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J Munyz
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimento descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com fatos reais é mera coincidência.
Tento não demonstrar para meu pai minha chateação, tento aparentar
uma serenidade que não sinto. Mas tão logo ele deixa o quarto, após
garantir que estou devidamente instalada, todos os meus temores e
anseios voltam.
A cena do riso incontido, quem sabe repleto de escárnio, não sai da
minha cabeça. Ver o dono da casa portar-se daquela forma frente a algo
que me é sagrado, magoou-me muito, profundamente.
Penso que não serei capaz de esquecer a cena e acho que jamais
conseguirei ter afinidade com alguém que se comporta daquela maneira.
Decidi então que me manterei afastada dele e de tudo que ele
representa. Soube, depois de tudo que ocorreu na sala, que não posso
estreitar laços com ele. Percebi, pelos poucos minutos em sua presença,
que somos diferentes demais e seu comportamento apenas serviu para
reforçar a impressão inicial que tive.
Tenho gratidão e respeito pela acolhida neste momento difícil, mas
ficarei longe de suas vistas.
Não quero ter que passar por constrangimentos futuros e muito
menos ter que conviver com alguém que pensa tão diferente de mim.
Tentarei uma distância necessária para o bom convívio, tentarei
manter-me fora do seu radar.
Infelizmente este foi o primeiro dissabor, mas certamente mais coisas
acontecerão.
Fui jogada numa realidade diversa da que estava acostumada. Terei
que me habituar e me adequar, pois as coisas serão assim daqui para
frente.
E o aprendizado e o entendimento desta nova realidade terão que ser
imediatos, pois ela já começou, e o presente e o futuro, aparentemente,
serão muito diferentes de tudo que vivi até aqui.
Que Deus me dê sabedoria para conduzir a minha vida a partir de
agora e que acalme meu coração temeroso e receoso sobre o que me
espera.
Juro que jamais imaginei que ficaria tão perto dele. Que teria que ter
tanta intimidade para aprender a nadar. Talvez achasse que aprendesse
apenas com orientações e vontade.
Como sempre inocente, como sempre ingênua.
E enquanto debato sobre as sensações que me tomam, um misto de
vontade de permanecer justamente onde estou, guerreando com uma
vontade de me manter afastada.
Gustavo me suspende na água, a mão apoiada em minha barriga e o
corpo próximo como jamais estive de nenhum outro homem.
Minha vocação determinava isso. Meus votos reforçavam.
E hoje, encontro-me próxima a dois homens seminus, com um
tocando-me de maneira inocente, mesmo que para mim seja algo
totalmente novo e que me faz questionar se é certo ou errado.
Antes que minha mente entre em parafuso, minha consciência fala da
normalidade de tudo isso, pois meu próprio pai está presente e em nenhum
momento criticou ou estabeleceu limites.
Tenho que me acostumar, compreender que não sou mais uma
religiosa e que nesta minha nova vida os valores e a fé permanecem, mas
o meu dia a dia será permeado por situações inusitadas e tenho que
rapidamente me habituar a realidade que agora me cerca.
Afasto um pouco os meus questionamentos para seguir plenamente
as orientações que recebo.
— Você está indo muito bem, Clarisse!
Ele me elogia e sei que grande parte da minha evolução se dá por ter
tido algumas aulas de natação antes de entrar no convento. E deve ser
como andar de bicicleta: a gente nunca esquece.
Então, após orientações sobre respiração e sobre movimentos de pés
e mãos, afasto-me por minha própria conta. Acho que isso o deixa até
mesmo espantado.
Talvez eu quisesse apenas me distanciar do toque perturbador, minha
mente alerta.
— Ah filha, você ainda se lembra!
Meu pai diz, satisfeito por eu nadar após tanto tempo longe das
águas.
Chego no outro lado da piscina e logo Gustavo emerge ao meu lado,
mantendo o corpo mais próximo ao meu do que é recomendado.
— Fico feliz em saber que se vira bem na água, mas extremamente
triste por perder a chance de estar com você.
Diz baixinho, sugestivo.
E até eu que não sei nada sobre homens, paqueras ou insinuações,
sei o que o jogador quis dizer.
Meu rosto esquenta e sou incapaz de encará-lo. Mas parece que a
intenção dele é justamente o contrário.
Gustavo toca a minha face e me faz olhar para ele. Seu olhar
penetrante confirma suas intenções.
— Você é linda demais!
Meu rosto adquire uma coloração ainda mais intensa.
— Sei que talvez eu esteja indo rápido demais e que talvez você
precise de um tempo para se acostumar à sua nova vida, mas quero
conhecer você melhor, quero...
— Tá tudo bem por aqui?
Espanto-me com a voz de meu pai. Estava tão envolvida que não
percebi sua aproximação.
Pelo tom desconfiado sei que ele percebeu que a conversa aqui
certamente não era sobre natação.
— E por que não estaria?
A voz de Gustavo parece zangada, chateada.
Logo Beto se aproxima e qualquer continuação do que estava sendo
dito fica impossível de acontecer.
Internamente agradeço, pois nem sei o que diria e nem mesmo se
conseguiria existir no meio de uma abordagem tão direta.
Penso isso porque meu coração está a um passo de sair pela boca,
minha pele está um pouco fria e minhas mãos trêmulas.
Sinto-me agitada, ansiosa por um motivo que nem sei descrever.
Também sinto como se estivesse indo contra tudo que acredito.
Talvez por ter imaginado que jamais estaria tão perto assim de um
homem, talvez devido os votos de castidade que outrora tinha feito, pois
mesmo que nada demais tenha acontecido, ele deixou claro o motivo de
sua atenção.
Sei que senti o mesmo quando vi o closet do quarto que ocupo cheio
de roupas, acessórios e tudo que papai achou importante e necessário
para alguém da minha idade, palavras dele. Senti que estava renegando
meus antigos votos de pobreza. Talvez o tempo faça estes sentimentos
diminuírem, ou talvez eu apenas me acostume com o que vivo agora.
Tantos sentimentos e indagações que nem saberia dizer o que eles
estão conversando. Tento deixar meus questionamentos para depois e
agradecer internamente pela aproximação de meu pai, pois sei que não
saberia como interagir com Gustavo. Na verdade nem sei dizer se suas
insinuações são ou não bem-vindas.
— Filha, será que já não está bom de sol por hoje? Tenho medo que
seja demais para um primeiro momento.
Fico extremamente grata pela oportunidade de me afastar, e até sei
que talvez o senhor Vicente tenha querido me distanciar propositalmente
do jogador.
Será que porque eu sou muito inocente? Ou será que é porque ele
não quer Gustavo perto de mim?
Não percebi nele este cuidado quando mantive uma conversa
despretensiosa com Beto.
Certamente coisas demais para eu pensar, suposições que nem sei
se fazem sentido algum.
— Você está certo, papai! Vou me proteger ali, à sombra de um
guarda-sol.
Não tenho coragem de olhar para Gustavo, tenho medo que ele
perceba a confusão que se formou na minha cabeça. Tenho medo que ele
perceba que nem sei como entender ou compreender o que acabou de
acontecer aqui.
E mal começo a me afastar quando escuto Beto dizer:
— Vou com você, Clarisse. Nada de atividades físicas para mim. Tive
um jogo puxado, e hoje só quero relaxar. Vou deixar para pegar pesado
amanhã.
Não sei se queria companhia neste momento, pois tenho muita coisa
a pensar, mas infelizmente não posso ser indelicada e muito menos
desconsiderar uma companhia que ontem achei sim por demais agradável.
— Vamos aproveitar e beber algo. Talvez uma água ou um suco
gelado caia bem depois desta sua exposição ao sol, pois como você não é
acostumada, todo cuidado é pouco.
Gosto de sua preocupação e do seu cuidado, por isso somente
assinto com um leve sorriso e seguimos.
Afastando-me por um instante do jogador.
Conseguindo um pouco de distância daquilo que para mim é novo,
desconhecido.
Daquilo que mexeu comigo de uma forma inesperada e
surpreendente, mas de uma forma que mesmo eu tentando negar, fez com
que me sentisse bem.
A bem da verdade, gostei. Talvez até mesmo mais do que fosse
aceitável e recomendável. Prudente ou até mesmo aconselhável para mim.
Capítulo 11
Porra, acho que perdi o juízo de vez! E hoje à noite foi a prova disso.
Primeiro achei que tinha entrado novamente no prumo, quando
pensei em desistir desta insanidade e talvez fosse até o melhor a ser feito.
Mas infelizmente esta minha decisão somente vingou até vê-la, pois
neste segundo esqueci as minhas conjecturas e decidi que não abriria mão
de provar da loirinha.
Pois quero Clarisse, claro que quero. E decidi que estou disposto a
tudo para tê-la. Mas lógico que pensei em me aproveitar de sua inocência
e tomar o que queria. Tudo.
Só não contava com meu lado compreensivo, que sequer sabia que
existia. Pois somente isso justifica o que me propus a fazer.
Conhecer. Ensinar. Ser paciente.
Parecendo mais um homem de antigamente. Que corteja, que
namora.
Na hora me assusto com a grandeza de tudo isso, de como me
enrolei todo apenas para dar uns pegas numa mulher.
Muito linda. Inocente. E diferente.
Mas apenas mais uma mulher.
Assombro-me em pensar que ela vai esperar muito. Vai esperar uma
dedicação e uma fidelidade que não sou capaz de dar. Vai esperar
compromisso.
E por isso estou fodido. Porque a quero, mas não quero abdicar da
minha vida.
De farras. De diversão. De mulheres.
Pois elas não são confiáveis, minha própria mãe não era. Pois
mesmo com uma criança em jogo, não foi capaz de ficar e amar meu pai e
eu. Mesmo que os votos sempre digam que é na saúde e na doença. Na
riqueza e na pobreza. Na verdade, são só palavras.
Por isso não quero confiar, me envolver ou me entregar.
Quero somente foder e curtir. Mesmo que ela tenha a boca mais doce
e um beijo saboroso.
E ela, de verdade, conseguiu me surpreender, pois mesmo sendo
apenas um beijo, o meu corpo esquentou, vibrou. O meu pau implorou por
um contato maior, tudo em mim me impelia a colar nossos sexos. A
mostrar a ela o meu desejo.
Mas não o fiz. Esforcei-me para manter uma distância respeitosa,
mesmo a muito custo. Fingi que era algo talvez romântico, quando meu
pau pulsava para enfiar-me em suas pernas.
Isso me garantirá repetecos e a certeza de que ela será minha. Pois
fiz meu trabalho de casa bem-feito. Fiz ela conhecer a minha boca e todas
as sensações que um beijo desperta.
Satisfatórias para ela, mas insuficientes para mim.
Meu pau rígido fala sobre isso. Meus dedos no botão da minha calça
comprovam isso.
Desejo reprimido, pois me privei de pegar a gostosa da Camila, e dias
difíceis virão, pois tenho que agir com lentidão e pudor.
Enquanto isso os meus dedos terão que servir e servirão. Mesmo que
me incomode.
Eu, homem feito, batendo punheta? Nem consigo conceber esta
situação. Mas é o que acontece agora. No escuro do quarto, o corpo já
ansiando pelo gozo.
Minha mão sobe e desce em toda a extensão do meu pênis, num
ritmo gostoso. Penso em Camila, em Larissa e em tantas outras. Nas
morenas gostosas que fodo, nas bocetas rosadas. Eu metendo, chupando
e fazendo-as gozar. Eu enfiado em suas bundas e meu pau em suas
bocas. Mas ainda não vem e meu corpo está louco e precisado de alívio.
E eis que minha mente traz a imagem dela. Linda, entregue.
Suspirando, gemendo. Chupando timidamente a minha língua e
entregando inocentemente a sua.
Para eu sugar e me deliciar com seu sabor único. Tão inocente e
puro. Tão seu.
E somente a lembrança do beijo faz algo surpreendente acontecer.
Faz eu gozar, faz eu me perder em um orgasmo intenso e luxuriante.
Esporrando entre os meus dedos e arfando como se tivesse corrido
uma maratona.
E enquanto curto o momento pós-gozo, e crio coragem para ir ao
banheiro, penso que talvez não tenha feito uma loucura, que talvez tenha
agido sim corretamente.
Pois alguém que consegue mexer comigo desta forma, depois de
provar somente de sua boca, merece sim atenção e paciência.
Talvez mereça até flores e chocolates, só não merece um
compromisso verdadeiro.
Porque não quero isso para mim, não estou pronto para isso e jamais
estarei.
Mas por enquanto ela terá o melhor de mim, até que não precise mais
usar meus dedos.
Até que meu gozo ocorra em sua boceta virgem, e meu orgasmo
ocorra com ela deitada em minha cama.
Já faz uns dias da minha conversa com a loirinha e nem por isso
consegui ficar satisfeito com tudo que aconteceu. A forma como me afetou
a possibilidade dela se mudar, como insisti para que ela permanecesse na
minha casa e a maneira como facilmente propus para levarmos o que está
acontecendo entre nós em banho-maria.
Sim, um cara como eu que gosto de foder, ficando de beijinhos na
porta do quarto e tendo que contar apenas comigo mesmo para garantir
algum alívio.
E é claro que isso me incomoda. Saber que estou agindo tão
diversamente de como comumente ajo. Saber que estou vivendo algo
inédito, sem sequer imaginar quando conseguirei o meu intento.
