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Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo
CATÁLOGO DE LIVROS LANÇADOS
Recadinho
Mais um desafio!
Até agora, esse é o maior livro que já escrevi.
Tem tudo de mim, todo o meu empenho, toda minha alma, está sendo
um grande desafio, tive que aceitar vários dos meus monstros, aprender a
amá-los, beijá-los, superá-los.
Há sempre temas sensíveis (impossível não os ter), saliento alguns como
menção à pedofilia, mãe narcisista, alienação parental.
Há superação, amor e, sobretudo, aprendizagem sobre pesadelos, eles
sempre querem dizer alguma coisa.
Kissing de monster conta a história de Ísis e Liam, dois jovens que terão que
superar muita coisa juntos, os monstros um do outro, as adversidades
externas e, acima de tudo, aprender que nem sempre somos os responsáveis
pelos nossos destinos.
#fake sibilings #irmãos-postiços #slow burn #bad boy #new adult
Prólogo
Minha mãe se deleita com um cálice de boca larga, cheia de vinho rosê,
um hábito que só se permite quando sua cabeça está inundada de frustração.
O que não é raro.
Sobre a mesa repousam petiscos, assim não precisa se preocupar com o
jantar: bruschettas no pão de alho com rúcula e tomate seco, travessas com
pão italiano recheado de carne e queijo.
— Já saiu o resultado do vestibular? — pergunta, sem sequer levantar
a cabeça para mim, quando desço as escadas.
Nego. Ela roda o líquido róseo na taça:
— Liam já parece ter se apossado da casa com aquela moça, já pedi
que ela voltasse mais tarde, aquela sem noção —, aponta com a taça em
direção à piscina, apoiando os cotovelos no mármore da ilha branca,
manchada por veios cinzentos.
Eu me sirvo de um pouco de suco de laranja, acompanhado de um
pedaço de pão italiano com presunto parma e requeijão.
— Cochilei esta tarde e nem vi. — minto, em partes.
Sim, cochilei para evitar qualquer contato com ele. Nos últimos
tempos, tenho recorrido aos remédios controlados da minha mãe, a pressão
do fim do ano beira à loucura, a traição do Ricardinho em sua viagem à
Disney, mas o perigo está em encarar Liam frente a frente, esse é o fato
insano.
Encolho os ombros, fingindo desinteresse:
— Liam falou com você?
Minha mãe bebe um longo gole de vinho, enquanto me observa. O
sabor do lanche amarga em minha boca ao pronunciar o nome de Liam,
acredito que o mesmo aconteça com ela.
Ela ajeita a alça do sutiã que desliza do meu ombro, me chamando de
“desleixada”. Passa os dedos pelo meu cabelo, arrumando-o em um coque
alto.
Eu e ela vestimos largos blusões de tricô, calças de moletom folgadas,
formando um conjunto mãe e filha, infelizmente, essa parece ser nossa única
semelhança.
— Liam não fala comigo, Ísis, mas seu pai ligou e aquele menino o
Ricardo. Deveria dar uma chance a ele, os pais são conceituados advogados,
ademais, minha filha, homens traem… — a reticência em sua voz insinua que
eu deva dizer algo?
Desprezo a necessidade de responder, voltando minha atenção para as
mastigadas do lanche em minhas mãos.
Minha mãe e eu nunca fomos próximas, assim como eu e meu pai,
infelizmente, tudo que sei é que eles se casaram porque ela engravidou de
mim. No entanto, o verdadeiro amor da vida dela sempre foi o pai de Liam.
Um amor de final de adolescência, que não pôde ser concretizar devido
às adversidades da vida. Como ela me disse uma vez, quando se
reencontraram, decidiram se casar imediatamente.
No entanto, a mãe de Liam estava doente e eu já existia como um
empecilho para um divórcio amigável.
Muitos esforços foram necessários de ambos para que ficassem juntos.
Meu padrasto e meu pai chegaram a um acordo de um divórcio amigável, a
minha pensão alimentícia não seria paga, minha guarda seria da minha mãe e
eu visitaria meu pai uma ou duas vezes ao mês.
Ele acordou sem nem olhar para trás.
Liam não teve opção. A mãe dele fez questão de mantê-lo consigo lá
nos Estados Unidos, já que era americana. Até onde sei, ela o influenciou
contra “nós”, sua “falsa família”, tornando-o extremamente agressivo durante
a infância… e agora?
Lembro que vi Liam a primeira vez quando tinha oito anos, ele treze,
chamei-o para brincar, seu comportamento destrutivo já estava lá, só
esperando uma oportunidade para aflorar e foi com o cabelo da minha Barbie
novinha que mostrou sua insatisfação, picando-o, deixando a pobre boneca
careca.
Fiquei de castigo quase um mês sem saber o porquê.
A segunda foi quando ele tinha dezesseis e eu onze, seria o aniversário
de casamento dos nossos pais, ele ficou doente, fiquei ao seu lado no hospital
enquanto diagnosticavam com uma virose sazonal e encaminhando-o a um
psicólogo, seus intensos olhos verdes me miraram longamente, até um sonoro
“saia daqui, fedelha” escapar de sua boca.
Fiquei tão assustada… nunca esqueci.
A última, eu tinha treze e ele dezoito, próximo do meu aniversário, já
era amiga de Míriam, ele estava ficando com uma moça, foi a primeira vez
que vi sexo na minha frente.
Míriam estava dormindo em casa. Liam já todo tatuado, com seus
piercings e seu corpo… maldito e irresistível.
Ele transava com uma mulher mais velha, acho que era até amiga da
minha mãe. Míriam viu e me chamou, lembro que fiquei estranha ao vê-los
nus, ela sobre ele.
Depois disso, o enteado da minha mãe não falou mais comigo, me
deixando com meus próprios demônios… soube que foi preso por pichar a
escola que estudava e era extremamente popular.
Claro que era… eu o seguia pelas redes sociais, admirando-o crescer,
cada tatuagem, cada piercing, cada pichação.
Meu celular volta a tocar, enquanto os olhos de minha mãe miram o
vazio. Retiro-o do bolso da minha calça, sentindo a felicidade de ver o nome
de Míriam, minha melhor amiga, na tela.
— ABRE O SITE AGORA! — ela grita, quase me engasgando com sua
voz estridente. Sem questionar, eu me viro e subo as escadas com a
velocidade de um guepardo, deslizando as meias no chão de madeira, quase
caindo da minha cadeira, abraço o laptop já aberto no site da faculdade.
Pressiono o botão F5 repetidamente, até que a página se atualize. E lá
está ela, a lista dos aprovados, finalmente!
— Não vou conseguir ver! — reclamo, mas Míriam não me dá tempo
para respirar.
— Olha o seu CPF, Ísis, doida! Você passou! Sua louca! — meu
coração bate violentamente, provocando uma euforia indescritível. Minha
boca seca, meus olhos se dilatam, e só consigo focar nos números do meu
CPF.
Ao constatar que passei em primeiro lugar no vestibular, não consigo
conter o choro baixo, pisco várias vezes para dissipar as lágrimas que
escorrem pelo meu rosto.
Abafando um grito, concluo ainda incrédula:
— Mí! Eu passei… — tento navegar pelo site, mas estou tremendo!
Confiro o cursor em cima do número do meu documento na lista, preciso até
checar para saber se sou eu mesma.
Um estado de torpor toma conta de mim. A sensação de missão
cumprida, a felicidade… estudei tanto e tanto, mas nunca esperava por isso…
Primeiro lugar em psicologia em uma das faculdades mais concorridas
do país.
Ingênua e gostosa.
Um combo perigoso de adjetivos para uma mesma pessoa, rio amargo
ao constatar minha certeza.
A personalidade frágil e cativante, a aura de inocência permeia seus
gestos, corpo, rosto e inteligência singular, Ísis ainda não sabe como é
perigosa, linda e sedutora.
Talvez seja a peça-chave da minha vingança, já que a mãe tenho no
papo.
Vivian e eu temos nos falado faz algum tempo, sei que ela me deseja e
vou destruir cada pedaço dela, do seu casamento, do poço de dinheiro que
Thales significa para as duas.
Destruir e vingança são o verdadeiro propósito se eu ter aceitado vir e
ter saído do exército há alguns meses, minha vida é confusa, profusa, uma
mistura nada agradável de morte, sangue, vingança e pecado.
Porém,
Ísis é uma peça desajeitada no quebra-cabeça da minha existência
medíocre. É fácil para mim, em meus momentos de amargura, culpá-la, sou
tentado a atribuir a ela a responsabilidade por todas as minhas cagadas.
Aliás, o que Thales está pensando?
Comer a enteada?
Já seriam amantes?
Eu fiquei longe tempo demais, acho que é hora de colocar meus planos
contra essa família em prática, como minha mãe pediu, antes de morrer.
Olhando agora, reconheço que Ísis está uma gata, piraria qualquer pica
e os anos só irão deixá-la mais e mais bonita. Há quanto tempo não a vejo?
Desde os seus treze anos?
Ao contrário da filha, Vivian, minha madrasta e mãe de Ísis, nunca
escondeu ser uma cadelona no cio pelo dinheiro do Thales; mas ela quer
mesmo é me mamar, só estou instigando, por enquanto.
Preciso de cautela em cada passo, é ela quem devo direcionar todo meu
ódio pela morte da minha mãe, pela perda da minha família, inflamando meu
brio a não desistir da minha justiça.
Minha sede de vingança e ira tisnam como gasolina perto de chamas
toda vez que os vejo nessa casa pretensamente felizes.
Eu me aproximo furtivamente do escritório de Thales, movido por uma
irresistível vontade de atiçá-lo. Ali, entre os porta-retratos cuidadosamente
dispostos, minha atenção é capturada por uma de Ísis.
A enteada do meu pai está bem gostosa na fotografia que pego, não me
espanta o crápula nojento do Thales ter escolhido justamente essa para
enfeitar seu escritório, uma em que ela está usando um longo vestido rosa, a
princesinha está super apetitosa.
No rosto, grandes óculos de sol violetas, realçando seu charme com a
ponta do nariz coberta de protetor solar, seu sorriso revela a alegria
eternizada nesse clique.
Na foto, Ísis está em frente à piscina, a luz do sol pintando sua pele
com tons amarelados, uma bola de qualquer cartoon sendo lançada para o
alto, imortalizando o momento de diversão e... inocência.
Enquanto meu olhar percorre os detalhes da fotografia, minha mente se
enche de imaginações que irritam meu pau, ao visualizar suas curvas, como
seu corpo se contorce ao lançar a bola, a elegância de seus movimentos.
Sempre tive o desejo perverso de saber como ela é na cama, será que
meu pai poderia me dizer?
Ísis pode ser uma promessa de prazer inexplorado, um convite para
uma noite excitante de sexo, porém, não me passa despercebido não haver
um retrato meu, muito menos da minha mãe. Só da puta de Vivian que vai
traí-lo comigo, a foto deles de casamento, disposta ao seu lado no
computador.
Finalmente Thales nota minha presença:
— Deixa a foto onde estava e me diz o que você quer. — olhos ainda
vidrados em documentos no computador, escoro perto da foto de Ísis,
devolvendo o porta-retrato no lugar.
Rio com escárnio:
— Uma BMW pra sua enteada? — ele vira os olhos para mim,
franzindo a testa.
— A menina passou em primeiro lugar numa federal no curso de
psicologia. — volta a atenção à tela do computador. — diferente de você que
foi preso quantas vezes, Liam? Três? Quatro? Ou melhor, vamos falar do seu
recente envolvimento com gangues, filho? Até aqui?
Eu pego a cadeira pelo recosto, virando-a, me sentando de pernas
abertas em frente a ele:
— Hm, mas antes flores, pra enteada? — meu pai expira, batendo os
dedos nervosamente na mesa, arrumando as costas.
— Gentileza, são as flores favoritas dela, aquelas lilases, filho, que
implicância! — grunhe, coçando a barba perfeitamente aparada. — Vivian foi
para o salão de beleza, se ela pega a gente falando sobre essa bobagem achará
estranho e...
— Thales, Thales, você acha que vai enganar mais quem? — parece
que ganho sua atenção, ele para de digitar, cruzando os dedos.
— Do que está falando, meu filho? — seus dentes rangem, seu ódio
aumenta, sei que desperto esse sentimento nele, pisco faceiro, colocando
meus cotovelos sobre a mesa impecável na organização, limpa e lustrosa.
— Você e Ísis, porra! Tá tão na cara, Vivian só finge que não vê —
cruzo os braços atrás da cabeça. — ou Ísis.
— Liam, que absurdo! — sabia, ele se entrega tão fácil, fico mais
interessado em saber o caminho da conversa, vou dar corda para esse
pervertido filha da puta.
— Já comeu?
— Você está louco, ela é como se fosse minha filha! — os olhos dele
faíscam, levantando-se, andando pelo escritório, tentando pensar em um jeito
de me tirar daqui, mas sou mais rápido.
— Ela é virgem ainda?
— O que me interessa é que ela passou em primeiro lugar. — insiste,
mas sinto o vacilo em sua voz — quis recompensar.
— Quando vai contar a Vivian que quer a novinha? — meu pai segura
meu braço, seus olhos percorrem uma cicatriz que tenho ali.
Ele aponta o dedo na minha cara, não deixo por menos, encarando-o, a
tensão aumenta, ele bufa e o meu sorriso irrita-o ainda mais.
— Está passando dos limites da minha paciência com você, Liam.
Apanho uma bala de menta, interessante, Thales só tem balas de menta
quando está fumando, minha certeza é concretizada quando visualizo um
isqueiro no beiral da janela, imediatamente viro meus olhos para ele:
— E se eu conseguir ela primeiro? — pisco novamente, meu pai
avança, sua mão para a centímetros do meu rosto e eu quero muito que ele
me esbofeteie!
— Liam, qual o seu objetivo com tudo isso, porra, destruir meu
casamento?
Inflo meu peito, meu sorriso passa para a sombra mórbida da
perspectiva concreta que sim!
Sim, eu queria foder a mulher e o casamento dele, mas o mais
interessante é que não negou nada das minhas suspeitas!
Eu iria arrancar tudo de Thales, tudo, porém, ao tirar um amor eu o
destruiria pela base e só assim meu pai sentiria um pouco… apenas o
retrogosto de todo inferno que me fez passar.
Nessa tensão, o som plácido da campainha quebra nosso confronto,
ouvimos Ísis correr pela casa, chamando por uma amiga.
Meu pai desperta o desconhecido em mim, como um rugido do mal que
ecoa em quinas sombrias da minha existência, despertando o monstro em
mim.
Capítulo 3
Eu deveria estar mais feliz, acabei de passar no meu curso dos sonhos,
logo vou me mudar para uma república ou quitinete, viver uma vida legal e
não posso querer mais que isso, posso!?
Eu seguro um dos bichos de pelúcia da minha cama para aparar meu
choro.
Minha mãe preferiu ir ao cabeleireiro a comemorar comigo, ganhei um
carro e flores do meu padrasto, mas o filho dele me odeia e... é mútuo! É sim!
Tem que ser, meu namorado, ex, me traiu na viagem para Disney, imagina o
climão do final de semestre?
E aquele JP me chamar de “gatinha”, odeio ser a “gatinha” dele.
Não sou de ninguém!
Ouço Liam e João Pedro conversando animadamente, se aprontando
para sair e curtir as inúmeras baladas que essa cidade tem a oferecer.
Míriam mandou uma mensagem pedindo desculpas, mas que os pais e
os irmãos dela queriam sair para comemorar.
Ela chegou a me chamar, mas… não iria atrapalhá-los, eu tenho noção
do meu lugar, queria minha família, decido levantar e procurar algum
remédio da minha mãe para dormir.
