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(...)
(...)
Billie, minha assessora pessoal, se encarrega de todos os
detalhes para o meu casamento acontecer assim que
desembarcamos em Nova York. Agora só falta colocar meu plano em
ação.
Nunca imaginei que passaria a noite em claro pensando em
como raptar aquela garota, mas minhas olheiras valeram a pena,
pois tenho o plano perfeito para enfim conseguir tomar o que é meu.
Elisa se tornou minha propriedade a partir do primeiro momento
em que meus olhos encontraram os seus. Ela não sabe que seu
destino está traçado, que em breve será minha esposa, a futura
senhora Lansky e, quem sabe, a dona do meu coração. Creio que
não levará muito tempo para isso se concretizar.
Aqui estou, em frente ao espelho, me preocupando com o
perfume que devo usar para ir ao encontro da minha morena. Algo
amadeirado sempre é uma ótima escolha, já que todas as mulheres
se derretem por esse aroma. Vesti meu sobretudo preto e estou
usando óculos escuros para não demonstrar minhas olheiras
resultadas da noite em claro pensando em como sequestrar a Elisa.
O plano será usar a dona Débora como meu ponto forte, minha
arma principal. A ligação das duas é forte de tal maneira, que a
morena será capaz de fazer qualquer coisa para que eu não
machuque sua mãe.
Já estou preparado para que ela se negue a mim, pois ninguém
fica satisfeito por perder sua liberdade, e isso gera revolta, mas com
a vida da Débora em risco, conseguirei qualquer coisa da minha
princesa.
CAPÍTULO 3
ELISA SANTIAGO
(...)
Matthew me leva para uma suíte maior do que a que eu estava
agora a pouco, e ao fechar a porta, ouço um barulho dentro da
minha cabeça, como se fosse um terremoto. Minhas emoções estão
à flor da pele e não me atrevo a olhar para trás, a encarar aquele
homem nas minhas costas.
Fecho meus olhos e controlo minha respiração, buscando o ar
em meus pulmões.
Suas mãos grandes e firmes tocam meus ombros e posso
sentir toda sua força natural, como se fosse algo brutal. O medo me
faz sentir coisas que não existem e temer possíveis armadilhas que
minha própria mente me coloca.
Sua voz quente e rouca sussurrou em meu ouvido enquanto
suas mãos passeiam pela minha barriga.
— Tire a roupa, bebê!
Sem hesitar muito, me afasto dele, sentindo toda sua ereção
atrás de mim. O que posso fazer? Nada. Um mafioso frio e
calculista, capaz de ter planejado um sequestro minuciosamente, não
está para brincadeiras. Posso afirmar que ele não se encontra tão
tranquilo quanto aparenta.
A pequena distância que nos separava, novamente se acaba
com sua aproximação. Seus lábios se movem na minha direção,
prestes a me tomar em um beijo arrebatador.
Me deixo conduzir por essa situação e fecho meus olhos para
sentir seu beijo quente invadir meu ser. Suas mãos grandes e
atrevidas lentamente passeiam pelo meu corpo e livram-se da minha
blusa e sutiã, me deixando exposta. Seus lábios habilidosos deslizam
para meus seios, sugando-os com leveza. Ele deve imaginar que os
dois estão sensíveis após tudo que vivemos ontem à noite.
— Você tem o cheiro do pecado, morena.
Reviro meus olhos por conta da sensação maravilhosa que se
forma dentro de mim. É um absurdo meu corpo não se negar a ele e
aceitar tudo com a maior facilidade possível. Mas o que eu diria?
Matthew é incrivelmente talentoso no que faz e me conduz ao prazer
extremo.
Ele desabotoou a minha calça, abaixou o zíper e me deixou
apenas em uma calcinha de renda transparente. Seus olhos me fitam
intensamente e posso ver mais que luxúria vindo deles.
Matthew me fez deitar na cama enquanto me beija de uma
maneira incrivelmente deliciosa e suas mãos percorrem todo o meu
corpo, indo de encontro à minha intimidade. Gemo entre o beijo
quando sinto seus dedos introduzirem nela. Ah! Isso é forte e
intenso.
Sem me pedir passagem e ainda completamente vestido, seus
lábios descem para os meus seios mais uma vez, sugando-os. Fecho
meus olhos e sinto suas mãos abrirem ainda mais minhas pernas.
Então algo diferente encosta na minha intimidade! Oh! Ele está
fazendo um oral em mim. Sua língua desliza sobre meu clitóris, me
fazendo querer subir pelas paredes. Me contorço de um lado para o
outro. Oh, Deus! Isso é tão bom! Por que além de lindo, o homem
tem que ser bom de cama? Sinto que vou explodir com todo esse
prazer.
Antes que eu possa me esbaldar naquela sensação, ele
introduz seu pênis no meu canal vaginal, me estocando de uma
maneira forte e dura. Deveria doer, não me proporcionar prazer.
Suas estocadas são rígidas e profundas.
Foi uma transa rápida e calorosa. Me sinto suada, como se
toda a água do meu corpo tivesse transbordado.
Matthew sobe suas calças novamente, me olha e fala todo
convencido:
— Agora preciso ir. Não tente fugir! A mansão está bem
protegida. À noite nós vemos, baby. — Pisca para mim.
À noite! Que filho de uma mãe! Aí ele vai voltar e, de novo, me
possuir intensamente. Só de pensar nisso, minha intimidade lateja.
Droga! Arremesso um travesseiro contra a porta depois que ele
sai. Playboy arrogante! Você me paga!
Exploro o resto do quarto e encontro, finalmente, um banheiro
luxuoso com uma enorme banheira de espuma. Então aproveito para
tomar um banho nela.
Não deixo o quarto para nada. Vou me trancar aqui e ficar na
sacada do ambiente, observando toda a bela vista à minha frente.
Meus pensamentos só me fazem lembrar da minha querida
mãe e em como ela está agora nesse exato momento. Com certeza,
sofrendo, como eu estou. Se pelo menos ele me permitisse falar com
ela... Como eu poderia imaginar que o destino seria tão cruel
comigo? Fui obrigada a abandonar minha mãe, meu país e minha
Faculdade. Em meses, eu me formaria e teria um emprego digno do
qual eu poderia, com ele, proporcionar uma vida mais confortável
para minha mãezinha. Mas Matthew roubou isso de mim. E não vai
ficar assim.
Ouço batidas na porta do meu quarto e resolvo não dizer nada.
Com certeza não é ele, caso contrário, já teria falado alguma coisa.
Penso que pode ser aquela irmã chata e patricinha.
Resolvo não dizer nenhuma palavra e as batidas logo perdem a
força. Por um minuto acho que não vou ouvi-las mais, então a pessoa
resolve se pronunciar.
— Senhora Lansky? O senhor Lansky pediu para eu vir deixar
sua refeição.
— Estou indo. — falo em alerta.
Minha barriga está revirando de fome. Depois de todas essas
transas malucas, meu organismo se sente fraco e debilitado. Preciso
me alimentar.
Abro a porta e encaro a mulher à minha frente, uma empregada
vestida adequadamente com seu uniforme azul marinho. Ela apenas
sorri e entra com um carrinho para dentro do meu quarto.
— Se precisar de alguma coisa, senhora, não hesite em me
chamar!
__ Posso te perguntar uma coisa?
— Claro, senhora Lansky.
Não me agrada em nada ser chamada pelo mesmo sobrenome
daquele homem. Sinto vontade de gritar que meu nome é Elisa
Santiago, não Elisa Lansky, mas sei que ela não tem culpa nenhuma,
pois apenas cumpre regras em troca de seu salário. Será que sabe
que estou sendo mantida presa aqui?
— Quantas pessoas moram aqui?
— O senhor Lansky não lhe disse?
Fico totalmente constrangida. Ela deve estar pensando que
somos um daqueles casais sem diálogos que não sabem fazer nada
além de transar como coelhos. O que não deixa de ser uma verdade,
em parte.
— Talvez eu não tenha ouvido bem. — respondo sem jeito.
— Aqui moram o senhor Lansky, a irmã dele, a senhorita
Sabina, e também a mãe dos dois, a senhora Patrícia.
— Como elas são?
— Perdão, senhora! Não sou autorizada a falar sobre a vida
dos meus patrões.
Ah, claro! Aposto que aquele engomadinho é cheio de regras e
limites. Quem desobedecer, está na rua. Conheço bem esse tipo de
pessoa que se sente o dono do mundo apenas por ter dinheiro e
aquisição política, já que isso sempre fez parte do meu mundo. A
desigualdade não é novidade para mim e eu já a conheço muito bem.
— Você sabe que ele me mantém presa aqui, não é?
Agora é a vez dela ficar constrangida. Por essa, eu não
esperava. Claro que ela sabe. É paga para estar a par de todos os
assuntos que envolvem essa casa, inclusive a minha prisão.
— Senhora, com licença. Se precisar de alguma coisa, basta
apertar aquele botão. — Me mostra um botão que fica na parede.
Como ele disse, a mansão está bem protegida. Com certeza há
muitos seguranças fazendo minha “proteção” e pessoas para não me
deixarem sair, nem ao menos do quarto. Constato isso quando a
empregada deixa o cômodo, e antes de fechar a porta, vejo que há
dois seguranças no final do corredor.