Mas conforta-me saber que essa situação não é para sempre, que
logo minha vida seguirá como sempre seguiu. Somente preciso me enfiar
em suas pernas, comer a sua boceta virgem.
E lá se vão 10 dias da nossa conversa e seguimos uma rotina.
Clarisse entrou em uma autoescola e começou o curso de paisagismo, o
que faz com que permaneça grande parte do dia fora de casa.
Enquanto continuo treinando pesado, esforçando-me para ser o
melhor e seguindo todas as orientações da equipe multiprofissional que me
acompanha.
Nesse ínterim tivemos dois jogos e conseguimos duas vitórias,
alcançando assim a ponta do campeonato. A torcida está eufórica e a
equipe está mais do que motivada para buscar o título.
Consequentemente o valor do meu passe e de grande parte do
elenco apenas se valorizou. Especulações de transferências e até mesmo
alguns de nós sendo cogitados pela imprensa para defender a Seleção do
nosso país.
Isso me faz pensar que talvez esse meu pé forçado no freio, tenha
vindo na hora certa. Nada de farras, risco de escândalos e a imprensa
nacional pintando-me como um menino de ouro. E isso deixa Vicente por
demais satisfeito, mesmo que faça meus colegas de time questionar minha
ausência em toda gama de putaria em que eles tem se envolvido nesses
últimos dias.
Neste momento o carro cruza a entrada do condomínio e segue para
a minha casa.
O corpo já desperta sabendo que daqui a pouco garantirei alguns
momentos com ela. Beijos gostosos, alguns carinhos ousados e a
expectativa de que hoje consiga avançar um pouco mais.
Como cheguei mais tarde devido a uma coletiva de imprensa, imagino
encontrá-la já na sala, aguardando para que possamos jantar juntos.
Vicente, ela e eu.
Tem sido uma rotina fazermos essa refeição juntos. Momento em que,
invariavelmente, ela conta sobre o curso e Vicente e eu falamos sobre o
time e o mercado do futebol. Instantes agradáveis e que antecedem o boa
noite do meu empresário, que coincide com os momentos em que tenho a
loirinha só para mim.
Entro e vejo Vicente no sofá. Disperso, olhando a tela do celular.
— Boa noite, Vicente!
Ele rapidamente desvia o olhar do aparelho e responde.
Olho para os lados e não vejo Clarisse, o que rapidamente faz-me
querer indagar sobre ela. Mas antes que consiga pronunciar as palavras, o
pai dela diz:
— Achei que hoje fosse jantar sozinho! Você não chegava nunca e
Clarisse avisou que não jantará em casa.
Essa informação me desagrada. Logo quero saber o motivo. Preciso
saber onde ela está.
— Não jantará em casa?
Sei que pareço um idiota repetindo a frase que escutei, mas essa
notícia me pegou de surpresa.
— Ela mandou mensagem avisando que tem um trabalho para ser
feito e que, como sua dupla só poderia fazer neste momento, ela não
estará aqui para o jantar.
Não gosto de não tê-la por perto. Gosto da nossa interação à mesa,
acostumei-me a estes instantes juntos mais rápido do que gostaria.
Como já tomei uma ducha no CT, não há motivos para protelar e
então seguimos para a sala de jantar.
Enquanto Vicente monta o prato, seu celular notifica a chegada de
uma mensagem.
Ele hesita, pois não gosta de manusear o aparelho durante as
refeições.
— É Clarisse!
A loirinha ganhou um celular do pai, mesmo que insistisse em não
aceitar. Mas foi vencida pelo argumento de garantir a comunicação quando
estivesse longe.
— Estava preocupado com sua vinda para casa, tinha me oferecido
para pegá-la.
Vicente é um pai zeloso, mesmo não tendo convivido muito com sua
filha nos últimos anos.
— Mas, segundo ela, não preciso me preocupar. Garantiu que seu
amigo a trará para casa.
Paro o movimento de levar a comida até a boca. A palavra que
escutei deixa-me sem ação.
— Amigo?
A voz sai em um tom diferente do que comumente uso.
— Sim, sua dupla é um rapaz. Clarisse disse que ele mora aqui perto
e que não via problemas em ir até lá para fazer a atividade. Na hora fiquei
preocupado pois sei o quanto ela é inocente, mas me assegurou que o
rapaz é do bem.
Ela está com um rapaz? Está na casa do cara?
Uma ira, uma raiva cega me toma. Um sentimento que me corrói
como ácido.
Uma vontade de trazê-la para cá, afastá-la de qualquer idiota que
possa tentar colocar suas mãos nela.
E tudo isso é muito novo para mim, e não me agrada nem um pouco
este reboliço.
Mesmo com vontade de argumentar e brigar, fico calado. Não posso
deixar Vicente perceber o que se passa comigo. Ele não entenderia e
talvez pensasse besteira. Na verdade nem eu mesmo estou entendendo.
E de repente a fome desaparece e uma ansiedade me invade. Uma
vontade que ela chegue, uma necessidade de tê-la sob este teto. Mas,
mesmo neste estado de ânimo, sei que preciso disfarçar, fingir que não
está ocorrendo um tsunami dentro de mim.
Então tento colocar a comida para dentro e responder, mesmo que
monossilabicamente, Vicente.
Finalmente o jantar termina e meu empresário avisa que vai para o
quarto e que de lá continuará contactando com a filha, até que ela esteja
novamente na segurança desta casa.
Não opino sobre isso, pois acho que preciso de um momento para
refletir sobre algumas coisas, apesar de saber que não hesitarei em
procurá-lo, caso Clarisse demore mais do que o meu controle me permita
suportar.
Capítulo 20
Rio. Descontroladamente.
Bruno é muito engraçado e sua amizade foi um grande achado no
curso de paisagismo.
No começo foi tudo muito novo. Conhecer alguém que em cada
conversa parecia tão íntimo e direto, era uma grande novidade. Mas depois
seu jeito espalhafatoso me ganhou, sua amizade acabou sendo uma grata
surpresa neste meu novo início.
— Você ri demais! É alegre demais! Só pode ser o efeito daquele
gostoso em sua vida!
Se queria com isso que eu conseguisse me controlar, ele foi pelo
caminho errado.
— Se bem que não consigo conceber isso! Quem já se viu, Gustavo
Leão, conhecidíssimo por viver pegando Marias-chuteiras, agora tá de rolo
com uma ex-noviça!
Mesmo com pouco tempo de convivência, já me acostumei com
Bruno e sei que não há maldade em sua forma de falar. Ele só diz o que
pensa e eu gosto muito disso.
— Se bem que nem sei se posso chamar o que estão vivendo de rolo,
pois Guto Leão está longe das lentes e das fofocas envolvendo mulheres,
e acho que isso tem a ver com a loira gostosa que está ao meu lado.
Apesar de saber que ele não tem filtro algum, muita coisa que fala
deixa-me da cor de um pimentão. Nunca fui acostumada a ouvir nada
sequer parecido e as coisas que ele diz são um grande desafio para mim.
— Sem falar que você não afirma estar namorando, mas
desconsidera qualquer cantada, elogio ou encarada que recebe, dos
colegas ou até mesmo dos professores. Apenas eu sou imune a sua
beleza, e os motivos são mais que óbvios.
Mesmo ainda desconcertada, digo:
— Você não tem jeito! Ainda bem que já estou me acostumando com
a sua personalidade extrovertida.
— Como você ousa me definir de forma tão chinfrim? Minha
personalidade é gliteriante, purpurinante e toda e qualquer designação que
lembre brilho e esplendor.
É não tem jeito: o riso e a alegria prevalecem.
Neste instante ele estaciona o carro em frente à casa de Gustavo e já
começo a sentir falta de Bruno. Ele me faz muito bem. Em compensação o
coração já bate desordenado ante a expectativa de ver o jogador.
Nem sei se o verei, mas a alma já fica eufórica com a possibilidade.
— Obrigada pela carona, Bruno!
Digo com a mão na maçaneta.
— Apressadinha, não é? Acho que a ex-noviça está ansiosa para dar
uns pegas no gostoso.
E lá se vai a vergonha voltando! Será se algum dia vou me acostumar
com o que o Bruno diz?
— Calma, Noviçabest, estou apenas brincando! — E me envolve com
seus braços.
Claro que no começo tanta expansividade me deixava constrangida,
mas agora que já contamos para o outro muito sobre as nossas vidas,
criando um importante nível de intimidade, estas manifestações de carinho
são consideradas como algo dentro da normalidade, até mesmo
esperadas. Apesar de lembrar como reagi na primeira aproximação mais
efusiva de Bruno. Devido o inesperado do gesto, pulei longe, assustada e
escutei dele: calma Mona, da fruta que você gosta eu como até o caroço.
Praticamente nunca tive contato físico com ninguém e, até mesmo
com os meus familiares, as demonstrações de afeto se resumiam a
abraços nas visitas esporádicas de papai e a afagos da tia Fernanda em
datas especiais como aniversários e Natal. E eu entendia esta distância
imposta, pois ela não queria que houvesse falatórios com relação a
proteção ou até mesmo regalias. Mas eu sabia e sentia o que significava
para ela. Jamais deixei que isso me fizesse pensar diferente.
E talvez a irreverência de Bruno tenha me ganhado, sua sinceridade.
Ou certamente sua amizade.
E agora não me privo de demonstrar meu carinho por ele, de
demonstrar que pouco a pouco estou me acostumando com as mudanças
que estão ocorrendo na minha vida.
Espontaneamente dou um beijo estalado em seu rosto, mostrando
como me sinto à vontade com ele. Bruno tornou-se um amigo querido e
estou muito feliz com a amizade que estamos construindo.
— Desculpe atrapalhar esta casquinha que você está tentando tirar,
mas acho que o jogador não está nem um pouco satisfeito com este
showzinho que estamos dando.
No mesmo instante fico ereta e me afasto, não por imaginar que
esteja fazendo algo errado, mas pelo susto de saber que Gustavo está nos
observando.
Olho então para a entrada da casa e vejo-o em uma postura
intimidadora. No momento em que olho para ele, algo surpreendente
acontece: ele vira-se de supetão e entra em casa.
E isso faz com que Bruno caia em um riso descontrolado. Minha cara
de desentendida o faz buscar um controle mínimo, apenas o suficiente
para dizer:
— Não é que a noviça mexeu com o gostosão? Nem sequer
aguentou presenciar a cena! Se ele souber que não corre risco nenhum e
que quem tem que ter ciúme é você!
Apesar de ele tentar me fazer rir, fico preocupada. Será que ele acha
que estava me agarrando com outro e ainda mais na entrada de sua casa?
Será que é isso que pensa de mim? Ou será que é assim que ele age?
Perguntas demais em busca de respostas que na verdade não tenho.
Neste momento a única coisa que posso fazer é entrar e conversar com
Gustavo.
— Deixa de ser bobo, Bruno! Ele deve estar chateado com algo
relacionado ao time, ou coisa assim.
— Sei...
— Acho que já está passando da hora de entrar!
Ele apenas acena com a cabeça e milagrosamente fica calado.
— Até amanhã, Bruno!
— Até amanhã, Noviçabest!
Caminho a passos rápidos para casa, querendo conversar com
Gustavo para tentar saber o motivo da sua aparente chateação.
Mas provavelmente não haverá conversa, pelo menos não hoje.
Sala vazia, cozinha vazia. Nem sinal dele.
Parece que ele já se recolheu, talvez um sinal claro de que não
queira a conversa.
Começo a pensar que talvez Bruno tenha razão, e infelizmente não
posso fazer nada.
Não quando a pessoa se afasta e deixa claro que não quer o diálogo.
Não quando uma parte sabe que não fez nada de errado e não tem por
que insistir em algo que, neste momento, a outra parte deixa evidente que
quer evitar.
E então é isso: subir, descansar e esperar as cenas do próximo
capítulo.
Capítulo 21
Sei que estou abusando da sorte, pois se não bastasse atacar a boca
após o pedido de perdão, agora tento ultrapassar barreiras que ainda não
tinha sequer avançado. Mas, puta que pariu, a loirinha é gostosa demais.
Seu gosto, seus gemidos me embriagam. Deixam-me sem rumo, e louco
para me enterrar nela.
E então minhas mãos criam vida própria, meu corpo toma as rédeas
da situação.
E a minha boca verbaliza tudo isso, em uma voz rouca e luxuriosa.
— Quero você! Quero você demais, Clarisse!
Posso estar colocando o carro na frente dos bois, mas preciso tentar.
Tenho dias demais sem sexo. Tenho dias demais neste desejo
desesperado por esta mulher.
E antes que eu descubra qual será a minha sorte, eis que uma voz
saída das profundezas do inferno chega até nós.
— Noviçabest, você vai acabar pegando um resfriado por ficar...
E antes que termine o que estava a dizer, o dono da voz percebe que
Clarisse não está sozinha.
— Minha nossa senhora dos jogadores tatuados, tem misericórdia,
não me deixa ver uma beleza desta e passar vontade!
E nesta hora sei que é o dito amigo, e me sinto um idiota por saber
que quase estrago tudo por um ciúme infundado.
Escuto um riso e sei que vem de Clarisse. Ela se diverte com o que
escuta e somente por trazer um sorriso aos lábios da loirinha, ele já tem o
meu respeito.
— Bruno, deixa eu te apresentar o Gustavo.
— Só se a apresentação vier com direito a casquinha, porque se for
só para conhecer nem precisa, pois quem não conhece o destemido Guto
Leão, o jogador que pede perdão ao vivo em rede nacional?!
