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A Noviça e o Jogador

J Munyz

Copyright © 2022 J Munyz


Capa: Mbbanners
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimento descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados


Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida por quaisquer meios
existentes sem a autorização prévia e expressa da autora. A violação dos direitos autorais
é crime estabelecido na Lei N° 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO
Sinopse
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Epílogo
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Sinopse
Gustavo Leão é um sobrevivente.
Órfão de uma mãe viva, desde muito cedo teve que conviver
com o alcoolismo do pai, que não foi forte o suficiente para superar
a partida da esposa.
O garoto franzino viu então no futebol uma válvula de escape
para enfrentar seus problemas, além de enxergar no esporte a única
oportunidade para fugir da sua dolorosa realidade.
Aplicado nos treinos e com um talento extraordinário, Guto
Leão logo caiu nas graças do empresário Vicente Mello, o que foi
um divisor de águas na vida desta jovem promessa do futebol
brasileiro.
Infelizmente não foi cedo o suficiente para custear um
tratamento adequado para o pai, que acabou falecendo de cirrose
antes de ver o grande jogador que o filho se tornaria.
Condoído com a situação de Guto, Vicente foi para ele mais do
que um empresário, foi talvez um pai, cuidando do garoto desde
então.
Mas o empresário também tinha um passado trágico, tinha
perdido sua esposa em um acidente de trânsito, deixando-o
totalmente desnorteado, não tendo sido sequer capaz de cuidar de
sua única filha, que ficou aos cuidados da tia, uma religiosa que não
hesitou em levar a criança de seis anos para o convento que dirigia.
Anos depois um ataque fulminante ceifou a vida da madre,
deixando a garota novamente sem uma figura materna. Clarisse,
agora com 20 anos, não viu como continuar no convento sem a
presença de sua amada tia Fernanda.
Mesmo lhe sendo muito doloroso, Clarisse abdicou da única
vida que conhecia e foi morar com seu pai, na mesma casa que o
devasso e mulherengo Gustavo.
Poderia uma ex-noviça, totalmente inocente, resistir a tão lindo
jogador?
Poderia um jogador, sabidamente cafajeste, apaixonar-se por
alguém com crenças e valores tão diferentes dos seus?
Capítulo 01

Impossível saber como as coisas serão daqui para frente.


Todas as minhas certezas e decisões parecem me abandonar, assim
como tia Fernanda me abandonou, mesmo que eu tenha absoluta certeza
de que foi algo além do seu querer.
Estar aqui, participando do seu sepultamento é algo que eu não
estava pronta, decerto jamais estaria.
Entendo que não é minha primeira perda. Entendo que talvez a
partida de minha mãe, quando eu tinha apenas seis anos de idade, tenha
sido algo que não tenha sequer como mensurar, mas a morte precoce de
minha tia, aos 55 anos, é algo que não estou sabendo como lidar.
Talvez por ela ter assumido praticamente o papel de mãe, talvez por
eu ter passado os últimos 14 anos sob a sua presença, proteção e cuidado.
Ela que cuidou de mim quando meu pai ficou desnorteado com a
morte precoce de seu grande amor. Quando por uma fatalidade um
motorista irresponsável cruzou a rua com o sinal vermelho, colidindo contra
o carro de minha mãe, por irresponsabilidade e descuido do outro condutor.
Neste dia ela não me pegou na escola, neste dia foi a última vez que
recebi seu abraço forte, seus beijos e seus carinhos.
Meu pai sequer lembrou que eu estava na escola, meu pai que pouco
se lembrou de mim desde então. Preocupado demais em se enterrar no
trabalho, preocupado demais em viver sua própria dor.
Não que pense que ele não me ama ou se preocupa comigo, apenas
não estava pronto para assumir uma criança, quando talvez não fosse
capaz de cuidar nem de si próprio.
Mas quis o destino que fosse assim e que com o tempo e o seu
próprio esforço, fosse capaz de tornar-se um brilhante profissional, o
melhor e mais disputado em sua área.
Empresário de jogador de futebol, sendo mundialmente reconhecido
por tornar pequenos talentos em estrelas, garotos da várzea em astros
multimilionários.
Claro que sei de tudo isso por ele, nas visitas mensais que faz ao
convento em que estou. Desde que conseguiu superar o luto, meu pai
jamais deixou de vir e isso me aproximou emocionalmente dele.
Anseio por estes momentos, divido com ele minha rotina e o escuto
falar sobre a sua, mesmo que o que me conte sobre o mundo lá fora não
seja algo capaz de ser sequer imaginado por mim, devido aos anos em que
moro aqui, devido aos votos temporários que fiz e aos permanentes que
desejo fazer.
E essa é apenas mais uma coisa que me traz lágrimas aos olhos,
pois não perdi somente a minha mãe de alma, perdi também a minha
mentora.
Talvez seguir os passos de minha tia fosse algo automático para mim,
pois via seu amor e fé nos votos realizados, sua acolhida, quando mais
precisei, e sua disponibilidade em cuidar do próximo. Sentia-me pronta e
preparada. Quem sabe até imaginava com o meu gesto retribuir o que me
fez, trazer satisfação e felicidade para ela, assim como ela sempre buscou
trazer para mim.
Uma noviça, que queria seguir os passos de sua tia, a bondosa e
amorosa madre Fernanda. Que talvez por ocupar esta posição conseguiu
trazer para a instituição uma criança tão pequena, talvez por isso pôde me
dar amor e carinho quando mais precisei.
E essa é somente mais uma perda, que no momento não entendo,
mas aceito. Minha humanidade faz eu sentir toda dor em minhas
entranhas, mas minha fé faz eu não questionar os desígnios de Deus.
Meu véu movimenta-se com o vento. O hábito que visto tão improprio
ao calor. Mas é algo tão meu, tão nosso, que jamais poderia me despedir
de minha tia se não fosse desta forma.
Assim ela está vestida, assim também estou. Ela jamais tirará
novamente o dela, eu talvez jamais colocarei novamente o meu.
Inocentemente imaginava que a maldade sempre estaria além dos
muros do convento, mas depois de sua morte confirmei que até mesmo
onde não deveria existir o mal, ainda assim ele existe.
Do velório até o sepultamento as unhas já foram colocadas para fora,
já percebi que minha estadia lá não é bem-vinda. Por eu ser sobrinha,
talvez para não deixar nenhuma marca da antiga madre.
Fui comunicada, mesmo enquanto rezava e chorava por tia Fernanda,
que meus dias de moleza haviam chegado ao fim e que, a partir de agora,
as coisas por lá iriam mudar.
Talvez a abordagem, a maldade por detrás das palavras fez-me
repensar muitas coisas. Ou o fato de vir da irmã Marlene, que sempre fez
questão de mostrar seu desgosto pela forma como tia Fernanda dirigia o
convento, estendendo a mim gratuitamente suas críticas, foi quem sabe o
motivo de ter implorado ao meu pai que levasse-me com ele após o
sepultamento.
Pode meu gesto ser chamado de fraqueza, infidelidade para com
minhas crenças ou tão somente o desespero do momento tomando as
rédeas da situação, mas a atitude que tomei agora é irreversível. O novo e
o desconhecido é o que me espera.
Liguei para o meu pai, implorei para ficar com ele. Afirmei não
conseguir seguir por lá sem minha tia, que não conseguiria lidar com mais
esta perda longe do único familiar que tenho vivo.
Não saberia dizer se foram as palavras, o choro ou se foi o
reconhecimento de que não pôde cuidar verdadeiramente de mim quando
mamãe faleceu, o que sei é que ele disse que moraríamos juntos, que se
essa era a minha vontade, poderia sim abdicar de meus votos e da minha
vida no convento.
Tentei ser firme e garanti que minhas malas estariam prontas após o
sepultamento, que não mais retornaria após me despedir definitivamente
de tia Fernanda.
Mesmo que as lágrimas tenham caído sem cessar após finalizar a
ligação. Mesmo que o coração não tenha parado de doer por ter abdicado
da única vida que conheço. Mesmo que a culpa não me abandone por
desistir de meus votos na primeira dificuldade, na única encontrada.
Não tenho como saber se essa foi a decisão mais acertada ou se foi
algo que me trará arrependimento eterno, o que sei é que ao jogar o último
lance de areia no caixão, e após o mesmo ter sido colocado no seu devido
lugar, as coisas jamais serão como antes.
Meu pai segura a minha mão, aperta meus dedos entre os seus,
parecendo adivinhar o quanto preciso de conforto, como tudo isso tem sido
difícil para mim.
— Vamos?
Uma simples palavra contendo uma infinidade de possibilidades.
Ir para outro universo, virar as costas para o que me é conhecido,
suportar uma vida inteira distante da minha tia.
Mas no instante em que penso nisso uma calmaria me toma, uma
sensação de que nem tudo na verdade está perdido.
Tenho ao meu lado o meu pai, terei a oportunidade de conviver com
ele. De criar laços e construir uma relação pai e filha que foi rompida por
uma fatalidade.
Tenho também a certeza de que mesmo afastada do convento e de
tudo o que ele me remetia, tenho Deus comigo, tenho intimidade para orar,
pedir e agradecer. Tenho a certeza de que jamais estarei sozinha e que Ele
jamais me abandonará.
Esta certeza faz um início de um sorriso despontar em minha boca.
Faz eu falar com uma firmeza que traz orgulho até a mim mesma.
— Vamos sim, papai!
E seguimos para um futuro incerto, mas seguramente para um futuro
em que poderei contar inquestionavelmente com o meu pai.
E pela primeira vez desde que toda essa tragédia se abateu sobre
mim, penso que o futuro pode ser sim um lugar feliz, um lugar onde eu
gostarei de estar.
Capítulo 02

— NÃO, NÃO E NÃO!!!


Meu empresário respira fundo e sei que vai argumentar, na verdade
sei que ele jamais irá desistir.
— Gustavo, você está sendo irracional, na verdade você sequer está
sendo capaz de debater o assunto civilizadamente.
— Em debater o assunto civilizadamente você quer dizer que eu não
quero uma freira na minha casa? Porque se for, você está mais do que
certo em sua afirmação.
Não sei se foi o tom, ou se foi a negativa, muito embora acredite que
foi a forma pejorativa como me referi à sua filha, o que sei é que minhas
palavras machucaram Vicente.
O desgosto, seus ombros caídos ou mesmo a decepção em sua face
falam sobre isso.
— Cara, como você quer trazer sua filha para cá, que nada mais é do
que um antro de perdição? Como você irá tirá-la de uma vida santa e jogá-
la num lugar promíscuo, convivendo com um pecador degenerado como
eu?
O que digo é a verdade, a mais pura verdade. Muito embora dê
ênfase em cada palavra para garantir que meu empresário recupere a
sanidade que parece ter evaporado no ar.
— Claro que sei que aqui é o lugar menos adequado para trazer
Clarisse, mas o que quer que eu faça? Parece que quer que eu, depois de
passar uma vida inteira distante dela, diga que não poderei tê-la ao meu
lado em um período que sei que será muito difícil para ela, onde terá que
enfrentar a ausência da tia e a desistência dos votos. Quer que eu diga que
ficarei aqui, cuidando de um jogador mimado, enquanto a deixo mais uma
vez sozinha, entregue à própria sorte.
Ele diz de supetão, inflamado, não medindo palavras.
Talvez fosse para eu ficar chateado, mas vejo no seu discurso uma
forma de me livrar do seu monitoramento constante.
Então como quem não quer nada, decido tentar a sorte.
— Já que você, tão bem quanto eu, sabe que aqui não é o melhor
lugar e também não quer se afastar de sua filha, por que não arranja um
lugar, talvez mais pudico, onde você possa proteger sua filha de toda a
minha devassidão?
Não posso impedir que minhas palavras tenham um toque de
sarcasmo. Mesmo precisando que ele aceite minha sugestão, não posso
deixar de curtir com a cara dele. Porra, o cara é um mundano, não tão
profano quanto eu, mas tem lá seus momentos de puto! E caralho, o cara
tem uma filha freira!
Ele insufla o peito e neste momento percebo que talvez tenha
esticado demais a baladeira.
— Vamos ver se eu entendi! Você, em toda a sua sabedoria e
benevolência, quer que eu me mude e deixe você solto, sem limites, sem
estar presente enquanto você transforma isso aqui em um puteiro e ainda
aceite ser seu empresário? Nem fodendo!
Revido imediatamente.
— Você bem que gosta das putarias que acontecem por aqui!
Digo com ironia.
— Gosto sim, não sou hipócrita em afirmar o contrário, mas nunca,
em nenhum momento saio do meu modo empresário. Curto, bebo, pego
mulher, mas garanto que jamais vaze algo, nenhum escândalo aconteça e
consigo o impossível: que seu nome permaneça benquisto por
patrocinadores e que o interesse em seu futebol seja unanimidade entre
todos os grandes clubes europeus.
Ele fala a verdade, minhas merdas continuam todas embaixo do
tapete.
— E é por isso, por saber de sua capacidade de foder com tudo, que
afirmo: jamais deixarei você aqui sozinho, não enquanto ainda for seu
empresário!
Não sei se entendi direito, mas apenas me permito o direito de
permanecer calado, pois sei que ele ainda não terminou.
— Se eu aceitar a sugestão que me deu e sair desta casa, você pode
começar a pensar em procurar outro empresário.
Minha face deve expressar toda a minha surpresa, todo o meu
espanto.
Nunca, nem quando cometi as piores loucuras ou quando me excedi
de forma até inimaginável, tivemos este tipo de conversa.
Vicente sempre foi meu mentor. Desde que comecei a despontar nos
times do interior do Rio, que ele me acompanha. Meu sucesso foi
estrondoso e subimos juntos. Claro que ele já tinha uma grana, um
patrimônio. Já tinha empresariado outros jogadores, alguns até bem
conhecidos, mas ele investiu em mim, fez de mim quem sou.
Claro que sei que tenho talento, sou esforçado e que nada veio de
graça, mas ele fez o resto.
Tinha os contatos, me apresentou pessoas, garantiu contratos e hoje
faço parte do seleto grupo de jogadores que disputa o Campeonato
Brasileiro e estou a um passo do futebol europeu.
— Você não pode estar falando sério?
A voz duvida, pois não acredito que ele seja capaz. Não depois de
ser meu mentor, de praticamente ser toda e qualquer família que tenho.
Minha mãe abandonou meu pai com uma criança de menos de 3
anos para criar e, se for sincero, sequer me lembro dela. Também não
havia fotos, meu pai as destruiu para que não houvesse lembranças da
mulher fria que nos abandonou na primeira oportunidade que surgiu.
Um gringo, cheio da grana, capaz de tirá-la da vida de pobreza em
que vivíamos, capaz de levá-la sem deixar um rastro sequer. É como se ela
jamais tivesse existido e é certamente da forma que enxergo as coisas.
Quando tive maturidade para entender tudo isso, meu pai, em seus
raros momentos de sobriedade, contou-me tudo.
Como ela não teve escrúpulos em nos abandonar e nem a gritar aos
quatro ventos que era muito melhor e merecia muito mais do que essa vida
miserável que meu pai oferecia à ela. E que ela merecia o mundo, e que o
tal gringo estava disposto a garantir que ela tivesse. Não teve cerimônia
em relatar a traição, e muito menos nenhuma comoção em deixar o filho
pequeno. Apenas arrumou as malas e se foi, sem nunca olhar para trás.
E infelizmente isso acabou com meu pai. Manoel Leão entregou-se
ao mundo da bebida.
No começo, talvez por ter que cuidar de mim, embriagava-se somente
à noite, mas tão logo fui crescendo e começando a me virar, cada vez mais
ele se entregava ao vício, até que a maldita cirrose o levou.
Ainda não tinha dinheiro para garantir um tratamento de reabilitação e
muito menos custear um cuidado médico necessário, então um dia ele
estava enfraquecido, inchado e amarelado devido a doença e no outro dia
não estava mais lá.
Nesta época Vicente já estava ao meu lado, não como agora.
Monitorava-me à distância e aparecia toda semana para acompanhar e
direcionar.
Deixou as propostas em aberto, talvez por saber que jamais
abandonaria meu pai, mas assim que a tragédia aconteceu, ele trouxe-me
para a capital e logo comecei a atuar na Série B do Campeonato Carioca e
depois disso, avançar para a elite do futebol nacional, foi apenas questão
de tempo.
E desde então ele é o mais próximo que tenho de uma família. E é
por isso que não posso conceber o que acabou de sair da sua boca!
— Por mais que me doa o que acabei de dizer e que saiba que
somos uma dupla imbatível, não poderei continuar, pois jamais poderia
abandonar a minha filha, assim como não serei capaz de acompanhar suas
merdas de longe e não poder evitar que destrua a sua carreira e a minha.
Ele é enfático, decidido.
Sinto raiva, revolta por ter tão pouca fé em mim. Mas no mesmo
instante sei que ele não está de todo errado, pois sempre ligo o foda-se
quando tem bebida, mulher e curtição, deixando para ele a
responsabilidade de conter os danos.
E depois de colocar tudo na balança decido que, por mais que não
goste, terei que ceder. Terei que acolher na minha casa, que poderia ser
descrita como um antro, uma freira.
Alguém pura, virginal, totalmente diferente de tudo que gosto e que
estou acostumado.
Minha mente sacana ironicamente a define como lunática, e que seja.
Não posso perder Vicente e tudo que ele representa.
— Você venceu, Vicente, traga sua filha para cá. Cederei às suas
vontades, por mais que saiba que uma freira é o que menos precisamos
nesta casa.
Capítulo 03

Eu poderia afirmar com toda convicção que sou um livro em branco,


que nada sei da vida, pelo menos não desta vida que se descortina aos
meus olhos. Sei muito sobre Teologia, entendimento da Bíblia Sagrada,
conheço muitas orações e algumas sou capaz de rezá-las até mesmo em
latim, mas nada sei das imagens que se apresentam à minha frente.
As imagens que guardava em minha mente como preciosidades,
nada lembram o que estou vendo agora. Talvez porque priorizei conservar
meus momentos em família, o amor tão evidente em cada lembrança que
tenho de meus pais. Também tenho flashes de parquinhos, da minha
antiga escola, e de coleguinhas que sequer lembro o nome. E só.
Não lembrava de tantos carros, buzinas e nem de tanta gente
caminhando no calçadão. E no momento em que olho verdadeiramente
para tudo é que percebo como minhas vestimentas destoam do que vejo
nos corpos das garotas da minha idade. Shorts curtos, algumas de
pequenos biquínis que nada lembram todo o pano em que meu corpo está
envolvido.
E vejam como a cena deve ser no mínimo curiosa. Um cara bem-
apessoado, dirigindo um carrão, tendo ao seu lado uma freira. Sim, pelo
traje somos todas freiras, mesmo que saiba que sou uma noviça. Ou eu
era.
E as lágrimas, a custo retidas, saem sem controle algum. Falam de
uma saudade sem fim que terei de tia Fernanda e da única vida que
conheci. Falam do medo do novo e da impossibilidade de seguir com meus
votos.
Choro por sentir-me fraca, por não ter sequer lutado, mas não
suportaria ficar sob o jugo da irmã Marlene, não quando ela falou tão
abertamente de suas intenções, não quando ela não deixou dúvida alguma
sobre o que me esperaria.
Preferi então recuar, desistir.
Procurarei tentar estreitar os laços com meu pai, ter perto de mim
alguém que sabidamente me ama e que mesmo com a distância,
demonstrou amor e cuidado para comigo.
As lágrimas caem sentidas e as deixo cair. Para tentar lavar a alma,
para tentar levar a dor.
— Não chore, minha querida, tudo vai ficar bem. Com o tempo a dor e
a saudade diminuem, com o tempo tudo torna-se mais suportável.
Enquanto fala sua mão aperta minhas mãos em meu colo. Sinto o
calor do seu aperto trazer-me conforto, esperança. Por saber que ele já
passou por uma perda dolorosa e suas palavras falam de uma sabedoria e
um conhecimento que somente alguém que já passou por algo parecido
sabe. Por saber que o terei ao meu lado e talvez as coisas não sejam tão
doloridas como na verdade se apresentam.
E se o que vi na rua me surpreendeu, não saberia nem dizer o que a
imagem da casa que será o meu lar a partir de agora me causou.
Um lugar gigantesco, que exala luxo e riqueza por todo canto. Cheio
de vidros e plantas. Sofisticado e requintado. Tão diferente das paredes
gastas e das pinturas descascadas, mas que me era tão querido e que me
remetia a calor humano e amor. Tão diferente do concreto frio à minha
frente, que só me lembra o quão distante tudo isso está dos votos de
pobreza que fiz, e da vida que conheci.
Mais lágrimas escorrem, o conforto de agora há pouco sendo
rapidamente substituído pelo medo e pavor do que o futuro me trará.
Papai, percebendo que as lágrimas voltaram, solta a valise com meus
poucos pertences e me aperta em seus braços. Pouco a pouco as lágrimas
diminuem, restando apenas os fungados.
Quando percebe-me mais controlada, afasta-se um pouco e diz:
— Vai dar tudo certo, minha filha. Estarei com você. A partir de agora
cuidarei de você.
Como se dissesse que faria seu papel de pai. Que agora que
conseguiu superar a dor da perda de mamãe, voltaria a ser o pai que foi no
passado.
E fico feliz, pois mesmo tendo tido contato com ele todos estes anos,
não fomos próximos como gostaria. Mais do que nunca preciso de um
suporte, pois novamente vou recomeçar. Assim como na minha outra
perda, novamente fui inserida num ambiente bem diverso do que conheci,
mas nada que o carinho do meu pai não seja capaz de me fazer suportar.
E ele me estende a mão e eu a seguro.
Sabendo que ele quer com o gesto demonstrar que estará comigo.
Que não estarei sozinha e que o novo pode não ser tão aterrorizante como
minha mente quer me fazer crer.
E se a aparência por fora me deixou assombrada, nem tenho
palavras para descrever a imagem que vejo ao entrar na casa. Mostra, sem
precisar de palavras, que o dono é alguém que tem muito dinheiro. Móveis,
objetos certamente caros e um milhão de coisas que indicam poder e
riqueza.
Encolho-me por saber que tudo isso não tem nada a ver comigo e por
saber da enorme diferença entre o meu passado e o presente que se
apresenta diante dos meus olhos.
Inconscientemente meu corpo adquire uma rigidez e o choro ameaça
querer voltar.
Mudanças demais. O desconhecido nunca me pareceu tão
assustador.
Meu pai percebendo meu estado, fala:
— Com o tempo você se acostuma!
E me dá um sorriso encorajador. Aceno positivamente com a cabeça,
querendo ardentemente acreditar em suas palavras.
Escuto um barulho de passos e viro-me.
Um homem.
Braços tatuados, com cabelos longos e loiros. Ele aproxima-se mais e
vejo que tem os olhos verdes e na orelha brilha um pequeno brinco.
Minhas faces ficam vermelhas. Não sei se porque raramente vi um
homem na minha vida adulta, ou porque sua velada perscrutação me deixa
desconcertada ou, porque não dizer, constrangida.
E de repente o inesperado acontece. Um riso. Alto, incontrolável.
Que me deixa sem graça. Que traz um sentimento de que aqui não é
o meu lugar.
Sinto-me indesejada, menosprezada. Trata-me como uma piada.
E pela primeira vez depois que perdi tia Fernanda, um novo
sentimento me assola.
Orgulho, altivez.
Pois sei o motivo de seu riso, parece que minhas vestes são o motivo
de seu deboche.
E isso faz toda a vontade de chorar desaparecer, ficando somente o
orgulho da vida que tive até aqui, sabendo que meu hábito e tudo que vivi
até hoje é algo sagrado e por demais querido.
Então ergo meu queixo. Como uma noviça orgulhosa por sua
escolha, por sua fé.
Não me deixando abater por seu riso sarcástico e descontrolado.
De alguém que parece não ter respeito pelo diferente, por crenças.
Alguém que aparentemente não tem nada em comum comigo,
alguém que mostra com seus atos e comportamento, que não é digno de
aproximação.
Que decido que sequer merece minha amizade ou consideração.
Talvez nem as queira e certamente não as terá.
Capítulo 04

Eis uma imagem que jamais esperei ver na minha casa.


Uma freira, puta que pariu!
Com toda a roupa longa e cheia de pano, em pleno calor carioca.
Em pé, nesta sala. Onde comi mais mulheres do que sou capaz de
lembrar. Tão destoante de tudo que conheço, da minha realidade e da
forma como me comporto.
E a improbabilidade de toda a cena me faz rir.
Não um riso baixo, discreto.
Mas algo estrondoso, descontrolado. Que apenas aumenta de
volume e intensidade.
Algo talvez afrontoso, percebido pela postura tensa de Vicente, ou
pelo olhar altivo que recebo daquela que me trouxe este acesso de riso.
— Gustavo, você está se comportando como um idiota!
Meu empresário tem razão, mas é mais forte do que eu. Tudo é tão
inacreditável, que é impossível me controlar.
Puxo a respiração para tentar me impedir de rir como uma hiena, mas
basta o meu olhar encontrar a figura destoante em minha sala, para eu
perceber que não serei capaz de me conter.
E isso faz a ira de Vicente aumentar, faz a sua filha se pronunciar
pela primeira vez.
— Gostaria de saber o que é tão engraçado!
Diz firme, embora o som de sua voz seja melodioso e agradável.
Olho-a mais intensamente e pouco a pouco o riso vai esvanecendo,
cessando por completo em segundos.
— Juro que até esperei algo imaturo, mas jamais esperei tamanha
desfeita.
A raiva vibra em sua voz, tudo em seu corpo fala de como está
zangado com meu comportamento.
Olho para sua filha e não vejo mágoa ou ira. Vejo algo como orgulho,
como se fosse indiferente a tudo que aconteceu até aqui.
E de repente esqueço o motivo do riso, ou de como chateei meu
amigo, ou como fui desagradável com minha hóspede, pois perco-me no
azul do olhar dela, pego-me ao observá-la mais detidamente.
Olhos de um azul único, jamais visto por mim. Pele branca, sem
mancha alguma, com a textura buscada pelas mulheres do meu meio
através de tratamentos e procedimentos infinitos. E os lábios? Porra!
Seriam capazes de fazer até mesmo um santo pecar. Cheios, rosados e
bem definidos. Perfeitamente desejáveis.
E é só. É toda a extensão de pele que consigo ver. Até mesmo os pés
estão calçados e vejo uma meia grossa, que porventura esconde qualquer
ínfimo pedaço de pele que pudesse sobressair-se da barra da longa roupa
que veste.
De repente fico curioso em descobrir a cor de seus cabelos. De
descobrir o que há além do tecido que envolve seus fios.
Movimento minha cabeça tentando afastar os pensamentos tão
descabidos que me tomam, talvez três dias sem uma foda gostosa é mais
do que é minimamente aceitável para mim.
De repente percebo como foi inadmissível minha postura. Mostrou-me
como alguém que não sou, que não aceita o diferente, o diverso.
Envergonho-me do meu comportamento e do meu riso, mas todo o
contexto da situação levou-me a agir de uma forma que agora percebo que
foi no mínimo inapropriada.
Abro a boca para desculpar-me, mas antes que profira qualquer
palavra que seja, escuto Vicente dizer:
— Querida, desconsidere o que acabou de acontecer nesta sala.
Gustavo e sua atitude não merecem de você qualquer atenção.
Fulmina-me com um olhar e sinto-me alguém que verdadeiramente
não sou: preconceituoso e intolerante.
— Vou mostrar-lhe seu quarto. Você precisa de descanso e acolhida
e não de atitudes mesquinhas e desagradáveis.
Sinto-me um monstro, um bastardo.
Preciso desculpar-me, mostrar que não sou assim. Que este
comportamento não me é comum e mesmo que tenha relutado com sua
presença nesta casa, pois aqui jamais seria o lugar ideal para acolher uma
freira, a partir do momento que aceitei, devo tratá-la com o mínimo de
respeito e consideração.
Mas infelizmente não tenho chance de provar o contrário, pois
Vicente puxa-a pela mão, certamente querendo afastá-la de mim.
Ela em momento algum me olha novamente. Deixa claro que não
quer contato nenhum. E não tiro sua razão, minhas atitudes foram
imperdoáveis.
Caminha altiva, a postura bonita, mesmo com todo o pano que a
envolve.
E admiro-a por aparentemente não deixar-se abalar com minha
postura mesquinha, com sua perda recente e com a mudança tão drástica
que ocorreu em sua vida.
Os dois caminham juntos para o segundo andar. O quarto já está
arrumado, pois já tínhamos definido anteriormente onde ela ficaria.
Percebo que estou parado, observando tudo como um espectador
curioso. O que ocorreu aqui mexeu mais comigo do que gostaria de admitir.
Decido afastar tudo da minha mente, pois não terei como resolver
nada agora.
Tento me convencer que um pedido de desculpas resolverá tudo e
que talvez possamos conviver em harmonia por aqui. Preciso acalmar os
ânimos de Vicente e mostrar para sua filha que posso sim ser um bom
anfitrião.
Por fim decido ir para a academia, pois mesmo que o treino hoje seja
somente no turno da tarde, preciso de todo condicionamento que
conseguir. Para que os meus sonhos sejam alcançados. Para que consiga
sempre alçar voos maiores.
Um contrato vantajoso com um clube europeu. Disputar a Champions
League. Ser eleito o melhor jogador do mundo.
Sonhos audaciosos mas, segundo a mídia e os maiores
comentaristas esportivos, viáveis.
E é nisso que me apego, e todos os dias luto para que tudo isso seja
concretizado.
Por mais que já tenha conseguido muito, há algo que me remete a
querer tudo.
Talvez seja a ausência de família ou parentes de sangue na minha
vida.
Talvez sejam as promessas que fiz a meu pai em seu leito de morte e
durante o seu sepultamento.
Ou talvez seja devido o vazio que carrego dentro de mim.
Que mesmo depois da adrenalina das partidas, das vitórias ou dos
gols, ele permanece. Que mesmo depois das fodas alucinadas, das
transas com as mais lindas, famosas e ricas mulheres, ele ainda está lá.
Como uma lembrança de algo que se foi, da família que jamais terei.
Talvez isso me faça sempre querer ainda mais. Do esporte e das
mulheres.
Mesmo que isso jamais me traga a satisfação que um dia achei que
obteria.
Capítulo 05

Tento não demonstrar para meu pai minha chateação, tento aparentar
uma serenidade que não sinto. Mas tão logo ele deixa o quarto, após
garantir que estou devidamente instalada, todos os meus temores e
anseios voltam.
A cena do riso incontido, quem sabe repleto de escárnio, não sai da
minha cabeça. Ver o dono da casa portar-se daquela forma frente a algo
que me é sagrado, magoou-me muito, profundamente.
Penso que não serei capaz de esquecer a cena e acho que jamais
conseguirei ter afinidade com alguém que se comporta daquela maneira.
Decidi então que me manterei afastada dele e de tudo que ele
representa. Soube, depois de tudo que ocorreu na sala, que não posso
estreitar laços com ele. Percebi, pelos poucos minutos em sua presença,
que somos diferentes demais e seu comportamento apenas serviu para
reforçar a impressão inicial que tive.
Tenho gratidão e respeito pela acolhida neste momento difícil, mas
ficarei longe de suas vistas.
Não quero ter que passar por constrangimentos futuros e muito
menos ter que conviver com alguém que pensa tão diferente de mim.
Tentarei uma distância necessária para o bom convívio, tentarei
manter-me fora do seu radar.
Infelizmente este foi o primeiro dissabor, mas certamente mais coisas
acontecerão.
Fui jogada numa realidade diversa da que estava acostumada. Terei
que me habituar e me adequar, pois as coisas serão assim daqui para
frente.
E o aprendizado e o entendimento desta nova realidade terão que ser
imediatos, pois ela já começou, e o presente e o futuro, aparentemente,
serão muito diferentes de tudo que vivi até aqui.
Que Deus me dê sabedoria para conduzir a minha vida a partir de
agora e que acalme meu coração temeroso e receoso sobre o que me
espera.

De banho tomado, verifico as roupas que papai comprou para mim.


No momento em que informou este cuidado, fiquei um pouco apreensiva
sobre o que encontraria, mas felizmente tive uma grata surpresa.
Vestidos longos, bem-vestidos, algo que sempre fui acostumada a
usar.
Felizmente meu pai teve sensibilidade na hora da escolha e tentou
me presentear com algo que não destoasse muito de minhas vestimentas
antigas. A única diferença percebida por mim é que agora minhas roupas
são estampadas e floridas e o tecido é leve, certamente agradável ao clima
do Rio de Janeiro.
Assim que termino de me arrumar e guardar meus documentos e
algumas fotografias que são o meu tesouro, coloco meu hábito em um local
para roupa suja e, tão logo me seja entregue, guardá-lo-ei com nostalgia,
sabendo que jamais conseguiria me desfazer dele.
Uma batida na porta me assusta, mas logo me recupero e digo:
— Pode entrar!
Meu pai entra, bem-arrumado e perfumado.
Ele olha para mim e diz:
— Linda, linda demais!
Fico encabulada. Elogios sobre a minha aparência são algo incomum.
Jamais me prendi a isso, sempre mantive meus cabelos e meu corpo
encobertos por meu traje de noviça.
— Ah minha filha, você sempre foi uma criança linda, não me
surpreendo que tenha se tornado uma mulher tão bela.
Minha face esquenta, mas não o impeço de dar sua opinião.
Nunca tive necessidade de receber elogios, mas as palavras
carinhosas de meu pai tocam-me profundamente. Sei que este encontro
marca um novo momento pai e filha.
Que fala de convivência, de estreitar laços. Que revela alguém que o
hábito cobria, que revela a filha que ele verdadeiramente não conhecia,
nem internamente ou externamente.
Seus dedos tocam meus cabelos claros, lisos, que vão até a cintura.
— Iguais aos de sua mãe!
Claro que sei e por isso os mantive. Mesmo que me desse trabalho
cuidar, mesmo que fosse difícil colocá-los sob o véu. Mas queria ter uma
conexão com ela, queria me sentir próxima, parecida.
Meu pai tem a voz embargada, o momento é emocionante para ele e
para mim.
Abraço-o. Firme.
Curtindo cada segundo da nossa interação, sentindo-me próxima a
ele como jamais me senti.
— Obrigada por ter me acolhido, por ter ido me buscar.
Minha voz também está embargada. Pelas mudanças sofridas, pela
saudade que sinto de minha antiga vida, da minha tia, mas principalmente
pela gratidão que sinto por poder contar com ele.
— Você é minha filha e eu amo você. Saiba que pode contar comigo
e eu estou mais do que feliz em poder finalmente desempenhar meu papel
de pai.
Meu peito infla de emoção e eu somente digo, ainda agarrada a ele:
— Obrigada, papai!
Ele me aperta em seus braços. Caloroso, afetuoso.
Sinto-me em casa. Sinto-me feliz por tê-lo em minha vida.
Sinto que tomei a única decisão possível, aparentemente a mais
acertada, pois troquei a certeza de dias de perseguição, pela possibilidade
de dias de amor e paz.
Tendo a certeza de que posso ter me afastado dos votos, mas jamais
me afastarei Dele. Minha fé, amor e temor estão intrínsecos em meu ser, e
certamente carregarei estes sentimentos dentro de mim para sempre.
Meu pai afasta-me com um sorriso nos lábios. Percebo sua emoção,
vejo sua felicidade por ter-me aqui.
Sorrio em resposta, pois sinto o mesmo.
— A surpresa em vê-la sem hábito foi tanta que quase esqueci que
vim aqui convidá-la para almoçar!
Ele graceja, tentando quebrar um pouco o clima de emoção que nos
envolve.
— Vamos, antes que você pense que não sou um pai zeloso! Que
pense que não cuidarei de sua alimentação e de toda e qualquer
necessidade sua!
Meu sorriso amplia e por pouco não rasga a minha face, feliz com
todo este carinho e cuidado.
Papai então oferece-me seu braço. Galante, Sorridente. E fico mais
do que satisfeita em uni-lo ao meu.
Radiante, por estar me adaptando melhor do que eu imaginava.
Mais do que satisfeita por ter meu pai comigo e por estarmos
conseguindo ter tanta afinidade.
E disposta a dar tudo de mim para que essa nova etapa da minha
vida seja de descobertas, desafios e mudanças.
E que traga também muita felicidade.
Capítulo 06

Fazer gol é a minha especialidade. Atacante por posição, artilheiro


por treinamento e dedicação.
E mesmo sendo algo comum na minha carreira, a emoção do gol é
única, mexe comigo como nada na minha vida é capaz.
A torcida do Titã Futebol Clube vai ao delírio e meu nome é aclamado
por todos os torcedores da nossa equipe.
Meus companheiros se aproximam e logo iniciamos uma dancinha da
moda e sei que amanhã as imagens rodarão o país.
O juiz apita e sei que é hora da partida ser reiniciada. Pergunto o
tempo de jogo para o banco de reservas e descubro que faltam oito
minutos do tempo regulamentar para que a partida termine. Por enquanto
estamos vencendo por 2x0 e sei que daremos tudo para sairmos daqui
com os três pontos.
O jogo fica truncado, os jogadores do time paulista estão pilhados,
enquanto nosso time apenas administra o resultado esperando pelo apito
final.
E o momento logo chega. E a comemoração é de todos. Vem das
arquibancadas, do campo e do banco.
— Guto, você é muito foda! Mais um gol pra conta!
Lúcio Moura, meia do time diz.
— Cara, a equipe tá afiada, todo mundo fez sua parte. Estamos de
parabéns!
E seguimos para os vestiários, cumprimentando os caras e
comentando lances do jogo.
— E aí, qual é a de hoje? Vai rolar uma farrinha privada na sua casa?
— Claro, Lúcio! E hoje vou deixar as convidadas por sua conta!
Ele certamente conhece as mais belas e mais gostosas, e é disso que
estou precisando. Lúcio abre um sorriso gigante. Sou um puto, mas neste
quesito o cara me supera.
Chamamos mais uns quatro do time dos solteiros e depois cada um
segue para o chuveiro.
A adrenalina ainda corre nas minhas veias e os músculos ainda estão
doloridos, mas nada que um banho frio e uma foda gostosa não resolva.

Enquanto seguimos para casa, tento convencer Vicente a participar


da social que combinei com os caras.
— Não, Gustavo, até já marquei um programa para ir com minha filha.
— Vão à missa?
Sei que estou parecendo um idiota, mas porra, o cara sempre
participa, pega gostosa, e agora está recusando algo que sempre apreciou.
Não consigo me conformar!
— Hoje não! Na verdade estou indo dormir em Petrópolis com a
Clarisse e só voltaremos para casa amanhã à noite. Acho que até lá sua
casa já deverá estar recomposta!
Sinto a ironia em suas palavras.
— Vicente, você sempre ficou com a gente, inclusive sua presença
garante que não extrapolemos nas comemorações.
Tento apelar para o lado profissional dele. Gosto do cara e gosto de
tê-lo junto a mim nestes momentos.
— Domingo à noite estarei em casa. Acho que posso confiar que
você não jogará sua carreira fora, não com tão pouco tempo de ausência
minha.
Ele diz brincalhão, tentando garantir leveza à sua negativa.
— E ademais deixarei alguém capaz de conter você, caso seja
necessário.
Sei que se refere a Carlos, meu chefe de segurança.
Resolvo não insistir com Vicente, talvez ele precise de um tempo
sozinho com a filha. Ou talvez ele apenas queira deixá-la distante do
pandemônio em que minha casa se tornará.
Logo entramos no condomínio em que moramos e lembro de algo
que está me incomodando.
— Sei que já pedi desculpas pelo meu comportamento com sua filha,
e que também já disse que pretendo desculpar-me pessoalmente com ela.
Mas queria, se possível, conversar com ela hoje. Pretendo desfazer o
quanto antes a má-impressão que ficou.
Falo com seriedade, arrependido de minha atitude infantil.
Ele apenas assente com a cabeça. Tenso, pois é evidente o mal-estar
que o meu ato sem-noção causou.
— Certo, Guto, acho que já está na hora de desfazer a primeira e
lamentável impressão que Clarisse teve de você.
Faço um gesto afirmativo e assim que o carro estaciona descemos e
caminhamos em silêncio em direção à casa, cada um perdido em seus
pensamentos. Minha mente certamente tentando encontrar uma forma de
tirar da cabeça da minha hóspede que não sou um idiota total.
Estou tão disperso que me assusto ao ouvir Vicente cumprimentar
alguém.
— Minha filha, você está linda!
Percebi neste momento o que é ficar assustado, assombrado na
verdade.
Claro que não pode ser, claro que esta não é a filha dele. Nem
mesmo uma roupa de freira conseguiria mascarar tanta beleza, tanta
perfeição.
Tenho minha confirmação quando escuto Vicente perguntar:
— Clarisse, já está tudo pronto para nossa viagem? Não queria viajar
com a noite já alta.
— Sim, papai, se quiser podemos sair agora mesmo.
A voz baixa, parece até mesmo tímida.
Em nenhum momento me direciona o olhar, enquanto eu sou incapaz
de afastar meus olhos dela.
O cabelo de um loiro bonito, longo, levemente ondulado nas pontas.
Os olhos lindos, de um azul claro único, e que certamente não receberam
de mim a merecida atenção, pois preferi agir como um idiota. A boca
carnuda, totalmente beijável, formando um conjunto perfeito e que deixaria
qualquer marmanjo mais desavisado, nocauteado.
Meus olhos buscam avidamente por seu corpo, mas não há nada à
vista. O vestido é comprido, deixando-a toda coberta, deixando tudo para a
minha pervertida imaginação.
— Se não me engano, você queria dizer algo para a minha filha,
Gustavo.
A voz traz um tom de repreensão, pois Vicente percebeu minha
inspeção, ele sabe que a loirinha despertou meu interesse.
— Peço perdão pela maneira que me comportei com você. Inclusive
queria que tentasse esquecer a forma infantil como me portei e que
pudéssemos começar do jeito certo.
Ela apenas me olha. Fixamente.
E eu perco-me em sua beleza, não lembro de já ter encontrado
alguém que fosse tão bela a ponto de chamar minha atenção desta forma.
Muitas já chamaram minha atenção por ser gostosa, sensual, mas
certamente nunca nenhuma me deixou assim: embasbacado, até mesmo
fascinado.
Obrigo-me a seguir meu raciocínio, a tentar me redimir.
— Sou Gustavo Leão, se preferir pode me chamar de Guto.
Estendo minha mão. Por um instante ela apenas olha, penso até que
serei rechaçado. Mas isso ocorre por míseros segundos, pois logo ela
estende sua mão e toca a minha.
— Sou Clarisse Mello.
Aperta levemente. Gosto do contato, sequer tento rompê-lo. Mas
infelizmente ela logo afasta a mão, talvez por ser algo incomum tendo em
vista a vida que levou até aqui, ou simplesmente quer manter as coisas
comigo apenas na educação.
Também não disse que foi um prazer, ou tentou qualquer intimidade.
E para mim isso foi novidade. Talvez por ser acostumado a ter muitas
mulheres em busca de atenção, tentando a todo custo uma chance de
estar ao meu lado.
— Vamos, Clarisse?
Ela olha para o pai e acena.
Vicente vai até um canto da sala e recolhe a bagagem e sua filha
direciona-se para a saída. Meus olhos acompanham seus movimentos,
ainda curiosos por descobrir algo além da face de anjo.
Não descobrem pele, pois o vestido longo não facilita, mas têm o
vislumbre de um balançar de quadris que me deixa hipnotizado, de uma
bunda de formato arredondado e empinado e de uma postura linda, que
combina em tudo com a perfeição de mulher que descobri que a filha de
Vicente é.
Puta que pariu, vou conviver e certamente não vou conseguir me
manter afastado da mulher mais bela que já tive o prazer de conhecer!
Seguramente vou arriscar alguns momentos, pois essa mulher é linda
demais para eu deixar passar.
Capítulo 07

Rapidamente as coisas começam a acontecer. O buffet


responsável já toma posse da cozinha e os garçons começam a circular
e servir as pessoas que já estão aqui.
Os caras do time começam a chegar e cada um por si só já atrai e
convida algumas gostosas.
Sei que Camila virá, pois por mais que não a tenha convidado, ela
sabe que após uma vitória chutamos literalmente o balde e sempre dá
um jeito de estar por perto, de garantir que tenha uma chance de
terminar a noite comigo.
Claro que ela é gostosa demais e que o sexo entre nós é devasso,
quente, mas sei que isso pode fazer com que tenha expectativas de algo
que jamais acontecerá. Acho que por isso mesmo deixei de convidá-la,
mas infelizmente ela tem os contatos certos para garantir sua presença.
Quem sabe hoje eu não deva evitá-la? Pensar em outras opções?
Claro que não fico somente com ela, mas normalmente quando
estamos no mesmo ambiente, inevitavelmente acabamos a noite entre
os lençóis. Talvez hoje as coisas mudem de figura.
— Você está pensativo demais, mano!
Lúcio diz, ao aproximar-se já com um copo de bebida na mão.
— Que nada, na verdade estou apenas escolhendo a presa da
noite.
Ele ri, sabendo que é bem capaz de ser isso mesmo que me deixou
pensativo, enquanto a sala vai lotando e uma música eletrônica anima o
ambiente.
— E o Beto? Preferiu descansar ou inventou mais uma desculpa
esfarrapada como pretexto para fugir dos nossos convites?
Nossa brincadeira interna. Beto é o lateral direito do time,
assediado por grandes equipes europeias, é até bem parecido, sempre
chovendo mulheres e convites de farras aos seus pés e o cara sempre
dá um balão, parece até que é imune a tudo que a fama e o sucesso traz
à nossa vida.
Lúcio ri, sabe que adoro fazer piada do jeito sossegado do Beto.
— Você curte tirar uma com a cara dele, não é?
Sei que é uma pergunta retórica, por isso apenas continuo rindo.
— Sabe que desta vez ele me surpreendeu quando o convidei?
Não inventou desculpas e nem ficou em casa. Ele surpreendentemente
aceitou o convite de Vicente para ir para Petrópolis.
Tento processar a informação que acabei de receber.
— Nem sei o que me deixou mais admirado, se foi a ausência de
Vicente aqui, ou se foi o fato de Beto aceitar sair de casa para uma
viagem, mesmo que curta, após uma partida como a de hoje.
Meu empresário é raposa velha! Claro que sabe que não poderá
manter a filha em uma redoma e que mais dia menos dia os caras iriam
ficar de olho naquela belezura e fatalmente iriam jogar charme para a
loirinha. Claro que ele quis conter os danos, quis que ela conhecesse o
mais calmo do meio em que certamente vai conviver.
De repente uma imagem de um casal bonito, que talvez até
combine bem, se forma em minha mente e surpreendentemente não me
agrada. Por ela ser linda demais, por ela ter se mantido fria e distante e
por suas roupas recatadas apenas terem despertado uma vontade de
descobrir o que há por trás de tanto pano.
Fico inquieto, questionando por que eu próprio sequer recebi um
convite para acompanhá-los, enquanto Beto talvez já esteja jogando
charme para ela.
De repente a festa apenas parece mais do mesmo, as mulheres
parecem solícitas demais e o resultado da noite nada mais é do que
previsível. Fico até mesmo arrependido de não tê-los acompanhado,
talvez uma noite diferente fosse o que eu realmente estivesse
precisando.
— E o espanto não se resume ao fato dele ter ido, mas também ao
fato de parecer mais do que satisfeito em passar o restante do final de
semana longe da capital.
Agora mesmo entendo que ele sabia da presença dela, que até
mesmo já viajou mal-intencionado.
E de repente compreendo que este final de semana pode sim
determinar que aconteça algo e que quem sabe a filha de Vicente já
retorne de lá totalmente indisponível, privando-me de descobrir e provar
dos encantos da linda loira.
E num rompante descubro que não quero isso e nem vou permitir
isso.
Não posso desistir sem sequer tentar, não posso passar uma vida
inteira sem saber o que ela ocultava por detrás da roupa longa que
trajava.
Mas antes que eu decida como agirei, eis que percebo ao nosso
lado a presença de Camila. Com o corpo minimamente coberto, com
pouquíssima coisa encoberta.
E pela primeira vez decido que quero o novo, a descoberta. Que
Camila e as outras vão ter que esperar, que preciso neste momento
impedir que Beto se aproxime e me impeça de tentar algo com Clarisse.
Eu a quero, ela despertou a minha curiosidade e sua beleza
instigou o meu instinto de caçada. Não vou conseguir conviver com ela
diariamente e ficar imaginando coisas a seu respeito, quando posso sim
ter alguns bons momentos ao seu lado.
Somente tenho que impedir que Beto tenha uma chance antes de
mim. Somente tenho que ir para Petrópolis, pois não posso permitir que
ele tenha a oportunidade de deixá-la definitivamente longe do meu radar.
Pois ele vai desejá-la, nenhum homem com sangue nas veias é
capaz de ficar imune a tanta perfeição. Nenhum homem é capaz de não
se aproximar, caso ela permita.
Não vou ficar aqui tendo mais do mesmo, quando posso ter alguém
que verdadeiramente chamou minha atenção, mesmo sem nenhum
esforço.
— Parabéns pelo gol, Guto!
A voz com o tom forçadamente sensual desta vez não despertou
nada, apenas estimulou ainda mais a mudança das minhas intenções
para esta noite. De repente toda a expectativa pela festa dispersou-se,
de repente tenho até pressa em sair daqui.
Mas infelizmente ainda tenho que me portar com educação.
— Obrigado, Camila. Mas você sabe que o nosso esporte é coletivo
e o sucesso de um vem do trabalho diário de todos e da entrega em
campo.
Vejo Lúcio dar uma desculpa qualquer e se afastar. Sabe como as
coisas entre Camila e eu fatalmente acabam.
Ela escuta sem na verdade assimilar, pois o que ela quer mesmo é
estar na minha cama mais tarde. Por isso suas mãos já alisam o meu
peito e seu corpo já cola no meu.
E claro que meu corpo responde, que sinto vontade dela. Porra ela
é gostosa e sabe o que faz entre quatro paredes.
E quando penso em subir com ela, lindos olhos azuis aparecem em
minha mente e sei que não tenho tempo, nem mesmo para uma
rapidinha.
Pois tenho um destino a ir, quilômetros a percorrer e tenho medo
que minha demora faça com que as minhas chances sejam destruídas
pela aproximação que certamente haverá por parte de Beto.
Sei que minha abordagem poderia ocorrer de forma gradual, pois
claro que ao longo da convivência eu tentaria algo com Clarisse, mas a
informação que Lúcio me deu, forçou-me a tomar uma atitude drástica, a
ter que sair da minha própria festa.
Dou um beijo no canto da boca de Camila e digo:
— Gatinha, apareceu algo urgente que preciso resolver.
Infelizmente a festa acabou para mim.
Vejo sua cara de espanto e decepção enquanto sinto suas mãos
tentarem me prender junto a ela.
— Mas...
Ela ainda tenta argumentar, mas corto-a:
— Infelizmente tenho que ir!
Delicadamente retiro suas mãos de mim e sigo para a saída.
Sem olhar para trás e sem uma gota de remorso sobre tudo que
estou abdicando neste momento.
Pois tenho uma missão.
Impedir que Beto se aproxime e garantir que a loirinha aplaque
toda a curiosidade e vontade que despertou.
Capítulo 08

Já estou pronta para descer, mas hesito.


