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1ª EDIÇÃO DIGITAL
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Todos os direitos reservados. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança
com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Proibida a reprodução, total ou parcial,
desta publicação, seja qual for o meio, eletrônico ou mecânico, sem a permissão expressa da autora
Flávia Padula. Proibido para menores de 18 anos.
Kate Lynch acaba de se divorciar da pior forma possível. Arrasada, ela
precisa recomeçar e sobreviver por causa de seu filho de quatro anos,
Caleb. Ela é capaz de tudo por ele, inclusive de aderir ao Clube das Mães
Solteiras. Um lugar onde ela encontrs um bom emprego, apoio psicólogico
e social e uma forma de recomeçar.
E um certo CEO babaca.
Michael Scott Rhodes Junior é o típico homem que nasceu para os
negócios. Dono da maior emissora de esportes do país, ele não tem tempo
para frivolidades e sequer paciência para isso.
Mas uma jornalista atrevida cruza seu caminho e eles entram em
combustão, literalmente. Eles se detestam. E o fogo é tão intenso que uma
paixão inesperada surge em meio ao desprezo.
Kate não vai ceder. Michael também não.
Quem vai vencer: o amor? Ou o ódio?
Prontas para essa história de cão e gato?
Outros Livros da Autora
Nota
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo
Capítulo Bônus
Outros Livros da Autora
Jornalístico:
Quisisana, uma história, uma vida
Romance Histórico
O Duque
O Yankee
O Plebeu
Danior
Vladimir
Xavier
Gustav
Heron
Fúria Cigana
A Casa da Colina
De Volta à Casa da Colina
O Cavalheiro de Shetwood
Meu Querido Primo
O Último Beijo de Um Duque
O Natal do Libertino
Um Caminho de Amor
O Pirata e a Prisioneira
A Carta
Conde de Denbigh
A Noiva e o Russo
Como Sequestrar um Duque
Cartas para o Conde
O Desafio do Duque
A Preferida do Duque
A Preferida do Marquês
A Preferida do Conde
A Preferida do Lorde
Um Amor Inesquecível
Um Amor Irresistível
A Tentação do Marquês
A Perdição do Conde
O Pecado do Duque
O Conde Bastardo
A Dama de Vermelho
A Dama das Pérolas
A Dama dos Lírios
A Dama dos Segredos
Medieval/Fantasia
A Maldição do Rei
O Feitiço da Princesa
Western / Cowboy
A Força do Amor
O Poder do Amor
A Glória do Amor
O Fora da Lei
O Vingador
O Justiceiro
O Renegado
Contemporâneo:
O Amante Espanhol
Escolhas
O Segredo do CEO
A Última Conquista
Ralph
Duplamente CEO
Egor
Clube de Swing
Quero Me Casar
365 Dias com o CEO
1001 Noites com o CEO
Guto
Uma Noite Para Sempre
Um Bebê para Ítalo Russo
Um Herdeiro para o CEO
Otto Millani
O Meu Carnaval com o Cowboy
O Pescador
O Vira-Lata
O Playboy
O Baile de Carnaval
Fim de Semana com o Chefe
Prazeres de Uma Noite
A Paixão do Mafioso
Uma Tentação para o Bad Boy
O Desejo do Mafioso
Contemporâneo/Fantasia Paranormal:
Áthila
Falcon
Damon
Athena
Voughan
Seven
Suther
Osman
Nota
Eu sou mãe e sei dos perrengues que todas passamos. É para você
que é mãe que eu escrevi esse livro com muito carinho. Dedico às mães
solos, sejam dentro ou fora de um relacionamento. Desejo a vocês toda a
sorte e força para criar seus filhos com amor, respeito e dedicação.
Boa Leitura.
Com Amor,
Flávia Padula.
Capítulo 1
Semanas antes...
Entro no prédio da ONG com meu filho no colo. Não tenho com
quem deixá-lo e preciso de ajuda. Liam foi embora e deixou algum
dinheiro, mas agora que deu entrada no divórcio e assumiu publicamente
seu relacionamento com Hannah, ele já avisou que não vai mais ajudar e
que tenho que sair da casa que pertence aos pais dele.
Não quero que o Caleb passe fome ou tenhamos que dormir na rua
ou dentro do carro. Não tenho nada. Não tenho para aonde ir ou para quem
pedir ajuda. Mas quando olho para esse cartão do Clube das Mães Solteiras,
uma esperança surge em mim. Tenho medo, estou apavorada, mas sequer
consigo falar com Liam depois do que aconteceu.
E ele não se importa.
Chegou bêbado em casa às cinco da manhã após passar a madrugada
na festa da entrega do prêmio. Pela primeira vez, desde que nos casamos,
cheirei a roupa dele e senti perfume de mulher. Até então, estava tão
ocupada com meu filho, a casa e em sobreviver, que não me atentei para os
sinais da traição. Ao confrontá-lo na manhã seguinte, ele assumiu seu caso,
fez as malas e foi embora sem sequer se despedir do próprio filho.
— Em que posso ajudá-la? – uma mulher simpática me pergunta.
Caleb está dormindo no meu ombro e eu não sei o que fazer. E se
não der certo? E se eles não puderem me ajudar? Como vou sobreviver?
— Não sei... – E começo a chorar na frente daquela recepcionista.
Abraço mais Caleb e ela dá a volta pelo balcão para tocar minhas
costas e dizer.
— Vem comigo, vou te ajudar. Meu nome é Úrsula...
Apenas assinto, estou morta de vergonha de chorar na frente de
todas aquelas pessoas estranhas. Embora a maioria seja mulheres e estejam
ali em busca de ajuda tanto quanto eu estou. Úrsula me leva até uma sala
reservada e me diz:
— Qual é o seu nome? – ela pergunta com calma enquanto vai pegar
um copo de água para mim.
— Kate... – não sei se digo o sobrenome de casado ou solteira, então
decido dizer o de solteira —, Lynch.
Tenho vergonha que ela saiba quem é o Liam e também conclua que
sou uma esposa traída.
— Você está segura aqui, Kate – ela me entrega um copo com água
—, fique calma, vai dar tudo certo.
Ouvir essa frase não me deixa mais feliz, mas me faz relaxar.
— Ele é o seu filho? – ela pergunta e passa a mão nos cabelos de
Caleb.
— Sim, seu nome é Caleb – respondo devolvendo o copo a ela —,
ele tem três anos, faz quatro na próxima semana.
— Ele é um menino lindo... – Úrsula diz depois de jogar o copo
descartável no lixo.
— Obrigada – agradeço e ela se senta de frente para mim.
— Bem, vamos esperar que ele acorde – ela aconselha com cuidado
—, há uma sala aqui com monitoras para olharem seu filho enquanto você
faz seu cadastro e nos conta sua história. Você sabe como o Clube funciona?
Faço que não com a cabeça.
— Aqui, oferecemos suporte jurídico e social. Se por acaso, você
não pode voltar para casa, se sofre algum tipo de abuso, nós vamos fazer de
tudo para que você e seu filho fiquem seguros. Temos uma assistente social
para auxiliá-la que vai direcioná-la para um novo lar e contar com
segurança também. O advogado a auxiliará desde a observação sobre um
boletim de ocorrência se for necessário até um divórcio. Como eu disse,
você não está mais sozinha...
É tão vergonhosa essa situação, mas pior, é a humilhação de estar ao
lado de um homem que não me valoriza. Quando recordo o que ele fez,
quando agradeceu àquela mulher sobre tê-lo ajudado depois de tudo o que
sacrifiquei e ainda agiu como se nada tivesse acontecido, como alguém
pode ser tão frio e mau?
— Obrigada...
— Se acalme, deixe seu filho acordar e então vemos o que fazer.
Não tenho pressa, ninguém vai entrar aqui e tentar tirá-la ou cometer a
besteira de expô-la. Aqui você está protegida...
— Ninguém sabe que estou aqui... – comento.
— Alguém a agrediu? Você quer que eu chame a advogada para
ajudar com o processo? Para que fique mais calma?
— Não é necessário – confirmo mais tranquila —, estou sozinha.
Meu marido saiu de casa há semanas.
— Certo – ela assente —, e o que você quer, Kate?
É a primeira vez que ouço essa frase desde que descobri que estava
grávida. É a primeira vez que alguém se interessa pelo que eu quero. Chega
a ser engraçado, porque não é uma pessoa que eu ame, é uma estranha.
— Meu ex-marido disse que não vai mais ajudar, mas não tenho
para aonde ir. Não tenho condições financeiras de sair de casa, entende?
Dependia dele financeiramente. Mas eu não posso ficar mais. – Lágrimas
escorrem pelo meu rosto novamente e trato de enxugar.
— Mamãe? – Caleb acorda e me olha franzindo o cenho. — Está
chorando?
— Não – sorrio —, estou conversando com a Úrsula, minha nova
amiga.
Ele olha ao redor, ainda perdido.
— Onde estamos? – Ele fica preocupado.
— Estamos num lugar legal, a mamãe está tentando achar um
emprego – explico como posso —, para você poder ir para a escolinha.
Ele sorri e olha para a Úrsula.
— Meu nome é Úrsula, qual é o seu?
— Caleb...
— Quantos anos você tem, Caleb?
Ele mostra os três dedos da mão.
— Como você já é grande – ela brinca com ele —, o que você acha
de deixar a mamãe ver um trabalho novo enquanto eu te levo para a sala de
brinquedo?
Ele a fita com desconfiança e Úrsula pisca para ele.
— A mamãe vai com você – ela avisa —, e então se você gostar,
pode ficar um pouquinho brincando.
Ele assente para o meu alívio. Caleb não fica com outra pessoa que
não seja eu desde que nasceu. Os pais de Liam moram em Chicago e o
veem apenas no Natal e por ligações em datas especiais. Costumam enviar
presentes, mas não são interessados na vida dele. Meu filho não sabe o que
é ter um avô, já que vamos ver meu pai só de vez em quando, Liam não
gosta que eu o visite com muita frequência. E eu, como uma idiota
submissa, sempre o obedeci.
Meu pai vai rir quando lhe contar que estou saindo do casamento,
ele nunca gostou do Liam, dizia que ele não era homem suficiente para
mim. Por que nunca ouvimos nossos pais? Evitaria tantos problemas... tarde
demais para lamentar, agora é encontrar uma forma de sair desse pesadelo
sem fim.
— Vamos? – Úrsula nos chama.
Faço que sim com a cabeça e me levanto com Caleb ainda no colo.
Ela me conduz até um corredor e abre uma porta que dá para uma sala de
recreação repleta de brinquedos e crianças. Em uma das paredes há uma
televisão ligada em um desenho educativo e crianças estão assistindo,
sentadas sobre o tatame colorido.
Uma garota por volta dos dezoito anos se aproxima.
— Essa é a Mary – Úrsula a apresenta —, esse é o Caleb e a mãe
dele, Kate.
— Oi, Caleb – a jovem diz com simpatia —, quer vir comigo e
conhecer as outras crianças?
Meu filho olha por cima do ombro e fica observando sem dizer
nada.
— Enquanto você fica brincando aqui com a Mary, eu vou com a
Úrsula ver um novo emprego, está bem? – pergunto a ele.
Caleb me abraça mais.
— Quero ficar com você...
É normal que esteja inseguro, como eu disse, ele nunca ficou com
ninguém além de mim.
— Por que não tentamos a cama elástica? – Mary propõe. — A
mamãe vem junto e fica te olhando brincar, está bem?