E solta uma gargalhada, contagiante. E não me privo de rir. Sinto-me
leve, satisfeito, muito embora saiba que ficarei com um grandessíssimo
caso de bolas roxas.
— Mas para evitar que você invente outra cena de ciúme na sua
mente, é melhor me apresentar. Sou Bruno Bernardes, ao seu dispor!
E faz uma reverência engraçada, o que aumenta ainda mais o sorriso
da minha loirinha.
— Deixa de graça, Bruno!
Ela tenta parecer firme, mas não consegue. Também não conseguiria.
— Acho que o pedido de desculpas depois do gol surtiu efeito, pois
tudo diz que o que estava acontecendo aqui era algo impróprio para
menores. Os sinais são mais que evidentes.
Até eu fico constrangido, pois sei que minha calça ainda demonstra o
volume, assim como os mamilos de Clarisse não disfarçam que estão
eriçados.
— Pega leve, cara!
Digo tentando impor seriedade à voz, coisa que é indiferente a ele.
— Acho que já está mais do que na hora de entrarem. Não é de bom
tom uma moça pura como Clarisse ficar de amassos com alguém com uma
fama como a sua.
Era só o que me faltava! Além de todo o perrengue que passo por
Clarisse ser virgem, ela ainda me aparece com um amigo empata foda! Eu
mereço!
— É melhor entrarmos sim. Está tarde e amanhã vou cedinho à
igreja.
Agora eu sei que qualquer intenção minha foi pro brejo.
Aparentemente terei mais uma noite sem sexo, depois de ter tido um
vislumbre do paraíso. Parece até praga de jogador pé frio!
Mas já que não posso evitar, enrosco minha mão na cintura de
Clarisse. Quero e preciso de qualquer contato. Estes dias estivemos longe
demais.
Entramos na casa e cada qual segue para o seu quarto. Espero o
amigo empata foda entrar para tirar mais uma casquinha.
Alguns beijos calmos, mas intensos. Que mexem comigo. Que me faz
pedir algo que jurava ser um pedido impossível de sair da minha boca.
— Deixa eu dormir com você? Juro que não faremos nada. Só quero
ficar perto de você!
Meloso demais. Inconcebível ao meu eu. Mas necessário, pois a faz
aceitar com a cabeça. Faz-me garantir uma noite colado a este corpo que
me enlouquece. Que me faz esquecer a forma como pedi, faz eu esquecer
até que não terei sexo. No momento só quero ficar com ela.
— Vou fazer minha higiene pessoal. Se você quiser ir no carro pegar
suas coisas ou ir no seu quarto...
— Vou no meu quarto rapidinho, daqui a pouco volto.
E sigo para lá, tentando lembrar se tenho um pijama ou algo do tipo.
Tentando garantir o mínimo de decoro para dormir ao lado de uma virgem.
Ela ressoa tranquilamente nos meus braços, o corpo colado e bem
encaixado ao meu. Como se fizéssemos isso sempre ou como se os
nossos corpos tivessem sido criados um para o outro.
Minha mente tenta me alertar de como tudo isso é diferente para mim,
de como esses pensamentos me são incomuns, mas tento não me deter a
isso, pois no momento só quero garantir que possamos desfrutar um do
outro sem que minha cabeça me encha de preocupações infundadas.
Quero Clarisse, ela me quer. Gostamos de nos curtir e estamos
novamente juntos. Não preciso questionar cada ato e nem ficar me
reprimindo. Preciso é aproveitar cada tempo, tentar conquistar sua
confiança para finalmente tê-la como preciso, como meu corpo necessita.
Sei que todos estes questionamentos acontecem porque a trato
diferente e claro que a trato! A sua inocência pede isso, a sua história de
vida também. E não há mal nenhum nisso. Sou solteiro e levo minha vida
como bem entender, e se no momento quero tirar um tempo para mimá-la,
para ficar exclusivamente com ela, não vejo problema algum.
Não deixarei caraminholas me demoverem das minhas intenções,
nem limitar e muito menos podar minhas atitudes. Vou com força total, sem
críticas ou recriminações.
O tempo agora é com Clarisse, ela me faz bem, e é tudo que quero.
Claro que não me iludo achando que é algo verdadeiro, algo
duradouro, mas é algo que quero muito.
E não há nada que Guto Leão queira que ele não tenha. Nada!
E isso inclui esta loirinha. Que desperta tantos instintos
desconhecidos, e que no momento tem toda a minha atenção e todo o meu
desejo.
E se para tê-la eu tiver que fretar avião, dirigir à noite ou dormir de
conchinha, certamente eu farei.
Pois ela é gostosa demais e eu a desejo demais.
Clarisse será minha, pois estou disposto a tudo para que isso
aconteça.
Capítulo 29
Por mais gostoso que esteja este aconchego, preciso levantar. Tenho
meu compromisso semanal inadiável e preciso correr contra o tempo, pois
por mais que já tenha pesquisado sobre a igreja mais próxima e tenha
anotado o endereço, ainda preciso pedir um carro de aplicativo.
Esforço-me para não acordar Gustavo, tento sair de seus braços sem
incomodá-lo.
Mas assim que faço um mínimo movimento, ele me agarra com mais
força ainda.
— Onde você pensa que vai?
A voz dita baixinho e o clima de intimidade fazem-me praticamente
derreter em seus braços.
— Preciso levantar para não perder o horário da missa.
— Ah Clarisse, qual é? Tá gostoso demais! Fica mais um pouco
comigo! Não deu pra matar toda a saudade destes dias afastados.
Concordo com ele que tudo ainda é insuficiente, mas por ora vai ter
que bastar.
E eu preciso que Gustavo entenda, por isso viro-me de frente para ele
e digo:
— Gustavo, vou à missa. Depois teremos muito mais tempo juntos,
mas agora tenho que ir.
E afasto carinhosamente seus braços, e ele não tenta me impedir.
Parece resignado.
E quando começo a me afastar para o banheiro, escuto um grunhido.
Viro-me e vejo ele me secando, aparentemente bem satisfeito com o que
vê. Fico constrangida, claro que fico. Tudo é muito diferente, novo. Porém
fico calada, mesmo que as bochechas corem, e a vontade de correr seja
quase irresistível.
Mas sei que preciso me acostumar, sei que tenho que trabalhar
muitas coisas. Sinceramente não sei se um dia serei capaz de me entregar
totalmente, entretanto entendo que certas intimidades existirão e não
posso e nem quero agir como uma criança assustada todo o tempo. Por
isso forço-me a continuar meu trajeto, tentando não me importar com os
olhares desejosos de Gustavo.
E quando termino minha higiene e saio do banheiro, o jogador
levanta-se da cama e diz:
— Vou tomar uma ducha rapidinho e vou com você.
Minha cara de espanto deve ter sido suficiente para ele dizer:
— Posso não ter muita intimidade com Ele, mas acredito que tenho
muito a agradecer.
E um sorriso se abre em minha face, por perceber a ação de Deus
nesta sua decisão e por ter a presença de Gustavo ao meu lado durante
algo tão sagrado para mim.
Aceno afirmativamente com a cabeça, mais do que feliz com tudo que
está acontecendo.
Mal colocamos o pé dentro de casa e já escuto Bruno dizer:
— Não acredito que você conseguiu levar o jogador para a Missa?
Sei que sua cara de assombro é fingimento, mas que é engraçado é.
— Não vejo motivos para você estar tão surpreso, amigo da Clarisse!
— E como não? Alguém como você numa igreja? Claro que é motivo
de sobra para eu estar assim. Certamente o padre terá que usar muito
incenso para purificar o ambiente.
E ri. Alto. Estrondoso.
Gustavo fecha a cara com a gracinha e eu limito-me a dizer:
— Vou subir e colocar uma roupa mais leve.
— Que tal colocar uma roupa de banho para curtirmos a piscina?
Até eu que sou inocente percebi a insinuação em suas palavras.
— Se você pensa que vou ficar trancafiado dentro de casa porque
não quero segurar vela, você está é muito enganado! Vou vestir um
modelito bafônico e concorrer de igual para igual por sua atenção, jogador!
A Noviçabest que capriche no visual!
E sai com o queixo erguido, deixando para trás um Gustavo atônito.
Resigno-me a ir para o meu quarto, questionando-me se terei
coragem de vestir os pequenos biquínis que comprei, influenciada por
Bruno, que garantiu que ajudaria a dar uma cor uniforme ao meu corpo. Na
hora não vi problema algum, pois estaríamos sozinhos. Agora, com a
presença de Gustavo, tenho dúvidas de que serei corajosa o bastante para
ousar vestir peças tão pequenas, pois sei que estarei sob o olhar atento e
cobiçoso do jogador.
Estava bom demais para ser verdade! Ninguém para saber, imprensa
sem questionar e, quando chegasse a hora do fim, ninguém para justificar
que acabou.
A teoria de Vicente mais do que me convenceu, na verdade, até me
beneficiou, e isso me deixou mais do que satisfeito.
Mas durou pouco a minha satisfação, pois do nada o cara decidiu
bancar o pai protetor. Isso é muito foda!
Vou tentar me safar do jeito que dá.
— Não estou entendendo onde você está querendo chegar! Já tinha
lhe contado do meu interesse! Achei, de verdade, que já tivéssemos
ultrapassado essa fase.
Digo sucinto, querendo ganhar Vicente no papo. Querendo que ele
pare com esta conversinha.
— Clarisse, por que você não vai guardar suas coisas?
Ele pede. Nem disfarça que quer ficar sozinho comigo.
— Papai, acho que sou parte interessada no assunto. Acredito que
deva ficar!
A voz tem a mesma docilidade de sempre, muito embora demonstre
uma firmeza desconhecida para mim.
Na hora ele levanta-se, vai até ela e diz:
— Minha filha, claro que você é parte disso, a questão não é essa!
Quero ter uma conversa de sogro para genro. E não se preocupe, pois
haverá um momento para nós, mas acho que tenho direito a ter uma
conversa com Gustavo.
Por isso chove de atletas querendo ser agenciado por ele. Vicente é
esperto, inteligente e bom de papo. Ganha todo mundo na lábia.
Por isso não me surpreendo quando escuto a loirinha dizer:
— Talvez você tenha razão, papai!
Porra, ela caiu na historinha pra boi dormir de Vicente! Que Deus me
ajude então, pois sei que vem chumbo grosso. Essa conversa mole dele
não me convenceu.
— Vou ajeitar minhas coisas, pois daqui a pouco tenho que ir pro
curso!
Mostra um sorriso lindo para o pai e para mim e caminha para a
escada. Logo que ela se encontra longe o suficiente para não ouvir a
conversa, Vicente diz com uma voz zangada:
— Você transou com a minha filha, seu desgraçado!
Não é uma pergunta e nem adianta tentar mentir. Ele me conhece e
sabe que as minhas intenções sempre envolvem meu pau enfiado em uma
boceta gostosa.
— Vicente, você...
— Conheço minha filha e sua expressão cristalina entrega, a
intimidade entre vocês confirma que transaram.
Ele faz uma pausa, mas antes que eu possa falar, diz raivoso:
— Gustavo, eu conheço seu repertório, sei que não assume mulher e
sei que é incapaz de ser fiel.
— E mesmo sabendo de tudo isso não impediu uma...
— Eu tentei. Mas você encheu minha cabeça e acabei permitindo
uma aproximação. Mas aceitei uma paquera, não que você a tratasse
como as outras. Jurava que você ia conquistá-la aos poucos e torcia para
que percebesse a moça maravilhosa que Clarisse é.
Fala desgostoso. Decepcionado.
— Claro que percebo todas as qualidades de sua filha. Claro que eu
sei que ela não é nem um pouco parecida com as mulheres desapegadas
com quem saio!
— Mas tratou ela igual! Levou minha filha para cama com a mesma
rapidez e sei que quando ela menos esperar, verá todo tipo de matéria
envolvendo suas orgias e depravação.
O normal é que ele espere por isso, mas farei diferente. Por um
tempo preservarei a minha imagem e a dela. Por um tempo seremos um do
outro. Sei que será por um curto tempo, mas primarei por isso. Não quero
decepcionar meu amigo, e também não colocarei Clarisse em uma
situação tão desconfortável. Ela não está acostumada, ela também não
precisa de uma desilusão tão grande logo na sua primeira relação.
Por enquanto serei fiel, por enquanto não haverá outras. Mesmo
porque ainda estou longe de enjoar dela, mesmo porque seu corpo me
satisfez bastante.
Claro que vou dourar um pouco a pílula, vou tentar apaziguar as
coisas com meu empresário.
— Não haverá farras e nem outras mulheres, será apenas Clarisse e
eu.
Por enquanto, minha mente alfineta, mas esta informação ele não
precisa saber.
Vicente parece estar embasbacado, parece até que viu um fantasma.
— Você está dizendo que será fiel e que...
— Estou dizendo que será apenas ela e eu, e acho que jamais lhe dei
motivos para desconfiar de minha palavra.
Tenho razão em minha afirmação. Até mesmo agora cumprirei com o
que digo, pois não ficarei com outras, mesmo que não possa dizer na cara
dele que a relação não tem futuro algum e que tão logo o fogo esfrie,
terminarei.
E o fato dele ter pedido segredo para nos preservar, apenas vai tornar
tudo mais fácil. Sei que ele agiu como empresário e como pai, mas sua
decisão somente me beneficiou. Jamais achei que tivesse tanta sorte!
