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©2023 by May Menezes.

Edited and published by May Menezes.


@maylah_menezes
Brasil, 2023.

Todos os direitos reservados à autora.


Proibido a reprodução, distribuição, cópia, reedição e revenda sem
consenso da autora.

Beta e leitora sensível: Nina Higgins @autoraninahiggins


Capa: Nina Higgins
Diagramação: Nina Higgins
Revisão: Contexto (16) 997621140

MENEZES, Maylah. Contrato de casamento com


o bilionário. Araraquara – SP, Brasil, 2023. 1ª edição,
1. Literatura brasileira, 2. Romance, 3.
Contemporâneo, 4. Erótico
Sumário

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo
CATÁLOGO DE LIVROS LANÇADOS
Recadinho
Mais um desafio!
Até agora, esse é o maior livro que já escrevi.
Tem tudo de mim, todo o meu empenho, toda minha alma, está sendo
um grande desafio, tive que aceitar vários dos meus monstros, aprender a
amá-los, beijá-los, superá-los.
Há sempre temas sensíveis (impossível não os ter), saliento alguns como
menção à pedofilia, mãe narcisista, alienação parental.
Há superação, amor e, sobretudo, aprendizagem sobre pesadelos, eles
sempre querem dizer alguma coisa.
Kissing de monster conta a história de Ísis e Liam, dois jovens que terão que
superar muita coisa juntos, os monstros um do outro, as adversidades
externas e, acima de tudo, aprender que nem sempre somos os responsáveis
pelos nossos destinos.
#fake sibilings #irmãos-postiços #slow burn #bad boy #new adult
Prólogo

O sol brilha intensamente, enquanto completo a terceira volta no


quarteirão. — transpiro, já exausta pelo esforço —, mas determinada a
manter o programa da minha personal à risca.
Respiro fundo, controlando minha expiração olhando o reloginho
smart, apoio minhas mãos nas coxas para tentar recuperar o fôlego e esse
boné?
Em nada ameniza o clarão do sol escaldante no auge do verão.
É fim de semestre, com certeza, o mais cansativo, porém, estou feliz
por finalmente terminar o terceiro ano. A ansiedade, entretanto, ataca só de
pensar no resultado do vestibular e, como um bônus adicional, meu
aniversário de dezoito anos está chegando.
Enquanto atravesso a calçada em direção à minha casa, ajusto os
fones de ouvido que insistem em cair das minhas orelhas, sempre tenho
problemas com esses fones, mas eles me ajudam a encontrar algum ritmo
para minha corrida.
Minha trilha sonora pessoal me move ao longo das ruas arborizadas,
com casas esplendorosas e barulho de pessoas curtindo piscinas, churrascos
e... família.
Balanço a cabeça em negativa, nada de pensar nisso!
Tento voltar à corrida, cantarolando melodias que só eu posso ouvir.
Percebo os porteiros do condomínio me observando com olhares famintos,
cutucando um ao outro.
Será que dei a entender alguma coisa?
Olho se estou mesmo vestida — blusão, top por baixo, legging rosa
—, o rabo de cavalo batendo incessante no meu rosto e eu só quero passar
despercebida.
Meu telefone vibra na braçadeira, interrompendo meus pensamentos é
uma mensagem de Ricardinho, meu ex-namorado e outra de João Pedro, o
amigo insistente do enigmático Liam.
JP me convida mais uma vez para sair à noite, eu, mais uma vez,
ignoro-o.
Parece que ele sente o cheiro de quando estou solteira.
Porém, fico em um dilema inquietante, é doloroso ter Liam, o enteado
da minha mãe, mais uma vez sob o mesmo teto que eu.
Liam possui um charme perigoso, um sorriso que esconde segredos e
olhos que penetram minha alma.
Uma parte de mim sempre foi atraída por sua aura misteriosa,
enquanto outra parte se debate entre receios e desconfianças, não sei se é
sensato pensar em seus olhos tão turbulentos e verdes.
Não… eu, deliberadamente, não gosto dele… as correntes na calça
jeans rasgada, os músculos trabalhados pela escalada, bungee jump, asa dela
e tantos outros esportes perigosos, sempre evito tudo que o envolva.
Sempre foi assim e sempre será assim.
Ainda não o vi, nem deve ter passado a madrugada em casa, se João
Pedro tentou me ligar, com certeza devem ter ido a alguma balada juntos.
Não consigo parar de pensar que Liam está no último ano da sua
faculdade, ele pediu transferência por insistência de Thales, que pediu que
viesse morar conosco e aqui está ele, no seu primeiro dia em casa e já
causando, aliás, ele vai ficar no mesmo campus que almejo passar, parece
perseguição.
Prossigo caminhando, o suor escorrendo pelo meu pescoço, sinto o
aroma adocicado das flores bem cuidadas da fachada de casa, mas a
perspectiva de um encontro com Liam sempre me provoca um turbilhão de
excitação e apreensão.
Sinto meu coração como um pássaro enjaulado, as batidas
descompassadas, me questiono se estou pronta para conviver com ele que não
passa de um estranho, cujas intenções me inquietam.
Meu padrasto, Thales é pai de Liam, sempre foi categórico com
minha mãe sobre eu me aproximar do seu “filho problema” e, nas vezes que
tentei, fui rechaçada com veemência.
Lembro de quando era pequenininha e demandava atenção de Liam
para brincar comigo, porém, ele estava em luto. — a mãe cometeu suicídio
—, o que o deixou, obviamente com traumas, talvez por isso, a sua paixão
por perigo?
Meu padrasto, entretanto, sempre exigiu dele forças, boas notas,
excelentes amizades e, praticamente, ignorar o falecimento da mãe, logo, ele
nunca viu na minha mãe uma figura materna, apenas a madrasta má que
separou seus pais.
Sua verdadeira família.
Abro a porta, sentindo um cheiro delicioso de café e bolo, tiro os
tênis, desligando o Spotify e subo as escadas para meu banheiro, quando
ouço um gemido.
Entreabro os lábios, sem acreditar que ele está no quarto de hóspedes
com uma mulher… seu pai o mataria, não é a primeira vez!
Os gemidos femininos são bem altos, ouço até a cama bater na
parede, mas sou silenciosa, caminho e espio pela fresta da porta!
Não sei o que sentir, um formigamento entre minhas pernas
simplesmente acontece, meu coração e respiração aceleram como uma
corrida insana, íngreme, difícil!
O corpo de Liam ondula sobre a moça e essa, acho que eu já a vi, sim,
já a vi! É a Bárbara? Sim, é a Bárbara, sempre vi curtindo suas postagens nas
redes sociais, mas não esperava que ele já traria alguém aqui, está só há um
dia!
Um pedaço de lençol bagunçado cobre a bunda dele, que se encontra
sobre ela, as pernas da Bárbara em cima dos ombros largos e tatuados de
Liam. — as mãos dele agarradas às coxas dela.
Sinto algo estranho no meu peito… uma raiva! Não… um ódio
indescritível por Liam, eu o odeio tanto! Sempre trazendo pessoas quando
vem visitar o pai e eu nem posso fechar a porta do meu quarto quando
Ricardinho estava aqui em casa!
Não é justo.
Sem pensar muito, chuto a porta do meu quarto com toda a minha
força, correndo o mais rápido e furtivamente possível, me escondendo no
meu banheiro, ouvindo Bárbara gritar:
— Que susto da porra, eu tava quase gozando!
Liam ri alto, acho que consegui quebrar o clima, pelo menos, porque
eu os escuto planejando ir para a piscina, antes que meu padrasto e mãe
cheguem.
Na escuridão do meu quarto, oscilo entre o porquê de ter me abalado
tanto em vê-lo com outra pessoa. — já que ele sempre tinha alguém — só
deveria ter me afastado, afinal, ele estava no quarto da casa dele, sozinho com
ela.
Eu sou a intrusa!
Normal terem intimidade, porém, meus dentes estão cerrados, minhas
pálpebras muito fechadas, me impedindo de chorar de ódio! Por quê?
Liam me desperta uma audácia esquisita, um convite perigoso e
tentador nas profundezas desconhecidas da minha pior versão.
Ele é um monstro que reflete o pior de mim.
Capítulo 1

Minha mãe se deleita com um cálice de boca larga, cheia de vinho rosê,
um hábito que só se permite quando sua cabeça está inundada de frustração.
O que não é raro.
Sobre a mesa repousam petiscos, assim não precisa se preocupar com o
jantar: bruschettas no pão de alho com rúcula e tomate seco, travessas com
pão italiano recheado de carne e queijo.
— Já saiu o resultado do vestibular? — pergunta, sem sequer levantar
a cabeça para mim, quando desço as escadas.
Nego. Ela roda o líquido róseo na taça:
— Liam já parece ter se apossado da casa com aquela moça, já pedi
que ela voltasse mais tarde, aquela sem noção —, aponta com a taça em
direção à piscina, apoiando os cotovelos no mármore da ilha branca,
manchada por veios cinzentos.
Eu me sirvo de um pouco de suco de laranja, acompanhado de um
pedaço de pão italiano com presunto parma e requeijão.
— Cochilei esta tarde e nem vi. — minto, em partes.
Sim, cochilei para evitar qualquer contato com ele. Nos últimos
tempos, tenho recorrido aos remédios controlados da minha mãe, a pressão
do fim do ano beira à loucura, a traição do Ricardinho em sua viagem à
Disney, mas o perigo está em encarar Liam frente a frente, esse é o fato
insano.
Encolho os ombros, fingindo desinteresse:
— Liam falou com você?
Minha mãe bebe um longo gole de vinho, enquanto me observa. O
sabor do lanche amarga em minha boca ao pronunciar o nome de Liam,
acredito que o mesmo aconteça com ela.
Ela ajeita a alça do sutiã que desliza do meu ombro, me chamando de
“desleixada”. Passa os dedos pelo meu cabelo, arrumando-o em um coque
alto.
Eu e ela vestimos largos blusões de tricô, calças de moletom folgadas,
formando um conjunto mãe e filha, infelizmente, essa parece ser nossa única
semelhança.
— Liam não fala comigo, Ísis, mas seu pai ligou e aquele menino o
Ricardo. Deveria dar uma chance a ele, os pais são conceituados advogados,
ademais, minha filha, homens traem… — a reticência em sua voz insinua que
eu deva dizer algo?
Desprezo a necessidade de responder, voltando minha atenção para as
mastigadas do lanche em minhas mãos.
Minha mãe e eu nunca fomos próximas, assim como eu e meu pai,
infelizmente, tudo que sei é que eles se casaram porque ela engravidou de
mim. No entanto, o verdadeiro amor da vida dela sempre foi o pai de Liam.
Um amor de final de adolescência, que não pôde ser concretizar devido
às adversidades da vida. Como ela me disse uma vez, quando se
reencontraram, decidiram se casar imediatamente.
No entanto, a mãe de Liam estava doente e eu já existia como um
empecilho para um divórcio amigável.
Muitos esforços foram necessários de ambos para que ficassem juntos.
Meu padrasto e meu pai chegaram a um acordo de um divórcio amigável, a
minha pensão alimentícia não seria paga, minha guarda seria da minha mãe e
eu visitaria meu pai uma ou duas vezes ao mês.
Ele acordou sem nem olhar para trás.
Liam não teve opção. A mãe dele fez questão de mantê-lo consigo lá
nos Estados Unidos, já que era americana. Até onde sei, ela o influenciou
contra “nós”, sua “falsa família”, tornando-o extremamente agressivo durante
a infância… e agora?
Lembro que vi Liam a primeira vez quando tinha oito anos, ele treze,
chamei-o para brincar, seu comportamento destrutivo já estava lá, só
esperando uma oportunidade para aflorar e foi com o cabelo da minha Barbie
novinha que mostrou sua insatisfação, picando-o, deixando a pobre boneca
careca.
Fiquei de castigo quase um mês sem saber o porquê.
A segunda foi quando ele tinha dezesseis e eu onze, seria o aniversário
de casamento dos nossos pais, ele ficou doente, fiquei ao seu lado no hospital
enquanto diagnosticavam com uma virose sazonal e encaminhando-o a um
psicólogo, seus intensos olhos verdes me miraram longamente, até um sonoro
“saia daqui, fedelha” escapar de sua boca.
Fiquei tão assustada… nunca esqueci.
A última, eu tinha treze e ele dezoito, próximo do meu aniversário, já
era amiga de Míriam, ele estava ficando com uma moça, foi a primeira vez
que vi sexo na minha frente.
Míriam estava dormindo em casa. Liam já todo tatuado, com seus
piercings e seu corpo… maldito e irresistível.
Ele transava com uma mulher mais velha, acho que era até amiga da
minha mãe. Míriam viu e me chamou, lembro que fiquei estranha ao vê-los
nus, ela sobre ele.
Depois disso, o enteado da minha mãe não falou mais comigo, me
deixando com meus próprios demônios… soube que foi preso por pichar a
escola que estudava e era extremamente popular.
Claro que era… eu o seguia pelas redes sociais, admirando-o crescer,
cada tatuagem, cada piercing, cada pichação.
Meu celular volta a tocar, enquanto os olhos de minha mãe miram o
vazio. Retiro-o do bolso da minha calça, sentindo a felicidade de ver o nome
de Míriam, minha melhor amiga, na tela.
— ABRE O SITE AGORA! — ela grita, quase me engasgando com sua
voz estridente. Sem questionar, eu me viro e subo as escadas com a
velocidade de um guepardo, deslizando as meias no chão de madeira, quase
caindo da minha cadeira, abraço o laptop já aberto no site da faculdade.
Pressiono o botão F5 repetidamente, até que a página se atualize. E lá
está ela, a lista dos aprovados, finalmente!
— Não vou conseguir ver! — reclamo, mas Míriam não me dá tempo
para respirar.
— Olha o seu CPF, Ísis, doida! Você passou! Sua louca! — meu
coração bate violentamente, provocando uma euforia indescritível. Minha
boca seca, meus olhos se dilatam, e só consigo focar nos números do meu
CPF.
Ao constatar que passei em primeiro lugar no vestibular, não consigo
conter o choro baixo, pisco várias vezes para dissipar as lágrimas que
escorrem pelo meu rosto.
Abafando um grito, concluo ainda incrédula:
— Mí! Eu passei… — tento navegar pelo site, mas estou tremendo!
Confiro o cursor em cima do número do meu documento na lista, preciso até
checar para saber se sou eu mesma.
Um estado de torpor toma conta de mim. A sensação de missão
cumprida, a felicidade… estudei tanto e tanto, mas nunca esperava por isso…
Primeiro lugar em psicologia em uma das faculdades mais concorridas
do país.

Desço novamente as escadas, correndo, estou tão animada que já me


vejo trabalhando em um consultório chique, com pacientes contando seus
casos amorosos, eu com um óculos de aros grandes, anotando as falas e
pensando sobre o encaminhamento.
Pulo os últimos degraus e bato com tudo no peito musculoso, nu de
Liam.
— Ah, desculpa… — digo, imediatamente, sem olhá-lo, minha
confiança indo ralo abaixo.
— Passou? — pergunta, a voz séria, o timbre brando, grave, seu olhar
afina e um sorriso de canto da sua boca arqueia, iluminando o lindo rosto e o
piercing na língua de Liam.
— Aham… — os dedos dele escorrem pelo meu cabelo, colocando
uma mecha excedente atrás da orelha direita, em seguida, Liam aproxima seu
rosto do meu.
Como se me analisasse.
— Sabe que a sua mãe e Thales vão te mandar para quitinetes? —
encaro-o confusa.
— Sei e o que tem isso?
Liam abre mais o sorriso, ele está molhado pelo banho de piscina, os
cabelos pingando, seu ombro tem manchinhas esparsas de sol, o rosto
masculino emoldurado por uma barba recém-feita, sexy.
Alguns traços da tatuagem percorrem seus braços musculosos, seu
hálito mentolado por algum chiclete ou bala invade perigosamente meus
sentidos, sua mão espalma na parede, me encurralando:
— Não vai ter os mesmos luxos daqui, princesinha. — toco seu
musculoso bíceps com a ponta dos dedos, em seguida, forço-o para me dar
saída.
— Não me chama assim, Liam, que saco! — enfezo, tenho que
esquecer a beleza dele, afinal, há tantos homens bonitos ou mais que Liam,
porém, por que há esse assombro que provoca o íntimo da minha alma?
Só pode ser o ódio que sinto.
A perspicácia de Liam atravessa os espaços do ambiente, como se seus
olhos verdes, ardentes de um fogo insólito, pudessem queimar até os recantos
mais sombrios do meu ser.
— Só estou dizendo, Ísis, que serei eu o seu veterano e não vou pegar
leve com o trote, caloura. — decreta, a expressão, embora oculta sob uma
fina camada de indiferença, parece transmitir algo mais profundo, algo que
arde como brasas.
Eu me pergunto, com um misto de curiosidade e temor, se ele me odeia
tanto quanto eu suponho.
— E? — desafio-o, o sol do verão dança através das cortinas
semiabertas, banhando a sala em uma luz dourada.
Dourada como a pele dele.
Enquanto meu olhar foge das profundezas da janela, minha atenção é
capturada por uma figura conhecida que se aproxima com passos pesados.
O pai de Liam, Thales, atravessa o umbral da porta com a energia que
lhe é característica.
Thales lembra muito o filho, ombros largos, cabelos castanhos fartos e
desalinhados, o amor por esportes perigosos e um tato singular para
aventuras, porém, a personalidade de ambos não poderia ser mais distinta.
Meu padrasto é doce, atencioso e não possui a áurea quase maléfica do
filho. Thales sempre está sorrindo e com alguma palavra de conforto, agora,
ele se aproxima de mim com um buquê de flores emaranhadas em uma
profusão de cores vibrantes.
— Primeiro lugar no vestibular, Ísis? Mas que alegria! — se precipita,
me dando um beijo estalado na bochecha. — que orgulho! — enfatiza,
deixando em minhas mãos uma pequena caixa com um laço vermelho. —
abre!
Liam não olha para nós, sempre reservado e sério, espreitando nas
sombras da casa, ignorando o calor opressivo do sol, escondendo-se nas
paredes de pedra, sua pele reflete a luz suave, os olhos verdes cofundem-se
com a mais nova das plantinhas cultivadas pela minha mãe.
Os olhos de Liam parecem pensar em segredos silenciosos que
testemunharam ao longo dos anos, minha mãe desce rapidamente as escadas,
quebrando minha linha de raciocínio, dando um beijo no marido, ignorando a
presença do enteado e a minha própria.
— Flores pra mim? — diz, arrumando sua bolsa larga, acho que
planeja sair.
Thales nega, dando o buquê nas minhas mãos:
— O seu presente está escondido para o jantar, essas são de Ísis, que
passou em primeiro lugar no vestibular, nada mais justo em dar a ela flores e
isso. — aponta para a caixinha vermelha em meus dedos. — abre, vai!
Assim que abro a caixinha rubra, a chave de um carro reluz, abro a
boca em espanto:
— Sério? — ele confirma, sorrindo, pega minha mão e me conduz até
o estacionamento, onde uma BMW branca tremeluz as ondas d’água da
piscina.
— Sério. — me abraça, dando outro beijo na minha testa. — aqui, é
todo seu, vou te ensinar a dirigir.
Liam sussurra:
— Se fosse só dirigir. — não entendo a intenção do comentário súbito
dele, na verdade, nem tinha visto ele, sempre andando nas sombras.
Minha mãe o repreende:
— Que quer dizer? — Liam levanta as mãos, rindo, voltando para as
trevas, minha mãe encara Thales irritada:
— Nem discutimos sobre isso, amor, nossa, uma BMW, é mais nova
que a minha!
O clima não poderia estar pior, Thales e minha mãe iniciam uma
discussão pelo carro, o som vai diminuindo até ficar apenas rastros sonoros
distantes, minha atenção reside naquele que sussurra suas histórias infinitas
na escuridão, Liam sai de perto deles, voltando para o quarto.
Liam é uma caixa de pandora e, talvez, alguém um dia tenha o poder
de abri-la, mesmo que todos os segredos e mazelas recaiam sobre essa
pessoa, assim como a caixa mitológica, pode haver uma esperança de resgatá-
lo, afinal, é tão bonito, inteligente e...
Não, Ísis, não vá para esse caminho.
Somente a convivência no campus da faculdade irá dizer o quão durão
Liam realmente é, mas eu também vou aprender a ser!
Capítulo 2

Ingênua e gostosa.
Um combo perigoso de adjetivos para uma mesma pessoa, rio amargo
ao constatar minha certeza.
A personalidade frágil e cativante, a aura de inocência permeia seus
gestos, corpo, rosto e inteligência singular, Ísis ainda não sabe como é
perigosa, linda e sedutora.
Talvez seja a peça-chave da minha vingança, já que a mãe tenho no
papo.
Vivian e eu temos nos falado faz algum tempo, sei que ela me deseja e
vou destruir cada pedaço dela, do seu casamento, do poço de dinheiro que
Thales significa para as duas.
Destruir e vingança são o verdadeiro propósito se eu ter aceitado vir e
ter saído do exército há alguns meses, minha vida é confusa, profusa, uma
mistura nada agradável de morte, sangue, vingança e pecado.
Porém,
Ísis é uma peça desajeitada no quebra-cabeça da minha existência
medíocre. É fácil para mim, em meus momentos de amargura, culpá-la, sou
tentado a atribuir a ela a responsabilidade por todas as minhas cagadas.
Aliás, o que Thales está pensando?
Comer a enteada?
Já seriam amantes?
Eu fiquei longe tempo demais, acho que é hora de colocar meus planos
contra essa família em prática, como minha mãe pediu, antes de morrer.
Olhando agora, reconheço que Ísis está uma gata, piraria qualquer pica
e os anos só irão deixá-la mais e mais bonita. Há quanto tempo não a vejo?
Desde os seus treze anos?
Ao contrário da filha, Vivian, minha madrasta e mãe de Ísis, nunca
escondeu ser uma cadelona no cio pelo dinheiro do Thales; mas ela quer
mesmo é me mamar, só estou instigando, por enquanto.
Preciso de cautela em cada passo, é ela quem devo direcionar todo meu
ódio pela morte da minha mãe, pela perda da minha família, inflamando meu
brio a não desistir da minha justiça.
Minha sede de vingança e ira tisnam como gasolina perto de chamas
toda vez que os vejo nessa casa pretensamente felizes.
Eu me aproximo furtivamente do escritório de Thales, movido por uma
irresistível vontade de atiçá-lo. Ali, entre os porta-retratos cuidadosamente
dispostos, minha atenção é capturada por uma de Ísis.
A enteada do meu pai está bem gostosa na fotografia que pego, não me
espanta o crápula nojento do Thales ter escolhido justamente essa para
enfeitar seu escritório, uma em que ela está usando um longo vestido rosa, a
princesinha está super apetitosa.
No rosto, grandes óculos de sol violetas, realçando seu charme com a
ponta do nariz coberta de protetor solar, seu sorriso revela a alegria
eternizada nesse clique.
Na foto, Ísis está em frente à piscina, a luz do sol pintando sua pele
com tons amarelados, uma bola de qualquer cartoon sendo lançada para o
alto, imortalizando o momento de diversão e... inocência.
Enquanto meu olhar percorre os detalhes da fotografia, minha mente se
enche de imaginações que irritam meu pau, ao visualizar suas curvas, como
seu corpo se contorce ao lançar a bola, a elegância de seus movimentos.
Sempre tive o desejo perverso de saber como ela é na cama, será que
meu pai poderia me dizer?
Ísis pode ser uma promessa de prazer inexplorado, um convite para
uma noite excitante de sexo, porém, não me passa despercebido não haver
um retrato meu, muito menos da minha mãe. Só da puta de Vivian que vai
traí-lo comigo, a foto deles de casamento, disposta ao seu lado no
computador.
Finalmente Thales nota minha presença:
— Deixa a foto onde estava e me diz o que você quer. — olhos ainda
vidrados em documentos no computador, escoro perto da foto de Ísis,
devolvendo o porta-retrato no lugar.
Rio com escárnio:
— Uma BMW pra sua enteada? — ele vira os olhos para mim,
franzindo a testa.
— A menina passou em primeiro lugar numa federal no curso de
psicologia. — volta a atenção à tela do computador. — diferente de você que
foi preso quantas vezes, Liam? Três? Quatro? Ou melhor, vamos falar do seu
recente envolvimento com gangues, filho? Até aqui?
Eu pego a cadeira pelo recosto, virando-a, me sentando de pernas
abertas em frente a ele:
— Hm, mas antes flores, pra enteada? — meu pai expira, batendo os
dedos nervosamente na mesa, arrumando as costas.
— Gentileza, são as flores favoritas dela, aquelas lilases, filho, que
implicância! — grunhe, coçando a barba perfeitamente aparada. — Vivian foi
para o salão de beleza, se ela pega a gente falando sobre essa bobagem achará
estranho e...
— Thales, Thales, você acha que vai enganar mais quem? — parece
que ganho sua atenção, ele para de digitar, cruzando os dedos.
— Do que está falando, meu filho? — seus dentes rangem, seu ódio
aumenta, sei que desperto esse sentimento nele, pisco faceiro, colocando
meus cotovelos sobre a mesa impecável na organização, limpa e lustrosa.
— Você e Ísis, porra! Tá tão na cara, Vivian só finge que não vê —
cruzo os braços atrás da cabeça. — ou Ísis.
— Liam, que absurdo! — sabia, ele se entrega tão fácil, fico mais
interessado em saber o caminho da conversa, vou dar corda para esse
pervertido filha da puta.
— Já comeu?
— Você está louco, ela é como se fosse minha filha! — os olhos dele
faíscam, levantando-se, andando pelo escritório, tentando pensar em um jeito
de me tirar daqui, mas sou mais rápido.
— Ela é virgem ainda?
— O que me interessa é que ela passou em primeiro lugar. — insiste,
mas sinto o vacilo em sua voz — quis recompensar.
— Quando vai contar a Vivian que quer a novinha? — meu pai segura
meu braço, seus olhos percorrem uma cicatriz que tenho ali.
Ele aponta o dedo na minha cara, não deixo por menos, encarando-o, a
tensão aumenta, ele bufa e o meu sorriso irrita-o ainda mais.
— Está passando dos limites da minha paciência com você, Liam.
Apanho uma bala de menta, interessante, Thales só tem balas de menta
quando está fumando, minha certeza é concretizada quando visualizo um
isqueiro no beiral da janela, imediatamente viro meus olhos para ele:
— E se eu conseguir ela primeiro? — pisco novamente, meu pai
avança, sua mão para a centímetros do meu rosto e eu quero muito que ele
me esbofeteie!
— Liam, qual o seu objetivo com tudo isso, porra, destruir meu
casamento?
Inflo meu peito, meu sorriso passa para a sombra mórbida da
perspectiva concreta que sim!
Sim, eu queria foder a mulher e o casamento dele, mas o mais
interessante é que não negou nada das minhas suspeitas!
Eu iria arrancar tudo de Thales, tudo, porém, ao tirar um amor eu o
destruiria pela base e só assim meu pai sentiria um pouco… apenas o
retrogosto de todo inferno que me fez passar.
Nessa tensão, o som plácido da campainha quebra nosso confronto,
ouvimos Ísis correr pela casa, chamando por uma amiga.
Meu pai desperta o desconhecido em mim, como um rugido do mal que
ecoa em quinas sombrias da minha existência, despertando o monstro em
mim.
Capítulo 3

Deslizo as meias pelo piso de porcelanato da antessala, já esperando


sair hoje para comemorar com Míriam nossa nova etapa da vida e, de quebra,
poderia comentar sobre Liam.
— Eu atendooo! — grito ao abrir a porta, mas meu sorriso desaparece
ao ver João Pedro, um dos amigos que Liam cultivou no Brasil, ele se curva
para dar um beijo no meu rosto.
— Parabéns, gatinha… — diz, abaixo a cabeça, sem graça, olhando
para minhas meias — primeiro lugar, hein? Você é foda.
Sinto meu rosto queimar, não é vergonha, é uma impossibilidade de
dizer que não gosto que me chame de “gatinha”, me incomoda.
Sinto Liam atrás de mim, a presença dele me faz estremecer, seus
passos são sutis como o vento, estou sintonizada com a sua energia, e a
dualidade dessa sensação me inquieta.
Ouço sua voz melodiosa:
— JP, entra aí, irmão. — Liam passa por mim, sua voz ecoando como
uma música doce e proibida — entra, bora lá pra cima.
— Já tô entrando, quando a Ísis faz dezoito? Quero namorar essa
garota. — rio, tentando levar na brincadeira, as mãos pesadas de Liam
pousam nos meus ombros.
Meus pensamentos oscilam entre a atração magnética que sua figura
imponente exerce em mim e a incerteza de me permitir ceder ao desejo, me
envolvendo entre a atração e a repulsa.
— Nem sei se essa garota já beijou ou não. — Liam comenta, rindo em
seguida com JP, o que eles pensam de mim? Justo hoje que estou tão feliz,
poxa…
— Pro inferno vocês dois! — berro, me desvencilhando das mãos de
Liam, escorregando pelo caminho, subindo incerta pelas escadas, esses
moleques me irritam tanto!
Vejo a silhueta esguia subindo pelas escadas, os cabelos caindo em
cachos soltos pelas costas finas, o rosto enfiado nas mãos, preciso ignorar, me
forçando a zoar com meu amigo que exclama:
— Porra, não quis deixar ela mal, justo hoje. — dou de ombros,
tentando mostrar indiferença.
— Deixa ela… vem, entra, a Bárbara esteve mais cedo aqui em casa
e...
— Já na sua cama, provavelmente, não deixa escapar uma. — sorrio,
sem afirmar, na verdade, o que mais me faz sorrir é saber que Ísis me viu
com ela.
Sim, a pervertidinha me viu com a Bárbara, deixei a porta entreaberta
de propósito para Vivian, mas foi a filha dela que me viu, como das outras
vezes.
— Eu estava considerando pular de paraquedas antes de terminar o
recesso, conhece algum lugar por aqui? — dou um tapa no ombro do meu
amigo, que me acompanha escadas acima.
Eu passo mais devagar para ver se consigo observar por uma fresta o
quarto lilás de Ísis, vejo que está debruçada nos edredons fofos cama, os
cabelos espalhados em ondas de cor de mel pelos lençóis estampados de
cartoons.
Olho para trás e miro meu pai subindo as escadas, interessante…
minha madrasta mandou mensagem, pedindo para fazer comigo, porém,
ainda não chegou do salão de beleza e eu não dormiria em casa hoje, muito
menos sozinho, uma foda é o ansiolítico que preciso para desestressar.

Eu deveria estar mais feliz, acabei de passar no meu curso dos sonhos,
logo vou me mudar para uma república ou quitinete, viver uma vida legal e
não posso querer mais que isso, posso!?
Eu seguro um dos bichos de pelúcia da minha cama para aparar meu
choro.
Minha mãe preferiu ir ao cabeleireiro a comemorar comigo, ganhei um
carro e flores do meu padrasto, mas o filho dele me odeia e... é mútuo! É sim!
Tem que ser, meu namorado, ex, me traiu na viagem para Disney, imagina o
climão do final de semestre?
E aquele JP me chamar de “gatinha”, odeio ser a “gatinha” dele.
Não sou de ninguém!
Ouço Liam e João Pedro conversando animadamente, se aprontando
para sair e curtir as inúmeras baladas que essa cidade tem a oferecer.
Míriam mandou uma mensagem pedindo desculpas, mas que os pais e
os irmãos dela queriam sair para comemorar.
Ela chegou a me chamar, mas… não iria atrapalhá-los, eu tenho noção
do meu lugar, queria minha família, decido levantar e procurar algum
remédio da minha mãe para dormir.
Eu ando pelo corredor, passando pelo quarto de hóspedes onde Liam
bate papo com JP, furtivamente entro no quarto da minha mãe, procurando os
remédios na primeira gaveta e, assim que os encontro, a voz de Thales me
pega desprevenida.
— Tudo bem aí, Ísis? — ele está de roupão, fico imediatamente
vermelha, levando o frasco de medicamento para o bolso de trás da calça de
moletom, disfarçando com um “arrãm” não muito convincente.
— Seu pai mudou de número de novo. — ele diz, sorrindo,
caminhando até mim. — espera eu me trocar e já acho pra você, sua mãe
saiu, daqui a pouco a gente conversa, pode ser?
Afirmo, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo, extremamente
sem graça:
— Desculpa, Thales, eu vou pro meu quarto. — ele assente, assim que
saio, tranca a porta e, nesse momento, dou de cara com Liam e João Pedro,
não os olho, apenas passo por eles; JP segura meu braço, eu o encaro furiosa:
— Sai com a gente, gata. — meus olhos correm dele para Liam, que
está me encarando e, nossa, os músculos marcam a camisa social branca,
calças jeans rasgadas, mangas puxadas até os cotovelos, o cheiro marcante do
seu perfume.
— Não… acho que vou ficar em casa. — confronto, séria, João Pedro
vai dizer qualquer outra coisa, mas minha mãe vem subindo as escadas,
cabelo e unhas feitos, sacolas de roupas.
— Oi, João, oi Liam, vão ficar por aqui hoje? — não respondem.
Liam dá um murrinho amistoso no ombro do amigo, que larga meu
braço, ambos passam por ela sem dizer nada, descendo as escadas.
— Mãe, eu… — ela passa por mim, jogando algumas sacolas nos meus
braços, batendo a porta do seu quarto, chamando por Thales.
Volto para a minha cama, escondo a medicação, tirando apenas três
comprimidos, acabo não tomando, olhos estatelados no teto, nem vejo as
roupas que minha mãe trouxe para mim.
Vivian manda uma mensagem:
Nem pude falar com você direito, onde vai estar? Podemos nos ver
mais tarde.
Safada, maldita, assassina perigosa, a mãe de Ísis afeta o extremo
oposto que a filha, respondo:
Sem pressa.
O meu amigo olha para mim, eu falo baixo, intrigado:
— Reparou que Ísis e meu pai são próximos até demais? — tento dar
uma arrumada no meu cabelo com os dedos, João Pedro dá de ombros,
mirando a porta fechada.
— Ele meio que adotou a enteada, né? Tipo, você está pegando a sua
madrasta... e está meio, tipo, está se consolidando na gangue, além de, foda,
cara... — abaixa o olhar quando eu o olho de soslaio, criando uma tensão nas
suas próximas palavras — sua madrasta, parte da sua vingança?
Dou risada, para quebrar o clima tenso, calçando meus coturnos:
— Relaxa, tá tudo sob controle. — tenho a memória vívida do meu
passado, lembro como minha mãe sofreu quando meu pai nos deixou para
voltar ao Brasil para ficar com elas — até saí do exército.
João Pedro não faz ideia do que passei com a minha mãe, mas não é
obrigação dele; e, sim, exclusivamente do sádico do Thales e da puta da
Vivian.
— Vem. — chamo meu amigo — bora sair e descolar alguma foda,
hoje tô pro perigo.
Assim abro a porta da sala, meu pai desce correndo as escadas, me
chamando, tento ignorá-lo, mas Thales insiste, pegando meu ombro:
— João Pedro, Liam, leva a Ísis com vocês, acredita que — fala baixo,
pousando a mão no meu ombro —, o pai dela nem ligou? Vivian disse que
ele viajou e está incomunicável.
Sorrio incrédulo com o pedido:
— E eu com isso?
— E você com isso? — Thales retruca indignado — porra, Liam, dá
uma atenção à menina, vocês vão estudar na mesma universidade, até
porque…
— A menina ganhou uma BMW! — rio azedo, João Pedro fica como
um paspalho olhando de mim para Thales, sem reação — e o lugar que vou,
menores não entram, se é que entende.
Meu pai fala alguma coisa incompreensível, pede licença, vai até seu
escritório, volta com a carteira, abrindo-a, entregando seu cartão para mim.
Ora, ora, Ísis é tão importante assim para fazê-lo tirar o escorpião do
bolso?
O que ela tem?
A buceta de mel?
— Aqui, pega a quantia que achar necessária para os gastos de vocês e
filho, — pego o cartão, guardando no bolso de trás da minha calça — só dá
uma atenção a ela hoje, quem sabe não se dão bem? Apagando o passado.
Arrumo meu piercing do septo, João Pedro parado estava e parado
ficou, seguro o ombro de Thales:
— O que ela tem? Deveria sair com as próprias amig…
— Ah, o namoradinho dela parece que ficou com uma menina na
viagem para Disney, tadinha, ainda tem que encarar as provas finais do
colégio.
Eu deveria rir, juro que deveria rir… que imbecilidade mais imatura, o
namoradinho imbecil dela ficou com uma garota na viagem estúpida para a
Disney, mas não, não consigo rir e muito menos ficar colérico: “Um
namoradinho?” meu pai falou.
Desde quando Ísis tem idade para namorar?
— E quem deixou ela namorar? — não escolho as palavras que
simplesmente saem. — Quem é o fedelho que estava com ela?
João Pedro e meu pai se entreolham, não fazem ideia como estou puto,
minhas mãos em punho, aperto-as até sentir minhas unhas na minha palma…
Ísis namorando?
— É o Ricardinho da série dela. — meu pai justifica, João Pedro pede
para que eu inspire e expire contando de oito até zero, fazendo mímica com
as mãos, se ele não parar com essa merda, vou dar um murro em seus dentes.
Balbucio:
— Ri… Ricardinho? — como alguém com o apelido de “Ricardinho”
poderia sonhar em ter chances com a enteada do meu pai? — Que
Ricardinho?
Com certeza deve ser um desses garotos que sofreria tanto na minha
mão se voltasse à minha época de colégio, seu primeiro dia seria fedendo a
mijo, após enfiar sua cabeça numa privada usada.
No exército, no mínimo, eu o colocaria para limpar com a língua meus
coturnos, esmurraria com um soco inglês as suas bolas junto ao meu bando
— chego a imaginar a cena do porco guinchando em meio à lama, à minha
farda do exército.
— Ah, filho, já não sei. — justifica, arrumando a blusa do seu pijama.
— ele veio aqui uma ou duas…
— Espera, ele veio aqui? — coço a parte raspada do meu cabelo, puto.
— Você deixou ele vir aqui?
Meu pai olha seu celular, em seguida, cruza os braços:
— Não tô entendendo, Liam, qual o problema?
A vontade de esmurrar o tal Ricardinho aumenta quase me deixando
maluco, começo a pinçar meus jeans, tentando achar meu vape por meus
bolsos:
— Nada, porra, nada… chama ela lá.
Thales assente, abotoando o último botão da sua roupa brega de
dormir, olhando para João Pedro:
— Obrigado, JP. — tira um óculos de leitura, volta-o para outro bolso
da calça ridícula de seu pijama. — espero que pra você esteja tudo bem.
João Pedro quase se derrete, acho que esse merda é a fim do Thales, ele
amante do pai, eu da madrasta, bela dupla, nós dois, membros de gangue:
— Vai ser um prazer, seu Thales.
Meu pai sorri e chama por ela, João Pedro lança um sorriso estranho
para mim, abro os braços:
— Qual foi?
Ele sorri mais, levantando as mãos:
— Nada, Liam, nada, agora a gente tem que ir para um lugar que aceite
menores, nada dos caras por aqui, por enquanto.
— Foda-se, isso, você ouviu? Ricardinho… mano, Ri-car-dinho? —
João Pedro ri, colocando a mão na boca como se fosse mandar um beat, não o
entendo, tonto!
Expiro com vontade, querendo aparentar tédio, pego minha jaqueta
com alguns espinhos e uma arte que eu mesmo fiz na faculdade lá nos
Estados Unidos, é uma das minhas roupas favoritas e, bem, já que Ísis ainda
não dirige, nada de mais eu pegar o carro dela.
Talvez eu mesmo mande para o nosso desmanche particular, seria
interessante.
Capítulo 4

Ísis não demorou para se arrumar, vestindo uma minissaia, sandálias


com detalhes da er... Minnie, camiseta com as costas nuas, rabo de cavalo e
pouca maquiagem, descendo as escadas desconfiada.
Quando ela cresceu assim?
O vale dos seios bem-marcado, a barriguinha lisa aparecendo, braços
compridos, pernas longas e um volumoso cabelo castanho seguindo a paleta
de cor da sua pele e olhos.
— Não tem problema mesmo eu ir com vocês? — pergunta.
João Pedro parece um cachorro que caiu da mudança, a boca quase
aberta olhando a garota, dou um tapa em suas costas, olho para ela,
mostrando as chaves do seu carro.
— Bora, pô, demorou uma eternidade para se arrumar. — minto,
engolindo um nó na minha garganta, arrasto meu coturno pelo chão em
direção ao carro dela, entro, João Pedro pede que ela vá à frente.
Meu caralho!
Ísis se senta ao meu lado, ligo a BMW, abaixo o freio de mão, a pele de
sua coxa exposta, penso se é possível tocá-la, mas não! Não. Vivian é meu
foco, Ísis é o estepe para detonar Thales, meu plano está confuso ainda, mas
vou refiná-lo.
Ainda bem que o carro é automático, sorte a minha que posso manter
as mãos longe dela.
— Coloca o cinto aí, hoje a gente vai numa baladinha comemorar sua
entrada na universidade, little one.

Eu paro o carrinho de Ísis no estacionamento, pensando durante todo o


trajeto nas evidências de que essa garota teria mesmo coragem de ter Thales
como seu amante.
Tão jovem… por quanto tempo os dois trepam? Será que ela não vê
que ele é um depravado se pensa colocar as mãos nela? Thales trairia Vivian
assim?
Ainda sem paciência para essa merda, jogo a chave para o manobrista,
o lugar está lotado, mas sempre fui V.I.P nas melhores baladas e conto com
esse prestígio para não pegar fila.
Ísis chama a atenção por onde passa, mas eu… berro aos olhos das
garotas, sei que tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a minha
aparência, minhas roupas, meu físico são atraentes, assim como meu estilo de
vida despreocupado, punk e herdeirinho.
Eu gosto que pensem que sou vazio.
Mas não entendo o porquê me incomoda a maneira que olham para ela,
então, sem pensar, envolvo-a no meu braço, praticamente cobrindo-a o que
não é difícil, já que é tão pequena, delicada e frágil, que some como um
ponto na minha jaqueta.
Ela se abraça… intimidada?
Não, quando Ísis mexe na ponta dos seus cachos longos é porque está
desconfortável, ela se encolhe um pouco mais, dizendo:
— Como adivinhou que eu estava com frio? — ergo a sobrancelha,
olhando-a, não é pelo “frio” que eu te cubro, penso, mas não falo, João
Pedro encara alguns colegas mais adiante, entre eles, Bárbara.
Minha peguete se aproxima com os braços cruzados, sem nem olhar
para Ísis, enroscando seus lábios nos meus, falando alto, a música
aumentando a cada passo da entrada:
— Sua madrasta quase me enxotou! — Bárbara faz um beicinho
estranho, o batom laranja berrante em sua boca com gosto de cerveja barata.
Então já chegamos ao ponto que Vivian tem ciúmes de mim?
Interessante, abaixo os olhos para Ísis, em seguida, dispenso Bárbara:
— Vou dar um rolê, a gente se fala… — não estou a fim de me prender
a ninguém essa noite, Ísis, porém, se remexe, tentando tapar o rosto, seria o
moleque espichado? O loirinho, sem barba e com a pele oleosa, aquele seria
o Ricardinho?
Bárbara está acompanhada de algumas amigas, mas não me apresenta
nenhuma delas, também não faço muita questão. Ísis continua se remexendo
feito um cachorrinho assustado, olho o garoto e o vejo se aproximando.
Vai ser interessante.
— Por favor, vamos embora? — Ísis reclama tão baixo que mal posso
escutar diante da música estridente e das pessoas, uso isso a meu favor, quero
ver a interação dela com o namoradinho que a traiu na Disney.
João Pedro já aproveita para fazer a gente entrar pela área V.I.P, indo
falar com o segurança, parça nosso, Ricardinho chega todo cheio de si,
segurando um drink colorido com guarda-chuva, sério?
Que brega!
— Sis, tudo bem? — o moleque me olha feio. — A gente pode
conversar, Sis?
Sis? Que apelido horrível!
Ela puxa um pouco a camisa para baixo, sem olhá-lo, os olhos
imploram para sair dessa situação, seguro a mão dela:
— Então, ela tá comigo, se não se importa, Ri-car-dinho.
Ísis olha em espanto para mim e quero esse olhar… gosto desse olhar,
o garoto tenta me peitar, mas esbarro meu ombro nele, abrindo espaço.
Ricardinho tenta segurar o braço dela:
— Sis, a gente tem que conversar! — não penso muito, nunca fui muito
bom em pedir o mesmo duas vezes, esbarro nele mais forte, minha mão vai
direto no ouvido do moleque, um tapa é tudo que preciso, no mesmo
segundo, Ísis segura a minha mão.
— Não, Liam, deixa pra lá… — olha para o ex. — Não quero
conversa, Ricardinho! Depois de toda a palhaçada, me deixa em paz.
Acredito que meu olhar, a orelha vermelha e os amigos zoando a cara
dele, fazem com que saia com o rabinho entre as pernas, tiro a jaqueta:
— Coloca isso, tá quase pelada, por isso está com frio. — jogo a
jaqueta com espinhos sobre os ombros dela, bom… parece um vestido,
cobrindo-a muito bem.
A multidão sai da frente quando passo pelos seguranças da entrada
V.I.P, João Pedro nos chama para uma mesa, envolta em uma atmosfera de
luzes neon que piscam em todas as direções, o som está bem alto, pulsante da
música eletrônica, uma batida hipnótica.
— Vou pegar bebidas. — fala João Pedro, sacando seu cartão — Ísis,
você bebe, gatinha?
Ela afirma, fico em alerta, esperando o que ordenará, não consigo
esconder um sorriso quando pede batida de frutas com leite condensado, essa
porra nem é alcoólica, vou ao básico para esquentar a noite.
— Vodca pra mim. — peço, olhando-a. — Aquele maluco lá atrás —
digo, apontando com o polegar — É quem?
— O Ricardinho, nem sabia que estaria aqui. — responde e, pelo que
conheço de mulheres, pelo tom da voz, aquele imbecil é seu primeiro
namorado, o que me faz pensar se estou certo com relação a Thales.
Será que estou julgando errado?
Não pode ser.
Resolvo perguntar de uma vez:
— Primeiro namorado, Ísis? — ela vira o rosto, pegando uma mecha
de cabelo, enrolando-o no indicador, rio, não precisa nem responder.
Observo o espaço lotado, a multidão animadas e dançantes, nada que
me impressione muito, a não ser o par de belas pernas de Ísis que se mexem
em sincronia com a música, isso, sim, é um espetáculo visual hipnotizante.
A pele de Ísis reflete os efeitos de iluminação alternando tons intensos
de prata, azul, rosa e verde, como se imergisse em um mundo de fantasia
futurista.
Ela é tão branca, ainda assim, algumas marcas de biquíni.
— Vou dançar. — diz em voz alta, pelo menos vai vestida com a
minha jaqueta, já João Pedro, assim que traz as bebidas e as coloca em cima
da mesa, insinua segui-la, meto o pé na frente, fazendo “não” com o
indicador.
Meu amigo levanta as mãos, rindo, se sentando ao meu lado, enquanto
eu a sigo com os olhos e estraçalho mentalmente aqueles que a olham com
tanto tesão.
Levanto a cabeça, seguindo-a até o centro da balada, Bárbara está por
lá, dançando com algumas colegas, quando me avista, o que não é muito
difícil, começa a sensualizar com uma delas, a de cabelo pink.
Mas esse show não me excita, na verdade, transar com mais de uma
mulher é um fetiche que realizei algumas vezes ao longo dos anos.
Minha atenção fica naquela que veste a minha jaqueta com espinhos
prata-cintilantes, enquanto coquetéis são preparados por bartenders
habilidosos. Ísis, por si só, emite um brilho sedutor, dançarina nata, seu corpo
dá água na boca, parece que posso provar seu sabor tentador.
Meu celular apita, uma nude de Vivian estampa a minha tela, mostro a
João Pedro que solta um uivo, cara bizarro. Eu mando algum comentário
genérico, por mais que ela se esforçasse, não chegava aos pés da beleza da
filha.
— Será que Thales tocar em você? — digo a mim mesmo, tentando
controlar meu desejo de posse, ao mesmo tempo que relembro o que minha
mãe me fez prometer na noite que se suicidou.
Ela pediu que eu fizesse justiça por ela, revelando que a nova família
do meu pai, Vivian e Ísis só queriam o dinheiro dele, mas Ísis era apenas uma
criança, porém, se tornando uma gostosa dessas e —, considerando que meu
pai deu uma BMW e flores porque passou no vestibular —, penso se usando
ela eu consigo destruir Thales.
Arregalo os olhos com pavor, meu coração palpita rápido, as mãos da
enteada do meu pai estão para cima, ela roda, o rosto iluminado pelas luzes,
solta, exibindo todo seu charme.
Meu celular apita novamente, é Greg, passando um PIX do último
grande desmanche de carros, pedindo permissão para furtar alguns carros
populares de uma colônia de férias em que as câmeras parecem desligadas,
confirmo.
Outra é de Vivian, rolo os olhos de tédio, que mulher mais sem graça, a
sua mão abre a buceta, perguntando se está gostosa depois de ter gozado
pensando em mim, minha vontade é mandá-la a merda, porém, respondo que
me espere assim quando chegar.
Ela não pergunta da filha, não quer nem saber de Ísis, o que me faz
pensar se a garota significa alguma coisa para a mãe, minha mente trabalha
na vingança, mostro a foto a João Pedro, que dá de ombros, comentando:
— Ísis é mais gostosa. — eu me irrito com o comentário, como ele
sabe?

Capítulo 5

Só tenho, nesse momento, um objetivo: aproveitar a noite ao máximo!