Ela segue por entre os brinquedos e tiro o tênis de Caleb para que
ele possa entrar na cama elástica com outras crianças. No começo, ele
parece tímido, olha para trás para ver se estou ali e então começa a pular
devagar. Quando ele cai sentado, penso que vai chorar, mas aí uma das
crianças se aproxima e o ajuda a ficar de pé e eles riem juntos. Então a
mágica acontece e meu filho esquece de onde está e não olhar mais para ter
certeza que estou ali.
— Se quiser, podemos ir agora – Úrsula me avisa —, qualquer
coisa, a Mary nos avisa.
— Está bem – concordo e vou com ela.
Mas ainda olho para trás para me certificar que ele está bem. É a
primeira vez que vou ficar longe do meu filho e a sensação é estranha.
Acompanho Úrsula até o salão da recepção que parece estar cheio a cada
momento. Nunca imaginei que tivessem tantas mães precisando de ajuda
em Los Angeles. Parece que a cada dia nós mulheres temos que enfrentar
sozinhas a vida familiar.
— Sente-se em uma daquelas cadeiras e responda a essa ficha –
Úrsula me entrega uma prancheta e caneta —, não se apresse.
— Obrigada...
Estou sentada e começo a responder quando uma mulher loira e
simpática se senta ao meu lado. Sorrimos uma para a outra e resolvo me
apresentar.
— Oi, eu sou a Kate. – Estendo a mão.
— Oi, eu sou a Ashley.
— Procurando emprego? – pergunto tentando aliviar a minha
tensão.
— É mais ou menos isso – ela afirma.
— Estou à procura, tenho um filho de três anos, ele faz quatro na
próxima semana, a grana está ficando curta... – é uma mentira. Mas não vou
contar para uma estranha que meu marido me traiu e chorar no ombro dela.
Embora não falte vontade. Está doendo tanto que quero gritar para o
mundo o que Liam fez até parar de doer. Mas certas coisas só se curam com
o tempo.
— O que você faz? – ela indaga mantendo a conversa.
— Sou jornalista, formei no mesmo dia que descobri que estava
grávida – conto e começo a rir de nervoso.
— Sei bem como é isso, surpresinhas – brinca e rimos juntos.
Só uma mulher pode compreender o susto ao ver o teste positivo de
uma gravidez inesperada.
— Nem me fale – volto a atenção para a ficha que está preenchendo
—, espero que dê certo, eu preciso muito.
— Eu também espero que dê certo para você...
Aproveito e pego o celular e abro a tela para lhe mostrar a foto do
Caleb. É isso que as mães fazem. É quase que uma obrigação mostrar a foto
do seu filho e falar o quanto ele é bonito e inteligente.
— Esse é o Caleb. – Mostro para ela.
Ela pega o celular na bolsa e desbloqueia para me mostrar a tela de
proteção. É a foto de uma garotinha por volta dos seis anos, no parque de
diversões. Ela está de pé segurando um balão da Frozen.
— Sua filha é linda, ela tem quantos anos? – pergunto.
— Seis anos...
Sorrimos uma para a outra e volto a responder a ficha.
— Pare com isso, Ashley! – ela fala sozinha
— O que disse? – pergunto.
— Só pensei alto. – Ela respira fundo.
Sei bem como é isso. Depois que me casei com Liam, me afastei
tanto das minhas amigas que a única conversa que mantenho ao longo do
dia é comigo mesma. Cansei de me pegar falando sozinha o dia todo.
Logo, ela é chamada. Termino de preencher a ficha e entrego para
Úrsula. Ela dá uma olhada e diz:
— Espere um minutinho que eu já vou te passar para outra pessoa –
ela avisa.
— Obrigada. – Respiro fundo e olho ao redor.
Tanta gente ali em busca de uma oportunidade.
— Kate – Úrsula me chama.
— Sim?
— Então, temos a vaga de repórter aqui, isso interessa a você?
Repórter? Meu coração dispara e sou tomada de uma ansiedade
comum. Pensei que eles teriam qualquer coisa, mas na minha área e algo
que amo fazer é bom demais. Não posso acreditar!
— Claro... – respondo e minhas mãos tremem diante da expectativa.
— Você vai precisar de mais alguma ajuda nossa? – ela pergunta de
modo significativo.
— É... – gaguejo enquanto penso.
Consegui o emprego. Eu só preciso de um lugar para ficar com
Caleb. Se a ONG pode me ajudar dessa forma, não vou hesitar mais. E o
pior é pensar que eu tinha esperanças de que Liam tivesse se arrependido do
que fez. Idiota que fui, não sei como não percebi o canalha sem coração que
ele é. Tudo é aprendizado e estou tendo o meu.
— Vou precisar sim – falo no impulso e mordo o lábio inferior.
Está na hora de seguir...
— Então, vou te passar para o serviço social – Úrsula avisa.
— Obrigada.
Capítulo 3
Quem ela pensa que é? Sabia que minha mãe aprontaria comigo!
Glenda tem um senso de humor atípico. Se eu não tivesse dito nada não
teria despertado nela o desejo de me afrontar e enviar essa mulher para a
emissora. Tantos cargos e enviou a maldita ruiva para arruinar minha
camisa. Pego o telefone e disco para minha secretária, Tabhita. Pode parecer
o nome de uma jovem de dezesseis anos, mas Tabhita tem o dobro da minha
idade e é a assistente mais eficiente que um CEO poderia ter.
— Bom dia – ela cumprimenta enquanto ligo a TV que fica do outro
lado da sala para assistir ao programa de esporte da hora do almoço.
Sem dúvida nosso carro chefe, o que nos dá mais dinheiro com
publicidade sem contar a transmissão dos jogos.
— Bom dia – respondo sério tirando a gravata —, preciso de uma
camisa nova, a minha foi arruinada por uma funcionária impertinente!
Jogo a gravata na mesa e ela me observa por cima dos óculos. Passa
as mãos pelos cabelos grisalhos cortados na altura dos ombros e me estuda
por um instante.
— Ela derrubou café em você ou lhe deu banho? – há humor em sua
voz.
— Os dois – me jogo na cadeira e a encaro —, e a demiti. É uma
mulher insuportável! Outro dia me acusou de roubar uma flecha de plástico
de uma criança!
Tabhita meneia a cabeça:
— Então foi ela...
Estreito o olhar.
— Como sabe?
— Eu o ouvi contando para seu irmão Luke ao telefone – ela
responde —, você parecia bastante indignado porque ela o chamou... do que
foi mesmo? – Pensa por um instante. — Ah, sim... abre aspas “macho
escroto babaca”, fecha aspas – há deboche em sua voz.
O problema de trabalhar muito tempo com uma pessoa, é a
intimidade que pegamos ao longo do tempo. O pior é que eu não posso
sequer xingar minha assistente.
— Ela acabou com seu ego – o sarcasmo me irrita profundamente.
— Não acabou, não ligo para o que ela diz...
— Então, não deveria estar tão bravo...
— Como não? Ela jogou café em mim! – acuso.
— Ela jogou? – Estreita o olhar. — Deve ter sido um acidente. Ela
não seria tão louca...
— O café foi um acidente – admito —, mas ela jogou a água na
minha cabeça, me dizendo que se fosse de propósito seria daquela forma...
A risada de Tabhita se estende pelo ar como um veneno aumentando
a minha raiva. Se ela está rindo dessa forma, imagina os outros funcionários
que estavam ao redor e também os seguranças que ficam por trás das
câmeras de vigilância. Tenho certeza que não sou o chefe mais amado do
país.
— Eu preciso conhecê-la, ela é corajosa – elogia.
— Deveria ter mais amor ao seu emprego, Tabhita – digo sério
apoiando os braços sobre a mesa.
— Ah, eu tenho, Michael – ela garante —, mas ver alguém o
enfrentar sem medo de uma demissão é louvável. Pode apostar que ela
representa muitos dos seus funcionários.
Não sou um chefe ruim, apenas exigente. Não foi por acaso que
cheguei ao patamar em que a emissora está e em tão pouco tempo. São dez
anos, e batemos os recordes de audiência que muitos canais de esporte não
conseguiram em décadas. Tenho orgulho do que faço e aprendi que não
posso ser amado por todos para chegar aonde quero.
— Imagino que sim – admito —, consegue a camisa para mim?
— Sim, vou pedir para trazerem uma. – Ela pisca e sai da sala.
Aproveito para tirar a camisa e ligar o ar condicionado. Estou com
uma camiseta regata por baixo que também molhou. Recebo uma ligação de
Dean James, o dono do San Francisco Stars. O segundo maior time de
baseball da liga nacional. Ele quer que eu faça um especial sobre a história
do time já que no próximo mês completa sessenta anos de existência.
— Vamos negociar – respondo a proposta que ele me faz —, claro
que é do interesse da American Sports ter um documentário sobre o time,
mas preciso reunir uma equipe para fazer isso, temos apenas um mês e
envolve um trabalho sério. Não vamos entregar aos telespectadores algo de
baixa qualidade e mal feito. Vou falar com Jason Jordan, ele é muito bom
nisso. Foi ele que fez o documentário sobre o Madison Lions e que acabou
virando uma série para a TV.
As pessoas pagam para ver como é a vida das celebridades e minha
família tem várias. O documentário não contava apenas a vida do time, mas
a história da nossa família, focando também em pequenos escândalos
vividos pelos meus irmãos. Ou melhor, por Luke e por Sara. Eu sou mais
discreto, não tenho redes sociais, e se digitar meu nome no Google, o
número de fotos é ínfimo.
— Também tem a Glenda, posso ver se ela está disposta a assumir o
projeto, já que é algo rápido – comento.
Ele responde satisfeito.
— Espero você no jantar em minha casa – comenta —, que tal esse
fim de semana?
— Vou passar para a minha secretária.
— Será algo para os mais chegados, alguns membros do time,
amigos, será interessante que venha. Podemos discutir o patrocínio para o
documentário.
Isso me interessa e muito.
— Claro – concordo sem demonstrar o entusiasmo.
Quando desligo, sorrio com satisfação. Eu sempre soube que queria
ser jornalista, desde criança. Então, quando fiz a faculdade, sonhei com
coisas maiores. Ainda mais depois que estagiei em uma emissora que o
dono me disse que era mais fácil treinar um macaco do que eu ser um
jornalista de verdade. Trabalhei fundo, aprendi tudo que era necessário e
aos vinte e três anos fundei a American Sports. Claro que tive o apoio
financeiro dos meus pais, sem isso teria sido impossível, eles haviam me
dado um apartamento, e trabalhei para ter dinheiro para começar.
O que era apenas um estúdio simples, se tornou algo maior. As
coisas foram acontecendo e hoje posso dizer que valeu a pena cada
sacrifício. Abri mão de uma vida social intensa para acompanhar de perto o
crescimento da empresa. Diferente dos meus irmãos, nunca sonhei em ser
jogador de futebol americano. Gosto dos bastidores, da emoção de estar em
uma partida. E meu sonho sempre foi o baseball. Se um dia eu fosse
obrigado a escolher, seria lançador.
Sorrio diante dessa lembrança quando Tabhita entra em minha sala
com a camisa.
— Obrigado – agradeço e a visto rapidamente.
— Ora, vocês têm uma jornalista nova?
— Jornalista nova? – Franzo o cenho enquanto a encaro e ela move
o queixo em direção à TV.
Olho na mesma direção e fico lívido quando noto a ruiva maluca na
TV, segurando um microfone da American Sports e diante do maior jogador
de baseball da atualidade.
