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Cláudia Castro
Capa: Dennis Romoaldo
Revisão: Angélica Pedrolli
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares
eacontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
1ª Edição
Criado no Brasil.
Dedico essa história
a todas às minhas leitoras
que me acompanham
e torcem por mim.
Sumário
Sumário
Sinopse
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
A promessa – Caio Martins
Capítulo 1
Noite perfeita – Luana Dantas
Capítulo 2
Refém dela – Caio Martins
Capítulo 3
Eu te amo, Caio – Luana Dantas
Capítulo 4
O imprevisível – Luana Dantas
Capítulo 5
Impotente – Caio Martins
Capítulo 6
Dias difíceis – Caio Martins
Capítulo 7
Esperança renovada – Caio Martins
Capítulo 8
Encontrei você – Caio Martins
Capítulo 9
Descobertas imprevisíveis – Caio Martins
Capítulo 10
Quem sou eu – Luana Dantas
Capítulo 11
Coração sangrando – Caio Martins
Capítulo 12
Retomando a vida – Luana Dantas
Capítulo 13
Dias atribulados – Caio Martins
Capítulo 14
Oscilação – Luana Dantas
Capítulo 15
Decepção imprevisível – Caio Martins
Capítulo 16
Vazio assombroso – Luana Dantas
Capítulo 17
Notícia Devastadora – Caio Martins
Capítulo 18
Noite tenebrosa – Luana Dantas
Capítulo 19
Espera sinistra – Caio Martins
Capítulo 20
Venha me buscar – Luana Dantas
Capítulo 21
Dois meses depois – Caio Martins
Capítulo 22
Quem é essa piranha? — Luana Dantas
Epílogo
Promessa cumprida – Caio Martins
O primeiro Natal dos Gêmeos
Antes disso: ossos do ofício – Caio Martins
Então é Natal
Luana Dantas Martins – Depois do susto, só amor
Sobre a Autora
Sinopse
O policial Federal Caio Martins vivia um grande dilema: ele amava
a irmã caçula do melhor amigo. Mais velho do que ela onze anos, o moço
bonito sofria, se sentindo errado por amar a garota proibida, que ainda era
adolescente.
Tudo mudará após uma tragédia se abater sobre eles. Uma gravidez
inesperada, um filho desconhecido e o imprevisível.
NOTA DA AUTORA
Chegamos ao fim dessa série especial na minha vida com
sentimento de realização. Não tenho palavras para agradecer a cada pessoa
que esteve comigo nessa jornada. Fecho com chave de ouro com a história
do Caio e da Luana com a certeza de missão cumprida.
Meu Deus! Como foi difícil esperar por aquele dia. Luana Dantas
sempre habitou meus pesadelos mais assustadores. Eu, Caio Martins, era
um homem de vinte e sete anos, policial federal, e ela apenas uma
adolescente cursando ensino médio.
Lutei com todas as minhas forças para não me sujeitar aos seus
argumentos e provocações. A garota insistia em me dizer sobre ter ciência
da nossa diferença de idade e ainda me chamava de careta.
— Deu para rir sozinho agora? Acho que seus casos estão te
enlouquecendo, meu irmão — falou o irmão da aniversariante.
— Luana... eu sou louco por você, mas me sinto mal por trair seu
irmão. Ele confia em mim. — Ainda respirando com dificuldade, reclamou.
— Traindo meu irmão? Por que, Caio? Somos nós dois e não tem
nada a ver com ele. Eu te amo desde sempre e não vou desistir de você,
entendeu?
— Porra, Caio, não ouviu nada do que eu disse? — falou, com uma
expressão desconfiada. Precisei pensar em uma resposta rápida.
— Desculpe-me, irmão, estou com a cabeça quente, investigando
um caso de uma organização criminal de tráfico de pessoas para a indústria
farmacêutica.
— Ah, você se lembrou? Achei que era só papo furado para fugir
do que não dá conta. — Afastei-me um pouco dela e a olhei fixo.
— Pensei que essa noite fosse esperada por você como era por
mim, mas vejo que errei. — Luana deu um tapinha no meu ombro e sorriu.
— Deixe de ser bobo, Caio. Lógico que não vou para a casa das
meninas, essa foi só uma estratégia para poder passar a noite com você. —
Meu coração acelerou na mesma velocidade que meu pau endureceu.
