aguardando Matheus.
Ele entra, respira fundo e ligar o carro. Agora me dá até uma
ansiedade vendo nossa filha acompanhada de Luiz, Alice e Sabrina,
acenando para nós.
Victor está extremamente agitado em minha barriga e eu já nem sei
distinguir contração de porrada. Theus dirige excessivamente cuidadoso e a
lentidão me deixa nervosa o bastante. Não há motivos para ir tão lento.
— Você pode dirigir um pouco mais rápido? A estrada está vazia,
são uma da manhã e eu sei da sua capacidade de dirigir bem mais rápido
que isso!
— Se eu dirigir rápido demais e Victor resolver nascer no carro? Eu
vou morrer, Vic!
— Ele não vai nascer dentro do carro. Não é assim como você está
imaginando. Mas, eu ficaria agradecida se você dirigir rápido porque dói
um pouco. Se fosse uma dor forte seria mais fácil lidar do que com que essa
dor fininha agoniante. — Explico.
— Você é muito sádica mesmo. Prefere uma dor forte... — Protesta
me fazendo rir.
— Dor fininha é desesperadora, Matheus. Você que deveria ficar
grávido, princeso. Eu iria rir durante três décadas. Você é maior molezinha.
— Provoco.
— Vic, eu não me sinto pronto para chegar no hospital. Sinto que
preciso de apoio emocional. Ricardo vai vir?
— Você não está falando sério, está? — Questiono chocada.
— Diga que é tranquilo, que você e o bebê não correm perigo? Eu
tenho pânico de imaginar isso Vic, você estará sendo aberta, merda! Não
quero imaginar. Talvez o parto normal seja melhor opção agora. — Eu vou
matá-lo!
— Você não vai decidir meu parto, Matheus Albuquerque. Me
encheu por mais de seis meses implorando a cesariana e agora quer que eu
mude? Não quero! Se o seu pau já machuca entrando em mim, imagina um
bebê saindo? Nem fodendo! Não mesmo! Bebês tem big cabeças e ombros.
Não, não e não!
— É, isso é estranho né? Sei lá, é estranho saber que meu esperma
fez um ser humano. Não é louco isso, Vic? Um simples líquido viscoso
criou um ser humano, assim, do nada. — Jesus, estamos mesmo
conversando sobre isso?
— Do nada? Foram litros e litros de esperma, querido! Você parece
um cavalo ejaculando.
— Credo, Victória! Você é insensível demais, Elsa! — Reclama e
vejo o hospital passar diante de nós.
— Matheus, você acabou de passar do hospital.
— Eu sei. — Diz simplesmente. — Sei lá, estou nervoso. — Eu
bato em seu braço com toda a força que possuo. Ele não pode estar falando
sério!
— Matheus Albuquerque, eu estou parindo, inferno!!!
— Calma! Eu estou dando a volta para entrarmos no
estacionamento da parte de trás. Você acha que eu sou maluco? —
Questiona rindo.
— Eu tenho certeza sobre isso.
Ele realmente estaciona na parte de trás e me dá um beijo
cinematográfico antes de sair do carro.
Fico aguardando até ele surgir com uma equipe de enfermeiros
carregando uma cadeira de rodas. Se não fosse anormal, não seria Matheus.
Não havia necessidade, mas, tudo bem. Eu vou linda e gloriosa sentada na
cadeira de rodas. Sou empurrada por dois enfermeiros enquanto Matheus
carrega as bolsas. A médica já está nos aguardando, morrendo de rir.
— É filho de Arthur Albuquerque mesmo!
— Com toda certeza. — Digo rindo e fico de pé.
— Como você está sentindo, Vic? Preparada? — Ela pergunta.
— Sim. Uma dorzinha chata e incômoda.
— Ok, vamos começar a preparar tudo. Vamos assinar alguns
papeis aqui na recepção e então você será encaminhada para o seu quarto,
onde faremos algumas verificações. — Explica.
Ficamos vinte minutos na recepção. Matheus é quem passa todas as
informações, incluindo financeiras. Em alguns momentos aperto o balcão
movida pela dorzinha. Dá umas fisgadas que dá vontade de chutar tudo.
Acabo me sentando novamente na cadeira.
— Está tudo bem? —– Ele pergunta preocupado.
— Sim. — Minto para não o desesperar.

— Não está. Sei quando está mentindo. — Afirma e se volta a


recepcionista. — Dá para acelerar o processo logo? Ela está em trabalho de
parto. Meu cartão já está com a senhorita, então basta passá-lo. — Diz
educado, porém, com uma firmeza assustadora.
A recepcionista fica doidinha digitando em seu computador. Não
demora nem dois minutos para que ela libere nosso acesso. A dor começa a
aumentar conforme os minutos vão passando. Eu sinto que vou explodir a
qualquer momento. Está tudo lento demais!
O enfermeiro está me conduzindo ao elevador com uma lentidão
irritante. Estou perdendo a paciência, juro por Deus!
— Dá para ir mais rápido, por favor??? — Peço e ele faz. Matheus
agora está totalmente sob tensão e eu me declaro culpada.
Nós subimos seis andares até chegar ao andar do meu quarto. Em
cada porta há cegonhas enfeitando. Na porta do meu quarto está uma grande
cegonha azul. Merda, eu esqueci das lembrancinhas dos visitantes, esqueci
do nome do Victor para ser colocado à porta. Isso não importa agora. O que
importa é que eu vá logo para o centro cirúrgico.
Uma enfermeira já está me aguardando. Ela me entrega um avental
e Matheus me ajuda a tirar toda a roupa e vesti-lo no banheiro. Ele me
abraça por trás e beija meu ombro.
— Minha sardinhas bonitinhas. Te amo muito.
— Também te amo, Theus. — Uma pontada mais forte surge
fazendo com que eu me apoie na pia. — Puta merda, se eu quisesse dor
tinha optado pelo parto normal, caralho!
— Vamos logo. A enfermeira diz que precisa te examinar. — Ele
me ajuda a voltar para o quarto e então passo por uma série de inspeções.
Estou desesperada quando Mari e minha mãe irrompem pelo quarto.
— Filha...
— Mãe, está doendo pra caralho agora! Eu odeio cólica, mãe, a
senhora sabe disso! Eu ODEIO!!!
— Vai melhorar, Vic. A médica já está preparando o centro
cirúrgico. — Ela diz pacientemente.
— Como vocês chegaram tão rápido? O aeroporto fica distante.
— Pousamos aqui hospital. — Diz me deixando boquiaberta.
— Aqui tem pista de pouso, Vic. — Mari explica rindo. — Não
somos tão loucos. Arthur entrou em contato com o hospital para
autorização.
— Onde todos estão?
— Seu pai, Arthur e os rapazes foram beber uma cerveja no bar
aqui da frente. — Minha mãe explica com naturalidade.
— O que???
— Sim, filha. Comemoração. — Ela explica e eu vejo Matheus
abraçado fortemente à Mariana. Tão lindo. Acho que ele está chorando e
tentando esconder isso de mim. — Ele é um fofo, não é? — Ela suspira
sorridente.

— Extremamente. — Sorrio. — Porra!!! Não quero parto normal,


caralho!!! — Grito.
— Calma Vic. — Mari diz pegando em minha mão. — Essa porra é
fodida pra caralho.
— Mãe, você não está ajudando.
— Ok, eu e Liz teremos que descer antes que os seguranças venham
nos buscar. — Mari avisa e eu quero chorar.
— Vocês não foram liberadas? — Matheus pergunta.
— Óbvio que não né, Matheus. — Informa com a tranquilidade de
quem burlou as regras do hospital. Nem meu parto é normal, como posso
exigir que minha família seja?
Após me beijarem na testa, a dupla dinâmica se vai.
— Você sabe que nosso Sadbebê vai nascer, não sabe? — Theus
pergunta sorridente. Ele parece que fumou maconha!
— Sei. Eu preciso me desculpar com você... se a médica demorar
muito tempo talvez eu vá dizer coisas que não quero dizer, movida pelo
desespero...
Ele me olha com seus olhos brilhando. Um olhar compreensivo e
cheio de amor. Ele me beija delicadamente e uma outra contração surge...
— Merda, Matheus!!! Diga qualquer coisa que me faça distrair
disso.— Imploro agarrando sua camisa.
— Bom... é... ele vai se parecer comigo como Isis disse. — Ele diz
sorrindo. — Mas, eu gostaria que ele se parecesse com você também. Quero
que ele seja uma mistura de nós dois. — Meu coração se derrete um pouco
com as palavras. — Gostaria que ele tivesse um pouco das suas sardinhas
bonitinhas.
— Eu quero todos os nossos filhos se pareçam com você. —
Afirmo.
— Eu acho Isis parecida com você, na verdade. Ela é linda como
você. — Ele beija minha testa. — Você é a mulher mais linda do universo,
assim como Isis é a garota mais linda!
— Bom, papai, você precisa preparar para ir para o centro cirúrgico.
— Minha médica surge informando.
— Nem por um caralho vou deixar minha mulher sozinha! — Ele
esbraveja com ela.
— Você precisa se vestir se quiser acompanhar o nascimento do seu
filho, Matheus Albuquerque Barcelos! Não me faça brigar! — Ela
repreende e ele suspira.
— Eu já encontro você, pequeninha. — Ele me dá um último beijo,
faz o dedo do meio para a médica e se vai quando o maqueiro chega para
me pegar.
Eu vejo Matheus sair pela porta e a realidade bate com força em
cima de mim: meu segundo filho vai nascer! Isso é tão louco!!!

— Papai de primeira viagem? — A enfermeira que está me


conduzindo para um lugar desconhecido pergunta.
— Tecnicamente sim. Tenho uma filha, mas não pude estar presente
no nascimento dela. — Explico.
— Oh, compreendo. Então é de primeira viagem. Certamente está
nervoso agora.
— Completamente. — Concordo bastante monossilábico.
— O senhor pode ficar sentado aqui aguardando. — Ela aponta para
uma cadeira e eu me acomodo. Enquanto é isso, estou uma bagunça
completa. Estou suando frio, o coração batendo acelerado em meu peito, a
tensão paira no ar a cada batida do ponteiro do relógio à minha frente. Sou
capaz de ouvir o som dele se movendo. Silêncio nunca foi tão desesperado
como hoje.
Eu só consigo pensar em como quero que dê tudo certo. Nem
sequer sei se é o momento ideal para Victor nascer. A cesariana estava
prevista para daqui duas semanas. Isso o faz prematuro? Não sei, merda.
Realmente meu entendimento sobre medicina é falho. Sei muito sobre
direito, até sobre administração. Mas, medicina não é algo que eu domino
de forma alguma.
Demora o que parece uma eternidade para a enfermeira voltar e me
entregar uma pilha de roupas hospitalares. Ela me indica um banheiro e eu
não demoro a me vestir.
Minutos depois, com o coração acelerado, o nervosismo a todo
vapor, os olhos nublados em emoção, caminho rumo ao centro cirúrgico.
Em meio ao turbilhão de emoções, meu coração se estabiliza quando me
coloco do lado da minha mulher chorona. Seus olhos estão marejados e ela
está demonstrando uma certa insegurança, o que não é tão assustador. Acho
que todo mundo que entra num centro cirúrgico enfrenta um pouco de meio
e receio.
— Estou aqui com você, pequeninha. Só saio daqui com nosso bebê
em meus braços e com a certeza de que você está bem. — A tranquilizo
quando estou desesperado.
— Eu te amo tanto. Eu agradeço a Deus o tempo todo por ter me
escolhido para ser sua mulher. — Ela diz aquecendo meu coração.
— Eu quem sou um sortudo filho da mãe por ter você, Vic.
— Agradeço a Ele por ter dado o melhor pai aos meus filhos. Um
pai meio maluco, tarado, que fala coisas absurdas o tempo todo e que me
faz sentir a mulher mais amada, desejada e linda do universo.
— Talvez seja porque você merece que eu a faça se sentir assim
todos os dias. Porque você é linda, especial, forte, safada, uma mãezona,
um mulherão... Você me completa, Victória Albuquerque.
— Nós sabemos ser românticos em algumas situações, princeso. —
Ela diz rindo em meio as lágrimas.

— Nós sabemos ser românticos até fodendo, Vic. — Digo em seu


ouvido. — Eu acho que aqueles sete anos de afastamento foram necessários
para nos tornarmos o casal que somos hoje. Todo aquele sofrimento do
passado nos moldou, meu amor. Somos muito mais fortes do que seríamos
se nada daquilo tivesse acontecido e valorizamos mais o que existe entre
nós.
— Eu sempre vou me arrepender, Theus. Por alguns anos eu fui
fraca.
— Mas sua fraqueza serviu para acumular forças. Hoje você é uma
fortaleza, princesa. Está aqui, tagarelando, enquanto os médicos trabalham
em trazer nosso filho. — Sorrio.
— Te amo muito, papai. Eu acho que nosso filho acaba de chegar
ao mundo. — Ela diz chorando e dessa vez é sério. Meu coração realmente
para de bater ao ouvir um choro constante. Eu sei que vou desmaiar se
olhar, sei que vou. Minha força está concentrada nos olhos da minha esposa,
se ela desviar o olhar do meu eu vou cair durinho.
— Meu filho nasceu! — Sorrio orgulhoso e o pior acontece. Ela
desvia o olhar. Merda! Fodeu! Que os deuses do desmaio me amparem.
Eu acompanho seu olhar e então encontro um Sadbebê sendo
segurado pelas pernas. Eu quero matar a médica por isso, mas estou bambo.
— Matheus, fala comigo! — Ouço a voz de Vic. — Merda, Theus...
conte de um a três e respire.
Estou vendo meu filho nascer. Ele está ali. O maior sonho da minha
vida!
Eu tento, juro por Deus que eu tento. Luto com toda minha força
para me manter firme, mas perco por completo a força do meu corpo, a
capacidade de raciocinar e assimilar, a capacidade de lutar e o mundo fica
completamente escuro por alguns minutos... completamente escuro.
Quando acordo estou com a cabeça deitada ao lado de Vic, que está
fazendo um cafuné.
Me desperto por completo e então a encontro abraçada a um
pacotinho. Meu coração ameaça parar mais uma vez.
— Sadbebê! — Exclamo chorando. Meu filho está nos braços da
minha mulher. Eu nunca serei capaz de esquecer essa imagem. É a coisa
mais linda da vida.
— Matheus, estou muito brava com você. — A médica diz tirando
minha atenção. — Perdi cinquenta reais por sua culpa!
— Como assim? — Vic pergunta.
— Apostamos mulheres contra homens da sua família que Matheus
não desmaiaria. — Explica à Vic e se volta para mim. — Você desmaiou,
nós mulheres perdemos. — Ela ri e então fico de pé. Minha família é fodida
e doentia! Definitivamente! Eles riem da desgraça dos outros.
— Vou processar todos vocês! — Ameaço com seriedade.
— Vai nada! Você desmaiou mesmo. — Ela rebate e então viro para
minha esposa.
— Posso pegá-lo?

— Você teria sido o primeiro a pegá-lo se não tivesse desmaiado. —


Vic diz rindo.
Eu pego meu filho em meus braços. Ele é tão pequeninho. Destoa
pra caralho do tamanho dos meus braços. Sei que ainda está inchado, mas
ele tem as feições da Vic. Seus olhinhos minúsculos estão bem abertos e
eles são azuis. Azuis como os de Isis. Eu memorizo cada detalhe de seu
rostinho perfeito. Toco seu narizinho arrebitado e suas bochechas macias.
Sua mãozinha está na boca e eu a retiro, sou surpreendido com ele
agarrando fortemente meu dedo.
— Ei Sadbebê, bem-vindo. — Sorrio chorando. — Você é tão lindo,
filho. Papai ama você. — Ele é perfeito pra caralho. Muito perfeito. Perfeito
como Isis. — Doutora, ele tem as duas bolas? — Brinco.
— Geralmente os pais contam os dedinhos, não as bolas. — Ela ri.
— Obrigado, Vic. — Digo a fazendo engolir seco. Eu quis essa
criança absurdamente. Minha Vic passou por cima do medo, dos receios
devido à fase de tratamento psicológico e me deu o maior de todos os
presentes. Isso significa muito. Além de muito. — Ele é tão gordinho.
— Ele é forte. — Ela responde.
— Forte como a mamãe. Seja como sua mãe, ouviu garotinho?
Forte, guerreiro, verdadeiro.
— Seja como seu pai. Forte, generoso, bondoso, fofo. — Ela diz
rindo. — Você é muito fofo sendo pai de bebê, Theus. Não vou aguentar a
pressão psicológica de vê-lo com um bebê todos os dias.
— É isso que mamãe falou, bebê. Papai é fofo assumido. —
Converso com meu garoto.
— Vamos precisar levá-lo, papai. Você pode acompanhar todo o
processo. — Um pediatra diz e eu olho para Vic, não queria deixá-la.
— Vá, eu ficarei mais tranquila se você puder estar com nosso
bebê. — Me abaixo até ela com o pacotinho e a beijo. Ela sorri e beija a
testa dele. — Obrigada, Theus.
— Eu quem agradeço você. Nós seremos muito felizes, Vic,
acredita em mim?
— Eu acredito. — Ela diz com firmeza.
“Não sei se o mundo é bom
Mas ele ficou melhor quando você chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim?”
Nando Reis – Espatódea

Há um ser humano minúsculo em meus braços. Ainda não consigo


acreditar.
Estou indo levá-lo ao berçário e todos nossos familiares poderão
acompanhar através da vidraça.
Meu embrulhinho é tão leve e fofo. Porra, ele é muito mais fofo que
eu e eu sou fofo pra caralho. Estou deslumbrado. Já tive com outros bebês
em meus braços, mas esse é apenas diferente. É diferente porque é meu
filho.
Quando entramos na enorme sala, já consigo ver todos do outro
lado, divididos entre sorrisos e lágrimas.

Eu me aproximo da parede de vidro para que todos possam vê-lo.


Victor está com os olhos bem abertos, parece atento a tudo. Vejo Bernardo
perguntar por mímica se eu desmaiei e coloco a mão no meu pau
sinalizando para ele me chupar. Babaca! Eu desmaiei, caralho, não estou
acostumado a lidar com emoções de grande porte. Só não desmaiei no dia
que conheci Isis porque o ódio estava me cegando. Caso contrário acho que
teria desmoronado.
Eu abaixo com ele para que Maria Flor, Heitor e Arthurzinho
possam vê-lo. Maria Florzinha está praticamente beijando o vidro, isso me
faz rir. Brinco de "tocar" o nariz dela através do vidro e ela faz uma careta.
Merda, agora me sinto culpado por Isis não estar aqui, mas eu não sabia que
as crianças viriam. Nem sequer tive tempo de pensar nessa possibilidade.
De qualquer maneira isso me deixa um pouco chateado.
A enfermeira me chama. Quando me viro minha filha está aqui,
diante de mim, usando uma enorme touca para tapar seus cabelos, um
protetor de sapatos e um jaleco enorme.
— Ei princesa! — Digo emocionado. — Como você veio?
— Vovó Liz ligou e tia Alice me trouxe. — Ela explica e só então
me dou conta de que ela não tem altura para ver o irmão. Me abaixo e ela
limpa as lágrimas dos olhos.
— Seu irmãozinho, princesa.
— Ele é lindo, papai. É pequeninho igual você chama a mamãe. —
Diz. — Posso tocar ele?
— Pode, bem de levinho, ok? — Explico e então ela passa o
indicador na testinha dele.
— Vou poder brincar com ele quando formos para casa? — Sorrio
com a pergunta.
— Claro que vai. Você vai ajudar a mamãe e o papai a cuidarem
dele? Vai ter que ajudar a dar banho, trocar fraldinha de caquinha...
— Eu ajudo, menos trocar fralda de caquinha. — A senhorita
espertinha ri.
— Assim não vale, garota. Bom, agora papai vai entregá-lo à tia
enfermeira e nós vamos acompanhar juntos tudo que ela vai fazer com ele
ok?
— Está bem, papai. Cadê minha mãe?
— Ela está lá no quarto da cegonha, já já ela estará no outro quarto
e você poderá vê-la. — Explico.
— Está bem. — Ela sorri e eu fico de pé para entregá-lo. Merda, eu
não quero entregá-lo. Sei lá, não quero soltá-lo, ele parece tão frágil.
— Vamos, papai? — A enfermeira diz e relutante entrego meu
Sadbebê.
Pego Isis no colo e ficamos observando os procedimentos. Ele é
pesado, medido, passa por alguns exames. O terror começa quando a
mulher surge com uma injeção.
— Injeção no meu bebê? — Questiono.
— Sim papai, é só um a picadinha. É vitamina K, importante para
prevenir hemorragia, também daremos a de Hepatite B. Já aplicamos
também o colírio nitrato de prata para prevenção de conjuntivite.
Eu viro o rosto quando ela vai aplicar e pego todos rindo da minha
cara. Gostaria de mandá-los tomarem em seus respectivos cus, mas me calo
em respeito à Isis. Meu filho chora e eu quero pegá-lo novamente, porém,
não atrapalho os procedimentos.
— O senhor vai querer tatuar o pezinho? — Questiona e então eu
olho para Isis. Seria incrivelmente foda tatuar o pé dele onde descansa a
cicatriz da minha cirurgia, mas não é justo com minha filha, por isso
dispenso. Não quero que ela se sinta inferior ou diferente do irmão. Tatuar o
pezinho dele e não possuir o dela, seria injusto.
A aperto mais forte em meus braços e cheiro seu pescocinho. Eu
sou perdidamente apaixonado por ela, de um jeito inexplicável. Meu maior
medo é que ela se sinta inferior ou deixada de lado pela chegada do irmão.
Preciso agradecer a Liz por ter pensado por mim e por Vic. Só o fato dela
estar aqui, junto com todos nós e participando dos primeiros momentos do
irmão, já significa muito para mim e para ela, tenho certeza.
Quando chega o momento de escolher a primeira roupinha que
Victor vai vestir, deixo que ela escolha tudo, e sou surpreendido quando ela
escolhe, sem saber, uma roupinha que eu mesmo comprei. Victor começa a
chorar absurdamente enquanto as enfermeiras terminam de vesti-lo. O pego
em meus braços novamente e ele se acalma, como um anjo.
— Vamos levá-lo para a mamãe agora, princesa. — Explico a Isis e
ela sorri sem soltar da minha mão.
Caminhamos acompanhados da médica filha da puta que apostou
meu desmaio.
— Te dou cem reais para dizer que eu me mantive firme. —
Proponho ao entrarmos no elevador.
— E perder a oportunidade de te ver sendo zoado?
— Vou fazer minha mulher trocar de médica, você vai ver! Teremos
mais seis filhos e irei escolher a nova médica pessoalmente. — Aviso a
fazendo rir.
— Oh! Bebê da Mariana, vai ficar com raivinha?
— Vou! Custa falar que eu fui sujeito macho e fiquei lá, fortão,
fodão ao lado da minha esposa?
— Custa! Como eu disse, eu economizaria cinquenta reais, mas
perderia a chance de ver a zoação. — Ela é filha da puta mesmo!
— Você é o cão!
Nós chegamos no andar, mas, antes de abrir a porta, a megera diz:
— Evite ficar fazendo Victória falar muito nessas primeiras vinte e
quatro horas. Fale só o necessário.
— Tudo bem. — Ela abre e então minha sardinhas bonitinhas está
deitadinha assistindo TV como se não tivesse acabado de passar por uma
mega cirurgia.
Isis corre até a cama e segura a mão de Vic que está chorando
enquanto me olha.
— Você veio ver seu irmãozinho? — Ela pergunta a Isis.
— Ele é lindo, mamãe. Eu que escolhi a roupa dele e ele tomou
injeção!
— Pobrezinho.
— Foi maior sacanagem fazerem isso com meu filho.
— Matheus, nos primeiros meses as vacinas são constantes. — A
médica explica e eu faço uma careta apertando meu bebê.
— Nem fodendo!
— Nem comece, Matheus Albuquerque. — Vic me repreende e
uma enfermeira se junta a nós. A megera tenta tomar Sadbebê de mim e eu
quase o esmago.
— Me dê, Matheus!
— Ele parou até de chorar, deixa ele quietinho aqui. — Justifico.
— Ele precisa mamar, Theus. — Victória diz rindo. — Eu sabia que
seria assim. Ele vai agir como se Victor fosse um bichinho de estimação.
— Ele é! — Sorrio. — Ele é tão pequeninho Vic.
— Não tive muito tempo para ver meu filho já que você
monopolizou o garoto! — Ela reclama. Tadinha. Fico com dó, tanto que o
levo para ela dar uma olhadinha.
— Você quer pegá-lo? — Pergunto provocando e o afasto dela. Eu
adoro agir como um pré-adolescente, quebrar um pouco da seriedade da
vida.
— Eu preciso amamentá-lo, Matheus! Eu vou pegá-lo nem que eu
tenha que levantar dessa cama!
— Credo, não sabe brincar. — Rio e então o coloco em seus braços.
Ela fica linda assim, com um pacotinho em seus braços e uma princesinha
sentada ao seu lado na cama. Eu sou muito maricas por estar emocionado,
mas aqui nessa sala, nesse momento único, encontram-se três pessoas que
são minha vida todinha.
É incrível esse momento porque Vic está colocando seu seio para
fora e eu nem estou ficando de pau duro. Apenas estou achando a cena mais
linda de toda minha existência. É um momento puramente maternal, onde a
minha mulher é capaz de produzir o alimento do meu filho. Eu nunca serei
capaz de entender a natureza feminina, ela é desafiadora e completamente
bela.
O leite não sai nos primeiros minutos, isso deixa Victor um pouco
nervoso. A enfermeira tem que auxiliar Vic, fazendo uma série de
procedimentos assustadores e então Victor começa a sugar avidamente.
Vejo algumas lágrimas fugitivas escorrendo pelo rosto da minha mulher e
eu imagino o quão foda ela deve estar se sentindo nesse momento. Há
pessoas que ainda tem a capacidade de dizerem que mulher é o sexo frágil.
A minha mulher é a mulher maravilha. Eu antes imaginava como
ela era com Isis desde o nascimento. Agora eu estou vendo com meus
próprios olhos como ela sabe tão bem como lidar com um bebê. Ninguém
aqui dentro dessa sala desconfia de tudo que ela viveu. Diante de todos nós
está uma mulher carinhosa, apaixonada pelos filhos. Uma mulher que está
conversando com um bebê mamador como se ele estivesse entendendo cada
palavra. Ela oscila entre sorrisos e lágrimas. Passa o dedo pela testinha do
nosso bebê e conversa com Isis ao mesmo tempo.

