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Espero que goste da série e desfrute da história de cada um dos irmãos Mancini!
Desde já agradeço sua leitura!
Grande abraço,
Caroline Nonato
“Minha alma pertencia a ele, mesmo que fosse quebrada e sombria,
era dele e ninguém mais.”
Era demais, por isso chorei tudo que podia nos braços do
meu irmão e quando ele notou que estava mais calma, me deixou
sozinha no quarto, levantei-me e abri a gaveta da mesinha ao lado
da minha cama, minhas mãos tremiam, peguei a caixinha em que
guardava minhas lâminas. Senti meu corpo inteiro afetado, a
sensação de vazio era tão grande que somente aquilo me levaria a
contemplar um certo alívio.
— Estarei aí, não se preocupe, sabe que faço tudo por você,
minha Diabinha loira! — Sorri, Leo era um amigo que nunca me
deixava na mão, mesmo que às vezes eu não correspondesse como
deveria o seu carinho.
À noite, na festa
Ele havia dito que pensaria, mas não me deu certeza, então
foi uma surpresa quando notei sua presença, aquele olhar intenso
parecia um falcão, me seguia por toda a pista de dança. Leo como
sempre estava arrasando nas mixagens. Meu querido professor
estava diferente, mais despojado e menos sério, com um copo de
bebida na mão que peguei no outro bar, fui em sua direção, convicta
de que nos divertiríamos juntos. Bom, eu queria tentar esquecer
Romero e aquela era a forma que encontrei.
— Então por que me convidou para vir aqui hoje, sua pirralha
vadia? — Sua voz estremeceu tudo ao meu redor.
ROMERO
— O que aconteceu, Teresa? — perguntei, preocupado e
cansado, porque sim, ainda me preocupava com ela, pelo simples
fato de que foi a mulher que me trouxe ao mundo. Infelizmente, não
podíamos escolher a mãe que teríamos, era impossível.
Era uma folha que estava escrita por inteiro e, ansioso, notei
a agitação de dona Sonia, ela queria que eu lesse. O meu nome
estava no topo, o que queria dizer que era para mim mesmo, não
sei por qual motivo, mas só poderia ser algo muito ruim, dela não
podia se esperar nada diferente.
Romero,
Espero que quando estiver lendo esta carta, eu já esteja
morta, incinerada e com minhas cinzas jogadas no Rio Sena, em
Paris. Antes de tudo, quero que me prometa, como o meu único filho
que irá cumprir o meu último pedido.
Agora podemos ser objetivos e ir direto ao assunto principal
desta carta. Sei que já se pegou pensando e duvidando que eu
fosse realmente sua mãe biológica, preciso que, por fim, saiba que
EU NÃO SOU sua mãe. Apenas quis você por perto para que
pudesse ter seu pai junto a mim, e para isso, fiz tudo que era
necessário para ser a Sra. Bellucci, esposa do consigliere da Outfit.
Nunca me importei com sentimentos, como uma garota que nasceu
nesse meio, eu sabia que não tinha vez e, por este motivo, ergui
uma rocha à minha volta e nada nesse mundo me engoliria. Quando
finalmente consegui ter a atenção de seu pai, o interesse e desejo
dele. Senti-me realizada quando me pediu em casamento à minha
família, selando mais um acordo de negócios conforme o Don da
época queria. Após me casar com seu pai, nunca fui capaz de negar
algo a ele, me doei, fiz tudo que um homem gosta na cama, era a
perfeita e dedicada esposa. Sabia também que teria de engravidar
logo, entretanto, com a demora, comecei a desconfiar que tinha algo
de errado comigo, pois não engravidava de jeito nenhum, aquilo
estava me matando. Precisava agir antes que fosse descartada,
isso era a última coisa que queria para minha vida. Procurei minha
médica, fizemos vários exames, tomando todos os cuidados para
esconder de seu pai. Quando o resultado saiu, quase tive uma
síncope, pois foram incisivos, eu era infértil e nunca poderia dar
filhos ao meu marido. Entrei em desespero, sem saber o que fazer,
mas sabia que não poderia contar aquilo para Enrico. Passados seis
meses, descobri que uma das empregadas da casa estava grávida
e quando a questionei sobre o pai, ela gaguejou e soube que era
dele.