A única opção que me resta é comer toda a refeição, sem
reclamar, afinal de contas, estou com fome e muito irritada, e quando
faminta, fico ainda mais insuportável.
Então me lembro da possibilidade de engravidar, pois estamos
mantendo relações sem usarmos camisinha. A última coisa que
quero nesse momento é engravidar de alguém como ele.
No final da tarde, adormeço e tenho um pesadelo com a minha
mãe. Acordo atordoada, sentido que algo de muito ruim pode ter lhe
acontecido. No pesadelo, ela e eu estávamos cansadas por um belo
campo verde, parecido com a fazenda de uma amiga sua, onde
íamos quando eu era criança. Teve um tempo em que ela trabalhou
lá fazendo faxina, antes de irmos de uma vez para a cidade. Quase
gritei quando de repente caiu uma tempestade em um dia
ensolarado, e do nada, foi como se minha mãe tivesse desaparecido.
Me sinto fadigada, com falta de ar, e levo minhas mãos ao meu
peito, buscando me acalmar. Então percebo que não estou sozinha
no quarto. Uma mulher alta e muito elegante me analisa como se eu
fosse algo pegajoso. Seus olhos são azul-marinho, muito bonitos e
parecidos com os de Matthew. Só pode ser sua mãe.
Me sento na cama, um pouco assustada. Como ela entrou no
meu quarto assim, sem bater? Tudo bem que estamos em sua casa,
mas a privacidade ainda existia no Brasil até o momento em que eu
ainda estava lá.
Em seu semblante, posso jurar ver ódio e ao mesmo tempo
uma superioridade fora do comum. A mesma que encontrei agora a
pouco no olhar de Sabina. Tal mãe, tal filha.
— O que a senhora faz no meu quarto? — não consigo conter
meu incômodo por ela estar aqui.
— Eu precisava ver com meus próprios olhos a loucura que
meu filho cometeu ao trazer uma sem-teto para dentro da minha
casa.
— O que disse?
— Não se faça de sonsa, criatura! Eu aceito tudo vindo de meu
filho, menos isso. É inadmissível! Casar com uma negra? Dessa vez,
ele passou por cima de todos os limites.
Penso ter ouvido mal, por conta do sono que ainda sinto, mas
posso constatar que não estou delirando, muito menos imaginando
coisas. Essa mulher é mesmo uma arrogante, tanto quanto o filho.
Ele, pelo menos, não se importa com a cor da pele das pessoas, já
ela parece estar falando com um animal. Pelo seu tom de voz de
ataque, tentou me destruir.
A mulher continua falando mais grosserias.
— Não pense que irá dar o golpe do baú na minha família!
Matthew pode parecer um garoto ingênuo, mas não se casou com
você porque a ama, e sim para me irritar. Até entendo que meu ele
não quer casar com alguém do nosso nível, mas agora com uma
negra? Isso não irei aceitar nunca. Por isso, vá arrumando suas
malas, garota! Você irá embora de minha casa agora mesmo!
— Olhe só, senhora! Você não me conhece para falar de mim
como se eu fosse uma interesseira. Posso ser pobre sim, mas tenho
mais dignidade do que você, que é toda fina e educada. — Me
levanto da cama e vou em sua direção, bastante irritada. — Não é
porque a senhora tem dinheiro, que pode me tratar como se eu fosse
um lixo.
— Cale a boca, insolente! — Acerta um tapa na minha face, me
fazendo virar o rosto para o lado com tamanho impacto.
Eu ia revidar se não fosse pelos seguranças, que me
interromperam, me segurando fortemente pelos braços.
Grito para que eles me soltem, mas parece que estou falando
com as paredes.
— Levem essa mulherzinha para o porão e a deixe lá até que
morra de fome!
— Vocês são loucos! Me soltem agora mesmo! — grito.
— Vamos ver agora se você tem alguma autoridade nessa
casa! Irá para o lugar que lhe pertence, sua negra favelada!
Grito como uma louca para que eles me soltem, e quando
passamos pelo corredor, Sabina me olha um pouco assustada, mas
nada faz.
Os seguranças desceram comigo escada a baixo e os
empregados que estão no caminho, apenas ouvem meus gritos,
porém não fazem coisa alguma além de abaixarem suas cabeças
como se nada estivesse acontecendo ao redor deles. Me debato e
tento acertar os homens com chutes, mas é em vão, porque eles são
muito fortes.
Logo me levam para uma espécie de lugar mais afastado da
mansão, uma área mais escura, tipo um quartel militar. Choro como
uma criança, me sentindo assustada e nervosa. Nunca passei por
nada semelhante.
Uma porta é aberta e meu pequeno corpo é empurrado contra
o chão, me fazendo gritar alto. Sinto que dei um mau jeito na minha
perna e grunho de dor.
— Esse é o seu lugar, sua cadela!
— Por favor!
A porta é fechada.
Esse local é uma espécie de porão, repleto de poeira e um
cheiro de mofo prejudicial para minhas narinas. É um ambiente
fechado, escuro e muito quente. Não sei se vou conseguir me manter
acordada por muito tempo. Agora sinto uma pequena dor na minha
cabeça e creio que devo ter batido com ela no chão.
CAPÍTULO 7
ELISA SANTIAGO
(...)
(...)
(...)
Já na manhã seguinte, estou me sentindo melhor. Não há mais
tanta dor em meu corpo. Olho para o lado e vejo ele sentado na
poltrona próxima à minha a minha cama. Há também belas flores em
cima da cabeceira.
Me remexo um pouco, quando sinto sua presença ao meu lado.
— Como se sente, princesa?
— Melhor.
Como ele conseguiu se levantar tão rápido e sentar ao meu
lado? Só falta me dizer que é um vampiro do Crepúsculo.
— O médico falou que você poderá ir para casa ainda hoje.
— Não quero voltar para aquela mansão. Quem é aquela
mulher e por que ela fez aquilo comigo?
— Aquela mulher é a minha mãe. — confirma apenas aquilo
que eu já sabia. — O motivo dela ter atacado você, foi apenas para
me enfrentar.
— Não acredito que foi somente por isso. Aquela mulher é
preconceituosa e me julgou pela cor da minha pele, por minhas
origens humildes. Como ela sabia?
— Antes de eu sair de casa para ir à empresa, tivemos uma
conversa, onde falei de você e do nosso casamento. Só não
imaginava que ela fosse capaz de tudo aquilo.
— Eu pensei que iria morrer.
— Sorte minha que Sabina me ligou. Se não, eu nem teria
chegado a tempo para te salvar.
Então foi a irmã dele que avisou sobre o acontecido. Talvez ela
não seja tão malvada, e sim apenas uma refém dos caprichos da
mãe doida que tem. Mesmo assim, não confio em voltar mais para
aquela mansão. Ainda têm aqueles seguranças malucos que só
fazem as vontades dela.
— Sei que elas são sua família, mas eu tenho medo. Ainda tem
aqueles seguranças e...
— Você acha mesmo que eu deixarei que algum homem acate
mais ordens da minha mãe? Só não a matei porque ainda tenho o
sangue dela nas minhas veias. O que te fizeram, não tem perdão.
Por isso, já decidi que quem vai sair da casa será ela.
— Eu tenho medo. Os seguranças...
— Aqueles vermes estão mortos.
Ele falou sério? Talvez “mortos” signifique “demitidos”. Ou não.
— Todos estão a sete palmos abaixo da terra. Não se
preocupe, morena! Prometo que ninguém irá te ferir novamente. Eu
não poderia imaginar que minha mãe seria tão louca a esse ponto.
— Eu pensei que iria morrer. — confesso cabisbaixa enquanto
estalo os dedos. Minha respiração está tranquila e suave.
— Não pense mais!
— Foi um momento difícil. Imaginei que nunca iria lhe dizer isso,
mas obrigada por não me deixar morrer. — acabo falando meio sem
jeito.
Nunca pensei que ficaria tão feliz por saber que ele não me
deixou largada lá para morrer. Pelo menos comprovei algo: sua mãe
estava errada. Matthew não me vê apenas como um objeto sexual.
Posso ver cuidado em seus olhos e até um pouco de carinho. Um a
zero para mim.
— Você é minha esposa, morena. Ninguém vai voltar a te fazer
mal e jamais irei permitir te perder. Agora preciso assinar os papéis
de sua alta. Volto o mais rápido possível. — Sorri.
Fico sozinha no quarto, mas não por muito tempo, pois logo em
seguida uma enfermeira vem até mim, me tira o soro e desliga os
aparelhos. Também me ajuda com um banho e traz umas mudas de
roupas para eu vestir.
Enquanto estou no chuveiro, posso ouvir um barulho vindo do
meu quarto. Tomo um susto e me visto rapidamente, sem ao menos
organizar meus cachos. É quando vejo que Matthew voltou. Como
ele não me vê, volto ao banheiro e prendo meu cabelo, que não
molhei no banho. Cabelos cacheados são difíceis de pentear sem
cremes adequados para a espécie dos fios.
— Estou pronta. — Vou na sua direção.
— Não está. Falta algo. — me deixa confusa.
— Ah, claro! Esqueci minha toalha no banheiro. Irei buscar em
um segundo.
