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Copyright © 2020 Maria Amanda Dantas

SEDUZIDA PELO MAFIOSO

1ª Edição | Criado no Brasil


Edição digital

Autora: Maria Amanda Dantas


Revisão e diagramação: Luana Souza
Capa: Show das pré-prontas

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL DESTA OBRA, DE QUALQUER


FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICO OU MECÂNICO, INCLUSIVE POR MEIO
DE PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDO AINDA O USO DA INTERNET, SEM A
PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA (LEI 9.610 DE 19/02/1998).
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENTOS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUTORA.

QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS É MERA


COINCIDÊNCIA. TODOS OS DIREITOS DESTA EDIÇÃO SÃO RESERVADOS PELA
AUTORA.
SUMÁRIO
Sumário
Dedicatória
Agradecimentos
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Parte II
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Parte II
Capítulo 41
Epílogo 1
Epílogo 2
Série “Família Grego”
Duologia “Cretino irresistível”
Sobre a autora
Redes sociais
DEDICATÓRIA

A arte de dedicar algo a alguém significa que aquela pessoa é


merecedora de todas as glórias. Por isso, dedico esse livro a todos
os meus leitores do Wattpad, que sempre me acompanham em cada
uma das minhas jornadas e desafios. Em especial, à minha leitora e
amiga Fran.
AGRADECIMENTOS

Sempre haverá dificuldades em todos os momentos de nossas


vidas, portanto, estar ao lado de pessoas especiais e leais é muito
importante. O que seria de mim sem os meus leitores? Nada. Pois
sem eles, não existiriam livros. E eu me considero sortuda por ter os
melhores ao meu lado.
Amigas autoras que já fazem parte da minha vida —
Vanderlucia e Lady —, vocês são meus docinhos de brigadeiro.
Muito obrigada por todas as palavras de motivação!
Agradeço:
À minha parceira Fran. Gratidão eterna;
Ao meu esposo lindo e sensacional que tanto amo. Ok! Sem
tanta propaganda, porque o que é bom, é sempre muito procurado,
rsrsrsrsr. Obrigada por todo o apoio!
SINOPSE

Elisa sempre foi dona de uma beleza fora do comum e de um


sorriso estonteante capaz de despertar a atenção de todos por onde
quer que passasse. Nascida e criada no Rio de Janeiro, moradora
de favela, sabe, constantemente, o que é ser discriminada pelas
demais pessoas. É acostumada a sentir na pele a dor do preconceito
racial, por ser negra, pobre e favelada. Contudo, nunca deixou de
carregar no peito uma garra, uma determinação e um foco a ser
seguido, um objetivo.
Prestes a se formar em Direito, seu maior sonho é um dia se
tornar advogada, e juíza futuramente, para poder dar uma vida mais
confortável para sua mãe, a mulher que ela mais admira nesse
mundo.
Débora, que sempre fez de tudo para ver sua filha chegar
longe, esconde segredos do passado que a atormentam. Seu maior
sonho é que Elisa consiga realizar seus sonhos.
Já Matthew Lansky sempre teve tudo da sua maneira. Nascido
em “berço de ouro” e herdeiro de uma das maiores empresas do
país, é filho de um grande capo da máfia americana. Ele se vê
completamente apaixonado pela morena de cabelos crespos e com
um sorriso adorável capaz de fazer seu coração acelerar.
Acostumado a possuir as mulheres que sempre desejou,
Matthew se encontra totalmente obcecado pela jovem brasileira. Seu
maior objetivo é torná-la dele, ter sua morena, nem que para isso
precise enfrentar todo o mundo.
PRÓLOGO
ELISA SANTIAGO

Tudo ficou escuro no momento em que saí da Faculdade


debaixo da chuva. Corro pelas ruas, apressada, com medo de que
todos os meus livros fiquem completamente destruídos pela força da
água. Minha mãe não pode me dar novos e lembro que esses já
custaram muito dinheiro.
Piso nas poças, tendo a sensação de que meus tênis estão
decolando. Como eu adivinharia que essa chuva iria cair justamente
hoje, quando o ônibus resolveu quebrar e minha mãe saiu para
trabalhar no outro lado da cidade? Até mesmo um cachorro latiu feio
para mim.
O destino está querendo me pregar uma peça por eu ter sido
desorganizada com minhas roupas no mês passado, deixando de
arrumar bem o guarda-roupa. Isso contribuiu para que as portas
ficassem difíceis de fechar, acabando com a chance de eu ter um
armário legal.
Minha mãe se esforça para me dar de tudo, e sempre foi
assim. Somos apenas nós duas, as melhores amigas. Ela é a
pessoa que mais amo nessa vida, a minha guerreira, meu maior
exemplo.
Vivemos no morro do alemão. Somos duas mulheres sozinhas
que moram em um barraco pequeno com uma TV desmantelada e
um telhado que entra água quando chove. É um lugarzinho simples,
mas é bastante para nos fazer felizes.
O meu pai abandonou a minha mãe no momento em que soube
que ela esperava um filho seu e minha avó a expulsou de casa por
puro preconceito.
Como uma mulher negra e batalhadora, sem o ensino médio
completo, ela precisou largar os estudos para poder me criar, e por
isso faz de tudo para que eu siga meu caminho, para que eu brilhe e
consiga, um dia, poder chegar longe.
Por ser preta, favelada e pobre, o preconceito e a
discriminação sempre se fizeram presente na minha vida, mas nem
por isso desistirei de todos os meus sonhos. Com meus vinte e um
anos, estou cursando o quarto ano da Faculdade de Direito, onde
ingressei por meio do ENEM. Em pouco menos de um ano estarei
formada, então poderei finalmente conseguir um emprego e
proporcionar uma vida melhor para a minha mãe.
Cogito esperar toda essa chuva passar, debaixo do viaduto
mais próximo, mas acabo desistindo dessa ideia. Continuo
caminhando. O meu celular se encontra molhado e tudo em mim está
encharcado.
Penso que na última vez em que isso me aconteceu, peguei um
resfriado e levei quase um mês para me recuperar. Não posso ficar
doente, pois tenho provas importantes para fazer na semana que
vem.
Não acho justo minha mãe chegar cansada em casa todos os
dias, portanto, gostaria de poder ajudá-la trabalhando nos finais de
semana, mas a mesma não aceita a ideia. Por isso faço dos meus
estudos a segunda coisa mais importante da minha vida, porque a
primeira sempre será ela.
Estou quase chegando à entrada do morro, quando um carro
em alta velocidade passa por mim. Os pneus fazem levantar do
chão, na minha direção, uma grande quantidade de água de uma
poça que está bem próxima a mim. Fechei meus olhos para me
proteger daquela água suja das ruas. A minha sorte é que a chuva
está começando a passar, e agradeço aos céus por isso.
Não vejo a hora de poder chegar em casa, trocar de roupa, me
vestir e ficar aquecida. Minhas mãos estão ficando congeladas.
Nessa época do ano, o Rio de Janeiro costuma fazer menos calor, e
quando chove, a sensação térmica chega aos 19 graus.
Já estou me afastando da “civilização”. Algumas pessoas
costumam dizer que nós, favelados, somos pessoas violentas e
terroristas. Ainda nos chamam de mais possíveis xingamentos dessa
categoria. “Quem vê cara, não vê coração”. Para nós, esse ditado
tem um significado diferente, pois as pessoas só notam o nosso
exterior e associam a nossa imagem a algo terrível, não conseguindo
enxergar o bem em nós.
Em cada viela pode-se encontrar pessoas boas e
trabalhadoras que lutam para ganhar o próprio pão. Somos honestos
e muitos de nós nem estamos envolvidos com a parte criminosa do
local.
Quando eu finalmente me tornar juíza, irei lutar pelos direitos
que nós, moradores de favelas, possuímos, mas muitas vezes são
retirados.
Acabo derrubando meu celular no chão, então me abaixei para
pegá-lo, sentido todo aquele cheirinho de asfalto molhado e quente
invadir minhas narinas. O sol começa a brilhar, mas no céu
predominam grandes nuvens escuras.
Através da poça de água posso notar o reflexo de um homem
bem diante de mim. Encaro aquele sujeito, que usa um sobretudo
preto, um relógio grande de pulso e sapatos também pretos. Seus
cabelos são da mesma cor, penteados e alinhados, com todos os
fios devidamente em seu lugar. Notando os muitos anéis de ouro que
ele possui, tenho a certeza de que não é morador da favela. Também
não se parece em nada com um bandido. A não ser que esteja
disfarçado.
Me levanto rapidamente. Os óculos de sol no seu rosto não me
permitem ver a cor dos seus olhos, mas posso apostar que são
escuros. Digamos que sua aparência é assustadora. Não que ele
não tenha beleza alguma. Pelo contrário. Seus lábios vermelhos são
incrivelmente carnudos e os músculos em seu corpo parecem ser
torneados. Suas mãos estão nos bolsos da calça e ele aparenta ser
bem calmo.
Não entendo porque o homem está me olhando de uma
maneira como se pudesse ver através da minha alma. Sinto um
arrepio percorrer todo o meu corpo e dou um passo para trás.
Conforme o vejo se aproximando, o sol fica escuro, parecendo que
ele tem poder sobre o tempo.
Percebo que alguns homens de preto chegam perto. Acho que
são seguranças particulares do homem que me olha de maneira
intrigante.
Continuo caminhando para trás, agarrada à minha mochila,
parecendo uma coelhinha assustada.
Será que isso é alguma emboscada? Como eles podem muito
bem estar me confundindo com outra pessoa, este tipo de erros é
comum em todo o mundo, resolvo dizer algo ao sentir que estou com
as costas em alguém. Bastante assustada, noto que o tal homem
está mais próximo de mim do que eu imaginava. Ele me analisa com
muita atenção.
Um círculo de homens se forma entre mim e o senhor, sem
deixar espaço para que eu saia, então percebo que essa situação é
mais séria do que eu podia imaginar.
— O que está acontecendo aqui?
— Finalmente será minha, bela morena. — sua voz é tão rouca,
que me causa um grande arrepio por toda a espinha.
Ele parece um caçador em busca de sua presa fácil. No caso,
eu mesma.
— Não sei o que está acontecendo aqui, mas, por favor, me
deixe sair! Não fiz nada.
— Você fez sim. Me insultou no momento em que meus olhos
encontraram os seus e me fez querer tanto, que agora estou aqui
para levá-la comigo.
— Levar? Mas para onde?
Não sobra tempo para que eu fale mais nada, pois de repente
sinto me pressionarem um lençol com alguma substância forte, capaz
de me causar uma terrível dor de cabeça. O homem atrás de mim é
incrivelmente forte e logo estou perdendo todos os meus sentidos,
desmaiando em seus braços.
CAPÍTULO 1
ELISA SANTIAGO

Acabei de despertar em um ambiente totalmente iluminado e


estou deitada sobre uma enorme cama de casal, a qual parece ser
maior do que todo o barraco onde moro. Minha cabeça está doendo
e me sinto cansada, sonolenta. Há um lençol sobre meu corpo para
me aquecer e o ar-condicionado do lugar deixa o clima muito frio.
Observo cada detalhe do vasto quarto de luxo em que estou e
minha mente começa a recobrar tudo o que aconteceu antes que eu
pudesse desmaiar. Me lembro da chuva e de estar voltando da
Faculdade, quando fui abordada por um homem que usava roupas
pretas. Será que fui sequestrada? Meu pensamento questiona essa
possibilidade. Mas se foi realmente um sequestro, que diabos estou
fazendo nesse quarto que mais parece um palácio, de tão luxuoso?
Tento levantar da cama, mas é em vão. Levo as mãos à minha
cabeça e noto que tudo dentro dela está girando igual a um carrossel
sem freio. Fecho meus olhos tentando controlar a tontura. Minha mãe
me ensinou que nunca devemos nos entregar aos nossos problemas.
Pouco tempo depois, felizmente, consigo me sentir melhor e
posso me levantar. Noto que estou usando uma linda camisola de
seda da cor rosé, muito macia. Nunca tinha sentido nada assim
antes. Ela vai até a altura dos joelhos, tem um pequeno decote e
alças finas. Definitivamente, não é minha. Nada aqui é meu.
Caminho em direção à porta e vejo que, pelo menos, ela não
está trancada. Passo as mãos nos meus cabelos, que não estão
mais molhados da chuva, e parecem ter sido hidratados como nunca
antes. Os fios cacheados estão controlados no seu devido lugar e a
maciez se faz presente neles.
Não posso deixar de perceber que no quarto há algumas
roupas para que eu me troque, certamente. Acabo ignorando tudo
isso, a fim de tentar encontrar alguém que possa me dizer alguma
coisa.
Será que estou na casa da patroa da minha mãe? Aqueles
homens que me abordaram podem ter sido os seguranças
particulares da senhora Vilar. Se foram eles, logo encontrarei a
minha mãe. Tento não ficar nervosa, pois não sou mais uma
garotinha para não encarar a realidade.
Que tipo de pessoas precisam lhe dopar para que você as
acompanhe até algum lugar? Criminosos fazem isso, pessoas de
bem não.
Fecho a porta do quarto e começo a caminhar por um corredor,
onde há quadros pendurados nas paredes escuras. Noto que estou
com os pés descalços, pisando sobre um longo tapete vermelho que
parece ir até o fim do corredor. O lugar é muito elegante.
Esse não é um sequestro normal, porque não fui raptada para
morrer rapidamente e meus órgãos ainda estão devidamente nos
seus lugares. Pelo menos é isso que penso. Toco em mim mesma,
um pouco assustada, mas enfim, nada de ruim me aconteceu até
agora. Está tudo em seu lugar. Então percebo uma pequena cicatriz
no meu antebraço, porém é tão minúscula, que há apenas um único
ponto.
Assustada, passo a ponta de alguns dedos sobre o local e sinto
doer um pouco, como se a ferida tivesse sido aberta há poucas
horas. Posso sentir que há algo pequeno dentro de mim, durinho,
numa textura sólida e resistente. O que é isso? Por Deus!
Corro até uma porta, rapidamente, e tento abri-la, mas não
encontro o trinco. Ela pode ser aberta apenas com um
escaneamento ou um cartão.
Estou presa. Alguém quer me manter aqui dentro. Mas quem
seria tão cruel a esse ponto? Tento me lembrar de alguém que
poderia me fazer algum mal, então constato que não tenho
inimizades, nem mesmo com o dono do morro. Os chefes e bandidos
da favela sempre me respeitaram e os vapores nunca tocaram um
dedo sequer em mim. Não faço ideia quem está por trás de tudo
isso.
Começo a chorar, assustada. Por que a porta não abre? Tento
colocar minha impressão digital, mas é em vão, e bato várias vezes
contra ela. Penso até em gritar, mas sei que seria perda de tempo,
já que ninguém me ouviria.
Corro até uma grande janela de vidro na sala e quase caio para
trás ao ver a vista lá fora. Não é possível! Essa cidade não é nada
parecida com o Rio de Janeiro. É incrivelmente moderna, repleta de
arranha-céus, a tecnologia se faz presente em cada parte dela e a
arquitetura é variada, demonstrando luxo e poder.
Estou em Nova York. Aquele prédio à minha frente é o Empire
State Building, um dos mais famosos arranha-céus de todo o mundo.
Com fachada de calcário e coluna de aço, é localizado no centro de
Manhattan, na cidade de Nova York, e possui 102 andares, para ser
mais exata. A ilha é conhecida como a cidade dos milionários. Como
já fiz uma pesquisa sobre a cidade no tempo de escola, posso
afirmar que quem vive no centro daqui são pessoas com muito
dinheiro.
Minha ficha caiu por terra agora. Não estou mais no Brasil, e
sim nos Estados Unidos da América, a do Norte. Por Deus! Como
isso foi acontecer? Quem me trouxe para cá? Eu dormi por mais de
24h? Óbvio que sim.
A fome me fez despertar. Estou tão faminta, que juro que não
como nada há mais de um dia.
A minha mãe!
Preciso avisá-la onde estou. Ela deve estar morrendo de
preocupação comigo.
Procuro algum telefone pela sala e encontro um fixo.
Rapidamente digito o número dela, mas é então que percebo que a
ligação não irá se completar, pois não há nenhum tipo de sinal que
indique alguma conexão.
Preciso manter a calma, não perder o controle. Quem está por
trás de tudo isso elaborou um plano infalível, pensando até mesmo
nos mínimos detalhes, como cortar a conexão do telefone fixo.
Na cozinha deve ter algum, só preciso encontrá-lo. Há algumas
portas, mas uma grande e preta é a mais chamativa. Ela é coberta
de madeira maciça e seus detalhes e símbolos de cavalos
conseguem prender minha atenção. Será que...? Não custa tentar.
Consigo abrir a porta, que estava destrancada, e a primeira
coisa que vejo é um telefone fixo branco em cima da mesa do
luxuoso escritório. O piso de madeira brilha, de tão limpo, e o
perfume do ambiente exala um cheiro amadeirado que faz com que
meu nariz arda, de tão forte que é. Ao lado do telefone há uns
charutos com as iniciais M. L. Nunca nem ouvi falar dessa marca. Ou
será que já? Pelo menos não de charutos, e sim de jóias.
O telefone fixo daqui também está sem conexão alguma.
Droga! E agora? O que irei fazer?
— Não é possível! Que droga! — Me assusto comigo mesma,
já que nunca havia falado nenhum palavrão de baixo calão em toda a
minha vida. Minha mãe não permite. — Eu preciso sair daqui.
— Nem por cima do meu cadáver isso irá acontecer, senhora
Lansky.
Meus olhos fitam o homem alto de terno preto, lábios
vermelhos e olhos azuis. A personificação perfeita da palavra
“beleza” se enquadra nesse cara forte e másculo. É o mesmo que
me abordou quando eu estava voltando da Faculdade.
Meu corpo entra em alerta com sua presença. Não sei nada
sobre ele, apenas que é o responsável por eu estar aqui nesse
momento. O homem mantém um olhar gélido sobre mim e sua pele
pálida combina perfeitamente com seus olhos claros. Seu olhar é
capaz de me causar medo.
Nunca temi ninguém em toda a minha vida, como temo ele.
Devolvo o telefone para o gancho e o cara nem ao menos
pisca, como se tudo em mim chamasse sua atenção. Seu olhar
penetrante me faz sentir completamente exposta. É como se ele
conseguisse ver todo o meu corpo nu, mesmo estando coberto pela
camisola. Lembro-me que o decote dela é bem visível, rapidamente
me cubro com as duas mãos, fazendo uma barreira. O sorriso de
lado em seu rosto é incrivelmente sexy.
— Acha mesmo que isso vai me impedir de fazer alguma coisa?
— Ergue uma das sobrancelhas.
O homem falou como se fosse capaz de me forçar a fazer algo.
Certamente acha que possui esse poder só porque está em seu
país, possivelmente em uma propriedade em seu nome. Pelas
roupas que veste, é possível notar de longe que ele não é uma
pessoa como eu: pobre. Tudo nele grita: “Dinheiro”.
— Você fala como se fosse um doente.
Nunca fui de esconder meus pensamentos. Sempre fui uma
menina sincera, e se algo me incomoda, falo imediatamente.
— Tem a língua bastante afiada. Não será nada bom para você
continuar assim. — seu tom é ameaçador.
Sua voz rouca tem um sotaque português muito diferente do
meu. Logo noto que ele não é brasileiro, como eu. Deve ser
americano, já que estamos na América do Norte.
O homem me olha como se eu fosse um pedaço de carne.
Um maníaco.
Meu corpo treme só de pensar nessa possibilidade. Tento não
demonstrar isso, mas como disse, sou péssima em esconder as
coisas.
— O que estou fazendo aqui? Por que me trouxe para outro
país?
— Nota-se que é muito inteligente. Não é à toa que estava
cursando Direito.
— Por que nunca responde as minhas perguntas?
— Por que sempre está fazendo perguntas?
Isso foi o estopim para acabar com toda a minha calma. Esse
homem está pensando o quê? Que é algum rei? Um presidente?
Alguém que merece respeito? O cara pode até ser rico, mas isso
não lhe dá o direito de me trazer à força para outro país. Isso é
crime, e segundo a constituição brasileira, ele pegaria de quatro a
dez anos de cadeia, e por me manter em cárcere privado, de cinco a
oito anos. Um bom tempo para aprender que não é o dono do
mundo.
— Tudo bem se não quiser me responder, mas fique sabendo
que eu vou te denunciar para as autoridades. A embaixada brasileira
irá tomar todas as medidas cabíveis para que você pague pelos seus
crimes. — Ele me observava tranquilamente. Nada o abala? — Não
vou ficar mais nenhum segundo aqui e você não tem o direito de me
manter presa. Por isso, se tentar fazer alguma coisa contra mim, juro
que vai pagar caro por isso!
Ele continua firme, me observando de maneira eficiente. Isso
me irrita tanto!
Caminho em direção à saída, temerosa, e o que eu temia,
acontece: o homem me segura pelo braço direito com muita força,
me fazendo parar de andar, bruscamente. Sua mão é grande o
suficiente para me fazer querer chorar de dor. Prendo as lágrimas
que se formaram.
— Você não vai a lugar algum, Elisa.
Como sabe meu nome?
Assustada, encaro seus lindos olhos azuis sombrios. Ele parece
ser a própria morte, um enviado do demônio para me destruir.
O homem me faz ficar de frente para o seu corpo musculoso,
forte, e meu queixo bate abaixo de seu ombro. Ele é muito alto, e eu
com meu um metro e sessenta pareço uma anã diante dele, que
aparenta ter quase dois metros de altura.
— Como você sabe o meu nome?
— Eu sei tudo sobre você, morena.
Parece ser muito possessivo.
— O meu braço... Por favor!
— Você não vai sair desse apartamento, nunca. A partir de
agora, será minha mulher e fará de tudo para me agradar e me
obedecer fielmente. Se houver desobediência, haverá
consequências: punições severas. Por isso, sugiro que seja uma boa
garota, que esteja disposta a colaborar comigo. Caso seja uma boa
esposa, terá seus privilégios: uma vida confortável e regalias de
princesa.
O que esse homem disse é uma loucura. Não pode me tomar
como sua mulher. Não dessa maneira. Não sou nenhuma prostituta
de luxo para que ele me possua em troca de dinheiro e de uma vida
confortável. Não tem o direito de fazer isso comigo.
— Só pode ser um daqueles psicopatas. Não vou ser sua
mulher. — Me solto dele. — Prefiro morrer do que ter que passar
uma noite com você. Quem pensa que sou, para querer me tomar
como uma vadia?
— Você... — Me puxa pelos cabelos e me prende em seu
corpo forte. O impacto foi tão grande, que me machucou. — É muito
abusada, garota. Eu sabia que seria assim no início. Por isso quero
que veja uma coisa. — Me solta, fazendo com que eu tenha acesso
à saída.
A porta está aberta e eu posso correr nesse momento. Estou
prestes a fazer isso, quando ouço uma voz vindo atrás de mim. É a
minha mãe. Fico congelada, sem mover um músculo sequer,
paralisada.
— Tem certeza de que não quer ver como sua mãe está,
morena?
Olho para trás e vejo um grande telão que não estava ali antes.
Ele, certamente, deve ter apertado algum botão e esse negócio
apareceu de repente. A imagem mostrada é a da minha mãe
sentada no velho sofá da nossa pequena casinha, chorando enquanto
um homem de, aparentemente, uns quarenta e poucos anos está
conversando com ela.
Ele implantou uma câmera lá? O quão perigoso esse homem
é? É mesmo capaz de fazer mal à minha mãe? Meu Deus! Ela está
correndo perigo.
— Hoje faz dois dias que minha filha não me dá notícias. Elisa
não é como essas garotas que saem de casa sem avisar. A minha
filha está correndo perigo e a polícia parece não querer fazer nada
para encontrá-la.
Minha mãe está usando uma calça jeans rasgada e uma blusa
branca, surrada, que eu lhe dei de aniversário há dois anos e se
tornou a sua favorita.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo a dor no
semblante da minha rainha. Seus olhos estão vermelhos de tanto
chorar.
— Calma, senhora! Sou um delegado de polícia e estou aqui
para lhe ajudar.
O homem me encara com muita satisfação no olhar. Ele sabe
que aquele é o meu ponto fraco.
— Carlos é o meu homem de confiança. Ele se infiltrou na
polícia com o objetivo de atrapalhar as buscas por você. Vê como
sua mãe está preocupada?
— Você é um monstro! Não vê que ela está sofrendo?
— Ela pode sofrer ainda mais. Isso vai depender de você.
— Não faça mal a ela! Eu te imploro.
Ele sorri satisfeito.
— Carlos! — fala em um pequeno ponto que tem em uma das
suas mãos. — Toque no ombro da senhora Santiago!
Volto a olhar a imagem na televisão e o homem faz exatamente
o que lhe foi pedido. Isso é monstruoso.
— Eu faço o que o senhor quiser. Só não machuque a minha
mãe!
Não consigo controlar as lágrimas, que escorrem pelo meu
rosto.
— Boa menina!
Morena, não há necessidade de chorar. Não sou tão cruel
quanto você deve estar pensando. Está colaborando comigo, e como
avisei, serei legal com você se resolver ficar do meu lado, sendo a
minha mulher.
— Por que eu? — pergunto cabisbaixa, chorando.
Uma mão sua toca no meu queixo, erguendo meu rosto. Seus
olhos azuis estão repletos de luxúria.
— Por que tinha que ser você. — Solta meu queixo. — Quero
que volte para o nosso quarto! — Arregalo meus olhos. — Isso
mesmo. Nosso quarto. Será nosso a partir de hoje. Irei buscar os
papéis que faltam, para que você os assine, e assim que fizer isso,
será minha esposa e poderemos finalmente consumar a nossa união.
Ele é um doente, um homem sem coração, capaz de usar
minha mãe para me obrigar a casar. Por que isso está acontecendo
justamente comigo? O que ele viu em mim, que as demais mulheres
dessa cidade não têm? Essa história de casamento é uma grande
loucura.
— Seja bem-vinda à sua nova vida, princesa, ao lado do seu
futuro marido, Matthew Lansky!
CAPÍTULO 2
MATTHEW LANSKY

Poder sempre foi o meu ponto mais forte. Sou um homem


respeitado por todos, até mesmo pelos meus inimigos, que
passaram a me temer após eu ter conseguido derrubar a distância
que controlava a máfia jamaicana por quase nove décadas. Não
perdoo traições em nosso mundo. Já fui traído pelo filhinho mimado
do Corréu e isso acabou na invadida à base de controle deles,
resultando na morte do líder na época, um inconsequente que estava
se expondo demais perante a sociedade comum e se envolvendo em
conflitos públicos. Os demais líderes das máfias russas e italianas
passaram a nos apoiar depois disso.
Hoje sou considerado o mais poderoso entre todos, o orgulho
da família Lansky, o que finalmente está escrevendo seu nome entre
os grandes. Meu pai foi um grande líder, até que foi derrotado por
um ataque há dez anos, deixando toda sua fortuna e poder para
mim, que sou seu filho mais velho.
Minha mãe sempre se dedicou a mim de uma maneira intensa,
ao ponto de causar incômodo à minha irmã. Como se ela nunca
tivesse sido mimada também! Culpa sua ou não, fui acostumado a
ter tudo nessa vida e todos os meus desejos sempre foram
atendidos. Sendo assim, nunca passei vontade com nada, seja algo
material ou físico.
Preciso acertar umas contas com o Tito, atual dono do morro
do alemão, no Rio de Janeiro. Meus negócios se estenderam pelos
países da América do Sul e consegui implantar carregamentos de
armas que passam pelas fronteiras brasileiras em direção à Guiana
Francesa. Não há um só lugar que eu não tenha dominado. Ninguém
pode comigo. Tenho chefes de estado nas minhas mãos, e o
governador do Rio de Janeiro, o Marcos Valério, é um deles.
Mantemos um acordo milionário que beneficia ambas as partes.
Estou no Rio há dois dias. É uma cidade quente que só me faz
querer voltar para casa o mais rápido possível. A única coisa que me
agrada aqui são as belas mulheres que desfilam na Orla de
Ipanema, com suas belas curvas que me atraem tanto, que me faz
querer um ménage.
Carlos me providenciou cinco belas mulheres para essa noite,
acompanhantes de luxo, para a minha pequena festa particular. Mas
antes preciso encontrar o Tito. Marcamos de nos ver na Orla de
Ipanema, próximo ao hotel onde estou hospedado. Quero relatórios
sobre meu carregamento de armas, que devia ter passado pela
cidade há quinze dias. Um caminhão com rastreamento via satélite
não desaparece do dia para a noite, então alguma coisa aconteceu
para colaborar com esse incidente.
— Senhor, temos algumas pistas de que tenha sido um roubo.
Os suspeitos são mafiosos de uma máfia argentina. Não se
preocupe! Iremos dar um jeito
— Espero que sim. Sabe, Tito? Não estou afim de sujar minhas
mãos com você, pois seria muita falta de consideração por tudo o
que já fez por mim.
Ironia sempre foi meu forte. Ele engole em seco.
— Senhor, antes mesmo de você voltar para Nova York, iremos
rastrear os infelizes e aplicar as devidas punições.
— Ótimo.
Encerramos nosso assunto.
Preciso relaxar, encontrar prazer no sexo, sentir garotas
agonizarem de dor. Sempre gostei da maneira que elas suplicam
para que eu pare: “Não me machuca!”, “O senhor é um monstro!”. A
voz irritante das mulheres me faz querer acabar com a vida delas
antes mesmo de terminar o sexo.
Primeiramente, tenho um encontro ao meio-dia com o
governador. Aquele sim está com os dias contados se não conseguir
o apoio do presidente para os nossos negócios. Já está há três anos
no poder, graças ao dinheiro que investi nele. Passou da hora dele
me dar retorno em alguma coisa.
Por sorte, minha pistola está devidamente carregada, pronta
para matá-lo, caso tudo não saia da maneira que eu desejo.
Meu motorista dirige pelas ruas movimentadas da cidade de
Deus, que está mais para a “cidade dos ladrões”. A criminalidade
cresce cada vez mais e os desgraçados dos políticos nada fazem. O
que é bom para pessoas como eu, que estão envolvidas no mundo
do crime.
Em meu celular leio algumas mensagens de Whatsapp,
totalmente entediado, quando de repente algo me faz querer olhar
para a frente: uma bela morena que me faz paralisar diante de sua
beleza. Seus cabelos são crespos e ela está usando uma linda saia
jeans na altura do joelho e uma blusa regata com um casaco jeans.
Possui uma cintura perfeita e sua pele morena tem um tom único,
jamais visto por mim antes em toda a minha vida.
Essa garota é a perfeição em mulher.
— Diminua a velocidade! — ordeno ao motorista.
Posso notar que ela está distraída, segurando uma mochila nas
costas e alguns livros nas suas mãos delicadas. Suas pernas são
incrivelmente torneadas e meu pau desperta no momento em que a
vejo. Não consigo controlar meus desejos por aquela morena.
Parece um exagero eu afirmar que me encontro totalmente
obcecado por ela, mas não consigo ao menos piscar. A garota
despertou em mim um sentimento jamais experimentado antes por
mim, como se fosse amor à primeira vista. Mas no meu caso, nunca
amo, apenas transo.
Aquela morena será minha.
Ordeno para que o motorista dê o retorno. Descobrirei onde
aquela morena mora. A seguimos sem que ela perceba alguma coisa
e a vejo entrando no morro do alemão. Mas que grande coincidência!
Isso só facilitará ainda mais as coisas para mim.
Cancelo meu encontro com o governador. Ele que se dane!
Preciso saber tudo sobre aquela morena. Assim, telefono para o
Tito, pedindo uma ficha completa sobre a tal garota.
Em menos de uma hora estou sentado em uma poltrona de
couro super confortável, tragando um dos meus charutos mais
famosos. Investimos em todos os ramos: bebidas, cigarros, roupas,
construções e, principalmente, joias.
Beberico um gole do meu famoso whisky.
O relatório sobre minha morena está sobre a mesa de vidro do
meu escritório. Analiso aquelas preciosas informações atentamente.
“Nome: Elisa Santiago.
Data de nascimento: 28.06.1999.
Idade: 21 anos.
Filiação: Débora Santiago.
Estudo médio completo.
Atualmente cursa Direito na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (há 4 anos).
Tipo sanguíneo: O
Estado civil: solteira.”
— Elisa. — saboreio seu nome como se estivesse tendo um
delicioso orgasmo.
Minha futura esposa será uma advogada. Interessante! Uma
mulher que conhece as leis, precisará ser domada da maneira mais
severa que existe, pois, caso contrário, me dará muita dor de
cabeça.
Posso estar exagerando quando digo que quero me casar com
ela, mas um casamento no momento irá me beneficiar muito, já que
preciso de herdeiros, mesmo que eles não sejam brancos, assim
como eu. Não me importo com a cor da pele, diferentemente da
minha mãe e irmã, que pensam que as pessoas negras devem ser
escravas e nada mais.
Quem escolherá minha esposa será eu, e Elisa Santiago é a
negra mais perfeita que existe em toda a face da terra. É delicada,
sexy e incrivelmente atraente.
Preciso aliviar minha tensão sexual em alguma coisa: sexo.

(...)

As cinco acompanhantes de luxo são muito bonitas. Eram. Eu


matei todas após foder duro e forte com elas. Suas belezas eram
artificiais, com silicones exagerados nos seios e no bumbum. Nem a
cor dos olhos eram naturais e algumas usavam lentes de contato.
A morena foi que a que mais me agradou, mas ainda assim
mereceu morrer. Os cabelos dela não eram tão perfeitos quanto os
da minha doce Elisa. Aposto que ela ainda é virgem e posso afirmar
que é intocada. Seus traços angelicais são tão perfeitos, que eu não
poderia desejar uma mulher mais bonita. Beleza não me faltará.
Talvez uma pequena ferinha esteja prestes a cair nas minhas mãos.
Consigo imaginar a surpresa de todos ao me verem casado
com uma negra. Irão pensar que enlouqueci. A começar pela minha
mãe, pois segundo ela, devo me casar com alguma filha de um
mafioso importante. O que não é necessário, já que todos estão nas
minhas mãos.

(...)
Billie, minha assessora pessoal, se encarrega de todos os
detalhes para o meu casamento acontecer assim que
desembarcamos em Nova York. Agora só falta colocar meu plano em
ação.
Nunca imaginei que passaria a noite em claro pensando em
como raptar aquela garota, mas minhas olheiras valeram a pena,
pois tenho o plano perfeito para enfim conseguir tomar o que é meu.
Elisa se tornou minha propriedade a partir do primeiro momento
em que meus olhos encontraram os seus. Ela não sabe que seu
destino está traçado, que em breve será minha esposa, a futura
senhora Lansky e, quem sabe, a dona do meu coração. Creio que
não levará muito tempo para isso se concretizar.
Aqui estou, em frente ao espelho, me preocupando com o
perfume que devo usar para ir ao encontro da minha morena. Algo
amadeirado sempre é uma ótima escolha, já que todas as mulheres
se derretem por esse aroma. Vesti meu sobretudo preto e estou
usando óculos escuros para não demonstrar minhas olheiras
resultadas da noite em claro pensando em como sequestrar a Elisa.
O plano será usar a dona Débora como meu ponto forte, minha
arma principal. A ligação das duas é forte de tal maneira, que a
morena será capaz de fazer qualquer coisa para que eu não
machuque sua mãe.
Já estou preparado para que ela se negue a mim, pois ninguém
fica satisfeito por perder sua liberdade, e isso gera revolta, mas com
a vida da Débora em risco, conseguirei qualquer coisa da minha
princesa.
CAPÍTULO 3
ELISA SANTIAGO

Sempre carreguei na pele a dor do preconceito e da


discriminação racial, portanto, jamais imaginei que alguém me
sequestraria e me prenderia em outro país.
Matthew me parece ser um homem sério, um verdadeiro
psicopata, capaz de cometer uma grande loucura e acabar com a
vida da minha mãe se eu não me submeter a todos os seus desejos.
Essa situação está me fazendo perder o controle das minhas
emoções e a todo instante imagino aquele sujeito entrando pela
porta. Ele deixou bem claro quais são suas intenções comigo: me
levar para a cama. Mantém desejos de um tarado, de uma pessoa
completamente fora de seus juízos mentais. Um devasso
inteiramente pervertido, um possível serial killer pronto para me
matar a qualquer momento após me usar de todas as formas
possíveis.
Matthew é alguém perigoso, e disso não tenho dúvida. Nenhum
cidadão de bem mantém uma pessoa em cárcere privado, muito
menos ameaça a mãe da pessoa por sexo. Seu mundo se resume a
isso? É assim que ele pretende ganhar a minha atenção? Me
causando medo? Sentimento de raiva e ódio não levam ao amor,
apenas ao desejo de destruir a pessoa.
O homem violou mais de dez leis: sequestro, cárcere privado,
ameaça a uma pessoa, infiltração de alguém na delegacia, incitação
de desejos maliciosos, obrigar alguém a ficar em outro país e a
assinar algo que não deseja. Possivelmente, vai também tentar me
violentar, e ainda corro o risco de ser espancada, atacada
verbalmente e fisicamente.
Preciso encontrar alguma saída, uma forma de conseguir fugir
desse apartamento. Não irei me entregar facilmente aos seus
desejos insanos. Esse americano pode até se achar o dono do
mundo, mas não é o meu e nunca será. Ele vai conhecer toda a
minha ira. Sou uma mulher negra, forte, determinada e jamais me
abalo. Não serei diferente com esse homem e irei prevalecer acima
de todos os seus caprichos.
No momento, minha única preocupação é a minha mãe. Pude
ver a dor em seu olhar ao falar de mim. Ela sempre me protegeu do
mundo, das pessoas, e agora deve estar arrasada pensando que
estou morta ou que me encontro nas piores situações possíveis,
chorando por mim, sem nem imaginar tudo o que eu estou passando.
Tudo o que mais quero é poder abraçá-la novamente e lhe dizer
que está tudo bem. Não suporto vê-la sofrer.
Começo a chorar, imaginando toda sua dor. A única pessoa
nesse mundo que não aguento ver sofrendo é a minha mãezinha.
Abraço meu corpo quase que desinibido nessa camisola de seda,
com rendas, não muito apropriada para ser vista por um estranho.
Temo que ele possa tentar algo contra mim. Um serial killer que quer
domar as suas vítimas.
Meus olhos vão de encontro à sua presença máscula, que
acabou de adentrar o ambiente. Tão rápido? Pensei que ele fosse
demorar mais para vir ao meu encontro. Continuo sentada sem
mover um músculo sequer. Em meu corpo passa uma grande
corrente elétrica, varrendo de mim toda a coragem que algum dia já
tive. Vários pontos me dizem que a melhor opção é tentar não o
aborrecer, mas algo dentro de mim grita para que eu tente, de
alguma maneira, fugir dele e atirar algo contra sua cabeça ao ponto
de fazê-lo desmaiar.
Seus olhos sombrios me fitavam intensamente e sinto que ele
me despediu apenas com seus pensamentos perversos neste
momento. O homem à minha frente é uma verdadeira incógnita. Mais
um ponto negativo para mim.
Nunca tinha ouvido falar em Matthew Lansky. Suas origens
americanas estão descritas em seus traços, mas algo nele me faz
lembrar do porte alemão. A cor dos cabelos, talvez, me faça
imaginar que ele possa ter alguma descendência alemã. Não que sua
vida privada ou ele me importe. Pelo contrário. A única coisa que
sinto é medo.
— Trouxe os documentos para que você assine. — Me mostra
alguns papéis que estão em suas mãos.
Sua postura ereta e olhar sério causam arrepios por todo meu
corpo.
— Sobre o que são esses papéis? — tento ganhar tempo para
poder pensar em algo que me livre de assiná-los.
— Nossa união. Uma assinatura e estaremos casados
oficialmente, para todo o sempre.
O cara não pode estar falando sério. Não nos conhecemos e
ele está me propondo um casamento? Em que mundo vive? Não tem
o direito de me tomar como sua. Vivemos em uma sociedade
moderna.
Continuo imóvel em meu lugar e lágrimas rolam pelo meu rosto.
Nunca senti tanto medo como agora e não entendo o porquê de ele
estar fazendo isso comigo, usando a minha mãe para ter tudo de
mim. É um jogo muito baixo. Ele me parece ser dominador, um
homem frio e prepotente, capaz de passar por cima de tudo e todos
para alcançar seus objetivos. Se aprendi algo nessa vida é que as
pessoas com essas características são as mais perigosas que
existem.
O homem de estatura alta e corpo másculo caminha em minha
direção, muito tranquilo, como se nada nunca o abalasse. Friamente,
ele me faz ficar em pé e me guia até uma parte alta da cômoda,
onde deposita os papéis. Do seu paletó, tira e me entrega uma
caneta muito sofisticada.
Qual é sua real intenção com tudo isso? Simplesmente casar e
ser feliz? Obviamente esses não são os seus objetivos. Um
psicopata não se casaria comigo para em seguida me matar. Ele tem
planos em relação a tudo isso. Quais são?
Seguro a caneta em minhas mãos trêmulas, demonstrando
todas as minhas emoções, mas meu rosto banhado em lágrimas não
o comove. Que tipo de homem é capaz de não se importar com a
dor do próximo?
— Assine! — ordena. — Não tente me enganar, bela morena!
Você não tem outra saída, a não ser assinar de uma vez esse papel.
— Por favor! — tento mais uma vez.
— Não me faça perder a paciência!
Sinto que ela já está por um fio.
— Por...
— Assine agora esse papel, pelo bem-estar da sua mãe! —
Rosna, alto, me puxa por um braço fortemente até uma cadeira e me
joga com força contra a mesma.
Senti meu quadril estalar com o impacto. Ele não está para
brincadeiras.
Sem saída, sou obrigada a assinar aqueles papéis em inglês,
não prestando atenção em nada que estão neles.
Não pensei duas vezes, pois pela minha mãe eu daria a minha
vida.
Ele segura os papéis, satisfeito, e um sorriso largo forma-se
em seu rosto. Em seguida abre a porta do quarto. É quando o ouço
falando algo com alguém que o espera lá fora.
Minhas pernas trêmulas me fazem sentar no chão e eu abraço
meu próprio corpo enquanto um filme se passa na minha cabeça. A
agonia em meu peito me faz sangrar por dentro, minhas pupilas
estão dilatadas de uma maneira diferente e a sensação de ódio se
torna cada vez maior. Ele não tinha o direito de me obrigar a nada.
Sinto suas mãos grandes e firmes me puxarem para junto de si
e meu corpo pequeno bate contra um paredão de músculos. Seus
olhos predadores parecem querer me devorar.
— Não se assuste, princesa! — Toca meu rosto.
— O que o senhor quer de mim?
— Exatamente tudo. A começar pelo seu corpo. Quero tua
pureza para mim, docinho.
Estremeço com sua afirmação. Pode ser algo normal se
entregar a um homem bonito em uma noitada de balada, mas para
mim não. Eu não sou como as demais garotas da minha idade, pois
não estou acostumada a sair para festas, nem a beijar na boca. Será
que ele sabe que sou virgem? Por incrível que pareça, eu sou.
Preferia ficar em casa e estudar, em vez de beijar os garotos
nas esquinas do morro. Atualmente, com 21 anos, nunca beijei
nenhum menino, e virgindade para mim é um tabu. Não pensava em
nada além da minha formatura, e sexo viria com o tempo, não da
maneira que esse psicopata está querendo.
Ele me assustou ainda mais ao afirmar que terá minha pureza e
parece ler meus pensamentos nesse momento. Isso é algo que eu
nunca imaginei passar em toda a minha vida.
— Não precisa me obrigar a ter sexo. Sei que muitas mulheres
desejam manter relações sexuais com o senhor, portanto, te peço
para que me deixe voltar para casa.
Matthew abre um lindo sorriso. Seus olhos claros são de uma
cor intensa e de um brilho incrivelmente lindo, impactante. Ele me
olha como se tudo em mim chamasse sua atenção.
— Linda Elisa! Tem razão. Posso ter todas as mulheres que eu
quiser à minha disposição, mas você é a única que desejo nesse
momento. Acredite em mim quando digo que eu tentei lutar contra
isso.
— Garanto que o senhor não vai gostar do que vai ver em
seguida.
— Não me faça rir do seu comentário, minha doce Elisa.
Garanto que a última coisa que irá acontecer é um arrependimento
da minha parte. Sabe o que aquele papel significa?
— Não.
— Somos marido e mulher. Você agora me pertence, minha
menina. Para sempre.
Começo a chorar novamente, mas seu olhar duro em nada
muda.
— Você não tem esse direito! Nunca serei sua! Prefiro que me
mate agora mesmo!
— A escolha é sua, anjo. Você pode ser uma boa menina e
obedecer fielmente ou sofrer as consequências, juntamente com sua
mãe.
— O que você está fazendo comigo é monstruoso. O senhor
fala como se não soubesse a importância de ter uma mãe presente,
e se não teve, não é culpa minha. Eu só estava tentando voltar da
Faculdade, mas você apareceu na minha vida, me sequestrou e me
impôs uma série de coisas indecentes e ilegais. Não serei sua.
— Nem mesmo pela sua mãe?
— Seu desgraçado! — Tento atingir seu rosto com o intuito de
lhe machucar, pois a raiva em mim é muita.
— Você fez uma escolha, anjo. Agora aguente as
consequências! — Me puxa para seus braços e me prende contra a
parede.
Não desvio meus olhos dos seus em momento algum.
Ele sente o perfume de meus cabelos e olha para meus cachos
como se estivesse vendo uma preciosidade. Com uma mão
pressiona minha cintura, apertando-a com muita intensidade.
— Eu deixo você escolher, meu bem. Por isso, espero que
tome a decisão correta. Posso agir como um animal bruto,
devorando sua carne e saboreando seu tempero, sem sentir remorso
em lhe causar dor, que não será uma simples, minha bonequinha, e
sim uma terrível. Sei que é virgem, portanto, imagino que irá escolher
as coisas do jeito mais simples para nós dois. — Seus olhos azuis
me encaravam de um jeito intenso, assustador. Como ele pode saber
da minha virgindade? — Não sei fazer amor, princesa, mas posso
ser cuidadoso com você. Apenas hoje. Então... O que me diz?
— Eu prefiro que você me mate! — grito contra sua face,
fazendo um barulho estrondoso.
Não posso ficar em silêncio e aceitar facilmente sua posse
sobre mim, colaborando para que seus desejos insanos sejam
realizados.
Em seguida sinto sua mão estalar contra meu rosto.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Ninguém nunca havia me
agredido assim, nem mesmo quando eu era uma criança.
— Do jeito difícil, anjo? — Coloca sua testa na minha, me
penetrando com seus olhos sombrios.
— Sim, do jeito difícil. — falo firme e decidida.
Se eu for morrer, morrerei com honra.
— Adoro as coisas do jeito difícil. — Sua risada diabólica
estronda por todo ambiente.
Ele praticamente rasga toda a parte de cima da minha camisola
de seda, me deixando totalmente exposta. Meus seios ficam à
mostra e eu tento cobri-los rapidamente, mas logo a força brutal de
suas mãos me impede de me proteger. Seus olhos estão cheios de
desejo e uma luxúria eminente me faz querer recuar, mas atrás de
mim só há a parede.
— Que comecem os jogos, my baby! — ele diz.
CAPÍTULO 4
ELISA SANTIAGO

O homem me faz deitar na enorme cama king size coberta por


uma colcha grossa da cor branca. Eu debato na tentativa de
conseguir tirá-lo de cima de mim, mas ele é incrivelmente forte,
mesmo não sendo tão bombado como muitos homens que já vi. Ao
me olhar com seus belos olhos azuis de uma maneira intensa, sinto
que Matthew consegue enxergar além da minha alma e ver o meu
medo.
Minhas lágrimas quentes inundam meu rosto. Não posso negar
que estou em um estado de pânico. Nunca imaginei que seria
violentada, e nenhuma mulher merece passar por isso. Já ouvi muitas
histórias diante dos tribunais, em audiências que eu comparecia
como parte do meu estágio antes da formatura, e foram horríveis as
sensações descritas pelas vítimas, as piores possíveis.
Percebo que não adianta lutar e paro de me debater no
instante em que me sinto que vencida. Não tenho como bater de
frente com sua força.
Vendo isso, ele para de me segurar forte e suas mãos, que
antes estavam me machucando, agora estão tocando o meu rosto. É
uma sensação estranha ter todo aquele toque sobre mim. Procuro
não desviar meus olhos dos seus e algo nele me faz ficar presa
naquelas órbitas azuis, como se uma força me atraísse para elas.
Matthew coloca seus lábios nos meus, de início me deixando
sem saber o que fazer. Como já disse, nunca beijei antes, porém,
uma única vez, um garoto me roubou um selinho, na quarta série.
Mas acho que não posso considerar isso como um beijo.
Fico sem reação, sem saber como reagir. Seus lábios usam
força para penetrarem os meus e acabo me deixando levar por um
ritmo frenético que ele me proporciona. Por Deus! O que estou
fazendo? Me entregando a um homem que me sequestrou? Estou
louca.
— O que faço com você, Elisa?
— Por favor! Não me machuca! — peço amedrontada.
— Isso quem decide é você. Podemos começar novamente. A
escolha é sua, benzinho.
Dessa vez Matthew parece incontrolável. Antes parecia testar
alguma coisa, como se quisesse ter certeza de que meu beijo seria
realmente bom, como se estivesse degustando um novo prato
saboroso. Agora age como um bruto, mas sem me machucar.
Seu fogo me queima inteiramente e sinto quando o homem
praticamente arranca minha camisola, me deixando apenas de
calcinha. Fico horrorizada e minha primeira atitude é tentar cobrir
meus seios com um dos meus braços, mas ele é mais rápido do que
eu e me impede de fazer tal coisa. Seus olhos me devoram com
muita luxúria, brilhando como se estivessem vendo um diamante à
sua frente.
— Exatamente como imaginei — Me contempla.
Suas mãos começam a explorar parte do meu corpo desnudo e
minha cintura é apertada com bastante força. Isso me faz gritar em
um tom mediano, mas ele continua, agora passando a ponta do nariz
em torno do meu pescoço, me fazendo sentir um arrepio e... Não sei
explicar que tipo de formigamento é esse. Nunca experimentei algo
assim antes. É tão inusitado e ao mesmo tempo tão bom, intenso e
maravilhoso.
Matthew desce seus lábios até meus seios e sinto seu ar
quente rodeá-los completamente. Que sensação é essa? Não posso
mais conter meus gemidos quando ele começa a sugá-los com muito
vigor. Tento lutar contra isso e não sentir nada, mas essa sensação é
tão maravilhosa, que não está em mim escolher sentir ou não.
Noto minha vagina totalmente lubrificada, e quando ele a
penetra um dedo, quase dou um pulo com tamanho choque. Em qual
momento esse cara se livrou da minha calcinha? Eu estava tão
concentrada naquela sensação intensa, que não me permiti pensar
em mais nada além dela.
Nunca senti curiosidade em me masturbar, e por isso fico muito
extasiada diante de todo o prazer que está me consumindo.
Matthew introduz mais um dedo na minha intimidade. Seus
dedos são ágeis e muito hábeis. Ele sabe exatamente o que está
fazendo e como fazer.
Percebo aquela sensação explodir dentro de mim, me
consumindo por inteira, me fazendo fechar os olhos e senti-la
intensamente, me permitindo relaxar.
Ouço o som da minha respiração ofegante quando seus lábios
me preenchem com um beijo quente e sagaz. Pensei que estaria sem
desejos por ele, mas pelo contrário, meu corpo reage ainda mais
calorosamente. Quero ter mais sensações como essa.
De repente Matthew para de me beijar e sai de cima de mim.
Fico completamente desnorteada, sem entender sua atitude, e chego
a pensar que ele não quer mais continuar. Começo até a torcer para
isso acontecer. Então vejo que me enganei quando ele tira sua
roupa, começando pela camiseta de gola branca, dobrada até os
cotovelos, que realçam seus braços fortes. Em seguida, tira a calça,
ficando apenas de cueca boxer branca. Noto todo seu volume
potente abaixo do tecido e quase não acredito no que estou vendo. É
realmente desse tamanho? Será que isso vai caber dentro de mim?
— Não se preocupe, benzinho! Irá caber. — responde minha
dúvida, me fazendo corar. Ele leu meus pensamentos e isso foi
aterrorizante.
Sinto vontade de correr quando constato que todo o seu volume
é ainda maior do que pensei. Me encolho na cama, procurando fitar o
teto. Sei que aquela potência irá me machucar, e muito.
Noto o peso do loiro novamente em cima de mim e ele abre
minhas pernas de uma maneira vulgar, me observando em cada
detalhe, me deixando muito constrangida. Logo encaixou seu
membro na minha entrada e voltou a me beijar. Minhas mãos estão
sobre seus ombros, apertando-os com muita intensidade, como se
isso fosse aliviar toda a sensação dolorosa que se inicia. Então
começo a sentir uma dor muito aguda me invadir.
Respiro fundo, tentando pensar somente no beijo, que eu diria
que é envolvente e apaixonante, e uma chama acende-se novamente
dentro de mim. O ardor já não me incomoda e eu sinto novamente
todo o fogo que agora a pouco sentia. Sua barba rala pelo meu
corpo, me causando arrepios que vão até a espinha.
Suas estocadas, que antes eram delicadas e cautelosas, se
tornam cada vez mais intensas, duras e firmes. Oh! Gemo
loucamente com toda a pressão que se faz dentro de mim. Por
alguns instantes tenho vontade de subir pelas paredes e já não sei
mais dizer em qual ponto sinto mais prazer, pois todo o meu corpo
incendeia de desejo.
— Isso, morena! Olhe para mim! — ordena.
Um pequeno filme passa pela minha cabeça. Que olhos são
esses? Que corpo é esse? Me sinto completamente entregue.
Matthew me faz ficar em outras posições: de lado, de costas,
em pé, meia lua e de quatro. Ele me explica como um professor que
leciona uma aula para os seus alunos, e nesse momento só quero
experimentar mais sensações como essas. É como se o mundo
estivesse parado de girar para mim.
Seus beijos me envolvem deliciosamente de um modo sacana e
sinto todo o peso da sua experiência após perder as contas de
quantos orgasmos tive.
Depois de duas horas, percebo seu corpo sair de cima de mim.
Minha respiração ofegante me faz desligar do transe em que eu
estava há instantes.
O vejo ir em direção a uma porta, que me faz pensar ser o
banheiro, e tento aproveitar esse período para levantar da cama e
vestir o que sobrou da minha roupa íntima, já que ele rasgou
completamente a peça. Procuro algo para me cobrir e sua camisa se
encaixa perfeitamente em meu corpo, como se fosse um vestido.
Tento me acalmar, pensando em um modo de sair daqui, então
corro até a porta do quarto. Constatando que está trancada, vou até
a sacada e vejo que o lugar é alto demais para eu pular. A queda me
mataria, e não quero morrer. Não por causa de um louco que há
minutos estava me proporcionando uma série de orgasmos. Me
envergonho por isso, por ter agido como uma vagabunda qualquer.
Agora o cara deve estar pensando que sou mais uma daquelas
mulheres vulgares que ele tem ao seu bel prazer.
O lençol branco que cobre a cama está marcado pelo sinal da
minha pureza: uma pequena mancha de sangue. Movida pelo
impulso, pego o mesmo e o jogo a janela baixo. Nunca me senti tão
nervosa como agora.
Estou casada com um homem maluco que a qualquer momento
pode se cansar de mim e me matar.
Apoio minhas mãos sobre a barra da varanda e começo a
contar mentalmente até dez.
Um... Dois... Três... Quatro... Cinco...
— O que está fazendo?
Me viro bruscamente na sua direção e vejo seus olhos azuis me
encararem com muita atenção.
— Não estava pensando em se jogar, né?
Não penso duas vezes antes de sair correndo de perto dele.
Quando passo pelo quarto, vejo seu celular sobre a cabeceira da
cama, pego o mesmo e corro em direção ao banheiro. Estou prestes
a fechar a porta, quando ele me impede, usando toda sua força e me
puxando por um braço. Me debato como uma louca numa tentativa
de sair do seu abraço, e com muita facilidade, o cara toma o celular
das minhas mãos.
Começo a chorar e seu olhar duro sobre mim me fez
estremecer. O vejo caminhar em direção à cabeceira para deixar o
aparelho lá.
— Você não vai ligar para ninguém, anjo. Nunca irá se livrar de
mim.
— Por favor!
— Por que tanto medo, morena? No que você está pensando?
O que te aflige?
— Você vai me matar?
— Sim. — Tento me afastar, mas ele me puxa de volta para
junto de si. — Irei matar você, princesa... — Suas mãos tocam meu
rosto, fazendo uma espécie de carinho. Em seguida, passa o nariz
novamente em meus fios cacheados. Ele parece sentir muito prazer
fazendo isso. — De prazer. — sussurra em meu ouvido. — Agora
vamos tomar banho. Você precisa descansar antes de sua nova vida
começar para valer.
Matthew me pega nos braços e me leva até o banheiro, onde
retira sua camiseta que me cobria, sente o perfume dos meus
cabelos mais uma vez e me ajuda a entrar na imensa banheira de
hidromassagem que está preparada para um belo banho com sais
minerais e pétalas de rosas perfumadas. Ele senta na borda dela,
me olhando intensamente, e uma única peça de roupa o envolve:
uma boxer estilo calção.
Fecho os olhos e tento relaxar.
O que ele quis dizer com “começar sua nova vida”? Essa já não
é minha nova vida? Minha terrível vida?
— Juro que tentei morena, mas você me deixa louco.
Sinto ele me puxar para junto de si, me fazendo encaixar
perfeitamente em seu membro duro e rígido. Segura minhas mãos
como se isso fosse me ajudar a não sentir a acidez que toma conta
de mim.
— Me deixa ir embora!
— Shiiiii! — Deposita um dedo sobre meus lábios, me fazendo
ficar em silêncio. — Vamos aproveitar nossa lua de mel antes de
irmos para casa.
E essa noite termina com esse homem me fazendo ser sua até
o dia amanhecer.
CAPÍTULO 5
MATTHEW LANSKY