A pista de dança está repleta de pessoas em movimento, cada um
seguindo seu próprio ritmo, enquanto luzes aceleram e intensificam a dança
de todo mundo.
Estranhamente não estou nem um pouco mexida por ver o Ricardinho,
não… sinto o cheiro gostoso do pós-banho de Liam na jaqueta e me acalma,
vejo-o bebendo sua vodca, olhos em mim… em mim?
Liam não pode estar me observando, certamente é alguma garota muito
mais a acrescentar ao seu estilo neo punk, a sua beleza bruta e a sua vida
sexual extremamente ativa, como, por exemplo, a Bárbara de hoje cedo.
Não eu.
Começo a pular para esquecer esses pensamentos, o DJ troca o som,
ainda miro Liam de revés, curtindo a música alta, sempre amei ouvir canções
em meus fones de animadas a melancólicas, música sempre fez parte de mim.
Um rapaz bonito, cabelo de anjinho, rosto lisinho e um sorriso
cativante, toca em meu braço protegido pela jaqueta peculiar de Liam:
— Nossa, eu não consegui tirar o olho de você, a gente pode se
conhecer melhor? — estranhamente quero que Liam me veja, mas não o
encontro, não entendo o porquê de me sentir frustrada com isso.
— Oiii. — respondo, sorrindo, querendo parecer simpática, o garoto
me oferece uma bebida, eu educadamente recuso, ainda tentando coordenar
uns passos travessos para longe dele, que vê nisso um jogo de sedução.
Ele sorri, tentando se abaixar para me beijar, suas mãos passam pela
minha nuca, acarinhando com extrema delicadeza, viro o rosto, me afastando.
Observo que Ricardinho caminha para perto de nós e pela fúria que
demonstra, vai querer encrenca.
— Larga minha namorada, rapá! — Ricardinho e seu bando de amigos
do colégio chegam, saio em defesa do garoto.
— Se não sabe, Ricardo, vou te lembrar que você me traiu, vocês estão
sabendo, né? — eu me dirijo aos amigos dele, tento falar acima do tom da
música, o garoto mostra o dedo para os colegas e meu ex, gritando:
— Trair uma gata dessas, você só poderia estar viajando! — Ricardo e
seu grupo se entreolham irritados, um deles empurra o garoto que veio falar
comigo, eu exijo que parem.
— Você não tem que querer nada, Ísis, a gente nem conversou, porra!
— Ricardo berra, segurando meu braço, o garoto tenta entrar no meio, mas é
detido pelos colegas, que vem como um trovão em cima dos amigos de
Ricardo.
Odeio brigas, olho para os lados daquela confusão, me dando conta da
muvuca que está virando, um dos brothers do Ricardinho segura a jaqueta de
Liam, passando a mão na minha barriga!
— SAI! — empurro-o com toda a força que tenho, começo a andar de
costas achando que ter vindo foi o maior erro que cometi esse ano, porém
mãos fortes pressionam meus ombros.
É Liam, que com uma destreza enorme segura o cara que passou a mão
em mim, arremessando-o para longe, caindo em cima dos colegas que se
embolam, não iria demorar para todos sermos expulsos dali.
Eu olho para Liam, desesperada:
— Eu juro que não fiz nada! — com uma calma irritante, ele me coloca
para trás de si, assumindo uma postura de lutador… Liam luta alguma arte
marcial?
Não sei, só sei que quando Ricardinho chega para peitá-lo de novo,
Liam dá um soco forte em seu rosto, eu cubro o meu, incapaz de ver.
— Já avisei que ela está comigo, seu arrombado! — Liam grita em alto
e bom som, Ricardo cambaleia para trás, agarrando o nariz, sangue escapole
por seus dedos, João Pedro vem ao nosso encontro, empurrando a gente,
caindo na briga com os rapazes.
Desesperador!
Meu Deus, eu nunca lidei com isso antes, Liam parece ter mais amigos,
que caem no murro com um dos colegas do rapaz que veio conversar comigo,
tudo virando um caos.
— Liam, vem! — seguro seu braço, quase chorando… com medo,
sinto meus músculos tensionados, pelos socos, murros, tapas, chutes dele,
zunindo no meu ouvido. — Liam, por favor, vamos! Eu… eu tô com medo!
— tento segurar a mão em punho dele, seu olhar se vira por sobre o ombro
para mim.
Olhos monstruosamente verde-esmeralda, penetrantes como um grande
predador, meu predador, seus músculos trabalhados visíveis sob a camisa,
retratam força e intensidade selvagem que ecoam em cada murro.
Cada fibra muscular revela sua harmonia com a natureza impetuosa e
bruta, Liam se aproxima do meu rosto, seus olhos cintilam como a uma pedra
preciosa, eu enregelo.
Seu porte físico imponente, combinado a essa aura irresistível de
magnetismo e mistério, é como se cada músculo de seu corpo vibrasse nesse
tumulto, nossos lábios se tocam rápido e intensamente, meus olhos nos dele,
Liam me segura, nos conduzindo para a saída.
É tão rápido que a eternidade de um piscar de olhos é o suficiente para
deixar seu gosto de vodca no meu paladar, ele está bêbado? Por isso me
beijou ou imaginei isso? Pisco algumas vezes, confusa comigo mesma.
— Tá, vamos. — Liam me chama a atenção, pegando meu punho, me
conduzindo para o fluxo de saída da balada, me envolvendo em seus braços
poderosos, me cercando do empurra-empurra. — Caralho, garota, relaxa,
você tá tremendo feito um poodle recém-nascido.
Feito o quê?
Eu tinha me esquecido das suas analogias inusitadas, rio nervosamente
ao ver os seguranças irem até o local da briga, o DJ pedindo “calma”, pessoas
correndo, gritando, outros jogando bebida, começando mais embates, mais
caos.
Caos e Liam é justamente a definição e epicentro dele.
João Pedro está na parte da frente da balada, segurando a garrafa de
vodca, rindo, dando tapinhas na minha cabeça e nas costas de Liam:
— Cara, aquilo foi demais! — acredito que ele uiva ou algo assim. —
UHUL! Eu precisava dar uns cascudos em alguém e você já meteu um jab na
fuça daquele Ricardinho, hein?
Olho para Liam, que está sorrindo, ainda abraçado a mim:
— Fazer o que se ele tava dando mole? — passa os dedos pelos
cabelos, achei que ele tinha ido para me defender, não porque só queria se
exercitar, me desvencilho dele, abraçando a mim mesma, ele olha para mim,
erguendo uma sobrancelha. — Vai pro carro que a gente vai pra outro lugar.
Alguns garotos passam por nós, a trilha sonora pulsante da balada
ecoando ao fundo, minhas emoções confusas, me afasto mais rápido:
— A gente não vai para lugar nenhum, eu quero ir pra casa! — me viro
para eles, a balada parece continuar suas luzes e animação — mas eu não, me
sinto estranha, um nó frio no meu estômago —, eu estou extremamente
perdida, nunca tinha me metido em uma briga:
— Chama a Bárbara pra ir com vocês, acho que ela vai adorar o seu
convite!
O que deu em mim? Por que eu disse isso?
João Pedro arreganha os dentes emitindo um som baixo de “vixi”,
enquanto balança a mão, viro em direção ao carro, as luzes remanescentes
clareando pouco meu caminho iluminado pela lua.
Sinto que quero chorar, por quê?
Eu acho que estou com um pouco de ciúmes de Liam, não… não estou
é apenas indignação, certo? Sim, claro! Ele é um imbecil por esmurrar o
Ricardo e ter me… coloco os dedos nos meus lábios, ele tinha mesmo me
dado um beijo?
— É, acho que devo chamar ela mesmo! — Liam diz, correndo até
mim, ignoro-o, chutando algumas pedrinhas do estacionamento, tiro o casaco
dele e o jogo em sua direção.
— Vândalo! — berro, procurando meu celular. — enquanto ele ri,
pagando o manobrista, droga! Lembro que não trouxe meu telefone, me viro
para João Pedro, estendendo a mão:
— João, me empresta seu celular, quero pedir um UBER, te faço um
PIX assim que…
Liam coloca sua jaqueta prepotente, rodando a chave do carro no
indicador, mostrando para mim:
— Não! Eu decido quando o rolê acaba, Ísis, seu papaizinho pediu para
que a gente te levasse, chaveirinho, e é exatamente isso que vamos fazer,
vamos nos divertir!
Aquela escuridão opressora, meu olhar encontra o de Liam, e num
gesto apressado, faço menção de correr pela rua.
Seus movimentos, entretanto, são bem mais ágeis e vejo uma faísca de
desafio se acender em seus olhos.
— Não precisa correr de mim, Ísis — me segura pelo braço —, vamos
só comer primeiro? Eu tô faminto!
Eu me enfio na parte de trás do meu carro, João Pedro comenta alguns
detalhes da briga com Liam, que sai do lugar cantando pneu, vejo casais se
pegando e volto a pensar se ele realmente me beijou.
Seria um sonho, um doce sonho.
Eu me perco na música heavy metal que Liam conectou ao carro, o
grupo de amigos de Ricardinho se dispersa ao longe quando a polícia chega,
a maioria está se divertindo, outros compartilhando cigarros eletrônicos.
O suor escorre pelo meu rosto, cada batida dessa música agressiva
parecia se fundir com meu próprio ritmo interno, incitando uma euforia
crescente.
As luzes da cidade estão vivas, as pessoas aproveitam a noite, a música
e as bebidas se fundem em nuvens de restaurantes, poluição e estímulos
sensoriais e só penso nos lábios dele, nos meus.
Meus parças assumiram a situação para que eu pudesse sair numa boa,
alguns dos seguranças eram de gangues parceiras, então, está tudo suave.
A noite se estende pelo horizonte iluminado artificialmente, piso no
acelerador, mantenho a direção na velocidade permitida, o que é novidade,
mas o que estranho e não entendo é o que deu em mim?
Eu realmente a beijei.
Eu quis provar seu sabor, fiquei insano ao vê-la tão sensual, dançando,
atraindo todos aqueles olhares, principalmente os meus, não consegui ficar
em paz e tive que sondá-la.
Até que vi aquele babaca… pelo rápido toque da minha boca na dela,
percebi seu espanto, mas não é maior que o meu! E meu desespero ao ouvi-la
dizer estar com medo, tão frágil, vulnerável e sozinha.
O que Vivian fazia pela filha? Comprava roupas e a trancafiava em um
quarto com lilás?
Se ela estiver dando para o meu pai, será uma enorme decepção,
porque poderia pensar em poupá-la da minha vingança.
Preciso ter certeza, contudo, para quebrar o clima errado, pergunto:
— Thales sempre te dá presentes?
Ísis está pálida como um papel, a sombra contornando seus olhos
castanho claros, a maquiagem leve vibrando em sua pele fresca, macia,
suculenta, eu poderia comê-la aqui e agora.
— Não. — responde, levantando os ombros, se encolhendo. — Eu
ganho uma mesada, aliás, Liam, você me deve uma Barbie. — ela me olha
séria, levanto uma sobrancelha, não acredito que esteja se referindo à boneca
que estraguei.
— É... não, aquela boneca definitivamente merecia um corte adequado,
estilo ao meu de uns atrás. — dou seta, entrando em um Mac Donald’s.
João Pedro puxa assunto com ela:
— Ísis, quanto tempo você namorou o Ricardinho? — entro no drive
thru, fico de ouvidos em pé:
— Não muito… — ela suspira, aparentando uma chateação genuína.
— Acho que Míriam estava certa — fica reta, abaixando a janela do carro
para fazer o pedido, pelo que me lembro, Míriam é uma amiga próxima dela
ou algo do tipo —, ele só quis ficar comigo porque eu era b.v.
Eu a miro pelo retrovisor, b.v? Ela era boca virgem aos dezessete anos,
nunca beijou uma boca antes dele!? Rio envaidecido, sou o segundo beijo
dela? Aquele imbecil o primeiro, então, espera!
Se Ísis beijou o nojento do Ricardo pela primeira vez, obviamente ela é
virgem por inteira.
Certo?
Então, sorrio mais maliciosamente, eu sou a primeira boa experiência
dessa linda garota com beijos? Penso imediatamente em seu aniversário de
dezoito anos dali pouco tempo e, subitamente, meu coração acelera, até que
João Pedro me cutuca dolorosamente, ralho:
— Qual foi? — ranjo os dentes, JP aponta para a atendente me
esperando fazer o pedido, volto meu olhar para o espelho do retrovisor.
Ísis toma um milkshake de baunilha, o canto da sua boca com o leite
saborizado com a essência e açúcar, que lábios lindos, róseos, num formato
de coração, sugando com vontade o líquido branco no canudo, meu pau lateja
de forma desconfortável, o que diabos está acontecendo comigo?
De repente, quero abraçá-la, protegê-la de tudo e de todos, cairia na
porrada mil vezes com qualquer um que ousasse fazê-la triste, sim, quero vê-
la sorrindo, sempre, o sorriso dela é tão lindo e...
— Ow, Liam, a garçonete está esperando, cacete! — João Pedro bufa,
limpo a garganta, reparo que Ísis tem o olhar distraído, recolhida com seu
milkshake, estaria triste? Decepcionada com meu jeito “vândalo”?
Não tenho nada além de dor a oferecer, o que foi esse pensamento?
— Caraaaa! — João Pedro me dá uma cotovelada — Mano, fala aí o
que você quer, tá maluco? — olho para a atendente que já está perdendo a
paciência, me aproximo do bocal.
— Um combo de Big Mac e... o que quer JP? — ele mostra seu pedido
em mãos, rolando os olhos, caralho, onde eu estava com a cabeça?
Pego meu cartão, não usaria nada de Thales, efetuo o pagamento e
espero meu pedido que chega quase imediatamente, ficamos por ali mesmo,
no estacionamento.

— Eu precisava muito comer! — João Pedro exclama, quebrando o


silêncio.
Ísis abre seu queijo quente, eu nem sabia que vendiam esse lanche no
Brasil, desembalo o meu, mas a minha fome é por ela.
— Liam, eu tava pensando, cara, vamos de paraquedas ou parapente
antes das aulas? — penso, pela primeira vez, em recusar, eu queria ficar mais
perto dela, não, tenho que pensar em foder Vivian, ganhar a confiança da mãe
de Ísis, de quebra, seria proveitoso escolher a minha quitinete o mais perto
possível de Ísis.
De repente, não mais que de repente, minha memória me trai, me
forçando a lembrar daquela época.

O tempo parece escorregar entre meus dedos, lembro como hoje


quando cheguei em casa, Thales cumpriu a sua promessa de uma rápida
separação e minha mãe chorava em cima do computador, olhando as fotos do
casamento dele com Vivian, o grande amor da sua vida.
Durante semanas minha mãe se trancou no quarto, desesperada,
berrando e praguejando a vida, principalmente ao saber que seu ex-marido
assumiu a filha de Vivian como sua própria, então ela me disse:
— Liam, seu pai nos deixou por uma puta e ele não vai voltar mais. —
na ocasião das palavras duras, queimava as panquecas, porém as comia
mesmo assim para não a deixar mais triste, eu me culpava por ele a ter
deixado. — Não pense que teu pai te ama, já que fez questão de se casar e
nem te chamou.
Ela se abaixou na altura dos meus olhos, lembro do perfume
extremamente forte de rosas junto a fumaça de cigarro e, não raro, bêbada, o
cheiro alcoólico e produtos de limpeza eram nauseantes, ela secava minhas
lágrimas com papel higiênico:
— Ele adotou a filha da piranha, a mini piranha, que com certeza vai
satisfazer seu pai na cama mais cedo ou mais tarde.
Eu não entendi essas palavras naquele dia, mas nos outros, minha mãe
ficou mais estranha, hoje sei que era depressão, tristeza, ruína, meu pai
chegou a me ligar algumas vezes, eu o atendia na casa dos meus avós, ela
recusava todas as suas tentativas de contato.
Porém, ele foi me ver tão poucas vezes e quando me trazia ao Brasil eu
o odiava por vê-lo com minha madrasta e a filha tão felizes.
Vivian já dava em cima de mim na época, caralho, eu era uma criança!
Lembro que eu estraguei a boneca de Ísis de tão frustrado com as
investidas da pedófila da mãe dela, depois eu estava tão perturbado no
aniversário de casamento de Thales e Vivian, que passei mal e tive que ficar
no pronto-socorro, depois que minha madrasta fez um boquete em mim.
Ísis ficou comigo, ao lado do meu leito, eu queria que ficasse, desejava
fazer amizade, estreitar meus laços, mas não esperava sentir isso que sinto
agora.
Eu a expulsei para seu próprio bem, quando minha mãe falou de
vingança, eu já tinha sido preso por pichação, sexo em público, furto de
bebida alcoólica, direção perigosa, resistência à prisão, envolvimento com
gangues, que eu ainda possuo e expando, grandes amigos, mais uma família
que uns putos foras da porra da lei.
Eu fodia para esquecer minha mente fodida, um paradoxo que nem eu
mesmo consegui entender na época.
Viciado em adrenalina, comecei a praticar esportes cada vez mais
perigosos, nunca parei, contudo, o mais perigoso era viver com minha mãe,
cada vez mais obcecada por Thales.
Ela vivia drogada, ao ponto do instituto de proteção à criança e
adolescente de Massachussets tirar minha guarda dela, me deixando com
meus avós maternos.
Isso acabou de destruir sua sanidade!
Quando ela se suicidou, foi perto do meu aniversário, em uma visita
minha clandestina à sua casa, ela me disse:
— Darei ao seu pai a maior prova do meu amor… — abracei seu corpo
esquálido, muito tenso e doente, ela me deu um beijo na bochecha, me
chamando de pequeno Thales, em seguida, me fez prometer:
— Prometa que vai se vingar por mim.
Perguntei “como”, ela sorriu de modo debochado como se eu
perguntasse algo trivial, bobo:
— Quando voltar ao Brasil, se vingue daquela gente por mim, faça
aquelas duas vadias pagarem! Com sangue viemos a esse mundo, Liam, e
com sangue partimos dele.
Eu me assustei quando ela pegou uma arma de uma caixa de
ferramentas enferrujado, debaixo do sofá novo, branco, ornando com a
mobília cara e limpa.
Quando apontou para sua têmpora, tentei impedi-la de não fazer aquilo,
mas foi em vão.
Ela atirou em si, me debrucei sobre seu corpo, chacoalhando-o, minha
mãe ainda estava quente, poderia ser reversível.
Lembro que seu vestido ficou empapado, o rombo na sua cabeça,
grossos borrifos pulsantes vermelhos em mim e por todo lado, manchando
tudo de carmim, tocava uma música clássica, os vizinhos chamaram a polícia,
a cena era macabra.
Daria tudo para ser só um pesadelo.
Imaginei a dor dilacerante que minha mãe sofreu, mal consigo me
lembrar, quando os policiais me arrastaram do seu calor, tudo é um borrão,
mas ecoa, como a música até hoje em minha mente, um eco sombrio que
ressoa nas profundezas da minha alma.
Parece que, desde então, sempre estou caminhando no limiar entre o
mundo dos vivos e o dos mortos, me redimi no exército, me envolvendo mais
com o Brasil, gangues, amizades e, claro, tentar me aproximar mais de
Vivian.
Minha mãe estava certa, nossa promessa foi selada com sangue, a
vingança se tornou meu propósito, minha razão de existir e de viver, quem
sabe, assim que honrar o que me pediu, possa me juntar a ela.
Em paz.
Mas, ao mesmo tempo, como pude saber que Ísis surgiria como uma
chama alumiando a escuridão? Seu sorriso é abrasador, sua presença
angelical desperta em mim uma batalha, eu me sinto à beira de um abismo.
Ao mesmo tempo, como posso trair minha mãe?
Ela atirou em si na minha frente, ainda ouço o estampido da bala,
Deus! Eu tinha dezesseis anos.
Por muito tempo planejei minha vinda ao Brasil, agora, quase
terminando minha faculdade, Thales finalmente decidiu que eu deveria
retornar definitivamente esse ano.
Aqui, nessas terras tropicais e quentes, eu tenho que honrar a memória
da mulher, que foi morta indiretamente por Thales e Vivian, eles são
assassinos, nada menos, mas ela será minha puta, vou destruir o casamento
deles!
Ísis tem que ser apenas uma peça do meu jogo… certo? É o momento
de arquitetar a justiça pela minha mãe.
Ísis, entretanto, é uma realidade e está no meu caminho, essa noite, eu a
beijei e quero beijá-la de novo e de novo…
Durantes todos esses anos eu estive tão certo arquitetando meu intuito
que não esperava o estranho sentimento por ela.
Não posso ceder, se Ísis não está transando com Thales, ele só pode ser
como a esposa, um pedófilo a fim da enteada, e posso usá-la como isca para
atraí-lo ao mais profundo inferno.
Não posso deixar que o sangue derramado pela mulher que me deu a
vida, seja apenas um borrão na mobília.
A força que exerço na minha mandíbula é tanta, que acabo cortando o
interior da minha bochecha, paro de mastigar, apreciando o silêncio, gosto do
som de nada.
Eu a vejo me observando pelo retrovisor, quando ela percebe que eu a
vejo, vira o rosto… não escondo o sorriso de satisfação, se eu a conquistar e
tomá-la de Thales, posso usá-la para chantageá-lo, mas…
Não, sem “mas”, Thales e Vivian não me deram alternativa e, de
qualquer maneira, eu não mereço ser feliz, já que minha mãe também não foi.
Termino minhas fritas olhando para João Pedro:
— Vou amanhã para os lençóis Maranhenses praticar windsurfe, não
volto até começarem as aulas.
Quero ver seu olhar de decepção, mas meu telefone toca, é a Bárbara.

Ísis parece morta de sono quando chegamos, ela se despede


rapidamente, sem se importar o que faria com seu carro, indo para o quarto
imediatamente.
João Pedro nem consegue se despedir, ainda no carro, dá um aperto em
minha mão, perguntado:
— Vai mesmo para os lençóis maranhenses? — afirmo, deixando a
BMW de Ísis na garagem.
— Só preciso dar uns amassos em Vivian, enquanto penso no que
fazer. — meu amigo me olha confuso, rindo.
— Faz parte da vingança comer a mãe dela? — aponta com a cabeça
para o quarto.
Eu não tinha entrado em detalhes sobre o que tinha acontecido com a
minha mãe, só disse que precisava fazer justiça, e somando dois mais dois JP
concluiu que Vivian fazia parte do meu plano.
— Tipo isso, cara, preciso ir, a gente se fala, cuida dos moleques por
mim. — João Pedro sai do carro, o tempo está quente, a piscina convidativa,
jogo a chave do meu carro para ele.
JP assente com a cabeça:
— Se cuida, Liam, eu cuido dos parças, só... refresca ambas as cabeças.
— sorrio, procurando as chaves de casa.
— De olho no Ricardinho e aquele outro imbecil que chegou perto da
Ísis. — João Pedro sorri convencido, corto a porra de suas asas. — João, não
ria, ela não é pro seu bico, seu porra.
Ele dá de ombros, arrancando com minha picape, respiro fundo ao ver
Vivian através do vidro da sala, a vadia está com uma lingerie bege, um
cardigan branco, bebendo vinho, cabelos soltos, rebolando perto da bancada
da cozinha.
Entro.
— Achei que não viesse mais hoje. — ela me recebe, tentando me dar
um beijo, desvio, Vivian me olha inquieta. — A gente pode dar uma
rapidinha na sauna ou...
— Vem, vamos num motel, melhor. — sugiro, já sentindo minhas
entranhas revirarem, odeio essa mulher.
Eu preferiria transar com um bicho em decomposição, mas é pela
minha vingança, só preciso ver os melhores ângulos do meu celular para
filmar o ato mais bizarro de toda a minha vida.
Fui com o carro de Ísis, voltamos perto das seis da manhã, assim que as
mãos nojentas dela passam a última vez pelo meu rosto, preciso ir ao meu
banheiro vomitar.
Vivian me dá nojo, mulher repugnante, desprezível, desgraçada, puta,
piranha, vadia! Não sei como consegui manter uma ereção, acredito que
tenham sido os tapas na cara dela, não consegui beijá-la, meu gozo foi
mecânico, frio, contudo, o que mais me chocou foi a pergunta.
“Sou mais bonita que Ísis?”, a resposta é obviamente não, em nenhum
sentido, na verdade, não sei como ela é mãe de uma pessoa como Ísis.
Respondi de modo evasivo com um “o que você acha, piranha?”,
parecendo satisfeita com a resposta, ela me confessou que gostava de transar
com todo tipo de homem que não fosse meu pai, mas que eu era o seu troféu,
desde os meus treze anos, eu era uma criança!
Agora, sou pior que um puto que acha o pau num lixão, vomito de
novo, preciso tomar um banho, jogo meu coturno, olho a minha tatuagem na
costela, puxo meu cabelo, quase berrando enquanto lanço minhas costas no
azulejo frio.
Eu me odeio, o calor do ódio ferve a água fria que cai em minha
cabeça, me lavando do cheiro daquela mulher, por precaução, mandei a
filmagem para João Pedro e upei no meio e-mail.
Fico com os olhos abertos na água fria, como uma maldição
fantasmagórica, os cacarejos de Vivian como se meu ouvido fosse a porra de
um penico, sua pele macilenta, seus olhos vítreos, escorrego do boxe até a
privada, vomitando mais.
Calma, Liam, só mais algumas provas e mandaria para Thales,
provando a grandessíssima piranha filha de uma puta que a esposa dele é, já
que não acreditaria em mim de qualquer maneira.
— Desculpa, mãe. — sussurro, tomando outra ducha, escovando mais
de uma vez meus dentes, a náusea em mim só de lembrar que ela me tocou, o
arranhar de suas garras escarlates, o gorgolejo do seu hálito, a buceta
ordenhando a minha rola, que asco, que aversão!
Sigo para meu computador comprando a passagem para os lençóis
Maranhenses dali a poucas horas, faço minha mala, antes, entro no quarto de
Ísis, que dorme profundamente envolta com um edredom lilás.
— Parece um anjo. — murmuro, ajoelhando em seu leito.
Ísis está abraçada a um urso de pelúcia, o abajur em formato de estrela
aceso, a pele sedosa que ouso macular tocando com as costas da minha mão,
chego perto, ansiando ouvir a respiração doce e calma, ela se vira. — por um
momento tenho medo de que acorde e me pegue no flagra.
— O que os anjos sonham? — sorrio, verificando que joga uma das
pernas para fora da cama, um frasco cai no chão, pego-o e me assombro ao
constatar que é um remédio controlado para dormir, por que raios ela
precisaria de um desses?
O que houve com essa menina? Vivian é tão péssima mãe quanto
amante ou esposa? Olho o rótulo à beira da parca luz do abajur incrédulo,
constato que é sim um remédio forte de receita controlada, elevo a
sobrancelha, pensando outras maneiras de fazê-la dormir sem precisar dessa
merda.
Não ouso beijá-la, não depois de ter usado a minha boca na mãe
vagabunda dela, mas colo meus lábios no dorso de sua mão.
Eu parto, deixando a posta entrecortada.

Capítulo 6
Liam viajou para o Maranhão, eu o vejo no Instagram em cima de uma
prancha de surfe com uma vela de uns três metros, óculos escuros, tatuado,
cabelo moicano, um corpo sussurrando pecado em cada músculo tensionado
ao praticar o esporte.
Míriam tromba em mim, bloqueio a tela do celular instantaneamente.
— Mi, o que foi? — ela ri, segurando minhas apostilas e as colocando
na minha bolsa.
— Falei com a minha mãe da gente ver uma quitinete juntas, tipo —
balança os fartos cabelos, empurrando as minhas costas —, se você quiser,
claro! Ela já até tomou a liberdade de separar alguns apartamentos, Izzy, tipo,
vai ser tudebom!
Minha amiga vira meu rosto quando Ricardo passa por nós, a cara dele
ainda bastante inchada, nariz enfaixado, ele abaixa a cabeça quando o encaro,
quase correndo com os poucos colegas que sobraram.
— A gente precisa organizar o cronograma de estudos, eu já vi as
matérias que vou ter no site, além disso, seria importante ver se… — minha
amiga quase me derruba no chão ao me fazer parar abruptamente.
— Pega leve, Ísis! Vão ter festas, os garotos e mais festas, vai ser um
ano de muitas decisões. — sorri de maneira amistosa, me dando um abraço,
caminhando ao meu lado para a próxima aula —, você já passou em primeiro
lugar, quer ter um pouco o luxo de se divertir?
Eu tento, mastenho a impressão de que Liam, assim que voltar, vai
fazer uma entrada triunfal, isso não me sai da cabeça e se ele começar a pegar
no meu pé?
Nem o vi mais, quer dizer, depois daquela noite que eu acho que ele
me deu um beijo, simplesmente sumiu, só não entendo o porquê do
persistente mal humor da minha mãe em ainda perguntar sobre ele,
principiante o espanto dela ao dizer que ele poderia estar com alguém.
Como se isso me importasse.
Talvez eu devesse falar com João Pedro, só por desencargo dela. A
ideia não pode soar mais estúpida, entretanto.
Caminho já saudosa por esses corredores que me abrigaram por grande
parte da minha vida, já me sentindo nostálgica, sei que uma nova etapa está
prestes a começar.
Os rostos conhecidos dos meus colegas parecem diferentes, agora mais
maduros, distantes e frios.
Enquanto eles se preparam para os exames finais, eu me via imersa na
faculdade e não tem como negar que Liam ocupa maior parte dos meus
pensamentos.
— Ísis, por aqui! Aula de educação física, agora! — Míriam me chama
e aquece meu coração, ela sempre foi minha melhor amiga desde a infância, e
compartilhávamos sonhos e ambições em comum.
Durante toda a nossa trajetória escolar, nutrimos a esperança de que
poderíamos ingressar juntas na universidade. Agora, enquanto nos
preparamos para deixar esses corredores, tento dissipar minha inquietação e
focar em me despedir dos professores.
O possível beijo que Liam roubou, paira em minha mente, comento
distraída:
— Tomara que não seja vôlei. — busco disfarçar meus pensamentos
mais profundos. Minha amiga concorda, embora sinta o entusiasmo em sua
voz.
Ela não compartilha meu sentimento de incerteza em relação ao futuro.
Enquanto seguimos em direção à quadra de Educação Física, o ambiente se
enche de alunos, a tensão se mistura ao ar de despedida à medida que nos
aproximamos dos últimos momentos juntos como estudantes do ensino
médio.
Eu respiro fundo essa quadra, decidida a aproveitar ao máximo o
tempo que ainda me resta aqui.
Ouço na entrada da quadra, algumas meninas comentando: “Ah, é ela a
ex-namorada do Ricardinho?”, “Foi ela quem estava com aquele gato na
balada da Faria Lima?”, “É essa a menina que causou a confusão toda?”.
Não era vôlei; e sim, fofoca.
— Professor, a Sis não vai ver aula hoje. — olho para trás e me deparo
com Ricardinho junto de uns três garotos, braços cruzados, perto do portão da
quadra.
O professor Gerson me parabeniza rapidamente pelo primeiro lugar no
vestibular e assente à demanda do meu ex-namorado, tocando meu braço:
— Melhor vir comigo, Ísis.
Míriam segura minhas coisas:
— Izzy, me chama se precisar. — ela se dirige a ele. — A gente
almoça juntas, nem pense em qualquer maldade.
Afirmo, olhando para Ricardo:
— Ok, vamos perto da piscina acabar logo com isso?
Ele coça o rosto, perto do nariz, chega a me dar agonia, abaixo a
cabeça acompanhando-o, fosse o que fosse, quero terminar logo com tudo
isso.

Acompanho Ricardinho, ele está calado, apenas abrindo com um baque


surdo os portões, quando chegamos à área da piscina, sou recebida pela brisa
suave e o cheiro característico de cloro e água aquecida perto dos banheiros.
Ao dar os primeiros passos, meu olhar é instantaneamente atraído para
a água, Ricardo se vira para mim, suspirando:
— Quero voltar.
Dou um passo para trás, desconfiada, porém, fico mais tranquila
quando vejo algumas crianças na piscina infantil com professores e salva-
vidas.
— Sabe como eu fiquei sabendo que estava me traindo? — pergunto,
amarga, cruzando meus braços. — Pelos storys do Instagram da Juliana!
Ricardo me encara, ele é magro, loiro, alto, menos alto que Liam e por
que raios estou pensando nele? Que droga! Ricardo diminui a distância entre
nós, tentando colocar a mão em mim.
— Também, Sis, você nunca saiu, nunca esteve disponível para o
nosso relacionamento, sempre tão focada em estudar, estudar e passar na
merda dessa faculdade. — passo por ele, que toca na minha mão, recuo, ele
bufa. —, pelo menos a Juliana deu pra mim.
Eu fico um pouco chocada, sinto a vergonha queimar minhas
bochechas, não sei ao certo se gostei da informação que ele teve relações com
a Ju, minha colega desde sempre, não somos próximas, mas… o jeito vulgar
que disse me faz pensar se ela tem a mesma opinião.
— Você só queria sexo, então?
— Não. — ri ainda meio fanho. —, queria você comigo, porra, Ísis, eu
sou homem, claro que me via transando com você e queria que essa viagem
pra Disney fosse a sua primeira vez!
— Você queria. — arrasto a vogal, cruzando os braços. — Não
perguntou se eu estava ou não pronta!
— E está pronta para o Liam? — franzo a testa com o comentário que
só pode ser de cunho jocoso, levanto os ombros, falando quase
imediatamente.
— O quê? Liam é filho do meu padrasto!
— E daí? Ele fez isso comigo. — aponta para o nariz. — Tem sorte do
meu pai não processar vocês! — ameaça, dou passadas largas ao lado oposto,
pensando num futuro processo —, e ainda você ficou do lado dele!
— Ele só estava querendo me proteger. — digo sem muita certeza, vou
até o banco, sentando, cansada de discutir — você parecia um cão de caça,
Ricardo.
— Você ia ficar com aquele garoto na balada. — não o respondo,
deslizo meu olhar para meu celular, paro de respirar ao ler a mensagem da
minha mãe pedindo para eu ser agradável com Liam, porque ele estaria vindo
me buscar. — Desculpa, Sis, eu quero voltar.
— Não, Ricardo, você ficou com a Ju na frente da escola inteira,
depois que o colégio adotou a viagem à Disney uma vez por semestre, ficou
claro que você só estava esperando uma oportunidade de…
— Queria sexo, Sis, sexo, mas pensei em você o tempo todo! — me
controlo, estou tão ansiosa para ver Liam que posso até deixar meu material
no meio do caminho, levanto do banco, seguindo para o portão.
Ricardo se põe à minha frente:
— Fica comigo.
— Só isso que te interessa, né?
— É que fui seu primeiro beijo, achei que… — arrumo meu cabelo,
puxando-o para frente, andando mais rápido.
— Como você é escroto, garoto!
— Então, e se eu me comportar, a gente volta. — insiste, avisto Míriam
se alongar no final da aula. — Em quanto tempo você acha que vai estar
pronta?
— Pra você nunca mais! — decreto, dando uma corrida até a minha
amiga, pegando minha mochila, me despedindo, enfim, do ensino médio.

Corro para fora da escola, tentando avistar Liam e não é difícil vê-lo,
está mais moreno, cabelo ao vento, óculos de sol, braços cruzados frente a
sua pick-up, assim que me vê, dá um impulso com o pé na lataria,
caminhando até mim.
— Thales e sua mãe pediram para que eu te levasse na imobiliária para
ver a sua quitinete. — curva os lábios num sorriso torto. — Tudo bem?
— Você sumiu… — reclamo, segurando meu material, ele sorri para
mim.
— Se disser que sentiu minha falta, vou ter que te levar no pronto-
socorro ao invés da imobiliária. — abaixo a cabeça, olhando rapidamente
para trás, era um adeus, eu não iria para a festa de formatura do terceirão,
Liam joga seu braço sobre meus ombros.
— Como foi no Maranhão? — pergunto, querendo saber se ficou com
alguém, ele não responde, apenas abre a porta para mim, aproveito para
mandar uma mensagem para Míriam, contando que irei almoçar com Liam.
— Você tá trabalhando por aqui? — pergunto, após colocar o cinto,
lendo alguns grupos no WhatsApp, Liam olha para mim, tirando os ósculos
escuros, jogando-os no painel.
— Claro, trabalho desde novo. — esterça para a direita, depois para a
esquerda, parando no semáforo. — O que vai querer almoçar?
Dou de ombros, Ricardo manda uma mensagem, avisando que gostaria
de se encontrar para um adeus, mas eu o bloqueio.
— Tem um restaurante perto da pracinha que tem um bufê bem
variado. — comento, vejo que seus olhos estão no meu celular, esclareço. —
Acabo de bloquear o Ricardo.
Liam volta sua atenção ao trânsito sem responder, reparo que seus
olhos estão ainda mais verdes, a impressão que tenho é que a cor de suas íris
são como folhagem praiana.
— E a Bárbara? — insinuo, tentando parecer despretensiosa. — Ela foi
com você e o João Pedro?
Liam cruza o caminho de dois carros que buzinam, cantando pneu,
entrando por uma viela atrás da praça, me assusto, colocando a mão no peito,
ele estaciona atrás de outra caminhonete.
— Não estou mais saindo com ela. — diz na maior calma, sem se
situar no caos que deixou para trás, preciso de alguns segundos para me
recompor, sinto meu pulso acelerado.
Liam bate na carroceria, mandando eu sair, eu o faço, antes deixo meu
material no banco, pulando para o chão atrás dele, que não me espera,
entrando no restaurante, indo lavar a mão e pegando um prato.
— Credo… morto de fome. — resmungo baixinho, indo até o
banheiro, lavando minhas mãos, o rosto, dando uma boa espreguiçada,
pensando se já tinha dado tchau para todos os professores.
Depois caminho até o bufê, pego o prato, talheres e escolho salada,
frango, um pouco de purê de abóbora, olho para ele que me espera ao lado da
balança e de olho em seu celular, mordo o lábio inferior, o que ele estaria
vendo?
— Boa tarde, Ísis, vai marcar hoje? — a atendente pergunta, nego com
a cabeça, respondendo:
— Não, então… eu passei no vestibular e acho que a minha frequência
por aqui vai cair. — ela sorri, desejando boa sorte e parabéns, mas vejo seu
olhar despir Liam, só fico feliz que ele não retribua os olhares gulosos.
— Fica à vontade. — ela diz, piscando para ele, que a ignora,
sentando-se em uma mesa e praticamente jogando o prato, procurando um
suco no cardápio.
— Então, o que você quer? — ele pergunta, dando uma boa bocada em
um pedaço de carne.
— Eu? Hm… acho que um quarto, cozinha e... — Liam solta os
talheres, cobrindo a boca, rindo feito um doido.
— Não, garota, tô falando para beber! — bate a mão na mesa, atraindo
olhares curiosos para nós, eu me retraio, vermelha no mesmo instante.
— Ah, acho que um suco de laranja.
— Dois. — olha para a atendente que vem toda alvoraçada pegar os
pedidos.
Eu fico meio envergonhada para comer na frente dele, sei lá,
subitamente parece que perco a fome, apoio minha cabeça na mão, fazendo
voltas no purê com a faca.
— Vai ficar perguntando para a comida se ela quer ou não ser seu
almoço, olha, se não está com fome, passa pra cá! — seus dedos seguram
meu prato, instintivamente eu o seguro.
— Que coisa, já vou comer! — não mensuro o tanto de purê que
coloco na boca, que fica cheia, encaro-o — Feliz?
Aparentando satisfação, responde:
— Sim, muito, agora parece o Fofão com essas bochechas estufadas,
come como uma mocinha! — ignoro o comentário ao avistar os sucos, a
garçonete os apoia na mesa, observo um pedaço de papel com um número de
telefone, tenho que me controlar para não deixar meu queixo despencar.
— Meu Whats, me chama depois. — diz para Liam, dando uma
piscadinha, depois passa a mão na minha cabeça — Parabéns de novo, Ísis.
Que abusada, Liam embola o papel e coloca no bolso da calça jeans
rasgada.
— Vai ligar? — tento parecer indiferente, ele me observa por alguns
segundos, dando de ombros.
— Talvez, sei lá. — olha para a bunda rebolando dela com alguns
pedidos pelo salão, se já estava arrependida de vir para cá, agora estou muito
muito muito mais.
— O Ricardo veio falar comigo hoje. — tento chamar sua atenção, ele
ri, rolando os olhos.
— E?
— E eu fui falar com ele, oras! — será que ele não se importa mesmo e
estou fazendo papel de boba? Por que quero tanto chamar a atenção dele?
Sinto uma pontada em meu peito pela sua indiferença, e se eu perdoasse o
Ricardinho e voltasse?
Por que sequer estou cogitando essa possibilidade estúpida?
— Hm. — responde, eu fico mais do que frustrada, terminamos o
almoço em silêncio, Liam antes de pagar a conta troca alguns olhares com a
garçonete, vou até a geladeira de sorvetes e pego o mais caro também.
— Não esquece desse! — mostro para que ela o passe na comanda,
Liam ralha:
— Ah, Ísis, vai sujar o banco! — a garçonete ri e sou eu que quero
esmurrá-la por isso.
— Que fofo, vocês realmente parecem irmãos, Ísis disse que o filho do
padrasto estaria vindo dos Estados Unidos para cá. — abelhuda, Liam olha
para mim, dando um cascudo na minha cabeça.
— É uma mimada! — ele diz rindo, vou protestar, a mulher concorda.
— É, sim, ela sempre vem com uma amiga, acho que é Míriam. —
desde quando ela fala da minha vida para os outros e ainda me chama de
mimada?
Pego meu celular, minha mãe manda mensagem, pedindo para que eu
ligue para ela antes de tomar qualquer decisão sozinha e, no momento
seguinte, estou furiosa.
— Não sou mimada, não. — protesto, deixando, sem querer, o sorvete
melar a minha mão. — Aliás, como filha do dono da rede de restaurantes,
você não deveria dar papelzinho com seu Whats para os clientes.
Alfineto, sentindo o gosto glorioso da cutucada, porém, os dois riem de
mim, Liam pega alguns guardanapos e limpa meus dedos.
— Não liga, está bravinha hoje. — me conduz para fora, sussurrando.
— o que foi isso, garota? Perdeu os modos?
Eu mostro a língua para ele, terminando rapidamente o sorvete, antes
de dar a última lambida, Liam o abocanha, pegando o palitinho de mim.
— Deu mole… — empurro-o, ele ri, abrindo a porta para mim,
finalmente relaxo quando ele joga o papel de seu bolso, contendo o número
dela, na lixeira na calçada.
Capítulo 7

Thales me dá um abraço apertado assim que finalizamos a mudança


para o apartamento, infelizmente minha mãe negou o pedido dos pais de
Míriam para morarmos juntas, já meu pai fez a mudança de madrugada e saiu
bem cedo para não encontrar ninguém.
Liam e Thales trocaram farpas o tempo todo, mal pude curtir a
mudança, considerando que amanhã é meu aniversário e o primeiro que vou
passar longe de todo mundo, poderiam ter pegado mais leve.
— Qualquer coisa você liga pra gente, logo vai ter a matrícula na
faculdade, depois o trote, Liam, cuida dela! — Thales bronqueia.
— Faz vinte anos que fiz dezoito, Ísis, se cuida. — ela diz, me
entregando o palitinho do incenso. — Não se esqueça de mandar os
comprovantes dos seus gastos para ter controle e nada de sexo nesse lugar.
— Mãe! — rebato, colocando o palitinho no incensário, sentindo
minhas bochechas arderem. — Uma pena não poderem ficar para comemorar
comigo.
Thales abraça minha mãe, Liam vai para o quarto minha mãe vai atrás
para se despedir dele.
— É... amanhã eu tenho que trabalhar o dia inteirinho, mas à noite eu e
sua mãe ligamos a webcam e a gente pode comemorar, compra um bolo e se
divirta, Liam — Thales grita —, vai estar por aqui, certo, filho?
Liam sai do quarto com os braços cruzados, minha sorri, olhando para
ele e para mim. O filho do meu padrasto arruma as correntes da calça,
buscando um copo d’água:
— Tanto faz. — seus os olhos estão numa tonalidade verde oliva, um
tom mais escuro, quando fica desconfortável ou com raiva, as íris dele
parecem mudar de cor, algo magnífico, quase mágico. — João Pedro vai
dividir o aluguel do ap comigo, ficarei bem, obrigado pela preocupação.
— Aí Liam, vê se não mete qualquer menina naquele muquifo. —
minha mãe coloca uma echarpe azul clara em torno do pescoço, Liam bufa,
Thales dá um tapa em seu bíceps tatuado.
— Se precisar de mim… me liga. — Liam crispa os lábios em
silêncio, assim que eles saem porta fora, pega dos bolsos o VAPE, cigarro
eletrônico, preto com uma caveira, logo a fumaça sai da sua boca.
— Quer? — pergunta.
Eu nego, dissipando o vapor abanando as mãos.
— Será que pode? — ando até o livro de regras do condomínio dos
apartamentos, mas Liam segura a minha mão, fazendo eu dar meia-volta.
— Relaxa um pouco… amanhã é seu aniversário e tem que decidir o
que quer fazer, aqui… toma, prova, tem gosto de menta.
Liam aproxima aquilo da minha boca, empurro, fazendo uma careta.
— Não, obrigada, aliás, isso faz mal também tanto quanto qualquer
tipo de…
— Tá, tá… mãe! — caçoa, dando risada, andando pelo apartamento,
admirando a rapidez com que mudamos. — Ficou sua cara isso aqui,
princesinha.
— Não gosto que me chame de princesinha. — ando atrás dele, um
tanto intimidada pela sua altura, seu modo seguro, punk e ameaçador.
— Ah! é, é? Posso saber por que não, princesinha? — zomba, se
largando em cima do sofá, tirando com os pés os pesados coturnos com
correntes e metal.
— Porque parece que eu sou, sei lá, mimada, chata… inacessível. —
respondo, pegando as botas dele e as colocando na sapateira do quarto.
— E não é? — ri, ouço-o e reviro os olhos, retrucando.
— Sei lá, sou? — fico de joelhos para arrumar a sapateira, quando me
debruço, vejo-o atrás de mim, com meias pretas.
— Então, amanhã é seu aniversário, aqui… pra você. — ele estende
uma caixa muito mal embalada, num supetão eu o abraço, vejo-o ficar sem
graça, assim como eu, distancio, pegando o embrulho, arrumando uma mecha
do meu cabelo atrás da orelha, perguntando:
— O que é?
Rodo a caixa em meus dedos, ele dá de ombros, coçando as costas.
— Abre aí, pô, como vai saber se não abrir? — seu piercing no septo
reluz pelas cortinas, sorrio, ao ver que é um anel de prata, vários
coraçõezinhos, na verdade, é para usar na falange do dedo médio.
— Eu adorei! Adorei de verdade! — envolvo sua nuca em mais um
abraço, Liam coloca o anel no meu dedo, me olhando de modo estranho,
profundo, seus lábios vacilam, vou implicar com ele, mas me puxa e toca
seus lábios nos meus.
Sinto seu gosto quente, suas mãos passam pelo meu rosto, meu corpo
formiga, Liam envolve minha cintura, a sua respiração esquenta minha pele,
não sei o que fazer… deixo o instinto falar por mim, aperto seus braços
musculosos, ele me prensa contra a parede.
— Você é a minha princesinha… — sussurra, não ouso fechar os
olhos, tenho medo que perca esse momento, mas e se Thales ou minha mãe
voltarem?
Quase não prestei atenção em seu piercing na língua, quando sinto o
metal dar um geladinho gostoso no beijo, nossa… eu nunca tinha provado
esse tipo de toque intenso antes.
Liam lambe meus lábios, me prensando mais contra a parede,
envolvendo meus punhos em uma de suas mãos, levantando-as para cima da
minha cabeça, me dominando sem qualquer dificuldade.
Ainda posso sentir um pouco o gosto mentolado do VAPE, nossa
respiração fica mais intensa, o calor do seu beijo, da sua pele na minha, o
toque sensual de seus dedos no meu pescoço, a umidade da sua saliva
caminhando em meus poros.
Liam cola seu corpo ao meu, é descomedido, não só intenso em força,
mas em vigor, arfo de imediato, sentindo meu coração querer pular para fora
do meu peito, o que é isso?
É angustiante pensar que ele deixará de me tocar, Liam me encara por
alguns segundos, umedeço os lábios com a língua, sem trocar uma palavra,
agarra meu queixo entre seus dedos e guia minha boca novamente para a sua,
mantendo meus punhos atados acima da cabeça.
Eu sinto o geladinho do piercing e o calor da sua boca percorrer meu
pescoço, fecho as pernas instintivamente, assustada com o formigamento
imediato nas minhas coxas, gemo baixinho:
— Liam… — sua boca engloba minha orelha, sua mão desce,
deslizando pelo meu braço, até a lateral do meu seio, é tão sensual e pueril na
mesma medida que não pondero se é tão sexual quanto penso, outro gemido
escapa dos meus lábios, ele me encurrala entre seus braços fortes, sarados,
tatuados.
Meu celular começa a tocar na bancada da cozinha, como se
tivéssemos sido pegos num flagra criminoso, nos afastamos, minha boca está
formigando pelo estímulo do beijo, do piercing dele, de saudade.
Liam coloca as mãos nos bolso detrás do seu jeans, as correntes
tilintam, ando até o celular sem muita certeza se quero saber quem é ou o que
quer, porém, é Míriam, atendo.

Desligo sem muitos meandros, depois de uma conversa rápida, meus


olhos magnetizados o tempo todo em Liam, que se joga novamente no sofá,
vendo qualquer coisa em seu celular.
Assim que vou quebrar o silêncio, ouço a campainha do apartamento,
Liam se levanta, atendendo e é João Pedro com algumas long neck numa
sacola de supermercado, bolo de padaria na outra mão, entrando sem limpar
os tênis.
— Feliz aniversário adiantado, Ísis, aqui… — se aproxima, deixando
tudo em cima do balcão —, amanhã já vai poder tomar seu primeiro porre.
Liam se adianta, pegando uma long neck, abrindo com a mão,
oferecendo outra ao amigo, que traz um vídeo game na mochila, ambos me
deixam sozinha para beber, jogar FIFA e conversar, enquanto arrumo a
bagunça deixada por eles.
Se fosse outro jogo, até pediria para participar, mas não vejo graça em
futebol, termino de arrumar tudo, deixando-os à vontade, assim que anúncio
que vou tomar banho, João Pedro assovia, Liam dá um tapa em sua nuca,
fazendo-o levantar:
— Vai, vai tomar seu banho! — reclama, dando um empurrão em João
que o olha confuso. — A gente vai dar uma volta, dar uma olhada numa
padaria aqui perto para comprar algumas coisas pra comer, termina logo esse
banho, Ísis, não enrola.
João Pedro estica os olhos para mim, mas é empurrado novamente
pelas costas por Liam, ambos começam a discutir trivialidades, quando
observo que me trancaram aqui em casa.
Olho perplexa pelo pequeno furacão que os dois deixaram, ignoro tudo
para tentar relaxar um pouco no chuveiro e pensar sobre o que aconteceu.
O que foi aquele beijo?

Eu fico esperando por eles, mas demoram uma eternidade, não vou
ficar sozinha aqui sem fazer nada, procuro a chave reserva por todo lugar até
encontrar, peço um Uber para, pelo menos, conhecer a cidade nova —
mesmo sendo perto da minha —, não custaria passear pelo shopping daqui,
comer em algum lugar, comprar uma roupa nova para meu aniversário
amanhã e, se der, pegar um filminho.
Escolho um vestidinho balonê bege claro, caimento bonito, maquiagem
mais marcada nos olhos e um batom nude.
Assim que o Uber chega, termino de vestir minhas rasteirinhas, desço
rapidamente, guardando a chave reserva na bolsa.
Confiro o motorista, o carro, entrando e arrumando a saia do vestido, o
condutor é silencioso e agradeço por isso, já que não estou a fim de
conversar.
Liam deu um nó na minha cabeça com o seu beijo, percorro os olhos
pela paisagem, ansiosa, não entendo o porquê dessa aflição perturbadora.
Capítulo 8

Vivian praticamente me atacou a viagem toda perguntando de Bárbara,


da viagem, depois no apartamento da própria filha, quis que eu apalpasse
suas tetas, neguei porque Ísis não sai da porra da minha cabeça!
O que eu fiz? Eu estou tão fodidamente confuso.
Como pude ter vacilado tanto? Mas não posso negar que estou
gostando de Ísis e gostei demais do nosso beijo, não pretendia trair a
memória da minha mãe dessa maneira e não sei o que fazer, aliás…
— Liam, tira a cabeça da nuvem e presta atenção no que eu tô falando,
porra! — apoio meus braços no balcão do bar, voltando a minha atenção para
João Pedro. — Como eu estava te dizendo, o que acha da gente dar uma
liçãozinha naquele cuzão do Júnior?
Ah… Júnior, desafeto desde sempre da família do João Pedro, não
lembro ao certo o que o imbecil fez, acredito que mexeu com a irmã mais
nova do João, revoltando a família inteira, aceno com a cabeça.
— Eu topo, se o arrombado gosta de mexer com criança, ele vai gostar
de mexer no rombo que deixarei na cara dele.
JP sorri satisfeito, chegando mais perto de mim, confessando:
— Minha irmã tinha dez anos quando ele fez a cabeça dela sobre amor
e essas paradas, Liam, ela era só uma criança. — seus olhos ficam perdidos,
ele dá uma golada em sua cerveja. — Quer dizer, o filha da puta nem
respondeu ao crime por ser menor de idade na época, nutro esse sentimento
desde então, você me ajuda a dar um susto no desgraçado?
Entendo como é o sentimento de impunidade, toco minha caneca de
chopp ao copo dele, brindando.
— Só me diz o que eu tenho que fazer e considere feito, João, você foi
um dos únicos que me acolheram aqui, sabe a minha história, aliás a puta da
Vivian quis me pegar no apartamento da filha com meu pai na sala.
João Pedro dá mais um gole, apoio meu pé no chão, dando uma olhada
nas horas, alguns outros homens entram no bar e nos encaram, João sustenta
um contato visual intimidador, meu pensamento vagueia na chave do
apartamento que levei.
Ísis não está segura nessa cidade, faço muita merda por aqui, se alguém
souber que eu e ela temos qualquer relação, vão cair matando em cima.
— Foda essa parada de vingança, Liam, mas sobre a Ísis… — JP ainda
não olha para mim, mirando os sujeitos. — Você mesmo disse que não ligava
se alguém do nosso grupinho desse em cima dela, fiquei com um puta tesão
na garota, Liam, seria até bom, assim poderia se concentrar mais na Vivian
e...
— Esquece. — resumo, terminando meu copo de chopp, procurando
algum cigarro perdido nos meus bolsos, filando um isqueiro do balcão para
acender.
— Você mesmo disse que não ligava para ela, que tinha planos para a
família do seu pai, cara… qual o problema de eu tirar uma casquinha daquela
gostosa e...
— Acho que não fui claro, porra! — apoio o cigarro no meu lábio,
segurando João Pedro pelo colarinho da camiseta de banda, fazendo-o erguer
do banco. — Eu disse esquece as merdas que falei da Ísis.
João Pedro tenta se desvencilhar, dando um sorriso otário:
— Quem vê você falando assim, pensa que quer pegar mãe e filha! —
a fumaça encobre meus olhos, o gosto do papel queimado se alastra pelo meu
paladar, aproximo meu rosto do de João, baforando calmamente.
— João Pedro, se ainda quiser fazer parte do grupo de imbecis que
lidero, já passa a visão de que Ísis é inalcançável, não deve nem usar a
imagem dela na sua cabeça pervertida e doente na hora do banho, sequer dos
seus sonhos, porque você vai lembrar disso!
Eu seguro o cigarro, aproximando-o das bolas do JP, que tenta me
empurrar, mas sou mais forte, mais rápido e ágil, ele sabe das consequências
de me peitar assim, não é porque é meu colega mais próximo que pode ficar
questionando minhas mudanças de humor.
— PORRA, LIAM! — guincha, colocando as mãos nas porras de suas
bolas. — Caralho! O que te fez mudar de ideia, cacete?
Não respondo, o cheiro de tecido e pentelho queimado é nojento, os
homens que entraram riem, levantando-se de suas mesas e se aproximando de
mim, pedindo cervejas para nós.
— A gente pode sentar aqui pra trocar uma ideia? — perguntam, um
parece que veio de clube de motoqueiros, cringe, o outro tem uma tatuagem
de aranha no pescoço, pelo significado da tatoo, pode se tratar de um ex-
membro de gangue.
Não respondo, aceitando a cerveja, João Pedro vai ao banheiro quase
chorando feito um bebê:
— A gente pode te passar informações interessantes, Liam. — o cara
sem a tatuagem começa a falar, presumo que estou certo sobre serem ex-
membros de gangues, mexo a cabeça, insinuando para falarem, quanto mais
eu souber onde estou pisando, melhor.
Fico atento à conversa que achei não ser muito proveitosa, afino os
olhos, mirando os dois, disseram sobre algumas gangues rivais que estavam
me observando, impressionados com a minha postura, também — dou de
ombros —, como não ficariam impressionados comigo?
O cara com uma aranha no pescoço indaga:
— Sua irmã está fazendo design gráfico também? — já sabiam da Ísis?
E... “irmã”?
— Não, ela não é minha irmã e nem está fazendo design. — justifico,
João Pedro senta ao meu lado com o rosto vermelho, atento a conversa. — E
qual é de saber sobre ela?
Os dois riem, não gosto, cruzo os braços na defensiva, João Pedro
decide abrir a boca:
— O que vocês querem, afinal? Zoar a gente?
Boa.
Por isso gosto dele, mesmo fazendo as suas merdas às vezes. Ambos
assumem uma postura mais séria, se apresentando:
— Pode crer, eu sou o Sávio, esse é o Ramon. — aponta com os dedos
para um, depois para o outro.
Ramon toma a frente:
— A gente pertencia à gangue da zona norte. — explica, coçando o
braço, vejo que tem marcas nos pulsos de algemas, continuo bebendo. —
Vocês dominaram a Leste, desculpa estar por fora, mas demorou um pouco
pra sair da prisão.
Sávio esmurra a mesa, volto a cruzar os braços:
— Dedicamos tanto naquele lugar que tá na hora de mudar.
— Estão putos e querem uma retaliação? — pergunto, pegando alguns
amendoins servidos pela garçonete, eles sorriem, concordando de uma
maneira sinistra; não me intimido tampouco, rio também. — Não sei se posso
confiar em vocês, entendam, nos conhecemos agora, mas certamente vou
lembrar de Sávio e Ramon, certo, João?
Meu amigo não olha para mim, ainda encarando os dois, levanto
batendo a mão nas costas de ambos:
— Para começar, a conta pode ficar com vocês, certo? Acho que não
vai ter problema.
Eles franzem a testa, quando entrei na gangue, aceitei as
consequências, o perigo, a adrenalina; ser líder requer ônus e bônus.
Porém, não posso arriscar que essas pessoas saibam mais sobre Ísis, ela
é muito jovem, frágil, indefesa e de minha inteira responsabilidade.
Continuo:
— Logo vão ouvir falar de mim, sempre fico em lugares visados. —
finjo que passo spray de tinta no balcão e acho que é disso que preciso agora,
libertar as tintas que carrego comigo no carro, meus desenhos ganharam
reportagens nos Estados Unidos, está na hora de mostrá-los ao Brasil.
Assim que monto na picape, João mostra o celular para mim:
— Greg e Jean querem falar com você. — avisa.
Mas apenas arranco com meu carro para longe do bar, não estou com a
mínima vontade de lidar com meus amigos, só queria um pouco de
tranquilidade para beber até amortecer meus membros e esquecer o começo
do semestre.
Ou esquecer que estou morrendo de saudades da boca de Ísis na minha.
— Fala, Liam, como você tá? — Jean me abraça, Greg traz uma pizza
morna, de origem duvidosa, JP liga o videogame, alguns outros moleques
curtem um som alto por ali, mas me cumprimentam respeitosamente quando
entro no galpão.
Esse lugar é grande, foi projetado para desmontagem e recuperação de
peças e componentes de veículos. O meu desmanche de carros é ilegal, mas
eu só recebo os carros, revendo as peças roubadas, omito informações sobre o
histórico dos veículos e contacto clientes.
Esses galpões de desmanche de carros geralmente estão em áreas
industriais, permitindo um bom armazenamento de veículos, evitando
conflito com áreas residenciais.
— Fala, Liam, a festa tá começando! — aceno com a cabeça, tiro a
camisa, rodando, esperando que alguém chegue com as bebidas. O ambiente
começa a esquentar, acho que contrataram prostitutas, a noite, certamente, vai
ser longa.
Eu seguro João Pedro pelo braço:
— Você é a única pessoa que a Ísis conhece, vai lá no apartamento dela
ver como tá e depois volta com cuidado, vê se não foi seguido. — enfio
minha chave em seu bolso de moletom.
— Pode deixar. — responde, sem muitos meandros, continuo andando
pela construção robusta, feita de metal com concreto, que vibra pela música
alta.
Rumo para a área de entretenimento onde há uma piscina pequena,
quadra simples, sauna meio improvisada e outras facilitações divididas em
seções, como o espaço de recebimento dos carros, de mecânica e
desmontagem, estoque de peças, enfim, meu escritório e o pátio de descarte.
— Liam! — Jean me chama com uma lata de cerveja na mão, olho-o
sobre os ombros, não curtia muito quando faziam festas por aqui, pelo menos
eu tinha um pouco de liberdade de pichar as paredes, fazer um grafite, um
pouco de arte.
Meu colega corre até mim:
— Os caras estão pedindo pra dar uma volta nos carros de luxo, fazer
um circuito perto do pátio de desmanche, o que acha?
Concordo, passando as mãos no meu cabelo.
— Tá, mas maneirem na festa, nada de muita gente de fora. — advirto,
olhando ansioso para o celular, será que João Pedro iria demorar para me dar
notícias? Minha garganta dá um nó, quando avisto Hugo, o líder da gangue
do sul. Que merda!
Capítulo 9

Depois do filme, vou até o segundo andar ver alguns vestidos, confesso
que nem prestei muita atenção no que assistia tamanha minha confusão, olho
sem tanto interesse as vitrines, quando sinto um abraço eufórico atrás de
mim:
— IZZY! AH! — vejo Míriam cheia de sacolas nas mãos, viro,
abraçando-a.
— Mí, que saudade! — inalo o perfume gostoso que usa, minha amiga
faz eu dar uma voltinha para me analisar.
— A chata da sua mãe nem quis ouvir a proposta da minha, da gente
morar juntos, acredita? — assim que vou falar alguma coisa, vejo Bárbara
saindo de uma loja com outras garotas, vou comentar com a minha amiga,
mas Míriam se precipita, arrastando Bárbara até a gente.
— Essa é a Babi, Ísis, a gente tá morando na mesma república! Legal,
né? — minha boca amarga.
Bárbara toma a frente, me cumprimentando:
— Eu já conhecia ela, você é a irmãzinha do Liam, não é?
Míriam escancara uma sonora gargalhada, negando:
— Não, de jeito nenhum, o pai do Liam é casado com a mãe da Ísis,
mas os dois nunca foram muito com a cara um do outro. — uma amiga da
Bárbara puxa assunto com Míriam, deixando-nos num climão.
— Acho que eu já te vi. — Babi comenta, pegando um espelhinho da
sua bolsa prata. — Na balada, não foi? — retoca o batom, escova as
sobrancelhas.
O tom blasé com que fala só pode ser algum tipo de provocação ou o
ciúme alucinado que bate no meu peito, tento pegar meu celular, que estava
no modo avião devido ao filme, mas sou impedida por Bárbara que pede para
que eu veja se seu absorvente não está marcando a sua calça jeans.
— Ísis, vamos numa baladinha? — Míriam volta a sua atenção para
mim.
Bárbara dá uns pulinhos ao redor da minha amiga:
— Ah, Mí, a baladinha era segredo! Droga! Assim a gente vai ter que
convidar todo mundo!
Minha amiga junta as mãos em oração:
— Ah, desculpa, Babi, mas a Izzy é novata na faculdade também e
acho que seria, tipo, incrível se ela fosse!
Não quero encrenca, sorrio de maneira mais forçada possível, Míriam é
minha melhor amiga, mas é super invasiva com relação às festas, decisões e
rolês, seguro firme a alça da minha bolsa, como se pudesse fugir dali
magicamente.
— Gente, não quero estragar o rolê de vocês não e...
Míriam ignora a colega, pegando as minhas mãos, enlaçando nossos
dedos, dando mais uns pulinhos, quase esganando:
— Besteira! Amanhã é seu aniversário, nada mais justo que venha com
a gente, certo colega?
Bárbara nos olha estranho, em rodinha com as amigas, Míriam pede
para que eu vá junto, as colegas concordam, mas acho uma ideia horrível,
péssima, pavorosa, não… eu queria ir para a minha casa e ficar em paz.
Bárbara recosta a cabeça no meu ombro, sussurrando:
— Tem medo de festinha com gangues?
Quero berrar que sim, que nunca pensei em ter contato com essas
pessoas, mas com todos me olhando de modo tão intimidador faço que “não”
com a cabeça.