Capítulo 1
Noite perfeita – Luana Dantas
Conheci o Caio quando tinha quatorze anos. Ele não me viu, mas
eu observei cada movimento dele. A beleza dele era algo diferenciada. Seus
olhos pretos intensos, com sobrancelha grossa, pele alva, cabelos pretos e
boca desenhada a mão eram um elixir potente para enlouquecer qualquer
adolescente. Eu e minhas amigas ficávamos babando ao ver aquele homem
alto, forte e caladão.
— Meu Deus, que lugar lindo é esse? Nunca ouvi falar desse
paraíso.
— Eu estou aqui, Luana, mas não quero antecipar nada. Será tudo
no seu tempo. — Respirei fundo e tomei minha decisão.
Capítulo 2
Iniciei minha vida sexual aos dezessete anos, com uma mulher de
vinte e quatro, e sabia o quanto eu era inexperiente, mas não se importou.
Passei quase um ano com a Daiana e decidimos juntos por terminar. Depois,
ela se mudou para o exterior e nunca mais tivemos contato.
Nunca fui mulherengo, como a maioria dos meus amigos policiais.
Na maioria das vezes, acabava namorando com a garota. No entanto,
nenhuma delas era virgem. Luana seria a minha primeira e esperava muito
não a perder. Por ser um momento tão importante em nossas vidas, achei
prudente dar a ela o poder de escolha.
— Eu estou aqui, Luana, mas não quero antecipar nada. Será tudo
no seu tempo. — Minha Pequena era cheia de surpresas.
Voltei a beijar sua boca, com fome dela. Não foi algo lento, sensual,
mas erótico. Eu a queria nua para poder explorar cada canto daquela pele
virginal. Depois de nos beijarmos de forma arrebatadora, me afastei um
pouco, coloquei as mãos em sua jaqueta e, com o olhar, a pedi permissão
para a tirar.
Tranque as portas
Vamos deixar o mundo lá fora
Tudo que tenho para te dar
São estas cinco palavras, e eu
Te agradeço por me amar
Por ser meus olhos
Quando eu não podia enxergar
Por abrir os meus lábios
Quando eu não conseguia respirar”
Havia esperado demais por ela. Luana laçou meu pescoço com seus
braços e retribuiu o beijo na mesma paixão, intensidade e, então, só
confirmei o que já sabia: não tinha mais volta.
— Fala, Pequena...
— Caiooooo...
Nunca vi nada tão rápido em toda minha vida. Caio tirou a cueca
em segundos e veio para cima de mim como um lobo feroz. Não senti
receio, nada parecido. A minha única preocupação que causou medo foi a
de perdê-lo um dia.
Ele gemeu em minha boca, desceu sua língua pelo meu pescoço até
chegar aos meus seios. Senti seus dentes mordendo meus mamilos e
chupando ao mesmo tempo.
— Luana, não tem outro jeito de fazer isso. Vou devagar, se doer eu
paro. — Ela balançou a cabeça, concordando, e mordeu os lábios.
Ele entrou com tudo, me fazendo gritar seu nome e, logo após,
ficou imóvel, enquanto beijava meu ombro e pescoço. Era como ser rasgada
ao meio, mas seu cuidado foi amenizando a sensação e comecei a mexer o
quadril de forma lenta.
O perfume da manhã
O sabor que tem eu e você
Como o Sol vem a beijar
Minha pele que aquece”
Caio se afastou um pouco, olhou para meu corpo com seus olhos
vidrados e desceu sua boca para meus seios, me chupando e mordiscando
meu mamilo. Enquanto eu me retorcia, desesperada por alívio, seus dedos
se movimentavam dentro de mim, me levando a outro orgasmo arrebatador.
Não foi fácil convencer meu namorado a esperar. Ele era muito
correto e não se sentia bem enganando o amigo. Vivenciamos nossa
primeira DRpor causa da bendita vontade dele fazer tudo certo.
— Lógico que entendo, meu Federal, e é por isso mesmo que estou
pedindo para você só alguns poucos dias... — Ele passou as mãos pelos
cabelos. Caio tinha aquele hábito quando não conseguia ser o dono da
situação.
Eles tentavam falar baixo, mas o tom de voz deles era de quem
discordava de algo.
— Caralho. Essa guria vai ser chave de cadeia. Depois não digam
que não avisei.
