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Copyright © 2021 — Anne Miller

VIRGEM PARA O MEU CHEFE


2ª Edição digital: Setembro de 2021

Todos os direitos reservados. É proibido qualquer tipo de reprodução,


armazenamento ou transmissão desse livro sem a autorização por escrito da
autora. A reprodução não autorizada desta obra, total ou parcial, constituí
violação de direitos autorais. (Lei 9.160/98).

Capa: Anne Miller


Imagem: @Crello
Edição digital: setembro de 2021

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos
ou situações da vida real terá sido uma mera coincidência.

Precisa falar comigo?


E-mail: autoraannemiller@gmail.com.
Instagram: @iannemiller.
Nota da Autora

Esse livro foi anteriormente lançado como A Virgem Submissa do


CEO.

Enquanto estava escrevendo a segunda parte dessa duologia, notei que


o "CEO" no título poderia gerar uma confusão com uma antiga série de livros
que eu possuo — e que em breve estarei relançando.

Acreditem ou não, eu não pensei nisso antes de publicá-lo pela


primeira vez, no começo desse ano. Mas o fato é que quando mudamos o
nome de um livro na Amazon, não tem como só atualizar o arquivo dele,
você precisa obrigatoriamente fazer uma nova publicação. Então decidi ter
um pacote completo com uma capa novinha em folha.
Pensando nas minhas leitoras que adquiriram da primeira vez, optei por
um lançamento totalmente gratuito, para dar a oportunidade de todo mundo
ter essa atualização sem nenhum custo adicional.

A história ganhou uma nova revisão — com mudanças muito


superficiais, coisa de autora mudando vírgulas — e duas cenas novas. A
primeira está no Capítulo 07. Enquanto relia, notei que havia desperdiçado
uma ótima oportunidade de um momento engraçado e constrangedor entre o
casal. E a segunda no final do Capítulo 12, acrescentei uma informação
sobre um familiar de Alexandre. Com exceção disso, as mudanças se limitam
a alteração em alguns diálogos, tornando-os mais verossímeis.

Quero agradecer a todo mundo que leu a primeira edição e também a


quem está aqui, iniciando a segunda.
Espero que gostem do livro.

Obrigada e boa leitura.


Índice

Nota da Autora
Índice
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo
Conheça os Meus Outros Trabalhos
Anne Miller
Prólogo
Seis anos antes.

— Nem pensar, garota! — Jonas disse, arrancando o copo de bebida da


minha mão. Abri a minha boca para protestar, mas meu irmão foi mais
rápido: — Não me obrigue a levar você pra casa, Thais.

Poderia ficar ali e deixar claro sobre o quanto ele estava sendo babaca
comigo, mas não queria perder tempo com isso — ainda mais em minha
primeira festa de gente grande. De qualquer forma, não era como se eu não
detestasse o gosto amargo da cerveja. Admitia perfeitamente de que só peguei
aquele copo porque queria parecer mais descolada no meio de todos aqueles
universitários.

Depois da contagem regressiva para o ano novo, meu irmão avisou que
iria a uma festinha — ou, nas palavras dele, para um “after” — com os
amigos. Por outro lado, eu queria apenas ficar em casa, trancada no meu
quarto, escrevendo o conto que mandaria para um concurso literário,
entretanto, minha mãe insistiu para que eu saísse um pouco de casa e me
divertisse como uma garota normal da minha idade.
Mesmo detestando a forma constante em que dona Mariza tentava me
moldar, não achei uma má ideia e perguntei ao meu irmão se podia
acompanhá-lo. Ele, evidentemente, recusou-se a me levar, mas, por sorte,
meu pai interveio ao meu favor, dizendo-lhe: “se lá não cabe a sua irmã,
então também não cabe você”. Sem escolha, Jonas foi obrigado a ceder,
levando-me com ele.

Antes de me afastar do idiota do meu irmão mais velho, questionei: —


Você viu o Bruno por aí?