As amigas de Bárbara não têm amor à vida, a garota corre tanto pelas
ruas que simplesmente não sei quantas infrações de trânsito cometeu.
Míriam grita para a rua com as janelas abertas, há algumas bebidas
rolando em garrafas pelo chão do carro, falar que me arrependi no momento
que disse que iria é pouco, estou absolutamente apavorada.
— Relaxa, Izzy, as meninas são meio doidinhas, mas são gente boa! —
Míriam grita no meu ouvido, competindo com a música alta do carro, não
ouso respirar, estou morrendo de medo de tirar os olhos da garota ao volante.
— É Izzy, relaxa, aliás… relaxa muito, porque a gente tá indo num
lugar e tanto! — Bárbara fala, as garotas riem, lembro de olhar o celular e me
deparo com uma mensagem do meu pai e de João Pedro, não leio nenhuma
delas.
O que eu esperava? Uma mensagem de Liam? Nem na minha
imaginação, entramos pela via de acesso nos limites da cidade, minha
ansiedade crescendo.
Entendo que preciso viver mais, ir às festas, me enturmar, mas não
assim, observo Míriam, sua agitação contagiante, balançando os braços ao
som da música, sua facilidade em fazer amigos, a bebida alcoólica sendo
absorvida pelos seus lábios, a risada, a comunicação, Míriam é tão
espontânea, vive o agora, sempre admirei isso nela.
— É aqui, vira, vira! — grita Bárbara e outra garota ao lado da Míriam,
vejo uma espécie de… barracão? É um barracão gourmet, eu acho, há luzes,
música, tipo uma balada ao lado da estrada, fora da cidade.
— Aquilo é fumaça? — pergunto a Míriam.
Míriam quem responde:
— Acho que sim! Nossa, vai ser uma noite incrível, quando der meia-
noite a gente pode pedir pra todo mundo parar e cantar parabéns.
Minha barriga dá voltas, meus lábios estão ressecados, minhas mãos
frias, não sei o que me dá, acho que fora Míriam, já teria aberto a porta desse
carro e saído correndo daqui, que encrenca eu iria me meter.
Alguns carros importados, rebaixados, esportivos fazem derrapagens,
a terra levanta em nuvens densas em cada veículo que acelera, passando por
faixas improvisadas.
Há mulheres com roupas curtas, rapazes sem camisa, uma delas está
com o que parece ser uma arma, dando a partida acelerando pelo circuito.
É realmente um Racha.
— Onde estamos? — pergunto, tentando não parecer nervosa, mesmo
estando aterrorizada!
Sou ignorada, ninguém percebe, espero, já que Míriam assovia alto, se
jogando no meu colo, abrindo a janela do carro da amiga da Bárbara:
— Vai ser épico, Izzy! — Míriam exclama esbaforida.
O carro é estacionado, as bebidas tiradas do porta-malas, somos
recepcionadas por espectadores do Racha, uma pequena multidão torcendo,
rindo, bebendo, curtindo uma música gostosa que ressoa até o solo.
Desço, alguns rapazes nos recepcionam, fico atrás da Mi — Bárbara e
as amigas se enturmam rápido, acho que já os conhece —, Míriam não fica
por menos, me rebocando. Bárbara grita para ser ouvida, gesticulando
excessivamente as mãos:
— Aquela ali está fazendo aniversário, falando nisso, Hugo, você tá
gatinho, hein? — o garoto com quem fala é alto, esguio, boné, cavanhaque,
um jeito ardiloso, sem esperá-la terminar de falar, ele a beija quase sugando
sua garganta.
Míriam e eu vamos para alguns feixes de luz dançar, curtir a música,
ela pega dois copos descaráveis de cerveja:
— Bebe, Izzy, aproveita! — sorrio, bebericando pouco, cerveja amarga
a minha boca, o amargor e o gelado não caem muito bem, mas não quero que
vejam eu fazendo cara feia, afinal, nem paguei para estar ali.
Decido por beber tudo de uma vez, grande erro, Míriam faz um grande
estardalhaço, pegando mais dois copos, caramba… não quero, continuo
dançando, segurando o copo, enrolando para beber, até que o vejo.

Em cima de algumas caixas de madeira pichadas, assentos embolados


improvisadamente como essa festa, Liam anima todos com uma energia
surreal.
Mordo meus lábios ao mirar seus músculos salientes e as várias
tatuagens em sua pele, a blusa amarrada no passante da calça jeans larga,
Liam chama a atenção de seu público, ele berra qualquer besteira,
descontraído, encorajando todos a se divertirem.
Ele sabe que pode estar no meio de gangues e Racha?
Eu tento falar com Míriam para sairmos dali, mas é quando o olhar
dele cruza com o meu. Liam pula das caixas, as corretes da calça e dos
coturnos negros brilham, ele quase correndo em minha direção,
aproximando-se rapidamente, demostrando mais preocupação do que
surpresa em seu rosto.
Liam segura meu braço, caminhando comigo para uma área mais
calma, coberta, abrindo uma porta larga e alta com uma chave que tira do seu
bolso, estranho, porém incrivelmente o lugar onde nos aloca abafa bem o
som:
— O que você pensa que está fazendo aqui, Ísis? — ele pergunta, sua
voz transmitindo urgência. — E cadê o imbecil do João Pedro? Ele deveria
estar com você, porra!
Eu me abraço, desconcertada e confusa, dou de ombros:
— O que te interessa e o que você está fazendo aqui? É perigoso! —
minhas palavras saem apressadas enquanto tento aparentar descontração
como todo mundo ali, ele se coloca à minha frente, segurando meus braços.
Liam não está bravo, não sei se gosto dessa outra expressão, parece
alarmado.
— Ísis, vamos embora, merda! — se agita, segurando minha mão. —
Esse não é lugar para você. — eu o solto, respirando fundo, batendo os pés.
— Ah, tá bom, só porque você quer… vim comemorar meu aniversário
e vou ficar bem aqui. — Liam endurece a expressão, me assusto quando
chuta a porta de metal.
Ele balança negativamente a cabeça, falando consigo mesmo, alguém
bate o portão, Liam se sobressalta, jogando o braço por sobre meu ombro, me
desvencilho, ele insiste.
A música alta e as risadas voltam a preencher o ambiente ao nosso
redor, o rapaz de cavanhaque aparece:
— Atrapalho?
— Não, porra, qual foi, Hugo?
Hugo me olha inquisidoramente, bebericando a cerveja apontando para
mim:
— Bonita a aniversariante, é o que sua?
Liam me solta, dando de ombros:
— Filha da minha madrasta.
Eu o encaro com fúria e estranheza, eu sou o quê?
Ele acabou de me beijar e, no momento seguinte, me tranca no
apartamento e está todo serelepe em cima de caixas animando um Racha!?
Furiosa, dou uma cotovelada em seu braço, Liam nem se mexe, piso
duro galpão afora, procurando por Míriam. Hugo me acompanha com o olhar
oferecendo um copo de qualquer coisa.
— Ela está em boas mãos, porra! — Hugo ri, colocando a mão nas
minhas costas, me deixo ser guiada, mostrando a língua para Liam, que cruza
os braços, bufando.
— Tô de olho em você. — não sei se Liam se dirige a mim ou a Hugo,
também não me importa, caio no meio da festa novamente, tentando me
desvencilhar das mãos bobas dos amigos do filho do meu padrasto.

Era só o que me faltava.


Eu não queria que ela visse esse meu lado, ainda mais com Hugo aqui,
não posso vacilar, jogo um pouco d’água no meu rosto, tentando pensar,
prenso a pia entre meus dedos, tenso.
O que ela pensa que está fazendo?
Olho pela fresta do portão, Ísis dança e todos aparentam dançar ao
redor dela, para ela, é certo que é a garota mais bonita e de maior destaque,
fecho meu punho, observando Hugo tentar chegar perto como se ela fosse um
pedaço de carne, chuto o portão, mordendo os nós das minhas mãos.
Onde caralhos estava João Pedro? Minhas mãos tremem buscando por
seu número, até ver a mensagem que me mandou algumas horas atrás,
dizendo o mais que óbvio, que Ísis não estava em casa.
Mas é uma anta, mando uma mensagem de voz, pedindo que viesse
embora imediatamente, retorno o celular no bolso, cruzando os braços, se
ficar do lugar onde estou, posso ver Ísis e me corroer sozinho de ciúme.

— Ela não está bebendo demais? — João Pedro comenta, olhando na


mesma direção que eu, por mais que eu finja que estou fazendo alguns
cálculos do desmanche.
— Foda-se ela, vem aqui, semana que vem a gente tem um carro para
delegar à zona norte.
— Não, não, cara, eu tô falando sério, Liam, acho que a Ísis está
bebendo demais, tipo… ela acaba de subir em cima de umas caixas e porra…
tá sensualizando gostoso.
Levanto tão rápido, tão desesperado que em um piscar de olhos já estou
me debruçando sobre os portões, como assim? Mal tirei os olhos dela, que
merda!
Ísis é ovacionada, encorajada a levantar o vestido, que já está
perigosamente no meio de suas coxas, me jogo no meio do barro seco, que
levanta até a altura dos meus olhos.
Carros disparam fazendo zigue-zagues, soltando faíscas, ela me
enxerga com seu par de olhos castanhos, da cor da terra que levanta nuvens
em lufadas, está bêbada como um gambá.
Ísis coloca o indicador na boca, sedutora, rebolando, que visão mais
interessante, as luzes incidindo em sua pele, cabelos, suada, embriagada,
penso que quero me afogar em cada gota do seu suor, meu pau concorda e
muito.
Por um momento penso em deixá-la assim se não fosse o bando de
marmanjos babando aos seus pés, “droga”, penso, passo as mãos nos meus
cabelos, irritado, essa menina ainda vai me dar fios brancos antes da hora.
Olho para os lados e cadê o João Pedro?
Obviamente ali, no meio dos moleques, todo putinho perto dela,
resmungo qualquer coisa, pisando duro na direção de Ísis, cego de raiva,
seguro seu braço, quase torcendo, fazendo-a descer das caixas, ela solta um
“hey!” bravo, tentando me empurrar.
— Já sou maior de idade! — protesta, rio de lado com a afirmação.
— Ah, é, né? Então tá, maior de idade, bora! — seguro-a, lançando-a
sobre meus ombros.
Míriam, a colega de Ísis, corre até mim, dando tapas em meus braços:
— Ah, Liam! Deixa ela, a Izzy nunca sai de casa, ela nem bebeu muito
e...
— Míriam, pro seu bem, gata, cai fora… essas minas só querem uma
riquinha pra bancar os rolês! — aponto com o polegar os carros dando
manobras. — Sai do papo da Bárbara e companhia, papo reto, tá ligada?
Míriam olha para as meninas que levantam os ombros, Bárbara tenta
vir até mim, mas eu a ignoro, há protestos, porém, eu vejo e encaro Hugo,
que fuma qualquer merda olhando intensamente para mim, sorrindo sem
mostrar os dentes, recostado perto do alvoroço que Ísis criou.
Mostro o dedo do meio para geral, em especial para aquele puto do
Hugo, que arreganha os dentes num riso macabro, isento de qualquer
sentimento, apenas o de se satisfazer com uma garota recém-chegada,
Bárbara caminha até ele, aquela vadia.
Ísis se debate, pedindo para que eu a solte, seguro firme suas coxas,
com um braço, continuo marchando até o meu carro, ela ri de nada, jogo-a na
parte da frente picape, antes que meta a cabeça no porta-luvas, coloco o cinto
de segurança, ela recosta no banco.
Jean, Greg e Miriam se aproximam feito os três patetas.
— Deixa ela, Liam! — Míriam grita imperativamente.
Eu desato minha blusa, colocando nas pernas nuas de Ísis.
Greg e Jean concordam em uníssono:
— É, Liam, porra, deixa a garota se divertir, ela já fez aniversário, não
fez?
Greg chuta uma lata de cerveja no chão.
Eu seguro o pescoço de Jean, lançando-o na lataria traseira, o baque
surdo reverbera junto ao grito de Míriam.
— Cala a boca, merda! — vocifero, jogando-o no chão, chuto a lata de
cerveja em Greg, que tenta desviar, mas sou certeiro, eu me volto para Jean,
dando um puta murro em seu ombro.
— Caralho, Liam! Que merda! — Greg grita, dando alguns passos
cambaleantes para trás. — Deixa de ser estressado por qualquer…
Antes que possam dizer outra merda, empurro-o, vociferando:
— Ela — aponto para Ísis — é fora de limites para qualquer um, porra!
— aponto para eles, em seguida, passo o dedo pela minha garganta, como se
cortasse meu pescoço. — Encarem como uma clara ameaça, Ísis é
inalcançável, caralho!
Entro no carro, cantando pneu, nem observo Bárbara ou Míriam, que
chuta um monte de terra em minha direção, pego a via de acesso de volta à
cidade.
Em poucos minutos, Ísis abre os olhos, grandes, castanhos, cílios
longos, maquiagem nas pálpebras e linhas d’água, marcadas em prata e preto,
ela geme:
— Conhece… Frederic Baur? — olho-a confuso, dando de ombros, ela
ri, apontando para frente. — Ele é o... criãããdor da lata… da bãtãtã Pringles,
sabe? — levanto uma sobrancelha, quase rindo, essa garota é uma peça. —
Aí… quando ele morreu… — um acesso de riso, que me permito rir também.
— O homem foi cremado e as cinzas dele… foram colocadas… numa lata de
Pringles.
Coço meu piercing no septo, estalando meu pescoço, a mão dela recai
na minha perna, Ísis me observa durante um bom tempo, mas sou eu quem a
sorvo, a curva do seu pescoço, a moleza na fala, o vestido serpenteando suas
curvas, os cabelos castanhos ondulados.
— Você não é tãooo bad boy assim, Liam… — os olhos vagos, encaro-
a.
— Se você acha. — volto a mirar para a pista, quase chegando à
cidade, Ísis vira a cabeça para o lado, jogando a mão no vidro.
— Seu pai… ele sempre me fala de você… sabe? — volta-se para
mim, bocejando. — Sempre mostrando uma foto sua na carteira, dizendo o
quanto te ama… e o quanto se arrepende… sabia que se somar todas as
formigas do mundo, o peso é maior do que dos humanos?
Vejo que se arrepia, coloco a blusa um pouco mais para cima, tomando
o cuidado de não a tocar.
— Não, não sabia. — digo, rindo, chegando no apartamento, intrigado
com o que disse sobre meu pai, o porteiro pede para que eu me identifique,
mostro Ísis chapada. — Sou o salvador dela. — assim que ele permite que eu
entre, estaciono e a seguro no colo.
Ela é leve, mesmo parecendo um saco de batatas moles nos meus
braços, a pele do seu rosto moldada no meu peito, a boca entreaberta, a
respiração pesada, alcoólica, assim que abro a porta do apartamento e a
coloco na cama, tiro suas sandálias lilases do Coragem, o cão covarde.
Saio do quarto para voltar ao barracão, agora que está sã e salva, sem
rastros de homens por perto, muito menos de Hugo, contudo, ela enlaça
minha mão na dela, pedindo com a voz embargada:
— Fica, Liãããmmm… — sorrio sem querer, tirando alguns fios longos
do seu rosto emoldurado pela luz que vem das frestas da cortina púrpura.
Uma verdadeira princesinha.
— Fico, vai… chega pro lado, amanhã você vai estar numa ressaca
daquelas.
Ísis sorri vagamente, eu a nino no meu peito enquanto ela se afunda em
sonhos, o meu celular vibra, Vivian pergunta quando vou visitá-la, naõ
respondo, outras mensagem de Míriam, Bárbara, Jean, Greg… até João
Pedro, todos preocupados com ela.
Ísis marca a ferro e fogo todos com que tem contato, fazendo a vida das
pessoas girar em torno do seu brilho e eu era a maior prova disso.
Capítulo 10

Que dor de cabeça, minhas pálpebras doem, minha boca seca, meus
lábios rachados e eu com a mesma roupa, ouço Liam conversando com a
minha mãe?
— Vivian, que porra! Já disse que tô na casa dela, merda, quer focar
um pouco no que eu tô dizendo? Diz ao Thales que ela não precisa de carro
aqui, caralhos! — os palavrões me incomodam um pouco, minha mão
vagueia para meu celular, algumas mensagens da Míriam.
Míriam, festa, ontem eu dançando…
Eu me sento na cama… como vim parar aqui? Forço minha memória,
mas só vem flashes na minha cabeça, minha boca amarga, sensação bizarra,
levantando da cama murmurando:
— Nunca mais vou beber…
— Primeira mentira que se fala depois do primeiro porre.
Levanto os olhos, Liam está sem camisa, cabelos lavados, apoiado com
o braço no batente da porta.
Reparo melhor em suas tatuagens, uma em sua costela com a frase:
“From blood we came to this world, by the blood we perish into it.”; “Do
sangue viemos a esse mundo, do sangue padecemos nele”, letra cursiva,
bonita em sua pele branca.
— É sério! — exclamo, ele estende um remédio, acho que é
ibuprofeno, um copo de água de coco, sentando-se ao meu lado, engulo o
remédio quase no seco, meus olhos espichados nele, Deus, que homem lindo.
Engasgo pensando na cena dele com a Bárbara, af! A Bárbara! Começo
a tossir feito uma doida, Liam ri, depois se preocupa, dando tapinhas em
minhas costas:
— Respira, garota, que merda! — ralha como se a culpa fosse minha,
tusso novamente, Liam se põe à minha frente. — Que susto, Ísis, porra!
Eu o encaro, meus olhos ainda embaçados pelo excesso de tosse, apoio
minhas mãos em suas coxas, sentindo uma moleza extrema pelo meu corpo,
parece que estou desidratada há séculos:
— Sabia que lá tinham gangues e Rachas, Liam? — fungo, baixinho.
— São pessoas perigosas, não são? Cuidado para não ser preso de novo!
Ele tira as minhas mãos das suas pernas, me jogando na cama:
— Vá à merda, garota!
Eu me zango, levantando e o ignorando, decidindo procurar minha
toalha, desesperada por um banho quente que aplaque a minha dor de cabeça
juntamente aos palavrões, à cena dele sem camisa, seus beijos, seu toque,
quero lavar Liam de mim.
Agarro a toalha, ele vem atrás, reclamando de qualquer coisa, parece
um chato chamando a minha atenção:
— Sai, Liam, já salvou a minha vida, feliz? — quando vou fechar a
porta do banheiro em sua cara, ele impede, colocando o pezão no batente,
segurando meu punho:
— Bebendo daquele jeito poderia estar morta! — vocifera, não entendo
o porquê desse espanto todo, ele força a entrada ao banheiro. — Acho que eu
ir a uma ou duas festas perigosas são passáveis, sua princesinha mimada!
— Ah garoto, vaza! — seus olhos ganham um tom mais escuro de
verde, balanço o braço para que me solte, ele segura mais forte.
— Da próxima, fica sozinha em qualquer lugar de merda, então! —
tento empurrá-lo para fora, forçando a porta, porém ele é muito mais forte e
permanece irredutível, caçoando. — Que foi, princesinha, o vândalo está
vandalizando demais?
— Me deixa, Liam! Vá para a sua festa com Rachas, gangues e... com
gente babaca e... com o Hugo e com a Bárbara, não me importo! — puxo a
porta mais uma vez, com a força que impomos, a maçaneta quebra, eu me
estatelo no chão do banheiro.
— Caralho, Ísis, você tá bem? Mano…
Eu bato de bunda no chão frio, o vestido rasga, que droga, era novinho!
— Você sempre faz isso, não? Destroça tudo que toca! — grito, irada.
Liam se debruça, ainda tento me recompor, seus olhos clareiam em
alguns tons, ele parece que dirá alguma coisa, mas se cala, dando um murro
na porta, ouço suas botinas tilintarem, saio atrás dele, que me mira:
— Eu não sou nada bom para você, Ísis, faça um favor a si mesma e se
mantenha bem longe de mim! — agarra seus óculos escuros sobre a mesinha
de cabeceira, carteira e celular, marchando pelo apartamento.
Seu passo pesado sobre o chão, seu charme ao mexer no cabelo, corro
para segurar em seu braço musculoso.
— Liam, desculpe, é meu aniversário, fica. — seu semblante não se
abranda, de preocupado a entediado se passam segundos, ele levanta os
ombros, buscando outra toalha, jogando-a em mim.
— Tá, tanto faz, toma logo essa porra de banho que eu te levo pra
almoçar ou algo assim. — pulo para dar um beijo em seu rosto, ele cruza os
braços, fazendo a habitual a cara de azedo.
— Ok, só separa meus jeans e a blusinha floral? — Liam ergue uma
sobrancelha, enquanto corro para o banheiro, ouço-o gritando do quarto.
— Que merda é essa de blusinha floral, garota?

Almoçamos no shopping, depois, passeando pelas lojas, vejo o vestido


que eu queria ontem, um verde, cheio de rendinhas, tomara que caia, algumas
pedrarias sortidas, porém, quase caio quando confiro o preço.
— Droga, tá caro pra caramba! — balbucio, Liam espia por de cima
do meu ombro, olhando a plaquinha etiquetada.
— Vai lá e compra, oras, é seu aniversário, não é? Thales não te dá
dinheiro não? — todo emburrado, encaro-o.
— Não tenho dinheiro assim não, Liam, não sabe o que mesada
significa? — caminho para a próxima loja, porém ele não me segue, entrando
na anterior. — Liam! — chamo-o, batendo as mãos na lateral do meu corpo,
ele queria me testar!
Eu paro meus passos quando o vejo conversando com a vendedora,
apontando para o vestido que eu queria, vou entrar para perguntar o que
acontece, mas a moça acena para mim sorrindo, o que ele pensa que está
fazendo lá parado atrás dela?
— Liam!? — chamo-o novamente, mas é inútil, ele levanta a
sobrancelha, enfiando as mãos em sua calça jeans rasgada, cheia de cacareco,
pichada nos joelhos, reviro os olhos.
Eu me viro de costas, batendo o pé no chão, o que ele quer fazer? Dizer
para a vendedora que não tenho dinheiro para comprar o vestido ou…
— Não te dou mais presentes, nem salvo a sua vida, ainda bem que não
engasgou o almoço que paguei, sua encrenqueira. — a logo da loja
estampada na sacola, meus olhos brilham… aquele vestido custava mais de
três mil reais.
— Liam… não precisava! — ele o toma da minha mão.
— Ok, então eu devolvo.
Eu me jogo em sua frente, pegando a sacola da loja, fuçando seu
interior.
— Mentira, mentirinha, precisava sim! — rio, abraçando-o, ele vira o
rosto, ainda emburrado, toco em sua barba rala, virando-o para mim. — Sabia
que seus olhos mudam de cor dependendo do seu humor?
O piercing em seu septo reluz, caminho um passo mais próximo, dando
um selinho demorado em seus lábios, ele ri:
— Não agradeça assim, não precisa.
— Eu não… — fico imediatamente um pimentão maduro, agarro a alça
da sacola da loja, dando um passo para o lado. — Grosso, estúpido,
prepotente, eu só… quis… sei lá, droga!
Eu sinto que vou enfiar a cabeça no chão de tanta vergonha, seu olhar é
inquisidor, porém, Liam me segura pelos ombros, apoiando meu queixo com
o indicador e me dando um beijo lento, calmo, molhado, sedutor.
— Se quer me agradecer, agradeça assim… — sua mão prende meu
punho para trás, a outra segura minha cintura, eu suspiro. — Se quer me
beijar, faça com vontade, Ísis, sou o tipo de homem ou tudo ou nada.
Meus olhos fixam nos dele, minha boca treme, assim como todo meu
corpo, a inquietação volta, eu me lanço, beijando-o, segurando firme seus
braços, Liam passa a língua, sinto seu piercing no meu lábio inferior, ele
morde leve, sua respiração arrepiando minha pele.
Seus olhos cravam nos meus, ele me conduz rapidamente ao
estacionamento, nossos dedos enlaçados um ao outro, Liam é tão bruto e
imprevisível, despertando um lado meu que até então não conhecia.
Acho que estou apaixonada pelo filho do meu padrasto.

Liam me prensa na pilastra de concreto do estacionamento, chego a


prender a respiração ante a outro beijo, suas mãos apertam a minha bunda
com vontade, nossos rostos se friccionam, meu corpo queima, mas o corpo
dele, nossa… chega a arder.
O piercing da sua língua perpassa meu pescoço, o calor da sua saliva e
o gelado do metal me fazem ter uma sensação incrível, remexo as coxas,
sentindo o efeito avassalador do seu contato.
Liam enrola o indicador na minha calcinha, puxando-a, sua mão segura
minhas costas, me colando mais a ele, outro gemido escapa da minha boca
entreaberta, é dolorosamente gostoso me esfregar nele.
Um carro passa por nós, me sobressalto, ele me tranquiliza:
— Relaxa, aqui ninguém vê nada.
Como ele sabe?
Não quero pensar sobre isso, seu dedo passa pelo meio das minhas
pernas, nenhum homem tocou em mim assim, olho-o com um misto de
vergonha, tesão, desejo, arfo em sua palma, fechando minhas pálpebras com
força.
As mãos dele são experientes, me tocam gostoso, estou tão molhada,
sinto seu dedo circundar meu clitóris devagar… inebriante tormento.
Outra investida de beijo, ele mordisca o lóbulo da minha orelha,
suspirando meu nome, meu quadril se movimenta consoante a velocidade que
impõe, o completo domínio que tem sobre mim, sobre meu desejo, corpo,
paixão, desejo… libido.
Seu dedo ousa um pouco mais, dói, mas é uma dor diferente, ele se
inclina, lambendo meu colo, entre o encontro dos meus seios, a mão firme na
minha bunda e a outra em me masturbar ali, no meio do estacionamento de
um shopping chique, sinto o calor do meu suor, tento abafar outro gemido
que irrompe sem qualquer anúncio. Liam tira o dedo de dentro de mim e o
chupa!
Ele chupa o dedo indicador com vontade.
Um olhar tão delicioso, pervertido, o estalo da minha lubrificação em
sua boca, o piercing passando pela extensão do dedo, ele segura meu rosto,
me virando de frente para a pilastra de costas para ele.
— Gostosa… — sussurra em meu ouvido, encaixando em mim,
ondulando o volume imenso da sua calça nas minhas costas, que… delícia!
Liam percorre com os dedos dentro da minha calcinha, estou tão lubrificada,
que não há empecilho no seu indicador em continuar me tocando.
Rebolo mais rápido, estou quase gozando, quase… nem comigo mesma
consigo um orgasmo tão intenso e tão rápido, Liam amassa meus seios por
cima da roupa, ofega rápido em minha orelha, me xinga baixo, deslizo a
cabeça por sua mão apoiada à pilastra.
— Goza pra mim, Ísis. — manda, urgente, olho-o por sobre o ombro,
seu rosto com uma expressão de lascívia, desejo, tesão, lambo as costas da
mão dele apoiada na pilastra.
— Ah, Liam! — gemo, mordendo, imediatamente, meu lábio inferior,
gozando em seu dedo, sinto minha musculatura tencionar e relaxar, vejo
pontos coloridos ao meu redor, sim, estou gozando de novo… mais forte e
intenso.
Inclino meu pescoço para beijá-lo, sentindo que esse momento nunca
seria esquecido por mim, mas como seria depois? Não tem como não me
sentir envergonhada, como serão os almoços em família? O Natal? Encará-lo
seria tranquilo?
E o que faço com essa paixão que corrói meu peito?
Como seria vê-lo com Bárbara?
— O que deu em mim!? — exclamo em voz alta, arrumando meu
cabelo atrás da orelha.
Liam não diz nada, sorri sem mostrar os dentes, um riso triunfal,
lambendo os lábios, virando-se para o lugar onde estacionou.
Eu sinto a culpa digladiar com meu desejo, eu me deixei ser tocada por
ele e me apaixonei, olho para o vestido que ele comprou me perguntando… e
agora? O que eu deveria fazer?
Capítulo 11

As aulas começam, faltei a semana do calouro toda, então, não é como


se exatamente conhecesse alguém, exceto por Míriam, Bárbara, Liam…
Liam.
Ele foi para os Estados Unidos um dia depois do meu aniversário, não
conversamos sobre o que aconteceu no shopping, não tive coragem de
abordar o assunto, parece que ele deu uma de doido e se isentou de conversar
comigo.
Nas últimas semanas, entretanto, o que tem me deixado intrigada são as
atitudes da minha mãe, ela não para de perguntar sobre Liam, se ele fica com
alguma garota, até Thales questionou qual o motivo dela de fazer tantas
perguntas com relação a ele.
Entro na sala de Introdução à psicologia, onde o professor apresenta as
principais bases teóricas, anoto no meu laptop a matéria, distraída demais
para fazer alguma pergunta que realmente acrescente algum conhecimento à
aula.
Depois Constituição Histórica da Psicologia, na outra sala, um bando
de alunos animados, rindo, conversando, um verdadeiro formigueiro de
sonhos. Eu me agarro ao meu material, pensando sobre meu futuro e não há
perspectivas sem que eu coloque Liam.
Apresso os passos, passo pela cantina, os salgados estão com uma cara
ótima, eu havia voltado a correr pela manhã, pegando outro plano de
treinamento com a personal, o que me permitia comer um desses duas vezes
por semana sem atrapalhar o treino, resisto, contudo, pagando por um suco de
melancia.
Agradeço e sento em uma mesa solitária, um rapaz aparece ao meu
lado, me surpreendo quase engasgando ao ver que é o mesmo da balada!
— Que coincidência! — exclama, separando-se dos amigos, pegando a
cadeira de uma mesa e se sentando ao meu lado. — Eu te procurei pra cacete,
sabia? — um sorriso se forma, a fileira de dentes brancos, cabelos cacheados
claros, corpo musculoso, menos que de Liam e... Liam, Liam, Liam! Só saia
da minha cabeça, o garoto continua:
— Espero que sem namorados que te traíram dessa vez.
Sorrio meio consternada, afinal, ele apanhou naquela noite. Admiro a
camisa larga branca abaixo de outra listrada sobre a calça jeans, estendo a
mão mirando seus olhos claros:
— Ísis, mil perdões por aquela noite. — ele vira o dorso da minha mão,
dando um beijo.
— Eu que deveria me desculpas, sou Diego, mas todo mundo me
conhece por Diggo. — ele se demora apertando a minha mão. — Ísis, nome
bonito, faz o que aqui?
Eu tiro a minha mão rapidamente, não sei, não me sinto tão à vontade,
infelizmente Liam martela meu comprometimento monogâmico, mal nos
falamos e uma conversa não seria de todo ruim, eu espero.
— Primeiro ano de psico e você?
Diego dá risada, aproximando-se mais de mim, percebo que tem alguns
anéis, uma pulseirinha de couro, algumas tatuagens com frases famosas de
Freud e Jung.
— Faço doutorado em psicologia aplicada a contratação de Recursos
Humanos. — diz entusiasmado, pegando a carteira, passando a um amigo que
se pré-dispôs a pedir um café para ele. — Quer alguma coisa, Ísis? — nego,
sorrindo, animada com a conversa. — Eu tenho um escritório de psicologia e
psiquiatria, se precisar de estágio, considere um convite, está gostando?
Afirmo, ainda não havia dado tempo de aproveitar tudo da
universidade, Diego pega o celular de seu bolso da frente:
— Me fala aí seu número. — desbloqueia a tela, sua imagem de
bloqueio é ele com uma garota parecida com ele, cadeirante e dois labradores
caramelos enormes em uma fazenda. — Vou te adicionar em um grupo de
estudo sobre Lacan, se quiser.
Claro que aceito, assim que passo meu número e ele manda uma
mensagem para salvar, olho o relógio no visor, avisando:
— Acho que preciso ir, a aula vai começar, a gente se fala depois.
Diego se levanta, pegando meu copo vazio para jogar fora.
— Com certeza, Ísis, a gente se vê.
Dou um tchau a seus amigos e a Diego e caminho para a aula, Míriam
me manda uma mensagem, pedindo que eu almoçasse com ela, depois
passasse em sua república. Pedi que ela ficasse no meu apartamento, não
estava a fim de ver Bárbara e companhia limitada.
Voltar para os Estados Unidos foi mais do que difícil, aqui não é mais
meu lar, agora, ajoelhado diante do túmulo de mármore da minha mãe, a
cerração embaçando minha vista, uma chuva fina sobre minha jaqueta:
— Não consegui me vingar deles ainda. — abaixo a cabeça, sem olhar
a pequena foto ao lado da plaqueta dourada com seu ano de nascimento e
morte, minha mãe morreu pela tristeza, confiou em mim e só a decepcionei,
me apaixonei por quem não devia. — Ísis é uma realidade na minha vida,
mas Vivian é a mira do nosso rancor.
Eu sinto uma lufada gelada perpassar meus cabelos, o frio sobe pela
minha pele, estou sozinho aqui, minha mãe jaz embaixo de mim, a grama ao
redor está seca, nem minhas rosas e lamentos dão vida à sua solidão eterna.
— Me mostre o que fazer, mãe. — imploro, sentindo um ardor nos
olhos, a imagem de Ísis é tão viva em mim.
Eu tenho olhado suas redes sociais sempre, vi seus primeiros passos na
faculdade, peço em segredo a João Pedro, Jean e Greg que me atualizam de
tudo, inegável que minha pele sente falta do seu calor, meus ouvidos da sua
risada, minhas mãos das suas curvas.
— Ela me enfeitiçou, cacete! — confesso, espalmando minhas mãos na
laje fria do cemitério, da tumba, da morte, a imagem da minha mãe invade
minhas memórias, o sangue, o horror, todos os dias que se seguiram até
minha ida definitiva ao Brasil… Thales!
— Ísis não é amante dele, mãe, eu me certifiquei disso, ela pode ser
uma ponte para a nossa justiça. — procuro uma desculpa no meio da minha
paixão desvairada. — Se eu acabar com o conto de fadas da palhaçada do
casamento do Thales, tiro Ísis da família e da mãe, Vivian vai sofrer por
perder a fonte de sua riqueza e a ostentação, ficaremos felizes quando isso
acontecer, não é?
Silêncio.
Fecho meus olhos, eu precisava vender a casa dela, tomar as rédeas de
alguns investimentos, não visitaria meus avós, não… eles culparam minha
mãe pela própria morte e nem se importaram quando disse que iria morar no
Brasil.
Não sou amado como Ísis, não tenho o brilho dela, a gentileza, nem
pretendo, sou assim, ela gostando ou não, sou um homem de tudo ou nada.
Beijo uma pétala das rosas-brancas que trouxe, levanto e sigo para a saída,
quando meu telefone apita uma mensagem.
Liam, já está no Brasil?
Pensei que pudéssemos nos encontrar no motel que me levou,
O que acha?
O meu espanto é ver que a cadela da Vivian tem coragem de me
mandar mensagem nesse solo sagrado.
Um riso de canto preenche meus lábios, a vadia está querendo dar para
mim de novo… se eu, ao invés de ignorá-la, envolvesse numa teia e
expusesse tudo a Thales?
Quanto a Ísis, posso persuadi-la a virar as costas para a mãe, mostrando
a ela o monstro que Vivian é, todo aquele teatro de amor de adolescência
pelo Thales vai ser destroçado, eliminado. Minha mãe suspeitou que a vaca
desgraçada nunca seria fiel.
De quebra, posso foder todo e qualquer relacionamento que Vivian
possa ter, num super exposed, tudo que tenho que fazer é dar corda, valeria a
pena ver o circo pegar fogo, nem preciso meter o pau nela, certo? Já que o
asco que sinto é tão grande, que posso vomitar em sua boca se tentar beijá-la.
Olho para o céu cinzento, nublado e triste, agradecendo a minha mãe,
por me dar um norte ao plano e sinto que estou parcialmente perdoado pela
dívida de ter me envolvido com a filha do inimigo.
Preciso usá-la como uma arma.
— A Ísis não tem culpa, mãe. — reforço a ideia a mim mesmo,
tentando eximir minha penitência, engulo o nojo ao responder à mulher.
Chego por esses dias, vou te passar o endereço do lugar.

Mais uma semana tão exaustiva quanto qualquer outra, algumas provas
já foram anunciadas, estou tão fatigada que mal tive condições de correr por
esses dias, felizmente o final de semana vem com uma promessa de estudos
na casa do Diego.
Ele se prontificou a dar um super aulão sobre as matérias recentes,
dando um baita fôlego em bibliografia, artigos e recomendando livros, o
rapaz é um gênio da psicologia aplicada em recursos humanos e um grande
entusiasta da filosofia, o mérito de Lacan, foi em conferir consistência
filosófica em nome da necessidade de se pensar o inconsciente.
Eu me aproximo de Míriam que oferece uma carona:
— Izzy, você não foi em nenhuma festa, nem nada, claro que adoro
ficar com você, mas a gente tem que sair! — sei que tenho entediado minha
amiga durante esse tempo, enlaço meu braço ao dela, caminhando para o
restaurante universitário.
— Hoje eu tenho um grupo de reunião de estudo, vamos? — ela faz
cara feia, emendo, sorrindo —. depois Diego e os amigos vão pra um
barzinho!
Míriam se anima, comentando sobre qual roupa quer se vestir, olho
meu celular pela milésima vez, esperando algum contato de Liam, porém, não
há nada.
Capítulo 12

Eu e Míriam chegamos de Uber na casa do Diego, minha amiga


exclama, assim que passamos da portaria para nos identificar:
— Ísis, olha a mansão do garoto! — minha amiga comenta, dou um
longo assovio ao passar por um jardim super bem cuidado com um laguinho e
uma pontezinha.
— Psicologia dá dinheiro, né? — comento, animada, pensando como
seria trabalhar num escritório que também tivesse um campo de cascalhos no
chão, bancos em madeira e ferro, altas árvores, flores e grama baixa.
A casa, em si, é enorme, três andares, carros diversos na garagem,
antessala, hall e uma estufa ao lado, alguns funcionários trabalhando
uniformizados, tijolinhos laranjas à mostra, teto alto, tudo muito claro,
banhando de luz natural o cômodo com conceito aberto.
— Oi, espero não termos chegado atrasadas. — comento, reparando em
mais algumas oito ou dez pessoas ao redor de uma mesa de petisquinhos,
refrigerante, cervejas e sucos.
Rodrigo me dá um abraço, sua loção pós-barba tem um cheiro gostoso,
reparo que veste camisa xadrez sobre outra branca, jeans, tênis, roupa
parecida que vejo em alguns retratos de família, junto à menina cadeirante e
os dois cachorros.
Ele repara que observo, sorri largo, apontando para a menina:
— Minha irmã, ela sofreu um acidente e infelizmente ficou paralítica,
ah. — aponta para um cachorro — Essa é a Canela e esse, — aponta para o
outro — o Sazon, minha irmã mora numa fazenda com os meus pais.
Eu fico meio sem graça dele ter percebido que estava olhando para a
foto, realmente, a garotinha é a cara dele:
— E os cachorrinhos moram lá também? — ele ri, negando, segura
meu braço e o de Míriam até a área atrás da cozinha requintada, onde uma
senhora tira um bolo delicioso do forno.
Diego fila uns farelos do bolo, a senhora gargalha, batendo em sua mão
travessa, sem que eu espere, ele coloca um pouco na minha boca, seguro o
pedaço farelento com a mão:
— Hm, fubá, adoro fubá! — brinco, Míriam ri, a senhora coloca as
mãos na cintura.
— Finalmente temos umas meninas com senso de humor aqui, qual a
sua namorada, Diggo? — Diego ri, colocando a mão na boca, sem responder,
Míriam me olha inquisidoramente, eu nego.
— Somos amigos. — resumo, a senhora gentilmente pega três
pratinhos e coloca o bolo para nós, Diego abre uma enorme porta dupla de
vidro.
— Sazon! Canela! — Diego chama, imediatamente os labradores
caramelo da sua foto aparecem segurando seus brinquedos na boca, Míriam
se abaixa para acariciar seus pelos macios e eu também.
Sazon joga um brinquedo nos meus pés e eu lanço pelo enorme quintal,
ele corre buscando todo feliz, já Canela, com uma fitinha rosa no pelo, inclina
a cabeça, Míriam aproveita a distração dela, arremessando outro brinquedo
para que o pegue.
— Gostaram de vocês. — Diego sorri, apoiando-se no batente da porta
de vidro próximo a mim, correspondo ao sorriso dele, a senhora traz os
pratinhos com bolo. Míriam e eu lavamos as mãos para nos sentarmos na
banqueta da ilha, servindo-nos de suco.
Diego olha para nós, comentando:
— Estou quase me arrependendo de não estar sozinho. — Míriam me
entreolha, dou uma abocanhada no bolo.
Eu tomo uma golada do suco, respondendo:
— Que isso, Diego, pode deixar que a gente se vira por aqui, nossa,
não imagina a vontade que eu estava de comer um bolo caseiro. — acredito
que o comentário dele é pelo fato de eu e Míriam nos apossarmos da bancada
e do bolo.
Minha amiga pega o celular, levantando-se depois de terminar o bolo,
segurando outro copo, dessa vez de refrigerante, pulando da cadeira e indo
para a sala.
— Vou esperar vocês para sairmos, a reunião demora muito?
Diego nega, prometendo ser, no máximo, duas horinhas, indo para o
lado dela:
— Quer o wifi daqui de casa? Ah, tem tv a cabo, se quiser procurar um
filme. — ajuda a minha amiga a se sentir mais confortável, termino o lanche,
agradecendo novamente a senhora.
— A Mi vai ficar bem, vamos? — ele sorri, assentindo com a cabeça,
me direcionando às escadas amplas depois da sala de estar.
Diego fica um pouco atrás de mim:
— A sala de multimídia é no terceiro andar, ao lado do quarto da
minha irmã quando ela vem passar um tempo comigo. — reparo que há um
elevador panorâmico, provavelmente para ser usado pela irmãzinha dele,
Diego dá uma corrida até ficar na minha frente.
— Ísis, separei alguns livros, pode ficar com eles, serão úteis no seu
primeiro ano. — reparo que o casarão parece ainda maior dentro, algumas
janelas de vidro dão acesso ao verde da estufa.
— Obrigada. — aponto para uma árvore que pode ser vista pelo vitral.
— É frutífera?
Diego vem ao meu lado, olhando para a direção que aponto.
— É um pau-brasil, meu pai é botânico, por isso a gente tem essa
floresta. — seu sorriso se alarga, seus dedos tocam meu cabelo, antes que eu
possa recuar, ele coloca uma mecha atrás da minha orelha. — Posso te
mostrar depois, há plantas raras lá, mas nada tão raro quanto você.

A reunião é bem exaustiva, principalmente porque não estou no mesmo


nível dos colegas do Diego, que já são doutores, mestres e graduados, fora
que… não, ele não estaria dando em cima de mim, só posso estar alucinando.
— A gente pode ver que a autora elabora o pensamento do Lacan
pensando na lógica moderna. — o colega de Diego sinaliza em slides seu
pensamento, enquanto passa por alguns conceitos primários para me elucidar.
— O que é a lógica para Lacan e a lógica pela lógica, então, ela vai tecer
esses argumentos usando a filosofia freudiana.
Eu anoto no meu caderno a apresentação de cada um, Diego me
entrega alguns livros, pedindo aos colegas que retomem algumas matérias
fundamentais e até casos de pacientes.
Assim que terminamos, os colegas de Diego parecem virar uma
chavinha, conversando animadamente comigo e as minhas expectativas
quanto ao curso, comentando sobre qual bar iríamos.
Eu mando uma mensagem para Míriam, que responde imediatamente,
dizendo que já tinha ido retocar a maquiagem no banheiro.
— Ísis, vem comigo? Não tem necessidade de pedir um UBER. —
comenta Diego, segurando a minha mão e me puxando para perto de si.
Eu tiro as minhas mãos da dele para pegar o celular, ainda tinha
esperanças de uma mensagem de Liam, mas é da minha mãe:
Esse próximo feriado eu e Thales vamos viajar, então, não precisa vir.
Não respondo de imediato, o próximo feriado seria só semana que vem,
a vontade dela em não me ver era tão grande que já deixou de sobreaviso.
— Ah, vamos sim. — respondo Diego finalmente, que bate uma mão
na outra.
— Ótimo, então, vamos? — dois grupinhos de quatro pessoas saem da
sala multimídia, estão todos animados, conversando sobre empregos,
professores, concursos públicos e correntes psicológicas.
Eu me sinto meio deslocada e, por que não dizer, uma fraude. A
psicologia por mais que me atraísse não preenchia um vazio dentro de mim,
por mais que eu queira correr atrás de uma solução para os meus problemas,
mais eu me afundo em decepção, não com relação ao curso, mas comigo
mesma.
Diego escolhe um dos carros em sua garagem, parece dispensar
alguém, talvez seu motorista? Não sei, passo perto da estufa, encantada com a
diversidade de flora em um espaço tão lindo como aquele, parece um paraíso
particular.
— Depois do bar, quer voltar e assistir a um filme comigo? — ele
pergunta, tocando com os dedos a minha cintura, tento arrumar uma desculpa
rapidamente, me afastando um pouco para evitar seu toque.
— Acho melhor estudar, amanhã tem aula. — ele sorri divertido, olho
o anel que Liam me deu, meu coração se aperta, não sei dizer o que temos, se
para ele foi só a empolgação do momento, já que para mim foi tudo tão real.
Estamos há tanto tempo sem nos ver, nem uma palavra, nenhuma
mensagem, nem sei se voltou ou não ao Brasil. O labirinto do medo me
consome como uma chama engole uma folha seca.
Diego volta a perguntar:
— Certo, final de semana, então? — felizmente, Míriam nos tira desse
embate, pedindo para que nos apressássemos ou chegaríamos no bar só de
madrugada.
É a deixa para que eu caminhe até o carro com ela; é melhor que Diego
não nutra nenhuma esperança amorosa comigo, já que eu estou na mesma
morada, junto à escuridão com Liam.
Capítulo 13

Voltar à rotina de faculdade no Brasil é foda!


