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No passado
No presente
Fiquei paralisado.
Nunca vira tamanha dor em seus olhos. De repente, vi que ela estava
a ponto de realmente desabar, e sequer entendia o que acontecia. E
realmente, desabou, nos braços de sua mãe. Perrie parecia se segurar tanto
quanto ela. A dor estava exposta entre as duas.
— Vamos levá-la. — o enfermeiro se prontificou, e em menos de
um minuto, voltou com uma maca, colocando Ally com cuidado sobre a
mesma.
Dei um passo à frente, parecendo finalmente acordar. Meu corpo
parecia um tanto quanto anestesiado. Esperava qualquer coisa assim que
Charles me passou o endereço do hospital. Até mesmo, que Ally estivera
com algum problema sério de saúde. Entretanto, nunca imaginei, presenciar
aquela cena. Suspirei profundamente, vendo-a ser levada em outra direção,
que deveria ser um quarto.
Perrie permaneceu ali, e notei a forma como encarou o médico. Ela
parecia não saber o que perguntar, e o homem de cabelos grisalhos deu um
passo à frente, tocando seu ombro.
— Eu sinto muito, senhora Johnson.
— Como? — ela indagou de repente, e algumas lágrimas desceram
por seu rosto. — Como ela se foi?
— Parada cardíaca. — a vi fechar os olhos, e mesmo assim, ainda
me indagava o que realmente acontecia. — Fizemos o possível.
— Sei disso. Obrigada, doutor. — falou, e encarou o quarto a sua
frente, o qual vi Ally tentar entrar de toda forma, e desistir em meio ao
choro e gritos minutos depois.
O homem se afastou, e notei que Perrie permaneceu olhando para o
quarto, como se em busca de alguma resposta. Respirei fundo e tomei
coragem de fazer algo. Dei passos à frente, até parar ao seu lado.
— Perrie. — chamei-a, e os olhos verdes como os de Ally me
encararam. Ela parecia carregar toda sua dor apenas neles. Limpei a
garganta e tentei dizer algo que soasse condizente. Na realidade, estava
perdido.
Ela me encarou, e piscou algumas vezes, enquanto varria todo meu
rosto com o olhar.
— Ian. — falou, como se finalmente reconhecesse. — Ally falou
muito sobre você ultimamente. — olhei-a ainda mais perdido, porque nada
fazia sentido. Entretanto, não existia a possibilidade de tentar pressioná-la.
Muito menos naquele momento. — Preciso... Preciso cuidar de tudo que
está acontecendo. Olhar mais uma vez para minha filha e depois decidir o
que fazer. Mas ela... ela te deixou uma coisa.
O que Ally me deixaria? E por que Perrie a olharia pela última
vez?
— Hill Lavine Johnson. — falou de repente, como se notando
minha clara confusão. Só não conseguia entender tal resposta. — Ela é... —
suspirou profundamente e abraçou o próprio corpo. — Ela era a irmã caçula
de Ally. E você, é a razão de estarmos aqui.
— O que? — indaguei, completamente incrédulo.
Ally tinha uma irmã? E mais, ela tinha falecido?
— Sei que não posso te pedir nada, não nos vemos a muito tempo...
Mas apenas não a machuque. — sua voz soou como uma súplica. — Aqui
está o que Hill deixou para você.
De repente, a vi tirar outro envelope, na cor verde, de dentro de sua
bolsa. Aceitei o papel, e o virei de imediato, notando que o remetente era
Hill Johnson. O destinatário, de fato, era eu. Na realidade, não tinha meu
nome, apenas Guns.
— Ally sempre falou de você para ela. — Perrie se adiantou, mas
notei que a prendia ali. — Apenas leia e depois, dê uma chance para que ela
te explique tudo.
— Obrigado. — falei, olhando-a. — Eu... Eu realmente sinto muito
por sua perda, Perrie.
Ela assentiu e forçou um sorriso. Logo, se afastou, e a vi falar algo
com o médico que ainda aguardava ali, e em seguida, adentrou o quarto que
Ally parecia querer derrubar a porta minutos atrás.
Encarei o envelope, e olhei ao fim do corredor, para o qual vi o
enfermeiro levar Ally. Algo me chamava para lá, porém, ainda não sabia o
que fazer. Imaginei que poderia encarar de tudo quando cheguei aqui. Não
era verdade. Não esperava presenciar tal cena, muito menos, receber uma
carta. Suspirei, e fui até algumas das cadeiras localizadas na parte direita do
corredor principal. Parecia mais fácil encarar aquele papel, do que qualquer
outra coisa. Por ora.
três
“Just close your eyes
The sun is going down
You'll be alright
No one can hurt you now.”[4]
“Querido Guns,
Meu nome é Hill Lavine Johnson, mas talvez, isso você já saiba. Sei
que sempre quis te conhecer. Desde a primeira vez que Ally me contou a
história de vocês. Ela sempre me conta histórias para dormir, todos os dias,
mesmo quando estou no hospital. Ela é minha irmã, amiga, companheira
fiel e principalmente, a força da nossa casa. Não conte isso a ela, ok? Mas
a verdade é que ela sempre foi forte por todas nós. Sei que ela chora
escondida, que ela sofre... Queria que não fosse real. Mas sei que ela faz
isso porque me ama, porque não quer me perder. Bom, também não quero
perdê-la. Enfim, estou fazendo isso, porque ela mesma me ensinou. Sempre
me disse que cartas tem seu lado especial, e por isso, resolvi te escrever.
Quero muito ter te conhecido antes que ela seja entregue, mas se
não for possível, tudo bem. Temos outras vidas por vir. Talvez me ache
doida, algumas pessoas na escola pensavam assim, mas, a verdade é que
me sinto um pouco diferente da maioria das pessoas. É como se sentisse a
energia fluir e pudesse ter contato com o que a maioria pode temer. Mas
esse não é objetivo da carta. Desculpe, as vezes acabo falando muito. Ou
nesse caso, escrevendo. Sou o oposto de Ally. E na verdade, é sobre ela que
quero falar.