Eu me arrependi da minha pergunta estúpida assim que as palavras


deixaram a minha boca. Não havia contado ao meu irmão que convidei Bruno
para a festa. E, conhecendo Jonas, esperei por uma resposta furiosa, do tipo
“como assim você chamou o seu namorado idiota pra cá, garota?”.
Mas, para a minha surpresa, ele se limitou a dizer: — Não, não vi. —
Antes de se afastar, seguindo na direção dos amigos, ele completou: — Sem
bebida, hein?

Balancei a minha cabeça, confirmando e então tirei o meu celular do


bolso e mandei uma mensagem para o meu namorado, perguntando se ele já
havia chegado à praia.

— Você por aqui, princesa? — A voz grossa de Alexandre fez com que
eu me virasse, buscando pelo rosto dele. O garoto não conseguiu esconder o
tom de surpresa. — Esse tipo de festa nunca foi muito a sua praia.
Ele usava uma camisa branca de botão aberta, deixando o seu abdômen
à mostra. Seu cabelo dourado estava jogado para o lado e, mesmo com a
baixa iluminação, seus olhos cor de mel pareciam brilhar.

Alexandre era um dos melhores amigos do meu irmão.

Não.
Ele não era só isso.

Alex tornou-se um amigo para mim também. Devido a toda a sua


proximidade com o meu irmão mais velho, acabamos nos aproximando e, por
mais que eu adorasse negar a todo custo sempre que alguém fazia uma
piadinha idiota sobre nós dois, eu realmente gostava dele.

A minha paixão platônica foi um dos motivos para que eu desse um


jeito de arrumar um namorado, uma tentativa desesperada de esquecê-lo. Mas
as coisas não estavam saindo nem um pouco como eu havia planejado. Bruno
era um namorado atencioso e muito romântico — e disso eu não podia
reclamar —, mas estávamos indo devagar demais quando se tratava de outros
aspectos.

A verdade era que eu queria viver uma paixão ardente e cheia de


emoção, algo que pudesse me fazer sentir que não precisava mais alimentar
minhas fantasias irreais com o melhor amigo do meu irmão, mas cada vez
que nos beijávamos sentia totalmente o oposto, parecia algo frio, calculado e
sem emoção.
Às vezes, eu me perguntava se havia alguém que Bruno também estava
tentando esquecer. Mas sempre amarelava na hora “H”, com medo da
pergunta se voltar contra mim e eu ter que assumir os meus sentimentos,
dizer com todas as letras que estava usando-o para me curar de uma paixão
platônica.

— Aquela Thais careta que você conhecia ficou no ano passado —


respondi Alexandre, tentando não me intimidar com aquele seu olhar intenso
que parecia queimar o meu rosto.

Ele ficava ainda mais bonito sorrindo.


“Controle-se, Thais. Você tem um namorado” o meu subconsciente fez
questão de me lembrar.

— Você viu o Bruno?

— Aquele seu namoradinho frouxo? — ele respondeu de forma


debochada.
Fuzilei-o com o olhar.
— Foi mal — ele disse, num tom sarcástico demais para que soasse
como um pedido de desculpas. — Eu só acho que ele não é homem o
suficiente pra você, princesa... Só isso.

— Como assim, Alexandre? — indaguei realmente curiosa para ouvir


sua resposta. Mais do que isso, eu queria saber quem era homem o suficiente
pra mim. — Pra sua informação, Bruno é inteligente, atencioso e muito fofo.
— Viu só? Ele é frouxo, Thais! — o loiro prosseguiu, ainda com um
sorriso irritante na ponta dos lábios. Quando eu ia abrir a minha boca para
mandá-lo para o inferno, ele completou: — Eu aposto que ele ainda nem te
comeu.

Aquela sua última frase me deixou sem reação, totalmente atônita.