Não fiquei surpresa, pois todos os homens na máfia tinham
casos com outras mulheres, mas eram passageiros e quem
permanecia era a esposa. Porém não poderia deixar que um
bastardo tivesse a chance de me tirar dele e daquela casa, então
propus a ela que sumisse dali e mantivesse a gravidez que eu
mesma iria cuidar de tudo. Como aquela garota nova não tinha ideia
de nada e precisava de ajuda, ela aceitou sem saber que, na
verdade, era minha barriga de aluguel.
Sonia Bellucci
Além disso, ainda teve o exame que fiz naquele mesmo dia e
me deixou péssima, pois trouxe lembranças muito ruins do meu
passado sombrio e horrível. Fora isso, o meu estado instável me
deixava em um sofrimento que parecia não ter fim e estava cansada
de ser um peso para mim mesma e para as pessoas ao meu redor.
— Paola, sei que vai ser difícil mexer com o seu passado,
mas precisamos falar sobre ele, para que você possa avançar no
tratamento e saber lidar com o que sente.
— Paola, não brinque com isso, garota, sabe que seus irmãos
ficam loucos. — Despedi-me dele e encerrei a ligação. Voltei para
os meus afazeres e, depois de deixar tudo separado e escondido,
fui brincar um pouco com Dexter na área externa.
— Dexter, pega a bola. — Joguei-a longe e ele saiu correndo
atrás de um dos seus brinquedos, distraída, brincando com o
buldogue do meu irmão, não percebi quando alguém se aproximou.
Porém, antes de me virar, a brisa que estava naquela tarde trouxe
seu perfume até mim. E sim, sabia que era ele, meu Romero.
Apesar de gostar da ideia de ele ter vindo me procurar, não podia
entender o motivo de o amigo dos meus irmãos estar indo contra o
que eles pediram.
— Esses lugares não são para você, espero que não tenha
nenhuma surpresa esta noite, é tudo que não preciso. — Assenti e
ele manteve seu olhar no meu por alguns minutos, depois acenou e
saiu, me deixando com a respiração na boca, a pele ardendo de
desejo e ansiedade por sentir suas mãos ao meu redor.
— Soube que sua mãe faleceu, mas sei bem que não quer
falar dela. — Concordei, aquele assunto eu queria esquecer.
— Apenas isso, não posso me arriscar hoje, ele vai saber que
sou eu assim que me ver de perto, está louco, Leo?
— Pior que nem posso te dizer nada dele, Romero é um dos
homens mais discretos da Outfit, a única coisa que sabemos dele é
que frequenta clubes como este e que antes estava sempre com
Loren.
— Ela curtia também, mas eles não tinham nada sério, pelo
menos foi o que ouvi dele uma vez, falando com meus irmãos. —
Ele soltou um grunhido e quase se engasgou com seu drinque.
— Você fica ouvindo as conversas deles atrás das portas? —
Fitou-me, desconfiado.
— Claro, se não for assim, fico por fora de tudo, eles não me
contam nada. Sou mulher e você sabe como funciona, nem preciso
te explicar.
— Então acho melhor irmos embora, pode ter algo a ver com
meus irmãos, não sei, melhor a gente não arriscar mais hoje — falei
e depois de beber o restante do meu vinho, saímos de forma
discreta. Fiquei com receio de encontrar com Romero no caminho,
mas ainda bem que deu para sair daquele lugar sem grandes
problemas.
— Vai passar rápido, você vai ver. — Ele era um ótimo amigo
e companheiro para as minhas loucuras. Se Pietro e Enzo fossem
mais tranquilos, podia me deixar sair com Leo sem preocupações,
ele estava preparado para qualquer eventual ataque e sabia que iria
me proteger com sua vida. Mas aqueles cabeças-duras nunca
deixariam, só pensavam em me manter presa naquela mansão no
penhasco, como se aquilo resolvesse tudo.
— Ele tirou tudo de mim, Enzo. Não consigo mais ter paz…
— lamentei ao fungar.
— Não, bambina mia! Por favor, não fique assim, não se sinta
assim! — implorou, me fazendo encará-lo. — Foi apenas um
pesadelo, ele morreu e eu estou aqui com você, Elena vai trazer um
chá para que fique mais tranquila.
