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COPYRIGHT © DANI NASCIMENTO, 2022

Revisão: Camila Brinck e Lidiane Mastello


Edição: Re Lemos
Capa: L.A Designer Editorial
Projeto gráfico e diagramação: Grazi Fontes
Todos os direitos reservados.
Direitos reservados em língua portuguesa, no Brasil, por Dani Nascimento.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da autora.
Esse livro começou como um conto, era algo clichê, rápido, romântico e
doce, pensado para uma antologia de dia dos namorados. Então, por um
momento precisei respirar entre os livros de máfia que venho escrevendo, e
Max e Liz foi esse respiro.
A história dos dois acabou tomando outra proporção, cresceu, ganhou vida,
novos personagens, lugares. Um misto de drama, com emoções intensas que
envolvem esse romance.
A Perdição de Maxwell King é um livro único, mas dentro dele vocês
conhecerão duas fases de um homem perdidamente apaixonado. Max ama Liz
com uma força, que não sei se isso existiria mesmo na vida real, mas
gostaria de acreditar que sim, afinal, como uma boa canceriana, romances
são o meu forte.
O amor pode ser um turbilhão de emoções, algo que te enlouquece, te tira a
razão, a paz, te faz cometer loucuras, mas ao mesmo tempo pode te acalmar,
te trazer paz, leveza, conforto, segurança. Um sentimento que não se pode
medir, te enche de medo e coragem da mesma forma, não há certo ou errado,
e aqui, não há erros e acertos, vilões ou mocinhos, apenas duas pessoas que
se amam demais.
Espero que fiquem perdidamente apaixonadas por essa história como eu
fiquei.
Com muito amor,
Dani Nascimento
Ouça a playlist de “A Perdição de Maxwell” enquanto aprecia a leitura.
Para ouvir, basta apontar o leitor a câmera para o código abaixo:
SUMÁRIO
Nota da autora
Parte Um
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Parte Dois
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Epílogo
Anos atrás...
Mamãe estava com aquele homem de novo. Não tinha ideia porque
ela fazia isso, todas as vezes que ele vinha, ela ficava mal. Ouvia quando ela
gemia, parecia que sentia dor, minha mãe gritava por horas, e quando o
homem ia embora, ela se trancava no quarto e só saía no dia seguinte.
Houve um tempo que eu esperava por ela para comer, aguardava que
saísse do quarto e preparasse nossa refeição, mas com o passar dos anos
aprendi a me virar sozinha e não esperar mais pelo que não viria, entretanto,
eu não tinha como trazer alimentos para casa. A última vez que tentei,
descobri que era muito errado, e se precisava de alguma coisa, teria que
pagar.
A nossa situação começou a ficar ainda mais difícil, todo o dinheiro
que mamãe conseguia entregava para outro homem que trazia algo para ela.
Eu nunca conseguia ver o que era, de tão pequeno, ela escondia na palma de
sua mão.
Entediada e com fome, cansei-me do barulho que vinha do quarto, saí
da sala e fui para fora. Chovia muito e todas as casas estavam fechadas. Era
fim de tarde, e com certeza todos estariam em seus sofás, aconchegados,
tomando leite quente para se aquecer do frio. As crianças assistiriam
desenhos, enquanto eu estava ali, sozinha. Eu não entendia por que os pais
das outras crianças não as deixavam brincar comigo, mas já tinha me
acostumado a ficar sozinha. A solidão não era tão ruim quando fazíamos dela
nossa companheira.
Quando o frio me atingiu com força, voltei para casa, o homem que
machucava mamãe tinha ido embora. Procurei por algo na geladeira velha e
nos armários, mas ambos estavam vazios. Encolhi-me e tentei esquecer da
fome que me corroía por dentro, fazia meu estômago se retorcer. Com os
olhos fechados ouvi minha mãe gemer, era o mesmo som das outras vezes,
logo em seguida veio o riso descontrolado, para mim parecia loucura, talvez
fosse isso. Mamãe estava enlouquecendo.
No dia seguinte continuei com a minha rotina, fui para a escola, ao
menos lá eu tinha certeza de que conseguiria comer, olhei de soslaio para um
garoto novo, que se sentou ao meu lado. Tentei ignorá-lo, como fazia com as
outras crianças, mas quando ele empurrou um sanduíche em minha direção,
foi impossível fingir que não o vi, tinha certeza de que os meus olhos
brilharam e meu estômago roncou.
— Pode comer, eu trouxe dois — insistiu, seus dedos quentes
tocaram os meus. — Seu nome é Liz?
— Elizabeth — murmurei, sem olhá-lo, estava indecisa sobre aceitar
aquilo, e se fosse apenas uma pegadinha? Os garotos tinham o costume de
caçoar de mim.
— Meu nome é Maxwell, mas pode me chamar de Max. — Estendeu
a mão para me cumprimentar, as unhas eram bem limpas e cortadas,
diferentes das minhas. — Vamos lá, pegue a minha mão.
— Por quê? — perguntei, ainda mais desconfiada.
— Por educação — disse como se fizesse sentido, então agarrei sua
mão, cumprimentando com pressa.
Depois disso, não falou mais nada, apenas ficou ali me assistindo
comer, foram longos minutos silenciosos, Max comeu confortavelmente,
como se não visse problema em sentar-se ao meu lado, enquanto eu engolia a
seco cada pedaço de pão, com receio de que alguém aparecesse e o
arrancasse dali dizendo que não poderia ficar ao meu lado. Só que isso não
aconteceu, depois que terminamos, ele me lançou um: “Até amanhã” e saiu.
Fiquei pensando se o encontraria no dia seguinte mesmo, se Max voltaria a
sentar-se ao meu lado na hora do intervalo.
Voltei para casa mais animada, lembrando do garoto gentil, ainda que
desconfiasse de sua atitude, fiquei feliz e grata, ao menos não sentiria tanta
fome essa noite. Quando cheguei, senti algo estranho, a porta velha, com uma
rachadura enorme estava parcialmente quebrada, escancarada. Sem medo
caminhei para dentro, talvez um dos homens que vinha até aqui tenha feito
isso.
— Mãe! — chamei, passando pelos cômodos vazios. — Eu já
cheguei.
Não tive resposta, por um momento pensei em ir para o meu quarto e
esperar até que ela estivesse bem para sair e falar comigo, Verônica não
gostava de ser incomodada, me surrou várias vezes por ir até o seu quarto,
mas dessa vez algo estava estranho. Andei poucos metros até chegar diante
do quarto dela, a porta estava da mesma forma que a da entrada, quebrada e
aberta.
Avistei seu corpo sobre a cama, de bruços, um dos braços tocando a
poça de vômito, agora seca no chão, mas o fedor empesteava o quarto. Fui
até ela, que parecia dormir, contudo, não era isso, minha mãe não dormia.
Seus olhos, tão parecidos com os meus, estavam bem abertos, praticamente
arregalados, o rosto bem roxo, quase atingindo um tom azul, ou talvez
esverdeado. A boca entreaberta, com resquícios secos do vômito. Fitei o
braço caído, que tinha uma seringa enfiada na pele, o antebraço amarrado
com uma calcinha suja. Então não me restou nenhuma dúvida, ela finalmente
tinha morrido.
Não chorei, nem tive medo, só pensei no que deveria fazer agora,
precisava avisar alguém, chamar a polícia, pedir por ajuda seria tolice,
minha mãe estava morta, ninguém poderia fazer nada quanto a isso. Segurei
bem a mochila surrada e saí caminhando até a cozinha. Peguei um dos
bancos para conseguir alcançar a parte de cima da geladeira, aquele era o
protocolo de emergência. Um envelope, um número, uma ficha. Verônica
parecia prever a sua morte, e me preparou para o dia que isso acontecesse.
Saí de casa carregando comigo o número de telefone da minha avó,
eu ainda não a conhecia, minha mãe não falava muito dela, a única coisa que
sabia era que estava viva, e que esse número, no envelope, era seu. O
telefone público não ficava longe de casa, durante o pequeno trajeto até ele,
recebi olhares enojados dos vizinhos, eles nos odiavam, diziam que
sujávamos sua vizinhança decente. Respirei fundo, antes de colocar a ficha
no local indicado, digitei os números com calma, para garantir que não
erraria. Quando finalmente chamou, fiquei aliviada, não demorou até uma
voz doce e branda, atender.
— Minha mãe morreu — foi a única coisa que eu disse.
Depois daquela ligação entrei num limbo confuso, onde tudo
aconteceu rapidamente. Não lembro o que minha avó respondeu, nem como
tanta gente ficou ao redor da minha casa. Lembro-me das luzes ofuscantes,
das sirenes e do barulho que parecia me ensurdecer. No meio daquela
loucura, vi o garoto do sanduíche, parecia assustado, olhava diretamente
para mim, mas não durou muito, uma mulher loira o segurou pelo ombro e o
levou. Sozinha, sentei-me na curta escada, enquanto os policiais retiravam o
corpo da minha mãe, só me restava esperar que minha avó chegasse.
A moça da assistência social olhou-me com pena, dizendo que era
melhor entrarmos porque estava esfriando, ficou me fazendo companhia,
porque segundo ela, o abrigo da cidade estava cheio, e eu não poderia ir
para o orfanato em outra cidade porque minha avó estava vindo. Fiquei
jogada no colchão do quarto, esperando ansiosa pelo único familiar vivo que
me restava. No fundo, desejava que Abigail Collins fosse uma boa pessoa, e
não agisse como minha mãe, deixando-me à própria sorte.
Cochilei ignorando a dor no meu estômago, e só acordei quando uma
mão acariciou meu rosto suavemente, por instinto me afastei, mas relaxei
quando a figura de uma senhora sorriu para mim. Era ela, minha avó.
Recostei-me, sentando para analisar com calma a mulher à minha frente.
Suas roupas não eram melhores que as minhas, a blusa florida de tecido
estava muito amassada, com uma mancha amarelada na parte superior.
— Você trouxe uma ficha? — foi a primeira coisa que perguntei,
semicerrando os olhos.
— Uma ficha? — Estranhou minha pergunta, e as rugas entre as
sobrancelhas evidenciaram-se.
— Eu preciso de uma ficha e um telefone, é a regra — expliquei, e
ela ainda se mostrava confusa. — Quando você partir, vou precisar ligar
para alguém.
— Ah, sim... — Abigail suspirou, abrindo um sorriso triste. — Vou
te dar essa ficha aqui — procurou dentro de sua bolsa, e logo me entregou
—, depois pensarei em um número de emergência.
Assenti, sentindo-me mais tranquila, mamãe dizia que era essencial
ter um plano para uma emergência, principalmente quando as coisas
ficassem difíceis, pessoas partiam, morriam, a solidão era algo a se acolher,
compreender que não havia outra realidade para mim senão aquela. Eu já
sabia o que esperar da minha vida, e não era muito.
Levantei o meu olhar lentamente, cauteloso, sorrateiro, que
instintivamente pousou sobre ela. Elizabeth, a doce e delicada Liz, garçonete
por meio período, e no resto do tempo bailarina, quase profissional, como
ela gostava de enfatizar. Com seu cabelo castanho desgrenhado, colado
sobre a pele suada, rodopiava pela sala do novo apartamento de Cristian.
Liz era a minha obsessão, meu pecado secreto. Tudo nela me
chamava atenção, eu gostava do jeito que o seu cabelo caía com os
movimentos ousados que ela fazia ao treinar. Amava a maneira que se
movia, como era flexível, graciosa em sua dança. Eu poderia passar a vida
toda admirando-a e nunca me cansaria de olhar.
O único problema era o fato dela namorar um dos meus amigos mais
próximos. Eu conhecia Cristian há anos, bem antes dele começar a namorar a
Liz, na verdade, eu a conheci primeiro, logo quando cheguei a River Lake.
Lembro-me da garota calada, cabelo bagunçado, roupas amassadas,
que sentava sozinha no refeitório do colégio. Ela sempre pegava sua bandeja
de comida, e logo terminava a refeição, depois fitava a dos outros, como se
endeusasse cada tira de peixe frita. Perguntei sobre quem era a garota, e
descobri que se chamava Liz, e que vivia com a mãe na parte baixa da
cidade. Quis ajudá-la de alguma forma, sabia como era sentir fome e não
poder comer, por isso tomei coragem de levar para ela um dos sanduíches
que Freda, minha nova mãe, preparava.
A princípio achei que fosse rejeitar, Liz parecia viver na defensiva, e
depois que sua mãe morreu, tudo piorou. Os únicos momentos que eu tinha
com ela era nos intervalos das aulas, eu sempre dava um jeito de levar algo
para que ela comesse, fiz isso por quase um ano, quando Freda descobriu e
me proibiu de chegar perto de Liz, claro que eu não obedeci totalmente,
tratei de ser mais cuidadoso.
Com o tempo nosso afastamento foi natural, eu continuei observando-
a de longe enquanto ela desabrochava, transformando-se de uma garota
magricela em uma linda mulher. Muitos garotos da escola davam em cima
dela, contudo, Liz tinha uma personalidade forte, era arisca, na maior parte
do tempo estava irritada, com aquele rosto angelical fechado.
Isso era o que eu mais gostava nela.
Havia três problemas que me impediam de pegar o que eu queria.
Número um: ela namorava meu amigo. Esse tópico estava no topo da minha
lista. O segundo: era que minha mãe adotiva, a quem eu devia mais do que
minha própria vida, tinha deixado claro que eu deveria manter distância da
garota problemática. E por último: não confiava em mim mesmo com ela. Liz
era como um diamante bruto, precioso, bonito, e eu tinha o costume de
destruir tudo o que era bom.
Destruidor de corações. Era assim que as garotas se referiam a mim.
Apesar de ter respeitosamente, levado todas para cama, e deixado claro
desde o início que era apenas uma transa, ainda assim, meu posto de vilão
estava garantido nas bocas femininas, não que eu me importasse, mas no
fundo, temia fazer o mesmo com Liz. Quando me pegava pensando nela, em
como seria ter seu corpo sob o meu, sendo explorado pela minha boca, tinha
certeza de que a queria, o que me deixava aflito era o que poderia acontecer
depois. E se no final acabasse como todas as outras? Se o desejo que eu
sentia fosse apenas coisa de momento e eu machucasse seu coração?
Acho que deveria mudar o tópico três para o topo da lista, porque
era ele o que mais me inquietava.
Cristian era um bom amigo, e claro que eu era leal às minhas
amizades, apesar de às vezes querer achar um motivo para dizer que ele era
ruim para Liz, que não a merecia. Colocá-lo no papel de vilão que eu
ocupava. No entanto, não havia nada a apontar, vindo de uma família
tradicional e bem-conceituada do país, onde os pais dele comandavam um
negócio milionário, meu amigo se preparava para assumir o lugar do pai,
fazíamos faculdade de administração juntos, já que meus pais adotivos
também tinham o mesmo desejo que os de Cristian.
Nossos pais exigiam o máximo de nós, éramos os garotos modelos de
River Lake. Por isso fiquei surpreso por ele namorar uma garota com uma
classe social tão inferior à sua. Não que eu fosse o tipo de cara que pensasse
dessa forma, principalmente depois de tudo que passei, mas os pais de
Cristian pareciam dar muito valor a esse tipo de coisa, assim como minha
mãe.
Freda, era uma socialite caridosa, e ainda que demonstrasse amar a
mim e à minha irmã, Ashley, que também foi adotada, eu sentia que de
alguma forma usava isso como uma demonstração de caridade. Nos eventos
que fazia na cidade para alavancar sua entrada na política, o assunto adoção
e das crianças fragilizadas vinha sempre à tona.
— Cara! Está me ouvindo? — Cristian cutucou meu braço, irritado
por não ter sua tão desejada atenção.
Porra! Como eu poderia dar atenção a ele com a Liz abrindo as
pernas daquela maneira? Já era uma luta manter meu pau comportado, agora
controlar minha ânsia de observá-la, era demais. A culpa vinha com a
mesma força que o desejo. Não queria me colocar naquele papel, de infiel,
traíra. Mulheres eu tinha com muita facilidade, lances ocasionais,
relacionamentos temporários, nunca tive problema, mas não queria ser
atraído por uma que fosse comprometida.
— Estou, Cristian, claro que estou — resmunguei, tomando um gole
da minha cerveja.
Estava aproveitando os últimos dias das férias de verão, com o
retorno das aulas e nova temporada no basquete, eu teria que entrar na linha.
Como capitão do time, tinha que dar o exemplo, Cristian também, atuávamos
como pivôs, a base mais forte dos River´s, os outros caras nos seguiam para
todos os lados. Acostumei-me com a popularidade, com o dinheiro, e tudo o
que minha nova família me proporcionou, descobri o amor pelo basquete,
queria passar a vida nas quadras, e levar o esporte como profissão, mas
Freda e Lucius tinham outros planos para mim. Então me restava apenas
aproveitar o meu último ano na faculdade, e com isso, o tempo que tinha com
Liz, porque quando o ano acabasse, nossas vidas tomariam rumos diferentes.
— Porra, Max! Está pensando em alguma boceta, não é? — indagou,
cheio de malícia. — Me diz quem é? É gostosa?
Revirei os olhos, enojado. Cristian adorava contar vantagem em cima
de suas transas. A primeira vez que me falou sobre a noite que dormiu com a
Liz, eu vomitei no meu vaso sanitário por meia hora. Isso porque assim que
ele terminou de contar toda aquela merda, descobri que se tratava da garota
que eu desejava em segredo.
Lembro-me com clareza do dia que passei a ver Elizabeth Collins
com outros olhos, era fim de tarde, o céu estava escurecido, nuvens
carregadas anunciavam que uma tempestade estava a caminho. Estava
prestes a correr para dentro do meu carro, quando uma pequena multidão me
deixou intrigado. Atravessei a rua, enfiando-me entre as pessoas, e foi ali
que a vi, linda, o cabelo preso em um coque bagunçado, o rosto suado, usava
uma roupa rosa, tão colada ao corpo que amassava seus seios, e isso era
quase a porra de um crime, o quadril coberto por uma saia de tule, iluminada
por glitter, assim como toda ela.
Liz rodopiava, abria-se inteira, e fazia com que seu pé tocasse o
ombro, levantando-o pelas costas. Era de fato uma dança estranha, mas foi a
coisa mais linda que vi na minha vida, eu não conseguia fazer mais nada
além de olhá-la. Queria ir até ela, ignorar o treino que me esperava e chamá-
la para sair, conhecê-la mais para descobrir o motivo daquele meu fascínio
repentino, mas então a chuva chegou de repente, e todo mundo começou a
correr alvoroçado, quando dei por mim, a linda bailarina desapareceu, e eu
custei a acreditar que a tinha perdido de vista com tanta facilidade.
Então nos meses seguintes aquele fascínio se tornou uma obsessão,
mantive Liz sob meu olhar a todo momento, passei a frequentar a Westhouse,
a lanchonete que ela trabalhava. Lá era um lugar que eu evitava, visto que
praticamente todo o pessoal da faculdade gostava de se reunir ali, sempre
estava cheio, mas a partir daquele dia se tornou um dos meus lugares
favoritos. Eu a admirava discretamente, não queria que ninguém
desconfiasse, ainda garantia que nenhum cara tentasse nada inapropriado
com ela, entretanto, não estava preparado para que um desses caras fosse
meu amigo.
Eu estava bebendo enquanto Cristian me falava sobre a garota com
quem estava saindo, naquele dia me contou como tirou sua virgindade, como
a garota estava apaixonada por ele, que faria tudo para agradá-lo. Eu estava
a ponto de mandá-lo à merda quando ela chegou, minha doce bailarina entrou
naquele lugar, usando calça legging, e uma blusa enorme, apressada
justificava ao seu chefe o motivo do atraso. Eu ri amargamente por causa, da
porra, do destino quando Cristian a puxou para um beijo obsceno, uma ânsia
surgiu, a lembrança de sua narrativa de como transou com ela quase me fez
vomitar.
Eu me despedi inventando um compromisso qualquer, não podia ficar
perto dela, imaginando tudo que meu amigo fazia dentro de um quarto com
seu corpo, quando eu a queria para mim. Desejava Liz mais do que qualquer
outra garota, tinha um sentimento de posse que era algo inexplicável.
Não sei o que aconteceu, nunca fui romântico ou possessivo, todas as
mulheres que tive em minha vida foram para fins sexuais, mas, Liz — Ah,
meu Deus! —, ela despertava algo que eu não podia compreender, derrubou-
me completamente, não conseguia tirá-la da cabeça. Com o tempo criei um
laço de confiança e amizade com ela, mas bastava chegar perto, para todo o
meu corpo reagir, o desejo me corrompia de forma animalesca, precisava
usar de todo meu autocontrole para não fazer uma besteira. Eu a queria para
mim, isso era um fato, contudo, sabia que não poderia ter.
— Max, é sério, cara, come essa mulher e volte para a vida real —
Cristian zombou mais uma vez, pela sua voz embolada estava prestes a cair
de tão bêbado. — Já faz meses que está desse jeito!
— Não é nada disso, só estou cansado — menti descaradamente,
nunca diria que, a mulher que me incentivava a transar, era sua namorada, e
que o único motivo de ainda estar em seu apartamento era porque ela ainda
estava aqui.
— Se você diz, agora escuta aqui, a Read Enterprise entrou em
contato comigo, eles me querem! — contou animado. — Meu pai acha uma
boa ideia eu ter essa experiência antes de assumir a nossa empresa, com isso
terei chance de fazer meu nome no mercado.
— Vai ser ótimo — disse sem interesse.
— É sério, vou faturar muito com eles.
— Já contou para a Liz? — inquiri, voltando a olhar para onde
estava.
— Comentei por cima, se eu falasse que a sugestão para aceitar veio
do meu pai, ela iria me encher de perguntas. — Bufou irritado.
— Por que você ainda não a apresentou como sua namorada? —
indaguei, tentando fingir que aquilo era só uma pergunta insignificante.
— Sabe como meus pais são, principalmente minha mãe. — Suspirou
e apontou para Liz que dava piruetas. — Olha só pra ela. Eles a comeriam
viva.
— Você me disse que seus pais querem te ver casado assim que o
ano acabar, como pretende fazê-los aceitar a Liz do jeito que ela é?
— Eu ainda não sei, porra! — rosnou, coçando a cabeça. — Mas
enquanto esse dia não chega, eu posso ter a minha namorada, na minha
cama...
— Nem começa — interrompi enojado.
— Tá legal, cara. Eu vou pegar mais uma, você quer? — Indicou a
garrafa de cerveja e eu neguei.
— Estou tranquilo.
Fiquei aliviado por ele se afastar, assim eu poderia pecar em paz, e
quando dizia pecar, me referia a observá-la. Esse era o décimo mandamento,
não cobiçar a mulher do próximo, e eu o fazia o tempo inteiro. Com gestos
graciosos, Liz dançava lindamente, observei-a aproximando-me
sorrateiramente, como um predador prestes a atacar sua presa. Toda
envergada, com a cabeça entre as pernas numa posição confusa, ela me viu,
olhou-me de baixo para cima, alargou seu sorriso bonito para mim, e logo
ficou de pé alongando-se.
— E aí, o que achou, Max?
— Sabe que não entendo nada disso. — Eu ri sem jeito, cocei os
cabelos no pé da nuca, sempre ficava assim perto dela. — Mas estava
perfeita.
— Você sempre diz isso. — Bateu em meu ombro, e logo em seguida
acariciou.
— Porque é a mais pura verdade — afirmei, tentando não soar um
tolo apaixonado.
Encarava seus olhos brilhantes e perfeitos, quando meu telefone
tocou, bastou uma olhada na tela para saber que não era importante. Nada
era mais importante do que o pouco tempo que tinha perto da Liz, eu deixava
tudo de lado quando se tratava dela, aquilo se tornava engraçado porque nós
dois éramos apenas bons amigos.
— Alguma das suas amigas com benefícios? — Liz indagou,
curvando-se sobre mim para espiar meu celular.
Seu cheiro me invadiu com força e meu pau endureceu numa
velocidade absurda, todo o meu corpo reagiu, desejando-a naquele instante.
Tive vontade de esquecer de tudo, e puxá-la para os meus braços, atacar sua
boca gostosa e provar do seu beijo.
— A única amiga que tenho é você, sabe disso. — “Mas sem os
benefícios”. Pensei. Sempre pensava, porém nunca falava.
Ela me abraçou de maneira afetuosa, sem malícia, e eu tive que fazer
uma manobra absurda para que não sentisse minha ereção. Liz tinha se
tornado parte importante da minha vida, ousava dizer que era mais
importante que Cristian, mais importante que tudo. Por ela ficava horas no
apartamento dele, observando-os juntos, e me segurava para não gritar que
seu namorado não era bom o suficiente, que nenhum homem seria, ela
merecia muito mais. No entanto, bastava ver seus olhinhos prontos para
chorar, quando ficava magoada, que todas as palavras fugiam da minha boca.
Aceitava me torturar apenas para estar perto dela.
— Estou treinando para minha apresentação na academia, vão ter
muitos olheiros lá, posso conseguir um bom empresário que poderá
alavancar minha carreira.
— Sabe que posso te financiar, já falei várias vezes que invisto na
sua carreira... — sugeri mais uma vez, queria poder fazer algo bom para ela.
— Você sabe o que significa um plié[1]? — perguntou, com a
sobrancelha direita arqueada em desafio.
— É aquela coisa rosa colada, que tem aquele... — Fiz uma volta
com o dedo ao redor do quadril, tentando me expressar. — Você sabe,
aquela sainha cheia de frufru.
Liz caiu na gargalhada, apoiando-se nos meus ombros, algo dentro de
mim cresceu de prazer com o som da sua risada, eu apenas admirei fingindo
estar envergonhado.
— Aquela sainha cheia de frufru se chama Tutu de Ballet, e plié é um
dos passos iniciais do ballet.
— Tudo bem, eu não entendo nada disso, sou um jogador de
basquete, coloque uma bola na minha mão e o show começa — justifiquei,
desejando que alguma faísca de razão a convencesse. — Mas isso não me
impede de investir na sua carreira, tenho um bom dinheiro guardado...
— De jeito nenhum, quer me ajudar porque é meu amigo — rejeitou
outra vez e eu apertei os lábios em desagrado pela palavra “amigo”. —
Quero conquistar isso pelo meu talento.
— E você vai. — Envolvi meus braços ao seu redor, abraçando-a,
beijei sua testa. Liz era tão baixinha comparada a mim, que se encaixava
perfeitamente entre meus braços. — Vai conquistar tudo o que deseja, tudo o
que merece.
— Como estão as coisas com seus pais? — inquiriu, erguendo o
queixo para me encarar, dessa forma nossas bocas ficaram próximas,
testando todo o meu autocontrole.
— O mesmo de sempre, eles querem que eu vá trabalhar na King, e
eu não quero... — Lutei para desviar o olhar, ficando cada vez mais
enfeitiçado por aquela boca.
— E o que você quer, Max?
Pensei em dizer “você”, mas tive medo de que, o que eu sentia fosse
apenas um desejo desenfreado, e no final não fosse capaz de dar o amor que
ela mereceria. Liz era especial demais, com seu rosto fino e a franjinha
caindo sobre a testa, transparecia um ar angelical, e eu amava cada detalhe.
Não conseguia afastar meus olhos dela. Então como poderia cogitar a ideia
de acabar machucando-a apenas por causa do meu desejo?
— Jogar profissionalmente — confessei. — Atualmente sou o melhor
jogador do River´s, já recebi boas propostas para jogar fora.
— E por que não fez isso ainda? — rebateu.
— Para desapontar meus pais? — Balancei a cabeça negando. —
Não posso fazer isso, não depois de tudo o que fizeram por mim.
— Se o que fizeram foi de coração, você não tem obrigação de
desistir do seu sonho só para agradá-los — incentivou-me, cheia de
confiança. — Você seria uma estrela do atletismo, assim como é aqui em
River Lake.
— Você tem muita fé em mim.
— E você em mim. — Liz sorriu e acariciou meu rosto, seu toque
não tinha malícia nenhuma, ela era carinhosa com todos, e nós criamos
intimidade com o passar do tempo, mas apenas na friendzone.
Meu olhar se conectou ao seu, e suspirei desejando que o tempo
parasse, que pudesse ficar ali, preso em seu olhar, admirando seu rosto, a
boca pequena que parecia me chamar a cada segundo.
Um barulho de garrafas caindo nos dispersou, Liz correu para a
cozinha e eu a segui. Cristian havia jogado várias garrafas no chão com um
único empurrão. Apertava o celular na mão com força, e seu olhar irritado
caiu sobre Liz. Quis entrar em sua frente e impedir que ele a olhasse daquela
forma.
— Cristian... O que... — Tentou entender o que se passava com o
namorado, mas foi repelida com rispidez.
— Não é da sua conta!
— Cristian — chamei seu nome e foi em tom de advertência.
Liz me olhou assustada e eu fiz um sinal para que ela saísse de perto
dele. Cristian veio em nossa direção e cambaleou de tão bêbado. Quando
abriu a boca para se justificar, vomitou nos próprios pés, antes que ele
caísse de cara no vômito, o segurei, Liz correu para ajudá-lo, desesperada e
constrangida.
Ela o levou para o quarto a fim de limpar toda a sujeira e colocá-lo
na cama, eu me dispus a acabar com a bagunça da sala. A primeira coisa que
peguei foi o celular, estava desbloqueado e coberto de vômito, a curiosidade
me bateu fundo. Apesar de Cristian ser um babaca, na maioria das vezes, ele
não costumava se descontrolar daquele jeito. No aparelho nada me chamou
atenção, mas havia uma ligação de alguns minutos atrás de uma tal Briana.
Aquilo acendeu um alerta na minha cabeça, uma parte de mim desejou
mostrar para Liz, seria uma oportunidade de acabar com esse relacionamento
e ter uma chance de verdade com ela, no entanto, não queria que acontecesse
dessa forma, apesar de desejar roubá-la para mim, não queria passar por
cima de ninguém, muito menos dos meus princípios.
Arrumei tudo e deixei o celular em cima do sofá. Segui até o quarto e
senti aquele velho incômodo me corroer ao me deparar com Liz deitada ao
lado de Cristian, ela acariciava seus cabelos enquanto ele murmurava algo
embriagado. Não interrompi aquele momento, apenas me recolhi sentindo-
me um idiota por não lutar pela garota que desejava. Esse era o problema, eu
não poderia lutar por ela quando não tinha certeza sobre os meus
sentimentos. Não queria me precipitar e magoá-la, mas ver Liz cuidando
dele, deitada ao seu lado, imaginar que noite após noite eles dividiam a
mesma cama, me enlouquecia.
O melhor que eu podia fazer era me afastar, seguir com a minha vida
e deixar que ela seguisse com a dela, talvez o relacionamento dos dois
acabasse e Liz encontrasse um cara legal, melhor que Cristian, melhor do
que eu. Saí do apartamento dele decidido a me manter afastado, encontrar um
sexo casual que me desse alívio e ajudasse a tirar Liz da minha cabeça. Era
hora de parar de pecar, de desejar o proibido, e me permitir seguir em
frente.
Meu corpo estava suado, meus pés doíam, mas eu me mantinha na
mesma posição, segurando firmemente nas barras, olhando meu reflexo no
espelho. Postura, Liz. Ainda podia ouvir a voz de Madelyn, minha
professora de ballet, ecoando em meus ouvidos. As bolhas e calos que me
incomodavam, não deveriam ser um motivo para diminuir o ritmo dos
ensaios, não se eu quisesse ter a chance de conseguir ser vista por algum
olheiro de uma companhia importante, isso daria a mim e à minha avó um
passaporte para longe dessa cidade.
Quando Abigail chegou, pensei que as coisas seriam diferentes, em
parte foram, ela não era como Verônica, se esforçou muito para cuidar de
mim, contudo, o destino tinha um carma pesado preparado pra mim. Minha
avó vivia tão miseravelmente quanto eu em South Last. Apesar de ser uma
cidade grande e cheia de oportunidade, Abigail vivia em um trailer velho,
que trouxe consigo e agora ficava estacionado no fundo da nossa casa. E
esse não era o único problema dela, descobri dois anos depois que tinha uma
doença terminal. Câncer no pulmão era um merda. Os avisos nas
embalagens de cigarro não adiantaram de nada, Abigail os ignorou assim
como eu os ignorava agora.
Balancei a cabeça tentando ignorar todo o mundo de problemas que
carregava em meus ombros, agora era o momento de focar na minha
apresentação. Para pessoas como eu só havia uma oportunidade na vida para
se dar bem, e essa era a minha chance. Se conseguisse impressionar olheiros
e diretores das melhores companhias de ballet, poderia sair daqui. Construir
uma carreira brilhante e seguir com a minha vida, longe de todo o peso de
viver em River Lake.
South Last era o meu futuro, meu e da minha avó, sabia que as coisas
melhorariam, era questão de tempo. Como uma bailarina profissional teria
direito a plano de saúde, e Abigail poderia fazer um tratamento decente, eu
cuidaria dela como merecia. Amenizar sua dor era o máximo que conseguia
fazer morando aqui.
Fechei os olhos, inclinando o corpo para trás, na ponta dos pés movi
meu corpo, direcionando-me para o meio da pista, treinando o fouetté, ainda
que minhas sapatilhas gastas não ajudassem, girei mantendo a postura e
firmeza nos meus calcanhares. Geralmente eu contava quantos giros
conseguia executar com perfeição, mas dessa vez, perdi-me na melodia que
ecoava no rádio. Ali naquela sala, Elizabeth Collins não era um nada,
aquela garota que ninguém queria conversar ou fazer amizade, vulgar e sem
classe, ela se tornava uma estrela. Grande bailarina, uma princesa como nos
filmes, aclamada, adorada, aplaudida por um grande público.
— Está sangrando de novo. — Madelyn surgiu como um fantasma,
seu olhar afiado e avaliador sobre os meus pés. — Já disse mais de uma vez
que precisa ficar atenta aos seus limites.
— Eu sei, não está doendo, foi por isso...
— Imagine só se começa a sangrar no meio da apresentação? —
ralhou, jogando para mim uma caixa de lenços. — Vão achar que trabalho
com garotas desleixadas.
— Isso não vai acontecer, eu prometo — afirmei apreensiva, temia
que a qualquer momento dissesse que não poderia me apresentar.
— Eu cedi essa bolsa a você porque acredito no seu potencial, Liz
— declarou pressionando os lábios, mostrando como estava irritada. — O
mínimo que espero de você é excelência no dia da apresentação.
— E terá, garanto — concordei.
Madelyn era a única nessa cidade que me fazia temer algo, a única
que eu respeitava, ainda que fosse por obrigação. O ballet foi a única coisa
que consegui de verdade. Ela me encontrou dançando em uma apresentação
ridícula do colégio, havia aceitado participar para conseguir um ponto extra
e não reprovar. Quando sugeriu que eu poderia estudar ballet na sua pequena
companhia, ironizei, de todos os lugares que imaginei estar, aquele sequer
passou pela minha cabeça, mas fui, mesmo assim. Aquela foi a decisão mais
acertada que fiz, aprendi tanta coisa, Madelyn me mostrou um mundo de
possibilidade, em troca me tornei sua melhor bailarina. Claro que eu era de
uma companhia pequena, ela não poderia me pagar muito, então quando me
formasse, almejava encontrar algo maior.
— Quero que se prepare, fomos chamados para uma apresentação
especial — comentou, recolhendo os objetos pela sala. — Uma campanha de
caridade da King, Freda vai apresentar um projeto social e pediu algo
simples e encantador.
— Tudo bem. — Assenti, complacente. — A senhora já decidiu o
que vamos apresentar?
— Ainda não, mas faremos treinos extras nas próximas sextas-feiras
à noite — explicou, decidida, não tive como dizer que não podia ir, então
apenas repeti o movimento positivo com a cabeça. — Termine de guardar
tudo e limpe o chão, iria usar a sala para uma aula infantil daqui uma hora.
— Sim, senhora, eu cuido disso.
Madelyn saiu sem dizer mais nada, olhei pela primeira vez para os
meus pés e tive que dar razão, a parte gasta da caixa estava encharcada de
sangue. Peguei minha mochila, procurando pelos meus chinelos e curativos,
não sabia como faria para trabalhar hoje com esses ferimentos, eles
precisavam respirar para que se curassem a tempo para as apresentações, e
com o ritmo dos ensaios, quase não teria tempo para cuidar deles.
Com meu trabalho de garçonete na Westhouse, sobrava pouco tempo
para mim, eu me dividia entre ele, o ballet, minha avó e Cristian. Esse vinha
sendo um dos maiores motivos das nossas discussões. Meu namorado tinha
uma vida maravilhosa, vindo de uma família abastada, não precisava se
preocupar com nada, tudo caía como uma pluma em suas mãos. Diferente de
mim, e boa parte da população que batalhava por cada pedaço de pão que
colocava na mesa.
Depois de repassar cada canto da sala com o olhar, conferindo se
tudo estava do jeito que madame Madelyn gostava, saí do estúdio e me
deparei com o Deus Grego de River Lake, também conhecido como meu
amigo, herdeiro da King e destruidor de corações. Maxwell King, Max para
os íntimos. Com seu cabelo sedoso, jaqueta do time de basquete da
universidade, recostava-se em sua moto. Sabia que para ele estar ali no meio
da tarde significava que Cristian havia furado comigo outra vez.
— Seu cavalheiro de armadura reluzente chegou. — Fez uma
reverência engraçada, estendendo um capacete para mim.
— Seu amigo esqueceu da namorada mais uma vez e você veio
quebrar o galho? — Semicerrei os olhos e ele assentiu.
— O pai dele o levou para South Last, parece que assim como a
King, eles vão abrir uma filial lá — explicou, montando na moto —, mas,
como um cara bacana que sou, diferente do que as más línguas dizem, estou
aqui para te levar para casa.
— Eu preciso ir direto para a Westhouse, meu turno começa em... —
olhei para o relógio em meu pulso, o vidro trincado dificultava, mas não me
impedia de ver as horas — quinze minutos.
— Então vamos, não quero ser o responsável pelo seu atraso. —
Bateu no banco de couro, chamando-me.
Parecia tão sedutor, jovial, eu entendia por que as garotas ficavam
caidinhas por ele. Depois de colocar o capacete, passei uma perna com
facilidade por cima do banco, colei meu corpo ao de Max, envolvendo-o
com os braços. Ele disparou pela pista, em alta velocidade, o vento batia
contra mim, refrescando-me e dando uma sensação de liberdade. Quando
fechei os olhos imaginei que estava partindo, deixando de vez aquele lugar,
indo em busca de tornar os meus sonhos realidade. A moto parou, eu
demorei para reagir, queria continuar com aquela felicidade ilusória, mas o
grito do meu chefe me trouxe de volta à realidade, onde eu voltava a ser
“ninguém”, apenas a garota que servia, que cuidava da limpeza, nada mais.
Partia meu coração ver os olhos tristes de Liz ao parar em frente ao
Westhouse, eu sabia que ela não era feliz trabalhando ali, como um pequeno
pássaro preso na gaiola, que se agitava ao chegar em sua prisão, os ombros
caíram, o semblante esmoreceu. Olhei para os pés machucados, envolto em
esparadrapos, que logo estariam dentro das botas quentes que faziam parte
do uniforme. Tinha vontade de arrastá-la dali e levar Liz para bem longe
onde pudesse vê-la dançar e sorrir, feliz.
— Por que não tira o dia de folga? — sugeri, antes que ela entrasse.
— Preciso trabalhar, Max. — Deu-me um sorriso triste, desanimado.
— Minha avó precisa de mim, não posso me dar ao luxo de tirar folga.
— Já me ofereci para te ajudar, sabe que pode contar comigo...
— Não quero o dinheiro de ninguém, cometi o erro de aceitar a ajuda
do Cristian uma vez e me arrependo até hoje. — Seu argumento me deixou
desconfiado, quis saber o que aconteceu, mas sabia que naquele momento ela
não falaria nada.
— Tudo bem, se quiser uma carona na hora de ir embora me avisa,
vou estar por aqui.
— Você não tem que estudar para as provas finais antes das férias de
verão? — inquiriu, toda autoritária, apesar de não estar na faculdade, sabia
das obrigações que Cristian e eu tínhamos.
— Estou mais do que preparado para elas, não se preocupe. —
Pisquei confiante.
— Acredito. — Sorriu e me deu um abraço afetuoso. — Obrigada
pela carona, agora tenho que entrar.
Liz tentou sair dos meus braços, mas não permiti. Ignorei as vozes na
minha cabeça que diziam que abraçá-la daquela forma em público era um
erro, e a mantive envolvida, aproveitei para inspirar o cheiro bom que seu
cabelo tinha, acariciei suas costas, controlando-me para não gemer pelo
calor que seu corpo emanava colado ao meu. Ela retribuiu meu abraço,
diferente de mim o dela não tinha malícia, desejo, era apenas fraternal.
Quando se afastou, beijou meu rosto rapidamente e correu para dentro da
lanchonete, onde seu chefe gritava o nome dela de modo ríspido.
Como eu queria que as coisas fossem diferentes, talvez se eu tivesse
chegado nela antes que Cristian o fizesse, hoje eu a teria comigo. Deveria ter
tido um pouco de fé em mim mesmo, acredito que poderia ser um cara legal
para ela. Ignorei novamente aquelas dúvidas que me deixavam atordoado,
montei na minha moto e segui em alta velocidade para casa. Eu tinha dez
mensagens de texto não lidas enviadas pela minha mãe, se Freda King
soubesse onde eu estava enquanto a ignorava a briga seria certa.

A mesa de jantar estava posta, de um lado meus pais, conversando


sobre um assunto que não me despertava o mínimo interesse, ao meu lado
estava Ashley, que comia desenfreadamente enquanto me encarava, curiosa.
Eu amava aquela pequena garota, apesar de ser extremamente irritante às
vezes. Assim como eu, Ashley foi adotada, Freda a trouxe para casa quando
ela tinha apenas cinco anos. Foi abandonada pelos pais biológicos por sua
condição geneticamente diferente. Minha irmã havia sido diagnosticada com
nanismo antes mesmo de nascer, eles permaneceram com ela por alguns
anos, então a situação de Ashley se complicou, ela precisaria passar por
algumas cirurgias, e isso pareceu ser demais para os seus progenitores. Foi
aí que meus pais a adotaram.
— Pode me passar os aspargos? — Ashley pediu, estendendo a mão.
— Você não enche nunca? — provoquei, entregando a ela o prato.
— Você não cansa de ser insuportável? — rebateu com diversão, em
seguida indagou: — O que está te deixando preocupado?
— Não é nada — respondi, mas minha mãe parecia mais atenta à
nossa conversa do que eu imaginava.
— Deve ser a tensão das provas, não é, querido? — Freda cortou sua
carne, sem nos olhar. — Em breve vai se formar e então poderá começar a
trabalhar na King oficialmente.
— Estamos ansiosos por isso, Max — Lucius, meu pai adotivo,
comentou. — Soube que Cristian vai começar um estágio na Read
Enterprise, seria bom se você começasse o seu também, assim pode ir se
familiarizando com o nosso negócio.
— Quero disputar o último campeonato antes das férias de verão...
— comecei a explicar e Freda levantou o olhar para me encarar.
— Cristian vai deixar o basquete antes, não vai ser um problema
para você fazer o mesmo — afirmou como se a decisão tivesse sido tomada.
— Precisa focar na sua carreira, logo seu pai e eu não estaremos mais à
frente da King.
— Vocês disseram que eu poderia concluir o ano no basquete, eu me
comprometi com o time. — Limpei a boca com o guardanapo bordado,
perdendo a fome.
— Seria uma novidade para todos, mas vocês precisam saber. —
Lucius gesticulou animado. — A mãe de vocês vai se candidatar à prefeitura
de River Lake.
— Mãe, isso é incrível! — Ashley bradou, levantando-se para
cumprimentá-la.
Engoli em seco, sabendo o que aquilo significava. Por vezes planejei
como dizer a eles que não queria assumir a King, que amava o basquete e era
isso que queria fazer profissionalmente. Sentia-me ingrato, culpado por
desperdiçar a oportunidade de ouro que qualquer jovem que cursava
administração gostaria de ter. Agora com essa notícia, não teria escolha,
Ashley levaria uns cinco anos para se formar, então deveria ser eu a assumir
o lugar deles à frente da empresa.
— Precisa se preparar, filho, em breve vai ser oficialmente o
presidente da King — Freda declarou. — Já posso imaginar seu nome
estampado em letras garrafais no jornal. “Maxwell King, o herdeiro assume
o trono.”
Forcei um sorriso, concordando com aquilo. Bebi um gole da água na
minha taça, desejando que fosse algo mais forte. Não queria me sentir
daquela forma, principalmente quando devia tudo a eles, mas era inevitável,
sentia-me pressionado, encurralado, sufocado naquela realidade onde eu não
podia ter o que queria. Maxwell King tinha seu futuro traçado, e não havia
nada que eu pudesse fazer pelo velho Max.
Eu estava completamente exausta, meus ombros e costas queimavam,
meus pés doíam demais. Pisquei com os olhos pesados de sono, desejando
cair na minha cama e dormir. Fui a última garçonete a sair do Westhouse,
para compensar meu atraso, fiquei com a árdua tarefa de lavar o chão
sozinha. Quando saí, Cristian me esperava dentro do carro, distraído com o
celular não viu quando me aproximei.
— Achei que não fosse vir — falei, descontando nele minha
irritação.
— Foi mal por hoje cedo, gata! — Destravou a porta do outro lado
para que eu entrasse. — Tive que sair com o meu pai, mas o Max foi te
buscar, não é?
— Claro, se não fosse seu amigo eu estaria sendo demitida antes que
o meu turno começasse. — Joguei-me no banco, enquanto ele dava partida
no carro. — Não era obrigação do Max vir me trazer no serviço.
— Também não era minha obrigação — retrucou com rispidez,
pegando-me de surpresa. — Desculpe, Liz, não foi isso que quis dizer —
tentou amenizar sua declaração. — Mas eu já disse que não precisa trabalhar
nesse lugar, eu te ajudo...
— Ah, sim, como da outra vez que me emprestou dinheiro e depois
jogou na minha cara na primeira briga que tivemos — desdenhei
amargurada. — Não preciso da sua ajuda ou do seu dinheiro.
— Pelo amor de Deus! — Bufou, socando o volante. — Vê como é
irritante? Sempre acha um motivo para brigarmos.
— Não estou procurando motivos, Cristian, só não quero receber
favores que terão um preço alto demais para pagar depois. — Recostei-me,
fechando os olhos. — Estou cansada, não quero brigar hoje.
Ele não continuou com a discussão, ligou o som em uma estação de
rádio qualquer, e o silêncio predominou no carro. Fechei os olhos,
desejando que minha cabeça parasse de latejar. Para o meu cansaço pareceu
apenas segundos, mas eu dormi durante todo o caminho, só acordei com
Cristian praticamente em cima de mim, deslizando a mão por baixo da minha
saia, enquanto beijava meu pescoço.
— Cristian, estou cansada... — resmunguei, empurrando-o.
— Não fala isso, gata — gemeu, roçando sua ereção em mim. —
Estou cheio de tesão, preciso de você.
— Hoje não. — Tentei me afastar, mas com o peso dele sobre mim,
era impossível. — Cristian, eu não quero.
— É claro que você quer. — Empurrou a mão na parte de baixo da
minha calcinha, afastando-a para o lado. — Fiquei o dia todo ansioso para
comer você, esperei horas do lado de fora esperando você sair — rosnou,
tornando-se mais feroz.
Cristian enfiou o dedo maior dentro de mim, indo e vindo com
rapidez, logo eu estava molhada, mesmo sem estar com tesão, meu corpo
reagia. Pensei em brigar, me negar, mas estava tão cansada que cedi. Às
vezes era assim, eu cedia por uma obrigação insana, como se devesse algo a
ele por estarmos em um relacionamento.
— Você gosta disso, gata! — gemeu, tirando seu pau para fora. —
Vou te comer agora.
Fiquei imóvel, sentindo-o entrar em mim, pelo hálito sabia que havia
bebido. Tentou beijar minha boca, mas desviei o rosto, então seus lábios se
apossaram do meu pescoço enquanto ele metia e gemia sem parar. Naqueles
minutos só tentei pensar no que eu estava fazendo, deixando que ele me
tomasse daquela forma, entregando-me sem aquela paixão de antes. Quando
terminou, tirou o preservativo, com rapidez.
— Eu preciso ir agora, Liz, meu pai já me ligou duas vezes. —
Coçou a nuca, fingindo estar envergonhado.
Ainda tentou me beijar quando saí do carro, mas me neguei, enojada,
esse era o único sentimento que sentia por ceder a ele daquela forma. Entrei
em casa, pior do que saí pela manhã. Olhei para a bagunça ao redor sabendo
que não poderia reclamar, era injusto, Abigail vivia com dores infernais,
quando não estava na cama, ficava em uma poltrona velha. Como de
costume, minha avó me esperava acordada, os muitos fios grisalhos estavam
despenteados, enquanto ela tentava arrumá-los com um pente.
— Precisa de uma ajuda com isso? — perguntei com um sorriso.
— Ah, querida! — Abigail abriu um sorriso enorme ao me ver. —
Esses braços já não têm tanta força quanto antes.
— Bom, os meus ainda podem fazer algo. — Posicionei-me atrás
dela e pedi: — Me dê o pente, vou fazer uma trança no seu cabelo, assim vai
poder dormir tranquila.
— Você é um anjo, Elizabeth. — Ela tossiu, disfarçando o gemido
pela dor. — Pode pegar o meu remédio, por favor?
— Claro. — Caminhei até o armário, onde a caixa com os
medicamentos dela ficava, abri procurando o que tomava para dor, e o
frasco estava vazio. — Vovó...
Lancei um olhar triste para ela, sem saber como dizer que ela teria
que passar por uma noite infernal, suportando toda a dor, porque não tinha
mais seus comprimidos. Naquele momento eu me sentia um fracasso, não
podia arcar com os custos do tratamento, e por vezes mal podia comprar
todos os remédios. Tentei um auxílio do governo, mas minha avó tinha
problemas com o imposto de renda desde quando morava em South Last e se
quisesse conseguir algum tipo de ajuda, deveria procurar um advogado para
me auxiliar. Era irônico, porque se eu não podia pagar por um tratamento,
também não conseguia arcar com os honorários de um advogado. Restava-
me a defensoria pública, mas o nosso caso estava há quase um ano parado,
ele tinha tanta urgência quanto os outros milhares espalhados pelo país.
— Não se preocupe, Liz. — Abigail sorriu complacente. — Vou
tomar um chá e dormir a noite inteira, você vai ver.
— Tudo bem. — Assenti, meu sorriso era falso, como os tantos
outros que distribuí ao longo do dia. — Vou trançar seu cabelo, preparar um
chá e te colocar na cama.
— Deveria ser eu a cuidar de você — declarou entristecida. — Acho
que você esperava por uma salvação quando sua mãe morreu, em vez disso
ganhou uma velha doente para cuidar.
— Está enganada, Abigail, eu ganhei alguém que se importava
comigo, que fez tudo o que estava ao seu alcance para me fazer feliz. —
Minha voz saiu baixa, como um sussurro, a tristeza e impotência fazia isso
comigo. — Logo vou conseguir uma vaga em uma boa companhia de ballet,
quando isso acontecer nossa vida vai mudar, poderei pagar seu tratamento...
— Não quero que se preocupe com isso. — Segurou minha mão que
desembaraçava seu cabelo, e a apertou com os dedos magros. — Precisa
pensar somente em você, no seu futuro, daqui a pouco não estarei mais aqui.
— Pare de dizer isso, ainda temos tempo. — Finalizei a trança, com
o nó em minha garganta, sufocando-me. — Vamos, vou te colocar na cama.
Curvei-me, pegando-a no colo, seu cheiro invadiu minhas narinas,
lembro de quando cheguei aqui, eu só dormia agarrada a ela, sentindo seu
perfume, aninhada em seu colo, com medo que me deixasse e ficasse sozinha
outra vez. Abigail era uma inspiração de força para mim, ensinou-me muitas
coisas, mais do que Verônica. Agora, minha avó estava muito debilitada, a
doença a transformou em uma figura pequena e magra, não pesava quase
nada.
Ela passou um braço ao redor do meu pescoço, agarrando-se
firmemente em mim. Caminhei devagar, sabendo que movimentos bruscos
aumentavam sua dor. Depois de acomodá-la na cama, fui fazer o chá, mas
quando retornei ela já dormia encolhida, os gemidos baixos escapavam dos
seus lábios enrugados sem que pudesse controlar.
Com os olhos marejados, voltei para a cozinha, queria achar uma
solução para aquilo, peguei um pedaço de papel colocando todas as dívidas
que tinha, os gastos com as despesas de casa e nossa alimentação. Tentei
focar naquilo, sabendo que era questão de minutos até que Abigail
começasse a reclamar de dor, e como esperado não demorou, seus gritos
estrangulados, e gemidos sofríveis, ecoaram por todo lugar. Fitei minha letra
no papel, enquanto as lágrimas caíam, molhando-as. A vida podia ser
realmente fodida para algumas pessoas.
Enfiei a mão no bolso, puxando as duas únicas notas que tinha, aquilo
não chegava nem perto do valor do remédio que ela precisava. Pensei em
ligar para Cristian e pedir que me emprestasse o dinheiro, mas o quanto
aquilo me custaria? Mais concessões da minha parte. Engolir meu orgulho e
trepar com ele mesmo quando não estivesse a fim. Eu não conseguiria pagá-
lo de outra forma, o pouco que ganhava mal dava para sustentar nós duas.
— Liz! — minha avó gritou desesperada.
Corri para o quarto, sem uma gota de coragem dentro de mim, vê-la
daquela forma acabava comigo. Enxuguei as lágrimas tentando ficar calma,
mostrar para ela que ainda havia alguém forte nessa casa para assumir os
problemas.
— Oi, vovó. — Sentei-me ao seu lado, afagando seu rosto. — Eu sei
que está doendo, vou comprar seu remédio.
— Não estou aguentando, querida... — Tossiu, puxando o pano que
usava para conter o sangue que saía de sua boca. — Acho melhor acabarmos
com isso de uma vez.
Eu sabia ao que ela se referia, não era a primeira vez que sugeria
acabar com a própria vida a fim de evitar aquele sofrimento.
— Não fale isso, só precisa aguentar mais um pouco, vou conseguir
um bom emprego e cuidar de você — garanti, ficando de pé. — Vou até a
farmácia, volto logo.
— Está tarde para sair sozinha... — tentou me impedir, mas eu estava
decidida.
— Tente dormir um pouco. — Beijei sua testa, cobrindo-a até a
altura do peito. — Prometo não demorar.
Saí o mais rápido que pude, sem dar margem para que pudesse me
convencer do contrário. Havia uma farmácia a poucos minutos da nossa
casa, durante a noite era praticamente vazia, então facilitaria o que estava
prestes a fazer. Eu não me orgulhava de cometer um crime, fiz isso uma vez
quando criança e fiquei tão assustada que seria capaz de morrer de fome a
tentar outra vez, só que agora era diferente.
Quando cheguei ao estacionamento da farmácia, não havia nenhum
carro, o sino da porta tocou quando entrei e o funcionário atrás do balcão
sequer me olhou, estava entretido com uma reprise de um jogo na pequena
TV acima do balcão. Caminhei entre os corredores, pegando duas cartelas
de analgésicos baratos, não era aquilo que minha avó precisava, no entanto,
não poderia sair daqui sem comprar nada. Parei diante da prateleira, onde os
frascos laranjas estavam. Minhas mãos suavam, trêmulas, pelo que estava
prestes a fazer. Disfarcei, olhando de soslaio para o homem atrás do balcão
que ainda estava entretido com seu jogo, sem pensar ou hesitar, agarrei um
frasco enfiando-o dentro do meu casaco. Dei algumas voltas pelos
corredores pegando um pacote de absorventes e uma caixa de chicletes.
Assim que parei no balcão, o homem me olhou de cima a baixo.
Entreguei minhas compras, esperando que ele passasse tudo rapidamente,
cada segundo parecia durar uma eternidade. Quando disse o valor, entreguei
as notas, ele conferiu, e ficou me olhando.
— Esse valor não paga o que você colocou no casaco — disse com
sarcasmo.
— Não sei do que está falando. — Minha voz saiu trêmula.
— Maldita ladra! — gritou, batendo no balcão. — Vou chamar a
polícia.
— Por favor, eu posso pagar... — tentei achar uma justificativa, uma
solução.
Não podia voltar sem aquele remédio, a única ideia que passou pela
minha cabeça era fugir, e sequer tive tempo de raciocinar direto, logo o
homem estava segurando-me pelo braço, arrastando-me para a pequena sala
dos fundos. O medo me engolfou, minha visão ficou turva pelas lágrimas, o
desespero de não saber o que fazer estava me engolindo viva. A única coisa
que podia fazer era começar a implorar.
Diante de uma página cansativa sobre finanças, ouvi meu celular
tocar. Olhei para o relógio no aparador ao lado da minha cama, constatando
que era tarde. O número desconhecido no visor me fez querer ignorar,
entretanto, algo dentro de mim convenceu-me. Assim que atendi, estranhei a
voz masculina no outro lado da linha.
— Quem é? — inquiri, deixando o livro de lado.
— Maxwell King? — o homem perguntou.
— Sou eu mesmo.
— Aqui é o David Johnston, gerente da Center Pharmacy —
apresentou-se ainda deixando-me confuso. — Estou aqui com Elizabeth
Collins, ela disse que é sua amiga...
— O que aconteceu com ela? — Em questão de segundos eu estava
de pé, aflito, tentando imaginar o que havia acontecido com a Liz.
— Meu funcionário a pegou roubando algumas coisas, eu chamaria a
polícia imediatamente, mas a garota insistiu que era sua amiga, então... — O
interrompi, pegando as chaves da minha moto, descendo direto para a
garagem.
— Não faça nada, estarei aí em dez minutos. — Minhas palavras
saíram como uma ordem.
Desliguei o telefone e saí apressado de casa, meus pais dormiam,
Ashley também deveria ter apagado, então não teria que responder qualquer
tipo de questionamento por sair naquele horário de casa. O estabelecimento
em que Liz estava não era tão longe de casa, de moto os minutos para chegar
até lá eram reduzidos.
Eu ainda não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo,
sabia que Liz levava uma vida difícil, mas chegar ao ponto de roubar algo...
Não dava para entender! Ofereci ajuda a ela várias vezes, colocava-me à sua
disposição para o que precisasse, mas o orgulho daquela garota era coisa de
outro mundo. Elizabeth Collins era o tipo que preferia se afogar a ter que
pedir socorro.
Estacionei em frente ao lugar, o vento afastou o cabelo do meu rosto,
quando tirei o capacete. Do lado de fora eu já procurava por ela, olhando
para ver se a encontrava em algum lugar. O estabelecimento estava deserto,
no momento só havia um carro estacionado e minha moto. Ao abrir a porta o
sino soou, o homem atrás do balcão me reconheceu de imediato, logo se
dispôs a me levar a uma sala, onde Liz deveria estar.
Era um cubículo de segurança, o espaço onde David Johnston a
manteve presa. Havia um pequeno sistema de segurança simples, e uma
cadeira, era nela que Elizabeth estava sentada, cabisbaixa, enquanto um
homem com o dobro do seu tamanho gesticulava na direção dela, impondo-
se à sua frente, deixando-a desconfortável. Eu conseguia notar apenas pela
forma como Liz parecia querer se proteger com os braços, o cabelo estava
desgrenhado, os olhos vermelhos, olhando de soslaio para a figura
imponente à frente dela.
— Onde está o gerente? — inquiri, abrindo a porta abruptamente. —
Vem Liz. — Estendi a mão e ela levantou depressa, segurando-a.
— Fui eu quem falou com você no telefone, David Johnston — o
gerente se apresentou, cumprimentando-me. — Sua amiga foi pega roubando
alguns medicamentos...
— Foi apenas um — Elizabeth se defendeu. — Eu iria pagar pelos
outros.
— Não importa, você foi pega roubando, eu deveria chamar a
polícia! — David rosnou, irritado.
— Senhor Johnston, eu posso garantir que isso não vai mais
acontecer — tentei amenizar a situação. — Vou pagar pelos remédios,
Elizabeth tem uma avó doente e tenho certeza de que não pensou direito,
estava desesperada.
— Eu entendo, senhor King, mas eu não quero essa garota na minha
loja outra vez — bradou, fuzilando Liz com o olhar. — Só não vou envolver
a polícia nisso por se tratar do senhor, do contrário essa delinquente...
— Eu já entendi — o interrompi, puxando Liz para mim. — Vou
pagar o que ela precisa levar e estamos indo.
O gerente assentiu, seguindo-nos pelo caminho de volta ao balcão,
Liz ficou calada, agarrada ao meu braço e cabisbaixa. Eu queria poder gritar
com ela, colocar algum juízo naquela cabecinha. Garotas como Elizabeth
Collins eram vistas com outros olhos, todos conheciam a situação em que ela
vivia, e o que aconteceu com a sua mãe, então associavam isso a ela. Liz
nunca se drogou, na verdade, ela sequer gostava de beber, nas festas que
frequentava com Cristian, se abstinha do álcool.
— Você não precisa pagar... — declarou, sua voz saiu tão baixa que
quase não pude ouvir.
— Fica quieta, Liz — rosnei, estendendo meu cartão de crédito para
o homem atrás do balcão. — Vou pagar as compras dela.
— O frasco que ela...
— Tudo — o cortei, irritado. — É só isso que você precisa? —
perguntei, olhando para o saco que continha absorventes, analgésicos e uma
caixa de chicletes.
— Max, olha... — gaguejou desconcertada.
— Vamos embora, conversamos depois. — Peguei as compras e saí
segurando-a pela mão.
Por um segundo senti algo bom com aquilo, poderia soar egoísta, só
que a sensação de estar cuidando dela de alguma forma, me agradava. Eu
não precisava perguntar para saber que, provavelmente ela tentou ligar para
Cristian antes de mim, mas era eu quem estava lá, quando Liz precisava, era
comigo que podia contar.
Montei na moto evitando o assunto, Liz também ficou quieta, era
estranho porque ela sempre tinha algo a dizer, gostava de brigar, seu
temperamento forte era sua marca registrada, no entanto, considerei o fato do
susto e constrangimento que passou estavam a mantendo sob controle. De
moto até sua casa levava menos de cinco minutos, o caminho era escuro, as
casas naquele horário estavam todas fechadas. Amaldiçoei ao imaginar ela
fazendo aquele caminho sozinha.
Assim que estacionamos em frente à sua casa, os gritos de sua avó
alcançavam o lado de fora, fechei os olhos entendendo o motivo do
desespero de Liz. Abigail tinha câncer de pulmão, mas não fazia nenhum
tratamento, era caro demais para uma das duas pagar, por isso mantê-la sem
dor era tudo que a neta poderia fazer. Liz tinha o sonho de conseguir custear
o tratamento da avó, mesmo não sendo nenhum especialista, sabia que no
estágio em que estava, não havia outro destino, senão a morte. Tentei por
vezes convencê-la a aceitar ajuda para um tratamento melhor, mas a cabeça
dura se negava, a única opção que tinha agora era agir sem seu
consentimento. Liz correu para dentro, e eu segui mantendo distância para
que pudesse cuidar da avó, o que durou cerca de meia hora até que os gritos
cessassem. Enquanto isso eu observava tudo ao redor, Liz nunca nos deixou
entrar na casa dela, o máximo que Cristian e eu havíamos chegado, foi até as
escadas da entrada.
O lugar não era sujo, mas os móveis eram bem antigos, os armários
não tinham mais as portas, a geladeira e fogão estavam velhos e
enferrujados. Sem ligar por ser inconveniente, fui até a geladeira e abri,
como esperava estava praticamente vazia. Fechei antes que Liz voltasse e se
irritasse comigo. Encontrei uma cadeira perdida na cozinha e sentei-me,
esperando por ela.
Sentado diante da porta aberta, fitei o outro lado da rua, a lembrança
de quando cheguei à cidade me atingiu com força. Lembro de conhecer Liz
na escola, e dividir meu lanche com ela, naquela época não era diferente de
agora, ninguém queria se aproximar dela, na verdade, as crianças eram
proibidas. Eu assisti assustado o dia em que encontraram o corpo da mãe
dela morta. Liz estava tão assustada, uma multidão se formou em frente à
casa esperando para ver a retirada do corpo. Ainda sendo apenas um garoto,
entendia a magnitude de tudo aquilo.
— Obrigada por me ajudar — murmurou atrás de mim, pousando
uma mão sobre o meu ombro.
— Por que fez isso, Liz? — indaguei decepcionado, não era como se
ela não tivesse opção.
Ela tinha a mim, caralho!
— Não viu como minha avó estava? — Sua voz saiu arrastada, cheia
de ironia. — Eu só tinha duas notas amassada no meu bolso, e só ganhei
porque um cara conseguiu ver meus peitos quando eu servi sua cerveja.
— Eu entendo sua situação...
— Não entende — declarou rispidamente. — Você acha que sabe o
que é viver dessa forma, mas não sabe, Max. Eu fiquei desesperada, ela
estava sofrendo...
— Poderia ter me pedido ajuda, eu teria comprado o remédio —
pontuei e ela negou.
— Em troca de quê? — inquiriu. — Qual preço eu teria que pagar
pela sua benevolência?
Demorei a entender o que suas palavras significavam, mas quando
compreendi, atingiram-me como um soco.
— Acha que eu seria capaz de pedir algo em troca? — Fiquei de pé,
olhando dentro dos seus olhos. — Alguma vez pedi alguma coisa por te dar
uma carona? Eu sou seu amigo, caralho!
— Amigo do Cristian — rebateu, cruzando os braços.
— Ah, nossa! — Balancei a cabeça sem acreditar no que ouvia.
— Max, você só é meu amigo porque estou com o Cristian, do
contrário nós nem nos falaríamos...
— Eu não conhecia o Cristian quando dividia com você o meu lanche
na escola, nem quando te acompanhava até a sua casa de longe, só para ter
certeza de que chegaria em segurança. — Respirei fundo, na intenção de me
acalmar. — Não gosto de você por causa do Cristian, na verdade, eu a
conheci antes dele.
— Me desculpe, eu só... — Abaixou a cabeça, e as lágrimas caíram,
pingando no piso de madeira. — Eu não posso dever favores, Max. —
Ergueu aqueles olhos enormes para mim, fazendo meu coração se partir. —
Sabe como uma garota como eu paga por favores?
— Merda! — Sem pensar, puxei-a para os meus braços, mantendo-a
colada a mim. — Me diga que não precisou fazer isso, Liz — sussurrei, os
pensamentos que estavam rondando a minha mente.
— Ainda não precisei, mas se um dia aceitar favores que não posso
pagar é isso que vai acontecer — declarou com a voz embargada, seus
braços estavam em torno de mim, agarrando-me com força. — Eu estou tão
cansada, Max...
— Eu sei, quero que você descanse hoje e não se preocupe com os
remédios, são um presente pra sua avó. — Beijei o topo da sua cabeça,
acariciando suas costas. — Mas quero que me prometa, Liz, se precisar de
ajuda vai me ligar, não faça outra loucura como essa.
— Eu prometo — afirmou, levantou o rosto para me olhar e aquele
sentimento dentro de mim ficou mais forte. — Obrigada mais uma vez, não
sei o que seria de mim se você não tivesse aparecido.
— Sempre vou correr quando precisar de mim. — Beijei sua testa,
inalando seu perfume sem afastar, o que eu mais queria era provar seus
lábios, mas não podia fazer aquilo. — Vou indo, tenha uma boa noite.
Fui obrigado a me afastar dela, suspirei caminhando para fora, até
onde minha moto estava, Liz ficou na porta me vendo sair, e acenou assim
que dei partida. No caminho de volta para casa só conseguia pensar na vida
miserável que Liz levava, eu sabia sim o que era viver daquela forma, passei
por isso antes de Freda e Lucius me adotarem, por isso me deixava mal ver
de perto todas as necessidades que ela e avó tinham. Fiz uma nota mental
para passar no supermercado e levar algumas coisas para as duas, sabia que
aquilo iria criar um clima enorme, Liz não era o tipo de garota que aceitava
caridade. Um foda-se bem grande para o seu maldito orgulho! Não era uma
caridade, aquilo se chamava cuidado, ela teria que aceitar.
A manhã seguinte começou chuvosa, as goteiras que havia no telhado
de casa ocupavam quase todas as vasilhas e baldes. O despertador me
acordou ainda que o céu não estivesse claro, quando vi as nuvens carregadas
soube que seria um dia infernal. O único dinheiro que eu tinha ficou na
farmácia, apesar de Max pagar a conta eles não me devolveram, e claro que
eu não teria coragem de voltar lá para pegar. Depois do que fiz, sequer
poderia pisar naquele lugar. Tive muita sorte ontem, o final poderia ter sido
diferente, acabaria presa e minha avó sozinha. Nós não tínhamos ninguém, e
no estado em que ela estava jamais conseguiria se cuidar sozinha.
Antes que eu pudesse ir até o quarto checar para ver se Abigail
estava bem, o som de um carro entrando no terreno da minha casa surgiu.
Caminhei apressadamente até a porta e fiquei na ponta dos pés para ver
através da pequena janela que havia nela. Reconheci o modelo luxuoso logo
de cara, na ponta do carro havia um emblema cromado da letra K, dourada e
extravagante, a família King era toda assim. Claro que o carro que Max
dirigia estaria estampado com a marca do poder que eles carregavam.
Abri a porta temerosa, dei alguns passos hesitantes sem saber o que
esperar. A porta do passageiro abriu, e uma garota pequena saiu de dentro
dele, era Ashley, irmã de Max. Ela quase não saía de casa, por ser uma
pessoa com nanismo, sofria com as piadinhas de mau gosto de alguns jovens,
era superprotegida, inclusive pelo irmão.
O jovem com o cabelo bagunçado e as tatuagens no braço à mostra,
pela camiseta regata, carregou dois sacos de supermercado, vindo na frente
da irmã como se tivesse com pressa. Não tive tempo de questionar o que era
aquilo, pois rapidamente me alertou:
— Não diga que ela é fofa, Ashley odeia isso.
Apenas assenti balançando a cabeça. Deus me livre de causar
qualquer constrangimento a ela. Ashley passou por mim com um sorriso
curto no rosto, e piscou. Esfreguei as mãos sentindo-me incomodada com
aquilo, no entanto, não queria soar ingrata, por isso esperei até que a irmã de
Max voltasse para pegar mais sacos no carro, para poder falar com ele.
— O que é tudo isso, Max? — perguntei bem baixinho, ele arqueou a
sobrancelha pronto para rebater, mas não permiti. — Não quero receber
caridade, você...
— Não é caridade, Liz — interrompeu-me rapidamente. — Isso é um
presente para a sua avó, ela está doente e precisa de uma boa alimentação.
— Você não pode nos sustentar. — Cruzei os braços, escondendo
minha irritação. — Essa comida vai acabar, e você não pode voltar aqui e
trazer mais, não é sua obrigação.
— Eu sei que não. — Segurou minha mão, e mordeu o lábio inferior
com aqueles dentes incrivelmente brancos. — Só quis ajudar de alguma
forma, pode aceitar isso sem brigar comigo?
— Não estou brigando. — Abaixei a cabeça, e o senti envolver os
braços em torno de mim. — Max...
— Sem discussões, Liz — sussurrou, beijando minha cabeça. —
Deixa eu te apresentar formalmente à minha irmã.
Assenti sem ter coragem de contrariar uma atitude tão benéfica como
aquela. Forcei outro sorriso quando Ashley se aproximou de nós. A garota
de estatura pequena usava óculos e aparelho, usava um pequeno conjunto
social, que a deixava muito adulta.
— Oi, Liz, eu sou a Ashley, irmã desse babaca mal-educado. —
Estendeu a mão para me cumprimentar, logo depois de fingir socar a barriga
do irmão. — Você não ia me apresentar a ela?
— Estava prestes a fazer isso — Max a provocou, afagando seu
cabelo. — E você já a conhece, só nunca falou com ela.
— Na verdade, a gente nunca teve oportunidade — intervim, quando
notei o rubor no rosto dela, a verdade era que as garotas de River Lake,
mantinham distâncias de mim, eles achavam que eu era como as outras que
moravam nessa parte da cidade. Prostitutas.
— Isso, mas agora podemos nos falar. — Sorriu, ainda constrangida.
Surgiu um silêncio incômodo, nós nos entreolhamos sem saber o que
falar, as apresentações foram feitas, compras foram entregues e não havia
mais nada o que dizer, eu não era boa em socializar, com Max não tinha tanta
vergonha, mas com sua irmã ali era diferente. Não queria que pensasse que
eu era algum tipo de aproveitadora, ou uma garota desleixada.
— Vocês querem beber algo? — ofereci torcendo para que dissessem
água, eu não queria ter o constrangimento de usar o que acabaram de trazer
para servir algo.
— Não precisa se incomodar, Liz, nós estamos indo. — Apontou
para irmã e falou: — Tenho que levar essa senhora para um encontro da
igreja.
— O caralho, Max! — Ashley bradou, estapeando-o. — Eu tenho
uma entrevista na faculdade, por isso essa roupa — explicou, indicando com
desgosto a roupa que vestia.
— Ela não é ruim — afirmei, mas era pura mentira, aquilo não
valorizava em nada a garota.
— Só é péssima! — grunhiu, subindo a saia larga. — Essa saia me
serviria como um vestido, nem essa maquiagem me favorece, acho que minha
mãe tem um conceito errado sobre o que é jovial e elegante.
— Se você quiser eu posso dar um jeito, não sou uma especialista,
mas conserto todas as minhas roupas do ballet — sugeri. — Nunca consigo
uma peça do meu tamanho, então tenho que adaptar, as costureiras da cidade
cobram uma fortuna.
— Cobram mesmo! — Ashley elevou os braços para o ar, como se
finalmente alguém lhe desse razão. — Acredita que me cobraram sessenta
dólares apenas para ajustar nos quadris?
— Oh, eu acredito! — Apontei para o meu quarto e disse: — Vamos
ali, vou ajustar o comprimento e a largura, cinco minutos e vai parecer outra.
— Não vai te incomodar? — indagou receosa, mas vi em seu olhar
que queria aquilo, suplicava por ajuda.
— Imagina, já disse que sou ótima com uma agulha na mão? —
Segurei a sua mão e a levei comigo. — Vem, vamos cuidar disso.
— Max, me espera aqui — ordenou, com o olhar afiado para o
irmão.
— Como se eu pudesse me livrar de você — resmungou, puxando
uma cadeira para sentar-se.
Ashley entrou no meu quarto, olhando tudo ao redor. Pedi que ela
subisse no banquinho que usava para treinar, ela subiu. Tirei rapidamente as
medidas, prendendo com alfinetes, olhei para os sapatos que eram tão sem
graças quanto a roupa. Freda tinha um péssimo gosto, o pior era vestir a filha
de acordo com ele.
— Pronto, pode tirar a saia, já medi, acho que um dedo acima do
joelho vai deixar a peça mais bonita e jovial — expliquei mostrando para
ela. — E suas pernas vão ficar livres, vai poder andar melhor assim.
— Muito melhor, estava me sentindo presa. — Ashley desceu do
banco, e puxou a saia para baixo. — Pode fazer sua mágica, Liz, porque só
assim pra isso ficar bonito.
— Vai ficar, pode ter certeza. — Peguei a peça, notando como o
tecido era bom, deveria ser algo caro, por isso perguntei: — Posso cortar?
Sua mãe não vai achar ruim?
— Ela vai, mas não poderá fazer nada. — Deu de ombros. — Fique
tranquila, ela não vai saber que foi você quem fez isso.
Assenti, ficando insegura com a sua resposta, mas ainda assim fui
adiante. Tomando todo o cuidado para não destruir a peça, comecei a cortar,
com a velha máquina de costura no meu quarto, em poucos minutos ajustei o
comprimento, deixando-a no tamanho exato para altura dela. Dei alguns
ajustes na cintura, para que não continuasse caindo. Quando Ashley vestiu,
bateu palmas animada, agora percebendo que eu realmente sabia o que
estava fazendo, pediu-me para tentar melhorar o blazer e a blusa. Fiz alguns
detalhes minimalistas com strass nos bolsos. Ela testou algumas das minhas
sandálias, que couberam perfeitamente em seus pés, e mesmo que eu
dissesse que estavam velhas demais para algo importante, ela quis usar.
Fiquei feliz por apreciar meu gosto, bebi cada elogio como se fosse a melhor
coisa do mundo. Na verdade, eles eram, eu nunca recebia elogios.
— Liz, nunca vou poder agradecer por isso. — Ashley me abraçou
com força, eu me abaixei para ficar diante dela. — Me diga quanto custou,
quero pagar.
— Vou me sentir ofendida se fizer isso — alertei. — Isso é um favor
entre amigas, o que acha?
— Você é demais, por isso Max gosta tanto de você! — exclamou,
pegando as coisas que estavam no chão.
Demorei a entender o que aquele comentário significava, apesar de
ser uma breve declaração, que eu acharia comum por sermos amigos, mas o
modo como falou parecia haver algo mais. Balancei a cabeça, ignorando
aquilo. Talvez a carência e o modo carinhoso como Max me tratava, me
fizeram interpretar aquilo de forma totalmente errônea.
Quando saímos do quarto, Max encontrava-se parado na porta, com
as mãos nos bolsos, pensativo. Assim que nos viu, sorriu, e claro, não
perdeu a oportunidade de provocar a irmã.
— Olha só, agora parece uma senhora ousada. — Gargalhou,
zombando.
— Vai se foder, Max! — Mostrou o dedo do meio para ele, mas
levava na esportiva, virou-se para mim e disse: — Ele recebeu mais
músculos do que cérebro, não ligue.
Ri de sua resposta afiada, e Max fez um bico contrariado, eu não
deveria, mas achei aquilo fofo.
— Bom, desejo boa sorte na sua entrevista, Ashley. — Abaixei-me
outra vez para abraçá-la. — E se usar metade do seu senso de humor, tenho
certeza de que vai encantar a todos.
— Obrigada, Liz. — Beijou meu rosto, e saiu em seguida, deixando-
me a sós com seu irmão.
— Eu posso agradecer com um abraço? — Max perguntou, e pela
primeira vez senti o meu corpo arrepiar com aquilo.
O que havia de errado comigo?
Seu perfume invadiu minhas narinas quando me envolveu em seus
braços, ele demorou mais que o normal para me soltar, beijou o topo da
minha cabeça, afagando minhas costas. Meu coração bateu mais forte,
acelerado, amaldiçoei-me por sentir aquilo, eu era namorada do seu amigo, e
não devia sentir nada que não fosse fraternal vindo de Max.
— Sou eu quem deve agradecer — murmurei. — Obrigada, Max...
— Quero que saiba que pode contar comigo. — Afastou-se, e me
encarou. — Seja o que for, a qualquer hora, me ligue Liz, eu estarei aqui ou
onde precisar.
— Você é um ótimo amigo — disse, frisando a palavra amigo e
desconversei. — Adorei conhecer a Ashley, quando ela precisar de ajuda
com as roupas pode trazê-la aqui.
— Não vou fazer isso, ou ela vai abusar da sua boa vontade —
comentou com bom humor, e a buzina do seu carro tocou. — Eu vou indo, se
ela se atrasar vai me culpar.
— E com razão — declarei.
Max saiu com um sorriso largo no rosto, antes de cruzar a porta
virou-se e piscou de modo sedutor. Prendi o ar, senti algo estranho me
atingir. Ele já havia feito aquilo muitas vezes, mas agora pareceu ter outro
sentido. Talvez eu estivesse abalada demais depois de tudo o que aconteceu
na noite anterior, estava interpretando o cuidado de Max de outra forma.
Fiquei observando o carro se afastar pela estrada, e demorei a reagir,
quando voltei para a cozinha, olhei todas aquelas compras que durariam por
quase dois meses, aquilo era muito mais do que eu podia comprar. Meu
celular tocou, e o nome de Cristian surgiu na tela, depois de tantas ligações
que fiz para ele em um momento de desespero, era só naquele momento que
ele aparecia, não que ele tivesse qualquer obrigação comigo. Decidi ignorar
e seguir com meu dia, diferente dele, eu teria muitas coisas para fazer, uma
avó doente para cuidar, a escola de ballet e meu emprego. Verifiquei as
horas, que como previ, deveria me apressar, a minha longa jornada estava
apenas começando.
De olho no relógio em meu pulso, contava os segundos para acabar o
jantar e sair, Cristian havia me mandado uma mensagem de texto avisando
que estaria ocupado, e me pediu para buscar Liz mais uma vez, ela dobrou o
turno, e não conseguiria pegar o ônibus para casa. Ela não morava tão longe
do trabalho, mas para fazer o caminho à noite era perigoso. Claro que para
mim era um prazer buscá-la, contudo, irritava-me ver o descaso que Cristian
tinha com ela.
— Vai sair? — meu pai perguntou, fitando-me do outro lado da mesa.
— Vou dar uma passada para encontrar os caras do time — menti,
desviando o olhar.
— Percebi alguns gastos diferentes na fatura do cartão. — Minha
mãe pigarreou, mudando o assunto repentinamente. — Farmácia e
supermercado, meio diferente do que costuma usar.
— Eu comprei algumas coisas para uma ação beneficente que o time
fez — menti outra vez, e Ashley me olhou de soslaio, não gostava de enfiá-la
nas minhas confusões, mas minha irmã sempre me cobria sem que eu
precisasse pedir.
— Eu o ajudei com as compras, ele não sabia onde encontrar nada
além do bacon. — Riu provocativa, e aquilo pareceu convencê-los.
— Você pode me passar o nome de quem recebeu as doações, seria
ótimo para minha campanha se colocarmos mais ações sociais como essa —
Freda declarou.
— Mãe, não queremos constranger ninguém expondo suas
dificuldades — argumentei e isso pareceu irritá-la.
— Não quero expor ninguém, apenas enquadrá-los em um dos meus
futuros projetos — declarou, cortando a carne, a faca rangeu ao encostar no
prato. — O que você tem que entender, Maxwell, é que agora, com a
campanha, poderei ajudar muitas pessoas.
— Mas ninguém precisa saber disso, você pode ajudar...
— É claro que precisam, dessa forma vão ver que sou a melhor
escolha para a cidade. — Ela não ligou de me interromper, continuou a falar
dos seus planos? — A propósito, quero que vocês se preparem para o
evento beneficente, vão precisar dizer algumas palavras.
— Mãe, eu odeio falar em público. — Ashley deixou os ombros
caírem, desanimada. — Por que temos que fazer um discurso? O projeto é
seu...
— Mas vocês dois são a razão para que eu tomasse a iniciativa de
abrir uma rede de apoio para crianças carentes e negligenciadas — Freda
falou, e minha boca amargou ao ouvir a palavra negligenciada, eu a odiava.
— Vocês serão a cara desse projeto.
— Eu não. — Afastei o prato, completamente incomodado com
aquilo, ser o rosto de uma campanha significava mais exposição — Posso
estar presente, mas não quero que as pessoas saibam da minha história, nem
quero falar diretamente sobre isso.
— Você vai mudar de ideia — foi a única coisa que minha mãe
respondeu, como se já estivesse decidido.
Com isso, todos voltaram a comer, sem voltar a tocar no assunto.
Menos eu, claro, aquilo me incomodava demais, aquele assunto era o único
que eu não gostava de falar, todos já sabiam o suficiente, eu era adotado,
nasci em uma família de merda, ponto, não tinha mais o que saber. Meu
passado era um lugar que eu não gostava de visitar, sentia meu estômago
embrulhar só de pensar no que vivi.
— Me leva com você — Ashley cochichou, tocando meu braço com
o cotovelo. — Eu sei que vai dar uma carona para Liz.
— Eu vou ao Westhouse, não é lugar pra você, principalmente esse
horário.
— Mas você estará comigo — retrucou, depois olhou em volta para
se certificar que nossos pais não estavam ouvindo. — Por favor, se eu ficar a
mamãe vai ficar me falando sobre o evento, vai me fazer olhar aquela revista
cafona de roupas... — suplicou fazendo um beicinho. — Por favorzinho,
Max.
— Tudo bem, mas não vai sair do meu lado...
— Mãe, vou junto com o Max. — Não esperou que terminasse de
falar, para avisar. — Algumas amigas estarão com os irmãos, quero
encontrar com elas lá.
— Filha, eu estava pensando que poderíamos dar uma olhada no
catálogo da Swett — Freda falou e Ashley me deu um olhar do tipo “Eu não
disse?”. — Você precisa começar a pensar em que roupa vai usar no evento.
— Podemos ver isso no fim de semana — Ashley insistiu e meu pai
intercedeu.
— Freda, deixe as crianças se divertirem um pouco, eles são
responsáveis e o Max vai cuidar dela, não é? — Lucius perguntou, olhando
diretamente para mim.
— Claro, só vou tomar uma cerveja, nada mais — garanti, ganhando
um sorriso enorme da minha irmã.
Lucius assentiu, mas Freda não disse uma palavra, continuou
comendo, cabeça baixa, olhando de soslaio, observando-nos. Ela tinha um
jeito mais duro, controlador, no entanto, acreditava que era apenas parte da
sua personalidade, porque sempre me tratou muito bem, até os meus treze
anos foi bem carinhosa, fui eu quem criei uma distância na adolescência, e
não a recuperamos mais. Com Ashley era diferente, talvez por ser menina,
tinham mais assuntos em comum, faziam mais coisas juntas, mesmo que
minha irmã detestasse a maioria delas. Mas não havia nada para reclamar,
Ashley e eu éramos abençoados por ter tido a sorte de encontrar uma família
boa, que se preocupava com a gente e com o nosso futuro, isso era bem mais
do que nossos pais biológicos fizeram.

