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Sofia Reymond possui uma vida normal, passa a maior parte do seu
tempo viajando à trabalho e é disso que gosta. Não possui planos de se casar
ou constituir família. Não quer criar raízes, o mundo é a sua casa.
Lorenzo Moretti é o capo da Cosa Nostra, desde que seu pai Lucco
Moretti se aposentou, entregando o cargo ao seu sucessor. Diferente do pai,
Lorenzo não pretende se dedicar à família. Casamento e relacionamentos não
estão nos seus planos, sua única paixão é a Cosa Nostra.
Sofia e Lorenzo são quase primos, tendo em vista a extensa amizade
das mães, os dois não se suportam desde a infância. No entanto, depois de
dez anos sem visitar a “prima”, Lorenzo precisa voltar ao Brasil e reencontra
Sofia, percebendo que, em algum momento ela deixou de ser uma simples
adolescente e passou a se tornar a mulher mais atraente que ele já viu.
Atrevida e desbocada, Sofia não tem medo do Capo, o que deixa Lorenzo
ainda mais frustrado. Uma viagem, uma aventura e uma única noite é preciso
para que ambos tenham que tomar uma decisão.
Capítulo um.
De volta às origens.
Lorenzo Moretti.
Sofia Reymond.
Lorenzo Moretti.
Já faz meia hora que Sofia saiu por aquela porta e desde então eu não
consigo manter minha mente longe dela. Não sei em qual momento a menina
tímida e desleixada se tornou a mulher mais linda que meus olhos já tiveram
o prazer de ver. E, isso que eu já andei com um número considerável de
mulheres. Tento achar um motivo plausível para estar tão fissurado pela
garota que eu detestava na infância, mas não encontro. Talvez seja a falta de
sexo, só pode ser isso.
Ouço Helena contar alguma história que meu cérebro não consegue
decifrar, tendo em vista que eu estou com a mente em um único lugar. Na
verdade, em uma única pessoa de olhos verdes e longos cabelos pretos. O
mais estranho foi a eletricidade que senti ao apertar a sua mão. Daria meu
cargo para ler os pensamentos de Sofia momentos antes de partir. Vi como
ela estava me cobiçando e, mesmo sem perceber, respirava com a boca
entreaberta. Estava muito sexy, só para registrar. Não sou nenhum jovem
garoto, sei quando uma mulher está com tesão acumulado e, certamente,
Sofia está. Só gostaria de saber qual rumo seus pensamentos estavam
migrando enquanto me comia com os olhos. Infelizmente, não pude deixar de
demonstrar minha satisfação ao ver o seu desejo por mim. Não que eu um dia
vá ter algo com a garota, longe disso. Mulheres próximas da família são um
problema. Uma vez andei com uma das empregadas da nossa residência na
Itália, ela se apaixonou perdidamente, perseguiu até mamãe, precisei manda-
la para bem longe. E Sofia é praticamente da família, isso era para parecer
nojento e estranho, mas as imagens da maldita garota que eu tenho registrado
na cabeça não me deixam pensar assim. Preciso ser sincero comigo mesmo,
eu a desejo, como nunca desejei nenhuma mulher antes, só que diferente das
outras, eu nunca a terei.
_Então, Lorenzo o que acha? – Helena pergunta curiosa.
_Eu... Bem, perdoe-me, Helena, não prestei atenção. – Olho para o
relógio do meu pulso. – Preciso partir.
Levanto-me subitamente, deixo meu copo ao lado do de Sofia que
ainda está no mesmo lugar em que ela o colocou alguns minutos atrás.
_Tudo bem, querido. Já me sinto lisonjeada só de ter tido o prazer da
sua companhia para o jantar. – Dinda Mariáh vem me abraçar.
_Espero a senhora no final do mês na Itália. – Falo.
Pobre do papai, aguentar dinda Mariáh e mamãe juntas, ainda bem
que terei muito trabalho, assim espero. Me solto do seu abraço de urso e vou
até Helena.
_Foi ótimo reencontrá-la, Helena! – Digo para a garota. Abraço-a e
me afasto.
_Digo o mesmo, senhor Lorenzo Moretti.
Dinda Mariáh me acompanha até a porta, me despeço mais uma vez e
saio do apartamento. O motorista com o carro estavam me esperando, como
eu havia ordenado. Em poucos minutos chegamos ao nosso destino. Desço do
veículo e caminho até o local onde o jatinho está me esperando, não sei se
Sofia já chegou, espero que sim, não quero ficar esperando-a. Mas, quando
me aproximo do local do jatinho, lá está ela.
Sofia possui uma aura sensual. Ela está parada com uma mala de
rodinhas ao lado, ela não percebe minha aproximação, pois está muito
concentrada no seu aparelho celular, me pergunto se ela fala com algum
casinho e instintivamente sinto ódio só de imaginá-la com outro alguém. Ela
parece concentrada.
_Vamos. – Digo, agora bem próximo dela.
Ela estava tão concentrada em seu telefone que levou um susto com a
minha voz.
_S-sim. – Gagueja.
_Não quis entrar sem mim? – Pergunto o que está me deixando muito
curioso desde que coloquei meus olhos nela.
Ela não precisava ficar me esperando para embarcar, poderia tê-lo
feito, tenho certeza que ninguém a impediria. Começo a caminhar e Sofia me
segue, puxando a sua mala.
_Bem, seus, hã... funcionários não parecem amigáveis. – Fala.
Paro de andar imediatamente, imaginando uma morte lenta e
dolorosa.
_Alguém fez algo contra você? – Pergunto entredentes.
Sofia enruga a testa e me olha espantada.
_Não, é claro que não. Por quê?
_Nada.
Volto a andar e ela faz o mesmo. Nem fui cavalheiro o suficiente para
pegar sua mala. Ela puxa a bugiganga rosa fazendo um estressante barulho.
Chegamos ao jatinho e eu pego sua mala sem avisar, ela se assusta com o
meu puxão, mas continua em silêncio.
_Quantos dias você vai ficar em Londres? – Pergunto curioso.
_Três.
Pelo peso da mala esperava no mínimo um mês, penso. Subimos a
escada do jatinho e finalmente entramos nele. Entrego a mala de Sofia para
um dos meus homens guardar e indico um assento para ela. O jatinho é claro,
todo bege por dentro. Possui quatro cadeiras de couro. Duas no lado direito e
duas no lado esquerdo, uma de frente para a outra com uma mesa de madeira
no meio. Nos fundos um banheiro e um dormitório. A minha equipe é
composta por dois homens que eu nunca vi, tendo em vista que são os novos
comissários de bordo. Também não conheço o piloto e, claro, Arléte a
aeromoça, a qual me diverte em longas viagens. Falando na diaba... Arléte
tem somente vinte e dois anos. Ela é morena, tem longos cabelos castanhos e
lindos olhos do mesmo tom. A garota é uma das mais safadas que já andei.
Sem privações. Ela é linda e gostosa, não tanto quanto Sofia. Mas, porque eu
estou comparando as duas, mesmo?
Arléte entra na nossa cabine e me dá um sorrisinho sacana. Mas,
quando vê que estou acompanhado, faz, instantaneamente, cara de nojo para
Sofia, o que me irrita. Olho para a minha acompanhante e percebo que ela se
afeiçoou tanto por Arléte quanto esta por ela. Ambas se encaram com ar de
superioridade.
_Senhor, precisa de alguma coisa? – Pergunta ignorando totalmente a
presença de Sofia.
Sinto uma crescente irritação. Arléte nunca pareceu ciumenta ou
possessiva, nosso relacionamento não passa de sexo. Nunca trouxe nenhuma
amante para o meu jatinho. Ignoro Arléte e olho diretamente para Sofia, que
me observa com curiosidade.
_Sofia, quer alguma coisa? – Pergunto olhando no fundo dos seus
lindos olhos verdes.
_Gostaria de uma espumante, se tiver, é claro. – Fala.
_Sim. – Sorrio levemente para ela. – Arlete, por favor.
Minha aeromoça bufa e sai a passos largos para buscar a bebida. Só o
que me faltava, ter que me livrar de Arléte também. Olho para Sofia e ela me
encara com cara de poucos amigos. Mas o que diabos está acontecendo com
essas mulheres. Arléte retorna com a taça de espumante de Sofia, sem falar
nada. Ela pousa o copo na frente da minha acompanhante e, mesmo sem eu
ter solicitado, coloca um copo de whisky na minha frente. Posteriormente, ela
se inclina na minha mesa, quase enfiando os peitos no meu rosto e pergunta:
_Posso lhe ser útil em mais alguma coisa?
Ouço Sofia bufar ao lado. Arléte está marcando território.
_Não, obrigado! – Falo sem nem olhar para ela.
Detesto essa birra ridícula, mesmo que eu não tenha nada com Sofia.
Pensei que Arléte fosse mais madura. Infelizmente, terei que me livrar dela
assim que pousarmos em Londres. Não gosto de mulheres possessivas na
minha volta e essa falta de respeito eu não irei tolerar. Arléte se afasta de cara
amarrada, só dando ainda mais ênfase para me livrar dela.
_Então... – Começa Sofia me fazendo prestar atenção nela. – Você
transa com quase todas as suas aeromoças? – Termina a pergunta de forma
irônica enquanto beberica a sua espumante.
Me sinto igualmente irritado com Sofia, quem ela pensa que é para
dar pitaco na minha vida.
_Não todas, mas quase. – Retruco.
Ela fica me olhando com raiva. Então, sem mais e nem menos, vira
toda a espumante do copo de uma só vez.
_Vou dormir, antes que eu entre para essa sua listinha também.
_O que? – Grito sem querer.
Minha voz sai mais descontrolada do que eu esperava.
_Bem, pelo visto você possui um certo fetiche em manter relações
sexuais no céu. Não quero entrar para a lista e também não quero ouvir
gemidos. Portanto, boa noite, senhor Moretti.
Aí está a jovem Sofia, a mesma menina que eu lembrava, atrevida e
metida.
_Não se preocupe, senhorita Reymond, você não faz o meu tipo. –
Falo. Tudo bem que eu estou com uma ereção só de estar observando a forma
como os seus peitos ficam na sua decotadíssima blusa, mas ela não precisa
saber disso.
Sofia levanta abruptamente do seu acento semicerrando os olhos.
_Graças a Deus. – Dito isso, deita-se novamente e coloca um tapa-
olho de gato.
Mas, o que? Graças a Deus! Essa garota só pode estar brincando. Na
verdade, ela fala isso porque nunca transou comigo. Todas as mulheres que o
fizeram, quiseram repetir. Como Sofia Reymond ousa se desfazer dos meus
desejos. O filho da puta do meu pau pulsa ainda mais na calça, pressionando
o tecido urrando por libertação. Eu poderia ir atrás de Arléte e me satisfazer,
mas sinto que não é bem isso que ele quer. E se eu transar com Sofia somente
para coibir minha curiosidade? Nos veríamos algumas vezes, mas não tantas
depois do fato. Ficamos dez anos totalmente distantes, poderíamos fazer isso
novamente. Não! Não parece uma boa ideia. Tiro esses pensamentos
impróprios da minha mente e me concentro no meu aparelho celular,
tentando não prestar atenção em como os seios deliciosos de tamanho
mediamos da minha acompanhante sobem e descem enquanto ela respira.
Merda! Foco, Lorenzo Moretti.
O jatinho decola. Meia hora já passou desde que Sofia, em tese, está
dormindo. Continuo tentando conter a minha vontade insana de enfiar o meu
pau bem fundo e duro na boceta gostosa dela. Até pareço um garoto de treze
anos que recém está descobrindo os prazeres do corpo humano. Como assim
eu não consigo ficar ao lado da menina mais desbocada e atrevida que eu já
conheci sem ter vontade de transar?!
Um gemido chama a minha atenção. Tiro os olhos do telefone, tendo
em vista que eram somente eles que estavam concentrados no aparelho, visto
que a minha imaginação estava em como seria ganhar um sexo oral de Sofia.