Matthew me puxa por um braço, sem me machucar ou usar
força. O olho, sem entender quase nada, e suas mãos seguram as
minhas, sem que ele desvie seus olhos dos meus. Também faço o
mesmo. Há uma conexão entre nós dois, não posso negar. Ele até
pode ser arrogante e cretino, mas diferentemente da mãe, nunca fez
nada para me machucar, como ela fez. Às vezes até parece estar
apaixonado por mim.
É difícil aceitar isso, pois não consigo acreditar que alguém
como ele esteja realmente sentindo algo assim. Pensei que fui
traficada apenas para servir de objeto sexual, mas com o
casamento, Matthew me mostrou que eu valia muito mais do que
uma transa. É como se realmente desejasse construir uma família ao
meu lado. Se ele não tivesse escolhido o jeito mais difícil, eu até teria
me apaixonado pelos lindos olhos azuis, a maneira protetora que
demonstra comigo. Será possivél que este homem me ame?
— Não gosto quando seus cachos estão presos. Nunca os
prenda! Eu gosto deles exatamente como são, mesmo quando não
estão alinhados. — Em um movimento cauteloso, retirar a presilha do
meu cabelo, libertando meus cachos.
— Meus cabelos estão...
— Perfeitos! Gosto deles exatamente assim. Nunca mais os
prenda! Você é perfeita em todos os ângulos.
Sorrio envergonhada pelo seu comentário. Poderá ele ser tão
fascinado por meus cachos? Matthew é um homem muito bonito,
poderoso, sempre tem tudo aos seus pés, porque ele escolheu a
mim para ser a sua esposa?
Ele segura uma das minhas mãos e me leva até seu carro, que
nos espera em frente ao hospital. Penso em fazer um escândalo,
mas não ganharia nada com isso. Cursando Direito aprendi que um
advogado nunca deve se deixar levar pelas emoções, pois sempre
há o momento de se defender e o de atacar. E quando a hora de
atacar vier, todos irão ver quem é a verdadeira Elisa Santiago.
CAPÍTULO 8
MATTHEW LANSKY
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Nunca havia parado para ver meu closet com tanta atenção,
como agora. Uma equipe veio me arrumar para o jantar e meu
cabelo está preso em um belo penteado que permite que meus
cachos ganhem vida. A maquiagem é algo leve, exceto pelo batom
vermelho que deixou meus lábios ainda mais carnudos.
O vestido que estou usando é um vermelho, na altura do joelho,
e coloquei um scarpin nude de veludo.
Olho meu físico no espelho e posso ver o quanto estou
diferente, usando joias que jamais seria capaz de comprar. Nunca
pensei que algum dia teria tantas regalias, como nesse momento. Há
uns meses estava comendo pão com mortadela, mas agora tenho
uma mesa farta com comidas que nem sei pronunciar o nome.
A limusine me leva até o restaurante.
Constato que o lugar está fechado apenas para nós dois e
caminho lentamente, acompanhada por dois seguranças. Seguro
somente minha pequena carteira numa das mãos e já posso ouvir o
som de um violino cada vez mais próximo.
As luzes que iluminam nossa mesa têm um tom vermelho claro
e um tapete da mesma cor me leva de encontro ao Matthew. Ele
está me encarando com um olhar predador, como se fosse me
devorar. Logo segura uma mão minha e deposita um beijo sobre ela.
— Você está perfeita, anjo.
— Obrigada!
Na maioria das vezes, Matthew me deixa sem jeito, pois sinto
que ele gostaria de ver além do que minha roupa mostra. É muito
dominador e parece sempre controlar algo dentro dele, como se
houvesse um monstro preso em si. Arrepiante!
— Por que me olha assim? — pergunto.
— Assim como? — finge-se de cínico.
— Como se... — Olho para os lados e não vejo mais os
seguranças. O som do violino está em algum lugar no resto do
ambiente pouco iluminado. — Fosse me devorar.
— Mas eu quero te devorar, princesa. — Toca minha face com
uma mão. — Teremos uma noite memorável.
CAPÍTULO 10
ELISA SANTIAGO
Meus pés tocam o piso frio do iate. Assim que desci do carro,
retirei os sapatos, que começaram a me fazer calos. Sou muito boa
em andar com saltos altos, apenas nunca tive o costume, nem a
necessidade de usá-los todos os dias, com frequência. Usava
somente para algum trabalho ou evento envolvendo a Faculdade.
A brisa bate em meu rosto, me fazendo sentir o ar gélido vindo
do mar. Matthew ficou logo atrás de mim e, provavelmente, ainda
está no porto dando algumas instruções para os seus seguranças.
Estou deslumbrada com o quanto é luxuosa essa embarcação,
que mais parece uma mansão luxuosa, com três andares. Nunca vi
algo tão esplêndido como esse iate. É óbvio que Matthew teria algo
assim.
Vendo todo esse esplendor, não consigo calcular o quanto ele é
rico. Há milhões de dólares concentrados somente aqui. Um exagero,
na minha opinião, mas como não posso opinar em nada, decido
continuar admirando toda essa sofisticação.
— Normalmente haveria muitos empregados aqui para nos
servir, mas como quero ficar sozinho com você, dispensei todos.
— Você sabe pilotar isso?
— Sim, mas como temos piloto automático, vamos apenas
flutuar por hoje.
— Uau!
— Te mostrarei nossa suíte.
Ao longo do caminho, Matthew me explica que aqui há oito
compartimentos, três suítes completas e espaçosas, uma cozinha,
uma sala de jogos, a cabine e uma hidromassagem.
Posso perceber o quanto nossa suíte é maravilhosa, com uma
enorme cama box no centro e um closet perfeito com roupas que
servem perfeitamente em mim. Matthew realmente sempre pensa
em tudo. O banheiro é enorme, com uma banheira e box — ambos
espaçosos.
Decidi trocar de roupa, mas antes tomei um banho relaxante.
Visto um vestido soltinho, estilo praia.
Meus cabelos estão soltos ao vento e nem parece que estamos
em alto mar, pois não sentimos as correntes marítimas. A estrutura é
sólida, como se estivéssemos na superfície. Me escoro sobre o
corrimão, observando o mar escuro logo atrás de mim. É
incrivelmente assustador, mas ao mesmo tempo causa uma
sensação maravilhosa. Tenho certeza de que minha mãe iria adorar
estar aqui comigo, já que é apaixonada por praia e por tudo que
envolve água. Como sinto sua falta!
Fecho meus olhos por alguns segundos e sinto meus cabelos
baterem em meu rosto. A breve sensação que sinto de paz é capaz
de preencher todo o vazio no meu peito, como se eu conseguisse
esquecer por dois minutos que não estou presa a um homem que
não sei nada sobre ele, apenas que devo tomar cuidado para não
sofrer consequências severas.
Qual o propósito de tudo isso? Uma pessoa não pode obrigar
outra a ficar presa para sempre. O tempo passa e eu não vejo mais
esperanças para mim. Esses últimos meses pareceram uma
eternidade e a cada segundo me sinto mais agoniada. A aflição me
define em todas as fases dessa minha nova vida. Nunca sei qual será
o seu próximo passo.
Suas mãos grandes tocam meus ombros, colocando neles uma
espécie de sobretudo para que eu possa me aquecer do frio. Seus
olhos azuis me fitavam com cuidado. É fofo vê-lo nesse momento.
Posso perceber que ele trocou de roupas. Optou por uma calça
moletom cinza, da mesma cor que a camiseta.
Tão robusto e sexy! Às vezes me pergunto o que alguém como
ele consegue ver em alguém como eu, uma garota pobre, vinda da
favela — com muito orgulho, claro. — Não sinto vergonha de ser
quem sou, mas por Matthew ser tão rico e bem sucedido, poderia ter
as mulheres que quisesse rendidas aos seus pés, e em um simples
estalar de dedos, todas estavam curvadas. Mas ele preferiu a mim
por algum motivo do qual não faço a menor ideia.
— Cuidado para não se resfriar! — me alerta. — Não está
acostumada com temperaturas tão baixas.
— Culpa sua. — digo curta e grossa.
Ele ri de lado e toca em meu queixo.
— Se você soubesse o quanto fica sexy quando tenta ser
grosseira... — Morde meus lábios de forma lenta. — Você me deixa
louco, sabia?
Imagino que sim, já que não me deixa em paz, nem por dois
segundos.
— Bem que você gosta quando está comigo. Posso jurar que
me ama quando estamos juntos.
— Gostar de transar, não é amar.
Putz! Acabei de admitir que gosto de ter relações sexuais com
ele. O pior é ver o sorriso safado na sua face.
Pela primeira vez, sinto meu coração palpitar. Seu beijo me faz
sentir completamente arrebatada e suas mãos exploram minha pele
por baixo do vestido, apalpando meu bumbum com precisão. Ele
nunca faz rodeios, é sempre direto em tudo o que quer.
— Você me encanta, princesa. — sussurra no meu ouvido
enquanto me toca de maneira indevida.
Isso é tão errado e ao mesmo tempo tão prazeroso! Sei que
estou ficando louca por sentir atração por esses momentos.
