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bela proposta para estar à frente de um cargo muito disputado num hospital
de renome da cidade de Nova York.
Disposto a celebrar tal conquista, decide comemorar na sua maneira
preferida: uma boa noite de sexo.
Porém, as coisas não saem como o planejado.
Ao contrário de Felipe, Alyssa Wilson não tinha motivos para
comemorar. Desesperada para esquecer os seus lamentos, pelo menos por
algumas horas, ela decide sair de casa e tem o seu destino cruzado com o do
espanhol.
Mas as coisas não saem como o planejado.
Às vezes, uma história de amor começa na cama...
Copyright© 2020 Sara Ester
Capa: Barbara Dameto
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester
minha vida e carreira profissional, eu não imaginei que passaria por tantas
reviravoltas.
O novo, às vezes, assusta, mas certamente faz parte do aprendizado.
Nesse meio tempo, construí meu nome na Medicina Cardiovascular;
tive mais de setecentos artigos publicados e, atualmente, recebi um convite
para me tornar chefe do setor de Cardiologia do Heart Hospital.
Além disso, eu também tinha a minha clínica particular com uma
excelente equipe, dirigida por alguém da minha inteira confiança.
Ele era um amigo de longa data. Também trabalhava no Heart Hospital como
cirurgião do trauma. — A rotina lá é punk, já vou logo avisando — disse. —
Você não vai poder continuar com essa sua vida noturna desregrada. Ou não
conseguirá acompanhar o pique.
Eu ri, trazendo meu copo de conhaque à boca. O líquido ardente
arranhou minha garganta.
— Há sempre um jeitinho pra se conseguir uma bela mulher para
esquentar nossa cama, Denver — falei, sacana. — Não me amarrei até agora,
então não será um novo cargo e longas horas a mais que me farão mudar.
Ouvi sua risada, porém ignorei sua zombaria.
— Você não vale nada mesmo — ironizou.
— É dos canalhas que elas gostam mais — declarei, divertido.
De repente, ele parou para olhar o relógio.
— Bem, chegou minha hora — disse, estalando os lábios, desgostoso.
— Pretende ficar mais um pouco?
— Uhum — resmunguei, olhando ao redor em busca de um par de
pernas torneadas para fazer minha cama mais animada naquela noite. — Nos
vemos amanhã.
Nos despedimos e, eu fiquei sozinho no bar.
O bar The Eddy era um refúgio em meio à enxurrada de festas de
despedida de solteiro e amigos virando shots. Era, basicamente, a vibe de
com meus olhos a fim de encontrar outra diversão, até que me deparei com o
mesmo cara que tinha abordado a bela garota, minutos antes. Pela expressão
carrancuda, não havia dúvidas de que ele tinha recebido um fora.
Dei uma risadinha, deduzindo o tipo de mulher que ela era, das difíceis.
outras religiões.
Ela me encarou com as sobrancelhas erguidas. Parecia verdadeiramente
admirada.
Consegui deixá-la surpreendida.
— Impressionante — disse, antes de molhar os lábios com a bebida do
seu coquetel. Ficamos nos encarando por longos minutos, até ela voltar a
abrir a boca: — Qual é o seu nome?
— Felipe — respondi, prestando atenção em cada parte do seu rosto.
Ela era perfeita. Lábios grossos, nariz afilado e olhos verdes. — Sei que
Ela voltou a tomar seu coquetel pelo canudinho, mas sem deixar de me
encarar. Sua curiosidade sobre mim era evidente.
— Alyssa — respondeu.
— Um bonito nome. — Não tirei meus olhos dos seus, deixando claro
que eu estava disposto a conhecê-la e não apenas levá-la para a cama. Eu
tinha respeito por cada mulher que me interessava sexualmente. Jamais as
tratava apenas como objeto sexual. — Combina com você.
— Você não é nem um pouco interessante — sibilou ela, em mais uma
que a digestão não rola totalmente no estômago? Ela ocorre, em sua maior
parte, no intestino delgado. Esse é o motivo de algumas pessoas com bulimia
continuarem obesas.
— Eu sei disso — disse, impaciente. — Sei, porque sou médica
residente.
Pisquei, momentaneamente surpreso com aquela informação nova.
Contudo, não tive tempo suficiente para complementar outro assunto, porque
a mal educada voltou a teclar no celular com sabe-se lá quem.
— Isso é um comportamento totalmente inaceitável! — exclamei,
demonstrando minha irritação. — Não sei quais problemas você teve hoje no
seu dia, mas eu vou continuar conversando com você só porque acho que lá
no fundo você pode ser divertida. Então encare isso como uma chance que eu
estou te dando.
— Esses seus assuntos me deixam entediada — revidou, nitidamente
abalada com minhas recentes palavras.
— Você não costuma sair muito de casa, não é?
Um pequeno sorriso brotou no canto daqueles lábios carnudos e,
finalmente, consegui sua atenção sincera.
— Não vou acordar na sua cama hoje. — Afirmou com veemência.
Dessa vez foi minha vez de sorrir. Um sorriso recheado de planos e
promessas.
lambida — uma generosa lambida de baixo para cima — sentindo o seu gosto
em minha língua. Eu adorava dar prazer a uma mulher através do sexo oral,
porque me sentia um deus naquele momento. Era como se todo o poder
estivesse comigo; na minha língua e nos meus dedos.
meus. — Serei o seu Henry. Aliás, serei o que você quiser que eu seja. —
Afirmei.
Ela piscou algumas vezes, perdida naquela névoa de luxúria
estabelecida entre nós.
— O-o quê? — Arquejou, aérea. De repente, ergueu o tronco,
desesperada. — Não. Não. Pare, por favor — pediu, empurrando-me de cima
dela.
A garota fogosa havia desaparecido em questão de segundos, e no
lugar dela estava uma completamente assustada e confusa.
Eu não sabia o que dizer. Também não sabia como agir. Aquilo nunca
tinha acontecido antes.
Ela estava sentada, porém muda.
Do nada, saiu da cama e vestiu sua calcinha. Tudo isso sem se dignar a
olhar para mim.
Incrédulo, eu assisti o momento em que Alyssa, simplesmente pegou a
sua bolsa e foi embora sem dizer uma única palavra.
Chocado diante de toda aquela situação inusitada, eu me deixei cair no
colchão, sentado.
Vi-me totalmente confuso, frustrado, seminu e com um caso sério de
bolas roxas.
Que porra acabou de acontecer, afinal?
— Vai me contar o motivo para estar com essa cara de quem comeu e
não gostou? — Denver quis saber, enquanto caminhávamos por um dos
infinitos corredores do hospital.
— O contexto certo é: Gostei, mas não comi — falei, mais azedo do
sala — depois de ter interagido com boa parte da equipe médica — e parei
diante de uma pessoa o qual pensei que jamais veria outra vez.
— Se eu me aproximar, você vai sair correndo Alyssa?
Os olhos verdes piscaram freneticamente, como se não acreditasse no
seis anos. Quando iniciamos, eu sabia exatamente a área que almejava seguir,
que era a cardiologia, mas Glenda não. Minha amiga, aos poucos foi
descobrindo sua paixão pela cirurgia geral.
— Eu ainda estou tentando digerir, então não sei se vou conseguir falar
agora — resmunguei, ainda sentindo a vergonha pela noite desastrosa que
tive.
Terminei de calçar os meus tênis brancos.
— Alyssa Wilson nem ouse correr depois de atiçar a minha curiosidade
sociais, totalmente alheio ao meu redor, mas não demorei a notar Denver e os
outros caras em uma das mesas.
Minutos mais tarde, depois de ter escolhido a minha comida, eu segui
direto para junto deles, notando que estavam num debate caloroso.
lugar.
Ambos concordaram.
Logo começaram a contar histórias sobre quando presenciaram cenas
de acidentes e não conseguiram ignorar o cumprimento do dever de um bom
Meu plantão estava quase chegando ao fim quando passei pelo setor da
emergência e me deparei com um caso grave.
— O que houve aqui? — questionei, enquanto auxiliava um dos
enfermeiros a levantar uma paciente que estava no chão. A mulher estava
inconsciente.
— A paciente chegou aqui se queixando de dor no estômago, doutor —
respondeu ele.
Rapidamente fiz as verificações necessárias.
cena.
Eu estava bastante irritado.
— Você atendeu essa mulher? — Olhei para ela, enquanto verificava
os batimentos da paciente.
Alyssa piscou, nervosa.
— Sim, ela estava com Gastroenterite — respondeu, se aproximando
com visível preocupação ao estado da mulher.
— Você mandou fazer o Eletro?
— Sim.
— E não foi buscar o resultado? — Não a deixei responder: — Era o
seu dever como a médica dela. Essa mulher, afro-americana, é diabética e
chegou aqui com dor de estômago, mas estava com sinais de infarto.
— Mas e-eu...
— Prepare uma sala — avisei ao enfermeiro. — Precisamos operá-la
imediatamente.
Passei pela Alyssa, mas sua voz me parou:
— Doutor...
Era certo que meu final de tarde estava sendo bem carregado, visto que
meu cérebro ainda não tinha parado para processar direito o fato de o meu
novo chefe ser exatamente o cara que abandonei com o pau, literalmente,
duro num maldito quarto de motel. Estava me esforçando para ignorar esse
detalhe, mas era quase impossível. E apenas piorei as coisas ao deixar aquela
mulher sem o atendimento adequado.
Puta que pariu, Alyssa, que decepção!
— Não se martirize. — Ouvi a voz grave ao meu lado. Concluí que
meu pensamento foi dito em voz alta. — Casos assim devem servir de
experiência.
Não olhei para o lado; continuei higienizando minhas mãos.
— Não estou me martirizando — falei. — Só estou decepcionada
perto dele estava me fazendo sentir coisas esquisitas. Poxa, Felipe era um
homem atraente. Sequer fiz vista grossa para o tanto de elogios e suspiros que
ouvi das outras funcionárias sobre ele. Entretanto, eu era uma garota
problemática. Não tinha cabeça para relacionamentos, ou pior, para as
válvula e talvez com isso possamos conseguir ganhar um ou dois meses para
ela. — Suspirei, derrotada.
— Mesmo fazendo isso, eu ainda não estou otimista.
Não falei nada, porque na verdade estava muito chateada. A
impotência era uma das piores sensações.
— Por favor, tente contatar a família dela. — Felipe pediu. — Vou
fechá-la.
Assenti, e me afastei da mesa.
— Erick, pelo amor de Deus, não há motivo clínico para manter essa
mulher nos aparelhos quando a minha paciente está precisando de um
coração.