Olho para a cabine de onde eu escutei o barulho estranho. Parece de Arléte.
Solto meu cinto de segurança silenciosamente, saio do meu banco e me
escondo atrás da outra cabine, aguardo alguns instantes, caso gemidos
reverberem novamente, a vadia da Arléte está se divertindo com meus
homens, mas, como capo, não posso dar sorte para o diabo. Qualquer sinal
estranho eu devo ficar em alerta.
Permaneço escondido atrás das cortinas, então, um dos homens
desconhecidos surge segurando uma arma. Vejo o exato momento em que ele
me procura, sua arma está direcionada para frente. Ele parece assustado, e
fica ainda mais quando não me encontra. Espero mais um pouco e quando ele
está próximo o suficiente eu dou um chute bem forte em seu peito arrancando
a cortina da divisória entre as cabines. O homem voa longe e cai de costas no
chão, deixando sua arma cair para o lado. Corro em sua direção e chuto o seu
rosto. Vejo dentes voarem e ele urrar de dor. Junto sua arma que está caída
mais a sua esquerda.
_Quem mandou você? – Pergunto com a arma apontada para ele.
Ele é insistente, permanece calado somente me encarando. Piso nas
suas bolas com força.
_Perguntarei somente mais uma vez. – Falo de forma fria. – Quem
mandou você?
_Bra-bratva. – Gagueja enquanto engole o próprio sangue.
Sem esperar, dou um tiro bem no meio da sua testa. A arma tem
silenciador, o que eu agradeço, tendo em vista que quando cheguei havia
outro homem desconhecido, portanto, preciso caçar o outro inimigo. Olho
para trás e vejo que Sofia continua dormindo, alheia ao que acontece aqui.
Puxo o corpo para dentro da cabine de onde eu saí, que é a cabine ao lado
contrário de onde ele veio. No chão fica um rastro de sangue e um cheiro
forte impregna o ambiente. Retorno e dou mais uma olhada em Sofia, a
garota dorme igual a uma pedra. Entro na outra cabine silenciosamente, vejo
Arléte amarrada e amordaçada. Ela me olha em pânico. Ignoro-a. Continuo
andando. Entro na cabine do piloto e vejo-o tranquilamente pilotando,
provavelmente alheio ao que acontece aqui. Não encontro o segundo
indivíduo, mas seu desaparecimento confirma que está junto com o primeiro.
Estou revistando cada canto de dentro desse avião quando escuto Sofia arfar.
_Mas o que? – Ela parece assustada.
Saio quase que correndo em sua direção. Quando entro, consigo vê-la
espantada olhando para o homem que está quase tocando nela. Ele está com
ela em sua mira. Não penso duas vezes e então atiro nas suas costas bem no
meio do seu crânio. O corpo desfalecido cai em cima de Sofia, porém, eu não
estava pronto para o que viria depois.
Sofia começa a gritar, tão alto e tão estridente que meus tímpanos
começam a protestar. Corro em sua direção.
_O que foi? Você está bem? – Tiro o corpo de cima dela. E começo a
toca-la. Só que garota não para de gritar.
_Me-meu Deus! – Gagueja. Ela olha fixamente para o morto aos
nossos pés.
_Sofia, olhe para mim. – Pouso a mão em seu queixo e forço-a a me
olhar. – Está tudo bem com você?
Ela parece muito assustada, seus olhos estão esbugalhados e suas
pupilas dilatadas. Vejo o momento exato em que recobra a consciência.
_Se eu estou bem? – Fala incrédula. – Você só pode estar LOUCO!
VOCÊ ACABOU DE MATAR UM HOMEM BEM NA MINHA FRENTE
E PERGUNTA SE EU ESTOU BEM? – Grita.
Ela está em estado de choque ainda. Chuto o corpo para longe. Retiro
o cinto dela e a pego no colo. Como eu imaginava, nada pesada. Vejo rastros
de sangue na sua roupa.
_Me coloque no chão agora! – Esbraveja.
_Irei leva-la até o quarto. – Falo.
Entro no cômodo e a coloco na cama. Ela parece estagnada ainda pelo
choque.
_Nunca viu nenhum morto antes? – Tento descontrair o clima tenso.
_Você é um P-S-I-C-O-P-A-T-A! – Soletra. – Acha que eu não optei
por medicina porquê? Porque eu tenho PAVOR de sangue, seu idiota! O que
você está pensando?!!!!
Certamente, um claro sinal de choque. Ela não fala nada com nada.
Sento-a na cama e me sento ao seu lado.
_Sofia, por favor! Me deixe explicar. – Tento falar, mas sou
interrompido.
_Porque, meu Deus, porque eu resolvi vir de jatinho particular? Aí,
acho que vou vomitar, não, vomitar não, acho que vou desmaiar.
Sofia volta a falar coisas desconexas e aleatórias em claro estado de
pânico, preciso que ela foque em mim para que eu possa explicar, mas a
garota está me atordoando, então eu faço a coisa menos improvável e
provavelmente a maior besteira que farei em toda a minha vida. Puxo Sofia
para perto de mim e colo meus lábios nos dela. Ela parece assustada no
começo, mas corresponde o beijo momentos depois. Enrosco minha mão nos
seus cabelos da nuca, para que ela se cole ainda mais a mim. Forço-a abrir a
boca e enfio minha língua, fazendo movimentos circulares. Seus lábios são
macios e ela tem um gosto doce de espumante. Seu beijo é cálido e pávido ao
mesmo tempo. Mordisco seu lábio interior, fazendo-a gemer. Meu pau
pressiona ainda mais a minha calça querendo atenção. Antes que eu faça
ainda mais merda, tenho um surto de sanidade e me afasto de Sofia.
Ela me olha com os lábios vermelhos e os olhos embebedados de puro
desejo. Forço meu autocontrole para não atira-la na cama e comer ela até
Londres. Coço a garganta.
_Agora que está mais calma, na porta à direita, tem um banheiro pode
tomar um banho e trocar de roupa nele. Resolverei algumas coisas e retorno
para conversarmos.
Ela ainda parece estar em outro planeta, mas consegue proferir:
_O-ok.
Saio apressado do quarto. Mas, que porra eu acabei de fazer? Eu
beijei Sofia Reymond, e sabe o que é o pior? O pior é que eu não me
arrependo nem um pouco, pelo contrário, meu corpo anseia por mais. Estou
completamente fodido.
Capítulo quatro.
Desejo.
Sofia Reymond.
Lorenzo Moretti.
Sinto a tensão de Sofia assim que Dante fala. Busco no meu cérebro
algum indicio de qual seria toda essa preocupação e não encontro nada. Ela
não pareceu intimidada com o restante dos meus homens, mas parece com
ele.
Dante não parece reconhece-la, mas quando ela se vira, tão
lentamente que até uma lesma o faria mais rápido, algo em seus olhos
brilham.
_Sofia Reymond. – Ele sorri embasbacado.
Meus instintos mandam eu me aproximar dela, e assim eu o faço.
Levanto instantaneamente da mesa e caminho até Sofia. Coloco meu braço
possessivamente em sua cintura. Ela parece relaxar um pouco.
_Dante Cavalcante. – Sua voz parece retornar.
_Nossa! Uau! Você está maravilhosa! – Ele exclama e olha
descaradamente todo o seu corpo, analisando cada curva que esse maldito
vestido faz questão de deixar a mostra.
Sinto uma intensa vontade de sacar minha arma e dar um tiro no meio
da sua testa. Mas antes, preciso dos relatórios. Ele continua analisando Sofia.
Quer saber? Que se danem esses relatórios. Eu vou mata-lo!
_Que porra está acontecendo aqui? – Pergunto estupidamente irritado.
Dante finalmente olha para a minha mão possessivamente segurando
Sofia e um lampejo de raiva passa por seus olhos.
_Oh! – Ele finge surpresa. – Sofia não lhe contou? Bem, nós
namoramos na faculdade. – Ele passa por mim, indo em direção à mesa do
escritório. – Eu tirei a virgindade dela. – Ele fala, como se fosse um segredo,
mas alto o suficiente para que todos escutassem.
Sofia enrijece o corpo.
Faço uma análise mental e decido por mata-lo, após saber sobre o
relatório.
_Mas enfim... Sofia, como você tem passado? – Ele pergunta, agora
sentado na mesa.
_Perfeitamente bem, e você? – Percebo que ela está possessa de raiva.
Se nenhum dos dois me contar o que exatamente aconteceu para todo
esse ódio, terei que descobrir por meus próprios meios.
Não posso nem pensar em Dante tocando Sofia, só de imaginar que
ele a possuiu pela primeira vez, é como se todo o meu corpo virasse chamas
de puro ódio, não faço a mínima ideia do que é esse sentimento possessivo
que eu estou tendo, mas decido de imediato que não gosto dele.
Dante sorri para a resposta afiada de Sofia.
_Tem notícias da Ellen? – Pergunta com tom zombeteiro.
Sinto o corpo de Sofia, ainda colado ao meu, começar a tremer.
Então, sem esperar, ela joga o copo de espumante que estava em sua mão na
testa de Dante. Vejo como se fosse em câmera lenta, o copo voando,
derramando todo o líquido em seu terno bem passado e acertando sua testa. A
taça cai no chão e se quebra. Ele se pisca todo e coloca a mão no lugar onde o
objeto o acertou.
_Mas que porra você fez? – Ele se levanta furioso. Um belo
hematoma já está visível. Sangue começa a escorrer da sua testa.
Fico estagnado no lugar sem conseguir me mexer em choque, Sofia
acabou de jogar um copo de espumante em um mafioso, sem pudor algum.
Essa mulher é completamente insana.
_Com licença. – Sofia fala. – Irei buscar mais bebida.
Ela se afasta de mim, dirigindo-se até a saída e batendo à porta com
tanta força, que apesar da música alta da boate, tenho certeza que todos
puderam escutar o estrondo.
Olho para Cavalcante que observa a porta fechada.
_O que foi isso? – Exijo respostas.
_Um término conturbado. – Ele fala enquanto esfrega a testa. Agora
com um galo em tons roxeados e uma mancha de sangue.
Apesar de suas poucas palavras, eu sei que é mais do que somente um
término conturbado. Puxo meu celular da calça e envio mensagem para
mamãe, contando o ocorrido e perguntando se ela sabe o que aconteceu.
Enquanto a resposta não vem, volto minha atenção para o homem que
matarei em algumas horas.
_Quero os relatórios. Agora!
Estou sem paciência e, apesar do jeito egocêntrico de Dante, o capo
dessa porra sou eu e ele é meu subordinado.
Passo a próxima meia hora ouvindo tudo sobre o que anda
acontecendo na boate e quais os passos conseguimos acompanhar da máfia
russa. Esse inferno de máfia é uma pedra no nossos sapato, brigas e
rivalidades passadas de pai para filho.
_Então, você e a Sofia? – Dante pergunta tentando fingir indiferença,
mas com curiosidade demais para quem não se importa.
_Não é da sua conta! – Respondo rispidamente.
Levanto-me do meu assento e saio do escritório. Já faz meia hora que
Sofia saiu, por mais que ela esteja totalmente protegida dentro desta casa, não
confio em ninguém perto dela. Tento entender o que está acontecendo
comigo, mas, sinceramente, eu já desisti. Só Deus sabe o que meus instintos
primitivos que eu nem sabia que eu tinha estão gritando.
Caminho pela boate com as pessoas abrindo caminho para que eu
possa passar, ninguém ousa olhar muito tempo para mim, é meio ridículo,
mas é uma boa fama, uma que manteve nossa máfia de pé por tanto tempo,
tema o capo e temerá a máfia toda, este é o lema. Começo a ficar inquieto
sem saber onde aquela louca se enfiou, quando a vejo dançando colada com
um brutamontes. Não conheço o cara que enrosca seu corpo tão sensualmente
ao dela. Nas suas calças eu consigo ver uma visível ereção. Paraliso de ódio.
Eu vou mata-lo. Dado o meu surto, caminho apressadamente para perto dela.