Não restam dúvidas sobre eu possuir a melhor esposa e meus filhos


possuírem a melhor mãe. Ela consegue ser mil e uma mulheres sendo única.
— Uau, isso doí, hein? — Ela diz. — Isis não tinha essa
voracidade.
— Ele é meu filho, o que você queria? — Digo orgulhoso! Meu
filho sabe o que é bom porra! Tem meu sangue correndo nas veias.
— Eu terei que ouvir piadinhas pelo resto da vida, eu sei. — Ela
sorri. — Deus quis que eu tivesse um mini você, agora preciso aguentar.
— Você terá muitos “eu” e eu terei muitas “você”.
— Sai! Acabei de parir, Matheus. Tem o que? Duas horas? —
Pergunta sorrindo e então faz uma careta de dor assim que Victor mostra
que é sinistro.
— Vic, fique caladinha, amor. A médica mandou. Ou seja, você terá
que ouvir e concordar com tudo que eu disser nas próximas vinte e quatros,
caladinha. — Ela faz uma cara feia, mas acaba sorrindo. — Na verdade, não
sei se confio nessa médica. Doutora Inês pode ser um pouco louca.
— Confia sim, engraçadinho! Eu trouxe seu filho ao mundo. — Ela
se defende.
— É, o único dos meus filhos que você trará, querida. Te ofereço
150, vamos lá, é irrecusável! — Proponho.
— Nem mil reais, Matheus. Aceite que será depredado assim que
sair daqui.
— Vic, você está vendo que ela está fazendo bullying comigo?
Vamos Isis, vamos embora com papai pela porta dos fundos!
— Quero ficar com mamãe e meu irmão. — Minha pequena
traidora diz.
— Estou sozinho nessa!
— Acho que ele está satisfeito. Já dormiu. — Vic diz baixinho.
— Me dê ele! — Peço.
— Não!
— Por favor, pequeninha, ele é pequeninho como você. Tão linduxo
e fofucho. — Peço do jeito mais encantador e ela se rende ao meu pedido.
Como dizer não a mim? Aqui sabe seduzir!
Meu pequeno anjo está dormindo tranquilamente, então rodo com
ele pelo quarto.
— Ei, pequeninho. Sadbebê dorminhoco. Papai está muito
apaixonado. Não vou te soltar nunca mais. Você e Isis são meu coração.
Vou guiar vocês dois na vida, sempre. Você será um homenzinho do bem.
Será meu orgulho, eu sinto isso pequeninho.
— Matheus, desculpe atrapalhar seu momento pai, mas vamos
precisar levá-lo.
— Nem fodendo!
— É importante para ele ser acompanhado nas primeiras vinte e
quatro horas, nós o traremos para mamar de três em três horas. — Eu odeio
essa médica.
— Mas...
— Theus, ele precisa mesmo ir, amor. Foi assim com Isis também.
— Minha filha pode dormir comigo? — Peço a médica e ela ri.
— Vic, como você dá conta desse homem? Quase dois metros de
altura, uns braços assustadores e age como um garotinho indefeso e
chantagista?
— É sofrido. — Vic diz rindo. — Mas, ele sabe ser totalmente
diferente disso. — Ela me olha de um jeito que eu até entrego meu filho. Só
seu olhar já diz que ficarei com bolas roxas todo o resguardo. Tá
repreendida.
— Adeus, filho, papai te ama. Se te encherem o saco na incubadora
me avise que eu quebro o hospital. — Digo ao meu mini.
— Quanto drama, senhor!
— A senhora é desprovida de sensibilidade, agora deixe eu, minha
esposa e minha filha, que somos pessoas do bem e nos amamos acima de
todas as coisas.
— Vic, meu amor, evite falar. Matheus, infelizmente Isis não poderá
ficar. Mas ela poderá vir pela manhã, aposto que você não vai se importar
dela perder um dia de aula para curtir o irmãozinho.
— Tudo bem. — Isso me parte o coração merda. — Filha, despeça
da mamãe ok? Amanhã irei te buscar cedinho.
— Tudo bem, papai. Te amo mamãe. — Ela diz beijando Vic, que
começa a chorar. Nós somos muito sensíveis, isso é foda, porque eu quero
chorar, mas não vou porque sou sujeito macho.
Deixo um beijo na testa de Vic e vou levar minha princesa para
nossa família. É aí que o bicho que o pega, porque quando surjo na sala, sou
ovacionado, vaiado, tudo junto. Não sei como eles já sabem que eu
desmaiei. Bando de filho da puta.
— Vão todos para o inferno! — Desejo principalmente a Bernardo,
que está rindo de dobrar a barriga.
— Parabéns, filho! Estamos muito felizes por vocês. — Meu pai me
parabeniza, e minha mãe se junta ao abraço.
— Obrigado, pai. Obrigado, mãe! É inexplicável, de verdade.
— Vamos deixar para te zoar quando tiver em casa, porque estamos
no hospital. Mas, parabéns aí, cara! Estou feliz por vocês. — Bernardo diz.
— Obrigado irmão. — Sorrio e abraço todos. — Preciso ir, não
posso deixar Vic sozinha.

Pense nas coisas mais fofas do universo? Victor é uma delas, mas
Matheus também é. Eu já tinha visto ele, aos dezessete anos, com
Arthurzinho nos braços muitas vezes. Mas nada se compara ao que estou
vendo agora. O amor dele está transbordando e ele não tem nem mesmo
consciência disso. Seus olhos estão brilhando em alegria e ele está
conversando com Victor há pelo menos dez minutos enquanto anda pelo
nosso quarto.
Tive alta essa manhã, dois dias após o nascimento do meu pequeno
príncipe. Ele é tão bonzinho. Só chora quando quer mamar, dorme bem e
gosta de ficar longos minutos olhando para o nada. Ele só é voraz na hora
de mamar, por isso estou tendo que usar quilos de pomadas especiais nos
seios. Acontece que, nesse exato momento, o mesmo momento em que
Matheus está fazendo fofice, eu estou sentindo que vou morrer de dor, pois
meu leite está empedrando. Eu passei por isso com Isis e não me lembrei
que deveria ter comprado a merda da bombinha, até a médica disse isso e eu
ignorei.
— Theus, ele dormiu? — Questiono interrompendo seu assunto
com Victor.
— Sim.
— Você pode colocá-lo no berço? Eu preciso que ligue para uma
farmácia. — Peço e ele prontamente coloca Victor no bercinho pequeno que
colocamos no nosso quarto para esse início.
— Está sentindo algo?
— Meu leite está empedrando, isso dói como o inferno, pode vir a
me dar febre. Preciso de uma bombinha de tirar leite manual.
— Ok, é só pedir isso como você está falando mesmo ou tem um
nome especial? — Pergunta atencioso.
— Só isso, bombinha de tirar leite manual, eu prefiro da Avent,
pergunte se tem, se não tiver pode ser outra.
— Vou pessoalmente comprar na farmácia do condomínio. Já volto
princesa. — Informa me dando um beijo na testa e se vai. É então que posso
demonstrar meu desespero. Merda! Mando um SMS para minha mãe que
está no andar de baixo e peço que ela prepare um pouco de água morna e
algumas compressas.
Ela e meu pai resolveram ficar uns dias e estou mais do que
agradecida por isso.
Não demora muito para que ela suba e eu fico de pé. É uma merda
que eu não consiga ficar com a postura totalmente ereta, a verdade é que
tenho pavor de cirurgias e tenho um nervoso absurdo de ficar de qualquer
outra forma que não seja curvada. Inclusive para tomar banho tem sido uma
merda, as enfermeiras estavam me auxiliando porque tenho pânico de tocar
na minha barriga. É tão esquisito, até ela voltar ao normal sinto que não
conseguirei tomar banho sozinha.
— Leite empedrando?
— Dói muito. Eu tentei não demonstrar, para Matheus não ficar
desesperado. Mas está doendo muito, mãe. — Digo limpando uma lágrima.
— A maternidade nua e crua. — Ela sorri. — Vamos lá, retire o
sutiã. Na verdade, Vic, seria bom você tomar um banho de água morna e
massagear os seios, iria jorrar leite.
— Mas, não consigo tomar banho sozinha.
— Vamos tentar a compressa. Se não der certo, vamos para o
banho. — Ela diz calmamente tentando me tranquilizar e então coloca duas
compressas sobre meus seios. Tento apertá-los, mas dói absurdamente,
então começo a chorar de desespero. Eu sofri quando Isis nasceu e isso está
se repetindo.

— O que está acontecendo? — Meu homem possessivo entra no


quarto com a sacola da farmácia.
— Leite empedrando, é normal. Seria melhor se ela tomasse um
banho, deixando a água morna cair sobre os seios e massageando
levemente. — Minha mãe explica.
— Ei pequeninha, vamos lá, eu darei banho em você.
— Não. Você vai me ver como uma vaca leiteira e vai perder o
tesão em mim.
— Você está falando sério? — Ele questiona como se não estivesse
acreditando no que eu acabei de falar. É normal minha insegurança, ele é
um homão completo e eu estou numa fase onde glamour não existe. Sempre
tentei ser o mais sexy que podia para ele e agora estou num estado de
vulnerabilidade completo.
— Eu farei isso sozinha.
— Mas, você tem nervoso. Caramba, não acredito que esteja
pensando nisso. Eu nunca perderei o tesão que sinto por você. Nunca. Não é
possível que tenha dúvidas em relação a isso. — Theus argumenta.
— Ok, vou deixá-los porque sei que Vic está em boas mãos. Se
precisarem de mim basta chamar. — Minha mãe avisa se levantando e se
vai deixando-nos.
— Vamos, amor, confie em mim. Eu te amo, te desejo e estou
contando os minutos para poder te mostrar o quanto de tesão tenho dentro
de mim assim que o resguardo acabar. — Ele sorri e eu choro. — Não, nada
disso, mocinha.
— Minha barriga está flácida e meus seios...
— Seus seios são os meus garotos. As coisas mais perfeitas do
universo. Vamos lá, não há motivos para insegurança. — Argumenta meio
frustrado e me pega cuidadosamente.
— Promete que não vai olhar para o meu corpo? — Peço enquanto
caminhamos a passos lentos para o banheiro.
— Eu prometo, mas é só porque eu já não ia olhar mesmo. Se eu
olhar vou querer fazer sexo e não podemos. — Quase sorrio. Mas, estou
mesmo insegura. É normal.
Ele me ajuda a tirar a roupa e abre cuidadosamente um por um dos
ganchinhos da cinta. É aí que sinto nervoso, tanto que mordo meus lábios
com força. Ele tira toda sua roupa também, exceto a cueca. Eu entendo o
motivo.
Sou conduzida até o box e Theus abre o chuveiro. Meus cabelos
felizmente estão presos e eu me afasto para que a água não os molhe.
— Nós precisamos massagear, não é? — Pergunta e eu engulo seco
antes de confirmar. Isso é tão... íntimo não é a palavra. — Eu sou seu
marido, princesa. Não apenas no sexo, não apenas nos momentos bonitos.
Você me viu com sonda no pau, Vic.
— É diferente de ordenhar.
— Pare com isso. Eu amo e vou cuidar de você. Você me deu os
dois maiores presentes da minha vida. E em breve me dará mais uns quatro.
— Isso me faz rir em meio as lágrimas. Ele é louco ou se faz de louco?

Suas mãos tocam delicadamente meus seios. O ouço suspirar e


então dar uma risadinha.
— Isso é foda! — Suspira os apertando lentamente. Ele sabe como
tocar seios, seja lento ou brutalmente, faz isso maravilhosamente bem. —
Porra! Vic, estou muito puto com você agora. Como pode dizer que eu não
vou sentir tesão por você? — É... ele está realmente duro contra minha
bunda, mas não posso focar nisso. Eu abaixo minha cabeça e o observo
massagear meus seios. Aos poucos vou vendo leite escorrendo pelos dois e
se misturando com a água. Tudo mudará de forma na hora que eu estiver
tirando leite com a bombinha, não será tão bonitinho ou confortável quanto
tê-lo tocando meus seios. — Está ajudando?
— Sim, bastante. Eu preciso tirar com a bombinha, pois é um
desperdício enorme deixar o leite descer com a água.
— Tudo bem. Então precisamos nos secar e faremos isso. — Diz.
— Matheus isso é... estranho.
— Iremos ter a primeira briga séria se continuar insistindo com
isso. E eu não quero brigar, não quando sou o homem mais completo, feliz e
realizado. Não há nada estranho. Temos intimidade o bastante, é uma nova
fase do nosso relacionamento e eu irei aproveitá-la. Farei tudo que estiver
ao meu alcance para que se sinta bem, segura consigo mesma. Não coloque
problemas onde não há, Vic. Você é minha esposa, acabou de ter um bebê.
— Desculpa, mas é que quando tive Isis, era mais eu por mim
mesma. É um momento onde não existe glamour, principalmente nos
primeiros dias.
— Não estou interessado em glamour, Vic.
Ele desliga o chuveiro, pega a tolha e fica esperando que eu saia.
Quando finalmente saio tentando cobrir os seios, ele começa a me enxugar
cuidadosamente e me ajuda a vestir o roupão em seguida.
Ele tira sua cueca molhada e eu tento não olhar para o seu pau
ereto. Caralho, isso é doentio, eu sei. Talvez eu deva fazer tratamento para
curar essa fúria sexual.
Devidamente enrolados em roupões caminhamos até o quarto. Ele
limpa os dois aparelhinhos com álcool em gel e se senta diante de mim.
Sim, ele comprou dois, diz ele que é um para cada seio. Achei fofo, mas
exagerado.
— Me dê essas tetas
— Não fale assim. — Choramingo. — Isso é desconcertante. Eu
sou uma vaca agora, você está prestes a ordenhar meus seios. — Ele ri e
então para.
— Ok Vic, mas é algo tão lindo. É o alimento do meu Sadbebê.
Vamos lá, comece você fazendo para que eu possa aprender. — Incentiva e
então exponho meus seios para começar. — Por Deus, isso é pecado porque
é um momento puramente maternal, mas mamava até os 50.
— Não faça piadinhas com isso! — Repreendo segurando o riso.
— Quando o resguardo acabar vou poder chupá-los e apertá-los?
— Não sei. Não sei mesmo como funciona isso. Não fiz sexo no
primeiro ano de vida da Isis. — Explico e ele fecha a cara.

— Tá, vamos lá.


Eu faço em um e jatos de leite começam a escorrer dentro do
compartimento. É horrível de verdade. Matheus parece se divertir.
— Sério, cara, olha a pressão disso?! Não sabia que era assim.
Estão saindo cinco esguichos...
— Ok! Matheus, você entendeu como faz? — Questiono tentando
tirar o foco dele do meu mamilo.
— Sim. É muito sinistro!
— Sinistro? — Questiono rindo para não chorar.
— Caramba, por isso que o moleque não pode ver seus seios. Você
tem muito leite, Vic. É lindo princesa, de verdade. — Eu fico calada porque
não sei o que responder. Ele começa a tirar do outro seio e juntos fazemos a
ordenha. Ele tenta me distrair falando coisas absurdas e até ajuda. Esse
homem é perfeito mesmo!
Quando terminamos, peço a ele para guardar o leite na mamadeira
esterilizada e limpo meus seios. Aliviou consideravelmente, mas sei que
isso será contínuo a partir de agora.
Não acho ruim a amamentação. Claro, dói quando o bebê morde
mesmo que não tenha dentes, dói ter leite empedrado, mas é tão gratificante
e saudável poder amamentar meu filho que passarei por isso quantas vezes
forem necessárias.
— Oi mamãe! — Isis diz surgindo no quarto.
— Oi, meu amor! Estava brincando? — Pergunto.
— Sim, tomei banho e vim ficar com você, papai e meu irmão. —
Diz sorridente. — Papai disse para eu escolher um filme, eu gostaria de
assistir Barbie escola de princesas.
— Claro, vamos procurar então. — Concordo pegando o controle e
ligando a TV. Isis se acomoda no meio da cama, animada e, minutos depois,
Theus se junta a nós. Ficamos assistindo filme até os dois desmaiarem.
Matheus dorme profundamente. Sei que ele está cansado, por isso,
quando Victor chora eu levanto lentamente e o pego. Não sou capaz de
acordá-lo.
— Ei meu amor, você quer mamar, garoto? — Pergunto o
observando morder a mãozinha.
Saio do quarto evitando fazer barulho e vou direto para o quarto de
Victor. Sento-me na cadeira e o amamento até que ele se cansa. Fico
andando de um lado para o outro com ele até ouvir seu arroto. Isso me faz
rir. É tão baixinho. Verifico sua fralda extremamente molhada de xixi, a
troco e fico com ele em meus braços cantando enquanto o faço dormir.
Eu estou apaixonada.
Não apenas pelo meu filho recém-nascido, mas pela vida!
“Fique aqui e eu vou te mostrar
Cada parte de mim está querendo estar perto de você
Não pense, apenas deixe-me mostrar-lhe
Quão incrível poderíamos estar juntos
Não há mais tempo a perder”
Isak Danielson – Stay Here