Minha irmã sempre falou com muito carinho sobre você. E sempre
soube que ela sente sua falta. Uma vez, tentei descobrir seu número e ligar,
mas não fui bem-sucedida. Acho que por isso, optei por escrever essa carta
e pedir para mama te entregar. Sei que estará em suas mãos em algum
momento. E sei que não vou estar aí para te ver, mas saiba, que gosto de
você apenas por saber o quanto Ally foi feliz sendo sua amiga e quase
namorada.
Bom, ela me contou, que agora está em Nova Iorque e por isso não
pode ficar conosco em Baltimore. Que ela está trabalhando com você. Mas
sei que minha irmã é a pessoa mais cuidadosa do mundo e sinto que ela
mente, mesmo que odeie fazer isso. Então, seja o que for que ela esteja
fazendo, apenas quero pedir para que cuide dela por mim. Pode ser um
pedido maluco de uma menina de oito anos, mas... Sinto que posso confiar
em você. Senti isso desde que ela citou seu nome. Espero de coração que
sejam amigos novamente, e quem sabe, você faça parte da nossa família.
Tem minha benção, saiba disso. Ally com certeza levará isso em conta.
Enfim, obrigada por ter lido até aqui.
Mesmo que o seu caminho com Ally não se cruze mais, quero que
ambos sejam felizes.
Seja feliz, Guns!
Com amor,
Hill”
Dias depois...
Miserável.
Sentia-me a beira do abismo, e um passo mais, era como deixar-me
cair, sem volta. Girei a maçaneta e adentrei o seu quarto. Respirei
profundamente, ao notar que tudo permanecera da forma que ela deixara. A
cama como sempre bagunçada, os bichos de pelúcia amontoados no canto
direito, e a porta do closet entreaberta, pois segundo ela, ali poderia ser a
passagem para Nárnia.
Lágrimas corriam livremente por meu rosto, e minha dor parecia a
mesma de poucos dias. Porém, era a primeira vez que conseguia adentrar
aquele cômodo. A casa em si, tornou-se um martírio, entretanto, ali, era o
espaço de Hill, e saber que não a teria, era como ter a faca enfiada em meu
peito novamente. Não me lembrava ao certo do enterro, apenas de que me
prostrei ao lado de minha mãe e segurei-me para não cair de joelhos até o
último segundo.
Não conseguira encarar seu corpo sem vida, e estando ali, perto de
suas coisas, era como se tivesse feito o correto. Não queria lembrar-me de
Hill dentro de um caixão. Guardaria aquele momento no hospital. Com seu
sorriso em minha mente, assim como, sua paz. Sentia-a em meu coração, e
por alguns segundos, aquilo bastava.
Sentei-me com cuidado em sua cama, e encarei o envelope rosa que
trazia. O carregara desde Baltimore, e até o momento, não conseguira abri-
lo. Era como se me preparasse de fato para dizer adeus, e sabia, que não
fora em seu enterro. E sim, seria naquela carta. Sabia, que ela escrevera
para Ian também, o que me fazia pensar, o quanto queria que ambos
tivessem se conhecido. Eles eram parte da minha pequena paz particular.
Tê-los juntos, seria um grande sonho.
Suspirei, e ouvi alguns barulhos vindos da escada. Minha mãe se
dedicava a andar por todo canto, como se em busca de Hill, em alguns
momentos. Sabia que ela entendia mais a sua ida, do que eu. Ainda assim,
estava na fase de tentar sobreviver aquele momento. Nenhuma de nós
parecia preparada para o mundo ainda. Mesmo que em breve, tudo voltaria
ao normal. Ao menos, em parte.
Antes de falar com Ian, aquela era a última coisa que faria. Tinha
uma bolsa pronta para uma viagem até Nova Iorque, e assim, contaria cada
detalhe para ele. Não estava preparada para aquele momento, na realidade,
acho que nunca estaria. Era como simplesmente mandar o homem que
amava para longe, sem chance de resgaste. Entretanto, mesmo com todo
meu erro, não desistiria sem lutar. Sem ao menos, contar-lhe quem
realmente sou.
Abri o envelope e tirei o papel na cor rosa de dentro. Sorri,
limpando uma lágrima que descia. Hill e eu adorávamos vangloriar tal cor,
e as quartas-feiras, sempre usávamos, em homenagem a um de nossos
filmes favoritos – Meninas Malvadas. Desdobrei o papel e sorri. Percebi
que eram as primeiras vezes, em dias, que voltava a sorrir verdadeiramente.
Como sempre, era por Hill.
Sua letra infantil era linda, e me lembrava de como foi lhe ensinar as
primeiras palavras. Ela adorava escrever, assim como ler. Sabia, que se
pudesse realizar seus sonhos, com toda certeza, seria em algo relacionado.
“Querida, irmã
Sei que quando receber essa carta você vai ficar brava, e até
imagino que brigaria comigo se pudesse. Mas sei também, que deve estar
sendo muito difícil para você. Aliás, com certeza, mais difícil do que para
mim. Sou nova, e sei disso. Mas também sei, que uma hora, teria que ir. A
morte é algo inevitável, e nós sabemos. Muitas vezes chamou minha
atenção para o fato de ser a sua força. Uma coisa que nunca percebeu, é
que sempre foi a minha. Minha e de mama. Você nunca reclamava, falava
ou demonstrava o que de fato sentia. Mas via em seus olhos, o cansaço, a
tristeza e principalmente, a saudade. Muito trabalho, e entendi que o fazia
por mim. Fazia para que pudéssemos ficar mais tempo juntas.
Você fez tudo que foi possível, e é por isso que estou te escrevendo.
Tenha certeza sobre isso, irmã. Em nenhum momento, duvide de si, se
poderia ter feito mais. Você fez o todo. Você fez com que minha vida,
mesmo que curta e com essa doença, se tornasse simples e feliz. Sempre fui
feliz ao estar com você. Sempre fui feliz por gargalharmos diante de um
filme de comédia, ou chorarmos em um romance desses que você adora.
Sempre fui feliz quando ouvia a porta se abrir e sabia que era você do
outro lado. Sempre fui feliz por ser sua irmã. Então, meus oito anos não
poderiam ser melhores, porque tinha mama e você. Porque eu tenho a
melhor irmã do mundo.