Aquilo era estranho, visto que, Sonia Bellucci foi uma mulher
fria, distante e arrogante que não se preocupava com ninguém além
dela mesma. Porém, podia entender, ela sempre gostou de ser
soberba, mostrar que estava por cima, mesmo quando nada estava
bem. Era assim que Sonia sobrevivia.
Sem olhar para trás, saí daquela casa, pois não voltaria mais.
Foi um lugar que não cultivei boas lembranças e que queria apenas
esquecer, passei pelo jardim e cheguei à garagem onde Mário e os
outros soldados me esperavam.
— Tudo tranquilo para sairmos? — indaguei.
— Não sei, estou pela primeira vez sem saber como agir.
Caralho, mas que merda! — praguejei, pois não sabia mesmo o que
faria. — Vou pensar, preciso digerir melhor o que acabei de
descobrir.
Damon deu de ombros e continuei ao seu lado, depois fui ver
como estava a segurança. Mário tinha o controle de tudo, desde que
Lucca começou a perseguir o homem que se fazia passar por
Giovanni, ele havia assumido as funções de um dos nossos
soldados mais confiáveis. Esperávamos que ele voltasse com o
sósia do bastardo, para que seguíssemos nossos planos.
— Não sei, estou possesso, ela sabe muito bem brincar com
todos nós e o que me dá raiva é que temos homens que cobriram o
Leo nisso.
— Vou te falar, não queria estar na sua pele, porque se contar
a Pietro e Enzo, vai acabar sobrando pra você e até para mim, puta
merda. Quanto mais penso, pior fica.
— Sim, não vou negar, fui me divertir como você, Leo é meu
parceiro como Loren era a sua — respondi, mordendo o lábio
inferior, sentindo seus olhos fitarem minha boca enquanto e os
fechando em seguida, parecia estar se contendo, não era o que eu
queria. Desejava que perdesse a cabeça, acho que ele ficou
incomodado com o fato de ter citado Loren.
Ele me queria.
— Tenho que admitir que você tem um talento nato para fazer
festas, é uma excelente organizadora — meu irmão elogiou, me
deixando surpresa.
— Vocês precisam me dar mais oportunidades, garanto que
só vão se surpreender, acho um desperdício que eu fique o dia todo
sem nada para fazer nesta casa.
Após ficar brincando com Romeo, fui para área externa dar
um pouco de atenção para o Dexter. Ao invés de ficar esperando
Romero sair do escritório, segui para a academia. Precisava seguir
em frente com meus planos de não o procurar e deixar que sempre
ele fosse atrás de mim. Não me rastejaria aos seus pés, ao
contrário, o Romero que iria implorar.
Era melhor não dizer nada ainda a eles sobre Paola ter ido ao
clube de swing, iria conversar e alertá-la primeiro, eu poderia lidar
com a garota petulante e ousada sozinho. Levantei antes do horário
que acordava, mas como me sentia ansioso e inquieto, cheguei à
cozinha em busca do café que Teresa estava preparando.
— Ainda não, preciso falar com ela primeiro, não deu tempo
na noite passada. — Meu amigo sorriu e elevou o seu copo.
— Um brinde à sua primeira indecisão. — Daquela vez, não
sorri, apenas o fuzilei com o olhar.
— Tudo bem, não vou te perturbar com isso! Você sabe o que
está fazendo, agora me conta aqui, Loren ficou mesmo para trás? —
indagou, franzindo a testa.
Caralho!
— Você está louco por ela e isso está mexendo demais com
você, descobriu se os irmãos dela sabem dessa saída? — Damon
questionou, ele me conhecia bem e nunca havia me visto daquele
jeito.
— Romero, não queria estar no seu lugar, ela sabe que você
se sentiu atraído e está usando isso para te deixar ainda mais
instigado. — Assenti, mas mudei de assunto.
Damon tinha razão, eu estava perdido e não sabia o que
fazer, a única coisa que tinha certeza era da atração que passei a
sentir por Paola, uma garota proibida para mim.
Muito mais…
Mas não durou muito tempo, quando pensei que o homem iria
me tocar e fazer gozar dentro daquele carro, ele tirou sua mão e
sorriu ao ver minha decepção. Em poucos minutos, chegamos à
mansão, onde meus irmãos estavam me esperando na sala de
estar.
— Não esperava que ela fosse fazer algo assim, foi tudo tão
rápido. — Pietro deu de ombros.
— Enzo, não adianta, Paola age como quer, não temos
controle sobre as ações dela como pensamos. — Pietro me
surpreendeu.