Eu ando pelo corredor, passando pelo quarto de hóspedes onde Liam
bate papo com JP, furtivamente entro no quarto da minha mãe, procurando os
remédios na primeira gaveta e, assim que os encontro, a voz de Thales me
pega desprevenida.
— Tudo bem aí, Ísis? — ele está de roupão, fico imediatamente
vermelha, levando o frasco de medicamento para o bolso de trás da calça de
moletom, disfarçando com um “arrãm” não muito convincente.
— Seu pai mudou de número de novo. — ele diz, sorrindo,
caminhando até mim. — espera eu me trocar e já acho pra você, sua mãe
saiu, daqui a pouco a gente conversa, pode ser?
Afirmo, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo, extremamente
sem graça:
— Desculpa, Thales, eu vou pro meu quarto. — ele assente, assim que
saio, tranca a porta e, nesse momento, dou de cara com Liam e João Pedro,
não os olho, apenas passo por eles; JP segura meu braço, eu o encaro furiosa:
— Sai com a gente, gata. — meus olhos correm dele para Liam, que
está me encarando e, nossa, os músculos marcam a camisa social branca,
calças jeans rasgadas, mangas puxadas até os cotovelos, o cheiro marcante do
seu perfume.
— Não… acho que vou ficar em casa. — confronto, séria, João Pedro
vai dizer qualquer outra coisa, mas minha mãe vem subindo as escadas,
cabelo e unhas feitos, sacolas de roupas.
— Oi, João, oi Liam, vão ficar por aqui hoje? — não respondem.
Liam dá um murrinho amistoso no ombro do amigo, que larga meu
braço, ambos passam por ela sem dizer nada, descendo as escadas.
— Mãe, eu… — ela passa por mim, jogando algumas sacolas nos meus
braços, batendo a porta do seu quarto, chamando por Thales.
Volto para a minha cama, escondo a medicação, tirando apenas três
comprimidos, acabo não tomando, olhos estatelados no teto, nem vejo as
roupas que minha mãe trouxe para mim.
Vivian manda uma mensagem:
Nem pude falar com você direito, onde vai estar? Podemos nos ver
mais tarde.
Safada, maldita, assassina perigosa, a mãe de Ísis afeta o extremo
oposto que a filha, respondo:
Sem pressa.
O meu amigo olha para mim, eu falo baixo, intrigado:
— Reparou que Ísis e meu pai são próximos até demais? — tento dar
uma arrumada no meu cabelo com os dedos, João Pedro dá de ombros,
mirando a porta fechada.
— Ele meio que adotou a enteada, né? Tipo, você está pegando a sua
madrasta... e está meio, tipo, está se consolidando na gangue, além de, foda,
cara... — abaixa o olhar quando eu o olho de soslaio, criando uma tensão nas
suas próximas palavras — sua madrasta, parte da sua vingança?
Dou risada, para quebrar o clima tenso, calçando meus coturnos:
— Relaxa, tá tudo sob controle. — tenho a memória vívida do meu
passado, lembro como minha mãe sofreu quando meu pai nos deixou para
voltar ao Brasil para ficar com elas — até saí do exército.
João Pedro não faz ideia do que passei com a minha mãe, mas não é
obrigação dele; e, sim, exclusivamente do sádico do Thales e da puta da
Vivian.
— Vem. — chamo meu amigo — bora sair e descolar alguma foda,
hoje tô pro perigo.
Assim abro a porta da sala, meu pai desce correndo as escadas, me
chamando, tento ignorá-lo, mas Thales insiste, pegando meu ombro:
— João Pedro, Liam, leva a Ísis com vocês, acredita que — fala baixo,
pousando a mão no meu ombro —, o pai dela nem ligou? Vivian disse que
ele viajou e está incomunicável.
Sorrio incrédulo com o pedido:
— E eu com isso?
— E você com isso? — Thales retruca indignado — porra, Liam, dá
uma atenção à menina, vocês vão estudar na mesma universidade, até
porque…
— A menina ganhou uma BMW! — rio azedo, João Pedro fica como
um paspalho olhando de mim para Thales, sem reação — e o lugar que vou,
menores não entram, se é que entende.
Meu pai fala alguma coisa incompreensível, pede licença, vai até seu
escritório, volta com a carteira, abrindo-a, entregando seu cartão para mim.
Ora, ora, Ísis é tão importante assim para fazê-lo tirar o escorpião do
bolso?
O que ela tem?
A buceta de mel?
— Aqui, pega a quantia que achar necessária para os gastos de vocês e
filho, — pego o cartão, guardando no bolso de trás da minha calça — só dá
uma atenção a ela hoje, quem sabe não se dão bem? Apagando o passado.
Arrumo meu piercing do septo, João Pedro parado estava e parado
ficou, seguro o ombro de Thales:
— O que ela tem? Deveria sair com as próprias amig…
— Ah, o namoradinho dela parece que ficou com uma menina na
viagem para Disney, tadinha, ainda tem que encarar as provas finais do
colégio.
Eu deveria rir, juro que deveria rir… que imbecilidade mais imatura, o
namoradinho imbecil dela ficou com uma garota na viagem estúpida para a
Disney, mas não, não consigo rir e muito menos ficar colérico: “Um
namoradinho?” meu pai falou.
Desde quando Ísis tem idade para namorar?
— E quem deixou ela namorar? — não escolho as palavras que
simplesmente saem. — Quem é o fedelho que estava com ela?
João Pedro e meu pai se entreolham, não fazem ideia como estou puto,
minhas mãos em punho, aperto-as até sentir minhas unhas na minha palma…
Ísis namorando?
— É o Ricardinho da série dela. — meu pai justifica, João Pedro pede
para que eu inspire e expire contando de oito até zero, fazendo mímica com
as mãos, se ele não parar com essa merda, vou dar um murro em seus dentes.
Balbucio:
— Ri… Ricardinho? — como alguém com o apelido de “Ricardinho”
poderia sonhar em ter chances com a enteada do meu pai? — Que
Ricardinho?
Com certeza deve ser um desses garotos que sofreria tanto na minha
mão se voltasse à minha época de colégio, seu primeiro dia seria fedendo a
mijo, após enfiar sua cabeça numa privada usada.
No exército, no mínimo, eu o colocaria para limpar com a língua meus
coturnos, esmurraria com um soco inglês as suas bolas junto ao meu bando
— chego a imaginar a cena do porco guinchando em meio à lama, à minha
farda do exército.
— Ah, filho, já não sei. — justifica, arrumando a blusa do seu pijama.
— ele veio aqui uma ou duas…
— Espera, ele veio aqui? — coço a parte raspada do meu cabelo, puto.
— Você deixou ele vir aqui?
Meu pai olha seu celular, em seguida, cruza os braços:
— Não tô entendendo, Liam, qual o problema?
A vontade de esmurrar o tal Ricardinho aumenta quase me deixando
maluco, começo a pinçar meus jeans, tentando achar meu vape por meus
bolsos:
— Nada, porra, nada… chama ela lá.
Thales assente, abotoando o último botão da sua roupa brega de
dormir, olhando para João Pedro:
— Obrigado, JP. — tira um óculos de leitura, volta-o para outro bolso
da calça ridícula de seu pijama. — espero que pra você esteja tudo bem.
João Pedro quase se derrete, acho que esse merda é a fim do Thales, ele
amante do pai, eu da madrasta, bela dupla, nós dois, membros de gangue:
— Vai ser um prazer, seu Thales.
Meu pai sorri e chama por ela, João Pedro lança um sorriso estranho
para mim, abro os braços:
— Qual foi?
Ele sorri mais, levantando as mãos:
— Nada, Liam, nada, agora a gente tem que ir para um lugar que aceite
menores, nada dos caras por aqui, por enquanto.
— Foda-se, isso, você ouviu? Ricardinho… mano, Ri-car-dinho? —
João Pedro ri, colocando a mão na boca como se fosse mandar um beat, não o
entendo, tonto!
Expiro com vontade, querendo aparentar tédio, pego minha jaqueta
com alguns espinhos e uma arte que eu mesmo fiz na faculdade lá nos
Estados Unidos, é uma das minhas roupas favoritas e, bem, já que Ísis ainda
não dirige, nada de mais eu pegar o carro dela.
Talvez eu mesmo mande para o nosso desmanche particular, seria
interessante.
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Liam viajou para o Maranhão, eu o vejo no Instagram em cima de uma
prancha de surfe com uma vela de uns três metros, óculos escuros, tatuado,
cabelo moicano, um corpo sussurrando pecado em cada músculo tensionado
ao praticar o esporte.
Míriam tromba em mim, bloqueio a tela do celular instantaneamente.
— Mi, o que foi? — ela ri, segurando minhas apostilas e as colocando
na minha bolsa.
— Falei com a minha mãe da gente ver uma quitinete juntas, tipo —
balança os fartos cabelos, empurrando as minhas costas —, se você quiser,
claro! Ela já até tomou a liberdade de separar alguns apartamentos, Izzy, tipo,
vai ser tudebom!
Minha amiga vira meu rosto quando Ricardo passa por nós, a cara dele
ainda bastante inchada, nariz enfaixado, ele abaixa a cabeça quando o encaro,
quase correndo com os poucos colegas que sobraram.
— A gente precisa organizar o cronograma de estudos, eu já vi as
matérias que vou ter no site, além disso, seria importante ver se… — minha
amiga quase me derruba no chão ao me fazer parar abruptamente.
— Pega leve, Ísis! Vão ter festas, os garotos e mais festas, vai ser um
ano de muitas decisões. — sorri de maneira amistosa, me dando um abraço,
caminhando ao meu lado para a próxima aula —, você já passou em primeiro
lugar, quer ter um pouco o luxo de se divertir?
Eu tento, mastenho a impressão de que Liam, assim que voltar, vai
fazer uma entrada triunfal, isso não me sai da cabeça e se ele começar a pegar
no meu pé?
Nem o vi mais, quer dizer, depois daquela noite que eu acho que ele
me deu um beijo, simplesmente sumiu, só não entendo o porquê do
persistente mal humor da minha mãe em ainda perguntar sobre ele,
principiante o espanto dela ao dizer que ele poderia estar com alguém.
Como se isso me importasse.
Talvez eu devesse falar com João Pedro, só por desencargo dela. A
ideia não pode soar mais estúpida, entretanto.
Caminho já saudosa por esses corredores que me abrigaram por grande
parte da minha vida, já me sentindo nostálgica, sei que uma nova etapa está
prestes a começar.
Os rostos conhecidos dos meus colegas parecem diferentes, agora mais
maduros, distantes e frios.
Enquanto eles se preparam para os exames finais, eu me via imersa na
faculdade e não tem como negar que Liam ocupa maior parte dos meus
pensamentos.
— Ísis, por aqui! Aula de educação física, agora! — Míriam me chama
e aquece meu coração, ela sempre foi minha melhor amiga desde a infância, e
compartilhávamos sonhos e ambições em comum.
Durante toda a nossa trajetória escolar, nutrimos a esperança de que
poderíamos ingressar juntas na universidade. Agora, enquanto nos
preparamos para deixar esses corredores, tento dissipar minha inquietação e
focar em me despedir dos professores.
O possível beijo que Liam roubou, paira em minha mente, comento
distraída:
— Tomara que não seja vôlei. — busco disfarçar meus pensamentos
mais profundos. Minha amiga concorda, embora sinta o entusiasmo em sua
voz.
Ela não compartilha meu sentimento de incerteza em relação ao futuro.
Enquanto seguimos em direção à quadra de Educação Física, o ambiente se
enche de alunos, a tensão se mistura ao ar de despedida à medida que nos
aproximamos dos últimos momentos juntos como estudantes do ensino
médio.
Eu respiro fundo essa quadra, decidida a aproveitar ao máximo o
tempo que ainda me resta aqui.
Ouço na entrada da quadra, algumas meninas comentando: “Ah, é ela a
ex-namorada do Ricardinho?”, “Foi ela quem estava com aquele gato na
balada da Faria Lima?”, “É essa a menina que causou a confusão toda?”.
Não era vôlei; e sim, fofoca.
— Professor, a Sis não vai ver aula hoje. — olho para trás e me deparo
com Ricardinho junto de uns três garotos, braços cruzados, perto do portão da
quadra.
O professor Gerson me parabeniza rapidamente pelo primeiro lugar no
vestibular e assente à demanda do meu ex-namorado, tocando meu braço:
— Melhor vir comigo, Ísis.
Míriam segura minhas coisas:
— Izzy, me chama se precisar. — ela se dirige a ele. — A gente
almoça juntas, nem pense em qualquer maldade.
Afirmo, olhando para Ricardo:
— Ok, vamos perto da piscina acabar logo com isso?
Ele coça o rosto, perto do nariz, chega a me dar agonia, abaixo a
cabeça acompanhando-o, fosse o que fosse, quero terminar logo com tudo
isso.
Corro para fora da escola, tentando avistar Liam e não é difícil vê-lo,
está mais moreno, cabelo ao vento, óculos de sol, braços cruzados frente a
sua pick-up, assim que me vê, dá um impulso com o pé na lataria,
caminhando até mim.
— Thales e sua mãe pediram para que eu te levasse na imobiliária para
ver a sua quitinete. — curva os lábios num sorriso torto. — Tudo bem?
— Você sumiu… — reclamo, segurando meu material, ele sorri para
mim.
— Se disser que sentiu minha falta, vou ter que te levar no pronto-
socorro ao invés da imobiliária. — abaixo a cabeça, olhando rapidamente
para trás, era um adeus, eu não iria para a festa de formatura do terceirão,
Liam joga seu braço sobre meus ombros.
— Como foi no Maranhão? — pergunto, querendo saber se ficou com
alguém, ele não responde, apenas abre a porta para mim, aproveito para
mandar uma mensagem para Míriam, contando que irei almoçar com Liam.
— Você tá trabalhando por aqui? — pergunto, após colocar o cinto,
lendo alguns grupos no WhatsApp, Liam olha para mim, tirando os ósculos
escuros, jogando-os no painel.
— Claro, trabalho desde novo. — esterça para a direita, depois para a
esquerda, parando no semáforo. — O que vai querer almoçar?
Dou de ombros, Ricardo manda uma mensagem, avisando que gostaria
de se encontrar para um adeus, mas eu o bloqueio.
— Tem um restaurante perto da pracinha que tem um bufê bem
variado. — comento, vejo que seus olhos estão no meu celular, esclareço. —
Acabo de bloquear o Ricardo.
Liam volta sua atenção ao trânsito sem responder, reparo que seus
olhos estão ainda mais verdes, a impressão que tenho é que a cor de suas íris
são como folhagem praiana.
— E a Bárbara? — insinuo, tentando parecer despretensiosa. — Ela foi
com você e o João Pedro?
Liam cruza o caminho de dois carros que buzinam, cantando pneu,
entrando por uma viela atrás da praça, me assusto, colocando a mão no peito,
ele estaciona atrás de outra caminhonete.
— Não estou mais saindo com ela. — diz na maior calma, sem se
situar no caos que deixou para trás, preciso de alguns segundos para me
recompor, sinto meu pulso acelerado.
Liam bate na carroceria, mandando eu sair, eu o faço, antes deixo meu
material no banco, pulando para o chão atrás dele, que não me espera,
entrando no restaurante, indo lavar a mão e pegando um prato.
— Credo… morto de fome. — resmungo baixinho, indo até o
banheiro, lavando minhas mãos, o rosto, dando uma boa espreguiçada,
pensando se já tinha dado tchau para todos os professores.
Depois caminho até o bufê, pego o prato, talheres e escolho salada,
frango, um pouco de purê de abóbora, olho para ele que me espera ao lado da
balança e de olho em seu celular, mordo o lábio inferior, o que ele estaria
vendo?
