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Edição 01
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou
transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros
métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da autora, exceto no caso de
breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei
de direitos autorais.
Revisão
Eduarda Azambuja
Diagramação
B S Oliver
Criação da capa
lchagasdesign
AVISO: Este livro é um romance que tem como pano de fundo a máfia, é
recomendado para maiores de dezoito anos e contém cenas de ação,
violência, palavrões e sexo explícito. Não é um romance dark, embora
possa conter gatilhos para leitores sensíveis. Se espera encontrar cenas de
detalhes sobre as negociações dentro da máfia e burocracias ou torturas,
este livro não corresponderá às suas expectativas.
Sumário
Sinopse
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Sinopse
Ela aguardava um monstro que devoraria sua alma, que a quebraria em mil
pedacinhos, contudo, o medo que carregava tornou-se pequeno comparado
aos sentimentos que nasceu pelo homem.
Romeo jurou protegê-la, ele só não imaginava que sua bela esposa guardava
um segredo que quebraria sua família, colocando-o contra quem ele mais
amava, o seu irmão.
Ódio, amor e traição, é o que esse casamento fadado ao fracasso terá que
enfrentar para encontrar a luz no fim da escuridão.
Capítulo 01
ABRIL
Subimos para o quarto de Helena, ela ficou surpresa por ver que
ninguém mexeu em nada, passamos a tarde embalando seus pertences e
conversando sobre seu casamento. Sinceramente eu não entendo por que os
homens gostam de complicar tanto, foi Ettore que colocou Helena nessa
posição, a tornando sua esposa, e agora ele simplesmente quer ignorá-la.
Eu não sei o que faria na situação dela e julgo não descobrir tão
cedo.
Vou até o meu quarto buscar a jaqueta de couro que peguei
emprestado dela, a visto e me vejo no reflexo do espelho, parece uma
versão ousada de mim mesma. Desço ainda a vestindo e, quando estou
chegando na sala de descanso, encontro Ettore estagnado na entrada com as
mãos em punhos.
— Era — Ettore diz de repente e entra na sala, me aproximo para
ver o que está acontecendo. — Não dirija mais nenhuma palavra a minha
esposa, não toque ou olhe para ela, Piero. — Meu queixo cai, ele revelou
para Helena que estavam noivos.
Me afasto, indo em direção a outro corredor quando escuto passos
deles saindo da pequena sala. Piero enlouqueceu, ele não devia ter dito
nada, se Ettore perde a cabeça, certamente ninguém o julgaria por dar uma
surra nele.
— Sienna, tudo bem? — Dona pergunta quando me vê entrar por
um corredor na lateral da cozinha.
— Hã, sim — digo, tirando a jaqueta de couro.
Dona e eu caminhamos para a sala de estar e o casal já está na
porta para partir. Minha amiga está com um sorriso, mas seu corpo
apresenta tensão, agora se é por medo de papai ou do que houve lá em cima,
eu não tenho ideia. E não vejo Piero em lugar algum.
Dou um abraço apertado em Helena e fico surpresa quando me diz
para ficar com a jaqueta. Não argumento, apenas aceito de bom grado.
Entro na casa com minha família e fico sem saber o que fazer, queria
conversar com papai agora, mas ele não está com uma expressão muito boa.
Gostaria de saber a respeito do que foi essa reunião com o Consigliere.
Embora, bem lá no fundo, eu imagine. Rocco, meu irmão, futuro
Capo e desertor. Não me permito seguir nessa linha de raciocínio, ele se pôs
nessa situação, nos abandonou sem pensar duas vezes.
— Dona, peça a Maitê para preparar dois quartos. Romeo e Piero
passarão a noite conosco — papai diz, e um trovão estronda lá fora.
Minha madrasta lhe dá um aceno com a cabeça e volta para a
cozinha, deixo meu pai e o Subchefe na sala de estar e, no caminho para o
meu quarto, enxergo Piero sentado na sala de descanso. Entro no cômodo,
chamando sua atenção, e sua expressão é uma mistura de cão abandonado e
irritação.
Seus olhos encontram os meus, escuros e nebulosos, quando paro a
sua frente.
— O que foi, Sienna? — Sua voz sai num sopro, como se estivesse
tentando conter a fúria.
— Eu ouvi a discussão, se quiser conversar. — Dou de ombro,
soltando a jaqueta da Helena no encosto do sofá, me sentando ao seu lado.
Ele se vira para mim e fita a janela às minhas costas, o ouço
suspirar profundamente. Começo a pensar que não devia estar aqui,
oferecendo um ombro amigo, sendo que tudo que eu desejo é tocá-lo, e não
conversar sobre os sentimentos que ele tem por minha amiga.
Um relâmpago clareia a face dele, fazendo-o me olhar.
— Não sei por que contei que estávamos noivos.
— Para causar discórdia — deduzo, fazendo-o sorrir e até relaxar
no sofá.
— É um bom palpite — diz e me viro para ele, tocando minha
perna na sua, Piero não se move, apenas me encara com atenção. — Seu pai
cortará minha cabeça se souber o que aconteceu, as coisas já estão
complicadas o bastante entre as máfias.
— Eu não direi nada — comento, e as luzes da casa piscam,
tornando-se meia fase, Piero ajeita sua postura, ficando mais próximo, seu
cheiro doce invade meu espaço, me fazendo inspirar fortemente.
— Acho melhor eu ir.
— Passarão a noite conosco — aviso, e as luzes se apagam de vez.
Um trovão estronda lá fora e clareia a sala por inteiro, me causando
um pequeno sobressalto. A mão de Piero segura em minha coxa exposta
pelo vestido, fazendo meu coração quase perder uma batida.
— Tudo bem, é só um trovão — diz, e o calor da sua mão faz me
esquecer de tudo, encontro o seu olhar pela réstia de claridade que entra
pela janela e seus dedos apertam minha coxa, provocando uma bagunça no
meu coração. Ele, como qualquer outro homem da Outfit, sabe que, em
hipótese alguma, devo ser tocada.
— Me desculpe — fala e, antes de perder o seu toque, meus lábios
colam nos seus, pegando-nos de surpresa.
A mão de Piero desliza para dentro do meu vestido enquanto
nossas línguas se enroscam ferozmente. Minha mão segura em seu pulso
quando percebo hesitação dele em me tocar, e o puxo para perto. Seus
dedos me alisam por cima do fino tecido da calcinha, me fazendo quase
arfar. Meu corpo almeja ser tocado por ele, o calor cresce em mim como um
vulcão, dissolvendo completamente o meu lado racional.
Piero se afasta bruscamente, ficando em pé.
— Não dá! Não podemos, e você sabe disso — exclama
entredentes de forma indignada e me deixa sozinha.
Fico sentada no escuro com a sensação de que o sangue dissipou
do meu corpo. E, ao mesmo tempo em que desejo que tudo seja uma
alucinação, tenho certeza de que faria de novo.
Levo a mão aos lábios e sinto o gosto dele em mim, fecho os olhos
e a sensação do seu beijo ainda me aquece a intimidade.
Devia me sentir culpada?
Quem sabe, se alguém tivesse visto, Piero estaria muito ferrado.
— Sienna? — Tenho um sobressalto quando enxergo papai na
entrada da sala.
— Puta merda, você me assustou — praguejo.
— Sabe que eu não gosto que use esse vocabulário — repreende,
entrando e se sentando onde Piero estava minutos atrás.
— Eu sei, me perdoe — balbucio com o coração batendo na
cabeça.
— O que você queria mais cedo? — Papai se vira para mim e a luz
volta, espero não estar com a expressão de pavor.
Demoro segundos para organizar os pensamentos, enquanto ele me
aguarda falar.
— A escola foi convidada para se apresentar no Royal Ballet, em
Londres. E eu fui uma das alunas selecionadas.
— Não — diz simplesmente e se levanta sem me dar mais
explicações.
— Como assim, não? Isso é importante para mim. E você nem
pensou.
— As coisas estão complicadas agora, Sienna, e não a quero longe
de casa.
— E quando tudo não está complicado, pai? — pergunto com o
sangue ruborizando minha face, o que deixa nítido quanto estou irritada. —
É humilhante depender da sua decisão para tudo, e você nem ao menos
tenta se mostrar disposto a pensar. — As palavras desandam para fora de
mim.
— Sienna, eu só quero a sua segurança.
— A sua segurança está me sufocando, pai.
O olhar dele é impenetrável, ele não mudará de opinião, tampouco
parece abalado com minhas palavras. Meus olhos se enchem d’água quando
lhe dou as costas e corro para o meu quarto.