Puxo seu braço furiosamente.
_Aí! O que você pensa que está fazendo? – Ela pergunta irritada.
Claramente gostando de toda essa exibição.
_Temos que ir.
Olho furiosamente para o homem que estava a pouco tempo de pau
duro perto dela. Se meus olhos soltassem raios, ele já estaria morto. O
homem percebe o perigo, pois começa a se afastar como um gato,
silenciosamente e calculando cada movimento, como se a qualquer momento
uma bala fosse parar no meio de sua testa. Puxo Sofia comigo até meu
camarote. Ela tenta, por diversas vezes, se afastar do meu aperto em seu
braço, mas eu não deixo. Assim que chegamos ao camarote, eu a solto, está
somente nós dois. O meu camarote é exclusivo, eu tenho visão privilegiada
de tudo o que acontece em toda a boate, mas os vidros não permitem que as
pessoas vejam o que eu faço aqui.
_O que você pensa que está fazendo? – Ela pergunta furiosa.
_O que você pensa que está fazendo. – Rebato. – Não sabe que essa
boate está entupida dos piores seres que já pisaram na terra?
_Incluindo você? – Ela pergunta sarcasticamente com os braços
cruzados.
_Incluindo a mim. – Confirmo.
Não posso negar, certamente, meu lugar no inferno a minha espera. Já
matei e torturei tantos homens que não sou mais capaz de contar.
Sofia bufa e se afasta, ela caminha até o frigobar que fica ao canto e
retira uma garrafa de espumante. Observo descaradamente suas curvas em
sua roupa indecente. Uma coisa nenhum homem em sã consciência pode
negar, ela é gostosa pra caralho. Caminho até o vidro e observo as pessoas
dançando embaixo de nós, muitos aqui alheios ao que realmente acontece
dentro dessas paredes. Agora que possuo meus relatórios, não faz mais
sentido ficar, podemos ir embora.
_Vamos embora. – Falo.
_Não vamos não. – Sofia retruca.
Viro-me lentamente para ela, a fim de esgana-la. Ela está sentada no
sofá de couro virando uma garrafa de espumante direto do gargalo, em visível
estado de leve embriaguez. Começo a caminhar em sua direção, tendo a
pretensão de cumprir minha promessa, quando a porta se abre. Paro no lugar
colocando a mão no coldre da arma. Ninguém entra no meu camarote de tal
forma sem pedir permissão, Sofia percebe algo errado e se encolhe no sofá.
Cavalcante aponta me fazendo bufar de raiva pela interrupção.
_Como ousa. – Começo a esbravejar.
_Desculpa, chefe, mas tem algo que você precisa saber. – Ele me
corta.
_Entre.
Sofia olha para Dante de canto de olho e vira ainda mais a garrafa de
espumante, ela parece ainda mais irritada. Ele entra na sala e me entrega seu
aparelho celular, vejo a imagem de um homem sendo torturado pelos meus
homens. Ele chora e implora por sua vida, meus homens continuam
dilacerando sua pele, quando ele confessa o que eu já sabia, Nikolai é o
mandante do atentado contra meu jatinho. Eu não precisava dessa
confirmação, ninguém além de Nikolai seria louco de tentar matar o capo da
Cosa Nostra, pior do que eu, só meu pai e ele faria questão de vingar minha
morte. Entrego o aparelho para Cavalcante, tento controlar minha raiva,
momento em que, meus olhos se cruzam com Sofia e isso parece me relaxar.
Ter alguém para me lembrar da família que eu tenho e que tanto prezo, me
faz pensar com mais cautela.
_Era a confirmação que precisávamos. – Digo, por fim.
_Sim. Ordens para agir? – Ele pergunta.
Agir significa matar alguém importante para Nikolai.
_Por ora, não. Irei elaborar algo pior do que simplesmente agir.
_Ok.
Dante olha para Sofia e dá um sorrisinho, ela grunhi de ódio e ameaça
atirar a garrafa nele. Depois da brilhante pontaria com a taça, a qual está
evidente em sua testa, eu não me arriscaria a sofrer um traumatismo craniano
com a garrafa. Minha paciência se esgota. Puxo Cavalcante pelo pescoço e o
grudo contra a parede. Ele parece surpreso com o meu ataque e Sofia solta
um gritinho.
Viro o meliante de frente para mim e o esgano com força.
_Você vai parar de ser um bosta, fique longe da Sofia, entendeu? –
Grito com ódio. – Ah não ser que prefira dois tiros no peito e um na testa.
_S-sim. – Ele tenta pronunciar em meio a falta de ar.
Conto mais alguns segundos e antes que o seu cérebro desligue eu o
solto, ele cai aos meus pés segurando o pescoço, tentando sorver o máximo
de ar que consegue. Me viro e olho para Sofia, ele me encara boquiaberta,
ainda agarrada a garrafa.
_Vamos embora!
Sem nem pestanejar, Sofia cola a garrafa no peito, levanta do sofá e
passa por mim em direção a porta da saída. Essa noite já deu o que tinha que
dar. Sigo minha acompanhante de perto. Passamos pela multidão que dança
concentrada no ritmo da música. Aceno para meus seguranças, Sofia empurra
a porta e eu sinto o clima da rua. Não demora para que meu carro chegue e
nós vamos em direção ao nosso hotel. Mantivemos silêncio em todo o
percurso, pois Sofia ficou mais entretida esvaziando a garrafa. Quando
chegamos ela disparou direto para o banheiro. Eu caminho até o bar e sirvo
uma dose de whisky. Não percebo o passar das horas, fico perdido em meus
pensamentos, me imagino matando Nikolai de diversas formas que eu nem
sabia que seriam possíveis. Meu celular apita com uma mensagem de mamãe:
Dante Cavalcante foi o primeiro namorado e primeiro homem na
vida da Sofia, eles ficaram juntos por algum tempo, até que ela descobriu
que ele estava traindo-a com sua colega de quarto, Ellen. Sofia ficou
devastada, sofreu por meses. Sua madrinha ficou realmente preocupada
com ela na época, mas a menina deu a volta por cima e hoje é essa mulher
linda e determinada.
Aperto o celular com raiva, imaginei que algo sério havia acontecido
entre os dois, mas imaginar Cavalcante tirando a inocência de Sofia me irrita
de uma forma inimaginável. O desgraçado ainda teve a cara de pau de
perguntar por essa tal de Ellen. Agora entendo todo o descontrole dela.
Minha arma esquenta no coldre da cintura, solicitando três tiros. Me
arrependo instantaneamente por ter sido tão clemente com ele. Meu celular
apita novamente:
Risos. Estou muito orgulhosa da minha sobrinha/afilhada. Queria
assistir o babaca com a testa roxa. Seu cuidem. Amo vocês!
Mamãe parece dividir o mesmo ódio que eu. Estava tão absorto em
minha raiva e autopunição pelo meu ato de piedade que não vejo quando
Sofia sai do banheiro, quando me viro, vejo sua silhueta deitado na cama.
Faço o mesmo que ela, vou para o banheiro, preciso de um banho bem gelado
para apaziguar o ódio pelo meu inimigo e o fogo por ela que corre em minhas
veias.
Capítulo seis.
De mal a pior.
Sofia Reymond.
Lorenzo Moretti.
Sofia Reymond.
Acordo com braços ao meu redor. Olho para o lado e vejo Lorenzo
abraçado em mim dormindo profundamente. Eu até poderia ficar furiosa, mas
depois de ontem, não faz mais sentido ele dormir no sofá. Vejo que dormi
durante todo o restante da tarde e da noite. Olho para cima e suspiro.
Provavelmente em breve Enrico estará batendo na porta para me buscar.
Observo o rosto do homem que mal entrou na minha vida novamente e já está
machucando o meu coração, ele está em um sono tão sereno que, olhando-o
assim é difícil de imaginar as atrocidades que ele já fez. Puxo meu braço e
lentamente arrasto minha mão pelo seu peitoral. Ele deve treinar e malhar
muito em casa, esses músculos não se desenvolvem em pouco tempo de
treinamento. Lorenzo é uma bela mistura de Amanda e Lucco quando eram
mais jovens, apesar dele ser mais parecido com o pai fisicamente, alguns
pontos da sua personalidade se revelam da mãe. Sempre julguei mentalmente
Amanda por abandonar sua profissão por um homem, mas olhando Lorenzo
assim, uma parte minha cogita entende-la. Balanço a cabeça tentando nublar
estes pensamentos, diferente de Amanda e Lucco, eu e Lorenzo não nos
amamos, isso é somente carnal, sexo casual. Continuo arrastando minha mão
até chegar ao cós da sua cueca, ele está com uma bela ereção matinal. Penso
qual seria a sua reação se ele acordasse comigo em cima dele. Talvez pense
que eu seja uma ninfomaníaca. Mas, pouco me importa, logo não estaremos
mais juntos.
Levanto da cama e puxo o lençol, sua ereção está mais que evidente
na cueca. Puxo o tecido para baixo deixando-o desnudo, libertando seu
majestoso membro, só a visão já me deixa molhada. Lorenzo continua
dormindo, alheio ao que eu estou prestes a fazer. Então, coloco meus joelhos
um de cada lado do seu corpo, agarro seu membro com a mão e me sento em
toda a sua extensão. Lorenzo geme e abre os olhos. Quando ele percebe o que
está acontecendo, um sorrisinho malicioso se puxa em seus lábios e ele
coloca as mãos na minha cintura, me instigando a subir e descer, e assim eu o
faço. Começo com movimentos mais demorados, depois começo a me
movimentar rapidamente. Ouço meus gemidos ficarem cada vez mais altos.
Então a onda maravilhosa de prazer me arrebata. Lorenzo e eu gozamos ao
mesmo tempo. Deixo meu corpo cair sobre o seu, nossos corações batem
furiosamente juntos e nossas respirações pesadas se misturam. Saio de cima
de Lorenzo e da cama.
_Bom dia! – Digo sorrindo enquanto caminho para o banheiro.
Ele não responde, somente sorri, como se estivesse realizado.
Volto para o quarto após ter tomado um rápido banho e ter feito
minha higiene bucal. Lorenzo ainda está deitado, só que agora com o
notebook no colo. Abro minha mala, retiro uma calça jeans, uma blusa
simples azul e um mule do mesmo tom. Me visto apressadamente, escovo os
cabelos e estou pronta esperando Enrico. Não demora muito e eu ouço
batidas na porta, pego a minha bolsa e me despeço de Lorenzo que fica
concentrado em seu computador.
A loja não era muito distante do hotel, como eu havia imaginado. Vim
no carro com três homens, incluindo Enrico e percebi mais um SUV atrás de
nós. Lorenzo pesou na minha segurança, Amanda ficará orgulhosa, penso
sarcasticamente.
Entro na loja com todos os homens que estavam no mesmo carro que
eu ao meu encalce. Assim que as vendedoras reparam na minha chegada e na
quantidade de guarda-costas que eu possuo, vem correndo me atender. Passo
a próxima hora analisando vestidos e escolho, no mínimo, uns dez para
experimentar. Acabo ficando com um longo vermelho. O vestido é apertado
até a cintura com um decote tomara-que-caia em formato em V, da cintura
para baixo ele é solto, na perna esquerda possui uma longa fenda que sobe até
quase a virilha. Pego um sapato alto dourado para acompanhar. Na hora que
vou passar no caixa, Enrico faz questão de pagar e eu agradeço após ver o
valor. Já que farei um “favor” para a máfia, nada mais justo do que ganhar
um vestido maravilhoso desses.
Retornamos ao hotel tranquilamente, quando chego ao quarto,
Lorenzo ainda está trabalhando em seu computador com uma xícara de café
na mão. Ele me escuta chegar, vira-se para mim e sorri.
_Que bom que voltou. – Fala.
_Como assim?
_Vamos sair para jantar.
_Em qual lugar? – Pergunto curiosa.
_Gordon Ramsay.
Puta merda! Preciso começar a me arrumar agorinha já. Sorrio feito
uma criança e corro para o banheiro, afinal, preciso passar o dia fazendo uma
skin care.