Lá estava eu outra vez, diante da minha obsessão secreta, da garota


que eu desejava em segredo, aquela que invadia meus sonhos, e me deixava
agitado. Ficar perto de Elizabeth Collins era como uma tortura necessária,
mesmo sabendo que ela era um território proibido, não conseguia manter
distância, principalmente quando a chance de estar ao seu lado caía tão
facilmente no meu colo.
— Deveria se declarar — Ashley falou, sentada no banco ao meu
lado, com aquele olhar travesso que carregava continuou: — Acho que
deveria pensar nisso, você gosta dela há muito tempo.
— Liz é minha amiga. — Pigarreei, tomando um gole da minha
cerveja. — E ela é namorada do meu amigo.
— Aquele pedaço de merda do Cristian não gosta dela! — elevou o
tom e eu fiz um sinal para que o abaixasse. — Só estou dizendo que a Liz é
uma garota legal, merece alguém melhor.
— E por acaso você já ouviu o que dizem sobre o seu irmão? —
zombei, arqueando uma sobrancelha e ela riu. — Destruidor de corações
deveria ser um sinal de alerta.
— Isso foi no ano passado. — Bufou, revirando os olhos. — Com
quantas garotas ficou esse ano?
— Isso não é o tipo de pergunta que quero responder.
— Tudo bem, mas se analisar, vai perceber que nos últimos meses
não tem sido visto com ninguém — argumentou, eu tive que dar razão a ela
—, e também não apareceu nenhuma garota chorando pelo campus, dizendo
como você a ignorou depois de algumas noites...
— Isso porque eu ando ocupado com o campeonato e me preparando
para as provas finais. — Dei de ombros, era mentira.
Não foi intencional, mas me sentia cada dia mais atraído por Liz,
mesmo que ela não fizesse ideia, ou me desse qualquer tipo de abertura, eu a
desejava demais. Minhas noites foram mediocremente reduzidas a me
masturbar pensando nela. Parecia piada, porque havia mais garotas do que
eu poderia contar, enviando mensagens em busca de um encontro, no entanto,
a única que eu queria estava comprometida com um dos meus amigos.
— Vou fingir que acredito no que disse — desdenhou, descendo do
banco. — Preciso usar o banheiro, pode pedir outra porção de fritas pra
mim?
— Claro, quer outro suco? — inquiri e ela negou.
— Não gosto de usar o banheiro fora de casa, se beber outro copo
desse vou ter que ir pelo menos mais quatro vezes. — Ashley estremeceu,
reprimindo a ideia.
Concordei, entendendo seus receios, para um cara usar um banheiro
público era tranquilo, bastava colocar o pau para fora e urinar, não havia o
risco de encostar em nada, já para as garotas exigia-se um certo
malabarismo e jogo de equilíbrio, e como Ashley tinha uma estatura
pequena, para ela usar um banheiro público se tornava um verdadeiro
pesadelo. Como uma adolescente com nanismo, aprendeu a se adaptar a cada
situação, e diante dela nada era um obstáculo.
Aproveitando que estava sozinho no balcão, terminei minha cerveja e
fiz um sinal pedindo outra, Liz sorriu gentilmente para mim, e trouxe uma.
Seu cabelo estava preso, apenas alguns fios soltos, mas até isso me
fascinava, o jeito que balançavam quando ela se movia, deixava-me preso
àquilo como se fosse algo grandioso. Suspirei cansado, eu deveria foder
alguém e tirar Liz da minha cabeça, não me ajudava em nada ficar admirando
algo que nunca poderia ter.
— Fala pra mim que não está aqui até essa hora para me dar uma
carona — murmurou, abrindo a garrafa e colocando-a sobre o balcão, o
perfume que vinha dela me atingiu de imediato.
— Cris teve um imprevisto, então serei seu motorista hoje. —
Pisquei, tomando um gole do líquido gelado. — Pode trazer uma porção de
fritas para Ashley?
— Claro, vou pegar — respondeu desanimada, parecia
envergonhada. — Max, não precisa ficar aqui me esperando, não quero dar
trabalho...
— Não vai — garanti. — Ashley e eu fugimos de uma conversa chata
sobre o evento beneficente da minha mãe, então estamos muito felizes de
estar aqui.
— Eu não sei porque o Cristian se oferece para me buscar se sempre
desmarca. — Bufou frustrada. — Ele anda tão distante nas últimas semanas,
parece que nem o conheço mais.
Porque ele é um idiota. Foi o que quis dizer, contudo, isso deixaria
Liz ainda mais chateada, e eu não queria ver aquela expressão de decepção
em seu rosto. Lembrei do nome que surgiu no celular de Cristian, semanas
atrás, fiquei intrigado com a tal Briana que ligava tanto, não queria pensar na
possibilidade de ele trair uma garota tão incrível como Liz, mas nunca ouvi
falar daquela mulher.
— Não ligue para aquele idiota. — Desviei do assunto, querendo
que esquecesse dele. — E sua apresentação, quando é?
— Amanhã. — Suspirou e seus olhos brilharam com animação. —
Estou nervosa, é a minha chance de conseguir um contrato com uma
companhia grande.
— Vai se sair bem, Liz, tenho certeza — afirmei com o coração
apertado, só de imaginar que ela partiria para longe de mim, deixava-me
desanimado. — E depois, já decidiu para onde vai?
— Bom, depende de qual academia conseguir. — Apoiou os
cotovelos no balcão, e explicou toda sonhadora: — Talvez Great Forest, as
meninas me disseram que é uma cidade maravilhosa, e também Cristian vai
se mudar no final do ano para abrir uma filial lá.
— Em Great Forest? Tem certeza? — Estranhei, não foi aquilo que
ouvi. — Pensei que ele fosse para South Last.
— Ele até me mostrou um projeto do escritório, tenho certeza de que
é Great Forest — disse com convicção. — Mas isso não importa, também
posso conseguir uma vaga em alguma academia em South Last.
— Então você vai para onde o Cristian for? — inquiri e ela negou.
— De jeito nenhum! — Balançou a cabeça, rindo. — Vou para onde
me quiserem.
Eu quero você. Aqui, ao meu lado, comigo.
Quis gritar, agarrar sua nuca, e parar de fitar aqueles lábios
tentadores, prová-los de uma vez. Sem saber direito o que fazia, inclinei-me
mais, ficando bem próximo de sua boca, pareceu notar o meu movimento,
mas não se afastou, apenas me encarou, surpresa e desconcertada. Pensei que
se talvez a beijasse apenas uma vez, aquela loucura acabaria e eu poderia
voltar a ser eu mesmo. Fazer isso nos traria sérios problemas, ela nunca
mais falaria comigo, e Cristian me odiaria.
Ela tem namorado, seu idiota!
A razão gritou dentro da minha cabeça, no entanto, tudo o que eu
queria era ignorá-la. Estava prestes a fazer isso, se não fosse o início de uma
confusão, que fez com que Liz se afastasse.
— Caralho, do tamanho ideal para chupar um pau. — Alguém
gargalhou, os caras formavam um círculo no meio do bar.
— Max... — ouvi Ashley choramingando meu nome, e então tudo
começou a fazer sentido.
Saltei do banco e fui até onde todos riam, e faziam gestos obscenos,
como animais eles gemiam, insinuando que Ashley fazia um boquete neles.
Aquilo me fez perder a razão. Entrei naquele círculo, empurrando os mais
idiotas, alguns me reconheceram e se afastaram, mas os mais embriagados
continuaram.
— O que foi que você disse? — perguntei ao líder deles, que era o
mais espalhafatoso.
— Qual é cara, é a sua anã de estimação? É ela quem mantém seu
pau aquecido à noite?
Abaixei a cabeça, ele pensou que eu ria de sua piada infame,
contudo, eu estava enojado, tentando pensar em um motivo para não fazer
uma besteira, mas quando dei por mim, estava agindo. Levantei o braço, e
bati com a garrafa em sua cabeça. O vidro estilhaçou e o sangue jorrou na
hora, só que não parei por ali. Empurrei o desgraçado no chão e o soquei até
que meu punho sangrasse.
— Repita agora se for homem, seu filho da puta! — Ataquei sem
parar, um golpe atrás do outro.
Um dos amigos dele me segurou pelo pescoço, enquanto outro
chutava minhas costelas. Ashley começou a gritar, mas não havia ninguém
capaz de me fazer parar de bater naquele desgraçado. A dor que me atingia
não era nada perto do que já senti, então era como se ela não tivesse efeito
sobre mim.
A confusão se tornou generalizada, vultos passaram apressados ao
redor, gritos, uivos ecoaram pelo lugar, ouvi a voz de Liz alterada, o som de
uma bandeja caindo, então de repente tudo parou. Minha respiração estava
descompassada, minha boca e nariz sangravam, e eu sequer tinha notado que
havia sido atingido ali. Fui tirado de cima do monte de merda, que estava
praticamente desmaiado. Seus amigos o arrastaram dali, enquanto Liz
agarrava um taco de baseball, intimidando-os.
— Elizabeth, tire seus amigos daqui! — o chefe dela gritou, irritado.
— Não quero bagunça no meu estabelecimento!
— Vem, Max. — Senti sua mão quente no meu braço, sua voz suave
perto do meu ouvido. — Vamos embora.
Olhei ao redor, e as poucas pessoas que restavam me olhavam
assustadas, foi ali que percebi que tinha realmente perdido a porra do
controle. Meu moletom estava sujo de sangue, o chão também, havia cacos
de vidro, e um dente. Com certeza eu tinha feito um estrago no infeliz, queria
ao menos ter tido tempo de ver o estado em que ficou. Levantei-me sem
demonstrar arrependimento, e tirei o maço de notas da minha carteira, joguei
sobre o balcão e encarei o chefe de Liz.
— Se isso não for o suficiente pelo prejuízo, me ligue nesse número.
— Peguei a caneta e o bloco de anotações que Liz usava, e marquei meu
telefone.
Peguei a mão de Ashley e caminhei para fora. Liz tirou o avental e
pegou sua bolsa, seguindo-nos, seu chefe deve ter dito algo, porque a ouvi
retrucar nervosa. Assim que atravessamos o estacionamento minha irmã
entrou no carro, eu imaginava como ela deveria estar chateada. Piadas sobre
a sua estatura eram comuns, sempre aconteciam, principalmente no colégio,
mas aquele tipo de coisa era mais do que cruel. Sentia mais raiva de mim
por não ter ficado atento a ela, poderia ter acompanhado e esperado no lado
de fora do banheiro, ou a seguido com o olhar para me certificar de que
estava segura, qualquer coisa que evitasse aquele constrangimento para
Ashley.
— Max, leve a sua irmã para casa, eu vou... — Liz começou a falar,
mas a interrompi.
— Eu te levo, o que aconteceu aqui não vai ser apagado por alguns
minutos a mais fora de casa. — Limpei com a manga do moletom, meu nariz
que não parava de sangrar.
— Me deixa ao menos cuidar disso. — Apontou para o meu rosto e
se apressou a tirar algumas coisas de dentro da bolsa. — Eu sempre carrego
comigo itens para curativo, meus pés parecem levar uma surra todos os dias.
— Eu não levei uma surra — resmunguei, enquanto ela tentava fazer
o sangramento do meu nariz parar. — Bati muito mais, eles foram covardes,
eu estava sozinho.
— Eu tinha um taco de baseball, se você não lembra — rebateu,
depois de enfiar dois pedaços de algodão nas minhas narinas. — Agora
fique quieto, vou limpar sua boca.
Os dedos macios, quentes e delicados seguraram meu rosto, com a
outra mão ela limpou o canto dos meus lábios. Fiquei hipnotizado, seduzido,
tê-la tão perto daquele jeito era demais para o meu autocontrole.
Instintivamente passei a língua sobre o lábio inferior, e acabei tocando seu
dedo. Liz me olhou diferente, sua respiração mudou, um clima intenso se
instalou entre nós. Segurei seus quadris pronto para ir adiante, matar de vez
aquela vontade louca que me dominava, mas antes que tivesse a chance ela
se afastou.
— Vamos indo, Max. — Suspirou, enfiando tudo dentro de sua bolsa.
— Está ficando tarde e a Ashley precisa descansar.
— Tem razão — respondi contrariado, dando a volta no carro e
tomando meu lugar no volante.
Liz não disse nada no caminho todo, apenas quando entrou, perguntou
se minha irmã estava bem, depois disso, agradeceu e se despediu com um
abraço rápido. Amaldiçoei-me em pensamento, ela deve ter percebido o que
eu estava prestes a fazer, e se estivesse certo sobre isso, fui sutilmente
rejeitado.
Ele iria me beijar. Maxwell King, amigo do meu namorado me
beijaria se eu não me afastasse. O pior foi que senti meus lábios formigarem
em antecipação. O que isso fazia de mim? Uma garota infiel, com certeza.
Independentemente da forma como meu relacionamento com Cristian
estivesse, eu tinha que ser leal a ele, ao nosso relacionamento.
Desde que cheguei não conseguia pensar em outra coisa, fechei os
olhos encolhida entre os lençóis, implorando para que o sono me tomasse e
eu pudesse esquecer o que aconteceu. Talvez estivesse errada, Max tinha
muitas garotas atrás dele, por que se interessaria justamente por mim?
Meu celular apitou e resisti em ver a mensagem nele, deveria ser
Cristian, querendo ter certeza que eu estava em casa. Ignorei, cobrindo o
rosto com a coberta felpuda. Durma, Liz, esqueça tudo e descanse, amanhã
será o grande dia, sua chance de mudar tudo. Revirei-me na cama, em
meio aos pensamentos tempestuosos que invadiam minha mente. Em alguns
deles, surgia a possibilidade de beijar Max, nos outros, julgava-me por
pensar nisso estando em um relacionamento com o amigo dele.
Ouvi o som de um carro estacionando em frente de casa, os faróis
altos faziam a luz entrar pelas frestas de madeira. Levantei temerosa, se
fosse Max eu não saberia o que fazer. Calcei o par das minhas velhas
pantufas, e segui em direção à porta. A essa hora minha avó já dormia, os
remédios fortes a derrubavam cedo.
— Liz, sou eu — a voz de Cristian soou, e a decepção me pegou de
surpresa.
— Oi. — Abri a porta, culpando-me internamente por não estar feliz
com a chegada do meu namorado.
— O Max contou o que aconteceu — falou, passando por mim. —
Você não se machucou com aquela briga?
— Não — respondi com certo alívio, por um segundo pensei que
Max tivesse falado sobre o clima estranho que rolou, se não falou foi porque
não aconteceu, deveria ser apenas uma paranoia da minha cabeça. — O que
está fazendo aqui?
— Vim ver como você estava — murmurou, puxando-me para os
seus braços, sua boca veio imediatamente para o meu pescoço, tecendo
beijos suaves. — E também fiquei com saudade, sinto muito por não ter ido
te buscar, estou cheio de trabalho...
— Eu sei disso, Cristian, mas não pode ficar pedindo para o seu
amigo me buscar o tempo todo — reclamei, tentando afastá-lo. — Isso tudo
poderia ter sido evitado se ele estivesse em casa com a irmã. — O hálito
forte de álcool invadiu minhas narinas, por isso indaguei: — Você bebeu,
Cristian?
— Só dois drinks, amor. — Beijou meus lábios rapidamente e voltou
para o meu pescoço. — O Max não liga de me fazer esse favor —
resmungou, deslizando a língua na minha pele. — Vamos esquecer isso, Liz.
— Se veio atrás de sexo pode ir. — Empurrei-o com força,
conseguindo me libertar. — Afinal, é por isso que vem atrás de mim, não é,
Cristian?
— Você está ficando louca. — Balançou a cabeça, rindo com ironia.
— Acha mesmo que eu preciso de você pra sexo?
— Então está dizendo trepa por aí com outras? — fui direta, nervosa
com a maneira como ele falava comigo.
— É claro que não, Liz. — Bufou, esfregando o rosto. — Só quis
dizer que, se meu único interesse fosse sexo, não estaria com você, isso
posso ter com qualquer uma. — Voltou a se aproximar. — Você é especial,
linda.
— Eu tenho que descansar, amanhã é o grande dia, então tenho que
estar pronta — comentei e vi suas sobrancelhas franzir. — Você esqueceu,
não é? — Ele ficou quieto, tentando lembrar. — Minha apresentação é
amanhã, Cristian!
— Ah, sim, querida! — exclamou escondendo a surpresa ao saber
daquilo. — Vou te pegar no meu apartamento, pode ir se arrumar, vou deixar
a chave com você.
— É melhor eu me arrumar em casa mesmo...
— Se estiver no meu apartamento fica mais fácil para te buscar,
vamos ganhar tempo. — Tocou meu queixo de forma carinhosa e sorriu. —
Vai ser uma noite incrível, você vai brilhar.
— Mas depois tem que me trazer pra casa, quero que minha avó me
veja vestida — expliquei e ele concordou.
— E como Abigail está?
— Sobrevivendo a cada dia — comentei desanimada. — Parece que
as mulheres Collins estão destinadas a isso.
— Você não — afirmou como se pudesse controlar o futuro. —
Elizabeth Collins vai ser uma bailarina renomada, vai ser a minha esposa,
mãe dos nossos filhos...
— Você sonha alto, Cristian. — Bati em seu ombro, e apontei para
porta. — É melhor você ir, nos vemos amanhã.
— Tudo bem, fique com essa cópia. — Entregou-me a chave,
dirigindo-se para a porta. — Agora me dê um beijo decente para eu saber
que estamos bem.
— Nós estamos — menti, mas ele não aceitou apenas a minha
resposta.
Colou seus lábios nos meus, beijando-me com ferocidade, no entanto,
não senti a mesma paixão de antes, na verdade, não sentia há tempos, só que
agora parecia haver um motivo maior. Tentei não pensar naquilo, mas era
quase impossível, porque enquanto beijava meu namorado, minha mente
estava em outro, no seu fodido amigo.

A quadra estava vazia, apenas Cristian e eu treinando passes para o


principal jogo da temporada, enquanto ele reclamava de como Liz estava
dando um gelo nele, recusando-se a transar, eu não parava de pensar em
como quase a beijei na noite anterior. Faltou muito pouco para que
acontecesse, estava disposto a ir até o fim, se não fosse por ela, não teria
parado.
— Ainda pensando naquela boceta? — Jogou a bola em mim, rindo.
— Não vai me contar qual é a boceta que está te deixando assim?
— Vamos focar no jogo, essa vai ser a nossa última temporada —
fugi do assunto.
— Está nervoso pelo que aconteceu ontem? — perguntou com
curiosidade. — Sua mãe deve ter falado um monte de merda por você ter
machucado esse rostinho de modelo poucos dias antes do evento dela, não é?
— Falou até demais, reclamou que eu deveria me parecer um jovem
empresário e não um vândalo — rosnei, jogando a bola —, mas não me
importei, só fiquei chateado pela Ashley ter passado por aquilo.
— Ela deve ter ficado mal, eu ficaria no lugar dela — disse com
sinceridade. — Não sei o que esses caras têm na cabeça, ela é praticamente
uma criança.
— Ashley é uma adolescente, Cristian, mas todo mundo a vê como
criança pela estatura — retruquei, mas sem rispidez, estava apenas
esclarecendo um fato. — Minha irmã poderia fazer parte das líderes de
torcida, namorar...
— Eu não quis ser ofensivo, é só que ela é muito pequena, às vezes
ainda a vejo como uma menina.
— Todos a enxergam assim, minha mãe ficou horas falando como fui
irresponsável por levá-la lá e não cuidar dela devidamente.
— A Liz também brigou comigo por sua causa, ficou com raiva
porque eu deveria ter ido buscá-la — comentou e eu arqueei as sobrancelhas
esperando que ele concluísse, porém encerrou apenas com aquelas palavras.
Não queria acreditar que Liz brigou com ele, somente porque o idiota
furou com ela.
— Vamos lá, acho que você deve vir driblando em direção à cesta,
faz o passe e todos virão pra cima, quando chegar fora da linha, passo e
você arremessa — instruí, pensando que talvez aquele fosse o meu último
jogo. — Serão três pontos logo no início, vamos impressionar, a torcida vai
à loucura.
— Deveríamos inverter — sugeriu pegando a bola e indo para o
início da quadra, treinando a jogada. — Você sai com ela, quando passar pra
mim, todos pensarão que é uma jogada de distração, afinal porque o capitão
do time passaria a bola para mim tão perto da linha?
— Então faremos assim. — Ele passou e eu arremessei marcando
três pontos.
Claro que com nossos adversários não seria tão simples assim, mas
Cristian e eu tínhamos boas jogadas e dupla, mesmo que sua paixão pelo
basquete não tivesse a mesma intensidade que a minha, ele se empenhava em
todos os treinos e jogos.
— Vai sentir muita falta da quadra quando estiver atrás de uma pilha
de papel na King? — perguntou, tomando um gole da sua água.
— Mais do que pode imaginar — respondi com pesar. — E você,
está animado para finalmente seguir os passos do seu pai?
— Muito — disse com animação. — Está tudo planejado, por isso
quero aproveitar, essa será a nossa última temporada, acho que vou sentir
saudades.
— Liz me disse que você faz planos de se mudar para Great Forest
— comentei despretensiosamente. — Achei que fosse para South Last.
— Meu pai ainda não decidiu — ficou tenso ao falar e logo mudou
de assunto. — E aí, vai me contar quem é a garota que está a fim?
— Já disse que não tem ninguém — menti, aproveitando a abertura
para fazer mais perguntas. — E quem é essa Briana?
— Quem? — Franziu o cenho, fazendo-se de desentendido.
— Briana, estava te ligando no dia que passou mal no seu
apartamento — expliquei, percebendo que estava começando a ficar
inquieto, o que era típico dele quando mentia.
— Ah, deve ser a amiga do meu pai que conseguiu a vaga na Read
Enterprise. — Desviou o olhar puxando o celular da bolsa.
— Aquele horário? — inquiri e ele me encarou irritado.
— Virou um interrogatório, cara? — retrucou desconfiado, sustentei
o olhar e ele não teve outra alternativa senão responder. — Eu esqueci de
levar alguns documentos importantes para a contratação, deve ter sido isso.
— Mas naquele dia você me disse que eles te ligaram, como estava
devendo a papelada assim tão rápido? — o pressionei e como de costume,
fugiu.
— Sei lá, Max! — exclamou exasperado. — Estava tão bêbado que
não me lembro.
— Achei que estivesse traindo a Liz — fui direto, e ele se apressou
em negar.
— Claro que não, com uma garota como ela não preciso de outras.
— Riu com desdém, inflando seu ego. — Já te falei como ela geme meu
nome quando estou comendo-a?
— Você é nojento, Cristian. — Começando a me irritar, saí de perto
dele. — Não quero ouvir o que faz dentro de quatro paredes.
— Eu sei que gosta da Liz como um irmão — declarou, mas aquilo
soou com certa acidez. — Prometo não falar mais de como ela tem uma
garganta...
— Vai se foder, Cristian! — gritei, furioso, raiva tomou minhas
feições, não consegui disfarçar.
— Assim até parece que sente ciúmes — alfinetou, e não neguei,
apenas rebati.
— Ela é a sua namorada, só queria ter certeza de que não estava
traindo uma garota tão legal. — Apontei o dedo em riste em sua direção. —
Eu poderia muito bem ter dito sobre as ligações que vi, duvido que ela
acreditaria que uma funcionária do RH liga para o namorado durante a
madrugada.
Cristian mal piscou, quando falei. Cerrou o maxilar contendo as
palavras que poderiam sair da sua boca.
— É o meu pai. — Fez um sinal apontando para o telefone, que
sequer vibrou. — Sim, pai, já estou indo.
Fez alguns movimentos com a cabeça se afastando, enquanto fingia
falar ao telefone. Eu gostaria de desmascará-lo, perguntar se estava
realmente traindo Liz, mas aquilo geraria um grande desconforto, afinal, ele
não tinha que me dar nenhum tipo de satisfação. Acho que aquela loucura que
sentia por Liz, estava indo longe demais, deveria esquecer isso e focar em
outra coisa. Uma das garotas na minha interminável lista de contato ajudaria,
e se não funcionasse, passaria para outra.
Faltava uma hora para minha apresentação, eu precisava chegar ao
teatro antes das oito da noite, Cristian havia combinado de me buscar às
seis, e seu atraso de uma hora estava me enlouquecendo. Culpava-me por
acreditar nele mais uma vez. Foi ele quem deu a ideia de vir me arrumar em
seu apartamento, com a desculpa de que facilitaria na hora de me pegar,
agora eu estava aqui, pronta e provavelmente atrasada. Era frustrante.
Nossa relação ia de mal a pior, e isso não era novidade. Quando o
conheci era doce, amigável e divertido. No último ano ele se tornou o
contrário disso tudo. Era autoritário, não conversava comigo e vivia com
raiva, por vezes descontava suas frustrações em mim e quando eu tentava
dialogar, acabava me sentindo culpada por incomodá-lo quando ele já tinha
tantas coisas para resolver com seu trabalho. Fora as ausências recorrentes,
sempre tinha uma boa desculpa para desmarcar qualquer compromisso
comigo.
No fundo eu sabia que nosso relacionamento tinha prazo de validade,
esperava pelo dia em que ele dissesse que não queria mais. Eu bem que
poderia fazer, e me perguntava o motivo de não tomar essa decisão. Talvez
fosse o medo da solidão, sentia que a qualquer momento poderia perder
Abigail, e sem ela, não teria mais ninguém.
Eu sentia um carinho imenso por Cristian, era apaixonada por ele,
mas até isso estava se desgastando. Nas últimas semanas eu mal o vi, e todas
as vezes que combinava de me buscar no trabalho, ele desmarcava e
mandava seu amigo no lugar. Maxwell King, aquele que estava deixando
tudo mais confuso. Tê-lo como suporte no lugar de Cristian não era uma boa
ideia, mas em uma situação de emergência como essa, eu não conseguia
pensar em outro alguém se não ele.
Não ligue, sua idiota! Vai estragar tudo!
Meus pensamentos duelavam sobre o certo e o errado. O jeito que
Max me olhou na noite anterior fez com que me sentisse estranha, não
poderia usar a palavra atraída, mas talvez importante. Para uma garota como
eu, que não era notada, ter aqueles olhos intensos em mim, deixou-me
balançada. Era como se ele realmente se importasse comigo.
Olhei para o meu celular, cansada de tantas ligações não atendidas,
cansada de ser ignorada. Disquei outro número conhecido, o de Max. Talvez
Cristian o atendesse, e recebendo meu recado se lembrasse do nosso
compromisso, eu não queria nem imaginar o fiasco que seria se ele falhasse
comigo justo hoje. Minha apresentação estava marcada há meses, e eu
ensaiei com afinco por todo esse tempo, muitos empresários estariam lá,
olheiros de grandes academias também, era importante para mim, a chance
de mudar a minha vida e poder cuidar da minha avó de uma maneira decente.
— Liz? — Max atendeu com sua voz grossa, mas ao mesmo tempo
descontraída.
Fiquei muito amiga de Max desde que comecei a namorar Cristian, a
gente já se conhecia, ele era o garoto legal que sentava à minha mesa e
dividia seu lanche comigo, mas logo isso mudou, apesar de não me tratar
mal, mantinha-se distante, com certeza ordens de sua mãe, que como uma das
mulheres mais influentes de River Lake, não queria seu filho perto de uma
garota problemática. Nossa reaproximação foi natural, quando saía com
Cristian, ele estava lá, nos treinos que eu acompanhava, Max se aproximava
puxando um assunto qualquer, a fim de não me deixar esquecida. Se pudesse
usar as palavras “melhores amigos” seria com ele, talvez até mais do que
Cristian. Max me incentivava, dizia querer investir na minha carreira, ainda
que todo seu dinheiro viesse de sua poderosa família. Inexplicavelmente se
preocupava comigo.
— Oi, Max, me desculpe por incomodar... — comecei a falar, meio
hesitante.
— Não incomoda — respondeu rapidamente, um pouco distante,
diferente das outras vezes, mesmo assim, foi gentil. — Está tudo bem com
você? Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, não, eu só queria saber se você falou com Cris hoje,
e se poderia ligar pra ele...
— Liz, o que está havendo?
— Hoje é minha apresentação, e ele ficou de me levar. — Suspirei,
estava envergonhada de falar sobre isso com Max. — Na verdade, íamos
juntos, vim me arrumar no apartamento dele, estou cheia de coisas e ele não
aparece...
— Merda! — rosnou irritado, meu rosto esquentou de vergonha, com
certeza o estava incomodando.
— Max, deixa pra lá, eu só liguei porquê...
— Eu vou ligar, mas espere na portaria com as suas coisas, passo aí
pra te pegar em dez minutos.
— Max, não precisa, é sério.
— Sem discussão, Liz — declarou autoritário. — Duvido muito que
ele vá me atender, por isso estarei aí para te levar, prepare tudo.
— Obrigada. — Foi a única coisa que consegui dizer, aliviada por
ter uma carona.
Depois de desligar vesti parte do meu figurino para adiantar, olhei-
me no imenso espelho do closet que Cristian tinha. Esse apartamento foi um
presente de aniversário, ele quase não ficava aqui, usava-o apenas quando
me trazia para dormir com ele, o que eram poucas vezes, visto que eu não
gostava de deixar minha avó sozinha. Eu não me encaixava na vida de
Cristian, sabia disso desde o dia em que começamos a namorar, e acho que
ele também sabia disso, em todo o nosso relacionamento nunca me
apresentou formalmente aos seus pais, não saíamos juntos para os lugares,
sua desculpa era que estava ocupado demais. Eu apenas aceitava, talvez por
ser mais fácil do que me enquadrar em sua vida.
Peguei todas as minhas bolsas, e outra fantasia que usaria na
apresentação, que precisei trazer para casa para uns ajustes de última hora,
as roupas do ballet foram cedidas pela madame Madelyn, mas eu gostava de
dar o meu toque final. Desci no elevador cheia de coisas, quase não tinha
espaço para outras pessoas entrarem, já que era um quadrado bem justo.
Recebi olhares de reprovação, mas não me importei, se Cristian não
conseguiu estragar minha noite, nada mais estragaria.
Esperei na portaria até que avistei o carro luxuoso com o emblema
da família King se aproximando, o emblema cromado da letra K parecia
brilhar ainda mais à noite. Max estacionou, e quando eu comecei a pegar
todas as minhas bolsas para ir até o carro, ele saiu e caminhou com sua
postura imponente em minha direção, usando calça jeans e jaqueta de couro,
fazia jus a sua fama de bad boy, nem mesmo o rosto machucado, diminuiu sua
beleza.
De longe avistei uma mulher ruiva sentada no banco da frente, com
certeza era uma de suas amigas com benefícios. Max era um cara bonito, e
esses olhares que me lançava deixavam-me de pernas bambas, eu queria
fingir não perceber, primeiro por ser amigo do meu namorado, e também,
porque sabia que ele era mulherengo, tinha as garotas de River Lake se
atirando para cima dele aos montes, talvez fosse pelo jeito cafajeste que
nunca o deixava.
— Atrapalhei seu encontro? — perguntei, sentindo-me culpada.
— Eu não tenho encontros, sabe disso. — Deu-me aquele sorriso de
lado, safado, mas a tensão diminuiu.
— Sua garota não vai ficar chateada por eu interromper?
Max puxou minhas bolsas, e deu-me um olhar que me fez arrepiar.
— Sabe que você é minha única garota. — Suas palavras tiveram um
duplo sentido que me pegou desprevenida. — Agora vamos antes que chegue
atrasada.
Assenti e o segui para carro, ao contrário do que Max disse, sua
companhia da noite não parecia nada satisfeita em me ver, o olhar que me
lançou era cortante, mas me agarrei às palavras de Max. Eu era sua amiga,
sua garota, e a amizade que criamos era mais forte do que um sexo casual
que ele teria com ela. Outra vez uma sensação estranha me tomou, só que
decidi ignorar, aquele não era o momento para pensar sobre o que sentia,
principalmente por um cara que não era meu namorado.
Liz era a coisa mais linda do mundo vestida naquela roupa de ballet.
Quando me ligou e pude ouvir a aflição em sua voz, não pensei duas vezes.
Sabia que hoje seria sua apresentação, ela me mandou o convite, comentou
na noite anterior antes da briga, mas eu não estava a fim de assistir aos dois
juntos. Pensei no que Ashley disse sobre eu não ter ficado com nenhuma
garota no último mês, e isso me alertou. Talvez estivesse mais obcecado por
Liz, porque não vivia como antes, só pensava nela, a desejava o tempo todo,
por isso liguei para um dos meus contatos, estava mais do que disposto a
foder minha frustração até a exaustão.
Ao estacionar na portaria do prédio, percebi que havia feito a
escolha certa. Liz estava paradinha com uma roupa brilhante e espalhafatosa,
usava aquela saia fofa de bailarina, e uma tiara que parecia um chamariz,
cheia de pedras.
Perfeita.
O olhar triste agora não existia, o cansaço desapareceu. Em seu rosto
só existia a pura e verdadeira felicidade. Quis gravar aquela imagem para
sempre, queria manter aquele sorriso lindo comigo.
Aproximei-me, percebendo como estava agitada, nervosa pela
possibilidade de se atrasar, não falei nada, apenas a ajudei entrar no meu
carro, e quando conseguiu, suspirou aliviada, mas me lançou um olhar
envergonhado. A ruiva no banco do passageiro fez um som de desagrado e
desejei expulsá-la imediatamente do meu carro. Em menos de quinze minutos
cheguei ao teatro, ajudei Liz a levar tudo para dentro, quando estava prestes
a partir ela me olhou daquele jeito que me desmontava, arrebatava-me por
inteiro.
— Obrigada, Max. — Envolveu meu pescoço abraçando-me com
força, seu perfume invadiu minhas narinas.
— Não precisa agradecer. — Segurei seu pescoço delicado com uma
mão, enquanto afagava as costas com a outra. — Sabe que sempre estarei
aqui por você, basta me ligar.
Ela assentiu e continuou me olhando com aquele jeitinho, até que por
fim murmurou:
— Achei que fosse vir hoje, eu te enviei um convite.
Aquilo me surpreendeu, achei que ela havia mandado por educação,
e não porque me queria ali.
— Eu não quis parecer intrometido, sempre estou com você e
Cristian... — Tentei achar uma desculpa melhor do que a verdade. — Achei
que fosse um momento especial só para os dois.
— Convidei você porque sempre me apoiou, e não por educação,
gosto de você, Max. Somos ami...
Toquei seus lábios com meu polegar, impedindo que concluísse
aquela palavra. Quis me apegar à parte que ela dizia que gostava de mim.
Deslizei meus dedos em seu rosto ainda tocando os lábios com o polegar.
Hipnotizado com sua beleza, apenas a admirei, uma corrente elétrica parecia
correr do seu corpo para o meu, fazendo-me desejá-la ainda mais.
— É melhor você entrar, ou vai se atrasar — murmurei afetado
demais, golpeado por aquelas emoções confusas dentro de mim que me
faziam querer agarrá-la ali mesmo e beijá-la. Afastei aquele desejo absurdo,
Liz provavelmente me odiaria por colocá-la em uma situação como aquela.
Ela assentiu, entrando logo em seguida no teatro, eu não saí do lugar,
fiquei ali parado sentindo uma miríade de sentimentos me invadir, uma
saudade enlouquecedora, uma vontade de somente ficar perto dela, como se
me pertencesse, como se fosse certo eu ficar ali. Voltei para o carro com uma
decisão tomada, a garota pegaria um táxi para onde quisesse, e eu iria para o
lugar onde tudo dentro de mim ansiava por estar, ao lado de Liz.

Entreguei o convite na entrada, amaldiçoando-me por não estar ao


menos bem vestido. Todos por ali vestiam traje a rigor, de ternos e smoking,
mas eu usava jeans e minha jaqueta de couro. Talvez fizesse Liz passar
vergonha e tudo fosse um erro, mas era um dia importante para ela, e o idiota
do Cristian desapareceu, não atendeu nenhuma das minhas ligações. Por um
lado fiquei aliviado, a ideia de ter a atenção dela só para mim, essa noite,
agradou-me.
Caminhei entre as fileiras procurando meu lugar, observando vários
homens ali presentes que seguravam vários buquês de flores, não poderia ser
uma coincidência. Sentei no meu lugar e questionei o homem ao meu lado,
curioso por todos carregarem a mesma coisa nas mãos.
— Me desculpe por incomodar, mas por que todos estão com flores?
— Ah, sim. — O homem de meia idade sorriu. — Ao final da
apresentação o mestre de cerimônia chama cada bailarina, e seu
acompanhante a recebe com flores e posa para foto.
Então era isso. Porra! Liz não teria ninguém, tinha certeza de que
Cristian não apareceria.
— Onde consigo um desses? — perguntei, torcendo para encontrar
um buquê decente. — Aqui dentro é enorme, deve ter um lugar que venda,
não?
— Tem sim, siga as plaquinhas que dizem floricultura e não tem erro.
Sorri agradecido e corri até a floricultura do teatro, quase dez
minutos depois eu estava de volta com o maior buquê de rosas vermelhas
que a loja tinha a oferecer. Queria surpreender Liz com a minha presença, e
honrá-la em seu dia especial como merecia. Isso poderia deixá-la confusa,
ou, apenas pensaria que era um ato gentil de um amigo. Realmente não me
importava, desde que hoje ela se sentisse a mais importante de todas, que
seu dia ficasse ainda mais alegre.
O espetáculo tinha começado há pouco tempo e não demorou para
que eu tivesse um vislumbre das lindas e longas pernas de Liz entrando em
ação. No início foi uma melodia suave e ela parecia flutuar, com os efeitos
de fumaça não podia ver os seus pés tocarem o chão. Faziam piruetas, em
uma dança expressiva, Liz se esticava toda, rodopiava, era a coisa mais
linda do mundo, uma perfeição sem igual.
Eu a observava com paixão, meu peito se apertava com a ideia de
que depois dali ela dormiria nos braços de outro e não nos meus. Não
conseguia aceitar isso com tranquilidade, era como uma faca sendo
empurrada dentro de mim, massacrando a porra do meu coração. Nem
mesmo esse sentimento me fez parar de admirá-la, cada gesto, cada sorriso,
o olhar compenetrado atuando de forma impressionante. Arrependi-me de
não ter ido a outras apresentações suas, vê-la dançar daquela forma me fez
ter certeza de que eu a queria, não era só um desejo carnal, eu poderia
passar o resto da vida vendo Elizabeth Collins dançar. Quando a
apresentação acabou, como esperado, cada um dos bailarinos foi chamado,
havia homens dançando, e suas parceiras de dança estavam lá, esperando
por eles, e eu fiquei ansioso pela vez de Liz, duvidava que ela tivesse me
visto, havia tanta gente ali.
— Elizabeth Collins — o mestre de cerimônia chamou, e ela estava
meio sem jeito, parecia com medo de que ninguém estivesse ali, na cabeça
dela não tinha mesmo, mas lá estava eu, pronto para recebê-la, apaixonado,
bobo, destoando de todos os acompanhantes que estavam ali, mas com a
mesma admiração.
Caminhei até o lugar onde os acompanhantes deveriam ficar e
esperei por ela. Desconcertado, cocei a nuca, evitando olhar para as pessoas
ao redor. Odiava ser o centro das atenções, mas por Liz valeria a pena. Ela
caminhou até o palco, recebeu o cumprimento de todos ali, e quando desceu
uma das pequenas escadas laterais, eu estendi minha mão. Seus olhos se
arregalaram, ela ofegou baixinho, surpresa e feliz, não hesitou ao segurar
minha mão e aquele arrepio gostoso percorreu meu corpo inteiro. Puxei o
buquê de rosas enorme, e com uma pose de galã entreguei, antes de trazê-la
para os meus braços. Inspirei seu perfume adocicado, e me deleitei tendo-a
junto a mim.
— Não acredito que veio! — Apertou-me forte e eu retribui beijando
seu cabelo. — Sua garota da noite deve ter ficado ainda mais furiosa!
— Já falei que você é a única garota importante na minha vida. —
Segurei seu rosto com as duas mãos e beijei sua testa, quando minha maior
vontade era beijar sua boca. — E a propósito, você estava linda!
— Obrigada, nem acredito que está aqui! Cristian ficou... — Ela
parou fechando os olhos, parecendo mais conformada do que chateada. —
Quer saber, ele não está aqui, na verdade, nunca está, então não vamos falar
dele.
— Ótimo! — disse tranquilo, mas por dentro estava vibrando. Isso,
porra! — E agora, o que vai fazer?
— Sessão de fotos! — uma voz feminina surgiu, a mulher segurava
uma câmera fotográfica que estava pendurada no pescoço. — Vamos indo.
Liz me olhou sem jeito, estava prestes a dizer as típicas palavras que
direcionava para mim “Você não precisa”, mas eu a interrompi antes que
pudesse falar, eu não precisava fazer nada, porque estar perto dela era tudo o
que eu queria.
— Eu quero, se você não se importar. — Dei de ombros, Liz sorriu e
voltou a me abraçar.
— É claro que eu quero. — Segurou minha mão, puxando-me pelo
caminho dos bastidores. — Vão ser muitas fotos, então se quiser desistir.
— Nunca.
Havia um grande cenário com fundo neutro, próprio para fotografias.
Fomos o primeiro casal a fotografar, e ouvir a palavra “casal” relacionada a
nós dois fez o cara possessivo dentro de mim aflorar. A palavra “minha”
gritava dentro da minha cabeça e parecia tão certo, que me fazia querer ela
com mais força.
— Você, bonitão, fique atrás, mãos em volta do quadril e coloque o
rosto perto dela — a fotógrafa ditou. — E você, Liz, incline o pescoço um
pouco para o lado e segure o buquê bem na frente.
Olhei para Liz esperando ver a tensão em seu olhar, mas não via
nada.
— Está confortável com isso? — indaguei preocupado.
— Claro, se você estiver...
— Eu estou — respondi de maneira sucinta, era uma mentira, eu
estava realmente preocupado em como esconder a ereção que se formou
assim que visualizei a imagem de nós dois naquela posição... Caralho, era
demais para o meu autocontrole!
Fiquei por trás, tocando-a e sentindo seu perfume. Em alguns
momentos percebi como Liz enrijecia em meus braços, mas não se afastava,
com carinho ela tocava minhas mãos, em outras poses acariciava meu rosto,
e eu ousei beijar seu pescoço, e quando o fiz, Liz arfou baixinho.
— Agora para a última, virem-se de frente um para o outro. Você
segura o rosto dela, e Liz, incline a cabeça para cima... Isso! — exclamou
quando ficamos na pose solicitada. — Parecem um casal de cinema! Liz
você vai querer todas as fotos?
Eu mal ouvia a fotógrafa ao meu redor, não conseguia pensar quando
meus lábios estavam perto dos dela. De repente o mundo parou de girar, tudo
dentro de mim revolveu, o desejo inflamou em minhas veias. Cortei o curto
espaço que ainda restava entre nós e atravessei a linha do que era permitido.
Liz estava aprisionada entre mim e a parede, eu quase a beijei. Deslizei
meus lábios pelo seu rosto suavemente, distribuindo beijos ali.
A única certeza que eu tinha era que a queria demais, aquele
sentimento dentro do meu peito se expandia, com fome, desejo, paixão e
amor. Sim, eu não tinha outra explicação para aquela loucura que me cegava,
acredito que amei Liz no dia em que a conheci, um amor infantil que se
fortaleceu com os anos, mas não quis aceitar aquela paixão, que cresceu,
tomou espaço dentro de mim e agora, não podia me ver longe dela, desejava
prová-la de todas as maneiras, dizer de uma vez por todas que ela estava
com o cara errado, que era eu o único que poderia fazê-la feliz.
Engoli em seco com a proximidade de Max, ele me olhava
profundamente, com o desejo escancarado no rosto. Inspirei profundamente
presa entre ele e a parede, sem saber o que dizer. Eu deveria afastá-lo, dizer
que aquilo era errado, estávamos atravessando uma linha perigosa, que não
tinha volta. Depois que comecei a namorar com seu amigo nos aproximamos
demais, com o tempo tornou-se mais carinhoso, ajudava-me e incentivava-
me até mais que o próprio Cristian, eu já havia pegado alguns olhares dele
sobre mim, mas não acreditei que fossem olhares lascivos, pois Max era um
verdadeiro garanhão, tinha a mulher que queria em um estalar de dedos,
pensei que ele não sentiria atração por mim, tendo tantas outras interessadas
nele.
No entanto, nossos últimos dias juntos mudaram isso, agora eu via
com clareza, e todos os momentos de carinho, risadas, toques e olhares,
estava explícito o que ele sentia, e eu fui burra em não perceber. Contudo,
essa situação não poderia acontecer, os dois eram amigos, e mesmo que meu
relacionamento fosse uma merda, eu nunca ousaria ceder a esse tipo de
pecado. Posso não amar Cristian, como pensei amar, mas nunca o
desrespeitaria dessa forma e pelo esforço que Max fazia, estava claro que
ele não ultrapassaria essa linha também.
Ele segurou meu queixo quando tentei desviar o olhar, encostou a
boca na minha orelha, e sussurrou, fazendo-me arrepiar por inteira:
— Agora você sabe, não é? Agora consegue ver como eu me sinto.
— Max... — Tentei afastá-lo, mas meus braços caíram sem forças
contra o seu peito.
— Eu sei, nunca te colocaria numa situação dessa. — Esfregou o
polegar sobre a minha bochecha, e desviou o olhar da minha boca. — Vamos
sair pra jantar e comemorar sua apresentação.
— É melhor não...
— Como amigos, não vou tentar nada, prometo. — Fez um sinal de
jura com os dedos, e levou aos lábios selando a promessa.
— Vou trocar de roupa, então. — Sorri e corri para dentro do
vestiário.
Ao entrar, avistei todas as meninas se trocando, animadas com a
apresentação, prontas para comemorar com seus familiares. Eu não tinha
ninguém, minha avó estava tão debilitada que passava a maior parte dos dias
dormindo, Cristian realmente não se importava comigo, do contrário estaria
aqui. Parei diante do espelho, respirando fundo. Fechei os olhos e lembrei
do que senti quando Max me tocou, de suas mãos em meu rosto, a pegada
possessiva, o dedo deslizando sobre os meus lábios. Demorei alguns
minutos para me recompor, precisava tirar aquele sorriso idiota do meu
rosto.
Quando estava pronta para sair, me lembrei de Cristian, peguei meu
celular a fim de enviar uma mensagem, avisando que a apresentação já havia
acabado, e me deparei com uma mensagem curta e direta sua, dizendo que
teve um imprevisto e que me veria no dia seguinte, pois dormiria na casa dos
pais. Ao notar sua total falta de interesse, conformei-me que teria de pôr um
fim em nosso relacionamento. Não conseguia imaginar qualquer motivo
plausível para que Cristian não me apresentasse aos seus pais de maneira
formal, a não ser sua resistência em nossa relação, sua falta de interesse nas
minhas coisas, como se não ligasse para nada que tivesse a ver comigo, a
não ser no sentido sexual, nessa área ele tinha muito interesse.
Entendia que eu não era a nora dos sonhos, as senhoras distintas de
River Lake não queriam ver seus filhos relacionados à filha de uma
prostituta viciada, mesmo depois da morte de Verônica, as coisas não
mudaram para mim, todos esperavam que eu fosse como ela e meu jeito
arredio não facilitou, arranjei mais brigas do que qualquer outra garota.
Sobreviver em um mundo comandado por poderosos exigia força, eu tinha
que lutar ou seria esmagada por eles.
Avisei com uma mensagem rápida que Max havia me acompanhado, e
que sairia para comemorar com ele, e sua resposta foi imediata, apenas um
“Ok, divirta-se!”. Ah, foda-se! Cristian estava se saindo um idiota de
marca maior, ele nem sequer se incomodava que eu saísse sozinha com seu
amigo? Isso fazia com que eu me sentisse uma tola, enquanto eu me
martirizava por me sentir abalada ao lado de Max, ele sequer se importava.
Ignorei a raiva que estava sentindo, e me permiti ficar feliz, afinal
minha noite foi perfeita, tinha certeza de que poderia conseguir um contrato
permanente com uma companhia de ballet importante. Vesti uma saia simples
que tinha na bolsa, por cima do collant mesmo. Não imaginei que no final da
noite sairia para comemorar minha apresentação, mesmo que Cristian viesse,
meu destino final era sempre o apartamento dele. Soltei o cabelo, e passei
um brilho labial. Tentei colocar na cabeça que eu não estava me arrumando
para o Max, éramos amigos, e mesmo com aquela tensão entre nós, sabia que
ele respeitaria meu relacionamento.
Quando Max me viu, balançou a cabeça me presenteando com aquele
sorriso arrebatador que ele tinha. Sorri também, mais contida e um pouco
sem jeito. Durante todo o trajeto para o restaurante, Max me fez relaxar,
falou sobre a apresentação, me arrancou risos com sua história de como se
sentiu perdido ao ver todos com buquês de rosas. Confessei para ele meus
temores de não ter me saído bem, de que poderia não ter chamado atenção de
nenhuma academia, e novamente me tranquilizou.
O restaurante que escolheu era muito elegante, um dos mais
importantes da cidade, onde só os mais poderosos frequentavam, ficava a
dez minutos do teatro, e todos que estavam na apresentação resolveram
comemorar lá. Suspirei ao ver minhas roupas, não eram nada apropriadas
para o lugar luxuoso, mas na opinião de Max, se ele pagava, ele podia, e
suas roupas também não eram nada formais. Sua imagem assemelhava-se a
de um bad boy, talvez porque ele realmente fosse um. Cabelo curto e
bagunçado, calças jeans, tênis descolado, uma camiseta branca e sua velha
jaqueta de couro jogada por cima. No seu pescoço pendia um cordão de
couro com dois pingentes, um de asas e um crucifixo, que ele nunca tirava.
Era esse o jeito dele, despojado e misterioso que atraía as garotas.
Olhando-o em alguns momentos desejei que o garotinho que dividia
seu lanche comigo, nunca tivesse se afastado e que talvez pudéssemos estar
em um cenário diferente hoje, apesar de saber que meu futuro com ele seria o
mesmo que com Cristian, dado ao fato de que Max era o herdeiro de uma das
famílias mais importantes de River Lake, mesmo assim, eu tive vontade de
provar do fruto proibido, como todas as outras garotas, mas isso não
aconteceria.
— Tem certeza de que quer jantar aqui? — indaguei, olhando ao
redor. — Está cheio.
— Você merece o melhor, vamos comemorar. — Colocando uma mão
em minhas costas, direcionou-me para a entrada onde o maître veio nos
atender.
Max dominou tudo, ditando ordens, o jovem que aparentava ser um
cara comum, mostrou em palavras o que queria. Seguimos para nossa mesa,
ele pediu vinho, escolheu seu prato, enquanto eu indecisa pensava no que
comer, mais calada do que o habitual. Parei, dando-lhe minha total atenção
quando tocou em minha mão.
— Não mude comigo agora que sabe como me sinto sobre você —
murmurou, acariciando a junta dos meus dedos.
É claro que ele perceberia meu silêncio, eu era a pessoa mais falante
que Max dizia conhecer, e agora estava retraída, mas a culpa não era dele,
estava apenas pensativa, queria evitar aquele assunto, sentia medo de dizer
algo que o fizesse confundir minha intenção, na verdade, eu mesma tinha
medo de falar mais do que podia.
— Não vou mudar, amo você, Max... — Ele me calou colocando
novamente o polegar sobre meus lábios, impedindo-me de terminar.
— Prefiro ouvir só essa parte.
Eu dei um tapinha em sua mão, e ele riu, mas de repente ficou sério,
o olhar assombrado fixava-se além de mim. Sua seriedade mudou para ira,
cerrou o maxilar e apertou o guardanapo, como se quisesse destruí-lo,
quando seu olhar caiu novamente sobre mim, ele mudou para algo que não
soube decifrar.
— Vamos embora, é melhor jantarmos em outro restaurante.
— Por quê? — perguntei e ele balançou a cabeça negando.
— Não é nada...
— Uma merda que não é nada, Max! — Tentei virar o rosto para ver
o que tanto o tinha incomodado, e ele segurou meu rosto com carinho,
impedindo-me de virar.
— Só vamos embora, depois conversamos sobre isso, não quero
estragar a sua noite — suplicou, porém aquilo apenas inflamou a curiosidade
dentro de mim.
Para que ele agisse daquela forma, devia ser algo sério, e
relacionado a mim.
— De jeito nenhum! Por que estragaria a minha... — Parei
abruptamente quando fiquei de pé e encontrei o que tanto perturbava Max.
Cristian se aproximava de uma mesa um pouco distante da nossa,
abraçava uma jovem muito elegante, que usava um vestido justo, mas não foi
isso que me chocou, mas sim o grande volume no ventre dela.
— Pode ser uma amiga ou parente... — Max tentou justificar, mas foi
em vão, porque naquele exato momento Cristian beijou a mulher, e a ajudou
a se sentar junto aos seus pais.
Não sei bem o que deu em mim, mas aquela garota que vinha
retraindo toda a sua raiva, controlando seu comportamento, porque segundo
Cristian, era errado, grosseiro, explosivo, e manchava a imagem dele,
emergiu. Percebi ali como me encolhi para caber no mundo dele, como
deixei de agir como eu mesma apenas para agradá-lo, para evitar problemas,
brigas, mas dessa vez tudo parecia tão surreal, que caminhei até a mesa
deles, cega pelo ódio, sem nenhum pingo de racionalidade.
Quando parei ao lado deles, Cristian ficou pálido, seus pais me
olharam com estranheza, como se não me conhecessem, e de fato não nos
conhecíamos, mas ele dizia que havia conversado com eles, que estava
esperando o melhor momento para marcar uma apresentação formal, queria
que seus pais me vissem de outra forma, como uma garota esforçada,
"decente", e que ainda não tinha feito isso, por mil e uma desculpas que
sempre inventava.
— Pois não? — a garota grávida ao lado dele, falou.
Perguntei-me como ela não sabia de mim, e pior, como eu não sabia
dela. River Lake não era uma cidade grande, não entendia como ninguém
comentava sobre uma garota grávida, de quem, eu achava, que era do meu
namorado.
Abri a boca para dizer toda a verdade sobre quem eu era, mas
Cristian ficou rapidamente de pé, agarrou meu braço com força, tentando me
arrastar, me calar, mas não fez isso por muito tempo, porque Max acertou um
soco no rosto dele, fazendo-o cambalear, soltando-me no processo.
— Porra, Max! — Cristian limpou o canto da boca com as costas da
mão.
— O que está acontecendo aqui? — o pai de Cristian indagou com
raiva e me olhou com nojo, avaliando-me dos pés à cabeça. — O que quer
aqui, garota?
— Eu sou... — gaguejei, não por medo, mas por ódio, por estar
sendo feita de idiota e não perceber. — Era, até hoje, a namorada do seu
filho.
— Namorada? — a mãe perguntou, indignada. — Impossível, Briana
é a noiva dele, ela está grávida do nosso neto...
Eu o olhei com nojo pela primeira vez, e ele me olhou com evidente
desespero, tentou se aproximar e Max se mostrou protetor ao meu redor, o
que fez a tensão em meu corpo aumentar. Cristian me encarou furioso e
mudou sua postura, caminhou para longe da mesa dos pais, esperando que
fizéssemos o mesmo. Dei um último olhar para os três que me devolveram
olhares odiosos, seguindo atrás de Cristian, e Max veio atrás como um cão
de guarda em meu encalço, como se pudesse me proteger de tudo e todos.
Quando avistei o homem que pensei conhecer, estendi a mão barrando Max
de caminhar até ele, essa conversa era apenas entre Cristian e eu. Mesmo
contrariado, respeitou minha decisão, e parou onde estava.
Andei até Cristian parando de frente a ele, sem sentir a raiva que
imaginei sentir, apenas uma tristeza imensa por ter sido enganada. Talvez
aquela paixão que tivemos no início tivesse esfriado, mas não entendo por
que não me falou, não terminou tudo. Nunca iria entender o que passava na
cabeça dele para fazer algo tão baixo, mesquinho e sem caráter, por que
manter um relacionamento comigo, e ter uma noiva grávida, não podia ser
descrito com outras palavras.
— Você não deveria estar aqui... — Cristian falou agitado.
— É sério? — Arqueei as sobrancelhas, incrédula. — Isso é o que
vai me dizer?
Ele puxou o cabelo nervoso, andando de um lado ao outro sem parar.
— Eu gosto de você...
— Gosta tendo uma noiva grávida? — inquiri. — Como eu nunca
soube dela, ou melhor, como ela nunca soube de mim?
— Briana não é daqui, mora em Great Forest — explicou, então tudo
começou a fazer sentido. — Minha mãe nunca iria te aceitar, ela queria que
eu me casasse com alguém da nossa classe social, Briana foi a escolha dela
pra mim, e apesar de não querer, cedi...
— Cedeu? Você é um homem adulto, poderia ter me contado a
verdade ao invés de ficar mentindo pra mim e enganando aquela garota....
Ela está gravida, porra! — Agora entendia o motivo de vivermos presos em
seu apartamento, nunca frequentávamos lugares importantes, para todos eu
era uma prostituta, o brinquedinho de Cristian Michell.
— Fala baixo — sussurrou ameaçador agarrando meu braço.
Novamente Max se colocou entre nós, dessa vez pegou Cristian pelo
colarinho e o prensou contra a parede, todo o restaurante olhou para nós,
imediatamente o senhor Mitchell caminhou em nossa direção.
— Nunca mais chegue perto dela — Max ordenou com a voz baixa,
carregada de raiva.
— Você sempre a quis, não é? — desdenhou furioso. — Que ótimo
amigo eu tenho, peço para dar uma carona para minha namorada e você come
ela!
— Acha que sou igual a você? — Max rosnou. — Não merece essa
garota, Cristian, nunca mereceu.
— Então assume que gosta dela? — insistiu, querendo arrancar
aquela confissão de Max.
— Sempre, e pode ter certeza de que eu vou tratá-la da maneira que
ela realmente merece.
— Deve ter se corroído quando eu te contei como tirei a virgindade
dela... — Cristian tentou sair por cima da forma mais baixa possível.
— Filho da puta! — Max socou o rosto dele até que os seguranças se
aproximaram para separá-los, fiquei estática, lembrando da briga na noite
anterior. Quando se acalmou, lançou um olhar fulminante para Cristian e
tornou ameaçar. — Estou avisando, não se aproxime dela.
Cristian se virou para mim e cuspiu cheio de ódio com o rosto
sangrando.
— Tire seu lixo do meu apartamento!
Seu pai tentou acalmá-lo, e pude ouvir quando Cristian murmurou a
palavra “puta” contra mim, Max iria partir para cima dele mais uma vez,
entretanto, não permiti, agarrei seu braço querendo ir para bem longe de toda
aquela gente.
— Adeus, Cristian, espero que o destino cobre com juros tudo que
você me causou — declarei, no mesmo instante a garota grávida passou por
nós pisando duro, mas com classe, me lançou um olhar de pena e saiu,
enquanto a senhora Mitchell tentava fazê-la ficar. Olhei para ele e me permiti
um sorriso irônico por cima de toda dor e decepção. — Parece que seu
karma começou.
Nunca me senti tão humilhada em toda a minha vida. Passei por
situações constrangedoras, momentos em que achei que a morte seria melhor,
mas ver todo o pessoal da academia de dança assistindo àquela cena, onde
eu era colocada como uma estranha, uma louca que invadia o relacionamento
de outra pessoa, fez com que eu me sentisse um verdadeiro “nada”.
Todos em River Lake sabiam do meu envolvimento com Cristian,
apesar que não saíssemos com frequência, as pessoas nos viam juntos. Ele
me buscava na academia, no trabalho, eu estava presente em seus jogos,
mesmo assim, todos olhavam para jovem grávida como a grande vítima da
história, e eu? A vilã. Eles nem a conheciam, ninguém até esta noite sabia de
sua existência e mesmo assim olhavam para mim, a garota que cresceu nesse
inferno de cidade, como se fosse a culpada.
Não chorei por aquilo, na verdade, não me sentia mal por “perder
meu namorado” e sim por ter sido feita de idiota. Engoli em seco, olhando
através da janela do carro, Max dirigia devagar, olhando-me de soslaio o
tempo todo. Perguntei-me se ele sabia disso, se também teve coragem de
mentir para mim. Se era difícil confiar nas pessoas antes, agora se tornou
ainda mais.
— Vamos para outro lugar — falou entredentes, quebrando o
silêncio. — É a sua noite especial, podemos ir...
— Quero ir pra casa, Max — declarei sem animação, virei-me para
olhá-lo e indaguei: — Você sabia disso? Sabia que Cristian tinha outra
pessoa?
— Não — respondeu de imediato. — Eu desconfiei que ele escondia
algo porque naquele dia que Cristian passou mal no apartamento, o nome
Briana estava ligando, e havia várias ligações perdidas dela.
— Por que não me contou? — inquiri, mas em seguida neguei,
balançando a cabeça. — Esquece, você não tinha nenhuma obrigação.
— Se eu soubesse a verdade teria dito — afirmou com convicção. —
Não queria ter escondido sobre as ligações, mas não tinha certeza... — fez
uma pausa, então me olhou — sinto muito, Liz.
— Você não tem culpa de nada, Max. — Minha voz saiu baixa, não
por estar triste e sim cansada. — Não estou com raiva de você, Cristian é o
único culpado de tudo.
Ele assentiu, no entanto, ainda não parecia convencido. Ao
estacionar em frente à minha casa, desceu em vez de partir em seguida. Não
queria ser grosseira, mas desejava ficar sozinha. Virei para dizer que ele
deveria ir, mas fui surpreendida com sua proximidade repentina. Max
segurou meu rosto com as duas mãos, seus lábios pairaram sobre os meus,
quase os tocando. Inspirei audivelmente, sentindo o perfume amadeirado
invadir minhas narinas.
— Eu posso ficar — sussurrou com a voz grave. — Se você quiser...
— É melhor você ir — respondi rapidamente, não queria confundir o
que sentia, principalmente naquele momento. — Ficar pode ser um erro.
— Você nunca será um erro, Liz. — Não se afastou, os polegares
deslizaram pela minha bochecha, afagando. — Se eu tivesse só uma chance.
Max me encarava tão perto que nossos hálitos se misturavam, minha
respiração tornou-se descompassada, meu coração batia forte, acelerado,
nunca estivemos tão próximos como naquele momento. Sentia como se uma
força oculta nos atraísse, meus lábios se entreabriram, e ele passou o
polegar ali, acariciando suavemente, seu olhar nunca deixava o meu, parecia
suplicar por algo. Naqueles segundos, senti-me importante, querida,
desejada. Sabia que seria um erro ceder. Beijar Maxwell King seria o maior
erro da minha vida, no entanto, queria ter a chance de errar, nem que fosse
apenas uma vez. Fechei os olhos disposta a ir em frente, então, como um
aviso dos céus, ouvi uma voz distante me chamar.
— É a minha avó. — Soltei o ar que nem percebi segurar. — Tenho
que entrar, obrigada por tudo essa noite.
— Volto amanhã — afirmou de modo autoritário.
— É melhor não. — Balancei a cabeça, negando. — Preciso digerir
tudo o que aconteceu e com você aqui poderia confundir as coisas...
— Quando então?
— Max...
— Só me diga quando e estarei aqui — declarou como se tivesse
certeza do que queria. — Não sei se percebeu, mas sou...
— Não posso, Max — interrompi, temendo ceder diante do que
falaria. — Você é amigo dele, nós acabamos de terminar... — Ri
amargamente. — Um relacionamento que nem existia, mas, ainda assim, é
errado.
— Liz, você chegou? — minha avó indagou de dentro da casa.
— Nos falamos depois. — Virei-me para entrar, mas ele me puxou
pelo braço, fazendo-me colidir em seu peito.
— Vou esperar por você — avisou, beijando minha testa.
Senti uma sensação boa em seus braços, Max era alto, cobria-me
inteira em seu abraço, fazia-me sentir segura. Envolvi sua cintura com os
meus, encostando a cabeça em seu peito. Meio curvado, continuou agarrado
em mim, como se fosse impossível me soltar. Eu sentia o mesmo, uma parte
da garota carente não queria deixá-lo.