Talvez fosse porque ele tinha um pouco de razão, porque eu era virgem
e, pelo andar da carruagem — com toda a lentidão de Bruno —, continuaria
sendo. Ou então era porque eu secretamente nutria sentimentos por ele e ter
aquele tipo de conversa com o homem com quem eu sempre quis transar era,
no mínimo, muito constrangedor.
Como fiquei em silêncio, desconcertada demais para respondê-lo, Alex
continuou com a sua provocação: — Dica de amigo, se você não quiser
morrer virgem, é melhor trocar de namorado.

— Vai... vai se ferrar! — respondi já sem paciência para toda aquela


infantilidade.

Entendia que Alexandre devia estar bêbado, que já não tinha mais
controle daquilo que deixava a sua boca, mas, ainda assim, não deixava de
ser uma atitude imatura, uma atitude que eu não precisava tolerar.
Ainda com o meu rosto em chamas, dei cinco passos apressados,
afastando-me dele, mas não me pareceu ser o suficiente, então eu comecei a
correr, distanciando-me daquela parte da praia.

Para a minha infelicidade, o loiro me seguiu e me alcançou sem muito


esforço.
Alex tocou em meu ombro, fazendo com que eu me virasse.

— Ei... Eu sei que agi como um babaca.

Continuei em silêncio, sem encará-lo.

Queria que ele soubesse o quanto estava chateada com as suas


piadinhas de mau gosto.

A mão dele subiu, tocando o meu rosto, obrigando-me a olhar em sua


direção. Seus olhos cor de mel estavam enormes e aquela expressão de
cachorro molhado dele fez com que eu não conseguisse mais manter aquele
ódio.

— Sei que não mereço, mas você pode, por favor, me desculpar? — ele
sussurrou, praticamente fazendo um biquinho. — Não quero brigar com a
minha garota preferida no primeiro dia do ano.

Balancei a minha cabeça, aceitando as suas desculpas.

Afinal, como é que eu poderia continuar brava com ele?

Não poderia, não enquanto aquele sorriso continuasse roubando cada


um dos meus suspiros.
— O motivo pelo qual continuo te provocando você com essa
história... — ele riu e desviou o olhar, passando a observar a areia abaixo de
nossos pés. Pela primeira vez, enxerguei um Alexandre sem uma confiança
exagerada, ele parecia quase desconcertado diante dos meus olhos. — Acho
que não gosto de ver você com ele.

Lentamente, seu olhar retornou para mim, iluminando-me como um


farol. Suas mãos buscaram pelas minhas e assim que nós nos tocamos, eu me
arrepiei e esse arrepio levou o meu corpo para mais perto dele.
Seu rosto despencou sobre mim e quando me dei conta, estávamos no
meio de um beijo, mas não um qualquer, como os que eu costumava ter com
Bruno. Seu beijo incendiou meu corpo e inebriou minha mente de uma forma
que não sabia que era capaz de sentir. Mesmo com o gosto adocicado do
álcool em sua boca, aquilo estava sendo mais incrível do que todas as vezes
que havia sonhado acordada com esse momento.

E o melhor de tudo era que eu realmente podia sentir o quanto ele me


queria. Alex desejava-me intensamente, ao passo que continuava me
explorando com aquela língua habilidosa. Sentir a sua boca contra a minha,
seus dentes raspando em meu lábio inferior e a sua mão explorando-me, fez
com que o meu coração disparasse e, consequentemente, com que eu me
sentisse mais viva do que nunca.

— Eles... Todos eles estão certos, Alex... — sussurrei assim que nos
desgrudamos, rompendo o nosso beijo perfeito. — É verdade o que dizem...
Eu gosto de você.
— Eu também gosto de você, princesa — ele sussurrou ao pé do meu
ouvido com aquele hálito quente. Alex puxou-me, colando os nossos corpos,
permitindo que eu sentisse os seus músculos em mim. E como se isso já não
fosse o bastante, os seus lábios descerem em direção ao meu pescoço,
arrepiando-me dos pés à cabeça. — Acho que sempre gostei.