Ninguém nunca saberá sobre Clarisse, e isso me possibilitará ter
minha vida de volta tão logo deseje, além deste desconhecimento impedir
que as mulheres que se deitarem comigo no futuro, possam imaginar que
quero essa vida de fidelidade e monogamia.
Gosto demais da minha vida para mudar o que quer que seja nela.
Sei que Clarisse é linda e gostosa e ela terá o seu tempo e terá também
deferência no tratamento. Mas só.
Recebo uma batidinha nas costas e olho diretamente para Vicente.
Vejo sua expressão suavizada e sei que ficou satisfeito com o que ouviu.
— Guto, fico feliz em saber que não presenciarei minha menina
chorando pelos cantos por vê-lo sendo o puto que sempre foi. Fico feliz por
conhecer suas intenções.
Engulo em seco, talvez um pouco envergonhado. Por saber que ele
conhece minhas intenções, muito embora não as conheça profundamente.
Mas agora está dito, está feito. Ela é minha e será pelo tempo que meu
corpo desejar.
— Ainda bem que entendeu e que está bem com isso, Vicente. Não
quero problemas e nem indisposição com você. Você representa muito em
minha vida e espero que a nossa relação não seja afetada pelo que
Clarisse e eu estamos vivendo.
Falei sério e verdadeiro. Vicente é alguém importante para mim e
realmente não quero climão. Quero que ele entenda e aceite meu
momento com Clarisse e que saiba conviver tanto com o agora, quanto
com o futuro.
Acredito que o fato de eu me manter fiel ajudará, mesmo porque
ninguém é obrigado a casar ou jurar amor eterno somente por causa de um
lance. Acredito que Vicente é maduro o suficiente para entender um fim
quando ele acontecer.
— Você também é importante, é como um filho para mim, e por isso
abençoo a relação de vocês.
E me dá um abraço forte. Talvez minhas palavras tenham sido
convincentes demais, ou talvez ele tenha mais fé em mim do que eu
mereça.
Mas agora está sem jeito. É rezar para que esse fogo queime por
muito tempo, pelo menos até que eu mude de continente.
E este será o limite máximo de nossa relação, pois minha
transferência para a Europa me trará o novo e quero estar livre e
desimpedido quando isso acontecer.
Capítulo 35
Sei que preciso levantar, não posso dar tanta chance para o azar.
Mas tá bom demais, gostoso demais. Ter o corpo quente de Clarisse junto
ao meu é muita tentação e eu não sou forte o suficiente para abdicar. Nem
mesmo sob o risco de ter Vicente querendo defender a honra da filha, nem
mesmo sob o risco de estremecer a relação com meu mentor.
Desde que voltamos de Petrópolis, criamos uma espécie de rotina.
Dormimos invariavelmente juntos, depois de um sexo gostoso, às vezes
selvagem, às vezes calmo, lento, de descoberta. Como uma ex-virgem
merece, como alguém que não ficou com qualquer outra pessoa merece.
Depois sigo para o treino e ela para o curso de paisagismo. À noite
jantamos com Vicente e ficamos novamente juntos.
Por vezes admiro-me por não sentir falta de outras, mas sei que isso
acontece por conta da novidade e por eu estar evitando festas. Prometi
isso para Vicente e vou cumprir. Sei que tudo isso virará rotina e que
Clarisse perderá seu lugar em minha cama, mas até lá vou aproveitar tudo
o que seu corpo maravilhoso tem a oferecer, pois estou fissurado na
loirinha. Nos beijos, no corpo e na boceta. E se for sincero comigo mesmo,
admitiria que também estou viciado em seus carinhos e nos seus afagos.
E tudo isso tem me deixado bem saciado e satisfeito.
E se estou satisfeito fora de campo, dentro de campo as coisas não
poderiam estar melhores. Tenho feito gols em todos os jogos, muitas vezes
até mais de um. O Titã Futebol Clube tem avançado bem na tabela e, a
duas rodadas do fim, estamos apenas a um ponto de distância do primeiro
colocado, tendo um confronto direto na última rodada.
Sou tirado dos meus devaneios por uma boca gostosa que distribui
beijos despretensiosos no meu queixo. Nesta hora sei que este tipo de
intimidade é algo que sentirei falta, muito embora saiba que a diversidade
me impedirá de lamentar isso.
— Bom dia, meu amor!
Como a chamo assim, vez por outra, Clarisse meio que incorporou
esta expressão e passou a me chamar sempre desta forma. Temo que ela
esteja levando isso a sério demais. Temo que, pelo fato dela não ter
experiência alguma, acredite sentir por mim algo mais do que é
recomendável.
— Bom dia, amor!
Para mim sai natural, como um hábito. Não que reflita a verdade,
apenas uma palavra que sai de forma espontânea e que faz surgir um
sorriso lindo no rosto da loirinha.
— Precisamos levantar! Hoje tenho um trabalho importante para
fazer, enquanto você tem que treinar pesado para o grande jogo de
amanhã.
Fala me empurrando levemente e sei que tem razão com relação ao
jogo que temos pela frente. Se vencermos, só dependeremos de nós para
levantarmos a taça, independentemente do resultado do jogo do time
paulista. Então o mínimo que preciso é compromisso, disciplina e
disposição.
Reconheço que minhas atuações e que a ótima colocação do time
tem influenciado e muito nas ofertas que estou recebendo, além do meu
nome estar sendo cogitado pela imprensa para a próxima convocação da
Seleção Brasileira.
Só posso estar vivendo um sonho, meu momento não poderia ser
melhor. Em campo e na cama.
E confirmo isso quando a vejo caminhar até o banheiro, mal coberta
pelo lençol. A beleza exuberante do seu corpo atiçando tudo dentro de
mim.
Meu pau na hora dá sinal de vida, pois o espertinho reconhece que a
loirinha é um espetáculo. Tenho vontade de adiar tudo e tentar uma
rapidinha, pois por mais que tenhamos transado na madrugada, ainda
tenho fome dela. Sempre tenho.
Infelizmente sei que não rolará, porque realmente já extrapolamos o
limite autoimposto por Vicente, sendo até mesmo capaz dele invadir nossa
intimidade com uma desculpa qualquer, como se não soubesse que nos
encontraria nus, fingindo que não sabe o que acontece neste quarto noite
após noite.
Sei que preciso ir, mas antes quero assegurar algo, já que o sexo à
noite não acontecerá, pois o professor determinou que concentraremos
depois do treino, tentando assim nos manter focados para o confronto de
amanhã.
Aproximo-me então do banheiro e logo digo o que quero:
— Você tem razão, infelizmente teremos um dia corrido pela frente.
Mas antes de sair queria garantir que viajaremos assim que a partida
terminar.
Petrópolis. Virou quase como uma rotina viajarmos para lá, sempre
que o jogo acontece no sábado e tenho o domingo de folga. Acredito que a
repercussão da mídia é maior quando jogamos no domingo, mas para as
minhas pretensões atuais, jogar no sábado está mais do que satisfatório,
pois além do descanso, ainda tenho a loirinha somente para mim, longe
das vistas do pai coruja.
— Viajaremos sim...se você ganhar!
Ela ri da nossa piada interna, pois vem sendo assim: muitas vitórias e
bons momentos juntos.
— Pois você pode arrumar suas malas e despachar seu amigo
folgado! Dar um não redondo, pois certamente ele vai insistir em segurar
vela.
— Mas amor...
— Nada de mas amor, já não basta todo o tempo que ele te
monopoliza durante a semana? Nunca vi um curso para terminar tão tarde!
Chego do treino e ainda espero horas até que ele se digne a trazê-la para
casa.
Vez por outra tocamos neste assunto, pois sei que Bruno faz de
propósito. Inventa shopping, cinema, lanche e o diabo a quatro para mantê-
la longe desta casa e consequentemente longe de mim. Sei que é
intencional, que ele acha que está em um cabo de guerra imaginário
comigo e por isso faço o possível para evitar que ele consuma ainda mais
tempo do pouco que temos.
— Ele gosta tanto de Petrópolis! Quem sabe não poderíamos...
— Quero você exclusivamente para mim, pois aqui a loucura do dia
nos consome e somente conseguimos ficar juntos à noite. Por isso lá em
Petrópolis não quero Vicente e muito menos Bruno. Preciso de você para
recarregar as baterias, preciso de você para suportar a semana tensa que
terei pela frente.
Ela entende o que quero dizer. Enfrentaremos o líder, sabendo que
uma vitória pode até mesmo definir o título a nosso favor. Tudo isso será
uma carga muito grande para suportar.
Sei que uso o argumento perfeito quando sinto Clarisse se aproximar.
Quando sinto seus braços ao meu redor.
— Mesmo não gostando de chatear Bruno, vou explicar a situação.
Entendo seu pedido e o momento em que está vivendo.
Ela me dá um selinho e continua:
— Seremos só nós dois em Petrópolis.
E depois de suas palavras, não me contenho. Mando tudo para o
espaço e a beijo.
Loucamente. Desesperadamente.
Pois o que combinamos para o final de semana muito me agrada,
porque nunca tenho o bastante de Clarisse.
Chupo sua língua deliciosa e me encontro pronto, desesperado para
fazê-la minha novamente. E quando decido que nada é mais importante do
que um sexo matinal com ela, eis que escuto a voz do meu pior pesadelo.
— Acho bom descerem para o café. Já estamos praticamente
atrasados.
E sei que ficarei frustrado e desejoso. E minha suspeitas são
confirmadas quando escuto:
— Você está certo, papai. Já estamos descendo.
E se afasta, sabendo que Vicente tem razão. Mas decido que terei a
última palavra:
— Amanhã você não me escapa, Clarisse! Vou cobrar e com juros a
frustração que estou sentindo neste momento.
E me viro. E saio. Sabendo que amanhã é um novo dia, e mais um
dia com ela em minha cama.
Capítulo 37
— Não sei por que aceitei assistir ao jogo com você! Depois de você
se negar a me levar para Petrópolis, o mínimo que merece é um gelo total,
pelo menos até que eu seja capaz de perdoar tamanha deslealdade,
Noviçabest.
Desde que falei que seria uma viagem romântica e que não poderia
levá-lo, tenho escutado todo tipo de piada com relação ao assunto.
— Bruno, sei que já superou, por isso muda o disco e vamos assistir.
Digo e olho fixamente para a televisão, observando um toque
despretensioso na zaga do Titã.
Mas Bruno não desiste, insiste em tentar me provocar.
— Na verdade nem sei por que ainda me convida, se já sabe mais
das regras do que comentarista esportivo. Aprendeu rápido demais até, e
para ser sincero, tem aprendido rápido também muitas outras coisas!
Ele insinua e claro que fico vermelha, pois sei a que se refere, mas
continuo com o olhar na tela. Não vou cair em suas provocações.
De repente Beto arranca pela lateral do campo e todo o time dispara.
Alguns se posicionam para receber a bola, mas ele segue para a linha de
fundo, até que cruza a bola na área com perfeição, na cabeça de Gustavo,
que cabeceia no canto esquerdo do goleiro, que ainda toca na bola, mas
não consegue evitar o gol.
— Gooooool!
A voz do narrador explode e invade a sala. Olho fixamente para a tela
e vejo Gustavo procurar uma câmera e diante dela fazer o nome do Pai.
Em um momento nosso, ele me contou que é uma forma de agradecer a
Deus e também uma alusão à minha pessoa, sem no entanto gerar alarde
e especulação. E toda vez que o vejo repetir o gesto, meu coração fica
quentinho. Por saber que mesmo envolvido no jogo, ele ainda pensa em
mim, em nós.
Quando a adrenalina do momento passa, olho o tempo que falta para
o final da partida. Vejo que resta somente 3 minutos e o coração pula
ensandecido no peito. Ansiosamente vejo o tempo passar devagar,
enquanto estou a ponto de ter uma síncope.
— Parece que as noites de sexo selvagem despertaram no jogador o
apetite por gols, pois vamos combinar que ele sempre fazia gols, mas nada
como agora. O homem parece uma máquina, jogo após jogo ele marca, um
ou até mesmo dois. Aposto que entre quatro paredes ele também é essa
máquina, hein Noviçabest!
Nem sei por que ainda perco meu tempo corando, por que ainda não
me acostumei! Mas é mais forte do que eu, e novamente estou parecendo
um pimentão.
— Bruno, já estou roendo as unhas, pois o jogo parece nunca
terminar e você ainda não colabora!
Ele apenas dá um sorriso debochado, sabendo que conseguiu o
intento de me importunar. Acho que isso nunca vai mudar, o jeito é eu
tentar me acostumar com as suas tiradas de duplo sentido.
E logo minha atenção volta para a tela, pois escuto o apito do árbitro.
O jogo finalmente acaba. Agora resta somente a última partida, e o Titã
tem toda chance do mundo de ser campeão.
— Você reclama, é ingrata com seu melhor amigo, mas minhas
brincadeiras, nestes momentos, são a única coisa que impedem você de
ter um troço.
Entendi! Tudo que ele disse foi uma forma de tirar meu foco, de
impedir-me de surtar. E neste instante agradeço a Deus por tê-lo em minha
vida, agradeço pela existência de Bruno.
Vou até ele, grata e feliz. Abraço-o forte, e digo baixinho:
— Amo você!
A voz sai embargada e uma pequena lágrima desce, por eu não me
sentir sozinha, como achei que me sentiria após a partida da tia Fernanda.