Embora esteja vivendo a melhor fase da vida, nem tudo são flores.
Victor hoje está completando o primeiro mês de vida.
Victória está completando vinte e cinco dias que não sai do quarto
para absolutamente nada. A última vez que ela saiu, foi cinco dias após dar
à luz, para uma consulta médica e para levarmos Victor para fazer o teste do
pezinho. Esse teste é um episódio que não quero lembrar! Eu quis matar o
enfermeiro que quase torceu o pé do meu bebê e o fez chorar
desesperadamente como nunca tinha chorado antes.
Tenho feito tudo o que está me alcance para mudar isso, porém, não
estou obtendo muito sucesso. Tenho feito pesquisas sobre depressão pós-
parto, já li centenas de artigos e Vic não se encaixa na maioria deles. Ela
continua amorosa comigo, com Victor e com Isis. Ela sorri, demonstra afeto
constante, mas apenas se fechou de todo o restante. Ela não desce nem para
fazer as refeições e sou eu quem tenho levado Victor para tomar sol da
manhã no jardim.
Ela também não se cuida mais. Não que isso seja uma reclamação.
Ela continua linda de tirar o fôlego. Mas, apenas se abandonou. Coisas
simples que mulheres fazem no dia a dia, ela não está fazendo. Como por
exemplo: suas sobrancelhas estão um pouco grandes, suas unhas estão
naturais e eu não sei como andam os demais fatores porque ela não me
deixa avançar o sinal, de forma alguma. Eu sei como agir com ela na
maioria das vezes, mas agora me encontro perdido. Não sei se devo investir
mais firme sobre ela ou se devo apenas respeitar esse momento. A questão
do respeito é que isso pode levá-la a uma depressão. Ela não atende
ninguém ao telefone e não fala com Ricardo, mesmo ele insistindo em
seguir com as consultas. É por isso que, nesse momento, eu estou saindo do
quarto e caminhando em direção ao escritório para conversar com ele. Ele
deve entender que merda está acontecendo.
— Fala sócio. — O imbecil atende a vídeo chamada.
— Sócio é o olho do seu cu! — Rebato enquanto ele ri. — Eu estou
puto pra caralho por ter que te pedir ajuda, seu filho da puta. Mas, não tem
outra pessoa que vá entender. — Digo e ele fica sério.
— Victória?
— Ela se fechou para o mundo. Antes eu achava que era só o
momento maternidade, mas então, de uns cinco dias para cá passei a
desconfiar sobre depressão pós-parto. Porém, ela não evita as crianças. Ela
continua amorosa, ela sorri, ela brinca com Isis e esmaga o Victor nos
braços sempre que ele está acordado. Me ajude a entender.
— Ela tem cuidado de si mesma? — Questiona.
— Não. Ela tem se alimentado direito porque estou praticamente
dando de aviãozinho, mas está emagrecendo do nada. Sei que a
amamentação ajuda no emagrecimento, mas sinto que já está passando dos
limites, entende? E ela só fica no quarto, faz refeições no quarto, toma
banhos relativamente rápidos, está pálida. Não tem apetite sexual de forma
alguma e quando as crianças não estão por perto ela está sempre dormindo.
— Você sabe que um dos grandes problemas de Victória que
estamos tratando é o transtorno de personalidade masoquista. As palavras
chave desse transtorno são: culpa, vergonha e dor. Vic já avançou
significativamente, principalmente no quesito "tenho que sentir dor". Mas,
provavelmente, pelo fato do nascimento de Victor ter sido completamente
diferente do que ela viveu no parto de Isis, ela deve estar sendo consumida
pela culpa e não fala sobre isso. Pessoas que sofrem desse transtorno
acabam construindo situações que inevitavelmente trarão sofrimento a si
mesmas. Eu posso te garantir que Victória está sofrendo e está sendo forte
para resguardar a todos da sua dor.
— Mas, eu não a culpo por Isis e nossa filha está irradiando alegria.
Não há motivos para culpa. — Argumento.
— A questão não é que você a culpa. Você nem mesmo tem culpa
por ela estar dessa maneira, Matheus. A questão é uma batalha dela com ela
mesma. Uma briga interna. Esse transtorno anda lado a lado com a
insegurança também. Então é normal que Victória deixe de cuidar de si
mesma. — Ele suspira. — Envolve muitas coisas, Matheus. Você nem
mesmo é capaz de imaginar. Acredito que Victória esteja rejeitando a si
mesma e a privando de prazer, de se sentir bonita... Como está o
comportamento dela com Isis?
— Excelente. Elas estão mais próximas que antes. Desenham,
brincam de Barbie na cama, Vic faz penteados engraçados. — Sorrio. —
Elas estão lindas e muito bem.
— E Isis, como está conduzindo o nascimento do irmão?
— Muito bem. Ela está muito feliz e vestindo o papel de irmã mais
velha. Na cabecinha dela Victor é seu novo bichinho de estimação. Ela
inclusive já me pediu mais irmãos, na verdade ela quer irmã agora. Mas,
Vic parece que não vai me deixar trabalhar tão cedo nisso.
— Caralho. Quantos dias Victor tem para você já estar pensando em
trabalhar em outro filho? — Ele pergunta.
— Um mês. — Sorrio.
— Porra, você precisa de tratamento psiquiátrico.
— Foi minha filha que pediu, não tenho culpa. Estou aqui para
atender os desejos das mulheres da minha vida. — Brinco e então fico sério.
— Eu sinto que estou perdendo Victória, Ricardo. E isso não tem nada a ver
com drama. Estou falando realmente sério.
— Você não está a perdendo. Victória quer suprir tudo que Isis não
teve no passado. Isso é legal, mas é perigoso também, principalmente por
Isis estar em formação de caráter. É preciso que você controle as rédeas,
porquê Victória pode tentar suprir o que Isis não teve no passado com
coisas materiais... Sei que isso ainda não está acontecendo, principalmente
pelo fato de Victória não sair do quarto, mas já adianto que pode acontecer
e você precisa ficar atento a todos os sinais.
— Eu não pensei nisso.
— Matheus, sei que deve estar perdido e deve estar sendo um
pouco difícil lidar com isso. Mas você precisa continuar sendo o mesmo,
não mude porque ela está passando por uma recaída. Não a mime muito
mais do que você já faz, continue sendo como você era antes de Victor
nascer. O seu jeito de ser e de conduzir as coisas com ela foi o que mais a
ajudou no tratamento. Seja apenas mais analisador. Fique atento aos
mínimos detalhes relacionados a ela...
— Você não pode vir? Eu ficaria imensamente grato se você e
Giovanna pudessem vir. Hoje é sexta-feira, não sei como estão os planos de
vocês. Vic abandonou o tratamento, Ricardo, talvez isso também esteja
ajudando a agravar mais a situação. Acho que ela precisa de uma amiga
também, de pessoas diferentes.
— Falarei com Gi e pegaremos o próximo voo. — Eu quase solto
um suspiro em agradecimento.
— Muito obrigado por isso, cara. Reservarei as passagens, te envio
por e-mail.
— Não, estou indo como amigo e padrinho de casamento. Não se
preocupe com passagem, preocupe-se em preparar um grande estoque de
pães de queijo. — Ele pede rindo.
— Irei mandar buscarem vocês no aeroporto. Me mande uma
mensagem assim que souber do horário. É o mínimo que posso fazer. Me
alivia muito saber que está vindo, cara. Sei o quão importante você é pra
Vic e toda a melhoria que tem conseguido trazer a vida dela, mesmo que em
algum momento você tenha tido a brilhante ideia de tirá-la de mim.
— Você não estava com ela, idiota e foi bom para você enxergar a
mulher que estava perdendo. Na verdade, eu me interessei muito por
Victória sim, a mulher é linda porra, mas estava interessado em te mostrar
que estava sendo um babaca medroso. Consegui?
— Conseguiu, filho da puta! Traga seu filho.
— Sabe, naquela noite quando fui informado que Victória não
voltaria à festa eu fiquei feliz pra caralho. Com a sensação de dever
cumprido! — Ele confessa.
— Ainda te darei um soco no olho.
— Vou lá cara, nos falamos a noite. — Desligo o laptop e volto ao
quarto. Victória está no banho, então invado o banheiro e ela puxa uma
toalha para se cobrir. Merda fodida.
— Sou eu, Vic.
— Eu estou tomando banho.
— Eu sei. Posso te acompanhar no banho? — Peço sondando seu
estado...
— Por favor, não. Eu quero tomar banho sozinha, não fique triste.
— Eu tento não demonstrar tristeza.
— Eu sinto sua falta, Vic. Tanto que você não faz ideia.
— Mas eu estou com você em todos os momentos, só estou pedindo
para tomar banho sozinha. — Justifica. Não é uma discussão, mas é
doloroso da mesma forma.
— Você não está comigo Victória, mas eu vou respeitar sua
vontade. Eu a deixarei tomar seu banho sozinha.
— Não fique chateado comigo. — Ela pede como se estivesse
sentindo dor, mas ao mesmo tempo parece fria pra caramba.
— Está tudo bem. Vou levar Victor para passear aqui na lagoa.
— Theus, não fique chateado comigo, por favor.
— Tudo bem. — Sorrio e a deixo. Pego Victor no berço e decido
que seu primeiro mês de vida precisa ser comemorado.
O coloco no carrinho e passeio pelo condomínio indo até a
Delicatessen, onde encomendo tudo para uma pequena festa. Salgados,
bolos, doces e bebidas.
Em seguida, volto e fico sentado na beirada da lagoa com meu
pequeno. Ele é muito meu amor! Muito calminho. Meus pensamentos
voltam para a mãe dele.
Eu a amo, mas estou apenas um pouco destruído e impotente hoje.
Só queria minha esposa de volta e não sei como conquistar isso. Eu tenho
tentado ser o melhor, mas estou sendo apenas falho.
Respeito o tempo dela, afinal, ela teve um bebê recentemente. A
questão é apenas pelos transtornos que sei que ela possui. Estou com medo,
porque eu consigo vislumbrar um pouco deles na maneira como ela se
portando de um tempo para cá. Não quero que ela seja consumida por nada
disso.
Tenho a compreensão de que ela está sofrendo internamente, mas a
questão é que eu também estou. Nós dois, mais uma vez, estamos sofrendo
pelos traumas que a fazem fraquejar as vezes. Eu comparo com a dor que eu
sentia a cada vez que ela se esquivava de mim na adolescência. Obviamente
agora os extremos são outros, mas a inconstância é quase da mesma forma.
O fato engraçado é que Vic, é a única mulher que tem o poder de
me ferir, mesmo involuntariamente. Por mais que eu seja dominador,
possessivo, imponente, é ela quem conduz a relação. A mulher tem meu
coração nas mãos e o poder de me manipular da forma como quiser. O
poder é todo dela, embora eu demonstre estar por cima.
Como agora, ela me mandou sair e eu apenas fiz. Se ela me mandar
voltar, eu voltarei. É questão de amor mesmo. Um amor que nunca imaginei
sentir na vida por qualquer mulher. Um amor que me faz feliz e tem o
mesmo poder de fazer o inverso.
Eu, que sou um gigante por fora, me sinto uma formiga por dentro.
É aí que a frase "as aparências enganam" faz sentido. Elas enganam mesmo.
Minha mulher é amorosa, sorri, mas por dentro está enfrentando uma
devastação. É tão fodido.
Um som atrai minha atenção e sorrio, esquecendo todo o restante.
— Ei Sadbebê, você acordou moleque! — Sorrio e o retiro do
carrinho. — Você é tão pequeninho, não é mesmo? Parece um ursinho de
pelúcia. — Ele dá seu sorriso banguelo e meu coração quase salta do peito.
Então ele leva sua mãozinha na boca e começa a chupá-la e eu já sei que
isso é com Victória. — Vamos lá, esfomeado, você é muito mamador!
Fico de pé com ele e me preparo para ir embora quando duas
mulheres surgem:
— É seu filho? — Uma delas pergunta.
— Sim. Diga “olá”, Victor. — Brinco e sorrio.
— Que sorriso! Você tem covinhas.

— Ele é tão lindo! Ele tem quantos meses? — A outra pergunta.


— Está completando um mês hoje, não é filho? — Digo ao meu
bebê sensação.
— Victor o nome dele?
— Sim. Victor. — Sorrio mais uma vez e ele começa a chorar. —
Oh Sadbebê, não chore, meu amor.
— Ah que fofo... você parece ser um paizão.
— É um big pai! — A voz de Victória surge atrás de mim.
— Ué, saiu do quarto minha pequeninha? — Pergunto sorrindo e
ela pega o carrinho de Victor e sai me arrastando. — Adeus! — Digo às
duas mulheres.
— Muito bonito!
— Você está maluca? — Questiono. — Aquilo foi falta de
educação!
— Você está proibido de sair com Victor!!! — Ela grita. —
Proibido, Matheus Albuquerque!
— Ele é MEU filho, assim como é SEU filho. Nós temos direitos
iguais, portanto eu vou sair com MEU filho e com a MINHA filha quando
EU quiser.
— Tente a sorte! — Diz batendo a porta da casa atrás de nós e eu a
sigo com meu filho em meus braços. O pobrezinho até parou de chorar.
— O que você quer? Que a gente fique trancado dentro do quarto
com você?
— Eu quero que você me respeite enquanto sou sua mulher! — Ela
esbraveja com toda a fúria.
— Enquanto você é minha mulher? Isso significa que você não será
em breve? — Questiono.
— Me dê meu filho, eu preciso amamentá-lo. — Pede e então eu o
entrego. Ela se acomoda na cadeira do quarto dele e começa amamentaá-lo.
— Você está sendo injusta.
— Você está sendo injusto. Espera o fato de eu não estar saindo
para ficar na lagoa conversando com duas vagabundas! Você é casado!!!
— Eu sei disso, fui eu quem a pedi em casamento e não o contrário.
— Suspiro. — Elas pararam para ver Victor, você queria que eu as
mandasse para o inferno gratuitamente? — Pergunto. — Você quer brigar,
Victória? É isso? Você quer motivos para brigar?
— Eu quero amamentar meu filho neste momento. Agradeceria se
você saísse. Se quiser pode voltar para lagoa. Por que não as convida para
dar um mergulho na piscina? Você sempre gostou de duplas. — Ela não está
falando isso.
— Eu encomendei algumas coisas para comemorarmos o primeiro
mês de Victor. Vou buscar Isis na escola.
— Tem transporte escolar. — Pontua quando ela mesma sabe que
Isis ama que eu a busque na escola.
— Victória, não faça isso. Não faça. Não há motivos. Estou
tentando entendê-la e fazer o melhor por você, mas há coisas que eu não
aceito, desconfiança é uma delas. — Caminho para o nosso quarto e tomo
um banho demorado.

Victória começa a socar a porta e eu começo a ficar puto com ela de


verdade. Muito engraçado, eu não pude tomar banho com ela, mas ela quer
invadir o banheiro. Isso é tão infantil.
— Já estou saindo. — Grito e me seco. Enrolo na toalha e abro a
porta para encontrá-la possuída. — O que foi Victória?
— Você é um idiota! Você não percebe que as mulheres te cantam?
Que elas te olham como se fosse um buffet de luxo? — Isso tudo é ciúmes?
— Não, eu não percebo porque simplesmente não me importo com
elas. — Digo indo até o closet. Pego uma cueca uma bermuda, uma camisa
e começo vestir.
— Onde você vai?
— Vou ficar na sala, posso??? Ou corre risco da Ruth me estuprar?
Se correr me avise, porque sou comprometido.
— Arghhh!!! Odeio você!!!— Ela grita começando a me socar.
— Victória, você quer brigar por diversão, por prazer ou por
masoquismo? — Pergunto segurando seus pulsos. — Dependendo da opção
que você disser, eu até invento alguns motivos para brigarmos direito. —
Ela desvencilha e sai andando. Termino de me vestir e vou atrás. — Olha
Vic, eu tenho tentado. Eu tenho feito tudo que está ao meu alcance, larguei
tudo para estar com você nesses primeiros momentos, porque eu a amo
incondicionalmente. Nada do que eu faço parecer surtir efeito. Então esteja
preparada, porque Ricardo está vindo lidar com você já que eu não consigo.
— Com ovocê pôde ligar para Ricardo sem me avisar?
— Eu só quero que fique bem. Isso é tudo que quero na minha vida,
que você fique bem. Talvez ele consiga algo que eu sou incapaz de
conseguir agora.
— Me desculpa. — Ela pede passando as mãos pelos cabelos. —
Me desculpa!
— Está tudo bem, Vic. Não estou te cobrando nada. Estou apenas
avisando que eu precisei buscar ajuda e que fiz isso porque você é a única
mulher que importa para mim. Eu fiz isso porque eu quero minha mulher de
volta.

São sete horas da noite. Não falei mais com Victória após a
discussão da tarde. Nesse momento, eu e Isis estamos enchendo alguns
balões. Para não a deixar desfocada, eu inventei um mêsversário duplo. É o
primeiro mês de vida do Victor e primeiro mês de Isis como irmã mais
velha. O bolo é metade azul e metade rosa, assim como todos os doces.
O interfone toca avisando a chegada de Ricardo e Giovanna. Isso
faz com que Isis fique louca e saia correndo, me abandonando na missão
decorador.
— Olá! — Giovanna surge na sala.
— Olá, como você está? — Pergunto a abraçando.
— Bem.
— Fala decorador.
— Ei cara, que bom vocês chegaram. — Digo abraçando Ricardo e
Isis sobe com Giovanna.
— Cadê Victória? — Ele pergunta.
— Nós tivemos uma discussão acalorada agora a tarde. Está no
quarto como sempre. — Explico.
— Discutiram por quê? — Pergunta me ajudando a encher balões.
— Ciúmes. Ela provavelmente viu da janela do quarto duas
mulheres conversando comigo e brincando com Victor, isso a fez sair do
quarto milagrosamente. Ela me arrastou até a casa sem olhar para a cara das
mulheres. Talvez eu deva sair mais e conversar com mulheres aleatórias,
será que resolveria? — Pergunto brincando.
— Resolveria o divórcio. — Ele ri. — Vic está com uma
instabilidade emocional e mesmo que não pareça, ela tem uma autoestima
baixa, isso foi algo que trabalhei com ela no início do tratamento e deu
certo, porém, como todo ser humano, Vic pode ter recaídas. — Explica. —
O ponto de gatilho da Victória é a confiança no próximo e a aceitação. Se
você reparar, ela confia em pouquíssimas pessoas. No fundo ela acha que
não é boa o suficiente para possuir você, para possuir felicidade. Ela se
culpa. Então, se ela te viu conversando com duas mulheres, é mais que
normal que isso ative algo nela, porque Vic, por mais que você demonstre
seu amor diariamente que é bastante visível, possui a mania de se sentir
inferior e carrega consigo um medo absurdo. Ela provavelmente viu aquilo
como ameaça e sentiu necessidade de agir, mesmo que tenha sido de um
modo errado. Foi a maneira que ela quis usar para marcar território.
— Ela gritou que me odiava. Claro, não acreditei, mas ela está
muito instável e eu não sei se devo deixá-la cagar na minha boca ou se devo
impor como fiz. Certamente, se ela não tivesse esses problemas, eu apenas
daria espaço para ver se a distância a faria se tocar e sentir vontade de voltar
à normalidade. Mas não é o caso.
— Vou conversar com ela e descobrir o que está acontecendo.
— Vamos ver se ela vai descer para participar da festa de Isis e
Victor.
— É bonito ver sua preocupação com Isis. — Ele diz me dando um
tapa nas costas.
“Sombras formam um sorriso largo
Se eu perder o controle
Eu alimento a fera interior
Inspire, expire
Deixe o humano entrar
Inspire, expire
E deixe-o entrar
As plantas despertaram, e elas crescem lentamente
Sob a pele
Portanto inspire, expire
Deixe o humano entrar”
Of monsters and Men – Human
Eu sei que estou em crise.
A questão é que não estou sabendo lidar e já estou assistindo à
desolação estampada no rosto do meu marido. E ainda dizem que sou forte.
Me sinto como um grande NADA nesse momento.
Eu me encontro diante do espelho vendo o que fiz comigo mesma.
Minhas sobrancelhas não são feitas há mais de um mês, minhas
unhas também, a depilação está em falta por todos os lados e isso é horrível.
Meu cabelo não é lavado decentemente há alguns bons dias, meu rosto está
pálido e me sinto emagrecendo a cada dia.
Ao menos a depilação eu preciso cuidar, é o mínimo.
Pego todos os itens necessários e me tranco no banheiro. Eu
começo meu serviço pelas pernas, em seguida sigo para virilha, axilas,
sobrancelhas. Demora muito mais do que de costume, mas, no final, eu
consigo ao menos me sentir um pouco menos fodida com isso.
Pego alguns cremes e decido lavar meus cabelos tomando um
cuidado especial, demoro tempo o bastante no banho. Quando saio me sinto
mais limpa e um pouco mais disposta.
Visto meu roupão, enrolo uma toalha na cabeça e ligo para a
farmácia encomendando alguns itens para que eu mesma possa fazer
minhas unhas. Não quero sair.
Enquanto espero chegar, há uma batida na porta. Eu abro e
Giovanna entra.
— Olá, mamãe mais linda! — Ela diz sorridente.
— Gi! Como você está? — Pergunto a abraçando.
— Eu estou muito bem, tenho um psicogato quentíssimo como
noivo. — Ela sorri mostrando o enorme anel em seu dedo.
— Estou muito feliz por você! Imensamente! Eu gostava de Tobi,
mas, gosto mais de Ricardo. — Sorrio.
— Tobi era legal, eu gostava dele de verdade, mas ele sempre foi
anti-compromisso. O que sinto por Ricardo é diferente. Não é apenas a
vontade de estar junto, é carnal.
— Eu imagino. Essa coisa carnal é crucial num relacionamento. —
Divago sentando na minha cama e ela me acompanha.
— Você não parece mais nessa “coisa carnal”. — Diz. — Vamos lá,
Vic, eu já vi você assim algumas vezes. Antes eu compreendia mais
facilmente. Você tinha Isis escondida de todos, sofria por amor, era sozinha.
Agora me explique por que está assim? O que falta, mi amore? Conte para
mim. — Ela pede me puxando e eu descanso minha cabeça em suas pernas.

— Eu... não sei.