Ele me pega no colo e entramos para a nossa suíte. Sou
colocada sobre o colchão macio e sua boca desliza por toda a
extensão do meu corpo. Em seguida, livra-se, primeiramente, das
minhas roupas. Me torturando de maneira lenta, sua língua vai de
encontro à minha intimidade, que lateja ardentemente de desejo.
— Hoje vou te foder com a língua, princesa.
Isso me deixa vermelha.
Já tínhamos feito sexo oral várias vezes, mas o problema é que
ele não quer apagar a luz agora. Minhas tentativas de implorar, não
deram certo, e diferente de mim, Matthew é desinibido e não tem
restrições para nada. Não ter minha mente tão aberta como a sua,
faz eu me sentir boba.
Ele segura minhas coxas, forçando para que eu não tente me
fechar, me deixando totalmente livre para aquela nova sensação. Sua
língua desliza calientemente na minha intimidade.
— Oh!
Meu corpo ferve por mais e estou prestes a explodir. Gemo
loucamente sem me importar com mais nada ao nosso redor. Sua
língua move-se cada vez mais rápido em meu clitóris. Só quero senti-
lo... E senti-lo... Ser invadida pelo seu pênis grande e grosso. Ele é
capaz de me levar à loucura.
Sua língua intensifica os movimentos e meu orgasmo vem junto
com meu grito de delírio.
É maravilhoso sentir suas estocadas lentas no início, para não
me machucar, se tornarem rápidas e fortes.
(...)
(...)
(...)
(...)
Me sinto cansada e a luz do sol impregnada no ambiente me
causa uma pontada de dor na cabeça semelhante à ressaca.
Percebo meu estômago embrulhar, e antes que meu organismo
possa dar qualquer sinal, em desespero corro até o banheiro e
deposito dentro do vaso sanitário uma grande quantidade de vômito.
É como se todas as minhas tripas estivessem sendo colocadas para
fora.
As náuseas se tornam cada vez mais fortes e por um momento
penso que não irei conseguir suportar.
Após quase uma hora sentada ao lado vaso, me sinto fraca,
com a sensação de que desmaiei algumas vezes, como se as
vertigens percorressem a minha mente. Respiro fundo antes de
sentir os braços fortes me segurarem com delicadeza. Sou colocada
novamente sobre o colchão macio com plumas de algodão.
Uma das suas mãos toca minha face e ele murmura algo.
— Droga! Está com febre.
Ouço o barulho da porta ser fechada. Me sinto assustada e
com medo dele não voltar, de me deixar aqui para morrer.
— Não me deixe sozinha, por favor! — murmuro várias vezes,
até ver que ele está de novo ao meu lado, segurando minha mão.
Novamente sou colocada em pé e ele retira o que consegue
das minhas roupas, me deixando apenas de calcinha e blusa regata.
Em seguida me leva nos braços até o box, onde me agarro aos seus
braços, com medo de cair. A sensação é de desespero.
Tudo acontece em câmera lenta. A água fria caindo sobre
minha pele me faz querer sair correndo desse banheiro, mas
Matthew me segura firmemente em seus braços. Abraço-o com
muita intensidade. Isso parece mais uma tortura.
— Calma, princesa! Estou aqui. — sussurra em um dos meus
ouvidos.
Me sinto devidamente aquecida agora, vestida em uma calça
moletom e camiseta. Meus pés foram preenchidos por meias e
cobertores grossos inibem o frio que sinto.
Juro ouvir vozes próximas a mim e desperto, em seguida,
constatando que há uma mulher me examinando. Ela está sentada ao
meu lado, medindo minha temperatura.
— Senhora Lansky, como se sente?
— Tenho frio.
Olho em volta e vejo meu marido em pé, próximo à cama, me
observando. Recordo de que não me senti disposta ao despertar
nessa manhã e me lembro de ter passado mal.
— Não tenha medo! Está tudo sob controle agora. Sua febre
está baixando e estamos tomando todos os cuidados possíveis para
que ela não retorne. Me diga, senhora Lansky! Essa foi a primeira
vez que sentiu náuseas?
— Sim.
— Retirei uma amostra do seu sangue para exames de rotina.
Não há nada com que se preocupar. Logo estava saudável.
— Obrigada, doutora!
— Em breve irei trazer o diagnóstico.
Matthew a cumprimenta e eu ouço-os conversando. Ele diz que
o helicóptero a espera para voltar à cidade.
— Acho que as panquecas me deixaram assim. Estavam muito
gordurosas.
Ele sorri para mim, deposita um beijo na minha testa e pede
para eu descansar.
(...)
Quando meu jantar é servido no quarto, me sinto uma criança
sendo amamentada pela mãe. Meu marido me dá sopa na boca. Ele
está sendo gentil, atencioso, e reconheço sua preocupação comigo.
Agora está mais leve, parecendo feliz, e posso notar um certo brilho
no seu olhar.
Após finalizar minha refeição, Matthew liga a televisão em um
filme de comédia romântica para que eu possa assistir ao seu lado.
Acabo adormecendo várias vezes.
(...)
(...)
(...)
Nessa noite tive um sonho feliz com meu bebê. Era uma menina
linda de cabelos cacheados, pele negra e olhos azuis, como os do
meu marido. Estávamos passeando felizes em um belo parque
repleto de flores vermelhas e o sol entre as nuvens deixava o clima
perfeito.
Desperto com uma sensação estranha, como se estivesse
sendo observada. Olho em volta e, para a minha surpresa, a porta é
aberta, revelando o Matthew.
Por instinto, me levanto da cama e corro na sua direção para
lhe abraçar forte. Me sinto sozinha sem sua companhia.
Foi idiotice minha agir por impulso, mas eu precisava sentir seu
calor novamente.
— Calma, anjo! Estou aqui. — Ele pode sentir minha tensão
muscular. — Seu marido está de volta.
— Senti sua falta. — sussurrou baixinho.
— Eu também, meu amor. Vem! Senta na cama! Você não
pode ter fortes emoções. Isso não irá te fazer bem.
O olho confusa. Ele fala como se soubesse da minha gravidez.
— Você já sabe? Foi a Sabina que...?
— Não foi ela. Quando você desmaiou na ilha e a médica
recolheu sua amostra de sangue, soube naquela mesma tarde que
você está grávida.
Me sinto traída. Eu devia ter ficado sabendo disso.
— Você não achou que eu deveria saber da gravidez?
— Não era o momento certo, princesa. Tenho muitos inimigos e
seria um presente para eles saberem que minha mulher está grávida.
Foi necessário eu deixar que sua gravidez fosse mais adiante, antes
de qualquer coisa, para que assim tivesse a certeza de que está
tudo bem.
— Tenho medo de que seus inimigos possam...
— Irei proteger vocês dois de tudo e todos. — assegura.
— Confio em você.
— Nunca irei permitir que nenhum mal aconteça com vocês.
Por um instante, respiro aliviada. Pensei que ele não poderia
me proteger o tempo todo, como diz, e me lembro de tudo o que
passei nas mãos da sua mãe. Como ela irá reagir quando descobrir
da minha gravidez?
— Você é muito imprevisível. Eu não sei...
— Não sabe o quê, Elisa? — seu semblante irritado me causa
medo.
Ele sempre se mantém calmo diante de situações mais
preocupantes.
— Você me sequestrou e isso é tão horrível. Por que não estou
com raiva disso?
— Porque você consegue enxergar meu amor e que eu sou o
cara certo para você.
— Matthew, posso te pedir uma coisa?
— O que quiser, minha princesa. Te darei até o sol se me pedir.
Não sabe como estou feliz por saber que minha mulher me dará,
enfim, meu tão sonhado herdeiro.
Quanto a isso de herdeiro, como está no começo, não vou dizer
nada ainda, mas não aceitarei que meu filho seja criado para matar
pessoas, muito menos para se envolver com negócios ilegais. Só que
isso será uma conversa para outra ocasião.
— Posso pedir qualquer coisa?
Ele me sonda com suas órbitas azuis escuras. Às vezes tenho
a leve impressão de que ele se torna sombrio, como se houvesse
demônios em volta de si.
Essa é a minha chance de pedir algo que quero. Com certeza,
ele não vai me negar. Estou grávida. Sabina me disse algo sobre a
tradição de que quando a mulher de um líder engravida, ela tem o
direito de pedi-lo o que quiser.
— Sabina lhe contou sobre a tradição? Tudo bem, Elisa. Faça
seu pedido! — Cruza os braços.
Respiro fundo e digo de uma única vez, antes que a minha
coragem vá por água abaixo.
— Eu quero ver minha mãe.
CAPÍTULO 13
MATTHEW LANSKY
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
Essa foi a pior coisa que fiz na minha vida: mentir sobre minha
real identidade. A moça que me vendeu as passagens parecia estar
atenta, como se soubesse que eu estava mentindo, mas mesmo
assim liberou nossa viagem. Eu e minha mãe agora nos chamamos
Laura e Violeta Cardoso. Não entendi como ela tem todos esses
documentos falsos, que se assemelham a originais.
Ao entrarmos no ônibus, estaremos na cidade do nosso destino
em duas horas, Petrópolis. Minha mãe trabalhou uns anos para uma
senhora antes de eu nascer, e pelo que entendi, ela ajudou essa
mulher com alguma coisa importante. Isso a faz pensar que a mesma
não nos negará abrigo.