Pode não acreditar em energia como eu, mas eu te sinto. Sei que
nunca vou estar sozinha, mesmo que não possa mais sentir o seu abraço.
Você é a melhor e sempre será, Ally. Sei que pensa que a vida foi injusta
comigo, já a ouvi falando sozinha no meio do quarto a noite. Na realidade,
acho que tenho sorte. Sorte por ter uma família que me ama. Sorte por ter
pessoas que nunca pensaram duas vezes em serem meu mundo. Sorte por
poder ter passado esses oito anos ao lado de vocês. Sei que minha hora
está chegando, senti quando cheguei nesse hospital. Loucura, talvez?
Apenas queria que soubesse, que estou em paz. Por mais que pareça difícil
acreditar, quero que tenha essa certeza.
Escrevi em carta, porque sei o quanto gosta disso e porque sempre
me disse que não existe mais sincero do que colocarmos nossos sentimentos
no papel. O faço agora. Para que saiba que essa doença não me tirou de
vocês, e nada nunca será capaz de o fazer. Sempre estaremos juntas, mesmo
que fisicamente longe. Não posso mentir e dizer que não queria estar ao
seu lado pelo resto de meus dias, porém, as vezes, os milagres são assim –
parecem curtos aos nossos olhos. Agradeço hoje, por ter o milagre de ser
sua irmã. Por dentre tantas pessoas, ser aquela que pode compartilhar os
melhores momentos com a melhor irmã mais velha de todo o mundo.
Nosso amor vai daqui até a lua e a volta, irmã. Pode até parecer
finito, mas não é. A realidade por trás dessa frase sempre foi maior, e você
me explicou. Por isso, peço agora, para que pela primeira vez, se cuide.
Passou anos cuidando de mim. Apenas foque em você, em mama. Vocês
merecem. Sei que tem o Guns agora, e imagino, que seja o destino lhe
mostrando, novamente, o caminho para o príncipe que sempre me contou.
Você merece esse momento de conto de fadas. E espero, que tudo dê certo.
Nunca vou esquecer dos nossos momentos, assim como, sei que não
o fará. Levo em mente, e principalmente, em alma, o quanto sou grata por
ser sua irmã. A morte não muda nada disso. Sempre serei sua irmã.
Quando tocar sobre seu peito, sobre seu coração... Saiba que estou
aí. E mais, que nossas almas sempre serão unidas. Eu te amo daqui até a
lua... e a volta.
Com amor,
Hill”
Levei a carta até meu peito e sorri novamente. Hill tinha tal poder, e
me vi, agarrando-me a cada uma de suas palavras. Ali, percebi que talvez
ela tivesse toda razão. Como sempre, era Hill que me ensinava lições. O
milagre não era esperar que ela se curasse. Talvez o milagre fosse ter
passado aqueles oito anos ao seu lado. Lágrimas desceram, e toquei o
pingente de coração de meu colar, abrindo-o. A foto de família estava ali.
Nós quatro, sorrindo. Entendi, que não havia sobrado apenas duas pessoas
daquela foto. Permanecíamos quatro, assim como, papai disse há muitos
anos. Nada era capaz de modificar o amor que nos unia. Nem mesmo, a
morte.
Levantei-me, deixando a carta sobre a cama. Caminhei até o closet,
e me sentei, em meio a bagunça de roupas que Hill sempre deixara. Nunca
acreditei muito em signos, mas nada me fazia entender como uma
virginiana poderia ser tão bagunceira. Sorri, sabendo que era efeito daquela
carta. De começar a entender, aos poucos, que tudo ia ficar bem. Em algum
momento, a dor daria lugar a saudade. Por enquanto, elas ainda dividiam o
vazio de meu peito.
Fechei os olhos, e sorri em meio as lágrimas, lembrando-me de
nossos momentos. Era como ser embalada por sua presença, como se ela
pudesse me ouvir. Abri a boca e comecei a cantar, a música que sempre
evitei, mas que não existia chance de ser trocada por outro. Não naquele
momento.
Remetente: Charles
Bom dia, senhor Hayes
Espero que esteja tendo uma ótima estadia na Geórgia
A respeito de sua mãe, o quadro permanece o mesmo. Qualquer mudança,
o aviso imediatamente.
Dias depois...
— Ally, desculpe. — falou, mas sabia, que no fundo, ele não sentia.
Ian parecia preocupado, entretanto, aquilo não justificava a forma como me
tratava.
A realidade era a justificativa,
Dê tempo a ele, minha mente exigia. Dê-lhe a verdade, meu coração
parecia implorar. Pare de simplesmente aceitar, lute... Era o que o conjunto
todo queria.
— Estou aqui a algumas horas sim, e até mesmo, pensei em ir a
empresa. — comentei. — Desculpe chegar sem avisar, mas... Era para ser
uma surpresa. Então, surpresa! — abri os braços e notei que ele ainda
segurava a caixa que praticamente joguei sobre seu colo.
Sentia-me um pouco incontrolável. Segundo o que conversara
brevemente com Monica, era mais comum do que imaginava. Suspirei,
fazendo algo que nunca de fato precisei – contar até dez. Olhei-o mais uma
vez, e de repente, me perguntei por que realmente estava brava. Sua beleza
me desestruturava por completo, e senti que poderia simplesmente me jogar
em seus braços.
— Entra, Ally. Por favor. — pediu, e me deu espaço na porta, ainda
me encarando um tanto quanto desconfiado.
Assenti, mesmo que não fosse parte do que faria ali. Porém, já era
tarde da noite, e sequer ficar horas esperando na porta era uma parte. Nem
tudo saía como imaginei, e muito menos, como preparei. Contudo, ali
estava eu, a sua frente, mais uma vez. Parei na porta, e o encarei. Era como
voltar para o mesmo momento de meses atrás. Nós dois, encaramo-nos
como se fosse um reencontro.
O era.
Uma década passada e agora, alguns dias... Nunca sentira tanta falta
dele como naquele meio tempo. Talvez porque tivera um pedaço do paraíso,
e de repente, fora-me arrancado. Vivera meu sonho de amor com ele, e de
repente, desmoronara. Ian continuou a me encarar profundamente, e soltei
um suspiro. Não precisava fingir que ele não mexia comigo. Não mais. Não
precisava fingir mais nada. Ele o fazia. E eu, era livre para demonstrar cada
sentimento despertado apenas por sua proximidade.