— Boa tarde, Ísis, vai marcar hoje? — a atendente pergunta, nego com
a cabeça, respondendo:
— Não, então… eu passei no vestibular e acho que a minha frequência
por aqui vai cair. — ela sorri, desejando boa sorte e parabéns, mas vejo seu
olhar despir Liam, só fico feliz que ele não retribua os olhares gulosos.
— Fica à vontade. — ela diz, piscando para ele, que a ignora,
sentando-se em uma mesa e praticamente jogando o prato, procurando um
suco no cardápio.
— Então, o que você quer? — ele pergunta, dando uma boa bocada em
um pedaço de carne.
— Eu? Hm… acho que um quarto, cozinha e... — Liam solta os
talheres, cobrindo a boca, rindo feito um doido.
— Não, garota, tô falando para beber! — bate a mão na mesa, atraindo
olhares curiosos para nós, eu me retraio, vermelha no mesmo instante.
— Ah, acho que um suco de laranja.
— Dois. — olha para a atendente que vem toda alvoraçada pegar os
pedidos.
Eu fico meio envergonhada para comer na frente dele, sei lá,
subitamente parece que perco a fome, apoio minha cabeça na mão, fazendo
voltas no purê com a faca.
— Vai ficar perguntando para a comida se ela quer ou não ser seu
almoço, olha, se não está com fome, passa pra cá! — seus dedos seguram
meu prato, instintivamente eu o seguro.
— Que coisa, já vou comer! — não mensuro o tanto de purê que
coloco na boca, que fica cheia, encaro-o — Feliz?
Aparentando satisfação, responde:
— Sim, muito, agora parece o Fofão com essas bochechas estufadas,
come como uma mocinha! — ignoro o comentário ao avistar os sucos, a
garçonete os apoia na mesa, observo um pedaço de papel com um número de
telefone, tenho que me controlar para não deixar meu queixo despencar.
— Meu Whats, me chama depois. — diz para Liam, dando uma
piscadinha, depois passa a mão na minha cabeça — Parabéns de novo, Ísis.
Que abusada, Liam embola o papel e coloca no bolso da calça jeans
rasgada.
— Vai ligar? — tento parecer indiferente, ele me observa por alguns
segundos, dando de ombros.
— Talvez, sei lá. — olha para a bunda rebolando dela com alguns
pedidos pelo salão, se já estava arrependida de vir para cá, agora estou muito
muito muito mais.
— O Ricardo veio falar comigo hoje. — tento chamar sua atenção, ele
ri, rolando os olhos.
— E?
— E eu fui falar com ele, oras! — será que ele não se importa mesmo e
estou fazendo papel de boba? Por que quero tanto chamar a atenção dele?
Sinto uma pontada em meu peito pela sua indiferença, e se eu perdoasse o
Ricardinho e voltasse?
Por que sequer estou cogitando essa possibilidade estúpida?
— Hm. — responde, eu fico mais do que frustrada, terminamos o
almoço em silêncio, Liam antes de pagar a conta troca alguns olhares com a
garçonete, vou até a geladeira de sorvetes e pego o mais caro também.
— Não esquece desse! — mostro para que ela o passe na comanda,
Liam ralha:
— Ah, Ísis, vai sujar o banco! — a garçonete ri e sou eu que quero
esmurrá-la por isso.
— Que fofo, vocês realmente parecem irmãos, Ísis disse que o filho do
padrasto estaria vindo dos Estados Unidos para cá. — abelhuda, Liam olha
para mim, dando um cascudo na minha cabeça.
— É uma mimada! — ele diz rindo, vou protestar, a mulher concorda.
— É, sim, ela sempre vem com uma amiga, acho que é Míriam. —
desde quando ela fala da minha vida para os outros e ainda me chama de
mimada?
Pego meu celular, minha mãe manda mensagem, pedindo para que eu
ligue para ela antes de tomar qualquer decisão sozinha e, no momento
seguinte, estou furiosa.
— Não sou mimada, não. — protesto, deixando, sem querer, o sorvete
melar a minha mão. — Aliás, como filha do dono da rede de restaurantes,
você não deveria dar papelzinho com seu Whats para os clientes.
Alfineto, sentindo o gosto glorioso da cutucada, porém, os dois riem de
mim, Liam pega alguns guardanapos e limpa meus dedos.
— Não liga, está bravinha hoje. — me conduz para fora, sussurrando.
— o que foi isso, garota? Perdeu os modos?
Eu mostro a língua para ele, terminando rapidamente o sorvete, antes
de dar a última lambida, Liam o abocanha, pegando o palitinho de mim.
— Deu mole… — empurro-o, ele ri, abrindo a porta para mim,
finalmente relaxo quando ele joga o papel de seu bolso, contendo o número
dela, na lixeira na calçada.
Capítulo 7
Eu fico esperando por eles, mas demoram uma eternidade, não vou
ficar sozinha aqui sem fazer nada, procuro a chave reserva por todo lugar até
encontrar, peço um Uber para, pelo menos, conhecer a cidade nova —
mesmo sendo perto da minha —, não custaria passear pelo shopping daqui,
comer em algum lugar, comprar uma roupa nova para meu aniversário
amanhã e, se der, pegar um filminho.
Escolho um vestidinho balonê bege claro, caimento bonito, maquiagem
mais marcada nos olhos e um batom nude.
Assim que o Uber chega, termino de vestir minhas rasteirinhas, desço
rapidamente, guardando a chave reserva na bolsa.
Confiro o motorista, o carro, entrando e arrumando a saia do vestido, o
condutor é silencioso e agradeço por isso, já que não estou a fim de
conversar.
Liam deu um nó na minha cabeça com o seu beijo, percorro os olhos
pela paisagem, ansiosa, não entendo o porquê dessa aflição perturbadora.
Capítulo 8
Depois do filme, vou até o segundo andar ver alguns vestidos, confesso
que nem prestei muita atenção no que assistia tamanha minha confusão, olho
sem tanto interesse as vitrines, quando sinto um abraço eufórico atrás de
mim:
— IZZY! AH! — vejo Míriam cheia de sacolas nas mãos, viro,
abraçando-a.
— Mí, que saudade! — inalo o perfume gostoso que usa, minha amiga
faz eu dar uma voltinha para me analisar.
— A chata da sua mãe nem quis ouvir a proposta da minha, da gente
morar juntos, acredita? — assim que vou falar alguma coisa, vejo Bárbara
saindo de uma loja com outras garotas, vou comentar com a minha amiga,
mas Míriam se precipita, arrastando Bárbara até a gente.
— Essa é a Babi, Ísis, a gente tá morando na mesma república! Legal,
né? — minha boca amarga.
Bárbara toma a frente, me cumprimentando:
— Eu já conhecia ela, você é a irmãzinha do Liam, não é?
Míriam escancara uma sonora gargalhada, negando:
— Não, de jeito nenhum, o pai do Liam é casado com a mãe da Ísis,
mas os dois nunca foram muito com a cara um do outro. — uma amiga da
Bárbara puxa assunto com Míriam, deixando-nos num climão.
— Acho que eu já te vi. — Babi comenta, pegando um espelhinho da
sua bolsa prata. — Na balada, não foi? — retoca o batom, escova as
sobrancelhas.
O tom blasé com que fala só pode ser algum tipo de provocação ou o
ciúme alucinado que bate no meu peito, tento pegar meu celular, que estava
no modo avião devido ao filme, mas sou impedida por Bárbara que pede para
que eu veja se seu absorvente não está marcando a sua calça jeans.
— Ísis, vamos numa baladinha? — Míriam volta a sua atenção para
mim.
Bárbara dá uns pulinhos ao redor da minha amiga:
— Ah, Mí, a baladinha era segredo! Droga! Assim a gente vai ter que
convidar todo mundo!
Minha amiga junta as mãos em oração:
— Ah, desculpa, Babi, mas a Izzy é novata na faculdade também e
acho que seria, tipo, incrível se ela fosse!
Não quero encrenca, sorrio de maneira mais forçada possível, Míriam é
minha melhor amiga, mas é super invasiva com relação às festas, decisões e
rolês, seguro firme a alça da minha bolsa, como se pudesse fugir dali
magicamente.
— Gente, não quero estragar o rolê de vocês não e...
Míriam ignora a colega, pegando as minhas mãos, enlaçando nossos
dedos, dando mais uns pulinhos, quase esganando:
— Besteira! Amanhã é seu aniversário, nada mais justo que venha com
a gente, certo colega?
Bárbara nos olha estranho, em rodinha com as amigas, Míriam pede
para que eu vá junto, as colegas concordam, mas acho uma ideia horrível,
péssima, pavorosa, não… eu queria ir para a minha casa e ficar em paz.
Bárbara recosta a cabeça no meu ombro, sussurrando:
— Tem medo de festinha com gangues?
Quero berrar que sim, que nunca pensei em ter contato com essas
pessoas, mas com todos me olhando de modo tão intimidador faço que “não”
com a cabeça.
As amigas de Bárbara não têm amor à vida, a garota corre tanto pelas
ruas que simplesmente não sei quantas infrações de trânsito cometeu.
Míriam grita para a rua com as janelas abertas, há algumas bebidas
rolando em garrafas pelo chão do carro, falar que me arrependi no momento
que disse que iria é pouco, estou absolutamente apavorada.
— Relaxa, Izzy, as meninas são meio doidinhas, mas são gente boa! —
Míriam grita no meu ouvido, competindo com a música alta do carro, não
ouso respirar, estou morrendo de medo de tirar os olhos da garota ao volante.
— É Izzy, relaxa, aliás… relaxa muito, porque a gente tá indo num
lugar e tanto! — Bárbara fala, as garotas riem, lembro de olhar o celular e me
deparo com uma mensagem do meu pai e de João Pedro, não leio nenhuma
delas.
O que eu esperava? Uma mensagem de Liam? Nem na minha
imaginação, entramos pela via de acesso nos limites da cidade, minha
ansiedade crescendo.
Entendo que preciso viver mais, ir às festas, me enturmar, mas não
assim, observo Míriam, sua agitação contagiante, balançando os braços ao
som da música, sua facilidade em fazer amigos, a bebida alcoólica sendo
absorvida pelos seus lábios, a risada, a comunicação, Míriam é tão
espontânea, vive o agora, sempre admirei isso nela.
— É aqui, vira, vira! — grita Bárbara e outra garota ao lado da Míriam,
vejo uma espécie de… barracão? É um barracão gourmet, eu acho, há luzes,
música, tipo uma balada ao lado da estrada, fora da cidade.
— Aquilo é fumaça? — pergunto a Míriam.
Míriam quem responde:
— Acho que sim! Nossa, vai ser uma noite incrível, quando der meia-
noite a gente pode pedir pra todo mundo parar e cantar parabéns.
Minha barriga dá voltas, meus lábios estão ressecados, minhas mãos
frias, não sei o que me dá, acho que fora Míriam, já teria aberto a porta desse
carro e saído correndo daqui, que encrenca eu iria me meter.
Alguns carros importados, rebaixados, esportivos fazem derrapagens,
a terra levanta em nuvens densas em cada veículo que acelera, passando por
faixas improvisadas.
Há mulheres com roupas curtas, rapazes sem camisa, uma delas está
com o que parece ser uma arma, dando a partida acelerando pelo circuito.
É realmente um Racha.
— Onde estamos? — pergunto, tentando não parecer nervosa, mesmo
estando aterrorizada!
Sou ignorada, ninguém percebe, espero, já que Míriam assovia alto, se
jogando no meu colo, abrindo a janela do carro da amiga da Bárbara:
— Vai ser épico, Izzy! — Míriam exclama esbaforida.
O carro é estacionado, as bebidas tiradas do porta-malas, somos
recepcionadas por espectadores do Racha, uma pequena multidão torcendo,
rindo, bebendo, curtindo uma música gostosa que ressoa até o solo.
Desço, alguns rapazes nos recepcionam, fico atrás da Mi — Bárbara e
as amigas se enturmam rápido, acho que já os conhece —, Míriam não fica
por menos, me rebocando. Bárbara grita para ser ouvida, gesticulando
excessivamente as mãos:
— Aquela ali está fazendo aniversário, falando nisso, Hugo, você tá
gatinho, hein? — o garoto com quem fala é alto, esguio, boné, cavanhaque,
um jeito ardiloso, sem esperá-la terminar de falar, ele a beija quase sugando
sua garganta.
Míriam e eu vamos para alguns feixes de luz dançar, curtir a música,
ela pega dois copos descaráveis de cerveja:
— Bebe, Izzy, aproveita! — sorrio, bebericando pouco, cerveja amarga
a minha boca, o amargor e o gelado não caem muito bem, mas não quero que
vejam eu fazendo cara feia, afinal, nem paguei para estar ali.
Decido por beber tudo de uma vez, grande erro, Míriam faz um grande
estardalhaço, pegando mais dois copos, caramba… não quero, continuo
dançando, segurando o copo, enrolando para beber, até que o vejo.
Que dor de cabeça, minhas pálpebras doem, minha boca seca, meus
lábios rachados e eu com a mesma roupa, ouço Liam conversando com a
minha mãe?
— Vivian, que porra! Já disse que tô na casa dela, merda, quer focar
um pouco no que eu tô dizendo? Diz ao Thales que ela não precisa de carro
aqui, caralhos! — os palavrões me incomodam um pouco, minha mão
vagueia para meu celular, algumas mensagens da Míriam.
Míriam, festa, ontem eu dançando…
Eu me sento na cama… como vim parar aqui? Forço minha memória,
mas só vem flashes na minha cabeça, minha boca amarga, sensação bizarra,
levantando da cama murmurando:
— Nunca mais vou beber…
— Primeira mentira que se fala depois do primeiro porre.
Levanto os olhos, Liam está sem camisa, cabelos lavados, apoiado com
o braço no batente da porta.
Reparo melhor em suas tatuagens, uma em sua costela com a frase:
“From blood we came to this world, by the blood we perish into it.”; “Do
sangue viemos a esse mundo, do sangue padecemos nele”, letra cursiva,
bonita em sua pele branca.
— É sério! — exclamo, ele estende um remédio, acho que é
ibuprofeno, um copo de água de coco, sentando-se ao meu lado, engulo o
remédio quase no seco, meus olhos espichados nele, Deus, que homem lindo.
Engasgo pensando na cena dele com a Bárbara, af! A Bárbara! Começo
a tossir feito uma doida, Liam ri, depois se preocupa, dando tapinhas em
minhas costas:
— Respira, garota, que merda! — ralha como se a culpa fosse minha,
tusso novamente, Liam se põe à minha frente. — Que susto, Ísis, porra!
Eu o encaro, meus olhos ainda embaçados pelo excesso de tosse, apoio
minhas mãos em suas coxas, sentindo uma moleza extrema pelo meu corpo,
parece que estou desidratada há séculos:
— Sabia que lá tinham gangues e Rachas, Liam? — fungo, baixinho.
— São pessoas perigosas, não são? Cuidado para não ser preso de novo!
Ele tira as minhas mãos das suas pernas, me jogando na cama:
— Vá à merda, garota!
Eu me zango, levantando e o ignorando, decidindo procurar minha
toalha, desesperada por um banho quente que aplaque a minha dor de cabeça
juntamente aos palavrões, à cena dele sem camisa, seus beijos, seu toque,
quero lavar Liam de mim.
Agarro a toalha, ele vem atrás, reclamando de qualquer coisa, parece
um chato chamando a minha atenção:
— Sai, Liam, já salvou a minha vida, feliz? — quando vou fechar a
porta do banheiro em sua cara, ele impede, colocando o pezão no batente,
segurando meu punho:
— Bebendo daquele jeito poderia estar morta! — vocifera, não entendo
o porquê desse espanto todo, ele força a entrada ao banheiro. — Acho que eu
ir a uma ou duas festas perigosas são passáveis, sua princesinha mimada!
— Ah garoto, vaza! — seus olhos ganham um tom mais escuro de
verde, balanço o braço para que me solte, ele segura mais forte.