A noite foi boa, gostei de conhecer o Beto e, depois da surpresa
inicial ao vê-lo, decidi que e a ideia de meu pai era muito boa. Começar a
interagir, a conhecer a minha nova realidade e pouco a pouco aumentar as
pessoas do meu convívio.
No convento o meu círculo de convivência era limitado e quase todas
as pessoas eram conhecidas de uma vida. Agora tudo é muito novo, vejo-
me sem a proteção daquelas paredes, das minhas vestes. Sinto-me muitas
vezes despida, ou como um animal em extinção, sendo observada ao
ponto de sentir-me constrangida.
Isso ocorreu quando o jogador, dono da casa, me abordou e até
mesmo ontem quando me viu sem o hábito. Aconteceu também quando saí
com meu pai para comprar roupas, pois segundo ele, as poucas que
comprou não seriam suficientes. Ocorreu nas lojas, quando escolhia
sempre roupas compridas, de cores leves, fazendo par com sandálias
rasteiras. Mas lembro que o constrangimento maior foi quando a
vendedora trouxe pequenas peças de banho, mínimas, que me deixaram
corada somente em vê-las. Certamente jamais usaria e solicitar um modelo
de outro tipo e me agradar com um maiô, que segundo ela, era muito
escolhido por senhoras, deixou-a muito surpresa.
O rapaz, Beto, também pareceu admirado quando me viu e pareceu
ainda mais surpreso com minha história de vida.
Mas felizmente isso não impediu de termos uma boa conversa,
mesmo que eu ficasse por vezes tímida, pois era a primeira vez que falava
tanto de mim mesma.
Não sei se foi o convento, minha vida até aqui ou a minha fervorosa
fé, só sei que ele parecia sempre curioso, aparentemente até encantado
com o que ouvia.
Suspiro alto com as lembranças de ontem. Muito boas, formando um
novo ciclo na minha vida. Consideradas satisfatórias, mesmo que não
apague a saudade que tenho daquilo que conhecia e amava
verdadeiramente.
E mesmo que ontem tenha tido bons momentos, a insegurança me
toma. Por estar vestida com uma roupa de banho, que irá mostrar bem
mais do que algum dia lembro de já ter mostrado.
Mas não posso mais adiar, nem posso desconsiderar a orientação de
meu pai de que o café seria servido na área da piscina e que depois
aproveitaríamos a manhã por lá. Então, mesmo que vá contra tudo que
conheço, tenho que me vestir para tal, embora felizmente a saída de banho
cubra a roupa colada e sugestiva que visto.
Respiro fundo e abro a porta, antes que meu pai precise vir me
resgatar. Tenho que tentar ser independente, não quero ser alguém que
depende do pai até mesmo para conviver com outras pessoas.
Desço as escadas e, tão logo chego na cozinha, uma funcionária me
diz que estão todos me esperando e me orienta a como chegar até eles.
Estranho que use o termo todos, mas não falo nada, apenas
agradeço e sigo para onde estão.
Entendo o que a moça quis dizer quando, além de meu pai e Beto,
vejo o jogador que é empresariado por papai. Estranho que não tenha
falado sobre isso, mas como sei que são muito amigos, não é de me
espantar sua presença por aqui.
Não nego que isso deixa-me mais afetada, pois saber que mais gente
estará presente na piscina, nada ajuda na minha timidez.
Assim que meu pai percebe minha aproximação, diz:
— Bom dia, minha filha!
— Bom dia!
Dois outros pares de olhos viram-se e fixam-se em mim. Perco um
pouco o compasso por nunca ter tido este tipo de atenção, mas forço-me a
continuar. Ninguém nunca me disse que seria fácil, mas me propus a tentar
quando liguei para papai e implorei para que fosse me pegar, que me
tirasse do convento e que pudesse morar definitivamente com ele.
Morar com alguém que frequenta festas, que tem influência e muitas
amizades. E é neste novo ambiente que estou inserida e não posso me
abater ou fugir de tudo isso. Então sigo em frente, forçando-me a agir como
se tudo fosse normal, fosse comum.
Beto levanta-se de sua cadeira e afasta um lugar ao seu lado. Eu
sorrio em gratidão pela gentileza.
— Temos companhia para o café da manhã, Clarisse. Pouco depois
que você subiu, Gustavo chegou.
Meu pai fala e aparentemente o seu tom traz um leve desagrado.
O jogador apenas faz cara de riso e diz muito simpático:
— Bom dia, Clarisse!
— Bom dia, Gustavo!
Antes que qualquer assunto entre nós possa ser iniciado, escuto
papai dizer:
— Acho que agora que já estamos todos aqui, podemos tomar nosso
café da manhã.
E começa a se servir, incitando todos a fazerem o mesmo. Coloco um
suco em meu copo e pego uma fatia de bolo que parece bem apetitoso.
Todos servem-se e os homens começam a falar do jogo de ontem.
Percebo a boa interação entre eles e gosto da companhia e de participar
de um momento também bem incomum.
Talvez se tivesse tido outro tipo de vida, teria algum tipo de rancor de
Gustavo, ou até mesmo raiva. Mas não, trago para minha vida o perdão e o
amor que me foi ensinado e tento viver todos os dias com fé e
simplicidade, não deixando sentimentos ruins me dominarem e jamais
guardando e alimentando sentimentos rancorosos para com o próximo.
Claro que o incidente me chateou, me abalou, mas tenho que seguir
em frente. Tenho que dar-lhe um voto de confiança e entender que a cena
que presenciou em sua sala não foi comum, e que o fato de me ver vestida
de noviça trouxe à tona toda aquela situação desagradável. Claro que isso
pode até querer induzir-me a imaginar o tipo de pessoa que ele é, mas a
minha fé na humanidade impele-me a somente formar qualquer tipo de
opinião após uma convivência maior.
— Pensei que você não dispensasse uma festinha após uma partida
como aquela! Até mesmo já o ouvi falando que depois de um jogo truncado
apenas um sex...
— Acho que não há necessidade de discorrermos sobre a vida
privada de Gustavo.
Meu pai corta rapidamente, não me deixando entender sobre o que
realmente estavam falando.
Continuo apenas mastigando, não vendo qualquer oportunidade de
entrar neste assunto, já que entendo nada de futebol e menos ainda de
festas.
De repente Gustavo levanta-se da cadeira e diz:
— Talvez eu tenha pensado que relaxar nesta piscina fosse o que eu
precisasse para recarregar minhas baterias após a partida de ontem.
E sem qualquer pudor ele começa a se despir.
Tira rapidamente a blusa e depois o short.
E nada na vida me preparou para o que vejo na minha frente.
Um homem grande, certamente muito bonito, vestindo somente uma
pequena sunga preta.
Capítulo 09

Não sou um homem indeciso. Sempre sei exatamente o que quero. E


quero a loirinha.
Vê-la linda, mostrando pela primeira vez as pernas torneadas, apenas
complementaram o restante do conjunto. Cabelo, rosto e pele. A voz rouca
e melodiosa é uma coisa à parte, parece até um canto de sereia, capaz de
encantar um marmanjo apenas pelo tom.
E felizmente optei por vir. A cobiça no olhar de Beto fala que ele
também está na parada e por isso fiz a escolha certa ao sair do Rio de
Janeiro ontem e evitar que ele colocasse suas mãos em cima dela.
Notei, pela interação entre eles que existe a intenção, até mesmo
pelo gesto cavalheiresco que presenciei, mas certamente nada ocorreu,
pois não houve qualquer intimidade na abordagem.
Percebi, pelo sorriso de Vicente, que o mesmo está bancando o
cupido. Percebi também que ele entendeu minhas intenções, ficando claro
pelas indiretas, que não aprovou e que não me vê como opção para
qualquer envolvimento com a sua filha.
E isso me é indiferente, até mesmo porque vejo o olhar cobiçoso dela,
o rosto afogueado e os olhos que não conseguem despregar-se do meu
corpo coberto apenas pela sunga.
Será mais fácil do que imaginei. Será como tirar doce da boca de uma
criança.
Sua inocência e inexperiência não tem chance alguma contra a minha
experiência e a sedução pesada que usarei contra ela.
E por mais que goste de vê-la me olhando, sei que não posso ficar
exibindo-me indefinidamente. Não quando escuto o bufar desgostoso de
Vicente.
Sigo para piscina e pulo na água, relaxando com a temperatura
agradável.
— A água está uma delícia!
Digo tentando convencê-los. Louco para ver ainda mais do corpo de
Clarisse.
Vejo Beto se levantar e começar a tirar a roupa, nitidamente tentando
entrar numa competição comigo e fico satisfeito quando vejo a loirinha
tomar seu café, parecendo até indiferente à infantilidade do meu colega de
time.
Rio internamente por ter ganhado este round.
Percebo que Vicente fala algo para a filha e também começa a tirar
seu short. Sei que ele e Beto vem em direção à piscina, mas meu olhar
está todo nela. Na indecisão que demonstra em tirar a roupa e na porção
de pele que pouco a pouco vai se desnudando quando ela decide
finalmente tirá-la.
Não pisco, ansioso. Vejo-a levantar o vestido pela cabeça e
finalmente confirmo que ela é a porra de uma gostosa.
Peitos fartos. Cintura fina. Quadris largos e pernas firmes e
torneadas.
Claro que preferia que ela vestisse um biquíni pequeno, mas como
estou na presença do seu pai e de Beto, talvez esta seja até mesmo a
melhor escolha.
E mesmo com um maiô, bem maior do que estou acostumado a ver,
sinto o meu pau dar uma fisgada quando ela vira de costas. A bunda
durinha e empinada. A mulher é a porra de uma tentação.
Sinto uma cotovelada na lateral do meu corpo e logo escuto Vicente
resmungar ao meu lado.
— Tire seus olhos pervertidos da minha filha, seu puto!
Respiro fundo pois tenho que agir com cautela. Não posso dizer o
que quero fazer com ela, como também não posso dizer que descobri suas
intenções de cupido. Não posso ferrar com minhas chances, então digo
somente:
— Porra, Vicente, não tenho culpa se sua filha chamou minha
atenção.
— Ela não é como as mulheres que você está acostumado. Clarisse
não é para o seu bico.
— E é talvez por isso que eu não consigo parar de olhar!
Vejo sua cara zangada, mas antes que ele consiga verbalizar sua ira,
Clarisse diz:
— Papai, como está a água?
— Tá ótima, querida. Venha se juntar a nós.
E ela vem. Mesmo aparentando vergonha, ela caminha lindamente
para perto.
E quando penso em me aproximar, vejo o idiota do Beto colado à
escada. Ele a ajuda a entrar na água, e me condeno por não ter tido essa
iniciativa.
Beto, aproveitando a proximidade, fala algo em seu ouvido e sei que
é um elogio pela forma como sua pele fica rosada. É nítido meu desagrado,
nem sequer entendo por que fico tão chateado com esta interação.
Olho para o lado e vejo o sorriso bobo de Vicente e isso somente me
deixa ainda mais puto. Sei que meu empresário acredita que suas
artimanhas lhe renderão um genro. Ledo engano, Beto não terá nenhuma
chance. Decidi que ela será minha e jogarei pesado, começando agora
mesmo.
Por baixo d’água me aproximo dos dois. Assim que venho à tona,
faço tudo para jogar o máximo de agua possível no meu aspirante a
concorrente.
— Você é um mané, Guto!
E ele se afasta um pouco. É a brecha que eu precisava para jogá-lo
para escanteio.
— Você sabe nadar, Clarisse?
Sou esperto e rápido em meu questionamento, pois imagino que
como foi muito cedo para um convento, talvez tenha sorte em receber uma
negativa.
— Tive tão poucas aulas na infância que infelizmente acho que a
resposta é não.
Quase solto um sorriso vitorioso, mas sei que preciso me conter.
— E o que você acha de aprender? Ou de tentar relembrar o que lhe
foi ensinado?
Ela me dá um sorriso tão lindo que seria capaz de me nocautear se
eu não soubesse exatamente o que estava fazendo.
— Será que eu conseguiria?
— Por tudo que o seu pai me contou, tenho certeza de que você
conseguiria qualquer coisa.
Claro que digo frases bonitas para impressionar, mas no fundo sei
que acredito nas minhas palavras, pois alguém que perdeu a mãe tão
prematuramente e anos depois teve mais uma perda difícil e mesmo assim
consegue demonstrar esta paz e esta leveza, merece sim confiança em
sua capacidade de lutar e de ser forte.
— E parece que hoje é seu dia de sorte, linda. Estou justamente
disposto a ser seu professor particular.
Seu sorriso apenas aumenta e, porra, a mulher é um espetáculo.
E mais do que nunca sei que moverei céus e terras para que seja
minha.
— Você aceita?
— Na verdade, não vejo a hora de começar!
Ela parece uma criança feliz, que acaba de ganhar um doce.
Enquanto eu me sinto um marmanjo satisfeito, que acaba de ganhar mais
este round.
Capítulo 10

Juro que jamais imaginei que ficaria tão perto dele. Que teria que ter
tanta intimidade para aprender a nadar. Talvez achasse que aprendesse
apenas com orientações e vontade.
Como sempre inocente, como sempre ingênua.
E enquanto debato sobre as sensações que me tomam, um misto de
vontade de permanecer justamente onde estou, guerreando com uma
vontade de me manter afastada.
Gustavo me suspende na água, a mão apoiada em minha barriga e o
corpo próximo como jamais estive de nenhum outro homem.
Minha vocação determinava isso. Meus votos reforçavam.
E hoje, encontro-me próxima a dois homens seminus, com um
tocando-me de maneira inocente, mesmo que para mim seja algo
totalmente novo e que me faz questionar se é certo ou errado.
Antes que minha mente entre em parafuso, minha consciência fala da
normalidade de tudo isso, pois meu próprio pai está presente e em nenhum
momento criticou ou estabeleceu limites.
Tenho que me acostumar, compreender que não sou mais uma
religiosa e que nesta minha nova vida os valores e a fé permanecem, mas
o meu dia a dia será permeado por situações inusitadas e tenho que
rapidamente me habituar a realidade que agora me cerca.
Afasto um pouco os meus questionamentos para seguir plenamente
as orientações que recebo.
— Você está indo muito bem, Clarisse!
Ele me elogia e sei que grande parte da minha evolução se dá por ter
tido algumas aulas de natação antes de entrar no convento. E deve ser
como andar de bicicleta: a gente nunca esquece.
Então, após orientações sobre respiração e sobre movimentos de pés
e mãos, afasto-me por minha própria conta. Acho que isso o deixa até
mesmo espantado.
Talvez eu quisesse apenas me distanciar do toque perturbador, minha
mente alerta.
— Ah filha, você ainda se lembra!
Meu pai diz, satisfeito por eu nadar após tanto tempo longe das
águas.
Chego no outro lado da piscina e logo Gustavo emerge ao meu lado,
mantendo o corpo mais próximo ao meu do que é recomendado.
— Fico feliz em saber que se vira bem na água, mas extremamente
triste por perder a chance de estar com você.
Diz baixinho, sugestivo.
E até eu que não sei nada sobre homens, paqueras ou insinuações,
sei o que o jogador quis dizer.
Meu rosto esquenta e sou incapaz de encará-lo. Mas parece que a
intenção dele é justamente o contrário.
Gustavo toca a minha face e me faz olhar para ele. Seu olhar
penetrante confirma suas intenções.
— Você é linda demais!
Meu rosto adquire uma coloração ainda mais intensa.
— Sei que talvez eu esteja indo rápido demais e que talvez você
precise de um tempo para se acostumar à sua nova vida, mas quero
conhecer você melhor, quero...
— Tá tudo bem por aqui?
Espanto-me com a voz de meu pai. Estava tão envolvida que não
percebi sua aproximação.
Pelo tom desconfiado sei que ele percebeu que a conversa aqui
certamente não era sobre natação.
— E por que não estaria?
A voz de Gustavo parece zangada, chateada.
Logo Beto se aproxima e qualquer continuação do que estava sendo
dito fica impossível de acontecer.
Internamente agradeço, pois nem sei o que diria e nem mesmo se
conseguiria existir no meio de uma abordagem tão direta.
Penso isso porque meu coração está a um passo de sair pela boca,
minha pele está um pouco fria e minhas mãos trêmulas.
Sinto-me agitada, ansiosa por um motivo que nem sei descrever.
Também sinto como se estivesse indo contra tudo que acredito.
Talvez por ter imaginado que jamais estaria tão perto assim de um
homem, talvez devido os votos de castidade que outrora tinha feito, pois
mesmo que nada demais tenha acontecido, ele deixou claro o motivo de
sua atenção.
Sei que senti o mesmo quando vi o closet do quarto que ocupo cheio
de roupas, acessórios e tudo que papai achou importante e necessário
para alguém da minha idade, palavras dele. Senti que estava renegando
meus antigos votos de pobreza. Talvez o tempo faça estes sentimentos
diminuírem, ou talvez eu apenas me acostume com o que vivo agora.
Tantos sentimentos e indagações que nem saberia dizer o que eles
estão conversando. Tento deixar meus questionamentos para depois e
agradecer internamente pela aproximação de meu pai, pois sei que não
saberia como interagir com Gustavo. Na verdade nem sei dizer se suas
insinuações são ou não bem-vindas.
— Filha, será que já não está bom de sol por hoje? Tenho medo que
seja demais para um primeiro momento.
Fico extremamente grata pela oportunidade de me afastar, e até sei
que talvez o senhor Vicente tenha querido me distanciar propositalmente
do jogador.
Será que porque eu sou muito inocente? Ou será que é porque ele
não quer Gustavo perto de mim?
Não percebi nele este cuidado quando mantive uma conversa
despretensiosa com Beto.
Certamente coisas demais para eu pensar, suposições que nem sei
se fazem sentido algum.
— Você está certo, papai! Vou me proteger ali, à sombra de um
guarda-sol.
Não tenho coragem de olhar para Gustavo, tenho medo que ele
perceba a confusão que se formou na minha cabeça. Tenho medo que ele
perceba que nem sei como entender ou compreender o que acabou de
acontecer aqui.
E mal começo a me afastar quando escuto Beto dizer:
— Vou com você, Clarisse. Nada de atividades físicas para mim. Tive
um jogo puxado, e hoje só quero relaxar. Vou deixar para pegar pesado
amanhã.
Não sei se queria companhia neste momento, pois tenho muita coisa
a pensar, mas infelizmente não posso ser indelicada e muito menos
desconsiderar uma companhia que ontem achei sim por demais agradável.
— Vamos aproveitar e beber algo. Talvez uma água ou um suco
gelado caia bem depois desta sua exposição ao sol, pois como você não é
acostumada, todo cuidado é pouco.
Gosto de sua preocupação e do seu cuidado, por isso somente
assinto com um leve sorriso e seguimos.
Afastando-me por um instante do jogador.
Conseguindo um pouco de distância daquilo que para mim é novo,
desconhecido.
Daquilo que mexeu comigo de uma forma inesperada e
surpreendente, mas de uma forma que mesmo eu tentando negar, fez com
que me sentisse bem.
A bem da verdade, gostei. Talvez até mesmo mais do que fosse
aceitável e recomendável. Prudente ou até mesmo aconselhável para mim.
Capítulo 11

Não sou acostumado a ver uma mulher se afastar, muito pelo


contrário, elas sempre estão vindo para mim, e talvez por isso esteja tão
chateado. E para completar o meu desagrado, ter um cão de guarda
colado a mim, não é nem de longe a minha vontade.
Mas isso se torna insignificante quando vejo Beto com as patas em
cima dela. Fingindo que seu interesse é apenas em ajudá-la a sair da
água. A mão pousada possessivamente um pouco acima da bunda
gostosa, louco para se aproximar de Clarisse.
Aquele puto! Sei que também está interessado. Enquanto interagia
com ela vi que estava de olho, esperando uma oportunidade, e eis que
conseguiu.
Graças a Vicente, arrumou uma forma de ficar sozinho com ela.
Mas não vou aceitar. Decidi que a quero. Que vou ensinar muitas
coisas à loirinha e não abro nem para um trem. Quero provar de sua
inocência e de sua pureza. Quero apresentar-lhe todos os prazeres de que
foi privada por ter ficado tanto tempo trancada dentro de um convento.
E se, depois que eu conhecer as delícias de uma gatinha puritana,
Beto quiser tentar algo com ela, que seja!
Vou estar mais do que ocupado me enterrando nas bocetas das
morenas, que com certeza são o meu fraco.
Sempre tive tara por morena. As mais gostosas e devassas. Eram as
minhas preferidas e invariavelmente na minha cama sempre havia uma ou
mais. E talvez por isso essa loirinha pura tenha me encantado, tenha
despertado minha admiração. E esse é apenas mais um motivo para ir até
o fim, para que seja eu o seu passaporte para a vida mundana.
Rapidamente decido que eles não ficarão sozinhos, que
coincidentemente decidi também me hidratar.
Mas antes que vá para perto deles, escuto a voz zangada de Vicente:
— O que você pensa que está fazendo?
— Não entendi a pergunta, Vicente!
Faço-me de desentendido, nada tenho a ganhar em um confronto
com um projeto de pai zeloso.
— Pensa que me engana? Pensa que não percebi que está cheio de
más intenções pra cima de Clarisse?
Não adianta contestar e com ele montando guarda perto da loirinha,
não vou ter como disfarçar.
— E qual é o problema? A garota não decidiu sair da vida religiosa?
Não vai começar a levar uma vida como normalmente as garotas de sua
idade levam? Ou você decidiu que mesmo longe do convento, sua filha vai
continuar intocável?
Estreito os olhos, esperando sua resposta.
— Seu puto de uma figa, como ousa...
— Vicente, relaxa. Qual o problema em eu tentar uma aproximação?
Parece até que você não me conhece, que não sou honesto e íntegro...
— Para ser amigo, patrão, jogador e o diabo a quatro. Mas com o
sexo feminino você é um pervertido e jamais vou deixar...
— Cara, não vi essa neura toda pra cima do Beto, muito pelo
contrário. Para mim parecia até que você estava bancando um cupido sem-
noção. Então não entendo todo esse protecionismo com relação a uma
aproximação da minha parte.
Digo com todas as letras, não deixo dúvida nenhuma do meu
interesse.
Ele respira fundo, tentando controle. Porque, mesmo que ele esteja
ferrado de ódio, somos amigos. Somos mais que isso. Sempre fomos
família.
— Gustavo, você não considera mulher, não namora. Você apenas
fode e segue em frente.
— Você também. Não vejo diferença nenhuma entre nós. Então não
entendo o motivo de estar em tão baixo conceito na sua opinião se somos,
na verdade, tão parecidos.
Ele balança a cabeça de um lado para o outro.
— Exatamente! Eu não quero nada com ninguém e muito menos
você! Então como posso permitir que se aproxime e jogue suas garras
nela? Se você é tão parecido comigo, se suas intenções são iguais as
minhas?
Ele faz uma pausa, mas antes que eu consiga retrucar, continua:
— Assim como eu, você apenas fode! E faz isso como se não
houvesse amanhã. Por isso quero você bem longe da minha filha! Clarisse
é doce, pura e inocente. Ela não é para o seu bico, Gustavo.
— E é para o de quem? Do Beto?
Digo zangado, esbaforido.
— Ele com certeza é uma opção bem melhor! Não é tão devasso
quanto nós e consegue manter o pau dentro das calças bem mais do que
você.
Diz de um fôlego, tendo certeza dos seus argumentos. E não está
errado. Mas é uma pena para ele que não vou desistir. Que vou contra-
argumentar e insistir, que vou sim ter a loirinha em meus braços.
— Vicente, você é um adulto, um cara experiente! Para com isso!
Sabe, assim como eu, que a vida é para ser bem vivida e sabe, mais do
que ninguém, que ela pode ser curta e cheia de histórias interrompidas.
Posso estar jogando baixo, mas levo esta vida intensa por este
motivo e sei que o meu mentor também.
— Você não acha que sua filha já foi privada de coisas demais,
reprimida demais? Não acha que ela sequer teve a opção de escolher pelo
convento, que foi levada para lá justamente por não ter escolhas? Você
não acha que está mais do que na hora dela viver a vida, cair, levantar e
seguir em frente? Ou você acha que pode indicar o cara que ela deve se
interessar e acha que será capaz de protegê-la em uma redoma, tão
segura quanto estava dentro das paredes do convento?
Ele me olha atordoado, certamente atingido por minhas palavras
certeiras.
E antes que ele consiga falar o que quer que seja, completo:
— Deixe que sua filha faça suas próprias escolhas! Pela primeira vez
na vida deixe ela errar, acertar. Deixe-a escolher o Beto, eu ou quem quer
que seja, mas deixe-a decidir. Ela teve toda uma vida decidida por
terceiros, permita que ela faça diferente, permita que ela faça o que bem
entender.
Ele engole em seco, sabe que o que digo faz sentido. Sabe que não
pode tentar podar sua filha mais do que todas as situações da vida já
podaram.
— Talvez você tenha razão, Guto. Talvez eu esteja agindo como um
babaca protetor. Mas e se as decisões e escolhas de Clarisse a fizerem
sofrer?
— Esteja lá para ela. Cuide, ampare, acolha. Como você fez comigo
quando precisei!
Ele afirma com a cabeça. Parece emocionado com minhas palavras.
— E se ela escolher ter algo com você? E se você a fizer sofrer?
— Console-a se precisar e arrebente minha cara se eu merecer!
Ele remexe os lábios, com um arremedo de sorriso em sua boca.
—Ah Guto, eu arrebentarei! Pode ter certeza que eu arrebentarei!
Capítulo 12

A tarde poderia ser definida como estranha, no mínimo. Dois homens


lindos, claramente brigando por minha atenção.
Um musculoso, sempre simpático e prestativo. Deixando claro a todo
instante que está interessado.
O outro loiro, cabelo longo, olhos verdes e olhar devorador. Intenso,
territorial, não deixando dúvida alguma do que quer.
Tudo nele fala que me quer, deixa evidente o que está fazendo.
E eu? Apenas assisto.
Assustada, pela situação inédita.
Medrosa e temerosa por não saber como agir e não saber nem
mesmo se quero agir.
Mas no fundo sentindo-me orgulhosa, sentindo-me mulher pela
primeira vez na vida.
E meu pai? Depois de perceber uma certa ressalva da parte dele,
vejo-o acompanhar tudo como um pai zeloso, mas à distância.
Parece até que algo mudou, parece até que optou por apenas
observar.
E nem sei se isso é bom ou ruim.
Se toda esta atenção que estou recebendo é benéfica ou maléfica.
Se quero ou não. Se estou pronta para isso ou não.
Decido então que preciso me afastar para tentar entender: o que
quero, o que descobri, e até mesmo como me portar.
— Vou subir. Arrumar as minhas coisas.
Olho diretamente para papai e digo:
— Será que daria para sairmos cedo, queria ir à missa!
Meu pai assente. Os dois parecem assustados, como se tivesse
falado uma grande aberração.
— Pensei que você estivesse gostando daqui! Imaginei até que
sairíamos apenas pela manhã, já que nosso treino amanhã é somente na
parte da tarde.
Gustavo fala e parece chateado.
Olho de um para o outro. Quero deixar claro um ponto.
— Desde que me entendo por gente vou à missa aos domingos. Lá
no convento existia a celebração da missa dominical na própria instituição,
aqui fora vou ter que me adaptar e encontrar uma igreja por perto, mas irei.
Domingo é dia do Senhor e para mim sempre será respeitado,
independentemente de ter deixado a vida de religiosa.
Parece até que falo grego, tamanho o espanto. Não me incomodo.
Posso até estar me adaptando a minha nova realidade e ter gostado do
que aconteceu esses dias, mas minha fé me rege, minha fé é a certeza
maior da minha vida.
— Está certo, querida. Até mesmo irei com você na igreja.
Agora mesmo que os jogadores parecem espantados. Não sei como
meu pai conduzia sua vida e nem é da minha conta, mas certamente ir à
missa não era uma de suas prioridades.
— Entendo se vocês quiserem ficar e viajar somente pela manhã.
Como estamos em dois carros, não haverá problema.
Percebo que Gustavo abre a boca para dizer algo, mas logo Beto
adianta-se e diz:
— Voltarei com vocês. Prefiro dormir em casa e estar bem-disposto
para o treino de amanhã.
— Então vamos nos apressar, em outro momento poderemos voltar
aqui.
— Apreciaria muito, papai. Gostei bastante daqui.
E não falo mais nada, apenas viro-me, vestida com a saída de banho,
pois mesmo que os homens pareçam mais que à vontade em trajar
somente a sunga, para mim ainda é bem constrangedor estar com meu
corpo tão à mostra assim, mesmo sabendo que minha roupa é bem-vestida
se comparada aos modelos que vi, mas também sabendo que o pano que
me cobre não esconde meu corpo tão bem como gostaria.
Tento não me incomodar com nada que não seja o que me dispus a
fazer: organizar-me para não falhar com o meu compromisso de domingo.

Amo a sensação de plenitude que me toma após estes momentos.


Gosto demais de vivenciar estes momentos de fé e compromisso cristão.
— Vou tentar fazer desta experiência, um hábito. Não sabia o quanto
sentia falta de ir à missa!
Fico feliz com esta decisão. Considero que muita coisa já valeu a
pena somente por saber que meu pai vai reencontrar o caminho para as
coisas de Deus.
E é falando sobre como ele estava distante e afastado que
adentramos na casa do jogador. Em uma conversa de descobertas e
reencontros.
No instante em que chegamos na cozinha para tomar água,
encontramos Gustavo. Ele está sentado numa banqueta na ilha, com um
sanduíche no prato e um copo de suco.
— Achei que demorariam mais!
Ele realmente parece surpreso em nos ver.
Antes que falemos, ele emenda:
— Vocês devem estar com fome! Que tal comerem algo, enquanto
me fazem companhia?
Gustavo exibe um sorriso lindo, tornando impossível para mim negar
o que quer que seja para ele.
Embora pense desta forma, não demonstro, apenas assinto com a
cabeça.
— Posso fazer um sanduíche para você. Modéstia à parte, sou
especialista nisso.
Rio do seu jeito extrovertido. Aceito sua oferta e agradeço.
Meu pai apenas observa nossa interação. Sem fazer comentário
algum.
Seu telefone toca e ele abre um sorriso quando olha o visor. Pede
licença e vai atender um pouco distante. Desconfio se tratar de alguma
mulher e a piscada que Gustavo dá, apenas confirma os meus
pensamentos.
— Acredite se quiser, seu pai faz muito sucesso com as mulheres!
Rio de seu tom. Como se estivesse realmente surpreso com o fato.
Percebo que a conversa entre nós flui bem. É leve e agradável.
Paro de rir ao perceber que ele me encara. Todo o divertimento do
momento dando espaço para um clima denso, aparentemente repleto de
palavras não ditas.
Antes que qualquer um quebre o clima, meu pai retorna e
aparentemente não percebe a tensão no ar.
— Minha filha, tem algum problema se eu der uma saída? Tenho
algumas coisas para resolver.
Gustavo tenta conter o riso e nesta hora percebo que meu pai tem um
encontro.
Claro que não vou bancar a filha ciumenta e nem nada disso, por isso
apenas digo:
— Lógico que não tem, papai! Vou fazer um lanche aqui rapidinho e
logo depois vou subir.
Ele abre um sorriso brilhante, beija minha testa e rapidamente se
afasta. Parecendo muito ansioso para resolver o que quer que seja que o
impele a sair.
Sou tirada dos meus pensamentos pela voz do jogador que fala
sugestivamente:
— Enfim sós!
Engulo em seco. Acho que estou longe de estar preparada para me
encontrar nesta situação.
Com um cara que parece e muito um predador. Sentindo-me
meramente uma presa indefesa.
Capítulo 13

Cheguei em casa e aparentemente a sanidade voltou ao meu corpo!


Que porra eu estava fazendo? Entrando numa disputa para ficar com
Clarisse, enfrentando Vicente e tentando a todo custo fazer Beto entender
que queria a loirinha para mim.
Mas como e por quê? Se ela é tão diferente, se não quero nada sério
com ninguém.
Não sei se foi sua ida à igreja que lembrou o quão fervorosa é, ou o
fato de ter feito o trajeto de volta sozinho e ter reavaliado a loucura que
aparentemente me tomou desde sábado à noite, mas o que sei é que
aparentemente caí na real.
Por mais gostosa que ela seja, talvez não valha a pena. Certamente
vai dar dor de cabeça demais e quem sabe até não atrapalhe meu
relacionamento com Vicente.
Decidi que vou pular fora, antes de ter realmente tentado algo que
possa me causar arrependimentos futuros.
E com isso na cabeça penso em ligar para Camila. Certeza de uma
foda gostosa e suada, tudo que preciso para sair desta disputa por
Clarisse.
Mas antes que pegue o telefone para colocar em prática o meu plano,
eis que escuto sua voz doce e meu corpo instantaneamente entra em
alerta. E a visão à minha frente me faz esquecer qualquer suposta decisão
tomada anteriormente.
Não voltarei atrás! Não desistirei!
Conviver dia após dia e abrir mão de tentar, não é algo possível,
mesmo que minha mente tenha me levado a achar que poderia conseguir,
mas meu corpo ouriçado, mostra-me o quão longe estou de ter controle
sobre isso. Quero Clarisse, e a terei.
Distante, a razão me fez pensar que talvez desistir fosse a melhor
solução, mas próximo, só penso em beijar estes lábios cheios e acariciar o
corpo que nem mesmo este vestido longo é capaz de disfarçar.
Ela senta e aceita um sanduíche e a conversa entre nós flui bem. Sua
risada me encanta e o fato de não tentar me conquistar e jogar charme
para mim, é algo que me agrada. Ela se apresenta como na verdade é, e
isso é algo novo para mim.
E parece que tudo conspira para que coloque minhas intenções em
prática. Vicente decide sair, decide deixar sua linda filha ao meu bel-prazer
e nem finjo que isso não me agrada.
— Enfim sós!
Direto, decidido, deixando evidente meu interesse.
Vejo que Clarisse engole em seco e sei que ela não tem chance
alguma.
Não quando estou disposto a ir até o final. Não quando ela é pura
como um anjo.
Coloco o sanduíche que fiz em seu prato, e abandono definitivamente
o meu.
Minha fome é de outra coisa e ela não vai ter nenhuma dúvida sobre
isso.
— Clarisse, agora que estamos sozinhos e não temos risco algum de
sermos interrompidos, vou jogar a real com você.
Ela sequer pisca, ansiosa. Já eu estou no meu habitat natural.
— Estou muito interessado em você. Por isso fui para Petrópolis.
Seus lindos olhos se arregalam e ela não é capaz de formular
nenhuma palavra.
— Você é linda demais e mexeu muito comigo! Queria ter a chance
de te conhecer melhor!
Ela abre a boca e fecha, mas não emite som algum. Então fecha os
olhos, respira fundo e diz baixinho:
— Gustavo, estou passando por um período de reviravoltas, pois
acabei de abandonar a única vida que conhecia e junto com ela os meus
votos. Estou confusa, indecisa. Estou me sentindo fraca demais! Não
posso me aventurar no novo, não consigo tratar essa sua confissão com a
normalidade que as jovens da minha idade tratariam.
Seu discurso só diz verdades. Minha consciência chega a doer por
me meter com ela, mas é mais forte do que eu.
— Entendo tudo isso, mas não consigo me conter. Foi assim quando
decidi viajar em plena noite de sábado, é assim agora, quando estou me
controlando para não avançar o sinal.
Parece até que falei alguma blasfêmia. Sua expressão entrega como
se sente.
— Não fale estas coisas, não tenho experiência alguma. Meu contato
com homens se resume a interação que tive com você e com o Beto e nem
sei se estou pronta ou se quero dar um passo neste sentido.
Sua voz não passa de um murmúrio baixo. Traz um temor e uma
fragilidade que se eu tivesse o mínimo de honra, me afastaria.
Mas infelizmente para Clarisse, não tenho. E é por isso que me
aproximo mais.
Pois sou um puto no sentido real da palavra e não vou descansar até
tê-la em minha cama.
— Posso ir devagar, posso ter paciência.
Falo com o corpo bem próximo ao dela.
— Gustavo, não sei nada sobre isso. Também tenho muitos conflitos
internos, pois a decisão que tomei foi totalmente abrupta e...
Coloco meu dedo em seus lábios, impedindo-a de continuar.
Um simples toque e já me sinto mexido, louco para tomar sua boca
na minha.
Mas irei com calma, pelo menos até enquanto eu aguentar.
— Clarisse, eu sei, conheço sua história! Sei que não queria
renunciar seus votos, sei também que nunca teve contato amoroso com
ninguém e o quanto toda esta minha aproximação é novidade para você.
Faço uma pausa, mas ela apenas espera em silêncio.
Não resisto e esfrego o dedo lentamente em seus lábios e ela
responde com um suspiro que me leva a crer que estou no caminho certo.
Em um momento de ternura, muito incomum, encosto minha testa na
dela. Vejo-a fechar os olhos, a respiração mais do que acelerada.
Também estou agitado, muito embora consiga disfarçar bem melhor
do que ela.
— Mas não vou conseguir conviver com você e me manter afastado.
Você mexe demais comigo.
Afasto um pouco nossas testas e levanto sua cabeça. Seus lindos
olhos se abrem e sei que preciso demais do seu sim.
— Por favor Clarisse, aceite minha aproximação. Deixe que pouco a
pouco as coisas aconteçam. Sem atropelos, sem cobranças. Deixe que eu
demonstre o quanto podemos fazer bem um ao outro. Permita-nos tentar.
E nesta hora percebo que ela é forte, pois mesmo com medo,
demonstrando fragilidade e receio, ela acena positivamente.
Enfrenta seus temores, encara o novo. E o melhor de tudo, dá-me o
aval que preciso para colocar minhas más intenções em prática.
Pego sua mão na minha, levo aos meus lábios e a beijo.
Demonstrando gratidão e respeito por sua decisão.
— Você não vai se arrepender, Clarisse.
Visto a minha armadura brilhante. Necessária para aparentar ser um
cavalheiro, mesmo que no fundo não passe de um cafajeste, por demais
mulherengo, mas que sabe o que quer.
E infelizmente para Clarisse eu a quero. Muito. E a terei.
Lentamente. Com cautela e com paciência.
Mas inevitavelmente ela será minha, pois sempre tenho tudo o que
desejo.
E com a loirinha não será diferente.
Capítulo 14

Acho que agora enlouqueci de vez!


Permiti que ele me cortejasse, permiti-me tentar algo com um homem.
Justo eu que tinha realizado votos, e a castidade era um deles.
Mas infelizmente não tive como os levar adiante, não abandonei
minha escolha de vida anterior por opção.
Fui jogada nesta realidade por uma série de acontecimentos e minha
permanência aqui é a única certeza que tenho. E essa permanência inclui
tudo menos a pobreza, e agora inclui também a possibilidade de um
envolvimento amoroso.
Penso um pouco e tento acalmar minha mente, tento entender que
talvez não tenha como evitar um relacionamento com ele ou até mesmo
com Beto. Até pela carência afetiva que tenho, pela minha idade e talvez
porque não quero ficar só. Não para iniciar esta nova vida. E talvez até seja
algo benéfico, pois não estou aceitando somente beijos e abraços, estou
aceitando uma pessoa para me apoiar e estar comigo nesta minha nova
forma de encarar os meus dias.
Tento apaziguar meu coração tendo a certeza de que cumprirei meu
voto de obediência, que seguirei com minha fé e com meus compromissos
religiosos, independentemente da minha resposta positiva de agora há
pouco.
Como lentamente meu sanduíche, tentando me manter ocupada,
ainda muito afetada com minha resposta e o beijo que recebi, mesmo
sendo apenas na mão.
— Clarisse, conte-me um pouco da sua rotina no convento.
Escuto o pedido e quase suspiro de alívio. Um assunto seguro, que
me é comum.
E conto. Sobre minha rotina de orações. Sobre a dedicação que
tínhamos com as coisas sagradas e como era o convento sobre a direção
da minha tia.
Conto que era feliz, que me sentia com o coração cheio de graça e
plenitude.
Logo ele direcionou as perguntas e acabei contando os meus
temores e o quanto foi difícil optar por abandonar tudo aquilo. E entre meus
relatos, Gustavo também contou sobre suas perdas, como conheceu meu
pai e como sua realidade agora difere da pobreza que já conheceu.
Relata que queria que o pai estivesse vivo, para poder usufruir das
suas conquistas. Mas entende da impossibilidade de questionar as próprias
escolhas do pai e tenta seguir sua vida tentando realizar o sonho de ser um
dos maiores jogadores do mundo.
Fala de como o Titã Futebol Clube vai bem no campeonato e como o
bom desempenho da equipe vem sendo refletido em propostas que estão
surgindo de grandes clubes europeus.
Fico fascinada com o amor com que ele fala de sua profissão, e
penso que quero esse envolvimento com o que eu escolher para o meu
futuro.
Mesmo gostando demais deste momento, não consigo segurar o
bocejo.
— Acho que está na hora de subirmos.
— Você tem razão, o sol está cobrando o seu preço.
Fico de pé e ele logo se coloca ao meu lado. Caminhamos juntos e
sei que pareço encantada com tudo isso. Pois tudo é motivo de riso e sua
mão em minhas costas, deixa-me quente, além de satisfeita com o meu
sim.
Subimos a escada num silêncio confortável e quando chego à porta
do meu quarto, ele para.
Abro a boca para me despedir, mas antes que diga algo, Gustavo se
antecipa:
— Sei que prometi ir devagar e iremos. Mas há algo que queria muito,
na verdade venho me controlando para não assustá-la.
Engulo em seco, pois seja lá o que for, será algo muito novo para
mim.
Não pergunto, pois tenho receio da resposta. Apenas faço cara de
interrogação e ele entende a minha indagação silenciosa.
— Quero te beijar. Quero demais.
Tenho vontade de fugir, pois tenho medo e temor. Por minha
inexperiência, mas principalmente porque talvez seja o passo definitivo
para este novo universo.
E não sei se estou pronta, nem sei quando estarei.
Resolvo então verbalizar meus anseios.
— Gustavo, não sei nada sobre isso! E eu tenho tanto medo!
Sinto novamente seus dedos em meus lábios. E sinto-me novamente
ansiosa pelo que nem sei o que é.
— Permita-se sentir, Clarisse. Confie em mim.
E mesmo trêmula e nervosa como jamais estive, lentamente concordo
com um gesto de cabeça.
E era o sinal que ele queria.
Seus braços envolvem minha cintura delicadamente, e sou trazida
para perto, perto demais.
Sinto sua respiração em minha face, sinto meu corpo quase
convulsionar em expectativa.
E então fecho os olhos, pois não consigo encarar os dele. Tanta coisa
oculta, falando de coisas que desconheço.
E então acontece. Um mero roçar de lábios. Delicado, mas que mexe
demais comigo.
Suspiro pois estou mexida e sinto a ponta de sua língua, lambendo e
querendo algo que jamais saberia o que é.
E o suspiro sai mais forte, e meus lábios se abrem e então tudo
muda. Ele lentamente invade minha boca, sua língua explorando a minha
de forma lenta. No começo acho estranho, pois não sei como agir. Penso
também que pode ser pecado, mas quando sinto minha boca tentando
responder e sinto meu corpo se desmanchar na carícia, entendo que algo
gostoso assim, feito com permissão e com tanto zelo, não pode ser errado.
Ele me instiga a responder, a acompanhar os movimentos da sua
boca e da sua língua. E dou tudo de mim para conseguir, para continuar o
contato.
Às vezes minha mente tenta assumir o controle, tenta me lembrar de
minhas escolhas anteriores. Mas seu abraço cada vez mais apertado, seu
cuidado em me ensinar e em fazer deste momento algo especial, fazem
com que minhas emoções tomem às rédeas e tentem convencer a minha
mente que tudo isso é consensual e que todo este conflito de escolhas já
se findou. E que esta é a minha realidade agora, e que Gustavo faz parte
deste novo processo.
Ele afasta nossas bocas, mas não me larga.
Distribui beijos na face, pescoço e atrás da orelha.
E meu corpo fica ainda mais entregue e sinto uma vontade absurda
de apenas ficar assim: nos seus braços.
Suas mãos passeiam por meu corpo, sem jamais ultrapassar barreira
alguma. Talvez somente conhecendo, acariciando.
Gustavo volta para a minha boca e distribui beijos leves, abundantes.
— Acho que preciso deixar você entrar, pois não sei se conseguirei
cumprir o que prometi se continuar beijando você.
Gosto de sua sinceridade. Gosto ainda mais de saber que ele
pretende cumprir a promessa de ir devagar.
— Boa noite, Clarisse!
E beija respeitosamente a minha testa.
Fecho os olhos com o contato gostoso.
— Boa noite, Gustavo!
Ele me encara, balança a cabeça e se vai.
Segue em direção ao seu quarto.
E me deixa trêmula, vibrante e ofegante.
Mas feliz. Pelo sim, pela permissão.
Por ter aceitado Gustavo em minha vida.
Capítulo 15

Porra, acho que perdi o juízo de vez! E hoje à noite foi a prova disso.
Primeiro achei que tinha entrado novamente no prumo, quando
pensei em desistir desta insanidade e talvez fosse até o melhor a ser feito.
Mas infelizmente esta minha decisão somente vingou até vê-la, pois
neste segundo esqueci as minhas conjecturas e decidi que não abriria mão
de provar da loirinha.
Pois quero Clarisse, claro que quero. E decidi que estou disposto a
tudo para tê-la. Mas lógico que pensei em me aproveitar de sua inocência
e tomar o que queria. Tudo.
Só não contava com meu lado compreensivo, que sequer sabia que
existia. Pois somente isso justifica o que me propus a fazer.
Conhecer. Ensinar. Ser paciente.
Parecendo mais um homem de antigamente. Que corteja, que
namora.
Na hora me assusto com a grandeza de tudo isso, de como me
enrolei todo apenas para dar uns pegas numa mulher.
Muito linda. Inocente. E diferente.
Mas apenas mais uma mulher.
Assombro-me em pensar que ela vai esperar muito. Vai esperar uma
dedicação e uma fidelidade que não sou capaz de dar. Vai esperar
compromisso.
E por isso estou fodido. Porque a quero, mas não quero abdicar da
minha vida.
De farras. De diversão. De mulheres.
Pois elas não são confiáveis, minha própria mãe não era. Pois
mesmo com uma criança em jogo, não foi capaz de ficar e amar meu pai e
eu. Mesmo que os votos sempre digam que é na saúde e na doença. Na
riqueza e na pobreza. Na verdade, são só palavras.
Por isso não quero confiar, me envolver ou me entregar.
Quero somente foder e curtir. Mesmo que ela tenha a boca mais doce
e um beijo saboroso.
E ela, de verdade, conseguiu me surpreender, pois mesmo sendo
apenas um beijo, o meu corpo esquentou, vibrou. O meu pau implorou por
um contato maior, tudo em mim me impelia a colar nossos sexos. A
mostrar a ela o meu desejo.
Mas não o fiz. Esforcei-me para manter uma distância respeitosa,
mesmo a muito custo. Fingi que era algo talvez romântico, quando meu
pau pulsava para enfiar-me em suas pernas.
Isso me garantirá repetecos e a certeza de que ela será minha. Pois
fiz meu trabalho de casa bem-feito. Fiz ela conhecer a minha boca e todas
as sensações que um beijo desperta.
Satisfatórias para ela, mas insuficientes para mim.
Meu pau rígido fala sobre isso. Meus dedos no botão da minha calça
comprovam isso.
Desejo reprimido, pois me privei de pegar a gostosa da Camila, e dias
difíceis virão, pois tenho que agir com lentidão e pudor.
Enquanto isso os meus dedos terão que servir e servirão. Mesmo que
me incomode.
Eu, homem feito, batendo punheta? Nem consigo conceber esta
situação. Mas é o que acontece agora. No escuro do quarto, o corpo já
ansiando pelo gozo.
Minha mão sobe e desce em toda a extensão do meu pênis, num
ritmo gostoso. Penso em Camila, em Larissa e em tantas outras. Nas
morenas gostosas que fodo, nas bocetas rosadas. Eu metendo, chupando
e fazendo-as gozar. Eu enfiado em suas bundas e meu pau em suas
bocas. Mas ainda não vem e meu corpo está louco e precisado de alívio.
E eis que minha mente traz a imagem dela. Linda, entregue.
Suspirando, gemendo. Chupando timidamente a minha língua e
entregando inocentemente a sua.
Para eu sugar e me deliciar com seu sabor único. Tão inocente e
puro. Tão seu.
E somente a lembrança do beijo faz algo surpreendente acontecer.
Faz eu gozar, faz eu me perder em um orgasmo intenso e luxuriante.
Esporrando entre os meus dedos e arfando como se tivesse corrido
uma maratona.
E enquanto curto o momento pós-gozo, e crio coragem para ir ao
banheiro, penso que talvez não tenha feito uma loucura, que talvez tenha
agido sim corretamente.
Pois alguém que consegue mexer comigo desta forma, depois de
provar somente de sua boca, merece sim atenção e paciência.
Talvez mereça até flores e chocolates, só não merece um
compromisso verdadeiro.
Porque não quero isso para mim, não estou pronto para isso e jamais
estarei.
Mas por enquanto ela terá o melhor de mim, até que não precise mais
usar meus dedos.
Até que meu gozo ocorra em sua boceta virgem, e meu orgasmo
ocorra com ela deitada em minha cama.

