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Prólogo

* ATENÇÃO: Não recomendado para menores de 18 anos.

Sofia Reymond possui uma vida normal, passa a maior parte do seu
tempo viajando à trabalho e é disso que gosta. Não possui planos de se casar
ou constituir família. Não quer criar raízes, o mundo é a sua casa.
Lorenzo Moretti é o capo da Cosa Nostra, desde que seu pai Lucco
Moretti se aposentou, entregando o cargo ao seu sucessor. Diferente do pai,
Lorenzo não pretende se dedicar à família. Casamento e relacionamentos não
estão nos seus planos, sua única paixão é a Cosa Nostra.
Sofia e Lorenzo são quase primos, tendo em vista a extensa amizade
das mães, os dois não se suportam desde a infância. No entanto, depois de
dez anos sem visitar a “prima”, Lorenzo precisa voltar ao Brasil e reencontra
Sofia, percebendo que, em algum momento ela deixou de ser uma simples
adolescente e passou a se tornar a mulher mais atraente que ele já viu.
Atrevida e desbocada, Sofia não tem medo do Capo, o que deixa Lorenzo
ainda mais frustrado. Uma viagem, uma aventura e uma única noite é preciso
para que ambos tenham que tomar uma decisão.
Capítulo um.
De volta às origens.

Lorenzo Moretti.

Caminho pelas ruas do Brasil apressadamente. A culpada pela minha


euforia tem nome e sobrenome: Mariah Reymond. Minha madrinha e melhor
amiga da minha mãe. Se ela sonhar que eu estou aqui vai me forçar a ir jantar
em sua casa, coisa que não estou nem um pouco interessado, tendo em vista
que provavelmente Sofia e Helena irão. Helena até tudo bem, mas Sofia? Que
Deus me ajude. Não a vejo há dez anos, sempre fujo de encontrá-la, assim
como ela faz comigo. Quando éramos crianças, mamãe sempre fretava um
jatinho para buscá-las no Brasil para que elas pudessem ir passar as férias do
colégio na Itália conosco. Helena tem a idade de Luna, minha irmã. Sofia é a
mais velha, mas ainda assim, mais nova que eu. Quando entramos na
adolescência, nossa convivência ficou impossível, então ela parou de ir
passar as férias conosco. Em decorrência disso, passamos a nos ver muito
pouco. A última vez foi quando o seu pai morreu e ela possuía dezesseis
anos. As únicas notícias que obtive dela foram através de conversas que ouvi
dos meus pais, sei que se formou em Comércio Exterior e que possui uma
carreira em ascensão, sei que não é casada e não tem filhos. Me pergunto,
quem aguentaria aquela mala, mas tudo bem. Lembro que Sofia nunca foi
feia, mas não era a menina mais bonita que eu já havia conhecido.
Saio dos meus devaneios sobre Sofia. Estou no Brasil para executar
mais um devedor, de todos os lugares no mundo com quem mantemos
negócios, o Brasil é certamente o mais complicado. Volta e meia alguém fica
nos devendo e eu preciso vir pessoalmente mostrar quais são as
consequências por tentarem enganar a Cosa Nostra.
Entro em uma fábrica abandonada, onde os meus capangas mantêm o
desgraçado do devedor amarrado, vim assim que fui informado que ele já
havia sido capturado. Não aceitamos traidores na nossa família.
A fábrica está escura e silenciosa, escuto somente os meus passos
com eco enquanto me dirijo para o seu interior. Empurro uma porta
enferrujada e finalmente chego ao local onde o traidor se encontra. Vejo dois
dos meus homens segurando suas metralhadoras na escolta. Eles maneiam a
cabeça me cumprimentando, faço o mesmo em resposta. O traidor se
encontra sentado em uma cadeira de madeira bem ao centro do ambiente. O
lugar está iluminado por uma única lâmpada que fica piscando sem parar,
dando um ar sombrio ao ambiente, o chão é de piso batido e em alguns
lugares vejo água empoçada, as paredes eram, em um passado distante da
tonalidade branca, hoje são amareladas e descascadas. Me aproximo do filho
da puta. O desgraçado ao perceber a minha aproximação levanta a cabeça, ele
está com o rosto deformado, provavelmente da tunda que tomou nesses
últimos dias, enquanto aguardava a minha chegada. Vejo que meus homens
fizeram um bom trabalho mantendo-o em sofrimento.
_Olá, Inácio – Cumprimento-o, enquanto desabotoo os botões das
mangas da minha camisa.
Ele sorri sem mostrar os dentes. Devolvo o mesmo sorriso.
_Que no inferno, arrependa-se de ter roubado da própria família. –
Saco a minha arma.
_Viva a Bratva! – Grita.
O filho da puta ainda tem a coragem de saudar a máfia inimiga. Faria
da sua morte algo mais tranquilo, mas isso agora ficou no passado. Com
raiva dou um soco com toda a minha força bem no meio do seu nariz, que
trinca em vários pedaços. Escuto o estalo do osso quebrando. Espero um
minuto enquanto ele chora de dor, então saco a minha arma da cintura e dou
dois tiros no peito e um na testa, minha marca registrada, para que quando a
polícia encontre o corpo e a notícia da morte sair nos jornais as pessoas
percebam que Lorenzo Moretti esteve aqui e não perdoa traidores.
Olho para o corpo desfalecido com a arma ainda em mãos. Uma pena
a traição de Inácio, ele era um bom negociante de drogas. Coloco a arma de
volta no coldre da cintura e me dirijo para a saída da fábrica, minha estadia
neste País não pode se estender por muito mais, tenho negócios a tratar na
Inglaterra, tive que mudar meu percurso somente por causa desse desgraçado.
Enquanto caminho, sinto meu celular vibrar no bolso. Puxo o aparelho e
atendo sem olhar.
_Moretti! – Falo.
_Oi, meu amor! A dinda está com a janta pronta.
Mas que diabos?!!!!! Pensei que ela não tinha mais o meu número.
_Dinda Mariah! – Digo como se estivesse surpreso.
Eu vou matar minha mãe, isso só pode ser coisa dela. Ela vive me
infernizando, falando que eu devo ir visitar mais vezes a minha dinda e as
minhas primas, principalmente, Sofia que não vejo há tanto tempo. Às vezes,
ela até implora em nome da amizade delas.
_Sim, quem mais seria, meu bem? – Fala debochada. – Estou
esperando, fiz seu prato favorito, strogonoff de frango e adivinha? Helena e
Sofia estarão presentes. – Diz animada.
Santo Deus pai todo poderoso.
Coloco a mão na testa e aperto em cima do nariz, isso não deveria
acontecer, preciso chegar logo na Inglaterra e resolver meus negócios. Um
dos nossos quartéis de drogas foi atacado e eu irei pessoalmente averiguar a
situação, para que então, eu possa ir até o quinto dos infernos atrás do infeliz
que fez isso. Mas, não posso dizer não para a minha dinda, mesmo que isso
signifique passar algumas horas com Sofia. Se eu negar o convite, que nem é
um convite e sim uma intimação, dinda Mariah vai ir com esse rancor para o
túmulo.
_Estarei aí em meia hora. – Falo, me dando por derrotado.
Continuo pressionando a testa em cima do nariz, uma pequena
pontada de dor de cabeça começa a me assolar.
_Sabia que não me decepcionaria, ficarei aguardando, até breve.
Desligo o telefone sem mais, espero que ela tenha whisky, só assim
para aguentar esse jantar “em família”.
Entro no carro e aviso ao motorista da mudança de percurso.
Enquanto percorremos as ruas da cidade, entoo um mantra pessoal para
manter a paciência e aguardar até o fim da refeição. Depois, posso matar a
minha genitora tranquilamente por ter me metido nessa enrascada. Aproveito
minha raiva acumulada, puxo meu celular e envio uma mensagem para ela:
Obrigada, mamãe, estava realmente com saudades da dinda Mariah
e suas incríveis filhas.
Bloqueio o aparelho e coloco de volta no bolso. É só um jantar.
Penso. Até que estou curioso para ver Sofia depois de todo esse tempo.
Preciso dar um crédito para a garota, afinal, já fazem dez anos, ela não pode
ser mais a mesma menina insuportável de antes. Deve ter amadurecido.
Assim eu espero, pelo menos.
Não demora muito para que o veículo estacione em frente ao prédio
de dinda Mariáh.
_Não saia daqui, em poucas horas estarei retornando para partirmos
em viagem. – Deixo o motorista avisado. Não quero mais atrasos.
_Entendido, senhor.
Desço do veículo e toco o interfone, mesmo sem ninguém atender, o
portão se abre. O prédio não é dos mais requintados da cidade, ele é
intermediário. Dinda Mariáh se casou com um contador e teve as filhas, Sofia
veio em poucos meses da união, depois veio Helena. Eles permaneceram por
alguns anos casados, no entanto, posteriormente Jorge, pai das meninas, veio
a falecer de infarto, enquanto dormia. Lembro que mamãe passou quase um
mês no Brasil fazendo-a companhia, minha dinda ficou devastada com a
morte precoce do marido, depois disso nunca mais casou novamente. Aperto
o botão do oitavo andar no elevador e aguardo a máquina se movimentar.
Minutos depois, estou no andar desejado. Apartamento 802. Toco a
campainha ao lado da porta envernizada e aguardo. Em segundos, dinda
Mariáh abre a porta me recepcionando. Ela é uma mulher muito bonita,
mesmo beirando aos sessenta anos. Seus cabelos grisalhos estão presos em
um coque, ela usa um vestido floral longo e carrega um guardanapo no
ombro.
_Até que enfim. – Fala enquanto se joga para me abraçar. – Estava
morrendo de saudades de você!
Abraço-a de volta, apesar de não parecer, tenho grande afeição por
ela. Sei que ela muito ajudou minha mãe quando precisava e é a única família
que nós possuímos por fora.
_Também estava com saudades, dinda! – Digo a verdade.
_Venha, entre! Irei servir uma bebida para você.
Ela me puxa pelo braço para dentro do seu apartamento. Ele é amplo.
A porta de entrada dá para uma sala que possui um sofá retrátil cinza de três
lugares, um rack com uma televisão e ao fundo uma enorme janela com vidro
fumê. Vejo ao lado direito um corredor que deve levar para o banheiro e
quartos e, ao lado esquerdo, um balcão faz a divisão entre sala/cozinha.
Dinda Mariáh me coloca no sofá e some em direção à cozinha, não
demora muito para que ela retorne com um copo de whisky com gelo, quase
choro de felicidade, depois de matar um homem e ter que aguentar esse
jantar, eu só preciso de um belo destilado e um longo banho.
_Então, Lorenzo, veio à negócios? – Pergunta, enquanto senta ao meu
lado no sofá com uma taça de vinho em mãos.
_Sim. Tive que vir cuidar de uns problemas. – Digo. É claro que eu
não irei lhe revelar que acabei de meter três tiros em um homem. Ela sabe o
que eu faço, mas não precisa de detalhes. – Então, as meninas não chegaram
ainda? – Tento mudar de assunto.
_Não, Helena já deve estar chegando, Sofia vai se atrasar um pouco,
ela precisa viajar amanhã, então tem que arrumar as malas antes de vir.
_Hum. – É a única coisa que falo.
Escutamos o barulho da porta se abrindo, o que chama a nossa
atenção, então Helena Reymond entra. Helena é muito parecida com a mãe.
Ela possui cabelos loiros em formato long bob, as pontas são ainda mais
claras que o restante da raiz. Ela tem olhos verdes. É magra e alta, seu corpo
é admirável. Helena é o tipo de mulher que chama a atenção por onde passa,
ela é advogada criminalista e uma gata. Está vestindo um terninho preto com
uma camisa branca, nos pés usa um salto nude.
_Oh, estou atrasada. – Ela sorri e caminha em minha direção. – Prazer
em revê-lo, Lorenzo. – Levanto do sofá e lhe dou um abraço.
_O prazer é todo meu, Helena. Você está ótima! – Falo a verdade.
Vi Helena pela última vez há alguns anos, ela ainda estava na
faculdade. Sei que se formou ano passado e preferiu seguir na esfera penal,
ela tem a mesma idade que a minha irmã Luna, 24 anos.
_Você também, Lorenzo.
Helena me solta e vai abraçar a mãe.
_Sente-se aqui, querida, pegarei uma taça de vinho para você. – Dinda
Mariáh se levanta e some novamente em direção a cozinha.
_Então, como andam as coisas? – Helena tenta puxar assunto.
_Agitadas como sempre. – Respondo e beberico mais um pouco do
meu whisky.
É claro que toda a família sabe o que fazemos e o que somos.
Inclusive, todos eles são protegidos da Cosa Nostra, se alguém um dia ousar
tocar em um fio de cabelo de qualquer uma das três, assinará a sentença de
morte imediatamente.
_Imagino. – Ela sorri sem mostrar os dentes.
Dinda Mariáh retorna com a taça de vinho e a entrega para Helena.
_Sofia virá, mamãe? – Helena pergunta.
_Sim, em breve ela estará conosco.
Helena maneia a cabeça e não fala mais nada. Sei que as duas não são
tão próximas, apesar de serem irmãs. Bebericamos mais um pouco de nossas
bebidas e entramos em conversas banais do dia-a-dia. Quando ouvimos o
barulho da porta. Direciono meu olhar para ver o último convidado do jantar
de família nos saudar com a sua presença.
Sofia entra pela porta com cara de poucos amigos, mas não é isso que
me chama a atenção. Mas que porra aconteceu com a Sofia?
A menina cheia e desajeita foi embora e deu lugar para a mulher mais
linda que eu já vi. Ela está com longos cabelos negros, seus olhos são verdes
límpidos, sua boca é carnuda e completamente beijável. Sofia é magra e alta,
assim como a irmã, só mais corpulenta. Ela veste uma calça de courino preta
colada ao corpo, uma jaqueta do mesmo tecido e uma blusa decotada branca,
que marca bem os seus peitos. Quando nossos olhos se conectam, sinto meu
pau pular da calça no mesmo instante em puro desejo pela mulher que eu não
suportava.
Capítulo dois.
Desejo.

Sofia Reymond.

Arrumo minha mala calmamente, terei que partir amanhã na primeira


hora para a Inglaterra. Às vezes, ser uma profissional em comércio exterior
cansa, mas eu amo o que eu faço e jamais trocaria de profissão. Sou bilíngue,
falo inglês e português fluente, viajo várias vezes durante o mês para muitos
Países. Meu trabalho nada mais é do que viajar para o local solicitado e tentar
internacionalizar nossa empresa no local. Trabalho no ramo logístico e já
fechei contrato com muitos Países. Cansa? Cansa! Mas é a forma que eu
encontrei de conhecer o mundo, bom, ao menos uma porcentagem dele.
Quando retorno para casa, só tenho tempo de ser uma boa filha e ir visitar
minha mãe. Relacionamento? Completamente sem tempo, nem sei mais
como isso funciona. Na verdade, tenho um bom e tranquilo com o meu
vibrador. Sem traições, reclamações e discussões. Falando nele, não posso
esquecer de colocá-lo na mala.
Ouço meu celular tocar e vejo que é mamãe.
_Alô. – Atendo.
_Oi, querida! Sei que está ocupada e que precisa viajar cedo, mas
gostaria que viesse jantar aqui em casa hoje.
_Não posso, mãe, preciso descansar para a viagem.
Mamãe nunca foi uma mulher carente, no entanto, após a morte de
papai ela mudou completamente. Helena e eu precisamos estar sempre por
perto para que ela não se sinta só. Quando minha irmã se formou ano passado
e saiu de casa, tivemos a ideia dela se mudar para Itália e viver perto da dinda
Amanda, mas ela não aceitou. Por mais que goste de lá, quer ficar perto das
filhas o máximo possível. Desta forma, eu e Helena estabelecemos um acordo
de como cuidar dela, para a minha irmã é mais fácil, ela vive aqui, então está
sempre presente, já para mim, preciso me virar em quinhentas para conseguir
visita-la entre uma viagem e outra.
_Por favor, prometo que não se tardará. Lorenzo virá jantar aqui,
gostaria de poder juntá-los, faz tantos anos que vocês não se veem. – Implora
choramingando.
Lorenzo Moretti, meu “primo”. Lorenzo é filho da dinda Amanda,
melhor amiga da mamãe, que quando era jovem conheceu um mafioso em
uma investigação, se apaixonou completamente e abandonou tudo por ele,
indo embora para a Itália já grávida de Lorenzo. Mamãe tem razão, a última
vez que eu vi o menino foi no velório de papai, há dez anos. Digamos que,
quando éramos crianças nosso laço de amizade era mínimo. Nunca nos
demos bem, Lorenzo sempre foi egocêntrico e narcisista. Só pensava em ser
o Capo da máfia do pai e é isso que ele é hoje. O maior mafioso do mundo.
Espero que tenha valido a pena, depois de tudo. Lembro que ele adorava
pegar no meu pé e detestava quando eu o retrucava. No entanto, nem sempre
foi assim, quando éramos muito jovens, não nos desgrudávamos, até que ele
mudou completamente comigo, tornando-se insuportável de uma hora para
outra. Lorenzo veio ao Brasil há uns três anos à “negócios”, mamãe o obrigou
a almoçar com ela, a minha sorte, era que eu estava fora da cidade e não
compareci ao evento, postergando ainda mais o tempo que não nos vemos.
Mas agora, eu tenho outra escolha? Na verdade, nem sei se quero ter outra
escolha, confesso que estou curiosa para ver Lorenzo depois de tantos anos.
_Estarei presente, mamãe. Atrasada, mas estarei. – Falo, por fim.
Vamos ver o homem que Lorenzo Moretti se tornou.
_Sabia que não me decepcionaria, querida!
Mamãe desliga com um grande entusiasmo. Suspiro profundamente.
Termino de arrumar minha mala e vou para o banho. Deixo a água
quente cair pelo meu corpo nu me fazendo relaxar, fecho os olhos e tento
lembrar de como Lorenzo era. Ele é somente três anos mais velho que eu,
quando o vi pela última vez, ele estava com dezenove anos. Sempre foi um
garoto muito bonito, diferente de mim. Quando éramos mais jovens, ele era o
tipo de pessoa que ganharia facilmente em um eventual concurso entre as
meninas colegiais para eleger o menino mais bonito da escola, já eu, sempre
fui mais fechada, não gostava muito de socializar, passava horas estudando
dentro de um quarto e não encontrava tempo para hidratar os cabelos ou
aprender a me maquiar, mas tudo isso mudou quando ele apareceu, Dante
Cavalcante. Meu ex-namorado. Ele conseguiu me levar do céu ao inferno em
tão pouco tempo.
Conheci Dante logo após a morte de papai, éramos dois jovens. Eu
sempre correta e estudiosa e ele um eterno aventureiro. Fizemos um semestre
na faculdade juntos e nos aproximamos rapidamente, posteriormente,
começamos a namorar. Perdi a virgindade com ele, me entreguei
completamente de corpo e alma, então, ele me traiu com a minha colega de
quarto. Fiquei devastada, chorei por dias, até que resolvi me vingar. A Sofia
certinha e tímida deu lugar para a mulher decidida que sou. Aprendi a me
maquiar, a cuidar dos cabelos e comecei a gostar de moda. Criei um certo
vício em fazer compras e uma competição na minha cabeça, se eu tiver que ir
na esquina, eu vou, mas vou “divando”, afinal, a inimiga pode estar em
qualquer canto.
Saio de meus devaneios e desligo o chuveiro, me seco com a tolha e
vou para o meu closet. Tenho uma extensa variedade de roupas, em cada
lugar que eu vou, sempre encontro uma loja para estourar meu cartão de
crédito. Opto por um conjunto de courino que comprei em uma boutique em
Portugal, ele é composto por uma calça e uma jaqueta preta. Coloco uma
blusa de algodão branca bem decotada. Não sei bem o que diabos estou
fazendo, mas quero esfregar na cara de Lorenzo que a menina tímida que ele
infernizava não existe mais. Passo um rímel leve, não posso pesar na
maquiagem. Seco meus cabelos, enquanto amasso os fios com as mãos, a fim
de fazer cachos. Me olho no espelho e percebo que estou pronta. Pego as
chaves do meu veículo, junto com a minha carteira de mão e saio do meu
apartamento. Olho no relógio de pulso e percebo que estou quase uma hora
atrasada.
Já no estacionamento, destravo o carro, entro e dirijo para o
apartamento de mamãe, ele não fica muito distante do meu, em quinze
minutos chegarei ao meu destino.

Estaciono meu automóvel em frente ao prédio da minha mãe, abro o


portão de entrada com a minha chave, aperto o andar do elevador e sinto meu
coração disparar, não sei bem o que está acontecendo comigo, acho que estou
pirando. O elevador chega ao andar, inspiro profundamente, saio da caixa
metálica e me dirijo até a sua porta. Seguro a maçaneta com força, inspiro
mais uma vez e entro.
Nada havia me preparado para isso.
Vejo mamãe, Helena e ele conversando. Lorenzo se tornou um
homem maravilhoso. Ele está com os cabelos castanhos claros penteados para
trás. Seus olhos azuis continuam bem marcados, é a sua identidade. Ele está
usando barba. Seus músculos marcam bem na camisa que usa, e eu só sinto
vontade de beijar todo o seu tanquinho.
O QUE? Penso mentalmente. Eu só posso ter pirado, já sei, é a falta
de sexo real. Precisa ser isso. Lorenzo é meu “primo” emprestado e o cara
mais egocêntrico que eu já tive o desprazer de conhecer. Percebo que estou
encarando-o por tempo demais, mas, em minha defesa, ele está fazendo o
mesmo. Parece perplexo em me ver, assim como eu fiquei.
_Boa noite! – Consigo dizer firmemente, por um milagre, já que a
minha garganta secou.
_Ah, querida! Que bom que chegou. – Mamãe levanta-se e me abraça.
Devolvo o abraço de mamãe e volto minha atenção para a minha
irmã. Helena e eu nunca fomos melhores amigas, como as irmãs deveriam
ser, o que é uma pena. Somos muito diferentes, ela é egoísta e fofoqueira. Ao
invés de me apoiar como as irmãs fazem, ela sempre me dedurou. Já eu,
apesar dela ser bem mais vivida que eu, mesmo sendo a mais nova, eu
sempre a ajudei. Esperei reciprocidade, mas esta nunca veio, então, eu desisti.
_Helena! – Cumprimento-a com um maneio de cabeça.
_Sofia. – Responde.
Finalmente, chego à Lorenzo Moretti. Lorenzo é uns trinta
centímetros mais alto que eu. Sua presença preenche todo o ambiente.
_Lorenzo, é um prazer reencontrá-lo. – Estendo a mão para
cumprimenta-lo.
_O prazer é todo meu, Sofia.
Apertamos nossas mãos e eu sinto uma estranha eletricidade percorrer
minha corrente sanguínea. Solto imediatamente minha mão da sua. Olho para
a minha palma com a testa enrugada e percebo que ele faz o mesmo, então
não foi só eu que senti isso. Não deixo de perceber que sua palma é áspera,
demonstrando que ele mexe com trabalho pesado.
_Sofia, nos acompanha no vinho? – Mamãe pergunta.
_Prefiro whisky.
Mamãe vai para a cozinha e retorna com a garrafa do destilado. Ela
serve um copo e me entrega, posteriormente, vai até Lorenzo e enche
novamente o copo dele.
_Então, como andam as coisas, Sofia? – Lorenzo pergunta
informalmente.
Sua voz é grave, arrepiando os pelos dos meus braços. Agradeço por
ter vindo de jaqueta.
_Agitadas como sempre, amanhã cedo preciso embarcar para
Londres...
_Londres? – Mamãe me interrompe.
_Sim, algum problema? – Presto atenção nela.
_Mas, olha que maravilha! Lorenzo também está indo para lá. Você
pode viajar com ele.
Engulo em seco. Acho que não é uma boa ideia, mamãe! Penso.
_Acho melhor não atrapalhar, Lorenzo! – Falo.
Olho para ele que me fita com seus misteriosos olhos azuis. O garoto
que eu conhecia não existe mais. Ele está ainda mais lindo do que antes,
nunca pensei que isso fosse possível. Lorenzo sempre foi um tanto mal-
humorado, mas agora é mais que isso. Consigo ver através de suas íris toda a
maldade que ele carrega, ele não possui mais o mesmo olhar inocente de dez
anos atrás.
_Não atrapalharia. Se quiser, posso te dar carona. Meu jatinho já está
à posto, sairei daqui e embarcarei diretamente para Londres. – Fala.
Tá legal, isso é uma novidade. Lorenzo Moretti não tentou arranjar
desculpas para não viajar comigo. Viajar em um jatinho particular não seria
nada mal, afinal, viajo de classe econômica. Preciso optar, um voo melhor ou
um hotel, é claro que eu escolho o hotel. Só que, ficar boas horas dentro de
um avião bebendo espumante até Londres é nada mais do que a vida que eu
pedi pra Deus.
_Tudo bem. – A espumante e o luxo me convenceram. – Agradeço o
convite, Lorenzo. Só preciso passar em casa para largar meu carro e pegar
minhas malas.
Ele não fala nada, somente maneia a cabeça. Pelo visto continua um
homem de meias palavras. Lorenzo nunca foi de falar muito, não depois de
um tempo, pelo menos. Quando ele começou o treinamento para ser capo,
muita coisa mudou, ele mudou.
_Crianças, o jantar está pronto. – Mamãe avisa.
Levantamos juntos e nos dirigimos para a mesa. Mamãe senta na
ponta, Helena ao seu lado esquerdo e percebo, que ela colocou Lorenzo do
meu lado. Nos servimos em silêncio e começamos a comer.
_Então, Lorenzo, quando pretende retornar ao Brasil? – Helena
quebra o silêncio.
_Só quando houver problemas, por segurança, me mantenho na Itália,
só saio quando tenho questões pendentes para resolver. – Ele responde.
Tento ignorar o que significa as questões pendentes para resolver, mas
não consigo. Dentre outras palavras, provavelmente é: matar alguém, cuidar
da mercadoria humana, das drogas e dos órgãos. Para seguir essa vida precisa
ter muito sangue frio.
Lorenzo estica o braço para se servir de mais salada e eu consigo ver
um pedaço da tatuagem do seu pulso, a mesma que seu pai tem e os demais
membros da sua máfia. É o símbolo deles, da Cosa Nostra.
_É inteligente mesmo, imagino que como capo não deve ser fácil sair
por aí sem temer a morte. – Helena continua.
_Na verdade, eu não temo a minha morte, desde que minha família
fique em segurança.
_Mas, se morrer não deixará herdeiros, quem seguiria o legado da
máfia?
_Provavelmente Luna, ou papai sairia da aposentadoria e assumiria o
comando, até minha irmã gerar um sucessor.
_Então, não pretende se casar? – Insiste Helena.
_Não. – Lorenzo responde firmemente.
_Bem, talvez você e Sofia tenham algo em comum, pelo visto. –
Minha irmã fala revirando os olhos.
Lorenzo me olha curioso.
_Não pretende se casar? – Pergunta me olhando com curiosidade.
_Bem, por ora, não.
_Por quê?
_Gosto da minha vida, da minha liberdade. – Sou sincera.
Ele dá um meio sorriso e volta a comer.
Depois que terminamos a refeição, mamãe coloca um prato de torta
de bolacha como sobremesa. Como razoavelmente bem. Sempre precisei me
controlar com a comida, se tem algo que eu gosto de fazer, esse algo é comer.
Após o desjejum, voltamos a nos sentar na sala, para mais uma dose de
bebida.
_Então, como Amanda e Lucco estão? – Pergunto.
_Estão bem, desde que meu pai se aposentou, vive somente para a
minha mãe. – Enquanto ele fala, vejo-o levantar uma sobrancelha e bebericar
seu whisky. Parece que Lorenzo não concorda muito com a opção do pai,
mas resolvo não me envolver nesses assuntos pessoais.
_Estou com tanta saudade de Amanda, talvez eu vá para a Itália no
final do mês, estamos combinando uma semana de diversões para relembrar
os velhos tempo. – Mamãe fala.
Gostaria muito de um dia encontrar uma amizade tão sincera e
verdadeira igual a delas. Sei que Amanda sofreu muito, perdeu os pais cedo,
morou em orfanato, saiu e fez a vida. Estudou arduamente, conheceu mamãe
e por muitos anos, ela foi a sua única família, até Lucco Moretti aparecer.
_Sei que ela já deve estar ansiosa e planejando tudo minuciosamente
para vocês. – Lorenzo sorri.
Jesus Cristinho.
Ele é ainda mais lindo sorrindo. Sinto minhas entranhas se revirarem
e um calor se concentrar no meio das minhas pernas. Nesse mesmo momento,
sinto minhas bochechas corarem por começar a imaginar uma bela cena
pornô com Lorenzo sendo a atração principal. Pelo amor de Deus. Minha
irmã e mãe estão aqui. E Lorenzo é... Lorenzo, era pra ser um “eca, que
nojo!”.
_Querida, você está bem? Parece vermelha. – Mamãe pergunta.
Lorenzo me olha e levanta novamente a maldita sobrancelha. Deus,
me leve nesse instante.
_Eu... É... Hã... – O desgraçado me olha fixamente e dá um meio
sorriso. Benza Deus, quer dizer, não! Crédo! – É a bebida! Está me dando
calor. Bem preciso ir para casa buscar minhas malas. – Levanto
imediatamente.
Até meu sangue ferve de vergonha. Será que eu encarei Lorenzo por
tempo demais e ele percebeu o que estava passando pela minha cabeça?
_Mas, já? – Helena pergunta.
_Sim, não sei que horas Moretti partirá, não quero ser um estorvo e
atrasá-lo.
Todos olham para Lorenzo. E ele dá de ombros.
_Assim que me sentir confortável para partir, eu irei.
_Bem, então, estou indo para casa. Encontro-lhe mais tarde.
Coloco o copo na mesinha de centro. Abraço mamãe e dou um tchau
para Helena.
_Até mais, Lorenzo Moretti! – Digo.
_Até mais, Sofia Reymond.
Saio do apartamento de mamãe, pensando que preciso encontrar uns
minutinhos com o meu vibrador antes da maldita viagem. Fala sério, onde eu
estava com a cabeça, viajar por horas com Lorenzo Moretti, nós nos
odiávamos quando éramos jovens e porque diabos agora o meu corpo resolve
ter tanto tesão por ele. Preciso lembrar a mim mesma que ele é o mesmo
narcisista de sempre, só mais másculo, bonito, gostoso, bem cheiroso... Para,
para! Cérebro, me ajuda também, faz favor. Na verdade, que meu vibrador
tenha piedade de mim, porque Deus não terá.
Capítulo três.
Perseguidos.

Lorenzo Moretti.