— A família dela ainda não chegou. Você não pode agir por conta
própria, Felipe. Há regras. Existem protocolos.
Eu me intrometi:
— Tem uma lista de espera. Não dá para furar a fila, dá?
Felipe me encarou.
— Tem um jeito de contornar. Chamamos de doação direta. A família
pode decidir pra quem doar se a paciente não for doadora. E é isso que vou
falar para eles fazerem.
Um choque de adrenalina tomou conta de mim.
— Então o que estamos esperando?
que está morrendo ali na outra sala. — Soltou o ar. — Vou falar com a
família.
Erick praguejou.
— Ok, ok, me deixa falar com eles.
caminhava para fora do hospital. Ela já tinha ido embora há algum tempo,
visto que o plantão dela foi de carga horária menor do que o anterior.
— Já está indo?
Me assustei quando me deparei com Felipe ao meu lado. Não me
cansava de admirar sua beleza estonteante, mesmo tendo passado tantas horas
com ele.
— Sim, estou — respondi, guardando o meu celular. — Já perdi minha
a carona, mas vou pedir um taxi e...
— Oh, que isso, eu posso levá-la.
palmas geladas. Estava desconfortável, porque não fazia muito tempo desde
que ambos estávamos embolados numa intimidade quente demais para
ignorar.
O silêncio reinou absoluto dentro do carro, o que me deixou ainda mais
incomodada. De soslaio, passei a observá-lo melhor. Não que não tivesse
feito isso, horas atrás, sem que ele estivesse olhando, mas naquele momento
me senti curiosa. Em nenhum momento, ele me questionou a respeito da
nossa noite no motel. Em nenhum momento, ele quis saber o que tinha
acontecido comigo para que tivesse saído correndo feito uma doida.
entre nós. — Sei que agi feito uma doida e, provavelmente você deve estar
me achando uma maluca mesmo, mas sabe de uma coisa? Eu não ligo. —
Gesticulei. — Eu só não quero ter que ficar na defensiva agora que
dividiremos o mesmo espaço de trabalho.
— Ava?
Ela parecia tão desnorteada quanto eu.
— Felipe? Meu Deus, quanto tempo! — Abraçou-me com euforia,
enquanto as portas se fechavam. — O que está fazendo aqui?
isso que me formei. Coisa que você não sabe, já que não é médico.
Não esperei por resposta e saí da sala pisando duro.
Meu corpo todo tremia de raiva, porque me irritava o fato de alguém
questionar a minha índole profissional. Meu dever como médico era salvar
vidas e, modéstia a parte, eu me orgulhava de conseguir exercer esse papel
muito bem.
— Felipe...?
Parei, virando-me para trás. Alyssa me alcançou rapidamente.
— Eu sinto muito por tê-la colocado nessa situação — pedi, encarando
seus olhos. — Você ainda é uma residente e não pode ter qualquer problema
disciplinar.
Ela deu de ombros.
— Não me arrependo de nada — afirmou. — Nós salvamos aquela
entendi o motivo de meus lábios estarem alargados num sorriso bobo, mas
sequer me importei.
Capítulo 5
Felipe
Eu tinha acabado de tomar banho, mas estava me sentindo inquieto.
Pouco mais de uma hora atrás, eu tinha deixado a pequena fujona em casa, e
meu corpo ainda estava sentindo as vibrações de estar tão perto dela. Essa era
uma situação inusitada, porque nunca aconteceu comigo. Eu sempre tive um
leque de mulheres atraentes e interessantes ao meu alcance, então não me
lembrava de alguma vez ter passado vontade.
Os últimos dias, passando longas horas ao lado da Alyssa, eu me sentia
Lembrei-me que, mais cedo, ela tinha me passado o seu novo número de
telefone, repleta de segundas intenções.
Não pensei duas vezes e fiz a ligação.
— Ava?
tom de voz.
Dei uma risadinha baixa.
— Estava com segundas intenções — fui direto ao ponto. — Fazer
aquela recordação dos velhos tempos que mencionei mais cedo.
— Ai, que delícia — murmurou, manhosa. — Vou te passar o meu
endereço agora mesmo.
— Tem certeza? — indaguei. — Você acabou de chegar do hospital e
eu...
— Felipe? Até parece que se esqueceu do quão fogosa eu sou —
cortou-me, sedutora. — Nunca recuso sexo, meu bem. Ainda mais com você.
O meu pau pulsou na mesma hora, animado.
Era disso que meu corpo e minha mente precisavam...
Uma boa noite de sexo quente para voltar a funcionar com a mesma
Dei risada.
Achei graça.
Gargalhei alto.
Foi impossível não maliciar suas palavras, pois minha mente atrevida
me presenteou com as nossas lembranças quentes. Eu me lembrava do
poderoso “monstro” que ele tinha entre as pernas.
— Então quer dizer que ele te levou em casa ontem e te trouxe para o
trabalho hoje? — Glenda quis saber, fervendo de curiosidade. Assenti,
fazendo-a estapear o meu braço. — Sua sortuda! — Dei risada.
— Não é nada do que está pensando, Glenda, não viaja. — Rolei os
olhos, disfarçando as reações involuntárias que se aglomeraram em meu
— O que é isso?
Felipe e eu estávamos numa das salas de pesquisas, apesar de eu não
estar entendendo o motivo de estar ali.
— São mini corações — respondeu, apontando. — Estou fazendo
pesquisas sobre tratamento avançado de células tronco.
Arqueei as sobrancelhas.
— O Jacob permitiu? Caramba! — Estava verdadeiramente surpresa.
— Você, claramente foi desrespeitoso e, ainda assim, ele liberou verba para
pessoa que carregava uma boa dose de cada coisa essencial numa relação.
Era amigável.
Divertido.
Compreensivo.
Bom ouvinte.
Nunca ultrapassamos os limites da linha de amizade. Ele sempre
respeitou o fato de eu me recusar a explicar o que me fez sair correndo
daquele quarto de motel, deixando-o seminu, e eu achava isso o máximo.
minhas palavras — Por favor, não use desse tipo de desculpa comigo. —
Suspirei, chateada. — Entendo que o que você passou nos últimos anos a
magoou, Alyssa, mas estou aqui, querida. Estarei sempre aqui para você.
Meus olhos umedeceram.
— Eu sei, pai — murmurei.
— Sempre haverá um novo dia, meu amor. Uma nova oportunidade
para ser feliz — continuou ele. — Se eu tive essa chance, tenho certeza que
você também terá a sua.
— Pai...
— Meu noivado será no sábado à noite, Alyssa — impediu minha
possível mentira para não comparecer. — Eu quero vê-la aqui, querida, ao
meu lado. — Respirei com força. — Amo você.
Mordi os lábios, sentindo o meu coração batendo forte e rápido.
— Eu também amo, pai.
Encerrei a ligação, mas permaneci encarando o aparelho de celular por
alguns instantes.
Uma enxurrada de emoções me abateu, quando as lembranças de
quando minha mãe ficou doente invadiram minha mente. Foi há cinco anos, e
desde então, o meu pai tentava buscar a felicidade em outras pessoas, mas
suas escolhas — ao meu ver — eram ruins. Até que ele conheceu Lucinda —
uma mulher na faixa dos 40 anos — a pouco mais de um ano, e acreditava
piamente que ela era a mulher perfeita, o que na realidade era bem diferente.
Eu a odiava com todas as minhas forças.
Gemi, desgostosa.
Guardei o meu celular e voltei para perto do Felipe.
— Algum problema?
— Hun? — revidei, encarando-o.
— Não sei, você parece nervosa — comentou, gesticulando. —
Aconteceu alguma coisa?
terei que ir, apesar de não querer. Terei que engolir todo o desejo de expulsar
aquela interesseira a ponta pés da vida dele, apenas para vê-lo feliz. —
Entortei os lábios. — Terei que sorrir diante de toda a falsidade que é essa
relação, sabe? O tempo todo ela fica querendo se meter na minha vida,
fingindo se importar comigo quando sei que é tudo para impressionar o meu
pai. Fora a vadia da filha dela que não perde uma oportunidade para me
infernizar. — Bufei, sacudindo a cabeça. — Perdoe meu desabafo, mas esse é
um assunto que tira a minha paz. Terei que me preparar psicologicamente
para comparecer a esse evento, porque certamente é isso que será,
considerando a futilidade daquela mulher que sempre aproveita para gastar o
dinheiro do meu pai.
— Não se desculpe por isso — disse ele. — Eu não posso dizer que
entendo o que está passando, porque minha família sempre foi unida. Com
problemas como todas as outras, mas unida. — declarou com orgulho. — Se
você quiser, eu posso ser o seu acompanhante — sugeriu. — Assim você se
distrai. — Sorriu abertamente.
Neguei com a cabeça.
— Sem chance! — exclamei com veemência. — O que você ia fazer
lá?! Minha família é louca, Felipe, louca! Além do mais, nós nem nos
conhecemos direito.
— Como não? — Pareceu quase ofendido e, eu ri. — Nós somos
Meu plantão de sexta tinha chegado ao fim, então optei por pegar um
taxi pra ir para casa, uma vez que não encontrei com Felipe em nenhum
lugar. Nos últimos três dias, eu fiquei remoendo todos os prós e contras da
minha decisão a respeito do noivado do meu pai. Não tinha certeza se levar o
meu chefe como companhia seria uma boa ideia, ainda mais este sendo
alguém que teve de mim um contato tão íntimo como o Felipe. Além disso,
ele não era um cara qualquer... e era isso que me causava certo pavor.
Eu sabia que o Felipe era um homem atraente sem sequer fazer esforço,
o que era até um pecado. Mas por que ele tinha que ficar tão deslumbrante
com um simples traje formal? Não era justo com o meu juízo. Não era justo
com as partes do meu corpo que se acendiam a nossa proximidade. Não era
justo com o meu emocional que ficava todo bagunçado sempre que ele me
encarava com aquele olhar me dizendo que queria me devorar... ou talvez
fosse somente o meu lado obsceno imaginando coisas.
dá tempo de fugir?
Sua risada foi instantânea, o que aqueceu o meu coração. Eu descobri
que gostava de fazê-la sorrir. Gostava de observar a forma como suas
bochechas ruborizavam e seus olhos brilhavam.
minha mente sabia fazer era me mostrar as cenas do nosso momento dentro
daquele quarto de motel quando minhas mãos estavam em todos os lugares
do seu corpo; quando minha boca estava explorando a carne molhada entre
suas pernas e meus ouvidos sendo presenteados por seus gemidos deliciosos e
sexy.