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
Desperto quando sinto uma enorme necessidade de ir ao
banheiro. Faço isso e aproveito para tomar um delicioso banho de
água quente, que eu estava precisando, para espantar um pouco do
frio. Depois me visto com um roupão.
A parte chata de molhar meus cabelos é ter que pentear os fios
cacheados cheios de nós. No entanto, o resultado final fica perfeito.
Adoro a maneira que meus cachos têm se comportando nos últimos
dias. Ou será que estou sendo mais grata àquilo que tenho? Michael
trouxe muita luz para a minha vida e me faz ver as coisas de uma
maneira diferente.
Por incrível que pareça, não estou mais parecendo um balão
ambulante. Diria que engordei cinco quilos, no máximo, mas creio
que metade desse peso se concentrou no meu bumbum, que está
maior do que o habitual, mais empinado do que nunca.
Coloco um dos meus vestidos preferidos com estampas e, por
fim, olho-me mais uma vez no espelho. Preciso focar na minha vida
pessoal a partir de agora, pois não posso depender somente da
generosidade da Luiza. Tenho que me ocupar com alguma coisa. Sou
inteligente e quase me formei em Direito, então posso assumir algum
tipo de negócio importante para a senhora Bovary. Lhe farei uma
proposta e torço para que ela aceite.
Anseio pela minha independência. Quero poder dar uma vida
digna à minha família e não quero que nada falte para o meu filho,
mas para isso preciso dar duro, como sempre fiz. Não sou bunda
mole e vida de madame não é para mim.
Respiro profundamente e fecho meus olhos, tentando pensar
apenas em coisas agradáveis. De repente me sinto inebriada pelo
perfume másculo que habita no ambiente. Não é possível que eu
ainda esteja imaginando coisas, mesmo após meu parto. Agora já
não tenho a desculpa de usar as emoções da gravidez para justificar
minha falta de lucidez. Mas eu estou muito lúcida, e não posso ficar
louca. Sei que há seu perfume no meu quarto.
Me viro vagarosamente, sentindo o cheiro ficar ainda mais forte
nas minhas narinas. Involuntariamente, ainda com meus olhos
fechados, procuro no espaço vazio por algum contato físico, quando
sinto uma das minhas mãos bater contra alguém. Imediatamente
abro minhas pálpebras e engulo em seco por tamanha surpresa.
Meus olhos não acreditam no que veem. Fico completamente
paralisada diante da imagem à minha frente. O terno impecável,
como sempre, os fios de cabelos cada um no seu devido lugar. Não
há sequer uma imperfeição física nesse homem. Seus olhos azuis
escuros me fitam com uma frieza que faz com que meu coração
acelere. Há ódio no seu olhar, e isso pode-se perceber facilmente.
Tenho certeza absoluta de que Matthew sabe que nesse
momento minhas pernas estão mais moles do que gelatinas. Me
sinto sufocada com sua presença, que dessa vez é ainda pior que a
anterior. Ele me odeia por eu ter fugido dele por todos esses meses.
Me pergunto como me encontrou. Como conseguiu invadir essa
propriedade? Então me lembro de que Matthew Lansky é o dono
mundo, o todo poderoso chefe da máfia americana.
Ele me olha de cima a baixo. Posso jurar que conseguiu
enxergar até a ponta dos meus dedos por fora da minha sandália
rasteirinha que estou usando.
O homem à minha frente não demonstra nenhuma emoção além
de todo o ódio que transcorre pelo seu rosto. Não parece feliz por
me ver, nem arrependido por tudo o que me fez, por ter me
sequestrado e me mantido presa ao seu lado. Odeio esses homens
que se sentem superiores a nós, mulheres.
Eu quero correr, mas minhas pernas não me obedecem. Elas
sabem, assim como eu, que isso não resolverá meu problema.
Certamente ele deve estar com um verdadeiro exército lá embaixo.
Meu Deus! A minha mãe! O meu filho! Será que Matthew fez
algum mal a eles?
— O que está acontecendo aqui? — pergunto com a voz
embargada.
— Finalmente será minha, bela morena! — sua voz soa tão
rouca, que me faz recordar do que aconteceu há mais de um ano,
quando eu estava voltando da Faculdade para casa. — Isso,
princesa! Usamos as mesmas palavras do momento em que nos
conhecemos. O destino adora nos unir, de uma maneira ou de outra.
Me encontro em choque ainda. Isso não pode ser real. Já tive
esses tipos de pesadelos antes, e esse só deve ser mais um.
— Você não é real! Não é real! — digo confusa e ao mesmo
tempo nervosa, tocando sua face para ter certeza de que realmente
ele é de carne e osso. — Você não pode ser real. Droga! É muito
real.
Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, molhando toda a
minha face.
— Você não acreditou que eu estava longe durante todo esse
tempo, né?
Suas palavras me deixam ainda mais preocupada.
Durante todo esse tempo, ele estava aqui, me observando
atentamente e seguindo cada passo meu dentro dessa casa? Será
que Luiza tem ajudado ele? Não quero pensar que fui traída por
todos esses meses.
— O que quer dizer com isso?
— Que você fugiu de mim, Elisa. Eu deveria te dar parabéns
por conseguir enganar aqueles seguranças idiotas e por ter aceitado
viajar clandestinamente com um pessoal que poderia ser perigoso,
se não fossem pessoas da minha inteira confiança.
Ele acabou de confessar que, por todo esse tempo, sabia onde
eu estava?
— Me subestimou, Elisa. Eu te dei todo o meu amor e você me
apunhalou pelas costas, fugindo de mim. Qual mulher não queria
estar em seu lugar?
— Você deveria ficar mesmo com aquela loira oxigenada. Ela,
com certeza, faz muito o seu tipo. — sarcasticamente, cuspi as
palavras contra ele.
— No momento não estou nem aí para seu ciúme. Você
cometeu uma infração grave e sua fuga terá consequências à altura.
— Consequências?
— Sim, Elisa. Você sabe o que isso significa? Estava disposta
até a reconstruir sua vida com outro homem. — se refere a uma
conversa que tive com minha mãe há uns dias. Ele tem escutas
dentro dessa casa? — Eu sabia que você iria atrás da dona Débora
e que ela iria procurar a Luiza, que não fez mais do que sua
obrigação em dar suporte a você até o final da sua gravidez. O que
foi bom para mim, em partes, pois ninguém sabia onde você estava.
Pelo menos trouxe nosso filho ao mundo, em segurança.
— Ele não é seu filho! É meu filho! — falo com posse.
— Não teste minha paciência com discursos falsos! Esse
menino é meu filho e você é a minha mulher! Vamos voltar agora
mesmo para Manhattan! Sem escândalos!
— Não! Eu não vou voltar com você! Sou livre, Matthew. Não
precisa ficar comigo apenas porque meu pai morreu salvando a vida
do seu.
Ele parece surpreso com minha revelação. Não contava com
que eu soubesse de tudo.
— Não preciso que fique comigo por causa de uma dívida.
Bastava apenas ter me dado alguns milhões, já que tem muito
dinheiro, e eu me daria por satisfeita. Talvez eu teria doado tudo para
a caridade, pois dinheiro sujo, para mim, não tem valor. — Ele me
olhava friamente. — Eu já lhe disse: não preciso da sua pena. Posso
muito bem encontrar alguém que me ame pelo que sou e que não
fique comigo apenas porque sou um estorvo.
Ele me puxa por um braço, com muita possessão. Parece um
louco me analisando como se procurasse por alguma imperfeição.
Mantém o olhar duro sobre mim e profere arrogantemente:
— Não seja boba, garota tola! Eu posso ter a mulher que quiser
aos meus pés, a beldade mais desejada do mundo, mas quero você,
porra! Porque, para mim, é a mulher mais bonita do mundo. — me
pega de surpresa, fazendo minhas defesas contra ele caírem por
terra. — Acha mesmo que eu estaria com você por causa de uma
simples dívida? Poderia ter lhe dado alguns milhões e tudo terminaria
bem no final, mas desde o primeiro momento em que te vi, soube
que você seria minha, antes mesmo de descobrir que era a garota
que eu estava procurando.
— Você é bom com as palavras. Pode até gostar de mim,
como está dizendo, mas isso não é amor. Sua obsessão por mim
passa de todos os limites da razão. Se aceitar ajuda, conseguirá se
curar disso. E não estou te pedindo nada demais. Só quero poder
viver em paz com meu filho e minha mãe, sem a sua presença. Eu
não te amo, Matthew Lansky! Eu não te amo!
CAPÍTULO 20
MATTHEW LANSKY
(...)
(...)
(...)
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(...)
Parte I
ELISA SANTIAGO
(...)
Tento não ficar abalada, mas cada olhar que aquela mulher me
dá, é como se estivesse cantando vitória por alguma coisa. Ela
parece muito satisfeita para quem passou por apuros minutos atrás.
Temo que possa fazer algo contra mim e meu filho. Nesse momento,
sinto um forte aperto em meu peito.
— Você está calada. Se quiser ir para casa, basta me falar.
— Estou bem. Não vamos perder a festa por causa de
ninguém.
Essa noite é do meu marido. Ele já discursou duas vezes e
todos os fotógrafos procuraram por ele, querendo bater uma foto do
grande empresário Matthew Lansky, que me surpreendeu hoje
falando de caridade. Eu não imaginava que meu marido seria capaz
de doar grandes fortunas, todos os anos, para crianças carentes.