Aquela era a voz do tal Pablo. Consegui gravar por ser parecida
com a de um jovem. Os outros pareciam ser mais velhos, pelo menos era o
que a voz deles demonstrava.
Luana devia ser o meu nome. No entanto, de quem era aquela voz?
Após muito esforço, não consegui ver nada que pudesse me dar
qualquer ideia. Algumas lágrimas começaram a descer pelo meu rosto e
precisei me esforçar para me manter raciocinando com calma.
Olhei para minha mão amarrada e mexi meus dedos para os dois
lados. Quase dei um grito de alegria quando percebi que um dos nós não
estava muito apertado. Arrastei a bunda pelo chão até aproximar minha
boca da corda. Tinha que dar certo.
Usei toda a força dos meus dentes para abrir o maldito nó. O suor
descia pelo meu pescoço e percorria todo o caminho até minhas costas. Eu
me movimentava de forma frenética, porque precisava agir antes dos
homens voltarem. Sem conseguir mensurar o tempo, estava quase
desistindo quando a corda se abriu.
Meu coração disparou de tanta ansiedade. Com uma das mãos
livres, foi mais fácil me libertar. Fiquei de pé devagar, porque me sentia um
pouco tonta. Esperei alguns segundos até ter certeza de que não cairia e
caminhei até a porta. Tentei verificar se havia algum barulho, mas não ouvi
nenhum som.
Cheguei em casa por volta de vinte e três horas. Peguei meu celular
e estranhei não ter mensagens da minha namorada. Luana era daquelas
aficionadas em aplicativo de mensagens e sempre me falava dos seus passos
durante o dia.
Peguei uma latinha de cerveja na geladeira, fui para a varanda do
meu apartamento e liguei para ela. A ligação tocou até cair em caixa de
mensagem. Sem me conformar com aquilo, tentei mais algumas vezes e
sempre a mesma coisa. Meu faro policial foi acionado na mesma hora.
Liguei para a casa da mãe dela e me apresentei como professor dela.
— Ela não está. Saiu cedo com o Caio e ainda não voltou. — Senti
meu coração acelerar.
— Caio? Não conheço. Ele estuda com ela? — Dei uma de bobo
para descobrir se ela havia falado algo.
— Minha irmã? Como assim? Deve estar na casa dos meus pais.
Por que o interesse na Luana? — O tom de voz dele mostrou o
descontentamento.
— Por favor, ligue para sua mãe. Estou te pedindo, meu amigo.
— Caio, falei com mamãe e ela me disse que minha irmã saiu com
as amigas para comprar roupa e ainda não voltou. Liguei para o celular dela
e não atende. Não estou gostando disso.
— Marcelo, Luana não está aqui. Quem a pegou jogou seu celular
aqui para desviar nossa atenção. — Ele me olhou, apavorado.
— Vamos descer, só saio daqui com esse aparelho telefônico. —
Balancei a cabeça, concordando, e o segui em meio à vegetação alta.
— Tomara que você esteja certo. Cara, não sei por onde começar.
Não podemos noticiar o sequestro, não vou dar palco para vagabundo.
Por recomendação médica, eles foram para a fazenda. Não foi fácil
convencê-los a seguir a orientação da equipe de saúde. O senhor Dantas só
aceitou depois de muitas promessas nossas de os manter informados de
tudo.
Eu estava em um estado de dormência afetiva assustador. Era como
se alguém tivesse me desligado das emoções. Quando a Luana desapareceu,
o desespero tomou conta de mim. Não conseguia comer, dormir, pensar,
trabalhava no modo automático e a procurava diversas vezes nas periferias.
Foram dias intensos. Revirei cada canto das cidades com o maior
índice de denúncias de tráfico de pessoas. Infiltrei-me no submundo do
crime e paguei alguns bandidos em busca de informações. Nada. Nenhuma
pista da minha Pequena.
— Meu filho, não perca sua fé. Enquanto acreditar, seu coração
envolve o dela com boas energias. Ore, meu amor. Peça a Deus sabedoria e
força para esse momento difícil. Lembre-se: tudo passa, isso também vai
passar[4]. — Saí de seus braços e olhei fixamente para ela.
— Caio, não tenho palavras para agradecer a Deus por ter um filho
maravilhoso como você. Vai dar certo, filho. Sua Luana vai aparecer.
Acredite. — Peguei a mão dela e beijei.