— Senti sua falta. — admiti, mesmo que aquela não fosse a fala que
ensaiei para lhe mostrar que vinha ali, reivindicá-lo como meu.
Ele engoliu em seco, e dei um passo à frente, parando a um fio de
cabelo de distância. Suspirei mais uma vez, a ponto de que em um passo
poderia ter seus lábios nos meus. Um passo que, com toda certeza, era
crucial. Porém, naquele momento, senti que poderia estragar tudo.
Balancei a cabeça e sorri, tentando controlar meus instintos. Ian
poderia parecer como uma armadura, entretanto, sabia o quanto era frágil.
Conhecia-o, a minha vida toda, e ali, soube que de fato ainda era o mesmo
menino pelo qual me apaixonei e o homem que amava. Além de o pai do
meu pinguinho.
Virei meu rosto, e encostei meus lábios em sua bochecha,
depositando um leve beijo. Senti seu braço tocar o meu, e o simples fato de
que me afastaria, era algo que começara a minar, mais uma vez, toda minha
quase inexistente paciência. Ele teria todo o tempo do mundo, porém,
depois de lhe entregar as cartas e convencê-lo a lê-las.
— Por que faz isso comigo? — indagou, e o encarei sem entender.
— Tem noção do quanto tem sido uma confusão? O quanto fico me
indagando sobre o que fazer e em que confiar?
Assenti, sabendo que ele começara a se abrir.
— Vim porque te amo, Ian. Não posso simplesmente deixar que
tenha seu tempo, sem ao menos, tentar dar tudo de mim. — falei, e dei um
passo atrás. Aquela simples distância era cruel. Sentia todos meus nervos a
ponto de explodir, apenas por querer tocá-lo. Sentia sua falta. Imensa e
intensamente. — Não vim aqui para exigir nada, apenas te entregar isso. —
apontei para a caixa de cor cinza, e seu olhar castanho analisou o objeto. —
E também, para dizer que eu te amo.
Ele fechou os olhos, como se o ferisse, e o encarei sem conseguir
compreender.
— Por que não conversamos? — sugeri, e ele negou veemente. —
Sei que tem medo de algo, está na sua cara, Ian. — acusei-o, e logo seus
olhos castanhos encontraram o verde dos meus.
— Por que eu não teria? — revidou. — Porque me apeguei ao amor
que sequer pode existir... Só imagino que está fazendo tudo isso por estar
confusa, Ally. Será que pensou mesmo ao vir aqui? Ao simplesmente
atravessar estados para chegar a mim? Pode ser apenas pela ideia do que
poderíamos ter sido e ainda mais, pelo bebê. Não quero que confunda o que
sente. Não apenas eu preciso de tempo para isso, você também.
Respirei fundo, e começara a entender de fato o que ele pensava
sobre toda situação. Ian recuava dez passos para longe das expectativas que
tinha para quando lhe desse as cartas.
— Tive até os quinze para me apaixonar. — falei, encarando-o
profundamente. — Tive uma década para sonhar com o seu toque, mesmo
quando era tocado por outro. Não me orgulho disso, mas é a verdade. —
sorri sem vontade. — A minha verdade pode soar como uma mentira para
você agora, e isso, eu posso entender. O que não admito é que julgue meus
sentimentos achando que os estou confundindo com o fato de estar grávida
de um filho seu. — olhei-o, sentindo-me ferida. — Já parou para se
perguntar do por que segui em frente? Do por que fui para cama com você?
— perguntei, e ele, com toda certeza, não esperava aquilo.
— Ally, entra, vamos...
— Não quis tentar me envolver com você para te separar de Claire...
Então, por que, simplesmente fui para cama semanas depois? — perguntei
alto, e Ian parecia me encarar como se enxergasse mais. — Acha que por
que queria me apegar a algo? Ou simplesmente, arrastá-lo da cama do
Canadá para sua cama de Nova Iorque? — perguntei com raiva. — Sua mãe
não me mandou para isso. Era para te convencer a voltar, e não sexo. Nunca
foi apenas sexo. — falei, remoendo meus sentimentos. — Porque sempre
quis isso e não consegui resistir... Não queria me envolver, porque sabia que
quando você me tocasse, não teria volta. Porque sabia mesmo com todo o
tempo que se passou, que ainda te amava... Que ainda te amo. E pela
primeira vez, em meio a essa proposta, permiti que meus sentimentos
falassem mais alto.
Dei alguns passos para trás, e abaixei a cabeça, tentando evitar as
lágrimas. Era como uma erupção de emoções. De repente, a raiva se
tornava tristeza, e vice-versa.
— Não duvidei quando simplesmente disse que me amava, em meio
ao fato de que estava noivo de outra. Nem mesmo, quando me contou que
ia se casar além do amor. Sei que errei, e aceito que me julgue por não ter te
contado. Mas já se colocou em meu lugar? Eu tinha você, depois de tanto
tempo... Depois de sonhar tanto com esse momento. O que faria?
Simplesmente acabar com a única chance que tínhamos? Essa a verdade,
Ian! — meu tom se alterou, e parei de me importar. Apenas quis falar. — Se
não tivesse aceito essa proposta, nunca mais nos veríamos! Você desistiu de
mim antes, assim como o fiz. Então não me julgue pelos seus achismos. Me
julgue pelo que errei, não pelo meu amor. O amor que me traz aqui, e que
me faz lutar por você. Da forma como não fiz antes. Da forma como não
fizemos.
Senti minha cabeça pesar, e sabia que tinha me excedido. Logo senti
seus braços me cercarem, e meu corpo ser levantado. Optei por não falar
mais nada, nem mesmo, continuar a brigar sozinha. Parecia em meio a uma
batalha perdida.
Em poucos minutos, fui depositada em seu sofá, e apenas permaneci
com os olhos fechados, sentindo aquela tontura. Respirei fundo uma, duas e
até três vezes, da forma como Monica ensinara na consulta. Era algo que
poderia acontecer, e que deveria evitar – estresse. Ali estava eu, armando
barraco na frente do homem que amava. Que grande reviravolta de mulher
romântica que traz cartas, para simplesmente, uma descontrolada.