Nessa noite, ele me mostrou mais uma vez que tem um lado humano,
que em meio a tantas trevas, também há luz em seu coração.
Matthew agora está conversando com alguns amigos e sócios
enquanto eu me divirto conversando com algumas mulheres da alta
sociedade. A maioria delas só fala em roupas e sapatos.
Vou com Laura ao banheiro. Ela me conta o quão difícil foi sua
vida, porque quando criança passou muita necessidade, e após a
morte de seus pais, não tinha para onde ir, até ser resgatada das
ruas pelo seu marido.
— Não foi nada fácil no início. Esses mafiosos se sentem
donos de nós, e ai de quem contrariar. Demorei para entender que
eu não deveria sentir medo do meu marido, porque mesmo sendo um
homem cruel, nunca me forçou a ser sua, diferentemente da maioria.
— Matt também nunca me forçou, mesmo comigo não
concordando com algumas de suas ações e opiniões. Sei que sem
ele, eu estaria, provavelmente, morta.
— Quero te dar um conselho, Elisa. Gostei muito de você e
posso ver doçura no seu olhar, assim como benevolência no teu jeito
falar. — Segura minhas mãos com firmeza. — Esse mundo não é
fácil para nós, mulheres, e se somos negras maravilhosas, tudo fica
ainda mais difícil. O preconceito sempre esteve ao nosso lado e
creio que levará muitos anos para que deixe de existir. O conselho
que te dou é que jamais abaixe a cabeça para ninguém. Você é linda!
Tenha sempre orgulho dos seus cabelos cacheados e da sua pele
negra.
— Eu tenho orgulho de mim e sempre terei.
— Posso ver nos olhos do seu marido o quanto ele é submisso
do seu encanto. Sempre o tenha na palma da sua mão! Mas não
com arrogância ou soberba. Seja gentil e carinhosa com ele e
sempre terá tudo aos seus pés!
Trocamos nossos contatos.
Após uma noite longa e cansativa, finalmente voltamos para
casa.
Meu quarto está iluminado apenas com a luz natural da lua, que
entra através dos vidros das janelas. Subo na frente, e antes de ir
para lá, vou ver meu filho. Ele está dormindo como o anjinho que é.
Finalmente posso tirar os sapatos, que já estavam me
incomodando. Estou me livrando do vestido, quando sinto o calor das
mãos dele me ajudarem a abrir o longo zíper.
Seus lábios distribuem beijos suaves em volta do meu pescoço
e suas mãos cheias de volúpia agarram meus seios com posse.
Aposto que foi assim pelo rapaz que me ajudou quando quase caí na
festa. Ele deveria estar grato por eu não ter caído e machucado o
bebê, mas seu ciúme e posse falam mais alto. Espero que não tenha
machucado o garoto.
A sensação que tenho é de que estou cada vez mais
apaixonada por esse homem.
Seus dedos brincam com meus mamilos endurecidos e logo
sinto sua ereção por trás de mim me furando com urgência. Posso
ouvir sua respiração pesada e o barulho da sua corrente sanguínea a
todo o vapor.
— Você é minha, Elisa! E isso nunca irá mudar. — sua voz
rouca sussurrou em meu ouvido, me fazendo arrepiar por inteira.
Em seguida ele me toma em um beijo apaixonado, cheio de
tesão. Rapidamente livrar-se de suas roupas e me faz sua com
urgência.
O sexo entre nós fica cada vez mais gostoso. Sou preenchida
por toda extensão do seu pau grosso e pulsante.
Meu homem está insaciável e não quer conversar. Me faz ficar
de quatro, e com muita sede, me penetra enquanto dá pequenos
puxões em meus cabelos e alguns tapas na minha face, me levando
à loucura
Não tenho dúvidas de que o amo com todas as minhas forças.
Adormeço em seus braços após uma longa noite, onde meu
marido me mostrou não somente no sexo que sou apenas sua, mas
também nas suas meias palavras de carinho.
— Eu te amo, morena! Para sempre te amarei!
CAPÍTULO 35
ELISA SANTIAGO
(...)
(...)
(...)
Pela manhã, faço minhas obrigações de sempre, cuido do meu
filho e me alimento bem, para garantir que o bebê em meu ventre
fique cada vez mais forte e saudável.
Um dia inteiro sem estar ao lado de Matt é cheio de incertezas
para mim. Ele que é o alicerce da nossa família, o nosso protetor.
Me sinto indefesa sem sua proteção. É como se todos à minha volta
não fossem de confiança, exceto minha mãe e Sabina.
— Veio pegar alguma coisa, Carlos? — pergunto ao entrar no
escritório do meu marido.
O homem está retirando algo de dentro das gavetas.
— Apenas uns papéis da empresa, senhora Lansky.
— O meu marido está bem?
— Não se aflija, senhora Lansky! Seu marido está em uma
reunião de negócios. Amanhã estará de volta.
— Carlos, será que você pode dormir na mansão hoje à noite?
De alguma maneira, ele me passa segurança, mesmo que eu
não goste dele por ter enganado minha mãe.
— Não se preocupe com nada, senhora! Desde ontem estou na
central com toda a equipe. Estamos protegendo a senhora e sua
família.
Desde quando me tornei uma pessoa tão sensível ao medo? As
ameaças feitas pela mãe do meu esposo me deixaram assim. Aquela
mulher parece ter poderes psicoativos, porque de alguma forma
entrou na minha mente e está conseguindo me manipular, me
deixando nervosa e assustada.
Devo estar enlouquecendo.
Todos têm razão: estou segura. Nada, nem ninguém, pode
invadir essa mansão sem ser visto pelo sistema de vigilância.
(...)
O sinal rastreado pelos meus homens nos leva até uma cabana
velha e abandonada, há mais de 20 vinte quilômetros de distância da
mansão. A estrada pela qual passamos estava cheia de buracos, a
área de zona rural. Noto a presença de fios telefônicos, constato que
há sinal nesta região.
Mesmo com uma mata densa mais à frente, vamos em uma
frota com mais de 100 homens armados até os dentes. Esse infeliz
do Hernandez aprenderá de uma vez a nunca mais ousar passar pelo
meu caminho, pois eu mandarei o cretino para as profundezas do
inferno, o lugar de onde nunca deveria ter saído.
Como não tivemos muito tempo para planejar um bom ataque,
pelas circunstâncias rápidas em que ocorrem os fatos, a única opção
que temos é seguir um plano traçado pelo Carlos. Após ele
conseguir rastrear o carro que saiu das proximidades da mansão
com o meu filho, fomos trazidos para este casebre nada sofisticado
para um bandido estar me esperando.
Tudo indica que isso possa ser uma cilada, em uma armadilha.
Já caímos em muitas ao longo dos anos, mas também somos muito
espertos quando o assunto é mandar nossos inimigos para a cova.
Hernandez e eu travamos guerras há mais de dez anos. Desde
que meu pai faleceu, ele quis instalar seus estabelecimentos de
merda na minha América, e como não aceitei, devido à má índole
que seu pai tinha em atacar os aliados, não quis me arriscar, mesmo
que isso me trouxesse problemas. Foi um risco que corri. E após
anos de combate, fizemos um acordo há quase dois anos, mas
agora o infeliz está jogando baixo raptando o meu filho. Ainda há um
boato de que seu pai morreu por causa do meu falecido sogro,
porém não há nada que prove isso.
Aperto mais o meu colete. Se conheço o homem, sei que ele
vai jogar ainda mais baixo do que costumam.
Alguns dos meus soldados descem dos veículos e começam a
cercar o local que, aparentemente, está abandonado. Seguro em
mãos meu calibre magno 365, carregado, desço do carro e vejo
Carlos ao meu lado fazendo minha segurança, como sempre. Esse
cara não é apenas um dos meus homens de confiança, mas também
é aquele que merece todo meu respeito.
— Senhor, talvez seja melhor uma equipe entrar na frente e
vasculhar o local. Em seguida, será a nossa vez. — ele sugere.
Estamos a uma certa distância do casebre e o dia está
parcialmente nublado. Aparentemente, nenhum capanga está
escondido na floresta, nem nas proximidades. Todo o caminho até a
entrada é inspecionado para ver se há bombas no local.
— O lugar está seguro, senhor. — um dos soldados avisa. —
Iremos entrar e procurar pelo bebê.
Os primeiros homens entram no local, quando ouço o choro do
meu filho. Não tenho dúvida de que é ele. Sem pensar duas vezes,
corro para dentro do casebre, que tem um espaço amplo, apenas
um armário velho empoeirado e umas folhas de capim seco, junto
com alguns baldes sujos com água. O cheiro está desagradável,
como se houvesse algo podre aqui dentro.
Me aproximo com cautela em direção ao armário de madeira e
cinco soldados tomam a minha frente, segurando escudos.
— Calma, Matthew! Pode ser uma armadilha. — Carlos avisa.
— Você também está ouvindo? É o choro do meu filho vindo
desse armário.
Ele me olha desconfiado e em seguida ordena para que abram
o móvel com cautela.