Já faz meia hora que Sofia saiu por aquela porta e desde então eu não
consigo manter minha mente longe dela. Não sei em qual momento a menina
tímida e desleixada se tornou a mulher mais linda que meus olhos já tiveram
o prazer de ver. E, isso que eu já andei com um número considerável de
mulheres. Tento achar um motivo plausível para estar tão fissurado pela
garota que eu detestava na infância, mas não encontro. Talvez seja a falta de
sexo, só pode ser isso.
Ouço Helena contar alguma história que meu cérebro não consegue
decifrar, tendo em vista que eu estou com a mente em um único lugar. Na
verdade, em uma única pessoa de olhos verdes e longos cabelos pretos. O
mais estranho foi a eletricidade que senti ao apertar a sua mão. Daria meu
cargo para ler os pensamentos de Sofia momentos antes de partir. Vi como
ela estava me cobiçando e, mesmo sem perceber, respirava com a boca
entreaberta. Estava muito sexy, só para registrar. Não sou nenhum jovem
garoto, sei quando uma mulher está com tesão acumulado e, certamente,
Sofia está. Só gostaria de saber qual rumo seus pensamentos estavam
migrando enquanto me comia com os olhos. Infelizmente, não pude deixar de
demonstrar minha satisfação ao ver o seu desejo por mim. Não que eu um dia
vá ter algo com a garota, longe disso. Mulheres próximas da família são um
problema. Uma vez andei com uma das empregadas da nossa residência na
Itália, ela se apaixonou perdidamente, perseguiu até mamãe, precisei manda-
la para bem longe. E Sofia é praticamente da família, isso era para parecer
nojento e estranho, mas as imagens da maldita garota que eu tenho registrado
na cabeça não me deixam pensar assim. Preciso ser sincero comigo mesmo,
eu a desejo, como nunca desejei nenhuma mulher antes, só que diferente das
outras, eu nunca a terei.
_Então, Lorenzo o que acha? – Helena pergunta curiosa.
_Eu... Bem, perdoe-me, Helena, não prestei atenção. – Olho para o
relógio do meu pulso. – Preciso partir.
Levanto-me subitamente, deixo meu copo ao lado do de Sofia que
ainda está no mesmo lugar em que ela o colocou alguns minutos atrás.
_Tudo bem, querido. Já me sinto lisonjeada só de ter tido o prazer da
sua companhia para o jantar. – Dinda Mariáh vem me abraçar.
_Espero a senhora no final do mês na Itália. – Falo.
Pobre do papai, aguentar dinda Mariáh e mamãe juntas, ainda bem
que terei muito trabalho, assim espero. Me solto do seu abraço de urso e vou
até Helena.
_Foi ótimo reencontrá-la, Helena! – Digo para a garota. Abraço-a e
me afasto.
_Digo o mesmo, senhor Lorenzo Moretti.
Dinda Mariáh me acompanha até a porta, me despeço mais uma vez e
saio do apartamento. O motorista com o carro estavam me esperando, como
eu havia ordenado. Em poucos minutos chegamos ao nosso destino. Desço do
veículo e caminho até o local onde o jatinho está me esperando, não sei se
Sofia já chegou, espero que sim, não quero ficar esperando-a. Mas, quando
me aproximo do local do jatinho, lá está ela.
Sofia possui uma aura sensual. Ela está parada com uma mala de
rodinhas ao lado, ela não percebe minha aproximação, pois está muito
concentrada no seu aparelho celular, me pergunto se ela fala com algum
casinho e instintivamente sinto ódio só de imaginá-la com outro alguém. Ela
parece concentrada.
_Vamos. – Digo, agora bem próximo dela.
Ela estava tão concentrada em seu telefone que levou um susto com a
minha voz.
_S-sim. – Gagueja.
_Não quis entrar sem mim? – Pergunto o que está me deixando muito
curioso desde que coloquei meus olhos nela.
Ela não precisava ficar me esperando para embarcar, poderia tê-lo
feito, tenho certeza que ninguém a impediria. Começo a caminhar e Sofia me
segue, puxando a sua mala.
_Bem, seus, hã... funcionários não parecem amigáveis. – Fala.
Paro de andar imediatamente, imaginando uma morte lenta e
dolorosa.
_Alguém fez algo contra você? – Pergunto entredentes.
Sofia enruga a testa e me olha espantada.
_Não, é claro que não. Por quê?
_Nada.
Volto a andar e ela faz o mesmo. Nem fui cavalheiro o suficiente para
pegar sua mala. Ela puxa a bugiganga rosa fazendo um estressante barulho.
Chegamos ao jatinho e eu pego sua mala sem avisar, ela se assusta com o
meu puxão, mas continua em silêncio.
_Quantos dias você vai ficar em Londres? – Pergunto curioso.
_Três.
Pelo peso da mala esperava no mínimo um mês, penso. Subimos a
escada do jatinho e finalmente entramos nele. Entrego a mala de Sofia para
um dos meus homens guardar e indico um assento para ela. O jatinho é claro,
todo bege por dentro. Possui quatro cadeiras de couro. Duas no lado direito e
duas no lado esquerdo, uma de frente para a outra com uma mesa de madeira
no meio. Nos fundos um banheiro e um dormitório. A minha equipe é
composta por dois homens que eu nunca vi, tendo em vista que são os novos
comissários de bordo. Também não conheço o piloto e, claro, Arléte a
aeromoça, a qual me diverte em longas viagens. Falando na diaba... Arléte
tem somente vinte e dois anos. Ela é morena, tem longos cabelos castanhos e
lindos olhos do mesmo tom. A garota é uma das mais safadas que já andei.
Sem privações. Ela é linda e gostosa, não tanto quanto Sofia. Mas, porque eu
estou comparando as duas, mesmo?
Arléte entra na nossa cabine e me dá um sorrisinho sacana. Mas,
quando vê que estou acompanhado, faz, instantaneamente, cara de nojo para
Sofia, o que me irrita. Olho para a minha acompanhante e percebo que ela se
afeiçoou tanto por Arléte quanto esta por ela. Ambas se encaram com ar de
superioridade.
_Senhor, precisa de alguma coisa? – Pergunta ignorando totalmente a
presença de Sofia.
Sinto uma crescente irritação. Arléte nunca pareceu ciumenta ou
possessiva, nosso relacionamento não passa de sexo. Nunca trouxe nenhuma
amante para o meu jatinho. Ignoro Arléte e olho diretamente para Sofia, que
me observa com curiosidade.
_Sofia, quer alguma coisa? – Pergunto olhando no fundo dos seus
lindos olhos verdes.
_Gostaria de uma espumante, se tiver, é claro. – Fala.
_Sim. – Sorrio levemente para ela. – Arlete, por favor.
Minha aeromoça bufa e sai a passos largos para buscar a bebida. Só o
que me faltava, ter que me livrar de Arléte também. Olho para Sofia e ela me
encara com cara de poucos amigos. Mas o que diabos está acontecendo com
essas mulheres. Arléte retorna com a taça de espumante de Sofia, sem falar
nada. Ela pousa o copo na frente da minha acompanhante e, mesmo sem eu
ter solicitado, coloca um copo de whisky na minha frente. Posteriormente, ela
se inclina na minha mesa, quase enfiando os peitos no meu rosto e pergunta:
_Posso lhe ser útil em mais alguma coisa?
Ouço Sofia bufar ao lado. Arléte está marcando território.
_Não, obrigado! – Falo sem nem olhar para ela.
Detesto essa birra ridícula, mesmo que eu não tenha nada com Sofia.
Pensei que Arléte fosse mais madura. Infelizmente, terei que me livrar dela
assim que pousarmos em Londres. Não gosto de mulheres possessivas na
minha volta e essa falta de respeito eu não irei tolerar. Arléte se afasta de cara
amarrada, só dando ainda mais ênfase para me livrar dela.
_Então... – Começa Sofia me fazendo prestar atenção nela. – Você
transa com quase todas as suas aeromoças? – Termina a pergunta de forma
irônica enquanto beberica a sua espumante.
Me sinto igualmente irritado com Sofia, quem ela pensa que é para
dar pitaco na minha vida.
_Não todas, mas quase. – Retruco.
Ela fica me olhando com raiva. Então, sem mais e nem menos, vira
toda a espumante do copo de uma só vez.
_Vou dormir, antes que eu entre para essa sua listinha também.
_O que? – Grito sem querer.
Minha voz sai mais descontrolada do que eu esperava.
_Bem, pelo visto você possui um certo fetiche em manter relações
sexuais no céu. Não quero entrar para a lista e também não quero ouvir
gemidos. Portanto, boa noite, senhor Moretti.
Aí está a jovem Sofia, a mesma menina que eu lembrava, atrevida e
metida.
_Não se preocupe, senhorita Reymond, você não faz o meu tipo. –
Falo. Tudo bem que eu estou com uma ereção só de estar observando a forma
como os seus peitos ficam na sua decotadíssima blusa, mas ela não precisa
saber disso.
Sofia levanta abruptamente do seu acento semicerrando os olhos.
_Graças a Deus. – Dito isso, deita-se novamente e coloca um tapa-
olho de gato.
Mas, o que? Graças a Deus! Essa garota só pode estar brincando. Na
verdade, ela fala isso porque nunca transou comigo. Todas as mulheres que o
fizeram, quiseram repetir. Como Sofia Reymond ousa se desfazer dos meus
desejos. O filho da puta do meu pau pulsa ainda mais na calça, pressionando
o tecido urrando por libertação. Eu poderia ir atrás de Arléte e me satisfazer,
mas sinto que não é bem isso que ele quer. E se eu transar com Sofia somente
para coibir minha curiosidade? Nos veríamos algumas vezes, mas não tantas
depois do fato. Ficamos dez anos totalmente distantes, poderíamos fazer isso
novamente. Não! Não parece uma boa ideia. Tiro esses pensamentos
impróprios da minha mente e me concentro no meu aparelho celular,
tentando não prestar atenção em como os seios deliciosos de tamanho
mediamos da minha acompanhante sobem e descem enquanto ela respira.
Merda! Foco, Lorenzo Moretti.
O jatinho decola. Meia hora já passou desde que Sofia, em tese, está
dormindo. Continuo tentando conter a minha vontade insana de enfiar o meu
pau bem fundo e duro na boceta gostosa dela. Até pareço um garoto de treze
anos que recém está descobrindo os prazeres do corpo humano. Como assim
eu não consigo ficar ao lado da menina mais desbocada e atrevida que eu já
conheci sem ter vontade de transar?!
Um gemido chama a minha atenção. Tiro os olhos do telefone, tendo
em vista que eram somente eles que estavam concentrados no aparelho, visto
que a minha imaginação estava em como seria ganhar um sexo oral de Sofia.
Olho para a cabine de onde eu escutei o barulho estranho. Parece de Arléte.
Solto meu cinto de segurança silenciosamente, saio do meu banco e me
escondo atrás da outra cabine, aguardo alguns instantes, caso gemidos
reverberem novamente, a vadia da Arléte está se divertindo com meus
homens, mas, como capo, não posso dar sorte para o diabo. Qualquer sinal
estranho eu devo ficar em alerta.
Permaneço escondido atrás das cortinas, então, um dos homens
desconhecidos surge segurando uma arma. Vejo o exato momento em que ele
me procura, sua arma está direcionada para frente. Ele parece assustado, e
fica ainda mais quando não me encontra. Espero mais um pouco e quando ele
está próximo o suficiente eu dou um chute bem forte em seu peito arrancando
a cortina da divisória entre as cabines. O homem voa longe e cai de costas no
chão, deixando sua arma cair para o lado. Corro em sua direção e chuto o seu
rosto. Vejo dentes voarem e ele urrar de dor. Junto sua arma que está caída
mais a sua esquerda.
_Quem mandou você? – Pergunto com a arma apontada para ele.
Ele é insistente, permanece calado somente me encarando. Piso nas
suas bolas com força.
_Perguntarei somente mais uma vez. – Falo de forma fria. – Quem
mandou você?
_Bra-bratva. – Gagueja enquanto engole o próprio sangue.
Sem esperar, dou um tiro bem no meio da sua testa. A arma tem
silenciador, o que eu agradeço, tendo em vista que quando cheguei havia
outro homem desconhecido, portanto, preciso caçar o outro inimigo. Olho
para trás e vejo que Sofia continua dormindo, alheia ao que acontece aqui.
Puxo o corpo para dentro da cabine de onde eu saí, que é a cabine ao lado
contrário de onde ele veio. No chão fica um rastro de sangue e um cheiro
forte impregna o ambiente. Retorno e dou mais uma olhada em Sofia, a
garota dorme igual a uma pedra. Entro na outra cabine silenciosamente, vejo
Arléte amarrada e amordaçada. Ela me olha em pânico. Ignoro-a. Continuo
andando. Entro na cabine do piloto e vejo-o tranquilamente pilotando,
provavelmente alheio ao que acontece aqui. Não encontro o segundo
indivíduo, mas seu desaparecimento confirma que está junto com o primeiro.
Estou revistando cada canto de dentro desse avião quando escuto Sofia arfar.
_Mas o que? – Ela parece assustada.
Saio quase que correndo em sua direção. Quando entro, consigo vê-la
espantada olhando para o homem que está quase tocando nela. Ele está com
ela em sua mira. Não penso duas vezes e então atiro nas suas costas bem no
meio do seu crânio. O corpo desfalecido cai em cima de Sofia, porém, eu não
estava pronto para o que viria depois.
Sofia começa a gritar, tão alto e tão estridente que meus tímpanos
começam a protestar. Corro em sua direção.
_O que foi? Você está bem? – Tiro o corpo de cima dela. E começo a
toca-la. Só que garota não para de gritar.
_Me-meu Deus! – Gagueja. Ela olha fixamente para o morto aos
nossos pés.
_Sofia, olhe para mim. – Pouso a mão em seu queixo e forço-a a me
olhar. – Está tudo bem com você?
Ela parece muito assustada, seus olhos estão esbugalhados e suas
pupilas dilatadas. Vejo o momento exato em que recobra a consciência.
_Se eu estou bem? – Fala incrédula. – Você só pode estar LOUCO!
VOCÊ ACABOU DE MATAR UM HOMEM BEM NA MINHA FRENTE
E PERGUNTA SE EU ESTOU BEM? – Grita.
Ela está em estado de choque ainda. Chuto o corpo para longe. Retiro
o cinto dela e a pego no colo. Como eu imaginava, nada pesada. Vejo rastros
de sangue na sua roupa.
_Me coloque no chão agora! – Esbraveja.
_Irei leva-la até o quarto. – Falo.
Entro no cômodo e a coloco na cama. Ela parece estagnada ainda pelo
choque.
_Nunca viu nenhum morto antes? – Tento descontrair o clima tenso.
_Você é um P-S-I-C-O-P-A-T-A! – Soletra. – Acha que eu não optei
por medicina porquê? Porque eu tenho PAVOR de sangue, seu idiota! O que
você está pensando?!!!!
Certamente, um claro sinal de choque. Ela não fala nada com nada.
Sento-a na cama e me sento ao seu lado.
_Sofia, por favor! Me deixe explicar. – Tento falar, mas sou
interrompido.
_Porque, meu Deus, porque eu resolvi vir de jatinho particular? Aí,
acho que vou vomitar, não, vomitar não, acho que vou desmaiar.
Sofia volta a falar coisas desconexas e aleatórias em claro estado de
pânico, preciso que ela foque em mim para que eu possa explicar, mas a
garota está me atordoando, então eu faço a coisa menos improvável e
provavelmente a maior besteira que farei em toda a minha vida. Puxo Sofia
para perto de mim e colo meus lábios nos dela. Ela parece assustada no
começo, mas corresponde o beijo momentos depois. Enrosco minha mão nos
seus cabelos da nuca, para que ela se cole ainda mais a mim. Forço-a abrir a
boca e enfio minha língua, fazendo movimentos circulares. Seus lábios são
macios e ela tem um gosto doce de espumante. Seu beijo é cálido e pávido ao
mesmo tempo. Mordisco seu lábio interior, fazendo-a gemer. Meu pau
pressiona ainda mais a minha calça querendo atenção. Antes que eu faça
ainda mais merda, tenho um surto de sanidade e me afasto de Sofia.
Ela me olha com os lábios vermelhos e os olhos embebedados de puro
desejo. Forço meu autocontrole para não atira-la na cama e comer ela até
Londres. Coço a garganta.
_Agora que está mais calma, na porta à direita, tem um banheiro pode
tomar um banho e trocar de roupa nele. Resolverei algumas coisas e retorno
para conversarmos.
Ela ainda parece estar em outro planeta, mas consegue proferir:
_O-ok.
Saio apressado do quarto. Mas, que porra eu acabei de fazer? Eu
beijei Sofia Reymond, e sabe o que é o pior? O pior é que eu não me
arrependo nem um pouco, pelo contrário, meu corpo anseia por mais. Estou
completamente fodido.
Capítulo quatro.
Desejo.

Sofia Reymond.

Lorenzo sai do quarto me deixando em choque. Meu Deus! Ele me


beijou. Não consigo nem pensar mais no morto, mas somente em seu beijo.
Até agora não consigo acreditar que isso aconteceu. Tentando fingir
demência, procuro minha mala e a encontro ao canto. Puxo de dentro dela um
vestido midi preto floral que fica quase uma segunda pele no meu corpo,
pego um conjunto de lingerie de renda bege e um scarpin preto. Corro para o
banheiro. O banheiro é pequeno e claro, assim como restante. Tiro as minhas
roupas com nojo e ligo o pequeno chuveiro que fica ao fundo do cômodo.
Entro debaixo da água morna, molhando o cabelo. Fecho os olhos e tento
focar minha mente no assassinato que eu acabei de presenciar, mas só
consigo pensar no beijo. Lorenzo Moretti, não está me ajudando a apagar
esse tesão louco que surgiu assim que o vi.
Termino meu banho e me visto, saio do quarto e vejo Lorenzo
sentado me esperando, enquanto digita velozmente no seu notebook. Quando
percebe a minha presença, ele tira os olhos do computador e me fita, parece
apreciar o que vê. É óbvio que eu não fiz de propósito, colocar um vestido
decotado e colado, eu só gosto dele e, não, eu não coloquei ele na mala assim
que retornei para casa sabendo que pegaria uma “carona” com Lorenzo não
né?
Ele coça a garganta.
_Tenho uma má notícia. – Fala.
Me mantenho de pé e bem distante dele. Nem aqui e nem na China
que eu vou me sentar ao seu lado novamente.
_Fale. – Forço minha garganta a proferir as palavras enquanto
observo seus deliciosos lábios se movimentarem.
_Quando que você irá fazer, sei lá o que faz no seu trabalho? –
Pergunta.
_Depois de amanhã.
_Você precisa cancelar.
Começo a rir descontroladamente. Cancelar uma reunião de
trabalho?! Ele só pode estar louco.
_E exatamente porque eu faria isso? – Pergunto sarcasticamente
tentando manter a calma.
Começo a bater o pé no chão. Um péssimo habito que tenho quando
estou com raiva ou nervosa.
_Pelo simples fato de que será morta caso fique longe de mim.
Paro imediatamente de bater o pé. Olho boquiaberta para Lorenzo e,
acredito, que se meus olhos soltassem raios, Lorenzo não faria mais parte
desse plano. Envolvo minha mente em milhões de perguntas sobre como e
por quê eu serei morta caso eu não fique perto dele.
_Do que você está falando? – Consigo perguntar.
Mordo a ponta do polegar da mão direita. Estou claramente surtando.
_Os homens mortos eram espiões, se infiltraram de alguma forma na
minha equipe e estavam aqui para me matar. – Ele começa. – Eles repassaram
as informações de cada passo que eu dei desde que pisei no Brasil, dentre
eles, a informação de que eu estou acompanhado na minha ida para Londres.
Começo a sentir falta de ar. Não sei se conseguirei formular qualquer
palavra. Nunca imaginei que pegar uma “carona” com um mafioso se tornaria
uma bela merda. Também sou uma completa idiota estúpida, afinal, ele é
MAFIOSO.
_Por isso você não pode sair de perto de mim. Bratva irá atrás de
você, para tortura-la por informações e até mesmo executá-la. – Ele continua.
– Temo que na semana seguinte em que ficarei em Londres, você precisará
me acompanhar, depois ir comigo para a Itália e, posteriormente, retornar ao
Brasil.
Lorenzo fica em silêncio me observando, esperando uma resposta ou
uma reação, o problema é que eu não consigo esboçar nada. Estou em
choque, não consigo me mexer, nem piscar ou até mesmo respirar. Ser
torturada ou morta? Jesus Cristo onde eu fui me meter. Saudades viajar de
econômica. Nenhuma taça de espumante vale isso.
_Não será possível. – Consigo falar. – Serei demitida.
Ele só pode estar louco, simplesmente não comparecer na minha
reunião em Londres e sumir por dois meses?! Lorenzo não tem noção
nenhuma de como o ramo trabalhista está difícil hoje em dia, conseguir
emprego já é uma proeza, um que pague bem é um milagre. Não posso
simplesmente ignorar também o fato de que sou mulher e apesar do mundo
estar evoluindo homens machistas ainda comandam a chefia da grande
maioria das empresas.
_Que assim seja. Eu pago o seu salário.
Eu disse que ele não entendia o que isso significa. Lorenzo nunca
precisou trabalhar de fato, responder a um superior. Ele não pode ser
demitido.
_Não é só pelo salário, Lorenzo! Eu gosto do meu emprego e tenho
meus compromissos, não posso simplesmente sumir. – Rebato.
_Você não tem escolha, Sofia. Minha mãe arrancará a minha cabeça
se algo acontecer com você e, acredite, preferirá ficar desempregada do que
cair nas garras da Bratva, nenhuma máfia tem dó quando se trata do inimigo.
Estremeço com as suas palavras. A vontade de chorar é grande, mas a
de surtar é maior. Eu vou matar mamãe por ter tido a brilhante ideia de
Lorenzo me dar uma “carona”, eu deveria saber que ser uma pessoa normal e
andar com mafiosos nunca dá certo, não deu certo para Amanda há alguns
anos e não deu certo para mim agora. Afinal, do que adianta eu enlouquecer
ou contestar, Lorenzo tem razão, não posso simplesmente seguir a vida como
se nada estivesse acontecendo. Cresci convivendo com mafiosos, sei
exatamente do que eles são capazes, sei o suficiente para desistir do trabalho
ou de qualquer outra coisa desde que me deixe em segurança. Lágrimas
pinicam meus olhos, mas preciso zelar pela minha segurança, mesmo que
isso signifique ser demitida do emprego que eu tanto adoro.
_Está bem. – Falo convencida.
_Está bem? – Lorenzo parece perplexo, como se um chifre tivesse
acabado de crescer na minha cabeça bem na sua frente.
_Sim. Sei o suficiente de vocês para escolher a melhor opção. – Falo a
verdade.
Ele me observa ainda desconfiado, porém, não fala nada. Eu não falei
totalmente a verdade, mas também não menti. Eu sou esperta o bastante para
querer ficar perto de Lorenzo enquanto ele resolve essa merda toda em que
nos enfiou. Só que, eu tenho muitas férias acumuladas e estou apostando
nisso, assim que aterrissarmos ligarei para o trabalho fingindo indisposição e
pedindo trinta dias de férias. Espero do fundo do meu coração que meu chefe
aceite de bom grado e me mantenha empregada.
_Era só isso? – Pergunto com ódio contido na voz.
Estou com ranço dele, afinal, foi ele quem me meteu nisso, poxa!
Tudo bem que se eu não tivesse sido tão cretina e escolhido viajar pela
espumante, não estaria nessa situação.
_Não. – Fala me pegando de surpresa. Ele coça a garganta. – Quanto
ao beijo... – Percebo que ele não sabe como se expressar. – Hã... Foi a única
maneira que encontrei de fazê-la ficar quieta, peço desculpas e prometo
nunca mais ultrapassar a linha de amizade que temos.
Uma facada seria menos dolorosa. Olho friamente para Lorenzo,
como ousa falar isso. Não que eu quisesse repetir a dose, longe disso. Mas
fazer tão pouco caso do meu beijo. Eu sou leonina, querido! Ninguém me
trata assim, não mais!
_Ah! Isso. – Finjo indiferença. – Não se preocupe, eu nem lembrava
mais, foi tão decepcionante, esperava mais de um mafioso. – Sorrio
ironicamente para ele.
Giro meu corpo e saio da cabine, deixando Lorenzo boquiaberto para
trás. Lorenzo Moretti, você precisa aprender a tratar bem uma mulher,
principalmente uma leonina.

Após o ocorrido Lorenzo e eu não nos falamos mais.


Aproximadamente uma hora depois ele me fez companhia na cabine onde eu
estava, de banho tomado, percebo. Horas mais tarde, cá estamos nós em uma
pista de voo clandestina esperando um carro vir nos buscar. Estou em silêncio
sentada em cima da minha mala rosa, Lorenzo está ao meu lado digitando
furiosamente em seu celular. Observo ao nosso redor a paisagem, ao redor da
longa pista aonde pousamos há somente uma extensa floresta. Não vejo
nenhuma casa por perto e nem sinal de pessoas, provavelmente a pista é tão
clandestina que foi construída aqui justamente para que traficantes e mafiosos
possam desembarcar no País de forma invisível. Não demora muito para que
um SUV preto se aproxime de nós. Lorenzo para de mexer no celular,
guarda-o no bolso e pega sua mala.
_Vamos!. – Ele fala em tom autoritário, enquanto se aproxima do
veículo.
Sem dizer uma única palavra eu o sigo. Puxo minha mala rosa de
rodinhas e a entrego para o motorista, que agora está escorado próximo ao
porta-malas. O homem parece uma muralha, tenho uma leve impressão de
que ele é mais alto que Lorenzo. Ele literalmente faz o estilo guarda-costas
dos filmes americanos que assistimos. Faço a volta e sento no banco traseiro
do veículo. Lorenzo já está sentado ao lado contrário do motorista, também
no banco traseiro. Ele voltou a digitar no celular. Não demora muito para que
o motorista retorne ao seu posto e começa a dirigir.
Como eu havia desconfiado, seguimos uma longa estrada
completamente deserta, até entrar em uma das vias onde há civilização.
_Para onde vamos? – Pergunto quebrando o silêncio.
_Para um dos meus hotéis. Já adianto que mais tarde precisaremos
passar em um dos meus clubes. – Lorenzo responde sem tirar os olhos do
celular.
Não respondo. Sei qual é o nível dos hotéis da máfia, passarei os
próximos dias me esbaldando em chocolates e espumantes bem caras.
Também não irei me opor quanto a ir em um de seus clubes, sei que são os
mais exclusivos. São inúmeros ao redor do mundo, sempre desejei ir a um, no
entanto, não chamaria ninguém da máfia para conseguir um “ingresso de
entrada”.
O carro segue por um longo percurso que leva em torno de uma hora.
Fizemos todo o caminho em silêncio. Aproveito este tempo para mandar uma
mensagem para o meu chefe informando meu “mal súbito”, peço perdão e já
adianto minhas férias. Ele não pareceu muito conformado no começo, mas
aceitou e disse que providenciaria imediatamente alguém para me substituir e
já enviou meus trinta dias de férias. Quando Lorenzo informou que eu não
poderia comparecer no meu compromisso de trabalho e que eu deveria me
manter afastada por alguns dias eu enlouqueci, mas sabia das minhas chances
de não ser demitida por isso, afinal, eu sempre estou disposta na empresa, sou
a que mais atende e viaja. Não tenho família ou empecilhos como os demais.
Inesperadamente o veículo para em frente a um luxuoso hotel. Meus
dias de glória chegaram, finalmente. O motorista desce do veículo e abre a
porta para mim, posteriormente, ele vai pegar as malas e entregar para o
funcionário do hotel. Sigo Lorenzo para dentro do suntuoso edifício. O hall
de entrada é bem amplo, passamos por uma porta giratória de vidro e
chegamos a ele, que é composto somente por alguns sofás de couro
espalhados de forma estratégica pelo ambiente. Ao nosso lado esquerdo está
o balcão com funcionários para fazer os check-in e check-out. Lorenzo
caminha diretamente para este balcão, eu o sigo, ainda encantada pelo
ambiente luxuoso e com muitos tons de dourado diferentes do que eu estou
acostumada. Meu acompanhante fala alguma coisa para um funcionário, que
lhe entrega um cartão. Feito isso, ele se vira e caminha em direção ao
elevador, ainda sem falar absolutamente nada. Entro na máquina metálica na
sua companhia e o observo, ele parece tenso e muito furioso. Não presto
atenção no percurso, só vejo quando o elevador para na cobertura, Lorenzo
sai e eu continuo o acompanhando.
_Vamos ficar na suíte principal, ela não é oferecida à nenhum
hóspede, foi feita exclusivamente para abrigar o capo enquanto estiver aqui.
_Tá. – É só o que consigo falar.
_A suíte possui somente uma cama, portanto, dormirei no sofá.
Sinto meu corpo se enrijecer, uma única cama, um cômodo inteiro na
companhia de Lorenzo por alguns dias, isso não vai dar boa coisa.
Chegamos em frente a uma enorme porta de madeira envernizada,
Lorenzo passa o cartão e ela se abre. A suíte é ainda mais esplendida do que o
restante do hotel. Nosso quarto dos próximos dias, tem uma cama, uma sala
com televisão, um banheiro enorme e uma sacada com piscina com uma das
vistas mais lindas que já tive o prazer de contemplar nesta vida. Ignorando
totalmente a presença de Lorenzo começo a passear pelo quarto admirando
cada detalhe.
_Ao final do dia teremos que sair. – Ele fala.
_Como assim? – Pergunto.
_Preciso ir em um dos meus clubes, não posso deixá-la sozinha.
Apesar do hotel pertencer a máfia, não confio cegamente nos funcionários.
_Tudo bem. – Falo.
Lorenzo me olha um tanto desconfiado, mas ignora. Eu sei o que se
passa por sua cabeça, ele deve estar pensando que seria mais difícil me
convencer a acompanha-lo. Porém, ele não sabe que eu estou louca para uma
balada com muita bebida cara e, o melhor, gratuita.
_Vou tomar um banho. – Digo.
Puxo minha mala e a arrasto até o banheiro. Aproveitando todas as
regalias que é ficar em um quarto de um hotel cinco estrelas, encho a
banheira e coloco todos os óleos e essências que eu encontro. Tomo um
longo e delicioso banho que relaxa até a minha alma. Quando sinto a água
começar a esfriar, saio e coloco um roupão. Escolho uma lingerie preta
rendada. Saio do banheiro e vejo um carrinho cheio de delicias para desfrutar.
Como um croissant e bebo um pouco de chá e vou me deitar. Toda essa
loucura me deixou bem sonolenta. Deito na cama, fecho os olhos e apago.

Acordo de supetão. Olho assustada para a minha volta. Vejo que já é


noite. Ouço o barulho do chuveiro e uma claridade saindo por debaixo da
porta do banheiro. Lorenzo deve estar no banho. Levanto, ascendo as luzes,
abro a minha mala e começo a procurar alguma roupa para colocar. Encontro
um vestido prata brilhoso. Ele é bem curto, possui alças finas e um longo
decote. Nada apropriado para uma viagem de negócios, mas como essa não é
mais uma, posso usar o vestido tranquilamente. Sempre trago peças aleatórias
contando com algum imprevisto. Pego um salto aberto preto e uma bolsa de
mão também preta. Quando faço menção de me vestir a porta do banheiro
abre. Deus me ajude.
Lorenzo não veste nada além de uma toalha na cintura. Ele possui um
peitoral bem definido. Seus cabelos estão molhados e bagunçados e na luz,
vejo gotículas de água caírem por seu abdômen. Minha vagina começa a se
inquietar.
_Ah! Você já está cordada! – Exclama.
Tenho vontade de falar que na verdade estou em um delicioso e
cheiroso sonho, mas minha língua está presa na boca, o que, por ora, é uma
sorte.
_Eu já ia lhe chamar, precisamos sair em pouco tempo.
Percebo que balanço a cabeça em sinal afirmativo com muita
intensidade, sem nunca tirar os olhos desse tão maravilhoso peitoral. Quando
finalmente consigo assumir o controle das minhas órbitas, olho para o rosto
de Lorenzo e percebo que ele está sorrindo. Merda. Ele deve ter percebido
que eu estava o secando. Sem falar absolutamente uma única palavra. Puxo
da mala a minha nécessaire e corro para o banheiro, passando por ele como
um jato. Fecho a porta do banheiro com força e me escoro nela. Que Deus me
ajude a sobreviver nesses próximos dias. Suspiro alto e vou para a pia. Jogo
uma água gelada no rosto, escovo os dentes e começo a fazer uma
maquiagem. Olhos delineados, sem sombra, um cílio postiço bem marcante e
um batom vermelho. Nos cabelos passo uma chapinha, já que estão
completamente marcados de ter dormido com eles molhados. Enrolo as
pontas para ficar com os cachos que eu tanto amo. Coloco o vestido e o salto.
Me olho no espelho e aprovo meu visual. Destranco a porta e saio do
banheiro. Lorenzo está parado bebericando um copo de whisky, quando seus
olhos pousam em mim ele não se mexe, não pisca, não faz absolutamente
nada. Sinto uma energia me puxar para perto dele, sem pensar eu caminho e
paro bem na sua frente, a poucos centímetros de distância.
_V-vamos. – Gaguejo.
Ele continua me olhando sem falar absolutamente nada. Então, sem
mais e nem menos. Ele pousa o copo no balcão de canto e segura minha
cintura, colando o seu corpo no meu. Sinto um formigamento no meu
interior. Ele aproxima sua boca do meu pescoço, então inspira
profundamente, sentindo o meu cheiro. Sua mão me aperta ainda mais. Vejo
que ele possui dificuldades em se controlar. Então ele me solta e se afasta
como se eu o queimasse.
_Vamos! – Dito isso, ele sai andando em disparada me deixando
ainda estagnada.
Preciso de alguns segundos para conseguir fazer meu cérebro
responder aos meus comandos, já que parece que ele fritou. Sigo Lorenzo, em
silêncio, em direção ao elevador. Como sempre, essa caixa metálica parece
levar anos luz para chegar ao solo. Começo a contar mentalmente, tentando
ainda acalmar as batidas do meu coração. Quando finalmente, o elevador
apita no nosso andar eu suspiro de alívio. Nada melhor do que uma boa boate
para me distrair, já que o plano B, que é brincar com o meu vibrador não será
possível. Caminho exatamente um passo atrás de Lorenzo, o mesmo carro
que nos buscou naquele lugar deserto aonde pousamos está nos esperando.
Lorenzo entra primeiro e senta no banco de trás do motorista. Entro junto
com ele e finjo estar muito concentrada no meu celular para falar ou fazer
qualquer coisa. Não demora vinte minutos e o carro para em frente à um
prédio. Menor e menos chamativo que o hotel, mas não menos luxuoso. A
boate nada mais é que uma mansão de três ou mais andares, toda em preto
com luzes coloridas em volta. Sinto que essa não é uma boate comum.
Alguém abre a minha porta e eu tomo um susto, estava tão ocupada
observando o ambiente que não percebi que Lorenzo saiu de seu acento. Ele
me estende a mão e eu a pego.
_Está é uma das casas noturnas da máfia. Não faça besteira, muitos
homens não dignos veem aqui. Não quero começar uma guerra por sua causa.
– Ele fala rispidamente.
Sinto uma raiva imensurável da forma como ele fala comigo. Mas,
prefiro não retrucar.
Caminhamos de mãos dadas em direção à boate. Um dos seguranças
olha para Lorenzo e na mesma hora lhe dá passagem. A boate é enorme, as
luzes vermelhas que adornam o local embaçam um pouco a nossa visão. Está
lotada, mas então eu vejo uma mulher carregando uma bandeja com taças de
espumante completamente nua. Não é somente uma boate normal, é um
prostíbulo. Quase rio da minha inocência, o que eu poderia esperar de uma
casa noturna da máfia.
Lorenzo me puxa, atravessamos o meio do robusto salão que toca
uma música eletrônica, mais ao canto consigo ver um balcão de bebidas, e
alguns bartenders fazendo diversos drinks. Ao lado direito de quem entra tem
uma escada que leva para os camarotes, onde consigo ver algumas mulheres
dançando em pole dance, divertindo alguns homens. Observo melhor as
pessoas, todos exalam perigo. Não vejo armas e nem nada parecido, mas sei
que só de alguém colocar a mão na cintura uma explosão no local se
instalaria, tendo em vista a presença do capo no local.
_Quer beber alguma coisa? – Lorenzo pergunta próximo ao meu
ouvido, tentando falar por cima da música.
Somente balanço a minha cabeça em sinal positivo, nem tentarei
gastar minha voz com todo esse barulho. Ele me puxa em direção ao balcão.
Vejo-o cumprimentar o bartender e pedir “o de sempre”, então ele me olha.
_Espumante. – Grito.
O bartender assente e me traz uma taça de espumante o de sempre de
Lorenzo é nada mais do que whisky. Com as bebidas em mãos ele nos puxa
para o lado esquerdo, totalmente afastado da folia. Eu não havia visto uma
porta, até um segurança grandalhão abri-la. As luzes do cômodo, fazem com
que eu pisque várias vezes para fazer com que meus olhos se acostumem com
a claridade novamente.
Observo ao redor e percebo que estamos em um escritório. A música
não está mais alta. Beberico um gole da minha espumante, enquanto Lorenzo
se afasta de mim, indo mexer na mesa.
_Se em algum momento quiser ir dançar, pode fazê-lo, tenho homens
a cada metro quadrado aqui, ficará segura. – Ele me olha, finalmente, depois
do que aconteceu no hotel, ele estava me ignorando.
_Estou bem.
Ele consente e continua abrindo várias gavetas e olhando relatórios. A
porta se abre, e eu nem faço questão de me virar para ver quem é.
_Finalmente! – Lorenzo parece indignado com o atraso da pessoa,
mesmo sendo por poucos minutos.
_Estamos em uma boate, capo, tenha mais paciência. – A pessoa fala
atrás de mim.
Abro tanto os meus olhos que só esse simples gesto chama a atenção
de Lorenzo, que me olha instantaneamente. Sinto meus pelos se arrepiarem e
viro demoradamente, tentando não surtar. Essa voz. Quando meus olhos
pousam no dono dela, eu sinto que vou desmaiar, e o cretino abre um
generoso sorriso.
Capítulo cinco.
Eu sou o capo.

Lorenzo Moretti.