Meus defeitos e imperfeições, ele poderia ver todos. Escancarados.
— Ei. — sua voz soou baixa, e abri os olhos.
Ele trazia consigo um copo d´água e o aceitei, bebendo o líquido
devagar. Não conseguia mais olhá-lo, era como se toda minha força para
pegar um avião e aparecer ali, de repente, se esvaísse. Suspirei, e terminei
de beber a água, entregando-lhe o copo.
— Obrigada. — falei, e desviei de seu olhar observador.
— Tudo bem? — indagou, e sorri sem a mínima vontade.
— Não vai querer a resposta dessa pergunta. Ou ao menos, não vai
acreditar nela. — fui honesta, e levei minha mão esquerda a barriga. Era
como se buscasse força em nosso pinguinho.
Naquele mundo apenas de dois, era fácil. A frente de Ian, tudo
parecia quadriplicar em dificuldade, porque ele parecia impenetrável.
Nunca imaginei que sua versão mostrada para Claire a frente do prédio
seria de fato minha. Ali estava, perfeitamente. Um homem quebrado, só que
por mim. Evitando cada pequeno gesto de tentativa minha. E pior, não
conseguia julgá-lo por aquilo. Ele tinha razões para me evitar ou
simplesmente, me afastar.
— Às vezes eu penso, que se não esperasse esse filho... Seria como
Claire. — olhei-o, e busquei alguma resposta em sua armadura. Alguma
rachadura que fosse. — Que seria esquecida e deixada para lá... Dando
lugar para outro amor tão fácil quanto fizera com ela.
Assim que a última palavra saiu de minha boca, fora impedida da
próxima se formar. Os lábios de Ian encontraram os meus, e pela primeira
vez, em todos aqueles anos, ele me calara. Não poderia ser em um momento
menos perfeito. Agarrei-me a seu rosto, enquanto, sentia sua língua pedir
passagem para minha boca. Agarrei-me aquele beijo como se fosse o
primeiro de todos, e como se pudesse ser o último. Agarrei-me a seu corpo
como se pudesse ficar para sempre. Agarrei-me aquele curto momento,
acreditando que era a rachadura.
Que ele me deixava entrar novamente.
dezoito
“Anger, love, confusion
Roads that go nowhere
I know that somewhere better
Cause you always take me there”[22]
Seu toque me deixou sem ar, e meu corpo ferveu. Não queria pensar
em mais nada, apenas me entregar. Todas as palavras e confusões deixadas
de lado, e apenas levei minhas mãos até o terno que usava, e o afastei, sem
sequer descolar nossos lábios. Senti suas mãos encontrarem as alças de
minha regata, e sem que esperasse, ele as arrebentou. Arfei, sentindo que
aquele era o homem que precisava. O meu homem.
Senti suas mãos descerem para meus seios, assim como, para minha
bunda. Logo, meu corpo foi emaranhado pelo seu, e me senti ser levantada.
Não nos separávamos, nossas bocas ainda unidas. Era saudade. Era desejo.
Era puro êxtase. Era amor. Tudo que parecera reprimido por aqueles dias
que se arrastaram. Ali, expostos. Paramos por um segundo, assim que me
encostara contra a parede das escadas. Olhou-me profundamente, e não
temi que se afastaria. Sabia que não o faria.
Em seu olhar, enxerguei tudo o que precisava naquele momento –
necessidade.
Eu o necessitava.
E ele fazia o mesmo.
— Nunca mais pense ou repita isso. — sua voz soou autoritária, e o
toque leve em meu rosto, mostrou-me o quanto ele sabia me seduzir.
Diretamente para onde me tiraria total racionalidade. — Nunca foi como
ela, nem como nenhuma outra... A porra do meu desejo e meu amor sempre
foram você. — seus dedos chegaram até meus lábios, e os desenhou
perfeitamente. — Apenas com você, me sinto completamente vivo. E esse é
o meu maior medo... Mas só consigo pensa em nós e uma cama, a noite
toda.
— Por favor. — praticamente implorei, e seus dedos se afastaram, e
seus lábios devoraram os meus no segundo seguinte.
Sequer percebi quantos passos se sucederam até seu quarto, mas
logo, senti meu corpo nu de encontro com a maciez de sua cama. Sentia-me
completamente exposta, enquanto Ian me encarava, como se gravando cada
pequeno detalhe.
— O que eu faço com você? — sua pergunta soou baixa e rouca, e
logo seu corpo cobriu o meu.
Surpreendendo-me, me virou, deixando-me de quatro para ele. Senti
que ele se soltara ainda mais, da forma como necessitávamos naquele exato
momento. Sexy como o inferno por trás de toda a armadura fria que usava
para com o mundo. Antes de qualquer coisa, ele colocou um travesseiro
com cuidado sob minha barriga, e em seguida, senti seus beijos em meu
pescoço.
— Ian. — reclamei, porque sabia que me torturava.
— Ainda não me respondeu. — sua voz soou mais alta, e suas mãos
encontraram meus seios, praticamente, os amassando com força.
Choraminguei e soltei um gemido alto, sem conseguir me conter. Nunca
estivera tão sensível. — O que eu faço com você, Ally?
Seus lábios desceram, assim como suas mãos. Tentei responder, mas
me perdi completamente, no momento em que começou a distribuir beijos
por minhas coxas, e seus dedos, chegaram ao ponto que mais necessitava.
— Não tem ideia do quanto tem sido um inferno ficar longe de
você... — aquele era o homem que esperava. Meu Ian, que sempre falava
abertamente, ainda mais, imerso pelo desejo e saudade. — Lembrar do seu
toque, do seu gosto... — seus lábios se uniram aos dedos, deixando-me
quase sem ar. — Ainda mais, vê-la descontrolada dessa forma. — afastou-
se, e logo senti seu corpo cobrir o meu. Uma de suas mãos se enrolou em
meus cabelos, e fui puxada para ele. Nossos olhos se encontraram, e notei
os castanhos dos seus praticamente negros. Duvido que estaria muito
diferente dele. — Olha pra mim e diz que acredita mesmo que já senti isso
por alguma outra mulher. — ali, entendera o quanto minha acusação o
descontrolara. No entanto, confiava em seus olhos, em sua fala, em sua
verdade... Ele fazia o mesmo? Poderia ser muito cedo para saber, mas não
desperdiçaria nem um segundo com ele. Nem mesmo, a ponto de implorar
para que me tomasse de vez.