“Pai, sei que por muitas vezes duvidei do Seu amor por nós, mas
entenda seu filho. Estou apavorado sem ter notícias da mulher que amo. O
Senhor sabe há quanto tempo a amei em silêncio, esperando o tempo dela.
Foram momentos angustiantes por amar a irmã caçula do meu melhor
amigo. No entanto, nosso amor floresceu e nos amamos muito. O
desaparecimento dela só me fez ter ainda mais certeza dos meus
sentimentos por ela. Não deixe o pior acontecer. Proteja a integridade dela
e coloque pessoas boas em seu caminho. Esse é Seu filho implorando por
sua misericórdia. Desculpe-me pelos pensamentos egoístas, eu entendi
como fui errado. Meu coração clama por Ti, meu Pai. Assim seja.”
— Cara, eu tenho motivo para ter ligado daquele jeito, venha ver
com seus próprios olhos. — Passei por trás da sua mesa, parei ao seu lado
para ver o que ele queria me mostrar no computador. Marcelo mexeu o
mouse e aproximou a imagem.
— Não vamos perder mais tempo. Você tem sua reunião, eu preciso
buscar minha garota.
Nada me faria parar. Eu iria além dos meus limites para achar a
minha mulher.
Capítulo 8
Encontrei você – Caio Martins
— Meu amor, como senti sua falta. Por que demorou tanto? — Eu
não conseguia pronunciar uma palavra sequer. — Você não desistiu de mim.
Cumpriu sua promessa quando te pedi para me procurar. Eu te amo, Caio
Martins.
Respirei fundo umas duas vezes, cheguei a apertar meu peito com a
mão direita para tentar falar.
— Achou como? Está com ela? Fala, homem, pelo amor de Deus.
— Marcelo, há uma semana tive um sonho com sua irmã. Ela dizia
para não desistir dela e me pediu para espalhar mais fotos. Acordei
assustado como se tivesse sido real.
— Ela ainda não me viu, está dormindo com... nossa... está difícil
segurar as lágrimas. Eu tenho um filho de dez meses, Gisele... — falei, sem
condições de continuar.Precisei de um tempo para respirar.
— Meu filho, nós sabíamos que, em algum lugar desse país, tinha
uma família apreensiva procurando por ela. Além disso, não seria justo
vocês perderem esses momentos importantes da vida da nossa Luana. —
Um pouco envergonhado, baixei a cabeça e comecei a chorar.
Aquele ambiente de paz, a voz serena dela, ver minha Pequena,
descobrir que era pai, foi tudo muito emocionante. Sem conseguir me
controlar, chorei como uma criança.
Olhei para ela, sorrindo feito uma criança que acabara de ganhar o
presente dos sonhos.
— Lógico que pode. Ele é seu filho, Caio. — Ouvir aquilo parecia
música para meus ouvidos.
Passei alguns minutos contando para ele como eu e a mãe dele nos
conhecemos. Era incrível como os olhinhos dele não abandonavam meu
rosto por nenhum minuto.
— Oi, Marcelinho. Eu sou seu tio, meu amor. Como você é lindo.
— Como se entendesse a complexidade do momento, ele abriu os bracinhos
e se jogou nos braços do meu amigo.
— Ei, meu, amor. Sua mamãe está um pouco esquecida, mas seu
nome será Marcelo. O meu Marcelinho.
Daquele dia em diante, me dediquei em tempo integral ao meu
filho. Ele era a única ligação a um passado que eu desconhecia. O olhar
dele, sua boca pequena, cabelinhos loiros, pele branquinha, olhos azuis e
bochechas vermelhas me lembravam alguém, mas não conseguia descobrir
quem.
— Tenho confiança que sim, meu amor. Deus não desampara seus
filhos. Confie, e verá que logo saberá quem são seus familiares. Agora
vamos entrar, porque está esfriando e não queremos nosso anjinho gripado.
— Dois dias depois daquela conversa, meu destino mudaria para sempre.
Olhei nos aposentos da Berê e eles não estavam lá. Passei correndo
pela biblioteca e vi, pela fresta da porta, um homem dormindo, encostado
na cadeira, com meu filho no colo.
Meu coração disparou, com medo dele sumir com meu bebê. Entrei
desesperada no cômodo e tirei meu filho dos braços do homem. Ele abriu os
olhos, sonolento e, ao me ver, se levantou, caminhando em minha direção
como se fosse me abraçar. Eu me afastei depressa, com Marcelino no colo,
e gritei.