Me sento na cama com uma vontade crescente de quebrar o quarto
inteiro. Todas essas aulas de balé para que, se nunca poderei seguir carreira,
aulas de piano, aulas de línguas estrangeiras, aulas e mais aulas, apenas para
me manter ocupada enquanto a minha vida passa diante dos meus olhos.
Meu corpo treme incontrolável, e a sensação é que meu peito está sendo
pisoteado.
Permaneço deitada, vendo Chicago anoitecer debaixo de trovões e
relâmpagos. Com o estômago embrulhado, me recuso a descer e jantar na
mesma mesa com papai. E não sei como encarar Piero. Ele ficou furioso,
quanta merda para um só dia.
Os trovões acalmaram lá fora, apenas chove em abundância, e o
meu sono ainda não veio. Já passou de uma hora da manhã e meus
pensamentos ruminam a respeito da minha vida, papai controla a todos e
tem um propósito para cada um de seus homens. Havia decidido dar uma
família para Helena, e para mim? Nada. Não aguento mais ficar no segundo
plano de todos. De repente, ouço uma suave batida em minha porta.
— Quem está aí? — Minha voz sai baixa.
A maçaneta gira suavemente e, quando meus olhos se fixam nos
dele, meu coração dispara feito uma sirene dentro do meu peito.
— Piero — balbucio, o vendo entrar, caminho até a porta e os
corredores estão vazios como em qualquer outra noite, fecho-a e me viro
para ele, um pouco desorientada com a situação.
Seus olhos estão em mim, em cada pedaço do meu corpo, e Piero
não tenta disfarçar. Ele dá um passo e está à minha frente, e o meu peito
sobe e desce frenético.
— Já fiz muita loucura na vida, mas essa é como cuspir na cara do
diabo — profere silabicamente e suas mãos me seguram pela cintura, sua
pele na minha é tão quente que chega a doer.
Piero cheira a curva do meu pescoço, me levando arrepios em
lugares inimagináveis. Solto um suspiro de deleite, deslizando a mão por
seu tórax, e seus lábios encontram os meus, mas não me beijam.
— Me mande embora, Sienna — sussurra contra meus lábios,
deslizando uma das mãos para minha bunda e a apertando com força. —
Estou implorando — murmura, e a necessidade de querer sentir o seu toque
é tão imensa que não sou capaz de proferir nada, principalmente sabendo
que isso é uma tremenda loucura.
Minha língua invade sua boca no mesmo beijo urgente de mais
cedo, e os dedos de Piero engatam nas tiras da minha calcinha, a levando
para baixo.
Seus dedos deslizam pelas minhas dobras molhadas, me fazendo
corar.
— Alguém já tocou em você antes? — Seu dedo se detém em meu
clitóris, o massageando.
— Não — sussurro, pois, nesse momento, parece que até o som do
meu coração está causando um estardalhaço. — Mas não quero que pare...
Piero — sibilo, empurrando a pélvis contra sua mão e soltando um gemido
quando ele cobre com seus lábios.
— Aqui não é seguro — diz, e seu dedo desliza para dentro de
mim. Mordo o lábio, sentido meu sexo pulsar loucamente, de uma maneira
que nunca senti na vida. — Preciso voltar para o meu quarto antes que
alguém perceba.
— Não — imponho com o ar preso na garganta. Essa é a maior
loucura que já aconteceu comigo e tenho certeza de que não haverá chances
de isto acontecer novamente. — Quero senti-lo dentro de mim, nem que
seja por um segundo — sussurro sem dar espaço para a razão.
Esta noite, nem que seja por uma fração de segundos, eu ditarei a
minha a vida.
Abro o zíper da calça dele com o coração galopando no peito e,
com sua ajuda, descemos sua calça. Seguro no pau de Piero e uma sensação
avassaladora atravessa o meu corpo.
— Sienna, depois não haverá mais volta — avisa, segurando em
meus pulsos. — E se Carlo souber...
— Ele nunca saberá — afirmo, deslizando o dedo pela base do seu
pau, e o vejo estremecer.
Piero engole minhas palavras tão sedento quanto eu, suas mãos
arrastam o bojo do meu sutiã para baixo e seus lábios sugam o meu mamilo
com força, cubro a boca com força quando soltei um alto gemido.
— Terá que ficar caladinha — sussurra contra a minha pele e volta
a sugar o meu mamilo, fazendo-me contorcer.
Piero me agarra pelas coxas e me conduz para dentro do meu
espaçoso closet, ele me coloca sentada na ponta de um pequeno armário e
se enfia entre as minhas pernas.
— Isso não parece real — comento, tocando em seu corpo.
— Eu sei — sussurra. — Podemos parar agora, isso já é o
suficiente para o seu pai me decapitar mesmo. — Ele me dá um pequeno
sorriso.
— Você é maluco — profiro, agarrando seu quadril com minhas
pernas, sentindo a sua ereção entre nós. — Não pare agora — peço, me
abrindo para ele, e o seu pau ocupa a entrada da minha fenda.
Afasto nossos corpos, me segurando na madeira atrás de mim, e
tenho uma visão plena e esplendorosa da minha boceta engolindo cada
milímetro dele vagorosamente. Mordo o lábio com força pelo alargamento,
com certeza é desconfortável pra cacete, mas nada que me faz querer afastá-
lo, a única coisa que eu quero é que ele se mova.
— Caralho, princesa, que bocetinha apertada. — Piero estremece
com força dentro de mim e, olhando em meus olhos, ele sai lentamente, me
trazendo picos de dor, que ignoro, olhando cada movimento dele. Suas
mãos seguram em minhas coxas tão forte que tenho certeza de que ficarei
com um hematoma amanhã.
— Posso continuar?
— Deve — digo, e os lábios dele grunhem algo felino.
Os dedos de Piero afundam em nossa umidade e a leva em direção
ao meu clitóris. Ele faz pequenas carícias enquanto começa a me possuir e
vai aumentando as estocadas, indo mais e mais fundo, enterrando-se até o
fim. Eu sei que não podemos demorar, mas a sensação é estranhamente
maravilhosa que eu poderia senti-la para o resto da minha vida.
Uma fagulha de prazer acende no meu centro e não consigo conter
um gemido quando ele pressiona meu clitóris com mais precisão, e cada
músculo do meu corpo se contrai de tanta força que chega a doer. Sei que
amanhã estarei plenamente dolorida. Me deito para trás, sem forças,
cobrindo minha boca com as duas mãos e, pelo reflexo da penteadeira, vejo
Piero me levar à libertação.
Meu orgasmo explode, espalhando-se pelo meu abdômen, indo em
direção ao meu ventre. Cubro a boca com as mãos novamente, vendo o meu
peito subir e descer, a sensação é fascinante, dominando o meu corpo
completamente.
— Não posso gozar dentro de você — diz entredentes, como se
estivesse se segurando. — Me deixe gozar na sua boquinha, Sienna —
sussurra com esforço e sai de dentro de mim.
Desço da mesa com as pernas muito bambas, Piero me segura pela
nuca com força e me leva até o seu pau, ele entra na minha boca grosso e
salgado, mas, de forma alguma, ruim.
— Sinta o seu gosto, princesa — diz quando chupo o seu pau sem
o menor manejo —, e agora sinta o meu. — Ele se inclina para frente e seus
olhos buscam os meus quando explode como um jato quente, enchendo
completamente a minha boca, engulo seu sémen com um pouco de
dificuldade, é mais grosso que eu já imaginei que fosse.
Piero me puxa para cima, e me vejo no reflexo do espelho,
completamente nua, e então a ficha cai tão forte quanto a chuva lá fora. Eu
perdi a virgindade dentro de um closet, quero rir, mas não o faço, pois sinto
os dedos de Piero em mim.
— Você precisa ir.
— Eu sei, nos vemos por aí, princesa. — Piero beija meus lábios,
fortemente, como se fosse um adeus, e tenho certeza de que será.
O vejo deixar o quarto tão silencioso quanto entrou, fico indecisa
entre tomar um banho e me deitar, mas, como quero ficar com o cheiro dele
em mim por mais um momento, apenas limpo o seu esperma e o meu
sangue entre minhas coxas e me deito, pensando como será meus dias daqui
para frente.
Capítulo 02
SETEMBRO
NOVEMBRO
É Ação de Graças.
Já amanheceu, e Romeo ainda não voltou para casa e não tenho
nenhuma notícia a respeito de Piero. Dizem que notícia ruim chega rápido,
mas não tenho certeza se isso se enquadra nessa situação.