Meus olhos notaram quando Alyssa entreabriu os lábios antes de passar
a língua por eles, como se estivesse sentindo o mesmo desconforto que eu.
Entretanto nossa pequena bolha luxuriosa chegou ao fim no instante em que
fomos recepcionados por uma bela mulher na faixa dos quarenta anos. Ela era
loira e muito elegante. Não me passou despercebido o espanto em seu rosto
ao olhar de mim para a Alyssa, considerando que espalmei as costas dela com
uma das minhas mãos. Senti seu corpo estremecer imperceptivelmente.
— Alyssa! Que bom que você veio, querida, seu pai ficará feliz —
comentou num tom educado. Seus olhos logo encontraram os meus e pude
enxergar sua curiosidade fervilhando. — Você trouxe um amigo. É do
trabalho?
Na mesma hora senti o corpo de Alyssa tencionar sob minha mão em
suas costas. Olhei para ela e me deparei com seu rosto endurecido.
De repente, pegando-me de surpresa, ela esticou o braço direito e o
enrolou em minha cintura, na frente do meu corpo. O sorriso logo tomou
conta de seus lábios carnudos quando olhou de mim para a mulher a nossa
frente.
— Felipe, essa é a Lucinda, noiva do meu pai. — Voltou a encarar a
madrasta. — Este é o meu namorado.
O espanto não ficou visível apenas no rosto da mulher, mas também no
meu. Como assim, namorados?
— Oh, que maravilha! — exclamou ela, abrindo espaço para que
pudéssemos passar.
Alyssa ficou ainda mais desconfortável quando a madrasta a puxou
— Não... — coçou a garganta — Eu não fiz por mal, pai. Felipe e eu...
— olhou para mim como se estivesse pedindo ajuda.
Meus olhos brilharam em divertimento.
— Nós nos conhecemos em uma das nossas folgas — acrescentei. E
isso não era mentira afinal. — Eu ainda não era o chefe do setor de
cardiologia no hospital e...
— Oh, você é o chefe? — interrompeu-me, impressionado.
— Sim, eu fui convidado para chefiar o setor e aceitei, apesar de ter
Olhei para a Alyssa, que parecia aérea e tensa sob meu abraço.
— Claro que me lembro, pai — disse ela. — A mamãe adorava fazer
passeios românticos.
— Oh, querido, então você já conheceu o namorado da Alyssa. — A
ela estava bem próxima a mim. Meu rosto embrenhou-se em seus cabelos
soltos e perfumados.
— Foi um prazer conhecê-la, Madison — falei de modo gentil, mas
recebi uma cotovelada da Alyssa.
— Ai — reclamei, baixinho.
Sorrindo de orelha a orelha depois do que eu falei, a garota nos deixou
a sós. Deduzi que não passava dos 20 anos.
Me ajeitei quando a Alyssa se virou de frente para mim, porém meu
olhar ainda estava na garota não muito longe de nós. Era óbvia a
competitividade ali, o que de certa forma me deixava triste. Eu não tinha
irmãos, mas tinha primos e os amava por igual.
— Felipe?
retruquei, rindo.
Seu rosto envergonhado se ergueu para me encarar. Arrastei uma das
mãos por suas costas, pressionando seu quadril no meu. Ouvi o seu arquejo
na mesma hora.
— Você já está se aproveitando da situação, Felipe! — murmurou
enquanto ninguém olhava.
Eu quis rir, porque ela estava certa. Mas talvez fosse a minha única
oportunidade.
Inclinei-me e colei minha boca em seu ouvido, puxando seu corpo
ainda mais perto do meu enquanto rodava com ela pelo salão.
— Do mesmo modo que você, querida. Eu não esperava aquele beijo.
Senti seus tremores sob meus dedos gulosos.
— Foi por causa do meu pai — tentou explicar, mas eu ri.
afastados dos demais. — Se quiser, eu posso fazer uma cena de ciúmes aqui,
e com isso você terá motivos para ir embora.
Franzi a testa, espantada com sua proposta.
— Ficou louco? — indaguei, nervosa. — Claro que não farei isso. Já
basta a mentira de você ser o meu namorado. — Peguei a taça com o
champanhe e levei a bebida rapidamente aos lábios. — Jamais vou me
perdoar por magoar o meu pai. — Sacudi a cabeça, chateada comigo mesma
por ter me enfiado naquela enrascada.
— Ele não precisa saber — disse ele, tranquilo. — Mas de uma coisa
tenho certeza.
— O quê?
— Você precisa melhorar essa cara, porque desse jeito vai parecer que
estamos brigados.
Foi impossível não sorrir.
— Seu bobo. — Cutuquei seu braço, adorando a maneira como ele
estava sorrindo para mim.
— Vejo que estão se divertindo — disse meu pai, se juntando a nós.
Senti-me tensa, pois o brilho nos olhos dele ao olhar de mim para o Felipe me
fez sentir mal. Droga! — O jantar será servido daqui a pouco. Espero que
goste da culinária francesa, porque foi a escolha da Lucinda — mencionou,
encarando o Felipe.
— Ah, eu adoro a gastronomia Francesa — Felipe comentou. — Já tive
a oportunidade de visitar Carcassone e experimentei o Cassoulet. — Ele
beijou as pontas dos dedos naquele gesto característico de quando apreciamos
uma boa comida. — Gosto muito do Coq au vin também. Uma receita que já
possui séculos de existência. Segundo consta, foi criado para o imperador
romano, Julio César, ao conquistar a região da Gália. A receita original era
preparada com galos em idade avançada e o vinho para amaciar a carne.
— Que interessante — disse meu pai. — Vejo que você é um bom
apreciador do assunto.
Felipe sacudiu a cabeça.
— Eu apenas gosto de apreciar as histórias por trás de cada
experiência. — explicou. — É igual o futebol americano, por exemplo; ele é
jogo que assiste, entretanto, quando há um forte interesse pelo esporte e pelo
seu entendimento, surge também uma enorme paixão pela modalidade.
— Justamente! — exclamou o Felipe. — É um jogo com muita
intensidade, jogadas espetaculares, onde os quarterbacks necessitam de
precisão com a bola nas mãos para encontrar o receptor mais livre em campo,
lances com altos graus de tensão e concentração, e...
— Ooooi?! — interrompi, entediada com o assunto. — Acho que esse
não é o momento para falar de jogo, hun?
Eles sorriram.
senhor torce?
Não sabia se brigava com ele pela intromissão, ou se o agradecia por
ter me salvado de ter que me justificar sobre um assunto que para mim não
havia explicação. Eu simplesmente não gostava da Lucinda e ponto final.
— Dallas.
Senti a vibração do Felipe na mesma hora.
— Eu também! — exclamou. — O que achou do último jogo?
— Argh, acho que vou ao banheiro, porque esse assunto está me dando
sono — comentei, me soltando dos braços do Felipe.
ficou doente, muitos se afastaram, por não quererem ajudar. Anos depois,
meu pai investiu na bolsa de valores e ficou rico. Não que antes, a nossa
situação financeira fosse ruim, mas não tínhamos o status que ele tinha com a
Lucinda. Desde novo, ele sempre foi esforçado e dedicado a todo tipo de
assunto, então acreditou que um dia conseguiria alcançar o mundo.
Dispersei os meus pensamentos assim que entrei num dos banheiros no
andar de baixo. Fui direto para a pia a fim de molhar a nuca, que estava
suada. A tensão estava deixando os meus ombros endurecidos. Respirei
fascinado.
— Fascinado? — desdenhou. — Pois te garanto que até o final dessa
noite, ele estará na minha cama.
Dizendo isso, ela tentou abrir a porta do banheiro, me assustando,
aproveitava da bondade do meu pai para conseguir tudo o que desejava, o que
me irritava demais e me fazia discutir com ele. Sempre corri atrás dos meus
sonhos e ideais, então não admitia que aquela garota se aproveitasse do meu
velho.
Irritada, eu respirei fundo e saí do banheiro. Meus nervos estavam à
flor da pele, e piorou quando avistei a vadia da Madison conversando com o
Felipe como se fossem melhores amigos. Fechei a cara na mesma hora,
marchando até eles com passos duros.
— Ah, que legal — dizia ele, encarando-a com atenção. — Medicina é
baixinho quando se chocou com a minha numa dança erótica e muito, muito
sensual. Meus pensamentos logo abandonaram o local ao nosso redor; minha
mente se esqueceu do principal motivo que me fez agarrá-lo, e tudo o que
passei a fazer foi curtir e me lembrar dos momentos que compartilhamos
naquele quarto de motel. Eu não deveria, mas ansiava por mais. Eu queria
terminar o que começamos.
Mesmo perdida em seus braços, eu consegui ouvir — ao longe — o
anúncio do jantar. Tinha que admitir que encerrei o beijo à contra gosto,
porque a vontade do meu íntimo era me perder naqueles lábios para sempre.
estavam em pé, enquanto ele fazia o seu famoso discurso. Tentei prestar
atenção no que ele dizia, mas a verdade é que minha mente pervertida e
traiçoeira só sabia pensar na ereção do Felipe. Droga!
Assim que o discurso acabou, o jantar pôde ser servido. Eu não era
hipócrita em não perceber o quanto meu velho parecia feliz ao lado daquela
mulher, que eu não aprovava. Seus olhos brilhavam sempre que olhava para
ela, e isso eu não tinha como negar.
— Papai, o namorado da Alyssa me deu várias dicas sobre o curso de
medicina. — Madison começou, querendo ser o centro das atenções. Fora
que ela sabia que eu odiava quando o chamava de pai. — Estou pensando
seriamente em me aventurar.
Travei o maxilar na mesma hora, nervosa e tensa. A competitividade
espanhol!” O ditado popular faz jus a nós, espanhóis, que temos o hábito de
realizar o casamento com o sinônimo de evento grandioso e de oportunidade
rara para reunir duas famílias inteiras e dois grupos de amigos. Portanto, faça
chuva ou faça sol, a festa sempre acontece.
— Você vem de uma família grande, eu suponho. — Lucinda quis
saber, interessada. — Alyssa ainda não tinha comentado sobre você. Aliás,
estão juntos há quanto tempo mesmo?
Quase engasguei com a comida, mas me controlei. Quando abri a boca
emocionante.
Revirei os olhos, sem que ninguém percebesse.
— Você precisa pensar friamente, querida — disse ele, gentil. —
Questionar a si mesma se a sua mente e seu corpo irão aguentar o pique que
uma profissão dessas exige. Longas horas em pé, sem se alimentar direito e
sem dormir. Concentração em cirurgias, pois suas mãos estarão sobre, ou
dentro do corpo de um paciente...