Sinto a tensão de Sofia assim que Dante fala. Busco no meu cérebro
algum indicio de qual seria toda essa preocupação e não encontro nada. Ela
não pareceu intimidada com o restante dos meus homens, mas parece com
ele.
Dante não parece reconhece-la, mas quando ela se vira, tão
lentamente que até uma lesma o faria mais rápido, algo em seus olhos
brilham.
_Sofia Reymond. – Ele sorri embasbacado.
Meus instintos mandam eu me aproximar dela, e assim eu o faço.
Levanto instantaneamente da mesa e caminho até Sofia. Coloco meu braço
possessivamente em sua cintura. Ela parece relaxar um pouco.
_Dante Cavalcante. – Sua voz parece retornar.
_Nossa! Uau! Você está maravilhosa! – Ele exclama e olha
descaradamente todo o seu corpo, analisando cada curva que esse maldito
vestido faz questão de deixar a mostra.
Sinto uma intensa vontade de sacar minha arma e dar um tiro no meio
da sua testa. Mas antes, preciso dos relatórios. Ele continua analisando Sofia.
Quer saber? Que se danem esses relatórios. Eu vou mata-lo!
_Que porra está acontecendo aqui? – Pergunto estupidamente irritado.
Dante finalmente olha para a minha mão possessivamente segurando
Sofia e um lampejo de raiva passa por seus olhos.
_Oh! – Ele finge surpresa. – Sofia não lhe contou? Bem, nós
namoramos na faculdade. – Ele passa por mim, indo em direção à mesa do
escritório. – Eu tirei a virgindade dela. – Ele fala, como se fosse um segredo,
mas alto o suficiente para que todos escutassem.
Sofia enrijece o corpo.
Faço uma análise mental e decido por mata-lo, após saber sobre o
relatório.
_Mas enfim... Sofia, como você tem passado? – Ele pergunta, agora
sentado na mesa.
_Perfeitamente bem, e você? – Percebo que ela está possessa de raiva.
Se nenhum dos dois me contar o que exatamente aconteceu para todo
esse ódio, terei que descobrir por meus próprios meios.
Não posso nem pensar em Dante tocando Sofia, só de imaginar que
ele a possuiu pela primeira vez, é como se todo o meu corpo virasse chamas
de puro ódio, não faço a mínima ideia do que é esse sentimento possessivo
que eu estou tendo, mas decido de imediato que não gosto dele.
Dante sorri para a resposta afiada de Sofia.
_Tem notícias da Ellen? – Pergunta com tom zombeteiro.
Sinto o corpo de Sofia, ainda colado ao meu, começar a tremer.
Então, sem esperar, ela joga o copo de espumante que estava em sua mão na
testa de Dante. Vejo como se fosse em câmera lenta, o copo voando,
derramando todo o líquido em seu terno bem passado e acertando sua testa. A
taça cai no chão e se quebra. Ele se pisca todo e coloca a mão no lugar onde o
objeto o acertou.
_Mas que porra você fez? – Ele se levanta furioso. Um belo
hematoma já está visível. Sangue começa a escorrer da sua testa.
Fico estagnado no lugar sem conseguir me mexer em choque, Sofia
acabou de jogar um copo de espumante em um mafioso, sem pudor algum.
Essa mulher é completamente insana.
_Com licença. – Sofia fala. – Irei buscar mais bebida.
Ela se afasta de mim, dirigindo-se até a saída e batendo à porta com
tanta força, que apesar da música alta da boate, tenho certeza que todos
puderam escutar o estrondo.
Olho para Cavalcante que observa a porta fechada.
_O que foi isso? – Exijo respostas.
_Um término conturbado. – Ele fala enquanto esfrega a testa. Agora
com um galo em tons roxeados e uma mancha de sangue.
Apesar de suas poucas palavras, eu sei que é mais do que somente um
término conturbado. Puxo meu celular da calça e envio mensagem para
mamãe, contando o ocorrido e perguntando se ela sabe o que aconteceu.
Enquanto a resposta não vem, volto minha atenção para o homem que
matarei em algumas horas.
_Quero os relatórios. Agora!
Estou sem paciência e, apesar do jeito egocêntrico de Dante, o capo
dessa porra sou eu e ele é meu subordinado.
Passo a próxima meia hora ouvindo tudo sobre o que anda
acontecendo na boate e quais os passos conseguimos acompanhar da máfia
russa. Esse inferno de máfia é uma pedra no nossos sapato, brigas e
rivalidades passadas de pai para filho.
_Então, você e a Sofia? – Dante pergunta tentando fingir indiferença,
mas com curiosidade demais para quem não se importa.
_Não é da sua conta! – Respondo rispidamente.
Levanto-me do meu assento e saio do escritório. Já faz meia hora que
Sofia saiu, por mais que ela esteja totalmente protegida dentro desta casa, não
confio em ninguém perto dela. Tento entender o que está acontecendo
comigo, mas, sinceramente, eu já desisti. Só Deus sabe o que meus instintos
primitivos que eu nem sabia que eu tinha estão gritando.
Caminho pela boate com as pessoas abrindo caminho para que eu
possa passar, ninguém ousa olhar muito tempo para mim, é meio ridículo,
mas é uma boa fama, uma que manteve nossa máfia de pé por tanto tempo,
tema o capo e temerá a máfia toda, este é o lema. Começo a ficar inquieto
sem saber onde aquela louca se enfiou, quando a vejo dançando colada com
um brutamontes. Não conheço o cara que enrosca seu corpo tão sensualmente
ao dela. Nas suas calças eu consigo ver uma visível ereção. Paraliso de ódio.
Eu vou mata-lo. Dado o meu surto, caminho apressadamente para perto dela.
Puxo seu braço furiosamente.
_Aí! O que você pensa que está fazendo? – Ela pergunta irritada.
Claramente gostando de toda essa exibição.
_Temos que ir.
Olho furiosamente para o homem que estava a pouco tempo de pau
duro perto dela. Se meus olhos soltassem raios, ele já estaria morto. O
homem percebe o perigo, pois começa a se afastar como um gato,
silenciosamente e calculando cada movimento, como se a qualquer momento
uma bala fosse parar no meio de sua testa. Puxo Sofia comigo até meu
camarote. Ela tenta, por diversas vezes, se afastar do meu aperto em seu
braço, mas eu não deixo. Assim que chegamos ao camarote, eu a solto, está
somente nós dois. O meu camarote é exclusivo, eu tenho visão privilegiada
de tudo o que acontece em toda a boate, mas os vidros não permitem que as
pessoas vejam o que eu faço aqui.
_O que você pensa que está fazendo? – Ela pergunta furiosa.
_O que você pensa que está fazendo. – Rebato. – Não sabe que essa
boate está entupida dos piores seres que já pisaram na terra?
_Incluindo você? – Ela pergunta sarcasticamente com os braços
cruzados.
_Incluindo a mim. – Confirmo.
Não posso negar, certamente, meu lugar no inferno a minha espera. Já
matei e torturei tantos homens que não sou mais capaz de contar.
Sofia bufa e se afasta, ela caminha até o frigobar que fica ao canto e
retira uma garrafa de espumante. Observo descaradamente suas curvas em
sua roupa indecente. Uma coisa nenhum homem em sã consciência pode
negar, ela é gostosa pra caralho. Caminho até o vidro e observo as pessoas
dançando embaixo de nós, muitos aqui alheios ao que realmente acontece
dentro dessas paredes. Agora que possuo meus relatórios, não faz mais
sentido ficar, podemos ir embora.
_Vamos embora. – Falo.
_Não vamos não. – Sofia retruca.
Viro-me lentamente para ela, a fim de esgana-la. Ela está sentada no
sofá de couro virando uma garrafa de espumante direto do gargalo, em visível
estado de leve embriaguez. Começo a caminhar em sua direção, tendo a
pretensão de cumprir minha promessa, quando a porta se abre. Paro no lugar
colocando a mão no coldre da arma. Ninguém entra no meu camarote de tal
forma sem pedir permissão, Sofia percebe algo errado e se encolhe no sofá.
Cavalcante aponta me fazendo bufar de raiva pela interrupção.
_Como ousa. – Começo a esbravejar.
_Desculpa, chefe, mas tem algo que você precisa saber. – Ele me
corta.
_Entre.
Sofia olha para Dante de canto de olho e vira ainda mais a garrafa de
espumante, ela parece ainda mais irritada. Ele entra na sala e me entrega seu
aparelho celular, vejo a imagem de um homem sendo torturado pelos meus
homens. Ele chora e implora por sua vida, meus homens continuam
dilacerando sua pele, quando ele confessa o que eu já sabia, Nikolai é o
mandante do atentado contra meu jatinho. Eu não precisava dessa
confirmação, ninguém além de Nikolai seria louco de tentar matar o capo da
Cosa Nostra, pior do que eu, só meu pai e ele faria questão de vingar minha
morte. Entrego o aparelho para Cavalcante, tento controlar minha raiva,
momento em que, meus olhos se cruzam com Sofia e isso parece me relaxar.
Ter alguém para me lembrar da família que eu tenho e que tanto prezo, me
faz pensar com mais cautela.
_Era a confirmação que precisávamos. – Digo, por fim.
_Sim. Ordens para agir? – Ele pergunta.
Agir significa matar alguém importante para Nikolai.
_Por ora, não. Irei elaborar algo pior do que simplesmente agir.
_Ok.
Dante olha para Sofia e dá um sorrisinho, ela grunhi de ódio e ameaça
atirar a garrafa nele. Depois da brilhante pontaria com a taça, a qual está
evidente em sua testa, eu não me arriscaria a sofrer um traumatismo craniano
com a garrafa. Minha paciência se esgota. Puxo Cavalcante pelo pescoço e o
grudo contra a parede. Ele parece surpreso com o meu ataque e Sofia solta
um gritinho.
Viro o meliante de frente para mim e o esgano com força.
_Você vai parar de ser um bosta, fique longe da Sofia, entendeu? –
Grito com ódio. – Ah não ser que prefira dois tiros no peito e um na testa.
_S-sim. – Ele tenta pronunciar em meio a falta de ar.
Conto mais alguns segundos e antes que o seu cérebro desligue eu o
solto, ele cai aos meus pés segurando o pescoço, tentando sorver o máximo
de ar que consegue. Me viro e olho para Sofia, ele me encara boquiaberta,
ainda agarrada a garrafa.
_Vamos embora!
Sem nem pestanejar, Sofia cola a garrafa no peito, levanta do sofá e
passa por mim em direção a porta da saída. Essa noite já deu o que tinha que
dar. Sigo minha acompanhante de perto. Passamos pela multidão que dança
concentrada no ritmo da música. Aceno para meus seguranças, Sofia empurra
a porta e eu sinto o clima da rua. Não demora para que meu carro chegue e
nós vamos em direção ao nosso hotel. Mantivemos silêncio em todo o
percurso, pois Sofia ficou mais entretida esvaziando a garrafa. Quando
chegamos ela disparou direto para o banheiro. Eu caminho até o bar e sirvo
uma dose de whisky. Não percebo o passar das horas, fico perdido em meus
pensamentos, me imagino matando Nikolai de diversas formas que eu nem
sabia que seriam possíveis. Meu celular apita com uma mensagem de mamãe:
Dante Cavalcante foi o primeiro namorado e primeiro homem na
vida da Sofia, eles ficaram juntos por algum tempo, até que ela descobriu
que ele estava traindo-a com sua colega de quarto, Ellen. Sofia ficou
devastada, sofreu por meses. Sua madrinha ficou realmente preocupada
com ela na época, mas a menina deu a volta por cima e hoje é essa mulher
linda e determinada.
Aperto o celular com raiva, imaginei que algo sério havia acontecido
entre os dois, mas imaginar Cavalcante tirando a inocência de Sofia me irrita
de uma forma inimaginável. O desgraçado ainda teve a cara de pau de
perguntar por essa tal de Ellen. Agora entendo todo o descontrole dela.
Minha arma esquenta no coldre da cintura, solicitando três tiros. Me
arrependo instantaneamente por ter sido tão clemente com ele. Meu celular
apita novamente:
Risos. Estou muito orgulhosa da minha sobrinha/afilhada. Queria
assistir o babaca com a testa roxa. Seu cuidem. Amo vocês!
Mamãe parece dividir o mesmo ódio que eu. Estava tão absorto em
minha raiva e autopunição pelo meu ato de piedade que não vejo quando
Sofia sai do banheiro, quando me viro, vejo sua silhueta deitado na cama.
Faço o mesmo que ela, vou para o banheiro, preciso de um banho bem gelado
para apaziguar o ódio pelo meu inimigo e o fogo por ela que corre em minhas
veias.
Capítulo seis.
De mal a pior.

Sofia Reymond.

Acordo sentindo minha cabeça pesada, a bebedeira da noite anterior


cobrando seu preço. Começo a repassar mentalmente tudo o que aconteceu e
sinto raiva. Não acredito que depois de todos esses anos eu fui encontrar logo
o embuste do meu ex-namorado trabalhando para a máfia, sempre soube que
ele não era grande coisa, mas agora ter um QI tão elevado para comandar
uma das boates, isso foi uma verdadeira surpresa. O cretino ainda teve a cara
de pau de me perguntar por aquela vadia. Não pensei, somente agi. Pisquei e
a taça estava quebrando em sua testa, sorrio internamente, fiquei muito
orgulhosa de mim. Confesso que devo agradecer a ele por esse surto, se não
fosse por ele ter quebrado meu coração tão minuciosamente, eu não seria a
mulher que sou hoje. Minhas entranhas se espremem ao lembrar de Lorenzo
me defendendo, minha deusa interior vibra ao lembrar do medo estampado
nos olhos daquele infeliz. Mordo meu lábio inferior quando penso nos
músculos todos que Lorenzo estampou, mesmo sem querer, na sua camisa ao
fazer força para esganar Dante. Tão gostoso. Suspiro.
Conto até dez para criar coragem e levantar, sinto uma leve tontura,
mas consigo me manter em pé. Meus olhos varrem o quarto e vejo Lorenzo
dormindo no sofá preguiçosamente. Ele está sem camisa, a coberta tapa
somente da sua virilha para baixo. Observo seu peito subir e descer conforme
respira. Ele é tão musculoso que minha boca chega a salivar. Que homem,
meu Deus. Esculpido pelo próprio diabo para enlouquecer a mente de moças
desavisadas. Um de seus braços está caído para fora do sofá. Olho sua mão,
daqui consigo ver os calos formados pelas armas que ele segura. Suas mãos
são enormes e imagino que podem fazer um belo estrago no meio das pernas
das mulheres. Há uma teoria de que, o tamanho do membro masculino se
adequa ao tamanho de suas mãos, se for verdade, santo Deus. Sinto minha
calcinha molhada e corro para o banheiro, estou virando uma sádica
depravada, observando o homem mais irritante da face da terra dormir e
sonhando acordada sexualmente com ele.
Faço minha higiene matinal e tomo um banho gelado, saio do
banheiro e vejo que Lorenzo ainda dorme tranquilamente. Sinto minha
barriga roncar.
Coloco uma roupa básica e saio do quarto em busca de comida.
Encontro o restaurante do hotel e me sirvo de tudo e mais um pouco. Pego
panqueca com nutella, croissant, queijo e salamito, pão e um pouco de fruta.
Para beber, pego uma xícara de café expresso e um copo de suco. Faço meu
desjejum tranquilamente, estou tão concentrada comendo feito uma
condenada que não vejo Lorenzo se aproximar e me fazer companhia. Ele usa
um óculos de sol escuro, está meio informal, com uma camiseta polo
vermelha e uma calça bege claro. Ele se senta à minha frente com um prato
de frutas e uma xícara de café. Com um corpo desses, só comendo frutas para
manter, penso.
_Acordou cedo hoje. – Ele comenta.
_Estava com fome.
_Percebi. – Retruca olhando para o meu prato.
Pelo simples fato da sua ousadia em falar que eu estava comendo
muito, me sirvo mais uma vez de panquecas com nutella. Fazemos nosso
desjejum em silêncio.
_Qual é a nossa missão de hoje? – Pergunto, tentando imaginar quem
vai morrer. Afinal, a máfia só faz isso, matar e sobreviver.
_Vamos tirar o dia livre. – Ele fala, enquanto digita no seu aparelho
celular.
_Simples assim? – Pergunto.
_Sim.
Tento lembrar dos pequenos detalhes da noite de ontem, Dante
mostrou algo para Lorenzo, o qual não gostou nem um pouco, mas ele não
deu aval para alguma vingança, disse que pensaria com calma. Será que esse
nosso “dia de folga” tem algo relacionado com isso? Se bem que, pouco me
importa, desde que eu volte para o Brasil viva.
_Vamos ir à Oxford Street. – Ele acrescenta.
Já me animo. Tantas lojas de roupas e tanta porcaria para comer,
talvez ter antecipado minhas férias não tenha sido tão ruim assim.
_Vou trocar de roupa. – Falo me levantando.
Lorenzo desvia os olhos de seu aparelho para observar minhas
vestimentas. Então dá de ombros.
_Irei te esperar aqui.
Não respondo, caminho apressadamente até o elevador. Enquanto
faço a subida até o quarto, tento me lembrar de quais roupas eu trouxe e qual
seria confortavelmente bonita para usar. Eu sei, parece algo tão banal, mas,
apesar de viajar muito, nunca fui à tão conceituada Oxford Street, não tenho
muito tempo para essas atividades terrenas. Entro no quarto parecendo um
furacão, corro em direção a mala e começo a puxar todas as roupas que eu
vejo. Opto por uma calça de alfaiataria vermelha, um tênis branco e uma
camiseta despojada também branca. Vou até o banheiro, passo um brilho
labial e um pouco de rímel, pego minha bolsa e meu óculos de sol e corro
para encontrar Lorenzo.
Quando chego ao restaurante, ele se encontra no mesmo local em que
eu o havia deixado há alguns minutos. Ele parece alheio ao seu redor,
concentrado em seu celular. Mas, assim que eu me aproximo, seus olhos
fixam em mim. Ele me olha da cabeça aos pés.
_Pronta? – Pergunta, me olhando por cima dos óculos.
_Sim.
Lorenzo se levanta e nós vamos às compras.
Chegamos ao nosso destino e começamos a passear, vejo que a
atenção de Lorenzo não está direcionada a mim e nem a ninguém específico,
ele parece atento, como se estivesse procurando por alguém. Nós estamos
sendo escoltados por pelo menos uns cinco homens da máfia, eles estão
vestidos normalmente, e quem olha de fora jura que são somente mais
algumas pessoas passeando despreocupadamente, mas como eu conheço seus
rostos, sei que estão prontos para matar qualquer um que ofereça o mínimo
de risco a mim e ao meu parceiro.
Paramos para pedir um sorvete, peço de chocolate e Lorenzo pega um
de morango, o que me surpreende.
_Você comendo besteiras, não parece ser seu estilo. – Falo, enquanto
mergulho a colher na boca.
_Não sou muito adepto de comidas não saudáveis, mas isso não
significa que eu não goste de comer esse tipo de coisa. – Responde, dando
uma lambida na sua casquinha.
Cristo Deus, só essa atitude já me deixa quente. Desvio meus
pensamentos pervertidos para o fundo da minha mente. Desde que comecei a
“conviver” com Lorenzo percebi seus bons hábitos alimentares, totalmente
diferentes dos meus. Eu amo besteira, não me importo de passar a semana
inteira comendo somente lanche ou uma boa miojo com manteiga.
_Já você não parece aderir à este hábito. – Lorenzo fala.
_Certamente não. Jamais teria esse autocontrole de comer fruta no
café da manhã em um hotel, quando eu tenho tantas coisas deliciosas como
opção.
_Dinda Mariáh deve enlouquecer com isso, lembro-me de que ela
sempre foi a mais sensata quanto a hábitos alimentares. Você mais parece
filha da minha mãe falando desta forma do que dela.
Começo a rir, realmente, mamãe é bem saudável até, ela sempre
criticou a alimentação de Amanda, dizia que quando eram jovens, ela vivia
indo até a sua casa para faze-la ter boas refeições, tendo em vista que esta era
movida a fast-food.
_Nossas mães têm tantas histórias para contar. – Comento.
Dou uma lambida no meu sorvete, que por sinal está delicioso e vejo
Lorenzo me analisar. O azul dos seus olhos parece escurecer com o meu
gesto e eu tento acalmar a minha amiguinha que já se animou.
_Eu... hã... – Tento pronunciar algo, qualquer coisa que nos tire desse
transe vergonhoso.
_Vamos entrar aqui. – Ele me corta.
Tento retornar para o planeta terra e percebo que nós estamos parados
em frente a Selfridges. Lorenzo já entrou no estabelecimento me deixando
para trás feito uma estátua. Pisco algumas vezes e o sigo. A loja é enorme e
tem de tudo um pouco. Caminho por entre as prateleiras e observo. Não
consigo me concentrar em nada em específico, pois algo não quer entrar na
minha cabeça. Afinal, o que diabos Lorenzo está fazendo aqui? Nunca
imaginei um homem como ele procurando decoração para casa. Ele nem tem
casa, para começo de conversa, pelo que eu sei, ele mora na sede da máfia,
junto com seus pais e sua irmã.
Começo a procurar Lorenzo, encontro-o no caixa com algumas coisas.
Me aproximo para ver o que chamou tanto a sua atenção. Fico embasbacada.
Ele simplesmente parou para comprar uma miniatura da roda gigante e do
Big Ben de Londres. O objeto é em metal, a cor é rose gold. Ele é muito
bonito. Lorenzo paga pelo objeto e nós saímos da loja.
_Mas o que... – Começo, sem saber exatamente o que perguntar.
_Luna ama lembranças de lugares. – Ele fala.
Fico embasbacada. Paro de andar e o olho sem compreender
exatamente aonde ele quer chegar.
_Luna tem total liberdade de não se envolver com a máfia, mas isso
não significa que ela esteja liberta para viver uma vida comum. Ela nunca
viajou. É uma romântica sonhadora, sente inveja da minha liberdade, assim
como eu sinto da dela, vez ou outra. – Ele faz uma pausa, após essa
revelação. – Todas as vezes que eu viajo, ela pede que eu leve algo a ela que
lembre o lugar onde estive. Na maioria das vezes eu não tenho tempo, mas
hoje. – Ele para novamente.
Olho-o boquiaberta e admirada. Lorenzo Moretti, capo da Cosa
Nostra, homem sanguinário e calculista, levando uma lembrança de Londres
para a irmã.
_Eu sei, você não esperava isso de um dos piores homens que já pisou
na terra. – Ele sorri, mas o sorriso não chega aos lábios.
Continuo encarando-o, só que diferente de tantas vezes que o fiz com
desprezo ou raiva, agora eu o faço com admiração. Sei o quanto Luna sofre
por não poder viver uma vida livre. A preocupação de Lucco e Amanda com
ela é extrema, se alguma máfia inimiga colocar as mãos na jovem garota, a
morte seria sua melhor opção. Homens desse tipo tendem a ser terríveis com
mulheres. No entanto, não é isso que me surpreende, o que o faz, é saber que
Lorenzo sente muito pela irmã, ele entende o sofrimento dela e veio até aqui
somente para conceder um desejo seu.
_Você realmente se importa com a sua família. – Constato.
_Até homens como eu tem um calcanhar de Aquiles, sendo o meu, a
minha família. – Ele fala meio ofendido por eu ter cogitado que ele não se
importasse com eles.
Eu sempre soube que Lorenzo daria a vida por eles, mas confirmar
com meus próprios olhos é diferente. Sorrio para ele sem mostrar os dentes.
Sua atitude me deixou sem palavras. Ele possui sentimentos, afinal. E eu não
sei exatamente o porquê dessa atitude tão humana fazer meu coração bater
mais rápido.
_Vamos continuar nosso passeio. – Ele diz, tirando-me dos devaneios.
_Então, por qual motivo exatamente você teria inveja de Luna? –
Pergunto enquanto voltamos a caminhar.
Lorenzo sorri.
_Você não deixa nada passar, não é mesmo?
_Não quando se trata de você. – Assim que as palavras saem da
minha boca, tenho vontade de caça-las novamente no ar. – Quer dizer, você
sabe, toda a implicância que sempre tivemos um com o outro. Eu só conheço
sua casca. – Tento diminuir um pouco da intensidade do que disse
anteriormente.
Lorenzo me fita por alguns minutos e então volta a olhar para frente
ao falar:.
_Eu fui designado para ser um mafioso desde que fui concebido. Não
tive escolha. Luna, apesar de viver enclausurada, ela possui essa escolha, não
precisa passar o resto da vida nesse meio.
_Mesmo assim, ela ainda está presa a isso. Ela nunca vai poder viajar
como eu, escolher algum trabalho que não seja com cinquenta seguranças em
cima dela.
_Sim, ela sempre estará algemada a isso também. Só que, ela não
precisa comandar uma máfia, torturar e matar. A máfia nos traz muitas
vantagens, mas em troca disso, ela leva o melhor de nós.
_Não acho que a máfia tenha levado o melhor de você. – Rebato.
E, mais uma vez, desejo caçar as palavras de volta. Lorenzo me
encara com tanta intensidade que todos os meus pelos se arrepiam com o seu
olhar. Encaro sua boca com uma vontade absurda de beijá-lo, sentir mais uma
vez seus lábios nos meus. Não sei exatamente quando isso aconteceu, mas em
instantes, nossos corpos estão tão próximos que eu sinto o seu calor corporal.
Parece que tudo ao nosso redor some e só existe nós dois. Seu cheiro inebria
minhas narinas, me fazendo esquecer aonde estamos. E então, tudo vira um
caos.
Os seguranças disfarçados se aproximam de nós tão rapidamente que
não deu tempo nem de piscar. Lorenzo fica rígido e me aperta ao seu lado.
Fico confusa olhando ao redor e tentando entender o que está acontecendo,
mas só vejo as pessoas andando normalmente alheias a nossa presença. Nada
parece errado. Olho para Lorenzo afim de obter respostas, mas ele está tão
concentrado em um ponto específico que não parece notar a minha confusão.
Acompanho seu olhar e vejo um homem caminhando calmamente em nossa
direção. Ele sorri diabolicamente.
O homem é alto e musculoso. Seus cabelos loiros escuros são
ondulados e compridos até a altura dos ombros. Seus olhos são verdes
escuros, tem uma barba média e é bem alto, está vestindo um terno cinza,
com uma camisa branca bem colada ao corpo, evidenciando sua muralha de
músculos. Não consigo identificar quem é mais alto, ele ou Lorenzo, mas se
tiver diferença entre a altura de ambos, é mínima. Ele caminha lentamente
como se fosse o dono do mundo. Apesar de ter uma aura maligna, as
mulheres ao nosso redor lançam olhares descaradamente de puro tesão em
sua direção. Ele parece alheio a elas, ou está tão acostumado a chamar a
atenção que ignora.
O homem gostoso pra caralho para bem na nossa frente.
_Lorenzo Moretti, quanto tempo. – Ele sorri, mostrando destes
brancos e alinhados.
_Nikolai Mogilevic, que desprazer lhe encontrar. – Lorenzo rebate.
Por que esse nome me parece tão familiar. Nikolai aumenta ainda
mais o sorriso com a resposta afiada de Lorenzo.
_Vejo que você e sua companheira. – Ele me olha da cabeça aos pés.
– Fizeram uma boa viagem. – Ele levanta uma sobrancelha sugestivamente
para Lorenzo.
Se o homem que está agarrado a mim pudesse entrar em combustão
de ódio, isso certamente estaria ocorrendo agora. Sinto Lorenzo calcular
mentalmente quais seriam as consequências se ele matasse Nikolai neste
exato momento. Eu nem respiro tentando passar despercebida, esse Deus
maravilhoso na nossa frente certamente é um mafioso, e um mafioso inimigo
pela forma como Lorenzo está.
_Não graças a você é claro. Tão previsível. – Lorenzo revira os olhos.
Agora é a vez de Nikolai bufar e sentir ódio. Os dois homens se
encaram tão profundamente, que eu não tenho nem coragem de piscar com
medo.
_Da próxima vez serei mais atencioso. – Nikolai fala.
Minha ficha cai. É claro, os homens mortos, o motivo por eu estar
aqui. O atentado contra o jatinho da Cosa Nostra. Esse homem é o capo da
Bratva. Cosa Nostra e Bratva são máfias inimigas desde que eu me conheço
por gente, começou muito antes de eu ou Lorenzo nascer. As máfias
disputam fogo há anos. Mamãe já contou algo sobre o capo na época ameaçar
Amanda grávida. Paro de pensar e percebo que, oh meu Deus, o pior mafioso
de todos os tempos, pior porque Lorenzo jamais me faria algum mal, está
bem na minha frente. Se Deus quisesse realizar meu desejo, nesse momento
um buraco apareceria sob os meus pés me levando daqui.
_Seria mais divertido se realmente o fosse. – Lorenzo sorri.
Nikolai bufa e seus olhos se concentram em mim novamente. Seu
olhar é tão intenso que eu sinto como se estivesse encarando o próprio diabo.
Até esqueço como respirar.
_Aproveite o passeio, com a sua acompanhante. – Ele fala, não
desviando dos meus olhos uma única vez.
_Igualmente. – Lorenzo responde, me agarrando ainda mais. –
Cuidado com o escuro. – Sorri.
Dessa vez Nikolai olha para Lorenzo com muito ódio. Meu
acompanhante não deixa de sorrir. Ele me puxa pela mão e dá um encontrão
em Nikolai quando passamos por ele. Caminhamos por alguns metros até que
eu me sinto segura o suficiente para voltar a respirar, na verdade, não sei nem
como eu estive andando esse tempo todo.
_Você está bem? – Lorenzo segura minha mão e a leva até os lábios,
aonde planta um beijo. – Está gelada.
_S-sim. – Gaguejo.
_Nada vai acontecer a você. – Ele me abraça.
Me sinto mais segura estando em seus braços. Lorenzo permanece
abraçado a mim por mais alguns minutos, quando meu cérebro volta a
funcionar normalmente, nós voltamos a caminhar. Saímos da Oxford Street
sem falar nada, depois do encontro que tivemos, nem precisamos discutir
para que os dois quisessem ir embora. Era óbvio. Quando chegamos ao hotel
subimos em silêncio. Assim que entramos no quarto eu vou direto para o
banheiro, preciso de um banho. Enquanto relaxo e repasso mentalmente a
conversa que os mafiosos tiveram, algo me chama atenção. Saio do chuveiro
enrolada na toalha mesmo, já que a inteligente aqui esqueceu da muda de
roupa. Encontro Lorenzo mexendo em seu notebook concentrado.
_Lorenzo! – Chamo-o.
Ele desvia os olhos da máquina e os pousa em mim. Um lampejo de
desejo passa por suas íris azuis assim que ele percebe que eu me visto
somente com a toalha de banho. Minhas entranhas se aquecem, mas não
tenho tempo para isso.
_O que aconteceu no escuro? – Pergunto.
_O que? – Ele rebate a minha pergunta com outra, enrugando a testa,
completamente perdido com a minha pergunta.
_Você mandou Nikolai tomar cuidado com o escuro, o que aconteceu
no escuro? – Refaço a pergunta.
Ele relaxa a testa, agora compreendendo de fato o que eu estava
questionando.
_Meu pai matou o pai de Nikolai há alguns anos no escuro. Digamos
que, a falta de iluminação ajudou para que a execução acontecesse.
Agora suas palavras fazem sentido para mim. Eu não tinha entendido
o que diabos “cuidado com o escuro” significava.
_Era uma ameaça velada. – Constato.
Lorenzo concorda com a cabeça. Eu sabia que as máfias tinham uma
grande rivalidade. Só não imaginava a gravidade dela. Lucco matou o pai de
Nikolai e agora Nikolai quer matar Lorenzo como vingança. Tudo acabou
fazendo sentido. Porque ele se arriscaria tanto colocando homens no jatinho
particular dele, colocando seu pescoço em jogo. Ele quer vingança.
_Faz quanto tempo isso? – Pergunto.
_Muito tempo.
_Então você vem sendo ameaçado desde então?
_Não. Nikolai era muito jovem quando isso aconteceu. Ele é dois
anos mais velho que eu. Meu pai matou Serguêi alguns anos após ele ter
ameaçado minha mãe, enquanto eu ainda estava em seu ventre.
_E quando Nikolai começou a atentar contra a sua vida?
_Faz poucos anos, ele nunca chegou tão próximo, como aconteceu no
jatinho.
Uma fisgada em meu peito me lembra como essa vida de mafioso é
instável. Apesar de ser o capo, nada impede que Lorenzo seja morto. Nikolai
cresceu com o sentimento de vingança, e ele não vai parar até conseguir o
que realmente deseja. Questiono a mim mesma o motivo de eu estar tão
preocupada com a segurança de Lorenzo, resolvo constatar que isso só pode
se dar porque crescemos juntos e eu não quero vê-lo morto.
_Precisamos voltar a boate hoje à noite, algum problema para você?
O problema significa Dante, não que eu esteja extremamente animada
para voltar ao lugar, mas não quero ficar sozinha nesse quarto depois do
nosso encontro com o mafioso de hoje. Sinto medo até da minha própria
sombra.
_Não, nenhum problema.
_Ótimo. Esteja pronta às oito.
Maneio a cabeça em sinal de afirmativo e caminho em direção a
minha mala. Preciso da minha melhor roupa para hoje.
Capítulo sete.
Tríade.

Lorenzo Moretti.

Beberico meu whisky enquanto espero Sofia se aprontar no banheiro,


ainda sinto a raiva me corroer pela audácia de Mogilevic de se aproximar de
mim e, principalmente, de Sofia. Eu não tive coragem de contar a ela, mas,
enquanto eu não matá-lo, ou enquanto as coisas não se ajeitarem entre as
duas máfias, não posso libera-la de volta para casa, depois da forma como eu
a protegi de sua simples presença hoje, ele seria um cego se não percebesse o
quanto ela é importante para mim. Assim que eu abrandar a sua segurança,
Mogilevic não irá pestanejar em acabar com a sua vida e fazer coisas piores,
para que eu sinta na pele a dor de uma perda, assim como ele sentiu a do seu
pai.
Às vezes, eu até entendo Nikolai, ele é só mais um fodido como eu,
que nasceu no meio dessa bagunça toda. Ele não quer me matar porque me
odeia, mas sim porque odeia o meu pai. Estou tão submerso em pensamentos
que só percebo Sofia quando ela está próxima de mim. Levanto meus olhos
para encontrar os dela. Não pensei que seria possível, mas ela está ainda mais
gostosa do que o habitual. Sofia usa um vestido branco tão colado ao corpo,
que não deixa asas para a imaginação. Nos pés ela usa um salto alto nude da
mesma tonalidade da sua bolsa de mão. Seus cabelos estão soltos. Ela
carregou na maquiagem, os olhos possuem uma sombra dourada e um
delineado gatinho, seus cílios estão tão altos que encostam as pontas nas
sobrancelhas quando ela olha por cima do olho e seus lábios estão bem
vermelhos. Ela é a pura imagem do pecado. Meu pau pula da cueca
instantaneamente. Já tentei negar a mim mesmo, mas não adianta, eu desejo
tanto essa garota que chega a doer.
Coço a garganta tentando afastar as imagens que meu cérebro
começou a formular dela de quatro e eu metendo nela bem fundo.
_Vamos. – Levanto-me instantaneamente, ainda tentando afastar da
minha cabeça nosso sexo ardente inexistente.
Ela não fala nada, somente me acompanha até o elevador. Tive o bom
senso de perguntar para ela durante a tarde se ela estaria disposta a ir a boate
comigo hoje à noite, mais para ser educado, tendo em vista que ela não tinha
muita escolha. Agora que Mogilevic tem uma ampla visão de como ela é, não
tenho coragem de mantê-la afastada por muito tempo. Temo demais por sua
segurança.
Chegamos na boate e como sempre ela está lotada. É uma das mais
lucrativas da máfia. Coloco uma mão nas costas de Sofia induzindo-a a ir até
o escritório em que fomos na noite anterior. Ela parece tensa, mas dirige-se
quietamente até o local. Passamos pela multidão que dança animadamente.
Ao chegarmos em frente a porta, um dos seguranças me cumprimenta e abre
passagem. O lugar está vazio, Sofia parece relaxar com isso. Solto-a e
caminho até a mesa do fundo, abro a primeira gaveta e retiro um tablet de lá,
o qual usamos para monitorar as câmeras de segurança. Passo as imagens
analisando cada detalhe. Desde que encontramos Mogilevic hoje à tarde, algo
não sai da minha cabeça. Ele não viria até aqui após tentar me matar como
quem não quer nada. Sofia se senta no sofá alheia ao que eu estou fazendo,
ela está sorrindo para o seu próprio aparelho celular. Continuo repassando as
imagens e algo me chama a atenção. Analiso a filmagem de três dias atrás.
Um grupo de homens com características asiáticas. Dou zoom na imagem.
Eles riem e bebem em um dos camarotes da boate. Observo cada movimento
e percebo que, apesar de parecerem descontraídos, eles não se concentram em
nada em específico. Fico quase dez minutos acompanhando o vídeo, eles não
bebem como quem veio para comemorar algo. As garrafas estão quase cheias
na mesa e os copos intocados. Eles disfarçam bem. Assisto o vídeo por mais
quinze minutos e constato o exato momento em que eles começam a fingir
um estado de embriaguez, sendo impossível, tendo em vista que não tocaram
nas suas bebidas. Eles olham ao redor, alguém menos experiente, diria,
olhando o vídeo, que os chineses estão procurando mulheres, “caçando”, mas
eu sei que eles estão analisando o ambiente. Mais dez minutos e todos se
levantam, indo embora trôpegos, mesmo com as bebidas intocadas.
Acompanho-os até a saída, mas eles param para ir ao banheiro, após um
tempo muito longo para quem foi somente urinar todos saem, dirigindo-se
desta vez para a rua. Apesar de ser importante, não colocamos câmeras nos
banheiros. O único lugar vulnerável da boate. Merda!
_Venha comigo, agora! – Levanto correndo puxando Sofia pelo
braço. Ela se assusta com a minha atitude inesperada.
Não tenho tempo para explicar nada a ela. Abro a porta do escritório
com força. Um dos seguranças do local se assusta com o estouro e puxa sua
arma.
_Leve Sofia para o hotel, mande os melhores homens para vigiar o
quarto. – Dou instruções para ele.
_Lorenzo, o que está acontecendo? – Ela pergunta assustada,
percebendo que há algo errado.
_Não posso explicar agora, vá direto para o quarto de hotel, não saia
de lá até que eu volte. Tem armas espalhadas por todo o quarto, qualquer
atitude suspeita, atire! – Instruo-a.
_O que? E você? – Ela pergunta preocupada.
_Eu vou ficar bem.
Analiso-a, se o que eu estou pensando estiver realmente acontecendo,
preciso decorar cada centímetro do seu resto.
_Vá! – Digo.
Sem esperar, Sofia se agarra ao meu pescoço me abraçando. Não
devolvo o abraço, pois foi tão inesperado que eu fico em choque. Foi tão
rápido que em instantes ela está correndo para fora da boate com cinco de
meus homens em sua cola. Balanço a cabeça para voltar ao agora e corro em
direção ao banheiro masculino. Alguns dos meus homens notam a minha
atitude suspeita e se aproximam, a fim de me proteger, caso algo aconteça.
Entro no banheiro e começo a olhar cada canto. Chuto as portas, analiso os
vasos, que agora estão podres de sujeira. Toco em cada canto e não encontro
nada. Coloco as mãos na cabeça frustrado.
_O que está acontecendo? – Cavalcante entra no banheiro quase
desesperado.
Eu o ignoro. Tem que haver algo aqui. Eu vi o modo como os
chineses saíram fingindo embriaguez e suas atitudes suspeitas. Eles não
vieram para nada. As pias. Eu não verifiquei as pias. Me sento no chão e olho
embaixo da pia, momento em que, encontro uma caixa com um
temporizador.
Puta merda!
_Mandem todos para fora AGORA! – Grito.
_O que? – Dante parece confuso.
_Tríade.
Digo o nome da máfia chinesa, controlada por Chang, os filhos da
puta nunca tiveram coragem de mexer conosco, era uma máfia tão irrelevante
que nunca nos incomodamos em exterminar no passado. Só que no decorrer
dos anos, eles começaram a recrutar gente, investiram em armamento pesado.
Relevamos, seus assuntos continuaram no continente asiático, pelo visto, até
agora. Corro para fora do banheiro o mais rápido que posso. As luzes da
boate se acendem, alguém grita de longe para que todos corram o mais rápido
possível para fora do lugar. As pessoas entram em desespero. Ouço gritos.
Eles sabem aonde estão metidos, então imaginam a gravidade da situação.
Meus homens me cercam. E então, o que eu mais temia acontece. A boate
explode.
Capítulo oito.
Sobreviva.