Além das matérias serem diferentes, os professores acostumados com
bajulação e puxa-saquismo, eu quase mandei tudo ir à merda, nada valia a
pena, mas desencanar do curso faltando apenas um ano para terminar não
seria uma escolha inteligente.
Além de não poder sondá-la com a frequência que gostaria.
Vivian comia na minha mão, decidi abrir o jogo de sua infidelidade no
aniversário de casamento com Thales, depois do feriado da próxima semana,
por enquanto, eu tinha um outro assunto a tratar: Júnior, o desafeto da família
de João Pedro.
Eu chego tarde da noite no barracão, agradecendo por ter deixado uma
muda de roupa, alguns salgadinhos, brejas, cigarros e um playstation 5 com
jogos, não ousei falar, ver ou mandar mensagem para Ísis.
Não é medo, é… pânico, não posso chegar como se nada tivesse
acontecido, mas não posso me dar ao luxo de desperdiçar a chance de
represália contra Thales e Vivian.
— Liam? Não sabia que já tinha chegado. — Greg me cumprimenta,
ao seu encalço Jean.
— Se tivesse avisado — alerta Jean —, a gente tinha te buscado no
aeroporto ou algo assim.
Dou de ombros, levantando a minha blusa para sentir o vento fresco da
noite.
— Não foi necessário, porra, aliás — olho para os lados — a gente tem
que bater um papo sobre Júnior, assim que JP chegar, quero mandar o papo
reto sobre o que vamos fazer com o pedófilo do caralho.
O plano é simples e eficaz, mas não muito rápido, elucido:
— A gente atrai o Júnior com um perfil fake, assim que ele morder a
isca, recolhemos provas e mandamos o desgraçado para o fogo do inferno. —
Jean e Greg se olham.
Greg quebra o silêncio:
— Tem uma diferença entre furto e desmanche de carros para
assassinato, Liam, por mais nobre que seja a intenção, tá ligado? — Greg tira
as botinas de militar, deitando em um puff perto de mim.
Jean faz outro fio de pensamento:
— E se usássemos, tipo, a Ísis como isca? Ela é uma moça que se passa
por menor, sem problemas. — ele anda até a minha frente, tirando um
baseado da calça bag. — Ela mesma pode chamar a polícia quando perceber
que está sendo incomodada por um pervertido sexual filha da puta.
— Não vou enfiar a Ísis nesse rolê não, parça. — esclareço, pegando a
maconha, tragando fundo. — Já não basta o pé de ouvido que dei em vocês
na noite do corre? Repito pela última vez, Ísis é fora dos nossos rolês, seja
qual for.
Jean pega o controle do game, escolhendo um para começar a jogar,
Greg se serve de cerveja e pergunta se estamos a fim de uma pizza.
Jean continua, falando de uma maneira mais pausada, como se falar e
jogar fossem duas ações impossíveis de serem feitas juntas.
— Liam, tá ligado o Sávio e o Ramon que procuraram você e o JP? —
lembro imediatamente dos dois manos que estavam no bar, no dia anterior ao
aniversário de Ísis, um com a tatuagem de aranha o outro recém-saído da
prisão.
— O que tem? — resmungo baixo, trocando a essência do meu VAPE.
— Vamos falar com eles, tenho certeza de que conhecessem alguém
louco para comer cu de pedófilo. — Jean morre no jogo, xingando baixo.
Greg ri, aparentemente concordando e emenda:
— Seria bom também ser tipo um teste pro nosso grupo, já que
queremos trazer eles para junto, saca? — pede uma pizza de frango com
catupiry para ser buscada no endereço da pizzaria. — Puta merda, Liam, eles
podem ter um bom plano pra esse tipo de parada.
Não sei se a ideia é boa, mas pode ser produtiva, já fui preso várias
vezes, mas nada comparado a esse tipo de crime, se Sávio e Ramon quiserem
mesmo fazer parte da família, posso resolver esse b.o e o de Júnior sem tanto
estresse.
— Certo, saca só. — levanto, enfiando as mãos no bolso traseiro do
meu jeans. — Eu falo com Ramon e Sávio, aí esses putos podem mandar um
papo para Júnior, ok? Se fizerem a parada, entram, senão, a gente manda eles
tomarem no cu e pensamos no melhor plano.
Jean e Greg concordam, João Pedro acaba de abrir o barracão, assim
que me vê faz nosso cumprimento, relatando:
— Ísis foi num bar hoje com um playboyzinho gente boa da faculdade,
Liam, a gente deve colar lá?
Eu cerro as minhas mãos morrendo de ciúmes, playboyzinho gente boa
quem é o mano que ela anda vendo? Eu me mantive longe demais, encaro JP
que está sossegado:
— Ela tá ficando com ele?
João Pedro nega, Greg e Jean botam pilha, fazendo barulho de sexo
com a boca e se mexendo feito dois imbecis com o corpo, moleques!
— Playboy da faculdade tá liberado pra ela, Liam? — Gregório fala,
sarrando no alto, a verdadeira visão da quinta série.
Jean finge colocar uma pica dentro da boca, falando de modo abafado:
— Quem vai ser o padrinho de casamento?
Bato o pé no chão, bufando, não sei brincar, João Pedro, entretanto fala
o que não sei se fico feliz ou triste:
— Seus putos, ela não tá ficando com mano não, na verdade, ela estava
chorando perto do banco, antes que pergunte, levantei a ficha do cara. —
João Pedro parece que descreve um santo, o pretendente perfeito para Ísis.
— Descobri que é Diego Martins. — olho em interrogação como se
tivesse que conhece-lo, é obrigação dos outros me conhecerem, não o
contrário, JP bufa, enumerando com os dedos levantados as qualidade do
cara.
Continua:
— Um puta cara da hora, trabalhos sociais, doutô em psicologia, a irmã
é deficiente e o manolo ajuda ONGs de animais. — finge se abanar com as
mãos. — Bonito, ricaço, um cavalheiro de romance.
O meu coração vai parar na garganta, junto as chaves da minha picape,
celular, agarro o colarinho de JP:
— Bora para o apê da Ísis, no caminho a gente discute as ideias que
tivemos para arrombar o cu do Júnior.
Passo em frente do bar, mas nada deles, claro, em que mundo Ísis
ficaria até de madrugada na porra de um boteco?
O receio de encontrá-los no apartamento dela me inquieta e se
estiverem juntos? Afinal, eu e Ísis não temos nada, demos um amasso mais
intenso, porém, nada que a prenda a mim.
E eu deveria ficar aliviado com relação a isso, deixá-la para lá e focar
em Vivian, já que é a minha maior prioridade, além das minhas obrigações
como membro de gangue, mas não consigo sustentar esse pensamento — se
ela estiver um cara gente boa, melhor — contudo, o ciúmes é imenso.
Entro num labirinto crescente dos meus temores, um paradigma
insustentável: tê-la significa renunciar a várias coisas, poupá-la como der da
retaliação contra a mãe, além de tomar o extremo cuidado de não a deixar ser
tragada na escuridão de crimes que eu vivo.
Estou disposto a isso.
Por outro lado, Ísis merece alguém melhor que eu, não tenho nada a
oferecer a ela que seja útil, se o cara for gente boa mesmo, incentivarei o
envolvimento dos dois. João Pedro raspa a garganta, diminuindo o volume da
música:
— Liam, você é a fim da Ísis, não é não? — olho-o, negar seria ferir
mais ainda a inteligência do meu amigo, além de me trair; afirmar é assumir
toda a responsabilidade que tenho em mantê-la a salvo do meu mundo, é
como roubar a inocência dela duas vezes, a física e psicológica.
Eu a tenho, mas ao mesmo tempo, não a possuo.
— Meio óbvio nessa altura do campeonato, né não? — ele suspira,
olhando para mim numa expressão apiedada.
— Ela se amarra em você, Liam, mas será que esse lance com a sua
madrasta — eu o encaro, não tinha o que responder, entro no estacionamento
do apartamento dela, ele continua — Você membro de gangue, membro não,
líder. — estacionamos, não saímos. — Seu histórico com a polícia, os
esportes, as pichações e o rolê de furto de carros, tipo, ela sabe?
— Não. — resumo.
JP inspira ruidosamente, tamborilando os dedos nas pernas.
— E se ela estiver com o mano lá em cima? — finalmente
desembucha.
— Se ele é gente boa como me disse, não tenho o direito de ser cuzão.
João Pedro me fita, saindo do carro, olhos vidrados no nada.
— É o carro dele, Liam.
Eu paro de respirar, aquele Porsche era o carro dele? Tudo dentro de
mim se mexe com uma imensa frieza, JP coloca a mão no meu ombro, me
empurrando:
— Bora?
Não sei se quero, seria necessário eu a ver com alguém para deixá-la
ir? Sinto que o sangue se esvai das minhas veias, a sensação de calor e frio
juntando-se ao medo.
Minha princesinha estaria com um príncipe, não com um ogro, um
monstro como eu. Os corredores sombrios da minha mente parecem ecoar
meus pensamentos angustiados, e me sinto envolvido por um novo cenário de
perda.
— Bora, Liam, vamos subir! — João Pedro chama a minha atenção e a
cada lance de escada a culpa pesa em meu peito como uma âncora, me
arrastando para um abismo de tristeza.
Eu só quero vê-la feliz.
Seria melhor remanescer no anonimato, me ocultar nas sombras e
deixar que Ísis encontre a felicidade que só seria possível longe de mim.
Talvez fosse mais sensato nem mesmo contar que retornei, permitindo que a
névoa do esquecimento encubra minha presença. Afinal, o que poderia eu
oferecer além de dor e desolação?
Assim que encaro a porta do apartamento, ouço conversa, parece
Míriam, uma voz mais grave, João Pedro cola a orelha na porta para ouvir,
faço o mesmo.
A ideia de acabar com a raça da Vivian, minha tormenta pessoal,
parece cada vez mais tentadora. Poderia eliminá-la de uma vez por todas,
extinguir sua presença da minha vida, e então retornar aos Estados Unidos,
buscar a paz ao lado de minha mãe.
Quase caímos quando o manolo abre a porta:
— Er… oi? — o sujeito é um pouco mais baixo que eu, bombadinho de
academia, cabelos e olhos claros, barba cerrada, uma cara de playboy. Vou
perguntar sobre Ísis, quando Míriam passa por ele, me abraçando:
— Liam, graças a Deus… a Izzy teve um piripaque no meio do bar,
acredita? Se não fosse pelo Diggo ter levado a gente para o pronto-socorro e,
quando voltou?
Não sei se sinto alívio ou pesar, a imagem de Ísis invade meus
pensamentos, seu sorriso fácil, sua voz suave lilás e doce. Ela é a única
mulher que realmente tocou o monstro que eu sou, que enxergou além das
sombras e encontrou algo de valor em um cabaço como eu.
— Não são as medicações? — indago, levantando uma sobrancelha,
Diego cruza os dedos sobre o rosto.
— Medicações? Ela faz uso de algum medicamento?
João Pedro o encara tanto que acho que chega a incomodá-lo, eles
estendem a mão e se cumprimentam brevemente, Míriam pega alguns frascos
de remédio da Vivian.
— São esses?
Diego vai ao encontro dela, pegando-os e analisando seriamente.
— Ela não pode tomar esse tipo de medicação, é controlado e está no
nome de… Vivian.
Até longe a mãe dela consegue prejudicá-la, caralho! Fico envolto
nessa atmosfera ignorando meus conflitos internos, caminho pelo corredor
sombrios do apartamento, enquanto Diego comenta o porquê ela não pode
tomar aquela merda.
Abro a porta do quarto, ela está dormindo com uma camisa minha do
Slipknot, mãos para fora do edredom, pego-as, dando alguns beijos. Míriam
fala quem eu sou para Diego.
Estou dilacerado entre a culpa e o desejo que é a figura de Ísis
adormecida.
— Li-Liam. — murmura em seu sono inquieto, passo o polegar por
uma lágrima quente que escorre solitária em seu rosto.
— Eu voltei e não vou mais para lugar algum.
Capítulo 14

Eu a aninho um pouco, deslizando minhas mãos pelo edredom lilás,


reparando haver uma marca vermelha no local do anel que dei a ela no dia do
aniversário.
Meu coração aperta ao ver aquela marca, como se Ísis tivesse forçado
tanto no dedo, talvez com medo de perder, que a joia praticamente afundou
na pele.
O que eu fiz? Por que fiquei tão longe?
Sinto um nó na garganta, uma angústia que me consome por dentro.
Saio do quarto com a vontade de ficar, morto de saudades. Ao entrar na sala,
percebo Diego e João Pedro em uma conversa séria, enquanto Míriam anda
de um lado para o outro com as mãos na cintura, claramente preocupada.
Tranquilizo a todos:
— Ela está consciente, só grogue, não entendo o porquê dessa merda
de remédio. — cruzo os braços, me sentando no sofá. — Eu já tinha visto na
casa da mãe dela, mas não sabia que estava fazendo disso um hábito.
Diego assente, observando de modo assertivo:
— Ela foi para o bar comigo e com Míriam. — aponta para si e para a
amiga de Ísis. — Depois de algumas poucas horas, ela reclamou de sono.
Parecia tão cansada e pálida. — ele vai até o galão d’água e se serve, vejo que
está bem nervoso.
— A pressão dela começou a despencar e, do nada, ficou fria feito uma
pedra de gelo. — toma toda a água, lavando o copo, suspirando. — Achei
melhor levá-la ao pronto-socorro. Lá, ela tomou soro, dormiu algumas horas
e, então, voltamos.
Míriam se senta ao meu lado, João Pedro tira um chicletes do bolso,
dando uma olhada em seu celular, enquanto Diego continua:
— Míriam a auxiliou com o banho e, logo em seguida, você chegou.
— É, valeu. — murmuro, preocupado.
Meu pensamento se divide entre ela e minhas preocupações, ainda nem
falei com João sobre Sávio, Ramon e o susto em Júnior. Há algo errado, algo
que não consigo decifrar tampouco.
Míriam me encara, curiosa:
— Liam, onde esteve? Sumiu por tanto tempo… — ela arruma a saia,
visivelmente abatida, rodando o celular entre os dedos.
Respondo:
— Precisei arrumar umas coisas da minha mãe nos Estados Unidos,
voltei hoje. — resumo, olhando para João, mas a preocupação com Ísis
permanece estampada em meu rosto.
— Ah, sim. — ela responde, levantando-se e me dando um abraço,
Diego bate as mãos nos bolsos, suspirando:
— Bem, acho que vou indo. Até mais, Míriam, Liam, João Pedro. —
diz educadamente, despedindo-se.
Míriam corre até ele, pedindo para que espere, olhando para mim:
— Quer que eu durma aqui, caso precise de algo? — vira-se para
Diego. — Senão eu ia pedir uma carona para Diego, sabe? Amanhã tenho
uma prova.
— Eu fico, não se preocupe e João Pedro te leva, certo? — ergo uma
sobrancelha, JP concorda, oferecendo um chiclete a Míriam, que recusa.
Eu me levanto, conduzindo-os para a porta do apê:
— Valeu mesmo. — agradeço, sentindo tenso por essa interação tão
bizarra, claramente ele é a fim dela.
— Não há de quê! Sério, Ísis é uma garota muito inteligente, um tanto
tímida e, bem, falou de você o tempo todo. — ele diz, me olhando com
simpatia.
— Sou um péssimo exemplo. — confesso, carregando o peso da culpa.
— Não, ela disse que seu pai se casou com a mãe dela, certo? —
indaga Diego, pegando suas chaves.
— Por aí. — respondo, desviando o olhar.
— Quando ela acordar, diz pra me ligar? Só pra dizer que está bem e
tals. — pede ele, preocupado.
— Claro. — concordo, já meio puto com o lenga-lenga.
— Boa noite. — finalmente se despede e vaza.
— Noite. — respondo, fitando o vazio por um momento, percebo que
estou sendo observado por Míriam e João Pedro, me viro para eles.
Míriam comenta.
— Os dois iriam fazer um casal tão fofo, não iriam, Liam?

Depois que Míriam se foi, ainda bem, não suportava mais essa garota
defendendo Diego, eu me sento com João Pedro, falei sobre as possibilidades
de plano para se vingar de Júnior, ele retoma a história mais afundo.
— O filha da puta começou a “namorar” — faz aspas com os dedos —
a minha irmã com dez anos, Liam, não posso descrever como tudo deu
errado, ele tinha quase dezessete anos, a lei isentou ele, tá ligado?
Eu sei qual era a sensação, Vivian me olhava estranho desde os
quatorze quando abusou de mim a primeira vez, fiquei muito chocado, mas
como iniciei minha vida sexual muito cedo, não via problemas, mesmo ela
sendo casada com o meu pai.
Foi terrível, senti nojo de mim, dela, de Thales e só aos dezesseis pude
colocar em mente o quão fodido aquilo era, um homem que fica de pau duro
não, necessariamente, está a fim de trepar.
Assim como orgasmo feminino pode ser causado por estímulos que ela
não goste, para nós, homens, é mais ou menos a mesma parada; com a
diferença gritante da irmã de João Pedro ter somente dez anos e o filha da
puta não ter pagado o que fez.
— Sobre pedir a Sávio e Ramon, o que acha? — pergunto sem
meandros, apoiando meus cotovelos sobre a minha coxa, olhando as cartelas
e frascos do remédio que Ísis estava usando.
— A parada, Liam, é que ele faz isso com outras crianças, o cara tem
material de pedofilia, deve conquistar crianças por redes sociais e tals é isso
que eu quero impedir, não importa os métodos.
— Então, vamos fazer o seguinte, você entra em contato com o Sávio e
o Ramon, vá no bar em que a gente viu eles, vão estar lá, diga qual é a
parada, tá ligado?
JP me agradece, nos despedimos e fico pensativo, o que leva uma
pessoa a escolher crianças?
A irmã de João Pedro nunca se recuperou do trauma, ela mora com os
avós no interior e constantemente tem crises, devendo ser assistida por
psiquiatras e psicólogos, por isso ele entrou na gangue de desmanche, para
ajudar a custear os tratamentos dela.
Eu fico com meus próprios pensamentos, quando vejo que o sol já está
alto, ouço os passos de Ísis pela casa, assim que ela me vê, paralisa onde está.
A minha camisa, a qual a veste, é larga para ela, deixando seu ombro à
mostra, está sem sutiã, as pernas nuas, pantufas e um rosto assustado.
— Liam? — pergunta, colocando a manga da camisa na boca — Já
voltou?
Aceno que sim, ela fica desconfortável olhando os remédios na
mesinha de centro, ergo uma sobrancelha, ela vacila, indo até eles para
guardá-los, seguro sua mão:
— Que merda é essa, Ísis?
Ela sorri, arrumando o cabelo atrás da orelha, deslizando as meias pelo
piso, toda descabelada, fazendo um fusquinha tímido com o nariz arrebitado
e, cacete, dessa maneira não podia estar mais bonita.
— Diego e Míriam ficaram chateados comigo, né?
Desvio o olhar, não quero demonstrar meu ciúmes pela preocupação
dela com Diego, dou de ombros:
— Preocupados, assim como eu — enfatizo o pronome, recostando
minhas costas no sofá — não é normal tomar remédios sem passar em um
médico.
Ísis sorri encabulada, mordendo o dedo, enquanto caminha para a
cozinha, servindo-se de um copo d’água:
— Hm, e fumar, pode?
Que cabeça dura, o que tem a ver uma coisa com outra, cacete? Olho-a,
negando com a cabeça:
— Você sabe que é diferente, merda.
Ísis não se convence, caminha com o copo até mim, batendo no vidro
com as unhas pintadas de roxo e adesivos de Hello Kitty:
— Diferente em que sentido? — toma um gole — Não deveria estar
preocupado comigo, já que sumiu, de novo.
Eu me estresso com essa garota, levanto, segurando-a pelo punho, as
correntes da minha calça tilintam, passo a mão na minha cabeça, irritado:
— Estou de volta quer queira quer não, agora, vem — conduzo-a até o
quarto — se troca, vou te levar para a faculdade — não há resistência —, no
caminho, tomamos café e você me atualiza de tudo.

Não foi um dia nada fácil, durante o café da manhã na padaria Ísis
relutava e esquivava para falar sobre os remédios, sondei como é o
relacionamento dela com a mãe.
Ísis respondeu evasiva, esquivando-se de se aprofundar em qualquer
assunto, dando de ombros e bufando, não me retornava em nada, somente
olhos marejados, tristes, os lábios trêmulos e mãos inquietas.
Resolvi não insistir, ainda.
Não fui para o apartamento com ela depois das aulas, decidi ir ao
barracão ver com João Pedro se Sávio ou Ramon deram uma resposta,
felizmente, meu palpite de que estivessem no bar deu certo.
Ramon, Greg, Jean e João Paulo me aguardavam com um plano, decidi
avisar Míriam para que ficasse com a amiga, felizmente esse já era o plano
dela, então relaxei um pouco quanto a isso.
Agora, já dei fim nos carros parados para que viessem novos, outros
modelos estavam sendo lançado, então, meu mercado esquentava.
No momento estou pagando com notas da minha carteira alguns
moleques que furtaram itens automobilísticos pelas ruas, mando-os vazarem,
em seguida, entro no pátio e os vejo sentados, comendo miojo.
— Tinha uns manolos ali pra entregar pneus e rádios de carro, porra.
— reclamo, tirando a camisa. — Deixam tudo pra mim? — me sento no sofá,
pegando meu celular.
— Foi mal, Liam, a gente tá aqui concentrado no plano. — Jean diz,
apontando para Sávio.
— A gente meio que concordou com algumas paradas, tá ligado? —
Greg chupa o caldo do miojo, fazendo um ruído desagradável.
Sávio se levanta, me cumprimentando com um aperto de mão.
— Liam — Sávio bate no meu ombro —, pela minha experiência na
cadeia, qualquer pedófilo — cospe no chão, enojado —, qualquer um que faz
mal a crianças, recebe uma punição do tribunal do crime cadeeiro, ou seja,
eles matam o cara lentamente, estuprando o sujeito, o cu do mano fica tão
largo que é possível enfiar uma garrafa pet de dois litros dentro.
João Pedro ri, colocando o prato de miojo no chão, ao lado de alguns
pneus, descansando as mãos na barriga, o brilho dos olhos do meu amigo
reluzem:
— Eu só quero que ele pague o que fez com a minha irmã, sério, quero
que quando a porra da polícia chegar no chiqueiro da casa dele, veja todo o
material! — quase esganiça, levantando, logo em seguida, para ir ao
banheiro.
Eu o conheço, ele quer ficar à sós com o próprio pensamento, pego um
cigarro, tragando longamente, baforo em meio ao silêncio perturbador, parece
que levei uma surra.
Sávio olha para Greg, Jean pega uma coca-cola, quase derrubando a
garrafa no chão, jogo a bituca no cinzeiro, acendendo meu VAPE.
Sávio inquire, coçando a barba rala:
— Liam, você conhece alguém que pode ser isca para o pedófilo? —
não o respondo, ele continua — eu manjo de algumas paradas de hackear
computadores. — acende um cigarro — Ramon é excelente em entrar na
deep web para pesquisar materiais e, claro, podemos arquitetar para flagrar o
cara e a mina até a casa dele, lá a gente surpreende, João Pedro tem a
vingança, a gente mata ele ou chama a polícia e pronto.
Eu bufo, olhando meus amigos, nenhum deles passaria por um menino
menor de idade, muito menos criança, Ísis está fora de cogitação, observo a
tatuagem de aranha preta e vermelha no pescoço de Sávio, o cara é liso, não
sei se confio.
Como se lesse meus pensamentos, Sávio se aproxima, tirando um
baseado do bolso:
— Confia em mim, posso dar um jeito nesse pedófilo, em troca,
podemos firmar minha entrada e a de Ramon no seu bando?
Eu tinha que dar um voto de confiança, pego a maconha de seus dedos,
tragando, afino meu olhar para a brasa da droga, dando um passo para a
frente:
— Sejam bem-vindos a essa porra, se quiser, traz seus bagulhos e se
aconchega por aqui — dou um chute nos tênis de Jean, Greg — hey, mostrem
pra ele esse chiqueiro.
Sávio ri, a aranha parece rir também, a marca vermelha no dorso, as
patas em estilo realista.
— Não quero me arrepender da minha decisão. — enfio as mãos nos
bolsos, está feito.
Eu os deixaria conversando agora, recebo uma mensagem de Thales,
pedindo que eu ligasse com certa urgência.
Que merda eu tinha feito agora?
Capítulo 15

Achei que eu nunca mais a veria depois da balada.


Ísis foi uma grata surpresa àquela noite — depois de eu terminar meu
namoro de quase cinco anos —, me diverti até quando entrei numa briga,
caramba, há anos não entrava em uma!
Com seus olhos castanhos brilhantes, cabelos longos, cheios de grandes
cachos abertos nas pontas, o corpo curvilíneo chamando a atenção por onde
passava na balada. Ísis é uma moça que despertaria meu interesse em
qualquer situação, sem dúvidas.
Eu tentei desencanar, até vê-la na faculdade, o mesmo lugar em que
estou fazendo meu doutorado, talvez fosse o momento de eu acreditar, nem
que seja só um pouco em destinos cruzados.
Desde aquela noite experimento punhetas insaciáveis no banheiro,
fiquei até incrédulo de como conseguia ser tão criativo em imaginá-la
transando comigo.
No entanto, aqui está ela, ao meu lado, em uma carona até seu
apartamento, com a desculpa que minha empregada fez uma torta de frango
especialmente para ela, já que não quero vê-la intimidada com a minha
preocupação do seu desmaio ontem.
Assim que chegamos ao apartamento, ela puxa dois pratos na banqueta,
toda feliz, pegando os farelos da torta, cheia de sorrisos lindos direcionados a
mim:
— Uau, a dona Tereza cozinha muito bem, já saí da dieta de novo. —
sorri, pegando uma garrafinha de Coca-Cola.
— Não precisa de dieta. — suspiro, apoiando meu cotovelo na bancada
e minhas mãos no queixo.
Ela ri, garfando um pouco da massa.
Eu confesso que me diverti ao testemunhar a forma adolescente como
ela e o ex-namorado discutiram na minha frente, uma vontade de gargalhar
como há anos não vivenciava em um drama tão trivial.
Agora, estou preocupado demais com ela desde ontem, ainda mais
quando o enteado da sua mãe apareceu; Liam, não é isso?
— Espero que a Míriam não tenha te obrigado a me dar carona, Diggo.
— comenta, mal sabe ela que eu quase implorei para a amiga me deixar mais
tempo sozinho com ela. Para minha sorte, Míriam nos shippa.
Porém me intriga saber o papel que Liam tem em sua vida.
O rapaz tatuado, bonito, todo cheio de marra, gírias, calças rasgadas,
coturnos, o punkzinho me despertou inseguranças, refleti muito sobre Liam,
os dois se gostavam?
— Não, não, estou tranquilo hoje, achei que Liam estaria te esperando.
Ela ri sem me olhar, mexendo no prato com o garfo, tomando mais um
longo gole de Coca.
Eu me guio pela minha experiência, o possível uso que faz dos
remédios denotam uma vida familiar não muito afetuosa, psicologicamente
falando. Porém, Liam e ela têm uma conexão especial, senão ele não estaria
tão aflito, chegando tão apreensivo aqui ontem com o amigo, há algo que não
posso simplesmente ignorar.
— Gostou da torta? — pergunto, ela acena afirmativamente, virando os
olhos exageradamente com a boca cheia, dando uma voltinha em torno de si.
Eu tenho uma atração enorme por ela, os olhos da moça me fascinam,
sua voz alegre, sua inteligência e bom humor, suas curvas. Tudo nela me
cativa a cada conversa, a cada risada gostosa de algo bobo que falo.
— Adorei a torta e, bem, Liam nunca fica em um lugar só, Diggo. —
confessa, terminando de comer, colocando a louça na pia limpa.
— Ele namora? — ela não responde, o olhar se perde por alguns
segundos, antes de dizer que vai escovar os dentes, para estudar comigo as
matérias da semana.
Ainda que minha mente esteja repleta de dúvidas, não consigo evitar de
sonhar com a possibilidade de chegar mais perto, mas tenho tempo e material
suficiente para fantasiar com ela mais tempo nos meus banhos.

Eu reviso junto a ela, toda a matéria, ensino algumas táticas de


memorização e agora ela pega um caderno com as anotações de Análise
Comportamental do desenvolvimento humano, entregando-o para mim.
— Ok, pode perguntar qualquer coisa. — pede com um jeitinho
carinhoso.
Eu vejo que o caderno é roxo com vários adesivos colados na capa, a
escrita com corações ao invés de pontos nos “is”, as canetas coloridas, com
glitter, letra caprichada e vários sinalizadores de “importante”, “cai na
prova”, “memorizar”.
— Hm, vejamos, quais os principais aspectos do desenvolvimento de
uma criança? — pergunto, ela apoia a caneta no lábio, abraçando uma perna,
pensativa.
O cheiro gostoso de algum creme entra nas minhas narinas, os cabelos
molhados, gotejando no tapete fofo, estudamos na mesa no centro da sala,
reparo que há vários funkos de séries e livros.
— Os principais aspectos são o físico, — usa a caneta para levantar um
dedo — o social, o emocional e o cognitivo, — respira triunfante, apoiando
as mãos na mesinha, sorrindo — e todos são interligados!
Eu rio, levantando o polegar em “joinha”.
— Isso, depois você vai aprender que a terapia comportamental é a
mesma que a Behavoirista, devido influências, tipo. — faço uma pirâmide
com os dedos, ela anota em um canto do caderno. — Essa seria a pirâmide de
Maslow, na ponta a base são as fisiológicas, seguida por segurança, social ou
de amor e relacionamento, estima e, no topo, autorrealização ou realização
pessoal.
— E o que são cada um deles? — indaga, apagando um traço piramidal
torto.
— Melhor memorizar isso, por enquanto. — sorrio, vendo que os
livros que dei a ela estão com marcadores de páginas em cada capítulo. —
Vamos rever as fases do desenvolvimento humano? Depois, a gente pode
retomar a filosofia freudiana.
Não vejo a hora passar, quando eu sugiro uma pausa para um lanche já
são quase seis da tarde, percebo que Ísis comenta muito pouco da mãe,
durante os estudos, disse só ser filha única e que é distante dos pais.
Nada me passa desapercebido, muito menos, a tensão dela em falar
sobre Liam, que sempre é exemplo em suas análises; definitivamente ele está
na vida dela.
— Eu estava pensando. — comento, ela recolhe os materiais, me
deixando encarregado de escolher um filme, enquanto chama Míriam para
assistir com a gente. — Que tal irmos acampar esse feriado na chácara dos
meus pais?
Ela pondera, amarrando os cabelos em rabo de cavalo, mordendo os
lábios:
— Não sei, porque no final de semana que vem, depois do feriado, é o
aniversário de casamento da minha mãe.
— Hm, pena, espero que possa ir, sua mãe deixa você acampar, será?
Ela sorri, caminhando até a pia para lavar a louça, eu me ofereço para
fazer isso, ela nega, então, finjo ver alguma coisa no celular, ansioso para que
me responda afirmativamente.
— Minha mãe sempre vai preferir que eu fique o mais longe possível
dela.
— Chama o Liam, a Míriam, vou chamar uns amigos também. — me
arrependo imediatamente, cacete, será que eu não poderia só esperar ela
resolver isso com a mãe?
Ísis seca as mãos:
— Eu nem tenho barraca, nem sei fazer nada, nunca acampei.
Dessa vez, me sinto mais confiante, levantando da banqueta:
— Eu amo, sempre vou com os meus cachorros para visitar minha irmã
e meus pais, é um ótimo remédio para pensar, lá tem uma cachoeira divina,
lugar para pesca, uma choupana, bem bucólico.
Ela ri, abrindo a geladeira, pegando uma garrafa d’água, oferecendo a
mim, aceito.
— Liam é o completo oposto. — diz, vejo que algumas gotas de água
escorrem por sua pele — Ele é viciado em esportes perigosos, antes de vir
para cá, foi ao Maranhão praticar windsurfe, adora pular de paraquedas e se
envolver em confusões por aí.
— Você fala muito nele, Ísis, se gostam?
— Eu sim, ele, eu já não sei.
Sinto como se tivesse sido jogado no lago gelado da propriedade dos
meus pais, merda, sabia que ela gostava dele, mas como disse, se ele não for
tão a fim, posso pedir que Liam me ajude com ela, não?
— Ele não sabe o que está perdendo. — falo, arqueando meus lábios
num semi sorriso tímido, ela fica imediatamente vermelha, voltando a beber
água.
— Hm, Diego… — começa, mas para a minha sorte, Míriam chega
com seu bom-humor habitual, animada com a “noite de cinema” na casa da
amiga.
Míriam tinha escolhido uma série para assistirmos, decido por mandar
uma mensagem a Liam para irmos todos à fazenda, quero provar que posso
ser mais descolado e que não me intimido com a sua presença.
Eu estou nessa batalha.
Capítulo 16

Nem o segundo episódio começa, Liam entra esbaforido apartamento


adentro.
— Oi, Liam. — aceno, ele faz o mesmo, eu me levanto e vou até ele.
— Míriam, Ísis, querem mais um pedaço de torta? — elas negam, vidradas na
série, olho para Liam, mostrando o salgado sobre a bancada. — Aceita?
Minha empregada que fez e ela tem uma mão cheia.
— Beleza, aceita uma breja? — vejo que trouxe algumas em um
saquinho de supermercado, para ser mais exato, duas, sorrio ácido, talvez eu
tenha estragado os planos do meu concorrente.
Míriam quebra o silêncio, no exato momento que aceito a latinha de
Heineken.
— Liam, a Bárbara pediu para que eu te avisasse para ligar para ela
para se resolverem ou algo assim.
Ísis olha para ele, que abaixa a cabeça lançando um olhar de soslaio
para mim, abro a latinha, colocando a mão no bolso, ele apoia a dele no
balcão, puxando o salgado e se servindo. Eu volto meu olhar a Ísis que assim
que percebe, abre a boca em espanto e se volta para a série.
— Bárbara é sua namorada? — pergunto, dando outro gole. Liam dá de
ombros, negando.
— Ex-ficante, sei lá o que quer, acho que encher a porra do meu saco.
— retruca, tirando um VAPE do bolso.
Liam me analisa por alguns momentos, sorrindo de canto e é um crime
como esse desgraçado consegue ter dentes brancos fumando feito uma
chaminé.
— Sei. — encerro o assunto, mirando a minha lata no lixo,
arremessando, acertando de primeira. — Eu queria ir para a chácara dos meus
pais acampar, Ísis me disse que você gosta de esportes.
Liam ajeita o piercing no septo, sua blusa tem uma caveira branca
estampada, musculoso, um ar de mistério, apoiando o VAPE na coxa,
sorrindo de lado, diz:
— Curto paradas menos… teu estilo, acredito.
— Meu estilo? Ah, não gosta de rapel? Ou dormir na mata? Tem medo
de animais silvestres? — falo em tom jocoso para não o provocar da maneira
errada e dá certo.
Liam solta uma gargalhada, atraindo os “shhh” das meninas, seu olhar
verde se ilumina, jogando o tronco para frente:
— Tá certo, bem. — bafora uma última vez, guardando o cigarro
eletrônico no bolso. — Eu e Ísis temos que ir para a festa de aniversário de
casamento do Thales com a mãe dela — noto esse detalhe de afastamento, ele
chama o pai pelo nome —, você vai com a gente, saímos de lá depois da
festa.
Nada burro ele, deve pensar que eu sou o tipo de cara que não iria
aceitar ir à uma festa de aniversário de casamento de, praticamente,
desconhecidos, e quer saber?
Ele está absolutamente certo.
Mas eu tinha resolvido entrar nessa e, sinceramente? Ísis vale a pena.
— Está bem, vamos combinar.
— Quero ver você dirigindo seu Porsche como se deve. — ergue a
sobrancelha, então, ele gosta de correr com carros e já soube de um dos meus,
ok, tento não parecer tão desconfortável por reparar nisso, afirmo.
— Veremos, então, você estuda, Liam? — sondo, ele passa a mão em
seu bíceps, me encarando.
— Último ano de design.
— Eu faço doutorado em psicologia. — ele não parece se importar
nenhum pouco, vejo que tem olhos perspicazes, atentos, de um verde
incômodo. — Estava ajudando Ísis com a matéria hoje.
Seus dedos perpassam os fios negros de sua cabeça, ele ergue um
pouco o queixo:
— Legal.
— Então, você desenha? — procuro uma conexão em nossos olhares,
ambos mantemos um risinho cínico, uma tensão estranha, sinto que invado
um terreno instável, a qualquer vacilo, serei tragado.
— Faço um rabisco ou outro. — responde de imediato, virando a
banqueta, procurando o celular nos bolsos.
— Modéstia a sua, deve ser muito bom. — indico com a cabeça a
latinha no cesto de lixo, ele ri, balançando negativamente a cabeça.
— Mediano. — conclui, em seguida, levanta-se, esfregando as mãos.
— Então, eu vou dar uma volta com uns amigos, está convidado, se quiser.
Concordo com a cabeça, olhando para as meninas, implorando
mentalmente para que venham com a gente, antes, me certifico de estreitar
meu laço com ele, despretensiosamente pergunto:
— A Bárbara vai?
— Não, só eu e os caras. — Liam dá umas palminhas em meus
ombros, bem, seria o momento de convidá-las, afinal, se ele ficasse com
alguém, seria uma passada importante para me aproximar mais de Ísis,
consolar e um bom momento para dar um passo além.
— Bora lá, quer vir, meninas? — pergunto animado, Míriam já se
levanta, porém Ísis abraça uma almofada com o formato da cabeça da Hello
Kitty, negando.
— Vamos, Ísis. — Míriam puxa a manta que cobria as duas, Liam ri,
cruzando os braços, dando um encontrão em mim.
— Pra variar, ela nunca vai. — ele ri.
Míriam insiste:
— Vamos, Ízzy, por favor, tô louca pra sair! — ela calça seus saltos,
praticamente empurrando a amiga do sofá, não sei se é uma boa ela ir, afinal,
ontem já tinha passado mal, porém, ela arranca a risada de nós ao apontar
indignada para a televisão, a Hello Kitty em seus braços finos.
— E a série, gente?
Capítulo 17

Não estava nenhum pouco a fim de sair, mas sinto que devo isso a
Míriam que tão animadamente me ajuda a escolher uma saia pregada, blusa
de alças finas, saltos, maquiagem e espirra meu perfume em minha direção.
— Nossa, Diego é tão gato, Ísis, os cabelinhos de anjo, olho azul, o
sorriso, ele é quase tão bonito quanto o Liam! — suspira, esfregando os
punhos entre si para sentir o cheiro de outro perfume.
— Para de shipar a gente e, sério que a Bárbara quer falar com o Liam,
sobre o quê? — indago, curiosa, quase caindo para frente enquanto visto os
malditos saltos, esfregando meus lábios para espalhar o batom.
— Ah, a Bárbara é louca por ele, né? Tipo, é o tempo todo falando do
garoto, chega a cansar os ouvidos.
Eu mordo os lábios enciumada, afinal, eu e Liam não tínhamos
conversado direito e ontem tomei aqueles remédios e, enfim, todo aquele
transtorno.
— Espero que mais gatos estejam lá. — minha amiga me confidencia,
como ela ficou mais tempo na festa no galpão, acho que viu algum outro
amigo de Liam, minhas suspeitas se confirmam. — o Greg, o João Pedro e
aquele menino da barbicha são uns gostosos, você não acha?
Eu passo um gloss rapidamente, saindo, com Míriam quase me
atropelando para perguntar deles. Liam estende a mão para mim, mas temos
tanto o que conversar e não responderia por mim se sentisse o calor da sua
pele na minha.
Finjo não ver, enroscando meu braço ao de Míriam. O caminho para o
bar foi regado a Diego e Liam falando sobre potência de carro, música heavy
metal e um pouco do curso de ambos.
Míriam segura o meu ombro, cochichando:
— Acho que o Liam está sondando o seu futuro namorado. — viro os
olhos, mostrando a língua, respondendo:
— Ah, claro, só se estiverem competindo por você.
— Para de ser chata, Izzy. — minha amiga bufa. — Pensa se esses dois
homens estão disputando a sua mão, que romântico!
— Para! — protesto meio irritada, felizmente a discussão dos dois está
em qual banda de Metal é a melhor, Liam esterça o carro para estacionar.
— Até parece que você também está a fim de algum deles. — minha
amiga tenta fazer cosquinhas em mim, eu dou batidinhas com as palmas em
suas mãos ao som infantil de “cutie cutie” de Míriam.
— Por favor, Mi. — imploro quase sem fôlego, eu sei que sou meio
chata, na verdade, muito, não tenho a mesma desenvoltura ou carisma da
minha amiga, sei que sou retraída, ainda mais perto de Liam.
— Chegamos, meninas, espero que gostem da sugestão. — Diego diz,
enfim prestando atenção em nós. Mí para, quase saltando do carro, batendo
do meu lado da porta, implorando para que eu fosse logo.
O barzinho é uma gracinha, devo confessar, uma escolha impecável
por parte de Diego. A atmosfera é aconchegante envolvente e não há tanta
gente, é bem mais intimista.
Míriam corre para escolher a mesa, Liam e eu trocamos um segundo de
olhares, alguns garçons cumprimentam Diego. Liam olha por sobre o ombro
para mim, piscando, abaixo a cabeça.
— Aqui, gente! — Miriam bate na cadeira estofada em L, uns
lustrinhos baixos, bem fofo, criando um clima bem envolvente.
— Ótima escolha, Míriam — Diego diz, levantando a mão pedindo o
cardápio. Liam se senta ao lado dele de frente para Míriam, minha amiga ao
meu lado e eu de frente a Diego.
A trilha sonora do ambiente é boa, nada que atrapalhe uma conversas
descontraída. Assim que o cardápio passa pelas minhas mãos para que eu
faça minha escolha, sinto um roçar na minha perna, arrepio, olho para Diego
que está extremamente concentrado em explicar alguma coisa a Míriam, até
mirar Liam que sustenta um sorriso malicioso.
Ele indica com a cabeça as escadas perto dos banheiros.
Tento ignorá-lo, pedindo uma salada Caesar com frango e legumes, um
suco de laranja com morango, mas assim que o garçom termina de anotar
meu pedido, Liam sai da mesa, indo até a quina próxima às escadas, me
chamando com o dedo.
— Já volto. — informo, Míriam e Diego assentem.
Arrumo a minha saia, caminhando até Liam, que está com as mãos nos
bolsos ao pé da escada, sorrindo, pegando rapidamente meu punho e se
direcionando ao vão entre as escadas e o banheiro, sem me deixar dizer nada.
— Shhh. — faz com a boca, o dedo em frente aos meus lábios, me
conduzindo escadas acima.
Os poucos clientes estão animados, alguns dançam, outros riem e
contam piadas animadas, conversas preenchem o espaço.
— O que quer? — ralho, ele me prensa contra a parede, recostando ao
meu lado.
— Você não pode tomar aquelas merdas, Ísis. — antes que eu possa
protestar, sua mão invade minha saia, Liam puxa a calcinha no meio da
minha bunda, abaixando minha meia-calça. — Eu sei do que precisa.
— Sabe? — minha voz sai num sopro.
Liam afirma com a cabeça, levantando a calcinha mais para cima,
lambendo meus lábios.
— Você não precisa de alguém que te adore, Ísis, você precisa de
alguém que deixe seu corpo em chamas. — sua mão aperta meu seio, eu
acabo me rendendo, abraçando-o. — Não precisa de alguém que lamba o
chão que pisa, mas de um homem que beije seus pés. — sussurra.
Liam esfrega seu corpo ao meu, o piercing de sua língua passa com
vontade no meu pescoço, descendo até meu colo, levo um susto quando
chupa meu seio, o outro sendo apertado por sua mão.
— Já chega de moleques que querem a sua atenção, o que precisa é de
um homem que te faça perder o ar. — sua voz está grave, baixa, apertando a
minha coxa, deixo escapar um gemido, minhas mãos vão para o seu peito,
tento empurrá-lo, ele investe ainda mais.
— Não tem mais como negar que você quer tanto quanto eu, Ísis. —
fecho meus olhos, abrindo a boca, a língua dele me explora.
Liam encontra uma banqueta na parte de cima do bar, provavelmente
aqui é um depósito que em definitivo não poderíamos estar.
— O Céu é mais seguro — sua boca roça na minha coxa —, Morno —
a língua sobe, seguro seus cabelos —, Protegido, mas você, Ísis. — os olhos
dele me devoram, sinto o piercing tocar na minha buceta, jogo minhas costas
para trás — Você precisa do inseguro, do ardente, do desprotegido, você
precisa do inferno.
Seu hálito quente me invade, a música fica colorida, quando ele
começa a me chupar, meus saltos caem, meus pés ficam apoiados em suas
costas, que investem em mim.
Eu apoio minhas mãos no balcão abandonado, a ideia de alguém nos
ver é, Deus, é tão excitante! Minha pélvis obedece às investidas da sua boca,
sua língua entra em mim, me umedecendo ainda mais, quente, estou ardendo
em chamas dolorosamente deliciosas!
O cheiro colorido do sexo se alinha à minha visão, mordo os lábios,
segurando os cabelos indomáveis de Liam, que agarra minha bunda, o
barulho do sexo oral é inebriante.
— Ah, Liam! — gemo, uma de suas mãos força minha barriga a ir e
vir, o piercing dele no meu clitóris é um prazer que eu nunca imaginaria
sentir antes em minha vida. Liam sabe exatamente o efeito que causa em mim
sob a luz suave da lua entre as persianas.
— Geme meu nome. — manda, enquanto conversas animadas e trocas
de negócios promissoras acontecem no andar debaixo.
Eu sinto uma gota de suor serpentear minha espinha, meus pés fazem
peso, agora em seus ombros musculosos, forçando-o mais para dentro de
mim, até sentir seu dedo me penetrar.
— Ah, Liam, senti tanta falta… disso. — seu dedo entra e sai, sua
língua contorna meu clitóris com mais força, vou enlouquecer! Um gemido
mais alto escapa da minha boca.
— Assim, goza na minha boca ou não vamos sair daqui. — eu rebolo
um pouco mais rápido, golfando por ar, perdendo os sentidos
momentaneamente, meu ventre queima.
Meus músculos se contraem, o dedo dele ganha total liberdade no meu
canal, que o aperta, sinto o suor escorrer pelas minhas têmporas, meu coração
galopa.
— Liam! — chamo-o, urgente, sentindo que estou gozando com tanto
tesão, nunca senti algo assim, arfo tensa, tremendo, espasmando de desejo.
— Que delícia. — ele sorri, puxando meu cabelo, me beijando
forçosamente, gozo deliciosamente mais em seu dedo, vejo tudo sob minhas
pálpebras, a intensidade da música, os sons de risadas.
Nos separamos ainda nos encarando, minha boca aberta, seca, meu
peito subindo e descendo, olho por sob sua calça jeans, está duro, vivo, a
ereção é por mim, pelo que faz com meu corpo.
Eu pulo no chão, ainda sentindo as reverberações do orgasmo, me
lanço a seu encontro, minhas mãos estão ávidas para sentir a textura de um
homem, não, não de um homem, mas de Liam.
— Então, é o inferno que escolhe… — murmura, engolindo meu
sorriso, meus dedos transitam pelos pelinhos do seu abdômen até dentro do
jeans, as correntes tilintam.
Ele não me para.
Eu sinto o elástico da cueca box, o tecido na minha palma, por instinto,
lambo meus dedos, descendo, ficando de joelhos em frente a ele, meu corpo
queima em vergonha, excitação de querer impressioná-lo.
Só vejo os olhos verdes incandescentes me observando pela escuridão,
sim, eu escolheria o inferno infinitamente para tê-lo, sou completamente
apaixonada por ele.
O monstro em mim lateja, urrando para sair, assim como seu pau,
minha mão o envolve, meus dedos inexperientes englobam aquela rola
enorme, vejo que até lá é, sim, é tatuado, uma única palavra que faz com que
eu feche os olhos de prazer.
Monster.
Abro a boca, minha saliva quente, o pau invadindo meus lábios. Liam
enrola meus cabelos em sua mão com força, fazendo eu o olhar:
— Você quer me chupar, Ísis, no meio do bar? — ele enfia o pau na
minha boca, eu quase engasgo, a sensação é maravilhosa e estou maravilhada
com o tamanho quase absurdo!
Liam sempre me surpreende, meus instintos afloram, faço movimentos
de vai e vem com o corpo, uma leve queimação nas minhas bochechas e
músculos do rosto. Acho que nunca abri tanto a boca e nunca senti tanto
gosto em fazê-lo.
— Quero te chupar, Liam, no meio do bar. — provoco, usando a mão
para masturbá-lo, enquanto lágrimas caem dos meus olhos pelo esforço que
faço para manter aquele pau enorme em minha boca.
— Ah, Ísis, eu nunca mais vou te deixar. — afasto mais meus joelhos,
apoiando as mãos no chão, chupando-o com tanta vontade, como faria com
um enorme pirulito ou sorvete, não, isso é muito melhor.
Ele segura minha mão envolta dele, forçando uma masturbação quase
desesperada, faço de tudo para não raspar meus dentes em seu pau, engasgo,
me afasto, volto com mais empenho.
Liam me faz olhar para ele:
— É assim que tem me deixado, garota, é exatamente assim. — lambo
a cabeça em resposta, vendo a tatuagem, tão duro, as veias infladas, chego a
salivar de tesão.
A pressão que exerce na minha nuca é gostosa, quase dolorida, ele se
masturba na minha frente, sussurrando:
— Quer me ver gozar pra você, princesinha?
É a primeira vez que gosto de ouvir o apelido em sua boca, seus dentes
cerrados, seus olhos cheios de luxúria, o pau parece crescer ainda mais, sinto
o jato vir, em reflexo eu a tomo, sentindo-o quente, assim como o inferno.
Nunca poderia me sentir tão em paz.
Capítulo 18

Que foi aquele boquete?


Eu disse a ela para escolher entre o Céu e o inferno, mas fui eu que me
direcionei ao Paraíso.
Não posso pensar em perdê-la de novo, por isso, resolvi ir acampar,
seria bom ter uma terceira pessoa que não fosse da família na festa de
aniversário de casamento.
Eu não sou burro, sei que Diego está a fim dela, mas eu sei que Ísis
ainda está em dúvidas, beijo a mão dela, eu precisava de um tempo para me
organizar.
Descemos as escadas, vejo que tem uns seguranças encarando feio,
mas não vão dizer nada, afinal, Diego Amaral Barcelos, o cara é rico para um
caralho, quase tanto quanto Thales.
Eu sussurro no ouvido de Ísis enquanto voltamos para a mesa com
Míriam e Diego nos olhando em interrogação:
— Eu cuido das desculpas.
Dito e feito, nossos pratos estão servidos à mesa, Míriam e Diego
quase terminando os deles, o manolo é o primeiro que pergunta, quase
assustado:
— Por Deus, onde estavam? — limpa a boca com o guardanapo,
indignado. — A gente ficou preocupado com vocês. — ele lança um olhar
desconfiado, está extremamente enciumado.
— Thales fez uma chamada de vídeo — justifico, sentando no meu
lugar, pegando os talheres —, aproveitei e disse que iriam com a gente para a
festa de noivado.
Ele não parece acreditar muito, é, desculpa nada elaborada, mas crível.
Ísis começa a comer sua salada e eu só imagino meu pau em sua deliciosa
boca.
Como seria provar o conjunto da obra?
O que me leva a outro questionamento: já que eu não ousaria mais me
afastar, eu preciso que ela entenda que vai estar sempre em perigo comigo,
não apenas pela gangue, mas também por causa da minha mãe.
Vai levar algum tempo para contar o ser humano horroroso que é
Vivian.
Obviamente não espero, de forma alguma, que seja fácil, mas eu
assumo o pacote completo, tudo que a envolva, todos os demônios que serão
lançados em minha direção, desde que estejamos juntos.
Eu não consigo tirar os olhos dela, Ísis tem um sorriso lindo, vejo que
tenta desesperadamente se enturmar, seus olhos brilham como dois sóis. Meu
celular vibra, é Vivian mandando qualquer foto, eu salvo todas para ter como
prova junto a prints e provocações, porém, na parte de “conversas
arquivadas” há algumas.
Decido checar.
Bárbara tem me enviado algumas mensagens de voz, figuras, ensaiando
textos, talvez eu devesse terminar de boa, mas mal consigo organizar meus
pensamentos e a chata da Míriam me cutuca:
— Você deveria apoiar os dois, Liam, tipo — Míriam me encara com
seus olhos puxados, ela é descendente de orientais, cabelos fartos, pretos e
longos, magra, estatura mediana e muito desenvolta, mas é chata para um
caralho —, os dois são muito fofos juntos.
Apoio os cotovelos na mesa, enrolando meus polegares um ao redor do
outro, rindo de canto:
— Não são não, Míriam. — ela parece engolir um suspiro irritado,
cruzando os braços.
— E a Bárbara? — insiste, roubando uma torrada do meu prato.
— A gente ficou algumas vezes — não a olho, bebo um gole de cerveja
—, mas não tenho nada com ela, aliás — levanto a mão para o garçom —, eu
tô a fim de outra pessoa.
— Nem imagino quem seria. — Diego comenta, de ouvidos em pé na
nossa conversa.
— Vamos embora? — Ísis olha o relógio do celular para mim — São
três da manhã e amanhã tem prova no primeiro período.
— Para de ser chata, Ísis, que coisa! — Míriam enlouquece, batendo as
mãos na mesa, torcendo a boca.
Acho que Míriam nem liga o quão alto está falando, praticamente
gritando:
— Vamos às festas, dançar, beber, desde o começo do ano passado
você só pensava em entrar na faculdade, agora que entrou em primeiro lugar
fica regulando as saídas pior que antes! — os olhos de Ísis estão marejados,
o rosto vermelho como uma maçã no outono — Não é à toa que foi chifrada
pelo Ricardinho.
— Pessoal, calma. — Diego diz, fazendo gestos com a mão, como se
mandasse ela baixar o volume da discussão sem qualquer propósito.
Ísis balbucia, os dedos das mãos cruzados sobre o colo, olhando para
os lados extremamente triste:
— Pode ficar, Mí, eu vou embora de carona ou de Uber… — justifica
mais do que deve — é que amanhã eu tenho prova e já são…
Míriam aponta para a amiga de uma maneira feroz:
— Nisso a Babi é muito mais legal, só pra constar, tá? — ai, essa doeu,
ela olha para Diego. — Você me leva, Diggo?
Já sei o que está acontecendo, ciúmes! Míriam quer se certificar que o
playboy do Diego é só amigo da Ísis, por isso essa insistência ridícula de
aproximar os dois.
Ísis insiste:
— Míriam, não faz assim, desculpa.
Os olhos marejados, a força que impõe para limpar a lágrima que
escorre pelas bochechas vermelhas, sim, Ísis tem tanto medo da rejeição que
topa qualquer merda.
Qualquer discussão que a envolvam, ela simplesmente abaixa a cabeça,
nunca levantando-se perante sua vontade, e Míriam sabe desse ponto fraco.
— Tô cansada de você sempre achar que é melhor que todo mundo! —
Míriam grita mais alto, levantando-se, trêmula. — Só porque fica com seu
nariz arrebitado nos livros, sabe? — procura aprovação, olhando para Diego
— Ainda tive que terminar minha amizade com a Juliana e quer saber? —
pega a bolsa sobre o sofá:
— Tô cansada de você ficar podando todos os rolês, quando a gente
for pra fazenda dele, vai querer vir embora no mesmo dia, virgenzinha
puritana, é esse o apelido que te deram.
Eu vou dar uma boa resposta, deveria deixar Ísis lidar com a situação,
mas gosto de uma discussão e, sinceramente, essa menina tem me tirado do
sério ultimamente, cruzo meus braços, afastando minhas pernas:
— Se é tão legal assim com a Bárbara, deveria ou ter chamado ou ter
ficado com elas, agora, o que me intriga é o porquê não fez?
Míriam me olha assustada, coço a barba, estalando os dedos como se
tivesse descoberto o sentido da vida:
— Ah, porque não te chamaram, não é?
— Liam. — Ísis me chama, Míriam continua seu showzinho, dou de
ombros, dando uma piscada para a minha namorada. — Mí, vamos
conversar? — fica mais vermelha, abaixando a cabeça.
Míriam puxa a camisa de Diego, que está tão desesperado quanto um
bebê em uma sauna, quando ele finalmente vai dizer alguma coisa.
Míriam se irrita ainda mais, como se quisesse dizer tudo aquilo há um
bom tempo:
— Até passou mal ontem, todo rolê tem que ser sobre você, se toca,
Ísis, você não é o centro do mundo não nem pediu pra chamar os amigos dele
— aponta para mim.
Não deixo para lá, respondendo:
— Não quiseram vir, só para constar.
Míriam me dá um empurrão, rio, ela grita:
— Você é um idiota, Liam.
— Nisso eu não poderia concordar mais. — provoco, recebo uma
bolsada na cabeça.
— Pode me levar embora, Diggo? — Míriam pede com um beicinho
ridículo.
Ah, viu? Eu sabia, ele limpa a boca educadamente, olhando para mim e
para Ísis, com certeza desconfia de alguma tensão entre nós dois.
— Tá, só vou pagar a conta. — levanta-se, pegando o celular,
provavelmente para pedir um UBER até seu Porsche. — Depois, por favor,
conversem — sorri para Ísis, que não retribui —, a amizade de vocês é muito
bonita para terminar por causa de besteira.