— E tem uma coisa, vocês não me avisaram antes da
decisão de deixar Paola sair, só fiquei sabendo quando ela já estava
dentro daquele cassino e, às vezes, acontecem essas coisas.
— Claro que era com aquele rapaz que não saí mais do lado
dela, o Leonardo — tentei disfarçar o quanto aquilo me incomodava.
— Cale a porra dessa sua boca, se não quiser sair daqui sem
sua língua! — Bati na mesa à nossa frente, o deixando em alerta. —
Tome o seu lugar e cuide do que é da sua função, não vou aceitar
esse tipo de comentário vindo de você — direcionei um olhar severo
a ele —, entendeu bem?
Passei por Teresa sem dar bom dia, ela me conhecia e sabia
que era melhor não insistir quando estava de mau humor. A mulher
não tinha culpa, mas era impossível, preferia não falar com ninguém
quando me sentia daquele jeito.
— E aí? — questionou.
— Sim, vamos logo com isso! — afirmei e ela deu sinal para a
anestesista e, aos poucos, tudo foi se apagando até que caí no sono
profundo.
ROMERO
— Ainda não, mas vou procurar pela verdade, sei que Sonia
poderia sim ter mentido naquela carta — afirmei.
— Faz bem, não tem como confiar cem por cento no que sua
madrasta falava — Enzo considerou e Pietro entrou no escritório.
— Entendo, mas Pietro e Enzo não vão vir hoje aqui, pode
me passar a proposta que tiver.
— Para mim, está sim, vou ver algumas pessoas, não quer
almoçar comigo? — ela me convidou e resolvi aceitar, não podia
fugir dela, além disso, tudo estava acertado entre nós e não havia
brechas para algo mais. Não dava esperanças para mulher
nenhuma, nem mesmo para Loren, ela tinha consciência disso.
— Calma que vai sair, mas não sozinha, a médica disse para
ir devagar, por que não almoça primeiro e depois damos uma volta
aqui na sala? — a minha cunhada sugeriu sem me dar a chance de
fazer outra coisa.
Não sei quanto tempo se passou, até que ouvi alguém mexer
na maçaneta da porta e então o vi, seus olhos me encontraram e se
fixaram nos meus. Romero entrou no quarto e fechou a porta,
quando se virou para mim, tentei buscar em seu olhar algo que nem
eu mesma entendia o que era.
Então era aquilo que ele iria me dizer, pois não comentei e
nem havia respondido a mensagem, minha nossa! Como fui burra,
fiquei cobrando explicações dele sobre Loren! Não podia acreditar,
Romero não conseguia parar de pensar em mim. Vibrei sozinha no
quarto, tentando não gritar, fechei a mão em punho e a mordi. Era
surreal, reli a mensagem inúmeras vezes e não respondi, porque
estava emocionada demais e poderia passar dos limites e assustar
o homem.
Dias depois…
— Por que veio com ele? Seus irmãos me pediram para ficar
com você — rugiu, cobrando explicações.
— O combinado era ter você e Leo em meu encalço, por isso
ele veio, está apenas cumprindo ordens — respondi de má vontade
—, e você, se divertiu muito com Loren? Deu para tirar o atraso?
Matou a saudade? — A raiva que sentia há dias saiu com aquelas
perguntas e observei sua mandíbula travar.
— Estou louco por você, mas não quero nada escondido. Sou
leal aos seus irmãos e eles pagam meu salário, nunca havia
escondido nada deles e não vai ser agora que vou fazer isso. Além
do mais, você merece o melhor. — Ela estava emocionada e feliz
com minha decisão.
Assim que Paola terminou de se ajeitar, fechei o zíper do seu
vestido, deixando um beijo em seu ombro, olhando de perto a
tatuagem em suas costas, combinava tanto com seu estilo de
mulher poderosa e corajosa, que não podia acreditar que Paola,
seria minha noiva.
— Minha linda, não fique assim, eles vão pensar com calma e
decidir, vamos conversar com eles também, por favor, fique
tranquila. — Assenti, tentando acreditar nas palavras de Caterina.
— Tudo bem, vou esperar o tempo que for, não tem outro
jeito. — Perla sorriu e me abraçou, depois Caterina fez o mesmo.