— Ah, mas isso não é difícil — retrucou ela, interrompendo-o. — Sei
que terei todo o suporte, então poderei me aventurar em todas essas coisas...
— Não são coisas, Madison. — Felipe corrigiu, praticamente num
rosnado. Estava a tempo demais convivendo com ele, para saber o respeito
que o mesmo tinha pelos seus pacientes. — Você estará lidando com vidas.
Então a menos que tenha certeza da sua vocação, é melhor ter uma segunda
opção no currículo.
Novamente fui obrigada a segurar o riso, porque certamente Madison
não esperava por esse corte.
Embora estivesse adorando a sua cara de tacho, eu decidi amenizar o
clima, puxando outro assunto:
— Papai, o senhor já decidiu se vai investir em projetos voluntários?
Vi que sua expressão se tornou mais leve. Senti-me um pouco culpada
por ter causado, de alguma maneira, um desconforto para ele.
— Estou com alguns em mente, filha, mas não sei qual é o melhor —
respondeu. — Adoraria que me ajudasse com isso. — Sorriu, aquecendo o
meu coração.
— Será um prazer, pai.
desconfortável.
— O que foi? — intimei, preocupada. — Você veio se remexendo
durante todo o caminho até aqui — comentei.
— É que estou apertado — respondeu, sem jeito. — Acabei não tendo
— Saber o quê?
Passeei os dedos sobre a imagem do meu falecido marido.
— Sobre o meu falecido marido. — Ergui o retrato. — Henry.
— Você não precisa falar se não estiver pronta — disse.
— Eu sei. Mas estou bem — murmurei, soltando o ar. — Henry
faleceu há dois anos. Ele servia ao exército, mas acabou aceitando uma
missão no Iraque e não voltou mais. Houve um acidente com uma das
granadas e... — engoli a vontade de chorar, porque ainda era um assunto bem
delicado para falar. — Era aniversário dele naquela noite. Na noite em que
estive naquele bar — confessei. — Eu saí de casa para tentar esquecer... aí
conheci você e nós...
— Não deu certo — complementou o meu raciocínio. — O seu corpo
estava pronto, mas a sua mente não.
Assenti, sacudindo a cabeça.
Voltei a ajeitar o porta-retrato na estante, ainda tentando engolir o
desejo de chorar.
— Meu surto não teve nada a ver com você — expliquei. —
Honestamente, você foi o único homem que conseguiu mexer com a minha
libido desde a morte dele — decidi ser sincera. — Mas não sei se estou
preparada, sabe?
Felipe estava sério, encarando-me com a intensidade de sempre.
expectativa e medo.
— Não espere segundas intenções — falou como se estivesse lendo os
meus pensamentos. — Será apenas um jantar entre duas pessoas que estão se
conhecendo e compartilhando boa parte do cotidiano, Alyssa. Apenas isso.
saber a respeito?
Rolei os olhos, passando pela bancada da emergência e deixando todos
os prontuários com a chefe da enfermagem.
— Não sei se vale a pena. — Me fiz de desinteressado apenas para
irritá-lo. — Tem a ver comigo, suponho.
Ele vibrou.
— A galera está louca pra saber quanto tempo vai levar até você pegar
a “indomável”. — Riu, referindo-se a Alyssa. — Os lances estão cada vez
sim — disse uma voz feminina. Na mesma hora, eu me ajeitei na cama para
poder ver quem tinha entrado. Era a amiga da Alyssa e a própria Alyssa, que
apenas deu risada. — Pode dizer, ele é ou não é testosterona pura?
Me joguei na beirada da cama.
— Quem é esse tal doutor “bate bate”? — questionei fazendo com que
elas gritassem de susto. Eu dei risada, enquanto ambas praguejavam alto.
— Ficou doido? — Glenda questionou, acariciando o peito. — Eu
posso estar ao lado de dois médicos cardiologistas, mas não estou nenhum
pouco a fim de ir parar na mesa de cirurgia por conta de um infarto, droga!
Minha risada aumentou, e eu me ergui de modo a me sentar.
— Me perdoem — falei. — Eu só estava querendo saber a identidade
deste doutor testosterona e pedir para ele me ensinar o charme. — Pisquei,
pretendia me contar!
Rindo, eu desci da cama e peguei minhas coisas.
— Bom, meu trabalho aqui já está feito — zombei. — Vejo você mais
tarde, Alyssa — mencionei, me despedindo delas. Não me passou
despercebido a maneira dura como ela me encarou, provavelmente furiosa
por eu tê-la dedurado.
Saí dali, achando graça de toda a situação.
Estava perto do final do expediente quando visualizei a silhueta da
Alyssa entrando na sala dos armários. Fui atrás dela.
Ela estava arrancando o jaleco quando entrei.
— Está chateada comigo ainda? — perguntei, me recostando num dos
despreocupado.
— Mas nada o impedia de ficar com a boca fechada também! —
revidou, com o nariz empinado.
Me aproximei, percebendo a maneira como seus olhos aumentaram
com a nossa proximidade.
— Decidi que quero levar você para jantar amanhã — declarei,
notando que ela deu passos para trás como se precisasse de espaço para
respirar. Estiquei meus braços, prendendo-a entre o armário e meu corpo.
— Amanhã? — Sua voz não passou de um silvo.
ficava a maior parte das mesas e a cozinha aberta bem no meio do salão —
Essa sobremesa foi tão copiada que eles desistiram dela e lançaram o
HITME, que é uma torre que intercala bolo de chocolate, sorvete, brownie e
no topo vai uma casquinha de chocolate preto recheada com calda de
chocolate branco, que deve ser quebrada com uma colher. Por isso o nome,
que significa “bata em mim”.
— A combinação parece ser perfeita! — exclamou, animada.
Logo nos acomodamos em uma das mesas. Peguei o instante em que
— Ah, até que não ficou tão ruim — comentou, enquanto analisava a
própria foto. — Vou enviar para o meu celular.
Nesse momento, eu fiquei constrangido e quis pegar o celular da mão
dela, mas Alyssa foi mais rápida.
— Ei! — exclamou, arqueando as sobrancelhas e afastando a mão onde
estava o celular. Sua atenção se voltou ao aparelho. — Onde está o meu
nome? — Não resisti à gargalhada quando ela percebeu o motivo da minha
preocupação. — Eu não acredito que você salvou o meu número com esse
apelido, Felipe! Fujona? É sério isso?
perto.
— E o que você sente quando está comigo?
— Eu... não sei...
Audacioso, eu peguei sua mão e passei a acariciar a pele lentamente,
mas sem desviar o olhar do seu.
— Você não sabe, ou não quer admitir? — indaguei. — Por que... eu?
Eu não tenho o porquê mentir para você, baby — sussurrei, manso. — Sequer
deixei de pensar em você desde aquela nossa noite inacabada...
Com os lábios secos, ela abriu a boca para falar, porém hesitou em
todas elas.
Novamente fomos interrompidos pela chegada do garçom com o nosso
jantar. Agradeci quando ele nos desejou um bom apetite.
— Espero que goste — falei para a Alyssa, tentando quebrar aquele
noite.
— Foi uma noite bem divertida — confessou, assim que estacionei o
carro no meio fio, em frente ao seu portão.
Abri a porta do carro e desci. Em seguida, dei a volta no veículo para
abrir a porta dela.
— Obrigada. — Sorriu.
— Que nada! — exclamei, dando de ombros. — O cavalheirismo faz
parte do meu pacote infalível de armas de sedução — brinquei.
O som adorável da sua risada inundou os meus ouvidos, aquecendo o
— Felipe...?
Quando voltei a olhá-la, não precisei perguntar nada, porque seu olhar
já dizia tudo.
Num rompante, eu encurtei a distância entre nós dois e a puxei contra
mim, esmagando sua boca na minha.
O gemido que escapou dos seus lábios me deu a resposta que eu
precisava...
Eu e ela estávamos na mesma sintonia.
Capítulo 11
Alyssa
Suspiros e gemidos.
Minha mente parecia um quadro branco, enquanto o meu corpo tomava
o controle de todas as minhas ações.
Não podia ser hipócrita e dizer que não desejava aquele homem,
porque tudo dentro e fora de mim ansiavam para estar com ele.
Felipe e eu entramos na minha casa, sem desgrudarmos as nossas
bocas. Uma sensação de dejávu me abateu quando tive meu corpo sendo
Segurei os seus cabelos assim que seu rosto veio de encontro ao meio
das minhas pernas; fechei os olhos me perdendo nos movimentos da boca
habilidosa que estava me levando à loucura.
Felipe me chupava como se eu fosse um manjar dos deuses; a última
fonte de água para amenizar a sua sede.
Abandonando o meu clitóris, ele veio trilhando beijos molhados por
minha barriga até chegar aos seios, onde raspou os mamilos com os dentes.
Ele estava sem camisa, então eu podia sentir cada gominho dos seus
músculos sob minhas mãos.
Ali, nós éramos duas pessoas que se desejavam. Duas pessoas que
ansiavam compartilhar do prazer mútuo.
Sua boca pressionou a minha num beijo esfomeado. Meu gosto ficou
perceptível em sua língua tornando tudo ainda mais devasso.
Caímos contra o colchão, e Felipe aproveitou para esfregar-se entre
minhas pernas abertas; o contato do tecido da sua cueca em meu clitóris me
fazia gemer contra seus lábios, que sugavam os meus com devassidão.
— Eu quero você — soprei, apertando-me nele o máximo que pude,
Cada carícia.
— Abra os olhos — exigiu ele. — Eu quero que você saiba quem está
aqui, Alyssa.
Pisquei, encarando o seu olhar. Os olhos chispavam os meus como
duas fendas.
Podia ver o suor escorrendo de sua testa.
O movimento de sua pélvis aumentou, tornando impossível segurar o
redemoinho que se formou no meu baixo ventre. O prazer surreal atingiu
emanava no ambiente.
Minha expressão murchou na mesma hora, e ao virar a cabeça, eu me
deparei com o porta-retrato do meu marido... falecido.
Não era ele.
Ele se foi.
— Bom dia, gata... — ergui o olhar assim que ouvi a voz sonolenta do
Felipe.
Seu tom manso, nem mesmo o seu sorriso foram capazes de apagar
aquela sensação ruim que se instalou no meu peito.
— O que você está fazendo? — Não controlei o tom ríspido.
Vi que arqueou as sobrancelhas, mas pareceu ignorar a minha rudeza.
— Café?! Pensei que gostasse.
Revoltada com sabe-se lá o quê, eu fui até ele e peguei a xícara da sua
mão e a depositei sobre o mármore da pia.