Havia se passado alguns meses desde que Liz descobriu sobre a


noiva grávida de Cristian, isso foi uma surpresa para todo mundo. O
desgraçado estava comprometido há três anos, Briana era filha de um
empresário de Great Forest, e mesmo assim mantinha um relacionamento
com Liz. Por isso sempre inventava desculpas para não a apresentar
oficialmente aos seus pais. Apesar de toda River Lake saber que os dois
estavam juntos, para o pai de Cristian, Liz era apenas uma diversão, algo que
ele usava para se aliviar enquanto não terminava a faculdade.
Eu não conseguia entender como o cara legal que conheci poderia
fazer isso com uma garota tão legal como Liz, e pior, como todas as pessoas
da cidade a julgavam como se fosse a errada nessa história. Elizabeth
Collins era a vítima, foi enganada, traída e mesmo assim, estava sendo
colocada no lugar de amante, a destruidora de um relacionamento.
Os pais de Cristian conseguiram, de alguma forma, convencer Briana
de que Liz era uma qualquer, uma perseguidora, que desejava dar um golpe
em Cristian. A garota pelo visto acreditou, porque os Mitchell adiantaram a
mudança do filho, ele não participaria do último jogo da temporada, nem
precisou concluir o último semestre em North River. Por um lado, isso foi
bom, Liz não teve que ver a cara do desgraçado pela cidade, porque para ela
a vida não parava.
Liz seguia a mesma rotina, trabalho, ballet, voltar para casa e cuidar
da avó, a diferença era que agora andava cabisbaixa, lutando contra os
olhares afiados e piadinhas que caíam sobre ela toda vez que saía de casa.
Essa situação me deixava mal, queria cuidar dela, protegê-la, mas Liz me
mantinha a uma distância segura. Quando a encontrava, cumprimentava-me
rapidamente e fugia.
Na noite que tudo aconteceu, quase a beijei, e senti que ela
permitiria, no entanto, entendi que não era o momento certo. A maneira como
ela ficou arrasada partiu meu coração. Desejei pegá-la no colo e cuidar,
amar, tirar toda aquela tristeza que pairava em seu semblante, queria trazer
seu sorriso lindo de volta, mas respeitei seu espaço. Dispus-me a pegar
todas as suas coisas do apartamento de Cristian, e deixar em sua casa, fui em
um horário em que ela não estava, assim evitaria que ficasse desconfortável,
mas deixei claro que estaria ali quando precisasse.
Passei os últimos meses a observando, oferecia carona, como amigo
claro, mesmo ela rejeitando todas, não dei nenhuma investida, porque
desejava aquela garota para mim, mas tentar algo naquele momento poderia
confundir as linhas, e não queria me aproveitar de sua fragilidade.
Trocávamos mensagens, falávamos sobre coisas banais, evitando o assunto
principal, meus sentimentos.
Porém as lembranças da noite da sua apresentação invadiam minha
mente. Eu paguei por todas as fotos daquele dia, vi como ela ficou dividida
ao ter que escolher apenas algumas, então aproveitei o momento em que ela
foi se trocar e pedi para que fizesse o álbum completo. As fotos e mais três
quadros chegaram há algumas semanas em minha casa, dois eram as fotos
preferidas de Liz, mas um deles eu encomendei para mim mesmo, no meu,
ela estava sorrindo, havia acabado de soltar o cabelo e em sua roupa de
ballet, fazia uma pose divertida, aquele quadro era a definição da felicidade.
Minha mãe não me questionou, só que percebi a maneira como ficou
desconfiada, ignorei-a por completo, ela teria que se acostumar com a ideia
de ter Liz em nossas vidas, porque em breve ela seria minha namorada, e
quem sabe no futuro minha esposa. Eu poderia abrir mão de muita coisa na
vida, inclusive o basquete, mas Liz... ela era inegociável, queria e a teria
comigo.
Sabendo que hoje era o dia de sua folga no Westhouse, decidi ir até
sua casa com a desculpa esfarrapada de entregar as fotos. Durante o trajeto
minha tensão aumentava, Liz não sabia que eu estava indo, mas depois de
meses não podia mais me segurar, meu coração acelerava cada vez que
chegava mais perto de onde sua casa ficava. Ainda não sabia bem o que
dizer, tudo o que eu queria era trazê-la para perto de mim, beijar sua boca,
fazê-la minha, mostrar quanto amor eu poderia dar.
Assim que cheguei, deu-me seu lindo sorriso ao abrir a porta, mas eu
não pude retribuir, paralisei encarando seu rosto bonito, o corpo mal coberto
por roupas simples, um short fino, regata colada ao corpo, e o cabelo preso
em um coque frouxo, que deixava fios caindo sobre seu rosto, parecia o
quadro da perfeição. Liz me abraçou e eu inspirei seu perfume, ela olhou
com estranheza para os meus braços vendo a bolsa grande que continha as
fotos.
— O que é tudo isso? — perguntou com diversão.
— Desculpe, eu quis ligar, mas depois mudei de ideia e decidi fazer
uma surpresa.
— Não precisa se desculpar, mas que surpresa é essa?
— Posso entrar? — Arqueei a sobrancelha.
— Claro. — Assentiu e abriu passagem para mim. — Mas está tudo
uma bagunça, estava ajudando Abigail no banho.
— Como sua avó está?
— Não sei se posso chamar o estado de bem, mas — suspirou,
esfregando os braços —, ela está tranquila, não tem reclamado de dores.
— Isso parece bom — comentei. — Sabe que se precisar de alguma
coisa, como remédio ou...
— Eu sei, Max, mas não vou te incomodar com isso — declarou sem
esperar que eu terminasse de falar. — Me mostra logo essa surpresa, estou
ficando curiosa.
Peguei os quadros embalados do lado de fora e coloquei para dentro,
ela apertou os lábios segurando um sorriso genuíno que eu sabia que tinha.
Tirei o álbum de fotos, e o pen drive que continha todas elas. Liz as olhou
com paixão, admiração, e pude ver seu rosto corar, nas fotos que havia nós
dois posando juntos, pareciam ser românticas e sensuais. Arregalou os olhos
quando viu a minha preferida. Nela eu segurava sua cintura, seu pescoço
estava inclinado para o lado, e eu encostava meus lábios na pele delicada,
olhando para câmera, explicitando todo o meu desejo.
— Eu não acredito que você...
— Sim, eu fiz, comprei todas as fotos, e mandei fazer três quadros.
— Três? Está faltando um — falou, desembrulhando-os.
— Fiquei com um para mim, e espero que não se importe.
— Max... — Balançou a cabeça desconcertada, mas eu agi, não
podia dar espaço para que ela negasse o que claramente sentia.
Eu sabia quando era correspondido, e Liz por mais que tentasse
esconder, retribuía um pouco do que eu sentia por ela.
— Eu te conheci antes dele, vi você com outros olhos antes de saber
que era namorada do Cristian — expliquei, querendo que entendesse que
aquilo não era algo repentino. — Você estava dançando em uma praça do
centro, linda demais, eu fiquei fascinado, mas começou a chover e você
sumiu. — Suspirei ao me lembrar daquele dia. — Fiquei te observando por
meses, até que soube que estava com ele... Eu quis socar a cara do Cristian,
mas eu estava errado, você era namorada dele.
— Eu não sabia...
— Nunca percebeu? — inquiri, aproximando-me mais. — Nenhuma
vez notou a maneira como eu te olhava?
— Só achei que fosse você no seu modus operandi. — Ela levou as
mãos ao rosto, e esfregou, envergonhada.
— Modus operandi?
— Você sabe, desde o colegial você era o destruidor de corações, e
depois não mudou nada — pontuou e tinha razão, mas agora eu estava
inteiramente me entregando a ela.
— Eu sei que não fui nenhum santo, e tentei tirar você da minha
cabeça mais vezes do que posso contar, no fim não consegui, e aqui estou eu.
— Aqui está você?
— É, Liz, aqui estou, tentando ter o que era para ser meu há muito
tempo. — Inclinei-me, segurei uma de suas mãos e toquei seu rosto com
carinho. — Quero te amar do jeito que merece, te quero tanto, Liz, você não
faz ideia.
Sua respiração ficou descompassada, ela me olhava com desejo, mas
incerta. Tomei iniciativa e me aproximei ainda mais, segurei seu rosto com
as duas mãos, esfreguei meu polegar sobre os lábios carnudos que me
atraíam. Aquele era o momento, meu corpo todo protestava ansiando por ela.
Beijei seu queixo e ela suspirou, mas não me afastou, levei uma das mãos
para o seu pescoço, e segurei, puxando-a para mim.
— Me peça para parar, diga que não quer isso... — Suspirei com
meus lábios roçando sobre os seus.
Liz apenas balançou a cabeça negando, e essa foi a confirmação que
eu precisava. Bati meus lábios contra os seus e ela enroscou os dedos em
volta do meu pescoço, subindo as mãos pela nuca, puxando meu cabelo.
Beijei-a apaixonado, com o desejo latejando dentro de mim, eu não resisti
mais, agarrei seu quadril e a derrubei no sofá, subindo sobre ela, atacando
sua boca, matando minha fome, dominando seu corpo. Era insana a maneira
como eu a desejava, queria tudo com pressa, com ânsia.
Deslizei uma mão pela cintura, infiltrando-me sob a blusa, a cada
toque ela gemia, baixo, sussurrando coisas desconexas, sua língua rolava
dentro da minha boca, suguei, necessitado, o pau latejando cheio de tesão.
Engoli seus gemidos, esfregando-me nela. Perdi os sentidos, toda a razão, eu
só a queria, esqueci que deveria ir com calma para não a assustar ou melhor,
afastá-la, no entanto, sabia que seria assim, bastaria pôr minhas mãos nela e
todo o resto desapareceria.
— Que beijo gostoso você tem! — sussurrei com a voz rouca,
excitado. — Sempre imaginei como seria essa boca na minha, mas nada se
compara com a realidade.
— Eu nunca imaginei que um dia estaria com você. — Piscou
lentamente, tomando fôlego. — Não pensei que você pudesse me desejar...
— Sou louco por você, Liz. Sempre fui — disse e voltei a chupar sua
língua, era meu novo vício, sua boca me levava ao delírio.
Suas pernas se abriram mais, seus olhos se fixaram nos meus,
tímidos, mas excitados. Impulsionei meus quadris contra seu calor e gemi,
voltando a enfiar minha língua na sua boca, levei uma mão à sua coxa e
apertei, sovando a carne macia e nua, meu corpo ansiava desesperadamente
pelo seu. Liz gemeu quando arrisquei um novo impulso, sua pele estava
vermelha, seu pescoço tinha uma fina camada de suor, eu passei minha
língua, adorando provar o sabor da sua pele úmida.
— O que está fazendo comigo, Max... — ela gemeu baixinho,
subindo a mão por dentro da minha camisa, as unhas arranhando minhas
costas, soltando a mulher excitada que escondia dentro de si.
— Eu? — rosnei indagando em seu ouvido. — Você está me
enlouquecendo pra caralho! Eu quero me enterrar em você, mas tenho medo
de cruzar uma linha de merda, ou pior que se afaste de mim.
Ela não falou nada, no entanto, seu corpo o fez. Liz deslizou a mão
entre nós, as unhas arranharam meu abdômen enquanto descia até o cós da
minha calça, arfei quando a invadiu, colocando a mão dentro da cueca,
acariciando meu pau. Fechei os olhos estremecendo, aquilo era fodidamente
bom.
— Caralho, Liz! — gemi, enquanto ela esfregava a cabeça melada do
meu pau, eu gozaria facilmente apenas com aquilo.
— Não quero que se arrependa, Max — murmurou, sôfrega, beijando
seu pescoço. — Também não quero me arrepender.
— Nunca... — segurei seu rosto e dei um beijo estalado em sua boca
— ... me arrependeria.
Liz fechou os olhos, jogando a cabeça para trás, entregando-se para
mim. Levantei a blusa, apreciando a visão dos seios pequenos nus, apertei o
direito, acariciando o mamilo, movi os quadris fodendo sua mão e abaixei a
cabeça para sugar o bico pequeno. Girei a língua por ele, chupando com
avidez, desesperado passei para o outro, queria prová-la inteira.
— Espera... — Tentou me empurrar, mas eu estava em transe, minhas
mãos subindo pelo short, procurando o caminho até a sua boceta. — Max...
— Preciso de você, Liz — declarei. — Preciso me sentir dentro de
você.
— É a minha avó — sussurrou perdida, olhando ao redor.
Saí de cima dela, rapidamente me recompondo. Liz seguiu direto
para um dos quartos, e eu fui atrás, quando entramos, Abigail resmungava,
estava suada, agarrando os lençóis com força.
— Liz, vamos levá-la ao médico — sugeri e ela negou.
— Não posso pagar. — Deu a volta na cama, pegando dois
comprimidos em um frasco. — Ela vai melhorar com esse remédio.
— Eu pago a conta do hospital, ela não me parece bem —
argumentei, mas recebi outra negativa em resposta.
— Nunca vou poder te pagar de volta, e não quero dever favores a
ninguém. — Inclinou-se segurando com cuidado a cabeça da avó. — Vamos
tomar esse remédio, a senhora vai se sentir melhor.
Enchi um copo de água que estava em uma mesinha ao lado da cama
e entreguei a Liz, ela fez a avó engolir os comprimidos, secando o suor que
se acumulava na testa. Abigail apesar de ser uma senhora, não deveria estar
dessa forma, a falta de tratamento estava acabando com ela. Liz não tinha
condições de arcar com os custos, e recusava receber ajuda, em parte eu
entendia, quem financiaria um tratamento tão caro e provavelmente ineficaz
naquele estágio da doença, sem querer nada em troca.
— Ela está com dificuldade para respirar. — Afastei o lençol fino
que a cobria, vendo como o peito subia e descia com força, parecia afundar
quando inspirava, procurando pelo ar que nunca chegava. — Sem discussão,
Liz, vamos levá-la.
— Max, eu não posso...
— Eu já sei que não pode pagar, mas a sua avó vai morrer em poucos
minutos se não receber ajuda — fui firme, encarando-a. — Pegue os
documentos dela, vou colocá-la no carro.
Os olhos de Liz se encheram de lágrimas, assustada não teve outra
opção senão assentir. Peguei Abigail no colo, e saí da casa a passos largos.
Liz entrou no banco de trás, e eu deitei sua avó, para que ficasse com a
cabeça em seu colo. Tomei meu lugar no volante e disparei em alta
velocidade para o hospital, torcendo para que aquela mulher chegasse viva e
ficasse bem. Liz não suportaria perder a avó, e eu não aguentaria vê-la
sofrer.
Voltamos para casa cerca de duas horas depois, a morte parecia ser a
coisa mais rápida nessa vida, como em um piscar de olhos seu coração
batia, no segundo seguinte ele parava. Sem tempo para se despedir, chorar
ou entender. Eu sabia o que aconteceria quando chegássemos ao hospital,
sentada em uma cadeira na sala de espera, aguardava o médico voltar e dizer
que não poderia fazer nada, que a doença da minha avó estava tão avançada
que o que nos restava era esperar pela morte. Não seria a primeira vez que
ouviríamos isso, no entanto, quando o doutor veio até mim, levei um golpe
tão forte que não sabia se conseguiria me recuperar.
Ela não resistiu.
Três palavras capazes de fazer meu mundo ruir. Na hora eu não
chorei, engoli em seco e apenas assenti. Max não soube o que fazer comigo,
abraçou-me, consolou-me, enquanto tudo ao meu redor se desenrolava em
uma sequência lenta. Meus ombros caíram em desânimo, cansaço. Não pude
me despedir de Abigail, ou dizer o quanto a amava e que tudo ficaria bem.
Temi perguntar se ela voltou a consciência em algum momento, se chamou
por mim nos seus últimos minutos de vida, se sentiu medo. Nós duas
conversamos muito sobre esse dia, ela tinha muita certeza de que não
sobreviveria para usufruir do futuro que eu planejava para nós.
Olhei o interior da nossa casa, recordando-me de cada momento que
tivemos juntas, como a doença a derrubou rapidamente, como foi difícil
ouvir muitos “nãos” quando supliquei por ajuda. Ofertas indecentes surgiram
ao longo do caminho, homens que achavam que eu era igual a minha mãe se
ofereceram para custear o tratamento, em troca, teria que me tornar uma
amante, uma prostituta que os serviria como quisessem. Claro que Abigail
nunca aceitou, nunca quis que eu carregasse um fardo como esse. Em alguns
dias pensei na possibilidade, mesmo que me enchesse de nojo, cogitei me
prostituir em troca de ajuda, mas a minha avó tinha um dom peculiar, parecia
saber tudo o que passava na minha cabeça e no meu coração. Nadei contra a
maré, evitando cometer os mesmos erros da minha mãe, no fim, estava outra
vez sozinha, Abigail havia partido e só me restava uma ficha e papel velho
com um número de telefone.
Caminhei até a geladeira, e sem esforço alcancei o pequeno
envelope, apesar de não precisar usar um telefone público para ligar, aquela
ficha tinha um significado. Eu tinha uma quando minha mãe morreu, e o
combinado era que teria outra para uma eventual ocasião em que eu ficaria
sozinha outra vez, e essa era a minha realidade agora.
— O que é isso? — Max perguntou, colocando-se atrás de mim, suas
mãos em meus ombros, seu queixo no topo da minha cabeça.
— Uma ficha e um número de telefone — expliquei, virando-me para
ele. — Quando criança Verônica criou esse sistema de segurança, se algo
acontecesse com ela eu deveria pegar a ficha e ligar para o número anotado.
— E de quem é esse número?
— Não faço ideia, no papel antigo era o de Abigail, esse talvez seja
apenas um número aleatório. — Encolhi os ombros, deixando claro que não
me importava. — Minha avó era a única família que eu tinha, então agora
estou sozinha.
— Tem a mim. — Ele me abraçou apertado. — Pode contar comigo,
não vou te deixar.
— Max você não precisa...
— Quero estar com você Liz. — Segurou meu rosto, fazendo-me
encará-lo. — Quero cuidar de você.
— Não daria certo. — Suspirei esgotada, tentei me afastar, no
entanto, Max não permitiu.
Alto como era, teve que se inclinar para alcançar meus lábios, a boca
quente se apossou da minha com delicadeza, calma, parecia temer que um
movimento brusco me afastasse. Segurei em sua camisa, desistindo de lutar,
não queria mais aquele cansaço, aquela preocupação, talvez se eu deixasse
alguém cuidar de mim ao menos uma vez, pudesse ser bom.
— Tenho medo, Max — confessei, separando nossos lábios. — Não
quero que aconteça com a gente o mesmo que aconteceu com o Cristian...
— Eu prometo que não vai... — Ele fez uma pausa balançando a
cabeça, então reformulou. — Sei que já ouviu promessas demais... —
respirou fundo e declarou: — Sou louco por você, Liz. Ninguém vai te
querer, amar e admirar tanto quanto eu.
— Nossas realidades são diferentes. — Abaixei a cabeça,
imaginando que o fim da nossa história poderia ser ainda pior do que foi
com Cristian. — Sua família...
— Foda-se a minha família! — exclamou, e riu em seguida, estava
eufórico. — Só me dê uma chance, apenas uma e prometo que farei valer a
pena.
Seus olhos brilhavam tão intensamente, havia tanta verdade. A
promessa de proteção, cuidado, amor estavam tão explícitas que acreditei.
Eu o abracei repentinamente, forte, desabei, chorando, liberando todo o peso
que carregava dentro de mim, a dor acumulada que parecia nunca me deixar.
Amparei-me nele como se me agarrasse ao último bote salva-vidas enquanto
o navio afundava. Sabia que Max poderia ser a minha salvação, mas também
a minha perdição, mesmo assim, não recuei, estava disposta a dar mais uma
chance a mim mesma, mais uma oportunidade de talvez ser feliz.

Liz preparava uma mochila com suas coisas enquanto eu fazia uma
ligação. Olhei ao redor da cozinha pequena, paredes encardidas, rachaduras
e manchas por todo lado. Aquele cenário me lembrava de um passado que eu
queria esquecer. Imaginava que para Liz deveria ser ainda mais difícil, sua
mãe morreu nessa casa e os últimos dias de angústia de sua avó foram nela.
Queria tirá-la definitivamente daquele buraco, mas tocar nesse assunto agora
seria demais, com certeza rejeitaria a ideia de morar comigo, no entanto,
temporariamente adiaria essa nossa conversa.
— Max, onde está? — minha mãe questionou logo que atendeu. —
Acabei de saber sobre a morte de Abigail Collins através do seu pai, você a
levou para o hospital e sequer me consultou sobre isso?
— Mãe. — Usei a palavra que a amolecia, precisava que aceitasse
bem a situação. — A avó da Liz estava morrendo, tive que agir rápido. —
Fiz uma pausa, pigarreando e continuei: — Sabe como isso mexe comigo,
sinto que preciso ajudá-la.
— Eu sei filho. — Suspirou, compreendendo. — Podemos fazer uma
doação, eu tenho...
— Estou levando Liz para nossa casa, mãe — revelei, no mesmo
instante ela ofegou surpresa.
— Isso é algo extremo, Max, podemos ajudar Elizabeth daí mesmo.
— Mãe, estou com a Liz agora — expliquei, e não tive resposta, por
isso fui mais claro. — Estamos juntos, quero cuidar dela, quero minha
namorada comigo.
— Max, você está na reta final das provas, além do basquete que
ocupa seu tempo... — argumentou.
— Eu deixo o basquete — ofereci, estava disposto a tudo. — Posso
alugar um apartamento, mas não fico sem ela, mãe.
— Tudo bem, conversamos quando você chegar — aceitou
facilmente, esperava mais resistência de sua parte, talvez a discussão ficasse
guardada para mais tarde.
— Obrigado, mãe. — Meu agradecimento foi sincero, apesar de
saber que aquele assunto não estava resolvido.
— Sabe que faço tudo por você, Maxwell, sou sua mãe — declarou
com uma voz mais amável.
Depois que desliguei o telefone, caminhei até a geladeira para
verificar se havia algo que pudesse estragar, não planejava trazer Liz de
volta para essa casa, queria usar esse fim de semana para mostrar o quanto
nós dois seríamos bons juntos. Quando Liz saiu do quarto, parecia tensa,
segurando uma mochila, fitou-me meio sem jeito, desconcertada. Entendia
que aquele era um grande passo, não só para ela, mas também para mim,
seria a primeira vez que levaria alguma garota para minha casa, a primeira
vez que assumiria um relacionamento sério. Desejava fazer tudo certo,
mostrar para Liz que poderíamos ser felizes juntos, cuidar dela como
merecia.
— Tem certeza de que é uma boa ideia ir para sua casa? —
questionou, indecisa. — Sua mãe parece não gostar muito de mim.
— Ela vai gostar quando te conhecer melhor. — Fui até ela e a puxei
para os meus braços. — Qualquer pessoa que tiver a oportunidade de te
conhecer vai se apaixonar.
— Duvido muito. — Riu baixinho, inclinando a cabeça, encostando-a
no meu peito. — Estou nervosa, Max.
— Não precisa ficar. — Beijei seu cabelo, inspirando o perfume
único que tinha. — Vou estar com você o tempo todo e quando não estiver,
Ashley estará.
— Mas não vou ficar muito tempo lá — pontuou com a necessidade
de deixar aquilo claro. — Volto na segunda...
— Vamos ver — murmurei, sem aprofundar o assunto, tinha meus
próprios planos. — Agora vamos indo, ainda tenho que preparar tudo para o
enterro da sua avó.
— Eles falaram quando vão liberar o corpo? — perguntou com
tristeza, percebi que Liz estava evitando tocar no assunto, talvez fosse um
mecanismo de defesa.
— Disseram que ligariam até o final da tarde, você pode escolher o
que quer fazer — expliquei. — Posso conseguir uma cerimônia completa ou
se optar pela cremação...
— Prefiro a cremação — respondeu rapidamente. — Nós não temos
ninguém para velar por ela, não tem porque gastar com isso, acho que ela
também não iria querer um monte de pessoas que nunca se importou com ela
fazendo esse tipo de coisa.
— Vai ser como você quiser — afirmei, Liz estava se mostrando
forte, não desabou como imaginei que aconteceria, por isso temia que
sofresse mais quando a realidade finalmente batesse contra ela. — Então,
vamos.
— Tem mesmo certeza disso?
— Se me perguntar outra vez te levo à força — declarei em um tom
divertido, mas estava prestes a fazer. — Quero você comigo, Liz, isso é
sério.
— Isso que você diz... Se refere a nós dois?
— Quero que seja minha — fui direto, não haveria confusões ou
dúvidas. — Minha namorada, minha amiga, minha mulher...
— Meu Deus! — soltou um gemido aflito, esfregando o rosto. — O
que as pessoas vão dizer? Não quero te causar problemas, principalmente
com Cristian.
— Cristian está no passado, ele teve a chance dele e eu respeitei. —
Segurei seu rosto e a fiz me olhar. — Agora é a minha vez, e garanto que não
haverá chance para nenhum outro tentar.
— Isso soa convencido. — Dessa vez, sorriu de verdade.
— Talvez eu seja mesmo. — Dei um beijo suave em seus lábios,
adorando a sensação de finalmente poder tocá-la sem qualquer reserva. —
Vamos de uma vez, não quero deixar você pensar muito ou vai mudar de
ideia.
— Não vou — garantiu, e eu acreditei, na verdade, escolhi acreditar,
não queria imaginar um cenário diferente.
Convenci Liz de levar os quadros e todas as fotos para a minha casa,
esse primeiro passo foi fácil, o difícil foi achar argumentos plausíveis para
que levasse mais de duas trocas de roupas. Falei que o melhor seria levar
todas as coisas do ballet, na segunda-feira ela voltaria para sua vida normal.
Questionei se não preferia tirar uns dias, tinha ciência que o luto era
diferente para cada um, Liz parecia ignorá-lo completamente, afirmou que
preferia continuar com a sua rotina. Não falou mais da avó ou de outro
sentimento que poderia habitar dentro de si, no entanto, eu a via caminhar
lentamente para o precipício da dor, já passei por isso, sabia que ser forte
nem sempre era a melhor solução.
Não sabia bem em qual momento soltei o ar que prendia, na verdade,
sequer percebi que segurava a respiração. Estava tensa... Era a primeira vez
que entrava em uma casa daquela dimensão, tudo parecia tão arrumado,
limpo. As paredes eram claras, um tom creme para ser mais específica, as
janelas de vidro eram imensas, adornadas com cortinas brancas, tudo isso
deixava o lugar incrivelmente claro, iluminado. Senti como se tivesse
passado a vida inteira em um buraco escuro e sujo, aquela realidade era
completamente diferente da minha.
Max caminhou à minha frente, carregando minha mochila, olhei ao
redor esperando que sua mãe surgisse de algum lugar e me expulsasse.
Pensei que talvez devesse ir embora, no entanto, não queria parecer ingrata,
fui idiota ao imaginar que aceitar a ajuda de Max seria uma boa ideia, agora
tudo o que desejava era sair correndo dali antes que fosse rechaçada,
humilhada.
— Você se importa de ficar no meu quarto? — perguntou, segurando
minha mão. — Temos quartos de hóspedes, mas quero que fique comigo.
— E a sua mãe? — inquiri nervosa, olhando mais uma vez ao redor.
— Vou conversar com ela, fique tranquila — garantiu, mas aquilo
não me deixou aliviada. — Vem comigo.
— Maxwell — a voz fina, que soava com tanta elegância surgiu no
topo das escadas. — Finalmente vocês chegaram — Freda disse com
docilidade, enquanto descia, ao chegar até nós, pegou-me de surpresa ao me
abraçar. — Sinta-se em casa, Elizabeth, saiba que pode contar com o apoio
da família King.
— Obrigada... — As palavras saíram rasgando da minha garganta, eu
não estava preparada para aquilo. — Pode me chamar de Liz.
— Ora, então me chame apenas de Freda. — Sorriu graciosamente,
acariciando meu ombro. — Bom, vou deixar você descansar, imagino que
deve ter sido um dia difícil — virou-se para Max e continuou: — Pedi que
preparasse uma refeição para vocês, depois que acomodá-la vá até o meu
escritório, filho.
— Tudo bem, obrigado, mãe — Max agradeceu, e antes que
começássemos a andar, Freda o interrompeu.
— Mandei que arrumassem um dos quartos de hóspedes para
Elizabeth...
— Não vai ser preciso — Max se adiantou e senti meu rosto
queimar. — Liz vai ficar comigo.
— Ah, claro. — Freda soltou um riso curto e nervoso, apostava até o
que não tinha que ela não havia gostado nada dessa ideia, mesmo assim,
manteve a pose. — Te espero no escritório, querido.
A matriarca da família King saiu em direção a um dos corredores,
caminhando sobre os saltos altos, que faziam barulho no piso de madeira.
Max virou em minha direção e abriu um sorriso largo, parecia estar
realmente feliz.
— Viu só, foi tranquilo. — Ainda segurando minha mão, conduziu-
me pelas escadas, até o andar superior. — Quando se sentir bem, posso
chamar a Ashley para conversar com você.
— Eu estou bem — declarei, sem saber ao certo se minhas palavras
eram verdades ou mentiras.
— Estou preocupado, Liz — disse, abrindo a porta do quarto. —
Entre — ordenou, ao me ver hesitar. — Sei que foi ideia minha te trazer para
a minha casa, não te dei tempo...
— Estou bem, Max, é sério — reafirmei, desejando que ele parasse
com aquela conversa. — Não precisa se preocupar.
— Você está ignorando os fatos. — Jogou minha mochila na cama
imensa, coberta por lençóis cinza. — Sua avó morreu, nós estamos juntos...
— Eu sei — respondi de modo impassível à sua declaração, ele
parecia querer me alertar. — Quero estar com você, Max, quero isso de
verdade.
— Tenho medo de estar agindo com impulsividade, não quero te
forçar a nada ou me aproveitar. — Sua voz saiu tensa.
Respirei lentamente, sentindo uma sensação estranha sair do meu
peito, Max estava sendo realista, tentando me ajudar, tentando me fazer
enxergar. Ficou atrás de mim, distribuindo beijos na minha nuca, fazendo
leves carícias em meu corpo. Senti-me segura, relaxada, satisfeita, mas
aquele sentimento momentâneo de paz que me proporcionava estava sendo
substituído por um duro golpe de realidade. Era como se estivesse em um
estágio de letargia, ignorando os fatos e agora, tudo estava desabando,
caindo sobre mim.
— Minha avó morreu — declarei, mais para mim mesma, dizer
aquilo em voz alta pela primeira vez era como finalmente tornar real.
— Ah, Liz... — Ele se inclinou, virando o rosto, de modo que
pudesse me olhar. — Eu sinto muito que tenha que passar por isso.
— Eu sabia que esse momento chegaria. — Meus olhos marejaram e
em busca de refúgio me virei para ele, enterrando meu rosto no seu peito. —
Mas acho que não estava pronta...
— Ninguém está pronto para perder alguém que ama — sussurrou
carinhosamente. — Você lutou muito por ela, fez o que pôde, ajudou, cuidou,
infelizmente Abigail estava em uma situação que não havia mais solução.
Concordei, ainda assim, me sentia em parte culpada. Balancei a
cabeça e as lágrimas finalmente caíram, o aperto no meu peito aliviou, mas
ao mesmo tempo parecia que eu iria sufocar, soluços desenfreados me
tomaram, encolhi-me ainda mais, molhando seu peito, eu não conseguia parar
de chorar. As lembranças dos últimos dias da minha avó voltaram com tudo.
O sofrimento, os gemidos de dor, o sorriso forçado no rosto tentando me
fazer acreditar que estava bem, e era claro que não estava. Max nos levou
até a cama e se sentou, puxando-me para o seu colo. Escondi meu rosto em
seu pescoço, abraçando-o.
— Acho que me culpo, sabe? — confessei, chorando baixo, sentindo
como se estivesse sendo esmagada por dentro. — Eu tive a oportunidade...
Eu... — Engasguei, meu coração disparou, lembrando das propostas
indecentes que recebi, e sempre me perguntava se teria conseguido salvar
minha avó se tivesse aceitado. — Só queria ter feito mais.
— Não se culpe assim, Liz. — Max me abraçou apertado, afagando
meu cabelo. — Olha pra mim.
Neguei, balançando a cabeça, escondendo-me nele. Não queria que
me visse chorar, odiava que sentissem pena, que me achassem fraca. Queria
que Max tivesse a mesma imagem sobre mim, que achasse que deveria
cuidar, como uma obrigação.
— Não quero ser um fardo, Max — disse de uma vez, ainda sem
olhá-lo. — Não quero atrapalhar a sua vida e bagunçar tudo.
— Ei, claro que não. — Segurou meu rosto e me fez encará-lo,
mesmo com a visão embaçada, pude ver a preocupação estampada ali. —
Nunca vai ser um fardo pra mim, acho que você ainda não entendeu como eu
me sinto.
— Max...
— Só me escuta. — Enxugou as minhas lágrimas, com delicadeza. —
Eu te amo, Liz, de verdade, não estou dizendo isso porque quero transar ou
porque quero você — afirmou, sua declaração me pegou de surpresa,
Maxwell King não era o tipo de cara que dizia amar. — Nunca vai ser um
fardo, amor...
Sua declaração foi interrompida com o toque do seu celular, engoli
em seco, estava nervosa, queria me declarar, dizer como me sentia, como
pensei nele nos últimos meses, como enxerguei os meus sentimentos, no
entanto, tinha medo do que pensaria, do que todos pensariam. Era muito
rápido? Sou uma vadia por estar com o amigo do meu ex-namorado? Max
levantou para tirar o celular do bolso, e fez uma pausa olhando para o
número. Atendeu, dando respostas como “Sim”, “Não” e “Estamos indo”,
quando virou para mim soube do que se tratava, estava explícito no seu
olhar, era o momento de me despedir da minha avó.
O dia amanheceu chuvoso, a preparação para a cremação levou o
resto da madrugada, o corpo foi liberado, e pude me despedir formalmente.
Eu não sabia como fazer aquilo, principalmente com a família de Max por
perto. Freda, Lucius e Ashley nos acompanharam, eles se mantiveram à
distância, dando apoio. Quando entrei na sala reservada, senti meu coração
acelerar, estremeci em um choro convulsivo ao me aproximar do caixão, a
dor me golpeando com força. Abigail nunca pareceu tão em paz, ali ela não
sentia mais a agonia que sua doença causava. Mesmo sabendo que agora
descansava, sofria sua perda, queria ter tido a chance de salvá-la, mesmo
que clinicamente fosse impossível.
Chorei segurando sua mão, lembrando-me de como era boa, como foi
melhor que minha mãe. Max ficou o tempo todo ao meu lado, amparando-me
quando minhas pernas fraquejavam e pareciam não conseguir me sustentar.
Minha única família estava dentro de um caixão, pronta para virar cinzas,
agora era real, era o fim, eu estava sozinha. Beijei sua testa quando disseram
que havia chegado a hora, e durante a espera para cremação, segurei a ficha
que Abigail me deu quando chegou, apertando com força, era o nosso
método de segurança para o dia de hoje, o dia em que me deixaria.
— Não vai precisar usar isso. — Max cobriu minha mão fechada
com a sua. — Nunca mais vai ficar sozinha, eu sempre estarei com você.
— Ela ficaria feliz em saber que estamos juntos — revelei,
apoiando-me nele. — Abigail tinha medo de que eu ficasse sozinha, demorou
quase um ano para me dar aquele número de telefone, disse que eu só
deveria ligar se fosse uma emergência.
— Não falou de quem é?
— Não, talvez seja de alguma amiga ou parente distante, mas não
quero pensar nisso agora. — Virei-me ficando de frente para ele. — Preciso
levar as cinzas para algum lugar, não quero deixar esquecida em um canto
daquela casa.
— Podemos fazer isso agora — afirmou, depositando um beijo na
minha testa. — Tem algum lugar especial que gostaria de levar?
— Aquele riacho na saída da cidade, Abigail o adorava. — Um
sorriso surgiu no meu rosto ao lembrar de lá. — Ela gostava de sentar nas
pedras e ficar molhando os pés, só paramos de ir quando a doença avançou.
— Então vamos até lá — concordou, depois olhou para trás, onde
seus pais estavam parados, esperando por nós. — Vou dizer que eles podem
ir para casa, assim você fica à vontade.
— Obrigada. — Enterrei meu rosto em seu peito, aliviada por não
precisar pedir aquilo. — Não quero soar ingrata, mas preciso de um tempo.
— Eu entendo, não precisa se preocupar.
Assenti um pouco mais tranquila. Um dos funcionários da funerária
apareceu, trazendo a urna com o que sobrou da minha avó, era tão pequena, e
isso me fez pensar como não valemos muito nessa vida, no final dela nos
tornaríamos apenas pó, cabendo dentro de uma caixa que poderia ser
perdida ou jogada no lixo, depois, ninguém mais se lembraria, ninguém
saberia quem era aquela pessoa. Abigail passou despercebida por essa terra,
sem dinheiro ou status, não era importante para ninguém, no entanto, foi a
pessoa que mais amei na vida, a única capaz de demonstrar amor, paciência
e coragem, mesmo sabendo que seus dias de vida estavam contados. Ela era
única, incrivelmente uma mulher de fibra.

Toda dor que Liz parecia conter, a golpeou quando viu o corpo da
avó no caixão, foi horrível vê-la sofrer daquela forma, tentei consolá-la de
maneira sutil, não havia palavras que pudessem amenizar sua perda, mas
entendi que tudo o que ela precisava era de apoio, saber que não estava
sozinha. Fiquei feliz por meus pais e Ashley estarem presentes, mostrando
apoio, no entanto, Liz precisa de espaço e privacidade para sua despedida
final. Eles voltaram para casa, e nós dois seguimos para a saída da cidade.
River Lake tinha um riacho lindo que era ligado ao Grande River, o
rio que dava nome à nossa cidade. Eu não sabia do significado daquele lugar
para ela, até que me contou. Quando chegamos, eu a fiz tirar os sapatos, tirei
os meus também, segurei a urna para que ela pudesse descer pelas pedras. O
dia amanheceu chuvoso, o céu nublado, com nuvens carregadas, anunciando
que a qualquer momento cairia um temporal.
Liz se sentou em uma das rochas, e eu a entreguei à urna, sentando ao
seu lado. Colocamos os pés na água, ficamos em silêncio apenas ouvindo o
som da natureza. O vento uivava, balançando as folhas das árvores,
derrubando muitas delas, ao nosso redor havia muitas flores, peguei algumas
arrancado o caule, Liz me olhou curiosa, parecia não entender o que eu fazia.
— Vamos preparar o riacho para recebê-la — expliquei, fazendo um
montante de flores no meu colo. — Abigail será acompanhada por elas.
— Não esperava isso de você. — Deu-me um sorriso fraco, achando
graça. — Não parece o tipo de cara delicado.
— Delicado talvez seja exagero, mas sou carinhoso quando preciso.
— Com a sua jaqueta e a cara amarrada de bad boy, eu não
imaginaria você pegando flores para uma senhora morta. — Deu de ombros,
ainda segurando os resquícios do seu sorriso.
— Acho que sou mais de ações do que palavras — comentei,
segurando sua mão. — Não conte a ninguém e minha reputação estará salva.
— Abigail dizia que você só agia assim porque não tinha encontrado
a garota certa — comentou, olhando para a urna. — Um dia vi você com uma
das bailarinas do meu grupo e cheguei em casa muito irritada, contei a ela
como você era um cafajeste.
— Eu não me lembro. — Fiquei envergonhado por saber que Liz me
viu com uma de suas colegas. — Na maioria das vezes eu bebia demais, não
me lembrava no dia seguinte com quem tinha... — Mordi a língua para não
soar tão cretino.
— Entendi, não precisa ficar constrangido, eu também não fui
nenhuma puritana.
Olhei para ela, lembrando que antes de se relacionar com Cristian,
Liz ficava com alguns caras do time de basquete, os malditos espalharam o
assunto por toda a escola, fazendo com que sua avó fosse chamada no intuito
de corrigir o comportamento de Liz. Eu a via como uma garota livre, que
fazia o que quisesse, mas todos os outros só a enxergavam como um
problema, uma mancha na sociedade hipócrita de River Lake. Logo depois
daquilo começou a namorar Cristian, então aquela garota cheia de vida, foi
sendo reduzida a uma sombra, onde lutava para agradar e mostrar que era
diferente, suas asas foram cortadas para caber em um lugar onde não
pertencia.
— Abigail sempre me apoiou, nunca me julgou. — Puxou o ar e
expirou audivelmente. — Ela era a melhor pessoa dessa cidade, acho que
agora ela está bem, talvez no céu. — Olhou-me de lado, sorrindo de verdade
dessa vez. — Pessoas boas vão para lá quando morrem, então ela com
certeza encontrou com o grande criador.
— Eu também acho. — Voltei a segurar sua mão e sugeri: — Vamos
terminar de libertá-la, chegou o momento, Liz.
Olhando para a urna, assentiu, as lágrimas voltaram a escorrer pelo
seu rosto. Joguei algumas flores, esperando até que ela se sentisse
confortável. Seus lábios se moveram, entoando bem baixo uma canção que
eu não conhecia. Ficou de pé, e gotas grossas começaram a cair sobre nós,
olhei para o céu, vendo-o escurecer ainda mais, assim que Liz abriu a urna e
jogou as cinzas no riacho, a tempestade caiu, um trovão ecoou no céu. Joguei
as flores que ainda segurava, e a abracei, protegendo-a com meus braços,
beijei sua cabeça, afagando suas costas, enquanto ela chorava copiosamente.
O clima parecia fúnebre, triste, mas assim era a morte, eu já a conhecia,
sabia o que era perder alguém, sabia qual era a sensação, por isso fiquei ali
com Liz, abraçando-a, mostrando que estava ali por ela, e sempre estaria.
Max e eu conversávamos sobre tudo o que passou, a morte da minha
avó me abalou mais do que eu esperava, quando voltamos do riacho na
semana passada, fiquei deprimida demais para qualquer coisa, faltei ao
trabalho e na escola de ballet, a diferença era que a madame Madelyn não
questionou ou reclamou pelas minhas faltas, mas meu chefe no Westhouse fez
uma ligação nada amigável me intimando a voltar ou perderia meu emprego.
Não tive tempo de argumentar, porque Max estava ao meu lado, furioso ele
pegou meu celular e iniciou uma fervorosa discussão, no final dela, acabei
sem emprego, e isso gerou uma nova discussão, desta vez, entre mim e Max.
Claro que ele soube bem como contornar a situação e me fazer ceder,
segundo ele, eu teria tempo para arrumar outro, até mesmo em uma academia
de ballet, enquanto isso Maxwell King cuidaria de mim. Surpreendentemente
eu aceitei, acho que estava cansada demais para discutir, até mesmo para ir
ao Westhouse e pedir meu emprego de volta. Naquela primeira semana eu
não queria pensar em nada, apenas me aconchegar em Max e dormir, no
calor dos seus braços me sentia segura.
Outro tópico que evitava falar era sobre meu ex-namorado e seu ex-
amigo enquanto estávamos agarrados na cama. Max me contou que Cristian
tentou contato com ele diversas vezes, mas ele deixou claro que não havia
nada para falar. Agora, toda River Lake sabia que estávamos juntos e que eu
estava em sua casa, não que fosse permanente, pretendia voltar para a minha
própria casa, mas meu maior receio era que Max acabasse entrando em um
embate com Cristian, não queria que ele se metesse em confusão por minha
causa.
Meu antigo relacionamento estava no passado, fazia cinco meses que
descobri toda a verdade sobre Cristian, ele também estava fora da minha
vida, tudo que soube desde que terminamos foi que a jovem grávida o
perdoou e que em breve se casariam e formariam uma família perfeita, seus
pais que o acobertaram a fim de manter um negócio milionário com os pais
da moça, encontraram ótimas justificativas para manter de pé o noivado. No
fim fiquei aliviada, eu nunca me encaixaria nessa vida de mentiras e
ganância.
Meu único medo era que entre Max e eu acontecesse a mesma coisa,
apesar de ser muito diferente de Cristian, eu tinha a percepção que suas
amigas eram iguais. Depois que chegamos do riacho, passamos o primeiro
fim de semana juntos, ele pediu comida, escolhemos alguns filmes, a sua
atenção estava toda em mim.
Max não saía do meu lado, eu gostava de sua companhia, ele me fazia
bem, tinha um jeito protetor que me deixava confortável e segura, mas com o
passar dos dias, eu comecei a desejar mais. Seus toques pareciam queimar
minha pele, meu corpo ansiava pelo dele, eu tentava me controlar, por mais
que o sentisse excitado atrás de mim, quando me abraçava e beijava meu
pescoço, sentia-me insegura, se ele não deu nenhum passo ou tocou no
assunto, talvez tivesse mudado de ideia.
Eu estava completamente apaixonada, acho que tentei ignorar aquele
sentimento que veio crescendo aos poucos dentro de mim. Quando Max
apareceu na minha casa com as fotos, percebi no seu olhar o desejo que ele
camuflou durante esses meses, meu coração saltou no peito com sua
declaração. Meu relacionamento com Cristian sempre foi confuso,
acostumei-me a receber o pouco que ele me dava, nenhuma atenção, sem
carinho, sexo rápido. A maneira como ele me controlava, eu denominava
como proteção, mas a verdadeira proteção eu descobri ao lado de Max.
Bastou apenas essa semana, e tudo o que aconteceu para perceber isso. A
princípio me senti culpada e desleal, como se estivesse passando de um
amigo para o outro apenas por capricho, no entanto, me fiz entender que eu
não fui errada em nada, nunca fui infiel, e o sentimento que florescia dentro
de mim era bom, não errado, não era um pecado.
— Estou feliz por você estar aqui — Max sussurrou, beijando meu
ombro.
Deitada em seu peito, deslizei os dedos pelo seu abdômen definido,
ergui a cabeça e fitei seu rosto relaxado, tão bonito como um modelo de capa
de revista.
— Eu também me sinto muito feliz — confessei, era verdade, a culpa
e o medo estavam cada vez mais distantes.
— Sabe que quando percebi que te queria fiquei maluco, eu te
desejava antes mesmo que estivesse com Cristian, e durante todo o tempo
que estiveram juntos esse desejo aumentou — revelou, subindo os beijos
pelo meu pescoço. — Você era meu pecado secreto, eu sonhava com você,
acordava e meu corpo ansiava pelo seu, mesmo sem nunca ter tido um
mísero gostinho dele.
— Ainda não consigo acreditar. — Eu ri, meu rosto esquentou pela
vergonha e eu me encolhi ainda mais em seu abraço. — Eu juro que nunca
desconfiei, achei que só me olhava daquele jeito porque era safado.
— Como eu não daria aqueles olhares se toda vez que te via você
estava em uma pose estranha se abrindo toda — provocou, mordendo minha
pele. — Eu ficava louco, cheio de maldade na cabeça.
— Não acredito. — Balancei a cabeça, era difícil acreditar que
durante tanto tempo ele gostava de mim e eu sequer imaginava.
— Eu que não posso acreditar. — Inclinou-se sobre mim, e segurou
meu rosto, fazendo-me encará-lo. — Te amo, Liz, e tudo que eu quero é uma
chance de verdade, uma chance para fazê-la feliz, para amar você como
merece...
— Max...
— Eu sei que parece rápido, mas eu tenho certeza do que eu quero.
— Beijou minha boca suavemente me fitando com paixão. — Eu quero você,
Liz.
Abracei Max com tanta força, como se ele pudesse escapar por entre
meus dedos. Sabia que teríamos muitas coisas para superar, comentários
ácidos, ideias erradas sobre nós, um mundo inteiro de obstáculos pela frente,
mas a certeza de que o que sentíamos era forte, superaria tudo. Beijei Max,
sentindo aquela sensação única, aquela pequena fagulha de amor se espalhar
dentro de mim. Eu nunca acreditei em finais felizes e príncipes encantados,
mas sabia que Max me completava, e poderia ser o amor pelo qual sempre
esperei.
— Liz... — Afastou nossas bocas, respirando fundo. — Não disse
isso só para transar com você.
— Eu quero — afirmei com convicção.
Não queria que ele agisse daquele modo, que ficasse preocupado por
me ajudar, que se sentisse mal por isso, que colocasse na cabeça que poderia
estar se aproveitando da situação. Eu desejava estar com ele, ainda que todo
o resto estivesse desabando ao meu redor, queria Maxwell King. Havia
passado por muitos infernos para agora rejeitar o pequeno pedaço de céu
que me era oferecido. Estava disposta a mostrar o quanto o desejava, não me
importei se era apropriado para o momento, ou se me julgaria por querer
sexo em vez de chorar a minha perda, não pensei em nada além de tirar
aquele sentimento estranho no meu peito e substituí-lo por outra coisa.
Tesão, paixão, não importava, sabia que Max era o único capaz de me fazer
esquecer meus piores pesadelos e me colocar em um lugar melhor.
Envolvi meus braços ao redor do seu pescoço, colei minha testa à
sua quando se inclinou para mim, fitei seus olhos intensos, na mesma hora os
meus marejaram, Max tinha uma coisa que não sabia definir em palavras, era
um poder estranho de me invadir, me ler por completo, saber o que eu sentia
sem fazer ou dizer nada, bastava me olhar. Minha respiração ficou
descompassada, meu coração acelerou, senti um frio na barriga, uma ânsia
desesperadora, a vontade de beijá-lo me chicoteou com força, não esperei
mais, cobri seus lábios com os meus, beijando-o de forma voraz. Max não
pensou duas vezes em retribuir, agarrou-me com brutalidade, uma mão no
meu cabelo, a outra apertando a minha bunda. Quando percebi, ele já estava
em cima de mim, encontrando o caminho entre minhas pernas. Nós nos
tornamos desesperados, dependentes daquele sentimento que nos consumia.
Eu estava dividido, confuso, não queria forçar Liz a nada, apenas
cuidar dela, desejava que ficasse bem, feliz outra vez, se recuperasse de
todas as merdas que vinham acontecendo em sua vida, mas no momento em
que tomou a iniciativa de me beijar, perdi o controle, não pensei, não
questionei, agi por instinto, retribuindo com a mesma voracidade. Beijei-a
fortemente, com paixão, invadindo sua boca, suguei sua língua, deliciando-
me, euforia me dominando, nunca senti algo tão intenso, que penetrava minha
alma, fazia tudo parecer certo, deixava-me desnorteado.
Subi uma das mãos até o seu cabelo, soltando as mechas, enfiei meus
dedos por elas, sentindo a sedosidade dos fios, segurei uma coxa, puxando-a
para o meu quadril, encaixando-me perfeitamente entre suas pernas. Meu pau
estava duro, pronto para entrar nela. Movi os quadris em movimentos
precisos, cheio de tesão pela quentura que emanava dela.
— Me diga que eu posso ir além — sussurrei, deixando meus lábios
colados nos seus. — Diga que posso cruzar essa linha, Liz, te fazer minha
como sempre quis.
— Eu quero cruzar essa linha também — murmurou rouca, percorreu
as mãos por dentro da minha camisa, arranhando suavemente minha pele.
Meu pau endureceu ainda mais, se isso era possível, não perdi
tempo, arranquei minha blusa sem me afastar. Liz também se livrou da sua,
os seios pequenos no sutiã rosa claro fizeram minha boca salivar. Enterrei
meu rosto naquela delícia escondida e cheirei. Feito um animal chupei,
mordi, com os dentes comecei a afastar a peça liberando os mamilos.
Abocanhei a aréola com o bico durinho e suguei, Liz gemeu mais alto, cada
gemido me levava a um nível diferente de prazer, eu estava fora de mim,
extasiado com tudo dela.
Levei uma mão às suas costas, e habilmente a livrei do sutiã, apertei
seus seios, mas não me demorei, a queria completamente nua. Enquanto
beijava sua barriga, deslizei o short que ela usava, mas deixei a calcinha,
queria ter o prazer de vê-la de todas as formas.
— Porra, você é linda demais! — Fixei meus olhos nos dela e
sussurrei: — Perfeita.
— É injusto só você poder me ver assim — brincou, mordendo o
lábio inferior.
Seu desejo foi mais que uma ordem, fiquei de pé, saí dos meus
sapatos e rapidamente desfiz meu cinto, abri o zíper e desci a calça, ficando
apenas na minha cueca boxer, mas ela não durou muito tempo no meu corpo,
desci a peça e meu pau ficou livre, duro, latejando de tanto tesão. Liz o
olhou com desejo, os lábios entreabertos, e eu o imaginei envolvido por sua
boca quente e gostosa.
— Você é a definição de pecado. — Sua voz tinha diversão, mas não
podia esconder sua excitação.
Sorri imaginando a ironia que era, Liz era meu pecado secreto, mas
que agora estando revelado, me entregaria àquela luxúria, me perderia em
cada curva, aproveitaria para conhecer cada centímetro da sua pele, do seu
gosto, seu cheiro, ela inteira.
— Estou louco por você, Liz — murmurei, minha voz rouca de
desejo.
Levei minha mão até o meio de suas pernas, e alcancei a boceta
coberta pela calcinha, esfreguei por cima do tecido, afundando o polegar
entre os lábios molhados. Friccionei, estimulando sua carne sensível,
colocando uma pressão firme, assistindo o prazer tomar seu rosto. Liz se
rendeu completamente, estávamos indo rápido, eu sei, mas havíamos perdido
muito tempo, se ela desejava aquilo, eu tinha que fazer direito.
Eu a peguei no colo e Liz deu um gritinho assustado, riu com o rosto
no meu peito, ela aproveitou sua boca ali e mordeu meu mamilo para me
provocar, estremeci inteiro, meu saco enrijeceu pela onda de prazer que
percorreu meu corpo, rosnei, esfregando meu rosto nela. Levei Liz para o
meio da cama , cobrindo-a com meu corpo, senti sua respiração em meu
peito, ela era tão pequena e delicada, parecia frágil, bela, eu estava
enfeitiçado, apaixonado, desejava-a demais, tinha fome, queria possuir seu
corpo, arrebatar sua alma e conquistar seu coração.
— Quero muito foder você. — Respirei fundo, tentando me controlar.
— Só que parece uma princesa, tão linda e delicada, essa pele tão suave que
pode ser marcada apenas com meus beijos mais ásperos... — Chupei seu
pescoço, tomado pelo tesão.
Distribuí beijos pelos seus seios, tão perfeitos... Caralho, não sei
como vou me segurar com essa mulher gostosa embaixo de mim, desci com
minha boca em direção ao paraíso, beijando cada centímetro de pele.
Abocanhei sua boceta ainda coberta pela calcinha, mordi, lambi, chupei,
beijei. Um misto de tesão, carinho, paixão e um amor incondicional balançou
tudo dentro de mim.
— Não precisa se segurar, quero isso, Max, quero você — sussurrou
com os braços ao redor do meu pescoço, deixando beijos no meu queixo. —
Eu confio em você.
Escorreguei meus dedos pela sua pequena boceta, e com a mão livre
puxei sua calcinha deixando-a nua por completo. Beijei sua barriga, seu
umbigo, mordi seu quadril, e quando fiquei de frente para o seu sexo,
enterrei meu nariz ali, inspirando seu cheiro feminino, nunca esqueceria
aquele cheiro. Levei minha língua ao seu clitóris acariciando, devorei-a,
chupando com uma fome desmedida, beijando e fazendo movimentos como
se beijasse sua boca.
— Nem nos meus sonhos imaginei que teria você assim. — Afastei-
me por alguns segundos, apenas para vestir o preservativo, sabendo o que
estava por vir. — Agora vai ser minha, para sempre, Liz.
Voltei a chupá-la com mais avidez, seus gemidos me enlouqueciam.
Tentei me controlar, sabendo que ainda tinha muito mais para experimentar,
meu pau estava no limite, babando de tesão, minhas bolas pesadas, eu
estava prestes a explodir. Segurei seu rosto com as duas mãos, movendo o
quadril para encaixar meu pau em sua entrada, Liz ergueu o seu quadril
vindo ao meu encontro, e meu pau mergulhou em seu canal, tive que me
segurar, entrando em pequenas estocadas para não gozar rápido.
— Ah, meu Deus... — Cravou as unhas nas minhas costas, elevando
o tronco, enquanto abria mais as pernas para me receber.
— Assim, Liz... — gemi em seu ouvido, agarrando em sua perna,
entrando bem fundo, era delicioso sentir meu pau grosso ganhar espaço
dentro dela. — A partir de hoje será só minha, como era para ser. —
Estoquei e ela se contraiu à minha volta.
Alcançamos um ritmo frenético, em poucos minutos Liz enlouqueceu,
entregue embaixo de mim, começou a ofegar, me arranhar, empurrava-me e
puxava-me, perdida em meio ao prazer intenso. Usou aquela boca pequena e
atrevida para atacar meu peito com mordidas que só me excitavam mais,
arrastei minhas mãos por baixo do quadril alcançando sua bunda, apertei
sentindo-a macia, levando meu pau mais fundo na sua boceta. Eu estava
faminto, louco por ela, queria mais, queria devorá-la. Tornei a agarrar seus
quadris com força, possessivo, desejando estar no controle, virei deixando-a
sobre seus joelhos, de quatro, a bunda toda empinada, acessível para eu
fazer o que quisesse, comer sua boceta, acariciar seu ânus... Porra! Eu
desejava fazer tantas coisas com a Liz que ela se assustaria se pudesse ouvir
meus pensamentos.
— Você está pronta para gozar no meu pau, Liz? — indaguei com
rouquidão, agarrando seu cabelo, forçando-a mais para baixo. — Se abra
para mim, quero meter fundo em você.
— Max... — sôfrega, gemeu meu nome.
— Quer isso, Liz? Quer que eu te foda com força, que coma sua
boceta forte? — Ajoelhei-me atrás dela, fitei a vagina melada, com lábios
pequenos, delicada, linda, encheu-me ainda mais de tesão. — Porra!
— Quero — respondeu com rapidez, excitada demais para qualquer
outra resposta.
Deslizei em seu calor mais uma vez, sentindo-a engolir cada
centímetro meu. Esse era, a porra, do sabor do pecado, eu não tinha dúvida,
uma sensação única, avassaladora. Empurrei meu pau dentro dela cada vez
mais forte, Liz se contorceu embaixo de mim, suas mãos puxando os lençóis,
rebolando os quadris necessitada, queria mais, eu estava inteiro dentro dela,
minhas bolas batiam em sua boceta a cada estocada, uma eletricidade
percorria meu corpo fazendo o prazer alcançar níveis que achei inatingíveis
antes dela. Liz era inigualável, nenhuma outra mulher ou foda poderia se
comparar. Eu passaria a vida toda dentro dela e nunca me cansaria.
— Que delícia, Liz! — gemi quando, agarrando seu cabelo, trouxe
seu corpo para junto do meu, virando seu rosto ataquei sua boca, nossas
línguas duelando. — Como pode ser tão gostosa assim, caralho?
Aos vinte e três anos tive minha melhor experiência sexual, minha
primeira transa foi aos dezessete, as outras seguintes foram boas, na
verdade, eu não pensava muito, porque em boa parte delas, Liz estava na
minha mente, não me orgulhava de pensar em outra quando fodia, mas o
desejo pela garota que gemia embaixo de mim, fez-me cometer loucuras.
— Quero ir por cima — Liz pediu excitada, e nunca poderia negar.
Virei-me, deixando-a por cima, e Liz desceu sobre o meu pau no
mesmo instante, bem fundo, engolindo-me por inteiro. Jogou a cabeça para
trás e gritou. Porra! Essa era a visão mais fodidamente maravilhosa que eu
tinha visto. Ela enterrou as unhas em meus ombros, e cavalgou insanamente.
Olhou-me com intensidade, paixão, e desceu sua boca sobre a minha, nossos
lábios se uniram como se fosse o último beijo, mas isso era apenas nossa
fome falando, ainda teríamos muitos outros, mais vorazes e necessitados do
que esse, tinha certeza disso. Segurei seu pescoço, os cabelos colados no
rosto e na parte baixa da nuca, suada, excitada, enlouquecida, Liz não parou
um segundo sequer.
Nossos corpos se moldaram, movendo-se em uma sincronia sem
igual, gemidos, suor, tesão, paixão e amor. O meu amor estava exalando,
agora tinha certeza de que esse era o sentimento que nos definia, não podia
existir outro, não quando o meu coração parecia querer pular para fora do
meu peito a cada segundo.
— Eu vou gozar... — choramingou, deixando o peito colado sobre o
meu, movendo apenas os quadris. — Mete mais forte... Mais gostoso...
Minha perdição. Ela seria minha perdição até o dia em que eu
morresse.
Liz começou a tremer, sua boceta me apertando, deslizando cada
centímetro, subindo e descendo, fazendo-me enlouquecer. Fechei uma mão
sobre seu seio, a outra agarrei seu pescoço para manter sua boca na minha,
ela começou a gozar. Então tomei o controle e passei a encontrá-la com meu
quadril, dando o que queria. Forte e gostoso. Estocando com brutalidade,
sem pausas, apenas metendo desenfreadamente. Eu desejei isso por tanto
tempo, e agora que a tinha ali, o prazer parecia ser de outra dimensão.
— Isso, amor, vem pra mim... — rosnei entredentes, vibrando na
mesma frequência. — Goza assim, do jeito que quiser! Me morde, me
arranha... Sou seu!
— Max! — ela gemeu meu nome quando o prazer a corrompeu.
— Ahh, caralho! — grunhi ao sentir sua boca atacando minha pele,
tremi por inteiro, minhas coxas se contraíram.
Revirei os olhos tendo pequenos vislumbres do seu corpo agitado
sobre o meu. Meu saco pesado enrijeceu mais, anunciando o gozo estrondoso
que viria. Quis estar sem camisinha para senti-la por completo, poder jorrar
meu esperma dentro da sua boceta.
Meus quadris bateram com mais força, moveram-se mais rápido, a
fim de alcançar o prazer. Liz voltou a me beijar, sua boca quente devorava a
minha. Quando me engoliu inteiro com a boceta, não deixando nenhum
centímetro de fora, não consegui me segurar, gozei enlouquecido, jatos de
porra inundando o preservativo. Continuei estocando com força, perdendo-
me numa miríade de sensações.
Não podia parar de olhá-la, seus olhos semicerrados pela exaustão
do sexo intenso, os lábios entreabertos, inchados pelos beijos vorazes, a
pele toda avermelhada, a marca da minha boca no pescoço, o peito subindo e
descendo em uma respiração descompassada. Se Liz era a imagem da
perfeição antes, agora ela havia atingido um novo nível de beleza, sua
imagem de mulher recém-fodida me fazia querer recomeçar tudo outra vez.
Ficamos unidos, eu ainda dentro dela, nossas respirações ofegantes,
ela deitada sobre mim, o rosto na altura do meu pescoço, deixando beijos
que faziam meu coração inflar com uma sensação única, um sentimento
grandioso que nunca imaginei sentir. Liz era tudo o que eu queria, e faria
com que se sentisse amada, como nunca foi, seria o melhor homem de sua
vida, ela me completava e eu seria um homem de sorte se pudesse ter por
completo seu coração.
Com o final da temporada se aproximando, Max teve que retornar
aos treinos com o time de basquete, nos últimos dias ele vinha dizendo que
queria deixar o time e focar apenas no estágio da King, apesar de ser a
empresa de sua família, queria começar como qualquer outro funcionário.
Max sabia que logo assumiria a presidência da empresa, e isso me
assustava, não sabia como ficaríamos quando isso acontecesse. Eu era
apenas uma garota solitária, sem futuro, e agora desempregada, a única coisa
que me restou foi o ballet, e precisava focar nele se quisesse ter alguma
chance na vida.
Saí do quarto, tendo a certeza de que havia deixado tudo organizado,
as camisinhas escondidas no lixo, a cama perfeitamente arrumada, nem uma
peça de roupa fora do lugar. Esse era o meu primeiro dia sozinha na mansão
dos King, insisti querendo voltar para a minha casa, no entanto, Max me
convenceu de que aqui seria melhor, pelo menos por ora, lá eu estaria
sozinha, apenas com as lembranças da minha avó. Passei pela mesma
situação quando Verônica morreu, e no fundo, aceitei ficar na casa de Max
porque não queria reviver tudo o que havia acontecido.
Meu coração estava disparado no peito, olhei ao redor torcendo para
que Ashley ainda estivesse aqui. Quando Max saiu pela manhã, avisou que
voltaria apenas no almoço, para me buscar, durante esse meio período eu
estaria sozinha, e meu maior receio era encontrar com Freda. Até então ela
vinha se mostrando uma mulher legal, compreensiva, mas algo que me dizia
que aquilo não era real.
— Bom dia — cumprimentei, sem me aproximar, Ashley e Freda
estavam sentadas à mesa, tomando café da manhã. — O Max disse que eu
podia descer...
— Fique à vontade, Liz. — Freda me surpreendeu, ficando de pé e
puxando uma cadeira ao seu lado. — Ashley e eu estamos falando sobre o
evento que nossa família vai participar.
— Eu não quero atrapalhar vocês, posso ir...
— Não atrapalha, querida — me interrompeu, sorrindo
estranhamente. — A propósito, precisamos falar sobre a sua roupa, Ashley
está escolhendo alguns modelos e quero que você faça o mesmo.
A pilha de revistas foi empurrada na minha direção, olhei para
Ashley que encolheu os ombros, como se dissesse que não havia opção.
— Senhora King...
— Freda, pode me chamar pelo primeiro nome. — Seu pedido saiu
mais com uma ordem.
— Certo. — Sorri tensa. — Freda, eu não sei se preciso de uma
roupa. — Minhas palavras saíram incertas, para falar a verdade, eu estava
incomodada com aquilo.
— Vai precisar, em duas semanas vou anunciar minha candidatura à
prefeitura de River Lake, você estará ao lado de Max, então precisa estar à
altura dele. — Olhou-me de cima a baixo e continuou: — Precisamos pensar
no seu vestuário diário, acredito que essas roupas não sejam muito
adequadas...
— Podemos ir às compras amanhã. — Ashley segurou minha mão,
enviando-me um sinal com os olhos, eu estava prestes a rejeitar tudo aquilo.
— Certifique-se de que seja algo decente — Freda ordenou sem me
olhar, os olhos afiados estavam no aparelho celular. — Eu tenho que ir ao
escritório, depois resolvemos isso.
Freda saiu apressada sem nos dirigir outro olhar, seus saltos batiam
no piso de madeira, anunciando o trajeto até o andar superior. Quando
finalmente desapareceu, pude respirar aliviada, minha mente procurava uma
maneira de fugir dali, dizer a Max que havia sido um erro e que eu não
poderia ficar.
— Eu sei que ela parece assustadora. — Ashley cobriu minha mão
com a sua. — Mas é só o jeito dela, gosta de ter tudo sob controle.
— Não sou alguém que ela possa controlar. — Quando dei por mim
já tinha falado. — Me desculpe, eu não quis parecer grosseira ou ingrata. —
Suspirei constrangida por aquele rompante.
— Entendo bem o que sente, Liz, fique tranquila. — Sorriu de forma
carinhosa. — Não precisa fazer ou participar de nada que não queira, mas
talvez possamos fazer compras juntas, você pode me ajudar a escolher algo
que não me faça parecer uma senhora dos anos vinte.
— Tudo bem, mas não quero comprar nada — me adiantei. — Não
tenho dinheiro para isso, e as lojas que vocês frequentam são caras demais.
— Combinado, mas eu posso te dar um presente. — Antes que eu
pudesse protestar ela falou: — E não pode recusar, me ajudou no dia da
minha entrevista.
— Será apenas um presente — concordei, não querendo discutir.
— No começo parece difícil, todo esse luxo, as roupas, a casa... —
comentou apontando ao redor. — Max diz que foi complicado se habituar
com essa vida, principalmente com a posição social. — Abaixou a cabeça,
mexendo no próprio prato. — E agora que minha mãe vai entrar para a
política, precisamos ser exemplares.
— Não consigo imaginar como deve ser ruim ser rico — falei sem
maldade ou ironia. — A vida é tão difícil do outro lado da cidade, que olhar
para essa mesa me faz pensar nas nossas diferenças.
— Nessa questão é realmente melhor, mas ninguém enxerga o outro
lado da cidade, não se preocupam com o que vestem, bebem ou como se
comportam — argumentou com certa tristeza na voz. — Quando Max brigou
no bar, minha mãe teve que inventar várias mentiras para justificar os
machucados, tudo para que as pessoas não falassem dele.
— Seu irmão é jovem, é normal se meter em brigas — pontuei e ela
balançou a cabeça negando.
— Na família King você não pode ser nada além de perfeito —
confessou.
— Ashley, melhor ir até o seu quarto pegar sua bolsa, vamos sair
agora para as compras da Liz. — Freda surgiu como um fantasma de trás da
pilastra, nem eu tinha visto que ela estava ali.
— Freda, eu não preciso. — Ela levantou um dedo, impedindo-me de
continuar, mas quando Ashley saiu, ela arrastou uma cadeira e sentou-se ao
meu lado.
— Elizabeth, você sabe que meu filho vai assumir a presidência da
King no próximo ano, não sabe? — Meneei a cabeça confirmando, e ela
prosseguiu: — Max precisa de alguém à altura ao seu lado, como planeja
sair com ele usando esse tipo de roupa?
Olhei para o meu próprio corpo, procurando algum problema no que
usava, era apenas uma calça de moletom velha, uma blusa simples de alça e
um par de calçados surrados. Naquele momento corei, pensando que talvez
ela tivesse razão. Nunca me preocupei com as minhas roupas, porque
Cristian não me levava a lugares movimentados, e quando tinha algum evento
do ballet, usava meus melhores vestidos, mas eles sequer se comparavam
com as roupas que Freda e Ashley usavam.
— Não tenho dinheiro...
— Vou pagar tudo — me cortou, como se não quisesse me ouvir. —
Agora pegue sua bolsa e vamos, já marquei um horário para você e Ashley
no salão, vamos passar lá depois das compras.
— Mas eu não quero mexer no meu cabelo. — Fui direta sem deixar
que me interrompesse outra vez. — Freda, eu sei que quer me ajudar, e
agradeço, só que não preciso disso.
— Você não precisa, mas não pode envergonhar o Max dessa forma.
— Apontou para mim, como se nada fosse bom. — Precisa entender,
Elizabeth, que se quer ficar com Max terá que se adequar ao estilo de vida
dele. — Abri a boca para negar, e ela se tornou mais feroz. — Eu trabalhei
duro para criar os meus filhos, eles são perfeitos, exemplos que até o menor
dos seres humanos pode se tornar grande se tiverem as oportunidades certas,
então se quer namorar o meu filho terá que aceitar o que vem com ele.
— Mãe — Ashley chamou, observando-nos, curiosa. — Estou
pronta, vamos?
— Claro, querida, estava apenas explicando algumas coisas, para
Liz. — Chamou-me pelo meu apelido, agora parecia outra pessoa, diferente
de quando estávamos a sós.
Entrei no carro, com um sentimento horrível, parecia estar sendo
obrigada, e na verdade, estava, mas tentei ser racional, não ver tudo com um
olhar negativo, talvez Freda estivesse mesmo tentando me ajudar, como
Ashley disse, ela queria tudo sob o seu controle, e cuidar de Max era o foco
principal. Acalmei-me pensando nas coisas que disse, sobre eu estar ao lado
do seu filho e das coisas que teria que fazer para ficar com ele. Pensei em
Max, e na noite que tivemos juntos, em como era carinhoso, como me sentia
amada em seus braços, respirei fundo e aceitei aquela imposição de Freda,
se tivesse que engolir algumas coisas para ficar com o homem que eu amava,
faria isso, afinal, a única coisa que poderia perder era o Max, e dele não
abriria mão.

A vida com Liz em minha casa estava sendo maravilhosa, dormir e


acordar ao seu lado era um sonho. Depois que fizemos amor pela primeira
vez, meu corpo só queria mais, tive que me segurar para não parecer um
tarado e acordá-la no meio da noite em busca de sexo. Pela manhã quando
tive que deixá-la, foi um sacrifício, beijei-a inteira, cheirei seu corpo todo
para ficar com seu perfume na memória, ela resmungou irritada, era mal-
humorada pelas manhãs, mas não me deixou sair sem um beijo apaixonante,
que me acendeu de imediato.
Acabei faltando da faculdade a semana passada inteira, agora tinha
que voltar à minha rotina normal, ainda teria os treinos de basquete, era final
de temporada, e o último jogo que tivemos foi desastroso, primeiro porque
eu não tinha Cristian ao meu lado, segundo porque estava com a cabeça
cheia, preocupado com Liz, os testes para o meu estágio na King e as provas
na faculdade. Dessa vez teria que dar conta de tudo.
Os corredores do campus estavam cheios, cumprimentei alguns
colegas, e fui até Justin, ele era dos reservas do River´s, agora assumiria
definitivamente o lugar de Cristian. O cara era bom, eu só precisava me
acostumar com ele.
— O ginásio está uma bagunça — falou assim que parei ao seu lado.
— Seu amigo está aqui.
— Cristian? — inquiri, e claro que só me veio ele à cabeça, a forma
como Justin pronunciou a palavra amigo deixou isso em evidência.
— Ele mesmo, parece que teve algum problema na faculdade de
Great Forest, e ele vai ter que se formar aqui ou ficará sem diploma —
esclareceu e eu amaldiçoei mentalmente. — Eu não quero parecer um abutre
nem nada do tipo, mas quero saber se fico no time ou volto para o banco...
— Você fica — afirmei, apertando seu ombro. — Cristian voltar para
a faculdade não significa que vai voltar para o time.
— Max, ouvi os caras no vestiário falando com... — Coçou a nuca
nervoso, olhou ao redor e cochichou: — Cristian disse que voltou para pegar
o que era dele de volta.
Apertei as mãos em punho, entendendo o que quis dizer. O
desgraçado não se referia ao time, e sim à minha garota, mas estava
enganado se achava que chegaria perto de Liz outra vez.
— Não se preocupe — garanti confiante. — Prepare suas coisas,
conversei com o treinador e o time está liberado hoje, vamos treinar na parte
da manhã. — Franzi o cenho, preocupado se ele também poderia. — Suas
notas estão em dia, não é? Não posso contar com um jogador que vai ser
barrado perto dos jogos.
— Está tudo ok, minha única preocupação era minha posição no time.
— Sorriu aliviado, levando a mão ao peito. — Meu pai deu uma festa para
comemorar minha escalação, seria uma vergonha dizer que fui rebaixado
logo que entrei.
— Fique tranquilo. — Bati em seu ombro amigavelmente. — A
propósito, podemos sair juntos para comemorar, você tem namorada? Nunca
te vi com uma garota.
— Não tenho, mas não vejo problemas em sair com você e a sua
namorada.
— Vamos como amigos, não casais, se quiser levar alguém pode
levar — incentivei. — Provavelmente vou ter que levar minha irmã junto,
então... — Dei de ombros, deixando claro que seria apenas algo casual.
— A Ashley ainda não tem idade para beber, não é? — perguntou
diretamente, surpreendi-me por saber o nome da minha irmã.
Ashley era o tipo de garota invisível, apesar de ser uma King, as
garotas a ignoravam, e para os caras, ela era apenas uma piada sacana, por
isso minha surpresa em saber que Justin, um cara da faculdade, soubesse o
nome dela, e não se referisse apenas como “minha irmãzinha”.
— Ela bebe apenas suco e come demais, se a gente for em um lugar
que tem comida, estará tudo bem — disse com diversão, ele assentiu.
Estava prestes a dizer para irmos para o vestiário quando a figura de
Cristian surgiu, caminhando com seu jeito arrogante em nossa direção, tive
que me segurar para não encurtar o espaço e socar a cara dele.
— Soube que já me substituiu, Max, pensei que fosse querer ficar no
meu lugar já que sempre quis tudo que me pertencia — ironizou, jogando o
cabelo loiro, agora um pouco maior, para trás.
— O posto no time é para quem merece, você não tem nada que me
interesse, Cristian.
— Pegou a minha garota e diz que não tenho nada que te interessa?
— Sua voz saiu irritada, mas ainda usava o deboche como ataque. — Não
esperou que eu estivesse longe para roubar a minha garota...
— Liz não era sua, você deixou isso bem claro quando conhecemos a
sua noiva. — Cruzei os braços para não usar meus punhos na sua cara. —
Afinal, quando nasce o bebê?
— Vai se foder, filho da puta! — bradou, agarrando minha camisa. —
Acha que pode ficar com ela?
— Eu já estou com ela. — Segurei suas mãos, afastando-o. — É
melhor ficar longe dela, ou isso não vai acabar bem.
— Desgraçado! Traidor! — gritou atraindo a atenção de todos, fez
um movimento como se fosse partir para cima, mas recuou, abrindo um
sorriso sarcástico. — Eu não posso te julgar, entendo você, Max, aquela
boceta faz a gente perder a cabeça.
— Filho da puta! — rosnei, e avancei sobre ele, ficando cego de
raiva.
Investi contra ele, dei um soco descarregando toda a minha fúria em
sua cara, mas não parei no primeiro, sem dar a oportunidade de se defender,
ataquei outra vez, e outra, até que o derrubei, isso também não foi o
suficiente para me parar. Nós nos engalfinhamos no chão, ele me acertou
dois socos, no entanto, não senti nenhum deles, só queria descontar todo o
ódio que sentia.
— Eu vou pegá-la de volta, Max — conseguiu falar, agarrando meu
pescoço, lutando para me afastar. — Vou levar a Liz comigo para Great
Forest, vou fazer dela a minha putinha particular...
Aquilo foi demais para mim, nunca imaginei Cristian como um cara
asqueroso e sem escrúpulos, mas ele estava mostrando que não tinha um
pingo de caráter e decência. Respirando irregularmente, levantei o punho e
voltei a socar seu rosto que inchou por completo, acertei o nariz, desejando
que quebrasse, não parei até ouvir o som do osso, em poucos segundos, ele
se tornou um pedaço de merda inerte, que não podia nem reagir. Parei,
saindo de cima dele, olhando ao redor, meu mundo parecia sair fora de
órbita, a raiva mais uma vez assumiu o controle e eu cedi. Era puro instinto,
algo que eu lutava por anos para controlar, no entanto, quando ficava fora de
mim, não havia nada nem ninguém capaz de me segurar. Deixei-o lá, sabendo
que minha punição por aquilo deveria ser alguns dias de suspensão, não me
importei, fiz o que precisava, e não me arrependeria disso.
Nós estávamos em uma das lojas mais caras de River Lake, Freda
era amiga da dona, e reservou um horário exclusivamente para nós. Nunca na
minha vida tive nada exclusivo, principalmente um horário para ser atendida,
mas segundo minha sogra, precisávamos provar as peças e ajustá-las, e as
medidas eram tiradas na hora. Provei várias peças e conjuntos diferentes,
nenhum eu escolheria se estivesse sozinha, mas Ashley me lançou um olhar
que dizia ser melhor aceitar as sugestões nada sutis de Freda a discutir com
ela.
— Esse ficou deslumbrante — Freda me elogiou, olhei meu reflexo,
usando um conjunto social de três peças, era azul, listrado, comportado e
elegante, só não fazia meu estilo. — Você pode usar quando for jantar com
Maxwell, quando forem fotografados juntos, vai sair bem em todas as fotos.
— É muito bonito. — Forcei um sorriso, sem nenhuma animação.
— Vamos escolher um vestido para o evento que vou anunciar
oficialmente a minha candidatura, vai ser à noite então... — Bateu o dedo no
queixo, como se estivesse pensativa, olhando as peças ao redor. — Deixe-
me ver o que temos aqui.
— Você não quer escolher algo, Elizabeth? — a vendedora sugeriu,
olhei para Freda, e ela se pronunciou antes que eu pudesse responder.
— Não, não... — negou com veemência, puxando um vestido longo,
com mangas três quartos. — Liz precisa de algo comportado, ela com
certeza escolheria algo vulgar.
— Mamãe! — Ashley a repreendeu.
Engoli em seco, respirando fundo para não dar uma resposta à altura.
Se não fosse por Max, teria dito poucas e boas para aquela megera, mas
tinha que me dar bem com a mãe dele, afinal, me receberam tão bem em sua
casa, e causar esse tipo de conflito só o deixaria dividido. Não queria que
Max tivesse que escolher entre mim e sua mãe, por isso empurrei meu
orgulho garganta a baixo e sorri cordialmente.
— Tudo bem, Ashley, sua mãe entende mais sobre moda do que eu.
— Viu só, querida, a Liz sabe o que é melhor para ela. — Freda
sorriu, afagou minhas costas, levando-me para o provador. — Vamos lá,
troque o conjunto por esse vestido e... — Seu telefone tocou e ela o puxou da
bolsa, franzindo o cenho ao olhar para tela. — Reitor Peterson, que prazer...
O quê?
— O que foi, mãe? — Ashley inquiriu, e recebeu um dedo autoritário
na cara, dizendo para ficar quieta.
— O Max fez o quê?! — exclamou com a voz esganiçada, seu rosto
começou a ficar vermelho, parecia nervosa, aquilo me deixou alerta. —
Tenho certeza de que há uma justificativa para ele ter agido dessa forma,
meu filho... — Ela deve ter sido interrompida, porque mordeu o lábio
inferior com força. — Sim, eu sei, vou resolver isso, passo no seu escritório
no fim do dia para conversarmos.
Ela desligou, e pousou seu olhar sobre mim, dessa vez aquele sorriso
falsamente gentil havia desaparecido, os lábios estavam comprimidos em
uma linha fina, tensa, parecia se conter para não dizer o que passava em sua
cabeça. Pensei em mil coisas, mas certamente, ela me culpava pelo que tinha
acontecido com Max, e isso me deixou ainda mais preocupada.
— Está tudo bem com o Max? — perguntei de uma vez.
— Parece que ele se meteu em uma briga por sua causa, Cristian
Michell está agora no hospital e Max desaparecido — revelou furiosa. —
Agora vamos para casa e ver se ele está lá.
Senti minhas pernas formigarem, a culpa por meter Max naquela
confusão se apoderou de mim. Achei que Cristian estivesse longe o bastante
para causar problemas. Não consigo imaginar um motivo para os dois
brigarem, ele deixou claro que eu não passava de um passatempo, um
segredinho sujo, e depois de cinco meses brigar com Max, me deixava
confusa.
— Eu só vou tirar essa roupa...
— Não temos tempo — impediu-me, segurando meu braço com
força. — Amber, passe esse cartão, volto depois para ver os vestidos,
mande entregar na minha casa as peças que ficaram para tirar as medidas.
— Claro, senhora King, vai receber tudo amanhã cedo. — A
vendedora foi solícita, e me lançou um sorriso complacente.
Freda seguiu à nossa frente, destravou o carro e logo tomou seu lugar
ao volante. Não tive coragem de olhá-la outra vez, nem mesmo para Ashley,
saber que eu era culpada por trazer aquele conflito para a família King me
deixava mal. Eu estava acostumada com a desordem, com o caos, brigas,
discussões, tragédias, tudo parecia fazer parte do pacote de Elizabeth
Collins, e não queria que Max seguisse pelo mesmo caminho por minha
causa.
— Trabalhamos por anos no comportamento desse garoto! — bradou
nervosa, deslizando o volante com rapidez. — Quando encontramos o Max,
ele parecia um animal arredio, foi uma vida inteira de terapia para agora
acontecer isso.
— Mãe, o Max às vezes perde o controle, é normal... — Ashley
tentou intervir.
— Me diga quando viu seu irmão fazendo esse tipo de coisa? —
inquiriu com um tom mordaz. — Quando ele socou alguém a ponto de
mandar essa pessoa para o hospital? Ele pode ser expulso da faculdade!
Pode ser preso!
Minha garganta travou, não consegui pensar em nada para dizer,
qualquer coisa que saísse da minha boca parecia ser algo como errado. Por
isso me encolhi no banco de trás, quieta, a roupa nova pinicando minha pele,
incomodava e era desconfortável, mas não reclamei, o clima estava péssimo,
sentia-me errada de todas as formas, não só pelo que pensava em dizer.