— Precisa se acalmar. — Maeve segura em meu pulso, me
impedindo de arrancar uma unha com os dentes.
— E se ele ainda estiver vivo? — pergunto, sentada em um dos
sofás na sala principal, com o meu peito apertado.
— Damos outro jeito. — Sorrio, mas acho que é o reflexo do
desespero.
— Se ele contar ao Romeo, é o meu fim, duvido que ele me dará
espaço para esclarecer — sussurro e, quando Maeve vai argumentar, a porta
se abre, fazendo-a se calar.
Levanto-me num pulo, vendo apenas Romeo entrar na casa, sua
expressão não é das melhores, mas, devido ao seu espírito natural, eu não
tenho ideia do que esperar.
— Maeve, nos dê licença. — São as primeiras palavras que passam
pela boca dele, deixando-me sem saber no que pensar, a garota me dá um
olhar preocupado, mas se retira em silêncio, enquanto meu marido entra
mais na sala.
— Romeo — balbucio numa lástima, ele solta o ar lentamente e se
atira no sofá ao meu lado. Sua cabeça se escora entre os vãos das almofadas
enquanto seus olhos escuros e cansados encontram os meus.
— Ele vai ficar bem — profere, olhando dentro dos meus olhos.
Solto o ar lentamente, com um sorriso de alívio enquanto levo uma
mão ao peito.
— Isso é maravilhoso — comento, vendo qualquer esperança que
eu tinha de me livrar de Piero escorrer pelo ralo. — Onde ele está?
— No hospital, sua saturação está baixa, ele ficará em observação
por mais vinte e quatro horas.
Desgraçado, filho da puta, eu devia tê-lo sufocado com um pano
de prato.
— Conseguiu conversar com ele?
Romeo assente.
— Ele quer se desculpar pelo que fez, ele disse que não entende o
que aconteceu. — Mexo a cabeça em negação, sem conseguir conter a ação,
não quero chegar perto de Piero, tudo que sai da boca dele é enganação.
— Está com medo, confesso que também fiquei quando ele pulou
em cima de você. Parecia uma cena saída de um filme — expressa
baixinho, olhando para o nada como se estivesse lembrando.
— Ele não precisa se desculpar, afinal, foi eu quem quase o matou
— comento, parecendo suave e descontraída.
— Você daria uma péssima assassina. — Rimos.
— De fato, eu não nasci para o crime.
— Eu preciso descansar um pouco. — Ele se levanta, parece que
passou a noite em claro.
— Devia ter voltado para casa — falo.
— Ele teve um choque anafilático, podia ter morrido, e eu queria
estar lá caso acontecesse.
— Você o ama mesmo — sussurro.
— Ele é família, é o mínimo — diz e me dá as costas.
Romeo sobe, e eu me escoro para trás no sofá, buscando uma
forma de engolir o fracasso, nunca mais teremos outra chance, Piero ficará
sempre alerta a partir de agora. Merda!
Prendo o último brinco de diamantes na minha orelha e me afasto
para olhar o meu vestido. Ele é curto sem ser vulgar, o oposto do decote,
que é longo e aberto demais, não sei o que me fez sentir tão confiante na
loja. Pego um casaco de pelo branco e minha bolsa de mão e desço,
recebendo um olhar de admiração da Maeve.
— Ele já voltou? — pergunto, me aproximando da cozinha.
— Ainda não. — Faço beiço e me sento à ilha, em frente a uma
garrafa de vinho enfeitada com um top vermelho à sua volta.
Romeo passou a maior parte do dia adormecido, mas, quando
acordou, a primeira coisa que fez foi me dar acesso à porta de entrada, em
seguida, pediu para alguns dos seguranças levar as malas de Piero para o
apartamento novo, e depois se trancou no escritório. Podia ver que estava
tenso e com os pensamentos distantes, por isso resolvi dar espaço para ele.
Depois de um tempo, ele deixou a sala e tomou um banho, ele
disse que teria que passar no escritório Carrington Entreprise, a empresa de
telecomunicação/ fachada da Outfit, no centro da cidade, antes de irmos
para o jantar de Ação de Graças, e agora, cá estou eu entediada, esperando-
o.
— Por que não vai até lá? Fica a dez minutos.
A última vez que estive naquele edifício, minha mãe ainda estava
viva, e Carlo trabalhava fora de casa, isso parece que foi em outra vida.
— Eu vou — digo, me levantando da mesa e puxando a bolsa e a
garrafa de vinho.
— Aproveite o Ação de Graças, Mavis, e, se eu fosse você, sumiria
dessa casa por um tempo. Piero pode ter se mudado, porém, duvido que ele
saia das nossas vidas por vontade própria.
— Talvez devesse, mas daí você ficaria sozinha — comenta, me
acompanhado até a porta. — Agora somos amigas de crimes, não tem volta
— fala, me fazendo rir.
— Obrigada por ficar do meu lado, é difícil viver nessa casa. —
Maeve concorda com um aceno e abre a porta para mim.
— Boa festa, Barbie. — Viro para repreendê-la, mas a porta já está
fechada.
Avisto Ezio fumando encostado na BMW preta e encurto o espaço
até ele, que ajeita sua postura rapidamente.
— Me leve ao edifício Carrington, vamos encontrar Romeo lá.
— Sim, senhora — fala, abrindo a porta do carro e pegando o
telefone, provavelmente para avisar Romeo.
Me aconchego no banco de trás e escoro a cabeça contra a janela,
por algum motivo, ansiosa, hoje será a primeira vez que sairemos em
público como um casal, não sei o que esperar.
Depois de alguns minutos, Ezio estaciona em frente a um elegante
prédio e abre a porta do carro para mim, sua expressão, como sempre, não
se altera em nada, queria entender como Fiorella conseguiu ficar tão
próxima do seu segurança depois de um ano de puro ódio durante a vigília
na mansão Santoro.
O segurança me conduz em silêncio em direção ao elevador e,
embora seja feriado, tem certa movimentação no primeiro andar. Subimos
rápido para o último andar e só quando as portas se abrem percebo que
trouxe a garrafa de vinho, em vez da minha bolsa de mão.
Descemos em uma espaçosa recepção em tons de cinza-claro e
pedras de mármore preto na maioria das paredes, exceto nas grandes
janelas, o andar inteiro está completamente vazio. O segurança se detém
para que eu ande em sua frente, mas não tenho ideia de onde fica a sala de
Romeo.
— Última sala, após a recepção, senhora — avisa, averiguando em
volta. — Estarei aqui caso precise de algo.
Lhe dou um aceno e caminho, analisando a garrafa. Meu primeiro
Ação de Graças casada com Romeo, taí uma coisa que nunca passou pela
minha cabeça. Mesmo que Piero ainda esteja vivo, preciso acreditar que as
coisas vão melhorar agora que seremos apenas eu e ele na mansão. Reflito,
olhando em frente e enxergando dois elevadores no fim do corredor.
Será que seria desrespeitoso abrir a garrafa que daremos ao papai e
a Dona, para comemorar esse momento? Me parece muito propício. Romeo
está tenso desde a noite passada, o álcool o faria relaxar e isso quebraria o
gelo em nossa relação, quero recomeçar de onde paramos. Em nossa última
briga, o fiz se sentir culpado, sendo que há outros motivos que me levaram
ao inferno.
Chego na última sala, a parede é de vidro, mas a persiana clara e
fechada esconde o seu interior, o que é ilógico, já que a porta também é de
vidro.
Enxergo uma plaquinha de metal com o nome de Romeo Ferraro
incrustado, preso no topo da porta, paro em frente a ela com o meu sorriso
mais adorável.
Olho através da porta e me torno uma pedra incapaz de sair do
lugar enquanto vejo Romeo foder com uma mulher na mesa. A camisa dele
está aberta, exibindo seus músculos contraídos pelo tesão, e sua amante,
com os peitos e o rosto colados na madeira escura de mogno, enquanto ele a
segura com firmeza pela nuca e seus longos cabelos pretos escorregam pela
lateral da mesa. O quadril de Romeo investe com ritmo, força e fúria dentro
dela, lhe arrancando gritos de prazer.
Meu corpo começa a tremer, a bile me sobe à garganta e, quando
levo a mão à boca, a garrafa escorrega dos meus dedos, causando um
estampido, os gemidos dos quais nunca vou esquecer param e de repente
aqueles olhos escuros e sombrios encontram os meus na porta, provocando
o inferno no meu interior.