— Não, você não pode fazer isso. Não pode brincar comigo assim, nem
tomar o lugar dele.
Na mesma hora, ele piscou, mas deixando visível a sua carranca.
— Ah, entendi. — Sacudiu a cabeça, indignado. — Você pensou que
era ele aqui. — Gesticulou ao redor, cruzando os braços.
Abaixei a cabeça, sentindo o meu peito sufocado pela dor.
— Eu não suporto isso... é a nossa casa. Eu sinto que estou o
desonrando.
— O quê? — questionou, num rosnado. — Você está se ouvindo,
Alyssa? Percebe a loucura do que está dizendo? O seu marido está morto.
— Não estou pronta para isso — expus, sentindo os meus olhos
mim, porra!
As lágrimas rolavam livremente pelo meu rosto, mas ainda tive forças
para implorar:
— Por favor, vai embora.
Ele ergueu as mãos, rindo com sarcasmo enquanto dava passos para
trás.
— Não precisa pedir duas vezes, querida.
O primeiro soluço escapou da minha garganta, quando me deixei cair
no chão da cozinha me sentindo a pior pessoa do mundo.
Capítulo 12
Felipe
— Você viu a turma nova que chegou? — Denver perguntou. — Os
calouros da residência.
Neguei com a cabeça, esforçando-me para não soar tão disperso.
— Estamos organizando algumas brincadeiras para fazer com alguns
deles. Uma espécie de batismo, sabe? — Riu. — O Mateus até teve algumas
ideias bem divertidas. Quer participar?
Parei diante do quadro de cirurgias e analisei os meus horários.
ainda mais puto comigo mesmo. Desde que deixei a casa dela, horas atrás, eu
estava lutando para não pensar em nada do que aconteceu; nem mesmo no
sexo esplendoroso que tivemos antes de tudo desandar.
— Nos vemos mais tarde então? — insistiu ela, exalando um brilho
audacioso nos olhos.
— Claro. — Pisquei.
Sem que eu estivesse esperando, ela se aproximou apoiando as mãos
em meu peito e, em seguida, se inclinando para poder deixar um beijo
— É, ela sabe mesmo como ser uma “estraga prazer”, galera. É sua
melhor qualidade — praticamente cuspi com toda a fúria e frustração
existente em meu ser.
Neste momento, seu olhar finalmente encontrou o meu e eu pude
enxergar a mágoa.
Com as bochechas vermelhas, ela simplesmente saiu sem dizer nada.
— O que foi isso? — Denver quis saber, olhando de mim para ela, que
já estava longe de nós.
Bufei, irritado demais com a situação para respondê-lo.
No fim, eu saí pelo lado oposto, pisando duro.
Dei risada.
Conversamos por mais alguns minutos e, em seguida, eu encerrei a
chamada e fechei a tampa do laptop.
De pé, eu me encarei em frente ao espelho. Tinha optado por um
vestidinho de renda, e feito uma trança lateral.
Apesar de ser a minha folga, eu não conseguia me sentir leve e
descansada, porque todo o meu corpo estava tenso por causa da conversa que
teria que ter com o meu pai.
Mas era preciso. Eu tinha que contar toda a verdade para ele.
— Eu falei pra ela que talvez não conseguisse vir, senhor Wilson,
então acho que Alyssa ficou um pouco chateada comigo — disse ele,
deixando-me ainda mais nervosa.
Eu não tinha me preparado para continuar encenando toda aquela
loucura entre nós dois.
— Ah, as mulheres são difíceis de lidar mesmo, meu genro — brincou
papai. Cheguei perto dele, que se levantou do sofá para poder me abraçar
apertado. — Estou feliz por voltar a vê-la, minha querida. — Beijou minha
testa e, em seguida, acarinhou minhas bochechas rubras. — Por favor, sente-
encenação.
Voltei a sorrir amarelo.
— Poderia ter me ligado, querido. — Me obriguei a inclinar o rosto
para beijar seus lábios. Tudo dentro e fora de mim reagiu àquele mero
contato. Afastei-me devagar, tomando o cuidado de encarar seus olhos, que
me seguiam com a mesma intensidade.
— Felizmente deu tudo certo! — exclamou o papai, chamando a nossa
atenção e quebrando o clima pesado. — Lucinda? — gritou ele. — Lucinda?
— voltou a chamar. — Argh! — praguejou, se levantando. — Já volto. Vou
pegador. Não viu a maneira como ele e a Ava estão amiguinhos agora?
— A Ava da pediatria? — Assenti. — E você quase nem está com
ciúmes, hun? — Riu, divertida.
Abri a boca para retrucar, mas uma movimentação na porta da
— Por quê? Acha que não sou capaz de dar uma noticia ruim?
Arregalei os olhos.
— Eu não quis dizer isso — defendi-me, sentindo-me encolhida. —
Apenas percebi que você ficou mal por ter perdido um paciente na mesa,
Felipe. Eu só quis ajudar.
Sentindo o engasgo na garganta, eu rumei para a porta de saída.
Odiaria que ele me visse chorando.
Capítulo 14
Felipe
Cansado.
Era o que me traduzia perfeitamente. E não somente analisando pelo
lado físico, mas o psicológico também.
Nunca me considerei um homem chegado a apegos emocionais, porque
desde minha primeira experiência sexual, aos 17 anos, eu entendi que não
havia motivos para se apegar a apenas uma mulher quando se podia conhecer
diversas.
seguindo até a casa do meu suposto sogro quando o mesmo me ligou para
falar do jogo. Obviamente que eu não fazia ideia da reação da Alyssa, uma
vez que nós não estávamos nos falando direito. Mas no fundo... bem lá no
fundo, eu quis ajudá-la. Sabia do seu medo em decepcionar o pai.
Denver entrou, seguido por uma garota que ele estava ficando. Eric e
Ava entraram por último.
— Fiquei feliz pelo convite — disse ela, segurando o meu rosto e
depositando um beijo demorado no canto dos meus lábios. — Finalmente vou
conhecer o seu apartamento, hun? — Mordeu os lábios, maliciosa.
Sorri, sem jeito.
— O prazer é todo meu, querida — falei, gentilmente.
Cumprimentei o Eric e, em seguida, fechei a porta.
— Não sei vocês, mas estou pensando em pedir uma pizza —
contra a parede fria, intensificando o beijo, porque não queria acreditar que
aquele maldito bloqueio tinha a ver com a Alyssa. Aquela garota não podia
controlar a minha vida assim.
Ava, sem perder tempo, desceu a mão e agarrou o meu pau semi ereto.
anfitrião.
Dizendo isso, eu me afastei e segurei sua mão. Ava não gostou muito,
mas não falou nada.
Assim que chegamos à sala, meus amigos não perderam a maneira
como minha mão estava entrelaçada com a da Ava, mas felizmente não
houve nenhum comentário.
Nos juntamos a eles, e começamos a conversar.
As horas foram passando e, entre risadas, bebidas e muita conversa
boa, toda a minha tensão foi se dissipando.
Eric foi o primeiro a ir embora, seguido pelo Denver, que deixou claro
os seus planos com a garota ao seu lado.
Ava e eu permanecemos conversando mais um pouco, relembrando
velhas histórias.
— Bem, eu... acho que já vou indo — disse ela, se levantando do sofá.
Ergui-me também.
— Acompanho você — falei, apontando para a porta.
Ava semicerrou os olhos em minha direção.
— O que há de errado, Felipe? — indagou, parecendo irritada. — Por
acaso está com alguém?
— Não. Claro que não — respondi mais do que depressa.
De repente, ela se jogou em meus braços.
minha triste realidade, eu liguei a televisão num canal onde estava passando
um filme. Como parecia ser uma trama romântica, eu peguei um porta-retrato
com a foto do Henry, e me ajeitei no sofá.
Não havia palavras para descrever o quanto eu me senti sozinha
naquele momento.
que eu me retratasse com ele. Ou talvez fosse o meu coração me dizendo que
já estava cansado de fugir.
Buscando uma respiração profunda, eu entrei no elevador e apertei a
bolsa contra o meu corpo, nervosa conforme o painel ia indicando o número
do andar.
Tentei não pensar na maneira rude como Felipe vinha me tratando nos
últimos dias, porque eu sabia que quem buscou por isso fui eu quando,
praticamente, o expulsei depois de ter tido a melhor noite em anos.
As portas do elevador se abriram e eu saí.
passava de um libertino.
Capítulo 16
Felipe
O perfume que jamais saiu das minhas lembranças, assim como o sabor
da pele alva jamais abandonou o meu paladar, se fez presente naquele
momento, me deixando louco.
Ensandecido.
Eu não queria sentir isso.
Mas era mais forte do que eu.
A Alyssa simplesmente não abandonava os meus pensamentos, nem ao
menos num simples banho. Já tinha virado rotina que ela se tornasse a minha
musa inspiradora na hora de saciar a minha ereção matinal.
Com os olhos fechados e com uma das mãos espalmadas na parede
azulejada do Box, eu me concentrei na visão que minha mente estava me
presenteando do momento em que segurei a Alyssa pelos quadris e investi
contra ela.
Eu me lembrava dos sons.
Dos beijos.
Dos toques.
Dos sussurros.
Foi apenas uma transa, mas parecia ter sido a única que realmente
valeu a pena. A única garota que realmente conseguiu marcar não somente o
Porra!
Embora o meu corpo estivesse saciado, por ora, eu podia sentir que as
coisas não seriam mais como antes. Infelizmente, a Alyssa conseguiu mexer
comigo de uma maneira que eu não estava conseguindo consertar. E isso era
uma verdadeira merda.
Frustrado, deixei o banheiro e segui até o meu quarto. Minha cabeça
estava um pouco pesada por conta de toda a bebida da noite anterior, mas
faltar ao plantão estava fora de cogitação.
Minutos depois, eu deixei o quarto e segui para a cozinha, guiado pelo
camisas.
— Ai... mais ou menos — resmungou, passando a mão na testa. —
Espero que não se importe, mas acabei vomitando no meu vestido e...
— Tudo bem. — Gesticulei. — Não se preocupe. — referi-me a
camisa em seu corpo.
Na noite anterior, antes de ela chegar a ir embora, acabou passando mal
e eu fiquei preocupado em deixá-la ir Uma mulher alcoolizada, ainda mais
sozinha, era um verdadeiro banquete para os mal-intencionados.
anterior, que eu não estava interessado em transar com ela. — Não vai
mesmo me contar quem é a garota que está mexendo com a sua cabeça?
Sorri, sacudindo a cabeça.