Assim que entramos na mansão dos King, fiquei aflita, meu peito
estava apertado, como se alguém esmagasse meu coração. Olhei por todo o
lugar à procura de Max, e o encontrei sentado em uma poltrona com um saco
de gelo no queixo, seu olhar parecia raivoso, o corpo tenso, pés agitados,
batendo contra o piso em um ritmo frenético. Assim que me viu, ficou de pé,
pensei que estivesse com raiva de mim, mas me surpreendeu ao me abraçar
logo que me alcançou.
— Aonde você estava? — perguntou exasperado, depositando um
beijo nos meus lábios. — Fui até a sua casa, no ballet...
— Sua mãe me levou...
— Agora não é o momento para isso, Maxwell, vamos até o meu
escritório ter uma conversa séria — Freda me interrompeu, como de
costume, repreendendo Max como se ele fosse um garotinho de sete anos.
— Mãe, falo com você depois — declarou sem se importar. —
Vamos subir, Liz, quero explicar o que aconteceu.
— É a mim que deve uma explicação, Maxwell! — Freda gritou.
Max não deu ouvidos, sequer respondeu, agarrou meu braço e me fez
subir as escadas com ele, indo direto para o seu quarto. Ignorar sua mãe não
era a melhor opção, mas no fundo fiquei feliz por ele querer conversar
comigo primeiro, explicar o que tinha acontecido sem me deixar no escuro.
Caminhou pelo quarto tirando a roupa, ficando apenas de cueca, a
camisa estava manchada de sangue, o queixo pouco machucado, mas as mãos
estavam bem feridas, não quis imaginar a cena dele batendo em Cristian, vi
Max brigar uma vez no Westhouse, e foi o suficiente.
— Que roupa é essa? — perguntou com diversão. — Está...
— Não fala nada! — Levantei o dedo, interrompendo-o. — Sua mãe
me levou para fazer compras.
— Isso é um... — Apertou os lábios, segurando-se para não rir.
— Um conjunto xadrez de três peças — imitei o jeito que sua mãe
falava, e ele caiu na gargalhada. — Não ria, Max! Essa coisa pinica!
— Ah, meu amor... — disse com a voz doce, caminhando em minha
direção. — Vem aqui, vamos tirar isso.
— Freda me comprou muitas peças nesse estilo — comentei,
esfregando meu rosto no seu peito nu. — Acha que estou parecendo uma
senhora do século vinte?
— Nunca. — Achou graça, e daquele jeito safado que tinha, subiu a
mão em minha coxa, infiltrando-se por baixo do tecido. — Parece uma
bibliotecária sexy, talvez vendedora de planos de saúde...
— Max! — Bati e belisquei seu peito, mas não se afastou, segurou
meus braços e me levou para o banheiro. — Espera, preciso tirar essa
roupa... Max!
— Vou te ajudar, linda. — Sem hesitar, abriu o chuveiro, e a água
caiu torrente sobre nós. — Quero você nua, Liz.
— Precisamos conversar, o que aconteceu entre você e o Cristian?
— Segurei seu rosto com as duas mãos, fazendo-o me encarar.
— Ele voltou para a faculdade, teve algum problema em Great
Forest — começou a explicar, desabotoando o blazer que eu vestia. —
Quando começou a gritar que teria você de volta eu perdi a cabeça, fiquei
fora de mim e acabamos trocando socos.
— Trocando socos? — Semicerrei os olhos, intrigada. — Sua mãe
disse que o Cristian está no hospital.
— Eu bati mais do que apanhei. — Bufou com irritação por causa
dos botões. — Ele começou a falar coisas sobre você ser a puta dele, e
isso...
— Entendi. — Alisei seu peito, deslizando até o abdômen definido, a
cueca estava encharcada, transparente, a ereção visível, fazendo minha boca
salivar. — Não quero que brigue por minha causa, Max, não quero que se
meta em problemas.
— Liz... — murmurou meu nome, mas não conseguiu completar o que
diria, ajoelhei-me lentamente empurrando a peça molhada para baixo.
— Você tem um pau lindo — cochichei com um sorriso travesso no
rosto. — Não tive tempo de olhá-lo assim tão de perto.
— Vai me chupar? — Sua voz saiu mais grave, quase rouca,
carregada de tesão.
— Vai parar de brigar por minha causa? — Ergui o olhar para
encará-lo e ele negou, balançando a cabeça. — Então não.
Tentei me levantar, então sua mão dominante veio para o meu cabelo,
agarrando com força e me fazendo ficar onde estava. Aquilo fez minha
boceta contrair, fiquei excitada, Max fazia o tipo dominante na cama, sabia o
que falar, onde tocar, controlava tudo, não imaginei que ele fosse assim, mas
confesso que gostava desse jeito dele.
— Faça, amor — ordenou com aquele tom que fazia meu coração
acelerar. — Coloque essa boca linda no meu pau.
Segurei-o suavemente, envolvendo com os dedos, movendo para
cima e para baixo, a cabeça grande gotejava o líquido transparente e
viscoso. Esse não era o primeiro pau que eu via, mas era o mais bonito, com
toda certeza. As veias salientes não eram tão grossas, dava um aspecto
delicado, grande, rosado, novamente minha boca salivou ao imaginá-lo todo
dentro dela. Olhei outra vez para ele a fim de provocar, lambi a pequena
abertura com a ponta da língua.
— Assim? — indaguei, dando várias lambidas desde o freio, até
circular a coroa.
— Isso, Liz — ofegou, ordenando em seguida. — Engole ele todo...
Porra! Não brinca comigo.
Max estava mais excitado, empurrava sutilmente os quadris em minha
direção, mas eu não daria isso fácil. Chupei apenas a cabeça, bem devagar.
Ele estremeceu, apoiou uma mão na parede para se segurar. Eu estava tão
excitada quanto ele, parei com a boca onde estava e me apressei a tirar o
blazer, junto com a camisa que usava. Debaixo da água, os botões
deslizavam, Max não perdeu tempo, com a mão ainda no meu cabelo,
deslizou sua ereção para dentro da minha boca.
— Ah, caralho! — soltou um gemido rouco, perdido.
Agarrei sua bunda, e o tomei inteiro, como queria, parei quando
quase engasguei, mas logo relaxei, respirando pelo nariz, colocando a língua
por baixo da coluna grossa e segurei, mamando esfomeada. Max se agitou,
segurou meu cabelo com mais força, e começou a empurrar os quadris,
rebolando de forma sensual, fodendo a minha boca enquanto gemia alto.
Pensei na possibilidade de alguém ouvir, no entanto, ignorei aquilo, só
queria continuar a ouvi-lo gemer meu nome daquela maneira tão gostosa.
— Que gostoso, meu amor. — Tirou o pau da minha boca, esfregou o
polegar sobre o meu lábio inferior, depois introduziu dois dedos, olhando e
falando cheio de lascívia: — Chupa os meus dedos, deixar eu ver até onde
aguenta.
Obedeci, abrindo a boca, deixando-o ver tudo. Seus dedos entraram
devagar, enquanto isso eu bombeava seu pau, levei uma das minhas mãos
mais abaixo, e segurei suas bolas, estavam duras, inchadas, massageei com
cuidado, tocando o períneo sorrateiramente, quando pressionei o dedo ali,
empurrando para cima, vi Max se desmanchar em prazer, impulsionou os
quadris para frente, e seus dedos tocaram a minha garganta.
— Puta que pariu! — Afastou-se rapidamente quando engasguei e
comecei a tossir. — Desculpe, Liz, eu...
Não dei tempo ou espaço para que se sentisse culpado, voltei a
engolir seu pau, chupando com tudo, pressionei o mesmo lugar com o dedo,
sabendo que ali era um ponto fraco de Max. Deixei que metesse na minha
boca, segurando as bolas com uma mão, com a ponta do dedo, massageando
o períneo. Apertei as coxas, excitada demais por vê-lo naquele estado. Max
agarrou meu cabelo com as duas mãos, e me fodeu daquele jeito. Cada vez
mais fundo, mais rápido, a saliva escorria pelo meu queixo, misturando-se
com água. Não pararia até que ele chegasse ao limite.
— Porra, Liz! — rosnou fora de si. — Que boca gostosa do caralho!
— Onde você quer gozar? — Afastei-me apenas um pouco para olhá-
lo e minha pergunta o pegou de surpresa. — Na minha boca? No meu rosto?
— Liz. — Tocou minha bochecha com carinho, indeciso e
preocupado. — Não quero fazer isso com você...
— Não quer gozar em mim? — provoquei, lambendo os lábios bem
perto da sua ereção de modo que minha língua roçou no seu pau. — Tem
certeza, Max...
— Porra, garota! — Puxou o próprio cabelo, nervoso. — Você vai
ser minha perdição.
— Escolhe, Max... — insisti lambendo a extensão do seu pau. —
Onde você quer gozar?
— Nesse seu rostinho safado — declarou, a voz novamente atingindo
aquele timbre forte, autoritário. — Está me dando isso e eu vou querer
sempre. — Segurou minhas bochechas, apertando-as. — Sabe quantas vezes
me imaginei gozando na sua cara? Quantas vezes me masturbei pensando
nisso?
Balancei a cabeça negando. Ele se inclinou até alcançar meu rosto, e
beijou minha boca, cheio de fome, metendo a língua, parecia irritado,
descontrolado, nossos dentes colidiram, mesmo assim, não parou, mordeu
meus lábios, chupou, gemeu, estava completamente fora de controle. Quando
se afastou, voltou a me dominar pelo cabelo, puxou-me para que estivesse no
lugar onde queria, e meteu na minha boca, dessa vez, fodendo sem parar,
entrando e saindo com rapidez. Os gemidos que ele emitia eram
animalescos, ferozes, parecia outra pessoa. Apertei minhas coxas, excitada
com aquilo.
— Toma meu pau, Liz — berrou, estocando furiosamente. —
Assim... Caralho! Caralho!
Senti quando o líquido grosso invadiu minha boca, deliciei-me com
seu sabor, mas não tive muito tempo, Max se afastou, masturbando-se com
força, descontrolado, mirando em meu rosto. Jatos de esperma quentes me
atingiram, não deixei de encará-lo, e fiquei com a boca aberta querendo
receber mais.
— Puta que pariu! — exclamou, direcionando o pau, para que seu
gozo caísse no meu rosto, na minha boca, no meu pescoço, ele queria me
marcar inteira. — Que delícia...
Seu abdômen sofria espasmos, contraindo-se a cada jato. Com a
respiração irregular, os olhos semicerrados pelo prazer, Max me puxou pelo
braço, fazendo-me levantar, e sem que eu esperasse, atacou minha boca sem
se importar que seus fluidos estivessem ali. Suas mãos subiram, arrastando a
saia que eu usava para cima, com pressa colocou minha calcinha de lado, e
me penetrou em um único impulso, na hora me lembrei do preservativo, no
entanto, estava tão excitada que deixei, só queria que me fizesse gozar com
aquele pau grosso, que me comesse até que esquecêssemos de tudo, até que
eu esquecesse quem era.
Toda raiva e tensão que meu corpo acumulava se esvaiu no instante
em que gozei no banheiro com Liz, sabia que precisava dela para me
acalmar, bastava sentir seu cheiro, tocar sua pele e saber que era real, que
estava ali comigo, para que tudo dentro de mim voltasse para o lugar.
Claro que os problemas não acabariam com uma transa magnífica,
minha mãe me esperava no escritório para uma conversa daquelas. Eu vinha
evitando essa pequena reunião com Freda King porque ela fazia o tipo
intransigente, gostava que as coisas fossem feitas do jeito dela, dominava a
todos, inclusive meu pai, Lucius. Talvez fosse a maneira dela de se certificar
que nada desse errado, mas havia coisas que não podia e nem devia querer
controlar, como nossas vidas pessoais. Deixei claro desde o início que não
abriria mão de Liz, eu poderia abrir mão de tudo nessa vida, tudo mesmo,
exceto ela.
A porta do escritório estava aberta quando entrei, sentada em sua
cadeira, fitava o relógio no pulso, impaciente, ao me olhar, vi a irritação
estampada em seu rosto. Tentei me manter tranquilo, focado em não iniciar
uma discussão. Respeitava demais meus pais, ouvia seus conselhos, sabia
que só queriam meu bem, no entanto, suas exigências às vezes me tiravam do
sério, e para não agir como um ingrato de merda, cedia a fim de evitar
qualquer atrito.
— Achei que fosse passar o dia enfiado naquele quarto — declarou
com rispidez, assim que entrei e fechei a porta. — Tudo o que você sabe
fazer agora é ficar trancado lá com aquela garota.
— Elizabeth, ela tem um nome — corrigi irritado, estávamos
começando mal. — Não quero que se refira a ela dessa forma.
— Me desculpe, filho — disse em um tom ameno, recuando. — Só
que faz apenas algumas semanas que vocês estão juntos e você se tornou
outra pessoa.
— Ainda continuo o mesmo.
— Não. — Balançou a cabeça com veemência. — Você acabou de
mandar seu amigo para o hospital...
— Ele não é mais meu amigo — interrompi e ela apontou o dedo
acusatório para mim.
— Está vendo? Você não me interrompia, não usava esse tom
grosseiro comigo.
— Mãe, pelo amor de Deus! — Bufei, esfregando o rosto. — Você
está criando conflitos inexistentes, eu só pontuei algo, não fui grosseiro.
— Tudo bem, vamos começar outra vez. — Puxou o ar respirando
fundo. — Acho que Elizabeth Collins é um problema, você espancou
Cristian Michell que até há alguns meses era seu amigo. — Levantou os
dedos, pontuando os problemas. — Faltou nas aulas e nos seus treinos, você
nem passa um tempo com a sua família, só fica naquele quarto com ela.
— Eu disse desde o início que a Liz era muito importante para mim,
Cristian a enganou e agora que voltou, quis ofendê-la e eu não aceito isso —
expliquei, seguindo para o próximo tópico. — Ela acabou de perder a avó,
precisava de mim, não podia deixar que ficasse aqui sozinha, principalmente
com a sua receptividade.
— Poderia ter deixado Elizabeth na casa dela, nós a ajudaremos...
— Não — neguei entendendo aonde queria chegar. — Eu a quero
comigo, estou sério nisso.
— Sério quanto? — inquiriu. — Porque em breve vai assumir a
King, vai ter eventos, reuniões, negócios a fazer...
— Eu concordei em deixar o basquete de lado e assumir a empresa,
mãe, meu relacionamento com a Liz não vai mudar — afirmei. — Quero ela
pelo resto da minha vida, se ela aceitar, no momento certo a farei minha
esposa.
— Você está exagerando. — Bufou irritada.
— Não estou — garanti. — E espero que vocês me apoiem, não
quero ter que fazer uma escolha sobre isso.
— Ela não vale a pena, Max — insistiu. — Vai te magoar, vai acabar
com a sua vida.
— Sequer deu a oportunidade de conhecê-la — acusei desapontado.
— Tudo o que faz é apontar o que não gosta, o que acha que não vai dar
certo.
— Eu já passei por isso, conheci garotas do tipo dela, muitas nos
orfanatos que frequentei e garanto que todas elas têm o mesmo destino.
— E qual seria? — perguntei com ironia.
— Elizabeth Collins vai se tornar uma prostituta, ou amante de um
homem rico — disse com nojo. — Veja só, assim que Cristian a dispensou
ela correu para você.
— Está enganada — rebati confiante. — Cristian a enganou, ela é a
única vítima nessa história e depois...
— Não perdeu tempo e pediu para você consolá-la — desdenhou.
— Eu praticamente tive que implorar por uma chance — revelei,
encarando-a. — Sabe quanto tempo sou apaixonado por ela? Há quanto
tempo sonho com uma oportunidade de ter Liz comigo?
— Você nunca falou sobre ela, achei que...
— Mãe, sua única preocupação são seus eventos beneficentes, a
política, a King — acusei sem paciência. — Já se perguntou por que a
Ashley odeia tanto a escola? Por que eu soquei a cara daquele desgraçado
no bar?
— Eu sei os problemas que meus filhos têm, Maxwell — defendeu-
se ofendida. — Não venha querer mudar o foco do assunto, o problema é
você e aquela garota no seu quarto.
— Aquela garota vai ser a minha mulher, não há nada que diga para
me fazer mudar de ideia — reafirmei com convicção.
— Está certo, pelo visto você já decidiu tudo. — Sua voz saiu
carregada de desdém. — Então terá que conversar com ela, para que se
adéque a nós, Elizabeth não pode ir aos eventos usando aquele tipo de roupa.
— Mãe, não quero que incomode a Liz com isso, por favor, só a
deixe tranquila. — Meu pedido estava mais para uma súplica, sabia que
nessa questão, Freda era exigente demais. — A amo do jeito que é, não
preciso mudá-la para se encaixar na minha vida.
— Não estou dizendo para mudá-la, mas se faz planos de casar com
essa garota... — pigarreou, com certeza ponderando suas palavras. — Como
vai levá-la a um jantar de negócios? Lidar com as matérias do jornal que
sairá sobre vocês? Os homens vão olhar para ela como sua esposa ou uma
prostituta qualquer? — Mordi a língua com a sua última colocação,
segurando-me para não ser grosseiro com ela. — Se quer Elizabeth Collins
no seu futuro, tem que pensar sobre isso.
Em parte ela tinha razão, não na questão de como Liz se vestia, e
agia, eu a amava daquele jeito, mas era certo que quando assumisse a King,
todos os holofotes estariam voltados em nossa direção, principalmente nela,
procurando qualquer falha ou defeito para atacar. Eu não ligava para isso,
daria um jeito de resolver, a única coisa que me importava era ter Liz
comigo.
— Você paga para manter meus defeitos escondidos, mãe — falei,
ficando de pé. — Posso evitar que ataquem Liz por qualquer motivo, mas ela
vai ser do jeito que é, agir e vestir o que quiser. — Deixei claro, para que
não tivéssemos que entrar naquele assunto outra vez. — Não quero que tente
mudar isso, ou a pressione, acho que se fizer isso não vamos ter problemas.
— Acho que está confuso, Max, você não a ama, só está sendo
protetor — afirmou como se tivesse certeza. — A situação de Elizabeth te
lembra a sua...
— Não entre nesse assunto, por favor. — Virei-me quando já estava
quase perto da porta. — Sabe que odeio falar disso, que odeio que
mencione... — Engoli em seco, começando a me sentir mal. — Só não
misture as coisas, o que aconteceu no passado fica lá.
— Ignorar a morte da sua irmã não vai apagar o que aconteceu. —
Freda não tinha limites, ela ia até o fim no que queria, sem se importar com o
quanto pedíssemos para parar. — Você fez o que pode para protegê-la, era
só uma criança, e agora está revivendo tudo com Elizabeth.
— Chega, mãe... — sussurrei, cerrando os punhos, a raiva vinha me
invadindo aos poucos, mas se alastrava rapidamente.
— Você está agressivo outra vez, atacando outras pessoas por causa
dela... Está fora de controle, Max.
— Chega, caralho! — gritei, perdendo a razão, respirando
irregularmente. — Eu disse chega!
Saí do escritório fora de mim, furioso, imagens do passado vindo
com força total. O sangue em minhas mãos, o choro sofrido, medo, nojo, a
dor de ver o corpo infantil inerte no chão. Como fomos negligenciados,
lutando todos os dias para sobreviver, como eu agi tarde demais para
proteger minha irmã. O ódio que acumulei não foi o suficiente para tomar
uma atitude, o maldito medo me paralisava todas as vezes.
— Não vou pensar nisso. — Fui direto para o meu quarto procurar
por Liz, eu precisava dela para recuperar o ar que parecia ter sumido dos
meus pulmões.
— Max, está tudo bem? — perguntou logo que entrei.
Balancei a cabeça negando, escorreguei encostado na porta, até me
sentar. Mesmo que puxasse o ar ele parecia não vir. As lágrimas que nunca
caíam, agora nublavam a minha visão. Era sempre assim quando esse assunto
vinha à tona, me machucava, me fazia relembrar com detalhes, como se
aquela noite nunca tivesse acabado, revivia os dias sombrios, de dor e
tormento, repetidas vezes na minha cabeça.
— Só fica aqui comigo — supliquei, abrindo os braços para que
viesse para o meu colo. — Por favor, não me pergunta nada, só fica aqui.
Não vi se assentiu concordando, mas fez o que pedi, sentou em meu
colo, uma perna de cada lado do meu corpo. Vestindo apenas uma camisa
minha, senti a pele nua quando enfiei minhas mãos por baixo do tecido.
Enterrei meu rosto em seu pescoço, inalando seu cheiro. Ali em seus braços,
senti a minha respiração se acalmar. Liz não fazia ideia de que, na verdade,
eu precisava mais dela do que ela de mim. Não da forma como Freda
colocou, eu não estava substituindo o alvo da minha proteção, não queria
ocupar ou satisfazer aquela necessidade dentro de mim.
A maneira como Liz vivia quando a conheci me arrebatou, via nela a
mim mesmo. A fome era tão latente em seu olhar que foi impossível
esconder a minha surpresa ao ver a semelhança, vi minha irmã nela,
entretanto, com o tempo isso passou. Vi a garota que conhecia há anos se
transformar em uma adolescente rebelde e agora uma linda mulher. Isso que
sentia por ela não era nem de perto apenas um sentimento de proteção.
Amava Liz, nunca senti por ninguém o que sinto por ela, e o que mais
me irritava era que Freda fizesse uma junção de situações diferentes para
tentar me manipular. Eu podia ser um fodido, descontrolado, agressivo, mas
nunca agiria assim com Elizabeth Collins. Para mim, o passado não existia
mais, nada do que aconteceu me faria ter escolhas diferentes. Sabia bem o
que queria, e faria tudo para que ninguém me impedisse de ter.
Depois do dia em que Max conversou com sua mãe, não tocamos no
assunto que o deixou abalado. Fiquei tão nervosa, temendo que os dois
brigassem por minha causa, que decidi aceitar tudo que Freda propôs para
mim. Eu me dividia entre a minha casa, o ballet e a mansão dos Kings.
Durante as manhãs passava no lugar que morei toda a vida, para me
certificar de que tudo estava no lugar, a casa nunca esteve tão vazia, Max
sugeriu que eu alugasse ou vendesse, mas não me sentia pronta, de repente as
coisas entre nós poderiam dar errado e eu não teria para onde ir. E ter meu
lugar, mesmo que não dormisse ali, me deixava confortável, se estava na
mansão era por opção, por querer ficar perto do Max.
— Vamos, meninas, não quero distrações hoje! — Madelyn ordenou,
enquanto nos movíamos pelo salão.
Por ficar uma semana sem treinar, meus músculos protestaram com o
esforço repentino. Para muitos, dançar era algo fácil, mas apenas uma
bailarina podia dizer o quanto era difícil e como exigia muito trabalho para
se manter em forma.
Em sincronia dançamos, fiz com perfeição alguns fouettés, indo até
um dos bailarinos que fazia par comigo naquela manhã, ele me agarrou firme
pela cintura, jogou-me para cima e me estiquei, impulsionando o corpo,
executando um grand jeté. Pousei com elegância, um braço na vertical, outro
na horizontal, o suor encharcava meu pescoço e rosto, fazendo com que os
fios de cabelo grudassem na minha pele. Madame Madelyn aplaudiu,
repetindo várias vezes a palavra “perfeito”, suas exclamações alegres
deixaram todos satisfeitos com o trabalho, finalizamos a cena mais
aliviados, mas quando acabamos, uma salva de palmas descoordenadas
atraiu minha atenção.
Com um sorriso maldoso nos lábios, Cristian Michell estava parado
em frente à escola, eu o conhecia bem para saber que veio atrás de confusão.
Seu rosto estava bem machucado, os dias de recuperação no hospital, não
foram de grande ajuda para ele. Manchas rochas destacavam-se embaixo dos
olhos, ainda estava com o curativo no nariz. Se optou por sair assim em
público, apenas para vir até aqui, deixava claro que não era uma visita
cordial.
— Elizabeth — Madelyn declarou em alto e bom som. — Não quero
seus problemas aqui.
Corei quando uma onda de risadas ecoou pelo local, claro que todos
comentavam sobre a minha separação com Cristian, e depois do meu novo
relacionamento com Max. O fato dos dois terem sido amigos não me
ajudava. Ninguém queria saber se meu ex-namorado tinha me enganado,
traído, engravidado outra pessoa, sequer davam importância para o tempo
que fiquei solteira até ingressar em outra relação. Tudo o que comentavam
era sobre a minha falta de vergonha e pudor ao me envolver com eles.
Marchei irritada até Cristian, queria que ele desaparecesse da minha vida.
— O que está fazendo aqui? — perguntei, empurrando-o para fora.
— Calma, Liz. — Levantou os braços em sinal de rendição. — É
assim que me recebe depois de tanto tempo?
— Se eu pudesse não olhava mais para sua cara! — exclamei,
irritada.
Por que ele tinha que vir aqui?
— Você estava linda, gatinha. — Inclinou-se para beijar meu rosto e
eu desviei, isso fez com que quase tocasse meus lábios. — Sinto sua falta,
me deixa explicar o que aconteceu.
— Não chegue perto de mim!
— Quanta agressividade. — Riu de maneira irônica. — Eu preciso
de carinho, veja só o que Max fez comigo.
— Acho que foi pouco — declarei. — Deveria ter isso como um
aviso e não se aproximar.
— Ele ficou irritado porque falei como você gozava no meu pau —
provocou-me, falando alto para que todos escutassem.
— Então você mentiu. — Sobrepus a sua voz, atraindo mais atenção.
— A verdade é que eu nunca gozei com você, Cristian Michell!
— O que pensa que está fazendo sua vagabunda? — alterou-se, e
tentou me calar.
— Cristian é um fraco na cama, não sabe onde fica... — Não
consegui terminar de falar, pois um tapa acertou meu rosto em cheio.
Cambaleei para trás, respirando descompassadamente, meu rosto
ardendo, a raiva inflamando dentro de mim. Com a força do golpe, acabei
cortando o lábio, passei a língua sobre o sangue, abrindo um sorriso de lado,
tão irônico quanto o dele. A ironia era que minha avó uma vez me disse, que
se um homem levanta a mão para você apenas uma vez, e mesmo que não
conclua a agressão naquele momento, em uma segunda vez ele te bateria.
Disse-me isso justamente após presenciar uma discussão entre mim e
Cristian. Ela tinha razão.
Reprimi a raiva, a dor e as perdas por tempo demais, não deixaria
que um cretino como Cristian Michell humilhar, envergonhar, muito menos
me bater. Ergui o olhar, enchendo-me de coragem, sem pensar nas
consequências, avancei sobre ele. Minhas unhas enfiaram-se em sua carne,
rasgando a pele, fazendo-o gritar, não deixaria que me desse aquele tapa e
saísse sem receber o troco. Bati minha cabeça em seu nariz machucado,
desejando fazer um estrago maior para que ficasse o máximo de tempo
possível no hospital, talvez, quando saísse, tivesse um pouco de decência e
não voltasse a me importunar.
Como se tudo passasse em câmera lenta, fui tirada, senti como sua
pele ficou sob as minhas unhas, que mesmo curtas fizeram um estrago no seu
rosto. Todos olhavam para mim como se eu fosse a errada, um animal
arredio e agressivo. Meu coração batia acelerado, estava nervosa, com
raiva, mas no fundo satisfeita. Um dos seguranças da academia me arrastou
para um canto e me manteve ali por um tempo, enquanto ajudavam Cristian,
ele não estava tão ruim assim, só gostava de se fazer de coitado.
Idiota! Como pude me envolver como um cara desse tipo? Como fui
tão cega por tanto tempo?
Ouvi o som de sirenes, e como se estivéssemos em um filme de ação,
vi quando dois policiais entraram pelo corredor, esperei que fossem até
Cristian e o levassem, mas fui surpreendida quando vieram em minha
direção. Fiquei de pé, pronta para declarar em alto e bom som que ele havia
me agredido, só que não pude. Como uma criminosa, fui algemada, enquanto
eles ditavam meus direitos. A vida era assim, pelo menos para pessoas sem
poder ou status, eles agiam primeiro para depois perguntar, entre um pobre e
um rico, o lado mais fraco sempre seria o culpado. Bom, talvez eu fosse.

Eu estava pronto para matar Cristian, e o faria assim que tivesse a


chance. Aquele filho da puta, não satisfeito em me provocar, foi atrás de Liz.
Eu deveria ter previsto, tinha que ter ficado de olho nisso. Enquanto eu batia
os pés de forma impaciente, sentado em um banco da delegacia, ouvia minha
mãe falar com o advogado da nossa família. Meu pai veio com a gente,
sendo mais controlado do que Freda, ele conversava com o delegado,
tentando entender o que havia acontecido.
— Derek acabou de chegar, está estacionando — minha mãe
declarou, parada à minha frente.
— Graças a Deus! — Fiquei de pé, puxando o capuz do moletom que
cobria minha cabeça. — Quero tirar a Liz o quanto antes daqui.
— Eu disse que essa garota era um problema. — Não perdeu a
chance de alfinetar. — Veja só, pela primeira vez estamos em uma delegacia.
— Não é a minha primeira vez — comentei com acidez. — E se ela
está aqui, é porque nem deram a oportunidade de se defender.
— Ela agrediu o garoto! — minha mãe exclamou, em seguida
abaixou o tom. — Elizabeth Collins é um caso perdido, não vai demorar
muito para arranjar outra confusão.
— Foda-se! — disparei. — Eu não dou a mínima! Liz não teve um
terço das oportunidades que eu tive, se fosse o contrário, eu estaria preso e
não ela.
— Há diferença...
— Você tem razão, eu tenho um sobrenome importante — pontuei
irritado. — Ataquei o mesmo cara diante de uma multidão de pessoas, e saí
de lá ileso.
— Senhora King — o advogado se aproximou, nos interrompendo.
— Derek, preciso que resolva isso o quanto antes e cuide para que
esse assunto não saia daqui.
— Soube que os Michell vão retirar a queixa se houver um pedido de
desculpas formal — explicou e eu balancei a cabeça inconformado.
— Um pedido de desculpas? Você só pode estar de brincadeira! —
Gesticulei apontando para o corredor que levava às salas de interrogatório.
— Eu soube que ele bateu nela, agrediu uma mulher, ela só se defendeu.
— A maioria das testemunhas disseram que viram Elizabeth Collins
atacando Cristian Michell — argumentou, como se não tivesse interesse em
defendê-la, mesmo sendo pago para isso. — Sinto muito, senhor King...
— Por que você não pega essa merda de diploma e faz o seu trabalho
direito? — Eu o encurralei, entrando em seu espaço pessoal. — Eles devem
ter câmeras de segurança no lugar. — Um riso escapou sem humor dos meus
lábios, estava prestes a explodir. — Vou facilitar seu trabalho, você pega o
seu maldito telefone, liga para quem tem que ligar e pede a porra das
imagens!
Meu grito exasperado atraiu atenção de todos, policiais colocaram-
se em alerta, e minha mãe segurou o meu braço, puxando-me para trás, a fim
de me afastar do idiota de terno e gravata.
— Chega, Maxwell, você tem que... — Saí de seu aperto, vendo os
pais de Cristian entrarem pelo saguão da delegacia.
— Acho melhor vocês retirarem essa queixa — ameacei, apontando
o dedo em riste para o senhor Michell. — Eu tenho imagens do seu filho
agredindo a minha namorada, e eu vou espalhar essa merda pelo mundo
inteiro, vou certificar que os pais da noiva dele vejam quem é o genro
maravilhoso que eles estão para receber na família.
— Tire esse dedo da minha cara, garoto! — Preston Michell bradou,
mas não me afastei um milímetro sequer.
— Então segure o seu filho para que ele não se aproxime, ou da
próxima vez vai precisar de uma funerária ao invés de um hospital.
— Está nos ameaçando? — alardeou. — Escutem só, nós fomos
ameaçados!
— Pare com isso, Maxwell. — Minha mãe me afastou, enquanto eu
ria.
— É um aviso, Michell, e o seu prazo começa a contar a partir de
agora — alertei, eu tinha poder suficiente para fazer o que quisesse, assim
como eles, e era bom que soubessem disso. Virando-me para o advogado,
continuei: — Acabei de facilitar o seu trabalho, agora faça alguma coisa.
Ele assentiu incomodado, e saiu para falar com o delegado. Minha
mãe me lançou um olhar repreensivo, que ignorei com prazer. Ninguém
parecia entender aquela merda, ninguém além de mim parecia se importar
com Liz, e isso era o que me deixava com raiva.
Demorou quase uma hora até que o advogado pudesse falar com ela,
graças a influência da minha família e a decisão de recuar dos Michell, Liz
estava liberada. Segui com Derek até a sala de interrogatório, pelo lado de
fora a vi, estava sentada na cadeira, as pernas dobradas, o queixo apoiado
nos joelhos. Seus olhos estavam vermelhos, mas não havia resquícios de
lágrimas em seu rosto, apenas a marca da agressão que o filho da puta
deixou.
— Elizabeth Collins, está liberada — um dos guardas avisou ao
abrir a porta.
Ela se levantou hesitante, esfregando os braços, devia estar com frio,
usava apenas sua roupa de ballet. Esperei que saísse, tirando a minha jaqueta
para poder cobri-la. Ao atravessar a porta, olhou-me, constrangida e
assustada. Não falei nada, somente abri os braços para recebê-la, nunca a
reprovaria, ou julgaria, para Liz eu só tinha amor para dar, nada que fizesse
me faria agir de outra forma.
— Me desculpe — sussurrou, aninhando-se contra o meu peito,
enquanto a cobria com a minha jaqueta. — Eu perdi o controle, fiquei com
raiva.
Eu entendia bem sobre a raiva e perda de controle.
— Está tudo bem, meu amor. — Afaguei seu cabelo, beijando sua
cabeça. — Vamos para casa.
— Eu quero ir para minha casa — revelou, pegando-me
desprevenido. — Já trouxe problemas demais para sua família, é melhor...
— Vou com você — afirmei, não me importava, o lugar só queria
ficar com ela.
— Max, a sua mãe... — Ela afastou a cabeça, inclinando-se para o
lado olhando para um ponto atrás de mim, reafirmando. — Não quero trazer
problemas.
— Você não traz problema nenhum. — Abracei-a com mais força,
queria que sentisse o quanto eu a amava e o quanto era importante para mim,
nada me faria recuar. — Vou estar onde você estiver.
Liz assentiu, ergueu o queixo fino, e colou seus lábios nos meus. Com
os olhos abertos, nos beijamos, fitando um ao outro, vendo ali nossas
vulnerabilidades, medos, e o amor presente o tempo todo. Mesmo que ela
ainda não tivesse me dito, eu sabia, não precisava das palavras, somente que
ela estivesse comigo.
— Vamos indo? — Minha mãe nos interrompeu, tocando em meu
ombro.
— Nós vamos para a casa da Liz — informei, logo ela me olhou
alarmada.
— O melhor é...
— Mãe, o melhor é onde a Liz quer estar — interrompi impaciente.
— Elizabeth, por favor, seja racional, ficar na sua casa pode ser
perigoso, se Cristian aparecer, Max e ele entrarem em um confronto não vou
poder ajudar — argumentou para convencê-la.
— Chega, mãe, nós vamos...
— Ela tem razão — Liz concordou, encarando-me. — Enquanto ele
provocar e a gente revidar, sempre seremos os errados, nós só temos que
ignorá-lo.
— Isso mesmo, ótima decisão, Elizabeth — Freda se animou,
afagando as costas de Liz. — Vamos para casa, vocês dois tomam um banho
e descansam, eu cuido de tudo.
— Tem certeza de que quer isso? — indaguei, a última coisa que
queria, era que Liz se sentisse pressionada.
— Tenho, vai ser melhor assim.
Aceitei sua decisão, como aceitaria qualquer outra, envolvi um braço
sobre o seu ombro, certificando-me que estava bem coberta com a jaqueta,
ao passarmos pelo saguão os Michell ainda estavam lá, com o adicional do
filho, Cristian estava em uma das cadeiras, a camisa suja de sangue, mas o
curativo intacto no nariz, havia novas marcas em seu rosto, que foram
causadas por Liz. Esperei que um deles falasse algo, até mesmo uma
piadinha vindo de Cristian, mas todos se mantiveram em silêncio, olhei para
Preston e pisquei, acho que meu recado foi o suficiente para fazê-los recuar.
O quarto de Max se tornou meu novo lugar seguro, ali eu dormia com
tranquilidade, seus braços envoltos em mim, sua boca beijando meu
pescoço, com seu cheiro embriagando-me a noite toda. Era a definição de
felicidade. Quando entramos, fui direto para o banho, ele entrou comigo, mas
não houve nada sexual, apenas carinho, Max me ensaboou com delicadeza, e
eu retribuí, aproveitando para tocar seu corpo nu. Imaginei como ele ficaria
com o passar dos anos, certamente um homem lindo. Deslizei os dedos pelo
abdômen trincado, depois por cima da grande tatuagem de águia que tinha
estampada perto das costelas. Diziam que as tatuagens tinham significados,
só não quis parecer intrometida e perguntar sobre aquilo, poderia não ser
nada, apenas uma tatuagem legal.
Ele enxugou meu cabelo quando fomos para cama, ficamos quietos
por um tempo, eu não sabia bem o que falar, e pelo jeito ele tinha receio de
perguntar, nós acabamos nos entendendo assim, era fácil, descomplicado, e
isso me deixava confortável para me abrir, sem nenhuma pressão, apenas
compreensão.
— Cristian me bateu e eu revidei — confessei, respirando fundo,
acariciando sua mão que estava sobre a minha barriga. — Eu sinto como se
atraísse todos os problemas do mundo, tudo de ruim sempre vem em minha
direção...
— Eu te entendo bem — falou com a voz tranquila, parecia
sonolento, apoiou o cotovelo na cama, inclinando-se para me olhar. —
Parece que as coisas ruins só acontecem com pessoas boas.
— Você passou por coisas ruins? — perguntei semicerrando os
olhos.
— Acho que vai estragar a nossa noite se eu contar. — Beijou minha
testa sorrindo de um jeito sedutor que só ele conseguia.
— Está fugindo do assunto — provoquei querendo saber mais. —
Não imagino o que passou, você parece ter uma vida boa aqui, confesso que
é meio rebelde e cafajeste...
— Era um cafajeste, não sou mais — corrigiu-me com diversão.
— Tudo bem, um ex-cafajeste — continuei sem perder a piada —,
mas você tem uma vida legal, é popular, joga no time de basquete desde o
colegial, vai se formar e ser presidente de uma empresa.
— Se pudesse escolheria o basquete, amo jogar. — Seu rosto se
iluminou ao falar sobre aquilo. — Quando cheguei aqui, era raivoso, fora de
controle, mas assim que fui aceito no time de basquete tudo mudou, tinha
outra coisa para concentrar minhas energias, foi como uma salvação.
— O ballet foi o mesmo pra mim — partilhei, percebendo que
tínhamos aquilo em comum. — Depois que a minha mãe morreu, fiquei
aliviada, parece errado alguém ficar feliz com a morte de outra pessoa, mas
eu fiquei. — Era primeira vez que falava aquilo em voz alta. — Minha vida
era horrível, vivia com fome, sozinha, ela não se importava.
— E as coisas melhoraram quando Abigail chegou?
— Muito, apesar de não ter muito a oferecer, ela fez o que pôde. —
Sorri ao me lembrar dela, minha avó foi a única pessoa a se importar comigo
de verdade. — Me inscreveu em um curso gratuito de ballet infantil, foi aí
que nasceu minha paixão, quando consegui uma bolsa na academia da
madame Madelyn, foi como um sonho.
— Sinto muito dizer, amor, mas na disputa de quem é mais fodido eu
venci — começou a falar deitando com o peito para cima, virou a cabeça
apenas para me olhar. — Antes de ser adotado eu... — Suspirou, como se
tomasse coragem.
— Pode confiar em mim — afirmei segurando seu rosto, depositei
um beijo suave em sua boca e deitei em seu peito, ouvindo seu coração bater
rápido, esperando que se sentisse à vontade para contar.
— Não conheci o meu pai, ele morreu em um acidente quando minha
mãe estava grávida, nós dois vivemos bem por um bom tempo até que ela
encontrou outro marido.
— Ele te travava mal? — perguntei, quando ele fez uma longa pausa,
achei que não fosse querer continuar.
— No começo não, depois que minha mãe engravidou ele começou a
sair muito, voltava sempre bêbado...
— Você tem um irmão? — Fiquei surpresa, mas logo me amaldiçoei
por abrir a boca, se havia, Max não convivia com ele.
— Uma irmã... tive uma irmãzinha, o nome dela era Madison, ela
nasceu quando eu tinha cinco anos — revelou, senti meu coração apertar só
de imaginar o que poderia ter acontecido. — O marido da minha mãe bebia
demais, perdia no jogo e descontava sua raiva em casa. — Sua voz
embargou, e ele pigarreou, na tentativa de se recompor. — Todos os dias era
o mesmo inferno, ele chegava e começa a bater na minha mãe, Madison
chorava assustada e ele furioso partia pra cima dela e eu...
— Chega, não precisa falar mais. — Meus olhos marejaram,
deduzindo o que havia acontecido e como aquilo machucava Max.
— Eu tinha que ter feito algo a tempo, mas fiquei com medo... —
declarou em um fio de voz, cheio de dor, se continha para não chorar. — Ele
me batia e eu deixava, batia nelas e eu não fazia nada, todo dia era assim.
— Você não podia fazer nada, era uma criança — falei e ele negou.
— Já tinha dez anos, podia ter feito mais — lamentou com tristeza.
— E quando decidi fazer era tarde demais, ele chegou como das outras
vezes, xingou e quebrou tudo ao redor, ameaçou matar todos nós, trancou a
porta dizendo que incendiaria a casa.
— Meu Deus, Max...
— Ele bateu primeiro na minha mãe, e quando partiu pra cima de
Madison eu peguei um taco de basquete, mas demorei a reagir, sentia o medo
em cada parte do meu corpo, me paralisava. — Respirou fundo, estava
tenso, era difícil contar aquilo. — Quando finalmente tomei coragem, me
enchi de raiva, bati com o taco na cabeça daquele filho da puta até ele
apagar... Merda!
Max se sentou me tirando do peito, nervoso, tremia ao levar as mãos
ao rosto para limpar as lágrimas. Parecia não querer demonstrar aquela
vulnerabilidade, eu entendia bem como era se sentir daquele jeito, chorar
por aquilo nos fazia voltar ao passado, e falar sobre os traumas era o mesmo
que reviver tudo outra vez.
— Fica calmo. — Sentei em seu colo, envolvendo-o com meus
braços. — Olha pra mim, Max — insisti, enquanto ele negava, balançando a
cabeça. — Eu te amo. — Sorri em meio às lágrimas, era um péssimo
momento para declarações, senti que precisava dizer, ele parou, com a
respiração descompassada, rosto banhado em lágrimas e surpreso. — Amo
você, porque sei que é uma boa pessoa, e sei que tudo o que aconteceu não
foi sua culpa.
— Se eu tivesse agido um pouco antes, Liz, só um pouco... —
Encostou o rosto no meu peito e soluçou, chorando em meus braços. — Eu
fiquei quase dois dias preso naquela casa com os três mortos, eu sentia o
cheiro da morte me perseguindo, mal podia olhar para o corpo da minha
irmã naquele chão...
— Eu sinto muito. — Beijei sua cabeça, tentando confortá-lo. — Não
consigo imaginar como foi passar por isso, mas você não teve culpa, Max,
precisa entender isso, você era só uma criança.
— Ela nunca fez nada, minha mãe nunca fez nada! — exclamou com
raiva. — Nós fomos negligenciados, acho que se importava mais em agradar
o marido do que proteger os próprios filhos.
— Minha mãe também era assim, preferia gastar o que tinha em
drogas do que alimentar a própria filha — disse, levantando seu rosto para
que me encarasse. — Sabe o que isso faz de nós dois?
— Dois fodidos? — Max riu, e dessa vez fui eu quem sequei suas
lágrimas.
— Dois sobreviventes, e sobreviver exige força, Maxwell King, se
estamos aqui é porque somos fortes — declarei, depositando um beijo em
seus lábios.
— Você me faz forte, Liz. — Retribuiu meu beijo, deslizando as
mãos para os meus quadris. — Diz outra vez.
— O quê? — Franzi o cenho fingindo não saber do que falava.
— Diz outra vez que me ama, que sou o homem da sua vida e que
vamos casar assim que eu me formar — pediu, atribuindo mais coisas do que
eu tinha dito.
— Eu te amo, Max. — Distribuí beijos no seu rosto, repetindo as
palavras.
— Preciso de mais — insistiu.
— Você é o homem da minha vida, satisfeito?
— Vai se casar comigo? — perguntou com diversão, tentei sair de
cima dele, mas não deixou.
— Um dia eu vou...
— Um dia? Não, eu quero data — exigiu, puxando-me, fazendo com
que eu caísse completamente sobre o seu corpo. — Quero que seja minha
pra sempre.
— Eu sou sua, Max — declarei apaixonada. — E cada dia que passa
pertenço ainda mais a você, nada vai ser capaz de mudar o que eu sinto, e um
papel não vai me fazer mais sua do que já sou.
— Você é mais incrível do que imaginei. — Seu sorriso agora era
largo, os olhos brilharam felizes, e as sombras do passado se esconderam.
— Eu te amo demais, prometo que será a mulher mais feliz desse mundo.
— Promete é? — Arqueei as sobrancelhas, fingindo duvidar.
— Prometo, e vou começar agora. — Virou nossos corpos em um
único movimento, ficando por cima. — Abra as pernas para mim.
Apertei os lábios animada, e fiz o que mandou, era um prazer
obedecer a esse tipo de ordem, e sem me preocupar com mais nada, deixei
que fizesse amor comigo, daquele jeito gostoso, enquanto me beijava e dizia
o quanto me amava.

As coisas estavam ficando cada vez mais difíceis na casa dos King,
meu relacionamento com Max era a única coisa boa de tudo, os dias que
passamos juntos em seu quarto, fazendo amor e jogando conversa fora se
tornaram um ótimo refúgio, mas eu não podia ficar ali, mesmo com a
crescente tensão que Cristian nos causava, optei por voltar para minha casa.
Ele nunca mais nos procurou, quando o encontrávamos em algum lugar,
simplesmente nos ignorava, isso foi o que me motivou a voltar, não havia
motivos para continuar morando com Max, no entanto, Freda insistiu em me
ter sob o seu domínio.
Ela era uma mulher decidida, que gostava de ter o controle sobre
tudo, inclusive sobre mim, não que me forçasse a nada, mas deixava claro
que se quisesse me enquadrar no mundo em que eles viviam, deveria seguir
seus conselhos. Eu tentava ao máximo me ajustar, principalmente porque
pensava na ideia de ter um futuro com Max.
Depois que nos abrimos um com outro, revelando nossas dores e
traumas, ficamos mais íntimos, nossa conexão mais forte, e isso era algo que
eu não queria estragar, pela primeira vez sabia o que era amar e ser amada,
ter alguém que se importava comigo, e não estava apenas atrás de um sexo
fácil.
Ouvi um carro se aproximando, e logo estacionou em frente à minha
casa, olhei através da janela, e pelo emblema cromado imaginei que fosse
Max, mas aquele não era o carro dele. Não demorou para que Freda saísse,
carregando consigo sacolas de uma das lojas mais conhecidas do país, sabia
que o que estivesse ali dentro era para mim. Nos últimos dias ela vinha
frisando o quanto era importante estarmos no evento em que anunciaria
formalmente sua candidatura, e eu estava inclusa naquilo, até me pediu fotos
para inserir em um slide formal da família King. Outra vez não me senti
confortável com aquilo, mas cedi, a fim de evitar conflitos.
— Elizabeth, que bom que te encontrei em casa. — Sorriu diante da
porta aberta, olhando tudo antes de entrar, era a primeira vez que pisava ali.
— Eu estava de saída, Freda, tenho que ir para o ballet — comentei,
tentando não soar deselegante.
— Hoje vai faltar — afirmou como se estivesse decidido. —
Precisamos organizar tudo para o evento da minha candidatura, quero que...
— Espera um pouco. — Estendi uma mão, fazendo-a parar, quando já
colocava tudo sobre a minha pequena mesa. — Não posso faltar ao ballet,
isso é importante pra mim, algo sério, não hobby.
— Então terá que decidir o que é mais importante. — Foi direta,
direcionando-me um olhar afiado. — Maxwell faz planos para se casar com
você, ele vai abrir mão do basquete para assumir a empresa porque é algo
seguro, sabe que só assim vai poder cuidar da família que quer criar.
— Mas não vamos nos casar agora, eu ainda...
— Entenda uma coisa, Elizabeth, isso não é sobre você e sim sobre o
meu filho — alterou-se, dizendo em um tom mordaz. — Maxwell vai ser um
homem poderoso, e precisa de uma mulher à sua altura, alguém que seja um
suporte, não um problema.
Um suporte? Era isso que eu me tornaria?
— Freda, acho que está exagerando — tentei ser razoável. — Amo
seu filho e sei que em algum momento nossa relação ficará mais séria, mas
não vejo como o ballet será um problema e não tem motivos para que eu
mude a minha vida para poder estar com ele.
— Sabe qual foi a primeira coisa que pensei quando Max me disse
que estava com você?
— Não faço ideia — respondi com ironia.
— Que isso não duraria, e acertei. — Deu de ombros, deixando claro
que não se importava. — Então acho que vou esperar até que acabe e ele
encontre alguém que queira algo sério.
— Meu Deus! — Andei em círculos sem acreditar no que ouvia. —
Você não pode resumir o que eu sinto pelo Max apenas pelas minhas
escolhas...
— Suas escolhas estragam a vida dele — acusou irritada. — Desde
que vocês estão juntos ele ficou mais agressivo, fora de controle, as notas
dele despencaram, sabia que ele tem duas pendências e se não resolver vai
perder o diploma?
— Eu não fazia ideia...
— Imagino que não saiba que Max teve que se humilhar para os
Michell apenas para que eles retirassem a queixa contra você — revelou,
deixando-me mais surpresa. — Agora além de toda essa confusão, teremos
que rezar para que eles aceitem e não processem a nossa família por isso.
— Freda, eu não fazia ideia — gaguejei, sem saber o que dizer. —
Vou resolver isso, vou falar com o Cristian e consertar as coisas...
— Se quer fazer algo útil de verdade, me escute. — Segurou meus
braços, olhando-me com seriedade. — Precisa escolher o que quer, se ama o
meu filho vai ter que mudar, se adequar para estar à altura dele.
— O Max me ama assim...
— Ele te ama agora que é jovem e bobo, mas quando você o fizer
passar vergonha diante de sócios importantes, usando esse tipo de roupa. —
Olhou-me com nojo. — Ou deixar de estar ao lado dele em grandes eventos
apenas para dançar em uma academia barata. — Suspirou dramaticamente.
— Esse amor vai acabar, Elizabeth, e sobrará apenas arrependimento, magoa
e no fim se tornará ódio.
— Não acredito nisso — neguei, mas no fundo refletia cada palavra.
— Então olhe para o futuro Maxwell King, um grande empresário,
que tipo de mulher imagina ao lado dele? — indagou, pressionando-me. —
Se ama o meu filho como diz que ama, vai fazer isso direito.
— Está dizendo que preciso largar o ballet? — Engoli em seco, as
palavras amargando como fel na minha boca.
— Você pode dançar, mas sua prioridade será outra. — Abriu as
sacolas tirando as peças de dentro. — Aqui tem três modelos para você
escolher, no dia do anúncio da minha candidatura meus filhos vão falar como
foi viver em orfanatos — continuou, deixando-me enojada. — Quero que
você dê um discurso dizendo como é difícil a vida desse lado da cidade,
como prefeita de River Lake vou cuidar para que o sistema melhore, e
ninguém melhor do que a minha família para falar sobre isso.
— Não sou boa com discursos. — Engoli o orgulho, sem tomar uma
decisão, mas pensando sobre aquilo.
— Vai se sair bem, pense no futuro bom que terá ao lado do meu
filho. — Olhou novamente para minha casa, sem esconder o nojo que sentia.
— Você vai sair ganhando, pense nisso.
Sem dizer mais nada, deu-me as costas e saiu. Olhei para os vestidos
sobre a mesa e fitei o lugar onde eu morava, certamente aquelas peças
valiam mais do que tudo que havia na minha casa. Puxei uma cadeira,
sentando-me para poder digerir tudo o que escutei, amava Max, na verdade,
nunca amei um homem antes dele, o que vivi com Cristian não se comparava,
mas não tinha certeza se seríamos bons juntos.
Como me adequaria ao seu mundo? Quantos mais problemas eu iria
causar para ele? O quanto o nosso amor suportaria? Essas eram respostas
que só o tempo daria, só tinha que ter coragem o suficiente para esperar e
saber se no final, Max me amaria ou odiaria. Eu tinha dito a ele que
sobreviver exigia força, mas agora sabia que amar exigia coragem.
Tudo parecia começar a dar certo na minha vida com Liz ao meu lado
não havia um só dia ruim, mesmo com toda pressão dos meus pais para que
eu assumisse a King. Eu tive uma conversa séria com os meus pais, depois
que finalmente me abri com Liz e revelei sobre o meu passado, senti-me
mais seguro, sem aquele peso que me atormentava. Ela me enchia de
coragem, tendo-a ao meu lado, sabia que poderia fazer tudo. Agora eu só
precisava provar para Freda e Lucius King que conseguiria um clube
profissional, o último jogo da temporada seria minha chance de ouro.
Tentei me manter focado no que era importante e dar o melhor de
mim, ainda que existisse toda a perturbação com Cristian, e a pressão dos
meus pais, conseguia me manter centrado e conduzir como capitão do time
inteiro. Acho que nunca estive melhor, e Liz era a razão de toda essa energia.
Virei-me quando ouvi a porta do banheiro ser aberta, meu coração sofreu um
solavanco ao vê-la caminhar em minha direção. Tão diferente, elegante, ao
mesmo tempo linda, esplendorosa. Usava um vestido longo, vermelho, com
mangas longas, desci o olhar minuciosamente, deparando-me com uma fenda
não muito reveladora, no entanto, podia ver a pele macia e o joelho que eu
adorava morder.
Enchi-me de orgulho enquanto a admirava, era a primeira vez que
estaríamos juntos em um evento desse porte. Geralmente eu odiava todos,
mas esse seria especial, ela ficaria ao meu lado, todos veriam e não
restariam mais dúvidas que nós pertencíamos um ao outro. Dei alguns passos
cortando a distância, levei uma mão ao pescoço fino, livre do cabelo, que
estava preso em lindo rabo de cavalo. Isso me fez ter pensamentos sujos, só
não diria a ela, ou certamente não sairíamos do quarto, eu devoraria aquela
garota a noite inteira, por isso me contive.
— Maravilhosa — sussurrei, beijando suavemente seus lábios
cobertos por um batom da mesma cor do vestido. — A mulher mais linda do
mundo, tenho certeza.
— Não sabia que Maxwell King era tão galante. — Ela riu, corando
com timidez, por receber um elogio. — Gostou mesmo de me ver assim?
— Gosto de ver você de qualquer jeito, principalmente nua —
declarei com malícia, tocando seu pescoço com o nariz, inspirando seu
perfume. — Não me importa a roupa que veste, Liz, não entendeu que sou
louco por você de todas as formas possíveis.
— Acho que está tentando me seduzir.
— Estou conseguindo? — perguntei e ela assentiu meneando a
cabeça.
— Sabe que sim. — Deslizou as mãos sobre o meu peito, ajustando a
gravata. — Estou nervosa.
— Não precisa ficar. — Beijei sua testa com carinho, percebendo
que estava muito tensa. — Eu também não gosto de vestir esse tipo de roupa
e socializar com toda aquela gente, mas preciso fazer...
— Eu sei — me interrompeu, desviando o olhar.
— Não sabe, Liz — corrigi para que entendesse que não tinha que
fazer nada que não quisesse. — Eu tenho que estar aqui, é a minha família,
mas se isso não te deixa confortável...
— Quero estar com você, Max, só não gosto muito dessa coisa toda.
— Quer trocar de roupa? — indaguei com a voz mansa. — Pode
fazer o que quiser, Liz, usar o que quiser, eu sei que a minha mãe deve ter
pedido para que usasse esse vestido.
— Eu modifiquei, antes não tinha a fenda, nem tanto decote —
revelou com um sorriso travesso. — Além do mais, que roupa usaria?
— Ficou linda assim e se quisesse descer de moletom não teria
problema — garanti, ela gargalhou.
— Sua mãe teria um ataque antes que pudesse assumir qualquer
cargo.
— Quer descer de moletom? Usar um dos seus vestidos? Eu não me
importo, Liz, só quero que esteja feliz.
— Eu estou — afirmou e eu acreditei, seu olhar tão apaixonado me
faria acreditar em qualquer coisa. — Vamos descer?
— Quero te contar uma coisa antes. — Segurei suas mãos, e a levei
até a cama para que pudesse se sentar.
— Está me deixando nervosa, o que foi? — perguntou impaciente.
— Depois da nossa conversa aquela noite, falei com os meus pais
sobre seguir com o basquete profissionalmente — revelei e seu sorriso se
abriu. — Ainda não é nada certo, mas se conseguir atrair o olheiro de um
clube importante no último jogo, vou poder escolher entre a empresa e jogar.
— Isso é incrível. — Envolveu os braços ao redor do meu pescoço e
beijou meu rosto. — Deve escolher o que te faz feliz, se quer jogar então
faça isso.
— Eu sei, só fico mal porque não queria decepcionar os meus pais
— confessei pensativo. — Depois de tudo o que eles fizeram por mim, sinto
que estou sendo ingrato e egoísta.
— O que eles fizeram por você foi porque te amavam, e não uma
troca — argumentou, franzindo o cenho. — Então vão entender.
— Bom, eu só espero arrasar nesse jogo. — Fiquei de pé, trazendo-a
para os meus braços. — Ainda tenho algumas obrigações com o estágio, eles
querem que eu me forme independente da profissão que vou seguir, então vou
ter que me desdobrar para conciliar tudo.
— Se precisar de ajuda eu estou aqui.
— Vou precisar mesmo. — Mordi seu queixo e ela gemeu baixinho.
— Vou precisar de muita ajuda, Liz...
— Você é tão safado, Maxwell King. — Deu um tapa em meu ombro,
rindo das minhas palavras em duplo sentido.
— Só com você, meu amor. — Beijei outra vez sua boca, guiando-a
para fora do quarto.

O trajeto ao salão onde o evento aconteceria foi tranquilo, meus pais


e Ashley já estavam lá quando chegamos, como minha mãe queria ter certeza
de que tudo estaria nada menos que perfeito, saiu mais cedo com eles. O
lugar estava parcialmente cheio quando chegamos, pessoas se aglomerando
pelo espaço com taças de champanhe e os diversos drinks servidos. Apoiei
uma mão nas costas de Liz, como mandava o protocolo, ela ainda estava
nervosa, o corpo tenso, mal sabia o que fazer com as mãos.
— Fique calma, não vou te deixar sozinha — sussurrei em seu
ouvido, ficando mais próximo dela. — Olha ali, minha mãe e Ashley estão
vindo.
— Agora estou mais nervosa. — Respirou fundo, abrindo um sorriso
engessado.
— Liz, está linda! — Ashley elogiou e Liz se curvou para abraçá-la.
— Você também está maravilhosa, Ashley.
— Vejo que modificou o vestido, Elizabeth. — Minha mãe também a
cumprimentou com um rápido abraço. — Ficou ótimo.
— Tinha ficado um pouco grande, e não quis incomodar com isso —
mentiu descaradamente, apertei os lábios segurando-me para não rir.
— Não seria um problema, querida — Freda respondeu sorrindo,
então se dirigiu a mim. — Max, você precisa conversar com os investidores
da King, eles têm um projeto incrível para a empresa, e com você no
comando tenho certeza de que em alguns anos vamos alcançar lugares
inimagináveis.
— Tudo bem, mãe, vou até lá — concordei sem discutir, apesar de
ter meus próprios planos para o basquete, não ignoraria a empresa da minha
família.
Minha mãe se afastou com o sorriso estampado no rosto que duraria
a noite inteira, indo ao encontro de um grupo de pessoas importantes que
havia acabado de chegar. Ashley foi arrastada com ela, para ser apresentada
ao máximo de pessoas possíveis, quando era mais novo, Freda e Lucius,
faziam o mesmo comigo nos eventos, o que era uma merda.
— Quer se sentar? — perguntei pegando uma taça de champanhe,
enquanto Liz aceitou apenas água.
— Melhor você ir falar logo com os engravatados, eu vou ficar bem
aqui — respondeu, deixando-me decepcionado, não queria ficar longe dela.
— Não quer ir comigo?
— Acho que vou te atrapalhar, Max... — respondeu hesitante,
desviando o olhar outra vez.
— Quero você ao meu lado, já disse que nunca me atrapalha —
argumentei, segurando seu queixo com a ponta dos dedos, fazendo-a me
encarar. — E é bom para que conheçam a futura senhora King.
— Então vamos. — Deu um longo gole em sua água, fazendo uma
cara engraçada. — Até a água daqui é diferente. Será que colocam algo
dentro?
— Deve ser água aromatizada. — Peguei seu copo olhando dentro e
vi duas pequenas rodelas de laranja no fundo. — No fundo tem laranja.
— Coisa de gente rica. — Ela riu, soltando-se mais enquanto
caminhávamos até os investidores.
— Maxwell, meu rapaz! — Richard Taylor, me cumprimentou, eu o
conheci há poucas semanas, quando comecei a estagiar na King. —
Finalmente vou conhecer a adorável Elizabeth Collins. — Soltou a minha
mão e segurou a de Liz, levando-as aos lábios.
— Esse é Richard Taylor, investidor de empreendimentos da King —
falei para Liz, que tenta não se mostrar confusa.
— É um prazer senhor, Taylor. — Sorriu gentilmente.
— Apenas Richard, minha jovem — cordial, puxou a jovem esposa
para apresentá-la. — Essa é a minha esposa Aida.
— Prazer em conhecê-la, Aida — cumprimentei, vendo que Liz ficou
muda sob o olhar avaliador da mulher.
— Max, falei com a sua mãe, tenho uma oportunidade incrível para
King. — Richard puxou uma cadeira nos convidando para sentar à sua mesa.
— Posso roubar uns minutinhos do seu tempo?
— Claro, não vai ser incômodo algum. — Arrastei uma cadeira para
que Liz se sentasse, e tomei o meu lugar.
Ficamos quase uma hora inteira ouvindo Richard falar sobre o
projeto que tinha, era algo grande, queria expandir a King para outras
cidades. O nosso negócio era fácil naquela questão de adaptação, comprar
imóveis precários, destruir ou reformar, para no fim vender algo com um
custo muito maior do que o adquirido, mas o que Richard queria era elevar o
patamar e atingir níveis internacionais, em vez de imóveis precários,
empresas falidas. Isso mudaria totalmente o conceito da King, e demandaria
muito trabalho.
Com a minha mãe, que era a atual presidente da empresa, deixando o
cargo para entrar na política, isso ficaria nas minhas mãos. Meu pai
trabalhava na King, fazia parte do conselho, no entanto, era Freda que
administrava tudo, e me preparou para ocupar seu lugar. O único problema
era que eu não tinha um pingo de vontade de ocupar essa cadeira, só me via
nas quadras, fazendo o que gostava, jogar.