— Por que estava com meu filho? Eu não sei quem é você. — O
moço abriu e fechou a boca.
— Calma, meu amigo. É tudo muito novo para ela. — Olhei para
ele, desapontado, e sua namorada falou consternada.
— Meu querido, você aguentou até aqui. Deus não nos dá uma
carga que não possamos carregar. Tenha calma e muita fé. Preciso te fazer
uma pergunta. Posso? — Passei a mão no rosto, limpando as lágrimas que
não paravam de descer.
— Não entendi. O que isso pode ter a ver comigo? É um jeito bem
comum de tratar um bebê... — Ela sorriu, colocando as mãos no meu
ombro, e explicou.
— Oi, Marcelinho. Sua mamãe vai ficar boa, você vai ver... — Ele
colocou a mãozinha no meu rosto e balbuciou.
Daquela vez, ela foi um pouco mais serena, mas mantinha o olhar
desconfiado, como se, a qualquer momento, eu fosse desaparecer com
nosso filho.
— Ei, Pequeno, venha com a mamãe. — Ela abriu os braços e ele
se jogou no colo dela.
— Lógico que não. Ele insiste em dizer que sou noiva dele, mas
não faço a menor ideia de quem é. Nem sei se não é um vigarista. — Olhei
para o moço bonito com um sorrisinho cínico, mas o infeliz não se
intimidou.
— A senhora pode dizer a ele que não quero uma sombra atrás de
mim? Desde que me encontraram, esse homem força sua presença na minha
vida. Vive carregando meu filho...
— Está bem, eu sei onde seus pais moram. Levo você. — Tentei
parecer um pouco mais simpática, mas não sei se consegui.
Ver seus olhos, ora iluminados, ora opacos, me matava por dentro.
Alguns dias era como se ela se trancasse em um aquário. Passava horas
muda e depois oscilava momentos de euforia e reclusão.
Peguei meu telefone e liguei para o número dela. Ouvi cinco sinais
sonoros até alguém atender. Ela não disse nenhuma palavra, então apelei
para a verdade.
— Boa noite, Caio. Fiquei feliz por poder te ajudar. Você fez tanto
por mim. — Aquela frase simples me deixou muito ofegante e fui obrigado
a fazer uma força fenomenal para não estragar tudo. Momentos como
aqueles eram raros. Acho que demorei mais que o normal a voltar a falar.
— Oi, você ainda está aí?
— Está bem, vamos tentar. Ah, e meu... nosso filho está com
saudades. Ele fala Papa o dia inteiro. O sapequinha nem fala mais Mama —
falou e deu uma risadinha.
Aquela ligação foi uma verdadeira injeção de ânimo para mim. Não
esperava tanta receptividade. A psicóloga havia me pedido cautela, porque
era normal ter altos e baixos, com muita oscilação de humor, mas preferi
ignorar e viver o momento.
— Imagine, Caio. Não sou essa bruxa. — Dei uma risada do jeito
dela falar.
— Ahhhh, Luana... Como foi difícil ficar tanto tempo sem você. E
ontem, quando se lembrou de mim, agradeci muito a Deus. — Ele respirou
fundo e me fez uma pergunta difícil de responder. — O que te fez se
lembrar?
— Pai... queria saber te dizer, mas não sei. Desci para tomar café e
dei bom dia para o senhor. Simples assim. Acordei sabendo quem o senhor
era e só. Por que está me perguntando isso?
Ela me disse para ir dançar com minhas amigas, porque meu pai
precisava dela para tirar o terno e gravata. Passei pelo corredor que dava
acesso ao salão de festa e, no meio do caminho, encontrei com o Federal.
Ele me deu um sorriso lindo e veio me cumprimentar. Sem pedir
autorização, beijei sua boca. A princípio, o Caio se assustou, mas logo
depois correspondeu com paixão. Aquele foi o primeiro e melhor beijo da
minha vida.
— Calma, Luana. Ele está com sua mãe. Ela ligou para sua médica
e por sorte, a doutora Neila estava aqui por perto. Daqui a pouco estará
aqui. Consegue se levantar?
— Sim, meu filho. Somos sua família. — Brinquei com ele até
começar a coçar os olhinhos.