Nunca estive tão feliz em toda a minha vida.

Aquela era, sem dúvida alguma, a realização do meu maior sonho. De


repente, tudo o que eu sempre quis estava bem ali na minha frente, no alcance
da minha mão. E tudo o que precisava fazer era agarrar com força.

— Eu... eu não posso — sussurrei, detestando-me por estragar um


momento tão perfeito. Alex se afastou e me encarou nos olhos, mas não lhe
dei a chance de me dizer nada, explicando-me: — Preciso terminar com o
Bruno primeiro. Mas depois que fizer isso, eu prometo que serei
completamente sua, Alexandre Brandão.

Queria mais do que tudo continuar ao lado dele, ouvindo o som do mar
e sentindo o gosto daquela boca deliciosa, mas sabia que ir atrás do meu
namorado e colocar um ponto final em nosso namoro era o certo a ser feito.

Havia esperado tempo demais por esse momento, então não custava
aguardar um pouquinho mais.

Precisava acontecer da forma certa.


Estava sentindo um misto de felicidade e desconcerto, como se
estivesse na cena final de uma comédia romântica, quando a mocinha
finalmente fica junto com o galã. Ignorei tudo isso e simplesmente segui em
frente, deixando Alexandre para trás, que parecia bastante desconcertado
também.

Queria digerir aquele momento — algo que sonhei por muito tempo
—, aproveitá-lo sozinha, dividi-lo apenas com o céu estrelado e a areia pela
qual eu caminhava.

Peguei o meu celular para verificar se Bruno havia me mandado


alguma mensagem, mas não tinha nada, ele não havia nem visualizado.
Liguei, mas ele também não me atendeu.
Onde esse garoto havia se metido?
Como já tinha me afastado muito do restante das pessoas, pensei em
voltar, mas antes que eu pudesse fazer isso, avistei, a uns trinta metros, dois
garotos sentados na areia. Eles estavam tão concentrados que nem me
notaram. Eu teria ignorado se um deles não se parecesse tanto com o meu
namorado, a camisa vermelha — uma muito parecida com a que Bruno tinha
— era chamativa demais.

Aproximei-me lentamente para checar se era mesmo o garoto que


passei a noite inteira procurando. Contudo, quando estava a dez passos dos
dois, os corpos deles foram se aproximando lentamente para um beijo que me
paralisou.
O que me deixou colada na areia não foi o beijo, mas a confirmação de
que realmente se tratava do meu namorado.

Eles continuaram se beijando até que o outro garoto notou que tinha
mais alguém ali, observando atentamente a tudo o que estava rolando.

Instantaneamente, eles se afastaram.


Logo que me viu, meu namorado ficou petrificado, com uma expressão
ainda mais chocada que a minha. O outro menino simplesmente o largou ali,
abandonando-o para a conversa constrangedora que estávamos prestes a ter.

Eu não estava irritada por ter sido traída — e seria hipocrisia minha se
estivesse —, só estava confusa, sem conseguir assimilar muito bem o que
havia acabado de presenciar.

Quando o efeito do choque se quebrou, Bruno se levantou e


aproximou-se de mim com tanta cautela que parecia que ele havia se
levantado para desarmar uma bomba relógio. Assim que o garoto chegou
perto o suficiente para que eu pudesse observar o seu rosto iluminado pela
lua, notei que ele estava chorando.
— Thais... Eu... eu posso explicar... — ele sussurrou, claramente
desesperado. — Não... não é nada disso que você está pensando... Eu não
sou...

— Gay?
Essa palavra fez com que ele chorasse ainda mais. Foi como se ele nem
mesmo tivesse notado que eu havia feito uma pergunta. Bruno ouviu a minha
frase como uma afirmação, quase como uma ameaça.

— Por favor, não conta — ele se jogou no chão, literalmente


ajoelhando-se aos meus pés. Seus olhos azuis estavam cheios de lágrimas. —
Se os meus pais souberem, se eles souberam... Vão me matar... Eles vão me
matar, Thais.