— Parece que não escutou nada do que eu disse. — A voz ácida de


Freda, surgiu atrás de mim, aproveitando o único momento em que eu estava
sozinha no banheiro. — Como acha que os empresários presentes aqui estão
olhando para você? — Foi uma pergunta retórica, pois logo respondeu: —
Como uma vagabunda!
— Freda, eu estou lutando para não perder a paciência com você. —
Sequei as mãos, encarando-a com irritação. — O vestido ficou ótimo, você
mesma disse.
— É claro, não queria causar uma cena e envergonhar meu filho —
rebateu segurando o tecido abrindo a fenda. — A cada passo que dá, os
homens olham para as suas pernas, até mesmo Lucius ficou olhando quando
se sentou.
— Pelo amor de Deus! São apenas pernas, Freda! — Gesticulei
batendo na minha coxa. — Não tenho culpa se o seu marido e os outros
homens não tenham um pingo de decência para respeitar as mulheres
presentes.
— Acontece que se você quer ser uma King, terá que se comportar
como uma! — disparou, e fiquei por um fio, com vontade de gritar que não
queria a merda daquele sobrenome. — Diminua esse batom, assim que sair
vai dar o seu discurso.
— Eu não — me neguei, aquilo era demais. — Não quero.
— Você não entendeu. — Aproximou-se, encurralando-me entre ela e
a parede. — Não tem escolha, você disse que faria, aceitou estar aqui pelo
Max, se não fizer vai envergonhá-lo.
— Vou explicar a situação e ele vai entender — enfrentei com
coragem, não iria mais recuar.
— Você é quem não entendeu, Elizabeth, aquela é a minha casa,
Maxwell é meu filho, sou eu quem detém o poder — desdenhou com um
sorriso maldoso. — Vamos ver em quem ele vai acreditar, na mãe que o tirou
de um verdadeiro inferno ou na vagabunda que trepava com o melhor amigo
dele!
— Sua vaca! — bradei, acertando um tapa em seu rosto, a marca
vermelha se formou no mesmo instante. — Se me chamar de vagabunda outra
vez não vai ser só um tapa que vai receber.
— Isso é ótimo, só mostra o quanto você é baixa e agressiva. — Seus
olhos brilharam, achando-se vitoriosa. — Vai ser bom para o Max ver que
você não é a mulher ideal para ele, lá fora está cheio de garotas melhores
que você, quando sair da vida do meu filho será substituída com facilidade.
Saiu do banheiro batendo os saltos, cheia de si. Meus olhos se
encheram de lágrimas, senti o nó mais firme na minha garganta. Fitei meu
reflexo no espelho, percebendo que aquela não era eu. Tornei-me uma fraca,
alguém que aceitava ser pisada, humilhada, e não reagia. Uma garota
solitária, sem família, ninguém que lutasse por mim, que me apoiasse ou
defendesse, sempre foi assim, mas agora esse peso parecia maior. A única
pessoa que tinha era Max, mas se contasse tudo aquilo o faria ficar dividido,
apesar de tudo, Freda era sua mãe, e tinha razão quando dizia que o havia
tirado de um inferno, por causa dela tinha uma vida perfeita, enquanto eu, o
que podia oferecer? Só trouxe problemas e preocupações.
Que grande merda!
Justo quando achei que havia encontrado a pessoa com quem queria
passar o resto da vida, acontecia isso. Tentei me apegar às coisas que Max
me disse, quando declarou que me amava, que me queria para sempre, que
não se importava como eu me vestia e agia. Mas eu conseguiria aguentar uma
vida calada, suportando sua mãe, aceitando suas escolhas enquanto jogava as
minhas para debaixo do tapete? Dizer aquilo para ele com certeza o
magoaria. Seria o mesmo que o pressionar para escolher entre mim e ela.
Como poderia competir com a sua mãe?
Saí do banheiro às pressas, só queria sair dali. Esbarrei em algumas
pessoas enquanto ia para o mais longe possível, respirando fundo, tentando
recuperar o fôlego, quando senti duas mãos me agarrarem por trás,
segurando-me pelos quadris.
— Liz, o que foi? — Max sussurrou, com a boca perto do meu
ouvido, aquilo era o bastante para me acalmar, amolecer. — Está tudo bem,
meu amor?
— Max... — Virei para encará-lo, sem saber o que dizer.
— Quero chamar a minha família até aqui — Freda falou no
microfone. — Lucius, Maxwell, Ashley e Elizabeth.
Incluir-me era apenas uma de suas ferramentas ardilosas, Max me
olhou, e depois para o palanque onde sua mãe estava. Sabia que ele deveria
estar lá, mas não queria me deixar.
— Está se sentindo bem? — inquiriu com calma, de maneira
carinhosa.
— Estou — menti, apertando as mãos. — Só está um pouco frio,
queria ver se deixou sua jaqueta no carro...
— Ela está — afirmou, olhando-me com preocupação. — Podemos
passar por isso e depois ir até lá pegar, pode ser?
— Claro. — Sorri falsamente, engolindo em seco.
— Vem aqui que eu te esquento por enquanto. — Envolveu-me em
seus braços, levando-nos até onde sua família esperava.
— Como vocês sabem, há muitos anos eu trabalho com crianças e
adolescentes que foram negligenciados. — Ela começou seu discurso
apontando para o telão montado, onde fotos diversas dela e de Lucius com
crianças passavam nos slides. — No meio de tanta tristeza e casos terríveis,
encontrei duas joias raras, Maxwell e Ashley.
— Odeio essas fotos — Max reclamou baixo, apenas para que eu
pudesse ouvir.
Logo surgiram fotos de um menino muito magro, usando roupas
rasgadas, sapatos de pares diferentes, e um olhar perdido, sem esperança.
Depois veio uma garotinha, era Ashley, com as pernas engessadas, como se
tivesse passado por uma recente cirurgia, em outras ela estava em um
orfanato brincando sozinha. Depois das fotos ruins, vieram as que eles
estavam com os King, divertindo-se, usando roupas novas, cheios de
brinquedos e comida ao redor. Eu não podia acreditar que Freda estava
usando a vulnerabilidade do próprio filho para se autopromover.
— Mas casos como esses de negligências estão mais perto do que
pensamos, só precisamos olhar ao redor e ajudar, cuidar para que nossas
crianças e adolescentes tenham todas as oportunidades possíveis. — As
fotos passaram, então uma mulher familiar, caída em uma das calçadas de
River Lake apareceu, desacordada, com um elástico amarrado no braço e
uma seringa na mão. — Mães viciadas não podem se ajudar, muito menos
cuidar de seus filhos.
Olhei ao redor para saber se todos reconheciam aquela mulher, os
mais novos não, no entanto, os moradores mais antigos da cidade sabiam
quem ela era, e olhavam diretamente para mim. Fitei Max, que parecia
alheio para o que aquela fotografia significava, ele não lembrava da minha
mãe, e eu não mostrava as fotos que tinha dela para ninguém.
— Elizabeth Collins é prova do quanto o sistema pode prejudicar
uma família. — Dessa vez todos olharam para mim, uma sequências de fotos
passou no telão, eu ainda criança, praticamente desnutrida, com o mesmo
olhar perdido que o de Max. — Liz, como nós carinhosamente a chamamos,
sofreu com uma mãe viciada em drogas, mas com muito esforço ela vem
lutando para ultrapassar as barreiras impostas pela vida.
Na foto seguinte eu estava de pé em frente à minha casa, ao lado do
corpo da minha mãe que era retirado em um saco, enquanto eu continuava
inerte a tudo o que acontecia.
— Merda! — Max rosnou baixo, percebendo o que aquilo
significava. — Eu juro que não sabia sobre essas fotos, Liz.
— Max, eu preciso ir... — gaguejei, começando a ficar nervosa.
— Liz é o tipo de garota com um histórico problemático,
negligenciada teve que fazer o que foi preciso para sobreviver — Freda
continuou, e eu só queria ir até ela e arrancar aquela merda de microfone de
sua mão. — Não vamos deixar que nossa cidade seja povoada por outras
crianças como Elizabeth Collins, vamos mudar agora para que o futuro seja
feliz para nossas crianças. — No último slide o nome King surgiu com uma
foto cheia de crianças felizes. — Estamos fundando o Instituto King, para
crianças e adolescentes que precisam de ajuda.
— Eu vou embora, vou para a minha casa — avisei, minha boca
amargando como fel. — Não posso aceitar ser usada dessa maneira, isso não
é pra mim, Max.
— Me desculpa, eu juro que não sabia dessas fotos... — garantiu
aflito. — A minha mãe quer ajudar as pessoas e às vezes extrapola.
— Ela está usando você e a sua irmã para se promover — falei,
tentando manter a minha voz baixa. — Max, eu sinto muito, mas a sua mãe só
pensa nela, fez tudo isso para ter apoio para a candidatura.
— Eu sei que está com raiva, e tem razão, vamos conversar e eu vou
fazê-la se desculpar...
— Não precisa, eu só quero sair daqui.
— Liz, eu vou com você...
— Agora vamos ouvir o meu filho, Maxwell King — Freda
anunciou. — Ele vai mostrar como esse projeto é importante para nossas
crianças.
Todos aplaudiram com fervor. Soltei-me dos braços de Max, que me
olhava cheio de preocupação, mas também havia indecisão, eu não queria
fazê-lo escolher, ele tinha obrigação com a sua família, seu pai o tirou de
perto de mim, levando para onde Freda estava. Desci do palanque formado
sentindo que estava prestes a vomitar. Outra vez esbarrei nos convidados,
caminhando em direção à saída. Aquilo era demais, não podia continuar ali.
Não era o meu lugar, nunca seria, e por mais que amasse Max, sabia que
nunca conseguiríamos conciliar nossos mundos, principalmente com a sua
mãe ditando as decisões de sua vida. Corri até o carro de Max, e pedi para
que o manobrista o abrisse para pegar a jaqueta, fazia frio, eu precisava
fugir dali, quando peguei o que precisava, procurei o ponto de ônibus mais
próximo. Sentia que morreria se ficasse um só segundo a mais naquele lugar.
Terminei meu discurso com o vômito entalado na garganta, queria
correr atrás de Liz e deixar claro que não sabia daquelas fotos, nem
imaginava que minha mãe teria coragem de colocá-la em uma situação tão
vulnerável. Assim que desci do palanque montado para aquela noite,
procurei ao redor para ver se a encontrava, tentei ir direto para a saída, mas
Freda já estava ao meu lado, enquanto Ashley discursava sobre como era sua
vida como uma adolescente com nanismo.
— Não pode sair agora, Maxwell. — Puxou meu braço, fazendo-me
parar. — Estamos no meio de um evento importante!
— O que fez essa noite foi inadmissível, eu não ligo que use a minha
história para dizer o quanto você é boa...
— Eu usando meus próprios filhos? — Levou uma mão ao peito,
indignada. — Foi Elizabeth que colocou isso na sua cabeça, não foi?
— Você expôs a vida dela para toda a cidade! — bradei, e ela me
arrastou para um dos corredores, a fim de fugir dos olhares curiosos. —
Merda, mãe! Não podia deixar a Liz em paz?
— A sua namorada sabia das fotos, aliás, confirmou que faria um
discurso falando como era crescer em um lar turbulento naquela parte da
cidade!
— Não acredito, se Liz soubesse que colocaria uma foto da mãe dela
morta, não aceitaria — argumentei irritado. — Não reagiria da forma como
reagiu.
— Filho, eu sei que está enfeitiçado por aquela garota...
— Eu a amo — corrigi, repetiria quantas vezes fosse preciso para
que compreendesse que não era algo banal.
— Você está cego, a vulnerabilidade que ela te mostrou fez com que
se lembrasse da sua irmã!
— Não toque nesse assunto, não agora. — Virei de costas, puxando o
ar com força, lutando para controlar a raiva que sentia.
— Tudo bem, me desculpe. — Tocou minhas costas com carinho,
voltando a se aproximar. — Eu só não quero ver o meu filho sendo enganado
e perdendo grandes oportunidades por causa de uma garota.
— Liz não é qualquer garota, mãe. — Voltei a encará-la, olhando
com severidade para ela. — Eu a amo há tanto tempo e agora que tenho a
minha chance você quer estragar isso.
— Não quero estragar — defendeu-se, mas em seguida, voltou a
argumentar: — Só quero que pense com clareza, Elizabeth deu algum indício
de que gostava de você até Cristian Michell deixá-la?
— Ele não o deixou, Cristian a enganou, tinha uma noiva grávida em
outra cidade.
— Você não respondeu à minha pergunta, ela deu ou não algum
indício de que gostava de você? — insistiu, parecia querer me machucar
com aquilo.
— Não. — Engoli em seco, o maldito orgulho rasgando a minha
garganta.
— Então eu acho que ela perdeu uma carta boa e logo arranjou outra.
— Apontou o meu peito. — Dois jovens, ricos, de boa família...
— Acha que ela só se interessaria por mim por interesse?
— Claro que não, vocês são bonitos, charmosos. — As palavras
saíram com uma acidez que não gostei. — Não seria um sacrifício ficar com
um dos dois.
— Está errada, Liz não é esse tipo de garota — defendi com afinco,
não importava o que dissesse ou insinuasse, conhecia a mulher que amava, e
sentia o seu amor por mim queimando na pele.
— Não quero te convencer de nada, filho, nem mesmo te magoar com
isso. — Abraçou-me, falando com carinho. — Vou deixar que decida o seu
destino, quer ir atrás dela, vá. — Afastou-se, olhando dentro dos meus olhos.
— Só não quero que se afaste de mim.
— Você é a minha mãe, não vou me afastar de você a menos que faça
algo de muito ruim para que isso aconteça.
— Apenas se eu reprovar o seu relacionamento com Elizabeth.
— Você reprovar, pode repetir tudo o que disse agora para mim, não
me importo — declarei, segurando a sua mão —, mas nunca faça nada contra
ela, nunca tente nos afastar, se fizer isso nós ficaremos bem.
— Só me preocupo com você, meu filho, não tentaria fazer algo que
te machucasse — afirmou, beijando meu rosto —, mas saiba que sempre vou
estar ao seu lado para qualquer coisa que precisar.
— Eu sei, agora tenho que ir.
Saí deixando-a para trás, meu pai já havia acabado seu discurso, e
tentou saber o que estava acontecendo, mas não perdi tempo tentando
explicar, só queria ir atrás de Liz, saber como estava. Precisava dela para
me acalmar, precisava dela para respirar, queria garantir que nós ainda
existíamos, e o que aconteceu essa noite não era o suficiente para nos
separar.
Ao chegar ao meu carro, o manobrista avisou que Liz tinha passado
por lá, pegou a minha jaqueta e saiu logo em seguida. Não soube dizer se
havia pegado um táxi ou ido em direção ao ponto de ônibus, apenas saiu.
Assumi meu lugar no volante, tirando o terno e a gravata que me sufocava,
deslizei as mãos pelo volante saindo do estacionamento a toda velocidade.
Não sei quanto tempo levei, mas cheguei à casa de Liz muito rápido. Uma
pontada de decepção me atingiu quando as vi as luzes apagadas, no fundo
sabia que estava lá, trancada na escuridão me evitando, prevendo que eu
viria atrás dela. Desci do carro sem me importar com aquela rejeição, Liz
estava chateada, magoada, era natural querer ficar sozinha.
— Liz... — chamei, usando um tom suave para não a assustar. — Sou
eu, amor, abre pra mim.
Sem respostas, dei a volta na casa, indo até a janela do seu quarto,
estava coberta por cortinas, tentei abrir e para o meu desespero estava bem
fechada por dentro. Bati no vidro repetidas vezes na tentativa de que me
ouvisse, sendo ignorado por completo voltei para a porta, dessa vez irritado
por sua teimosia, por tentar me deixar longe quando tudo o que queria era
ficar com ela.
— Merda, Liz! — Soquei a porta com mais força. — Abre, por favor
— supliquei, imploraria de joelhos se fosse preciso. — Vamos conversar,
acertar tudo entre nós...
Cansado, sabia que não abriria aquela merda, poderia muito bem
derrubar a porta e entrar de vez, puxar aquela garota arredia para os meus
braços e mostrar como éramos bons juntos, que ficar longe um do outro não
seria a solução do nosso problema, entretanto, não queria forçá-la a nada, se
não queria me ver, acataria sua decisão, mas não desistiria. Perdi tempo
demais a assistindo ser de outro, agora era a minha vez, minha chance de
fazê-la feliz, e nunca deixaria de tentar provar o quanto a amo, nunca
deixaria de lutar por ela, por nós.

— Vamos conversar, acertar tudo entre nós... — A voz de Max era


tão baixa, aflita, quase cedi.
Encolhi-me na cama, cobrindo a cabeça, enfiando o rosto no
travesseiro para que não me ouvisse chorar, desde que saí daquele lugar as
lágrimas caíam em abundância, lembranças da minha mãe se misturavam
com o momento em que todos me olhavam no evento. As palavras de Freda
voltando com tudo para me atingir, ela parecia saber usar as palavras certas
para me ferir.
— Amor... — sussurrou, tendo a certeza de que eu ouvia. — Sei que
está aí e também sei que está chateada. — Fez uma pausa, rosnado um
palavrão. — Porra, Liz! Eu te amo tanto que não ligo se estou fazendo papel
de idiota sentado do lado de fora da sua casa falando sozinho.
Apertei os lábios prendendo a respiração, quando uma onda de
soluços me tomou. Eu sofria por não abrir, ao mesmo tempo me sentia uma
vadia cruel por ignorá-lo. Era um misto de dor e culpa. Amava o Max com a
mesma intensidade que ele me amava, mas hoje foi a prova que precisava
que não daria certo.
Elizabeth Collins era uma garota bonita, atraía muitos olhares por
onde passava, mas todos a enxergavam como se fosse apenas uma qualquer,
do tipo que servia para ser amante. Uma viciada ou prostituta, até mesmo
uma ladra, sem futuro. Não importava o quanto eu me esforçasse, as pessoas
sempre veriam o pior, minha agressividade e rebeldia não se encaixavam no
mundo dele, eu não me encaixava. Para viver com Max teria de mudar
totalmente quem eu era, mesmo dizendo me amar daquela maneira, que me
aceitava, sabia que não era o bastante. Conflitos surgiriam, certamente traria
muitos problemas para ele e sua família. Não queria que Max tivesse que
escolher, Freda tinha toda razão quando disse que ela o salvou, deu tudo a
ele, amor, proteção, estabilidade, uma vida que qualquer garoto em uma
situação ruim sonharia em ter. Não podia estragar aquilo para Max.
— Me desculpe por te meter nessa confusão que é a minha vida,
nessa família louca que eu arrumei — declarou com a voz triste. —Você me
conhece, eu faço tudo errado, mas depois de você eles são tudo o que eu
tenho, e sei que pode não ser perfeito, só que vou dar um jeito —
argumentou, tentando me convencer. — Juro que vou, conversei com a minha
mãe e não vou deixá-la te magoar, prometo.
Não aguentei e saí da cama, caminhei com cuidado para que não me
ouvisse, parei diante da porta, ouvindo sua respiração descompassada,
estava agitado, os pés batiam no chão em um gesto repetitivo. Toquei a
madeira, e escutei quando ele se moveu, ficando de pé, achei que estivesse
indo embora, mas bateu as palmas das mãos na porta, deve ter se amparando
nela, pois a madeira rangeu.
— Estou indo, meu amor — sua voz era um lamento. Mais lágrimas
caíram por saber que o fazia sofrer —, mas não estou desistindo de nós.
Segurei o choro e a vontade de abrir a porta e me lançar em seus
braços. Fazer isso doeria mais, o amor que sentíamos era forte, no entanto,
não suportaria, chegaria o momento em que as diferenças acabariam com a
gente. Só havia duas opções para aquilo dar certo, eu teria que me diminuir
para caber em sua vida, na sua família, destruindo-me no processo, ou ele
escolheria entre mim e sua mãe, que me odiava, deixava claro que eu não era
uma boa escolha para o seu filho, no fim Max acabaria me odiando.
Esperei até ouvir o carro sair, e quando o fez, desabei, chorando
copiosamente, desesperada, dilacerada por dentro, meu coração parecia ter
sido esmagado. Sofria muito mais por saber que fiz o homem que amava
sofrer do que por tudo o que aconteceu essa noite. Caminhei de volta para
cama, devastada, lembrando dos momentos que vivemos juntos nos últimos
meses, como amei e fui amada, ao mesmo tempo me repreendia por ter
cedido ao que sentia, entreguei-me ao Max sem pensar nas consequências, e
agora elas cobravam seu preço.
Peguei a ficha que Abigail me deu, que estava na minha mesinha de
cabeceira junto com o papel com que continha o número desconhecido, fitei-
os, pensando na possibilidade de usar. Não sabia como meu relacionamento
com Max poderia continuar, e também não fazia ideia de como continuaria
naquela cidade estando tão perto dele, assistindo-o seguir sua vida,
alcançando lugares incríveis, encontrando um novo amor, alguém que o
merecesse de verdade. Só de imaginá-lo com outra me fazia mal, enciumada
guardei tudo na gaveta. Estava sendo idiota, covarde, algo dentro de mim
dizia que não deveria desistir tão fácil, enquanto minha razão repetia que o
melhor era deixá-lo livre, longe de todo caos e destruição que era minha
vida.
No vestiário eu terminava de calçar meu par de tênis surrados, esses
eram os melhores para jogar, nunca entrava na quadra sem eles, me
deixavam confortável, seguro, confiante, no entanto, hoje eu não me sentia
assim. Passei a semana inteira treinando, tentando me concentrar em algo que
não fosse Liz. Desde o evento da minha família que não nos falávamos, não
por falta de tentativas da minha parte. Fui todos os dias à sua casa, liguei
inúmeras vezes, mas entendi que queria espaço, inclusive de mim. Engoli
meu orgulho ferido e dei o que ela precisava, esperaria o tempo que fosse
para digerir toda a merda que aconteceu.
Conseguia entender o que ela sentia, não a julgava, ter um passado
doloroso era o mesmo que ter uma ferida aberta, bastava alguém tocar no
assunto para doer como o inferno, e para Liz, ver as fotos de sua mãe
naquele estado precário, depois de morta, era o mesmo que reviver aqueles
dias. Não sabia como reagiria se estivesse no lugar dela, se visse fotos da
minha mãe e irmã, feridas ou mortas, ver as minhas já me deixava com o
estômago embrulhado.
Em casa, todos pisavam em ovos comigo, principalmente Freda, eu
dei um ultimato a ela, queria que parasse de usar qualquer lembrança minha
ou de Ashley para eventos, mesmo que fossem beneficentes. Exigi que
apagasse qualquer coisa que tivesse sobre Liz em seu computador, e deixei
claro que não deveria pressioná-la com nada, em troca, daria o que sempre
quis, deixaria de lado o basquete e assumiria de vez a King. Não seria fácil
para mim, mas estava disposto a fazê-lo.
Hoje seria meu último jogo, estava feliz, nostálgico, lembrando-me
dos meus primeiros jogos, até mesmo as jogadas em parceria com Cristian
invadiram minha mente. O bastardo era talentoso, tivemos grandes momentos
na quadra, só que diferente dele, eu amava o basquete. Sentado no banco
olhei ao redor, vendo os outros jogadores se preparem, todos estavam
exultantes, animados, acreditando na vitória.
— Não conseguiu falar com ela? — Justin se sentou ao meu lado,
calçando seu tênis.
— Não. — Apoiei os cotovelos no joelho, respirando fundo. —
Acho que foi demais para ela tudo o que aconteceu, mesmo assim, não vou
desistir.
— Talvez ela venha assistir ao jogo hoje, é sua chance de falar com
ela no final.
— Duvido muito que venha. — Meneei a cabeça desanimado. —
Você estava lá com os seus pais, viu o que aconteceu.
— Eles me contaram sobre a mãe dela, mas isso não foi sua culpa,
tenho certeza de que ela vai entender. — Apertou meu ombro em um claro
sinal de companheirismo. — Ânimo cara, é o último jogo!
— O último. — Sorri de lado, tentando me animar. — Vamos lá,
River’s!
O time escutou e logo todos começaram a bradar, fiquei de pé me
unindo a eles, com Justin ao meu lado. A adrenalina tomou conta de mim, eu
estava pronto.
Entramos na quadra enquanto o hino oficial dos River’s ecoava pelos
alto-falantes, as líderes de torcida estavam posicionadas ao lado do mascote
quando tomamos nosso lugar, o lugar estava cheio olhei para as
arquibancadas vendo vários rostos familiares que levantavam cartazes com o
nome do time, alguns tinham meu nome em destaque. Sorri para aquilo,
jamais imaginei que tanta gente torceria por mim, isso me dava vontade de
seguir o meu sonho.
Avistei Ashley ao lado dos meus pais, ambos felizes aplaudindo, eu
estava quase completo, mas faltava ela, a garota que tinha meu coração. Foi
pensando nela que varri a arquibancada de ponta a ponta com o olhar,
torcendo para que estivesse ali. Meu coração sofreu um solavanco quando a
encontrei, vestindo minha jaqueta, a duas fileiras de distância de onde minha
família estava, Liz olhava diretamente para mim. Quis correr até ela, puxá-la
para os meus braços e beijá-la até matar toda a saudade daquela última
semana que estivemos separados. Levei uma mão aos lábios e lancei um
beijo, Liz sorriu, e o apanhou no ar, deixando-me ainda mais feliz.
Foda-se! Eu estava emocionado, sentindo que finalmente as coisas
voltariam ao normal, enchi-me de força para vencer aquele jogo e correr
para os braços dela, gritando para todo o estádio que aquela era a garota que
eu amava.
A partida se iniciou, e começamos bem, acho que estava inspirado,
depois de um passo de Justin marquei uma cesta de três pontos, a torcida foi
à loucura. Concentrado, movimentei-me pela quadra, driblando alguns dos
oponentes, marquei mais duas cestas antes de ser bloqueado. Claro que o
time adversário viria para cima de mim, tentando impedir meus lançamentos.
Esse era o ponto positivo de Justin ser novo no time, eles ainda não o tinham
visto em campo, era quase que uma arma secreta, ele jogava muito.
Suado, movi-me até o meio da quadra, o primeiro tempo estava
acabando e queria finalizá-lo com uma boa pontuação, tínhamos que ter
vantagem, não queria dar abertura para uma possível derrota. Vi quando
Justin correu com a bola em minha direção, eu estava a poucos passos atrás
da linha de três, mas quando fui receber o passo, um dos filhos da puta do
outro time acabou me derrubando. Levantei-me furioso, queria socar a cara
dele, no entanto, tive que conter a raiva, o juiz seguiu sem marcar uma falta
sequer e a jogada foi reiniciada, a essa altura, eles já sabiam o que faríamos,
então tinha que improvisar.
Depois de receber a bola, segui driblando pelo canto da quadra,
cercado pela defesa deles, não me deixei intimidar, passei para Casey, outro
jogador do meu time, que dispersou os jogadores arremessando para Justin,
ninguém imaginaria que alguém tão longe de mim arriscaria arremessar
daquela distância, mas ele o fez, sabendo que eu receberia.
Estiquei o braço, assumindo a bola e segui o resto do caminho
enquanto a defesa tentava me bloquear, diante da cesta sabia o que fazer,
saltei, marcando uma enterrada extraordinária, as arquibancadas foram à
loucura. Senti o aro da cesta sob os meus dedos, meu corpo balançou
pendurado, como das tantas vezes que fiz aquela jogada, mas quando soltei,
flexionando os joelhos para aterrissar, algo aconteceu. Caí no chão com um
peso morto, tonto, suando demais, meu coração acelerado dentro do peito, o
ar parecia fugir dos pulmões e não voltar para o lugar onde pertenciam.
Fiquei tonto, olhei ao redor tentando entender porque todos pareciam tão
apavorados, foi ali que levantei a cabeça para ver a minha perna torcida
para o lado.
Olhar para aquilo fez a dor se tornar real, gritei ao sentir o nervo
sendo repuxado pela posição, tentei mover a perna, mas simplesmente não
conseguia. Justin se abaixou ao meu lado, falando comigo, mas eu não
entendia uma palavra sequer. A dor me rasgava de dentro para fora, minha
visão começou a ficar turva, o calor do meu corpo desapareceu. Vi os
olhares preocupados sobre mim, deixando claro que com uma fratura como
aquela o jogo tinha acabado para mim. Entre todas aquelas pessoas ao meu
redor, tentei fitar Liz na arquibancada, mas para o meu desespero não a vi.
Comecei a ficar agitado, tentei me levantar, minha respiração entrecortada, a
dor me atacando ferozmente. Não demorou para que os paramédicos
começassem a me colocar na maca, fechei os olhos desejando que tudo
aquilo não passasse de um pesadelo, e quando acordasse, estivesse com Liz
ao meu lado.

Segui meus instintos para estar naquele jogo, meu coração parecia
gritar dentro do peito para que eu me movesse, agisse, corresse atrás da
minha felicidade. Depois de uma semana infernal evitando qualquer contato
com Max, decidi que estava sendo idiota demais. Achei que ficar afastada
dele nos faria acostumar com a distância, que a saudade amenizaria, que ele
se acostumaria a viver sem mim, que seguiria sua vida, e eu lidaria com a
minha dor sozinha, no entanto, aqueles foram os piores dias da minha vida.
Pensei que fosse sufocar sozinha, a tristeza me espezinhava por dentro, me
apegava aos momentos que passamos juntos, mas isso não foi o suficiente.
Cheguei a ligar para Max de um telefone público, apenas para ouvir
sua voz. Ele havia saído de um treino e deveria estar comemorando com os
amigos antes do grande jogo, muitas vozes gritavam seu nome, não quis
atrapalhar aquele momento especial, desliguei e voltei para casa, como uma
covarde me tranquei outra vez, tendo a certeza de que estava fazendo o certo.
Porém, quando acordei hoje pela manhã, vi um envelope que foi colocado
por baixo da minha porta. Soube que era dele, abri e lá estava uma entrada
para o jogo, junto com um bilhete simples, que dizia: “Quero você comigo”.
Apenas três palavras que me fizeram vestir minhas roupas às pressas e
correr para aquele ginásio.
Logo que cheguei vi Freda ao lado do marido, engoli a raiva que
sentia e peguei um assento duas fileiras acima de onde estavam. Ignorei-a
por completo, torcendo para que não me visse ali. Max entrou em campo, seu
olhar varrendo todo o lugar até me encontrar, quando o fez, lançou-me um
beijo que agarrei como uma tola apaixonada, foi naquele momento que a mãe
dele me viu. Ela virou a cabeça procurando o alvo do filho, ao me achar,
fitou-me irritada. Seu marido deve ter falado algo, pois voltou a focar na
quadra e não em mim.
Meus olhos brilharam de emoção e paixão a cada cesta que Max
fazia, aplaudi, gritei, vibrei a cada lance. Eu estava em êxtase, contando os
segundos para que o jogo acabasse e pudesse correr para os seus braços,
beijá-lo, dizer que fui uma tola, que o amava demais, e nada mais importava.
Ele estava tão lindo, o cabelo colado na testa suada era um charme. Fiquei
atenta a tudo, no entanto, em seu último lance, depois de se pendurar na
cesta, caiu no chão e não levantou mais. De longe eu não pude ver bem o que
estava acontecendo, vários jogadores e técnicos fizeram um círculo em volta
dele.
Fiquei de pé, e desci os degraus da arquibancada às pressas, queria
alcançá-lo e me certificar de que estava bem, foi quando os gritos de Max
começaram, altos, sofridos... Ele tinha se machucado. Um nó se formou na
minha garganta, minhas mãos começaram a tremer, meu coração parecia
querer saltar do peito. Sentia que algo estava errado, meus olhos marejaram
deixando minha visão turva, esbarrei nas pessoas, pisando em seus pés ao
tentar descer o mais rápido possível, quando estava prestes a chegar na
quadra, fui puxada com brusquidão para trás.
— Onde pensa que está indo? — Freda gritou, raivosa, o rosto
vermelho, olhos afiados.
— O Max se machucou, preciso ver como ele está — falei
exasperada, as pessoas esbarrando em mim ao passar.
— Você vai ficar longe do meu filho — ordenou. — Já não basta
tudo o que causou? Quer acabar de vez com ele?
— Freda, não tem que se meter entre mim e o Max. — Eu a empurrei
tentando passar, e mais uma vez fui puxada. — Me solta.
— Não serve pra ele, Elizabeth — pontuou com um tom mordaz,
cheio de veneno. — Meu filho tem uma vida brilhante pela frente, um futuro
esplendoroso, mas que está ameaçado desde que você chegou.
— Eu não quero atrapalhar a vida dele, nós nos amamos...
— E olha onde esse amor o levou. — Apontou para a quadra, onde
Max era trazido em cima de uma maca, com a perna imobilizada. — Ele
estava animado com o basquete, hoje tinha a chance de ser chamado para um
time grande, onde seria o destaque, mas ele ficou a semana toda correndo
atrás de você.
— Eu não queria...
— Não queria... — me imitou com desdém. — Garotas do seu tipo
eu conheci aos montes, se fazem de pobre coitada para tirar proveito de
jovens como Max — acusou-me sem me dar chance de rebater. —
Provavelmente as chances no basquete dele acabaram hoje e por sua culpa,
se tivesse ficado longe meu filho continuaria focado, treinando, mas a sua
ganância não deixou, bastou perder Cristian para enfiar as garras no Max.
— Não estou interessada no dinheiro dele. — Limpei as lágrimas
que caíam. — Eu o amo.
— Ama mesmo? — Arqueou uma sobrancelha, encarando-me com
ódio. — Por que está aqui então?
— Precisava vê-lo, quero ficar com ele...
— Vocês não sabem o que é amor, Elizabeth. — Balançou a cabeça
irritada. — Se insistir nisso será um erro, para você e para Max, daqui a
alguns anos isso que chamam de amor vai acabar, ele vai te culpar por ter
perdido a chance que tinha no basquete, vai te culpar por ter entrado na vida
dele e estragado tudo...
— Não vai ser assim — neguei, não queria acreditar, mas no fundo
temia que isso acontecesse.
— A frustração vai fazer isso, ele vai se lembrar todos os dias que
era na cama do amigo dele que você se deitava, vai ligar os pontos e
descobrir a vadia que você é. — Sua voz saiu suave, envenenando-me. —
Você é a perdição do meu filho, um erro que Max cometeu e vai ter que
pagar pelo resto da vida. — Soltou-me, abrindo espaço para que eu
passasse. — Quer ir atrás dele e terminar de desgraçar com tudo? Vai, está
livre para acabar de destruir o que sobrou do meu filho.
Travei no lugar, sentindo o peso de suas palavras, tinha que dar razão
em parte das coisas que me disse. Max teria uma vida diferente longe de
mim. O que aconteceu hoje foi uma prova que eu não tinha nada de bom para
oferecer, tudo o que fiz foi trazer problemas. Em pouco tempo ele teve que
me livrar de ser presa por roubo, brigou com Cristian a ponto de mandá-lo
para o hospital, brigou com a mãe, assumiu o peso da morte da minha avó, e
agora provavelmente perderia suas chances no basquete. Olhando para tudo
isso, não encontrava uma coisa boa para pontuar.
— Não importa o que escolha, Elizabeth, eu vou acabar com a sua
vida assim como acabou com a do Max — declarou com raiva. — Esqueça
suas chances no ballet, esqueça qualquer oportunidade de trabalho nessa
cidade, sua vida acabou no segundo em que decidiu ficar com Max.
— Um dia ele vai saber a pessoa odiosa que você é, Freda —
murmurei segurando as lágrimas, não queria chorar, não na frente dela. —
Quando o Max descobrir a mãe que ele tem vai te odiar, eu posso não estar
aqui para ver, mas esse dia vai chegar.
— Está errada. — Seus olhos brilharam, na tentativa de esconder
suas emoções. — A única pessoa que ele vai odiar vai ser você — garantiu.
— Eu só lhe dei amor, apoio, segurança. Sou tudo que Max tem, já você, só
bagunçou a vida dele.
— Você é um ser humano horrível, suja, acho que essa cidade
finalmente vai ter a prefeita que merece — ataquei.
— Não me importa o que pensa, garota — desdenhou com um sorriso
maquiavélico no rosto. — No final eu vou ter tudo, e você nada, pode sair
rastejando e voltar para o buraco de onde sua mãe te trouxe, mas nenhum
lugar vai ser longe o suficiente para eu poder acabar com a sua vida.
— A minha vida vai acabar no segundo em que eu deixar o Max,
Freda — declarei entristecida. — Não há nada que possa fazer que vai me
machucar mais do que isso.
— E o que está esperando para partir? — Cruzou os braços,
esperando que eu fosse. — Me diga Elizabeth, quanto quer para deixar o
meu filho em paz?
— Vai se ferrar! — exclamei, virando-me para ir, mas ela não se
contentou e quis me atacar ainda mais. — Eu não preciso do seu dinheiro,
não quero nada que venha de você.
— Vagabunda... — sussurrou a ofensa, debochando.
Não me contive e me virei, acertando um tapa em cheio no seu rosto,
não foi o suficiente para lavar minha alma, mas ao menos não sairia dali sem
revidar cada ataque que recebi. As pessoas estavam agitadas por tudo o que
aconteceu na quadra, que ninguém pareceu notar que brigávamos. Passei por
cada uma, andando entre elas, invisível como sempre, nunca reparavam em
mim, ir embora daquela cidade não faria diferença nenhuma na vida dela,
seria como se nunca tivesse existido.
Não sei como consegui sair daquele ginásio, meu peito doía, minha
cabeça latejava, eu mal podia enxergar, as lágrimas que inundaram meus
olhos deixavam minha visão turva, mas quando cheguei em casa me permiti
desabar. Solucei, chorando encolhida em minha cama, como uma garotinha
perdida, solitária. Eu não tinha escolha, senão partir daquela cidade, Freda
estava coberta de razão, insistir no meu relacionamento com Max era um
erro, jamais daria certo. Ainda podia ouvir seus gritos de dor, a imagem dele
sendo levado pelos paramédicos invadiam minha mente, o rosto pálido,
cheio de dor, as mãos agitadas agarrando o cabelo enquanto berrava. Tudo o
que eu queria era ir até ele, abraçá-lo, dizer que ficaria bem, mas e se isso
não acontecesse?
Ele falou tanto sobre aquele jogo, estava feliz com a possibilidade de
seguir profissionalmente no basquete, e até isso eu fui capaz de destruir.
Martirizei-me a cada segundo desde que saí do ginásio, pensando se teria
sido diferente se eu não tivesse agido como uma idiota, ignorando-o quando
tentou falar comigo. Achei que estivesse fazendo a melhor escolha, acreditei
que me afastar seria melhor para ele, e mais uma vez estraguei tudo.
Burra! Burra! Burra!
A única pessoa que tinha o poder de me fazer esquecer de tudo, que
com apenas um abraço cheio de carinho me mostrava como era bom ser
amada de verdade, agora deveria me odiar. Levantei cambaleando pelo
quarto, sem poder lidar com as lembranças de nós dois juntos, do seu corpo
quente sobre o meu, a maneira como me reivindicava, sussurrando que me
amava enquanto me fodia daquele jeito feroz, dominante, beijando minha
boca com tanta força que deixava nossos lábios marcados. Seria difícil ficar
longe dele, tinha certeza de que me destruiria nunca mais vê-lo, no entanto,
era o certo a fazer. Pensei na possibilidade de ele vir atrás de mim, como o
conhecia, sabia que não desistiria fácil, Max gostava de se meter em
confusão, e mesmo sabendo que eu era um problema, persistiria nisso até
que nos destruíssemos, até que o amor que sentia se transformasse em ódio.
Seria eu a ter que decidir por nós, eu deveria fazer o certo para que
ele pudesse ter um futuro bom longe de mim. Amar exigia coragem, mas
deixar livre quem se ama, exigia muito mais.
Abri minha mochila velha, comecei a guardar o mais importante,
algumas peças de roupa, a caixa com fotografias da minha mãe e de Abigail,
guardei o álbum de fotos da minha apresentação, nele havia as fotos que tirei
com Max, não podia deixar, seria a única lembrança que teria de nós, a
certeza de que o que vivemos foi real e não um sonho. Olhei para os
quadros, desejando levá-los comigo, mas se não sabia para onde ir, nem se
havia um lugar para ficar, não poderia levar. Doeria deixá-los, entretanto,
que opção eu tinha?
Enfiei o que coube dentro da mochila e peguei poucas coisas do
ballet, talvez nunca mais precisasse, se Freda cumprisse com sua ameaça,
todas as portas estariam fechadas para mim. Peguei a jaqueta de Max,
inspirando o perfume dele que ainda estava nela, eu sentiria tanta saudade do
seu cheiro, do seu calor. Eu a vesti na tentativa de me sentir mais próxima a
ele, carreguei tudo para a porta, e dei uma última olhada para a minha casa,
decidida a ir de vez.
Caminhei até o ponto de ônibus, apressando os passos, pois
começava a chover, sentei à espera do primeiro que passasse, sem ter ideia
de onde ir. Tirei o papel com o número de telefone que minha avó deixou,
pensando se seria uma boa ideia usá-lo. Minhas mãos tremiam enquanto eu
fitava os números, ela não me deixaria o telefone de alguém que não pudesse
me ajudar. Enchendo-me de coragem, digitei no celular esperando que a
chamada fosse completada. Quando a voz masculina atendeu, não soube o
que dizer, minha garganta travou, meu coração acelerou ainda mais.
— Quem é? — o homem do outro lado da linha indagou com
rispidez.
— Eu sou Elizabeth Collins, minha avó Abigail faleceu e ela me
deixou seu...
— A minha mãe morreu? — ele perguntou surpreso, mas não mais do
que eu.
Ele era filho de Abigail, então aquele homem era meu pai?
Sem saber como explicar tudo fiz um resumo, sentindo meus olhos
transbordarem a cada vez que ele falava, seu tom se tornou mais brando,
estava surpreso com aquelas informações e eu ainda mais, no entanto, tentou
explicar o porquê de nunca ter vindo atrás de mim. Era muita coisa para se
falar por telefone, e eu não sabia se poderia confiar naquele desconhecido.
Novamente me vi sem opções. Não demorou para que Steven Collins
dissesse que eu não estava sozinha, me disse o que deveria fazer e até onde
ir para que pudesse me buscar. Tentei ficar feliz por descobrir que não
estava sozinha, que o pai que pensei não existir ou que não ligava para mim,
vivia em outra cidade e me queria em sua vida, no entanto, ao entrar no
ônibus que me levaria para longe de River Lake, dei-me conta de que
nenhuma surpresa ou notícia poderia me fazer feliz.
Eu estava desistindo de Maxwell King.

Assim que cheguei ao hospital, passei por vários exames e


radiografias, o médico deixou claro que eu teria que passar por uma cirurgia
na perna. Quando aterrissei no chão, caí de mal jeito e a perna não suportou
o peso do meu corpo, causando a fratura. Ele não tinha como garantir se eu
poderia voltar a jogar, nem quanto tempo demoraria se eu pudesse, tudo
dependeria da minha recuperação depois que tivesse alta. Foi um golpe
duro, quando finalmente tive a chance de seguir no basquete, essa merda
aconteceu, mas eu não estava desistindo, iria me esforçar, conseguiria voltar
com tudo para os treinos, mostraria do que era capaz.
Quando acordei depois da cirurgia recebi a visita do meu técnico,
Justin também passou pelo hospital para ver como eu estava, ele deixou o
jogo assim que fui retirado, nós perdemos, mas isso não pareceu incomodá-
lo, Ashley apareceu com os meus pais, mas havia algo que me incomodava,
Liz não apareceu para me ver. Minha mãe estava estranha, parecia não
querer ficar no quarto ou falar comigo, perguntei para minha irmã, para o
meu pai, e nenhum dos dois sabiam o que estava acontecendo. Esperei até o
momento em que estivéssemos a sós, tinha certeza de que ela deveria ter
proibido Liz de vir me ver.
— Filho, está acordado? — perguntou surpresa, colocando um copo
de café sobre a pequena mesa que havia no quarto.
— A Liz tentou vir me ver? — inquiri e ela acendeu a luz.
Apertei os olhos pela iluminação forte, fitei as paredes brancas ao
meu redor, tentando me sentar. Minha garganta estava seca, a cabeça pesada,
uma angústia estranha crescendo dentro do meu peito.
— Maxwell, vamos falar disso quando estivermos em casa...
— Eu quero falar agora — insisti. — Quero que libere a entrada da
Liz, sei que se ela não está aqui é porque você...
— Elizabeth não veio ao hospital. — Sentou-se em uma das cadeiras,
desviando o olhar. — Não quis te contar para não ficar chateado.
— Deve ter achado que não poderia entrar — justifiquei. — Me dê o
meu celular, vou ligar para ela.
— Max, não é isso...
— Eu quero o meu celular, mãe. — Agitei-me, tentando me levantar.
— Vou ligar e ela vai vir.
— Elizabeth não virá...
— Vai sim, ela estava na arquibancada, eu a vi assistindo ao jogo.
— Elizabeth deixou a cidade enquanto você passava pela cirurgia,
Maxwell. — Sua voz saiu dura e direta.
Todo o sangue pareceu fugir do meu corpo, um formigamento
estranho atingiu minhas pernas, o pavor invadiu meu peito, junto com o
sentimento de incredulidade.
— É mentira, ela não iria embora...
— Cristian Michell se mudou de vez para Great Forest, e o que
parece ela foi atrás dele. — Não hesitou em dizer, parecia não se importar
em como aquilo me machucaria.
— Está mentindo, mãe. — Puxei os fios dos monitores do meu peito,
tirei minha perna do suporte sentando na cama. — Quem te contou isso? Liz
não iria atrás dele.
— Eu sinto muito, filho... — Balançou a cabeça consternada. —
Volte para a cama, vai se machucar...
— Não! — Neguei-me acreditar, tinha que haver algum engano.
Uma dor aguda me atingiu, minha visão ficou turva pelas lágrimas.
Berrei enlouquecido, saindo da cama, mas preso pela perna acabei caindo
no chão. Dois enfermeiros entraram, tentando me ajudar, só que estava cego,
aquela raiva familiar se alastrando dentro de mim. Chutei como pude,
desvencilhando-me deles, o desespero agonizante me dilacerando. Não
acreditava que a mulher que amava estava me deixando por outro, tinha algo
errado ali, alguma mentira, alguma justificativa, eu não aceitava aquilo. Lutei
o quanto pude até ser arrastado de volta para cama.
— Liz! — gritei como se ela pudesse me ouvir, chorei sem ter
vergonha nenhuma, não ligava para o que pensariam, só queria a minha
garota comigo.

Eles me sedaram, acordei e apaguei por dois dias, mal podia me


mexer, meu corpo estava fraco, e quando tinha um pouco de força, tentava
sair daquela maldita cama, então novamente eles me medicavam. Decidido a
sair dali e ir atrás de Liz, fingi me comportar, não falava com ninguém, não
lutava, engoli os gritos junto com a dor. Apeguei-me às lembranças dela, dos
momentos que tivemos juntos. O seu cheiro único, o sorriso genuíno quando
estava verdadeiramente feliz, o jeito que dançava, a delicadeza de cada
gesto, os beijos apaixonados que arrancava de seus lábios, a forma como seu
corpo sempre cedia sob o meu. Aquilo não podia ser uma mentira, me
recusava acreditar.
— Max... — Ashley entrou no quarto, seus olhos assustados me
fitavam com preocupação.
— Ela não foi embora, não é? — supliquei com a voz rouca. — Diz
que é mentira, Ash, Liz não foi atrás do Cristian.
— Eu juro que não sei, Max. — Aproximou-se, afastando o cabelo
da minha testa. — Soube que ela foi embora no dia do jogo, e algumas
pessoas comentaram...
— O quê? Fala? — insisti aflito.
— Acontece que ela foi no mesmo dia da mudança do Cristian... —
respondeu hesitante. — Você sabe como as pessoas são.
— Alguém foi até a casa dela? — inquiri, agarrando-me a qualquer
fio de esperança que existisse.
— Está tudo fechado, fui até lá com o Justin, sabia que você iria
querer saber, mas estava tudo fechado...
— Ela fez isso na última semana — argumentei. — Deve estar lá...
— Não, Max, ela se foi mesmo...
— Vou até lá — decidi, esticando o braço para desligar os
aparelhos. — Me empresta seu celular, vou ligar para o Justin.
— A mamãe vai ficar furiosa...
— Eu não ligo, Ashley! — gritei exaltado. — Me desculpe, eu estou
desesperado, sinto dentro de mim que ela não fez isso, deve ter acontecido
alguma coisa.
— Aqui. — Entregou-me o aparelho. — Tem o número dele nos
contatos.
Procurei pelas chamadas recentes e ignorei o fato de ter inúmeras
ligações para o meu companheiro de time, só queria ajuda para ir atrás de
Liz, meu peito queimava com a certeza de que tudo aquilo não passava de um
engano. Justin ficou surpreso ao me ouvir, pedi que trouxesse uma muda de
roupa sua que coubesse em mim, expliquei o que queria fazer e ele aceitou
de imediato.
Ashley ficou nervosa ao meu lado enquanto esperávamos por Justin,
quando chegou, apressei-me em trocar de roupa com a sua ajuda, minha irmã
vigiou a porta, certificando-se que minha tentativa de fuga não fosse
descoberta. Sair do hospital não foi tão fácil, mas como minha mãe só viria à
noite, facilitou a saída. Com as roupas de Justin, sentado em uma cadeira de
rodas, saímos sorrateiramente.
Durante o trajeto até a casa de Liz, preparei-me para encontrá-la,
sabia que deveria estar ali escondida, talvez sentindo culpa por algo, ela
tinha essa mania de se repreender por tudo, se diminuir, mas eu mostraria a
ela que isso era uma bobagem, que a amava, que a queria comigo. Justin me
ajudou a descer do carro e subir a pequena escada de entrada da casa dela.
Minha perna latejava por não estar na posição que deveria, mesmo assim
ignorei a dor, valeria a pena quando resolvesse tudo com Liz.
Empurrei a cadeira até estar diante da porta, minhas mãos tremiam,
suadas pelo nervosismo. Tentei arranjar coragem para enfrentar o pior
cenário.
— Liz! — gritei o mais alto que pude. — Sou eu, amor, abre pra
mim.
— Max... — Justin me chamou, estava atrás de mim. — Ela não está,
cara.
— Ela não me deixaria, não pelo Cristian, não por qualquer motivo
idiota... — declarei magoado, testei a maçaneta e a porta se abriu. — Eu vou
entrar...
— Vou com você — ofereceu-se, mas neguei.
— Não, quero ir sozinho. — Deixei-o para trás, e entrei na casa,
olhando para cada canto em busca dela.
Senti meu peito apertado, minha garganta fechada, impedindo que o
ar passasse, que a voz saísse, não conseguia chamá-la, porque receber o
silêncio como resposta doía demais. As coisas estavam como da última vez
tinha estado ali, só que dessa vez, não existia vida, nem o cheiro dela estava
mais presente. Entrei no quarto, inconformado, o pequeno guarda-roupa
estava aberto, peças de roupas jogadas no chão, como se tivesse saído às
pressas. Os quadros de sua apresentação estavam sobre a cama, aproximei-
me tocando nas fotos lembrando daquele dia, as sensações tão reais como se
tivessem acontecido há poucos minutos.
Tirei o celular de Ashley do bolso do casaco que vestia e disquei o
número dela, a ligação caiu imediatamente na caixa de mensagens, mesmo
sem acreditar que estivessem juntos, liguei para Cristian, estava tão perdido,
tão desesperado, que não me importei com a humilhação que seria fazer
aquilo.
— Onde ela está? — perguntei assim que ele atendeu. — Quero falar
com a Liz, sei que você fez a cabeça dela...
— Ah, é isso. — Ele gargalhou adorando aquela situação. — Ela
está um pouco cansada, sabe como é, aquela garota tem um fogo...
— Filho da puta! — berrei apertando o celular com força.
— Sinto muito, Max, preciso cuidar da minha gata. — Desligou antes
que eu pudesse dizer qualquer coisa.
— Merda! Merda! — Lancei o aparelho contra a parede na tentativa
de descontar a minha raiva.
Não podia ser verdade. Não podia...
Uma dor absurda cresceu dentro de mim, meu estômago embrulhou
enquanto minha mente formava imagens dos dois juntos. Não conseguia
acreditar, mesmo o ouvindo dizer aquilo, não aceitava. Conhecia Liz, sabia
que ela nunca faria aquilo comigo. Então, por que foi atrás dele? Por que
desistiu de mim? Porra! Desabei chorando desolado, achei que nunca me
sentiria daquela forma outra vez, perdido, sozinho.
Tentei pegar uma blusa dela que estava no chão, acabei caindo da
cadeira, não me importei com a dor na minha perna, meu coração doía muito
mais, e como um maldito idiota eu só queria sentir seu cheio. Levei a peça
ao nariz, inspirando o máximo que pude, agarrando-me a cada resquício
dela. Chorei como um menino, enrolei-me no chão, tremendo, soluçando,
minha mente não conseguia processar nada direito, a dor me consumia.
— Por que me deixou, Liz? — lamentei, desolado. — Por que fez
isso?
Fiquei no chão por tempo demais, até que não senti mais nada, a dor
da perna desapareceu, minha mente não queria trabalhar, meu corpo estava
anestesiado. Ouvi a voz da minha mãe, depois a do meu pai, ambos tentaram
me tirar de lá, mas não deixei, não queria ficar longe da única coisa que me
ligava à Liz. A vergonha por ter sido enganado não era maior do que a falta
que ela me fazia. O dia escureceu, e Justin tentou me fazer sair, sem sucesso,
só queria ficar sozinho. Eu me sentia morto, era isso, o velho Max estava
morto, ele se foi junto com a mulher que amava, a que foi sua paixão, sua
loucura, e agora sua perdição. Não queria sentir outra vez, não queria outro
toque, outra pessoa, outros beijos, não iria amar outra vez. Tudo começou
com Liz e terminaria com ela.
Faltavam apenas alguns minutos para a minha apresentação, minha
roupa estava bem passada, sandálias bem presas, o que era importante para
não ter nenhum acidente, meu cabelo solto sobre os ombros, uma maquiagem
simples que destacava bem o meu rosto. Fechei os olhos imaginando que ao
abrir das cortinas uma grande plateia me receberia, uma música clássica
surgiria e eu seria aplaudida a cada movimento. Ainda podia sentir a
sensação de fazer o que eu amava, mesmo que nas minhas memórias mais
distantes me apegava a isso.
Infelizmente, o ballet teve que ficar no passado, junto com tudo o que
amava. Quando cheguei a South Last, quinze anos atrás, pensei que as coisas
seriam diferentes, afinal, eu estava na maior cidade do país, o lugar que
sonhei em viver, acreditei que aqui conseguiria uma academia grande, que
veriam o meu talento e me contratariam.
Para falar a verdade, acreditei em muitas coisas que não eram reais,
a começar por Steven Collins, meu pai. Durante a minha adolescência
sempre me perguntei o motivo para minha mãe não falar dele, sempre que
perguntava quem era o meu pai ela respondia que não existia um. Culpei
Verônica por acreditar que ela era o problema, a negligência e o seu vício
em drogas me fizeram odiá-la. Depois, quando Abigail chegou, não
mencionou seu filho, por isso presumi que ele realmente não existia. Na
minha cabeça ou ele estava morto ou era um drogado como minha mãe.
Eu queria que fosse uma das duas opções.
Steven Collins me recebeu muito bem, para um homem de quarenta
anos na época, ele era bem cuidado, bonito, tinha um apartamento legal, um
carro que funcionava e uma fonte de renda estável. Aquilo era muito mais do
que tive na vida. Steven garantiu que cuidaria de mim, me ajudaria, eu
acreditei, afinal, aquele homem era o meu pai. As coisas seguiram bem por
pelo menos seis meses, ele me deixou confortável, apresentou-me a uma vida
melhor, onde minha única preocupação era o ballet. Tentei durante aquele
tempo várias academias, fiz testes e testes, mas sempre recebia a mesma
resposta: “Vamos entrar em contato”. Claro que aquilo nunca aconteceu.
Foi então que Steven disse que precisava de uma garota que dançasse
para substituir uma das dançarinas da agência que ele administrava. Eu
pensei ser uma boa ideia, afinal era dança, e isso eu fazia bem. Saí do
apartamento com um endereço em mão, e quando cheguei a uma boate
luxuosa, os meus instintos gritavam para que eu saísse dali, só que eu não fiz.
Não foi o maior, mas um dos piores erros que cometi na minha vida,
aquela noite como para as tantas outras noites que vieram. Meu pai não
agenciava simples bailarinas, ele conduzia um negócio sujo, onde explorava
jovens garotas que tiravam suas roupas em cima de um palco. Saí daquele
lugar traumatizada, jurando nunca mais voltar. No entanto, aqui estava eu
outra vez, e já havia perdido as contas de quantas noites dancei, quantas
noites tirei minha roupa, ficando nua diante de homens desconhecidos,
deixando-os me tocar.
Aquilo não era o que eu queria para mim, mas estava em uma grande
cidade, sem emprego ou qualquer tipo de ajuda, pois bastou eu dizer para o
meu querido pai que nunca mais faria aquilo na vida, para o homem se
transformar. Jogou na minha cara que eu vivi às suas custas, que devia a ele
por me ajudar, por me alimentar, e que aquilo não seria nada demais para
mim, não era como se eu fosse me prostituir. Resisti a princípio, então
percebi que eu realmente não tinha nada, não tinha ninguém. O ballet, como
as tantas outras coisas boas na minha vida, foi algo passageiro, nenhuma
academia me queria, eu não podia pagar nenhuma escola, e assim, tudo foi
tomando seu curso natural.
Eu sentia muita vergonha do que fazia, busquei alguns empregos, e
como minha única experiência era de garçonete, consegui um trabalho de
meio período em uma lanchonete no centro da cidade. Durante a manhã
trabalhava lá, e às noites rodava os clubes mais luxuosos de South Last. Foi
dessa forma que pude pagar um pequeno apartamento de um quarto, ao
menos não precisava viver sob o mesmo teto que Steven.
Aos trinta e três anos, sentia que o tempo havia passado rápido
demais, mas a minha vida continuava estagnada. Perdi muito, sabia disso,
mas tinha certeza de que havia tomado a decisão certa, de longe segui
diversas notícias sobre Max. Acompanhei tudo nos noticiários locais de
River Lake, a recuperação depois da sua lesão na quadra, a mudança abrupta
de comportamento, deixando de lado aquele jovem rebelde para se tornar um
homem de negócios. Max assumiu a King poucos meses após a minha
partida, sendo considerado um dos empresários mais jovens e promissores
do país.
Fiquei feliz por ver que ele seguia bem, conquistando tudo o que
merecia, por cinco anos segui seu rastro na mídia, e quanto mais crescia,
ficava mais fácil saber sobre ele. Parei de procurar quando vi em um jornal,
que um cliente deixou sobre a mesa da lanchonete, uma manchete que
anunciava o casamento do herdeiro da King. Eu sabia que aquele dia
chegaria, preparei-me para aquele momento, mesmo assim, não foi o
suficiente.
Pensei em ir até o lugar onde a cerimônia seria realizada, nem que
fosse para assistir de longe, mas aquilo seria me machucar ainda mais.
Naquela altura do campeonato, duvidava que ele ainda se lembrasse de mim,
ou que sentisse algo. A única coisa que fiz por ele foi trazer problemas,
éramos jovens e acreditávamos que o que sentíamos seria para sempre. Para
ser sincera, nunca deixei de amar Maxwell King.
— Liz — Becky, uma das minhas poucas amigas me alertou. — Já
chamaram seu nome.
— Claro, eu estava distraída. — Disfarcei com um sorriso, mas ela
sabia que eu pensava nele, era a única que me permitia confidenciar minhas
dores.
— Se quiser posso assumir suas danças privadas, tenho apenas uma
hoje — ofereceu, segurando minha mão.
— Seu cara comprou todas as danças outra vez? — Arqueei uma
sobrancelha, vendo seus olhos brilharem apaixonados.
— Ele falou com o seu pai... — fez uma pausa, corrigindo-se —
desculpe, ele falou com Steven, mas como eu já tinha esse horário hoje
agendado, tive que fazer, mas o resto da semana vou estar livre.
— Tome cuidado, Becky, não quero que se magoe.
— Eu sei. — Assentiu, mas eu via a esperança em seu olhar. — Ele
só quer transar e garantir que nenhum outro me tenha antes dele.
— Você diz que sabe, só que está caidinha por ele.
— Quem não ficaria, ele é gato e me trata bem. — Suspirou, dando
de ombros. — Mas eu sei que é só sexo, quando ele se cansar, acabou.
— Você deveria ter batido o pé quando Steven veio com essa história
de danças exclusivas — protestei. — Isso é perigoso demais...
— Pelo menos o dinheiro é bom! — exclamou, virando-me para o
palco. — Agora vai, é sua segunda chamada.
Assenti, sabendo que não tinha escolha, engoli em seco caminhando
até o palco, as cortinas se abriram, uma música lenta soou. Sobre os saltos
altos, coloquei uma perna diante da outra de forma sensual, rebolei enquanto
assovios surgiam da plateia, enrosquei-me no poste começando minha
performance, como das outras vezes fechei os olhos e me imaginei em um
cenário diferente, onde não dançava para aqueles homens, minha vida era
outra, meus sonhos foram realizados, e o único homem que me assistia era o
que eu nunca poderia ter: Maxwell King.

Meu apartamento em South Last ficou pronto há pouco mais de uma


semana, uma cobertura luxuosa no centro da cidade com quatro dormitórios,
Scarlet, minha esposa, ocupava apenas um, ela quase não parava em casa,
por isso não se importava tanto com a localização ou o tamanho da nossa
casa. Comigo era diferente, eu precisava de espaço, não só porque não
dividíamos o mesmo quarto, mas porque precisava de um lugar espaçoso
para carregar minha obsessão comigo.
Tive que achar uma maneira de manter aquele sentimento comigo,
mesmo depois de passar anos sendo consumido pelo ódio, ciúme e amor.
Esse último sentimento nunca me deixou. Depois que perdi a garota que
amava, acabei me tornando outra pessoa. Amargurado, culpava a vida por
ser tão fodida comigo, perdi tantas pessoas ao longo do caminho que não
sabia se teria alguma motivação para continuar.
Abandonei de vez o basquete, mesmo sabendo que haveria uma
chance de voltar a jogar depois da lesão, só que simplesmente não tinha mais
vontade, a paixão se foi, nada mais fazia sentido. Exilei-me em meu próprio
mundo sombrio, saí da casa dos meus pais, assumi a King, e comecei a focar
apenas no trabalho. Isso era tudo o que minha família queria, então dei.
Minha mãe tentou se aproximar, assim como Ashley e Lucius, mas os
afastava todas as vezes. Nós nos encontrávamos apenas nos eventos e na
empresa, no final daquele primeiro ano sem Liz, minha mãe foi eleita a
prefeita de River Lake, para ela estava tudo bem, no entanto, eu a culpava,
mesmo que veladamente por ter afastado Liz de mim. Recusava-me a
acreditar que ela teria partido se as coisas tivessem acontecido de outro
jeito.
Com o tempo me tornei mais maleável, a ponto de aceitar conhecer a
filha de um dos novos investidores da King, foi assim que Scarlet surgiu na
minha vida, por uma mera negociação. Era esperado que eu me casasse em
algum momento, e relutei por anos, porque aceitar outra mulher na minha
vida era o mesmo que trair Liz. Eu não fazia o mesmo com o sexo, esse era o
escape agradável, mas que sempre acabava com uma garrafa de tequila ao
meu lado, a fim de amenizar a culpa. Poderia parecer ridículo para qualquer
um, eu havia me tornado um homem adulto, poderoso, anos se passaram,
contudo, o que senti por aquela garota do meu passado permanecia aceso
dentro de mim como uma chama viva, poderosa, que me consumia todos os
dias.
Destranquei a porta do meu quarto não tão secreto assim, Scarlet
sempre soube da existência dele, quando começamos a nos relacionar, fomos
francos um com outro. Revelei parte do que vivi para ela, Liz era uma parte
da minha vida que não podia esconder.
Quinze anos atrás quando a fui à sua casa, e fiquei chorando no chão
como um menino perdido, soube que jamais a superaria, mesmo cheio de
raiva, não podia simplesmente esquecer. Pedi a Justin que trancasse tudo e
ficasse de olho para mim, até que eu pudesse me recuperar o suficiente para
voltar. Quando tive alta, a primeira coisa que fiz foi levar todas as coisas de
Liz para o meu novo apartamento, escolhi justamente um que tivesse dois
quartos, e assim acabei formando um lugar para manter viva a minha
obsessão.
Por cada lugar que passei nos últimos anos, trouxe tudo comigo, os
quadros da apresentação dela estavam pendurados na parede, havia algumas
roupas de ballet, porta-retratos que deixou para trás e o quadro que havia
mandado fazer especialmente para mim. Ashley foi a única que viu aquilo,
disse que eu havia enlouquecido, que deveria esquecer, mas eu não podia.
Ainda carregava comigo para onde quer que fosse, uma foto de nós
dois, estava amassada porque a segurava constantemente, foi uma das que
tiramos na sua apresentação. Nela, estávamos um de frente para o outro, Liz
com a cabeça inclinada para cima e eu segurava seu rosto com as duas mãos,
nossas bocas tão próximas que parecíamos estar prestes a nos beijar. Aquele
foi o dia em que ela descobriu como eu me sentia em relação a ela, foram
momentos curtos, mas que ficaram para sempre marcados em mim.
Durante muito tempo tentei reprimir o que sentia, me achava idiota,
queria odiá-la, mesmo que meu coração não permitisse. Hoje, me culpava
por não ter visto como fui manipulado, enganado pela minha própria mãe.
Sempre soube que Freda gostava de ter o controle de tudo, só não imaginei
que pudesse ser tão cruel, em tramar pelas minhas costas.
Assim como repassava o dia que Liz me deixou, também repassava o
dia em que minha mãe morreu. Há seis meses Freda piorou, depois de um
infarto, teve insuficiência cardíaca. Sempre repetia quando eu ia visitá-la,
que estava pagando por seus pecados, sinceramente eu achava que ela estava
delirando. Foi quando na noite em que morreu, meu pai me ligou avisando
que ela estava mal, viajei de uma cidade à outra para estar com ela, cheguei
a me culpar por me afastar tanto e culpá-la por tudo o que aconteceu, mas no
fim eu estava certo. Lembro-me do ódio que senti, e como a deixei partir
sem o meu perdão.
— Com ela está? — Caminhei pelos corredores do hospital
apressado. — Vim o mais rápido que pude, Scarlet não conseguiu um voo,
então não virá.
— Não entendo como vive desse jeito, filho, você e sua esposa
parecem nunca estar na mesma cidade — comentou curioso —, mas foi
bom ela não ter vindo, você precisa lidar com algo.
— O que aconteceu? — inquiri desconfiado. — Você disse que o
quadro era estável.
— Sua mãe acabou de me fazer algumas revelações realmente
perturbadoras. — Lucius coçou a nuca, agitado. — É melhor você entrar e
falar com ela de uma vez.
— Está me assustando.
— Só entre, Max, vai entender o motivo da minha inquietação. —
Afastou-se apontando para a saída. — Vou estar lá fora, Ashley deixou os
negócios pendentes em South Last e está chegando.
Assenti sem perguntar mais nada e entrei no quarto, o lugar apesar
de limpo e arrumado, tinha um cheiro diferente, algo fúnebre, solitário,
cheirava a morte. Freda estava deitada na cama, apoiada em alguns
travesseiros, havia fios por toda parte e uma máscara de oxigênio em seu
rosto.
— Filho... — Ela estendeu a mão magra e frágil em minha direção.
— Oi, mãe. — Segurei sua mão e puxei uma cadeira para sentar ao
seu lado. — Como você está?
— Muito mal, querido, acho que chegou a hora... — ofegante,
puxou o ar para tentar respirar —, de pagar pelos meus pecados.
— Pare de dizer isso. — Acariciei seu cabelo, agora muito grisalho
e descuidado. — Você foi uma pessoa boa, ajudou muitas pessoas...
— Mas feri aqueles que mais amei — declarou cansada. — Preciso
que me perdoe...
— Mãe, o que aconteceu não foi sua culpa. — Tentei tirar aquele
peso dos seus ombros, pelo menos nos últimos momentos de vida, o médico
já tinha dito que lhe restava pouco tempo. — Eu fiquei muito magoado e
descontei em você...
— Com razão, a culpa foi minha. — Puxou o ar e tirou a máscara.
— Foi por minha culpa que aquela garota foi embora, foi eu... — Voltou
para o oxigênio, tentando respirar. — Filho...
— Tudo bem, mãe, tem que descansar.
— Não, eu preciso falar — esforçou-se, apertando minha mão. —
Ela tentou ir atrás de você no jogo, quando se machucou...
— Liz, está falando dela? — perguntei, em dúvida se estava
delirando ou não.
— Isso, Elizabeth Collins foi embora porque eu a fiz ir, depois
inventei que tinha ido atrás do outro garoto... — Balançou o braço
buscando minha mão, eu tive que manter alguma distância dela, não
estava acreditando naquilo.
— Não está falando sério. — Balancei a cabeça, incrédulo. —
Liguei para o Cristian, ele confirmou que estavam juntos.
— Não sei porque ele fez isso, mas era mentira. — Tossiu,
engasgando. — Ela queria ficar com você, eu disse que você a odiaria, que
era culpa dela seu acidente na quadra, que ela só atrapalharia sua vida,
que...
Freda puxava o ar com força, era a primeira vez que falava tanto
em meses, e isso deveria estar exigindo muito esforço dela. Mesmo assim,
não me compadeci, afastei ainda mais a cadeira, querendo ficar longe de
suas tentativas de me tocar. Quanto mais ela falava, mais ódio eu sentia.
Descreveu com detalhes seu jogo sujo desde que levei Liz para a nossa
casa, como a tratou, as coisas que disse, até as ameaças que fez.
Agora entendia porque não encontrei Liz em nenhuma academia de
ballet, sem redes sociais, ou algo que desse indício de onde estava. Ela se
escondia como uma foragida, passou anos sob a ameaça de ter sua vida
destruída por Freda, e eu nem sabia até que ponto minha mãe conseguiu
fazer isso.
— Não acredito que pode ser tão cruel. — Fiquei de pé, andando
de um lado ao outro, irritado, magoado, sentindo-me ainda mais idiota. —
Você sabia que eu amava...
— Eu sei filho, me perdoe... — suplicou amedrontada. — Só queria
te proteger, achei que fosse o certo, mas paguei por isso...
— Não pagou nada! — gritei perdendo o controle. — Teve uma vida
boa, tudo o que quis, conseguiu me fazer assumir a empresa, me casou com
alguém do seu agrado...
— Eu perdi você quando Elizabeth partiu — justificou como se
aquilo fosse muito. — Você mudou, se foi junto com ela, se afastou de
mim...
— Eu deveria ter sumido — rebati. — Você é a pior pessoa que
conheci em toda a minha vida.
— Não, Max... — Agitou-se, tentando falar, mas mal conseguia
respirar, seu peito subia e descia rapidamente, o rosto pálido e os lábios
ressecados. — Tem que me perdoar... Perdoar...
— Não posso — neguei, virando as costas e caminhando para a
porta. — Não consigo, acho que nunca vou conseguir.
— Por favor... — suplicou, mas estava magoado demais. — Max,
sou sua mãe.
Minha mãe morreu. Foi o que pensei em dizer, mas não era tão
cruel como ela, nem ingrato, se tenho essa vida hoje, foi por sua causa.
Saí do quarto ouvindo-a gritar, mesmo sem forças ela tentou, mas ignorei.
Meu pai tentou me parar, no entanto, eu só queria ir para bem longe dali e
digerir tudo o que havia acabado de descobrir.
— Pensando nela outra vez? — Scarlet perguntou, parando no
corredor, sem se aproximar muito do quarto.
— Lembrando da morte da minha mãe — revelei, saindo dali,
fechando a porta em seguida. — Vai passar a noite fora?
— Vou — ruborizou ao afirmar, com certeza iria encontrar seu
amante. — Você se importa?
— Sabe que não, Scarlet. — Sorri gentilmente, para que soubesse
que estava tudo bem. — Só tome cuidado para não ser vista.
— Pode deixar. — Piscou, e saiu apressando os passos.
Scarlet e eu nos casamos por intermédio dos nossos pais, eles
negociaram tudo para que a união acontecesse, assim como um negócio
milionário entre as nossas famílias, depois que casamos eu assumi tudo, e
em caso de separação, minha esposa teria sua parte de volta.
O que ninguém sabia era que aquele casamento era apenas uma
fachada, nós não nos amávamos, na verdade, transamos apenas uma vez, em
quase dez anos. Entramos num acordo mútuo, ela amava outro homem e eu
outra mulher, e mesmo que não pudéssemos tê-los, cada um fazia da sua vida
o que bem entendesse. Scarlet ao menos tinha o homem que amava, enquanto
eu não fazia ideia de onde Liz estava.
Depois da morte da minha mãe tentei procurá-la, culpei-me por ter
desistido tão fácil, por aceitar que minha vida seguia sem ela. Imaginava que
se me acompanhava de onde estava, deveria me odiar, pensando que não a
amei de verdade, ou pior, poderia estar casa, com uma família feita, com
outro homem ao seu lado, um marido que a tocava todas as noites, que fazia
amor com ela, que tinha o que deveria ser meu. Isso era o que mais me
perturbava, fazia com que eu perdesse a cabeça e enlouquecesse um pouco
mais a cada dia. Era uma tortura. Sofri anos atrás ao perdê-la e retomei esse
sofrimento ao descobrir a verdade, e nas duas vezes estava de mãos atadas,
sem saber como e onde encontrá-la.
Acordei com batidas insistentes à minha porta, espreguicei-me na
cama e acabei esbarrando no álbum de fotos da minha apresentação de anos
atrás, guardava aquilo como um tesouro sagrado. Na noite anterior acabei
pegando-o na caixa que ele ficava no fundo do meu armário, não era sempre
que eu o tirava de lá, mas quando a saudade batia forte me pegava revivendo
os momentos do passado.
Levantei-me sentindo meus pés doerem, cobrando o preço das muitas
noites seguidas nos clubes, precisava de um descanso, mas sabia que Steven
não aceitaria uma recusa da minha parte, principalmente porque nos últimos
dias vinha se queixando da falta de meninas para dançar. Isso não era meu
problema, queria poder virar as costas e ignorá-lo para sempre, mas não era
tão fácil assim. Dançar nos clubes de strip-tease me garantia um bom
dinheiro e com ele eu poupava para comprar meu próprio apartamento,
assim conseguiria sobreviver por um tempo com meu emprego de meio
período enquanto procuraria por outro.
— Já vai! — gritei, quando as batidas se tornaram mais fortes.
Corri para esconder meu álbum dentro do armário, em seguida vesti
uma camiseta velha que estava jogada no chão. Não tive como me preocupar
com a bagunça que estava meu apartamento, na verdade, não precisaria,
poucas pessoas sabiam onde eu morava, e nenhuma delas se importaria com
aquilo.
— Meu Deus! Que demora, Liz! — Becky entrou afoita, abanando o
rosto com as mãos. — Seu corredor está um verdadeiro inferno, acabei de
ouvir que um apartamento no primeiro andar foi assaltado.
— Isso não é uma novidade. — Fechei a porta dando de ombros.
— Não mesmo, mas eu... — apontou para si dando ênfase, após jogar
sua bolsa sobre a minha cama —, tenho uma novidade que vai te deixar
maluca.
— A essa altura nada mais me surpreende.
— O que eu tenho pra te falar vai — garantiu animada.
— Não me diga que é sobre o seu cliente especial...
— Não, é algo muito mais chocante. — Jogou o jornal sobre mim e
gritou eufórica: — O seu Max está na cidade!
Max.
Três letras que me fizeram paralisar, agarrei o jornal com força sem
ter coragem de olhá-lo. Ao mesmo tempo que um fio de esperança surgiu ao
pensar na possibilidade de encontrá-lo, o medo me atacou na mesma medida.
Ela poderia estar enganada, ter se confundido...
— Anda logo! — Sacudiu-me, tentando me tirar do estado de
estupor. — Olha o jornal.
— Pode não ser ele.
— Maxwell gostoso King, acho que só conheço um. — Cruzou os
braços arqueando a sobrancelha direita. — Você me falou tanto desse cara,
já vimos milhares de fotos dele juntas, eu o reconheceria melhor que você.
Engoli em seco, minhas mãos tremiam de nervoso, fazia muito tempo
que não sentia algo assim, principalmente estando relacionado ao Max.
Enchi-me de coragem e afastei o jornal do peito, estampado logo na primeira
página, lá estava ele.
“O Milionário Maxwell King chega à cidade com a sua empresa, e
promete gerar uma grande movimentação no núcleo empresarial de South
Last”
Percorri os olhos pela página inteira, procurando a localização do
prédio que a King adquiriu e no meio de tantas informações peguei um trecho
que dizia “após a morte de sua mãe”. Parei de ler no mesmo instante
lembrando-me de Freda, da forma fria que me olhava, com raiva, nojo, dos
ataques cruéis e constantes, a forma que tentou me manipular. Não poderia
dizer que fiquei feliz em saber de sua morte, no entanto, também não me
entristeci, só queria que ela ao menos tivesse sido punida pelo que me fez.
— Quer um copo de água? — Becky perguntou preocupada. — Fala
alguma coisa, está pálida.
— Ele está muito perto de mim... — sussurrei, encarando-a.
— Eu sei! Não é demais! — Bateu palmas animada. — Robert estava
lendo o jornal, e eu fui lá fazer um charminho, sentei no colo dele e... —
Abriu os braços teatralmente. — Lá estava o seu Max me encarando.
— Max não é meu. Não mais... — retruquei pigarreando.
— Lógico que é! — exclamou ainda sorridente. — Ânimo, Liz! Eu
roubei o jornal do Robert e vim correndo para te contar.
— Eu agradeço, Becky, de verdade. — Virei o jornal, para que a
figura de Max parasse de me encarar também. — Mas isso não muda nada...
— Como não? — indignou-se. — Ele está aqui, Liz, de todos os
lugares do país Maxwell King está em South Last, a dez minutos de
distância...
— Você sabe a história, Becky. — Fitei o jornal caído, envergonhada
pela minha covardia do passado. — Eu o deixei, estraguei a vida dele e
depois o abandonei.
— Você era uma garota, Liz. — Sentou-se à minha frente, segurando
minhas mãos. — Quantos erros não cometemos no passado? Ainda hoje
erramos, não pode se culpar por algo que não tinha controle algum.
— Sinto que deveria ao menos ter me despedido, conversado com
ele... — Suspirei desanimada. — Na verdade, não poderíamos ter
conversado, Max acharia um jeito de me fazer ficar.
— Você foi aterrorizada por aquela vaca! Até eu ficaria em dúvida
— Becky argumentou. — Você pensou que estivesse fazendo o melhor para
ele.
— Já se passaram quinze anos, Max não deve se lembrar mais de
mim. — Dei de ombros, levantando-me da cama, precisava de um banho
para aliviar minha mente agitada. — Ele está casado, seguiu em frente e eu
estou fazendo o mesmo.
— Mas ainda o ama. — Jogou-se na cama, puxando o jornal para
olhá-lo. — Se fosse eu, apareceria de surpresa no escritório dele, colocaria
a minha melhor lingerie...
— Você é uma safada — brinquei, jogando uma toalha nela.
— Eu diria: Olá, querido, vamos relembrar os velhos tempos? —
Apertou os seios, mordendo o lábio de forma erótica. — Estou cheinha de...
— Já chega! — Gargalhando, atirei-me sobre ela, arrancando o
jornal de suas mãos. — Você não tem jeito.
— Só estou dizendo que se tivesse uma história como a sua, não
desistiria fácil — declarou, os olhos brilhando apaixonados. — A vida está
te dando uma nova chance, então vai lá e agarra.
Becky era assim, sonhadora, acreditava que um dia encontraria o
amor que a tiraria dessa vida miserável, apesar de ser muito bonita,
inteligente e divertida, não encontrava caras legais. Os homens olhavam
apenas para o seu corpo escultural, o rosto fino e delicado, cabelos bem
cuidados, curtos, na altura dos ombros, tingidos de loiro. Tudo que eles viam
era uma dançarina sensual, e não a garota cheia de sentimentos que amava
demais, que demonstrava empatia até mesmo para um desconhecido na rua.
Becky era amável, logo quando nos conhecemos, encontrou uma maneira de
se aproximar, e nunca mais me deixou.
— Sabe a chance que o destino está me dando? — Voltei a me
levantar olhando para o relógio na parede. — Sair daqui e ir para o meu
trabalho na lanchonete, ele me disse que tenho que me empenhar se quiser
conseguir um apartamento próprio.
— Você não tem razão — provocou também se levantando. — Mas
vou te deixar em paz, preciso ir ao salão, Steven reclamou das minhas unhas
da última vez.
— Sinto muito por ele ser um cretino. — Fiz uma careta, meu pai
conseguia ser cruel quando queria.
— Não sinta, eu já sabia onde estava me metendo quando comecei a
trabalhar pra ele. — Veio até mim, me abraçou e beijou minha bochecha. —
Agora a Becky está indo ao melhor salão de South Last às custas de um
homem muito gostoso, ainda terei aquele pau imenso dentro de mim quando
voltar...
— Já disse que você é safada? — gritei enquanto ela atravessava a
porta.
— Uma safada assumida, meu bem! — Assoprou um beijo em minha
direção e saiu.
Fiquei rindo sozinha das loucuras da minha amiga, Becky tinha uma
leveza para lidar com os problemas, diferente de mim, que me enraivecia,
atacava, explodia. Meu olhar procurou instintivamente o jornal, não resisti e
me lancei sobre a cama outra vez agarrando-o. Max estava tão bonito na
foto, seu rosto mudou muito, estava mais másculo, o cabelo com um corte
diferente, sério, olhar afiado. Poderoso. Essa era a palavra que definia o
atual Maxwell King.
Perguntei-me se ainda pensava em mim, assim como eu pensava nele.
Se me odiava pelo que aconteceu no passado, se me culpava por algo. Nosso
romance foi tão rápido, talvez tenha se esquecido de mim, me colocado no
passado, um lugar que eu sabia que ele odiava relembrar. Eu deveria jogar o
jornal fora e esquecer dele, dificilmente nos encontraríamos, não
frequentávamos os mesmos lugares, e agora ele tinha uma esposa. Mesmo
sabendo disso tudo não conseguia deixar de pensar nele, como seria se o
sentisse outra vez, seus beijos, seu calor.
Sou louco por você, Liz. Sempre fui.
Sua voz invadiu a minha mente, mas fui arrancada dos meus
pensamentos quando meu celular apitou, era uma mensagem de texto de
Steven, com um endereço de um outro clube que eu deveria me apresentar.
Quis negar, dizer que não iria, que estava cansada, mas ao olhar para a pilha
de contas sobre a mesa, convenci-me que deveria ir. Só tinha que aguentar
um pouco mais.