— Está certo, Martins. Fico feliz por sua mulher. Não dá para
mensurar sua dor. Só de imaginar minha esposa doidinha esquecendo de
mim dá taquicardia. Vamos só rever as estratégias e depois buscar o
descanso.
— Está bem, Caio. Acredito em você. Agora vou dormir, estou com
um pouco de dor de cabeça.
— Boa noite, meu filho. Queria ter notícias melhores para você,
mas não tenho. — Meu coração palpitou no meu peito.
— O que houve? Aconteceu algo com meu filho ou com a Luana?
— Ele respirou fundo e soprou o ar pela boca.
— Ela veio até aqui mais cedo e, segundo a doutora, está tudo
dentro do previsto. — Enchi o peito de ar e o prendi no pulmão por alguns
segundos.
— Eu sei, meu filho. Vamos, entre. Quem sabe com você ela se
comporte diferente?
— Você deve ter me confundido com alguém. Não sei quem é essa
Luana e nunca tive filho. — Abri e fechei a boca, sem saber o que dizer.
Vesti calça jeans, calcei tênis All Star vermelho e peguei uma
camisa branca de malha, com a estampa do Rock in Rio, que achei na
minha gaveta. Tentei me recordar se já tinha participado de alguma edição
do evento, mas não consegui me lembrar.
— Você vai mesmo sair sozinha? Não tem medo de se perder, sua
maluca? — Dei um sorriso ao perceber a maluquice de conversar comigo
mesma, como se fosse outra pessoa.
— Até que você é bem bonita, senhorita Luana — falei e dei uma
risada ao perceber a bizarrice da situação.
— Meu Deus! Eu andei tanto assim? Tem algo errado, Luana, você
não está nem cansada. — Continuei meu monólogo. — Garota, não pare de
andar. Está quase chegando em casa.
— Calma, me fala como aconteceu? Ela não deve ter ido longe... —
Ela me interrompeu, apavorada.
— Está bem. Tente manter a calma. Vou pedir ajuda a uns amigos
meus e volto a dar notícias. — Antes de conseguir desligar, ela me fez um
pedido que deixou meu coração quebrado.
— Caio, ache a minha filha, por favor. Não vou suportar passar por
tudo outra vez. — Respirei fundo e fiz uma promessa.
— Sogra, eu te dou minha palavra: só volto para casa com sua filha
junto. Eu prometo.
— Boa noite, senhor Mário. O Maurício está? Preciso falar com ele
com urgência.
— Está sim. Pode entrar, vou avisar a ele de que o senhor está aqui.
— Obrigado. — O segurança me conhecia há anos. Ele estava com
meu amigo há quase vinte anos.
— Cara, não sei. A mãe dela me disse que sentiram falta dela por
volta de dez e meia da manhã. Pelo jeito, saiu sem celular e ninguém sabe
de nada.
Fomos para a sua biblioteca luxuosa, onde ele nos serviu e depois
nos sentamos um de frente para o outro. Bebemos em um silêncio que não
combinava com meus pensamentos conflituosos. Depois de um tempo, ele
olhou para mim e disse com toda convicção.
— Caio, em vinte e quatro horas encontro sua mulher. Te dou
minha palavra. — Estendeu a mão para mim e selamos mais um
compromisso juntos.
Capítulo 18
Noite tenebrosa – Luana Dantas
“Você é minha n. 1
Eu beijei a Lua um milhão de vezes
Dancei com anjos no céu
Eu vi a neve cair durante o verão
Senti a cura de poderes superiores
Eu vi o mundo da montanha mais alta
Provei o amor da fonte mais pura
Eu vi lábios que faiscavam desejo
Senti borboletas centenas de vezes
Eu vi milagres
Eu senti a dor desaparecer
Mas ainda não vi nada
Que me impressionasse como você
Você me anima, quando estou me sentindo mau
Você me toca fundo, você me toca certo
Você faz coisas que eu nunca fiz
Você me faz mal, você me faz selvagem
Porque, querida, você é minha #1”
Meu Deus! Ele estava sem roupa e seu corpo era a coisa mais linda
que já tinha visto na vida. Seu sorriso para mim era de puro amor e eu podia
sentir toda a emoção daquele dia. Ele entrou na banheira, me entregou a
bebida e sorriu.