— Olha pra mim e diz que acredita que algum outro já me tocou
dessa forma? — indaguei, e senti o aperto em meu cabelo aumentar, assim
como, sua outra mão apertou meu seio com força. Arfei alto e tentei voltar a
linha de raciocínio. — Acredita mesmo que já me entreguei a alguém dessa
forma?
— Não. — sua resposta soou baixa e perigosa, e um sorriso surgiu
em seus lábios. — Porque estava esperando por mim, assim como esperei
por você. — senti sua mão deixar meu seio, ao mesmo tempo que, nossas
bocas se encontraram em um beijo lento e sensual. Sentia todo o misto de
sentimentos que apenas ele me causara. — Não consigo ficar sem seu
toque, seu cheiro... — deixou nossos lábios quase colados. — Sem te sentir.
— assim, senti-o me invadir, e gemi em sua boca, tomada pela luxúria e
prazer.
— Eu te amo. — falei, sem medo algum de me jogar de cabeça por
ele. Ian soltou o grunhido e sabia, que era o que faltava para ele, ouvir
exatamente naquele momento o que realmente sentia. Não o fizera antes.
— Responda. — insistiu, no tom autoritário que me deixava ainda
mais perto de simplesmente não saber discernir o certo do errado. Não
naquele momento. — Responda o que devo fazer.
Agarrei-me a suas costas, e logo senti meus joelhos de encontro ao
colchão, e seu toque por cada pequena parte de meu corpo, explorando-me.
— Me ama. — praticamente exigi, sem saber mais pelo que
implorar. — E não me deixe nunca mais. — falei, e senti sua mão de
encontro com minha bunda.
— Eu vou. — beijou meu pescoço, e senti sua boca em minha
orelha. — Vou te fazer entender que é única para mim.
Nossos corpos pareciam em sincronia, e sentia-me cada vez mais
perto de me entregar ao prazer. Seus toques, suas palavras, sua
possessividade naquele momento... Tudo era perfeito. Porém, não era ele
quem precisava provar algo ali, era eu. Suspirei profundamente, e me
concentrei em agir como lhe mostraria quem era.
Puxei-o para um beijo, ao me virar, e em meio ao momento, ele
sequer entendeu. Afastei-me de seu corpo, fazendo com que se retirasse de
mim. Meu corpo parecia a ponto de explodir após evitar o contato, e então,
agi rapidamente.
— Ally, o que...
— Shhh. — coloquei um dedo sobre seus lábios, e o empurrei sobre
a cama.
Permaneci de joelhos, encarando-o por alguns instantes. Notava a
forma como parecia querer apenas me pegar e colocar sobre seu colo de
uma vez, mas não era do seu jeito que tudo andaria. Não naquela noite.
— Você conheceu uma parte submissa minha... — falei, e abri um
leve sorriso, ao passar as mãos por suas pernas, e subir lentamente sobre
seu corpo. Parei com nossos rostos quase colados, e puxei seu lábio inferior
com os dentes. — Acontece que nunca tive a vontade de assumir nada, a
não ser, com você.
Desci meus lábios até seu pescoço e o mordi com vontade,
deixando-lhe minha marca. Em seguida, lambi cada pequeno pedaço da
região e puxei sua orelha com os dentes.
— Acho que é hora de lhe mostrar a quem pertence. — falei, e senti
uma de suas mãos encontrarem meus seios, como se ele não conseguisse
ficar parado. — O que tem a dizer sobre isso?
Não o encarei, e desci por seu corpo, deixando um rastro de beijos
por cada centímetro de seu corpo. Desde o tórax, passando pelos gominhos
em sua barriga, e chegando as suas coxas... Porém, sabia onde ele realmente
me queria. Onde eu o queria.
— Sem resposta, Ian? — indaguei, e nunca me sentira tão sedutora
quanto naquele instante.
Ele se apoiou nos cotovelos, e assim que abriu a boca para dizer
algo, o abocanhei da forma como desejara.
— Porra, Ally!
Seus gemidos e grunhidos eram os estímulos que precisava para
continuar. Senti-o cada vez mais perto do prazer, e seus dedos estavam em
meus cabelos, quase sem controle. Surpreendendo-o, mais uma vez,
simplesmente parei, e subi sobre seu corpo.
— Mas o que...
— Ainda não me respondeu. — ousei repeti-lo, como uma leve
provocação. Ergui meu corpo, a ponto de que em um movimento o faria
estar dentro de mim. — Então... O que tem a dizer sobre isso?
Ele me puxou para seus lábios, devorando-me com sua língua.
Como se fizesse sexo com minha boca.
— Sou seu. — sua voz soou rouca e baixa, e sorri, vitoriosa,
descendo por completo sobre ele. — Você é o meu paraíso.
— E você é o meu. — segurei-me contra seus ombros e o beijei,
sentindo-o ir ainda mais profundamente em meu corpo. — Completamente
meu. — soltei, em meio a um gemido, e sabia a forma como Ian aprovou
que tomasse as rédeas daquele momento.
Mal sabia ele, que a partir dali, não teria volta. Eu o estava tomando
para mim, sem qualquer chance de afastamento.
Ele era meu, por completo.
E em breve, seu perdão também.
dezenove
“'Cause when you unfold me and tell me you love me
And look in my eyes
You are perfection, my only direction
It's fire on fire”[23]
Com verdade,
Seu raio de sol”
— Como decidiu que deveria vir? — sua voz soou baixa, em meu
pescoço.
Ele estava a minhas costas, abraçado. Suspirei, sentindo-me
finalmente em casa. Acima de nós, o céu, ao redor, o velho jardim. Era
como retornar há dez anos, ao mesmo tempo que, preferia completamente o
presente. Pela primeira vez.
— Pensei muito de como poderia te conquistar, e começar a tentar...