Meu nome foi anunciado, a música tomou conta do lugar, uma batida
lenta, sensual. Comecei minha performance como todas as outras vezes, fazia
isso no automático, um jogo de luzes foi inserido, enquanto eu me agarrava
ao poste, segurei com força dando o primeiro giro. Com a perna direita me
pendurei, jogando o corpo para trás. Mordi os lábios de forma sensual,
rodando ao redor daquele mastro, olhando para a pequena plateia de
homens, por ser um lugar de alto padrão, o público era mais seleto. Já havia
me apresentado em todo tipo de clube, no começo Steven me mandava para
os mais comuns, não queria arriscar que eu estragasse tudo, mas quando
comecei a ser muito requisitada, ele viu que seria vantajoso me mandar para
os melhores lugares, ao menos, esses pagavam mais.
Segurei o fio do top que vestia, pronta para desamarrar, revelando
meus seios, quando entrei um par de olhos familiares me encarando
ferozmente, cheio de autoridade, furioso. De cabeça para baixo, meio zonza,
adiei meus planos, não conseguia acreditar no que estava vendo. Terminei o
giro e fiquei de pé, procurando dentre aquelas pessoas o homem que mesmo
depois de anos tinha poder sobre mim, mas não o encontrei.
Deve ser coisa da minha imaginação. Pensei. O dia inteiro fiquei
olhando para foto de Max, relendo a matéria incansavelmente, por isso
deveria estar alucinando. Não tinha como ele estar ali. Sem fôlego, nervosa,
tentei voltar à concentração de antes, mas meu coração estava tão acelerado
que parecia querer pular para fora do peito. Comecei a me despir, ouvindo
os assovios, palmas, gritos. Fechei os olhos e torci para que aquela música
acabasse logo e eu pudesse sair dali.

— Que cara é essa? — Justin perguntou ao entrar na minha sala com


a pilha de papéis que pedi.
— O pai da Scarlet me ligando outra vez. — Apontei para o aparelho
celular jogado sobre a minha mesa. — Ele quer saber por que a filha dele
não apareceu na foto da inauguração da King.
— E o que você disse? Acha que ele desconfia de algo?
— Só falei que ela não estava bem, se soubesse que estava viajando
seria capaz de vir até aqui infernizá-la. — Bufei, pegando os papéis,
folheando-os para encontrar o que precisava.
— Não sei como vocês conseguem viver assim. — Puxou uma
cadeira e sentou, cruzando os braços. — Ela tem aquele cara e você...
— Faço isso por ela, para mim é indiferente. — Dei de ombros. —
Scarlet continua vivendo em busca da aprovação da família, e eu me livrei
disso há muito tempo.
— E por que se casou então? — Franziu o cenho confuso, Justin
nunca conseguia entender meu relacionamento.
— Não tinha nada a perder, foi um negócio, e ela aceitou meus
termos — expliquei. — Scarlet acabaria se casando com qualquer
empresário que aceitasse a negociação com o pai dela, eu acabaria da
mesma forma.
— Isso ainda é estranho, não aceitaria me casar com alguém apenas
por uma negociação — argumentou, olhando para o lado de fora da sala,
onde minha irmã conversava com a minha secretária.
— Se continuar nesse ritmo não vai casar nunca. — Indiquei Ashley
com olhar e ele balançou a cabeça negando.
Justin assim que se formou veio trabalhar comigo na King, e não
apenas pela nossa amizade que cresceu nos últimos anos, ele era muito bom
no que fazia, leal, dedicado. Poderia ter conseguido um cargo muito maior
em qualquer empresa, mas escolheu aceitar minha proposta, se tornou o meu
braço direito, mesmo sabendo que o motivo da sua grande decisão era minha
irmã. Eu sabia que ele gostava dela, e era correspondido, só não entendia o
porquê de eles não conseguirem se entender.
— Sua irmã não quer nada comigo, decidi que vou começar a me
divertir e esquecer aquela rabugenta — retrucou irritado. — Acredita que
ela está em um site de relacionamento, e tem até critério para o homem que
procura, e ele não pode ter mais que um metro e trinta de altura.
— Tem que dar um tempo a ela, sabe como a Ashley se sente por
causa do nanismo — a defendi, porque conhecia minha irmã muito bem,
apostava que ela se preocupava mais com Justin do que com ela mesma.
— Eu já disse milhões de vezes que não me importo com isso. —
Balançou os ombros, disfarçando o incômodo. — Vamos esquecer isso, um
dos caras do marketing me falou sobre um lugar quente...
— Quando você vem com essa conversa sei que não vou gostar.
— Só me escuta. — Apoiou os cotovelos na mesa, demonstrando
animação. — Um clube bem reservado no centro da cidade, ótimas bebidas,
garotas tirando a roupa...
— Justin. — Respirei fundo, encarando-o com seriedade. — Acha
que eu faço o tipo de que fica olhando garotas tirarem a roupa em um clube
de strip-tease?
— Não, mas...
— Eu não tenho um casamento normal, nem uma amante regular,
quando preciso de sexo, encontro uma mulher, fodo e vou embora — pontuei,
relaxando contra a minha cadeira. — Por que eu iria apenas olhar mulheres
nuas sem fazer nada?
— E aí você chegou em bom ponto. — Apontou o dedo para mim,
enchendo-se de razão. — Algumas garotas fazem outros serviços, se quiser
uma delas...
— Não sei, não quero acabar sendo pego por algum paparazzo ou
encontrar um funcionário por lá, sempre sou muito cuidadoso com esse tipo
de coisa.
— Fica tranquilo, lá é muito reservado, você vai gostar — garantiu,
e acabei cedendo.
— Tudo bem, vou acabar de olhar esses documentos e vamos.
Justin assentiu e saiu satisfeito, eu o conhecia bem para saber que
aquilo era só um jeito de mostrar que não se importava com os foras que
minha irmã dava nele, Ashley podia ser bem durona quando queria, só temia
que com essa história de afastá-lo, acabasse conseguindo e sofresse por isso.

O clube que Justin falou era realmente algo sofisticado, a entrada


aparentava ser apenas um bar luxuoso, nada explícito, ao entrarmos, ele
entregou duas entradas para um segurança. Fomos levados por um corredor
até a área onde realmente os shows eram exibidos. Recebemos outra
pulseira, fora a de consumo, não precisei perguntar para saber que a segunda
era para os serviços seletos deles, não que eu planejasse transar com alguém
essa noite.
— Vamos sentar ou quer ficar aqui no bar? — Justin perguntou
olhando ao redor. — Aquela é a nossa mesa, bem de frente para o palco.
— Vou ficar por aqui, se quiser ir se sentar — sugeri e ele negou.
— Ficaremos aqui, então. — Virou-se para o barman, fazendo um
pedido. — Um whisky duplo, sem gelo.
— O mesmo pra mim — murmurei olhando para o letreiro acima do
palco, que começava a apresentar um nome.
Liz.
Aquelas três letras pareciam ter a capacidade de me fazer parar de
respirar. Pensei em quantas mulheres existiam no mundo com aquele nome,
para o fodido destino querer brincar comigo com aquela merda de
coincidência. Respirei fundo, esperando que a mulher saísse, meu coração
acelerou, fechei as mãos em punho, sentindo-as suar. Uma batida sensual
começou e a cortinas foram abertas, só precisou de um maldito segundo para
que eu reconhecesse aquela mulher, meu corpo todo reagiu, raiva, desejo,
saudade. Era minha Liz em cima daquele palco.
Saí do palco desnorteada, meu corpo todo tremia, puxei um roupão,
nervosa, repassando os poucos segundos na minha mente, tudo pareceu tão
real que eu não conseguia pensar em outra coisa senão que Max estivesse
mesmo ali. Meu rosto esquentou de vergonha ao imaginá-lo me vendo
naquela situação, tão vulgar, mostrando o meu corpo para desconhecidos,
quando no passado recusei tantas propostas que poderia ter ajudado minha
avó. Só que hoje eu não tinha um motivo importante para fazer aquilo, nem
uma desculpa plausível, simplesmente aceitei o que a vida ofereceu para
mim.
— Que merda foi aquela. — Steven me segurou com brutalidade pelo
braço, chacoalhando meu corpo. — Quase estragou tudo!
— Eu me senti mal...
— Sabe o quanto pagaram para você fazer aquela merda de
apresentação? — a pergunta retórica foi feita com exaltação, atraindo os
olhares das outras garotas. — Podemos perder esse cachê por sua culpa,
então se recomponha, você tem uma apresentação privada.
— Quantos minutos? — Engoli meu orgulho, sabendo que brigar com
ele naquele momento só pioraria tudo para todo mundo.
— Time livre, enquanto o cronômetro estiver rodando nós estaremos
lucrando. — Soltou-me, apontando para o camarim. — Escolha o que usar e
vá, já estão te esperando na sala.
Steven saiu xingando, brigando com outra das dançarinas, ele não era
o homem que pensei que fosse, e com o passar dos anos só piorou. Quando
descobri que tinha um pai, e que ele estava vivo, imaginei que fosse alguém
que me ajudaria, me protegeria, no entanto, a única coisa que fez, foi me
explorar durante anos, e como a fraca que me tornei, permiti.
— Está tudo bem? — Becky apareceu arrumada ao meu lado.
— Eu o vi, Becky, ele está aqui — revelei agitada, ainda tentando
respirar normalmente. — Tenho certeza de que era ele, se não, eu estou
enlouquecendo...
— Liz, fica calma. — Segurou minhas mãos, levando-me para uma
das cadeiras. — Eu dei uma volta antes de me arrumar e não vi, você pode
ter ficado balançada pela notícia e acabou imaginando.
— Tem razão, essa foi a primeira coisa que eu pensei. — Frustrada,
comecei a me vestir, não tinha o porquê ficar com aquilo na cabeça, só me
atrapalharia. — Acho que essa coisa dele estar tão perto me deixou
paranoica.
— Você vai ficar bem? Se quiser posso falar com Steven, e assumir a
sua dança privada — se ofereceu, mas eu neguei.
— Não precisa, vou conseguir — respondi, dando-me conta de que
ela não deveria estar aqui essa noite. — O que aconteceu? Você não ia
passar a noite com seu cliente especial?
— Robert desmarcou, teve um problema familiar. — Fingiu não se
importar, mas estava chateada. — Acho que ele vai me dispensar a qualquer
momento, e seu pai... Steven me chamou para vir — corrigiu-se rapidamente.
— Tudo bem, não tem problema, o cretino é meu pai mesmo. — Ri
para aliviar o momento. — Quer almoçar amanhã em um lugar legal, assim
você esquece o Robert e eu paro de pensar no Max.
— Vai ser ótimo, eu pago. — Beijou meu rosto e ficou de pé quando
anunciaram seu nome. — Te vejo mais tarde.
Piscou e saiu correndo, enquanto Steven gritava para ela andar mais
rápido. Fitei-me diante do espelho e conferi a maquiagem, precisava ficar
tranquila, não podia entrar naquela sala reservada nervosa. Dentre as
fantasias disponíveis, encontrei uma de colegial, na verdade estava para
líder de torcida, foi inevitável me lembrar da quantidade de vezes que fiz o
teste enquanto estudava em River Lake, e em todas fui rejeitada, não porque
não era boa, mas sim porque eles não queriam uma garota como eu junto com
as outras.
Peguei a maldita fantasia e a vesti, não seria como torcer por um
time, mas pelo menos poderia dizer que usei uma delas. O conjunto ficou
muito bom no meu corpo, aos trinta e três anos me orgulhava de ter
conseguido manter a boa forma. Acho que fiz isso na esperança de um dia
poder me tornar uma bailarina profissional, só que os anos foram passando,
recebi muitos nãos, e descobri que meu sonho não poderia me sustentar.
As luzes da sala privada estavam parcialmente apagadas quando
entrei, havia duas portas, uma para as dançarinas e outra para os clientes, a
minha dava diretamente para o palco, subi os degraus quando a música
começou a tocar, fechei os olhos, inspirei profundamente e abri um sorri
largo, falso, que morreu no instante em que vi o único homem que me
esperava naquela sala.
Sério, com olhar autoritário, maxilar travado, fitando-me de um jeito
que eu não soube identificar, parecia com raiva, mas ao mesmo tempo
possessivo, como se me reivindicasse sem ao menos tocar. Engoli em seco
sem saber o que dizer, não conseguia me mover, estava paralisada,
encarando o homem que um dia deixei para trás.

Eu ainda não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo, um


misto de raiva e saudade estavam me golpeando com força. Justin engasgou
ao olhar para o palco, e só de pensar nele vendo Liz nua, ou melhor, todos
aqueles homens assistindo-a tirar a roupa, me fez perder a cabeça, estava
prestes a ir tirá-la de lá, mas fui contido pelo meu amigo.
— Se acalma, cara. — Empurrou-me contra o balcão, deixando o
copo sobre o mesmo. — Porra, não posso acreditar que ela...
— Nem eu — disse entredentes, tentando me desvencilhar dele. —
Vou acabar com essa palhaçada, vou tirá-la dali.
— Ficou louco? — Puxou-me, levando-me para um dos corredores,
tentando fazer eu me acalmar. — Se subir naquele palco, todo mundo vai te
reconhecer, vão comentar sobre isso.
— Fode-se! É a minha mulher...
— A sua mulher está com o amante dela neste exato momento. —
Jogou a verdade amarga na minha cara. — Aquela é a Liz, alguém que te
deixou anos atrás e você não sabe nada sobre ela.
— Você não entende. — Esfreguei o rosto irritado. — Eu nunca
esqueci aquela mulher, a minha vida parou no dia em que ela me deixou.
— E agora você quer subir até lá e arrastá-la do palco como se
tivesse qualquer direito? — argumentou e tinha razão, mas não mudava nada
para mim. — Se passaram quinze anos, Max, não foram apenas quinze dias.
— Eu não ligo, vou até lá falar com ela. — Tentei passar, e ele me
impediu outra vez.
— Se quer mesmo falar com a Liz, peça uma dança reservada, vai
poder ter um momento a sós para falar com ela.
— E onde eu faço isso? — Nervoso, olhei para todos os lados,
amaldiçoando cada segundo que perdia e que ela estava ficando nua na
frente de todos aqueles homens.
— Bem ali, quer que te espere ou...
— Pode ir ou fique para se divertir, eu só saio daqui com ela —
decretei, não havia outra opção senão aquela.
— Tome cuidado, Max, pode acabar se magoando outra vez —
aconselhou-me — Eu vi o estado em que ficou quando ela partiu, talvez se
decepcione.
— Vou arriscar, Justin — confessei, não me envergonhava em
assumir aquilo. — Sou louco por aquela mulher, a procurei por anos, e
depois que a minha mãe morreu, não parei de pensar em como nossa história
foi sabotada, então se houver a mínima chance de tê-la de volta, eu vou
tentar.
Sentado no banco acolchoado da sala privada, esperei ansiosamente
pela entrada dela, não fazia ideia se sabia que era eu quem estava lá, nem
como seria quando estivéssemos cara a cara. Nervoso, bati os pés no chão,
tentando dissipar da minha mente a imagem dela se enroscando naquela
maldita barra de ferro, saí antes que ficasse nua, mas sabia que o faria, isso
era o que estava me deixando louco.
A música finalmente começou a tocar e uma sombra surgiu na parte
de trás do palco. Como nos meus antigos sonhos juvenis Liz apareceu,
usando um maldito uniforme de líder de torcida. Seu corpo estava ainda mais
lindo, para ela, foi como se os anos nunca tivessem passado. Os seios
pequenos cobertos por um top apertado, a saia curta revelando as pernas
lindas e esbeltas, em cima de uma sandália de saltos que me fez salivar. Eu
estava furioso, mas não conseguia ignorar o quanto ela era linda, perfeita.
— Sempre quis te ver dançar pra mim com um uniforme desses —
falei amargurado e ao mesmo tempo excitado.
— Max... — Meu nome saiu como um sussurro de seus lábios.
— Eu te procurei como louco, Liz. — Cortei o espaço entre nós, e
ela recuou. — Quinze anos e eu sinto como se ainda fosse ontem. — Ficou
quieta, com os olhos arregalados em mim. — Não vai dizer nada?
— Acho melhor eu ir... — Com a voz embargada, deu mais alguns
passos para trás.
— Depois de quinze malditos anos a única coisa que tem para me
dizer é que vai fugir? — praticamente gritei, exaltado.
— Muito tempo passou, somos outras pessoas agora. — Apertou as
mãos, nervosa, desviando o olhar.
— Eu sou o mesmo Max, mas você não parece a mesma Liz que
conheci — declarei amargurado, sentindo meu corpo todo enrijecer, tenso.
— Você não é o mesmo, Max. — Balançou a cabeça, fitando o chão.
— Agora é Maxwell King, um empresário bem-sucedido, casado...
— Tive que seguir em frente depois que você me deixou. — Meu tom
saiu acusatório, mesmo que me sentisse mal por isso, não era culpa dela. —
Merda! Eu só tive que achar um jeito de não definhar enquanto pensava onde
você poderia estar.
— Eu também tive que dar o meu jeito de superar tudo...
— Belo jeito. — Apontei ao redor com desdém, cheio de ciúme,
imaginando o que mais ela teria feito durante esses últimos anos.
— Você não pode me julgar! — gritou, com o dedo em riste contra
mim. — Quer saber, eu vou embora.
Virou-se para sair, mas não deixei, nem me contive, pressionei-a
contra o corrimão que ficava ao redor do palco. De costas para mim ela se
segurou nele, ofegante como se estivesse cansada. Coloquei uma mão no seu
quadril, meus dedos procurando a pele macia, com a outra, afastei o cabelo
da nuca, estavam mais longos, com mechas claras nas pontas. Levei o nariz
até o pescoço e inspirei profundamente, inebriando-me com seu cheiro, Liz
estremeceu, os dedos ao redor do corrimão ficaram pálidos, pela força que
fazia ao segurar.
— Não sentiu nem um pouco de saudade da gente? — sussurrei,
subindo a boca e colando-a no seu ouvido. — Eu quase enlouqueci, senti
falta do seu corpo, do seu gosto, do seu cheiro... — beijei-a ali, deslizando a
ponta da língua no lóbulo —, de você inteira, Liz.
— Eu também senti... — Jogou a cabeça para trás, apoiando-a no
meu peito, enquanto minha mão descia sinuosamente, tentando entrar na saia.
— Max, é melhor não.
— Não fala isso, sinta como eu estou só por estar perto de você. —
Empurrei meus quadris contra ela, esfregando minha ereção. — Meu pau
endurece apenas de pensar em você, Liz.
Estava malditamente duro, excitado demais, o corpo tenso pelo
desejo, Liz estava toda arrepiada pelo toque, correspondendo-me em
silêncio. Queria tocá-la inteira, estava perdido apenas por estar naquela
posição. Desejei puxar aquela blusa fina, tocar seus seios, chupar os
mamilos, me enterrar dentro dela como no passado.
— Lembra como ficávamos suados depois de fazer amor? —
indaguei, beijando seu rosto lentamente, querendo chegar à sua boca. —
Você gemia tão gostoso...
— Não, Max. — Resistente, dividida, seu corpo queria e sua mente
dizia não.
— Vem comigo, vamos conversar. — Apertei-a com mais força,
como medo que se afastasse, eu a conhecia, sentia que estava querendo fugir.
— Não. — Foi mais incisiva, empurrou-me com seu corpo, e o meu
protestou pela repentina ausência. — Você é casado, pode ter esquecido
disso, mas eu não.
Ela se virou para me encarar, os olhos flamejando, irritada, no fundo
deles vi o ciúme estampado, culpei-me de imediato, estava indo para cima
dela sem explicar nada, apenas me impondo, reivindicando, tentando mostrar
que era minha, e as coisas não funcionavam dessa maneira, mas eu
resolveria isso, deixaria claro que não tinha outra opção que não fosse ter
Elizabeth Collins de novo na minha vida.
Afastei-me o máximo que pude, meu quadril se chocou contra o
corrimão do palco, enquanto Max diminuía cada vez mais a distância que
impus entre nós, era perigoso e tentador a forma que me olhava, bastou me
tocar e eu amoleci completamente em seus braços. Sentir seu corpo grande
contra o meu, vestindo aquele conjunto de terno que o deixava sexy, o jeito
como falou ao meu ouvido, sua língua me provocando daquela maneira, era
demais para suportar. Max respirava violentamente, com o maxilar
contraído, olhava-me com fome, e sabia que seria capaz de me devorar ali,
sem pensar em nada, nem nas consequências que aquilo traria para sua vida.
— Vamos para o meu apartamento, quero conversar com você. —
Seu tom era sério, altivo, não me lembrava de um dia tê-lo ouvido falar
daquele jeito.
— Eu não vou, Max. — Balancei a cabeça negando. — Não sei o
que pensa que está fazendo, mas você é casado...
— Vou te explicar...
— Não quero ouvir. — Fui incisiva, eu o interrompi porque não
queria ouvi-lo falar sobre a sua esposa.
— Caralho, Liz! — gritou exaltado, passando as mãos pelo cabelo,
deixando-os desgrenhados. — Eu estou aqui tentando e você só sabe dizer
não e não...
— O que quer que eu diga? — gritei mais alto perdendo a paciência.
— Que sentiu minha falta, que quinze anos não foram o suficiente
para te fazer me esquecer. — Mordeu o lábio inferior, como fazia no
passado, quando estava irritado demais. — Porra, eu pareço um idiota
correndo atrás de alguém que não se importa e faz apenas alguns minutos que
a gente se reencontrou.
— Eu me importo. — Meus olhos marejaram, tive que me segurar
para não chorar, a emoção por estar perto dele me deixava abalada. — Só
que sua vida agora é outra, não quero que estrague tudo por um momento de
loucura.
— Você é a minha loucura, a minha perdição... — A sua mão veio
direto para o meu rosto, segurando minhas bochechas.
— Max... — murmurei quando sua boca pairou sobre a minha.
— Chega, porra! Agora vai ser do meu jeito! — rosnou com raiva, e
me beijou.
Profundamente, cheio de tesão, gemendo como louco, mordia meus
lábios com força enquanto sugava minha língua. Foi inevitável não me
render, principalmente com seu corpo grande me dominando. Segurou minha
coxa com a mão livre, fazendo com que eu me abrisse, esfregou sua ereção
entre minhas pernas. Sua língua rodopiava dentro da minha boca, não
aguentei e subi uma mão até o seu cabelo, puxando-o mais para mim. Cacete!
Quinze anos depois e ele ainda tinha poder sobre mim, podia me dobrar com
apenas um beijo.
— Max, não pode fazer isso comigo — resmunguei, com os lábios
entreabertos, a ponta da língua ainda permanecia na minha boca. — Não
pode...
— Você não me quer? — Encarou-me desapontado, mas não se
afastou.
— Eu tenho que trabalhar... — Tentei fugir da maneira mais óbvia,
não me deixaria recuar, nem fugir.
— Você vai sair comigo daqui agora. — Fitou-me dentro dos olhos,
sua voz saiu potente, autoritária. — Não adianta recusar, gritar, pode
espernear se quiser, mas vai me escutar.
— Só pode estar ficando louco! — bradei, batendo em seu peito, na
tentativa falha de afastá-lo.
— Sou louco o suficiente para te colocar sobre os meus ombros e
levar você comigo — declarou sem hesitar. — Decida, Liz, ou sai andando
ou te carrego.
— Idiota! — Bati nele com mais força, irritada por sua estupidez. —
Não vê que isso vai acabar com a sua vida? Você é casado, Max. — Puxei
sua mão, trazendo a aliança diante dos meus olhos. — Isso aqui é de
verdade, não pode simplesmente ignorar porque está excitado...
— Acha que estou apenas com tesão? — grunhiu, comprimindo os
lábios. — Tem razão, eu estou cheio de tesão, estive com o pau duro por
você durante os quinze anos que passamos separados, e antes disso já te
desejava com loucura. — Encostou seu nariz no meu e declarou: — Mas o
que me fez continuar assim, é o amor que sinto por você e esse sentimento,
Liz, nunca me deixou.
Balancei a cabeça quando as lágrimas finalmente começaram a
escorrer molhando o meu rosto, sonhei com esse momento por anos,
imaginando que um dia Max viria até mim, diria que ainda me amava, que
me queria, desejei que isso acontecesse todas as noites, mas agora não dava
mais tempo, ele estava casado, era errado eu simplesmente aceitar estar em
sua vida e magoar outra pessoa. Nós éramos intensos demais, em poucos
minutos juntos e falávamos sobre o futuro como se existisse alguma chance.
— Só vamos conversar — concordei e ele assentiu, enxugando as
minhas lágrimas.
Tirou o terno que vestia, colocando-o sobre os meus ombros para me
cobrir, aquele simples gesto me levou de volta ao passado, onde ele fazia o
mesmo com a sua jaqueta de couro, que a propósito, ficou comigo por todos
esses anos. Saímos da sala reservada no meio das apresentações, por isso
não havia ninguém de olho em mim, peguei minhas coisas no camarim sob o
olhar atento de Max. Fiquei constrangida por ele ver de forma tão crua o que
eu fazia para viver.
Durante o trajeto ele não disse quase nada, sentada nos bancos de
couro acolchoados, analisava o caminho que fazíamos, o carro estava
impregnado com seu perfume, uma música clássica tocava bem baixinho, e
isso me fez rir, aquilo não fazia o tipo dele, na verdade, nada ali parecia ser
escolha dele, era tudo muito sério, sem vida, sofisticado demais.
— Você está rindo — constatou com a voz grave. — Isso me parece
bom.
— Só estou pensando que nada disso parece ser você. — Virei o
rosto para encará-lo. — Essa música, o carro, suas roupas...
— O tempo passou, Liz, como você eu deixei muita coisa para trás.
— Foi uma acusação velada, mesmo dizendo em um tom brando. — Assumi
a empresa da minha família, tive que fazer escolhas...
— Eu sei, te acompanhei por um tempo.
— Pois é, eu não tive o mesmo privilégio — resmungou, entrando em
um estacionamento subterrâneo.
Meu estômago embrulhou assim que o carro parou, engoli em seco
tentando respirar com calma. Ainda sentia que era um erro vir com ele, mas
meu coração dizia que era o certo, queria ficar nem que fosse alguns minutos
ao seu lado, sentir um pouco mais do seu cheiro, olhá-lo tão perto de mim,
sabendo que era real e não mais um dos meus sonhos.
Max apoiou uma mão nas minhas costas, conduzindo-me até o
elevador, ao entrarmos ele parou atrás de mim, deixando-me tensa. Senti sua
respiração no meu pescoço, seu corpo tão perto do meu, que pude sentir sua
ereção em mim. As mãos firmes rodearam meus quadris, como se tivesse o
direito de fazer aquilo, como se eu o pertencesse.
Agradeci aos céus quando as portas do elevador se abriram, saí
rapidamente me afastando, ele passou por mim e abriu a porta do seu
apartamento, indicando com o braço para que eu entrasse. Tentando me
acalmar, inspirei profundamente, dando um passo de cada vez. Olhei tudo ao
redor, as luzes se acenderam assim que entramos. Ele colocou as chaves
sobre um aparador na cor mogno, todos os móveis que vi até então eram da
mesma cor, cortinas escuras cobriam a janela, tudo bem sombrio, parecia
frio, sem vida.
Arregalei os olhos quando o vi tirar a gravata, jogando-a no chão, em
seguida começou a abrir os botões da camisa, o que fez com que um alerta
soasse na minha mente. Segurei suas mãos por impulso, impedindo-o de
continuar.
— Eu não sou uma prostituta — afirmei, olhando dentro dos seus
olhos. — Danço em boates e tiro a roupa para vários homens, mas nunca
transei com um por dinheiro.
— Não disse ou sugeri qualquer coisa do tipo — falou, segurando
meus pulsos. — Senta aqui, vou preparar alguma coisa para beber.
— Max, você disse que queria conversar. — Eu o segui até o bar,
admirando seu corpo forte, ficava tão sexy com aquela camisa branca.
Deus! Eu estava salivando por aquele homem.
— Eu senti sua falta — declarou, pegando dois copos. — Quer beber
o quê?
— Max — chamei-o em tom de repreensão.
— Então vai ser assim, direto, sem socializar?
— Ficamos poucos minutos dentro de uma sala sozinhos e o que
fizemos não pode ser chamado de socializar. — Cruzei os braços, cobrindo-
me o máximo que podia. — Sabe que é um erro estarmos aqui.
— Não é um erro, acho que te reencontrar foi o meu melhor acerto
em anos.
— Você fala bonito, age como se estivesse no controle de tudo, me
olha desse jeito...
— Que jeito? — Ergueu o queixo, com um olhar duro, ao mesmo
tempo flamejava com o desejo explícito.
— Como se quisesse me devorar, com essa... — irritei-me, negando-
me a continuar. — Você é casado.
— Liz — falou manso, quase como um gemido, andando até mim.
— Fica aí. — Estendi uma mão, como se pudesse nos afastar. —
Você tem uma esposa.
— Eu tenho. — Não se intimidou, aproximando-se mais.
— Então fica com ela, é a sua melhor escolha, a mulher certa pra
você — pontuei e ele negou.
— Ela não me leva à loucura, não me deixa excitado mesmo estando
longe de mim. — A cada passo sua voz se tornava mais grave. — Não faz o
meu coração bater mais forte, nem me deixa furioso com a simples ideia de
outro homem poder vê-la nua.
— Você enlouqueceu de vez. — Meus olhos voltaram a marejar,
enquanto sentia seu rosto perto do meu, suas mãos me envolvendo, puxando-
me para si. — Me solta.
— Caralho, Liz, assim não dá! — explodiu, quando o empurrei e o
afastei.
Alguém tinha que ser racional, não podíamos ceder àquele
sentimento, por mais que o amasse, sabia que não era certo. Quando
descobri o que ele sentia por mim, anos atrás, respeitei o Cristian da mesma
forma que desejaria ser respeitada, e não faria isso agora com outra mulher,
mesmo que não a conhecesse.
— Você não deveria querer...
— Acha que eu queria isso? Passar anos amando uma mulher sem ser
capaz de me entregar a outra? — Esfregou o rosto de maneira exasperada, o
tom de voz alterado, grosso, másculo, furioso. — Eu daria tudo para não ser
louco por você, para não te amar como eu amo!
— Então não faça, merda! — gritei mais alto.
— Eu não posso. — Meneando a cabeça negativamente, voltou a
invadir meu espaço, segurou meu rosto com as duas mãos e disse: — Amo
você, Liz, amei anos atrás e vou amar pelo resto da minha vida.
— Não faz isso — choraminguei, quando pousou os lábios
entreabertos sobre os meus.
Max me beijou com força, invadindo minha boca com a língua
molhada, não pediu permissão, nem precisava, meu corpo cedia
voluntariamente. Sem pensar nas consequências, entreguei-me outra vez,
subindo as mãos por suas costas, arranhando-o, até agarrar seu cabelo,
enfiando os dedos entre as mechas, puxando, com medo que se afastasse e a
razão nos atingisse. Só queria sentir o seu gosto, aproveitar mais.
Deixei que me arrastasse com ele, deitando-me no sofá, seu corpo
pesando sobre o meu. Afastou o terno, lutando para tirá-lo do meu corpo sem
afastar nossos lábios, o beijo intenso não cessava, mesmo que fosse difícil
respirar daquele jeito, nenhum dos dois queria parar. Max agarrou minha
coxa, fazendo-me abrir as pernas, o pau duro encontrou meu centro e ele
rapidamente começou a se esfregar, todo safado, lascivo, excitante.
— Perco a razão quando estou perto de você — sussurrou, subiu a
mão e agarrou meu seio direito, apertando com firmeza. — Diz que sentiu
minha falta, diz que ainda me quer.
— Você sabe que sim. — Encarei-o, ofegante, sem saber o que fazer
com as mãos, segurei seu rosto. — Quinze anos não foram suficientes para
me fazer esquecer.
Fui surpreendida com o sorriso genuíno que estampou seu rosto, Max
encostou sua testa na minha, roçando seu nariz no meu. Ele respirava tão
forte, que sentia as lufadas de ar contra a minha pele. O olhar penetrante,
intenso, revelava o tesão reprimido, a urgência em ir adiante, fazer o que
nossos corpos desejaram por anos, uma necessidade louca, em abstinência
daquele prazer que sabíamos só conseguir um no outro. Quando invadiu
minha boca com sua língua outra vez, não aguentei mais, Max não me
deixava apenas excitada, não era só o meu corpo desejando o dele, mas meu
coração, minhas emoções, que estavam fora de controle apenas por ele.
Por anos sonhei com o dia em que poderia tocar nela outra vez, as
noites solitárias no meu quarto, acabavam comigo segurando o pau,
masturbando-me ferozmente com as lembranças que tinha de nós, entretanto,
dessa vez seria diferente, Liz estava aqui, no meu apartamento, embaixo de
mim. Suada, ofegante, os lábios deliciosos entreabertos, gemendo meu nome
baixinho, enquanto eu me esfregava desesperadamente, louco para penetrá-la
de uma vez. Ainda que a tivesse rendida sob o meu corpo, temia que tivesse
tempo para raciocinar e se afastasse, arisca, arredia, como vinha se
mostrando ser desde que nos encontramos.
Com as mãos trabalhando nos seios e na coxa, desci a boca até o
pescoço, chupando a pele, queria marcá-la. Estava com raiva, ciúmes, tesão
e cheio de saudade. A urgência em possuir seu corpo não era apenas pelo
desejo que me consumia, o amor que guardei por anos, trancado, escondido,
emergiu com força. Olhar para ela fazia com que todo o resto desaparecesse
da minha mente, tocar então, tirava-me do centro de realidade, levando-me
para outra dimensão, onde só existia nós dois.
Subi a boca pelo seu queixo, mordiscando a pele, puxei o lábio
inferior, depois invadi sua boca com a minha língua. Ela era quente e
gostosa, deixava meu pau tão duro, que o sentia lutando contra o tecido que o
abrigava. Desisti daquele jogo de sedução, ao ver a urgência em seu olhar, a
adoração explícita neles, Liz também me queria, me amava, só era teimosa
demais para aceitar.
Prendi seus pulsos com uma mão, segurando-os acima da sua cabeça,
apoiando no braço do sofá. Desci até o seu umbigo, beijando com carinho,
meus lábios molhados a fizeram se arrepiar mais, com uma onda leve de
prazer, estremeceu, arfando, agitando-se. Lambi daquele ponto até onde o
pequeno top estava, usei a mão livre para subi-lo ao máximo e revelar os
seios pequenos. Beijei a carne macia, brincando até chegar ao mamilo,
quando o fiz, o cobri inteiro, abrindo a boca toda para devorá-lo.
— Porra! — rosnei, puxando o bico excitado com os dentes. — Que
saudade eu estava, amor.
— Eu também, Max. — Agarrou meu cabelo, contorcendo-se pelo
meu ataque. — Chupa o outro, preciso de mais.
— Vou chupar você inteira, Liz — grunhi, sugando o outro seio,
depois intercalei para que me sentisse nos dois lugares, mordi, arranhei com
a minha barba que estava por fazer, deixando a pele vermelha. — Quero
você nua.
Liz meneou a cabeça com rapidez, aproveitei para tirar a peça
superior da sua fantasia de líder de torcida, não queria admitir, mas no fundo
desejei que ela mesma tirasse, que fizesse um show apenas para mim. Tirei
aquilo da cabeça antes que gozasse apenas com a imagem dela dançando na
minha mente. Deixei meu lado dominador aflorar, com brusquidão tirei a
saia e a calcinha, louco para ver sua boceta outra vez. Fitei cheio de lasciva
a fina camada de pelos que formavam um triângulo, pequeno e perfeito.
Engoli em seco, sendo golpeado pelo tesão feroz.
Com os dedos, afastei delicadamente os lábios para ver o clitóris
escondido entre eles, estava inchado, vermelho, melado pela sua excitação.
Uma onda de frenesi me tomou, meu coração bateu ainda mais forte, como se
já estivesse acelerado desde o momento que a vi. Salivei ao passar o
polegar no meio da boceta, senti o líquido viscoso e no mesmo segundo meu
pau latejou em contrações repetidas, estava louco para gozar.
— Max, para de ficar olhando. — Liz tentou fechar as pernas, mas
não deixei.
— Fica assim. — Espalmei uma mão em cada perna, abrindo-a mais.
— Quero matar a saudade que senti dessa boceta.
— Então vem... — gemeu toda manhosa, segurou meus braços para
me fazer inclinar.
— Tem uma coisa que não te avisei sobre mim, Liz — lancei um
olhar duro para ela, contendo a vontade de comer sua boceta com pressa —,
não sou mais aquele garoto.
— Eu sei. — Passou a língua sobre os lábios, encarando-me. —
Estou vendo que mudou.
— Vai ser do meu jeito — decretei, empurrado um dedo em seu
canal, sentindo como pulsava. — Vou começar chupando a sua boceta até
sentir você gozar, depois vai ficar de joelhos e engolir o meu pau, gosto
disso bem fundo. — Abri um sorriso torto, vendo-a reagir a cada palavra. —
Depois vou te colocar de quatro no chão e montar em você...
— Meu Deus! — Jogou a cabeça para trás, desviando o olhar, mas
seu corpo gostou disso, a boceta respondeu por ela. — Quer acabar logo
com isso?
— Acabar? — Ri, adorando assisti-la daquela forma. — Estou só
começando, meu amor.
Abaixei a cabeça e bati com a língua firme sobre o clitóris, estiquei
mais os lábios vaginais e lambi por todo o caminho, debaixo para cima e de
cima para baixo, empurrei em sua entrada, tirando o dedo para ver até onde
minha língua alcançava. Liz estremeceu inteira, as mãos voltaram a puxar
meu cabelo, e não saíram dali. Gemeu alto, intercalando com gritos de
prazer, ruídos, ofegos, meu nome era clamado a todo momento. Rosnei,
esfregando o rosto na boceta inteira, sentindo seu cheio ao empurrar o nariz
entre as dobras. Soltei os lábios para que pudesse morder, eram macios e
carnudos, assim como os da sua boca.
Tive que segurar seu quadril para mantê-la parada, pois quando
comecei a sugar com força, cobrindo quase toda a boceta com a boca, ela se
perdeu, empurrando-se contra mim, agitada, gritando cada vez mais alto.
Pressionei o clitóris com a ponta da língua, depois mordisquei, para enfim
voltar a mamar. Meti dois dedos dentro do seu canal, que escorria cada vez
mais líquidos. Fodi ali, sem pausas, ergui os olhos apenas para fitar o rosto
vermelho e contorcido de Liz, que delirava de prazer. Apertando os seios,
ela berrava, ensandecida, lutava para empurrar os quadris, como se estar
com a boca nela já não fosse o suficiente, mas aquela não seria a última vez,
daria a oportunidade de ela esfregar aquela boceta gostosa na minha cara,
faria isso com prazer.
— Ah, Max... — choramingou, olhando para mim. — Vou gozar!
— Eu sei, quero isso. — Sorri com a boca colada nela, enquanto
meus dedos trabalhavam. — Goza agora, quero ver.
— Não, quero com você dentro de mim... — Tentou forçar minha
cabeça para trás, mas não conseguiu.
— Você vai ter meu pau na sua boceta, Liz — afirmei. — Pelo resto
da vida, agora faz o que eu mandei.
— Não. — Balançou a cabeça negando, tentando se desvencilhar.
— Vamos ver se não vai — rosnei, mantendo-a presa, enfiando os
dedos fundo em sua boceta.
Chupei cada vez mais forte, sugando o clitóris enquanto Liz
suplicava, mantive os olhos nela, vendo-a chorar. Porra! Não dava para
acreditar, lágrimas escorriam, os lábios entreabertos em um grito mudo, mas
que começou a ganhar força, ecoando pelo lugar inteiro, ela tremeu, se
esticou, gozou de uma maneira arrebatadora. Senti meu próprio corpo se
contrair, meu pau latejou e meus quadris se moveram involuntariamente, o
tesão feroz me dominou de um jeito que não aguentei, ejaculei ali, preso
àquela imagem de Liz tendo prazer.
Quando comecei a me acalmar depois daquela onda poderosa de
prazer, não acreditei que tivesse feito aquilo, gozar sem nem ao menos me
tocar, apenas chupando uma boceta, mas não era qualquer uma, por isso
perdi o controle como nunca fiz. Liz era a minha perdição, com ela tudo saía
do normal, perdia a razão e o controle de mim mesmo.
— Vem aqui. — Fiquei de pé, respirando irregularmente. — Veja o
que fez comigo.
— Você gozou? — Abriu um sorriso provocativo, que mais me
excitou do que qualquer outra coisa.
— Tire a minha roupa e veja, Liz. — Estiquei a mão para que ela
pegasse, e assim o fez, vindo ao meu encontro.
— Você parece ainda mais alto — sussurrou tocando meus ombros,
nua daquele jeito, ficaria difícil me segurar.
— Impressão sua. — Toquei seu rosto com carinho, enquanto ela
terminava de abrir os botões da minha camisa, que anteriormente eu tinha
tentado e fui impedido.
— Mas está mais forte, seus braços... — deslizou uma mão pelos
meus bíceps, e com a outra, arranhava o meu peito — seu abdômen...
— Aí também está mais grosso — provoquei, quando alcançou o cós
da minha calça e esfregou meu pau por cima do tecido.
— Está bem melado, deve ter gozado muito — disse, ao desfazer
meu cinto, para então descer o zíper lentamente.
— Vou gozar mais quando estiver dentro de você. — Segurei seu
pescoço com firmeza e ordenei: — Se ajoelha e chupa meu pau, esfrega ele
no seu rosto, lambe a minha porra.
Com os olhos grandes em mim, obedeceu, caindo de joelhos. Abaixei
minhas calças pelo resto do caminho, livrando-me dela e dos sapatos. De
onde estava, Liz passou o olhar pelo meu corpo inteiro, a expressão saciada
que estava em seus olhos segundos atrás desapareceu, dando lugar àquela
fome que eu conhecia bem. Bombeou meu pau melado de esperma, fitando-o
com desejo, levou o nariz até a minha virilha e desceu até meu saco,
inspirando profundamente. Massageou minhas bolas, enquanto cheirava, até
que senti a ponta da língua me acariciar ali. Enrijeci quando ela moveu a
boca mais para baixo, quando transamos a primeira vez, Liz já era
experiente, fez coisas comigo que nenhuma outra conseguiu fazer.
— Você é cheiroso — murmurou rouca, brincando com aquela língua
perigosa. — Esfrega o seu pau no meu rosto, do jeito que você quer.
— Não brinca comigo, Liz. — Segurei meu pau pela base, enquanto
ela acariciava meu saco com as pontas das unhas. — Estou cheio de tesão,
se não me controlar...
— Não se controla — pediu, enquanto arrastava o meu pau melado
em sua bochecha, meu esperma começou a colar na sua pele. — Quero que
me foda do seu jeito, bem duro, para nunca mais esquecer.
— Você não vai esquecer, eu vou te comer pelo resto da minha vida
— garanti, ela pensava que aquela era uma transa de despedida, mas estava
enganada.
Cerrei os dentes quando Liz abriu a boca, esperando que eu a fodesse
ali. Toquei sua bochecha com o polegar, depois deslizei a mão, infiltrando
os dedos em seu cabelo, agarrei com firmeza e movi o quadril devagar,
enterrando metade do meu pau dentro da sua boca molhada, enchendo-a, sem
resistência, porque era minha.
— Porra, Liz! — Empurrei mais fundo, com um punhado dos seus
cabelos preso na minha mão. — Engole bem fundo, bem gostoso... Ah,
caralho!
Esqueci de qualquer cuidado que deveria ter e fodi aquela boca com
brutalidade, Liz abriu o máximo que pode, babando tanto que a saliva
escorria pelo queixo, manteve os olhos nos meus, flamejando, adorando me
ter daquela forma, rendido, todo dela. Sabendo disso, levou aquela bagunça
molhada do seu queixo até minhas bolas, que batiam a cada estocada,
agarrou às duas e massageou lambuzando, quando senti o dedo sorrateiro
pressionar meu períneo, soube que cairia malditamente, gozaria em
segundos. Minhas pernas enfraqueceram, meu corpo tencionou, e eu me
afastei, saindo abruptamente da sua boca.
— Vem. — Puxei-a pela mão, levando-a até o sofá, na posição que
eu queria, de quatro. — Segure firme, Liz, não vou conseguir ser brando.
— Eu aguento tudo — disse com malícia, virando o rosto para me
mostrar seu sorriso sacana.
— Filha da puta — grunhi, encaixando meu pau na boceta, segurei
seu quadril com uma mão e com a outra agarrei o ombro. — Vai ter que
aguentar mesmo.
Investi contra ela, enterrando-me de uma vez só, Liz gritou pela
invasão, e sua boceta fodidamente apertada se contraiu ao meu redor, fui
recebido pela quentura, então me dei conta que nem sequer pensei em
preservativo. Foda-se! Aquela era a minha mulher, não me preocupei com
nada, mesmo que fosse irresponsável, ignorei. Meti com estocadas brutas, o
som animalesco de sexo preencheu o lugar, nossos gemidos e rosnados se
misturaram como uma cantiga excitante que estava me levando à loucura.
Porra! Como eu senti saudade daquilo, dela, do sexo, do calor, do sentimento
que era tê-la por completo.
— Ah, Max, isso! — gemeu, agarrando-se no sofá, estremecendo, a
carne polpuda da bunda balançava, ficando vermelha pela força dos golpes
que recebia dos meus quadris. — Que gostoso! Senti tanta falta...
— Eu também, meu amor. — Soltei o ombro e levei as mãos ao
pescoço fino, puxando-a para mim. — Sua boceta é uma delícia, me aguenta
todo.
— Mete mais, me come com tudo. — Virou o rosto, os lábios se
abrindo ao me chamar. — Me beija, Max, me fode e me beija.
Fitei seus olhos com intensidade, estava completamente perdida,
dominada, entregando-se apaixonada, me queria. Mordisquei sua orelha e fui
descendo pelo queixo até chegar na boca, mas foi Liz que puxou aquele
beijo, faminta, gemendo nos meus lábios enquanto eu a comia com força, sem
parar. Eu estava em chamas, queimando por dentro e por fora, tomando tudo
o que me dava e pedia, ainda assim, não parecia ser o suficiente. O gozo
vinha até a ponta do meu pau, mas eu retardava, segurando-me para
prolongar o máximo possível.
Apoiei um pé no sofá, o outro firme no chão, soltei a mão que
segurava o quadril e a levei até os seus seios, agarrando um e outro, puxando
os mamilos, amassando, sentindo a maciez. Sem fôlego, continuei a chupar
sua língua, engolindo seus gemidos, nossos corpos chocando-se, as
sensações dominando meu corpo tornando-se impossível de suportar.
Aumentei a intensidade das estocadas, sabendo que ela gozaria logo, e eu
também, meu pau parecia inchar dentro da sua boceta, ficando cada vez mais
apertado. Minha mente rodopiou, meu corpo inteiro respondeu.
Quando Liz gritou meu nome, contorcendo-se em meus braços,
desesperada, soltei um gemido gutural, esporrando dentro dela, todo
enterrado, apenas as bolas de fora, contraindo-me para frente, como se
houvesse mais espaço. Não saí, nem a soltei, fiquei agarrado a ela enquanto
os últimos espasmos de prazer percorriam meu corpo. Respirei relaxado,
feliz e completo, pela primeira vez em anos gozei com verdadeiro prazer,
tudo isso porque ela estava de volta à minha vida e era minha outra vez.
Deitada de bruços, sentia os beijos quentes de Max em minhas
costas, fazendo um caminho sinuoso pela coluna, até alcançar meu pescoço,
quando o fez, voltou distribuindo mordidas até a minha bunda, fazia esse vai
e vem perverso, torturando-me lentamente, enquanto minha mente tentava
voltar para o lugar, raciocinar era difícil com ele em cima de mim, fazendo-
me querer mais.
— Você não faz ideia de como senti sua falta. — Deu uma mordida
na minha bunda, antes de me cobrir com seu corpo. — Sou louco por você,
Liz, não sei quantas vezes vou ter que repetir para que entenda.
— Eu entendi...
— Não entendeu — resmungou, caindo para o lado, olhando
diretamente para mim. — Eu sinto que você está a um passo de sair correndo
daqui.
— Você não entende, Max. — Afastei sua mão do meu quadril,
precisando de espaço, estávamos nus, e isso dificultava tudo.
— O que eu não entendo, é o fato de ter passado quinze anos longe
de você e agora que estamos aqui, juntos, quer me deixar! — exclamou
irritado, e com razão, eu me sentia da mesma forma, não queria ter que
deixá-lo.
— Você é casado, droga! — Levei as mãos ao rosto, cobrindo o
choro que me tomou repentinamente, só de pensar naquilo, me machucava.
— Liz, o meu casamento é complicado... — começou com uma frase
tão clichê que fez meu sangue ferver.
— Não quero ouvir esse papinho — neguei, tentando levantar, mas
ele me impediu, puxando-me para o seu peito.
— Vamos conversar, falar sobre o que aconteceu — pediu em um tom
mais brando, acariciando minhas costas. — Fui à sua casa quando soube que
partiu, tive que fugir do hospital para ter certeza de que tinha feito aquilo
mesmo.
— Eu precisei — confessei, engolindo em seco. — Não queria
estragar sua vida, nem te causar mais problemas.
— Sempre te disse que não era e nunca seria um problema. —
Olhando para mim, com a boca próxima à minha continuou: — Quando você
se foi tudo acabou pra mim, fiquei no chão do seu quarto chorando feito um
idiota, acreditando que tinha ido embora com Cristian.
— Isso não é verdade. — Desvencilhei-me para sentar, nervosa por
imaginar que era isso que ele pensava de mim. — Nunca mais falei com
Cristian desde quando fui presa, eu parti porquê... — A verdade ficou presa
na ponta da minha língua, então lembrei-me da notícia sobre o falecimento
de sua mãe e recuei. — Eu precisei.
— Você foi embora por causa da minha mãe — disse entredentes,
quase rosnando de irritação. — Deveria ter me contado, jamais teria deixado
você ir embora.
— Como você soube? — Franzi o cenho, intrigada, ninguém sabia
daquilo, exceto Freda e eu.
— Minha mãe me contou antes de morrer, pensou que faria alguma
diferença. — Meneou a cabeça em um gesto negativo, indignado. — Esperou
quinze anos para me dizer que foi a única culpada por eu ter perdido você,
me deixou acreditar que tinha sido trocado...
— Eu nunca faria isso, Max. — Fitei minhas mãos, nervosa,
imaginando que todos naquela cidade pensavam o pior de mim.
— Não acreditei até ligar para o Cristian, ele afirmou que você
estava em Great Forest na cama dele. — Respirou fundo, desviando o olhar,
para em seguida me olhar com intensidade, vi a mágoa estampada ali. —
Mesmo sabendo disso arrumei justificativas, não quis aceitar.
— Sua mãe me disse coisas horríveis, Max, eu só tinha dezoito anos
e pensei que ela realmente tivesse razão — expliquei, começando a me
sentir envergonhada. — Fui até o seu jogo para tentar acertar as coisas,
então você se machucou...
— Foi uma fatalidade, Liz, apenas caí de mal jeito e tive uma fratura,
isso acontece o tempo todo nos esportes.
— Mas, Freda, me disse que você estava perturbado, que não
descansou, que ficou atrás de mim enquanto eu te rejeitava... — Minha voz
embargou, o choro outra vez ameaçava me dominar. — Acreditei que tinha
sido a culpada por aquilo e depois de tantos problemas que causei, imaginei
que uma hora ou outra acabaria me odiando e me culpando por tudo.
— Você tem pouca fé no meu amor. — Desanimado, segurou minha
mão, acariciando meus dedos. — O problema é que você não só fugiu,
simplesmente desapareceu sem deixar um mísero recado, acreditou na minha
mãe...
— Disse bem, sua mãe — o cortei, vendo aonde queria chegar, eu
tinha minha parcela de culpa, mas não era a vilã da nossa história. — Aquela
mulher que te tirou de um inferno, te deu uma vida maravilhosa e prometia
um futuro esplendoroso. — Apontei ao redor, frisando o lugar que morava.
— Veja só onde está, Max, sua carreira, sua empresa, seu apartamento
luxuoso...
— Trocaria tudo por você — garantiu, o olhar sério, expressão
fechada, claramente mal-humorado —, mas não me deu a oportunidade de
escolher.
— Não queria que fizesse essa escolha, nem me colocar entre você e
a sua família. — De repente me senti envergonhada, cruzei os braços,
cobrindo os seios, na tentativa falha de me esconder. — Eu era uma garota
sozinha e sem nada a perder, não queria que tivesse o mesmo destino que eu.
Eu o ouvi rosnar baixo, fitando o teto, chegando na parte da história
que ele não queria ouvir, eu mesma não queria contar, mas se estávamos
colocando tudo sobre a mesa era necessário. Desejei que ele soubesse que
as escolhas que fiz não eram porque gostava e sim por necessidade, ou
melhor, falta de oportunidade. Enxuguei meu rosto molhado, enchendo-me de
coragem para começar a falar.
— Se lembra do número que minha avó me deixou? — perguntei, ele
apenas assentiu, calado, ainda sem me olhar. — Era do meu pai, eu nem
sabia que tinha um até descobrir que Steven Collins morava em South Last.
— Achei que o seu pai estivesse morto. — Seu comentário saiu
como um sussurro.
— Eu também, mas ele estava bem vivo, e quando contei sobre a
morte de Abigail ele se dispôs a me ajudar.
— E onde ele está? — Olhou-me de soslaio, ainda mantendo a
expressão dura.
— Neste exato momento deve estar recebendo o pagamento das
apresentações que fizemos hoje na boate — revelei e isso o fez finalmente
reagir.
— Está me dizendo que o seu próprio pai te prostitui? — indagou em
um tom mordaz.
— Eu não sou prostituta, já falei! — defendi-me, rebatendo com
raiva. — Apenas danço e...
— Tira roupa! — pontuou com rispidez. — Fica nua para que
homens te vejam, isso dá no mesmo...
— Nenhum daqueles clientes nunca me tocou — afirmei com altivez,
odiando aquele olhar que me lançava. — Não transo por dinheiro, nunca
transei...
— E como acabou nisso? — Puxou os lençóis para se cobrir até os
quadris, ao se sentar. — Você tinha o ballet...
— Disse bem, eu tinha — ironizei com amargura. — South Last é
uma cidade grande, procurei por seis meses qualquer academia que me
aceitasse, só recebi mais negativas do que esperava. — Respirei fundo,
querendo pôr logo um fim naquela história. — Steven me chamou para cobrir
uma garota uma noite, acreditei que fosse uma dança comum e quando vi
estava tirando a roupa por dinheiro.
— Deveria ter voltado, me procurado... — Agitou-se, inconformado.
— Voltar para onde, Max, para um lugar onde não tinha ninguém? Um
lugar onde todo mundo me detestava...
— Eu te amava, caralho! — berrou furioso.
— Deveria me agradecer por ter partido, foi melhor assim... —
Ignorei sua declaração, que me atingiu em cheio.
— Agradecer pelo quê? — Suas feições se encheram de raiva. —
Por ter fodido a porra do meu coração?
— Você não entende! — Minha voz atingiu um tom mais alto que a
sua, era o desespero entalado na minha garganta ganhando força. — Achei
que me odiasse naquele momento, depois de tudo que causei, a forma como
fui embora.
— Meu amor superaria tudo, a raiva, a mágoa até mesmo o ódio. —
Sua voz grave me atingiu, com um tapa bem dado na minha cara, fazendo
perceber o grande erro que tinha cometido. — Eu teria perdoado até mesmo
se tivesse ido atrás do Cristian, supliquei todas as noites que por qualquer
razão você voltasse...
— Eu não sabia — aleguei em minha defesa. — Fiquei e paguei o
preço por isso, fui humilhada, e acreditei que não valia muito, que era essa
vida que me restava. — Dei de ombros, segurando-me para não desabar. —
Depois de suportar muito arrumei um apartamento pequeno, consegui um
trabalho em meio período em uma lanchonete aqui no centro...
— E ainda assim trabalha pra ele? — A pergunta saiu mais como
uma acusação.
— Você tem dinheiro, acha que tudo é fácil...
— Nem sempre tive e você sabe disso! — defendeu-se com fervor,
gostava de julgar, mas não de ser julgado.
— Você foi um entre um milhão, Max — apontei sem a mesma
ferocidade de antes. — Conseguiu uma boa família, lidou com a sua dor e o
dinheiro ajudou.
— Não foi fácil assim. — Abaixou a cabeça, e me amaldiçoei por
entrar naquela pauta, não queria me referir à sua perda como se não fosse
nada.
— Me desculpe, eu não queria falar dessa forma — expliquei
constrangida, mas não recuei. — Nossas dores são diferentes, Max, nossas
dificuldades também e acredite, eu trabalharia em qualquer coisa para não
precisar me submeter a isso.
— Me perdoe. — Segurou minha mão, aproximando-se de mim. —
Estou morrendo de ciúmes e deixei a raiva me dominar.
— Tudo bem. — Apertei os lábios, e olhei ao redor tentando
localizar as minhas roupas. — Eu só queria explicar que não foi fácil, mas
estou bem perto de deixar essa parte sobre mim no passado. — Abri um
sorriso mediano, falar sobre isso me animava. — Estou guardando dinheiro
para um apartamento, mais alguns meses e talvez eu consiga me manter até
achar um emprego em tempo integral.
— Eu posso...
— Nem pense em completar essa frase. — Apontei o dedo em riste,
interrompendo. — Não quero o seu dinheiro, nem a sua ajuda, piedade,
chame do que quiser, mas eu não quero — enfatizei, tremendo.
— Só quero te ajudar, quero você comigo... — declarou com calma.
— Me escuta, Liz...
— Já disse que não quero. — Fiquei de pé, nua, procurando pela
minha roupa.
— Você é tão teimosa, porra!
Ouvi os passos pesados, seguindo-me pelo cômodo, abaixei-me para
pegar minha saia, e ele me puxou, colando aquele pau grosso na minha
bunda, estava duro, quente, fez o desejo latejar em mim. Suas mãos se
apossaram dos meus seios, cobrindo os dois, apertando com aspereza, a
boca veio ao meu pescoço, distribuindo mais beijos, que seriam a minha
perdição.
— Chega, Max, não quero te magoar...
— Então não magoe — sussurrou ao pé do meu ouvido. — Diz que
vai ficar comigo, que vamos nos dar outra chance.
— Você é casado — acusei, prestes a ceder outra vez.
— Não me deixou explicar isso, foge de mim como uma gata arisca...
— Vai dizer que precisa de tempo para se separar, vou ficar
escondida enquanto desfila com a sua esposa — aditei o que imaginava do
nosso futuro. — Eu te amo tanto que vou aceitar, vou me acomodar, e no fim
serei a outra enquanto vocês seguem com a vida e tem filhos.
— Você é inacreditável — grunhiu, soltando-me, afastando-se
completamente. — Sempre pensa pouco sobre o que eu sinto, parece que não
me conhece...
— Não conheço, Max. — Peguei o que encontrei pela frente e
comecei a vestir. — Se passaram quinze anos, não sabemos nada um do
outro. — Encarei-o e indaguei: — Confia em mim? Acredita em tudo o que
eu te disse? Não acha que sou uma prostituta?
— Se não confiasse em você não teria transado sem preservativo,
nem gozado dentro de você sem me preocupar. — Sua declaração me trouxe
de volta à realidade, sequer pensei nisso, só agora me dava conta que estava
cheia do seu esperma.
— Eu tomo pílula, e estou limpa...
— Eu não ligo. — Deu de ombros, como se realmente não se
importasse. — Conheço a minha mulher, foram quinzes anos, não posso
exigir que tenha se abstido de sexo, eu não fiz, mas nunca deixei de me
proteger e sei que você também não.
— É um perigo confiar demais, Max.
— Mas eu confio em você, acho que quando se trata de Elizabeth
Collins eu fico cego, perdido... — Enfiou os dedos no cabelo, penteando-os
para trás. — Pena que não é recíproco, não é?
— Claro que confio em você, sei que não faria nada para me
machucar.
— Então por que não acredita quando digo que te quero? — bradou,
impaciente, o corpo grande, nu, imponente parado diante de mim.
— Eu acredito, mas essa aliança tem que ser importante pra você,
não quero chegar na sua vida e estragar tudo...
— Essa merda não significa nada! — Tirou o aro do dedo e o jogou
no chão. — Meu casamento é uma farsa, só fiz isso...
— Max? — A voz feminina surgiu na entrada do apartamento,
chamando. — Está tudo bem? Escutei seus gritos...
Fiquei paralisada, o nó se formando na minha garganta. Devia ser
ela, esposa dele, a mulher com quem dividia a vida pelos últimos anos.
— Merda! — ele xingou, procurando por algo pra vestir.
Foi a minha deixa, saí do estado de letargia que me atingiu, agarrei
minha bolsa e saí correndo, Max me gritou ao ouvir meus passos, mas não
parei. Esbarrei com a mulher linda na porta, o cabelo mais escuro do que o
meu, rosto fino, olhos grandes e claros, usando um longo sobretudo elegante,
era ela mesma, eu a reconheci das fotos do jornal. Antes que pudesse me
perguntar qualquer coisa, fugi, cheia de vergonha e culpa. Nenhuma mulher
merecia passar por aquilo, mesmo que seu casamento não fosse perfeito.
Entrei no primeiro táxi que vi, ainda que pagasse um absurdo pela corrida,
só queria ir para bem longe dali ficar o máximo possível longe de tudo
aquilo, não podia estragar com tudo outra vez.
Bastou ver o pavor nos olhos de Liz ao escutar Scarlet me chamar,
que eu soube que ela fugiria. Ela correu da sala em direção à porta de saída.
Vesti minha calça às pressas seguindo-a, mas dei de cara com a minha
esposa, olhando para o elevador que sinalizava estar descendo. Não quis
perder tempo explicando e desci pelas escadas, respirando irregularmente
corri o quanto pude, entretanto, não foi o suficiente, ao chegar no térreo
minutos depois, Liz não estava, fui para a longa avenida, praticamente nu,
pouco me importando se alguém me veria dessa forma, ainda assim não
havia sinal dela.
Conformei-me que tinha fugido outra vez, desanimado, passei pela
recepção, recebendo olhares dos seguranças e do porteiro. Com certeza
estavam me achando um louco, ou pior, um infiel que foi pego em casa com
sua amante.
— Não quero uma palavra sobre isso com ninguém — ordenei,
lançando um olhar pouco amigável a eles.
— Claro, senhor King, fique tranquilo — o porteiro garantiu e os
seguranças assentiram.
Peguei o elevador para subir, tentando me acalmar, no entanto, a
sensação de que a havia perdido outra vez me atingiu. Amaldiçoei por todo
caminho, até entrar em casa e ser recebido por Scarlet, que parecia
assustada com o que aconteceu. Em anos de casamento nunca me viu naquele
estado, nem encontrou outra mulher em nossa casa. Éramos rígidos com isso,
ela tinha um lugar seguro para encontrar seu amante, e eu terminava meus
encontros casuais em um motel.
— Max, o que aconteceu? — Tentou se aproximar, mas estendi um
braço pedindo distância. — Eu não sabia que tinha alguém com você.
— Não foi sua culpa — esclareci, ainda abalado pelos últimos
minutos.
— Essa é a nossa aliança? — Apontou para o aro, caído ao lado da
calcinha que Liz esqueceu.
— Porra! — rosnei, abaixando-me para pegar o tecido de renda
branca impregnada com o cheiro da mulher que me levava à loucura. — Me
desculpe por isso, Scarlet, achei que não fosse voltar.
— Não tem problema, é que você nunca trouxe ninguém para casa —
falou, ainda com o olhar baixo.
— Aquela mulher que saiu daqui era a Liz — expliquei, enfiando a
peça que queimava em meus dedos no bolso da minha calça. — A
reencontrei e não pude levá-la para um motel, por isso a trouxe aqui.
— Podia ter me avisado, não queria te atrapalhar. — Abaixou-se,
pegando minha aliança que continuou caída e me entregou em seguida. — Se
tiver alguma coisa que eu possa fazer me avisa, vou viajar com Peter na
próxima semana, posso ficar com ele para você ter privacidade.
— Eu agradeceria. — Fui sincero, ela sorriu gentilmente e me
perguntei como diria que precisávamos conversar sobre o nosso acordo. —
Vou trás dela amanhã, preciso encontrar seu endereço, saber onde mora,
onde trabalha...
— Você a encontrou em que lugar? — Mostrou-se interessada,
colocando sua bolsa sobre o sofá, o maldito sofá que eu havia trepado. —
Pode voltar lá e procurar por ela.
— Tentarei isso, mas não acredito que consiga. — Não justifiquei,
era a intimidade da Liz. — Ela me disse que trabalha em uma cafeteria, só
não entendo como nunca encontrei nada no nome dela, nenhum vínculo
empregatício ou plano de saúde...
— Qual lugar ela disse que trabalhava? — Pegou seu notebook que
estava em uma mesa próxima a nós. — Talvez encontre algo na internet.
— Não disse, apenas falou que era uma lanchonete no centro de
South Last. — Abri uma barra de pesquisa, procurando por qualquer vestígio
dela. — Merda! Não aparece nada!
— Deixa eu ver. — Virou o aparelho para ela, começando a digitar.
— Tem algum familiar, alguém que possa ter assinado o contrato de locação
por ela?
— Steven Collins, veja se aparece algo — pedi e ela rapidamente
abriu uma lista de locações, Scarlet era boa com aquilo, trabalhou por quase
um ano na King, até sua mãe a convencer de que uma esposa deveria ficar
em casa e não no escritório com o marido.
— Três Steven Collins, o padrão...
— Procure pelo mais barato — sugeri, e só sobrou um.
— Olha aqui, fica bem perto, mas pode ser. — Olhou para mim
preocupada. — Melhor ir até o lugar onde trabalha, deve ser esse endereço,
é o mais próximo do conjunto de apartamentos.
— Tem razão, vou cuidar disso amanhã. — Fiz uma leve carícia,
levantando-me para seguir para o meu quarto. — Obrigado por me ajudar e
ser compreensiva, e mais uma vez me desculpe pelo que viu.
— Fique tranquilo, Max. — Apertou minha mão com uma
demonstração respeitosa de carinho. — Você sempre foi compreensivo
comigo, mais do que qualquer um poderia ser, se tiver algo que possa fazer.
— Não tem, ela não acredita em mim — revelei e recebi um olhar
pesaroso de volta.
— Você explicou que nós temos um acordo? Disse que nosso
casamento não é real?
— Ela duvida, e quando você chegou acho que teve a certeza de que
queria — expliquei, mas logo me adiantei para que não se sentisse culpada.
— Mas você não tem nada a ver com isso, são problemas do nosso passado
que ainda não resolvemos.
— Tudo bem, mesmo assim, conte comigo para o que precisar —
afirmou e eu assenti, agradecido.
Deixei Scarlet na sala e segui para o quarto, estava cheio de raiva e
com um tesão desgraçado me atormentando. Nem toda conversa que tive com
Liz, foi capaz de aplacar a saudade que eu sentia dela. Entrei no banheiro
precisando de uma ducha para aliviar a tensão do meu corpo, deixei que a
água relaxasse meus músculos, mas apenas o cansaço foi embora, minha
ereção continuou firme até a hora em que fui me deitar. Não resisti, e acabei
pegando a calcinha que deixou, levei-a até o nariz, e como um maldito
pervertido inalei seu cheiro enquanto bombeava meu pau, lembrando da
sensação de estar dentro dela outra vez, aquilo não era o suficiente,
entretanto, bastaria até que colocasse minhas mãos nela de novo.