Não era, nem de longe, o jeito que eu queria que terminasse a noite.
Eu pago a conta da mesa, meus olhos vidrados em Liam e Ísis, o cara a
consola, eu deveria estar lá e nem sei o que aconteceu.
— Ela sempre faz tudo ser sobre ela. — Míriam está bem chateada e eu
meio que entendo, sei o que é ficar em segundo plano.
— Você sabe que não é verdade. — respondo, abrindo o aplicativo da
UBER.
— É o Liam que fica fazendo a cabeça dela — então, tem mais alguém
que não gosta dele além de mim — tipo, a mãe dela nem quis que a gente
morasse juntas, aquela vaca, fui pra uma quitinete cheia de meninas que eu
sei que não gostam de mim e elas nunca estão a fim de sair comigo.
Eu acompanho o motorista no app; sei que é covarde da minha parte, já
que a garota está chateada e quase chorando ao meu lado, dizendo ser
figurante na vida da amiga, mas eu tenho que explorar isso ao meu favor.
— A mãe da Ísis é complicada? — Míriam se abraça, olhando para
trás, virando-se para frente, irritada.
— É, quando a gente era criança, a mãe dela chegou a insinuar, isso
meu pai falou pra mim, ok? — o olhar que me lança é intimidador, olhos
puxados de raposa, a franja negra caindo em sua pele branca — Que ela
deveria sair com amigos do padrasto.
A informação me choca, a mãe dela o quê? Engulo em seco, e o pai de
Ísis?
Resolvo falar alguma coisa:
— Que merda, Míriam, ela deve ter passado por poucas e boas, tem
certeza de que quer ir embora sem nem se acertarem? Posso cancelar a
corrida.
Míriam nega com a cabeça, logo O UBER chega, entramos e ficamos
em silêncio, na portaria, Míriam diz que vai pegar meu carro para uma
carona, demora um pouco para nos liberar, já que o porteiro tem que
consultar a lista das pessoas que são permitidas a entrar sem a ausência da
moradora.
Agradecemos o motorista, desço para pegar meu carro, Míriam segura
meu braço, me dando um beijo. Eu fico absolutamente paralisado, ela passa a
mão no meu rosto, vejo que fecha os olhos.
— Desculpa, Diggo, mas tô muito a fim de você, tipo, eu sei que falei
que shippava e muito você e a Izzy, mas eu não posso mais negar que sou eu
que estou muito a fim.
Não sei o que dizer, fico parado feito um imbecil, ela passa a mão na
franja:
— Tá a fim dela, não é? — os olhos dela me esquadrinham, expiro,
apoiando minha lombar no carro.
— Míriam, independente de eu estar ou não a fim, quero que vocês se
resolvam, Ísis ama você de verdade. — ela sorri, concordando, indo até o
lado do carona.
— O padrasto dela, é amigo do meu pai, Thales praticamente adotou a
Ísis. — entramos no carro, dou a partida, ela continua — Lembro que várias
vezes eu ia para a casa dela e Ísis chorava porque a mãe não dava atenção.
Eu fico em silêncio, deixando ela desabafar, olho de soslaio e vejo que
Ísis manda várias mensagens pedindo desculpas por Liam, mesmo o rapaz,
dessa vez, não tendo feito nada errado.
Míriam olha para mim, continuando sua narrativa:
— Thales enchia a gente de carinho, íamos ao shopping, víamos filme,
tomávamos sorvete e eu sentia uma certa inveja dela, sabe? — Míriam sorri
tristemente, dando de ombros — ser bonita, padrasto rico, todos os carinhas a
fim dela e mesmo assim, não querer nem sair à noite.
Ela bufa, talvez tentando culpar a amiga por algo, uma possível rixa,
observo que ela digita algo para Ísis, em seguida, me encara:
— Vê? Eu não tava tão enganada, afinal.
Capítulo 19

Dizer que estava chateada era um eufemismo, saímos do bar, voltamos


para meu apartamento. Liam se joga no sofá enquanto tomo uma ducha
rápida e troco de roupa.
— Que noite! — suspiro com a cabeça apoiada no colo dele, que alisa
meu cabelo. — Já decidiu onde vai ficar, já que está claro que não alugou ou
comprou lugar nenhum? — apoio minhas mãos no sofá, lhe dando um beijo.
—Hm… é um convite pra ficar aqui? — sorrio, balançando
positivamente a cabeça.
— Acha esquisito? Quer dizer — gaguejo algumas vezes —, não sei se
está apressado demais ou se quer mesmo morar com o João Pedro. — Liam
coloca o indicador no meu queixo, mordendo meu lábio inferior.
— Ísis, tem algo sobre mim que precisa saber. — seus olhos
escurecem, o semblante sério — E, infelizmente, é verdade, só não questione,
não faça perguntas — se mexe um pouco — Caralho, é muito difícil dizer o
que eu vou dizer, ok? Só relaxa e me escuta, tá?
Fico alarmada no mesmo instante, preocupada, séria e apreensiva, mas
tento passar tranquilidade, concordando com a cabeça.
— Caralho. — ele se senta, me puxando para seu peito — Eu fui
abusado com treze anos por uma mulher, não diz nada, só — limpando a
garganta, extremamente desconfortável, titubeia em prosseguir —, é isso, só
me diz se aceita uma pessoa quebrada, desregulada, mas quer mais que tudo
no mundo estar na sua vida.
Eu fico anestesiada, acho que explica muito do seu comportamento
errático, o vício por adrenalina, sempre entre o ódio e a paixão.
— Quem é a mulher, Liam? — vejo por milésimos de segundo uma
sombra familiar percorrendo a íris de seus olhos, a certeza mais íntima de que
eu pudesse conhecer bem essa pessoa.
Liam acaricia meu rosto com as costas das mãos, um meio sorriso
escapa dos seus lábios perfeitamente desenhados.
— A regra era não perguntar nada, lembra? — assinto com a cabeça
quase explodindo, meu coração minguando aos poucos, abraço-o, tentando
reconfortá-lo o máximo que posso.
Assim que ele se levanta para tomar um banho, se vestir e dormir aqui,
mando uma mensagem de voz para Míriam, novamente me desculpando por
tudo, pego o colchão da cama e um extra, arrumando-os na sala.
Eu iria cuidar dele, tentar lamber as cicatrizes do seu passado sendo a
melhor versão de mim mesma, suprimindo meu ego, orgulho e medos,
mantendo afastado todos os pensamentos ruins que possam passar na mente
dele.
Eu iria beijar e amar até o monstro que habita na natureza obscura de
Liam.

Se em qualquer outro momento da minha vida me dissessem que eu só


iria dormir ao lado de uma mulher linda, sem fazer absolutamente nada
depois de uma intensa troca de sexo oral em um local público, chamaria essa
pessoa de imbecil ou filha da puta. Mas cá estou eu, abraçado a ela,
enrolando seus cachos em meus dedos.
Por que eu contei sobre o que aconteceu comigo e não sobre a mãe
dela?
Acho que cada golpe de cada vez e quer saber? É um desvio com
relação à vingança, Vivian vai sofrer tanto na minha mão, mas não agora, não
até que eu tenha Ísis completamente ao meu lado.

Ela me deixa dormindo quando vai à faculdade, o café está preparado


para mim. Acordo cheirando o travesseiro onde esteve, vejo uma mensagem
cheia de emojis coloridos dizendo o quanto está feliz e o quanto aprecia que
eu tenha confiado nela.
Não é só a sua confiança que eu quero, baby.
Termino de desenhar alguma coisa para a matéria de Desenho Vetorial,
não vejo a hora de me ver livre da faculdade, nunca quis ser formado em
merda nenhuma, afinal, a quem eu daria orgulho? A Thales que não seria.
Jamais.
Envio aquela merda para o e-mail do professor com muita má vontade,
arrumo minhas coisas e vazo para o barracão, onde hoje vou receber uma
enorme carga de carros de luxo.
Desde muito novo, ainda nos Estados Unidos, presei pela minha
independência financeira, sem Thales, sem minha mãe ou avós, o primeiro
milhão foi o mais difícil, com os investimentos certos, um dia eu penso
passar o negócio para frente.
O dia parece mais vivo, quase ignoro os protocolos para ver se estou
sendo seguido só para poder chegar logo, voltar mais cedo, fazer algumas
compras e, cara, estou empolgado demais para morar com ela.
Estaciono, encontrando Jean, Greg e alguns outros moleques que
trabalham para mim, peço que cada um tome uma posição na linha de
produção do desmanche, e não posso ter um maldito dia de paz!
Meu sangue vira pedras de gelo ao ver João Pedro num Porsche cinza,
o design aerodinâmico da carroceria, a porra da placa, que merda!
— Olha o carro do playboyzinho do Diego! — João Pedro estaciona
levantando poeira, rindo todo orgulhoso.
Greg olha para mim, estou quase bufando de ódio, piso em cima de
alguns papéis, cruzando os braços para não o matar! Filha da puta! Descruzo
meus braços quando João lança a chave para mim, quase a enfio em sua
garganta de tanto que empurro aquele animal:
— Onde você roubou esse carro, João Pedro? Tá maluco, porra? —
agarro-o pelo colarinho, quase explodindo de raiva. — A gente não pega
carros de quem a gente conhece, seu imbecil, é fácil de chegar até a gente,
imagina se ele for na polícia?
João Pedro levanta as mãos em redenção, já suando bicas:
— Mas tava dando mole, Liam, como que…
Gregório o segura quase lançando-o do outro lado do pátio:
— Você é um imbecil, João! Você mesmo disse que o tal do Diego tem
pais influentes e ricos, e amigo da Ísis, seu burro! E agora? — leva as mãos
na cabeça, tendo um ataque de fúria.
Ando para perto do carro constatando o inevitável, aquele idiota tinha
mesmo roubado do cara, vejo alguns livros, materiais da faculdade, o banco
de couro, o painel personalizado, uma merda de um boneco de branco escrito
“psicólogo”.
Não acredito que meu amigo possa ser uma anta dessa maneira!
Exclamo:
— Agora que você vai devolver o carro! — olho mais uma vez
indignado para João Pedro, que caralhos, e se Diego falasse para Ísis? — se é
que o filha da puta já não chamou a porra da polícia.
O que eu faço? Que merda, preciso pensar.
Gregório vai para cima de João, chamando a atenção de alguns
moleques que estão trabalhando, tomara que Sávio não nos veja nessa
situação, senão ele está mais que certo em pensar que somos malditos
amadores imbecis!
— João? — respiro fundo para não ajudar a moer meu amigo na
porrada. — Por que você não vai com o Sávio atrás de informações do Júnior
e deixa a gente trabalhar?
— Mas Liam, pensei que… — ele passa as mãos na cabeça, meio
desnorteado com o murro desferido por Greg, a ficha deve ter caído da
babaquice que fez.
— Pra variar o João acha que pensa! — Greg esganiça, dando outro
empurrão, João Pedro cai no chão — Você é um burro, seu puto!
— Pega leve, Greg, o cara está com problemas. — dou uma tragada no
meu VAPE, não acredito que estou defendendo o João Pedro, tento apaziguar
minha respiração, soltando a fumaça pelo nariz.
— Todos nós estamos com problemas, Liam, na verdade. — se vira
para mim irritado — Você é a única pessoa rica que faz cagada desse jeito,
indo para aquelas porras de esportes, se jogando em abismos achando que
tem asas, acho que daqui a pouco vai parar junto com bilionários que entram
no submarino para ver a porra do Titanic.
Eu pego o braço de Greg, virando-o de costas para João Pedro:
— Tá, Greg, tá bom. — empurro-o em direção ao pátio do desmanche
— Volta lá que o Jean está sozinho — olho para JP — Vem, vamos devolver
essa merda antes que dê um B.O federal pra gente.
Capítulo 20

Não acredito, cadê meu carro?


Sério que fui furtado na faculdade?
Expiro fundo, inspiro, antes de ligar para alguém, vou até a secretaria
da faculdade informar do furto, a secretária imediatamente chama a polícia e
já começam os burburinhos e fofocas.
Faculdade pública já diz tudo: é pública, qualquer um pode entrar e
ninguém é realmente vistoriado, eu corria o risco de vir com o Porsche e
sabia bem disso.
— Diggo, o que aconteceu? — Míriam sai da sua aula de nutrição
molecular preocupada. — Ah, era só o que faltava!
Despontando pela cantina, Ísis agarrada ao material, arrumando a
blusinha que desenha perfeitamente o belo par de seios, correndo até mim.
— Diego, tá todo mundo comentando lá no terceiro andar, você está
bem? — ela cumprimenta a amiga com beijo.
Míriam corresponde, mas não posso deixar de reparar que algo quebrou
entre as duas, algo precioso e bom, olho por cima delas, vendo meus amigos
se aproximarem se solidarizando comigo.
Eu ignoro Míriam, aproveitando para enlaçar Ísis em um abraço, se
perder um carro fosse o preço para tê-la assim, então vou me deixar ser
furtado a todo momento.
— Eu tô bem. — abraço-a mais apertado — Os garotos — aponto com
a cabeça para os meus amigos —, já estão ligando para o seguro e eu preciso
assinar alguns papéis e, provavelmente, abrir um B.O.
Alguns outros colegas e professores chegam para demonstrar empatia e
reclamar da segurança do campus, mas não consigo deixar Ísis se afastar,
engulo nada ao inalar o perfume da sua pele.
Minha mãe e meu pai me ligam, dizendo que vão contactar não sei
quem para investigar o caso por fora, ainda estou abraçado a Ísis,
conversando e os acalmando, há uma verdadeira multidão por ali, algumas
aulas foram até suspensas para me dar apoio.
Eu me sinto, finalmente, visto. Ísis segura minhas mãos:
— Você está bem mesmo? Quer um copo de suco ou algo assim? — eu
quero beber o suco dela, iria negar, porém, Míriam se coloca a sua frente,
tirando dez reais do busto.
Míriam quase grita na minha orelha:
— Eu vou, o suco favorito dele é laranja com morango. — ela sorri,
correndo para a cantina.
Meus amigos sorriem com malícia, mas eu só quero voltar a abraças
Ísis e, talvez, sair dali com ela, roubar um beijo, roçar sua pele, assim que
vou propor que ela saia comigo dali, a polícia chega.

Os policiais fazem as pessoas se dispersarem um pouco, em seguida,


viram-se para mim, para colher meu depoimento, mostrei as fotos dos meus
documentos, série do chassi e número de produção.
— O que a gente pode tentar fazer é puxar pelas câmeras internas e
traquear o suspeito. — um deles fala para o outro, que anota em um tablet
com o logo da polícia.
Os alunos novamente começam a ficar em polvorosa, os policiais
correm até a entrada da secretaria da faculdade, apontando para fora:
— Senhor, aquele é seu carro?
Mal acredito no que meus olhos veem, Liam está acelerando meu
Porsche, levantando fumaça do chão cimentado, o motor ronca com vontade.
Até o Marcelo, meu amigo, dá “vivas” pela incrível manobra de Liam
ao derrapar os pneus e estacionar em uma vaga minúscula, aquele cara tinha
furtado meu carro!
Liam sai praticamente ovacionado por todo mundo, fazendo uma
reverência.
Eu vou até lá, indagando:
— Que é isso?
Liam fecha a porta e joga a chave para mim:
— Pegadinha, claro, trollagem, eu disse que ia fazer seu Porsche correr
de verdade.
Os policiais me olham irritado. Liam e, acho que é o João Pedro, vem
até minha direção, jogando a chave para mim.
— Pode me explicar o porquê pegou o meu carro, Liam? — pergunto,
pegando a chave, muito puto da minha vida, vasculho com os olhos por onde
está Ísis e ela está conversando com Míriam, que vem trazendo o suco.
Que situação ridícula, apoio meu nariz entre os dedos, não acreditando
numa merda dessas, os policiais nos encurralam:
— O que está acontecendo mais especificamente, senhores?
Liam toma a frente, rindo com o amigo ao lado, explicando-se:
— Eu e ele — aponta para mim — somos colegas, quer dizer, meio
que isso, senhores e acreditam que ele anda com um Porsche desses como se
fosse um senhor de oitenta anos dirigindo, saca? — ele tenta me imitar, os
policiais soltam risadinhas.
— Não dirijo assim. — tento me defender.
Os policiais nos mandam ficar quietos.
— Pegadinha ou não — um deles fala — é crime, você pegou o carro
do seu, como disse, colega sem avisar — ele se vira para mim — então,
senhor Diego, vamos lavrar o boletim de ocorrência na delegacia ou não?
Eu pondero, uma parte de mim quer realmente ir em frente mas, por
outro lado, eu posso colocar um detetive indicado pela minha mãe para segui-
lo, não Liam, por ser muito esperto, porém, o amigo não me parece
compartilhar da vivência e experiência de Liam.
Sentencio, cruzando os braços:
— Deixa quieto, senhores policiais, eu não vou dar andamento com o
boletim não. — tento sorrir, enquanto Liam conta como serviu o exército
americano por um ano, volto à minha narrativa. — A gente vai viajar juntos,
realmente não passou de um mal-entendido.
Liam estende a mão para Ísis, que acena um “tchau” tímido para mim,
eu me retraio, ainda não acreditando nessa manhã ridícula, Míriam traz o
suco que está quente para um caramba.
Os policiais agradecem, assinam que estiveram no ocorrido e, claro,
Liam é o astro do show dos alunos que gritam o seu nome como se ele fosse
uma celebridade.
Não vejo a hora do investigador me trazer algum podre desse garoto.
Capítulo 21

Ísis me sonda inquisidoramente, quero beijá-la especialmente quando


envolve o canudo nos lábios, sugando um suco de laranja.
João Pedro faz alguma graça, depois dos estudantes gostarem de como
se trata um Porsche, não para de falar sobre o assunto, até eu o mandar ficar
quieto.
Observo que há uma tensão entre Míriam e Ísis, depois dos policiais
irem embora, decido almoçar pela faculdade mesmo, cumprimento um ou
outro colega que conheci, esbarrando por aí.
— Liam, vamos pra casa? — Ísis me chama, segurando minha camisa,
depois de jogar no lixo o copo de plástico
— Espera, Ísis! — Diego toca em seu braço, me enervo loucamente só
dele tentar senti-la mais perto. — Fica um pouco, vamos organizar o final de
semana? Quem sabe não podemos sair, ver um filme com o pessoal?
Míriam o segura pelos ombros:
— Eu iria adorar, tipo, eu quero muito planejar um bom final de
semana. — sorrindo como se tivesse dado a noite inteira com o master pica
das Galáxia.
Míriam se senta na cadeira de plástico dessa cantina, puxando o recosto
no chão sujo de gordura e sabe-se mais Deus o quê!
— Também tô querendo ir embora. — reclamo, bocejando, dando um
tapa na nuca de João Pedro que tenta pedir para que fiquemos, não quero
ouvir falar dele nem hoje, nem amanhã, nem depois.
Diego ri seco, dando seu cartão black a um amigo para que pegasse
uma coxinha para ele:
— Qual é, Liam, não quer nem me falar um pouco das suas trollagens?
— esse puto ri com sarcasmo.
Míriam vai no mesmo papo torto:
— É, Liam, como você pegou a chave do carro? — ela faz uma cara de
piranha que eu tenho vontade de jogar num rio cheio de jacarés.
Ísis não se senta, chegando perto do meu ouvido, cochichando:
— Um cara vai consertar a maçaneta do banheiro que a gente quebrou
agora, tenho que ir. — seus olhos brilham em expectativa.
— Eu vou com você. — digo, olhando para eles — Até mais, tô
ralando.
João Pedro faz uma piada que ninguém entende, saco meu celular para
pedir um carro de aplicativo.
Diego insiste:
— Posso dar uma carona para a Ísis, se ela quiser.
Só para a Ísis não é? Penso, esse pervertido filha da puta, felizmente é
Míriam que surta:
— Ah, todo mundo vai embora, agora? Aliás, Liam, a Bárbara ainda
quer falar com você! — reclama, dou de ombros, ela insiste. — Já que está
aqui, vai lá tentar falar com ela.
— Não. — respondo com um sorrido frouxo — Bora, João, Ísis, o
carro já está chegando.
Diego se levanta, perguntando a Ísis:
— Posso te dar uma carona, depois a gente poder rever as matérias,
pena que no Porsche só dê para dar carona a uma pessoa. — ergue o dedo
indicador, enfatizando uma carona.
Míriam o segura pela camisa xadrez brega que nem um texano usaria:
— Eu aceito a carona, já que não vai rolar nenhuma preparação para o
nosso final de semana mesmo! — irritada, ela empurra Diego, que desvia.
É notório como Diego está de saco cheio de Míriam e não vai faltar
muito para explodir, insistindo:
— Espera, Míriam. — virando-se para mim — A gente tem que
organizar a viagem e…
— Que viagem? — João Pedro arregala os olhos, parecendo um gato
que ouve ração caindo na tigela — Vão viajar, é? Aonde vamos?
Diego vê que falou de mais, tenta se consertar, Míriam fica emburrada,
Ísis arruma os cabelos, olhando para o celular e eu só quero agarrá-la e ir
embora.
— Chegou o carro de aplicativo, até mais. — dou a mão a Ísis,
enquanto empurro João Pedro para dentro do carro, a piranha da Míriam se
joga no colo de Diego, que faz de tudo para desviar.
Contudo, vejo que ele olha para Ísis como um sedento que encontra
uma miragem no Saara e ela continuará sendo isso para ele, uma miragem.
Assim que chegamos no apartamento e eu mando alguém buscar João
Pedro, depois dele repetir pela milésima vez como eu tinha mandado bem no
cavalinho de pau, levar garrafa de água, salgadinho e alguns reais para se
virar para voltar para casa, me vejo à sós com ela.
Finalmente.
— Vem cá. — chamo, roubando um beijo, prensando-a contra o
balcão.
Ela alisa meu rosto com sua pele.
— Liam, você não pode fazer esse tipo de pegadinha, quase deu
polícia, b.o e como conseguiu as chaves?
Eu sorrio em seus lábios, pegando uma mecha do seu cabelo, inalando
o cheiro gostoso de xampu.
— É um crime ele ter um Porsche e andar com ele por aí, sem saber o
que fazer. — sorrio, ela relaxa, permitindo que eu passe a mão em seu rosto.
Beijando-a devagar, o celular dela vibra e eu juro por tudo que é mais
sagrado que eu mato se for Míriam, Diego ou qualquer um desgraçado
empaca foda.
— Ah, é o moço da maçaneta. — alerta, descolando nossos corpos,
cara! Que merda, como vou esconder a minha ereção agora?
Eu finjo cochilar no sofá, assim que sinto sua presença deliciosamente
molhada, para surpreendê-la puxando-a para mim.
— Ah! Que susto! — exclama, dando um tapa no meu braço.
Ela está enrolada em uma toalha lilás estampada de Coragem, o cão
covarde, depois de rirmos, fico sobre ela, beijando-a.
O pescoço dela se inclina, exploro-a com minha língua, ela arfa, está
pronta para mim, quero tanto essa garota que tenho medo dos meus impulsos,
não consegui nem bater uma punheta para relaxar antes de tê-la aqui comigo.
— Liam — me alarmo quando me chama, procuro seus olhos, vejo que
está nervosa, sorrindo constrangida. — Eu nunca fui tão longe.
Eu beijo sua testa, me forçando a tocá-la de maneira calma a toalha que
a envolve.
— Não quer? — levanto a sobrancelha perguntando, a mão dela pousa
em meu rosto.
Eu me enfio na curva de seu pescoço, chupando-o delicadamente,
mordiscando o lóbulo de sua orelha, cercando-a no sofá sobre ela.
— Que- quero. — morde os lábios, lambo seu queixo, passo meu
piercing em sua língua, minha mão desliza em seus seios sobre a toalha, sinto
que ela engole em seco. — Se- seja gentil?
Eu expiro num riso, pairo meu rosto sobre o dela, beijando a ponta de
seu nariz:
— Farei o possível.
Eu lambo seus seios, mordendo de leve as auréolas, seios grandes,
bonitos, desço com a língua pela barriguinha, as ondulações de suas costelas
inflam com um gemido contido.
Ísis arqueia a perna, deslizo pelo meio delas, a buceta está tão molhada,
gostosa, pronta para mim, seu cheiro gostoso de banho, estalo a língua em
seu monte de Vênus, toda lisa, depilada, a pele macia, passo meu rosto em
meios às suas pernas.
— Ah! Liam! — suspira, as mãos incertas no ar, olho-a encantando,
voltando a chupá-la, apertando as coxas, roçando forte meu piercing pelo seu
clitóris bem inchado, saboroso.
— Fala que quer dar pra mim. — mando, passando a mão que fica
molhada quando esfrego em sua buceta, enfio um dedo, os seios dela
colidem, que visão!
Ela tenta tapar o rosto, cruzando as pernas de uma maneira tão sexy,
sorrio, tirando suas mãos do rosto, insistindo:
— Diz. — mando, perpassando o piercing da minha língua bem
gostoso e vagarosamente em seu seio. Ísis geme, baixo, sinto que estremece
de tesão por mim.
— Q- quero d- dar pra vo- você. — gagueja.
Eu tiro a blusa rapidamente pela minha cabeça, sinto que passa os
dedos pelo meu abdômen, costelas, costas tão bom que arrepio, mordendo
meu lábio inferior.
— Quer me dar, Ísis? — provoco, puxando seu mamilo com os meus
dentes, ela ainda não tem o controle do seu corpo, os cabelos se esparramam,
as costas ficam arqueadas, tenho a visão linda dela só para mim.
Coloco os pés dela por cima da minha calça, esfregando, faço com que
os use para tirar meus jeans, beijo seus joelhos, deslizo sua pele em mim,
friccionando com força.
Apoio meus braços ao lado dela:
— Me olha, Ísis, vê como estou maluco para te fazer minha mulher. —
ela suspira, murmurando um “eu te amo” tímido, começo a penetrá-la
vagarosamente, sem pressa, é uma tortura apetitosa demais.
Ela está em ebulição, meu peito dói de tanta felicidade em tê-la aqui,
comigo, dando para mim, sou dela, inteiramente dela, procuro seus lábios
com os meus, beijando-a, molhando-a, sugando-a.
Ela arfa, os grandes olhos castanhos me mirando, um leve sorriso
perpassando pelos seus lábios róseos, os cílios grandes, o rosto expressando
desejo, tesão, libido por mim.
— Dó… dói… — fico um pouco parado para que se acostume com
meu volume, eu quase piro em sua carinha de dor mesclada à excitação, meus
músculos pulsam loucamente, ela escorrega em mim, molhada.
— A gente não tem pressa. — minha mão pousa em seus seios, eu os
uno, englobando-os na minha boca, quero mamá-los inteiros, começo a
tremer em febre de tanto tesão, penetro mais, me movimentando em vai e
vem lentos e curtos, sentindo que cede aos poucos.
— Ah… — suspira, escorregando as maravilhosas pernas pela lateral
do meu corpo. Eu sinto o ar esvair dos meus pulmões, é tão apertada, macia,
me deleito em seu corpo, sua essência, quero-a para mim, inteira, corpo e
alma.
Ísis segura minha bunda, invisto mais minha pélvis, meu pau vai
explodir de excitação, é cruel o quanto eu a quero, beiro o obsessivo, meu
corpo vai e volta um pouco mais rápido.
— O que eu tô fazendo, Ísis? — provoco entre beijos, sua pele úmida
roçando gostoso na minha, forço mais, indo e voltando um pouco mais
rápido.
— Me… me… ah! — sua timidez é graciosa, mas suas feições não
escondem o quanto está gostando, o quão está entregue a esse momento.
— Estou te comendo gostoso? — pergunto, levantando a sobrancelha,
nunca pensei que iria gostar tanto de um papai mamãe.
— Urrum — murmura, envolvendo minha nuca em seus braços, ela
embaraça meus cabelos em seus dedos, estou insanamente apaixonado,
intensifico mais os movimentos, colocando as pernas dela por sobre meus
ombros.
— Diz que só eu que posso fazer isso. — acelero mais, sinto minhas
bolas explodirem ao tocar em sua bunda, que mulher gostosa! Meu pau incha,
é um flagelo no Paraíso, forço sua cabeça para baixo, ansiando mais, muito
mais.
— Só você! — afirma, se encaixando em mim, meus polegares
apertam sua cintura. Eu forço seu corpo ao limite, nesse momento, investindo
mais, sugo seus lábios, sinto seu cabelo no meu rosto, ela vira a face para o
lado, imponho que me veja.
— Ísis… — chamo pelo seu nome, enlouquecendo, eu vou gozar, vou
gozar tão gostoso, a buceta dela me aperta, suas pernas me enlaçam, o
barulho de nossas peles pode ser ouvido, rápido, bem rápido, imperativo.
Os gemidos dela ficam mais altos, ainda contidos, é verdade, mas são
de prazer, a imagem que eu quero ver repetidamente quando eu for ao
inferno, já que vislumbro a entrada do Paraíso com essa mulher.
— Ah, Liam! — umedece os lábios com a minha língua.
— Isso, Ísis — meto mais rápido — goze pra mim! — apertando bem a
buceta ao redor do meu pau, quero, quero, quero muito, estremeço, tiro minha
rola de dentro dela, esporrando em sua barriga.
Eu a abraço, ofegante, caralho! Gozei demais, seguro seu rosto,
beijando-a.
Eu não posso deixar de sorrir orgulhoso ao ver o sangue da sua
castidade no meu pau, afinal, ele simboliza nossa completa união.
Capítulo 22

Eu fiquei tão ansioso essa semana que não posso nem acreditar que
amanhã já é o feriado que vou levar Ísis para acampar!
Eu brinco com Canela e Sazon, enquanto ouço as atualizações do
detetive particular:
Liam tinha sido preso por tantas coisas, é verdade que serviu ao
exército, que desenha bem e blá-blá-blá suas qualidades não me
interessavam, porém, há algo que ele disse que despertou o meu interesse
imediato:
— O senhor Ink Torres, faz parte de uma gangue de desmanche de
carros aqui no Brasil. — sinto minha garganta secar, uma euforia enorme
perambula minha espinha — Não só isso, ele é o líder.
Agradeço imensamente enquanto arrumo toda a minha roupa com
cuidado na mochila de viagens, vibrando com essas informações, pareço uma
criança em época de Natal, corro para o meu laptop mandando alguns e-mails
para a minha clínica.
— Então, senhor Barbosa, Liam tem grandes problemas até com a
polícia americana, e é membro de grupinho de desmanche? — rio sarcástico,
feliz, eu vou detoná-lo para Ísis, serei seu ombro amigo e mais.
— O menino é esperto — diz o detetive que parece tomar alguma
coisa —, faz caminhos diferentes para o barracão, me despistou algumas
tantas vezes. — ri, só não o critico pela falta de profissionalismo, porque ele
é amigo da minha mãe — Mas quem me deu tudo foi o outro moleque, João
Pedro, esse está com outros problemas e…
Fecho o zíper da mala, me certificando de ter pegado tudo, inclusive
um smoking para a festa de casamento do padrasto e mãe de Ísis.
— Com todo respeito, senhor Barbosa, não me interessa a vida do João
Pedro, você pode me mandar tudo por e-mail? — saio, escolhendo a
caminhonete híbrida Toyota Tundra cinco lugares, continuo ao telefone —
E… Liam tem tido encontros íntimos?
— Ele está morando com a mocinha, Ísis, não é? Os dois têm um
relacionamento. — mesmo sabendo, meu mundo vem abaixo, indago,
travando meus passos.
— E por que eles não assumem o relacionamento? — fico tenso, sinto
minha garganta fechar, meu estômago queima.
— Ele é membro de gangue, Diego, acredito que seja para proteger a
menina.
Rebato, frustrado, jogando minhas coisas na carroceira, fechando-a
num baque.
— Proteger, senhor Barbosa? — rio incrédulo — Ele não se importa
com ela, Liam só se importa consigo mesmo e com seus prazeres!
Ouço que o detetive digita algo, depois de alguns segundos, retorna:
— Está gostando muito dessa moça, não?
Não consigo negar, sei que pareço, sim, um maldito pervertido
stalkeador, contudo, meu silêncio é minha resposta e sentença.

Durante o caminho até o apartamento de Ísis, fico pensando em tudo


que o Barbosa me contou, as provas estão em meu e-mail, vi desde o
histórico escolar de Liam, até fotos perdidas em redes sociais antigas dele
transando com algumas mulheres, verdadeiras orgias regadas a drogas e
álcool.
Assim que estaciono, Ísis acena para mim, apoiando-se na janela do
carro.
— Oi. — sorrio — Pronta?
— Quase! — retribui o sorriso.
A sua blusa mostra um pouco de sua barriguinha lisa, a calça realça sua
bunda redonda, o cabelo molhado, solto ao vento do final da manhã, ela sorri
tão feliz que eu quero acreditar que seja por mim, muito embora eu saiba que
não.
Liam aparece com uma mochila militar, jeans rasgado, óculos escuros,
blusa larga salientando o caimento em seus músculos e tatuagens. João Pedro
vem atrás carregando mais algumas coisas, seguindo o mestre.
— A gente passa buscar a Míriam, certo? — digo, abrindo a porta para
ela, esperando que pelo menos ficasse na frente comigo.
Mas suas próximas palavras me empurram de um precipício.
— Se importa se ela for na frente, Diggo?
— Não ligo não, Ísis, não se preocupe. — olho para trás para me
certificar que esteja aconchegada.
Liam me encara, vejo seus olhos quando abaixa os óculos, ele arruma
os cabelos negros, quando João encaixa suas malas, sustento nossa conexão
de olhares, sem sorrir, sem me intimidar.
Eu sei muita merda desse garoto.
João Pedro escolhe a música de fundo, Liam conversa comigo sobre o
quotidiano, Ísis apoia a cabeça na mão, colocando os fones, o braço apoiado
no suporte da porta, olhos perdidos no meio das construções da cidade.
No que ela está pensando?
Assim que chegamos na república de Míriam, ela já está nos
esperando. Eu me espanto com sua roupa, uma blusa apertada, transparente,
uma microssaia e saltos muito altos.
— Oiê! — ela faz uma bola de chiclete, jogando sua mochila junto as
outras.
Outra menina aparece, uma jovem baixa, cabelos na altura dos ombros,
nem magra ou gorda, acho que a característica mais marcante são as unhas
excessivamente longas e o preenchimento labial enorme.
— Ahn, Liam? — a moça diz com voz melosa — Podemos conversar?
Liam sorri de canto, Ísis e ele trocam olhares e como não pude ver que
estão juntos? É uma encarada diferente, parece faiscar, a tensão sexual dos
dois está no ar que respiram, sendo quase possível tocar.
Não posso me importar, afinal, ela vai aprender a me ver assim mais
cedo ou mais tarde, principalmente quando souber o material interessante que
tenho sobre esse moleque.
— Não quero falar com você, Bárbara, acabou, porra! — Liam não fala
alto, sua voz é clara, limpa e grave se fazendo entender muito bem, a moça
tenta pegar seu braço, puxando-o para fora da janela. Liam está impassível.
A garota começa a fazer manha, não sei se tenho pena ou raiva. Ísis o
empurra com o corpo, murmurando algo para ele, que bufa e sai, apontando a
esquina com a cabeça, as mãos nos bolsos, o andar imponente e Bárbara o
acompanhando como uma imbecil.
Quero ouvir o que estão falando.
Míriam se senta na frente, eu me assusto quando ela dá um tapa em
minha coxa:
— A Babi é apaixonada por ele. — sorri, forçando os braços para
frente, na tentativa de aumentar os seios. Olho Ísis pelo retrovisor, ela mexe
no fone, observo que está um pouco abatida.
Uma outra mensagem de Barbosa me faz retesar qualquer assunto que
iria começar.
Liam ia e vinha para o Brasil, ele e João Pedro são amigos, quando
vinha para cá, ele não ficava com o pai, a relação deles não é muito boa e,
acredito eu, nem sabia que o filho ficava no Brasil.
Vislumbro pelo retrovisor o sol incidindo na pele de Ísis, os olhos
fechados, seus fones de ouvido rosa, os lábios deliciosos mexendo em
consonância com alguma música.
João Pedro já parece cochilar recostado ao banco. Míriam me olha
insistentemente e nada de Liam.
Como usar as informações que tenho contra ele ao meu favor?

Capítulo 23
Eu não queria ir.
Nunca gostei das festas de aniversário de casamento da minha mãe, me
trazem memórias infelizes, queria ter ficado, aproveitado esses dias junto a
Liam.
— Ísis, se quiser dormir, pode recostar o banco. — Diego se vira para
trás, sorrindo animado. Concordo com a cabeça, mirando-o.
— Obrigada. — respondo com meu cérebro fervendo nas batidas
melodiosas de Billie Elish. — Mas estou sem sono.
Ele sorri, tentando manter alguma conversa, tento incluir Míriam, já
que tem um crush no Diego, ela tinha me mandado uma mensagem pedindo
para ir na frente com ele.
Rememoro também minha conversa com Bárbara, por intermédio de
Míriam, falamos sobre os sentimentos dela por um bom tempo, então,
concordei em incentivar Liam a dialogar com ela.
— Espero que aqueles dois se acertem de uma vez! — exclama
Míriam, sorrindo, tocando nos braços e pernas de Diego que não está à
vontade com o toque dela.
Dou de ombros.
Fosse o que fosse o papo, eu não queria ter inimizade, muito menos
com mulheres.
— Ísis. — Diego me chama a atenção, tiro os fones. — Quando vai
tirar carta?
— Espero que o mais rápido possível. — rio genuinamente, lembrando
do carro que Thales me deu, penso em trazê-lo para cá, depois da festa.
Quinze minutos depois, Liam entra no carro, Bárbara corre para dentro
de casa, sem se despedir. Diego entende que pode partir sem maiores pausas,
morro de curiosidade, mando uma mensagem para Liam que não responde.
Na real, ele não queria ir também, mas Thales e minha mãe insistiram
tanto e ele ficou tão empolgados em saber que Míriam, João Pedro e mais um
amigo novo nos acompanharia que foi impossível negar.
Embora ele tenha tido mais uma de suas brigas homéricas com o pai,
vindo em minha direção, depois de desligar o celular, me beijando e alisando
como um louco, retribui na mesma intensidade.
Eu fico pensando como vai ser na casa da nossa família, nunca fomos
próximos, mas agora estamos juntos e vamos falar para Thales e minha mãe?
Vamos nos assumir como um casal?
Eu desperto com Liam dirigindo o carro de Diego, que está ao lado de
João Pedro que tenta manter um assunto qualquer com Míriam.
— Que bom que acordou, já chegamos. — Liam pisca para mim pelo
retrovisor, me espreguiço, olhando a cidade familiar, o centro movimentado
como sempre, as pessoas saindo do trabalho, o pôr-do-sol borrando as nuvens
de laranja.
Não era uma viagem longa, mas não lembrava de quanto era
desgastante, já que não tenho dormido devidamente esses últimos dias e o
cansaço bateu.
Olho meu celular, Liam respondeu minha mensagem.
Desde que me aceitou em sua vida, não quero mais ninguém, aliás, use
o vestido que te dei e sem calcinha.
Uma ardência começa desde o meio das minhas pernas até minhas
bochechas, guardo o celular, lembrando do vestido que ele me deu no meu
aniversário, eu pensei em usá-lo de qualquer forma, mas com calcinha.
Um pedido tão simples e tão depravado, Liam consegue ser sutil e sexy
sem esforços.
Ele é insaciável.
Primeiramente deixamos Míriam em casa, os pais dela vem me
cumprimentar, tenho que sair do veículo e fazer a social.
— Uma pena que sua mãe não quis que morassem juntas. — a mãe
dela lamenta, me dando um abraço, retribuo com carinho. — E aquele gato
dirigindo? É o Diego?
Míriam bate a mão no rosto, nós rimos, ela a corrige:
— Aquele é o Liam, mãe, o irmão postiço da Ísis. — a alcunha me
deixa um pouco desconfortável, irmã-postiça? Existia isso?
— Nossa, ele é lindo, bem, vamos entrando? Estou morrendo de
saudades. — a mãe dela conclui, conduzindo-a para dentro de casa com
carinho, volto para o carro invejando Míriam, a relação dela com a mãe é tão
bonita e sincera. Diferente da minha.
Depois deixamos João Pedro, que mora no mesmo bairro que eu antes
do divórcio dos meus pais. JP tem um pouco de vergonha de sua situação
financeira, lembro dele comentar sobre, mas Liam nunca se preocupou com
isso.
Acho que eles trabalham no mesmo lance de investimentos.
— Eu morava por aqui. — levanto o rosto vendo Liam e JP
conversando em frente à porta da casa dele. O cachorrinho de JP faz festa
para ele, quando abre o portão.
— Ah é? — Diego comenta, pelo tom de sua voz denota curiosidade,
me incentivando a falar mais.
— Sim, minha família não é rica, meu pai é caminhoneiro, minha mãe
do lar, o meu padrasto que tem bastante grana. — desabafo.
Diego se senta reto no banco, sua mão toca meu rosto, ele tira meu
fone.
— Você merece alguém que te dê o mundo, Ísis. — sussurra, eu fico
estática, meus olhos buscam os dele.
— Eu e Liam estamos juntos. — falo pausadamente, tirando a mão
dele sem tanta delicadeza do meu rosto.
Diego afirma:
— Eu sei, só que é estranho, os pais de vocês são casados, ele é
membro de gangue e…
— Quê!? — o chão parece abrir e estou caindo em queda livre em uma
toca do coelho, o ar escapando dos meus pulmões.
Diego continua sério:
— Achei que soubesse. — fala como se estivesse me contando que
gosta de passas no arroz de Natal ou alguma trivialidade banal no mundo.
— Não! — eu me viro completamente para ele, deixando meu fone cair
do meu ouvido — Como sabe algo assim, Diego?
Meu amigo me lança um olhar sinistro, quase bizarro de uma soberba
de quem sabe mais segredos do que deveria.
Ele continua:
— Facção, Ísis, ele tem um desmanche de carros e João Pedro é
comparsa dele, fiquei sabendo por causa do furto do meu carro e…
— Não era pegadinha? — tento me ater ao que Liam disse, claro que
achei estranho, mas depois de me confessar que foi abusado, obviamente me
mantive em uma zona de guerra, confio nele, mas isso?
— Ah, não. — ele procura um Halls no painel — Achei que você
soubesse, de verdade.
Liam chega e sinto meu coração dilacerado, por que ele se meteu
nessa?
Quais outros monstros conflituosos ele esconde na obscuridade da sua
alma?
— Vamos logo para esse abatedouro. — Liam fecha a porta do carro,
olhando para nós dois, Diego pede licença para ir no banco da frente. — Por
que essa cara de enterro?

Tento sustentar uma conversa até em casa, assim que os portões do


condomínio se abrem, o ar festivo já açoita meu rosto, é o inferno na terra.
Não é só uma festa extravagante é desnecessária, as ruas estão cheia
das flores favoritas da minha mãe, balões atados ao solo com frases de amor
piegas. Nosso quintal aberto com mesas, cadeiras, pita de dança, vasos altos e
uma penca de funcionários, um altar montado com faixas brancas de seda.
Meu padrasto e mãe estão lá fora, assim que Liam estaciona, Thales
vem ao nosso encontro, sorrindo:
— Ah, bem-vindos, então, esse é o namorado da Ísis? — aponta para
Diego, antes que eu possa corrigi-lo, cumprimentam-se em um abraço
apertado. — Cuidado com a minha filhinha, rapaz. — afundo minha cara nas
mãos.
Minha mãe sorri daquele modo que sempre estranhei, não me
cumprimenta ou abraça, sua atenção recai primeiramente em Liam:
— Vai vestir o smoking que eu mesma comprei. — agora ela se digna
a olhar Diego, mirando-o de cima abaixo, analisando-o. — Esse é o
namoradinho da Ísis? Se for, ele deve ter algum problema.
Ela ri de lado, chamando a atenção de algum funcionário que errou
centímetros a estrutura onde vai ficar a escultura de gelo.
Liam coloca o polegar no passante da calça, exclamando:
— Acho que você que tem problema, Vivian! Eles são só amigos. —
olho-o com admiração.
Minha mãe finge não o ouvir, Thales fica perdido na situação, como
sempre, se afastando para se livrar de qualquer confronto.
— Veja só como me trata, Liam! — ela pisa em algumas flores no chão
— Thaaales! Seu filho está sendo desrespeitoso comigo! — ambos saem
discutindo sobre a educação dele.
Quero ser um avestruz e enterrar a minha cabeça na terra, ainda bem
que Diego não parece ligar, começa a tirar seu smoking, caminhando perto de
Thales que mostra a casa para ele.
Minha mãe segura o braço de Liam, demandando uma conversa
particular.
Eu me encontro entre os funcionários da festa, começo a ajudá-los,
seria ótimo para me distrair desse primeiro momento tão constrangedor.
Capítulo 24

A dinâmica familiar é bizarra, como eu esperava desde o dia que ela


passou mal pelos remédios que tomou na noite que saímos depois do grupo
de estudos.
Thales é omisso, a mãe uma narcisista, Liam um perdido e Ísis, ah Ísis,
eu vou cuidar dela como se deve, como um homem cuida de uma mulher.
Eu fico à vontade depois do Tour com Thales que se despede, pedindo
para que eu fique à vontade, ando meio a esmo, após me ajeitar num dos
quartos de hóspedes.
Admiro o lugar, o condomínio de alto padrão, a casa enorme, um ar
praiano, desço as escadas, bisbilhotando os cômodos que me foram
apresentados.
Uma conversa acalorada chama a minha atenção, Thales saiu para
resolver alguns assuntos, Ísis está lá fora, perto dos empregados e Liam e
Vivian?
Estão perto da sauna, atrás da casa, ouço-a berrando:
— Como pôde me abandonar aqui!?
Mas que merda? Ando devagar, tomando cuidado para não ser visto,
afinal, não conheço o terreno.
— Caralho, Vivian, sai do meu pé, cacete! — é a voz dele, sem dúvida!
Meu ser se enche de horror, espanto e náusea ao ver a mulher, mãe de Ísis,
madrasta de Liam e, de uma certa forma, sogra dele tentar beijá-lo!
Que situação terrível! Eles têm a porra de um caso?
— Você me deve, Liam, me deve, quero ir naquele motel imundo,
quero que me foda! — ele praticamente a empurra, a mulher é louca!
Ando para trás, no desespero, me enrolo para pegar o celular, que
escorrega da minha mão, pego-o no ar, eles caminham em minha direção, me
escondo atrás de um grande armário cheio de livros, no cômodo ao lado,
mutando o aparelho para abrir a câmera e gravá-los.
— Você é uma puta, sempre foi! Jogando Ísis em cima daquele otário!
Sério que quer trazer o Ricardo para cá? — ele bufa, seu par de coturno pesa
no chão.
Ela está tão confortável com tudo que ri de sua bronca.
— Ah! Ainda está chateado de eu ter te mamado há dez anos, menino?
Eu te fiz homem!
Cristo! Um claro caso de pedofilia, meu punho treme, meto a mão na
boca para segurar um grito de terror! Liam tem os olhos faiscando de ódio e
dor, que merda! Eu nunca vi isso em todos os anos de formado, mestre ou
doutor em psicologia.
Meu coração retumba nos meus ouvidos de tanto pavor, engulo seco,
olhando a câmera do meu celular, minhas mãos suando, minha mandíbula
tencionada, meus dentes doem pela força que imponho no aparelho!
Que cena mais lamentável!
— Vaca, é isso que quer? — ele ri de canto, seco, sarcástico, ferido. —
Quer que eu te xingue enquanto meto no seu cu?
Liam não está em um jogo, mas entra nele. Vivian passa a mão em seu
abdômen, porém, assim que Ísis entra, os dois trocam qualquer farpa se
afastando. Liam sai pisando duro, a cena macabra fica registrada em meu
aparelho celular.
— Mãe, Liam, a gente tem que dar uma atenção a Diego.
Ah, que anjo, não, não precisa me dar atenção meu amor, estou todo
horrorizado, acho que sinto o mesmo que Canela e Sazon quando há
tempestade e os deixo se abrigarem debaixo das minhas cobertas.
Porém, isso que desenrola à minha frente, é pior que o inferno.
Como qualquer mãe narcisista que é capaz de qualquer coisa para ter
atenção e humilhar a filha, Vivian cruza os braços longos, seu vestido roça o
porcelanato, ela ri com um ar superior.
— É seu convidado, dê atenção e o que mais quiser. — Ísis se encolhe
perante a mãe. Vivian encara Liam, despindo o garoto com o olhar. —
Aquele marginal do João Pedro e a japinha vão vir mesmo?
— Não fala assim deles. — Ísis, mesmo na situação que se encontra,
tenta defender o amigo do seu irmão postiço e a amiga.
Agora, como vou sair daqui? Vivian se aproxima de onde estou, os
saltos pontudos quebrando o silêncio.
Eu me retraio mais, mal respiro para não fazer barulho, abraço meu
celular como meu bem mais precioso, meus olhos estão esbugalhados para
lugar nenhum.
Ouço Liam:
— Tô vazando pra procurar o maluco, logo a gente vai estar livre dessa
merda. — ele sai batendo as portas atrás de si, aproveito para reabastecer
meus pulmões.
— Isso Ísis, tá vendo? — felizmente Vivian dá meia volta, aquele
moleque me salvou sem saber, a mãe de Ísis se zanga. — Estragou a minha
conversa com meu enteado.
— Desculpa.
Ísis sempre se desculpa, colocando-se nessa submissão absurda,
deixando que a mãe a pise, espezinhe, despreze e se erga no sentimento de
inferioridade dela.
— Espero que tenha uma roupa decente para colocar, porque se aquela
japinha conseguiu um namorado bonito daqueles. — um elogio na boca dessa
mulher é nojento, do medo vou a repulsa.
Vivian continua:
— Espero nada menos que consiga algo melhor, convidei o Ricardo,
você precisa se acertar com ele!
— Ele é passado, mãe, por favor! Além de tudo, ele me traiu!
— Você mereceu, não se esqueça, ou ele ou o Afonso!
— Afonso tem quase sessenta anos!
Ísis se afasta da mãe, mas eu, eu não ficaria mais nessa casa um
segundo, quase sessenta anos com uma menina de dezoito? Essa mulher é
insana, um grau de psicopatia latente ali.
Vivian continua com suas “doces” palavras:
— Sempre gostou de você.
— Tem idade para ser meu avô. — murmura, sem coragem de encará-
la, meu Deus, estou apavorado com essa família, onde está o pai de Ísis? Será
que é conivente com esse abuso todo?
— Afonso é amigo do Thales, rico, divorciado. — Vivian ergue os
dedos para enfatizar os elogios.
— A filha mais nova dele é mais velha que eu!
Pobrezinha, ainda tenta se levantar em meio a essas ruínas de um
pseudo amor, quero tanto niná-la, colocá-la dentro do meu mundo.
— Ah, Ísis, eu dei certo na vida ao pegar um peixe grande, no mínimo
poderia pegar um menor, engravidar e me dar uma boa aposentadoria.
— Por que você e o Thales não pensam em ter um filho, mãe? — num
último suspiro de independência, ela ousa, Vivian estala os cinco dedos no
rosto dela, que nem consegue chorar mais, a cabeça se abaixa, o olhar fica
mais perdido e vazio.
Acho que por isso estava tão pálida na viagem, no seu mundo com
fones de ouvido e música, acho que musicoterapia seria o ideal para começar
um processo terapêutico, me lembro da minha situação e volto a temer que
alguém me veja, mas Vivian dá um outro tapa, xingando-a:
— Malcriada! Inútil, saia da minha frente!
— Chega! — Liam volta, extremamente irritado, quase avançando em
Vivian.
Ele está sem camisa, shorts comprido, pega Ísis pelo punho, que se
deixa levar, os olhos dela estão opacos, essa menina está absolutamente
traumatizada, deslizo meus pés no chão, percebo como estou gelado.
Liam aumenta o tom de voz:
— Ísis, vem cá! Vamos tomar um banho de piscina e ir atrás do Diego
que deve ter se perdido por aí.
Assim que eles saem, demoro mais alguns minutos tentando processar
as situações que vivi, estou absolutamente chocado, meu peito infla e desinfla
como nunca senti antes, a sensação é que fui a uma guerra e voltei com tantos
traumas que jamais vou conseguir tratar nem mesmo em terapia.
Estou triste pelos dois e o que tenho é uma prova contundente de meter
aquela “mãe” numa cadeia.
Eu serei um herói.
Capítulo 25