Nos dias que seguiram, não vi Romero, ele não estava indo à
mansão e minha psiquiatra marcou mais sessões que o normal em
uma semana. Era coisa dos meus irmãos, estavam preocupados
comigo, pois me mantive afastada dos dois. Por mais que doesse
fazer aquilo, foi mais forte que eu, era melhor ficar sem vê-los
também, para que a raiva e sentimento de frustração não
terminasse de tomar conta e me fizesse ter uma recaída.
Sabia que era uma pessoa difícil de lidar e o que temia
sempre acontecia, ao invés de aproximar as pessoas, sempre as
afastava. Romero me enviou inúmeras mensagens do número
desconhecido e respondi apenas uma. Fiquei no limbo, tentando
conter minha mente de tantos pensamentos, os únicos que
conseguiam me fazer bem eram Romeo e Dexter. Quando estava
com eles, esquecia todos os problemas que assolavam minha
cabeça e coração. Mas senti a falta de Romero, e no meu âmago
sabia que ele também estava sofrendo com a distância que nos foi
imposta.
Dias depois…
— Vou falar com Mário, certificar de que está tudo certo para
amanhã. — Enzo levantou e saiu.
— Enzo, você vai cair duro no chão, fique calmo ou não vai
conseguir ficar com Caterina desse jeito — Perla pediu e contive
uma risada, sentindo Paola apertando minha mão na sua. Encarei
seus olhos, virando-me de lado para vê-la melhor.
— Será que vamos conseguir sentir essa ansiedade também
para saber o sexo do nosso bebê? — perguntou e notei o medo e
incerteza na sua voz.
— Com certeza, minha linda! Não sei como vou ficar, mas
espero que não seja como seu irmão. — Sorrimos e a médica
chegou, chamando Enzo que a seguiu. A ansiedade se instaurou no
silêncio que recaiu na sala de estar.
— Eu espero que sim, mas só de estar com ele, faz tudo valer
a pena — Trocamos sorrisos e puxei a cadeira para me sentar de
frente para a penteadeira.
— Vou indo, preciso me arrumar e, qualquer coisa, pode me
chamar — Perla falou e depois de piscar para mim, saiu do quarto.
Estávamos na antiga mansão, onde seria meu noivado, na
verdade, tinha vindo com Caterina e Perla, dois dias antes, para
organizar tudo. Fixei os olhos no espelho, vendo o meu reflexo, sorri
sentindo um friozinho no estômago, estava ansiosa demais. A minha
psiquiatra até pediu que passasse mais tempo na academia,
tomasse banhos mais demorados e tirasse um dia para relaxar e
quase não consegui devido a toda minha agitação exacerbada.
— Puta merda, não vem, porque não vou trocar meu vestido,
é o dia do meu noivado, finalmente vou ter o homem que sonhei e
vocês vão implicar com meu vestido — lamentei e Enzo se
aproximou e me tomou em um abraço.
Cacete!
O vestido de Paola evidenciava todas as suas curvas de um
jeito que fiquei fora de mim. Pois estava muito gostosa, perdi
totalmente o juízo quando a vi no topo da escada. As imagens que
surgiram na minha mente eram tão sujas, porra! Meu desejo era
levá-la para longe de todos os olhares daquelas pessoas
mesquinhas, atraiu a atenção de todos desde que chegou. A garota
não se incomodava com os olhares reprovadores, muito menos com
o que iriam falar, apenas fazia o que queria. Paola era um furacão
que chegava abalando todas as estruturas e a minha ela destruiu,
pois conseguiu me conquistar de um jeito que não tinha mais volta.
— Ótimo, era isso que queria ouvir, Romero. Saiba que não
temos mais nada contra, mas como irmãos, precisamos olhar por
Paola — Pietro completou e concordei.
Depois que me despedi dela, fiz que iria embora, mas fiquei
na mansão, claro que acobertado por Alex, o segurança de Paola.
Combinei tudo com ele e segui de volta para dentro da mansão,
olhando para todos os lados para ver se não havia mais ninguém
andando pela casa. Conhecia aquele lugar como a palma da minha
mão, praticamente cresci naquela mansão, a antiga moradia dos
Mancini.
— Nunca foi e nem será, mas quero que você pense que
essa sim é a sua primeira vez, sei que é difícil, mas quero apagar
qualquer vestígio ruim do passado, aqui somos apenas eu e você.