— Não tem garota nenhuma — menti, me afastando. — Já volto.
em sua mesa. — Estou com uma paciente no hospital que acabou de enfartar.
Dei espaço para que ele pudesse abrir a porta e sair; fui logo atrás,
analisando os exames conforme ele ia me mostrando.
— Ela não possui nenhum histórico na família, e sempre foi muito
saudável — explicou.
— Os exames mostram um rasgo de um centímetro no coração —
expus, analisando a papelada. — Essa mulher precisa ser operada agora,
Jacob. Com urgência.
— Ela já está na mesa, aguardando — disse, parando e me encarando
silêncio, eu aguardei que todos saíssem e permaneci ali quando Alyssa veio
se juntar a mim, exalando uma carranca de dar medo.
— Aconteceu alguma coisa? — questionei, em tom baixo. — Ou
melhor, quer me dizer alguma coisa?
Não tive certeza, mas pensei ter ouvido seus dentes rangerem.
— Não aconteceu nada — praticamente latiu.
Eu ri, amargo.
— Wou! Se o seu “nada” é parecer estar prestes a me agredir, então eu
estou seriamente em maus lençóis aqui. — Tentei fazer graça, mas não
funcionou.
Ela terminou de lavar as mãos e pegou o papel toalha para enxugar;
aliás, mais do que o necessário. Naquele momento, eu tive certeza de que
alguma coisa estava muito errada.
— Oh, porra!
Fui atrás dela, alcançando-a perto de uma sala de materiais.
Novamente segurando em seu braço, eu a arrastei para dentro dessa
sala, porque ninguém precisava ouvir a nossa conversa.
— Me solta — rosnou, brava. — Você não precisa se explicar para
mim, Felipe. Nós não temos nada. Aliás, nunca tivemos nada e...
— Cala a boca, mulher! — exclamei, irritado com a sua tagarelice.
Alyssa fechou a cara na mesma hora.
— Grosso!
Voltou a tentar escapar, mas não deixei.
— Pelo amor de Deus, será que pode me deixar falar? — Segurei seus
braços, trazendo o seu corpo para mais perto do meu. O mero contato nos fez
arquejar. Vi quando sua língua saiu para lamber os próprios lábios quando me
pegou encarando-os com fome. — Ontem à noite, eu convidei o pessoal para
beber no meu apartamento, dentre eles, a Ava — comecei.
— Eu já disse que você não preci...
— Não finja que não quer saber, querida — cortei suas palavras. —
Assuma que está com ciúmes. Eu também estaria se estivesse no seu lugar.
— Fiquei a encarando com seriedade, desafiando-a a negar. Como não disse
nada, eu continuei: — Enfim, todos foram embora, menos a Ava. Não vou
mentir, eu e ela já tivemos um lance no passado, mas sempre foi apenas sexo
saber? Nunca menti para você, Alyssa, e tenho a consciência tranquila. Desde
o inicio dessa coisa toda entre nós dois, eu busquei ser honesto com você.
Nunca tive dúvidas quanto as minhas emoções e sentimentos, ao contrário de
você — acusei. — Eu realmente não transei com a Ava, mas também se
tivesse transado, você não teria nenhum direito de se sentir traída, porque me
expulsou da sua casa feito um nada, um homem sem valor.
De repente, o lindo rosto se contorceu com novas lágrimas.
— Oh, meu Deus, você tem razão — choramingou, cobrindo o rosto
para tentar esconder o seu choro. — Eu fui uma cretina.
mexeu comigo depois que fiquei viúva, e consigo admitir isso sem um pingo
de peso ou remorso, porque agora sei que meu marido se foi; agora sei que eu
não preciso apagar ele da minha vida para encontrar um novo amor. Henry
continuará para sempre em meu coração, e isso não é nenhum crime.
Sorri, orgulhoso.
— Estou muito feliz em saber que finalmente se libertou.
— Eu sei disso. — Sorriu de volta, meio tímida. — Não sei como dizer
isso, mas... será que você pode me dar mais uma chance?
Pisquei, incrédulo.
perder, amiga.
— Já chega de perder! — Ergueu a mão e bateu contra a minha num
cumprimento de cumplicidade.
Sorrimos juntas e, em seguida, passamos os próximos minutos
conversando.
Depois do café, Glenda me ajudou a faxinar o meu closet, retirando as
roupas do Henry.
— Você realmente tem certeza disso? — perguntou pela milésima vez.
Ela, mais do que ninguém, sabia o quanto aquilo estava sendo difícil para
mim.
— Doar as coisas dele não significa que o perderei, Glenda —
murmurei, organizando as roupas e calçados em sacos plásticos. — Henry
— Estou aqui para você, amiga. Hoje o dia sabático é todo seu e para
você.
Assenti, sentindo os meus olhos úmidos de repente. Glenda me puxou
para um abraço apertado.
O desapego estava sendo mais difícil do que eu imaginei.
urna e, finalmente o deixei ir. Eu podia sentir que estava sendo uma
libertação para nós dois. Quando vivo, Henry adorava o mar; ele dizia que era
o seu segundo lugar preferido para estar. O primeiro era ao meu lado.
Quando caminhei de volta para a Glenda, ela me puxou para outro
abraço, amparando-me como uma verdadeira amiga.
— Você vai ficar bem — declarou. — Um novo ciclo se inicia na sua
vida.
Afastei-me, enxugando abaixo dos olhos com a mão livre.
começou a sentir uma dor terrível e, agora, algumas semanas após o ocorrido,
está apresentando sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo suor noturno,
fadiga e dor de cabeça — Glenda continuou explicando. — Ao ser
examinado, Charlie recebeu o diagnóstico de sopro no coração decorrente de
latejou na mesma hora, pois eu podia sentir a excitação dela; podia sentir o
seu desejo por mim e isso fazia qualquer homem arrogante.
Levando a mão para trás, em minhas costas, eu consegui chavear a
porta e, em seguida, caminhei com a Alyssa até uma das camas. Deitando por
cima, eu a deixei saber o quanto estava me deixando louco com toda aquela
demonstração de fogo; passei a me esfregar entre suas pernas e isso a fez
gemer baixinho, ao pé do meu ouvido.
Permanecemos nesse clima quente por longos minutos, mas eu não
avancei o sinal.
Trouxe a sua mão até meus lábios e beijei os seus dedos delicadamente.
Estávamos deitados um de frente para o outro, de lado.
— Eu só quero fazer as coisas do jeito certo, sabe? — comentei,
fazendo-a sorrir. — Vou levá-la ao meu apartamento hoje e, depois de
preparar um jantar para deixá-la bem alimentada, eu irei comer você até que
não sinta mais as pernas, baby — prometi.
Os lindos olhos verdes brilharam.
— É uma promessa? — perguntou, mordendo o lábio inferior, safada.
Foi minha vez de sorrir, cafajeste.
— Pode apostar, querida.
Capítulo 19
Alyssa
Estar ali no apartamento do Felipe como sua convidada me fez ter uma
sensação muito agradável. Eu sentia que ambos estávamos caminhando para
um relacionamento firme e gostoso.
— Admito que você saber cozinhar é uma novidade para mim —
comentei, me debruçando na bancada da ilha da cozinha espaçosa.
— Não me considero um cozinheiro, mas sei me virar bem. — Sorriu,
cheio de charme.
camarões, lulas, polvos e mexilhões, versão que acabou ficando mais famosa
que a original.
— Pelo aroma, vejo que você está usando camarões e lulas — ditei,
espiando o conteúdo da panela. — Se quiser ajuda, eu estou aqui, viu?
— Você tinha quantos anos quando perdeu a sua mãe? — quis saber.
— Dezessete.
— Na verdade, não existe idade que nos faça sentir menos dor pela
perda de alguém — declarou. — Eu perdi os meus pais há dois anos, e ainda
dói muito. A minha mãe faleceu em decorrência de um derrame, e não houve
tempo para socorrê-la. — Respirou fundo como se estivesse se lembrando. —
Coincidência ou não, o meu pai faleceu dois meses depois, vítima de uma
pneumonia que se agravou.
Meu coração doeu.
— Eu sinto muito — soprei, sem saber o que dizer para amenizar a sua
dor.
— Tudo bem — disse. — Os levo comigo para onde eu for. —
Massageou o peito, sobre o coração.
Assenti.
Decidi mudar de assunto, pois a ideia era renovar o nosso
relacionamento, e com assuntos leves e interessantes.
Comecei a perguntar a respeito das suas experiências profissionais, e
assim o tempo foi passando.
— Você é muito bom pra ser verdade, Felipe — falei, limpando a boca
com o guardanapo, extremamente satisfeita pelo delicioso jantar.
ensurdecedores.
— O quê? — Minha pergunta não passou de um murmúrio.
— O quanto sou bom de cama, baby. — Inclinou o rosto e deixou a
língua livre para lamber a costura dos meus lábios antes de eu entreabri-los.
Apenas a liberdade.
Se ajoelhando, Felipe me fez erguer o bumbum e, em seguida, deslizou
a minha calcinha por minhas pernas. Encarando os meus olhos, com a mesma
intensidade que sempre me deixava fraca, ele embolou o tecido do meu
vestido em minha cintura e forçou o meu clitóris contra a sua boca faminta.
Semicerrei os olhos, perdida no prazer que ele estava me proporcionando.
Embrenhando os dedos em seus cabelos, eu passei a rebolar em sua
boca, sem qualquer resquício de constrangimento.
— Oh, Felipe... assim, isso... — lambi os lábios, que estavam secos,
movimentos.
— Goza na minha boca, gostosa... — exigiu, soprando o meu clitóris,
antes de voltar a abocanhá-lo de novo. Continuou com essa tortura por longos
minutos, até eu não aguentar mais. — Isso, baby... dê-me tudo.
Gritei, desesperada, enquanto rebolava feito doida em seu rosto, sem
controle algum do meu corpo.
Ainda aérea, eu tive a minha boca tomada de assalto; Felipe roubou
todos os meus gemidos para si.
Fui até o closet dele e peguei uma das suas camisas. Em seguida,
peguei minha calcinha no chão e a vesti. No banheiro, lavei o rosto e bocejei
água na boca para amenizar o mau hálito, visto que não havia levado a minha
escova de dente.
Pé por pé, eu saí do quarto e segui até a cozinha.
Na noite anterior, eu tinha observado o Felipe, então não foi difícil
descobrir onde estavam os utensílios para preparar um delicioso café da
manhã.
Minha risada aumentou, porque não tinha percebido que ele já estava
acordado.