— Sabe sim, Vic. Você só precisa trabalhar sua confiança. Confie
em mim. Estive ao seu lado por tantos anos. Eu a conheço, a respeito, sou
sua amiga. Você só confia em Ricardo e em Matheus, em ninguém além
deles. Deixa-me te ajudar, ao menos te ouvir... — Ela pede sabendo o quão
difícil é para mim. É um bloqueio de confiança, algo que preciso quebrar.
— Sou assim até com minha família. Eu passei a ser omissa aos
quatorze anos de idade. Acostumei tanto a guardar tudo que acontecia pra
mim, que hoje tenho esse bloqueio de desabafar, de contar meus problemas.
— Vamos mudar isso, Vic, que tal? Será muito melhor para você.
— Ela diz me convencendo.
— Eu errei com Isis. Nunca me perdoarei. Eu errei muito feio com
a minha própria filha Gi, muito! — Confesso sentindo a dor se instalar
novamente.
— Vic, Isis está feliz como nunca esteve. Qualquer um é capaz de
perceber isso. Você acertou com ela Victória, em tudo. E, convenhamos,
teve motivos bastante justificáveis para ter a protegido.
— Eu deveria tê-la entregue à Matheus. Ela teria tido uma família.
Matheus certamente teria feito melhor com a ajuda dos meus pais e dos pais
dele...
— E você? — Ela pergunta.
— Eu iria apenas cumprir o que precisava para mantê-los em
segurança.
— Não, Victória! Por favor! Você está tendo uma visão distorcida
das coisas. — Ela suspira. — Vic, você deu uma educação incrível para
essa garota. Quando se sentiu segura, você simplesmente deu a cara a tapa e
contou a verdade de todos. Por mais que Isis estivesse longe da família,
você fez tudo para tentar suprir isso. Você sempre foi uma mãe incrível, do
tipo que largava tudo para brincar com Isis, esquecia de si mesma, ela
sempre foi sua prioridade. Você voltou por ela, encarou a verdade, a
integrou nas famílias.
— Ela não teve o que Victor está tendo.
— Victória, a maneira como você tratou essa garota desde o
nascimento não tem nem como ser explicada. Nunca faltou amor a Isis,
nunca, Vic. Você a amou por você e por todos. Como eu disse, a garota está
extremamente feliz com a chegada do irmão. O seu passado, os seus
traumas estão te levando para outros lugares. Lugares que não devem ser
habitados, Vic. Você não enxerga a felicidade dela? Por que ao invés de
ficar pensando no passado, você concentra no presente? Todos, incluindo
eu, estão felizes com o nascimento de Victor, com a felicidade de Isis, com
seu casamento. Theus conta todo orgulhoso que Isis pediu a ele um
irmãozinho quando a conheceu. Eles estão radiantes, Vic. Tente enxergar
isso.
— Matheus está sofrendo. Eu estou causando dor a ele. Eu ferrei
com a vida dele Gi, não sou boa o bastante e ainda o fiz levar um tiro.
— Vocês foram vítimas, Victória. Não foi você quem causou isso.
— Eu sinto que nós vamos terminar em algum momento por causa
das minhas crises. Ele não é obrigado a conviver com isso.
— Então levante da cama, saia do quarto e corrija isso. O homem é
maravilhoso, Vic. Ele te ama de um jeito que nunca vi nada parecido nem
nos cinemas. Ele ama você, meu amor, ele se preocupa, ele cuida de você
até mesmo quando não sabe o que fazer. Nada é por obrigação, é tudo por
amor. — Alguém bate na porta e então a abre. É Matheus com a sacola da
farmácia.
— Desculpe, é que chegou para você. — Ele diz me entregando a
sacola. — Já está pago.
— Obrigada, Theus. — Agradeço ganhando um beijo na testa antes
dele ir. Suspiro frustrada comigo mesma. — Estou um lixo humano, Gi. —
Digo rolando na cama. — Você não vê o que estou fazendo com ele? Eu o
amo, mas sou completamente imperfeita.
— Todos nós somos imperfeitos. Acho que você cobra muito de si
mesma. Isso é crueldade consigo mesma, Victória.
— Preciso ao menos passar um esmalte! — Volto a me sentar e abro
a sacola. Minhas cutículas estão pequenas, felizmente elas não crescem com
facilidade. Pego apenas o esmalte, a acetona, o palito. Quando vou começar
a pintar, Gi pega o esmalte das minhas mãos e sorri.
— Eu pinto para você.
— Estou feia. Horrorosa. — Choramingo.
— Vic, menos. — Repreende e agora é Ricardo quem surge.
— Olá paciente fugitiva.
— Olá, psiconoivo.
— Fazendo as unhas? Não quero atrapalhar o momento
mulherzinha. — Diz sorrindo e beija a cabeça de Gi.
— Não atrapalha. — Afirmo. — Pode começar a me xingar, estou
preparada.
— Que bom, há trinta e quatro dias você não atende a uma ligação
para se consultar. Não adianta falar que está sendo corrido por causa de
Victor e Isis, que não está conseguindo conciliar, porque eu sei que está. A
senhora só quer saber de dormir e só sai do quarto se ver alguma mulher
tentando atacar Matheus. — Ele diz e eu sorrio.
— Aquelas vadias! Elas usaram meu filho para se aproximar do
meu marido. Conheço esse tipo...
— Isso você não me contou, Victória. — Gi diz rindo.
— Foi um episódio hoje. Eu e Matheus brigamos.
— Iremos conversar sobre isso quando terminar, Vic. Teremos uma
conversa realmente séria. — Ricardo informa.
— Eu confio em Giovanna, você pode falar na frente dela. É como
psicólogo, como amigo ou como padrinho de casamento? — Pergunto.
— Como os três. Uma mistura de cada. — Ele sorri.
— Olha, eu tenho conhecimento de que estou fodida. Só não sei
como sair disso e nem mesmo sinto tanta vontade de lutar.
— Nada disso precisava estar acontecendo. Bastava você
comunicar isso a mim no início, quando começou a sentir que estava
perdendo o controle. Nós já cortamos a medicação devido a amamentação,
mas não cortamos as consultas, Vic. Elas são importantes e precisamos
continuar. — Explica.
— Eu sei.
— E o que você vai fazer sobre isso? — Pergunta.
— Voltarei às consultas online com meu psicólogo que sai do Rio
de Janeiro para vir me cobrar.
— Você não está com depressão pós-parto. Você sorri, brinca. O
que há, Victória? A mesma cobrança por Isis? — Eu balanço a cabeça
confirmando. — A garota está no céu, você sabe disso, não sabe?
— Eu não consigo enxergar às vezes. São coisas da minha mente
mesmo.
— Compreendo. Matheus está fazendo um trabalho incrível com a
garota, Victória. Assim com o estou certo de que você também está. Vocês
estão incluindo ela em tudo, em cada momento. Agora mesmo ela está o
ajudando a trocar fralda do garoto.
— Ela subiu comigo e quis ficar no quarto do irmão fingindo que
ele era um bebê dela. — Gi conta sorrindo.
— Eu acho que você está se cobrando demais. Se cobrando por algo
que não está acontecendo. Ela está inclusa em tudo Vic, é uma criança
visivelmente feliz, saudável, amorosa. Vive no mundinho lúdico dela, não
reclama de absolutamente nada. O que está errado, Vic?
— Eu sinto pelo nascimento dela ter sido diferente.
— Era uma outra situação. Você era extremamente jovem, tinha
ressalvas quanto a própria segurança, você quis a proteger e fez muito bem,
Vic. Não vê o que Humberto tentou fazer? Ele oferecia riscos, meu anjo.
Você foi uma mãe leoa, capaz de abdicar de tudo para criar sua filha em
segurança. Se orgulhe de si mesma, querida, não se cobre. Seus erros
acabaram sendo assertivos. Todos a entenderam, todos a perdoaram, você é
a única que não perdoa a si mesma. Enquanto não se perdoar, não
conseguirá ser inteiramente feliz.
— Matheus está chateado comigo. — Comento.
— Ele está muito mais preocupado do que chateado. Ele se sente
impotente, Vic, o que é bastante normal. Ele só quer que você melhore, ele
quer ajudá-la, mas parece que você não permite que ele se aproxime, que
entre. Como você queria que ele se sentisse? — Pergunta e eu não consigo
responder. — Ele é paciente, não se preocupe. Matheus te ama
incondicionalmente, Victória. O único propósito da vida dele é fazer você e
os filhos felizes. E, quando você não está bem, é evidente que ele não
estará. Mas, devo alertá-la de algo. — Avisa e então Gi termina de passar o
óleo secante em minhas unhas.
— O que?
— Ele está pensando em passear com as crianças em volta da lagoa
diariamente e praticar stand up paddle. — Diz segurando o riso.
— Não tem graça!
— Ele me disse isso, é sério mesmo. Não estou inventando. —
Avisa levantando as mãos.
— Você está brincando, querendo me irritar.

— Nós teremos que tratar o ciúme, hein? Anotarei no caderninho de


problemas da Victória Albuquerque. — Ricardo também foi contaminado
pelos Albuquerque’s.
— Você tem um caderninho de problemas Victória Albuquerque?
— Questiono chocada.
— Não. — Ele ri. — Mas é sério. Matheus disse que está pensando
em pegar umas aulas de stand up paddle na lagoa e passear mais com a
crianças, já que você só fica no quarto. Como amigo, eu achei que você
deveria saber. Agora mesmo, há algumas garotas passeando de stand up na
lagoa...
— Ele não pode estar falando sério! — Esbravejo.
— Como eu disse, só estou te avisando. Não acha que está na hora
de sair do casulo não? Matheus disse que você provavelmente nem desceria
para a festinha de Victor. Ele chamou Alice. — Diz ficando sem graça e eu
sei que é por causa de Sabrina. Isso me faz querer rir.
— Eu descerei! — Anúncio.
— Que tal capricharmos no visual e surpreender o marido?
— Não sei. — Digo não me sentindo muito excelente para
caprichar no visual.
— Ah vamos lá, vou fazer aquela trança que você gostava! — Gi
anuncia me puxando da cama.
— Estarei lá embaixo com Matheus observando a lagoa. — Ricardo
diz ganhando um tapa no braço.
— Matheus está observando a lagoa? — Questiono.
— Não.— Ele ri. — Estava trocando fralda de Victor, agora não sei.
Mas, talvez esteja, hein?
— Saia, Ricardo! — Gi exige e ele sai rindo.
Então, sou pega sem chance de escapatória. Giovanna fica pelo
menos uma hora brincando de salão de beleza comigo. E, quando me olho
no espelho, pareço outra mulher. Aquela que eu costuma ser!

— Então? — Pergunto a Ricardo assim que ele surge na cozinha.


Estou um tanto quando receoso.
— Não é depressão pós-parto, nem perto disso. É a mente pregando
peças, cobranças indevidas sobre o passado. Quando ela vive momentos em
que podem ser comparados, ativa memórias indesejáveis e ela volta a se
culpar. Ela voltará com o tratamento e então em breve estará tudo
normalizado. A questão é que, como ela abandonou tudo desde o parto, não
foi capaz de perceber os sinais chegando. Por enquanto, mantenha a
paciência e a compreensão. E se prepare que ela está puta.
— Por quê? — Questiono roubando um brigadeiro.
— Porque eu disse que você vai começar a fazer stand up paddle na
lagoa e passear com as crianças com mais frequência.
— Velho, como você fala isso com Sadgirl? A mulher tem a veia
voltada para o sadismo, filho da puta! Ela vai querer me açoitar, me
prender, me dar umas chibatadas e eu vou socar sua cara, seu merda! — Ele
começa a rir.
— Vic é submissa. — Explica e eu o encaro agora puto. — Calma
aí parceiro, sou psicólogo dela. Nós realmente já falamos muito sobre sexo
né... tendo em vista os problemas...
— Eu quebro todos os dentes da sua boca e deixo seus dois olhos
roxos. — Aviso pegando duas cervejas e entrego uma a ele. — Vou nem
brindar. Já estou sem sexo mesmo. Está de boas. — Brinco. — Come aí
cara, acho que exagerei nos salgados.
— Eu sinto muito por você, Matheus. — Ele diz sério, e eu até
penso que ele realmente está sentido. Porém... — Estou tendo sexo
excessivo. — Filho da puta!
— Tempo bom que não volta mais... — Brinco porque se eu for
levar a vida cem por cento à sério nesse momento, ficarei louco.
— Caramba, Matheus! Há quanto tempo Vic está podendo ter
relações? — Questiona enquanto rio.
— A médica liberou há cinco dias. Mas, tem trinta dias, né
parceiro?! Trinta dias para quem praticava pelo menos três vezes ao dia é
muita coisa! — Explico. — Na verdade, eu fiquei de boa pra caramba.
Desde o nascimento de Victor sexo não esteve muito em minha mente, a
questão foi a médica dizer em alto e bom tom que Victória podia voltar a ter
relações. Isso me deixou insano. Eu achei que no mesmo dia ela estaria
sobre mim, tendo em visto nosso histórico. Vic tem um apetite sexual
bastante voraz. Ela gosta muito de transar, tanto quanto eu. Acontece que
para ela a notícia de estar livre para o sexo foi indiferente. Eu tentei investir,
dei uma intimada mais precisa, ela virou para o canto e dormiu. Tentei na
manhã seguinte, ela se levantou e foi para o banheiro. Eu fiz um jantar
romântico, ela não quis descer, então eu tive que levá-lo até ela. Achei que
surtiria efeito, não surtiu. Mas, tanto faz. Só quero que ela fique boa, não
preciso do sexo, preciso da sua vitalidade. É o que mais sinto falta.
— É fodido mesmo. — Ele diz sério, como se tivesse realmente
imaginando meu sofrimento.
— E seu filho? — Pergunto mudando de assunto.
— Está com a mãe. Eles viajam hoje para Gramado e voltam
segunda.
— Vocês convivem bem? — Pergunto curioso.
— Só falamos em relação ao nosso filho, nada além. Nos
respeitamos.
— Deve ser foda viver longe do garoto.
— Guarda compartilhada. Na verdade, ele fica mais comigo do que
com a mãe. — Ele sorri. — É bom pra caralho ser pai, né?
— Porra, não lembro mais da minha vida antes de Isis e Victor. —
Sorrio. — Eles mudaram tudo. Vejo a vida com outros olhos.
— Você manja da decoração... — Diz apontando para minha
humilde arrumação no balcão da cozinha. Olhar para esse balcão me lembra
Vic deitada sobre ele, enquanto eu a fodia com minha boca. Que caralho!
Sou um homem que está sofrendo, mas serei paciente. Sexo não é tudo. É
apenas 70%. Minha mãe e meu pai sempre disseram, talvez seja por isso
que estão juntos e felizes há tantos anos...
— Eu faço qualquer coisa que signifique ganhar um sorriso da
minha princesa.
— Viadinho. — Ele diz rindo.
— Você também? Maldição! — Rio e então meu riso morre quando
vejo minha esposa caminhando pela cozinha. Porra! Caralho! Isso é
sacanagem, Deus! Isso mata um sujeito macho que está vivendo um período
de longo recesso sexual.
Eu não sei nem por onde começar a observá-la. Seus cabelos estão
presos em uma trança. Seu vestido branco é levemente decotado e justo nos
seios cheios de sardinhas. Há um cordão delicado em seu pescoço que desce
por entre os seios e eu sinto inveja dele. Noto que ela está levemente
maquiada, suas sobrancelhas estão certinhas e suas unhas estão pintadas de
vermelho. Eu vou gozar na cueca, caralho!
— Ao mosquito entrando na boca, babão. — Ricardo diz baixo para
que apenas eu escute.
— Se você olhar para ela eu te mato, e estou falando realmente
sério.
— Não sou cego! — Responde. — Mas, eu tenho uma linda
mulher, meu caro.
— A minha é mais linda. — Informo.
— Eu realmente acho a minha mais.
— Não chega nem na sombra da minha Vic. — Vic é absurdamente
linda!
— Meu pau. Gi é linda.
— É bonita, mas Vic é maravilhosa.
— Olá rapazes. — Giovanna diz abraçando Ricardo. Os observo
beijarem apaixonadamente enquanto Vic se mantém distante. Eu juro que
isso me faz querer chorar, e sou obrigado engolir a seco a indiferença.
Quando foi que nos distanciamos? Nunca achei que isso seria
possível. A distância nunca foi uma possibilidade.
Victor chora no carrinho e eu agradeço aos céus por isso. Antes que
Victória possa agir, estou com ele em meus braços.
— Oi, princeso. Não precisa chorar, amor.
— Está na hora dele mamar. — Ela se aproxima o pegando e se
acomoda no sofá para amamentá-lo.
Os deixo e vou até o banheiro. Lavo meu rosto repetidas vezes e
tento convencer a mim mesmo que é apenas uma fase. Quanto mais os dias
passam, mais medo eu tenho de perdê-la. Eu nunca tive medo de perder
mulher alguma. Sempre tive muitas à minha disposição e não é meu ego
que está dizendo isso, é apenas a realidade. Mas Vic... eu a perdi uma vez e
foi doloroso pra caralho. Naquela época eu achava que não tínhamos
vínculo, foi doloroso, mas foi mais fácil. Agora nós construímos juntos uma
família, eu realmente não consigo imaginar a hipótese de perder isso.
Eu não tenho vergonha de chorar por medo. Só Deus sabe o que
sinto por essa mulher e a importância que ela tem na minha vida. Sou
completamente apaixonado.
Volto à cozinha e Giovanna segura minha mão como se soubesse
perfeitamente que estou fodido. Dou apenas um sorriso e pego mais uma
cerveja na geladeira. Isis surge e se acomoda em meu colo.
— Estava brincando, princesa?
— Sim, papai. Eu queria brincar com Victor, mas ele está
mamando. — Explica me fazendo sorrir. Ela cuida do Victor como se ele
fosse um boneco. É bonito, inocente e puro. — Nós podemos cantar
parabéns para Victor? Eu quero comer os doces. — Ela diz sorridente.
— Claro que podemos. — Digo. — Chame a mamãe e seu irmão.
— Ela salta das minhas pernas e sai correndo.
— Vai tudo se normalizar, Matheus. Tenha paciência. — Ricardo
diz propondo um brinde e eu bato minha garrafa na dele. O cara é gente boa
pra caralho. Acho que vou fazer um tratamento pesado com ele,
principalmente se eu perder minha pequeninha. Só de pensar nisso uma
lágrima escorre dos meus olhos sem eu conseguir conter.
— Meu princeso, você é muito arrotador. — Vic conversa com
nosso filho, sorridente e carinhosa.
— Papai, tem que acender as duas velas. A minha e a de Victor! Eu
posso assoprar as duas?
— Claro que sim, amor. — Eu acendo as velas e nós cantamos
parabéns para Isis e para Sadbebê. Isis rouba a cena soprando as velas e
roubando o glacê do bolo.
— Que coisa feia!!! — Gi repreende rindo.
Eu pego alguns brigadeiros e como. Fico satisfeito por ver Victória
comendo salgado.
Ficamos algumas horas assim, confraternizando. Tia Alice acabou
não vindo, acho que isso deixou Ricardo aliviado. Mas, seria interessante
vê-los “confraternizando”. Queria ver como Gi e Ricardo se portariam.
Já é tarde quando eles comunicam que vão dormir:
— Isis vai dormir com tia Gi e tio Ric hoje! — Giovanna comunica
e Isis dá um grito de alegria.
Victória sobe para o quarto com ela e com Isis, deixando Ricardo e
eu. Nós bebemos mais algumas cervejas e assistimos ao campeonato
europeu. Isso me distrai o bastante.
— Cara, vou dormir. As meninas provavelmente já estão apagadas.
— Ele informa se levantando.
— Valeu cara. Até amanhã.
— Não vai subir? — Pergunta.
— Não. Vou caçar um filme.
Vou até a cozinha assim que ele sobe e como pelo menos seis
brigadeiros. Termino de beber minha cerveja e, quando viro, Vic está
chegando.
— Ei, tudo bem? Precisando de algo? — Pergunto.
— Só vim beber água. — Explica. — Victor acabou de dormir, o
coloquei no quarto dele para ir se acostumando.