Posso não ser rodeada de pessoas, mas ter papai, Gustavo e Bruno fazem
de mim uma mulher completa e feliz.
— Eu também te amo, Noviçabest!
E continuamos agarrados, o que me faz bem, muito bem.
— E acaba de ser perdoada, essa sua declaração livrou-a do meu
rancor eterno!
Rio, pois ao lado dele a felicidade jamais me abandona. Meu coração
aquecido, por ele ser o melhor amigo que alguém poderia ter.
Não posso chorar, pelo menos não ainda. Preciso encontrar meu pai,
preciso arranjar uma desculpa para evitar olhar na cara de Gustavo.
Sei que este momento ocorrerá, mas preciso estar mais forte, preciso
primeiramente lamber minhas feridas e buscar uma força que nem sei
como conseguirei. Por ora somente necessito me afastar. Por ora somente
necessito conseguir sair daqui sem deixar-me desabar por toda esta dor
que sinto.
E sigo para onde acho que meu pai está e o vejo. Encerrando a
ligação e guardando o celular no bolso.
Ele olha para mim e parece perceber que algo está errado, e nesta
hora temo não conseguir disfarçar, não por Gustavo, ele não merece
qualquer consideração minha, mas por mim mesma, pois não quero me
expor e principalmente por meu pai, que tem uma carreira a zelar. Também
não quero parecer fraca em sua frente e neste momento sei que me
desmancharia em lágrimas de dor, decepção e desilusão. Quero me
preparar para o embate que certamente virá.
— O que aconteceu, minha filha?
Será mais difícil do que imaginava. Pois sua preocupação é genuína
e mentir é algo que não aprendi e nem quero. Tentarei então evitar o
encontro, usando meias verdades.
— Não consigo encará-lo, tenho medo de me derramar em lágrimas e
ninguém precisa disto nessa altura do campeonato.
Meu pai me olha cismado e digo:
— Só quero ir para casa e esperar para vê-lo no domingo.
— Ele vai achar estranho quando eu disser que você veio até aqui e
não quis encontrá-lo.
A pior parte, pedir para que papai omita o fato de que vim até aqui.
— Acho que não contribuirá em nada na sua concentração se
Gustavo tomar conhecimento deste meu descontrole. Ele vai entender se
você falar algo do curso, pois ele sabe que tenho um trabalho importante
para apresentar.
Ele me olha desconfiado e insiste:
— Você está certa disso, minha filha?
— Sim, papai. Não estou pronta para uma despedida e pelo que ouvi,
ele não está na academia sozinho. Tenho certeza que todo o cuidado que
tivemos para que nada nosso vazasse, escorrerá pelo ralo. Prefiro ir para
casa e encontrá-lo no domingo.
Meu pai parece não entender meus motivos, mas sei que aceitará.
Ele sempre me apoia e agora não será diferente.
— Está certo, meu bem. Faça o que achar melhor. Vou rapidinho
deixá-la em casa e...
— Não, papai. Vou chamar um carro de aplicativo. Não
atrapalharemos a programação de toda uma equipe por causa de uma
moça boba que decidiu dar um chilique.
Tento dar uma risada, que sei que mais pareceu uma careta. Torço
para que papai não insista, pois estou no limite de desabar.
— Não concordo, mas sei que preciso agilizar muitas coisas até o
nosso embarque.
Quase suspiro de alívio. Daqui a pouco terei o meu momento.
Dou um beijo em meu pai e me despeço:
— Até domingo, papai, e tragam essa taça para casa.
Ele parece feliz com minhas palavras e pela primeira vez percebo que
perdi todo e qualquer interesse nesta final. De repente me é irrelevante
saber em qual estado essa taça ficará.
Capítulo 41
Claro que eu sabia que o jogo não seria fácil. Muita marcação e tudo
sendo concentrado basicamente no meio-campo. Foram poucas as
jogadas de ataque, tanto para a nossa equipe, quanto para a deles. E
mesmo que eles estejam jogando em casa e com o apoio maciço da
torcida, o jogo está muito igual e parece caminhar para um zero a zero.
Neste momento aparentemente as duas equipes concentram-se em
defender, pois ninguém parece querer arriscar levar um contra-ataque.
Mas continuamos mordendo, buscando quem sabe uma roubada de
bola que decida o campeonato. E eis que a roubada de bola acontece, eis
que Beto intercepta um passe entre a zaga adversária. E todo o time
acompanha a arrancada dele.
Ele avança e limpa a jogada. Já próximo a área do time adversário,
ele não cruza, toca para o meio em um passe excelente para Lúcio. Ele
chuta no cantinho e a bola pega no travessão e retorna para a área.
Atento, todo o meu corpo explode num impulso de conseguir o rebote e
mal chego na bola, já fulmino em direção à rede, sem chance alguma para
o goleiro.
Todos correm para me abraçar, mas só sei correr em busca de uma
câmera. Na hora lembro de Clarisse, mesmo que tenha me debatido numa
raiva surda por esta situação. Mas a euforia e a felicidade faz-me esquecer
de tudo. Só quero fazer o gesto que já se tornou característico, só quero
que ela participe comigo deste momento.
E posso até escolher a câmera, pois uma enxurrada de repórteres
fica na linha de campo esperando. Escolho uma, foco nela e faço o nome
do Pai. Em agradecimento a Deus pelo gol, em lembrança à mulher que
não sai dos meus pensamentos.
E algo me impele a falar, em dizer a verdade impregnada em todas as
minhas entranhas.
— Amor, estou com saudades!
Sai quase como se tivesse vida própria, como se fosse a certeza mais
absoluta do meu coração.
E não tenho tempo para me questionar ou me chatear, pois os meus
colegas caem sobre mim. Comemorando este gol muito importante,
sabendo que agora a taça está a poucos minutos de nós.
Logo o árbitro apita para que a partida seja reiniciada, a
comemoração teve que ser cessada. Cada jogada a partir de agora é
primordial, a marcação tem que ser ainda mais severa.
E assim acontece. Divididas, bolas isoladas e raça. O outro time
sequer se aproximou mais da nossa área e já estamos por conta dos
acréscimos. Nossa torcida, que se encontra em muito menor número, por
ser visitante, já ensaia um é campeão, e o título já parece sim uma
realidade.
E o árbitro apita o centro de campo, e uma alegria visceral toma conta
de mim. Abraços, felicitações e uma gama de repórter querendo entrevista.
Olho para a torcida que vibra comemorando o nosso primeiro título e
percebo a grandeza do que estou vivendo, percebo que é o apogeu por
tudo que trabalhei até hoje. Neste momento dezenas de microfones
aparecem na minha frente. Querem saber como me sinto tendo feito o gol
do jogo, sobre o título, possíveis transferências e querem saber dela. Para
quem foi a declaração que fiz. E neste instante me arrependo do que disse,
mas por um motivo desconhecido, na hora não consegui reprimir as
palavras. Gritava para sair e não pude conter.
Respondo então algumas coisas, fujo de algumas respostas, até que
Vicente vem até mim e me salva. Ele sempre me salva.
Chama-me para premiação, para receber a taça. Abraça-me e diz
algo:
— Estamos muito orgulhosos de você!
E sei que este plural se refere a ele e a filha. E meu coração dispara.
Uma emoção genuína. Que compete com o que sinto pela conquista do
título.
E a alegria por suas palavras duela com o medo que sinto, com a
dependência que tenho de Clarisse.
Agradeço pelo barulho, abraços e felicitações. Que me impedem de
averiguar tudo isso mais a fundo.
Que me impedem de descobrir o que realmente acontece comigo e
com os meus sentimentos.
Capítulo 42
Até agora me pergunto por que não viajei com Vicente. Já poderia
estar no Rio. Já poderia estar afundado no corpo quente de Clarisse. E
tudo isso somente é potencializado pela incapacidade de falar com ela, o
telefone parece desligado, não consegui contato algum com ela enquanto
estava no hotel.
E agora na boate, com o som alto, sequer posso ligar e as
mensagens que mando nunca chegam. E isso apenas me faz encher o
copo e me recriminar por estar aqui. Enquanto queria estar lá, queria
comemorar esta conquista ao lado dela.
Mas o que não tem remédio, remediado está. Conformo-me e tento
envolver-me na euforia do time. Nos brindes e na bebedeira sem fim.
E parece até que estavam contando como garantido a vitória, pois a
organização fala disso. Os DJs, a exclusividade do clube e até as
mulheres. Daqui e de outros estados. As do Rio, as que conheço. As que já
fodi.
E claro que Camila está aqui. Linda, exuberante. De parar o trânsito.
Decido então que talvez seja o que estou precisando. Talvez ter outra
em minha cama sirva para afugentar esta necessidade que sinto da
loirinha.
E a Camila não joga, não ameaça. Ela ataca, certeira. Decidida.
Aproxima-se com um vestido colado que entrega tudo, que fala o
quanto ela é gostosa.
Aguardo e tento demonstrar um interesse que ainda não veio, forçar
um desejo que ainda não apareceu.
— Ah Guto, já estava com saudades de você!
Insinua sobre a minha ausência, faz-me lembrar indiretamente de
Clarisse.
Apenas dou um gole na bebida, enquanto ela cola o corpo no meu,
aproxima a boca do meu ouvido e diz:
— Daria tudo para comemorar o título em sua cama!
Direta. Ela sempre é.
— Quem sabe eu não receba um convite para terminar a noite em
seu quarto de hotel!
Levanto a vista e neste instante vejo selfies e fotos sendo tiradas,
todos compartilhando este momento de curtição. E sei que aparecerei nas
imagens, sei que a situação é mais do que comprometedora.
Queria dizer que não me incomodo, que o desejo que Camila me
despertou suplanta qualquer preocupação. Mas é mentira. Nenhum desejo,
nenhuma vontade. Sinto, na verdade, é uma necessidade absurda de me
afastar e olhar a porra que os caras fizeram.
— Preciso ir no banheiro, Camila.
E me afasto. Sem sequer responder às suas insinuações.
Preciso encontrar um lugar tranquilo. Preciso olhar o celular.
Mas até parece que é algo impossível, devido as inúmeras
abordagens que recebo. Sobre o gol, sobre o título ou por, segundo eles,
estar voltando à ativa. Respondo-os rapidamente, louco para verificar a
droga da confusão que estou metido.
E quase uma eternidade depois, consigo a privacidade necessária
para verificar meu celular.
Primeiramente olho a rede social e o que vejo faz a bile subir na
garganta. A foto viralizada, eu marcado em várias postagens. Todas
mostram nitidamente intimidade entre Camila e eu, insinua na verdade
muito mais do que aconteceu.
E isso não é o pior! Na que fui marcado por Lúcio, tem um comentário
que diz: o garanhão ataca novamente. E depois disso sei que estou
ferrado, sei que Clarisse jamais acreditaria numa possível inocência minha.
Talvez então fosse melhor eu chutar o balde mesmo, talvez devesse
dar por fim o que quer que estivesse acontecendo e voltar logo aos velhos
tempos, começar de agora o que não tardaria a acontecer.
Mas meu corpo inteiro refuta a ideia, nem mesmo o álcool que circula
no meu sangue me estimula a isso. Ainda não estou pronto para ficar sem
ela, não posso abdicar dela. Não ainda.
E no meu desespero olho novamente meu aplicativo de mensagens,
querendo quem sabe uma resposta para as mensagens enviadas, ou até
mesmo uma cobrança pela foto comprometedora que certamente já
domina a grande maioria dos sites de fofocas, que não perdem tempo
algum.
E o que vejo me tira o chão, me abala demais. Vejo que estou
bloqueado. A ausência da imagem no perfil e os demais indícios me dizem
que ela viu a foto e que estou mais do que fodido.
E nesta hora decido mandar esta festa de merda pra puta que pariu.
Mandar todo e qualquer pensamento consciente para o inferno. Só quero
vê-la, só quero voltar pra casa.
E é isso que faço. Vou em direção à saída, vou para o aeroporto.
Pedirei para alguém da comissão técnica levar meus pertences, direi que
tive uma emergência.
E já no táxi sei que esta é a palavra. E sei também que não medirei
esforços para embarcar o quanto antes.
Como é uma ponte aérea, sei que haverá muitas ofertas de voos,
muito embora possa ocorrer algum tipo de espera que tentarei minimizar.
Viajarei na classe econômica ou até mesmo fretarei um jato, só quero
chegar logo em casa, provar que não tenho qualquer outra em minha cama
e tentar matar toda a saudade que me consome.
Desço do carro e já ando em direção aos guichês das companhias
aéreas. Vejo que talvez a sorte esteja do meu lado e que talvez nem tudo
esteja perdido. Consigo uma vaga em um voo que já está a ponto de
decolar e, como não tenho bagagem, só me resta seguir rapidamente para
o portão de embarque.
Mesmo tendo bebido, o álcool parece ter evaporado quase que
totalmente do meu corpo. O medo e o desespero certamente contribuíram
para isso.
E a minha pseudo sobriedade ajuda na celeridade de tudo, ajuda
para que em pouco tempo eu já esteja sentado no meu assento, esperando
ansiosamente o momento da decolagem.
E já nas alturas fecho os olhos e me deixo levar. E um filme passa na
minha cabeça. Lembranças de beijos, carinhos, momentos. Sorrisos, noites
agarradinhos e orgasmos incomparáveis. Tudo dela. Sempre dela.