A petulância de Elisa me faz sentir vontade de agredi-la até


poder conseguir ver as marcas da dor em sua pele negra. E que pele
negra maravilhosa! Em toda a minha vida, nenhuma mulher me
chamou tanto a atenção como ela. Seu corpo pequeno e cachos
longos me causam vontade de transar até vê-la desfalecer em meus
braços. A garota era virgem. Tinha absoluta certeza de que minha
doce Elisa era pura, senão jamais a teria trazido para o meu país.
Esse agora será o seu lar e ao meu lado poderemos construir algum
tipo de relacionamento. Me vejo completamente fascinado por sua
beleza, por sua delicadeza, e seu medo me faz sentir superior à sua
minuciosa estatura.
A tive em meus braços, totalmente imobilizada e rendida a mim.
Seus olhos ficavam fechados, como se tentasse não sentir medo de
mim, mas procurei não a deixar tão assustada com meus toques.
Decidi que ao invés de seu ódio, prefiro seu amor.
Elisa foi minha durante toda a noite e até o sol raiar, saciei
meus desejos e caprichos. Imaginei que por ter sido sua primeira
vez, ela não conseguiria ir tão longe, mas acabei subestimando seus
encantos. A bela morena me parecia muito satisfeita com meus
toques, sua pele se arrepiava com um simples sussurro meu ao seu
ouvido e sua intimidade queimava de desejo por mim.
Ah, morena! Como você me enlouquece!
Permiti que Elisa dormisse por algumas horas antes de
podermos sair para a nossa nova casa. Agora a morena se encontra
no banco de trás do meu carro, com a cabeça escorada no vidro da
porta e as mãos cruzadas. Seu pequeno corpo está envolvido em um
casado de couro que mandei comprar especificamente para ela.
Agora sim! Vestida como uma princesa. Usando as melhores marcas
de roupas e sapatos se torna ainda mais atraente.
Lucca dirige o carro enquanto eu olho algo no celular. Estamos
indo em direção à minha mansão no centro, a qual minha mãe e irmã
também habitam. Sei que não será nada agradável para minha
esposa conviver com as duas, mas lá é o lugar mais seguro para
deixá-la, por ser longe dos meus inimigos, o nosso lar.
— Senhor, preciso abastecer. — O homem desce do carro
para fazer o serviço completo.
Nem sequer me dou ao luxo de lhe responder, pois estou
ocupado demais visualizando algumas mensagens.
Minha mãe quer saber onde estou. Desde que viajei ao Brasil,
não lhe dei sinal de vida, e sua reação ao descobrir que estou
casado será uma das melhores. Ela sempre quis me ver casando
com uma filha de algum de nossos aliados, e até poucos meses
atrás, mantinha a esperança de que eu me unisse à Cassandra, uma
loira de olhos azuis, bonitinha, aparentemente inocente e ingênua,
mas que em nada me agrada. Diferente de Elisa, ela não me atraiu,
e nem mesmo seu olhar puro foi capaz de chamar a minha atenção.
Como eu estava dizendo, minha mãe tentou me casar diversas
vezes ao longo de minha vida, desde que assumi o lugar do papai. A
última vez foi com a filha dos Banniers, a Susi, uma vadia que
mantém a imagem de boa filha para o pai tosco que tem. Em nada
aquela mulher me atrai e é fácil demais. Soube me envolver bem em
sua festa de aniversário, no ano passado, me dando dentro da sua
própria casa. Ela queria exigir casamento, mas deixei bem claro que
se insistisse, eu não responderia por mim. Poderia esquecer de
quem é filha e lhe dar um sumiço para sempre.
Saio dos meus devaneios quando ouço o barulho de uma porta
sendo aberta. Olho para trás, através do espelho retrovisor. Putz!
Elisa está correndo como uma louca, gritando por socorro.
Largo meu celular no carro e saí atrás dela, apressadamente.
A morena não pode ir muito longe. O posto em que estamos é um
lugar tranquilo, sem muitas movimentações, e por sorte não há
ninguém no lugar.
Ela corre em direção à rodovia, gritando por socorro. Pobre
garota tola! Não sabe que será minha para sempre?
Estou quase a alcançando, quando a mesma tropeça em algo e
cai no chão de joelhos. Paro de correr assim que me aproximo dela,
que está no chão, aos prantos, com os cabelos bagunçados e os
cachos fora do lugar. Me abaixo de junto e a vejo terrivelmente
abalada. Olho intensamente seus lábios carnudos e corpo
maravilhoso. Tudo nela me atrai, e até quando está chorando,
consegue ser linda.
Arrumei seus cachos de volta no lugar e seus olhos
amedrontados me analisam com tensão. Deve estar pensando que
vou feri-la nesse momento. Eu deveria fazer isso, mas não desejo
seu ódio.
Levanto-me do chão, estendendo as mãos para ajudá-la a se
levantar, e ela respira fundo antes de fazer isso apoiada nas minhas
mãos. A puxei para junto de mim, toco seu rosto com delicadeza e,
depois, com uma certa força.
Para intimidá-la, digo:
— Anjo, vamos evitar situações constrangedoras como essa!
Acha mesmo que irá conseguir fugir de mim? — Sorrio. — Não me
subestime, princesa! Sou mais perigoso do que posso demonstrar, e
se continuar agindo assim, em vez de aceitar seu destino, lamento
dizer, mas você irá conhecer meu lado sombrio, o qual não vai gostar
nem um pouco.
— Você é um monstro! Não tem direito de me prender, seu
idiota! — diz furiosa.
— Minha garota é mesmo uma brilhante advogada e sabe usar
isso para me dar ainda mais tesão.
— Sabe quando você irá me tocar novamente? Nunca! Nunca!
— Não foi isso que me disse há poucas horas.
— Usa do meu medo para que eu lhe ceda, mas não será mais
assim, porque eu não irei de novo para a cama com você, e se isso
o deixa irritado, pode me matar de uma vez. Não estou nem aí para
quem você é. Pode ser o presidente do mundo, mas para mim, o
senhor não passa de um covarde que precisa manter mulheres
presas para ter sexo.
— Não sabia que minha garota é tão afiada.
— Não sou sua garota e você não é digno de me chamar
assim. Lembre-se que estou aqui porque o senhor me obriga! Nada
disso é real. Na sua cabeça de doente pode ser que seja, mas para
mim, é apenas a única forma que tenho de proteger a minha mãe.
Então todas as vezes que me tiver, será por medo.
— Adoro seu medo. Agora vamos para o carro, antes que você
chame ainda mais atenção!
A levo de volta para o veículo e fecho a porta com força. Ela
me irrita, me faz querer perder a cabeça e socar seu lindo rosto.
Lucca me olha intrigado. Imbecil! Nem para me ajudar a
segurar Elisa, serviu.
— Está vendo aquelas câmeras? Desative-as! — ordeno.
— Sim, senhor.
Elisa evita me olhar durante todo o nosso trajeto. Digamos que
não será tão fácil domá-la. Pensei que o argumento usado contra
ela, surtiria um impacto maior, mas às vezes a morena parece se
esquecer disso.
Não irei tolerar suas petulâncias, muito menos uma possível
rebeldia. Sou seu marido, seu único dono, e ela não pode me
enfrentar como bem entender. Aprenderá a ficar em seu devido
lugar, me satisfazendo em minha cama todas as noites.
Estaciono em frente à mansão e os olhos atentos de Elisa me
fazem admirar ainda mais sua beleza. Minha morena sai do carro
assim que abro a porta e eu seguro em seu rosto firmemente. Ela
não pode entrar em nossa casa assim, como se estivesse indo para
a forca.
— Melhore essa carinha de anjo! Quem sabe assim lhe permito
falar com sua mãe muito em breve?
Ela rapidamente muda seu semblante, demonstrando bastante
interesse no que acabei de falar. Logo ameaçou falar alguma coisa,
mas eu a impeço antes que diga baboseiras melosas e sentimentais.
— Agora não, princesa. Mais tarde conversaremos sobre isso.
— Se eu fizer tudo o que o senhor quiser, posso mesmo ver
minha mãe?
— Vamos entrar e mais tarde conversamos.
Seguro em uma mão sua e caminhamos para a entrada da
casa. Felipe abre a porta, como sempre faz todos os dias, já que
esse é seu trabalho: abrir e fechar as portas quando alguém passar.
— É aqui que iremos ficar? — ela me pergunta.
— Espero que goste.
— É um belo lugar, não nego. Só nunca pensei que algum dia
entraria pela porta da frente de uma mansão.
— Você não é somente dona dos meus pensamentos, mas
também das minhas propriedades e de toda a minha fortuna.
Ela nada diz, apenas caminha até o meio da sala, observando
cada detalhe da incrível mansão que tem.
— Será que posso ficar em algum quarto? Estou cansada —
Fica vermelha.
Me encanta a maneira que ela ficava constrangida apenas pelo
simples fato de eu a olhar intensamente. Como desejo jogá-la nesse
sofá e fodê-la loucamente, igual ontem! Mas preciso controlar meus
pensamentos quando noto que minha irmã se aproxima, distraída
com seu celular em mãos, digitando algo. Nem presta atenção em
Elisa e passa por ela como se não houvesse ninguém na sala.
— Olá, irmão. — Me dá um beijo na bochecha e eu lhe dou
outro. — Agora que sei que está vivo, me diga como foi no Brasil!
Quase não voltou de lá. Aposto que estava se divertindo muito.
Quantas foram?
Sorrio com o seu comentário desnecessário. Ela sempre
gostou de me irritar, desde pequena, e quando desapareço por
alguns dias, julgar ser por causa de alguma mulher. O que não deixa
de ser verdade, em parte. Mas nenhuma foi como o que eu sinto por
Elisa.
— Apenas uma irmã. — Olho imensamente para a morena.
— Conta outra, Matthew! Você nunca se prendeu a uma única
mulher, e não será desta vez, irmão, nem mesmo se ela for uma
feiticeira ou algo do tipo.
— Não duvide do que digo, irmã! Não só estou encantado com
ela, como me casei.
Sabina solta o celular, quase o derrubando no chão, e em
seguida me olha curiosa.
Então começo a rir alto, apenas observando-a. Se a conheço
bem, não está acreditando em mim.
— Primeiro de abril já é hoje? — me pergunta.
— Engraçadinha!
— Está mesmo falando a verdade? Esse anel em seu dedo...?
Meu Deus! Quem é a moça? Não me diga que é a...?
— Elisa Santiago é o seu nome.
— Nome de pobre. Mas quando irá apresentá-la à família?
— Agora mesmo. Ela está bem atrás de você.
Sabina vira-se e vê Elisa. Rapidamente olha para mim e sorri.
— Será que você não vê que eu e meu irmão estamos
conversando? Se veio pela vaga de doméstica, a entrevista é lá na
cozinha, não na sala com os patrões.
Elisa parece não gostar da atitude da minha irmã, muito menos
eu. Deixo em evidência meu tom de voz de irritação para falar com
ela, que logo me olha assustada.
— Não fale assim com ela! Elisa não é serviçal, para ouvir suas
ofensas, e sim minha esposa. Exijo que você a trate como tal!
Sabina parece surpresa diante das minhas palavras, como se
eu tivesse acabado de falar algum absurdo. Rapidamente tenta
assimilar alguma coisa.
— Ela é sua esposa? Eu ouvi bem? — Olha novamente para a
Elisa de um jeito esnobe.
— Mamãe sabe que você se casou com uma...?
— Não se atreva a falar como ela! Não na minha frente.
— Me perdoe! Só acho que nossa mãe...
— Ela não manda mais em mim. Eu escolho por mim, desde
sempre, e agora, se me der licença, irei para o meu quarto com
minha esposa. Não quero ser incomodado pelo resto do dia.
Seguro a mão de Elisa e estamos prestes a sair, quando minha
irmã diz algo.
— Elisa, você é bonita. Me chamo Sabina.
Ela não é uma má menina e também sofre com o
temperamento forte da nossa mãe.
— Sabina, não precisa me julgar pela cor da minha pele. Não
lhe conheço direito, mas vejo que você não reagiu muito bem por eu
ser negra. No entanto, saiba que tenho muito orgulho de quem sou. E
se pensa que seu irmão é superior a mim por ser branco, entenda
que ele me obriga a tudo isso! Tenha um bom dia!
Essa é minha garota: disposta a enfrentar tudo e todos. E isso
inclui a mim mesmo.
CAPÍTULO 6
ELISA SANTIAGO

Sinto meu mundo desmoronar e posso ouvir somente o barulho


dele se despedaçando, pedacinho por pedacinho. Lamento que
minha tentativa de fuga não tenha dado certo, senão eu estaria bem
longe agora, falando com o consulado brasileiro. Esse homem é um
demente, um lunático.
Não sei exatamente para onde Matthew está me levando, nem
o porquê de eu estar envolvida no meio disso tudo. Não consigo
acreditar na história que ele me contou, que me viu por aí, e entre
tantas garotas, me escolheu. Deveria me sentir lisonjeada? Grata
por ser a escolhida? Porque não sinto nada disso. Pelo contrário. O
único sentimento que cultivei em mim é ódio.
Ódio por ele ter me sequestrado.
Ódio por ele ter me ameaçado.
Ódio por ele ser tão cafajeste.
Ódio por eu ter me entregado a esse idiota.
Nunca precisei me submeter a nenhuma situação como essa e
homens não estavam em meus planos agora. Pretendia apenas me
formar e seguir minha carreira, e quando algum dia eu estivesse
estabilizada, poderia me casar e ter filhos com alguém que eu
amasse. Não planejei viver ao lado de um psicopata.
Qual será seu próximo passo? Me engravidar? Esse homem é
perigoso e disso não tenho dúvidas.

(...)
Matthew me leva para uma suíte maior do que a que eu estava
agora a pouco, e ao fechar a porta, ouço um barulho dentro da
minha cabeça, como se fosse um terremoto. Minhas emoções estão
à flor da pele e não me atrevo a olhar para trás, a encarar aquele
homem nas minhas costas.
Fecho meus olhos e controlo minha respiração, buscando o ar
em meus pulmões.
Suas mãos grandes e firmes tocam meus ombros e posso
sentir toda sua força natural, como se fosse algo brutal. O medo me
faz sentir coisas que não existem e temer possíveis armadilhas que
minha própria mente me coloca.
Sua voz quente e rouca sussurrou em meu ouvido enquanto
suas mãos passeiam pela minha barriga.
— Tire a roupa, bebê!
Sem hesitar muito, me afasto dele, sentindo toda sua ereção
atrás de mim. O que posso fazer? Nada. Um mafioso frio e
calculista, capaz de ter planejado um sequestro minuciosamente, não
está para brincadeiras. Posso afirmar que ele não se encontra tão
tranquilo quanto aparenta.
A pequena distância que nos separava, novamente se acaba
com sua aproximação. Seus lábios se movem na minha direção,
prestes a me tomar em um beijo arrebatador.
Me deixo conduzir por essa situação e fecho meus olhos para
sentir seu beijo quente invadir meu ser. Suas mãos grandes e
atrevidas lentamente passeiam pelo meu corpo e livram-se da minha
blusa e sutiã, me deixando exposta. Seus lábios habilidosos deslizam
para meus seios, sugando-os com leveza. Ele deve imaginar que os
dois estão sensíveis após tudo que vivemos ontem à noite.
— Você tem o cheiro do pecado, morena.
Reviro meus olhos por conta da sensação maravilhosa que se
forma dentro de mim. É um absurdo meu corpo não se negar a ele e
aceitar tudo com a maior facilidade possível. Mas o que eu diria?
Matthew é incrivelmente talentoso no que faz e me conduz ao prazer
extremo.
Ele desabotoou a minha calça, abaixou o zíper e me deixou
apenas em uma calcinha de renda transparente. Seus olhos me fitam
intensamente e posso ver mais que luxúria vindo deles.
Matthew me fez deitar na cama enquanto me beija de uma
maneira incrivelmente deliciosa e suas mãos percorrem todo o meu
corpo, indo de encontro à minha intimidade. Gemo entre o beijo
quando sinto seus dedos introduzirem nela. Ah! Isso é forte e
intenso.
Sem me pedir passagem e ainda completamente vestido, seus
lábios descem para os meus seios mais uma vez, sugando-os. Fecho
meus olhos e sinto suas mãos abrirem ainda mais minhas pernas.
Então algo diferente encosta na minha intimidade! Oh! Ele está
fazendo um oral em mim. Sua língua desliza sobre meu clitóris, me
fazendo querer subir pelas paredes. Me contorço de um lado para o
outro. Oh, Deus! Isso é tão bom! Por que além de lindo, o homem
tem que ser bom de cama? Sinto que vou explodir com todo esse
prazer.
Antes que eu possa me esbaldar naquela sensação, ele
introduz seu pênis no meu canal vaginal, me estocando de uma
maneira forte e dura. Deveria doer, não me proporcionar prazer.
Suas estocadas são rígidas e profundas.
Foi uma transa rápida e calorosa. Me sinto suada, como se
toda a água do meu corpo tivesse transbordado.
Matthew sobe suas calças novamente, me olha e fala todo
convencido:
— Agora preciso ir. Não tente fugir! A mansão está bem
protegida. À noite nós vemos, baby. — Pisca para mim.
À noite! Que filho de uma mãe! Aí ele vai voltar e, de novo, me
possuir intensamente. Só de pensar nisso, minha intimidade lateja.
Droga! Arremesso um travesseiro contra a porta depois que ele
sai. Playboy arrogante! Você me paga!
Exploro o resto do quarto e encontro, finalmente, um banheiro
luxuoso com uma enorme banheira de espuma. Então aproveito para
tomar um banho nela.
Não deixo o quarto para nada. Vou me trancar aqui e ficar na
sacada do ambiente, observando toda a bela vista à minha frente.
Meus pensamentos só me fazem lembrar da minha querida
mãe e em como ela está agora nesse exato momento. Com certeza,
sofrendo, como eu estou. Se pelo menos ele me permitisse falar com
ela... Como eu poderia imaginar que o destino seria tão cruel
comigo? Fui obrigada a abandonar minha mãe, meu país e minha
Faculdade. Em meses, eu me formaria e teria um emprego digno do
qual eu poderia, com ele, proporcionar uma vida mais confortável
para minha mãezinha. Mas Matthew roubou isso de mim. E não vai
ficar assim.
Ouço batidas na porta do meu quarto e resolvo não dizer nada.
Com certeza não é ele, caso contrário, já teria falado alguma coisa.
Penso que pode ser aquela irmã chata e patricinha.
Resolvo não dizer nenhuma palavra e as batidas logo perdem a
força. Por um minuto acho que não vou ouvi-las mais, então a pessoa
resolve se pronunciar.
— Senhora Lansky? O senhor Lansky pediu para eu vir deixar
sua refeição.
— Estou indo. — falo em alerta.
Minha barriga está revirando de fome. Depois de todas essas
transas malucas, meu organismo se sente fraco e debilitado. Preciso
me alimentar.
Abro a porta e encaro a mulher à minha frente, uma empregada
vestida adequadamente com seu uniforme azul marinho. Ela apenas
sorri e entra com um carrinho para dentro do meu quarto.
— Se precisar de alguma coisa, senhora, não hesite em me
chamar!
__ Posso te perguntar uma coisa?
— Claro, senhora Lansky.
Não me agrada em nada ser chamada pelo mesmo sobrenome
daquele homem. Sinto vontade de gritar que meu nome é Elisa
Santiago, não Elisa Lansky, mas sei que ela não tem culpa nenhuma,
pois apenas cumpre regras em troca de seu salário. Será que sabe
que estou sendo mantida presa aqui?
— Quantas pessoas moram aqui?
— O senhor Lansky não lhe disse?
Fico totalmente constrangida. Ela deve estar pensando que
somos um daqueles casais sem diálogos que não sabem fazer nada
além de transar como coelhos. O que não deixa de ser uma verdade,
em parte.
— Talvez eu não tenha ouvido bem. — respondo sem jeito.
— Aqui moram o senhor Lansky, a irmã dele, a senhorita
Sabina, e também a mãe dos dois, a senhora Patrícia.
— Como elas são?
— Perdão, senhora! Não sou autorizada a falar sobre a vida
dos meus patrões.
Ah, claro! Aposto que aquele engomadinho é cheio de regras e
limites. Quem desobedecer, está na rua. Conheço bem esse tipo de
pessoa que se sente o dono do mundo apenas por ter dinheiro e
aquisição política, já que isso sempre fez parte do meu mundo. A
desigualdade não é novidade para mim e eu já a conheço muito bem.
— Você sabe que ele me mantém presa aqui, não é?
Agora é a vez dela ficar constrangida. Por essa, eu não
esperava. Claro que ela sabe. É paga para estar a par de todos os
assuntos que envolvem essa casa, inclusive a minha prisão.
— Senhora, com licença. Se precisar de alguma coisa, basta
apertar aquele botão. — Me mostra um botão que fica na parede.
Como ele disse, a mansão está bem protegida. Com certeza há
muitos seguranças fazendo minha “proteção” e pessoas para não me
deixarem sair, nem ao menos do quarto. Constato isso quando a
empregada deixa o cômodo, e antes de fechar a porta, vejo que há
dois seguranças no final do corredor.
A única opção que me resta é comer toda a refeição, sem
reclamar, afinal de contas, estou com fome e muito irritada, e quando
faminta, fico ainda mais insuportável.
Então me lembro da possibilidade de engravidar, pois estamos
mantendo relações sem usarmos camisinha. A última coisa que
quero nesse momento é engravidar de alguém como ele.
No final da tarde, adormeço e tenho um pesadelo com a minha
mãe. Acordo atordoada, sentido que algo de muito ruim pode ter lhe
acontecido. No pesadelo, ela e eu estávamos cansadas por um belo
campo verde, parecido com a fazenda de uma amiga sua, onde
íamos quando eu era criança. Teve um tempo em que ela trabalhou
lá fazendo faxina, antes de irmos de uma vez para a cidade. Quase
gritei quando de repente caiu uma tempestade em um dia
ensolarado, e do nada, foi como se minha mãe tivesse desaparecido.
Me sinto fadigada, com falta de ar, e levo minhas mãos ao meu
peito, buscando me acalmar. Então percebo que não estou sozinha
no quarto. Uma mulher alta e muito elegante me analisa como se eu
fosse algo pegajoso. Seus olhos são azul-marinho, muito bonitos e
parecidos com os de Matthew. Só pode ser sua mãe.
Me sento na cama, um pouco assustada. Como ela entrou no
meu quarto assim, sem bater? Tudo bem que estamos em sua casa,
mas a privacidade ainda existia no Brasil até o momento em que eu
ainda estava lá.
Em seu semblante, posso jurar ver ódio e ao mesmo tempo
uma superioridade fora do comum. A mesma que encontrei agora a
pouco no olhar de Sabina. Tal mãe, tal filha.
— O que a senhora faz no meu quarto? — não consigo conter
meu incômodo por ela estar aqui.
— Eu precisava ver com meus próprios olhos a loucura que
meu filho cometeu ao trazer uma sem-teto para dentro da minha
casa.
— O que disse?
— Não se faça de sonsa, criatura! Eu aceito tudo vindo de meu
filho, menos isso. É inadmissível! Casar com uma negra? Dessa vez,
ele passou por cima de todos os limites.
Penso ter ouvido mal, por conta do sono que ainda sinto, mas
posso constatar que não estou delirando, muito menos imaginando
coisas. Essa mulher é mesmo uma arrogante, tanto quanto o filho.
Ele, pelo menos, não se importa com a cor da pele das pessoas, já
ela parece estar falando com um animal. Pelo seu tom de voz de
ataque, tentou me destruir.
A mulher continua falando mais grosserias.
— Não pense que irá dar o golpe do baú na minha família!
Matthew pode parecer um garoto ingênuo, mas não se casou com
você porque a ama, e sim para me irritar. Até entendo que meu ele
não quer casar com alguém do nosso nível, mas agora com uma
negra? Isso não irei aceitar nunca. Por isso, vá arrumando suas
malas, garota! Você irá embora de minha casa agora mesmo!
— Olhe só, senhora! Você não me conhece para falar de mim
como se eu fosse uma interesseira. Posso ser pobre sim, mas tenho
mais dignidade do que você, que é toda fina e educada. — Me
levanto da cama e vou em sua direção, bastante irritada. — Não é
porque a senhora tem dinheiro, que pode me tratar como se eu fosse
um lixo.
— Cale a boca, insolente! — Acerta um tapa na minha face, me
fazendo virar o rosto para o lado com tamanho impacto.
Eu ia revidar se não fosse pelos seguranças, que me
interromperam, me segurando fortemente pelos braços.
Grito para que eles me soltem, mas parece que estou falando
com as paredes.
— Levem essa mulherzinha para o porão e a deixe lá até que
morra de fome!
— Vocês são loucos! Me soltem agora mesmo! — grito.
— Vamos ver agora se você tem alguma autoridade nessa
casa! Irá para o lugar que lhe pertence, sua negra favelada!
Grito como uma louca para que eles me soltem, e quando
passamos pelo corredor, Sabina me olha um pouco assustada, mas
nada faz.
Os seguranças desceram comigo escada a baixo e os
empregados que estão no caminho, apenas ouvem meus gritos,
porém não fazem coisa alguma além de abaixarem suas cabeças
como se nada estivesse acontecendo ao redor deles. Me debato e
tento acertar os homens com chutes, mas é em vão, porque eles são
muito fortes.
Logo me levam para uma espécie de lugar mais afastado da
mansão, uma área mais escura, tipo um quartel militar. Choro como
uma criança, me sentindo assustada e nervosa. Nunca passei por
nada semelhante.
Uma porta é aberta e meu pequeno corpo é empurrado contra
o chão, me fazendo gritar alto. Sinto que dei um mau jeito na minha
perna e grunho de dor.
— Esse é o seu lugar, sua cadela!
— Por favor!
A porta é fechada.
Esse local é uma espécie de porão, repleto de poeira e um
cheiro de mofo prejudicial para minhas narinas. É um ambiente
fechado, escuro e muito quente. Não sei se vou conseguir me manter
acordada por muito tempo. Agora sinto uma pequena dor na minha
cabeça e creio que devo ter batido com ela no chão.
CAPÍTULO 7
ELISA SANTIAGO

O frio toma conta do meu corpo, fazendo cada vértebra do meu


organismo se retorcer. Agora parece que o lugar se tornou uma
espécie de congelador, com a temperatura mais baixa do que toda a
Antártica junta. Meu coração dispara toda vez que tento me manter
lúcida e algo em mim me faz ficar deitada, me encolhendo, como se
isso fosse me ajudar contra o frio. Diabo de gelo!
Eu usava um casaco até agora a pouco, mas aqueles
brutamontes fizeram questão de tirá-lo do meu corpo. Tentei gritar
por ajuda, mas foi em vão, porque ninguém veio me ajudar. Nem
forças para chorar, tenho mais. Sinto meu nariz entupido e uma
pequena falta de ar me deixa agoniada algumas vezes.
Primeiramente, o lugar estava quente e abafado, parecendo
que havia fogo aqui, e com isso, eu suava, me sentia desidratada e
sufocada com todo aquele calor. Quando pensei que não iria
suportá-lo, veio toda a friagem para me causar um terrível choque
térmico.
Um grande mal-estar me consome como se houvesse uma
avalanche dentro de mim. Não tenho forças para gritar e muito
menos para gemer de dor. Vertigens se formam em minha mente.
— Mamãe! Mamãe! — a chamo como se ela fosse me ouvir e
vir ao meu socorro.
Minha mãe sempre vinha me proteger quando eu estava em
perigo. Se eu caia da bicicleta, machucando meu joelho, bastava
chorar e ela me pegava no colo para me consolar. Se eu sentisse
uma dor de cabeça, no estômago... A mesma me trazia o remédio
certo para qualquer tipo de mal que me afetava. Era melhor do que
até muitos médicos formados. Todos eles deveriam conhecer os
poderes medicinais da minha mãe, que fazia milagres com todo o
seu amor.
— Filha, não se esqueça do casaco! Vi na televisão que vai
chover hoje.
— Eu já ia me esquecendo dele, mamãe.
Nesse dia, minha mãe estava sentada no sofá, costurando uma
de suas blusas velhas. Nunca tivemos muito dinheiro, portanto, se
algo descosturasse, tínhamos que consertar. Lhe dei um beijo na
bochecha antes de sair de casa. Amo ela e todos os seus cuidados
que sempre teve comigo.
O frio me faz trincar os dentes uns nos outros e minha
temperatura corporal está muito baixa. Sinto que a qualquer
momento meu corpo desfalecerá. Cheguei a pedir isso algumas
vezes, mas lembrei que não posso morrer. Não antes de fugir desse
lugar e denunciar essa família maluca, obsessiva.
Que tipo de ser humano é capaz de fazer isso com alguém,
aparentemente, mais frágil? Se eu tivesse forças suficientes para
lutar contra aqueles seguranças, teria feito isso e evitado ficar presa
aqui, largada nesse lugar imundo, deixada para morrer.
Cada vez ouço menos o som da minha respiração e por
algumas vezes me sinto como se estivesse presa em uma daquelas
aulas de fim da tarde, cansada e louca para pegar o ônibus lotado
para voltar para casa. Em outros momentos, me vejo ainda na
adolescência, conversando com algumas amigas e rindo bastante
das minhas tentativas inúteis de acertar um gol naquela imensa rede
de futebol.
Começo a cantarolar uma de minhas músicas preferidas, mas
apenas o refrão, que se resume em dizer “lá, lá, lá, lá” umas vinte
vezes ou mais. Isso me ajuda a manter foco em alguma coisa e
assim não irei desmaiar, correndo o risco de não retornar mais.
Perco totalmente a noção do tempo. Às vezes parece que se
passaram horas, meses e, até mesmo, anos, já em outros
momentos, sinto que os segundos não passam.
Não consigo mais nem cantar, pois minha voz está falha e
encontra dificuldade, inclusive para respirar.
Posso não estar mais tão lúcida, mas juro ter ouvido um
barulho de tiros lá fora e uma intensa voz grossa e rouca ordenando
para que a porta seja aberta, como se um leão feroz estivesse logo
atrás dela.
Fecho meus olhos e me deixo relaxar naquele estado de
desprendimento da minha alma, sentindo que ela, aos poucos, deixa
meu corpo. Então mãos grandes e possessivas me seguram com
bastante força. Juro ouvir gritos e mais gritos.
De repente não ouço mais nada e tudo fica escuro.

(...)

Aos poucos sinto que estou deitada sobre algo


confortavelmente macio. O que me faz pensar que não estou mais
sobre aquele chão duro e frio. Percebo meu corpo mais aquecido e
protegido, com algo furando uma veia minha. Finalmente consigo
abrir meus olhos e notar que estou em um quarto de hospital. Vejo
uma mulher ao meu lado, aplicando algo em um dos meus braços.
— Onde estou? — quase sussurro.
— Calma, senhora! Seu marido está aqui.
Não vejo mais a mulher ao meu lado, então alguém mais forte e
malhado toma o lugar que ela ocupava. Chega mais perto de mim
com um semblante preocupado e olhos incrivelmente azuis, me
fitando intensamente. Suas mãos tocam meu rosto, fazendo alguma
espécie de carinho, e eu fecho meus olhos, me sentindo muito
debilitada e fraca. Aos poucos recobro minha memória. Foi horrível o
que aquela mulher fez comigo. Comecei a chorar quando me vi
sozinha naquele lugar apertado e frio.
— Calma, morena! Estou aqui com você. Ninguém irá te fazer
mal novamente. — Segura uma das minhas mãos e acaricia meu
rosto.
— Foi horrível, horrível, horrível, horrível!
Não consigo parar de pensar em todo o desespero que vivi
sozinha.
— Prometo que nada semelhante irá te acontecer de novo.
Nunca mais.
— Não quero voltar para aquela casa. Por favor, Matthew! Não
me deixe lá!
— Não se preocupe, morena...
Adormeço novamente antes de ouvir sua resposta completa.

(...)

Desperto mais tarde, sentindo algumas dores, principalmente


nas minhas pernas, que estão doloridas, e na minha cabeça, que
está pesada. Olho em volta e não vejo ninguém. Parece que estou
sozinha.
Cogito tentar me levantar e fugir, mas não encontro forças para
isso. Apenas fecho os olhos novamente e durmo.

(...)
Já na manhã seguinte, estou me sentindo melhor. Não há mais
tanta dor em meu corpo. Olho para o lado e vejo ele sentado na
poltrona próxima à minha a minha cama. Há também belas flores em
cima da cabeceira.
Me remexo um pouco, quando sinto sua presença ao meu lado.
— Como se sente, princesa?
— Melhor.
Como ele conseguiu se levantar tão rápido e sentar ao meu
lado? Só falta me dizer que é um vampiro do Crepúsculo.
— O médico falou que você poderá ir para casa ainda hoje.
— Não quero voltar para aquela mansão. Quem é aquela
mulher e por que ela fez aquilo comigo?
— Aquela mulher é a minha mãe. — confirma apenas aquilo
que eu já sabia. — O motivo dela ter atacado você, foi apenas para
me enfrentar.
— Não acredito que foi somente por isso. Aquela mulher é
preconceituosa e me julgou pela cor da minha pele, por minhas
origens humildes. Como ela sabia?
— Antes de eu sair de casa para ir à empresa, tivemos uma
conversa, onde falei de você e do nosso casamento. Só não
imaginava que ela fosse capaz de tudo aquilo.
— Eu pensei que iria morrer.
— Sorte minha que Sabina me ligou. Se não, eu nem teria
chegado a tempo para te salvar.
Então foi a irmã dele que avisou sobre o acontecido. Talvez ela
não seja tão malvada, e sim apenas uma refém dos caprichos da
mãe doida que tem. Mesmo assim, não confio em voltar mais para
aquela mansão. Ainda têm aqueles seguranças malucos que só
fazem as vontades dela.
— Sei que elas são sua família, mas eu tenho medo. Ainda tem
aqueles seguranças e...
— Você acha mesmo que eu deixarei que algum homem acate
mais ordens da minha mãe? Só não a matei porque ainda tenho o
sangue dela nas minhas veias. O que te fizeram, não tem perdão.
Por isso, já decidi que quem vai sair da casa será ela.
— Eu tenho medo. Os seguranças...
— Aqueles vermes estão mortos.
Ele falou sério? Talvez “mortos” signifique “demitidos”. Ou não.
— Todos estão a sete palmos abaixo da terra. Não se
preocupe, morena! Prometo que ninguém irá te ferir novamente. Eu
não poderia imaginar que minha mãe seria tão louca a esse ponto.
— Eu pensei que iria morrer. — confesso cabisbaixa enquanto
estalo os dedos. Minha respiração está tranquila e suave.
— Não pense mais!
— Foi um momento difícil. Imaginei que nunca iria lhe dizer isso,
mas obrigada por não me deixar morrer. — acabo falando meio sem
jeito.
Nunca pensei que ficaria tão feliz por saber que ele não me
deixou largada lá para morrer. Pelo menos comprovei algo: sua mãe
estava errada. Matthew não me vê apenas como um objeto sexual.
Posso ver cuidado em seus olhos e até um pouco de carinho. Um a
zero para mim.
— Você é minha esposa, morena. Ninguém vai voltar a te fazer
mal e jamais irei permitir te perder. Agora preciso assinar os papéis
de sua alta. Volto o mais rápido possível. — Sorri.
Fico sozinha no quarto, mas não por muito tempo, pois logo em
seguida uma enfermeira vem até mim, me tira o soro e desliga os
aparelhos. Também me ajuda com um banho e traz umas mudas de
roupas para eu vestir.
Enquanto estou no chuveiro, posso ouvir um barulho vindo do
meu quarto. Tomo um susto e me visto rapidamente, sem ao menos
organizar meus cachos. É quando vejo que Matthew voltou. Como
ele não me vê, volto ao banheiro e prendo meu cabelo, que não
molhei no banho. Cabelos cacheados são difíceis de pentear sem
cremes adequados para a espécie dos fios.
— Estou pronta. — Vou na sua direção.
— Não está. Falta algo. — me deixa confusa.
— Ah, claro! Esqueci minha toalha no banheiro. Irei buscar em
um segundo.
Matthew me puxa por um braço, sem me machucar ou usar
força. O olho, sem entender quase nada, e suas mãos seguram as
minhas, sem que ele desvie seus olhos dos meus. Também faço o
mesmo. Há uma conexão entre nós dois, não posso negar. Ele até
pode ser arrogante e cretino, mas diferentemente da mãe, nunca fez
nada para me machucar, como ela fez. Às vezes até parece estar
apaixonado por mim.
É difícil aceitar isso, pois não consigo acreditar que alguém
como ele esteja realmente sentindo algo assim. Pensei que fui
traficada apenas para servir de objeto sexual, mas com o
casamento, Matthew me mostrou que eu valia muito mais do que
uma transa. É como se realmente desejasse construir uma família ao
meu lado. Se ele não tivesse escolhido o jeito mais difícil, eu até teria
me apaixonado pelos lindos olhos azuis, a maneira protetora que
demonstra comigo. Será possivél que este homem me ame?
— Não gosto quando seus cachos estão presos. Nunca os
prenda! Eu gosto deles exatamente como são, mesmo quando não
estão alinhados. — Em um movimento cauteloso, retirar a presilha do
meu cabelo, libertando meus cachos.
— Meus cabelos estão...
— Perfeitos! Gosto deles exatamente assim. Nunca mais os
prenda! Você é perfeita em todos os ângulos.
Sorrio envergonhada pelo seu comentário. Poderá ele ser tão
fascinado por meus cachos? Matthew é um homem muito bonito,
poderoso, sempre tem tudo aos seus pés, porque ele escolheu a
mim para ser a sua esposa?
Ele segura uma das minhas mãos e me leva até seu carro, que
nos espera em frente ao hospital. Penso em fazer um escândalo,
mas não ganharia nada com isso. Cursando Direito aprendi que um
advogado nunca deve se deixar levar pelas emoções, pois sempre
há o momento de se defender e o de atacar. E quando a hora de
atacar vier, todos irão ver quem é a verdadeira Elisa Santiago.
CAPÍTULO 8
MATTHEW LANSKY

Infelizmente, estou sendo obrigado a deixar minha esposa na


casa onde mora minha mãe e irmã, mas que também me pertence.
Na verdade, todos os bens da família sou eu quem administro. Meu
pai deixou quase tudo para mim e Sabina. No entanto, minha querida
irmãzinha não gosta da vida cheia de responsabilidades, já que só
pensa em salão de beleza e fazer as unhas.
Elisa ficou em nosso quarto, certamente pensando em como
fugir de mim. Não a culpo, pois não deve estar sendo nada fácil
abandonar sua vida assim, repentinamente. Mas será obrigada a
esquecer seu passado, porque tenho planos para ela, e isso não
inclui sua antiga rotina medíocre.
Pelo que sei de Elisa, ao longo dos meses que vinha a
observando, ela é uma menina doce e de bom coração, que sempre
estava sorrindo para as pessoas que só queriam se aproveitar dela.
Se a morena soubesse de todo o perigo que corria... Sempre
quando voltava para casa, algum pervertido queria lhe fazer algo e
aquilo me irritava profundamente. Nenhum outro homem ficaria com
minha Elisa. Mas nada que minha arma não tenha resolvido. Quem
ousava se aproximar dela, eu matava no mesmo instante, até mesmo
aquele colega de Faculdade que ficava tocando em seus braços
quando eles estavam copiando alguma atividade no gramado do
campus.
Elisa merecia se formar sim, pois é uma menina-mulher de
atitude, batalhadora e determinada a ir atrás de todos os seus
sonhos. Minha esposa é ideal para mim e gosto do seu jeitinho
brasileira de ser, de quando me olha com aqueles olhos assustados,
de quando me beija daquela maneira tímida e nervosa. Aquela
morena tem um poder tão grande sobre mim, que se ela imaginasse,
saberia usá-lo apropriadamente para conseguir tudo o que deseja.
Estou a caminho da empresa, quando recebo uma ligação de
Carlos. Ele quem está cuidando sobre o caso do desaparecimento
de Elisa. O pago para não deixar que nada saia do nosso controle.
— Senhor Lansky, tenho notícias desagradáveis.
— Diga logo de uma vez!
— O desaparecimento da estudante de Direito, Elisa Santiago,
está em todos os jornais e televisão.. Não se fala em outra coisa, a
não ser em como a garota desapareceu quando voltava para casa.
— Merda! Isso não podia ter se tornado algo grande.
Se essa situação sair do nosso controle, posso me complicar
um pouco e isso não fará nada bem para os meus negócios,
principalmente para a minha imagem.
— A senhora Santiago foi convidada para ir amanhã a um
programa de investigação para falar sobre a filha.
— Ela não pode ir a esse programa.
— A equipe da emissora de TV a levou tão depressa, que não
pudemos impedir. Mas não há nada com que o senhor deva se
preocupar. Se a polícia brasileira chegar muito longe, iniciaremos o
plano B.
— Okay, Carlos. Qualquer informação nova, não deixe de me
avisar! — Encerro a ligação.
Que merda! Esse caso não pode ir muito longe, porque
ninguém pode saber onde Elisa está. Contudo, sem as imagens das
câmeras de segurança, a polícia não tem como descobrir nada, pois
não há o que comprove que minha morena deixou o país. Seu nome
não irá aparecer em nenhum aeroporto e sua vinda a Nova York não
será provada.
Com esse pensamento, tento me concentrar no meu trabalho.
Ultimamente vinha me sentindo cansado e nem um pouco
animado com a vida que estava levando, então eu a vi, linda como
um raio de sol iluminando a minha vida, sem perceber o quanto aquilo
era bom para mim. Inocente e virgem, apenas minha menina-mulher.
Seu perfume não sai da minha cabeça, nem seus gemidos abafados
de quando a toco descaradamente. Ah, morena! Como você me
deixa louco!

(...)

Acabei de sair de uma reunião de negócios. Foram quase duas


horas debatendo com imbecis sobre o novo projeto da Empório, mas
finalmente entramos em um consenso. Os demais sócios da
empresa costumam me causar fortes dores de cabeça.
Vejo algumas ligações perdidas de Sabina e logo retorno, afinal
de contas, pode ser algo importante.
— Graças a Deus, você atendeu, irmão! — sua voz está
nervosa como nunca ouvi antes. — Não sei o que fazer. A mamãe
levou a Elisa, junto com alguns seguranças, para o porão. Você
precisa vir agora mesmo para casa.
Encerro a ligação e deixo a empresa o mais rápido que posso.
Dirijo novamente para casa, e sem pensar duas vezes, chego
atirando em todos os seguranças que estão mantendo minha mulher
presa naquele lugar medíocre. Arrombo a maldita porta, colocando-a
abaixo. Elisa está jogada no chão com alguns machucados e suas
roupas estão rasgadas por conta de sua resistência. A seguro nos
braços e sinto-a gelada.
Ordeno para que chamem uma ambulância e constato que
minha mulher está gelada como um cadáver sem vida. Toco em seu
pulso e o sinto pulsar fracamente. Não posso perdê-la. Malditos!
Todos que contribuíram com esse plano da minha mãe, irão me
pagar, inclusive ela.
Os médicos a levam para examinar e infelizmente não posso
entrar com eles.
São horas de espera, até que uma enfermeira se aproxima.
— Senhor Lansky, a sua esposa está bem. O estado dela não
é grave, pois, por sorte, foi socorrida a tempo e não teve um quadro
de hipotermia.
— Eu quero ver ela agora! — ordeno.
— Sinto muito, senhor, mas não poderá ver sua esposa no
momento. Creio que dentro de algumas horas, sim.
Dito isso, não vou ficar aqui agora, já que tenho contas a
acertar com minha mãe, que não tinha o direito de tomar uma atitude
drástica e cruel assim com minha esposa. Tudo isso por causa de
seu ar de superioridade em relação às pessoas. Ela sempre foi fria,
com coração de gelo, e nunca foi uma mãe amorosa, apesar de eu
não poder negar sua preocupação com o meu bem-estar,
principalmente, e o da minha irmã.
Minha mãe nunca demonstrou afinidade com as mulheres que
eu me interessava, mas no caso da Elisa, sei de onde vem todo o
seu ódio. Ela não aceita o fato da minha esposa ser negra e bonita,
então seu maldito preconceito racial a fez agir como uma demente.
Mas se pensa que isso irá continuar assim, está muito enganada.
Volto para casa e subo as escadas rapidamente. Se conheço
bem a minha mãe, ela está no quarto, relaxando, como se nada
tivesse acontecido.
Estou prestes a abrir a porta, quando ouço a voz da minha irmã
atrás de mim.
— Matthew! Será que podemos conversar?
— Agora não, Sabina.
— Prometo que será rápido. Deixe-me pedir algo antes que
você fale com nossa mãe!
— Rápido.
— Não fale para ela que eu que liguei para você! Sabe como a
mamãe é. Ela não iria me perdoar.
— Não se preocupe, Sabina! Eu te agradeço por ter me ligado.
— Como sua esposa está?
— Se recuperando. Nada grave aconteceu, pois ela foi
socorrida a tempo.
Não ouço sua resposta e já entro no quarto da minha mãe, que
está deitada sobre a cama, comendo chocolates e assistindo
televisão, com muita tranquilidade.
— Filho! Tão cedo em casa! — diz calma.
— Não seja cínica, mãe! O que pretendia fazer com a Elisa?
Matá-la?
— Então ela não morreu?
— Não. Ela não morreu. Para sua sorte, não.
— Como assim minha sorte? Está desafiando sua mãe por
causa de uma negra?
— Estou desafiando a minha mãe por causa da mulher que eu
amo. Já vou avisando, senhora Lansky: se ousar tocar mais um dedo
sequer na minha mulher, juro que irei esquecer que você é a minha
mãe e irei tratá-la como uma inimiga!
— Você não pode estar falando sério.
Dito isso, ela levanta-se da cama com seu olhar incrédulo e
vem na minha direção, como se estivesse ao ponto de ter um
ataque. Minha mãe tem o semblante preocupado, e quando suas
mãos geladas tocam minha face, posso sentir toda sua fúria, ódio e
indignação por saber que estou casado com Elisa.
— Não posso acreditar. Eu te criei com tudo aos seus pés, meu
filho, e você é como o dono do mundo. Pode ter a mulher que
desejar. Se essa mulata lhe agradou, podia simplesmente tê-la
sequestrado e a usado como desejasse. Mas casar? Isso não
aceito.
— Mas a senhora não tem que aceitar nada. Eu já escolhi.
— Matthew Lansky, se seu pai fosse vivo...
— Teria feito da mesma maneira. Elisa é importante para mim,
portanto, farei de tudo para protegê-la dos nossos inimigos, e isso
inclui você. Por isso, a senhora vai fazer as malas agora mesmo e ir
embora dessa casa. — Lhe dou as costas, ouvindo seus murmúrios.
— Não se preocupe! Temos muitas propriedades e fica ao seu
critério escolher uma. E nem pense em levar a Sabina daqui! A partir
de hoje, a senhora não controla mais a vida da minha irmã.
A deixo no quarto com suas lamentações.
Infelizmente, suas atitudes me fizeram tomar essa decisão.
Como herdei tudo do meu pai, tenho esse poder de colocá-la para
fora da mansão.

(...)

Já no hospital, o médico me passa as últimas recomendações


sobre o estado de saúde da minha esposa. Por sorte, Elisa não
resfriou. Minha mulher é forte e destemida. Admiro suas virtudes.
— O senhor pode levá-la no final da tarde. — Aperta a minha
mão.
— Obrigado!
Vou dar a notícia a ela.
(...)

Elisa está triste e pensativa, olhando através de um vidro do


carro, as ruas. Minha menina não está feliz ao meu lado e isso me
deixa frustrado. Mulher nenhuma nunca ficou triste comigo, nem
mesmo todas as que já usei antes e descartei como copos
descartáveis. Dessa vez tudo está acontecendo diferente, totalmente
fora do meu controle, e odeio isso.
Sacudo o volante do carro para conseguir a atenção da
morena, que sobressalta do banco. Não queria tê-la assustado, pois
já basta tudo o que viveu nessas últimas horas por culpa da minha
mãe. Se ela ousar tocar na minha Elisa novamente, não irei
responder como seu filho, e sim como um inimigo. Ninguém machuca
mais a minha esposa.
Agora ela parece um coelho assustado, encolhida como se
quisesse abraçar a si mesma. É pedir demais para que aceite seu
novo destino?
Constato que estou próximo de casa e que saí de lá sem pegar
o controle do portão.
No momento em que estaciono em frente à mansão, me
distraio um pouco no meu celular com assuntos de trabalho, que
sempre prendem a minha atenção.
Em um movimento rápido, Elisa destrava a porta do carro e sai
correndo, desesperada, gritando por ajuda.
CAPÍTULO 9
ELISA SANTIAGO

Minha garganta se fecha, sinto meu peito se apertar, as


lágrimas escorrerem pelo meu rosto e o suor pelos meus poros
enquanto corro como se não houvesse amanhã. Não quero ficar ao
lado daquele homem como um passarinho preso em uma gaiola de
ouro. Não pensava em fugir tão cedo, mas me vi em uma boa
oportunidade quando ele avisou ao vigia que estava sem o controle
para abrir o portão, e como levaria alguns minutos para receber o
objeto, estacionou o carro. Então me encontrei naquela ótima
oportunidade de tentar.
Corro.
Corro.
E corro.
Grito, pedindo para que alguém me ajude, implorando por
socorro.
— Alguém me ajuda! Socorro!
Meu maior medo é não conseguir fugir e atrair sua ira para
mim. Nunca pensei que algum dia iria passar por esses perrengues
na vida. Como imaginar que um homem bilionário, dono da metade
do mundo, fosse olhar para mim, uma moça humilde da favela, sem
dinheiro? Meu único patrimônio é a minha dignidade, da qual me
orgulho.
Quanto mais grito, mas parece ser em vão. Então me vejo
novamente presa em seus braços fortes. O calor do seu corpo atrás
do meu me diz que estou mais uma vez em suas mãos.
Passo a ver tudo em câmera lenta.
— Me solta! Me solta! — Me debato em seus braços numa
tentativa inútil de me livrar dele. — Por favor, deixa eu ir! — Caio de
joelhos no chão, chorando como nunca antes.
Ele abaixou-se, ficando à minha frente, me olhando com
aqueles olhos azuis sedentos de luxúria. Há algo naquele olhar que
me intriga é que me faz ficar calma.
Matthew é um homem da alta sociedade, respeitado e
destemido, já eu sou a mulher que deveria ser submissa e fiel a ele.
Mas essa não é a vida que quero para mim. Minha mãe sempre me
ensinou a nunca abaixar a cabeça para homem nenhum, para
ninguém, falho algumas vezes ao permitir que pessoas pobre de
espírito, e preconceituosas passem por cima de mim, sempre tive
bastante medo de me expor.
— Não posso deixar você ir, anjo. Acredite em mim quando
digo que não vivo mais sem você!
— Eu não te amo! Por favor...
— Eu posso te ensinar a me amar. Não chore, meu amor!
Estou aqui para te proteger.
— Você é um psicopata! Um doente! Eu te odeio e vou te odiar
para sempre, Matthew! Te odeio com todas as minhas forças! Quero
que você morra, seu monstro!
Com isso, ele me segura nos braços e me leva para dentro da
mansão. Me sinto cansada e abalada pelos últimos acontecimentos.
Em seguida me coloca no chão assim que abre a porta da sala. O
ambiente dessa casa me faz sufocar.
Caminho em direção à janela e me encosto nela, admirando o
belo jardim. A grama verde tem rosas vermelhas e brancas, as
minhas preferidas.
Pelo restante do dia, não vejo mais o Matthew, apenas repouso
como o médico pediu.
À tarde decidi ligar a televisão e testar um pouco dos meus
conhecimentos sobre a língua inglesa. Como na maioria das vezes
meu sequestrador fala comigo em português, não me sentia como se
precisasse falar o inglês. Sempre fui boa em aprender novos
assuntos, e com línguas, não é diferente. Aprendi a falar espanhol
assistindo vídeo aulas na internet e o inglês básico fazia parte da
minha Faculdade. Só não esperava ter que aperfeiçoá-lo tão
rapidamente.

(...)

Ao longo das semanas recebi um professor de Línguas na


mansão e, com o passar do tempo, comecei a me sentir melhor e
pronta para encarar minha nova realidade de frente. Já li algo
parecido sobre uma jovem que foi sequestrada e passou anos nas
mãos do sequestrador, sendo torturada, e depois foi morta a sangue
frio pelo mesmo. A garota foi encontrada cheia de agressões e o
exame de corpo de delito mostrou que ela foi abusada sexualmente.
Pude perceber que Matthew não é como esse tipo de maníaco, pois
não abusa de mim, pelo contrário, tenta sempre ser, ao máximo,
cada vez mais atencioso e amoroso comigo. Quando estamos
fazendo amor, sempre me sinto no paraíso. Ele sabe como me
satisfazer, em todos os sentidos, e mesmo sendo enorme, nunca me
machuca.
Ainda assim, estou planejando uma próxima fuga, e dessa vez
tem que funcionar, senão já posso ir dizendo adeus à minha vida para
sempre.
— Algum problema, Elisa? — Matthew pergunta em frente ao
espelho do closet.
Ele está arrumando sua impecável gravata que combina
perfeitamente com a bela cor dos seus olhos.
Faz pouco tempo que Matthew chegou, então aproveito para
admirar sua masculinidade enquanto ele ainda está em casa, já que
é raro vê-lo aqui durante o dia. Minha rotina se resume apenas a
ficar dentro de casa, sem nunca ter nada para fazer.
— Nenhum. — Recuo.
Como posso querer fugir, se nem ao menos tenho coragem de
lhe dirigir a palavra? Um pequeno nó se forma na minha garganta,
deixando perceptível o quanto estou nervosa. Nunca soube controlar
minhas emoções.
Respiro fundo e decido voltar àquele closet para falar o que ia
lhe dizer antes do meu medo bobo me atrapalhar, mas acabo
sofrendo um grande impacto com um paredão de músculos que
quase me fez ir de encontro ao chão. Por sorte, ele me segurou com
seus braços firmes.
Seus olhos azuis me sondam curiosamente. Aposto que sabe
que estou tramando algo, mas mesmo assim não desistirei
facilmente do meu plano de fugir e poder encontrar minha mãe.
— Assustada, princesa?
— É impressão sua. — tento parecer normal.
Matthew desfaz o rabo de cavalo que fiz agora a pouco no meu
cabelo. Esqueci que ele não gosta que eu os prenda, pois os prefere
soltos ao vento para poder controlá-lo, como tanto me diz.
— Quer me dizer algo?
O homem tem o dom de adivinhar meus pensamentos. É
inegável que ele é controlador e muito astuto.
— Sim.
— Sou todo ouvidos, minha jóia.
— Quero uma ocupação. — digo de uma vez.
Tenho quase certeza de que gaguejei.
Ele sorri de lado pela minha atitude constrangedora e digna de
um Oscar de pior atriz de todos os tempos.
— Não precisa de uma ocupação.
— Preciso sim. Por favor! — tento ser gentil através do meu
tom de voz, em vez de tentar matá-lo por decidir tudo sobre minha
vida.
— Por que deseja uma ocupação?
— Nunca faço nada nessa casa. Não posso limpar, nem
cozinhar, e não estou acostumada a ter uma vida de dondoca. Não
sei passar o dia deitada lendo revistas. Costumo ficar tão entediada,
que desço e subo as escadas apenas para passar o tempo.
— Eu sei disso. — fala com convicção, como se me
observasse quando não está em casa. — Mesmo assim, não precisa
de uma ocupação. Está decidido. — diz firmemente e me dá um beijo
suave nos lábios. — À noite irei lhe ocupar bastante. Iremos sair
para jantar.
Matthew às vezes me obriga a fazer as coisas como se
fôssemos um casal de verdade. Essa não será a primeira vez que
ele vai me levar para jantar em um restaurante granfino. Sempre faz
questão de me exibir como um troféu, só não permite que nenhuma
câmera fotográfica registre algum momento nosso. O que me faz
pensar que meu desaparecimento pode ter se tornado algo maior do
que eu imaginava. Se conheço bem minha mãe, ela vai mover céus e
terras para me encontrar, mesmo que eu esteja com um “poderoso
chefão”. Meu, até então, marido, é muito cauteloso e não pode sujar
sua bela imagem com um sequestro.
A mansão está silenciosa, exatamente como nos demais dias
que se passaram. Me sinto sozinha durante maior parte do tempo,
porque não há alguém com quem conversar. Sempre que tento
chegar perto de alguma empregada para tentar puxar assunto, elas
fogem de mim, como se eu fosse o próprio diabo. Ninguém nessa
casa quer ter contato comigo.
Sabina sempre vive trancada no quarto, e quando a vejo, ela
mostra um sorriso modesto para mim e logo some da minha frente. É
entediante ter que conviver em um lar onde você não se sente
confortável, apesar de todo o conforto que ele emite.
A garota fraca que antes se trancava no banheiro para chorar,
já não tem mais esse hábito, nem mesmo quando ele a toma para si.
Aprendi a controlar minhas emoções e não demonstrar fragilidade.
Estou curiosa para saber o que encontraria nesse jantar.
Sempre que saímos juntos, Matthew me leva ao mais luxuoso
ambiente que eu poderia ver na determinada noite, constantemente
me surpreendendo.

(...)