— É ela – aponto para a TV e me aproximo ainda com a camisa
aberta —, o que ela faz ali? – explodo.
Escuto a risada de Tabhita. Aumento o volume.
— Estamos aqui diretamente do centro de treinamento do Topeka
Rogers, um time que já conquistou recordes com os maiores nomes do
baseball ao longo de setenta anos de história – ela se volta para Alan —, e
aqui está o jogador mais bem pago da atualidade, Alan Graison. Oi, Alan,
como vai?
— Melhor agora, Kate. – Ele sorri para ela e dá uma piscada.
— Nós sabemos que você está se preparando para o Spring
Training[4], no Arizona. O que você espera para esse tempo de treinamento
até a temporada em julho?
— Então, Kate, como você sabe, os lançadores começam o
treinamento um pouco antes que os outros jogadores, e posso garantir que
estou me dedicando cem por cento – ele fala.
O cara é um chato, sempre é grosseiro nas entrevistas, deixa os
jornalistas desconcertados com suas respostas curtas.
— E esperamos que esteja mesmo, Alan, não apenas os torcedores
do Topeka Rogers, mas também todos os amantes do baseball esperam ver
suas jogadas de efeito – ela comenta e olha para a câmera com um sorriso
charmoso.
Fico excitado. Ela parece que nasceu para fazer isso, e é nítido como
Alan está encantado por ela, totalmente, ele não tira os olhos dela um
segundo, sequer nota a câmera que está à sua frente.
— Você está há seis jogos de bater o recorde de vitórias de David
Lynch, como se sente?
— David sem dúvida foi o maior astro do baseball e passá-lo será
uma honra, quando eu era garoto e assistia aos jogos, queria ser como ele.
Então se eu ficar no mesmo patamar que o cara será um presente...
E quanto mais meu desprezo cresce por nossa mais nova repórter,
mais ela faz sucesso. As pessoas a amam. A audiência subiu de forma
expressiva e agora temos marcas se engalfinhando por minutos em nossa
grade de horário. Tudo porque, muito rapidamente, Kate Fletcher se tornou
a queridinha da América. Nunca, em todo o tempo, o mundo do esporte se
ofereceu para aparecer na TV. Times de todos os níveis e modalidades têm
procurado pela emissora para pedir um espaço no horário em que Kate
aparece.
Ela realmente se tornou algo atrativo e todos a querem por perto.
E tenho que engolir meu orgulho e admitir que a mulher é boa no
que faz. Ela conhece sobre o esporte nos mínimos detalhes, principalmente
o baseball. Sabe tudo, não perde um comentário e quando tentam derrubá-la
com comentários ácidos, seu jogo de cintura com respostas inteligentes,
torna tudo mais divertido.
Eu me peguei rindo em algumas das suas alfinetadas nos jogadores,
ainda mais quando dão em cima dela ao vivo. Infelizmente, por ser dono da
emissora, sou obrigado a assistir aos programas diariamente e garantir que
não está saindo da linha. Quer dizer, estou de olho nela e qualquer deslize a
quero fora. Não nos encontramos mais desde a reunião, tenho andado
ocupado demais para ser a babá de uma jornalista arrogante e de língua
afiada.
No fim, o que importa é que ela me dê dinheiro suficiente e atraia
publicidade.
Caminho pelos corredores da emissora depois de uma reunião com
os novos clientes. Cumprimento alguns funcionários e sei que novamente
estão avisando um ao outro que estou passando. Como isso é irritante.
Aproximo da sala de reuniões de pauta onde os funcionários que fazem
parte do programa do meio-dia se reúnem. Com certeza Jason está dizendo
a eles sobre os próximos programas e que vão passar para um estúdio
maior...
Quando sinto algo bater contra a minha testa.
Puxo aquela coisa e então vejo a flecha de borracha. Conheço essa
história. Ouço a risada infantil e olho para baixo com cara de poucos
amigos. De novo não. Aquele monstrinho está bem diante de mim,
segurando seu arco, rindo como se eu fosse um palhaço.
— Você! – Aponto o dedo para ele.
Ele sai correndo e se esconde atrás das caixas de som empilhadas
num canto. Ele é pequeno e conseguiu entrar ali com facilidade.
— Seu pestinha! – xingo e vou atrás dele segurando sua flecha. —
Não adianta se esconder, eu vi você!
Crianças devem ter algum tipo de treinamento militar na escola,
porque esse em especial é um ninja. Ele sai de baixo das caixas, chuta a
minha canela e corre para o outro lado. Dou um salto para trás e falo um
palavrão antes de sair ao seu encalço. Quando dobro a esquina do corredor
me deparo com ela. A mãe daquela fera que deveria estar enjaulada, esse
menino é terrível e, com certeza, vai ser um criminoso procurado quando
chegar à vida adulta.
Tenho que parar de uma vez para não trombar em Kate Fletcher. Ela
está de pé, com os braços cruzados e a sobrancelha erguida. É tão bonita
usando a camiseta da emissora que tenho que admitir o motivo pelo qual
todos estão fascinados por ela. Kate tem algo que chama a atenção, mesmo
quando está parada me olhando como se eu fosse um monstro. E a criança
rebelde e perigosa se esconde atrás das pernas da mãe.
Covarde!
— Por que não estou surpreso – ergo a flecha —, disso ter ido parar
na minha testa?
Ela tira a flecha da minha mão de forma abrupta.
— Uma pena que não foi uma pedra! – ela não lamenta ou pede
desculpas em nome do filho, ao contrário, ela me ataca.
— É a segunda vez que seu filho me ataca...
— Não exagera! – ela entrega a flecha ao menino e se volta para
mim —, ele fez quatro anos, o que acha que ele pode fazer? Arrancar suas
tripas?
A risada do menino me irrita ainda mais. Na verdade, o que me
deixa aborrecido é o fato de que essa coisinha faz o que quer e ela o apoia.
— Aqui não é lugar para crianças! Ele pode se machucar!
Pela primeira vez, a vejo ficar sem graça.
— A creche onde ele fica teve que ser dedetizada e não tenho com
quem deixá-lo – ela explica completamente desconsertada.
Isso me deixa surpreso, embora não seja problema meu. Vivo tão
fora da realidade das mães que trabalharam para mim, que esqueço que
muitas delas não têm a chamada rede de apoio. Durante a reunião, Kate
disse que era divorciada, então, não deve ter uma boa relação com o ex-
marido ou ela pediria a ajuda dele. O pior é a chama de compreensão que
me toma naquele momento e sinto raiva de mim por isso. Não devo me
importar, mas tenho o exemplo de mãe solo em casa. Bufo e tiro meu
celular do bolso.
Kate apenas observa meus movimentos enquanto morde o lábio
inferior bonito que pode ser beijado facilmente. Por algum tolo, não por
mim. Realmente não a suporto e com o filho chato por perto, torna tudo
mais irritante.
— Tabhita, preciso que contrate auxiliares para ficarem com os
filhos das funcionárias que não têm uma rede de apoio – digo sério sem
tirar meus olhos dela.
Vejo como Kate deixa de morder os lábios e os entreabre, com
surpresa. Gosto do efeito que causo nela, mesmo que eu não aceite esse
súbito interesse no que ela sente quando faço algo.
— Para agora – respondo quando Tabhita pergunta para quando.
— O senhor sabe que isso é impossível – ela retruca brava.
— Pegue duas estagiárias e organize em uma sala. Mande um dos
motoristas buscar brinquedos para uma criança de... – tiro o celular do rosto
e encaro Kate —, quantos anos mesmo o monstrinho tem?
Ela faz uma careta de desgosto:
— Quatro anos – ela coloca o dedo em riste —, e monstrinho é o
seu...
Dou as costas para ela e respondo para Tabhita:
— Quatro anos, obrigado – olho por cima do ombro e digo a ela —,
venha comigo e traga o índio Cherokee com você – ironizo.
Não espero resposta porque sei que estou certo. Ando pelo corredor
e quando olho para trás, eu a vejo me seguir, puxando o menino pela mão.
Ele me observa com raiva e estreita o olhar, sinto que uma guerra começou
entre nós e ele não vai se deixar intimidar. Volto a atenção para frente certo
de que ele é um monstro em crescimento e teve para quem puxar, a mãe
também não é muito certa da cabeça.
Voltamos para a minha sala e aponto para Tabhita:
— Tabhita, você já deve conhecer a Kate – comento.
Tabhita se ergue e assente.
— Preciso que as estagiárias cuidem do filho dela enquanto Kate
trabalha – aviso —, e providencie para que tenhamos espaço infantil para as
funcionárias que têm contratempo – aviso. — Com certeza, ela não é a
única.
Tabhita sorri para mim, como se o que eu estivesse fazendo fosse
algo maravilhoso.
— Claro, Michael – ela se aproxima do pirralho —, qual é o seu
nome, meu bem?
Ele fica todo tímido, sequer parece o delinquente que me ataca toda
vez que me encontra.
— Caleb – ele responde e dá um sorriso fazendo covinhas
aparecerem em seu rostinho infantil.
Eu acharia encantador se não conhecesse o seu lado mau.
— Que nome lindo! Eu me chamo Tabhita – ela fala com carinho e
experiência de quem deu a vida a cinco filhos e tem uma dezena de netos
—, e tenho uma caneta especial que desenha colorido, quer ver?
Ele olha para Kate que assente e depois se volta para Tabhita.
— Quelo! – Ele dá a mão para a minha secretária que o leva para a
sua mesa.
— Seu filho vai estar em boas mãos até terminar seu expediente –
falo para Kate —, Tabhita é da minha plena confiança.
E sem vontade de ficar admirando o quanto ela é bonita, me viro e
vou em direção à minha sala. Terminando assim o assunto. Kate trabalha e
traz lucros para a empresa e o monstrinho fica longe do meu caminho.
— Senhor Rhodes – ouço a voz feminina quando entro na minha
sala.
Eu me viro para ela e a vejo entrar atrás de mim.
— Obrigada, o senhor não é tão babaca como eu pensava que
fosse...
Que ótima maneira de agradecer, penso sem paciência.
— Sou um babaca, Senhorita Fletcher – respondo sem qualquer
humor na voz —, aliás, só fiz isso pensando no seu trabalho e no lucro que
ele me traz. Não pense que faço isso porque sou uma pessoa boa, porque eu
não sou.
Ela fica chocada com a minha resposta e então, aproveito e bato a
porta na cara dela. Ouço um xingamento vindo de fora e sorrio satisfeito.
Irritá-la me causa um prazer infantil e inexplicável. Faria tudo de novo
apenas para ouvi-la me chamar de canalha. Pigarreio quando percebo que
estou rindo como um bobo e ajeito a postura antes de ir para a minha mesa.
Um tempo depois, Luke me liga me chamando para tomar uma
cerveja.
— Luke, é terça-feira! – reclamo como se fosse impossível alguém
se divertir na terça.
— Vou chamar alguns amigos no meu apartamento e pensei em
convidar a Kate – ele comenta.
— O quê? – Eu quase caio da cadeira. — Você deve estar de
brincadeira!
— Não estou – ele garante —, ela é a sensação do momento,
Michael. Todos os homens batem punheta pensando em Kate Fletcher, no
quanto ela é gostosa e divertida! Meus amigos estão loucos para conhecê-
la...
— Ela não vai! – respondo de imediato.
— Você nem gosta dela, como pode saber? – ele me desafia.
— Ela tem um filho para cuidar, Luke. Deixe-a em paz!
— Mas ela pode ficar em paz ao meu lado, não acha?