— Não consigo acreditar que está aqui comigo. Eu te amei por anos
sem poder viver esse amor, Luana. Você é meu início, meu meio e fim. —
Abri os olhos com o coração disparado.
Era o moço bonito, o Caio, o que dizia ser o pai do meu filho. Meu
peito começou a subir e descer depressa, chamando a atenção de uma moça
sentada do outro lado. Ela se levantou e se aproximou de mim.
— Você está se sentindo bem? Parece que viu um fantasma. —
Enchi o peito de ar e soprei devagar para me acalmar. Eu não podia falar
com ela o que estava acontecendo.
— Você nunca vai saber o que uma mãe sente ao perder seu filho.
Não se esqueça que, por quase dois anos, eu pedi a Deus para ela não estar
morta. — Virou as costas e foi em direção ao quarto, chorando. O silêncio
ficou pesado no ambiente e meu sogro tomou conta da situação.
— Continuem nessa lógica. Eu vou ficar um pouco com ela. Não se
preocupem.
— Eu sei, meu filho. Sua mãe está nervosa. Você não foi rude com
ela. — Deu um beijo na testa do meu amigo e me emocionei por estar
vivenciando aquele amor paterno há tão pouco tempo.
— São duas horas da manhã. Acho que não é uma boa hora para
andar pelos lados do centro histórico. — Meu amigo olhou para o pai com
uma expressão de espanto.
— Vocês podem ser tudo isso, mas não são de ferro. Não quero
enterrar ninguém. — Marcelo abriu a boca para reclamar, mas não deixei.
— Luana, não se apavore. Aqui está segura. Beba essa água e tente
falar com calma. — Bebi o líquido gelado e puxei o ar pelo nariz, devagar.
— Ah, meu amor, calma. Onde você está? E quem são esses meus
amigos?
— Sim. Eu acordei cedo ontem e meus pais saíram com meu filho.
Fiquei sozinha em casa com a Dináh, nossa secretária do lar, não aguentava
mais permanecer presa dentro de casa. Então, saí escondida para dar só uma
volta, mas acabei andando demais...— Parei de falar para poder acalmar
minha respiração.
Sem pensar em nada, eu olhei para ele e o beijei pela primeira vez
depois de ser encontrada. Foi o melhor primeiro beijo da minha vida.
Capítulo 21
Dois meses depois – Caio Martins
Fui tomado por uma força estranha que se espalhou por todo o meu
corpo, me dando a certeza de que, daquele dia em diante, as coisas
começariam a tomar seu rumo. Quando ela se afastou de mim, olhou em
meus olhos e disse, com voz meiga.
— Cadê sua moto? Pensei que íamos voar pela cidade. — Meu
coração pulou em meu peito ao ouvir aquilo.
— Será que nesse carro do senhor Dantas tem alguma música que
preste? — Olhei para ela, feliz, mas me mantive calado. Ela havia se
lembrado do pai novamente.
Entrei com a moto em uma trilha para a praia dos Ventos[8], pouco
conhecida pelas pessoas. Se eu tivesse sorte, não teria ninguém além de nós
dois. Como esperado, só havia o sol, a areia branca, algumas pedras, o
vento e o mar.
Mordi seus lábios, chupei sua língua com vontade e depois comecei
a lamber aquele corpo suave da minha mulher. No auge de seus gemidos,
dei um tapa em sua bunda e rugi em seu ouvido.
Chupei, beijei e lambi aquela bunda que, com certeza, era a minha
perdição. Levei a mão para a boceta dela e manipulei seu clitóris com
movimentos de vai e vem. Luana começou a se retorcer em meus braços e,
quando a senti molhada, sussurrei em seu ouvido.
— Está bem. Então vamos embora. Não estou pronta. — Caio ficou
sério e me disse de um jeito todo honrado.
— Não quero nada entre nós, Caio. Preciso sentir você por inteiro
dentro de mim. — O peito dele subia e descia depressa e seus olhos
expressavam todo o seu amor.
Caio, com toda a calma do mundo, secou meus fios longos com o
secador. Sentei-me no colo dele, enquanto ele fazia todo o serviço. Logo
após, vestimos nossas roupas. Era hora de sair do chalé para o restaurante.
Marcelo já havia ligado duas vezes para o celular do meu Federal.