— Da próxima, fica sozinha em qualquer lugar de merda, então! —
tento empurrá-lo para fora, forçando a porta, porém ele é muito mais forte e
permanece irredutível, caçoando. — Que foi, princesinha, o vândalo está
vandalizando demais?
— Me deixa, Liam! Vá para a sua festa com Rachas, gangues e... com
gente babaca e... com o Hugo e com a Bárbara, não me importo! — puxo a
porta mais uma vez, com a força que impomos, a maçaneta quebra, eu me
estatelo no chão do banheiro.
— Caralho, Ísis, você tá bem? Mano…
Eu bato de bunda no chão frio, o vestido rasga, que droga, era novinho!
— Você sempre faz isso, não? Destroça tudo que toca! — grito, irada.
Liam se debruça, ainda tento me recompor, seus olhos clareiam em
alguns tons, ele parece que dirá alguma coisa, mas se cala, dando um murro
na porta, ouço suas botinas tilintarem, saio atrás dele, que me mira:
— Eu não sou nada bom para você, Ísis, faça um favor a si mesma e se
mantenha bem longe de mim! — agarra seus óculos escuros sobre a mesinha
de cabeceira, carteira e celular, marchando pelo apartamento.
Seu passo pesado sobre o chão, seu charme ao mexer no cabelo, corro
para segurar em seu braço musculoso.
— Liam, desculpe, é meu aniversário, fica. — seu semblante não se
abranda, de preocupado a entediado se passam segundos, ele levanta os
ombros, buscando outra toalha, jogando-a em mim.
— Tá, tanto faz, toma logo essa porra de banho que eu te levo pra
almoçar ou algo assim. — pulo para dar um beijo em seu rosto, ele cruza os
braços, fazendo a habitual a cara de azedo.
— Ok, só separa meus jeans e a blusinha floral? — Liam ergue uma
sobrancelha, enquanto corro para o banheiro, ouço-o gritando do quarto.
— Que merda é essa de blusinha floral, garota?
Mais uma semana tão exaustiva quanto qualquer outra, algumas provas
já foram anunciadas, estou tão fatigada que mal tive condições de correr por
esses dias, felizmente o final de semana vem com uma promessa de estudos
na casa do Diego.
Ele se prontificou a dar um super aulão sobre as matérias recentes,
dando um baita fôlego em bibliografia, artigos e recomendando livros, o
rapaz é um gênio da psicologia aplicada em recursos humanos e um grande
entusiasta da filosofia, o mérito de Lacan, foi em conferir consistência
filosófica em nome da necessidade de se pensar o inconsciente.
Eu me aproximo de Míriam que oferece uma carona:
— Izzy, você não foi em nenhuma festa, nem nada, claro que adoro
ficar com você, mas a gente tem que sair! — sei que tenho entediado minha
amiga durante esse tempo, enlaço meu braço ao dela, caminhando para o
restaurante universitário.
— Hoje eu tenho um grupo de reunião de estudo, vamos? — ela faz
cara feia, emendo, sorrindo —. depois Diego e os amigos vão pra um
barzinho!
Míriam se anima, comentando sobre qual roupa quer se vestir, olho
meu celular pela milésima vez, esperando algum contato de Liam, porém, não
há nada.
Capítulo 12
Depois que Míriam se foi, ainda bem, não suportava mais essa garota
defendendo Diego, eu me sento com João Pedro, falei sobre as possibilidades
de plano para se vingar de Júnior, ele retoma a história mais afundo.
— O filha da puta começou a “namorar” — faz aspas com os dedos —
a minha irmã com dez anos, Liam, não posso descrever como tudo deu
errado, ele tinha quase dezessete anos, a lei isentou ele, tá ligado?
Eu sei qual era a sensação, Vivian me olhava estranho desde os
quatorze quando abusou de mim a primeira vez, fiquei muito chocado, mas
como iniciei minha vida sexual muito cedo, não via problemas, mesmo ela
sendo casada com o meu pai.
Foi terrível, senti nojo de mim, dela, de Thales e só aos dezesseis pude
colocar em mente o quão fodido aquilo era, um homem que fica de pau duro
não, necessariamente, está a fim de trepar.
Assim como orgasmo feminino pode ser causado por estímulos que ela
não goste, para nós, homens, é mais ou menos a mesma parada; com a
diferença gritante da irmã de João Pedro ter somente dez anos e o filha da
puta não ter pagado o que fez.
— Sobre pedir a Sávio e Ramon, o que acha? — pergunto sem
meandros, apoiando meus cotovelos sobre a minha coxa, olhando as cartelas
e frascos do remédio que Ísis estava usando.
— A parada, Liam, é que ele faz isso com outras crianças, o cara tem
material de pedofilia, deve conquistar crianças por redes sociais e tals é isso
que eu quero impedir, não importa os métodos.
— Então, vamos fazer o seguinte, você entra em contato com o Sávio e
o Ramon, vá no bar em que a gente viu eles, vão estar lá, diga qual é a
parada, tá ligado?
JP me agradece, nos despedimos e fico pensativo, o que leva uma
pessoa a escolher crianças?
A irmã de João Pedro nunca se recuperou do trauma, ela mora com os
avós no interior e constantemente tem crises, devendo ser assistida por
psiquiatras e psicólogos, por isso ele entrou na gangue de desmanche, para
ajudar a custear os tratamentos dela.
Eu fico com meus próprios pensamentos, quando vejo que o sol já está
alto, ouço os passos de Ísis pela casa, assim que ela me vê, paralisa onde está.
A minha camisa, a qual a veste, é larga para ela, deixando seu ombro à
mostra, está sem sutiã, as pernas nuas, pantufas e um rosto assustado.
— Liam? — pergunta, colocando a manga da camisa na boca — Já
voltou?
Aceno que sim, ela fica desconfortável olhando os remédios na
mesinha de centro, ergo uma sobrancelha, ela vacila, indo até eles para
guardá-los, seguro sua mão:
— Que merda é essa, Ísis?
Ela sorri, arrumando o cabelo atrás da orelha, deslizando as meias pelo
piso, toda descabelada, fazendo um fusquinha tímido com o nariz arrebitado
e, cacete, dessa maneira não podia estar mais bonita.
— Diego e Míriam ficaram chateados comigo, né?
Desvio o olhar, não quero demonstrar meu ciúmes pela preocupação
dela com Diego, dou de ombros:
— Preocupados, assim como eu — enfatizo o pronome, recostando
minhas costas no sofá — não é normal tomar remédios sem passar em um
médico.
Ísis sorri encabulada, mordendo o dedo, enquanto caminha para a
cozinha, servindo-se de um copo d’água:
— Hm, e fumar, pode?
Que cabeça dura, o que tem a ver uma coisa com outra, cacete? Olho-a,
negando com a cabeça:
— Você sabe que é diferente, merda.
Ísis não se convence, caminha com o copo até mim, batendo no vidro
com as unhas pintadas de roxo e adesivos de Hello Kitty:
— Diferente em que sentido? — toma um gole — Não deveria estar
preocupado comigo, já que sumiu, de novo.
Eu me estresso com essa garota, levanto, segurando-a pelo punho, as
correntes da minha calça tilintam, passo a mão na minha cabeça, irritado:
— Estou de volta quer queira quer não, agora, vem — conduzo-a até o
quarto — se troca, vou te levar para a faculdade — não há resistência —, no
caminho, tomamos café e você me atualiza de tudo.
Não foi um dia nada fácil, durante o café da manhã na padaria Ísis
relutava e esquivava para falar sobre os remédios, sondei como é o
relacionamento dela com a mãe.
Ísis respondeu evasiva, esquivando-se de se aprofundar em qualquer
assunto, dando de ombros e bufando, não me retornava em nada, somente
olhos marejados, tristes, os lábios trêmulos e mãos inquietas.
Resolvi não insistir, ainda.
Não fui para o apartamento com ela depois das aulas, decidi ir ao
barracão ver com João Pedro se Sávio ou Ramon deram uma resposta,
felizmente, meu palpite de que estivessem no bar deu certo.
Ramon, Greg, Jean e João Paulo me aguardavam com um plano, decidi
avisar Míriam para que ficasse com a amiga, felizmente esse já era o plano
dela, então relaxei um pouco quanto a isso.
Agora, já dei fim nos carros parados para que viessem novos, outros
modelos estavam sendo lançado, então, meu mercado esquentava.
No momento estou pagando com notas da minha carteira alguns
moleques que furtaram itens automobilísticos pelas ruas, mando-os vazarem,
em seguida, entro no pátio e os vejo sentados, comendo miojo.
— Tinha uns manolos ali pra entregar pneus e rádios de carro, porra.
— reclamo, tirando a camisa. — Deixam tudo pra mim? — me sento no sofá,
pegando meu celular.
— Foi mal, Liam, a gente tá aqui concentrado no plano. — Jean diz,
apontando para Sávio.
— A gente meio que concordou com algumas paradas, tá ligado? —
Greg chupa o caldo do miojo, fazendo um ruído desagradável.
Sávio se levanta, me cumprimentando com um aperto de mão.
— Liam — Sávio bate no meu ombro —, pela minha experiência na
cadeia, qualquer pedófilo — cospe no chão, enojado —, qualquer um que faz
mal a crianças, recebe uma punição do tribunal do crime cadeeiro, ou seja,
eles matam o cara lentamente, estuprando o sujeito, o cu do mano fica tão
largo que é possível enfiar uma garrafa pet de dois litros dentro.
João Pedro ri, colocando o prato de miojo no chão, ao lado de alguns
pneus, descansando as mãos na barriga, o brilho dos olhos do meu amigo
reluzem:
— Eu só quero que ele pague o que fez com a minha irmã, sério, quero
que quando a porra da polícia chegar no chiqueiro da casa dele, veja todo o
material! — quase esganiça, levantando, logo em seguida, para ir ao
banheiro.
Eu o conheço, ele quer ficar à sós com o próprio pensamento, pego um
cigarro, tragando longamente, baforo em meio ao silêncio perturbador, parece
que levei uma surra.
Sávio olha para Greg, Jean pega uma coca-cola, quase derrubando a
garrafa no chão, jogo a bituca no cinzeiro, acendendo meu VAPE.
Sávio inquire, coçando a barba rala:
— Liam, você conhece alguém que pode ser isca para o pedófilo? —
não o respondo, ele continua — eu manjo de algumas paradas de hackear
computadores. — acende um cigarro — Ramon é excelente em entrar na
deep web para pesquisar materiais e, claro, podemos arquitetar para flagrar o
cara e a mina até a casa dele, lá a gente surpreende, João Pedro tem a
vingança, a gente mata ele ou chama a polícia e pronto.
Eu bufo, olhando meus amigos, nenhum deles passaria por um menino
menor de idade, muito menos criança, Ísis está fora de cogitação, observo a
tatuagem de aranha preta e vermelha no pescoço de Sávio, o cara é liso, não
sei se confio.
Como se lesse meus pensamentos, Sávio se aproxima, tirando um
baseado do bolso:
— Confia em mim, posso dar um jeito nesse pedófilo, em troca,
podemos firmar minha entrada e a de Ramon no seu bando?
Eu tinha que dar um voto de confiança, pego a maconha de seus dedos,
tragando, afino meu olhar para a brasa da droga, dando um passo para a
frente:
— Sejam bem-vindos a essa porra, se quiser, traz seus bagulhos e se
aconchega por aqui — dou um chute nos tênis de Jean, Greg — hey, mostrem
pra ele esse chiqueiro.
Sávio ri, a aranha parece rir também, a marca vermelha no dorso, as
patas em estilo realista.
— Não quero me arrepender da minha decisão. — enfio as mãos nos
bolsos, está feito.
Eu os deixaria conversando agora, recebo uma mensagem de Thales,
pedindo que eu ligasse com certa urgência.
Que merda eu tinha feito agora?
Capítulo 15
Não estava nenhum pouco a fim de sair, mas sinto que devo isso a
Míriam que tão animadamente me ajuda a escolher uma saia pregada, blusa
de alças finas, saltos, maquiagem e espirra meu perfume em minha direção.
— Nossa, Diego é tão gato, Ísis, os cabelinhos de anjo, olho azul, o
sorriso, ele é quase tão bonito quanto o Liam! — suspira, esfregando os
punhos entre si para sentir o cheiro de outro perfume.
— Para de shipar a gente e, sério que a Bárbara quer falar com o Liam,
sobre o quê? — indago, curiosa, quase caindo para frente enquanto visto os
malditos saltos, esfregando meus lábios para espalhar o batom.
— Ah, a Bárbara é louca por ele, né? Tipo, é o tempo todo falando do
garoto, chega a cansar os ouvidos.
Eu mordo os lábios enciumada, afinal, eu e Liam não tínhamos
conversado direito e ontem tomei aqueles remédios e, enfim, todo aquele
transtorno.
— Espero que mais gatos estejam lá. — minha amiga me confidencia,
como ela ficou mais tempo na festa no galpão, acho que viu algum outro
amigo de Liam, minhas suspeitas se confirmam. — o Greg, o João Pedro e
aquele menino da barbicha são uns gostosos, você não acha?
Eu passo um gloss rapidamente, saindo, com Míriam quase me
atropelando para perguntar deles. Liam estende a mão para mim, mas temos
tanto o que conversar e não responderia por mim se sentisse o calor da sua
pele na minha.
Finjo não ver, enroscando meu braço ao de Míriam. O caminho para o
bar foi regado a Diego e Liam falando sobre potência de carro, música heavy
metal e um pouco do curso de ambos.
Míriam segura o meu ombro, cochichando:
— Acho que o Liam está sondando o seu futuro namorado. — viro os
olhos, mostrando a língua, respondendo:
— Ah, claro, só se estiverem competindo por você.
— Para de ser chata, Izzy. — minha amiga bufa. — Pensa se esses dois
homens estão disputando a sua mão, que romântico!
— Para! — protesto meio irritada, felizmente a discussão dos dois está
em qual banda de Metal é a melhor, Liam esterça o carro para estacionar.
— Até parece que você também está a fim de algum deles. — minha
amiga tenta fazer cosquinhas em mim, eu dou batidinhas com as palmas em
suas mãos ao som infantil de “cutie cutie” de Míriam.
— Por favor, Mi. — imploro quase sem fôlego, eu sei que sou meio
chata, na verdade, muito, não tenho a mesma desenvoltura ou carisma da
minha amiga, sei que sou retraída, ainda mais perto de Liam.
— Chegamos, meninas, espero que gostem da sugestão. — Diego diz,
enfim prestando atenção em nós. Mí para, quase saltando do carro, batendo
do meu lado da porta, implorando para que eu fosse logo.
O barzinho é uma gracinha, devo confessar, uma escolha impecável
por parte de Diego. A atmosfera é aconchegante envolvente e não há tanta
gente, é bem mais intimista.
Míriam corre para escolher a mesa, Liam e eu trocamos um segundo de
olhares, alguns garçons cumprimentam Diego. Liam olha por sobre o ombro
para mim, piscando, abaixo a cabeça.
— Aqui, gente! — Miriam bate na cadeira estofada em L, uns
lustrinhos baixos, bem fofo, criando um clima bem envolvente.
— Ótima escolha, Míriam — Diego diz, levantando a mão pedindo o
cardápio. Liam se senta ao lado dele de frente para Míriam, minha amiga ao
meu lado e eu de frente a Diego.
A trilha sonora do ambiente é boa, nada que atrapalhe uma conversas
descontraída. Assim que o cardápio passa pelas minhas mãos para que eu
faça minha escolha, sinto um roçar na minha perna, arrepio, olho para Diego
que está extremamente concentrado em explicar alguma coisa a Míriam, até
mirar Liam que sustenta um sorriso malicioso.
Ele indica com a cabeça as escadas perto dos banheiros.