Gosto demais quando o professor define que o treino regenerativo


ocorra na piscina, pois consigo relaxar, além de usufruir os benefícios de
tudo isso no meu metabolismo e em meu desempenho.
Sou disciplinado e sempre faço tudo que é recomendado. Sempre
cumpro com meus treinos, sem fazer corpo mole e nem reclamar. Jamais.
Levo a sério a profissão que escolhi. Cuido do meu condicionamento
físico, alimento-me seguindo todas as orientações do meu nutricionista e
durmo todas as horas de sono que me são recomendadas.
Minha única fuga se dá após uma vitória e acho que isso acontece
com dez entre dez jogadores solteiros. Neste dia me esbaldo, celebro
minhas conquistas da forma que gosto. Com curtição e sexo.
Mas do mais sigo à risca o que me é determinado. Sou focado e o
professor está mais do que satisfeito com meu desempenho dentro e fora
de campo. Palavras dele e não minhas.
Certamente porque minhas orgias sempre foram abafadas. Talvez até
porque ele não saiba que consigo ser um puto bem pior do que Lúcio.
Rio de meus devaneios, feliz com minhas conquistas e com minha
vida. Sempre tão leve e simples. Focada no futebol e em diversão.
Buscando um futuro de glórias em campo e empenhado em conhecer
muitas bocetas nacionais e gringas.
Mesmo que no presente precise dar um tempo deste meu estilo de
vida e focar em uma única e virgem. Mas que é minha meta por agora,
nestes dias.
E apenas o pensamento nela me deixa ansioso para vê-la, para
colocar em prática mais uma etapa do meu plano.
Que inclui ser um bom-moço, mas que inclui principalmente um final
mais do que satisfatório para nós.
Com ela nua e linda em minha cama.
Saciada, bem fodida e satisfeita em meus braços.
Capítulo 16

Passar o dia suspirando pelos cantos está longe de ser algo


esperado para alguém da minha idade, principalmente após um único
beijo, mas foi exatamente o que aconteceu. Até mesmo enquanto ficava no
jardim, observando e aprendendo com o senhor José, os suspiros não
cessavam e a mente sempre me remetia às cenas da noite anterior.
Por que aceitei essa aproximação? Pela forma como estou mexida,
temo me envolver demais.
Gustavo é certamente um homem experiente e não serei páreo para
ele. Penso que se com um beijo me deixou assim, o que o tempo e suas
investidas serão capaz de me causar?
Tento focar no agora e em observar o jardineiro da casa, em sua
vocação para cuidar do jardim com tanto conhecimento e amor. Tento
repetir seus ensinamentos enquanto podo uma roseira. Esforço-me para
manter minha mente focada no que estou fazendo.
— Isso mesmo, menina, você leva muito jeito com plantas.
Rio satisfeita. Sempre cuidei de algumas no convento. Perdia-me em
olhá-las florescer, em admirar suas rosas e seu esplendor e agora, nesta
casa, tenho a possibilidade de apreciar um jardim imenso, conviver com
alguém que ama as plantas como o senhor José e ainda tenho a
oportunidade de colocar a mão na massa diariamente. Fico feliz, isso
verdadeiramente me faz feliz.
— Esse sorriso lindo fez eu ganhar o meu dia!
Escuto a voz do meu pai e levanto a cabeça. Um sorriso na face, a
alegria estampada em minhas feições.
Vejo Gustavo ao seu lado e por pouco não deixo transparecer a
emoção que sinto ao vê-lo. Felizmente consigo disfarçar.
Mesmo que meus olhos corram por sua calça escura, por sua
camiseta, apertada nos braços e por seus cabelos amarrados de qualquer
jeito com uma liga. Lindo demais, e os óculos escuros apenas
complementam a bela visão.
Levanto-me e tento limpar o excesso de terra.
— Oi, papai!
Vou até ele e beijo sua face, tendo cuidado para não sujá-lo.
— Oi, Gustavo!
Ele me dá um lindo sorriso e balança a cabeça em cumprimento.
— Sua filha leva muito jeito com plantas, senhor Vicente.
— É mesmo, José?
— Sim. E além de ter jeito, aprende muito rápido. Ela só esteve aqui
umas duas vezes, mas minhas plantas estão ainda mais formosas depois
dos cuidados desta menina.
Fico encabulada com o elogio e sei que minha face está rubra.
— Quem sabe ela não se aperfeiçoa mais? Se isso faz minha filha
feliz, ficaria muito satisfeito que estudasse e que se aprofundasse na área.
— Sério, papai?
Minha voz carrega toda a minha satisfação.
Ele me abraça, sem temer sujar sua roupa certamente de grife.
— Claro, meu amor. Quero realizar seus sonhos, quero ver você feliz,
minha Clarisse!
Aconchego-me em seu abraço. Feliz por este recomeço estar sendo
mais fácil do que imaginei. Agradecida por todas as bênçãos recebidas.
— Que tal entrarmos e pesquisarmos sobre cursos? Que tal
colocarmos em prática essa minha ideia?
Rio maravilhada em como a vida pode sim ser boa, mesmo com
mudanças tão drásticas, mesmo não tendo poder sobre nossas escolhas.
— Ah sim, papai! Claro que sim!

A noite já está alta e ainda estamos no quarto do meu pai.


Assim que entramos em casa, corri para tomar um banho e logo
depois segui para cá. O intuito era me inscrever em algum curso, mas
acabou que vários assuntos vieram à tona.
Falamos do passado, presente e futuro.
Explicou mais uma vez porque não ficou comigo quando mamãe
morreu, tentando justificar sua permissão em me deixar ficar com tia
Fernanda. Percebi que este era um assunto difícil para ele, além de notar
uma certa culpa ou vergonha. Na mesma hora tentei fazê-lo entender que
tudo aconteceu como tinha que ser, garanti que fui muito feliz no convento,
e tranquilizei-o de que agora teríamos todo o tempo do mundo para sermos
pai e filha.
— Eu não mereço você, meu amor!
E muitos abraços, beijos, afagos e lágrimas.
Ele também comentou sua decisão de me trazer para a casa de
Gustavo. Disse que por ele ser novo e não ter família, precisa estar junto e
achou importante que eu tivesse a presença paterna nesta nova fase da
minha vida. Mas garantiu que poderíamos nos mudar se eu não estivesse
de acordo, mesmo sabendo que para Gustavo talvez não fosse a melhor
opção o seu distanciamento.
Disse também que quando eu me achasse mais confiante e quisesse
dar voos mais altos, eu poderia morar só. Inclusive relatou que nunca se
desfez do nosso antigo apartamento e que é meu e que posso ocupá-lo, se
optar por ser mais independente.
Sei que fala isso para provar que sou dona do meu nariz, mas
percebo em sua voz que a última coisa que deseja neste momento é que
nos afastemos.
— Por agora eu só quero curtir o meu paizinho!
Digo manhosa e é tudo que ele quer ouvir.
— Amanhã vamos ao banco para verificar como anda seu patrimônio,
solicitar cartões e tirar qualquer dúvida que possa ter sobre como operar
sua conta e seu dinheiro.
Faço cara de espanto e ele me explica que tenho uma conta no meu
nome e que ele mensalmente faz depósitos. Garante que é meu e que
posso fazer o que quiser.
— Posso fazer meu curso, utilizando este dinheiro?
Ele ri e afirma que o que tem na minha conta dá para fazer o curso e
garantir o meu futuro, caso um dia ele falte.
Não gosto do rumo da conversa e tento mudar de assunto.
Falar sobre o que vou estudar: paisagismo.
Meu pai explica, mostra-me no computador textos que falam sobre a
diferença entre jardinagem e paisagismo e apresenta-me a grade de
estudo. Garante que posso, ao final do curso, montar uma equipe, se eu
não tiver afinidade em atuar em todo o universo que é o paisagismo e focar
exclusivamente em áreas verdes.
Penso que talvez tenha sim afinidade. Sei que é o que desejo fazer.
— Papai, não vejo a hora de começar. Quero aprender, me
aprofundar e me profissionalizar. Vou iniciar mais um novo ciclo na minha
vida, e estou muito feliz porque desta vez tenho você ao meu lado.
Deito a cabeça em seu ombro e pela primeira vez, desde que
cheguei, sinto que aqui é o meu lugar.
Capítulo 17

Quanto mais o tempo passa e permaneço sozinho, mais percebo que


o meu cuidado foi em vão.
O banho demorado, a roupa escolhida com esmero e o trato que dei
até mesmo no cabelo. Tudo feito com todo cuidado, para mexer com a
loirinha, mas até agora nenhum sinal dela.
Cheguei em casa louco para vê-la e na hora que Vicente se dirigiu ao
jardim para falar-lhe, não hesitei em ir junto.
E bebi sua imagem. Irradiando alegria e vivacidade. Linda no meio do
verde, perfeita como uma obra de um pintor famoso.
Vi em seus olhos a admiração em me olhar e comigo não foi
diferente. Mapeei todo o seu corpo, mas foi o seu sorriso e seu olhar
brilhante que quase me fizeram puxá-la para que pudesse me perder em
seus lábios.
Mas como naquele momento isso me era impossível, guardei todo o
meu ardor para agora e para quê? Para ficar esquecido no sofá, tendo tido
um esmero incomum para encontrá-la e na verdade não tendo sinal
nenhum dela.
Jantei sozinho enquanto a governanta subia com um lanche,
solicitado por Vicente. Naquele momento percebi que talvez ela demorasse
a aparecer, só não imaginava que talvez não a encontrasse mais esta
noite.
E por um motivo que não consigo atinar, isso me deixa insatisfeito,
confuso e frustrado.
Faz-me ter vontade de ir até o quarto de Vicente. Faz-me ter vontade
de inventar uma desculpa qualquer somente para vê-la.
Caralho! Passei o dia esperando pela oportunidade de repetir o que
aconteceu na noite passada, produzi-me como a porra de um adolescente
que ia para um encontro e levei bolo. Talvez não de forma proposital, mas
levei.
Constato isso ao olhar no relógio e ver que já é quase meia-noite,
sequer acredito que Clarisse ainda esteja com Vicente. Neste instante
certamente já está entregue ao sono.
Decido subir e tentar dormir. Engolir a frustração e esperar que
amanhã tenha uma melhor sorte.
Fico de pé, mas antes que dê um passo sequer escuto um barulho
vindo da escada. Prendo a respiração e torço para que seja a loirinha. Uma
voz doce, entoando uma música religiosa, confirma tudo que preciso saber.
Vou ao encontro do som e quase tenho um troço.
Clarisse descendo o último degrau da escada, com o corpo envolto
em seda, o cabelo emoldurando sua face e os olhos tão brilhantes que
falam de uma felicidade que não precisa sequer ser dita, pois é visível. E
toda esta aura torna-a ainda mais bela aos meus olhos.
Mesmo que sua pele esteja escondida por uma peça de seda que
não me deixa ver muita coisa, aprecio demais a imagem, mais até do que é
apropriado.
Arranho a garganta para entregar a minha presença e sei que ela se
espanta em me encontrar. Mas logo a expressão de surpresa em seu rosto
dá lugar a um lindo sorriso, que fala de uma satisfação semelhante à
minha.
Poderia falar, reclamar da espera, ou indagar o motivo de tanta
demora, mas não fiz nada disso. Apenas puxei Clarisse para mim e tomei
sua boca na minha.
Afoito, saudoso e desejoso.
E é como me lembrava, como ficou impregnado no meu ser.
Doce, viciante. Único.
E hoje torna-se ainda mais estimulante, pois agora ela sabe como
fazer. E como sabe!
E parece até tão querente como eu. Parece que precisa do contato
tanto quanto eu.
Perco-me em seu sabor e deixo minha língua explorar a cavidade
gostosa. Chupo, estimulo e ela se entrega.
Aproveito e a trago ainda mais para perto e colo nossos corpos. O
contato que ontem consegui conter, hoje seria impossível para mim sequer
tentar.
E quando encosto nossas pelves, sinto meu órgão ganhar vida. Sinto
ele pulsante, enrijecido. Duro.
Pronto para ela. Desesperado por ela.
E ela se derrete mais. Geme e suspira sem parar.
E eu enlouqueço de desejo, tê-la tão entregue é a porra da perfeição.
E não contenho mais como me sinto. Como preciso dela.
O beijo invade, toma, insinua.
As mãos resvalam em partes quem sabe proibidas e espero restrição,
ou que tenha minhas mãos impedidas de avançar, mas nada disso
acontece.
Até parece que elas têm vida própria. Assim como a minha pelve.
Esta fricciona buscando alívio, movimenta-se indecentemente e temo
que seja repelido.
Mas ela não o faz. Clarisse apenas se entrega mais.
Suas mãos avançam e se emaranham em meus cabelos. Clarisse se
farta em meus fios longos. Ora acariciando, ora puxando-os, com gana e
até com certo desespero.
Gosto do contato, adoro que ela tome a iniciativa. Quero que ela
toque onde quiser, assim como preciso tocá-la onde e como necessito.
— Ahhhh!
Ela diz quando meu pau duro fricciona onde sei que ela precisa e eu
somente grunho como um animal.
Clarisse afasta a boca, talvez para tomar ar, pois respirar ainda se faz
necessário.
E mesmo com a boca longe da minha, não consegue cessar os
carinhos. Clarisse então distribui beijos suaves em minha face, queixo, até
que sua boca encontra meu pescoço e passa a língua quente em um ponto
pulsante e sensível. Lambe, chupa e morde.
A loirinha provavelmente quer me enlouquecer!
— Puta que pariu!
Esbravejo descontrolado, pois a porra desta menina inocente tá
fodendo com tudo. Está me reduzindo a um animal sedento pela
consumação.
E eis que minhas palavras tiram-na do torpor. Tiram-na de perto de
mim.
Ela dá um salto e se afasta, já me deixando inconformado pela falta
que sinto do seu calor.
A loirinha olha para todo canto, menos para mim. Sua face assume
uma coloração avermelhada e, neste instante, sei que o encanto se
quebrou. Sei que novamente terei que me conformar em permitir que meus
dedos terminem o serviço.
Pois sai a Clarisse, aprendiz de tudo aquilo que estou disposto a
ensinar, e em seu lugar fica alguém que está desconfortável, pois isso
ainda é muito novo e contradiz com tudo que já viveu até hoje.
E a única coisa que penso nesta hora é: maldita a hora que fui abrir a
boca!
Capítulo 18

Sinto vergonha e constrangimento. Por meu descontrole e até por


minha entrega.
Ainda ontem aceitei a aproximação de Gustavo e agora já me permito
toda esta intimidade e, para meu desespero, até participo ativamente de
tudo isso.
E é o que deixa minha face rubra e me faz incapaz de encará-lo. Olho
para todo lado, menos para ele.
Vejo que Gustavo tenta uma nova aproximação, mas me afasto,
garantindo uma distância ainda maior entre nossos corpos.
— Clarisse...
Mal ele começa e já o corto.
— Gustavo, combinamos de nos conhecer melhor. De ir com calma.
Por eu ser inexperiente, mas também porque tenho muitos conflitos. Ainda
debato comigo sobre ter aberto mão da minha vida de religiosa. Ainda
tenho julgamentos internos e até dificuldade em entender se agi certo ou
não. Então não posso deixar as vontades do meu corpo se sobressaírem
neste momento que é pura confusão para mim.
Respiro fundo e antes que ele diga algo, continuo:
— Talvez até fosse melhor se esquecêssemos o que combinamos
ontem e...
— NÃO!
A negativa sai alta, forte.
— Claro que não, Clarisse.
Ele diminui o tom. Mas continua enfático na negativa.
— Gustavo, por mais que esteja disposta a embarcar neste
envolvimento, mentalmente ainda não estou pronta. E talvez você não
esteja disposto a esperar que eu resolva meus conflitos internos, então...
Vejo que enquanto tento mostrar meu ponto de vista, ele fica inquieto
tentando argumentar, dando passos em minha direção e regredindo, até
que não se controla e interrompe o que quero dizer.
— Sei que as coisas hoje saíram do controle, mas sei que...
— Gustavo, não foi só você que não conseguiu manter as coisas da
forma que combinamos, eu também não. Talvez fosse melhor...
Ele não me deixa terminar. Avança sobre mim e me aperta em seus
braços.
— Clarisse, nem pense nisso. Sei que você está afetada com tudo
que aconteceu nesta sala, pois também estou e entendo que é difícil para
você compreender tudo isso.
Ele estreita ainda mais os braços ao meu redor e beija a minha testa.
— Se para mim que tenho que lidar somente com os conflitos do
corpo, as coisas estão confusas, imagina para você que também tem que
administrar todas as mudanças que ocorreram na sua vida. Mas reforço o
que disse ontem: quero ficar com você. E garanto que essa vontade
apenas aumentou e estou disposto a tudo para ter uma chance. Inclusive
trabalhar em mim a paciência e a abstinência.
Ele diz rindo, talvez querendo dar leveza à nossa conversa.
— E se eu nunca me sentir pronta? Se me permitir, como hoje, ter um
maior nível de intimidade e depois regredir, ficar assustada, fazendo-me
questionamentos e cobranças infinitas?
Ele para um pouco, pensa e fala:
— Talvez eu vire um monge. Talvez comece a tornar-me
autossuficiente no sentido de resolver os meus desejos sexuais.
Gustavo olha-me muito sério e continua baixinho:
— Ou talvez pouco a pouco ganhe sua confiança. Talvez possamos
construir algo bom, nos conhecermos verdadeiramente e, no tempo certo,
viver tudo isso que está acontecendo conosco.
Suspiro fundo desejando que esse seu último pensamento se
concretize. Desejando mais do que nunca ser capaz de enfrentar todos os
meus questionamentos e seguir plenamente nesta nova vida que trilharei.
Deito então a cabeça em seu ombro e digo:
— Espero que assim aconteça. Desejo muito que isso
verdadeiramente aconteça.
Ele alisa minhas costas com carinho, sem aquele contato provocante
de ainda há pouco, longe da loucura que antes protagonizamos. Deixa
claro que podemos sim ter calma, curtir estes momentos juntos e, quem
sabe no futuro, sermos capazes de darmos o próximo passo.
— Agora queria saber o que me privou de sua presença durante tanto
tempo! Queria saber o que você tanto conversava com Vicente!
Afasto-me, rindo do aparente drama de Gustavo.
— Jamais imaginei que você tivesse esta veia dramática!
Faço graça.
— Não tente me enrolar, Clarisse!
— Ah Gustavo, estávamos apenas conversando. Sobre o passado e
sobre as possibilidades de futuro.
— Muito sucinta. Que tal sentarmos um pouco ali e você contar com
mais palavras o que aconteceu naquele quarto?
Diz isso e aponta para o sofá. Assinto com a cabeça.
Ele me conduz, sempre com um toque gostoso em minhas costas.
Talvez, assim como eu, ele não consiga ficar distante.
Sentamos juntinhos e conto tudo. Conto até mesmo sobre a minha
decisão de estudar.
Ele parece realmente feliz. Parece satisfeito com tudo que escuta. Até
a hora que falo que meu pai ventilou a possibilidade de nos mudarmos.
— Claro que não! Aqui tem espaço demais e vocês são muito bem-
vindos!
Sei que ele não quer que papai se mude daqui. Que precisa dele ao
seu lado. Como empresário e como amigo.
— Gustavo, não precisa ficar preocupado. Apesar do pouco tempo de
convivência, sei que o lugar de papai é aqui, e se em algum momento
alguém precisar se mudar, este alguém serei eu.
Ele franze o cenho e fala com um tom um pouco mais elevado.
— Não vejo motivo nenhum para isso. Principalmente agora que
estamos nos conhecendo melhor. Seu lugar é aqui e o de Vicente também.
Tento não me iludir pensando coisas que talvez não existam, mas
minha inocência e minha vontade fazem-me sonhar que temos sim alguma
chance de dar certo.
Tento então acalmá-lo. Dizer que ficarei aqui.
— Gustavo...
Não tenho oportunidade, pois ele me cala com um selinho.
— Deixe estar, Clarisse. Está tudo muito certo. Quero você aqui e
desejo, de verdade, que esta também seja sua vontade.
Mesmo que seja um cara fortão, tatuado e cabeludo, neste momento
não tenho palavra melhor para defini-lo do que fofo. Gustavo está me
saindo um grandessíssimo fofo.
E isso me emociona, pois aqui é onde quero ficar.
Quero tentar. Quero viver tudo isso que está começando em meu
peito. Quero conhecer Gustavo melhor e quero também me conhecer
melhor.
E é por isso que aceno afirmativamente. Digo com um gesto de
cabeça que aqui é o único lugar em que quero estar.
— Você não se arrependerá, Clarisse.
E me beija. Delicadamente.
Bem diferente do fogo de instantes atrás, mas não menos intenso.
Não menos avassalador.
Capítulo 19

Já faz uns dias da minha conversa com a loirinha e nem por isso
consegui ficar satisfeito com tudo que aconteceu. A forma como me afetou
a possibilidade dela se mudar, como insisti para que ela permanecesse na
minha casa e a maneira como facilmente propus para levarmos o que está
acontecendo entre nós em banho-maria.
Sim, um cara como eu que gosto de foder, ficando de beijinhos na
porta do quarto e tendo que contar apenas comigo mesmo para garantir
algum alívio.
E é claro que isso me incomoda. Saber que estou agindo tão
diversamente de como comumente ajo. Saber que estou vivendo algo
inédito, sem sequer imaginar quando conseguirei o meu intento.
Mas conforta-me saber que essa situação não é para sempre, que
logo minha vida seguirá como sempre seguiu. Somente preciso me enfiar
em suas pernas, comer a sua boceta virgem.
E lá se vão 10 dias da nossa conversa e seguimos uma rotina.
Clarisse entrou em uma autoescola e começou o curso de paisagismo, o
que faz com que permaneça grande parte do dia fora de casa.
Enquanto continuo treinando pesado, esforçando-me para ser o
melhor e seguindo todas as orientações da equipe multiprofissional que me
acompanha.
Nesse ínterim tivemos dois jogos e conseguimos duas vitórias,
alcançando assim a ponta do campeonato. A torcida está eufórica e a
equipe está mais do que motivada para buscar o título.
Consequentemente o valor do meu passe e de grande parte do
elenco apenas se valorizou. Especulações de transferências e até mesmo
alguns de nós sendo cogitados pela imprensa para defender a Seleção do
nosso país.
Isso me faz pensar que talvez esse meu pé forçado no freio, tenha
vindo na hora certa. Nada de farras, risco de escândalos e a imprensa
nacional pintando-me como um menino de ouro. E isso deixa Vicente por
demais satisfeito, mesmo que faça meus colegas de time questionar minha
ausência em toda gama de putaria em que eles tem se envolvido nesses
últimos dias.
Neste momento o carro cruza a entrada do condomínio e segue para
a minha casa.
O corpo já desperta sabendo que daqui a pouco garantirei alguns
momentos com ela. Beijos gostosos, alguns carinhos ousados e a
expectativa de que hoje consiga avançar um pouco mais.
Como cheguei mais tarde devido a uma coletiva de imprensa, imagino
encontrá-la já na sala, aguardando para que possamos jantar juntos.
Vicente, ela e eu.
Tem sido uma rotina fazermos essa refeição juntos. Momento em que,
invariavelmente, ela conta sobre o curso e Vicente e eu falamos sobre o
time e o mercado do futebol. Instantes agradáveis e que antecedem o boa
noite do meu empresário, que coincide com os momentos em que tenho a
loirinha só para mim.
Entro e vejo Vicente no sofá. Disperso, olhando a tela do celular.
— Boa noite, Vicente!
Ele rapidamente desvia o olhar do aparelho e responde.
Olho para os lados e não vejo Clarisse, o que rapidamente faz-me
querer indagar sobre ela. Mas antes que consiga pronunciar as palavras, o
pai dela diz:
— Achei que hoje fosse jantar sozinho! Você não chegava nunca e
Clarisse avisou que não jantará em casa.
Essa informação me desagrada. Logo quero saber o motivo. Preciso
saber onde ela está.
— Não jantará em casa?
Sei que pareço um idiota repetindo a frase que escutei, mas essa
notícia me pegou de surpresa.
— Ela mandou mensagem avisando que tem um trabalho para ser
feito e que, como sua dupla só poderia fazer neste momento, ela não
estará aqui para o jantar.
Não gosto de não tê-la por perto. Gosto da nossa interação à mesa,
acostumei-me a estes instantes juntos mais rápido do que gostaria.
Como já tomei uma ducha no CT, não há motivos para protelar e
então seguimos para a sala de jantar.
Enquanto Vicente monta o prato, seu celular notifica a chegada de
uma mensagem.
Ele hesita, pois não gosta de manusear o aparelho durante as
refeições.
— É Clarisse!
A loirinha ganhou um celular do pai, mesmo que insistisse em não
aceitar. Mas foi vencida pelo argumento de garantir a comunicação quando
estivesse longe.
— Estava preocupado com sua vinda para casa, tinha me oferecido
para pegá-la.
Vicente é um pai zeloso, mesmo não tendo convivido muito com sua
filha nos últimos anos.
— Mas, segundo ela, não preciso me preocupar. Garantiu que seu
amigo a trará para casa.
Paro o movimento de levar a comida até a boca. A palavra que
escutei deixa-me sem ação.
— Amigo?
A voz sai em um tom diferente do que comumente uso.
— Sim, sua dupla é um rapaz. Clarisse disse que ele mora aqui perto
e que não via problemas em ir até lá para fazer a atividade. Na hora fiquei
preocupado pois sei o quanto ela é inocente, mas me assegurou que o
rapaz é do bem.
Ela está com um rapaz? Está na casa do cara?
Uma ira, uma raiva cega me toma. Um sentimento que me corrói
como ácido.
Uma vontade de trazê-la para cá, afastá-la de qualquer idiota que
possa tentar colocar suas mãos nela.
E tudo isso é muito novo para mim, e não me agrada nem um pouco
este reboliço.
Mesmo com vontade de argumentar e brigar, fico calado. Não posso
deixar Vicente perceber o que se passa comigo. Ele não entenderia e
talvez pensasse besteira. Na verdade nem eu mesmo estou entendendo.
E de repente a fome desaparece e uma ansiedade me invade. Uma
vontade que ela chegue, uma necessidade de tê-la sob este teto. Mas,
mesmo neste estado de ânimo, sei que preciso disfarçar, fingir que não
está ocorrendo um tsunami dentro de mim.
Então tento colocar a comida para dentro e responder, mesmo que
monossilabicamente, Vicente.
Finalmente o jantar termina e meu empresário avisa que vai para o
quarto e que de lá continuará contactando com a filha, até que ela esteja
novamente na segurança desta casa.
Não opino sobre isso, pois acho que preciso de um momento para
refletir sobre algumas coisas, apesar de saber que não hesitarei em
procurá-lo, caso Clarisse demore mais do que o meu controle me permita
suportar.
Capítulo 20

Rio. Descontroladamente.
Bruno é muito engraçado e sua amizade foi um grande achado no
curso de paisagismo.
No começo foi tudo muito novo. Conhecer alguém que em cada
conversa parecia tão íntimo e direto, era uma grande novidade. Mas depois
seu jeito espalhafatoso me ganhou, sua amizade acabou sendo uma grata
surpresa neste meu novo início.
— Você ri demais! É alegre demais! Só pode ser o efeito daquele
gostoso em sua vida!
Se queria com isso que eu conseguisse me controlar, ele foi pelo
caminho errado.
— Se bem que não consigo conceber isso! Quem já se viu, Gustavo
Leão, conhecidíssimo por viver pegando Marias-chuteiras, agora tá de rolo
com uma ex-noviça!
Mesmo com pouco tempo de convivência, já me acostumei com
Bruno e sei que não há maldade em sua forma de falar. Ele só diz o que
pensa e eu gosto muito disso.
— Se bem que nem sei se posso chamar o que estão vivendo de rolo,
pois Guto Leão está longe das lentes e das fofocas envolvendo mulheres,
e acho que isso tem a ver com a loira gostosa que está ao meu lado.
Apesar de saber que ele não tem filtro algum, muita coisa que fala
deixa-me da cor de um pimentão. Nunca fui acostumada a ouvir nada
sequer parecido e as coisas que ele diz são um grande desafio para mim.
— Sem falar que você não afirma estar namorando, mas
desconsidera qualquer cantada, elogio ou encarada que recebe, dos
colegas ou até mesmo dos professores. Apenas eu sou imune a sua
beleza, e os motivos são mais que óbvios.
Mesmo ainda desconcertada, digo:
— Você não tem jeito! Ainda bem que já estou me acostumando com
a sua personalidade extrovertida.
— Como você ousa me definir de forma tão chinfrim? Minha
personalidade é gliteriante, purpurinante e toda e qualquer designação que
lembre brilho e esplendor.
É não tem jeito: o riso e a alegria prevalecem.
Neste instante ele estaciona o carro em frente à casa de Gustavo e já
começo a sentir falta de Bruno. Ele me faz muito bem. Em compensação o
coração já bate desordenado ante a expectativa de ver o jogador.
Nem sei se o verei, mas a alma já fica eufórica com a possibilidade.
— Obrigada pela carona, Bruno!
Digo com a mão na maçaneta.
— Apressadinha, não é? Acho que a ex-noviça está ansiosa para dar
uns pegas no gostoso.
E lá se vai a vergonha voltando! Será se algum dia vou me acostumar
com o que o Bruno diz?
— Calma, Noviçabest, estou apenas brincando! — E me envolve com
seus braços.
Claro que no começo tanta expansividade me deixava constrangida,
mas agora que já contamos para o outro muito sobre as nossas vidas,
criando um importante nível de intimidade, estas manifestações de carinho
são consideradas como algo dentro da normalidade, até mesmo
esperadas. Apesar de lembrar como reagi na primeira aproximação mais
efusiva de Bruno. Devido o inesperado do gesto, pulei longe, assustada e
escutei dele: calma Mona, da fruta que você gosta eu como até o caroço.
Praticamente nunca tive contato físico com ninguém e, até mesmo
com os meus familiares, as demonstrações de afeto se resumiam a
abraços nas visitas esporádicas de papai e a afagos da tia Fernanda em
datas especiais como aniversários e Natal. E eu entendia esta distância
imposta, pois ela não queria que houvesse falatórios com relação a
proteção ou até mesmo regalias. Mas eu sabia e sentia o que significava
para ela. Jamais deixei que isso me fizesse pensar diferente.
E talvez a irreverência de Bruno tenha me ganhado, sua sinceridade.
Ou certamente sua amizade.
E agora não me privo de demonstrar meu carinho por ele, de
demonstrar que pouco a pouco estou me acostumando com as mudanças
que estão ocorrendo na minha vida.
Espontaneamente dou um beijo estalado em seu rosto, mostrando
como me sinto à vontade com ele. Bruno tornou-se um amigo querido e
estou muito feliz com a amizade que estamos construindo.
— Desculpe atrapalhar esta casquinha que você está tentando tirar,
mas acho que o jogador não está nem um pouco satisfeito com este
showzinho que estamos dando.
No mesmo instante fico ereta e me afasto, não por imaginar que
esteja fazendo algo errado, mas pelo susto de saber que Gustavo está nos
observando.
Olho então para a entrada da casa e vejo-o em uma postura
intimidadora. No momento em que olho para ele, algo surpreendente
acontece: ele vira-se de supetão e entra em casa.
E isso faz com que Bruno caia em um riso descontrolado. Minha cara
de desentendida o faz buscar um controle mínimo, apenas o suficiente
para dizer:
— Não é que a noviça mexeu com o gostosão? Nem sequer
aguentou presenciar a cena! Se ele souber que não corre risco nenhum e
que quem tem que ter ciúme é você!
Apesar de ele tentar me fazer rir, fico preocupada. Será que ele acha
que estava me agarrando com outro e ainda mais na entrada de sua casa?
Será que é isso que pensa de mim? Ou será que é assim que ele age?
Perguntas demais em busca de respostas que na verdade não tenho.
Neste momento a única coisa que posso fazer é entrar e conversar com
Gustavo.
— Deixa de ser bobo, Bruno! Ele deve estar chateado com algo
relacionado ao time, ou coisa assim.
— Sei...
— Acho que já está passando da hora de entrar!
Ele apenas acena com a cabeça e milagrosamente fica calado.
— Até amanhã, Bruno!
— Até amanhã, Noviçabest!
Caminho a passos rápidos para casa, querendo conversar com
Gustavo para tentar saber o motivo da sua aparente chateação.
Mas provavelmente não haverá conversa, pelo menos não hoje.
Sala vazia, cozinha vazia. Nem sinal dele.
Parece que ele já se recolheu, talvez um sinal claro de que não
queira a conversa.
Começo a pensar que talvez Bruno tenha razão, e infelizmente não
posso fazer nada.
Não quando a pessoa se afasta e deixa claro que não quer o diálogo.
Não quando uma parte sabe que não fez nada de errado e não tem por
que insistir em algo que, neste momento, a outra parte deixa evidente que
quer evitar.
E então é isso: subir, descansar e esperar as cenas do próximo
capítulo.
Capítulo 21

Raiva. Revolta. Ódio.


A cena que acabei de ver causa-me tudo isso.
Um carro escuro. Clarisse e um homem. Abraços e beijos.
Foi demais, não consegui permanecer muito tempo assistindo tudo
aquilo. Fez-me mal, causou-me uma intensa dor.
Talvez seja isso que ganhe por ter virado um punheteiro, por não ter
procurado outra para aliviar o meu tesão. Fico pousando de bom-moço
para comer uma boceta virgem, que na verdade nem tenho certeza se esta
ainda é a sua condição.
A minha mente tenta argumentar com o alvoroço dentro de mim, mas
faço ouvido de mercador. Só considero o que vi e a partir de agora as
coisas irão mudar. Agora é farra, mulheres e orgias. Agora Guto Leão vai
colocar em dias o atraso.
Penso isso enquanto me visto para sair. Enquanto decido que vou à
caça e nada me impedirá.
Minha mente novamente tenta impor-me algum controle, mas a ira
que corre em minhas veias impele-me a fazer o mesmo, a fazer pior.
E quando encontro-me pronto, saio do quarto decidido a mandar tudo
pra puta que pariu.
Caminho determinado pelo corredor. Passo em frente ao quarto dela
e mesmo contra a minha vontade, hesito. Não por vontade de conversar,
de resolver, mas para deixar claro o que acho dela. Para deixar bem
evidente como o seu comportamento me decepcionou e como quero
distância da sua falsa ingenuidade.
E é mais forte do que eu. Mais forte do que a razão, o bom senso e
até mesmo a educação. É inevitável.
Sem bater, sem me fazer anunciar. Apenas adentro no quarto com
toda a raiva que me consome.
Sem a gentileza e nem a cortesia que se espera de um bom anfitrião.
Neste momento só quero o confronto, só quero o sangue.
Mas a imagem que se apossa da minha retina faz eu querer algo
diferente. Querer beijos, abraços. Faz eu querer ainda mais consumar o
sexo entre nós.
Clarisse está com uma camisola curta, num tom claro de azul, cheia
de rendas. Absorta em distribuir hidratante pela perna, enquanto eleva o
membro na cama, deixando-me ensandecido pelo tanto de pele desnuda,
deixando-me com vontade de esquecer o que me faz mal e tomá-la
imediatamente em meus braços.
Tento afastar de mim estes desejos, tento focar no que realmente me
trouxe até aqui.
Com o movimento da porta, Clarisse percebe que não está mais
sozinha. Sua cara de espanto entrega que não esperava me ver. Talvez até
não seja espanto, seja culpa.
Vejo que ela tenta abrir a boca, mas antecipo-me. Darei o meu recado
e seguirei com meus planos. Nada do que diga ou faça me impedirá de
terminar a noite enfiado em uma boceta gostosa.
— Acho que depois da cena que presencie lá fora, qualquer coisa
que estávamos vivendo, deixou de ter sentido.
Vejo ela ajeitar a postura e dar-me total atenção.
— E é por isso que estou sendo homem suficiente para vir aqui e
dizer que haverá matérias e imagens minhas pela manhã e nenhuma delas
será propícia aos menores de dezoito anos.
Ela olha-me séria, parecendo talvez magoada, mas não retruca.
Percebo decepção, talvez desgosto, mas o silêncio é a única resposta
que recebo.
— Você não vai negar, se explicar? Não vai me dizer o que fazia
agarrada com outro cara bem aqui na frente?
Sei que não vim aqui em busca de explicações, mas agora que já
disse o que queria, incomoda-me o silêncio dela, como se não se
importasse com ameaça que fiz de ter outras mulheres. Quando as cenas
de ainda há pouco jamais me abandonam, quando tudo que queria era que
nada disso estivesse acontecendo.
— Não tenho o que dizer, você me condenou sem sequer perguntar.
Talvez julgando meu comportamento pelo seu.
Diz simplesmente, o tom magoado chama a minha atenção.
Sei que preciso sair daqui, extravasar tudo que estou sentindo. Por
outro lado sei que será o fim do que estávamos vivendo.
Não terá mais beijos, abraços e nem conversas. Não poderei mais
sonhar em tê-la em minha cama. E num momento de desorientação total,
penso que não serei capaz de conviver com isso.
Ela vira de costas, como se não mais importasse, como se fosse o
fim. E por mais incrível que possa parecer, isso dói. Machuca demais.
E não é por vê-la com as pernas de fora, ou por ver sua bunda
empinada totalmente delineada pelo tecido fino, mas sim por saber que
este seu gesto encerra algo que talvez eu ainda não esteja pronto para
abrir mão.
E ao invés de virar as costas e seguir meu caminho, eu faço o mais
improvável, algo que definitivamente não foi o que vim fazer neste quarto.
Eu me aproximo.
Quando estou bem próximo, e quando o desejo de tocá-la se torna
incontrolável, coloco minhas mãos para trás, mas não me afasto. Apenas
deixo todo o meu orgulho de lado e com uma voz suave, pergunto:
— Por favor, Clarisse, me diga quem era aquele cara!
Na hora sinto-me um idiota. Suplicando por uma informação que
talvez seja uma mentira. Talvez até querendo me enganar. Certamente
querendo continuar de onde estávamos.
E mesmo com o meu pedido, ela não parece disposta a contribuir,
parece até que vai deixar o silêncio se perpetuar entre nós.
A única coisa que me faz imaginar que ela está tão abalada quanto
eu, é o leve tremor que percebo em seu corpo, e que ela felizmente não
consegue disfarçar.
E isso me impele a insistir, me força a tentar mais uma vez:
— Por que você estava lá fora com ele, quando eu cheguei do treino
louco para ficar com você?
Talvez eu esteja me rebaixando demais, mas como negar se essa é a
mais pura verdade?
— Por que você deixou aquele cara tocar em você, se depois que
começamos tudo isso não deixei ninguém mais se aproximar?
É a verdade, por mais que me exponha. Talvez não é o que o grande
Guto Leão está acostumado a dizer e a fazer, mas é o que este Gustavo
aqui se propõe para tentar entender o que está acontecendo.
E parece que finalmente consegui arrancar dela alguma reação.
Parece que finalmente conseguirei de Clarisse algumas respostas.
Sei disso pelo movimento que seu corpo toma. Percebo isso quando
começa a girar para ficar de frente para mim.
E vejo seus olhos molhados. O choro aparente. A dor e a decepção
estampadas em seu semblante.
E mesmo sem sequer suspeitar sobre o que sairá de sua boca, já me
amaldiçoou por fazê-la chorar. Por ser o responsável por suas lágrimas.
Capítulo 22

Pensei muito em deixar pra lá. Pensei muito em sequer me


pronunciar sobre todas as desconfianças e suspeitas que ele jogou sobre
mim.
Pois Gustavo sabe a vida que levei até aqui. Sabe que mentira,
falsidade e enganação não é o que se espera de uma ex-noviça. E mesmo
se a sua fé nas religiosas fosse inexistente, apenas a convivência, o
carinho e as lembranças de todos os nossos bons momentos eram para
ser suficientes, pelo menos, para ele perguntar, indagar.
Mas não. Ele se arrumou. Queria sair. Namorar por aí.
E eu não posso lutar contra isso, insistir sobre algo que a outra
pessoa talvez não tenha interesse algum. Quando qualquer
desentendimento surte o efeito da ameaça, da possibilidade da curtição
desenfreada e de colocar outras pessoas no que estávamos tentando
construir.
Mas eis que ele pede, implora. Parecendo que toda a sua decisão em
se afastar era apenas uma fachada. Parecendo que o que ele queria
realmente era ficar de bem comigo.
O tom de voz, as palavras. Quem sabe a necessidade. E isto fez o
choro que já me tomava, aumentar. Fez as lágrimas saírem
descontroladas. Fez-me incapaz de evitar ou disfarçar.
Fez-me refletir e decidir responder suas perguntas, mesmo que não
acredite que ainda possamos levar isso adiante. Mesmo que no final não
valha mais a pena.
Pois desconfiança e suspeitas jamais serão algo capaz de manter um
relacionamento, principalmente um incipiente como o nosso, que sequer
denominação tinha.
Mas agora que já me decidi, resta-me encará-lo. Resta-me ficar frente
a frente com ele.
— Você terá todas as suas respostas, mas depois quero ficar
sozinha. Depois seguirá com seus planos para a noite.
Ele parece titubear, mas no fim concorda.
— Logo no primeiro dia do curso, Bruno tentou se aproximar. Fiquei
bem receosa pois nunca fui próxima de ninguém, nem mesmo de meu pai.
Mas com o passar dos dias, sua insistência e a necessidade de
entrosamento, até mesmo por conta do curso, fizeram-me permitir essa
aproximação.
— Inclusive essa permissão garantiu bem mais do que amizade, pelo
que pude ver! Garantiu abraços, beijos e sei lá mais o quê!
Uma revolta me toma, mas principalmente uma mágoa. Pelos
comentários, pelas desconfianças. E o sentimento é tão intenso que
consegue momentaneamente interromper as minhas lágrimas.
— Não me julgue por seus hábitos. Pensei, apesar do pouco tempo
de convivência, que você me conhecesse melhor. Julgasse-me melhor!
Ele parece mexido, mas logo diz:
— Clarisse, talvez você seja inocente demais para perceber que
nenhum homem com sangue nas veias é capaz de ficar perto de você sem
imaginá-la nua.
Meu peito aperta, por imaginar que talvez estas sejam suas
verdadeiras intenções. O que no calor do momento ele não foi capaz de
disfarçar.
— Talvez eu realmente seja muito inocente, pois somente com o seu
desabafo é que percebi o que realmente você queria comigo.
Ele engole em seco. Desconcertado. Quem sabe descoberto.
— Clarisse, não é bem...
— Gustavo, acho que esta conversa não nos levará a lugar nenhum.
Acabei de descobrir o que você queria comigo e o que pensa sobre mim. E
nada disso me agradou, ou me faz ter vontade de manter essa conversa,
ou muito menos continuar um relato, onde um julgamento já existe e
também uma condenação.
Respiro fundo e digo em seguida:
— E se você não se importar, queria ficar sozinha. Acredito que não
temos mais nada a conversar.
Ele parece insano, talvez por não continuar, talvez por tê-lo
dispensado.
— E é isso? Depois de tudo que vi, você ainda quer sair de vítima?
Não se dá ao trabalho sequer de inventar uma desculpa, mesmo que
mentirosa?
Jamais me senti tão ofendida, tão humilhada.
— Quero que saia deste quarto!
E as lágrimas já tentam retornar, mesmo que as engula bravamente.
— Clarisse, você não pode...
— Talvez não possa lhe pedir isso, pois a casa é sua, mas acho que
até você é capaz de garantir a privacidade de um hospede. Indesejável ou
não!
— Claro que você tem todo o direito de pedir isso, e eu jamais iria
forçar a minha presença. O que eu queria era conversar...
A voz já é mais branda, mas sequer permito que diga tudo que pensa.
— Você não queria conversar, Gustavo. Já não queria quando entrou
neste quarto. Já veio disposto e arrumado para sair, além de já ter uma
opinião formada sobre o que viu. Talvez eu não o culpe, pois por aqui isso
deve ser normal. Ficar com um, com outro. E nem julgo. Mas, conhecendo-
me e sabendo de onde vim, esperei que você me permitisse pelo menos
explicar a cena que viu, e não lançasse sobre mim um monte de
desconfiança.
E o choro já não consegue mais ser controlado. A voz já está
enrouquecida, trêmula.
— Clarisse, podemos...
— Gustavo, não podemos mais nada! Não quero conversar, não
quero me explicar e muito menos que você pense que ainda possa existir o
que quer que seja entre nós. Quero e preciso que se mantenha distante e
esqueça tudo o que vivemos estes dias.
Ele parece abalado.
Mas isso não me faz mudar de ideia.
Sigo até a porta e a escancaro.
— Boa noite!
Nem olho na cara dele. Somente espero que saia.
Ele para no batente da porta e ainda tenta.
— Clarisse...
— Apesar de achar que você nem merece saber, sinto-me no direito
de garantir que você pare de pensar mal de mim e de Bruno. Então,
mesmo que sequer tenha me fornecido o benefício da dúvida, e mesmo
que não me tenha permitido esclarecer o que viu, direi algo que talvez
faça-o enxergar a situação que presenciou com outros olhos, faça-o
acreditar que está muito errado em me julgar.
Sei que o que falarei me isentará da culpa que me imputa, mas nem
sei se isso ainda me importa. Somente quero que ele saiba a verdade e
quero também que reavalie seus atos e, quem sabe entenda, que não deve
ofender e julgar as pessoas como fez comigo.
— Bruno é homossexual e espero que isso faça você entender que o
que a sua mente suja julgou, é algo totalmente improvável de ter
acontecido.
Aproveito seu assombro para fechar a porta.
Colocá-lo do lado de fora do quarto. Da minha vida.
Apresso-me em passar a chave, impedindo assim qualquer tentativa
por parte dele.
E sigo para o banheiro.
Para chorar ou lamentar.
Mas principalmente para tentar não ouvir os seus pedidos.
Que imploram para entrar, para conversar.
Que imploram para que eu seja capaz de perdoar.
Capítulo 23

Puta que pariu! O que foi que eu fiz?


Questiono-me enquanto esmurro a porta.
Imploro para entrar, conversar. Imploro por perdão.
E nada disso acontece. Silêncio é a única resposta que tenho.
Não me conformo! Porra, o cara é homossexual! E eu sequer permiti
que ela me dissesse!
Mesmo tendo falado que sairia e que aprontaria, ela foi capaz de
passar por cima dos meus comentários infelizes e garantir-me uma
conversa. E o que foi que eu fiz? Acusei, julguei. Mesmo sabendo de sua
vida pregressa, mesmo que ela jamais tenha me dado motivo nenhum para
pensar o pior a seu respeito, muito pelo contrário.
Não ouvi, sequer permiti que Clarisse falasse. Fui um completo idiota
e por isso mereço estar aqui do lado de fora, clamando por algo que não
acontecerá.
E essa certeza me faz cessar os pedidos, as batidas na porta. Faz
meu coração apertar por saber que as coisas entre nós acabaram.
E toda a minha vontade de sair, pegar mulher, desapareceu como
que por encanto. Talvez fosse somente meu ego querendo mascarar este
aperto que agora me domina. Meu ego querendo me enganar que a cena
que vi não me machucou, querendo me fazer acreditar que ficar sem
Clarisse me era indiferente.
E agora que esta realidade se abateu sobre mim, sei que estava
enganado, sei que isso é algo que não quero de maneira nenhuma.
Mas parece que pelas palavras que ouvi, isso é um fato. Parece que
somente a distância ocorrerá entre nós.
E se for sincero comigo, não estou sabendo lidar com essa situação.
Não estou pronto para abdicar dos meus momentos com Clarisse.