Capítulo nove
Tríade.
Lorenzo Moretti.
Sofia Reymond.
Ser quase morta atropelada não estava nos meus planos de jantar
perfeito. Quase morri ao saber que jantaríamos no famoso Gordon Ramsay,
fiquei tão animada que passei o dia no banheiro fazendo skin care e depois
me arrumando. A comida e o vinho estavam mais que perfeitos, nunca comi
algo tão divinamente delicioso quanto aquela refeição. Mas então, eu tive a
brilhante ideia de fazer a maldita pergunta estragando com tudo. Fiquei muito
decepcionada com a resposta de Lorenzo. Meu coração ficou tão apertado
que eu pensei que sufocaria até a morte. Não sei bem o que eu esperava, mas
não era aquilo, certamente.
Também não sei o que estava na minha cabeça quando praticamente
implorei para que Lorenzo me levasse até o local aonde ele deixou claro que
torturaria alguém. Pensei que se eu o visse como realmente é, esse sentimento
insano se quebraria, só não esperava como as coisas realmente aconteceriam.
Ver a forma como ele ficou furioso e me protegeu dizendo em alto e bom tom
que ninguém ameaça as pessoas que ele ama, fez com que a sementinha do
sentimento germinasse ainda mais dentro de mim. Vê-lo arrancar o dedo do
homem e atirar precisamente não foram nada perto da felicidade que eu
sentia.
Sei que ele fez àquilo mais vezes do que eu consiga imaginar, mas
saber que ele faz não por prazer e sim por necessidade, torna as coisas menos
piores na minha cabeça. Lorenzo e eu somos parecidos em muitos aspectos e
fidelidade é um deles. Não consegui falar nada e não precisei, o beijo disse
tudo, depois nossa noite de sexo disse ainda mais.
Estou dentro do banheiro fazendo meu coque enquanto analiso todas
as coisas que aconteceram nas últimas quarenta e oito horas. Em breve,
teremos que retornar para as nossas respectivas casas e, por ora, não quero
nem imaginar como vai ser longe dessa loucura toda que mesmo sem querer
eu já me acostumei e até mesmo aprendi a gostar. Termino de arrumar os
meus cabelos e me olho no espelho. Eu fiz um belíssimo trabalho. Saio do
banheiro e o olhar de Lorenzo em mim só confirma o que eu havia visto.
Caminhamos de braços enroscados para fora do hotel, meu coração
bate tão forte no meu peito que eu temo que desloque alguma costela. Eu sei
o que preciso fazer, repassamos tudo hoje à tarde. Assim que Lorenzo colocar
a mão na minha perna, está será a minha deixa para ir ao banheiro e me
esquivar pela janela. Se algo der errado, preciso me esconder em qualquer
lugar que não tenha ninguém com uma arma apontada para mim. O terno que
Lorenzo usa é à prova de balas. Sua vestimenta é toda preta, a única coisa que
quebra a cor é a gravata vermelha da mesma tonalidade do meu vestido.
Chegamos ao cassino em poucos minutos. Por fora, o local parece
uma boate sofisticada. Passamos por um segurança que nos olha meio
desconfiado, mas nos deixa passar. Não sabemos se ele sabe quem Lorenzo é,
mas fizemos de tudo para parecer somente um casal com muito dinheiro para
gastar. Já no hall de entrada. Dois seguranças fazem a abordagem, uma
mulher e um homem. A mulher passa as mãos em mim fazendo a revista, ao
não encontrar nada, ela libera a minha passagem. Lorenzo passa pelo mesmo
procedimento com o homem. Olho para a porta e vejo Enrico entrando
abraçado a uma mulher. Só Deus sabe de onde ela saiu. Atrás dele reconheço
mais homens da Cosa Nostra, todos disfarçados e entrando separadamente.
Passamos por uma grande porta mais à frente e finalmente eu posso
ver o cassino. Vejo muitas mesas com gente de todas as etnias sentadas
jogando. Vejo caça-níquéis, roleta, blackjack, poker e outros jogos de fortuna
e azar. O lugar está cheio. Não quero nem pensar qual será o fim de todas
essas pessoas. Lorenzo me conduz até uma mesa no canto onde esperam
fechar a roda de jogadores de roleta. Lorenzo compra meio milhão em fichas.
Ele desabotoa o casaco do terno e senta-se em uma cadeira, eu fico em pé
atrás dele descansando minhas mãos em seus ombros. O funcionário que
comanda o jogo é chinês, o que não me surpreende. Um homem mais velho
se aproxima e se senta de frente para Lorenzo, ele sorri sem mostrar os dentes
para o meu acompanhante. O homem possui olhos azuis, é alto e magro.
Pelas suas vestes parece possuir muito dinheiro. Ao lado esquerdo está uma
mulher ruivael de meia idade. Ela bebe um copo de whisky enquanto analisa
o cassino em busca de algo. Ainda falta um jogador. Enrico se aproxima e
senta ao lado direito, fechando a rodada de jogadores. Cada um empurra suas
fichas. Lorenzo aposta todas elas, o homem mais velho sentado à frente sorri
e empurra todas as suas também. O jogo começa.
Não faço a menor ideia de quais são as regras desse jogo, mantenho-
me na minha posição enquanto Lorenzo e os demais jogam. Vejo uma
chinesa se aproximar do homem mais velho, ela parece ter a mesma idade
que a minha, está com seus cabelos pretos e lisos em um coque, ela veste um
vestido longo preto de um ombro só colado ao corpo, o qual possui uma
fenda na perna direita. Ela me encara com ódio. Encaro de volta, quem ela
pensa é para sair encarando as pessoas assim. Acho que Lorenzo percebe seu
olhar direcionado a mim, já que ele fica tempo o suficiente olhando para ela,
espero que não esteja flertando ou ele será uma das vítimas de hoje.
Não sei exatamente quanto tempo passou, mas meus pés já começam
a doer de ficar tanto tempo em pé com esse salto. O jogo continua e a chinesa
finalmente se afasta, vejo-a ir em direção a saída. Assim que ela some de
vista, Lorenzo me puxa me colando ao seu lado, ele passa a mão na minha
coxa pela fende distraidamente enquanto ainda está concentrado em seu jogo.
É agora, Deus pai me ajude.
Faço conforme o combinado, me agacho lentamente até deixar meus
lábios na altura do seu ouvido, então cochicho.
_Preciso ir ao toalete.
Ele maneia a cabeça concordando, então eu me afasto. Olho todo o
salão. As pessoas estão concentradas demais em seus jogos para constatar a
minha presença. Caminho por entre as mesas, ignorando os olhares furtivos
que alguns homens jogam para cima de mim. Encontro a placa que ostenta o
símbolo de uma mulher, indicando meu destino. Viro o corredor e entro no
banheiro, tentando parecer calma. Vejo duas mulheres lavando as mãos
enquanto conversam, me aproximo do espelho e retiro o batom da bolsa, finjo
estar ocupada retocando, assim que elas saem do banheiro, guardo o batom
de volta e começo a olhar por baixo das divisórias para ver se tem alguém,
com a confirmação de que está vazio eu começo a minha fuga.
Retiro o salto e corro em direção a janela, como estava no projeto, ela
é vasculante e com pouco espaço para um corpo. Terei que trancar a
respiração, ao lado de fora um SUV estará me esperando. Levanto uma perna
para passar quando alguém entra no banheiro me fazendo ter um infarto e
parar na mesma hora. A maldita chinesa me encara enquanto sorri. Puta
merda! Lorenzo me daria dois minutos antes de começar a troca de tiros, eu
preciso sair agora. Ignorando a diabólica menina, tento sair pela janela
rapidamente, mas como um gato a cretina me alcança e me joga no chão.
_Não tão fácil, querida. – Ela fala.
Enquanto me levanto a vadia tira os saltos jogando-os no canto do
banheiro e sorri para mim.
_Vamos brincar. – Diz.
Estou ferrada.
A louca corre na minha direção e me dá um chute bem no meio do
peito, fazendo-me voar e minhas costas encontrarem a parede. Puxo o ar com
força para os meus pulmões. Espero não ter quebrado nada. Lágrimas
pinicam nos meus olhos. Estou em uma enrascada. Não posso sair, pois corro
o risco de levar um tiro e se ficar aqui ela vai me matar. Maldita hora que não
ouvi mamãe e não fiquei nas aulas de defesa pessoal. A chinesa sorri para
mim novamente e vem me atacar, em um lampejo de desespero eu jogo um
dos sapatos em sua direção e o salto acerta bem no meio do seu rosto. Ela
coloca as mãos no local aonde o salto bateu e cambaleia para trás.
_Sua vadia! – Grita de raiva.
E então a merda acontece. Tiros começam a ecoar por todo o local.
Preciso tirar essa asiática do meu caminho. Ela retira a mão do rosto e um
hematoma bem ao lado do nariz aparece. Sangue escorre do machucado. Ela
me olha com ainda mais ódio e dispara em minha direção. Jogo outro sapato
nela sem pensar, só que dessa vez com um só golpe de mão ela se defende
jogando o sapato longe. Meu Deus, ela é uma humana comum ou é o Jackie
Chan disfarçado? Ela vem me acertar um soco bem no rosto, mas eu corro
para o lado desviando, ela acaba socando a parede e urra de raiva e dor.
_Eu vou MATAR você! – Berra.
Corro para a janela, mas ela me puxa pelo vestido me jogando
novamente no chão. Ela vem para cima de mim e me dá um soco no rosto.
Sem pensar duas vezes eu dou um chute na sua bunda com o joelho, como já
vi nos filmes, ela cambaleia, mas continua me prendendo no chão. Ela vai
acabar com o meu rosto. Oh Deus. Em desespero por sobrevivência faço a
única coisa que penso. Enfio minhas unhas no seu machucado do rosto. Ela
grita e sai de cima de mim. Levanto-me apressadamente em desespero, mas
ela me chuta, machucando a minha panturrilha. Viro-me para ela e segurando
a bolsa pela alça, giro ela e a acerto novamente em seu rosto. Isso me dá
tempo o suficiente para correr para a porta, mas quando eu estou quase
chegando ao meu destino ela joga algo nas minhas costas que faz com que o
ar dos meus pulmões saia. Ela me alcança e me segura pelos cabelos.
Esperneio e tento me soltar. Eu sou um desastre, uma presa fácil, não sei
lutar, não sei atirar, não sei merda nenhuma. Mas então ouço três tiros e seu
aperto nos meus cabelos se suaviza. Me viro para ela rapidamente e vejo
sangue em sua testa e peito. Olho para porta e vejo um Lorenzo todo
manchado de sangue e com um olhar mortal.
_Você está bem? Ela machucou você? – Ele pergunta preocupado
vindo até mim.
_Estou bem e você? – Não sei como consigo fazer minha voz sair, vê-
lo coberto de sangue, sem saber se é dele ou alheio me causa arrepios.
_Estou bem. Vamos sair logo daqui, o local virará cinzas em breve.
Concordo com a cabeça ainda me tremendo toda. Junto meus sapatos
e minha bolsa e me agarro nele. Puxo seu braço.
_E-esse sangue. – Gaguejo quando vejo a quantidade.
_Não é meu.
Suspiro em alívio. Um Enrico tão ensanguentado quanto Lorenzo
entra no banheiro. Ele olha para a garota desfalecida no chão.
_Porra! Você matou a filha de Chang. – Fala aflito.
_Agora estamos quites. – Lorenzo fala, parecendo pouco se importar.
_Ou mortos. – Enrico complementa. – Vamos embora daqui, o lugar
vai explodir em breve.