Sofia Reymond.

Já faz três horas desde que eu cheguei ao hotel às pressas com, no


mínimo, quinze homens fazendo a minha escolta. Não tenho notícias de
Lorenzo desde então, eu não sei exatamente o que aconteceu. Eu só sei, pelo
desespero dele de me mandar o mais rápido possível para fora do lugar, que
algo estava errado. Depois do nosso encontro de hoje com Nikolai, eu nem
imagino o que possa estar acontecendo. Senti uma insana vontade de ligar
para Amanda e perguntar se ela ou Lucco saberiam me informar algo, mas
fiquei com medo de assusta-la, ou de me meter onde eu não fosse chamada,
afinal, estamos falando da máfia.
Caminho de um lado para o outro do quarto, sem conseguir parar por
um único momento. Meu coração está apertado de preocupação. Não sei
como Amanda conseguiu viver por todos esses anos feliz em seu casamento
com Lucco, eu jamais aguentaria em saber que alguém que eu amo está
correndo perigo de vida e que pode deixar de voltar para casa a qualquer
momento. Não que eu ame Lorenzo, não é isso, mas também não deixo de
gostar dele, poxa, ele é afilhado da minha mãe. Sou uma ingênua mesmo,
tentando mentir para mim mesma que estou preocupada com Lorenzo
somente pelo laço familiar. Eu sinto algo por ele, não sei bem ainda o que é,
nem como essa coisa louca aconteceu, mas eu sinto algo. Começo a roer a
unha do dedão enquanto observo a tela do meu celular que não apita com
nem um sinal dele. Ele não pode estar morto, não pode. Eu preciso descobrir
o que é essa química entre nós. Eu o odiava quando criança e o desejo
quando adulta. Por favor, não esteja morto. Suplico mentalmente.
Lorenzo e eu não nos detestávamos desde que nascemos, na verdade,
éramos inseparáveis, ele era meu melhor amigo e vice-versa. Eu o amava.
Até que um dia, tudo mudou.
A lembrança do dia em que deixamos de ser inseparáveis para nos
tornarmos separáveis me veio à mente.
Quinze anos atrás:
_Venha, Sofi! Não vou deixar nada lhe acontecer.
Olho para cima e vejo Lorenzo na casa da árvore no pátio da
residência dos seus pais. Eu nunca subi, sempre tive medo, apesar de ter uma
escadinha, só de pensar estar lá no alto me causa calafrios.
_Não quero subir. – Falo emburrada.
Ele sabe que eu morro de medo de subir ali, faz de propósito. Apesar
de ser meu melhor amigo, ele pisa na bola, às vezes.
_Venha logo! Sabe que eu vou segurar você.
_Eu não sei se confio em você! – É claro que eu confio nele, mas
estou braba o suficiente para negar neste momento.
_É claro que confia, Sofia! Sou seu melhor amigo e você é a minha.
Por favor, venha!
Olho mais uma vez para o rosto do pequeno garoto que eu tenho
tanto apresso, gosto tanto dele que meu peito chega a doer. Olho bem no
fundo dos seus lindos olhos azuis e a coragem que eu precisava para subir
me vem, então, sem pestanejar, eu começo a subir degrau por degrau sem
olhar para baixo. Quando sinto que estou no alto, um lampejo de medo me
assola, mas, como havia prometido, Lorenzo segura a minha mão com força
e me ajuda a terminar o percurso. A casa da árvore é enorme, chega a dar
inveja. Ela é completa, tem dois quartos, sala e cozinha, não é aquelas
típicas casas da árvore. Ela possui energia elétrica, televisão, geladeira e ar-
condicionado. Também possui um banheiro completo com vaso sanitário e
chuveiro. Ou seja, dá tranquilamente para morar nesta casa. Lorenzo passa
a maior parte do tempo aqui, este é o seu refúgio, ninguém além do seu pai e
de sua mãe teve autorização para entrar aqui, até agora.
_Ela é perfeita. – Falo sorrindo.
Lorenzo sorri de volta. Eu o vi se tornar um garoto perfeito. Sempre
fomos grudados. Todas as minhas férias de escola dindo Lucco e dinda
Amanda mandam me buscar, brincamos durante todo esse tempo. No
entanto, com o passar dos anos, Lorenzo começou a ficar mais ocupado. Ele
precisa aprender algumas coisas que eu não ainda não entendo e não sei o
que é. Ele me fala que é por causa da máfia, que um dia ele substituirá o pai
e precisará estar pronto para isso. Agora nossas férias resumem-se à apenas
algumas horas do dia juntos e não as vinte e quatro horas, como era
antigamente.
_Olha para a frente. – Ele fala.
Faço conforme ele disse e me surpreendo. Neste horário, o sol está se
pondo e é perfeito. Avistamos o céu límpido daqui e as luzes da cidade. A
casa deles já fica bem no alto e em cima da casa da árvore, tudo parece
ainda mais mágico.
_É perfeito! – Digo, emocionada.
_Um dia. – Lorenzo começa a falar, mas se cala, ele parece incerto
se continua ou não com sua fala, mas quando eu o olho bem no fundo dos
olhos, ele parece criar a coragem que estava faltando. – Um dia, isso tudo
será nosso, Sofia.
_Nosso? – Pergunto sem compreender.
_Quando você se tornar minha esposa, poderemos morar na casa da
árvore para o resto de nossas vidas.
Engulo em seco. Lorenzo está com quatorze anos, eu ainda tenho
onze, como ele pode falar sobre casamento? Além do mais, depois de tudo o
que eu ouvi sobre dinda Amanda e como ela teve que sacrificar sua carreira
para ficar com dindo Lucco, eu não quero ir pelo mesmo caminho, quero ser
independente. Não quero me envolver com a máfia.
_Eu não vou ser mulher de mafioso. – Falo.
Vejo a expressão de Lorenzo se alterar, ele muda completamente.
Seus olhos, que antes demonstravam insegurança, agora expressam mágoa.
Eu o machuquei de alguma forma.
_Ei, não foi isso que eu quis dizer. – Tento consertar as coisas.
_Não. – Lorenzo me corta com a voz fria. – Foi exatamente isso o que
você quis dizer.
_Eu... – Não consigo terminar a frase, não sei bem o que dizer. Eu só
tenho onze anos, afinal.
_Vamos descer. Já está tarde.
Lorenzo me puxa pelo braço e me ajuda a descer da árvore, o que é
uma lástima, tendo em vista que a visão estava magnifica. Quando nossos
pés pisam em solo firme, Lorenzo sai andando na minha frente.
_Lo! – Chamo, mas ele não se vira.
Vejo Lorenzo sumir para dentro de casa e sinto que depois de hoje,
nada mais será como antes. Então, pela primeira vez eu sinto o meu coração
partir.

Saio dos meus devaneios sobre a infância quando escuto o barulho da


porta, olho imediatamente para ver quem é. Assim que cheguei no
apartamento, fiz como Lorenzo me instruiu, procurei armas e cá estou eu
segurando uma, nem sei mexer direito, mas sei que se algum estranho tentar
entrar aqui, eu vou sair apertando o gatilho feito uma louca. Miro a arma na
porta e espero. Que Deus me ajude. A porta se abre completamente e um
Lorenzo arranhado, com muito sangue seco entra. Solto uma lufada de ar que
eu nem sabia que estava presa. Ele pousa seus olhos em mim e depois na
arma, percebo que a tenho apontada para ele. Escaneio todo o seu corpo em
busca de algum ferimento e constato que o sangue não pode ser dele, pois ele
não tem nada além de meros arranhões. Sem pestanejar, atiro a arma no sofá
e corro em sua direção, me jogo em seus braços tentando compreender se ele
está realmente aqui ou se eu estou somente tendo uma miragem. Lorenzo não
esperava meu ataque. Ele fica alguns segundos sem se mexer e então me
abraça, uma de suas mãos acaricia os meus cabelos.
_Você está vivo! – Digo.
_Pelo visto sim. – Ele responde sarcasticamente.
Então, sem pensar direito, me afasto o suficiente para colar a minha
boca na dele. Ele não esperava meu pequeno ataque, seu cérebro leva alguns
segundos para decifrar o que está acontecendo, mas não mais que isso.
Lorenzo retribui o beijo imediatamente, nossos lábios se abrem dando
passagem para nossas línguas. Uma de suas mãos agarra a minha cintura com
força, enquanto a outra vai ao meu cabelo. O beijo é quente e desesperado. É
como se nós dois estivéssemos esperando muito tempo para fazer isso.
Agarro a camisa de Lorenzo, ou o restante que sobrou dela, puxo-a com tanta
força que os botões estouram voando para todos os lados. Passo a mão pelo
seu peitoral, sentindo os gominhos que eu tanto sonhei.
Lorenzo me afasta somente por alguns centímetros para falar:
_Preciso de um banho.
_Eu vou lhe dar um banho.
Ele abre um sorriso malicioso.
Arrasto ele para dentro do banheiro com seus lábios colados aos
meus. Abro o chuveiro sem regular a temperatura e o enfio embaixo da água
comigo ao seu encalço. Grudo seu corpo na parede sem interromper o beijo
por nenhum segundo. Lorenzo segura meu vestido pelo decota e o rasga em
segundos, deixando meus seios à mostra. Ele se afasta um pouco somente
para analisar minhas curvas.
_Perfeita, como eu havia imaginado.
Ele se abaixa e abocanha um mamilo me fazendo arfar, enquanto
massageia o outro com a ponta dos dedos. Solto um gemido. Começo a puxar
o cinto das suas calças e a abrir o zíper. Sua masculinidade já está bem
evidente, solicitando liberdade. Lorenzo passa para o outro mamilo. Sua mão
desce por toda a extensão da minha barriga até encontrar o meio das minhas
pernas, então, ele começa a massagear através do tecido fino da calcinha.
Minha respiração começa a ficar irregular. Finalmente consigo abrir sua
maldita calça, me afasto de Lorenzo, mesmo choramingando por não ter mais
sua mão em mim. Porém, ele realmente precisa de um banho, está coberto de
sangue. Ele me olha com tanta fome que eu quase desisto, mas sigo firme na
minha intenção. Pego o sabonete e começo a esfrega-lo, enquanto ele me
observa. Abaixo suas calças revelando um majestoso pênis, provavelmente o
maior dos que eu já vi. Lorenzo me ajuda a tirar suas calças e sapatos,
ficando totalmente nu. Ele retira a minha calcinha e nós finalmente estamos
de frente um para o outro sem barreiras. Passo o sabonete por todo o seu
corpo, quando chego na sua extensão, começo uma massagem de vai-e-vem.
Ele fecha os olhos e geme, me incitando a continuar. Lorenzo já está limpo.
Sem pensar duas vezes, me ajoelho na sua frente e abocanho o seu pau. Ele
parece surpreso com a minha atitude, assim que eu engulo o máximo que
consigo ele agarra os meus cabelos e me pressiona a me movimentar. Acelero
o ritmo, Lorenzo começa a gemer muito alto, mas então, sem esperar, ele
retira seu pau de dentro da minha boca e me puxa pela cintura.
_Eu quero gozar dentro de você.
Sem mais delongas, Lorenzo levanta minhas pernas até a altura da sua
cintura, pressiona minhas costas na parede e me penetra bem fundo. Lágrimas
brotam no canto dos meus olhos pela invasão. Ele fica alguns segundos
parado, esperando eu me acostumar com todo o seu tamanho.
_Você está bem? – Ele pergunta. Percebo que está fazendo um grande
esforço para se manter parado.
_Sim. Nunca estive melhor. – Falo com firmeza.
Com o meu aval, Lorenzo começa a entrar e sair de mim. Ele enrosca
uma de suas mãos na minha bunda para me manter na mesma altura e com a
outra livre ele começa a massagear o meu clitóris. Toda a sua extensão com a
massagem me leva a loucura e em pouco tempo eu tenho meu primeiro
orgasmo, nem volto ao planeta quando o segundo vem, ainda mais
arrebatador e então o terceiro. E neste, Lorenzo vem junto comigo. Jogando
todo o seu líquido dentro de mim. Levamos alguns segundos para nos
reconectar com o nosso corpo. Gentilmente, Lorenzo me coloca no chão e
mantem um braço me segurando, já que as minhas pernas ainda estão
bambas.
_Tudo bem? – Ele pergunta novamente.
Levanto meus olhos para encarar seu rosto. Tudo bem? Meu filho, eu
acabei de ter os melhores orgasmos da minha vida, está tudo mais que bem.
Mas como ele é homem e homens são muito suscetíveis a ter um
superabundante ego, resolvo me manter calada quanto a isso.
_S-sim. – Gaguejo um pouco.
_Eu gozei dentro de você, teremos problemas? – Pergunta
preocupado.
_Eu tomo injeção anticoncepcional. Não teremos problemas.
Ele assente e me ajuda a me lavar. Ele pensou mesmo que eu seria
louca o suficiente para deixa-lo gozar sem me prevenir. Não quero filhos, por
ora. Talvez daqui uns dez anos.
Tomamos banho juntos. Depois da chuveirada, transamos mais uma
vez na cama. Lorenzo me colocou de quatro e me penetrou durante vários
minutos.
Após toda a nossa seção de sexo nós dormimos por longas horas,
agora eu estou sentada na cama vestindo somente uma camiseta longa,
enquanto como um belo prato de à la minuta que solicitei pelo serviço de
quarto para ser meu almoço/café da tarde. Lorenzo está trabalhando no sofá.
_Então, o que exatamente aconteceu na boate? – Pergunto com a boca
cheia de batata frita.
_Um atentado contra a boate. – Ele responde sem tirar os olhos da
tela.
_Nikolai?
_Não! Tríade.
Enrugo a testa. O que diabos é tríade. Ele percebe o meu silêncio e,
finalmente, levanta os olhos para me encarar.
_Tríade é a máfia chinesa. – Explica.
_Pensei que a Bratva fosse sua inimiga.
_Em tese, todas as máfias são inimigas, algumas possuem acordos. O
que não é o nosso caso. Porém, a Tríade era tão irrelevante antigamente. Eu
os subestimei e esse foi o meu erro.
_Teve... – Paro para pensar se eu realmente quero saber isso. Suspiro
fundo e continuo. – Teve mortes?
_Muitas. – Ele responde mantendo seu olhar cravado no meu, me
analisando.
Suspiro audivelmente. Máfia é isso. Mortes, drogas, prostituição,
tráfico. Tentar romantizar isso é pecaminoso. O problema é o que vem com
ela. Lorenzo não pediu para nascer no meio disso, assim como seu pai e seu
avô. As famílias passam a liderança de uma geração para a outra. Não posso
condenar Lorenzo, ele não tem escolha, não pode simplesmente acabar com
sua máfia toda, isso significaria executar a si mesmo e a sua família, sem toda
a proteção. É um caminho sem volta.
Volto para a minha refeição, não quero imaginar quem morreu ou
quantas pessoas. Não quero pensar quantas famílias ficaram sem os seus
entes queridos que saíram somente para se divertir. Quantos filhos, irmãos e
pais se foram. As pessoas gostam tanto de falar que tudo tem sua hora,
prefiro imaginar que esta era a hora de todas essas pessoas. Mantenho meus
pensamentos longe da tal Tríade também, se eu temi Nikolai só de vê-lo,
imagina essa Tríade, e seu capo, como seria.
_O que você vai fazer? – Pergunto, por fim. Afinal, Lorenzo precisa
“retribuir” o “presente” para a máfia. Essa é a lei.
_Vou exterminá-los.
Ah. Simples assim, penso. Ok.
Termino a minha refeição e passo para a sobremesa. Solicitei uma
farta fatia de bolo de chocolate com muita cobertura de brigadeiro. Umas das
melhores coisas que já comi na vida. Ouço batidas na porta e pauso minha
mastigação, olhando para Lorenzo instantaneamente.
_Cubra-se, é meu consigliere. – Ele fala.
Coloco o prato de bolo ao meu lado na cama e empurro o restante da
louça. Cubro minhas pernas nuas até a cintura com o edredom.
_Entre. – Lorenzo grita, assim que estou coberta.
Um jovem homem moreno entra, não deve ter mais idade que
Lorenzo. Ele possui cabelos castanhos curtos. Seus olhos são de cor mel. Ele
é alto e musculoso, como todos os mafiosos. Usa uma camiseta polo preta,
com calças da mesma cor e sapatos. Vejo a tatuagem da máfia em seu pulso.
Ele exala um ar misterioso. Ele me olha e me cumprimente com um leve
aceno de cabeça. Retribuo.
_Atualizações, Enrico? – Lorenzo pergunta.
_Sim. Dias antes da Tríade atacar a boate da Cosa Nostra, uma das
boates da Bratva sofreu o mesmo atentado na Rússia.
_Mas que diabos! – Lorenzo parece surpreso.
Ele se levanta e começa a caminhar de um lado para o outro.
_Então a suspeita de que estavam trabalhando juntos está fora de
cogitação.
_Na verdade, Lorenzo, a suspeita é de que a Tríade atacou ambas as
máfias para iniciar uma guerra. Os homens realmente cresceram com o passar
dos anos, deixa-los vivos por tanto tempo foi um erro, agora temos uma
verdadeira ameaça.
_Mas não é possível, uma máfia não cresce tão rapidamente em
poucos anos. – Lorenzo parece perplexo.
_Estamos falando dos chineses, qualquer coisa é possível. Eles estão
com um armamento pesado.
_E o que você sugere?
_Você não vai gostar. – Enrico parece receoso em dizer.
_Diga logo, porra! – Lorenzo está furioso.
_Talvez, um acordo com a Bratva não fosse má ideia neste momento.
_O QUE? – Lorenzo esbraveja me fazendo encolher na cama.
_Pense bem. Subestimamos demais a Tríade, agora eles são uma
verdadeira ameaça para nós. Passamos tanto tempo brincando de gato e rato
com Nikolai e deixamos a verdadeira ameaça crescer.
_Você está me aconselhando a fazer um acordo com o meu maior
inimigo para combater outro? – Lorenzo passa a mão nos cabelos. – Enrico,
estou decepcionado, como consigliere, está dando péssimos conselhos.
_É uma hipótese, se está tão pávido quanto a ideia, sugiro que tenha
uma melhor. – Enrico retruca.
_Não estou pávido.
Meus olhos vagam de um homem para o outro enquanto eles
discutem, não ouso nem respirar para que a atenção não venha até mim.
_Então qual é o problema?
_Nikolai não vai simplesmente aceitar um acordo, Enrico. Meu pai
matou o seu pai. Ele nutre um ódio muito superior a tudo isso pela minha
família.
_Não o suficiente para exterminar sua máfia toda. Além do mais,
suspeito que ele tenha vindo até Londres ao seu encontro justamente por isso.
_Como assim? – Lorenzo questiona Enrico.
_Não acredito que Nikolai fosse tão burro ao ponto de ameaça-lo
pessoalmente e, muito menos, de vir até Londres, sabendo que sua força é
maior. Acredito que ele tenha vindo com um propósito.
_E me matar na vinda seria esse propósito? – Lorenzo pergunta
sarcasticamente.
_Acredito que aquilo tenha sido só uma forma de distrai-lo do
propósito principal.
_E qual seria este propósito?
_Um acordo, sem parecer desesperado ou dar o braço a torcer, claro.
Lorenzo bufa. Porém, se a Tríade está tão poderosa assim, Enrico
pode ter razão. Um acordo entre as máfias que por muito tempo foram as
mais atrozes do planeta, seria letal. E, talvez Enrico também tenha razão
quanto a Nikolai não querer dar o braço a torcer e ser o primeiro a dar um
passo para o acordo. Se a inimizade vem de tanto tempo assim, Nikolai não
seria nenhum idiota pensando que mandar dois homens seria o suficiente para
matar Lorenzo. Uma coisa que eu já aprendi com os homens da máfia é que
falar que eles são orgulhosos é um eufemismo.
_Vamos ao cassino em dois dias. – Lorenzo fala, por fim.
_Você está louco? – Enrico esbraveja.
Fico me perguntando o que diabos é o tal cassino que faz com que um
homem como Enrico tema a tal ideia.
_Não! Poderia estar mais louco, porém, este não é o caso. Se a Tríade
entrou em uma das minhas boates, também comparecerei em uma das suas.
Mostrarei para eles com quem se meteram.
_Lorenzo, não sabemos a força da Tríade ainda, não podemos
simplesmente entrar no cassino.
_Agora podemos. Prepare a equipe e elabore um plano, em dois dias
estaremos lá. – Lorenzo está irredutível.
_Qual roupa eu visto? – Pergunto. Se Lorenzo pensa que me meteu
nessa merda toda só por causa de uma carona e agora vai me deixar de lado,
ele não poderia estar mais enganado.
_Você vai esperar aqui. – Sua atenção se volta para mim.
_Bem, só lamento. Cassino seria um clube de jogos? Hoje mesmo
estou indo em busca de algo adequado. – Retruco.
_Sofia, não me teste a paciência, por favor. Você não vai ir e essa não
é uma decisão discutível.
_Hum... – Murmuro enquanto mexo no celular.
_O que você está fazendo?
_Estou procurando lojas de venda de vestidos longos. – Falo ainda
com a minha atenção voltada para o aparelho celular. – Olha, que sorte a
nossa! Hoje mesmo irei comprar meu vestido.
Lorenzo fica em um silêncio mortal. Sinto um pouco de medo de
olhar para ele, mas o faço. Ele me encara mortalmente, seus punhos estão
fechados.
_Talvez ela fosse uma boa distração. – Enrico que eu nem lembrava
mais que estava aqui se manifesta. Estive tão concentrada na minha guerra de
olhares com Lorenzo, que esqueci da sua presença.
_Como assim? – Lorenzo finalmente desvia o olhar do meu.
_Se você leva-la, a Tríade pode não se sentir tão ameaçada.
_Mas a moral é ameaça-los e extermina-los.
_Podemos fazer isso de dentro pra fora. Vocês entram, jogam um
pouco, Sofia vai ao banheiro, sai pela janela. Nós exterminamos todos que
estejam dentro do local e a encontramos no carro.
Lorenzo parece considerar a ideia de Enrico. Já eu tenho vontade de
vomitar, eles simplesmente vão fazer um massacre e eu estarei presente.
Onde diabos eu fui me meter?! E, principalmente, por que eu sinto que não
conseguirei descansar nem por um segundo enquanto não ver Lorenzo são e
salvo após isso. Eu não queria ir e assistir uma chacina, mas não posso
simplesmente ficar aqui esperando. Quero acompanha-lo, preciso
acompanha-lo?
_Se algo acontecer a ela. Serei um homem morto. – Ele fala.
Então é isso? Não é como se ele realmente se importasse comigo. Mas
sim, com o que os pais dele vão pensar. Se eu morrer, Amanda e Lucco
jamais o perdoarão. Sinto uma fisgada no peito, ignoro-a.
_Nada vai acontecer. Alertarei a todos para que a protejam com suas
vidas. Somos fiéis a você e seremos a ela nesta “missão”. – Enrico fala com
tanta convicção que meu medo até diminui um pouco.
_Tudo bem. – Lorenzo vira-se para mim. – Passarei o dia ocupado
amanhã, você pode ir com Enrico olhar sua roupa.
Maneio a cabeça em concordância. Minha voz desapareceu após meu
bendito cérebro constatar que Lorenzo pouco se importa comigo.
_Deixarei vocês descansarem. – Enrico me olha. – Amanhã cedo
estarei aqui para leva-la ao seu destino.
_Obrigada! – Respondo com a voz tão baixa que suspeito que ele não
tenha ouvido, mas ele maneia a cabeça.
Enrico sai do quarto e Lorenzo volta para o seu notebook. Eu coloco
os pratos na bancada móvel para que o serviço de quarto venha recolher e
vou até o banheiro me escovar. Quando retorno, Lorenzo continua na mesma
posição alheio a mim. Então eu deixo, viro-me para o lado oposto e durmo
com o coração machucado.

Acordo com braços ao meu redor. Olho para o lado e vejo Lorenzo
abraçado em mim dormindo profundamente. Eu até poderia ficar furiosa, mas
depois de ontem, não faz mais sentido ele dormir no sofá. Vejo que dormi
durante todo o restante da tarde e da noite. Olho para cima e suspiro.
Provavelmente em breve Enrico estará batendo na porta para me buscar.
Observo o rosto do homem que mal entrou na minha vida novamente e já está
machucando o meu coração, ele está em um sono tão sereno que, olhando-o
assim é difícil de imaginar as atrocidades que ele já fez. Puxo meu braço e
lentamente arrasto minha mão pelo seu peitoral. Ele deve treinar e malhar
muito em casa, esses músculos não se desenvolvem em pouco tempo de
treinamento. Lorenzo é uma bela mistura de Amanda e Lucco quando eram
mais jovens, apesar dele ser mais parecido com o pai fisicamente, alguns
pontos da sua personalidade se revelam da mãe. Sempre julguei mentalmente
Amanda por abandonar sua profissão por um homem, mas olhando Lorenzo
assim, uma parte minha cogita entende-la. Balanço a cabeça tentando nublar
estes pensamentos, diferente de Amanda e Lucco, eu e Lorenzo não nos
amamos, isso é somente carnal, sexo casual. Continuo arrastando minha mão
até chegar ao cós da sua cueca, ele está com uma bela ereção matinal. Penso
qual seria a sua reação se ele acordasse comigo em cima dele. Talvez pense
que eu seja uma ninfomaníaca. Mas, pouco me importa, logo não estaremos
mais juntos.
Levanto da cama e puxo o lençol, sua ereção está mais que evidente
na cueca. Puxo o tecido para baixo deixando-o desnudo, libertando seu
majestoso membro, só a visão já me deixa molhada. Lorenzo continua
dormindo, alheio ao que eu estou prestes a fazer. Então, coloco meus joelhos
um de cada lado do seu corpo, agarro seu membro com a mão e me sento em
toda a sua extensão. Lorenzo geme e abre os olhos. Quando ele percebe o que
está acontecendo, um sorrisinho malicioso se puxa em seus lábios e ele
coloca as mãos na minha cintura, me instigando a subir e descer, e assim eu o
faço. Começo com movimentos mais demorados, depois começo a me
movimentar rapidamente. Ouço meus gemidos ficarem cada vez mais altos.
Então a onda maravilhosa de prazer me arrebata. Lorenzo e eu gozamos ao
mesmo tempo. Deixo meu corpo cair sobre o seu, nossos corações batem
furiosamente juntos e nossas respirações pesadas se misturam. Saio de cima
de Lorenzo e da cama.
_Bom dia! – Digo sorrindo enquanto caminho para o banheiro.
Ele não responde, somente sorri, como se estivesse realizado.
Volto para o quarto após ter tomado um rápido banho e ter feito
minha higiene bucal. Lorenzo ainda está deitado, só que agora com o
notebook no colo. Abro minha mala, retiro uma calça jeans, uma blusa
simples azul e um mule do mesmo tom. Me visto apressadamente, escovo os
cabelos e estou pronta esperando Enrico. Não demora muito e eu ouço
batidas na porta, pego a minha bolsa e me despeço de Lorenzo que fica
concentrado em seu computador.
A loja não era muito distante do hotel, como eu havia imaginado. Vim
no carro com três homens, incluindo Enrico e percebi mais um SUV atrás de
nós. Lorenzo pesou na minha segurança, Amanda ficará orgulhosa, penso
sarcasticamente.
Entro na loja com todos os homens que estavam no mesmo carro que
eu ao meu encalce. Assim que as vendedoras reparam na minha chegada e na
quantidade de guarda-costas que eu possuo, vem correndo me atender. Passo
a próxima hora analisando vestidos e escolho, no mínimo, uns dez para
experimentar. Acabo ficando com um longo vermelho. O vestido é apertado
até a cintura com um decote tomara-que-caia em formato em V, da cintura
para baixo ele é solto, na perna esquerda possui uma longa fenda que sobe até
quase a virilha. Pego um sapato alto dourado para acompanhar. Na hora que
vou passar no caixa, Enrico faz questão de pagar e eu agradeço após ver o
valor. Já que farei um “favor” para a máfia, nada mais justo do que ganhar
um vestido maravilhoso desses.
Retornamos ao hotel tranquilamente, quando chego ao quarto,
Lorenzo ainda está trabalhando em seu computador com uma xícara de café
na mão. Ele me escuta chegar, vira-se para mim e sorri.
_Que bom que voltou. – Fala.
_Como assim?
_Vamos sair para jantar.
_Em qual lugar? – Pergunto curiosa.
_Gordon Ramsay.
Puta merda! Preciso começar a me arrumar agorinha já. Sorrio feito
uma criança e corro para o banheiro, afinal, preciso passar o dia fazendo uma
skin care.
Capítulo nove
Tríade.

Lorenzo Moretti.