Deslizei entre as mesas da lanchonete parecendo um zumbi, não


preguei os olhos a noite inteira, estava exausta, meu corpo doía, ainda podia
sentir Max dentro de mim, em cada parte. Era como se ele tivesse feito com
aquela ferocidade apenas para que eu não esquecesse, e ansiasse por mais.
Como sempre, as coisas entre nós fugiram do controle, fomos rápido demais,
sem pensar nas consequências, e o destino logo tratou de nos lembrar, a
chegada da esposa dele me fez perceber o quanto foi errado.
— Está se sentindo bem, Liz? — Faith, outra garçonete que dividia o
turno comigo, perguntou. — Se quiser falar com o nosso chefe sobre sair
mais cedo, consigo te cobrir, está tranquilo.
— Obrigada, Faith, estou bem, só não dormi direito à noite. —
Ajudei-a com as bandejas, colocando do outro lado balcão.
— Bom, então vou cuidar disso lá dentro, se precisar me chame. —
Piscou, indo para a cozinha.
Peguei minha caderneta de pedidos ajustando meu avental, segui a
hora seguinte anotando os pedidos e voltando até as mesas para entregar.
Gostava de trabalhar ali, meu chefe era legal, o lugar era calmo, logo que
conseguisse um valor confortável para investir em um apartamento, ficaria
trabalhando apenas aqui, até encontrar algo melhor e em tempo integral.
O som de saltos batendo no chão chamaram minha atenção, enquanto
anotava um pedido, vi a morena alta entrar na lanchonete. Sua roupa, seu
cabelo, ela inteira parecia não se encaixar ali, com aquela elegância,
provavelmente não frequentava um lugar como esse, por isso tinha certeza de
que estava atrás de mim. Engoli em seco, seguindo-a até uma mesa, ao se
sentar, encarou meu crachá e abriu um sorriso ao identificar meu nome.
— Ah, graças a Deus vim ao lugar certo. — Suspirou aliviada,
colocando a bolsa ao seu lado no banco. — Sou a Scarlet — se apresentou,
mas não usou o sobrenome King. — Liz, posso te chamar assim?
— Claro — respondi engasgada, empalidecendo ao imaginar a
confusão que arrumaria, acabaria perdendo o único emprego decente que
tinha.
Fiz um sinal para que Faith assumisse meu lugar com os pedidos,
sentei-me no banco à frente da mulher que me encarava com curiosidade.
Não sabia o que dizer, apenas a encarei desconfiada e tensa.
— Pelo jeito você sabe quem eu sou — declarou com a voz calma.
— Não estou aqui para causar problemas, Liz, na verdade estou te
procurando há algumas horas, passei em outros estabelecimentos até chegar
aqui.
— Por quê? — mesmo sabendo o motivo, perguntei.
— Ontem você saiu correndo e o Max ficou muito mal, ele me contou
sobre a história de vocês e disse que não acredita nele. — Ela parecia
tranquila com aquilo, não dava nenhum indício que iria criar um conflito. —
É verdade?
— Eu não sei o que o Max te falou sobre mim, mas garanto que não
temos nada — me adiantei, constrangida por estar naquela situação. — Seu
casamento está seguro, nunca atrapalharia...
— Espere um pouco, Liz. — Cobriu minhas mãos com as suas, de
forma delicada. — Max não te falou sobre nós? — inquiriu. — Não contou
que nosso casamento não é real?
— Ele me disse, mas... — Balancei a cabeça sem acreditar que ela
me dizia aquilo.
— Acho que não explicou direito. — Inclinou-se para frente, ficando
mais próxima a mim. — Vim de uma família muito parecida com a do Max,
eles exigiam que eu me formasse, tivesse um bom casamento e me tornasse
uma mulher importante da alta sociedade.
— Confesso que li um pouco sobre você.
— Imaginava que tivesse feito, mas estou aqui para dizer que não
tenho nada com Max...
— Estou vendo uma aliança no seu dedo. — Apontei o aro que ela
parecia ignorar.
— Isso é só fachada, Liz, acredite em mim. — Seu rosto corou, e ela
colocou o cabelo atrás da orelha, respirando fundo. — Quando conheci Max,
já tinha alguém na minha vida, o nome dele é Peter, era o meu motorista na
época que morava com os meus pais.
— Eu não fazia ideia... — comecei a prestar mais atenção, um pouco
aliviada. — Vocês estão casados há anos.
— Max aceitou que eu mantivesse meu relacionamento com Peter, a
única coisa que ele buscava era um negócio com a minha família, quero
dizer, isso era o que Freda, a mãe dele queria. — O nome daquela mulher
saiu de forma ríspida dos lábios. — Você a conheceu, sabe como ela era
controladora.
— Sei bem, foi por causa dela que tomei a decisão de sair de River
Lake. — Torci o lábio, incomodada. — Na verdade, tive meus próprios
motivos, mas Freda foi um fator essencial.
— Imagino que sim, ela manipulou tudo para que Max e eu nos
casássemos o mais rápido possível. — Uniu as mãos, e falou com franqueza:
— Foi Freda quem descobriu sobre meu romance com Peter, e tratou logo de
revelar aos meus pais, tirar a pedra do caminho, sabe?
— Eu fui a pedra no caminho do Max, imagino como você e Peter se
sentiram.
— Ele ficou furioso comigo, queria que eu lutasse, que fugisse, mas a
minha família acabaria conosco, tive medo, e também não queria parecer
egoísta e abandonar meus pais. — Senti pena de Scarlet, ela estava
realmente envergonhada. — No fim ficamos alguns meses separados, Peter
não queria me ver e eu fiquei arrasada, então o Max foi até ele explicou
tudo, disse que nunca tínhamos nos tocado, nem na noite de núpcias, nada.
— Então você e Max nunca transaram? — Fui direta, e Scarlet olhou
sobre os seus ombros.
— Apenas uma vez, eu juro — confessou abalada. — Depois de um
ano, Peter ainda não conseguia entender como eu vivia casada com outro
homem, ele me deixou e eu bebi demais, cheguei em casa e Max estava lá,
sofrendo por você.
— Não precisa continuar — avisei, já podia imaginar o que
aconteceu.
— Me arrependi muito e Max também, depois daquilo fiquei
deprimida, me culpava por fazer Peter sofrer, por ceder à pressão da minha
família e por envolver Max em tudo aquilo — Scarlet contou, deixando a
voz bem baixa, apenas para que eu pudesse ouvi-la. — Foi minha culpa
termos transado, eu praticamente implorei, embriagada, com raiva por ter
perdido Peter...
— Depois disso vocês dois nunca mais...
— Não, de jeito nenhum, Max sempre foi respeitoso comigo, depois
de tudo ele foi atrás de Peter, explicou outra vez como nossa relação
funcionava, revelou o que tínhamos feito, mas esclareceu que estávamos
bêbados. — Abriu um sorriso, revelando o fim quase feliz de sua história.
— Peter e eu voltamos e vivemos juntos até hoje, é complicado, porque tudo
tem que ser escondido...
— Está me dizendo que tem um relacionamento. — Pigarreei sem
saber como falar. — Você tem outro homem por todos esses anos, e continua
casada.
— Isso, a empresa do meu pai investiu tudo na King, eu sou a
responsável, as ações estão no meu nome, se me separar vamos perder
praticamente tudo, minha família me odiaria, Liz.
— Está aqui me pedindo para ser o Peter da vida do Max? — Franzi
o cenho, começando a ficar desconfiada.
— Não, pelo amor de Deus! — Segurou minhas mãos outra vez,
percebendo meu incômodo. — Só vim até aqui porque quero ajudar o Max,
como ele fez ao falar com Peter, por mais que meu relacionamento não seja
normal, sou feliz com o homem que amo, só desejo que ele seja feliz
também.
Surpresa era pouco para o estado em que me encontrava, logo a
lanchonete começou a ficar movimentada e eu me despedi, sem dar uma
resposta certa a ela. Scarlet não era nada como eu imaginava, doce, delicada
e elegante, quando chegou pensei que fosse me dizer coisas horríveis, que
faria um escândalo, no fim fui surpreendida. Fiquei o resto do meu turno
pensando na nossa conversa, e esperando que Max aparecesse a qualquer
momento, assim como Scarlet me encontrou, ele deveria saber onde eu
trabalhava, entretanto, isso não aconteceu. Foi decepcionante, ao mesmo
tempo me senti aliviada, não sabia o que diria quando encontrasse aquele
homem outra vez.
Minha mente estava agitada, o sol entrava pelas janelas do escritório,
eu não conseguia me concentrar em uma palavra que era dita durante a
reunião. Ashley falava sem parar sobre a adequação da King em South Last,
em como o resultado bem-sucedido resultaria em novas expansões em outras
cidades. Do outro lado da mesa, Justin me encarava, estava curioso para
saber o que havia acontecido na noite anterior.
— Vou preparar o projeto e visitar algumas cidades, selecionei cinco
que acredito ter um grande potencial para... — Ashley me lançou um olhar,
mal-humorada e exclamou: — Max, estou falando!
— Sim, estou ouvindo. — Pigarreei, afastando Liz da minha cabeça.
— Me desculpe, pode continuar.
— O que está acontecendo? — Jogou a pasta que segurava sobre a
mesa e virou-se para encarar Justin. — E você? Por que está com essa cara?
— Não tenho nada, mulher. — Justin cruzou os braços, dando a ela
um sorriso sarcástico. — Pergunte ao seu irmão, ele sim deve ter algo para
contar.
— Vai se foder! — Arremessei um grampeador de papéis que estava
à minha frente e quase o acertou.
— Está ficando ruim de mira, parceiro — zombou, apoiando os
cotovelos sobre a mesa.
— Alguém pode me falar o que está acontecendo? — Ashley insistiu,
interrogativa, me encarou. — Vamos, Max, está me deixando ansiosa.
— Fale sobre os projetos — ordenei, batendo a ponta da caneta no
vidro da mesa.
— Ah, por favor! — resmungou, arrastando uma cadeira para sentar.
— Me conta logo, estão me assustando.
— Ontem Justin e eu saímos, e acabei reencontrando Elizabeth
Collins — revelei e sua expressão de surpresa preencheu todo o rosto.
— A Liz? Você encontrou a Liz? — Ashley repetia animada. — Não
acredito! E como foi? Vai me conta!
— Vai, Max, conta pra gente — Justin incentivou.
— Nós conversamos e Scarlet chegou, Liz acabou fugindo... —
Recostei-me na cadeira, suspirando frustrado. — Foi só isso.
Omiti a parte em que transei feito louco, que passei o resto da noite
acordado pensando nela, foi como se tivesse vinte e três anos outra vez. Nas
madrugadas tinha Liz na mente, relembrava nossos momentos de amor, me
aliviava com o pouco que restou de nós, demorei até que eu conseguisse
assumir algum controle sobre o meu corpo e a minha mente, mas agora ela
estava de volta.
Minha perdição.
Elizabeth Collins, a garota por quem fui apaixonado a vida toda. E
ainda que muitos anos tivessem se passado, não conseguia me manter
racional quando estava perto dela. Durante todo o dia não consegui
trabalhar, passei por duas videoconferências como se elas nunca tivessem
existido, e tudo o que passava pela minha cabeça era onde Liz estava, se
pensava em mim como eu pensava nela.
— Mas você vai atrás dela, não é? — Ashley perguntou.
— Ashley, vamos voltar para o assunto da expansão. — Tentei fugir
do assunto, só que quando se tratava da minha irmã, era impossível fugir de
algo.
— Sério que você reencontrou a mulher que ama e não quer falar
sobre isso? — Semicerrou os olhos em minha direção, e continuou: — Você
tem um...
— Chega desse assunto — a cortei antes que revelasse meu segredo
na frente de Justin. — Quer falar algo mais relacionado ao trabalho? Se não
tiver estou indo.
— Não, eu só... — Sua animação diminuiu ao ver que eu não queria
falar mais nada sobre o assunto. — Tudo bem, mas quando quiser conversar
me chama, e se não for pedir muito, quero muito falar com a Liz, sinto
saudades.
— Prometo que vou falar com ela assim que a encontrar — garanti,
minha irmã sempre gostou muito de Liz, era a única na minha casa que
entendia a falta que sentia dela e se não fosse por Justin e ela, teria ficado
sozinho.
— Obrigada, agora pode ir, vou continuar aqui com Justin, depois te
passo tudo sobre a expansão. — Fez um gesto com a mão, dispensando-me.
Assenti, sabendo que no instante em que saísse pela porta ela
encheria meu amigo de perguntas. Eu realmente não me importava, estava
aliviado por sair daquele escritório, só queria encontrar Liz outra vez,
conversar com ela, esclarecer tudo entre nós. No entanto, isso não era tudo o
que me incomodava, o pai de Liz era uma questão que desejava investigar a
fundo. Precisava saber como ele conseguiu levar a própria filha a trabalhar
naquilo. Enviei algumas instruções para o meu pessoal, queria que isso fosse
feito o quanto antes.
Estava prestes a sair da King quando recebi uma mensagem de
Scarlet, assim que abri, uma sensação de euforia me tomou repentinamente, o
texto dizia que ela havia encontrado Liz, que explicou tudo sobre nós, e mais
embaixo o endereço. Não sabia se estava furioso ou agradecido. Sabia o
motivo de Scarlet fazer aquilo, nosso início foi turbulento, e tive que dar
meu jeito para que minha esposa não se tornasse depressiva por perder o
homem que amava.
Agradeci e segui para o endereço que me passou, deixei um aviso
que precisávamos conversar, Scarlet respondeu apenas um “Ok”. Ela
deveria saber do que se tratava, passamos anos vivendo uma mentira, e
agora ela estava prestes a ter um fim, queria Liz na minha vida, mas não da
mesma maneira que Scarlet tinha Peter, se não nos separamos antes foi
porque ela nunca teve coragem, estaria disposto a achar uma boa solução
para nós, no entanto, o medo e a pressão de sua família a aprisionavam
comigo.
Não faria isso com Liz, nem com a oportunidade que o destino jogou
no meu colo, mesmo que parecesse egoísta, faria o que fosse preciso para ter
a mulher que eu amava. Seria uma loucura, a mídia cairia em peso sobre nós,
ninguém entenderia, mas definitivamente não me importava com isso.
Meu carro deslizava pelas ruas de South Last a caminho do trabalho
de Liz, meu motorista fazia o trajeto mais curto, enquanto eu fitava pelo
retrovisor o carro da minha segurança logo atrás, essa era mais uma coisa
que teria que conversar com a mulher que me deixava maluco. Com toda
certeza ela brigaria, não aceitaria com facilidade que houvesse seguranças
para todo lado, se a incomodava receber minha ajuda, isso a deixaria
furiosa.
Logo meu envolvimento com ela viria a público, isso era certo, então
teria que me certificar de que estivesse segura, não a deixaria desprotegida,
para um homem com o meu status, segurança era essencial, e não estávamos
em River Lake, onde todo mundo se conhecia, o lugar onde ninguém passaria
despercebido. Diferente de South Last, que era uma cidade grande, agitada,
com alto índice de criminalidade.
Toda atenção foi direcionada a mim ao chegar à lanchonete, o lugar
era simples, e minha presença foi notada assim que meus carros
estacionaram em frente ao lugar, um dos meus seguranças ficou do lado de
fora, enquanto o outro me seguia. Na noite anterior ambos ficaram do lado de
fora da boate, por ser um lugar menos movimentado garanti que ficaria bem,
no entanto, andar pelo centro de South Last sozinho era uma questão
indiscutível para eles.
— O senhor está atrás da Liz? — uma jovem garçonete perguntou
assim que me aproximei do balcão, antes que eu pudesse expressar minha
surpresa por ela acertar em cheio, ela se justificou: — É que hoje mais cedo
uma senhora muito elegante veio atrás dela, e o carro era idêntico ao seu,
mas se não souber de quem estou falando...
— Faith, não é? — Apontei para o seu crachá e ela assentiu. — Você
acertou, ela está aqui?
— Não, ela só trabalha meio período, eu também, mas hoje estou
cobrindo uma das garçonetes que faltou — explicou, mas parte daquilo não
me interessava.
— Você sabe onde posso encontrá-la? — inquiri e imediatamente
Faith arregalou os olhos. — Sabe onde ela mora?
— Você é da polícia? — Desconfiada, apertou as mãos no avental.
— Não, eu não sou — respondi impaciente.
— Sabe, acho que é ilegal passar o endereço para pessoas
desconhecidas. — Faith fez uma cara engraçada, e encarou meu segurança
que sempre tinha aquela cara de poucos amigos. — E se você for algum tipo
de agiota, ou fizer parte de uma máfia, não posso colocar a vida da minha
amiga em perigo.
Ri daquela loucura, pelo visto, Liz não falou sobre mim para a sua
companheira de trabalho, e isso me incomodou um pouco, me fez sentir sem
muita importância.
— Não estou envolvido em qualquer tipo de negócio ilícito, Liz é
uma velha amiga e a mulher que esteve aqui pela manhã é a minha esposa —
esclareci, para que pudesse me dar o que eu queria. — Elas conversaram,
mas não temos o endereço dela.
— Ahhh. — Meneou a cabeça concordando. — Tudo bem, vou te
passar o endereço do apartamento dela, mas se me meter em confusão chamo
a polícia pra você.
— Fique tranquila, Faith, não haverá problema nenhum — afirmei e
ela me deu uma encarada antes de anotar em seu bloco de pedidos o
endereço que eu almejava.
— Aqui, fica bem perto, basta seguir naquela direção. — Apontou
para nossa esquerda. — Se você sair agora ainda pode encontrá-la em casa.
Merda, sabia o que aquilo significava, se seu turno havia acabado na
lanchonete, à noite ela iria dançar em algum clube, enquanto tirava a roupa
na frente de vários homens. Apressei-me até entrar no carro, passando o
endereço que consegui. O apartamento de Liz não ficava muito longe do meu,
apesar de ser um prédio decadente o que ela morava, ficava bem localizado.
Não havia ninguém na recepção quando subi, isso me deixou ainda mais
irritado, imaginando que teria de ser mais enérgico na questão da segurança.
Enquanto esperava o elevador, recebi uma mensagem de Justin, senti
o sangue ferver ao constatar pelo meu amigo que Liz não estaria em casa.
Uma apresentação estava marcada para daqui meia hora em um clube do
outro lado da cidade. Amaldiçoei, sentindo-me um imbecil por rodar essa
cidade à procura daquela mulher, mas seria a última vez.
Voltei para o carro frustrado, meus seguranças deveriam estar me
achando um idiota, não que isso me importasse, contudo, ver alguém como
eu, que conduzia um negócio milionário, que não perdia um só contrato e
fazia isso sem muito esforço percorrer a cidade em busca de uma mulher,
deveria ser patético. Passei o novo endereço ao motorista, torcendo para que
o trânsito não me atrapalhasse, queria chegar lá antes da apresentação, de
jeito nenhum deixaria minha mulher continuar a fazer aquilo. Liz viria
comigo nem que fosse à força. Foda-se se isso a deixaria com raiva, eu
estava furioso só de imaginar aqueles homens a olhando, me fazia perder a
sanidade. Segui para aquele maldito lugar decido a ter Elizabeth Collins de
uma vez em minha vida, faria tudo que estivesse ao meu alcance e não
pararia até conseguir.
Voltei para casa com a conversa que tive na lanchonete martelando na
minha cabeça. Era difícil acreditar que Max vivia em um falso casamento
por tanto tempo, e que aquela história toda do homem que Scarlet amava era
real, mas não entendia como alguém poderia se submeter aquilo, era insano,
cruel, eu jamais aceitaria algo assim. Cheguei a pensar que poderia ser
mentira, no entanto, não via motivos para ela tentar me enganar. Intrigada,
terminei o meu turno e voltei para casa, Max não apareceu por lá, o que me
fez ficar ainda mais pensativa, não sabia o que diria quando o encontrasse.
Tudo o que aconteceu no passado não o fez me odiar, quando
conversamos vi que ainda estava magoado, que me culpava por partir, que
sentiu minha falta, mas sem o ódio que esperei ver em seu olhar. Nossa
história foi difícil, complicada, cheia de percalços, e depois de quinze anos
nos reencontramos. Era tempo demais, uma vida, e ele estava casado, sua
vida era pública, não havia uma só pessoa que não conhecesse a King, antes
mesmo de estabelecerem uma sede da empresa aqui, já tinham muitos
prédios em sua posse, um negócio milionário. Max era o centro disso tudo,
saía em diversas revistas e jornais, eu guardava muitas das manchetes que
falavam sobre ele, admirava o homem que se tornou.
Mesmo que não fosse meu.
Essa parte doía, amava Maxwell King, nunca tive dúvidas, mas era
complicado demais. Queria que fosse diferente, talvez se não houvesse tanta
coisa em jogo, pudéssemos realmente tentar, e mesmo que sua esposa
dissesse que era um casamento de aparências, que cada um vivia sua vida,
não sabia como faríamos funcionar. Não conseguiria ser um Peter na vida, a
ideia de viver tanto tempo escondida enquanto o homem que eu amo
desfilava com outra seria demais para mim.
Ao chegar no corredor do meu apartamento, percebi que minha porta
estava escancarada, mesmo estando a umas quatro portas de distância, vi o
adesivo que colei na madeira logo que mudei, eram duas sapatilhas de
ballet, foi a primeira coisa que comprei quando cheguei a South Last,
enquanto procurava por emprego, guardei por muito tempo, então ao me
mudar, o coloquei na porta, sentindo-me realizada com o pouco que
conquistei.
Com passos hesitantes me aproximei, o prédio que eu morava não era
um dos melhores da cidade, o porteiro nunca estava na portaria quando
precisávamos e o síndico tinha um envolvimento bem próximo com o
pessoal do tráfico, mesmo assim, nunca havia sido assaltada, por isso
estranhei que minha porta estivesse daquele jeito, lembro-me perfeitamente
de ter trancado pela manhã.
Entrei deixando-a aberta, aparentemente tudo estava no lugar, meu
apartamento era pequeno, uma cozinha minúscula foi dividida por um balcão,
minha cama e sofá ficavam bem próximo, seguindo para direita havia o
banheiro, na frente uma sacada inutilizada pelo risco de queda. Não era
muita coisa, mas ao menos tinha paz e privacidade. Segui para o banheiro, e
também estava vazio, antes que eu me virasse para colocar minhas coisas
sobre o sofá, a porta da entrada foi fechada com brusquidão, olhei
rapidamente e lá estava meu pai, Steven Collins, com seu olhar colérico, os
lábios comprimidos em irritação.
— Achei que não fosse mais voltar. — Bufou, cuspindo no meu chão
como um porco.
— O que está fazendo na minha casa? — inquiri, de forma
exasperada. — Como conseguiu entrar?
— Fiz uma cópia das suas chaves. — Deu ombros, como se aquilo
não fosse nada.
— Você fez o quê? — explodi, jogando minha bolsa na cama.
— Não comece com esse drama, sou seu pai, posso estar aqui...
— Um pai de verdade não agiria como você, então não ouse se
colocar nessa posição!
— Não precisa ficar irritada — provocou-me. — Sabe que sou seu
fiador, tenho todo direito de estar nesse buraco que você chama de casa.
— Você enlouqueceu! — Apontei o dedo em sua direção e declarei.
— Não quero você na minha casa, não tem direito nenhum.
— Falamos sobre isso depois, vim aqui para avisar sobre sua
apresentação de hoje. — Jogou o papel aos meus pés, com aquele ar de
superioridade que tinha. — Depois do que você fez ontem, vai ter que me
recompensar...
— Não vou me apresentar.
— Você vai, depois de perder seu cachê por desaparecer, vai fazer
quantas danças forem preciso para recuperar o prejuízo que tive. — Deu
alguns passos ameaçadores em minha direção. — Sabe que não tem escolha.
— Eu fiz a minha dança ontem e depois...
— Depois da sua última apresentação particular você saiu com um
cliente e não voltou — acusou com o olhar cheio de malícia. — Resolveu
ganhar um dinheiro extra nas minhas costas, depois de todo aquele discurso
de não se submeter a esse tipo de coisa, foi se prostituir com o primeiro
ricaço que apareceu.
— Eu não sou uma prostituta! — gritei, defendendo-me. — Não
tenho que dar explicações sobre a minha vida, mas quero o meu dinheiro,
Steven, trabalhei por ele.
— Veja só, não vai receber — ironizou de forma zombeteira. — Se
quiser dinheiro vai subir no palco e dançar como a boa puta que é...
— Seu desgraçado! — Levantei uma mão para acertar seu rosto, no
entanto, Steven foi mais rápido e a segurou no ar.
— Vai bater no seu pai, Elizabeth? — Fingiu estar ofendido,
encurralando-me contra a parede, apertou minha mão com força. — Acha
que uma vadia burra como você pode fazer isso?
— Me solta, está me machucando... — gemi quando o aperto se
tornou mais forte, parecia estar esmagando meu peito.
— Responda! — insistiu. — Acha que um vadiazinha como você
pode me bater?
— Steven... — Soltar-me era praticamente impossível, ele era muito
mais forte que eu.
— Você é igualzinha à sua mãe, Verônica era burra demais, não
demorou a se encher de drogas para ferrar com o resto dos neurônios que
tinha. — Riu maldoso, sem me soltar. — Sabe o que ela fazia quando estava
grávida de você?
— Não me interessa! — rosnei tentando me desvencilhar.
— Verônica fugia de casa com aquele barrigão, queria drogas e eu
não dava, então procurava alguém que o fizesse. — Passou a língua sobre os
lábios, sentindo um prazer insano em contar aquilo. — Um dia a encontrei
atrás da caçamba de lixo do nosso prédio, estava deitada no chão, toda suja,
as pernas arreganhadas, enquanto outro viciado a comia.
— Para com isso! — Meus olhos marejaram ao visualizar a cena na
minha cabeça. — Não quero ouvir!
— Verônica estava trepando por drogas, mesmo grávida se sujeitava
a isso, quando tirei o homem de cima dela vi que tinha muita água entre as
pernas e adivinha só? — Arqueou as sobrancelhas com diversão. — Você
estava prestes a nascer, sua mãe estava tão chapada que nem sentiu que
estava dando à luz.
— Chega, Steven...
— Depois que nasceu ela ficou pior, te rejeitou, não queria nem olhar
na sua cara, se recusou a amamentar — revelou, pegando-me desprevenida.
— Minha mãe foi quem ficou com todo o trabalho, até o dia em que Verônica
finalmente fugiu, levou você e todo o dinheiro que eu tinha, por isso não
contou sobre mim, sabia que se eu a encontrasse faria com que pagasse pelo
que fez.
— Eu não tenho nada a ver com isso, a culpa é de vocês dois que
colocaram uma criança no mundo sem ter a menor capacidade para serem
pais.
— Sua mãe era uma prostituta barata, me pegou bêbado uma vez e
logo engravidou, tive que pedir um teste de paternidade para ter certeza de
que não estava sendo enganado, não gastaria tanto dinheiro com médicos,
consultas e hospital por um bebê que nem sequer era meu. — Tocou minha
bochecha com o polegar. — Mas você era mesmo uma Collins, e por causa
da minha mãe tive que me casar, apenas por ela.
— Você é asqueroso. — Minha voz embargou e ele achou engraçado,
gostava de me ver sofrer.
— Vê como eu tenho razão? Você é como ela, Liz, um pedaço de
bunda malcuidado que ninguém quer. — Gargalhou enquanto eu negava,
meneando a cabeça. — É sim, não vale muito, eu poderia quebrar seu
pescoço agora, jogar você pela sacada e ninguém saberia o que aconteceu.
— Não era uma suposição e sim uma ameaça. — A polícia não perderia
tempo com uma prostituta, não tem alguém que te ame para pedir por justiça,
você poderia desaparecer e nada mudaria, sabe o que isso significa?
— Vai se foder! — berrei, cuspindo em seu rosto.
— Vadia nojenta! — Steven acertou um tapa em cheio no meu rosto,
a força foi tanta que meu pescoço virou para o lado, minha pele ardia, as
lágrimas que estavam presas escorreram com facilidade. — Significa que
você não vale absolutamente nada, e se não fizer o que eu mando, vai valer
menos ainda.
— Acha que eu tenho medo de você — enfrentei-o, mesmo com os
olhos cheios de lágrimas. — Quer me matar? Pode fazer isso agora, mas
tenha certeza de que quer mesmo fazer isso, porque diferente do que você
pensa eu tenho alguém e essa pessoa é muito importante, tem mais contatos
do que você...
— Acredita que aquele cliente faria justiça por você? — Achou
graça, e deixou seu rosto bem perto do meu. — Você é tão idiota, Elizabeth,
o melhor que pode fazer é voltar à realidade, aparecer no horário marcado e
fazer o serviço pelo qual te pago, ser uma boa puta.
Agarrando meus braços, tirou-me da parede e me jogou com força na
cama. Ele poderia ter feito pior, eu sabia, mas não queria me deixar marcas,
pois era o meu corpo que trazia dinheiro para ele. Engoli em seco quando o
ouvi bater a porta. As malditas lágrimas não cessavam, eu as odiava porque
me deixavam fraca, no entanto, quando o assunto era Verônica, desmoronava,
nada me afetava mais quanto aquele assunto. Não bastasse tudo o que vivi
com ela, os dias de fome, medo, sozinha naquela casa enquanto saía para se
drogar, depois as coisas pioraram ao receber homens para trepar ali mesmo,
a uma parede de distância de mim.
Minha mãe não ligava para nada além do seu vício, desde que tivesse
suas doses, o resto podia desaparecer, agora imaginar que mesmo estando
grávida não se importou, fazia com que eu me sentisse ainda pior. Toda
família tinha histórias para contar sobre o nascimento dos filhos, e por um
tempo sonhei em formar minha própria família, com Max, eu consegui ter
planos, só que nunca aconteceu, nem aconteceria, entretanto, não me impedia
de imaginar que tipo de história contaria para os meus filhos. Steven tinha
razão, Elizabeth Collins não era ninguém, se pegasse minhas coisas e
sumisse agora ninguém sentiria minha falta. Talvez Becky, Faith, ou Max,
mas logo eles esqueceriam, seguiriam com suas vidas.
Juntei as forças que tinha, fiquei de pé e fui para o banheiro,
precisava de um banho para me tranquilizar, esquecer aquela maldita
conversa, e fazer o que precisava. Puxei a blusa sobre os meus ombros,
então a marca no meu pescoço foi refletida no espelho. Max deixou um
chupão enorme, usei um pouco de maquiagem e uma blusa de gola alta para
encobrir, mas agora fitando-a com calma, lembrei-me da noite que tivemos,
como parecia possessivo em torno de mim, com seus beijos ferozes, suas
mãos pesadas sobre o meu corpo... Estremeci só de lembrar, fechei os olhos
por alguns segundos e entrei no chuveiro, apenas naquele momento desejei
que minha realidade fosse outra, sem as danças nos clubes, sem aquela carga
traumática me atormentado e que Max fosse meu, apenas meu.
Justin me esperava no estacionamento do clube com um par de
entradas, perguntei-me como conseguiu aquilo tão rápido. Já que esses
lugares, segundo ele, eram seletos, e dificilmente poderiam entrar sem uma
entrada VIP. Meu motorista estava prestes a desligar o carro e descer, mas o
impedi, não demoraria ali, vim com apenas uma missão, tirar Liz desse
lugar.
— Chegou rápido — Justin comentou, seu olhar indicava que estava
preocupado comigo. — Vamos entrar?
— Você veio para se divertir? Porque eu só vim até aqui buscar a
minha mulher. — Meu tom era possessivo, cheio de autoridade, ele recuou,
levantando as mãos em rendição.
— Se não for precisar, estou indo — esclareceu com bom humor. —
Tem certeza de que vai fazer isso, Max?
— Absoluta, se depender apenas de mim, Liz não volta nesse lugar
nunca mais — afirmei com convicção.
— Se é assim, a única coisa que posso desejar é boa sorte. —
Apertou meu ombro, com um sinal claro de apoio. — Sabe que se precisar,
pode me ligar.
— Obrigado, Justin. — Apertei sua mão, e antes de entrar, perguntei:
— O motivo de não ficar é por que se acertou com a minha irmã?
— Digamos que estou tentando. — Riu, meio sem jeito,
envergonhado. — Eu a amo, e estou disposto a tentar o que for preciso.
— Veja só, estamos no mesmo barco — comparei nossa situação e
ele riu.
— Tem razão, faça o que tem que fazer, já esperou tempo demais por
isso. — Começou a andar em direção ao seu carro, e antes de entrar
declarou: — Diga a Liz que Ashley quer vê-la, sabe como sua irmã é
insistente.
Assenti concordando, não sabia como Liz reagiria essa noite, mas
talvez, se falasse sobre Ashley pudesse ajudar em algo. O segurança do
clube me revistou na entrada, entrei sozinho, deixando minha equipe de
prontidão, não iria demorar. Atravessei o salão, recusando a taça de
champanhe que foi oferecida assim que cheguei. Em vez de procurar por um
lugar para sentar, dirigi-me para a parte de trás do palco, mas a minha espera
estava um segurança com o dobro do tamanho daquele que estava na entrada
do clube.
— Não pode passar aqui, senhor. — Esticou um braço, barrando o
caminho que tentei passar.
— Preciso falar com uma das dançarinas, o nome dela é Elizabeth
Collins — expliquei, tentando através da fresta da cortina.
— Não conheço nenhuma dessas garotas, mas você não pode entrar,
tem que ficar na sua mesa e esperar o show. — Indicou o balcão de
atendimento, sem tirar os olhos de mim. — Se quiser reserve um horário
com uma delas bem ali.
— Você não entendeu, não estou aqui como um cliente. — Enquanto
eu falava, o homem apenas meneava a cabeça em uma negativa constante. —
Escuta, eu posso pagar...
— Está tudo bem aqui? — Um homem veio até nós, usando um
conjunto de terno sofisticado, saiu do lugar onde eu queria acessar.
— Eu preciso falar com uma das dançarinas — me adiantei, antes
que o segurança me atrapalhasse. — Será que pode me ajudar.
— Vamos conversar ali. — Apontou para um canto mais afastado, e o
segui. — Não é muito fácil acessar o camarim, mas se estiver disposto a
pagar, pode entrar por uns minutos antes do show, com um pouco mais de
dinheiro, pode até trepar com uma delas.
— Eu só preciso entrar, quanto tenho que pagar para isso? — Minha
pergunta o fez me olhar de cima a baixo, como se me avaliasse para decidir
o valor, com base no que eu vestia.
— Cem e você entra. — Foi direto, achei que fosse me pedir bem
mais, tirei a carteira do bolso, estendi uma nota de cem dólares e ele riu. —
Eu quis dizer cem mil, você não deve ter esse valor na sua carteira.
— Aceita um cheque? — Puxei meu talão, então seus olhos brilharam
em animação. — Coloco no seu nome?
— Não, deixei ao portador — respondeu rapidamente, olhando para
o relógio.
Preenchi rapidamente e entreguei, ele olhou por alguns segundos,
então acenou para que o segurança me liberasse. Quando olhei na mesma
direção, encontrei Liz me encarando, estava pálida, olhos arregalados,
parecia muito nervosa. Segui por trás das cortinas, sentindo-me nervoso, não
queria que ela tivesse a chance de fugir novamente, pelo menos não antes de
conversar. A passos largos percorri o caminho com rapidez, havia muitas
garotas nuas por ali, mas nenhuma delas pareceu se importar com a minha
presença. Por um minuto me perguntei se aquilo era recorrente, se homens
andavam livremente por ali depois de pagar alguns dólares. Não tive muito
tempo para continuar pensando naquilo, uma mão quente envolveu meu
braço, levando-me para um canto.
— Por que estava falando como meu pai? — A voz de Liz era
inquisidora e dura. — Por que deu um cheque a ele?
— Aquele homem... — Não consegui falar, ela estava furiosa,
fazendo-me perguntas sem parar.
— Você estava tentando pagar por mim? — Arregalou os olhos
marejados, e só então notei a marca vermelha na face direita. — Já disse que
não sou uma prostituta, Max!
— Pelo amor de Deus! — Segurei seus braços, puxando-a para mim.
— Eu não sabia que aquele homem era o seu pai.
— Por que deu um cheque a ele, Max? — sussurrou entristecida.
— Eu tentei entrar aqui para falar com você, o segurança não deixou,
então ele apareceu e disse que se eu pagasse um valor conseguiria entrar —
expliquei, beijando o topo da sua cabeça. — Você sempre tira conclusões
precipitadas, Liz.
— Me desculpe. — Recuando um pouco, me encarou. — Estou muito
nervosa, tenho que me apresentar hoje.
— Você não vai — declarei autoritário, e Liz ficou surpresa, diria
chocada, pela expressão que seu rosto tomou. — Vamos sair daqui agora,
quero conversar com você.
— Você não tem o direito de decidir nada sobre a minha vida. —
Parou de falar, ao ser interrompida por uma mulher nua, que atravessou entre
nós, os seios roçaram em mim, mas a dona deles não pareceu se importar.
— Está vendo só. — Apontei com indignação. — Quer conversar
bem aqui, onde seios e bundas passam por nós?
Liz comprimiu os lábios, segurando o riso que estava prestes a
escapar, não aguentei, abaixei a cabeça e ri também. Era bobo, mas aquela
era a primeira vez que ríamos juntos. Levei meu tempo admirando-a, usando
um vestido curto e brilhante, estava com uma sandália de saltos, que a
deixava um pouco mais alta. Afastei o cabelo que cobria parte do rosto,
revelando a marca avermelhada na bochecha.
— Max, não posso sair, já tive problemas ontem por desaparecer...
— Por isso está com essa marca no rosto? — inquiri, acariciando
com o polegar. — Liz, isso não é a vida que você merece.
— Eu tenho que ir, já vão me chamar. — Desvencilhou-se, deixando-
me irritado. — Nos falamos depois.
— Se você entrar naquele palco para tirar a roupa, vou te arrastar à
força Elizabeth, no meio de tudo mundo — garanti, deixando claro que
estava falando sério, seu nome completo saindo dos meus lábios eram um
indicativo.
— Não pode fazer isso... — Virou-se para tentar sair e eu a segurei
no lugar.
— Nada de fugir — rosnei baixo, olhando ao redor para ver se
chamávamos atenção. — Por que não pode pelo menos uma vez me escutar?
Pare de ser covarde, merda!
— A última vez que parei pra te escutar acabamos transando no seu
sofá — ironizou, levantando um dedo. — E a sua mulher chegou logo em
seguida.
— Você é a minha mulher. — Agarrei seu quadril com firmeza,
trazendo-a um pouco mais perto. — Sei que a Scarlet foi ao seu trabalho e
falou sobre nós, eu queria ter feito isso antes, mas você saiu correndo.
— Max, é tudo muito complicado, a sua vida vai ser arruinada...
— Eu não estou me importando com nada. — Aproximei meus lábios
do seus e sussurrei: — Vamos sair daqui, Liz, por favor.
— Vou me meter em problemas... — Desviou o olhar, pensativa, mas
estava cedendo. — Não posso, melhor você ir.
— Porra! — Esfreguei o rosto quando ela se afastou totalmente. —
Já chega, com você não tem conversa.
— O quê? — Recuou surpresa, ao me ver inclinar para pegá-la no
colo. — Max, está ficando louco... Me solta!
— Sinto muito — foi tudo o que eu disse antes de pegar Liz pelas
pernas e a jogar sobre os meus ombros.
— Não! Max, pare com isso agora! — Debateu-se, mas era inútil, eu
disse que sairia com ela dali por bem ou por mal. — Acha que está dentro
de um filme para fazer uma cena dessa? — berrou furiosa. — As pessoas
estão olhando, Max!
— Foda-se as pessoas, amor, você vem comigo de uma vez por
todas!
— Ei, Max! — uma voz feminina me chamou, fazendo-me parar, uma
garota baixa veio correndo em minha direção com a bolsa que identifiquei
ser da Liz. — As coisas dela.
— Becky! — A mulher sobre os meus ombros repreendeu a amiga
que parecia não estar nada arrependida de me ajudar.
— Obrigado, Becky. — Pisquei para garota que suspirou encarando-
me. — Sabe de algum lugar para sair que não seja a porta da frente?
— Saiam por aqui, depois desça as escadas e vai sair no
estacionamento. — Indicou uma porta e segui por ela.
— Você vai se ver comigo, Becky! — Liz continuou agitada. — Sabe
que ele vai ficar furioso...
— Eu dou um jeito, fique tranquila! — Becky deu um sorriso para a
amiga e fechou a porta assim que passamos por ela.
— Max, me solta, merda!
— Se continuar gritando assim vamos ser descobertos. — Com
passos largos caminhei em direção ao estacionamento, não demorou para
que avistasse meu carro.
Meus seguranças não esboçaram nenhuma reação ao me ver naquela
situação, sérios apenas olhavam ao redor, certificando-se que tudo estava
tranquilo. Coloquei Liz no chão, pressionando-a contra a porta do carro. Seu
rosto estava mais vermelho, dessa vez de raiva, as narinas dilatadas com a
respiração forte, acelerada. Tentou escapar, mas não deixei, jamais
permitiria que me deixasse outra vez. Segurei seu quadril com uma mão e a
outra agarrei seu pescoço.
— Eu te amo, Liz — murmurei contra a sua boca, beijando-a
devagar, com carinho, enquanto deslizava a língua lentamente.
Cedendo à minha investida, ela subiu as mãos até chegar ao meu
cabelo, infiltrou os dedos ali, deixando-me levá-la naquele beijo gostoso.
Empurrei meu corpo contra o dela, a ereção dentro da minha calça estava
evidente, marcando o tecido, pulsando. Liz sentiu, então deixou que uma das
mãos em meu cabelo escorregasse, e parou em cima do pau duro, apertou
suavemente e isso foi bastante para o meu corpo inteiro acender.
— Vamos entrar no carro, não quero fazer isso aqui — sussurrei,
com os lábios colados aos seus.
— Tá bom. — Balançou a cabeça concordando, mais calma depois
do nosso momento.
Eu não sabia quanto tempo o efeito daquele beijo duraria, no entanto,
tinha certeza de que quando chegássemos ao meu apartamento precisaria de
algo a mais para convencer aquela mulher teimosa. O sexo seria uma opção
maravilhosa, sem sombra de dúvidas, mas não queria que Liz acreditasse
que tudo o que eu procurava era transar com ela. Desejava mostrar o quanto
a amava, que durante anos, a única coisa que me manteve vivo foi o meu
amor por ela. E eu tinha algo perfeito para deixar claro que não estava
mentindo. Se depois disso Liz ainda se recusasse a me dar uma chance, não
teria outra alternativa a não ser deixá-la livre. Não poderia obrigá-la a ficar
comigo, nem lutar por nós, eu tinha coragem suficiente para amar Elizabeth
Collins, só restava saber se ela tinha a mesma coragem para me amar.
Mais uma vez estava no apartamento dele, entrei no lugar ainda
hesitante, pensando estar cometendo o maior erro da minha vida, olhei ao
redor para ver se Scarlet estava por lá, mas tudo parecia muito silencioso, o
lugar continuava organizado, diferente do meu que era uma completa
bagunça. Eu o ouvi caminhar atrás de mim, e parei, ao sentir seu corpo
encostar junto ao meu, quando me alcançou.
— Quer comer ou beber alguma coisa? — Sua pergunta saiu com
naturalidade, como se não estivéssemos tensos, em meio a uma situação
complicada.
— Não, obrigada. — Pigarreei dando alguns passos à frente. — Você
disse que queria conversar. Por que me trouxe aqui, Max?
— Não é óbvio pra você? — inquiriu sem arrogância, mas havia
uma rudeza em sua voz.
— Se fosse não estaria perguntando — rebati, e meu tom saiu mais
ríspido do que imaginei ao dizer aquelas palavras. — Estou nervosa, sei que
não temos um futuro e quanto mais tempo passarmos juntos, mais complicada
a situação fica...
— Que tempo tivemos juntos? — Tirou o terno, jogando-o sobre o
sofá, e caminhou até o bar. — Nos encontramos ontem e na primeira
oportunidade que teve saiu correndo.
— Você queria que eu ficasse aqui com a sua esposa? — Apertei as
sobrancelhas, irritada, ele estava sendo irracional.
— Agora você já sabe que ela não é a minha esposa — declarou,
tomando sua bebida em um só gole. — Pelo menos não na prática.
— Você bebe muito? — perguntei curiosa, era a segunda vez que
estávamos ali, e a primeira coisa que fazia ao entrar no apartamento era
pegar algo para beber.
— Não muito, a bebida me ajudou por um tempo, mas sempre a
mantive sob controle. — Andou até mim, e segurou minhas mãos, olhando-
me com carinho. — Se te incomoda, posso parar.
— Que isso, não tenho esse direito. — Disfarcei, não o encarando,
porém, Max não permitiu.
— Nada de fugir agora, vamos acertar as coisas entre nós. — Guiou-
me pelo curto corredor do apartamento, e abriu uma das portas revelando um
quarto de casal, paralisei na hora.
— Não vou entrar aí...
— Scarlet e eu não dormimos juntos, cada um tem seu quarto —
explicou, então entrei, analisando cada detalhe do lugar.
Uma cama imensa, coberta com lençóis azul escuro, estava
posicionada no centro do quarto, havia duas mesas de cabeceira com abajur,
mas apenas em uma delas tinha itens pessoais, como relógio, um livro e a
minha calcinha. Meu rosto esquentou ao me lembrar que havia saído com
tanta pressa que acabei deixando-a para trás.
— Está tudo bem? — Max me fez caminhar até a cama, e sentou,
puxando-me para o seu colo.
— Ainda nervosa — confessei, relaxando, algo dentro de mim queria
brigar, resistir, mas a outra parte ansiava por aquele tipo de intimidade,
carinho.
Max envolveu o braço ao redor da minha cintura, e com a mão,
afastou o cabelo do meu rosto, acariciando com as pontas dos dedos a marca
evidente na minha bochecha.
— Quem fez isso com você?
— Tive uma discussão mais cedo com Steven, essa não foi nada,
tivemos outras piores. — Encolhi os ombros, sem dar importância para
aquilo.
— Desgraçado! — rosnou irritado, os olhos fixos no meu rosto. —
Não tem que se submeter a isso, Liz...
— Sei que não, mas...
— Por favor — interrompeu-me. — Não quero ouvir você dizer que
vai voltar a dançar nesses clubes.
— Então eu não digo. — Fiz um movimento impertinente com os
ombros, que o deixou ainda mais irritado.
Percebi que gostava de ver Maxwell King bravo, seu rosto ficava
mais fechado, os olhos semicerrados, a maxilar rígido, e a boca se
comprimia de um jeito sexy.
— Você é terrível, sabia? — Beijou meu queixo com carinho,
evitando a áreas avermelhadas. — Vamos falar sério agora, Liz — inspirou
profundamente, arrastando o nariz pelo meu pescoço —, mas tem que
prometer não fugir.
— Não vou, eu prometo — garanti, cedendo mais espaço para a sua
carícia.
— É assim que eu gosto, amor. — Deixou um beijo molhado sobre a
minha pele, fazendo-me arrepiar.
— Antes que comece a falar, quero deixar uma coisa clara.
— Sou todo ouvidos. — Parou o que fazia para olhar dentro dos
meus olhos.
— Não sei o que tem em mente, mas não quero e não vou, ser um
Peter na sua vida. — Segurei seu rosto com as duas mãos, levando o polegar
até o cenho franzido. — No passado errei em te deixar, fiz escolhas ruins
desde então e sei que a sua vida é outra agora, está casado, tem uma empresa
em jogo...
— Já disse que nada disso é mais valioso que você. — O jeito que
falou fez meu coração palpitar, ele tinha tanta certeza.
— Eu sei disso, só não entendo como as coisas entre nós vai
funcionar.
— Vou pedir o divórcio a Scarlet, depois vou me casar com você. —
Seu sorriso era genuíno demais para a seriedade do que tinha acabado de
falar.
— Não pode fazer isso. — Engoli em seco, saltei do seu colo, e
fiquei parada, olhando para ao chão, lembrando-me do que Scarlet me disse.
— Você... ela... — gaguejei feito idiota, sem saber como formular aquilo. —
Sua esposa me disse que nunca se separou porque isso arruinaria a vida
dela, a vida da família dela, não posso ferrar com ninguém.
— As coisas não são bem assim. — Ele usou um tom calmo, mas vi a
irritação crescendo em seu olhar. — Vai ser difícil como qualquer
separação, principalmente pelos negócios, mas ninguém vai sair perdendo.
— Está mentindo, se fosse verdade já teriam se separado — acusei,
ele me encarou com uma expressão de surpresa e abriu um sorriso
sarcástico.
— Você está sendo covarde, essa conversinha fiada é uma maneira
de fugir. — Balançou a cabeça, ele estava irritado, magoado. — Por que não
olha dentro dos meus olhos e diz que estou fazendo papel de idiota?
— Max, não é isso. — Olhei para o outro lado, sem querer encará-
lo, ver como estava chateado comigo me deixava mal, apesar de saber que
ele estava sendo teimoso, querendo arriscar tudo por mim.
— Um dia eu te disse que nenhum homem te amaria como eu. —
Segurou meu queixo para que eu não desviasse o olhar. — E duvido que
nesses quinze anos encontrou alguém que te amasse tanto, que seja louco a
ponto de jogar tudo para os ares só pra ficar com você.
— É isso que você não entende, não quero que estrague sua vida por
minha causa. — Minha visão ficou turva pela onda de lágrimas que
ameaçava cair, apoiei as mãos em seu peito, acariciando e continuei: —
Você diz essas coisas linda, faz com que eu me sinta importante.
— Você é importante, só se esqueceu disso.
— O que vai fazer quando descobrirem sobre o meu passado? —
perguntei com amargura, imaginando as manchetes de jornais que fariam
chacota com seu nome. — Como vai a jantares importantes ao lado de
alguém como eu?
— Acha que eu ligo para o que a mídia publica e diz sobre mim? —
Respirou fundo e se afastou ao perceber que eu não responderia. — Não sei
se realmente duvida do que eu digo ou se só está tentando me afastar.
— Eu acredito em você, só estou te mostrando que nada será fácil se
seguir com essa loucura.
— Loucura? — Ele riu desanimado. — Loucura, Liz, é ficar quinze
malditos anos sem você e ainda assim continuar te amando como se não
houvesse passado nem um dia.
— Max... — tentei argumentar, mesmo sem saber o que dizer, então
me interrompendo me pegou pela mão e arrastou para fora do quarto.
— Sempre acreditei que um dia te encontraria de novo, quando partiu
me apeguei a tudo que você deixou para trás. — Atravessou o corredor indo
para outra porta. — Eu mudei de casa pelo menos umas dez vezes nos
últimos anos, e em cada uma mantive esse espaço comigo.
Max enfiou a chave destrancando a porta, estendendo o braço para
que eu pudesse entrar. A princípio fiquei confusa, no entanto, quando
coloquei o primeiro pé dentro daquele quarto, gelei dos pés à cabeça. Havia
fotos minhas espalhadas por todo lado, os quadros da minha apresentação
pendurados na parede, caminhei olhando para as prateleiras, onde alguns
itens que deixei para trás quando parti, estavam colocados. Minhas antigas
sapatilhas de ballet, lembro de ter trazido apenas um par, era o que cabia na
mochila.
— Não acredito que guardou todas essas coisas. — Soltei uma
risada nervosa. — Meu Deus! — Abri um pequeno armário com algumas
peças de roupas. — Essa blusa foi um presente da Abigail, procurei muito,
acabei esquecendo...
— Guardei tudo, passei horas dentro de um quarto com essas coisas,
olhando, relembrando. — Aproximou-se e estendeu uma foto, estava um
pouco amassada e gasta pelo tempo, nela estávamos de frente um para o
outro, ele segurando meu rosto, aqueles olhos expressivos apaixonados
focados em mim, meu queixo inclinado para cima, fazendo com que nossos
lábios quase se tocassem. — Essa eu levo comigo, todos os dias eu a tiro da
carteira e tenho um tempo com ela.
— Ah, Max! — Virei-me completamente e corri para os seus braços,
enterrando o rosto no seu peito. — Eu te amo tanto.
— Eu também, meu amor, eu também. — Apertou-me forte, beijando
o topo da minha cabeça. — Meu coração é seu desde quando te conheci, e
sempre vai ser, Liz.
— Quero você, Max, não queria ter te deixado, eu juro. — Chorei
agarrada a ele.
— Eu sei, vai ficar tudo bem. — Abaixou a cabeça para beijar minha
boca. — Acredita em mim? Acredita que vou cuidar de tudo? Me deixa
cuidar de você, Liz?
Assenti e Max abriu um sorriso imenso, lindo, brilhante, pegou-me
no colo, mas antes de sair daquele quarto, deixou a foto que eu segurava em
cima de uma das prateleiras, ele parecia ter todo cuidado do mundo com
aquelas coisas. Ao entrarmos novamente em seu quarto, jogou-me na cama e
rolou por cima de mim, arrastando meu vestido para cima com um único
movimento. Ansiosa, fiz o mesmo, abri os botões de sua camisa com pressa,
querendo sentir sua pele na minha.
Seus lábios abocanharam meu mamilo, sugando com uma potência
sem igual. Era tão gostoso que meu corpo relaxou por completo, as mãos
pesadas percorreram meu corpo com força, apertando, sentindo, desejando,
adorando. Max não fazia aquilo pela metade, queria me provar com cada
beijo que me amava, cada palavra que saía da sua boca, cada gemido,
grunhido, deixava claro o que sentia, para não me deixar com dúvidas, para
me convencer.
Arqueei as costas, uma súplica desesperada saiu dos meus lábios, o
tesão crescia dentro de mim, minha boceta se contraía, ansiosa, desejando
ser penetrada, fodida, acariciada, mas a pressão da sucção nos meus seios
parecia me deixar cada vez mais perto de gozar. Max não demorou para
conseguir tal feito, pressionando a ereção contra a minha vagina, chupando
meus seios com fome. Fechei os olhos ao sentir a onda poderosa do orgasmo
me dominar. Aquela eletricidade gostosa atravessou meu corpo, fazendo-me
berrar, louca, cheia de prazer, tudo em mim queimando, sentia-me viva,
completa. Ao abrir os olhos encontrei os dele sobre mim, fitando-me com
intensidade, paixão, arrebatando-me antes de se abaixar outra vez e tomar
minha boca com um de seus beijos devastadores, porque ele era o único que
conseguia me fazer sentir daquela forma, amada.
Era maravilhoso acordar com a visão da mulher espetacular na minha
cama, nua, com os cabelos soltos, mais longos caindo pelas costas em
mechas sedosas. A primeira coisa que senti quando acordei foi o perfume
dela, depois, o calor gostoso que seu corpo emanava. Depois da noite de
ontem, onde fodemos até que o cansaço nos derrubasse, achei que minha
fome diminuiria, estava enganado, acordei duro, desejando-a ainda mais, no
entanto, não a acordei, era visível seu cansaço.
Levantei depois de depositar um beijo suave em sua testa, queria
preparar seu café da manhã e programar algo especial para fazermos juntos,
apesar de ter compromissos importantes hoje, avisei Ashley que não
apareceria na King, claro que ela quis saber o motivo, em anos, nunca faltei
ao trabalho, nem mesmo quando minha mãe morreu, os negócios eram um
escape para as minhas emoções, fazia-me esquecer dos problemas. Assim
que revelei que estava com Liz, minha irmã ficou eufórica, ouvi a voz de
Justin ao fundo, perguntando o que havia acontecido, por isso deduzi que os
dois haviam feito as pazes.
Tomei um banho rápido e liguei para uma padaria próxima e pedi que
entregassem a maior cesta de café da manhã que eles tivessem. Deixei a
cafeteira fazer seu trabalho enquanto verificava meus e-mails, meu corpo se
acostumou a acordar cedo, eram sete da manhã e já me sentia disposto.
Percorri a caixa de entrada procurando pelos mais importantes, foi o
sobrenome Collins destacando-se na barra assunto que me fez abrir aquele
primeiro.
Minha equipe de segurança era a melhor do país, sabia que não iria
demorar para ter um relatório completo sobre o maldito pai de Liz. Só de
lembrar que estive cara a cara com ele e não sabia, me enchia de raiva,
queria ter socado a cara do infeliz pelo que fez com ela. Desci as
informações procurando por algo útil, mas Steven Collins não tinha
passagem pela polícia, aparentemente seus negócios eram legais, a
prostituição que rolava nos clubes luxuosos era bem encobertas, e tirar a
roupa em um local privado não era crime. Frustrado continuei perdido em
meio às informações, até encontrar um arquivo de fotos, abri para ver do que
se tratava e fiquei enojado de imediato. Eram fichas cadastrais das garotas
que ele explorava, a maioria delas começou a trabalhar para ele ainda
menores de idade.
A garota que Liz chamou de Becky era uma delas, havia diversas
fotos suas ainda com dezesseis anos. Uma menina. Esfreguei o rosto nervoso,
sem poder acreditar, porque além de colocar adolescente para tirar a roupa
diante de vários homens, ainda as aliciava para a prostituição. Outras
garotas surgiram, e algumas das mais recentes ainda não haviam completado
nem dezoito anos. Seria ali que o pegaria, e esperava que passasse bons
anos na prisão, que saísse quando não tivesse forças nem para se manter em
pé.
Estava prestes a fechar aquilo, quando o nome da mulher que amava
apareceu, temi em abrir aquele arquivo, em cada cadastro havia
especificações explícitas, idade, medidas, o que fazia ou não na cama em
caso de prostituição e claro, os valores. Apeguei-me a palavra de Liz, de
que não se submetia aquele tipo de coisa, por isso deletei o maldito arquivo,
me certificaria de que ninguém mais tivesse acesso àquilo.
Enviei uma ordem direta para que a minha equipe invadisse o
sistema de Steven e apagasse qualquer informação sobre Liz, quando a
polícia o pegasse, queria que não existisse nada que o desgraçado pudesse
usar contra a filha, se é que poderia me referir daquela forma, ele não
merecia ser chamado de pai. Imaginar que Liz caiu nas mãos desse cretino
estando tão vulnerável me enlouquecia. O interfone tocou antes que eu
pudesse ligar para o chefe de polícia de South Last, eu o conheci na
recepção que foi feita para mim quando cheguei, e Joe Parks se colocou à
disposição para qualquer coisa que eu precisasse.
O porteiro liberou a entrada do entregador, mas ao abrir a porta não
era ele quem segurava a cesta de café da manhã e sim Scarlet, que parecia
receosa por chegar em casa. Não queria que ela se sentisse daquela forma,
também não queria que Liz ficasse desconfortável, por isso tinha que
resolver aquela situação o quanto antes.
— Não está sozinho, né? — Estendeu a cesta para mim, sussurrando
para não ser ouvida.
— Ela está dormindo — expliquei —, mas não quero que se sinta
mal por vir à sua casa, essa situação toda é culpa minha.
— Tudo bem, Max, só vim pegar o passaporte que deixei no meu
cofre. — Deu alguns passos se dirigindo ao corredor e eu a impedi.
— Espera, precisamos conversar.
— Eu volto em duas semanas... — Tentou fugir, sabia que queria
adiar aquela conversa a todo custo.
— Scarlet. — Minha voz saiu dura e ela suspirou, abaixando a
cabeça. — Sei que é difícil pra você, e não quero parecer egoísta, só que
não posso continuar assim.
— Você não é egoísta, Max, na verdade, é o homem mais generoso
que já conheci. — Olhou-me desconcertada e soube o que viria. — Se eu me
separar, a minha família vai fazer da minha vida um inferno, o Peter...
— Você é uma mulher adulta, Scarlet, não pode continuar deixando a
sua família te controlar.
— Está vendo? Eu sou a egoísta aqui, mantive você nesse casamento
por anos. — Meneou a cabeça, entristecida. — Agora a Liz está aqui, e
continuo te atrapalhando.
— Não me atrapalha, sabe que esse casamento me favoreceu da
mesma forma. — Segurei sua mão com carinho, tranquilizando-a. — Só não
quero perder a Liz outra vez, e eu te garanto que não vou te deixar na mão,
vamos fazer tudo de forma legal, o investimento da sua família na empresa e
os lucros vão ser restituídos, seus pais não vão ter do que reclamar, e você
pode continuar com as suas ações.
— Eles vão me arranjar outro casamento, e um marido que tome
conta do nosso patrimônio... — comentou desolada, e senti pena por ter que
viver daquele jeito. — Isso não é problema seu, Max, juro que vou dar um
jeito.
— Me escuta, não quero deixar você encurralada, posso te ajudar
com isso. — Eu a fiz se sentar e expliquei: — Tudo está no seu nome, se nos
separarmos você vai ser uma mulher independente e mesmo que devolva o
valor do investimento dos seus pais, ainda terá os lucros mensais das ações.
— Mas eles vão...
— Não existe eles nessa equação, Scarlet. — Tentei fazê-la entender,
sabia como era ser dominado pela própria família, e ceder a escolhas que
não eram suas. — As ações foram dadas a você por mim, pelo nosso
casamento, não vou deixar você desamparada, vou ser justo, vai ter tanto que
não vai precisar trabalhar pelo resto da vida.
— Max, você sabe que não precisa fazer isso, assinamos um acordo.
— Foda-se o acordo, estou fazendo isso por uma amiga que dividiu a
vida comigo por anos — assegurei para que confiasse em mim. — Tome as
rédeas da sua vida uma vez, viva livremente o amor que sente pelo Peter,
pense no futuro que vocês terão, os filhos, uma família só sua.
— Seria incrível, ele ficaria tão feliz. — Cobriu o rosto com as
mãos, corando ao pensar naquilo. — Acha que posso fazer isso? Que
consigo?
— Tenho certeza, falamos com a nossa equipe jurídica, nós dois —
afirmei e Scarlet sorriu, começando a ficar animada. — Entramos em um
acordo e só avisaremos quando tudo estiver pronto.
— Sabe que meu pai vai te infernizar, não é?
— Posso lidar com isso — garanti, aliviado por ela ser
compreensiva, na verdade, Scarlet não era esse tipo de pessoa que tentaria
prejudicar alguém. — Vou agendar para a próxima semana a reunião, acha
que pode adiar a viagem?
— Quando eu contar para o Peter que vamos nos divorciar ele não
vai se lembrar de viagem nenhuma. — Inclinou-se e me deu um abraço
amável. — Obrigada, Max, você é incrível.
— Sou eu quem tenho que agradecer por não tentar fazer da minha
vida um inferno — brinquei, afastando-me. — Se precisar de qualquer coisa,
sabe que pode contar comigo.
— Eu sei, vou preparar a minha mudança essa semana. — Ela estava
sorrindo, mas de repente ficou séria. — Ah, olha só, a Liz acordou, eu vou
indo.
— Desculpe, eu não quis atrapalhar — Liz falou com a voz rouca
pelo sono.
Virei-me para ter a imagem mais reconfortante que poderia ter, com o
cabelo castanho solto e desgrenhado, vestia apenas uma das minhas camisas.
Cruzou os braços, constrangida, por isso fui até ela a passos largos, não
queria dar margem para que ficasse confusa ou mudasse de ideia.
— Você não atrapalha, amor. — Envolvi meus braços ao redor dela e
beijei sua têmpora. — A Scarlet veio pegar algumas coisas.
— Liz, eu já estou indo, foi bom ver você. — Scarlet correu para o
quarto, querendo fugir do clima que se instalou.
— Você a mandou embora? — Liz me encarou incrédula.
— Claro que não, ela veio buscar o passaporte e acabamos tendo
uma conversa que já estava nos meus planos — esclareci e suas feições
mudaram de incredulidade para preocupação. — Fique tranquila, nós só
falamos sobre a nossa situação.
— Max, já disse que não quero atrapalhar a sua vida...
— E eu já disse que não atrapalha. — Apertei-a ainda mais, beijando
suavemente seu queixo. — Vou marcar uma reunião com os nossos
advogados e dar início à separação.
— Ela lidou bem com isso? — inquiriu desconfiada. — Quero dizer,
tem a família dela e todo esse dinheiro...
— Garanti que ela ficará bem respaldada, quando nos casamos dei
uma pequena porcentagem de ações da King como presente, fazia parte do
acordo com o pai dela, mas a pertence — expliquei. — Vamos mudar de
assunto agora, isso fica para depois.
— Max, ela ainda está aqui — protestou quando beijei sua boca.
— Estou louco pra te foder de novo — sussurrei e ela me acertou
outro tapa.
— Para com isso. — Afastou-se, protegendo os mamilos eriçados
com os braços. — Eu tenho que ir para casa, preciso trabalhar.
— Não, hoje ninguém trabalha — afirmei recebendo um olhar
contrariado. — Já liguei para Ashley dizendo que não iria, então você pode
fazer o mesmo. — Voltei a me aproximar, rodeando sua cintura. — Por favor,
amor, estou morrendo de saudade.
— Tudo bem, mas mesmo assim preciso ir pra casa. — Olhou sobre
os ombros para se certificar que Scarlet não vinha. — Você gozou na minha
calcinha como um maldito homens das cavernas, vou ter que ir embora
usando uma das suas cuecas.
— Ou pode ir sem calcinha, eu cuido de você no caminho. — Mordi
seu queixo, sentindo-a amolecer.
— Max, estou indo. — Scarlet voltou e Liz pigarreou tentando sair
dos meus braços. — Desejo que sejam muito felizes juntos.
— Obrigado, Scarlet, qualquer coisa sabe que pode me ligar —
reafirmei e ela assentiu, saindo logo em seguida.
Quando a porta bateu, olhei para Liz, ignorei o fato de que
precisávamos nos alimentar, porque naquele momento a minha fome era
outra. Com uma negativa, ela saiu dos meus braços e correu para o quarto
fugindo de mim. Meu coração se encheu da mais pura felicidade e fui atrás
dela, pronto para recuperar o tempo que perdemos.

O prédio que Liz morava me incomodava de todas as formas, eu


queria arrancá-la de lá o quanto antes, pensava em uma forma de abordar o
assunto sem assustá-la. Claro que deveria procurar um novo lugar para nós o
quanto antes, ela se sentia incomodada no meu apartamento por causa de
Scarlet, mesmo explicando que minha futura ex-esposa não viveu nem trinta
dias lá, ela chegava, se instalava e voltava para o Peter e só voltava quando
precisava de algo ou quando tínhamos eventos e entrevistas.
— Estou preocupada com a Scarlet, se os pais dela são autoritários
assim, vão causar uma confusão imensa por causa do divórcio. — Com
dificuldade para abrir a porta, amaldiçoou. — Merda, toda vez emperra!
— Não vou me oferecer para ajudar ou você pode se irritar mais —
provoquei e ganhei um olhar nada agradável.
— Engraçadinho, quero ver o que vai dizer quando todo mundo
começar a falar da mulher por quem você trocou a sua esposa — rebateu
com ironia, mas não me importei.
— Vou dizer que ela é a mulher mais gostosa do mundo.
— Muito inteligente. — Ela entrou e eu a segui olhando tudo.
Fiquei mal por ver como vivia, não que fosse algo precário, era
apenas pequeno, perigoso e não me agradava nem um pouco. Só de pensar
que ela poderia ter tido uma vida confortável ao meu lado e hoje vivia aqui
para poder se manter nessa cidade me deixava frustrado.
— Você deixou a porta aberta, docinho — uma voz masculina soou
com arrogância e me virei para encarar Steven Collins.
— O que está fazendo aqui? — Liz indagou furiosa, entrando na
defensiva, recuando com medo.
— Então essa foi a garota por quem você pagou — se dirigiu a mim,
com acidez. — Se eu soubesse que levaria uma das minhas garotas teria
cobrado mais caro, existe uma tabela de valores pelo serviço extra, e você
me fez perder muito dinheiro.
— Como tem coragem de tratar sua filha desse jeito? — rosnei,
entrando na frente de Liz. — É bom saber que isso acaba agora, ela não
trabalha mais pra você.
— Vejo que achou uma mina de ouro, Elizabeth. — Aplaudiu com
audácia, fazendo meu sangue ferver. — Vamos negociar, tenho certeza de que
conseguiremos um bom acordo.
— Você é um escroto!
Liz quis avançar contra ele, mas fui mais rápido, desferindo um soco
que o fez cambalear para trás. Dei alguns passos largos para alcançá-lo e
continuar o serviço. Liz me agarrou por trás, pedindo-me para parar, eu
estava pronto para acabar com a raça do desgraçado, só que isso
complicaria ainda mais as coisas.
— É melhor você começar a fugir agora, Steven — sugeri,
encarando-o com fúria. — Eu tenho informações preciosas que a polícia vai
gostar de receber.
— Meu trabalho é legal, não faço nada de errado. — Mediu-me dos
pés à cabeça e abriu um sorriso nojento. — Agora, você, tem um problema,
eu sei quem você é, Maxwell King, imagino que tem mais a perder do que
eu, já que a imprensa vai adorar saber do seu caso extraconjugal.
— Liz não é um caso, nos conhecemos há anos. — Não sei por que
eu estava explicando aquilo, talvez por querer defender a mulher que amava
daquela maldade.
— Mas você é casado e pelo que ouvi quando vocês chegaram,
colocou sua esposa pra fora para abrigar uma prostituta.
A raiva contida dentro de mim explodiu quando a última palavra foi
proferida, soltei-me de Liz e avancei contra ele, golpeando com mais força.
Steven tentou se defender, mas era patético, foi pego de surpresa porque não
esperava um ataque tão feroz. Ele caiu no chão enquanto eu continuava a
socar sua cara, levou os braços para cima, cobrindo o rosto, na tentativa de
se proteger. Cego, não medi a brutalidade com que agia, só queria fazê-lo
pagar por toda merda que trouxe para vida de Liz.
— Vamos, seu filho da puta! — Segurei-o pelo colarinho, sacudindo
seu corpo. — Tem mais alguma coisa pra dizer sobre ela?
— Max, chega. — Liz me puxou pelo braço, para me fazer parar. —
Ele vai usar isso contra você, é isso que Steven quer.
— E vou conseguir. — Riu, cuspindo sangue no chão. — Acho bom
receber uma quantia generosa na minha conta ou além de prestar uma queixa
por ser agredido vou vender uma informação que vai me render muito.
— Acha que pode me ameaçar? — rosnei, querendo partir para cima
dele outra vez.
— Eu tenho as cartas do jogo, rapaz, você não tem escolha.
— E eu tenho todas as informações do seu negócio, aliciação de
menores a prostituição é crime sabia? — Tirei meu telefone do bolso,
ameaçando. — Eu vou ligar para o meu amigo, Joe Parks, o chefe de polícia,
deve ter ouvido falar dele.
— Quanta hostilidade. — Ficou de pé, limpando o sangue da boca.
— Mas vai precisar da minha ajuda, muitas pessoas viram você indo levar a
Liz, alguém pode acabar falando...
— Tenho certeza de que não vai deixar isso acontecer.
— Vou precisar de uma quantia pra isso, mas conversamos depois.
— O cretino era um aproveitador, queria tirar vantagem de onde pudesse. —
Ela tem meu número.
Steven saiu correndo como um covarde, balancei a cabeça sem
acreditar naquilo, não me surpreendia, mas não conseguia entender como
podia fazer aquilo com a própria filha. Virei-me para Liz que estava prestes
a desabar, parecia envergonhada, triste, os olhos marejados.
— Não, meu amor, vem aqui. — Abri os braços para recebê-la e ela
negou. — Liz...
— Era disso que eu estava falando, ele vai contar, conheço meu pai.
— Agitou-se, com aquela preocupação boba.
— Eu não ligo se ele contar, podem inventar mil mentiras, só quero
você. — Fui até ela e segurei seu rosto. — Se isso te preocupa vou dar um
jeito de ninguém saber, mas sempre vai ter alguém para comentar ou levantar
qualquer suposição...
— Isso vai manchar a sua imagem e quando souberem o que eu faço
para viver...
— Liz, eu te amo — declarei sério, não tinha dúvidas e não queria
que ela tivesse também. — Você me disse que amar exige coragem, então
tenha coragem, se me ama, vamos enfrentar tudo juntos.
— Você não tem defeitos? — Sorriu emocionada.
— Alguém já me disse que sou teimoso, persistente e... — fiz uma
pausa dramática, fitando aqueles olhos brilhantes — obcecado por uma
mulher que me deixa louco.
Liz gargalhou e eu aproveitei aquele momento para enfiar minha
língua em sua boca, iniciei um beijo fervoroso, pegando-a no colo. Apesar
de querer tirá-la dali o quanto antes, poderia perder algum tempo
reafirmando o meu amor na cama dela.
Fazia quase uma semana que eu não tinha notícias do meu pai, depois
que saiu do meu apartamento esperei por alguma queixa de agressão ou que
ligasse nos chantageando. Max parecia tranquilo com aquilo, falava que tudo
estava sob controle, ele estava empenhado em me convencer a deixar meu
emprego na lanchonete, temia que Steven aparecesse por lá. Sabia que
quando nosso relacionamento viesse a público minha vida mudaria
completamente, e nada do que fazia até hoje poderia continuar normalmente,
de fato o poder que Max tinha, iria mudar tudo à minha volta.
Ele estava preparando tudo para oficializar o divórcio, Scarlet se
mudou do apartamento para viver com Peter, mesmo assim, não me sentia
confortável em viver no mesmo lugar onde dividiu a vida com ela. Depois
que saía do trabalho ficava na minha casa, então quando saía do escritório,
Max me pegava e passávamos a noite juntos. Às vezes dormíamos no meu
apartamento, ele não reclamava, nem parecia incomodado por estar ali, mas
estava na cara que ele não se encaixava naquele tipo de lugar. Com aquele
corpo enorme, teve que se encolher para pegar boa parte da água que caía do
chuveiro, quando tomávamos banho, durante a noite, eu dormia praticamente
sobre o corpo dele, para que coubéssemos os dois na cama.
Os últimos dias foram incríveis, era como se nossa separação nunca
tivesse acontecido, tinha certeza do amor que Max sentia por mim, e eu o
amava demais, passei anos pensando nas escolhas que fiz, em como nossas
vidas seriam diferentes se tivesse ficado em River Lake, mas hoje acredito
que tudo aconteceu como deveria, provou o quanto nosso amor era forte.
Sentada em minha cama, observava o homem que tirava meu mundo
do eixo, ele estava sentado em um puff cor de rosa que eu tinha, com uma
perna cruzada, apoiada sobre o joelho, falando ao telefone. Estava sexy, com
toda aquela pose de homem sério de negócios, voz altiva e seguro de si.
Usava um conjunto de terno elegante, camisa branca, gravata azul escuro, o
cabelo estava bem penteado, mas por causa de sua agitação que o fazia
enfiar os dedos a todo momento entre as mechas, estava começando a ficar
desgrenhado. Não conseguia acreditar que aquele homem tão lindo era meu.
Ergueu os olhos intensos encontrando os meus, percebendo que eu o
encarava em silêncio, desligou o telefone e veio até mim.
— Por que não leva tudo? — perguntou, enquanto eu voltava a
separar algumas peças de roupas. — Depois do nosso fim de semana
poderíamos ir para casa.
— A casa que você morou com a Scarlet?
— Eu já disse que ela ficou naquele apartamento apenas alguns dias.
— Max enfiou as mãos no bolso e caminhou pelo meu apartamento. —
Também não vai ser por muito tempo, vamos procurar outro lugar.
— Você faz planos demais, acha que tudo é fácil. — Encolhi os
ombros na defensiva, pensando em como tudo estava indo muito rápido,
apesar de estar feliz com ele, sentia-me insegura, e isso era difícil de
controlar. — Não estou dizendo que não vamos ficar juntos, mas acabamos
de nos reencontrar.
— E perdemos anos, não quero mais ficar longe de você — declarou
confiante, com o cenho franzido, sério. — Sei que tem medo, mas eu quero
me casar com você, Elizabeth, como deveria ter acontecido no passado.
— Acredite, eu quero isso. — Fui até ele, odiando ver como estava
tenso por aquilo. — Eu te amo, Max, só não quero que faça nada por
impulso.
— Por que não fazemos assim — segurou meu rosto, relaxando um
pouco mais —, tenho outro apartamento mobiliado na cidade, podemos
passar alguns dias lá, enquanto isso procuramos um lugar só nosso.
— Não tem medo do que pode acontecer quando todo mundo souber?
— Não mesmo, essas manchetes sensacionalistas são publicadas
para ganhar dinheiro — disse sem realmente se importar. — Posso pagar e
eles vão falar coisas boas sobre mim.
— Simples assim? — Arqueei a sobrancelha interrogativa, mas
estava apenas provocando.
— Simples assim. — Abriu aquele sorriso magnífico, agarrou meu
cabelo e puxou minha cabeça para trás. — Agora que já resolvemos isso...
— De repente ficou em silêncio, o olhar fixo, parecendo perdido em algum
ponto atrás de mim. — Aquela é a minha jaqueta?
— É sim. — Desvencilhei-me de seus braços e fui até o cabide onde
estava pendurada, tirando-a de lá, havia deixado guardada por muito tempo,
tinha medo de que estragasse. — Naquela noite que saí do evento da sua mãe
eu peguei no seu carro, acabou ficando comigo.
— Não acredito que ainda tem isso. — Segurou a peça totalmente
encantado. — Isso me faz lembrar de tanta coisa.
— Do velho Max e não do poderoso Maxwell King?
— Isso mesmo. — Sentou-se na minha cama, encarando a jaqueta. —
Nunca imaginei que chegaria aonde estou hoje, nem que acabaria atrás de
uma mesa administrando um negócio milionário em vez de jogar.
— Eu não perguntei sobre isso porque achei que tivesse se
machucado por minha causa. — Procurei um pouco de coragem dentro de
mim, para falar sobre aquilo. — Você não pode voltar a jogar por causa do
seu acidente na quadra?
— Não foi nada disso. — Colocou a jaqueta de lado e me puxou para
o seu colo. — Quando você partiu eu fiquei muito mal, e minha mãe estava o
tempo todo em cima de mim, dizendo que eu tinha que fazer uma escolha, que
nenhum olheiro se interessou...
— E era verdade? — Minha pergunta saiu rápida, nem pensei na
possibilidade de colocar em xeque algo tão sério.
— Hoje eu acredito que não. — O brilho em seus olhos desapareceu,
sendo tomado por uma tristeza imensa. — Eu ainda amo a minha mãe, mas
sinto que passei a vida inteira sendo usado por ela.
— Sua mãe também te amava, acho que ela era protetora demais —
falei querendo espantar aquela tristeza.
— Vamos deixar esse assunto de lado, quero aproveitar nosso dia
juntos, na segunda-feira tenho duas reuniões importantes e só vou poder te
ver à noite. — Abracei-o e beijei seu queixo, acariciando suavemente sua
nuca. — Se continuar rebolando assim no meu pau vou te comer outra vez.
— Não vou reclamar. — Chupei seus lábios, deslizando minha língua
sorrateiramente.
— Nada disso, tenho outros planos. — Segurou meus quadris e me
pôs de pé. — Merda, meu celular está tocando outra vez, prometo que não
vou demorar.
Ficou de pé, puxando o aparelho do bolso, deu alguns passos até a
janela assumindo novamente aquela postura altiva, fiquei admirando sua
beleza, o jeito com que gesticulava. Eu o imaginei diante de uma mesa
imponente, ditando ordens, bem diferente do cara que conheci no passado.
Mantive meus olhos nele, até que de repente sua expressão mudou, percebi
de imediato, franziu o cenho, esfregou o queixo, e logo após sussurrar um
palavrão, olhou-me com pesar. Soube naquele instante que algo sério estava
acontecendo.