Saímos do banheiro correndo, sinto minha perna latejar aonde a vaca
chutou. Lorenzo parece perceber minha aflição, pois sem informar, me pega
no colo e corre comigo. Entramos no salão e meu queixo cai, agradeço por
estar em seu colo, uma vez que minhas pernas ficaram bambas. O mármore
do chão que pouco tempo atrás estava tão clarinho e limpo virou um rio de
sangue. Corpos para todos os lados, Lorenzo pula por cima deles para poder
passar. Vejo a mesa que estávamos e o chinês que instruía o jogo está morto
em cima dela, junto com a ruiva e o homem mais velho da frente. Tem tantos
mortos aqui que não consigo calcular todas as perdas. Os guardas da porta
também estão mortos. O cheiro de sangue preenche minhas narinas me
fazendo enjoar e tentar segurar o jantar no estômago. Quando finalmente
sinto o ar limpo da rua, um SUV para na nossa frente. Lorenzo me joga para
dentro do veículo entrando junto comigo e Enrico se joga na sua frente. O
carro arranca. Não conto nem três e o prédio todo explode. Fico boquiaberta.
Olho para Enrico.
_Aonde está a sua acompanhante? – Pergunto.
_Morta. – Ele responde tranquilamente.
Fico pasma com a sua frieza. Mas algo me vem em mente. Olho para
Lorenzo que descansa com os olhos fechados.
_Como você sabia que eu ainda estava lá? – Pergunto.
Ele abre os olhos e me encara. Assim, coberto de sangue o azul dos
seus olhos é ainda mais notável, como esse homem consegue ser tão lindo até
mesmo sujo?
_Vi Liang entrando no banheiro.
Liang, então era esse o nome daquela filha da puta.
_Liang? – Pergunto curiosa. Como ele sabe o nome da cretina?!
_Liang era uma das filhas de Chang, o capo da Tríade. Tivemos um
caso há alguns anos. Assim que a reconheci na mesa soube que o plano
estava comprometido. – Ele suspira. – Quando eu andei com ela, não sabia
quem era.
Agora tudo faz sentido, o ódio com que ela me encarou na mesa,
como se me conhecesse de algum lugar, o que é logicamente impossível. Ela
estava com ciúmes de Lorenzo e ela sabia que alguma merda aconteceria.
_Aconteceu algo fora do plano? – Pergunto, tentando ignorar esse
ciúme ridículo que eu estou sentindo de uma mulher morta. Uma mulher que
o próprio Lorenzo matou.
_Sim. O plano deu certo, mas perdi muita gente. Assim que Liang nos
viu, comunicou os outros no rádio e foi atrás de você.
Não digo nada, não tem o que falar. Lorenzo fecha os olhos
novamente, ele parece muito cansado. O plano não ter saído como planejava
o esgotou.
Chegamos ao hotel e entramos pela porta dos fundos para não chamar
a atenção dos hóspedes, usamos o elevador de serviço até o nosso andar. No
quarto, Lorenzo retira o blazer e joga-o no chão ele começa a desabotoar a
camisa. Observo seu peitoral que possui alguns hematomas. Corro em sua
direção e passo a mão pelas marcas arroxeadas de balas que o terno protegeu.
_Você está bem? – Pergunto novamente, olhando para os seus
machucados.
_Sim.
Lágrimas brotam nos meus olhos, não consigo controlar. Vendo essas
marcas, percebo o risco que ele correu. Pensar em perde-lo me faz entrar em
desespero. Solto um soluço e Lorenzo me abraça. Começo a chorar, não me
importando com as lágrimas ou que ele me veja tão vulnerável assim, porque
ver essas marcas me fez cair na real de que eu estou irrefutavelmente e
completamente apaixonada por Lorenzo. Só agora percebo a grandiosidade
do que fizemos, do que passamos. Eu poderia tê-lo perdido, agora que o
tenho novamente, depois de tantos anos. Abraço-o com ainda mais força.
_Está tudo bem. – Ele murmura beijando a minha testa.
Eu sempre o amei, como eu pude ser tão ingênua ao ponto de tentar
negar isso? O ódio que eu supostamente nutria por ele era só um escudo para
esconder o que eu realmente sentia. Só que agora é tarde demais. Não é
recíproco.
_Eu sinto muito. – Falo, quando finalmente cesso o choro.
_Pelo que? – Ele pergunta confuso.
_Por Liang. – Digo.
Afinal, ele parecia chateado. Depois que me contou que eram
amantes, não deve ter sido fácil para ele ter que escolher entre matar a sua
amante ou salvar a protegida dos seus pais.
Lorenzo enruga a testa sem entender, mas não fala nada. Seu silêncio
diz tudo. Quando eu voltar para o Brasil, precisarei encontrar uma forma de
colar todos os cacos do meu coração.
_Vamos para a Itália amanhã. – Ele fala. – Agora que perdi muitos
homens não podemos correr o risco de continuar aqui.
_Tudo bem.
_Agora vamos para o banho.
Lorenzo me arrastou até o banheiro, gentilmente retirou meu vestido e
me conduziu ao chuveiro, ele me fez companhia. Tomamos banho juntos,
retirando de nossos corpos todos os resquícios do que fizemos esta noite.
Após o banho, ele secou os meus cabelos, colocou o meu pijama e deitou
comigo, abraçando-me fortemente, para que eu me sentisse em segurança.
Quando o sono estava quase me consumindo, desconfiei ouvir um
baixo murmúrio.
_Sempre foi você.
Mas eu estava tão inebriada de sono, que não consegui decifrar se foi
real ou não.
Capítulo dez.
Bratva.
Lorenzo Moretti.
Assim que meus olhos pousam na mulher que se aproxima e que, por
sinal, encara mortalmente a minha acompanhante eu sei que vai dar merda.
Sofia parece alheia à presença de Liang. Continuo jogando tentando não
demonstrar pavor, se Liang acionar os seguranças nesse momento, Sofia não
sobreviverá ao ataque, seu vestido não é à prova de balas. Olho para Enrico
como se estivesse analisando meus oponentes, ele faz o mesmo e percebe
minha aflição. Ele sabe agora que algo está errado. Enrico olha ao redor e
reconhece Liang. A desgraçada fica mais um tempo na volta, fulminando
Sofia, e então, se afasta. Eu sei o que ela foi fazer, alertar a Tríade. Não terei
muito tempo. Assim que ela some porta à fora, puxo Sofia e passo minha
mão pela sua fenda, um gesto tão simples, mas que para nós, nesse momento,
tem um grande significado.
Ela se agacha lentamente deixando seus lábios na altura do meu
ouvido e então cochicha.
_Preciso ir ao toalete.
Maneio a cabeça em confirmação como se pouco me importasse com
o fato. Se alguém estivesse concentrado em nossos movimentos, veria que
isso não oferece risco algum. Mantenho minha atenção na roleta. Sofia se
afasta, conto seus passos mentalmente. Ela chegará ao banheiro dentro de
trinta segundos. Mas então, de canto de olho, algo me chama a atenção, para
ser mais específico, alguém. Liang segue Sofia. Merda! Essa vadia
desgraçada.
Conto mais um minuto, assim que a silhueta de Sofia desaparece do
banheiro. Preciso ser rápido e ir salvá-la. Liang vai matá-la.
Quando o tempo mental esgota eu me levanto em um supetão e
começo a atirar. Mato os três da mesa. Não tenho tempo de deixar minha
marca registrada, um tiro terá de ser o necessário. Atiro em suas testas.
Sangue espirra pelo meu rosto e corpo, sujando a minha roupa. Comprar o
segurança que fazia a revista com dinheiro foi fácil, ele não imaginava que se
tratava de uma máfia, mas sim de um homem rico com medo da morte.
Deixou passar meu armamento tranquilamente. Em breve estará morto.
Enrico começa a atirar em todas as pessoas presentes, alguns começam a
correr e a gritar, mas a regra é: matar todos! Todas as pessoas que estão aqui
são viciadas em jogos de azar, acabar com um dos pontos de lucro da Tríade
é o objetivo. Se eu simplesmente resolvesse matar somente os funcionários e
explodir o local, assim que outro cassino inaugurasse, essas mesmas pessoas
voltariam a gastar grandes quantias sustentando a máfia. Tiros me acertam,
mas meu terno impede que perfurem minha pele, mesmo assim dói como o
diabo. Meus outros homens, sentados em pontos estratégicos começam a
atirar. Quando a chacina já está quase no final, um exército de homens
armados entra no local. Foram os reforços que Liang chamou. Puta merda!
Com metralhadores eles começam a atirar. Me jogo para trás da mesa
e Enrico me acompanha. Mas, a maioria dos meus homens que estavam mais
perto são alvejados pelos tiros.
_Agora ferrou tudo. – Enrico comenta ainda agachado.
_Sofia. – É a única coisa que consigo falar e pensar. – Liang está com
Sofia.
_Não temos como ir até lá agora. Eles estão no caminho. – Enrico
parece nervoso.
Quando penso em fazer a loucura de me levantar e correr até o
banheiro, pedindo perdão à Deus pelos meus pecados para conseguir chegar
vivo, algo estranho acontece. Ouvimos mais barulhos de tiros, só não são dos
chineses. Eles parecem tão surpresos quanto nós.
_O que diabos está acontecendo? – Pergunto para Enrico.
_Eu não sei.
Meu pai não mandaria mais homens, ele nem sabe que estamos
metidos nessa merda toda e ele não entraria em uma disputa de força comigo.
Quando se aposentou foi bem claro ao falar que aproveitaria os anos que lhe
restam com a minha mãe, o grande amor da sua vida. Mandou eu me virar e
me manter vivo, pois nessa reencarnação não pretende voltar a ser capo.
Os tiros cessam e um silêncio mortal perfaz, mas então eu ouço um
grito agudo vindo do banheiro. Sem pensar em nada, levanto-me e começo a
correr em direção ao toalete.
_Lorenzo! – Alguém grita.
Forço minhas pernas a parar. Olho para o meu maior inimigo,
segurando uma arma com muitos homens fazendo sua proteção. Que porra
foi que eu fiz pra Deus? Agora eu sou um homem morto. Se eu tenho dez
homens vivos é lucro.
_Nikolai. – Não demonstro medo.
_De nada. – Ele sorri sarcasticamente. Então eu percebo que quem
acabou com a Tríade antes que ela acabasse conosco foi Nikolai.
Não respondo a sua provocação, me mantenho em silêncio, eu prefiro
morrer a agradece-lo por ter salvo a minha vida. Ele sorri, percebendo o rumo
que meus pensamentos estão levando.
_Em breve entrarei em contato para o nosso acordo.
Não digo nada, não há o que dizer. Nikolai tem razão, precisamos do
acordo para sobreviver. Germinamos o ceifador da Cosa Nostra e Bratva,
ambos erramos ao subestimar os chineses e agora estamos nessa merda toda.
Mais um grito chama a minha atenção e sem pensar, volto minha corrida para
o banheiro. Entro no cômodo em desespero. Vejo Liang arrastando Sofia
pelos cabelos. Miro e atiro. Dois no coração e um na testa. Liang afrouxa o
aperto dos cabelos de Sofia, ela me olha assustada com sangue saindo no
canto da boca. Quando me vê seus olhos parecem querer sair da órbita, mas
então Liang despenca desfalecida no chão.
Inspeciono o corpo de Sofia em busca de algum ferimento, mas não
encontro nada visível, vou em sua direção.
_Você está bem? Ela machucou você? – Pergunto para garantir, já
que Sofia parece mais que assustada.
_Estou bem e você? – Sua voz é baixa, quase um sussurro.
_Estou bem. Vamos sair logo aqui, o local virará cinzas em breve. –
Falo.
Sofia pega a bolsa e os sapatos do chão e agarra meu braço com força,
tentando desvendar se eu sou real ou somente uma miragem.
_E-esse sangue. – Gagueja.
Pelo seu desespero, posso só imaginar como eu devo estar.
_Não é meu.
Ela suspira audivelmente aliviada. Enrico corre em nossa direção e
entra no banheiro. Ele inspeciona o local e vê o corpo de Liang.
_Porra! Você matou a filha de Chang. – Fala aflito.
_Agora estamos quites. – Digo.
_Ou mortos. – Enrico complementa. – Vamos embora daqui, o lugar
vai explodir em breve.