— Calma, Bruno! — disse, abaixando-me e me sentando na areia junto


com ele. Eu o segurei pelos braços e trouxe os seus olhos para o meu rosto.
— Respira... Respira fundo... — Assim que ele o fez, deixando um pouco
daquele desespero angustiante de lado, completei: — Não... não se preocupa,
O.K? Eu prometo que não vou falar nada pra ninguém.
Ele passou a mão suja de areia sobre o rosto molhado pelas lágrimas.

— Me perdoa... Eu não queria enganar você, eu pensei que... — sua


respiração continuava ofegante e as palavras vinham todas emboladas. — Eu
achei que se namorasse uma garota, então talvez eu pudesse... — Seus olhos
tornaram a me encarar e ele completou: — Me desculpa...

— Não precisa se desculpar — tornei a dizer, esforçando-me ao


máximo para acalmá-lo. — Está tudo bem.
Ele balançou a cabeça e então eu o ajudei a se levantar. Usei a camiseta
vermelha dele para limpar um pouco da areia de seu rosto. E quando ele já
estava mais calmo, sugeri que deveríamos voltar e ele concordou comigo.

Fizemos todo o percurso em silêncio. Sentia que Bruno continuava


envergonhado demais para que pudéssemos conversar. Mas, de qualquer
forma, minha mente também estava longe, pensando no beijo perfeito que
tive com Alexandre, imaginando como seria finalmente tê-lo como meu
namorado, em como as coisas mudariam para mim.
— Não conta pra ninguém — ele repetiu, com a cabeça voltada para
baixo. — Pelo menos até eu conseguir sair dessa droga de cidade.

— Você pode confiar em mim — disse pegando a mão dele. Queria


muito passar conforto para Bruno, mas não tinha ideia de como acalmar o seu
coração. — Eu não vou dizer nada... — Forcei um sorriso e prossegui: — Só
acho que precisamos terminar esse namoro.

Ele concordou.
Bruno levantou a cabeça e me observou com os seus olhos azuis, que
continuavam marejados e sussurrou, ainda sem fôlego: — Obrigado por não
me odiar.

Aquilo me pegou desprevenida e fez com que eu me desse conta de que


já existiu alguém que o odiou ao descobrir aquele mesmo segredo.

Apertei a mão dele e tornei a sorrir.


— Eu jamais conseguiria odiar você.

Quando ia dizer que não existia nada de errado com ele e que também
já tinha a intenção de terminar o nosso namoro de qualquer forma, avistamos
um casal aos beijos, agarrando-se publicamente. Não era nada parecido com
o que presenciei com Bruno e o outro garoto, tampouco um beijo mais
apimentado, eles estavam “quase lá” — ou já haviam terminado e estavam
repetindo a dose.

E a pior parte não foi estarem fazendo isso ao ar livre, para que todos
pudessem ver, mas o fato do homem ser ninguém menos que Alexandre
Brandão.
Capítulo 01

Peguei a última caixa e a levei para o segundo andar, junto com todas
as outras. Contudo, assim que me aproximei da porta, paralisei
completamente, como se existisse uma barreira mágica, impedindo-me de
entrar naquele cômodo.

Lá no fundo, eu sabia qual era o problema, a maldita barreira que me


impedia de dar mais um passo.

Se colocasse aquela última caixa em cima da minha antiga cama, então


seria oficial, significaria que eu estava de volta à casa dos meus pais, que
havia retrocedido.

Respirei fundo e avancei, largando a caixa pelo chão do quarto, que


ainda estava todo bagunçado com a mudança. Não consegui deixar de sentir
um enorme sentimento de impotência, uma angústia que estava me
destruindo.
Se minha mãe não tivesse entrado no quarto, eu teria começado a
chorar.