Nunca havia parado para ver meu closet com tanta atenção,
como agora. Uma equipe veio me arrumar para o jantar e meu
cabelo está preso em um belo penteado que permite que meus
cachos ganhem vida. A maquiagem é algo leve, exceto pelo batom
vermelho que deixou meus lábios ainda mais carnudos.
O vestido que estou usando é um vermelho, na altura do joelho,
e coloquei um scarpin nude de veludo.
Olho meu físico no espelho e posso ver o quanto estou
diferente, usando joias que jamais seria capaz de comprar. Nunca
pensei que algum dia teria tantas regalias, como nesse momento. Há
uns meses estava comendo pão com mortadela, mas agora tenho
uma mesa farta com comidas que nem sei pronunciar o nome.
A limusine me leva até o restaurante.
Constato que o lugar está fechado apenas para nós dois e
caminho lentamente, acompanhada por dois seguranças. Seguro
somente minha pequena carteira numa das mãos e já posso ouvir o
som de um violino cada vez mais próximo.
As luzes que iluminam nossa mesa têm um tom vermelho claro
e um tapete da mesma cor me leva de encontro ao Matthew. Ele
está me encarando com um olhar predador, como se fosse me
devorar. Logo segura uma mão minha e deposita um beijo sobre ela.
— Você está perfeita, anjo.
— Obrigada!
Na maioria das vezes, Matthew me deixa sem jeito, pois sinto
que ele gostaria de ver além do que minha roupa mostra. É muito
dominador e parece sempre controlar algo dentro dele, como se
houvesse um monstro preso em si. Arrepiante!
— Por que me olha assim? — pergunto.
— Assim como? — finge-se de cínico.
— Como se... — Olho para os lados e não vejo mais os
seguranças. O som do violino está em algum lugar no resto do
ambiente pouco iluminado. — Fosse me devorar.
— Mas eu quero te devorar, princesa. — Toca minha face com
uma mão. — Teremos uma noite memorável.
CAPÍTULO 10
ELISA SANTIAGO

Meus pés tocam o piso frio do iate. Assim que desci do carro,
retirei os sapatos, que começaram a me fazer calos. Sou muito boa
em andar com saltos altos, apenas nunca tive o costume, nem a
necessidade de usá-los todos os dias, com frequência. Usava
somente para algum trabalho ou evento envolvendo a Faculdade.
A brisa bate em meu rosto, me fazendo sentir o ar gélido vindo
do mar. Matthew ficou logo atrás de mim e, provavelmente, ainda
está no porto dando algumas instruções para os seus seguranças.
Estou deslumbrada com o quanto é luxuosa essa embarcação,
que mais parece uma mansão luxuosa, com três andares. Nunca vi
algo tão esplêndido como esse iate. É óbvio que Matthew teria algo
assim.
Vendo todo esse esplendor, não consigo calcular o quanto ele é
rico. Há milhões de dólares concentrados somente aqui. Um exagero,
na minha opinião, mas como não posso opinar em nada, decido
continuar admirando toda essa sofisticação.
— Normalmente haveria muitos empregados aqui para nos
servir, mas como quero ficar sozinho com você, dispensei todos.
— Você sabe pilotar isso?
— Sim, mas como temos piloto automático, vamos apenas
flutuar por hoje.
— Uau!
— Te mostrarei nossa suíte.
Ao longo do caminho, Matthew me explica que aqui há oito
compartimentos, três suítes completas e espaçosas, uma cozinha,
uma sala de jogos, a cabine e uma hidromassagem.
Posso perceber o quanto nossa suíte é maravilhosa, com uma
enorme cama box no centro e um closet perfeito com roupas que
servem perfeitamente em mim. Matthew realmente sempre pensa
em tudo. O banheiro é enorme, com uma banheira e box — ambos
espaçosos.
Decidi trocar de roupa, mas antes tomei um banho relaxante.
Visto um vestido soltinho, estilo praia.
Meus cabelos estão soltos ao vento e nem parece que estamos
em alto mar, pois não sentimos as correntes marítimas. A estrutura é
sólida, como se estivéssemos na superfície. Me escoro sobre o
corrimão, observando o mar escuro logo atrás de mim. É
incrivelmente assustador, mas ao mesmo tempo causa uma
sensação maravilhosa. Tenho certeza de que minha mãe iria adorar
estar aqui comigo, já que é apaixonada por praia e por tudo que
envolve água. Como sinto sua falta!
Fecho meus olhos por alguns segundos e sinto meus cabelos
baterem em meu rosto. A breve sensação que sinto de paz é capaz
de preencher todo o vazio no meu peito, como se eu conseguisse
esquecer por dois minutos que não estou presa a um homem que
não sei nada sobre ele, apenas que devo tomar cuidado para não
sofrer consequências severas.
Qual o propósito de tudo isso? Uma pessoa não pode obrigar
outra a ficar presa para sempre. O tempo passa e eu não vejo mais
esperanças para mim. Esses últimos meses pareceram uma
eternidade e a cada segundo me sinto mais agoniada. A aflição me
define em todas as fases dessa minha nova vida. Nunca sei qual será
o seu próximo passo.
Suas mãos grandes tocam meus ombros, colocando neles uma
espécie de sobretudo para que eu possa me aquecer do frio. Seus
olhos azuis me fitavam com cuidado. É fofo vê-lo nesse momento.
Posso perceber que ele trocou de roupas. Optou por uma calça
moletom cinza, da mesma cor que a camiseta.
Tão robusto e sexy! Às vezes me pergunto o que alguém como
ele consegue ver em alguém como eu, uma garota pobre, vinda da
favela — com muito orgulho, claro. — Não sinto vergonha de ser
quem sou, mas por Matthew ser tão rico e bem sucedido, poderia ter
as mulheres que quisesse rendidas aos seus pés, e em um simples
estalar de dedos, todas estavam curvadas. Mas ele preferiu a mim
por algum motivo do qual não faço a menor ideia.
— Cuidado para não se resfriar! — me alerta. — Não está
acostumada com temperaturas tão baixas.
— Culpa sua. — digo curta e grossa.
Ele ri de lado e toca em meu queixo.
— Se você soubesse o quanto fica sexy quando tenta ser
grosseira... — Morde meus lábios de forma lenta. — Você me deixa
louco, sabia?
Imagino que sim, já que não me deixa em paz, nem por dois
segundos.
— Bem que você gosta quando está comigo. Posso jurar que
me ama quando estamos juntos.
— Gostar de transar, não é amar.
Putz! Acabei de admitir que gosto de ter relações sexuais com
ele. O pior é ver o sorriso safado na sua face.
Pela primeira vez, sinto meu coração palpitar. Seu beijo me faz
sentir completamente arrebatada e suas mãos exploram minha pele
por baixo do vestido, apalpando meu bumbum com precisão. Ele
nunca faz rodeios, é sempre direto em tudo o que quer.
— Você me encanta, princesa. — sussurra no meu ouvido
enquanto me toca de maneira indevida.
Isso é tão errado e ao mesmo tempo tão prazeroso! Sei que
estou ficando louca por sentir atração por esses momentos.
Ele me pega no colo e entramos para a nossa suíte. Sou
colocada sobre o colchão macio e sua boca desliza por toda a
extensão do meu corpo. Em seguida, livra-se, primeiramente, das
minhas roupas. Me torturando de maneira lenta, sua língua vai de
encontro à minha intimidade, que lateja ardentemente de desejo.
— Hoje vou te foder com a língua, princesa.
Isso me deixa vermelha.
Já tínhamos feito sexo oral várias vezes, mas o problema é que
ele não quer apagar a luz agora. Minhas tentativas de implorar, não
deram certo, e diferente de mim, Matthew é desinibido e não tem
restrições para nada. Não ter minha mente tão aberta como a sua,
faz eu me sentir boba.
Ele segura minhas coxas, forçando para que eu não tente me
fechar, me deixando totalmente livre para aquela nova sensação. Sua
língua desliza calientemente na minha intimidade.
— Oh!
Meu corpo ferve por mais e estou prestes a explodir. Gemo
loucamente sem me importar com mais nada ao nosso redor. Sua
língua move-se cada vez mais rápido em meu clitóris. Só quero senti-
lo... E senti-lo... Ser invadida pelo seu pênis grande e grosso. Ele é
capaz de me levar à loucura.
Sua língua intensifica os movimentos e meu orgasmo vem junto
com meu grito de delírio.
É maravilhoso sentir suas estocadas lentas no início, para não
me machucar, se tornarem rápidas e fortes.

(...)

O dia começa a amanhecer quando Matthew me ajuda com o


banho.
Estou tão cansada por termos passado a noite inteira
transando loucamente, que opito por vestir apenas uma de suas
camisetas de botões.
Me deito na cama e descanso por alguns instantes, até pegar
no sono.

(...)

Me sinto ainda sonolenta, pois não tenho o costume de passar


a noite em claro, e dormir poucas horas me deixou em um estado
vergonhoso.
Passo a maior parte do dia bocejando.
Tomo meu café da manhã a base de frutas e sucos. Uma bela
bandeja foi preparada pelo meu marido, já que estamos apenas nós
dois no iate. É fácil preparar pães com geleia e colocar suco de
caixa no copo, mas mesmo assim não vou desmerecer sua ação.
Sinto minhas pernas fraquejarem quando caminho para fora da
suíte e percebo que estamos ancorados próximos a uma ilha de
terra muito tropical. Procuro pelo Matthew na cozinha, mas não o
encontro. Então aproveito para me hidratar antes de voltar para a
tenda do iate.
Me sento em um dos sofás, me permitindo relaxar, e vejo meu
marido caminhar na direção da barra apenas com uma boxer branca.
Seu físico é perfeito e admiro cada pedacinho do seu belo corpo.
Como é capaz alguém me levar tanto ao delírio?
Ele olha para mim, tira seus óculos escuros, e quando menos
espero, pula no mar. Corro imediatamente para ver se ele não se
machucou. Suas mãos estão em seu rosto, retirando a água, e em
seguida ele me encara e sorri, me convidando a fazer o mesmo.
Faço menção de que não vou.
— Não há tubarões aqui. — me assegura.
— Eu morro de medo de pular. Nem pensar! — digo convencida
de que não irei.
— Vamos de jet ski até a praia!
— Você é louco! Não vou apenas de camisa para uma praia.
— Não há ninguém lá. Eu sou o dono. Há somente uma bela
mansão com mantimentos e bastante conforto para nós.
Volto para o quarto, prendo meus cabelos em um rabo de
cavalo, me olho no espelho, falando para mim mesma que
conseguirei pular. Não sou tão fraca quanto a maioria pensa.
Sorrio, corro até a borda da barra e me sento.
Matthew me olha, cheio de gás, e grita:
— Você consegue, princesa! — me incentiva a pular.
Fecho os olhos e decidi me jogar. Caio na água profunda,
mergulho até uma certa profundidade e volto para a superfície, onde
sou amparada pelos braços fortes e largos do meu marido. Ele me
olha como se eu estivesse toda quebrada.
A sensação de pular foi pura adrenalina. Se minhas amigas me
vissem fazendo isso, não acreditariam. Acho que, no final, Matthew é
único que acredita em mim, apesar de me tratar como uma
bonequinha de porcelana.
— Estou bem. Não quebrei. — Eu rio e meu coração bate
aceleradamente dentro do meu peito.
Nos beijamos intensamente enquanto nossos corpos flutuam
sobre uma grande profundidade.
Após fazermos amor loucamente dentro mar, vamos de jet ski
até a tal ilha. Matthew conduz o veículo com bastante segurança.
Não duvido de que com ele, sempre estarei segura.
A mansão é uma bela casa de praia com enormes janelas de
vidros que permitem que a luz do sol ilumine todo o ambiente. O piso
de madeira deixa o local mais tropical e a decoração branca com
cortinas vermelhas em alguns cômodos o torna sofisticado.
Troco minhas roupas por um short curto e uma blusinha regata
que encontrei no closet da suíte principal. Todas as coisas são
sempre pensadas e planejadas por ele. Seus empregados
providenciaram tudo para essas nossas “férias”.
Preparo nosso almoço, constando que há muitos preparativos,
ingredientes caros, que eu não costumava ter em casa. Faço a única
coisa que sei: macarronada com frango desfiado e queijo. Depois
arrumo tudo na mesa.
— Pelo cheiro, parece estar uma delícia. — Matthew diz.
— Espero que goste. E se não gostar, sobra mais para mim. —
Descubro o recipiente, revelando o prato delicioso.
Ele me olha como se nunca tivesse visto aquilo antes.
— Macarronada com frango desfiado e queijo. Receita da
minha avó. Posso servir?
Ele assente e logo olha para aquele preparado em seu prato,
meio como se estivesse com dúvida se vai comer ou não.
— Sei que você está acostumado com pratos elegantes, mas
não sei preparar aquelas coisas pequenas e sofisticadas, nem usar
azeite, somente margarina. E pode comer tranquilo! Não encontrei
veneno nessa casa.
Dou uma garfada na minha deliciosa macarronada e Matthew
faz o mesmo.
— Deliciosa! — diz maravilhosamente encantado pela minha
comida.
Ele repete duas vezes e aproveitamos o restante da tarde para
passear pela ilha. Ele me mostra seu lugar preferido aqui, uma
quadra de futebol onde costumava treinar com seus amigos quando
mais jovem. Aos poucos vou descobrindo um lado divertido nele, que
afinal de contas, não é apenas um psicopata.
CAPÍTULO 11
ELISA SANTIAGO

Nosso segundo dia na ilha não podia ter começado em melhor


estilo. Nós dois preparamos um delicioso café da manhã, com um
entrosamento bom na cozinha. Ele mexia os ovos enquanto eu
preparava o bacon. Posso afirmar, com todas as letras, que tive uma
noite maravilhosa e dormi como um bebê, sentido o calor da sua pele
sobre a minha me aquecendo.
Quero caminhar pela areia, poder nadar um pouco na água e,
quem sabe, até apostar uma corrida com o Matthew. Ele não é
aquele cara típico que ama tomar banho de sol, e por isso sempre
tem a pele tão pálida, da cor do leite.
Preciso insistir algumas vezes para que ele aceite nadar comigo
e acabo me arrependendo quando percebo suas reais intenções. O
homem sempre quer transar e nunca fica cansado. Parece ter uma
constante disposição. Não nego que meu corpo se acostumou com
seu toque, mas ainda assim preciso odiá-lo com todas as minhas
forças.
No momento, antes de almoçarmos, estamos jogando cartas.
Ele está ganhando, como sempre, e é claro que quis apostar.
Acabo ficando apenas de lingerie enquanto Matthew não
perdeu uma peça sequer de roupa. É injusto. Ele sempre tem que
ganhar todas?
— Ganhei de novo! — Me mostra o jogo.
— Não vou mais brincar. — digo chateada. — É injusto! Você
só pode estar roubando.
— Aprenda a perder, princesa! — é sarcástico.
— Vou pegar algo para comer. Quer alguma coisa?
— O mesmo que você pegar. Estarei no escritório.
Reviro os armários da cozinha. Como estou com desejo de
comer panquecas, preparo a massa e o molho com frango, queijo
ralado, um pouco de cheiro verde para dar sabor e... Voilá! Tenho as
panquecas mais gostosas de toda a América. A receita da minha
mãe, que sempre as fazia para que eu pudesse levar para a
Faculdade, já que comprar lanches no campus era muito caro e não
tínhamos dinheiro sobrando. Quando ela passou a ter uma longa
jornada de trabalho, aprendi preparar as panquecas, pois não queria
vê-la chegar em casa cansada e ainda ter que fazer algo para
comermos,
Levo-as junto com molhos para o escritório.
Matthew está na frente da tela do computador, digitando algo
que, provavelmente, é importante. Ele realmente parece muito
concentrado no que faz e não nota quando me aproximo, colocando
as panquecas ao lado do notebook. Suas órbitas azuis expressam
susto ao me verem, e antes que eu possa notar alguma coisa na tela
do computador, ele o fecha.
— Panquecas com molho especial. Você vai adorar.
— Feitas por você? Com certeza.

(...)

No final da tarde colocamos uma toalha sobre a areia e vejo


com meus próprios olhos Matthew fazer uma fogueira. Claro que ele
não cortou nenhum tronco de árvore, já que os gravetos estavam
disponíveis ao nosso acesso, no armazém ao lado. Acender a
fogueira é a parte mais fácil, pois temos álcool e fósforo.
Sob a luz do luar e das estrelas, apoio minha cabeça sobre um
dos seus ombros nus. Nunca tinha visto algo tão lindo como todas
essas estrelas no céu. Da cidade não dá pra ver tantas assim juntas.
É algo mágico.
— Estou apaixonada por aquela constelação. — Aponto para a
mesma.
— Phoenix (Phe), a Fênix, é uma constelação do hemisfério
celestial sul. O genitivo, usado para formar nomes de estrelas, é
Phoenicis. Sua estrela mais brilhante é a Alpha Phoenicis (Ankaa). A
Fénix faz parte de um grupo de 12 constelações modernas
introduzidas pelos navegadores holandeses Pieter Keyser e
Frederick de Houtman, que cartografaram o céu do hemisfério Sul
entre 1595 e 1597 de 4 de outubro de 2012.
— Você entende mesmo sobre estrelas.
— Não me envolvo apenas com coisas ilegais, princesa. Já fiz
faculdade antes de tudo isso e aprendi muitas coisas. Quando mais
jovem, gostava de acampar ao ar livre e pesquisar sobre os astros.
— São muito bonitas as constelações.
— Se algum dia elas estiverem à venda, comprarei a mais
bonita para você.
Acabo achando engraçado o que ele disse e gargalho do seu
jeito bobo de me encarar. Pensei que fosse uma brincadeira, mas ele
realmente está me fitando de maneira natural. Conheço bem esse
olhar e o que significa.
— Se sente tão infeliz ao meu lado? — pergunta.
— Eu só queria poder saber como está a minha mãe.
— Ela está bem. — se limita a dizer apenas isso. — Você não
precisa se preocupar com isso. Se preocupe apenas em me
satisfazer, que eu saberei te recompensar!
— Não quero mais jóias, nem propriedades. — falo exausta.
Matthew sempre pensa que o maldito dinheiro é capaz de
comprar qualquer coisa.
— Só quero ser livre novamente. Esse chip é algo muito errado.
— Olho para o meu braço.
Esse maldito chip não me incentiva muito a tentar ser feliz ao
lado do meu marido. Ele é obsessivo, controlador, como poderei
amar uma pessoa assim?
— É necessário, princesa, para sua proteção.
— Eu olho para ele e me sinto marcada, como se faz com um
boi para o abate.
— Se algum dia algo acontecer com você, esse chip pode
salvar sua vida.
— Enquanto isso não acontece, eu ainda o odeio, assim como
te odeio também por ter tirado minha liberdade e vontade de viver.
Eu tinha uma vida antes de você aparecer e estava quase me
formando, mas agora não sou mais nada. Sirvo apenas para o sexo,
como uma prostituta.
Deixo a areia e volto para casa, direto para a suíte principal. Há
momentos que não consigo suportar e preciso de espaço para dizer
o que sinto.
Depois de horas, que pareceram uma eternidade, sinto seu
peso na cama. Continuo em silêncio, como se ele não tivesse
chegado.
Com a pouca luz no ambiente, Matthew não pode ver meus
olhos abertos. Logo seus braços agarraram minha cintura como se
ele sentisse medo de me perder. Posso jurar que está apreensivo.
Fico tão distraída com meus pensamentos, que nem percebo o
exato momento em que adormeço.

(...)
Me sinto cansada e a luz do sol impregnada no ambiente me
causa uma pontada de dor na cabeça semelhante à ressaca.
Percebo meu estômago embrulhar, e antes que meu organismo
possa dar qualquer sinal, em desespero corro até o banheiro e
deposito dentro do vaso sanitário uma grande quantidade de vômito.
É como se todas as minhas tripas estivessem sendo colocadas para
fora.
As náuseas se tornam cada vez mais fortes e por um momento
penso que não irei conseguir suportar.
Após quase uma hora sentada ao lado vaso, me sinto fraca,
com a sensação de que desmaiei algumas vezes, como se as
vertigens percorressem a minha mente. Respiro fundo antes de
sentir os braços fortes me segurarem com delicadeza. Sou colocada
novamente sobre o colchão macio com plumas de algodão.
Uma das suas mãos toca minha face e ele murmura algo.
— Droga! Está com febre.
Ouço o barulho da porta ser fechada. Me sinto assustada e
com medo dele não voltar, de me deixar aqui para morrer.
— Não me deixe sozinha, por favor! — murmuro várias vezes,
até ver que ele está de novo ao meu lado, segurando minha mão.
Novamente sou colocada em pé e ele retira o que consegue
das minhas roupas, me deixando apenas de calcinha e blusa regata.
Em seguida me leva nos braços até o box, onde me agarro aos seus
braços, com medo de cair. A sensação é de desespero.
Tudo acontece em câmera lenta. A água fria caindo sobre
minha pele me faz querer sair correndo desse banheiro, mas
Matthew me segura firmemente em seus braços. Abraço-o com
muita intensidade. Isso parece mais uma tortura.
— Calma, princesa! Estou aqui. — sussurra em um dos meus
ouvidos.
Me sinto devidamente aquecida agora, vestida em uma calça
moletom e camiseta. Meus pés foram preenchidos por meias e
cobertores grossos inibem o frio que sinto.
Juro ouvir vozes próximas a mim e desperto, em seguida,
constatando que há uma mulher me examinando. Ela está sentada ao
meu lado, medindo minha temperatura.
— Senhora Lansky, como se sente?
— Tenho frio.
Olho em volta e vejo meu marido em pé, próximo à cama, me
observando. Recordo de que não me senti disposta ao despertar
nessa manhã e me lembro de ter passado mal.
— Não tenha medo! Está tudo sob controle agora. Sua febre
está baixando e estamos tomando todos os cuidados possíveis para
que ela não retorne. Me diga, senhora Lansky! Essa foi a primeira
vez que sentiu náuseas?
— Sim.
— Retirei uma amostra do seu sangue para exames de rotina.
Não há nada com que se preocupar. Logo estava saudável.
— Obrigada, doutora!
— Em breve irei trazer o diagnóstico.
Matthew a cumprimenta e eu ouço-os conversando. Ele diz que
o helicóptero a espera para voltar à cidade.
— Acho que as panquecas me deixaram assim. Estavam muito
gordurosas.
Ele sorri para mim, deposita um beijo na minha testa e pede
para eu descansar.

(...)
Quando meu jantar é servido no quarto, me sinto uma criança
sendo amamentada pela mãe. Meu marido me dá sopa na boca. Ele
está sendo gentil, atencioso, e reconheço sua preocupação comigo.
Agora está mais leve, parecendo feliz, e posso notar um certo brilho
no seu olhar.
Após finalizar minha refeição, Matthew liga a televisão em um
filme de comédia romântica para que eu possa assistir ao seu lado.
Acabo adormecendo várias vezes.

(...)

Já na manhã seguinte, me sinto bem melhor. Faço minhas


higienes pessoais e da janela do quarto vejo que Matthew está na
praia. Desço para lá.
Quando ele me vê, age como se eu estivesse fazendo algo de
errado.
— Elisa! O que faz aqui?
— Eu estava cansada de ficar deitada o dia todo. Preciso me
movimentar.
— É melhor voltar para casa.
— Não estou afim. — Mostro um sorriso amarelo.
Como um bárbaro, ele me pega pelos braços, me fazendo ficar
com cabeça para baixo e com o bumbum para cima. Segura em
minha cintura com possessão e me leva para casa novamente.
Droga! Matthew nunca respeita minhas decisões.
Ele me faz sentar no sofá.
— Você é um bárbaro!
— É para sua proteção, princesa.
Há algo estranho na sua expressão, como uma certa alegria
que não estava ali antes de virmos para essa ilha. Posso jurar que
ela surgiu após a médica tirar minha amostra de sangue.
Indago ele sobre o resultado do exame e o mesmo diz que não
preciso me preocupar, que estou bem.

(...)

Matthew não me disse quantos dias iremos passar nessa ilha,


apenas ficamos aqui naturalmente, dia após dia, como se fôssemos
o casal mais perfeito de todos.
Nossos corpos sempre estão em perfeita sintonia, uma
orquestra de não colocar defeito. Ele me sacia de todas as formas
possíveis. Me pergunto como é possível sentir tanto desejo assim.
Sua língua habilidosa passeia pelo meu pescoço, indo de
encontro aos meus seios expostos, duros pelo seu contato, e meu
corpo queima por ele, que suga um dos meios mamilos enquanto se
diverte com o outro, usando seus dedos habilidosos.
Estou sentada sobre a mesa do jantar enquanto a lua ilumina lá
fora. Ainda posso ouvir o som do vento entre as árvores à nossa
volta e os gemidos abafados que solto a cada lambida e mordida
que ele me dá.
Meu marido segura firme nos meus quadris, me fazendo ficar
mais próxima dele e, involuntariamente, acabo tocando no seu
membro robusto e duro. Penso em lhe proporcionar um pouco de
prazer também, então, com delicadeza, acaricio a ponta da sua
cabeça. Ele fecha os olhos com meu toque, demonstrando o quanto
gostou. Sei que sempre espera por um ato mais atrevido de minha
parte, mas minha timidez às vezes me atrapalha na hora do sexo. Só
que dessa vez será diferente.
Me abaixo, ficando de joelhos, fecho meus olhos e começo a
me lembrar de um vídeo que assisti quando mais jovem na sala de
aula com umas amigas. A mulher da filmagem abria a boca com
delicadeza e começava a chupar o homem como se estivesse
lambendo um pirulito. Então é o que eu faço. Massageio seu membro
com as mãos e com a ponta da língua sinto seu sabor. Pensei que
não iria gostar, pois sensação é nova para mim, e ao vê-lo cheio de
tesão pelo meu ato, me encorajo a continuar cada vez mais fundo.
Às vezes me engasgo, pois seu pênis é muito grande, contudo, ele
me ajuda segurando meu cabelo com suas mãos e fazendo
movimentos de vai e vem.
Logo estamos os dois no clima.
Matthew tenta tirar seu membro da minha boca quando diz que
vai gozar, mas eu não permito e continuo sugando-o até sentir seu
líquido quente do orgasmo invadir-me. Então engulo tudo.
Não foi tão ruim quanto pensei que seria.
Um sorriso de satisfação esboça na sua face pela minha
atitude. Posso perceber que aquilo o deixou ainda mais excitado.
Ele me vira de costas, bruscamente, me fazendo apoiar as
mãos no mármore da pia. Meu bumbum está empinado e ele penetra
na minha vagina com precisão, começando a se movimentar em
ritmos alucinantes.
Nossa noite está apenas começando.
CAPÍTULO 12
ELISA SANTIAGO

Os dias passaram voando. Passei a dividir meu tempo entre


cozinhar e transar com o Matthew. Durante um mês na ilha, não
houve um dia sequer em que não tivemos relação sexual. O homem é
insaciável e eu estou me tornando igual a ele, sempre o querendo
mais e mais. A sensação de preenchimento ao tê-lo dentro de mim é
uma das melhores da minha vida.
Não gostei muito de termos voltado para a cidade, pois na
mansão passo o dia inteiro trancada entre quatros paredes, sem
liberdade de passear pelos cômodos, muito menos de ir ao jardim.
Sempre sinto medo de que alguém tente me fazer algum mal, como
na vez em que a mãe dele me jogou naquele lugar. Pode parecer
estupidez minha, mas tenho a sensação de que ela não parou por ali.
Um turbilhão de sensações reina em mim e não sei dizer o que
estou sentindo.
Meu marido precisou viajar para uma reunião de negócios em
Chicago e, infelizmente, não pude ir com ele. Imagino que o motivo
seja o medo de que algum sistema de inteligência me reconheça e
saiba que estou sendo mantida presa em cárcere privado por ele.
Sua imagem acima de tudo.
Duas noites sem sentir seus toques e meu organismo já entra
em desespero. Sinto sua falta na cama e no meu dia a dia. Apesar
de ele passar a maior parte do tempo na empresa, à noite sempre o
tenho exclusivamente para mim, na nossa cama confortável, com ele
me amando de todas as formas possíveis.
Nessa manhã tive um pequeno mal-estar ao sentir o aroma
vindo da cozinha. Parecia que havia ovos podres sendo fritados.
Questionei a empregada sobre a validade e ela me garantiu que eles
não estavam vencidos. Pode ser que eu esteja enlouquecendo, pois
até o perfume das flores no vaso de porcelana da cabeceira da
minha cama me faz sentir náuseas.
Matthew disse que se, por acaso, eu sentir qualquer coisa,
deveria falar com a Sabina, mas não quero perturbar ele, muito
menos incomodar sua irmã.
Para aliviar essa tensão, decido organizar algumas roupas no
meu closet, porém logo me canso de arrumar tantas peças, já que
são muitas para separar. Resolvo, então, trocar meus produtos de
higiene pessoal. Peço para a empregada trazer creme dental e
escovas novas, junto com sabonete líquido e álcool em gel para
sempre lavarmos as mãos. Isso evita que possamos pegar muitas
doenças transmitidas por vírus.
Em um saco plástico, jogo tudo aquilo que não serve mais para
o uso, inclusive cremes dentais vazios das gavetas do armário do
banheiro. Fito o pacote de absorventes lacrado que está próximo aos
meus cremes, pego a embalagem em mãos e meu coração quase
para de bater quando lembro que estou há mais de um mês sem
menstruar.
Não, não, não, não!
Corro até o closet, onde há um espelho enorme do tamanho da
parede, e observo meu corpo, meio que assustada. Levanto minha
blusa e viro de lado, procurando algum volume na minha barriga. Ela
continua reta, sem nenhuma alteração, e mesmo que eu esteja
grávida, em um mês não daria para mostrar quase nada.
Com esse pensamento, acabo perdendo o controle de todos os
meus nervos. Se eu estiver grávida, está explicado o motivo das
minhas náuseas e do desmaio lá na ilha.
Preciso urgentemente comprovar isso, mas como, se não tenho
autorização para sair de casa para ir a uma farmácia comprar um
teste?
Sabina!
Bato na porta do seu quarto e ela a abre, meio sonolenta.
— Posso ajudar?
— Sim. Estou desesperada.
Lhe conto sobre minhas suspeitas.
Ela parece pensativa e depois diz:
— É óbvio que você está grávida. Se vocês não se preveniram,
com certeza.
Quase choro com isso. Não posso estar grávida.
Em meia hora, ela volta com alguns testes de gravidez. Faço
cinco deles e espero o resultado, ansiosa, trancada no banheiro.
Começo a rezar e pedir para que eu não esteja grávida. Não posso
ser mãe. Não nesse momento da minha vida, com um homem que
me mantém presa ao seu lado.
Com as mãos trêmulas, pego o primeiro teste e meus olhos
não acreditam não que acabam de ver. Solto um grito alto e
desesperador que faz com que Sabina abra a porta do banheiro e
pegue o teste das minhas mãos. Meus olhos já estão banhados de
lágrimas.
Em desespero, pego o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto.
Todos mostram a mesma coisa.
— Meus parabéns! — Sabina diz sem jeito e sem muitas
emoções.
— Eu preciso voltar para casa. Por favor, me ajuda! Seu irmão
não vai nem saber que algum dia eu estive grávida.
— Se eu pudesse te ajudar, ajudaria. E não duvide: meu irmão
não deixaria algo como uma gravidez passar despercebida por ele.
Principalmente se tratando do seu herdeiro.
— Herdeiro de quê?
— Da máfia americana. Você agora, mais do que nunca, faz
parte da família.
Grávida!
Grávida de um mafioso, ainda por cima.
O que será de mim quando Matthew descobrir? Se é que ele já
não sabe.
Me sinto aflita por ter descoberto que há um pequeno ser que
não tem culpa de nada, crescendo dentro de mim. Nunca me
imaginei sendo mãe tão jovem, antes de me formar.
Preciso da minha mãe aqui comigo. Ela é meu único refúgio,
minha melhor amiga.
Tenho a compreensão de Sabina, que não é uma má pessoa e
jurou para mim que não vai contar nada a respeito da gravidez para
meu marido.
Ele chegará em casa no final da tarde de amanhã e eu quero
estar calma para não surtar mais ainda.

(...)

Nessa noite tive um sonho feliz com meu bebê. Era uma menina
linda de cabelos cacheados, pele negra e olhos azuis, como os do
meu marido. Estávamos passeando felizes em um belo parque
repleto de flores vermelhas e o sol entre as nuvens deixava o clima
perfeito.
Desperto com uma sensação estranha, como se estivesse
sendo observada. Olho em volta e, para a minha surpresa, a porta é
aberta, revelando o Matthew.
Por instinto, me levanto da cama e corro na sua direção para
lhe abraçar forte. Me sinto sozinha sem sua companhia.
Foi idiotice minha agir por impulso, mas eu precisava sentir seu
calor novamente.
— Calma, anjo! Estou aqui. — Ele pode sentir minha tensão
muscular. — Seu marido está de volta.
— Senti sua falta. — sussurrou baixinho.
— Eu também, meu amor. Vem! Senta na cama! Você não
pode ter fortes emoções. Isso não irá te fazer bem.
O olho confusa. Ele fala como se soubesse da minha gravidez.
— Você já sabe? Foi a Sabina que...?
— Não foi ela. Quando você desmaiou na ilha e a médica
recolheu sua amostra de sangue, soube naquela mesma tarde que
você está grávida.
Me sinto traída. Eu devia ter ficado sabendo disso.
— Você não achou que eu deveria saber da gravidez?
— Não era o momento certo, princesa. Tenho muitos inimigos e
seria um presente para eles saberem que minha mulher está grávida.
Foi necessário eu deixar que sua gravidez fosse mais adiante, antes
de qualquer coisa, para que assim tivesse a certeza de que está
tudo bem.
— Tenho medo de que seus inimigos possam...
— Irei proteger vocês dois de tudo e todos. — assegura.
— Confio em você.
— Nunca irei permitir que nenhum mal aconteça com vocês.
Por um instante, respiro aliviada. Pensei que ele não poderia
me proteger o tempo todo, como diz, e me lembro de tudo o que
passei nas mãos da sua mãe. Como ela irá reagir quando descobrir
da minha gravidez?
— Você é muito imprevisível. Eu não sei...
— Não sabe o quê, Elisa? — seu semblante irritado me causa
medo.
Ele sempre se mantém calmo diante de situações mais
preocupantes.
— Você me sequestrou e isso é tão horrível. Por que não estou
com raiva disso?
— Porque você consegue enxergar meu amor e que eu sou o
cara certo para você.
— Matthew, posso te pedir uma coisa?
— O que quiser, minha princesa. Te darei até o sol se me pedir.
Não sabe como estou feliz por saber que minha mulher me dará,
enfim, meu tão sonhado herdeiro.
Quanto a isso de herdeiro, como está no começo, não vou dizer
nada ainda, mas não aceitarei que meu filho seja criado para matar
pessoas, muito menos para se envolver com negócios ilegais. Só que
isso será uma conversa para outra ocasião.
— Posso pedir qualquer coisa?
Ele me sonda com suas órbitas azuis escuras. Às vezes tenho
a leve impressão de que ele se torna sombrio, como se houvesse
demônios em volta de si.
Essa é a minha chance de pedir algo que quero. Com certeza,
ele não vai me negar. Estou grávida. Sabina me disse algo sobre a
tradição de que quando a mulher de um líder engravida, ela tem o
direito de pedi-lo o que quiser.
— Sabina lhe contou sobre a tradição? Tudo bem, Elisa. Faça
seu pedido! — Cruza os braços.
Respiro fundo e digo de uma única vez, antes que a minha
coragem vá por água abaixo.
— Eu quero ver minha mãe.
CAPÍTULO 13
MATTHEW LANSKY

Não quero ver a dor em seu olhar. O aperto em seu coração


me magoa e detesto ser o causador do seu sofrimento.
Elisa é esperta, e graças à língua afiada da minha querida irmã,
que não tinha que ter falado nada sobre a tradição, pela primeira vez
na vida, estou prestes a quebrar uma regra da máfia. Uma das mais
respeitadas. Mas não posso atender ao pedido da minha mulher.
Seus olhos se apertam em lágrimas, parecendo já saber qual
será minha resposta. E quando falo, ela parece conformada, para a
minha surpresa.
— Sinto muito, princesa, mas não posso atender ao seu
pedido.
Um minuto de silêncio se faz no cômodo.
Ela enxuga suas lágrimas e respira fundo antes de sibilar algo
naqueles lábios carnudos, deliciosamente apetitosos.
— Okay. — Passa por mim com passos largos e firmes.
Nem parece a garotinha imatura e inconformada que costuma
ser. Sei que ela não está satisfeita em viver ao meu lado, e por mais
que me doa saber que a mulher que amo, não sente nada além de
ódio por mim, sou obrigado a conviver com sua indiferença. Quando
não estamos entre quatro paredes, Elisa costuma ser calada.
Poucas palavras e tudo sempre está bom para ela.
Nem parece a mulher fogosa que anseia pelos meus toques
ardentes.
Contenho minha imensa vontade de ir atrás dela para enxugar
suas lágrimas e dizer que aceito trazer sua mãe para Nova York,
mas não posso. Seria perigoso trazê-la para cá. Como explicar à
polícia brasileira que uma mãe desesperada pelo desaparecimento
da filha também desapareceu? Se tornaria algo maior do que já está
se tornando.
Carlos me comunicou que minha sogra está em todos os
programas de jornalismo pedindo justiça e culpando as autoridades
brasileiras. Ela não entende o fato de que não há nenhuma imagem
sobre o desaparecimento da filha, nenhuma pista.
Estou em contato com a nota que será divulgada na próxima
quarta-feira.
“CASO DE ELISA SANTIAGO É DADO POR ENCERRADO.”
Elisa “desapareceu” no mar. Meus homens arrumarão pistas
que levarão a polícia até lá. Objetos da minha mulher estarão
próximos a uma praia que fica na comunidade onde ela morava. Será
encontrada sua bolsa da Faculdade enterrada na areia e uma muda
de roupas presas a uns corais. Com isso, será dada como morta e
sua mãe irá parar de tentar descobrir onde a filha está.
Esse jogo está ficando perigoso. Preciso calar a boca daquela
velha de uma vez por todas.
Aproveito que Elisa saiu do nosso quarto e ligo para o Carlos.
Preciso de mais notícias.
— Fala, chefe!
— Como andam as investigações?
— Chefe, creio que antes do meio-dia de amanhã, eles irão
encontrar os objetos da moça. Vão deduzir que Elisa saiu da
Faculdade, decidiu caminhar pela praia e se sentiu atraída pelo mar,
mas como começou a chover, resolveu sair da água, mas foi
arrastada pela corrente marítima e se afogou.
— Nada pode dar errado Carlos, senão você dança!
— Durma tranquilo, chefe! Sua garota jamais será encontrada.
(...)

Dirijo até a empresa, pois tenho alguns assuntos para colocar


em dia. O tempo que passei na ilha com minha esposa me fez perder
algumas reuniões importantes.
Atendo o telefone do escritório. É minha secretária Luna
avisando que tem alguém querendo falar comigo. Estou quase
dizendo que não quero ser incomodado por ninguém, quando ouço o
barulho da porta sendo aberta, causando um estrondo no ambiente.
— Senhor, me perdoe! Ela foi...
Encerro a ligação e fito a mulher à minha frente, com postura
elegante, saltos finos importados, bolsa de couro e um olhar
sombrio. Por mais que ela esteja demonstrando calma, eu a conheço
muito bem, então sei que por dentro há um dragão furioso, prestes a
espalhar fogo por toda a sala.
— O que a senhora deseja? — pergunto irritado.
— Quer dizer que agora também estou proibida de entrar na
minha própria empresa? Já não basta ter sido expulsa da minha
mansão?
— Minha mansão. Lembre-se disso! Tudo o que o meu pai
deixou, está no meu nome e, por algum motivo, ele não quis te deixar
muitas propriedades, apenas o necessário para não morrer de fome.
Acho que ele sabia que não seria uma boa ideia, por isso confiou
tudo no meu nome.
— Eu juro que não te entendo, filho. Como alguém formado,
líder de uma organização respeitada e temida por todos, foi se
envolver justo com uma mulherzinha moradora de favela?
— Se veio torrar minha paciência, é melhor dar meia volta
antes que eu esqueça que você é minha mãe.
— Só uma dúvida, Matthew. Pretende mesmo continuar com
aquela mulher? Assumir um filho que pode nascer negro?
— Você não tem noção do absurdo que está falando. Esqueceu
que o braço direito do papai era um homem negro e foi o melhor
amigo dele?
— Aquele infeliz!
Minha mãe sempre sentiu um ódio sem explicação por aquele
homem que sempre esteve ao lado da nossa família. Não irei permitir
que ela ouse ofender ainda mais a memória do pai da minha esposa.
— Aquele “infeliz”, como a senhora diz, morreu salvando a vida
do meu pai, e eu serei eternamente grata a ele.
— Isso não significa que você deva assumir a filha dele como
sua mulher. Aposto que ela nem imagina que aquele verme do pai
dela morreu. Adoraria contá-la.
— Não ouse falar nada para a Elisa! — Rosno.
Albert Santiago foi o pai da Elisa.
Minha mãe é uma mulher esperta, com muitos aliados. Alguém
de minha inteira confiança descobriu que Elisa é filha do Albert. O
homem morreu salvando a vida do meu pai e nossa família é
eternamente grata a ele.
Antes de morrer, papai me pediu para que eu procurasse pela
família dele e tomasse sua filha como minha esposa, em forma de
agradecimento por todo o seu trabalho prestado a nós.
Quando vi aquela morena desfilando pela rua, soube que ela
seria minha, e assim que meu detetive investigou sobre ela,
chegamos onde eu mais queria.
Elisa Santiago.
Esse sobrenome me despertou interesse.
Fui ao Brasil exclusivamente para encontrar a filha do Albert, e
quando soube que a morena que despertou em mim um grande
interesse era a mesma mulher que eu estava procurando, não pensei
duas vezes antes de cumprir com o prometido ao meu pai.
— Seu pai não tinha o direito de pedir para você se casar com
aquela imunda. Meu filho, ela é negra. Você poderia se casar com a
Sthefanny, e eu entenderia. Ela tem a pele mais clarinha...
— Cala a boca! — Rosno.
Sthefanny é parte de um passado e presente em que Elisa não
tem conhecimento. Não irei permitir que ela saiba de nada. Não
durante seu período de gravidez, quando está muito sensível.
— Não me importo, mãe. Elisa poderia ser azul, e ainda assim
eu seria completamente obcecado por ela. É a minha esposa, a
senhora da máfia. Entenda isso de uma vez por todas!
— Esse filho só vai trazer dores de cabeça para você. Escute o
que estou lhe dizendo!
— Saia daqui! Agora!
Ela pega sua bolsa e deixa a sala, pisando duro.
Minha mãe é a única pessoa capaz de estragar meu dia.
Agora que sabe a verdade sobre Elisa, temo que possa querer
estragar minha relação com ela. Claro que não irei conseguir guardar
esse segredo para o resto da vida, e mais cedo ou mais tarde,
alguém vai descobrir. Minha mãe odeia o fato da minha esposa ser
negra. O que é um absurdo, na minha opinião.
Eu tentei lutar contra esse sentimento, e me considero um fraco
por não conseguir resistir à Elisa. Ela é minha criptonita, meu ponto
fraco. Ao seu lado, esqueço que sou Matthew Lansky, “o impiedoso",
e me sinto submisso do seu encanto.
Droga! As coisas precisam mudar.
Não posso amolecer meu coração por uma mulher, por mais
que eu a venere. Preciso tomar medidas drásticas para que ela não
consiga me dominar.

(...)

Quando chego em casa, a noite já está reinando sobre a nossa


cidade. Peguei um trânsito infernal. O que me fez sentir ainda mais
enfurecido do que eu já estava. Após passar longas horas fora de
casa, sem sentir o perfume da minha morena, fui obrigado a ir para
três reuniões chatas com acionistas e investidores.
A encontro na cozinha, prestes a devorar alguma sobremesa, a
qual não presto muita atenção. Logo a pego pela cintura, a fazendo
sentar sobre o balcão da cozinha. O barulho dos partos caindo no
chão faz um som estrondoso. Ela fala para mim que não podemos
fazer sexo na cozinha, mas eu, tecnicamente, sou a lei. Só quero
transar com ela, não importa o lugar. Quem manda aqui sou eu.
A deixo totalmente sem fôlego e minhas mãos exploram sua
cintura. Nosso beijo é quente, molhado, e ela pode sentir minha
ereção sobre sua barriga.
— Matthew! A sobremesa! — murmura baixinho.
— Estou prestes a comer ela agora. Fique caladinha, Elisa, e
me deixe trabalhar!
Ela revira os olhos com meu comentário.
Minha sede pela morena é tanta, que apenas abro o zíper da
minha calça, levanto seu vestido e livro-me da sua calcinha. Vejo sua
vagina latejar de desejo e meu pênis a penetra duro e forte. É assim
que ela gosta.
Seus gemidos de tesão e raiva são contidos. Sei que não estou
perdoado, que ela me odeia, e isso me deixa ainda mais louco.
Como Albert foi capaz de esconder uma preciosidade dessa
por tanto tempo?
Me enterro cada vez mais dentro do seu canal. Sua pele
morena cheira a lavanda, uma doce mistura suave, capaz de me
enlouquecer. Posso sentir esse perfume há metros de distância.
— Por favor, Matthew! Eu quero gozar!
A olho possesso, seguro em seu queixo com firmeza,
mostrando-a que eu mando nessa relação. Ela só goza quando eu
quero, caso contrário, continua somente com vontade.
Há algo na minha esposa capaz de me enfeitiçar, tanto que não
consigo ser duro com ela. Elisa é um misto de ternura com doçura.
Como não amar algo tão precioso?
— Você me deixa louco, bela morena!
Aumento minhas estocadas, levando-as para um ritmo
frenético. Quem ainda se encontra na casa, certamente está ouvindo
nossos gritos, principalmente os dela. Amo ver seu desespero ao se
desmanchar de prazer em meus braços.
Falo besteira em um dos seus ouvidos e arranco a parte de
cima do seu vestido florido, rasgando-o. Seus seios pequenos à
mostra me enlouquecem, então os sugo com satisfação até sentir
seu gozo molhar todo o meu pau.
Arrumo minhas roupas após ter o leve gostinho da sua entrega
a mim. Sua expressão continua enigmática.
Elisa volta a comer sua sobremesa, usando minha jaqueta, para
não mostrar o que não deve. Posso notar sua inquietude. Logo me
sirvo do mesmo que ela, puxo uma cadeira e me sento ao seu lado.
— Deliciosa! — provo da sobremesa.
Noto que Elisa cora com o meu comentário. Sabe
perfeitamente que eu estava me referindo a ela.
— Posso comer várias vezes e nunca vou enjoar. — continuo.
Ela tenta se levantar da cadeira que está sentada, mas eu a
impeço, segurando um dos seus braços.
— Por favor! Eu quero descansar.
— Nossa noite está apenas começando, princesa.
— Ah, não!
Seu desprezo me mata.
— Ah, sim! Passaremos a noite inteira em claro, e você sabe
como.
A faço sentar no meu colo e suas mãos ficam em volta do meu
pescoço. Ela não tenta fugir, apenas repousa a cabeça sobre um
dos meus ombros. Posso jurar que seus olhos estão fechados.
Estou pronto para comê-la novamente, quando ouço a voz
irritante de Sabina ecoar pelo ambiente. Logo fecho o zíper da minha
calça e arrumo Elisa em meu colo de maneira que minha irmã não
veja o que pretendíamos fazer.
— Vocês me envergonham! Eu estava com amigas, estudando
em meu quarto, quando ouvimos gritos. — Pega uma fruta na
geladeira e nos olha com um sorriso brincalhão. — Por favor, gritem
mais baixo! Não sei onde meus fones de ouvido estão.
Elisa apenas esconde o rosto em um dos meus ombros e
Sabina pisca para mim antes de nos deixar sozinhos novamente.
Começo a rir do jeito que minha esposa se comportou.
Eu deveria estar com raiva por minha irmã ter estragado nosso
momento de prazer, mas Elisa tem um jeitinho encantador de
transformar situações irritantes em leves.
A levo para nosso quarto, onde passaremos o resto da noite
nos amando.
CAPÍTULO 14
ELISA SANTIAGO

Ódio. Essa é a palavra que me define nesse momento. Após


uma semana tensa ao lado de Matthew, finalmente irei para a minha
primeira consulta de pré-natal, e como se eu já não estivesse com
raiva o suficiente dele, ele ainda não vai comigo, pois tem uma bela
reunião de negócios muito mais “importante” do que ouvir, pela
primeira vez, o coraçãozinho do nosso filho bater.
Estou ansiosa para descobrir o sexo do meu bebê. Quero tanto
que seja uma menina! Como se desse para escolher o sexo ou algo
assim! Eu iria adorar ter uma menininha, pois assim ela não
precisaria se envolver no mundo do crime. Sabina me disse que nós,
mulheres da máfia, não comandamos exatamente nada, apenas
servimos como uma “mercadoria”. Ao meu ver, é assim. Não temos
voz, nem vez.
Entendo que as filhas dos grandes chefes sirvam para
estabelecer uma aliança entre duas máfias. O que eu não entendo é
o porquê de Matthew ter se casado comigo, em vez de se casar
com alguma mocinha rica do seu mundo. É algo intrigante. Se eu for
analisar bem os fatos, não serviria nem para ser amante, quanto
mais esposa. Não que eu esteja me desmerecendo. Longe disso.
Sou única, especial, conheço meu valor e minha dignidade. Só não
entendo o porquê de ele ser tão obcecado em me ter.
O motorista me deixa na porta da clínica, um grande
estabelecimento com dois andares, de última geração. É um
ambiente espelhado com um piso brilhante, onde posso ver meu
próprio reflexo no chão.
Um batalhão de seguranças me acompanha até a sala da
médica.
Uma mulher alta, de cabelos negros e pele morena me recebe
com um belo sorriso. Lembro bem da “simpatia” dos médicos do
postinho da minha comunidade. Mas não os culpo. O sistema de
saúde lá é precário, falta equipamentos de ponta e remédios para a
população.
— Senhora Lansky, por favor, sente-se um pouco! Vamos
conversar? Me conte como está sendo sua gravidez!
— Meu apetite vem aumentando a cada dia. Me sinto gorda e
às vezes parece que vou explodir.
— Essas características são de uma gravidez saudável.
Em seguida me deito sobre a cama confortável, com almofadas
que me ajudam a relaxar. A médica levanta meu vestido até a altura
dos meus seios, com cuidado para não os deixar expostos. Ela deve
saber que tenho um marido capaz de matar quem quer que seja que
me toque de maneira indevida.
Sinto o gel petrificar toda a região da minha barriga com seu
gelo. É algo que faz cócegas. Logo depois percebo o aparelho tocar
meu abdômen. A doutora se senta ao meu lado e começa a me
mostrar imagens na tela do computador.
— Ouça o coração do seu filho bater, senhora Lansky!
Tum.
Tum.
Tum.
Tum.
Quando escuto o som do coração do meu bebê batendo dentro
do seu pequeno peito, não contenho algumas lágrimas de emoção.
Nunca me imaginei, nem desejei, ser mãe tão jovem, e jamais pensei
que a vida faria isso acontecer antes de eu me formar.
A sensação que tenho é de que posso abraçar meu filho e
protegê-lo de todo o mal que há nesse mundo.
— Gostaria de saber o sexo do bebê?
Fico confusa. Já dá pra saber?
— Claro que sim.
— É menino.
— Menino? Tem certeza?
— Absoluta, senhora. Um menino.
Eu irei amá-lo com todas as minhas forças, mas fico triste
porque sei que meu filho será criado para o mal, para matar as
pessoas, e um dia assumirá o lugar que pertence ao seu pai. Esse
não é o destino que quero para ele. Meu menino não terá escolhas e
aceitará sua realidade, sem poder dizer “não”.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto e sinto meu peito se
apertar. Não quero ver meu filho andar pelo mau caminho.
Após concluir minha consulta, volto para casa acompanhada
dos seguranças. Tento não ficar pensando em nada que possa me
atormentar.
Preciso pensar rápido, conseguir uma maneira de fugir. Não
tenho outra escolha. Prefiro arriscar a minha vida tentando me livrar
desse homem do que ver meu filho se tornar um bandido.
Toco o botão do meu quarto e peço para que Claire venha até
aqui. É a empregada mais jovem da casa. Temos quase a mesma
altura e tom de pele, porém ela é mais clarinha que eu pouca coisa.
— Senhora! — diz assim que abre a porta do meu quarto. —
Posso ajudar?
— Sim. Preciso que você prove uma roupa minha.
Seu semblante confuso quase me faz entregar todo o meu
plano. Então lembro dos conselhos da minha mãe: “Quando a
situação não for favorável para você, a faça ser”.
Sorrio, fingindo ser uma mulher da alta sociedade. Preciso ser
imponente. Como ela é minha empregada e eu sou a sua senhora,
deve me obedecer e pronto.
— Estou com preguiça de provar algumas roupas novas que
comprei. Me sinto gorda, exausta, e não quero me cansar ainda mais
vestindo-as. E como temos o mesmo físico, você pode me ajudar.
Isso não é um pedido, e sim uma ordem.
— Claro, senhora.
Não gosto de causar medo nas pessoas, mas isso foi
necessário.
A faço ir até meu closet para provar algumas roupas. Ela veste
um dos meus vestidos pretos prediletos. A moça é bonita e a peça
caiu bem na sua cintura.
— Está faltando algo. Vá até o banheiro e pegue uma joia que
deixei na gaveta do armário!
Ela assente e sai para buscá-la. Assim que entra no cômodo,
eu tranco a porta por fora. Logo ouço seus gritos pedindo para abrir.
— Me desculpe, Claire! Não posso permitir que meu filho se
torne um monstro.
Dito isso, volto para o closet, visto seu uniforme de trabalho e
prendo meu cabelo na touca em que ela usava. Realmente fico
parecida com a empregada.
Matthew costuma deixar um controle do portão sobre a mesa
de seu escritório. Só preciso ir buscá-lo.
Pego uma mochila, jogo algumas mudas de roupas dentro dela.
Estou assustada e ao mesmo tempo determinada a tentar fugir.
Recolho um pouco de dinheiro que fica guardado no cofre do
quarto, do qual tenho a senha. Foi fácil conseguir uma pequena
quantia de dólares suficientes para comprar uma passagem de volta
para o Brasil. O difícil mesmo será enganar os seguranças e tentar
fugir.
Me lembro de um boneco que Matthew treina, que se
assemelha a um humano de verdade. Então, com bastante esforço,
consigo levá-lo até a sacada do meu quarto.
Mesmo tremendo, não vacilo em instante algum. Visto roupas
minhas no boneco, vou até a janela, chamo a atenção dos
seguranças, pedindo socorro, simulando que há alguém no meu
quarto querendo me atacar. Aproveito o momento de distração que
eles estão nos seus postos, bebendo café em um copo descartável.
Se os conheço bem, não estão com os aparelhos de comunicação,
pois aproveitam a hora do lanche para descansar também, mas sem
tirarem os olhos de mim.
— Socorro! Socorro! Me ajudem!
Observo o movimento dos seguranças. Alguns estão vindo
correndo para dentro da casa, armados. Nesse momento, saio
depressa do quarto e me escondendo em um outro ao lado. Observo
pela brecha da porta alguns homens entrarem no meu quarto. Fecho
a porta dele por fora, os deixando lá dentro.
Sei que tenho pouco tempo para ir até o escritório pegar a
chave, pois aquela portinha não vai mantê-los presos por muito
tempo.
Corro até a sala do escritório, pego a chave e anoto um
pequeno aviso num papel em branco que encontro no local.
Meu coração parece que vai sair pela boca.
Passo despercebida pela sala e caminho em direção à saída.
Minhas pernas bambeiam quando vejo dois seguranças parados
próximos ao portão. Eles são tão sérios e grandes, que me
assustam um pouco, e por mais que eu esteja usando os óculos da
empregada, sinto medo de que eles me reconheçam.
Continuo andando tranquilamente até a saída, quando um dos
homens fala.
— Onde pensa que vai?
— Meu serviço já acabou, senhor.
— Ninguém entra, nem sai. Parece que a mansão foi invadida e
a senhora Lansky está correndo perigo.
Isso me faz tremer na base.
Respiro fundo. Preciso pensar em algo antes que os
seguranças encontrem a empregada trancada no meu banheiro e
venham atrás de mim.
— Vocês querem realmente perder o emprego?
Eles me olham sem entender, confusos.
— Porque perderíamos o emprego?
— Por estarem aqui em vez de tentarem ajudar a senhora
Lansky. Já pararam para pensar que o homem que capturar os
inimigos, ganhará uma bela recompensa do senhor Lansky? Afinal de
contas, a mulher dele espera o herdeiro.
— Ela tem razão, Júnior. Vamos ajudar a pegar os invasores e
ganhar a recompensa.
Os homens vão o mais depressa possível para dentro da
mansão, e assim que entram na casa, abro o portão. Sinto meu
coração parar por alguns instantes. Essa é a hora de fugir daqui.
Olho para trás e digo para mim mesma:
— Mamãe vai proteger você deles, meu amor.
Não penso duas vezes antes de sair correndo pelas ruas em
busca de alguém que possa me ajudar.
CAPÍTULO 15
MATTHEW LANSKY

— O QUE VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO, PORRA?! QUE O


RASTREADOR NO BRAÇO DA MINHA MULHER FOI
DESATIVADO?! — Bato com força sobre a mesa do meu escritório.
Como Elisa conseguiu desativar um rastreador de ponta,
plantado no seu braço? Para isso, alguém teria que ter ajudado ela.
Sem o maldito sinal de internet, como irei encontrar minha
bonequinha?
— Chefe, ele pode ter sido removido.
— Só falta você me dizer que ela mesma fez isso.
Minha paciência já está por um fio há muito tempo. Quero
matar todos esses incompetentes que se dizem seguranças, socá-
los até a morte, vê-los padecerem até o fim.
A moça que eu julgo ser responsável pela fuga da minha
esposa está toda quebrada. Seu nariz sangra e ela está quase sem
conseguir respirar. Passaria o dia inteiro vendo-a sofrer se não fosse
pela minha preocupação em descobrir onde Elisa está.
— Como uma mulher indefesa, frágil e, ainda por cima, grávida,
conseguiu sair de uma casa cheia de seguranças? Só faltam me
dizer que ela tem superpoderes agora. Já sei! A mulher-maravilha
encarnou na minha esposa.
Como pode uma mulher enganar tantos homens de uma única
vez? O boneco que uso para treinar vestido com suas roupas foi uma
excelente ideia, trancar a empregada no banheiro e roubar suas
roupas foi genial, assim como enganar dois bobões que faziam a
segurança da entrada da casa quando ela fugiu.
Já analisei as imagens das câmeras de segurança várias vezes
e elas pegam minha esposa indo para, aproximadamente, seiscentos
metros da nossa casa.
Por que você fez isso Elisa? Por que me deixou?
Só quero destruir todo mundo. Matar, para mim, já não me
satisfaz. Preciso apenas sentir o seu calor novamente.
Rosno ao lembrar do real perigo que ela está passando sozinha
pelas ruas.
Conto com sua ida até a delegacia, pois todos os delegados da
cidade têm pactos comigo e me devem favores. Se Elisa pisar em
alguma delas, serei informado imediatamente.
— Senhor, a moça já não aguenta mais. Creio que se ela
soubesse para onde sua esposa foi, já teria falado.
O miserável tem razão. Sei que essa empregada não sabe de
nada, mas é divertido vê-la sofrer.
Faço um sinal de “basta” com as mãos para não atingirem mais
a moça.
A carta em minhas mãos diz o seguinte:
“Matthew, por favor, não mate ninguém! A moça da cozinha
não tem culpa de nada. Eu a chamei para me ajudar a provar umas
roupas, a enganei e a tranquei no banheiro. Os seguranças são
bobos, fáceis de enganar, mas mesmo assim, não os mate! Pelo
amor que você diz sentir por mim, me deixe viver em paz! Entenda
que eu não te amo e quero ser feliz! Não irei suportar ver meu filho
crescer e se tornar algo perigoso, assim como você é. Não me
procure! Se vier atrás de mim, juro que não vou te perdoar nunca.”
Um filho! Meu herdeiro. Ela está correndo perigo, carregando
meu filho homem em seu ventre. Por que você tornou as coisas tão
difíceis, Elisa? Eu te dei o céu, te entreguei meu coração, fui bom,
gentil... E o que ganhei em troca? Sua traição.
Isso não vai ficar assim. Eu a terei de volta, nem que para isso
precise mover céus e terras.
Como é possível uma mulher conseguir se esconder assim?
Algo não está certo. Ela não conhece a cidade, nem ninguém que
possa lhe ajudar, mas sumiu assim, como se fosse uma agulha no
palheiro, um grão de areia no deserto.