Minha garota só poderia ter um biquini lilás, Ísis está esplendorosa


nele, o corpo proporcional, coxas grossas, cintura fina, seios fartos
implorando pelo meu toque, cabelos longos ao vento, embora o olhar esteja
triste e distante.
Não a julgo.
Vivian é um desastre da natureza, sua presença é nociva, maléfica,
podre, suja, quero tanto me vingar apropriadamente dela, pela minha mãe,
então, não posso agir com minhas emoções à flor da pele, preciso ser frio.
— Liam. — a voz sedosa de Ísis me tiram do meu devaneio, chego
mais perto, passando a mão em seus braços. — Você faz parte de uma
gangue?
Não me movo, a adrenalina sobe pela minha espinha, encaro-a fundo
nos olhos castanhos em turbulência, tenho medo do que ela possa fazer com
essa informação com relação a nós, pego suas mãos.
Foda-se se alguém vir, afirmo:
— Faço.
A pergunta de um milhão de dólares é: quem foi o filha da puta que
contou?
— Por quê? — pergunta — Não tem investimentos?
— Até tenho, Ísis, mas o dinheiro vem de uma maneira ilegal. —
resolvo colocar as cartas na mesa, meus braços caem ao redor do meu corpo.
— São uma das coisas ruins que acontecem na minha vida, nunca quis
depender do Thales, ele é bilionário, eu não.
Ela me esquadrinha, imagino como é conflitante, mas isso é o que sou.
Continuo:
— Se sua escolha for continuar comigo tem que saber uma ou outra
coisa. — sou incisivo, não gosto de mentir, eu omito o que acho
desnecessário, mas sou homem suficiente de encarar minhas consequências.
Eu pego seu rosto com meus dedos:
— Não posso assumir meu relacionamento com você, são pessoas
perigosas e agora que sabe, espero que seja cuidadosa em seus passos. Quem
foi que te disse?
Ísis estremece ante ao meu toque, sua pele molhada me convida, seu
rebolado natural me tortura, quero gozar dentro dela, quero foder agora,
expiro, me aproximando de seu ouvido:
— Quero te comer agora, se ainda me quiser, fica sem calcinha na
festa. E me fala quem te contou.
— Foi o Diggo. — me responde, hesitante.
Eu tenho certeza de que ele não deve ter pedido segredo, aquele
desgraçado, senão, ela nunca falaria.
Sorrio faceiro, dando um pulo na água, deixando-a com seus
pensamentos.
A água colide com a minha pele, fico um tempo submerso, até sentir o
líquido me engasgar, me forço a ficar ali. A á clareia meus propósitos, agora,
quem contou a Diego?
João Pedro? Aquele tonto, mas é melhor assim, me sinto aliviado, cada
segredo deve ser revelado camada por camada até sobrar o miolo do mal:
Vivian.
Ísis tem que aprender a me amar como sou, não sou uma fantasia de
contos de fadas, sou real, muito mais erros que acertos, muito mais traumas
que sanidade, quero essa mulher em minha vida, mas quero que ela me aceite
por inteiro, na minha forma mais monstruosa e disforme.
Sorrio de maneira ácida, ainda forçando a submersão, vejo a luz turva
pelas ondas d’água cristalina, ela ainda me observa. Diego aparece e fica ao
lado dela, conversam sobre o quê?
Um lampejo perpassa meu cérebro fodido, por um acaso esse puto
contratou alguém para ficar no meu pé? Não, ele não seria tão burro, porém,
lembro de alguém tentando me seguir há alguns dias, achei que fosse
paranoia.
O jogo teria que virar, está na hora de eu começar a persegui-lo, dou
um impulso, voltando para a superfície, tusso um pouco, meu pai aparece, me
chamando:
— Liam, que tal levar o carro da Ísis quando forem embora? Aí já ela
já pode começar a autoescola.
Thales é um homem odioso. Ele se finge de burro por Vivian, que
aparece como uma sombração quando invocada.
Vivian esquadrinha Diego, mordendo os beiços. Ísis percebe que a mãe
está dando em cima do cara, minha garota coloca os pés na água, pulando em
seguida para dentro, nadando desengonçada, mas é muito fofa. Ela nada até
mim:
— Só quero que esteja seguro. — cochicha, olhando por sobre os
ombros, sorrio, jogando um pouco de água nela, que se defende jogando em
mim também.
— Só vou ficar, se estiver com você.
Diego dá um mergulho, vindo até a gente, impressão minha ou está
com a cara babaca ainda mais assustada?
— Oi! — Ísis o cumprimenta, espirrando um pouco de água nele
também, que ri estranho.
— Então, amanhã saímos que horas? — Diego pergunta, e eu não sou
idiota, sei que ele percebeu coisas estranhas por aqui, não sou otário.
— Depois da festa, acho que vou virar a noite. — respondo, olho para
Ísis. — Nada de remédios.
Diego concorda:
— Por favor, Ísis, para o seu bem.
— Desculpa, não vai ter incidente.
De onde saiu essa menina? Desculpando-se de tudo para todos? Dou
umas braçadas longas, arrumando uma bola por ali.
— Tá, quem deixar a bola cair, perde. — arremesso com uma força
desnecessária para Diego, que defende, jogando para mim, dou um toquinho
para Ísis, que perde.
Ficamos nessa, nos distraindo com isso até a hora que as organizadoras
do evento pedem que saiamos da porra da piscina, que eles ainda iriam fazer
não sei o quê de enfeite.
Respiro fundo tentando absorver as hipocrisias do dia de hoje,
felizmente, eu gravei todas as merdas que Vivian disse para mim, na hora
certa, em breve, será o momento do grand finale.
Apoio minhas mãos na pia, depois de um banho quente, me olho no
espelho, assopro, o ar dos meus pulmões embaça o vidro, escrevo “Monster”.
Eu tinha tatuado meu pau com essa porra de palavra para sempre
lembrar quem sou, um monstro, um fodido, tatuei nos Estados Unidos com
uma ex qualquer.
Meu pai bate na porta, enrolo uma toalha na cintura, abrindo:
— Quê…? — pergunto, ele me entrega um smoking asseado, camiseta
vermelha, calças pretas, blazer moderno, um sapato estúpido, nada parecido
comigo.
— Vivian e eu queremos que vista, a festa está linda, a estátua de gelo
e tudo mais.
O sorriso tonto do Thales me enerva, tento rir, mas acredito que faço
uma carranca tão feia que ele revira os olhos.
— Filho, você tem agido com maturidade, estou tão orgulhoso que
queria te fazer uma proposta.
Eu me assombro mais do que se tivessem mil encostos ao meu redor,
não quero que esse desgraçado, assassino maldito tenha orgulho de mim,
arqueio uma sobrancelha, tão irritado que eu poderia estourar seus miolos
com as mãos.
— Só pode estar zoando com a minha cara, Thales. — rio de escárnio.
Thales insiste, depois de eu pegar aquela roupinha brega de alfaiataria.
— Eu queria que você fizesse a logo nova da empresa, afinal, vai ser
sua um dia. — o maldito toca em uma das minhas tatuagens, balançando
afirmativamente a cabeça. — Que acha?
— Não. — dou de ombros, suas mãos pairam no ar, a sua cara de
imbecil é impagável, vou fechar a porta.
Thales insiste:
— Filho, eu vou pagar.
— Não quero seu dinheiro. — sorrio orgulhoso de mim mesmo — Não
gosto de você. — olho-o de cima abaixo — Na verdade, nem sei o que eu
faço aqui, se quiser que ainda permaneça nessa festa estúpida, saia!
— Liam, por que tudo isso? — se faz de ofendido, dando espaço para
mim, olho-o com o ódio característico por aqueles que perderam tudo e só é
movido por vingança.
— Esqueceu que matou a minha mãe?
— O quê!? — me encara, engolindo difícil, ele tenta me dar um
abraço, me afasto. — Fi- filho, eu sinto muito que tenha passado por tudo
aquilo, mas…
— Saia, Thales, ou vou embora.
Ele suspira rendido, dando meia volta, cumprimentando Ísis, que entra
no quarto, mal ela fecha a porta, eu a puxo para um beijo escandaloso, minha
mão passa pelas suas coxas e não escondo o sorriso malicioso ao constatar
que, sim, está sem calcinha.
— Liam — ela geme baixo, minha mão invade seu seio — Seu pai.
— Foda-se ele e, uau, você está linda. — coloco o indicador em seus
lábios, desenhando o contorno, querendo lembrar do seu sabor.
O vestido é verde claro, rendas na saia e busto, tomara que caia,
pedrarias de várias cores, bom gosto, impressionante não ter detalhes em
lilás. Ofego, invadindo sua boca com a minha língua, o acesso livre pela sua
buceta, minhas mãos provando seu corpo, roçando-o com vontade.
A cabeça dela pende para trás, aproveito para lamber seu pescoço,
prensando-a contra meu armário.
Eu chupo o bico de seu seio, mordiscando-o, sustento-os com as mãos,
meus polegares deslizam pelas suas costelas, meus olhos fecham inalando seu
perfume.
— Ah, Liam! — exclama, mexendo a pélvis no meu dedo, essa garota
já vai gozar? Tão molhada, excitada, ela gosta do perigo tanto quanto eu, ela
quer viver, está louca para isso.
— Quero que você se toque para que eu veja. — me afasto, ela tenta
arrumar os cabelos, vejo que sua jugular pulsa, pernas trêmulas.
É nítido que sente vergonha de mim ainda, porém o tesão fala mais
alto, sua mão esquerda delicadamente perpassa seu belo corpo, ela tenta
fechar as pálpebras, não permito, chamando sua atenção.
— Olha para mim, Ísis. — exijo, beijando ambas as bochechas.
Ela ganha coragem, os dedos que sempre a tocaram, agora o fazem
para mim, sua boca se abre, aproveito para beijá-la mais, minha língua
explora sua boca, sua masturbação é tão bonita, doce e lenta.
Aproveito para lamber seus ombros nus, a mão esquerda dela continua
a tocando, a outra agarra meu bíceps, ela se apoia em mim, suas íris estão
inflamadas de desejo.
Puta merda! Meu pau está inchado de tanto tesão, incentivo-a mais:
— Goza pra mim, vai, diz que quer que só eu te coma. — impondo
mais força ao apertar seu peito, ela geme mais alto, vejo que está com mais
empenho em se dar prazer.
— Só você vai, Liam, só você vai fazer amor comigo…
Sorrio com tanta maledicência que tenho receio em assustá-la:
— A gente trepa bem gostoso, Ísis, não tem essa de fazer amor. —
coloco a minha mão sobre a dela, forçando-a a se tocar mais fundo, mais
confortável, abraço-a, serpenteando meu indicador por suas costas.
Seus olhos me buscam, passo a língua por seus lábios, meu piercing
passando por sua pele saborosa.
Ela expele o ar na minha boca, suas pernas bambeiam em minhas
mãos, caralho! Vou enlouquecer de vez, ela está gozando para mim, se
masturbando procurando meu olhar, incentivando-a, a cena é linda, quero
mais.
— Vira de costas. — mando imperativamente.
Ísis não se opõe, ergo o vestido por trás, estalando um tapa alto em sua
bunda, deixo cair minha toalha, arranco uma camisinha de onde nem me
lembrava que tinha, encapo meu pau e meto rápido, impaciente, sem prévias,
ela segura a minha coxa.
— Rebola em mim, bem rápido. — ordeno, minha mão pousa em sua
buceta, meu polegar pressiona o clitóris com certa força, meto sem esperar, o
barulho dos nossos corpos sobre a madeira do armário embutido é
deliciosamente alto.
Nesse momento, uma orquestra começa a tocar, me inclino mais para
trancar a porta do quarto, mordo o ombro de Ísis, ela reclama num “ai”.
Eu puxo seu cabelo, passo os dedos pelo seu pescoço, lambendo sua
orelha, os brincos dançam nos meus lábios.
— Li- Liam! — sussurra, rebolando bem gostoso, forte, bato mais uma
vez em suas nádegas, caralho! Vou explodir!
— Gosta que eu seja de gangue, Ísis? Quer sentir o prazer do perigo?
— ela me olha sobre os ombros um pouco confusa, os cabelos caem em
cataratas pelas costas.
— Fi- fico preocupada c-com você. — trago-a pela garganta mais
próximo de mim, espalmo as mãos no armário, sentindo que vou gozar a
qualquer momento.
— Caralho, como você é apertada! — xingo, enlaçando meus dedos
aos dela, volto a beijá-la, sua buceta aperta meu pau, espasmando, essa garota
está aprendendo rápido em como me deixar maluco.
Ouvimos passos, uma das funcionárias chama por nós, Ísis faz menção
de parar, porém, mais um tapa e a calo com a mão, respondo:
— Já vamos, porra!
Não paro o ritmo do nosso sexo, ninguém merece a minha atenção ou
desconcentração que não seja Ísis. Ela pousa suas mãos sobre as minhas,
voltando a rebolar deliciosamente no meu colo, seus seios pulam para fora do
vestido, uno-os com uma palma, esfregando-os.
Eu começo a gozar tão intensamente que é quase dolorido, transpiro,
brinco com a minha língua em seus lábios abertos, afoitos por ar. Ísis me
encara com um sorriso lindo, afastando-se um pouco de mim, tentando se
arrumar como pode.
Eu a puxo para outro beijo, em seguida, dou outro e mais outro
estalados tapa em sua bunda.
— Vamos? — pergunto, me encaminhando para o banheiro para pegar
minha roupa, ela afirma, destrancando a porta.
— Vou terminar de me maquiar. — responde, pisco para ela, ajeitando
meu piercing no septo.
— Nem pense em colocar calcinha, isso só foi um aperitivo.
Ela pisca algumas vezes, Diego aparece do inferno, não o encaro ou
vou matá-lo por ter contado a ela sobre meu grupo ilegal, ele anuncia a
chegada de Míriam e de João Pedro.
Esse merda, por um acaso, estava nos ouvindo?
Não, Liam, não, seria muito deprimente se isso acontecesse.
Capítulo 26

— Está gostando, Diggo? — ele me lança um olhar estranho, um


sorriso de canto enquanto bebe um pouco da champanhe.
Diego tem agido diferente nas últimas horas, não entendo se está
tímido ou um pouco incomodado aqui, na casa de desconhecidos, em uma
festa como essa.
— A estátua de gelo. — ele aponta com a taça a escultura esdrúxula de
dois cisnes um de frente ao outro, eles tocam o bico, dando a impressão de
fazer um coração entre os pescoços. — É esquisito, não?
Afirmo, molhando meus lábios com a champanhe, Míriam vem em
nossa direção, comentando como a festa está linda e como ela achou
maravilhosa a escultura dos “patos”.
Eu e Diego rimos, dou um beijo em minha amiga e os deixo à sós.
João Pedro está dançando na pista iluminada com uma das amigas de
Thales, ando de lá para cá sem ter muito o que fazer.
Resolvo entrar em casa e uma conversa capta minha atenção, nunca
gostei de ouvir bate papo alheio, mas quando seu nome é colocado em pauta,
fica impossível não ouvir.
— Ah, Thales, não seja puritano! — minha mãe o mira pelo espelho da
penteadeira, terminando de passar lápis embaixo do olho. — Eu tentei abortar
ela, colocar para adoção e mesmo depois de ser obrigada a ficar com a Ísis,
não posso decidir quem é mais apropriado?
Ela me dizia isso constantemente, como eu tinha sido um erro em sua
vida, que por minha causa foi obrigada a ter uma vida miserável ao lado do
meu pai.
Minha respiração suspende, porque ela fala essas coisas a Thales como
se estivessem discutindo o que teriam para o jantar, meu padrasto responde:
— Sinto muito, Vivian, entendo que teve uma vida difícil, porém, hoje
é nosso 10º aniversário de casamento, não deixei o Ricardo entrar para
estragar tudo.
Thales tira uma joia do se bolso, caminhando até a minha mãe:
— E eu não vou jogar Ísis a um homem da idade do Afonso, é
ridículo!
Minha mãe levanta os cabelos para que ele consiga colocar o colar em
seu colo, ela analisa cuidadosamente as pedraria, a conversa é tão banal, acho
que normalizo os abusos, vou bater na porta.
Ela eleva um pouco a voz, reteso meus movimentos:
— Ridículo para você, eu convidei o Ricardo, você não gostou, deixei
que fosse fazer essa faculdade ridícula, agora, um homem bem mais velho vai
colocá-la nos trilhos.
Thales pousa a cabeça na curva do seu pescoço, quase sussurrando,
porém, ainda consigo ouvi-lo:
— Vivi, talvez o menino novo seja uma boa. — ela rola os olhos,
alisando a joia. — Por que não investimos no rapaz novo, o… como é
mesmo o nome?
— Thiago? — minha mãe chuta, levantando-se para escolher os
sapatos.
Thales ri, ajudando-a, corrigindo:
— Acho que é Diego, vida.
Ela mostra um par de saltos a ele, que afirma com a cabeça. Minha mãe
implica com o nome, fazendo um biquinho:
— Diogo o quê?
Sempre um sobrenome, sempre movida a dinheiro, vou dar meia volta,
sinto a mão firme de Liam segurando meu seio, sussurrando:
— É feio ouvir atrás da porta. — olho-o, não queria que ele ouvisse,
coloco a palma em seu peitoral para afastá-lo dali.
Liam se atenta, quando Thales fala:
— Diego é um rapaz de boa família.
Liam sorri no meu pescoço, ele aperta a minha bunda, ficamos em
silêncio, minha mãe se interessa, perguntando:
— Você conhece?
— Já ouvi falar dos Amaral Barcelos, sim. — meu padrasto rebate,
ambos escolhem o par de sapatos.
Liam enlaça minha mão a dele, me conduzindo até meu antigo quarto.
Depois de beber como se não houvesse amanhã, começo a ver tudo
rodando, não acredito ainda que ouvi os dois transando, como sou patético!
Míriam se esfrega e me atiça tanto, os horrores que vi acontecendo
nessa casa, essa festa, as pessoas comentando como Vivian e Thales
nasceram um para o outro.
Tudo me enoja, meus pensamentos estão tão desconexos, eu só lembro
de música eletrônica na pista de dança, em flashes me vejo dançando com
Míriam e outras garotas.
João Pedro está sério do outro lado do jardim, conversando com Liam,
nada de Ísis.
— MÍRIAM? — grito para tentar me fazer entender por sobre a música
alta, ela me olha sorrindo, eu acabo beijando-a, abraçando apertado, Deus, eu
estou muito bêbado.
Exploro a boca dela e, de repente, a imagem de Ísis se masturbando
para Liam soca meu cérebro, aquela cena vai me atormentar pelo resto da
vida, eles estavam fodendo tão gostoso.
A sensualidade dela passando a mão pelo corpo, a urgência dele em
beijá-la, os gemidos de prazer, nossa, estou fodidamente apaixonado.
— Quer ir para algum lugar? — Míriam sussurra em meu ouvido.
Eu sou obrigado a abrir os olhos, minha ereção é tão evidente que nem
tento mais escondê-la.
Míriam rebola em mim enquanto anda, entramos novamente na casa,
eu cambaleio muito bêbado, mas não consigo me segurar mais, estou tanto
tempo sem sexo, minhas bolas chegam a doer, preciso transar.
— Diego, vem. — ela me conduz a um lavabo, recomeçando a me
beijar, não a impeço.
Apoio minhas mãos na pia, ela fecha a porta com força, umedecendo a
sua palma, passando em meio as suas pernas, ajeitando os joelhos ao meu
redor.
— Não vou durar muito. — alerto-a.
Ela coloca uma camisinha em mim, pulando em meu colo, meto uma,
duas, três vezes, a luz me incomoda, estou com dor de cabeça e irritado,
coloco a mão em sua cintura, forçando-a para cima e para baixo.
— Ísis… — chamo com a voz embargada, Míriam me olha estranho,
mas não para, quase a derrubo, sento no vaso sanitário, colocando-a sobre
mim.
Jogo minha cabeça para trás, ela passa as mãos pelo meu peito, barriga,
pernas, coxas, mordo com força meus lábios, vou gozar tão rápido, não
aguento mais.
— Goza, Diggo. — ela sussurra, abraço-a, sentindo meu pau pulsar
forte, ah, quanto tempo eu ansiei por ter contato com uma mulher.
— Míriam. — sussurro em seu ouvido, sinto meu pau ainda meia
bomba, mas sem condições de fazê-la gozar. — Se você realmente gosta de
mim e quer ter algo comigo, convença a Ísis a dar pra mim.
Ela umedece os lábios, levantando-se de mim, pego a camisinha para
jogar no lixo, ela me empurra:
— Como pode me pedir algo assim? Já não basta chamar por ela
enquanto transa comigo, Diego?
Eu sorrio como um otário a mim mesmo, eu sou um lixo de ser
humano, sem saber ao certo como vim parar nesse lavabo, o vaso
enregelando minhas bolas.
— Eu tô apaixonado por ela, Míriam, que merda, me ajuda, cacete!
Você é a melhor amiga. — choramingo, sem perceber que estou lavado de
suor, porra e lágrimas.
Que deprimente!
— Você assume alguma coisa séria se eu convencer ela, Diego? —
sinto que me abraça, soluçando, tão ou mais inconsequente como eu.
Que merda eu estou fazendo?
Eu vi como Vivian é, ouvi Ísis transando com Liam, enteado da sua
mãe, como eu poderia quebrar a química deles? Preciso pensar, tento
levantar, mas minha calça está arreada nos pés.
Quase caio, Míriam me segura, sua maquiagem borrada nos olhos,
agarro seu rosto, tensiono meu maxilar.
Faço com que ela me olhe:
— Diz, diz que vai ficar comigo não importa o que aconteça! — o que
estou pedindo? Como eu penso que tenho esse direito sobre ela?
Míriam segura meu cabelo com força, me coagindo a um beijo
dolorido, seus dentes raspam minha língua, nossas bocas estão ressecadas,
ardidas, sofridas, seus olhos de raposa selvagem me encaram:
— Se você namorar comigo, eu convenço ela fácil, Diggo. — ela cola
a sua testa na minha.
Como posso usar, sendo psicólogo, as armas emocionais das pessoas
contra elas mesmas?
Eu e Vivian somos iguais em vários níveis.
Capítulo 27

Que porra João Pedro estava me falando? Essa desgraça está bêbada,
não entendo nada que fala, melhor só deixá-lo em paz, vou procurar por Ísis,
mas ele segura meu braço:
— Você acha que algum dia minha irmã vai superar tudo igual você?
— caralho, como eu poderia confortá-lo dessa merda?
Encaro-o com empatia.
— Não sei, João, — procuro uma resposta —, eu sou homem, sei que é
diferente e eu tinha treze anos, sua irmã ainda era mais nova que eu, a única
coisa que posso prometer é justiça por ela.
Não sei se ele fica satisfeito com a minha resposta, sua boca se abre e
fecha, parece buscar na sua embriaguez um contato genuíno com o além.
— Sávio já conseguiu chamar a atenção de Júnior, ele é esperto, sabe?
— meu amigo termina mais um copo cheio de cerveja. — Sávio falou que o
primeiro contato é o mais difícil, mas está progredindo.
Não digo nada, deixo-o desabafar, um pouco de lucidez passa por seu
riso torto.
— Liam, quando você vai chutar o cu do Hugo? Tipo, ele está tentando
roubar Ramon e Sávio da gente, tá ligado?
Dou de ombros, Hugo, o barbicha da zona Sul, era uma pedra no meu
sapato, sempre foi, não tenho intenções de espalhar a gangue ou deixá-lo
intimidado.
— Quero sair dessa merda um dia. — confesso, olhando o fluxo da
festa.
Meu pai e Vivian dançavam romanticamente, que nojo daqueles dois,
percorro com os olhos as pessoas brindando, os amigos fazendo brindes à
saúde deles.
— Talvez abrir um negócio de marketing — vagueio em meus
pensamentos, olho para João que não entende porra nenhuma que estou
falando.
Resolvo explorar os ouvidos do meu amigo.
— Viajar, comprei até material de rapel para nossa ida na fazenda do
maluco do Diego.
João Pedro pega mais um copo de bebida, uma bola colorida está no
fundo do copo, a música brega ecoando em meus ouvidos.
— Você e a Ísis, né? — ele ri, quase se afogando na bebida.
— Que porra está dizendo? — inquiro, levantando uma sobrancelha,
estaria tão óbvio que até João via?
— Tipo, o Hugo perguntou de vocês para o Ramon.
— Hugo quer me foder, João, ele não pode saber de mim e de Ísis, ele
é perigoso, caralho!
— Então, estão juntos mesmo, não é?
Arrumo meu piercing no septo, esfrego as mãos no rosto, passando os
dedos pelo meu cabelo, me enervando ainda mais:
— Se estiver?
— Melhor esconder o jogo, tipo, Jean e Greg falaram que você anda
meio distante, Hugo chamou Sávio e Ramon para voltar a trabalhar com ele e
meio que disseram que você cagou pra isso.
Ele coloca o copo em uma bandeja do garçom, pegando rapidamente
outro cheio na mesma leva, faço o mesmo.
Indago mais:
— Quem te contou essas merdas, João Pedro?
Meu amigo toma a bebida de uma vez, já andando mais do que torto,
serve-se de mais álcool com a bola colorida no fundo.
Ele continua com a voz ainda mais enrolada:
— Hoje, eu, Sávio e Jean ficamos conversando um tempão em
chamada de vídeo no computador, enquanto a gente jogava, desabafaram e
tal.
Tento pensar nas possibilidades do meu bando achar que estou os
trocando, primeiro, posso continuar no barracão, poderia levar Ísis, mas só de
pensar nisso é idiota.
E se eu pedisse para que ela e Diego assumissem um relacionamento
fake? Se ela ficar na casa dele, poderia ser mais protegida, ele é um bundão,
não teria jamais coragem de tocá-la.
Ou eu posso dar um jeito para que Ísis vá morar na república da
Míriam, pelo que Bárbara me contou, Ísis seria muito bem-vinda lá, porém,
colocaria todo mundo em risco.
Mas meus pensamentos estão confusos, não consigo pensar direito.
— Hm. — me aproximo dele, rodando a bebida em meu copo. — Você
contou a Diego sobre a gangue?
— Não, por que eu faria isso? — João pega mais um copo.
— Então, como ele sabe, João Pedro?
Ele me olha sério, sua cabeça oca parece pegar no tranco, abre a boca e
fecha, dá um bom gole, em seguida, diz:
— Cara, eu acho que o Diego deve ter colocado alguém pra ir atrás da
gente.
João pensa e eu me assombro, aquele puto do Diego. Ele tinha
realmente contratado a merda de algum detive filha da puta para ficar na
nossa cola? Sorrio de canto, acho que estou começando a gostar dele.
— Atenção! — eu olho para um autofalante com balões prateados em
formato de coração ao redor, a voz abafada continua. — Thales Torres vai
renovar os votos do casamento, palmas, pessoal!
O bando de malditos puxa-sacos me irrita de uma maneira singular,
bato nas costas do João Pedro, bufando:
— Foda-se essa merda, vamos cair fora desse lixão.
É um momento de virada de chave na minha vida, sem esperar alguém
chamar a minha atenção, a raiva corroendo meus músculos e ossos, subo os
degraus, ouvindo Vivian e seu discurso de todos os anos.
Eu tiro a camiseta engomada, terno, sapatos, deixo sobre a cama, visto
minha blusa de banda, bato uma mão na outra, logo vejo Diego, seguro-o
pelo braço:
— Está muito cansado para ir embora? — ele nega, me analisando
longamente.
— Vou chamar as meninas.
Afirmo, pegando a mala que Ísis tinha trazido para cima, quando vou
descer as escadas, Vivian espalma as mãos no meu peito, olhando para os
lados, me conduzindo para o quarto da filha.
— Onde pensa que vai? — ela tenta lamber minha boca, viro o rosto.
— O que foi, Liam? Você estava lindo com roupas formais, quero que vista
de novo.
— Nem em sonho. — respondo, empurrando-a com o ombro, ela bate
os pés no chão, tentando me cercar. — Sai da minha frente, ou juro que vou
chamar o Thales!
— Ah, sim, como chama a sua mãe enquanto dorme?
— Não fala da minha mãe! — empurro-a com mais violência.
Thales aparece, ela se surpreende, ajeitando o vestido. Thales olha para
mim, para a mala, para Vivian.
— Mas o quê? — ele indaga, sorrio triunfante, enfim, ele tinha pegado
a esposa se jogando em cima de mim.
— Querido, seu filho quer ir embora. — a serpente o encurrala,
lançando os braços em seu pescoço, meu pai olha para mim, eu me
decepciono quando ele dá um beijo na testa dela.
— Mas já, Liam? Eu queria que ficasse para o almoço. — Thales só
pode ser burro, não tem outra explicação, o fio de esperança que eu tinha em
desmascarar Vivian hoje, vai para o ralo.
— Não, eu tô indo embora. — volto a pegar a mala, Thales me impede,
colocando-se à minha frente.
— Filho, você bebeu, não vai não, aliás, eu queria que levasse o carro
da Ísis, para que ela aprendesse a dirigir.
Vivian sorri maliciosa e triunfantemente de mim, maldita! Engulo seco,
procurando palavras para sair da situação, Diego aparece, ela o fuzila com o
olhar.
— Eu não bebi. — Diego diz, rindo.
É um mentiroso cachaceiro esse Diego, cruzo os braços, meu pai o
observa por um tempo.
— Mas deveriam ficar. — Vivian sibila, nego, voltando a pegar as
malas.
— Não, obrigado, a gente já vai, vamos acampar. — ela tenta rebater,
mas Thales pede para que ela nos deixe, ele tenta me dar um abraço, não
permito.

Jogo tudo na BMW nova de Ísis, que não parece tão animada assim,
afinal, não é todo dia que se descobre que o irmão postiço está envolvido com
tantas merdas quanto eu.
Toco a ponta do meu nariz em sua orelha, ela move os olhos, sem
coragem de se virar, sussurro:
— A gente vai nadar no rio, fazer rapel, andar de bote, acho que pode
ser até divertido. — seus olhos castanhos me encontram com doçura, caralho,
ela me desarma com o sorriso.
João Pedro se aproxima da gente, ela tenta se afastar, mas não permito,
todos do nosso mundo tem que saber.
— Eu vou pra casa, dessa vez dispenso a aventura. — ele sorri,
enrolando o celular nas mãos. — Sabe? Aproveitar minha irmã, meus pais,
avós, estão todos aqui e querem saber como anda a faculdade.
Eu concordo com a cabeça, meu amigo anda cambaleando, mas
consegue se servir de mais uma bebida.
Então, se João não vai, eu, Ísis, Diego e Míriam ficaríamos de
casalzinho na fazenda.
— Míriam vai com Diego no carro dele. — falo, apontando os dois —
Eu e Ísis na BMW. — estalo os dedos, chamando a atenção dele — pode me
passar a rota da fazenda por mensagem?
Ele está muito bêbado, concorda, mas sei que vou fazer, dirigir até um
hotel e esperar algumas horas. Ísis concorda comigo, tudo vale a pena só para
sair dessa casa amaldiçoada.
Capítulo 28

Para variar a festa de aniversário de casamento é um desastre mental


para qualquer um.
Pelo menos, eu só apanhei duas vezes, sorrio para o nada, enquanto
Liam me força a prestar atenção nele.
— Vou te ensinar a dirigir, vem cá. — ele me abraça apertado, minha
mãe me encara, bufando.
Por que ela me odeia tanto?
Thales me dá um beijo na bochecha, ouço-o no meu ouvido:
— Cuida dele, Ísis. — será que ele sabe da gente?
Ah, eu tomo muito mais do que conta.
Um arrependimento me bate, será que estou fazendo certo em omitir
que estou transando com o filho dele? O filho do meu padrasto?
— Thales? Minha mãe chamou mesmo o Ricardinho? — ele me
analisa, suspirando fundo, rindo, colocando as mãos em meus ombros. Minha
mãe rola os olhos, me chamando de chata, porém, Thales me dá alguma
explicação.
— Não se preocupe, falei com os pais dele, sequer entrou no
condomínio, sua mãe só estava preocupada com você.
Liam me puxa pela mão, resmungando, minha mãe some no meio dos
seus convidados, rebocando Thales a contragosto.
— Diego está mais bêbado que um gambá agonizante, vamos tirar um
cochilo num hotel aqui perto, depois seguimos viagem.
— Por que um hotel? Podemos ficar aqui. — insinuo, segurando seu
braço, outra leva de música alta, mais bebida e um novo menu de comida.
— Prefiro ser atropelado por rinocerontes famintos a ficar na casa da
Vivian, Ísis, vamos!
— Por que tem tanta raiva da minha mãe, Liam? — eu pergunto,
porém, ele abranda o olhar, evitando um encontro mais incisivo.
Paramos eu, Liam, Diego e Míriam em um hotel não longe dali, minha
amiga mandou uma mensagem no meio do caminho, pedindo para ficar no
mesmo quarto que Diego.
Melhor assim.
Mal deito na cama e já adormeço com Liam fazendo carinho no meu
cabelo, de conchinha, lembrando do último tapa que minha mãe me deu,
antes fossem só as agressões físicas, pior dizer que fui responsável pela sua
infelicidade, isso sim, doía muito, muito mais.
Acordo com uma gargalhada gostosa.
Liam está ao meu lado, sem camisa, a mão atrás da cabeça, rindo de
qualquer bobagem que passa na televisão, o edredom cobrindo sua cintura,
esquentando meus pés com os dele.
— Oi. — ele diz, rindo, beijando minha mão — Só estava esperando
você acordar pra gente poder ir, Míriam e Diego estão na recepção
almoçando, eu trouxe algumas coisas pra você.
Quem diria que ele saberia ser romântico? Afasto uma mecha de cabelo
que cai pelo meu rosto.
— Não sabia que membros de gangues poderiam ser tão atenciosos. —
ele ri, desligando a televisão, colocando o controle na mesinha de cabeceira.
— Só somos maus nas terças e quintas, Sweet. — acho fofo ele me
chamar de “doce”, deslizo a mão por debaixo do edredom, encontrando-o de
cueca, Liam imediatamente muda de expressão para uma de lascívia,
respirando fundo.
— Me toca, Ísis. — prevendo as minhas intenções, vira-se de frente
para mim, minha mão engloba seu pau enrijecido, ele sorri, os dedos
acariciando meu rosto.
Eu quero esquecer tudo que vivi nas últimas horas, o ar que expele é
quente, quero ficar inebriada com seu sabor, uso a pontinha da língua para
passear no seu lábio superior, ele geme.
Não sei o que fazer direito, minha mão desliza em sua ereção firme,
Liam morde o lábio, segurando meu rosto, me conduzindo para beijá-lo, eu
arfo, ele está tão duro e deixando que eu o explore.
— Princesinha. — murmura na minha boca.
Eu recosto a cabeça em seu ombro, ele aperta minha bunda, me
puxando para cima dele, segurando minha cintura com as mãos, afoito em
busca de uma camisinha.
— Bad boy. — brinco, ele tira a camisa larga que visto, aproximando-
se dos meus seios, mordicando-os, a saliva estalando em cada um deles,
gemo de prazer.
Ele me senta em seu colo, Liam é maravilhoso, os músculos salientes, a
pele bronzeada, analiso mais suas tatuagens, há desenhos geométricos pela
extensão dos seus braços, a tatuagem da costela, outra nas costas que
avançam para os ombros, elegantes.
E claro, a do pênis, a mais agressiva.
Monster.
— Ísis — arqueja com a voz entrecortada — namora comigo? —
pergunta, enquanto me penetra calmamente, ainda fico extremamente
envergonhada de ficar por cima, espalma a mão nas minhas costas, deitando e
me fazendo rebolar devagar sobre ele.
— S- sim. — gaguejo, ainda tento provocá-lo colocando meu indicador
em sua boca, ele o morde, depois suga-o, minha musculatura se contrai, meu
cabelo chicoteia meu rosto. Liam aperta meus seios, passando o piercing
pelos meus mamilos, me deixando em completa ebulição.
Eu gemo mais alto, suas investidas são mais brutas, meus seios pulam,
meu ventre queima; meus movimentos são primitivos, rebolo, deslizo pelo
seu pau, minha bunda é apertada pelas suas mãos fortes.
Minhas pernas estão arqueadas uma de cada lado do seu belo corpo,
Liam não é musculoso à toa, facilmente ele me levanta em cada movimento,
ele é tão quente, seus beijos tão ardentes, sua língua explorando meu pescoço.
— Eu te amo. — confesso.
Ele sorri, passando o piercing pela minha boca.
Não espero que responda, ou melhor, prefiro que não diga nada
enquanto transa comigo, não quero que ele se sinta pressionado.
Fecho os olhos, mordendo o ombro dele, que segura meu quadril me
forçando mais ao limite do prazer.
Liam me penetra com mais força, sussurrando quase inaudível:
— Eu também te amo, princesinha.
Arregalo meus olhos, pairando pelo seu rosto, nossos gemidos
abafados por beijos cada vez mais ousados. Ele me domina, seu pau pulsa
dentro de mim.
Liam exclama:
— Apertada demais!
O suor escorre pela sua testa, grudando nos meus cílios, aperto os
braços torneados dele, gemo em consonância com seus movimentos sexuais:
— Ah, Liam, vou gozar! — murmuro, segurando firme seus ombros,
sinto o meio das minhas pernas formigar, é deliciosamente arrebatador, fico
mortificada, meus membros enrijecem e, no instante seguinte, relaxam.
Ele segura meu rosto com as mãos, voltando a me beijar com mais
força, pressionando a minha língua na dele, o piercing estimulando meus
sentidos, ele não para de se mover, ao contrário, está ainda mais urgente, a
cama range e bate contra a parede.
O formigamento em mim volta, abro mais a boca, não acreditando ser
possível ter um segundo orgasmo numa fração tão pequena de tempo, chego a
estremecer, espasmar de prazer, vou derreter de tanto desejo, minha libido
pulsa deliciosamente ao redor dele.
O estímulo é tanto que me contorço sobre ele, é tão bom, me sinto
egoísta em desejar que nunca pare, minha pele roça nos lençóis, o orgasmo
me faz gemer mais alto, é incontrolável.
— Isso, assim. — Liam salpica meus ombros e rosto com beijos. —
Você é minha, princesinha. — sorri nos meus lábios, satisfeito.
Minha respiração e gemido estão entrecortados, a claridade, nesse
momento, é demais para os meus olhos, Liam brilha como uma estrela
cadente, os verdes de suas íris faíscam luxúria e tesão. Sua língua perpassa
minha boca.
— Ah, garota, você é uma delícia. — diz, parando os movimentos aos
poucos, passando as mãos pelo meu rosto, me encarando, tocando o nariz
lindo no meu pescoço.
O hálito mentolado dele invade meus sentidos, estou absolutamente
apaixonada, amando-o, sinto os espasmos dos seus músculos na minha pele,
mexendo nos meus sentidos.
Meu coração tenta voltar os compassos nos braços dele, minha
respiração ficando regular muito aos poucos, seus dedos deslizam pelas
minhas costas, ouvimos alguém bater à porta.
— Liam, Ísis, vamos? — a voz de Míriam me desconcentra, quando
vou sair da cama, ele me impede, paralisando meus movimentos.
— A gente já vai. — responde, olhando para mim — Vai contar a
Míriam que estamos juntos?
Afirmo, lembrando que de manhã ela tinha me mandado uma
mensagem, pedindo para ficar no mesmo quarto que Diego, acredito que ela
está tão a fim dele que nem viu eu e Liam como um casal.
Ainda.
Eu teria o cuidado de pedir a ela para não contar a Bárbara, gostaria de
tentar relaxar um pouco na fazenda, antes de voltar a tantas obrigações e a
rotina exaustiva que temos.
— Liam. — suas íris verde-esmeralda me encaram — Vai ser segredo
nosso namoro? — tento buscar as palavras, ele rola, deitando-se sobre mim,
sem desencaixar nossos sexos.
— Só por enquanto. — responde, acariciando meu rosto.
Penso na nossa trajetória até o dia de hoje, o beijo na balada — que ele
confirmou que aconteceu — o anel na minha falange anelar, seu toque no
shopping, seu sumiço, minhas confidências quando chegou, seu cuidado
quando fez sexo comigo a primeira vez.
Eu não tinha como negar mais que o amava, todo dia um pouco mais,
porém, falar sobre seu abuso, descobrir sobre a gangue, seu passado tão
obscuro e nebuloso é, de certa maneira, perturbador.
— O que minha mãe queria falar com você quando a gente chegou na
casa do seu pai? — pergunto.
Liam me analisa por alguns momentos, seus olhos ficam escuros, sua
respiração suspensa. Ele se senta na cama, tirando a camisinha, parece
analisar o que vai me contar.
Olha para mim, suspirando:
— Ísis, a Vivian foi amante do Thales, quando ele ainda estava casado
com a minha mãe.
Não.
Não era possível!
Minha mãe me disse que Thales já tinha se separado, mas não sei o
porquê nem eu acredito nela, quando o pai de Liam começou a namorar a
minha mãe, ela ainda estava casada com o meu pai.
Foi um caos e eu não entendia o porquê, na realidade, não tinha noção
do que era ser amante de um homem rico como Thales.
Meu pai tirou a gente de casa, mas nem deu tempo de ficarmos
sozinhas.
Thales correu para alugar uma casa muito boa para nós, sempre vinha
nos visitar, me dava atenção, brinquedos, guloseimas, contratava babás e me
levava ao médico, até se casarem e comprar a mansão que moram até hoje.
— Eu não sabia, suspeitava, mas não tinha certeza. — respondo,
envergonhada.
Relembro que minha mãe sempre foi bruta comigo, com exceção das
fotos que ela tirava, mas sumiam depois, achava ser um gesto de carinho, não
sei.
Eram muitas fotos, vídeos, boomerangs e perfis com minhas fotos.
Mas tinha a ameaçava de não me buscar, às vezes, me deixava semanas
na casada de um parente ou outro.
Em um determinado momento, meus avós e tios não queriam mais
ficar comigo, meu pai me buscava raramente e ficava na televisão ou me
deixava com uma de suas namoradas.
Eu sempre fiquei sozinha, eu e alguma boneca estropiada, mas Thales
me adotou, me deu roupas e brinquedos novos, me colocou em uma boa casa,
escola, me alimentou, pagou meus cursos, e levou a bons médicos.
Eu tinha que ser grata.
Diante do meu silêncio, Liam depositou um beijo na minha bochecha,
sorriu de lado e num muxoxo disse:
— Vou tomar banho pra gente poder ir.
Eu me reviro na cama, assombrada comigo mesma, minha mãe foi
amante de Thales, isso implica que, de certa forma, fomos o estopim para o
suicídio da mãe de Liam.
Só então reparo que ele não respondeu minha pergunta.

A gente desce as escadas, nem comi, absolutamente sem fome, me olho


no espelho do hotel e vejo que estou com olheiras, minha pele gritando por
uma skin care, meus cabelos necessitando de uma boa hidratação.
Diego, entretanto, parece que me vê pela primeira vez, sorri largo, a
ponto de me constranger, Míriam o cutuca com o cotovelo, Liam está
indecifrável.
— Está linda com a minha camiseta. — Diego diz, olho para mim,
achando que a blusa de banda era de Liam, fico imediatamente vermelha, me
desculpando.
— Ah, Diggo, desculpa, achei que fosse de… de outra pessoa. — Liam
continua descendo, dizendo que vai fazer o check-out e pedir para pegar os
carros.
Míriam sobe alguns lances, me abraçando, puxando a camiseta no meu
corpo.
— Adoro Savages — ela se põe à minha frente —, Liam e Diego têm
gostos parecidos, Ísis, isso não é um máximo?
Sorrio, dando de ombros, os garotos vão ao até o saguão de entrada,
Míriam segura minhas mãos, sussurrando no meu ouvido:
— Eu e Diggo ficamos!
Fico sinceramente feliz por ela, mas reticente, afinal, o jeito que ele me
olhou por eu ter colocado a blusa dele, aliás, por que a camisa dele estaria nas
minhas coisas?
Coço a cabeça intrigada, minha amiga faz uma trança no meu cabelo,
pegando um anti frizz, espirrando nas pontas, massageando para que o
penteado ficasse bonito, em seguida, ela sussurra:
— Sabe, acho que você amaria ficar com o Diggo, ele tem um rola
que…
— Quê!? Míriam, se você está ficando com ele, não deveria querer
cogitar a ideia, eu e ele somos só amigos.
Míriam emburra, estranho essa atitude, minha amiga é monogâmica,
assim como eu, é bizarro ela cogitar que eu ficaria com alguém que
claramente ela está gostando, mesmo não percebendo sobre eu e Liam.
— Ísis, você tem que parar de achar que tudo gira em torno de você. —
ela começa a brigar comigo de novo, eu me viro, mostrando a camisa.
— Você que colocou nas minhas coisas, Mí? Não é legal, eu não vejo o
Diggo dessa forma.
Insisto, ela bufa, indo à minha frente, sem me olhar, espalhando o
creme de cabelo em suas mãos para depois passar em seus fios.

Liam insiste na separação dos carros, eu e ele no meu, Míriam e Diego


na picape, o que deixa minha amiga muito contrariada, já que ela queria
dirigir um pouco meu carro por ter carta e nunca ter dirigido meu tipo de
carro antes.
— Por que não deixa a Ísis ir comigo dessa vez e a Míriam vai com
você? — Diego propõe, mas Liam sorri como se tivessem contado uma piada
engraçada.
— Não, ela vai comigo, aliás, você e Míriam formam um casal bonito,
Digguinho. — Míriam lança um olhar de recriminação a Liam, que devolve
jogando um beijinho no ar para ela.
Nos despedimos brevemente dos funcionários e partimos.
Antes de chegar na estrada, Liam coloca uma de suas bandas de trash
metal, fumando seu VAPE de sabor mentolado, em silêncio, me observando
de rabo de olho.
— João Pedro deveria ter vindo junto. — falo, recostado a cabeça no
vidro do carro, depois do primeiro pedágio.
Liam sorri, olhando para mim, tirando meu fone dos ouvidos.
— JP é um cuzão, mas é legal, agora, me conta, aqueles dois — guarda
o VAPE, abaixando o volume —, eles estão se pegando.
A afirmação me faz hesitar, Liam ri, reafirmando:
— Eu sabia! — bate com a mão no volante — O que ele não faz para te
esquecer? Pega até a chatinha da sua amiga.
— Não seja cruel, Liam. — recrimino-o, culpada por não ter
conseguido negar o envolvimento dos dois. — A Míriam é uma moça bonita,
o Diego tem sorte.
— Não fode, Ísis! — ele acelera, passando mais dois carros com
extrema facilidade, enquanto Diego tem dificuldade em ficar atrás da gente.
— É sua amiga, respeito, mas legal? Aí já é demais.
— O João também não é a pessoa mais agradável do mundo, Liam,
mas é seu braço direito e nem por isso falo merda dele. — jogo os fones no
porta-luvas.
— Nem precisa — ele ultrapassa outro, nem vejo a velocidade que está
para não me estressar —, o maluco se fode sozinho, é burro feito uma porta.
— Isso porque é seu amigo.
— Ísis, amigos veem o defeito um do outro, o JP sabe dos meus e
aponta todos eles, pode ter certeza.
— Como ser de uma gangue? — tento puxar para esse assunto, Liam
me olha sobre os óculos escuros, gostoso de morrer! Então dá de ombros.
— Esquece isso.
— Ok, então eu quero entrar no esquema. — me abraço, Liam parece
me olhar incrédulo, tira os óculos, entrando em um posto de gasolina, em
seguida me esquadrinha por longos e agonizantes segundos.
Ele começa a gargalhar, chega a perder o ar, apoiando-se no volante:
— VOCÊ!? Ha! Ha! Ha! — bato em seu braço, ele não para de rir! Ri.
Da. Minha. Cara! — Garota, você me diverte tanto.
— Eu tô falando sério! — berro, batendo no assento em couro, Liam
volta a gargalhar como se tivesse ouvido a mesma piada, só que melhor!
— Eu também falo sério, princesinha.
Eu saio do carro, batendo a porta com força, Míriam e Diego
estacionam logo atrás. Liam ri tanto que se contorce feito uma lesma, piso
firme até a conveniência do posto, deixando-os para trás.
Eu iria entrar nessa porcaria de gangue!
Capítulo 29

Passei a noite com Míriam e me arrependi.


Não que o sexo tenha sido ruim, mas o que veio depois foi um
interminável monólogo dela contando sobre suas frustrações sexuais, dos ex,
da mãe de Ísis e de um monte de merda que nem me lembro.
Ainda bem que Liam decidiu parar no posto, não aguentava mais e
pensei seriamente em desistir da viagem.
Míriam salta do carro, indo até a amiga, me recosto na carroceria,
observando Liam terminar de colocar gasolina na BMW.
— Então, a Míriam, hã? — provoca, fumando seu estúpido cigarro,
reviro os olhos, cruzando meus braços.
— A gente só ficou. — justifico.
Ele afina os olhos ante o sol à pino, voltando a colocar seus estúpidos,
estilosos e caros óculos escuros, os coturnos pesados nos pés, a calça rasgada
e a maldita blusa estampada com uma banda que adoro, suas belas tatuagens
à mostra.
Eu o invejo!
— Boa sorte com isso, ela é um saco. — reclama e com toda razão,
expiro forte, observando a nuvem que a fumaça do seu cigarro provoca. —
Ah, Diego.
Assim que olho para ele, Liam já tem as mãos no colarinho da minha
blusa, ele me suspende, me jogando contra meu carro, antes que possa
protestar ou ficar ainda mais bravo, vejo seu dedo em riste na minha direção,
um sorriso perturbador estampa seu rosto.
— Se mexer nas coisas da Ísis de novo, vou te prender em um carro,
algemar suas pernas e te esfolar vivo no pátio daquela porra de barracão de
desmanche, está me ouvindo?
Ele toca meu nariz com a ponta do dedo, sua calma, sua força, sua
imperatividade na voz me faz ter medo.
Eu fico com medo de Liam Ink Torres!
— Não fui eu! — protesto, como um garotinho que foi descoberto em
uma mentira, ele dá um peteleco na minha testa, fico imóvel, quase me
borrando!
— Só avisando, eu sei que você gosta dela, pena a Ísis não estar
disponível, Diego, espero que a gente possa se acertar na sua fazenda feliz.
Ele caminha pela terra, baforando, meu medo é real, mas minha raiva e
ciúmes são muito maiores, seguro-o, mesmo trêmulo de pavor, fazendo-o se
virar.
— C- como a- acha que pode dar a ela uma vida b- boa, Liam? —
balbucio, ele tira os óculos, me encarando.
Responde com calma:
— Quem você pensa que é para dizer o que posso ou não oferecer a
ela, Diego? Perdeu o juízo? — seus passos se endurecem em minha direção,
não ouso me mexer, ele me empurra, caio no chão, me arrastando de bunda
no solo quente.
— Eu sou uma pessoa que morreria por ela, seu burro! — choramingo,
chutando desajeitadamente a terra, acabando com meu tênis.
Liam ri com desprezo, uma risada amarga e sofrida que tenta se
sobressair como triunfo:
— Cara, você não passa do amiguinho de curso dela, sabia? — ele se
abaixa, me empurrando novamente, não deixando que eu levante — Se ela
sente alguma coisa por você, pode saber que é pena.
— Mentira! — vocifero, tento bater nele, mas desvia, caio de boca no
chão, cuspindo terra.
— Tsc, tsc, Diego, não se humilha assim, eu tô considerando ir pra
casa, achei que pudesse se controlar, mas se ficar babando pela Ísis dessa
maneira, vamos ter um sério problema. — ele estala os dedos das mãos.
Tusso algumas vezes, me virando para ele:
— É, e vai explicar como a sua relação com a mãe dela? — jogo
baixo, os olhos verdes dele podem ser vistos faiscando pela lente dos óculos
— Você tem um caso com a Vivian, Liam! Por quanto tempo acha que vai
esconder…
O murro que me dá na boca é de desmaiar, nunca senti uma dor assim,
sinto meus ossos da face estremecerem e temo que quebre algum dente, a dor
irradia pela minha cabeça, ouvidos, até o pescoço, arde, queima tanto que
engulo um grito.
— SEU FILHA DA PUTA, VOU TE MATAR! — Liam grita com
dor, raiva, não, é mais que isso, é frustração e ódio!
Eu me inclino sobre minhas pernas bambas, sabendo que peguei no
ponto mais sensível da sua existência.
— Eu tenho provas! — falo.
Ele grita, me xingando, olhamos para trás para ver se as meninas
estavam vindo, ainda bem que não, eu queria ter esse trunfo por mais tempo,
pelos motivos que julgaria certo.
Agora, entre o certo e o errado, fico no caminho que me é mais
conveniente.
— João Pedro estava certo, você contratou alguém para me seguir! —
ele avança, eu praticamente me escondo, sentindo meu rosto inchar — Você
está tão morto, Diego, eu vou arrancar suas tripas com meus dentes!
Coloco o antebraço sobre meu rosto já machucado, o inchaço que se
forma na minha bochecha deve ser horrível, mesmo assim, sorrio:
— Se não quiser que eu conte, melhor fingirmos que nada disso está
acontecendo! — ele estanca os passos, furioso, as correntes na calça tilintam.
— Eu não vou contar nada, só desista dela, termina na fazenda e incentive a
Ísis a ficar comigo.
Liam bufa com ódio, mas quando vai partir para cima de mim, Ísis e
Míriam aparecem, ambas segurando garrafas de Gatorade, olhando
assustadas para nós.
— O que houve? — Míriam pergunta, passando os olhos de mim para
Liam — Meu Deus, o que houve aqui?
— É algo tonto, eu acabei enrolando meu pé no cinto de segurança e
cai com tudo no chão. — minto. Liam me observa como um leão acuado,
garras e dentes à mostra, mas sem atacar.
Ísis conversa baixinho com ele, que a olha por alguns segundos, depois
caminham para o carro.
QUE. MERDA. MERDA. MERDA
Como eu pude subestimar aquele idiota!?
Ísis faz mil perguntas ao meu lado e a única vontade que eu tenho é de
abraçá-la e contar tudo, desde o dia que a mãe dela me violentou, até hoje que
fui chantageando por aquele filha da puta!
— Ísis, dá um tempo, caralho! — grito.
Ela, obviamente, se encolhe, pedindo as malditas desculpas! Não,
amor, eu que tenho que me desculpar bilhões de vezes, não só a você, mas a
minha mãe pelo que Vivian fez a nós.
Tudo está enterrado nos Estados Unidos, naquela terra desgraçada, vejo
que coloca os fones de ouvido e, por muito pouco, não começo a narrar o que
aconteceu comigo, deixando em suas mãos a minha vingança.
Por muito, muito pouco.
Viro meu rosto para deixar uma lágrima amarga escorrer, seco-a quase
arrancando metade da minha pele junto, que ódio! Preciso de adrenalina,
acelero, o motor do carro estica, deixo no modo manual.
— Li- Liam!? — Ísis está com os olhos fixos na estrada — Calma!
Não respondo, piso fundo no acelerador, sinto que sou pressionado
contra o maldito banco do carro, à medida que meto bronca no motor, não
escuto nada, só as veias pulsando nos meus ouvidos da velocidade e das
ultrapassagens.
Ouço o zunido do atrito dos pneus no asfalto, a alta rotação cria um
som pulsante, toda essa frequência me excita: a sinergia, a velocidade
extrema, as curvas, a pressão em meus ombros e peito é da adrenalina que
tanto me fez falta.
A essa velocidade, nenhuma radar me pega mais, é sorte não ter
encontrado nenhum policial e, caralho, isso é excitante! O carrinho é bom, as
pedras se chocam na lataria e no vidro, ouço, ao longe, Vivian dizer o quanto
queria trepar comigo no motel que a levei.
Antes de Ísis desabrochar como a única coisa boa nessa merda de vida,
considerei ir, mas não quero mais ninguém, não preciso de mais ninguém, só
eu e Ísis.
E aquele maldito Diego me chantageando!
Um caminhão desponta, acelero mais, vai, porra! O veículo esgoela a
buzina, urro, no último momento, esterço, derrapando o carro no
acostamento, os pneus faíscam, o chão levanta poeira, o tranco que meu
corpo recebe do cinto de segurança ao parar quase desloca meu ombro, então,
eu a vejo.
Olhos completamente abertos, a expressão de horror e pânico, mãos
trêmulas, os fones à frente, nem me lembrava que ela estava aqui.
— Ísis? — eu a chamo, preocupado, meus dedos vão até seus cabelos,
coloco-os atrás da orelha, merda! Ela está machucada onde o cinto de
segurança se aloca. — Sinto…
O tapa dela me estraçalha por completo.
A dor que sinto não é física — ela não tem força para isso, nem se
tentasse — porém, é muito pior, eu caí na isca de Diego, eu a… luto para
conter o nó que se forma em minha garganta.
A ferida que causei nela se irradia por todo o meu ser, mil punhais na
minha alma suja e triste, sem ela, só a vingança faria o mínimo de sentido.
Meus olhos se enchem d’água, desesperadamente tento tocá-la, mas ela
se afasta, amedrontada e estabanada ao soltar o cinto, abrindo a porta do
carro, recuo o banco de couro para me afundar nele, vendo-a tão sozinha e
triste por minha culpa.
Eu sou um monstro!
Ela não diz uma palavra, um abraço protetor em si mesma, receosa,
com medo, de mim!
Nunca, em toda a minha vida, desejei tanto a morte como agora.
Recosto no volante de couro, Ísis espera Diego do lado de fora, ele para e
pede para que ela vá com eles.
Melhor assim.
Capítulo 30

Choro incontrolavelmente.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto tantas coisas passam
pela minha cabeça, tornando difícil até de raciocinar sobre o que aconteceu.
Só consigo perceber que finalmente chegamos à fazenda dos pais de
Diego.
É tudo mato, muito mato mesmo que se estende ao nosso redor. A
nascente do lago é tranquila, refletindo o céu nublado, a mansão de madeira
nos recebe com sua aura bucólica.
Há uma fumaça sutil subindo de uma chaminé de pedras, indicando
que há um fogão a lenha aceso, mas tudo isso parece opaco, sem vida. Nada
disso me arranca suspiros, como deveria.
Só consigo imaginar os mosquitos zumbindo ao meu redor, ansiosos
para me picar, e ter que encarar Liam depois do show de horrores me
perturba.
O que deu nele?
— Trouxe um remedinho, se quiser. — Míriam sussurra para mim,
oferecendo algum conforto enquanto enxugo as lágrimas.
Os sons da densa floresta são perturbadores, o carro se inclina para
alcançar os portões da mansão e me assusto com a opulência da fauna.
Galhos rangem, pássaros cantam em coro e, no meio disso tudo, parece haver
um eco dos meus pensamentos tumultuados.
O verde das folhas é vibrante como os olhos dele, o céu está
acinzentado, engolindo o colorido de um arco-íris.
Respiro fundo, tentando controlar a enxurrada de emoções que ameaça
me sufocar. A fazenda, que deveria ser um refúgio nesse feriado estressante,
parece mais uma prisão de fim de festa.
A ideia de acampar não me agrada; como não me agradou a festa de
aniversário de casamento, quero minha rotina segura de volta, novas lágrimas
rolam pelo meu rosto.
— Vai gostar dos meus pais. — anuncia Diego, saindo do carro para
abrir a porta para gente, permaneço em silêncio.
Míriam tira a blusa, já está de biquini e eu nem me lembro se trouxe o
meu. Minha amiga dá um selinho em Diego, falando que seria legal conhecer
os sogros e a irmãzinha dele.
Diego não diz nada, checo o celular para saber de Liam e a minha
ansiedade reside se o babaca do meu namorado está bem, reparo que ainda
estremeço.
A visão da mansão à frente só aumenta minha sensação de
deslocamento. Mando uma mensagem para ele, que visualiza, mas não
responde.
— Vem, gente! — Míriam esganiça.
Diego faz um sinal para ela ir na frente.
— Ele está bem. — Diego fala, procurando ficar perto de mim, perto
demais até, me afasto um pouco.
Vejo uma garotinha na cadeira de rodas, feliz, balançando as mãos:
— Diggo! — ela grita, Diego corre para abraçá-la.
Míriam acompanha o namorado, um senhor fumando um cachimbo
aparece ao lado de uma mulher de cabelos curtos, elegante, sorriso largo e
olhos verdes.
O senhor se aproxima, dando um abraço em Diego:
— Filhão, ficamos preocupados, nossa, o que houve com seu rosto? —
ele acena para Míriam e para mim.
Diego diz que enrolou o pé no cinto de segurança e caiu no chão,
provocando risadas preocupadas da sua família.
A mãe dele faz um rabo de cavalo no cabelo da irmã, a cena é tão linda,
parece que foi tirada de um quadro antigo, a família se abraça nessa paisagem
mágica, me sinto uma intrusa.
— E essas lindezas, filho? — a mãe dele pergunta, dirigindo-se a mim
e a Míriam.
Eu uno minhas mãos em frente ao corpo, bem envergonhada, minha
amiga já a chama de “sogrinha”, dando um abraço e um beijo, abaixo os
olhos.
Já o pai de Diego avisa que terá que pegar a estrada, já que a irmã dele
vai se submeter a um novo tratamento.
— E não menos importante — Diego sorri para mim, pegando a minha
mão —, essa é a Ísis.
Os pais dele me cumprimentam, a irmã dele acena, faço o mesmo,
tentando ao máximo sorrir e não demonstrar a preocupação com Liam, checo
rapidamente o celular.
Nada.
— Vamos almoçar, crianças? — o pai dele nos chama, estou sem fome,
mas me sento à mesa, vendo a variedade de peixes, batatas com casquinha
bem dourada, o cheiro de alecrim e laranja.
Eu deixo Diego me servir, os pais dele me olham com curiosidade, a
irmã puxa assunto, interessada quando disse fazer psicologia, o mesmo curso
de Diego.
— Ísis passou em primeiro lugar em psicologia. — Diego comenta, eu
ardo em vergonha, muitos “parabéns” e a chuva de atenção me deixa
extremamente desconfortável.
Míriam se levanta, antes de terminar, pedindo a Diego para
acompanhá-la, ele nega, os pais pedem para que ela fique e a irmã volta a
chamar a minha atenção.
— O Diggo parece que tá a bochechona grandona! — a irmãzinha dele
comenta, rio, ele infla as bochechas, brincando com ela.
A cozinha realmente tem um fogão a lenha, tento dar atenção à
irmãzinha, conversando sobre a escola, programas de televisão,
principalmente Coragem, o cão covarde, músicas, brincos e maquiagem.
Volto minha atenção para o celular, nada de Liam.