— Senhora. — Ezio me encara distante e preocupado, dou um
passo para trás, sentindo-me nocauteada, desejando desaparecer, mas, como
isso é improvável, me afasto da sala sem olhar para dentro dela e, ainda
assim, capto movimentos no interior.
Me viro e minhas pernas se tornam gelatinas, não é possível que
isso esteja acontecendo, prefiro morrer a ter que encarar aquele filho da
puta, miserável. Corro em direção aos elevadores no fim do corredor e,
quando aperto o botão para descer, Romeo sai da sala, abotoando sua
camisa. As portas se fecham e posso sentir meu coração querer abandonar o
peito. Olho para mim no espelho e odeio tudo que vejo, devia tê-lo
enfrentado em vez de fugir, eu nem tenho para onde ir, mas só a ideia de
ficar perto dele e olhar para ele faz a raiva pinicar meu couro cabeludo.
As portas se abrem, ando para a rua escura e deserta, contendo
poucos carros, não sei para onde ir, então entro em um restaurante ao lado
do prédio, avisto o banheiro sem dificuldade e caminho até lá, percebendo
alguns olhares em mim.
Entro em uma das cabines e me sento na tampa da privada com as
pernas bambas. Se passaram três semanas, e o desgraçado não conseguiu
ficar a porra de um mês sem transar. Fungo baixinho e pisco, tentando reter
as malditas lágrimas.
Sem dinheiro, telefone ou para onde ir. Sem dúvidas, cheguei ao
fundo do poço e prefiro dormir nesse banheiro a ter que voltar para casa e
olhar para a cara dele. Romeo, a esta hora, deve estar colocando seus
soldados atrás de mim. Será que avisará o meu pai? Carlo, com certeza,
exigirá saber por que fugi, o que me faz pensar que ele não contará até ter
certeza de que não consegue me achar por conta própria.
A porta abre, fazendo meu coração quase quebrar minhas costelas
com a intensidade que bate. Ergo as pernas do chão com receio que seja
alguém da máfia, mas então ouço a voz de duas jovens conversando.
Deixo a cabine, chamando atenção delas, as meninas se vestem
estilo a Maeve, só que com um olhar menos arrogante, ou deve ser pela
minha expressão lastimável.
— Poderiam me emprestar o celular? — As duas me analisam,
depois se entreolham, e a loira com os cabelos rosados na ponta me estende
o dela.
— Obrigada — sussurro, vendo o vermelho dos meus olhos no
grande espelho.
Disco o único número que me vem à cabeça, até porque não
lembro de nenhum outro de cor. Levo segundos para alguém da mansão
atender o telefone residencial.
— Alô — minha madrasta, por milagre de Deus, atende.
— Dona, é a Sienna.
— Você e Romeo já estão chegando? — pergunta, parece animada,
expondo que não sabe de nada, olho as meninas pelo espelho, me
observando, e entro em uma das cabines, constrangida.
— Ele me traiu, Dona, estou no banheiro de um restaurante e não
tenho para onde ir — digo com meus olhos se enchendo de lágrimas
novamente —, será que posso entrar pelos fundos e passar a noite aí?
— Ah, Deus, que merda, querida! — pragueja. — Assim que você
colocar os pés aqui, os seguranças vão avisar ao seu pai.
— Eu não quero voltar para aquela casa, Dona.
— Eu sei, vem, eu vou aguardá-la em frente à casa. — Encerro a
chamada e ouço a porta do banheiro se abrir.
— Hey, aqui é o banheiro feminino, seu pervertido — uma delas
diz severamente, fazendo minhas pernas tremerem.
— Viram uma garota loira, bem arrumada, com um casaco de pelo
branco? — Ouço Ezio, e meu coração bate tão alto que a minha impressão é
de que ele vai me entregar.
— Não vimos ninguém — uma delas diz asperamente. — E, se não
sair agora, vamos gritar. — A porta fecha com força e preciso me sentar
para não ir ao chão. De repente, as duas param na minha frente, e estendo o
telefone para a dona, depois seco as lágrimas, sentindo minhas vistas
arderem.
— Aquele palhaço é seu namorado? — a morena pergunta.
— Marido — minto, pois é mais fácil do que ter que explicar a
minha realidade. — Brigamos, e ele quer me levar para casa.
— Argh! Que cuzão — a loira resmunga.
— Só entramos pra usar o banheiro, se quiser carona até algum
lugar, pode ir conosco — a morena pontua e se afasta, ela fede a cigarro e
chiclete de morango.
O carro estaciona dentro do pátio antes de alcançar a entrada
mansão Santoro e me despeço das meninas. No restaurante, aguardamos um
pouco até ter certeza de que Ezio não estaria do lado de fora, me esperando,
e depois entrei no carro de duas completas estranhas. A loira se chama
Sidney e a morena, Quinn, ambas me convidaram para ir a uma festa na
fraternidade Pi Kappa Alpha.
Deus, como eu queria ser mais corajosa, ir apenas para dar o troco
na mesma moeda. Pensar nele faz meus olhos se encherem de água, não
quero acreditar no que vi, aquela cena, os sons, a expressão no rosto dele
quando me viu... esmagam a minha alma.
Romeo quebrou qualquer coisa que poderíamos ter algum dia.
Odeio-o com tanta intensidade que meu peito dói como se, de fato, tivesse
sido apunhalado.
Dona me encontra, passa os braços em minha volta e me leva em
direção à casa sem perguntas, ela usa um vestido preto e um penteado
simples, fazendo me recordar da porra da Ação de Graças, francamente não
tenho nada a agradecer.
Avisto muitos carros ao longo do pátio e o Rover entre eles faz-me
frear os pés no chão.
— Você contou a ele? — pergunto aos prantos, dando um passo
atrás.
— É claro que não, Romeo chegou há uns cinco minutos e está no
escritório com seu pai, não vai demorar até eles souberem que está aqui.
— Eu não devia ter vindo.
— E passaria a noite no relento? — Dona responde e me leva em
direção à lateral da casa.
— Estou estragando a sua festa, me desculpe. — Ela me olha
pesarosa, mexendo a cabeça em negação.
— Não se preocupe com isso, meu bem.
Entramos na casa pela lateral e atravessamos os cômodos em
direção ao meu antigo quarto, Dona abre a porta, me deixando entrar e está
tudo do jeito que havia deixado.
— Ele não mudou nada.
— Eu te disse. — Ela sorri. — Vou buscar uma roupa confortável
para você. — Dona se retira, fechando a porta.
Caminho até a cama e me esparramo nela, o meu cheiro ainda está
em cada canto desse cômodo, aqui passei os últimos dias me preparando
para o inferno que seria viver com o Romeo. Rio, como fui burra, me deixei
envolver. Mesmo me controlando perto dele, senti que tínhamos algo, nada
profundo, mas estávamos indo aos poucos, obviamente isso era só coisa da
minha cabeça.
Meus olhos se enchem de água novamente e me sinto a porra de
uma cachoeira, chuto meus sapatos longe, irritada, desejando quebrar
alguma coisa, deixar tudo em pedaços como Romeo fez comigo.
Limpo o que consigo das lágrimas em meu rosto quando a porta do
quarto se abre, um banho viria a calhar agora, mas não é Dona que
atravessa a porta.
— Por favor, não me obrigue a ir embora. — Papai suspira e anda
até mim usando um terno preto.
— Você é do meu sangue, princesa, mas pertence ao Romeo agora,
e ele quer levá-la.
— A única forma de ele me tirar desse quarto é me arrastando —
digo com minha garganta dolorida. — Ele me traiu! — exclamo, sentindo
minhas unhas ferindo minhas palmas. — Eu quero que Romeo queime no
inferno, onde é o lugar dele — praguejo o seu nome como se fosse uma
maldição.
— Ele ficou preocupado quando fugiu. — Rio alto e profundo.
— Engraçado, não vi essa preocupação enquanto ele enfiava o pau
em outra mulher.
— Sienna — papai adverte e, diante de mim, vejo um homem
dividido entre ser um bom pai ou um bom Chefe e, pela quantidade de
merda que está acontecendo com a Outfit, ter a filha surtada em sua casa é o
menor dos seus problemas.
Carlo não se importa comigo, tudo gira em prol da organização, eu
sou apenas uma peça inútil desse tabuleiro, se fosse homem, teria mais
serventia para ele.
— Você prometeu que me aceitaria de volta se algo ruim
acontecesse. — Ofego com minha voz embargada.