(...)

Já se passaram quase 10 horas e ninguém tem informações


sobre minha esposa. Do país, ela não conseguirá sair. Não usando
seu nome verdadeiro, nem com documentos falsos, pois ela teria que
conseguir arrumar uns. Todas as rodoviárias têm um alerta sobre sua
presença e meu pessoal está espalhado por todos os lados.
— Senhor, e se sua esposa conseguiu a ajuda de alguém?
— Julian, quer que eu acredite em almas caridosas?
— Eu quero dizer que há a possibilidade dela estar em algum
lugar nessa cidade, sob a proteção de alguém.
— Descubra onde ela está! Ou juro que sou capaz de matar
todos vocês, seus incompetentes!
“ENTENDA QUE EU NÃO TE AMO E QUERO SER FELIZ!”
Suas palavras martelam na minha cabeça como tiros que
perfuram os nervos.
Fecho meus olhos e sua imagem invade meus pensamentos.
Doce Elisa! Onde você está? Ficar sem sentir seu perfume é a pior
tortura do mundo. Meu coração se aperta só de pensar que ela pode
estar sofrendo nas mãos de meus inimigos.
— Matthew! — ouço a voz da minha irmã se aproximar com
cautela.
— Quero ficar sozinho.
— Eu tenho algo para te falar sobre a Elisa.
A olho curioso. O que ela quer me dizer?
— Posso te ajudar a encontrá-la.
— E como você faria isso?
— Talvez eu sabia onde ela estava.
Meus olhos se acenderam em chamas novamente. Como
Sabina pode saber onde a Elisa foi?
— Eu dei uns brincos a ela.
— E daí? O que tem as porras dos brincos?
— Acontece que são brincos com rastreadores. Lembra que
você me deu alguns para me ajudar a ficar protegida, caso alguém
tentasse algo contra mim?
Imediatamente ela liga o sinal do rastreador e começa a
procurar por algum sinal de onde ele está.
Rua dos parques, em Nova York, próximo ao Central Park.
Está parado em algum lugar dentro do parque.
Imediatamente saio de casa, indo em direção ao local em que
marca exatamente onde minha esposa está. Não vejo a hora de
buscar minha morena de volta para mim, que dessa vez terá o
castigo que merece. Não vai me desobedecer nunca mais. Fui gentil
e ela me tratou como um inimigo. Isso não terá perdão.
Em menos de vinte minutos chego ao local. Meus homens se
espalham para não chamar muito a atenção das poucas pessoas que
ainda passam por aqui. Já é noite e o relógio marca um pouco mais
de onze horas. Não é um horário bom para pessoas de bem estar
caminhando por aí, desprotegidas, mesmo que nossa cidade seja
segura.
Meu coração se enche de alegria ao ver uma mulher sentada
em um dos bancos, com um agasalho de couro. Conheço aquele
casaco e sei que é da minha esposa. Lembro quando o escolhi para
ela.
Você está aqui, princesa!
Me aproximo dela com cuidado, para não a assustar, toco no
seu ombro e ganho sua atenção.
— Encontrei você, princesa.
A moça me olha assustada e rapidamente sai correndo, como
uma coelha medrosa.
Não era a Elisa. Mas aquele casaco era o dela. Por qual motivo
a mulher estava usando algo da minha esposa? Se cruzou o caminho
da morena, posso jurar que ela lhe deu o agasalho, assim como os
brincos de ouro, para ajudar. Seu coração é enorme e generoso.
Droga! Voltei à estaca zero. Onde Elisa está?
Em desespero, levo minhas mãos em volta dos meus fios,
fecho os olhos e tento me acalmar, para não perder o controle da
situação. Não é possível ela ter sumido assim.
Mais de 10 horas sem a minha morena.
— Vou te encontrar, meu amor, nem que seja a última coisa
que eu faça nessa vida. — Olho para o céu escuro logo acima de
mim.
Eu sei que ela pretendia me deixar, só não imaginei que iria
conseguir.
CAPÍTULO 16
ELISA SANTIAGO

A essa altura, meu marido já deve estar atrás de mim como


uma fera faminta em busca do seu jantar. Por mais que eu tente
manter a calma, meus nervos estão à flor da pele. Preciso fugir,
entrar em contato com alguém de confiança. Não confio na polícia,
muito menos tenho condições de viajar, pois temo ser reconhecida
por algum de seus homens no aeroporto. O domínio de Matthew
sobre as coisas nesse país é tamanha, mas preciso conseguir
despistá-lo.
Estou passando próxima ao parque, amedrontada, quando
esbarro numa moça. Inicialmente, penso que é algum soldado do
meu marido tentando me prender. Suspiro aliviada ao constatar que
é uma simples mulher de rua.
Parece que ela percebe meu real estado de nervosismo.
São tantos problemas! Estou tão aflita, que acabo me
entregando com meu próprio olhar.
— Parece assustada, morena. Fugindo da polícia?
— Eu... Eu...
— Não se preocupe! Todos sempre temos algo a esconder. Me
passa uma grana aí, que eu te escolto até a saída! Ou você não
sabe que essa área à noite é perigosa? Não me parece ser uma
moça drogada.
— Não preciso de escolta. Já estou de saída. — Passo por
ela.
Não caminho mais que dez passos, quando sou cercada por
três homens extremamente fortes. Sinto que estou em apuros e levo
as mãos à minha barriga, em um instinto maternal. Tenho apenas
uma bolsa de lado, com alguns dólares, e não posso perder meu
único dinheiro para esses drogados de rua.
Tento manter a calma e não ficar aos prantos pelos próximos
segundos.
— A mocinha faz o quê aqui? — o mais alto pergunta em um
tom ameaçador.
— Procurando diversão, gatinha? — um moreno indaga.
— O que você tem dentro dessa bolsa? Quer dar ela para a
gente? — isso não é uma pergunta, e sim uma ordem.
— Por favor, não peguem ela! — Seguro-a firmemente no meu
ombro.
— Está com medo, gatinha? — um deles pergunta, mexendo
em meus cabelos.
Estou prestes a entrar em pânico, quando um anjo da guarda
fala ao meu favor.
— Deixem a minha amiga em paz, seus brutamontes! Ela está
comigo. — uma mulher que encontrei há instantes, me salva.
Ela masca algo, que eu torço para não ser droga, e sim um
chiclete.
— A Gente não sabia, Cora.
Respiro aliviada ao vê-los se afastarem de mim. Posso,
finalmente, me sentir segura, nem que seja por alguns segundos.
Ela me olha como se eu fosse uma mulher indefesa. Todos
sempre me encaram assim. Já estou cansada de todo mundo me
tratar desse jeito. A minha mãe sempre agiu como se eu fosse de
vidro e meu marido como se eu fosse uma boneca de porcelana.
— Eu sabia que você ia entrar em confusão desde o primeiro
momento em que a vi. Não me parece ser alguém simples. Digo isso
porque já atendi muitas madames nos meus plantões.
— Plantões?
— Eu sou médica. Meus pais tinham orgulho de mim. — Dá de
ombros.
— Você não me parece uma médica.
— Quer ver meu registro, morena?
— Não. Já estou indo.
Tento me afastar, mas ela é mais rápida do que eu.
— Está fugindo. Tem um chip em você. — Fita meu braço. —
Já implantei muitos em mulheres e posso afirmar que esse não é
para evitar uma gravidez, e sim para te rastrear. Se Obama ainda
fosse o presidente, eu diria que você é a filha dele, mas como o atual
é branco, não posso afirmar isso. Qual é a sua princesinha?
— Qual a minha? Eu juro que não entendi. Só preciso ir.
Ela me parece ser muito mais esperta do que aparenta. Estou
tão nervosa, que não sei mentir. A melhor opção é correr. Tento fazer
isso, mas ela me puxa por um braço, me fazendo continuar no
mesmo lugar. Seu olhar tem uma satisfação fora do comum, e talvez
seja efeito de algum entorpecente que ela usou.
— Eu posso remover isso para você.
— Está falando sério?
— Claro que sim. Mas não vai ser grátis.
— Não tenho dinheiro.
— Mas tem esses brincos, e eles me parecem um luxo, assim
como esse casaco.
Foram presentes de Sabina. Ela estava tentando ser gentil
comigo e estávamos tendo uma boa relação nos últimos dias. Esse
presente significou muito para ela, pois Matthew havia lhe dado
quando mais jovem. Não posso me livrar deles assim. Não mesmo.
— Qual é, mocinha?! É isso, ou quem quer que esteja atrás de
você, vai te encontrar o quanto antes.
Como não tenho muito tempo, apenas concordo.
Ela me leva até sua casa. Sim! Ela tem uma casa. Me parece
ser modesta, assim como é a minha no Brasil.
A moça não é uma mulher indefesa, e posso perceber isso
pelos tacos de beisebol espalhados pelo chão. As trancas na porta
significam que ela quer se manter segura, por motivos maiores do
que posso imaginar.
— Pode sentar! Eu não mordo.
— Como você irá remover? — Me sento no seu sofá.
Posso estar ficando louca, mas essa mulher é minha única
saída. Não posso voltar para aquela casa. Se isso acontecer, temo
que eu não tenha mais o marido generoso e amoroso do qual estava
me acostumando a ter. Não nego que ele era sempre muito gentil
comigo, mas não posso criar meu filho naquele ambiente de máfia. O
que sua mãe faria quando descobrisse minha gravidez? Ela me
trancou em uma sala gelada pra morrer. Temo muito pela vida do
meu bebê.
— Tenho algumas anestesias, tesouras e linhas.
Ela é do tipo durona, que gosta de causar medo nas pessoas.
Em seguida se acomoda no seu sofá amarelo, velho e de couro
rasgado. Definitivamente, não é uma boa cor para um estofado.
— Como você se chama mesmo? — pergunto.
— Você não precisa saber meu nome. Apenas me dê os
brincos e tudo vai ficar bem!
— Eu me chamo...
— Não me importo. Se está fugindo de alguém, é melhor que
eu não sabia quem você é.
— Não gosto de agulhas.
— Vou zoar com seu medinho. — Aplica uma anestesia no local
onde está o chip.
Durante a pequena cirurgia, mantenho os olhos fechados. Ela
está usando luvas e trabalha como a profissional que é. Minha
respiração está pesada e eu sinto que estou me arriscando muito.
Será que valerá a pena? No momento não penso na minha mãe e no
que pode acontecer com ela.
Agora posso despistá-lo. Tudo graças à capacidade da moça
em me ajudar a remover o chip que ele implantou em meu braço.
Doeu um pouco, mas ela usou os equipamentos adequados, apesar
de me parecer não passar de uma médica drogada que me ajudou
em troca dos meus brincos e do meu casaco.
Após realizar todo o procedimento, peço um telefone
emprestado à mulher. O número de minha casa, sei de cor, e depois
do primeiro toque, escuto a voz da minha mãe no outro lado da linha.
Olho para trás, tendo a certeza de que parte de mim se
reestruturou quando ouviu ela.
Por sorte, o celular é um modelo antigo que não tem
rastreamento. Preciso ser rápida e prática.
— Mamãe! — Controlo minha vontade de chorar.
Ela fica muda por alguns segundos, antes de me responder.
— Elisa? Filha, é você?
— Sim, mamãe. Sou eu, Elisa.
— Por Deus! Onde você está? Eu sabia que não estava morta,
meu amor. Eles falaram que você morreu afogada no mar, mas
sempre soube que era mentira. Quem te fez isso, meu amor?
— Mamãe, eu estou segura. Não posso explicar nada agora.
Só peço que confie em mim, e em ninguém mais, nem mesmo na
polícia!
— O que devo fazer, Elisa?
— Use aquele dinheiro que a senhora vem juntando há anos
para a minha formatura! Não sei como, mas darei um jeito de chegar
ao Rio ainda nesta semana. Você vai me encontrar no nosso lugar
preferido, sem que ninguém te veja! Retire o dinheiro do banco e finja
que está tudo bem. Quando eu desembarcar, nos encontraremos. Te
amo muito! — Encerro a ligação.

(...)

No momento a mulher que me ajudou está logo atrás de mim,


com uma xícara de café em mãos.
Ingiro a bebida, tentando não demonstrar o quanto estou
nervosa.
— Seu caso é pior do que pensei, mas conheço um amigo que
pode te ajudar a chegar ao Rio de Janeiro em segurança. Posso dar
meu celular sem rastreamento para você, se me der sua bolsa e
suas roupas. São de grife, né? Claro que são.
— Eu te dou tudo o que quiser.
— Até mesmo esse anel de casamento? Seu marido deve ser
muito rico, para ter lhe dado um desse. Aposto que é dele que você
está fugindo.
— Você disse que eu não precisava dizer nada.
— E não precisa. E então, o que me diz?
— Eu te dou o meu colar. Ele vale mais do que o anel.
— Ui! Ela é apaixonada pelo marido. Aposto também que ele é
bonitão e bom de cama. Mas se eu estiver certa, porque está
fugindo? Não precisa responder. Eu crio as dúvidas e as respostas.
Aceito o colar. Você poderá ir amanhã mesmo, e garanto que
ninguém vai te encontrar.
Estou usando suas roupas velhas, com cheiro de mofo, mas
pelo menos vou conseguir deixar o país. Se tudo ocorrer bem, o
amigo da minha médica sem nome me ajudará a deixar os Estados
Unidos da América, por uma carga de cerveja que chegará amanhã
de manhã no México. Lá encontrarei um tal de Ramon, que me levará
para o Brasil em um voo clandestino.

(...)

Confesso que estar dentro um caminhão com um homem que


escuta jazz e fuma cigarro, não é nada tranquilo, mas eu confio nele,
pois é minha única saída.
Como combinado, chegamos no México às sete e meia da
manhã.
Ramon vem me buscar às oito horas e o nosso voo
desembarca às nove e meia. Será uma longa viagem até o Brasil.
Faremos escala em Porto Rico, na Venezuela, e só então
pousaremos no Rio de Janeiro.
Se tudo ocorrer bem, tenho em mente um lugar perfeito para
viver com minha mãe.
— Seu lanche, madame. — Ramon me traz uma marmita com
alguma comida especial com muitas bactérias. — Come tudo, senão
vai passar mal!
Esse avião não é como imaginei, mas pelo menos não está
caindo aos pedaços, nem com pouco combustível. Tudo vem
ocorrendo bem, até sentirmos uma pequena turbulência. Por alguns
instantes, penso que o vamos cair, mas é normal, segundo as
demais pessoas que estão viajando clandestinamente, assim como
eu.
— Você está grávida. Não fará bem ao bebê ficar nervosa. —
uma moça me diz.
— Como sabe?
— Você não tira as mãos da barriga. — Sorri para mim e volta
a olhar por uma das janelas.
Mantenho a esperança de poder voltar a ser livre e não vejo a
hora de abraçar minha mãe.
CAPÍTULO 17
ELISA SANTIAGO

A tensão paira sobre mim. A todo o instante, enquanto caminho


até o ponto de encontro que marquei com minha mãe, não deixo de
imaginar nem mesmo por um segundo que meu marido irá aparecer
e me levar de volta para os Estados Unidos.
O suor já escorre pelo meu rosto e o jeans velho que estou
usando, está me dando coceira. Talvez eu devesse ter desabotoado
meu casaco, já que o Rio de Janeiro costuma ser quente na maior
parte do tempo, mas optei por mantê-lo para me disfarçar.
Começo a avistar a grande árvore próxima ao lago em que eu
costumava brincar quando criança e uma mulher de costas para mim.
É a minha mãe, sem sombra de dúvidas. Preciso vê-la e abraçá-la,
mas antes disso, decido esperar alguns instantes a mais atrás de
uns arbustos próximos da fonte.
Espero muito mais do que deveria, pois quero ter certeza de
que ela está sozinha, de que não há mais ninguém junto. Não é que
eu não confie na minha mãe, só não confio no Matthew e nos seus
capangas espalhados pelo mundo.
Ela já está inquieta, e até tenta roer as unhas. Algo que nunca
costuma fazer. Respiro fundo e caminho tranquilamente na sua
direção.
O capuz do casaco sobre meus cabelos não impede que minha
mãe veja que sou eu mesma. Seus olhos marejados transbordam
como uma cachoeira.
— Minha menina! Você está viva! — Me dá o mais singelo
abraço de todos.
Desabo em lágrimas. O calor do seu abraço me completa, dá
um propósito à minha vida. O seu amor sempre foi minha joia mais
valiosa em todo esse mundo, e eu estava com muita saudade dela.
Passar todos esses meses longe da pessoa que mais amo nessa
vida foi uma grande provação, mas venci e, finalmente, poderei estar
novamente ao seu lado. Dessa vez, ninguém vai nos separar, nem
mesmo o todo poderoso. Prefiro morrer a ter que voltar mais uma
vez para ele.
— Por onde você andou, filha? Elisa, meu amor! Como senti
sua falta! — Me toca para ter a certeza de que eu sou real, não um
fantasma.
— Vou te explicar tudo, mas antes precisamos sair daqui.
— Sim, meu amor. Vamos para casa!
— Não, mamãe! Nossa casa não é mais um lugar seguro.
Precisamos sair do Rio e ir para algum lugar onde nem sequer tenha
acesso à internet. Não podemos ficar aqui. Pelo amor de Deus,
confie em mim!
— Eu confio, meu amor. Por isso peguei todo o dinheiro no
banco, o que era para sua formatura. Mas para onde vamos?
— Vamos comprar passagens para o interior, uma cidade
pequena e pacata.
— Eu sei para onde podemos ir. Tenho uma amiga que me
deve um favor e está na hora de cobrar.
Dito isso, minha mente cria mil teorias, mas esse não é o
momento para isso. Apenas pegamos o primeiro táxi que aparece.
Não vejo a hora de poder, enfim, chegar a esse tal lugar que minha
mãe tanto fala.

(...)

Essa foi a pior coisa que fiz na minha vida: mentir sobre minha
real identidade. A moça que me vendeu as passagens parecia estar
atenta, como se soubesse que eu estava mentindo, mas mesmo
assim liberou nossa viagem. Eu e minha mãe agora nos chamamos
Laura e Violeta Cardoso. Não entendi como ela tem todos esses
documentos falsos, que se assemelham a originais.
Ao entrarmos no ônibus, estaremos na cidade do nosso destino
em duas horas, Petrópolis. Minha mãe trabalhou uns anos para uma
senhora antes de eu nascer, e pelo que entendi, ela ajudou essa
mulher com alguma coisa importante. Isso a faz pensar que a mesma
não nos negará abrigo.

(...)

Minha mãe só se esqueceu de mencionar que a propriedade é


uma fazenda com mais de 100 metros quadrados. Muito mais do que
eu poderia percorrer em um único dia.
— Quem vive aqui? — pergunto.
— Uma amiga, meu amor. Assim que ela descer, irei
apresentá-la.
A decoração da sala é num estilo moderno, porém há marcas
de arquitetura renascentista no forro da mansão, com pinturas
tradicionais e indecifráveis aos meus olhos humanos sem o devido
conhecimento da história.
Esse lugar é incrivelmente majestoso. Diria que essa fazenda é
um verdadeiro palácio dos tempos do imperador do Brasil.
Me recomponho assim que ouço passos atrás de mim. É a tal
madame que a minha mãe falou. Uma mulher loira, muito alta, mas
que mesmo assim está usando saltos plataformas. É elegante e
educada. Ao ver minha mãe, age da maneira mais inesperada
possível. Lhe dá um abraço e pergunta por onde ela andou durante
todo esse tempo.
— Essa deve ser sua filha. Elisa? Como ela cresceu! Está
muito bonita. — Me abraça.
Nem todas as pessoas brancas são preconceituosas, como
minha querida sogra.
— Obrigada, senhora!
— Me chame de madame Bovary! — pede séria, mas ri logo
em seguida. — É brincadeira. Meu nome é Luiza Bovary. Meu
mordomo Simon vai levá-las para o quarto de vocês, no primeiro
andar. Espero que ele tenha escolhido os melhores quartos de
hóspedes.
— Sim, madame Bovary. — o mordomo diz.
Seguimos o homem de meia idade até nossos aposentos. Não
tenho nem tempo de prestar atenção em alguma coisa, pois assim
que ele se retira do cômodo, bato na porta ao lado, no quarto da
minha mãe. Temos muitas coisas para conversar.
Ela realmente pensou que eu tinha morrido afogada no mar.
Chegou a acreditar nessa possibilidade, até sonhar comigo. No seu
sonho, eu lhe dizia que estava viva. Ela sabe do meu caráter, que eu
jamais iria embora sem falar nada.
A conto exatamente tudo o que aconteceu comigo.
O ambiente é tomado por um minuto sufocante de silêncio.
Minha mãe não sabe o que me dizer. Quando falei de Matthew
Lansky, ela pareceu tomar um choque, como se tivesse se lembrado
de algo.
— Algum problema, mamãe?
— Elisa, meu amor, tem algo sobre essa família que você
precisa saber.
— Como assim? A senhora os conhece? — pergunto em
choque.
— Não. Mas seu pai os conheceu. É uma longa história.
Durante todos esses anos, pensei que meu pai saiu para
comprar cigarros e não voltou mais. Até cogitei que ele poderia ter
tido uma nova família e filhos que amasse muito, mas nunca passou
pela minha cabeça que estivesse morto.
Minha mãe me conta uma história que me deixa sem reação.
Meu pai entrou para uma organização criminosa, onde era o
segurança particular do pai do Matthew. Em seguida foi promovido,
tornando-se o braço direito dele.
Quando mamãe descobriu que estava grávida, decidiu fugir do
meu pai, pois não queria ter contato com um mafioso, nem me
educar no meio desse mundo do crime. Por isso decidiu abandoná-
lo. Não foi ele que nos deixou, como eu pensava que aconteceu.
— Mãe, a senhora está me dizendo que o papai nunca me
abandonou?
— Eu decidi fugir dele, minha princesa. Não era justo para nós.
Sempre fui contra as coisas que ele fazia.
— Então o Matthew sabendo disso, veio atrás de mim?
Agora tudo está explicado. Ele não veio parar na minha vida por
uma simples coincidência. Certamente, para honrar a morte do meu
pai, que salvou a vida do dele, se casou comigo, como uma maneira
de dizer que honrou a família do seu homem de confiança. Estou
confusa e minhas emoções se encontram num ritmo frenético. Por
um lado, me sinto triste por nunca ter conhecido meu pai. Será que
ele pensava em mim? Chegou a me amar? Por outro lado, estou
furiosa. Meu marido não tinha o direito de me obrigar a ser sua por
uma simples e maldita promessa. Não preciso desse casamento.
Teria uma ótima vida se tivesse conseguido me formar. Não preciso
de homem algum para me sustentar.
— Mãe, tem algo a mais que não te contei. Estou grávida.
Sinto o peso da sua dor sobre meus ombros. Ela, certamente,
está revivendo sua história do passado, quando fugiu do meu pai. E
agora, no futuro, está vendo sua filha fazendo a mesma coisa.
Não a recrimino por ter abandonado o papai, porque
compreendo seu lado de não querer me ver nesse mundo cruel da
máfia. Ela fez a mesma coisa que fiz pelo meu filho.
— Elisa, meu amor, estamos juntas nessa, mas se há algo de
que precisa ter certeza, é de que seu marido é um homem poderoso
e não irá descansar enquanto não te encontrar.
— Eu sei. Por isso estou aflita.
— Não se preocupe! Aqui estaremos seguras e ninguém fará
mal a vocês. A minha amiga também é da máfia. Uma viúva que
decidiu morar no Brasil após a morte do marido, sem filhos e sem
parentes. Ela é a única responsável pelos negócios do esposo,
portanto, irá nos manter atentas sobre qualquer assunto.
— E se ela descobrir que sou esposa de Matthew Lansky e
decidir me entregar?
— Não irei. — responde firmemente, parada na porta do
quarto, me olhando. — Terei o enorme prazer em acolher vocês em
minha casa. Como sua mãe disse, sou influente nesse mundo da
máfia. Se Matthew Lansky desembarcar no Brasil, saberei disso
antes mesmo dele decidir vir. Não se preocupe, Elisa! Está segura
em minha casa.
Por enquanto essa é a única proteção que tenho, a única que
está do meu lado.
CAPÍTULO 18
ELISA SANTIAGO

Respiro fundo ao sentar na varanda do meu quarto. O clima do


interior é algo capaz de causar uma calmaria em mim. Agora entendo
porque muitas pessoas preferem viver em lugares assim, pois aqui
pode-se sentir o aroma do ar livre e não tem cheiro de poluição, nem
de esgotos estourados.
A última vez em que estive em um lugar como esse, foi quando
minha mãe fugiu do meu pai e veio exatamente para cá. Em uma das
muitas festas que ela costumava ir com ele no início do casamento
deles, conheceu a senhora Bovary. A encontrou chorando em um
canto do salão, se aproximou e lhe ajudou a não cometer uma
besteira só porque flagrou o marido com uma amante. Ouvi essas
palavras da sua própria boca. Não posso calcular a dor que a mulher
sentiu, mas me parece que ela soube aproveitar bem o seu
casamento, já que hoje é uma mulher milionária e seu esposo, junto
com as amantes, não podem mais desfrutar todo o seu patrimônio.
Meus pensamentos vão de encontro ao meu marido, na
velocidade da luz. Ele nunca me amou como disse. Sou apenas uma
dívida sua com o meu pai.
— Não se preocupe, Matthew Lansky! Eu não preciso da sua
pena. — resmungo baixinho.
Me agarro ao meu travesseiro, como se pudesse afogar todas
as minhas mágoas e ressentimentos nele. Minha vida estava bem
normal e tranquila há alguns meses, eu teria uma formatura digna,
trabalharia dia e noite em busca dos meus objetivos, tinha um sonho
e planos para o futuro, mas tudo isso foi estragado por um playboy
mafioso que se sentiu no direito de me sequestrar e me obrigar a
assinar um documento onde diz que sou sua esposa.
Matthew levou a sério seus direitos de marido, pois sempre foi
gentil comigo, nunca me desapontou e me fez ver o sexo como algo
bom, não apenas um carnaval. E tudo isso por um simples capricho.
Espero que ele tenha encontrado minha carta, que a tenha lido com
calma e que não tenha matado ninguém.
Nesse momento, é como se eu pudesse ouvir barulhos de tiros
no meu próprio psicológico, que está tentando me pregar uma peça.
Dessa maneira irei enlouquecer. Preciso esquecer todo o meu
passado e focar apenas no meu bebê.

(...)

Já na manhã seguinte, desperto com as “galinhas”. Aliás,


deveria ter algumas aqui, por ser uma fazenda. Sempre imagino
esses lugares como algo estilo caipira, com pessoas falando e
sorrindo o tempo todo, empregados menos caras duras e muitos
animais soltos por aí. Simon me contou que os únicos daqui são os
cavalos.
Minutos depois, vestida apropriadamente para dar uma volta na
fazenda, na companhia da minha mãe e de um empregado que vai
nos guiar, encaro meu reflexo no espelho. Meu marido não gostava
que eu prendesse meu cabelo, e se me visse assim agora, desfaria
a amarra. Aposto que ele também não gostaria de me ver usando
uma calça tão colada na cintura, como essa, e muito menos esse
camisete que decota meus seios dessa maneira, os tornando
maiores do que realmente são.
Estou fascinada observando a bela natureza que temos nessa
vasta propriedade. Agora entendo como alguém prefere morar no
campo em vez da cidade. Esse lugar é perfeito e me faz pensar que
estou vivendo uma história de época. Minha mãe faz até graça, me
chamando de sinhá Elisa. Rimos as duas juntas e nos sentamos à
beira de um riacho para molhar os pés na água corrente que
transmite um som de muita paz. Fecho meus olhos por alguns
instantes e consigo imaginar meu filho vivendo aqui tranquilamente,
sendo capataz ou algo assim. Claro que desejo que ele tenha um
futuro excelente e digno de um homem honrando.
— Mãe, a senhora Bovary não se importaria se decidíssemos
morar aqui?
— Claro que não, Elisa. Podemos ficar o tempo que for
necessário, e isso inclui toda a nossa vida.
— Eu quero trabalhar para ela. Não é justo ficarmos aqui sem
contribuir com nada.
— Não pense nisso agora! Você está grávida e precisa pensar
apenas no seu parto.
— Meu parto ainda vai demorar alguns meses.
— O importante é se concentrar. Um parto normal nunca é fácil,
e antes do seu filho vir ao mundo, você precisa estar preparada e
decidir o nome dele.
Foram tantas aflições nos últimos dias, que nem me dei conta
de que não escolhi um nome para o meu bebê, o meu pequeno
príncipe. Ainda não tenho um belo nome, mas terei tempo para isso.
Quero um muito especial, não um simples que não denotará o quanto
amo o meu filho.
Pego algumas pedrinhas e as atiro na água, como uma menina
brincando no lago. Me passa uma ideia maluca de entrar lá para
tomar banho. De início, minha mãe não gosta, mas logo acaba
cedendo e entra comigo na parte menos densa.
Eu poderia passar o dia todo aqui. Minha energia só parece
aumentar ainda mais. Mergulhar nas águas rasas e claras me dá a
sensação de encontrar uma luz no fim do túnel, como se eu não
tivesse mais problemas. Essa é a vida que todos deveriam ter, pelo
menos uma vez: sentir a verdadeira essência de viver.
(...)

— Suas consultas de pré-natal serão em uma clínica próxima à


minha fazenda. O pessoal é de minha total confiança e você irá em
um carro blindado, com muitos seguranças para te protegerem. Não
se preocupe, querida! Seu marido jamais te encontrará aqui.
— Muito obrigada, Luiza! Eu agradeço por tudo que você está
fazendo por mim e minha mãe. Serei eternamente grata.
Ela é uma excelente mulher e está empenhada em não deixar
faltar nada para mim e meu bebê. Se dispôs a ser a madrinha dele,
do meu pequeno Michael.

(...)

Agora, com quase seis meses de gravidez, estou tendo


treinamentos e fazendo exercícios para ter um bom parto normal.
Será mesmo que é tão horrível como muitas mulheres relataram em
vídeos que assisto na internet todas as noites antes de dormir?
Minhas pálpebras estão tão pesadas, que acabo dormindo de
qualquer jeito. Ainda tenho a sensação de estar despertando várias
vezes durante a noite.
Ainda sonolenta, constato que, apesar de não ter deixado a
janela do meu quarto aberta, estou com frio. O cobertor que me
enrola, não está sendo suficiente, e reclamo algumas vezes antes de
tentar dormir novamente.
Agora já não está mais frio.
Em busca de uma posição melhor, me viro para o outro lado e
acabo dando de cara com ele, que está sentado na cama, me
olhando com seus lindos azuis que me fazem sentir calafrios da
cabeça aos pés. Tento me levantar, mas sou impedida pelo meu
estado de transe. Sinto minha respiração pesada sob meu peito e
suas mãos macias, perfumadas, tocam a minha face.
Ele sussurra algo em um dos meus ouvidos.
— Não tenha medo, meu amor! Aqui você estará em segurança
para trazer nosso filho ao mundo. Tudo vai ficar bem. Assim que o
nosso Michael nascer, voltarei para buscar vocês.
Sinto o calor dos seus lábios beijarem a minha testa e em
seguida me roubar um beijo suave na boca. O gosto de whisky e
menta ainda é o mesmo.
Posso sentir meu corpo formigar por causa desse simples
beijo, como se ele fosse capaz de me despertar, como acontece
com uma princesa adormecida em contos de fadas.
Tenho a impressão que adormeci novamente, antes de acordar
num sobressalto, gritando seu nome, apavorada.
— Matthew!
Acendo as luzes do abajur e noto que tudo está tranquilo, do
mesmo jeito que deixei, e as janelas não estão abertas. O que me
faz ter certeza de que tive apenas um sonho com ele, e por mais que
parecesse real, não foi.
Volto a dormir depois de horas acordada pensando que
Matthew pode estar próximo de mim. Sou boa em criar teorias, mas
o sono bateu à porta novamente.

(...)

Contei tudo para a minha mãe, que colocou a culpa na minha


gravidez. Segundo ela, é normal se deixar levar pelos sonhos quando
todos os nervos estão em alerta.
Tento esquecer aquele maldito sonho, mas é como se ele ainda
estivesse aqui me observando durante todo o tempo. O gosto do seu
beijo me pareceu tão real, que na cama ainda havia o seu perfume. E
eu não estava ficando louca, porque aquele cheiro, definitivamente,
não era o meu, muito menos do amaciante. Mas eu tenho um plano
para descobrir se ele realmente esteve aqui.
Escrevo uma carta, na intenção de deixá-la sobre uma pedra no
riacho, e me escondo atrás de uns arbustos durante minutos,
esperando que alguém venha buscá-la. Mas parece que quanto mais
aguardo, mais me sinto frustrada por ter a certeza de que estou
ficando louca.
Minha mãe tem razão: estou com os nervos à flor da pele. É
melhor que eu volte para casa. Se ela descobrir que vim tão longe
sem a companhia de ninguém, vai brigar comigo.
Caminho para trás, sem desviar o olhar da pedra em que deixei
minha carta. É quando meu corpo bate contra o de alguém que está
bem nas minhas costas. Fecho meus olhos e coloco a mão na minha
boca para impedir que eu grite.
— Por favor! Eu só quero voltar para a mansão. Não me leva
para os Estados Unidos! — falo em choque.
Me viro imediatamente e encaro o homem atrás de mim.
Respiro aliviada ao constatar que é um dos seguranças da Luiza e
coloco a mão em meu peito. Meu coração está tão acelerado, que
posso ouvir as batidas dele se sobressaírem acima de todo barulho
feito pela correnteza, que hoje está mais forte do que ontem.
— Me desculpe! Eu pensei que era outra pessoa.
— Não deve caminhar sozinha por aí, senhorita. Essa região
costuma ser perigosa para mulheres indefesas. Há saqueadores por
todas as partes.
— Obrigada por me avisar!
Volto para a mansão em passos rápidos, e assim que adentro
a casa, sou recebida pela minha mãe, que parece aflita.
— Mamãe, algum problema?
— Elisa, meu amor! — Me dá um abraço apertado. — Eu
pensei que algo tivesse acontecido com você. Nunca mais saia sem
me avisar!
— Estou bem, mãe. Fique tranquila!
— Eu pensei que ele tivesse a levado.
— Posso parecer indefesa, mamãe, mas garanto que não sou.
Não fique mais aflita! Estou aqui.
Foi mesmo uma loucura ter saído de casa sozinha. Eu estava
tão obcecada em provar que tinha razão e que meu sonho não foi
apenas um sonho, que acabei me colocando em perigo. Mas minha
ousadia acabou comprovando que eu estava errada, porque se
Matthew realmente estivesse aqui, já teria me levado, principalmente
há instantes atrás, quando eu estava sozinha e vulnerável a outro
sequestro.
Penso na possibilidade de que ele pode ter me esquecido,
afinal de contas, foram apenas poucos meses juntos. Quase um ano.
Meu Deus! Hoje faz exatamente um ano que ele me sequestrou.
Aquele sonho foi muito real, pois fui dormir pensando nele. O
que está terminantemente proibido a partir de hoje. Nunca mais irei
pensar em Matthew Lansky.

(...)

— Fala sério! Uma loira azeda que deve usar um perfume


barato. — me refiro a uma moça que aparece apontada como
suposta namorada do poderoso empresário Matthew Lansky.
Não há nada nos sites sobre nosso casamento, e é como se eu
nunca tivesse existido na sua vida. Por eu ter sido sequestrada e
meu caso ter ganhado repercussão no Brasil, ele não pôde me
apresentar para a mídia. Mesmo assim, o que faz essas pessoas
pensarem que ele tem um caso com essa loira?
Fico estática ao ver fotos dos dois juntos em uma rede social
dela. A garota é mesmo uma piranha. Há fotografias de uma semana
antes dele me raptar. Aposto que eles ainda mantêm esse caso na
ativa. Sinto tanto ódio, que acabo arremessando meu copo com toda
a vitamina contra o chão.
Esse assunto não deveria me incomodar, já que ele tem todo o
direito de ter as mulheres que desejar aos seus pés. É bilionário,
bonito e bom de cama. Odeio admitir até mesmo o que aquela
médica afirmou em Manhattan.
Isso não vai ficar assim. Se Matthew tem o direito de ter outras
mulheres, também terei outros homens. Vou refazer a minha vida,
assim como, certamente, ele irá refazer a dele com essa loira
oxigenada.
CAPÍTULO 19
ELISA SANTIAGO

Trinta e nove semanas e meia. Sinto que a qualquer momento


vou explodir. Estou como uma bola ambulante de sessenta quilos,
perdida no espaço sideral, muitas vezes sem oxigênio. Nunca pensei
que ficar grávida geraria tantos enjoos e tonturas, porém, agora
estou num estágio onde essas coisas não me incomodam mais.
Confesso que foi um alívio para mim sentir o aroma do café preto e
não vomitar dentro da xícara, como fiz algumas vezes.
Todos estão em alerta comigo, pois a qualquer momento posso
entrar em “erupção”, como a Luiza costuma brincar comigo.
Ela comprou muitos presentes para o afilhado, inclusive todos
os móveis do quarto dele. Claro que fiz questão de organizar para
que ele possa dormir comigo. Ficou tudo perfeito. O berço azul de
madeira, eu mesma escolhi, sem ao menos saber que Luiza iria
comprá-lo. O que mais gosto é de olhar para a prateleira repleta de
brinquedos. Quanto à parede do quarto, foi pintada de branco e azul
na parte onde ficam as coisas dele.
A melhor sensação de todas é quando meu filho chuta a minha
barriga. Ele parece gritar: “Mamãe, eu quero nascer”. Meu pequeno
em breve estará nos meus braços, e essa ideia me anima muito.
Costumo passar a maior parte do meu tempo sem ter nada
para fazer. Espero poder me livrar dessa rotina quando começar a
cuidar do meu bebê, porque ao contrário do que muitos dizem, meu
Michael nunca será um estorvo na minha vida. Filho é a coisa mais
preciosa que existe nesse mundo. Agora que sou mãe, entendo
todos os cuidados exagerados que minha mãe teve comigo ao longo
dos anos. Estou aprendendo a ser mais cautelosa.
A médica responsável pelo meu pré-natal garantiu que tudo
está sob controle e que meu parto será tranquilo, sem muitas
preocupações.

(...)

Luiza providenciou para que tudo fosse realizado aqui, na


fazenda. A dor não está tão insuportável como pensei que seria.
Primeiro vieram as contrações, que achei que eram cólicas.
Oh, meu Deus! Meu filho vai nascer!
Corro de volta à mansão e peço para o Simon procurar minha
mãe e a Luiza. Haverá uma verdadeira equipe médica pronta para
realizar o serviço.
Os instantes seguintes serão os mais intensos da minha vida.
Preciso ser forte para não desmaiar com a dor que estou sentindo.
Só consigo pensar no meu bebê.
Logo meu filho veio ao mundo com quatro quilos e duzentas
gramas. É um garotão lindo.
Moreno, alto, bonito e sensual: quando se tornar um rapaz,
será exatamente assim. Mas meu pequeno Michael, por enquanto, é
apenas o meu bebê.
Ele não consegue prender o choro quando eu o seguro em
meus braços, e minha mãe e Luiza também não.
Meu filho é uma cópia minha e do pai. É um pouco mais moreno
do que eu, tem olhos azuis, que herdou do Matthew, e cabelos
escuros como os meus.
— Eu prometo, meu amor, sempre estar ao seu lado. Para
sempre!
Mesmo tendo tomado alguns soros, ainda me sinto fraca, pois
fiz muita força para trazer ele ao mundo. Tanto que os médicos me
exigiram repouso.
Após amamentar meu príncipe, me sinto fraca ao ponto de
dormir durante todo o dia, às vezes sentindo que ele estava
mamando. Certamente minha mãe o ajudou com isso.

(...)

São raras as vezes em que Michael chora, e à noite, isso não


acontece. Como sempre sei quando ele sente fome, quase nunca
ouço seu chorinho de neném. Meu filho é um verdadeiro lorde e tem
um charme que encanta a todos.
Minha mãe é uma avó babona, disposta a fazer todas as
vontades do neto.
— Mamãe, não acostume seu neto a ser um menino malcriado
que sempre vai correr para os braços da avó quando a mãe dele
falar um “não”!
Ela sorri para mim, segurando-o nos braços, que está quase
dormindo.
— Você foi mimada e paparicada mais do que tudo nesse
mundo e hoje é uma excelente mulher. Um pouco de amor e carinho
não estraga ninguém, pelo contrário, fortalece.
— Será que a senhora pode levar ele para tomar um pouco de
sol? Estou com sono. Parece que alguém me deu algo para dormir.
— Fique tranquila, meu amor! Tudo está sob controle. Apenas
descanse!
Vou fazer exatamente isso.

(...)
Desperto quando sinto uma enorme necessidade de ir ao
banheiro. Faço isso e aproveito para tomar um delicioso banho de
água quente, que eu estava precisando, para espantar um pouco do
frio. Depois me visto com um roupão.
A parte chata de molhar meus cabelos é ter que pentear os fios
cacheados cheios de nós. No entanto, o resultado final fica perfeito.
Adoro a maneira que meus cachos têm se comportando nos últimos
dias. Ou será que estou sendo mais grata àquilo que tenho? Michael
trouxe muita luz para a minha vida e me faz ver as coisas de uma
maneira diferente.
Por incrível que pareça, não estou mais parecendo um balão
ambulante. Diria que engordei cinco quilos, no máximo, mas creio
que metade desse peso se concentrou no meu bumbum, que está
maior do que o habitual, mais empinado do que nunca.
Coloco um dos meus vestidos preferidos com estampas e, por
fim, olho-me mais uma vez no espelho. Preciso focar na minha vida
pessoal a partir de agora, pois não posso depender somente da
generosidade da Luiza. Tenho que me ocupar com alguma coisa. Sou
inteligente e quase me formei em Direito, então posso assumir algum
tipo de negócio importante para a senhora Bovary. Lhe farei uma
proposta e torço para que ela aceite.
Anseio pela minha independência. Quero poder dar uma vida
digna à minha família e não quero que nada falte para o meu filho,
mas para isso preciso dar duro, como sempre fiz. Não sou bunda
mole e vida de madame não é para mim.
Respiro profundamente e fecho meus olhos, tentando pensar
apenas em coisas agradáveis. De repente me sinto inebriada pelo
perfume másculo que habita no ambiente. Não é possível que eu
ainda esteja imaginando coisas, mesmo após meu parto. Agora já
não tenho a desculpa de usar as emoções da gravidez para justificar
minha falta de lucidez. Mas eu estou muito lúcida, e não posso ficar
louca. Sei que há seu perfume no meu quarto.
Me viro vagarosamente, sentindo o cheiro ficar ainda mais forte
nas minhas narinas. Involuntariamente, ainda com meus olhos
fechados, procuro no espaço vazio por algum contato físico, quando
sinto uma das minhas mãos bater contra alguém. Imediatamente
abro minhas pálpebras e engulo em seco por tamanha surpresa.
Meus olhos não acreditam no que veem. Fico completamente
paralisada diante da imagem à minha frente. O terno impecável,
como sempre, os fios de cabelos cada um no seu devido lugar. Não
há sequer uma imperfeição física nesse homem. Seus olhos azuis
escuros me fitam com uma frieza que faz com que meu coração
acelere. Há ódio no seu olhar, e isso pode-se perceber facilmente.
Tenho certeza absoluta de que Matthew sabe que nesse
momento minhas pernas estão mais moles do que gelatinas. Me
sinto sufocada com sua presença, que dessa vez é ainda pior que a
anterior. Ele me odeia por eu ter fugido dele por todos esses meses.
Me pergunto como me encontrou. Como conseguiu invadir essa
propriedade? Então me lembro de que Matthew Lansky é o dono
mundo, o todo poderoso chefe da máfia americana.
Ele me olha de cima a baixo. Posso jurar que conseguiu
enxergar até a ponta dos meus dedos por fora da minha sandália
rasteirinha que estou usando.
O homem à minha frente não demonstra nenhuma emoção além
de todo o ódio que transcorre pelo seu rosto. Não parece feliz por
me ver, nem arrependido por tudo o que me fez, por ter me
sequestrado e me mantido presa ao seu lado. Odeio esses homens
que se sentem superiores a nós, mulheres.
Eu quero correr, mas minhas pernas não me obedecem. Elas
sabem, assim como eu, que isso não resolverá meu problema.
Certamente ele deve estar com um verdadeiro exército lá embaixo.
Meu Deus! A minha mãe! O meu filho! Será que Matthew fez
algum mal a eles?
— O que está acontecendo aqui? — pergunto com a voz
embargada.
— Finalmente será minha, bela morena! — sua voz soa tão
rouca, que me faz recordar do que aconteceu há mais de um ano,
quando eu estava voltando da Faculdade para casa. — Isso,
princesa! Usamos as mesmas palavras do momento em que nos
conhecemos. O destino adora nos unir, de uma maneira ou de outra.
Me encontro em choque ainda. Isso não pode ser real. Já tive
esses tipos de pesadelos antes, e esse só deve ser mais um.
— Você não é real! Não é real! — digo confusa e ao mesmo
tempo nervosa, tocando sua face para ter certeza de que realmente
ele é de carne e osso. — Você não pode ser real. Droga! É muito
real.
Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, molhando toda a
minha face.
— Você não acreditou que eu estava longe durante todo esse
tempo, né?
Suas palavras me deixam ainda mais preocupada.
Durante todo esse tempo, ele estava aqui, me observando
atentamente e seguindo cada passo meu dentro dessa casa? Será
que Luiza tem ajudado ele? Não quero pensar que fui traída por
todos esses meses.
— O que quer dizer com isso?
— Que você fugiu de mim, Elisa. Eu deveria te dar parabéns
por conseguir enganar aqueles seguranças idiotas e por ter aceitado
viajar clandestinamente com um pessoal que poderia ser perigoso,
se não fossem pessoas da minha inteira confiança.
Ele acabou de confessar que, por todo esse tempo, sabia onde
eu estava?
— Me subestimou, Elisa. Eu te dei todo o meu amor e você me
apunhalou pelas costas, fugindo de mim. Qual mulher não queria
estar em seu lugar?
— Você deveria ficar mesmo com aquela loira oxigenada. Ela,
com certeza, faz muito o seu tipo. — sarcasticamente, cuspi as
palavras contra ele.
— No momento não estou nem aí para seu ciúme. Você
cometeu uma infração grave e sua fuga terá consequências à altura.
— Consequências?
— Sim, Elisa. Você sabe o que isso significa? Estava disposta
até a reconstruir sua vida com outro homem. — se refere a uma
conversa que tive com minha mãe há uns dias. Ele tem escutas
dentro dessa casa? — Eu sabia que você iria atrás da dona Débora
e que ela iria procurar a Luiza, que não fez mais do que sua
obrigação em dar suporte a você até o final da sua gravidez. O que
foi bom para mim, em partes, pois ninguém sabia onde você estava.
Pelo menos trouxe nosso filho ao mundo, em segurança.
— Ele não é seu filho! É meu filho! — falo com posse.
— Não teste minha paciência com discursos falsos! Esse
menino é meu filho e você é a minha mulher! Vamos voltar agora
mesmo para Manhattan! Sem escândalos!
— Não! Eu não vou voltar com você! Sou livre, Matthew. Não
precisa ficar comigo apenas porque meu pai morreu salvando a vida
do seu.
Ele parece surpreso com minha revelação. Não contava com
que eu soubesse de tudo.
— Não preciso que fique comigo por causa de uma dívida.
Bastava apenas ter me dado alguns milhões, já que tem muito
dinheiro, e eu me daria por satisfeita. Talvez eu teria doado tudo para
a caridade, pois dinheiro sujo, para mim, não tem valor. — Ele me
olhava friamente. — Eu já lhe disse: não preciso da sua pena. Posso
muito bem encontrar alguém que me ame pelo que sou e que não
fique comigo apenas porque sou um estorvo.
Ele me puxa por um braço, com muita possessão. Parece um
louco me analisando como se procurasse por alguma imperfeição.
Mantém o olhar duro sobre mim e profere arrogantemente:
— Não seja boba, garota tola! Eu posso ter a mulher que quiser
aos meus pés, a beldade mais desejada do mundo, mas quero você,
porra! Porque, para mim, é a mulher mais bonita do mundo. — me
pega de surpresa, fazendo minhas defesas contra ele caírem por
terra. — Acha mesmo que eu estaria com você por causa de uma
simples dívida? Poderia ter lhe dado alguns milhões e tudo terminaria
bem no final, mas desde o primeiro momento em que te vi, soube
que você seria minha, antes mesmo de descobrir que era a garota
que eu estava procurando.
— Você é bom com as palavras. Pode até gostar de mim,
como está dizendo, mas isso não é amor. Sua obsessão por mim
passa de todos os limites da razão. Se aceitar ajuda, conseguirá se
curar disso. E não estou te pedindo nada demais. Só quero poder
viver em paz com meu filho e minha mãe, sem a sua presença. Eu
não te amo, Matthew Lansky! Eu não te amo!
CAPÍTULO 20
MATTHEW LANSKY

Mantenho minha aparência fria, pois sou um homem impiedoso


e temido por todos. Talvez a minha esposa ainda não tenha
conseguido enxergar a verdadeira realidade que, agora, faz parte da
sua nova vida.
Elisa tem o dom de me desafiar, e isso já está mais do que na
hora de acabar. Irei freá-la, como faço com todos à minha volta. Por
mais que eu esteja louco para beijar sua língua atrevida e apalpar
seu bumbum redondinho, que está, evidentemente, empinado em
uma proporção enlouquecedora, me recomponho para não
demonstrar minhas emoções por vê-la ainda mais bonita do que eu
podia me lembrar.
Todos esses meses longe da minha morena foram dias escuros
e sombrios na minha vida. Apesar de saber que ela estava em outro
país, desde o início, eu não podia estar ao seu lado, e mesmo
conseguindo observá-la de longe em algumas oportunidades, nada
se compara com o que estou podendo contemplar agora. A gravidez
a deixou ainda mais bonita, com um semblante mais vivo. Está ainda
mais sexy e atraente do que antes.
Meu coração bate acelerado pela minha mulher, mas ela não
precisa saber disso nesse momento. Deve apenas me temer, como
agora.
Fiquei louco quando pensei que nunca mais a veria novamente.
No dia em que ela fugiu, fui atrás do seu sinal que vinha do parque.
Foi um alarme falso, mas nem tanto, porque aquela mulher já tinha
trabalhado para mim removendo e aplicando chips nas muitas
amantes que tive ao longo da vida. Ela me ligou naquela noite para
avisar que removeu o de Elisa, e sem que minha esposa percebesse,
implantou outro menor no seu braço. Com isso, passei a ter todo o
seu sinal por onde ela ia. Também providenciei uma equipe falsa para
transportá-la até o Brasil, onde ela se encontrou com a mãe. Eu
sabia que esse seria o primeiro lugar para onde iria se tudo
ocorresse como planejado.
Nunca subestimo a inteligência da minha mulher, porque ela é
bastante capaz de operar e arquitetar qualquer plano com sucesso.
Contudo, não esperava que eu seria ainda mais maquiavélico do que
sua mente bondosa. Luiza Bovary e eu temos muitos negócios. Ela
perdeu o marido há alguns anos e, desde então, desfruta de tudo o
que o dinheiro pode comprar, mas ainda assim é uma mulher da
máfia, leal às suas obrigações. Quando Elisa chegou junto com sua
mãe em sua propriedade, ela me ligou para avisar que as duas
estavam aqui e não sabia o que fazer. Então a encarreguei de
providenciar tudo do bom e do melhor para a minha mulher e meu
filho. Fechamos um acordo: quando Elisa trouxesse o bebê ao
mundo, eu viria buscá-los e daria muita atenção aos seus negócios
quase falidos na América. Nesse meio, tudo envolve ganância e
poder. Quem tem mais dinheiro, sempre vence no final.
Com Elisa protegida no Brasil, pude ter a certeza de que meu
filho nasceria em segurança. Tenho muitos inimigos que fariam de
tudo pela cabeça do meu herdeiro em uma bandeja e, com certeza,
até mesmo a de Elisa.
Antes de vir buscá-la, conversei pessoalmente com o delegado
de polícia responsável pela investigação da sua suposta morte.
Carlos fez um bom trabalho agindo por mim todo esse tempo e será
muito bem recompensado. A “verdadeira” história por trás do
desaparecimento da minha mulher veio à tona.
“Nos conhecemos em minha última viagem ao Brasil,
despertamos o interesse um do outro e, com isso, decidimos manter
um relacionamento e casarmos. Elisa tinha medo do julgamento da
sua mãe e, por isso, decidiu fugir comigo para Manhattan. Eu não
fazia a menor ideia de que ela havia mentido para a dona Débora,
mas quando descobri, vim pessoalmente esclarecer tudo com a
justiça brasileira”.
O delegado é um bom homem. Nada que alguns milhões na sua
conta não tenham resolvido todo esse problema. Com isso, a
“verdadeira” história está em todos os tabloides, plataformas digitais
e impressa nos jornais locais.
— Você é muito dissimulado, Matthew! Eu jamais iria fugir com
uma pessoa que mal conheço. É realmente mais sujo do que eu
podia imaginar. Me enganei todo esse tempo, pensando que estava
livre de você.
— Livre de mim, meu amor, só depois da minha morte. Isso se
eu não te arrastar junto comigo.
Minhas palavras causam um tremendo calafrio no seu belo
corpo apetitoso.
— Mesmo eu lhe dizendo que não te amo, ainda pretende viver
casado comigo para o resto da sua vida? — Franze o cenho.
— Com você, morena, eu pretendo fazer de tudo um pouco
nessa vida.
Ela engole em seco pela segunda vez, em menos de cinco
minutos.
— Você falou que haverá consequências. De quais tipos?
— Punições. Você aprenderá a ser uma verdadeira Lansky.
— E você vai fazer o quê? Me obrigar a matar pessoas?
Vendo que eu não demonstro em nenhum momento que ela
está errada, recua em alguns passos vacilantes. É assim que gosto
de vê-la. O doce aroma do seu medo me desperta como nunca.
— O que você vai fazer com a minha mãe?
— Ela virá conosco para os Estados Unidos, mas não a quero
em nossa casa.
— Por favor, Matthew! A minha mãe pode me ajudar a cuidar
do Michael. Eu não confio em babás.
— Tem razão. Para isso, ela irá servir, até porque você estará
muito ocupada diante das suas punições.
Percebendo minha aproximação, minha esposa tenta correr,
mesmo sabendo que é inútil. Consigo ser mais rápido e tomo a
saída. Ela para bruscamente próxima a mim e eu a seguro
firmemente por um braço.
— Eu vou gritar. Me solta!
— Você vai gritar bastante, princesa, e eu quero muito ouvir,
mas será apenas para mim, não para uma plateia lá embaixo.
— Você é um pervertido! Só pensa no sexo e em nada mais.
— Eu penso em você também, mas o sexo está muito presente
nos meus pensamentos. Agora vamos descer! Não quero esperar
mais nenhum segundo para voltar para casa com a minha mulher e
meu filho.
— Não quero voltar. Não pode fazer isso comigo. Se eu te
processasse, você passaria, no mínimo, vinte anos na cadeia, sem
ver a luz do sol.
— A cadeia foi feita para pessoas pobres, meu amor. Pessoas
ricas como eu, constroem suas próprias penitenciárias.
Me dói ouvi-la falar que não me ama. Ela me considera tão
abominável assim?
— Você é o pior ser humano desse mundo. Saiba que eu vou
tornar sua vida um verdadeiro inferno. Se quiser sexo comigo, terá
que me violentar, e ainda vai encarar todos os meus chutes,
mordidas e unhas extremamente grandes e cortantes.
— Em primeiro lugar: você me diverte; em segundo: eu irei
tornar sua vida um inferno; terceiro, e último: não preciso usar força
para ter a minha mulher. Comprei amarras ainda mais fortes, bebê.
— Ela estremece pelo meu comentário. — Você vai me morder, me
arranhar, e eu vou gostar, mas fará isso quando estiver gozando em
cima do meu pau, gritando desesperante o meu nome, morena.
A puxei de encontro ao meu corpo e a peguei totalmente
desarmada contra mim. Não desvio meus olhos dos seus, que estão
incrédulos, e pressiono minhas mãos nas suas nádegas por baixo do
tecido do vestido. A partir de hoje, ela só usará saias e vestidos.
Elisa tenta se soltar de mim, mas como sou mais forte, a
impeço com facilidade. Seus olhos pequenos parecem ter
dificuldades para se manterem abertos quando roço a ponta do meu
nariz no seu pescoço e aperto sua cintura com uma das minhas
mãos. Ela me pertence.
Estou duro como uma rocha, pronto para devorá-la aqui
mesmo, nessa exata posição, e lhe mostrar quem é o dono do seu
corpo. Mas esse não é o momento. Elisa merece muito mais do que
sexo, então não posso bancar o dependente agora.
Sua respiração se torna ofegante pelos beijos que distribuo
pelo seu pescoço. Seu sabor é uma tentação para a minha
masculinidade.
A encaro diante de mim, completamente pronta para ser
possuída, e sorrio vitorioso por constar que ela ainda continua tão
dependente de mim quanto antes.
— Você é minha, morena, e isso nunca irá mudar.
— Isso é apenas sexo. — me faz rir.
— Mulheres como você não sente apenas sexo, mas também
amor, e nesse momento, consegue sentir isso, baby. Agora vamos!
Nossa vida nos espera novamente.
CAPÍTULO 21
ELISA SANTIAGO