Desliguei aquela chamada furioso, acho que não sentia tanta raiva
daquele jeito há muito tempo, apertei o aparelho entre os dedos querendo
destruí-lo. Sentia que a qualquer momento poderia perder a Liz e agora com
essa merda explodindo sobre nós, ela com certeza iria querer me deixar com
a ideia absurda que estava acabando com minha vida. Achei que seu pai
tivesse entendido meu recado, e apenas por pensar nela, não o entreguei para
a polícia. Liz passou a vida toda levando golpes duros do destino, desde a
infância vivendo com a mãe drogada, os relacionamentos falidos, que incluía
Cristian, que hoje estava casado, depois a pressão da minha mãe, sua partida
repentina que a trouxe para essa realidade de merda que vive, com um pai
que só quis explorá-la.
Porra! Por que as coisas não podiam ser tranquilas apenas uma
vez?
— Vamos sair daqui agora. — A passos largos alcancei a sua bolsa,
e terminei de enfiar as peças que estavam sobre a cama, peguei minha antiga
jaqueta e estendi para ela. — Aqui, veste isso.
— O que está acontecendo? — perguntou nervosa. — Max!
— Pega o que você acha indispensável, não vai voltar mais aqui —
ordenei, voltado para a janela, mas a vista era péssima, não tinha visão
nenhuma da rua. — Merda!
— Você está me assustando. — Cruzou os braços, visivelmente
abalada.
— Só um minuto. — Atendi o celular que vibrava, era da minha
equipe de segurança. — Como está aí embaixo, Vince?
— Senhor King, nós elaboramos uma saída pelos fundos, alguns
repórteres estão por aqui, o melhor é não conseguirem nenhuma imagem
comprometedora...
— Eu não me importo se me virem saindo, só não quero expor a Liz
nessa situação — rosnei, pegando o olhar assustado dela em mim. — Ligue
para o chefe de polícia, quero que ele me encontre no meu apartamento.
— Sim, senhor, o Charles já está esperando por vocês, vamos
continuar aqui na frente para despistar.
— Me mantenha informado da situação, e não deixe que percam
Steven Collins de vista, até o final do dia eu quero esse homem preso. —
Desliguei temendo encarar Liz.
— O que foi? — sua voz tensa me chamou. — Max, me conta de uma
vez.
— Seu pai tentou descontar o cheque que dei a ele e não conseguiu,
depois disso foi até a polícia prestou uma queixa e provavelmente falou com
algum repórter sobre nós — revelei de uma vez esperando que sua reação
fosse a pior. — Liz, nós temos que sair daqui, vou falar com o chefe de
polícia, vou resolver isso.
— Não acredito nisso! — Levou as mãos ao rosto, balançando a
cabeça. — Eu sabia que ele não ia ficar quieto, e agora, Max?
— Fica calma, eu vou resolver...
— Você diz que vai cuidar de tudo, mas como vai fugir de uma
acusação de agressão? — Seu olhar preocupado encontrou o meu. — Não
vou me importar se me chamarem de prostituta ou interesseira, só não quero
que tenha problemas com a justiça por minha causa.
— Não vou ter problemas, o seu pai vai — garanti, segurando sua
mão. — Vou denunciar ele por exploração e aliciação de menores.
— Mas, Steven não faz isso, não tem garotas menores de idade
trabalhando... — Liz parou, confusa, raciocinando. — Ele tem?
— Muitas, algumas delas são adultas hoje, mas tem várias meninas
nessa situação, minha equipe conseguiu reunir arquivos que seu pai
escondia, usando uma fachada legal para encobrir seus crimes. — Eu queria
explicar tudo, mas não tínhamos tempo. — Vamos embora, Liz, no caminho
vou mostrar tudo pra você.
— Preciso pegar uma coisa. — Disfarçou a tristeza em seu rosto e
correu até o armário do outro lado cômodo, tirou uma caixa de dentro e
enfiou na bolsa. — Estou pronta.
— Liz. — Segurei-a pelos braços, olhando dentro dos seus olhos. —
Promete que nada vai afastar a gente outra vez? Nenhuma das coisas que vão
dizer sobre nós, sobre você, vai fazer com que fuja? Me promete isso?
— Eu sou mulher agora, Max. — Segurou meu rosto com as suas
mãos delicadas. — Te amo e prometo que não há nada capaz de me afastar
de você outra vez.
Respirei aliviado, abraçando-a com força. Beijei sua testa, e a tirei
daquele apartamento antes que alguém nos encontrasse ali. Minha vida sob
os holofotes da imprensa era uma coisa complicada, principalmente quando
se referia a assuntos pessoais, mas faria o que fosse possível para que nada
daquilo afetasse Liz, queria mantê-la segura, e assim que resolvesse esse
problema, arrastaria a minha mulher para longe de tudo.
Descemos pelas escadas e quando chegamos à saída, um dos meus
carros nos esperava. Enfiei Liz dentro dele, passando um olhar ao redor,
algo dentro de mim dizia que o cretino estava por ali. Steven tentou entrar
em contato no meu escritório, mas não falei com ele, não daria a chance de
tentar me extorquir, aquele desgraçado não teria um centavo sequer do meu
dinheiro, entrei em contato com o banco e cancelei meu talão de cheques,
alegando ter sido roubado, sabia que tentaria pegar os cem mil, só que em
vez de entender isso como um aviso, ele prestou uma queixa contra mim,
mais um erro que cometeu.
— Senhor King, precisa entrar — Charles, um dos meus seguranças
falou.
— Sinto que ele está aqui — sussurrei, ainda com os olhos atentos.
— Ele não armaria esse show todo se não quisesse dinheiro, eu o ignorei e
essa é a chance dele de falar comigo para conseguir o que quer.
Charles varreu o lugar, tinha experiência naquilo, ele entrou na minha
frente, passando uma informação pelo rádio sem me olhar.
— Na esquina da frente, camisa xadrez, está com um Mustang 94. —
Virou-se apontando para a porta aberta do meu carro. — Senhor, é melhor
entrar.
— Eu vou até lá — decretei, e Liz tentou sair do carro para me
impedir.
— Max, não faça isso, Steven está com raiva por não conseguir o que
quer, vai causar confusão pra te prejudicar.
— Vou colocar esse babaca no lugar dele. — Dei um passo, mas a
mão forte de Charles me segurou.
— Me desculpe, senhor, não posso deixar que faça isso. — Soltou-
me quando lancei um olhar irritado para ele. — Vamos sair daqui antes que
alguém da imprensa apareça.
— Não vamos piorar tudo, Max — Liz insistiu, lançando aquele
olhar que me faria ceder a qualquer pedido seu. — Só quero ficar longe
dele, deixe a justiça cuidar disso.
Rosnei um palavrão e assenti, entrando na merda do carro. Minha
vontade era de ir até aquele filho da puta, socar a cara dele, mas isso apenas
pioraria nossa situação. Acomodei Liz puxando-a para mim, ela me envolveu
com os seus braços, apertando com força. Beijei sua cabeça, afagando com
carinho, mas meu olhar estava atento no carro que nos seguia.
Liz estava encolhida no meu sofá com uma caneca de café na mão,
nervosa, tensa, encarando o celular como se esperasse por algo. No caminho
mostrei os arquivos do seu pai, Charles conseguiu despistá-lo e seguimos
para o meu outro apartamento, o lugar onde eu morava estava cercado de
repórteres e paparazzi, não queria que Liz fosse mais exposta. Apreensiva
com aquilo, questionou se nos arquivos havia algo sobre ela, expliquei toda
a situação, disse que não tinha visto nada, mas que existia uma pasta com seu
nome e apaguei qualquer coisa que pudesse constrangê-la. Estava tentando
conter os danos, fazer com que passássemos por tudo aquilo da melhor
forma.
A mídia estava alvoroçada, manchetes tendenciosas foram
publicadas repetidamente, todas em tons ácidos falando sobre a mulher que
entrou na minha vida, Steven fez um estrago com as poucas informações que
tinha, agora todos vasculhavam meu passado em busca de informações sobre
Elizabeth Collins. Questões sobre infidelidade foram levantadas, o pai de
Scarlet não parava de me ligar, queria respostas que no momento eu não
poderia dar.
— O que foi, amor? — Sentei-me ao seu lado, afastando o celular da
frente dela, não suportava mais ver aquela perturbação em seus olhos.
— Eu tenho que te contar uma coisa. — Nervosa, fitou os próprios
dedos. — Isso pode te envergonhar e acabar com a gente.
— Nada vai poder acabar com o que temos — garanti, segurando seu
braço e trazendo-a para mim. — Me conta, Liz, seja o que for vou dar um
jeito.
— Talvez o Steven tenha fotos muito comprometedoras minhas —
revelou com a voz baixa, sua confissão saiu como um ruído. — No clube ele
fotografava quando a gente se apresentava, gravava vídeos...
— Mas não era permitido celulares.
— Os clientes não podiam, só que o Steven agenciava as garotas, e
tirava essas fotos para usar como portfólio para as apresentações. — Cobriu
o rosto com as mãos e começou a chorar.
— Minha equipe invadiu o computador dele, tudo que estava ligado a
você foi apagado...
— Ele gravava no celular, Steven ainda pode ter essas imagens, ele
pode... — soluçou nervosa, tremendo — merda! Me desculpa, eu só não
queria que você se deparasse com uma foto minha nua espalhada por aí...
— Eu vou resolver isso, vou ligar pra ele e pagar por qualquer
material que tenha sobre você — afirmei, faria tudo que pudesse para que
não tivesse que passar por esse tipo de exposição, já não bastava tudo o que
estava passando. — Vai tomar um banho, descansar, enquanto eu faço isso.
— Tá bom. — Meneou a cabeça constrangida. — Me desculpe
mesmo, você não deveria ter que pagar por isso.
— Liz, eu te amo, não precisa se desculpar. — Beijei seus lábios,
levantei-me, fazendo-a ficar de pé. — Confia em mim?
— Sabe que sim. — O sorriso que me deu não foi o mais feliz, no
entanto, era um bom começo.
— Então vai descansar e daqui a pouco vou estar ao seu lado na
cama, quando acordar esse problema vai estar resolvido, e os outros vão ter
o mesmo destino.
Com os olhos vermelhos de tanto chorar, concordou, eu a observei
caminhar até o quarto, maquinando tudo o que faria na próxima hora. Essa
era a oportunidade que eu precisava para colocar Steven atrás das grades.
Liguei para Joe Parks, o chefe de polícia, avisando que poderia vir até o
meu apartamento com uma equipe pequena, havia falado com ele durante o
caminho, deixando-o a par da situação, a queixa contra mim foi deletada do
sistema, isso era algo que o dinheiro facilitava, a única coisa que faltava era
tirar Steven de uma vez das nossas vidas. Peguei o celular de Liz,
procurando pelo número do desgraçado. Quando liguei, atendeu no primeiro
toque, como se esperasse por aquela ligação.
— Filha, sabia que me ligaria. — Sua voz asquerosa me encheu de
raiva.
— Não é a Liz — avisei e ele riu. — Estou disposto a pagar por
qualquer coisa que comprometa ela.
— Maxwell King, esperava pelo seu contato também. — O jeito que
falava me dava nojo, mas tinha que tentar pelo menos manter a calma. — Me
diga o que fazer e estou aberto a isso, se tivéssemos tido essa conversa
civilizada antes não teria chegado ao extremo.
— Certo, anote o endereço, e não tente atrair atenção ou não haverá
nenhum tipo de acordo — alertei, passando a localização de onde estava, era
o melhor lugar, ninguém sabia onde ficava.
— Esteja preparado, King, isso não vai sair barato. — Com aquela
risada tenebrosa, desligou.
Não estava nervoso pelo que aconteceria, apenas ansioso para
acabar de uma vez com aquilo, com Steven Collins fora do caminho, Liz
ficaria mais tranquila, cuidaria do meu divórcio e estaríamos livres para
ficar juntos de uma vez. Tinha muitos planos, queria me casar com ela, ter
filhos, formar uma família, desejava ver Liz florescer, livre de todo aquele
peso que carregava, que pudesse fazer o que quisesse, queria poder
proporcionar todas as oportunidades que ela perdeu, mas acima de tudo,
fazer a minha mulher feliz.

Eu não conseguia dormir, nem relaxar, o meu corpo inteiro estava


tenso, minha mente agitada, com todas aquelas coisas sendo publicadas
sobre mim, ofensas, especulações e Max no meio de tudo, Scarlet sendo
arrastada para aquela confusão. Foi impossível não lembrar das coisas que
Freda me disse no passado, em como eu estragaria a vida do filho dela,
apesar de ter sido uma pessoa cruel, em momentos como esse acabava
achando que ela tinha razão.
Fitando o teto tentei tirar aquele pensamento da cabeça, ouvi passos
se aproximando e fechei os olhos, sabia que Max viria se certificar de que
eu estava dormindo. Senti sua presença imponente assim que entrou, pelo
som da sua respiração, deveria estar de pé diante da cama, observando-me.
Beijou minha testa, afagou meu cabelo, depois saiu. Fiquei de pé
rapidamente, tentando escutar o que falavam. Abri a porta, deixando apenas
uma brecha para poder ouvir o que estava acontecendo.
— Eu quero que tudo aconteça com o mínimo de movimentação, sem
alarde, sem a chance que isso acabe nas manchetes, Parks — Max avisou,
deveria estar falando com o chefe de polícia, lembrava de ter dito que se
chama Joe Parks.
— Vai sair como planejado, tenho dois homens no apartamento da
frente que está desocupado, esses dois podem ficar aqui em algum cômodo.
— Olhei pela fresta, vendo o chefe de polícia, com o distintivo pendurado
no pescoço. — Um nesta porta e você aqui. — Direcionou os homens
fardados que estava com eles.
O interfone tocou e Max caminhou para atender, fiquei com vontade
de ir até lá, entender o que era tudo aquilo, no entanto, me pediu que
confiasse nele, seus planos para resolver tudo se mostrava seguro, por isso a
polícia estava aqui, então não tinha chance de se envolver em problemas.
Assisti tudo quieta, Max parecia tenso, sussurrou algo que fez os polícias se
dispersarem.
Em poucos segundos a campainha soou, Max abriu a porta, e meu
coração acelerou ao ver Steven entrando ao lado de Becky, minha amiga
parecia muito assustada, nunca a vi daquela forma. Os olhos inchados,
vermelhos, assim como rosto, que continha resquícios de lágrimas. Com a
maquiagem borrada, cabelo desgrenhado, entrou no apartamento sob a mira
de uma arma, Steven a fazia de refém.
— Achei que tinha deixado claro que isso era entre nós. — A voz de
Max saiu dura, potente e autoritária.
— Não sou tão idiota, King. — Meu pai riu, empurrando Becky pelo
cômodo. — Essa vadia é minha segurança, caso tente alguma gracinha. Sabe
que Liz adora a garota, se tentar algo contra mim ela morre, então a culpa
será sua, minha filha não vai te perdoar por isso.
— Steven, eu quero ir embora... — Becky suplicou, tão frágil, cheia
de medo, como nunca vi antes.
— Já mandei calar a boca! — Agarrou o cabelo dela, fazendo-a
sacudir a cabeça. — Quer outro corretivo?
— Chega, Collins, deixe a garota em paz. — Max apertava as mãos
em punho, estava se contendo para não avançar contra Stevens.
— Primeiro vamos falar sobre o dinheiro. — Apontou para o lado
onde ficava uma mesa, e ambos saíram do meu campo de visão.
— Quero ver o que tem da Liz, os vídeos, fotos... — Era Max quem
pedia, meu rosto aqueceu de vergonha ao imaginar ele me vendo daquela
forma.
— Como sabe sobre isso? — Steven indagou. — Achei que seu
pessoal tivesse invadido ilegalmente meu computador.
— Liz me contou que você usava o celular pra registrar as
apresentações — explicou de forma contida, enquanto a respiração agitada
de Becky se tornava cada vez mais audível, assim como o som de sapatos
batendo contra o piso, repetidamente.
— Ela está aqui? Quero vê-la, tenho que me despedir sabe? É a
minha filha — o desgraçado ironizou.
— Liz está dormindo, não vou envolvê-la nisso.
— Eu estou no controle, rapaz. — Cheio de si, Steven impôs: —
Chame Elizabeth, afinal, isso tudo é culpa dela.
— Fora de questão — Max foi firme. — Quero ela fora disso, diga
de uma vez quanto quer e vamos pôr um ponto final nessa discussão.
— Não, não — Steven continuou intransigente e chamou meu nome
em voz alta. — Elizabeth, você tem visita, querida!
— Seu desgraçado! — Max grunhiu, pareceu socar a mesa.
Decidi que não continuaria vendo aquilo sem fazer nada, se o que
Steven precisava para nos deixar em paz era me humilhar um pouco mais,
faria isso, abri a porta e dei de cara com o chefe de polícia, que fez um sinal
silencioso com o indicador sobre os lábios. Apontou para início do
corredor, incentivando-me a seguir. Caminhei decidida, engolindo em seco,
falhando ao tentar controlar minha respiração, ao chegar na sala onde os três
estavam sentados à mesa, recebi três tipos diferentes de olhar. Max estava
irritado por me ver ali, queria me proteger, Becky muito assustada, pedindo
socorro sem dizer uma só palavra e por último Steven, que se mostrava
divertido com aquilo.
— Olha aí, minha garota de ouro. — Gargalhou, levantando a arma
que estava encostada na barriga da minha amiga. — Venha se sentar com a
gente, meu bem, temos negócios a fazer.
— Deixe a Becky ir, estou aqui agora. — Aproximei-me da mesa, e
ele fez um sinal para que me sentasse ao lado de Max.
— Você só pode assistir, vou deixar sua amiga livre assim que
estiver com meu dinheiro.
— Quanto quer, Collins? Seja direto — Max exigiu.
— Não pretende ver pelo que está pagando? — Steven soltou Becky
e puxou seu celular, colocando-o na mesa. — Dê uma olhada nisso, pense em
quanto a mídia pagaria para ver a mulher que está com Maxwell King nua,
valeria um bom dinheiro, não acha?
Meu estômago embrulhou ao me ver dançando enroscada no pole
dance, depois de rodopiar na barra, fiquei de frente para a plateia,
deslizando meus seios entre o mastro, abrindo-me inteira. Era degradante
porque meu próprio pai gravava aquilo. Doentio seria a palavra adequada.
Abaixei a cabeça sem poder encarar Max, não tinha coragem. Senti meus
olhos marejarem, então ele envolveu o braço ao meu redor, deixando-me
saber que aquilo não mudava nada entre nós, mesmo assim, não diminuía
minha vergonha.
— Chega de joguinhos e acabe logo com isso — Max rugiu, enquanto
Steven passava mais fotos minhas completamente nua e em outras,
parcialmente nua.
— Um milhão de dólares — declarou, levantei os olhos surpresa,
encarando aquele homem horrível.
— Ficou louco? — Minha voz saiu esganiçada.
— Eu pago — Max me interrompeu e tive que encará-lo, ele estava
perdendo o juízo.
— Viu só, Liz, você achou uma mina de ouro. — O sorriso sarcástico
de Steven se expandiu, mas logo morreu quando um barulho vindo do
corredor atraiu nossa atenção. — Tem mais alguém aqui?
— Deve ter sido o vento. Vamos encerrar a negociação, para onde
devo transferir o dinheiro? — Na tentativa falha de disfarçar, Max puxou seu
celular, mas Steven não era idiota, sacou logo que tinha algo errado.
— Está mentindo, seu filho da puta! — Ficou de pé, nervoso,
puxando Becky ainda mais. — Seu fodido desgraçado! Chamou a polícia?
Virei a cabeça para ver Joe Parks se aproximando, com outros dois
policiais. Steven recuou andando de costas, arrastando minha amiga com ele
indo em direção à porta, mas não sabia que estava encurralado, do lado de
fora mais dois policiais esperavam, não tinha outra opção além de se
entregar.
— Solte a jovem, senhor Collins, podemos conseguir um bom acordo
se sair sem machucar ninguém — Joe Parks declarou, com a arma em punho.
— Eu vou acabar com vocês! — Steven ameaçou, olhando
diretamente para mim. — Sabia que me traria problemas, garota, é
igualzinha à sua mãe!
— Ela não tem nada a ver com isso, Collins — Max interveio,
tomando minha frente. — Liz estava dormindo, eu fiz tudo sozinho.
— Acha que ligo? Vão me botar atrás das grades por causa dela! —
gritou, levando o cano da arma para a cabeça de Becky.
Não consegui tirar os olhos da minha amiga, estava com medo, sabia
do que aquele homem era capaz. Espancou muitas garotas por motivos
banais, inclusive a mim, sabia nos manipular, nos manter presas, e agora com
uma arma na mão, não hesitaria em atirar apenas para me punir por estragar
seus planos.
— Você vai responder por aliciação de menores, exploração,
agressão, extorsão, além do agravante de manter uma refém sob ameaça de
arma de fogo — Joe Park continuou falando. — Quer mesmo adicionar um
homicídio? Vai sair daqui e acabar no corredor da morte, é isso que quer?
— Pelo menos vou levar alguém comigo, não é? — disse com
maldade.
— Pai, por favor, se soltar a Becky pode sair da cadeia logo —
menti, dando dois passos à frente. — Vou pedir para o Max pagar um bom
advogado e se tiver direito a fiança...
— Está me chamando de estúpido? — Seu olhar se tornou mais
odioso. — Quero sair daqui sem ser seguido, quero um milhão em dinheiro
agora mesmo!
— Sabe que é impossível conseguir esse valor agora — Max falou e
o Joe Parks se aproximou mais, afastando-me para trás, colocando-me em
uma posição segura.
— Solte a garota, Collins, não há nada para fazer. — Parks estava
cada vez mais perto dele, deixando-me apreensiva.
— Fique aí, porra! — gritou, pressionando ainda mais o cano da
arma contra a minha amiga. — Eu vou atirar, não estou brincando.
— E então vai morrer em seguida, seu idiota! — Becky exclamou
agitada.
Seus olhos encontraram os meus, o medo ainda estava ali, mas
encheu-se de coragem, sussurrou um “eu te amo” e com um impulso
resistente atingiu Steven com o cotovelo para se afastar dele, o golpe não foi
o suficiente para derrubá-lo, no mesmo instante ele apertou o gatilho, fechei
os olhos esperando o som do disparo que não veio, o clique ainda estava na
minha mente, repetindo a cada segundo, então um disparo finalmente
ocorreu. Trêmula, não queria abrir os olhos e ver minha amiga morta, só que
o grunhido de Steven ecoou pelo lugar, fazendo-me despertar. Max estava à
minha frente, protegendo-me com seu corpo, sequer percebi que ele me
tocava, até aquele momento.
— Becky... — chamei, hesitante, então como um furacão ela se enfiou
entre mim e o Max, abraçando-me com força.
— Que merda de pai você arranjou! — Ela ria e chorava ao mesmo
tempo, nunca perdendo a piada.
— Steven Collins, você está preso, tem o direito de permanecer
calado, tudo o que disser será usado contra você... — Joe Park ditava os
direitos de Steven enquanto um dos policiais o algemava, fazendo-o ficar de
pé.
O tiro disparado por um dos policiais atingiu o ombro de Steven,
servindo apenas para rendê-lo, foi um milagre a arma que ele usava ter
falhado, do contrário, seria Becky ferida ou até mesmo morta nesse
momento. Como um cão, o desgraçado rosnava, agitando-se, tentando se
soltar.
— Quero o celular dele, Joe. — Max se aproximou de onde eles
estavam, estendendo a mão, o chefe de polícia prontamente entregou e me
perguntei se aquilo não era ilegal. — Vou pedir para a minha equipe dar uma
olhada, ainda hoje mando alguém te entregar.
— Leve o tempo que precisar, vou deixar esse aqui em um lugar
especial, é fim de semana então só vamos resolver na segunda. — O chefe
Parks o puxou para fora e Stevens sangrava, o rosto estava suado, parecia
sentir muita dor, no entanto, não tive pena. — Vamos passar no hospital, ele
vai estar bem vivo para cumprir a pena.
— Por mim ele pode queimar no inferno — cuspi as palavras cheia
de ódio. — Espero que apodreça na prisão.
Os policiais o levaram, seguidos pelos outros que estavam esperando
no corredor, Max trocou mais algumas palavras com Joe Parks, que se
ofereceu para levar Becky até seu apartamento. Eu insisti para que ela
ficasse, pelo menos até se acalmar, mas a minha amiga se abalava e se
recuperava com a mesma rapidez. Depois que todos foram embora, o
silêncio reinou no lugar, a sala estava uma completa bagunça, sangue no
carpete, cadeiras e poltronas tombadas. Estava prestes a começar a arrumar
tudo aquilo, só que fui agarrada por braços fortes, tirada dali, em poucos
segundos estava de volta ao quarto, e sem precisar dizer uma palavra, beijou
meus lábios com paixão, deixando claro que tudo tinha acabado, e aquele era
finalmente o nosso recomeço.
Minha vida virou um turbilhão de emoções desde que reencontrei
Max, a princípio estava cheia de medo, não queria bagunçar a vida dele, as
chances de estragar tudo eram enormes. Ele era um grande e renomado
empresário, sua empresa era conhecida em todo país, já eu, trabalhava como
garçonete por meio período, à noite tirava a roupa para o entretenimento de
homens. Sentia como se Max tivesse seguido em frente, apesar de ter
deixado o sonho de seguir como jogador profissional, diferente de mim que
fiquei estacionada, como se quinze anos não tivessem passado.
Às vezes quando chegava à lanchonete, via-me outra vez na
Westhouse e em vez do ballet, tinha os clubes de strip-tease. Isso me
envergonhava, me fazia pensar se não tentei o bastante antes de me
conformar com essa situação. Entretanto, isso ficou para trás, as coisas ruins
da minha vida, os traumas e medos estavam desaparecendo.
Depois da prisão de Steven, senti como se um fardo fosse tirado dos
meus ombros, ainda tínhamos um grande problema com a minha imagem,
todos os veículos de mídia falavam sobre mim e como destruí o casamento
do renomado Maxwell King, diziam que eu era a perdição daquele homem,
Max até brincava com isso, falava que eles tinham razão, eu era sua
perdição, sua loucura, colocava-me em um pedestal tão alto que às vezes não
conseguia acreditar.
No momento nossa vida estava mais tranquila, Scarlet nos
surpreendeu ao dar uma entrevista muito sincera, não revelou que o
casamento deles foi uma farsa durante anos, mas falou que eles não estavam
mais casados há alguns meses, e sobre a separação ter sido uma decisão
dela. Disse que estava feliz por Max ter me reencontrado, e que a relação
entre nós três era de muito carinho e respeito. Com isso, o pai dela ficou uma
fera, mas a mulher estava firme em sua decisão, apresentou Peter como seu
companheiro, e colocou um ponto final em tudo aquilo.
Claro que as especulações não pararam por ali, no entanto, era um
começo. Nenhuma imagem minha foi exposta, graças ao Max, que fez tudo o
que podia para evitar e conseguiu, a única coisa que me incomodava, foi que
ele teve que ver tudo aquilo sobre mim. A primeira coisa que temia ao rever
Max, era o que ele pensaria sobre mim, contudo, o homem que se tornou, não
perdeu aquele garoto apaixonado de anos atrás e isso me assustava. Tinha
medo de acordar e tudo ser um sonho.
Naquele exato momento apertava os olhos, tentando descobrir se
estava realmente acordada, vivendo aquele momento. O sol aquecia minha
pele, deitada sobre uma manta, dentro de um iate luxuoso enquanto o homem
que amava beijava meu pescoço, arrastando a língua sobre a pele, fazendo-
me arrepiar-me inteira.
— Por que não abre os olhos? — a voz grossa indagou,
aproximando-se do meu ouvido. — Gosto de olhar para eles.
— Estou tentando descobrir se isso é um sonho... — murmurei de
forma melosa, minha voz tão fina quanto a de um passarinho cantarolando.
— Não é um sonho, estamos aqui. — Beijou minha orelha e a mão
grande espalmou meu ventre. — Eu estou aqui, tocando em você — arrastou
os lábios sobre a minha boca, pontuando as palavras —, beijando você.
— Ainda acho que eu estou sonhando. — Abri os olhos, encontrando
os dele me encarando, intensos e apaixonados. — Deveria estar terminando
de lavar uma pilha de copos agora, pensando que em poucas horas teria que
dançar em algum clube.
— Isso ficou no passado, sabe que não vai poder trabalhar na
lanchonete, nem em um lugar que te deixe com fácil acesso ao público.
— E o que eu vou fazer? — Semicerrei os olhos intrigada. — Quer
que eu fique na sua casa, vivendo do seu dinheiro, sem fazer mais nada a não
ser esperar você chegar?
— Não foi isso que eu quis dizer. — Entrou na defensiva, mas não se
afastou.
— Eu não quis que soasse dessa forma — me justifiquei, não queria
ofender ou magoar ainda mais aquele homem que só me dava amor. — Só
não quero que as pessoas pensem...
— As pessoas não têm que pensar nada, nossa vida, nossa história.
— A firmeza com que falava me deixava segura. — E você não precisa ficar
sem fazer nada, pode pensar em algo que goste, que se adeque a sua nova
vida e não te coloque em risco.
— Você faz parecer fácil. — Acariciei seu rosto, meu peito estava
apertado. — Acabamos de nos reencontrar, tudo está indo rápido, e não
estou reclamando, só com medo, Max.
— Sinto como se esses quinze anos não tivessem passado, nossa
história teve uma pausa, um pouco longa admito — ele sorriu, tão lindo e
sexy que me fez suspirar —, mas nós estamos aqui, retomamos de onde
paramos e não quero perder nem mais um segundo.
— Você leva “nem mais um segundo” ao pé da letra — provoquei e
Max jogou seu corpo em cima de mim.
— Então nem mais um segundo para ficar longe dessa boca — os
músculos duros me encurralaram, uma das mãos envolveu meu pescoço, a
outra deslizou pela minha perna —, desse corpo...
— Só se eu for por cima. — Eu o empurrei para montá-lo, e ele
cedeu sem nenhum problema, na verdade facilitou aquilo. — Dominando
você.
— Dominando, é? — Riu quando uni suas mãos sobre a cabeça,
prendendo as duas. — Com esses peitos na minha cara vai ser uma
verdadeira tortura.
— Você me coloca em um altar, não sou tão bonita quanto antes. —
Não estava sendo modesta, quinze anos se passaram, meu corpo não era o
mesmo, já o dele tinha só melhorado.
— Acredite em mim, amor, não existe mulher mais linda nesse
mundo. — Poucas palavras me deixaram balançada. — Fico de pau duro só
de pensar em você e quando te vejo assim...
— Deixa eu ver se está dizendo a verdade. — Tateei seu peitoral
definido até encontrar sua ereção, enfiei os dedos dentro da sunga,
envolvendo-a com as mãos. — Você é tão gostoso.
Inclinei a cabeça sobre o seu peito nu, beijando-o, cada centímetro
de pele havia uma camada de pelos bem aparados, escuros, deixando-o
ainda mais másculo. Max era um homem deslumbrante em todos os sentidos.
Com a mão livre apoiada em seu ombro, prendi o mamilo direito entre os
dentes, em seguida chupei, circulando a língua em volta. O gemido gutural
que saiu dos seus lábios fez minha boceta pulsar, assim como seu pau, que
latejou nos meus dedos.
Max afastou o cabelo do meu rosto, e a mão firme se apossou da
minha bunda, sem pudor, afastou a parte de baixo do meu biquíni, fiz o
mesmo, empurrando o tecido o máximo que pude, ele facilitou, terminando
de se livrar da sunga. Seu pau quente estava livre entre nós, babando, cada
movimento que eu fazia, sentia melar mais minha pele.
— Monta no meu pau, Liz. — Seu rosto estava vermelho, gotas
começando a surgir. — Estou pronto pra você, quero gozar bem duro, estou
ficando louco.
— Você é sempre tão mandão — gemi, arrastando minha língua do
peito para baixo, minha boca salivava de vontade, queria chupar seu pau.
— Oh, porra! — grunhiu, agarrando repentinamente meu cabelo,
quando o engoli.
Chupei levemente a cabeça, o cheiro que ele tinha era de outro
mundo, ninguém acreditaria se eu contasse, mas Max era perfeito em cada
parte, cada centímetro era irresistível. Gemi, levando-o até a garganta,
engolindo desesperada, queria devorá-lo. Agarrei a base do seu membro, e
lambi apenas a cabeça, sentindo o gosto salgado do pré-gozo. Deslizei as
unhas para baixo, acariciando as bolas pesadas, queria continuar com aquilo,
deixá-lo louco.
— Chega, não aguento mais — soltou um gemido exasperado,
puxando-me para cima. — Senta no meu pau, Liz, agora!
— Quero te chupar mais. — Esfreguei-me na coluna grossa, que
pulsava debaixo de mim.
— Adoro essa boca engolindo meu pau bem fundo, mas agora eu
quero essa boceta — rosnou, espalmando as duas mãos na minha bunda. —
Segura o meu pau e coloca dentro de você.
— Desse jeito? — Segurando pela base, coloquei-o em minha
entrada, começando a descer bem devagar. — Merda, você é grande!
— Coloca com jeitinho, bem devagar — murmurou com um sorriso
lascivo. — Senta gostoso no meu pau.
Max gostou de ouvir aquilo, acho que coisa de homem, mas seu pau
era realmente grande, a espessura grossa, com veias marcando a pele rosada.
Ser preenchida por ele era delicioso, no entanto, não era fácil, deslizei
lentamente sentindo cada polegada me invadir. Ele puxou a parte de cima do
meu biquíni, cobrindo meus seios com as mãos, massageando enquanto o
levava para dentro de mim. Fixei meu olhar nele, saboreando a visão
maravilhosa que tinha, ele jogava a cabeça para trás, respirando
irregularmente enquanto eu me movimentava.
— Que delícia, Max. — Cavalguei mais rápido, apoiando as mãos
em seu ombro. — Você é meu, não é? Todo meu e vai ser assim pra
sempre...
— Caralho, Liz. — Segurou meus quadris, tentando me controlar. —
Você vai me fazer gozar.
— Diz que é meu. — Tornei-me mais veloz, insana, aquela pressão
gostosa aumentando no ventre, uma possessividade repentina me golpeando,
ver aquele homem lindo embaixo de mim, gemendo meu nome, estava me
deixando louca.
— Sou todo seu. Sempre fui. Você é a única mulher que eu vou amar.
— Suas palavras eram autoritárias, mas ao mesmo tempo cheia de paixão.
— Porra, me beija!
Entreguei-me indo mais fundo, gemendo loucamente, beijando-o
ferozmente, sentindo sua pele. Deitada sobre o seu corpo, levei uma mão ao
cabelo macio, enfiando minha língua na sua boca, buscando a dele. Max
rosnou, ficando mais excitado, subiu a mão até o meu pescoço, enquanto eu
rebolava em seu colo, a sua língua alcançou o céu da minha boca,
devorando-me, querendo mais, tomando o controle para si. Por mais que
dissesse me querer cavalgando, queria dominar, fazia parte do seu instinto, e
eu amava ser dominada por ele, amava ter seu corpo controlando o meu.
Permiti sentir o prazer que me proporcionava, ele empurrou dois
dedos na minha boca fazendo-me chupá-los, o olhar feroz em mim deixava
claro que gostava daquilo, o maxilar contraído, ofegando excitado embaixo
de mim. Então tirou os dedos dali, e os levou para um lugar diferente,
sorrateiramente acariciou o meio da minha bunda, pressionou devagar,
encarando em busca de uma resposta, alguma reação. Não falei nada, apenas
senti, e quando a ponta do dedo entrou mais fundo, gemi e foi só isso que ele
precisou para fazer o que queria.
— Caralho! — rosnou, agarrando meu cabelo e bruscamente me
virou de bruços, as mãos ágeis levantaram meu quadril. — Chupa os meus
dedos como se fosse o meu pau — ordenou, colocando os dedos livre na
minha boca, enquanto voltava a me penetrar. — Essa bunda é deliciosa!
— Max, estou perto de gozar...
— Agora não, amor. — A ordem saiu baixa, mas poderosa. —
Primeiro eu quero te comer assim, quero foder olhando isso aqui. — Girou
os dedos no meu anel apertado, deixando-me cada vez mais perto do gozo.
— Que gostosa, vou ficar louco!
Estremeci com uma onda de calor percorrendo meu corpo, a garganta
seca emitindo gemidos, o coração disparado, a respiração descompassada.
Era difícil puxar o ar com toda aquela tensão sobre o meu corpo, Max estava
me levando ao limite, batendo os quadris com arrogância, grunhido
furiosamente, senti as gotas de suor pingando em minhas costas, as mãos
possessivas por toda parte, minha boca, meu ânus, seu pau me invadindo
cada vez mais fundo, do jeito que eu gostava.
Foi delirante, eu gemia sem parar, minhas pernas amoleceram e Max
continuava estocando rápido e com força, senti a minha boceta arder,
palpitar. Aquela ferocidade, brutalidade era algo de outro mundo. Sem parar,
enterrou-se mais, a sua boca chupava meu queixo, gemendo contra a minha
pele, soltando lufadas de ar a cada vez que empurrava em mim. A língua
grande me lambia enquanto seus lábios me sugavam, eu estava toda melada,
rosto, pescoço, entre as pernas, tudo. Cheguei ao meu limite, o pau entrava
apertado, tão gostoso que ficou difícil me conter, mordi seu peito quando
conseguiu atingir o ponto vibrante dentro de mim, só que isso pareceu deixá-
lo insano, quanto mais os meus dentes apertavam, mais ele me golpeava com
destreza.
Estilhacei-me em mil pedacinhos de prazer, Max gemeu perdendo o
controle, ele virou meu pescoço para olhá-lo, estava com as feições duras,
sobrancelhas unidas, a boca entreaberta em um gemido mudo, o músculo do
queixo tenso, a imagem da perfeição esculpida. Um orgasmo avassalador me
preencheu, líquidos jorravam da minha boceta. Foi aí que ele desabou
liberando o gemido mais gutural que já ouvi, seu pau e dedo dentro de mim,
comendo-me sem parar enquanto jorrava seu esperma quente.
Max me agarrou como se nunca mais fosse me soltar, respirando
irregularmente, beijando meu ombro, sussurrando que amava. O medo que
havia dentro de mim desapareceu, foi tirado de mim com um sexo duro, mas
que com ele eu podia chamar de amor, porque era assim que eu me sentia,
amada, desejada, como se nunca o tivesse perdido, como se nossa história
nunca tivesse acabado.

Meu prazer dependia do dela, o ar que eu respirava, meu corpo,


minha sanidade, tudo girava em torno de Liz. Com um braço enrolado na sua
cintura, escorreguei uma mão até a sua boceta, estávamos suados, suas costas
colando no meu peito. Esfreguei o clitóris, sentindo-a se agitar embaixo de
mim, estremecendo pelo contato, sabia que depois de gozar Liz ficava
esgotada, mas ainda não me sentia satisfeito, precisava de mais.
— Max... — Meu nome escapou de seus lábios, em um gemido
entrecortado.
Cortei suas palavras, apertando a boceta com a palma da minha mão,
tomando-a em um toque possessivo. As bochechas da sua bunda estavam
vermelhas, pelos golpes do meu quadril. Afaguei a pele quente,
massageando, meus dedos se tornaram mais firmes no seu centro encharcado,
meu gozo escorria enquanto eu me movimentava. Tudo nela me pertencia,
seus gemidos, seu prazer, assim como tudo em mim sempre foi dela, minha
Liz. Eu não me envergonhava por admitir, queria deixar claro para o mundo
que nós dois pertencíamos um ao outro.
— Você é toda minha, Liz, agora e para sempre. — Continuei
metendo em sua boceta, preparando-me para ter mais uma parte dela.
— Sou sua, Max, assim como você é meu — choramingou, ofegante,
perdida, as unhas cravando na pele do meu braço.
— Quero gozar outra vez, porra! — rosnei, sentindo-a me apertar.
— Ahh... Max! — gritou, presa sob o meu corpo, caindo para frente.
— Vou foder sua bunda agora, amor! — Tirei meu pau, todo melado,
pingando esperma, latejando para voltar e se enterrar em seu calor. — Acha
que aguenta?
— Eu quero... — a descarada respondeu entre os gemidos constantes,
enquanto meus dedos trabalhavam no clitóris inchado. — Ai, que delícia!
Respirei fundo, segurando-me para não perder o controle, aquela
mulher tinha um poder anormal sobre mim, podia me aprisionar de uma
forma tão insana, que me fazia perder o raciocínio, o tesão falava mais alto,
dominava cada polegada do meu corpo, a razão desaparecia, como se nunca
tivesse existido. Ergui-me mais sobre ela, mordisquei sua nuca, lambendo a
pele suada até o pescoço, chupei com prazer, de olhos fechados tentando me
controlar, busquei sua boca, atacando-a com um beijo faminto, meu pau
esfregando-se perto da sua entrada, como se soubesse que aquele era o
caminho da perdição.
Minha respiração se tornou mais forte, pesada, eu estava fora de
mim, meu corpo gritando para fodê-la com força, não consegui me segurar,
abri mais as suas pernas, segurei meu pau esfregando na boceta,
lubrificando-o com os nossos fluídos, equilibrei-me em uma perna apoiando
um joelho no chão, meti dois dedos no seu canal, arrastando meu gozo até
aquele anel pequeno, melando-o todo, preparando-o para mim. Liz gemia
baixinho, deixando que eu a tomasse como queria, quando senti que estava
pronta, forcei meu pau em seu ânus.
— Ahhh... Merda! — berrou, ensandecida, empinando-se toda.
— Caralho, Liz! — Por instinto, acertei um tapa em sua bunda,
enlouquecendo com aquele aperto que me torturava. — Fique quietinha,
amor.
— Não consigo — murmurou com a voz abafada.
Inclinei-me um pouco mais, beijando seu pescoço, movi a mão que
segurava a cintura, subi até os seios, brincando com os mamilos, fazendo-a
relaxar. Meu pau estava sofrendo, apertado latejava, o ânus se contraía ao
meu redor, delirei, era uma sensação perfeita. Queria me enterrar por
completo naquele lugar delicioso, era a primeira vez que fazíamos sexo anal,
não sabia se era a primeira vez dela, mas não me importava, Liz estava
comigo, nós estávamos juntos, recuperando todo o tempo perdido.
Empurrei um pouco mais, entrando até a metade, afastei-me para ter
uma visão completa do meu eixo sendo engolido, estremeci ao me deparar
com aquela cena tão erótica, eu poderia gozar apenas assim, com ela se
contraindo ao meu redor. Cerrei os dentes tentando me conter, segurar meu
tesão, gemendo rouco, suando. Puta que pariu! Meu corpo inteiro estava fora
de controle. Perdido de prazer, mergulhei dentro dela, até que não sobrasse
nada fora. Aquele era, fodidamente, o melhor lugar do mundo.
— Porra, Liz... — sussurrei em seu ouvido, começando a me mover
mais rápido, com uma mão no seu quadril e a outra em seu ombro. — Você
me deixa louco, sente como seu cuzinho gosta do meu pau?
— É tão gostoso, Max. — Agarrou a toalha, apertando, gemendo
enlouquecida, naquela posição, com a bunda arrebitada, me dava uma visão
inesquecível.
— Quer mais, amor? — Rebolei dentro dela, cheio de tesão. —
Posso foder mais forte?
— Pode, eu quero mais. — Virou o rosto de lado, a boquinha
entreaberta puxando o ar em meio aos gemidos.
— Você é gostosa pra caralho! — Agarrei um punhado do seu
cabelo, esfregando com a outra mão seu clitóris, queria que tivesse prazer,
nada além disso. — Toma o meu pau nesse rabo delicioso, Liz!
Não sabia quanto tempo mais aguentaria, estoquei com força,
deliciando-me com seus gemidos, assumi um ritmo punitivo, não demorou
para Liz estremecer inteira, empurrando-se contra mim, fugindo da minha
mão, que punia aquela boceta com toques firmes, levando-a ao limite. O
grito que escapou dos seus lábios ecoou por todo o lugar, não havia nada
além dos nossos gemidos e o mar. A sensação de poder e liberdade se
apossou de mim.
— Goza, amor.... Porra! Assim eu não aguento! — berrei, metendo
desvairado, o tesão me dominando.
Quando Liz se contraiu, apertando o ânus em volta do meu pau,
engolindo-me, foi meu fim, meu corpo tencionou, os meus músculos
retesaram, estoquei mais forte, minhas bolas batendo contra a boceta melada
era demais para mim, então eu gozei feito louco, fodendo sem parar, como se
meu corpo tivesse controle próprio. — Caralho! Caralho! Caralho!
Meus lábios se abriram em busca de ar, mal podia respirar com todo
aquele prazer percorrendo meu corpo. O corpo de Liz sofria espasmos
suaves, enquanto sua boca murmurava palavras incoerentes, perdendo-se
com os gemidos baixos. Desabei sobre ela, beijando-a com carinho, sentindo
uma emoção tão forte no meu peito, como se nunca tivesse vivido um
momento como aquele, e não vivi, sabia disso, com Liz tudo era diferente,
beijos, toques, foder, amar, tornava-se único. Aquela intensidade, loucura, e
o carinho que existia ao mesmo tempo, era algo indescritível. Não queria
soltá-la, mesmo sabendo que aquilo era só o começo de uma vida inteira
juntos.
Nas semanas seguintes as coisas se acalmaram, voltei com tudo para
o trabalho, dessa vez mais tranquilo, pois sabia que ao chegar em casa minha
mulher estaria comigo. Não existia o medo de perdê-la, Liz finalmente era
minha. Os planos para o casamento estavam a todo vapor, depois que meu
divórcio saiu, a primeira coisa que fiz foi começar a planejar. Homens
geralmente não se preocupam com isso, porém, eu estava realmente animado
com a ideia de me casar com ela. Enchi Liz de revistas e artigos sobre como
organizar um casamento. Queria oficializar aquilo o quanto antes.
Scarlet foi muito tranquila quando nos separamos, na verdade,
acredito que para ela foi tão libertador quanto para mim. Depois que
assinamos os papéis do divórcio, seu pai ficou furioso, tentou aparecer no
meu escritório, em seguida quis pressionar a filha para voltar a morar na
casa dele. Fiz a minha parte como amigo e ex-marido, não queria que Scarlet
ficasse desamparada financeiramente, nem que seus pais tivessem poder
sobre ela naquele quesito, por isso além de deixar alguns imóveis com a
partilha de bens devolvi o investimento de sua família na King para que eles
não a culpassem por nada, além de que ela ainda teria uma pequena
porcentagem das ações para se manter.
Minha prioridade era amenizar qualquer tipo de problema, Liz tinha
um hábito terrível de se culpar por tudo, na cabeça dela, as coisas ruins que
aconteciam eram causadas unicamente por ela. Deixei claro que os
problemas que enfrentamos não me importavam, as manchetes tendenciosas
sobre nós desapareciam a cada cheque que eu enviava, Steven aguardava o
julgamento e certamente pegaria muitos anos de prisão, se um dia ficasse
livre, estaria debilitado demais para qualquer merda, ainda assim, eu torcia
para que acabasse no corredor da morte, no entanto, seus crimes não foram
tão graves de acordo com o sistema.
Grande merda! Ele estava fora de nossas vidas e isso era o que
importava.
Ao chegar no apartamento em que Liz e eu morávamos
temporariamente, notei que a mesa estava repleta de coisas, entre elas um
pequeno tripé, coberto por um pano, uma planilha no lugar reservado a mim,
na cadeira havia uma folha com meu nome, achei engraçado e caprichoso, na
hora soube do que se tratava. Há dias Liz e eu conversávamos sobre o seu
projeto, agora que estava sem trabalhar queria se ocupar com algo. Lógico
que sugeri nosso casamento, contudo, minha mulher queria algo mais. Então
falei que financiaria seu próprio negócio e isso nos levou a uma extensa
discussão.
O problema era que tudo relacionado ao dinheiro, Liz via como algo
negativo, sua mente agitada logo deduzia que estava tirando proveito da
nossa relação, por isso decidiu que se fosse para a King financiar seu
projeto ela teria que passar pelo sistema de aprovação como qualquer outro
microempresário. Aceitei, porque não importava qual tipo de negócio
quisesse, apoiaria, sabia que ela daria tudo de si para que funcionasse.
Passei um olhar sobre a mulher dentro de um conjunto social sexy
demais, o terninho que usava era justo, assim como a saia, as sandálias
davam um toque especial, atraindo minha atenção. Quis correr até ela, soltar
o rabo de cavalo que fez no cabelo, jogar seu corpo em cima daquela mesa e
foder até me cansar, mas sabia que teria que levar aquilo a sério.
— Está atrasado, senhor King — declarou, como se estivéssemos
dentro de uma sala de reuniões formal, meu pau se agitou ao vê-la rebolar,
afastando a cadeira para que eu me sentasse.
— Me desculpe, peguei um trânsito infernal. — Coloquei minhas
chaves sobre o aparador, e fui até ela, passando meus braços ao redor da sua
cintura. — Posso dizer como você está linda nessa roupa?
— Dentro de um cenário profissional seria considerado assédio. —
Sorrindo, beijou meu queixo. — Mas como você é meu futuro marido, posso
relevar.
— Adoro essa palavra. — Deslizei a palma da mão até sua bunda,
apertando-a. — Não vejo a hora de me tornar seu marido.
— Estamos praticamente casados, Max. — Com um tapinha suave no
peito, afastou-se. — Agora vá para o seu lugar e seja o mais profissional e
coerente possível, não quero ser privilegiada.
— Tudo bem. — Assenti, suspirando audivelmente ao me sentar, meu
pau estava apertado dentro da calça por causa dela. — O que temos aqui?
— Little Stars, uma academia de dança — disse com empolgação, os
olhos brilhando, o sorriso largo no rosto. — Mas não é só uma academia
qualquer, muitas mulheres estão em uma situação vulnerável, principalmente
as que têm problemas com drogas. — Deu um longo suspiro e tirou o pano
que cobria o tripé.
— Fez isso sozinha? — Apontei para a logo simples de Little Stars
estampando a primeira página, ao virar, mostrou o gráfico na segunda.
— Na verdade, a Ashley me ajudou — confessou e logo assumiu uma
postura profissional. — Aqui mostra o percentual de mulheres que saíram de
clínicas de reabilitação ou da prisão, mas que logo voltaram a se drogar
porque não tiveram oportunidade.
— Então seu projeto é ajudar mulheres... — comecei colocando as
palavras certas, não queria dizer que aquilo era perigoso, principalmente
para ela, só que Liz estava disposta a fazer aquilo.
— Não é ajudar, vamos dar uma oportunidade, algo para que possam
se entregar além dos vícios e da depressão. — Passou à página seguinte e
continuou: — Essa na foto é Verônica Collins, minha mãe. — Sua voz
embargou levemente, mas logo se recuperou. — Ela nunca teve nenhum tipo
de ajuda, sofreu de depressão depois que foi abandonada pela família e ao
entrar na prostituição acabou caindo nas drogas.
— Verônica era muito bonita, você se parece com ela — falei,
observando uma foto totalmente diferente das outras que vi, nessa a mãe de
Liz estava sorridente, o cabelo castanho longo, brilhante e solto, assim como
os da filha.
— Eu nunca gostei de ser comparada com a minha mãe, porque tudo
o que eu sabia sobre ela assim como as coisas que me falavam eram
negativas.
— Então você encontrou coisas positivas sobre a Verônica.
— Sim, acho que se tivesse uma oportunidade a vida dela teria sido
diferente — declarou baixinho, viajando nos pensamentos, mas logo se
levantou decidida a tornar aquilo profissional. — Sei que muitas delas
acabam nessa vida porque não têm mais nada a que se agarrar, não só
mulheres que tem algum tipo de vício, outras como a Becky, que não
conseguem nenhum tipo de oportunidade a não ser a que envolva seu corpo
para fins sexuais.
— Little Stars, para mulheres que merecem uma segunda chance. —
Fiz uma anotação abaixo do título, enchendo-me de orgulho.
Esperava que o projeto de Liz envolvesse dança, mas nunca cogitei a
possiblidade de que ela quisesse ajudar mulheres em situação tão parecida
com a da sua mãe. Nossos passados traziam dores semelhantes, a negligência
deixou marcas profundas, difíceis de superar, por isso não pensei que fosse
entrar em uma área que tanto a traumatizou. Folheei os gráficos listados, os
custos que teria e as perspectivas de retorno. Não era apenas um projeto
social sem fins lucrativos, o que Liz queria era uma academia de dança, onde
todas as mulheres seriam beneficiadas, uma empresa com funcionários,
salários, uma nova chance para aquelas que acreditavam que as drogas ou a
prostituição fosse a única opção.
— Eu sei que para tornar esse projeto real preciso de um
investimento alto, mas garanto que em pouco tempo vai ver os frutos —
afirmou com animação, colocou mais gráficos, que não faziam diferença
nenhuma para mim, estava disposto a ajudá-la com aquilo. — Aqui você
pode ver uma estimativa de quantas mulheres podemos empregar, seremos
uma academia de dança que produzirá as próprias roupas, coreografias,
maquiagem, cenário... Tudo feito por essas mulheres.
— Liz... — Antes que eu pudesse terminar de dizer as palavras, ela
me interrompeu.
— É muito dinheiro, você não gostou, não vale a pena. — Coçou o
pescoço, nervosa, andando ao redor da mesa. — Eu já sabia, mas não
precisa se preocupar...
— Liz. — Fiquei de pé, contendo-me para não rir da cena que fazia,
fui até ela, segurei sua mão, puxando-a para mim. — Eu adorei o projeto,
quero apoiar tudo o que você fizer.
— Vai apoiar por que a ideia foi minha? — Fez um bico fofo,
estreitando os olhos desconfiada.
— Sim, mas também porque é algo fabuloso, além de criar uma
empresa que vai gerar muitos empregos, ainda ajudará diversas mulheres. —
Segurei seu rosto, para que olhasse dentro dos meus olhos. — Estou muito
orgulhoso, meu amor.
— Sério? — Abraçou-me com força, distribuindo beijos no meu
rosto. — Não acredito!
— Pode acreditar, eu sei que você vai fazer esse projeto funcionar.
— Beijei seus lábios, sentindo o sabor que tanto amava. — Eu só tenho uma
sugestão, algo que podemos fazer juntos.
— Estou aberta a tudo, sei que tem muita experiência em negócios e
pode me ajudar. — Olhou-me animada, cheia de esperança, era muito bom
vê-la daquela maneira.
— Acredito que o seu projeto trará várias mulheres com filhos iguais
a nós dois, crianças que estarão perdidas como estávamos, precisando de um
suporte assim como as mães — expliquei, já formando toda ideia na minha
cabeça. — Podemos encontrar um lugar que tenha espaço para os filhos,
onde eles terão amparo educativo.
— Isso seria maravilhoso. — Ela se emocionou e seus olhos
marejaram outra vez. — Vamos poder ajudar muitas famílias, tenho certeza
de que vai valer a pena.
— Já disse como estou orgulhoso? — Beijei a ponta do seu nariz, ela
assentiu, tão feliz, não me lembrava de ver Liz tão radiante. — Agora que
falamos de negócios, quero cuidar de outra coisa muito importante.
— É mesmo. — Sentou-se na mesa, balançando as pernas, meu olhar
parou direto nas coxas, que ficavam à mostra a cada polegada que a saia
subia. — O que quer fazer agora?
— Trepar com você em cima dessa mesa. — Minha voz saiu rouca,
cheia de lasciva, agarrei a coxa coberta pela meia de seda. — Agora.
Abaixei a cabeça atacando sua boca, não consegui conter a violência
do meu beijo, o tesão me dominava a cada segundo, e depois de toda aquela
apresentação, só fez o que eu sentia se expandir ainda mais. Não era só o
orgulho que tinha da mulher que se tornou, porque estava claro que era uma
pessoa boa, generosa. Outra em seu lugar, talvez quisesse apenas fazer
compras e ter uma vida confortável, mas ela agia, pensava e falava de
maneira única, o que fazia com que eu ficasse mais fascinado. Com ela
inteiramente grudada em mim, deitei seu corpo sobre a mesa e tomei o
queria, louco, possessivo, apaixonado. Seria sempre desse jeito, não haveria
outra forma de viver a não ser amando.
Ansiosa, segurei as lágrimas enquanto fitava meu reflexo no espelho,
Becky parou ao meu lado, com aquela mesma feição sonhadora de quando a
conheci. Abriu um sorriso largo, como se fosse ela a noiva. Apesar de saber
que minha amiga estava com o chefe de polícia, Joe Parks, com quem se
relacionava há alguns meses, desejava que pudesse ser tão feliz como eu
estava sendo.
Minha vida deu uma virada que para mim só existia nos contos de
fadas, Max era meu verdadeiro príncipe encantado, só que em uma versão
mais adulta e proibida. Com seu sorriso sacana, um beijo avassalador e
aquele sexo feroz, era um pacote completo.
Logo após a nossa reunião de negócios, voltamos até River Lake
para uma curta viagem onde seu pai, junto a igreja, fizeram uma missa em
homenagem a Freda King, eu não estava presente, não tinha raiva, nem
ressentimento, era a mãe do Max, sendo boa ou não foi a pessoa que cuidou
dele, mas não me sentia confortável em estar lá. As pessoas daquela cidade
só sorriram para mim depois de saberem com quem eu estava, do contrário
me tratariam da mesma forma.
Por isso decidi visitar o túmulo da minha mãe, por muito tempo a
culpei por todas as coisas ruins que aconteceram na minha vida, foi difícil
aceitar que ela preferiu as drogas ao invés de mim, no entanto, desde que
Max sugeriu que eu criasse um projeto para trabalhar, comecei a pensar em
quantas Verônicas havia por aí. Dependentes de substâncias, lutando para
seguir em frente, e quando tudo dava errado, caíam outra vez no vício como
forma de solucionar os problemas. Isso me fez pensar muito no quanto minha
mãe sofreu, até morrer daquela forma tão horrível.
Agora não sentia raiva, apenas tristeza por não ter tido ajuda ou
algum amparo que a fizesse querer lutar, seu túmulo estava abandonado,
decrépito, sem ninguém para se importar, enquanto do outro lado da cidade
várias pessoas se reuniam para lembrar de outra mulher que não era tão boa
mãe, assim como Verônica, mas que mesmo após sua morte era venerada.
Não tinha muito o que fazer, vivi o bastante para saber que o mundo era
assim.
Foi depois de sair de lá e caminhar até minha antiga casa que tive
uma surpresa maravilhosa, o imóvel não era mais o mesmo, uma casinha
pequena e aconchegante estava no lugar. Por anos acreditei que a prefeitura
tivesse demolido ou vendido, os impostos dela estavam todos atrasados, eu
abandonei e não havia ninguém para reivindicar. Temi entrar no delicado
jardim, não queria ser acusada de invasão justo no primeiro dia que estava
de volta à cidade.
Então, como se realmente estivesse em um conto de fadas, meu
príncipe surgiu, carregando um lindo buquê de rosas vermelhas, quase
idênticas aquelas que me deu no passado, no dia da minha apresentação.
Com o sorriso mais lindo e sensual do mundo, entregou-me as flores,
ajoelhou-se como nos filmes e abriu uma caixinha pequena que continha um
anel exageradamente brilhante.
Max me disse palavras bonitas, contou como se apaixonou por mim,
falou sobre os obstáculos que enfrentamos, reafirmando que os anos que
passamos separados não mudaram o que sentia. Ele me fez chorar ao pedir
que passasse minha vida ao seu lado, aproveitando todo o amor que
tínhamos. Claro que eu aceitei, e foi o meu sim que nos trouxe a esse
momento.
Usando um longo e justo vestido de renda branco, abria o maior
sorriso da minha vida, mesmo com os olhos marejados de pura emoção.
Nunca imaginei que esse dia chegaria para mim, muito menos que fosse
Maxwell King o homem com quem iria me casar.
— Se você chorar eu também vou. — Becky ajeitou pela milésima
vez meu véu.
— Estou nervosa — confessei, dando um longo e audível suspiro. —
Parece que meu estômago está dando cambalhotas, acho que vou vomitar.
— Não vai, isso se chama nervosismo. — Minha amiga passou um
braço sobre os meus ombros, sorrindo para o nosso reflexo. — Olha só para
você, uma noiva e puta que pariu, eu sou a madrinha.
— Não, Max, você não pode! — A voz de Ashley invadiu o
ambiente, quando entrou no quarto batendo a porta com força. — Só faltam
alguns minutos, vai ter que esperar.
— Só quero falar com a minha mulher, merda! — Max murmurou,
parecia muito irritado.
— Quer ter azar no seu casamento? Se vir a Liz agora vai estrar tudo
Maxwell — Ashley gritou, contrariada. — Você é um idiota impulsivo, vá
atrás do Justin e espere.
— Liz — chamou por mim, ignorando sua irmã. — Só preciso de um
minuto, amor, prometo que não vou te olhar.
Os olhares que Ashley e Becky me lançavam dizia que eu não
deveria ceder, no entanto, quando Max me chamava daquela maneira, tão
necessitado, não conseguia negar. Corri até a porta sem abri-la, ouvi minhas
amigas suspirarem, mas não me importei, ofegante pelo nervosismo encostei-
me contra a madeira, ouvindo-o, ele parecia tão ansioso quanto eu.
— Você vai mesmo se casar comigo, não vai? — Apesar da
imponência de sua voz, mostrava-se inseguro. — Quero dizer, não tem nada
que faça você desistir de mim agora, não é?
— Nada me faria desistir, Max — sussurrei, sentindo meu coração
bater cada vez mais forte. — Estou nervosa porque isso parece um sonho, e
eu não quero acordar.
— Não é um sonho, em poucos minutos vai ser minha assim como eu
sempre fui seu. — Sua declaração me deixou ainda mais emocionada, as
lágrimas caíram junto com os flashes da nossa história que invadiram minha
mente. — Eu te amo, Liz, mais do que tudo nesse mundo.
— Eu também te amo — respondi com a mesma paixão. — Te vejo
daqui a pouco.
— Vou esperar. — Soltou um riso contido e pude ouvir os sapatos
batendo no piso ao se afastar.
Virei para as duas mulheres que me encaravam com afetuosidade e
sorri, mais feliz impossível.
— Meu irmão é impossível, ele quer você só pra ele! — Ashley
resmungou, ajustando a ponta da cauda do meu vestido, não era muito longa,
queria algo bonito e nada espalhafatoso. — Sabia que ele não me deixou
falar com você por quase duas semanas depois que te encontrou?
— Não fazia ideia. — Achei graça daquilo, Max era realmente
possessivo.
— Pois é, disse que precisava de um tempo a sós com você, e ontem
nós planejamos uma noite das garotas, não foi Becky? — indagou para minha
amiga que assentiu. — Mas aquele maluco disse que não ficaria longe da
noiva dele, e vocês se casariam hoje!
— O Max acha que perdemos tempo demais separados, por isso não
gosta de ficar longe de mim — revelei e as duas mulheres riram.
— Está pronta, Liz? — Becky perguntou, estendendo o buquê de
rosas para mim. — Chegou a hora.
Assenti sendo golpeada por uma miríade de emoção, não havia a
possibilidade de não estar pronta, sonhei com aquele momento durante toda
a minha vida, e finalmente havia chegado, estava me casando com Maxwell
King, o homem que eu amava.

A pergunta mais idiota do mundo havia acabado de ser feita a mim


pelo padre, e não era idiota porque não tinha importância, pelo contrário, a
resposta era tão óbvia que ela sequer precisaria ser feita, e com a pressa que
eu estava para que ele nos declarasse casados, respondi assim que a palavra
aceita saiu de sua boca. Nossos amigos e poucos familiares riam da minha
antecipação.
Não podia ser diferente, os dias que antecederam nosso casamento
me deixaram louco, pensei em mil possibilidades que o fariam não
acontecer, temi que Liz desistisse antes, por mais que tudo parecesse bem,
sempre carregaria esse medo dentro de mim, fiquei anos sem ela, e não
queria passar nem mais um dia longe. Então, quando finalmente apareceu no
jardim da nossa nova casa, senti meu coração bater em um ritmo
completamente diferente, descompassado, acelerado, ansioso, parecia querer
pular para fora do peito.
Liz entrou sozinha, mas isso não tirou em nada o brilho da mulher
exuberante que era, não esperei que chegasse até mim, desci para pegá-la no
meio do caminho, beijei sua testa emocionado, e a levei até o altar, onde
selaríamos de uma vez o nosso amor.
Tive que me segurar para não chorar feito um menino, estava
emocionado demais, olhar para ela e ver aquele sorriso lindo estampado em
seu rosto me deixou em êxtase. Fizemos nossos votos, com juras de amor
eterno, fidelidade incondicional, prometendo que nunca, independente das
circunstâncias deixaríamos um ao outro. Então nos beijamos, eu a beijei,
tomei seus lábios com voracidade, sem me importar com todos à nossa volta,
aquele era o primeiro de muitos que daria na minha esposa. Enchia-me de
orgulho dizer aquela palavra.
Depois do sim nada mais importava, eu só queria levar Liz para o
nosso quarto e fazer amor a noite inteira, no entanto, minha mulher merecia
ter uma experiência completa, e eu também, já que me casei praticamente
bêbado da última vez. Cumprimentamos nossos amigos, Justin e Ashley
estavam finalmente fazendo seu relacionamento funcionar, Becky também
estava com o namorado, Joe Park, e agora trabalhava apenas na organização
da Little Stars, o projeto estava sendo um sucesso, a cada dia jovens
mulheres chegavam, e Liz planejava encontrar um lugar maior para que
pudesse receber todas elas.
— Max, Elizabeth. — Meu pai se aproximou, estendendo a mão para
nos cumprimentar, ele veio de River Lake para o nosso casamento. —
Desejo que sejam felizes, espero poder visitar vocês de vez em quando.
— Claro, Lucius, vamos ficar felizes de ter você aqui — Liz disse
com sinceridade.
Até antes de nós nos reencontramos, ela acreditava que meu pai
apoiava minha mãe nas coisas que fez para nos separar, então expliquei que
no dia de sua morte, ele ficou tão surpreso quanto eu em descobrir tudo
aquilo. Apesar de amar minha mãe e saber do seu gênio difícil, foi
decepcionante saber que Freda chegou àquele nível de maldade apenas para
que as coisas acontecessem do seu jeito.
— Obrigado, vou deixar vocês a sós, tem um monte de gente
querendo parabenizá-los — meu pai se despediu nos abraçando, e saiu ao
encontro de Ashley animada.
— Estou ansioso para te levar daqui. — Segurei sua cintura,
beijando suavemente seu queixo. — Podemos sair agora e ninguém vai
perceber.
— Acho difícil, somos os noivos. — Ela riu de maneira graciosa,
esfregando as palmas das mãos no meu peito. — Não consigo acreditar que
estamos casados.
— Pode acreditar, querida esposa, e vamos permanecer assim por
muitos... — beijei sua boca, arrancando mais risos — e muitos anos.
— Você está feliz?
Que tipo de pergunta era aquela? Não existia no mundo, um homem
mais feliz do que eu.
— Sente isso aqui — pressionei sua mão sobre o meu coração —,
está batendo por você, eu respiro por sua causa, fico bem apenas por te ver
sorrir, não dá pra medir a minha felicidade, não posso expressar em
palavras o que sinto.
— Você se tornou um homem muito romântico, vai me fazer chorar.
— Escondeu o rosto no meu peito e eu a abracei completamente.
Um grupo de pessoas começou a chamar pelo discurso, Justin subiu
no palco montado, todo orgulhoso por ser meu padrinho. Ele era um bom
amigo, meu melhor amigo, fazendo com que qualquer outro que tenha
passado pela minha vida não merecesse usar esse termo. Esteve ao meu lado
nos momentos difíceis, aconselhou-me quando achou que precisava, e ainda
fazia minha irmã feliz. Rimos quando começou a contar histórias engraçadas,
fez Liz chorar ao dizer como fomos feitos para o outro, e depois chamou a
valsa do casal, e todos os olhares se voltaram para nós.
Levei minha esposa para o centro da pista, conduzindo-a em uma
dança lenta, inspirei o perfume do seu cabelo, meus dedos acariciando
suavemente a pele. Nós nos olhamos apaixonadamente, naquele momento
nada mais existia além de nós. Era engraçado, porque por muito tempo achei
que nunca viveria aquilo, acreditei que minha vida seria de amargura e
solidão, que Liz seria apenas uma lembrança do meu passado. No entanto,
tudo mudou quando a mulher que dominava meu coração voltou. Levando-me
à loucura e à sanidade ao mesmo tempo. Fazendo-me delirar na cama e me
enchendo de orgulho fora dela.
Liz era a única capaz de me fazer feliz, soube disso quinze anos atrás
e agora que estávamos juntos tinha certeza, ela me fazia melhor, dava sentido
à minha vida, e ainda que muitos anos se passassem, continuaria
perdidamente apaixonado pela minha mulher.
Três Anos depois...
Acabei mais uma aula com os princípios básicos do ballet há meia
hora, ainda estava suada, meus pés ardendo, no entanto, sentia-me
completamente feliz. Olhei para o andar de baixo, onde Becky administrava
um minicurso de maquiagem, várias mulheres frequentavam à Little Stars,
boa parte delas conseguiu um emprego fora daqui outras acabaram se
juntando ao nosso time, que tinha um intuito de dar uma nova oportunidade
para aquelas que acreditavam que tudo em suas vidas estava perdido e que
as drogas seriam a única solução.
Orgulhava-me por aquele projeto funcionar durante os anos que se
passaram, claro que tivemos muitos problemas no começo, principalmente
para implementar uma nova área que acomodasse os filhos de todas aquelas
mulheres. Max ficou encarregado disso, e não demorou para comprar um
lugar muito maior, onde colocaria as duas instituições lado a lado. Acho que
ver todas aquelas crianças precisando de amparo, fez meu marido pensar que
não era o suficiente, por isso abriu o Instituto Madison. Trazer o nome da sua
irmã era uma forma de homenagear e manter sua lembrança viva, contudo,
Max nunca contou à mídia sobre o real significado do nome.
Em pouco tempo começamos a receber crianças de todas as idades,
meu marido reservava horas do seu dia para estar naquele lugar, queria ver
de perto que era a coisa certa a se fazer. Foi em um desses dias que
conhecemos nossos filhos. Carson de sete anos e Asher de cinco, os dois
chegaram ao instituto Madison sozinhos, pareciam famintos, com roupas
rasgadas em meio ao inverno rigoroso de South Last.
A recepcionista não sabia o que fazer, não éramos um orfanato, nem
funcionávamos à noite, e aqueles dois meninos não tinham ninguém. Quando
Max chegou, passava das onze da noite, veio de uma viagem de negócios
porque eu não podia deixar aquelas crianças sozinhas. Verificamos o
histórico dos irmãos, foram abandonados quando Carson tinha dois anos e
Asher era só um recém-nascido. Foram passando por orfanatos diferentes, e
fugiram do último porque duas famílias diferentes queriam adotá-los, então
para não serem separados, decidiram viver por conta própria, até que
ouviram falar sobre o instituto Madison.
Entramos com um pedido imediato de adoção, não foi algo que
precisamos conversar nem decidir, bastou que olhássemos para Carson e
Asher, para saber que seriam nossos filhos. Conseguimos ser o lar
temporário dos dois até que a juíza concedesse a guarda definitiva o
processo durou quase dois anos, pois queriam ter certeza de que não havia
familiares interessados. Max ficava nervoso com a situação, queria tudo no
seu tempo, era um pai fabuloso. Amava os meninos, e eu também sentia
como se tivessem vindo de mim.
Quando cheguei em casa, ouvi os gritos ferozes da minha equipe,
sabia que Max deveria ter saído mais cedo do escritório para passar a tarde
com os nossos filhos. Em nosso novo lar havia uma quadra de basquete, ela
não existia até os garotos chegarem. Agora os três passavam horas jogando.
Carson tinha uma grande paixão pelo esporte, assim como Max, agora com
dez anos falava sobre querer se tornar um jogador profissional e claro que
meu marido apoiava a ideia. Asher, que havia completado oito anos, ainda
tinha sonhos de ser astronauta, e suas ideias do que queria ser quando
crescesse mudava a cada semana.
— Mãe! — meu pequeno Asher gritou, correndo em minha direção.
— O Carson ficou preso na cesta, quase caiu.
— Que linguarudo! — Carson resmungou, cruzando os braços, mas
também veio me abraçar.
— Acho que já passou da hora do banho. — Afaguei o cabelo dos
dois, sentindo o suor impregnar nos meus dedos.
— A gente nem viu a hora passar, só mais cinco minutos vai... —
Carson me agarrou com força, lançando aquele olhar que sempre me fazia
ceder, só que dessa vez não funcionaria.
— Banho e jantar, em vinte minutos. — Beijei sua testa com carinho,
e ele correu para abraçar o pai antes de entrar.
Os dois eram muito carinhosos, sempre nos recebiam com beijos e
abraços, demorou até que nos chamassem de pai e mãe, mas depois que
fizeram, não pararam mais, e isso só nos deixou exultantes.
Olhei para o meu marido, que depois desses anos casados, ficou
ainda mais lindo. Percorri o abdômen suado, parando no calção que pendia
nos quadris, dando uma visão muito sensual do vinco que descia para a
virilha. Lembrei-me de quando éramos jovens, morando em River Lake, Max
correndo com calções parecidos com esses treinando para os jogos.
— Você é pior que os meninos — resmunguei, assistindo-o vir até
mim. — Achei que tinha dito que estariam prontos para o jantar quando eu
chegasse.
— Desculpe, meu amor. — Colou o corpo suado ao meu, agarrando
minha bunda descaradamente, a boca pairou sobre a minha na tentativa de me
distrair. — Quero você, fiquei com saudade.
— Nos vimos de manhã, você se lembra disso, não é? — Deslizei os
dedos pelas costas molhadas, fazendo-o arrepiar.
— Eu sei, mas nunca tenho o suficiente de você — sussurrou,
arrastando a ponta da língua na minha orelha.
Adorava aquele nosso joguinho de sedução.
— Vai ter que esperar, Ashley, Justin, Becky, Joe e as crianças estão
vindo jantar — expliquei, e apesar de amar nossos amigos, não escondeu a
careta por ter que esperar até todos irem para poder transar.
Meu marido era uma máquina de sexo, o tempo não tirou sua
disposição, nem paixão, só o deixou mais safado. Sabendo que levaria horas
até ter o que tanto queria, arrastou-me para o banheiro com a desculpa de
que precisava de ajuda no banho. Acabamos com uma rapidinha debaixo do
chuveiro, enquanto ele repetia o quanto me amava, provando isso a cada
toque, a cada beijo, e não me restava mais dúvidas, sabia que aquele homem
era todo meu, assim como eu era completamente sua.

Eu contava os minutos para que estivesse a sós com a minha mulher,


depois de colocar nossos filhos na cama, andei ansioso até o nosso quarto.
Meu coração batia mais forte, era involuntário, com os anos aquilo não
diminuiu, pensar em Liz, estar com ela, fazia meu corpo reagir fora do
normal. E todos os dias eram assim. Aquela necessidade avassaladora me
dominava, não queria mais nada além dela.
Liz me deu tudo, não tinha do que reclamar, ao seu lado tudo fazia
sentido, a raiva que carreguei por anos foi substituída pelo amor. Nossos
filhos vieram para completar nossa família, nossos amigos tornavam os
feriados divertidos, nossa casa era só felicidade.
Quando vi Liz pela primeira vez era só um garoto, mas naquele
tempo já carregava uma necessidade de protegê-la que cresceu
transformando-se em uma paixão avassaladora, era uma conexão de almas. E
depois que a tive por completo, quando fiz amor com ela, soube que nunca
mais poderia viver sem aquela sensação. Demorou até que pudéssemos estar
juntos outra vez, no entanto, não me importava o passado, não havia
culpados, éramos só nós, provando que o nosso amor era forte e superaria
qualquer obstáculo.
Andei devagar pelo nosso quarto, meus pés descalços sobre o
carpete, senti imediatamente a mistura do seu perfume com as velas
aromáticas que tanto gostava. Sorri ao escutar a música sensual ecoando
pelo lugar. Sabia que minha querida esposa estava aprontando. Ela gostava
de me provocar.
Meu coração saltou ao ver seu corpo sensual, olhei com avidez,
gravando cada detalhe na minha mente, usando apenas uma calcinha que mal
cobria a boceta, meias até o meio das coxas que me fez salivar, mas a parte
de cima estava coberta por uma das minhas camisetas. Liz sabia como eu
adorava vê-la vestida com elas. O cabelo castanho caía em ondas sedosas,
deixando-a a verdadeira imagem da perfeição.
— Que bom que chegou, amor, tenho um presente para você —
cantarolou, com a voz sedutora.
Ela já havia me dado tudo, não sabia mais o que poderia ganhar
daquela mulher, porém, meu pau gostou daquilo. Pegaria o que fosse que
tivesse para mim, adoraria e amaria, como fiz durante toda a minha vida.
— Você está me provocando, Liz — rosnei, indo até ela, que apontou
para uma cadeira no meio do quarto, que sequer notei. — Depois vai me
pedir pra parar, dizer que sua boceta não aguenta mais.
— Sabe que eu aguento. — Deu-me um sorrisinho travesso,
mordendo o canto do lábio.
Nosso sexo estava fora dos padrões normais, quanto mais possuía
Liz, mais a queria. Foder com ela ia além do tradicional papai e mamãe. A
fome dentro de mim fazia com que ultrapassássemos todos os limites,
principalmente quando fodia sua bunda por horas, aquilo me levava à
loucura, não conseguia parar.
Sentei-me na maldita cadeira, esperando pelo seu show, não seria a
primeira vez que Liz dançaria para mim, peguei a minha mulher em várias
poses diferentes, matando todos os desejos insanos da minha mente, foram
anos assistindo-a dançar, e me pegava pensando naquelas posições o tempo
todo. Tentamos de tudo, foi divertido até quando falhávamos, mas também
era um prazer imenso descobrir o que funcionava entre nós.
Respirei fundo, apertando meu pau coberto pela calça de moletom,
quando Liz começou a dançar, balançou os quadris, sorriu para mim, virou-
se de costas, dando-me uma visão completa da sua bunda, quis ir até ela e
pegar de vez o que insinuava para mim, mas queria ver essa surpresa.
Esperei impaciente, admirando minha mulher.
Segui cada movimento seu, agitei-me quando caminhou lentamente
até mim com aquele olhar sedutor, os lábios entreabertos, o cabelo caindo na
frente do rosto fazendo dela a mulher mais linda do mundo. Parou no meio
das minhas pernas, afastando ao máximo, levei um dedo a boceta coberta
pela calcinha, sentindo como estava úmida, uma linha fina de prazer marcava
o tecido transparente, estava prestes a rasgar o tecido e tomá-la para mim,
quando segurou minha mão impedindo-me.
— Achei que fosse o meu presente. — Sorri meio de lado, safado,
entrando no seu jogo.
— Ele está mais acima. — Apontou para a camiseta.
Na hora gelei, imaginando que talvez tivesse feito uma tatuagem, há
tempos ela dizia o quanto queria fazer algo especial, que simbolizasse nosso
amor, nossa família, e como praticamente todo o seu corpo estava nu, deduzi
que fosse nas costelas. Olhei-a com seriedade, segurei na barra de algodão
da camisa, e subi devagar. Foi quando vi a marca de batom vermelho,
floreando sua barriga, levando até o ventre.
Um riso emocionado escapou dos meus lábios, meus ombros
sacudiram de felicidade e emoção, afastei a camisa toda, até tirá-la de seu
corpo, sentando-me outra vez para fitar a frase estampada ali: “Estou
chegando, papai”. Limpei as lágrimas que inundaram meus olhos para poder
ver com clareza, não conseguia acreditar.
Porra! Vamos ter um bebê!
— Nós vamos... — Minha voz embargou, sentia-me tão feliz que não
conseguia me expressar direito.
— Vamos ter um bebê — declarou, com o sorriso mais lindo do
mundo no rosto.
Puxei-a para mim, enterrando o rosto em seu ventre, beijei a barriga
ainda sem nenhum sinal de que um bebê estava ali. O batom sujou minha
pele, porque eu me esfregava contra ela, carente, incrédulo, feliz, extasiado,
não conseguia acreditar. Era a melhor notícia do mundo.
— Você é o amor da minha vida, Liz. — Ergui os olhos, chorando
sem parar, era emoção demais, felicidade demais.
Não consegui deixá-la responder, quando abriu os lábios
preparando-se para declarar, fiquei de pé, com uma mão agarrei seu
pescoço, deslizando prazerosamente a língua em sua boca, com a mão livre,
percorri o quadril, até segurar a bunda gostosa. A levantei com cuidado,
agora teria que me policiar, nada de transas selvagens nem sexo louco, pelo
menos por um tempo. Com carinho a deitei na cama, abri suas pernas,
enquanto Liz abaixava minha calça, estava ansiosa para me ter dentro
daquela boceta faminta. Apesar do desejo insano que nos consumia, não fodi
minha adorável esposa da forma voraz que fazia. Com olhos fixos nos seus,
ouvindo os gemidos estrangulados quando se aproximava de um orgasmo, fiz
amor por longas horas, adorando, idolatrando, amando cada parte da
perdição que era o seu corpo.
Não tinha pressa, uma vida inteira nos esperava, e eu sabia que
enquanto meu coração continuasse batendo, aquele amor nunca iria acabar.
FIM
Onde me encontrar!
Basta abrir o leitor de QR Code do seu celular e apontar a câmera para
o código abaixo para me encontrar nas redes sociais.

Aqui você vai poder me seguir nas redes sociais e conhecer os meus
outros livros! Aguardo você lá.

[1]
O plié é um dos movimentos mais importantes do ballet feito na barra. Consiste numa flexão do joelho
ou joelhos, que serve para tornar os músculos mais flexíveis e maleáveis e os tendões mais elásticos.
Existe o demi plié e o grand plié, que consiste numa flexão menos ou mais acentuada, respectivamente.
Table of Contents
Nota da autora
Parte Um
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Parte Dois
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Epílogo

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