Que merda do caralho, que irmão chato! O que deu no Luke? Ele
parece que está no cio, não pode ver uma mulher solteira que quer comer.
— Acho que você deveria deixá-la quieta, antes que quebre seu
coração e eu perca a melhor repórter do momento – aviso —, não quero ter
que quebrar o seu nariz!
Ele dá uma risada do outro lado como se eu tivesse dito algo
engraçado.
— O que foi? – pergunto bravo.
— Não é nada, só que eu não vou quebrar o coração dela, só vou
chamá-la para sair e você não pode me impedir... – e desliga na minha cara.
— Seu merda! – xingo.
Levanto da minha mesa e saio da minha sala. É quando levo uma
flechada no meio da testa outra vez. A risada infantil ressoa e respiro fundo
quando puxo a flecha da minha testa.
— Ele é um menino esperto – Tabhita diz se aproximando para
pegar a flecha.
— Por que esse monstrinho ainda está aqui? – pergunto.
— As estagiárias não estão disponíveis e o motorista não chegou
com o brinquedo – responde como se fosse normal.
Ouço a risada infantil e tenho que admitir que ele é esperto, parece
que o monstrinho adivinha quando vou aparecer. Deve existir algum carma
que nos une. Não é possível.
— Precisa de alguma coisa, Michael?
— Preciso falar com a Senhorita Fletcher – aviso —, pode chamá-la
aqui?
— Sim – Tabhita continua no meu caminho, de modo que eu não
possa ver Caleb.
— Melhor, vou descer e falar com ela – aviso.
— Como quiser – Tabhita fala de um jeito que parece saber de algo
que eu não sei.
Balanço a cabeça em negativa e quando olho para Caleb, ele mostra
a língua para mim. Eu aponto dois dedos para os meus olhos e depois para
ele para avisar que estou de olho nele. Desço pelo elevador até o estúdio
onde geralmente a equipe fica reunida e pergunto pela Senhorita Fletcher.
— Ela está no camarim – uma assistente me avisa.
— Obrigado...
Agradeço e vou direto para o camarim que fica em um corredor
estreito, quase claustrofóbico. Bato na porta e escuto risadas lá dentro e
mais algumas conversas íntimas.
— Bem aí, Kate! – a voz masculina sussurra. — Isso, Kate, não
pare...
O quê? Ela está transando com alguém no camarim? Só pode ser
brincadeira...
— Mas que porra é essa? – pergunto e abro a porta de uma vez
fazendo um barulho estrondoso.
Capítulo 9
Preciso disso.
Sou um homem atormentado pelo desejo que sinto por essa mulher.
Ontem à noite bebi como um gambá por não conseguir trepar com qualquer
garota de programa porque eu só pensava em Kate, em como deveria ser
bom beijar aquela boca bonita sempre pintada de rosa. E não estava
enganado. Quando meus lábios tocam os dela, é como uma explosão de
emoções. Ela não resiste e isso me deixa com um tesão louco, meu pau fica
duro na hora. Ontem à noite não subiu nem vendo uma garota seminua
rebolando no pole dance. Não sou assim, eu sou viril nas vinte e quatro
horas do dia... ou era até essa maldita bruxa aparecer e acabar com a minha
libido social.
Deslizo minha língua por sua boca e toco a dela com pressa, com
ânsia de sentir tudo o que ela pode me oferecer. Nós não queremos viver
esse momento, não gostamos um do outro, mas é preciso e ela sabe disso.
Enquanto sua boca se move contra a minha, sinto que ela também esteve
atormentada, esperando por esse momento.
Minhas mãos descem por seus ombros e braços até alcançar sua
cintura e a puxar contra mim. Empurro seu corpo contra o balcão e me
esfrego nela, mostrando o que faz comigo, o quanto me perturba.
Geralmente, controlo minhas emoções facilmente, mas neste momento sou
uma cascata de sensações, e isso é bom.
O beijo arrebatador nos consome, as roupas são uma barreira
desagradável entre nós e só beijar não é o suficiente. Somos adultos,
ninguém aqui é virgem e inexperiente, ninguém aqui dá um beijo tão
carregado de luxúria esperando se apartar e seguir a vida em frente. Eu
quero mais e ela também. Ou Kate já teria me dado uma joelhada no saco,
ou quebrado algo na minha cabeça, é bem típico dela agir como uma
maluca agressiva quando está irritada.
O gemido contra os meus lábios é tudo que preciso para agarrar o
top que ela está usando e puxar para cima. Meu pau pulsa quando me afasto
e ela ergue os braços de forma voluntária para tirar a peça. Jogo no chão e
admiro os seios pequenos e redondinhos, salivo e sinto uma vontade insana
de senti-los na minha boca e é o que faço. Desço a boca para sugar um
enquanto puxo o bico eriçado com o polegar e indicador. Ela geme entre a
dor e o prazer e chupo com mais intensidade.
Como ela é gostosa. Não consigo parar, é como se fosse uma droga
potente que preciso dela. Chupo o outro seio e ela arqueia o corpo para trás,
agarrando meus cabelos e puxando meu rosto contra o seu corpo. Seu
gemido ecoa pela cozinha, é uma melodia do caralho para mim. Quero tudo,
não vou parar.
Tomo sua boca de novo e quem geme sou eu, e como uma
tempestade de fogo entre nós, ela começa a abrir os botões da minha camisa
com pressa e empurra pelos meus ombros. Tiro as mãos dela para tirar a
peça e deixar cair no chão e a abraço, sinto os seios macios contra o meu
peito e toda a razão se esvai. É melhor que fantasiei, ficar com Kate é o
paraíso.
Ela tira o tênis o chuta de lado, minhas mãos agarram o cós das suas
calças e empurro para baixo, ela move os quadris para ajudar na descida e
agarro a calcinha junto para levar tudo de uma vez. Não podemos perder
tempo, não queremos perder tempo. Temos um mundo para ganhar e pouco
tempo para isso. Não estamos sozinhos na casa e qualquer um pode nos
atrapalhar e sou capaz de matar quem nos interromper. Preciso me enterrar
nela com urgência.
Afasto para descer as calças de ginástica até os pés dela e me coloco
de joelhos. Ela ergue uma perna e depois a outra para tirar as calças e jogo a
peça de lado e dou de cara com uma boceta toda depilada. Não que eu ligue,
mas me dá uma visão perfeita do quanto ela é linda e gostosa. Novamente
sinto a boca salivar e quero descobrir seu gosto, saber como é ter minha
boca enterrada bem ali. Ergo uma perna e coloco em meu ombro. Olho para
cima e admiro o corpo feito para mim, ela tem marcas da gravidez pelo
corpo e isso me deixa excitado, ela é madura, sabe o que quer.
Nossos olhares se encontram e ela agarra a bancada da cozinha
quando desço os lábios sobre a boceta meladinha. Ela está excitada tanto
quanto eu.
— Deus! – ela geme alto.
Primeiro eu beijo, depois passo a língua por toda a sua fenda até
alcançar o clitóris. Posso morrer fazendo isso, é delicioso. Ela projeta seu
quadril contra a minha boca e passo a língua pelo botão inchado. Levo uma
das mãos para abri-la mais e observo como o clitóris está redondinho e
pronto para mim. Olho para cima e passo a língua pelos lábios, sentindo o
sabor dela e vendo sua necessidade por mais.
— Você quer que eu te chupe, Kate? – pergunto num sussurro.
— Por favor – ela quase implora.
Meu pau pulsa de novo ao ouvir o tom de sua voz e caio de boca.
Ela geme um pouco mais alto e me mantenho ali, chupando, passando a
língua em círculos. Meus dedos alcançam a entrada da sua boceta e a sinto
pulsar, pronta para mim. Tenho que me controlar para não me erguer e me
afundar nela sem pensar duas vezes. Eu sou um animal no cio perto de
Kate, incontrolável.
— Michael – ela geme quando o seu corpo começa a tremer.
Intensifico a carícia, passo a língua no clitóris sem parar, como se a
estivesse possuindo e ela estremece toda, meus dedos a roçam com mais
força, mas não a penetro, só a sinto tremer inteira e latejar contra mim, Kate
está tendo um orgasmo e isso é arrebatador. Sou eu o motivo de ela estar
gozando, ninguém mais. Sinto-me um herói, um campeão de baseball.
Eu me levanto e nos encontramos no meio do caminho para um
beijo selvagem. Abro minhas calças e empurro para baixo. Não me lembro
que necessitamos de proteção, só consigo pensar em fodê-la gostoso. Ela
acaba comigo quando leva a mão entre nós e acaricia meu pau ereto. Sua
mão pequena o circula e ela move para cima e para baixo, tenho que me
segurar para não gozar na mão dela.
Sem esperar mais, eu a seguro pela bunda e a ergo. Ela me abraça
com as pernas e a cabeça do meu pau toca sua entrada molhada enquanto
nos beijamos. Kate morde meu lábio inferior quando a penetro com força.
De uma vez, sem piedade. Sinto o gosto de sangue na minha boca, mas não
paro. Não posso parar. Ela é tão quente e apertada. Beijo seu queixo e seu
pescoço enquanto a abraço e me movo dentro dela. Apoio seu corpo na base
da bancada para sair de dentro dela e entrar de novo, com paixão.
Ela geme contra o meu ouvido e me perco. Tantas mulheres no
mundo e fui me perder dentro da mais insuportável e complicada que
conheci. Não há nada em Kate que eu não deteste tanto e que não deseje na
mesma proporção. Deve ser algum tipo de traço psicológico doentio que
possuo, odiar e desejar ao mesmo tempo. Sinto suas unhas nas minhas
costas quando penetro mais fundo, com tanta força que parece que meu
intuito é marcá-la de alguma forma.
Embora nenhum de nós será o mesmo depois desse momento. Pode
apostar.
Volto a beijar sua boca de forma frenética. Aperto sua pele e meu
corpo vai se entregando, ela também. Sua boceta comprime meu pau
quando ela está prestes a gozar de novo e tenho a sensação que esperei por
isso uma vida toda. Fecho os olhos e mordo seu ombro e seu pescoço
quando o orgasmo me consome. Nossos gemidos se perdendo no ar cada
vez mais depressa e de forma incoerente.
— Caralho... – solto antes de gemer de prazer e gozar.
Aos poucos vamos voltando ao mundo real. Meu corpo cede e o
dela também. Saio de dentro dela devagar, como se quisesse registrar cada
segundo e não perder nada. Tudo em Kate é perfeito e gostoso. Ela desce as
pernas e, relutante, solto sua bunda, afasto ainda ofegante e ela está de
olhos fechados, ainda perdida no prazer.
Ela solta um suspiro longo e abre os olhos e me encara. É neste
momento que vejo o desespero em seu olhar e que ela está prestes a ficar
histérica. Voltamos àquela realidade em que a indiferença é o que nos move.
Ela me odeia. Eu não a suporto. Dou um passo para trás e abaixo para
suspender minhas calças e a cueca.
Kate se abaixa para pegar as roupas e tampar o próprio corpo.
— Preciso de um banho! – ela fala brava. — E sozinha! – avisa com
o dedo em riste.
Não passou pela minha cabeça me oferecer. Mentira. Eu iria como
um bobo se ela me chamasse. Não adianta mentir, eu ainda a quero e a
desejo e isso está estampado na minha cara de quem acabou de gozar
gostoso e quer mais. Ela sai correndo da cozinha. Isso mesmo, ela corre nua
para fora da cozinha e tenho tempo de admirar a bunda redondinha e sorrio
com malícia ao sentir prazer nisso.