Talvez eu já não estivesse pronto para me afastar. Quem sabe se um
dia estaria. E isso vem à mente quando lembro do desespero que me
toma, quando lembro que estou voltando para ela, quando poderia estar
com qualquer outra.
Não quero saber o que isso significa, nem quero pensar sobre isso.
Só quero estar com Clarisse, só quero ter direito aos seus beijos e ao seu
corpo novamente.
E felizmente começa o protocolo para o pouso e minha angústia
parece finalmente perto do fim.
Tudo passa como um borrão, tudo é feito no automático.
E logo já estou em um táxi, de pronto sendo reconhecido pelo
motorista. E talvez fosse realmente o que precisava. Outro pensamento,
falar sobre o que amo. Isso ajuda o tempo a passar, apenas faz com que
logo chegue ao meu destino.
Pago a corrida garantindo uma gorjeta generosa. Desejo uma boa
noite, esperando que os votos recíprocos do motorista realmente se
concretizem.
Olho para o relógio e vejo que já passa das quatro da manhã e
mesmo o bom senso tentando me fazer ir para o meu quarto, sei que é
para o de Clarisse que irei.
Pois preciso dela. Preciso que entenda que estou aqui porque não
suportei a distância. Preciso que acredite que não fiz nada do que aquela
maldita imagem insinua.
Capítulo 43
A casa de Deus foi o único lugar que consegui algum alento estes
dias.
Muito choro, inconformismo e desespero. Dias longe de televisão e de
celular, pois tudo me remetia à final, e indiretamente a ele.
Infelizmente este afastamento não me levou a esquecer e muito
menos ajudou a diminuir a dor que me consome. Por sorte tenho Bruno,
que me ouviu, me apoiou e está comigo o tempo todo. Estes dias não nos
largamos um segundo sequer. O único lugar que me deixou só foi aqui,
mas porque sabe que na igreja consigo todo o conforto e consolo que
preciso. Até que o convidei, mas ele preferiu ficar em casa assistindo ao
jogo, disse que ia secar Gustavo e torcer para o time adversário. Rio ao
lembrar de suas palavras, meu amigo é um barato.
Pego um táxi e forneço ao motorista o endereço de Bruno. Segundo
ele faremos uma noite de garotas, pois não me deixará sozinha em casa
esperando por um idiota que não ficou de vir, palavras dele e não minhas.
E felizmente tenho esta possibilidade, jamais queria ter que ficar sozinha,
sabendo que em caso de derrota ele retornará e sei que não estou pronta
para o confronto, e em caso de vitória ele optará por curtir com os amigos,
pois deixou muito claro que está com saudade das farras, das mulheres.
Chego na casa do Bruno já sabendo que o Titã é campeão. O
movimento nas ruas e os gritos dos torcedores confirmam isso. Fico feliz,
pois sei que é consequência de muito trabalho e jamais seria mesquinha o
bastante para desejar o mal para tanta gente, por ter me decepcionado
com um deles.
A vontade de navegar nos sites e redes sociais é grande, mas me
policio. Não será assim que conseguirei esquecê-lo, muito pelo contrário.
Abro a porta da sala e quase sou jogada no chão com o impacto do
corpo de Bruno.
— Noviçabest, ele fez o gol da vitória e mandou mensagem para
você!
Meu queixo quase cai, minha cara de assustada é típica.
— É verdade! O jogador traidor disse: amor, estou com saudades! E é
claro que ele falou de você.
Como a grande boba que sou, sinto meus olhos inundarem, sinto meu
coração quase sair pela boca.
E como a mulher apaixonada que sou, sinto minha esperança e meu
amor voltarem com tudo.
— Será que me precipitei, Bruno? Será que era apenas um disfarce?
Questiono.
— Tenho certeza que sim, pois nem mesmo um ator conseguiria fingir
tão bem, imagina um jogador.
Ele graceja e rio, feliz como há dias não me sentia.
— Você precisa ver! Vamos zapear os canais esportivos e assistir as
matérias. Só se fala no título e na declaração do jogador.
E me puxa para a frente da TV. E eu entendo o que ele quis dizer.
Entendo por que acreditou nas palavras de Gustavo. A seriedade, a
aparente sinceridade e a emoção genuína que cada palavra remete. E eu
acredito. Emociono-me e fico ansiosa pelo seu retorno.
Estou louca para abraçá-lo, beijá-lo. Estou louca para ficar com
Gustavo.
— Liga para ele! Liga!
Bruno fala e todo meu corpo implora por isso. Ele coloca o aparelho
em minhas mãos suadas e trêmulas de emoção.
Olho o celular que está desligado, para que eu não cedesse a
vontade, para que não ficasse fuçando nas redes sociais. Somente o ligava
à noite, para falar com papai. Combinamos que nos falaríamos neste
horário e foi o ideal para que eu o mantivesse desligado o restante do
tempo. E quando ligava o aparelho, sequer ativava a internet,
impossibilitando assim qualquer contato por mensagem.
Mas agora tudo muda de figura. Agora vejo que não estou com
saudade sozinha. Vejo que não preciso refrear a vontade que tenho de
ouvir a sua voz.
E essa vontade não pode mais esperar, essa vontade precisa ser
saciada neste exato momento.
E tão logo consigo firmeza suficiente para ligar o celular, eis que ele
toca alto. Insistentemente.
Olho no visor cheia de esperança, que se esmorece um pouco
quando vejo que é papai. E mesmo com pressa em falar com Gustavo,
preciso atender, pois sei que somente o deixarei preocupado se
desconsiderar a sua ligação.
— Oi, papai!
Atendo feliz, nada é capaz de tirar este sentimento de mim depois das
últimas notícias.
— Graças a Deus que atendeu, minha filha. Eu já estava preocupado.
Claro que estava, por isso adiei o contato com Gustavo.
— Sem motivos, por aqui está tudo bem.
Tento deixá-lo tranquilo.
— E você não deveria estar brigando comigo, deveria era estar
comemorando o título!
Gracejo, feliz.
Do outro lado da linha ele ri. A felicidade é evidente e isso me faz
bem, muito bem.
— Decidi que quero comemorar com você! Estou voltando para casa.
Inclusive já estou no aeroporto esperando o voo.
Meu coração quer parar, não aguenta a ansiedade de saber que eles
estão voltando.
— Que horas vocês embarcam?
Não me contenho, a partir de agora quero contar os minutos.
— Irei sozinho, querida. Gustavo ficará para uma comemoração com
o restante do grupo.
Um balde de água fria. Um golpe que eu sequer sei se um dia serei
capaz de superar. Tento ser forte, tento não demonstrar que sei que a
comemoração é em uma boate cheia de mulheres e de más intenções por
parte de Gustavo.
Dou tudo de mim para responder, para que ele não perceba quão
devastada estou.
— E que horas você chega?
A voz sai forçada, mas ele parece não perceber, pois continua
animado. Diz que daqui a uma hora estará desembarcando e combino com
ele que Bruno e eu estaremos lá para recebê-lo. Combinamos também de
irmos a um restaurante, oferta dele e eu não poderia recusar, para não
levantar suspeitas.
Apresso-me para encerrar a ligação, pois preciso desabar, já não
aguento mais fingir.
E assim que isso acontece, desfaleço nos braços do meu amigo em
um choro copioso. Ele nada pergunta, pois ouviu toda a conversa.
— Não temos como fugir do compromisso com seu pai, mas
continuaremos com o plano da noite de garotas!
Ele diz decidido e balanço a cabeça. E é melhor, pois em casa,
próxima a tantas lembranças, o sofrimento somente aumentaria.
E enquanto tento buscar forças para me acalmar, vejo que ele pega o
meu celular e começa a mexer. Pouco tempo depois, diz:
— Pronto, celular novamente desligado! Não deixarei a minha
Noviçabest disponível. Aquele jogador fingido não terá acesso nenhum a
você!
E mesmo em meio às lágrimas, tenho o conforto de saber que meu
amigo cuida de mim e que cuidará nos dias difíceis que certamente virão.
Capítulo 44
Rio, tento interagir, mas minha mente está muito distante do que
acontece neste restaurante. A todo momento ela insiste que ele poderia
estar aqui, que poderia estar comemorando comigo. Mas claro que não foi
esta a opção que ele tomou, ele preferiu a farra, preferiu colocar em prática
os planos que tão bem escutei.
E isso me destrói. Saber que nada do que vivemos foi real, que
enquanto ele estava comigo, ansiava por outras mulheres e agora que a
competição acabou, se acha apto a fazer o que dá na telha, algo que ele
mesmo disse e com todas as letras.
Como vou suportar? Como vou conseguir conviver com Gustavo? Vê-
lo se arrumar e sair, enquanto somente a dor me fará companhia?
Não quero isso para mim, não quero ter que me submeter a essa
situação. Penso numa forma de abordar o assunto, quando escuto:
— Estou achando você distante, minha filha!
Talvez seja a deixa que eu precisava.
— Esses dias tenho pensado em algo e isto está me deixando
contemplativa.
Meu pai me dá toda a atenção. Bruno interrompe o percurso do garfo
à boca, também atento ao que direi.
— Estava pensando em me mudar para o apartamento em que
morávamos quando a mamãe era viva.
Solto de uma vez. Talvez essa seja a única opção possível para uma
mudança, talvez seja algo admissível para meu pai.
— Você não está gostando? Aconteceu alguma coisa? Você e
Gustavo brigaram?
Uma enxurrada de perguntas, como achei que seria. Tento ter calma,
tento convencê-lo.
— Papai, claro que estou gostando e não aconteceu nada. Só que
não posso ficar morando de favor na casa de Gustavo indefinidamente.
Ele reflete e diz:
— Só pode ter acontecido algo, vocês terem brigado...
— Papai, você sabe que Gustavo e eu sequer nos falamos e sabe
que estávamos bem. Apenas comecei a pensar e quero o meu cantinho,
com as coisas do meu jeito. Quero ser independente, preciso começar a
trilhar o meu próprio caminho.
Respiro fundo e tento ser mais convincente:
— À sua maneira você sempre me apoiou, e recentemente quando
achei que a mudança que passaria fosse acabar comigo, você estava lá.
Deu-me amor, compreensão, além de todo o suporte para seguir em frente.
E aqui estou eu: estudando e com uma vida semelhante a das pessoas da
minha idade. Agora quero ir além, quero voar mais alto.
Digo emocionada, pela primeira vez podendo demonstrar algum
sentimento.
Meu pai fica em silêncio e parece pensar. Finalmente diz:
— Talvez você esteja certa, Clarisse. Talvez esteja na hora de você
alçar outros voos.
Sorrio, mesmo sem vontade. A compreensão de papai é um alento
neste momento difícil.
— E quando acontecerá esta mudança?
A parte mais difícil e que talvez levante suspeitas.
— Amanhã! Como sei que você paga a uma empresa de limpeza
para deixá-lo sempre habitável, somente irei com Bruno dar uma olhada
para ver o que precisa ser adquirido com urgência, ademais irei
providenciando quando já estiver instalada.
— E as coisas que estão na casa de Gustavo?
Sei que amanhã haverá a premiação dos melhores do Campeonato.
Era somente isso que se falava na transmissão dos programas desportivos
do pós-jogo. Então irei aproveitar que ele não estará em casa para pegar
tudo que é meu.
— Depois da aula irei lá com Bruno. Transferirei minhas coisas para o
meu novo lar amanhã à noite.
Um vislumbre de compreensão aparece no semblante de papai. Ele
entende que quero evitar o jogador.
E quando penso que ele vai voltar a me perguntar sobre possíveis
brigas ou desentendimentos, ele somente diz:
— Está bem, minha filha. Conte comigo para que as coisas ocorram
no seu tempo e do seu jeito.
E mais uma vez sinto seu amor. Na compreensão e principalmente no
entendimento de perceber que agora não é hora de perguntar e sim é hora
de cuidar e de amar.
Como combinado estamos tendo nossa noite de garotas. Eu
devidamente triste e calada, enquanto Bruno segue ao meu lado
acompanhando as redes sociais e praguejando pela decisão de Gustavo
em ter permanecido em São Paulo. A todo momento fala do quanto ele é
fingido, pois fez declarações mentirosas, enquanto decidia-se por fazer a
comemoração pela vitória numa boate onde nada de bom poderia
acontecer.
E parece que ele estava certo, parece que sabia qual comportamento
esperar do jogador.
Entendo isso quando Bruno me mostra uma foto. Comprometedora.
Onde aparece bebidas, jogadores e muitas mulheres. Mas algo tem minha
atenção absoluta, algo faz meu mundo desabar.
Gustavo com uma mulher junto de si. Numa intimidade que fala por si
só. Certamente colocando em prática o que tanto alardeou na conversa
que ouvi, certamente provando que fiz a melhor escolha ao decidir-me por
sair de sua casa.
E um desespero sem precedentes me toma. Por entender que é o
fim. E infelizmente eu sabia que isso ocorreria, mesmo que suas palavras
depois do gol tenham criado uma momentânea cortina de fumaça.
E as lágrimas escorrem sem controle, vê-lo com outra me faz mal, me
aniquila.
Sinto os braços de Bruno ao meu redor, e choro ainda mais.
Não há palavras, pois não há conforto.
Não para uma imagem tão clara, não para algo que a sua decisão de
ficar já deixava mais do que evidente que aconteceria. Só não sabia que
meu mundo desabaria ainda esta noite, só não sabia que a internet me
traria a causa das minhas lágrimas em tempo real. Nos perfis dos
jogadores que Bruno segue, em alguns sites de fofocas que já começam a
divulgar a foto.