— Estava tarando o seu bumbum avantajado — respondi, colocando a
bandeja no pequeno móvel de cabeceira.
Fui pega desprevenida quando fui laçada pelos braços fortes, que me
jogaram contra o colchão.
— Eu posso te dar outra coisa para tarar se você quiser — insinuou,
erguendo a minha camisa.
— Não é que eu queira ser a estraga prazer aqui, mas nós já estamos
atrasados. — Gemi assim que sua boca alcançou um dos meus mamilos. — E
eu preparei o nosso café de manhã, sabia? Você sequer deu bola.
Trazendo o rosto diante do meu, ele disse:
Alyssa.
Eufórico, eu peguei a minha carteira, chaves e celular. Minha garota já
tinha me mandado mensagem para avisar que pegou carona com a Glenda,
então era para eu ir direto para o hospital.
No caminho, liguei o som do carro, incapaz de controlar a alegria
dentro de mim. Antes, eu me sentia realizado com a minha liberdade e jeito
de viver, mas a verdade é que as últimas semanas ao lado da Alyssa me
fizeram entender o verdadeiro sentido da palavra completo. Porque essa era a
sensação que me descrevia perfeitamente.
reunida para me parabenizar pelo prêmio que conquistei por causa do meu
projeto.
Fiquei agradecido pela recepção, embora um pouco envergonhado.
— Esse é o cara, galera! — gritou Denver, vindo me cumprimentar
com um abraço.
— Valeu, irmão. — Sorri, batendo em seu ombro.
Logo atrás dele, eu me deparei com a Alyssa, toda sorridente.
— Você não sabe o quanto estou orgulhosa — murmurou, antes de
Assenti.
— Especialmente do átrio e do ventrículo esquerdo — murmurei. —
Nos pulmões, esta sobrecarga de sangue aumenta a pressão, o que pode
lesionar permanentemente as paredes das artérias pulmonares com o passar
do tempo. — Parei de ler os exames, porque a solução ali estava mais do que
óbvia. — Não há dúvidas de que esta criança precisa passar por uma correção
cirúrgica, Ava — falei. — Fazer o uso de um retalho (patch) de pericárdio
(membrana que recobre o coração, usualmente de origem bovina), ou com
foda-se bem grande mais cedo, expondo o nosso relacionamento para todos
que quisessem ver.
— Sim, é ela — respondi no fim. — Alyssa e eu estamos juntos.
Sorriu, sacudindo a cabeça.
— Ah, fico feliz por você, Fê — disse. — De verdade.
Balancei a cabeça, assentindo.
Em seguida, ela voltou a se despedir e, finalmente me deixou sozinho
na sala.
Franzi a testa.
— Não faço a menor ideia.
— O dinheiro da aposta, cara! — exclamou, dando um soco no meu
ombro, eufórico demais para se controlar. — Eu fui o único a apostar que
você conseguiria pegar a Alyssa, então acho justo dividir os lucros com você.
Denver mal terminou de falar e ambos escutamos um arquejo incrédulo
vindo da entrada da sala.
Meus olhos se arregalaram na mesma hora quando eu me deparei com
a Alyssa, petrificada.
Eu empalideci.
— Alyssa, não é nada...
— Então é isso? — cortou-me, com a voz embargada. — Tudo não
— Oi?
— Há tempos, os casais e, principalmente, especialistas vêm tentando
desvendar o segredo para um relacionamento feliz. Será que há alguns
ingredientes, ou alguns hábitos que fazem um relacionamento durar? Alguns
falam que é a paciência, já outros afirmam que é o amor e outros falam que é
a amizade. Mas por experiência própria, eu posso garantir que a união entre
duas pessoas depende de um ingrediente que poucos levam a sério nos seus
relacionamentos.
Me interessei no que ele dizia e me ajeitei no sofá de modo a poder
encará-lo nos olhos.
— Qual é?
— A pergunta é: como nós, seres humanos, somos diferentes de
Pouco mais de uma hora depois, eu peguei outro táxi para voltar para
casa. O papai insistiu em me trazer, mas eu não deixei. Não havia
necessidade de tirá-lo de casa por uma bobagem dessas.
Quando paguei a corrida e caminhei até o meu portão, uma
movimentação na minha varanda me fez gelar, entretanto logo visualizei a
silhueta do Felipe.
Arqueei as sobrancelhas.
— Contou para ele?
Negou com a cabeça.
— Só comentei que eu e você tínhamos brigado, e ele me deu alguns
aproveitando para iniciar o dia com mais uma rodada deliciosa de sexo.
O sexo com ela nunca era apenas corpo.
Era pele.
Sentimentos.
Sensações.
Precisava ser honesto em admitir que eu fiquei com receio do
amanhecer, considerando a minha última experiência naquela casa. Mas
Alyssa verdadeiramente vinha se mostrando disposta a fazer o nosso
relacionamento dar certo, e, isso era maravilhoso.
O chão se abriu sob meus pés, e por um segundo, eu não soube o que
dizer nem como agir.
Capítulo 23
Alyssa
Meu coração estava tão dolorido que parecia doer até para respirar.
Depois que recebi a notícia de que o Felipe seria pai, eu decidi sair do
apartamento dele alegando que daria privacidade a eles, e que pegaria um taxi
para ir ao hospital. Entretanto, eu ainda sentia como se estivesse vivendo uma
realidade paralela, porque não era possível. Eu não podia ser tão azarada
assim.
— Definitivamente você precisa buscar ajuda espiritual, amiga. Sério!
momento em que Ava bateu na porta do apartamento do Felipe para dizer que
estava grávida de um filho dele.
— Você acha que ele mentiu sobre a vez em que você encontrou a Ava
no apartamento?
Neguei.
— Isso não faz muito tempo — murmurei. — Felipe e ela já tinham um
lance antes de nós dois.
— E o que ele disse, afinal?
Dei de ombros.
— Não sei, porque saí para deixá-los conversar. — Suspirei baixo. —
Ai, Glenda, eu estou tão apaixonada por ele...
Novamente fui puxada para seus braços.
Permanecemos assim por algum tempo, até o Pager da Glenda apitar.
— Preciso ir — disse, com pesar, se levantando. — Você tem alguma
cirurgia hoje?
Mordi os lábios.
— Tenho, mas vou me esquivar — respondi. — Acho que vou passar o
calada. Não por não ter o que falar, mas por ainda não saber o que dizer.
— Procurei por você o dia todo — reclamou, minutos depois,
quebrando o silêncio atormentador. — Eu queria conversar.
— Eu não estava pronta — falei apenas, olhando para a paisagem fora
da janela. — Precisava desse tempo sozinha para poder tomar uma decisão.
Felipe estacionou em frente ao portão da minha casa.
— E que decisão é essa? — Puxou o freio de mão. Eu pude sentir o
pânico em sua voz.
Olhei para ele, com os meus olhos lacrimejantes.
— Alyssa, eu sei que essa nova informação caiu como uma bomba
sobre nós dois, mas, por favor, me deixe explicar — pediu, se ajeitando de
lado. Era notório o seu desespero. — Eu realmente não menti sobre o
episódio da Ava em meu apartamento. Ela acha que está grávida de uns dois
meu papel naquela situação. E ali estava eu... pronto para ouvir o
coraçãozinho daquele bebê batendo.
Assim que meus ouvidos foram inundados por aquele som, eu fui
incapaz de não sorrir.
Eu sempre fui fascinado pelo milagre da vida.
Desde o momento em que a Ava colocou os pés no meu apartamento
alegando que o filho era meu, obviamente que não acreditei, visto que sempre
me cuidei. Eu podia ser um libertino, mas a camisinha era a minha
me senti uma verdadeira puta, Felipe. O que foi? Por acaso pensa que eu saí
dando a boceta para deus e o mundo?
— Não faço a menor questão de estar por dentro da sua vida sexual,
Ava, mas é o meu nome que você quer colocar nesta criança e, sim, eu faço
questão de saber se ela tem o meu sangue, você se sentindo ofendida ou não!
Os lindos olhos piscaram, espantados e chorosos.
Bufei, arrependido.
— Porra, Ava! — exclamei, puxando-a para um abraço. Acabei me
esquecendo que ela estava com os hormônios à flor da pele. — Me perdoe.
— Seus soluços partiram o meu coração. — Não estou muito bem, mas
prometo que não a deixarei sozinha nessa.
Ela não disse mais nada.
demonstrado.
Assim que me vi sozinho, eu peguei a minha mochila e saí da sala.
Meu cérebro parecia um quadro branco, já que ainda não tinha
conseguido processar toda aquela história de gravidez. Contudo, algo estava
verdade é que desde que descobri sobre o pedido de demissão do Felipe, dias
atrás, eu me senti arrasada. Aquilo não era justo com ele; conosco. — Por que
ele precisa me fazer sentir tão mal, Glen?
— Pelo o que sei, foi você quem escolheu por isso, Alyssa, quando
desistiu de vocês dois — acusou com ferocidade.
Rolei os olhos.
— Fala isso, porque não está na minha pele — ralhei de volta. —
Como você acha que vai ser quando a criança nascer, hun? Terei que viver a
sombra dos dois, Glenda. Terei que engolir a relação do meu namorado, com
a mulher que, claramente, quer ele de volta.
— E você está facilitando o trabalho dela, né? — revidou. — Alyssa,
acorda! — Inclinou-se sobre a mesa. — Talvez, eu seja a única que esteja
garota.
— Ui, que agressividade — reclamei, massageando a minha pele,
fazendo drama, claro. — Mas de que tipo de história nós estamos falando?
Glenda riu.
— Dizem que ela é a maior piranha. — Arregalei os olhos, espantada.
— Já passou o rodo em geral aqui. Ou melhor, já passaram o rodo nela. —
Gargalhou, escandalosa.
— Não creio! — Cobri a boca com as mãos.
— Glenda...?
Mas ela me deixou falando sozinha.
O que me restou foi continuar ali, remoendo as minhas feridas.
trabalhando.
— Isso não está certo — queixou-se. — Você não pode se deixar
abater dessa maneira. Ainda não conseguiu conversar com a Alyssa?
Neguei.
quero ser o causador de mais tristeza e decepção para ela, que já sofreu
demais.
— Caramba! Você realmente se apaixonou.
Respirei fundo.
— Sim. — Não tive vergonha de assumir. — A Alyssa conseguiu
mexer comigo de uma maneira que nenhuma outra foi capaz.
Se aproximando, ele tocou o meu ombro.
— Eu só posso dizer que estou aqui para você se precisar, meu amigo.
Conte comigo sempre!
Assenti, emocionado.
— Obrigado.