Acordo com a cabeça pesada, dolorida. Certamente resultado do


álcool que bebi para esquecer de como minha noite terminou de forma
diversa da que idealizei no percurso para casa, depois do treino de ontem.
Foi a única forma de tirar tudo que aconteceu da minha cabeça, foi a
única coisa que me impediu de retornar ao quarto de Clarisse e bater na
porta até que esta fosse aberta.
Enquanto bebia no meu quarto, pensei melhor e decidi conversar pela
manhã. Decidi que talvez esse tempinho fosse proveitoso, acalmasse os
ânimos.
Olhando no relógio sei que tenho pouco tempo, pois o álcool que
ingeri me fez perder a hora.
De um salto corro para o banheiro. Garantir minha higiene o mais
rapidamente possível, para que haja tempo de conversar com a loirinha
antes de ir para o CT
Faço tudo no automático, somente quero me desculpar e tentar tirar
da cabeça de Clarisse esta ideia de fim.
E enquanto o jato de água lava a bebida de mim, questiono o porquê
desta necessidade de voltar às boas com ela, porque eu apenas não sigo
em frente.
Minha mente me diz que é porque ainda não estou pronto para ficar
sem seus beijos, carinhos e principalmente porque ainda não a tive em
minha cama. Quero muito estar dentro dela, e farei qualquer coisa para
comer sua boceta virgem.
E esse pensamento me acalma. Saber que é coisa de corpo encerra
de vez com os questionamentos. Faz-me focar em descer o mais
rapidamente e buscar resolver a nossa situação.
E assim faço. Arrumo-me na velocidade da luz.
Desço os degraus de dois em dois. Já com o uniforme de treino.
Sei que tenho pouco tempo para conversar com Clarisse, pois
infelizmente dormi um pouco mais do que o habitual. Tenho horário a
cumprir e levo muito a sério a minha profissão.
Mas, mesmo sabendo disso, decido que posso abrir uma exceção,
dependendo de como as coisas se encaminharão, pois uma coisa é certa:
somente sairei daqui quando resolver toda a confusão que fiz.
E de repente começo a imaginar que ela vai relevar. Minha confiança
aumenta por sentir-me decidido e capaz de reverter tudo isso.
Mas esta confiança desaparece com apenas um olhar. Ver a cadeira
que sempre ocupa vazia, faz-me inseguro e temeroso.
— Bom dia, Gustavo. Achei que fosse perder a hora!
Vicente diz sério.
— Onde a Clarisse está?
É mais forte do que eu. Não sou capaz sequer de usar de educação e
muito menos relatar o motivo do meu atraso.
— Saiu cedo. Falou algo sobre ir na autoescola.
A confirmação da sua ausência me abala. A certeza de que terei que
esperar até à noite me faz mal.
Mas preciso disfarçar, não posso deixar Vicente descobrir que as
coisas entre Clarisse e eu não estão bem.
— Que pena! Já estou acostumado a tomarmos café juntos!
E não deixa de ser verdade. Gosto destes momentos. Embora hoje
tenha um motivo maior para querê-la nesta mesa.
Ele sorri levemente. Certamente acha muito importante que esta
convivência seja satisfatória. Muito embora eu não saiba precisar como ele
realmente se sente com relação à loirinha e eu.
— Fico feliz em ouvir isso. Tinha medo que o primeiro encontro
desastroso entre vocês fosse capaz de comprometer a boa convivência
nesta casa.
Fico calado, não quero que ele saiba que a boa convivência nesta
casa é algo mais do que incerto neste momento.
E para não mentir e muito menos alongar o assunto, forço-me a
permanecer calado.
Obrigo-me a sentar, fingir que está tudo bem e tentar engolir alguma
coisa.
Puxar assuntos aleatórios, tentando manter um mínimo de
concentração para sustentar uma conversa com meu empresário. Tarefa
difícil, se eu levar em conta a gama de pensamentos conflitantes que me
invadem.
E enquanto falamos do jogo de sábado, da necessidade de viajarmos
para Minas Gerais amanhã, tenho a convicção que de hoje à noite não
passa! Que hoje à noite Clarisse me ouvirá.
Mesmo que tenha que montar campana para que isso aconteça.
Mesmo que tenha que insistir e até mesmo implorar.
E esta decisão consegue amortecer um pouco da angústia
desconhecida que habita o meu peito. Consegue aliviar um pouco da
ansiedade que tenta me dominar.
E é isso! Por ora, esperar é a única coisa que posso fazer!
Além de torcer para que o dia passe rapidamente. Torcer para que a
noite traga uma perspectiva bem diferente da vivenciada agora.
Capítulo 24

— Quer dizer que o jogador está caidinho pela noviça?


Escuto Bruno e começo a pensar que falei grego, pois somente isso
justifica esta sua pergunta.
— Acho que não fui clara, pois você não entendeu nada do que falei!
— Entendi tanto que percebi que tudo que aconteceu nada mais foi
do que uma cena de ciúme.
De repente meu coração desembesta no peito, uma felicidade tenta
afastar a dor que se apossou de mim desde que afirmei que as coisas
entre nós tinham acabado.
Mas assim como a alegria me invadiu de súbito, ela também
rapidamente me abandonou. Quando lembro da sua determinação em sair,
procurar outras, deixando claro com esta atitude que eu não tenho
importância nenhuma em sua vida.
— Talvez por isso estava arrumado para sair? Talvez por isso
alardeou sobre mulheres, sobre agir como se eu não representasse nada
para ele?
Vejo que Bruno titubeia, pois uma coisa é ele justificar como ciúme a
forma como ele se sentiu ao presenciar a cena entre nós dois, mas outra
bem diferente é tentar arranjar desculpas para algo injustificável.
— Talvez...
— Bruno, por favor, vamos parar por aqui. Não posso criar
expectativas e muito menos me iludir. Tenho que estar com os dois pés no
chão, pois somente eu sei como me senti com o comportamento dele
ontem à noite.
Meu amigo murcha, talvez por não poder verbalizar todas as fantasias
mirabolantes que são frutos de sua imaginação fértil.
Felizmente dura somente um minuto o seu desânimo, pois logo ele
diz:
— Você está certa! Desculpe, Noviçabest, parece até que estou do
lado do jogador! Se tenho que garantir os interesses de alguém, esse
alguém certamente é você!
Ele graceja.
— Obrigada, Bruno. Nunca vivi algo nem minimamente parecido, por
isso preciso demais do seu apoio.
— E você o terá, Clarisse!
Fala sério, como poucas vezes vi.
Fico satisfeita por confirmar que posso contar com meu amigo. E isso
me faz desabafar o que realmente me aflige.
— Sabe Bruno, queria lhe confidenciar uma coisa: estou com medo!
Ele arregala os olhos, certamente não entendendo onde estou
querendo chegar.
— Ontem consegui rechaçá-lo, mas não sei se serei forte o suficiente
para repetir tal feito, caso ele volte a me procurar.
Ele me olha profundamente e pergunta:
— Você gosta dele, não é?
Fico envergonhada, pois temos pouquíssimo tempo juntos, mas
infelizmente esta é a verdade.
— Gosto. Por isso tenho medo de ceder estando tão perto dele.
— E por que você não se afasta uns dias? Vai para um hotel, uma
praia.
Ele para um pouco, pensa e logo diz com um sorriso animado:
— Por que não vamos para Petrópolis?
— Vamos?
— Claro, ou você acha que vou deixar você viajar sozinha para o
paraíso que é aquele lugar!
E rio. Ele consegue ser engraçado o tempo todo. Consegue tornar
tudo muito mais leve e cheio de possibilidades.
De repente lembro de algo e esmoreço.
— Bruno, o problema principal é hoje à noite! Depois disso a rotina de
viagem e jogo me ajudará. Mas hoje não tenho como evitar o encontro e
talvez não tenha como evitar cair em sua conversa.
Ele escuta calado, coloca a mão na face e fica inerte, certamente
tentando me ajudar.
— JÁ SEI!
Assusto-me com seu grito estridente e enquanto esfrego o peito na
região do coração, ele diz simplesmente, como se desdenhasse do susto
que tomei:
— Por que você não dorme na minha casa?
Eu o olho sem acreditar na sua proposta.
— Isso mesmo! Você fica lá em casa e tão logo terminemos a aula de
amanhã, embarcamos rumo a um final de semana especial de garotas!
Bruno não existe!
— Talvez seja a melhor opção. Vou conversar com meu pai e...
— Noviçabest, claro que sei que tem que ter pedidinho e tal, pois sua
criação foi muito diferente da minha e de qualquer pessoa que eu conheça.
Então acho que nada melhor do que marcar um almoço com seu pai e me
levar. Tenho certeza que depois que ele perceber minhas ferramentas
femininas e você contar como as coisas entre você e o jogador estão, é até
capaz do seu pai mesmo se oferecer para ir nos deixar em Petrópolis!
Rio. Bruno tem razão. Um almoço. Apresentar meu amigo a meu pai
e falar que preciso deste tempo.
Certamente ele me apoiará se souber meus motivos e também
quando conhecer a excelente companhia que me acompanhará.
Fico mais do que animada com a ideia e já envio mensagem.
Rapidamente obtenho resposta confirmando.
A mente e o corpo agitados com a ideia, com a possibilidade de voltar
aquele lugar maravilhoso, embora o coração esteja apertado por saber
como as coisas entre Gustavo e eu terminaram.
Lugar talvez onde as coisas começaram e que agora será onde irei
lamber as minhas feridas.

— Papai, juro que não estou entendendo o motivo de suas risadas!


Digo com uma nota de indignação.
Contei toda a história, inclusive relatei como o jogador estava
arrumado para sair e ficar com outras, e no final recebi risadas do meu pai.
Só posso mesmo é questionar indignada sobre este seu arroubo.
— Desculpe, filha, você deve estar mesmo muito chateada e eu, na
sua posição, mandava o idiota pastar. Mas é muito engraçado saber que
Gustavo fez uma cena de ciúme, logo ele que é todo desapegado. E é
ainda mais engraçado saber que estava com ciúme do Bruno, que
certamente pode representar um risco para você, mas jamais, em hipótese
alguma para Guto.
E os dois caem na risada, numa piada interna. Acho que perdi muito
da vida aqui fora, pois não consegui acompanhar e muito menos entender
esta risadaria.
Embora chateada com o comportamento deles, no fundo fico feliz em
ver a interação dos dois e perceber que Bruno certamente já conquistou o
meu pai, assim como fez comigo.
Talvez tenha sido o carinho que percebeu entre nós, ou o relato que
fizemos sobre nossa cumplicidade e nossa aproximação desde o primeiro
dia.
Não sei decidir o que fez meu pai interagir tão rapidamente com
Bruno, mas sei que o fato dele estar me ajudando nesta adaptação à
minha nova vida, certamente rendeu muitos pontos ao meu amigo.
— Acho que está bom de riso, pois precisamos agir se você não
quiser perder aula hoje.
Diz e olha para o relógio. Vejo que ele tem razão e já fico preocupada
pois não quero isso.
— Vou levá-los em casa e rapidamente você faz a bolsa e...
— Estou de carro, Vicente, e farei isso. Na verdade a Noviçabest
marcou este almoço somente para pedir a sua autorização.
Ele ri discretamente da forma como Bruno me chama, mas logo
responde.
— Ela tem a minha autorização, assim como vocês tem a minha
bênção para aproveitarem o final de semana.
Bruno e eu nos olhamos de forma cúmplice e sem mais delongas nos
levantamos.
Despedimo-nos de papai e seguimos para colocar nosso plano em
prática: manter uma distância segura do jogador.
Capítulo 25

O que eu menos precisava agora era de um sermão do técnico!


— Gustavo, você foi mais do que inconsequente em dar um carrinho
em seu colega! Já pensou se o machuca de verdade, e ainda mais na
iminência de um jogo tão importante?
E ele continua. Discorre sobre disciplina e de como devemos nos
considerar uma família, sendo inadmissível que eu ou qualquer outro faça
jogadas como a que fiz. E continua. E continua.
Fico sério, balançando de vez em quando a cabeça, mas de forma
nenhuma estou com a atenção total no discurso do professor Fernando
Júnior. Minha mente está me fazendo lembrar de tudo que aconteceu
ontem. E assim foi também no treino. Por isso fui tão imprudente, e por
isso estou recebendo a dura.
Pela primeira vez meu foco não estava no futebol. Pela primeira vez
me dispersei.
Minha consciência insiste para que tente entender tudo isso, mas
meu corpo inteiro anseia somente para ir para casa. E essa pressa, essa
urgência impede-me de ser racional.
Só quero que o técnico pare de falar, que me libere.
— Estamos entendidos, Leão?
Nada de Gustavo e muito menos de Guto. É, parece que ele está
bem chateado sim!
Aceno afirmativamente, eu não seria louco de contradizê-lo.
E sigo rapidamente para o vestiário. Vou tomar uma ducha rápida e
correr para casa. Minha intenção é chegar antes de Clarisse e sequer
permitir que suba, pelo menos não antes de ajeitar as coisas entre nós.

Já estou cansado de esperar. Estou neste sofá desde que cheguei e


nem sinal da loirinha.
Começo a imaginar que está novamente com o tal amigo e, na
verdade, até torço pra isso, pois segundo Clarisse ele não oferece risco,
pelo menos risco de tirá-la de mim.
— Por que você ainda está com esta roupa? Pensei que fosse subir e
trocá-la antes do jantar!
Assusto-me com o comentário de Vicente, pois minha cabeça estava
longe.
Ele diz isso porque ainda estou usando o uniforme. Mesmo tomando
banho após os treinos, sempre vestimos estes, pois trazem a informação
dos nossos patrocinadores, mas rotineiramente subo e troco de roupa.
Hoje foi uma exceção.
Resolvo responder sua pergunta com a verdade. Talvez até conte por
alto o que aconteceu.
— Estou esperando Clarisse. Ontem tivemos um pequeno
desentendimento...
— Ela não virá. Não dormirá em casa!
Ele só pode estar querendo testar os meus limites.
— Como?
— Ela pediu para dormir na casa de um amigo e...
— Ela dormirá na casa de um cara? Sua filha dormirá...
— Calma, Gustavo. Ela dormirá na casa de Bruno e não com ele. Da
forma como fala até parece que minha filha tenha ido para transar com o
cara, que diga-se de passagem não tem interesse nenhum no sexo
feminino.
Ah, ela dormirá na casa do tal amigo da noite anterior. Ainda assim
não me conformo. Com esta distância, por não poder conversar e resolver
as coisas.
E esta inconformidade só aumenta quando lembro que viajarei
amanhã após o treino, correndo o risco de viajar sem sequer conversar
com Clarisse.
— Amanhã somente irei para o clube quando ela voltar. Não irei
enquanto não resolver esta situação.
Falo decidido.
Ele parece assustado, talvez por esta negativa ser algo incomum para
alguém tão disciplinado como eu.
— Guto, você não conseguirá falar com Clarisse antes de segunda-
feira.
Isso é a porra de um pesadelo! Só pode ser!
— E por quê? Ela por acaso voltou para o convento?
Sei que estou sendo um idiota, mas é mais forte do que eu.
— Talvez fosse melhor! Se é para estar aqui e ter que conviver com
pessoas como você, é bem provável que fosse melhor a clausura em que
vivia.
Ele diz chateado e começa a se virar. Angustio-me, pois sei que disse
uma idiotice. Eu, mais do que ninguém, não quero que a loirinha volte para
o convento.
— Desculpe, Vicente, estou nervoso e falei besteira. Na ânsia de vê-
la, a notícia que me deu caiu como um balde de água fria.
Ele apenas acena com a cabeça, não parecendo ainda muito crédulo
com o meu pedido de desculpas.
— Por favor, me diga como encontrá-la! Preciso muito falar com ela.
A voz sai agitada, tudo em mim implorando por esta informação. Não
consigo atinar o motivo de tanta necessidade, só sei é que não quero
permanecer distante e muito menos brigado.
— Vicente, preciso resolver as coisas entre nós!
— Sabe, Guto, minha filha está chateada. Muito. Talvez seja melhor
ela ter este tempo, fazer esta viagem, quem sabe na segunda...
As coisas apenas pioram.
— Viagem? Clarisse vai viajar?
— Sim e só chegará aqui na segunda pela manhã.
— Então me diga para onde, quem sabe sábado quando chegar de
Minas eu possa...
— Gustavo, ela não quer que você saiba! Ela não quer falar com
você!
Percebo que o que diz não o faz feliz, pois sei o quanto gosta de mim,
mas estamos falando de sua filha e claro que ele ficará do lado dela.
De repente algo me vem à cabeça.
— Ela falou que brigamos, que...
— Que você fez uma cena quando a viu com o Bruno? Que estava
decidido a sair e pegar mulher? Sim disse e não a imagino perdoando-o
pelo que fez.
Uma dor intensa me atinge quando escuto suas palavras, um
desânimo nunca visto me invade.
— Guto, ciúme do Bruno? O cara é muito decidido com relação a
sexualidade e posso afirmar que ele não tem nenhum interesse em
Clarisse e em qualquer outra criatura que use saia!
Porra, que mancada! E além da ceninha, ainda fiz ameaças. Tô
fodido!
Entendo que a loirinha tem motivos de sobra para não querer me ver.
E infelizmente isso é o que me angustia.
Tenho medo que ela não queira mais meus beijos, tenho medo que
algum infeliz melhor do que eu se aproxime e...
— Vem, vamos jantar! Esta conversa não vai nos levar a lugar
nenhum. Prometi a ela que não falaria e infelizmente não posso quebrar
minha promessa.
E isso me desmonta. Saber que estou de mãos atadas, saber que
não a verei, pelo menos não até que ela decida o contrário.
E pode ser tarde demais para mim, para nós.
E o aperto em meu peito é um sinal claro do quanto estou envolvido,
do quanto preciso que as coisas entre nós se resolvam.
— Mas, Vicente...
Ele sequer me deixa terminar de falar. O modo pai zeloso está
totalmente ativado e eu não tenho chance alguma.
— Esta é a minha última palavra. Nada do que faça me fará quebrar a
promessa que fiz à Clarisse.
E se vai. Passos apressados. Talvez fugindo de minha insistência,
fugindo da tentação de trair a confiança de sua própria filha.
Levando a única oportunidade que tinha de aquietar meu coração.
Levando qualquer esperança que ainda pudesse ter.
Deixando no meu peito a sensação de arrependimento, de
incapacidade, mas deixando principalmente um sentimento que jamais
senti ao me afastar de qualquer mulher.
Saudade. Muita saudade.
Capítulo 26

Estou fazendo tudo no automático. Não consigo me concentrar em


nada. E é algo incomum, jamais tinha passado por isso.
Nem sequer prestei atenção às informações privilegiadas que o
professor trouxe sobre o time mineiro. Assisti aos lances, ouvi tudo que ele
tinha a dizer, mas a mente estava longe. Estava nela.
Lembrando que estava sozinha, nem sei onde. Tendo terminado as
coisas entre nós, disponível à aproximação de qualquer infeliz que tenha
um pau entre as pernas.
Não posso conceber isso, e muito menos me imaginar distante dela.
Não posso conceber não mais beijá-la, não mais abraçá-la. Quero Clarisse
e quero demais.
Passo a mão nos meus cabelos, tentando achar uma forma de
resolver tudo isso.
Olho no relógio e vejo que já está quase na hora do ônibus sair do
hotel, e pela primeira vez a expectativa pelo jogo que ocorrerá não é o que
permeia meus pensamentos. Penso que talvez esteja enfeitiçado, penso
que o sabor doce e inocente de Clarisse fez um estrago em mim maior do
que eu imaginava.
Talvez por eu ainda não ter fodido sua boceta virgem, talvez por eu
ainda não ter extravasado todo o desejo que me consome.
E certamente é isso que me deixa inquieto, certamente é isso que
deixa a segunda-feira muito distante, e talvez quando esta chegar, já não
tenha como resolver as coisas, já seja inclusive tarde demais para nós
dois.
E é isso que me tira o foco, que me faz não ter vontade alguma de
estar aqui. Desanimado, sabendo que não estou com cabeça para entrar
em campo e sequer tenho empolgação para tal.
Uma batida na porta tira-me momentaneamente das minhas
conjecturas. Agradeço inclusive, pois talvez assim consiga afastar Clarisse
dos meus pensamentos.
Sei que foi mera ilusão quando vejo Vicente. A presença dele apenas
faz a lembrança da loirinha ainda mais viva em minha mente.
— Já estava descendo!
Digo, pois imagino que veio questionar a minha demora.
— Guto, o que há?
Olho para ele, a face com uma expressão interrogativa.
— O técnico me ligou, preocupado. Disse que achou você disperso e
distante. Muito diferente do que costuma ser nestes momentos.
Claro que o professor perceberia. Antes dos jogos fico eufórico,
ansioso e sempre pronto para beber o máximo de informações sobre os
meus adversários. E o mutismo de hoje deve tê-lo surpreendido, a forma
desinteressada que me portei até agora deve tê-lo levado a questionar
junto ao meu empresário o motivo deste meu comportamento.
— Porra, Vicente, toda essa confusão com Clarisse tá mexendo
demais comigo. Não saber onde ela está, tá acabando comigo.
Não preciso mentir, não para ele. E a verdade saiu leve, eu precisava
colocar em palavras essa angústia.
— Mesmo parecendo loucura que você se deixasse afetar desta
forma, cheguei a pensar que esse fosse o motivo.
Ele me conhece, mais do que qualquer outra pessoa.
Fico em silêncio, não tenho o que falar.
— Quando ele ligou e eu desconfiei que o motivo fosse esse, pensei
bem no que fazer. Decidi então subir para ouvir de sua boca estas
palavras, para tomar a minha decisão.
Respira fundo e com a voz hesitante, diz:
— Mesmo correndo o risco de chatear a minha filha e morrendo de
medo de você fazê-la sofrer, vou dar-lhe um voto de confiança.
Fico calado. Sequer respiro. Tenho medo de fazê-lo mudar de ideia.
— Petrópolis. Clarisse está em Petrópolis.
Na mesma hora me amaldiçoo por ser tão burro, por não ter cogitado
sobre esta possibilidade.
— Espero que você saiba o que fazer com esta informação. E mais,
espero que você não faça eu me arrepender de tê-la fornecido a você.
— Você não se arrependerá, meu amigo!
Ele apenas me olha desconfiado e completo:
— Vamos! Tenho um jogo a ganhar, além de ter um pedido de
desculpas a fazer.
E como que por encanto a euforia, a adrenalina e a animação
retornam. Tudo parece finalmente quase normal.

O jogo segue truncado. Difícil.


O zero a zero parece até já se desenhar, mesmo que a torcida
mineira tente empurrar o seu time.
A nossa equipe está recuada, talvez por faltar menos de três minutos
para o fim do tempo regulamentar, e com este recuo a bola não chega até
onde estou.
As minhas oportunidades se resumiram a cabeçadas em bolas
paradas, e eu estou mais do que inconformado, pois mesmo que um ponto
fora de casa seja um resultado bom para as nossas pretensões no
campeonato, o ideal seria sair daqui com a vitória.
Num ímpeto decido que o jogo só acaba quando o juiz apita.
Movo-me em direção ao campo adversário. Pensando em uma sobra
ou uma roubada de bola.
Vejo-os trocar passes, vejo-os estudar uma forma de surpreender a
nossa equipe. Fico atento e sou recompensado.
Um volante do time mineiro faz um passe errado e dou o bote. Tomo
a bola e saio em disparada. O time deles estava avançado e não esperava
esta roubada de bola. Meus companheiros me acompanham, dando a
opção de passe. Os adversários saem à minha caça, tentando carrinhos,
buscando inclusive a falta.
Mas eles não imaginam como estou determinado, como estou com
fome de gol. E a cada metro que avanço, mais sinto que serei eu a finalizar
a jogada.
O goleiro adianta-se, tentando diminuir ou afetar minha visão do gol.
Cresce à minha frente e um companheiro se posiciona para receber o
passe. Penso em tocar, cogito passar a bola e garantir a vitória. Mas num
arroubo decido que eu farei o gol, que driblarei o goleiro e que entrarei com
bola e tudo.
E foi exatamente o que fiz. Exatamente como aconteceu.
Um gol muito bonito. Talvez um dos mais belos que já fiz.
E tudo vira uma confusão!
Meus companheiros correm para me abraçar. O banco inteiro espera
para me cumprimentar à beira do campo.
Muitos querem fazer dancinha, mas eu sei o que quero.
Procuro uma câmera. Um microfone.
Corro para lá, a adrenalina ainda presente em cada célula minha.
Assim que me aproximo, olho diretamente para a lente, e com o
microfone posicionado perto da minha boca, digo:
— Me perdoe! Me perdoe!
O repórter ainda tenta indagar, perguntar, mas neste momento todos
os meus companheiros chegam.
E os abraços, os cumprimentos acabam me ajudando a não ter que
responder. A montanha de homens que caem uns sobre os outros não
deixa espaço para nada que não seja a vibração, a comemoração.
E comemoro. Junto dos caras. Sabendo que amanhã estarei em
todos os noticiários.
Pelo gol e pelo que disse ao microfone.
E neste momento nada disso importa, a única coisa que quero é que
ela veja o pedido.
Que reconsidere a sua decisão.
E que esteja com o coração brando quando me receber em
Petrópolis.
Sim pois irei para lá, tão logo seja liberado.
Não viajarei com a delegação. Acho que conseguirei esta regalia
depois de tudo.
Fretarei um jatinho e chegarei até ela.
Ainda hoje estarei frente a frente com Clarisse.
E por um louco momento sinto que isso é capaz de satisfazer meu
coração mais do que o gol, do que a vitória.
E isso me preocupa, mas não é capaz de frear a minha decisão de ir
até ela.
Capítulo 27

Olho para frente sem na verdade captar as coisas ao meu redor.


Minha mente ainda está presa na imagem de Gustavo pedindo
perdão em rede nacional. Olhando para a câmera, ao microfone. Sem
vergonha nenhuma, sem receio algum.
Não havia assistido ao jogo. Mesmo não entendendo quase nada das
regras, tinha assistido o anterior. Dessa vez, seguindo firme em minha
decisão de me afastar, não liguei sequer a televisão.
Fiquei na piscina com Bruno e a tarde não poderia ter sido melhor.
Risadaria, conversas e confidências. A cada dia que passava um vínculo
ainda mais forte se formava entre nós.
E apesar de toda a diversão, o pensamento não estava tão distante
de Gustavo como gostaria e a vontade de saber o resultado do jogo era
algo quase imperativo.
E parece que a conexão com meu amigo era bem maior do que
imaginava, pois enquanto tentava me controlar para não buscar esta
informação na internet, eis que ele diz:
— Vamos ver como seu ex-jogador, muito gostoso, se saiu?
Tive vontade de negar, mas estaria fingindo para mim mesma. Então,
ainda que parecesse fraca, fiz um movimento afirmativo com a cabeça. E
foi o que precisava para Bruno correr para fora da piscina e pegar o celular.
Lentamente sentei na borda e esperei, pois sabia que viria me
mostrar tudo o que encontrasse.
— NÃO!
Seu grito quase me fez cair na água. O tom exagerado e assustado
com que falou, fez meu coração disparar no peito.
Minha mente ficou a mil. Pensei que ele podia ter se machucado,
podia...
— Noviçabest, sua sortuda!
Agora é que não entendi mais nada!
— Olho o que o gostoso do jogador fez! Olha que pedido de
desculpas!
E me mostrou. Infinitas vezes.
Tentei negar que era para mim, tentando quem sabe não me iludir,
tentando quem sabe podar a empolgação do meu amigo. Mas nada disso
surtiu efeito, não consegui conter nem mesmo a minha.
E me deixei levar. Sonhar, esperar. Por fazer as pazes, por
novamente ficar de bem com ele. Fazendo planos para voltar para casa no
domingo pela manhã, antecipando assim nosso retorno. Queria vê-lo,
precisava vê-lo. E Bruno queria o mesmo. Torcia pela nossa reconciliação.
E isso me traz ao momento presente, enquanto olho para a piscina
iluminada, sem na verdade nada assimilar. Meu amigo dorme dentro de
casa, mas a agitação em meu interior me impede sequer de tentar.
E por isso estou aqui. Contando as horas, os minutos e os segundos.
Ouço um barulho de carro se aproximando, o som inconfundível do
motor. Meu corpo fica em alerta. Penso ser meu pai, penso ser...
E antes que conclua meus pensamentos, vejo o carro estacionar.
Conheço o carro e sei que é Gustavo.
Parece tão surreal, parece tão inverossímil.
Parece até mesmo que tenho uma fada madrinha, que garante meu
desejo mais íntimo, que garante que Gustavo se materialize na minha
frente.
Dou passos incertos na direção em que o carro estacionou, ainda
duvidando que tudo isso seja real.
E ele sai do carro. Parece ansioso, parece nervoso, assim como eu.
E de repente seus olhos caem sobre mim, de repente seus olhos
estão nos meus.
Paro. Fico imóvel. Tudo é muito intenso para que eu consiga
controlar.
É a vez dele de dar passos, de se aproximar.
Ficamos frente a frente. Estamos a centímetros um do outro.
E antes que eu possa perguntar ou dizer o que quer que seja, ele
adianta-se:
— Clarisse, me perdoe. Fui um idiota. Agi com infantilidade e disse
coisas das quais me arrependo muito.
Parece sincero. Quero muito que isso seja verdade.
— Eu...
— Sei que lhe magoei, sei que questionei sua índole, e sua
integridade. Imputei em você um comportamento que não condiz com a
pessoa que é, e sequer deixei que você esclarecesse as coisas. Fui
imaturo, e inconsequente com o que estávamos vivendo.
Ele respira fundo e sequer me deixa falar, pois logo emenda:
— Por favor, me perdoe. Não quero que as coisas entre nós
terminem. Não quero mais ficar longe.
Ele dá mais um passo e nossas respirações se misturam.
— Estou com saudades, Clarisse! Estou com muitas saudades!
E avança sobre mim. Aperta-me em seus braços e toma minha boca.
Talvez o meu silêncio fosse a permissão que precisava. Talvez a
saudade tenha feito Gustavo tomar-me desta forma.
E certamente foi a saudade que me fez retribuir, foi a saudade que
me fez buscar o gosto dele como uma sedenta.
E a cada instante que passa o beijo se intensifica mais, as línguas se
enroscam mais e os corpos se buscam ansiosos.
E é bom como eu me lembrava, é tudo o que quero.
Perdoar, esquecer. Começar de onde paramos.
Pois raiva e muito menos rancor são capazes de encher o coração
desta forma, de completar a alma deste jeito.
Chupamos, gememos, mordemos.
E não é o bastante. Nunca foi e agora a urgência nos obriga a mais.
Obriga-o a ousar.
Sinto suas mãos avançarem, por minhas costas, pela lateral dos
meus seios. E mesmo que minha mente me deixe em alerta, a vontade que
sinto agora me estimula a permitir, a querer que ele ouse.
E ele não decepciona.
Suas mãos encontram os meus seios. Testam o tamanho, apertam,
acariciam.
E arranca de mim suspiros, torna o beijo desesperado.
E quando ele toca meus mamilos, sinto que me desmancharei em
seus braços, sinto que quero mais de tudo isso.
Nesta hora esqueço tudo que me impedia de ir além, esqueço que
isso não é algo apropriado, não pela ótica que fui criada e muito menos
pelos votos que um dia fiz.
Foco somente nele e nas sensações que me causa. Esqueço
julgamento, apenas deixo o momento acontecer.
E quando ele comprime a pelve contra a minha, sei que ele também
está afetado. Pois até uma virgem sabe o que é todo este volume, sabe o
que ele significa.
Talvez uma noviça não soubesse, mas talvez uma ex-noviça, com um
amigo bem indecente, não teria como não saber.
Então na teoria já não sou tão pura e parece que na prática também
já não mais serei.
— Quero você! Quero você demais, Clarisse!
Ele diz rouco e talvez eu não tenha forças para dizer não. Duvido que
tenha forças para tal.
Capítulo 28

Sei que estou abusando da sorte, pois se não bastasse atacar a boca
após o pedido de perdão, agora tento ultrapassar barreiras que ainda não
tinha sequer avançado. Mas, puta que pariu, a loirinha é gostosa demais.
Seu gosto, seus gemidos me embriagam. Deixam-me sem rumo, e louco
para me enterrar nela.
E então minhas mãos criam vida própria, meu corpo toma as rédeas
da situação.
E a minha boca verbaliza tudo isso, em uma voz rouca e luxuriosa.
— Quero você! Quero você demais, Clarisse!
Posso estar colocando o carro na frente dos bois, mas preciso tentar.
Tenho dias demais sem sexo. Tenho dias demais neste desejo
desesperado por esta mulher.
E antes que eu descubra qual será a minha sorte, eis que uma voz
saída das profundezas do inferno chega até nós.
— Noviçabest, você vai acabar pegando um resfriado por ficar...
E antes que termine o que estava a dizer, o dono da voz percebe que
Clarisse não está sozinha.
— Minha nossa senhora dos jogadores tatuados, tem misericórdia,
não me deixa ver uma beleza desta e passar vontade!
E nesta hora sei que é o dito amigo, e me sinto um idiota por saber
que quase estrago tudo por um ciúme infundado.
Escuto um riso e sei que vem de Clarisse. Ela se diverte com o que
escuta e somente por trazer um sorriso aos lábios da loirinha, ele já tem o
meu respeito.
— Bruno, deixa eu te apresentar o Gustavo.
— Só se a apresentação vier com direito a casquinha, porque se for
só para conhecer nem precisa, pois quem não conhece o destemido Guto
Leão, o jogador que pede perdão ao vivo em rede nacional?!
E solta uma gargalhada, contagiante. E não me privo de rir. Sinto-me
leve, satisfeito, muito embora saiba que ficarei com um grandessíssimo
caso de bolas roxas.
— Mas para evitar que você invente outra cena de ciúme na sua
mente, é melhor me apresentar. Sou Bruno Bernardes, ao seu dispor!
E faz uma reverência engraçada, o que aumenta ainda mais o sorriso
da minha loirinha.
— Deixa de graça, Bruno!
Ela tenta parecer firme, mas não consegue. Também não conseguiria.
— Acho que o pedido de desculpas depois do gol surtiu efeito, pois
tudo diz que o que estava acontecendo aqui era algo impróprio para
menores. Os sinais são mais que evidentes.
Até eu fico constrangido, pois sei que minha calça ainda demonstra o
volume, assim como os mamilos de Clarisse não disfarçam que estão
eriçados.
— Pega leve, cara!
Digo tentando impor seriedade à voz, coisa que é indiferente a ele.
— Acho que já está mais do que na hora de entrarem. Não é de bom
tom uma moça pura como Clarisse ficar de amassos com alguém com uma
fama como a sua.
Era só o que me faltava! Além de todo o perrengue que passo por
Clarisse ser virgem, ela ainda me aparece com um amigo empata foda! Eu
mereço!
— É melhor entrarmos sim. Está tarde e amanhã vou cedinho à
igreja.
Agora eu sei que qualquer intenção minha foi pro brejo.
Aparentemente terei mais uma noite sem sexo, depois de ter tido um
vislumbre do paraíso. Parece até praga de jogador pé frio!
Mas já que não posso evitar, enrosco minha mão na cintura de
Clarisse. Quero e preciso de qualquer contato. Estes dias estivemos longe
demais.
Entramos na casa e cada qual segue para o seu quarto. Espero o
amigo empata foda entrar para tirar mais uma casquinha.
Alguns beijos calmos, mas intensos. Que mexem comigo. Que me faz
pedir algo que jurava ser um pedido impossível de sair da minha boca.
— Deixa eu dormir com você? Juro que não faremos nada. Só quero
ficar perto de você!
Meloso demais. Inconcebível ao meu eu. Mas necessário, pois a faz
aceitar com a cabeça. Faz-me garantir uma noite colado a este corpo que
me enlouquece. Que me faz esquecer a forma como pedi, faz eu esquecer
até que não terei sexo. No momento só quero ficar com ela.
— Vou fazer minha higiene pessoal. Se você quiser ir no carro pegar
suas coisas ou ir no seu quarto...
— Vou no meu quarto rapidinho, daqui a pouco volto.
E sigo para lá, tentando lembrar se tenho um pijama ou algo do tipo.
Tentando garantir o mínimo de decoro para dormir ao lado de uma virgem.
Ela ressoa tranquilamente nos meus braços, o corpo colado e bem
encaixado ao meu. Como se fizéssemos isso sempre ou como se os
nossos corpos tivessem sido criados um para o outro.
Minha mente tenta me alertar de como tudo isso é diferente para mim,
de como esses pensamentos me são incomuns, mas tento não me deter a
isso, pois no momento só quero garantir que possamos desfrutar um do
outro sem que minha cabeça me encha de preocupações infundadas.
Quero Clarisse, ela me quer. Gostamos de nos curtir e estamos
novamente juntos. Não preciso questionar cada ato e nem ficar me
reprimindo. Preciso é aproveitar cada tempo, tentar conquistar sua
confiança para finalmente tê-la como preciso, como meu corpo necessita.
Sei que todos estes questionamentos acontecem porque a trato
diferente e claro que a trato! A sua inocência pede isso, a sua história de
vida também. E não há mal nenhum nisso. Sou solteiro e levo minha vida
como bem entender, e se no momento quero tirar um tempo para mimá-la,
para ficar exclusivamente com ela, não vejo problema algum.
Não deixarei caraminholas me demoverem das minhas intenções,
nem limitar e muito menos podar minhas atitudes. Vou com força total, sem
críticas ou recriminações.
O tempo agora é com Clarisse, ela me faz bem, e é tudo que quero.
Claro que não me iludo achando que é algo verdadeiro, algo
duradouro, mas é algo que quero muito.
E não há nada que Guto Leão queira que ele não tenha. Nada!
E isso inclui esta loirinha. Que desperta tantos instintos
desconhecidos, e que no momento tem toda a minha atenção e todo o meu
desejo.
E se para tê-la eu tiver que fretar avião, dirigir à noite ou dormir de
conchinha, certamente eu farei.
Pois ela é gostosa demais e eu a desejo demais.
Clarisse será minha, pois estou disposto a tudo para que isso
aconteça.
Capítulo 29

Por mais gostoso que esteja este aconchego, preciso levantar. Tenho
meu compromisso semanal inadiável e preciso correr contra o tempo, pois
por mais que já tenha pesquisado sobre a igreja mais próxima e tenha
anotado o endereço, ainda preciso pedir um carro de aplicativo.
Esforço-me para não acordar Gustavo, tento sair de seus braços sem
incomodá-lo.
Mas assim que faço um mínimo movimento, ele me agarra com mais
força ainda.
— Onde você pensa que vai?
A voz dita baixinho e o clima de intimidade fazem-me praticamente
derreter em seus braços.
— Preciso levantar para não perder o horário da missa.
— Ah Clarisse, qual é? Tá gostoso demais! Fica mais um pouco
comigo! Não deu pra matar toda a saudade destes dias afastados.
Concordo com ele que tudo ainda é insuficiente, mas por ora vai ter
que bastar.
E eu preciso que Gustavo entenda, por isso viro-me de frente para ele
e digo:
— Gustavo, vou à missa. Depois teremos muito mais tempo juntos,
mas agora tenho que ir.
E afasto carinhosamente seus braços, e ele não tenta me impedir.
Parece resignado.
E quando começo a me afastar para o banheiro, escuto um grunhido.
Viro-me e vejo ele me secando, aparentemente bem satisfeito com o que
vê. Fico constrangida, claro que fico. Tudo é muito diferente, novo. Porém
fico calada, mesmo que as bochechas corem, e a vontade de correr seja
quase irresistível.
Mas sei que preciso me acostumar, sei que tenho que trabalhar
muitas coisas. Sinceramente não sei se um dia serei capaz de me entregar
totalmente, entretanto entendo que certas intimidades existirão e não
posso e nem quero agir como uma criança assustada todo o tempo. Por
isso forço-me a continuar meu trajeto, tentando não me importar com os
olhares desejosos de Gustavo.
E quando termino minha higiene e saio do banheiro, o jogador
levanta-se da cama e diz:
— Vou tomar uma ducha rapidinho e vou com você.
Minha cara de espanto deve ter sido suficiente para ele dizer:
— Posso não ter muita intimidade com Ele, mas acredito que tenho
muito a agradecer.
E um sorriso se abre em minha face, por perceber a ação de Deus
nesta sua decisão e por ter a presença de Gustavo ao meu lado durante
algo tão sagrado para mim.
Aceno afirmativamente com a cabeça, mais do que feliz com tudo que
está acontecendo.
Mal colocamos o pé dentro de casa e já escuto Bruno dizer:
— Não acredito que você conseguiu levar o jogador para a Missa?
Sei que sua cara de assombro é fingimento, mas que é engraçado é.
— Não vejo motivos para você estar tão surpreso, amigo da Clarisse!
— E como não? Alguém como você numa igreja? Claro que é motivo
de sobra para eu estar assim. Certamente o padre terá que usar muito
incenso para purificar o ambiente.
E ri. Alto. Estrondoso.
Gustavo fecha a cara com a gracinha e eu limito-me a dizer:
— Vou subir e colocar uma roupa mais leve.
— Que tal colocar uma roupa de banho para curtirmos a piscina?
Até eu que sou inocente percebi a insinuação em suas palavras.
— Se você pensa que vou ficar trancafiado dentro de casa porque
não quero segurar vela, você está é muito enganado! Vou vestir um
modelito bafônico e concorrer de igual para igual por sua atenção, jogador!
A Noviçabest que capriche no visual!
E sai com o queixo erguido, deixando para trás um Gustavo atônito.
Resigno-me a ir para o meu quarto, questionando-me se terei
coragem de vestir os pequenos biquínis que comprei, influenciada por
Bruno, que garantiu que ajudaria a dar uma cor uniforme ao meu corpo. Na
hora não vi problema algum, pois estaríamos sozinhos. Agora, com a
presença de Gustavo, tenho dúvidas de que serei corajosa o bastante para
ousar vestir peças tão pequenas, pois sei que estarei sob o olhar atento e
cobiçoso do jogador.

Demorei mais do que o esperado no quarto, a indecisão dificultando a


minha escolha. No final optei por vestir o que trouxe, pois não queria ficar
fora da água.
Desço e vou direto para a piscina, pelos sons que escuto sei que eles
já estão lá.
E os encontro rindo e jogando água um no outro. Observo-os, feliz
por saber que estão se dando bem.
— Se você demorasse um pouco mais, com certeza perderia a vaga
nos braços deste gostoso, pois estava a ponto de jogar o meu charme
nele.
Gustavo balança a cabeça, talvez não acreditando em tanto
descaramento. Eu apenas rio, pois me acostumei com as suas tiradas,
assim como sei que meu amigo não seria capaz de me fazer sofrer.
— Venha para a água, Noviçabest, antes que eu cumpra a minha
promessa!
E mesmo que eu não esteja à vontade com o tamanho do tecido que
cobre meu corpo, não tenho outra alternativa. Por isso começo a tirar a
saída de banho que estou vestindo. Lentamente.
Tento não olhar para Gustavo, tento disfarçar tudo que estou
sentindo.
Vergonha, timidez, mas também ansiedade. Por saber a reação dele.
Escuto um gritinho e sei que vem de Bruno.
— Ai amiga, você tá gostosa demais! Se eu gostasse pelo menos um
pouquinho...
Ele é interrompido por uma cotovelada de Gustavo.
— Se você gostasse um pouquinho que fosse, eu faria de tudo para
que você jamais ficasse sozinho com ela novamente!
A firmeza nas palavras dele me assustam um pouco, mas também
fazem-me pensar que esta posse ou ciúme pode significar gostar. E que as
coisas entre nós podem se tornar algo verdadeiro.
E antes que eu chegue à escada, Gustavo aparece ao meu lado.
Coberto com uma sunga preta, com um volume bem suspeito.
Envergonho-me por levar meu olhar até lá, mas mesmo todo o meu pudor
não consegue ser maior que o desejo que ele me desperta. É uma luta
inglória, onde meu recato não tem chance alguma.
— Caralho, Clarisse, você quer me deixar assim o dia todo?
— Desculpe, não trouxe...
— Porra, não estou reclamando, estou apenas atestando. Sua visão,
gostosa pra cacete, apenas reforça que vir até aqui era a única decisão
possível para mim.
E beija a minha boca. Parece desesperado. Parece que nunca tem o
bastante de mim.
E eu me perco nos seus braços, na sua boca. Enrosco minha língua
na sua, entrego-me totalmente ao beijo. E ele cola nossos corpos, fazendo-
me sentir seu membro duro, cheio de vontade. Sequer lembro que temos
plateia, ou se isso é ou não certo. Apenas quero mais, me entrego mais.
Suspiro, gemo e mantenho o agarre, pois as sensações que ele me
desperta são demais para eu tentar reprimir, mesmo se isso fosse
humanamente possível para mim.
Capítulo 30

Duro! Eu estou dolorosamente duro!


Não sei como ela consegue me abalar apenas por aparecer de
biquíni, quando já vi uma infinidade de beldades até fazendo topless, mas
ela consegue. Põe-me insano, faz eu abandonar a água e devorá-la.
Literalmente.
Mordo, lambo. Esfrego-me. Despudoradamente. Temo por afugentá-
la, mas não consigo me controlar.
Ela suspira em minha boca e se entrega às sensações e isso me
deixa ainda mais excitado, se é que é possível.
Preciso de sexo, preciso de sexo com Clarisse.
Meu pau babado diz isso, a forma como sequer lembro que temos
plateia confirma isso.
— Vocês não acham que já assisti pouca-vergonha demais, não?
Posso até não estar lembrando dele, mas ele é incapaz de nos deixar
esquecê-lo. E essa sua frase faz Clarisse se afastar. Envergonhada,
ruborizada como não lembro de tê-la visto.
Por pouco não praguejo, mas demonstro toda a minha ira no olhar
mortal que dirijo ao infeliz.
— Não tenho medo de cara feia! Pode parar de tentar me assustar,
pois com todos estes músculos e tatuagens, você só consegue fazer com
que eu me interesse ainda mais. Cuidado com a concorrência, Noviçabest!
Nenhum de nós consegue ficar imune ao que ele diz e logo o
constrangimento de Clarisse se desfaz e o meu ódio também.
Seguro a mão da loirinha e a levo para a piscina. Quem sabe a água
não acalma um pouco os nossos ânimos?
Mal entramos e o amigo já cola nela. Parece que realmente ele não
segura vela, pois inconveniente como é, desempenha e bem o papel de
empata foda.