— suas mãos desceram por meu corpo, pairando sobre minha barriga. — E
no fim, achei que o certo era vir com as cartas, era minha chance de fazer
isso. — confessei. — Além de que queria ver a sua expressão ao entregá-
las.
— Querendo me desestabilizar. — acusou, e senti seu sorriso.
— Talvez. — provoquei, também sorrindo. — Acho que no fim das
contas, sou eu quem anda instável. Se não me beijasse, tinha certeza, que ia
voar em seu pescoço. — confidenciei e senti meu rosto queimar.
Felizmente, ele estava a minhas costas, e não poderia ver minha reação.
Estiquei-me para pegar a vasilha com morangos, e trouxe um a boca. —
Pareço no limite em muitos momentos. Mama tem adorado me ver assim.
Além de ter me tornado mais falante.
— Percebi. — senti uma de suas mãos afastar meu cabelo, e ser
puxada mais para trás, praticamente deitada sob seu peito. — Amo que
esteja falante, mas não consigo deixar que fale besteiras sem nexo.
Virei-me rapidamente, e o encarei.
— Acho que deixou claro isso em seu quarto. — falei, tocando
levemente seu peito. Puxou minha mão, e a levou aos lábios, depositando
um leve beijo. Ele me seduzia em simples atos. Será que percebia que
queimava por ele? — Sempre que falar besteiras... — desci meus dedos até
seu peito, e rumei mais ao sul de seu corpo. — Vou ser calada com um beijo
e depois ser feita de sua escrava sexual? — indaguei, e de alguma forma,
não senti que meu rosto pegava fogo. Era a primeira vez que começava a
me soltar daquela maneira.
O olhar de Ian se tornou um misto de surpresa e aprovação. O
castanho logo pareceu ficar ainda mais nublado, e ele se ajeitou,
observando-me.
— E se for? — indagou, em uma voz rouca e autoritária. Ele mal
sabia, mas aquele lado mau que demonstrava quando éramos apenas nós e o
nosso desejo, deixava-me ainda mais pronta para ficar horas sob ou sobre
seu corpo. — Vai me provocar a ponto de não te deixar sair do quarto?
— É uma ótima ideia. — sorri, mantendo a pose, sem ao menos
saber como entrei na mesma. — Não acha?
Ele sorriu, de um jeito misterioso, e me puxou para perto. Nossos
peitos se colaram, e notei o quanto me atraía. Ter aquele momento com ele
era um sonho completamente distante na noite passada. Saber que ele me
aceitava e me dava a chance de recomeçarmos, fazia-me o amar ainda mais.
Ian Hayes era o verdadeiro par perfeito saído de um livro de romance.
— Acho que gosto do seu atrevimento. — sua boca estava bem
próxima a minha, e pensei que seria beijada, porém, ele mudou seu
percurso. Logo senti seus lábios em meu pescoço.
— Ian...
— A cada vez que beijo sua pele, deixo a minha marca em cada
pequeno pedaço... — sua voz rouca começava e me tirar qualquer razão. —
Sofri o inferno imaginando que não ia te ter assim novamente.
— Eu também. — foi tudo o que consegui dizer, inebriada por seu
toque.
— Então... Temos um pequeno problema. — seu olhar pairou no
meu, e seus dentes buscaram meu lábio inferior, puxando-o lentamente. —
Não acho que consiga chegar até o quarto para te ter como quero.
Sem mais querer esperar, apenas uni nossos lábios. Um beijo
faminto, delicioso, saudoso... Era tudo que precisava. Senti meu corpo ser
virado, e logo minhas costas encontraram a toalha que trouxemos para nos
sentar ali. O corpo de Ian pairou sobre o meu, e as poucas peças que
vestíamos não foram obstáculo.
Éramos nós, entregues.
O céu como testemunha do nosso amor e paixão. Finalmente soube,
Ian Hayes era o meu céu estrelado e todo o clichê de amor que sonhei.
Gravei antes de tudo isso. Quero que assista com Ally, e acho que será
mais fácil para entenderem porque fiz o que fiz.
Sorri diante de sua mensagem, e fui até ela, deixando um leve beijo
em sua testa.
— Também te amo, mãe. — falei, e notei seus olhos ficarem
marejados. — Agora descansa! Ally chega daqui a pouco e com certeza, o
pinguinho não vai querer te sentir assim.
Ela sorriu amplamente, e notei o quanto falar a respeito de seu neto
ou neta, fazia-lhe bem. Condessa Hayes parecia outra pessoa após acordar,
e era um fato que parecia surpreender a todos. Apenas Charles não
pareceria. Entretanto, mesmo tendo estado a vida inteira sob o mesmo teto
que ela, nunca a vi daquela maneira. Temia que fosse uma casca, para fingir
que estava tudo bem. Contudo, parecia genuinamente bem, em alguns
momentos. Ainda mais, quando lhe falava sobre o nosso pinguinho.
Saí do quarto, e desci as escadas, com aquele pen drive em mãos. Já
tinha desconfiado que ela deixara algo sobre suas razões para trazer Ally a
minha vida novamente. Era o modus operandi de Condessa Hayes. Porém,
não me ative a tentar descobrir aquilo. Respeitei o fato de que ela acordaria
e me diria a verdade, assim como, a verdade que pudera ter com Ally.
Nunca fora fã de buscar respostas, além da pessoa que poderia me dar
livremente.
Fui até a cozinha e encontrei Charles, sentado a frente da grande
ilha, comendo um sanduíche.
— Ela está te esperando lá em cima. — falei, e ele praticamente
engasgou, tossindo de imediato. Sorri de seu embaraço, e ele bebeu
rapidamente o copo d’água ao seu lado. — É sério, Charles! Não precisa
agir como se fosse um empregado meu ou de minha mãe. Claro que
trabalha com ela, mas são um casal.
— Senhor Hayes...
— Ian, por favor. — insisti, pela milésima vez. — Sei que me olha
como se fosse te julgar por amar minha mãe e até mesmo, ter estado com
ela quando ainda era casada. Não tenho direito de te julgar por isso e jamais
o farei. Você a faz feliz, e ela te faz feliz. E eu, apenas quero que possam
superar essa fase difícil, e que tudo se encaminhe.