Meu coração bate a todo o vapor dentro do meu peito enquanto


desço as escadas. Do alto, vejo uma verdadeira tropa de homens
armados e minha mãe sentada no sofá com o meu filho, que está
dormindo, como o anjinho que é.
Assim como eu, mamãe está preocupada com essa situação.
Quando finalmente pensávamos que poderíamos reconstruir nossas
vidas, a realidade passada bate à porta, se trazendo para o futuro.
Tudo o que fiz foi em vão. Meu marido sempre soube onde eu
estava, aquela médica de merda me enganou, assim como aquelas
pessoas do avião, e a Luiza também é uma aliada dele. Todo mundo
tem o dom de me enganar. Sempre percebo quando estou em
apuros.
Minhas emoções estão todas agindo juntas novamente. Sinto
raiva de mim por acreditar que tudo estava resolvido, por ter sido
enganada mais uma vez, por Matthew ter mostrado para mim que
ainda sou dele.
Enxugo uma lágrima solitária que escorre pelo meu rosto e vejo
Luiza ao pé da escada, como se estivesse me esperando. Ela não
parece arrependida de tudo o que fez. Maldita lealdade da máfia! Eu
deveria ter pensado nisso antes de aceitar sua ajuda.
Paro diante dela, a encarando com toda a minha ira.
— Elisa, não me odeie! Tudo o que eu fiz foi pensando em você
e no seu bebezinho.
— Se você realmente se importasse comigo, não teria dito que
eu estava aqui. Eu confiei na sua ajuda e a minha mãe também. Ela
te ajudou quando você mais precisou, e é assim que retribui favores?
Quer saber? Vocês todos se merecem. A sujeira desse mundo
sempre fala mais alto.
— No futuro, irá me agradecer. Hoje é apenas uma menina
inocente, mas quando sua raiva por mim passar e sua cabeça
esfriar, verá que não teria condições de criar o herdeiro da máfia
americana. Mais cedo ou mais tarde, algum inimigo iria te encontrar.
Você teve sorte de ter estado sob minha proteção durante todo esse
tempo.
— Se você está insinuando que devo lhe agradecer de joelhos,
está muito enganada. Eu poderia sim, muito bem, cuidar do meu filho
sem sua ajuda, e sem a de quem quer que seja. Vocês, riquinhos,
não sabem o que é dar duro na vida, porque estão tão acostumados
com dinheiro sujo, que não conseguem ver os verdadeiros valores da
vida. A amizade é um deles. Eu te considerei uma amiga e você seria
a madrinha do Michael, mas não te quero perto do meu filho nunca
mais.
— Te vejo no batizado do garoto. — Olha para o Matthew, que
está logo atrás de mim. — Meus parabéns! Sua esposa não poderia
ser outra pessoa, se não ela.
— Mesmo ela ainda duvidando disso, eu agradeço por você
também perceber.
Não vou ficar aqui ouvindo eles falarem de mim como se eu não
estivesse presente. Então caminho na direção da minha mãe, que
está tentando demonstrar segurança para mim. Eu a conheço,
portanto, sei que está tremendo, assim como eu.
— Não se preocupe! Vai ficar tudo bem. A senhora virá
conosco. Vai cuidar do seu neto.
Ela sorri de um lado e logo desvia o olhar para o chão. Aposto
que o diabo está atrás de mim.
Cruzo os braços e o encaro, mostrando toda a raiva eminente
no meu rosto.
— Está na hora de ir. — diz friamente, indicando para que eu
vá na frente.
Faço o possível para passar bem longe dele, sem tocá-lo. Sua
posição estava proposital para que eu esbarrasse nele. Vou
caminhando até a saída, pensando em tudo o que vivi nos últimos
meses, nas conversas que tive com a Luiza. Confiei tanto nela, que a
convidei para ser a madrinha do meu filho, mas agora já não penso
mais nisso, pois ela foi apenas mais uma que me fez de tola. Devo,
realmente, ser muito boba. Aposto que até mesmo uma criança
consegue me enganar.
Avisto os carros parados em frente à casa e suponho que o
nosso seja a BMW preta que está com a porta aberta. Entro, me
sento no banco de trás e espero por minha mãe e meu filho, mas as
portas são fechadas e travadas antes mesmo que eu possa abri-las.
Bato num dos vidros do carro, desesperada. Será que minha mãe
não vai junto comigo? Posso ver uma equipe preparada para colocar
o bebê no carro. Meu filho é pequeno demais para ser levado por
qualquer um.
Começo a chorar, quando percebo a presença de Matthew, que
acabou de entrar. Um vidro fumê impede que o motorista possa nos
ver e, provavelmente, ouvir nossa conversa.
— Por que a minha mãe e o meu filho não puderam vir com a
gente?
— Eles vão em outro automóvel.
— Você não está mentindo pra mim, né? Não teria coragem de
machucar seu filho.
Ele revira os olhos, como se não acreditasse no que acabei de
falar, e em seguida bufa de raiva, fechando os punhos, meio que
tentando se controlar.
— Não, Elisa. Eu jamais machucaria o nosso filho, mesmo
estando muito irritado com a mãe dele.
Me sinto tão assustada, que acabo depositando minha cabeça
sobre um dos seus ombros e abraçando ele, como se pudesse me
sentir mais aliviada assim. Não sei qual sua reação, pois não me
atrevo olhar para o seu rosto.
Com a voz embargada, digo:
— Estou disposta a fazer tudo o que você quiser. Só quero
poder chegar em casa e encontrar a minha mãe e o meu filho
seguros. Se fui tola por ter fugido sem pensar nas consequências,
eles não têm culpa de nada. Posso pagar sozinha por nós três e não
irei reclamar.
Saio do seu abraço, percebendo a bobagem que fiz. Abraçar o
inimigo é caso de demência. Poderiam me internar com urgência.
Encosto minha cabeça no forro do banco, direcionando meu
olhar para a vista lá fora. Em nada presto atenção.
Durante todo o trajeto até o aeroporto, vamos em silêncio.
Quando o carro estaciona, desço e corro até a aeronave
luxuosa que nos espera na pista de embarque. Subo os degraus da
escada e entro no avião de médio porte bastante amplo e
acomodado de todo o luxo que o dinheiro pode comprar. Uma mulher
me leva até a minha mãe e vejo o meu filho acordado, deitado sobre
um berço de verdade, dourado, que me parece ser ouro. Mas não
penso nisso no momento, apenas o seguro nos braços e lhe abraço.
Tão pequeno e indefeso!
Após ter lutado tanto para não criar meu filho nesse mundo da
máfia, começo a chorar novamente por saber que não poderei livrá-
lo desse destino horrível.
Me sento em uma cadeira e uma mulher me ajuda a colocar o
cinto de segurança. Vamos embarcar em alguns instantes.
— Meu amor, eu irei na outra parte do avião. Nos vemos no
desembarque. Qualquer coisa, me chame! Que eu venho cuidar de
vocês. Não se preocupe comigo! Estarei bem. — minha mãe diz.
— Te amo!
Ela me dá um beijo antes de se retirar.
No momento do embarque, Matthew não estava aqui. Ele
chega apenas depois que já estamos voando sobre a cidade. Sem o
blazer do seu impecável suéter, se senta em uma poltrona em frente
à minha, folgando a nó da gravata e deixando um espaço aberto
para que eu possa ver parte da sua pele clara. Essa posição em que
ele está sentado, o deixa sexy.
Tento não olhar e focar apenas na amamentação do meu filho.
Posso perceber que Matthew também está atento a cada movimento
meu e do bebê.
— Porque está me olhando assim? — pergunto.
— Estou olhando para o meu filho, não para você.
Levo isso como um tapa na cara, mas rio por fora para não
chorar por dentro.
Ele está irritado comigo, porém eu não me importo com os
seus pensamentos nesse momento.

(...)

A viagem foi longa e cansativa. Anseio pelo momento em que


poderei, enfim, tomar banho e dormir.
Ao chegar em casa e respirar, finalmente, os ares deste lugar
em que me sinto sufocada, coloco Michael para dormir em seu novo
quarto. Para o meu espanto, o cômodo é ainda maior e mais luxuoso
do que eu podia imaginar. Matthew pensou em tudo isso para o filho
ou a Sabina se encarregou de toda a decoração? A segunda opção
me parece mais favorável, pois aposto que ele não perderia seu
tempo para decorar um quarto para um bebê. Nem ao menos se deu
ao trabalho de me acompanhar nos meus pré-natais.
Caminhar pelo corredor que leva ao meu quarto, é a mesma
coisa que andar pelo corredor da morte. Me sinto condenada a essa
vida para sempre. Atrás daquela porta tem um homem
extremamente irritado comigo, prestes a provar a quem Elisa
Santiago pertence, ou melhor dizendo, senhora Lansky. Paro em
frente ao cômodo, antes de cogitar entrar, e respiro fundo, quando
ouço sua voz logo atrás de mim.
— Onde pensa que vai, morena?
— Para o meu quarto? — Dou de ombros.
Ele balança a cabeça negativamente.
— Eu avisei que sua rebeldia teria consequências. Vamos para
o seu treinamento, que começa agora mesmo.
Paraliso com o seu comunicado e engulo em seco antes de ser
praticamente arrastada por ele para o carro novamente.
Assim como o ronco daquele motor está raivoso, assim está o
meu coração. Me sinto como um barco à deriva.
CAPÍTULO 22
ELISA SANTIAGO

Encaro incrédula a imagem do local onde meu marido me


trouxe. Obviamente, eu não estava esperando nada romântico, mas
nunca pensei que ele fosse me trazer para um lugar como esse, um
verdadeiro centro de drogas, um epicentro do mundo do crime.
Tenho certeza de que esse pessoal não está aqui para uma
encenação.
Caminho logo atrás de Matthew. Sua única exigência foi me
fazer vestir uma calça dentro do carro, no trajeto, e uma camiseta de
frio. Estou me sentindo pronta para matar, literalmente.
Ele caminha para dentro de um galpão abandonado, onde há
uns homens lá dentro. Esse sim é o seu pessoal, e reconheço pela
maneira que eles estão vestidos.
— Carlos! Novidades? — meu marido pergunta.
— Tudo sob controle, senhor, sem imprevistos.
Matthew assente.
Ele me leva até uma sala escura, uma espécie de escritório
com pouca iluminação, parecendo um salão de boate, só que sem a
música. Dentro do cômodo estão algumas mulheres praticamente
nuas, usando apenas lingerie vermelhas. Essa situação está muito
inconveniente.
Acabei de descobrir que ele convive com mulheres seminuas
todos os dias, ou seja, sou traída diariamente e não sabia. O sangue
sobe à minha cabeça.
Ele faz um simples sinal e as vadias saem, sem hesitar,
rebolando o traseiro vantajoso que têm.
Cruzo os braços e o encaro incrédula.
— Há quanto tempo estou sendo traída? — atiro minhas
palavras contra ele.
Matthew apenas se senta na sua cadeira de chefe e olha algo
na tela do computador. Penso que serei ignorada, como está
acontecendo desde que embarcamos de volta para casa.
— Eu não deveria te responder, mas nunca te traí.
— Olhar para essas bundas redondinhas e ficar excitado da
maneira que está, é um tipo de traição.
— Não estou duro por elas. — Me fita intensamente. — Estou
duro por você.
— Não acredito. — digo duramente.
— Eu não a trouxe aqui para que acredite em mim, e sim para
o seu treinamento.
— Que tipo de treinamento?
— Me siga e verá! Hoje começa a primeira fase.
Ele me leva para uma sala vazia, onde tem apenas uma cadeira
no centro. Qual sua intenção? Me prender nela?
Tento falar alguma coisa, só que ele é mais rápido do que eu e
consegue me imobilizar. Depois de me amarrar pelos braços, me
deixou completamente presa, com as mãos atadas para trás.
O olho, tentando encontrar respostas.
— Que loucura é essa, Matthew? Você pretende me matar?
— Está com fome?
— Muita! Pelo amor de Deus! Você não pode me deixar aqui
sem comer.
— Você só irá comer e beber água quando conseguir se soltar.
— Deixa a amarra ainda mais forte.
Em seguida sai da sala, me deixando naquele lugar escuro,
sem saída de ar, onde tem apenas uma minúscula janela mais alta
do que eu poderia alcançar.
— Matthew, não faça isso comigo! Me solta! — grito tão alto,
que meus ouvidos doem. — Você não pode me deixar aqui! Eu
preciso amamentar meu filho!
Não adianta gritar, já que ninguém vai me ajudar. Mas como irei
conseguir me soltar? Não sou treinada como eles, que conseguem
quebrar até cadeados. Pela primeira vez na vida, me sinto fraca e
impotente diante de uma situação. Mergulho em lágrimas e sinto que
posso me afogar nelas.
As horas passam e eu tenho a sensação de que o tempo
parou. Perdi as esperanças de alguém abrir aquela porta para me
salvar, já que meu próprio salvador me aprisionou aqui. Minha
garganta está tão seca, que sinto ela arranhar. Não tenho mais saliva
e necessito muito de água, nem que seja uma simples gota para
molhar a ponta da língua.
Num certo momento em que não tenha mais forças, acabo
desmaiando.

(...)

Desperto ao sentir a frieza da água jorrada contra mim. Parece


que estou me afogando, e com o susto, acabei engolindo-a e me
engasgando.
Encaro a pessoa que fez comigo e a reconheço. É a mulher
que removeu o chip do meu braço e implantou outro sem que eu
soubesse.
— A madame não pode fazer corpo mole. Tenho ordens para
não lhe soltar, então não adianta pedir ajuda.
— Você também me enganou. Todo mundo sempre me engana
— falo com minha voz por um fio. — O meu filho precisa ser
amamentado.
— Ele já foi. Seu marido providenciou tudo para que ele não
ficasse com fome. Não se preocupe, mamãe de primeira viagem!
Me sinto muito fraca com isso tudo. Não tenho muita certeza se
ainda está de noite ou se o dia já amanheceu, pois não há uma
iluminação digna nessa sala. Me pergunto quantas pessoas já
morreram aqui. O lugar parece mal-assombrado.
Volto a desmaiar algumas vezes, até sentir alguma energia
voltar, como se fosse uma mágica. O desejo de ver o meu filho me
faz agir feito uma pessoa descontrolada.
Balanço a cadeira de um lado para o outro, até notar que estou
prestes a cair no chão. Então vejo que há um objeto pontudo, não
muito longe de mim. Talvez, se eu conseguir me mover um pouco
mais para frente, o pegarei. Creio que seja uma faca ou algo que
tenha uma lâmina. Não consigo identificar com minha visão turva.
Com muito esforço, consigo trazer o objeto para perto, e uso
os pés para colocá-lo atrás de mim. Com as pontas dos dedos, o
seguro e tento cortar a corda. Não me parece ser um trabalho fácil e
sinto que nunca irei conseguir.
Busco o ar para meus pulmões, ganhando um pouco mais de
agilidade com as mãos e, por fim, solto um grito agudo ao conseguir
cortar a corda.
Tenho a impressão de que estou prestes a desmaiar
novamente, mas mesmo assim me coloco de pé. Consigo caminhar
até a porta, em passos vacilantes, e antes que eu tente abri-la, ela é
aberta.
Não vejo mais nada. Tudo fica escuro.
(...)

Desperto no meu quarto. Estou na minha casa novamente e há


um grande carrinho próximo à cama, cheio de comida. Praticamente
corro em direção a ele e começo a comer como se nunca tivesse
visto comida antes. O sabor está maravilhoso. Nunca vi algo tão
delicioso assim, e quanto mais como, mais vontade tenho de
continuar.
Após me alimentar, preciso de um banho. Relaxada embaixo da
água quente, me sinto revigorada e pronta para ver meu filho. O
pego no colo e o abraço forte. Não consigo ficar longe dele sequer
por dois segundos.
— Mãe, ele deu trabalho para dormir?
— Não, meu amor. Seu marido passou a noite aqui e dormiu na
poltrona para velar o sono dele. — me pega de surpresa. — Onde
você estava?
— Não importa. Estou bem.
Ela sorri para mim.
Levo meu pequeno para tomar banho e armamento ele em
seguida. Meu leite está acabando muito rápido. Preciso consultar o
médico sobre o que fazer caso eu não tenha mais.
Retorno para o meu quarto, ainda atômica com tudo o que
aconteceu nas últimas 48 horas. Enfrentei um longo voo até minha
casa e passei horas amarrada a uma cadeira. Meus braços ainda
estão doloridos por conta da corda que prendia meus pulsos com
força. Além disso, reencontrei a médica que me traiu e, por fim,
consegui me soltar e voltar para casa. Aí descobri que meu marido
se importa com o nosso filho.
Agora, de volta ao meu quarto, o encontro sentado na nossa
cama, apenas de calça moletom, bebericando algum tipo de bebida,
a qual não presto muita atenção, pois seu peitoral desnudo consegue
ser mais chamativo.
Foco no ódio, Elisa!
Assim que ele nota minha total falta de ação, até mesmo para
demonstrar irritação, se pronuncia.
— Bom dia, meu amor! Como passou a noite? — pergunta
cheio de sarcasmo.
Isso faz meu sangue ferver.
Caminho na sua direção como uma leoa prestes a dar o bote,
mas Matthew, com sua agilidade, coloca o copo no chão e faz com
que eu caia deitada na nossa cama, com ele por cima do meu corpo,
totalmente duro por mim.
— Eu dormi por apenas quatro horas nas últimas vinte e quatro
horas, meus braços estão doloridos e passei a noite inteira longe do
meu filho, para ouvir você me perguntar como foi a minha noite? Vá
se foder, Matthew!
— Ideia maravilhosa, princesa. Vamos foder juntos agora
mesmo.
— Não quero transar. Não me obrigue, seu brutamonte! Você
me deixou lá presa para morrer. Não vou te perdoar nunca.
— Acredite em mim, princesa! Foi necessário para o seu
treinamento.
— Eu não me esqueci das vadias seminuas na sua sala. Aposto
que você aproveitou bem a noite antes de vir para casa.
— Aquelas vadias não me interessam. Elas não têm o seu
perfume, nem sua pele morena, única e exclusivamente minha, muito
menos uma bunda redonda que está ainda maior do que da última
vez que eu a vi. Não paro de pensar em você de quatro para mim,
bebê.
— Seu descarado!
— Sou sim, descarado por você. Agora seja minha, antes que
eu não responda mais por mim! Preciso ter você, princesa.
CAPÍTULO 23
ELISA SANTIAGO

Meu coração dispara quando ouço suas palavras. Ele me terá,


a qualquer custo. Suas órbitas escuras me fitam com desejo e
anseio não poder dizer todas as coisas que necessito neste
momento. Matthew não me ouve nunca, e mesmo eu falando que não
o amo, insiste nesse casamento, e ainda tenta me fazer acreditar
que não está comigo somente por uma dívida com meu pai.
Estou com muita raiva dele por ter me deixado amarrada
durante uma noite inteira, com fome, sede e longe do meu filho
recém-nascido. Seus atos me fazem sentir muito ódio por ele ser um
ser humano desprezível que não se importa com a dor do próximo,
que não enxerga nada acima do próprio nariz. Sempre teve tudo o
que quis aos seus pés: dinheiro, sucesso e muitas mulheres. Por que
eu acreditaria que entre tantas moças no mundo, seria única e
especial, como ele afirma?
Quando Matthew me beija com violência, resisto até um
determinado momento. Por mais que eu queira me negar, meu corpo
se acende em chamas assim que seus lábios tocam os meus.
Ele me toma com urgência, livrando-se da minha roupa num
piscar de olhos.
Quando menos espero, uma onda de calor invade meu corpo e
me sinto mais nervosa do que na minha primeira vez, que,
obviamente, foi com ele.
— Você não pode continuar. — digo entre o beijo, com a
respiração ofegante.
— Eu posso tudo, bebê. Ainda não aprendeu isso? — Seu
hálito refrescante queima em torno do meu nariz e lábios.
Tudo nele é maravilhoso e nem mau hálito tem, para que eu
possa odiar isso também.
— Eu te odeio! — declaro com a respiração pesada.
— Eu também te odeio, e muito, mas prefiro mil vezes te amar
odiando, do que não te amar por ódio.
Uma onda de calor invade meu corpo. Esse homem é capaz de
me instigar apenas com o seu maldito olhar sedutor, e por mais que
eu lute contra isso, é impossível vencer.
Eu o quero muito! Todos esses meses sem sentir o calor dos
seus beijos, só me deixaram ainda mais excitada. Quantas vezes
acordei no meio da noite falando para mim mesma que não desejava
um abraço seu? Sou uma maldita mentirosa!
— Pronta para ir ao paraíso, morena?
Sorrio de lado.
Muitas vezes ele consegue me deixar vermelha com uma
simples frase maliciosa. Esse é o poder da sua atração sobre meu
corpo.
Eu posso me entregar milhões de vezes, mas jamais... Jamais
sentirei amor por Matthew Lansky. É apenas sexo.
Passo minhas pernas em volta da sua cintura e ele me segura
com bastante possessão. Essa posição o faz penetrar no ponto
máximo da minha intimidade. Estou molhada como a própria água e
seu pênis entra em mim, duro e forte, sem muitas preliminares, pois
não precisamos disso para sentir prazer. Parece que sempre
teremos essa conexão espetacular. Nossos corpos se conectam.
Fecho meus olhos ao sentir uma mistura de dor e prazer. Posso
dizer que estava quase virgem novamente, após quase um ano sem
sexo, com meu canal quase fechado.
A expressão no rosto de Matthew me faz pensar que ele está
relembrando a primeira vez em que me possuiu naquele quarto de
hotel. Em seguida aperta os bicos dos meus seios, me
proporcionando um prazer mais intenso.
Percebo que meu marido não está sendo tão gentil e nosso
sexo passa a ser selvagem, bruto. Arranho suas costas com as
pontas das minhas unhas e ele intensifica seus movimentos nada
delicados. Sinto um tesão ainda maior com suas estocadas brutais e
logo recebo alguns tapas contra minha face. Essa ardência me deixa
ainda mais maluca pelos seus toques.
Maldito Matthew! Grito alto ao chegar no ponto ápice do
orgasmo.
MATTHEW LANSKY

A fodo com força. Seu olhar de luxúria e prazer desperta em


mim novamente a fera que estava adormecida durante todo esse
tempo por não provar das delícias que somente ela é capaz de me
oferecer. Não há outra mulher no mundo que consiga me
proporcionar o que Elisa Santiago consegue. Ela é destemida e
atrevida. Suas características deveriam me irritar, não me deixar
encantado. Eu tinha que estar ainda mais explosivo depois da sua
ousadia de ter fugido, apesar de eu ter mantido tudo sob controle.
Felizmente, consegui conter sua loucura antes que se tornasse algo
ainda mais perigoso.
Seus seios estão ainda mais apetitosos na medida certa, assim
como tudo que há nela. Minha pequena morena nem imagina o
quanto me deixa louca rebolando em cima de mim.
Fazemos sexo em todas as posições em que conseguimos nos
lembrar no momento. Quanto mais a tenho, mais a quero, mais a
desejo, como uma droga. Sou um viciado no seu encanto.
Nada se compara ao vê-la de quatro para mim. Sua bunda
redonda e empinada me deixa maluco de tesão.
Nunca fui gentil antes com mulher alguma, e todas que já
passaram pela minha cama, foram apenas para sexo selvagem, e na
manhã seguinte, nem conseguia me lembrar do rosto delas.
Está sendo uma difícil para mim ter que conviver com meus
novos sentimentos. Enquanto eu a quero proteger, preciso lhe dar
uma lição, freá-la, para não ser alguém frágil. Elisa está sempre no
alvo dos meus inimigos, e se algo acontecer, espero que ela tenha
treinamento suficiente para tentar sobreviver nesse mundo cruel em
que vivemos.
Seus gemidos de tesão me fazem ir cada vez mais rápido, sem
freios, sem regras. Apenas desejo sentir toda a invasão de prazer
que toma cada vértebra do meu corpo. Eu deveria quebrá-la, fazê-la
reclamar de dor, não lhe proporcionar orgasmos.
— Não durma, princesa! Ainda não terminamos.
— Eu só quero poder dormir! Por favor! — fala meio sonolenta.
— Nem pensar! Hoje daremos início à última parte da fase um
do seu treinamento. — minhas palavras são capazes de fazê-la
despertar assustada, como uma coelhinha.
Elisa dá um pulo da cama e veste a primeira coisa que encontra
pelo chão: minha camiseta. Que, por sinal, a deixa muito charmosa.
Sua cintura fina não fica tão evidente, mas o simples fato de eu
conhecer cada detalhe do seu corpo, me faz ver por trás do tecido
tudo aquilo que me pertence.
— Eu não vou sair da mansão pra ir a lugar algum com você.
Terá que me levar à força se quiser. — banca a forte, mas por
dentro sei que está temerosa.
— Não vou precisar te levar à força, porque você irá comigo
por livre e espontânea vontade, se quiser salvar a vida da sua mãe.
Seu semblante fica tenso.
Elisa me conhece perfeitamente para saber que estou falando
sério, já que não costumo brincar com absolutamente nada. Com
isso, ela parece que levou um baque interiormente, imaginando
impossíveis cenas de torturas com sua mãe.
— O que você fez com minha mãe, seu lunático?
— Por enquanto nada. A vida dela dependerá do seu
desempenho hoje. Prometo que será muito emocionante.
— Você é o pior ser humano do mundo. Como conseguiu
transar comigo após ter mandado seus homens levarem a minha
mãe para um de seus galpões imundos em algum lugar da cidade?
— Seja rápida, meu amor! Troque de roupa! Temos um dia
longo pela frente.
CAPÍTULO 24
ELISA SANTIAGO

Ao descer do automóvel esportivo, corro imediatamente para


dentro do local sombrio em que meu marido me levou. Ele vem logo
atrás de mim, sem se importar com minhas emoções.
Enquanto Matthew dirigia até aqui, não deixei de pensar no que
ele poderia estar fazendo com a minha mãe e em todas as coisas
horríveis que planejou para mim hoje. Nunca pensei que ele faria algo
tão horripilante assim.
Estamos em uma espécie de campo de futebol americano
abandonado, onde as linhas ainda estão marcando o chão e há uns
barris com chamas ardentes. O local se encontra em um estado de
calamidade.
Paro de caminhar abruptamente quando vejo alguns homens
mal-encarados diante de mim. Eles são extremamente fortes,
barbudos e tatuados. O nome “perigo” está escrito na testa de cada
um deles, mas não pela aparência, e sim por trabalharem para o
meu marido.
Recuo para trás e acabo esbarrando em alguém que possui o
dobro do meu tamanho. O que é isso? Uma espécie de time de
futebol?
Olho para todos os lados e não encontro a minha mãe em
nenhum dos espaços que está iluminado. A aflição me domina. Odeio
não conseguir proteger quem mais amo nessa vida, juntamente com
meu filho.
Os homens se afastam de mim quando percebem a presença
sombria do meu marido. Eu diria que ele parece possuído por ter me
visto tão próxima a outros homens. Nunca passamos por crises de
ciúme antes, e não será dessa vez. Não foi por esse motivo que ele
me trouxe aqui.
— Matthew, onde está a minha mãe?
— Já ouviu falar em futebol americano, princesa?
Ele quer me fazer de otária? Me ver perder o controle? Ele não
vai gostar de me ver assim.
— Eu não sei se você sabe, mas no Brasil, essa prática não é
tão popular entre os jovens, e não é diferente comigo.
— Futebol americano, princesa, em todo o mundo tem milhões
de seguidores, o Super Bowl.
— Eu sei o que é o Super Bowl e não me importo com nada
disso. Só quero saber onde está a minha mãe. — digo ríspida.
— Não cuspa fogo, morena! Não incendeie o jogo antes dele
começar!
Jogo? Não estou preparada psicologicamente para saber dos
propósitos que Matthew tem para hoje.
Ele me conduz até uma espécie de arquibancada e não
acredito na cena que estou presenciando. O poderoso empresário
vai mesmo se sentar em um lugar simples e, possivelmente,
empoeirado como esse? Está prestes a cair um meteoro neste lugar.
— Irei te explicar como vão funcionar as regras nessa noite.
Sente aqui! — ordena.
Faço o que ele pede.
Não posso perder tempo, pois preciso saber quais são suas
reais intenções para essa noite, ver até onde sua perversidade é
capaz de chegar.
— Jogos no futebol americano têm quatro tempos de 15
minutos, com intervalo de 12 entre o segundo e terceiro quarto.
Ocorrem, ainda, intervalos de dois minutos entre o primeiro e o
segundo, e entre o terceiro e o quarto tempo. A cada fim de quarto,
os times invertem de lado no campo. Marcar pontos é o objetivo
claro do jogo, mas a complexidade do regulamento deixa muita gente
confusa sobre o que pode e o que não pode ser feito durante uma
partida. Para complicar, ainda há várias expressões em inglês, como
touchdown, tackle, quarterback, huddle, etc.
— Eu sei o que significa. Sei falar inglês.
— Graças a mim, pude aperfeiçoar o idioma.
— Devo lhe agradecer de joelhos?
— Irei adorar que me agradeça assim. — seus pensamentos
sempre são maliciosos em relação a mim.
— Seu idiota!
— Veja o campo agora, que está totalmente iluminado!
Direciono a minha visão para a parte do campo que não está
iluminada e tomo um susto ao ver alguém pendurado de cabeça para
baixo, amarrado dentro de um saco. Não sei se é minha mãe, mas
provavelmente sim. Meu coração se aperta e minha garganta se
fecha em um nó. Como posso salvá-la? É tudo o que mais quero
fazer nesse momento.
Lágrimas de desespero rolam pela minha face. Nunca senti
tanto medo de perder alguém, como agora, e nunca pensei que
fosse passar por uma situação semelhante a essa. Quero correr, ir
até ela e soltá-la, mas ela estava sendo segurada por um guindaste
e, provavelmente, é quente dentro daquele saco de batatas, onde
pode, sim, estar de cabeça para baixo, sofrendo as piores
humilhações possíveis.
— Calma, meu amor! Ela está bem. Sente-se aqui! — me faz
sentar ao seu lado.
Só quero socá-lo até sua morte, mas preciso manter as
emoções, para não perder as rédeas da situação.
— Agora eu quero que você escolha um time.
O campo, que até então estava vazio, contém vários jogadores,
parecendo que um verdadeiro espetáculo vai rolar. Um time veste
roupas azuis escuras, e o outro, vermelhas. Realmente vai acontecer
uma partida de futebol americano.
— Por favor, liberte a minha mãe! Ela não vai suportar muito
tempo.
— Escolha um time, porra!
— O azul.
— A vida da sua mãe vai depender da vitória do time azul. Se
eles vencerem, eu a liberto sã e salva. Com alguns arranhões, mas
pelo menos estará viva. Porém, caso o seu time perca e o vermelho
ganhe, sua mãe irá cair daquela altura e, provavelmente, morrerá.
— Eu te odeio!
Ele sorri para mim, levanta-se do seu assento e faz um sinal
para que a partida comece. Agora a vida da minha mãe depende de
uma partida de futebol americano.
Mesmo que ele tenha explicado todas as regras, não entendo
nada do que está acontecendo em campo.
Ao meu lado se encontra o meu marido, o único responsável
pela minha aflição, e por mais que eu implore para ele levar esse
jogo a sério, nada o fará desistir. Ver a dor no meu olhar o diverte,
se não, nem estaria fazendo tudo isso.
— Se queria me atingir, conseguiu. Sou fraca como você está
pensando, não sou forte. A minha mãe não tem culpa de nada.
Castigue-me! Me agrida se isso te faz se sentir mais másculo!
— Shiiii! Vamos assistir ao jogo! O clima não está agradável.
A famosa bola oval é disputada como se valesse ouro puro e o
chute de kick-off dá início ao terceiro quarto do jogo. Quanto mais o
tempo passa, mais penso em como minha mãe está sofrendo.
Os jogadores do time rival parecem ter ótimas estratégias para
vencer a partida, e acho que os garotos do meu time não estão se
saindo tão bem, mas ainda assim, há muita esperança em mim.
Nunca desisti de nada facilmente, e não será dessa vez.
O jogo aéreo é uma estratégia do meu time, que tem muitos
jogadores altos. Os quarterbacks buscam os atletas livres que
podem finalizar a jogada.
— Touchdown! — Matthew exclama empolgado ao ver o time
adversário marcar seis pontos com uma única jogada.
Com isso, o placar está em 98 para o time azul contra 104 para
o time vermelho. Temos apenas mais alguns minutos para tentar virar
a partida ou tudo estará perdido.
A agonia toma conta de mim e já não me aguento mais de
ansiedade. O pânico logo me invade, me fazendo sentir que terei um
ataque a qualquer instante.
Quando estamos conseguindo avançar em direção ao campo
do inimigo e vamos marcar um touchdown, o jogador número 5 do
time azul sofre uma entrada dura do jogador número 23 do time
vermelho. Isso é uma falta grave, e todo mundo que entende das
regras, poderia me confirmar. O certo seria o juiz da partida marcar
uma punição e permitir uma jogada de ataque do meu time, mas ele
não faz isso, apenas apita o fim do jogo, como se não tivesse
acontecido nada.
Isso foi uma fraude. Aposto que foi tudo ordenado por
Matthew. Nem sei se essa partida realmente foi justa, já que não
tenho certeza se a honestidade pairou sobre esse jogo. Aposto que
as ordens do meu marido foram para o meu time não vencer,
independentemente de qualquer um que eu escolhesse. De alguma
maneira, ele avisou aos demais homens que eu optei pelo time azul,
e por isso perdemos. Desse modo, minha mãe pagará por esse meu
“azar”.
Olho para o Matthew, o único responsável por toda a injustiça
dessa partida.
— O vermelho me pareceu mais chamativo. Eu teria escolhido
ele. Sinto muito, morena, mas você acabou de assinar a sentença da
sua mãe.
— Por favor! Não!
Ele retira de um bolso da calça o seu celular, leva-o ao ouvido e
diz friamente, me olhando nos olhos.
— Pode soltar a mulher.
— Não! Não! Não! Por favor!
Sua expressão dura e fechada em nada muda ao ver meu
desespero.
Encaro o guindaste que segura a minha mãe e solto um grito
agudo ao ver o corpo dentro saco despencar, sentindo uma dor forte
no meu peito.
CAPÍTULO 25
ELISA SANTIAGO

Corro em direção ao corpo caído no chão, passando pelo meio


dos jogadores, que me olham sem a menor comoção. Ninguém aqui
parece ter coração, nem se preocupam com o fato de uma mulher
ter caído de uma altura equivalente a cinco metros de altura.
As lágrimas que derramo acabam me deixando com a visão
turva e não consigo ver mais nada além do corpo dentro do saco.
Caio de joelhos no chão, machucando-os. Sinto muita dor neles,
mas nada se compara com a do meu peito. Minha mãe não pode
morrer. Eu não aceito isso.
Começo a desfazer o nó saco, com minhas mãos estão
trêmulas como nunca antes, e sinto um aperto muito forte em meu
peito. A minha mãe pode estar morta por minha culpa, por não ter
escolhido o time vitorioso. Me sinto incapaz por não ter conseguido
evitar essa situação.
— Mãezinha, fica calma! Estou aqui e vou te salvar. Me perdoa
por isso!
Depois de quase cinco minutos tentando soltar aqueles nós,
finalmente consigo desfazer o último e puxo o saco, temendo ver o
sangue da minha mãe escorrer, por conta da queda.
Tomo um susto ao ver que não há nada dentro dele, apenas um
boneco inflável coberto com uma tinta vermelha semelhante a
sangue. Respiro aliviada por não ser a minha mãe ou alguém que
perdeu a vida por minha culpa.
Aquele homem queria me deixar fragilizada, e conseguiu.
Recupero uma parte do meu fôlego perdido pela carreira que
percorri da arquibancada até o final do campo. Estou na merda de
um jogo seu em que o propósito é me ver cair, me humilhar diante
todas as pessoas à nossa volta. Que tipo de marido que se diz
apaixonado, faz essas crueldades com a esposa? Uma queimação
corre pelas minhas veias quando sinto sua aproximação logo atrás
de mim. Respiro fundo antes de ir na sua direção e socá-lo com toda
a minha fúria.
Ele me pega pelo pescoço, pressionando suas mãos fortes e
grandes contra minha pele indefesa. O olho com bastante ódio, e
mesmo sentido todo o peso da sua força sobre mim, não mudo
minha expressão de provocação e irritação por nada nesse mundo.
— Não me faça agir como um monstro, princesa! Você não irá
gostar. Agora deixe de show e vamos entrar! Tenho alguns assuntos
para resolver antes de voltarmos para casa.
— Eu exijo que me diga onde está a minha mãe!
— Não está dentro do saco. — diz sério, mas ao mesmo tempo
com a voz recheada de sarcasmo, e me dá as costas.
Nervosa e temendo que minha mãe possa estar dentro desse
lugar imundo, caminho em passos vacilantes. Esse local por dentro é
mais luxuoso, só que por fora parece estar caindo, ser um lugar
abandonado.
Matthew abre uma enorme porta de madeira vermelha,
revelando uma luxuosa sala de escritório em tons de vermelho
sangue. Eu deveria saber que tinha que ter escolhido o time
vermelho.
Respiro aliviada por constatar que minha mãe está na sala, sã
e salva, sem nenhuma marca de ferimento. Procuro arranhões nela,
mas, graças a Deus, não encontro nenhum.
— Como senti medo de te perder, mãezinha!
— Medo de me perder? Seu marido me disse que você logo
estaria aqui comigo, que queria me mostrar o quanto está se saindo
bem no seu treinamento.
O sangue mais uma vez sobe à minha cabeça. Matthew tem
sorte de eu respeitar a presença da minha mãe. O que me impede
de socá-lo e xingá-lo na frente dela.
Meu marido enganou a mim e à minha mãe. Enquanto a
manteve presa aqui nessa sala, sob uma desculpa de que eu estava
vindo para o treinamento, me fez viver as piores horas da minha vida.
Momentos de aflição como aqueles, causaram uma queda
significativa na minha pressão arterial. Acabei de passar por um
verdadeiro teste cardíaco.
— Sua filha está se superando a cada dia, senhora Santiago.
— Odeio seu cinismo. — Ela está indo muito bem. Posso lhe dizer
que em poucas semanas já estará se igualando ao nível dos meus
soldados.
Minha mãe sorri sem jeito. Eu a conheço, então sei que está
fingindo manter a calma. Assim como eu, ela também não gosta
desse mundo da máfia.
— Vamos para a casa, mãe! — tento não demonstrar o quanto
estou abalada.
— Sua mãe irá com o Carlos.
— O homem que me enganou. — ela fala sem pensar e se
retrata logo em seguida. — Farei como você quiser, senhor Lansky.
— Pode me chamar de Matthew, senhora Santiago, ou de
genro. — fala a última parte me olhando com sarcasmo.
Só quero matá-lo cruelmente nesse momento.
Minha mãe sai em seguida, nos deixando a sós.
Engulo o choro preso. É um choro de raiva por tudo o que está
acontecendo na minha vida. A essa altura, eu deveria estar formada,
não casada com um mafioso insensível, que diz me amar, mas só me
faz sofrer.
— Morena, quer me dizer alguma coisa? — Senta na sua
cadeira.
Caminho enfurecida em direção à sua mesa de madeira
sofisticada e bato minhas mãos com força sobre ela. Meus olhos
estão em chamas. Se estivéssemos em um desenho animado, seria
nítido o fogo saindo por eles e pelos ouvidos, por tamanha que é a
minha raiva.
— Você é o ser humano mais cruel que existe nesse mundo.
Poxa, Matthew! Além de me obrigar a permanecer ao seu lado,
ainda me faz passar por essas situações tensas. Eu poderia ter
morrido do coração.
— Elisa, eu não faço isso por diversão. Faz parte de mim. E,
acredite quando digo que estou pegando leve com você! Para uma
iniciante, está passando por situações amenas que nem sequer se
comparam com o verdadeiro treinamento que nós enfrentamos antes
de nos tornarmos pessoas temidas.
— Não quero ser temida por ninguém. Só desejo ter a minha
liberdade de volta, poder concluir minha Faculdade e me tornar uma
advogada. Meu sonho era ser uma juíza. — Aperto os lábios,
lembrando de todas as oportunidades que perdi. — Mas isso não é
importante para você. Meus sonhos foram todos jogados para o ar,
por sua culpa. Não sonhei com essa vida de rainha da máfia e
repudio tudo isso. Não irei permitir que meu filho seja como você.
— Elisa, nem se eu quisesse lhe dar a liberdade, poderia. Você
não irá conseguir viver em paz, nunca mais, porque está na mira de
muitas pessoas perigosas, principalmente agora, que descobrimos
que seu pai estava envolvido no ataque aos carregamentos
Jamaicanos. Albert estava negociando serviços ilícitos com pessoas
perigosas.
Estou completamente em choque. Me sento em uma das
cadeiras desocupadas, de frente para Matthew, que me olha
preocupado. Nunca testemunhei esse olhar em sua face, e para ele
ficar assim, algo muito grave está acontecendo à minha volta,
envolvendo a minha segurança e a do meu filho.
— Esses homens sabem do Michael?
— Eles sabem de tudo.
Sinto um aperto no meu peito só de imaginar que meu filho
também está correndo perigo. Levo minhas mãos à boca, abafando
o choro preso dentro de mim.
Matthew se levanta da sua cadeira, caminha até mim e se
abaixa, ficando à minha altura, com suas mãos tocando na minha
face delicadamente.
— Não fique assim, meu amor! Jamais irei permitir que alguém
faça mal a você, muito menos ao nosso filho.
— Ele é só um bebê, Matt. Não merece ficar na mira de
bandidos. Eu também não tenho nada a ver com os erros do meu pai
no passado. Nem lembranças dele tenho na minha memória.
— Seu pai pode ter errado muitas vezes, anjo, mas de uma
coisa tenho certeza: ele sempre te amou. Quando descobriu que
tinha uma filha, tentou se aproximar, mas sua mãe não permitiu. Por
isso, não o culpe por nada!
— Matthew, não esconda mais nada de mim! Quero saber
tudo.
— Tudo bem. Você merece saber toda a verdade, mas precisa
me prometer que irá me ouvir e fazer tudo exatamente como eu
quiser, para o seu bem e pela proteção no nosso filho.
— Eu faço qualquer coisa pelo Michael.
Ele enxuga minhas lágrimas com um lenço que tirou do bolso da
sua camisa.
— Morena, você é minha mulher e esse simples fato lhe coloca
em um patamar muito elevado. Sei que não é isso que você estava
planejando para a sua vida, e não prometo que será fácil ou que
serei o marido perfeito, mas sempre farei de tudo para ver um
sorriso em sua face. E se às vezes não sei me portar como você
merece, é porque preciso ser assim.
De uma coisa, ele tinha razão: sou sua mulher e sempre estarei
na mira dos seus inimigos, e agora, também alvo dos rivais do meu
pai.
CAPÍTULO 26
ELISA SANTIAGO

Encaro a minha nova imagem no espelho do meu closet. Nunca


pensei que meus cachos pudessem se tornar longos fios de cabelos
lisos, ainda mais brilhosos e sedosos do que o habitual.
Ontem à noite, quando disse ao meu marido que queria uma
equipe de beleza em nossa mansão, hoje pela manhã, nem sequer
passou pela minha mente alongar meus fios. Matthew vai surtar ao
me ver assim. Nem mesmo Sabina me reconheceu.
— Meu irmão vai pirar. Ele só falava nos seus cachos quando
você não estava aqui. Vai deixá-lo maluco.
— Seu irmão só falava em mim? — Não escondo o sorriso
bobo ao descobrir essa revelação.
Então quer dizer que durante todos esses dias, ele pensou em
mim?
— Elisa, não banque a bobinha! Você sabe que meu irmão é
louco por você.
Minha mãe entra no ambiente, segurando meu bebê nos
braços. Michael está saudável e cada vez mais forte. Ele é um
garotinho muito grande para o seu tamanho. Com quase quatro
meses, meu filho está pesando cerca de nove quilos. Será um lindo
garoto moreno de olhos claros. O orgulho do meu marido, o príncipe
da mamãe.
Sei quais são os planos dele para o futuro: envolver meu
pequeno nesse mundo cruel. Vê-lo se tornar um homem frio e cruel,
assim como o seu pai, fora da lei, capaz de sequestrar uma certa
morena indefesa e forçá-la a ser sua esposa, não é o destino que
sonhei para ele. Realmente espero que meu filho nunca faça isso.
Meu treinamento está ocorrendo duas vezes por semana. Estou
a todo gás, treinando autodefesa. Do último mês para cá, estou
tendo aulas de boxe com a Brenda, uma professora. É claro que o
machismo do meu marido não permitiria que eu fosse treinada por
um homem, nem mesmo sob sua supervisão.
Nessa manhã tirei o dia em folga, sem obrigações, estresse e
suor. Como meu marido não permite que eu trabalhe, a única
ocupação que tenho é com meu filho, a melhor de todas, para mim.
Mesmo tendo o desejo de me tornar uma juíza de sucesso, não
posso esquecer que no mundo em que vivo, não consigo pensar em
exercer essa profissão. Não devo jurar honrar a lei e ser justa, se
tenho conhecimento de todas as atrocidades que meu marido faz.
Na semana passada, ele chegou em casa, com cheiro de álcool
e charutos caros, e com a camisa cheia de sangue, provavelmente
de alguém que matou por não ter seguido suas ordens. É lamentável
saber que existem pessoas como ele no mundo, que tiram a vida dos
outros. É algo muito cruel. Eu jamais seria capaz de cometer
tamanha atrocidade.
Ser a senhora da máfia não foi algo proposital, visto que não
estava nas minhas escolhas, mas eu não poderia renegar isso,
estando casada com o senhor Lansky. É uma realidade que preciso
encarar de agora em diante.
Apesar de não confiar inteiramente no meu marido, preciso
descobrir o que tanto ele me esconde. Naquela noite, no escritório,
ele me disse muitas coisas sobre meu pai, sobre seus inimigos e dos
riscos que eu posso estar correndo.
Comparado ao meu esposo, meu pai foi um peixe pequeno,
mas mesmo assim contraiu inimigos ao proteger a família Lansky.
Ele nunca se importou comigo, porque se amasse minha mãe de
verdade, teria escolhido ela, não a máfia.
Não guardo rancor no meu coração, e agora que sei tudo ao
seu respeito, preciso aceitar que ele fez sua escolha, a qual gerou
consequências seríssimas.

(...)

Finalmente Michael adormece em meus braços. Nessa tarde,


ele estava agitado e só queria ficar comigo. Meu bebê mostra o
quanto ama a mãe e isso me deixa feliz. Ainda tenho esperanças de
plantar sentimentos bons em seu coração. Não irei permitir que
Matthew ganhe mais essa.
Coloco ele no berço após uma longa batalha contra o sono que,
enfim, chegou, e beijo suas bochechas gordas.
Em seguida vou para o meu quarto, onde encontro as luzes
acesas. Suponho que meu marido já esteja por aqui.
Observo seu paletó em cima da cama. Nem mesmo um
mafioso é diferente da maioria dos homens, que deixam tudo largado
pelo quarto. Sempre fui organizada e não gosto de ver bagunça em
lugar algum, muito menos roupas sobre a cama.
Retiro a peça dali e penso que eu mesma irei levá-la para a
lavanderia. Aquele homem é um desajeitado! Eu deveria lhe dizer
algumas coisas sobre como ser mais organizado.
— Pode levar minha roupa para a lavanderia. E avise à minha
esposa, que eu quero vê-la! — ouço sua voz imponente atrás de
mim.
Com quem ele pensa que está falando? Uma empregada,
suponho. Deve ter ficado apenas nos meus fios lisos. Sem os cachos
e de costas, vestindo um vestido azul, que é quase do mesmo tom
usado nos uniformes das empregadas, está me confundindo com
alguma. Nunca sabe os nomes de ninguém, quanto mais a fisionomia.
Me viro na sua direção, mostrando um sorriso largo, e ele me
olha como se não estivesse me dando atenção, mas depois seu
semblante muda, transparecendo surpresa. Agora me reconheceu.
Posso jurar que vejo desapontamento em seu olhar e ao
mesmo tempo surpresa. Ele procura pelos meus cachos e caminha
na minha direção, sereno. Isso não é bom. O homem que conheço
costuma ser impiedoso quando direciona esse olhar fatal para
alguém, inclusive para mim.
Paciência nunca foi e nunca será sua maior qualidade. Mania
que esses chefes de máfia têm de ser tão arrogantes e imbecis!
Seus olhos azuis me fitavam intensamente, me causando
arrepios, e suas mãos tocavam em meus fios lisos. Ele segura
algumas mechas e as levam até seu nariz para absorver todo o
aroma que há neles. Após alguns segundos, volta a abrir os olhos.
— O que você fez com os cachos? Isso é permanente?
— Escovei hoje mais cedo. Como estou? — pergunto
debochada.
A insatisfação em seu olhar diz tudo. Ele não gostou e não faz
questão de esconder isso. Mas não me importo com sua opinião.
Claro que amo meus cachos, mas também gostei dos meus fios
lisos. Estou até pensando em usá-los assim por algum tempo.
— Elisa, você não tinha o direito de fazer isso sem minha
permissão. — Seus olhos cheios de ódio estão em chamas,
causando queimaduras de terceiro grau sobre minha pele.
Suas feições antes tranquilas, estão mudando repetidamente,
indo para um estado crítico de um vulcão em erupção, onde toda a
lava está prestes a ser jorrada contra mim. Eu não tenho para onde
correr, mas nem vou fazer isso se tiver oportunidade, pois estou
cansada dele me dizendo o que fazer, toda hora. As coisas serão
diferentes a partir de agora. Já aguentei tempo demais calada.
— Quando você vai entender que eu não preciso da sua
permissão para nada?
— Eu sou o seu marido, portanto, você me deve obediência.
— Não vivemos mais no século dezoito. Não sou sua submissa,
muito menos sua propriedade. Você pode me considerar algo do
tipo, mas se estou com você, é porque sou mantida presa ao seu
lado. Ao contrário disso, eu já estaria bem longe daqui, feliz, vivendo
com um homem que eu amasse de verdade.
Sinto meu rosto arder. Ele me bateu? Matthew ousou levantar a
mão contra mim. Meus olhos se enchem de lágrimas. Sua mão forte
e pesada fez toda extensão do meu rosto queimar em chamas. Um
aperto se forma em meu peito pela sua atitude covarde, mas não irei
derramar uma lágrima sequer diante dele. Serei forte.
— Eu te odeio, seu monstro!
— Nunca mais fale em ter outro homem na sua vida, que não
seja eu! Sou capaz de te matar se você pelo menos pensar nessa
possibilidade.
Por um instante, fico desorientada, não querendo acreditar que
ele fez isso comigo. Sei o quanto meu marido é cruel, só que nunca
mais havia levantado a mão para mim. Sua posse e seu ciúme
doentio estão o deixando maluco ao ponto de fazê-lo agir como um
bárbaro.
Eu quero gritar, xingá-lo, esbofeteá-lo, mas não faço nada no
momento. Parece que não tenho mais controle sobre meu corpo,
porque agora ele, praticamente, me arrastou para dentro do
banheiro. Não luto contra isso, apenas vejo tudo passar em câmera
lenta na minha mente, como se eu estivesse em um filme de terror
com muito suspense.
Matthew me pressiona contra uma parede, com força, e em
seguida o barulho da água caindo no piso de cerâmica é o único
barulho ouvido junto com as minhas lágrimas. A água gelada caiu
sobre minha pele como agulhas furando-me. Seu objetivo é molhar
meus cabelos, então ele me faz ficar na mesma posição até que
meus cachos voltem a ganhar vida novamente. Só assim, ele sente-
se revigorado. Depois deixa o ambiente, fumaçando de raiva.
CAPÍTULO 27
ELISA SANTIAGO

Ainda não me esqueci do episódio do banheiro. Naquela noite,


meu esposo se comportou como um bárbaro, um homem doentio e
possessivo de ciúme, completamente descontrolado. Não entendo
que tipo de amor é esse, nem ao menos acredito que ele exista.
Quem ama, sabe respeitar as vontades do parceiro e não impõe
algo que o desagrade.
A convivência com meu esposo não está nada agradável. O
evito como o demônio foge da cruz sagrada. Se ele se aproxima, eu
saio do local o mais rápido que posso, em passos largos. Não
suporto sequer sentir seu perfume, quanto mais dividir a mesma
cama. Mesmo assim, como não tenho escolhas, sou obrigada a
partilhar o mesmo quarto com ele. Se pudesse, estaria dormindo
com meu filho.
Agora estou trocando fraldas, quando ouço a voz de Sabina se
aproximar, como quem não deseja nada. Aposto que ela quer algo
sim, só não imagino o que seja.
— Oi, cunhada linda que eu tanto amo!
— O Romantismo não combina com você. Diga logo o que
quer!
— Preciso da sua ajuda para algo muito importante.
— Tipo?
— Eu quero muito ir a uma festa, mas meu irmão nunca vai me
deixar ir. Se eu pedir, com certeza, ele vai dizer “não”.
— Não sei como posso ajudar. Não consigo te autorizar a sair
da mansão. Esqueceu que eu vivo contra a minha vontade nessa
casa?
— Eu pensei que você poderia falar com meu irmão sobre...
— Não posso prometer nada. Não estamos de bem.
Ela se senta na poltrona próxima ao berço, onde costumo
amamentar.
— Eu sei que às vezes o Matt pode ser horrível, e não quero
saber o motivo da briga de vocês dois.
— Ele surtou quando me viu com o cabelo liso. Acredita que até
me esbofeteou? Nunca vou perdoar aquele infeliz por ter feito isso. O
cabelo é meu e eu posso fazer o que quiser. — Lembrar dessa
situação me deixa irritada.
Ela não parecia surpresa diante da minha revelação. É como se
fosse normal uma mulher ser agredida e ninguém fazer nada.
Não estou querendo colocar sua irmã contra ele, e sim mostrar
que uma mulher não deve baixar a cabeça para um homem, mesmo
que ele seja um mafioso ordinario.
— Você acha que ele se comportou como um bárbaro? Precisa
vê-lo matando alguém e agradecer por ter sido somente um tapa no
rosto. Já ouvi muitos boatos das coisas que meu irmão faz com
quem o desobedece. E adivinha! Você é a única que enfrenta ele e
sai ilesa. Matthew é completamente submisso dos seus encantos.
— Jeito estranho de dizer que me ama.
— Se Matt não te amasse, não teria expulsado nossa mãe de
casa. Sabe quantas garotas ela já eliminou da vida dele? E ele nunca
fez nada. Mas com você foi diferente. Eu soube que meu irmão te
ama desde o primeiro momento em que a vi. Você é linda! É perfeita!
Não tinha como ele não se apaixonar. — Sorriu de lado e me deixou
sozinha.
Certa ou errada, a raiva que sinto do meu marido não vai
passar tão cedo. Não consigo perdoar ele.
Deixo meu filho dormindo no quarto, para ir tomar um banho.
Preciso relaxar. Meus ombros estão tensos e as marcas de
expressões no meu rosto estão me deixando com um olhar horrível.
Nem nos meus piores dias, me senti tão mal. Um vazio presente em
mim a todo instante me deixa exausta.
As náuseas estão constantes na minha rotina nesta semana.
Venho sentindo enjoos e um grande cansaço dentro de mim. Meu
filho está pesadinho e passo muito tempo com ele em meus braços,
mas tenho certeza de que não estou assim para segurá-lo.
Comidas que eu gostava, já não suporto mais sentir o aroma,
que logo corro até o banheiro pra despejar todo o jantar da noite
anterior no vaso sanitário.
Esses sintomas não são de doença. Na primeira vez que senti
isso, pensei que estivesse doente. Então, como já passei por essa
experiência, sei exatamente o que está acontecendo com o meu
corpo.
Visto roupas leves, pois não gosto de usar nada apertado, e
fico na frente do espelho. Levanto minha blusa e constato que não há
volume na minha barriga. Ainda não está no tempo de ela aparecer.
Se minhas suspeitas se confirmarem, não terei mais dúvidas de que
estou grávida.

(...)