Papai coloca a mão na minha perna agitada.
— Fisicamente, filha. Não posso impedi-lo de levá-la. — Minhas
lágrimas rolam, — Mas vou puni-lo, eu prometo — ele me assegura.
— Eu não quero que você o machuque — sussurro, encontrando os
olhos do meu pai. — Eu quero machucá-lo. — Os lábios dele se curvam
satisfeito.
Pela quantidade de ferimentos que Romeo tem, parece ser
intolerante à dor física, mas deve haver algo que fere o seu coração, eu só
preciso descobrir o que.
— Você cresceu. — Ele fica em pé, e Dona entra com algumas
peças de roupas.
— Ela não irá ficar, Dona. — A mulher lhe dá um olhar de
reprimenda. — Vamos dar espaço a eles — diz, e vejo a sombra de Romeo
na entrada do quarto. Desgraçado, estava escutando a nossa conversa todo
esse tempo!
— Não — imponho firme, mesmo que minhas cordas vocais doam
pela aflição. — Não quero espaço com esse homem, não quero ouvir ou vê-
lo — digo, olhando para o meu pai. — O senhor quer que eu saia, peça a
um dos seguranças para me levar.
Romeo assente, e eu odeio isso. Odeio até que esta decisão
pertença a ele, odeio como ele consegue me fazer sentir tão pequena com
gestos tão insignificantes. Não consigo olhar nos olhos dele, sinto-me
humilhada e constrangida pela cena que presenciei, odeio todos esses
sentimentos que ele está me fazendo sentir.
Capítulo 20
Desço do carro e ando com passos rápidos para dentro de casa, tive
pouco tempo para pensar no que fazer com nossa relação, mas cheguei à
conclusão de que o melhor para mim é que ele vá dormir em outro quarto.
Romeo pode me ter de volta em sua casa, mas não terá em sua
vida.
Entro no quarto, depois me tranco no banheiro e me escoro contra
a porta, arrancando o vestido que havia comprado pra esse maldito feriado.
Escorrego até o chão, ficando sob os calcanhares, enxergo meu reflexo no
grande espelho à minha frente, a vermelhidão e o inchaço dos meus olhos
certamente podem ser enxergados do espaço sideral.
— Sienna. — Romeo dá dois toques suaves na porta.
Me levanto com as pernas tremendo, ligo o chuveiro e me tranco
no box, abafando qualquer justificativa que ele queira dizer. Escorrego para
baixo da água quentinha, sentindo-a limpar as minhas lágrimas.
Traço o polegar pelo braço o hematoma já está sumindo, mas ainda
permanece dolorido, posso parecer masoquista, mas gosto da forma como
dói e, principalmente, de como purga as impurezas dos meus pensamentos
quebrados. Meu coração encolhe e meu eu interior suplica para aliviar a
ansiedade que se alimenta do meu elemento. Não aguento mais ter que fazer
isso, devia ter pegado aquele ‘Boa Noite, Cinderela’ e ingerido após a
cerimônia.
Eu queria que Romeo fosse leal a mim, mas como pedir lealdade se
quando tudo que eu faço é mentir para ele?
— Sienna, saia, vamos conversar. — A voz de Romeo abre um
buraco incandescente no meio do meu peito, e a tentativa de descartar
qualquer pensamentos autodestrutivos vai embora quando aumenta o desejo
de fazer essa sensação pavorosa sair de mim.
Enterro os dentes em minha pele, a dor atravessa meu corpo,
fazendo meu coração bater na cabeça, silenciando todos os meus
pensamentos. Me ajoelho no chão do box e permaneço ali até não ter mais
lágrimas para derramar.
Desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha sem alternativa, não
posso ficar presa nesse banheiro para sempre. Abro a porta, e Romeo está
sentado aos pés da cama, é difícil ignorá-lo, sua presença domina cada
canto do quarto. Entro no closet e deslizo pelo meu corpo as peças íntimas
rapidamente, antes que ele resolva entrar aqui, penso, e o desgraçado já está
ocupando a passagem da porta.
— Não pode me ignorar para sempre, Sienna.
Isso é o que veremos.
Puxo a camisola mais simples que encontro e a coloco de costas
para ele, ajustando a minha expressão de indiferença, Romeo sufocará com
meu silêncio, já que isso é tudo que eu posso lhe dar, e não há nada que ele
diga que consertará o que ele fez conosco. Me viro para meu indigno
marido, sentindo meu braço latejar, me concentro apenas nos picos de dor
no instante em que passo pelo pequeno espaço entre ele a parede.
— Você me pediu que ficasse longe — explica às minhas costas.
Pedi na hora da raiva, quando dizemos coisas que não devemos,
mas isso é só um detalhe técnico, você me traiu, Romeo, e não vai me
culpar por comer outra mulher!
Encontro minha bolsa de mão em cima da cama e pego o meu
telefone de dentro.
— Você me odeia, me abomina e, em muitas vezes, não fez
questão de esconder isso. Não sei o que esperava de mim.
Odeio com todas as minhas forças, agora mais que nunca.
Coloco meus sapatos confortáveis de ficar em casa, ignorando
Romeo às minhas costas, ele parece uma mosca zanzando em volta de mim,
o que está me deixando irritada.
— Eu não queria magoá-la, pêssego — ele profere baixo e seu tom
é vacilante.
Você me traiu, cacete, por que permanece à minha volta? Por que
está tentando mostrar que se importa? Quando claramente não está nem aí.
A cachoeira ameaça entrar em ação, mas cerro o maxilar a ponto
de partir, não vou dar esse gostinho a ele.
Puxo um travesseiro, melhor eu sair desse quarto antes que perca a
minha paciência. Ficarei em algum de hóspedes e amanhã peço a Agnes
para remover as tralhas dele daqui.
— Está sendo imatura. Isso nem é a porra de um casamento de
verdade, você sempre me afasta, o que queria que eu pensasse? — entoa, e
sinto sua frustração.
Você comeu outra mulher, caralho, nada que diga ou faça irá me
persuadir a argumentar com você!
Viro-me para deixar o quarto com o travesseiro e o telefone na
mão, Romeo me pega pelo braço machucado sem muita força, mas o
suficiente para me fazer gemer com a dor aguda. Seus olhos se estreitam de
forma avaliadora e correm pelo meu braço, o empurro com força, sem
efeito algum enquanto retira a seda que esconde minha lesão.
— Você fez de novo — ele emite pesaroso, e suas palavras
queimam como lava em meu estômago.
— Não me toque e não sinta pena de mim! — esbravejo com
ferocidade e me vejo sair do meu elemento.
— Eu sinto muito.
— Será que sente mesmo? — sibilo com cólera.
Puxo meu braço, e Romeo não me solta.
— Você me dá nojo!
Tenho nojo dele, nojo do toque dele, duvido que tenha tomado um
banho desde a última hora que estava comendo aquela mulher. Fecho
minhas mãos com força e minhas ações irrefletidas tomam conta da minha
mente enevoada. Meu punho acerta o rosto de Romeo, e sua cabeça é
empurrada para a esquerda, em um estalo alto.
Romeo me olha consternado. E o que me deixa ainda mais puta é
que ele nem tentou me impedir. Dou um murro no seu peito e depois outro e
mais outro, até seus dedos me soltarem, e continuo esmurrando-o, mesmo
que já tenha perdido minhas forças, mesmo que não cause nenhum impacto
nele.
Tremo de raiva, tantas decisões erradas que me levaram cada vez
mais para o fundo do poço. Não sei como deixei as coisas chegarem nesse
ponto, então, Piero surge em minha mente.
Me afasto de Romeo, minha cabeça está uma confusão do caralho,
estou com tanto ódio dele que nada mais importa, eu só quero fazê-lo sofrer
como fez comigo.
— Ouça... — Ele se aproxima.
— Eu transei com o seu irmão. — Escuto as palavras passarem
pela minha boca de forma libertadoras.
Romeo para no caminho, estreitando as sobrancelhas,
incompreensível.
— É por esse motivo que não pude me entregar a você.
— Está mentindo — afirma, e a tensão cresce em sua face. — Não
envolva o meu irmão, Sienna — diz em tom de aviso.
— Sabe uma coisa que nunca entendi? Por que se importa tanto
com Piero quando tudo que ele deseja é te apunhalar pelas costas?
— Piero jamais te tocaria — ele brada entredentes, e me pergunto:
será que eu agiria assim caso Fiorella fosse a acusada?
— Mas tocou, antes e depois do casamento, dentro dessa casa,
nesse quarto... — Minhas palavras soam como o veneno de uma cobra.