De repente Bruno se afasta, pega o meu celular e me entrega.
— Bloqueie este jogador fingido. Depois desta foto e do que ele
escolheu fazer, nada mais justo que ele não tenha mais nenhum acesso a
você.
Ele está certo e por isso não hesito em fazê-lo. Mesmo que me parta
o coração, mesmo que uma dor infinita me tome.
E volto para os braços de Bruno, meu choro sendo impossível de ser
contido. Sabendo que terei uma longa noite pela frente, sabendo que
infelizmente todo este meu sofrimento apenas começou.
— Seu moleque! Devia ter previsto que isso ia acabar assim! Claro
que na festa você não ia ficar sozinho!
— Vicente...
— Só não quebro a sua cara por causa do evento de hoje à noite.
Infelizmente meu lado profissional impede-me. Mas saiba que amanhã
nada me impedirá de te encher de porrada.
Ele diz bravo, o ódio é evidente e antes que eu consiga falar o que
quer que seja, ele continua:
— Em pensar que eu praticamente coloquei a ovelha na boca do lobo
quando consenti esta sandice! Só poderia não estar em meu juízo perfeito,
pois permiti que um degenerado como você se aproveitasse da minha
Clarisse! Felizmente não permiti que essa história fosse do conhecimento
da imprensa, parece que estava adivinhando que você iria aprontar.
Não concordo com suas palavras, mas antes de contestá-las preciso
dizer o que realmente aconteceu.
— Olha, cara...
— Olha você, Gustavo Leão, por conta desta minha falta como pai e
porque você não consegue manter o pau dentro das calças, minha filha vai
se mudar, ela não quer mais morar nesta casa!
Suas palavras me desnorteiam e a minha única reação é afastar uma
cadeira e sentar. Penso que não entendi direito e pergunto:
— Como é que é?
— Isso mesmo que você ouviu! Jantei com Clarisse e ela me
comunicou que vai deixar esta casa.
Mesmo desorientado com a notícia, obrigo-me a pensar com
coerência.
— Mas como ela comunicou isso na hora do jantar, se só cheguei na
boate perto de meia-noite?
Vicente assusta-se com o que digo e pensa. Aproveito este instante
para dizer:
— Talvez essa decisão...
Ele me corta. Sequer me deixa concluir.
— Conheço minha filha, tinha dor em seu olhar. Ela estava sofrendo
quando falou que ia sair desta casa. Foi até por este motivo que não insisti
para que ficasse.
Escuto calado e tento chegar a uma conclusão, mas antes que meu
cérebro consiga pensar em algo, Vicente fala:
— Claro que algo estava errado, e estava errado desde o dia do
embarque para São Paulo! Somente um pai relapso como eu não
perceberia. Clarisse estava eufórica para te ver, foi até o CT e a apenas
alguns passos de distância, mudou de ideia. Do nada. No intervalo de uma
ligação ela disse que não queria mais se despedir, que não queria levantar
bandeira sobre o que estavam vivendo, e eu como um pai que sequer
conhece a própria filha, deixei-me levar.
— Ela foi se despedir? Ela estava no CT naquele dia?
Mesmo não tendo diminuído a raiva que ele demonstra, Vicente
parece querer entender o que aconteceu tanto quanto eu.
— Ela disse que você não estava sozinho na academia e que sabia
que não conseguiria disfarçar o que rolava entre vocês e por isso preferia ir
embora, antes que se entregasse. E ainda pediu para que eu não lhe
contasse!
Puta que pariu! Eu estava lá com Lúcio e lembro perfeitamente o teor
da conversa que estávamos tendo. Mulher. Sexo. Baladas.
— Porra! Sei o que ela ouviu. Agora sei por que ela sequer recebia as
minhas mensagens.
Ele parece pensar e explode:
— Infeliz! Você tava falando putaria! Você estava antecipando o que
aprontou!
Ele me conhece! Sabe do que sou capaz.
Muito embora desta vez tenha mudado de ideia, minha vontade e
desejo por Clarisse me impeliram a correr para cá, a dispensar Camila e
qualquer outra que aparecesse, por mais gostosa que fosse.
Respiro fundo e reconheço que estou ferrado. Até pelo fato de estar
bloqueado e da decisão dela em sair daqui. Decido que não posso aceitar,
quero e preciso de Clarisse. Decido falar a real, tentar convencer Vicente
que quero a loirinha e que não fiz nada de errado, apenas falei um monte
de besteira, que nada coloquei em prática. Na verdade sequer tive
vontade. Um fato que é surpreendente e até inconcebível para mim.
— Não vou mentir e muito menos fingir ser alguém que não sou,
mesmo porque você me conhece e o respeito demais para agir de forma
contrária. Estava sim dizendo um monte de besteira, tentando mostrar-me
como eles me enxergam: pegador, festeiro. Mas a verdade é que fui para a
festa e me senti deslocado, arrependido de não ter voltado com você e a
todo instante pensando em Clarisse.
— Ah tá! Então foi por isso que se agarrou com a sua Maria-chuteira
de estimação?
Diz de forma irônica e sequer posso julgá-lo. Sei que é isso que a foto
insinua, e foi isso que me prestei a fazer quando não retornei para o Rio.
Mas sei que quando lá estava, a vontade de ficar com outra era inexistente
e Clarisse ocupava todos os meus pensamentos. Preciso provar isso a
Vicente. Necessito que ele fique do meu lado e me ajude a corrigir esta
burrada.
— Não nego que foi pra isso que fui. Para ficar com ela e com quem
mais me interessasse. Mas não consegui. Não quis. Não tive interesse
algum, arrependi-me e voltei de madrugada. Saí da boate direto para o
aeroporto, sequer trouxe minha bagagem. Queria ver Clarisse, precisava
estar com ela.
— Depois que ficou com outra, depois que o mundo mostrou os dois
juntos na balada? Certamente minha filha não olhará mais na sua cara,
certamente você perdeu uma mulher especial, que as circunstâncias
mostraram claramente que você não merecia.
A mera possibilidade da perda me maltrata, causa-me uma dor
insuportável. Preciso resolver isso. Preciso que Vicente me ajude. Preciso
da loirinha, mais do que sequer imaginava.
Olho para meu empresário. Sei que ele me conhece. Muito. Como um
pai conhece um filho. Então digo a verdade, conto o que realmente
aconteceu:
— Eu não fiquei com a Camila, juro que não fiquei. Ela chegou junto,
insinuou. Os caras fizeram a foto, pois, como você sabe, estou longe disso
tudo há um tempo. Mas foi só. Quando ela insinuou-se mais, disse que ia
ao banheiro e vim embora. Da festa. De São Paulo. Vim atrás de Clarisse.
Estava louco de saudade dela.
Falo com emoção e sinto que Vicente sabe que falo a verdade.
Ele passa a mão no queixo e me olha seriamente.
— Conheço você e por isso acredito, mesmo que pareça inconcebível
este seu relato.
Suspiro aliviado, pois sei que tenho nele um aliado.
— Mas afirmo, Guto: sua situação não é fácil. Clarisse está decidida a
ir embora e a dor que percebi em sua face, talvez não possa ser revertida
apenas com meia dúzia de palavras.
Dói. E dói mais por saber que ele tem razão.
— Pois diga-me algo. Você que já esteve num relacionamento de
verdade, deve saber o que fazer. Eu preciso de um norte, Vicente! Por
favor, me ajude!
Olho para ele e digo emocionado.
— Eu não posso perder Clarisse! Não posso!
O aperto que sinto agora é algo novo, desconhecido. Nem sei explicar
em palavras e nem quero, pois a única coisa que quero e preciso é ter a
minha mulher de volta.
Somente quero a minha loirinha novamente em meus braços.
Capítulo 46
Claro que estou abalada com o que ouvi! Lógico que neste momento
estou trêmula em uma cadeira, não querendo acreditar, mesmo que
aquelas palavras me pareçam tão sinceras, tão reais.
Ouvir ele falando de nós abertamente, confirmando que era em mim
que pensava quando fazia um gol, garantindo que não ficou com aquela
garota, fez algo dentro de mim renascer. Fez qualquer ínfimo controle ir
para o espaço.
Mas preciso de mais. Preciso tentar entender tudo isso.
— É verdade?
A voz sai insegura, a ansiedade me toma por completo.
Olho diretamente para meu pai. Confio nele e sei que ele jamais
mentiria para mim.
Ele retribui o olhar e se ajoelha, ficando frente a frente comigo.
Segura a minha mão e começa:
— É verdade. Ele não ficou na boate. Veio embora diretamente da
festa, assim que percebeu o estrago que aquela foto poderia causar.
Sequer passou no hotel, pediu para que trouxessem suas coisas. Apenas
foi para o aeroporto e embarcou.
Soluço alto.
De repente a dor parece querer finalmente abandonar meu ser. O
aperto parece ceder a cada segundo.
— Conversei com ele de manhã. Gustavo estava desnorteado, na
verdade desesperado seria a palavra certa. No primeiro momento quis
matá-lo, mas pouco a pouco fui cedendo e escutei o que ele tinha a dizer.
E lhe garanto, minha filha: Gustavo tem muitos defeitos, mas não é
mentiroso!
As palavras de meu pai abrandam meu coração. Conseguem algo
que parecia impossível de acontecer.
— E na conversa que tivemos falei que você tinha decidido ir embora,
e isso machucou Gustavo. Percebi ali que ele gosta de você, Clarisse, e
por isso, quando ele me implorou para ajudá-lo a resolver as coisas entre
vocês, mesmo receoso, aceitei.
Olho-o sem entender a que ele se refere.
— Gustavo estava decidido a acabar com esta ideia de que as
declarações dele eram para Camila. Estava disposto a dizer em rede
nacional a quem ele se referia quando falava em saudade, quem ele
chamava de amor.
Lágrimas sentidas correm sem controle por minha face, enquanto
sinto um aperto em minhas mãos, um sinal claro de apoio, de carinho.
Sou tirada desta bolha por um soluço extravagante, por um choro
escandaloso.
— O jogador não é tão fingido como imaginei! Ah Noviçabest, ele
gosta de você!
E chora copiosamente. Típico do Bruno, vive intensamente as
emoções.
E meu choro aumenta, mas também há um sorriso, por toda a
situação surreal que estou vivendo.
Meu pai arranha a garganta, como que pedindo atenção. Olho-o e ele
parece envergonhado.
— Nós meio que arquitetamos um plano, para que você ouvisse o
que ele diria no evento. Por isso pedi para ligar a TV, porque já sabia o
conteúdo do discurso do Gustavo.
Ele me olha ansioso, quem sabe esperando críticas, ou qualquer tipo
de desaprovação.
Apenas sorrio, tentando acalmá-lo, mostrando que está tudo bem.
— Graças a Deus você não ficou chateada, não me perdoaria se de
alguma forma magoasse você.
Abraço-o e sou retribuída.
— Está tudo bem, papai. Ele tem o direito a tentar se defender, assim
como tenho que ter maturidade para ouvir. E ele nem precisava ter
pensado em algo tão grandioso, bastava me procurar. Certamente não
agora, pois tudo ainda está muito recente, mas depois poderíamos sim
termos tido uma conversa civilizada.
Ele afasta-se com um sorriso no rosto e fala:
— Depois? Você acha que ele conseguiria esperar para depois?
Gustavo queria aguardar você na entrada do curso, queria ir e pronto. E na
verdade ele só não foi porque falei da exposição, principalmente depois
daquela bendita foto que está circulando na internet. Gustavo queria
inclusive faltar à premiação, desde que conseguisse se explicar para você.
Nem consigo imaginar o alvoroço que sua presença no curso
causaria. Entendi o raciocínio de meu pai e agradeço internamente seu
discernimento. Agradeço também por papai tê-lo convencido a ir ao evento,
pois a ausência certamente não seria bom para a sua carreira.
— Somente convenci Gustavo a ir para a premiação quando tivemos
a ideia dele usar o microfone para esclarecer as coisas. Falar o que
realmente aconteceu na boate e a quem ele se referia na hora das
comemorações de seus gols. Acabar de uma vez por todas com as
especulações envolvendo Camila e tentar também uma abertura para que
depois você fosse capaz de escutar o que ele tem a dizer.
— Ah, Vicente, eu queria um cupido como você!
Somente Bruno seria capaz de soltar uma pérola desta. De me fazer
rir quando tudo em mim transborda de emoção e sentimento.
— Quem sabe Bruno, eu realmente não lhe apresente um rapaz que
valha a pena?
Meu pai dá uma piscadinha cúmplice para Bruno, o que leva-nos a
cair na risada.
— Que isto seja uma promessa, Vicente. Quero conhecer alguém que
faça de mim uma biba séria, não quero me tornar mais uma das milhares
de Marias-chuteiras que existem por aí.
A gargalhada é geral, nenhum de nós consegue se controlar. Nem
mesmo Bruno, pois ele sempre ri com gosto de suas próprias tiradas.
— Estou feliz e aliviado, por ver o sorriso novamente em seu rosto,
Clarisse.
— E eu estou feliz em saber que com um cupido deste, meus dias de
vela estão na iminência do fim.
— Com certeza, Bruno. Mas agora mudando a minha função de
cupido para pai zeloso, diga-me Clarisse, você mudou de ideia com relação
a essa história de sair daqui?