— Você não imagina o quanto foi difícil disfarçar que não


estava comprando teste de gravidez! Se meu irmão sequer sonhar
que os comprei, vai pensar que estou mantendo relações sexuais
com alguém.
— Relaxa! Ele não vai saber.
Pego os testes, vou para o banheiro e faço tudo como deve.
Estou ansiosa, esperando o resultado. Um bebê agora não
seria o melhor para mim.
Sei que nunca planejei ter o Michael, mas não me arrependo
dele ter nascido e o amo mais do que minha própria vida. Por isso,
sei que também irei amar um novo bebê, caso minhas suspeitas se
confirmem.
O tempo de chorar já passou. Essa é a minha nova realidade.
Mas devo aceitar sem reclamar? Claro que não! Matthew pode me
obrigar a permanecer ao seu lado até os últimos dias de sua vida,
mas não serei sua submissa, pelo contrário, o farei submisso dos
meus encantos. Meu marido fará exatamente tudo o que eu quiser.
Isso já estava acontecendo comigo sendo rebelde e não irá mudar
agora. Nem mesmo depois que fugi, deixou de me amar. Seja lá que
tipo de amor é esse que ele diz sentir por mim, eu o usarei ao meu
favor.
Os riscos nos dois testes que fiz, confirmam o positivo. Estou
grávida. Não sei porque sorrio, se deveria estar desesperada, não
contente. Quem sabe eu não tenha uma linda garotinha de cabelos
cacheados?
Meus pensamentos felizes são interrompidos pelos gritos
vindos do quarto. A voz do meu marido está muito alterada e ele está
sério, aparentemente irritado. Nem nota a minha presença.
— Eu já lhe disse: não comprei para mim. — Sabina tenta se
explicar.
Eu a fiz prometer que não diria que foi para mim até minha raiva
passar, mas como ela nunca passa, está na hora de tirar minha
cunhada dessa situação desagradável. Agora sei que posso confiar
nela, porque mesmo estando encrencada, não me delatou, como a
maioria das pessoas faria em seu lugar.
— Você precisa acreditar, Matt! Nunca minto para você. Não
confia mais em mim?
— Confio, Sabina. Sabe o quanto sempre confiei em você. Mas
parece que não tenho sua confiança, porque não quer me dizer para
quem comprou. Se diz que não foi para você, eu acredito. Só quero
saber para quem foi.
— Para mim. — surjo no meio da discussão.
Seus olhos azuis escuros me fitam com luxúria. Por um
instante, ele parece não acreditar, e no outro momento, juro ver um
sorriso na sua face. Mas não tenho certeza, já que ele continua
sério. Pelo menos eu sorri. Ser mãe é uma das melhores
experiências desta vida.
— E então? Você está grávida? — Sabina pergunta.
— Sim. — Eu sorrio e ela me abraça.
— Meus parabéns! Terei mais um sobrinho ou uma sobrinha.
Matthew me olha sem dizer uma palavra. Não sei se ficou feliz,
já que não aparenta isso. Pensei que ele ficaria empolgado, visto que
é apaixonado pelo nosso filho e sempre lhe dá atenção. Contudo,
parece que não está alegre por saber que estou grávida novamente.
O clima fica tenso e ninguém diz nada. Então Sabina se retira,
deixando nós dois a sós. Ele retira a camisa, a coloca sobre o
cabide e entra no banheiro.
Matthew nunca agiu assim comigo, nem demonstrou tanta
frieza, como fez agora. Será que me enganei? Ele não gosta mais de
mim? Por que pensar nessa possibilidade me faz sentir uma pontada
no peito?
Me sento na cama, colocando os testes em cima do criado-
mudo. Não sei porque estou agindo assim, talvez sejam as emoções
que a gravidez me provoca. Lembro que chorava por qualquer coisa
quando engravidei do meu pequeno.
Alguns minutos depois, já tomado banho e vestido em uma
bermuda, ele sai do banho. Não olh para esse safado, apenas
encaro meus pés no chão.
Matthew nunca agiu assim. Se ele me esqueceu, é porque deve
ter outra mulher na sua vida, como aquelas mulherzinhas que vi
muitas vezes em seu escritório, no galpão.
Me remoo de raiva. Se ele estiver me traindo, sou capaz de
matá-lo. Nenhuma mulher merece ser traída.
Se meu marido não quiser mais ficar comigo, o que irá
acontecer comigo? Ele que não ouse tirar meus filhos dos meus
braços e me afastar deles!
O vejo arrastar uma cadeira e se sentar próximo a mim. Olho
para frente e constato que ele está com os cabelos molhados. O
perfume do seu shampoo é tão delicioso, que me dá vontade de
comer. Sua feição está séria.
— Precisamos conversar. — ele diz.
CAPÍTULO 28
MATTHEW LANSKY

Encaro minha esposa, que parece incomodada com alguma


coisa. É notável o quanto ela está abalada por alguma atitude minha.
Certamente por eu não ter comemorado a gravidez, está deduzindo
que não estou feliz. É claro que eu estou feliz! Mais uma vez terei um
filho, que, com certeza, será um rapaz forte e saudável, como o
Michael é. Procriar no mundo da máfia é necessário.
Esperarei um tempo para anunciar a gravidez da minha esposa,
pois sempre há um risco quando as mulheres da máfia engravidam.
Novamente preciso colocar em prática todo o plano de segurança
redobrado para proteger ela e o bebê. Dessa vez, não irei permitir
que Elisa fique longe. Na primeira vez, isso se fez necessário para
sua segurança e a do nosso filho, pois eu estava enfrentando
problemas com alguns inimigos que o pai dela arrumou.
Muitos têm o conhecimento de que estou casado com a filha do
Santiago, e isso atraiu ainda mais a ira dos seus inimigos contra
minha família.
Aprendi, desde criança, a ser um homem frio. Por isso, não
demonstro minhas emoções. Estou dando um tempo para que Elisa
tente perceber o quanto sua vida está ligada a mim, mas não
entendo o porquê de tanta relutância. Nunca maltratei ou humilhei
minha esposa como os demais senhores mafiosos fazem, nem tenho
outras mulheres na minha cama. Estou viciado na boceta dela, sendo
que nunca imaginei que me saciaria somente com uma.
Essa morena não percebe o quanto sou louco por ela. Sei que
está magoada pela noite em que lhe acertei um tapa na face, mas
acontece que fiquei descontrolado por causa do desmanche dos
seus cachos. Sorte dela que foi uma simples escova, porque se
fosse um alisamento, eu teria enlouquecido.
Há algumas noites tenho deixado ela à vontade, porém sua
raiva parece que nunca passa. Isso herdou do pai. Lembro de vê-lo
sempre com a cara fechada quando as coisas não saiam do seu
jeito.
O que Elisa tem que aprender é que ela agora é minha mulher
e que por nada nesse mundo, irei perdê-la. Preciso lhe mostrar isso,
e a melhor maneira é fazê-la vir até mim e perceber que está
apaixonada.
O assunto que tenho para tratar com ela é algo pessoal e
delicado. Não sei qual será sua reação ao descobrir que tem uma
irmã, ao saber que seu pai teve outra família, outra esposa. Essa
mulher, há um mês, me procurou após sua menina de dezoito anos
ter sido atropelada. Como não tinha condições de pagar uma cirurgia
para a filha, veio pedir minha ajuda. Elas sabem da existência de
Elisa.
A garota continua no hospital, em estado grave, e quer
conhecer a irmã. Não sei se minha esposa vai aceitar, nem sei qual
será sua reação.
Seus olhos apertados me observam com uma certa tristeza e
seus lábios carnudos que amo beijar parecem deprimentes. Elisa
sente saudade de mim, assim como sinto dela, mas só irei tomá-la
para mim quando ela me disser que quer ser minha. Preciso ouvir
essas palavras da sua boca.
— O que de tão interessante tem para me dizer?
— Preciso que ouça com bastante atenção.
ELISA SANTIAGO

Minha mente tenta digerir tudo o que acabei de ouvir. Como é


possível que meu pai tenha traído a minha mãe? Então foi por isso
que ela fugiu dele? Não por ele fazer parte da máfia, uma
organização perigosa, e sim por descobri-lo com outra mulher?
Pobrezinha! Isso deve ter sido um choque. Por isso, ela nunca me
falava sobre o meu pai, e sempre que eu tocava no assunto, podia
notar uma tristeza profunda em seu olhar. Minha mãe o amava, mas
assim como qualquer mulher no seu lugar, não foi capaz de perdoá-
lo. Mas não sei bem como os fatos aconteceram.
Posso sentir um pouco da sua dor, pois também suspeito de
que eu esteja sendo traída. Não sei explicar o que sinto, apenas sei
que desejo matar o homem que está na minha frente.
Após assimilar tudo, sinto que preciso conversar com a minha
mãe.
— Preciso conversar com minha mãe.
Percebendo que vou me levantar, ele intervém. Pelo menos
agora está me olhando nos olhos.
— Espere! Ainda não terminei com você.
São muitas informações para mim. Como se tudo aquilo não
bastasse, agora descubro que essa mulher deu à luz a uma menina
que, segundo meu marido, está no hospital entre a vida e a morte.
Parece que ela foi atropelada, e a polícia envolvida na investigação,
está associando o acidente a uma imprudência de trânsito. Os
suspeitos não foram presos, pois a placa do veículo foi adulterada.
Até aí, tudo normal. Vivemos em um mundo cheio de maldades e
pessoas irresponsáveis. No entanto, para a máfia, isso é
considerado uma tentativa de assassinato.
Segundo Matthew, todos sabem dessa filha que meu pai teve
com sua segunda esposa. Seu nome é Sthefanny. Temos quase a
mesma faixa etária, sendo que ela é mais jovem dois anos.
— Você sempre soube que eu tinha uma irmã e nunca me disse
nada?
— Sua mãe me pediu para que eu não te dissesse nada.
Praticamente suplicou.
— Se isso é mesmo verdade, então por que está me falando
tudo isso agora? — Ergo uma sobrancelha, em desafio.
— Sua irmã quer falar com você.
— E desde quando você é misericordioso? Não acredito que
esteja me falando isso somente para atender um possível último
desejo da minha irmã.
— Eu devo isso ao seu pai. Já lhe disse que minha família tem
uma dívida com ele e com sua família. Isso inclui você, sua mãe,
Alexis e Sthefanny.
— Tudo bem. Posso ir visitá-la amanhã.
— Agora vá dormir! Você já recebeu informações demais para
um único dia.
— Se você se refere à gravidez, essa foi a melhor notícia que
já recebi nos últimos meses.
Ele me encara sem nenhuma intensidade. Seu olhar está
imerso sobre algum outro sentimento, o qual não sei decifrar. Mas
como ele mesmo disse, já chega de informações para um único dia.
Com isso, vou dormir.

(...)

Na manhã seguinte, me apronto para conhecer minha irmã.


Mesmo em choque, não vou negar uma visita a alguém que tem
laços sanguíneos comigo. E não importa se estou irritada com meu
pai por ter feito minha mãe sofrer por tantos anos.
Matt faz questão de me acompanhar, juntamente com um
batalhão de seguranças, que mais parecem homens das forças
armadas. Vamos em silêncio durante todo trajeto.
Não gosto de hospitais, pois eles me passam uma sensação de
tristeza. Talvez seja por isso que desisti de ser médica. Não me
adequaria a tantas tragédias que chegam aqui, já que sou muito
sensível para ver sangue.
Matthew abre a porta do quarto para mim e posso ver uma
mulher ao lado da moça que está deitada sobre a cama. Suponho
que seja a mãe dela, Alexis.
— Deixa eu ficar a sós com elas! — eu peço e meu marido
fechou a porta logo atrás de mim, ficando do outro lado.
A mulher volta seu olhar para mim e me recebe com um sorriso
singelo. Sua pele branca quase pálida só mostrava ainda mais toda a
tristeza que ela tem em seu semblante. Como mãe, posso entender
o quanto é doloroso ver um filho numa situação, como a da
Sthefanny.
— Elisa, você é muito bonita. — diz educadamente.
— Obrigada, senhora, Santia... — Engulo em seco.
É estranho chamar outra mulher de “senhora Santiago”, já que
minha mãe era a única até ontem.
— Vocês duas se parecem um pouco. Sthefanny é mais jovem
dois anos. Ambas têm lindos cachos herdados do pai.
Eu tenho muito orgulho dos meus cachos. Minha irmã e eu
temos os cabelos cacheados, seus fios são loiros, e seu tom de pele
não é moreno, e sim branco, mas não tanto quanto o da Alexis.
— Meus cachos se parecem com os da minha mãe.
— Ela deve ser tão linda quanto a filha.
Algo nessa mulher não me passa segurança. Ela pode estar
sentindo muita dor pelo estado crítico em que sua única filha se
encontra, mas ainda assim há algo nela que me deixa incomodada.
— Venha! Se aproxime um pouco mais! Quem sabe assim, sua
irmã te ouve e desperta do coma? Ela queria muito te conhecer.
Me aproximo com cautela, pelo outro lado da cama, enquanto
Alexis segura uma mão da garota adormecida. Por um instante, o
único som ouvido no quarto é o bipe do aparelho respiratório que
ajuda a manter Sthefanny viva.
Olho para aquela garota e sinto comoção, mas sei que sentiria
isso por qualquer pessoa que eu visse nesse estado. O fato de
saber que ela é minha irmã me pegou de surpresa. Ainda não
consegui assimilar tudo com muita clareza.
Ela não merece estar aqui, deitada nessa cama. Seus lábios
estão secos, rachados, e uma sonda a ajuda a beber alguns líquidos.
Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto.
— Há quantos dias ela está assim?
— Há quase um mês.
Paro e penso por um instante. Se a garota não pode sequer
comer, como ela demonstrou algum interesse para que eu pudesse
vir aqui?
Procuro a mulher, que estava do outro lado da cama, mas não
a encontro. Dou um passo para trás, esbarro em alguém e me viro
rapidamente. Encontro-a atrás de mim com uma arma apontada na
minha direção.
— Minha filha não merece estar nessa situação. Eles estavam
atrás de você, da filha miserável do Santiago que conseguiu casar
com o chefe da máfia. Minha princesa que deveria ter se tornado a
senhora da máfia, não uma negra feia, sem qualidade alguma.
A mulher está extremamente nervosa, parecendo fora de si.
— Por que você está fazendo isso? Eu não tenho culpa de
nada.
A única coisa em que penso no momento é em salvar a vida do
meu filho. Não permitirei que nada o machuque.
— Patrícia ficará feliz por saber que eliminei uma vadia da sua
espécie.
Ouço o barulho do gatilho ser puxado e em seguida o tiro ecoa
no ambiente.
CAPÍTULO 29
ELISA SANTIAGO

O corpo da mulher caído no chão é uma imagem aterrorizante


e a poça de sangue à sua volta me faz lembrar de uma cena de filme
de terror que assisti quando criança. Tive pesadelos por semanas.
Minhas mãos estão trêmulas e minhas pernas bambas,
parecendo gelatinas, sorvete derretido.
Minha garganta se fecha, me impossibilita de respirar por
alguns segundos torturantes. Preciso me acalmar para não acabar
tendo uma crise de pânico. O ritmo acelerado que meu coração se
encontra não é nada bom para mim, muito menos para o meu bebê
em meu ventre.
Por uns instantes, não consigo pensar em nada, apenas me
sinto meio desorientada. Uma confusão na minha mente me deixa em
um estado de choque. Tudo aconteceu muito rápido. Aquela mulher
apontou uma arma na minha direção, ameaçando tirar minha vida,
sem motivo algum. Era irrelevante acreditar que a filha estava assim
por minha causa, já que não escolhi estar aqui, muito menos ser a
rainha da máfia. Não tenho culpa se minha irmã se encontra nesse
estado, nem se Matthew não a escolheu para ser sua mulher.
Meus planos eram me formar e ter uma vida digna. Se eu
soubesse que seria esposa de mafioso, não teria passado anos da
minha vida estudando em vão.
Não tive chance de gritar, e se fizesse isso, ela iria disparar
contra mim sem pensar duas vezes. Precisei ser fria e encarar
aquela mulher, mesmo que por dentro estivesse morrendo de medo
de falhar, assombrada.
Acabei contando com a sorte. Quando ouvi o barulho da arma
sendo disparada, foi como se eu estivesse sentindo a bala acertar
algum órgão meu. Fechei meus olhos, notando minhas pálpebras
pesarem, então o som do tiro ensurdecedor ecoou pelos meus
ouvidos. Me perdi em meus próprios pensamentos mais uma vez.
A bala não saiu do seu revólver, e sim da arma do meu marido.
Seu olhar frio sobre o cadáver da mulher é algo assustador.
Seus olhos azuis e sombrios a observam com desprezo. Ele não
sente remorso, nem nada pela Alexis, e isso me assusta. O homem
não demonstra sentimentos.
Antes que eu caia no chão, sou amparada pelos seus braços
fortes e másculos. Seus olhos me fitam com intensidade e ele me
ajuda a sentar em uma poltrona. Uma mão sua toca a minha face.
— Não há nada que temer. Estou aqui. — assegura-me.
Ele e sua maldita confiança. Nada o abala. Nunca. Diferente de
mim, que não sei como me comportar. Sou apenas uma mulher
indefesa e às vezes me sinto como uma garotinha amedrontada no
meio de gente grande, como costumavam dizer lá no Rio de Janeiro.
Em seguida, Matthew fala algo no rádio e uma equipe de
possíveis médicos entram no quarto, isolando tudo. A mulher está
branca como o papel, não havendo mais vida nela. Sei tentou me
matar e que, possivelmente, seria eu em seu lugar se meu marido
não tivesse atirado na sua direção.
A equipe retira o corpo de dentro do quarto e começam a
limpar tudo. Meus olhos estão atentos a cada movimento.
Matthew já não está mais ao meu lado. O procuro e não
encontro. Algumas vozes ecoam distante na minha cabeça, e quando
olho ao meu redor, vejo Carlos, o homem que odeio. Ele me ajuda a
sair do quarto e me leva para outro.
— Fique aqui, senhora! Há homens fazendo sua proteção na
porta.
Carlos sabe que eu não o suporto, mas ainda assim, ele é leal
à família e, consequentemente, a mim também.
— A médica virá examiná-la. — Sai, fechando a porta.
Algumas lágrimas inundam meu rosto. Meu marido é um
assassino a sangue frio!
Meu corpo todo tremeu. Algum treinamento me fará ser forte
diante dessa situação. Eu tenho sentimentos, não sou uma pessoa
fria e insensível à dor do próximo. Também não sinto ódio das
pessoas ao ponto de tirar suas próprias vidas.
Minha pulsação fica acelerada e a sensação é de que minhas
veias estão prestes a explodir, todas de uma única vez. No mesmo
instante, não aguento e vomito todo café da manhã para fora.
Minutos depois, uma mulher da limpeza entra e limpa toda
sujeira que fiz. Tento me desculpar, mas ela gentilmente diz que não
tem problema.
Uma médica me examinou e me assegurou que estou bem,
assim como meu bebê, mesmo que eu tenha passado por momentos
de aflição. E para me garantir, me deixa ouvir as batidas do pequeno
coraçãozinho do meu filho.
Eu sempre me emociono quando ouço o coração dos meus
bebês.
— Senhor Lansky, sua esposa e o bebê estão bem.
Não tinha notado a presença dele até a médica lhe dirigir a
palavra.
Ele a olha e diz com um sorriso nos lábios:
— Obrigado, doutora Jane!
— Irei deixá-los a sós. Se precisarem de mim, é só chamar.
Estou completamente confusa com tal cena. Ele foi gentil com
aquela médica? Até sorriu para ela. Matthew quase nunca sorri para
mim, mas acabou de fazer isso com a maior facilidade para essa
mulher loira, de um metro e setenta, de curvas bem desenhadas e
um bumbum avantajado, marcado pela sua calça branca. Isso deve
ter chamado muito sua atenção.
Homens são todos iguais. Safados!
Não estou sentindo ciúme, só exijo respeito. Algo simples de se
cumprir. Se ele não consegue isso, que ao menos disfarce quando
tiver interesse em outras mulheres.
Olho-o irritada por tudo o que aconteceu nos últimos minutos e
por ele ainda ter a cara de pau de encarar outra mulher na minha
frente. Bufo de insatisfação.
Matt se aproxima de mim, ainda deitada sobre a maca. Minha
barriga minúscula está de fora e a médica já tinha enxugado o gel
quando ele entrou. Me apoio na sua mão convidativa, para me
ajeitar, e após me sentar, tento abaixar minha blusa, mas ele não
permite. Seu olhar queima sobre meu corpo, mas não de um jeito
malicioso, e sim protetor.
Palavras não são ditas, mas sou capaz de sentir todo o seu
amor sobre mim novamente.

(...)

Guardar segredos da minha mãe sempre me deixa chateada,


pois temos uma promessa de nunca esconder nada uma da outra.
Talvez o fato dela ter descoberto tantos segredos desagradáveis do
meu pai, me fez jurar nunca lhe omitir algo.
Dobro algumas mantas do meu filho e minha mãe acaba de
entrar com ele nos braços. O dorminhoco ressonar baixinho.
Ela o coloca no berço e me olha como se soubesse de tudo.
— Elisa, você está bem?
— Claro que estou, mãe. Por que não estaria? Só porque não
parece que estou bem, não significa que eu não esteja.
Ponto pra mim! Acabei de gaguejar mais que uma pessoa
gaga.
— Você está estranha, filha, desde ontem, quando saiu com
seu marido. Para onde foram?
— Matthew me levou com ele para me apresentar a uns sócios.
— Espero que não esteja mentindo para mim. Não quero
descobrir que ele ainda insiste em treiná-la, sabendo que está
grávida.
Odeio mentir para ela, mas não quero magoá-la. Eu não devia
ter ido ao hospital, muito menos ter me colocado em risco.
Na noite passada não dormi bem, pois quando fechava meus
olhos, despertava ouvindo o barulho do disparo da arma e em
seguida via a imagem da poça de sangue. Isso me causou medo. Me
agarrei ao travesseiro e esperei o dia amanhecer. Para mim, o
amanhã seria um novo dia.
Espero que, dessa vez, seja um belo dia, sem trevas.
CAPÍTULO 30
ELISA SANTIAGO

Após tudo o que ocorreu nas últimas semanas, da mãe louca


da minha irmã tentar me matar, a descoberta de um novo bebê,
agora eu estaria prestes a enlouquecer, perder o controle, se não
fosse pelo meu príncipe moreno de olhos azuis.
Meu bebê está com quase sete meses. Sei que foi loucura
minha não ter me prevenido, mas como faria isso? No mundo da
máfia, mulheres não podem tomar anticoncepcional. O que é uma
grande tolice. Nossa única função é reproduzir. Homens e seus
pensamentos machistas!
Não me arrependo de ter engravidado, mas como mulher, eu
quem deveria decidir quando quero ter filhos, não um ser que só me
faz sentir cada vez mais ódio e desprezo por ele.
Não tive mais notícias sobre o estado clínico da minha irmã,
mas me parece que ela não vem dando muitos resultados positivos.
Pobrezinha! Se chegar a acordar, terá uma péssima notícia. A morte
da mãe só irá abalar ainda mais seu emocional.
— Meu sobrinho está tão lindo!
Sabina é uma tia babona, daquelas que aperta a bochecha dos
bebês quando a mãe não está por perto. Creio que ela já fez muito
isso com meu filho.
— Não aperte as bochechas dele! — dou uma advertência.
— Pode deixar, mamãe ciumenta. — fala com uma voz de
neném. O que foi engraçado. — Mas você sabe que ele está cada
dia mais bonito porque herdou a beleza da tia dele, né? Sua sorte é
que não pegou muitas coisas do pai, como o “excelente” humor
matinal.
— Até parece que o Matthew não é lindo de morrer, do tipo
que faz as mulheres suspirarem de desejo. — falo sem pensar.
— Está admitindo que acha meu irmão lindo?
— Claro que não. Eu não falei isso.
— Falou sim.
— Falei não.
— Claro que falou. Eu ouvi muito bem. Minha audição é
perfeita.
— Será que você pode ficar com ele por um instante?
Antes de ouvir sua resposta, já bato a porta do quarto.
Sabina estava imaginando coisas. É claro que não disse que o
meu marido é um gato. Até porque não acho ele essa coisa toda.
Matthew é bonitinho e dá para o gasto, mas não tem nada de
excepcional que venha me deixar molhada apenas por pensar nos
seus lábios vermelhos beijando os meus ou o calor do seu corpo
colado ao meu.
Ele está distante de mim, esperando que eu peça pra transar,
mas eu não farei isso. Posso muito bem viver sem sexo.
Passo próxima ao seu escritório, quando vejo o Carlos parado,
de costas para mim. Ele, que não nota a minha presença, está no
telefone falando com alguém, já sem paciência.
— Eu já lhe disse para não ligar mais! O chefe anda ocupado
demais pra você. — faz uma pausa e continua. — Eu sei que vocês
são amantes há anos, mas não posso... Você não ousaria ir à
empresa. Okay! Eu vou falar para ele que você quer vê-lo, mas não
lhe garanto nada, Claire.
Reviro os olhos. Então esse é o nome da vadia que quer roubar
o meu marido.
Me controlo para não ir atrás de Matthew e socá-lo até a
morte. Quem ele pensa que é para me trair?
Quando Carlos entra no escritório e fecha a porta, meu lado
sensato me adverte a fazer as coisas corretamente, ou seja, não
enfrentar meu marido na frente dos seus homens, do Conselho.
Talvez seja melhor que eu volte paro o meu quarto, tente me acalmar
um pouco, relaxar a mente e esquecer tudo o que eu ouvi.
Mas não consigo.
Macho pesadamente, indo em direção ao seu escritório. Que
se dane a minha sanidade! Se ele quer ficar com essa tal de Claire,
que me deixe em paz de uma vez por todas, em vez de me usar
somente para parir!
Abro a porta, a empurrando com toda a minha força brutal. Isso
causa um estrondo imenso e faz alguns homens, em alerta,
apontarem as armas na minha direção. Não me importo de levar um
tiro se conseguir concluir meu objetivo: matar o dono de um certo par
de olhos azuis que está me fitando confuso nesse momento.
Mantenho minha postura ereta, não deixando me abalar pelo
seu olhar sério e de desprezo lançando contra mim.
— Qual o seu problema, Elisa? Não vê que estou ocupado? —
sua voz fria me faz sentir um aperto no peito.
Matthew se referiu à conversa que estava tendo com o Carlos,
que é um dos seus soldados de confiança, e mais uns cinco homens,
provavelmente, do Conselho. Eu não os conheço, mas eles me
olhavam curiosos.
Meu marido está furioso por eu ter invadido seu escritório
daquela maneira bruta, abrindo a porta e causando um estrondo.
Minha respiração estava acelerada. É claro que não pensei
muito bem antes de vim até aqui. Talvez eu tenha tomado a decisão
errada. Deveria ter ido ao meu quarto, ter ficado lá com o meu filho,
me distraindo com qualquer outro pensamento que não fosse o de vir
aqui confrontá-lo. Mas não consegui. Sempre foi assim. Se quero
algo, vou atrás, e se estou com dúvida, eu mesma esclareço essa
confusão.
Não me importo se ele está começando a esfumaçar de ódio.
Seu amor por mim chegou a esse ponto? Seus olhos azuis estão
queimando minha pele, mas não de desejo, como nas outras vezes,
e isso me entristeceu muito.
— Qual o seu problema? — retruco a pergunta de volta.
Minha vontade é de agredir seu rostinho bonito.
Matthew parece confuso. Homens são assim. Sempre ouvia
minhas colegas da Faculdade reclamarem da falta de atenção que
seus namorados tinham para com elas. Eles não eram mafiosos, e
estavam longe de ser um, mas esse mal, infelizmente, pertence a
todos os homens, e o meu não escapa dessa sina.
— Em outra hora, eu volto, senhor, com os homens do
Conselho. — Carlos anuncia, aparentemente se divertindo com minha
raiva.
Não temos muita intimidade e não gosto dele por ter enganado
a minha mãe fazendo ela pensar que eu estava morta. A dor que
eles a causaram é algo imperdoável, e se ela, até então, não guarda
rancor, eu guardarei por nós duas.
Os homens saem em seguida, fechando a porta. Quando isso
acontece, cruzo meus braços, na defensiva. O meu marido me olha
como se estivesse mirando um fuzil na minha direção.
Se eu tivesse algum objeto pontudo nas mãos, o mataria
somente por me ignorar durante todo esse tempo. Ele não tem o
direito de agir assim, como se eu não existisse, como se não
dormíssemos na mesma cama. Seu corpo, que antes reagia ao meu
apenas com um simples olhar, parece estar adormecido em um
coma profundo.
Minha barriga de grávida ainda está minúscula e não estou fora
de forma, nem com a pele sensível para não merecer seus toques.
Sinto vontade de voar no seu pescoço e cravar minhas unhas
na sua pele até vê-lo sangrar de dor. Tudo isso por que ele tem
outras amantes. Essa tal de Claire deve ser apenas mais uma. Por
isso toda essa tranquilidade vinda dele nesses últimos dias. Está
concentrado demais comendo vadias.
Respiro fundo e o encaro novamente, só que dessa vez ainda
mais irritada. Não faço questão de esconder.
O silêncio é quebrado pela força da sua voz rouca, que perfura
minha pele como espinhos.
— Quem lhe deu o direito de invadir minha sala, sem
permissão? Eu estava na presença de um dos meus homens de
confiança.
— Que se dane a presença de seus homens e soldados! Quero
te matar com minhas próprias mãos — Gesticulo um movimento com
elas. — Vou te matar, Matthew Lansky, e ninguém vai me impedir de
fazer isso!
Vou na sua direção, disposta a lhe acertar todos os socos e
pontapés que conseguir.
CAPÍTULO 31
ELISA SANTIAGO

Ele deve estar pensando que eu estou abalada por causa da


gravidez. O que não deixa de ser uma verdade. Só não entendo que
sentimento é esse que sinto rasgar meu peito quando penso
naqueles lábios vermelhos, que eram somente meus, beijando outras
bocas, e nos seus olhos, que tanto me veneravam, hoje veneram
outras mulheres.
Maldito sentimento que nunca se acaba! A falta que sinto dele é
tanta, que já não posso mais esconder. Essa é a primeira vez que
sinto ciúme de alguém.
Eu o amo?
— Se você não estivesse grávida, eu te daria umas boas
palmadas para aprender a se comportar.
Meu corpo se acende com suas palavras, que aos meus
ouvidos são excitantes. Nunca pensei que fosse querer ouvir algo
assim dele. Mordo meus lábios só de imaginar o quanto seria
prazeroso levar umas palmadas suas.
— Se você quer me bater, então me bata! — Seus olhos
mostram confusão. — Se essa for a única maneira pela qual terei
seus toques novamente, eu aceito. — Caminho lentamente na sua
direção.
Matt está lindo, vestido em uma calça social preta e camisa
branca. Essa combinação de cor o deixa ainda mais gostoso.
— Elisa, você não está nada bem.
— Você que não está, seu ogro.
Lanço vários socos contra seu peito e as lágrimas escorrem
pela minha face, sem minha permissão. Só de pensar que ele pode
ter perdido o interesse em mim por causa de outra mulher, meu
coração se aperta como se estivesse sendo esmagado por um
trator.
Até certo ponto, ele permite que eu o agrida, sem nem sentir
dor, já que minha pequena força não é capaz de ferir seu peitoral
forte com dobrinhas perfeitas. Matthew é um verdadeiro delírio. Sinto
que estou ficando hipnotizada.
— Será que você pode explicar o que está acontecendo? —
Segura meus pulsos para que eu não o toque mais.
— Você é um filho de uma mãe! Me tirou da minha vida comum
e feliz somente para me humilhar. Seu objetivo era me fazer
engravidar e te dar um filho homem. Aí conseguiu. Por isso não
demonstrou nenhuma alegria ao saber que eu estava grávida
novamente. Essa é minha função, né? Você me ver como uma
parideira. — Pauso somente para admirar seus olhos azuis. Quando
eles ficaram tão bonitos? — Por isso que você está saindo com
outras? Por que eu não tenho mais serventia? O que vai fazer
comigo quando o Michael não precisar mais do meu leite materno?
Vai me jogar em um beco escuro depois de ter me matado?
Meus olhos estavam inundados pelas lágrimas, minha visão
turva não me permite ver as coisas com clareza e meu peito se
aperta cada vez mais. O homem à minha frente é frio e não
demonstra emoções. Se bem que juro ter visto um leve sorriso brotar
dos seus lábios. Mas foi algo tão rápido, que não sei se estou
imaginando coisas.
Por que isso me machuca tanto? Não posso estar amando o
meu carcereiro. Matthew me tirou do meu mundo para me trazer
para o seu, sem meu consentimento, e me mostrou uma realidade
nova, sentimentos novos. O amor verdadeiro, eu conheci através
dele: o nosso filho. Ele é o fruto da nossa relação.
Meu marido parecia estar tão apaixonado no início.
Para minha surpresa, sou envolvida pelos seus braços largos e
quentes. Seu abraço me traz um misto de emoções e o calor do seu
corpo unido ao meu me faz sentir protegida e amada, nem que seja
por poucos segundos. Mas o que estou fazendo aqui? Implorando
por algo que não existe mais? Eu não deveria estar aqui. Não
mesmo.
— Preciso ir. — tento sair do seu abraço.
— Morena, você veio me dizer que está com saudade?
Matthew não parece querer gozar dos meus sentimentos.
Posso ver que ele quer muito ouvir dos meus lábios o quanto estou
com saudade. Puta merda! Isso é mesmo verdade. Estou morrendo
de saudade dele, dos seus toques.
— Esquece! Eu não deveria ter vindo. — Lhe dou as costas,
buscando forças para ir até a saída.
É quando ouço sua voz imponente.
— Eu não tenho outras mulheres. — Olho na sua direção, séria,
mas por dentro rindo igual a um palhaço. — Também não te vejo
somente como uma parideira. — Ri com a última palavra.
— Você está agindo estranhamente, como se não gostasse
mais de mim.
— Eu não gosto de você. — sua frieza parte meu coração ao
meio, me deixando fragilizada. Ele não precisa ver isso.
— Isso é tudo o que eu precisava ouvir.
Ele vem na minha direção, me fazendo olhar em seus olhos.
Mordo meus lábios, tentando segurar o choro. Estou parecendo
uma criança geniosa, uma adolescente que foi rejeitada pelo
namorado.
Suas mãos tocam meu rosto, enxugando minhas lágrimas com
as pontas dos dedos.
— Eu não gosto de você, Elisa.
— Não precisa ficar repetindo isso o tempo todo. Já
compreendi.
— Eu amo você.
— Como assim você me ama?
Ele ri da minha confusão.
— Não sei. Você desperta em mim muito mais do que desejo.
Por isso a tomei como minha mulher. Lembra quando eu te disse que
casei com você para demonstrar respeito à memória do seu pai?
— Lembro.
— O correto seria eu ter me casado com a Sthefanny, mesmo
ela sendo mais jovem, pois a mãe dela esteve ao lado do seu pai até
o fim e não fugiu, como sua mãe fez. Vocês deveriam ter morrido por
terem se negado ao nosso mundo. Quando fui ao Brasil para
encontrá-la, não resisti aos seus belos olhos, a esses cachos que
tanto me enlouquecem e à sua pele morena intocada, somente
minha.
— Isso é mentira. Você não tem me tocado ultimamente. Como
quer que eu acredite que me ama?
— E só voltarei a tocar em você quando me pedir isso. —
Deposita um beijo sobre minha testa. — Agora vá cuidar do nosso
filho e me deixe trabalhar!
— Nosso filho está dormindo e Sabina vai ficar com ele até que
eu volte, mas não preciso voltar agora. — digo com um toque de
malícia na voz.
— Você não quer voltar agora? — Seus olhos percorrem todo o
meu corpo com luxúria.
— Eu quero que você me toque, fale besteira nos meus ouvidos
e me foda com força... Muita força. — suplico.
Matthew está com as costas escoradas na sua mesa de
escritório preta e com as mãos sobre a mesma. Ele fica tão lindo
quando usa terno com a gola folhada! Sem a gravata é um charme
instigante.
Tenho noção de que estou parecendo uma menina boba do
colegial admirando um homem mais velho e bonito.
— Eu quero que se toque, princesa!
— Eu não sei como fazer isso — confessei timidamente.
Meu rosto deve estar ruborizado. Por sorte, a pele morena não
demonstra tanto.
— Já te engravidei duas vezes, meu anjo, e ainda assim sente
vergonha de mim?
— Não é vergonha. Só não sei do que você gosta.
— Gosto do seu beijo. Que tal se você me beijar primeiro?
Meus lábios tocam os seus com suavidade e ele apenas abre a
boca, me deixando fazer tudo sozinha. É muito bom sentir cada
sabor que vem da sua língua suculenta.
Minhas mãos escorregam pelo seu peitoral, sentindo suas veias
saltadas. Posso ouvir o som agitado das nossas correntes
sanguíneas, que estão na mesma ligação.
Desabotoo um a um dos botões da sua camisa e ele me
observa atentamente com os olhos cheios de tesão. Me livro do
tecido que envolve seus ombros largos e abdômen sarado e volto a
beijá-lo novamente, para em seguida deslizar a ponta da minha
língua pelo seu pescoço. Sei que isso lhe causa sensações boas,
assim como causa em mim. Minhas mãos percorrem com volúpia sua
pele enquanto distribuo beijos e lambidas em torno do seu abdômen
malhado.
Afrouxo o cinto que envolve sua calça, sem nem acreditar que
eu estou pensando em fazer aquilo. Já vi uma vez num filme a mulher
se abaixando para tirar a roupa do cara e se ajoelhando em seguida
para chupar o pau do homem.
— Você não precisa fazer isso.
Matthew revira os olhos ao sentir minhas mãos envolverem seu
membro, e com um movimento simples, o estímulo ainda mais. Ele é
tão grande, que não cabe todo dentro da minha boca, e mais da
metade fica pra fora. Seu gosto não é ruim e o tesão em mim me faz
sugá-lo com precisão, atingindo seu ponto chave. Os gemidos
cantarolados por ele me estimulam mais a continuar.
Em que momento isso aconteceu? Antes, eu acreditava que
jamais ficaria louca ao ponto de procurá-lo.
Quando sinto que Matthew está alcançando seu limite,
intensifico ainda mais os movimentos com as mãos e os lábios.
Então ele despeja tudo dentro de mim e eu engulo sem pensar duas
vezes.
No momento seguinte já estamos sem roupa alguma e suas
mãos ágeis exploram minha cintura, seios e bumbum, me apertando
com posse. Como é bom sentir que meu homem voltou.
O barulho dele jogando as coisas no chão para dar espaço
para me deitar sobre a mesa de escritório é algo divertido. Assim,
ele me deita, me faz ficar com as pernas bem abertas e se enfia no
meio delas. O que começa com algumas lambidas e massagens no
clitóris, se torna algo que nos deixa em chamas. Preciso sentir tudo
isso novamente para saber que ele me pertence, assim como eu o
pertenço.
Não nos preocupamos com a possibilidade de alguém entrar,
só precisamos nos entregar àquela paixão ardente.
Ele desliza seu pau para dentro do meu canal, primeiro de cima
para baixo e depois com bastante força. Gemo e grito de prazer. Ele
não para nem quando nós dois alcançamos o prazer máximo.
A verdade é que não queremos largar um ao outro, nunca mais.
CAPÍTULO 32
MATTHEW LANSKY

Seus lábios se fecham em torno do meu garotão e eu solto uns


gemidos roucos. A minha morena está revelando talentos incríveis.
Sua língua habilidosa e molhada me leva ao delírio.
Enlaço seus cachos em volta das minhas mãos, fazendo com
que ela me olhe ao mesmo tempo em que está me dando prazer.
Sinto o quanto está, visivelmente, excitada.
Jorro toda a minha porra dentro da sua boca, e como uma boa
menina, ela engole tudo sem reclamar.
A nossa noite apenas acabou de começar.
Após o sexo gostoso que fazemos no escritório, a trago para o
nosso quarto. Somos insaciáveis juntos. Eu prometi que ela também
se tornaria assim e sorrio vitorioso por ter conseguido.
A faço ficar de quatro para mim e deslizo meus dedos pela sua
boceta molhada, beijando seu pescoço e deixando marcas em torno
da sua pele morena que tanto me enlouquece. Elisa solta um gemido
abafado e eu continuo puxando o seu cabelo para trás com um
pouco de força. Sei que isso lhe dá prazer.
Nunca a tive tão excitada como agora. Meus toques já lhe
proporcionam prazer, mas nada se compara a esse momento. Minha
morena parece ter se transformado. O que indica que meu plano
funcionou. Não foi algo que fiz para magoá-la, e sim para ela
perceber que não vive sem mim, sem termos contato físico. Durante
esses dias fingi estar preocupado com outros assuntos e não lhe dei
tanta atenção como antes. Sempre fui submisso dos seus encantos e
ela sempre teve o meu melhor lado. Por isso me menosprezava. Em
hipótese alguma penso em agir como um bárbaro. Não com ela.
Agora que estou convencido da sua paixão e dependência por
mim, só preciso ouvir as três palavras mágicas: “Eu te amo”. Não
demorará muito para isso acontecer.
Já gozei várias vezes nessa noite, mas não me canso de
possuí-la. Dou umas palmadas no seu bumbum durinho virado para
mim e empinado na direção correta para que eu possa mergulhar
meu pênis mais uma vez na sua boceta apertada.
Deslizo para dentro dela algumas vezes em movimentos
vagarosos, deixando-a numa complexidade de emoções, à flor da
pele.
A energia sexual predomina em nossos corpos como nunca
senti antes em toda a minha vida. Intensifico meus movimentos e
mais uma vez despejo meu gozo na sua intimidade. Se ela já não
estivesse grávida, com certeza estaria amanhã.
Elisa se debruça por cima do meu corpo e eu a encaro por
alguns segundos, não tendo uma noção nítida das coisas. Essa
morena é uma perdição para mim, e isso é muito perigoso para um
homem da máfia. Eu deveria afastá-la, como a maioria faria, mas
não consigo, nem desejo isso. Eu só a quero cada vez mais. É como
um vício, uma droga que me consome e me dá uma sensação de
paz.
Seus lábios carnudos distribuem beijos calmos em volta dos
meus. Nunca tive paciência para beijar nenhuma outra mulher da
maneira como eu a beijo. Seu gosto é único e nossa relação é forte.
Jamais a deixarei ir embora, pois ela é minha mulher, minha morena.

(...)

— Matthew, o que você sente por mim?


Ela desliza a ponta de uns dedos sobre meu peito desnudo.
Nessa manhã não estou disposto a ir trabalhar e a única coisa com
que desejo ocupar minha mente é uma certa morena.
— O mesmo que você sente por mim. — digo convencido,
tendo a certeza de um possível surto seu.
Elisa senta-se na cama e fica pensativa por alguns segundos.
Depois me olha com um sorriso nos lábios, caminha em direção ao
banheiro, desnuda, rebolando sua bunda gostosa na intenção de me
provocar.
Quando entro no box, ela está de costas para mim, passando
os dedos entre os cachos molhados, com parte do seu pescoço
propositalmente para receber meus beijos. Não decepciono. Acaricio
seu ventre e beijo seu pescoço com carinho.
Elisa logo se vira e me olha atrevida.
— Não me lembro de tê-lo convidado.
— Nem precisou. Seu rebolado atrevido me disse tudo.
Aproveito que minhas mãos estão pressionando seu bumbum
com posse, para lhe dar alguns tapas no local.
— Está errado, querido. Eu não o chamei. Você deve ter visto
isso em seus sonhos. Agora se me der licença, preciso tomar banho
e ver como meu filho está.
— Não se preocupe, anjo! Nosso filho está bem. No momento,
você é apenas minha. — A jogo contra a parede e desligo os jatos
de água.
A tomo em um beijo molhado e excitante. Meu pau reage no
mesmo instante à sua entrega. Meu desejo é fodê-la duro e forte,
mas não serei tão egoísta a esse ponto. Sei o quanto ela deve estar
sensível depois de ontem, então não vou pressioná-la a fazer sexo
agora.
— Estou sensível, Matt.
— Não vou te pressionar, anjo. Só me deixe tomar banho com
você!
E S

Parece impossível para mim vê-lo nu e não sentir desejo,


vontade de me entregar de corpo e alma. Ainda me sinto confusa. Há
alguns dias, eu o odiava mais que tudo nesse mundo, mas agora
estou olhando para ele como uma adolescente boba que está
descobrindo o amor.
O amor de um mafioso.
Tenho medo de que eu esteja assim somente pelas emoções
causadas da gravidez, pois me sinto mais frágil quando estou
gestante. E se quando meu bebê nascer, eu não sentir mais essas
coisas por ele?
Matthew me ajuda a passar sabonete pelas minhas costas.
Suas mãos grandes e fortes massageiam a região lombar de uma
maneira incrível. Sei o quanto ele está se controlando para não
transar comigo e fico feliz por vê-lo não ser tão egoísta. Ele percebe
que estou sensível após a noite de ontem.
Ele não é mais aquele bruto que eu temia. Sei que não temos
uma relação muito comum e que alguns diriam que estou com
Síndrome de Estocolmo, pois me apaixonei pelo meu sequestrador.
De fato, minha situação é parecida com as demais que tem casos
assim, mas diferentemente, meu algoz nunca me violentou, muito
menos me agrediu até que eu não aguentasse mais falar ou
desmaiar. Pelo contrário. Para mim, ele é o mais gentil que consegue
ser.
Após o banho, me troco e vou ficar um pouco com o meu bebê.
Seguro ele no colo enquanto desabafo com minha mãe.
— Você está se apaixonando, filha, e está com medo desse
novo sentimento.
— A senhora acha mesmo que eu estou apaixonada?
— Eu tenho certeza que está. Só não percebeu ainda, porque
está presa ao fato de que seu marido te trouxe, sem seu
consentimento, para viver em outro país e se casou com você de
uma maneira incomum. Seu coração ainda está relutando. Mas se for
pensar bem, se não fosse por esse ato dele, talvez estivéssemos
correndo perigo, porque algum inimigo do seu pai já teria vindo atrás
de nós, assim como da sua irmã.
Contei tudo para a minha mãe sobre o ataque de ódio que
Alexis teve contra mim. Num primeiro momento, ela ficou assustada.
— A senhora tem razão.
— Seu marido a salvou de todos os perigos que você estava
correndo, e a mim também. Ele pode não ter agido da maneira mais
sensata, mas entenda, meu amor, que esse mundo da máfia é
assim! Não há regras, e a lei quem faz é seu marido. E você me
disse que ele nunca te tratou de forma brutal.
— Ele surtou uma vez quando alisei meus fios.
— Ele te ama do jeito que você é, essa morena linda de
cabelos cacheados. Só quer preservar o fetiche que tem pelos seus
cachos, que são muito lindos.
— A senhora está dizendo para eu me entregar a esse amor?
— Viva ele intensamente! Seu marido a ama e faz de tudo por
você. Posso ver nos olhos dele que você é muito importante para
ele. Vivemos em um mundo onde algumas pessoas julgam as outras
pela cor da pele e já sofremos preconceito diversas vezes. Sabe
disso melhor do que ninguém. E esse homem, o chefe da máfia, está
rendido por você.
— Eu irei ouvir seus conselhos, mamãe. Vou me entregar a
esse amor. — Sorrio. — Só espero não me arrepender. — sussurro
baixinho.
Algo me diz que esse amor ainda me trará turbilhões de
emoções, só não posso afirmar se serão boas ou ruins. Ele está
sujeito às duas opções.
CAPÍTULO 33
ELISA SANTIAGO

Parte I

Completamente despretensiosa: é assim que decidi enfrentar


todos os sentimentos antes nunca experimentados. Não estou
criando mil e umas cenas românticas na minha cabeça, pois essa
minha fase de imaturidade ficou no passado. Quero encarar a minha
nova realidade de outra maneira.
Não posso voltar a ter uma vida normal, porque isso seria
impossível. Se eu não estivesse casada com Matthew,
provavelmente estaria morta, assim como aconteceu com minha
irmã. Nessa manhã recebi a notícia de que Sthefanny faleceu por
complicações decorrentes da surra intensa que levou. Só de imaginar
todo o terror que ela passou, me causa um aperto forte no peito.
Sinto muito por ela não ter tido a mesma sorte que eu. Segundo meu
marido, minha irmã e sua mãe viviam cercadas de seguranças, mas
mesmo assim, não adiantava. Os inimigos conseguiram destruir tudo
que meu pai deixou.
Tenho que pensar na minha proteção. Estou grávida e não
posso colocar a vida do meu bebê em risco, muito menos a do meu
primogênito Michael. Ele é o principal alvo dos inimigos do meu
esposo, por ser o herdeiro homem.
Para viver uma intensa paixão, primeiro devo deixar de lado
todos os medos que me assombram. Mas como não pensar no pior
quando se vive em um meio tão cruel? Para os nossos inimigos, não
importa se você é mulher, homem, criança ou um bebê inocente e
indefeso, porque os sanguinários só querem destruir a vida de quem
eles julgam ser ameaças para eles.
Seguro Michael no colo, com sua cabeça recostada em meu
peito e suas pequenas mãos segurando as minhas. Quando tenho o
meu filho em meus braços, me sinto a mulher mais sortuda do
mundo. O que seria de mim sem todo esse amor incondicional que
sinto por ele?
Ouço passos vindo em nossa direção. Matt se abaixa próximo
a nós e dá um beijo no Michael. Seu maior orgulho é chamá-lo de
“meu garotão”. Seus olhos brilham todas as vezes em que alcançam
o nosso filho.
— Ele está dormindo. — meu marido diz.
— Eu já imaginava. Ele estava muito quietinho. Esse menino é
cheio de energia.
Matthew o pegou nos braços, com cuidado, o coloca deitado
no berço e o cobre bem, para não sentir frio. Ele quase nunca
acorda no meio da noite. É um menino de ouro que não me dá
trabalho em nada.
— Pensei que você já estaria pronta quando eu chegasse. —
meu homem fala próximo a um dos meus ouvidos com sua voz rouca,
me causando arrepios.
Suas mãos em volta da minha cintura me passam uma
sensação de proteção. Há momentos em que não quero que ele me
solte, nunca.
— Desculpa! Pronta para o quê mesmo?
— Você se esqueceu? Hoje à noite temos uma festa para ir.
— Eu me esqueci completamente. Hoje, mais cedo, até escolhi
um vestido para usar, e agora, no final da tarde, vim ficar um pouco
com nosso filho e brinquei tanto com ele, que acabei me
esquecendo. Em meia hora estarei pronta.
Ultimamente estou me esquecendo das coisas com mais
facilidade. A concentração e empenho que tenho para cuidar do meu
filho, tomam bastante tempo do meu dia. Não sou a favor de termos
uma babá no momento, pois como não trabalho e não faço nada
além de passar o dia inteiro em casa, em vez de ficar com a cara
para cima, prefiro eu mesma cuidar do meu filho, afinal de contas, eu
quem fiz, eu quem cuido.
Apesar de ter a ajuda da minha mãe e da minha cunhada, gosto
de preparar seu mingau, dar banho nele, e trocá-lo. Adoro combinar
as peças de roupas que ele tem.
— Não demore muito! Você não precisa de muita maquiagem
para realçar sua beleza. Já é bonita em seu tom natural. E não tire
os cachos do lugar! Eu amo poder mostrar para os outros que eu
tenho a morena mais linda do mundo como minha esposa.
— Então quer dizer que meu marido gosta de me mostrar para
os outros? Depois não reclame se alguém olhar para as minhas
curvas!
— Apenas eu posso te olhar da maneira mais intensa que
existe. Sou o único dono do seu corpo. — Me agarra com posse. —
O que quis dizer é que os outros apenas desejam o que somente eu
posso ter.
— Muito convencido, meu marido. — Arrumo a gravata do seu
terno. Ele sempre faz o laço torto. — Só não se esqueça que você
não é o único homem da minha vida!
Seus olhos me fuzilam e posso ouvir sua corrente sanguínea se
agitar ainda mais do que o habitual. Estou rindo por dentro. Como
nunca percebi o quanto ele é ciumento?
Antes que Matthew perca o controle, trato de esclarecer.
— Lembre-se que Michael é e sempre será o homem mais
importante da minha vida! — Lhe dou um bitoca e me retiro para ir
me trocar.
Coloco um vestido preto colado na minha cintura, que quando
chega próximo ao abdômen, dá uma leve impressão de que não
estou com uma pequena barriga de gestante. Para combinar uso
uma bolsa vermelha de mão, e para os pés, calço um dos meus
saltos mais baixos e confortáveis, para não machucar minha coluna.
Opto por prender meus cachos para evitar desconfortos
desnecessários do meu marido e suas cenas de ciúme.
— Você está deslumbrante, morena!
— Obrigada!
Meia hora depois estamos chegando ao nosso destino. Alguns
fotógrafos fazem filas para tirarem fotos do meu marido e poder
entrevistá-lo, afinal de contas, antes de ser um mafioso, para a
sociedade, ele é um grande CEO, um homem de negócios de
prestígio.
— Senhor Lansky! Como vai o casamento? É verdade que sua
esposa está grávida pela segunda vez?
— Senhor Lansky! Fale um pouco sobre sua esposa! De onde
ela é?
Essa era a primeira vez que ele me apresentava para o mundo,
porque antes eu só vivia presa, sem poder respirar um ar puro.
São tantos flashes, que acabo perdendo a noção de para onde
estamos indo.
Claro que meu marido não responde nenhuma das perguntas.
Apenas continuamos caminhando em direção à entrada.
A reunião será no décimo andar, num enorme salão de festas
equivalente ao tamanho de meio campo de futebol, repleto de
pessoas da alta sociedade.
A decoração está muito sofisticada, há um lustre que brilha
como diamantes e um tapete vermelho real que combina com o tom
do vestido de muitas mulheres. Me sinto feliz por não estar tão
destacada como algumas.
Um casal nos cumprimenta. O homem é um sócio do meu
marido e sua mulher é mais uma dama da alta sociedade. Ambos
são gentis.
Percebo que conforme vamos caminhando pelo salão, os
olhares se voltam mais para mim do que para meu marido. Está tudo
perfeito comigo e não há nada fora do lugar, então por que algumas
pessoas me olham com espanto, como se eu não fosse digna de
estar aqui?
Tento não me deixar levar por essas pessoas racistas.
A nossa mesa fica próxima ao palco onde os empresários que
mais se destacaram neste ano irão discursar, e um deles é o meu
marido. Sento-me ao seu lado.
À minha frente está uma mulher muito gentil que se chama
Laura, e assim como eu, ela é uma negra maravilhosa.
Quando nossos maridos estão distraídos, ela fala comigo.
— Estou percebendo que você está inquieta. Não fique assim!
A maioria dessas pessoas sente inveja por sermos nós a estar
casadas com homens tão bonitos e ricos, não elas. Parece que nós,
mulatas, temos um doce mais saboroso.
— Você tem toda a razão. — Sorrio e brindamos.
Infelizmente, a sociedade racista continua a mesma. Rostos
novos, mas as mesmas características.
Na vez que Matthew discursa, todos olham para ele. Sinto
orgulho de toda sua confiança e inteligência ao se mostrar o porquê
é tão bem sucedido. É verdade que uma certa parte da sua fortuna
vem da máfia, de negócios ilegais, mas fiquei surpresa ao ouvir dois
homens comentarem em uma mesa próxima a nossa o quanto ele
tem faturado esse ano somente em uma de suas muitas empresas.
Após o final do seu discurso, todos aplaudem de pé o lindo
homem que vem na minha direção. Ele me chama para ir ao seu
encontro, parecendo querer dançar a música que toca.
Estou indo na sua direção, quando sinto alguém me empurrar
para o lado, meio que de propósito, eu diria. Se não fosse pelos
braços ágeis de um certo loiro de olhos castanhos, eu teria caído no
chão.
— Você está bem?
— Estou sim. Obrigada!
— Que bom que não se machucou. — Mostra um lindo sorriso
com covinhas. Tão lindas quanto as do meu marido.
Estou prestes a agradecê-lo pela ajuda, quando um “touro”
furioso passa na minha frente, encarando o moço com um olhar
demoníaco.
— Posso ajudar, amigo? — o rapaz pergunta.
— Não gostei da maneira que você olhou para a minha esposa.
Seguro em um dos seus braços para que ele não faça uma
besteira na frente de todos.
O homem apenas pede desculpa, como um garotinho
assustado.
— Me perdoe, senhor! Eu não sabia que ela era sua esposa.
Apenas a segurei para que não caísse.
— Foi exatamente isso, meu amor. Agora vamos voltar para a
nossa mesa!
Matthew olha de relance para um de seus seguranças, que
está próximo à entrada, e lhe diz algo com o olhar. Temo que ele
possa fazer algo com o rapaz. Pelo tom de voz amedrontado do
moço, suponho que ele saiba que meu marido é um homem muito
perigoso.
— Você não vai mandar matar ele, né?
— Eu deveria? — pergunta irônico.
— Não. Ele só me ajudou a não cair.
— Ele tocou no que é meu. Eu mesmo deveria matá-lo.
— Se não fosse por ele, eu teria caído e, provavelmente,
machucado o nosso bebê. O rapaz me salvou, meu amor! Por favor,
não lhe faça nada!
Meu marido respira fundo e me conduz para uma dança
inesperada. Com nossos corpos colados, dançamos agarradinhos
conforme o ritmo da música, uma canção romântica de alguma
cantora americana famosa. Quando suas mãos apertam minha
cintura com posse, sinto que ele quer mostrar para todos a quem
pertenço.
— Sabe que sou apenas sua. Não precisar matar ninguém por
ter me segurado. Você é o único que tem meu corpo.
Posso sentir sua ereção e sua fúria ao mesmo tempo. Quero
acalmá-lo de alguma forma, e o único modo que encontro é beijando
seus lábios macios. O calor do nosso beijo o deixa ainda mais
excitado, porém mais tranquilo.
Antes que o clima esquente ainda mais, eu o tiro da pista de
dança. Estamos voltando para a nossa mesa, quando aquela figura
imponente entra em nosso caminho.
Parte II