— Vai ser tão bom ter você aqui comigo — mamãe sussurrou ao me
abraçar com força. Antes que eu pudesse abrir a minha boca, ela completou,
adivinhando exatamente o que eu lhe diria: — Vai ser temporário, eu sei
disso, querida. Mas, de qualquer forma, será ótimo ter você de volta.

Forcei um sorriso e tentei não transparecer o quanto aquela mudança


estava mexendo comigo. Não queria parecer ingrata com os meus pais, que
me estenderam a mão no momento que mais precisei de ajuda.
Quando ela deixou o quarto, para atender ao telefone que começou a
tocar no andar debaixo, organizei as minhas coisas no guarda-roupa recém-
montado e lembrei-me da minha casa, do apartamento que agora seria
alugado por outra pessoa.

“Você não tinha mais como pagar por ele” disse a mim mesma, como
se isso pudesse amenizar a dor no peito por ter que abandonar um lugar que
eu amava morar.

— O seu irmão acabou de ligar, disse que conseguiu uma entrevista de


emprego pra você na segunda — minha mãe anunciou toda sorridente, ao
entrar no quarto novamente.

Não.

Não.
E não.

Eu me recusava a acreditar que ela tinha feito aquilo.

Assim que ela me disse isso, lembrei-me do motivo exato pelo qual me
mudei da casa dela, há dois anos. Minha mãe não conseguia deixar de se
intrometer na minha vida e isso era extremamente irritante, mesmo quando eu
sabia que ela só estava tentando me ajudar.
— Eu já tenho um emprego, mãe — rebati cansada daquele assunto. —
Eu estou quase terminando o livro novo...

— Você precisa de um emprego de verdade — ela me interrompeu.

“Um emprego de verdade”.


Típico.

Sempre agiam dessa forma quando eu contava que trabalhava como


escritora.

“Tá, mas qual é o seu trabalho de verdade?” retrucavam na maior


parte das vezes. E eu não poderia me esquecer do clássico: “Escritora?
Legal, mas o que você faz pra pagar as contas?”.
Entendia que parte disso se devia ao baixíssimo número de pessoas que
consumiam literatura. E, é claro, ao número ainda mais baixo daqueles que a
financiavam. No entanto, sempre me irritei por não ser levada a sério, por ter
meu trabalho desacreditado até pelas pessoas mais próximas de mim, como a
minha mãe.

Há três anos, pensei que finalmente tivesse mudado isso, que me


tornaria uma exceção, uma autora de sucesso, calando a boca de todo mundo
a minha volta.

Para minha surpresa, graças ao conto melancólico que escrevi após a


pior noite da minha vida, eu ganhei um famoso concurso literário e isso me
fez fechar um contrato com uma das principais editoras do país e o meu
primeiro romance foi publicado logo depois. A tiragem havia sido tão grande
que, em poucos meses, podia-se encontrá-lo por diversas livrarias do país.
E isso foi como sonhar acordada.

Inúmeras fotos segurando o meu livro, a tão esperada noite de


autógrafos, as entrevistas nas rádios e em canais conhecidos no Youtube.
Estava quase me tornando uma subcelebridade, o que, pra mim, era algo
grandioso.

Tudo estava perfeito.


Perfeito.

Perfeito demais para ser verdade.


Dois meses depois, todo esse sonho transformou-se num grande
pesadelo; os livros encalharam em todas as livrarias e eu me tornei um case
de marketing para editoras, basicamente “o que você precisa saber para não
fracassar como essa autora aqui!”.

Foi humilhante e muito, muito doloroso. Passei o próximo ano inteiro


sobrevivendo com o que ganhei no começo, quando o meu livro ainda estava
vendendo. E esforcei-me ao máximo para terminar um novo título e quando o
finalizei, a editora não quis nem saber de mim.

Quem poderia culpá-los?

Sem escolha, eu o lancei de maneira independente e, novamente, foi


um fracasso.