Mesmo com a frustração presente em todos os poros do meu corpo,


me diverti.
Um dia leve. Boa comida, boa conversa e boas companhias.
— Vamos arrumar nossas coisas, Noviçabest, não quero pegar a
estrada à noite!
E quem sabe eu não consiga resolver essa minha frustração?
Artilheiro como sou, a bola sobrou, o gol é certo.
— Eu estava pensando em dormir aqui.
— Ah, jogador, não posso. Tenho que estar no Rio amanhã cedinho e
não vou levantar com as galinhas. Meu humor fica péssimo nestas
situações.
Melhor. Essa era a minha intenção!
— Eu só tenho treino amanhã à tarde e Clarisse também não tem
aula pela manhã, então não vejo motivos para encerrarmos nosso passeio.
Estou cheio de más intenções, mas não demonstro. Não quero
assustar a loirinha.
— Não me incomodo de viajar sozinho. Na verdade, eu na sua
situação nem titubearia, Noviçabest.
Vejo que ela fica indecisa e meu coração acelera. Esta é uma chance
em um milhão.
— Você tem certeza que não fica chateado, Bruno?
Inocente. Nem suspeita sobre o que estou arquitetando.
— Claro que não. Acho que depois de todo o tempo de clausura,
você deve sim aproveitar a vida como se não houvesse amanhã.
Sei que ela não gosta deste tipo de comentário, pois sua expressão é
clara.
Seu passado é algo que ela tem muito orgulho, e certamente não
gosta de referências que diminuam de alguma forma o tempo que
permaneceu no convento. Mesmo que eu não consiga entender, respeito.
— E não adianta ficar com essa cara, é o que penso. E também não é
o motivo da conversa. Preciso que decida se vai comigo ou com o seu
peguete, pois tenho que zarpar.
Ele consegue extrair de nós todos os tipos de emoções. Vou da
gratidão para a raiva em segundos.
— Vamos ficar, Clarisse? Qualquer coisa você liga para o seu pai e
avisa.
Ela olha para mim e tento fazer cara de bom-moço. E parece que é
bem convincente, pois a loirinha diz:
— Então vou ficar, Bruno. Volto com Gustavo.
Todo o meu corpo vibra com esta resposta, o meu coração galopa
enlouquecido no peito ante a possibilidade de tê-la ao meu bel-prazer
Este é o nível de desejo que a loirinha me desperta. Estou fissurado
nela, louco para gozar gostoso, louco para fazê-la minha.
— Tomou a melhor decisão, Noviçabest. Até eu ficaria, se o jogador
pedisse!
Tenta parecer coquete, mas não recebe abertura nenhuma para
atrapalhar os meus planos.
— Boa viagem, amigo da Clarisse. Dirija com cuidado.
— Meu nome é Bruno!
— E o dela é Clarisse!
Ele para e pensa. Logo diz:
— Como não deixarei de chamá-la de Noviçabest, acho o seu ponto
de vista justo, jogador!
Depois vira-se para Clarisse e diz:
— Vamos querida, já que você me trocou por ele, nada mais justo que
fique comigo, que me faça companhia. Quando eu me for, você será toda
dele. Até lá, vamos trocar algumas figurinhas.
Na hora sinto um calafrio de medo. Temo que esta conversa dificulte
os meus planos. Impeça-me de conseguir o que tanto desejo.
E quando a vejo adentrando na casa com ele, sinto que não vou
gostar da conversa que terão.
Infelizmente não posso impedir, nada posso fazer. Só posso torcer
para que ele não ferre com tudo, que não coloque ainda mais ideias na
cabeça da loirinha.
Sei que talvez eu não tenha tanta sorte assim, que talvez ele vá
alertá-la sobre as minhas intenções.
Mas sou Guto Leão. Garanhão, gostoso e que sabe o que quer. Que
sempre teve em sua cama as mulheres que desejou, e que fará tudo para
ter Clarisse preenchida e totalmente saciada esta noite.
Porque virou uma obsessão. Virou fixação.
E por isso não consigo pensar em nenhuma outra, sair com nenhuma
outra.
E por isso estou há dias em abstinência, por isso estou há dias
cercando-a e cortejando-a.
Mesmo que não seja do meu feitio, que seja algo muito incomum em
meu comportamento.
Mas terá valido a pena se conseguir fazê-la minha. Pois isso é tudo
que quero, é tudo que anseio.
Pois meu corpo pede, meu pau implora. Por Clarisse e somente por
ela.
Para saciar o meu desejo, para tomar tudo dela.
Sua inocência, sua virgindade. Seu desejo e sua curiosidade.
E esta noite não terminará antes que isso se concretize. Pois usarei
tudo de mim, farei disso minha missão.
Capítulo 31

— Você sabe o que vai acontecer, não sabe?


Bruno pergunta, tão logo fecho a porta do quarto. E antes que eu
consiga sequer entender, imagina responder, ele diz:
— Noviçabest, nem mesmo você seria tão obtusa! Não me diga que
não sabe quais são as intenções do Jogador?!
Ele faz uma pausa dramática, que nem me atrevo a interromper.
— Ele quer transar com você. Quer te comer, te foder, Clarisse!
Assusto-me com a verdade sendo jogada na minha cara. Assusto-me
com a forma crua com que diz. Assusto-me até mesmo em ouvi-lo me
chamar pelo nome.
Fico sem palavras, sabendo que o que ele diz faz todo sentido.
— Noviçabest, arranca essa expressão assombrada do rosto. Até
você sabe o que um homem e uma mulher fazem sozinhos! E está tudo
bem. Não faz mal a ninguém e nem torna você uma pessoa ruim ou
pecadora por querer ter bons momentos ao lado dele. Quando os dois
querem é saudável e é muito gostoso.
Talvez eu tenha ficado vermelha, mas não posso controlar a vergonha
por ele falar tão abertamente sobre isto.
— Mas eu não...
— Nada de nãos! Todos os impedimentos e proibições ficaram na sua
outra vida. Aqui você não é uma religiosa, e não é pecado nenhum ficar
com alguém que gosta, dar carinhos e receber carinhos. Aqui você não é
uma noviça, que fez votos para ser pura. Aqui você é somente uma cristã,
que tem sua fé e sua crença, mas que quer viver a vida, que quer estar ao
lado do jogador. Deixe rolar. Faça o que tenha vontade, o que lhe faz bem.
Deixe seu corpo e seu coração lhe guiar.
— Bruno, mas eu não...
— Não sabe? Ah Noviçabest, ele sabe. Certamente ele sabe! Mas
não coloque os carros na frente dos bois, não mentalize nisso. Apenas
esteja aperta as possibilidades, apenas não deixe de fazer algo que queira
por convenções ou por modelos de vida que condizem com quem você já
foi, mas que não condizem em nada com quem você é agora e nem com
quem será.
Emociono-me com sua preocupação e por seu cuidado em deixar o
meu coração livre, em tentar afastar de mim limites que ainda estão
enraizados no meu eu. E emociono-me principalmente em perceber seu
carinho e sua amizade.
— Ah Bruno, você foi a melhor coisa que me aconteceu!
E o abraço. Apertado. Demonstrando que falo a verdade.
— Eu sei, Noviçabest, eu sei!
Tenta usar de convencimento, mas a sua voz embargada apenas
consegue nos emocionar ainda mais.
Enquanto me olho no espelho, percebo que pouco a pouco estou
caminhando para me habituar à minha nova vida. Esta percepção vem ao
notar tanta parte do meu corpo desnuda e isso não me causar remorsos ou
qualquer tipo de julgamento.
Apenas vejo uma moça, jovem. Vestindo-se como tem vontade. Com
nada para encobrir, ou para mostrar. Apenas uma roupa que a faz sentir-se
bem, que a faz sentir-se à vontade com seu próprio corpo.
E agradeço a Bruno, por me levar para escolher, mostrar e estimular.
Por trabalhar em mim esta aceitação, tanto da realidade que me
cerca, como de tantos conflitos e indagações que se apresentam sempre
diante do novo, diante do desconhecido.
E todos estes pensamentos me dão tranquilidade para me afastar em
direção à porta, em ir ao encontro de Gustavo.
Desço as escadas feliz por ter decidido ficar e por estar tranquila com
isso.
Mesmo sabendo o que pode ocorrer, apesar de saber que talvez eu
queira que ocorra.
E este sentimento apenas se intensifica quando vejo o olhar de
Gustavo. Guloso, ávido.
Que não disfarça o querer, que não disfarça suas intenções.
E estou bem com isso, pois sei que ele me respeitará. Que caso eu
não queira ou não consiga ir além, ele compreenderá. Que caso eu
consiga me entregar, ele será a escolha certa, pois é por ele que meu
coração retumba no peito, minhas mãos suam e meu corpo arrepia.
— Realmente você quer ferrar com tudo, Clarisse!
Ele diz tão sério que começo a fritar meus neurônios, pois não sei
onde ele quer chegar.
— Porra! Assim fica difícil eu ser um cavalheiro!
Ele diz e se aproxima. Em segundos ele tem seu corpo colado ao
meu.
— Assim fica impossível de controlar a loucura que sinto por você!
Mal termina de dizer as palavras e o beijo vem. Duro, raivoso. Talvez
desesperado.
Diferente dos outros, pois mostra uma sofreguidão desconhecida, um
ímpeto que parece impossível de ser controlado.
Incontrolável talvez para ele, inevitável certamente para mim. Não
conseguiria deter nem mesmo se minha vida dependesse disso.
As línguas se buscam, se enroscam.
Os corpos parecem ter vida própria e logo se encaixam. Prontos,
ansiosos.
As mãos antes hesitantes, agora sabem bem o que querem e tomam.
Passeiam por todo o corpo. Acariciando, apertando, descobrindo.
Seios. Pernas. Bunda.
E eu gemo e suspiro. E sei que acontecerá.
Pois minha intimidade queima, meus seios pesam. Tudo em mim
parece concordar que o que ele me faz sentir é bom demais para ser
interrompido. Toda essa necessidade é impossível de ser contida. É
inimaginável para mim a distância, a separação.
E certamente o que sentimos e o que tão fervorosamente desejamos
não pode ser errado, não pode ser pecado. Tanta emoção, tanto querer
não pode ser condenado. Pois não prejudica, não magoa. Não causa dor e
muito menos sofrimento.
É um misto de carinho e necessidade.
É algo que quero e preciso viver, que necessito saciar.
É algo que sinto quando estou com ele. Quando sinto seus beijos.
Seu gosto. Seu desejo.
Quando sinto a sua intimidade pulsante, dura e desejosa.
Que me faz esquecer questionamentos e entendimentos de uma vida
passada. Que me faz decidida a ir até o fim. Firme no meu propósito de ser
definitivamente dele.
Pois quero demais. Preciso demais.
Com loucura, quase com desespero.
Meu corpo inteiro pede. Meu coração alucinado no peito, clama. E
minha alma extasiada, implora.
Pela consumação, pelo ato.
Pelo jogador. Cabeludo e tatuado e que aparentemente arrebatou
meu inocente e ingênuo coração.
Capítulo 32

Só pode ser a porra de um sonho! Estarmos sozinhos e com Clarisse


assim tão entregue, só pode ser, na verdade, um delírio da minha mente,
que a cada dia está mais fissurada na loirinha.
Mas os gemidos, suspiros e o tesão do meu corpo, que me come
vivo, prova-me que está acontecendo, que nada mais é do que a realidade
que ansiei desde que a conheci.
E mesmo com meu corpo no limite, mesmo que tudo em mim clame
por prensá-la na parede mais próxima, um resquício de razão, que eu
sequer sabia existir, obriga-me a levá-la para o quarto, a tentar garantir que
a sua primeira vez seja em uma cama.
E como não posso mais adiar, pois estou a ponto de esporrar nas
calças, ergo-a em meus braços. Ela parece sair do transe em que estava e
na hora temo que se afaste.
— Amor, vamos para o meu quarto. Quero adorá-la como você
merece.
Na mesma hora seu corpo volta a relaxar e a tenho aconchegada ao
meu peito. Não sei se foi a promessa que fiz para com o seu corpo ou se
foi a palavra que usei, que saiu fácil e certa e nem quero entender o
porquê. Só queria que garantisse o que está para acontecer e, na verdade,
não me privarei de usá-la, se assim for necessário para garantir a loirinha
em minha cama.
Se isso faz de mim um cara ruim, sequer me importo, desde que faça
de mim um cara saciado.
Assim que entro no quarto, o corpo fica ainda mais ouriçado. E
quando a coloco na cama, tudo em mim entra em combustão.
É uma imagem linda. Seus cabelos esparramados, os lábios inchados
dos beijos, os olhos anuviados de desejo.
E não consigo mais adiar. Não consigo mais conter o ímpeto de estar
dentro dela.
Retiro minha camisa, meu short e permaneço somente com a boxer
branca, com a frente estufada e úmida. Vejo seu olhar sobre a
demonstração do meu querer. Envergonhado, admirado e por que não
desejoso. E isso fode com o resto, o controle desaparece.
Avanço sobre a cama e deito-me sobre ela.
Beijo sua boca e as mãos já buscam uma forma de me livrar do
pequeno top que cobre seus seios. Rapidamente consigo e interrompo o
beijo para admirar a perfeição dos gêmeos. Firmes, empinados e rosados.
Que cabem na minha mão. Tão naturais e intocáveis que me fazem salivar.
Levo minha boca até eles. Lambo lentamente o mamilo e o tenho
teso. Ela geme manhosa enquanto acaricio o outro. Sensações intensas
me tomam e me fazem buscar mais, buscar a nudez completa.
As mãos descem para o pequeno short e desabotoa. Tira.
E paro o deleite nos seios para olhá-la.
A calcinha mínima, branca.
A mancha que entrega a sua excitação torna-me um animal
descontrolado, insano, que desesperadamente arranca o restante das
barreiras que impediam a nossa nudez completa.
E meu pau se apresenta pronto, babado e duro como não lembro de
já tê-lo visto. Mas isso não é importante. Não quando a tenho totalmente
nua. Sua boceta lisinha e virginal é talvez a coisa mais perfeita que meus
olhos já viram.
— Linda! Linda demais!
A voz rouca mostra o meu estado. Tudo em mim fala do tesão
absurdo que sinto.
E não posso mais esperar. Minha boca toma seus lábios, minhas
mãos passeiam ansiosas por toda a perfeição que é o corpo da loirinha e
meu pau busca o contato com a boceta dela.
E porra, não sei se conseguirei me controlar. A luxúria toma conta, o
desejo me põe rendido.
Esfrego meu membro na boceta melada dela, estimulando seu clitóris
e o gemido que ela solta quase me leva ao gozo. E repito. Mais. Mais.
Ela rebola timidamente e minha boca busca seu mamilo. Mordo,
sugo. E nossas pelves respondem, buscam-se com tal urgência que me
assusta.
E não consigo mais, não posso mais evitar a penetração. Penso até
que sou capaz de morrer se não a fizer minha neste instante.
O suor pinga, o coração desembesta, o corpo tensiona.
Posiciono o membro e tento lentamente avançar.
Ela tenta fechar as pernas, fica rígida em meus braços.
— Calma, meu amor. Vou dar tudo de mim para que seja perfeito.
E beijo sua boca com carinho, tentando mostrar que assim será.
Ela parece mais receptiva e envolvo suas pernas em minha cintura.
Minha pelve tem vida própria e continua a avançar. Encontro a
barreira e ela choraminga.
Levo minha mão ao seu botão duro e o acaricio. Com conhecimento,
com maestria. Sei o que fazer com uma mulher e seus soluços falam
literalmente sobre isso.
E tê-la perdida em sensações me permite avançar mais, todo. E
assim que me encontro enterrado profundamente ela arqueja, a dor
incomoda. E isso mexe comigo, não concebo trazer-lhe dor.
Beijo sua face. Com carinho, com preocupação. Tentando diminuir o
desconforto, tentando tornar o momento inesquecível também para ela. E
pouco a pouco ela relaxa, se acostuma. E esta é a permissão que
precisava para começar os movimentos, o corpo já não aguentava mais
reprimir a necessidade.
E o vai e vem começa, devagar, tentando fazê-la se acostumar, talvez
tentando testar o meu controle. Meus estímulos em seu nervo pulsante não
param, meus carinhos em seu corpo jamais cessam.
Minha boca morde, chupa, suga. Nos lábios, pescoço, seios. Não sei
onde me demorar, pois ela é gostosa demais e tudo que tenho agora
parece ser insuficiente para a fome desesperada que sinto.
Até que meu controle se esvai por completo e os movimentos tornam-
se alucinados e a busca pelo orgasmo se faz imperativa.
Os sons, o cheiro e todas as sensações apenas potencializam tudo
isso.
— Ah amor, você é tão apertada...tão gostosa...
Gemo no seu ouvido e lambo tudo que encontro pela frente.
— Vem pra mim... vem...
Ela soluça alto.
— Agora...eu não consigo mais suportar....
E parece que foi combinado, ou parece que somos um só. Pois o
orgasmo vem, forte, intenso, absoluto. Para os dois. E os corpos se
perdem um no outro, como se conhecessem, ou se reconhecessem.
Solto um grunhido animalesco e Clarisse geme trêmula embaixo de
mim.
E a minha mente diz que foi perfeito demais, mas insuficiente. Para
saciar todo o desejo, para que eu seja capaz de seguir em frente.
E sei que ela ainda será minha vezes sem fim. Até que consiga que
meu corpo pare de desejá-la, até que todo esse querer se esvaneça.
Até lá serei dela e ela será minha.
Enterrado dentro dela decido isso, pois jamais tive tanto prazer,
jamais estive tão saciado como agora.
É inimaginável esta descoberta. É inimaginável o que esta virgem me
causou.
Mas é tão evidente, tudo é tão intenso que é como acontecerá.
Daqui para frente a noviça e o jogador terão uma história, que se
estenderá até que esse fogo se extinga, até que meu corpo esteja pronto
para abdicar de tudo isso.
Podem ser dias ou semanas, sequer contarei.
Muito embora saiba que não é definitivo, pois estou longe de querer
me prender para sempre. Mas sei que será eterno até que me canse, até
que já queira a próxima novidade.
Capítulo 33

Sinto-me bem demais. Meu corpo, coração e mente em sintonia. Feliz


e satisfeita como jamais estive.
A cabeça no peito de Gustavo, as mãos dele passeando
carinhosamente por minhas costas desnudas.
Claro que sinto um desconforto em minhas partes íntimas, que sei
que passará. Claro que meus pensamentos vez por outra tentam manchar
o momento, mas a conversa com Bruno foi importante e o que sinto por
Gustavo também. Fazem-me pensar que o errado é o mal, é o ódio, a
mentira. A felicidade, a cumplicidade e o carinho apenas tornam-me
humana, apenas tornam-me capaz de buscar estas sensações vividas,
este sentimento de plenitude que me faz tão feliz e realizada.
— Pare de pensar tanto, Clarisse.
Ele até parece adivinhar meus pensamentos.
— A nossa conexão é algo único, não tente entender e nem
questionar o que houve. Vamos apenas deixar rolar. Vamos viver tudo isso.
A partir de agora você é minha e eu sou seu.
Ele não fala em namoro, e isso me incomoda um pouquinho, mas
talvez este pertencimento seja suficiente, garanta o compromisso e a
fidelidade que meu coração tanto anseia. Pois é pelo jogador que meu
coração bate, e não tenho dúvida nenhuma de que estou apaixonada.
Se não tivesse não teria feito amor com ele, se não tivesse não me
pareceria tão certo. E imagino que ele sinta o mesmo. Não tenho
experiência e muito menos nada com que comparar, mas ele não se
redimiria em rede nacional e não viajaria de Minas até aqui se não
sentisse.
E isso faz eu ter paciência para esperar as palavras. Sobre o que ele
sente, sobre o que somos um para o outro. Faz-me também ser paciente
em dizer o que meu coração sente, pois não serei a primeira a falar sobre
algo que é tão novo para mim.
Mas mostrarei com meus gestos, com meus atos. Serei dele, como foi
dito. Pois não pode ser de outra forma, nem posso ser de mais ninguém.
E para selar as palavras e o que sentimos, ele encosta sua boca na
minha.
Com cuidado, com devoção. Como se fosse um compromisso, uma
promessa.
E eu apenas me entrego. Permito-me sentir, permito-me ser
definitivamente dele.

Mal entramos e já encontramos meu pai sentado no sofá. A


expressão taciturna, aparentemente esperando por nós.
Talvez chateado por eu ter permanecido lá sozinha com Gustavo,
talvez zangado por saber o que realmente aconteceu.
E se ele não tinha certeza, a minha expressão certamente entrega,
tudo em mim detalha que fui do jogador na noite anterior.
— Bom dia, Vicente!
Gustavo fala normalmente, parecendo não se importar com a opinião
do empresário.
— Oi, papai!
Diferentemente dele, minha voz sai acanhada, talvez culpada, mas
certamente bem temerosa.
— Oi, minha filha. Estava aqui esperando por vocês! Precisamos
conversar.
Ele fala sério, olhando de um para o outro, parecendo que não
facilitará as coisas para nós.
— Vicente, Clarisse e eu estamos juntos. Se o assunto for este, saiba
que estamos bem...
— Gustavo, disso eu sei, e mesmo se não soubesse, cada um de
vocês, à sua maneira, entrega isso.
— Então se sabe e se aparentemente não está reclamando, qual o
motivo de estar com esta cara, aparentemente querendo tocar o terror?
Tenho até vontade de rir das palavras de Gustavo, mas a expressão
fechada de meu pai me impede.
— O motivo foi a declaração que fez. Foi toda a gama de
especulações que gerou. Na verdade, formou-se um verdadeiro
pandemônio, com a imprensa ligando e fazendo todo tipo de suposições
escabrosas, sendo necessário que os seguranças usassem até mesmo de
força e intimidação para mantê-los afastados. Ficou tudo muito complicado.
Maldita hora que você pegou aquele microfone!
Fico atônita com a explosão de papai. Eu sequer cogitei o que o
pedido poderia acarretar na prática, tão contente estava com as desculpas
de Gustavo.
— Fica frio, Vicente, daqui a pouco eles esquecem e...
— Não se descobrirem que a pessoa a quem você se referia é minha
filha, que é uma ex-religiosa!
Sei que ele não fala para me magoar e nem nada disso, sei que ele
tem um ponto.
— Vicente, tenho certeza que você está fazendo uma tempestade em
um copo d’água!
— Você diz isso porque não estava no Rio, porque talvez não tenha
acompanhado as fofocas. Eles estão em polvorosa e minha filha não
precisa disso e nem pode ser vítima destes tubarões sedentos por sangue
e carne fresca.
Diz exaltado, já se levantando e começando a caminhar de um lado
para o outro.
— Não quero que eles saibam, que especulem e que vasculhem a
vida de Clarisse. Que tragam para nossas vidas memórias dolorosas e que
muito menos a persigam nas ruas. Quero que ela se acostume plenamente
a tudo e só depois tenha que enfrentar estes urubus.
Meu pai fala como se eu não estivesse aqui, ou como se já tivesse
decidido o que é melhor para mim. E tenho certeza que sua escolha é a
que ele acredita que me fará bem e só posso ser grata, mas preciso deixar
claro o meu ponto de vista, me fazer entender.
— Papai, Gustavo e eu estamos...
— Minha filha, eu sequer estou questionando ou condenando o
envolvimento de vocês, muito embora seria o esperado a ser feito, se eu
levasse em consideração a vida pregressa do Guto!
Ele diz e olha seriamente para o jogador. Seu olhar funcionando
como um aviso, como uma ameaça.
— Mas neste momento a minha maior preocupação é garantir que, o
que quer que vocês estejam vivendo, fique oculto da imprensa, que não
caia no ouvido destes paparazzi.
— E como você quer que isso aconteça?
— Ora, mantendo as coisas em segredo. Evitando saídas e
exposições desnecessárias, pelo menos até que eles esqueçam e partam
para a nova fofoca.
Gustavo parece pensativo, enquanto eu certamente estou bem
surpresa com tudo que o comentário dele foi capaz de causar.
— Papai...
Ele sequer deixa-me continuar. Interrompe-me de pronto.
— Filha, estou há anos lidando com eles e sei o quanto adoram este
tipo de notícia e, se o envolvido for alguém que não condiga com o
estereótipo que eles imaginam, as coisas somente tomam uma proporção
ainda maior. E infelizmente, querida, você será um prato cheio.
A ficha finalmente cai. Começo a imaginar um monte de matérias
mentirosas ou exageradas com o único intuito de vender, e isso me
assusta.
— Não quero que a exposição do envolvimento de vocês atrapalhe
sua adaptação, como também não quero que tire o foco do campeonato.
Estamos quase no final do segundo turno e gostaria que todos os assuntos
que saíssem na mídia com relação a Gustavo fossem relacionados a sua
performance dentro de campo. É bom para o time e principalmente para a
valorização do passe. Teremos uma janela de transferência ao final do
campeonato e não quero que nada atrapalhe as ofertas e as possibilidades
de Guto.
Aparentemente ensaiado, tanto eu como o jogador movimentamos a
cabeça afirmativamente, confirmando e entendendo o que papai quer com
este discurso.
— Enfim, é bom para os dois que nada do que estão vivendo vaze. É
primordial que, pelo menos por um tempo, as coisas fiquem somente entre
as paredes desta casa.
Escutamos atentos o que diz e logo Gustavo fala:
— Você sempre soube o que fazer, sempre direcionou de forma
extraordinária a minha carreira, assim como também sei que sempre
cuidou da melhor forma possível de Clarisse, estando próximo ou não.
Então não vejo motivo nenhum para que não o escutemos, para que não
façamos como você está dizendo.
Gustavo tem razão e assim será feito.
— Ótimo! Então agora que já chegamos num consenso quanto a isso,
quero que você me diga direitinho quais são as suas intenções com
relação à minha filha!
Ficamos assustados com o comentário. Realmente sua fala nos
pegou desprevenidos.
— Ou você acha que porque não vai ser de conhecimento de
ninguém eu vou fazer vista grossa? Lamento dizer, jogador, mas se isso
passou pela sua cabeça, pode tirar o seu cavalinho da chuva!
Engulo em seco, já querendo que um buraco se abra no chão.
Querendo literalmente desaparecer.
Capítulo 34

Estava bom demais para ser verdade! Ninguém para saber, imprensa
sem questionar e, quando chegasse a hora do fim, ninguém para justificar
que acabou.
A teoria de Vicente mais do que me convenceu, na verdade, até me
beneficiou, e isso me deixou mais do que satisfeito.
Mas durou pouco a minha satisfação, pois do nada o cara decidiu
bancar o pai protetor. Isso é muito foda!
Vou tentar me safar do jeito que dá.
— Não estou entendendo onde você está querendo chegar! Já tinha
lhe contado do meu interesse! Achei, de verdade, que já tivéssemos
ultrapassado essa fase.
Digo sucinto, querendo ganhar Vicente no papo. Querendo que ele
pare com esta conversinha.
— Clarisse, por que você não vai guardar suas coisas?
Ele pede. Nem disfarça que quer ficar sozinho comigo.
— Papai, acho que sou parte interessada no assunto. Acredito que
deva ficar!
A voz tem a mesma docilidade de sempre, muito embora demonstre
uma firmeza desconhecida para mim.
Na hora ele levanta-se, vai até ela e diz:
— Minha filha, claro que você é parte disso, a questão não é essa!
Quero ter uma conversa de sogro para genro. E não se preocupe, pois
haverá um momento para nós, mas acho que tenho direito a ter uma
conversa com Gustavo.
Por isso chove de atletas querendo ser agenciado por ele. Vicente é
esperto, inteligente e bom de papo. Ganha todo mundo na lábia.
Por isso não me surpreendo quando escuto a loirinha dizer:
— Talvez você tenha razão, papai!
Porra, ela caiu na historinha pra boi dormir de Vicente! Que Deus me
ajude então, pois sei que vem chumbo grosso. Essa conversa mole dele
não me convenceu.
— Vou ajeitar minhas coisas, pois daqui a pouco tenho que ir pro
curso!
Mostra um sorriso lindo para o pai e para mim e caminha para a
escada. Logo que ela se encontra longe o suficiente para não ouvir a
conversa, Vicente diz com uma voz zangada:
— Você transou com a minha filha, seu desgraçado!
Não é uma pergunta e nem adianta tentar mentir. Ele me conhece e
sabe que as minhas intenções sempre envolvem meu pau enfiado em uma
boceta gostosa.
— Vicente, você...
— Conheço minha filha e sua expressão cristalina entrega, a
intimidade entre vocês confirma que transaram.
Ele faz uma pausa, mas antes que eu possa falar, diz raivoso:
— Gustavo, eu conheço seu repertório, sei que não assume mulher e
sei que é incapaz de ser fiel.
— E mesmo sabendo de tudo isso não impediu uma...
— Eu tentei. Mas você encheu minha cabeça e acabei permitindo
uma aproximação. Mas aceitei uma paquera, não que você a tratasse
como as outras. Jurava que você ia conquistá-la aos poucos e torcia para
que percebesse a moça maravilhosa que Clarisse é.
Fala desgostoso. Decepcionado.
— Claro que percebo todas as qualidades de sua filha. Claro que eu
sei que ela não é nem um pouco parecida com as mulheres desapegadas
com quem saio!
— Mas tratou ela igual! Levou minha filha para cama com a mesma
rapidez e sei que quando ela menos esperar, verá todo tipo de matéria
envolvendo suas orgias e depravação.
O normal é que ele espere por isso, mas farei diferente. Por um
tempo preservarei a minha imagem e a dela. Por um tempo seremos um do
outro. Sei que será por um curto tempo, mas primarei por isso. Não quero
decepcionar meu amigo, e também não colocarei Clarisse em uma
situação tão desconfortável. Ela não está acostumada, ela também não
precisa de uma desilusão tão grande logo na sua primeira relação.
Por enquanto serei fiel, por enquanto não haverá outras. Mesmo
porque ainda estou longe de enjoar dela, mesmo porque seu corpo me
satisfez bastante.
Claro que vou dourar um pouco a pílula, vou tentar apaziguar as
coisas com meu empresário.
— Não haverá farras e nem outras mulheres, será apenas Clarisse e
eu.
Por enquanto, minha mente alfineta, mas esta informação ele não
precisa saber.
Vicente parece estar embasbacado, parece até que viu um fantasma.
— Você está dizendo que será fiel e que...
— Estou dizendo que será apenas ela e eu, e acho que jamais lhe dei
motivos para desconfiar de minha palavra.
Tenho razão em minha afirmação. Até mesmo agora cumprirei com o
que digo, pois não ficarei com outras, mesmo que não possa dizer na cara
dele que a relação não tem futuro algum e que tão logo o fogo esfrie,
terminarei.
E o fato dele ter pedido segredo para nos preservar, apenas vai tornar
tudo mais fácil. Sei que ele agiu como empresário e como pai, mas sua
decisão somente me beneficiou. Jamais achei que tivesse tanta sorte!
Ninguém nunca saberá sobre Clarisse, e isso me possibilitará ter
minha vida de volta tão logo deseje, além deste desconhecimento impedir
que as mulheres que se deitarem comigo no futuro, possam imaginar que
quero essa vida de fidelidade e monogamia.
Gosto demais da minha vida para mudar o que quer que seja nela.
Sei que Clarisse é linda e gostosa e ela terá o seu tempo e terá também
deferência no tratamento. Mas só.
Recebo uma batidinha nas costas e olho diretamente para Vicente.
Vejo sua expressão suavizada e sei que ficou satisfeito com o que ouviu.
— Guto, fico feliz em saber que não presenciarei minha menina
chorando pelos cantos por vê-lo sendo o puto que sempre foi. Fico feliz por
conhecer suas intenções.
Engulo em seco, talvez um pouco envergonhado. Por saber que ele
conhece minhas intenções, muito embora não as conheça profundamente.
Mas agora está dito, está feito. Ela é minha e será pelo tempo que meu
corpo desejar.
— Ainda bem que entendeu e que está bem com isso, Vicente. Não
quero problemas e nem indisposição com você. Você representa muito em
minha vida e espero que a nossa relação não seja afetada pelo que
Clarisse e eu estamos vivendo.
Falei sério e verdadeiro. Vicente é alguém importante para mim e
realmente não quero climão. Quero que ele entenda e aceite meu
momento com Clarisse e que saiba conviver tanto com o agora, quanto
com o futuro.
Acredito que o fato de eu me manter fiel ajudará, mesmo porque
ninguém é obrigado a casar ou jurar amor eterno somente por causa de um
lance. Acredito que Vicente é maduro o suficiente para entender um fim
quando ele acontecer.
— Você também é importante, é como um filho para mim, e por isso
abençoo a relação de vocês.
E me dá um abraço forte. Talvez minhas palavras tenham sido
convincentes demais, ou talvez ele tenha mais fé em mim do que eu
mereça.
Mas agora está sem jeito. É rezar para que esse fogo queime por
muito tempo, pelo menos até que eu mude de continente.
E este será o limite máximo de nossa relação, pois minha
transferência para a Europa me trará o novo e quero estar livre e
desimpedido quando isso acontecer.
Capítulo 35

Se eu soubesse que a carona de Bruno geraria todo este


interrogatório, jamais teria aceitado. Ele quer saber tudo, e com detalhes.
Não basta que eu tenha contado que aconteceu, ele quer que eu conte até
mesmo se Gustavo é bem-dotado ou não. Suas perguntas são tão íntimas
que o vermelho já cobre o meu rosto.
Felizmente em algum momento chegamos e já me apresso para me
despedir, louca para fugir de suas perguntas infinitas.
— Se pensa que vou me contentar com estas respostas vagas, você
está muito enganada! Quero saber se você gozou, se rolou oral e tudo o
mais que se pode esperar daquele deus grego!
Constrangida é uma palavra que sequer chega perto de definir a
forma como me sinto. Abro e fecho a boca sem conseguir emitir som
algum, não conseguindo pensar numa forma de sair dessa.
Felizmente conseguirei me safar, pois uma batidinha no vidro mostra
que Gustavo veio me resgatar.
Bruno bufa e abre o vidro.
— Você estava pastorando, só pode! Mal o carro estacionou e você já
me aparece! Pelo menos agora não vem cheio de ciúme, cheio de ideias!
Parece que Gustavo já se acostumou com o jeito de Bruno, pois
somente ri. Parece até mesmo feliz.
— Eu estava era com saudades, amigo da Clarisse!
— Ah não me venha bancar o pegajoso, né jogador! Ninguém
merece!
Gustavo abre ainda mais o sorriso.
— Acho que você já alugou demais a minha loirinha! Está me saindo
um amigo muito pegajoso! Ninguém merece!
E pisca, retribuindo a gentileza. E resolvo intervir, pois quero fugir das
perguntas e também quero ficar sozinha com Gustavo.
— Esse papo de vocês não nos levarão a lugar nenhum. Sem falar
que estou cansada demais e precisando de um banho.
Mal digo as palavras e o jogador já abre a porta, não disfarça a
pressa.
Dou um beijo no rosto de Bruno e digo:
— Até amanhã!
— Não pense que vai ficar por isso mesmo! Não pense que vai
escapar. Pode ser que tenha conseguido adiar, mas garanto que arrancarei
de você as respostas que quero.
Claro que ele não iria deixar para lá, não seria Bruno se o fizesse.
— Até mais, amigo da Clarisse!
E me ajuda a sair. Faço um gesto de tchau com a mão e escuto
Bruno murmurando algo sobre homens grudentos. Rio, porque no fundo a
felicidade não deixa o sorriso ficar longe da minha face.
Gustavo me puxa pela mão, permanecendo calado. Entramos em
casa e sou esmagada em seus braços. Sua boca procura a minha com
ânsia, como se dissesse que uma tarde longe é muito para suportar.
Retribuo, com o mesmo sentimento, pois também estava desejosa de sua
boca.
As línguas se acariciam e os corpos se procuram. As mãos afoitas
falam de uma necessidade que é premente. O beijo se torna cada vez mais
urgente.
Até que o oxigênio se faz necessário, até que somos obrigados a nos
separar.
— Estava com saudade!
Ele diz e sinto a verdade em suas palavras.
— Eu também.
Falo, certamente a expressão apaixonada não deixando dúvida
alguma de como me sinto.
— Você demorou demais! Já tem um tempinho que cheguei e...
— Hoje tenho uma aula a mais e fizemos uma parada para o Bruno
lanchar.
Ele parece querer retrucar, mas apenas assente com a cabeça.
— Vou subir e tomar um banho rápido. Daqui a pouco desço para o
jantar.
Tento afastar-me mas sou puxada para um novo beijo. Gostoso
demais. Posso muito bem me acostumar com isso. Posso muito bem me
perder nestas sensações.
Assim que afastamos nossas bocas, Gustavo diz:
— Então vá, Clarisse, antes que eu cometa uma loucura.
Entendo o que quer dizer e praticamente fujo, pois nenhum dos dois
parece controlar tudo isso que estamos sentindo.
O jantar transcorre de forma harmoniosa. Meu pai, que desceu junto
comigo, conta fatos antigos da sua vida de empresário de atleta, enquanto
Gustavo alfineta-o sempre que possível.
Como convivi muito pouco com ele, bebo suas palavras, ansiosa por
saber cada vez mais da vida de papai. Vez por outra faço um comentário,
embora a maior parte do tempo apenas observe o entrosamento entre os
dois.
— Vamos sentar um pouco na sala, acho que ainda tenho muitas
histórias pra contar.
Percebo que Gustavo não parece muito feliz com a sugestão, apesar
de não emitir opinião. Já eu, estou mais do que satisfeita com esta
interação.
E assim seguimos. Gustavo e eu sentados no mesmo sofá e papai
em uma poltrona. O jogador envolve meus ombros, enquanto meu pai
continua com suas histórias. Em um dado momento seu telefone toca e ele
pede licença para atender.
— Não acredito no quanto seu pai está se esforçando para não
ficarmos a sós!
— Gustavo, não acho que...
— Mas é claro que ele está fazendo isso de caso pensado. Está
querendo me vencer pelo cansaço. Se ele souber que varo a noite, mas
que não cederei. Que você será minha, mesmo ele tentando atrapalhar.
De repente papai volta a se aproximar.
— Vou ter que dar uma saidinha, espero que não tenha problemas!
Olha diretamente para mim, querendo talvez uma permissão
desnecessária.
— Claro que não, papai. Daqui a pouco também vou subir.
Ele olha de um para o outro e parece querer dizer algo, mas nada sai.
— Tudo bem, então. Boa noite!
E sai, mesmo hesitante. Parecendo claramente desconfortável em
nos deixar sozinhos.
— Enfim sós!
Gustavo diz e parece aliviado, ansioso.
Ele fica de pé e faz com que eu também levante. E num movimento
abrupto me coloca em seus braços. Aconchegada. Envolvida. Protegida.
Beija a minha testa e demonstra um carinho que me emociona, que
me abala. Inicia uma caminhada comigo em seus braços. Com cuidado,
como se eu fosse importante.
— Vamos, meu amor, eu já esperei tempo demais. Não vejo a hora de
te fazer minha novamente.
Suspiro e encosto a cabeça em seu ombro. O coração enlouquecido
no peito. O corpo desejoso e necessitado do dele.
Um sentimento outrora desconhecido, mas que agora parece cada
vez mais conhecido, mais comum.
E uma certeza vem forte, muito embora não declare em palavras: mal
sabe ele que já sou dele, irremediavelmente dele!
Capítulo 36

Sei que preciso levantar, não posso dar tanta chance para o azar.
Mas tá bom demais, gostoso demais. Ter o corpo quente de Clarisse junto
ao meu é muita tentação e eu não sou forte o suficiente para abdicar. Nem
mesmo sob o risco de ter Vicente querendo defender a honra da filha, nem
mesmo sob o risco de estremecer a relação com meu mentor.
Desde que voltamos de Petrópolis, criamos uma espécie de rotina.
Dormimos invariavelmente juntos, depois de um sexo gostoso, às vezes
selvagem, às vezes calmo, lento, de descoberta. Como uma ex-virgem
merece, como alguém que não ficou com qualquer outra pessoa merece.
Depois sigo para o treino e ela para o curso de paisagismo. À noite
jantamos com Vicente e ficamos novamente juntos.
Por vezes admiro-me por não sentir falta de outras, mas sei que isso
acontece por conta da novidade e por eu estar evitando festas. Prometi
isso para Vicente e vou cumprir. Sei que tudo isso virará rotina e que
Clarisse perderá seu lugar em minha cama, mas até lá vou aproveitar tudo
o que seu corpo maravilhoso tem a oferecer, pois estou fissurado na
loirinha. Nos beijos, no corpo e na boceta. E se for sincero comigo mesmo,
admitiria que também estou viciado em seus carinhos e nos seus afagos.
E tudo isso tem me deixado bem saciado e satisfeito.
E se estou satisfeito fora de campo, dentro de campo as coisas não
poderiam estar melhores. Tenho feito gols em todos os jogos, muitas vezes
até mais de um. O Titã Futebol Clube tem avançado bem na tabela e, a
duas rodadas do fim, estamos apenas a um ponto de distância do primeiro
colocado, tendo um confronto direto na última rodada.
Sou tirado dos meus devaneios por uma boca gostosa que distribui
beijos despretensiosos no meu queixo. Nesta hora sei que este tipo de
intimidade é algo que sentirei falta, muito embora saiba que a diversidade
me impedirá de lamentar isso.
— Bom dia, meu amor!
Como a chamo assim, vez por outra, Clarisse meio que incorporou
esta expressão e passou a me chamar sempre desta forma. Temo que ela
esteja levando isso a sério demais. Temo que, pelo fato dela não ter
experiência alguma, acredite sentir por mim algo mais do que é
recomendável.
— Bom dia, amor!
Para mim sai natural, como um hábito. Não que reflita a verdade,
apenas uma palavra que sai de forma espontânea e que faz surgir um
sorriso lindo no rosto da loirinha.
— Precisamos levantar! Hoje tenho um trabalho importante para
fazer, enquanto você tem que treinar pesado para o grande jogo de
amanhã.
Fala me empurrando levemente e sei que tem razão com relação ao
jogo que temos pela frente. Se vencermos, só dependeremos de nós para
levantarmos a taça, independentemente do resultado do jogo do time
paulista. Então o mínimo que preciso é compromisso, disciplina e
disposição.
Reconheço que minhas atuações e que a ótima colocação do time
tem influenciado e muito nas ofertas que estou recebendo, além do meu
nome estar sendo cogitado pela imprensa para a próxima convocação da
Seleção Brasileira.
Só posso estar vivendo um sonho, meu momento não poderia ser
melhor. Em campo e na cama.
E confirmo isso quando a vejo caminhar até o banheiro, mal coberta
pelo lençol. A beleza exuberante do seu corpo atiçando tudo dentro de
mim.
Meu pau na hora dá sinal de vida, pois o espertinho reconhece que a
loirinha é um espetáculo. Tenho vontade de adiar tudo e tentar uma
rapidinha, pois por mais que tenhamos transado na madrugada, ainda
tenho fome dela. Sempre tenho.
Infelizmente sei que não rolará, porque realmente já extrapolamos o
limite autoimposto por Vicente, sendo até mesmo capaz dele invadir nossa
intimidade com uma desculpa qualquer, como se não soubesse que nos
encontraria nus, fingindo que não sabe o que acontece neste quarto noite
após noite.
Sei que preciso ir, mas antes quero assegurar algo, já que o sexo à
noite não acontecerá, pois o professor determinou que concentraremos
depois do treino, tentando assim nos manter focados para o confronto de
amanhã.
Aproximo-me então do banheiro e logo digo o que quero:
— Você tem razão, infelizmente teremos um dia corrido pela frente.
Mas antes de sair queria garantir que viajaremos assim que a partida
terminar.
Petrópolis. Virou quase como uma rotina viajarmos para lá, sempre
que o jogo acontece no sábado e tenho o domingo de folga. Acredito que a
repercussão da mídia é maior quando jogamos no domingo, mas para as
minhas pretensões atuais, jogar no sábado está mais do que satisfatório,
pois além do descanso, ainda tenho a loirinha somente para mim, longe
das vistas do pai coruja.
— Viajaremos sim...se você ganhar!
Ela ri da nossa piada interna, pois vem sendo assim: muitas vitórias e
bons momentos juntos.
— Pois você pode arrumar suas malas e despachar seu amigo
folgado! Dar um não redondo, pois certamente ele vai insistir em segurar
vela.
— Mas amor...
— Nada de mas amor, já não basta todo o tempo que ele te
monopoliza durante a semana? Nunca vi um curso para terminar tão tarde!
Chego do treino e ainda espero horas até que ele se digne a trazê-la para
casa.
Vez por outra tocamos neste assunto, pois sei que Bruno faz de
propósito. Inventa shopping, cinema, lanche e o diabo a quatro para mantê-
la longe desta casa e consequentemente longe de mim. Sei que é
intencional, que ele acha que está em um cabo de guerra imaginário
comigo e por isso faço o possível para evitar que ele consuma ainda mais
tempo do pouco que temos.
— Ele gosta tanto de Petrópolis! Quem sabe não poderíamos...
— Quero você exclusivamente para mim, pois aqui a loucura do dia
nos consome e somente conseguimos ficar juntos à noite. Por isso lá em
Petrópolis não quero Vicente e muito menos Bruno. Preciso de você para
recarregar as baterias, preciso de você para suportar a semana tensa que
terei pela frente.
Ela entende o que quero dizer. Enfrentaremos o líder, sabendo que
uma vitória pode até mesmo definir o título a nosso favor. Tudo isso será
uma carga muito grande para suportar.
Sei que uso o argumento perfeito quando sinto Clarisse se aproximar.
Quando sinto seus braços ao meu redor.
— Mesmo não gostando de chatear Bruno, vou explicar a situação.
Entendo seu pedido e o momento em que está vivendo.
Ela me dá um selinho e continua:
— Seremos só nós dois em Petrópolis.
E depois de suas palavras, não me contenho. Mando tudo para o
espaço e a beijo.
Loucamente. Desesperadamente.
Pois o que combinamos para o final de semana muito me agrada,
porque nunca tenho o bastante de Clarisse.
Chupo sua língua deliciosa e me encontro pronto, desesperado para
fazê-la minha novamente. E quando decido que nada é mais importante do
que um sexo matinal com ela, eis que escuto a voz do meu pior pesadelo.
— Acho bom descerem para o café. Já estamos praticamente
atrasados.
E sei que ficarei frustrado e desejoso. E minha suspeitas são
confirmadas quando escuto:
— Você está certo, papai. Já estamos descendo.
E se afasta, sabendo que Vicente tem razão. Mas decido que terei a
última palavra:
— Amanhã você não me escapa, Clarisse! Vou cobrar e com juros a
frustração que estou sentindo neste momento.
E me viro. E saio. Sabendo que amanhã é um novo dia, e mais um
dia com ela em minha cama.
Capítulo 37

— Não sei por que aceitei assistir ao jogo com você! Depois de você
se negar a me levar para Petrópolis, o mínimo que merece é um gelo total,
pelo menos até que eu seja capaz de perdoar tamanha deslealdade,
Noviçabest.
Desde que falei que seria uma viagem romântica e que não poderia
levá-lo, tenho escutado todo tipo de piada com relação ao assunto.
— Bruno, sei que já superou, por isso muda o disco e vamos assistir.
Digo e olho fixamente para a televisão, observando um toque
despretensioso na zaga do Titã.
Mas Bruno não desiste, insiste em tentar me provocar.
— Na verdade nem sei por que ainda me convida, se já sabe mais
das regras do que comentarista esportivo. Aprendeu rápido demais até, e
para ser sincero, tem aprendido rápido também muitas outras coisas!
Ele insinua e claro que fico vermelha, pois sei a que se refere, mas
continuo com o olhar na tela. Não vou cair em suas provocações.
De repente Beto arranca pela lateral do campo e todo o time dispara.
Alguns se posicionam para receber a bola, mas ele segue para a linha de
fundo, até que cruza a bola na área com perfeição, na cabeça de Gustavo,
que cabeceia no canto esquerdo do goleiro, que ainda toca na bola, mas
não consegue evitar o gol.
— Gooooool!
A voz do narrador explode e invade a sala. Olho fixamente para a tela
e vejo Gustavo procurar uma câmera e diante dela fazer o nome do Pai.
Em um momento nosso, ele me contou que é uma forma de agradecer a
Deus e também uma alusão à minha pessoa, sem no entanto gerar alarde
e especulação. E toda vez que o vejo repetir o gesto, meu coração fica
quentinho. Por saber que mesmo envolvido no jogo, ele ainda pensa em
mim, em nós.
Quando a adrenalina do momento passa, olho o tempo que falta para
o final da partida. Vejo que resta somente 3 minutos e o coração pula
ensandecido no peito. Ansiosamente vejo o tempo passar devagar,
enquanto estou a ponto de ter uma síncope.
— Parece que as noites de sexo selvagem despertaram no jogador o
apetite por gols, pois vamos combinar que ele sempre fazia gols, mas nada
como agora. O homem parece uma máquina, jogo após jogo ele marca, um
ou até mesmo dois. Aposto que entre quatro paredes ele também é essa
máquina, hein Noviçabest!
Nem sei por que ainda perco meu tempo corando, por que ainda não
me acostumei! Mas é mais forte do que eu, e novamente estou parecendo
um pimentão.
— Bruno, já estou roendo as unhas, pois o jogo parece nunca
terminar e você ainda não colabora!
Ele apenas dá um sorriso debochado, sabendo que conseguiu o
intento de me importunar. Acho que isso nunca vai mudar, o jeito é eu
tentar me acostumar com as suas tiradas de duplo sentido.
E logo minha atenção volta para a tela, pois escuto o apito do árbitro.
O jogo finalmente acaba. Agora resta somente a última partida, e o Titã
tem toda chance do mundo de ser campeão.
— Você reclama, é ingrata com seu melhor amigo, mas minhas
brincadeiras, nestes momentos, são a única coisa que impedem você de
ter um troço.
Entendi! Tudo que ele disse foi uma forma de tirar meu foco, de
impedir-me de surtar. E neste instante agradeço a Deus por tê-lo em minha
vida, agradeço pela existência de Bruno.
Vou até ele, grata e feliz. Abraço-o forte, e digo baixinho:
— Amo você!
A voz sai embargada e uma pequena lágrima desce, por eu não me
sentir sozinha, como achei que me sentiria após a partida da tia Fernanda.
Posso não ser rodeada de pessoas, mas ter papai, Gustavo e Bruno fazem
de mim uma mulher completa e feliz.
— Eu também te amo, Noviçabest!
E continuamos agarrados, o que me faz bem, muito bem.
— E acaba de ser perdoada, essa sua declaração livrou-a do meu
rancor eterno!
Rio, pois ao lado dele a felicidade jamais me abandona. Meu coração
aquecido, por ele ser o melhor amigo que alguém poderia ter.