A expressão de Romeo é tão perversa que me choca até os ossos.
Ele me empurra para trás na cama, montando em meu quadril e engulo o
desconforto subindo pelo meu peito enquanto tento me mexer debaixo dele.
Seus dedos se fecham em torno da minha garganta sem esforço, e Romeo se
aproxima, tocando a sua testa na minha, me dominando.
— Está me dizendo que me traiu com meu irmão nessa casa, em
nosso quarto? — sibila e seus dedos apertam minha pele com precisão.
— Piero abusou de mim quando eu disse que não queria trair você.
— A expressão de Romeo se mortifica e ele se afasta como se tivesse sido
queimado, plenamente desorientado.
Me sento e atravesso a cama, pegando distância dele.
— Quando? — pergunta.
— Durante a sua viagem.
— Por isso queria ir comigo — afirma, e minhas lágrimas rolam
quando eu assinto.
Romeo me dá as costas e consigo enxergar a tensão se expandir
nos músculos das suas costas, a raiva intensa e desenfreada o domina, e ele
extravasa destruindo o quarto inteiro.
— Devia ter me contado — ruge e sua ira me atravessa.
— Eu não podia falar — digo e um soluço me escapa com força.
— Ele estava me ameaçando.
— Com o que, Sienna? — pergunta com a voz alterada e atravessa
o quarto parando à minha frente.
Engulo todo o meu pavor, assumindo o autocontrole, ou pelo
menos tentando.
— Piero me deu uma droga para colocar em seu drink nas núpcias.
Se tomasse a metade, você desmaiaria; tudo, morreria, eu não tive coragem
de usá-lo. Então, depois que ele nos viu na jacuzzi pelas câmeras do
pergolado, ele ficou muito irritado. Pegou a droga de volta e disse... — a
cena me vem à mente e me sinto enjoada — que, se eu não o chupasse, diria
a você que eu estava conspirando com a Famiglia, pois estava desconfiado
da conversa que tive com Franco enquanto dançávamos.
— Vou matá-lo — declara com os dentes cerrados e se levanta
bruscamente.
Não tento conter Romeo quando ele pega das poltronas o coldre
com suas armas e sai, vestindo-o, então ele para no batente da porta e se
vira para mim de repente.
— Tentou matá-lo com as castanhas — menciona como se tivesse
tido uma epifania.
Aceno levemente, e Romeo me deixa no quarto. Deito-me para
trás, consumida por esse dia e com a sensação de que comecei outro
incêndio, do qual Piero não vai conseguir se safar.
Uma espécie de riso se forma nos meus lábios e, tirando a dor da
traição, não sinto mais peso algum em meus ombros e, pela primeira vez
desde que entrei nessa casa, eu posso ser eu mesma.
Capítulo 21
DEZEMBRO
É Natal.
Escolho uma roupa em meu closet, com a sensação de um
atropelamento. Um lembrete doloroso da noite anterior. Minha vagina dói,
como se eu tivesse abrigado um punho, pergunto-me se isso é normal, e
meu seios estão com grandes chupões pretos.
Oh, Deus, como algo tão bom consegue me fazer sentir um lixo
agora?
Antidepressivo e álcool, uma combinação perfeita para me fazer
enxergar o lobo mau em pele de cordeiro. Taí a saída perfeita para o nosso
casamento dar certo, escarneço mentalmente, pois jamais conseguiria
suportar tanta dor de cabeça como esta que estou sentindo agora.
Coloco rapidamente uma meia-calça, saia xadrez preto e branco,
que sobe acima do umbigo e, por último, um cropped de lã batida vermelho,
pego um lenço da mesma cor e prendo meus cabelos em um rabo de cavalo
baixo.
Meu primeiro Natal longe da minha família e longe dos olhares
furtivos de pena deles, estou ansiosa para que esse ano termine, pois, de
alguma forma bem estúpida, meu cérebro acha que conseguira deixar toda a
merda que aconteceu para trás.
Desço, recebendo mensagens da Fiorella, muitas fotos fofas de
Stefano. E, na semana passada, Helena me enviou sua última ultrassom, ela
está esperando uma menina que se chamará Aurora Reviello.
Fiorella mandou também as fotos da roupinha do batizado de Stef,
será no fim de janeiro. Ela me deu a honra de ser a madrinha, mesmo
sabendo que as chances de eu conseguir ir são quase zero.
Será que o padre aceita por videoconferência?
Pensei em usar a fadamante, rio, os remédios devem estar fazendo
efeito mesmo, se fossem algumas semanas atrás, estaria chorando. Usá-la
para conseguir ir ao batizado. Parece errado tirar proveito dessa situação, só
que preciso tirar algo de bom dessa merda para não enlouquecer.
Chego no andar inferior e, como acordei tarde, o cheirinho de
comida natalina está a todo vapor.
— Bom dia! — saúdo, colocando o meu telefone no balcão e me
sentando ao lado de Maeve.
Ela me dá um risinho nada sutil.
— O quê? — pergunto, sem muita vontade.
— A véspera de Natal foi milagrosa? — Ela arqueia a sobrancelha.
— Você não tem casa, não? — pergunto secamente, puxando um
marshmallow do pratinho à minha frente.
— Hey — reclama queixosa e sussurra — Agnes está namorando.
E prefiro ouvir vocês transando do que a minha mãe. — Torço o nariz.
— Prefiro que não ouça — repreendo.
— Fizeram as pazes? — Ela está com aquele sorrisinho de volta.
— Não, precisava aliviar a minha tensão, e não estava conseguindo
sozinha. — Maeve ri.
— Ele está se esforçando — ela diz com estima, eu sei que ela tem
sentimentos parentais por Romeo, e vê-lo sofrer também a deixa mal. —
Você viu o tamanho daquele buquê de rosas? — indaga retoricamente.
— Metade já deve estar morta, assim como o coração dele. — Ela
faz cara feia, e eu rio.
— Esse casamento inteiro começou de forma errada, e não estou
pronta para acelerar as coisas e voltar para algo que vai me machucar ainda
mais.
— E ontem não foi um erro?
Os momentos de ontem percorrem a minha mente e sinto o sangue
salpicar as minhas bochechas, a minha imaginação não tem freio.
— Não vou apressar as coisas, Maeve, só para fazê-lo se sentir
melhor.
— Eu sei, e te entendo.
Romeo entra na cozinha, e Maeve se retira, nos deixando a sós.
— Já tomou café?
Balanço a cabeça negativamente, levando outro marshmallow à
boca, sem conseguir olhá-lo, não compreendo o motivo, não sentia
vergonha de Piero, mas, com Romeo, meu marido, tenho a sensação de que
minhas bochechas estão cozinhando.
— Vem, eu quero te mostrar uma coisa.
Romeo me dá as costas e anda sem me esperar em direção à saída.
Pulo da banqueta e o sigo, com borboletas brincando em meu estômago.
Será que é outro presente, me desculpe, eu comi outra mulher?
Deixamos a casa, e Romeo se destaca à minha frente, vestindo um
terno preto. O pátio está coberto por uma grossa camada de neve, assim
como as altas árvores que cercam a nossa casa.
Romeo está me levando em direção à nova construção, que é um
parâmetro da casa, teto embutido, e paredes de vidro claras, exibindo um
pouco do interior.
— O que é isso? — pergunto, vendo-o parar diante de uma porta e
a abri para dentro. Ele abre espaço para eu entrar, expondo um pomposo
estúdio de ballet, é lindo demais, seria perfeito, se não fosse resultado de
uma traição. Enxergo o seu reflexo atrás de mim por uma parede de
espelhos, do outro lado do estúdio, e me viro para encontrar o seu olhar.
— Isso tudo é culpa? — pergunto, sem conseguir conter a tristeza.
O corpo de Romeo enrijece, transformando-se em um bloco sólido
de músculos.
— Não sei o que fazer — ele admite. — Nunca pedi perdão ou me
importei o suficiente para tentar me redimir, só que, com você, é diferente,
eu me importo, e quero que saiba disso.
— Tinha medo de você e, depois que passei a conviver ao seu lado,
percebi que não me machucaria... — Meus olhos se enchem de água, me
viro, não quero encará-lo dessa forma.
— Eu não tinha ideia de que se importava, Sienna. — Engulo em
seco com a sensação de mãos esmagando o meu coração. — Você pediu que
eu me afastasse, e assim o fiz.
Me viro para ele, sentindo meu couro cabeludo pinicar.