— Me levantei e coloquei as mãos em cada lado de seu rosto,
fazendo-a me encarar. — Eu sou seu primeiro homem e farei de
tudo para tornar esse momento o único na sua memória, minha
linda. — Afastei seu cabelo e beijei sua boca com paixão. Gostaria
de apagar tudo de sua mente, as lembranças ruins, como não era
possível, queria que fosse inesquecível.
Meu pau estava babando por ela e tão duro que seria difícil
me controlar, mas o faria. Arranquei seu vestido e joguei de lado,
assim como sua calcinha fio dental. Paola sorriu e sem tirar os olhos
dos meus, a deitei na cama, beijei sua boca com desespero e desci
meus lábios pelo seu corpo, acariciando cada pedaço de sua pele,
venerando e arrancando gemidos da minha diaba. Ela era tão
cheirosa e macia, passei as mãos pela sua cintura e voltei para sua
barriga lisa. Ao me aproximar de seu ventre, acariciei e desci um
pouco mais, passei os dedos na sua entrada.
Aquele foi um dia estranho, fora isso, Pietro ficou nervoso por
não termos o rastro certo de Giovanni. Infelizmente, ficávamos
atentos, pois tudo poderia acontecer com aquele bastardo à solta. À
tarde, saí para resolver uma guerra, mais uma, na verdade, entre as
gangues. A mercadoria tinha chegado e a confusão foi armada,
Enzo e eu fomos resolver, visto que Mário e Lucca estavam em
outra missão.
— Quem não falar onde está esse desgraçado, vai pagar com
a vida. Comecem a falar. — Enzo apontou a sua arma, ameaçando
com o olhar frio e duro, no momento que nos encaramos, vimos um
deles correndo para fora do enorme portão. Mas, Leo o segurou
antes que conseguisse escapar, amarrou as mãos dele e os pés em
uma cadeira que estava no meio do lugar enquanto pegava a faca
no meu coldre.
— Leo, ela ainda não pode saber, está tão bem e feliz, como
nunca esteve antes, isso vai trazer todas as lembranças ruins e
temos que esperar pelo menos o casamento.
— Sei disso, mas Paola merece a verdade, isso faz parte do
passado dela e tenho certeza de que vai querer matar esse homem
com suas próprias mãos.
Dias depois…
— Muito bem, aproveite sua noite! Vou dar uma volta pelo
lugar e ver como está lá em cima. — Ele apontou e saiu, me
deixando sozinho com Paola que não parava de balançar a perna e
cabeça no ritmo de You Give Love A Bad Name.
Como não era de dançar, me sentei na banqueta, peguei meu
cigarro e acendi para relaxar um pouco. Paola me deixava louco,
tomei um gole da minha bebida e fiquei apenas sentado,
observando-a dançar. As músicas, o ambiente daquela noite
combinavam muito com minha noiva, por fim, cansado de apenas
olhar e querendo mais, me aproximei dela colando seu corpo no
meu e segui seu balançar, beijando seu pescoço e absorvendo de
seu perfume. Acho que nunca me cansaria de tê-la ao meu lado, ao
mesmo tempo em que bagunçou minha vida, Paola também me fez
ver tudo de outra forma.
PAOLA
Na última noite que saí com Romero, foi perfeito, mas notei
que ele estava inquieto, às vezes não me olhava direto nos olhos,
parecia estar escondendo alguma coisa. Não tinha ideia do que
poderia ser, até liguei para o Leo naquela madrugada, pois não
conseguia dormir pensando naquilo. Porém, até mesmo meu melhor
amigo disse que não sabia de nada, o que soou ainda mais
estranho. Com uma tensão pairando no ar na mansão, me senti
aflita, porque minha intuição dizia que tinha a ver comigo. Odiava
que as pessoas me deixassem no escuro, principalmente quando
era sobre mim.
Tentei escutar com atenção tudo que ele falava, pois era
importante, mas o perfume amadeirado de Romero me deixou
desconcertada. Ele também estava lindo em seu terno preto e
gravata borboleta, a barba aparada e o cabelo perfeito em um
topete que o deixava ainda mais irresistível.