Me concentro em meu trabalho no notebook após Sofia sair com


Enrico. Preciso desativar o sistema de segurança do cassino até amanhã à
noite, mesmo assim, encontrei um tempo para relaxar com ela. Falei
diretamente com Gordon Ramsay solicitando uma reserva em um de seus
restaurantes para hoje. Sofia parece tensa nesses últimos dias e leva-la para se
divertir e relaxar é o mínimo que posso fazer por ela, dado ao fato de que ela
só se envolveu em tudo isso graças a mim. E, se há algo que a menina gosta,
esse algo é comida. Doce ou salgado, tanto faz.
Ontem, após a explosão da boate, todos os meus homens se jogaram
em cima de mim me protegendo com seus corpos e com suas vidas. Todos
eles morreram, eu sobrevivi graças a eles. Perdi muito. Tentei decifrar após
isso o motivo dos chineses não terem explodido a boate antes e cheguei à
conclusão que a boate era o meio que eles precisavam para chegar até mim.
Eles me queriam morto, esperaram alguns dias e explodiram tudo assim que
tiveram a confirmação de que eu estava no local. Depois da conversa com
Enrico comecei a questionar meu encontro com Nikolai e o desgraçado tem
razão, após aquele fatídico dia, eu comecei a questionar o que exatamente
aquela merda toda significava, Nikolai, por algum motivo, salvou a minha
vida.
Não esperava encontrar uma Sofia tão nervosa após voltar para o
hotel, salvar a sua vida era e, ainda é, a minha maior preocupação. Após
conseguir sair dos escombros, fui procurar sobreviventes, encontrei muitos
dos meus homens machucados, incluindo Dante Cavalcante. Um avião da
máfia buscou todos com nossos médicos a bordo, levando-os para uma de
nossas clínicas. Não podia deixar meus homens em hospitais comuns, tanto a
polícia quanto os inimigos teriam muita facilidade em encontrá-los. Outra
surpresa da noite foi Sofia, após experimentar seu corpo, não sei se
conseguirei passar o resto da vida sem mais. Ela é ainda mais gostosa do que
eu esperava.
Lembro-me de quando éramos crianças e eu era apaixonado por ela,
planejava casar, ter filhos, construir uma família com ela. E então, ela me
rejeitou. Sofri muito após isso e afastei-a completamente para que, desta
forma, eu conseguisse curar meu coração tão jovem já quebrado.
Volto minha atenção para o notebook, Sofia retornou das compras e
está no banheiro a tanto tempo que eu começo a me questionar se ela ainda
está viva. Desde que contei sobre a nossa saída de hoje, a garota entrou e não
saiu mais.
Termino meu serviço com êxito. Nem vi o dia passar, sei que em
algum momento Sofia solicitou o almoço para o serviço de quarto e me
alcançou um prato de massa. Olho pela janela do quarto e vejo que já
escureceu, vou para o banheiro tomar um banho e me arrumar. Coloco um
terno preto com uma camisa branca, opto por não colocar a gravata para não
ficar tão formal. Bebo whisky enquanto espero Sofia que, mais uma vez, se
enfiou novamente no banheiro. Após alguns minutos ela sai. Ela veste um
vestido preto midi que cola em seu corpo acentuando ainda mais as suas
curvas, nos pés calça um sapato nude. Seus longos cabelos pretos estão soltos
e bem ondulados. No rosto ela não pesou muito na maquiagem, somente
lápis, delineado e rímel. Ela está linda.
_Vamos? – Pergunta.
Caminho até ela e largo o copo na mesa de centro, ao me aproximar
puxo sua cintura colando seu corpo ao meu e dou um vasto beijo em seus
lábios.
_Vamos. – Confirmo.
Puxo Sofia pela mão e assim permanecemos até chegar ao carro.
Chegamos ao restaurante em minutos. Gordon possui em torno de quinze
restaurantes em Londres. No entanto, somente este é um dos únicos
restaurantes de Londres com 3 estrelas Michelin.
O restaurante é requintado com um ambiente agradável, Sofia parece
deslumbrada com tudo. Sentamo-nos em uma mesa ao canto. Solicito um
vinho e para comermos optamos pelo ravióli.
_Você está linda! – Falo enquanto beberico um pouco do delicioso
vinho.
Pela primeira vez na vida vejo Sofia corar.
_Obrigada por tudo isso. – Ela agradece, olhando ao redor para
enaltecer a sua gratidão.
_Você merece tudo isso e muito mais.
Ela me olha e quando pensa em falar algo, nossos pratos chegam.
Jantamos em silêncio. Sofia parece querer questionar algo, mas não encontra
coragem para perguntar.
_O que foi? – Pergunto, já irritado com isso.
_Nada. – Ela responde, somente.
Bufo e volto a comer. Seja lá o que for, está incomodando-a.
Terminamos o jantar e Sofia pede mont blanc como sobremesa. Assim que o
garçom se afasta novamente eu a questiono, mais uma vez.
_Diga logo, Sofia. Está me dando nos nervos. – Tomo em um só gole
o conteúdo da minha taça.
_Por que você mudou comigo?
_Como assim? – Pergunto sem entender.
_Na infância, éramos melhores amigos e de um hora para outra você
passou a me odiar, me afastar e a me maltratar. – Vejo um lampejo de mágoa
em seus olhos.
Como eu posso falar para ela que ela foi a primeira e única mulher a
partir meu coração? Que eu a amava desde muito jovem, que entreguei-lhe
tudo e ela simplesmente pisoteou nos meus sentimentos pelo simples fato de
eu ser um mafioso, me menosprezando. Eu não posso revelar essa verdade a
ela.
_Eu não tinha mais tempo para bancar o menino brincalhão. Diferente
de você, eu precisava ser maduro e aprender a matar, não tinha tempo para
suas brincadeiras. – Minto.
Não é uma verdade completa, é uma meia mentira. Quando Sofia
quebrou meu coração eu já sabia lutar e a atirar, inclusive, na mesma casa da
árvore que ela se apaixonou, eu possuía inúmeras armas escondidas.
_E porque me maltratar? Não podia somente me afastar?
_Você era muito pegajosa, precisava de mais do que um empurrão
para afasta-la. – Isso é mentira.
Após me rejeitar, tentei odiá-la, mas nunca consegui. Todas as vezes
que eu a via meu coração disparava e minhas mãos suavam. Agradeci aos
céus quando ela parou de ir passar as férias na Itália, assim eu não precisava
lutar contra o sentimento que me assolava, mantê-la longe foi preciso.
Quando cheguei à adolescência fui até um dos prostíbulos da máfia e fiz
questão de perder a virgindade com a prostituta mais jovem do local. Após
isso, andei com as mulheres mais bonitas que eu encontrei. Transei com
tantas mulheres que nem se eu quisesse me lembrar de todas eu conseguiria.
Quando encontrei Sofia no velório do seu pai, tentei convencer a mim mesmo
que todas as mulheres que eu andei eram muito mais gostosos e bonitas que
ela. Na época, ela era totalmente diferente do que é hoje. Seu corpo ainda não
havia tomado as curvas e seu rosto ainda marcava o formato redondo da
infância. Só que isso não é mais verdade, agora ela é uma mulher linda.
Talvez a mais linda de todas elas e transar com ela só piorou tudo as coisas, o
sentimento da infância veio com força total e eu não sei se meu coração
sobreviverá a mais uma facada sua.
_Obrigada! – Ela fala.
_Pelo que? – Pergunto confuso.
_Por me mostrar que você continua sendo o maior babaca de todos.
Ela está muito magoada, tenho vontade de falar a verdade que eu
sempre fui um completo idiota apaixonado, mas eu não posso. Revelar a
verdade significa ficar vulnerável.
_De nada. – Retruco.
Terminamos a garrafa de vinho em silêncio, a sobremesa de Sofia
chega e ela devora em poucos instantes, nunca vi gostar tanto de doce. Após
o desjejum, eu pago a conta e saímos do restaurante. Ficamos em silêncio na
rua enquanto esperamos o carro chegar.
Puxo o celular para ver se tem alguma notificação e não encontro
nada. Quando vou puxar algum assunto com Sofia, um carro vira à esquina
em alta velocidade derrapando. E então, ele vem em direção a Sofia, que está
na ponta da calçada. Não penso. Puxo a arma do coldre e corro em direção a
ela. Sofia percebe o movimento e arregala os olhos. Por segundos eu consigo
jogar meu corpo contra o dela e o carro passa a centímetros de nós. Caímos
com força no chão. Bato a cabeça e Sofia cai por cima de mim, sem
pestanejar, miro minha arma para o tanque de combustível do automóvel que
agora foge e atiro. O carro explode na rua, voando destroço por todos os
lados, pessoas gritam e correm, os alarmes dos carros próximos disparam.
_Você está bem? – Pergunto para Sofia. Analiso cada centímetro do
seu corpo.
_S-sim. – Ela gagueja. Parece em choque.
_Sofia, está tudo bem. – Tento acalma-la.
_E-ele ia me atropelar? – Pergunta com os olhos arregalados.
_Sim.
_Por que?
_Vamos descobrir logo.
Levanto-me com Sofia. Coloco-a de pé e a seguro para que suas
pernas fixem bem no chão, já que ainda estão bambas. Meu celular toca e eu
atendo em um toque.
_Enrico. – Falo com o aparelho no ouvido.
_Pegamos um deles, chefe. Está no lugar de sempre.
Ele desliga. O lugar de sempre significa um de nossos galpões
afastados. Por fora parece um local abandonado, por dentro possui um arsenal
de armas e equipamentos de tortura.
_Preciso te deixar no hotel e ir a um lugar. – Falo para Sofia.
_P-por favor, não me deixe sozinha. – Ela implora ainda em choque.
_Você não vai querer ver o que eu vou fazer.
_Só não me deixe sozinha. – Pede novamente.
Suspiro, mostrar meu lado mais obscuro para Sofia não estava nos
meus planos. Ela me rejeitou uma vez por ser um mafioso, só com a simples
menção que a palavra máfia lhe causava, se ela ver as formas que eu sei
torturar um inimigo, nunca mais vai querer olhar para mim.
_Sofia, eu vou encontrar um inimigo, irei tortura-lo e mata-lo.
Acredite, você não vai querer ver esse meu lado. – Agora quem implora sou
eu.
_Eu quero conhecer todos os seus lados, Lorenzo. – Ela diz
firmemente.
Olho-a no fundo dos olhos, a garota que tanto amei e talvez ainda
ame. Ela tem razão, precisa conhecer todos os meus lados, para saber quem é
o verdadeiro Lorenzo. Concordo com a cabeça.
Nosso carro chega e como um bom motorista, Federico dirige
diretamente para o galpão. Conseguimos sair antes da polícia chegar ao local
da explosão. O percurso para o galpão é longo. Entramos em uma estrada mal
iluminada e percorremos essa por alguns minutos até avistar o galpão. É um
galpão velho por fora, fica mais ao fundo de um extenso terreno, mas por
dentro é todo reformado e uma grande quantidade de nossas armas de
Londres se concentram aqui. Temos mais três desses, mas esse é o principal.
Enrico entra na estrada de chão e para em frente ao galpão. Olho mais
uma vez para Sofia.
_Tem certeza? – Pergunto relutante.
_Você me afastou uma vez, não deixarei fazer novamente. – Ela fala e
aperta a minha mão.
Desço do carro e Federico abre a porta para ela. Sofia olha ao redor
curiosa. Está muito escuro, a iluminação de fora é precária para não chamar a
atenção. Puxo sua mão e a direciono até a entrada, um dos meus homens abre
a grande porta da frente. Meus olhos demoram a se acostumar com a
iluminação. Entramos no galpão, em seu exterior ele é todo em concreto
grosso, resistente a balas, os vidros das janelas são a prova de bala, porém, se
estiver sob ataque é só apertar um botão que uns dispositivos instalados
fecham cada ponto de entrada tornando o galpão impenetrável. O armamento
está guardado nos armários que ficam dispostos nos cantos. Também temos
cozinha, quarto e banheiro aqui, para os homens que ficam de vigília.
Vejo no meio do lugar Enrico e mais dois homens dos nossos de pé,
eles estão de frente para um chinês amordaçado em uma cadeira. Ele está
todo esfolado e ensanguentado. Ou ele falou tudo o que sabia, ou vai ser
esfolado até a morte sem entregar nada. Existe somente dois tipos de homens,
os que são sádicos o suficiente para aguentar a dor e ser torturado e
esquartejado durante dias, fazendo-nos perder tempo e os que, assim que
tomam um soco ou possuem um dedo amputado abrem a boca, a fim de que a
morte seja menos dolorosa e lenta.
Sofia se retesa ao ver o estado do homem, mas continua firmemente
aproximando-se ao meu lado.
_Ele disse alguma coisa? – Pergunto.
_Nada de relevante. – Enrico dá de ombros.
Sofia para alguns metros longe e observa. Puxo uma cadeira e sento
de frente para ele. Faço um sinal com a cabeça para que tirem sua mordaça.
Assim o fazem.
_Então, vamos acelerar as coisas ou eu terei que arrancar cada parte
sua? – Pergunto para ele.
O homem me olha com ódio e cospe nos meus pés. Ah não, péssima
forma de começar uma conversa comigo. Levanto-me de supetão da cadeira.
Caminho lentamente até a mesa e pego um alicate. Vamos começar pelas
pontas dos dedos. Vou até ele com o alicate e puxo sua mão, ele força ela de
volta, mas as mordaças não deixam. Sem pestanejar corto a ponta do seu
dedo indicador esquerdo. Sangue jorra sujando minha roupa. Ele grita e chora
de dor. Não ouso olhar para Sofia, com medo do que vou encontrar.
_Tenho mais nove dedos para cortar, dois olhos para furar, vários
ossos para fraturar, até você sucumbir a morte. Vai cooperar ou não? –
Pergunto enquanto limpo o sangue da minha mão com um lenço que Enrico
me alcançou e sento-me novamente na cadeira.
Lágrimas brotam dos olhos do chinês.
_Eles querem ela. – Ele fala chorando. E então olha para Sofia.
Sinto meu corpo gelar.
_Por quê? – Pergunto.
Ele começa a rir que nem um sádico.
_Qual a forma mais fácil de fazer um capo sucumbir ao
desmoronamento do que atacando o seu tendão de Aquiles? – Fala como se
fosse óbvio.
E aí está o meu maior medo. Perder quem eu amo. Meu corpo fica
rígido. Meu coração dispara. É tão evidente a importância que Sofia tem na
minha vida? Mantê-la afastada por todos esses anos não só protegeu o meu
coração dela, assim como a sua vida.
_Por que, Tríade? – Chamo-o pelo nome de sua máfia. – Depois de
todos esses anos se rebelar contra nós? Até permiti que tivessem um cassino
aqui. Fiz um gesto de caridade. – Sou sarcástico.
_A Tríade não precisa mais de caridade, em breve, Cosa Nostra e
Bratva precisarão. – Ele sorri mostrando os dentes ensanguentados.
_Não enquanto eu viver.
_Você não sabe de nada. – Ele sorri.
_Sim, eu sei. E, quando chegar ao inferno, lembre-se, ninguém
ameaça os que amo. – Digo e saco minha arma dando dois tiros no peito e um
na testa.
O homem cai desfalecido na cadeira.
_Joguem-no em frente ao cassino. Amanhã executaremos o resto.
Levanto da cadeira e tomo coragem para olhar ela. Dependendo do
que estiver em seus olhos, nós nunca mais reaveremos essa parte quebrada.
Mas, ao contrário do que eu esperava, Sofia não parece estar com medo ou
raiva, ela parece estar, emocionada?
Sofia caminha em minha direção decidida ignorando o corpo que está
perto de mim e sem eu esperar, ela me beija, sem se importar que os homens
estejam nos olhando. Diferente dos outros beijos, esse não é fugaz, é
apaixonado. Como se ela estivesse tentando me falar algo através desse
simples ato. Assim que nossos lábios se separam, vejo seus beiços vermelhos
e ela sorri me soltando.
_Vamos embora? – Pergunta.
_Sim. – Respondo ainda transtornado.
Ela caminha em direção a porta que nos leva para fora do galpão e eu
a sigo admirando sua bunda se mexendo enquanto caminha, imaginando
todas as coisas que quero fazer com ela.
Voltamos para o hotel em silêncio com nossas mãos entrelaçadas.
Assim que entramos no quarto eu agarro Sofia pelos cabelos e colo nossas
bocas. Suas mãos voam para os botões da minha camisa, abrindo um por um,
ela retira meu blazer que cai no chão e nós caminhamos ainda com as bocas
unidas até a cama. Eu preciso sentir tudo dela, ter tudo dela, enquanto ainda a
possuo. Retiro seu vestido pela cabeça, deixando-a somente de lingerie, por
mais que a visão seja muito atraente, não me demoro nela. Termino de me
desnudar com a ajuda de Sofia e a jogo na cama, puxo suas pernas para que
sua bunda fique na ponta e me agacho. Estava enlouquecido para
experimentar o seu gosto. Dou uma lambida por toda a sua extensão e ela
arfa, então vou ao ponto principal, o seu clitóris, começo a lamber e a chupar
seu nervo sensível e Sofia começa a gemer, em poucos minutos ela goza na
minha boca, engulo todo o seu líquido com prazer. Assim que termino,
levanto-me e encaixo meu pau na sua fenda, penetro-a fundo. Sofia arfa ainda
mais alto e eu gemo. Ela é muito gostosa. Faço os movimentos de vai-e-vem
aumentando o ritmo das estocadas, gozo fundo nela, me deleitando ao
máximo do momento.
Após nosso sexo, tomamos banho junto e tivemos mais uma seção
quente no banheiro, até voltarmos para o quarto e apagarmos na cama um nos
braços do outro.

Inspeciono mais uma vez o plano enquanto Sofia se arruma no


banheiro para irmos até o cassino. Ainda acho uma péssima ideia leva-la
conosco, ainda mais após a confissão de ontem. Eles a querem. Uma coisa ele
tem razão, chegar a ela será a forma mais fácil de me ver desmoronar. Eles
não cogitam chegar à minha família, durante todos os seus anos como capo,
meu pai fez uma bela fama, até hoje é temido. Ninguém atentaria contra a
vida da minha mãe ou irmã, não com medo de mim, mas sim dele. Durante
todos os meus anos de liderança, nunca tive um ponto fraco e vulnerável para
ser atingido, até agora.
Sofia sai do banheiro e eu quase caio para trás. Ela veste um lindo
vestido longo vermelho. O decote é tanto que eu consigo ver o formato
redondo dos seus lindos e fartos seios perfeitamente. Na perna esquerda há
uma fenda, mostrando toda a sua deliciosa coxa. Ela fez um coque alto no
cabelo, deixando algumas mexas caídas. Seus olhos estão com um esfumado
preto, seus cílios estão longos e marcantes e sua boca, ah, essa deliciosa boca,
está vermelha vívida. Ela está usando um colar de ouro simples e brincos que
fazem conjunto. É a visão do paraíso. Se eu, em algum momento cogitasse ir
para o céu, gostaria que ele tivesse exatamente essa visão.
_Uau! – É a única coisa que eu consigo falar. Minha voz, pela
primeira vez na vida, sumiu.
Ela sorri.
_Vamos? – Pergunta, enquanto pega sua bolsa.
_Vamos.
Caminho em sua direção e enrosco meu braço no seu. Planto um beijo
na sua cabeça sentindo o delicioso perfume de flores. Forço-a a me olhar.
_Se alguma coisa sair de controle, me prometa que vai fugir, correr o
máximo que conseguir. – Peço.
_M-mas, vocês fizeram tudo certo. – Gagueja. – Nada pode acontecer.
_Entenda, Sofia. Estamos falando de máfias, qualquer coisa pode
acontecer. Se eles me pegarem, provavelmente vão me torturar até que
alguém consiga me resgatar. Ou eu serei morto. – Pauso vendo seus olhos se
arregalarem e lacrimejarem. – Mas, se eles pegarem você, farão atrocidades,
coisas que eu não posso nem pensar.
_Nada vai acontecer. – Ela diz confiante, mas não me promete nada.
Conhecendo Sofia, se ela for a mesma garota de onze anos de idade
pela qual eu era perdidamente apaixonado, ela preferirá a morte do que
abandonar um dos seus. Fidelidade é a palavra mais importante do seu
vocabulário. Talvez seja esse o motivo por ela ter ficado tão quebrada após
Dante, Sofia é fiel até a morte, mas assim como ela dá, também gosta de
receber.
Jamais terei sua promessa de me deixar e fugir, hoje somos uma dupla
inseparável, não posso cogitar deixar nada acontecer, pois posso perde-la.
Saímos com os braços enroscados, indo juntos em direção à Tríade.
Capítulo dez.
Cassino.

Sofia Reymond.

Ser quase morta atropelada não estava nos meus planos de jantar
perfeito. Quase morri ao saber que jantaríamos no famoso Gordon Ramsay,
fiquei tão animada que passei o dia no banheiro fazendo skin care e depois
me arrumando. A comida e o vinho estavam mais que perfeitos, nunca comi
algo tão divinamente delicioso quanto aquela refeição. Mas então, eu tive a
brilhante ideia de fazer a maldita pergunta estragando com tudo. Fiquei muito
decepcionada com a resposta de Lorenzo. Meu coração ficou tão apertado
que eu pensei que sufocaria até a morte. Não sei bem o que eu esperava, mas
não era aquilo, certamente.
Também não sei o que estava na minha cabeça quando praticamente
implorei para que Lorenzo me levasse até o local aonde ele deixou claro que
torturaria alguém. Pensei que se eu o visse como realmente é, esse sentimento
insano se quebraria, só não esperava como as coisas realmente aconteceriam.
Ver a forma como ele ficou furioso e me protegeu dizendo em alto e bom tom
que ninguém ameaça as pessoas que ele ama, fez com que a sementinha do
sentimento germinasse ainda mais dentro de mim. Vê-lo arrancar o dedo do
homem e atirar precisamente não foram nada perto da felicidade que eu
sentia.
Sei que ele fez àquilo mais vezes do que eu consiga imaginar, mas
saber que ele faz não por prazer e sim por necessidade, torna as coisas menos
piores na minha cabeça. Lorenzo e eu somos parecidos em muitos aspectos e
fidelidade é um deles. Não consegui falar nada e não precisei, o beijo disse
tudo, depois nossa noite de sexo disse ainda mais.
Estou dentro do banheiro fazendo meu coque enquanto analiso todas
as coisas que aconteceram nas últimas quarenta e oito horas. Em breve,
teremos que retornar para as nossas respectivas casas e, por ora, não quero
nem imaginar como vai ser longe dessa loucura toda que mesmo sem querer
eu já me acostumei e até mesmo aprendi a gostar. Termino de arrumar os
meus cabelos e me olho no espelho. Eu fiz um belíssimo trabalho. Saio do
banheiro e o olhar de Lorenzo em mim só confirma o que eu havia visto.
Caminhamos de braços enroscados para fora do hotel, meu coração
bate tão forte no meu peito que eu temo que desloque alguma costela. Eu sei
o que preciso fazer, repassamos tudo hoje à tarde. Assim que Lorenzo colocar
a mão na minha perna, está será a minha deixa para ir ao banheiro e me
esquivar pela janela. Se algo der errado, preciso me esconder em qualquer
lugar que não tenha ninguém com uma arma apontada para mim. O terno que
Lorenzo usa é à prova de balas. Sua vestimenta é toda preta, a única coisa que
quebra a cor é a gravata vermelha da mesma tonalidade do meu vestido.
Chegamos ao cassino em poucos minutos. Por fora, o local parece
uma boate sofisticada. Passamos por um segurança que nos olha meio
desconfiado, mas nos deixa passar. Não sabemos se ele sabe quem Lorenzo é,
mas fizemos de tudo para parecer somente um casal com muito dinheiro para
gastar. Já no hall de entrada. Dois seguranças fazem a abordagem, uma
mulher e um homem. A mulher passa as mãos em mim fazendo a revista, ao
não encontrar nada, ela libera a minha passagem. Lorenzo passa pelo mesmo
procedimento com o homem. Olho para a porta e vejo Enrico entrando
abraçado a uma mulher. Só Deus sabe de onde ela saiu. Atrás dele reconheço
mais homens da Cosa Nostra, todos disfarçados e entrando separadamente.
Passamos por uma grande porta mais à frente e finalmente eu posso
ver o cassino. Vejo muitas mesas com gente de todas as etnias sentadas
jogando. Vejo caça-níquéis, roleta, blackjack, poker e outros jogos de fortuna
e azar. O lugar está cheio. Não quero nem pensar qual será o fim de todas
essas pessoas. Lorenzo me conduz até uma mesa no canto onde esperam
fechar a roda de jogadores de roleta. Lorenzo compra meio milhão em fichas.
Ele desabotoa o casaco do terno e senta-se em uma cadeira, eu fico em pé
atrás dele descansando minhas mãos em seus ombros. O funcionário que
comanda o jogo é chinês, o que não me surpreende. Um homem mais velho
se aproxima e se senta de frente para Lorenzo, ele sorri sem mostrar os dentes
para o meu acompanhante. O homem possui olhos azuis, é alto e magro.
Pelas suas vestes parece possuir muito dinheiro. Ao lado esquerdo está uma
mulher ruivael de meia idade. Ela bebe um copo de whisky enquanto analisa
o cassino em busca de algo. Ainda falta um jogador. Enrico se aproxima e
senta ao lado direito, fechando a rodada de jogadores. Cada um empurra suas
fichas. Lorenzo aposta todas elas, o homem mais velho sentado à frente sorri
e empurra todas as suas também. O jogo começa.
Não faço a menor ideia de quais são as regras desse jogo, mantenho-
me na minha posição enquanto Lorenzo e os demais jogam. Vejo uma
chinesa se aproximar do homem mais velho, ela parece ter a mesma idade
que a minha, está com seus cabelos pretos e lisos em um coque, ela veste um
vestido longo preto de um ombro só colado ao corpo, o qual possui uma
fenda na perna direita. Ela me encara com ódio. Encaro de volta, quem ela
pensa é para sair encarando as pessoas assim. Acho que Lorenzo percebe seu
olhar direcionado a mim, já que ele fica tempo o suficiente olhando para ela,
espero que não esteja flertando ou ele será uma das vítimas de hoje.
Não sei exatamente quanto tempo passou, mas meus pés já começam
a doer de ficar tanto tempo em pé com esse salto. O jogo continua e a chinesa
finalmente se afasta, vejo-a ir em direção a saída. Assim que ela some de
vista, Lorenzo me puxa me colando ao seu lado, ele passa a mão na minha
coxa pela fende distraidamente enquanto ainda está concentrado em seu jogo.
É agora, Deus pai me ajude.
Faço conforme o combinado, me agacho lentamente até deixar meus
lábios na altura do seu ouvido, então cochicho.
_Preciso ir ao toalete.
Ele maneia a cabeça concordando, então eu me afasto. Olho todo o
salão. As pessoas estão concentradas demais em seus jogos para constatar a
minha presença. Caminho por entre as mesas, ignorando os olhares furtivos
que alguns homens jogam para cima de mim. Encontro a placa que ostenta o
símbolo de uma mulher, indicando meu destino. Viro o corredor e entro no
banheiro, tentando parecer calma. Vejo duas mulheres lavando as mãos
enquanto conversam, me aproximo do espelho e retiro o batom da bolsa, finjo
estar ocupada retocando, assim que elas saem do banheiro, guardo o batom
de volta e começo a olhar por baixo das divisórias para ver se tem alguém,
com a confirmação de que está vazio eu começo a minha fuga.
Retiro o salto e corro em direção a janela, como estava no projeto, ela
é vasculante e com pouco espaço para um corpo. Terei que trancar a
respiração, ao lado de fora um SUV estará me esperando. Levanto uma perna
para passar quando alguém entra no banheiro me fazendo ter um infarto e
parar na mesma hora. A maldita chinesa me encara enquanto sorri. Puta
merda! Lorenzo me daria dois minutos antes de começar a troca de tiros, eu
preciso sair agora. Ignorando a diabólica menina, tento sair pela janela
rapidamente, mas como um gato a cretina me alcança e me joga no chão.
_Não tão fácil, querida. – Ela fala.
Enquanto me levanto a vadia tira os saltos jogando-os no canto do
banheiro e sorri para mim.
_Vamos brincar. – Diz.
Estou ferrada.
A louca corre na minha direção e me dá um chute bem no meio do
peito, fazendo-me voar e minhas costas encontrarem a parede. Puxo o ar com
força para os meus pulmões. Espero não ter quebrado nada. Lágrimas
pinicam nos meus olhos. Estou em uma enrascada. Não posso sair, pois corro
o risco de levar um tiro e se ficar aqui ela vai me matar. Maldita hora que não
ouvi mamãe e não fiquei nas aulas de defesa pessoal. A chinesa sorri para
mim novamente e vem me atacar, em um lampejo de desespero eu jogo um
dos sapatos em sua direção e o salto acerta bem no meio do seu rosto. Ela
coloca as mãos no local aonde o salto bateu e cambaleia para trás.
_Sua vadia! – Grita de raiva.
E então a merda acontece. Tiros começam a ecoar por todo o local.
Preciso tirar essa asiática do meu caminho. Ela retira a mão do rosto e um
hematoma bem ao lado do nariz aparece. Sangue escorre do machucado. Ela
me olha com ainda mais ódio e dispara em minha direção. Jogo outro sapato
nela sem pensar, só que dessa vez com um só golpe de mão ela se defende
jogando o sapato longe. Meu Deus, ela é uma humana comum ou é o Jackie
Chan disfarçado? Ela vem me acertar um soco bem no rosto, mas eu corro
para o lado desviando, ela acaba socando a parede e urra de raiva e dor.
_Eu vou MATAR você! – Berra.
Corro para a janela, mas ela me puxa pelo vestido me jogando
novamente no chão. Ela vem para cima de mim e me dá um soco no rosto.
Sem pensar duas vezes eu dou um chute na sua bunda com o joelho, como já
vi nos filmes, ela cambaleia, mas continua me prendendo no chão. Ela vai
acabar com o meu rosto. Oh Deus. Em desespero por sobrevivência faço a
única coisa que penso. Enfio minhas unhas no seu machucado do rosto. Ela
grita e sai de cima de mim. Levanto-me apressadamente em desespero, mas
ela me chuta, machucando a minha panturrilha. Viro-me para ela e segurando
a bolsa pela alça, giro ela e a acerto novamente em seu rosto. Isso me dá
tempo o suficiente para correr para a porta, mas quando eu estou quase
chegando ao meu destino ela joga algo nas minhas costas que faz com que o
ar dos meus pulmões saia. Ela me alcança e me segura pelos cabelos.
Esperneio e tento me soltar. Eu sou um desastre, uma presa fácil, não sei
lutar, não sei atirar, não sei merda nenhuma. Mas então ouço três tiros e seu
aperto nos meus cabelos se suaviza. Me viro para ela rapidamente e vejo
sangue em sua testa e peito. Olho para porta e vejo um Lorenzo todo
manchado de sangue e com um olhar mortal.
_Você está bem? Ela machucou você? – Ele pergunta preocupado
vindo até mim.
_Estou bem e você? – Não sei como consigo fazer minha voz sair, vê-
lo coberto de sangue, sem saber se é dele ou alheio me causa arrepios.
_Estou bem. Vamos sair logo daqui, o local virará cinzas em breve.
Concordo com a cabeça ainda me tremendo toda. Junto meus sapatos
e minha bolsa e me agarro nele. Puxo seu braço.
_E-esse sangue. – Gaguejo quando vejo a quantidade.
_Não é meu.
Suspiro em alívio. Um Enrico tão ensanguentado quanto Lorenzo
entra no banheiro. Ele olha para a garota desfalecida no chão.
_Porra! Você matou a filha de Chang. – Fala aflito.
_Agora estamos quites. – Lorenzo fala, parecendo pouco se importar.
_Ou mortos. – Enrico complementa. – Vamos embora daqui, o lugar
vai explodir em breve.
Saímos do banheiro correndo, sinto minha perna latejar aonde a vaca
chutou. Lorenzo parece perceber minha aflição, pois sem informar, me pega
no colo e corre comigo. Entramos no salão e meu queixo cai, agradeço por
estar em seu colo, uma vez que minhas pernas ficaram bambas. O mármore
do chão que pouco tempo atrás estava tão clarinho e limpo virou um rio de
sangue. Corpos para todos os lados, Lorenzo pula por cima deles para poder
passar. Vejo a mesa que estávamos e o chinês que instruía o jogo está morto
em cima dela, junto com a ruiva e o homem mais velho da frente. Tem tantos
mortos aqui que não consigo calcular todas as perdas. Os guardas da porta
também estão mortos. O cheiro de sangue preenche minhas narinas me
fazendo enjoar e tentar segurar o jantar no estômago. Quando finalmente
sinto o ar limpo da rua, um SUV para na nossa frente. Lorenzo me joga para
dentro do veículo entrando junto comigo e Enrico se joga na sua frente. O
carro arranca. Não conto nem três e o prédio todo explode. Fico boquiaberta.
Olho para Enrico.
_Aonde está a sua acompanhante? – Pergunto.
_Morta. – Ele responde tranquilamente.
Fico pasma com a sua frieza. Mas algo me vem em mente. Olho para
Lorenzo que descansa com os olhos fechados.
_Como você sabia que eu ainda estava lá? – Pergunto.
Ele abre os olhos e me encara. Assim, coberto de sangue o azul dos
seus olhos é ainda mais notável, como esse homem consegue ser tão lindo até
mesmo sujo?
_Vi Liang entrando no banheiro.
Liang, então era esse o nome daquela filha da puta.
_Liang? – Pergunto curiosa. Como ele sabe o nome da cretina?!
_Liang era uma das filhas de Chang, o capo da Tríade. Tivemos um
caso há alguns anos. Assim que a reconheci na mesa soube que o plano
estava comprometido. – Ele suspira. – Quando eu andei com ela, não sabia
quem era.
Agora tudo faz sentido, o ódio com que ela me encarou na mesa,
como se me conhecesse de algum lugar, o que é logicamente impossível. Ela
estava com ciúmes de Lorenzo e ela sabia que alguma merda aconteceria.
_Aconteceu algo fora do plano? – Pergunto, tentando ignorar esse
ciúme ridículo que eu estou sentindo de uma mulher morta. Uma mulher que
o próprio Lorenzo matou.
_Sim. O plano deu certo, mas perdi muita gente. Assim que Liang nos
viu, comunicou os outros no rádio e foi atrás de você.
Não digo nada, não tem o que falar. Lorenzo fecha os olhos
novamente, ele parece muito cansado. O plano não ter saído como planejava
o esgotou.
Chegamos ao hotel e entramos pela porta dos fundos para não chamar
a atenção dos hóspedes, usamos o elevador de serviço até o nosso andar. No
quarto, Lorenzo retira o blazer e joga-o no chão ele começa a desabotoar a
camisa. Observo seu peitoral que possui alguns hematomas. Corro em sua
direção e passo a mão pelas marcas arroxeadas de balas que o terno protegeu.
_Você está bem? – Pergunto novamente, olhando para os seus
machucados.
_Sim.
Lágrimas brotam nos meus olhos, não consigo controlar. Vendo essas
marcas, percebo o risco que ele correu. Pensar em perde-lo me faz entrar em
desespero. Solto um soluço e Lorenzo me abraça. Começo a chorar, não me
importando com as lágrimas ou que ele me veja tão vulnerável assim, porque
ver essas marcas me fez cair na real de que eu estou irrefutavelmente e
completamente apaixonada por Lorenzo. Só agora percebo a grandiosidade
do que fizemos, do que passamos. Eu poderia tê-lo perdido, agora que o
tenho novamente, depois de tantos anos. Abraço-o com ainda mais força.
_Está tudo bem. – Ele murmura beijando a minha testa.
Eu sempre o amei, como eu pude ser tão ingênua ao ponto de tentar
negar isso? O ódio que eu supostamente nutria por ele era só um escudo para
esconder o que eu realmente sentia. Só que agora é tarde demais. Não é
recíproco.
_Eu sinto muito. – Falo, quando finalmente cesso o choro.
_Pelo que? – Ele pergunta confuso.
_Por Liang. – Digo.
Afinal, ele parecia chateado. Depois que me contou que eram
amantes, não deve ter sido fácil para ele ter que escolher entre matar a sua
amante ou salvar a protegida dos seus pais.
Lorenzo enruga a testa sem entender, mas não fala nada. Seu silêncio
diz tudo. Quando eu voltar para o Brasil, precisarei encontrar uma forma de
colar todos os cacos do meu coração.
_Vamos para a Itália amanhã. – Ele fala. – Agora que perdi muitos
homens não podemos correr o risco de continuar aqui.
_Tudo bem.
_Agora vamos para o banho.
Lorenzo me arrastou até o banheiro, gentilmente retirou meu vestido e
me conduziu ao chuveiro, ele me fez companhia. Tomamos banho juntos,
retirando de nossos corpos todos os resquícios do que fizemos esta noite.
Após o banho, ele secou os meus cabelos, colocou o meu pijama e deitou
comigo, abraçando-me fortemente, para que eu me sentisse em segurança.
Quando o sono estava quase me consumindo, desconfiei ouvir um
baixo murmúrio.
_Sempre foi você.
Mas eu estava tão inebriada de sono, que não consegui decifrar se foi
real ou não.
Capítulo dez.
Bratva.

Lorenzo Moretti.