— Atendeu o meu pedido bem rápido, foi como soltar a coleira de
um cachorro — escarneço, amargurada. — Ponha-se no meu lugar, se visse
outro homem me fodendo em cima de uma mesa, o que faria? — A
escuridão consome seu olhar e se estende, pairando ao seu redor. — Será
que eu seria digna de perdão? Ou você me despedaçaria, como fez com
Franco?
— Não a machucaria — entoa sem expressão ou entonação. —
Você é minha esposa — entoa com aspecto de posse controlada — e estou
disposto a me afastar para sempre, se assim desejar, mas, primeiro, terá que
tentar. — Meus lábios se separam por uma fração de segundos e a
preocupação cintila em sua face.
Ele pode fazer isso. Se afastar e me ver apenas quando lhe convir,
precisamente em jantares e festas dentro e fora da máfia, para exibir que
nossa relação permanece em êxito.
As palavras ficam entaladas no fundo da minha garganta, eu não
sei o que dizer, ou no que ponderar. Romeo está disposto a renunciar a mim,
caso isso seja o meu desejo no fim. Dando-me a certeza de que estarei livre,
caso faça outra estupidez.
A incerteza cai como uma pedra de mármore no meu estômago, e o
meu coração bate forte na cabeça, silenciando a voz interior. A chance de
tentar um casamento de verdade e de ter uma família que tanto sonhei me
fará refutar os meus princípios morais.
— Aceita?
— Caso escolha nos afastar, a casa e a Agnes ficariam para mim,
certo? — Romeo sorri e, de alguma forma muito perturbadora, isso derruba
toda a minha tensão.
— O que você quiser, pêssego — responde, seguro de si.
— Aceito. — Seus olhos escuros se iluminam, e Romeo não
contém seu sorriso. — Mas tenho uma objeção, sem mais mentiras.
— Sem mentiras.
— Podemos subir agora, estou faminta.
Ele assente e me conduz para o lado de fora do estúdio, quando
chegamos em frente à casa, os portões se abrem e um carro acelera para
dentro do pátio em alta velocidade.
— Entre. — A voz dele não me dá espaço para questionamento,
obedeço, andando em direção à entrada, o carro estaciona e um cara de
sobretudo desce dele, Romeo encurta espaço até ele e começam a conversar.
Atravesso a porta sem ter ideia do que está acontecendo, e ando até
a janela. O convidado inesperado está com uma blusa branca manchada de
sangue no colarinho, mas ele parece bem fisicamente.
Romeo começa a ditar ordens e alguns seguranças do pátio andam
em direção ao estacionamento, dentro de segundos, três motos atravessam
os portões tão rápido quanto à entrada do carro.
Que porra está acontecendo?
Será que encontraram o bastardo do meu cunhado?
Romeo entra na casa, tirando o seu casaco, ele passa reto por mim
em direção ao segundo andar, e o sigo com passos largos.
— O que houve? — pergunto, vendo pegar o coldre em uma
poltrona qualquer no seu novo aposento. Ele veste como se estivesse indo
para guerra. Romeo pega duas facas e prende uma na panturrilha e outra, no
antebraço com presteza.
— Piero matou um dos homens que estava de guarda na casa. Ele
deve estar ficando sem dinheiro, estúpido. Eu vou encontrar aquele filho da
puta e extirpá-lo até sua alma sair do corpo — entoa com suas veias do
pescoço se destacando e não há o menor tremor em sua voz que traía sua
frieza.
— Tome cuidado, ainda sinto o cheiro do seu sangue no carpete da
sala.
— Não se preocupe, as chances de eu hesitar dessa vez são as
mesmas que a minha entrada no céu.
Nenhuma.
Romeo planta um beijo no topo da minha cabeça e me larga em seu
quarto, com o coração do tamanho de uma ervilha. Ando até o meu
aposento e, pela grande janela de vidro, o vejo entrar no Rover e
desaparecer pelos grandes portões.
Engulo a frustração que domina cada poro do meu elemento e me
deito, esperando-o retornar.
O colchão chacoalha do meu lado, acordo e vislumbro, através das
pálpebras pesadas, Romeo abrindo os botões da camisa. Deslizo uma mão
por suas costas, sentindo os sulcos das suas cicatrizes, chamando a sua
atenção.
Ele me olha por cima do ombro e vejo uma escuridão profunda
dominar suas feições. Estreito os olhos quando reparo em um rastro de
sangue seco escorrendo da sua sobrancelha e orelha.
— Era uma emboscada — declara, exausto, e se deita para trás, a
luz da claraboia ilumina seu torso embebido por sangue, do queixo à
cintura, a camisa de Romeo está rúbea e grudada contra a sua pele.
— Esse sangue é dele? — Romeo solta uma lufada e balança a
cabeça em negação.
— Ele me levou pra morte, estou tão cego de raiva que não
enxerguei. — Os músculos do seu maxilar se contorcem sob a pele, e seu
olhar conflagra a fúria distorcida.
— O que você fez, Romeo? — Ele direciona seus olhos fúnebres
para o meu rosto.
— O que eu fazia de melhor. — Seus lábios se torcem em um riso,
e começo a ficar preocupada. — Mas agora estou velho e lento.
— Isso é uma crise de meia-idade? Porque estou vendo você
coberto de sangue, mas nenhum buraco em seu corpo.
— Só você para me fazer rir, pêssego — ele diz isso sem nenhum
sorriso no rosto. A mente de Romeo, nitidamente, está num lugar distante e
umbroso.
Deito-me ao seu lado, encarando o mesmo pedaço do céu. O forte
cheiro de ferrugem em seu corpo me deixa levemente enjoada, e nem é pelo
fato de ser o sangue de algum estranho.
Perceber como isso não me assusta e me afeta como antigamente
me faz refletir que amadureci para o submundo, ou alguma coisa de grande
importância se quebrou dentro de mim.
— Piero me levou até West Garfield Park. — Seu pomo de Adão
oscila.
Em outras palavras, o gueto de Chicago, nunca pus meus pés lá,
mas aquela cidade dá bastante trabalho para os jornalistas e a polícia, o
crime violento de WGP é agraciado com a extensa atividade de gangues na
área.
— Ele sabe que não consegue me matar, pelo menos, não sem um
elemento surpresa. Eu o segui até um armazém abandonado e, quando
cheguei lá, havia seis caras da gangue Latin Kings para me matar, menos o
boçal do meu irmão.
— Você é o subchefe de Chicago, eles não deveriam saber disso?
Romeo se vira, encontrando o meu olhar.
— Eu te disse, quanto mais velho, mais inimigos. Quando comecei
a trabalhar para o seu pai, ele pediu que limpasse uma área que a gangue
hispânica estava comandando. Piero, provavelmente, os persuadiu em troca
de vingança e dinheiro — explica, desalento.
— O que vai acontecer? — Romeo morde o lábio.
— Carlo está puto pelas mortes no armazém, ele ordenou que eu
parasse de procurar Piero e colocará seus homens atrás do meu irmão.
— Vai obedecer?
— Não posso, te prometi que o encontraria.
— Talvez papai esteja certo, você não está enxergando com
clareza. É o seu irmão, isso é duro para você.
Romeo se afasta e se levanta, saindo do quarto silenciosamente.
Acredito que ele tenha ido tomar um banho ou encher a cara em algum
canto da casa.
É agora que eu o sigo, ou dou espaço, não tenho certeza do que
fazer. Ele parece acabado, mesmo tentando encobrir isso com uma máscara
impenetrável. Decidir matar o seu irmão está o matando. Romeo sempre
mostrou afeto por aquele filho da puta desprezível.
Dou um suspiro e ando até o seu quarto, as roupas de Romeo
seguem uma trilha no chão em direção ao banheiro. A porta está aberta e
Romeo, dentro de uma banheira que parece um pouco pequena para o
tamanho dele, sua cabeça está caída para trás e seus olhos, fechados. Ele
não os abre, mesmo que tenha notado a minha presença.
Sua tristeza me afeta de uma forma que não consigo explicar. Me
sento na beira da banheira e jogo alguns sais na água rosada pelo sangue
dos nossos inimigos.
Pego uma esponja na prateleira ao lado e começo a lavar seus
ombros. Romeo abre os olhos, encontrando os meus.
— Isso devia estar acontecendo só daqui a alguns anos. — Rio da
fracassada tentativa dele de fazer uma piada.
— Não se acostume — repreendo, apertando a esponja em cima da
sua cabeça, seus olhos se fecham e água escorre vermelha pela sua face.