Tento ignorá-lo, pedindo uma salada Caesar com frango e legumes, um
suco de laranja com morango, mas assim que o garçom termina de anotar
meu pedido, Liam sai da mesa, indo até a quina próxima às escadas, me
chamando com o dedo.
— Já volto. — informo, Míriam e Diego assentem.
Arrumo a minha saia, caminhando até Liam, que está com as mãos nos
bolsos ao pé da escada, sorrindo, pegando rapidamente meu punho e se
direcionando ao vão entre as escadas e o banheiro, sem me deixar dizer nada.
— Shhh. — faz com a boca, o dedo em frente aos meus lábios, me
conduzindo escadas acima.
Os poucos clientes estão animados, alguns dançam, outros riem e
contam piadas animadas, conversas preenchem o espaço.
— O que quer? — ralho, ele me prensa contra a parede, recostando ao
meu lado.
— Você não pode tomar aquelas merdas, Ísis. — antes que eu possa
protestar, sua mão invade minha saia, Liam puxa a calcinha no meio da
minha bunda, abaixando minha meia-calça. — Eu sei do que precisa.
— Sabe? — minha voz sai num sopro.
Liam afirma com a cabeça, levantando a calcinha mais para cima,
lambendo meus lábios.
— Você não precisa de alguém que te adore, Ísis, você precisa de
alguém que deixe seu corpo em chamas. — sua mão aperta meu seio, eu
acabo me rendendo, abraçando-o. — Não precisa de alguém que lamba o
chão que pisa, mas de um homem que beije seus pés. — sussurra.
Liam esfrega seu corpo ao meu, o piercing de sua língua passa com
vontade no meu pescoço, descendo até meu colo, levo um susto quando
chupa meu seio, o outro sendo apertado por sua mão.
— Já chega de moleques que querem a sua atenção, o que precisa é de
um homem que te faça perder o ar. — sua voz está grave, baixa, apertando a
minha coxa, deixo escapar um gemido, minhas mãos vão para o seu peito,
tento empurrá-lo, ele investe ainda mais.
— Não tem mais como negar que você quer tanto quanto eu, Ísis. —
fecho meus olhos, abrindo a boca, a língua dele me explora.
Liam encontra uma banqueta na parte de cima do bar, provavelmente
aqui é um depósito que em definitivo não poderíamos estar.
— O Céu é mais seguro — sua boca roça na minha coxa —, Morno —
a língua sobe, seguro seus cabelos —, Protegido, mas você, Ísis. — os olhos
dele me devoram, sinto o piercing tocar na minha buceta, jogo minhas costas
para trás — Você precisa do inseguro, do ardente, do desprotegido, você
precisa do inferno.
Seu hálito quente me invade, a música fica colorida, quando ele
começa a me chupar, meus saltos caem, meus pés ficam apoiados em suas
costas, que investem em mim.
Eu apoio minhas mãos no balcão abandonado, a ideia de alguém nos
ver é, Deus, é tão excitante! Minha pélvis obedece às investidas da sua boca,
sua língua entra em mim, me umedecendo ainda mais, quente, estou ardendo
em chamas dolorosamente deliciosas!
O cheiro colorido do sexo se alinha à minha visão, mordo os lábios,
segurando os cabelos indomáveis de Liam, que agarra minha bunda, o
barulho do sexo oral é inebriante.
— Ah, Liam! — gemo, uma de suas mãos força minha barriga a ir e
vir, o piercing dele no meu clitóris é um prazer que eu nunca imaginaria
sentir antes em minha vida. Liam sabe exatamente o efeito que causa em mim
sob a luz suave da lua entre as persianas.
— Geme meu nome. — manda, enquanto conversas animadas e trocas
de negócios promissoras acontecem no andar debaixo.
Eu sinto uma gota de suor serpentear minha espinha, meus pés fazem
peso, agora em seus ombros musculosos, forçando-o mais para dentro de
mim, até sentir seu dedo me penetrar.
— Ah, Liam, senti tanta falta… disso. — seu dedo entra e sai, sua
língua contorna meu clitóris com mais força, vou enlouquecer! Um gemido
mais alto escapa da minha boca.
— Assim, goza na minha boca ou não vamos sair daqui. — eu rebolo
um pouco mais rápido, golfando por ar, perdendo os sentidos
momentaneamente, meu ventre queima.
Meus músculos se contraem, o dedo dele ganha total liberdade no meu
canal, que o aperta, sinto o suor escorrer pelas minhas têmporas, meu coração
galopa.
— Liam! — chamo-o, urgente, sentindo que estou gozando com tanto
tesão, nunca senti algo assim, arfo tensa, tremendo, espasmando de desejo.
— Que delícia. — ele sorri, puxando meu cabelo, me beijando
forçosamente, gozo deliciosamente mais em seu dedo, vejo tudo sob minhas
pálpebras, a intensidade da música, os sons de risadas.
Nos separamos ainda nos encarando, minha boca aberta, seca, meu
peito subindo e descendo, olho por sob sua calça jeans, está duro, vivo, a
ereção é por mim, pelo que faz com meu corpo.
Eu pulo no chão, ainda sentindo as reverberações do orgasmo, me
lanço a seu encontro, minhas mãos estão ávidas para sentir a textura de um
homem, não, não de um homem, mas de Liam.
— Então, é o inferno que escolhe… — murmura, engolindo meu
sorriso, meus dedos transitam pelos pelinhos do seu abdômen até dentro do
jeans, as correntes tilintam.
Ele não me para.
Eu sinto o elástico da cueca box, o tecido na minha palma, por instinto,
lambo meus dedos, descendo, ficando de joelhos em frente a ele, meu corpo
queima em vergonha, excitação de querer impressioná-lo.
Só vejo os olhos verdes incandescentes me observando pela escuridão,
sim, eu escolheria o inferno infinitamente para tê-lo, sou completamente
apaixonada por ele.
O monstro em mim lateja, urrando para sair, assim como seu pau,
minha mão o envolve, meus dedos inexperientes englobam aquela rola
enorme, vejo que até lá é, sim, é tatuado, uma única palavra que faz com que
eu feche os olhos de prazer.
Monster.
Abro a boca, minha saliva quente, o pau invadindo meus lábios. Liam
enrola meus cabelos em sua mão com força, fazendo eu o olhar:
— Você quer me chupar, Ísis, no meio do bar? — ele enfia o pau na
minha boca, eu quase engasgo, a sensação é maravilhosa e estou maravilhada
com o tamanho quase absurdo!
Liam sempre me surpreende, meus instintos afloram, faço movimentos
de vai e vem com o corpo, uma leve queimação nas minhas bochechas e
músculos do rosto. Acho que nunca abri tanto a boca e nunca senti tanto
gosto em fazê-lo.
— Quero te chupar, Liam, no meio do bar. — provoco, usando a mão
para masturbá-lo, enquanto lágrimas caem dos meus olhos pelo esforço que
faço para manter aquele pau enorme em minha boca.
— Ah, Ísis, eu nunca mais vou te deixar. — afasto mais meus joelhos,
apoiando as mãos no chão, chupando-o com tanta vontade, como faria com
um enorme pirulito ou sorvete, não, isso é muito melhor.
Ele segura minha mão envolta dele, forçando uma masturbação quase
desesperada, faço de tudo para não raspar meus dentes em seu pau, engasgo,
me afasto, volto com mais empenho.
Liam me faz olhar para ele:
— É assim que tem me deixado, garota, é exatamente assim. — lambo
a cabeça em resposta, vendo a tatuagem, tão duro, as veias infladas, chego a
salivar de tesão.
A pressão que exerce na minha nuca é gostosa, quase dolorida, ele se
masturba na minha frente, sussurrando:
— Quer me ver gozar pra você, princesinha?
É a primeira vez que gosto de ouvir o apelido em sua boca, seus dentes
cerrados, seus olhos cheios de luxúria, o pau parece crescer ainda mais, sinto
o jato vir, em reflexo eu a tomo, sentindo-o quente, assim como o inferno.
Nunca poderia me sentir tão em paz.
Capítulo 18
Não era, nem de longe, o jeito que eu queria que terminasse a noite.
Eu pago a conta da mesa, meus olhos vidrados em Liam e Ísis, o cara a
consola, eu deveria estar lá e nem sei o que aconteceu.
— Ela sempre faz tudo ser sobre ela. — Míriam está bem chateada e eu
meio que entendo, sei o que é ficar em segundo plano.
— Você sabe que não é verdade. — respondo, abrindo o aplicativo da
UBER.
— É o Liam que fica fazendo a cabeça dela — então, tem mais alguém
que não gosta dele além de mim — tipo, a mãe dela nem quis que a gente
morasse juntas, aquela vaca, fui pra uma quitinete cheia de meninas que eu
sei que não gostam de mim e elas nunca estão a fim de sair comigo.
Eu acompanho o motorista no app; sei que é covarde da minha parte, já
que a garota está chateada e quase chorando ao meu lado, dizendo ser
figurante na vida da amiga, mas eu tenho que explorar isso ao meu favor.
— A mãe da Ísis é complicada? — Míriam se abraça, olhando para
trás, virando-se para frente, irritada.
— É, quando a gente era criança, a mãe dela chegou a insinuar, isso
meu pai falou pra mim, ok? — o olhar que me lança é intimidador, olhos
puxados de raposa, a franja negra caindo em sua pele branca — Que ela
deveria sair com amigos do padrasto.
A informação me choca, a mãe dela o quê? Engulo em seco, e o pai de
Ísis?
Resolvo falar alguma coisa:
— Que merda, Míriam, ela deve ter passado por poucas e boas, tem
certeza de que quer ir embora sem nem se acertarem? Posso cancelar a
corrida.
Míriam nega com a cabeça, logo O UBER chega, entramos e ficamos
em silêncio, na portaria, Míriam diz que vai pegar meu carro para uma
carona, demora um pouco para nos liberar, já que o porteiro tem que
consultar a lista das pessoas que são permitidas a entrar sem a ausência da
moradora.
Agradecemos o motorista, desço para pegar meu carro, Míriam segura
meu braço, me dando um beijo. Eu fico absolutamente paralisado, ela passa a
mão no meu rosto, vejo que fecha os olhos.
— Desculpa, Diggo, mas tô muito a fim de você, tipo, eu sei que falei
que shippava e muito você e a Izzy, mas eu não posso mais negar que sou eu
que estou muito a fim.
Não sei o que dizer, fico parado feito um imbecil, ela passa a mão na
franja:
— Tá a fim dela, não é? — os olhos dela me esquadrinham, expiro,
apoiando minha lombar no carro.
— Míriam, independente de eu estar ou não a fim, quero que vocês se
resolvam, Ísis ama você de verdade. — ela sorri, concordando, indo até o
lado do carona.
— O padrasto dela, é amigo do meu pai, Thales praticamente adotou a
Ísis. — entramos no carro, dou a partida, ela continua — Lembro que várias
vezes eu ia para a casa dela e Ísis chorava porque a mãe não dava atenção.
Eu fico em silêncio, deixando ela desabafar, olho de soslaio e vejo que
Ísis manda várias mensagens pedindo desculpas por Liam, mesmo o rapaz,
dessa vez, não tendo feito nada errado.
Míriam olha para mim, continuando sua narrativa:
— Thales enchia a gente de carinho, íamos ao shopping, víamos filme,
tomávamos sorvete e eu sentia uma certa inveja dela, sabe? — Míriam sorri
tristemente, dando de ombros — ser bonita, padrasto rico, todos os carinhas a
fim dela e mesmo assim, não querer nem sair à noite.
Ela bufa, talvez tentando culpar a amiga por algo, uma possível rixa,
observo que ela digita algo para Ísis, em seguida, me encara:
— Vê? Eu não tava tão enganada, afinal.
Capítulo 19
Eu fiquei tão ansioso essa semana que não posso nem acreditar que
amanhã já é o feriado que vou levar Ísis para acampar!
Eu brinco com Canela e Sazon, enquanto ouço as atualizações do
detetive particular:
Liam tinha sido preso por tantas coisas, é verdade que serviu ao
exército, que desenha bem e blá-blá-blá suas qualidades não me
interessavam, porém, há algo que ele disse que despertou o meu interesse
imediato:
— O senhor Ink Torres, faz parte de uma gangue de desmanche de
carros aqui no Brasil. — sinto minha garganta secar, uma euforia enorme
perambula minha espinha — Não só isso, ele é o líder.
Agradeço imensamente enquanto arrumo toda a minha roupa com
cuidado na mochila de viagens, vibrando com essas informações, pareço uma
criança em época de Natal, corro para o meu laptop mandando alguns e-mails
para a minha clínica.
— Então, senhor Barbosa, Liam tem grandes problemas até com a
polícia americana, e é membro de grupinho de desmanche? — rio sarcástico,
feliz, eu vou detoná-lo para Ísis, serei seu ombro amigo e mais.
— O menino é esperto — diz o detetive que parece tomar alguma
coisa —, faz caminhos diferentes para o barracão, me despistou algumas
tantas vezes. — ri, só não o critico pela falta de profissionalismo, porque ele
é amigo da minha mãe — Mas quem me deu tudo foi o outro moleque, João
Pedro, esse está com outros problemas e…
Fecho o zíper da mala, me certificando de ter pegado tudo, inclusive
um smoking para a festa de casamento do padrasto e mãe de Ísis.
— Com todo respeito, senhor Barbosa, não me interessa a vida do João
Pedro, você pode me mandar tudo por e-mail? — saio, escolhendo a
caminhonete híbrida Toyota Tundra cinco lugares, continuo ao telefone —
E… Liam tem tido encontros íntimos?
— Ele está morando com a mocinha, Ísis, não é? Os dois têm um
relacionamento. — mesmo sabendo, meu mundo vem abaixo, indago,
travando meus passos.
— E por que eles não assumem o relacionamento? — fico tenso, sinto
minha garganta fechar, meu estômago queima.
— Ele é membro de gangue, Diego, acredito que seja para proteger a
menina.
Rebato, frustrado, jogando minhas coisas na carroceira, fechando-a
num baque.
— Proteger, senhor Barbosa? — rio incrédulo — Ele não se importa
com ela, Liam só se importa consigo mesmo e com seus prazeres!
Ouço que o detetive digita algo, depois de alguns segundos, retorna:
— Está gostando muito dessa moça, não?
Não consigo negar, sei que pareço, sim, um maldito pervertido
stalkeador, contudo, meu silêncio é minha resposta e sentença.
Capítulo 23
Eu não queria ir.
Nunca gostei das festas de aniversário de casamento da minha mãe, me
trazem memórias infelizes, queria ter ficado, aproveitado esses dias junto a
Liam.
— Ísis, se quiser dormir, pode recostar o banco. — Diego se vira para
trás, sorrindo animado. Concordo com a cabeça, mirando-o.
— Obrigada. — respondo com meu cérebro fervendo nas batidas
melodiosas de Billie Elish. — Mas estou sem sono.
Ele sorri, tentando manter alguma conversa, tento incluir Míriam, já
que tem um crush no Diego, ela tinha me mandado uma mensagem pedindo
para ir na frente com ele.
Rememoro também minha conversa com Bárbara, por intermédio de
Míriam, falamos sobre os sentimentos dela por um bom tempo, então,
concordei em incentivar Liam a dialogar com ela.
— Espero que aqueles dois se acertem de uma vez! — exclama
Míriam, sorrindo, tocando nos braços e pernas de Diego que não está à
vontade com o toque dela.
Dou de ombros.
Fosse o que fosse o papo, eu não queria ter inimizade, muito menos
com mulheres.
— Ísis. — Diego me chama a atenção, tiro os fones. — Quando vai
tirar carta?
— Espero que o mais rápido possível. — rio genuinamente, lembrando
do carro que Thales me deu, penso em trazê-lo para cá, depois da festa.