Sem dinheiro, as contas foram se acumulando. Nem mesmo os eventos


literários — onde eu conseguia vender mais livros — conseguiam me ajudar
a manter aquele padrão de vida, que já não era dos melhores. Então, há
aproximadamente uma semana, quando o meu aluguel venceria, pelo segundo
mês seguido, decidi que estava na hora de dar alguns passos para trás e voltei
para a casa dos meus pais.
— Eu pensei que tivesse sido bem clara sobre isso, mãe — respondi,
querendo encerrar aquele assunto.

— Mas, filha, o salário é bom, tem até plano de saúde e quase


oitocentos reais só de vale alimentação... Nem eu ganho isso, Thais — ela
argumentou não me deixando correr daquela discussão. Ao notar o meu
olhar, que desabou tão rápido quanto a minha carreira literária, dona Mariza
se aproximou de mim a passos lentos, como se gritasse que não queria uma
guerra. — Eu não estou dizendo pra desistir dessa coisa dos livros... Mas,
nesse momento, você precisa arrumar uma forma de pagar as suas contas.
Depois de me dizer isso, ela deixou o quarto, abandonando-me com os
meus pensamentos, que conseguiam ser ainda piores do que o seu olhar de
decepção. E, lá no fundo, eu sabia que estava na hora de seguir em frente, de
encontrar uma coisa nova pela qual valia a pena sonhar.

E isso me fez gritar a contragosto do quarto: — Fala pro Jonas que eu


vou ir à porcaria da entrevista.
Capítulo 02
Um mês depois.

— BOM DIA, SENHOR! — disse assim que um homem grisalho


parou em frente ao balcão. — Como posso ajudá-lo?

Repetia essas palavras durante o dia todo.

Estava há quase um mês trabalhando como recepcionista de um hotel


cinco estrelas. Como eu não tinha experiência em nada que não fosse os
livros que tinha escrito e fracassado, foi tudo o que Jonas, o meu irmão mais
velho, conseguiu me arrumar.
Por mais que detestasse com todas as forças o meu novo trabalho, eu
estava conseguindo pagar as minhas contas e isso já era um começo.

Assim que o cliente se afastou, Marcela — ou “Martelinha”, como todo


mundo a chamava pelas costas — puxou-me para o canto do salão, afastando-
me dos outros funcionários. E, antes mesmo que ela abrisse a boca, sabia que
ganharia uma “martelada”.

— Você gosta mesmo desse trabalho? — ela começou, com os olhos


escuros fixos em meu rosto. Mesmo aparentando ser uma pergunta retórica,
apenas uma pequena parte do sermão que teria que ouvir, balancei a minha
cabeça positivamente, mentindo na cara dura. — Não parece, Thais. — Ela
não me deu tempo de me defender e emendou: — Trabalhamos num dos
hotéis mais requisitados desta cidade, mas ninguém vai querer se hospedar
aqui se chegar no balcão e olhar pra essa sua cara feia.
Abri a minha boca para rebater aquela grosseria, mas ela foi mais
rápida do que eu: — A partir de hoje, não quero olhar pra você e não
encontrar um sorriso enorme no seu rosto. Se isso tornar a acontecer,
infelizmente serei obrigada a demitir você.

Martelinha nem esperou pelo que eu tinha para lhe dizer — algo que
rimaria muito com “fruta” —, simplesmente se virou e tornou a passear pelo
hotel como se fosse a dona dele.
Despedir-me?

Filha da puta.

Aquela cretina não tinha autoridade pra isso — pelo menos, não fora de
sua mente alucinada.
Marcela era uma recepcionista a quem o nosso chefe, Sérgio, atribuiu o
título de “supervisora do setor”. Não havia sido nem uma promoção, era só
um título tosco para inflar um pouquinho o ego dela. Entretanto, isso subiu à
cabeça de Marcela a ponto de ela realmente se achar no direito de nos dar
broncas — ou “marteladas” — sem sentido a cada dois dias.