A viagem foi tranquila e o assunto girou em torno do jogo de hoje e da


preparação para a grande final, que acontecerá no próximo domingo, em
São Paulo, na casa do adversário. O time viajará na quinta, para poder
realizar um treino de reconhecimento do gramado, além de garantir mais
dias de concentração antes da decisão. Tentarão garantir foco e
privacidade, principalmente da imprensa, que está em polvorosa com a
chegada, pela primeira vez, do Titã Futebol Clube a uma final do
campeonato nacional. Tentarão também preservar Gustavo, que vem
sendo muito assediado devido os gols marcados e por sua possível
transferência na próxima temporada.
E quando já estamos devidamente instalados, ele me puxa para seus
braços e diz:
— A melhor coisa que fizemos foi ter vindo para cá. Termos estes
momentos para nós, pois por conta da final, nosso tempo juntos será
escasso na próxima semana.
Ele diz e a voz traz um tom de melancolia, que contrasta com toda a
empolgação que ele estava até aqui. Não falo nada, apenas me aconchego
em seus braços.
— Queria que viajasse para São Paulo. Queria que estivesse no
estádio no dia da final.
Havia pensado sim em ir, gostaria de estar lá. Infelizmente sei que
não posso perder o curso quinta e sexta, pois estamos numa fase de
apresentar nossos primeiros projetos e estes dois dias são inviáveis para
mim.
— Não conseguirei viajar, pois estarei num período corrido do curso,
mas garanto que não perderei um lance sequer do jogo. Garanto que
torcerei e vibrarei e que todos os meus pensamentos estarão com você,
meu amor.
Ele faz uma cara conformada, sabe que realmente falo a verdade e
que para mim é impossível esta viagem.
— Então prepare-se para encontrar um cara carente quando tudo isso
terminar. E enquanto isso prepare-se para matar um pouco da saudade
que já sinto de você.
E beija-me com urgência, beija-me com sofreguidão
E eu correspondo, pois jamais seria imune a isso.
E quando sinto suas mãos avançarem pelo meu corpo, sei que não
sairemos mais do quarto esta noite, sei que finalmente teremos a nossa
comemoração.
Pela vitória. Pela final. E por estarmos juntos.
Capítulo 38

Dizer que gostei do final de semana seria minimizar tudo o que


vivemos. As conversas, o riso e o sexo gostoso. Na cama, no banheiro e
até mesmo na piscina. Pouco a pouco Clarisse vai se soltando e o que é
bom, fica ainda melhor.
Tivemos sim nossos momentos de privacidade, mas fizemos também
uma saída esperada. Fomos à missa. A loirinha acordou cedinho e a
acompanhei. Tive uma vontade de ir e agradecer e me senti muito bem,
senti-me pleno e grato.
E agora, no final da tarde, enquanto entramos para organizarmos as
coisas para voltarmos, uma nostalgia me invade, uma saudade antecipada
de nos curtirmos sem horário e sem outras pessoas por perto. Apenas
Clarisse e eu.
Decido então que após a final a convencerei a passarmos um
tempinho maior juntos. Aproveitarmos quem sabe as festas de fim de ano
para virmos para cá ou para qualquer outro lugar. Com certeza se
procurarmos um destino pouco badalado não sofreremos com paparazzi,
por sorte sequer seremos reconhecidos.
Isso me anima, afasta um pouco o clima nostálgico.
— Amor, queria tanto que pudéssemos ficar mais um pouquinho!
Seu tom de voz me faz repensar uma forma de adiar nosso retorno
para o Rio. Faz eu maquinar uma forma de tê-la somente para mim por
mais esta noite.
— Mas sei que isso é inviável. Você terá que realizar exames
cedinho, e por isso precisa estar bem descansado. Nada de pegar a
estrada e lutar contra o tempo para não perder a hora.
Ela mesma aponta os motivos para não podermos passar a noite em
Petrópolis e isso joga um balde de água fria na minha última tentativa de
burlar a nossa volta.
Decido então que voltaremos, mas não antes de um instante
derradeiro.
— Vem cá, amor!
Chamo e ela vem. Deliciosa em um shortinho curto e um top. Linda,
com seu olhar cristalino e seu sorriso que me desarma.
— Não temos como evitar a partida, mas temos como adiá-la.
Ela de pronto entende. Seus olhos brilham com a expectativa do que
sabe que vai acontecer.
Levo minha mão ao botão do short e no mesmo instante já sinto todo
o meu corpo implorar por ela.
Clarisse está longe de ser solta como eu gostaria, mas ela já toma a
iniciativa. Já tem pressa em se despir e em me despir.
E em instantes estamos nus, com as bocas coladas e com o meu
sexo duro já pressionando o botão inchado.
A pressão é suficiente para ela suspirar e arfar. As lambidas e
mordidas em seus mamilos são suficientes para ela gemer e balbuciar:
— Ah, meu amor....
E enlouqueço com seu tom rendido, com sua evidente vontade de ser
minha.
E não será na cama, e nem terá quaisquer outras preliminares.
Será na parede. Forte. Duro.
Como precisamos, como a urgência do momento determina.
E num impulso a levanto e ela entende. Envolve suas pernas em
minha cintura e o calor de sua boceta aberta, em contato com meu
membro babado, faz-me insano.
Encosto-a na parede e a penetro. Intenso. Desesperado.
O vai e vem é sem controle, pois a quero de uma forma que sequer
sei explicar.
Mordo, chupo e digo coisas desconexas. Ela apenas se entrega.
Linda, apaixonante.
Temo não conseguir me segurar por muito mais tempo. Temo que não
consiga reprimir por muito mais tempo o meu gozo.
Então levo minha mão para a sua boceta e encontro o que procurava.
O seu clitóris duro, pulsante. Úmido de querer.
— Ah, amor....
Ela geme sentida, como se o carinho fosse mais do que ela é capaz
de suportar.
E eu acaricio como ela precisa, como seu corpo implora.
E meto gostoso e forte como precisamos. Minha pelve buscando
desesperadamente pelo alívio, enquanto tudo em mim tenta curtir ao
máximo o momento.
Ela toma minha boca, chupa com gana a minha língua. Parece não
saber como fazer para administrar todas as sensações.
E perco-me no sabor de sua boca, no calor de sua boceta apertada.
— Gustavo...amor...
Ela geme e sinto o meu pau ser esmagado. Sinto os espasmos de
seu corpo e sei que estou perdido.
O meu orgasmo me rasga, meu corpo treme com a intensidade de
tudo isso.
Solto um gemido animalesco e os jatos jorram com um gozo que
parece durar para sempre. Parece me devorar de dentro para fora.
E as sensações somente se intensificam quando sinto sua boca
distribuir beijos carinhosos por meu pescoço, meu queixo e meus lábios.
E neste momento apenas curto, apenas me delicio com mais um
momento perfeito entre nós.
De repente um telefone toca quebrando o clima, dissipando o
momento. Sei que é a realidade que nos chama, sei que é a hora de voltar
para casa.
Nem preciso atender para saber que é Vicente, querendo saber se já
pegamos a estrada.
Com pesar retiro meu membro, lentamente, sendo insuportável para
mim esta separação.
Mas tudo isso é esquecido quando o percebo desencapado, quando
vejo o sêmen escorrer pela perna de Clarisse.
Porra, esquecemos a camisinha! Mesmo fodendo que nem coelhos,
isso jamais tinha acontecido. Na verdade, em toda a minha vida, isso
jamais aconteceu.
— Clarisse, não usamos proteção!
Na mesma hora ela olha para baixo e confirma o que eu disse.
Vejo o espanto e o medo em sua expressão e me recrimino
internamente, pois sou o experiente aqui, teria que ser eu o primeiro a ser
racional.
Mas ela me enlouquece, ela me tira do prumo.
E me sinto mal por trazer-nos esta preocupação desnecessária, além
de sentir-me responsável em garantir que nenhuma consequência
indesejada apareça por conta deste nosso lapso.
— Não se preocupe, linda, providenciaremos a pílula do dia seguinte.
Sempre escutei que é bem segura e que se for tomada dentro do período
certo, é muito eficaz.
Ela mostra insegurança, não parecendo satisfeita com a minha
proposta. Sei que isso se deve às suas crenças, mas tentarei uma forma
de resolver este impasse.
Trago-a para os meus braços para que se sinta segura. Para que
entenda que vou cuidar dela. Que vou cuidar de nós.
E para que nos curtamos por um instante derradeiro, pois nos dias
que se seguirão estes momentos serão cada vez mais raros.
Capítulo 39

Tem tanta coisa acontecendo na minha vida ao mesmo tempo, que


sequer lembrava que o meu período menstrual estava perto. Se pensar
bem, isso é algo com que na verdade nunca me preocupei.
No convento surpreendia-me quando chegava a época, pois nunca fui
de contar os dias. Depois que cheguei já tinha vindo, inclusive quando já
estava com Gustavo, mas como foi no período em que ainda não tínhamos
tido relações, dei a mesma importância de sempre. Então quando
amanheci com cólicas e com a prova da menstruação em minha calcinha,
me surpreendi.
Gustavo, que sempre percebe em mim até mesmo os mínimos
detalhes, indaga:
— Está tudo bem, amor?
Escuto, assim que saio pensativa do banheiro.
— Menstruei e isso me levou a pensar em como nem lembrava que
estava próximo. Vou tentar ser mais atenta, para não ser surpreendida
como quando acordei.
Tento fazer graça, mas percebo nele um franzir de testa que me leva
a perguntar:
— O que foi? Pensei que você ficaria feliz, pois acabaria com os
riscos depois do deslize de ontem. Deve ser providência, pois eu estava
reticente com relação a tal pílula.
Gustavo escuta as minhas palavras e só depois fala:
— Acabar com os riscos é algo bom, mas tem algo ruim em tudo isso.
Ele faz uma pausa e diz:
— Não posso te fazer minha! Quero saber como vou aguentar tantos
dias! Quero saber como vou aguentar a ansiedade da final, se sequer
posso ter a minha mulher.
Ele parece realmente chateado. Bem frustrado e aborrecido.
— Talvez seja até bom para não distrair você. Ou talvez seja bom
pois teremos um motivo a mais para comemorar quando você voltar com o
título.
Ele parece pensar e acena positivamente com a cabeça.
— Pelo menos terá algo que amenizará tudo isso...
Faz uma pausa dramática.
— Terei você em meus braços até o dia da viagem. Mesmo que não
possa tê-la como gostaria, não abro mão de dormir agarradinho com você.
Gustavo às vezes é tão fofo e carinhoso que não deixa em mim
dúvida nenhuma dos seus sentimentos. Sei que ainda não nos declaramos,
mas o cuidado, a posse e o querer não deixa dúvida sobre o que sentimos.
Sei que não tenho experiência em relacionamentos, mas sei que o
amo e talvez já esteja mais do que na hora de dizer isso com todas as
letras.
Talvez o fim da temporada e de toda esta tensão em que estamos
envoltos seja o momento certo para verbalizar o que sinto. Durante os dias
em que estaremos afastados, trabalharei isso em mim e no seu retorno
tentarei finalmente dizer as palavras, deixar que meu coração fale tudo o
que trago dentro de mim.
Infelizmente o dia da viagem chegou mais rápido do que gostaria. Já
é quinta-feira e o caminho até o CT é feito em silêncio e apreensão.
Meu pai, sempre comunicativo, mantém-se calado, tenso na verdade.
Vez por outra atende o telefone, respondendo a jornalistas sobre as
possíveis opções de transferência de Gustavo ou resolvendo algo
relacionado ao jogo.
Sei que temos que falar sobre as potenciais mudanças que podem
ocorrer, quem sabe até já devêssemos ter tocado no assunto, mas talvez
nenhum de nós queira sair da bolha, ou talvez discutir sobre mudanças, tão
próximo de uma partida decisiva, certamente a mais importante da carreira
de Gustavo.
Teremos tempo, por ora o mais importante é dar-lhe tranquilidade
para o jogo de domingo.
— Vou botar esta droga de telefone no silencioso, ninguém merece
escutar este barulho horrendo a cada segundo.
Rio da cara engraçada que faz e ele também ri. Desarma-se, saindo
do modo empresário e assumindo o modo pai amoroso.
— Tem certeza que não quer viajar conosco, filha?
— Bem que gostaria, papai, mas não posso. Irei assistir pela TV. Este
esquema tem dado certo até hoje, não vejo por que mexer em time que
está ganhando.
— Que jeito, né? Parece que terei que me conformar com isso.
Ele diz, meloso.
Penso em retrucar, mas vejo que chegamos. Não tem mais espaço
para isso, pois meu coração acelera ante a possibilidade de ver Gustavo.
Sei que o vi de manhãzinha e sequer é meio-dia ainda, mas a
saudade já aperta, certamente pela distância que enfrentaremos. Serão
poucos dias, mas será o máximo de tempo que ficaremos sem nos ver
desde que começamos a nos relacionar.
Quando o jogo é fora de casa, ele sempre viaja somente na sexta,
então ficar longe dele já na quinta-feira é algo que não queria, se pudesse
evitar.
Descemos e meu pai me conduz até onde Gustavo está. Ele sabe
que não tenho muito tempo, pois tenho aula daqui a pouco.
Seguimos então apressadamente para a academia. Papai diz que a
atividade está no fim e certamente teremos somente os mais focados, o
que é o caso de Gustavo.
Rio boba por ter um instante com ele antes da viagem, muito embora
o coração já esteja pequeno, sabendo que ficaremos longe por tantos dias.
Assim que estamos chegando, meu pai pragueja pois seu celular
vibra. Ele olha no visor e diz que precisa atender, pois é importante. Mostra
a direção que tenho que seguir e continuo, silenciosamente, pois não quero
denunciar minha presença se o local estiver muito movimentado. Decido
até que esperarei por papai, caso a academia esteja cheia.
Tento perceber isso pelo barulho, à medida que me aproximo. Escuto
claramente a voz de Gustavo, mas sei que ele não está só quando ouço
alguém indagar:
— Pode ser que depois desta final, você volte ao seu normal, Guto.
Nossas festas não são as mesmas sem você! Tem gente até apostando
que tem mulher na parada.
Paro, agora mesmo é que não posso anunciar minha presença, pois
apenas confirmaria as suspeitas do amigo.
— Cara, estou focado no campeonato. Não tem ninguém na parada,
nem sei por que vocês estão cismados com isso.
— Ora, claro que aquele lance da câmera, o pedido de perdão,
mexeu demais com a nossa imaginação.
Tinha pensado em sair, mas fiquei curiosa. Sei que ele não pode falar
de nós, mas quero saber o que ele vai dizer para o amigo.
— Aquilo foi coisa de momento, alguém que aquecia a minha cama
como tantas outras, alguém para me distrair enquanto pegava pesado nos
treinos e jogos.
Tento pensar que é uma forma de se sair, que é uma forma de cortar
o assunto, muito embora o que escute me faça morrer um pouco por
dentro. Decido que agora mesmo é que não entrarei sozinha, tampouco
sairei, quero saber onde esta história terminará.
— Garanto a você que quando tudo isso passar, voltarei à ativa.
Estou com saudade das gatas, da variedade. Quando terminar quero duas,
três, até mais!
Sinto algo se quebrar dentro de mim.
— Então você topa a ideia de fecharmos uma boate em São Paulo,
em caso de vitória?
— Não só topo como curtirei como se não houvesse amanhã!
E as suas palavras me mostram que o que vivemos não significou
nada para ele. Descobri, da pior forma possível, que entre ele e eu não
haverá amanhã.
Capítulo 40

As palavras corroem como ácido. O que digo faz-me muito mal.


Sei que é o que pretendo fazer, sei que jamais cogitei levar o que
tenho com Clarisse realmente a sério, mas colocar isso em palavras não
me faz bem.
Não sei se é porque ainda a desejo demais, ou porque somente
penso em colocar em prática o que disse para Lúcio, depois das festas de
fim de ano, quando ficarei cada segundo com Clarisse, o que será mais do
que suficiente para que sacie esta gana que tenho por seu corpo.
Até lá será como garanti a Vicente. E talvez por ventilar trair a
confiança do meu empresário, é que minhas palavras me soaram tão
indigestas.
Resolvo então mudar de assunto, pois não quero pensar no que
acontecerá depois de Clarisse e muito menos pensar que o nosso tempo
juntos tem prazo de validade e que a cada dia que passa, se aproxima
mais do fim.
Trago à tona assuntos sobre o outro time, sobre seus principais
jogadores e deixo que a conversa gire em torno destes temas. Passa-se
poucos minutos e vejo Vicente adentrando na academia.
Olho de um lado para o outro e não vejo Clarisse, e a decepção vem
forte em mim. A vontade de perguntar é grande demais, mas não posso
dar esta bandeira na frente de Lúcio. Terei que esperar, mesmo que me
mate adiar esta pergunta.
O meia do nosso time conversa um pouco mais e sai. Nem mal ele se
afasta, indago:
— Onde está Clarisse? Ela garantiu que viria se despedir de mim!
Digo queixoso. Não sabia que queria tanto vê-la, não até perceber
Vicente sozinho.
— De última hora ela teve uma coisa do curso para resolver e nos
desencontramos. Clarisse ficou preocupada, mas disse a ela que você
entenderia, afinal se viram hoje pela manhã e domingo já é bem aí. E
ademais aqui nem é o lugar para despedidas, não se quisermos manter a
imprensa de fora. Garanto que este momento é o menos favorável para
que seja publicado algo sobre vocês.
Penso que talvez ele tenha razão. Passa também pela minha cabeça
que por pouco ele não escutou o meu papo com Lúcio, embora certamente
poderia ludibriá-lo ao afirmar que o que dizia era da boca para fora, apenas
para despistar. Ainda que não seja fácil pensar em deixá-la ou mesmo que
a minha vida de orgias ainda pareça muito longe do que vivo neste
instante.
— Combinei com Clarisse que a deixaria informada, já que na
concentração eles vão tentar deixá-los longe das redes sociais, pois a
imprensa e os meios de comunicação irão jogar toda pilha do mundo neste
jogo. Por isso, é consenso geral a necessidade de mantê-los distantes da
internet e até mesmo de contato com os familiares, para evitar que eles
tragam para dentro da concentração toda a especulação que está sendo
criada por conta desta final. Resumindo, estes dias serão praticamente
como um retiro para vocês.
Diz isso e fecho a cara. Não me agrada em nada todo este
isolamento, mas era algo que já sabia, já havíamos sido orientados quanto
a isso.
E mesmo que até agora eu falasse em me afastar de Clarisse, a mera
possibilidade de dias sem contato é algo que me desagrada, muito embora
talvez seja este o caminho para começar a tentar me desligar.
Talvez o lance da boate, se rolar, seja o que esteja faltando para me
fazer lembrar de tudo que estou perdendo ao passar todo este tempo ao
lado de uma única mulher.

Não posso chorar, pelo menos não ainda. Preciso encontrar meu pai,
preciso arranjar uma desculpa para evitar olhar na cara de Gustavo.
Sei que este momento ocorrerá, mas preciso estar mais forte, preciso
primeiramente lamber minhas feridas e buscar uma força que nem sei
como conseguirei. Por ora somente necessito me afastar. Por ora somente
necessito conseguir sair daqui sem deixar-me desabar por toda esta dor
que sinto.
E sigo para onde acho que meu pai está e o vejo. Encerrando a
ligação e guardando o celular no bolso.
Ele olha para mim e parece perceber que algo está errado, e nesta
hora temo não conseguir disfarçar, não por Gustavo, ele não merece
qualquer consideração minha, mas por mim mesma, pois não quero me
expor e principalmente por meu pai, que tem uma carreira a zelar. Também
não quero parecer fraca em sua frente e neste momento sei que me
desmancharia em lágrimas de dor, decepção e desilusão. Quero me
preparar para o embate que certamente virá.
— O que aconteceu, minha filha?
Será mais difícil do que imaginava. Pois sua preocupação é genuína
e mentir é algo que não aprendi e nem quero. Tentarei então evitar o
encontro, usando meias verdades.
— Não consigo encará-lo, tenho medo de me derramar em lágrimas e
ninguém precisa disto nessa altura do campeonato.
Meu pai me olha cismado e digo:
— Só quero ir para casa e esperar para vê-lo no domingo.
— Ele vai achar estranho quando eu disser que você veio até aqui e
não quis encontrá-lo.
A pior parte, pedir para que papai omita o fato de que vim até aqui.
— Acho que não contribuirá em nada na sua concentração se
Gustavo tomar conhecimento deste meu descontrole. Ele vai entender se
você falar algo do curso, pois ele sabe que tenho um trabalho importante
para apresentar.
Ele me olha desconfiado e insiste:
— Você está certa disso, minha filha?
— Sim, papai. Não estou pronta para uma despedida e pelo que ouvi,
ele não está na academia sozinho. Tenho certeza que todo o cuidado que
tivemos para que nada nosso vazasse, escorrerá pelo ralo. Prefiro ir para
casa e encontrá-lo no domingo.
Meu pai parece não entender meus motivos, mas sei que aceitará.
Ele sempre me apoia e agora não será diferente.
— Está certo, meu bem. Faça o que achar melhor. Vou rapidinho
deixá-la em casa e...
— Não, papai. Vou chamar um carro de aplicativo. Não
atrapalharemos a programação de toda uma equipe por causa de uma
moça boba que decidiu dar um chilique.
Tento dar uma risada, que sei que mais pareceu uma careta. Torço
para que papai não insista, pois estou no limite de desabar.
— Não concordo, mas sei que preciso agilizar muitas coisas até o
nosso embarque.
Quase suspiro de alívio. Daqui a pouco terei o meu momento.
Dou um beijo em meu pai e me despeço:
— Até domingo, papai, e tragam essa taça para casa.
Ele parece feliz com minhas palavras e pela primeira vez percebo que
perdi todo e qualquer interesse nesta final. De repente me é irrelevante
saber em qual estado essa taça ficará.
Capítulo 41

Estamos no túnel que dá acesso ao campo. Fiz minhas orações, já


abracei cada um dos meus colegas. E todo o corpo já sente a adrenalina,
todo o corpo já manifesta reações químicas devido à proximidade do
confronto.
Embora a mente não pareça cem por cento conectada com este
momento, a mente ainda insista em me trazer imagens de Clarisse. Porra,
poucos dias sem vê-la e tudo parece falar de uma saudade e uma
necessidade tão incomuns que me assusta, que domina meus sentidos
com imagens e uma vontade desesperada de estar com ela. E começo a
me preocupar, começo a entender que passei tempo demais com uma
única pessoa e que isso causou alguma dependência, que o corpo dela
virou algum tipo de vício.
Não tive contato com Clarisse, mas a cada momento que via Vicente
indagava por ela. Talvez com uma ânsia incomum, em uma busca
necessitada de informações. E sei que ela está bem, que foi bem nos
trabalhos e que ficará ao lado de Bruno estes dias de ausência minha e de
seu pai. Indaguei a Vicente se ela sabe que se a equipe ganhar haverá
uma comemoração por aqui mesmo, ele afirmou que sim e que nesse caso
ela só me espera na segunda, visto que ele embarcará ao final da partida,
independentemente do resultado. Nenhum pedido para que volte com
Vicente, nenhum empecilho para que eu não participe disto, e isto apenas
me revoltou mais, pois enquanto todo o meu corpo parece arder por ela,
Clarisse parece estar muito satisfeita com esta distância, como se somente
este Bruno lhe bastasse, como se nosso tempo juntos pudesse esperar.
Decido então que se vencermos o campeonato, não me reprimirei.
Irei sim a essa boate e curtirei como se não houvesse amanhã. E o fato de
ser uma comemoração privada, apenas vai permitir todo o tipo de
sacanagem que eu tenho em mente.
Sou obrigado a sair de minhas divagações quando inicia-se o
protocolo para o início da partida. Quando somos autorizados a subir para
o gramado.
E quando vejo as torcidas, quando sinto toda a energia pulsante que
envolve o jogo, reprimo qualquer pensamento que não envolva este
momento, focando apenas na decisão que temos pela frente.

Claro que eu sabia que o jogo não seria fácil. Muita marcação e tudo
sendo concentrado basicamente no meio-campo. Foram poucas as
jogadas de ataque, tanto para a nossa equipe, quanto para a deles. E
mesmo que eles estejam jogando em casa e com o apoio maciço da
torcida, o jogo está muito igual e parece caminhar para um zero a zero.
Neste momento aparentemente as duas equipes concentram-se em
defender, pois ninguém parece querer arriscar levar um contra-ataque.
Mas continuamos mordendo, buscando quem sabe uma roubada de
bola que decida o campeonato. E eis que a roubada de bola acontece, eis
que Beto intercepta um passe entre a zaga adversária. E todo o time
acompanha a arrancada dele.
Ele avança e limpa a jogada. Já próximo a área do time adversário,
ele não cruza, toca para o meio em um passe excelente para Lúcio. Ele
chuta no cantinho e a bola pega no travessão e retorna para a área.
Atento, todo o meu corpo explode num impulso de conseguir o rebote e
mal chego na bola, já fulmino em direção à rede, sem chance alguma para
o goleiro.
Todos correm para me abraçar, mas só sei correr em busca de uma
câmera. Na hora lembro de Clarisse, mesmo que tenha me debatido numa
raiva surda por esta situação. Mas a euforia e a felicidade faz-me esquecer
de tudo. Só quero fazer o gesto que já se tornou característico, só quero
que ela participe comigo deste momento.
E posso até escolher a câmera, pois uma enxurrada de repórteres
fica na linha de campo esperando. Escolho uma, foco nela e faço o nome
do Pai. Em agradecimento a Deus pelo gol, em lembrança à mulher que
não sai dos meus pensamentos.
E algo me impele a falar, em dizer a verdade impregnada em todas as
minhas entranhas.
— Amor, estou com saudades!
Sai quase como se tivesse vida própria, como se fosse a certeza mais
absoluta do meu coração.
E não tenho tempo para me questionar ou me chatear, pois os meus
colegas caem sobre mim. Comemorando este gol muito importante,
sabendo que agora a taça está a poucos minutos de nós.
Logo o árbitro apita para que a partida seja reiniciada, a
comemoração teve que ser cessada. Cada jogada a partir de agora é
primordial, a marcação tem que ser ainda mais severa.
E assim acontece. Divididas, bolas isoladas e raça. O outro time
sequer se aproximou mais da nossa área e já estamos por conta dos
acréscimos. Nossa torcida, que se encontra em muito menor número, por
ser visitante, já ensaia um é campeão, e o título já parece sim uma
realidade.
E o árbitro apita o centro de campo, e uma alegria visceral toma conta
de mim. Abraços, felicitações e uma gama de repórter querendo entrevista.
Olho para a torcida que vibra comemorando o nosso primeiro título e
percebo a grandeza do que estou vivendo, percebo que é o apogeu por
tudo que trabalhei até hoje. Neste momento dezenas de microfones
aparecem na minha frente. Querem saber como me sinto tendo feito o gol
do jogo, sobre o título, possíveis transferências e querem saber dela. Para
quem foi a declaração que fiz. E neste instante me arrependo do que disse,
mas por um motivo desconhecido, na hora não consegui reprimir as
palavras. Gritava para sair e não pude conter.
Respondo então algumas coisas, fujo de algumas respostas, até que
Vicente vem até mim e me salva. Ele sempre me salva.
Chama-me para premiação, para receber a taça. Abraça-me e diz
algo:
— Estamos muito orgulhosos de você!
E sei que este plural se refere a ele e a filha. E meu coração dispara.
Uma emoção genuína. Que compete com o que sinto pela conquista do
título.
E a alegria por suas palavras duela com o medo que sinto, com a
dependência que tenho de Clarisse.
Agradeço pelo barulho, abraços e felicitações. Que me impedem de
averiguar tudo isso mais a fundo.
Que me impedem de descobrir o que realmente acontece comigo e
com os meus sentimentos.
Capítulo 42

Até agora me pergunto por que não viajei com Vicente. Já poderia
estar no Rio. Já poderia estar afundado no corpo quente de Clarisse. E
tudo isso somente é potencializado pela incapacidade de falar com ela, o
telefone parece desligado, não consegui contato algum com ela enquanto
estava no hotel.
E agora na boate, com o som alto, sequer posso ligar e as
mensagens que mando nunca chegam. E isso apenas me faz encher o
copo e me recriminar por estar aqui. Enquanto queria estar lá, queria
comemorar esta conquista ao lado dela.
Mas o que não tem remédio, remediado está. Conformo-me e tento
envolver-me na euforia do time. Nos brindes e na bebedeira sem fim.
E parece até que estavam contando como garantido a vitória, pois a
organização fala disso. Os DJs, a exclusividade do clube e até as
mulheres. Daqui e de outros estados. As do Rio, as que conheço. As que já
fodi.
E claro que Camila está aqui. Linda, exuberante. De parar o trânsito.
Decido então que talvez seja o que estou precisando. Talvez ter outra
em minha cama sirva para afugentar esta necessidade que sinto da
loirinha.
E a Camila não joga, não ameaça. Ela ataca, certeira. Decidida.
Aproxima-se com um vestido colado que entrega tudo, que fala o
quanto ela é gostosa.
Aguardo e tento demonstrar um interesse que ainda não veio, forçar
um desejo que ainda não apareceu.
— Ah Guto, já estava com saudades de você!
Insinua sobre a minha ausência, faz-me lembrar indiretamente de
Clarisse.
Apenas dou um gole na bebida, enquanto ela cola o corpo no meu,
aproxima a boca do meu ouvido e diz:
— Daria tudo para comemorar o título em sua cama!
Direta. Ela sempre é.
— Quem sabe eu não receba um convite para terminar a noite em
seu quarto de hotel!
Levanto a vista e neste instante vejo selfies e fotos sendo tiradas,
todos compartilhando este momento de curtição. E sei que aparecerei nas
imagens, sei que a situação é mais do que comprometedora.
Queria dizer que não me incomodo, que o desejo que Camila me
despertou suplanta qualquer preocupação. Mas é mentira. Nenhum desejo,
nenhuma vontade. Sinto, na verdade, é uma necessidade absurda de me
afastar e olhar a porra que os caras fizeram.
— Preciso ir no banheiro, Camila.
E me afasto. Sem sequer responder às suas insinuações.
Preciso encontrar um lugar tranquilo. Preciso olhar o celular.
Mas até parece que é algo impossível, devido as inúmeras
abordagens que recebo. Sobre o gol, sobre o título ou por, segundo eles,
estar voltando à ativa. Respondo-os rapidamente, louco para verificar a
droga da confusão que estou metido.
E quase uma eternidade depois, consigo a privacidade necessária
para verificar meu celular.
Primeiramente olho a rede social e o que vejo faz a bile subir na
garganta. A foto viralizada, eu marcado em várias postagens. Todas
mostram nitidamente intimidade entre Camila e eu, insinua na verdade
muito mais do que aconteceu.
E isso não é o pior! Na que fui marcado por Lúcio, tem um comentário
que diz: o garanhão ataca novamente. E depois disso sei que estou
ferrado, sei que Clarisse jamais acreditaria numa possível inocência minha.
Talvez então fosse melhor eu chutar o balde mesmo, talvez devesse
dar por fim o que quer que estivesse acontecendo e voltar logo aos velhos
tempos, começar de agora o que não tardaria a acontecer.
Mas meu corpo inteiro refuta a ideia, nem mesmo o álcool que circula
no meu sangue me estimula a isso. Ainda não estou pronto para ficar sem
ela, não posso abdicar dela. Não ainda.
E no meu desespero olho novamente meu aplicativo de mensagens,
querendo quem sabe uma resposta para as mensagens enviadas, ou até
mesmo uma cobrança pela foto comprometedora que certamente já
domina a grande maioria dos sites de fofocas, que não perdem tempo
algum.
E o que vejo me tira o chão, me abala demais. Vejo que estou
bloqueado. A ausência da imagem no perfil e os demais indícios me dizem
que ela viu a foto e que estou mais do que fodido.
E nesta hora decido mandar esta festa de merda pra puta que pariu.
Mandar todo e qualquer pensamento consciente para o inferno. Só quero
vê-la, só quero voltar pra casa.
E é isso que faço. Vou em direção à saída, vou para o aeroporto.
Pedirei para alguém da comissão técnica levar meus pertences, direi que
tive uma emergência.
E já no táxi sei que esta é a palavra. E sei também que não medirei
esforços para embarcar o quanto antes.
Como é uma ponte aérea, sei que haverá muitas ofertas de voos,
muito embora possa ocorrer algum tipo de espera que tentarei minimizar.
Viajarei na classe econômica ou até mesmo fretarei um jato, só quero
chegar logo em casa, provar que não tenho qualquer outra em minha cama
e tentar matar toda a saudade que me consome.
Desço do carro e já ando em direção aos guichês das companhias
aéreas. Vejo que talvez a sorte esteja do meu lado e que talvez nem tudo
esteja perdido. Consigo uma vaga em um voo que já está a ponto de
decolar e, como não tenho bagagem, só me resta seguir rapidamente para
o portão de embarque.
Mesmo tendo bebido, o álcool parece ter evaporado quase que
totalmente do meu corpo. O medo e o desespero certamente contribuíram
para isso.
E a minha pseudo sobriedade ajuda na celeridade de tudo, ajuda
para que em pouco tempo eu já esteja sentado no meu assento, esperando
ansiosamente o momento da decolagem.
E já nas alturas fecho os olhos e me deixo levar. E um filme passa na
minha cabeça. Lembranças de beijos, carinhos, momentos. Sorrisos, noites
agarradinhos e orgasmos incomparáveis. Tudo dela. Sempre dela.
Talvez eu já não estivesse pronto para me afastar. Quem sabe se um
dia estaria. E isso vem à mente quando lembro do desespero que me
toma, quando lembro que estou voltando para ela, quando poderia estar
com qualquer outra.
Não quero saber o que isso significa, nem quero pensar sobre isso.
Só quero estar com Clarisse, só quero ter direito aos seus beijos e ao seu
corpo novamente.
E felizmente começa o protocolo para o pouso e minha angústia
parece finalmente perto do fim.
Tudo passa como um borrão, tudo é feito no automático.
E logo já estou em um táxi, de pronto sendo reconhecido pelo
motorista. E talvez fosse realmente o que precisava. Outro pensamento,
falar sobre o que amo. Isso ajuda o tempo a passar, apenas faz com que
logo chegue ao meu destino.
Pago a corrida garantindo uma gorjeta generosa. Desejo uma boa
noite, esperando que os votos recíprocos do motorista realmente se
concretizem.
Olho para o relógio e vejo que já passa das quatro da manhã e
mesmo o bom senso tentando me fazer ir para o meu quarto, sei que é
para o de Clarisse que irei.
Pois preciso dela. Preciso que entenda que estou aqui porque não
suportei a distância. Preciso que acredite que não fiz nada do que aquela
maldita imagem insinua.
Capítulo 43

A casa de Deus foi o único lugar que consegui algum alento estes
dias.
Muito choro, inconformismo e desespero. Dias longe de televisão e de
celular, pois tudo me remetia à final, e indiretamente a ele.
Infelizmente este afastamento não me levou a esquecer e muito
menos ajudou a diminuir a dor que me consome. Por sorte tenho Bruno,
que me ouviu, me apoiou e está comigo o tempo todo. Estes dias não nos
largamos um segundo sequer. O único lugar que me deixou só foi aqui,
mas porque sabe que na igreja consigo todo o conforto e consolo que
preciso. Até que o convidei, mas ele preferiu ficar em casa assistindo ao
jogo, disse que ia secar Gustavo e torcer para o time adversário. Rio ao
lembrar de suas palavras, meu amigo é um barato.
Pego um táxi e forneço ao motorista o endereço de Bruno. Segundo
ele faremos uma noite de garotas, pois não me deixará sozinha em casa
esperando por um idiota que não ficou de vir, palavras dele e não minhas.
E felizmente tenho esta possibilidade, jamais queria ter que ficar sozinha,
sabendo que em caso de derrota ele retornará e sei que não estou pronta
para o confronto, e em caso de vitória ele optará por curtir com os amigos,
pois deixou muito claro que está com saudade das farras, das mulheres.
Chego na casa do Bruno já sabendo que o Titã é campeão. O
movimento nas ruas e os gritos dos torcedores confirmam isso. Fico feliz,
pois sei que é consequência de muito trabalho e jamais seria mesquinha o
bastante para desejar o mal para tanta gente, por ter me decepcionado
com um deles.
A vontade de navegar nos sites e redes sociais é grande, mas me
policio. Não será assim que conseguirei esquecê-lo, muito pelo contrário.
Abro a porta da sala e quase sou jogada no chão com o impacto do
corpo de Bruno.
— Noviçabest, ele fez o gol da vitória e mandou mensagem para
você!
Meu queixo quase cai, minha cara de assustada é típica.
— É verdade! O jogador traidor disse: amor, estou com saudades! E é
claro que ele falou de você.
Como a grande boba que sou, sinto meus olhos inundarem, sinto meu
coração quase sair pela boca.
E como a mulher apaixonada que sou, sinto minha esperança e meu
amor voltarem com tudo.
— Será que me precipitei, Bruno? Será que era apenas um disfarce?
Questiono.
— Tenho certeza que sim, pois nem mesmo um ator conseguiria fingir
tão bem, imagina um jogador.
Ele graceja e rio, feliz como há dias não me sentia.
— Você precisa ver! Vamos zapear os canais esportivos e assistir as
matérias. Só se fala no título e na declaração do jogador.
E me puxa para a frente da TV. E eu entendo o que ele quis dizer.
Entendo por que acreditou nas palavras de Gustavo. A seriedade, a
aparente sinceridade e a emoção genuína que cada palavra remete. E eu
acredito. Emociono-me e fico ansiosa pelo seu retorno.
Estou louca para abraçá-lo, beijá-lo. Estou louca para ficar com
Gustavo.
— Liga para ele! Liga!
Bruno fala e todo meu corpo implora por isso. Ele coloca o aparelho
em minhas mãos suadas e trêmulas de emoção.
Olho o celular que está desligado, para que eu não cedesse a
vontade, para que não ficasse fuçando nas redes sociais. Somente o ligava
à noite, para falar com papai. Combinamos que nos falaríamos neste
horário e foi o ideal para que eu o mantivesse desligado o restante do
tempo. E quando ligava o aparelho, sequer ativava a internet,
impossibilitando assim qualquer contato por mensagem.
Mas agora tudo muda de figura. Agora vejo que não estou com
saudade sozinha. Vejo que não preciso refrear a vontade que tenho de
ouvir a sua voz.
E essa vontade não pode mais esperar, essa vontade precisa ser
saciada neste exato momento.
E tão logo consigo firmeza suficiente para ligar o celular, eis que ele
toca alto. Insistentemente.
Olho no visor cheia de esperança, que se esmorece um pouco
quando vejo que é papai. E mesmo com pressa em falar com Gustavo,
preciso atender, pois sei que somente o deixarei preocupado se
desconsiderar a sua ligação.
— Oi, papai!
Atendo feliz, nada é capaz de tirar este sentimento de mim depois das
últimas notícias.
— Graças a Deus que atendeu, minha filha. Eu já estava preocupado.
Claro que estava, por isso adiei o contato com Gustavo.
— Sem motivos, por aqui está tudo bem.
Tento deixá-lo tranquilo.
— E você não deveria estar brigando comigo, deveria era estar
comemorando o título!
Gracejo, feliz.
Do outro lado da linha ele ri. A felicidade é evidente e isso me faz
bem, muito bem.
— Decidi que quero comemorar com você! Estou voltando para casa.
Inclusive já estou no aeroporto esperando o voo.
Meu coração quer parar, não aguenta a ansiedade de saber que eles
estão voltando.
— Que horas vocês embarcam?
Não me contenho, a partir de agora quero contar os minutos.
— Irei sozinho, querida. Gustavo ficará para uma comemoração com
o restante do grupo.
Um balde de água fria. Um golpe que eu sequer sei se um dia serei
capaz de superar. Tento ser forte, tento não demonstrar que sei que a
comemoração é em uma boate cheia de mulheres e de más intenções por
parte de Gustavo.
Dou tudo de mim para responder, para que ele não perceba quão
devastada estou.
— E que horas você chega?
A voz sai forçada, mas ele parece não perceber, pois continua
animado. Diz que daqui a uma hora estará desembarcando e combino com
ele que Bruno e eu estaremos lá para recebê-lo. Combinamos também de
irmos a um restaurante, oferta dele e eu não poderia recusar, para não
levantar suspeitas.
Apresso-me para encerrar a ligação, pois preciso desabar, já não
aguento mais fingir.
E assim que isso acontece, desfaleço nos braços do meu amigo em
um choro copioso. Ele nada pergunta, pois ouviu toda a conversa.
— Não temos como fugir do compromisso com seu pai, mas
continuaremos com o plano da noite de garotas!
Ele diz decidido e balanço a cabeça. E é melhor, pois em casa,
próxima a tantas lembranças, o sofrimento somente aumentaria.
E enquanto tento buscar forças para me acalmar, vejo que ele pega o
meu celular e começa a mexer. Pouco tempo depois, diz:
— Pronto, celular novamente desligado! Não deixarei a minha
Noviçabest disponível. Aquele jogador fingido não terá acesso nenhum a
você!
E mesmo em meio às lágrimas, tenho o conforto de saber que meu
amigo cuida de mim e que cuidará nos dias difíceis que certamente virão.
Capítulo 44

Rio, tento interagir, mas minha mente está muito distante do que
acontece neste restaurante. A todo momento ela insiste que ele poderia
estar aqui, que poderia estar comemorando comigo. Mas claro que não foi
esta a opção que ele tomou, ele preferiu a farra, preferiu colocar em prática
os planos que tão bem escutei.
E isso me destrói. Saber que nada do que vivemos foi real, que
enquanto ele estava comigo, ansiava por outras mulheres e agora que a
competição acabou, se acha apto a fazer o que dá na telha, algo que ele
mesmo disse e com todas as letras.
Como vou suportar? Como vou conseguir conviver com Gustavo? Vê-
lo se arrumar e sair, enquanto somente a dor me fará companhia?
Não quero isso para mim, não quero ter que me submeter a essa
situação. Penso numa forma de abordar o assunto, quando escuto:
— Estou achando você distante, minha filha!
Talvez seja a deixa que eu precisava.
— Esses dias tenho pensado em algo e isto está me deixando
contemplativa.
Meu pai me dá toda a atenção. Bruno interrompe o percurso do garfo
à boca, também atento ao que direi.
— Estava pensando em me mudar para o apartamento em que
morávamos quando a mamãe era viva.
Solto de uma vez. Talvez essa seja a única opção possível para uma
mudança, talvez seja algo admissível para meu pai.
— Você não está gostando? Aconteceu alguma coisa? Você e
Gustavo brigaram?
Uma enxurrada de perguntas, como achei que seria. Tento ter calma,
tento convencê-lo.
— Papai, claro que estou gostando e não aconteceu nada. Só que
não posso ficar morando de favor na casa de Gustavo indefinidamente.
Ele reflete e diz:
— Só pode ter acontecido algo, vocês terem brigado...
— Papai, você sabe que Gustavo e eu sequer nos falamos e sabe
que estávamos bem. Apenas comecei a pensar e quero o meu cantinho,
com as coisas do meu jeito. Quero ser independente, preciso começar a
trilhar o meu próprio caminho.
Respiro fundo e tento ser mais convincente:
— À sua maneira você sempre me apoiou, e recentemente quando
achei que a mudança que passaria fosse acabar comigo, você estava lá.
Deu-me amor, compreensão, além de todo o suporte para seguir em frente.
E aqui estou eu: estudando e com uma vida semelhante a das pessoas da
minha idade. Agora quero ir além, quero voar mais alto.
Digo emocionada, pela primeira vez podendo demonstrar algum
sentimento.
Meu pai fica em silêncio e parece pensar. Finalmente diz:
— Talvez você esteja certa, Clarisse. Talvez esteja na hora de você
alçar outros voos.
Sorrio, mesmo sem vontade. A compreensão de papai é um alento
neste momento difícil.
— E quando acontecerá esta mudança?
A parte mais difícil e que talvez levante suspeitas.
— Amanhã! Como sei que você paga a uma empresa de limpeza
para deixá-lo sempre habitável, somente irei com Bruno dar uma olhada
para ver o que precisa ser adquirido com urgência, ademais irei
providenciando quando já estiver instalada.
— E as coisas que estão na casa de Gustavo?
Sei que amanhã haverá a premiação dos melhores do Campeonato.
Era somente isso que se falava na transmissão dos programas desportivos
do pós-jogo. Então irei aproveitar que ele não estará em casa para pegar
tudo que é meu.
— Depois da aula irei lá com Bruno. Transferirei minhas coisas para o
meu novo lar amanhã à noite.
Um vislumbre de compreensão aparece no semblante de papai. Ele
entende que quero evitar o jogador.
E quando penso que ele vai voltar a me perguntar sobre possíveis
brigas ou desentendimentos, ele somente diz:
— Está bem, minha filha. Conte comigo para que as coisas ocorram
no seu tempo e do seu jeito.
E mais uma vez sinto seu amor. Na compreensão e principalmente no
entendimento de perceber que agora não é hora de perguntar e sim é hora
de cuidar e de amar.
Como combinado estamos tendo nossa noite de garotas. Eu
devidamente triste e calada, enquanto Bruno segue ao meu lado
acompanhando as redes sociais e praguejando pela decisão de Gustavo
em ter permanecido em São Paulo. A todo momento fala do quanto ele é
fingido, pois fez declarações mentirosas, enquanto decidia-se por fazer a
comemoração pela vitória numa boate onde nada de bom poderia
acontecer.
E parece que ele estava certo, parece que sabia qual comportamento
esperar do jogador.
Entendo isso quando Bruno me mostra uma foto. Comprometedora.
Onde aparece bebidas, jogadores e muitas mulheres. Mas algo tem minha
atenção absoluta, algo faz meu mundo desabar.
Gustavo com uma mulher junto de si. Numa intimidade que fala por si
só. Certamente colocando em prática o que tanto alardeou na conversa
que ouvi, certamente provando que fiz a melhor escolha ao decidir-me por
sair de sua casa.
E um desespero sem precedentes me toma. Por entender que é o
fim. E infelizmente eu sabia que isso ocorreria, mesmo que suas palavras
depois do gol tenham criado uma momentânea cortina de fumaça.
E as lágrimas escorrem sem controle, vê-lo com outra me faz mal, me
aniquila.
Sinto os braços de Bruno ao meu redor, e choro ainda mais.
Não há palavras, pois não há conforto.
Não para uma imagem tão clara, não para algo que a sua decisão de
ficar já deixava mais do que evidente que aconteceria. Só não sabia que
meu mundo desabaria ainda esta noite, só não sabia que a internet me
traria a causa das minhas lágrimas em tempo real. Nos perfis dos
jogadores que Bruno segue, em alguns sites de fofocas que já começam a
divulgar a foto.
De repente Bruno se afasta, pega o meu celular e me entrega.
— Bloqueie este jogador fingido. Depois desta foto e do que ele
escolheu fazer, nada mais justo que ele não tenha mais nenhum acesso a
você.
Ele está certo e por isso não hesito em fazê-lo. Mesmo que me parta
o coração, mesmo que uma dor infinita me tome.
E volto para os braços de Bruno, meu choro sendo impossível de ser
contido. Sabendo que terei uma longa noite pela frente, sabendo que
infelizmente todo este meu sofrimento apenas começou.