Minutos depois que ele deixou a sala, a Ava entrou.
— Olha o que eu trouxe para você. — Sacudiu um pacote pardo em
suas mãos. — Comida japonesa, pois pelo que me lembro, você adora.
Franzi a testa, incomodado com a sua insistência em continuar se
fazendo presente em meu cotidiano. Vinha percebendo isso nos últimos dias.
— Agradeço, mas não quero — avisei. — Preciso adiantar o estudo da
pesquisa, pois fui convidado para palestrar em Madrid, e será tudo em cima
do projeto vencedor.
— Poxa! Você não me disse que foi convidado para palestrar —
cobrou, cruzando os braços.
essa mulher se chama Alyssa. E mesmo que hoje, eu e ela não estejamos mais
juntos, o que sinto não vai mudar.
Ava e eu ouvimos um barulho perto da porta.
— Oh, me desculpe, eu não quis... — Alyssa gaguejou, nervosa.
contudo num tom de súplica: — Você precisa salvá-lo, Felipe. Por favor,
salve o meu pai.
Capítulo 27
Alyssa
Foi um pouco difícil convencer o Felipe a operar o meu pai, pois ele
disse que não conseguiria aguentar o peso da culpa se o pior acontecesse. No
fundo, a minha mente estava um caos, visto que tudo o que eu sabia pensar
era na enorme tormenta que se fixou na minha vida. Implorei ao Felipe,
porque não havia médico melhor para estar com o coração do meu pai nas
mãos. Eu me ajoelharia se fosse preciso.
— Querida, por favor, sente-se aqui comigo. — A voz da Lucinda
chamou a minha atenção e, eu olhei para o lado. Já fazia pouco mais de três
horas que estávamos na sala de espera, aguardando por notícias. — Você
precisa se acalmar, porque mais do que ninguém sabe que essas cirurgias
complicadas demoram — disse, mas logo começou a chorar.
Segurando o meu próprio choro, eu fui até ela e a amparei em meu
ombro.
— Oh, meu Deus, Alyssa, o que eu vou fazer sem o teu pai? — Meu
rosto se contorceu. — Ele é tudo pra mim. Tudo.
— E então?
Felipe parecia exausto.
— Foi um sucesso. — Afirmou, sorridente. Lucinda e eu nos
abraçamos, aliviadas. — Eu iniciei fazendo uma incisão no tórax e, depois,
dividi o osso esterno para permitir acesso ao coração. A seguir, recolhi
artérias de alguma parte do corpo para criar enxertos, fixando uma ponta
antes da obstrução e a outra ponta após, criando assim um caminho
alternativo ao fluxo sanguíneo.
— Precisou parar o coração?
Ela me abraçou.
— Seu pai melhorou? — perguntou, preocupada. — Ontem fiquei
presa numa cirurgia com o Eric, e não consegui ficar com você, amiga.
— Eu sei, não se preocupa. — Apertei a sua mão. Em seguida, fechei a
porta. — A cirurgia de revascularização foi um sucesso, graças a Deus. —
Sorri, aliviada. — Já tomou café? — Caminhei até a cozinha.
— Bom, na verdade, eu vim aqui para conversar com você sobre outro
assunto — disse, me fazendo encará-la com suspeita.
— O que foi?
Apoiando-se no balcão, ela respondeu:
— Lembra que te falei que descobriria a verdade por trás de toda essa
história de gravidez?
Meu coração começou a acelerar.
— Glenda, o que você...
— Eu descobri — cortou-me, me mostrando um vídeo onde um dos
enfermeiros confessava ser o verdadeiro pai do filho da Ava. — A vadia está
enganando o Felipe. O porquê, ninguém sabe.
braços.
Apesar de desconfiada, ela deu espaço para que eu pudesse entrar.
Quando fechou a porta, eu já fui direto ao ponto:
— Por que está mentindo para o Felipe ao afirmar que o filho que está
esperando é dele quando na verdade é do enfermeiro Adam?
Os olhos claros se arregalaram na mesma hora.
— O-o quê? — gaguejou. — Que palhaçada é essa, garota? Eu aceitei
que entrasse na minha casa em respeito ao Felipe, mas não vou admitir que...
dava passos para trás — Então você aparece dizendo que está grávida, e que
o filho é dele, quando na verdade não é, apenas causando dor a nós dois.
Explica para mim, Ava... — respirei fundo — Faça-me entender a sua
intenção, pois tudo o que consigo concluir, e isso não estou falando de mim, é
que você só quis prejudicar o homem que antes de tudo era o seu amigo.
De repente, a sua postura firme deu lugar a ombros caídos.
— E-eu... — começou a chorar, o que me fez revirar os olhos.
Continuei séria, aguardando que ela se recompusesse.
sabia que estava sendo egoísta, porque acabei separando vocês dois, mas... o
que farei com um filho sozinha? Fiquei assustada. — Gesticulou.
Sacudi a cabeça.
— Mas não pensou que o Felipe exigiria o DNA?
roubar um beijo.
Lorenzo e Giovanna tiveram uma menina, há dois anos, e meu primo
se tornou o “modelo” preferido da filha quando a mesma queria maquiar.
Alyssa entrelaçou os dedos nos meus e, em seguida, começamos a
caminhar pelo enorme jardim da mansão do seu pai. Eu não me cansava de
admirar a beleza daquele lugar, mesmo tendo sido criado no mais requinte
luxo. Aquele era o cenário perfeito para a realização da festa do casamento
deles.
— Está realmente tranquila pelo fato de o seu pai, finalmente ter se
casado?
Sua risada gostosa aqueceu o meu coração.
— Felizmente, eu já passei dessa fase. — Enrolou o braço no meu,
animada. — A Lucinda provou o seu valor. — De repente chegamos à
entrada, onde foi possível ver a maioria dos convidados. A reunião era
íntima, apenas para os mais chegados da família. — O que já não posso dizer
o mesmo da vadia da filha dela. — Alyssa acrescentou, apertando o meu
braço com mais força do que o necessário. — Não ouse dar moral pra essa
garota, Felipe — avisou, possessiva.
Achei graça do seu ciúme.
— Eu sou um moço de família, baby — brinquei, fazendo charme, mas
recebendo um beliscão na cintura.
língua.
Meu corpo todo estremeceu.
— Isso é golpe baixo, porque você sabe que não posso fazer nada aqui
— sibilei, cheio de tesão.
A safada me encarou com um brilho devasso nos olhos, enquanto
mordia os lábios carnudos.
— A mansão do papai tem tantos cômodos... — insinuou. — Garanto
que você não conheceu nem a metade deles.
Foi impossível não sorrir, animado com aquela proposta indecente.
festa.
— Você está linda, Lucinda. — Alysa elogiou, abraçando a madrasta.
— Adorei o seu vestido.
Enquanto as duas conversavam, o meu sogro me puxou para um canto
afastado. Um garçom passou por nós dois e ele aproveitou para pegar duas
taças de champanhe.
— Sabe, meu filho... — começou ele, me oferecendo uma das taças —
quando a Alyssa perdeu a mãe, eu me vi sem chão, porque precisava ser forte
por nós dois. Para mim, mesmo ela tendo 17 anos, ainda continuava sendo
uma menina. — Assenti, entendendo o seu ponto. — Não é fácil para um pai
desapegar, sabe? Eu sempre busquei dar o meu melhor para que a Alyssa
conseguisse realizar os próprios sonhos, e se tornasse um ser humano
excepcional.
— E o senhor fez um ótimo trabalho — garanti, sorrindo. — Ela é o
meu presente, e eu não podia ser mais grato por tê-la na minha vida.
Ele sorriu, satisfeito.
— Você é um bom homem, Felipe. — Depositou a mão em meu
ombro. Ambos olhamos para as duas mulheres mais importantes das nossas
vidas. — Minha filha nunca esteve tão feliz.
Alyssa nos pegou olhando para elas, e sorriu, acenando.
Apaixonado, eu dei uma piscadinha marota. A felicidade estava
não vejo motivo algum. Estarei com você o tempo todo se isso te fizer sentir
melhor. Vou com você até no banheiro — insinuei, malicioso, e ela voltou a
me estapear.
— Tarado! — exclamou. Em seguida, me abraçou pelo pescoço,
forma de homenagem. Henry morreu em combate; lutando pelo seu país nas
forças armadas.
— Parece cansada. — Observou ele, assim que eu suspirei depois que
depositei uma rosa vermelha sobre a lápide.
— É o espertinho do seu filho que fica chutando as minhas costelas —
comentei, referindo-me a minha barriga de sete meses.
Sua risada alta inundou os meus ouvidos.
— Ah, então quando ele faz algo de errado você joga a bola apenas
Deixe que o vácuo causado pela perda dele atraia mais luz ao mundo.
Girei a cabeça para poder encarar os seus olhos. Eu ficava admirada
com a maneira como o meu amor por ele só aumentava mais e mais a cada
dia.
— Obrigada.
Sua expressão se tornou confusa.
— Pelo quê?
— Por ser este homem tão incrível e paciente. — respondi. —
vida.
Felipe não só se tornou o dono do meu coração, mas também o
responsável por me presentear com uma das melhores sensações sentidas por
uma mulher: ser mãe.
FIM!
AGRADECIMENTOS
É extremamente gratificante chegar ao final de cada ciclo, e com a
família González não seria diferente, embora meu coração sentisse a pequena
tristeza do “adeus”. Hugo, David, Alejandro, Romeu, Lorenzo e Felipe, me
ensinaram o verdadeiro significado da palavra família. Não existe família
(HISTÓRIAS ÚNICAS)
A Luz dos teus olhos
Insolente
(DUOLOGIA SOMBRIOS)
Amarga solidão — 1
Doce libertação — 2
Box da duologia + conto fofo
(PARCERIA COM A AUTORA BABI DAMETO)
Rendido pelo amor — 1
Rendida pelo perdão — 2
Rendido por ela — 3
Box com os três livros juntos.
Série Backstage (livro 1) — Dean
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[1]
Esta ocorre quando bactérias entram na corrente sanguínea e são transportadas até o coração do
hospedeiro.
[2] A Comunicação Interventricular (CIV) é um tipo de cardiopatia congênita.
[3] Como diz o nome, sutura intradérmica são colocadas sob a derme no tecido subcutâneo.
[4]A origem deste feriado, antes chamado “Decoration Day” (Dia da Condecoração), está ligada a
guerra civil norte-americana, no combate que acabou culminando com o fim das relações de escravidão
que existiam entre o Norte o e Sul dos EUA. No século 20, o feriado se estendeu a todos os americanos
mortos em combate.