Diego se despede da família.


Míriam faz mais uma birra, pedindo que ele lhe dê atenção; sério, estou
ficando realmente farta dessa carência da minha amiga!
Ela se volta para mim, enquanto seu sogro e sogra colocam a menina
no banco do carro.
— Onde está o Liam? — Míriam pergunta, até parece que ela não
reparou que não está com a gente desde que chegamos.
— Ele não veio ainda. — respondo, tentando controlar o nervosismo,
me despedindo da irmã de Diego.
Minha amiga funga alto, se pendurando no meu braço, murmurando
com um beicinho:
— A irmã do Diggo é chata, nossa, que menina carente.
— Não achei, a gente conversou bastante. — me despeço do pai dele,
que dá algumas dicas sobre livros.
— Você deveria ficar ao meu lado. — Míriam volta a sussurrar,
lançando-se nos braços do pai de Diego.
Impossível não reparar que ele fica desajeitado com esse excesso de
carinho.
— Só estou dando meu ponto de vista, Míriam.
Antes de partirem, pedem que o filho vá falar sozinho com eles,
Míriam me encara meio irada, as nuvens fecham mais, acho que irá chover
mesmo.
Começo a caminhar para a mansão, pouquíssimos funcionários
trabalhando.
— Sempre fazendo tudo por você. — Míriam berra, ouço as folhas
secas abaixo dos meus pés, o farfalhar das árvores, o vento forte mexendo no
meu cabelo, inspiro, expiro, gotas d’água molham meu rosto.
Perco a paciência, me virando:
— Vai brigar comigo de novo? — Míriam recua — Não tô legal para
brigas hoje, de verdade, Míriam, você brigou comigo no restaurante, até
agora não estendi o porquê! Agora se irrita comigo porque eu gostei da irmã
do Diego!?
Diggo se aproxima, a mochila de camping nas costas, ele se coloca
entre mim e Míriam:
— O que está havendo, meninas?
— Nada, nada. — minha amiga tenta apaziguar a situação, tentando
beijar Diego, que se afasta mais uma vez.
Realmente o tempo está fechando, piso mais fundo na terra fofa,
querendo ignorar uma possível briga.
Míriam fala atravessado:
— Nem pense em querer ir embora!
Eu não aguento, acabo berrando de volta:
— Mas eu vou!
Diego passa as mãos nos cabelos, se aproximando de mim, os olhos
querendo transmitir calma:
— Espera, Ísis, vamos conversar, vou tentar ligar para ele.
Eu estou tão farta desses dias, cansada, exausta! Festa, minha mãe e
aquele acesso de adrenalina de Liam, ter que me socializar, a fúria da minha
amiga e implorar que Diego me respeite.
Nego com a cabeça:
— Não quero ficar aqui!
— Não tem como irmos embora agora, logo vai chover e aqui fica
perigoso. — alerta, passando as mãos pela minha cintura.
Eu dou uns passos para me desvencilhar dele, Míriam tenta me
empurrar, mas é impedida por Diego.
Ela grita:
— Essa menina sempre quer estragar tudo!
Eu não a empurro, mas piso mais forte:
— Vocês estão juntos — fico com as mãos em punho —, aproveitem
para se divertir! — olho para ela e para Diego — Por que eu preciso ficar
como vela?
— E com Liam também não ficaria?
— Não, Míriam, porque a gente está junto! — confesso, Míriam
arregala os olhos, indignada, o vento ulula, alguns pingos grossos caem na
minha cabeça.
— O quê?
— Liam e eu estamos namorando. — sorrio, feliz, sim! Feliz, mesmo
ele tendo feito aquela besteira sem sentido, mas quero entender, quero que ele
venha — Você diz que eu faço tudo ser ao meu redor, mas nem viu que eu e
ele estamos próximos e que ele nem está aqui, estou indo.
— Ísis, espera, espera, deixa eu ligar pro Liam. — Diego estende os
braços sobre meus ombros.
Míriam o confronta:
— Você sabia, Diggo?
— Sabia. — responde de má vontade, sinto que vou chorar, ele pede a
uma das empregadas que prepare um banho quente, arrume as camas e
prepare um café da tarde.
Diego mal termina as ordens, falo baixinho, tentando controlar meus
pensamentos e a minha respiração para tentar entender:
— Ele te contou? Vocês brigaram no posto, não brigaram? Por quê?
— Vou pegar as coisas do carro, depois eu conto. — sorri, corro para
dentro da mansão, ligando desesperada para ele.
O sinal de telefonia desaparece!
O que mais falta acontecer?
Capítulo 31

Onde está esse desgraçado do Liam? Ligo, mando mensagem, peço que
os funcionários da casa deixem livre sua entrada e me avisem imediatamente
se ele chegar.
Sondo meus passos perto do banheiro onde Ísis está tomando banho,
Míriam vem atrás:
— Por que não me contou que eles estavam juntos? — exige pela
milésima vez, ignoro-a, voltando para o quarto, ajustando o aquecedor,
terminando de arrumar a mala de camping, ainda chove.
Ísis sai com os cabelos molhados, blusa de manga comprida, umbigo
de fora, calça cargo e tênis, está tão linda que preciso focar a não ficar
olhando sua barriguinha lisa ou bunda empinada no tecido.
E ah, minha nossa, os seios ondulando a blusa lilás com detalhezinhos
tão fofos, tão Ísis.
— Nada dele? — ela pergunta. Os olhos castanhos ansiosos, posso
sentir o cheiro delicioso do seu perfume e da sua pele, ela caminha em minha
direção, o andar feminino e instintivamente sedutor.
— Ainda não. — falo, batendo ao meu lado no sofá da sala.
Ísis hesita, olhando tudo ao seu redor, os cabelos da cor da noz
descendo em cascatas por suas costas.
— Acho que vou ligar para o João Pedro ou para o pai dele. — pega o
celular ansiosamente, me dirijo até ela, segurando sua mão.
— Relaxa um pouco, está chovendo e, pela atitude dele no carro, é
possível que tenha parado em algum lugar para descansar e…
Ísis me mira longamente, Míriam aparece com as malas prontas para
irmos, chamando a atenção da amiga, que infernos de garota pegajosa!
— Não, Diego, Míriam, espera! — Ísis se senta onde indiquei — Se ele
não aparecer, eu preciso ligar para o Thales, para o João Pedro, não podemos
simplesmente ignorar que ele tenha sumido.
Sua ansiedade é latente, logo, volto a ligar para ele.
— Ainda mais com o seu carro, né? — Míriam fala, Ísis lança um
olhar indignado para ela, mas não responde, voltando a digitar.
No instante seguinte, para. Seu olhar está fixo na tela, quero saber o
que está lendo, ela se levanta andando calmamente pelo cômodo, rói a unha,
vira-se enigmaticamente, guardando o aparelho no bolso.
— Ele está bem, a gente pode voltar aos planos de camping. — sorri
espontaneamente, pela primeira vez e não sei se fico aliviado ou preocupado.
— Eu disse que ele estava bem, você que é muito exagerada. —
Míriam quase berra, caindo de costas no sofá, engatinhando para me
alcançar, ao passo que me afasto.
— Dá um tempo, Míriam. — falo entredentes.
— Só dizendo o que penso, caramba! — Míriam se deita, por fim,
pegando algumas almofadas do sofá. — Que drama.
Ísis ainda está ansiosa, se abraça, olhando as árvores chacoalharem
pela água da chuva.
— Está chovendo de qualquer maneira — falo, pegando em seus
ombros, mas ela se afasta de mim, de novo. — Bom, vamos dar uma olhada
na casa?
Míriam pula do sofá, exclamando:
— Adoraria!
Eu queria que ela, pelo menos, me desse a oportunidade de ficar
sozinho com a amiga, foi um erro ter transado com ela, Deus, como me
arrependo.
Ísis se afasta mais um pouco, procurando seus fones:
— Vou ficar por aqui ouvindo um pouco de música.
— Ah, Ísis que saco, vem com a gente. — Míriam interfere, puxando a
mão da amiga, quase derrubando-a.
— Não quero. — Ísis se solta, indo para o quarto, vou atrás como um
cachorrinho carente.
Míriam se põe à minha frente, quase me fazendo cair:
— Tá, vamos então, Diggo?
Respiro fundo, eu preciso pensar, necessito ser menos emocionado se
eu quiser conquistá-la, geralmente, com a minha experiência, as mulheres
ficam tão carentes quando levam um fora que acabam cedendo a qualquer
charme para se sentirem vivas, amadas, desejadas, é esse o meu jogo agora.
Falando em jogos, pergunto:
— Que tal a gente jogar algum jogo?
— Não tem que adaptar seus planos por causa dela. — Míriam fala,
voltando a me segurar, calma, Diego, calma, respiro fundo, oferecendo o
meu melhor sorriso.
— Não estou, tem vários jogos que eu jogo com a minha irmã, esperem
aí.
Corro para o quarto da minha irmã, escolhendo alguns que eu sempre
brinco com ela, faço uma pilha nos meus braços, ansioso para ganhar o
máximo de tempo com Ísis.

Jogamos UNO na mesa da sala, relembro a mensagem de Liam:


Desculpe, fiquei sem sinal, estou bem, fique segura, vou te explicar tudo só
não aceite as investidas do Diego. Você é a minha princesa.
Nada do que ele disse faz o menor sentido é tão frustrante não saber o
que está acontecendo e não aceite as investidas do Diego, claro que Diggo
está escondendo alguma coisa, ele não disse o porquê brigaram.
O rosto dele está vermelho e inchado, vai ficar roxo com certeza e
minha cabeça ferve em perguntas, olho as minhas cartas do jogo, sem
intenção alguma de me concentrar.
— UNO! — Míriam exclama orgulhosa.
Diego olha para mim, as cartas em frente ao seu rosto, os olhos claros
sorriem para mim, troveja, engulo em seco, odeio tempestades, me trazem
pensamentos da infância.
Foi em um tempo desses que eu estava deitada na casa de alguma
namorada do meu pai, eles tinham saído e eu estava sozinha na casa dela,
relampejava, trovejava, eu segurava algum brinquedo, correndo pelos
corredores estranhos.
— Ísis, é sua vez! Tá vendo, Diggo? Ela não presta atenção nos amigos
dela.
Eu pisco algumas vezes, sentindo meus olhos lacrimejarem, compro
uma carta a mais, mesmo não precisando, quero que a minha amiga ganhe.
Depois de várias partidas e um jantar rápido, nos sentamos para outra
brincadeira, porém eu preciso dormir, estou exausta, olho no grande relógio
de madeira vintage da sala e marca dez da noite.
— Eu preciso dormir. — coloco os pinos da atividade na mesa — Tô
super cansada.
— Ah não, volta aqui! — Míriam quase grita, lançando um pininho nas
minhas costas, não respondo.
Diego se levanta, para me mostrar o quarto, Míriam joga o tabuleiro no
chão, furiosa, ignoramos.
— Eu vi a previsão do tempo e amanhã vai fazer sol. — ele informa,
pegando roupa de cama, afofando o travesseiro, me mantenho alerta,
desconfiada. — Talvez dê para fazer fogueira e aproveitar a cachoeira que
tem aqui perto.
— Parece ótimo, obrigada. — agradeço. Míriam se lança em seu colo,
dizendo que vão dormir juntos, Diego está perdendo a paciência, consigo
sentir.
O quarto em que estou é rústico, mas muito confortável, escrivaninha,
cama larga com colchão fofo, edredom quente, cortinas que se estendem até o
chão de madeira e, uau, a paisagem é magnífica, amedrontadora e viva.
Relembrando a minha infância nesse tempo tão chuvoso, rememoro
que minha mãe e as centenas de fotos e vídeos que tinha nunca eram
revelados ou estavam em porta-retratos ou em sua galeria de imagem.
Para que ter tantas fotos se nem ao menos gostava da minha
companhia?
Ela nem me manda mensagem, recosto a cabeça na janela, pensando
que eu sou muito ingrata com ela, talvez agora, na faculdade, eu possa dar
mais orgulho a ela, a Thales e ao meu pai, eles fizeram o que podiam.
Quase caio da cama com o relampejo, decido entrar debaixo do
edredom e dormir, tenho o cuidado, entretanto, de trancar a porta do quarto e
me vestir com uma camisa que Liam me deu.
Liam.
O enteado da minha mãe, meu agridoce tormento, tempestuoso como o
clima lá fora, intrépido, desafiando cada fibra do meu coração, meu amor por
ele rasga minha alma, como o relâmpago as nuvens.
— Bad boy. — sussurro a mim mesma, deslizando o dedo pelo vidro
salpicado d’água — Onde você está? Por que não me conta o que aconteceu?
O que a adrenalina tem que eu não posso te oferecer?

Ouço um barulhinho vindo da janela, primeiramente me encolho,


assustada, depois, olho para cima e vejo que a chuva finalmente cessou, a lua
está brilhante, grande, alta e a iluminação artificial não é o suficiente para
estender meu campo de visão muito além.
Até que vejo ele, Liam está algumas pedras na mão, acenando,
suspendo minha respiração imediatamente! E se alguém o visse e confundisse
com algum ladrão, expiro, fazendo um bom esforço para abrir a janela pesada
de vidro.
— Liam? — sussurro, ele pula na árvore próxima a janela, se
dependurando num galho, balança o corpo, arremessando-se no parapeito da
janela, jogando-se para dentro.
— Oi. — diz com a espiração ofegante pelo salto.
Não o ajudo a se levantar, ele pega uma florzinha lilás amassada do
bolso da sua estúpida jaqueta de espinhos, não a pego, ele a deixa na mesinha
próxima à cabeceira.
Eu cruzo meus braços:
— Que tá fazendo?
— Entrando. — diz, tentando segurar as minhas mãos, me empertigo
para frente.
— Como sabe que eu estava aqui?
— Fiquei rondando os quartos — ele faz um círculo com os dedos no
ar —, e pode acreditar que o que vi não é nada excitante. — rola os olhos,
sugo os lábios contendo a curiosidade de perguntar o que viu, mas seguro a
onda.
Eu viro de costas para ele, que se senta na cama, tirando os coturnos.
— Por que fez aquilo?
— Foi mal. — dá um risinho nervoso, ficando de meias, checa se a
porta está trancada, ele está agitado, mexendo as mãos, seus cabelos
respingam água.
Eu jogo uma toalha em sua cabeça, pulando na cama para poder secar
seu cabelo rebelde, como o dono.
— Foi mal? Você colocou a gente em risco! — pressiono sua cabeça
na toalha, dando umas sacodidas desnecessárias — não faz ideia de como
fiquei assustada — chacoalho seu pescoço, pressionando, ele dá uma
risadinha, pegando as minhas mãos.
Não o encaro, engulo o choro, me sentando no colchão, jogando a tolha
para que continue a se secar sozinho:
— Liam, não sei se a gente consegue continuar, eu te amo, de verdade,
mas a cada frustração que tiver, você vai sair como um louco com um carro e
por a gente e outras pessoas em risco?
Ele tira a camisa, desgraçado, o tórax salpicado pela chuva, algumas
gotas d’água deslizando pelos gominhos do seu abdômen definido, perfeito,
os ombros largos, as tatuagens, o cheiro masculino só dele.
Liam se senta ao meu lado, viro o rosto, emburrada, ele pega a
florzinha e coloca atrás da minha orelha.
Eu o encaro, pronta para brigar, mas amoleço ao me deparar com seus
olhos verdes intensos, sua mão na minha bochecha, seu semblante
preocupado, sua barba por fazer.
— Diego me chantageia, Ísis.
— Sobre o quê? — tento não me abalar, afinal, houve uma briga e
ninguém disse sobre isso.
Liam se aproxima mais, ele mexe comigo, passa seu torso por mim,
procurando uma blusa na minha mala, acha uma camisa dele e a veste.
— Algo muito pessoal, Ísis. — coloca a peça de roupa, tirando a calça,
tento não me concentrar em suas coxas torneadas, a cueca box preta
marcando sua bunda e, claro, o volume na frente.
— Pelo menos — eu me levanto ou vou acabar cedendo a essa
provocação dele —, pode me falar sobre qual é o assunto que te perturba
tanto, Liam?
— O assédio — seu olhar me encontra, ele se espreguiça, andando pelo
quarto —, ele sabe quem é a mulher e me ameaçou com essa informação,
caso eu não terminasse.
Eu fico alarmada, Diego é um bom amigo, me ajuda com as matérias
da faculdade, mas não posso negar que me sinto estranha perto dele, até
porque eu o conheci em um momento de flerte, na balada; embora fosse para
despertar alguma sensação em Liam.
— Ele tá louco para ficar com você. — continua, recostando-se na
parede, passando a mão em seu bíceps, preciso forçar meus olhos a encará-lo.
— Se não quiser acreditar em mim, não precisa, mas só posso te afirmar que
é a mais pura verdade!
— Por que não me disse na hora? — volto a virar o rosto, Liam segura
meu queixo com o indicador, sorrindo amplamente, um pouco do seu cabelo
cai em sua testa.
— Por que você acha? — seu peso vai para os braços que ficam ao
redor do meu corpo, ele se aproxima — Eu não queria mostrar
vulnerabilidade e nem mostrar que as ameaças dele me abalam, como viu,
fracassei, sou um merda quando o assunto é você.
Eu escondo um risinho, tentando permanecer séria, me afastando dos
seus braços, ele insiste, me fazendo ceder sobre a cama, impeço-o de me
beijar, espalmando minhas mãos em seu peito.
— Onde esteve?
— Com alguns colegas. — elucida, a voz ficando mais baixa, grave,
seu rosto paira sobre o meu, algumas gotinhas dos seus cabelos sedosos
caiem no meu rosto, ele os seca com a língua. — Eu fui para o barracão, onde
teve a festa que foi com a Bárbara e a Míriam, lá é meu local de trabalho.
Eu fico em silêncio.
— Eu te chamaria para ir embora, mas nunca fui homem de me
esconder de uma briga e de uma pequena vingança, só preciso saber se vai
estar comigo.
— Vingança? — o piercing de sua língua me faz estremecer ao menor
contato com meus poros, sinto minha calcinha molhada, tento manter a
compostura.
Liam sorri:
— Quero que o Diego aprenda a não ser um psicólogo que usa de
chantagem como golpe baixo.
A mão grande, máscula, deliciosa e bobíssima dele entra por debaixo
da minha blusa, tento afastá-lo, mas ele não deixa, finjo não ser afetada pelo
toque delicioso que faz com que cruze as minhas pernas de excitação.
Eu mordo os lábios, não quero me render ao meu desejo, fecho os
olhos rapidamente, abro-os, ele caminha com os dedos, apertando meu peito
com vontade.
Nossos lábios quase se tocam, tento me afastar, porém, ele me
hipnotiza, como é lindo! O ar que expele é o mesmo ar quente que inspiro, ar
mentolado, o corpo quente dele fazendo o meu ferver.
— Não sei não, Liam. — mais uma vez tento empurrá-lo, Liam, agora,
afunda o rosto em meio ao meu cabelo, sua barba no meu pescoço, me
excitando; murmuro — Melhor deixar quieta essa história e eu nem disse se
te desculpo.
— Ah, baby, você já me desculpou.
O sorriso presunçoso e convencido dele!
Quando vou abrir a boca para confrontá-lo, ele empurra a língua na
minha boca, me calando, fechando as pálpebras e eu arregalo meus olhos,
nosso beijo é desesperado, faminto, urgente, meus lábios ficam sensíveis,
rolamos pela cama.
Capítulo 32

Eu fiquei com medo de ela não me perdoar, mas tive que correr o risco
para pensar junto aos meus amigos, em dar uma lição no imbecil do Diego.
A gente procurou os podres dele e eu e os moleques achamos uma
informações bem valiosa sobre a ex-namorada.
Ele forçou a moça a realizar um aborto, conversei algumas horas com
ela, que ficou animada na minha vingancinha, ofereci dinheiro em troca das
informações, Ramon gravou as conversas.
Greg me ajudou a pegar mais detalhes, Jean se empenhou nas provas,
Ramon se concentrou nos prints e áudios, com certeza quem é inimigo de
Diego é amigo da ex que não poupou detalhes, já que está longe dele,
morando na Europa e ganhou uma bolada em me fornecer as informações.
Ísis me olha curiosa, interrompo meus pensamentos para concentrar
minha mão no seio dela, puxo-a para debaixo de mim, lambendo sua boca.
— Eu fui um imbecil, me perdoa? — peço, expirando forte, ela passa a
mão no meu rosto, me conduzindo para outro beijo, tiro sua blusa pela
cabeça, me livrando de seu sutiã, lambendo seus seios, agarro suas coxas.
Uso meu joelho para afastar suas pernas, deslizando minha língua pelo
meio dos seios, apertando-os contra meu rosto.
— Você… me deixou preocupada… — sussurra, acarinhando meu
cabelo.
Abro os olhos, encarando-a. Ísis me fita, seus cílios salpicados de
lágrimas, volto meu rosto para junto ao dela, apertando-a em meus braços.
— Você me faz querer ser uma pessoa melhor, sabia? — enfim, ela
chora, será que isso é amor?
Não quero vê-la triste, tento controlar minha ereção.
Encaixo seu rosto em minha mão, trazendo-a para perto de mim, dando
beijos, tentando fazer cócegas, nos cobrindo com o edredom, como se fosse
uma cabana.
— Tira a mão — exijo, pegando seus braços, os quais ela tenta cobrir
os seios —, não fica com vergonha de mim.
Ela me abraça, jogando uma das pernas sobre as minhas, o cheiro do
cabelo dela é tão bom, tão lilás.
— Vingancinha, você tinha dito. — não quero que ela se preocupe com
isso, mordisco o mamilo dela, deleitado com o perfume de sua pele.
— Vai dar tudo certo, não se preocupe com isso. — mudo de assunto,
relembrando como corri para chegar aqui e a desagradável revista dos
seguranças dessa fazenda.
Foda-se, eu a abraço, o edredom sobre nossas cabeças, aperto-a tão
forte que sua respiração é abafada pelo meu peito.
— Liam, como foi servir o exército nos Estados Unidos? — seus olhos
me buscam, são grandes, duas amêndoas cintilantes, passo meus dedos por
suas costas.
— Foi meio tenso, quer dizer, devido ao meu histórico nada bom com a
polícia. — ela apoia a cabeça nas mãos e os braços em meu peito, me
encarando curiosa, os olhos ainda marejados. — Tá, quer saber meus
problemas com a polícia, Sweet? — ela se anima, afirmando enfaticamente.
A gente não dorme, conversar com ela é tão natural, tão libertador,
conto quase toda a minha vida, minhas aventuras, as pixações, chego a
mostrar os desenhos que tinha em meu celular, ela sorri orgulhosa.
Eu não pensava que, além de gostosa, minha namorada e princesinha,
poderia ser minha melhor amiga.

O dia está quente e alto, eu e Ísis continuamos acordados, conversando


sobre meu passado e o dela, que me conta sobre Thales e Vivian, pelas suas
confissões, a mulher do meu pai é tão péssima mãe quanto ser humano.
Contudo, algo capta a minha atenção durante nossa conversa, o fato de
Vivian fazer fotos e vídeos de Ísis, para quê?
— Acho que eles acordaram. — Ísis diz, olhando a porta e,
infelizmente, recolocando as roupas. Eu nunca vou me cansar de ver essa
mulher nua.
Ela sai da cama, arrumando suas coisas, sempre tão organizada, o
oposto do meu caos.
Espero ela estar pronta para abrir a porta, Diego já está ali, esperando,
sorrio para ele que me encara muito puto.
— Liam, que surpresa…
— É, obrigado por deixar seus funcionários de sobreaviso. — não iria
dar o gosto de falar que fui parado, revistado e que só fui liberado depois de
provar mediante meus documento.
Diego coça o braço, tentando olhar para dentro do quarto,
provavelmente se perguntando por onde eu entrei e se eu e Ísis ficamos
sozinhos.
— De nada, e Ísis?
— A gente conversou e se acertou. — empalidecendo em cem tons de
branco, olho para o lado, cumprimentando a chata, esnobe, quase pelada
amiga da minha namorada. — Bom dia Míriam.
Ela tenta se dependurar no meu braço, dou alguns passos para trás, sem
querer nenhum contato físico.
— Então, vocês estão mesmo namorando?
— Pode acreditar que sim.
Diego começa a caminhar pelo corredor com Míriam ao seu encalço,
ele se vira e diz em tom ameaçador:
— Espero que esteja ciente do que a gente conversou ontem.
— Sobre aquilo, Diego, eu também tenho algumas considerações.
Ísis aparece, segurando sua mochila, essa casa é enorme, muito alta
com relação ao solo, adaptada para cadeirante, deve ser alguma parente de
Diego, já que vejo porta-retratos de uma criança na cadeira de rodas.
Uma senhora põe a mesa, meu estômago implora pela comida ofertada,
pães, bolos, tortas, café, leite, geleia, ovos mexidos, bacon, sucos e queijos.
— Bom dia. — Ísis sorri, vestida com calça de moletom e uma blusa
lilás com barrida de fora, vejo Diego a secando, não perco a oportunidade e a
beijo.
— Ísis, você está linda. — Diego diz, fazendo seu prato, Ísis sorri
encabulada, pegando suco, Míriam abaixa a cabeça, apertando tão forte seus
talheres que acho que ela vai entortá-los.
— Ela é sempre linda. — falo.
Míriam nos encara, pegando um chapéu e óculos escuros, chamando a
atenção para si ao suspirar fundo:
— Então, vamos acampar de uma vez? O sol está lindo e firme, a gente
tem que armar as barracas.
Eu dou uma risada satisfeita, mastigando um bom pedaço de bacon:
— Eu trouxe uma barraca bem grande, não fica preocupada.

Termino de armar a barraca, puxo o último pino do solo, me


certificando que esteja firme, alta e confortável, Ísis explora minha bússola,
andando perto das árvores, atenta aos pássaros, meu binóculos pendurado em
seu pescoço.
— Achei que fosse mata mais fechada — comento, arrumando minha
mochila com os equipamentos de rapel. —, nos Estados Unidos, a gente é
acostumado a acampar em floresta densa.
Diego tem problemas em perfurar os pinos de sua barraca no chão, a
estrutura — bem menor que a minha — cai, me revelando que ele não é bom,
me aproximo para tentar ajudar, ele seca a testa com o antebraço.
Ele comenta:
— Aqui pode ser bem perigoso também.
Observo a clareira que estamos, aqui é uma estrutura pré-preparada
para acampamento, postes de luz bem-posicionados, banheiro limpo com
chuveiro quente e tubulação.
Há uma churrasqueira a gás, numa estrutura coberta, área para o carro
cimentado com vários armários para guardar materiais, onde há à disposição,
materiais para mecânica e, claro, um estandarte com o sobrenome da família
de Diego em vários lugares.
Míriam está com o top do biquini, shorts, chinelos, passa algum creme
no cabelo, termino de arrumar a carraca de Diego.
A mulher chata para um cacete esganiça:
— Tem cobra aqui?
Eu dou uma gargalhada com vontade, achando a interação dos dois
bizarra e divertida, olho para ela, colocando meus óculos escuros:
— Depende, a minha fica bem presa, a do Diego deve ser mais solta e
rondar lugares bem perigosos.
Míriam dá uns pulos, agarrando o pescoço do cara, quase tenho pena,
só que não:
— Larga de ser tonto, Liam. — ela vê Ísis caminhando até nós, acena,
pedindo. — Ísis, vamos tomar banho de lago, olha que linda a cachoeira!
— Tô bem aqui. — informa, sentando-se em alguns troncos lixados,
polidos e pintados de madeira em volta de uma pré-estrutura de fogueira.
— Sério? — Míriam diz num muxoxo, Ísis passa protetor solar em seu
rosto, a amiga insuportável tenta empurrá-la do tronco. — Coloca o biquini,
vem comigo.
— Agora não!
Míriam, contrariada, faz algum drama, sentando-se ao lado de Ísis,
tirando uma selfie, reclamando:
— Af, por que está me tratando assim?
Diego está de saco muito cheio, ele pega um cantil de água, procura
algo em seu celular, dirige-se a Míriam:
— Espera a gente terminar aqui e, aí, vamos todo mundo.
Eu pego a mão da princesinha, dando uma volta por ali, mostrando
algumas aves que eu conhecia, por conta de uma ação de marketing que fiz
na faculdade.
Diego e Míriam parecem estar de luto, meu concorrente luta para inflar
seu colchão de ar, abraço Ísis por trás, sussurrando em seu ouvido:
— Desculpa por ontem.
— Ainda estou pensando sobre o assunto. — ela sorri, apertando meus
dedos, olhando as copas das árvores.
Depois de algum tempo caminhando por ali, Diego nos chama para ver
a cachoeira, Míriam parece cansada, ao contrário de Ísis que está falante,
animada, divertindo-se em explorar esse pedaço de mata.
Observo a cascata, aqui é bem bonito, o lago é límpido, a cascata deve
ter uns três metros de queda, seguro a mão de Ísis de um lado e ajeito minha
mochila de outro.
— É aqui. — Diego sorri orgulhoso.
— Tá, vamos descer isso aí. — algumas pedras chicoteiam nossa
perna, entro um pouco na água, vendo a profundidade, há um bote e cascatas
menores à frente.
Jogo a mochila pelos ombros, seguro Ísis em um abraço, suspendendo-
a do solo, animado por fazer alguma atividade legal com ela, Diego olha a
cena um pouco amedrontado, agora, preciso analisar a rocha e a queda livre
d’água.
— Diego, segura aqui. — entrego a ele a corda, o arnês de escalada, os
mosquetões, o freio de rapel, coloco o capacete em Ísis, que dá pulos
animados, outro em mim, entrego a ela a roupa e os sapatos adequados.
— Uma pena que tenha que te cobrir. — lamento, enquanto ela coloca
a roupa emborrachada. Diego rola os olhos, me reprovando a todo instante.
O barulho do choque das águas, para a minha felicidade, é alto o
suficiente para encobrir o palavrão que eu xingo aquele filha da puta.
A vista é, realmente, muito gratificante, o fluxo de água está alto, pela
chuva de ontem, o que é bom, assim a profundidade do rio aumenta, o que
eleva nossa segurança.
— Vamos descer, Ísis, segura em mim, tá? Não me solta por nada. —
falo, avaliando onde vou começar a ancorar as cordas, o esforço vale a pena,
prendo os mosquetões na base, seguro Ísis num abraço forte, ela não hesita
em vir.
Minha garota.
— Pronta? — pergunto, ela parece animada, afirmando.
Ela não tem preparação alguma, observo que está apoiando
completamente em mim, dou uma instrução rápida de como ela deve pisar
nos nós da corda.
Nos grilhões da roupa que usamos, passo a corda em mim e nela
prendendo-a ao meu corpo, caralho, é excitante! Ela sorri, pego firme a corda
ancorada, dou o primeiro pulo, a água forte bate nos óculos de proteção.
Ísis dá um gritinho, enroscando-se ao meu pescoço.
— Liam! Ísis! Deus, seus loucos, vocês estão bem? — Diego pergunta,
colocando as mãos ao redor na boca, ela ri nervosamente, pegando meu rosto,
me dando um beijo, a água fria faz seus lábios ficarem em uma cor pálida.
— Você está bem? — pergunto, dando um nó salteador na corda,
conduzindo meu pé no dela para que pise certo.
— TÔ! — grita em meu ouvido. Ela está com a cara virada para a
torrente da cachoeira, tenho vontade de gargalhar, ela deveria estar olhando
para o lago, não levando um caldo desses.
Ainda bem que tenho experiência e técnica nesse tipo de esporte,
porque essa menina simplesmente larga todo o peso do corpo em mim.
Minha mão está no dispositivo de freio, desço lentamente, uma perna
arqueada, outra no pedal da corda, Ísis quase roda, sendo que deveria manter,
pelo menos, uma mão na corda.
Não vou corrigi-la, está se divertindo tanto, não digo nada quando se
assusta e cotovela minhas costelas!
Empurro o pé dela para o pedal, desliso meu corpo ao dela, encoxando,
ela dá outro risinho nervoso. Diego grita já lá embaixo:
— Tá de putaria na minha cachoeira, seu pervertido!?
Ele até tem razão, não precisaria segurá-la daquela maneira, mas o
seguro morreu de velho, a água em constante, o sorriso nervoso dela, o ardor
da sua pele.
Aproveito e mostro o dedo do meio para ele, Ísis me desconcentra da
maneira mais maravilhosa, é assim que quero passar o resto dos meus dias,
em queda livre e segura com ela.
A gente fica suspenso, deslizo o fio de freio mais um pouco, ajeito a
laçada na altura mais adequada da correnteza, onde há um vão entre a pedra
da cachoeira, paro, alertando-a:
— Pula! — solto a corda do grilhão dela e do meu, confiando
totalmente em meus músculos, Ísis se solta de mim, caindo de pé sobre as
águas, faço o mesmo, unindo meus braços e pernas.
A sensação da água limpa, fria e deliciosamente refrescante é
compensador, prendo a respiração, procurando-a, vejo que já está na
superfície, nadando, tremendo de excitação e frio.
— Gostou? — pergunto, preocupado, Diego nada em nossa direção, ela
afirma com a cabeça.
— Muito! — apoia as mãos nos meus ombros, abraço-a, rodando
nossos corpos na linha d’água, roubo um beijo quente, invadindo minha
língua em seus lábios, o piercing desliza pelo seu céu da boca, seguro seu
rosto com posse.
— Vem, vamos, você precisa se aquecer. — nado em seu ritmo,
cruzamos com Diego que faz o caminho para voltar à margem, parece um
pato todo desengonçado.
— Não é perigoso, viu? É só um pouco de força e técnica. — digo,
ofegante ao sair do lago, andando pelas pedras duras, absolutamente
enxarcado.
— Frio! — Ísis reclama, tirando o macacão de esportes aquáticos, uso
a toalha para que Diego não a veja, aquele puto pervertido, eu a embrulho em
um cobertor térmico.
— Vamos fazer uma bela fogueira, assar marshmellows como eu fazia
nos meus acampamentos de exército. — fico sem camisa, andando com ela
até as nossas barracas.
Diego grita, desesperado:
— Esperem por mim!
Capítulo 33

Liam mostrou a que veio.


Sua volta repentina, a segurança ao descer de rapel a cachoeira com
Ísis nos braços, o jeito que ele a envolve.
Eu odeio esse moleque!
— Liam! — chamo-o, desejando não ser tão desajeitado e quase tendo
medo do seu retorno, ele deveria deixá-la para mim.
As lufadas do vento e das águas da cachoeira me fazem tremer de frio e
o medo não me ajuda na segurança que quero transmitir em minha voz.
Observo suas tatuagens nas costas definidas, o escrito em suas costelas.
— Que foi? — ele retorna.
Ísis dá um beijo nele, me ignorando desde hoje de manhã.
Corro para ouvir o que conversam, mas ela logo sai correndo em
direção às barracas, Míriam disse para mim que não queria vê-los se exibindo
e tirou um cochilo no colchão que ele me ajudou a inflar.
— Esqueceu nosso combinado? — pergunto, sem rodeios ou perderia a
coragem, quase me arrependo ao vê-lo sorrir.
— Ah, sim, achei que não iria perguntar sobre isso. — passa as mãos
pelos fios negros.
Eu fico um pouco desconfortável de ficar sozinho com ele, se Liam
resolve me agredir por aqui, eu estou fodido, então, pego meu celular no
bolso e fico com ele em mãos.
— E resolveu apostar em uma amnésia minha? — falo, fechando um
pouco meus olhos para me proteger do Sol à pino.
Ele pega uma barrinha de cerais da sua mochila, mordendo-a sem
pressa, ainda sorrindo, enquanto coloca os óculos escuros, dando de ombros:
— Acho que não vai acontecer, Digguinho, já que uma certa pessoa me
passou algumas informações sobre você.
Ele me encara, eu fico puto, o que ele sabia?
— Está blefando. — concluo, me aproximando, ele pisca para mim,
guardando a embalagem no bolso.
— Vai arriscar? — seu olhar me perturba.
Eu bufo, passando por ele, encarando-o firme nos olhos:
— Se afasta dela ou eu conto!
Liam dá de ombros, caminhando ao meu lado como se fosse meu
amigo, em outra situação eu o consideraria andar no meu círculo social, ele
sussurra um nome:
— Tábata Medeiros.
Eu paro meus passos, os cabelos dele estão revoltos, as tatuagens se
mexem sob sua pele, os músculos vibram em toda a sua glória.
O que ele sabia da minha ex?
— E- e…? — balbucio, absorto no meu espanto! Tábata foi minha ex,
eu tive um relacionamento extremamente conturbado, ainda estava me
recuperando dela, quando me interessei por Ísis na balada.
Liam enfia as mãos na mochila, tirando uma pasta de plástico, minhas
mãos tremem quando ele faz um gesto para que as pegue, sim, ele sabia, esse
filha da puta pesquisou sobre mim!
Eu perdi.
— Você exigiu que a garota abortasse. — suas palavras caem como
uma pedra na minha cabeça, me deixando espantado, assustado, não é à toa
que é o líder de uma gangue.
— Esses prints podem ser falsos. — jogo minhas cartas e a minha
paciência, que por anos desenvolvi dentro da psicologia, ele passa por mim,
diminuindo a distância.
— Ah, não, não são — cruza os braços —, você deu um jeito dela
morar na Europa e assim como você tem áudios e vídeos, eu também tenho,
seu puto! — seus olhos escurecem para um tom de verde azulado. — Agora,
você pode ser amigo da Ísis e continuar a porra do passeio ou eu vou embora
e conto a ela que pagou homens para realizar um aborto clandestino na sua
ex-namorada, Digguinho.
Derrotado, frustrado e ainda com a minha cara doendo pelo murro que
levei, abaixo a cabeça, murmurando:
— Amanhã eu quero que deem o fora da minha propriedade. — Liam
dá de ombros, voltando sossegado ao seu caminho. — Seu vândalo! — ele ri,
nem olha para trás.
Liam não me vê como um adversário, porque sabe que eu nunca fui
páreo para ele.
Ísis é inalcançável, inclusive, para mim.
Míriam e Ísis estão discutindo acaloradas, assim que me veem, ficam
em silêncio, a amiga da minha namorada passa por mim, indo procurar
Diego.
Eu dou de ombros, jogando a mochila em qualquer lugar por ali,
enquanto Ísis fala que vai tomar um banho quente, rolo os olhos,
cochichando:
— Isso é trapaça, sabia? — ela pega ume blusa minha na maior cara de
pau, eu posso com essa garota? Enrolado em sua toalha estão todos os itens
para um banho demorado, me amaldiçoou por não poder ir junto.
Começo a acender a lareira, por ter chovido ontem, tenho um pouco de
trabalho em achar lenha seca, mas me recuso a usar a churrasqueira.
Faço a pirâmide com a lenha, utilizando madeira seca, limpo o chão,
pego fósforos de longo alcance, acendendo junto um cigarro, Míriam e Diego
aparecem um tempo depois.
— Eu vou com a Míriam em casa para tomar banho, comer e vou ver
se volto mais tarde.
Diego fala com um certo tom de culpa, que idiota!
Olho para o céu, o pôr-do-sol está esplendoroso, os raios tingem as
poucas nuvens de laranja e vermelho, o mesmo Sol que ansiava ver nos dias
de inverno nos Estados Unidos.
— Não tenham pressa. — respondo, tirando um saco de marshmallow
da minha mochila, alguns espetos grandes de churrasco de dentro da cabana.
Diego vai para o seu carro, Míriam se coloca de pé à minha frente:
— Vou perguntar se a Ísis não quer vir com a gente.
Não preciso responder, Diego o faz por mim, chamando-a:
— Não, Míriam, vamos só a gente.
Olho os dois se afastando, resolvo tomar uma ducha rápida, ouço
Diego arrancar com o carro, sorrio convencido, aquele imbecil perdeu bem
feio.
Capítulo 34

Tentei ligar para os moleques, mas não tem sinal de celular ou Internet
por aqui.
As labaredas do fogo estão altas, Ísis está com a minha blusa, calça de
moletom, cabelos molhados, olhando curiosa para a vareta cheia de
marshmellow tostado, senta-se ao meu lado.
— Toma. — tiro um deles, derretendo pelos meus dedos — Cuidado
que está quente.
Ela abocanha, rindo, chupando meu dedo, imediatamente meu pau
responde ao estímulo delicioso de sua boca, fico sério. Eu conduzo minha
boca para a dela, deixo os marshmellows de lado, segurando suas coxas para
o meu colo.
Ísis fixa seu olhar no meu, adivinhando minhas intenções nada nobres,
minhas mãos englobam sua cintura, subindo para os seios, beijo-os ávido
para senti-los no meu paladar.
A fogueira nos esquenta, o vento ulula alto, as copas das árvores
balançam, algumas folham rolam para o fogo, mexo sua cintura sobre mim
sem pressa.
— Diz que é minha. — exijo entre seus seios, sentindo o gosto e o
cheiro do perfume da minha camiseta em sua pele, seus cabelos colam em
seus braços e cintura.
Ísis geme, resvalando os joelhos nas folhas secas do chão:
— Sou sua. — suas mãos agarram meu rosto, ela me conduz para
beijá-la. Sem tirá-la de mim, abaixo minhas calças e o moletom dela, raspo
minhas unhas levemente pela suas pernas macias.
— Me perdoa por ontem? — procuro uma camisinha no meu bolso,
rasgo a embalagem, me protegendo urgente.
Estou tão excitado, tão feliz por estar um pouco sozinho com ela depois
do embate com nossos pais e a festa estúpida.
— Só não faça de novo. — sussurra, as mãos já mais confiantes em
onde me tocar, o hálito de marshmellow doce, quente, os dedos englobam
meu pau, ela empina a bunda, nossa! A língua serpenteia meu abdômen e
pernas, começando a sugar meu pau.
— Garota! — exclamo anestesiado de prazer, seguro seus cabelos com
força, mostrando o ritmo que deve impor, logo sobe e desce com estalos da
saliva e do fogo.
Ela me enlouquece, meu pau concorda, pulsando loucamente em sua
boca quente.
A camisinha fica molhada com sua saliva, puxo-a para cima de mim,
nos encaixando deliciosamente rápido; caralho como é gostosa, o vento, o
fogo, o tensão descem com um suor enregelando minha espinha.
— Liam! — nossas peles se chocam em consonância, passo a palma da
minha mão em sua boca, espalmando em sua bunda, o polegar procura seu
clitóris, meu quadril investe.
Eu a fodo, Ísis é moldada para mim, sorrio em seus lábios, desesperado
para senti-la entregue, as pernas dela se enlaçam na minha cintura, meu dedo
circula seu clitóris molhado pelo nosso suor, ela desliza as mãos pelos meus
braços.
Ela joga a cabeça para trás, explodindo em prazer:
— Ah, Liam. — seguro sua bunda para que consiga se soltar
totalmente.
— Goza em mim, Ísis. — ela morde os lábios e os meus sugam seus
seios com mais força. Invisto mais, Ísis puxa meu cabelo, as pernas cedendo
as minhas costas, espasmando.
Não aguento e me deito sobre ela, suas costas contra o solo, o fogo
lambendo alguns gravetos, minha pélvis indo e vindo. A meia luz iluminado
nossos atos, seguro seus braços acima da cabeça, os cabelos se espalhando no
chão.
— É só minha? — instigo, beijando sua orelha, fios úmidos grudando
nos meus ombros, minha pele arrepia, deslizo minha língua pelos seus
braços, palma, chupando os dedos dela.
— Ah, Liam! Sou só s-sua. — fecha as pálpebras com força, sugando
os lábios. Ela mexe o quadril mais forte, sua buceta me aperta
deliciosamente, escorrego meu pau mais rápido, sim, ela está pronta para
gozar.
— Gostosa. — murmuro, aumentando ainda mais o ritmo da
penetração, meu caralho, estou tão excitado. Estamos muito próximo do
Paraíso, sou alucinado por ela.
Contudo, não é só o sexo que me envolve, quero que ela me ame por
completo, por inteiro. Inalo o perfume do seu cabelo, minhas pernas raspam
em sua pele sedosa.
— Eu te amo demais. — sussurro em seu ouvido, ela volta a laçar
minha cintura com suas pernas, chocando o corpo no meu, quase perco os
sentidos.
— Te amo. — murmura, segurando meu pescoço.
Eu volto a me sentar, grudado a ela, que pula rápido no meu colo, ávida
para me fazer gozar, gemendo mais alto:
— Ah, Liam, vou gozar de novo, não para!
Aperto com mais força sua bunda, investindo mais rápido, é quase
insano, estou no meu limite, estremecendo, meu coração martelando no meu
pau. Eu vou gozar agora também, não consigo me segurar mais.
— Caralho, Ísis! — xingo, me contorcendo, seguro o pescoço de Ísis
com força.
Ela arfa, rindo sensualmente para mim, ainda estou gozando, meu pau
bombeia alucinado, estremeço, trazendo-a em meu peito para aninhá-la.
Os seios de Ísis sobem e descem rapidamente, aperto-o, sua testa está
molhada pelo banho e pelo suor. O fogo incide em sua pele branca,
colorindo-a de tons avermelhados, seus olhos me convidam a beijá-la de
novo.
Eu acaricio seu cabelos, seios, coxas, barriga, nos encaramos por um
bom tempo, sem dizer nada, apenas nos explorando com nosso tato, engulo
em seco várias vezes, mal acreditando como meu pau consegue já estar em
alerta depois de uma foda com essa.
— O que está pensando? — pergunto, afastando um pouco o cabelo de
seu rosto.
Ísis passa a ponta dos dedos na minha boca, meu rosto, descendo para a
minha costela, onde há a tatuagem, não precisa dizer, sei que está curiosa
sobre ela.
Olho para o céu, respirando fundo, explicando:
— Minha mãe se suicidou na minha frente — a tristeza me atinge
como um raio, a saudade, a dor da injustiça —, ela pediu para que eu me
vingasse de Thales e da mulher que abusou de mim, antes de atirar. — olho-
a, virando um pouco, reproduzindo o gesto.
— Sinto saudades dela, não pude honrar sua memória. — esclareço,
me sentindo culpado por me sentir, pela primeira vez em muitos anos,
completo e vivo pelo amor pela filha da inimiga.
Os olhos dela marejam, caralho, ela sacou, sua voz é baixa e
entrecortada:
— Eu sinto muito e, por vingança, você diz Thales e a mulher que
abusou de você, Liam?
— Isso. — passo a ponta do indicador em seu lábio inferior. — Minha
mãe veio de uma criação religiosa, eu nunca contei a ela que fui abusado, mas
ela desconfiou e disse antes de morrer isso.
Conduzo os dedos dela pelas linhas da tatuagem From blood we came
to this world, by the blood we perish into it.
— Do sangue viemos a esse mundo, do sangue padecemos nele. —
traduzo, ela me encara por alguns longos segundos.
Ísis se senta, olhar perdido e vago para o meio da mata, depois para o
fogo, dou um tempo a ela, admirando seu perfil, tiro a camisinha para jogar
no lixo.
Ela coloca a camiseta, calcinha, moletom, já sinto saudade do seu
corpo ao meu.
Ísis me encara, desconfiada; pergunte, amor, pergunte o que eu sei que
vai indagar “Liam, a mulher que abusou de você é a minha mãe?”, é essa a
frase que passa em sua linda cabecinha?
Sua mãe é uma mulher cruel, má, perversa, que pode não ter sido o
dedo que atirou contra os miolos da minha mãe, mas certamente foi o
empurrão que a fez ter essa ideia fixa.
Ela abre a boca, um sopro de voz sai, mas a picape de Diego chega,
antes que eu possa amaldiçoá-lo por toda a eternidade. Ísis vem para meus
braços, Míriam quase pula do carro em movimento, ela está chorando
descontroladamente, Diego a acompanha, igualmente desolado.
Mal ergo minhas calças e ouço o berro de Diego.
— LIAM! JOÃO PEDRO FOI ASSASSINADO! — ele grita,
colocando as mãos na cabeça.
Míriam abraça Ísis com força, pedindo perdão a amiga e falando
qualquer merda sobre estar ao lado dela.
Como pude cair do mais alto Paraíso ao mais abissal dos infernos dessa
maneira? Eu urro, sem entender o que me diz, não compreendo nada, todos
os meus músculos estremecem em dor e fúria.
— O QUÊ!? — esmurro a porta aberta do carro, nada fazendo nexo em
minha mente.
Ísis tapa a boca, Míriam a abraça, Diego me encara com os olhos
arregalados:
— QUEM? — grito, perdendo as forças.
— Vamos voltar para casa, lá temos sinal e vai poder conseguir as
informações, foi o Jean quem me ligou, procurando por você. — explica, está
trêmulo, mas tenta manter a maldita calma.
— Vamos, deixem as coisas aí! Só vamos! — Míriam exclama,
juntando os itens mais urgentes nas nossas mochilas, Ísis a ajuda, eu não
consigo me mover, caio de joelhos no chão, me odiando.
Eu não posso acreditar que João Pedro esteja… ele é meu amigo,
lembro do seu abraço, das suas conversas animadas e imbecis, João Pedro me
ensinou a rir, passa pela minha cabeça um filme, a primeira piada que me
contou.
João chamando Ísis de “gatinha”, quase voei em seu pescoço de
ciúmes, a risada dele contagiante, retumbando nos ecos do meu cérebro e as
piadas de mau gosto, as péssimas notas da faculdade, o coração gigante.
JP é o cara que gasta o último real para dar uma cerveja a alguém, meu
melhor amigo, ele dá seu melhor em tudo que fez, sempre com um sorriso.
Quando vim para o Brasil de vez, ele esteve lá por mim, sempre com
um péssimo e divertido conselho, me apoiando nas piores decisões, o que eu
faço sem ele?
Eu me apavoro e a irmã do João, como estaria Larissa?
João Pedro descobriu alguma coisa sobre a irmã! Olho para Diego, a
fúria crescendo dentro de mim, a fogueira perde seu brilho e força.
Eu seguro Diego desesperado, tropeçando em meus passos:
— Diz que ainda tem o detive trabalhando para você, por favor! —Ele
afirma, mandando que entrássemos na picape.
Capítulo 35

Dirijo rápido, nossas questões ficam em suspenso.


Eu conheci pouco João Pedro, saber que morreu assassinado me choca,
olho pelo retrovisor, Liam está com o rosto escondido nas mãos, os soluços
altos, Ísis o abraça, Míriam passa as mãos nas costas da amiga.
Não consigo respirar, assim que entramos em casa, o garoto pega o
celular, ligando como um louco, berrando, gritando, andando pelos cômodos,
absolutamente inquieto.
— Diego, liga para o detetive particular? — afirmo, procurando o
celular de Barbosa para enviar a Liam, Ísis e Míriam se entreolham, ambas
unidas, agarradas uma à outra.
Eu mando uma mensagem a Barbosa, que para minha surpresa, sabia
que João Pedro foi assassinado.
Eu ligo:
— Barbosa? É o Diego, por favor, me diz como isso aconteceu e o que
sabe? — a atenção de Liam se volta para mim, ansioso. — Você ficou
sabendo da morte de João Pedro, certo?
— Sim, continuei pesquisando, fui até a cidade em que mora com a
família. — ouço que roda bebida em um copo, o gelo tilinta — Briga de
gangue, mas não acredito que seja só nisso.
Coloco no viva-voz, Liam se senta, abraçando forte Ísis, que
corresponde imediatamente, Míriam dá espaço aos dois.
— Diego — Barbosa continua, coloco o celular sobre a mesa de centro
da sala —, o negócio está muito sério, aparentemente a morte foi
encomendada.
Liam segura a cabeça, ficando pálido como nunca vi alguém com vida
ficar ao ouvir as próximas palavras de Barbosa:
— Hugo, o nome do rapaz que assassinou o menino, é perigoso,
bandido mesmo, ele está ligado a uma rede de pedofilia perigosa.
— P- pedofilia? —engasgo, a informação parece elucidar Liam, que
fica de joelhos, aproximando-se mais do telefone, incrédulo, seus olhos se
arregalam, por Deus, é a pura visão da dor e da raiva!
Eu nunca vou esquecer esse olhar e a vida sendo arrancada do brilho
que eu vi ainda hoje, quando descia pelas águas da cachoeira, tão apaixonado
agarrado a Ísis.
— Esse rapaz —continua Barbosa, aparentemente lendo suas
anotações —, Hugo Silveira, é um dos peixes que fazem a transição de
compra e venda desse material.
Liam levanta seus olhos, agarrando o celular:
— Senhor, meu nome é Liam Ink Torres, eu conheço Hugo, por favor,
se afaste, se ele foi capaz de assassinar o João, nem eu o senhor, Ísis, Míriam,
Diego ou nossas famílias está a salvo desse psicopata.
Liam conecta seus olhos aos meus, estremeço de horror.
— Diego, dê um jeito da sua família continuar longe — ele olha
urgente para Míriam —, faz uma viagem com seus pais, sei lá, inventa
alguma coisa, só se certifique de sumir com eles — piscando rapidamente,
volta-se para mim —, leva a Ísis para a sua casa, por favor, eu preciso
resolver isso.
Barbosa, eu, Míriam e Ísis começamos a argumentar que é uma loucura
ele querer resolver essa merda, que ele não iria a lugar algum sozinho, sem a
polícia, não era o momento de pseudo-heroísmo.
Barbosa quase grita:
— Rapaz! A polícia já está envolvida, o que deve fazer é se manter
seguro e dizer o mesmo aos seus amigos.
Liam nega com a cabeça, limpando as lágrimas com a jaqueta.
— Eu sei onde Hugo está, eu sei o que quer e quais serão os termos
dele, o senhor pode ir comigo ou não, porra! — ele grita com Barbosa que se
cala por alguns instantes, na euforia, acaba aceitando.
— Venha para a minha casa, tenho contatos que podem ser úteis nesse
momento, passo o endereço a Diego. — eu confirmo com a cabeça, o que
surte um certo efeito, Liam deixa os ombros caírem, sem alternativa.
— Vamos, a gente precisa ir embora, Míriam, vou te levar para casa,
pense em alguma desculpa. — digo pausadamente.
Míriam está extremamente assustada, não hesita, apenas assente,
correndo para arrumar suas coisas no meu quarto.
Ísis balança negativamente a cabeça, Liam tenta consolá-la, eu me
afasto, vou deixar que se despeçam como se deve, por mais que eu a ame, é
por amor que eu me retraio.
Eu nunca imaginei que lidaria com uma morte violenta dessas, Barbosa
disse que o rapaz foi degolado, coloco instintivamente a mão na garganta,
olhando para o lado, para eles.
Liam está trêmulo, mas Ísis está absolutamente mortificada, consigo
ver o rastro que as lágrimas fazem em suas bochechas rosadas, os dois estão
ajoelhados um de frente para o outro, não sei o que falam, caminho até o
quarto, pegando o telefone para avisar os empregados da casa que estou de
partida.