Abro a porta do quarto com cuidado, pois não quero acordá-la,


somente quero dormir ao seu lado. Ando silenciosamente pelo quarto, o
coração já desesperado pela proximidade da loirinha. Sigo para onde sei
que encontrarei a cama e sento no lado oposto ao que Clarisse sempre
ocupa. Tiro rapidamente o sapato e deito, louco para trazê-la para os meus
braços.
A ansiedade é tanta que o desespero me toma quando encontro o
espaço vazio, quando vejo que ela não está dormindo. De supetão me
sento e ligo o interruptor, confirmo que ela não está neste quarto. Um
aperto desconhecido invade meu peito e levanto-me ansioso por encontrá-
la. Sigo para o banheiro, closet, sigo atrás de algo que diga seu paradeiro.
Nada! Nada!
Apenas silêncio e solidão. Pelo menos algo me conforta, vejo suas
coisas. Num instante de loucura imaginei que tivesse se mudado, que não
habitasse mais nesta casa. Sei que é a minha consciência lembrando das
fotos que estão nas redes sociais, lembrando de todas as coisas que disse
e que pensei fazer.
Pego o telefone e busco seu contato no aplicativo de mensagens,
quero mandar algo, quero confirmar que está na casa do tal do Bruno.
Mas vejo que estou bloqueado, que continuo bloqueado. Tenho
vontade de gritar, de quebrar tudo. Tenho vontade de pegar um carro e ir
encontrá-la. Mas tenho principalmente uma vontade absurda de vê-la, de
beijá-la e de explicar toda esta confusão que está nas redes sociais e nos
blogs de fofocas.
Mas sei que a hora é inconveniente e sei também que o infeliz do
amigo da onça jamais iria me receber, talvez até chamasse a polícia
alegando perturbação do sossego.
Dou um murro na parede, pois parece ser a única coisa capaz de ser
feita neste instante.
— Poooorrraaaa!
Praguejo, não por conta da dor, pois ela é irrelevante neste momento,
mas por conta da montanha-russa de emoções que me tomam. Desde a
euforia intensa por conta do gol e consequentemente do título, até a
desolação e tristeza extrema por estar longe dela, por não estar com ela. E
o pior de tudo, por não saber sequer se algum dia estarei com ela
novamente.
Capítulo 45

Passei o restante da noite virando de um lado para o outro. De vez


em quando olhava o que falavam da foto e mesmo sabendo que nada
aconteceu, admito que as imagens realmente eram bastante
comprometedoras e claro que as especulações não poderiam ser piores.
Atribuem até mesmo a minha fala na final a uma suposta declaração para
Camila. Quem já se viu, chamá-la de amor? Falar que estou com
saudades? Só pode mesmo ser castigo por ter corrompido uma noviça!
E enquanto alterno entre rolar na cama e olhar o celular, a hora do
café da manhã finalmente chega.
Rapidamente vou para o meu quarto fazer minha higiene, e depois
descer para procurar por Vicente e tentar obter notícias da loirinha.
E quando já estou pronto, saio como um furacão à procura do meu
empresário.
Avisto-o de pé na sala e quando abro a boca para falar, ele esbraveja:

— Seu moleque! Devia ter previsto que isso ia acabar assim! Claro
que na festa você não ia ficar sozinho!
— Vicente...
— Só não quebro a sua cara por causa do evento de hoje à noite.
Infelizmente meu lado profissional impede-me. Mas saiba que amanhã
nada me impedirá de te encher de porrada.
Ele diz bravo, o ódio é evidente e antes que eu consiga falar o que
quer que seja, ele continua:
— Em pensar que eu praticamente coloquei a ovelha na boca do lobo
quando consenti esta sandice! Só poderia não estar em meu juízo perfeito,
pois permiti que um degenerado como você se aproveitasse da minha
Clarisse! Felizmente não permiti que essa história fosse do conhecimento
da imprensa, parece que estava adivinhando que você iria aprontar.
Não concordo com suas palavras, mas antes de contestá-las preciso
dizer o que realmente aconteceu.
— Olha, cara...
— Olha você, Gustavo Leão, por conta desta minha falta como pai e
porque você não consegue manter o pau dentro das calças, minha filha vai
se mudar, ela não quer mais morar nesta casa!
Suas palavras me desnorteiam e a minha única reação é afastar uma
cadeira e sentar. Penso que não entendi direito e pergunto:
— Como é que é?
— Isso mesmo que você ouviu! Jantei com Clarisse e ela me
comunicou que vai deixar esta casa.
Mesmo desorientado com a notícia, obrigo-me a pensar com
coerência.
— Mas como ela comunicou isso na hora do jantar, se só cheguei na
boate perto de meia-noite?
Vicente assusta-se com o que digo e pensa. Aproveito este instante
para dizer:
— Talvez essa decisão...
Ele me corta. Sequer me deixa concluir.
— Conheço minha filha, tinha dor em seu olhar. Ela estava sofrendo
quando falou que ia sair desta casa. Foi até por este motivo que não insisti
para que ficasse.
Escuto calado e tento chegar a uma conclusão, mas antes que meu
cérebro consiga pensar em algo, Vicente fala:
— Claro que algo estava errado, e estava errado desde o dia do
embarque para São Paulo! Somente um pai relapso como eu não
perceberia. Clarisse estava eufórica para te ver, foi até o CT e a apenas
alguns passos de distância, mudou de ideia. Do nada. No intervalo de uma
ligação ela disse que não queria mais se despedir, que não queria levantar
bandeira sobre o que estavam vivendo, e eu como um pai que sequer
conhece a própria filha, deixei-me levar.
— Ela foi se despedir? Ela estava no CT naquele dia?
Mesmo não tendo diminuído a raiva que ele demonstra, Vicente
parece querer entender o que aconteceu tanto quanto eu.
— Ela disse que você não estava sozinho na academia e que sabia
que não conseguiria disfarçar o que rolava entre vocês e por isso preferia ir
embora, antes que se entregasse. E ainda pediu para que eu não lhe
contasse!
Puta que pariu! Eu estava lá com Lúcio e lembro perfeitamente o teor
da conversa que estávamos tendo. Mulher. Sexo. Baladas.
— Porra! Sei o que ela ouviu. Agora sei por que ela sequer recebia as
minhas mensagens.
Ele parece pensar e explode:
— Infeliz! Você tava falando putaria! Você estava antecipando o que
aprontou!
Ele me conhece! Sabe do que sou capaz.
Muito embora desta vez tenha mudado de ideia, minha vontade e
desejo por Clarisse me impeliram a correr para cá, a dispensar Camila e
qualquer outra que aparecesse, por mais gostosa que fosse.
Respiro fundo e reconheço que estou ferrado. Até pelo fato de estar
bloqueado e da decisão dela em sair daqui. Decido que não posso aceitar,
quero e preciso de Clarisse. Decido falar a real, tentar convencer Vicente
que quero a loirinha e que não fiz nada de errado, apenas falei um monte
de besteira, que nada coloquei em prática. Na verdade sequer tive
vontade. Um fato que é surpreendente e até inconcebível para mim.
— Não vou mentir e muito menos fingir ser alguém que não sou,
mesmo porque você me conhece e o respeito demais para agir de forma
contrária. Estava sim dizendo um monte de besteira, tentando mostrar-me
como eles me enxergam: pegador, festeiro. Mas a verdade é que fui para a
festa e me senti deslocado, arrependido de não ter voltado com você e a
todo instante pensando em Clarisse.
— Ah tá! Então foi por isso que se agarrou com a sua Maria-chuteira
de estimação?
Diz de forma irônica e sequer posso julgá-lo. Sei que é isso que a foto
insinua, e foi isso que me prestei a fazer quando não retornei para o Rio.
Mas sei que quando lá estava, a vontade de ficar com outra era inexistente
e Clarisse ocupava todos os meus pensamentos. Preciso provar isso a
Vicente. Necessito que ele fique do meu lado e me ajude a corrigir esta
burrada.
— Não nego que foi pra isso que fui. Para ficar com ela e com quem
mais me interessasse. Mas não consegui. Não quis. Não tive interesse
algum, arrependi-me e voltei de madrugada. Saí da boate direto para o
aeroporto, sequer trouxe minha bagagem. Queria ver Clarisse, precisava
estar com ela.
— Depois que ficou com outra, depois que o mundo mostrou os dois
juntos na balada? Certamente minha filha não olhará mais na sua cara,
certamente você perdeu uma mulher especial, que as circunstâncias
mostraram claramente que você não merecia.
A mera possibilidade da perda me maltrata, causa-me uma dor
insuportável. Preciso resolver isso. Preciso que Vicente me ajude. Preciso
da loirinha, mais do que sequer imaginava.
Olho para meu empresário. Sei que ele me conhece. Muito. Como um
pai conhece um filho. Então digo a verdade, conto o que realmente
aconteceu:
— Eu não fiquei com a Camila, juro que não fiquei. Ela chegou junto,
insinuou. Os caras fizeram a foto, pois, como você sabe, estou longe disso
tudo há um tempo. Mas foi só. Quando ela insinuou-se mais, disse que ia
ao banheiro e vim embora. Da festa. De São Paulo. Vim atrás de Clarisse.
Estava louco de saudade dela.
Falo com emoção e sinto que Vicente sabe que falo a verdade.
Ele passa a mão no queixo e me olha seriamente.
— Conheço você e por isso acredito, mesmo que pareça inconcebível
este seu relato.
Suspiro aliviado, pois sei que tenho nele um aliado.
— Mas afirmo, Guto: sua situação não é fácil. Clarisse está decidida a
ir embora e a dor que percebi em sua face, talvez não possa ser revertida
apenas com meia dúzia de palavras.
Dói. E dói mais por saber que ele tem razão.
— Pois diga-me algo. Você que já esteve num relacionamento de
verdade, deve saber o que fazer. Eu preciso de um norte, Vicente! Por
favor, me ajude!
Olho para ele e digo emocionado.
— Eu não posso perder Clarisse! Não posso!
O aperto que sinto agora é algo novo, desconhecido. Nem sei explicar
em palavras e nem quero, pois a única coisa que quero e preciso é ter a
minha mulher de volta.
Somente quero a minha loirinha novamente em meus braços.
Capítulo 46

Tristeza não definiria integralmente o que estou sentindo. É mais, é


algo maior.
É uma decepção por perceber que estava gostando sozinha, que
somente eu queria os nossos momentos e que, pelo que escutei, Gustavo
estava mais do que saudoso de ter outras mulheres.
A alegria que sentia de estar com ele, a emoção de estar em seus
braços, de receber os seus beijos e de ser sua, era algo não retribuído.
Gostava sozinha. Amava sozinha.
Sim, não tenho dúvida alguma do que sinto e sei que não é porque
Gustavo foi meu primeiro beijo, e muito menos porque foi meu primeiro e
único homem. A certeza vem pelas sensações que sinto ao estar com ele,
pelo coração que dispara, pelo corpo que vibra e pela emoção que me
toma. Mas vem principalmente pela dor sem precedentes que sinto, pelo
sufocamento que não cessa e pelo desespero que ameaça mutilar a minha
alma.
Rezo a todo instante para que encontre um norte. Imploro a Deus
para que eu consiga superar e seguir em frente, tendo a certeza de ter o
apoio incondicional Dele, de papai e de Bruno.
E é ao lado do meu amigo que sigo para a casa de Gustavo. Para
fazer o ato derradeiro, para retirar de lá as minhas coisas, assim como
pretendo dia após dia retirá-lo do meu coração.
E seguimos calados, o que para mim é uma grande surpresa. Apesar
de Bruno nunca ser introvertido, neste momento encontra-se desta forma.
Talvez por saber que não será fácil para mim, ou talvez por estar
guardando seu latim, pois sabe que a noite será longa e sabe que só
poderei enfrentá-la sem enlouquecer, se puder contar com ele, se estiver
fisicamente e espiritualmente ao meu lado.

Estou sentado esperando começar a premiação. Inquieto.


Angustiado. Sabendo que aqui é o último lugar onde queria estar. Sabendo
que o que eu queria na verdade era estar plantado na sala da minha casa,
esperando por Clarisse.
Por mim teria ido na casa de Bruno pela manhã, que certamente era
onde ela estaria. Embora soubesse que talvez nem fosse recebido e ainda
teria aquele encosto dificultando sumariamente a minha vida. Ou teria ido
até a saída da instituição onde ela estuda, ficando de plantão até que a
visse e pudesse abordá-la para pedir seu perdão e implorar para que
voltássemos a ficar juntos. Mas Vicente interveio e alertou-me que isso
apenas chamaria a atenção sobre ela e tornaria sua vida ainda mais difícil
do que está agora, depois de todas as burradas que fiz.
E foi também Vicente que me convenceu a vir neste evento. Meu
empresário foi enfático em dizer que era péssimo para a minha carreira a
ausência, assim como não mudaria a minha situação pressionar a loirinha
neste momento.
Mas não foi isso que me convenceu. Não mesmo!
O que na verdade me convenceu foi a oportunidade de provar para
Clarisse que falei tudo da boca pra fora, que fui para um lugar onde não
queria estar e que mesmo com todas as minhas mancadas, não fiz e não
seria capaz de fazer aquilo a que me propus. Porque meu corpo não quis,
porque minha alma rejeita terminantemente outra que não seja ela, alguém
que não seja a minha Clarisse.
E por isso estou aqui, mesmo sabendo que neste momento
provavelmente ela está fazendo suas malas, sabendo que este plano pode
falhar e que talvez eu sequer tenha a chance de provar que a quero. Muito.
Demais.
E são estes conflitos que me fazem querer sair daqui
desesperadamente e ir para casa. Para vê-la e para tentar convencê-la a
me aceitar novamente em sua vida. E me mata não seguir meus instintos,
me mata ter que me manter sentado nesta cadeira.
E nisso a cerimônia prossegue, sem que eu preste qualquer atenção.
Vejo o movimento intenso no palco. De jogadores. Montando a seleção do
campeonato. Sei que estou cotado para fazer parte, como também há
expectativas para que eu seja eleito o craque do campeonato.
Em qualquer outro momento eu estaria ansioso, seria o
reconhecimento de todo o meu esforço. E talvez depois eu perceba isso e
valorize mais este instante. Mas não agora.
A única coisa que me importa agora é ter acesso a um microfone. É
explicar para a imprensa a quem sempre me referia, e deixar claro que
nada aprontei na boate. Acabar com os rumores que associam o nome
Camila ao fato de eu estar com saudade, acabar com a ideia de que a
chamei de amor.
Referi-me à Clarisse. O que foi dito sempre foi relacionado a ela.
Espero com isso acabar o falatório que sei que machuca a minha
loirinha, tentando com isso deixá-la mais susceptível a me ouvir. Claro que
não quero evitar uma conversa, ou tentar resolver os meus problemas com
uma entrevista. Claro que não!
O que quero é esclarecer que Clarisse é esta mulher, e deixar bem
claro que nada aconteceu naquela boate.
E qual a melhor forma de divulgar isso? Comunicar em um evento
que está sendo amplamente divulgado.
Quero com isso cessar de vez esta história, mas quero principalmente
que Vicente a convença a assistir. Combinamos isso, muito embora
desconfie que nem mesmo o seu pai conseguirá tal façanha.
Sei que ele tentará, mas sei também que o amigo chiclete dela fará o
que for possível para impedir isso.
Mas desta vez contarei com a mídia. Sei que a divulgação será
instantânea e que chegará aos ouvidos de Clarisse. Espero que a ideia de
Vicente dê certo, como espero que minha declaração amoleça o coração
dela, e que ela seja capaz de me ouvir. Que ela seja capaz de perdoar e
me tirar da situação em que me encontro.
Angustiado. Desesperado.
— E para compor a seleção do campeonato, chamamos Guto Leão.
Artilheiro e craque de bola, campeão pelo Titã Futebol Clube.
E não tenho mais tempo de pensar ou refletir, pois o momento
chegou. A hora de falar o que realmente aconteceu é agora.
Tenho a chance de tentar acabar com esta dor que jamais me
abandona. Tenho a chance de tentar acabar com este aperto que se
apossou de mim.
E que Deus me ajude! Para que eu seja capaz de dizer tudo o que
aconteceu. Muito embora ainda não seja capaz de discernir sobre tudo o
que sinto.
Talvez eu saiba, ou desconfie. Mesmo que talvez eu ainda queira
protelar, ou me enganar.
Ou simplesmente queira estar frente a frente com ela quando for o
momento, quando eu não mais conseguir calar o meu coração.
Capítulo 47

Mal piso dentro da casa dele e uma enxurrada de lembranças me


invade.
Abraços na chegada e na saída. Instantes no sofá. Beijos e caricias
ousadas sempre que estávamos a sós, e mais uma infinidade de
momentos que agora sei se tratar de mentira. Falsidade. Enganação.
Movimento minha cabeça de um lado para o outro tentando afastar as
lembranças, e Bruno, como o melhor amigo que é, parece perceber meus
conflitos, meu sofrimento, pois segura fortemente a minha mão,
demonstrando que está aqui para mim, que eu não estou sozinha.
Emociono-me por tamanha sensibilidade, por tamanha amizade. E
retribuo o aperto, retribuo o carinho.
E seguimos assim.
Noto que a casa está silenciosa e agradeço por isso. Preferi vir mais
tarde, tentando evitar encontrar Gustavo. Queria ter certeza de que ele
estaria na premiação, enquanto eu saía de uma vez por todas da sua vida.
Escuto passos e no mesmo instante interrompo os meus. O corpo
tremula, ante a mera possibilidade do encontro. Falto soltar um suspiro
aliviado quando papai aparece no meu campo de visão.
— Clarisse, minha querida!
Diz carinhoso, talvez já saudoso pela distância física que vai existir a
partir de agora.
— Papai!
E me jogo em seus braços. O momento é difícil, a dor é insuportável.
Todo carinho é bem-vindo, ainda mais quando vem de alguém que sei que
é de verdade. Depois que descobri a falsidade que vivi, toda demonstração
real de sentimento me comove, me emociona.
Embora saiba que não posso me alongar, pois não tenho tanto tempo
assim.
— Diga que você repensou a sua decisão! Que..
— Não papai, vim pegar minhas coisas!
Ele pensa um pouco e diz:
— Não conseguiria morar naquele apartamento! Tudo ali me
lembraria dela e não me faria bem. Quem sabe a gente não pudesse
procurar...
— Não, papai! Eu entendo o que o lugar representa para você, assim
como sei que você precisa estar aqui ao lado dele! Neste momento preciso
de um tempo, talvez precise de silêncio e de solidão. Isso me fará bem,
assim como retornar ao lugar onde fui tão feliz. Tenho certeza que isso
será a minha cura, assim como me dará forças para seguir em frente.
Ele tenta argumentar, mas digo:
— Papai, prometo a você que nos veremos sempre. Podemos
almoçar juntos, jantar juntos e até mesmo fazermos pequenas viagens.
— Desde que a biba aqui vá também, vocês podem se
comprometerem a ir até pra lua!
E rimos. Todos. Bruno tem a capacidade incrível de desanuviar as
tensões, não sei se de propósito ou não. O que sei é que ele consegue
essa façanha sempre e neste momento eu não poderia estar mais grata
por isso.
— Claro que sim. Você agora faz parte da família e sempre será mais
do que bem-vindo!
Vejo meu amigo se emocionar. Sei que é difícil para ele. Acompanho
no dia a dia algumas situações que somente demonstram como a
humanidade pode ser cruel, como algumas pessoas podem realmente ser
homofóbicas. Por isso o carinho e a inclusão são importantes para ele, e
eu só posso amar ainda mais o meu pai por isso. Por acolhê-lo e por
respeitá-lo exatamente como ele é.
— Acho que já deu de rasgação de seda por hoje. Vamos subir que
não vejo a hora de me perder em roupas, perfumes e maquiagens.
Bruno sendo Bruno. Sabe que não encontrará nada demais no meu
closet, até porque foi ele que me ajudou a escolher quase tudo que tenho,
mas ele apenas quer quebrar um pouco o clima emotivo que se formou.
Subimos então para o quarto e vejo que papai observa algo no
celular. De repente ele parece tenso e ansioso. Talvez tenha a ver com a
premiação. Talvez Gustavo não tenha recebido algum prêmio que papai
achava ser merecido.
Afasto estes pensamentos da minha mente, pois isso não me
interessa, não deve me interessar. Preciso arrumar as minhas coisas,
preciso ir embora.
Vou até o closet pegar uma mala e coloco-a sobre a cama. Começo a
pegar minhas coisas. Bruno me ajuda.
— Minha filha, queria lhe pedir algo!
Vejo-o constrangido, até mesmo ansioso.
— Claro papai, qualquer coisa!
Ele parece escolher as palavras, até que diz:
— Posso ligar a TV?
Assusto-me com o pedido. Sei o que ele quer assistir. Temo não
conseguir suportar ver Gustavo, mesmo que por uma tela de televisão.
Meu pai apressa-se a dizer:
— Colocarei num volume bem baixo. Só mesmo para acompanhar,
pois infelizmente ainda é o meu trabalho. Abdiquei de ir e faria isso mil
vezes, pois estar com você é minha prioridade, mas infelizmente não posso
esquecer completamente minhas atribuições.
Ele parece constrangido, receoso.
Mas claro que não me oporei, entendo a sua situação. Foi o risco que
assumi ao me envolver com o cliente do meu pai, mesmo que meu coração
não tenha me dado qualquer outra opção que não fosse cair na lábia
daquele conquistador mentiroso.
— Papai, tenho que ser adulta e entender a situação. Mesmo porque
ele é uma pessoa pública e não conseguirei evitar ver notícias ou fofocas
envolvendo Gustavo. Ligue sim. Faça seu trabalho. Bruno e eu
continuaremos a arrumar as malas.
Ele me dá um beijo na testa e fala:
— Tenho muito orgulho da pessoa que você se tornou. Sei que o
amor e sua fé inabalável em Deus tornaram você esse ser humano
especial. Orgulha-me muito ser seu pai.
Dou nele um abraço apertado, meus olhos úmidos por suas palavras.
Mas não me demoro, pois minha mente insiste em lembrar-me que
não tenho todo o tempo do mundo.
Afasto-me e sigo para o closet, continuo a esvaziá-lo.
De lá escuto o barulho da TV. Por si só meu coração bobo já
desembesta no peito.
Tento seguir com o que me propus, mesmo que tudo em mim implore
para que eu busque uma imagem dele, para que eu mate um pouco da
saudade que me corrói.
E inevitavelmente procuro por ele assim que retorno para o quarto.
Como uma abelha busca o mel, meu olhar se volta instantaneamente para
a TV. E após poucos segundos a câmera foca nele, tão logo o
apresentador anuncia:
— E para compor a seleção do campeonato, chamamos Guto Leão.
Artilheiro e craque de bola, campeão pelo Titã Futebol Clube.
Meu ser inteiro fica feliz e emocionado por sua conquista, mesmo que
ele não seja digno da minha emoção, não a mereça. Mas o sentimento que
habita em mim é verdadeiro e minha humanidade jamais me permitiria não
ficar feliz pelo sucesso do meu próximo, e muito menos do meu amor.
E neste momento meus pés enraízam-se no chão e tenho certeza de
que nada conseguiria me tirar da frente desta televisão. Mesmo que sua
imagem cause-me dor, mesmo que saiba o quanto será dolorido ouvir sua
voz. Mas preciso beber sua imagem. Preciso estar com ele neste momento
derradeiro, mesmo que tenha muito mais do que a tela da televisão a nos
separar.
Capítulo 48

Quanto mais me aproximo, mais o controle parece se esvair de mim.


Temo não conseguir colocar tudo em palavras, temo que o que eu fale não
seja suficiente para acabar com os boatos, nem para amolecer o coração
de Clarisse, permitindo assim que ela me escute.
Posiciono-me em frente ao microfone e sei que o que falarei não é
nem de longe o que se espera. Olho para todos à minha frente e sei que o
que falarei não é para estas pessoas que aqui estão, e nem para todos que
estão conectados nesta transmissão. Falarei para ela, mesmo que não
esteja assistindo agora, mas falarei para que chegue até ela, para que eu
tenha uma oportunidade. E darei tudo de mim para que isso aconteça.
De repente me sinto forte, me sinto desejoso de começar a caminhar
de novo para perto dela. Mesmo que sejam passadas vacilantes, lentas.
Mas que tem um destino certo, pois lutarei e jamais desistirei de tentar
estar novamente com ela. Para que ela seja minha. Para que eu seja dela.
— Boa noite!
Faço uma pausa enquanto escuto a resposta ao meu cumprimento.
— Primeiramente quero agradecer a Deus por esta conquista, aos
meus companheiros e a todos da comissão técnica do Titã Futebol Clube.
Quero agradecer também ao meu grande amigo e empresário Vicente
Mello.
Faço um instante de silêncio, mas logo prossigo:
— Dedico este prêmio e todas as minhas conquistas a meu querido e
já falecido pai, por ter sido pai e mãe e por ter me incentivado sempre,
mesmo que não tenha sido forte o suficiente para lutar contra o vício e
poder estar aqui ao meu lado neste momento. Mas sabemos como a vida
pode ser cruel e que às vezes não temos chance alguma, não é verdade?
É uma pergunta retórica, feita com emoção e vejo que não sou o
único a estar mexido neste momento.
— Mas o que não tem remédio, remediado está. Tive que seguir sem
ele e, por mais doloroso que tenha sido, estou aqui. Sou um sobrevivente.
Sou um jogador. E hoje tem que ser um dia de alegria, pois muito do meu
esforço e dedicação está sendo reconhecido, e isto tem que ser motivo
para comemorações, mesmo que eu não pudesse deixar de lembrar
daquele que começou a sonhar comigo, daquele que foi meu parceiro até o
seu último dia de vida.
Tento coordenar minhas ideias. Tento deixar um pouco da emoção
que as lembranças causaram de lado e focar no plano que Vicente e eu
arquitetamos.
— Mas lembranças e agradecimentos à parte, queria aproveitar o
espaço para fazer algumas observações e revelações.
Vejo a postura mudar. Vejo que as minhas palavras trouxeram
ansiedade e expectativa. Até mesmo o número de câmeras em minha
direção parece ter aumentado.
Será que eles esperam que eu revele uma possível transferência?
Saída do clube? Convocação?
Sei que certamente o que especulam não é nem de longe o que
escutarão. Sei que o que direi será algo longe do que é esperado.
— Acredito que muitos que estão aqui ou assistindo de casa,
especulam sobre a quem me referia por vezes após fazer um gol, a quem
me referia em minhas comemorações.
Percebo a atenção total das pessoas e da imprensa aqui presente, e
sei que isso se dá porque dificilmente uma pessoa pública fala de sua
intimidade e neste momento eu estou me propondo a fazer exatamente o
contrário.
— A pessoa a quem me referia era Clarisse. Sempre foi ela. Houve
especulações a respeito da identidade da pessoa e acabaram
erroneamente associando as declarações que fazia à Camila.
Olho para todos antes de continuar. Ninguém sequer ousa piscar.
— E talvez a culpa tenha sido minha por não ter me permitido ser
visto ao lado de Clarisse, não por vontade própria, mas por ter sido um
pedido de seu pai, Vicente Mello, meu empresário.
Escuto sussurros e sons de espanto e isso não me surpreende.
— Ele cogitou que no momento do campeonato em que estávamos,
talvez atrapalhasse a equipe, ou o assédio com relação ao tema afetasse
meu rendimento, mas principalmente temia que um possível interesse
neste assunto afetasse a rotina que a minha Clarisse tem.
Chamo-a de minha, pois isso é o que meu coração mais deseja.
Chego a ouvir suspiros das mulheres presentes. Chego a ver o
espanto que causo nos meus colegas que aqui se encontram. Não sem
motivos tenho fama de pegador e certamente o que escutam está longe de
ser um discurso de alguém que não quer se prender, muito pelo contrário
até.
— Percebi agora, depois de todo este falatório envolvendo Camila,
que isso não foi uma ideia tão boa assim, pois acabou sendo associado a
outra pessoa, o que era dedicado à Clarisse.
Faço uma pausa e logo continuo:
— E para não gerar nenhuma dúvida sobre o que estou revelando
aqui, deixo bem claro que Camila foi alguém com quem já tive algo, mas
depois que comecei meu lance com Clarisse, jamais estive intimamente
com ela novamente. Nem com ela e nem com nenhuma outra, diga-se de
passagem.
O burburinho se forma e sei que tem relação com a foto e este é o
momento crucial.
Preciso convencer a todos, para que parem de noticiar, para que
parem de especular.
Mas principalmente preciso convencer a minha loirinha.
— Clarisse é especial demais para mim e por isso durante todo o
nosso tempo juntos, fui fiel. Sei que tem uma foto minha rolando e que
parece dizer o contrário, mas garanto que foi apenas uma situação infeliz.
Talvez tenha dado mais intimidade do que deveria, estando envolvido com
alguém, mas não cheguei a fazer nada mais do que aquela conversa ao pé
do ouvido, pois antes que acontecesse algo que eu não estava com
vontade alguma, ou que fizesse eu me arrepender amargamente, fui
embora. Sozinho. Para o aeroporto. Para casa. E para a minha mulher.
Não relatarei a decepção de não encontrá-la, e muito menos o
desespero em que me encontro desde que descobri que ela me deixou.
Focarei em fazer o que me propus, rezarei para que minhas palavras
sejam usadas e divulgadas como planejei.
— E é isto. Guto Leão usava os momentos de emoção depois de um
gol para se declarar, à sua maneira, para a sua mulher. Não traí, não fiquei
com nenhuma outra e apenas quero que todo esse falatório se encerre,
pois quero tranquilidade para viver tudo o que sinto por Clarisse.
Digo com um sorriso nervoso. Sinto-me extremamente agitado, talvez
por saber que a pior parte ainda está por vir. Talvez por saber que as
coisas entre nós estão péssimas e que sequer posso vislumbrar uma
oportunidade de ficar frente a frente com ela.
— Acho que já falei demais, que já me abri demais. Vou deixar aqui o
microfone disponível para o próximo que quiser abrir o coração.
Todos caem numa gargalhada e consigo quebrar o clima emotivo em
que todo o salão estava envolvido.
— Obrigado pelo reconhecimento e boa noite!
Finalizo. Já correndo para sair do palco. Já correndo para ir embora.
Pois tenho algo muito importante para fazer.
Tenho a minha mulher para reconquistar.
Capítulo 49

Claro que estou abalada com o que ouvi! Lógico que neste momento
estou trêmula em uma cadeira, não querendo acreditar, mesmo que
aquelas palavras me pareçam tão sinceras, tão reais.
Ouvir ele falando de nós abertamente, confirmando que era em mim
que pensava quando fazia um gol, garantindo que não ficou com aquela
garota, fez algo dentro de mim renascer. Fez qualquer ínfimo controle ir
para o espaço.
Mas preciso de mais. Preciso tentar entender tudo isso.
— É verdade?
A voz sai insegura, a ansiedade me toma por completo.
Olho diretamente para meu pai. Confio nele e sei que ele jamais
mentiria para mim.
Ele retribui o olhar e se ajoelha, ficando frente a frente comigo.
Segura a minha mão e começa:
— É verdade. Ele não ficou na boate. Veio embora diretamente da
festa, assim que percebeu o estrago que aquela foto poderia causar.
Sequer passou no hotel, pediu para que trouxessem suas coisas. Apenas
foi para o aeroporto e embarcou.
Soluço alto.
De repente a dor parece querer finalmente abandonar meu ser. O
aperto parece ceder a cada segundo.
— Conversei com ele de manhã. Gustavo estava desnorteado, na
verdade desesperado seria a palavra certa. No primeiro momento quis
matá-lo, mas pouco a pouco fui cedendo e escutei o que ele tinha a dizer.
E lhe garanto, minha filha: Gustavo tem muitos defeitos, mas não é
mentiroso!
As palavras de meu pai abrandam meu coração. Conseguem algo
que parecia impossível de acontecer.
— E na conversa que tivemos falei que você tinha decidido ir embora,
e isso machucou Gustavo. Percebi ali que ele gosta de você, Clarisse, e
por isso, quando ele me implorou para ajudá-lo a resolver as coisas entre
vocês, mesmo receoso, aceitei.
Olho-o sem entender a que ele se refere.
— Gustavo estava decidido a acabar com esta ideia de que as
declarações dele eram para Camila. Estava disposto a dizer em rede
nacional a quem ele se referia quando falava em saudade, quem ele
chamava de amor.
Lágrimas sentidas correm sem controle por minha face, enquanto
sinto um aperto em minhas mãos, um sinal claro de apoio, de carinho.
Sou tirada desta bolha por um soluço extravagante, por um choro
escandaloso.
— O jogador não é tão fingido como imaginei! Ah Noviçabest, ele
gosta de você!
E chora copiosamente. Típico do Bruno, vive intensamente as
emoções.
E meu choro aumenta, mas também há um sorriso, por toda a
situação surreal que estou vivendo.
Meu pai arranha a garganta, como que pedindo atenção. Olho-o e ele
parece envergonhado.
— Nós meio que arquitetamos um plano, para que você ouvisse o
que ele diria no evento. Por isso pedi para ligar a TV, porque já sabia o
conteúdo do discurso do Gustavo.
Ele me olha ansioso, quem sabe esperando críticas, ou qualquer tipo
de desaprovação.
Apenas sorrio, tentando acalmá-lo, mostrando que está tudo bem.
— Graças a Deus você não ficou chateada, não me perdoaria se de
alguma forma magoasse você.
Abraço-o e sou retribuída.
— Está tudo bem, papai. Ele tem o direito a tentar se defender, assim
como tenho que ter maturidade para ouvir. E ele nem precisava ter
pensado em algo tão grandioso, bastava me procurar. Certamente não
agora, pois tudo ainda está muito recente, mas depois poderíamos sim
termos tido uma conversa civilizada.
Ele afasta-se com um sorriso no rosto e fala:
— Depois? Você acha que ele conseguiria esperar para depois?
Gustavo queria aguardar você na entrada do curso, queria ir e pronto. E na
verdade ele só não foi porque falei da exposição, principalmente depois
daquela bendita foto que está circulando na internet. Gustavo queria
inclusive faltar à premiação, desde que conseguisse se explicar para você.
Nem consigo imaginar o alvoroço que sua presença no curso
causaria. Entendi o raciocínio de meu pai e agradeço internamente seu
discernimento. Agradeço também por papai tê-lo convencido a ir ao evento,
pois a ausência certamente não seria bom para a sua carreira.
— Somente convenci Gustavo a ir para a premiação quando tivemos
a ideia dele usar o microfone para esclarecer as coisas. Falar o que
realmente aconteceu na boate e a quem ele se referia na hora das
comemorações de seus gols. Acabar de uma vez por todas com as
especulações envolvendo Camila e tentar também uma abertura para que
depois você fosse capaz de escutar o que ele tem a dizer.
— Ah, Vicente, eu queria um cupido como você!
Somente Bruno seria capaz de soltar uma pérola desta. De me fazer
rir quando tudo em mim transborda de emoção e sentimento.
— Quem sabe Bruno, eu realmente não lhe apresente um rapaz que
valha a pena?
Meu pai dá uma piscadinha cúmplice para Bruno, o que leva-nos a
cair na risada.
— Que isto seja uma promessa, Vicente. Quero conhecer alguém que
faça de mim uma biba séria, não quero me tornar mais uma das milhares
de Marias-chuteiras que existem por aí.
A gargalhada é geral, nenhum de nós consegue se controlar. Nem
mesmo Bruno, pois ele sempre ri com gosto de suas próprias tiradas.
— Estou feliz e aliviado, por ver o sorriso novamente em seu rosto,
Clarisse.
— E eu estou feliz em saber que com um cupido deste, meus dias de
vela estão na iminência do fim.
— Com certeza, Bruno. Mas agora mudando a minha função de
cupido para pai zeloso, diga-me Clarisse, você mudou de ideia com relação
a essa história de sair daqui?
Meu pai faz a pergunta de forma direta e percebo a esperança e a
ansiedade em sua expressão.
— Papai, independentemente da conversa que terei com Gustavo,
não mudarei minha decisão. Pela primeira vez decidi tentar ser
independente, tentar caminhar com minhas próprias pernas, e não voltarei
atrás.
Meu pai parece triste, abalado com minha resposta.
— Então você não o perdoou? Então você se afastará de nós?
Diz com a voz frágil, inclusive imaginando que estou me mudando por
não acreditar em Gustavo, ou não o perdoar.
Preciso me fazer entender.
— Papai, claro que acreditei em Gustavo, muito embora precisemos
ter uma conversa muito franca para decidirmos como as coisas realmente
ficarão entre nós. Mas o fato de ficarmos ou não juntos, não alterará minha
decisão. Foi necessário essa reviravolta, toda essa confusão para que eu
percebesse que preciso tentar caminhar só, sem toda a proteção que
sempre tive. Primeiro por perder minha mãe de sangue precocemente,
depois por perder minha mãe de alma recentemente. Preciso agora parar
de ser amparada, tratada como alguém que precisa ser protegida. Quero
ser capaz de ir além e é isso que vou fazer. Esse período aqui foi
importante, fortaleci-me, conheci melhor a vida e o meu coração. Mas
agora o momento é outro e quero, na verdade preciso de seu apoio para
seguir em frente.
Ele parece entender e vagarosamente confirma com a cabeça.
— Mesmo que me mate ter que aceitar isso, é assim que será.
Jamais quero ser um pai que impõe limites e privações. Quero ser um pai
que ama, que cuida, mas que deixa voar.
Seus olhos brilham ao pronunciar as palavras, minhas lágrimas
apenas escorrem descontroladas por minha face.
— Mas tenho um único pedido antes que você saia desta casa em
busca da sua independência.
Olho para papai, aguardando o tal pedido.
— Espere Gustavo chegar, não aguento mais a ladainha dele, não
quero ter que consolar um marmanjo daquele tamanho.
Diz tentando fazer graça.
— E nem eu quero ser acordado no meio da noite pelo jogador. Ah e
nem me olhe com esta cara, você acha mesmo que não dormiria com a
minha best em sua primeira noite de independência? Parece até que você
não me conhece, garota!
Rimos mais, ninguém é capaz de estar perto do Bruno e ficar triste.
Ele irradia amor, amizade e alegria por onde passa.
De repente esqueço este meu pensamento, pois vejo dois pares de
olhos esperando a minha decisão. Aguardando que diga se esperarei ou
não pelo jogador.
Penso, reflito. Decido que não há motivos para adiar, não quando
tudo em mim grita por Gustavo.
— Vou esperar por ele. Só irei para a minha nova casa quando
conversar com Gustavo.
Faço a vontade deles, mas faço principalmente a vontade do meu
apaixonado coração.
Capítulo 50

Entro em casa esbaforido, angustiado. Desesperado para saber se


Clarisse ainda está aqui, para saber se ela acreditou no que falei.
Encontro Vicente e Bruno em uma conversa aparentemente divertida
e por pouco não suspiro de felicidade ao encontrar o amigo, pois isso
garante que a loirinha ainda está aqui.
— Onde ela está?
Sequer cumprimento, a educação perdeu o lugar para a loucura que
me toma.
— Boa noite para você também, jogador!
Percebo a ironia, mas meu foco é Clarisse.
— Ela está no quarto...
Disparo para cima. Não quero saber de mais nada. Ouvir nada que
não seja a voz da minha mulher.
E à medida que me aproximo do quarto, várias sensações me
dominam: tremores, suor, sufocamento. Isso apenas mostra a necessidade
que tenho dela. Do quanto anseio por resolver as coisas entre nós.
Bato na porta e espero a autorização para abrir. E a linda voz
finalmente diz o que desejo.
— Entre.
Imediatamente. Tão logo escuto.
E a vejo. Linda, como eu me lembrava.
Tenho necessidade de me aproximar, morro por tocá-la.
E dou passos hesitantes em sua direção, esperando a restrição,
desejando a permissão.
E como ela apenas observa, aproximo-me mais. E neste momento
percebo algo.
Próximo aos seus pés estão duas malas, estão algo que me abala
sobremaneira.
Perco o prumo, erro a passada.
— Você vai embora?
É só o que consigo dizer. Sinto-me acuado, emotivo, enfraquecido.
— Gustavo, acho que...
— Você ouviu o que eu disse? Que não fiquei com Camila, que não
são para ela ou para nenhuma outra as minhas declarações. São para
você! Para você!
Vejo a umidade em seus olhos. Sinto a umidade também nos meus.
— Gustavo...
— Espera, Clarisse, deixa eu explicar! Eu me arrependi de não ter
voltado para cá com Vicente, de ter ido para a boate...
— Eu ouvi, Gustavo! Eu ouvi sua conversa com o outro jogador.
Suspeitávamos que ela tivesse ouvido, mas ter minhas idiotices
jogadas na minha cara enquanto tento fazê-la me perdoar, me abala
demais. Faz eu temer que as coisas não se resolvam. Fazem-me temer
reconhecer o que estas malas realmente querem dizer.
— Eu ouvi você falando que eu era apenas alguém que aquecia a
sua cama como tantas outras, que...
Não a deixo terminar. Avanço desesperadamente sobre ela.
Querendo evitar relembrar aquelas malditas palavras que somente nos
farão sofrer ainda mais.
Abraço-a forte e saudosamente e digo baixinho:
— Eu menti. Eu menti...
Repito até que ela entenda, até que minhas palavras de alguma
forma curem nossa dor.
Ela não responde, não retruca. Apenas chora. Os soluços, os
tremores dizem como machuquei a minha mulher, como eu não a mereço.
E me desespero por não ter resposta, por presenciar o nosso
sofrimento.
— O que me dói é saber que enquanto eu estava totalmente
envolvida com o que estávamos vivendo, você ansiava por ter duas, três
mulheres em sua cama.
Os fungados e o tremor em sua voz acabam comigo. Aniquilam-me.
— Pensei que era o que eu queria, mas bastou-me entrar na boate
para perceber que não desejava estar ali. Bastou-me ver outras mulheres
para saber que nenhuma delas me chamava a atenção. Bastou ver a foto
circulando nas redes sociais para que eu soubesse que não poderia ficar lá
enquanto você imaginava o pior de mim, assim como não poderia tornar
minhas palavras reais, quando todo o meu corpo clama pelo seu, morre
pelo seu.
Ela se afasta lentamente e sinto-me gelado, frio. Tento me aproximar
mas sou impedido por sua mão pedindo distância.
Sinto-me sufocar, sinto-me incapaz de ficar longe dela.
— E quem me garante até quando? Quem me garante que daqui a
uns dias você não irá querer outra para esquentar a sua cama?
E me olha magoada e sei que é isto que mereço. Mesmo que tudo em
mim implore pelo seu olhar amoroso, implore por nós dois.
— Clarisse, você sabe que sou louco por você! Talvez eu não tenha
experiência, ou sequer tenha reconhecido o que sinto, mas eu sei que é
sério. Que é de verdade. Por isso não quis outras. Por isso corri
desesperadamente para tentar reverter a situação. Por isso me arrependo
amargamente por minhas palavras e pela decisão de ter ficado em São
Paulo.
— O problema não é você ter ficado, ter necessitado de um tempo
para comemorar com seus amigos. O real problema foram as suas
intenções. A forma como você parecia querer tudo aquilo, na verdade até
necessitava. A maneira como você se referiu a mim, a nós.
— Fui um idiota, amor, uma pessoa que sequer sabia as dimensões
do que você representava para mim. Que sequer tinha noção da falta que
sentiria de nós.
Vejo que me olha atenta, como se esperasse que eu continuasse.
Como se esperasse que eu falasse com todas as letras.
E é o que farei. Pois não posso mais guardar isso para mim. Pois não
suporto mais ficar longe dela.
Aproximo-me mais e ela permite. Parece já ter dito tudo que queria.
Parece apenas querer ouvir tudo que tenho a dizer.
E quando já não existe espaço nenhum entre nós, falo:
— Somente quando cogitei a possibilidade de tê-la perdido e que
percebi que não era qualquer outra que queria, que era você que meu
corpo pedia, que o meu coração verdadeiramente implorava, foi que eu
reconheci o que sentia.
Ela prende a respiração, e eu somente a envolvo em meus braços.
E o gesto traz a sensação de certo, de casa. Apenas reforça o que
meu o coração já sabia.
— E estava claro, estava bem diante dos meus olhos. Na falta que
sentia de você a cada segundo. Na necessidade de tê-la em minha vida e
em minha cama dia após dia. No ciúme descabido e desproporcional ao
encontrá-la com um amigo no carro. No desespero que senti quando
brigamos e na forma como a persegui até Petrópolis. Tudo isso era a
evidência do que realmente se passava dentro de mim.
Sei que preciso falar, mas necessito ao menos de um vislumbre do
paraíso. E é isso que faço, pois descobri que perto dela não tenho controle
algum sobre meus atos e minhas emoções. Levo minha boca até sua testa
e trilho um rastro de beijos por onde meus lábios passam. Ela suspira e
amolece em meus braços e todo o meu ser exulta com esta pequena
vitória.
Meus lábios alcançam seu pescoço e os beijos continuam,
intercalados de mordidas e lambidas. E a aperto mais, não quero qualquer
distância, não suporto mais.
Mas sei que tem algo imperativo a ser dito. E precisamos das
palavras. Precisamos começar do jeito certo.
— Clarisse, sou louco por você! Sou totalmente apaixonado por você!
E não espero o entendimento ou resposta, apenas busco seus lábios.
Com fome. Com saudade. Com amor.
Sôfrego, alucinado por seu sabor.
E quando ela abre a boca, e quando permite que a beije, tudo em
mim vibra em uma felicidade absurda.
A tristeza e a dor dão lugar ao amor, ao desejo cru que sinto por ela.
E dão lugar a certeza de que sou dela, e que é ela que quero, somente ela.
E quando nossas línguas se encontram, sei que Clarisse é meu lar,
meu lugar.
Que é com ela que quero ficar, que ela é o meu amor.
Que ela é a mulher da minha vida e que a partir de agora quero fazer
do jeito certo.
Com rótulos, com declarações.
Com planos para o futuro e com lembranças de um presente repleto
de carinho, amor e compromisso.
Pois descobri da forma mais sofrida o sentimento e jamais quero
passar por tudo aquilo novamente.
Apenas quero ser dela. Apenas quero sentir todas estas sensações
para sempre.
Capítulo 51

O beijo não tem fim e não é suficiente.


Mesmo tendo sido pouco o tempo separados, o medo de nos perder
faz-nos carentes, necessitados. Por demais desejosos.
E nossas línguas falam disso, nossos corpos mostram isso.
Saudosos, entregues, prontos.
Mas ainda não é a hora. Ainda há muito a ser dito.
Com pesar afasto-me, com um esforço sobre-humano separo nossas
bocas.
Percebo-o perdido. E é assim que também me sinto. Mas é
necessário.
Seguro sua mão para acalmá-lo. Para me dar forças para dizer o que
é preciso.
— Acho que ainda tem muita coisa a ser dita. Acho que você também
precisa saber como me sinto.
Sua mão aperta a minha com ansiedade. Como se temesse o que
tenho a falar.
— Nunca tive dúvidas do que sentia. Que gostava de você. E à
medida que os dias passavam, sabia que o sentimento só crescia. Sabia
que estava apaixonada por você.
Ele solta um suspiro alto, talvez aliviado pelo entendimento que
minhas palavras trazem.
— E por saber exatamente o que sentia, foi que o sofrimento veio
forte. Foi que a tristeza se apossou de mim e me trouxe tanta dor. Pois
enquanto eu te amava e ansiava por qualquer tempo juntos, você relatava
ter saudade de ficar longe, ter de volta suas festas, suas farras. Enquanto
eu queria você, você falava em outras. Duas, três. Todas.
Faço uma pausa pois ainda me é dolorido tudo isso.
Percebo que Gustavo quer dizer algo, mas peço que escute tudo o
que tenho a dizer.
— E infelizmente isso destruiu muita coisa dentro de mim e todo o
universo de perfeição que pensei estarmos envolvidos. Trouxe a realidade.
Trouxe dúvidas sobre seus sentimentos, sobre suas reais necessidades e
até mesmo sobre sua capacidade de ser fiel. Trouxe dúvidas sobre eu
estar preparada para todos os holofotes, sobre concorrer com seu passado
de variedades e que, de acordo com suas próprias palavras, ainda traz-lhe
muitas saudades.
— Fui um idiota, fui...
Interrompo-o, pois preciso dizer tudo o que quero. Interrompo-o
principalmente por não querer que ele me demova de minha decisão.
— Então por tudo isso manterei a minha decisão de sair desta casa.
— Não, meu amor, é claro que...
— Gustavo, esperei por você. Acreditei no que falou no evento e torci
desesperadamente para que nos entendêssemos. Mesmo que precisasse
falar tudo, que precisasse colocar para fora toda a dor que me consumiu.
Precisávamos deste desabafo e que o nosso sentimento fosse trazido à
tona.
— Concordo com você e entendo isso, mas não posso...
— Já está decidido, Gustavo.
Ele parece abalado com minha firmeza.
— Você quer um tempo?
Diz temeroso.
— Não, meu amor, não quero um tempo. Apenas quero distância
física. Para que eu possa crescer, tornar-me mais independente e
caminhar com minhas próprias pernas pela primeira vez na vida. Para que
você possa ter realmente certeza do que sente e que não fique comigo por
ser conveniente, por eu estar na porta ao lado e não ter que precisar sair
de casa para ter sexo fácil e certo.
Digo magoada, tudo ainda é muito recente, ainda não consegui
esquecer totalmente todo o mal que suas palavras me trouxeram.
— Amor, já disse que fui um idiota! Já disse que sou apaixonado...
— Gustavo, você disse e eu acreditei em você. Mas vamos fazer
diferente. Veremos como será ter um relacionamento que comece do jeito
certo. Com saídas de casal, com respeito, declarações e fidelidade. Com
cada qual tendo seu canto, como acontece em todo começo de relação.
— Amor, eu vou morrer de saudade! Não vou aguentar dormir longe
de você um dia sequer!
— Vai, pois vi que não foi esforço algum você optar pela boate, ao
invés de vir para casa. Comemorar com aquelas pessoas, ao invés de
comemorar comigo.
Esta nem parece ser eu, mas precisei dizer. Talvez até seja a última
vez que retornarei a este assunto, mas preciso que ele entenda todas as
nuances desta minha decisão.
— Você nunca vai me perdoar, não é? Sempre ficará a lembrança do
que fiz...
— Amor, eu já perdoei, apenas quero que entenda, apenas quero que
perceba as coisas como eu percebo. Quero nos dar a chance de começar
como qualquer casal começa. Quero sentir falta, quero vir na sua casa,
quero que vá na minha. Apenas quero que tenha seu espaço e eu o meu.
Quero também me dar a chance de ser independente pela primeira vez na
vida. Fazer as coisas por mim mesma, ter minhas conquistas e minhas
próprias vitórias.
Ele parece entender, ou parece conformado de que não mudarei de
ideia. Percebo isso por suas palavras:
— Já que não consigo fazê-la mudar de ideia, terei que me conformar
que você tenha seu próprio espaço, mas garanto a você que não terá
qualquer distância entre nós. Esta casa sempre será o nosso canto, assim
como o apartamento em que vai morar também será o nosso lugar, pois
por mais que minhas palavras tenham trazido dúvidas e levado você a
achar que talvez eu fizesse diferente, se não a tivesse sob o meu teto, vou
lhe provar que é você que eu quero, que sou louco por você. E é atrás de
você que irei, é em sua casa que estarei. E se for a festas, a boates, será
você que estará ao meu lado e será com você que terminarei minha noite.
Será com você que terminarei todas as minhas noites a partir de agora.
A voz já está embargada. Pela emoção do momento. Pelo
entendimento que finalmente veio. Para mim. para ele. Para nós.
E não há mais nada a ser dito. A emoção já toma conta.
E em instantes estamos nos braços um do outro, buscando
desesperadamente o beijo, o contato.
Tentando sanar um pouco da saudade que tanto maltratou, sanar um
pouco da dor que muito nos machucou.
E o beijo e o momento parecem dissipar muita coisa, parecem
mostrar um vislumbre do que está por vir.
Um tempo novo. Um tempo certo.
Sem mentiras. Sem fingimentos. E sem nada a ser escondido.
Um relacionamento assumido. Um amor verbalizado. E um caminho a
ser percorrido a dois.
Com amor, respeito. Com verdade.
Nós dois juntos e felizes, como realmente tem que ser.
Capítulo 52

Estamos no elevador do prédio em que Clarisse vai morar.