Assim que meus olhos pousam na mulher que se aproxima e que, por
sinal, encara mortalmente a minha acompanhante eu sei que vai dar merda.
Sofia parece alheia à presença de Liang. Continuo jogando tentando não
demonstrar pavor, se Liang acionar os seguranças nesse momento, Sofia não
sobreviverá ao ataque, seu vestido não é à prova de balas. Olho para Enrico
como se estivesse analisando meus oponentes, ele faz o mesmo e percebe
minha aflição. Ele sabe agora que algo está errado. Enrico olha ao redor e
reconhece Liang. A desgraçada fica mais um tempo na volta, fulminando
Sofia, e então, se afasta. Eu sei o que ela foi fazer, alertar a Tríade. Não terei
muito tempo. Assim que ela some porta à fora, puxo Sofia e passo minha
mão pela sua fenda, um gesto tão simples, mas que para nós, nesse momento,
tem um grande significado.
Ela se agacha lentamente deixando seus lábios na altura do meu
ouvido e então cochicha.
_Preciso ir ao toalete.
Maneio a cabeça em confirmação como se pouco me importasse com
o fato. Se alguém estivesse concentrado em nossos movimentos, veria que
isso não oferece risco algum. Mantenho minha atenção na roleta. Sofia se
afasta, conto seus passos mentalmente. Ela chegará ao banheiro dentro de
trinta segundos. Mas então, de canto de olho, algo me chama a atenção, para
ser mais específico, alguém. Liang segue Sofia. Merda! Essa vadia
desgraçada.
Conto mais um minuto, assim que a silhueta de Sofia desaparece do
banheiro. Preciso ser rápido e ir salvá-la. Liang vai matá-la.
Quando o tempo mental esgota eu me levanto em um supetão e
começo a atirar. Mato os três da mesa. Não tenho tempo de deixar minha
marca registrada, um tiro terá de ser o necessário. Atiro em suas testas.
Sangue espirra pelo meu rosto e corpo, sujando a minha roupa. Comprar o
segurança que fazia a revista com dinheiro foi fácil, ele não imaginava que se
tratava de uma máfia, mas sim de um homem rico com medo da morte.
Deixou passar meu armamento tranquilamente. Em breve estará morto.
Enrico começa a atirar em todas as pessoas presentes, alguns começam a
correr e a gritar, mas a regra é: matar todos! Todas as pessoas que estão aqui
são viciadas em jogos de azar, acabar com um dos pontos de lucro da Tríade
é o objetivo. Se eu simplesmente resolvesse matar somente os funcionários e
explodir o local, assim que outro cassino inaugurasse, essas mesmas pessoas
voltariam a gastar grandes quantias sustentando a máfia. Tiros me acertam,
mas meu terno impede que perfurem minha pele, mesmo assim dói como o
diabo. Meus outros homens, sentados em pontos estratégicos começam a
atirar. Quando a chacina já está quase no final, um exército de homens
armados entra no local. Foram os reforços que Liang chamou. Puta merda!
Com metralhadores eles começam a atirar. Me jogo para trás da mesa
e Enrico me acompanha. Mas, a maioria dos meus homens que estavam mais
perto são alvejados pelos tiros.
_Agora ferrou tudo. – Enrico comenta ainda agachado.
_Sofia. – É a única coisa que consigo falar e pensar. – Liang está com
Sofia.
_Não temos como ir até lá agora. Eles estão no caminho. – Enrico
parece nervoso.
Quando penso em fazer a loucura de me levantar e correr até o
banheiro, pedindo perdão à Deus pelos meus pecados para conseguir chegar
vivo, algo estranho acontece. Ouvimos mais barulhos de tiros, só não são dos
chineses. Eles parecem tão surpresos quanto nós.
_O que diabos está acontecendo? – Pergunto para Enrico.
_Eu não sei.
Meu pai não mandaria mais homens, ele nem sabe que estamos
metidos nessa merda toda e ele não entraria em uma disputa de força comigo.
Quando se aposentou foi bem claro ao falar que aproveitaria os anos que lhe
restam com a minha mãe, o grande amor da sua vida. Mandou eu me virar e
me manter vivo, pois nessa reencarnação não pretende voltar a ser capo.
Os tiros cessam e um silêncio mortal perfaz, mas então eu ouço um
grito agudo vindo do banheiro. Sem pensar em nada, levanto-me e começo a
correr em direção ao toalete.
_Lorenzo! – Alguém grita.
Forço minhas pernas a parar. Olho para o meu maior inimigo,
segurando uma arma com muitos homens fazendo sua proteção. Que porra
foi que eu fiz pra Deus? Agora eu sou um homem morto. Se eu tenho dez
homens vivos é lucro.
_Nikolai. – Não demonstro medo.
_De nada. – Ele sorri sarcasticamente. Então eu percebo que quem
acabou com a Tríade antes que ela acabasse conosco foi Nikolai.
Não respondo a sua provocação, me mantenho em silêncio, eu prefiro
morrer a agradece-lo por ter salvo a minha vida. Ele sorri, percebendo o rumo
que meus pensamentos estão levando.
_Em breve entrarei em contato para o nosso acordo.
Não digo nada, não há o que dizer. Nikolai tem razão, precisamos do
acordo para sobreviver. Germinamos o ceifador da Cosa Nostra e Bratva,
ambos erramos ao subestimar os chineses e agora estamos nessa merda toda.
Mais um grito chama a minha atenção e sem pensar, volto minha corrida para
o banheiro. Entro no cômodo em desespero. Vejo Liang arrastando Sofia
pelos cabelos. Miro e atiro. Dois no coração e um na testa. Liang afrouxa o
aperto dos cabelos de Sofia, ela me olha assustada com sangue saindo no
canto da boca. Quando me vê seus olhos parecem querer sair da órbita, mas
então Liang despenca desfalecida no chão.
Inspeciono o corpo de Sofia em busca de algum ferimento, mas não
encontro nada visível, vou em sua direção.
_Você está bem? Ela machucou você? – Pergunto para garantir, já
que Sofia parece mais que assustada.
_Estou bem e você? – Sua voz é baixa, quase um sussurro.
_Estou bem. Vamos sair logo aqui, o local virará cinzas em breve. –
Falo.
Sofia pega a bolsa e os sapatos do chão e agarra meu braço com força,
tentando desvendar se eu sou real ou somente uma miragem.
_E-esse sangue. – Gagueja.
Pelo seu desespero, posso só imaginar como eu devo estar.
_Não é meu.
Ela suspira audivelmente aliviada. Enrico corre em nossa direção e
entra no banheiro. Ele inspeciona o local e vê o corpo de Liang.
_Porra! Você matou a filha de Chang. – Fala aflito.
_Agora estamos quites. – Digo.
_Ou mortos. – Enrico complementa. – Vamos embora daqui, o lugar
vai explodir em breve.
Enrico tem razão, não estava nos meus planos matar a filha do capo e
fazer toda a sua atenção voltar para mim. Agora ele vai ir até o inferno a fim
de obter a minha cabeça, mas quando eu a vi com Sofia nos braços, não
pensei, só fiz o que sei fazer de melhor: matar.
Saímos do banheiro correndo, Enrico tem razão, não temos muito
tempo. Sinto Sofia mancar e ter dificuldades em levantar uma das pernas.
Pego-a no colo e a abraço forte. Pulo por cima dos corpos sem olhar para os
lados. O cheiro de pólvora e sangue está muito forte, meu estômago
acostumado não protesta. Depois do que pareceu um tempo interminável
alcançamos a rua, o carro com Federico que estava esperando na janela para
em nossa frente, jogo Sofia para dentro do veículo e me jogo junto. Enrico
faz a volta e senta no banco carona, Federico nem me espera fechar a porta e
já arranca, cantando pneus. Antes mesmo de virarmos a esquina o carro treme
com a explosão que deixamos para trás, clareando o céu e fazendo o alarme
dos carros próximos disparar. Misso cumprida.
_Aonde está a sua acompanhante? – Sofia pergunta.
_Morta. – Enrico responde, entendendo que a pergunta foi
direcionada a ele. Enrico levou uma das prostitutas pertencente a máfia. Além
da boate que a Tríade explodiu, também possuímos um bordel em Londres.
Fecho meus olhos. Estou exausto, a missão foi um fracasso. Perdi
muitos homens e ainda devo a minha vida ao filho da puta do Nikolai, não
poderia ser pior que isso.
_Como você sabia que eu ainda estava lá? – Sofia pergunta, agora eu
sei que ela fala comigo.
Abro os olhos e a encaro. Ele parece aflita, mas eu sei que é somente
a adrenalina que corre em suas veias. Ela está linda, com os cabelos
bagunçados.
_Vi Liang entrando no banheiro. – Digo.
_Liang? – Pergunta curiosa.
_Liang era filha de Chang, o capo da Tríade. Tivemos um caso há
alguns anos. Assim que a reconheci na mesa soube que o plano estava
comprometido. – Suspiro. – Quando eu andei com ela, não sabia quem era. –
Digo a verdade.
Minha história e de Liang foi meio dramática, nos conhecemos em
uma boate aqui em Londres, ficamos juntos em toda a minha estadia, que
durou quase um mês. A garota era fogosa, queria sexo toda hora, eu era
jovem e adorei acompanhar seu ritmo. Apresentamo-nos somente com o
primeiro nome, não investiguei para saber quem ela era e acredito que ela fez
o mesmo comigo. Quando minha estadia chegou ao fim, me despedi dela, só
que ela não aceitou muito bem. Esperneou e implorou que eu ficasse ou a
levasse junto, mas eu não a amava, não poderia coloca-la no meio dessa
merda toda. Anos mais tarde, vi uma foto sua em um noticiário japonês que
relatava a luta da polícia para controlar a Tríade, tendo ela como um dos
membros. Fiquei curioso e obriguei meus homens a investigarem
descobrindo que Liang era a filha mais velha de Chang, o capo da Tríade.
Voltei a encontrar Liang somente hoje e pelo jeito que ela encarou
Sofia, prometendo matá-la só com o olhar, eu soube que ela ainda nutria um
amor platônico por mim e soube também que ela a essa altura do campeonato
já sabia quem eu era. Não queria matar Liang, nunca tive nada contra ela,
além de carinho. Ela era só uma menina inocente e apaixonada quando nos
conhecemos, não pediu para nascer no meio da máfia, assim como eu.
_Aconteceu algo fora do plano? – Sofia pergunta, me tirando dos
devaneios com Liang.
_Sim. – Confirmo suas suspeitas. – O plano deu certo, mas perdi
muita gente. Assim que Liang nos viu, comunicou os outros no rádio e foi
atrás de você.
Fecho os olhos novamente tentando recapitular tudo. Eu não esperava
encontrar Liang cuidando um dos cassinos do pai, nem cogitei a hipótese de
ter alguém tão importante da Tríade aqui. Eles nunca fugiram muito do
continente Asiático.
Entramos no hotel pela porta dos fundos e usamos o elevador de
serviço. Imagino qual seria a reação se algum hóspede visse o meu estado
deplorável. Assim que estamos a sós em nosso quarto, retiro meu blazer que
está colado ao meu corpo empossado de sangue. Jogo-o no chão, pois este vai
diretamente para a lata de lixo. Desboto-o minha camisa com nojo. Vejo os
hematomas das marcas de tiro que levei, se o terno não fosse à prova de
balas, eu provavelmente estaria morto. Sofia corre ao meu encontro e toca
com a ponta dos dedos nos ferimentos arroxeados. Ela olha fixamente para
eles, parece assustada.
_Você está bem? – Pergunta sem me olhar. Seus olhos estão fixos no
meu peitoral.
_Sim. – Digo a verdade.
Durante toda a minha vida já levei machucados piores do que um
simples hematoma arroxeado, tudo bem que essa porra dói como o diabo. É
como se alguém desse um soco muito forte.
Sofia começa a chorar. Olho para ela espantado, sem saber o que
fazer. Não entendo porque ela está chorando, ela me viu torturar um homem,
se eu soubesse que a merda toda de hoje seria tão pesada para ela, jamais teria
a levado junto. Abraço-a, e com esse gesto ela chora ainda mais. Suas
lágrimas molham o meu peitoral. Não sei o que falar, então mantenho-a
assim perto. Sofia me aperta, como se algo em seu peito estivesse
dilacerando-a.
_Está tudo bem. – Murmuro e beijo a sua testa.
_Eu sinto muito. – Ela fala por entre as lágrimas.
_Pelo que? – Pergunto confuso.
_Por Liang. – Diz.
Liang? Sinto minha testa enrugar involuntariamente. O que diabos
Liang tem a ver com isso? Não me senti em êxtase por ter a ter matado, mas
também não me senti completamente mal. Liang queria matar Sofia e eu
jamais permitiria isso. Vê-la com Sofia nos braços, me enfureceu de tal forma
que eu pouco me importei em executá-la. Assim como ao ouvir os gritos,
mesmo após ter ouvido os tiros sem saber de onde vinham ou a quem
pertenciam, a vida de Sofia, naquele momento, era mais importante que a
minha. Eu me sacrificaria por ela e ainda o farei, se preciso for. Eu ainda a
amo, sempre amei.
_Vamos para a Itália amanhã. – Digo, ignorando os sentimentos que
tomam conta do meu peito. – Agora que perdi muitos homens não podemos
correr o risco de continuar aqui.
_Tudo bem. – Ela fala com a voz embargada do choro.
_Agora vamos para o banho.
Conduzo-a até o banheiro, retiro suas roupas e ligo o chuveiro em
uma temperatura agradável. Termino de retirar as minhas próprias roupas e
me olho no espelho. Estou coberto de sangue, meu cabelo está colado na testa
por conta disso. Agora sei o motivo do desespero de Sofia ao me ver, é tanto
sangue que parece ser meu. Entro no chuveiro e começo a ensaboa-la como
um bebê, por incrível que pareça, não sinto vontade de transar com ela, não
que o tesão tenha acabado, longe disso, não sei se algum dia isso chegará ao
fim. Só que no momento, ela parece tão frágil que eu só sinto vontade de
mimá-la e cuidá-la. Sofia é uma mulher forte e imbatível, vê-la assim acaba
comigo. Após o banho, seco o seu corpo, penteio os seus cabelos e tiro o
excesso de água com o secador. Coloco seu pijama e me deito com ela na
cama. Abraço-a apertado, tentando lhe passar o máximo de conforto possível.
Em poucos minutos, sinto a respiração de Sofia ficar pesada e manter
o mesmo ritmo. Analiso seu rosto. Um roxo aparece na sua bochecha, de
algum provável soco que levou, assim como eu vi um em sua panturrilha e
em seu peito. Ela foi muito corajosa hoje e nesses últimos dias, ela seria uma
ótima líder para a máfia, pena que despreza tanto essa “profissão”, não a
culpo, quem não desprezaria?
_Sempre foi você. – Falo, sabendo que ela não pode ouvir, pois está
em um sono profundo.
Se tudo isso fosse diferente, se eu não fosse algo que ela detesta, eu já
teria a tornado minha esposa, já estaria encomendando herdeiros e estaríamos
juntos desde a adolescência, seriamos os únicos um do outro. Ela teria
concordado comigo quando me declarei para ela há quinze anos. Teríamos
ido juntos para a faculdade, teríamos tido uma vida. Mas, a vida é injusta e,
apesar do meu pai ter tido sorte em ter encontrado o amor, eu sou a merda de
um mafioso, não sou abençoado e o meu pecado em terra é não poder ter
Sofia.

Estamos sentados em nossos respectivos lugares no meu jatinho, nem


parece que poucos dias atrás matei alguns homens aqui dentro. A empresa
que cuida da higienização fez um trabalho impecável. Sofia está calada
demais desde que acordamos. Ela usa um óculo escuro para esconder os
olhos inchados do choro e disfarçar a marca roxa na bochecha. Arlete volta e
meia passa por nós, fazendo questão de esfregar a coxa no meu braço, como
se fosse um esbarrão, como agora.
Ouço Sofia bufar novamente.
Não sei como vai ser quando chegarmos em casa, não posso esperar
prender Sofia por muito mais tempo comigo. Em breve, ela vai querer
retornar ao Brasil e seguir sua vida. Mas, por ora, não posso libertá-la, se algo
lhe acontecesse seria como acertar diretamente a mim. Infelizmente para mim
e felizmente para os meus inimigos, Sofia tornou-se o meu tendão de
Aquiles.
Capítulo onze.
Itália.

Sofia Reymond.

A viagem foi tranquila e muito silenciosa, se não fosse pela vadia


disfarçada de aeromoça se esfregando em Lorenzo a cada meia hora, teria
sido menos irritante também. Dou graças a Deus quando pousamos, aliviada
por não ter mais que controlar esse sentimento ridículo que me
corrói todas as vezes que eu a via tocando nele. Fizemos nosso percurso até o
forte da Cosa Nostra em silêncio também. Lorenzo parece distante e
pensativo e eu estou somente mergulhada em tristeza por saber que em breve
terei que retornar ao Brasil e esquecer de tudo. Não consigo me entender, isso
era tudo o que eu queria, voltar para casa e seguir minha vida, porém, em
algum momento dessa loucura toda algo mudou, parece que a Sofia que
embarcou naquele jatinho há alguns dias não existe mais, é como se eu
tivesse despertado.
A sede da Cosa Nostra parece uma belíssima prisão, a mansão à beira-
mar é luxuosa e magnifica. A mansão fica ao Sul de Nápoles. A casa é toda
cercada por muros rochosos exuberantemente altos, a garagem fica no
subsolo com tantos carros diferentes e caríssimos, que nem se eu vendesse
todos os meus órgãos no mercado negro eu conseguiria adquirir metade
deles. A casa de dois andares é branca, sendo o segundo andar envolto em
uma extensa sacada com grades pretas. Ao lado esquerdo tem uma enorme
piscina com borda infinita, apesar de ser a beira-mar, a residência fica em um
morro, portanto, bem acima do mar. Essa parte da praia é exclusiva da máfia,
logo que entramos no bairro, o pequeno trecho, com iates e jet-skis é visitado
por mafiosos e seus familiares. A pista de pouso fica um pouco distante, mas
dentro do território mafioso, o percurso entre a pista de pouso e decolagem
até a residência Moretti dura menos de dez minutos. A casa da família é a
última do bairro, ficando no topo. As residências ao redor pertencem aos
soldados da máfia, o bairro inteiro pertence à Cosa Nostra. Nenhum carro
estranho entra sem imediatamente ser comunicado, essa parte é restrita. Os
portões se abrem dando passagem para o nosso veículo. Vejo de relance
homens com metralhadoras espreitando ao longo dos muros. O motorista para
o carro na entrada para que possamos descer, antes de seguir para a garagem.
Um homem abre a minha porta e eu saio do veículo já sentindo a brisa
do mar, Lorenzo faz a volta e me encontra, ele está concentrado falando com
alguém ao telefone. Caminho em silêncio ao seu lado, no entanto as portas se
abrem revelando Lucco, Amanda e Luna. Lucco é o Lorenzo mais velho,
apesar das marcas da idade ele é o coroa mais gato que eu já vi. Ele usa um
terno cinza que realça os seus olhos azuis, o terno é colado ao corpo,
revelando que mesmo apesar da idade ele continua musculoso. Amanda usa
um vestido branco solto, ela também é linda e esbelta. Seus cabelos agora
grisalhos estão enrolados em um coque solto. Diferente de Lorenzo, Luna
puxou mais a mãe, porém deu a sorte de nascer com os mesmos olhos do pai.
Luna é linda. Hoje ela está vestindo um shorts jeans godê revelando suas
pernas torneadas de academia, um body preto e um chinelo. Seus longos
cabelos castanhos lisos estão soltos até a cintura. Ela corre em minha direção.
_Sofia, que saudades! – Luna me abraça apertado.
_Você parece ficar cada dia mais linda. Isso é injusto! – Brinco,
abraçando-a de volta.
Ela se afasta um pouco para me inspecionar.
_Impressão sua. – Fala sorrindo. – Eu fiz algumas plásticas desde a
última vez. Coloquei silicone e fiz lipoled. Deve ser por isso.
Observo-a descaradamente. Luna realmente parece estar com mais
corpo do que a última vez e através do body colado posso ver sua cintura fina
e sua barriga reta. Ela está um arraso.
_Você está perfeita!
Antes que Luna me responda dinda Amanda vem me abraçar.
_Estava com saudades de você, querida.
Não tenho costume de vir para cá, portanto, pouco os vejo, não havia
percebido como eu sentia falta dessa extensão da nossa família até agora.
Amanda me afasta um pouco para me observar.
_Você parece mais magra do que a última vez, deixe-me adivinhar,
está trabalhando muito e comendo pouco?
Sorrio amarelo.
_Em compensação você está a cada dia mais linda.
Ela me inspeciona por mais um momento, vendo que estou fugindo
do assunto. Lucco se aproxima e me dá um beijo na testa.
_Sofia, como você está? – Pergunta.
Apesar dele ser o homem mais perigoso que eu já conheci, nunca tive
medo de Lucco, ele sempre me tratou bem. Quando éramos crianças e
passávamos as férias aqui, ele vivia mandando seus homens para buscar
guloseimas ou os brinquedos que queríamos. Também sempre presenciei ele
sendo um pai amoroso e um marido exemplar. Apesar de igualmente ter
presenciado a preocupação de dinda Amanda todas as vezes que ele saía em
missão.
_Estou ótima, e você?
_Bem. – Ele sorri e se vira. – No escritório, Lorenzo?
Olho para Lorenzo e percebo que ele já não está mais ao telefone, mas
sim nos observando.
_Sim. – Responde e caminho em direção à residência.
_Venha. – Luna me puxa. – Vamos fazer nosso desjejum na piscina e
colocar as fofocas em dia.
Entramos na residência e o luxo fica ainda mais escancarado. O rol de
entrada é todo em mármore branco com uma mesa redonda de madeira ao
meio, com um enorme vaso de orquídeas. Largo minha bolsa na mesa,
recolhendo somente o meu celular. Passamos pela sala com sofás de couro.
Uma enorme televisão e uma lareira de chão ao meio. A porta que atravessa
para a piscina é toda em vidro. Há uma área coberta aonde está a mesa com
um banquete. A piscina fica mais a frente com umas espreguiçadeiras e o mar
extenso como vista.
Sento-me em uma cadeira e Luna ao meu lado. Não havia percebido
que estava com fome até sentir o cheiro delicioso de pão novinho e café
fresquinho, me sirvo de um pouco de cada e começo a me alimentar.
_Então, o que anda fazendo? – Pergunto quebrando o silêncio.
Percebo que diferente de mim, Luna come somente frutas e toma chá
gelado. Ela sempre foi rigorosa com a sua alimentação, desde criança.
Acredito que se Luna fosse livre, teria cursado nutrição.
_Nada demais. – Ela dá de ombros. – Academia, me recuperando das
cirurgias. O de sempre. – Conclui.
Apesar de Luna poder escolher não fazer parte da máfia, isso não
significa que ela seja completamente livre. Desde que nasceu existe uma
espada apontada para a sua cabeça. Muitos pagariam milhões para tê-la.
Lucco sempre foi muito criterioso com a sua segurança, com medo de que
algo pudesse acontecer com a sua filha. Nascer um filho homem em uma
máfia é ruim, mas ter uma filha mulher é pior ainda. Os inimigos sabem
desse valor. Ceder, nem que seja um pouco na segurança dela, pode ser fatal.
Olhando assim, Luna parece somente uma menina frágil, porém,
ninguém imagina todos os anos de artes marciais que ela estudou. A garota
sabe atirar como ninguém e luta como uma profissional. Seu amor por
esporte e comidas saudáveis ajudou com que Luna seja uma potente arma
humana. Não que ela tenha exercido isso alguma vez, mas se precisar, ela
mataria para se proteger e proteger quem ama.
_Você parece bem malhada. – Digo.
_Bom, quando se está entediada, exercícios físicos são as melhores
companhias. – Fala e coloca um pedaço de abacaxi na boca.
_Então, não encontrou ninguém?
Ela sorri e suas bochechas ficam coradas.
_Oh meu Deus, pode me contando sua safadinha. – Brinco.
_Bem, conhecer eu conheci, no entanto, ele é inalcançável.
_Como um homem pode ser inalcançável para a herdeira da máfia? –
Brinco.
_Eu não o conheci em circunstâncias normais, na verdade, ele nem
sabe quem eu sou.
_Não consigo entender.
_Ele é diferente... Eu fui um personagem quando estive com ele e é
isso. Eu sei quem ele é e ele não sabe quem eu sou.
_E por qual motivo você não conta a verdade?
_Eu não poderia, nem se eu quisesse. E foi só uma única vez também.
– Ela suspira. – Agora vamos falar de você, não conheceu ninguém?
Agora é a minha vez de corar. Não posso contar para ela que passei os
últimos dias na cama do seu irmão.
_Eu... Hã... – Gaguejo.
_Tudo bem, quando se sentir à vontade para me contar, estarei aqui. –
Ela sorri de forma conspiradora para mim.
Voltamos a comer em silêncio. Eu realmente queria contar tudo, só
que algo me trava. Afinal, foi só sexo, como posso simplesmente contar essas
intimidades quando o parceiro é da família?
_Sofia, sua mãe ira nos agraciar com o prazer de sua presença na
semana que vem. – Amanda fala animada juntando-se a nós.
_Que maravilha, já estou com saudades dela. – Falo.
_Somos duas. – Ela sorri para mim. – Então, como foi em Londres?
Paro de mastigar por um segundo, não sei até que parte posso revelar.
_Foi bom. – Digo a primeira coisa que me vem na mente.
_Bom? Espero que Lorenzo não tenha monopolizado você nestes
dias.
Penso em todas as vezes em que dormimos juntos, e minhas
bochechas esquentam, monopolizar não seria a palavra certa para descrever
meus dias em Londres na sua companhia.
_Ele esteve sempre ocupado, eu consegui mesmo tirar umas férias
nesses dias. – Minto.
E minto descaradamente ainda. Férias não seria nem perto do que
aconteceu, essa loucura toda foi mais cansativa do que a minha verdadeira
rotina de trabalho.
_Que ótimo, querida, sua mãe reclama muito que você trabalha
demais. – Fala.
Sinto-me mal por estar mentindo para ela, sempre a tive com muita
estima, mas não quero deixar Lorenzo em maus lençóis e falando em lençóis,
está fora de cogitação revelar o que eu realmente fiz em Londres na sua
presença.
_Que bom que Lorenzo e você não tiveram nenhum inconveniente,
dado ao histórico de vocês. – Ela riu.
Nunca foi segredo para as famílias que não nos suportávamos. Reparo
que não comentei nada sobre os últimos dias, e Amanda está especulando se
Lorenzo de alguma forma me maltratou. Sinto vontade de gargalhar.
_Lorenzo soube se comportar. – Sorrio sem mostrar os dentes.
Sem querer, retorno para aqueles dias e lembro das noites em que
passamos juntos, do jantar e como ele soube ser completamente amoroso.
Sinto uma dor no peito e uma vontade de chorar de lembrar que isso acabou e
em breve eu retornarei para a minha vida que agora eu vejo que sempre foi
vazia, atolada de trabalho e viagens para suprir algo que eu não imaginava
que queria, até agora.
_Sofia. – Amanda me chama, fazendo com que eu espante meus
pensamentos carentes. – O que aconteceu com o seu rosto? – Pergunta
seriamente.
Por um momento olho-a sem compreender, mas então lembro-me do
hematoma na bochecha deixado gentilmente por Liang. Fico sem saber o que
responder. Não sei o que Lorenzo ou Lucco contam para ela ou até que ponto
ela está a par das coisas da máfia. Então eu minto mais uma vez:
_Eu deixei o celular cair no rosto enquanto estava deitada mexendo
nele.
Amanda me olha por alguns instantes, mas não fala nada. Ouço Luna
soltar uma risada, afinal, quem não acharia graça em uma bocabertice dessas.
Percebo que a minha vida virou uma teia de mentiras, minto para os
outros e para mim, a fim de ocultar acontecimentos e sentimentos.
Capítulo doze.
Acordos.

Lorenzo Moretti.

_Como assim Nikolai Mogilevic salvou as suas bundas? – Meu pai


pergunta sentado atrás de sua mesa no escritório.
Ele me olha sem expressar nada, enquanto batuca seus dedos na mesa.
Em um claro sinal de irritação. Fico um pouco inquieto.
_Não preciso repetir tudo o que aconteceu novamente. – Falo,
mantendo o meu tom de voz.
Por mais que meu pai tente me intimidar com a postura que abordou
no momento, eu não me deixo ceder. Ele está aposentado, eu sou o Capo
agora, por mais que ele seja ainda o cabeça da máfia. Não posso temer
ninguém, nem mesmo ele.
_Me deixe recapitular. – Lucco fala com a voz fria. – Você invadiu o
cassino da Tríade, e saiu dele tendo uma dívida de vida com o nosso, até
então, maior inimigo, sem contar que arriscou demasiadamente a vida de
Sofia.
_Basicamente. – Assumo. Não há motivos para mentir, fiz a merda
toda e agora preciso arcar com os resultados.
_Agora, Lorenzo, me dê bons motivos para não substituir você.
Eu sabia que essa conversa seria difícil e sabia que meu pai viria com
as ameaças de substituição. Cosa Nostra e Bratva possuem desavenças desde
antes de eu nascer, entendo a aflição do meu pai com essa dívida de vida, é
como entregar minha alma para o inimigo. Só que, diferente dele, eu penso
que essa desavença antiga está na hora de chegar ao fim. Está na hora das
máfias se juntarem e darem um fim na Tríade, a qual é agora a nossa maior
ameaça.
_Entrarei em contato com Nikolai. – Falo.
Meu pai levanta uma sobrancelha em desdém ao meu ato.
_Entendo seu receio, porém eu vi o potencial da Tríade, pense, pai, a
Tríade sempre ficou nas sombras e agora começou a nos atacar com um
enorme potencial de fogo. Nós alimentamos um monstro. Eu vi do que eles
são capazes e posso afirmar que estamos correndo grande perigo. Unir as
máfias, como Nikolai propôs, pode nos dar a chance de acabar com esse
monstro e selar a paz pelos próximos anos. – Falo. – Pense bem, Luna não
pode ir na piscina sem segurança. Nós dois sabemos que ela sempre se sentiu
oprimida, agora, se conseguirmos selar um acordo com o nosso antigo maior
inimigo e acabar com a nossa atual maior ameaça, as próximas gerações de
Moretti’s, talvez possam viver mais livremente.
Meu pai fica em silêncio por um momento, sem dizer uma única
palavra. Ele me observa fixamente, eu não desvio meus olhos dos seus. Eu
entendo sua oposição, o ódio passou de pai para filho, já tivemos mortes de
ambos os lados por causa dessa guerra.
_Tudo bem. – Ele fala, por fim. – No entanto, eu irei com você.
_Sem problemas. – Rebato.
Não queria arriscar sua vida, se eu morrer nesse encontro, meu pai
poderia voltar ao cargo, até Luna gerar um herdeiro, mas se os dois
morrerem, tenho medo de pensar como mamãe e ela ficariam desamparadas.
Mas não darei a ele o gostinho de me ver blefar, confiar que os dois únicos
homens herdeiros da Cosa Nostra estejam no mesmo local, que não seja a
nossa sede, é depositar uma enorme confiança na nossa segurança. Meu pai
está me testando, vendo até onde eu confio em Nikolai para permitir que vá
os dois.
_Entre em contato com Mogilevic. Após, me informe. – Fala dando o
assunto por encerrado.
Saio do escritório e puxo meu telefone do bolso, caminho até meu
quarto e fecho a porta. Respiro profundamente antes de buscar o nome de
Nikolai na minha lista de contatos. Meu pai tem razão ao ter receio desse
pacto, Mogilevic vem atentando contra a minha vida há anos, ele deve estar
muito desesperado para tentar um acordo, ou eu devo estar.
Disco o número e aguardo. Em dois toques ele atende.
_Mogilevic. – Fala.
_Chegou a hora de acertarmos as contas. – Digo.
_Moretti, que prazer ouvir sua voz. – Fala sarcasticamente. – Fiquei
me perguntando quando entraria em contato.
_Bem, sua pergunta já possui resposta. Quando e onde é a questão
agora.
Nikolai fica em silêncio por um momento.
_Vou para a Itália dentro de dois dias. – Fala.
_Você vai vir para a Itália? – Pergunto descrente.
_Sim, e você, como um bom anfitrião pode me oferecer um jantar
para concluirmos nossa conversa.
Fico mudo por alguns segundos, totalmente perplexo.
_Você quer vir até o forte da Cosa Nostra?
_Mas é claro, se nos tornaremos aliados, está na hora de visitarmos a
casa um do outro. – Consigo vislumbrar o seu sorriso mesmo através do
telefone.
Me pergunto se Nikolai planeja algo, mas estatisticamente percebo ser
impossível, ele até pode tentar, mas não sairia vivo daqui. Se ele realmente
quer colocar fé nessa aliança ele está fazendo a coisa certa, se entregando de
bandeja à Cosa Nostra, ou ele é um completo idiota ou um ótimo estrategista
e eu voto na segunda opção.
_Tudo bem. Preferência de cardápio? – Pergunto debochado.
_Me surpreenda, Moretti.
Dito isso, ele desliga.
Me mantenho por mais alguns segundos olhando fixamente para o
celular, repassando mentalmente a conversa, tentando encontrar alguma pista
em alguma palavra, mas não encontro nada. Me pergunto novamente se
Nikolai está tão desesperado ao ponto de arriscar sua vida vindo até o forte,
depois que ele entrar, se não houver um bom acordo ele pode ser executado e
jogado ao mar, Bratva nunca conseguiria invadir o forte para resgatá-lo, é
como uma missão suicida. Quando efetuei a ligação, imaginei que Nikolai
quisesse marcar o encontro em outro lugar, talvez em um local leigo que não
fosse na Rússia ou Itália.
Saio do meu quarto com os pensamentos a mil, entro novamente no
escritório do meu pai.
_Encontro marcado. – Digo do batente da porta.
_Onde? – Pergunta.
_Aqui.
Meu pai pisca algumas vezes e enruga a testa, como se não tivesse
compreendido bem o que eu acabei de falar.
_O que?
_Nikolai jantará conosco daqui a dois dias.
Meu pai me fita em silêncio e nesse momento eu gostaria que ele não
fosse tão bem treinado para não deixar suas emoções transparecerem.
_Não é possível. – Pensa alto.
_Tive a mesma reação, mas parece que Nikolai realmente está
colocando fé neste acordo.
_Tanta fé ao ponto de se entregar para a Cosa Nostra? – Lucco
pergunta duvidando.
_Pelo visto sim. – Falo. – Redobrarei a segurança do forte, mas
acredito que não há nada que ele possa fazer aqui, não sem sair morto.
_Mantenha Luna e Amanda longe desse jantar.
Maneio a cabeça em concordância, por mais que eu ache que
Mogilevic não seria nem louco de atentar contra a vida das duas pessoas mais
preciosas da máfia, não darei sorte ao azar, manter mamãe e Luna distante é o
certo a se fazer.

Depois de conversar com o meu consiglieri sobre a vinda de Nikolai


e passar o restante do dia em função do mesmo assunto, estou bebericando
um pouco de whisky sentado à mesa junto com a família enquanto esperamos
o jantar ser servido. Sofia está sentada na minha frente, ao lado de Luna.
Minha mãe está sentada ao meu lado e meu pai na ponta da mesa.
_O capo da Bratva virá jantar conosco em dois dias, quero que fiquem
longe.
Luna cospe todo o vinho que estava tomando, sujando toda a mesa.
_O que? – Pergunta pálida.
_Não se preocupe, querida, nada irá acontecer com você. – Papai caça
a sua mão e aperta, reconfortando-a.
_Não irei a lugar algum, sou a anfitriã desta casa. – Mamãe fala.
_Amanda, por favor. – Lucco tenta.
_Nem pensar, não há o que discutir.
Meus pais se encaram por alguns segundos em uma batalha
silenciosa, vejo o exato momento em que ele cede para a esposa. Como
sempre faz. Sinto vontade de rir da situação, o homem mais temido do mundo
é completamente comandado pela esposa dentro de casa.
_Tudo bem, mas Luna pode ir para a casa de campo com Sofia.
_Nem pensar. – Minha irmã parece voltar a ter voz.
_A sua permanência nesta residência não está em sede de objeções. –
Ele fala.
_Pouco me importa se está ou não. Esta é a minha casa e eu não sairei
daqui, além do mais, por que trazer Nikolai até aqui se vocês não confiam na
segurança do seu próprio forte? – Pergunta encarando o nosso pai. – E
também, estarei muito mais segura aqui com vocês do que na casa de campo
sozinha com Sofia.
_Ela tem razão, querido, não há porque afastá-la.
_Não quero que Nikolai a veja.
Luna solta um risinho com essa afirmação, o que faz com que todos
olhem para ela.
Nossos inimigos sabem que meus pais tiveram dois filhos, um casal,
para ser mais exato, sei que eles possuem fotos minhas em cada sistema de
segurança e rastreamento, no entanto, com Luna a coisa é diferente, sua
identidade sempre permaneceu completamente oculta. Todos os esforços
desde que Luna nasceu foram para mantê-la em sigilo.
_Posso jantar no quarto, mas não sairei desta casa. – Ela fala
carrancuda.
_Tudo bem. – Lucco suspira, rendido as birras da filha mais nova. –
Sofia pode acompanha-la no jantar. – Ele olha para Sofia. – Você estará mais
segura se manter sua identidade oculta também.
Sofia enruga a testa, meu pai ainda não sabe do encontro que tivemos
com Nikolai. Ele já conhece Sofia, ela não tem mais identidade oculta para
manter.
_Tudo bem. – Fala.
Vejo que Sofia não quis discordar, ou simplesmente não quis deixar
Luna sozinha. Olho para ela e vejo que ela mantém o olhar distante, sempre
tentando focar em outra coisa que não seja em mim.
Me pergunto se ela pensa no que vivemos, ou se simplesmente não
faz diferença. Se aqueles dias lhe marcaram também.
Depois do jantar nós fomos para a sala beber um pouco e conversar,
Sofia continuou distante. Eu decidi me retirar mais cedo com a desculpa de
que estava cansado da viagem e agora aqui estou eu, sentado na cama, de
banho tomado e olhando para as paredes. Já deitei na cama e senti falta de um
corpo quente ao meu lado, não serei hipócrita ao pensar que sinto falta de
qualquer corpo, eu sinto falta dela. Ontem ela estava deitada nos meus braços
e hoje está em outro cômodo, completamente distante de mim, como
antigamente. Parece que a Sofia que eu convivi em Londres desapareceu.
Em um surto levanto da cama e saio do meu quarto indo em direção
ao dela. Quero questioná-la. Não precisamos mais ser amantes, porém
desenvolvemos algo além disso, nos tornamos amigos novamente, e eu não
quero perder isso. Bato na sua porta e aguardo. Sofia abre a porta e me
encara. Quando a vejo, tudo o que eu pensei em falar para ela some
completamente, minha mente fica anuviada. Então eu faço a única coisa que
ainda consigo, eu a beijo.
Colo nossas bocas em um beijo urgente, Sofia não protesta, ela puxa
meus cabelos e me agarra, tentando fundir nossos corpos. Empurro a porta
com o pé para fechá-la. Arrasto ela sem descolar nossas bocas até a cama.
Deito por cima dela e começo a descer a alça do seu pijama liberando seus
deliciosos seios. Solto sua boca para sugar um mamilo, ela arfa. Dou a
mesma atenção ao outro. Sua camisola rosa fica presa na cintura, eu me
afasto um pouco para libertá-la de suas vestes. Sofia puxa minha camiseta e
começa a esfregar as mãos no meu peitoral. Eu desço sua calcinha e vejo sua
intimidade. Levo minha mão até o seu nervo e começo a massageá-lo. Ela
geme e se contorce, indo ainda mais em direção a minha mão. Não consigo
aguentar muito tempo. Preciso senti-la, me afasto novamente para tirar minha
calça. Liberto meu pau já completamente duro por ela. Sofia me olha cheia de
luxúria, deito novamente por cima dela, me posiciono no meio de suas pernas
e então a penetro. A sensação de entrar nela é tão deliciosa que eu preciso me
controlar para não gozar. Pareço um moleque na puberdade quando estou
transando com ela. Começo minhas estocadas em ritmo lento, tentando me
controlar. Quando finalmente consigo manter meus hormônios, aumento o
ritmo, gemendo. Sem esperar, Sofia enrosca as pernas no meu quadril e nos
muda de posição. Ela está por cima, ditando o ritmo, seus mamilos balançam
enquanto ela pula no meu pau. Pego um com a mão e começo a massagear o
bico rosado.
_Puta merda. – Falo.
Essa mulher vai me matar desse jeito. Ela pressiona as mãos no meu
peito, enquanto aumenta o ritmo. Sofia vira a cabeça para cima de olhos
fechados concentrada no seu próprio prazer. É a visão mais linda que eu já vi.
Seus cabelos negros descem em uma cascata pelas costas, balançando
conforme ela cavalga em mim. Com essa visão em mente eu não me aguento
e gozo dentro dela, espalhando minha semente fundo. Ela me acompanha,
sinto seu canal apertar meu pau e ela começa a tremer com os espasmos do
seu próprio orgasmo.
Ela cai por cima de mim completamente cansada. Ficamos por alguns
minutos assim, sem voz, tentando recuperar o folego.
_Isso foi... – Ela começa, mas não termina.
_Perfeito. – Falo por ela.
Ela levanta um pouco para me fitar. Seus olhos verdes revelam tantas
coisas que, neste momento, eu não consigo decifrar.
_Eu vou dormir aqui. – Falo antes que ela me corra.
Para a minha surpresa, ela sorri e me dá um selinho.
Acomodo Sofia confortavelmente ao meu lado e assim pegamos no
sono.
Capítulo treze.
Revelações.