— Você está linda. — Digo vendo suas bochechas ruborizarem. —


Suas sobrancelhas estão bonitas, suas unhas também. Eu amei a trancinha e
esse cordão.
— Você reparou minhas sobrancelhas? — Pergunta como se repará-
la fosse algo absurdo.
— Sim.
— Minhas unhas?
— Volte a ser minha esposa. — Peço cortando qualquer merda que
ela queira falar. — Por favor. Volte para mim. Não deixe ser engolida pelo
passado.
— Theus... — Ela protesta e então eu a abraço o mais forte que
consigo.
— Eu estou perdendo você, Vic. Estou desesperado, porra! Te amo,
demais. Se você não quer transar, foda-se o sexo. Só volte a ser comigo a
pessoa que você sempre foi. Eu só preciso de você ao meu lado, só isso. Eu
te amo pequeninha, eu amo muito. Dói pra caralho, amor. Não vou deixar
você ir Vic, porque se você for eu serei o mais miserável dos homens. Eu
não posso deixá-la ir, amor, não posso.
— Eu nunca deixaria você, Matheus. Nunca! Me perdoe por estar te
arrastando comigo na escuridão. Me perdoe por fazê-lo sofrer, Theus. Não é
minha intenção. Eu sairei dessa bagunça, prometo a você.
— Me deixe entrar na sua escuridão, Vic. Me deixe resgatar você,
meu amor, pelo amor de Deus, Victória, eu te amo.
— Eu deixo, Theus. Me desculpe, minha vida, eu não fazia ideia
que estava fazendo você sofrer. Não chore, Theus, por favor. Me perdoe,
amor. — Minha pequeninha me agarra com força eu acho que não a soltarei
tão cedo. Só preciso do seu abraço. Só preciso saber que ela está comigo.
— Eu só preciso ter você assim. Não faço questão de nada além
disso, Vic. — Informo tentando conter o desespero.
— Ainda estou aqui, sempre estarei. Você o meu amor, Theus.
Perdoe-me.
— Você não tem culpa. Não me peça perdão, apenas volte para
mim.
— Eu estou com você, meu amor, estou aqui em seus braços. Eu te
amo, nunca o deixaria, nunca. — Victor então resolve acordar e Vic suspira.
— Ele está com cólica.
— Eu vou fazer ginastiquinha com ele. — Aviso a soltando e
limpando meu rosto. — Você vem comigo. Eu não a soltarei hoje, Vic.
— Ginastiquinha, Theus? — Ela diz chorando. — Isso é tão fofo.
— Eu sou fofo, você não pode largar um fofo como eu, Vic.
Promete que voltará para mim?
— Estou com você, para sempre.
— Eu te amo tanto, pequeninha, tanto, tanto. — A puxo beijando
sua testa. — Eu te amo.
— Eu amo você, Theus.
— Vamos salvá-lo da cólica. — Seguro sua mão e a puxo comigo.
“Eu corro para, eu corro para você
Vou continuar perseguindo, continuar perseguindo você”
MISSIO – I run to you

Continue remando...
Continue remando...
Por ela vale a pena... por nós vale a pena.
Eu continuarei remando enquanto meu coração bater.
Segunda-feira. Nada, além do fato de Vic ter se tornado um pouco mais
próxima de mim, mudou.
Ricardo e Giovanna foram embora ontem à noite, após Ricardo passar pelo
menos quatro horas conversando com Victória no escritório. A única coisa que ele
me disse ao sair de lá é "continue a remar", nada além disso.
Já almoçamos e agora, enquanto Isis termina de escovar os dentes, estou
arrumando a mochila dela para ela ir para a escolinha.
— Pronto, papai.
— Vamos prender esse cabelão?
— Vamos. — Ela sorri e então vem até mim. Pego uma escova, uma
gominha de cabelo e faço um enorme "rabo" o prendendo em seguida.
— Papai, não conta para mamãe, mas você prende melhor que ela. — Minha
princesa cochicha me arrancando uma risada.
— Você está uma princesa. A mais linda do colégio inteirinho e protegida
dos piolhos.
— Eca! Eu não quero ter piolhos.
— Por isso é importante ir com essa cabeleira presa. Papai vai levá-la ao
salão para darmos um corte, o que acha? Está igual a Rapunzel. — Brinco e ela ri.
— Mas salão é de meninas.
— Mas papai pode levar você do mesmo jeito, princesa. O que acha? Salões
são para meninos e meninas, a cor azul é de meninos e meninas, a rosa também. —
Explico tentando passar um ensinamento.
— Eu acho muito legal sua ideia. — Responde rindo. — Então meu irmão
vai poder ir no salão comigo quando crescer?
— Com toda certeza sim.
— Papai, por que minha mãe está triste? — Como explicar isso a uma
criança de 8 anos?
— Ela não está triste, princesa, é apenas cansaço. Bebês mamadores dão
muito trabalho. — Explico omitindo.
— Papai, você pode me dar mais irmãos?
— Vamos com calma, garota. A dona cegonha acabou de nos dar um bebê.
Temos que esperar mamãe se recuperar, não é mesmo?
— Sim. Quando ela se recuperar, nós podemos ter dois bebês?
— Se a dona cegonha decidir dois, é claro que podemos. Aí você será a irmã
mais velha de três bebês. — Ouvimos a buzina e Isis corre para despedir de Victória.
A entrego para o transporte e me sinto entediado.
— E aí, Ruthinha, boca de veludo! — Digo abraçando dona Ruth que agora
está lavando a louça. — Deixa que eu termino de lavar.
— Sou paga para isso! — Eita Ruthinha afrontosa!
— Afrontosa! Eu lavo, me dê aí. O tédio está me consumindo, Ruthinha,
vamos lá! Não fode!
— Menino chato!
— Vai comer uns doces que estão na geladeira. Vamos beber uma cerva,
Ruth? Eu e tu, tu e eu? Vamos trocar umas ideias. — A convido e ela ri. Faltam só
três copos para serem lavados, isso me dá uma tristeza do caralho.
— Tá carente, né? — Ela pergunta.
— Sim. Sou um pobre homem carente em busca de uma companhia para
tomar uma cerveja e comer uns brigadeiros. — Coloco os copos no escorredor e
enxugo as mãos.
— Ela vai ficar bem Theus, mulher tende a ficar estranha pós nascimento do
filho. — Eu sorrio, pego duas long neck's e um pote de doces. Coloco no balcão e
me acomodo ao lado dela. Ela não sabe a complexidade da situação.
— Então, Ruthinha, o que tem a me contar? Me diga algo divertido. Como
foi o seu final de semana?
Nós ficamos uns quarenta minutos conversando e eu descubro que ela foi em
três velórios no final de semana.
Ela me expulsa da cozinha e eu decido ligar para minha mãe, que atende na
chamada de vídeo.
— Oi, neném.
— Ei, mãe. Você está numa massagista? — Pergunto a observando sendo
massageada e com um troço verde no rosto.
— Sim, filho. Como você está?
— Bem. — Sorrio. — Ligando para gente conversar atoa.
— A mamãe te liga mais tarde então, ok? Agora está meio foda!
— Tudo bem, mãe. Beijos.
— Beijos. Te amo, meu pimpolho. — Reviro os olhos.
— Mãe? — A chamo antes que ela desligue.

— Oi?
— Eu te amo também. — Ela começa a chorar e encerra a ligação.
Victor começa a chorar e eu quase dou um salto de felicidade. Corro até o
quarto para pegá-lo, mas Vic já está com ele nos braços, começando a amamentá-lo.
Me aproximo dos dois e sento no chão o observando mamar.
Ele fica oscilando entre mamar e dormir. É tão bonitinho que até mesmo Vic
ri.
— Ele desmaia legal e então acorda assustado para mamar. — Minha mulher
comenta.
— Ele é mais fofo que eu.
— Ele realmente é. — Ela sorri. E ele pega no sono profundo.
— Posso fazê-lo arrotar?
— Claro. — Diz concordando e eu me levanto para pegá-lo.
Fico andando com meu Sadbebê até ouvi-lo soltar um mega arroto. É tão
bonitinho, cara! Até fazendo força para cagar ele é fofo. Ele acaba adormecendo e eu
o coloco no berço.
De volta ao tédio, ligo para Beatriz.
— O que foi, diabo? Estou entrando numa reunião agora.
— Sinto sua falta. — Confesso e ela fica calada alguns segundos.
— Eu também sinto, Theus. Vamos fazer um programa de irmãos? Só eu,
você e Arthurzinho? Mas, tem que ser daqui algumas semanas, estou um pouco
enrolada.
— Nós nunca fizemos um programa de irmãos com ele. — Sorrio. — Vamos
sim.
— Você vem para o Rio ou nós iremos para BH?
— Eu vou pensar nisso, rompida. Vá para sua reunião. Te amo.
— Também te amo, Theus. Muito. — Ela desliga o telefone e então eu
decido ligar para Bernardo.
— Que foi viadinho?
— Saudades! — Digo e ele começa a rir.
— Ah, vai tomar no meu estreito! Sério isso?
— Poh cara, estou te ligando e você me trata mal, vai tomar no seu cu então,
arrombado!
— Calma aí, parceiro. Como você está? Sabe, eu sinto sua falta, não tem
ninguém mais para eu perturbar. Como minha irmã e as crianças estão? — Pergunta.
— Vic está... melhorando. As crianças estão bem. E meus sobrinhos? Minha
Florzinha?
— Ela está do caralho. Heitor e Enzo estão bem.
— Manda um beijo para eles.

— Volta a trabalhar quando? — Pergunta.


— Teoricamente daqui um mês, mas eu acho que já vou voltar, é de casa
mesmo. Preciso ocupar a mente.
— Vic ainda está na bad, né?
— Sim, mas ela vai melhorar. — Tento soar confiante, tentando convencer a
mim mesmo.
— Ela vai! Cara, preciso desligar.
— Beleza. Até logo, arrombado. — Desligo e fico assistindo séries até Isis
chegar.

Duas semanas na mesma rotina. Eu estou realmente me sentindo preso numa


jaula e é por isso que agora, após Isis sair para aula, estou decidido a correr na lagoa.
Chega de ficar em casa, chega de sofrer e de me esforçar em vão. É Vic quem
precisa de um tempo, então a deixarei ter esse tempo e vou seguir com a rotina.
Vou até o quarto e pego uma roupa e um tênis. Me troco no closet e Vic
surge:
— Onde você vai? — Pergunta.
— Correr.
— Onde?
— Na lagoa. — Informo e ela me lança um olhar fatal.
— Não vai não! — Avisa com firmeza.
— Vou sim.
— NÃO! — Ela é ditadora agora?
— Venha comigo? Você disse que se esforçaria...
— E Victor?
— Tem a Ruth, tem estoque de mama na geladeira. — Argumento tentando
convencê-la.
— Ok. Mas podemos correr na Pampulha? — Uau, ela aceitou isso fácil.
Estou surpreso, não estava preparado.
— Claro que podemos. Vista uma roupa. — Sorrio satisfeito. Fico de pé e a
puxo para meus braços. — Estou muito feliz por você aceitar ir comigo. Significa
muito.
— Vou me arrumar. — Diz me dando um beijo no rosto e vai para o seu lado
do closet escolher suas roupas.
Enquanto é isso, desço e peço Ruth para olhar meu Sadfilho. Felizmente ela
está feliz por Vic estar saindo de casa e demonstra uma imensa boa vontade.

Minha Sadgirl desce as escadas e meu pau fica duro igual concreto. Ela está
de trança novamente. Um top que mostra sua cintura e uma calça de academia
coladinha.
— Você vai vestida assim? Nem uma camiseta? — Pergunto e ela sai
andando rumo à garagem.
— Você podia trazer sua moto do Rio! — Comenta se acomodando no lado
do motorista.
— Vai dirigindo?
— Sim senhor! — Ela sorri e eu me acomodo no banco de passageiro.
Arrumo o gps para ela e, pouco tempo depois, ela sai dirigindo como uma insana.
Minha mulher fica quente como pilota de fuga. — Eu amo esse carro! — Exclama
empolgada.
— Se batê-lo eu não vou te bater porque sei que você gosta, mas eu pensarei
numa morte lenta e dolorosa. — Ameaço brincando.
— Garotos e seus brinquedinhos. — Ela revira os olhos e sorri.
— Eu estou puto que você não trouxe a merda de uma camiseta, Victória.
Você vai correr com a minha camisa. — Esbravejo socando o vidro.
— E você fica sem camisa? Não mesmo! — Rebate.
— Se alguém mexer com você eu vou bater e você terá que pagar fiança na
delegacia!
— Ninguém vai mexer comigo quando estou acompanhada de um homão
com braços gigantes. — Argumenta.
— Você está sugerindo que homens te cantam quando está sozinha? Só te
dei um aviso: olhou, tomou!
— Oh senhor ciumento possessivo e insano! — Ela debocha, rindo de
verdade. Graças a Deus, ao menos sirvo para fazê-la rir, mas estou falando sério
porra!
Nós chegamos na Pampulha e ela estaciona levantando poeira no
estacionamento. Fé nas malucas!
— Você é maluca, não tem amor à vida. — Repreendo e então ela sai
correndo na minha frente após jogar a chave do carro. Eu gosto disso! Consigo ver
minha mulher renascendo das cinzas.
Gostosa!
Eu saio correndo na frente dela e ela vem gritando Matheus Albuquerque
atrás. Isso me faz rir. A má sorte dela é que só tem mulheres correndo, então eu
atraio uma certa atenção.
— Você nunca mais vai sair de casa, merda! — Ela grita bufando e eu paro
de correr para vê-la com as mãos apoiadas nos joelhos.
— Eu não tenho culpa, amor. Eu realmente preciso sair de casa. No Rio você
não tinha esse ciúme todo não. — Argumento e ela se joga em meus braços, me
beijando de um jeito completamente impróprio para lugares públicos. Eu perco um
pouco a noção retribuindo da mesma maneira insana. A maluca agarra minha camisa
e eu agarro sua bunda. Ela solta um gemido que me faz quase gozar. Porra, Victoria!
Escolheu voltar com seu apetite na lagoa da Pampulha?
— Vic... — Tento argumentar.
— Eu sei. Desculpa.
— Desculpa? — Pergunto incrédulo.
— Você pode dirigir? — Pede.
— Claro. Estamos indo embora? Acabamos de chegar. Não estamos aqui há
20 minutos, Vic. É realmente sério?
— Sim. — Suspiro um pouco frustrado e seguro sua mão, entrelaçando
nossos dedos. Calmamente caminhamos até o carro. Infelizmente minha barraca está
armada de um jeito bastante óbvio e eu nem tenho como esconder. Quando passo
diante da igreja faço sinal da cruz e peço perdão a Deus.
Me acomodo no carro e respiro fundo antes de ligá-lo. Vic está inquieta.
— Eu quero dirigir, por favor. — Pede ansiosa.
— Victória, o que está acontecendo? — Pergunto e observando olhar para
todos os lados.
— Espera! — Diz abrindo a porta do carro e sai. Eu assusto ao ver seu rosto
do meu lado. Ela faz um biquinho de decepção e volta ao carro. — Eu preciso ser
fodida por você! — Anuncia.
— Por Deus, Victória... Como você fala uma coisa dessas no meio da rua,
diabo? Ou pior, como você fala isso no meio da rua para o seu marido que está quase
a dois meses de recesso sexual?
— Nos tire daqui! — Implora e então está sobre mim, me beijando
desesperadamente. Quando ela se afasta eu começo a dirigir como se eu estivesse
vendo apenas minha mulher nua diante de mim. Ela enfia sua mão por dentro da
minha bermuda e eu quase perco o controle.
— Não faça isso, Victória! Eu vou bater... Nós temos dois filhos para criar.
— Estou quase chorando e parando no meio da avenida para transar, mas me
mantenho firme. Vou seguindo pela estrada que nos leva até nossa casa e entro na
porra do primeiro motel que surge na minha frente.
— Pois não, senhor, em que posso ajudá-lo?
— Nós precisamos de um quarto! — Vic diz e eu seguro a vontade de rir.
— Alguma exigência? — A funcionária pergunta.
— Uma cama! — Vic grita.
— Não, calma aí, Victória! — Interfiro. — Nós precisamos de um quarto
onde tenha o mínimo de comodidade. Eu quero a melhor suíte, por gentileza.
— Senhor, temos a presidencial master.
— Que seja. — Digo.
— Ela custa mil e duzentos reais por 6 horas de uso.
— Foda-se. — Vic diz.

A mulher libera nosso acesso e Victória começa a retirar as roupas ainda


dentro do carro. Puta que pariu Deus! Obrigado deuses do sadismo! Isso vai ser
doido!
Seus tênis voam para o banco de trás e ela se ajoelha no banco para retirar a
calça. Eu arranho meu carro na entrada da garagem, mas foda-se. Minha mulher está
com uma micro calcinha destruidora de maridos.
— Você está querendo me matar? — Pergunto desligando o carro e
descendo.
Ela desce apressada, e eu me desespero para pegá-la. Quando adentro à
suíte, ela se joga sobre mim e eu começo a tirar minhas roupas enquanto a beijo.
Quando estou apenas de cueca, ela me empurra até a cama me monta.
Eu abro seu sutiã e o jogo longe. Neste momento não quero saber se o leite
vazará de seus seios. Rasgo sua calcinha e ela puxa minha cueca para baixo o
suficiente para ter o que ela precisa completamente livre. Nem tenho tempo de me
preparar, a mulher tenta deslizar em meu membro duro com fervor.
— Deus! Victória... calma. — Peço enquanto ela tenta a penetração. Se é
possível, ela está mais apertada que nunca. — Calma! — Tento controlá-la guiando
lentamente. Arrepio só por vê-la engolindo a seco enquanto a penetro.
— Está doendo, mesmo eu estando completamente excitada. Apenas faça
isso de uma só vez. — Pede.
— Não estamos com pressa. — Argumento. Ela ruge como uma selvagem
em frustração e eu empurro mais um pouco. Pós-parto deixa as mulheres mais
apertadas? Ou o período sem sexo modificou a situação?
Ela retira as minhas mãos e se senta de uma só vez. Eu, tentando me manter
como um sujeito macho, tento conter a ejaculação precoce, dessa vez eu quase falho.
— Gostoso. Eu senti falta disso... Me desculpe. —Diz gemendo e eu calo
sua boca com a minha.
Seguro seus quadris e os guio movimentando-os para frente e para trás,
pressionando seu corpo contra o meu. É tão ridículo o que acontece em seguida, nós
não duramos mais que três minutos, o orgasmo dela vem e o meu a acompanha. Eu
diria que foi um fiasco, mas, sendo justo com nós mesmos, foi apenas a falta; o
longo período de abstinência.
— Uau! — Exclama sorrindo. — Eu quero mais.
— Você tinha dúvidas sobre isso? Temos um longo tempo perdido para
recuperar. — Sorrio.
Minha linda esposa me empurra, fazendo com que eu me deite. Em seguida,
começa a montar como uma amazona. Eu tento levar seus seios até minha boca,
porém, ela detém meus movimentos.
— Não faça isso. Há leite, não há nada sexual nisso. — Argumenta.
— É injusto!
— Com a força que você suga meus mamilos, todo meu leite secará! —
Brinca e então faz sua cara de tesão. Desgraça de mulher que fode com minha vida
todinha. — Você é o homem mais gostoso do mundo.

— Que bom, não é mesmo? Porque se você achasse outro homem gostoso eu
iria te dar umas palmadas.
— Me bate Theus? — Ela pede. — Me bate do jeito que você faz. Me pega
do jeito que você faz.
— Fodida Sadgirl do meu caralho. — A giro na cama a colocando em minha
completa submissão. A faço virar de barriga para baixo, agarro seus cabelos com
força e faço exatamente o que ela pediu: meu modo de pegá-la é realmente bom.
Estapeio sua bunda e ela agarra os lençóis bravamente.
Oh Deus! Eu senti tanta falta disso. Como meu corpo foi capaz de rejeitar a
todas essas sensações maravilhosas? Como rejeitei meu próprio marido, um homem
que tem um apetite sexual insano? Eu coloquei em risco tantas coisas e nem sequer
conseguia enxergar isso. Estava tomada pela escuridão, completamente. Me
esforçando para conseguir tratar bem ao menos meus filhos, perdi algumas longas
semanas inerte nisso e simplesmente quero mais estar entre as sombras! Nunca mais!
Eu quero a luz que meu marido me oferece diariamente. Apenas isso.
— Você sentiu minha falta, pequeninha? — Pergunta com sua voz rouca
enquanto arremete contra mim.
— Sim.
— Você nasceu para estar assim comigo, meu amor. Eu enlouqueço com a
forma como seu corpo reage a meu toque. Tão entregue. Eu senti falta disso, Vic. Eu
senti falta de conversar, senti falta de carinho, senti falta de tudo relacionado a você.
Uma falta que ninguém é capaz de suprir, apenas você.
— Me desculpe. — Peço ressentida. A luta foi difícil, e foi algo que precisei
enfrentar sozinha. Quando você está em meio a uma crise, é muito difícil alguém
conseguir te salvar de si mesma. Isso tem que partir de nós, precisamos encontrar o
mínimo de força dentro de nós para começar a caminhar. Foi isso. Theus tentou,
Ricardo, mas, enquanto eu não me esforcei, nada adiantou. Às vezes demoro a
ganhar consciência, como foi agora. Mas, felizmente consegui a tempo.
— Enfrentarei cada uma das suas crises se no final eu conseguir tê-la assim,
completamente de volta. Completamente entregue. Completamente minha.
— Eu te amo. Eu te amo muito, mesmo que talvez algumas dúvidas tenham
surgido na sua cabeça. Eu te amo insanamente. — Ele agarra meus cabelos com mais
força e eu solto um grunhido.
— Eu amo fazê-la gozar. Para mim isso é 99% da diversão sexual.
— Você está conseguindo...
— Sei que sim, eu sinto você me apertando mais forte Vic... — Meu corpo,
tão fantoche das vontades de Matheus, embarca novamente na loucura que ele está
fazendo comigo. Um segundo orgasmo dos muitos que terei no dia de hoje. — Diga
que é minha?
— Eu sou sua. Você é meu!
— Eu sou seu, Vic.
— Mostra que me deseja? Eu preciso ver o quanto você me deseja, o quanto
sentiu minha falta, Theus. Me mostre o quão louco eu consigo deixá-lo. — O
estímulo e com algumas estocadas eu estou cheia novamente. Dessa vez ele cai
sobre minhas costas e me abraça apertado. E então eu me lembro... — Que merda!!!
— Foi tão ruim?
— Não usamos preservativo, mais uma vez! Nós não sabemos brincar de
sexo, Matheus Albuquerque. — Digo me afastando e ficando de pé.
— Agora não há mais o que ser feito, já foi. É difícil quebrar alguns
costumes, Vic. Meio que nos acostumamos ao “pele na pele” e, você precisa
concordar que, é bem mais gostoso e faz uma diferença considerável. — Argumenta.
— Victor tem apenas 1 mês e meio! — Relembro. — Eu acabarei
engravidando novamente.
— Eu cuido de todos os Sadbebês! Vamos transar?
— Você cuida? Disso eu sei! Mas sou eu quem fico nove meses grávida!
— Vem transar.
— Eu não posso engravidar agora. — Informo o observando levantar e vir
em minha direção como um predador. Eu acho que deixei meu mega macho alfa
muito tempo sem sexo realmente. O homem está além de tarado e parece estar ligado
na potência máxima, porque ele gozou duas vezes e está simplesmente pronto para
outra rodada, empinado para o alto em toda sua glória.
Eu saio correndo pelo quarto e ele vem atrás.
— Vamos transar, sardinhas bonitinhas. Deixa eu tentar fazer os gêmeos...
— Você é maluco! — Digo rindo e corro para área externa.
Quando ele está prestes a ter suas mãos sobre mim, me jogo na piscina.
— Isso não vai me impedir de pegá-la. — Ele dá seu sorriso de covinhas e
está dentro da piscina me pegando como o homem das cavernas que é.
Eu arrumo seus cabelos molhados enquanto ele me abraça fortemente. Tão
lindo com esses olhinhos cor de mel, essa barba por fazer e essas covinhas fofas.
— Essa merda de piscina de motel é meio nojenta. — Reclama um pouco
enojado quando paramos de beijar. — Mas, mil e duzentos reais... não é possível que
eles não higienizam isso.
— Eu prefiro acreditar que higienizam. — Digo rindo enquanto ele me olha
de um jeito estranho.
— Vic...
— Oi?
— Você tem meu coração em suas mãos, sabia disso? — Pergunta.
— Você tem o meu.
— Você tem meu pau em sua boca e meu coração em suas mãos. — Eu
sorrio dessa piadinha corriqueira.
— Você tem minhas partes íntimas e meu coração.
— Não vá embora nunca mais, Vic. Sempre que estiver ficando difícil
apenas me diga e eu te ajudarei a lidar com toda a situação. Não deixe as coisas
ficarem de um jeito onde torna-se impossível até mesmo para você lidar. — Pede. —
Doeu ficar sem você, Vic. Eu me senti sozinho por todos esses longos dias, sofri
muito.
— Eu prometo, Theus. Sinto muito.
— Nós seremos muito felizes, acredito nisso. Teremos nossos filhos e
seremos felizes. Você merece ser feliz, sardinhas bonitinhas, eu quero fazer isso por
você a cada dia.
— Você já faz, amor. Perdoe-me por toda dor. Eu nunca quis fazê-lo sofrer...
você sabe disso.
— Eu senti falta de conversar... — Diz com lágrimas nos olhos e a voz
trêmula. — De conversar com você... Eu senti falta de te abraçar, de poder te beijar,
te tocar. De te dar tapas na bunda de brincadeira. Senti falta de te acordar com sexo
oral e de derramar iogurte no seu corpo de propósito. Senti falta de acordar com a
bunda descoberta porque você monopoliza o edredom. Senti falta de dormir
abraçado, de ter sua perna entre as minhas igual você fazia grávida... senti falta do
seu bolo de cenoura e do seu macarrão gosmento. Senti falta de você gritando
"Matheus Albuquerque". Eu senti falta de vê-la tomar banho ou fazendo xixi. Sinto
falta da sua gargalhada e da sua sede de viver. Você pode rir para mim? Rir com
vontade? Eu senti falta de tudo, Vic. — Eu sorrio.
— Me faça rir.
— Vamos ter mais bebês? — Diz e eu então eu começo a rir de verdade. Eu
espero que tenha dito só para me fazer rir mesmo. Ele ri junto e morde meu pescoço.
Segura minha bunda e roça sua ereção contra minha intimidade. Eu passo a gemer
no lugar do riso. — Vic...
— Oi?
— Vamos transar?
— Sim, por favor.