Quinze minutos depois, Liam entra no carro, Bárbara corre para dentro
de casa, sem se despedir. Diego entende que pode partir sem maiores pausas,
morro de curiosidade, mando uma mensagem para Liam que não responde.
Na real, ele não queria ir também, mas Thales e minha mãe insistiram
tanto e ele ficou tão empolgados em saber que Míriam, João Pedro e mais um
amigo novo nos acompanharia que foi impossível negar.
Embora ele tenha tido mais uma de suas brigas homéricas com o pai,
vindo em minha direção, depois de desligar o celular, me beijando e alisando
como um louco, retribui na mesma intensidade.
Eu fico pensando como vai ser na casa da nossa família, nunca fomos
próximos, mas agora estamos juntos e vamos falar para Thales e minha mãe?
Vamos nos assumir como um casal?
Eu desperto com Liam dirigindo o carro de Diego, que está ao lado de
João Pedro que tenta manter um assunto qualquer com Míriam.
— Que bom que acordou, já chegamos. — Liam pisca para mim pelo
retrovisor, me espreguiço, olhando a cidade familiar, o centro movimentado
como sempre, as pessoas saindo do trabalho, o pôr-do-sol borrando as nuvens
de laranja.
Não era uma viagem longa, mas não lembrava de quanto era
desgastante, já que não tenho dormido devidamente esses últimos dias e o
cansaço bateu.
Olho meu celular, Liam respondeu minha mensagem.
Desde que me aceitou em sua vida, não quero mais ninguém, aliás, use
o vestido que te dei e sem calcinha.
Uma ardência começa desde o meio das minhas pernas até minhas
bochechas, guardo o celular, lembrando do vestido que ele me deu no meu
aniversário, eu pensei em usá-lo de qualquer forma, mas com calcinha.
Um pedido tão simples e tão depravado, Liam consegue ser sutil e sexy
sem esforços.
Ele é insaciável.
Primeiramente deixamos Míriam em casa, os pais dela vem me
cumprimentar, tenho que sair do veículo e fazer a social.
— Uma pena que sua mãe não quis que morassem juntas. — a mãe
dela lamenta, me dando um abraço, retribuo com carinho. — E aquele gato
dirigindo? É o Diego?
Míriam bate a mão no rosto, nós rimos, ela a corrige:
— Aquele é o Liam, mãe, o irmão postiço da Ísis. — a alcunha me
deixa um pouco desconfortável, irmã-postiça? Existia isso?
— Nossa, ele é lindo, bem, vamos entrando? Estou morrendo de
saudades. — a mãe dela conclui, conduzindo-a para dentro de casa com
carinho, volto para o carro invejando Míriam, a relação dela com a mãe é tão
bonita e sincera. Diferente da minha.
Depois deixamos João Pedro, que mora no mesmo bairro que eu antes
do divórcio dos meus pais. JP tem um pouco de vergonha de sua situação
financeira, lembro dele comentar sobre, mas Liam nunca se preocupou com
isso.
Acho que eles trabalham no mesmo lance de investimentos.
— Eu morava por aqui. — levanto o rosto vendo Liam e JP
conversando em frente à porta da casa dele. O cachorrinho de JP faz festa
para ele, quando abre o portão.
— Ah é? — Diego comenta, pelo tom de sua voz denota curiosidade,
me incentivando a falar mais.
— Sim, minha família não é rica, meu pai é caminhoneiro, minha mãe
do lar, o meu padrasto que tem bastante grana. — desabafo.
Diego se senta reto no banco, sua mão toca meu rosto, ele tira meu
fone.
— Você merece alguém que te dê o mundo, Ísis. — sussurra, eu fico
estática, meus olhos buscam os dele.
— Eu e Liam estamos juntos. — falo pausadamente, tirando a mão
dele sem tanta delicadeza do meu rosto.
Diego afirma:
— Eu sei, só que é estranho, os pais de vocês são casados, ele é
membro de gangue e…
— Quê!? — o chão parece abrir e estou caindo em queda livre em uma
toca do coelho, o ar escapando dos meus pulmões.
Diego continua sério:
— Achei que soubesse. — fala como se estivesse me contando que
gosta de passas no arroz de Natal ou alguma trivialidade banal no mundo.
— Não! — eu me viro completamente para ele, deixando meu fone cair
do meu ouvido — Como sabe algo assim, Diego?
Meu amigo me lança um olhar sinistro, quase bizarro de uma soberba
de quem sabe mais segredos do que deveria.
Ele continua:
— Facção, Ísis, ele tem um desmanche de carros e João Pedro é
comparsa dele, fiquei sabendo por causa do furto do meu carro e…
— Não era pegadinha? — tento me ater ao que Liam disse, claro que
achei estranho, mas depois de me confessar que foi abusado, obviamente me
mantive em uma zona de guerra, confio nele, mas isso?
— Ah, não. — ele procura um Halls no painel — Achei que você
soubesse, de verdade.
Liam chega e sinto meu coração dilacerado, por que ele se meteu
nessa?
Quais outros monstros conflituosos ele esconde na obscuridade da sua
alma?
— Vamos logo para esse abatedouro. — Liam fecha a porta do carro,
olhando para nós dois, Diego pede licença para ir no banco da frente. — Por
que essa cara de enterro?
Que porra João Pedro estava me falando? Essa desgraça está bêbada,
não entendo nada que fala, melhor só deixá-lo em paz, vou procurar por Ísis,
mas ele segura meu braço:
— Você acha que algum dia minha irmã vai superar tudo igual você?
— caralho, como eu poderia confortá-lo dessa merda?
Encaro-o com empatia.
— Não sei, João, — procuro uma resposta —, eu sou homem, sei que é
diferente e eu tinha treze anos, sua irmã ainda era mais nova que eu, a única
coisa que posso prometer é justiça por ela.
Não sei se ele fica satisfeito com a minha resposta, sua boca se abre e
fecha, parece buscar na sua embriaguez um contato genuíno com o além.
— Sávio já conseguiu chamar a atenção de Júnior, ele é esperto, sabe?
— meu amigo termina mais um copo cheio de cerveja. — Sávio falou que o
primeiro contato é o mais difícil, mas está progredindo.
Não digo nada, deixo-o desabafar, um pouco de lucidez passa por seu
riso torto.
— Liam, quando você vai chutar o cu do Hugo? Tipo, ele está tentando
roubar Ramon e Sávio da gente, tá ligado?
Dou de ombros, Hugo, o barbicha da zona Sul, era uma pedra no meu
sapato, sempre foi, não tenho intenções de espalhar a gangue ou deixá-lo
intimidado.
— Quero sair dessa merda um dia. — confesso, olhando o fluxo da
festa.
Meu pai e Vivian dançavam romanticamente, que nojo daqueles dois,
percorro com os olhos as pessoas brindando, os amigos fazendo brindes à
saúde deles.
— Talvez abrir um negócio de marketing — vagueio em meus
pensamentos, olho para João que não entende porra nenhuma que estou
falando.
Resolvo explorar os ouvidos do meu amigo.
— Viajar, comprei até material de rapel para nossa ida na fazenda do
maluco do Diego.
João Pedro pega mais um copo de bebida, uma bola colorida está no
fundo do copo, a música brega ecoando em meus ouvidos.
— Você e a Ísis, né? — ele ri, quase se afogando na bebida.
— Que porra está dizendo? — inquiro, levantando uma sobrancelha,
estaria tão óbvio que até João via?
— Tipo, o Hugo perguntou de vocês para o Ramon.
— Hugo quer me foder, João, ele não pode saber de mim e de Ísis, ele
é perigoso, caralho!
— Então, estão juntos mesmo, não é?
Arrumo meu piercing no septo, esfrego as mãos no rosto, passando os
dedos pelo meu cabelo, me enervando ainda mais:
— Se estiver?
— Melhor esconder o jogo, tipo, Jean e Greg falaram que você anda
meio distante, Hugo chamou Sávio e Ramon para voltar a trabalhar com ele e
meio que disseram que você cagou pra isso.
Ele coloca o copo em uma bandeja do garçom, pegando rapidamente
outro cheio na mesma leva, faço o mesmo.
Indago mais:
— Quem te contou essas merdas, João Pedro?
Meu amigo toma a bebida de uma vez, já andando mais do que torto,
serve-se de mais álcool com a bola colorida no fundo.
Ele continua com a voz ainda mais enrolada:
— Hoje, eu, Sávio e Jean ficamos conversando um tempão em
chamada de vídeo no computador, enquanto a gente jogava, desabafaram e
tal.
Tento pensar nas possibilidades do meu bando achar que estou os
trocando, primeiro, posso continuar no barracão, poderia levar Ísis, mas só de
pensar nisso é idiota.
E se eu pedisse para que ela e Diego assumissem um relacionamento
fake? Se ela ficar na casa dele, poderia ser mais protegida, ele é um bundão,
não teria jamais coragem de tocá-la.
Ou eu posso dar um jeito para que Ísis vá morar na república da
Míriam, pelo que Bárbara me contou, Ísis seria muito bem-vinda lá, porém,
colocaria todo mundo em risco.
Mas meus pensamentos estão confusos, não consigo pensar direito.
— Hm. — me aproximo dele, rodando a bebida em meu copo. — Você
contou a Diego sobre a gangue?
— Não, por que eu faria isso? — João pega mais um copo.
— Então, como ele sabe, João Pedro?
Ele me olha sério, sua cabeça oca parece pegar no tranco, abre a boca e
fecha, dá um bom gole, em seguida, diz:
— Cara, eu acho que o Diego deve ter colocado alguém pra ir atrás da
gente.
João pensa e eu me assombro, aquele puto do Diego. Ele tinha
realmente contratado a merda de algum detive filha da puta para ficar na
nossa cola? Sorrio de canto, acho que estou começando a gostar dele.
— Atenção! — eu olho para um autofalante com balões prateados em
formato de coração ao redor, a voz abafada continua. — Thales Torres vai
renovar os votos do casamento, palmas, pessoal!
O bando de malditos puxa-sacos me irrita de uma maneira singular,
bato nas costas do João Pedro, bufando:
— Foda-se essa merda, vamos cair fora desse lixão.
É um momento de virada de chave na minha vida, sem esperar alguém
chamar a minha atenção, a raiva corroendo meus músculos e ossos, subo os
degraus, ouvindo Vivian e seu discurso de todos os anos.
Eu tiro a camiseta engomada, terno, sapatos, deixo sobre a cama, visto
minha blusa de banda, bato uma mão na outra, logo vejo Diego, seguro-o
pelo braço:
— Está muito cansado para ir embora? — ele nega, me analisando
longamente.
— Vou chamar as meninas.
Afirmo, pegando a mala que Ísis tinha trazido para cima, quando vou
descer as escadas, Vivian espalma as mãos no meu peito, olhando para os
lados, me conduzindo para o quarto da filha.
— Onde pensa que vai? — ela tenta lamber minha boca, viro o rosto.
— O que foi, Liam? Você estava lindo com roupas formais, quero que vista
de novo.
— Nem em sonho. — respondo, empurrando-a com o ombro, ela bate
os pés no chão, tentando me cercar. — Sai da minha frente, ou juro que vou
chamar o Thales!
— Ah, sim, como chama a sua mãe enquanto dorme?
— Não fala da minha mãe! — empurro-a com mais violência.
Thales aparece, ela se surpreende, ajeitando o vestido. Thales olha para
mim, para a mala, para Vivian.
— Mas o quê? — ele indaga, sorrio triunfante, enfim, ele tinha pegado
a esposa se jogando em cima de mim.
— Querido, seu filho quer ir embora. — a serpente o encurrala,
lançando os braços em seu pescoço, meu pai olha para mim, eu me
decepciono quando ele dá um beijo na testa dela.
— Mas já, Liam? Eu queria que ficasse para o almoço. — Thales só
pode ser burro, não tem outra explicação, o fio de esperança que eu tinha em
desmascarar Vivian hoje, vai para o ralo.
— Não, eu tô indo embora. — volto a pegar a mala, Thales me impede,
colocando-se à minha frente.
— Filho, você bebeu, não vai não, aliás, eu queria que levasse o carro
da Ísis, para que ela aprendesse a dirigir.
Vivian sorri maliciosa e triunfantemente de mim, maldita! Engulo seco,
procurando palavras para sair da situação, Diego aparece, ela o fuzila com o
olhar.
— Eu não bebi. — Diego diz, rindo.
É um mentiroso cachaceiro esse Diego, cruzo os braços, meu pai o
observa por um tempo.
— Mas deveriam ficar. — Vivian sibila, nego, voltando a pegar as
malas.
— Não, obrigado, a gente já vai, vamos acampar. — ela tenta rebater,
mas Thales pede para que ela nos deixe, ele tenta me dar um abraço, não
permito.
Jogo tudo na BMW nova de Ísis, que não parece tão animada assim,
afinal, não é todo dia que se descobre que o irmão postiço está envolvido com
tantas merdas quanto eu.
Toco a ponta do meu nariz em sua orelha, ela move os olhos, sem
coragem de se virar, sussurro:
— A gente vai nadar no rio, fazer rapel, andar de bote, acho que pode
ser até divertido. — seus olhos castanhos me encontram com doçura, caralho,
ela me desarma com o sorriso.
João Pedro se aproxima da gente, ela tenta se afastar, mas não permito,
todos do nosso mundo tem que saber.
— Eu vou pra casa, dessa vez dispenso a aventura. — ele sorri,
enrolando o celular nas mãos. — Sabe? Aproveitar minha irmã, meus pais,
avós, estão todos aqui e querem saber como anda a faculdade.
Eu concordo com a cabeça, meu amigo anda cambaleando, mas
consegue se servir de mais uma bebida.
Então, se João não vai, eu, Ísis, Diego e Míriam ficaríamos de
casalzinho na fazenda.
— Míriam vai com Diego no carro dele. — falo, apontando os dois —
Eu e Ísis na BMW. — estalo os dedos, chamando a atenção dele — pode me
passar a rota da fazenda por mensagem?
Ele está muito bêbado, concorda, mas sei que vou fazer, dirigir até um
hotel e esperar algumas horas. Ísis concorda comigo, tudo vale a pena só para
sair dessa casa amaldiçoada.
Capítulo 28
Choro incontrolavelmente.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto tantas coisas passam
pela minha cabeça, tornando difícil até de raciocinar sobre o que aconteceu.
Só consigo perceber que finalmente chegamos à fazenda dos pais de
Diego.
É tudo mato, muito mato mesmo que se estende ao nosso redor. A
nascente do lago é tranquila, refletindo o céu nublado, a mansão de madeira
nos recebe com sua aura bucólica.
Há uma fumaça sutil subindo de uma chaminé de pedras, indicando
que há um fogão a lenha aceso, mas tudo isso parece opaco, sem vida. Nada
disso me arranca suspiros, como deveria.
Só consigo imaginar os mosquitos zumbindo ao meu redor, ansiosos
para me picar, e ter que encarar Liam depois do show de horrores me
perturba.
O que deu nele?
— Trouxe um remedinho, se quiser. — Míriam sussurra para mim,
oferecendo algum conforto enquanto enxugo as lágrimas.
Os sons da densa floresta são perturbadores, o carro se inclina para
alcançar os portões da mansão e me assusto com a opulência da fauna.
Galhos rangem, pássaros cantam em coro e, no meio disso tudo, parece haver
um eco dos meus pensamentos tumultuados.
O verde das folhas é vibrante como os olhos dele, o céu está
acinzentado, engolindo o colorido de um arco-íris.
Respiro fundo, tentando controlar a enxurrada de emoções que ameaça
me sufocar. A fazenda, que deveria ser um refúgio nesse feriado estressante,
parece mais uma prisão de fim de festa.
A ideia de acampar não me agrada; como não me agradou a festa de
aniversário de casamento, quero minha rotina segura de volta, novas lágrimas
rolam pelo meu rosto.