Os olhos do homem de quase cinquenta anos brilharam, e notei que
ele parecia completamente surpreso com minha abordagem. Na realidade,
esperei um longo tempo para lhe falar de fato sobre. Ele merecia saber que
nunca o julguei por amar alguém. Como poderia?
— Obrigado, senhor... Quer dizer, Ian. — limpou a garganta
rapidamente, e assenti, finalmente conseguindo tirar meu nome de sua boca.
— Obrigado por entender.
— Já te disse isso antes, e sempre vou repetir: é um bom homem. —
fui até ele e apertei seu ombro. — A casa também é sua. — ele assentiu e
deu um sorriso sem dentes, ainda um pouco desconfortável. — Vou buscar
Ally e Perrie no aeroporto, e logo volto.
Saí da cozinha, e andei até a garagem. Coloquei o pen drive em meu
bolso e resolvi espantar meus questionamentos a respeito daquilo por
alguns instantes. Precisava focar em buscar a minha mulher e trazê-la para
perto. Foram apenas cinco dias longe, mas sentia-me a ponto de surtar de
saudades. Não queria mais que fôssemos divididos daquela maneira.
Ambos sabíamos onde era nosso lugar, e muito em breve, estaríamos lá.
Saí com o carro e liguei o som, deixando na playlist que Ally dizia
nos resumir. A primeira música, não me surpreendera, por ser All Of Me do
John Legend, era o jeito clichê e romântico do meu raio de sol, de me
deixar ainda mais apaixonado por si. Enquanto dirigia, apenas conseguia
pensar em como as coisas entre nós fluíram nos últimos meses. Nem tudo
foram flores, infelizmente, devido ao fato de tentar convencê-la a parar de
trabalhar. Aquele era um assunto delicado a tratar com Ally, e sabia, que
seria muito difícil convencê-la do contrário.
Na realidade, queria poder deixá-la sob meus olhos todo tempo.
Ainda mais, com sua barriga crescendo mais e mais a cada dia. Mal sabia
ela, que em breve, aquela divisão criada pela distância, ainda mais, por estar
acompanhando a recuperação de Condessa, e Ally também não querer
deixar Perrie sozinha por um longo tempo, acabaria. O nosso lugar nos
esperava, e as mudanças que fizera em nossa casa também, assim como,
planejava a levar para lá o mais rápido possível. Porém, dar-lhe-ia um
gostinho ainda hoje, de como tudo se encaminhava.
Era nosso futuro lar, e já tínhamos discutido sobre. Sabíamos que
não queríamos viver em outra cidade, e aos poucos, começávamos a pensar
de fato em como tudo ia funcionar. Ally não queria deixar sua mãe sozinha
na Geórgia, e nada pareceu mais simples, do que Perrie se mudar conosco
para lá, assim que conseguisse ter a certeza de que Condessa estava bem.
Conversei brevemente com minha mãe, e entendia que ela não deixaria
Nova Iorque tão cedo, era de fato o seu lar. Porém, ela tinha Charles ao seu
lado, o que me dava uma grande tranquilidade.
Estacionei o carro, e segui direto para área de desembarque. Olhei
em meu celular e já era basicamente a hora de Ally estar em solo nova-
iorquino. Aguardei de pé, encarando as pessoas que já saíam pelo portão.
Minutos se passaram, e olhei para meu celular, buscando alguma
mensagem. Nada ainda. Mal sabia ela que estava morrendo de saudades e a
ponto de querer buscá-la diretamente com o avião de Condessa. Mas sabia
que Ally não aceitaria, assim como Perrie. Era um limite rígido para com
elas. E as entendia perfeitamente.
Desviei o olhar do celular e sorri abertamente, no momento em que
meus olhos bateram nos verdes dos seus. Sua barriga se destacava dentro do
vestido longo, na cor preta, e ela sorriu de volta. Senti-me entrar em uma
espiral de sentimentos e dei alguns passos a frente, pronto para tê-la nos
meus braços novamente. Em menos de cinco segundos, senti seu pequeno
corpo contra o meu, e a abracei com toda saudade que sentia.
Agora sim, estava completo.
Anos depois...
[20]
“Eu te dei espaço para que você pudesse respirarsus
Eu me afastei para que você pudesse ser livre
E espero que você encontre a peça que falta
Para trazer você de volta para mim”
Don’t You Remember – Adele
[21]
“Quando você vai embora
Eu conto os passos que você dá
Você percebe o quanto eu preciso de você agora?”
When You're Gone – Avril Lavigne
[22]
“Raiva, amor, confusão
Não me levaram a nada
Eu sei que existe um lugar melhor
Por que você sempre me leva lá”
Take Me Home – Jess Glynne
[23]
“Porque quando você me desdobra e diz que me ama
E olha nos meus olhos
Você é a perfeição, minha única direção
É fogo em chamas”
Fire On Fire – Sam Smith
[24]
“Não sei porque estou assustada
Pois já estive aqui antes
Cada sentimento, cada palavra
Já imaginei tudo”
One And Only – Adele
[25]
“Eu sei que se dermos tempo ao tempo
Isso só vai nos aproximar do amor que queremos encontrar
Nunca foi tão real
Não, nunca me senti tão bem”
Just A Kiss – Lady Antebellum
[26]
“ Juro de coração
Ao meu amado, eu nunca mentiria
Ele disse: Seja verdadeira — eu jurei: Vou tentar
No final, é ele e eu”
Him & I – G-Eazy feat. Halsey
[27]
“ Minha mãe diz que sou muito romântico
Ela disse: "Você está dançando nos filmes"
Comecei a acreditar nela?
Fire On Fire – Sam Smith
[28]
“Você tem o rosto para caber o quadro
Eu não posso olhar para longe
Como você não pode ver que estou hipnotizada?
Picture Perfect – Charity Vance
Table of Contents
sumário
nota da autora
sinopse
playlist
prefácio
parte 1
prólogo
um
dois
três
quatro
cinco
seis
sete
oito
nove
dez
onze
parte 2
doze
treze
quatorze
quinze
dezesseis
dezessete
dezoito
dezenove
vinte
vinte e um
vinte e dois
vinte e três
epílogo: único amor
importante
contatos da autora