Nas fileiras da frente, umas vinte freiras sorriam para mim. Apenas
as irmãs enclausuradas não compareceram ao meu casamento. Achei muito
bonita a atitude delas de aceitarem nosso convite.
Seis meses após o dia mais louco da minha vida, eu estava no altar
junto ao meu amigo irmão, esperando por nossas noivas. Gisele havia
cumprido a promessa de só se casar na igreja quando eu e Luana
estivéssemos prontos. Meu filho, vestido como eu, era a atração da igreja.
Marcelinho segurava a minha mão ao meu lado, esperando pela mãe.
Aquilo com certeza viraria meme, mas nada era mais importante do
que a minha noiva. Marcelinho conseguiu quebrar um pouco a emoção do
momento ao ver a mãe e falar alto.
— Mamãeeeeeeee... chua lindja... — Todos riram ao ouvir meu
Pequeno. Ele havia aprendido a falar do jeito dele.
— Caio, não preciso dizer para você cuidar da minha filha, a Luana
escolheu o melhor homem para ser seu marido. Eu os abençoo. Obrigado,
por não desistir dela por nenhum segundo. — Ele me abraçou apertado e
meu filho mais uma vez roubou a cena.
— O que falar para você que ainda não foi dito? Caio, talvez não
saiba, mas, durante os momentos mais difíceis que passei, no meu coração,
eu sentia você. Era como uma força que me sustentava e nunca me deixava
desistir. Meu eterno moço bonito. Um homem com coração de ouro, que
não mediu esforços para me trazer de volta. Você me conquistaria mil vezes
se preciso fosse e tenha certeza: eu te amaria em todas elas. Sou para
sempre sua, meu Federal.
Foi impossível não chorar ao ouvir aquela declaração. Foram tantas
situações difíceis, mas tudo valeu a pena. Nosso amor se fortificou ainda
mais. Eu tinha um papel no meu bolso com meus votos, mas, naquela hora,
decidi pegar o microfone e abrir meu coração.
Luana havia avisado aos fotógrafos que não queria ficar posando
para fotos. Eles teriam que a surpreender, registrando momentos aleatórios
e inesquecíveis.
Como diz a música, “seja qual for o seu problema, fale com Deus,
Ele vai ajudar você”.
Caio Martins.
— Caio, acabei de receber uma escuta dos filhos da puta que ainda
estão dominando o tráfico na comunidade. Eles planejam receber uma carga
alta em plena noite de Natal. — Virei o resto da bebida na boca, passei a
mão pelo cabelo, enquanto pensava antes de dar qualquer palpite. —
Feriados sempre são agitados para a Civil e Militar.
— Não quero que a Gisele saiba de nada. Ela está tão feliz com a
casa nova e o primeiro natal. Prefiro não comentar assuntos do trabalho
quando estou em casa.
— Porra! Nem me fala. Tem hora que tenho vontade de largar tudo
e advogar junto com minha esposa e a Mari, na firma delas.
— Penso que o Caio tem razão. Não temos muitas opções. Depois
do assassinato de nosso X9, o povo ficou com receio de ajudar.
Durante todo o tempo em que ele esteve fora, meu coração não me
deu paz. Meu Federal amava sua profissão, mas era impossível não me
preocupar sempre com o amor da minha vida.
Tentei falar com meu irmão, mas não obtive sucesso. Ainda estava
com o celular na mão quando ele tocou. O nome da mamãe surgiu na tela e
atendi depressa.
— Não, meu amor. O tio está muito feliz de ver a mamãe dele e os
sobrinhos.
— Posso saber por que a minha linda mulher está sozinha olhando
para o nada? — Dei um sorriso para ele e respirei fundo.
— Posso abrir? Não vai voar nenhum bicho em mim? — Dei uma
risada e brinquei com ele.
— Isso é sério?
[2]
Bota é a gíria dos bandidos ao falarem dos policiais. Termos como cambé também são
usados.
[3]
O Delegado Fabrizio Flauzi é o protagonista do livro Nos Braços do meu Protetor. Link
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[4]
Frase dita por Chico Xavier
[5]
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[6]
Bagulho conhecido como maconha de má qualidade. A boa é a fina, sem mistura.
[7]
Esse é um fato acontecido no Brasil no dia nove de novembro de dois mil e vinte e três.
Os três parágrafos tiveram como fonte o site G1 acessado no dia quinze de novembro desse mesmo
ano.
[8]
Nome fictício