ELISA SANTIAGO

Contraio meus passos bruscamente para não bater na mulher


de semblante e hostil na minha frente. Seus olhos azuis, com todo o
seu ódio sobre mim, fazem minha pele queimar. Ela não faz questão
de disfarçar, nem em público, o quanto não gosta de mim.
A mulher passa por mim, me olhando com um ar de
superioridade. Para ela, é como se eu não estivesse aqui, ou melhor
dizendo, me ignora.
— Meu filho, soube que a Claire voltou de viagem?
Meus olhos correm pelo corpo da bela mulher à minha frente.
Ela é uma loira alta, magra, com algumas curvas bonitas e lindos
olhos azuis sedutores que secam o meu marido como se eu não
estivesse aqui. Logo toca com uma certa intimidade que me faz
sentir muita raiva, e o esmalte vermelho nas suas unhas me causam
asco. Pelo nome que ouvi minha sogra proferir, ela é a mulherzinha
que queria ver o meu marido. Sinto uma enorme vontade de agredi-la
até vê-la desfalecer. Quem pensa que é para tocar no meu homem?
— Há quanto tempo, Matt! Senti saudade. — sua voz manhosa
é de uma prostituta sem escrúpulos.
Ela tenta abraçar meu marido, e ele, muito cordial e de um jeito
muito educado, não permite.
— Poderíamos sair qualquer dia desses. Estou com muitas
saudades.
— Meu filho não aprecia mais as coisas bonitas da vida. Ele,
agora, vem dando atenção para as insignificantes. — Seu olhar paira
sobre o meu corpo, me fitando com desdém, de cima para baixo,
antes de esboçar um ar de superioridade.
— Eu soube que você se casou. — a fingida diz com uma voz
manhosa de vadia descabida.
Minhas mãos estão coçando para não arrebentar a cara dela
na frente de todos.
— Sim. Com uma bela mulher. — sua resposta me surpreende,
me fazendo dar um sorriso bobo.
— Eu não estou vendo ela. Poderia me apresentar?
Rio de lado pelo seu comentário idiota. Ela sabe que estou
aqui, mas falou aquilo para me irritar.
— Mesmo que ela seja linda, aposto que isso não irá te impedir
de se divertir, afinal de contas, você sempre foi um ganharão. Com
certeza continua fazendo jus à sua fama de pegador. Me lembro bem
da última vez em que nos encontramos. Foi sensacional — Pisca
para ele e em seguida lança um olhar de desprezo para mim. — Oh,
queridinha! É falta de educação ficar ouvindo a conversa dos outros.
Se não quiser ser demitida, vá logo trazer uma taça de champanhe
para mim.
Meu sangue ferve nessa hora e sinto uma enorme vontade de
estapear sua face, ver as marcas dos meus dedos na sua pele
branca. Seria um prazer imensurável para mim.
Conto mentalmente até dez. É claro que ela está falando assim
para me ver perder o controle e envergonhar meu marido na frente
de todos.
— Sinto muito, queridinha, mas se quer beber algo, sugiro que
você mesma vá buscar. Não sou nenhuma garçonete. Sabe muito
bem com quem está falando, quem eu sou, então não dê uma de
fingida, para o seu próprio bem.
A mulher fica inconformada com a maneira que falei com ela.
Sinto mais raiva ainda ao ver como ela olha para o meu marido,
meio que esperando ele defendê-la.
— Matt? — ela o chama.
— Você ouviu bem. — diz duro. — Não irei tolerar que
desrespeite minha esposa. — Envolve uma mão sua na minha
cintura, me trazendo para o mais perto possível do seu abraço.
Sorrio vitoriosa para as duas, que me olham muito irritadas.
Essa, elas terão que engolir.
Eu só queria entender de onde vem todo esse ódio contra mim.
Nunca a ofendi. A cor da minha pele é algo tão repugnante para ela,
que me trancou naquela sala para me matar. Se não fosse pela
ajuda de Sabina, eu teria morrido lá dentro.
A encaro de igual para igual, mas não da maneira “sem vida”
que ela me olha, pois não sou esse tipo de pessoa. Entretanto,
também não demonstro respeito com alguém que não demonstrou o
mesmo por mim.
— Você passou dos limites, Matthew Lansky. Uma coisa é
casar com essa negra e mantê-la em casa com todo o conforto e
luxo que ela jamais poderia ter, nem que vivesse mil anos, pois o
lugar de pessoas como ela é nos servindo. Outra coisa, bem
diferente, é não ter a decência de deixar ela em casa e apresentá-la
para toda a sociedade, nós envergonhando ainda mais. Você está
jogando o nome da nossa família no lixo.
— Escute aqui, senhora! Eu não irei ouvir suas ofensas
descabidas. Eu... — digo.
— Calada! Não falei com você. Acabei de dirigir a palavra ao
meu filho, não a um ser desprezível que deveria estar limpando os
banheiros da festa em vez de caminhar de mãos dadas com um
homem tão importante como meu filho.
Sinto uma fúria crescer dentro de mim. A maneira que ela falou
de mim, me faz querer chorar. O preconceito rasga a alma e fere o
coração de tal maneira, que não evito que algumas lágrimas
escorram pelo meu rosto.
— Você não passa de um fraco que está hipnotizado por essa
negra! Volte para o mundo real, filho! Pode continuar se divertindo
com ela...
— Mãe, se você não calar a maldita boca agora, não irei
responder por mim! — seu tom de voz é feroz.
Matthew é um leão valente que me defende do perigo, mas
mesmo assim ainda há algo em mim me machucando. As palavras
daquela mulher foram duras, secas, e maltrataram o coração de tal
maneira, que chega a esmagar todo meu ser.
— Você nunca me desafiou antes, filho. Essa mulher só nos
traz desavenças. — Uma das suas mãos toca a face do meu marido.
Ela parece querer apoio dele para me humilhar ainda mais.
— Quantas vezes terei que dizer que se ousar desrespeitar
minha esposa novamente, irei esquecer que é a minha mãe e te darei
um fim com minhas próprias mãos?
Ela parece incrédula.
Vendo que Matthew não irá ficar ao seu lado, me ataca
novamente.
— Você destruiu a minha união com meu filho. Irá pagar caro
por isso, sua negra maldita!
— Não ouse ameaçar a Elisa novamente! Se fizer isso, eu terei
que te matar sem pensar duas vezes. Agora nos deixe em paz de
uma vez por todas!
Matthew me leva a uma sala mais reservada.
Estou me sentindo triste, afinal de contas, a cor da pele é
apenas uma cor. Por que os racistas veem tantos problemas em um
pigmento mais escuro? Muitos esquecem que nós, negros, temos um
coração e sentimentos. Sentimos dor, assim como os brancos.
Durante a minha vida, sempre tive que provar para mim mesma
que eu era capaz. Não foi fácil conseguir estudar em uma
Universidade onde 90% dos alunos e professores eram pessoas
brancas. Encarei o preconceito de frente desde meus primeiros anos
de vida, onde no jardim de infância uma menina me deu o apelido de
“chocolate”. Parecia inofensivo naquela época, mas hoje sei que
quando algo assim é dito de maneira que pareça divertida, é uma
forma de preconceito que as crianças aprendem desde cedo e os
pais nada fazem para impedir, na grande maioria das vezes.
— Não fique assim, meu amor! — Matthew desliza uma das
suas mãos com carinho pelo meu rosto.
Ela tira do bolso um lenço e enxuga minhas lágrimas.
— Sua mãe me odeia por eu ser negra.
— E eu a odeio por ser tão racista.
— Você não é como sua mãe. Apesar de ter a mesma cor que
ela, não é um homem preconceituoso e nunca me diminuiu por ser
negra, pelo contrário, sempre me enalteceu.
— A cor da sua pele só a deixa ainda mais bonita do que já é,
mas o que mais me encanta em você é a bondade que carrega no
peito. Admiro muito sua força e determinação. É uma mulher forte e
batalhadora. Por favor, não deixe que as palavras secas da minha
mãe a façam se sentir diminuída! Você é linda do jeitinho que é.
Agora estou chorando muito, mas não de tristeza. A humilhação
que passei agora a pouco, já não me machuca tanto, pois as
palavras do meu marido me trouxeram conforto. Ele tem razão.
Ninguém pode fazer eu me sentir inferior, porque não sou inferior a
ninguém.
— Me espere aqui! Eu já volto. — ele pede.
— Aonde você vai?
— Confie em mim!
Matthew sai. No instante em que ele fecha a porta, sinto um
aperto muito grande pressionar o meu peito e a pior sensação do
mundo se apodera dentro de mim. Enfrento uma falta de ar fora do
comum, minha garganta fica seca e, de repente, sou invadida por
uma grande sensação de aflição, mas não por causa do ocorrido
agora a pouco com minha sogra. É como se eu estivesse sentindo
algum presságio de algo ruim que está prestes a acontecer. Tento
não dar vazão a esse sentimento de desespero.
Vejo uma jarra com água em cima da mesa, sirvo-me e bebo
um copo cheio, em goles curtos.
O aperto no meu peito não sumiu e ainda sinto minha garganta
seca, mesmo após ter bebido toda a água.
Minutos depois, Matthew volta, praticamente puxando à força
sua mãe por um braço. Ele caminha em passos largos, vindo na
minha direção, e o sorriso da mulher morre ao me ver novamente.
— Não acredito que me trouxe aqui para olhar para a cara
dessa mulherzinha. Eu pensei que queria se desculpar pelo seu
comportamento rude comigo de instantes atrás.
— Você não se enganou, mãe. Alguém irá pedir desculpa aqui,
e será você. Peça perdão à minha esposa, de joelhos!
— Sinto muito, meu filho, mas nada, nem ninguém, me fará
pedir perdão a ela, muito menos a você.
— Não estou pedindo, estou ordenando. Se retrate com a
minha esposa! Caso contrário, não agirei como seu filho e lhe darei
um castigo à altura por ter desrespeitado a Elisa, a senhora da
máfia.
Nunca vi Matthew tão irritado como agora. Pareceu falar muito
sério e cuspiu fogo pela boca, parecendo um leão raivoso. Nem
mesmo quando surtou por causa dos meus cachos ou na vez em que
fugi, ele ficou assim.
A feição da minha sogra passa de uma mulher soberba para
uma temerosa. Ela sabe do que o filho é capaz, e pelo tom de voz
dele, eu sei que não está para brincadeiras. As coisas só pioram
quando o vejo sacar sua arma de calibre trinta e oito e mirá-la na
direção da sua mãe.
CAPÍTULO 34
ELISA SANTIAGO

Coloquei uma das minhas mãos sobre a sua mão.


Por mais horrível e cruel que sua mãe seja, não irei permitir que
ele cometa uma loucura. Sei do que o Matt é capaz e o quão cruel
consegue ser quando está movido pela raiva, pelo ódio. Essas
emoções corrompem sua razão.
— Amor, não é necessário agir com violência.
Seus lindos olhos azuis se direcionam para mim.
Tentando apaziguar seu coração, com muita cautela, conduzo
seu braço para baixo, evitando que ele mire a arma na direção da
mulher. Sorrio com carinho para que ele não desvie os olhos dos
meus e assim possa aliviar um pouco a tensão que nos rodeia.
— Está tudo bem. Não precisamos revidar violência com mais
violência. Ela pode não gostar de mim, mas ainda assim é sua mãe.
Matthew olha para a mulher, que está mais branca que um
papel. É nítido o medo em seu olhar. Mesmo assim, se mantém em
pé, com os olhos fixos em nós. Sei que ela não vai me agradecer
nunca por ter salvado a sua vida, mas não poderia carregar uma
culpa assim comigo. Um filho matar a própria mãe por minha causa.
Por mais que pessoas preconceituosas e de mau caráter
mereçam a morte, não cabe a nós aplicar esse castigo. A própria
vida, um dia, os levarão para o lugar onde eles merecem ficar.
Sei que ela não teve pena de mim quando me trancou para
morrer assim que cheguei a Nova York.
Reviver algo do passado é sufocante.
— Agradeça a Elisa por não estar morta agora. — Matthew
disse duramente, com a voz cheia de rancor. — Você não merece a
bondade dela, mas só está viva por causa da sua generosidade.
— Um dia irá perceber que ela não é mulher para você.
— A senhora está decidida a me odiar pelo resto da sua vida,
mas não imagina o quanto seu ódio faz mal para você. Não faz ideia
do que está perdendo: a melhor fase do seu neto. E tudo por puro
egoísmo e preconceito seu.
— Não tenho nenhum neto. — afirma de maneira gélida, sem
sentimentos algum. — Não me importa quanto filhos você tenha. —
Seu olhar se direciona para a minha barriga. Ela sabe que estou
grávida. — Nenhum filho que nascer do seu ventre será meu neto. —
Sem dizer mais uma palavra, sai da sala em passos rápidos e
vacilantes.
Matthew me abraçou forte e depois de toda essa confusão,
decidimos que é melhor voltarmos para a festa.

(...)

Tento não ficar abalada, mas cada olhar que aquela mulher me
dá, é como se estivesse cantando vitória por alguma coisa. Ela
parece muito satisfeita para quem passou por apuros minutos atrás.
Temo que possa fazer algo contra mim e meu filho. Nesse momento,
sinto um forte aperto em meu peito.
— Você está calada. Se quiser ir para casa, basta me falar.
— Estou bem. Não vamos perder a festa por causa de
ninguém.
Essa noite é do meu marido. Ele já discursou duas vezes e
todos os fotógrafos procuraram por ele, querendo bater uma foto do
grande empresário Matthew Lansky, que me surpreendeu hoje
falando de caridade. Eu não imaginava que meu marido seria capaz
de doar grandes fortunas, todos os anos, para crianças carentes.
Nessa noite, ele me mostrou mais uma vez que tem um lado humano,
que em meio a tantas trevas, também há luz em seu coração.
Matthew agora está conversando com alguns amigos e sócios
enquanto eu me divirto conversando com algumas mulheres da alta
sociedade. A maioria delas só fala em roupas e sapatos.
Vou com Laura ao banheiro. Ela me conta o quão difícil foi sua
vida, porque quando criança passou muita necessidade, e após a
morte de seus pais, não tinha para onde ir, até ser resgatada das
ruas pelo seu marido.
— Não foi nada fácil no início. Esses mafiosos se sentem
donos de nós, e ai de quem contrariar. Demorei para entender que
eu não deveria sentir medo do meu marido, porque mesmo sendo um
homem cruel, nunca me forçou a ser sua, diferentemente da maioria.
— Matt também nunca me forçou, mesmo comigo não
concordando com algumas de suas ações e opiniões. Sei que sem
ele, eu estaria, provavelmente, morta.
— Quero te dar um conselho, Elisa. Gostei muito de você e
posso ver doçura no seu olhar, assim como benevolência no teu jeito
falar. — Segura minhas mãos com firmeza. — Esse mundo não é
fácil para nós, mulheres, e se somos negras maravilhosas, tudo fica
ainda mais difícil. O preconceito sempre esteve ao nosso lado e
creio que levará muitos anos para que deixe de existir. O conselho
que te dou é que jamais abaixe a cabeça para ninguém. Você é linda!
Tenha sempre orgulho dos seus cabelos cacheados e da sua pele
negra.
— Eu tenho orgulho de mim e sempre terei.
— Posso ver nos olhos do seu marido o quanto ele é submisso
do seu encanto. Sempre o tenha na palma da sua mão! Mas não
com arrogância ou soberba. Seja gentil e carinhosa com ele e
sempre terá tudo aos seus pés!
Trocamos nossos contatos.
Após uma noite longa e cansativa, finalmente voltamos para
casa.
Meu quarto está iluminado apenas com a luz natural da lua, que
entra através dos vidros das janelas. Subo na frente, e antes de ir
para lá, vou ver meu filho. Ele está dormindo como o anjinho que é.
Finalmente posso tirar os sapatos, que já estavam me
incomodando. Estou me livrando do vestido, quando sinto o calor das
mãos dele me ajudarem a abrir o longo zíper.
Seus lábios distribuem beijos suaves em volta do meu pescoço
e suas mãos cheias de volúpia agarram meus seios com posse.
Aposto que foi assim pelo rapaz que me ajudou quando quase caí na
festa. Ele deveria estar grato por eu não ter caído e machucado o
bebê, mas seu ciúme e posse falam mais alto. Espero que não tenha
machucado o garoto.
A sensação que tenho é de que estou cada vez mais
apaixonada por esse homem.
Seus dedos brincam com meus mamilos endurecidos e logo
sinto sua ereção por trás de mim me furando com urgência. Posso
ouvir sua respiração pesada e o barulho da sua corrente sanguínea a
todo o vapor.
— Você é minha, Elisa! E isso nunca irá mudar. — sua voz
rouca sussurrou em meu ouvido, me fazendo arrepiar por inteira.
Em seguida ele me toma em um beijo apaixonado, cheio de
tesão. Rapidamente livrar-se de suas roupas e me faz sua com
urgência.
O sexo entre nós fica cada vez mais gostoso. Sou preenchida
por toda extensão do seu pau grosso e pulsante.
Meu homem está insaciável e não quer conversar. Me faz ficar
de quatro, e com muita sede, me penetra enquanto dá pequenos
puxões em meus cabelos e alguns tapas na minha face, me levando
à loucura
Não tenho dúvidas de que o amo com todas as minhas forças.
Adormeço em seus braços após uma longa noite, onde meu
marido me mostrou não somente no sexo que sou apenas sua, mas
também nas suas meias palavras de carinho.
— Eu te amo, morena! Para sempre te amarei!
CAPÍTULO 35
ELISA SANTIAGO

Com a expressão fechada e cara de poucos amigos: é assim


que estou fitando o semblante tranquilo do meu marido.
Matthew está separando algumas pastas que pretende levar
para a viagem de negócios que está prestes a fazer para Tóquio.
— Você não pode mandar alguém em seu lugar?
— Querida, os investidores só confiam em mim.
— Eu não quero que você vá. Não agora que estou grávida.
— Você ficará bem.
— Acontece que me sinto mais segura ao seu lado.
Ganho sua atenção completamente para mim e suas mãos
tocam a minha face com carinho. Ele deposita um beijo sobre minha
testa e diz pacificamente:
— Vocês irão ficar bem. Não se preocupe, morena! Ninguém
ousará tocar no que é meu. A mansão está bem protegida. Esse
lugar é uma fortaleza, onde ninguém entra sem ser visto.
— Vou sentir saudade.
Me jogo em seus braços com intensidade, o abraçando
fortemente. As emoções da gravidez me deixam sensível e mais
emotiva do que o normal. Foi assim com o Michael e está novamente
na segunda gestação.
— Não irei demorar, morena. Em dois dias estarei de volta.
Não vou perder nada da sua gestação. Quero acompanhar tudo.
— Semana que vem já dá para saber se é menino ou menina.
— É uma menina. — diz com confiança.
— Como pode ter tanta certeza?
— Eu a coloquei dentro de você, princesa. Não tenho dúvida de
que será uma linda menina, assim como a mãe dela.
— Digamos que seja uma menina. Isso te deixaria feliz?
Ele sorriu de lado.
— Michael será meu herdeiro, o chefe, assim que tiver idade
para assumir todos os meus negócios. Irei amar ter uma filha para
mimar e, claro, aniquilar todos os homens que ousar se aproximar
dela.
— Você será um bom pai, independente do sexo do nosso
bebê. Michael te ama muito.
A cumplicidade entre pai e filho é linda.
— Já está na hora de eu ir. — Me puxa para um beijo molhado,
ardente e sedutor.
Suas mãos apertam meu bumbum com força e posso sentir seu
pênis duro pulsando dentro da calça. Ainda tenho marcas da noite
passada, como chupões espalhados pela região do pescoço e seios.
Somos um casal cheio de fogo, insaciáveis. Sempre queremos mais
e mais um do outro.

(...)

— Não fique assim, Elisa! Meu irmão está acostumado com


essas viagens a negócios. Não é nenhuma cilada de inimigos. Ele
sempre está protegido porque são muitos seguranças que o cercam,
mesmo quando todos pensam que não há nenhum.
— Sabina, eu sinto um aperto no meu peito toda vez que
estamos longe um do outro.
— Quem diria que você, aquela garota rebelde que dizia que
odiava o meu irmão, estaria completamente apaixonada por ele?
Balanço o Michael em meus braços. Ele está sonolento, quase
dormindo. Acabei de amamentá-lo.
— Foram muitos fatores que me levaram a amar seu irmão, e o
primeiro deles está bem aqui em meus braços. O nosso filho é o
melhor presente que ele poderia ter me dado.

(...)

À noite, rolo de um lado para o outro na cama. A luz apagada


deixa o ambiente todo escuro. Não estou conseguindo dormir
sozinha.
Não é como se eu tivesse medo de filme de terror. Quando
tinha dez anos, costumava ficar assustada com algo que assistia e
quase não dormia a noite, mas dessa vez é diferente, pois os medos
que me assombram são outros.
O pouco que aprendi a me defender com o meu treinamento
me permite ficar com os olhos atentos durante toda a noite.
Quando posso ouvir ruídos e pisadas se aproximando, sinto um
arrepio forte percorrer meu corpo, mas não vacilo, nem movo um
músculo sequer. Assim que a porta é aberta sem fazer barulho
algum, vejo que alguém se aproxima de mim na ponta dos pés, para
não fazer barulho.
Seguro firmemente a arma que coloquei embaixo do travesseiro
e estou prestes a atirar, quando ouço a voz da minha mãe.
— Fique tranquila, meu amor! Sou eu.
Acendo o abajur ao meu lado e a luz ilumina a sua face. Fico
aliviada por ser ela.
Escondo a arma debaixo das cobertas.
— Não quis te acordar, meu amor. Só vim ver como você
estava, já que parecia muito nervosa hoje à tarde.
— Sabina te contou?
— Apenas o que eu já sabia. Te conheço melhor do que
qualquer outra pessoa e sei muito bem que não gosta de dormir
sozinha quando se sente assustada. Me conte, meu amor! O que
vem te deixando assim?
— Eu não paro de pensar nos inimigos do papai, no ódio que a
minha sogra tem por mim. Temo que eles possam tentar fazer algo
contra meu filho.
— Não se preocupe, meu anjo! Ninguém irá fazer mal para
você, nem para meu neto.
— Mãe, se algo acontecer, se a senhora perceber qualquer
movimento suspeito, quero que se proteja, pegue meu filho e o leve
para o grande cofre. A senhora se lembra da senha?
— Me lembro sim.
— Quando estiver lá dentro, troque a senha através do painel
de controle e acione ajuda! Até a polícia, se preciso.
— Meu amor, está se preocupando à toa. Nada irá acontecer
com vocês. Agora deite! Irei ficar com você até que durma.
Preciso fingir que dormi para minha mãe, enfim, poder ir
descansar. Quando ela sai, posso voltar ao meu posto e ficar de
olhos bem atentos.
Como não é seguro trazer meu pequeno para dormir ao meu
lado, providencio que ele durma junto com a Sabina, em seu quarto.
Ela cuida dele tão bem quanto eu e minha mãe.

(...)
Pela manhã, faço minhas obrigações de sempre, cuido do meu
filho e me alimento bem, para garantir que o bebê em meu ventre
fique cada vez mais forte e saudável.
Um dia inteiro sem estar ao lado de Matt é cheio de incertezas
para mim. Ele que é o alicerce da nossa família, o nosso protetor.
Me sinto indefesa sem sua proteção. É como se todos à minha volta
não fossem de confiança, exceto minha mãe e Sabina.
— Veio pegar alguma coisa, Carlos? — pergunto ao entrar no
escritório do meu marido.
O homem está retirando algo de dentro das gavetas.
— Apenas uns papéis da empresa, senhora Lansky.
— O meu marido está bem?
— Não se aflija, senhora Lansky! Seu marido está em uma
reunião de negócios. Amanhã estará de volta.
— Carlos, será que você pode dormir na mansão hoje à noite?
De alguma maneira, ele me passa segurança, mesmo que eu
não goste dele por ter enganado minha mãe.
— Não se preocupe com nada, senhora! Desde ontem estou na
central com toda a equipe. Estamos protegendo a senhora e sua
família.
Desde quando me tornei uma pessoa tão sensível ao medo? As
ameaças feitas pela mãe do meu esposo me deixaram assim. Aquela
mulher parece ter poderes psicoativos, porque de alguma forma
entrou na minha mente e está conseguindo me manipular, me
deixando nervosa e assustada.
Devo estar enlouquecendo.
Todos têm razão: estou segura. Nada, nem ninguém, pode
invadir essa mansão sem ser visto pelo sistema de vigilância.
(...)

Após Michael dormir, volto para o meu quarto. Então lembro


que não peguei meu celular.
Estou pensando no quanto meus medos podem fazer mal para
o meu bebê, quando de repente as luzes dos corredores se apagam,
todas de uma vez. A cena parece um filme de terror.
Quando menos espero, sinto uma mão forte me impedir de
gritar, cobrindo toda a extensão da minha boca, e um cheiro forte
toma conta das minhas narinas, me deixando completamente
atordoada. Rapidamente perco todos os meus sentidos, entrando
numa escuridão profunda em braços desconhecidos.
CAPÍTULO 36
ELISA SANTIAGO

Um cheiro forte de álcool me faz despertar com a sensação de


que estou em perigo. Estou deitada sobre um colchão macio e
perfumado.
Levanto, fazendo um som de quem acabou de acordar
assustada, olhando para o homem a mulher na minha frente. Minha
mãe está segurando um frasco com álcool, juntamente com um
lenço, o qual passou sobre meu nariz até que eu despertasse.
A encaro atordoada. Estou meio aérea, com a sensação de
que estou rodando. Minha cabeça está doendo, sinto como se
tivesse levado uma paulada nela.
Os olhos castanhos da minha mãe me fitam com preocupação
e ao mesmo tempo uma certa tristeza.
Lembranças do que aconteceu, vem à tona. Eu estava indo
para o meu quarto, quando alguém me fez cheirar algo forte à força
e eu desmaiei. Alguém tentou me sequestrar? Algo deve ter dado
errado, pois ainda estou em casa.
Nesse instante noto que Sabina também está no quarto, com o
braço esquerdo enfaixado. Parece que deu um jeito sério nele. Seus
olhos azuis também estão tristes, me encarando como se ela
estivesse com receio de me dizer algo.
— Elisa, meu amor! Você está bem? — a voz sua da minha
mãe me faz encará-la.
Se ela aqui comigo e Sabina também, pelo horário, meu bebê
não está dormindo. Ele nunca dorme a essa hora. Deve estar
faminto, esperando pelo seu leite materno. Se estou bem e já
despertei, por que ninguém foi buscá-lo?
— Onde está meu filho? — pergunto preocupada e aguardo por
uma resposta.
Os segundos torturam minha mente de tal maneira, que sinto
um forte aperto em meu peito. Algo me sufoca por dentro. Preciso
do meu filho. Quero segurar ele em meus braços.
— Avise ao Matt que ela despertou! — Sabrina pede para uma
empregada, que sai levando numa bandeja o álcool com um kit de
primeiros socorros.
— Não estou entendendo. O que aconteceu comigo? Alguém
tentou me raptar? Foi isso que aconteceu, mamãe? Por que não me
levaram? Onde está o meu...? — Não completo a frase.
Meu ser é invadido pela forte sensação de que meu filho não
está aqui, que está correndo um sério perigo.
Pelas expressões no rosto da minha mãe e da minha cunhada,
sinto que algo está errado e que meu bebê está em apuros.
Levanto-me da cama com os pés descalços e o gelo do chão
entra de uma maneira cortante por todo o meu corpo. Sinto uma
corrente elétrica percorrer cada vértebra minha. Abro a porta e corro
na direção do quarto do meu filho. Minha cabeça, que ainda estava
girando, agora gira ainda mais, pelo esforço que faço de sair
correndo antes de ter me recuperado totalmente.
O corredor está uma bagunça, com manchas de sangue pelo
chão. Quando vou chegando próximo ao quarto do meu filho, sinto
uma dor furar meu peito.
Levo minhas mãos ao meu coração e as vozes da minha mãe e
da Sabina me chamando, pedindo pra eu esperar por elas, ficam
cada vez mais distantes. Quase não consigo ouvi-las, como se eu
não estivesse diante delas. Meu desespero está bloqueando-as.
Ouço também uma possível voz que parece ser do meu marido.
Passo por cima do homem machucado no chão da entrada do
quarto do meu bebê e sinto minhas pernas vacilarem. Tudo em mim
parece estar morrendo e a aflição toma conta do meu ser.
— Deus! Meu bebê!
Adentro o cômodo e encontro mais dois homens, os nossos
seguranças, caídos no chão, sangrando e, possivelmente, já mortos.
Aperto meus olhos com força e os abro novamente, indo até o
berço onde deveria estar o meu filho. Meu coração sangra com o
que vejo. Os lençóis brancos estão sujos de sangue e Michael não
está lá dentro.
Todo meu sangue foge do meu corpo e eu sinto congelar. O
medo toma conta do meu ser, junto com o desespero e a dor. Tenho
medo do que pode ter acontecido.
Mãos firmes me seguram quando sinto minhas pernas
vacilarem e os olhos azuis que tanto me passam segurança estão me
fitando preocupados.
Preciso saber o que aconteceu aqui.
— Matt, onde está o meu filho? Onde está o nosso bebê?
Nem me atento ao fato dele já estar de volta. Talvez tenha
vindo mais cedo e não me disse, para me fazer uma surpresa. Se
bem que Tóquio fica do outro lado do mundo. Como ele chegou tão
rápido?
Grito desesperada.
— Amor, eu preciso que você seja forte. — As lágrimas
inundam minha face, borrando a minha visão. — A mansão foi
invadida por um túnel subterrâneo que estava desativado há anos.
Os homens que guardavam aquela entrada foram todos mortos.
Levaram o nosso filho e tentaram te levar também, mas não
conseguiram.
Solto um grito de desespero, fino e potente, que inunda todo o
meu ser com uma terrível dor que transcorre em meu peito. Sinto
como se alguém tivesse cravado uma faca em mim. Falta forças
para que eu permaneça de pé.
— Prometo que irei trazê-lo de volta e que todos que te fizeram
sofrer, vão pagar caro por cada lágrima que você derramou. Eu juro.
Essa foi a última coisa que ouvi antes de tudo voltar a ficar
escuro novamente.
Que nada de ruim aconteça com meu filho!
MATTHEW LANSKY

Seguro minha mulher em meus braços após ela desmaiar ao


receber a notícia de que nosso filho foi raptado. Sua pele está tão
gelada, que parece que está ficando cada vez mais sem vida. A dor
que ela sente também é a minha.
Eu não deveria ter saído de casa. Me sinto culpado por ter
deixado eles sozinhos. O ódio que sinto é tanto, que tenho vontade
de matar todos esses incompetentes que se denominam seguranças.
Elisa pensa que eu estava em Tóquio, mas na verdade, eu
estava na cidade, investigando algo que pode deixá-la sem chão.
Ouvi murmúrios em nosso meio de que o pai dela foi visto pelas
redondezas há quase um mês. Uma imagem de câmera de
segurança mostrou um homem embarcando num metrô exatamente
às quatorze horas de uma sexta-feira, no dia primeiro. A pessoa é
bastante parecida com o pai da minha esposa, mas não temos
evidências suficientes que comprovem que é realmente ele, já que o
mesmo foi dado como morto há dez anos.
Se ele está vivo, por qual motivo estaria se escondendo, sendo
que eu posso lhe dar proteção?
Não gosto de mentir para a minha esposa, mas a fiz acreditar
que eu estava em Tóquio, do outro lado do mundo, resolvendo
assuntos da empresa. Se tudo for provado, lhe contarei o motivo da
minha omissão, pois não quero criar falsas expectativas nela. Não sei
como vai ser sua reação já que nunca conviveu com o pai.
No momento tenho coisas mais importantes para me preocupar.
A falha no sistema de segurança foi algo gravíssimo. Não é possível
que o hacker dos meus inimigos tenha sido melhor do que todo meu
pessoal e sistema de segurança.
Não havia como eles saberem do antigo túnel que liga a
mansão a uma área de mata que fica há dois quilômetros da
propriedade. Essa rota foi criada e desenhada pelo meu pai, que
quis garantir uma segurança a mais, porque caso fôssemos
atacados, teríamos por onde fugir.
Com a evolução nos últimos anos, tanto de armamento quanto
de tecnologia, aquela área foi desativada. Apenas alguns homens da
minha inteira confiança faziam a segurança daquele local sem
acesso. Creio que há um traidor entre nós.
Poucas pessoas sabem da existência daquele lugar além de
toda a minha família, Carlos e o pessoal que se reveza na segurança
de lá. Não acredito que eles tenham me traído, pois estão todos
mortos, e Carlos estava na casa fazendo a proteção. Ele foi baleado
na perna e com sua agilidade impediu que minha esposa também
fosse levada. Salvou Elisa das mãos daqueles bandidos.
O único idiota que ousaria me desafiar seria o Hernandez.
Temos uma rixa que já dura dez anos. Na última vez que ele e
nossos homens entraram em confronto, mandou incendiar um galpão
que tenho instalado na Colômbia. O seu pai teve conflitos com o meu
no passado e tínhamos um acordo de trégua, até ele me desafiar há
dois meses, destruindo um dos meus carregamentos de armas.
Se aquele infeliz ousar tocar no meu filho, juro que serei capaz
de matá-lo com minhas próprias mãos!
Deixo minha esposa descansando em nossa cama e encontro
Carlos no meu escritório, junto com alguns homens. Mesmo ferido,
de muletas, continua sendo fiel. Quando tudo passar, irei compensá-
lo, e sei que ele irá gostar do meu presente.
— Senhor, o infeliz do Hernandez está na linha querendo falar
com você. — Ele me passa o celular.
— Onde está meu filho, seu desgraçado?! Juro que se você
ousar tocar um dedo sujo seu nele, eu irei te caçar, nem que seja no
inferno, e arrancar pedaço por pedaço da sua maldita pele.
— Calma, Matthew, meu amigo! Não fale nesse tom comigo!
Não irei matar o seu herdeiro. Não agora. — diz provocativo num tom
de deboche. — Podemos fazer uma troca.
— O que você quer, seu maldito?
— Sua linda esposinha em troca do seu herdeiro. O que me
diz?
— Você irá se conter em apenas devolver meu filho, e torça
para que eu não te mate!
— Não seja tolo, Lansky! Ela é só uma mulher. Você já teve
muitas. Não me diga que essa boceta tem algo que as demais não
têm!
— Eu vou te pegar, seu maldito! Você vai implorar pra que eu te
mate!
— Você tem 24 horas para aceitar minha proposta. — Encerra
a ligação.
Esse desgraçado pagará por ter ousado cruzar o meu caminho.
— O que ele quer, chefe?
— O maldito quer a minha esposa.
— Sua esposa? Ele deve saber o quanto o senhor a ama.
— Alguém está passando informações para esse desgraçado.
Carlos, localize a minha mãe! — ordeno
Se ela estiver envolvida em algo, pagará com a própria vida.
CAPÍTULO 37
ELISA SANTIAGO

Ao abrir meus olhos, a primeira imagem que vejo na minha


frente é a minha mãe. Ela me abraça e mais uma vez tenta me
confortar. A angústia e a dor em meu peito estão me destruindo.
Pergunto pelo Matt e ela me diz que ele está se reunindo com
alguns soldados para irem atrás do meu filho.
Com sua ajuda consigo chegar até onde estão meu marido,
Carlos e todos os homens que vão acompanhá-los.
Apesar da dificuldade para respirar, me mantenho firme,
mesmo sentindo toda a região da minha barriga doer, como se fosse
uma cólica.
Há duas grandes preocupações nesse momento: a segurança
do meu bebê raptado e a incerteza de que meu filho em meu ventre
não está correndo perigo de vida.
Assim que meu marido me vê, ele questiona se estou bem e
toca na minha face com carinho.
— Você não me parece bem. Quero que descanse e não se
preocupe com nada! O doutor virá te examinar.
— Você sabe onde ele está? Michael está vivo, não está? — o
temor na minha voz o faz ficar mudo por alguns segundos. Ele nunca
ficou assim antes.
— Prometo que vou trazer nosso filho com vida.
— Por favor, prometa para mim que vocês vão voltar são e
salvos!
— Não vou permitir que você se veja livre de mim, nunca.
Vamos voltar. Agora vá para casa e proteja o bebê no seu ventre! —
Acaricia minha barriga.
Eu o abraço e não quero mais soltá-lo.
Lágrimas inundam minha face mais uma vez e os olhos azuis de
Matthew agora me fitam com seriedade e compaixão. Nunca pensei
que fosse amar tanto alguém como o amo. Só de pensar que
cheguei a sentir repulsa dele... Hoje me sinto especial e amada ao
seu lado.
Ele prometeu trazer o nosso filho de volta, e eu sei que fará de
tudo para reunir nossa família novamente.
Seus lábios macios beijam a minha testa e eu sinto um aperto
no peito quando ele bate a porta do carro. Os soldados estão todos
armados com grandes armas, até mesmo fuzis. Não posso deixar de
notar o colete presente em todos, inclusive no meu marido.
Uma verdadeira guerra está prestes a ser travada e temo pela
vida das pessoas que mais amo nesse mundo. Se algo acontecer
com um dos dois, não sei o que será de mim. Preciso deles como
necessito do oxigênio para respirar.
Volto para dentro da mansão, e como foi me dito, o médico
chega para me examinar. Após medir minha pressão arterial e contar
que ela está bastante elevada, o homem de total confiança da máfia
me dá algo para tomar, um calmante para dormir. Como não quero
deixar todos ainda mais preocupados comigo do que já estão, finjo
ingerir o medicamento e adormecer pouco tempo depois.
Quando todos saem do meu quarto, me deixando sozinha,
posso desabar em lágrimas novamente. Preciso saber o que está
acontecendo, onde estão meu filho e meu marido, se ambos vão
voltar com vida para mim.
Minha mãe não viu quando peguei meu celular de volta. Ela
tinha o tomado de mim para que eu pudesse descansar.
Tudo o que quero são informações.
Respiro fundo em busca de oxigênio, e quando estou mais
calma, reinicio meu celular.
No momento em que estou procurando pelo número do meu
marido para ligá-lo em busca de notícias, a porta do meu quarto é
aberta e uma mulher vestida com o uniforme da mansão adentra o
ambiente, trazendo consigo uma bandeja contendo uma jarra com
água. Não me recordo de tê-la visto antes.
Acompanho seus passos.
Ela deixa a jarra no meu criado-mudo, e após copo ao lado,
pede licença e sai em seguida.
Não deixo de pensar nem mesmo por um segundo em todos os
perigos que nos rodeiam. Não é possível que toda a fortaleza da
mansão tenha sido invadida tão facilmente, como se fosse um local
público. Alguém conhece todo o nosso sistema de segurança, e essa
pessoa estava disposta a nos destruir. A única que me vem à mente
é a minha sogra. Ela me odeia e já deixou isso explícito várias vezes.
Tenho certeza de que a mesma está por trás de tudo isso. Os alvos
eram eu e meu filho. Agora meu precioso bebê está correndo perigo.
Ouço um toque desconhecido vindo do meu criado-mudo. Não
me recordo de ter visto esse celular em cima dele. Esse aparelho
não estava aqui antes, e disso tenho certeza. Pelo modelo, sei que
não é de ninguém da mansão.
Ele só pode ter vindo parar aqui depois que aquela empregada
entrou. Tenho convicção de que não estava paranoica quando
desconfiei que ela não era funcionária da mansão. Se tem pessoas
infiltradas na casa, isso significa que o traidor também pode estar
aqui, em algum lugar. Não tenho dúvida de que esse celular foi
colocado aqui para que alguém entrasse em contato comigo. Como
esse aparelho não está registrado nos radares de controle, ninguém
saberá que o inimigo está me contatando.
Já que não conseguiram me levar na primeira vez, tenho
certeza de que tentarão agora.
Por fim, aquele toque irritante se encerra. Preciso me
concentrar para não acabar colocando tudo a perder. Minha
sensatez diz para eu contar tudo ao Matthew, porque ele é o único
que pode enfrentar seja lá quem for que esteja atrás do meu filho e
de mim.
Estou decidida a ligá-lo e contar tudo, quando sou interrompida
por um vídeo que surge na tela do celular. É o meu filho. Ele está
deitado em um berço modesto de madeira. O ambiente pouco
iluminado e úmido, pela aparência, me faz congelar. Ele pode estar
com frio e acabar se resfriando.
A pessoa está filmando com a câmera frontal do celular, e
confirmo isso assim que o homem foca na sua face. Um sorriso
perverso se instala no rosto daquele desconhecido. Só pode ser o tal
Hernandez, inimigo declarado do meu marido. Sua voz tenebrosa se
fez presente.
— Olá, hermosa (bonita)! Se queres ver teu filho novamente,
irá fazer tudo o que eu mandar.
Atendo a ligação no primeiro toque, e com a voz embargada,
respondo.
— Por favor, não machuque meu filho! Eu farei tudo o que você
quiser.
— O moleque não me importa. Eu poderia matá-lo, mas os
herdeiros conseguem facilmente. Matthew pode ter quantas
mulheres e filhos quiser, mas o amor que sente por você, só
acontece uma vez na vida de um homem da máfia. E isso eu quero
ter o prazer de destruir. Preciso de você, hermosa! Virá até mim.
— Como sei que não vai matar meu filho?
— Posso deixá-lo onde quiser. Tem minha palavra de que não
vou matar a criança. A única pessoa que me interessa é você. Vou
adorar ter o prazer de despedaçar o coração do Lansky.
— Tudo bem. Eu acredito. Irei até você.
— Se falar para o seu marido, eu irei saber e seu filho morrerá
da maneira mais cruel possível.
Aperto os olhos e lágrimas molham a minha face. Sinto o gosto
salgado delas.
— Ele não irá saber.
— Meu pessoal estará esperando por você. Se conseguir
passar pelos seus seguranças, minha equipe vai estar na esquina da
sua casa. Tem meia hora, hermosa. — O maldito encerra a ligação.
Não tenho muito tempo a perder. Meu filho precisa sobreviver,
portanto, não deixarei que nenhum mal lhe aconteça. Vou fazer tudo
como Hernandez mandou. Irei sacrificar a minha vida pela do meu
filho. Uma mãe desesperada não pode se dar ao luxo de não fazer o
que o sequestrador pede. Farei de tudo para salvá-lo, e se por
acaso eu morrer, não me importo.
CAPÍTULO 38
MATTHEW LANSKY

O sinal rastreado pelos meus homens nos leva até uma cabana
velha e abandonada, há mais de 20 vinte quilômetros de distância da
mansão. A estrada pela qual passamos estava cheia de buracos, a
área de zona rural. Noto a presença de fios telefônicos, constato que
há sinal nesta região.
Mesmo com uma mata densa mais à frente, vamos em uma
frota com mais de 100 homens armados até os dentes. Esse infeliz
do Hernandez aprenderá de uma vez a nunca mais ousar passar pelo
meu caminho, pois eu mandarei o cretino para as profundezas do
inferno, o lugar de onde nunca deveria ter saído.
Como não tivemos muito tempo para planejar um bom ataque,
pelas circunstâncias rápidas em que ocorrem os fatos, a única opção
que temos é seguir um plano traçado pelo Carlos. Após ele
conseguir rastrear o carro que saiu das proximidades da mansão
com o meu filho, fomos trazidos para este casebre nada sofisticado
para um bandido estar me esperando.
Tudo indica que isso possa ser uma cilada, em uma armadilha.
Já caímos em muitas ao longo dos anos, mas também somos muito
espertos quando o assunto é mandar nossos inimigos para a cova.
Hernandez e eu travamos guerras há mais de dez anos. Desde
que meu pai faleceu, ele quis instalar seus estabelecimentos de
merda na minha América, e como não aceitei, devido à má índole
que seu pai tinha em atacar os aliados, não quis me arriscar, mesmo
que isso me trouxesse problemas. Foi um risco que corri. E após
anos de combate, fizemos um acordo há quase dois anos, mas
agora o infeliz está jogando baixo raptando o meu filho. Ainda há um
boato de que seu pai morreu por causa do meu falecido sogro,
porém não há nada que prove isso.
Aperto mais o meu colete. Se conheço o homem, sei que ele
vai jogar ainda mais baixo do que costumam.
Alguns dos meus soldados descem dos veículos e começam a
cercar o local que, aparentemente, está abandonado. Seguro em
mãos meu calibre magno 365, carregado, desço do carro e vejo
Carlos ao meu lado fazendo minha segurança, como sempre. Esse
cara não é apenas um dos meus homens de confiança, mas também
é aquele que merece todo meu respeito.
— Senhor, talvez seja melhor uma equipe entrar na frente e
vasculhar o local. Em seguida, será a nossa vez. — ele sugere.
Estamos a uma certa distância do casebre e o dia está
parcialmente nublado. Aparentemente, nenhum capanga está
escondido na floresta, nem nas proximidades. Todo o caminho até a
entrada é inspecionado para ver se há bombas no local.
— O lugar está seguro, senhor. — um dos soldados avisa. —
Iremos entrar e procurar pelo bebê.
Os primeiros homens entram no local, quando ouço o choro do
meu filho. Não tenho dúvida de que é ele. Sem pensar duas vezes,
corro para dentro do casebre, que tem um espaço amplo, apenas
um armário velho empoeirado e umas folhas de capim seco, junto
com alguns baldes sujos com água. O cheiro está desagradável,
como se houvesse algo podre aqui dentro.
Me aproximo com cautela em direção ao armário de madeira e
cinco soldados tomam a minha frente, segurando escudos.
— Calma, Matthew! Pode ser uma armadilha. — Carlos avisa.
— Você também está ouvindo? É o choro do meu filho vindo
desse armário.
Ele me olha desconfiado e em seguida ordena para que abram
o móvel com cautela.
Meu coração está batendo descompassado dentro do meu
peito. Já enfrentei muitas operações antes, mas nunca a vida do meu
filho esteve em jogo. O meu pequeno garoto não é somente o meu
herdeiro, mas também o fruto do meu amor com Elisa, a minha
morena. Prometi a ela que levarei o nosso filho para casa em
segurança, então não posso falhar nessa missão.
Um dos soldados abre a porta, revelando uma mulher
amedrontada segurando o meu filho em seus braços. Ela está
tentando acalmar meu garotinho, que chora, sem entender nada do
que está acontecendo.
A mulher encara meus homens armados com os olhos
arregalados. Ela não aparenta ser do mundo da máfia. Está com a
face ferida e sua blusa manchada indica sangramento na região
acima dos seios.
Tomo a frente e pego o Michael em meus braços.
— Calma, filhão! Está tudo bem. O papai está aqui com você.
Não chora, não! A mamãe está em casa esperando por nós.
O moleque aos poucos vai se acalmando ao ouvir a minha voz.
Carlos pega a mulher, a puxando por um braço, e ela cai de
joelhos diante dele, que está com as mãos coçando em busca de
resposta.
— Quem é você, mulher? E por que estava com o bebê?
— Pelo amor de Deus, não me matem! Não sei nada. Não
raptei esse menino. Eu só estava voltando para casa, quando me
agarraram na rua e trouxeram para cá.
— Quem? Fale, mulher! — Rosno.
— Eu não sei, senhor. Uns homens mascarados. Não sei qual
idioma era aquele. Eu estava com muito medo. Não quero morrer.
— Se não quer morrer, então fale tudo o que sabe! — digo
furioso.
— Eu só entendi que havia um Hernandez. Esse nome foi muito
falado. O resto não compreendi muito bem. Sou uma médica, senhor,
e não fiz mal ao menino. Nem sei quem vocês são.
— Senhor, ela me parece falar a verdade. — Carlos diz seguro.
Ele nunca erra.
— Levem a mulher para fora e a interroguem até que ela diga
tudo o que sabe! Caso não fale, podem atirar no cérebro dela e
enterrá-la aqui mesmo.
— Por Deus! Eu não sei de mais nada, senhor! — Se levanta
com as mãos para cima e aponta para uma espécie de microfone
preso no seu cabelo.
Com os olhos marejados, sem fazer nenhum barulho, ela
levanta a blusa e mostra uma bomba em contagem regressiva presa
a sua cintura com uma corrente e cadeado.
Carlos tira o microfone que estava no cabelo dela, o quebra em
pedacinhos e depois disso o enterra debaixo do capim seco. Com
cautela, um soldado leva a moça para fora.
Quando saímos da cabana, meu filho já estava mais calmo,
sem ferimentos no corpo. Aparentemente não ingeriu nada que
pudesse comprometer sua vida.
Entrego-o para a equipe médica que está no carro de trás do
meu.
— Cuidem dele! — ordeno. — Se algo acontecer, eu acabo
com a vida de vocês!
— Seu filho está em boas mãos, senhor. — o médico confirma.
Carlos volta com a mulher, agora sem a bomba relógio.
— O que faremos com ela, senhor? — pergunta.
— Você disse que é médica?
— Sim, senhor.
— Por acaso presenciou alguém dando algo para o meu filho
engolir?
— Não. O bebê não comeu nada. Eu saberia se ele tivesse
sido envenenado, e pelo que eu pude compreender, os homens
armados só repetiam um nome: Elisa.
— Se a mulher não tiver culpa de nada, lhe dê uma boa quantia
para que fique calada, e mostre que se decidir dar com a língua nos
dentes, morre, assim como qualquer pessoa que ela ama nessa vida.
Um soldado vem correndo na minha direção, trazendo o meu
celular, que esqueci no carro.
— Senhor! Ligação de casa. É a sua sogra.
Ouço o choro da mulher na linha. Ela está nervosa e
desesperada. Temo que algo possa ter acontecido.
— Matthew, você precisa localizar a minha filha. Ela
desapareceu, não está mais na mansão. Encontrei um bilhete em
que ela disse que precisa proteger o filho.
Por um segundo não ouço mais nada à minha volta, o oxigênio
falta em meus pulmões e as vozes não entram na minha cabeça.
Elisa está nas mãos do infeliz do Hernandez, correndo perigo de
vida. Preciso salvá-la.
— Senhor, conseguimos capturar um maldito capanga do
Hernandez. O infeliz estava em uma das árvores, prestes a apertar
um botão que faria tudo explodir dentro de 5 hectares.
Dois soldados seguram o maldito, que tenta se libertar a todo
custo. Me aproximo dele, e sem piedade, cravo um punhal no seu
peito. Ele sangra até a morte. Depois disso, ordeno que queimem o
corpo do infeliz.
— Antes de morrer, o garoto deu o nome do mandante.
— Fale de uma vez, homem!
— A responsável pelo sequestro do seu filho foi a sua mãe,
chefe. Ela queria sequestrar sua esposa, mas foi impedida pelo
senhor Carlos, que a salvou. Levaram o menino como garantia de
que ela se entregaria.
— Senhor, quais são as ordens?
— A minha mãe já está morta há muito tempo, para mim.
Resgatem a minha mulher! Os demais vão pagar com a própria vida
pela audácia.
CAPÍTULO 39
ELISA SANTIAGO

Assim que deixo a mansão sem que ninguém note minha


presença, encontro dois homens me esperando a uma quadra de
distância. Como Hernandez disse que seria, eles fazem um sinal
quando me veem.
Um deles caminha à minha frente e o outro atrás. Nesse
perímetro não há mais seguranças, então ninguém me verá aqui.
Aprendi a sair da mansão sem que ninguém percebesse, na
época do meu treinamento. Estudei atentamente a planta da casa.
Só não havia muitas coisas sobre os túneis que interligavam elas a
uma espécie de masmorra medieval. Foi muito difícil sair dessa vez.
O segurança que vem logo atrás de mim, me empurra com
brutalidade, fazendo com que eu bata minha cabeça na lateral de
uma porta do carro. Fecho os olhos com a dor. Ainda do lado de
fora, tento proteger minha barriga a todo custo, para que ela não
seja machucada.
— O chefe disse para não a machucar. Ainda não é o momento
— o outro adverte.
— Mas ele não falou nada sobre como fazer ela apagar.
— A injeção está no banco da frente. Vou buscar.
Depois disso, sinto toda a força do homem me empurrar contra
o chão. Protejo minha barriga, mas a dor e a pancada na minha
cabeça são inevitáveis. Então vem a escuridão.