— Vai gostar dos meus pais. — anuncia Diego, saindo do carro para
abrir a porta para gente, permaneço em silêncio.
Míriam tira a blusa, já está de biquini e eu nem me lembro se trouxe o
meu. Minha amiga dá um selinho em Diego, falando que seria legal conhecer
os sogros e a irmãzinha dele.
Diego não diz nada, checo o celular para saber de Liam e a minha
ansiedade reside se o babaca do meu namorado está bem, reparo que ainda
estremeço.
A visão da mansão à frente só aumenta minha sensação de
deslocamento. Mando uma mensagem para ele, que visualiza, mas não
responde.
— Vem, gente! — Míriam esganiça.
Diego faz um sinal para ela ir na frente.
— Ele está bem. — Diego fala, procurando ficar perto de mim, perto
demais até, me afasto um pouco.
Vejo uma garotinha na cadeira de rodas, feliz, balançando as mãos:
— Diggo! — ela grita, Diego corre para abraçá-la.
Míriam acompanha o namorado, um senhor fumando um cachimbo
aparece ao lado de uma mulher de cabelos curtos, elegante, sorriso largo e
olhos verdes.
O senhor se aproxima, dando um abraço em Diego:
— Filhão, ficamos preocupados, nossa, o que houve com seu rosto? —
ele acena para Míriam e para mim.
Diego diz que enrolou o pé no cinto de segurança e caiu no chão,
provocando risadas preocupadas da sua família.
A mãe dele faz um rabo de cavalo no cabelo da irmã, a cena é tão linda,
parece que foi tirada de um quadro antigo, a família se abraça nessa paisagem
mágica, me sinto uma intrusa.
— E essas lindezas, filho? — a mãe dele pergunta, dirigindo-se a mim
e a Míriam.
Eu uno minhas mãos em frente ao corpo, bem envergonhada, minha
amiga já a chama de “sogrinha”, dando um abraço e um beijo, abaixo os
olhos.
Já o pai de Diego avisa que terá que pegar a estrada, já que a irmã dele
vai se submeter a um novo tratamento.
— E não menos importante — Diego sorri para mim, pegando a minha
mão —, essa é a Ísis.
Os pais dele me cumprimentam, a irmã dele acena, faço o mesmo,
tentando ao máximo sorrir e não demonstrar a preocupação com Liam, checo
rapidamente o celular.
Nada.
— Vamos almoçar, crianças? — o pai dele nos chama, estou sem fome,
mas me sento à mesa, vendo a variedade de peixes, batatas com casquinha
bem dourada, o cheiro de alecrim e laranja.
Eu deixo Diego me servir, os pais dele me olham com curiosidade, a
irmã puxa assunto, interessada quando disse fazer psicologia, o mesmo curso
de Diego.
— Ísis passou em primeiro lugar em psicologia. — Diego comenta, eu
ardo em vergonha, muitos “parabéns” e a chuva de atenção me deixa
extremamente desconfortável.
Míriam se levanta, antes de terminar, pedindo a Diego para
acompanhá-la, ele nega, os pais pedem para que ela fique e a irmã volta a
chamar a minha atenção.
— O Diggo parece que tá a bochechona grandona! — a irmãzinha dele
comenta, rio, ele infla as bochechas, brincando com ela.
A cozinha realmente tem um fogão a lenha, tento dar atenção à
irmãzinha, conversando sobre a escola, programas de televisão,
principalmente Coragem, o cão covarde, músicas, brincos e maquiagem.
Volto minha atenção para o celular, nada de Liam.
Onde está esse desgraçado do Liam? Ligo, mando mensagem, peço que
os funcionários da casa deixem livre sua entrada e me avisem imediatamente
se ele chegar.
Sondo meus passos perto do banheiro onde Ísis está tomando banho,
Míriam vem atrás:
— Por que não me contou que eles estavam juntos? — exige pela
milésima vez, ignoro-a, voltando para o quarto, ajustando o aquecedor,
terminando de arrumar a mala de camping, ainda chove.
Ísis sai com os cabelos molhados, blusa de manga comprida, umbigo
de fora, calça cargo e tênis, está tão linda que preciso focar a não ficar
olhando sua barriguinha lisa ou bunda empinada no tecido.
E ah, minha nossa, os seios ondulando a blusa lilás com detalhezinhos
tão fofos, tão Ísis.
— Nada dele? — ela pergunta. Os olhos castanhos ansiosos, posso
sentir o cheiro delicioso do seu perfume e da sua pele, ela caminha em minha
direção, o andar feminino e instintivamente sedutor.
— Ainda não. — falo, batendo ao meu lado no sofá da sala.
Ísis hesita, olhando tudo ao seu redor, os cabelos da cor da noz
descendo em cascatas por suas costas.
— Acho que vou ligar para o João Pedro ou para o pai dele. — pega o
celular ansiosamente, me dirijo até ela, segurando sua mão.
— Relaxa um pouco, está chovendo e, pela atitude dele no carro, é
possível que tenha parado em algum lugar para descansar e…
Ísis me mira longamente, Míriam aparece com as malas prontas para
irmos, chamando a atenção da amiga, que infernos de garota pegajosa!
— Não, Diego, Míriam, espera! — Ísis se senta onde indiquei — Se ele
não aparecer, eu preciso ligar para o Thales, para o João Pedro, não podemos
simplesmente ignorar que ele tenha sumido.
Sua ansiedade é latente, logo, volto a ligar para ele.
— Ainda mais com o seu carro, né? — Míriam fala, Ísis lança um
olhar indignado para ela, mas não responde, voltando a digitar.
No instante seguinte, para. Seu olhar está fixo na tela, quero saber o
que está lendo, ela se levanta andando calmamente pelo cômodo, rói a unha,
vira-se enigmaticamente, guardando o aparelho no bolso.
— Ele está bem, a gente pode voltar aos planos de camping. — sorri
espontaneamente, pela primeira vez e não sei se fico aliviado ou preocupado.
— Eu disse que ele estava bem, você que é muito exagerada. —
Míriam quase berra, caindo de costas no sofá, engatinhando para me
alcançar, ao passo que me afasto.
— Dá um tempo, Míriam. — falo entredentes.
— Só dizendo o que penso, caramba! — Míriam se deita, por fim,
pegando algumas almofadas do sofá. — Que drama.
Ísis ainda está ansiosa, se abraça, olhando as árvores chacoalharem
pela água da chuva.
— Está chovendo de qualquer maneira — falo, pegando em seus
ombros, mas ela se afasta de mim, de novo. — Bom, vamos dar uma olhada
na casa?
Míriam pula do sofá, exclamando:
— Adoraria!
Eu queria que ela, pelo menos, me desse a oportunidade de ficar
sozinho com a amiga, foi um erro ter transado com ela, Deus, como me
arrependo.
Ísis se afasta mais um pouco, procurando seus fones:
— Vou ficar por aqui ouvindo um pouco de música.
— Ah, Ísis que saco, vem com a gente. — Míriam interfere, puxando a
mão da amiga, quase derrubando-a.
— Não quero. — Ísis se solta, indo para o quarto, vou atrás como um
cachorrinho carente.
Míriam se põe à minha frente, quase me fazendo cair:
— Tá, vamos então, Diggo?
Respiro fundo, eu preciso pensar, necessito ser menos emocionado se
eu quiser conquistá-la, geralmente, com a minha experiência, as mulheres
ficam tão carentes quando levam um fora que acabam cedendo a qualquer
charme para se sentirem vivas, amadas, desejadas, é esse o meu jogo agora.
Falando em jogos, pergunto:
— Que tal a gente jogar algum jogo?
— Não tem que adaptar seus planos por causa dela. — Míriam fala,
voltando a me segurar, calma, Diego, calma, respiro fundo, oferecendo o
meu melhor sorriso.
— Não estou, tem vários jogos que eu jogo com a minha irmã, esperem
aí.
Corro para o quarto da minha irmã, escolhendo alguns que eu sempre
brinco com ela, faço uma pilha nos meus braços, ansioso para ganhar o
máximo de tempo com Ísis.
Eu fiquei com medo de ela não me perdoar, mas tive que correr o risco
para pensar junto aos meus amigos, em dar uma lição no imbecil do Diego.
A gente procurou os podres dele e eu e os moleques achamos uma
informações bem valiosa sobre a ex-namorada.
Ele forçou a moça a realizar um aborto, conversei algumas horas com
ela, que ficou animada na minha vingancinha, ofereci dinheiro em troca das
informações, Ramon gravou as conversas.
Greg me ajudou a pegar mais detalhes, Jean se empenhou nas provas,
Ramon se concentrou nos prints e áudios, com certeza quem é inimigo de
Diego é amigo da ex que não poupou detalhes, já que está longe dele,
morando na Europa e ganhou uma bolada em me fornecer as informações.
Ísis me olha curiosa, interrompo meus pensamentos para concentrar
minha mão no seio dela, puxo-a para debaixo de mim, lambendo sua boca.
— Eu fui um imbecil, me perdoa? — peço, expirando forte, ela passa a
mão no meu rosto, me conduzindo para outro beijo, tiro sua blusa pela
cabeça, me livrando de seu sutiã, lambendo seus seios, agarro suas coxas.
Uso meu joelho para afastar suas pernas, deslizando minha língua pelo
meio dos seios, apertando-os contra meu rosto.
— Você… me deixou preocupada… — sussurra, acarinhando meu
cabelo.
Abro os olhos, encarando-a. Ísis me fita, seus cílios salpicados de
lágrimas, volto meu rosto para junto ao dela, apertando-a em meus braços.
— Você me faz querer ser uma pessoa melhor, sabia? — enfim, ela
chora, será que isso é amor?
Não quero vê-la triste, tento controlar minha ereção.
Encaixo seu rosto em minha mão, trazendo-a para perto de mim, dando
beijos, tentando fazer cócegas, nos cobrindo com o edredom, como se fosse
uma cabana.
— Tira a mão — exijo, pegando seus braços, os quais ela tenta cobrir
os seios —, não fica com vergonha de mim.
Ela me abraça, jogando uma das pernas sobre as minhas, o cheiro do
cabelo dela é tão bom, tão lilás.
— Vingancinha, você tinha dito. — não quero que ela se preocupe com
isso, mordisco o mamilo dela, deleitado com o perfume de sua pele.
— Vai dar tudo certo, não se preocupe com isso. — mudo de assunto,
relembrando como corri para chegar aqui e a desagradável revista dos
seguranças dessa fazenda.
Foda-se, eu a abraço, o edredom sobre nossas cabeças, aperto-a tão
forte que sua respiração é abafada pelo meu peito.
— Liam, como foi servir o exército nos Estados Unidos? — seus olhos
me buscam, são grandes, duas amêndoas cintilantes, passo meus dedos por
suas costas.
— Foi meio tenso, quer dizer, devido ao meu histórico nada bom com a
polícia. — ela apoia a cabeça nas mãos e os braços em meu peito, me
encarando curiosa, os olhos ainda marejados. — Tá, quer saber meus
problemas com a polícia, Sweet? — ela se anima, afirmando enfaticamente.
A gente não dorme, conversar com ela é tão natural, tão libertador,
conto quase toda a minha vida, minhas aventuras, as pixações, chego a
mostrar os desenhos que tinha em meu celular, ela sorri orgulhosa.
Eu não pensava que, além de gostosa, minha namorada e princesinha,
poderia ser minha melhor amiga.
Tentei ligar para os moleques, mas não tem sinal de celular ou Internet
por aqui.
As labaredas do fogo estão altas, Ísis está com a minha blusa, calça de
moletom, cabelos molhados, olhando curiosa para a vareta cheia de
marshmellow tostado, senta-se ao meu lado.
— Toma. — tiro um deles, derretendo pelos meus dedos — Cuidado
que está quente.
Ela abocanha, rindo, chupando meu dedo, imediatamente meu pau
responde ao estímulo delicioso de sua boca, fico sério. Eu conduzo minha
boca para a dela, deixo os marshmellows de lado, segurando suas coxas para
o meu colo.
Ísis fixa seu olhar no meu, adivinhando minhas intenções nada nobres,
minhas mãos englobam sua cintura, subindo para os seios, beijo-os ávido
para senti-los no meu paladar.
A fogueira nos esquenta, o vento ulula alto, as copas das árvores
balançam, algumas folham rolam para o fogo, mexo sua cintura sobre mim
sem pressa.
— Diz que é minha. — exijo entre seus seios, sentindo o gosto e o
cheiro do perfume da minha camiseta em sua pele, seus cabelos colam em
seus braços e cintura.
Ísis geme, resvalando os joelhos nas folhas secas do chão:
— Sou sua. — suas mãos agarram meu rosto, ela me conduz para
beijá-la. Sem tirá-la de mim, abaixo minhas calças e o moletom dela, raspo
minhas unhas levemente pela suas pernas macias.
— Me perdoa por ontem? — procuro uma camisinha no meu bolso,
rasgo a embalagem, me protegendo urgente.
Estou tão excitado, tão feliz por estar um pouco sozinho com ela depois
do embate com nossos pais e a festa estúpida.
— Só não faça de novo. — sussurra, as mãos já mais confiantes em
onde me tocar, o hálito de marshmellow doce, quente, os dedos englobam
meu pau, ela empina a bunda, nossa! A língua serpenteia meu abdômen e
pernas, começando a sugar meu pau.
— Garota! — exclamo anestesiado de prazer, seguro seus cabelos com
força, mostrando o ritmo que deve impor, logo sobe e desce com estalos da
saliva e do fogo.
Ela me enlouquece, meu pau concorda, pulsando loucamente em sua
boca quente.
A camisinha fica molhada com sua saliva, puxo-a para cima de mim,
nos encaixando deliciosamente rápido; caralho como é gostosa, o vento, o
fogo, o tensão descem com um suor enregelando minha espinha.
— Liam! — nossas peles se chocam em consonância, passo a palma da
minha mão em sua boca, espalmando em sua bunda, o polegar procura seu
clitóris, meu quadril investe.
Eu a fodo, Ísis é moldada para mim, sorrio em seus lábios, desesperado
para senti-la entregue, as pernas dela se enlaçam na minha cintura, meu dedo
circula seu clitóris molhado pelo nosso suor, ela desliza as mãos pelos meus
braços.
Ela joga a cabeça para trás, explodindo em prazer:
— Ah, Liam. — seguro sua bunda para que consiga se soltar
totalmente.
— Goza em mim, Ísis. — ela morde os lábios e os meus sugam seus
seios com mais força. Invisto mais, Ísis puxa meu cabelo, as pernas cedendo
as minhas costas, espasmando.
Não aguento e me deito sobre ela, suas costas contra o solo, o fogo
lambendo alguns gravetos, minha pélvis indo e vindo. A meia luz iluminado
nossos atos, seguro seus braços acima da cabeça, os cabelos se espalhando no
chão.
— É só minha? — instigo, beijando sua orelha, fios úmidos grudando
nos meus ombros, minha pele arrepia, deslizo minha língua pelos seus
braços, palma, chupando os dedos dela.
— Ah, Liam! Sou só s-sua. — fecha as pálpebras com força, sugando
os lábios. Ela mexe o quadril mais forte, sua buceta me aperta
deliciosamente, escorrego meu pau mais rápido, sim, ela está pronta para
gozar.
— Gostosa. — murmuro, aumentando ainda mais o ritmo da
penetração, meu caralho, estou tão excitado. Estamos muito próximo do
Paraíso, sou alucinado por ela.
Contudo, não é só o sexo que me envolve, quero que ela me ame por
completo, por inteiro. Inalo o perfume do seu cabelo, minhas pernas raspam
em sua pele sedosa.
— Eu te amo demais. — sussurro em seu ouvido, ela volta a laçar
minha cintura com suas pernas, chocando o corpo no meu, quase perco os
sentidos.