Meu coração está batendo descompassado dentro do meu
peito. Já enfrentei muitas operações antes, mas nunca a vida do meu
filho esteve em jogo. O meu pequeno garoto não é somente o meu
herdeiro, mas também o fruto do meu amor com Elisa, a minha
morena. Prometi a ela que levarei o nosso filho para casa em
segurança, então não posso falhar nessa missão.
Um dos soldados abre a porta, revelando uma mulher
amedrontada segurando o meu filho em seus braços. Ela está
tentando acalmar meu garotinho, que chora, sem entender nada do
que está acontecendo.
A mulher encara meus homens armados com os olhos
arregalados. Ela não aparenta ser do mundo da máfia. Está com a
face ferida e sua blusa manchada indica sangramento na região
acima dos seios.
Tomo a frente e pego o Michael em meus braços.
— Calma, filhão! Está tudo bem. O papai está aqui com você.
Não chora, não! A mamãe está em casa esperando por nós.
O moleque aos poucos vai se acalmando ao ouvir a minha voz.
Carlos pega a mulher, a puxando por um braço, e ela cai de
joelhos diante dele, que está com as mãos coçando em busca de
resposta.
— Quem é você, mulher? E por que estava com o bebê?
— Pelo amor de Deus, não me matem! Não sei nada. Não
raptei esse menino. Eu só estava voltando para casa, quando me
agarraram na rua e trouxeram para cá.
— Quem? Fale, mulher! — Rosno.
— Eu não sei, senhor. Uns homens mascarados. Não sei qual
idioma era aquele. Eu estava com muito medo. Não quero morrer.
— Se não quer morrer, então fale tudo o que sabe! — digo
furioso.
— Eu só entendi que havia um Hernandez. Esse nome foi muito
falado. O resto não compreendi muito bem. Sou uma médica, senhor,
e não fiz mal ao menino. Nem sei quem vocês são.
— Senhor, ela me parece falar a verdade. — Carlos diz seguro.
Ele nunca erra.
— Levem a mulher para fora e a interroguem até que ela diga
tudo o que sabe! Caso não fale, podem atirar no cérebro dela e
enterrá-la aqui mesmo.
— Por Deus! Eu não sei de mais nada, senhor! — Se levanta
com as mãos para cima e aponta para uma espécie de microfone
preso no seu cabelo.
Com os olhos marejados, sem fazer nenhum barulho, ela
levanta a blusa e mostra uma bomba em contagem regressiva presa
a sua cintura com uma corrente e cadeado.
Carlos tira o microfone que estava no cabelo dela, o quebra em
pedacinhos e depois disso o enterra debaixo do capim seco. Com
cautela, um soldado leva a moça para fora.
Quando saímos da cabana, meu filho já estava mais calmo,
sem ferimentos no corpo. Aparentemente não ingeriu nada que
pudesse comprometer sua vida.
Entrego-o para a equipe médica que está no carro de trás do
meu.
— Cuidem dele! — ordeno. — Se algo acontecer, eu acabo
com a vida de vocês!
— Seu filho está em boas mãos, senhor. — o médico confirma.
Carlos volta com a mulher, agora sem a bomba relógio.
— O que faremos com ela, senhor? — pergunta.
— Você disse que é médica?
— Sim, senhor.
— Por acaso presenciou alguém dando algo para o meu filho
engolir?
— Não. O bebê não comeu nada. Eu saberia se ele tivesse
sido envenenado, e pelo que eu pude compreender, os homens
armados só repetiam um nome: Elisa.
— Se a mulher não tiver culpa de nada, lhe dê uma boa quantia
para que fique calada, e mostre que se decidir dar com a língua nos
dentes, morre, assim como qualquer pessoa que ela ama nessa vida.
Um soldado vem correndo na minha direção, trazendo o meu
celular, que esqueci no carro.
— Senhor! Ligação de casa. É a sua sogra.
Ouço o choro da mulher na linha. Ela está nervosa e
desesperada. Temo que algo possa ter acontecido.
— Matthew, você precisa localizar a minha filha. Ela
desapareceu, não está mais na mansão. Encontrei um bilhete em
que ela disse que precisa proteger o filho.
Por um segundo não ouço mais nada à minha volta, o oxigênio
falta em meus pulmões e as vozes não entram na minha cabeça.
Elisa está nas mãos do infeliz do Hernandez, correndo perigo de
vida. Preciso salvá-la.
— Senhor, conseguimos capturar um maldito capanga do
Hernandez. O infeliz estava em uma das árvores, prestes a apertar
um botão que faria tudo explodir dentro de 5 hectares.
Dois soldados seguram o maldito, que tenta se libertar a todo
custo. Me aproximo dele, e sem piedade, cravo um punhal no seu
peito. Ele sangra até a morte. Depois disso, ordeno que queimem o
corpo do infeliz.
— Antes de morrer, o garoto deu o nome do mandante.
— Fale de uma vez, homem!
— A responsável pelo sequestro do seu filho foi a sua mãe,
chefe. Ela queria sequestrar sua esposa, mas foi impedida pelo
senhor Carlos, que a salvou. Levaram o menino como garantia de
que ela se entregaria.
— Senhor, quais são as ordens?
— A minha mãe já está morta há muito tempo, para mim.
Resgatem a minha mulher! Os demais vão pagar com a própria vida
pela audácia.
CAPÍTULO 39
ELISA SANTIAGO
(...)
Desperto em um quarto minúsculo e empoeirado. A única luz
que há no ambiente vem de uma pequena janela alta, pequena e com
grades. Sinto como se tudo estivesse girando. Há um cheiro forte
saindo de umas caixas que estão em cima de uma prateleira.
Tento procurar uma maneira de fugir daqui.
Minhas mãos estão presas para trás e minhas pernas estão
doloridas, assim como minha coluna. Eu gritaria se minha boca não
estivesse coberta por um pedaço de pano forte que aperta minha
nuca.
Me balanço de um lado para o outro na tentativa de escapar,
mas é em vão. Não é fácil se livrar de amarras. Não como o
Matthew disse que era. Vê-lo fazer, parecia tão simples.
Começo a suar frio e minha boca está seca. Deve ser uma
queda de pressão. Toda a minha preocupação é exclusivamente com
meus dois bebês. Esse em meu ventre ainda é tão minúsculo e já
está passando por muitas coisas, enquanto o meu príncipe está nas
mãos desses bárbaros. Sacrificaria minha vida para que tudo
terminasse bem no final.
Sei que Matthew vai nos salvar, pois prometeu que faria isso,
que voltaria para mim com o nosso filho. Tenho certeza que vai me
encontrar quando notar que estou usando um dos anéis com sinais
de rastreamento que ele me deu.
De repente sinto que alguém está atrás de mim. Tento me virar
para ver quem é e logo ele se revela à minha frente. Não deixo de
notar o tamanho do seu charuto na boca. Seus olhos verdes são
muito bonitos, assim como todo o resto. É um homem jovem com
algumas tatuagens no braço direito e cordões de ouro no pescoço
que devem pesar, pelo tamanho. Também ostenta alguns anéis
brilhantes nas mãos. Eu diria que esse é o tal do Hernandez. Bonito
como um anjo, perverso como um demônio.
— Eres más guapa en persona, morena. Ahora entiendo por
qué Matthew dijo que mataría si me atrevía tocar a su esposa (É
mais linda pessoalmente, morena. Agora entendo porque Matthew
disse que me mataria se eu ousasse tocar na sua mulher).
Compreendi poucas palavras porque às vezes o espanhol se
assemelha ao português. Como nunca fiz curso pra aprender a falar
o idioma fluentemente, não pude entender tudo. Ele me chamou de
morena e falou algo sobre o meu marido matá-lo. Os dois devem ter
conversado alguma coisa.
Meu instinto foi bater nele, como uma leoa que ataca o inimigo,
se eu não estivesse presa teria socado sua face até sangrar.
— O que você fez com o meu filho? Quero ele de volta, seu
maldito!
Ele aproxima seu rosto do meu, ficando quase da minha altura,
e aproveito para cuspir na sua face. Uma pessoa que é capaz de
sequestrar uma criança, não merece nada além de desprezo.
— Hermosa, você é muito atrevida. — Passa um lenço onde
cuspi. — Agora entendo porque Matthew te venera. Além de ser
muito bonita e atraente, também deve desafiá-lo. Confesso que
gostei da sensação que seu atrevimento me causou. Me deixou
excitado, morena. — Retira a mordaça da minha boca.
— Não me chame de morena, seu verme! Somente meu marido
pode me chamar assim.
— Ele também me disse que somente ele poderia tocar em
você, caso contrário, eu morreria. Vejamos! — O desgraçado aperta
uma coxa minha com a palma de uma das suas mãos e dos seus
lábios brota um sorriso safado. — Eu ainda estou vivo, mesmo tendo
tocado em você. Acho que seu marido não cumpre com as
promessas que faz.
Tento chutá-lo para me defender e ele se afasta, rindo de mim.
— Confesso que adoro sua braveza, mas se ousar afetar meus
países baixos, hermosa, terei que castigar você.
— Eu cumpri nosso acordo. Estou aqui. Me entreguei em troca
da liberdade do meu filho. Espero que você seja homem de verdade
e honre com sua palavra.