(...)
Desperto em um quarto minúsculo e empoeirado. A única luz
que há no ambiente vem de uma pequena janela alta, pequena e com
grades. Sinto como se tudo estivesse girando. Há um cheiro forte
saindo de umas caixas que estão em cima de uma prateleira.
Tento procurar uma maneira de fugir daqui.
Minhas mãos estão presas para trás e minhas pernas estão
doloridas, assim como minha coluna. Eu gritaria se minha boca não
estivesse coberta por um pedaço de pano forte que aperta minha
nuca.
Me balanço de um lado para o outro na tentativa de escapar,
mas é em vão. Não é fácil se livrar de amarras. Não como o
Matthew disse que era. Vê-lo fazer, parecia tão simples.
Começo a suar frio e minha boca está seca. Deve ser uma
queda de pressão. Toda a minha preocupação é exclusivamente com
meus dois bebês. Esse em meu ventre ainda é tão minúsculo e já
está passando por muitas coisas, enquanto o meu príncipe está nas
mãos desses bárbaros. Sacrificaria minha vida para que tudo
terminasse bem no final.
Sei que Matthew vai nos salvar, pois prometeu que faria isso,
que voltaria para mim com o nosso filho. Tenho certeza que vai me
encontrar quando notar que estou usando um dos anéis com sinais
de rastreamento que ele me deu.
De repente sinto que alguém está atrás de mim. Tento me virar
para ver quem é e logo ele se revela à minha frente. Não deixo de
notar o tamanho do seu charuto na boca. Seus olhos verdes são
muito bonitos, assim como todo o resto. É um homem jovem com
algumas tatuagens no braço direito e cordões de ouro no pescoço
que devem pesar, pelo tamanho. Também ostenta alguns anéis
brilhantes nas mãos. Eu diria que esse é o tal do Hernandez. Bonito
como um anjo, perverso como um demônio.
— Eres más guapa en persona, morena. Ahora entiendo por
qué Matthew dijo que mataría si me atrevía tocar a su esposa (É
mais linda pessoalmente, morena. Agora entendo porque Matthew
disse que me mataria se eu ousasse tocar na sua mulher).
Compreendi poucas palavras porque às vezes o espanhol se
assemelha ao português. Como nunca fiz curso pra aprender a falar
o idioma fluentemente, não pude entender tudo. Ele me chamou de
morena e falou algo sobre o meu marido matá-lo. Os dois devem ter
conversado alguma coisa.
Meu instinto foi bater nele, como uma leoa que ataca o inimigo,
se eu não estivesse presa teria socado sua face até sangrar.
— O que você fez com o meu filho? Quero ele de volta, seu
maldito!
Ele aproxima seu rosto do meu, ficando quase da minha altura,
e aproveito para cuspir na sua face. Uma pessoa que é capaz de
sequestrar uma criança, não merece nada além de desprezo.
— Hermosa, você é muito atrevida. — Passa um lenço onde
cuspi. — Agora entendo porque Matthew te venera. Além de ser
muito bonita e atraente, também deve desafiá-lo. Confesso que
gostei da sensação que seu atrevimento me causou. Me deixou
excitado, morena. — Retira a mordaça da minha boca.
— Não me chame de morena, seu verme! Somente meu marido
pode me chamar assim.
— Ele também me disse que somente ele poderia tocar em
você, caso contrário, eu morreria. Vejamos! — O desgraçado aperta
uma coxa minha com a palma de uma das suas mãos e dos seus
lábios brota um sorriso safado. — Eu ainda estou vivo, mesmo tendo
tocado em você. Acho que seu marido não cumpre com as
promessas que faz.
Tento chutá-lo para me defender e ele se afasta, rindo de mim.
— Confesso que adoro sua braveza, mas se ousar afetar meus
países baixos, hermosa, terei que castigar você.
— Eu cumpri nosso acordo. Estou aqui. Me entreguei em troca
da liberdade do meu filho. Espero que você seja homem de verdade
e honre com sua palavra.
— Eu prometi libertar seu filho e fiz isso, bonita. Espero que
seu marido não tenha sido tolo e tenha percebido a surpresa que
deixei para ele na velha cabana. Se tudo acontecer como o
planejado, trarei você para assistir de camarote as notícias sobre a
morte dele.
Meu peito se aperta. Eu sei que Matthew é um homem astuto e
logo virá nos resgatar. Meu filho estará seguro se ele vai encontrá-lo.
— Me diga, Elisa! Esse é o seu nome. Você chegou a conviver
com o desgraçado do seu pai?
— Minha vida particular não é da sua conta.
— Seu pai foi um grande soldado. Você sabia que por culpa
dele o meu pai morreu?
Do que ele está falando? Matt nunca me falou nada sobre isso.
Eu sei que meu pai já matou muitas pessoas, mas se ele tivesse
matado um chefe de máfia, eu saberia, não é?
— Vou te contar, Elisa. Eu soube disso há dez anos. Até então,
pensava que meu pai faleceu por suicídio. Mas não. O seu pai o
matou e fez o meu parecer um fraco, um bobo da corte, diante
todos. Isso é imperdoável.
— Como você sabe que o meu pai é culpado?
— Eu recebi imagens que estavam guardadas com alguém que
daria tudo pra te ver morta.
Só existe uma pessoa nesse mundo que me odeia, e é a minha
sogra. Aposto que ela está aqui, que é a única responsável por tudo
o que está acontecendo.
— Sua sogra a odeia muito. Não vejo o porquê, já que você é
tão bonita. Eu daria qualquer coisa para tê-la para mim. Sabe, Elisa?
A mulher me convenceu a te matar, mas estou pensando seriamente
em não fazer isso. Depois que eu te levar para o meu país, ninguém
será capaz de te tirar de mim.
— Você só pode ser um doente. Prefiro morrer do que ser sua.
E para o seu próprio bem, é melhor que cumprir com sua palavra,
porque caso contrário, se meu filho estiver machucado, não vai
sobrar sequer um fio de cabelo seu pra contar a história.
Suas mãos asquerosas tocam a minha face, apertando meu
queixo com força.
— Só não te fodo agora, bonequinha, porque alguém está vindo
lhe dar boas-vindas. Fiz um trato com sua sogrinha de não te possuir
antes dela te ver. Em poucos minutos irei voltar, mas não se
preocupe! O nosso helicóptero vai chegar em menos de duas 2
horas. — Sai e fecha a porta.
Em breve irei encarar a minha sogra, que me odeia. Como é
possível que ela tenha colocado a vida do próprio filho em risco,
apenas por me odiar por eu ser negra?
Meu último pedido é que meu filho esteja bem e que o bebê
que eu carrego no meu ventre, não morra nas mãos de pessoas sem
coração.
CAPÍTULO 40
ELISA SANTIAGO

Parte I

Alguns instantes depois que Hernandez saiu, a porta se abre


novamente.
Encaro a pessoa à minha frente, vestida de preto. Seus
cabelos loiros estão presos em um coque sofisticado e há satisfação
em seu olhar por me ver amarrada com as mãos para trás, presa
nesse quarto minúsculo que mais parece uma dispensa abandonada.
Seus olhos azuis estão soltando fogos de artifício, brilhando como
chamas.
Nos encaramos por algum tempo, até que ela decide se
pronunciar.
— Agora quero ver você me desafiar, menina atrevida.
— Por quê? — tento entender.
Ela lança um tapa contra a minha face. Sua mão pesada faz
meu rosto arder no local afetado. Tanto ódio por causa da cor da
minha pele?
— Você não deveria sequer me dirigir a palavra, sua imunda!
Maldita!
— Eu nunca lhe faltei com respeito, jamais ofendi a senhora.
Por que me odeia tanto?
— Você quer mesmo saber? Pois bem. Irei te contar.
Ela carrega muito rancor no seu coração. Sua alma está cega
pelo ódio.
— Tudo começou quando meu marido decidiu promover seu pai
a um dos cargos mais altos e de prestígio de toda a máfia. Você
ainda não tinha nascido quando eu o conheci. Ele vinha se
destacando como soldado, e após salvar a vida do meu marido
várias vezes, enfim, foi promovido. Seu pai passou a frequentar o
nosso meio, mas tinha algo nele que me irritava profundamente.
— Você o odiava por ser negro.
— Poderia ser isso, mas a sua lealdade me incomodava. Eu
precisava provar para mim mesma que ele não era tão confiável
como aparentava. Passei a observá-lo intensamente, dia e noite, em
momentos em que ele nem sequer desconfiava. Nesse meio tempo,
tentei provar sua lealdade.
— Você está me dizendo que se apaixonou pelo meu pai?
— Não seja tola, garota burra! Eu não estava apaixonada por
um negro. Só queria colocá-lo em prova, ter a certeza de que ele
não era tão certinho como aparentava ser. Tentei seduzi-lo, mostrar
para todos que ele não era fiel à nossa família, mas o infeliz me
rejeitou, como se eu fosse algo inferior, incapaz de lhe despertar
desejo.
— Meu pai era fiel à máfia. Jamais iria tocar na esposa do
homem que jurou honrar. Só quis provar para si mesma que ele se
renderia a você, assim como os demais homens com quem se
envolveu. Tenho certeza de que você não foi fiel ao seu marido.
— E não fui mesmo. Eu me casei contra a minha vontade,
passei por situações humilhantes, tive que ser submissa e lhe dar
filhos. Sua morte foi a melhor notícia que eu podia ter recebido.
Fico chocada com sua resposta. Ela é muito perversa e nem
sequer pensou na dor dos filhos, no sofrimento de uma criança ao
perder seu pai. Ela parece se divertir ao lembrar do dia da morte do
seu falecido marido. Posso afirmar que nunca o amou.
Minha sogra é uma mulher tão malvada, que não duvido que
pode ter sido responsável pela morte do marido.
— Você também está por trás disso?
— Era para o meu marido ter morrido em outras oportunidades,
mas o maldito do seu paizinho o salvou de todas as formas
possíveis. Então precisei eliminá-lo primeiro.
Ela não tem no coração nada além de ódio e rancor. Nem amor
pelo seu neto, sente.
— Eu entendo que me odeie, mas por que o seu neto? Ele é
filho do seu primogênito e também carrega seu sangue nas veias.
— Não tenho neto algum. Aquele moleque não é digno de ser
chamado de herdeiro da máfia. Meu filho merece que seu herdeiro
tenha sangue puro, não o seu.
— Você seria capaz de matar uma criança?
— Fui capaz de matar o pai dos meus filhos, por que não
mataria um neto que não reconheço como meu?
— Por que envolver o pior inimigo do Matthew?
— Hernandez? O homem é inofensivo. Como tenho algo contra
ele, não será capaz de sequer tocar num fio de cabelo do meu filho.
— Ele me disse que vocês fizeram um acordo. Qual é?
— Será mais fácil do que eu pensava. O idiota sente atração
por você. Então se meu filho achar que você morreu, ficará presa
pelo resto dos seus dias sendo abusada até não ter mais forças.
— Eu desejo que a senhora não tenha uma morte cruel. Porque
se seu filho descobrir tudo o que você fez, não poderei fazer nada
para impedir que ele poupe sua vida.
— Elisa, você só interessa ao meu filho na cama. Ele
encontrará outras mulheres que o deixe saciado. Quando ele pensar
que você morreu, como mãe, providenciarei uma mulher à sua altura.
— Eu fico feliz que meu pai a tenha rejeitado.
— Cale a boca, maldita! Por sua culpa, meu filho colocou o
nome da nossa família na lama.
Patrícia passa a me agredir descontroladamente. Ela está fora
de si, repetindo frases sem sentido, acertando tapas e socos no meu
rosto. O gosto do sangue nos meus lábios é a prova de que essa
mulher quer me destruir.
Quando penso que não terei mais forças para suportar
tamanha brutalidade descarregada contra mim, a porta é aberta
novamente. Um segurança entra junto com o Hernandez, segurando
minha sogra, que está em fúria.
— Eu quero matar essa infeliz! Ela deve morrer! Ordeno que
você a mate agora mesmo! Mate ela! Mate ela! — grita ao mesmo
tempo em que ri. Sua risada diabólica me causa calafrios.
Hernandez faz um gesto com as mãos para que a levem daqui.
Meu rosto queima de dor, mas ainda assim não demonstro
estar fragilizada para ele, que toca a minha face com suavidade.
— Não se preocupe, morena! Ela não vai machucar você
assim, nunca mais.
— Eu odeio vocês dois! — ranjo.
— Quando estiver sob o meu domínio, na minha cama, me
dando prazer, verá que o que teve em relação ao Matt, não passou
de um passatempo sem nenhum proveito satisfatório, hermosa.
— Prefiro morrer do que ter que ficar com você.
— O único que vai morrer será esse bebê que você carrega em
seu ventre.
Congelo ao ouvir suas palavras. Como ele descobriu do meu
bebê?
— Você não se atreveria!
— Não irei assumir um bastardo, hermosa. Não se preocupe!
Será um procedimento rápido. Quando chegarmos em casa, será a
primeira coisa que iremos fazer. Depois você será minha até que eu
abuse. Mas duvido que irei abusar, já que o Matthew nunca se
cansou.
— Antes de você ousar tocar no meu bebê, juro que te mato,
filho da puta!
Ele saiu rindo com deboche.
Meu ser é invadido pelo sentimento do medo. Se ele me levar
para fora do país, serei refém das suas maldades e correrei o risco
de passar por um procedimento de risco que pode colocar não só a
vida do meu filho em risco, como a minha também.
Tento não chorar e prendo o choro até onde dá. Não posso
imaginar que esse será o fim para a minha família.
Respiro fundo, buscando me acalmar.
O tempo vai passando e não sei dizer se o helicóptero já
chegou. Penso ter ouvido o barulho dele pousando no teto, mas pode
ter sido coisa da minha imaginação. Às vezes o medo nos faz ver e
ouvir coisas que não são reais.
Meu coração bate aceleradamente quando ouço a porta ser
aberta. Tenho certeza de que esse é o meu fim.
Parte II

ELISA SANTIAGO

Já sei que esse será o meu fim. Hernandez disse que vai me
levar para fora do país. Esse homem coberto por um capuz preto,
com certeza veio me buscar. Minha visão está meio turva, mas
mesmo assim consigo perceber de que se trata do meu algoz.
O homem está parado na minha frente e a única coisa que dá
para ver são seus olhos pretos, que me fitam de um jeito estranho.
Mas não é como se ele estivesse pronto para me matar. Parece
haver um sentimento muito nobre dentro dele. Não é possível que um
algoz sinta compaixão pelas suas vítimas. Não sentirá de mim.
Para essas pessoas que matam por prazer, eu sou apenas
mais uma vítima qualquer, mesmo sendo uma esposa da máfia. Aqui
não tenho prestígio, nem respeito.
Minhas costas estão doendo, assim como meu bumbum. Não
sei há quantas horas já estou sentada e amarrada com as mãos
para trás. Essa cadeira velha de madeira não é uma das mais
confortáveis, mas pelo menos tenho a esperança de que meu filho
esteja bem, são e salvo. Sei que o Matt vai cuidar dele com muito
amor e carinho. Mesmo eu sendo contra que algum dia ele se torne
um chefe da máfia, sei que jamais deixarei de amá-lo. Nem a morte
me faria esquecer do quanto amo o meu príncipe.
Temo pela vida das três pessoas que mais amo nesse mundo.
Talvez Hernandez tenha mudado de ideia e queira me matar.
Fecho meus olhos e espero a morte vir. Talvez ele saque uma
arma e me dê um tiro na cabeça. Se for assim, pelo menos terei uma
morte rápida, sem muita dor. Caso contrário, se ele desejar me
matar lentamente, terei que ser forte e suportar até o final, com a
certeza de minha dor não será eterna.
A escuridão se encontra ao meu lado e minha respiração está
pesada. Tudo me dói e me rasga, mas mesmo assim não irei morrer
gritando, para que todos se divirtam com o meu sofrimento.
A corda que prendia minhas mãos, de repente não está mais lá.
Foi cortada. Senti quando ela escorregou e caiu no chão.
Abro meus olhos rapidamente. O covarde do Hernandez deve
ter dado a ordem para que me matem em outro lugar.
O homem está segurando uma adaga muito afiada em suas
mãos, e sem dizer uma palavra sequer, me entrega o objeto pontudo
e pesado.
— Teremos que ser rápidos. Não temos tempo a perder. Me
siga e estará salva!
Ele abre a porta e dispara sem a menor piedade, segurando
uma arma em cada mão contra os soldados que estão lá fora. Todos
caem no chão e sangram até a morte. Uns morreram tão rápido, que
não tiveram tempo nem ao menos de lutar. Mais corpos vão caindo e
caindo... Alguns até tentam lutar, mas o homem é ágil e rápido.
Consegue eliminar todos em seu caminho.
Estou sem compreender o que está acontecendo. Se ele não
veio aqui para me matar, veio para me salvar? Quem o mandou?
Com certeza trabalha para o meu marido. Não há outra resposta
melhor do que essa. Se não, por que um desconhecido me ajudaria a
fugir?
Por fim, quando saímos do galpão, ele pede para que eu me
afaste. Um batalhão de soldados armados vem na nossa direção há
uma certa distância, que parece longe. Posso ver que Hernandez
vem junto com eles, trazendo consigo um fuzil em mãos.
— Você não vai fugir, Santiago! Se não morreu há dez anos, eu
mesmo terei o prazer de te matar!
Santiago? Hernandez chamou o homem pelo sobrenome do
meu pai? Ele está morto.
O homem tira a máscara preta da face e revela sua verdadeira
identidade. Não pode ser verdade. Seus cabelos são cacheados,
com alguns fios brancos, e o tom de pele é o mesmo que o meu.
Sim! Meus olhos não acreditam no que veem. Como é possível? Em
todos esses anos ele foi dado como morto. Meu pai está vivo!
— Para trás, Elisa! — Ele ordena. — Agora!
Me afasto como meu pai pediu, para o mais longe possível, e
quando estava há uma certa distância, ele aperta um botão, fazendo
com que tudo exploda em chamas. A fumaça e o fogo tomam meu
campo de visão, me impossibilitando de ver as coisas com clareza.
Algo bate contra a minha cabeça e me derruba no chão. Tudo à
minha volta está queimando e o calor das chamas é ardente. Mesmo
não estando tão perto delas, sinto seu ardor vir até mim.
Viro meu rosto para o outro lado e noto minha cabeça girando.
Acaricio minha barriga. Este será o meu fim?
Uma luz branca vem na minha direção, então mãos fortes e
calorosas me seguram nos braços dele. Seus olhos azuis divinos me
fitam com preocupação.
— Vai ficar tudo bem, morena. Eu estou aqui.
Nos seus braços posso me sentir novamente protegida.

(...)

Acordo dois dias após o incêndio que destruiu e matou todos os


capangas de Hernandez, inclusive o próprio desgraçado.
Minha mãe e meu marido estão ao meu lado. No início, fico um
pouco confusa e perdida, mas assim que descubro que meu filho
está salvo, meu coração se tranquiliza mais. Quando o seguro em
meus braços, juro pela minha vida que irei protegê-lo.
Por sorte, tudo terminou bem. Eu tive um anjo que me salvou: o
meu pai. Ele estava lá, e eu sei o que vi.
Quando conto para a minha mãe e ao meu marido, eles não me
parecem surpresos.
— Vocês dois sabiam que meu pai estava vivo?
— Descobri há pouco tempo. Seu pai foi visto no aeroporto 19
dias atrás. — minha mãe diz.
— Todos pensávamos que ele estava morto, mas durante todo
esse tempo estava buscando provas contra os traidores que
atentaram contra a vida do meu pai. Foi descoberta a verdadeira
mandante daquele ataque. A culpada sempre esteve em nosso meio.
— Eu sinto muito, amor, por tudo o que aconteceu com seu pai.
Por mais que ele não demonstre, sei que por dentro seu
coração está arrasado. Descobrir que sua mãe planejou todo o
ataque que matou seu pai, é um golpe duro demais, até mesmo para
um chefe de máfia.
— O meu pai salvou a minha vida. Sem ele, eu não teria
sobrevivido. Que Deus tenha compaixão da sua alma!
— Ele terá um velório digno, como um verdadeiro cavalheiro da
máfia.
Meu pai morreu para me salvar. Nunca esquecerei do seu ato
de bravura. Foram apenas alguns instantes ao seu lado, mas o
suficiente para eu poder me lembrar que sempre tive um pai capaz
de arriscar sua própria vida pela minha.

(...)
Dias depois, encontramos uma carta que meu pai escreveu
pouco tempos antes de morrer. Nela diz os motivos pelos quais ele
não retornou após o ataque em que ocorreu sua suposta morte.
Durante todos esses anos, ele buscou provas de que a mãe do
Matthew foi uma mulher hipócrita capaz de matar o próprio marido.
Estamos na varanda do nosso quarto. Minha gestação está
tranquila e meu bebê vem crescendo saudável em meu ventre. Uma
linda princesa que se chamará Luna, a “iluminada”.
Foi uma emoção para mim saber que serei mãe de uma
menina. Não vejo a hora de poder tê-la em meus braços, pois para
isso acontecer, preciso estar sempre de repouso e evitar fortes
emoções até o nascimento. Vivi momentos tensos nas últimas
semanas.
Matthew faz de tudo para que eu não fique chateada. A reta
final da minha gravidez tem me deixado irritada, com mudanças de
humor inexplicáveis. Há momentos em que quero ficar sozinha, e
outros ao lado das pessoas que amo, mas se tem alguém com quem
desejo estar sempre, é o meu príncipe, meu pequeno Michael.
Espero que ele não sinta ciúme da sua irmãzinha quando ela nascer.
Às vezes o pequeno olha para a minha barriga e parece tentar
entender o que é aquela enorme camada de “tecido”, já em outros
momentos parece tentar arrancá-la de mim. São engraçadas as suas
reações.

(...)

É uma manhã fria e úmida, quando começo a sentir as


primeiras dores do parto. Não demora muito e eu preciso ir ao
hospital duas semanas antes da data marcada para a Luna nascer.
Minha pequena quer iluminar nossas vidas o quanto antes.
Tenho um parto normal pela segunda vez, mas esse foi menos
doloroso, já que não tive receios de como seria, por ter vivido
tempos atrás a mesma experiência com o Michael.
Dor nenhuma é maior do que o amor que sinto pelos meus
filhos, do que o desejo de segurar minha pequena em meus braços.
Seu chorinho manhoso se acalma assim que eu a abraço. Seus
lindos olhos azuis me fitam com inocência. Ela é a menina mais linda
que existe em todo o mundo. Tão pequena e delicada quanto uma
flor. Saiu a cópia do pai: pele branca, olhos azuis e cabelos loiros,
como eram os dele quando criança.
— Você é Luna, filha de um branco com uma negra, a princesa
mais linda que esse mundo já viu. Eu sou a sua mamãe e você é a
minha filhinha querida. Prometo, meu amor, te proteger para sempre!
O amor sempre vence o preconceito e o racismo. Michael e
Luna são irmãos e ambos têm as cores das peles diferentes. Meu
filho puxou mais a mim e Luna somente ao pai. O sangue que os une
é o nosso amor presente em cada detalhe do corpo de cada um
deles.

(...)

Conforme os dias vão se passando, venho me sentindo a


mulher mais feliz do mundo. Tenho a minha mãe ao meu lado,
sempre me dando conselhos valiosos. Ela cuida de mim com muito
carinho e eu a amo mais que tudo nessa vida. Também tenho a
minha cunhada, que é uma ótima confidente e amiga. Não há do que
reclamar.
Nessa noite, após amamentar meus filhos, vou para o meu
quarto. Estou cansada e só quero poder dormir.
Abro a porta e fico surpresa ao ver rosas trilhando um caminho
até a varanda. Sorrio, pois sei que meu marido está tentando ser
romântico. Fico feliz por ver o quanto ele se esforça para me fazer
sorrir.
Matthew está prontamente me esperando com um sorriso nos
lábios e uma mesa de jantar especialmente preparada para nós. Eu
estou parecendo uma maluca, toda descabelada, vestindo uma
camisola folgada, mas mesmo assim meu esposo me fita como se
eu fosse a mulher mais bonita do mundo.
— Você caprichou dessa vez. Ao que devo a honra, querido
marido?
— Um homem não pode querer fazer a mulher feliz? — Vem na
minha direção.
— Você está se saindo o melhor marido de todos. Nem sei o
que dizer.
— Apenas aceite a companhia do seu humilde servo, princesa!
— Puxa uma cadeira para mim.
Matt está lindo, mesmo vestido com uma camiseta branca de
mangas curtas e uma bermuda folgada. Nada o deixa feio. Seus
cabelos naturais balançando ao vento são como a sétima maravilha
do mundo.
— Você está se desdobrando para cuidar de duas crianças.
Talvez esteja na hora de tirar um dia de folga.
— Não posso. Não quero deixar meus pequenos sozinhos.
Tenho que estar ao lado deles em todos os momentos para que eles
se sintam sempre amados por mim.
— Você é uma excelente mãe, e esposa também.
Meu marido está ao meu lado, ainda não foi para o seu lugar.
Pelo que vi, ele está muito enigmático nessa noite. Parecia ansioso,
eu diria.
Me surpreendo quando Matthew se ajoelha diante de mim e me
mostra uma caixinha de veludo da cor vermelho sangue. Meus olhos
se enchem de brilho. Estou em dúvida. Ele realmente me pedirá...? É
o que estou pensando?
— Elisa Santiago Lansky, você aceita ser minha esposa?
— Matt, eu... — Meus olhos se enchem de lágrimas. — Você
ainda pergunta? É claro que sim! Eu te amo, meu amor, e quero
estar ao seu lado para sempre!
Matthew coloca o anel de diamante no meu dedo, mas antes
retirou a aliança dourada que eu usava desde quando nos casamos
no civil daquele jeito estranho, onde ele chegou com o papel que
comprova nossa união, sem ao menos me consultar. Mas dessa é
diferente. Eu o amo e quero ficar ao seu lado eternamente.
— Esse não será o único anel que você vai usar, querida. —
ele adora me plantar uma dúvida.
— Do que você está falando? Não podemos nos casar três
vezes.
— Estou falando do seu anel de formatura, meu amor. Pensei
que iria gostar de retornar à Faculdade.
— Claro que sim! Eu quero muito!
A felicidade não cabe dentro de mim. Estou tão feliz, que
poderia saltar de paraquedas. Finalmente vou poder concluir meu
curso e conquistar tudo o que sempre quis.
O amor sempre vence no final. Isso é verdade. O amor
verdadeiro supera todas as barreiras, sejam elas quais forem.
CAPÍTULO 41
ELISA SANTIAGO

Me aproximo do grande espelho dourado, contemplando a


minha imagem refletida. Estou belíssima trajando um vestido digno
de uma princesa e me sentindo uma. Sua cauda é bastante grande,
com alguns detalhes em renda nas alças. Meu penteado é solto,
realçando meus cachos ainda mais. Tenho certeza de que meu
marido irá amar. E amará ainda mais a lingerie que estou usando.
Estou tão feliz! No início, não pensei que iria desejar tanto isso
como agora: ser sua esposa. Ainda estou emocionada com o pedido
feito pelo Matthew. Jamais imaginei que ele fosse me pedir em
casamento, já que somos casados no civil.
Tomo cuidado para não borrar a minha maquiagem, senão serei
obrigada a passar mais duas horas refazendo-a.
Mamãe e Sabina entram com as crianças. Meu pequeno
Michael está deslumbrante usando um smoking branco que combina
perfeitamente com os seus sapatos. Meu pequeno já tem um aninho
e cinco meses de vida. Foi lindo quando ele deu seus primeiros
passinhos. E a minha pequena Luna é muito delicada, e com apenas
três meses de vida, já é dona de uma beleza radiante. Ela parece um
raio de sol com seus cabelos loiros como os do pai quando criança.
Seus olhos continuam azuis profundos e sua pele bem branca,
diferente da do seu irmão, que é mais morena.
A nossa princesa herdou tudo somente do pai, já nosso
príncipe é a minha cópia. Seus cabelos são cacheados como os
meus. Se não fosse pelos olhos azuis do Matthew, diria que ele é
somente meu filho.
— Você está muito linda, cunhada! — Sabina me elogia
enquanto segura Michael nos braços.
— Você está deslumbrante, princesa! A mais linda entre todas
as noivas que já existiu nesse mundo. Está perfeita!
— Mamãe, sem exageros! Eu...
— A noiva mais linda do mundo! A mais perfeita! A mulher mais
bonita! — a voz de Matthew ecoa no ambiente.
Sabina e minha mãe ficam malucas por ele ter entrado no
quarto.
Encaro o meu marido, que está com os olhos fechados. Mesmo
assim, minha mãe está dizendo que ele não deve ficar aqui. Ela
acredita na superstição de que se o noivo ver a noiva antes do
casamento, vai dar tudo errado e eles não serão felizes.
Acalmo as duas, dizendo que o Matthew não está olhando para
mim.
Caminho na sua direção. Pelo seu sorriso, parece saber que
estou indo até ele. Meu marido está lindo em um terno preto e seus
cabelos estão para trás, com os fios lisos segurados por algum tipo
de gel.
Seguro suas mãos e ele alarga ainda mais o sorriso para mim.
— Está nervosa, anjo?
— Você não?
— Estou feliz porque daqui a alguns instantes serei o seu
marido, e dessa vez você me disse “sim”.
— Dizem que se o noivo ver a noiva antes de casar, dar azar.
Mas e se for o contrário?
— Se o azar for em relação a você tentar me deixar, fique
sabendo que isso nunca irá acontecer, senhora Lansky! Meus
seguranças estão de prontidão. — diz divertido.
— Fugir? Só se for com você para algum lugar deserto, onde
poderemos passar o dia inteiro nos amando.
— Você está muito safadinha, morena.
— Você que não pense em me trocar por outra, senhor Lansky!
Se isso acontecer, irá conhecer toda a minha fúria.
— Agora tenho que ir para a igreja. Não se atrase, querida!
— Eu te amo! — Se ele estivesse com os olhos abertos, teria
visto o meu sorriso. — Não vejo a hora de te mostrar a minha lingerie
minúscula.
Posso perceber o quanto Matthew precisou controlar para não
a ver agora mesmo.
Em meia hora estou em frente à igreja. Finalmente o grande dia
chegou. Poderei me casar perante Deus com o homem que eu amo,
que sempre cuidou de mim e me protegeu.
A marcha nupcial ecoa numa perfeita sintonia e os convidados
ficam de pé. No altar, me espera o homem mais bonito do mundo.
Tudo está ocorrendo como planejei. Foram semanas até chegarmos
aqui. Tive que escolher uma decoração que descrevesse tanto eu
quanto ele. Foi difícil, mas tudo saiu como imaginei.
Segurei em suas mãos e ele me recebe com um beijo na testa.
— Ao menos suas mãos não estão mais geladas. — Matthew
comentou.
— E agora você pode me ver.
— Exatamente como imaginei. Em uma palavra: perfeita!
O padre inicia a cerimônia com os protocolos da igreja. A cada
palavra dita, me emociono, tendo a certeza de que estou tomando a
melhor decisão da minha vida. A minha melhor escolha será dizer
“sim” diante do altar para o meu amor, para a minha família.
— Elisa Lansky, você aceita unir-se em matrimônio ao senhor
Matthew Lansky? Promete amá-lo e respeitá-lo em todos os dias de
sua vida, estar ao seu lado na saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, até que a morte os separe?
— Sim, eu aceito. — Sorrio para o meu amado, que também
sorri para mim.
— Matthew Lansky, você aceita unir-se em matrimônio à Elisa
Lansky? Promete amá-la e respeitá-la em todos os dias de sua vida,
estar ao seu lado na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza,
até que a morte os separe?
Matthew me encara e com um lindo sorriso diz aquilo que meu
coração já sabia.
— Sim. Para todo o sempre.
— Pelo poder investido em mim, eu vos declaro marido e
mulher. O que Deus uniu, o homem não é capaz de separar. Pode
beijar a noiva.
Com isso, fecho os olhos e me sinto completa. Agora sim
estamos casados oficialmente perante Deus, e nada nesse mundo
será capaz de nos separar.
Com carinho, Matthew me toma em seus braços e me beija
apaixonadamente. O melhor beijo da minha vida. Sinto o amor em
cada toque seu.

(...)

A festa é apenas para alguns convidados, amigos mais


próximos e de confiança do meu esposo. Conheço algumas pessoas
bastante gentis.
As horas seguintes são inesquecíveis, principalmente quando
meu marido faz a música parar, caminha na minha direção com um
microfone em mãos e decide discursar.
— Não farei um discurso. Prometo. — Todos riem, inclusive eu.
— Primeiramente, quero agradecer a todos os nossos amigos
presentes em nossa casa e à minha querida sogra por ter dado à luz
a mulher mais bonita de todas. — Os convidados estão atentos a
cada palavra sua e meus olhos já se inundam em lágrimas. — Elisa
foi a melhor coisa que me aconteceu em toda a minha vida e não
tenho dúvidas quando digo que ela é a minha joia mais preciosa, a
minha maior e mais grandiosa conquista. Não foi fácil chegar até o
seu coração. Confesso que não cheguei da maneira mais sensata,
pois a quis para mim e decidi que a teria do meu jeito. Peço perdão,
querida. — Segura uma das minhas mãos, e sem desviar os olhos de
mim, continua. — Desde que te vi pela primeira vez, eu a quis e
sabia que você seria a minha luz, a minha vida. Hoje agradeço por ter
o seu amor e o seu carinho. Sou o homem mais sortudo do mundo
por ter você ao meu lado, morena. Eu te amo, princesa e sempre te
amarei!
— Eu te amo muito, Matt!
Não me importo se alguém está nos olhando, porque tudo o
que quero é estar em seus braços. Beijo-o com paixão e ele retribui.
Nossos corpos entram em combustão. Precisamos um do outro mais
do que nunca.
— Está na hora de irmos para a nossa lua de mel. — meu
marido comenta.
— Tudo o que eu quero é você — Mordo os lábios e ele sorri
de um jeito cafajeste.
Sem o menor pudor, abandonamos a festa após nos
despedimos das crianças. Não gosto da ideia de ir dormir longe
deles, mas meu marido me tranquiliza. Agora que os traidores foram
descobertos, não há com o que nos preocuparmos. Por essa noite,
seremos apenas eu e ele. Nos amaremos como nunca antes.
A suíte do hotel está decorada com rosas vermelhas e
brancas. Em cada detalhe, me apaixono mais pelo Matthew.
— Finalmente a sós! — ele sussurra e morde o lóbulo de uma
das minhas orelhas. Suas mãos estão em volta da minha cintura.
Estremeço com seus toques quentes. Matthew nem sequer
disfarça que está me devorando com o olhar.
Enquanto ele me devora com seus lábios, retira o meu vestido,
que não era mais o do casamento, e sim um menos rodado, com
pouquíssimo volume e soltinho.
Seus olhos queimam a minha pele como lasers e o safado
apalpa meu bumbum com tesão.
Seus beijos se tornam mais voluptuosos e sua ereção está
rígida de tal maneira, que chega a fazer uma certa força dolorosa
contra o meu umbigo. Meu marido é a pessoa mais amorosa e ao
mesmo tempo a mais pervertida que conheço.
Matt me deita na cama macia. Após retirar minha lingerie
branca, me venerava como uma deusa. Seus olhos azuis estão em
chamas e eu só o quero dentro de mim.
Ele me provoca ao abrir minhas pernas e sorrir de um jeito
cafajeste. Suas mãos se firmam em minhas coxas, causando
correntes elétricas, que passam por todo o meu ser. Em seguida
começa lambendo minha entrada com suavidade.
Arfo, inundada de prazer, quando ele me proporciona um
orgasmo intenso.
Arranho suas costas com minhas unhas.
Após ele me deixar com as pernas bambas, introduz todo o seu
volume majestoso no meu canal. Estocadas me preenchem, me
fazendo gemer alto a cada uma delas.
— Eu amo você, morena! Para sempre irei te amar! — Olha
profundamente em meus olhos.
— Eu te amo, meu loiro lindo de sonhos azuis! Ah!
Ele morde meus lábios, eu reviro os olhos e mais uma vez
explodo em um prazer imenso. Inexplicável!
EPÍLOGO 1
ELISA SANTIAGO

5 anos depois

Todos os dias, assim que abro os olhos, minha maior motivação


está na minha família. Meus dois filhos lindos que amo mais que a
minha própria vida e o meu esposo maravilhoso que cuida de mim
como uma princesa, me dando sempre apoio em todas as decisões
que tomo.
Evoluímos bastante em nossa relação e já não há mais uma
prisão me cercando. Não sou mais uma prisioneira do senhor Lansky.
Na verdade, nunca fui uma, já que sempre fui tratada como se fosse
da realeza.
Tenho o amor da minha querida mãe, protetora e amiga. Sou
muito sortuda de tê-la morando comigo. Além dela me ajudar
bastante com as crianças, é minha melhor confidente e amiga.
Conto também com o apoio da minha linda cunhada, Sabina,
que está de partida. Ela foi prometida em casamento ao grande
amigo de confiança de Matthew, o Carlos, que eu tanto odiava por
ter enganado minha mãe no Brasil quando eu estava “desaparecida”.
Apesar de Sabina estar nervosa, eu garanti que ela pode ser
feliz, e pelo que sei, também nutre alguns sentimentos pelo futuro
marido. O casamento ocorrerá na semana que vem e todos estamos
ansiosos para o grande dia. Por eu ser sua madrinha de casamento,
estou lhe providenciando tudo do bom e do melhor.
— Você será muito feliz, Sabina! Disso não tenho dúvidas. Seu
futuro marido sempre foi leal à nossa família e, convenhamos... Ele é
um pão de mel. — Cutuco suas costelas.
Ela fica vermelha nesse momento. Estamos conversando na
varanda do meu quarto, com as mãos apoiadas na barra de
proteção, tendo todo o acesso da bela vista do jardim. Por lá estão o
meu marido e o Carlos, que conversam sobre alguma coisa.
Posso notar os olhares que o homem direciona para sua futura
esposa. Também tenho certeza que ela percebeu, pois suas
bochechas estão mais vermelhas que o habitual.
— Eu adoro a maneira que vocês, brasileiros, usam suas
gírias. Pão de mel. — Encara o gramado para não olhar para o
noivo.
— Vai! Confessa! Ou você acha que nunca percebi que você
sempre deu umas olhadinhas para Carlos?
— Eu confesso que ele é bonito.
— Um colírio para os seus olhos. — Eu sorrio e ela retribui.
Claro que antes do Matt prometer sua irmã para o Carlos,
tivemos uma conversa particular com ela. Naquele momento soube
que ela estava vibrando com a notícia.
Ela só fez um pedido: queria se formar antes de casar. E essa
conquista, obteve no ano passado. Portanto, tudo está sendo
providenciado para o casamento.
Foram divertidas todas as raras vezes que conversaram.
Acredito que eles nunca deram um beijo na boca. Meu marido não
permitiria.

(...)

Organizo algumas roupas no meu closet. Meus pensamentos


estão concentrados em textos e artigos que li na semana passada
sobre o direito penal.
— Mamãe! — a voz do meu príncipe me desperta dos meus
pensamentos.
Ele é uma criança linda e saudável. Com sete anos de idade, já
está mais impulsivo do que nunca.
— O que houve, Michael? Não me diga que está fugindo de
suas atividades escolares mais uma vez!
— Eu quero jogar videogame, mamãe. Estou sem cabeça para
estudar.
Ele sempre foi engenhoso, e a culpa é de seu pai, que o deixa
fazer tudo o que quer, por mais que eu tente ser passiva e ensiná-lo
que não podemos ter tudo o que desejamos sempre que quisermos,
mesmo que ele seja um príncipe da máfia.
— Michael, você vai poder jogar videogame quando terminar a
sua lição.
Olho para a senhora Davis, a professora particular do meu
filho, que está aguardando uma resposta minha. Assim que ela vê
meu marido chegar com minha pequena Luna nos braços, se retira,
nos deixando a sós.
— Algum problema, morena? — pergunta o cínico. Ele adora
me provocar.
— Michael fugiu mais uma vez de suas atividades.
Após ele colocar Luna em meu colo e pegar o Michael nos
braços, como se ainda fosse um bebê, pergunta nada severo.
— Por que você não quer estudar, Michael?
— Pai, eu já conheço todos os números e problemas de soma,
adição, subtração e divisão. Estou dizendo para a senhora Davis há
dias que quero estudar novos assuntos e ela continua sempre com
os mesmos.
— Irei conversar com ela, campeão. Agora pode ir brincar com
o que você quiser, mas às quatro horas você vai sair comigo. Vamos
para uma reunião do Conselho.
Nosso filho vibra com o comunicado do pai. Não é justo que ele
sempre possa fazer tudo o que quer.
Após Michael sair correndo, se senta ao meu lado e faz carinho
na pequena Luna de cinco anos.
— Vai deixá-lo mal-acostumado, Matt.
— Não se preocupe, querida! Ele está aprendendo o mesmo
que eu aprendi na sua idade.
— Que você sempre tem tudo o que quer?
— Isso acontece porque eu sou o chefe. E como ele será um
futuramente, precisa saber impor suas vontades e entender que
todos devem obedecê-lo.
Reviro os olhos com esse comentário totalmente descabido.
— Você... — começo a falar.
— Amor, você não pode carregá-lo em seus braços para
sempre. Um dia ele se tornará o chefe e terá que saber como se
comportar perante todos.
— Você tem razão. Apesar de eu não concordar, sei que
Michael tem grandes responsabilidades que cairão sobre ele.
— Podemos ter outros filhos, querida. Assim, você poderá
sempre ter um bebê em seus braços. — diz malicioso.
— Não me dê ideias, querido!
— Mamãe, como é que os bebês nascem? — Luna pergunta
inocentemente.
— O papai vai te explicar, meu amor. — Os deixo sozinhos.
Adorei ver meu marido em situações como essa. Sei que ele
terá uma ótima resposta para isso. O desespero em sua face foi
divertido.
(...)

Já à noite, estou tomando um banho quente após ter colocado


as crianças para dormir. Enfim, posso tirar um tempinho para mim.
Hidrato meus cachos, deslizando-os entre os dedos. Estão sedosos
e perfumados.
Às vezes é necessário tirar um tempo para si e relaxar no
banho é essencial para nos reconectar com nós mesmos.
Desde que me formei, tento apreciar a minha família ao mesmo
tempo em que tento organizar assuntos do meu escritório.
Meu marido considera uma perda de tempo que eu trabalhe
com algo que pode acabar incriminando-o algum dia. Um mafioso
casado com uma advogada e futura juíza é contraditório.
Abri um escritório de advocacia para ajudar advogados recém-
formados a entrarem no ramo de trabalho. Auxílio, principalmente,
mulheres negras que vivem na favela onde morei por anos. Vencer o
preconceito só depende de nossas ações e de como vamos agir
para impedir a desigualdade racial nas Faculdades e no mercado de
trabalho.
Sinto arrepios pelo meu corpo e beijos em volta do meu
pescoço. Gemo com os toques do Matthew, que logo beija a minha
boca com tesão. Ele já está molhado, assim como eu, e seu membro
está duro como uma rocha. Em seguida, o safado introduz seus
dedos dentro da minha vagina, me torturando e sorrindo de maneira
pervertida.
Num piscar de olhos, ele já está me jogando contra a parede e
fazendo com que meu bumbum fique empinado na sua direção. Logo
distribui alguns tapas nele, até deixar a região vermelha. E sem
nenhuma piedade, começa a me devorar com o seu pau. Gemo
loucamente com suas estocadas. A cada dia, o nosso sexo fica mais
maravilhoso.
Matt segura meus cachos molhados numa das suas mãos, os
puxando com força. Isso me deixa ainda mais louca. Adoro a
maneira que ele me toca na hora do sexo. Evoluímos bastante desde
o nosso primeiro ano de casamento.
Estamos juntos há oito anos e eu sinto que ele é o meu eterno
namorado. Estamos loucamente apaixonados e eu poderia ficar
assim o resto da noite, o amando.
A minha vida está perfeita. Tenho as pessoas mais importantes
ao meu lado e nossos filhos foram o melhor presente de todos, os
meus tesouros, minhas joias mais raras.
A minha mãe está caducando com as crianças. Ela é uma ótima
amiga e companheira. Amo ela muito e sempre faço de tudo para ver
um sorriso em sua face.
Sabina e Carlos estão casados há alguns meses e
descobrimos que ela será mãe de uma linda garotinha. Para quem
estava com medo de conhecer o amor, hoje vive feliz ao lado do
marido. Já sei que após o nascimento da princesinha, eles desejam
ter mais filhos.
Ainda me recordo do dia em que eles se casaram. Apesar de
Carlos ser um homem de confiança do Matt, meu marido quase
esfolou o moço, jurando que se ele fizesse sua irmã sofrer, o
mataria.
Foi uma cerimônia linda. Sabina estava maravilhosa como uma
princesa e Carlos estava hipnotizado com a bela esposa que
receberia.
Assim como eu, ela não encontrou o amor assim que soube que
iria se casar.
Posso não ter amado meu marido assim que o vi, mas hoje sei
que não poderia ser mais feliz do que já sou hoje. Ele é a minha vida,
o meu protetor, meu melhor amigo. Sem o seu amor, eu não seria
nada.
Somos submissos um do outro e nos doamos de corpo e alma.
Eu o amo com todas as minhas forças e sempre irei amá-lo.
EPÍLOGO 2
MATTHEW LANSKY

Elisa distribui uma trilha de beijos pelos meus lábios e


bochechas. Ela é a esposa mais carinhosa que existe, uma mãe
maravilhosa e atenciosa. Michael e Luna têm sorte por terem a
melhor mãe do mundo, e eu também, por ter a melhor esposa e
companheira de todas.
Assim que botei meus olhos sobre aquela pele morena, soube
que ela seria a mulher ideal para mim. No início fui conhecê-la
somente por causa da promessa feita ao meu pai: honrar a família
Santiago. E foi isso que fiz. Iria apenas proporcionar uma vida
confortável para ela e sua mãe, mas não resisti aos seus lindos olhos
castanhos, cabelos negros, cacheados, e à sua bela cintura de
modelo. Ela seria minha! Então a tornei minha esposa. Ali, todos os
meus planos mudaram. Aquela mulher seria a mãe dos meus filhos e
a única que eu amaria em toda a minha vida.
Enfrentei uma morena audaciosa, rebelde e que não me temia.
Isso me deixou ainda mais alucinado por ela
A minha Elisa nem sempre foi apaixonada por mim, mas hoje
sou o único dono do seu coração, do seu corpo e dos seus sorrisos.
Sou ciumento em relação a ela. O que é meu, não divido com
ninguém.
Só Deus sabe como é difícil me controlar quando algum homem
tem a ousadia de lhe dirigir a palavra e ver aquele sorriso que é
somente meu. Mesmo tendo a consciência de que ela me ama,
preciso me controlar para não arrancar os olhos dos imbecis. Tive
que melhorar muito em relação ao meu ciúme possessivo.
Um bom homem da máfia honra sua família, sua mulher e filhos.
Admiro Elisa por sua personalidade. Ela é firme, determinada e
nunca teve medo de enfrentar nada nessa vida. É corajosa e meiga:
duas características admiráveis para uma mulher linda que despertou
em mim um sentimento avassalador que nunca experimentei antes.
O amor é um sentimento arrebatador capaz de tornar até
mesmo um mafioso como eu, em um submisso. Sou submisso do
encanto da Elisa, a mulher mais especial do mundo, para mim.
Nossa filha Luna e o meu filho Michael, que é um garotão
esperto e inteligente que será um ótimo chefe da máfia, também são
especiais.
Terei orgulho dos feitos que o meu menino fará. É muito jovem,
mas já vejo disposição no seu jeito de falar. Só não o envolvi ainda
totalmente nos assuntos da máfia, por consideração à minha esposa,
mas assim que ele completar uma idade mínima, será totalmente
ingressado. E Elisa sabe disso. Mesmo que ela não goste, essas
são as regras, as leis.
A nossa família está em paz e feliz.
Minha irmã está casada com o meu homem de confiança,
Carlos, que é o meu braço direito em tudo. Por isso lhe confiei minha
irmãzinha para ele protegê-la e honrar pela sua vida.
Confesso que ainda sou possessivo e ciumento em relação à
Elisa. Ela é apenas minha e ninguém tem o direito de tocar no que é
meu. É a minha luz, a razão da minha vida. Faria qualquer coisa para
vê-la feliz. Abri mão do meu orgulho por ela e permitir que terminasse
sua Faculdade. Foram tempos difíceis, pois nunca gostei de
presenciá-la convivendo com outras pessoas.
Nós dois aprendemos a superar todas as nossas diferenças em
nome do nosso amor e hoje brindamos a nossa felicidade.
Sempre volto para casa com um sorriso no rosto e com a
certeza de que sou o homem mais sortudo do mundo por ter o seu
amor, seu respeito e seu companheirismo.
A única razão pela qual não permito que as trevas voltem para
a minha vida é por causa dela. Antes de conhecer o amor, eu era
somente mais um homem frio e amargo, nada me importava, e
causava dor nas pessoas por prazer. Mas Elisa me ensinou a ser um
homem melhor, entre aspas, já que pratico algumas coisas sem ela
saber. Não é como se eu fosse lhe falar sobre as atrocidades que
cometo nesse mundo da máfia.
O seu amor é o meu refúgio e sempre irei lutar para vê-la
sorrir, pela sua felicidade e a de toda a nossa família.
Esse será meu único propósito de vida: fazê-la sorrir
diariamente. Até o fim de nossos dias, amarei Elisa com todo o meu
ser, pois somente ela foi capaz de despertar em mim sentimentos
que eu não sabia que existiam e que poderiam ser maravilhosos.
Sempre farei qualquer coisa pela minha morena.
Mudar por amor não é ser fraco, muito menos um banana, mas
é ter a certeza de que você é capaz de fazer outras pessoas felizes.

Fim!
SÉRIE “FAMÍLIA GREGO”
UM MAFIOSO: OCCHI NON AZZURRI
(Livro 1)

Enrico Grego é um chefe de máfia, que desde cedo aprendeu a


ser um homem frio e calculista. Foi criado para despejar ódio pela
terra, ser implacável com os inimigos, frio com as pessoas que o
cerca e temido por todos a sua volta. Convicto de suas
responsabilidades desde o dia em que veio ao mundo, sabe que está
na hora de tomar sua prometida para si, tornando a garota sua
esposa, mesmo contra a vontade dela. Um homem sombrio e
cercado de mistérios trevosos aprenderá que nem tudo na vida
acontece da sua maneira.
Giovanna Prattes é uma menina indefesa e inocente que se vê
numa situação indelicada ao descobrir que está prometida ao temido
chefe de uma máfia. Contra a sua vontade, ela e sua família se
mudam para a Itália, onde aprenderá que nem tudo sempre foi magia
e que seu mundo de “faz de conta”, não passa de uma grande ilusão.
Um romance movido por segredos do passado!
ENZO GREGO: O PRÍNCIPE DA MÁFIA
(Livro 2)

Enzo sempre viveu na sombra do seu irmão mais velho, o


poderoso Enrico Grego. Desde pequeno fora acostumado a ser
sempre o seu braço direito, mas agora, depois de anos sendo
sempre o segundo em tudo, Enzo finalmente assumirá seu cargo de
chefe da máfia francesa, casando-se com a não tão bela jovem
Luana.
Luana sempre criou expectativas em relação ao seu
casamento. Ela o viu apenas algumas vezes, mas isso foi motivo o
suficiente para se apaixonar perdidamente pelo belo Grego.
Sempre sozinha, Luana busca nesse casamento poder ter
novamente uma família de verdade, já que seus pais morreram em
um acidente de carro há alguns anos. Seu único parente vivo é o seu
primo, do qual o respeita e o tem como irmão.
Um casamento de interesses poderá um dia passar disso e se
tornar algo a mais? Você seria capaz de viver um amor em vez de
querer ser o chefe?
ANASTÁCIA GREGO: A RAINHA DÁ MÁFIA
(Livro 3)

Anastácia sempre foi a revoltada da família e nunca teve direito


a nada por ter nascido mulher. Inconformada com a realidade em
que vive, sempre foi a mais direta dos Grego e a única capaz de
dizer tudo o que pensa das pessoas. Uma menina mulher de língua
afiada.
Cansada de ver os irmãos sempre terem tudo e tratarem suas
esposas como capachos, principalmente seu irmão Enzo, que faz da
vida da sua mulher um verdadeiro inferno, tomou uma grande
decisão. Enfim decidiu que iria enfrentar todos os seus medos e ser
feliz acima de tudo.
Sempre viveu um amor escondido ao lado do seu amado
Thiago, até que um dia seu irmão Enrico autorizou esse namoro e
desfez o compromisso que ele mesmo tinha selado para ela com
Andrei Barkov, chefe da máfia russa. Até aí tudo bem.
Compromissos são desfeitos todos os dias. Mas não no mundo da
máfia. O terrível Andrei Barkov, inconformado com o rompimento,
tinha apenas um objetivo: se vingar da família Grego através da
jovem e bela irmã caçula.
DUOLOGIA “CRETINO IRRESISTÍVEL”

PRESA A UM CRETINO IRRESISTÍVEL


(Livro 1)

Martina Martins é uma bela jovem brasileira de 19 anos que


vive sua vida pacata morando no morro do alemão, no Rio de
Janeiro. É uma típica menina bonita que sonha em ingressar na
Faculdade e ter uma vida normal, como toda garota da sua idade.
De personalidade forte e temperamento explosivo, não tem “papas
na língua” e não abaixa a cabeça para ninguém. Também é tímida e
inocente. Vive com o seu pai Juan e sua amiga Gaby. Eles são a
única família que ela tem.
Quando tinha 9 anos, foi adotada por Juan. Tininha — como é
conhecida —, não se recorda de nada do seu passado. É como se
tivesse nascido com cinco anos. Todas as suas memórias passadas
foram apagadas e nunca mais voltaram.
Sua vida muda repentinamente quando um grupo de homens
desconhecidos batem na porta da sua casa e a levam à força para
um país desconhecido que ela só ouviu falar pelos livros de
Geografia. Então vai parar nas mãos de Theodore Velarde, um
homem frio e calculista com o ego maior que o planeta terra.
Theodore Velarde, conhecido pelo seu coração de gelo, é um
homem abominável e insaciável que não conhece o significado da
palavra “não”. Quando ele a viu pela primeira vez, ficou obcecado,
imaginando o dia em que a teria em sua cama.
Após Juan, cogitar deixar a equipe, Theodore decidiu que a
filha dele seria sua mais nova diversão. É um homem perigoso,
egoísta e cheio de ambição. Por trás de uma máscara de
empresário bem-sucedido e de prestigio, esconde um passado
perturbado e cheio de marcas. É destinado a ser o mau em forma de
pessoa na terra. Rei dos casinos e de inúmeras casas de luxo, é
envolvido com o mundo da prostituição e fará de Martina a sua mais
nova obsessão.
Aprisionada e trancafiada, ela só deseja fugir e não se
apaixonar pelo seu algoz.
QUASE LIVRE DE UM CRETINO IRRESISTÍVEL
(Livro 2)

Após sua suposta morte, Martina se vê em um novo país com


uma cultura totalmente diferente da qual estava acostumada, porém
cercada daqueles que ama: o seu pai, a Gaby e, agora, seu mais
novo amor, o seu filho Ethan. Ele é o seu refúgio. Ao seu lado, ela
consegue esquecer os dias trevosos que viveu ao lado de Theodore
Velarde.
Todos estão felizes e satisfeitos com a nova vida que levam.
Ambos são livres e podem viver com dignidade e tranquilidade. Mas
não por muito tempo.
Ele passou mais de um ano se culpando pela morte da mulher
que amou e, também, a que mais o fez sofrer. Agora que sabe toda
a verdade, seu coração se encheu ainda mais de ódio e rancor. Está
decidido a buscá-la e a torná-la sua amante novamente. Desta vez,
para sempre.
Essa história terá, finalmente, um final feliz? Ou Theodore será
capaz de cometer os mesmos erros do passado?
LOUIS - UM CONTRATO DE AMOR

Louis Harrison é um empresário britânico de 31 anos, solteiro e


galã. Todo dia uma mulher diferente está em sua cama, muitas delas.
Ele está sempre acompanhado das mais belas socialites britânicas.
Se apaixonar não está em seus planos. Louis tem a vida mudada
quando sua mãe exige um casamento para ele, alegando que já que
está mais do que na hora.
A família Harrison precisa garantir um herdeiro para comandar
seus negócios, e tem que ser um homem. O único problema é: que
mulher aceitaria um contrato onde impede que ela crie o seu próprio
filho?
Isabella Silva é uma jovem brasileira de 22 anos e estudante de
medicina pediátrica em uma das mais renomadas Universidades da
Inglaterra, a Universidade de Cambridge. Ela tem sua vida
transformada quando recebe uma grande e dolorosa notícia sobre o
seu pequeno irmão.
O destino a obriga a entrar numa confusão e a garota se vê
indecisa entre aceitar ou não o tal acordo. A vida de seu irmão está
praticamente em suas mãos. Ela aceitará o contrato, mesmo tendo
que abrir mão da futura criança, pelo bem-estar de seu irmão?
O que o futuro os reserva?
SOB O DOMÍNIO DO SHEIK

Zyan Mohammed Youssef Al-Mim é o atual sheik do país: um


homem poderoso que não conhece limites. Ele é o limite de tudo e
de todos. Hoje, aos 31 anos, Zyan se tornou um homem bastante
respeitado e temido por todos à sua volta. Ele tem um reinado
perfeito e uma esposa que o ama e lhe proporcionou uma
descendência futura com a chegada do seu filho. Contudo, algo o
atormenta: um passado escuro o perturba até os dias de hoje. Ele
gostaria de voltar no tempo e poder corrigir aquele erro.
Layla Nabih Bashar é uma jovem sonhadora e destemida,
porém a vida nem sempre foi perfeita para ela. Após a morte de seu
amado pai, sua mãe Safira se viu totalmente perdida ao descobrir
que a família de seu marido iria tomar a criança para eles, deixando-
a totalmente de lado, com a intenção de mandá-la de volta para seu
país. Ela, então, decidiu fugir com Layla, para os Estados Unidos,
um país onde haveria muitas oportunidades para trabalhar e educar
a sua filha.
Após uma noite terrível, Layla e sua mãe, mais uma vez,
precisaram sair às pressas do lugar onde viviam e foram morar no
Brasil. Estando lá há alguns anos, com uma vida estabilizada, algo
mudará a vida da moça para sempre.
Um encontro capaz de deixar Zyan completamente perturbado.
Uma bela jovem de sorriso encantador acaba roubando o
coração do sheik sem nem ao menos perceber.
A OBSESSÃO DO CEO

Stehven Foster é o chefe executivo da Hollings International


Foster, uma empresa de alta tecnologia com sede no Reino Unido e
com filiais em todo o mundo.
Aos 40 anos, Stheven pode se considerar um homem de poder
e influência. Sua vida é regada de mulheres e farras quando as
câmeras não estão registrando sua imagem de “bom moço”. É um
homem frio e arrogante que tornou-se ainda mais prepotente e
amargo após a morte de sua esposa e filha há alguns anos. Tal
fatalidade foi capaz de mudar sua vida para sempre.
O homem não acreditava mais no amor, até vê-la. Como irá
conviver com esse sentimento arrebatador e dominador?
Camilla Roberts não passa de uma menina sonhadora em
busca de estabilidade financeira. Após completar a maior idade,
precisou deixar o orfanato onde morava e seguir sua vida com algum
pouco dinheiro que as freiras lhe deram. Ela encontra morada com
duas amigas que também habitavam no lar para crianças
abandonadas, mas que agora vivem em um apartamento modesto e
afastado do centro, porém confortável.
A moça acreditava no amor mais que tudo nessa vida e só
queria ser amada.
A vida de Camilla está prestes a mudar para sempre ao cruzar
seu destino com o do Stheven, um homem frio e arrogante. Como ela
irá lidar com isso?
A BABÁ VIRGEM DA FILHA DO CEO

Se você está procurando por mais uma história clichê que


migrou da Wattpad para a Amazon, onde o CEO é lindo e só um
pouquinho arrogante, e a mocinha, além de linda, inocente e virgem,
vira a cabeça dele... Aquele velho clichê entre babá e patrão em que
uma menina de 6 anos vai fazer de tudo para a sua nova babá
namorar com o seu pai... Você está no lugar certo. Bem-vindo ao
meu mundo, onde transformo minha imaginação em páginas de
livros!
Stacy é uma jovem sonhadora que sempre desejou fazer
grandes turnês internacionais quando era criança. Com uma voz de
anjo, encanta todos à sua volta. Com o passar dos anos, ela foi se
esquecendo do seu sonho e começou a focar nos seus estudos.
Após terminar o ensino médio, mudou-se com sua mãe para a cidade
de São Paulo, o grande centro de oportunidades para quem busca
novas chances de emprego.
Um anúncio no jornal se torna sua mais nova esperança. Ser
contratada para ser a babá da filha do CEO irá tirar ela e sua mãe
da crise financeira que ambas vivem.
Stacy só não esperava que o CEO fosse um homem de tirar o
fôlego, lindo e um pouquinho arrogante, que a notaria ao ponto de
querê-la.
Henrique Prado é um CEO bastante carinhoso e amoroso com
sua única filha, Heloyse. Para ele, a pequena é o seu maior tesouro.
Faz de tudo pelo bem-estar dela.
Casado com uma mulher fria e que não faz questão de
esconder o quanto não sente carinho pela filha, Henrique tenta
preencher, de todas as formas, o vazio que existe na menina.
Poderia essa família ter esperanças de um futuro melhor?
A PREDILETA DO MAFIOSO

Bonito, atraente, forte e musculoso. Dominic Smirnov é como o


anjo da noite. Ele é imprevisível quando o assunto é mulheres, porém
decisivo e imponente com seus inimigos. Como chefe da máfia mais
poderosa de toda a Europa, Dom tem tudo sob seu poder. É o filho
mais velho, o sucessor de seu pai. Seu legado é implacável, genial e
impiedoso, e sua fama ganhou os quatro continentes do mundo.
Conhecido pelo seu harém de mulheres, o “sultão da máfia” jamais
entregou seu coração a uma mulher. Seu conceito sobre casamento
e construir uma família não significa nada além de uma obrigação.
Por esse motivo, ele nomeou Malia como sua futura esposa. Esse
será apenas o começo de uma linda história de amor? Ou grandes
conflitos estão prestes a iniciar?
Malia é linda, inteligente, esperta, batalhadora, tem um coração
gigante, é bondosa e encanta todos ao seu redor com sua beleza e
carisma. Ela é uma moça simples que vive com sua mãe desde a
morte do seu pai e que teve que se desdobrar para ajudar nas
despesas da casa. Contra a vontade da mãe, Malia ocupou a antiga
vaga dela, que precisou deixar o emprego por conta de problemas
de saúde. Ser faxineira e garçonete em uma luxuosa boate não
estavam em seus planos, mas tudo estava indo perfeitamente bem,
até que seu caminho se encontrou com o poderoso chefe da máfia.
E
A menina do mafioso: livro 2: máfia Smirnov
A
Contará a estória de Genevieve e Nikolai Smirnov, em julho na Amazon!
SOBRE A AUTORA

Uma paraibana de 21 anos de idade que arriscou-se


recentemente a publicar seus livros na Amazon.
Aos 14 anos decidiu escrever numa plataforma gratuita
chamada Wattpad. O interesse pela escrita surgiu quando ela tinha
apenas 8 anos, quando escreveu um conto baseado em uma canção
sertaneja. Desse dia em diante não parou mais
Em decorrência dela ter perdido seu primeiro perfil na
plataforma, pois nunca sabe onde guarda sua anotações, como
senhas, ela voltou somente em 2018 com a série "Cretino
irresistível", com mais de 500 mil leituras online.
Em 2019 surgiu uma ideia muito doida: três irmãos
completamente comuns, só que não. Irmãos que se amam e fazem
de tudo para proteger uns aos outros. A família Grego é composta
por Enrico Grego, chefe da máfia; Enzo Grego, príncipe da máfia; e
Anastácia Grego, uma princesinha que se tornou rainha da máfia.
Convido você a embarca nessas lindas estórias onde o amor
prevalece no final.
Obrigada por adquirir esse livro! Agradeço muito se puder
avaliar com 5 estrelas, pois é muito importante para o autor.
Em breve volto com mais obras para a Amazon!
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