A quebra de contrato do aluguel de Ísis foi o menos difícil de ser feito,


cancelei várias reuniões e tirei um tempo do consultório, o padrasto dela liga,
pelo menos, umas seis vezes ao dia, já que ele e a mãe estão se mudando para
outro estado.
O pai dela ligou apenas uma vez para pedir dinheiro.
Na verdade, estou perdido nas horas, dias, semanas e nas instrução de
Liam, que me implora para que não conte seu paradeiro a Ísis, que por sua
vez, chora até dormir.
Eu apenas sigo meus instintos e Barbosa, ele abriga Liam, minha mãe
— e seus contatos com promotores, advogados, juízes e policiais —,
conseguiu eximir Liam de uma pena pelos crimes de furto qualificado de
veículos, quadrilha, pichação e dano a patrimônios municipais.
Por sermos uma família ligada à justiça e política, ela conseguiu
colocá-lo em apoio a testemunha e os contatos do parlamento rasgaram seus
antecedentes criminais.
O próprio Liam disse que “nunca será capaz de pagar o que estamos
fazendo por ele”, respondi que não era por ele e sim por Ísis.
Por enquanto nossos monstros estão quites e em luto.
Ísis não foi à faculdade durante toda essa tumultuada semana entre se
mudar para a minha casa, devolver o apartamento e lidar com seus demônios.
Ela se recusa a comer, mal dorme, anda pelas sombras à noite
recostada nas paredes, grita na madrugada, suando, apavorada com os
pesadelos que se fundem à realidade.
Míriam e a família estão nas Bahamas por um tempo, pelo que ela me
disse, a mãe ficou brava e muito preocupada, decidiram até se mudar para o
mesmo estado do padrasto e a mãe de Ísis.
Algo me intriga: será que Vivian tem a ver com essa rede de pedofilia e
Hugo?
A que escusas linhas de coincidências anda esse mundo? Liam sabe?
Subo as escadas vestido de preto, bato duas vezes na porta do quarto em que
Ísis está hospedada:
— Ísis? Precisamos ir ou chegaremos atrasados no funeral de João.
Ela sai do quarto, olho-a por alguns instantes, vestida de preto, o cabelo
solto, úmido, sem joias, a blusa de gola alta, saia preta, sapatos fechados,
limpa o rosto com um lenço de papel.
— Desculpa a demora. — afirma, quero abraçá-la, mas não me movo,
dando espaço para que passe — Teremos que voltar ainda hoje, já que nem
Thales, minha mãe ou alguém possa nos hospedar, certo?
Afirmo com a cabeça, olhando de relance para o quarto que está
impecável, Teresa, minha empregada, entrega a Ísis umas fatias de bolo e
garrafas de suco em uma sacola térmica para que levemos na viagem.
Chegamos por volta das dez horas, o velório é simples, mas muito
emocionado, assim que estaciono, Liam está nos esperando junto a outros
rapazes punks.
— Tivemos que vir! — diz Ísis indo abraçá-lo.
É a primeira vez que o vejo essa semana, ele me cumprimenta
rapidamente:
— Vocês não deveriam ter vindo. — rendido, abaixa a cabeça, eu me
assusto em ver como Liam está magro, seus olhos perderam tons de verde,
estão opacos, a boca seca. — Esses são Ramon, Sávio, Jean e Gregório.
Um deles tem uma aranha hiper realista tatuada, soube que é Sávio,
Ramon tem a cabeça raspada, Jean e Gregório têm o rosto tatuado e o glóbulo
ocular também.
Modificações extremas do corpo, mas vestem preto, estão cabisbaixos
e vejo a aura de fúria e revolta em todos os seus movimentos: é de partir o
coração.
— Quero ver ele. — Ísis diz, dando as mãos a Liam que a acompanha
até o caixão aberto, eu fico.
Olho para trás, apreensivo, um senhor gordo, de preto, calvo e com
longos bigodes me chama:
— Diego, eu sou o Barbosa. — nos cumprimentamos brevemente —
Podemos falar?
Capítulo 36

Liam me ampara no momento que eu vejo JP.


Um pouco do seu sorriso está restaurado pelos habilidosos
maquiadores, nunca tinha visto ele de gravata, tristemente sorrio ao acariciar
sua tez enregelada:
— JP, vamos conseguir te dar justiça. — murmuro, Liam beija minha
mão, limpando minha lágrima ao me abraçar.
Os pais dele nos cumprimentam, agradecendo por Liam ter pagado o
enterro, além de uma pequena fortuna para saírem da cidade, comorar uma
casa longe daqui e continuar o tratamento da irmã dele.
— É o mínimo que eu poderia fazer. — lamenta Liam, ao ser acolhido
pela mãe dele.
— O que mais quero é a morte de quem fez isso ao meu filho! — o pai
de JP soluça, também abraçando Liam, que retribui com carinho.
O céu está muito escuro, nublado e um pouco frio, essa sinistra
combinação anuncia chuva, os pingos caem espaçados no telhado capela.
Uma foto de João Pedro, com um sorriso contagiante, está disposta ao
lado de um pequeno altar adornado com imagens sacras. O grande sino de
bronze toca alto é um som metálico e forte.
O padre ergue a mão, pedindo um minuto de silêncio e oração.
Depois de uma pequena missa, Jean, Liam, Gregório, Sávio, Ramon e
Diego levantam o caixão, seus rostos sérios, açoitados pelo ar gélido. Eles
caminham em direção ao cemitério, os passos pesados ecoando na terra
encharcada, guiando o cortejo atrás.
Enquanto avançamos, murmúrios de orações se misturam ao som de
dor e choro, mesclando-se a chuva que precipita inclemente.
As mulheres caminham ao lado do cortejo, segurando velas acesas que
lutam bravamente contra o vento cortante. Os homens seguram terços
brancos, cerrando os punhos em um gesto de devoção. O padre, com
semblante grave, guia o grupo até o jazigo.
Uma estátua de anjo triste, esculpida em mármore branco, imortaliza o
sentimento de perda que todos nós compartilhamos. Alguns professores estão
presentes no enterro, quase irreconhecíveis em suas expressões de austera
tristeza, João é muito amado.
A foto de João Pedro, emoldurada em prata, carrega consigo a história
de sua breve vida, assim como seu nome e a data de seu nascimento e morte.
JP tinha apenas vinte e cinco anos, uma vida interrompida
abruptamente por um crime tão brutal. A família, em meio ao sofrimento,
teve que esperar angustiada pela liberação do corpo. Agora, finalmente, têm a
oportunidade de se despedir dele e dá-lo aos braços da terra fria.
A injustiça paira no ar úmido. Nenhum pai deveria enterrar o próprio
filho, e a dor está no meio de nós. Liam joga uma rosa branca, os amigos se
despedem.
Por fim, a última pá de terra é jogada, não conseguimos respirar, como
chegamos nessa tragédia?

Um mês se passou desde o enterro de João Pedro.


E, ainda assim, nenhum consolo encontra morada em mim. Ao ver as
notas recém-liberadas no site da faculdade, meus olhos fitam a tela fria
constatando boas notas nas matérias, mas há um vazio que persiste, me
engolfando em um abismo obscuro.
Não há alegria ou alívio nessa conquista, apenas uma sensação
angustiante de incerteza, onde está Liam?
Por que ele se esquiva há mais de meses em dizer onde está e o que
pretende!?
Thales tenta me reanimar, pede que eu volte à rotina e cuide de mim
mesma. Estranhamente, porém, Liam e Diego fazem de tudo para me manter
por perto, como se temessem pela minha segurança, continuo morando com
Diggo nessa mansão.
Eu sinto que há algo errado, sei que não estão me contando toda a
verdade, mas não consigo entender o motivo.
Procuro refúgio e conforto nas conversas com Míriam. Ela também
está tentando seguir em frente, buscando uma nova vida longe daqui. Minha
amiga tomou uma decisão: trancou a faculdade e ela e os pais planejam partir
para o Japão, já o pai dela é de lá.
Olho a bela paisagem do meu quarto, mas tudo me parece tão cinzento
e hostil. Eu tento encontrar sentido em meio ao caos que se instalou na minha
vida.
As horas se arrastam lentamente, eu me sinto tão impotente, é
avassalador! Não sei como enfrentar os dias!
— Tudo parece estar desmoronando! — choro, recostando a cabeça nas
teclas do laptop.
A vida deveria seguir, mas eu estou paralisada de sofrimento, saudade
e a maldita impotência, incapaz de dar um passo à frente.
— Ísis, posso entrar? — Diego pergunta, batendo na porta, me levando,
dando uns tapas no rosto, abrindo a porta.
— Oi. — tento sorrir, ele retribui, há duas guias de cachorros em suas
mãos, ele me estende uma.
— Vamos levar o Sazon e a Canela para passear? — vacilo no pedido,
não quero sair, mas os cachorros dele são o meu momento de alegria, me
agarrei a eles e a esses momentos de passeio.
— Vamos, só vou pegar meu celular e vestir uma roupa mais
confortável. — Diego assente, pegando o celular, fecho a porta, indo vestir
algo mais confortável e largo, me deparo com uma blusa de Liam.
— Sinto sua falta. — confesso, inalando o cheiro da peça de roupa,
deito na cama, abraçando-a, o que ele estaria fazendo agora?
O que ele sabe da morte de João? Ele conhece o assassino, o Hugo,
lembro que Barbosa disse sobre o esquema de pedofilia, bandidagem,
gangues. Ah, Liam! Quando eu vou poder saber o que houve?
Eu beijo a blusa, me jogando na cama, lembrando pelos meus sentidos
o sabor do seu corpo ao meu. Olho para o quarto imenso que estou alocada,
segura, mas e Liam?
E Thales, minha mãe e pai, meus parentes estão bem e à salvo?
Levanto com determinação, me visto rapidamente, abrindo a porta,
Diego me espera com paciência.
— Diggo, me conta de novo por que eu preciso estar segura? O que
Liam sabe que pode nos colocar em risco?
Meu amigo dá um passo em minha direção, invadindo meu espaço
pessoal, inclina-se dando um cálido beijo na minha testa.
— Eu também não sei direito, Ísis — sei que mente, por mais que tente
manter a calma e mudar de assunto —, vamos? Os doguinhos precisam
passear.

Suo feito um desgraçado!


Faço a milésima flexão com um braço no barracão vazio, depois da
morte de João Pedro e a minha absolvição pela justiça brasileira, graças aos
contados da mãe de Diego.
Barbosa montou um esquema para pegar Hugo junto aos policiais, já
que o filha da puta gosta de material envolvendo crianças, Ramon hackeou o
computador de Júnior, usando a conta dele para tentar contato com a rede de
pedofilia que Hugo faz parte.
Meu amigo morreu porque descobriu alguma coisa muito séria, nada
mais justo que eu me coloque na linha de frente para honrá-lo.
— Garoto! — Barbosa termina de comer um pedaço de pizza — O
rapaz do computador ligou, já está vindo, venha, você precisa se alimentar.
Continuo as flexões, sem ouvi-lo, minha mente vai a Ísis, ah, minha
princesinha, no que eu te meti?
— Sem fome, vamos ver o que Ramon tem pra gente. — levanto,
oferecendo meu isqueiro a Barbosa, que aceita para acender o cigarro dele e o
meu.
Ramon se sente profundamente consternado por estar diante de um
oficial, ainda bem que o acordo judicial conseguiu se estender aos meus
amigos, ele nos entrega seu relatório, servindo-se de pizza e de cerveja.
— Eu consegui provar que Júnior está ativo em uma extensa rede de
pedofilia, inclusive, Liam, hm. — eu o encaro confuso, Barbosa se levanta,
foleando o relatório, coloca a mão no meu ombro.
— O que houve, cacete? — indago de modo incisivo, Ramon abre o
laptop e, juro por tudo que me é mais sagrado, pela minha mãe, que minha
bile chega à garganta e me forço não vomitar.
O vídeo mostra a bunda de uma mulher, o quarto é azul marinho e
preto, pôster de bandas, mas não é típico de pré-adolescente, tudo é novo
demais, limpo demais, a mulher se ajoelha, forçando um sexo oral, cabelos
tingidos de loiro.
O garoto do vídeo amador antigo sou eu, sem piercing no septo ou
língua, livre de tatuagens, meus olhos assustados, estou amarrado com as
pernas abertas, pau para fora, enquanto ela me mama feito um animal.
Engulo nada, lembrando da sensação asquerosa da sua boca, eu não
queria ficar duro, mas foi mecânico, mais que péssimo, o cheiro dela faz a
ânsia voltar, o vídeo está em uma excelente qualidade, o que só pode
significar uma coisa: ela compartilha esse tipo de material.
Depois de um silêncio constrangedor, Barbosa se aproxima de Ramon,
entregando os papéis:
— Obrigado — vira-se para mim, acendendo mais um cigarro —,
Liam, esse material também consta no IP — o número que identifica o
computador à Internet. — Júnior comprou, ao que tudo indica, de Hugo e
vendeu meu vídeo, subindo-o em sites.
Não respondo, Ramon limpa a garganta, chamando nossa atenção:
— Infelizmente não é tudo, só tentem não surtar. — imediatamente eu
me levanto, suando, pernas bambas e coração acelerado.
Ramon mexe o mouse e passa para os próximos vídeos, para meu
horror, espanto e tensão há vários vídeos de Ísis bebê, reconheço porque
Vivian está dando banho nela de maneira insinuante, sexualizando ambas.
Há fotos delas com brinquedos adultos ou só de Ísis vestida
inapropriadamente para uma criança.
— É a Ísis? — não quero acreditar, Barbosa fecha a boca com as mãos
em terror.
— A própria mãe fez isso?
Ramon desce a tampa do laptop, visivelmente enojado, nossa repulsa
estampa o silêncio.
— Eu preciso contar um pouco sobre mim e quero que me ajudem a
realizar uma vingança que acreditem, João Pedro sabia.
Os dois não se movem, conto sobre meu passado macabro, minha mãe,
a promessa de vingança no momento de sua morte, como me apaixonei por
Ísis, meus amigos, as gangues e os esportes, é libertador poder expressar em
voz alta todo o ódio que eu sentia.
Eu exorcizo o monstro que urra no meu peito, dando a ele asas para
assombrar a vida de quem aceitou se juntar a mim, a vingança infecta pelo
ódio e a injustiça e, enfim, eu terei como destruir Vivian.
Capítulo 37

Desligo a chamada com Míriam, ela trancou mesmo a faculdade esse


semestre, sua mãe conversou comigo para que eu fizesse o mesmo, queria
muito viajar e fazer toda essa tensão sumir.
Mas não posso, Liam precisa de mim e eu dele, olho meu celular, uma
mensagem não visualizada de Thales, não o respondo.
— Ísis, vem tomar café da manhã. — Diego me chama, eu me sinto
mal por ainda estar aqui, afinal, ele precisa seguir a vida e eu não sou
problema dele.
Abro a porta, me recostando no batente, coçando os olhos, meu cabelo
cai pelo meu colo, mais uma noite insone nas veredas da angústia e do medo.
— Me deixa te ajudar com alguma coisa ou… — ele não me deixa
terminar a frase, entrando no quarto, pegando meu material sobre a
escrivaninha.
— De jeito nenhum, já disse que amigos são para essas coisas, eu e
Liam nos resolvemos, além disso — Diego não me olha, voltando-se para a
saída, caminhando pelo corredor comigo atrás. —, o que eu quero, Ísis, você
não estaria disposta a me dar.
Tento ignorar o olhar malicioso, o meio sorriso, a sobrancelha
levantada, esse homem realmente está a fim de mim?
Eu me calo, envergonhada, usando o indicador para enrolar uma mecha
do meu cabelo.
Descemos as escadas em silêncio, o café da manhã é alegrado pelos
labradores, que são extremamente ativos, pulando e brincando ao meu redor,
quase caio várias vezes quando saltam perto de mim.
Eu me forço a comer algumas frutas, uma fatia de pão com manteiga e
um café preto, levanto ansiosa para voltar à faculdade, um empregado, porém
adentra a cozinha ampla, esfregando uma mão na outra.
— Seu Diego, Liam está aqui, querendo conversar com a Ísis. — Diego
pede licença, limpando a boca, levantando-se, os cachorros o acompanham,
mas eu dou pulos e saltos rumo à porta.
— Você está aqui!
Assim que o vejo, dou uma risadinha apaixonada, me lançando em seus
braços fortes, ele sorri nos meus cabelos, me rodopiando, Sazon e Canela
fazem a maior festa.
— Estou aqui, vim para te levar comigo. — sinto meus olhos arderem
pelas lágrimas, Diego se aproxima quando termino de beijar e abraçar todo o
rosto de Liam.
— Ísis, sobe, vou pedir para o seu Luís e Marlene te ajudarem com as
coisas. — Diego e Liam se encaram, a tensão na conexão dos olhares é tátil
— Não se preocupe, assim que decidirem onde vão ficar, peço para que
levem o que deixar, foi um prazer ter você no mesmo teto que eu.
Eu aceno, estendendo a minha mão para agradecer, mas ele me puxa,
dando um abraço e um longo beijo no meu rosto, meus olhos se fixam nos
cachorros.
— Vou arrumar minha mala, obrigada, Diggo, por tudo. — olho para
Liam, que sorri, passo minhas mãos em seus braços, ando rápido para fazer
uma mala com o mais urgente.
Eu não ligo para onde vamos, uma vez ele disse que eu deveria
escolher entre o Céu e o inferno, escolhi a segunda opção e não posso me
sentir mais grata por significar estar em seus braços.

Liam me ajuda com as malas, ele e Diego estão pálidos, sérios, com a
aparência cansada, solitária, meu namorado se despede rapidamente, faço o
mesmo.
— Me passa o endereço para visitar vocês. — pede, aproveito para me
despedir dos cachorros que salvaram meus dias solitários.
Meu carro ficou com Diego, além de todos os meus pertences, então,
com certeza, vamos nos encontrar muito.
— Se cuida, Diggo e muito obrigada, por tudo. — agradeço os
funcionários pessoalmente, Liam segura a minha mão, porém, há algo que
não posso deixar de lado: essa tensão não é normal.
— Esse é o investigador Barbosa, aqueles são Gregório, Jean
O senhor mais velho eu não conhecia, mas Gregório e Jean eu me
lembrava por causa da festa, Liam beija a minha mão, me conduzindo ao lado
de dois rapazes ao lado de um computador sobre a mesa com uma pizza,
Coca-Cola e cervejas.
— Esses dois são Sávio e Ramon. — cumprimento apreensiva, Liam
pede para que eu me sente, mas nego, o que está havendo?
Barbosa caminha até mim, os meninos saem, restando Liam e o
investigador.
— Ísis, chegou a hora de eu dizer quem abusou de mim. — sorvo todo
ar que posso, meu corpo enregela, minhas mãos tremem, tudo ao meu redor
parece sumir. — É a Vivian, minha madrasta, sua mãe.
Eu não consigo compreender, Liam está sério, olhando preocupado
para mim, seus dedos tocam a pele do meu rosto, ele sussurra um “sinto
muito”.
Olho para Barbosa agora, que se senta na cadeira, apoiando os braços
na mesa.
— Ela vai ser presa, Ísis. — diz, o tempo está congelado ao meu redor,
não consigo expressar reação alguma.
Liam continua:
— Vivian tirava tantas fotos suas e gravava os vídeos, porque ela
vendia esse material na Internet. — abafo um grito de horror, meus olhos se
enchem de lágrimas e fúria, eu lembro que ela pedia para eu abrir as pernas
ao comer frutas e outras tantas bizarrices.
Liam procura uma conexão com meu olhar, inspirando fundo, ele
segura meus ombros:
— Um dos compradores foi Hugo, o homem que assassinou João
Pedro, Ísis, o Hugo revendia esse material e um dos homens que comprou foi
Júnior, ele que seduziu a irmãzinha de João que tinha dez anos na época.
É doloroso demais, monstruoso demais, sinto meu coração parar de
bater, vou desabar, Barbosa se levanta, pedindo para que Liam me sente na
cadeira que estava, meus movimentos estão letárgicos, não consigo emitir
uma palavra.
— Ísis, eu preciso que você encontre a Vivian, eu vou confrontar o
Thales, você tem que ser forte e me ajudar que ela seja presa. — seus olhos
estão na altura dos meus, os tons de verde escuro imploram por justiça, só
consigo balbuciar.
— N- não pode ser. — prevendo minha atitude, Barbosa chama os
outros rapazes, é Ramon que fala sobre como o assassinato de João Pedro,
levou a um dos maiores esquemas de venda e armazenamento de material de
pedofilia da história do meu estado.
Eu peço para ver as fotos e os vídeos, mas passo muito mal,
interrompendo-os, várias vezes preciso ser aninhada por Liam que dispensa
tanto carinho e cuidado como se eu fosse um pedaço de porcelana.
Por horas eu fico lá vendo que a minha mãe, minha própria mãe, é o
verdadeiro monstro.
Ela semeou na família de Liam o mal, e eu me horrorizo ao descobrir
isso. Nada pode ser tão monstruoso quanto submeter crianças a tamanho
horror. Eu me sinto nauseada, aterrorizada e completamente devastada pela
crueldade dela, estou presa em um pesadelo horrível, incapaz de escapar.
Tento controlar minha respiração, mas é impossível acalmar a
turbulência das imagens assustadoras, estou impotente diante deles,
envergonhada, triste, desolada.
— Me digam o que eu preciso fazer. — cerro os punhos, Liam me
abraça, mas não consigo corresponder.
Na verdade, uma parte de mim sempre desconfiou dela, mas o amor
filiam me impedia de ver o verdadeiro monstro que se escondia nas sombras
do meu berço, cama e quarto.
A mulher que destruiu tantas vidas.
Capítulo 38

Caralho, como Ísis conseguiu amadurecer tanto nesses últimos tempos!


Aumento o volume da música, estou dirigindo para o novo endereço de
Thales. Ísis ficou no barracão aos cuidados do investigador, ela concordou
em depor contra a mãe, porém ainda está muito abalada e triste.
Pensando nisso, a mensagem de Barbosa diz que prenderam Júnior e há
alertas em todas as mídias atrás de Hugo.
É uma questão de tempo que a porra da polícia junte dois mais dois, e
chegue até Vivian.
— Mãe — me emociono, passando a mão por cima da tatuagem em
minha costela —, está acabando, eles irão pagar com o que mais importa para
eles, a liberdade e a grana, acelero mais.
Chego depois de algumas horas que não vi passar, tamborilo os dedos
no volante, olho para o GPS vez ou outra, tento acalmar meus batimentos,
estou ansioso, quero concluir essa etapa sombria e escusa da minha vida.
— Olá, visitante? — o porteiro de um condomínio ainda mais
glamuroso me recepciona, tiro os óculos escuros, tragando meu VAPE, braço
para fora, dou um aceno.
— Sou Liam Ink Torres, filho do Thales Torres, queria entrar aí, por
favor. — o homem me analisa, pegando o telefone e ligando, sorrio de orelha
a orelha, quero muito recomeçar minha vida com Ísis longe dessa sujeira
toda.
— Ah, sim. — o homem abre o portão — Seja bem-vindo, senhor
Liam, a casa dele é a primeira à direita.
Agradeço, acelerando, vejo algumas crianças brincando, uns
adolescentes jogam futebol no campo, senhoras caminham ao final da tarde,
aproveitando a sombra das árvores bem podadas.
A casa é ridiculamente grande, deixo o carro em frente ao enorme
portão da rua, esse condomínio consegue ser mais luxuoso que o outro,
aperto o interfone, para a minha surpresa, Thales está me esperando.
— Liam, filho! — um rapaz poda a grama com uma máquina — Que
surpresa, entra, Ísis está com você? — seu sorriso idiota me incomoda, me
afasto do seu cumprimento.
— Ísis ficou lá, a Vivian tá? — meu coração vai sair pela boca, tudo
me levou até esse momento histórico na minha vida, sempre sonhei em
desmascará-la, todavia, por que estou hesitante?
— Não, foi ao salão, entra um pouco. — sorri, abrindo espaço para que
eu entre, tudo está impecavelmente novo, dou um passo para dentro, toca
meu ombro. — Eu mandei fazer o seu quarto e o de Ísis, só falta decorar.
Andamos pela extensão do jardim da frente, uma piscina enorme,
tobogã, churrasqueiras, tantas opções de lazer ao ar livre, mas não reparo me
prendo muto nisso.
A tensão me consome a cada passo, retumbando na minha jugular,
quero que seja perfeito, retendo em minha memória o dia que vou capturar
esse monstro grotesco chamado madrasta.
Eu apenas prenso os papéis em minhas mãos, no seu conteúdo, a cópia
das conversas entre a mulher dele e eu, documentos, provas, capturas de telas
impressos, tudo para arrancar dela até o último argumento.
— Aqui, meu escritório novo, o que tem aí? Você está bem? A
faculdade está…
Jogo os papéis sobre a mesa de vidro e aço, há porta-retratos ainda
maiores do casamento dos dois, Thales me olha curioso, colocando seus
óculos de grau, percorrendo os olhos pelo envelope.
— O que é isso? — pergunta, a aliança de seus casamento reluz forte,
sorrio, me abraçando, tentando aplacar um pouco da minha euforia.
— Abre. — resumo.
Thales o faz, segundos depois, senta-se, olhando de mim para os
papéis, seus olhos vão se abrindo mais e mais e mais. A cor da sua boca,
bochechas e olhos vão sumindo, suas mãos começam tremer.
Thales fica estático, não tenho pressa, esperei muitos anos por esse
momento, agora, me pergunto… por que não estou feliz?
Vivian chega igual a um pavão, chamando pelo marido com voz
excessivamente adocicada, uau, se combinasse não daria tão certo, assim que
ela me vê sozinha com ele, o sorrisinho convencido da vadia esmorece.
— L-L-Liam que surpresa boa, não é, vida? — ela não pergunta da
filha, ergo um pouco a cabeça, mostrando um pouco meus dentes, vou abrir a
boca para ofendê-la, mas Thales cerra o olhar e os punhos, saliva escapando
de seus lábios.
Ele está puto, o peito subindo e descendo, passa a mão na testa e está
encharcado de suor, jogando a pasta sobre ela.
— COMO PODE? ELES ERAM CRIANÇAS! — esbraveja, gritando
como nunca ouvi, confesso que estremeço, saio do caminho, ele dá um tapa
na cara dela, que nos olha confusa, tentando entender de onde vem o próximo
tapa e o próximo. — Eu vou querer te ver morrer na cadeia, sua pedófila!
Não o impeço, Vivian ao ouvi-lo, tenta fugir, mas Thales está insano,
um monstro foi liberto da jaula da ignorância de um amor que nunca existiu.
Não recuo, quero ver, preciso ver!
Ligo para a polícia, relatando que temos provas que Vivian Torres tem
ligação com Hugo, Júnior e a rede de pedofilia do estado.
Ela já está no radar policial.
Ando pela casa, vendo Thales arrancar os apliques do cabelo dela, os
funcionários não ousam interferir, mas ficam em roda, sem comentar, eu
admiro a cena como se pudesse moldurá-la, me deleitando com os gritos de
Vivian. Ela apela dizendo não sabe do que Thales está falando.
Ele quase faz com que ela engula os documentos!
Vivian é o verdadeiro monstro que me assombrou durante toda a minha
vida.
Essa coisa que se revela à minha frente na forma mais cruel, gutural e
deformada, nem sua roupa de grife, joias caras ou lágrimas borrando a
maquiagem me fazem sentir compaixão. Ela urra:
— Liam, eu te fiz homem — se joga de joelhos à minha frente —, por
que se importou em revirar as fotos da Ísis? Aquela pirralha nem serviu para
trocados! Eu tinha que ter prostituido aquela menina!
Eu pulo para estrangulá-la, chego a berrar em plenos pulmões, mas
Thales a arrasta, gritando, desviando-a de mim:
— Monstro, sua puta pedófila maldita! Maldito seja o dia que eu te vi
pela primeira vez, sua criminosa! — outro tapa forte é desferido, logo o
estrondo atrás da gente.
Vejo uma cena de filme se desenrolar diante dos meus olhos, os
policiais empunham arma, pedem para Thales se afastar.
— Senhor Torres, por favor, vá para o lado, senhora Torres, a senhora
está presa por produzir, armazenar e vender material sexual de menores,
senhor Liam, pode nos acompanhar?
— Não imagina o prazer que eu vou ter em fazer isso.
A imprensa está em polvorosa na saída do condomínio, Vivian xinga,
grita, esperneia, coloco meus óculos escuros para acompanhar de carro a
viatura. Thales, entretanto, me chama, está suado e parece ter envelhecido mil
anos, não deixo que me toque.
— Filho, ah, Meu Deus, como eu não vi? — cobre o rosto nas mãos,
estremecido, apático, mais rugas que eu me lembrava. — Meu menino, my
little boy.
Eu me afasto, falando:
—A Vivian foi sua amante. — levanta a cabeça, unindo as
sobrancelhas em pavor — Minha mãe se matou na minha frente, antes de
atirar na cabeça, ela me fez jurar que eu iria me vingar, mas não foi preciso,
já que fui vítima dessa psicopata!
Thales nem respira, as grossas gotas de suor e lágrimas se acumulando
nas asas do nariz dilatado pela adrenalina.
Continuo, depois de um breve silêncio:
— Eu e Ísis estamos namorando — uma sombra de um sorriso se
forma no meu rosto, Thales está absolutamente paralisado, congelado como a
estúpida estátua de cisnes —, vou embora para os Estados Unidos, não tente
falar comigo de novo.
Thales, num impulso, pega minhas mãos:
— Liam, ela é como se fosse sua irmã — dou de ombros —, falamos
disso depois, não sei se um dia vai me perdoar, mas vou tentar a vida inteira
que me resta. — tenta me puxar para um abraço, recuo.
— Ísis não é minha irmã, e nada apaga o quão você foi negligente
comigo! Quantos aniversários, Natais, ano novo, ação de Graças eu te
esperei?
Recorro as minhas memórias, o suor nas minhas têmporas:
— Depois ser abusado pela sua mulher, a morte da minha mãe e o seu
desprezo, eu também me fui, caralho, como eu sofri!
O celular de Thales começa a tocar, seus advogados e um grupo seleto
de amigos começam a aparecer, está virando um caos, levanto a camisa,
mostrando a tatuagem:
— Foi a última coisa que ela disse, antes de morrer — acaricio o local,
deixo cair a blusa —, Rest in peace, mom, descanse em pais, mamãe.
Epílogo

A palavra vingança definitivamente foi riscada do meu dicionário.


Eu termino de encerrar a minha matrícula, não faz mais sentido
continuar cursando essa faculdade. Faz mais de seis meses da prisão da
minha mãe, não consegui vê-la nenhuma vez.
Diego se mudou para a Europa, antes me contou sobre qual segredo
Liam o chantageou.
Não o julgo.
Míriam e Ricardinho começaram a namorar, fiquei feliz por eles,
Ricardo a pediu em namoro na Disney, rolo os olhos, rindo.
Ando para esperar Liam no estacionamento, o vento refrescando meu
rosto, o sol está brilhando, poucas nuvens no céu, relembro quando ele e João
pegaram a Porsche de Diego, chego a gargalhar com esse passado. Tudo era o
fim do mundo, até descobrirmos o que é o fim de um mundo.
Olho o banner dos formando de desing, semana passada foi a formatura
de Liam, foi tudo lindo, fiz questão de ir com o vestido que ele me deu no
meu aniversário de dezoito anos.
Seguro firme meu celular, mirando a foto linda dele do meu protetor de
tela, Liam fica tão gato de smoking, pena que disse que “seria a última vez”
que o veria assim.
Thales pediu para ir, depois de uma pequena discussão, consegui
convencer meu namorado a deixá-lo ficar, pelo menos do lado de fora, só
para vê-lo jogar o chapéu de formatura.
Liam foi impiedoso durante a madrugada, mordo o lábio relembrando a
noite memorável! Ele é incansável.
— Sazon, Canela, fica! — Liam pula da picape, arrumando os
cachorros na carroceria, parece que acabaram de chegar do petshop, Canela
está com uma coroa e Sazon com gravatinha.
Diego teve que deixá-los, então, me coloquei à disposição de cuidar
deles por tempo indeterminado, pelo menos ficariam com alguém conhecido,
já que os pais e a irmã se mudaram para a Austrália, mal os conheci, mas sou
eternamente grata.
— Vem, Sweet! — deixo os documentos no banco do carona, ele me
abraça, Canela lambe meu rosto. — Nossas tralhas já foram montadas na
nossa casa em Phoenix, está tudo pronto para a gente.
Faço carinho nos meus companheiros peludos, eles se embananam
todos para tentar me lamber, ambos estão confortáveis, saudáveis e seguros.
Abraço-os, olhando para Liam:
— Já se despediu de todo mundo? Barbosa, Jean, Gregório, Sávio e
Ramon?
Liam ensina mais uma vez Sazon que não pode lamber seu piercing no
septo, depois de espirrar algumas vezes, rio da cara do meu namorado.
— Então. — Liam faz cosquinhas com os dedos em mim. — Aquele
bando de cuzões estão encaminhados, quem diria?
Quando ele afrouxa o ataque de cócegas, tento revidar, cutucando a
tatuagem dos seus bíceps, ele abre a porta do carro assoviando para eu
acompanhá-lo:
— Depois de um bom acordo, Jean está continua dando aula, aquele
ridículo do Gregório passou na faculdade de direito mesmo, saiu o resultado
agora a pouco.
Não olho para trás, estamos deixando o passado aqui, nosso passado
sombrio tem que ser enterrado nesse campus, vejo se nossos doguinhos estão
bem, repouso a mão na perna dele.
— Parabéns para eles, não?
Liam gargalha, passando rápido por uma lombada, encaro-o furiosa,
ele muda de assunto:
— Não fode, Ísis, ele fez a cabeça do Sávio para ser policial, imagina?
Um ex-presidiário com tatuagem de gangue na garganta como policial? —
bate no volante, indignado — Ele nem pode prestar a prova.
— Gangue, é? E são muito maus esses membros de gangue? —
provoco, minha mão serpenteando sua calça, abrindo com delicadeza seu
jeans, enrolo a corrente da calça no dedo.
— Só às terças e quintas, princesinha. — concentra-se na rua, saindo
pela marginal para o aeroporto, meus dedos apertam seu pau, a tatuagem à
mostra, acaricio a cabeça com o polegar.
Ele encosta a picape no acostamento, me puxando para o seu colo, rio
com a ação tempestuosa, mas o que esperar dele?
— Vou te ensinar a gozar em todos os lugares comigo. — Liam
acaricia meu rosto, começamos a nos beijar, estamos afoitos um pelo outro,
ele abre minha blusa, subindo minha saia, arrumo minhas pernas envolta do
seu corpo.
— Liam. — gemo seu nome, nosso suor se mistura, dou uma olhada
para nossos cachorros, que estão deitados, seguros. Eu passo seu pau entre
minhas pernas, mordo os lábios sentindo-o em minha umidade.
— Fala meu nome. — ele espalma minha bunda, uso os joelhos para
me apoiar, seus lábios se prensam aos meus, as mãos seguram meus seios,
começo a sentar em sua ereção.
— Liam. — sussurro em seu ouvido, ele segura meu cabelo, me
fazendo arquear as costas, seu volume entra lentamente em mim, estou tão
excitada, abro a boca, olhos semicerrados, suspendendo minha respiração. —
Ah!
Liam me faz sentar bruto em seu colo, abraço-o, sentindo tudo dentro
de mim, sempre me surpreendo com o tamanho, começo a me movimentar
aos poucos, porém intensamente.
— Minha princesinha. — sorri, expirando em meio aos meus seios,
mordiscando os mamilos, perpassando o piercing da língua pelos meus
braços.
— M- meu bad boy. — nossas peles roçam uma na outra. Liam impõe
um ritmo mais rápido, mais forte, mais urgente.
Gememos um o nome do outro, a ressonância de nossos corpos e o
barulho do sexo é maravilhosamente alto.
Ele abafa meus gemidos com mais um beijo intenso, arrebatador,
sempre me faz esquecer de como respirar. Meu coração está super acelerado,
espalmo as mãos em seu peito, reclinando-o para subir e descer mais
intensamente.
O monstro um do outro se afloram do modo mais primitivo quando
transamos, mas não se digladiam mais, se fundem, se entendem, aceitam as
diferenças e falhas um do outro, não tentamos mais reprimi-los ou extingui-
los.
Aprendemos a domá-los.
— L- Liam. — ele coloca dois dedos na minha boca, desce com eles
pelo meu corpo, chegando ao meu clitóris, estou suada, os carros passam
muito rápido por nós.
Eu sinto o formigamento no meu ventre do pré-orgasmo, rebolo
frenética, são sensações de dormência e espasmos, sua língua, mãos, dedos
me exploram por inteira, sou dele.
— Í-Ísis. — esconde o rosto no relevo do meu pescoço, seus gemidos
graves, ressonando pela minha pele, arrepio, estou gozando.
Os movimentos vão se acalmando, enquanto sinto-o pulsar dentro de
mim, nas paredes da minha intimidade, aos poucos vamos apenas nos
encarando, arfando, nos explorando.
— Eu te amo. — ofego, cedendo para o banco ao lado, ele sorri,
recuperando-se, piscando para mim.
— Ah, Ísis, pode apostar, Sweet, eu te amo mais. — dá a partida,
olhando para os cachorros pelo retrovisor.
Sinto o suor escorrer pelo meu rosto, anestesiada pelo recente orgasmo,
pouso a mão em sua perna.
— Seremos felizes longe daqui, certo? — pergunto, sentindo meus
olhos arderem, mas me recuso a chorar.
— Ísis, tudo será melhor longe daqui, teremos um ao outro, nossos
dogs. — ele aperta minha mão. — Não vemos as coisas como são, vemos
como somos.
Olho o horizonte com expectativas, o amor que temos é tanto, que
englobamos nossos monstros nas sombras, afinal, sem eles não teríamos
esperanças de estamos juntos.
�� Obrigada por lerem até aqui! Espero que a história tenha te
tocado de alguma maneira, quer conversar sobre livros, bater um papinho?
Que tal participar do nosso grupo?
É totalmente gratuito e é uma forma que encontramos para agradecer
o carinho de vocês.
https://chat.whatsapp.com/DvyqK3pmfVMDGNMwJL64G9
Todo o meu agradecimento às leitora
�� Vocês são as estrelas dos meus livros é por vocês que
continuo

Agradeço à Nina Higgins, autora, amiga, beta e confidente (sem ela


esse livro não teria saído): @ninahigginsautora
Sem leitor não há escritor, sintam-se bem-vindos a entrar em contato
comigo a qualquer momento pelas redes:
Insta: @maylah_menezes
TikTok: @may7esteves
Twitter: may7esteves

CATÁLOGO DE LIVROS LANÇADOS


Pietro é um jovem CEO, pai do esperto Caíque e viúvo há quase seis
anos. Ele não consegue confiar em nenhuma babá. Desesperado pelos
encargos de sua profissão, ele se vê sem saída, no entanto, o destino coloca
Alice em seu caminho. A estudante de Artes é sonhadora, meiga e mãe solo
da espoleta Alícia. A nova babá mostrará a Pietro a coloração explosiva da
vida e ele as estruturas e coordenações do amor.
Atenção: Obra ficcional para maiores de 18, pode conter gatilho.

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Braun Ludowig é a promessa dos Estados Unidos para ser um atleta


perfeito, além de bonito, um Q.I acima da média e extremamente sensual, sua
vida muda quando descobre um misterioso plano dos russos.
Ele tem que partir de sua pátria para ser segurança da futura esposa do
embaixador americano que é misteriosamente assassinado, a culpa recai na
misteriosa noiva e seu fiel companheiro de Pátria.
Um jogo de sedução, guerra e morte se inicia, valendo a vida de milhares de
pessoas, numa competição perigosa em que ninguém pode confiar em
ninguém.
Anya esconde um segredo que pode mudar o futuro da humanidade.
E Braun, mesmo duvidando da inocência da bela mulher, não consegue
entender por que se sente perdidamente apaixonado perto dela.
Enemies to lovers.
Previamente lançado como “O Segurança”.

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Existe amor à primeira vista?


Manoela acredita que não.

Após ser abandonada grávida e sozinha em uma cidade do interior de


São Paulo, a bela jovem trabalha e mora de favor na pensão de dona Cecília
com a pequena Bia. Tudo muda quando um luxuoso carro dirigido por Luan
Medina de Sousa faz uma manobra arriscada para impedir que outro
automóvel colida nas duas.

Os olhos do atraente CEO, assim que encontram com os dela, se


enchem de desejo e paixão e ele é arrebatado por aquele encantamento único
que temos, talvez, uma vez na vida. Porém Manu está escaldada e irá ser
páreo duro para esse CEO que, literalmente, arriou os quatro pneus por ela.
Luan quer provar que Manu e Bia são seu combo perfeito.
Manu acha que ele pode estar com pena da situação dela e de sua bebê.

Embarque nessa comédia romântica onde a mãe conversa com sua


neném, respondendo por ela, quase seu alter ego. Reviravoltas do passado são
chispadas pelo nosso mocinho que não tem medo de cair de cabeça num
relacionamento, mesmo que a jovem mãe solo fique um tanto paranoica com
seus medos.

*Este livro faz parte da série “Bebê a Bordo”, composta por histórias
independentes, não sendo necessária nenhuma ordem na leitura. “Uma
família de contrato por um mês!”, da autora Nina Higgins, já se encontra
disponível para leitura.

Pode conter gatilhos. +18

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Irving Durham, futuro marquês de Wembley, se muda para a França


para construir uma fábrica em uma pequena cidade do interior.

Libertino assumido, o passatempo do aristocrata é conquistar


mulheres e passá-las por um treinamento que, além de incluir educação
formal, dança, leitura e pintura, são submetidas a todas as formas de dar
prazer a um homem.
O treinamento de Irving é famoso e, assim que enjoa das damas, ele
leiloa as moças aos seus amigos, numa festa requintada e privativa.
Irving é um nobre aristocrata que não se importa com escrúpulos ou
com seu título, luxúria, dinheiro e seus lençóis aquecidos por jovens
belíssimas faz parte da sua vida.
Sem intenção de casar, pretende deixar o legado dos Durham morrer
com ele, nada nem ninguém parece mudar sua concepção de vida elitista e
singular.

Em um dia de festa dos camponeses, o marquês se encanta pela


campesina Sarah: o tom selvagem da moça aguça o espírito predador do
rapaz que, instigado por ela não se render ao luxo que proporciona às suas
amantes, dá uma cartada inesperada.

Por outro lado, os olhos azuis e frios do marquês encaram Sarah, que
vai se apaixonar pelo inimigo, forçada a viver no mesmo teto.
No calor da Revolução Industrial, nasce uma paixão mais quente que
qualquer fornalha...

Só resta a pergunta: quem domará quem?

Atenção: Leitura para maiores de 18 anos, pode conter gatilho, todos os


fatos são ficcionais.

Anteriormente publicado como "O filho do marquês"


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“Uma escolha, um momento pode mudar vidas, nesse caso, milorde,
nossas escolhas mudam o reino inteiro”
Ériem, filha única do barão da pequena Galzey, é uma dama à frente de
seu tempo com uma forte conexão com a natureza.
Após ser vendida ao rei pelo próprio pai, é dada de presente ao grão-
duque, herdeiro do trono, que não tem a menor intenção de se casar.
Felahard, o duque, no auge da virilidade, beleza e herói de recentes
batalhas, só pensa em seu leito quente com fervorosas e devotas amantes.

Ériem será rendida aos perigos da corte ou manterá seu espírito livre?
Das adversidades, o amor seria capaz de nascer?
A guerra se aproxima e o amor é a mais perigosa delas.

Pode conter gatilho, leitura recomendada a maiores de dezoito anos.

Link: https://amzn.to/3rJApPW
Yuri, um belo jornalista cativante e polêmico, atende ao inesperado
pedido do meio-irmão para hospedar Lily, sua sobrinha.
A jovem bailarina de beleza radiante e talento excepcional, acaba de
realizar o sonho de se tornar profissional ao ingressar em uma prestigiosa
academia de balé em Londres.
Agora sob o mesmo teto, a paixão inevitavelmente começa a
desenrolar-se entre eles. No entanto, esse amor proibido se torna uma trama
cheia de segredos do passado, culpa e tensão avassaladora.
O mundo do balé e do jornalismo polêmico revela como o destino
entrelaça os desafios. Yuri e Lily vão descobrir os limites do que pode
construir ou destruir colocando à prova a força de suas convicções e o poder
transformador da paixão.
Ele era um hooligan
Ela era virgem
Ele a deseja
Ela o admirava
Link: https://amzn.to/3GKFP1t

O astro do country, Blake Harper, está enfrentando problemas com sua


carreira meteórica após uma série de escândalos.

Uma música e um clipe novos podem salvá-lo de ser odiado pelos fãs,
mas a modelo que interpretaria com ele desiste em cima da hora.
Surpreendentemente, seu assessor encontra na lanchonete em que estão
tomando seus cafés a musa que pode alavancar a carreira do cantor.

Kira não gosta de country e tampouco da ideia de ser musa, mas... por
um bom dinheiro e um contrato de namoro, ela também pode pagar suas
contas atrasadas de forma meteórica!

O que a jovem não esperava era que se emaranharia no coração do


astro, e ele jamais imaginaria que a língua afiada dela poderia ser tão
deliciosamente sedutora em seu corpo.

Mas... é o suficiente para aplacar os tabloides? Tudo precisa dar certo


em frente às câmeras, mas... e por trás delas?
Venha se encantar com essa comédia romântica que promete mexer
com as batidas de seu coração.

A história aborda temas que podem acionar gatilhos em pessoas


sensíveis.

Este livro faz parte da série “Estrelas do Texas”, composta por


histórias independentes, não sendo necessária nenhuma ordem na
leitura. “A Virgem e o Delegado Texano”, novamente em parceria das
autoras Maylah Menezes e Nina Higgins, será lançado em
agosto/setembro de 2023

*Atenção: o livro foi revisado e upado em junho de 2021, em atenção


às avaliações que indicaram equívocos gramaticais ou de digitação. Se você
já baixou o seu, por gentileza, atualize seu e-book.
Obrigada e boa leitura, Nina Higgins e Maylah Menezes <3

Link: https://amzn.to/3oLtzaJ

Isaac Kitz, o cowboy mais admirado da pequena cidade de Santa


Maria, no interior de Porto Alegre, é tão marrento, recluso e desacreditado no
amor e na vida quanto a jovem que herda dos avós uma chácara ao lado de
sua fazenda, Eloá Ferri.

Isaac tem uma filha de seis anos, ou como a criança costuma dizer
“quase sete”, Amelie, que se encanta por Eloá e acredita que unir o pai e a
recém-chegada pode ser uma boa ideia.

A chácara da moça está abandonada e o advogado dela,


coincidentemente tio de Isaac, propõe que Eloá fique algumas semanas na
fazenda do Cowboy.

Ambos estão machucados.


Ambos são de mundos diferentes.
Porém a química que acende nos dois seria capaz de curar corações tão
feridos?
Amelie espera que sim.

Link: https://amzn.to/3Jrhxer

Emma Vacchiano vive no Brasil com o pai, Roger, um homem rigoroso até,
numa noite, ao sair escondida com as amigas, sua vida muda drasticamente.
É revelado que seu pai é um requisitado conselheiro da máfia, depois de anos
“aposentado”, Roger volta à Itália para sanar uma antiga dívida com seu don,
Khan Ricci, que está em meio a uma guerra entre famílias de mafiosos e
precisa do conselheiro para se concretizar como o senhor da Máfia italiana.
Contudo, Roger só irá voltar e negociar seu retorno se houver segurança para
sua filha e, para isso, Khan aceita se casar com Emma com o intuito de
protegê-la, mas ela não é frágil e não está nada feliz com esse matrimônio.
Khan quer vingança pelo seu passado obscuro, Emma quer voltar ao Brasil e
esquecer o casamento.
Ambos não deveriam nutrir sentimentos um pelo outro, mas o que pode
acontecer quando paixão, sangue e vingança se misturam?
https://amzn.to/3L8iGJs

+18
O capítulo 2 é lido pelo streamer da Twitch (twitch.tv/feldtv) Rodrigo
Feldmann
Link do texto narrado: https://bit.ly/34PE5qD

Instagram: @rpfeldmann
Se não conseguirem ouvir o link, mandem uma DM para mim no insta:
@maylah_menezes

O CEO André Bacelar Vidal é um dos homens de maior prestígio do Brasil.


Com um patrimônio enorme, bonito e interessante, mulheres não faltavam,
porém sua trágica viuvez o deixou avesso a relacionamentos.

Quando é surpreendido com uma festa em sua casa, ele não imaginou que
conheceria alguém tão intrigante e ao mesmo tempo sexy como Liz.

A jovem traz algo diferente dentro de si que irá abalar as estruturas que
André acreditava estarem consolidadas pelo tempo.

Liz é uma garota que precisa urgentemente de ajuda, as dívidas se acumulam


e o desespero a obriga fazer o impensável.

Um aplicativo exclusivo irá aproximá-los, mas a relação Sugar Baby e Sugar


Daddy tem regras, e até que ponto vale a pena seguir as especificações de um
contrato?

Pode conter gatilho, não recomendado para menores de 18.

Prólogo e capítulo 3 lidos pelo nosso narrador (já conhecido rs) Rodrigo
Feldmann
Twitch: twitch.tv/feldtv
Prólogo: https://bit.ly/3EoGRAK

Link do Livro: https://amzn.to/3UMgaMI


Nathan Heidi é um bad boy e tudo nele grita perigo. Suas escolhas de vida
estão bem longe de agradar ao pai, o poderoso advogado Alonso Heidi. Aos
23 anos, tem certeza de que o amor nunca estará nos seus planos. Para ele, as
garotas em sua cama após suas lutas, são o suficiente, principalmente depois
de sua última grande paixão trocá-lo pelo próprio pai.

Ana Dunisk cursa faculdade de química na capital, em São Paulo, longe de


sua família no interior. Dividindo um apartamento com a melhor amiga, vão
a uma festa de calouros e o magnetismo do olhar de Nathan a prende.

Jovens, tempestuosos, uma química irresistível e uma paixão


avassaladora os toma desde o primeiro beijo.
Entretanto, Nathan estraga tudo e agora Ana precisa tomar uma decisão
racional: deixá-lo e proteger a filha que carrega nos braços ou seguir em
frente, sem olhar para trás, lidando com um coração partido
+18

Link: https://amzn.to/3BqAkoJ
O príncipe Jacob Humphrey é o príncipe regente da rica ilha de Fera
Hominum.
Ele é considerado perfeito: herói, integrado à marinha, lindo, atlético,
tatuado, bronzeado; porém, ele guarda um segredo considerado abominável:
apaixonado pela própria irmã no mundo tecnológico do século XXI, que
ainda traz o tabu desse sentimento que o consome e o destrói, afastando-o de
sua terra natal.
Por outro lado, a princesa sofre com a sua mãe, a rainha.
A mãe é narcisista, abusiva e extremamente cruel, principalmente com a filha
caçula.
Quando Kinara, a princesa, tem um colapso nervoso, o príncipe regente volta
para o seu país natal, tentando suprimir o amor para cuidar da irmã, mas os
segredos obscuros do reinado têm um preço alto.

Contém gatilhos, por favor, leia a descrição.


A autora não compactua com vários atos de índole duvidosa dos personagens,
não é um conto de fadas tradicional, é raiz, é aqueles que nos fazem duvidar
da moral, do mundo em que vivemos e, principalmente, do que consumimos
como "perfeição".

Essa obra faz parte do mesmo universo de "O príncipe insolente" da autora
Nina Higgins, mas são leituras INDEPENDENTES, porém se
complementam.

O prólogo e uma parte bem hot (p. 219) são narrados pelo modelo,
estudante de educação física e streamer da Twitch Rodrigo Feldmann.

Link: https://amzn.to/3FIpQE0

Coincidência ou destino?
Um esbarrão despretensioso em um shopping foi o suficiente para Lavínia se
deparar com Caleb.

A jovem universitária se encanta pelos olhos aguçados, beleza, imponência


do homem mais bonito que já viu.
O juiz Caleb, entretanto, vê na moça um pretexto para algumas horas de
diversão, até ouvir um “não”.
O meritíssimo nunca teve um desejo negado; em seus autos, em seu púlpito,
ele é a lei, jamais sendo contrariado, seja por qual motivo for.

Lavínia tem uma vida cheia de dificuldades, Caleb, um passado triste, que
afeta seu presente.
Quando ele descobre pelo que a moça passa, seu passado volta às suas
memórias e seu instinto se sobrepõe a sua razão

O juiz tem um modo diferente de amar, e Lavínia é o objeto de seu desejo e


de sua obsessão.

Ela vai amá-lo


Ele vai adorá-la.

Link: https://a.co/d/3t0AuVu

#age gap #casamento por contrato #grumpyxsunshine #hot #slowburn

"Uma roleta é capaz de selar o destino?"


Após um encontro marcado pelo infortúnio, Amy, a filha do motorista de um poderoso
bilionário, se vê arrastada para um mundo de paixão e luxos. Vincent Henderson, além de ser o chefe
de seu pai, é um homem enigmático, com um olhar profundo e um corpo irresistível, capaz de despertar
uma paixão avassaladora em Amy.
No entanto, o promissor romance é cruelmente interrompido, o magnata decidido a não deixar a jovem
de longos cabelos loiros escapar, está disposto a usar todos os meios possíveis para mantê-la por perto.
O destino de Amy será decidido por uma roleta em um luxuoso cassino, onde perder não é uma opção.
Determinado a tê-la ao seu lado, Vincent elabora um contrato para um casamento inesperado. Os
números e cores do jogo lançam a sorte, mas ambos podem criar sua própria fortuna. Envolvida pela
paixão em mundo de poder e dinheiro, ela se verá diante de uma escolha: entregar-se completamente a
Vincent ou escapar dessa teia sedutora de mentiras. Que a sorte seja lançada e que os jogadores
apostem suas vidas pelo amor e a liberdade que estão prestes a ser desafiados.

Ele se encanta pela filha do seu motorista.


Ela é apostada na roleta de um cassino.
Ele ganha a aposta.
Ela se entrega e ele.
Ele está louco por ela.

https://www.amazon.com.br/dp/B0C6R6B93X

Obrigada

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