Estou vivo. Ontem à noite foi só um lapso, nada de mais. Meu pau
ainda funciona e sou um homem viril. Mesmo que a mulher que me causou
tamanha vivacidade seja a mais insuportável que conheci. Pego minha
camisa no chão e me visto. Preciso de um café.
A porta da cozinha é aberta sem aviso e Jane entra. Parece até que
foi combinado, ela chegou minutos depois de eu foder gostoso com a patroa
dela. Uma mulher a segue e me cumprimenta.
— Bom dia, Michael – Jane me cumprimenta como se fosse normal
me encontrar na cozinha da casa dos Lynch.
— Bom dia, Jane.
— Essa é a Brigite – ela me apresenta a senhora —, ela é quem faz
tudo na casa.
— Bom dia – eu a cumprimento com um sorriso bobo.
Alguém mais está sentindo o cheiro de sexo gostoso no ar. Eu me
viro e abro a janela em cima da pia para ventilar.
— Bom dia, senhor – ela diz educada.
— Hoje é um belo dia – admiro o céu azul —, não acham?
As duas assentem não entendendo o motivo de tanta energia
positiva. Um homem deve acordar todas as manhãs e transar gostoso desse
jeito. Faz bem para a alma, e o dia vai ser melhor. Tenho certeza.
— Vou ver como o David está – Jane avisa Brigite que coloca sua
bolsa debaixo do balcão.
— Já fiz café – eu a aviso.
Ela sorri sem graça.
— O senhor quer que eu faça ovos mexidos? – oferece.
— Como qualquer coisa – respondo pensativo.
Não é bem assim e a resposta não é ambígua. Estou falando da
comida. Kate definitivamente não é qualquer uma. Ela é tesão, um vulcão
em erupção e a quero de novo. E quando almejo uma mulher, nada me
impede de conseguir. Nada. Aliás, eu já a tive e é só uma questão de tempo
até torná-la minha amante, vale a pena cada segundo. Eu me sinto vivo,
caralho!
— Vou fazer para o senhor, então. – Ela sorri simpática.
Assinto e fico encostado no balcão tomando meu café. Até me sinto
como se estivesse na minha casa. Deveria ir para a minha, tomar um banho
e me preparar para o trabalho, mas quero falar com David antes de ir, tive
uma ideia para ele ontem à noite. Quem sabe ele aceita.
Brigite faz os ovos mexidos e coloca sobre o balcão.
— Não quer se sentar na sala de jantar? – ela pergunta.
— Aqui está bom – aviso e começo a comer com vontade, estou
morto de fome.
Sexo é a melhor atividade física para começar o dia, ainda mais com
uma mulher gostosa como companhia. Será que Kate toparia acordar assim
nos próximos dias? Provavelmente, Kate vai dizer não e esse pensamento
rouba um sorriso. Convencê-la de que precisamos disso vai ser uma bela
provocação. E que homem não gosta de bons desafios?
Capítulo 15
Meu estômago até embrulha. Não há nada sobre Liam que possa me
deixar feliz. Deixo o sanduíche no prato e engulo o resto com dificuldade,
preciso tomar café quente para descer.
— O que aconteceu? – indago não querendo ouvir a resposta, mas,
ao mesmo tempo querendo.
— Nós nos divertimos, Caleb ficou por horas nos brinquedos – ele
começa a falar a parte boa —, daí ele sentiu fome e fomos comer.
— E?
— Fiz os pedidos e por um instante pensei que tivesse perdido o
Caleb de vista...
— Você perdeu meu filho de vista?
— Não – ele franze o cenho e me encara —, ele estava embaixo do
balcão se escondendo – explica me deixando mais calma —, e quando
perguntei o que era, ele falou que tinha visto o pai. E como senti que ele
estava com medo e não queria encontrar o idiota – fala como o meu pai —,
pedi para embrulhar nosso lanche para a viagem.
— Liam fez alguma coisa?
— Não, sequer se aproximou.
— Ele viu Caleb com você?
— Claro que viu – encolhe os ombros —, não tinha como esconder.
Então fomos para a minha casa, ele comeu e dormiu enquanto assistia
Sonic.
Não sei se fico aliviada ou se penso no problema que vou ter a partir
de agora com meu ex-marido me enchendo o saco porque viu nosso filho na
companhia de um homem que ele não conhece. Não posso culpar Liam. Eu
ficaria louca se visse Caleb nos braços de uma desconhecida, eu o
arrancaria dos braços dela sem hesitar. Até mesmo se fosse Hannah, sou
uma mãe ciumenta e possessiva. E por mais madura que eu seja, me dói ver
meu filho ter contato com a mulher que foi amante do meu ex-marido. Uma
espécie de orgulho e ódio unidos em uma só emoção.
— Entendi – bufo —, ele me ligou e não atendi. Com certeza era
para falar sobre isso.
— Sinto muito – Michael fala sincero.
— A culpa não é sua se Liam não vê Caleb desde o aniversário de
quatro anos – desabafo —, ele não é um exemplo de pai do ano e sabe como
encher meu saco!
Passo as mãos pelos cabelos.
— Ele não vai fazer nada...
— O problema não é fazer alguma coisa, Michael! É a discussão, é a
forma como ele encontra para me diminuir! – estouro sem perceber. Na
verdade, o cansaço é tão grande que preciso falar com alguém que não seja
a terapeuta. E meu rol de amigas está quase zero. — Isso é cansativo...
— Não o deixe fazer isso... – ele diz simplesmente.
— E como você acha que devo fazer isso?
— Jogando café quente nele ou o mandando à merda – ele responde
prático —, exatamente como fez comigo. Você dá muito poder ao seu ex-
marido.
A última frase mexe com o meu ego.
— Foi anos de relacionamento...
— E acabou?
— Sim...
— Então o sofrimento também. Não sei se a advogada do Clube das
Mães Solteiras lhe disse, mas você pode denunciá-lo se ele faltar com
respeito e isso pode impedi-lo de ver o próprio filho! Ele é o pai do Caleb, e
não o seu marido. Se ele ficar ofendido porque me viu com o menino, vocês
vão conversar, se ele te ameaçar – Michael coloca o dedo em riste —, quero
que me conte. Vamos fazer um boletim de ocorrência e representar.
Fico surpresa com sua determinação.
— Ele tem que saber que você não está mais sozinha...
Abro a boca e minha voz demora um pouco para sair.
— Sei me cuidar sozinha, Michael – falo de forma significativa.
— Sei disso, senhorita orgulhosa, mas seu ex-marido precisa de
limites e se você não der, eu vou dar...
— O quê? – eu começo a rir.
— Você ficou louco? Isso não é problema seu...
Ele puxa a minha cadeira que bate na sua e meu corpo se choca
contra o dele.
— Passou a ser quando vi seu filho sofrendo. Comprei a briga de
Caleb e ninguém vai me impedir de defendê-lo. Nem você...
Se há algo que derrete o coração de uma mãe é ver seu filho sendo
querido por alguém. A atitude de Michael rouba meu coração, assim, num
estalar de dedos.
— Michael – tento argumentar —, sei que...
— Não sabe de nada – ele me corta —, a única coisa que você sabe
é se defender de mim quando, na verdade, eu não sou seu inimigo!
E de novo voltamos ao ponto em que o desejo explode de forma
descontrolada dentro de mim. Ele não é meu inimigo? Então o que ele é?
Por que não somos amigos? Ele toca meu queixo devagar e me obriga a
encará-lo.
— Eu detesto Liam Fletcher e juro que ele não vai mais chatear
você ou o seu filho!
Sempre quis escutar essa frase. Porém, não esperava do homem
mais improvável, de Michael Rhodes. Tem horas que não dá para ser forte o
tempo todo. Eu posso me defender sem Michael? Sim. Mas ter alguém para
zelar por mim não tem preço. Gosto de me sentir segura e nos últimos cinco
anos, eu só me senti sozinha, então quando ouço essas palavras algo se
quebra dentro de mim.
Afasto dele e me levanto. Não consigo conter as lágrimas e vou para
perto da janela, para bem longe dele. Não demora e Michael se levanta e
vem atrás de mim.
— Kate...
— Não! – Eu me volto para ele. — Não fala nada, por favor. Só... –
mordo o lábio inferior enquanto as lágrimas rolam —, só me beija,
Michael...
Por essa, ele não esperava. Mas ainda bem que ele não hesita, ele
me puxa pela nuca e beija a minha boca com um ímpeto que faz as minhas
pernas tremerem. Um beijo esmagador, gostoso e que me faz sentir viva. É
só disso que preciso, só disso. Não penso nas consequências, em nada, só
que preciso estar com ele depois de dizer as coisas que disse e ter defendido
o meu filho.
— Não vamos transar na cozinha, Kate – ele diz contra a minha
boca —, e não vou embora depois que gozar.
Minha respiração fica acelerada e assinto depressa.
— Meu pai nos ouviu ontem – digo contra a sua boca enquanto ele
me agarra pela cintura e se esfrega em mim, me fazendo sentir seu pau
ereto.
— O quê? – Ele ri contra a minha boca e a beija de novo.
— Sim – eu o empurro —, meu quarto é mais seguro... e sem
fazermos muito barulho...
Ele assente e no instante seguinte, se inclina para me jogar sobre o
seu ombro.
— Michael! – eu o reprovo sem me alterar. — Isso é maneira de me
carregar?
Ele dá um tapa na minha bunda.
— Ah! – falo indignada.
— Quieta! O que David vai pensar de nós? – em sua voz há deboche
e sei que ele não se importa.
— Babaca! – xingo. — É a última porta no fim do corredor – aviso.
Ele caminha para lá enquanto enxergo tudo de cabeça para baixo,
inclusive sua bunda bonita nas calças jeans. Michael entra no quarto e chuta
a porta antes de me colocar no chão e então nos encontramos para um beijo
apaixonado. Não sei dizer exatamente o que nos une, mas é bom e não
quero que pare. Afasto para tirar a minha blusa e Michael também tira a
dele. Abro a minhas calças e empurro para baixo e ele faz o mesmo,
chutando os sapatos para o lado, ele fica completamente nu, exibindo o
corpo perfeito e bonito. Meus olhos descem na tatuagem que atravessa
desde o quadril até o calcanhar.
Fico fascinada, acho tatuagens lindas, mas não tenho coragem de
fazer. Aproximo e toco. Michael olha para baixo:
— Eu fiz para esconder a cicatriz da cirurgia da perna – ele conta.
— É linda – elogia e sorrio para ele.
Ele também sorri e em seguida, me agarra. Seu beijo me domina.
Sinto sua língua contra a minha, roubando meu fôlego, provocando em mim
um prazer sem fim. Michael me abraça e me sinto rodeada por seu corpo
todo quente, sua coxa abre as minhas pernas e ele roça a coxa contra a
minha boceta, isso é tão gostoso.
— Você é maravilhosa, Kate – sussurra contra a minha boca.
Meu sangue ferve de luxúria quando nossos lábios se encontram
novamente. Estávamos tão afoitos que roço sua coxa e solto um gemido
alto. Michael me empurra contra a cama e eu caio de costas. Afasto para ele
subir sobre mim e beijar minha boca. Ele abaixa as alças do meu sutiã bem
devagar enquanto morde meu pescoço com prazer.
Arqueio o corpo lhe oferecendo tudo. Sinto a cabeça do pau contra a
minha calcinha e o abraço com as pernas, enquanto ele se esfrega em mim.