QUATRO MESES DEPOIS....


— Olá família! — Cumprimento meus familiares através da tela do meu
celular, onde estamos fazendo uma vídeo conferência.
— Anda logo com isso! Estamos ansiosos! — Meu pai grita.
— Essa médica do diabo! — Protesto.
— Matheus, a parte triste da Victória estar nesta situação é ter que aturar! —
Doutora Inês diz fazendo uma careta engraçada.
— Você me ama que eu sei. Sou o paciente mais gato, que tem covinhas.
— Minha paciente é Victória, você é o intruso! — Argumenta tentando se
manter séria e então leva o aparelho na barriga de Vic, que agarra minha camisa. —
Oh! — Ela diz fazendo uma cena.
— Já dá para saber? Vic, vou te trocar de médica, agora é sério!
— Temos aqui uma linda garotinha. — Comunica e eu sinto uma lágrima
escorrendo em meus olhos. Merda. — Já aqui... temos uma outra linda garotinha!
São duas meninas!!! — Anuncia e toda nossa família começa a gritar. Já Vic, está
aos prantos e eu estou fodido pra caralho. FODEU! TRÊS FILHAS É DEMAIS
PARA MIM! PAREI DE BRINCAR DE FAZER FILHOS... Traumatizei, sério! Sai
fora. Quero só tentar mais um para ver se vem um garoto para servir de apoio.
Depois disso? Acabou!
— Eu vou morrer de infarto! Diga que é um engano e que o outro bebê é um
menino. — Peço dramatizando e encerrando a chamada de vídeo sem nem mesmo
despedir. Três filhas, porra! Fodeu! Vou morrer antes dos cinquenta anos.
— Serão lindas nossas Sadsbebês! — Minha rainha sorri feliz da vida e
amolece meu coração todinho. Ela está tão feliz com a gravidez, tão radiante e a
notícia parece ter levado isso a um nível mais alto de felicidade, se é que é possível
estar ainda mais feliz.
— Elas serão como você e nossa filha! — Sorrio a beijando e então ela me
puxa pela gola da camisa aprofundando o beijo. — Gostosa.
— Chega! Basta! Vão para a casa e transem! Vocês parecem no cio.
— Limpe minha mulher para que eu possa fazer isso, doutora do cão! —
Brinco.
— Nosso filho está emburrado no carrinho. — Vic me lembra e eu corro
para ver a coisa mais fofa.
— Oh! Meu princeso! Você está chateado? Desculpa o papai, eu estava
vendo suas irmãs. Fica firme, você é minha esperança de controlar toda essas
mulheres. Não faça esse bico, porra, papai vai chorar aqui...
— Você esqueceu de despedir da Isis na chamada de vídeo. — Puta merda!
Eu esqueci realmente.
— Vamos Sadbebê, ligar para sua irmã fugitiva. Você é a coisa mais fofa
desse mundo, sabia? Papai te ama.
— Matheus é muito fofo. — Ouço a megera dizer à minha esposa e sorrio.
— Ele é o fofo mais fofo de todos os fofos. — Minha esposa diz rindo.
— Eu sou fofo! — Tenho que concordar com elas. Além de ser fofo, eu sou
também o homem mais feliz e realizado do mundo.
[........]
Ava e Luma nasceram no mesmo hospital que Victor[BB3], dessa vez o
desmaio foi quase em dose tripla. Eu desmaiei quando Vic entrou em trabalho de
parto, desmaiei quando elas nasceram e quase desmaiei quando apresentei as duas à
minha família.
Vic entrou em trabalho de parto pouco antes do previsto, na festa de
aniversário de 1 ano de Victor. Dessa vez, ela não teve nenhuma crise, muito pelo
contrário. Ela simplesmente virou a mulher mais determinada que eu já conheci.
Acho que a responsabilidade de ter quatro filhos, fez imensamente bem a ela. Ela
tornou-se dinâmica, ainda mais forte, resiliente, poderosa. Vic é uma mãezona, que
brinca, rola no chão, repreende quando necessário e se desdobra em mil para dar
atenção igual a todas as crianças. Além disso, parece que nossa vida sexual ficou
mais intensa e interessante, como se antes já não fosse o suficiente.
O fato de não podermos estar transando sempre como no começo, fez com
que passássemos a valorizar ainda mais os momentos a sós e inovar mais na relação.
E, além de todas essas coisas que já disse, vale acrescentar que minha mulher
conseguiu o impossível: ela ultrapassou os limites da perfeição e está ainda mais
linda, mais gostosa, mais absurdamente tentadora.
Isso me deixa puto! Aonde vamos, eu vejo os olhares direcionados a ela,
tanto de mulheres quanto de homens. Enfim, é algo que tenho que lidar. O que
importa é que todos os sentimentos bons estão transbordando entre nós e nossa
família.
“Não me deixe triste, não me faça chorar
Às vezes o amor não é o bastante e a estrada fica difícil, não sei o porquê
Continue me fazendo rir
Vamos ficar chapados
A estrada é longa, nós seguimos adiante, tente se divertir nesse meio tempo
Venha e dê uma volta no lado selvagem
Deixe-me te beijar intensamente na chuva”
Lana Del Rey – Born to die

TEMPOS DEPOIS....
— Olá família! — Cumprimento meus pais assim que entro no apartamento
deles.
— Theus? Não avisou que vinha! — Minha mãe diz sorrindo. — Meus
amorinhos! Ela agacha e cumprimenta Isis e Victor. — Cadê Vic e minhas netinhas?
— Pergunta enquanto meu pai os abraça.
— Que cabelo é esse garoto? — Meu pai pergunta à Victor.
— Papai fez moicano nele vovô. — Isis explica rindo.
— Crianças, por que não vão em busca de Arthurzinho? — Sugiro
precisando de um momento a sós com meus pais. Isis sai puxando Victor e eu acabo
sorrindo. São lindos pra caralho.
— O que houve?
— Eu e Vic separamos. — Informo suspirando.
— Vocês o que? — Meu pai pergunta quase gritando.
— Nós nos separamos, pai.
— Como você diz isso assim, do nada? — Minha mãe questiona sentando-se
no sofá e eu a acompanho.
— Vic está grávida e surtou.
— Victória está o que??? — Meu pai grita mais uma vez.
— GRÁVIDA! — Anúncio em alto e bom tom.
— Puta que pariu, vocês são o que? Coelhos reprodutores? — Ele pergunta e
acaba sentando-se também. Pois é, sei o que é precisar sentar-se para digerir certas
notícias.
— O organismo da Vic não se dá muito bem com anticoncepcionais, e eu
não me dou muito bem com preservativos. Exageramos no sexo a ponto de
esquecermos que gera consequências tipo bebês, e aconteceu. Nós discutimos feio.
— Explico com calma.
— Como você transava antes de Victória? Sem preservativos? — Dona Mari
indaga com seu jeito explosivo de ser, prestes a me matar.
— Não, com preservativos, sempre com preservativos. Mas eu não me dou
bem com preservativos quando se trata da minha esposa, porque ela é gostosa e
aper...
— Chega! Não quero detalhes íntimos de Vic. — Minha mãe anuncia.
— Vic ficou com Luma e Ava? — Meu pai pergunta e eu me dou conta do
que está por vir. Porra! Mais uma gestação! Isso me leva ao passado, mais
especificamente quando minha mulher estava grávida de gêmeos. O nascimento foi
surreal, foi lindo ver minha Vic com dois bebês em seus braços. Compensou toda a
loucura da gestação. A mulher virou a personificação do satanás. Ela me estuprava
dia e noite, eu broxei pela primeira vez na vida durante a gestação das gêmeas. Não
tinha mais como manter o soldado erguido e Vic parecia a própria garota do
sadismo. Foi assustador, porém, quente. Dou até um sorriso lembrando disso..., mas
estou com medo de passar por outra broxada.
— Sim, ela ficou com as pequenas.
— E você ficou com Victor e Isis? — Questiona de um jeito engraçado.
— Não é bem assim. Não dividimos as crianças. — Explico. — Mas, ela
está tão louca, que eu resolvi trazê-los comigo. Não trouxe Luma e Ava porque elas
ainda estão mamando nos seios incríveis da minha esposa. — Meus pais reviram os
olhos e eu sorrio. — Domingo voltamos para Belo Horizonte.
— Tudo bem, Matheus, mas me diga algo. Por que você está com um
semblante bom? Esse não é o rosto de um cara que acabou de separar. — Minha mãe
pergunta e eu sorrio.
— Porque não será bem uma separação. Eu disse a ela que não sairei da
casa, não compartilharei as crianças e que se ela quiser separação terá que ser
litigiosa, porque não darei fácil. Só saio de casa quando o litigioso for resolvido e
nós sabemos que isso demora, a guarda das crianças é devidamente compartilhada.
E, exijo também acompanhar todo o processo da gestação. Debaixo do mesmo teto
Vic não vai conseguir se controlar. — A verdade é que vou jogar sujo vinte e quatro
horas por dia.
— Eu acho que nunca ouvi uma história tão absurda em toda minha vida. —
Eu choquei dona Mariana, então deve ser algo escandaloso realmente.
— Você errou, Matheus. Você deveria ter se precavido. Estamos falando de
cinco filhos. — Meu pai repreende. O que há demais? Quem tem 4 pode ter 5. Não é
como se não déssemos conta. Além do mais, temos dinheiro para criar as cinco
crianças bem, investirmos no futuro deles e investir em ajuda também.
— Eu farei vasectomia por ela. — Informo. — Quando ela tiver de
resguardo, obviamente. — Comento.
— Gente, preciso beber três doses de pinga depois disso. Vocês não
separaram, porra! Você e Vic são apenas insanos, completamente loucos. Superaram
a loucura da família toda! — Dona Mari argumenta chocada.
— Separamos sim, mãe. Ela tirou a aliança.

"— Oh meu Deus!!! Eu quero apenas matá-lo!!! — Minha mulher grita


assim que chegamos em casa após saímos do laboratório.
— Você está agindo como se eu tivesse feito sozinho!
— Mas é praticamente isso, Matheus. Você sabe usar táticas para foder
minha mente na hora do sexo. Nós estamos separando por um tempo, até que eu
tenha condições de digerir que estou na minha QUARTA GRAVIDEZ!!! Se forem
gêmeos de novo? Oh meu Deus!!! Eu estou desesperada, Matheus! Desesperada!
Há Victor no auge da infância, nossas filhas só têm seis meses e há Isis crescendo a
cada dia. Nossa casa em breve parecerá com um dos abrigos da minha mãe, merda!
— Você está surtando.
— Eu me sinto surtada. Aliás, nunca estive tão surtada como agora e não é
uma crise dos meus transtornos, é crise de loucura real! — Confessa rindo de
nervoso.
— Quando estava virando os olhos e gemendo em cima de mim você não
surtou ou surtou... depende do angulo. — Sorrio.
— É você quem joga sujo, Matheus. Vai me envolvendo, me deixando no
último estágio da excitação e então... é tudo uma delícia! Você me deixa fraca no
sexo, porque apenas cismou que quer povoar o mundo!
— Isso é motivo para separação? Eu te deixo fraca no sexo, Vic?
— Sim!!! — Ela grita jogando sapatos em cima de mim.
— Eu não saio dessa casa e nem abro mão dos meus filhos. — Aviso.
— Foda-se, então nós continuaremos morando debaixo do mesmo teto,
porque eu também não sairei dessa casa e não abro a mão dos MEUS filhos!
— ÓTIMO ENTÃO!!! — Grito.
— EXCELENTE!!! — Ela grita de volta. — EU ESTOU GRÁVIDA, JESUS!
EU ACABEI DE PARIR!!!
— Olha, pequeninha...
— NÃO ME CHAME DISSO, DIABO!
— Eu vou te dar o final de semana para repensar essa merda toda. Não vou
discutir quando você parece insana. Vou para casa dos meus pais, levarei Isis e
Victor. Você fica com Luma e Ava.
— Aproveite e leve isso com você, seu... seu... seu... transante! — Diz me
entregando a aliança.
— Diz a mulher que me pede para ser fodida ao menos duas vezes ao dia!
Diz a mulher que furou um dia do resguardo com fogo de dar. Diz a mulher que joga
essa bunda na minha cara e pede para que eu a encha de tapas! — Argumento e isso
parece um diálogo de adolescentes rebeldes.
— Chega! Saia!
— Não vou sair!
— Saia, Matheus! — Que mulher diabólica!
— A casa é minha também. — Informo.
— Na verdade, você tem que ficar mesmo, porque eu não vou cuidar de
trezentas crianças SOZINHA não!

— Que bom, porque eu jamais permitiria que você cuidasse dos meus filhos
sozinha! Eu assumo minhas responsabilidades. — Aviso.
— Nós estamos divorciando.
— Pode procurar um bom advogado então, pequeninha, porque não vou
facilitar pra você. Na verdade, moverei o inferno para dificultar sua vida. — Aviso
entregando minha aliança a ela.
— Você vai viajar sem aliança? — Questiona.
— Divórcio, esqueceu? Você que propôs. — Digo segurando a vontade de
rir.
— Eu realmente odeio você, Matheus. Enfie essa aliança no...
— Olha a boca!”
— Como vocês separaram? — Liz pergunta chorando.
— Calma sogrinha, não é definitivo. Vic só está nervosa.
— Claro, são muitas crianças de uma só vez. — Diz o óbvio.
— Mas nós temos ajuda, ela tem a mim. Não é como se ela fosse educar e
criar todos sozinha. Nós dividimos todas as funções igualmente, Liz. É justamente
por isso que eu trabalho de casa, para estar com ela o tempo todo e auxiliar em tudo.
A única coisa que não posso fazer é amamentar, de resto eu ajudo em tudo. Muitas
coisas mudaram, mas tenho tentado ao máximo ajudá-la. Tanto que ela se sente bem
para ir ao shopping sozinha, salão se cuidar, ela trabalha de casa... Eu faço tudo para
que os filhos não atrapalharem cem por cento a nossa rotina. Nós saímos sozinho
todos os sábados. Não é o fim do mundo, Liz. É só mais um bebê.
— Ou dois.
— Eu sinto que dessa vez vem um. Um outro garoto. — Digo feliz.
— Theus, você é muito fofo, mas eu imagino que Victória está desorientada
agora. Ela nunca proporia separação se tivesse em sã consciência. Ela ama você.
— Eu sei disso. Dei um tempo a ela por isso. — Afirmo com convicção.
— Eu só não vou desesperar mais porque você parece seguro de que não é
fim. Theus, você significa muito para mim e para Bernardo, por tudo que fez e faz
pela minha filha, e agora por todos os meus netos.
— Eu farei por eles até meu último suspiro, Liz. — Afirmo a abraçando.
— O que você fez com minha irmã? Biba galopante! — Bernardo entra no
apartamento de Liz parecendo um galo de briga. Eu já fico logo de pé e mostro o
tamanho dos meus braços. Ele ri.
— Fiz sexo.
— Oh merda! Pare de falar que transa com a minha filha. — Meu sogro
pede.
— Mas, sogro, como você acha que Victória engravidou? — Argumento
muito seriamente.
— Ela está grávida??? Bia só disse que vocês tinham separado. Puta merda,
cara! Vou ter que engravidar Beatriz pra entrarmos num a disputa justa.
— Isso não é um jogo, seus imbecis! — Liz esbraveja nos fazendo rir.
— Eu tenho responsabilidade, Liz. Sei que filho não é brincadeira. —
Informo sério. Eu nasci para ser pai, porra! Cada pessoa nasce com um propósito, eu
nasci com esse. Me respeitem, eu sou o melhor marido e o melhor pai!

A notícia da separação caiu como uma bomba sobre nossa família, uma
bomba de risos. Ricardo foi até para BH com Giovanna, dessa vez para tratar da
crise conjugal, já que o transtorno de Vic está devidamente controlado a um bom
tempo.
Eu não estou sofrendo. E isso é simplesmente pelo fato de confiar no que eu
e ela possuímos. É inabalável, simples assim.
Agora acabei de sair do avião e estou dentro de um táxi junto com meus
filhos indo para casa. Estou ansioso para chegar, mas apreensivo também. Não sei o
que me espera, mas sei o que espera Victória. Tortura sexual.
Quando o táxi estaciona diante de nossa casa Isis desce correndo e eu pego
Victor no colo.
— Mamãeeeee! — Ouço minha garota gritar e então coloco Victor no chão,
como esperado ele segue direto para o lago que tem abaixo da escada.
— Não senhor, garoto! O que papai te falou sobre isso?
— Que não. — Ele diz.
— Exatamente. Não pode. Vai machucar nossos amigos peixinhos. — Ele ri
e sai andando com sua bundinha cheia de fralda. Meu pimpolho tem menos de dois
anos e já é tão esperto que fico espantado.
— Oh meu bebê! — Vic surge usando um roupão levemente aberto. Filha da
mãe! Provocadora!
— Oi amor. — A cumprimento apenas para testar se ela já está mais calma.
Mas, me fodo nesse teste.
— Nós estamos divorciados.
— Então você insiste nisso? — Pergunto rindo.
— Não tem graça.
— São os hormônios da gravidez mexendo com você, Vic. Sério, você vai
esquecer disso em breve e vai implorar por coisas que apenas eu posso te dar. Está
tudo bem com o nosso filho Sadbebê em sua barriga?
— Ele não é um Sadbebê.
— É sim. — Afirmo e ela levanta o dedo do meio para mim.
Aproveito o momento para ver minhas garotinhas.
— Olá vocês, cabelinhos castanhos! — Sorrio e elas começam a se mexer
feito loucas.
— Vocês são muito iguais a mamãe, menos os olhos.
— Elas realmente se parecem com dona Vic. — Ana, a babá, diz.
— Muito, olha o narizinho. Igual. — Sorrio.
— Senhor Matheus...
— Matheus... — Digo a cortando.
— É que o... você pediu que eu te avisasse sobre dona Vic.
— Aconteceu algo?
— Ela andou chorando pelos cantos. Ela me contou que está grávida e que
pediu o divórcio.
— Eu não posso me arrepender do que foi feito, Ana. Estou feliz acima de
todas as coisas. Sei que daremos conta. Vic já enfrentou coisas terríveis no passado,
ela não confia muito no próprio potencial. Não vejo motivo para tanto sofrimento,
mas falarei com ela. Tudo se resolverá.
— Eu torço para que fiquem bem. Vocês deveriam sair, um jantar romântico
talvez. — Sugere pegando Luma.
— Pensarei nisso, Ana. Muito obrigado pelo carinho e pela preocupação. —
Dou um beijo em sua testa e decido ir tomar um banho. Vic está no quarto, sozinha e
sem a receptividade que sempre encontro.
— Vic, é só um bebê.
— Você passou dos limites. Não é só um bebê Matheus, é todo o conjunto da
obra. Eu virei a própria rompida parideira da família. Não percebe? Beatriz e Bê
resolveram parar em Enzo, Pietro e Jé pararam logo nas gêmeas, e nós? Nós... você
apenas decidiu que quer ter todos os filhos que possível for.
— Não foi tão proposital, Vic. Você está colocando a culpa toda em mim. —
Argumento.
— Querendo ou não acabou sendo, Matheus.
— Tudo bem, Victória. Eu sinto muito, ok? Acaba aqui esse lance de mais
filhos. Esse bebê será o último e estou muito feliz pela existência dele. Não vou
mentir e muito menos fingir tristeza. Se você quer ficar dessa maneira, beleza. Eu
não vou ficar te mimando dessa vez, Vic. Sinto muito, de verdade. Não vou correr
atrás ou rastejar.
— Você dorme no quarto de hóspedes! — Anuncia. Eu mal posso acreditar
nessa merda. Isso é infantil!
— Então é sério? Você quer divórcio? Então vamos continuar morando
debaixo do mesmo teto divorciados? Quais as regras? Já estipulou?

— Regra é cada um no seu canto. PROIBIDO TRAZER MULHERES


PARA CASA.
— Beleza. Tenho uma regra também. PROIBIDO TRANSAR ENQUANTO
CARREGA UM FILHO MEU NO VENTRE, SEJA COM HOMENS EM CASA
OU NA RUA! Acho desrespeitoso com meu filho, não quero um pau que não é meu
invadindo a área próxima onde meu bebê está. Se é que outro pau que você vai
arrumar chega perto do tamanho, da grossura, da dimensão, da espessura do meu!
— Você pode transar e eu não? — Questiona arqueando uma sobrancelha.
— Bom, minha barriga está plana, dá para enganar uns dois, três meses...
— Atreva-se. — Esbravejo.
— Você não manda em mim! — Grita de volta.
— Então eu estou solteiro? Livre na pista? — Questiono tentando não rir. —
Posso correr na lagoa? Conversar com mulheres aleatórias? Frequentar baladas?
— Você é pai de família.
— Mas sou solteiro? — Questiono mais uma vez e ela sai batendo a porta.
Vou torturar essa filha da puta. Ela vai acabar implorando por clemência.