— Te amo. — murmura, segurando meu pescoço.
Eu volto a me sentar, grudado a ela, que pula rápido no meu colo, ávida
para me fazer gozar, gemendo mais alto:
— Ah, Liam, vou gozar de novo, não para!
Aperto com mais força sua bunda, investindo mais rápido, é quase
insano, estou no meu limite, estremecendo, meu coração martelando no meu
pau. Eu vou gozar agora também, não consigo me segurar mais.
— Caralho, Ísis! — xingo, me contorcendo, seguro o pescoço de Ísis
com força.
Ela arfa, rindo sensualmente para mim, ainda estou gozando, meu pau
bombeia alucinado, estremeço, trazendo-a em meu peito para aninhá-la.
Os seios de Ísis sobem e descem rapidamente, aperto-o, sua testa está
molhada pelo banho e pelo suor. O fogo incide em sua pele branca,
colorindo-a de tons avermelhados, seus olhos me convidam a beijá-la de
novo.
Eu acaricio seu cabelos, seios, coxas, barriga, nos encaramos por um
bom tempo, sem dizer nada, apenas nos explorando com nosso tato, engulo
em seco várias vezes, mal acreditando como meu pau consegue já estar em
alerta depois de uma foda com essa.
— O que está pensando? — pergunto, afastando um pouco o cabelo de
seu rosto.
Ísis passa a ponta dos dedos na minha boca, meu rosto, descendo para a
minha costela, onde há a tatuagem, não precisa dizer, sei que está curiosa
sobre ela.
Olho para o céu, respirando fundo, explicando:
— Minha mãe se suicidou na minha frente — a tristeza me atinge
como um raio, a saudade, a dor da injustiça —, ela pediu para que eu me
vingasse de Thales e da mulher que abusou de mim, antes de atirar. — olho-
a, virando um pouco, reproduzindo o gesto.
— Sinto saudades dela, não pude honrar sua memória. — esclareço,
me sentindo culpado por me sentir, pela primeira vez em muitos anos,
completo e vivo pelo amor pela filha da inimiga.
Os olhos dela marejam, caralho, ela sacou, sua voz é baixa e
entrecortada:
— Eu sinto muito e, por vingança, você diz Thales e a mulher que
abusou de você, Liam?
— Isso. — passo a ponta do indicador em seu lábio inferior. — Minha
mãe veio de uma criação religiosa, eu nunca contei a ela que fui abusado, mas
ela desconfiou e disse antes de morrer isso.
Conduzo os dedos dela pelas linhas da tatuagem From blood we came
to this world, by the blood we perish into it.
— Do sangue viemos a esse mundo, do sangue padecemos nele. —
traduzo, ela me encara por alguns longos segundos.
Ísis se senta, olhar perdido e vago para o meio da mata, depois para o
fogo, dou um tempo a ela, admirando seu perfil, tiro a camisinha para jogar
no lixo.
Ela coloca a camiseta, calcinha, moletom, já sinto saudade do seu
corpo ao meu.
Ísis me encara, desconfiada; pergunte, amor, pergunte o que eu sei que
vai indagar “Liam, a mulher que abusou de você é a minha mãe?”, é essa a
frase que passa em sua linda cabecinha?
Sua mãe é uma mulher cruel, má, perversa, que pode não ter sido o
dedo que atirou contra os miolos da minha mãe, mas certamente foi o
empurrão que a fez ter essa ideia fixa.
Ela abre a boca, um sopro de voz sai, mas a picape de Diego chega,
antes que eu possa amaldiçoá-lo por toda a eternidade. Ísis vem para meus
braços, Míriam quase pula do carro em movimento, ela está chorando
descontroladamente, Diego a acompanha, igualmente desolado.
Mal ergo minhas calças e ouço o berro de Diego.
— LIAM! JOÃO PEDRO FOI ASSASSINADO! — ele grita,
colocando as mãos na cabeça.
Míriam abraça Ísis com força, pedindo perdão a amiga e falando
qualquer merda sobre estar ao lado dela.
Como pude cair do mais alto Paraíso ao mais abissal dos infernos dessa
maneira? Eu urro, sem entender o que me diz, não compreendo nada, todos
os meus músculos estremecem em dor e fúria.
— O QUÊ!? — esmurro a porta aberta do carro, nada fazendo nexo em
minha mente.
Ísis tapa a boca, Míriam a abraça, Diego me encara com os olhos
arregalados:
— QUEM? — grito, perdendo as forças.
— Vamos voltar para casa, lá temos sinal e vai poder conseguir as
informações, foi o Jean quem me ligou, procurando por você. — explica, está
trêmulo, mas tenta manter a maldita calma.
— Vamos, deixem as coisas aí! Só vamos! — Míriam exclama,
juntando os itens mais urgentes nas nossas mochilas, Ísis a ajuda, eu não
consigo me mover, caio de joelhos no chão, me odiando.
Eu não posso acreditar que João Pedro esteja… ele é meu amigo,
lembro do seu abraço, das suas conversas animadas e imbecis, João Pedro me
ensinou a rir, passa pela minha cabeça um filme, a primeira piada que me
contou.
João chamando Ísis de “gatinha”, quase voei em seu pescoço de
ciúmes, a risada dele contagiante, retumbando nos ecos do meu cérebro e as
piadas de mau gosto, as péssimas notas da faculdade, o coração gigante.
JP é o cara que gasta o último real para dar uma cerveja a alguém, meu
melhor amigo, ele dá seu melhor em tudo que fez, sempre com um sorriso.
Quando vim para o Brasil de vez, ele esteve lá por mim, sempre com
um péssimo e divertido conselho, me apoiando nas piores decisões, o que eu
faço sem ele?
Eu me apavoro e a irmã do João, como estaria Larissa?
João Pedro descobriu alguma coisa sobre a irmã! Olho para Diego, a
fúria crescendo dentro de mim, a fogueira perde seu brilho e força.
Eu seguro Diego desesperado, tropeçando em meus passos:
— Diz que ainda tem o detive trabalhando para você, por favor! —Ele
afirma, mandando que entrássemos na picape.
Capítulo 35
Liam me ajuda com as malas, ele e Diego estão pálidos, sérios, com a
aparência cansada, solitária, meu namorado se despede rapidamente, faço o
mesmo.
— Me passa o endereço para visitar vocês. — pede, aproveito para me
despedir dos cachorros que salvaram meus dias solitários.
Meu carro ficou com Diego, além de todos os meus pertences, então,
com certeza, vamos nos encontrar muito.
— Se cuida, Diggo e muito obrigada, por tudo. — agradeço os
funcionários pessoalmente, Liam segura a minha mão, porém, há algo que
não posso deixar de lado: essa tensão não é normal.
— Esse é o investigador Barbosa, aqueles são Gregório, Jean
O senhor mais velho eu não conhecia, mas Gregório e Jean eu me
lembrava por causa da festa, Liam beija a minha mão, me conduzindo ao lado
de dois rapazes ao lado de um computador sobre a mesa com uma pizza,
Coca-Cola e cervejas.
— Esses dois são Sávio e Ramon. — cumprimento apreensiva, Liam
pede para que eu me sente, mas nego, o que está havendo?
Barbosa caminha até mim, os meninos saem, restando Liam e o
investigador.
— Ísis, chegou a hora de eu dizer quem abusou de mim. — sorvo todo
ar que posso, meu corpo enregela, minhas mãos tremem, tudo ao meu redor
parece sumir. — É a Vivian, minha madrasta, sua mãe.
Eu não consigo compreender, Liam está sério, olhando preocupado
para mim, seus dedos tocam a pele do meu rosto, ele sussurra um “sinto
muito”.
Olho para Barbosa agora, que se senta na cadeira, apoiando os braços
na mesa.
— Ela vai ser presa, Ísis. — diz, o tempo está congelado ao meu redor,
não consigo expressar reação alguma.
Liam continua:
— Vivian tirava tantas fotos suas e gravava os vídeos, porque ela
vendia esse material na Internet. — abafo um grito de horror, meus olhos se
enchem de lágrimas e fúria, eu lembro que ela pedia para eu abrir as pernas
ao comer frutas e outras tantas bizarrices.
Liam procura uma conexão com meu olhar, inspirando fundo, ele
segura meus ombros:
— Um dos compradores foi Hugo, o homem que assassinou João
Pedro, Ísis, o Hugo revendia esse material e um dos homens que comprou foi
Júnior, ele que seduziu a irmãzinha de João que tinha dez anos na época.
É doloroso demais, monstruoso demais, sinto meu coração parar de
bater, vou desabar, Barbosa se levanta, pedindo para que Liam me sente na
cadeira que estava, meus movimentos estão letárgicos, não consigo emitir
uma palavra.
— Ísis, eu preciso que você encontre a Vivian, eu vou confrontar o
Thales, você tem que ser forte e me ajudar que ela seja presa. — seus olhos
estão na altura dos meus, os tons de verde escuro imploram por justiça, só
consigo balbuciar.
— N- não pode ser. — prevendo minha atitude, Barbosa chama os
outros rapazes, é Ramon que fala sobre como o assassinato de João Pedro,
levou a um dos maiores esquemas de venda e armazenamento de material de
pedofilia da história do meu estado.
Eu peço para ver as fotos e os vídeos, mas passo muito mal,
interrompendo-os, várias vezes preciso ser aninhada por Liam que dispensa
tanto carinho e cuidado como se eu fosse um pedaço de porcelana.
Por horas eu fico lá vendo que a minha mãe, minha própria mãe, é o
verdadeiro monstro.
Ela semeou na família de Liam o mal, e eu me horrorizo ao descobrir
isso. Nada pode ser tão monstruoso quanto submeter crianças a tamanho
horror. Eu me sinto nauseada, aterrorizada e completamente devastada pela
crueldade dela, estou presa em um pesadelo horrível, incapaz de escapar.
Tento controlar minha respiração, mas é impossível acalmar a
turbulência das imagens assustadoras, estou impotente diante deles,
envergonhada, triste, desolada.
— Me digam o que eu preciso fazer. — cerro os punhos, Liam me
abraça, mas não consigo corresponder.
Na verdade, uma parte de mim sempre desconfiou dela, mas o amor
filiam me impedia de ver o verdadeiro monstro que se escondia nas sombras
do meu berço, cama e quarto.
A mulher que destruiu tantas vidas.
Capítulo 38
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*Este livro faz parte da série “Bebê a Bordo”, composta por histórias
independentes, não sendo necessária nenhuma ordem na leitura. “Uma
família de contrato por um mês!”, da autora Nina Higgins, já se encontra
disponível para leitura.
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Por outro lado, os olhos azuis e frios do marquês encaram Sarah, que
vai se apaixonar pelo inimigo, forçada a viver no mesmo teto.
No calor da Revolução Industrial, nasce uma paixão mais quente que
qualquer fornalha...
Ériem será rendida aos perigos da corte ou manterá seu espírito livre?
Das adversidades, o amor seria capaz de nascer?
A guerra se aproxima e o amor é a mais perigosa delas.
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Yuri, um belo jornalista cativante e polêmico, atende ao inesperado
pedido do meio-irmão para hospedar Lily, sua sobrinha.
A jovem bailarina de beleza radiante e talento excepcional, acaba de
realizar o sonho de se tornar profissional ao ingressar em uma prestigiosa
academia de balé em Londres.
Agora sob o mesmo teto, a paixão inevitavelmente começa a
desenrolar-se entre eles. No entanto, esse amor proibido se torna uma trama
cheia de segredos do passado, culpa e tensão avassaladora.
O mundo do balé e do jornalismo polêmico revela como o destino
entrelaça os desafios. Yuri e Lily vão descobrir os limites do que pode
construir ou destruir colocando à prova a força de suas convicções e o poder
transformador da paixão.
Ele era um hooligan
Ela era virgem
Ele a deseja
Ela o admirava
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Uma música e um clipe novos podem salvá-lo de ser odiado pelos fãs,
mas a modelo que interpretaria com ele desiste em cima da hora.
Surpreendentemente, seu assessor encontra na lanchonete em que estão
tomando seus cafés a musa que pode alavancar a carreira do cantor.
Kira não gosta de country e tampouco da ideia de ser musa, mas... por
um bom dinheiro e um contrato de namoro, ela também pode pagar suas
contas atrasadas de forma meteórica!
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Isaac tem uma filha de seis anos, ou como a criança costuma dizer
“quase sete”, Amelie, que se encanta por Eloá e acredita que unir o pai e a
recém-chegada pode ser uma boa ideia.
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Emma Vacchiano vive no Brasil com o pai, Roger, um homem rigoroso até,
numa noite, ao sair escondida com as amigas, sua vida muda drasticamente.
É revelado que seu pai é um requisitado conselheiro da máfia, depois de anos
“aposentado”, Roger volta à Itália para sanar uma antiga dívida com seu don,
Khan Ricci, que está em meio a uma guerra entre famílias de mafiosos e
precisa do conselheiro para se concretizar como o senhor da Máfia italiana.
Contudo, Roger só irá voltar e negociar seu retorno se houver segurança para
sua filha e, para isso, Khan aceita se casar com Emma com o intuito de
protegê-la, mas ela não é frágil e não está nada feliz com esse matrimônio.
Khan quer vingança pelo seu passado obscuro, Emma quer voltar ao Brasil e
esquecer o casamento.
Ambos não deveriam nutrir sentimentos um pelo outro, mas o que pode
acontecer quando paixão, sangue e vingança se misturam?
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+18
O capítulo 2 é lido pelo streamer da Twitch (twitch.tv/feldtv) Rodrigo
Feldmann
Link do texto narrado: https://bit.ly/34PE5qD
Instagram: @rpfeldmann
Se não conseguirem ouvir o link, mandem uma DM para mim no insta:
@maylah_menezes
Quando é surpreendido com uma festa em sua casa, ele não imaginou que
conheceria alguém tão intrigante e ao mesmo tempo sexy como Liz.
A jovem traz algo diferente dentro de si que irá abalar as estruturas que
André acreditava estarem consolidadas pelo tempo.
Prólogo e capítulo 3 lidos pelo nosso narrador (já conhecido rs) Rodrigo
Feldmann
Twitch: twitch.tv/feldtv
Prólogo: https://bit.ly/3EoGRAK
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O príncipe Jacob Humphrey é o príncipe regente da rica ilha de Fera
Hominum.
Ele é considerado perfeito: herói, integrado à marinha, lindo, atlético,
tatuado, bronzeado; porém, ele guarda um segredo considerado abominável:
apaixonado pela própria irmã no mundo tecnológico do século XXI, que
ainda traz o tabu desse sentimento que o consome e o destrói, afastando-o de
sua terra natal.
Por outro lado, a princesa sofre com a sua mãe, a rainha.
A mãe é narcisista, abusiva e extremamente cruel, principalmente com a filha
caçula.
Quando Kinara, a princesa, tem um colapso nervoso, o príncipe regente volta
para o seu país natal, tentando suprimir o amor para cuidar da irmã, mas os
segredos obscuros do reinado têm um preço alto.
Essa obra faz parte do mesmo universo de "O príncipe insolente" da autora
Nina Higgins, mas são leituras INDEPENDENTES, porém se
complementam.
O prólogo e uma parte bem hot (p. 219) são narrados pelo modelo,
estudante de educação física e streamer da Twitch Rodrigo Feldmann.
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Coincidência ou destino?
Um esbarrão despretensioso em um shopping foi o suficiente para Lavínia se
deparar com Caleb.
Lavínia tem uma vida cheia de dificuldades, Caleb, um passado triste, que
afeta seu presente.
Quando ele descobre pelo que a moça passa, seu passado volta às suas
memórias e seu instinto se sobrepõe a sua razão
Link: https://a.co/d/3t0AuVu
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Obrigada