— Ainda vou, mas temos tempo demais para fazer tudo, não
precisamos correr, não é mesmo? — perguntou e mantive meu olhar
no seu enquanto suas mãos apertavam minha bunda, me deixando
louca por mais do que ele quisesse me dar. Parecia que eu estava
vivendo um sonho, era ainda surreal que fosse realidade. Não
respondi à sua pergunta, o beijei com todo o desejo avassalador
que sentia por aquele homem que era meu marido.
Romero era todo meu, ninguém mais poderia tirá-lo de mim e
imersa na miríade de emoções, nos beijamos como se fosse a
última vez. Sua boca devorou a minha com avidez, enquanto
minhas mãos passeavam pelos seus músculos bem-marcados e
firmes. Ele caminhou comigo sem tirar sua boca da minha, até me
pressionar no vidro, e senti seus dedos invadiram minha boceta que
estava molhada e pronta para recebê-lo. Sabia que quando tivesse
o meu homem, meu corpo o aceitaria, pois era para ser ele,
Romero. Sempre foi.
— Ah, vou aceitar sim, mas, Caterina, o parto vai ser mesmo
no próximo mês? — minha esposa perguntou.
— É para ser, mas depende de nossa principessa, se ela
quiser chegar antes, pode acontecer ainda este mês. — A esposa
de Enzo estava com a barriga bem grande, não entendia muito de
gestação, porém achava que poderia ser antes.
— Vou gozar! — avisei, mas ela não tirou sua boca do meu
pau, continuou fazendo os movimentos até que enchi sua boca com
minha porra e a garota engoliu tudo com maestria. Aquilo me deixou
atônito e ainda em suspenso com o orgasmo que tive e a forma
como se levantou sob meu olhar, limpou o cantinho da boca,
lambendo os dedos como se fosse um doce. — Porra, minha linda
— depois de controlar minha respiração, consegui falar e a safada
estendeu os lábios em um sorriso.
Dias depois…
Após meu primeiro fim de semana casada, estava ainda me
adaptando no apartamento. Romero deixou que cuidasse de tudo,
pediu à Teresa que fizesse o que eu escolhesse para as refeições,
alguns dias meu marido vinha almoçar comigo. Havia aqueles em
que não conseguiria vir, pois estaria resolvendo algum problema, na
máfia era assim. Na verdade, estava acostumada, pois com meus
irmãos funcionava da mesma forma.
Dias depois…
— E Romero? — perguntei.
— Ela pode querer se vingar, mas deve saber que meu pai
morreu há anos e que eu estou no poder. — Pietro coçou a barba,
refletindo.
Dias depois…
Não conseguia esquecer da noite na boate em que Romero
revelou que me amava e que morria de ciúme de Leo e qualquer
outro homem que chegasse perto de mim. Foi tão especial e senti
todo meu corpo se arrepiar com a forma com que olhou no fundo
dos meus olhos e afirmou com todas as letras as três palavras que
tanto sonhei em ouvir sair de sua boca. Passei dias revivendo
aquele momento, me levantei e antes que conseguisse sair da
cama, Romero me puxou para seus braços beijando meu pescoço,
me fazendo dar risadas.
— É, pelo que li, quanto mais velha, mais difícil e você está
bem, não sentiu mais aquelas dores como antes? — Cat perguntou.
Estava sem ação com a forma segura que ele tinha acabado
de falar, me arrepiei e contive as lágrimas de emoção que
ameaçaram rolar pelo meu rosto. A confiança que eles estavam
depositando em mim, era demais, eu nunca pensei que fossem
considerar me colocar na máfia. Na verdade, tinha em mente me
inserir aos poucos, reivindicando meu lugar de direito.
Acabou que Paola teve seu primeiro dia agitado, ela chegou e
tudo que buscávamos caiu em nossas mãos. Giovanni seria, enfim,
capturado, o homem responsável por alguns dos nossos prejuízos e
caos da Outfit. Mas ficava a dúvida: seria possível que ele estivesse
agindo sozinho ou teria a ajuda de Alessa? A filha de Lorenzo tinha
motivos mais que suficientes para querer se vingar. Ou teria alguém
oculto por trás do bastardo? Eis o enigma que iríamos desvendar.