Jantamos com nossos filhos, todos organizados à mesa. Somos seis agora e
em breve talvez sete ou oito. Eu gosto de pensar na casa cheia de crianças
bagunçando a porra toda. Ficarei muito feliz quando todos estiverem maiorzinhos,
correndo por todos os lados.
Eu e a megera dividimo-nos para fazer as crianças dormirem e então eu faço
a cena triste de ir até o quarto pegar meu travesseiro e uma coberta. Na verdade, eu
enceno todo um sofrimento para que ela se sinta extremamente culpada. Não durmo
no quarto de hóspedes, durmo na sala e acordo com ela diante de mim.
— Puta merda, Vic! parece assombração! — Digo levando a mão ao peito.
— Não precisava fazer drama e dormir na sala.
— Não é drama, eu apenas quis dormir na sala. Vai se incomodar com isso?
Tipo, somos semi-divorciados. — Relembro e ela taca uma almofada na minha cara
antes de sumir. É então que uma coisa pequena surge.
— Papai!
— Sadbaby boy! — Sorrio o pegando. — E essa boca cheia de dentes?
— Dentes.
— Dentes, garoto! — Eu mordo suas bochechas gordinhas a ele ri. — Você
mimiu bem?
— Sim. — Ele é muito monossilábico ainda. Acho bonitinho.
Ruth entrega para ele uma mamadeira de iogurte e ele salta do sofá.
— E aí, Ruthinha...
— Que bonito dormindo no sofá! — Ela diz.
— Ah, para! Vem dormir comigo, Ruthinha, cabe nós dois! — Dou uma
gargalhada e ela me bate. Me levanto e ela tapa os olhos. Coitada. É foda de manhã,
porra!
— Não sou obrigada a presenciar isso! — Avisa antes de sair apressada.
Pego e travesseiro, a coberta e me tampo. Verifico o quarto de Luma e Ava e
elas ainda dormem como anjos, assim como Isis. Em meu quarto, encontro mais uma
vez Victória. De propósito, retiro a coberta e o travesseiro, para que ela veja o que
está perdendo. Seus olhos caem para minha ereção e presencio o momento exato em
que ela engole seco.
— Bom, você já tem algum advogado em mente, Victória?
— O da empresa da minha mãe. — Anuncia decidida.
— No caso é Beatriz? — Pergunto rindo.
— Vou arrumar um.
— Ok, eu decidi te dar o divórcio. Vou resolver tudo na vara. Você precisa
saber que, como temos 4 filhos menores, 5 em breve, o divórcio tem que ser judicial.
Por isso, é realmente importante um advogado, para não deixarmos lacunas em
aberto.
— Você parece feliz em divorciar! — Alega.
— Não vou rastejar Vic, se é isso que espera. Você significa muito para mim,
mas eu me amo também. — Aviso com firmeza. — Cuidar de divórcios costumava
ter um outro tipo de perspectiva para mim. — Divago. — Cuidar do próprio divórcio
não é tão tentador quanto do divórcio dos outros.
— Você cuidava de divórcios?
— Sim. Em Nova York cuidei de muitos.
— Por que tinha outra perspectiva? — Pergunta curiosa.
— Você não vai querer saber. — Sorrio e ela avança sobre mim como um
animal selvagem. Ela distribui tapas em meus braços e quando vai tentar me dar um
na cara eu a seguro. — Caralho, isso é agressão. Vou te processar ou usar isso de
alegação para me dar bem no divórcio.
— Nós podemos fazer sexo? Só como amigos? Tipo sem compromisso?
— Sou homem direito, não faço sexo casual. Não mais. Sou um princeso,
pai de cinco crianças e um cachorro. Não sou um objeto sexual, prostituto ou algo do
tipo. — Aviso enquanto ela pega no meu pau por cima da cueca.
— Por favor.
— Não, Victória. Me convide para um jantar romântico com um bom vinho,
me envie algumas dúzias de rosas e use toda sua lábia para conseguir me levar para a
cama. Agora sou um homem a ser seduzido e não um homem a seduzir.
— Eu preciso foder com você! — Implora tentando me beijar.

— Eu costumava ser casual antes de você surgir, Victória. Mas aí você veio
e eu ganhei filhos e a ideia de sexo casual não me atrai mais. Em breve irei arrumar
uma namorada séria, alguém que possa conviver com meus filhos e que eu possa
transar livremente sem essa coisa casual. Vou dar um tiro certeiro e mirar na mulher
certa...
— Eu odeio você, Matheus!!! Arrume uma namorada e eu irei matar vocês
dois! — Ela grita.
— Sou quase divorciado, quer que eu fique sozinho? — Indago curioso.
Minha Sadgirl do caralho!
— Arrume uma namorada e você sofrerá consequências.
— Só de raiva vou arrumar uma hoje, dúvida do meu potencial? — Provoco
e ela joga um tubo de creme em cima de mim.

E o tiro saindo pela culatra mais uma vez...


Eu só queria dar um susto nele, mas agora, Matheus apenas está reagindo
bem. Na verdade, nós dois estamos sendo bem infantis diante das circunstâncias.
Matheus acha que ter filho é como beber água, a coisa mais tranquila do mundo. E,
quer que eu aceite isso de boa! Eu acabei de parir e mais uma vez estou grávida. Não
estou rejeitando o bebê, mas dizer que estou dando pulos de alegria seria mentira.
Agora Matheus está agindo como... Matheus. Em toda sua perfeição. E eu
estou agindo como alguém muito mal-humorada, exceto com as crianças.
Estou tentando chegar a uma conclusão sobre o que é pior: ficar um final de
semana sem ele ou conviver com ele vinte e quatro horas por dia enquanto estou
muito brava.
Agora mesmo, estou agindo como uma idiota. Estou escondida atrás da
cortina do quarto, tentando observá-lo de forma que ele não consiga me ver lá de
baixo. Daqui o vejo chegando até a lagoa para correr. Na verdade, eu estou pronta
para segui-lo, porque sei que ele está fazendo isso de propósito.
Vejo três mulheres correndo e algumas andando de stand up paddle. É então
que o bonitão retira sua camisa e exibi aqueles pelinhos dourados que me fazem
molhar instantaneamente. Ele começa a correr e duas outras mulheres que estavam
correndo no sentido oposto dão meia volta e começam a correr em direção a ele, isso
me deixa com sangue nos olhos. Não perco tempo. Nem despeço de Ana, Ruth ou o
jardineiro, na verdade, eu nem vejo meus filhos. Apenas saio como uma maluca
descendo até a lagoa e começo a correr como uma velocista disputando um prêmio
milionário. Ok, eu não deveria correr assim, eu sei. Mas, sei que meu sadbebê está
aqui bem pequeninho e bem protegido. Não é tipo nada muito agressivo, eu me sinto
maravilhosamente bem-disposta.
Não demoro alcançá-los. Fico puta por vê-lo correndo com elas. Eu vou
matá-las!
Eu penso numa abordagem desesperada, mas apenas decido fingir uma
queda.
— Aiaiaiaiai... — Grito sentando-me atrás deles imitando uma posição de
quem realmente caiu, jogo até um pouco de terra em um dos meus joelhos.
— Vic! — Ele exclama vindo até mim. — Merda, Vic! O que está fazendo
aqui? Caiu? Você está grávida!
— Eu caí... Está doendo muito.
— Onde pequeninha? — Ele é muito fofo. Estou arrependida pelo
fingimento, ele parece sentir as minhas dores do tombo. Dores que nem mesmo
existem. — Diga onde...
— Minha bunda... — Explico escondendo minha cabeça em seu pescoço e
inspiro seu cheiro maravilhoso. — Aí, dói muito, Theus!
— Vou levá-la para casa.
— Sim, por favor! — Peço e ele me encara sério assim que me ajuda a ficar
de pé. Ele me carrega em seus braços até estarmos em nosso quarto, então me coloca
no chão.
— Você é uma péssima atriz. Deveria ter umas aulas de interpretação com a
minha mãe. — Diz rindo. — O que você quer Victória? Vamos lá. Diga o que você
quer. Eu a vi atrás da cortina me observando. — Questiona enquanto retiro meu
short de corrida. Antes que eu me dê conta, estou em seus braços. — Peça o que
quer, Vic. — Ordena apertando minha bunda.
— Você é meu.
— Só se você for minha! — Rebate sorrindo.
— Eu sou sua.
— Então eu sou seu! — Pontua.
— Sua mãe disse que brigas são necessárias as vezes, para esquentar a
relação. — Comento beijando seu pescoço.
— Estava fria? Na verdade, eu acho que estava quente demais, não
concorda?
— Concordo. — Sorrio. — Mas eu realmente não queria um filho agora. Um
seguido do outro...
— Eles irão crescer juntos, faremos um bom trabalho em conjunto. Fizemos
filhos lindos, Vic. Os quatro, são as crianças mais lindas que já vi. Fiz uma pintura
em seu útero com meu pau. — Diz me fazendo rir. Nossos filhos são realmente
lindos, de uma maneira exagerada.
— Você é muito visionário e positivista. — Sorrio.
— Você é capaz. Nós somos capazes. Eu tomei uma decisão.
— Qual? — Questiono.
— Eu farei vasectomia assim que esse bebê nascer. — Anuncia fazendo meu
coração falhar uma batida.
— Você faria isso?
— Claro que sim. Sei que você sofre muitos problemas com métodos
contraceptivos, então, se isso for da sua vontade, eu farei e evitaremos popular o
universo com Albuquerques e Brandões.
— Nós falaremos disso uma outra hora. — O abraço e ele retira minha
camiseta antes de nos levar até o banheiro. Sorrio quando ele retira o resto de sua
roupa e liga a ducha em cima de nós dois, e suspiro quando ele me puxa para um
beijo.
— Sou toda errada, mas eu te amo. Nunca conseguiria sem você...
— Toda errada mesmo, minha Sadgirl. Não tem conserto e eu te amo toda
errada, toda estragada, feita sob medida para eu consertar.
— Eu amo quando você me conserta, amo a forma e as táticas que usa. —
Sorrio.
— Na próxima briga podia arrumar uma situação menos caótica como um
divórcio por favor? — Pede grudando minhas costas na parede.
— Você sempre soube que não iriamos divorciar.
— Nós somos para sempre, apenas decidi que entraria no seu jogo e
inverteria a situação. Deu certo. — Afirma convencido. Roçando seu membro em
minha entrada ele explode minha mente para longe dos pensamentos. — Senti sua
falta, sardinhas bonitinhas.
— Eu senti a sua, covinhas bonitinhas. Você não vai transar comigo? —
Pergunto movida pelo desejo.
— Não. Você está de castigo. — Avisa me soltando.
— Você não pode estar falando sério, Matheus Albuquerque!
— Quero um jantar romântico a luz de velas, um bom vinho e quero que use
todo seu poder de argumentação para termos um sexo extremamente quente e
explosivo essa noite. De acordo? — Pergunta dando um sorriso cafajeste.
— De acordo, Matheus! Eu farei o melhor de todos os jantares quer você já
teve o prazer de degustar.
— Estou contando com isso, Sadgirl. — Piscando um olho ele sai do banho
com seu jeito naturalmente sexy e sedutor. Eu farei um agrado ao meu marido, um
agrado merecido por me aturar.
— Ei. — Chamo antes que ele saia do banheiro. Ele se vira enrolando a
toalha na cintura e sorri. — Eu te amo, ok?
— Você é louca por mim. Eu sei disso desde o primeiro beijo, aos dezessete
anos de idade.
— Eu realmente sou.
“Você sabe que eu sentiria sua falta se nos afastássemos
O centro do meu universo está nos seus braços
E todo o caos se cristaliza
Quando você e eu
Colidimos”
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Aquele "surto" de realidade que as vezes acontece com as pessoas, está


acontecendo comigo nesse minuto. Me questiono o que estou fazendo da minha
vida e o porquê de eu mesma colocar tantos empecilhos nas situações.
Eu sinto que não faço por Matheus 5% do que ele faz por mim, e é
verdade. Não é um transtorno ditando isso em minha mente, é a realidade. O
homem é maravilhoso nos mais diversos sentidos, declara seu amor em todos os
minutos através de ações, palavras, os mais belos gestos. E eu? Eu me encaixei no
papel de vítima das circunstâncias e estou nele desde o momento em que voltei da
Itália. É exatamente isso. Não consigo lembrar de uma única atitude que eu tenha
tomado para surpreendê-lo. Na verdade, consigo. Quando voltei da Itália após ter
ido buscar minhas coisas e apareci no escritório. Não deu muito certo.
Eu o trato com todo meu amor, sou receptiva, carinhosa, amorosa. Mas,
apenas não o surpreendo. Nosso casamento não caiu numa rotina ainda, graças a
ele. É tudo graças a ele! É ele quem surpreende, ele quem inova no sexo, ele que
faz extravagâncias. Eu sou apenas espectadora de incansáveis gestos incríveis,
coadjuvante e receptora.
Que decepção comigo mesma!
Talvez tenha algo por trás de suas palavras, tipo uma indireta sútil.
"Quero um jantar romântico a luz de velas, um bom vinho e quero que use
todo seu poder de argumentação para termos um sexo extremamente quente e
explosivo essa noite. De acordo?"
Meu marido só quer ser cuidado, merda! Isso está tão evidente e eu agindo
com uma conduta completamente desatenta e egoísta. QUE ÓDIO de mim mesma
agora!
Saio do banho e visto uma roupa rápida. Quero usar a noite de hoje para
consumar uma mudança em mim mesma. Eu quero fazer pelo meu marido tudo
que ele faz por mim, quero retribuir, quero ser para ele tudo o que ele é pra mim.
Desde os dezessete anos é sempre ele a fazer tudo por nós e eu sempre a fugir, a
ignorar os fatos. Estou cansada do meu próprio egoísmo. É uma mudança positiva
após ele ter mudado minha vida para melhor.
Vejamos, eu agora tenho cinco filhos, ou seis, eu realmente espero que
sejam cinco. E, cada um deles, em especial Isis que veio oito anos antes de Victor,
Luma, Ava e esse bebê aqui em meu ventre, só vieram para trazer o bem pra minha
vida. Mesmo que, após o nascimento de Victor eu tenha sido consumida algumas
semanas pela culpa por Isis não ter tido o mesmo, eu enxergo que cada um deles é
responsável pela minha mudança pessoal e principalmente pela minha melhora
psicológica. É como se não houvesse mais espaço para a dor, apenas para o amor.
Não há tempo para cobrar a mim mesma pelo passado, não há tempo para
pensamentos indesejados. Eu fiquei desesperada pela notícia da quarta gravidez,
mas nesse momento eu estou sorrindo, com lágrimas nos olhos, diante do espelho.
Eu acho que estou sendo recompensada por todas as coisas ruins que vivi. Deus
está me dando todas as oportunidades de ser feliz, de ser sã, de ser saudável
psicologicamente, de ser amada e poder doar todo meu amor. Ele ainda me deu
Matheus, um pacote gigante repleto de qualidades incríveis. O que temer? Estou
cercada por anjos e pessoas de bem. Há uma força superior ajustando todas as
coisas e eu me sinto feliz e grata.
Não há nada temer Victória, absolutamente nada.
Uma leve batida na porta do quarto me faz parar de sonhar acordada.
Limpo meu rosto e corro para abri-la. Eu abro o maior de todos os sorrisos, um
sorriso que é reservado apenas para anjos:
— Aqui está meu pequeno homem! — Sorrio pegando meu bebê em meus
braços. — O que meu pequeno homem quer?
— Mamãe, kult. — Victor diz bebendo um yakult.
— Eu amo muito kult, é muito gostosinho e saudável.
— Papai está tomando kult.
— Papai é um mega crianção, não é mesmo? — Rio. — Ele rouba todos os
lanchinhos seu e das suas irmãs. Vamos pegar esse papai levadinho.
— Sim. — Ele ri com bigode de yakult que me faz mordê-lo. Desço com
ele até o andar de baixo e pego Matheus com um pote de chocolates em mãos. —
Colate. —Victor anuncia e Theus sorri abrindo um batom e entregando a ele.
Então, sou obrigada a colocar meu filho no chão porque sei que teremos chocolate
espalhado por todos os cantos.
— Sem sujeira, garotão, combinado? —Matheus pergunta e Victor faz um
sinal com dedo em confirmação. É engraçado, ele é um mini rapaz, um mini
Theus. Olha só tudo que eu e o homem que amo construímos... uma família linda!
— O que foi Sadesposa? Está estranha, com os olhos brilhando. —
Questiona sorridente enquanto degusta um chocolate sensação. Um pouco de calda
molha seus lábios e em respeito ao meu filho eu me controlo.
— Eu preciso ir à rua. Preciso que fique com as crianças. — Digo e ele
arqueia a sobrancelha.
— Você vai na rua com essa roupa? — Questiona me fazendo revirar os
olhos.
— Sim, eu irei. O que há de mais? Um short, uma camiseta e um tênis, o
que há de errado, Matheus?
— Não há nada de errado. Na verdade, há excesso de coisas devidamente
perfeitas e isso me deixa ciumento, possessivo e louco. Não suporto a ideia de ter
outros homens a observando. Sim, Vic, eu sou louco real. Como se eu pudesse
guardá-la dentro de uma redoma. — Suspira frustrado. — Você está linda, seu
corpo é perfeito, suas pernas, sua bunda... é tudo feito para mim Vic, para os meus
olhos.
— Eu gosto disso. — Sorrio.
— Você gosta de que? — Pergunta demonstrando interesses ocultos.
— Da sua possessividade e seu ciúme descontrolado. Talvez seja meu lado
"sadgirl" que comanda essa parte de mim, mas eu realmente fico excitada com
isso. — Ele me encara profundamente, com seu jeito Matheus Albuquerque
intenso de ser. Aquele jeito que parece capaz de despir até mesmo minha alma. É
então que Victor deposita sua mão lambuzada de chocolate em meu short e
Matheus começa a rir.
— Parece que alguém terá que trocar de short. Talvez esse alguém poderia
vestir algo que cubra mais suas coxas bem torneadas e deliciosas, talvez alguém
queira manter a sanidade do marido vestindo algo que não mostre a poupa da
bunda fantástica que possui.
— Olha, se eu não estivesse envolvida numa conversa com você, eu teria
dito que foi você mesmo quem o mandou fazer isso. — Digo rindo. — Esse garoto
já tem um gama de possessividade correndo pelas veias.
— Ele é um Albuquerque. — Matheus pontua orgulhoso.
— Ele é um Brandão também. — Sorrio defendendo meu sobrenome.
— Seus irmãos são possessivos e a senhorita também. Logo,
provavelmente, nossos filhos serão assim.
— Devo presumir que a vida deles serão interessantes. — Digo. — Me
deem licença, há um short a ser substituído e algumas compras a serem feitas. —
Pisco um olho para Theus, dou um beijo em meu sujeirinha e volto ao quarto para
me vestir.
Após trocar de short — por um do mesmo tamanho —, pego minha bolsa e
decido ir no brinquedinho preferido do meu marido. Ele possui dois carros, um
para andarmos em família e um que é seu maior xodó, usado apenas para quando
saímos para jantar fora e momentos especiais. Eu quero dirigi-lo!
— Theus, onde está a chave do seu carro?
— O que? — Ele salta da bancada e leva a mão em seu peito. Isso me faz
rir.
— A chave do seu carro. — Peço.
— Qual carro?
— Aston.
— Nem fodendo!
— Sim, Theus, por favor! — Peço.
— Nem passando por cima do meu cadáver. Você possui carro Victória e
eu possuo outro carro além do Aston. Se você quiser ir nele beleza, mas no Aston
não.
— Sem graça!
— Vic, você não sabe dirigir aquele carro, ele é uma máquina perigosa. —
Informa como se eu fosse uma péssima motorista.
— Quando você menos esperar eu estarei dirigindo seu brinquedo. —
Aviso seguindo para a garagem.
Eu confiro os três veículos e pondero se é uma boa ideia irritá-lo nesse
instante. Minha sogra diz que é sempre bom colocar os maridos loucos...
Subo pela outra entrada e vou até a gaveta onde as chaves ficam. Pego a do
Aston e sorrio enquanto corro de volta para a garagem. Ajeito o banco, o retrovisor
e então ligo. Dou uma leve acelerada e a casa parece tremer. Aperto o botão para a
garagem ser aberta enquanto testo as possibilidades que esse carro oferece. Não é
algo de outro mundo. Eu saio de ré e, quando estou fora da garagem, Matheus
surge transtornado. Eu aceno para ele e acelero rumo aos lugares que irei.
É um carro realmente potente, por isso o dirijo com bastante controle. O
telefone toca incansavelmente e eu aperto o viva voz para atender Matheus:
— Você não fez isso Victória! — Esbraveja.
— É só um carro, bonitão. Estou dirigindo muito bem obrigada. Você fala
como se eu fosse uma péssima motorista e inconsequente, Matheus Albuquerque.
Já estive dentro desse brinquedo algumas vezes com você dirigindo, sei que estou a
bordo de uma máquina de alta potência.
— Você sabe o preço desse carro?
— Não faço ideia, mas acredito que não seja barato. — Sorrio.
— Para consertar um único defeito mínimo na lataria dele eu compro três
carros populares.
— Terei isso em mente.
— Sabe quanto você custa? — Questiona.
— Eu tenho preço?
— Não, por isso mesmo estou questionando. Talvez você não saiba que
minha maior preocupação não é o carro e sim você. O carro pode ser substituído,
você não! — Eu quase choro. Meu marido é a coisa mais linda realmente. —
Agora, além do jantar, terá que trabalhar duro preparando uma sobremesa incrível.
— Avisa. — Por favor, dirija com cuidado Vic, o carro está sendo monitorado.
— O que??? — Pergunto incrédula.
— Esse carro é monitorado, Victória. Ele chama atenção e pode ser
roubado. Eu fiz questão de cuidar disso assim que o comprei. Ele é rastreado,
monitorado e eu sei que você está indo sentido shopping nesse momento. —
Explica. — Pode até dar um sorrisinho que eu verei. Sorria para mim, Vic.
— Essa parte é mentira, não é? — Pergunto rindo.
— Não.
— Compreendo. Então se eu parar o carro em algum local devidamente
seguro, ficar nua e tocar meu corpo chamando seu nome você verá? — Provoco.
— Não ouse fazer isso, Victória.
— É mentira?
— Sim. A parte de eu poder vê-la é mentira. — Diz frustrado. — Vá Vic, e
volte logo, segura e inteira! Compre um lingerie sexy também para apagar da
minha mente que você está dirigindo meu carro sem minha permissão.
— Você está exigente hoje, não?
— Eu sou louco por você, me surpreenda Sadesposa. — Diz encerrando a
ligação.
Acelerando um pouco mais, chego ao shopping. Correndo contra o tempo
vou em busca de tudo que preciso. Primeiro vou em busca de algo que já estava
programado: uma roupa nova e uma lingerie diferenciada. Quando finalmente
consigo algo surpreendente é a vez de me preocupar com a decoração. Compro
algumas luminárias, pratos novos, toalhas, almofadas. Eu compro uma nova "mini"
decoração para o jardim, de forma que sou obrigada a pedir para ser entregue e
tenho que pagar uma pequena fortuna pela urgência. No mercado compro tudo que
preciso para o jantar e a sobremesa. Hoje testarei minhas habilidades culinárias
com ajuda do Google. Matheus ter o dom da culinária torna-se tudo muito injusto
para mim. Terei que contar com ajuda até dos deuses essa noite.
Quando chega em casa estou tomada pela adrenalina misturada com a
pressa.
— Não saia no quintal! Todos estão proibidos de se aproximar ou olharem
através das cortinas. — Aviso a Ruth, Ana e um Matheus curioso. — Por favor
Theus, controle a curiosidade. Eu irei cozinhar na cozinha da casa de hóspedes. Há
alguns entregadores...
— Calma, você está agitada. — Theus diz.
— Ok. Me acalme a noite! Agora eu estou com pressa. Quando as meninas
quiserem mamar ligue para meu celular.
— Não precisa de ajuda, Vic? — Ruth pergunta.
— Não, nenhuma ajuda. Obrigada de qualquer forma, Ruthinha — Sorrio.
— Rutinha, você pode deitar comigo ali no sofá e fazer um cafuné? Estarei
abandonado o resto do dia e da noite. — Theus dramatiza e eu sorrio.
Corro para o jardim e vou até a casa de hóspedes...é a casa onde Jéssica e
sua vó "moravam". Felizmente está reformada e se tornou uma nova casa. Não
ficaria feliz invadindo um espaço que era de outras pessoas.
Os entregadores chegam e colocam todas as minhas compras na área da
churrasqueira. É então que tiro alguns minutos para verificar meus filhos e meu
marido. Eu encontro a cena fofa de sempre. Victor está sentado no tapete da sala
brincando de blocos de montar, minhas gêmeas estão sentadas no bebê conforto
chupando suas chupetinhas, agarradas aos seus ursinhos e assistindo galinha
pintadinha. Isis ainda está na escola e Matheus está ao telefone conversando
questões processuais provavelmente com Beatriz.
Ele encerra a ligação e se assusta ao me ver.
— Ei sardinhas bonitinhas...
— Vim ver meus bebês e meu bebezão maior. — Sorrio.
— Você precisa de ajuda? Eu estava brincando sobre as exigências...
— Não preciso de ajuda, só preciso que Ruth e Ana possam ficar essa noite
com as crianças e preciso de você pronto.
— Eu nasci pronto. — Afirma dando seu sorrisinho de lado.
Após um beijo de incentivo, caminho para a área externa e começo a
trabalhar em meu propósito: agradar meu marido de todas as maneiras essa noite.