— Eu prometi libertar seu filho e fiz isso, bonita. Espero que
seu marido não tenha sido tolo e tenha percebido a surpresa que
deixei para ele na velha cabana. Se tudo acontecer como o
planejado, trarei você para assistir de camarote as notícias sobre a
morte dele.
Meu peito se aperta. Eu sei que Matthew é um homem astuto e
logo virá nos resgatar. Meu filho estará seguro se ele vai encontrá-lo.
— Me diga, Elisa! Esse é o seu nome. Você chegou a conviver
com o desgraçado do seu pai?
— Minha vida particular não é da sua conta.
— Seu pai foi um grande soldado. Você sabia que por culpa
dele o meu pai morreu?
Do que ele está falando? Matt nunca me falou nada sobre isso.
Eu sei que meu pai já matou muitas pessoas, mas se ele tivesse
matado um chefe de máfia, eu saberia, não é?
— Vou te contar, Elisa. Eu soube disso há dez anos. Até então,
pensava que meu pai faleceu por suicídio. Mas não. O seu pai o
matou e fez o meu parecer um fraco, um bobo da corte, diante
todos. Isso é imperdoável.
— Como você sabe que o meu pai é culpado?
— Eu recebi imagens que estavam guardadas com alguém que
daria tudo pra te ver morta.
Só existe uma pessoa nesse mundo que me odeia, e é a minha
sogra. Aposto que ela está aqui, que é a única responsável por tudo
o que está acontecendo.
— Sua sogra a odeia muito. Não vejo o porquê, já que você é
tão bonita. Eu daria qualquer coisa para tê-la para mim. Sabe, Elisa?
A mulher me convenceu a te matar, mas estou pensando seriamente
em não fazer isso. Depois que eu te levar para o meu país, ninguém
será capaz de te tirar de mim.
— Você só pode ser um doente. Prefiro morrer do que ser sua.
E para o seu próprio bem, é melhor que cumprir com sua palavra,
porque caso contrário, se meu filho estiver machucado, não vai
sobrar sequer um fio de cabelo seu pra contar a história.
Suas mãos asquerosas tocam a minha face, apertando meu
queixo com força.
— Só não te fodo agora, bonequinha, porque alguém está vindo
lhe dar boas-vindas. Fiz um trato com sua sogrinha de não te possuir
antes dela te ver. Em poucos minutos irei voltar, mas não se
preocupe! O nosso helicóptero vai chegar em menos de duas 2
horas. — Sai e fecha a porta.
Em breve irei encarar a minha sogra, que me odeia. Como é
possível que ela tenha colocado a vida do próprio filho em risco,
apenas por me odiar por eu ser negra?
Meu último pedido é que meu filho esteja bem e que o bebê
que eu carrego no meu ventre, não morra nas mãos de pessoas sem
coração.
CAPÍTULO 40
ELISA SANTIAGO
Parte I
ELISA SANTIAGO
Já sei que esse será o meu fim. Hernandez disse que vai me
levar para fora do país. Esse homem coberto por um capuz preto,
com certeza veio me buscar. Minha visão está meio turva, mas
mesmo assim consigo perceber de que se trata do meu algoz.
O homem está parado na minha frente e a única coisa que dá
para ver são seus olhos pretos, que me fitam de um jeito estranho.
Mas não é como se ele estivesse pronto para me matar. Parece
haver um sentimento muito nobre dentro dele. Não é possível que um
algoz sinta compaixão pelas suas vítimas. Não sentirá de mim.
Para essas pessoas que matam por prazer, eu sou apenas
mais uma vítima qualquer, mesmo sendo uma esposa da máfia. Aqui
não tenho prestígio, nem respeito.
Minhas costas estão doendo, assim como meu bumbum. Não
sei há quantas horas já estou sentada e amarrada com as mãos
para trás. Essa cadeira velha de madeira não é uma das mais
confortáveis, mas pelo menos tenho a esperança de que meu filho
esteja bem, são e salvo. Sei que o Matt vai cuidar dele com muito
amor e carinho. Mesmo eu sendo contra que algum dia ele se torne
um chefe da máfia, sei que jamais deixarei de amá-lo. Nem a morte
me faria esquecer do quanto amo o meu príncipe.
Temo pela vida das três pessoas que mais amo nesse mundo.
Talvez Hernandez tenha mudado de ideia e queira me matar.
Fecho meus olhos e espero a morte vir. Talvez ele saque uma
arma e me dê um tiro na cabeça. Se for assim, pelo menos terei uma
morte rápida, sem muita dor. Caso contrário, se ele desejar me
matar lentamente, terei que ser forte e suportar até o final, com a
certeza de minha dor não será eterna.
A escuridão se encontra ao meu lado e minha respiração está
pesada. Tudo me dói e me rasga, mas mesmo assim não irei morrer
gritando, para que todos se divirtam com o meu sofrimento.
A corda que prendia minhas mãos, de repente não está mais lá.
Foi cortada. Senti quando ela escorregou e caiu no chão.
Abro meus olhos rapidamente. O covarde do Hernandez deve
ter dado a ordem para que me matem em outro lugar.
O homem está segurando uma adaga muito afiada em suas
mãos, e sem dizer uma palavra sequer, me entrega o objeto pontudo
e pesado.
— Teremos que ser rápidos. Não temos tempo a perder. Me
siga e estará salva!
Ele abre a porta e dispara sem a menor piedade, segurando
uma arma em cada mão contra os soldados que estão lá fora. Todos
caem no chão e sangram até a morte. Uns morreram tão rápido, que
não tiveram tempo nem ao menos de lutar. Mais corpos vão caindo e
caindo... Alguns até tentam lutar, mas o homem é ágil e rápido.
Consegue eliminar todos em seu caminho.
Estou sem compreender o que está acontecendo. Se ele não
veio aqui para me matar, veio para me salvar? Quem o mandou?
Com certeza trabalha para o meu marido. Não há outra resposta
melhor do que essa. Se não, por que um desconhecido me ajudaria a
fugir?
Por fim, quando saímos do galpão, ele pede para que eu me
afaste. Um batalhão de soldados armados vem na nossa direção há
uma certa distância, que parece longe. Posso ver que Hernandez
vem junto com eles, trazendo consigo um fuzil em mãos.
— Você não vai fugir, Santiago! Se não morreu há dez anos, eu
mesmo terei o prazer de te matar!
Santiago? Hernandez chamou o homem pelo sobrenome do
meu pai? Ele está morto.
O homem tira a máscara preta da face e revela sua verdadeira
identidade. Não pode ser verdade. Seus cabelos são cacheados,
com alguns fios brancos, e o tom de pele é o mesmo que o meu.
Sim! Meus olhos não acreditam no que veem. Como é possível? Em
todos esses anos ele foi dado como morto. Meu pai está vivo!
— Para trás, Elisa! — Ele ordena. — Agora!
Me afasto como meu pai pediu, para o mais longe possível, e
quando estava há uma certa distância, ele aperta um botão, fazendo
com que tudo exploda em chamas. A fumaça e o fogo tomam meu
campo de visão, me impossibilitando de ver as coisas com clareza.
Algo bate contra a minha cabeça e me derruba no chão. Tudo à
minha volta está queimando e o calor das chamas é ardente. Mesmo
não estando tão perto delas, sinto seu ardor vir até mim.
Viro meu rosto para o outro lado e noto minha cabeça girando.
Acaricio minha barriga. Este será o meu fim?
Uma luz branca vem na minha direção, então mãos fortes e
calorosas me seguram nos braços dele. Seus olhos azuis divinos me
fitam com preocupação.
— Vai ficar tudo bem, morena. Eu estou aqui.
Nos seus braços posso me sentir novamente protegida.
(...)
(...)
Dias depois, encontramos uma carta que meu pai escreveu
pouco tempos antes de morrer. Nela diz os motivos pelos quais ele
não retornou após o ataque em que ocorreu sua suposta morte.
Durante todos esses anos, ele buscou provas de que a mãe do
Matthew foi uma mulher hipócrita capaz de matar o próprio marido.
Estamos na varanda do nosso quarto. Minha gestação está
tranquila e meu bebê vem crescendo saudável em meu ventre. Uma
linda princesa que se chamará Luna, a “iluminada”.
Foi uma emoção para mim saber que serei mãe de uma
menina. Não vejo a hora de poder tê-la em meus braços, pois para
isso acontecer, preciso estar sempre de repouso e evitar fortes
emoções até o nascimento. Vivi momentos tensos nas últimas
semanas.
Matthew faz de tudo para que eu não fique chateada. A reta
final da minha gravidez tem me deixado irritada, com mudanças de
humor inexplicáveis. Há momentos em que quero ficar sozinha, e
outros ao lado das pessoas que amo, mas se tem alguém com quem
desejo estar sempre, é o meu príncipe, meu pequeno Michael.
Espero que ele não sinta ciúme da sua irmãzinha quando ela nascer.
Às vezes o pequeno olha para a minha barriga e parece tentar
entender o que é aquela enorme camada de “tecido”, já em outros
momentos parece tentar arrancá-la de mim. São engraçadas as suas
reações.
(...)
(...)
(...)
5 anos depois
(...)
Fim!
SÉRIE “FAMÍLIA GREGO”
UM MAFIOSO: OCCHI NON AZZURRI
(Livro 1)
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