Sofia Reymond.

Faz dois dias que dormi com Lorenzo, depois de ter ido após o jantar
silenciosamente ao meu quarto e ter passado a noite comigo eu mal o vi.
Ontem, mesmo sendo uma idiota ansiosa eu o esperei, até tarde, só que ele
não apareceu. Hoje passei o dia com Luna, que parece tão distante e
pensativa quanto eu. Nikolai Mogilevic o até então, maior inimigo dos
Moretti, vem jantar hoje aqui. Amanda passou o dia organizando cardápio e a
cartilha de bebidas. Lucco ficou trancado no escritório e Lorenzo só Deus
sabe onde. Sobrando somente Luna e eu, não que sejamos companhias boas
uma para a outra atualmente. Estranhamente minha amiga parece pensativa e
abalada, dou um espaço para ela, sei que deve estar com medo. Afinal, se
algo der errado, toda a sua família pode ser morta. Tento não pensar nisso.
Não posso ousar pensar. Dei o espaço que Luna precisava. Tomamos banho
de sol na beira da piscina em silêncio e até mesmo almoçamos em silêncio.
Depois disso, cada uma seguiu para os seus aposentos afim de tirar um
cochilo da tarde, só é claro que eu não preguei o olho. Agora estou aqui, de
banho tomado, cabelo escovado, com um conjunto xadrez de saia e top e uma
sapatilha. Resolvi me vestir bem para jantar com Luna, sei o quanto é difícil
para ela ser escanteada sempre para a sua segurança. Ademais, queremos tirar
fotos do nosso jantar na sua sacada de frente para o mar.
Pego meu telefone e me dirijo para os aposentos de Luna, bato na
porta e aguardo.
_Entre. – Ouço-a gritar.
Entro no quarto e não a vejo em lugar nenhum. Luna está no banheiro.
Observo o seu dormitório. O quarto de Luna é quase do tamanho do meu
apartamento. Uma cama King size cheia de almoçadas floridas com uma
colcha rosé fica ao canto. Uma cabeceira almofadada branca ocupa quase
toda a parede. Aos lados da cama há dois criados-mudos em estilo retrô com
abajures floridos. Na outra extensão do quarto vejo uma penteadeira, repleta
de cosméticos e maquiagens em cima. E ao lado um armário. Nele eu vejo o
presente que Lorenzo trouxe para ela de Londres e sorrio. No canto tem uma
entrada que da para seu closet e ao lado a porta do banheiro. O quarto é todo
branco com esses detalhes em rosé, no meio tem um tapete peludo branco e
de frente para a porta de entrada, uma enorme porta/janela de vidro que dá
para a sua sacada. E a vista é de tirar o folego. Caminho até a sacada. Vejo a
mesa posta, com espumante e vinho. Me escoro no parapeito e observo a
extensão do mar. Por mais que eu ache isso aqui uma prisão, eu viveria
tranquilamente aqui, só para ter o privilégio de observar essa vista todos os
dias.
_Então, como estou? – Ouço Luna atrás de mim e me viro.
Fico estacada no lugar. Ela está simplesmente perfeita. Na verdade,
perfeita não é a palavra certa. O que é injusto com o restante da população
feminina.
Luna está com um vestido preto longo. A parte de cima forma um
corpete preto transparente com alças, a saia longa é em tule transparente. Ele
é perfeito. E com o corpo que ela está, parece uma deusa. Nos olhos, uma
sombra dourada realça ainda mais o seu olhar. Os lábios estão pintados de
vermelhos. O penteado foi o menos elaborado, Luna deixou as madeixas lisas
até a cintura.
_Luna... Meu Deus... – Fico sem palavras.
_O que foi? Exagerei? – Ela se vira para o enorme espelho que tem na
parede que eu só percebo agora.
_Exagerou, querida? Você quer matar algum homem do coração
hoje? – Pergunto com sarcasmo, mas sendo completamente sincera.
_Bem... Sim... – Ela sorri.
_Como assim? – Pergunto, tentando entender o que está acontecendo.
_Nós não vamos jantar na sacada excluídas, vamos descer e degustar
da companhia.
Fico boquiaberta olhando para ela.
_Luna, você enlouqueceu? Lorenzo vai matar nós duas. – Santo Deus,
me ajude. Começo a rezar silenciosamente.
_Não se preocupe com Lorenzo, eu me resolvo com ele depois. Agora
vamos degustar de uma bebida, você está muito tensa.
Luna passa por mim e percebo que ela colocou um salto fino. Ela não
parece estar preocupada com a ira do pai e do irmão. Tirando uma garrafa de
espumante do baldinho, ela nos serve, me entregando uma taça. Viro todo o
líquido de uma só vez, imaginando o escândalo que está por vir.
_Então, você quer conhecer Nikolai? – Pergunto.
Luna dá uma risadinha.
_Há coisas sobre mim que ninguém sabe.
Fico sem entender ainda mais, já me sentia perdida antes, agora a
situação piorou.
_Você quer simplesmente descer? – Pergunto.
_Sim, mas vamos esperar mais um momento. Desceremos em quinze
minutos, assim dá tempo de os homens conversarem. Suponho que Nikolai já
esteja aqui. – Fala.
_Acredito que sim, ao menos a movimentação toda na casa faz
parecer que sim.
Repasso mentalmente o que Luna disso, sobre ninguém conhece-la.
Cogito a hipótese dela e Nikolai se conhecerem, mas descarto. Luna não sai
de casa, não possui redes sociais. Nem sei se ela mesmo possui fotos em seu
próprio celular, nem seu WhatsApp possui foto de perfil. Tudo isso para
proteger sua identidade e privacidade. E foram coisas simples assim que
mantiveram sua segurança por todos esses anos.
Lembro de Lorenzo comprando lembranças para ela de lugares,
apesar de Luna ter o que bem entende aqui, ela não possui e nunca possuiu o
mais importante: liberdade.
_Agora nós podemos descer. – Ela fala.
Luna vira a taça toda de espumante, enche, e vira novamente. Seja lá
o que ela planeja fazer, parece estar buscando coragem através da bebida.
_Eu não faço a menor ideia do que você planeja, mas por favor, não
faça besteira.
Ela me olha de soslaio e dá um sorrisinho diabólico.
Que Deus tenha piedade de nós.
Saímos do quarto de Luna e eu começo a tremer, enquanto ela
mantém uma máscara impassível e uma segurança invejável eu começo a
oscilar. Descemos as escadas em silêncio, quando estamos prestes a entrar na
sala eu escuto vozes alteradas e sinto meu pouco autocontrole sumir.
_Ouso dizer que você possui dois filhos, senhor Moretti. Acredito que
a única forma de construirmos um pacto seguro seria dar a mão da sua filha
em casamento a mim, mesmo que eu não a conheça. – Essa voz, eu a
conheço. Nikolai.
_Você vem até a minha casa para dizer um absurdo desses? Ou é
completamente insano ou quer morrer. – Lucco fala, tão frio quanto um
iceberg.
_Não estou impondo isso, só vejo como uma solução. E, eu devo ser
insano mesmo em querer me casar com uma mulher que nem conheço. Ela já
é mulher, não? – Nikolai pergunta.
E é neste exato momento que Luna resolve entrar impotente e
avassaladora, comigo ao seu encalce parecendo um cachorro acuado prestes a
fugir. O olhar de Nikolai pousa em Luna e ele parece surpreso e encantado. A
tensão se estende no ar, fazendo até meus braços se arrepiarem.
Então Nikolai faz a coisa mais improvável. Ele olha para Luna de
forma inquisidora e fala:
_Você!
Capítulo quatorze.
Pacto.

Lorenzo Moretti.

Passei os últimos dois dias planejando o jantar com Mogilevic.


Coloquei mais homens de guarda, os deixeis à vista dos olhos, para que ele
possa ver nosso forte e repensar em qualquer coisa depois de ver nossa
segurança. Também montei um esquema de segurança redobrado dentro de
casa, se tudo der errado, que mamãe, Sofia e Luna consigam fugir. Não tive
tempo de ver Sofia nesses dois últimos dias, desde que eu fui ao seu quarto.
Dormimos abraçados, no entanto, assim que o sol começou a raiar, tive que
fugir, ou correríamos o risco de ser vistos juntos, coisa que sei que Sofia não
quer. Desde então, mal tive tempo para descansar. Em breve, ou o maior
pacto entre máfias já feito será selado ou a maior chacina, executando de vez
as duas maiores máfias do mundo, ou pelo menos éramos, até a Tríade
aparecer e causar espanto. Quando penso nisso sinto ódio por tê-los deixado
por tanto tempo. Papai conseguiu formar nossa família pelos últimos vinte e
oito anos em paz, até agora.
De banho tomado, coloco um terno azul marinho com uma camisa
branca. Escondo minhas armas e desço, preciso de uma boa dose de whisky
antes do encontro.
Caminho até o bar da sala de jantar e sirvo uma dose dupla de whisky
sem gelo, viro tudo em um gole só. Sirvo mais um pouco e me sento
esperando, a vontade é de virar a garrafa, no entanto, meus sentidos precisam
estar sóbrios para o que está prestes a acontecer, me afasto do bar e sento em
uma das poltronas.
Papai entra na sala junto com mamãe. Ele veste um terno preto, com
uma camisa branca, já mamãe usa um vestido nude comportado, com saltos
transparentes. Seu cabelo está trançado para o lado e ela usa uma maquiagem
leve.
Lucco Moretti caminha até o bar e faz a mesma coisa que eu: serve-se
de whisky e se senta na poltrona em minha frente. É como se eu olhasse para
um espelho que mostra o futuro. Somos tão parecidos, a vantagem é que sei
como ficarei quando for mais velho.
_Quanto tempo? – Ele pergunta.
_Cinco minutos. – Respondo e tomo um longo gole.
Nem mesmo consigo engolir toda a bebida quando a governanta entra,
seguida por Nikolai.
Adiantado.
Nikolai usa um terno preto, com uma camisa preta. Seus cabelos
loiros estão puxados para trás em um coque, deixando metade dos fios soltos.
Sua barba está como sempre foi, desde que eu o conheci. Seus olhos verdes
inspecionam tudo, em busca de perigo, provavelmente.
_Que prazer finalmente conhecer a residência Moretti. – Ele fala,
abrindo um enorme sorriso.
Levanto-me tomando a frente.
_É um prazer recebe-lo, Nikolai. – Falo. Aperto sua mão, um gesto
singelo e estranho. Algo que eu jamais imaginei ser possível fazer.
_Imagino que sim. – Rebate.
_Senhor e senhora Moretti, que prazer. – Ele se dirige para meus pais.
Percebo meu pai com um braço envolto da cintura de minha mãe de
forma protetora.
_Prazer em conhece-lo, senhor Mogilevic. – Mamãe fala educada.
Meu pai continua sério e silencioso, imagino que seja difícil para ele
estar no mesmo ambiente que um Mogilevic. Meu pai matou o pai de
Nikolai, tendo ele sido criado pelo avô. Desde então, nunca mais houve
ameaças diretas, não até o jatinho.
_Lucco Moretti, é um imenso prazer finalmente conhecer o homem
mais temido da face da terra, ouso dizer que ouvi falar que alguns inimigos
urinaram na calça só de estar no mesmo cômodo que você. – Nikolai fala.
_Então eu perdi o jeito, sua calça ainda está seca. – Meu pai rebate
friamente.
A tensão fica palpável no ar, até que Nikolai estoura em uma
gargalhada estrondosa.
_Boa. – Ele fala, entre risos.
_Por favor, senhor Mogilevic, aceita uma bebida? Sente-se. – Mamãe
parece perceber a tensão tanto quanto eu e tenta mudar o rumo do assunto.
_Claro! O mesmo que os cavalheiros, por favor. – Nikolai pede e se
senta na poltrona aonde eu estava.
Meu pai, mesmo com cara de poucos amigos, volta a se sentar na
poltrona de antes e eu sento ao seu lado, ambos de frente para nosso inimigo.
Mamãe traz o copo de whisky e o entrega.
_Obrigado. – Ele fala e então toma um gole.
Sem nem cheirar, ou é um completo idiota ou sabe que não faríamos
nada.
_Parece espantado, Moretti. – Ele olha para mim.
_Na verdade estou. – Digo. – Parece tão à vontade.
Ele abre um largo sorriso.
_E estou.
_Por quê? – Ouso perguntar.
_Bem, a sua situação não é das melhores. – Ele gira o copo com a
bebida. – Nem a minha, para ser sincero, mas se me matasse... – Ele solta um
assobio como se estivesse imaginando a terrível situação.
_O que você sabe? – Pergunto.
A vontade de socar esse babaca é grande.
_O que eu sei é que eu preciso de vocês, assim como vocês precisam
de mim e matar o capo da Bratva não melhoraria a sua situação, só declararia
o extermínio da máfia.
Nos fuzilamos por longos minutos até que ele resolve continuar:
_A Tríade não é mais a mesma que conhecíamos. Deixou de ser uma
simples máfia fraca.
_O que você sabe? – Refaço a pergunta de forma dura.
_A Tríade desenvolveu uma bomba capaz de dissipar todo este lindo
bairro da Cosa Nostra com um só disparo.
Fico em silêncio por longos momentos. Ninguém pisca dentro da sala.
Ninguém ousa respirar, todos estamos absorvendo a informação.
_Não é possível... – Penso alto.
_Sim, é possível. – Nikolai responde. – Por isso eu resolvi fazer esse
acordo, precisamos unir forças e acabar de vez com a Tríade, ou seremos nós
os acabados.
_Como eles conseguiram isso? – Meu pai pergunta.
_Eu não sei, compra de informações, um Xing Ling prodígio, eu não
sei. Não descobri ainda, só sei que eles possuem essa bomba de alguma
forma.
_Meu Deus... – Mamãe murmura assustada.
Vejo meu pai apertar sua mão, tentando lhe passar conforto.
_Como você conseguiu essa informação? – Lucco Moretti pergunta.
_Diferente de vocês, eu sempre mantive um olho na Tríade, nunca os
subestimei. – Ele toma um gole de seu whisky. – Os asiáticos possuem uma
inteligência invejável. – Ele fixa os olhos em meu pai e levanta uma
sobrancelha.
Dói admitir que Nikolai tem razão, nós subestimamos a máfia, se não
fosse por Nikolai não teríamos nenhuma chance, esse é o problema de ter
poder, a Cosa Nostra sempre foi temida, ninguém jamais ousou nos enfrentar,
isso não inclui a Bratva, é claro, mas mesmo ela, ficou por anos sem nos
incomodar e agora cá estamos.
_Tudo bem. – Falo, quebrando o silêncio e rompendo meus lamentos.
– E como você sugere fazermos uma união? Quem garante que não vai se
unir aos chineses? – Pergunto.
Sei que Nikolai não vai aceitar um simples aperto de mãos, não somos
idiotas o suficiente para esquecer nosso passado e simplesmente aceitar uma
amizade sincera. Não confio em Nikolai tanto quanto ele confia em mim.
Fazer um pacto entre essas máfias significa selar todos os rompantes do
passado, que são muitos. Bratva e Cosa Nostra são inimigas há décadas. Uma
possível traição por parte dele é muito viável.
_Primeiro, se eu quisesse me unir com eles, eu já o teria feito.
Segundo, eu tenho uma ideia de como podemos fazer nosso pacto dar certo e
perdurar pelo restante de nossas vidas e futuras gerações.
_Como? – Meu pai pergunta.
Fico tenso. Futuras gerações? Isso não parece nada bom. Fazer um
acordo de paz enquanto lutamos contra a Tríade é uma coisa, agora durante o
restante de nossas vidas e o futuro ainda, é outra totalmente desconexa.
_Ouso dizer que você possui dois filhos, senhor Moretti. Acredito que
a única forma de construirmos um pacto seguro seria dar a mão da sua filha
em casamento a mim, mesmo que eu não a conheça.
Sinto meu sangue ferver. Nikolai pensa que entregaremos Luna de
bandeja para ele depois de todos os nossos esforços durante todos esses anos?
Depois de Luna ter sacrificado sua própria liberdade em nome da sua
segurança, só o fato de Nikolai saber que meu pai possui dois filhos já o torna
um perigo passível de execução.
Antes que eu possa falar qualquer coisa, meu pai sai na frente:
_Você vem até a minha casa para dizer um absurdo desses? Ou é
completamente insano ou quer morrer. – Lucco fala tão friamente que até
mamãe se assusta com o seu tom de voz e se afasta.
_Não estou impondo isso, só vejo como uma solução. E, eu devo ser
insano mesmo querer me casar com uma mulher que nem conheço. Ela já é
mulher, não? – Se eu não conhecesse tão bem Nikolai, diria que a pergunta
foi sarcástica, mas eu sei que ele realmente não sabe nada sobre Luna, só da
sua existência.
Por um momento respiro aliviado, afinal, Nikolai não faz a mínima
ideia da identidade da minha irmã. No entanto, meu alivio não perdura por
mais de alguns segundos.
Como se ela tivesse sido convocada, Luna surge neste momento. Ela é
a minha irmã só que ao mesmo tempo não parece mais a Luna que eu
conheço. Ela usa um vestido preto extremamente sexy e transparente, saltos
altos, e maquiagem. Se não fosse minha irmã, eu ousaria falar que é a mulher
mais linda que eu vi. Atrás dela vejo Sofia, que não parece em nada a mulher
que eu conheci, parece acuada e com vontade de sair correndo. Olho para
Nikolai e ele está perplexo. Ele e Luna se encaram em um olhar que para os
dois diz muita coisa, mas para nós não diz nada. A tensão no ar aumenta.
Meu pai parece furioso, prestes a ter um ataque do coração e mamãe está tão
espantada que nem respira.
_Você! – Nikolai fala e neste momento todos se voltam para ele.
Vejo lampejos de raiva passar pelos olhos do meu inimigo.
_Olá, Nikolai. – Luna fala tão calmamente e segura.
Olho novamente para ela, tentando entender se isso é somente uma
alucinação. Me perguntando se eu não fui drogado ou se bebi além da conta.
Afinal, onde está minha irmã doce e sensível? Essa não é ela.
_Quem diabos é você? – Nikolai pergunta olhando diretamente para a
senhorita Moretti.
Ela sorri diabolicamente.
_Mas o que... – Me ouço falar.
Não consigo mais nem controlar minhas falas, estou tão embasbacado
que mal consigo ser coerente. Sofia encara Luna e Nikolai, tão perdida
quanto o restante de nós.
_Luna Moretti, ao seu dispor. – Responde aumentando ainda mais o
sorriso.
_O que está acontecendo aqui? – Meu pai esbraveja, levantando da
poltrona no mesmo instante.
_Eu aceito me casar com Nikolai, papai. – Luna responde como se
isso realmente estivesse em questão. – O pacto será selado desta forma.
_Luna, querida, volte agora para o seu quarto. – Meu pai fala com
uma frieza e uma calma que faz com que os pelos do meu braço se arrepiem.
_Não sou mais a criança que precisa ser protegida, posso tomar
minhas próprias decisões. Se o desejo de Nikolai Mogilevic é a minha mão
para que possamos selar este acordo, eu estou disposta a fazê-lo.
_Não! – Lucco Moretti fala entredentes.
_Sabemos que vocês sempre me deram total liberdade de decidir não
fazer parte disso e, principalmente, não ser obrigada a casar por acordos. No
entanto, vocês nunca de fato perguntaram qual sempre foi realmente o meu
desejo. – Ela se aproxima do antigo capo e pega suas mãos. – Por mais que
vocês quisessem me afastar, eu nasci para isso, papai, eu sou uma Moretti e
não vou fugir das minhas responsabilidades.
_Luna, por favor. – Mamãe começa a chorar.
Olho para Sofia e percebo que ela se passa tranquilamente por uma
estátua, não pisca e muito menos respira. Não a culpo, o desenrolar dessa
reunião não está tomando o rumo que eu imaginava.
_Mamãe, essa é a minha decisão. Vocês me deram liberdade de
decidir o que eu gostaria de fazer com a minha vida, e eu já decidi.
_Não vou lhe entregar para um Mogilevic. – Meu pai cospe as
palavras com asco.
_Não é o senhor que está me entregando, eu mesma estou o fazendo.
– Luna permanece passivelmente calma.
_Não permitirei isso. – Eu finalmente digo.
Por mais que Lucco Moretti seja o cabeça da máfia e nosso pai, eu
sou o capo agora, quem toma tais decisões sou eu.
_Não está em sua alçada decidir isso, Lorenzo. – Ela se dirige a mim
agora.
_Sim, querida irmã, está! Sou o capo e portanto você me deve
obediência.
_Lamento, querido irmão, não faço parte da máfia, ou esqueceu que
sempre tive tal liberdade? Porém, me negar o desejo de casar com Nikolai
seria desonrar a promessa que me fizeram ainda no ventre, a de que eu teria
total liberdade pelas minhas escolhas, desde que não infringisse a minha
segurança.
_Tal escolhe corrompe sim a sua segurança, portanto, não será aceita
com o princípio de uma promessa. – Falo entredentes.
_Não vejo como comprometeria minha segurança, afinal, eu sairia da
sede de uma máfia para ir a outra.
_Para a máfia inimiga! – Eu grito, perdendo a paciência.
_Ex-inimiga, ouso falar, agora seremos aliados de sangue.
Abro a boca para retrucar, porém meu pai, que até o momento estava
terrivelmente calado ainda segurando as mãos de Luna, se manifesta:
_Eu aceito a sua vontade.
Olho para ele no mesmo momento, na verdade, todas as cabeças se
viram para ele. Até mesmo Nikolai que até então nem se mexia o fez.
_O que? – Me vejo perguntando.
_Luna tem razão, é a escolha dela, devemos respeitá-la.
_De jeito nenhum! – Urro.
Não entregarei minha irmã para esse bastardo russo. Fazer um acordo
pela segurança das máfias é uma coisa, agora nos tornarmos cunhados é outra
completamente diferente.
_Não cabe a você decidir, Lorenzo. – Lucco vira-se para mim. – Luna
optou pela escolha dela, ela usou a única liberdade que sempre lhe foi
deferida, a sua vontade. Ela quer a união, não temos nada a fazer, se não
abençoa-la.
_Você está ficando louco? – Pergunto ainda furioso.
_Cuidado com o tom, rapaz. – Ele me repreende. – Luna se casará
com Nikolai, se tornará a senhora da Bratva e nossas máfias irão selar um
acordo de paz. É isso que quer, minha filha?
Papai olha no fundo das íris azuis de Luna, iguais as minhas e as dele.
_Sim.
_Então será feito.
Ouço um soluço e mamãe sai correndo da sala.
_Com licença. – Papai sai correndo atrás dela.
Olho para Luna com vontade de estrangula-la.
_Não adianta me olhar de tal forma. – Ela fala e se senta.
Olho para Nikolai com sangue nos olhos, mas ele encara Luna.
_Vocês já se conhecem. – Constato.
_Não interessa mais. – Luna murmura e volta a ficar em silêncio.
Capítulo quinze.
Amor.

Sofia Reymond.

Olho para Luna sentada no sofá ainda em silêncio encarando o seu


futuro noivo, tentando entender o que está acontecendo aqui. Luna parece ter
muitos segredos. Nunca imaginei o desenrolar de tudo ao vê-la vestida
lindamente em seu quarto alguns momentos atrás. Quando o mundo ruiu eu
fiquei só observando, completamente calada com medo de respirar torto. Três
grandes mafiosos presentes, brigando pela virtude da mesma mulher, tendo
ela optado por entregar para o mais improvável de todos. Me pergunto se isso
foi somente uma estranha coincidência, mesmo sabendo que é improvável.
Quando entramos no cômodo, Nikolai parecia saber quem Luna era, não
quem de fato, mas pareceu reconhece-la. Luna mal o fitou antes de aceitar o
acordo. Por mais que Luna goste da máfia, eu duvido muito que ela aceitaria
um casamento por conveniência, mesmo sendo com um gostoso que nem o
mafioso russo. Se ela estivesse em busca de liberdade, mesmo que em
silêncio, não sairia dos braços de uma máfia para correr para outra, isso é a
mesma coisa que mudar a prisão, se manter na máfia significa nunca mais ter
uma vida comum.
Olho para Lorenzo que está encarando furiosamente o novo casal,
caminho em sua direção. Toco em seu braço tentando lhe dar algum consolo,
ele não parece notar de imediato, de tão concentrado que está, se tivesse
poderes Luna e Nikolai teriam desaparecido.
_Lorenzo. – Digo, chamando a sua atenção.
Ele fixa os lindos olhos azuis em mim, vejo uma grande tempestade
de sentimentos através deles. Sinto vontade de puxá-lo e deitar minha cabeça
em seu peito, dizer que vai ficar tudo bem. Me dói não poder fazer isso, não
na frente de todos.
_Tudo bem? – Pergunto tentando soar indiferente.
Ele me encara por mais alguns segundos, antes de responder:
_Sim. O Jantar já vai ser servido. – Fala.
Me afasto de Lorenzo e vejo tristeza em seus olhos, que duram
somente alguns segundos, voltando a ser frios e distantes. Às vezes acho que
Lorenzo usa uma máscara de individualidade, por ser tão inconstante, mas
não consigo confirmar ao certo, então opto por me manter longe. Sei que meu
coração vai estar em frangalhos quando eu partir, mas eu posso tentar salvar
o que resta dele. Mesmo que agora pareça quase impossível de fazê-lo.
O restante do jantar transcorre de forma calma para a minha surpresa.
Todos comemos em silêncio, após, os homens se retiraram para os acordos e
Luna e Amanda subiram para conversar. Amanda apesar de parecer calma
está tão arrasada de uma forma que eu nunca tinha visto antes, Luna se
obrigou a ir até a mãe lhe dar alguma explicação. A mim não restou nada
além de subir para o meu quarto, deitar a cabeça no travesseiro e constatar
que viver em uma máfia é um caminhão de emoções e que, mesmo odiando
essa sensação, eu estou realmente adorando viver aqui.

Deitada na espreguiçadeira pegando um bronze em frente a piscina


começo a repassar os acontecimentos da noite anterior. Novamente Lorenzo
não veio ao meu quarto e, pela primeira vez desde que toda essa loucura
começou, eu me permiti chorar. Não por Luna e Nikolai, mas por mim. Eu só
deitei e quis chorar, só isso. Agora aqui estou eu, tentando fingir que Lorenzo
não está nadando na piscina somente de sunga com o corpo gostoso e
torneado na minha frente, tentando fingir que eu não estou molhada só com a
cena, tentando fingir que eu não me importo, tentando fingir que ele não
entrou na minha alma sugando todos os meus sentimentos e me deixando
perdidamente apaixonada pela pessoa que eu dizia tanto odiar. Só tentando
fingir.
_Querida, você está bem? – Ouço Amanda perguntar.
Viro-me para o lado me lembrando de onde estou. Pisco algumas
vezes e percebo que eu estava prestes a chorar encarando mortalmente
Lorenzo.
_S-sim. – Gaguejo.
_Porque a escolha está sendo tão difícil? – Pergunta.
Olho para a mulher a minha frente que eu tanto julguei e ao mesmo
tempo eu tanto amo e admiro. Ela continua linda, mesmo com as marcas do
tempo.
_Tenho medo de escolher errado. – Revelo.
Não sei se ela sabe que estamos falando do seu filho, mas um dia, no
passado, ela também precisou fazer uma escolha difícil e apesar de tudo, não
parece em nada decepcionada ou triste, ela parece realizada e completamente
feliz.
_Você o ama?
Olho-a de súbito. Ela sabe, mas como? Meus olhos revelam hesitação
e surpresa, então ela responde:
_Você está com o mesmo olhar que eu estive há quase trinta anos.
Quando ela precisou fazer a escolher. Optar pela carreira ou pelo
marido e a família. Nunca me perguntei se foi difícil para ela, eu só achava
um absurdo essa escolha e ponto, eu a julguei tão mal.
_Foi difícil? – Pergunto.
Amanda suspira e olha para o mar, ela parece perdida, como se
voltasse no tempo, então ela sorri, como se lembrasse de algo que a fizera
muito feliz.
_Sabe, eu nunca vou me esquecer da sensação de ver a minha nota
naquele concurso, ou até mesmo da sensação de visualizar o edital de
convocação. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. – Ela suspira.
– Eu queria tanto, eu amei tanto e dei tanto de mim.
_Mas, mesmo assim escolheu Lucco. – Falo.
Ela volta seus olhos para mim, ainda com alegria.
_Nunca vou esquecer do meu primeiro interrogatório e nem da minha
primeira investigação. – Ela sorri ainda mais. – E nunca esqueci dos meus
colegas de trabalho, mas apesar de tudo, eu nunca vou esquecer da sensação
de quando eu disse sim à Lucco.
Fico em silêncio observando seu semblante demonstrar saudade e
felicidade plena, e para a minha surpresa ou não, nada de arrependimento.
_Eu amei a minha profissão sim, eu quis tanto ela que doía, porém
isso aqui. – Ela levanta os braços mostrando ao nosso redor. – Ah, isso aqui
eu quis ainda mais. – Ela volta a me analisar. – Foi difícil sim a escolha, mas
veio do fundo do meu coração, eu escolhi o amor, no final.
Sinto uma lágrima escorrer no canto do olho.
_E se não for recíproco?
Ela me olha de soslaio.
_Com certeza é, sempre foi.
_Como você sabe?
_Quando você tiver seus próprios filhos entenderá. – Ela agarra
minhas mãos. – Você precisa olhar para dentro do seu coração e se perguntar
o que ama mais, o que você realmente quer para o futuro. Não se condene,
não há problema algum em nenhuma das duas escolhas.
_Nem mesmo se eu escolher a minha profissão? – Pergunto com
sinceridade.
_Nem mesmo se escolher a profissão. Cada um encontra a sua
felicidade plena em algum lugar, eu a encontrei na minha família e no homem
que está em algum lugar dessa casa nesse momento. – Seus olhos ficam
marejados. – Eu encontrei a minha em um investigado. – Começa a
gargalhar.
_Foi difícil, você sabe, se apaixonar por um investigado?
_Ah, se foi, eu fazia as perguntas pra ele tentando soar séria e
decidida quando a minha mente só gritava para que eu sentasse em seu colo.
Solto uma gargalhada. Amanda é uma figura.
_Você está bem, com relação a Luna? – Ouso perguntar.
Ela suspira tristemente.
_Preciso estar. – Ela volta a olhar para o horizonte. – A vida é feita de
escolhas, eu fiz a minha há algum tempo. Chegou a vez da minha filha e eu
só preciso estar preparada para deixar meu passarinho voar do ninho.
Amanda tem razão, tudo é uma escolha. No final, tudo se baseia nisso
e em mais nada. Procuro Lorenzo com os olhos e vejo que ele está sentado na
borda da piscina do outro lado nos fitando, ele parece me perguntar com um
olhar o que está acontecendo, eu só faço um sinal negativo com a cabeça. Ele
não precisa saber que eu estou perdidamente e loucamente apaixonada por
ele, cogitando me entregar a isso, mesmo que Amanda tenha garantido que é
reciproco, eu ainda tenho medo.
_Você sabe... – Amanda fala. Volto minha atenção para ela. – A
máfia não é tão ruim quanto parece. Há sim restrições impostas, mas também
possui seus benefícios.
_Como esse? – Pergunto me referindo a deliciosa tarde no dia de
semana que estamos tendo em uma piscina de frente para o mar em uma
mansão luxuosa.
_Como esse. – Ela concorda. – Claro que não há mais uma total
liberdade, mas nem sempre é assim. Depois que Lucco matou Serguêi nós
ficamos por alguns meses reclusos, temendo retaliação. Lucco ficou muito
preocupado com a minha segurança e de Lorenzo, mas depois que nós
percebemos que nada viria, aproveitamos ao máximo. – Ela olha para o filho
que ainda nos observa. – Viajamos com Lorenzo ainda muito jovem para
lembrar, mas Lucco me levou em cada lugar que eu gostaria de conhecer.
Ficamos por meses assim.
_Você não ficou aqui como Luna? – Pergunto surpresa.
Amanda começa a rir.
_Não. Quando nós tivemos essa pausa de paz, aproveitamos. Conheci
todos os Países que eu desejava, comi em todos os restaurantes que sempre
sonhei. Visitei todas as lojas exclusivas que eu sempre quis.
_Mas, Luna... – Não termino meu raciocínio.
_Com Luna é diferente, Lucco sempre foi muito protetor. Ela é filha
do capo, assim como Lorenzo. Ambos desde que nasceram correm riscos.
Essa é a parte ruim, temer diariamente a sua segurança.
_Então você se arrepende?
Amanda me olha de forma inexpressiva.
_De forma alguma. Teria mais filhos ainda se eu tivesse conseguido,
mas Deus resolveu me agraciar com dois e eu já sou completamente
agradecida por isso.
_Você quis ter mais filhos? – Fico surpresa. – Mesmo com os riscos
que eles correm?
_Sim, a máfia tem suas provações, assim como é perigosa, fornece
muita segurança. É só olhar para Lorenzo e Luna. Adultos e seguros. – Ela
parece pensativa. – Eu nunca tive família, além da sua mãe, então quando eu
casei com Lucco disse a ele que queria uma grande família. Quando Luna
tinha dois anos eu parei com os contraceptivos, queria ter mais filhos, mas
nunca mais consegui engravidar.
_Por quê? – Pergunto.
_Eu nunca soube, não procurei tratamento nem nada. Entendi que se
não vinham mais filhos significava que Deus queria assim.
_Você fica triste por isso?
_De forma alguma, amo meus filhos e amo a minha vida. Sou
completamente feliz aqui e com a minha escolha.
Fico feliz por Amanda e por saber que ela é realizada. Ela merece isso
e sempre mereceu. Lucco entrou na vida dela de uma forma completamente
icônica, mas no momento certo. Vendo-os juntos percebo que nasceram um
para o outro, duas almas que conseguiram se encontrar, mesmo nas
circunstancias mais absurdas.
Como se tivesse sido chamado, Lucco surge vestindo uma bermuda
azul e um óculos de sombra. Seu peitoral musculoso agora ostenta alguns
pelos grisalhos. Observo a forma como seu semblante se ilumina só de
colocar os olhos em Amanda. Ele caminha até nós, fala alguma coisa e dá um
selinho na esposa. Em breve eles farão uma festa para comemorar trinta anos
de casados e eu me pego invejando-os. Espero um dia ter um casamento
assim.