PAOLA
Aliviada por ver que ele estava bem, segurei sua mão, pois
nossas poltronas ficavam lado a lado. Mais oito horas dentro do
avião e sem termos conseguido pegar o bastardo vingativo, era uma
grande merda. Mas não descansaríamos enquanto não colocasse
as mãos em Giovanni, ele podia ter escapado com Alessa, mas
ainda não tinha acabado. Mário e Lucca ficaram na Suíça e iriam
caçá-los por alguns dias ainda, não conseguimos informações de
outros voos clandestinos, tentamos rastrear todos, procurando por
nomes, mas nada foi encontrado.
Dias depois…
Um mês depois…
Saímos da antiga mansão dos Mancini para a igreja St. John
Cantius Church, onde seria realizado o batizado de Giulia, a nossa
afilhada. Paola estava nervosa, mas percebi o quanto se sentia
especial por ter sido escolhida. Com o tempo de convivência com
minha esposa, passei a observar como Paola tinha um lado
emocional intenso. Fazia parte de quem ela era, apesar de estar em
tratamento, era um dia de cada vez e estava ao seu lado para tudo,
nada me importava, apenas que ela estivesse bem.
Giulia voltou para o colo da mãe, ela não chorou mais depois,
após a cerimônia fomos todos para a antiga mansão, no Gold Coast,
para o almoço especial que Elena e Ana prepararam. Paola havia
escolhido uma pulseira para presentear a nossa afilhada.
PAOLA
Dias depois…
— Mas que porra! Não encontraram nenhum paradeiro do
bastardo? — Pietro perguntou a Lucca ao telefone, ele estava
impaciente e furioso, pois o conselho soube do que aconteceu e
estavam cobrando explicações.
Após ouvir a resposta do soldado, desligou e jogou o celular
de qualquer jeito em cima da mesa. Me encarou sentada de frente
para ele em sua sala e respirou fundo, pegou o cigarro e acendeu,
tragou e soltou a fumaça. Dei um tempo para Pietro, ele andava no
limite com toda aquela situação. Sabíamos que Giovanni era o
responsável por tudo que aconteceu à Perla, à Caterina e a mim e
todas as cargas roubadas e prejuízo da Outfit. Mas não tínhamos
conseguido pegá-lo ainda, para ele que era o chefe, não havia nada
pior.
— Fale, Paola. — Encarou-me com os olhos fundos, ele
sequer dormia.
Há dezoito anos…
Assim que eles se fecharam dentro do quarto, fiquei no
corredor com o ouvido colado à porta daquela casa velha, dava para
ouvir tudo que falavam.
Tive que fingir que não sabia de nada, por isso me levantei e
tentei disfarçar a minha expressão de decepção por saber que não
era para eu ter vindo ao mundo.
Fechei os olhos para não ver, pois era demais ter que ver o
que estavam fazendo à mulher que me colocou no mundo. Meu
corpo começou a estremecer, meus dentes batiam, um frio tão
grande me tomou, naquele lugar escuro e gelado. Mas não era esse
detalhe que me deixou daquele jeito, e sim tudo que os ouvi fazerem
com minha mãe. Seus gritos, as palavras e pedidos para eles
pararem, nunca iriam sair da minha mente, teria que conviver com
aquela dor, no entanto, gravei bem na minha cabeça quando ela
disse: Vocês vão cair, vai chegar o momento que ele voltará e fará
seu império ruir e tudo à sua volta ter o mesmo destino. Vai sobrar
apenas seu sangue derramado, pela honra e poder que tanto preza.
E você, Francesco Mancini, não poderá fazer nada, pois estará
morto. Nos vemos no inferno, seu diabo.
Ao abrir meus olhos, aquele monstro atirou na cabeça da
minha mãe, seu corpo pendeu-se para o lado, caindo junto com a
cadeira, enquanto uma poça de seu sangue se fazia rapidamente no
chão. Não podia acreditar no que via, fiquei alguns minutos
paralisado, sentindo o mundo ao meu redor ruir. Não conseguia
deixar de olhar, a minha mãe morta naquele chão frio como se não
valesse nada, foi impossível não deixar que as lágrimas caíssem
pelo meu rosto. Eu estava sozinho naquele mundo, pois Ruslan não
era meu pai e havia nos mandado para morrer.
Fui deixado sozinho, amarrado no escuro enquanto levavam
o corpo da minha mãe dali. Chorei e gritei, colocando para fora toda
a tristeza e sentimento de vazio que me tomou. No entanto, a última
mensagem de minha mãe ficou se repetindo na minha mente e a
entendi como um pedido de vingança, viveria para realizá-la.
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