Enrico tem razão, não estava nos meus planos matar a filha do capo e
fazer toda a sua atenção voltar para mim. Agora ele vai ir até o inferno a fim
de obter a minha cabeça, mas quando eu a vi com Sofia nos braços, não
pensei, só fiz o que sei fazer de melhor: matar.
Saímos do banheiro correndo, Enrico tem razão, não temos muito
tempo. Sinto Sofia mancar e ter dificuldades em levantar uma das pernas.
Pego-a no colo e a abraço forte. Pulo por cima dos corpos sem olhar para os
lados. O cheiro de pólvora e sangue está muito forte, meu estômago
acostumado não protesta. Depois do que pareceu um tempo interminável
alcançamos a rua, o carro com Federico que estava esperando na janela para
em nossa frente, jogo Sofia para dentro do veículo e me jogo junto. Enrico
faz a volta e senta no banco carona, Federico nem me espera fechar a porta e
já arranca, cantando pneus. Antes mesmo de virarmos a esquina o carro treme
com a explosão que deixamos para trás, clareando o céu e fazendo o alarme
dos carros próximos disparar. Misso cumprida.
_Aonde está a sua acompanhante? – Sofia pergunta.
_Morta. – Enrico responde, entendendo que a pergunta foi
direcionada a ele. Enrico levou uma das prostitutas pertencente a máfia. Além
da boate que a Tríade explodiu, também possuímos um bordel em Londres.
Fecho meus olhos. Estou exausto, a missão foi um fracasso. Perdi
muitos homens e ainda devo a minha vida ao filho da puta do Nikolai, não
poderia ser pior que isso.
_Como você sabia que eu ainda estava lá? – Sofia pergunta, agora eu
sei que ela fala comigo.
Abro os olhos e a encaro. Ele parece aflita, mas eu sei que é somente
a adrenalina que corre em suas veias. Ela está linda, com os cabelos
bagunçados.
_Vi Liang entrando no banheiro. – Digo.
_Liang? – Pergunta curiosa.
_Liang era filha de Chang, o capo da Tríade. Tivemos um caso há
alguns anos. Assim que a reconheci na mesa soube que o plano estava
comprometido. – Suspiro. – Quando eu andei com ela, não sabia quem era. –
Digo a verdade.
Minha história e de Liang foi meio dramática, nos conhecemos em
uma boate aqui em Londres, ficamos juntos em toda a minha estadia, que
durou quase um mês. A garota era fogosa, queria sexo toda hora, eu era
jovem e adorei acompanhar seu ritmo. Apresentamo-nos somente com o
primeiro nome, não investiguei para saber quem ela era e acredito que ela fez
o mesmo comigo. Quando minha estadia chegou ao fim, me despedi dela, só
que ela não aceitou muito bem. Esperneou e implorou que eu ficasse ou a
levasse junto, mas eu não a amava, não poderia coloca-la no meio dessa
merda toda. Anos mais tarde, vi uma foto sua em um noticiário japonês que
relatava a luta da polícia para controlar a Tríade, tendo ela como um dos
membros. Fiquei curioso e obriguei meus homens a investigarem
descobrindo que Liang era a filha mais velha de Chang, o capo da Tríade.
Voltei a encontrar Liang somente hoje e pelo jeito que ela encarou
Sofia, prometendo matá-la só com o olhar, eu soube que ela ainda nutria um
amor platônico por mim e soube também que ela a essa altura do campeonato
já sabia quem eu era. Não queria matar Liang, nunca tive nada contra ela,
além de carinho. Ela era só uma menina inocente e apaixonada quando nos
conhecemos, não pediu para nascer no meio da máfia, assim como eu.
_Aconteceu algo fora do plano? – Sofia pergunta, me tirando dos
devaneios com Liang.
_Sim. – Confirmo suas suspeitas. – O plano deu certo, mas perdi
muita gente. Assim que Liang nos viu, comunicou os outros no rádio e foi
atrás de você.
Fecho os olhos novamente tentando recapitular tudo. Eu não esperava
encontrar Liang cuidando um dos cassinos do pai, nem cogitei a hipótese de
ter alguém tão importante da Tríade aqui. Eles nunca fugiram muito do
continente Asiático.
Entramos no hotel pela porta dos fundos e usamos o elevador de
serviço. Imagino qual seria a reação se algum hóspede visse o meu estado
deplorável. Assim que estamos a sós em nosso quarto, retiro meu blazer que
está colado ao meu corpo empossado de sangue. Jogo-o no chão, pois este vai
diretamente para a lata de lixo. Desboto-o minha camisa com nojo. Vejo os
hematomas das marcas de tiro que levei, se o terno não fosse à prova de
balas, eu provavelmente estaria morto. Sofia corre ao meu encontro e toca
com a ponta dos dedos nos ferimentos arroxeados. Ela olha fixamente para
eles, parece assustada.
_Você está bem? – Pergunta sem me olhar. Seus olhos estão fixos no
meu peitoral.
_Sim. – Digo a verdade.
Durante toda a minha vida já levei machucados piores do que um
simples hematoma arroxeado, tudo bem que essa porra dói como o diabo. É
como se alguém desse um soco muito forte.
Sofia começa a chorar. Olho para ela espantado, sem saber o que
fazer. Não entendo porque ela está chorando, ela me viu torturar um homem,
se eu soubesse que a merda toda de hoje seria tão pesada para ela, jamais teria
a levado junto. Abraço-a, e com esse gesto ela chora ainda mais. Suas
lágrimas molham o meu peitoral. Não sei o que falar, então mantenho-a
assim perto. Sofia me aperta, como se algo em seu peito estivesse
dilacerando-a.
_Está tudo bem. – Murmuro e beijo a sua testa.
_Eu sinto muito. – Ela fala por entre as lágrimas.
_Pelo que? – Pergunto confuso.
_Por Liang. – Diz.
Liang? Sinto minha testa enrugar involuntariamente. O que diabos
Liang tem a ver com isso? Não me senti em êxtase por ter a ter matado, mas
também não me senti completamente mal. Liang queria matar Sofia e eu
jamais permitiria isso. Vê-la com Sofia nos braços, me enfureceu de tal forma
que eu pouco me importei em executá-la. Assim como ao ouvir os gritos,
mesmo após ter ouvido os tiros sem saber de onde vinham ou a quem
pertenciam, a vida de Sofia, naquele momento, era mais importante que a
minha. Eu me sacrificaria por ela e ainda o farei, se preciso for. Eu ainda a
amo, sempre amei.
_Vamos para a Itália amanhã. – Digo, ignorando os sentimentos que
tomam conta do meu peito. – Agora que perdi muitos homens não podemos
correr o risco de continuar aqui.
_Tudo bem. – Ela fala com a voz embargada do choro.
_Agora vamos para o banho.
Conduzo-a até o banheiro, retiro suas roupas e ligo o chuveiro em
uma temperatura agradável. Termino de retirar as minhas próprias roupas e
me olho no espelho. Estou coberto de sangue, meu cabelo está colado na testa
por conta disso. Agora sei o motivo do desespero de Sofia ao me ver, é tanto
sangue que parece ser meu. Entro no chuveiro e começo a ensaboa-la como
um bebê, por incrível que pareça, não sinto vontade de transar com ela, não
que o tesão tenha acabado, longe disso, não sei se algum dia isso chegará ao
fim. Só que no momento, ela parece tão frágil que eu só sinto vontade de
mimá-la e cuidá-la. Sofia é uma mulher forte e imbatível, vê-la assim acaba
comigo. Após o banho, seco o seu corpo, penteio os seus cabelos e tiro o
excesso de água com o secador. Coloco seu pijama e me deito com ela na
cama. Abraço-a apertado, tentando lhe passar o máximo de conforto possível.
Em poucos minutos, sinto a respiração de Sofia ficar pesada e manter
o mesmo ritmo. Analiso seu rosto. Um roxo aparece na sua bochecha, de
algum provável soco que levou, assim como eu vi um em sua panturrilha e
em seu peito. Ela foi muito corajosa hoje e nesses últimos dias, ela seria uma
ótima líder para a máfia, pena que despreza tanto essa “profissão”, não a
culpo, quem não desprezaria?
_Sempre foi você. – Falo, sabendo que ela não pode ouvir, pois está
em um sono profundo.
Se tudo isso fosse diferente, se eu não fosse algo que ela detesta, eu já
teria a tornado minha esposa, já estaria encomendando herdeiros e estaríamos
juntos desde a adolescência, seriamos os únicos um do outro. Ela teria
concordado comigo quando me declarei para ela há quinze anos. Teríamos
ido juntos para a faculdade, teríamos tido uma vida. Mas, a vida é injusta e,
apesar do meu pai ter tido sorte em ter encontrado o amor, eu sou a merda de
um mafioso, não sou abençoado e o meu pecado em terra é não poder ter
Sofia.
Sofia Reymond.
Lorenzo Moretti.
Sofia Reymond.
Faz dois dias que dormi com Lorenzo, depois de ter ido após o jantar
silenciosamente ao meu quarto e ter passado a noite comigo eu mal o vi.
Ontem, mesmo sendo uma idiota ansiosa eu o esperei, até tarde, só que ele
não apareceu. Hoje passei o dia com Luna, que parece tão distante e
pensativa quanto eu. Nikolai Mogilevic o até então, maior inimigo dos
Moretti, vem jantar hoje aqui. Amanda passou o dia organizando cardápio e a
cartilha de bebidas. Lucco ficou trancado no escritório e Lorenzo só Deus
sabe onde. Sobrando somente Luna e eu, não que sejamos companhias boas
uma para a outra atualmente. Estranhamente minha amiga parece pensativa e
abalada, dou um espaço para ela, sei que deve estar com medo. Afinal, se
algo der errado, toda a sua família pode ser morta. Tento não pensar nisso.
Não posso ousar pensar. Dei o espaço que Luna precisava. Tomamos banho
de sol na beira da piscina em silêncio e até mesmo almoçamos em silêncio.
Depois disso, cada uma seguiu para os seus aposentos afim de tirar um
cochilo da tarde, só é claro que eu não preguei o olho. Agora estou aqui, de
banho tomado, cabelo escovado, com um conjunto xadrez de saia e top e uma
sapatilha. Resolvi me vestir bem para jantar com Luna, sei o quanto é difícil
para ela ser escanteada sempre para a sua segurança. Ademais, queremos tirar
fotos do nosso jantar na sua sacada de frente para o mar.
Pego meu telefone e me dirijo para os aposentos de Luna, bato na
porta e aguardo.
_Entre. – Ouço-a gritar.
Entro no quarto e não a vejo em lugar nenhum. Luna está no banheiro.
Observo o seu dormitório. O quarto de Luna é quase do tamanho do meu
apartamento. Uma cama King size cheia de almoçadas floridas com uma
colcha rosé fica ao canto. Uma cabeceira almofadada branca ocupa quase
toda a parede. Aos lados da cama há dois criados-mudos em estilo retrô com
abajures floridos. Na outra extensão do quarto vejo uma penteadeira, repleta
de cosméticos e maquiagens em cima. E ao lado um armário. Nele eu vejo o
presente que Lorenzo trouxe para ela de Londres e sorrio. No canto tem uma
entrada que da para seu closet e ao lado a porta do banheiro. O quarto é todo
branco com esses detalhes em rosé, no meio tem um tapete peludo branco e
de frente para a porta de entrada, uma enorme porta/janela de vidro que dá
para a sua sacada. E a vista é de tirar o folego. Caminho até a sacada. Vejo a
mesa posta, com espumante e vinho. Me escoro no parapeito e observo a
extensão do mar. Por mais que eu ache isso aqui uma prisão, eu viveria
tranquilamente aqui, só para ter o privilégio de observar essa vista todos os
dias.
_Então, como estou? – Ouço Luna atrás de mim e me viro.
Fico estacada no lugar. Ela está simplesmente perfeita. Na verdade,
perfeita não é a palavra certa. O que é injusto com o restante da população
feminina.