Sinto seu beijo no meu colo e depois descendo até os seios enquanto ele
abaixa o bojo do sutiã.
— Michael – eu imploro.
Mas ele me tortura com sua carícia, beijando meu seio, lambendo e
chupando de forma alternada. Enquanto me esfrego contra ele.
— Você tem os seios mais gostosos que já experimentei – ele diz e
chupa com mais paixão.
— Gosto disso – sussurro agarrando seus cabelos.
A língua úmida brinca com o mamilo, antes de chupá-lo como se
estivesse entre as minhas pernas.
— Essa calcinha está atrapalhando – ele murmura e a puxa de uma
vez.
— Ai! – gemo de dor, mas é tão gostoso ao mesmo tempo.
Michael agarra meus quadris e sua boca desce mais, ele beija a
curva dos meus seios e minha costela. Ele fica em cima de uma das minhas
pernas e afasta a outra, me deixando completamente à mostra. Tento fechar,
mas ele faz que não com a cabeça.
— Fica quietinha e só sente – ele manda.
Fico tensa quando ele lambe o polegar e leva até o meu clitóris.
— Ah...
Ele o acaricia bem devagar, eu sinto minha vagina pulsar e fico
zonza quando ele mantém o ritmo lento, girando em círculos numa tortura
deliciosa. Puxo o ar com mais força quando ele segura meu clitóris entre o
indicador e o polegar, e o gira.
— O que é isso? – Eu fecho os olhos e tento agarrar os lençóis.
Michael se inclina e chupa o meu seio, ainda fazendo aquele
movimento em círculos, mantendo meu clitóris bem firme entre os seus
dedos. Sinto que vou explodir. Sinto prazer da ponta dos dedos dos pés até
minha cabeça. Não consigo parar de gemer e ele beija minha boca quando
estou prestes a gozar e abafa o meu grito. Meu corpo todo estremece e
reviro os olhos sem parar, perdida no prazer que ele acaba de me dar.
Quando volto a mim, eu o beijo de forma selvagem. Michael me
vira de bruços como se eu fosse uma boneca. Ergue os meus quadris,
empinando a minha bunda e seu pau sonda a entrada da minha boceta e
então ele me penetra com força. Com o rosto de lado e agarrando os
travesseiros acima de mim, eu o olho por cima do ombro, e o vejo
remetendo sem parar, fundo.
Lascívia, luxúria, poder, está tudo ali e nós dois sabemos disso
porque gostamos do caminho que tomamos. Ele se move forte, marcando o
meu corpo com a sua paixão.
— Michael – digo seu nome de novo.
— Isso, meu bem, sinta o que faz comigo...
A cada metida, ficamos nos olhando e sentimos o orgasmo nos
varrer, e minha boceta se contrai ao redor do seu pau quando o orgasmo me
toma outra vez. Como é bom, eu preciso disso.
Michael cai sobre mim, ofegante. Segundos depois, ele deita ao meu
lado e beija as minhas costas. Viro o rosto para ele e sorrio.
— O que estamos fazendo, Michael?
— Sexo? – ele pergunta e ri.
— Eu sei, mas...
— Sem mas, Kate.
— Mas e a ética da emissora? Estou quebrando uma cláusula do
meu contrato – falo preocupada —, e você tem uma reputação a zelar.
— Não vou contar para ninguém, sei que você também não. E
duvido que David abra a boca, então, por que não?
A resposta fica entalada na minha garganta, não tenho coragem de
dizer: porque não gosto de você. Essa verdade se tornou uma mentira, eu
até me simpatizo com ele, agora. Ele tem o coração bom. Não posso evitar
perceber isso.
— Vamos deixar acontecer, somos adultos e sabemos dos riscos...
O maior risco é que eu me apaixone por você, Michael. Mas você
não pode entender isso. Você não é do tipo que se apaixona, não é?
— Está bem – eu finjo ser segura e moderna —, somos aquilo que
hoje as pessoas chamam de amigos com vantagens?
Ele meneia a cabeça e concorda.
— Chame como quiser, eu só sei que não vai parar aqui – ele avisa.
Ele gosta de deixar isso claro e não posso negar que gosto de saber
que ele me quer de novo. É loucura? Sim. Mas qual a graça da vida se não
tiver um pouco de aventura? Sim, Michael Rhodes é minha atual aventura e
gosto disso. Não posso negar.
Michael se inclina para roubar um beijo.
— Vem, vamos tomar um banho – ele diz e se senta na cama —,
você toma remédio, Kate?
A pergunta não me ofende, nós fizemos sexo sem preservativo.
— Eu uso DIU, Michael, fique tranquilo.
Ele fica aliviado e eu também. Nenhum de nós quer problemas, não
é? E está tudo bem em só curtir sem pensar no futuro. Como ele disse,
somos adultos e juro a mim mesma que não vou fazer uma tempestade no
copo d’água.
Capítulo 19
— O que foi que fez, Kate? – a voz do meu pai retumba atrás de
mim como um trovão.
Sei sobre o que ele está falando, entretanto, me faço de
desentendida. Acabei de chegar da corrida e só quero tomar um banho e
começar meu dia sem pensar em Michael Scott Rhodes, será que é pedir
demais?
— O que foi? – Continuo procurando minhas coisas no closet.
— Você brigou com o Michael? – a pergunta é direta.
E a irritação do meu pai me deixa frustrada.
— A resposta é sim, eu terminei com ele...
— Merda, Kate!
— Não sou obrigada a sair com ele para vocês serem amigos! –
devolvo e me viro para ele. — Vá até a case dele, ligue para ele...
Meu pai gira as rodas da cadeira e me encara com raiva:
— Tem hora que eu não entendo você!
— Também estou frustrada, pai! Passei o fim de semana pensando
nele, querendo estar com ele e estou morrendo sufocada por causa disso!
Mas meu orgulho não permite que eu admita que exagerei e que estou
muito arrependida! – confesso e passo pela cadeira para me sentar na cama
e levar as mãos aos cabelos.
Ele vira a cadeira para mim.
— O que aconteceu?
— Depois de me xingar é que você quer saber? – indago chateada.
Apoio o cotovelo no joelho e a cabeça na mão.
Ele para ao meu lado.
— Sim, quero saber o que aconteceu. Vocês saíram daqui tão felizes
e...
— Ele contou à família dele que estamos tendo um caso! – eu solto.
Meu pai move a cabeça sem entender.
— Mas combinamos de não contar para ninguém, pai! E os Scott
Rhodes são meus patrões!
— Kate, ouça-me com atenção! Eles são a família dele também.
Antes de serem seus patrões. E talvez fosse importante para ele que
soubessem... um homem não leva uma mulher para conhecer sua família,
principalmente a sua mãe, se não for respeitável para ele...
Encaro meu pai e deixo a respiração sair devagar.
— Talvez porque eu sei, Beatrice, Jane e Brigite, ele pensou que não
teria problemas que a família dele soubesse, já parou para pensar assim?
Faço que não com a cabeça e me sinto a pessoa mais injusta do
planeta.
— E três dessas pessoas que sabem sobre vocês daqui de dentro de
casa, sequer são da sua família...
— Mas elas são confiáveis...
— E por que a família dele anunciaria aos quatro ventos que o dono
da emissora está trepando com a jornalista principal?
A pergunta do meu pai me faz sentir ridícula e pequena.
— Não fala desse jeito...
— Que jeito?
— Trepar...
— Ah! – Ele gira as rodas da cadeira de forma impaciente. — É o
que vocês faziam todas as noites neste quarto. E gostavam. Ou você não
estaria aí com essa cara de cachorro pidão – ele me xinga.
— Foi melhor, assim ninguém se machuca quando descobrirem...
— Esse seu medo de ser feliz me assusta – ele balança a cabeça,
desolado —, fico impressionado como você não consegue enxergar mesmo
quando a felicidade está bem diante dos seus olhos.
Ele sai do meu quarto e me jogo na minha cama. Olho para o teto e
penso no que devo fazer. A separação dói, mas será que realmente não é
melhor para nós dois? Seguir como se nada tivesse acontecido? Meu celular
toca e vejo que é Ashley. Penso em não atender, mas ela não tem nada a ver
com a minha briga com Michael.
— Oi, Ashley – faço uma voz de quem está muito feliz.
— Oi, Kate – ela responde —, eu e Stuart decidimos fazer um
almoço aqui no apartamento. Gostaríamos que você e Michael viessem.
Stuart tentou falar no celular dele, mas só dá desligado.
Fico tensa quando ela diz isso. Como vou dizer que não estamos
juntos? Também mentir e falar que está tudo bem não vai colar.
— Ashley, eu...
— Espere um minuto, Kate – ela pede —, o que foi, amor?
Ouço a voz de um homem ao fundo.
— Que bom! – ela diz e volta o celular no rosto. — Não sabia que
vocês estavam em São Francisco, Stuart acabou de falar com Michael...
Ela ri do outro lado. Então, ele viajou. Sinto meu coração apertar.
— Eu não estou em São Francisco, Ashley – conto a ela —, eu não
fui com o Michael.
Ela faz uma pequena pausa.
— Mais um motivo para você vir. Ele disse ao Stuart que não
voltará até segunda, então você pode vir tranquila. Só convidamos o Luke e
o Trevor. A Sara foi para Nova Iorque e os pais deles estão na casa de
amigos. Seria ótimo não ser a única mulher e ter com quem conversar.
Gosto de Kate e se Michael não vai estar lá, não tem motivo para
não ir.
— Está bem – acabo cedendo.
Eu me sento na cama e olho ao redor. Já posso ouvir a voz de
Beatrice falando com o meu pai. Provavelmente posso abusar da boa
vontade dela mais uma vez para que fique com Caleb por algumas horas.
Não vou demorar. É bom que me distraio um pouco, tenho certeza que Luke
vai ser um bom entretenimento, ele é sempre divertido e faz qualquer um
rir. Mesmo que seja a família dele. Talvez, esse também seja o motivo de eu
estar indo. Eu fiquei louca, eu sei.
— Então aguardo você, não demore – ela pede.
Despedimos e desligo. Corro para o chuveiro e tomo um banho
rápido. Quando o puxo a toalha, uma cueca de Michael cai do suporte.
Abaixo para pegar e jogo no cesto de roupas sujas. Tem coisas dele na
minha pia e também no closet. Brigite separou as roupas dele em uma pilha.
Pego uma camisa para sentir o cheiro e respiro fundo. Como sinto a falta
dele. Talvez eu devesse mandar uma mensagem pedindo desculpas, mas
parece covardia, essas coisas têm que ser ditas cara a cara.
Escolho um vestido fresquinho para usar. Apesar de ser primavera,
está quente. Deve chover mais tarde. Beatrice concorda em ficar com o
Caleb, claro, e vejo a troca de olhares entre ela e o meu pai. Infelizmente,
Caleb ainda está dormindo e não quero acordá-lo já que não vou levá-lo
comigo.
— Posso saber aonde vai? – meu pai pergunta acariciando o pelo de
Pu em seu colo.
— Vou na casa do irmão de Michael, Stuart. A esposa dele me
convidou para um almoço...
— Michael vai estar lá?
Prefiro não dizer que Michael viajou.
— Não sei. Até mais tarde, não vou demorar – minto e me afasto
depressa, sem vontade de responder a mais nada.
Enquanto dirijo, noto que Ashley e Stuart moram perto da minha
casa. Fica há doze minutos da minha casa. Passo pelas ruas arborizadas
procurando pelo número que Ashley me passou. É uma bela casa branca de
dois andares escondida por muros altos cobertos por trepadeiras. Estaciono
na porta e saio do carro, olhando para a rua linda e quieta. Quase não passa
carros por aqui. Toco o interfone e ele faz um barulho agudo, um homem
atende.