Meu pai faz a pergunta de forma direta e percebo a esperança e a
ansiedade em sua expressão.
— Papai, independentemente da conversa que terei com Gustavo,
não mudarei minha decisão. Pela primeira vez decidi tentar ser
independente, tentar caminhar com minhas próprias pernas, e não voltarei
atrás.
Meu pai parece triste, abalado com minha resposta.
— Então você não o perdoou? Então você se afastará de nós?
Diz com a voz frágil, inclusive imaginando que estou me mudando por
não acreditar em Gustavo, ou não o perdoar.
Preciso me fazer entender.
— Papai, claro que acreditei em Gustavo, muito embora precisemos
ter uma conversa muito franca para decidirmos como as coisas realmente
ficarão entre nós. Mas o fato de ficarmos ou não juntos, não alterará minha
decisão. Foi necessário essa reviravolta, toda essa confusão para que eu
percebesse que preciso tentar caminhar só, sem toda a proteção que
sempre tive. Primeiro por perder minha mãe de sangue precocemente,
depois por perder minha mãe de alma recentemente. Preciso agora parar
de ser amparada, tratada como alguém que precisa ser protegida. Quero
ser capaz de ir além e é isso que vou fazer. Esse período aqui foi
importante, fortaleci-me, conheci melhor a vida e o meu coração. Mas
agora o momento é outro e quero, na verdade preciso de seu apoio para
seguir em frente.
Ele parece entender e vagarosamente confirma com a cabeça.
— Mesmo que me mate ter que aceitar isso, é assim que será.
Jamais quero ser um pai que impõe limites e privações. Quero ser um pai
que ama, que cuida, mas que deixa voar.
Seus olhos brilham ao pronunciar as palavras, minhas lágrimas
apenas escorrem descontroladas por minha face.
— Mas tenho um único pedido antes que você saia desta casa em
busca da sua independência.
Olho para papai, aguardando o tal pedido.
— Espere Gustavo chegar, não aguento mais a ladainha dele, não
quero ter que consolar um marmanjo daquele tamanho.
Diz tentando fazer graça.
— E nem eu quero ser acordado no meio da noite pelo jogador. Ah e
nem me olhe com esta cara, você acha mesmo que não dormiria com a
minha best em sua primeira noite de independência? Parece até que você
não me conhece, garota!
Rimos mais, ninguém é capaz de estar perto do Bruno e ficar triste.
Ele irradia amor, amizade e alegria por onde passa.
De repente esqueço este meu pensamento, pois vejo dois pares de
olhos esperando a minha decisão. Aguardando que diga se esperarei ou
não pelo jogador.
Penso, reflito. Decido que não há motivos para adiar, não quando
tudo em mim grita por Gustavo.
— Vou esperar por ele. Só irei para a minha nova casa quando
conversar com Gustavo.
Faço a vontade deles, mas faço principalmente a vontade do meu
apaixonado coração.
Capítulo 50
Decidi ir para uma igreja que fica próxima ao CT onde Gustavo está.
Antes de sair liguei para ele e pedi para que me pegasse quando fosse
para casa. Gustavo não disfarçou a felicidade quando disse que não
participaria da reunião, que certamente entrará noite adentro. Assim como
eu, ele vibra com cada instante a mais que temos para estarmos juntos.
Logo que entro na igreja, sinto-me acolhida, em paz. Sinto-me filha,
sinto-me amada.
Prostro-me para agradecer. Para conversar com Ele, que sempre foi
meu confidente, meu amigo querido. Meu Senhor.
Perco a noção de tempo ao me conectar com Ele. Rezo e agradeço
sem cessar.
Até que sinto alguém ao meu lado. Que segura a minha mão e se faz
identificar.
Ele faz a oração dele, pois Gustavo também é uma pessoa de fé.
Habituou-se a ser praticante e junto comigo guarda os mandamentos e a
lei de Deus.
Aguardo o seu momento de intimidade e sei que escolhi o lugar certo
para dividir com ele a notícia que descobri mais cedo. Depois haverá
tempo para contar para papai e para Bruno. Agora é o nosso tempo. E é
também o tempo de agradecer.
Quando ele termina a sua oração, me olha. Sempre apaixonado.
— Faz-me bem demais estes momentos. Trazer-me novamente para
a igreja é apenas uma das coisas que sou grato a você, amor.
Sei da sua fé. Sei como a religiosidade passou a ser importante para
Gustavo.
— Por saber como você valoriza estes momentos, foi que pensei que
aqui, com o coração cheio de amor e gratidão, seria o local exato para lhe
dizer algo muito importante.
Ele me olha e vejo sua ansiedade, mas apenas escuta o que tenho a
dizer.
E serei sucinta, clara no que precisa ser dito.
— Seremos pais. Eu estou grávida, meu amor.
Vejo seus olhos brilhantes, sua felicidade. Sinto seu abraço apertado
e a umidade em meu pescoço.
Também choro, a felicidade não pode ser contida e nem precisa.
— Ah meu amor, eu sou o homem mais feliz do mundo!
Ele não cansa de dizer e eu não canso de ouvir.
Gustavo se afasta e leva as mãos à minha barriga.
Trêmulas, assim como as minhas.
— Papai está aqui e sempre vai estar! Você vai ser muito, muito
amado!
Diz com a voz entrecortada e isso apenas intensifica as minhas
lágrimas.
Junto minhas mãos às suas e digo com o gesto que também estou
aqui. E que sempre estarei.
Ele beija minha barriga com reverência, depois a minha testa.
— Nada se compara à felicidade que sinto neste momento. Estou
completo e feliz como jamais estive.
— Eu sei, pois é assim que me sinto.
De comum entendimento olhamos para o altar e falamos com Deus.
Entregamos a Ele a nossa vida e a do nosso filho.
E terminamos nossa oração e saímos. Com o coração cheio de
gratidão e amor.
E com a certeza de que Deus tem sempre os melhores planos e que
tudo que acontece na nossa vida, tem sempre um propósito.
A infância de Gustavo, a minha. O futebol, o convento. Tudo
aconteceu como tinha que ser. Para chegarmos até aqui. Para podermos
ser para o outro o que somos agora.
A felicidade. O amor.
A certeza de que este sentimento cura. Constrói. De que ele é o
sentido de todas as coisas e que Gustavo e eu somos a prova viva e real
disso.
A noviça e o jogador.
Uma história digna de livros, mas é apenas a evidência de que o
amor existe e está no diferente, no improvável. Está em todo canto.
Assim como Deus.
Fim
Conheça os outros trabalhos da autora
Depois de tudo...amor
Mariana sonha com um amor impossível!
Menina humilde, trabalha há algum tempo na casa de
abastados e influentes advogados da capital paulista. Mesmo sem
qualquer esperança, alimentou por anos uma paixão platônica pelo
filho de seus patrões, o herdeiro e sucessor do legado Andrade.
Percebendo ser em vão este sentimento, resolve mudar
atitudes e comportamentos. Após anos de dor e sofrimento, resolve
seguir em frente.
Leonardo é o típico cafajeste. Libertino, jamais se apega. Muito
ligado a aparência e status, descrente no amor e no casamento.
Não quer compromisso e está sempre rodeado de lindas mulheres
de sua classe social.
Mesmo com toda a vida desregrada que leva, tem na doce
Mariana, seu ponto fraco. Seu limite absoluto.
No decorrer do livro percebemos o crescimento e o
afastamento de Mariana e como isto afeta e desestabiliza o
inveterado mulherengo. Como a distância imposta por nossa
protagonista, abala tão afamado pegador.
Neste embate entre amor, simplicidade, dinheiro e poder, qual
lado sairá vencedor?
Totalmente Seu
Alice não aguenta mais viver um casamento de aparências.
Não suporta saber que não faz parte da vida de seu esposo, saber
que com o tempo, o sucesso e o dinheiro, ela foi ficando para trás. É
nítido como ela e as crianças ficaram em segundo plano na vida de
Paulo.
Ela percebe que há sentimento, carinho, mas sente que para
Paulo isso não é suficiente. É visível a necessidade que ele tem de
ir além, de ir sozinho em busca de algo que talvez nem ele saiba o
que é. O coração dela sangra por saber que não bastam para ele,
sofre porque sabe que não pode e nem merece continuar assim. Em
algum momento se perderam pelo caminho. Infelizmente o cansaço
pela situação imutável a domina. Jamais tentará concorrer com o
glamour e a ostentação da vida que aparentemente ele tanto gosta.
Deixará Paulo livre. Sabe que não merece estar numa relação
assim. Não quer nunca mais sentir que não é o bastante para seu
próprio esposo.
Estes são os conflitos que preenchem o âmago da nossa
personagem. No decorrer do livro exporemos os sentimentos de
Paulo e veremos se serão capazes de superar os muitos obstáculos
que os impendem de alcançar a felicidade.
Completamente Dela
Flávia sempre foi tranquila em seus relacionamentos. Quando
jovem procurou viver intensamente e nunca buscou amor ou
compromisso. Gostava do novo, de sair e se divertir. Independente,
dona do próprio nariz, não deixava ninguém guiar seus passos e a
forma como vivia suas relações favorecia ainda mais essa faceta de
sua personalidade.
Dizer que ficou feliz em conhecer alguém tão parecido com ela
não reflete tudo o que sentiu ao conhecer Ricardo. Colegas desde o
curso de marketing, trabalham desde formados na mesma empresa
de publicidade, que hoje é responsável pela maior fatia deste tipo de
mercado no país.
Toda essa convivência com Ricardo criou uma cumplicidade e
intimidade que evoluiu rapidamente para os dois rolando na mesma
cama. Sexo sem compromisso, oportunidade de variedade e
ausência de cobranças. Esta situação era a realização dos seus
sonhos, era a certeza de continuar com o estilo de vida que sempre
prezou.
Com o passar dos anos tudo isso passou a ser insuficiente. A
vontade de estar com outros acabou e o estilo de vida de Ricardo,
que sempre foi perfeito para Flávia, passou a ser fonte de dor e
sofrimento. Flávia se apaixonou, viu-se amando alguém averso a
relacionamentos, um solteiro convicto e um cafajeste assumido.
Sabendo que ele jamais se comprometeria com ela, desfez a
relação aberta que tinham e a partir de então tenta juntar os cacos,
tenta reconstruir sua vida.
Percebeu que esse estilo de vida não lhe era mais suficiente.
Percebeu que queria amor, não queria mais viver ilusões
passageiras.
Precisava então se afastar de Ricardo e seguir em frente.
Precisava ser forte e tentar esquecer esse sentimento que habitava
todo o seu ser.
O CEO e a Loba Má
Essa história não terá nenhum final que não seja Álvaro aos
meus pés. Que não seja nós dois juntos como tem que ser.
Nunca entro numa batalha para perder. Tudo o que quero
consigo. E eu o quero. Deus como eu o quero!
Lindo, gostoso, safado e mulherengo. Nunca quis
compromisso, não promete fidelidade e muito menos deseja largar a
vida de libertinagem.
Quer a mim como a tantas outras, sem vínculo e sem
cobranças. E me tem. Arrebatada e entregue. Com um amor no
peito maior do que se é capaz de mensurar. Mas com muito orgulho,
força de vontade e sabedoria para fazer esse cafajeste ser meu e de
mais nenhuma outra.
Não jogarei limpo, não me dobrarei. Passarei por cima de tudo
e de todas como um rolo compressor.
Essa sou eu, Mirela.
E esta é história onde transformo um CEO inalcançável em um
cordeirinho apaixonado. Onde transformo um homem de baladas
em um cara de família.
Este é meu conto de fadas às avessas, mas certamente com
um final feliz.
Acompanhem e conheçam o meu para sempre.
O CEO e um conto de fadas moderno
Esta história contém quase todos os elementos de um conto
de fadas: uma madrasta má, uma bela princesa e um príncipe
encantado.
Mas como tudo se passa na nossa época, pequenas
diferenças se fazem presentes.
A bela princesa não consegue manter a inocência dos antigos
contos, a madrasta não é apenas má, ela é além e o príncipe foi
corrompido pelo universo de bebidas, farras e belas mulheres.
Então seria errado tal designação? Certamente não.
Clara, nossa linda princesa, perderá sua inocência com todos
os dissabores vividos, a madrasta má pagará por suas crueldades e
o príncipe, quando se descobrir apaixonado, fará tudo que estiver ao
seu alcance para viver o seu felizes para sempre.
Haverá muita intriga, inveja e injustiças.
Mas haverá muito amor, romance e redenção.
Apaixone-se por Marcelo, odeie com todas as forças a
malvada Virgínia e lute junto com Clara por seu grande amor e por
sua afirmação pessoal.
Esteja pronto para viver intensamente esta história, que
representa a pureza do amor verdadeiro e a certeza de que com
força de vontade e fé, dias melhores sempre virão.
A Proposta do Bilionário
Melissa Lacerda tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas o
que ela mais deseja não está à venda.
Lucius Martins pode comprar qualquer coisa, mas o seu
dinheiro e poder não são capazes de evitar algo que ele mais
abomina: compromisso.
Ela sempre o quis para si, mas jamais achou que pudesse
competir com as festas e toda a luxúria em que ele estava
envolvido.
Ele sempre percebeu sua devoção, mas sabia que ela não se
encaixava no seu mundo de devassidão.
Infelizmente o destino não pensava desta forma.
Infelizmente para garantir a solidez de sua empresa, ele
precisaria fazer a proposta.
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