Luna está com um vestido preto longo. A parte de cima forma um
corpete preto transparente com alças, a saia longa é em tule transparente. Ele
é perfeito. E com o corpo que ela está, parece uma deusa. Nos olhos, uma
sombra dourada realça ainda mais o seu olhar. Os lábios estão pintados de
vermelhos. O penteado foi o menos elaborado, Luna deixou as madeixas lisas
até a cintura.
_Luna... Meu Deus... – Fico sem palavras.
_O que foi? Exagerei? – Ela se vira para o enorme espelho que tem na
parede que eu só percebo agora.
_Exagerou, querida? Você quer matar algum homem do coração
hoje? – Pergunto com sarcasmo, mas sendo completamente sincera.
_Bem... Sim... – Ela sorri.
_Como assim? – Pergunto, tentando entender o que está acontecendo.
_Nós não vamos jantar na sacada excluídas, vamos descer e degustar
da companhia.
Fico boquiaberta olhando para ela.
_Luna, você enlouqueceu? Lorenzo vai matar nós duas. – Santo Deus,
me ajude. Começo a rezar silenciosamente.
_Não se preocupe com Lorenzo, eu me resolvo com ele depois. Agora
vamos degustar de uma bebida, você está muito tensa.
Luna passa por mim e percebo que ela colocou um salto fino. Ela não
parece estar preocupada com a ira do pai e do irmão. Tirando uma garrafa de
espumante do baldinho, ela nos serve, me entregando uma taça. Viro todo o
líquido de uma só vez, imaginando o escândalo que está por vir.
_Então, você quer conhecer Nikolai? – Pergunto.
Luna dá uma risadinha.
_Há coisas sobre mim que ninguém sabe.
Fico sem entender ainda mais, já me sentia perdida antes, agora a
situação piorou.
_Você quer simplesmente descer? – Pergunto.
_Sim, mas vamos esperar mais um momento. Desceremos em quinze
minutos, assim dá tempo de os homens conversarem. Suponho que Nikolai já
esteja aqui. – Fala.
_Acredito que sim, ao menos a movimentação toda na casa faz
parecer que sim.
Repasso mentalmente o que Luna disso, sobre ninguém conhece-la.
Cogito a hipótese dela e Nikolai se conhecerem, mas descarto. Luna não sai
de casa, não possui redes sociais. Nem sei se ela mesmo possui fotos em seu
próprio celular, nem seu WhatsApp possui foto de perfil. Tudo isso para
proteger sua identidade e privacidade. E foram coisas simples assim que
mantiveram sua segurança por todos esses anos.
Lembro de Lorenzo comprando lembranças para ela de lugares,
apesar de Luna ter o que bem entende aqui, ela não possui e nunca possuiu o
mais importante: liberdade.
_Agora nós podemos descer. – Ela fala.
Luna vira a taça toda de espumante, enche, e vira novamente. Seja lá
o que ela planeja fazer, parece estar buscando coragem através da bebida.
_Eu não faço a menor ideia do que você planeja, mas por favor, não
faça besteira.
Ela me olha de soslaio e dá um sorrisinho diabólico.
Que Deus tenha piedade de nós.
Saímos do quarto de Luna e eu começo a tremer, enquanto ela
mantém uma máscara impassível e uma segurança invejável eu começo a
oscilar. Descemos as escadas em silêncio, quando estamos prestes a entrar na
sala eu escuto vozes alteradas e sinto meu pouco autocontrole sumir.
_Ouso dizer que você possui dois filhos, senhor Moretti. Acredito que
a única forma de construirmos um pacto seguro seria dar a mão da sua filha
em casamento a mim, mesmo que eu não a conheça. – Essa voz, eu a
conheço. Nikolai.
_Você vem até a minha casa para dizer um absurdo desses? Ou é
completamente insano ou quer morrer. – Lucco fala, tão frio quanto um
iceberg.
_Não estou impondo isso, só vejo como uma solução. E, eu devo ser
insano mesmo em querer me casar com uma mulher que nem conheço. Ela já
é mulher, não? – Nikolai pergunta.
E é neste exato momento que Luna resolve entrar impotente e
avassaladora, comigo ao seu encalce parecendo um cachorro acuado prestes a
fugir. O olhar de Nikolai pousa em Luna e ele parece surpreso e encantado. A
tensão se estende no ar, fazendo até meus braços se arrepiarem.
Então Nikolai faz a coisa mais improvável. Ele olha para Luna de
forma inquisidora e fala:
_Você!
Capítulo quatorze.
Pacto.
Lorenzo Moretti.
Sofia Reymond.
Lorenzo Moretti.
Essa última semana foi uma loucura. Mal tive tempo de dormir desde
que chegamos à conclusão de que realmente Mogilevic não parece oferecer
nenhum perigo para a minha irmã, caso houvesse uma porcentagem disso,
desde que muito pequena, eu lavaria ela para longe, mesmo contra a sua
vontade.
Entrei em contato com o meu futuro cunhado para acertar a data do
casamento, que ocorrerá daqui a dois meses, ainda estamos decidindo se na
Itália ou na Rússia. Luna não vai ir antes de estar com o sobrenome
Mogilevic ao lado do Moretti, algo que eu nunca pensei ser possível, ambos
na mesma pessoa e, no futuro, nos filhos, meus sobrinhos.
Mal tive tempo essa semana de ver Sofia, a não ser por conversas
informais durante as refeições, não consegui ir nem ao seu quarto. A última
vez que eu a vi por mais de alguns segundos foi quando estava conversando
na piscina com a minha mãe, senti seus olhos me rondarem por alguns
momentos, mas depois que ela começou a conversa pareceu tensa e até
mesmo triste, mas quando questionei em uma conversa silenciosa ela
somente negou. Desde então, mais nada aconteceu.
Não me permiti lamentar sua partida que acontecerá em dois dias, eu
simplesmente tentei ignorar esse fato e colocar em um canto remoto da minha
mente. Sofia não me ama e nunca me amou, já fui humilhado me declarando
para ela no passado, não farei isso novamente, mesmo que me doa, que me
corroa por dentro. Eu só simplesmente vou deixa-la ir, afinal, sou algo que
ela rejeita e isso eu nunca poderei mudar. Suspiro audivelmente, estou
exausto. Os últimos dias foram cansativos. Caminho em direção ao jardim, a
lua está linda hoje, preciso de alguns segundos de paz antes que eu exploda.
Chego ao jardim e encontro Sofia sentada na escada da casa da árvore
observando a lua. O que me surpreende, pois não esperava encontrá-la aqui.
Meu coração falha uma batida. Me aproximo dela silenciosamente, mesmo
sem me olhar ela parece estar ciente da minha presença.
_Já vivemos tantas coisas nessa casa da árvore. – Ela fala quebrando o
silêncio.
_Já. – Concordo.
Não falarei que foi nesta casa que lhe entreguei o meu coração e
mesmo estando pisoteado eu o tomei de volta.
_Sabe... – Ela me olha. – Eu gostava dos nossos dias aqui, antes de
tudo.
Percebo que o antes de tudo que ela fala foi quando éramos melhores
amigos.
Eu não respondo, não há o que responder e eu não quero entrar nesse
assunto. Já foi muito ruim eu tê-la deixado entrar no meu coração novamente
depois de tanto tempo e já fazer tanto estrago, eu sou a porra de um mafioso
frio e calculista e ponto.
_Amanhã eu terei uma reunião feminina com a sua mãe e o restante
das mulheres da máfia, não sei bem o que é. – Ela fala.
_Uma vez por mês mamãe se junta com as damas para jogar cartas e
beber. – Respondo.
_Bem... Parece animador.
_Se você acha animador acordar no outro dia com ressaca, até pode
ser.
Ela gargalha.
_Sua mãe acorda com ressaca? – Pergunta.
_Seja lá o que as mulheres bebem, a sede da máfia fica estranhamente
silenciosa no outro dia do carteado.
Sofia sorri, parecendo gostar da ideia.
_Sua mãe que inventou isso?
Concordo com a cabeça, mas mesmo assim respondo:
_Ela achou necessário conhecer todas as mulheres que fazem parte do
grupo e dar um pouco de diversão à elas. – Faço uma pausa. – Você sabe,
ninguém aqui tem total liberdade.
Seus lábios formam uma linha fina. Ela parece pensar em algo e então
me fita. Se eu não estivesse escorado no tronco da árvore minhas pernas
falhariam. Seus olhos parecem chegar a um consenso assim que ela os pousa
em mim. Sinto uma energia nos puxar, Sofia se levanta ainda me encarando.
_Lorenzo, eu preciso dizer algo.
Ela está tão próxima que eu consigo sentir bem o seu perfume, minha
vontade é de agarra-la e colar seu corpo ao meu, mas eu não o faço, ao invés
disso, colo meus braços ao lado do corpo em uma forma de tentar controla-
los.
_Eu... – Ela pausa e suspira, tentando criar coragem.
Quando ela abre a boca novamente para continuar um dos meus
homens aparece.
_Senhor, precisamos de você.
Vejo que seja lá o que ela queria falar, sua coragem se esvaiu.
_Já estou indo. – Respondo ainda sem tirar os olhos dela. – O que
você queria me falar? – Pergunto.
Ela me fita mais uma vez e então se afasta, desviando o olhar.
_Nada de importante, pode ir.
Fico mais uns segundos curioso e tentando entender o que aconteceu,
como Sofia parece irredutível, eu me afasto e vou em direção ao homem que
me chamou. Digo a mim mesmo que não deveria ser nada de importante,
caso contrário, ela teria dito, mesmo com a chegada de um estranho. Com
isso em mente eu volto para os meus afazeres de capo.
Capítulo Dezessete.
Carteado.
Sofia Reymond.
Observo meu reflexo no espelho mais uma vez antes de sair do quarto
e ir para o salão onde a reunião feminina está acontecendo. Optei por uma
roupa mais despojada, saia jeans, t-shit branca e um tênis. Não sei bem o que
esperar dessa noite, não quis parecer exagerada. Amanda e Luna não me
deram nenhum indicativo de como isso seria. Enquanto me encaminho para o
lugar, volto meus pensamentos para a noite de ontem e da minha quase
declaração para Lorenzo no jardim, eu estava realmente disposta a sacrificar
tudo por ele, sem preconceitos ou arrependimentos, mas por um segundo, um
único segundo o homem apareceu e eu repensei. Ainda não sei o que pensar
disso, portanto estou ignorando este ocorrido.
Desço as escadas e caminho em direção ao salão de festas, do
corredor já ouço o burburinho. Abro as portas duplas de madeira e entro na
sala, mas confesso que nada me preparou para isso.
O salão está lotado de mesas redondas com muitas mulheres sentadas,
em cada mesa eu vejo que jogos de carta estão acontecendo, as mulheres riem
e parecem alegres. Há muita distinção de idades, desde umas muito jovens
até outras de idade avançada. Garçons passam pelo local com diferentes
drinks e canapés nas bandejas, ninguém parece notar a minha presença. Ao
lado esquerdo em uma mesa soltando gargalhadas vejo minha mãe. Luna
conversa no outro lado com uma jovem e sorri.
_Sofia, então, o que achou do nosso pequeno antro do pecado? –
Amanda vem ao meu encontro.
_Estou maravilhada. – Confesso.
Nunca pensei em reuniões femininas dessa forma, mas aqui parece
que todas as mulheres deixam suas preocupações e tristezas na porta.
_Venha! Vamos beber e jogar.
Amanda me guia até uma mesa onde cinco jovens jogam e bebem um
drink rosa cremoso.
_Olá, meninas, essa é Sofia, minha afilhada. – Amanda me apresenta.
Ouço uma sequência de cumprimentos e sorrisos gentis.
_Sofia, estas são Nádia, Charlotte, Emily, Alexa e Julye. Elas vieram
a pouco tempo, conheceram e casaram com nossos soldados. Charlotte foi a
última, chegou aqui há seis meses.