— Sou eu, Kate – aviso.
Demora um tempo até que abram o portão e eu entre. Entro e fecho
o portão, eu me deparo com uma linda mansão e dois carros estacionados
em uma garagem imensa na parte debaixo. Tem também uma moto.
Imagino que devam estar no quintal, não ouço vozes, ou eu cheguei cedo
demais. Fico sem graça por não ter trazido nada. Aproximo das portas de
vidro e então uma delas se abre. O reflexo do vidro desaparece e dá lugar a
Michael. Ele está sem camisa, usando apenas um short e também está
descaço como se tivesse acabado de acordar.
Ashley mentiu para mim, ele não está em São Francisco.
Como eu fui idiota, aquela é a casa do Michael, e não do Stuart.
— Entre – ele diz com o cenho franzido e um olho fechado —,
preciso de um café.
Ele me dá as costas e volta para dentro da casa. Penso em ir embora,
mas fechei o portão e teria que pedir para ele abrir de qualquer jeito e pular
o muro é impossível. Mordo o lábio inferior e o sigo, resignada. O que mais
posso fazer? Estou aqui...
Subo as escadas de madeira que fazem barulho quando piso e
quando chego ao primeiro piso, a casa não tem paredes internas, é um
imenso salão com ambientes interligados. Passo pela sala sofisticada onde
tem um gato. Não sabia que Michael tem um gato preto que continua
deitado no sofá sem se importar com a minha presença. Tem um telão
enorme na parede e vários videogames embaixo em um dos ambientes com
duas poltronas do papai. Olho para frente e vejo Michael no outro extremo
mexendo em sua cafeteira que mais parece um robô de última geração. Em
segundos, ele coloca o café para fazer. Aproximo devagar, sem fazer
barulho, constrangida. Enquanto ele procura algo no armário, pego meu
celular e digito para Ashley.
Eu: você mentiu.
Ashley: É por uma boa causa.
Eu: Não acredito.
Ashley: boa sorte.
— Você também quer café?
— Por favor – peço. Não coloquei nada no estômago desde que
acordei.
E ficar longe de Michael tem me tirado o apetite. Ele enche as
xícaras e vem para perto de mim, aqueles músculos se movendo em uma
cadência perfeita. Michael deixa a xícara na minha frente e se senta no
banco. Não estava preparada para esse encontro, então não sei o que falar.
Nos meus planos, eu o encontraria na emissora e, casualmente. Quando ele
fosse à minha casa, eu ficaria fora do seu caminho e tudo bem. O tempo me
ajudaria a esquecê-lo.
Contudo, quando o observo com aquela cara amassada de quem
dormiu mal a noite, sei que não é tão fácil quanto imaginei. Eu gosto dele.
Os olhos azuis não me devolvem nada além de intenso cansaço. Fico puta
de pensar que ele passou a noite na gandaia com outras mulheres. O que
posso cobrar dele? Nada. Nós não somos nada um para o outro.
— Como tem passado? – preciso quebrar o silêncio antes de ficar
louca.
— Veio aqui perguntar se eu estou bem? – ele zomba da minha
pergunta.
— Na verdade, eu não vim aqui por sua causa. Ashley me disse que
teria um almoço na casa dela e de Stuart e me deu esse endereço – conto
irritada —, também disse que você estava em São Francisco. E a lerda aqui
esqueceu que você morava em Santa Mônica. Você nunca me falou o
endereço e a ficha só caiu quando você abriu aquela porta lá embaixo.
Então respondendo a sua pergunta, eu não vi aqui por você...
Deixo a xícara do balcão e levanto daquele banco idiota.
— Pode abrir o portão para eu sair?
Ele não responde. Continuo andando e desço as escadas,
caminhando pelo gramado até atingir o portão que não está aberto. Forço a
maçaneta, mas ele não se move. Olho por cima do ombro e não há nenhum
sinal dele.
— Michael, seu desgraçado! – volto para a casa e subo as escadas
correndo.
Ele está de pé na cozinha quando eu digo.
— Mandei abrir o portão! – falo brava com o dedo em riste.
— Eu ouvi, Kate – diz tranquilo —, não sou surdo!
Ele se volta para mim. Quero tanto atravessar aquele cômodo e o
abraçar até me perder em seus braços como se não houvesse amanhã.
— Então abre! – Ignoro minhas necessidades.
— Eu vou nadar, você vem comigo? – E sem esperar resposta ele
abre as portas de vidro duplas e que dão para uma enorme varanda nos
fundos.
Fico indignada e quando me aproximo, vejo a piscina de água
cristalina que atravessa a varanda. Sem qualquer vergonha, ele tira o short e
nu mergulha na piscina. Estou excitada só de vê-lo nu. Saio para a varanda
e o acompanho nadando por debaixo d’água. Ele praticamente atravessa a
piscina por debaixo e se ergue e procura por mim.
— A água está uma delícia, não sabe o que está perdendo...
Reviro os olhos e entro na casa. Procuro pelo interfone. Ficar ali não
é uma boa ideia. Paro no meio do caminho. Tem uma garrafa de uísque em
cima do móvel e por baixo dela uma foto minha. Fico surpresa ao ver a
minha foto trabalhando, não sabia que alguém havia me fotografado, mas
estou bonita.
Olho para a garrafa vazia e entendo o motivo da cara amassada.
Michael bebeu pensando em mim, sentindo a minha falta. Agora entendo
porque Ashley resolveu se meter. Porque a idiota aqui é orgulhosa demais
para admitir para si mesma que está loucamente apaixonada por seu chefe.
Solto um suspiro dolorido quando coloco a foto no lugar.
Liam me magoou.
Michael é outro homem, ele seria incapaz de me trair, não é o tipo
dele. Ele se afastaria se estivesse com outra pessoa. Ao invés disso, ele me
impediu de sair daquela casa, esperando que eu tome a decisão certa.
Capítulo 23
Qual mãe não se sente culpada por deixar o filho em casa para sair e
se divertir? Quando chego na manhã seguinte, recordo que pela primeira
vez fiquei vinte e quatro horas sem ver Caleb. Fico mal e sento na cama
para chorar. A sociedade cobra tanto que a culpa me toma e me sinto uma
ordinária. Quando conto isso para a minha psicóloga, ela diz:
— Calma, Kate! É realmente difícil para a mulher separar a mãe da
mulher ativa que ela é. Você se acostumou a ser somente mãe e não tem
nada de errado. Caleb estava bem, cuidado por pessoas da sua confiança...
você não foi irresponsável, não largou seu filho sozinho trancado em casa,
ele estava alimentado, brincando e ao lado de pessoas que ele ama e
confia. Não tem problema algum você ter momentos como esse, é
necessário ou você enlouquece...
Como é difícil.
— Está tudo bem? – a voz de Beatrice me desperta para a realidade.
Estamos preparando um jantar especial. Hoje foi a reunião de
apresentação do meu pai na emissora e ele está oficialmente contratado. No
domingo à noite, eu e David vamos participar de um talk show importante
da costa oeste para falar sobre isso, trabalharmos na mesma emissora e a
volta dele para o estrelato.
— Está – encolho um dos ombros —, só tentando entender a
dinâmica de ser mãe e ter um namorado.
Olho por cima do ombro. Michael e meu pai estão ao redor da
piscina rindo e conversando enquanto tomam cerveja. Caleb está dentro da
piscina nadando como um peixinho com sua boia do Sonic nos braços.
Michael comenta algo com o meu pai e eles explodem em uma risada.
— Você é uma canalha, Michael! – meu pai diz e continuam rindo.
Beatrice olha na mesma direção e depois se volta para mim.
— Você está naquela crise entre ser mãe do Caleb e ter tempo para
si mesma – ela comenta compreensiva.
— Tenho certeza que você não passou por isso...
— Como não?
— Você era casada com o pai dos seus filhos, não é?
— Sim, mas acontece do mesmo jeito. Parece que nossa libido
evapora depois que os filhos nascem. Cuidar da casa, dos filhos e do marido
é uma maratona – ela suspira pesadamente —, eu e Antony nos separamos
uma vez. Não conseguia fazer nada além de cuidar das crianças e quando
ele me tocava à noite, eu sentia raiva. Ele estava ávido por sexo e eu só
queria dormir. Tempos sombrios. Parei de tomar banho só para ter uma
desculpa para não transar – ela confessa e ri alto.
— Sério?
— Você não tem ideia das desculpas que comecei a criar, ficamos
seis meses sem sexo...
— Passei por isso com Liam. Ficamos meses sem transar, eu
também não tinha ânimo... e ele não me procurava, já tinha outra...
— E agora que você tem um cara legal, se sente culpada? É normal,
mas não deixe isso entrar na sua mente. Ter alguém na sua vida para
compartilhar o lado bom e ruim da vida é ótimo. E nós mulheres fomos
treinadas para não sentir prazer e nem termos vida própria... Não faça isso...
ou você vai ser infeliz...
Assinto e suspiro devagar.
— É que deixar o Caleb com vocês para ficar com o Michael parece
errado – confesso.
— Só se você for irresponsável – ela declara séria —, você pode se
dividir em mil mulheres e dar atenção a todos. Mas dar atenção só ao seu
filho, vai te frustrar. Além disso, ele está ótimo, olhe para ele... já faz alguns
dias que ele não atira uma flecha no Michael quando ele chega, ao
contrário...
É verdade. Sorrio ao me recordar que Caleb não ataca mais o
Michael. Ontem à noite, estávamos assistindo um filme e Caleb dormiu
encostado no Michael que depois o levou para a cama, antes de irmos para
o meu quarto. Depois da reconciliação e quando pedi desculpas, as coisas
melhoraram entre nós. Há mais confiança e respeito. Michael realmente é
um cara incrível e que me faz bem. Tirá-lo da minha vida por insegurança,
ou por achar que não posso tê-lo e também dar atenção ao meu filho, seria
um pecado.
— O almoço está pronto! – Beatrice anuncia e leva a salada para a
mesa que arrumamos do lado de fora.
Aos poucos a minha casa tem tomado vida, comprei mais móveis e
está ficando com cara de lar de verdade. Meu pai vai até à mesa, e ele
Beatrice trocam uma conversa num tom bem baixinho que não consigo
ouvir. Aproximo da piscina e estendo a mão para Caleb:
— Está na hora de sair, meu bem...
— Ah, mamãe! Quelo nadar mais!
— Hora de sair... – insisto —, vamos almoçar agora e mais tarde eu
deixo você nadar mais.
— Não vou!
— Caleb! – eu o repreendo.
— Ouviu o que sua mãe disse, Caleb! Para fora da piscina, agora! –
Michael manda parando ao meu lado.
Um único comando e Caleb faz cara feia, mas nada em direção às
escadas para sair. Não posso acreditar que meu filho obedeceu meu
namorado, mas não a mim.
— Sério? – Olho para ele, indignada.
Caleb sai da piscina e corre na direção do meu pai, Beatrice o ajuda
a tirar a boia do braço enquanto eu tenho uma discussão com Michael.
— O que eu fiz agora? – pergunta sem entender.
Eles nunca sabem o que fazem de errado, porque sempre está tudo
certo.
— Você tirou a minha autoridade!
— Não tirei, só reforcei sua ordem! – ele se defende.
— Ele obedeceu a você e não a mim! – discuto brava.