_Então, pode abrindo a boca. – Falo seriamente para Luna.


Faz uma semana que ela tem me evitado. Na verdade, a mim e a todos
os outros. Mamãe chegou ontem e não desgruda mais de Amanda. Luna se
enfiou no quarto tentando fugir de perguntas, depois de muita insistência eu
consegui um pouco da sua atenção.
A casa está um caos desde que o noivado foi anunciado, em dois
meses Luna partirá para Rússia para se casar com Nikolai e se tornar a
senhora da Bratva. Ela será o fio de ligação entre as duas máfias. Desde essa
loucura, eu nunca mais tive momentos íntimos com Lorenzo, somente
algumas conversas informais na frente de todos durante refeições.
_O que você quer saber? – Luna pergunta.
_Você só pode estar de brincadeira. – Digo exasperada.
_Tudo bem. – Ela se rende. – Mas só se você me contar o que tem
entre você e Lorenzo.
Engulo em seco. Amanda teria contado algo para ela? Desde a nossa
conversa na piscina nós nunca mais entramos no assunto. Mesmo que eu não
tenha revelado nada para ela ou confirmado a suas suspeitas eu não as neguei.
_Não existe nada. – Minto.
_Se você não for sincera comigo, não espere sinceridade minha
também. – Luna diz ofendida.
Suspiro profundamente.
_Tudo bem. – Rendo-me. – Nós dormimos juntos em Londres e foi só
isso, em alguns dias eu estarei partindo com a minha mãe para o Brasil e nós
vamos esquecer tudo o que rolou. – Falo parcialmente a verdade. Não é uma
mentira completa.
Luna me observa com olhos atentos e então assente como se
finalmente acreditasse em mim.
_Minha vez. – Fala. – Lembra da história que te contei sobre eu ter
conhecido alguém e esse alguém de fato não sabia quem eu era?
Sinto meu sangue fugir do rosto, sei que minha expressão mudou
completamente e eu empalideci.
_Foi Nikolai? – Consigo encontrar voz para perguntar.
_Sim. – Ela confirma. – Eu sempre soube quem ele era, antes que
você diga algo e por mais que esteja me julgando mentalmente agora, eu fiz
porque eu quis e essa foi uma escolha minha e de mais ninguém.
_Não estou banalizando você. – Falo a verdade. – Só me preocupo
com a sua segurança.
Luna parece menos retraída com a minha resposta, como se estivesse
esperando julgamentos no lugar de aceitação.
_Eu entendo que se preocupe comigo, assim como todos aqui, mas
vocês precisam entender que eu sou adulta e sei cuidar de mim mesma. – Ela
suspira. – A vida toda eu fui tratada como uma boneca de porcelana e eu
entendo o motivo, mas chegou a hora de me libertar.
Aperto suas mãos e sorrio para ela.
_Você tem razão. Somos adultas. Estou realmente feliz por você,
Luna. – Falo. – Eu virei para o seu casamento.
Abraço Luna apertado. Minha amiga tem toda razão. Acredito que por
Luna ter sido criada enclausurada por sua segurança, todos a tratam como se
fosse uma inocente, mas na realidade ela não é. Luna é forte e decidida.
_Sofia. – Ela me chama quando nos afastamos. – Você não precisa vir
para o meu casamento. – Olho-a sem compreender. – Você nem vai ir embora
para começo de conversa.
Sinto minha testa enrugar em uma expressão de confusão, mas Luna
não fala nada, somente abre o sorriso mais angelical e inocente que tem.
Capítulo Dezesseis.
Moretti e Mogilevic.

Lorenzo Moretti.

Essa última semana foi uma loucura. Mal tive tempo de dormir desde
que chegamos à conclusão de que realmente Mogilevic não parece oferecer
nenhum perigo para a minha irmã, caso houvesse uma porcentagem disso,
desde que muito pequena, eu lavaria ela para longe, mesmo contra a sua
vontade.
Entrei em contato com o meu futuro cunhado para acertar a data do
casamento, que ocorrerá daqui a dois meses, ainda estamos decidindo se na
Itália ou na Rússia. Luna não vai ir antes de estar com o sobrenome
Mogilevic ao lado do Moretti, algo que eu nunca pensei ser possível, ambos
na mesma pessoa e, no futuro, nos filhos, meus sobrinhos.
Mal tive tempo essa semana de ver Sofia, a não ser por conversas
informais durante as refeições, não consegui ir nem ao seu quarto. A última
vez que eu a vi por mais de alguns segundos foi quando estava conversando
na piscina com a minha mãe, senti seus olhos me rondarem por alguns
momentos, mas depois que ela começou a conversa pareceu tensa e até
mesmo triste, mas quando questionei em uma conversa silenciosa ela
somente negou. Desde então, mais nada aconteceu.
Não me permiti lamentar sua partida que acontecerá em dois dias, eu
simplesmente tentei ignorar esse fato e colocar em um canto remoto da minha
mente. Sofia não me ama e nunca me amou, já fui humilhado me declarando
para ela no passado, não farei isso novamente, mesmo que me doa, que me
corroa por dentro. Eu só simplesmente vou deixa-la ir, afinal, sou algo que
ela rejeita e isso eu nunca poderei mudar. Suspiro audivelmente, estou
exausto. Os últimos dias foram cansativos. Caminho em direção ao jardim, a
lua está linda hoje, preciso de alguns segundos de paz antes que eu exploda.
Chego ao jardim e encontro Sofia sentada na escada da casa da árvore
observando a lua. O que me surpreende, pois não esperava encontrá-la aqui.
Meu coração falha uma batida. Me aproximo dela silenciosamente, mesmo
sem me olhar ela parece estar ciente da minha presença.
_Já vivemos tantas coisas nessa casa da árvore. – Ela fala quebrando o
silêncio.
_Já. – Concordo.
Não falarei que foi nesta casa que lhe entreguei o meu coração e
mesmo estando pisoteado eu o tomei de volta.
_Sabe... – Ela me olha. – Eu gostava dos nossos dias aqui, antes de
tudo.
Percebo que o antes de tudo que ela fala foi quando éramos melhores
amigos.
Eu não respondo, não há o que responder e eu não quero entrar nesse
assunto. Já foi muito ruim eu tê-la deixado entrar no meu coração novamente
depois de tanto tempo e já fazer tanto estrago, eu sou a porra de um mafioso
frio e calculista e ponto.
_Amanhã eu terei uma reunião feminina com a sua mãe e o restante
das mulheres da máfia, não sei bem o que é. – Ela fala.
_Uma vez por mês mamãe se junta com as damas para jogar cartas e
beber. – Respondo.
_Bem... Parece animador.
_Se você acha animador acordar no outro dia com ressaca, até pode
ser.
Ela gargalha.
_Sua mãe acorda com ressaca? – Pergunta.
_Seja lá o que as mulheres bebem, a sede da máfia fica estranhamente
silenciosa no outro dia do carteado.
Sofia sorri, parecendo gostar da ideia.
_Sua mãe que inventou isso?
Concordo com a cabeça, mas mesmo assim respondo:
_Ela achou necessário conhecer todas as mulheres que fazem parte do
grupo e dar um pouco de diversão à elas. – Faço uma pausa. – Você sabe,
ninguém aqui tem total liberdade.
Seus lábios formam uma linha fina. Ela parece pensar em algo e então
me fita. Se eu não estivesse escorado no tronco da árvore minhas pernas
falhariam. Seus olhos parecem chegar a um consenso assim que ela os pousa
em mim. Sinto uma energia nos puxar, Sofia se levanta ainda me encarando.
_Lorenzo, eu preciso dizer algo.
Ela está tão próxima que eu consigo sentir bem o seu perfume, minha
vontade é de agarra-la e colar seu corpo ao meu, mas eu não o faço, ao invés
disso, colo meus braços ao lado do corpo em uma forma de tentar controla-
los.
_Eu... – Ela pausa e suspira, tentando criar coragem.
Quando ela abre a boca novamente para continuar um dos meus
homens aparece.
_Senhor, precisamos de você.
Vejo que seja lá o que ela queria falar, sua coragem se esvaiu.
_Já estou indo. – Respondo ainda sem tirar os olhos dela. – O que
você queria me falar? – Pergunto.
Ela me fita mais uma vez e então se afasta, desviando o olhar.
_Nada de importante, pode ir.
Fico mais uns segundos curioso e tentando entender o que aconteceu,
como Sofia parece irredutível, eu me afasto e vou em direção ao homem que
me chamou. Digo a mim mesmo que não deveria ser nada de importante,
caso contrário, ela teria dito, mesmo com a chegada de um estranho. Com
isso em mente eu volto para os meus afazeres de capo.
Capítulo Dezessete.
Carteado.

Sofia Reymond.

Observo meu reflexo no espelho mais uma vez antes de sair do quarto
e ir para o salão onde a reunião feminina está acontecendo. Optei por uma
roupa mais despojada, saia jeans, t-shit branca e um tênis. Não sei bem o que
esperar dessa noite, não quis parecer exagerada. Amanda e Luna não me
deram nenhum indicativo de como isso seria. Enquanto me encaminho para o
lugar, volto meus pensamentos para a noite de ontem e da minha quase
declaração para Lorenzo no jardim, eu estava realmente disposta a sacrificar
tudo por ele, sem preconceitos ou arrependimentos, mas por um segundo, um
único segundo o homem apareceu e eu repensei. Ainda não sei o que pensar
disso, portanto estou ignorando este ocorrido.
Desço as escadas e caminho em direção ao salão de festas, do
corredor já ouço o burburinho. Abro as portas duplas de madeira e entro na
sala, mas confesso que nada me preparou para isso.
O salão está lotado de mesas redondas com muitas mulheres sentadas,
em cada mesa eu vejo que jogos de carta estão acontecendo, as mulheres riem
e parecem alegres. Há muita distinção de idades, desde umas muito jovens
até outras de idade avançada. Garçons passam pelo local com diferentes
drinks e canapés nas bandejas, ninguém parece notar a minha presença. Ao
lado esquerdo em uma mesa soltando gargalhadas vejo minha mãe. Luna
conversa no outro lado com uma jovem e sorri.
_Sofia, então, o que achou do nosso pequeno antro do pecado? –
Amanda vem ao meu encontro.
_Estou maravilhada. – Confesso.
Nunca pensei em reuniões femininas dessa forma, mas aqui parece
que todas as mulheres deixam suas preocupações e tristezas na porta.
_Venha! Vamos beber e jogar.
Amanda me guia até uma mesa onde cinco jovens jogam e bebem um
drink rosa cremoso.
_Olá, meninas, essa é Sofia, minha afilhada. – Amanda me apresenta.
Ouço uma sequência de cumprimentos e sorrisos gentis.
_Sofia, estas são Nádia, Charlotte, Emily, Alexa e Julye. Elas vieram
a pouco tempo, conheceram e casaram com nossos soldados. Charlotte foi a
última, chegou aqui há seis meses.
Olho para as mulheres. Nádia parece ter pouco mais de trinta anos,
tem longos cabelos negros, olhos castanhos e um nariz reto. É magra e parece
ser bem alta. Charlotte parece uma boneca ambulante, possui cabelos
ondulados incrivelmente loiros, tem uma boca rosada e um rosto harmônico.
Não parece possuir mais de vinte e cinco anos. Emily tem cabelos pretos em
corte long bob, tem um corpo invejável e um sorriso radiante, não parece ter
mais do que trinta anos. Alexa é a legítima mulher das quais se usa a
expressão “de parar o trânsito”, sua pele oliva contrasta com seus cabelos
crespos castanhos. Ela tem olhos de cor mel e uma boca de dar inveja, parece
possuir a mesma idade de Nádia. Julye tem uma densa cabeleira ruiva, seu
rosto tem sardas marcantes que dão um charme à parte e é muito sorridente.
_Prazer em conhece-las. – Falo.
_Sente-se aqui, há lugar para mais um jogador. – Amanda aponta para
a cadeira vazia.
Sento-me entre Emily e Alexa. Amanda se afasta. Vejo um garçom
se aproximando com uma bandeja com diversas bebidas, considerando que
todas as mulheres estão tomando a mesma coisa, eu as imito. Beberico um
gole e quase me ajoelho em agradecimento aos céus por algo tão divino. O
liquido é doce, cremoso e gelado. É perfeito.
_Você sabe jogar? – Alexa pergunta.
_Não. – Confesso.
_Bem, então deixe-me ensiná-la.
Ela fica alguns minutos me explicando como se joga, observo bem
tentando aprender, não gosto de perder, e por mais que eu nunca tenha feito
isso antes, se sentei para jogar é para ganhar.
_Só cuidado com Nádia. – Alexa fala e olha diretamente para a
mulher sorrindo. – Ela adora nos passar para trás.
Nádia a olha como se estivesse realmente magoada e para dar ênfase
nisso coloca uma mão sobre o coração.
_Alexa, assim você me magoa e já me difama para a jovem. – Brinca.
_Diz que é mentira que eu suplico aos seus pés por perdão. – Alexa
brinca.
_Bem... Não tenho culpa se essas daqui são completamente lerdas. –
Dá de ombros.
Todas caem em estrondosas gargalhadas.
_Vamos ao jogo. – Emily grita.
Passamos a última meia hora jogando, rindo e bebendo. O garçom nos
ofereceu muitas vezes canapés, mas nós os recusamos, aceitando sempre só
as bebidas. Não vi meu copo ficar vazio por mais de alguns segundos. Depois
de muito jogo, de ver Nádia realmente passar todo mundo para trás, inclusive
a mim, nós já estamos levemente alcoolizadas e alteradas.
_Então, Charlotte, você ainda está trepando com Giuseppe em cada
quadrado da sede? – Emily pergunta.
Vejo Charlotte me observar e suas bochechas se tornarem rosadas. Ela
me olha sem graça e sorri timidamente.
_Não fale assim, Emily, desta forma Sofia irá pensar que sou uma
desavergonhada. – Responde completamente sem jeito.
_E não é? – Emily retruca.
Charlotte olha para mim ao responder.
_Emily não entende, mas é que Giuseppe quer muito um filho, então
estamos praticando até chegarmos ao resultado. – Ela explica.
_Praticando? Charlotte, querida, isso já está mais para uma compulsão
sexual. – Agora quem rebate é Julye.
Sinto o esboço de um sorriso se formando em meu rosto.
_Não se preocupe comigo, Charlotte. – Falo e termino minha bebida
número... Bom, me perdi nas contas já.
Nádia revira os olhos.
_Vocês estão deixando a menina constrangida desse jeito.
_Desde quando Charlotte tem pudor para ficar constrangida? – Emily
brinca.
E elas começa a gargalhar, todas visivelmente embriagadas.
_E você, Sofia, quando vai ficar de vez na fortaleza? – Julye muda o
assunto.
Engasgo com a nova bebida que o garçom me entregou. Alexa dá
palmadinhas nas minhas costas.
_Quem disse que eu vou ficar de vez? – Pergunto.
_Bem... Homens comentam, sabe... – Charlotte fala enquanto enrola
uma mecha do cabelo loiro no dedo.
_Comentam o que? – Pergunto.
_Sobre você e Moretti. – Nádia responde.
Olho de uma para a outra espantada. Sem saber o que responder.
Como assim já estão comentando sobre isso? Não é possível.
_O q-que... – Gaguejo para nenhuma em particular.
_Meu marido esteve com vocês em Londres. – Alexa revela. – Ele foi
no atentado ao cassino e foi um dos sobreviventes.
_Oh meu Deus! – Falo.
Não havia pensado sobre isso ainda, a aflição que essas mulheres
devem sofrer enquanto esperam seus respectivos maridos voltarem de
batalhas. Agora entendo a questão que Amanda faz sobre as reuniões, é para
mantê-las ocupadas.
_Está tudo bem. – Ela continua. – Ele não se feriu. Mas, todos os
homens comentaram em como o capo pareceu eloquente para protege-la.
_Nós somos basicamente da mesma família. – Falo
_Sendo da mesma família ou não, há algo entre vocês, pode revelar. –
Charlotte tenta me convencer. Olho-a tentando decidir se revelo algo ou não.
– Ora, você acabou de descobrir que eu já tive relações com meu marido em
cada canto desse forte, agora é a vez dos seus segredos. – Ela sorri
conspiratóriamente.
_Além do mais. – Continua Alexa. – Homens são piores que
mulheres quando tiram para fofocar. – Ela pisca para mim e leva seu drink
aos lábios.
Olho para essas cinco mulheres que parecem felizes. Me pergunto se
elas deixaram famílias para trás ou o que elas faziam antes de vir para cá,
para assumir um cargo desses. Será que abandonaram estudos e profissão?
Não sei se foi a forma como achei-as simpáticas ou se foi todo o álcool em
meu cérebro, mas eu simplesmente abri a boca e contei tudo para elas. Talvez
tenha sido a necessidade de contar para alguém, eu não sei.
_Uau. – Nádia é a primeira a falar. Ela brinca com o canudinho da
bebida.
_Então, o que você vai fazer? – Pergunta Emily.
_Eu não sei. – Confesso.
_Você o ama? – Charlotte me pergunta.
Penso nisso, em como ele faz meu coração disparar tão rapidamente.
Em como eu me sinto quando estou na sua presença e como saber que terei
que partir amanhã me deixa despedaçada por causa dele e só por ele. Eu
poderia negar isso, para elas ou para mim, poderia mentir por muito tempo e
viver com a minha escolha tentando me convencer de que fiz a coisa certa.
_Sim. – Repondo.
_Então o que você está esperando exatamente? – Julye pergunta.
_Eu não sei se é recíproco.
Elas se entreolham e começam a rir.
_Pareço uma piada para vocês? – Pergunto emburrada.
_Neste momento? – Julye me olha da cabeça aos pés. – Sim.
_Por quê? – Pergunto.
Elas se entreolham mais uma vez, parecendo duelarem em silêncio
sobre quem falará primeiro. Vejo o exato momento em que Nádia ganha a
batalha.
_Querida, conheço Lorenzo Moretti há muito tempo. Nunca o vi
desse jeito, então acredite em mim, é recíproco.
Fico em silêncio tentando discernir o que ela acabou de me contar.
_E, os homens comentam. Eles falam que Lorenzo está caidinho por
você. – Alexa termina.
Penso sobre isso. Viro mais um copo de bebida. Santo Deus, preciso
de álcool para essa noite.
_Como vocês aguentam isso? – Pergunto o que mais me aflige, por
fim. – Esperar os maridos sem saber se eles irão voltar, não poder sair dessa
fortaleza?
_Você acha que é tão ruim assim? – Emily pergunta.
_Eu não sei, me digam vocês.
_Bom, se para você ter comida, piscina, praia particular, academia e
diversos tipos de entretenimento disponível vinte e quatro horas por dia é
terrível, eu não posso imaginar qual é o conceito que você leva de vida boa. –
Alexa responde sarcasticamente.
_Nós. – Nádia aponta para as outras. – Vivemos como rainhas aqui.
Para você pode parecer uma prisão agora, mas é tanta coisa para se entreter
que, no final, os dias passam voando.
_E quanto a esperar os maridos. – Dessa vez quem fala é Charlotte. –
É a pior parte, certamente, mas nós sabemos que eles irão voltar para nós, ou
ao menos nos apegamos a isso. Esse é o verdadeiro único custo que
precisamos pagar, a aflição da espera. – Revela.
Penso um pouco no que elas falam. Sei que aqui é uma fortaleza, mas
não imaginei que possuía tantas coisas disponíveis. É como uma pequena
cidade exclusiva da Cosa Nostra.
_Tem as famílias também. – Falo. – Lorenzo e eu nos criamos como
primos, não sei como nossos pais reagiriam.
Elas se entreolham mais uma vez. Então Alexa fala.
_Querida, se Amanda não a quisesse tanto como nora, ela nem teria
adiantado esta reunião.
_O que? – Pergunto confusa.
_Amanda adiantou a reunião para que ela ocorresse enquanto você
ainda estivesse aqui.
_E porque ela faria isso? – Pergunto para ninguém em particular.
_Isso nós não sabemos, mas especulamos que seja para que você
pudesse participar e ver como somos realmente divertidas ou para que nós
pudéssemos ter esta conversa. – Nádia responde.
Olho para cada uma delas e uma luz se acende na minha cabeça. A
conversa na piscina, a forma como ela basicamente jogou na minha cara que
mãe sabe de tudo e que o que eu sinto é recíproco. A reunião para mostrar
que as mulheres da máfia podem sim se divertir e me colocar na mesa com as
mais jovens daqui, justamente para que, se por sorte ou não, em algum
momento elas pudessem me falar sobre como viver aqui e ser casada com um
mafioso tem as suas vantagens, além de todos os músculos, é claro.
Amanda não só quer que eu e Lorenzo fiquemos juntos como vem
armando para que isso aconteça, de forma singela. Ah, dinda Amanda...
_Vocês acham que Amanda aprova? E Lucco e Luna? – Pergunto.
_Amanda não só aprova, como faz questão. Lucco faz o que a esposa
mandar. Lucco Moretti na rua é o homem mais temido de todos, mas dentro
de casa é o cachorrinho da esposa. – Alexa fala e todas começam a rir.
Lembro de todas as vezes que vi ambos juntos e não posso rebater a
afirmação dela, Lucco parece fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
agradar Amanda.
_E quanto a Luna, em breve ela se tornará a senhora Mogilevic. Sem
falar que ela parece adorar você, não acho que se importaria. – Emily fala.
_E agora? – Penso alto.
_Agora vá atrás do seu homem! – Nádia me encoraja.
_Agora? – Pergunto.
Ela revira os olhos.
_SIM! – Ambas falam juntas ao mesmo tempo.
_Obrigada! – Falo olhando para todas elas.
Levanto-me da mesa, fico uns segundos em pé testando meu
equilíbrio. Quando vejo que ele ainda está intacto, caminho rapidamente para
fora da sala. Abro as portas duplas e quando me viro para fechá-las, vejo as
meninas fazendo um sinal para Amanda que abre um largo sorriso.
Então, decidida sobre qual caminho tomar, vou em busca da minha
escolha.
Capítulo Dezoito.
Você me escolheu.

Lorenzo Moretti.

Bebo um gole de whisky enquanto observo os papéis com as finanças


da máfia à minha frente. Foi difícil convencer meu pai a ir beber com seus
homens e me deixar fazer isso sozinho, ele fica tão perdido quando não tem
mamãe. Desde que ela inventou esses carteados femininos, fomos proibidos
de entrar na sala, nós ou qualquer homem, menos os garçons.
Mesmo cansado eu não tenho conseguido dormir pensando em Sofia,
tentei me convencer de o que quer que ela quisesse me falar no jardim não
era importante, mas a minha curiosidade não me deixa em paz. Suspiro.
Tento me concentrar novamente nos papeis e tirar a garota de cabelos escuros
e olhos verdes da minha cabeça. Sou impedido assim que a porta é aberta em
um rompante. A primeira coisa que me vem em mente é puxar minha arma,
mas assim que uma Sofia corada e com os olhos embaçados entra eu relaxo
um pouco.
_Voltou cedo do carteado. – Falo.
Sofia fecha e chaveia a porta do escritório, apesar dos olhos
parecerem anuviados pela bebida, ela parece decidida. A culpada por ocupar
meus pensamentos caminha até a minha mesa e espalma as duas mãos. Ela
me encara fixamente. Quando se curva sua saia sobe um pouco e eu engulo
em seco.
_Eu escolho você. – Ela fala simplesmente.
Pisco constantemente sem entender. Não sei se ela está bêbada, apesar
de parecer, ela também parece muito decidida.
_O que? – Pergunto confuso com o coração disparado.
_Eu escolho você, Lorenzo Moretti! Eu quero ficar com você, casar
com você, ter filhos com você! – Ela respira. – Quero ser a senhora Cosa
Nostra.
Paro de respirar. Sofia acabou de se declarar para mim. Não é
possível.
_Está debochando de mim? – Pergunto.
_Não. – Ela faz a volta na mesa e vem na minha direção. – Sempre foi
você. Eu tentei de diversas formas mantê-lo o mais longe possível do meu
coração, tentei detestar a máfia ou mafiosos por causa de você. – Ela suspira.
– Mas eu não consigo mais.
Sofia gira a minha cadeira e fica de frente para mim.
_A verdade é que eu sou irrevogavelmente louca por você. – Ela fixa
seus olhos em mim. – Agora, se não for recíproco, eu volto amanhã para o
Brasil com a minha mãe, nós esqueceremos tudo isso e voltaremos a nos ver
de dez em dez anos, mais, se possível.
Fico em silêncio. Não consigo encontrar a minha voz. Passei tanto
tempo da minha vida querendo ouvir exatamente isso e agora ela
simplesmente vem e joga na minha cara. Fico sem reação. Emocionado e
alucinado.
Sofia entende meu silêncio como uma rejeição. Vejo o exato
momento em que ela me olha com tristeza e começa a se afastar. Bato em
mim mentalmente para acordar desse estupor. Seguro o pulso de Sofia e a
viro de volta para mim. Levanto-me da cadeira ficando mais alto que ela.
Seguro o seu rosto com uma das mãos e faço-a me fitar.
_Eu sempre amei você. – Revelo.
Sofia parece surpresa com a minha revelação. Então decido explicar.
_Na casa da árvore, quando ainda éramos muito jovens eu me declarei
para você e você não correspondeu.
Sofia pisca. Ela fica em silêncio por uns momentos. Então algo como
entendimento passa pelo seu rosto.
_Oh meu Deus, Lorenzo. – Fala e agarra meu pulso que está em seu
rosto. – Foi por isso que você passou a me tratar tão mal depois?
_Eu não conseguia suportar sua amizade depois do seu desprezo com
os meus sentimentos.
Sofia começa a rir.
_Lorenzo, você é louco? – Pergunta debochando. – Eu era só uma
criança, não sabia o que estava acontecendo. Eu já tinha um sentimento por
você, mas como uma simples garota eu tentava renega-lo.
Eu a fito. E percebo que fui um completo idiota, Sofia tem razão.
Éramos dois jovens sem descobrir nada do mundo ainda.
_Eu sinto muito. – Digo.
_Pelo que? – Ela pergunta.
_Por tudo o que já lhe falei e de todas as formas que já lhe magoei.
Seu olhar se suaviza e ela acaricia o meu queixo.
_Vamos deixar nossas implicâncias com tesão enrustido para trás.
Sorrio e a beijo. Planto vários selinhos em seus lábios macios, então
eu abro caminho por eles, minha língua entra em contato com a sua em um
movimento lento e acariciativo. Sugo seu lábio superior e planto beijos pelo
seu rosto.
Ainda me faltam palavras para expressar a minha felicidade. Sinto
alívio pela ferida ser curada, o buraco que a garotinha abriu no menino que
ainda não entendia muita coisa do mundo se fechou. E agora eu entendo, tudo
tem seu tempo. Sofia e eu precisávamos evoluir para chegar aqui. Sorrio da
minha felicidade absoluta, coisa que eu nem sabia ser possível e falo:
_Você é minha.
_Sou completamente sua. Afinal, eu escolhi você.
Agarro o quadril de Sofia e a coloco em cima da mesa, empurrando
todas as coisas para o chão. Colamos nossos lábios, agora o beijo não é mais
delicado e apaixonado, é faminto. Sofia abre os botões da minha camisa e a
empurra. Eu puxo sua blusa pelo pescoço e beijo seus seios por cima do sutiã.
Com muita agilidade consigo abrir a peça e libertar seus mamilos. Sugo cada
um, massageando o bico com a língua. Sofia abre a minha calça e liberta meu
pau. Ela começa um movimento de vai-e-vem com as mãos ao redor do meu
membro, o que me deixa em colapso. Sem delongas, empurro sua saia para a
cintura revelando uma minúscula calcinha de renda branca. Puxo a calcinha
até cair no chão e me posiciono no meio das suas pernas. Sem esperar mais
tempo, penetro Sofia fundo e firme. Ela geme e se atira para trás, deitando as
costas na mesa. Agarro seu ombro com uma mão e com a outro eu pressiono
sua barriga enquanto a penetro repetidamente e freneticamente. Sofia chega
ao seu êxtase me levando junto. Suados e ofegantes permanecemos assim por
um longo tempo, com promessas veladas e silenciosas.
Capítulo dezenove.
Eu escolhi você.

Sofia Reymond.

Olho para o meu apartamento cheio de caixas e começo a sorrir


lembrando da última vez que Lorenzo me possuiu em cima da mesa do seu
escritório, enquanto jurávamos amor eterno. Parece ridículo, mas o amor é
estranho, vem e tira o nosso chão.
Voltei para o Brasil com mamãe no outro dia para pedir demissão e
embalar minhas coisas, Lorenzo insistiu que mandaria alguém para fazer isso
ou que se eu quisesse, ele compraria tudo novo, mas eu fiz questão de vir e
me despedir pessoalmente da vida que eu tinha. É claro que ele me pediu em
casamento. Olho para o anel de diamantes no meu dedo que há trinta anos
Lucco entregou para Amanda, senti-me constrangida ao aceitar o seu anel,
algo que fez parte da sua história, mas ela fez questão que eu aceitasse,
dizendo que na festa de trinta anos de casamento Lucco daria outro para ela e
que ela gostaria que o anel virasse tradição na família, que daqui a trinta anos
eu possa passar para os meus filhos, que dessa forma, o amor improvável dela
e Lucco seguirá por muitas gerações, então eu aceitei de bom grado.
Como as meninas haviam dito, as famílias ficaram em êxtase, agora,
dentro de um mês eu me tornarei Sofia Reymond Moretti. Optamos pelo
casamento adiantado, para que Luna ainda esteja conosco e no outro mês
teremos o casamento dela. Nos próximos dias a sede da Cosa Nostra se
tornará um caos. Não que alguém se importe com isso, pois faz anos que não
tem uma bela festa de casamento.
Olho mais uma vez para o meu antigo apartamento, lembrando da
minha antiga vida. Não me arrependo nem por um segundo, sei que novas
aventuras estão por vir e com elas uma vida cheia de tensão e provações.
Fecho a porta do apartamento e saio sem olhar para trás. Entrego a
chave para o porteiro, me despeço e vou embora. Estou na calçada quando
meu celular toca. Olho o visor e sorrio como uma boba.
_Sim, senhor Moretti. – Digo.
_Está atrasada. – Fala.
_Mil perdões, meu senhor. – Debocho.
Neste momento uma SUV preta estaciona bem na minha frente e
baixa o vidro do banco de trás.
_O seu senhor não lhe perdoa. – Fala o passageiro, vulgo meu futuro
marido.
Esqueci de mencionar como os homens da máfia são possessivos com
a segurança, se eu viria para o Brasil é claro que Lorenzo me acompanharia.
Sorrio e entro no carro, sentando-me ao seu lado.
_Aonde, senhor? – O motorista pergunta.
_Para casa. – Ordena. – Precisamos levar a futura senhora Moretti
para casa.
O carro começa seu movimento em direção ao seu destino.
Ficamos em silêncio por um momento e percebo que Lorenzo está
preocupado com alguma coisa.
_O que foi? – Pergunto para ele.
_Não é nada, é só Luna.
Enrugo a testa sem compreender.
_O que tem Luna? – Pergunto.
_Nada, só estou preocupado com essa união dela com Nikolai.
_Ainda?
Lorenzo se vira para mim.
_Eu acho estranho que Luna e Nikolai parecem se conhecer. –
Permaneço em silêncio, jamais revelarei os segredos da minha futura
cunhada, prima emprestada e amiga de infância. – Eles não se falam desde
que o noivado foi acertado. Nikolai parece implicar terrivelmente com Luna e
o pior...
_Qual é o pior? – Agora estou realmente preocupada.
_Luna debocha! – Lorenzo fala frustrado. Sinto uma imensa vontade
de rir, mas seguro o impulso. – Ela não parece temer Mogilevic.
_E daí?
_E daí? Bem... Ele é um mafioso em potencial, sabe-se lá o que ele
pode fazer com ela se ela o irritar muito.
_Então você não é um mafioso em potencial? – Debocho.
Considerando o nosso longo histórico, Lorenzo não deveria se
preocupar com provocações, já que estou viva.
_Bem, você me entendeu. – Ele suspira e passa as mãos nos cabelos.
– O que eu quero dizer é que eu não estarei por perto para proteger a minha
irmã.
Pego as mãos de Lorenzo e o forço a olhar para mim.
_Primeiro, Luna não precisa de sua proteção, ela tem muito potencial
para cuidar de si sozinha, e segundo, nós sabemos muito bem que essas
implicâncias não são nada mais do que tesão enrustido. – Sorrio,
Lorenzo me olha e suspira.
_Acho que você tem razão, senhora Moretti.
Ele beija meus lábios.
_Eu sempre tenho. – Dou de ombros com indiferença.
Sei que Lorenzo possui muitas razões para se preocupar com esse
arranjo de Nikolai e Luna, mas desde que eu os vi, a forma como ela lutou
para ficar com ele, eu sei que ali existe amor e se ainda não existe, bom, em
algum momento vai explodir e levar os dois às cinzas. Enquanto isso não
acontece, desejo somente sorte à Nikolai, pois Luna sabe ser irritantemente
insistente e indisciplinada quando quer. Sorrio com a imagem dos dois e do
caminho que ainda precisarão percorrer.
Chegamos ao nosso destino. Desço do carro e me surpreendo quando
Lorenzo me pega no colo.
_O que você está fazendo? – Pergunto sorrindo.
_Levando a minha mulher para casa. – Fala.
Ele me leva por todo o percurso em seu colo. Quando entramos
Lorenzo me coloca em uma poltrona, vejo a nova aeromoça, é claro que a
antiga foi dispensada, nem por cima do meu cadáver iria deixa-la viajar
novamente com ele.
Colocamos nossos cintos e aguardamos a decolagem. Quando o avião
finalmente decola, olho pela janela a cidade se distanciando. Quando tudo
vira um nada, olho para o meu acompanhante e percebo que ele me encara.
_O que foi? – Pergunto.
_Eu amo você! – Ele fala.
Admiro-o ainda mais, as dúvidas que eu tinha até uns dias atrás se
dissiparam muito rapidamente, deixando-as para trás eu me vi completa e
perdidamente feliz. Ele é a minha escolha, sempre foi. Somos a continuação
do enlace que Amanda e Lucco tiveram. Nossos destinos sempre estiveram
cruzados. Amanda uniu Moore com Moretti e eu e Lorenzo uniremos Moore,
Reymond e Moretti de uma vez por todas.
_Eu amo você! – Respondo para o verdadeiro e único amor da minha
vida.
Agradecimentos:

Confesso que não esperava por esse livro, em primeiro, visto que,
quando eu criei Amanda e Lucco, o fiz para ser um único volume. No
entanto, eu não poderia terminar a sua história tão inconvencional assim.
Espero que tenham gostado de desfrutar um pouco mais sobre esses
personagens tão queridos. Admito também que estou muito animada e
inspirada para o livro de Luna, o qual determinará o destino final dos nossos
amados personagens.
Quanto aos agradecimentos, este vai exclusivamente para a tia
Sandra que, enquanto esteve presente, nunca deixou de me amparar e
auxiliar, só posso agradecer de ter tido uma tia tão incrível.

Gratidão!

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