Romeo abre os olhos e encontram os meus, e uma emoção diferente
percorre por eles.
Desde pequenininha, vejo Romeo a serviço da máfia. Ele sempre
foi circunspecto com sua vida privada, acredito que nem papai conhecia sua
casa. O que eu sei a seu respeito é que ele criou o estrupício do irmão,
amparou Agnes e Maeve de continuarem com uma vida ferrada em um
trailer... e, nesse tempo todo, quem cuidou dele?
De repente, Romeo me puxa para dentro da banheira, de robe e
tudo. Faço cara de nojo devido à cor da água, tirando um sorriso preguiçoso
dele.
— Isso é nojento pra cacete — advirto, dando um nó nos meus
cabelos para o alto.
— Nada que um banho de água corrente não resolva.
Romeo abre as pernas, eu caio entre elas e ele me puxa para cima
de si, colando minhas costas em seu peito e envolvendo meu corpo com
seus braços. A barba macia dele roça no meu pescoço, e Romeo planta um
beijo atrás da minha orelha, provocando-me um arrepio.
Relaxo, marinando em sangue humano. Nossa, isso parece tão
errado, mas, se Romeo precisa disso para ficar melhor, estou disposta a
tentar, já que até agora nada do que aconteceu em nosso casamento foi
normal.
Capítulo 26
JANEIRO
— Sério, não entendo com isso não dói os teus pés — Maeve
profere, sentada no chão do estúdio, vendo-me fazer o demi plié, segurando
a barra.
— Na verdade dói — sorrio, encontrando o seu olhar pelo espelho
—, mas é só até me acostumar novamente.
— Você não me chamou aqui para ficar te vendo dançar, não é? —
Reviro os olhos e me viro para ela.
— Quero ir ao batizado do meu sobrinho, em Nova Iorque, mas
duvido que Romeo me deixe ir sozinha.
Já estamos em janeiro, eu não aguento mais a prisão dessa casa,
não tenho mais nada pra fazer, mesmo com o estúdio de ballet, estou
enlouquecendo. Romeo me levou à mansão dos Santoro algumas vezes,
porque, além daqui, lá é o único lugar seguro que o bastardo do Piero não
colocaria os pés. Dei a ideia para me usar de isca, com certeza aquela besta
do Piero tentaria me sequestrar e me matar em algum beco sem saída.
Grrr. Óbvio que Romeo disse que não.
— Quer que eu seja sua acompanhante? — pergunta, ficando em
pé e se encarando no espelho, ela está pomposa do jeito dela para ir a uma
festa hoje à noite, na qual nunca colocaria os meus provavelmente. — Eu
topo, nunca fui, e acho lindo aquele estado — diz, fazendo-me dar pulos de
alegria.
— Vou falar com ele hoje à noite. — aviso sem conter o meu
sorriso.
As chances de ele aceitar são voláteis, mas acredito que, se eu
pedir com jeitinho, ele ceda. O nosso relacionamento tem ficado cada vez
mais sólido. Romeo e eu estamos conseguindo passar por cima de tudo e
seguir em frente, a única coisa que nos perturba é o silêncio de Piero.
Aquele calhorda deve estar tramando agora, já faz duas semanas
desde sua última tramoia, e Romeo decidiu deixar nas mãos de papai, o que
nos dá mais tempo para ficar juntos. Às noites ao seu lado são longas,
quentes e orgásticas, e ele tem se aberto aos poucos, o que é maravilhoso.
FEVEREIRO
DEZEMBRO
10 MESES DEPOIS
FIM
LIVROS DA SÉRIE:
Nascida no berço da máfia de Chicago, Fiorella Santoro descobre tarde demais que seu destino já
havia sido decidido antes mesmo de completar dezoito anos.
Para garantir a paz entre Outfit e a máfia nova-iorquina, Ella, é usada como uma moeda de troca,
sendo forçada a se casar com o herdeiro da Cosa Nostra: Franco Fiore.
Franco não tem honra, coração e nem moral, dominado como o Corvo, pois reflete a encarnação do
mal, pretende possuí-la e reivindicar toda sua inocência.
Franco só não presumia que a sua futura esposa fosse tão sombria e perigosa quanto ele, Fiorella não
estava disposta a ceder, quebrar ou se esconder.
Uma união fatal que tem tudo para terminar em sangue, se torna uma paixão ardente, perigosa e
instável, colocando em perigo não só o acordo entre as máfias, mas tudo que está a volta deles.
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SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE
Helena Hathaway foi adotada por Carlo Santoro, o Chefe da Outfit, devido a sua amizade com a filha
do mafioso. Ela cresceu sob as regras da máfia, jurou lealdade e submissão. Porém, para ajudar sua
amiga, cometeu um ato de traição, colocando em risco o acordo entre as máfias. Helena se vê no
início de um pesadelo, desesperada e sem alternativas, ela foge para salvar sua vida.
Ettore Reviello, imponente e corrompido, é a voz da razão na máfia nova-iorquina. O
Consigliere, carregado por um passado obscuro, nunca desejou se casar. Logo que descobriu que seu
destino já estava determinado, havia somente uma coisa que ele poderia fazer: encontrar uma mulher
disposta a se casar sem a esperança de um futuro.
Duas almas quebradas se unem. A sedução ardente e a luxúria que já existiu uma vez, revive
entre os dois, e, desejo, ódio e superação é a batalha que Ettore terá que lutar se quiser resistir ao
casamento com Helena.
Delphine Dubois aos 27 anos, chegou no auge da sua profissão; Diretora Financeira do Hotel Bel Air
Country Club. Para sua vida ficar perfeita, só falta uma coisa. Um bebê.
Devido a um relacionamento complicado no passado, Delphine não consegue confiar em outro
homem, por isso decide fazer inseminação artificial. Duas semanas antes da consulta, por influência
da sua melhor amiga, ela faz sexo casual com um homem que conheceu no lobby do hotel.
Delphine só não contava que no dia da inseminação já estaria grávida do homem quente e com
sotaque espanhol, com quem ela rolou a noite inteira. Christopher Wesker, um mulherengo
indomável e pior de tudo, herdeiro do Hotel Bel Air.
Christopher fará de tudo para ganhar a confiança dela, porém a sua reputação ao longo dos anos o
coloca em maus lençóis.
O que resta saber é; será que Delphine cederá aos encantos do espanhol, pelo bem do bebê?
Viúvo há mais de quatro anos, Michael ainda sofre com os fantasmas do passado, mas tudo muda
quando contrata Lindara, uma doce jovem que o abala feito um raio com toda a sua simplicidade.
Lindara Fincher, aos 7 anos de idade, tinha uma vida espetacular, morava em Upper East Side e era
a melhor dançarina de ballet de sua turma. Porém, ela vê sua vida de cabeça para baixo, quando em
uma noite ela e seus pais sofreram um grave acidente de carro a deixando órfã.
Ambos atormentados pelo passado encontram algo em comum, mas para que esse amor floresça
terão que lidar com Sabrina, funcionária e ex-namorada do Michael, que une forças com o arqui-
Abigail Waterford não poderia estar no melhor momento da sua vida, cursando o 2° ano na
Universidade de Yale e sendo namorada do capitão do time de futebol. Porém, nem tudo são flores, a
garota esconde um segredo que acredita ser a sua ruína. Ninguém conhece o seu passado e na internet
é como se ela não existisse. E isso está prestes a mudar.
Dexter Prescott, ex-capitão do time retorna a cidade para terminar o último ano do curso. Seu maior
objetivo é recuperar sua posição no futebol. Contudo, seus planos mudam quando seu caminho cruza
com Abby.
Dex fica fascinado e intrigado com a ruiva, e quando percebe que ninguém sabe nada a respeito do
passado dela fica propenso a descobrir.
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Um bad boy de caráter duvidoso se rende a uma nerd disposta a colocá-lo na linha.
Dakota King, uma aluna exemplar na Universidade de Nova York, tem sua vida transformada em um
caos no instante em que Savannah, sua irmã gêmea, lhe apresenta Heyden Hayes e Erin Yoshida, o
cara, por quem ela sentia uma tremenda queda.
Estudante de literatura inglesa, a tímida garota sonhava em viver o seu próprio romance e aproveitou
a oportunidade quando foi assaltada em seu trabalho e o assaltante lhe propôs um acordo em troca do
seu silêncio. Dakota pensou que seria fácil enganar a polícia, já que o seu pai estava encarregado do
caso, mas jamais pensou que se apaixonaria pelo assaltante.
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