Felizmente, por conta do horário, não havia outros moradores, então
somos só nós três. Sim, o vela humana está aqui, e infelizmente não para
de falar, e muito menos de me provocar um instante sequer.
— Ah Noviçabest, agora teremos o nosso próprio cantinho. Teremos
mais tempo para ficarmos juntos e fazermos ainda mais programas de
garotas.
Juro que tento me controlar, mas ele força a barra.
— Dormirei aqui todas as noites possíveis, e amanhã mesmo
começarei a trazer algumas coisas minhas para cá.
Esta não seria a minha fala? Esse cara tem que ser colocado no seu
devido lugar.
— Desde que ocupe o quarto de hóspedes e que não se incomode
com os ruídos do sexo quente que vou fazer com a minha mulher, noite
após noite, você pode até ficar, Brunobest!
Olho para Clarisse e a vejo vermelha como um pimentão, mas
infelizmente a provocação é a única abordagem que este amigo da onça
realmente entende. E sei que consegui meu intento quando o vejo roxo de
ódio, espumando de ira.
— Se você pensa que vai monopolizar Clarisse, você está muito
enganado, jogador!
Ele quer sempre ter a última palavra e não darei este gostinho.
— Bruno, sou o namorado. Então como tal tenho certas regalias que
amigo nenhum tem!
Ele bufa e se cala. Clarisse apenas se diverte com os nossos eternos
embates.
E felizmente chegamos. Ela tira a chave da bolsa e abre a porta.
Ando um pouco pelo espaço e já tenho uma palavra para descrever o
lugar: aconchegante. Um lugar que certamente já acolheu uma família feliz.
Fotos por todo canto. Vicente, Clarisse e uma mulher muito parecida
com minha loirinha. Bonita, feliz e que certamente é o motivo do meu
amigo jamais ter se casado novamente, ou ter tido qualquer
relacionamento. Na hora um entendimento me invade. Precoce, talvez
afoito, mas certamente verdadeiro: era assim que agiria, era assim que me
sentiria.
E no mesmo instante a agarro e agradeço por esta nova
oportunidade, pela possibilidade de fazer diferente.
— Vão ficar de agarramento toda hora? Ela mal te perdoou, jogador,
por isso alivia aí!
— Porra de vela chato do caralho!
Certamente amo Clarisse, porque somente isso justifica aguentar este
infeliz. Puta que pariu!
— Acho que devem tentar ter o mínimo de civilidade e boa educação.
Por isso sem piadinhas ou ofensas. Por favor!
Deve estar sendo péssimo para ela. Não poder ter lado e ficar
ouvindo isso a toda hora, e é por isso que digo:
— Está bem, meu amor.
— Ok, Noviçabest. Seremos praticamente um trio, devemos sim nos
tratar com mais cordialidade.
Diz irônico, para foder com meu juízo. Mas Clarisse merece meu
esforço, merece que eu engula isso. No entanto quando estiver sozinho
com este encosto, ele não perderá por esperar.
— Ótimo, fico feliz que estão de acordo. Agora vamos dormir, que o
dia hoje foi intenso demais.
Despede-se então do amigo e meu corpo já entra em ebulição,
ansiando pelo momento de estar sozinho com ela.
Segue então para o quarto e a acompanho silenciosamente, levando
as malas.
Tão logo estamos sozinhos, a abraço por trás e digo:
— Achei que jamais ficaríamos a sós!
Ela sabe o que quero, eu sei que ela também quer.
Pela forma como empina a bunda gostosa, pela forma que se derrete
em meus braços.
— E se eu disser que também não via a hora de estar sozinha com
você!
Puta que pariu, Clarisse sabe realmente o que fazer para foder com
tudo.
Ela vira-se no arco dos meus braços e me abraça. O corpo todo
colado no meu. Seu vestido é soltinho, não deixa à mostra suas formas,
mas minha mente é incapaz de me fazer esquecer uma curva sua sequer.
E beijo-a. Duro. Intenso. Falando do tesão e do desejo que me
dominam. E ela retribui ansiosa, enquanto chupo sua língua com luxúria.
Meu pau já responde, todo meu corpo pronto para fazê-la minha.
E ela geme e esfrega o corpo gostoso no meu.
Com um impulso ergo-a nos braços e ela me envolve com as pernas.
Sem interromper o beijo, sem desgrudar o corpo nem minimamente sequer.
Sinto a boceta dela aberta, em contato com meu membro e sei que não
durarei muito.
— Ah amor...
Ela sente. Assim como eu, ela enlouquece com o contato.
Sigo conduzindo-nos em busca da cama, procurando uma forma de
me enterrar o mais rapidamente dentro dela.
Cuidadosamente a deito, tirando um instante para examinar a
perfeição que é a minha mulher.
Lábios cheios, respiração ofegante e olhos anuviados de desejo.
— Linda demais!
Ela apenas sorri e neste momento sei que sou capaz de morrer e
matar por esta mulher. É uma certeza que não entendo, não questiono,
apenas sei e aceito como absoluta e inegociável.
Ela levanta um pouco o corpo e começa a se despir. Longe da virgem
tímida que um dia foi, nosso tempo juntos deu a Clarisse confiança para
isso.
Observo e em instantes a loirinha está vestida somente com uma
calcinha branca, com uma mancha úmida na frente e eu esqueço o que
quer que seja.
Arranco minhas roupas o mais rápido que consigo e logo estou
completamente nu na sua frente.
Vejo que ela fica sem voz, praticamente babando no meu pau. Duro.
Orgulhoso. Pulsante.
Avanço sobre ela, retiro sua calcinha e vejo a boceta rosada que me
enlouquece. Que sei ser apertada e quente como nenhuma outra. Que sei
que será a única em que me enterrarei a partir de hoje.
Num instante derradeiro de lucidez lembro da proteção e pego um
preservativo na minha carteira. Apressadamente envolvo-o em meu
membro.
Coloco-me sobre ela, meu pau pressionando diretamente no seu
clitóris. Ela geme alto e eu deslizo para cima e para baixo.
— Ah Gustavo...
Ela diz, a voz rouca, tão querente quanto eu.
— Amor, preciso estar dentro de você, preciso..
Ela envolve a minha cintura com as suas pernas e dá toda a
permissão que preciso.
Penetro-a. Com firmeza. Com vontade. Com necessidade.
Gememos alto. Buscamos a boca um do outro.
O beijo vem sôfrego, os movimentos são desesperados.
Pela distância, pela briga. Pela necessidade que nunca se acaba.
E o barulho do encontro dos nossos sexos, nossos gemidos e
suspiros tiram-me de vez a razão.
Mordo, chupo, lambo. Ela me arranha, me aperta, fala coisas
desconexas.
E sinto o gozo próximo, sei que não suportarei por muito tempo.
Estou envolvido demais, desejoso demais.
Levo minha mão ao seu clitóris, pois preciso que Clarisse esteja
comigo. Acaricio seu botão melado, sem jamais parar os movimentos.
— Gustavooooo...
Diz com uma voz estrangulada, antes de se perder. E logo me
entrego, logo o orgasmo chega também para mim.
Intenso demais. Perfeito demais.
Como só acontece com ela. Como só tenho ao seu lado.
E antes que desfaça nosso contato, levo meus lábios aos seus e a
beijo.
Com delicadeza. Com reverência. Com emoção.
Mostrando o que sinto. Falando de um amor que sempre esteve
dentro de mim.
E não somente com a boca, não somente com o corpo.
Direi com palavras.
Com o meu ser. Com a minha alma.
— Amo você, Clarisse. Sou seu, meu amor.
E não espero resposta, nem retribuição.
Apenas a beijo mais.
Pois quero, preciso.
Meu vício. Meu amor. Minha mulher.
Capítulo 53

Perfeição. Esta é a palavra que define meus dias.


Mesmo que estejamos morando separados e isso é algo que jamais
me perdoarei, ainda assim a minha vida não poderia estar melhor.
Aproveito cada segundo das minhas curtas férias ao lado dela. Seja
na sua casa, na minha, em saídas noturnas, ou em pequenas viagens que
fazemos. Ela ainda não está de férias, mas fora o tempo em que está no
curso, todo o restante é dedicado a ficarmos juntos.
Muitas vezes não consigo evitar a presença do tal Bruno, mas são
ossos do oficio, então eu meio que já me acostumei com a sua presença
indiscreta. Se for para ser sincero, até gosto e muito do encosto.
Aproveito o tempo em que está estudando e treino um pouco, pois
mesmo tendo estes dias livres após o título, não posso descuidar do
condicionamento físico. Também aproveito para discutir com Vicente as
propostas que chegam, bem como as notícias do mercado da bola.
Muitos caras do time ficaram surpresos por eu recusar a transferência
e por, mesmo com o assédio dos maiores clubes da Europa, ter escolhido
ficar.
E claro que isso aconteceu devido a recusa de Clarisse em me
acompanhar. Ainda lembro da nossa conversa.
— Claro que vou morrer de saudades, mas sei que é o melhor para
sua carreira. Sei que é o seu sonho.
— Como é? Você não vai comigo e com Vicente? Vai ficar aqui?
— Amor, vou terminar o curso. Quero muito estar preparada para ser
capaz de trabalhar naquilo que amo.
E não adiantou falar em estudar a distância ou em continuar o curso
na Espanha, a resposta foi a mesma, embora amenizasse a negativa:
— Lindo, sei que não poderá morar lá e eu aqui indefinidamente, mas
neste momento não posso. Garanto a você que tão logo conclua, irei.
Então estaremos juntos. E seremos novamente nós três.
E foi aí que decidi ficar no Brasil ainda este ano, mesmo com o
assombro de todos do time e principalmente da imprensa. Muito embora já
esteja apalavrado com um gigante espanhol e que no meio do outro
semestre, já assine o contrato para me transferir no final do próximo ano.
Esse é o tamanho do meu amor por ela. Adiar o sonho de uma vida
sem sentir um único remorso, pois percebi que o único sonho real e
palpável da minha vida é ela, a minha Clarisse. E algo em nossa conversa
trouxe-me uma alegria sem precedentes: sua garantia de que moraremos
novamente juntos.
E este é o motivo do meu sorriso constante, é o motivo de esperar o
tempo que for necessário.
Enquanto espero Clarisse sair, vejo que o número de paparazzi não
diminui. Mesmo nosso namoro já sendo do conhecimento de todos e
mesmo eles já tendo revirado a vida de Clarisse e publicado tudo que
conseguiram encontrar, ainda assim eles continuam por aqui. Filmando
tudo, não escapando nenhum lance das lentes bisbilhoteiras. Até mesmo
Bruno conseguiu seus momentos de fama, e ele adora tudo isso.
Clarisse ficou meio desconfortável com todo o fuçar deles com
relação ao seu passado, trazendo fatos dolorosos como a morte de sua
mãe e de sua tia. Mas claro que o explorado foi o fato de ter sido uma
noviça, de ter morado num convento, e lógico que eles aproveitaram todo o
tipo de manchete para venderem a notícia.
A noviça e o jogador. E a maneira como se refere a nós é esta,
sempre esta. Não nos incomoda, desde que respeitem a religiosidade dela
e a vida que viveu até aqui.
Sou tirado dos meus pensamentos quando a vejo saindo, rindo de
alguma idiotice que o Bruno diz. E nada mais importa. O passado, o monte
de câmeras apontadas em nossa direção, o universo. Foco somente nela e
na saudade que sinto agora e a todo instante.
— Oi, amor!
Não respondo com palavras, meu cumprimento vem em forma de um
beijo urgente. Nunca tenho o bastante dela, de nós.
Perco-me em seu sabor, no nosso amor.
Independentemente das câmeras ou das notícias que aparecerão.
Nada disso importa, apenas ela, eu e o que sentimos.
Mas claro que há uma força da natureza que age contra, que está
sempre se intrometendo. E esta força chama-se Bruno, vulgo encosto.
— Sei que este aí perdeu a vergonha de vez e parece que você está
indo pelo mesmo caminho, Noviçabest, e na verdade nem estou aí com
isso, mas como estou de carona com vocês, preciso que parem com esta
pouca-vergonha e levem esta dama para casa.
Sou obrigado a me afastar pois sei que essa matraca não irá se calar,
mas ainda distribuo selinhos, pois para mim ainda é sofrido me afastar da
loirinha.
Olho para ele e o fuzilo. Mas meu olhar se torna ainda mais
enfurecido quando ele completa.
— Para a minha segunda casa, na verdade.
— É sério que de novo você vai bancar a vela?
Ele faz que não me escuta e fala diretamente com Clarisse:
— Noviçabest, bem que poderíamos ir para alguma boate, pois estou
louco para agarrar algum gatinho. Todos os gemidos de vocês que sou
obrigado a escutar estão, na verdade, me enchendo de ideias.
Tenho vontade de dizer em alto e bom som que ele não é obrigado a
ouvir nossos gemidos e que me faria um enorme favor se não grudasse
tanto em minha mulher, mas como não quero conflitos, finjo-me de estátua.
Deixo Clarisse resolver, decidir como será a nossa noite, mesmo que o que
realmente queira, é nós dois agarradinhos, maratonando série, depois de
fazer um amor gostoso.
— Bruno, estou cansada. Por hoje nada de boates, restaurantes,
shoppings e nem nada. Só quero a minha cama.
Bruno murcha. Sabe que hoje não vai conseguir nos arrastar. Vibro
internamente pela resposta da minha mulher.
— Pode tirar este sorriso do rosto, jogador fingido, pois perdi a
batalha, mas não a guerra. Sei que amanhã a Noviçabest vai estar bem
descansada e vamos curtir e muito a noite carioca.
Faço cara de paisagem, não quero que ele saiba dos meus planos de
viajar para Campos do Jordão com Clarisse. Capaz dele colocar
empecilhos ou pior, capaz de querer ir com a gente.
— Vamos então, pois agora tenho pressa em chegar em casa, ainda
vou ter que fazer uns contatinhos para conseguir alguém que tope curtir
como se não houvesse amanhã.
— Novamente não veio de carro?
Pergunto ironicamente, mesmo que já saiba a resposta.
— Claro que não. Tenho meu motorista particular, para que gastar
meu combustível!
Encosto folgado do caralho! Pena que não posso mandá-lo para
aquele lugar, pois sei que Clarisse não gosta que nos desentendamos, por
isso evito bater boca com ele, mesmo que o infeliz não perca uma única
chance de me provocar, parece até querer me fazer perder as estribeiras.
Mas o amor me faz paciente, o que sinto por Clarisse me faz calar e
suportar esta presença nefasta.
Abro a porta para minha mulher e vejo que Bruno espera que faça o
mesmo para ele. Faço de conta que não percebo a indireta e caminho
calmamente para o lado do motorista.
Escuto um resmungo e me controlo para não rir.
— Já não se fazem mais cavalheiros como antigamente!
Clarisse ri e seu riso contagia o meu. Não pela piada sem graça, mas
pela felicidade que parece irradiar por todos os poros dela.
E isto me faz rir.
Feliz, satisfeito e pleno.
Realizado como não lembro de ter estado em qualquer outro
momento da minha vida.
Aperto levemente sua mão e ligo o carro.
E seguimos então para casa, para viver o agora.
Para vivermos nosso amor, nosso sentimento.
Sabendo que não foi fácil chegarmos até aqui, mas sabendo que tudo
valeu a pena.
E tendo a certeza de que permaneceremos juntos. Aqui, na Espanha
ou seja lá onde for.
Pois o amor que nos une é maior que tudo. É forte o bastante para
enfrentarmos o futuro e tudo que ele porventura nos ofertar.
Capítulo 54

Há um ano quem diria que eu estaria aqui? Assistindo a final do


Campeonato Brasileiro, depois do quase término na final anterior?
Sim, já se passou um ano daquele dia fatídico, já se passou um ano
que resolvemos nossas diferenças, que resolvi confiar e que Gustavo se
comprometeu com o que sentíamos, e de lá para cá estamos cada vez
mais apaixonados.
Claro que ainda tenho o meu espaço, mas dificilmente dormimos
separados. Sempre que possível estamos juntos e nossos pertences
ocupam grande parte do espaço do closet do outro.
Resisto ainda a dividir o mesmo teto, mas sei que agora com a
possível transferência, é isso que vai acontecer. E se for sincera comigo
mesma, é o que eu realmente quero.
Queria voar, ser independente e consegui. Concluí meu curso, fiz um
estágio em uma grande empresa do ramo e agora penso em montar algo
meu, tendo como sócio meu fiel escudeiro Bruno.
E o mais importante: estou feliz, muito feliz.
Minha vida virou às avessas, mas novamente resisti e mantive meus
princípios, minha fé e minha religiosidade. E as graças e bênçãos
aconteceram. Deus foi muito generoso comigo e eu somente tenho a
agradecer todas as suas providências.
Tenho um namorado dedicado, um pai maravilhoso e um amigo
especial, e isso é mais do que eu poderia querer.
E é sobre isso que reflito enquanto vejo o estádio inteiro saudar o Titã
Futebol Clube, que acaba de entrar no gramado.
Logo meus olhos buscam sua imagem e meu coração alivia um
pouco o aperto, mas apenas um pouco, pois mesmo sabendo que o nosso
time é favorito ao bicampeonato, a ansiedade não me abandona um
instante sequer.
— Ui, deu um calorão agora! É muito homem gostoso no metro
quadrado!
Só ele para me fazer rir.
— Não é possível que não tenha um único que aprecie uma diva linda
como eu! Não é possível que sejam todos héteros, Noviçabest!
Como não saberia dizer nada sobre isso, apenas dou de ombros e
observo os times realizarem todo o protocolo para o início, enquanto Bruno
começa a gravar stories, que certamente serão visualizados e curtidos por
milhões de pessoas.
Meu amigo virou uma espécie de celebridade, depois de tanta foto
dele em flagras com Gustavo e eu, e ele bem que aproveitou o momento.
Hoje, depois de um ano dos primeiros cliques, a imprensa meio que se
acostumou com o nosso namoro, mas ficou para Bruno a fama, e ele
reveza as postagens entre imagens da sua rotina e orientações sobre
paisagismo. E ele adora.
Certamente essa visibilidade ajudará a imagem da nossa futura
empresa, mas o mais importante é que faz meu amigo feliz e isso, na
verdade, é o que realmente importa.
Foco novamente no gramado onde os times se posicionam para o
início da partida.
Diferentemente da final anterior, hoje o jogo acontece em casa, tendo
como time visitante uma equipe do Rio Grande do Sul.
Como o campeonato é de pontos corridos, o adversário não está no
confronto direto pelo título, mas sei que fará de tudo para evitar que o Titã
Futebol Clube se sagre campeão, mas infelizmente para o time gaúcho, o
artilheiro da competição e toda a equipe estão empenhados em conseguir
o título, diante dos milhares de torcedores que lotam o estádio e fazem
uma linda festa.
E tudo isso faz-me apertar as mãos nervosamente enquanto não tiro
o olho sequer do campo, mesmo que Bruno continue com suas
publicações.
Nada consegue tirar meu foco do que acontece no gramado. Assisto
com atenção o esporte que passei a entender e a amar. Muito por conta do
camisa nove que conquistou meu coração.
Muito porque sei o quanto o futebol é importante para ele.

A torcida já grita é campeão, mesmo que o relógio aponte que ainda


restam vinte minutos para o fim.
Nosso time está ganhando por 2X0, mas corre em campo como se
estivesse atrás no placar. É lindo de ver tanta dedicação e entrega.
Gustavo hoje não marcou, mas sei que para ele o importante é o
resultado, tanto é que sempre que tem um companheiro mais bem
colocado, ele jamais hesita em fazer o passe ao invés de chutar a gol.
Mas parece que a quantidade de gols de Gustavo aumentará e que
ele marcará sim na partida de hoje. Sinto isso pelo pique que ele dá em
posse da bola e pelos adversários que deixa para trás. Não me contenho e
fico de pé, gritando eufórica, assim como quase todos os torcedores que
estão no estádio.
E ele não decepciona. Gustavo dribla o goleiro e chuta certeiro no
gol, fazendo os torcedores delirarem. Eu também não me contenho de
emoção e orgulho do meu jogador.
E como um ritual ele corre para as câmeras que já o esperam para a
sua rotineira declaração. Gol após gol ele as faz. E me emociono. Sempre.
Ansiosamente espero por suas palavras, enquanto Bruno coloca em
minha frente o celular conectado na transmissão, para que eu não perca
um lance sequer de sua declaração. Meu amigo sempre faz isso, sempre
tem este cuidado comigo.
E ele alcança os repórteres e olha firmemente para as lentes.
— Minha noviça, você quer casar comigo?
Fico estupefata, perco as palavras.
Esperava um eu te amo, mas não esperava ser pedida em
casamento. Não agora, não desta forma.
Bruno tira o celular da minha frente e logo começa a gravar.
— Vamos, Noviçabest, todos estão esperando sua resposta!
Entendo então que ele já sabia e que vai registrar o momento para
que Gustavo saiba a minha resposta.
— Sim, meu jogador, eu quero muito casar com você!
E é a verdade. Dita com emoção, amor e sinceridade.
Do fundo da minha alma e de todo o meu coração.
E depois do meu sim, tudo se passa sem que eu realmente pareça
estar inserida na realidade.
Observo Gustavo cochichar com o treinador e, mal o jogo reinicia,
uma placa indica que será substituído. Ele então deixa o gramado,
ovacionado por todos que estão no estádio.
Não entendo direito o motivo por que deixou o campo, mas isso neste
momento não parece tão importante quanto tentar conter o ritmo alucinado
do meu coração.
Um segurança da equipe chega até nós e pede para que o
acompanhemos. Na hora sei que isso é coisa do Gustavo e que está aí a
justificativa da sua substituição. Isso faz com que qualquer esforço para
controlar minhas emoções seja em vão.
Como estamos na área reservada e sendo guiados por alguém que
tem autorização para circular dentro do estádio, logo chegamos numa parte
restrita e ao longe vejo o meu amor.
A liga que prende os cabelos não consegue conter todos os fios, o
uniforme grudado no corpo devido o suor e em sua face um sorriso
ansioso.
Ele se aproxima mais e travo. Sou incapaz de andar com minhas
próprias pernas.
Gustavo estende a mão para Bruno que lhe entrega uma caixa
pequena. Nesta hora sei que não terei forças para viver este momento.
Meu jogador se ajoelha, estende a caixinha aberta em minha direção
e com a voz embargada, pergunta:
— Amor da minha vida, você aceita se casar comigo e fazer de mim o
homem mais feliz do mundo?
Minhas pernas não aguentam e me ajoelho. Rio e choro e com a voz
quebrada pelo pranto emocionado, digo:
— Aceito, meu amor, é claro que aceito!
E ele me puxa para seus braços.
Encosta nossas testas e diz:
— Eu te amo, Clarisse!
— Eu te amo mais, Gustavo!
Recebo um selinho e antes que aconteça um beijo de verdade,
escuto Gustavo falar:
— Sem stories, vela!
E antes que eu ria da eterna implicância dos dois, ele toma a minha
boca em um beijo apaixonado, para selar de vez o meu sim.
Sou uma noiva. E logo serei uma esposa.
E mal posso esperar para viver tudo isso ao lado dele.
Do meu jogador. Do meu amor.
Capítulo 55

Sei que Clarisse merecia bem mais que um casamento organizado


em menos de um mês, mas infelizmente é o tempo que temos.
Desde julho, quando o contrato com o time espanhol foi realmente
fechado, venho vendo data em igreja, reservando buffet e cerimonialista,
torcendo para que não seja em vão tudo isso, implorando para que receba
o sim que tanto anseio.
Bruno, Vicente e eu já vínhamos planejando isso desde que a
transferência se concretizou, mas ainda não tinha feito o pedido. Em parte
porque tinha verdadeiro terror por imaginar que ela achasse cedo demais e
não aceitasse, em parte porque queria que ela esquecesse tudo o que
aconteceu na comemoração do título do ano passado e que associasse os
novos títulos e conquistas a uma lembrança boa, que a fizesse esquecer
toda a lambança que fiz ao não entender ou não aceitar meus sentimentos.
E felizmente o sim veio. E a correria também.
E é por tudo isso que estamos usando as nossas pequenas férias
para organizarmos um casamento relâmpago.
Bolo, docinhos, roupas, ensaios e uma infinidade de outras coisas.
Detalhes demais que demandam muito tempo e esforço, mas se for para
fazer do nosso casamento um momento especial, pode ter certeza que
usarei todos os segundos do dia neste intento.
Decidimos que iríamos para a Espanha casados e não vejo a hora
disso se concretizar. Em nenhum dos dois títulos conquistados fiquei tão
ansioso como estou ante a possibilidade de fazer de Clarisse minha
esposa.

Mesmo eu achando que esta data jamais chegaria, ela finalmente


chegou.
E mesmo eu achando que não poderia ficar mais ansioso do que
estive estes dias, acabei de perceber que não poderia estar mais
enganado.
Aqui, na igreja, diante de um mundo de gente do meio esportivo, de
Bruno e de Vicente, estou eu, arrumado, com os cabelos devidamente
alinhados, mas com o corpo totalmente trêmulo e o coração desembestado
no peito.
Olhando ansiosamente para o relógio, vendo que minha Clarisse já
está atrasada e infelizmente ainda não há nenhum sinal dela.
— Acho melhor você respirar fundo, jogador, ou vai ter um treco!
Claro que ele não ia aliviar. Nem no dia do meu casamento, não
quando é nítido o meu estado de nervos.
— Hoje não, Bruno! Hoje não!
Ele está ao lado de Fabíola, uma colega do curso que faz par com o
vela antipático.
— Tá nervosinho, jogador? Será que pensa que Clarisse não vem?
Ele não ajuda, nunca ajuda.
— Será que rolou uma despedida de solteiro e a minha best
descobriu? Será que ela finalmente percebeu o tipinho que você é e
resolveu dá no pé?
Vejo a hora em que ele leva uma cotovelada de Fabíola, certamente
horrorizada com as coisas que este encosto está a me dizer.
— Mesmo não sendo do seu governo, lamento informar que não fui a
despedida de solteiro nenhuma. Fiquei em casa, sozinho, numa noite mal
dormida porque você colocou na cabeça de Clarisse que teríamos que
dormir separados.
Ele dá um sorriso perverso e sei que minha vida de casado não será
totalmente perfeita pelo simples fato de ter que aturá-lo sob o mesmo teto.
Sim, ele irá para a Espanha, morará conosco e fará de tudo para
tornar meus dias um inferno. Será sócio da minha mulher e por isso terei
que suportá-lo até que ele encontre um par, palavras dele. Mas como eu
sei o quão insuportável ele é, acho difícil isto acontecer, somente me
restando ter que aguentar a minha triste sina.
— Apesar de eu achar que você não a merece, infelizmente minha
amiga parece não pensar o mesmo!
E quando cogito indagar o porquê desse seu comentário, uma linda
música começa a ser entoada e então entendo o que ele quis dizer.
Ela chegou. Ela finalmente chegou.
E de repente nada mais faz sentido, nada que não seja a visão à
minha frente.
Belíssima. Parecendo uma rainha. Tornando-me ainda mais cativo de
sua beleza.
Um vestido rendado, um véu fino a cobrir-lhe a face e um sorriso lindo
que torna-me totalmente refém de sua presença.
Ela vem até mim lentamente, com passos vacilantes e tenho ímpeto
de ir até ela, muito embora o protocolo me obrigue a permanecer aqui. E
isso me mata.
Ela não olha para ninguém a não ser para mim, e eu sequer pisco,
fissurado em tanta perfeição.
Quando está a poucos passos de distância, aproximo-me, sendo
inconcebível para mim um segundo a mais de espera.
E antes de cumprimentar Vicente ou de seguir o que foi tão
exaustivamente ensaiado, levanto o véu, beijo amorosamente a sua testa e
com a voz embargada, digo:
— Você está linda demais, Clarisse!
Ela aceita o elogio com um aceno de cabeça, parecendo tão
emocionada quanto eu.
Assumo então a postura de noivo, pronto para receber minha mulher
das mãos de Vicente.
— Gustavo, entrego a você toda a minha vida, entrego a você a
minha filha querida. Cuide dela com zelo, com dedicação. Cuide dela com
amor. E sejam felizes, é somente o que este pai deseja.
Uma fungada entrega que ele também não está imune a emoção do
momento.
— Cuidarei dela com a minha vida, Vicente. E viverei a partir de hoje
para fazê-la feliz.
E dou um abraço apertado nele. No meu empresário, que por vezes
foi a figura paterna que precisei e que agora desempenha o papel de sogro
e pai zeloso.
Ele encerra nosso contato com leves batidinhas nas costas, beija a
filha e segue para ocupar o lugar que está reservado para ele.
Prostramo-nos diante do sacerdote, as mãos unidas, emocionados
por tudo aquilo que este momento representa.
E o padre começa. Cada palavra toca fundo, o sentimento toma
conta.
Os tremores, as lágrimas e os fungados falam disso. A emoção
perceptível mostra isso.
E chega então a hora dos votos. Chega a hora de abrir o coração.
Olho firmemente para Clarisse, com a mão na sua e começo:
— Minha Clarisse, você foi a melhor coisa que me aconteceu. Você
que é forte, íntegra e guerreira. Que passou por tantas e tantas coisas que
lhe tornaram este alguém especial, que meu coração escolheu amar
incondicionalmente. Que fez de mim um homem melhor no sentir, na fé e
no amor ao próximo. Que fez de mim um homem apaixonado e que
promete aqui, diante de Deus e dos homens, amar-te e respeitar-te por
todos os dias da minha vida.
A voz já diz que o choro está próximo e é inevitável. Fala de uma
emoção que não se pode esconder, de um amor que não se pode conter.
— Gustavo, diante de Deus prometo amar-te enquanto houver vida
em mim. Prometo também ser uma esposa leal e amorosa. Prometo tentar
ser a companheira que você merece, assim como você sempre foi para
mim o que mais precisei, o que mais ansiei. Você que me ensinou a amar e
que caminhou junto comigo na construção deste sentimento puro e infinito,
que certamente foi o que de melhor me aconteceu. Te amo muito, Gustavo,
com todo meu coração e com toda a minha alma.
Ela soluça alto e no mesmo instante trago-a para os meus braços. A
emoção do momento pede um pouco de conforto, de contato, mesmo que
não esteja no roteiro e isso sequer me importa.
Não quando a tenho em meus braços, não depois de nossos sinceros
votos.
Mas infelizmente não podemos ficar assim para sempre, não ainda.
E o padre continua, e a cada palavra as lágrimas escorrem ainda
mais. A felicidade não pode ser contida, a emoção também não.
— E eu os declaro marido e mulher!
Escutar estas palavras faz-me sentir completo, faz-me infinitamente
feliz pela escolha que fiz.
E ele fala do beijo, autoriza o gesto.
Respeitosamente levanto seu véu e beijou-a na testa. Não me
controlo e beijo-a por toda a face. Encosto nossos lábios rapidamente, mas
logo me afasto. Em um respeito que sei ser importante para Clarisse, que
descobri também ser importante para mim. Sabendo que temos todo o
tempo do mundo para carinhos e intimidades. Sabendo que o que Deus
uniu o homem jamais será capaz de separar.
E logo todos se aproximam para cumprimentos e felicitações. Todos
querem compartilhar da nossa felicidade.
Beijos, abraços e apertos de mão. Votos daqueles que partilharam o
momento mais especial da nossa vida.
E ao final seguimos para a recepção e logo mais para a lua de mel.
Merecemos este tempo com os amigos, mas merecemos também este
tempo a dois.
Para nos curtirmos, para nos amarmos.
Para reafirmar em cada lugar e a cada segundo o amor que nos une.
Para reafirmar a cada instante que somos um do outro e assim será
para sempre.
Epílogo

Jamais imaginei que me adaptaria tão fácil, que me acostumaria tão


rapidamente com outra língua, outros costumes. Mas foi exatamente isso
que aconteceu
Sei que ter meu pai e Bruno por perto ajudou muito. Sei também que
o empenho de Gustavo para que isso acontecesse foi essencial.
E hoje, depois de nove meses que nos instalamos na Espanha, posso
dizer que sinto-me em casa, além de estar mais feliz do que um dia
imaginei.
A empresa de paisagismo que abri em sociedade com Bruno é um
sucesso, meu esposo já está bem adaptado ao novo clube, com sua vaga
de titular garantida, além de já ter conseguido cair nas graças da torcida e
o melhor, papai finalmente resolveu dar uma nova chance ao seu coração.
Sei que o amor que sentiu por minha mãe era verdadeiro e sei, mais
do que ninguém, como sofreu por anos a sua perda, sem ter condições de
ser o pai que uma criança de seis anos precisava, pois estava
profundamente envolvido em sua dor. E é este conhecimento que tenho de
tudo que papai passou, que me traz a felicidade por vê-lo agora
namorando, tentando reconstruir a sua vida.
Carmen é o nome da escolhida. Carismática, alegre e aparentemente
muito apaixonada por papai. E isso é o que basta. É certamente o mais
importante.
— Hoje você está assim, parecendo a anos-luz de distância!
Bruno é muito sensível, além de me conhecer como ninguém. Por
isso percebe a minha dispersão, percebe a minha nostalgia.
Poderia culpar a mudança de vida, poderia culpar a minha felicidade
constante, mas sei que as minhas reflexões têm a ver com outra coisa, têm
a ver com a notícia que recebi ainda há pouco.
Minha menstruação atrasou. Finalmente. Depois de um tempo sem
usar qualquer método, ela finalmente atrasou. E como não queria fazer
alarde, realizei uma coleta de sangue em segredo, por medo de não ser o
que tanto Gustavo e eu desejamos. Não esperei na clínica para não
levantar suspeitas, pois já foi um evento fazer com que Bruno viesse na
frente, tal é o nível de grude que ainda mantemos.
E então quando já não tinha mais unhas, recebi um e-mail que
confirmou o meu maior desejo, que confirmou como o Senhor é sempre
maravilhoso e como age no tempo certo. E depois disso estou assim,
dispersa. Ora pensativa, ora tentando bolar uma forma de dar a notícia
para Gustavo.
— Se esse for o efeito de um jogador na vida de uma pessoa, vou
começar a recusar os convites de Santiago.
Sim, meu amigo está finalmente em um relacionamento. O cara em
questão é um jogador do mesmo time de Gustavo. E este lance faz Bruno
feliz, e isso é o que importa. Muito embora o cara ainda não tenha
assumido publicamente sua homossexualidade, talvez por receio do
universo machista em que está inserido ou por não estar pronto ainda para
dividir algo que manteve em segredo por tanto tempo. Não que ele evite
sair com Bruno ou fuja de clicks, nada disso. Ele apenas não age como se
fossem um casal, e até que Bruno está bem tranquilo com isso.
— Ah Noviçabest, ele já se declarou, é romântico e fiel. Não me
esconde e nunca tentou demonstrar ser uma coisa que não é. Jamais
desmentiu qualquer especulação a nosso respeito, além de ser nítido que
ele busca a cada dia ultrapassar os paradigmas que foram impregnados
nele pela sociedade machista em que esteve inserido por tantos anos. É
questão de tempo e oportunidade. Pois ele não se controla e não resiste ao
gostoso aqui. Qualquer dia ocorrerá um flagra daqueles e ninguém mais
terá qualquer dúvida do que representamos um para o outro. E digo mais,
pela frequência com que ele me beija e demonstra o que sente, é até um
milagre que o mundo inteiro não saiba ainda que ele é comprometido,
apaixonado e muito gay!
Um sorriso paira em minha face quando lembro de nossa última
conversa sobre o assunto.
— Ah não, de novo essa cara! Cruz credo! Não sei o que está
acontecendo com você. Não sei se me preocupe ou a interne.
Somente rio. Nada do que ele disser conseguirá afastar a alegria que
habita em mim.
— Nem sei se você terá condições de comparecer comigo na reunião
de logo mais!
É a deixa que eu precisava para não ir.
— Realmente não me sinto a pessoa mais indicada para ir nesta
reunião. Se você pudesse comparecer sozinho, Bruno, eu agradeceria
demais.
Ele me olha desconfiado, mas logo diz com um sorriso:
— O que não faço por você, Noviçabest?!
E o abraço. Louca para dizer que seu afilhado já está à caminho, mas
primeiro preciso que Gustavo saiba que será pai.
E já começarei a me organizar para contar.
— Obrigada, Bruno, vou aproveitar que terei este tempinho para ir à
igreja.
— Uma vez noviça, sempre noviça!
Ele faz a brincadeira. Sempre.
Bruno sendo Bruno.

Decidi ir para uma igreja que fica próxima ao CT onde Gustavo está.
Antes de sair liguei para ele e pedi para que me pegasse quando fosse
para casa. Gustavo não disfarçou a felicidade quando disse que não
participaria da reunião, que certamente entrará noite adentro. Assim como
eu, ele vibra com cada instante a mais que temos para estarmos juntos.
Logo que entro na igreja, sinto-me acolhida, em paz. Sinto-me filha,
sinto-me amada.
Prostro-me para agradecer. Para conversar com Ele, que sempre foi
meu confidente, meu amigo querido. Meu Senhor.
Perco a noção de tempo ao me conectar com Ele. Rezo e agradeço
sem cessar.
Até que sinto alguém ao meu lado. Que segura a minha mão e se faz
identificar.
Ele faz a oração dele, pois Gustavo também é uma pessoa de fé.
Habituou-se a ser praticante e junto comigo guarda os mandamentos e a
lei de Deus.
Aguardo o seu momento de intimidade e sei que escolhi o lugar certo
para dividir com ele a notícia que descobri mais cedo. Depois haverá
tempo para contar para papai e para Bruno. Agora é o nosso tempo. E é
também o tempo de agradecer.
Quando ele termina a sua oração, me olha. Sempre apaixonado.
— Faz-me bem demais estes momentos. Trazer-me novamente para
a igreja é apenas uma das coisas que sou grato a você, amor.
Sei da sua fé. Sei como a religiosidade passou a ser importante para
Gustavo.
— Por saber como você valoriza estes momentos, foi que pensei que
aqui, com o coração cheio de amor e gratidão, seria o local exato para lhe
dizer algo muito importante.
Ele me olha e vejo sua ansiedade, mas apenas escuta o que tenho a
dizer.
E serei sucinta, clara no que precisa ser dito.
— Seremos pais. Eu estou grávida, meu amor.
Vejo seus olhos brilhantes, sua felicidade. Sinto seu abraço apertado
e a umidade em meu pescoço.
Também choro, a felicidade não pode ser contida e nem precisa.
— Ah meu amor, eu sou o homem mais feliz do mundo!
Ele não cansa de dizer e eu não canso de ouvir.
Gustavo se afasta e leva as mãos à minha barriga.
Trêmulas, assim como as minhas.
— Papai está aqui e sempre vai estar! Você vai ser muito, muito
amado!
Diz com a voz entrecortada e isso apenas intensifica as minhas
lágrimas.
Junto minhas mãos às suas e digo com o gesto que também estou
aqui. E que sempre estarei.
Ele beija minha barriga com reverência, depois a minha testa.
— Nada se compara à felicidade que sinto neste momento. Estou
completo e feliz como jamais estive.
— Eu sei, pois é assim que me sinto.
De comum entendimento olhamos para o altar e falamos com Deus.
Entregamos a Ele a nossa vida e a do nosso filho.
E terminamos nossa oração e saímos. Com o coração cheio de
gratidão e amor.
E com a certeza de que Deus tem sempre os melhores planos e que
tudo que acontece na nossa vida, tem sempre um propósito.
A infância de Gustavo, a minha. O futebol, o convento. Tudo
aconteceu como tinha que ser. Para chegarmos até aqui. Para podermos
ser para o outro o que somos agora.
A felicidade. O amor.
A certeza de que este sentimento cura. Constrói. De que ele é o
sentido de todas as coisas e que Gustavo e eu somos a prova viva e real
disso.
A noviça e o jogador.
Uma história digna de livros, mas é apenas a evidência de que o
amor existe e está no diferente, no improvável. Está em todo canto.
Assim como Deus.

Fim
Conheça os outros trabalhos da autora

Depois de tudo...amor
Mariana sonha com um amor impossível!
Menina humilde, trabalha há algum tempo na casa de
abastados e influentes advogados da capital paulista. Mesmo sem
qualquer esperança, alimentou por anos uma paixão platônica pelo
filho de seus patrões, o herdeiro e sucessor do legado Andrade.
Percebendo ser em vão este sentimento, resolve mudar
atitudes e comportamentos. Após anos de dor e sofrimento, resolve
seguir em frente.
Leonardo é o típico cafajeste. Libertino, jamais se apega. Muito
ligado a aparência e status, descrente no amor e no casamento.
Não quer compromisso e está sempre rodeado de lindas mulheres
de sua classe social.
Mesmo com toda a vida desregrada que leva, tem na doce
Mariana, seu ponto fraco. Seu limite absoluto.
No decorrer do livro percebemos o crescimento e o
afastamento de Mariana e como isto afeta e desestabiliza o
inveterado mulherengo. Como a distância imposta por nossa
protagonista, abala tão afamado pegador.
Neste embate entre amor, simplicidade, dinheiro e poder, qual
lado sairá vencedor?
Totalmente Seu
Alice não aguenta mais viver um casamento de aparências.
Não suporta saber que não faz parte da vida de seu esposo, saber
que com o tempo, o sucesso e o dinheiro, ela foi ficando para trás. É
nítido como ela e as crianças ficaram em segundo plano na vida de
Paulo.
Ela percebe que há sentimento, carinho, mas sente que para
Paulo isso não é suficiente. É visível a necessidade que ele tem de
ir além, de ir sozinho em busca de algo que talvez nem ele saiba o
que é. O coração dela sangra por saber que não bastam para ele,
sofre porque sabe que não pode e nem merece continuar assim. Em
algum momento se perderam pelo caminho. Infelizmente o cansaço
pela situação imutável a domina. Jamais tentará concorrer com o
glamour e a ostentação da vida que aparentemente ele tanto gosta.
Deixará Paulo livre. Sabe que não merece estar numa relação
assim. Não quer nunca mais sentir que não é o bastante para seu
próprio esposo.
Estes são os conflitos que preenchem o âmago da nossa
personagem. No decorrer do livro exporemos os sentimentos de
Paulo e veremos se serão capazes de superar os muitos obstáculos
que os impendem de alcançar a felicidade.
Completamente Dela
Flávia sempre foi tranquila em seus relacionamentos. Quando
jovem procurou viver intensamente e nunca buscou amor ou
compromisso. Gostava do novo, de sair e se divertir. Independente,
dona do próprio nariz, não deixava ninguém guiar seus passos e a
forma como vivia suas relações favorecia ainda mais essa faceta de
sua personalidade.
Dizer que ficou feliz em conhecer alguém tão parecido com ela
não reflete tudo o que sentiu ao conhecer Ricardo. Colegas desde o
curso de marketing, trabalham desde formados na mesma empresa
de publicidade, que hoje é responsável pela maior fatia deste tipo de
mercado no país.
Toda essa convivência com Ricardo criou uma cumplicidade e
intimidade que evoluiu rapidamente para os dois rolando na mesma
cama. Sexo sem compromisso, oportunidade de variedade e
ausência de cobranças. Esta situação era a realização dos seus
sonhos, era a certeza de continuar com o estilo de vida que sempre
prezou.
Com o passar dos anos tudo isso passou a ser insuficiente. A
vontade de estar com outros acabou e o estilo de vida de Ricardo,
que sempre foi perfeito para Flávia, passou a ser fonte de dor e
sofrimento. Flávia se apaixonou, viu-se amando alguém averso a
relacionamentos, um solteiro convicto e um cafajeste assumido.
Sabendo que ele jamais se comprometeria com ela, desfez a
relação aberta que tinham e a partir de então tenta juntar os cacos,
tenta reconstruir sua vida.
Percebeu que esse estilo de vida não lhe era mais suficiente.
Percebeu que queria amor, não queria mais viver ilusões
passageiras.
Precisava então se afastar de Ricardo e seguir em frente.
Precisava ser forte e tentar esquecer esse sentimento que habitava
todo o seu ser.
O CEO e a Loba Má
Essa história não terá nenhum final que não seja Álvaro aos
meus pés. Que não seja nós dois juntos como tem que ser.
Nunca entro numa batalha para perder. Tudo o que quero
consigo. E eu o quero. Deus como eu o quero!
Lindo, gostoso, safado e mulherengo. Nunca quis
compromisso, não promete fidelidade e muito menos deseja largar a
vida de libertinagem.
Quer a mim como a tantas outras, sem vínculo e sem
cobranças. E me tem. Arrebatada e entregue. Com um amor no
peito maior do que se é capaz de mensurar. Mas com muito orgulho,
força de vontade e sabedoria para fazer esse cafajeste ser meu e de
mais nenhuma outra.
Não jogarei limpo, não me dobrarei. Passarei por cima de tudo
e de todas como um rolo compressor.
Essa sou eu, Mirela.
E esta é história onde transformo um CEO inalcançável em um
cordeirinho apaixonado. Onde transformo um homem de baladas
em um cara de família.
Este é meu conto de fadas às avessas, mas certamente com
um final feliz.
Acompanhem e conheçam o meu para sempre.
O CEO e um conto de fadas moderno
Esta história contém quase todos os elementos de um conto
de fadas: uma madrasta má, uma bela princesa e um príncipe
encantado.
Mas como tudo se passa na nossa época, pequenas
diferenças se fazem presentes.
A bela princesa não consegue manter a inocência dos antigos
contos, a madrasta não é apenas má, ela é além e o príncipe foi
corrompido pelo universo de bebidas, farras e belas mulheres.
Então seria errado tal designação? Certamente não.
Clara, nossa linda princesa, perderá sua inocência com todos
os dissabores vividos, a madrasta má pagará por suas crueldades e
o príncipe, quando se descobrir apaixonado, fará tudo que estiver ao
seu alcance para viver o seu felizes para sempre.
Haverá muita intriga, inveja e injustiças.
Mas haverá muito amor, romance e redenção.
Apaixone-se por Marcelo, odeie com todas as forças a
malvada Virgínia e lute junto com Clara por seu grande amor e por
sua afirmação pessoal.
Esteja pronto para viver intensamente esta história, que
representa a pureza do amor verdadeiro e a certeza de que com
força de vontade e fé, dias melhores sempre virão.
A Proposta do Bilionário
Melissa Lacerda tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas o
que ela mais deseja não está à venda.
Lucius Martins pode comprar qualquer coisa, mas o seu
dinheiro e poder não são capazes de evitar algo que ele mais
abomina: compromisso.
Ela sempre o quis para si, mas jamais achou que pudesse
competir com as festas e toda a luxúria em que ele estava
envolvido.
Ele sempre percebeu sua devoção, mas sabia que ela não se
encaixava no seu mundo de devassidão.
Infelizmente o destino não pensava desta forma.
Infelizmente para garantir a solidez de sua empresa, ele
precisaria fazer a proposta.

Poderia Melissa achar que um libertino como ele seria capaz


de sossegar?
Poderia Lucius imaginar que continuaria com toda a sua
depravação, mesmo depois de fazer a proposta?
Muitas emoções, risos e choro.
Muito amor-próprio, redenção e sentimento.

Convido vocês a conhecerem A Proposta do Bilionário.


Proibida para Rafael
Sempre amarei Mia, e isso é um fato. Embora jamais possa
fazê-la minha e ficarmos juntos nunca será uma opção.
Apaixonei-me talvez ao primeiro olhar, quando ela era apenas
um bebê e eu um garotinho de dois anos. Somente ser apaixonado
desde sempre justifica uma vida em função dela e para ela.
Cuidando e protegendo de tudo e de qualquer coisa que pudesse
tirar o sorriso de sua face.
Minha Mia, como o garotinho sempre a chamou, mas como o
homem feito jamais poderá fazê-lo, por termos sido criados para
sermos irmãos, por jamais ser aceitável qualquer envolvimento entre
nós.
Fui estudar longe, o mais distante que consegui. Para tentar
sufocar o amor, para tentar enganar-me com outras bocas, com
outros corpos. Mas quis o destino que ela viesse morar comigo, e
que toda a distância que impus por dois anos e toda a quase
normalidade que consegui dar à minha vida, fosse jogada ao vento,
pois apenas olhá-la, logo na chegada, mostra-me que nada mudou,
mostra-me que ainda a amo.
E não ajuda saber que sou correspondido, que o coração de
Mia também bate por mim.
Serei eu capaz de sufocar tanto sentimento? Será Mia capaz
de esquecer seu amor, seu primeiro beijo?
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