Olho para as mulheres. Nádia parece ter pouco mais de trinta anos,
tem longos cabelos negros, olhos castanhos e um nariz reto. É magra e parece
ser bem alta. Charlotte parece uma boneca ambulante, possui cabelos
ondulados incrivelmente loiros, tem uma boca rosada e um rosto harmônico.
Não parece possuir mais de vinte e cinco anos. Emily tem cabelos pretos em
corte long bob, tem um corpo invejável e um sorriso radiante, não parece ter
mais do que trinta anos. Alexa é a legítima mulher das quais se usa a
expressão “de parar o trânsito”, sua pele oliva contrasta com seus cabelos
crespos castanhos. Ela tem olhos de cor mel e uma boca de dar inveja, parece
possuir a mesma idade de Nádia. Julye tem uma densa cabeleira ruiva, seu
rosto tem sardas marcantes que dão um charme à parte e é muito sorridente.
_Prazer em conhece-las. – Falo.
_Sente-se aqui, há lugar para mais um jogador. – Amanda aponta para
a cadeira vazia.
Sento-me entre Emily e Alexa. Amanda se afasta. Vejo um garçom
se aproximando com uma bandeja com diversas bebidas, considerando que
todas as mulheres estão tomando a mesma coisa, eu as imito. Beberico um
gole e quase me ajoelho em agradecimento aos céus por algo tão divino. O
liquido é doce, cremoso e gelado. É perfeito.
_Você sabe jogar? – Alexa pergunta.
_Não. – Confesso.
_Bem, então deixe-me ensiná-la.
Ela fica alguns minutos me explicando como se joga, observo bem
tentando aprender, não gosto de perder, e por mais que eu nunca tenha feito
isso antes, se sentei para jogar é para ganhar.
_Só cuidado com Nádia. – Alexa fala e olha diretamente para a
mulher sorrindo. – Ela adora nos passar para trás.
Nádia a olha como se estivesse realmente magoada e para dar ênfase
nisso coloca uma mão sobre o coração.
_Alexa, assim você me magoa e já me difama para a jovem. – Brinca.
_Diz que é mentira que eu suplico aos seus pés por perdão. – Alexa
brinca.
_Bem... Não tenho culpa se essas daqui são completamente lerdas. –
Dá de ombros.
Todas caem em estrondosas gargalhadas.
_Vamos ao jogo. – Emily grita.
Passamos a última meia hora jogando, rindo e bebendo. O garçom nos
ofereceu muitas vezes canapés, mas nós os recusamos, aceitando sempre só
as bebidas. Não vi meu copo ficar vazio por mais de alguns segundos. Depois
de muito jogo, de ver Nádia realmente passar todo mundo para trás, inclusive
a mim, nós já estamos levemente alcoolizadas e alteradas.
_Então, Charlotte, você ainda está trepando com Giuseppe em cada
quadrado da sede? – Emily pergunta.
Vejo Charlotte me observar e suas bochechas se tornarem rosadas. Ela
me olha sem graça e sorri timidamente.
_Não fale assim, Emily, desta forma Sofia irá pensar que sou uma
desavergonhada. – Responde completamente sem jeito.
_E não é? – Emily retruca.
Charlotte olha para mim ao responder.
_Emily não entende, mas é que Giuseppe quer muito um filho, então
estamos praticando até chegarmos ao resultado. – Ela explica.
_Praticando? Charlotte, querida, isso já está mais para uma compulsão
sexual. – Agora quem rebate é Julye.
Sinto o esboço de um sorriso se formando em meu rosto.
_Não se preocupe comigo, Charlotte. – Falo e termino minha bebida
número... Bom, me perdi nas contas já.
Nádia revira os olhos.
_Vocês estão deixando a menina constrangida desse jeito.
_Desde quando Charlotte tem pudor para ficar constrangida? – Emily
brinca.
E elas começa a gargalhar, todas visivelmente embriagadas.
_E você, Sofia, quando vai ficar de vez na fortaleza? – Julye muda o
assunto.
Engasgo com a nova bebida que o garçom me entregou. Alexa dá
palmadinhas nas minhas costas.
_Quem disse que eu vou ficar de vez? – Pergunto.
_Bem... Homens comentam, sabe... – Charlotte fala enquanto enrola
uma mecha do cabelo loiro no dedo.
_Comentam o que? – Pergunto.
_Sobre você e Moretti. – Nádia responde.
Olho de uma para a outra espantada. Sem saber o que responder.
Como assim já estão comentando sobre isso? Não é possível.
_O q-que... – Gaguejo para nenhuma em particular.
_Meu marido esteve com vocês em Londres. – Alexa revela. – Ele foi
no atentado ao cassino e foi um dos sobreviventes.
_Oh meu Deus! – Falo.
Não havia pensado sobre isso ainda, a aflição que essas mulheres
devem sofrer enquanto esperam seus respectivos maridos voltarem de
batalhas. Agora entendo a questão que Amanda faz sobre as reuniões, é para
mantê-las ocupadas.
_Está tudo bem. – Ela continua. – Ele não se feriu. Mas, todos os
homens comentaram em como o capo pareceu eloquente para protege-la.
_Nós somos basicamente da mesma família. – Falo
_Sendo da mesma família ou não, há algo entre vocês, pode revelar. –
Charlotte tenta me convencer. Olho-a tentando decidir se revelo algo ou não.
– Ora, você acabou de descobrir que eu já tive relações com meu marido em
cada canto desse forte, agora é a vez dos seus segredos. – Ela sorri
conspiratóriamente.
_Além do mais. – Continua Alexa. – Homens são piores que
mulheres quando tiram para fofocar. – Ela pisca para mim e leva seu drink
aos lábios.
Olho para essas cinco mulheres que parecem felizes. Me pergunto se
elas deixaram famílias para trás ou o que elas faziam antes de vir para cá,
para assumir um cargo desses. Será que abandonaram estudos e profissão?
Não sei se foi a forma como achei-as simpáticas ou se foi todo o álcool em
meu cérebro, mas eu simplesmente abri a boca e contei tudo para elas. Talvez
tenha sido a necessidade de contar para alguém, eu não sei.
_Uau. – Nádia é a primeira a falar. Ela brinca com o canudinho da
bebida.
_Então, o que você vai fazer? – Pergunta Emily.
_Eu não sei. – Confesso.
_Você o ama? – Charlotte me pergunta.
Penso nisso, em como ele faz meu coração disparar tão rapidamente.
Em como eu me sinto quando estou na sua presença e como saber que terei
que partir amanhã me deixa despedaçada por causa dele e só por ele. Eu
poderia negar isso, para elas ou para mim, poderia mentir por muito tempo e
viver com a minha escolha tentando me convencer de que fiz a coisa certa.
_Sim. – Repondo.
_Então o que você está esperando exatamente? – Julye pergunta.
_Eu não sei se é recíproco.
Elas se entreolham e começam a rir.
_Pareço uma piada para vocês? – Pergunto emburrada.
_Neste momento? – Julye me olha da cabeça aos pés. – Sim.
_Por quê? – Pergunto.
Elas se entreolham mais uma vez, parecendo duelarem em silêncio
sobre quem falará primeiro. Vejo o exato momento em que Nádia ganha a
batalha.
_Querida, conheço Lorenzo Moretti há muito tempo. Nunca o vi
desse jeito, então acredite em mim, é recíproco.
Fico em silêncio tentando discernir o que ela acabou de me contar.
_E, os homens comentam. Eles falam que Lorenzo está caidinho por
você. – Alexa termina.
Penso sobre isso. Viro mais um copo de bebida. Santo Deus, preciso
de álcool para essa noite.
_Como vocês aguentam isso? – Pergunto o que mais me aflige, por
fim. – Esperar os maridos sem saber se eles irão voltar, não poder sair dessa
fortaleza?
_Você acha que é tão ruim assim? – Emily pergunta.
_Eu não sei, me digam vocês.
_Bom, se para você ter comida, piscina, praia particular, academia e
diversos tipos de entretenimento disponível vinte e quatro horas por dia é
terrível, eu não posso imaginar qual é o conceito que você leva de vida boa. –
Alexa responde sarcasticamente.
_Nós. – Nádia aponta para as outras. – Vivemos como rainhas aqui.
Para você pode parecer uma prisão agora, mas é tanta coisa para se entreter
que, no final, os dias passam voando.
_E quanto a esperar os maridos. – Dessa vez quem fala é Charlotte. –
É a pior parte, certamente, mas nós sabemos que eles irão voltar para nós, ou
ao menos nos apegamos a isso. Esse é o verdadeiro único custo que
precisamos pagar, a aflição da espera. – Revela.
Penso um pouco no que elas falam. Sei que aqui é uma fortaleza, mas
não imaginei que possuía tantas coisas disponíveis. É como uma pequena
cidade exclusiva da Cosa Nostra.
_Tem as famílias também. – Falo. – Lorenzo e eu nos criamos como
primos, não sei como nossos pais reagiriam.
Elas se entreolham mais uma vez. Então Alexa fala.
_Querida, se Amanda não a quisesse tanto como nora, ela nem teria
adiantado esta reunião.
_O que? – Pergunto confusa.
_Amanda adiantou a reunião para que ela ocorresse enquanto você
ainda estivesse aqui.
_E porque ela faria isso? – Pergunto para ninguém em particular.
_Isso nós não sabemos, mas especulamos que seja para que você
pudesse participar e ver como somos realmente divertidas ou para que nós
pudéssemos ter esta conversa. – Nádia responde.
Olho para cada uma delas e uma luz se acende na minha cabeça. A
conversa na piscina, a forma como ela basicamente jogou na minha cara que
mãe sabe de tudo e que o que eu sinto é recíproco. A reunião para mostrar
que as mulheres da máfia podem sim se divertir e me colocar na mesa com as
mais jovens daqui, justamente para que, se por sorte ou não, em algum
momento elas pudessem me falar sobre como viver aqui e ser casada com um
mafioso tem as suas vantagens, além de todos os músculos, é claro.
Amanda não só quer que eu e Lorenzo fiquemos juntos como vem
armando para que isso aconteça, de forma singela. Ah, dinda Amanda...
_Vocês acham que Amanda aprova? E Lucco e Luna? – Pergunto.
_Amanda não só aprova, como faz questão. Lucco faz o que a esposa
mandar. Lucco Moretti na rua é o homem mais temido de todos, mas dentro
de casa é o cachorrinho da esposa. – Alexa fala e todas começam a rir.
Lembro de todas as vezes que vi ambos juntos e não posso rebater a
afirmação dela, Lucco parece fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
agradar Amanda.
_E quanto a Luna, em breve ela se tornará a senhora Mogilevic. Sem
falar que ela parece adorar você, não acho que se importaria. – Emily fala.
_E agora? – Penso alto.
_Agora vá atrás do seu homem! – Nádia me encoraja.
_Agora? – Pergunto.
Ela revira os olhos.
_SIM! – Ambas falam juntas ao mesmo tempo.
_Obrigada! – Falo olhando para todas elas.
Levanto-me da mesa, fico uns segundos em pé testando meu
equilíbrio. Quando vejo que ele ainda está intacto, caminho rapidamente para
fora da sala. Abro as portas duplas e quando me viro para fechá-las, vejo as
meninas fazendo um sinal para Amanda que abre um largo sorriso.
Então, decidida sobre qual caminho tomar, vou em busca da minha
escolha.
Capítulo Dezoito.
Você me escolheu.
Lorenzo Moretti.
Sofia Reymond.
Confesso que não esperava por esse livro, em primeiro, visto que,
quando eu criei Amanda e Lucco, o fiz para ser um único volume. No
entanto, eu não poderia terminar a sua história tão inconvencional assim.
Espero que tenham gostado de desfrutar um pouco mais sobre esses
personagens tão queridos. Admito também que estou muito animada e
inspirada para o livro de Luna, o qual determinará o destino final dos nossos
amados personagens.
Quanto aos agradecimentos, este vai exclusivamente para a tia
Sandra que, enquanto esteve presente, nunca deixou de me amparar e
auxiliar, só posso agradecer de ter tido uma tia tão incrível.
Gratidão!