Não me atrevo a chegar na janela, mas devo dizer que estou bastante
curioso e ligeiramente ansioso. Já coloquei todas as crianças para dormir e agora
estou terminando de ler uma história para Isis, que já está quase se rendendo ao
cansaço.
Quando percebo que ela fechou os olhos, deposito um beijo em sua testa e
saio sorrateiramente do quarto.
O jantar é em casa, mas Vic, provavelmente está caprichando na
megaprodução, já que me enviou uma mensagem dizendo que devo estar vestindo
traje passeio completo.
Em nosso quarto tomo um banho, aparo um pouco da barba e me visto. Em
seguida, desço para sala, onde bebo um pouco de uísque ouvindo música e
aguardando o chamado.
É então que ela surge por trás de mim e venda meus olhos. Isso me deixa
arrepiado de uma maneira que não consigo compreender.
— Vic...
— Oi amor. — Ela sussurra e eu me viro para pegá-la. — Vamos?
— Você vai me guiar? — Pergunto sorrindo. Sou puxado pela gravata
enquanto a seguro pela cintura. Sou o próprio cachorro sendo conduzido, mas
pouco me importo. Estou ansioso e feliz por ela estar se esforçando. Sinto falta de
ser um pouco mimado às vezes e sei que Vic pode fazer isso, só precisava de um
empurrãozinho.
Caminhamos pelo jardim, onde ela me posiciona em algum lugar e se
afasta. Eu fico longos segundos esperando até que ela surge e retira a venda de
meus olhos.
Eu me sinto em outro lugar. Um lugar completamente diferente do jardim
da nossa casa. Está tudo iluminado com lamparinas, algumas luzes de pisca-pisca.
Há velas aromáticas, flores, puffs espalhados, tudo de extremo bom gosto.
A maior surpresa é quando me viro e encontro Victória vestida num
uniforme de empregada sexy. Eu não esperava isso. Esperava um vestido longo,
luxuoso e sexy. Mas, ela está usando esse uniforme e provavelmente tem uma cinta
liga por baixo dele, há também um generoso decote. Seus longos cabelos castanhos
estão soltos e levemente ondulados, minha garota está usando uma maquiagem
mais forte em seus olhos. Não é uma dessas fantasias de sex shop vulgar. É apenas
sensual de uma maneira que me faz querer descobrir o que há por trás dessas
vestes. Isso está me matando agora.
— Sente-se, senhor. — Convida séria caminhando até a mesa e puxando a
cadeira para eu me sentar.
— Obrigado. — Agradeço me acomodando. Estou sem palavras. Estou
explodindo de excitação e desejo, e ela apenas resolveu caminhar por todos os
lados para me provocar. É muito difícil manter o autocontrole em situações como
essa, mas, talvez eu consiga.
Ela surge com uma garrafa de vinho e a apoia sobre a mesa.
— Quer que eu abra? — Ofereço e ela sorri mostrando uma excelente
desenvoltura com o abridor. Surpreendente!
Vic coloca um pouco de vinho em duas taças e um pouco de água em
outras duas, em seguida pega sua própria taça e propõe um brinde.
— Um brinde, querido esposo. — Sorrindo, fico de pé para me juntar a ela.
— Um brinde à minha linda e provocante esposa. Um brinde ao nosso
mais novo filho e a família que construímos.
— Um brinde ao sexo que teremos hoje. — Ela diz sorrindo de um jeito
que me deixa em chamas.
— Você está safada.
— Completamente. — Pisca um olho. — Sente-se, irei servir nosso jantar.
— Estou com fome de você. Basta se deitar nessa mesa e eu irei comê-la
com voracidade. Refeição completa e sobremesa, tudo em uma só mulher.
— Eu passei a tarde toda cozinhando, então você irá comer comida
primeiramente. Iremos degustar de uma boa conversa também. — Mandona!
— Então me sirva, Sadesposa. — Sorrio e respiro fundo assim que ela se
vira. Puta merda, porque Deus me deu uma mulher dessas? Coisa mais linda e
gostosa.
Ela surge então com dois pratos, coloca um diante de mim e se acomoda
em seu respectivo lugar colocando seu próprio prato diante de si. O cheiro está
incrível, realmente incrível.
— Fiz uma quiche de alho poró, filé com champignon e arroz branco. Eu
espero que goste, dei o meu melhor. — Anuncia demonstrando um certo receio.
Seguro sua mão por cima da mesa e tento acalmá-la:
— Você fez com amor, não há qualquer chance de não gostar, princesa. —
A conforto. — Eu amo você, Victória.
— Eu amo você também, com a minha alma. — Sorrio. Ainda parece um
sonho ouvir essas palavras, parece um sonho possuir a vida que possuo hoje. Essa
filha da mãe me fez sofrer tanto no passado e olhe onde estamos?! Sentados no
jardim da nossa casa, tendo um jantar romântico
Degusto um pouco de cada alimento que há no prato. Realmente Victória
deu tudo de si para fazer esse jantar, está delicioso, tanto que nem consigo elogiar e
acabo apenas comendo.
— Hum. — Ela geme. — Meu Deus! Não fui eu quem fiz isso!
— Está além de incrível, amor. Já está pronta para assumir a cozinha. —
Brinco. — A partir de agora a cozinha é toda sua. Estou de férias. — Anuncio. —
Está maravilhoso Vic, tudo.
— Eu amo você, Theus. — Mais uma vez sorrio.
— Eu amo você. — Digo sentindo que ela está bem diferente, por algum
motivo que ainda não consegui identificar.
— Serei uma esposa melhor. — Aí está minha resposta.

— Você é perfeita, Victória. Perfeita para mim e para nossa família. —


Explico.
— É sempre você a me segurar, sempre você a surpreender. Eu me dei
conta hoje que faço muito pouco por nós, quero mudar isso. —Diz. — Não tem
nada a ver com traumas, com transtornos. — Sorri timidamente. — Eu só quero ser
para você tudo o que você é para mim.
— Você é minha vida. Você é tudo que precisa ser, tudo que eu amo. Com
erros, acertos, é você, Vic. Não sou o homem perfeito, longe disso.
— Não quero mais ser apenas cuidada, quero cuidar. — Eu compreendo o
que ela quer dizer. — Me deixe fazer isso?
— Você não tem que me pedir isso. — Argumento. — Você é livre para
agir comigo como quiser, Vic. Livre para cuidar de mim, livre para fazer loucuras
por mim e comigo, livre para inovar quando julgar necessário. Não tem que me
pedir permissão.
— Quero fazer por você, tudo o que faz por mim. — Repete certa de que é
realmente isso que quer.
— Eu amo você do jeito que é. — Seguro sua mão por cima da mesa e ela
sorri. — É carinhosa, amorosa, uma mãe magnífica, um ser humano incrível. —
Sorrio. — Vic, eu não vejo a necessidade de tantas mudanças, mas se você julga
que quer mudar para melhor, se é que é possível, eu estarei a apoiando e
aproveitando tudo o que tem a me dar.
— Sei quem sim. — Recebo um enorme sorriso e viajo no tempo enquanto
terminamos de comer nossa refeição. Passaram tantos anos, vivemos tantas coisas,
parece que foi ontem.

— Seu sorriso ainda é o mesmo de quando a conheci.


— Não acredito. Acho que ele não era tão verdadeiro como agora. — Diz.
— Você sempre soube esconder tão bem Vic..., mas, o seu sorriso, o
sorriso que era reservado para mim nunca foi uma mentira. Ele sempre foi
verdadeiro. É o mesmo sorriso que está dando agora, desde sempre. Esse sorriso
lindo, exclusivamente meu. Amo isso. Amo que você seja tão minha.
— Nós sempre fomos tão ligados, mesmo que sexualmente. Eu me lembro
da primeira vez que o vi. Theus, você era tão absurdamente lindo, parecia fruto da
minha imaginação. Então nos aproximamos e eu ficava observando seu jeito de
falar, de agir, cada pequeno detalhe. No dia que você me beijou naquele shopping
eu perdi a minha mente.
— Eu sei bem como perdeu a mente. — Sorrio. — Foram muitos
momentos, Vic, todos eles nos trouxeram até onde estamos.
— Sim. — Diz limpando algumas lágrimas. — Sobremesa?
— Você é minha sobremesa.
— Eu perdi muitas horas preparando... — Ela faz uma cara de desolação
que aperta meu peito.

— Me dê a sobremesa então, pequeninha. — Peço e ela se levanta


empolgada para buscar a bendita sobremesa. O foda é que, quando ela levanta-se,
eu ganho um vislumbre do seu corpo que me deixa louco. Isso me faz perder um
pouco da paciência. Chega!
Me levanto e caminho até ela. A pego por trás afastando seus cabelos e
beijo seu pescoço. Preciso dessa mulher tanto quanto preciso de oxigênio.
— O que você está fazendo?
— Ajudando você. — Minto passando minhas mãos em suas coxas
cobertas pela meia. Aproveito a oportunidade para constatar que ela está de cinta
liga. — Vou destruir você, Vic.
— Theus... — Ela geme deixando um pote que está em sua mão cair em
cima do balcão. Eu desfivelo meu cinto com uma mão e abro minha calça. — Você
está me tirando o foco.
— Preciso de você, estou louco, esperei o dia todo, o final de semana
inteiro. Estou louco de saudade e de vontade de você.
— Fique nu para mim. — Pede e eu chuto mais sapatos para longe. Vic se
vira de frente para mim, com um sorriso perverso. Desço minha calça, ela retira
meu casaco e abre minha camisa. Então estou de cueca e ela está ajoelhando no
chão.
— Não é necessário. — Aviso.
— Eu ansiei por isso tanto quanto anseio por tê-lo dentro de mim. Quero
chupá-lo. — Eu não sou louco de recusar. Minha mulher retira minha cueca e leva
parte do meu membro em sua boca. Eu reprimo um rugido e apoio minhas mãos no
balcão buscando um apoio qualquer. Até mesmo respiro fundo, desesperado.
Observo seu rosto, seus lábios me engolindo com delicadeza e engulo a
seco. É, estou balançado logo agora. É compreensível, já que ela também possui
meu coração em suas mãos. Eu só quero que ela seja para sempre minha. Eu quero
que a escuridão, que muitas vezes assombra, suma de uma vez por todas. Quero ela
assim, esbanjando força e vitalidade. Me reivindicando com vontade.
Sua boca sobe pela minha barriga lentamente e caminha rumo ao meu
peitoral. Então ela beija minha cicatriz e minha tatuagem.
— O que significa?
— Quando tivermos trinta anos de casado te conto. — Ela suspira em
frustração.
— Por favor.
— Todas elas têm a ver com você. — Confesso. — Exceto a das costas que
é M de Mariana.
— A Forgive no antebraço? — Questiona e eu balanço a cabeça
afirmando. — O triângulo da perna?
— Sim.
— Forgive significa perdoar.
— Exatamente. — Sorrio.
— O triângulo?

— Triângulo é a letra grega delta, que representa mudança e fluidez, ou um


circuito que volta ao princípio. Eu o fiz em Nova York, dois anos após ter me
mudado. Eu... não pensava em você com tanta frequência Victória, sinceramente.
Mas, quando acontecia, era avassalador pra caralho, me destruía e me colocava de
joelhos. — Confesso. — Então, o triângulo, foi porque simboliza pra mim que,
mesmo que parecesse que tinha acabado, você ainda estava firme e forte dentro do
meu sistema. — Revelo e ela está boquiaberta.
— A outra do braço? É impossível decifrá-la.
— Resiliência. — Digo e ela balança a cabeça, com os olhos brilhando em
lágrimas. — Eu sempre fui resiliente, sempre serei, por mim e por você, sempre
que necessário for.
— Diga-me a do peito. — Implora e eu solto sua liga para liberá-la da
meia. Deslizo a peça pelas suas pernas, retiro seus sapatos e então subo com
minhas mãos novamente, ficando de pé. — Me diga, amor, por favor.
— Eu direi, mas agora só preciso beijar sua boca, tudo bem? — Pergunto e
ela balança a cabeça em concordância.
A carrego até a casa de hóspedes e fecho a porta atrás de nós. Sou
surpreendido por velas espalhadas por todos os cantos. Nem mesmo o brilho das
chamas é capaz de competir com o brilho do olhar que minha mulher está me
dando.
Como na noite do nosso reencontro, eu me acomodo em uma cadeira
enquanto ela aguarda meus comandos com total submissão. É involuntário, mesmo
quando não estamos entrando em alguma brincadeira dominadora Vic sempre é
submissa no sexo. Há algumas vezes em que ela pega o controle, mas, na maioria
delas, sou eu quem dito as regras. Eu gosto. De uma maneira obscura essa
submissão me atrai e me enlouquece.
— Retire o restante de sua roupa para mim, lentamente. — Ordeno.
— Eu queria surpreendê-lo.
— Me surpreenda quando estiver nua, Vic. — Ela, primeiro, começa a
abrir lentamente os botões da camisa. Sorvo sua imagem, me embebo e me drogo
dela como um maldito viciado. É a coisa mais perfeita da minha vida, uma rainha.
A observo retirar o avental de sua roupa, terminar de abrir a blusa e então
se virar de costas para abrir o fecho da saia. Quase morro quando vejo que mal dá
para enxergar a pequena calcinha em seu corpo. Com a confiança de quem sabe me
deixar louco e sabe bem minhas fraquezas, ela se vira de frente e eu perco o fôlego.
A delicada calcinha é de presa em seu corpo por lacinhos. Como um
espectador ávido e apaixonado, a observo desfazer os dois lados e a calcinha cai ao
chão, entre suas pernas. Ela abre o fecho do sutiã e meus garotos são libertos. Seus
mamilos rijos me fazem salivar.
— Agora venha até mim. — Reprimo um sorrio quando ela vem um pouco
apressada. Fecho minhas pernas e ela abre as pernas dela. Não possuo mais o
autocontrole que possuí quando nos reencontramos de verdade após sete anos.
Agora só possuo os mais loucos desejos de possuí-la de todas as maneiras
possíveis. — Monte-me bem devagar, amor. Bem lento para não machucarmos
você. — Peço e ela faz o contrário. Meus cabelos são agarrados com força
enquanto me beija de uma maneira desesperada, com fome, sede, tesão. Ela se
abaixa e então guio seu corpo ao meu, encaixando meu membro lentamente dentro
dela, sentindo todas as suas paredes me envolverem de uma forma deliciosamente
tortuosa.
— Oh... — Minha garota suspira quando a forço sentar por completo, indo
— Plenitude. — Diz fechando os olhos e jogando a cabeça para trás. Minha fodida
Sadgirl do caralho tenta se mover e eu a contenho. — Não, não vamos brincar
agora. — Pede choramingando e contrai sobre mim de uma maneira que me deixa
perto de tornar-me um selvagem completo. Enfio uma mão por entre seus cabelos
e forço mais seu corpo abaixo, de uma maneira que não há como nem mesmo o
vento passar entre nós. Estou sofrendo e, mostrar minha loucura e meu desespero,
parece empoderá-la:
— Você está vulnerável, Matheus Albuquerque? — Ela questiona sorrindo
maquiavélicamente.
— Faça tudo, Vic. — Ela faz e eu passo as mãos por suas costas e a seguro
pelos ombros. — De novo. — Peço ela passa a comandar após minha fraqueza. Ela
começa a contrair e expulsar com força e precisão, mas uma lentidão que me deixa
cego. Eu beijo seu pescoço, seus ombros e então permito que ela se mova em cima
de mim. O que me mata é que Vic não pula, apenas se esfrega e geme em meu
ouvido de um jeito que mata um sujeito macho. — Você está pompoando...
maldição, Victória! — Não consigo mais lutar contra isso.
— Eu quem irei destruí-lo essa noite, Sadboy. — Eu percebi isso.
Tentando me manter no controle, fico de pé e a levo até a cama. Porém, ela
tira meu controle com uma forte chave de coxa e eu me entrego. É a primeira vez
que atinjo o orgasmo antes dela. Primeira.
— Eu te derrubei, Matheus Albuquerque? — Pergunta em meu ouvido
enquanto tento me recuperar.
— Você me balançou, Vic, mas derrubar você não conseguiu.
— Eu te amo, Theus.
— Transição Temporária. — Revelo o segredo que nunca fui capaz de
revelar a qualquer pessoa.
— O que? — Questiona tentando entender.
— O significado da tatuagem. Transição Temporária. Fiz em Nova York.
— Explico. — Do lado esquerdo do peito, Vic. Por você.
— Por mim?
— Eu me apaixonei por você, com todo o meu coração. Houve momentos
em que eu acreditava que todo sofrimento era o pagamento por ter sido galinha
antes de conhecê-la. — Confesso. — Doía, Vic. Era como uma maldição infiltrada
em minha mente, eu sentia até mesmo dores no peito.
— Eu sinto muito. — Ela diz chorando.
— Dizem tanto que às vezes temos que perder para dar valor, mas eu, Vic?
Eu te valorizava e não queria te perder de forma alguma. Você era para mim a
única no mundo, mesmo sendo tão jovem eu te amava com todo o meu coração.
Doeu tanto ter que me afastar e eu me arrependi tantas vezes, porque o nível de
amor que eu sentia fazia eu querer aceitar qualquer migalha que você oferecia.
Qualquer coisa, desde que eu pudesse ter pequenas doses de você. – Sou capaz de
sentir a dor, apenas por lembrar. – Você foi meu primeiro pensamento quando
estava indo para Nova York e foi meu primeiro pensamento quando estava
retornando ao Brasil. Fui acreditando com todas as minhas forças e toda minha fé
que seria apenas uma transição temporária. Eu rezava tanto para ter você para mim
e acreditava na minha fé, acreditava no poder das minhas orações. Voltei, sete anos
depois, para descobrir que estava certo todas às vezes que ajoelhei no chão e pedi a
Deus que a trouxesse de volta em algum momento da vida. Foi tudo temporário.
Foi apenas um intervalo de uma linda história de amor. História essa que eu
acreditei desde o primeiro momento em que tive meus olhos sobre você. Nossa
transição temporária.
— Eu te amo tanto. — Ela diz chorando e escondendo seu rosto em meu
pescoço.
— Eu te amo muito mais. Você é meu céu, Victória Brandão! Até o meu
último suspiro!
[1] Nós somos o que pensamos.
[2] O que?
[3] Cavalheiro
[4] Louca
[5] O melhor.
[6] Bom dia, esposa.
[7] Bom dia, marido.
[8] Muito obrigado.
[9] A resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar
obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas — choque, estresse, algum tipo de evento
traumático, etc. — sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções
estratégicas para enfrentar e superar as adversidades. Nas organizações, a resiliência se trata de uma
tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade
de vencer. Essas decisões propiciam forças estratégicas na pessoa para enfrentar a adversidade

[BB1]Era intencional a palavra escrita errado?


[BB2]OPA!!!!! Minha cidade aí!
[BB3]Isis nasceu na Itália.

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