— E eu deveria deixar você por uma hora gritando na borda da
piscina se podemos resolver isso de forma mais prática?
— Você não é o pai dele!
Michael estreita o olhar. Para minha surpresa, ele me segura pela
cintura e me puxa de uma vez e caímos na piscina. Afundamos e eu me
solto dele para nadar para cima. A água está gelada.
— Seu maluco! – xingo enquanto ele ri sem parar. — Agora vou ter
que trocar de roupa!
Michael me puxa contra ele e me mantém contra o seu corpo.
Pressiono a mão em seus braços fortes e o empurro, mas faço força à toa.
— Me solta!
— Não até você se acalmar! – ele diz tranquilo.
Reviro os olhos e desisto de fazer força.
— Não quero atrapalhar, Kate – ele fica sério quando me encara. As
gotículas de água escorrendo por seu rosto bonito —, quero somar em sua
vida e ser o pai que Caleb precisa...
As palavras dele me deixam chocada. Desde o dia que Michael
colocou Liam para fora, ele não ligou mais ou quis ver Caleb. Só mostrou o
verdadeiro covarde que é. Não sei o que dizer. Abro a boca para falar...
— Ninguém atende a porta dessa casa? – a voz feminina nos
interrompe.
Amanda Owen está parada na porta da varanda com seus cabelos
ruivos compridos e sua roupa vulgar.
— Ah, meu Deus! – gemo e olho para o outro lado.
— Quem é ela? – Michael quer saber.
Eu o encaro.
— Minha mãe...
Ele me solta e nado para sair da piscina. Não acredito que ela
apareceu sem avisar. Meu pai a detesta e toda vez que se encontram a briga
é certa. Pense em duas pessoas que nunca deveriam ter se envolvido: meus
pais. São inimigos mortais. Ela o abandonou e ele jamais a perdoou por
isso. Michael sai logo atrás de mim.
Estou envergonhada, minha mãe não presta e sabe como ser
desagradável.
Olho para Michael e ele assente como se compreendesse o que está
acontecendo. Talvez David tenha contado a ele seu lado da história e fico
mais tranquila. Ele deve estar preparado para o pior.
— Olá! – minha mãe ignora meu pai e Beatrice e se aproxima de
mim.
— Oi, mãe!
— Que recepção mais calorosa! – ela ironiza. — Não mereço um
abraço?
— Estou molhada, preciso me trocar... – E a encaro.
— Não vai me apresentar seu amigo? – Ela olha para Michael com
interesse enquanto mastiga seu irritante chiclete no canto da boca.
Sempre odiei isso. Tanto quanto o cigarro que ela nunca solta. É
difícil dizer o que realmente gosto nela.
— Esse é o Michael – falo sem dar sobrenomes —, essa é minha
mãe, Amanda Owen.
— Olá, Michael – ela se aproxima para lhe dar um beijo no rosto —,
fico feliz em conhecer meu genro finalmente.
Eu a fito com desconfiança. Genro? Ela sabe que eu era casada com
Liam. A primeira vez que ela ressurgiu na minha vida, eu já estava casada.
— Ele não é...
— Ah, meu Deus! – Ela me ignora e se vira para os ocupantes da
mesa. — Se não é meu neto lindo! Vem aqui dar um beijo na vovó!
Caleb se esconde atrás da cadeira do meu pai.
Minha mãe faz uma careta de desgosto.
— Você precisa dar mais educação ao seu filho, Kate!
— Ele só a viu duas vezes, mãe, é normal que estranhe...
— Como vai, David? – minha mãe o cumprimenta.
— Perdi o apetite – meu pai diz sério —, vou para o meu quarto.
Quando essa mulher for embora, me avisem.
— Ainda continua amargo e rancoroso – minha mãe provoca
enquanto Beatrice empurra a cadeira dele para dentro da casa. Caleb o
segue olhando para a minha mãe de lado.
A energia dela é muito negativa, até uma criança pode sentir e não
querer ficar perto dela. Ela tira o cigarro da bolsa verde que combina
perfeitamente com sua minissaia de couro. Aproximo e tiro o cigarro da
mão dela, jogo no chão e piso.
— Na minha casa, você não vai fumar, mãe!
— Careta! – Ela me fita, indignada. — Você é igualzinho ao seu pai,
por isso eu fui embora.
Essa conversa de novo. Ela sempre tem que jogar a culpa em mim e
David por seus erros. Quando eu era jovem aceitava, mas agora não. Eu sei
que foi escolha dela e não tenho poder sobre o que ela faz da própria vida.
— O que você quer, mãe? – Cruzo os braços e sou direta.
Vejo Michael entrar na casa e olho para ele, depois me volto para
ela.
— Um Scott Rhodes? – ela debocha. — Foi assim que conseguiu
seu emprego e do seu pai?
— Se você veio aqui para ser uma filha da puta, pode ir embora –
aponto para a porta da varanda —, não sou obrigada a aceitar seu mau-
humor, só porque sua vida é uma merda!
Ela entende o recado. Michael volta segurando uma toalha e a
coloca sobre os meus ombros e fica ao meu lado.
— Estou precisando de dinheiro – minha mãe é direta. — Meu
trailer pegou fogo há algumas semanas e não tenho onde morar. Estou em
um albergue em Las Vegas. Gastei meu último dinheiro para vir aqui depois
que a vi na TV e foi anunciado que seu pai voltou ao esporte. Vocês estão
ricos e eu não tenho nada. Isso não é justo! Você é minha filha, tem que
cuidar de mim!
Não tenho palavras para tamanho absurdo.
— Não tenho obrigações com você! Você foi embora quando eu
tinha cinco anos, mãe! Meu pai já era rico e nem o dinheiro a fez ficar! Por
que eu ficaria preocupada com você agora?
— Porque é sua obrigação! – ela insiste. — Posso processá-la,
sabia?
Agora, ela foi longe demais.
— Então me processe, porque eu dei certo e estou ganhando bem –
não vou aceitar sua chantagem —, quero ver o juiz que vai me obrigar a dar
dinheiro a uma mãe que me abandonou e só voltou para a minha vida para
pedir dinheiro vinte anos depois...
Nós nos enfrentamos com o olhar e eu lamento muito que ela seja
assim. Podíamos ser uma família feliz, mas ela não deu conta. E a culpa não
é minha.
— Você é uma ingrata, Kate. Sempre preferiu o seu pai. Vou acabar
com você, pode apostar! Vou fazer todo mundo saber quem é Kate Lynch de
verdade...
E sai andando, batendo sua bota velha no piso da casa.
Começo a tremer sem parar e Michael me abraça pelas costas. Ele
beija meus cabelos.
— Vai ficar tudo bem... – ele me consola.
Porém, eu sei que não vai. Minha mãe vai dar um jeito de fazer da
minha vida um inferno. Só espero que ninguém dê ouvido a ela.
Capítulo 25
Ela move os lábios em uma quase quando ouve a voz dele. Michael
conversou com ela durante toda aquela gravidez inesperada. Fiquei grávida
usando DIU, é impressionante, mas acontece e eu fui sorteada, é como
ganhar na loteria, uma em um milhão. Não tínhamos planos de ter filhos e
eu sequer pensava nisso. Contudo, essa é a consequência quando não se usa
preservativo. Pode acontecer...
A enfermeira se aproxima.
— Ela é linda, Kate. Obrigado – então leva a minha mão nos lábios
e a beija.
Eu amo esse homem com todo o meu coração. Esses meses ao seu
lado tem sido intensos e verdadeiros. Não pensei que uma relação madura
fosse possível, mas aconteceu. Pensei que ele fosse ficar furioso por causa
da gravidez, porém, ao invés disso, ele ficou radiante, como se eu tivesse
lhe dado um prêmio.
Ainda bem que Michael entrou na vida dele e mudou seu conceito
sobre a figura do pai. Nunca proibi Liam de ver o filho, mas depois que ele
foi para Nova Iorque, nunca mais procurou saber, sequer um telefonema.
Vejo que aos poucos, Caleb não nota mais a falta que o pai faz na vida dele.
Quando vamos para casa no fim da tarde, os Scott Rhodes e meu pai
e Beatrice estão esperando por nós com a faixa: Bem-vinda Sophia. Glenda
tira a neta do colo de Michael e a mostra para o marido.
Todos querem vê-la e então Caleb corre para Michael que o pega no
colo.
— Papai, eu quero ver a Sophia – e aponta para a irmã. Ele não fala
mais quelo.
— Ela vai ser uma grande jogadora de baseball – meu pai disse
também emocionado.
— Vou colocar comida para o Cat e para o Pu. Minha mãe levou o
Caleb para dormir na casa dela essa noite, disse que vai ser intenso...
— Você não viu nada... – digo com deboche.
— Não me assuste...
— As cólicas nem começaram...
— Sim, Michael. Muitas vezes ainda, e você vai ter que ser um
paizão e estar preparado para isso...
— O que?
— Agatha Charles...
— Ah, não! – Ele faz que não com a cabeça e com as mãos —, ela é
como uma irmã. Sou doze anos mais velho. Ela acabou de completar vinte
anos! Isso é pedofilia!
Dou uma risada alta.
— Você não precisa dar em cima dela, mas quero que faça Trevor
abrir seu coração para ela.
— Ele tem vinte e oito, mãe! Por que ia querer uma ninfeta?
— Porque ele gosta dela, eu sei. Desde o ano passado, Trevor tem
nutrido algo diferente por Agatha, porque acha que ele a salvou de
Masterson?
— Altruísmo?
Ele bufa.
— Tudo isso para casar seus filhos? O que deu em você? Que vírus
do matrimônio é esse, bruxa?
— Ainda bem que não vai fazer o isso comigo! Já saquei seu jogo,
Glenda Rhodes! – pisca para mim e sai da sala.
Quando ele fecha a porta, dou um sorriso mal.
Claro que vou fazer Luke encontrar a pessoa certa. Sou mais esperta
que ele e sei jogar as cartas para que ele caia direitinho no meu jogo. Eu
adoro ser mãe e ver meus filhos felizes. Já foi o Stuart, o Michael. Também
tem a Aria que já se arranjou. Vamos de Trevor agora. Depois tem o Luke.
Porém tem uma pessoa que escorrega por entre os meus dedos, mas
se Sara pensa que ela está fora da minha lista, está muito enganada. Eu não
vou descansar enquanto não ver todos os meus filhos felizes em seus
relacionamentos.
Ou não me chamo Glenda Scott Rhodes.
Flávia Padula é mineira e formada em jornalismo, paixão que deixou de
lado por muito tempo para cuidar dos filhos e da família. Escreveu o
primeiro livro aos 12 anos, e continuou sua trajetória com publicações
acadêmicas, artigos de filosofia e relacionamentos em blogs especializados.
O primeiro romance publicado em e-book veio apenas em 2015, com o
livro O Duque que foi abraçado pelos leitores e tornou-se Best Seller pela
Amazon Brasil. Hoje, Flávia tem mais de 100 trabalhos publicados, entre
romances, novelas e contos. É uma leitora ávida, e não tem preferências, lê
de tudo e acredita na diversidade da literatura.
[1]
Time de futebol fictício.
[2]
É uma via importante de Beverly Hills e West Hollywood, bem como de vários distritos das
regiões Oeste de Los Angeles.
[3]
Nome de time de baseball fictício da costa Oeste.
[4]
Pré Temporada de Baseball.
[5]
Bola fora após o rebatedor perder o lançamento.
[6]
Interpretado pelo ator Terry Crews.