Por inúmeras vezes, precisei me segurar para não mandá-la para o


inferno. Contudo, sabia que se fizesse isso, as coisas ficariam ainda mais
insustentáveis e, no fim das contas, acabaria tendo que deixar o emprego.

Quando estava prestes a voltar para o meu posto e colocar um sorriso


tão forçado que faria aquela desgraçada se corroer em ódio, ouvi uma voz
familiar que gelou o meu estômago.
Não.

Isso não podia estar acontecendo.

Eu me recusava a acreditar.
Em uma tentativa de me tranquilizar, minha mente gritou: “não, não é
ele!”.

Por mais que quisesse muito acreditar nisso, tive que me virar para tirar
a prova real, para confirmar que havia apenas me confundido, que meus
ouvidos estavam me pregando uma peça depois da martelada que tinha
recebido de Marcela.
Assim que lancei meu olhar, tive a certeza, realmente era Alexandre
Brandão quem falava concentrado ao celular. Porém, para a minha sorte, ele
parecia não ter me visto ainda. Meu coração quase saiu pela boca e fui
tomada por um enorme desejo de sair correndo dali com o rosto escondido.

Meu deus, que vergonha!

Achei que nunca mais o veria novamente e realmente desejei isso com
todas as minhas forças. Depois de tudo que havia acontecido, ou melhor, do
que eu havia feito após aquela noite na praia, eu torcia para nunca mais ter
que encará-lo.
Mas ali estava ele e, para meu desgosto, o infeliz continuava mais
bonito do que nunca.

Seu cabelo loiro, num topete para o lado, parecia mais hidratado do que
o meu. Sua barba perfeitamente aparada e seu sorriso contagiante tornava
difícil detestá-lo. Seu terno de corte italiano, encaixando-se perfeitamente ao
seu corpo, fazia qualquer uma desejar vê-lo sem toda aquela roupa.

Escrevi dois livros e, em ambos, aquele cretino tinha me servido de


inspiração.
Patético?

Com toda certeza, mas eu estava ciente disso.


No mesmo segundo, olhei para o lado procurando um lugar para me
esconder, qualquer buraco onde pudesse me enfiar, até que ele deixasse o
meu campo de visão. Mas, infelizmente, não tive muito tempo, assim que dei
três passos, os olhos cor de mel dele se voltaram na minha direção e foi
instantâneo: ele me reconheceu.

O desgraçado me reconheceu.
Era isso.

O meu fim.

“Descanse em paz, Thais Pontes. Sua vida foi podre e curta.” disse
mentalmente, como se realmente pudesse morrer a qualquer momento.
— Thais?

Como não podia desaparecer magicamente, limitei-me a sorrir, como


se vê-lo ali, na minha porcaria de emprego — no auge do meu fundo do poço
—, fosse uma surpresa minimamente agradável.

— Alex? — respondi como se estivesse surpresa e, enquanto ele se


aproximava de mim, completei: — Quanto tempo!

Pensei que ele fosse parar à minha frente para conversarmos, mas
Alexandre continuou se aproximando e me pegou desprevenida ao me
abraçar — um abraço que saiu meio desajeitado, comigo completamente sem
jeito com toda aquela proximidade.

Enquanto os braços musculosos dele me envolviam, eu só conseguia


pensar naquela noite na praia, a melhor e também a pior noite da minha vida.

E nossa, como ele continuava cheiroso...


“Pare agora!” ordenei para a minha mente safada.
— Está hospedada aqui no hotel? — o loiro questionou assim que nos
afastamos. — Que coincidência encontrar você.

Não sabia se ele estava tentando ser gentil ou se realmente não tinha
notado o meu uniforme de trabalho, pois existia, literalmente, uma logomarca
do hotel estampada na minha camisa.
Eu diria apenas um “não” e torceria para que ele não me fizesse outra
pergunta, obrigando-me a revelar que era a recepcionista. Entretanto, por
algum motivo estúpido, apenas balancei minha cabeça confirmando que era
uma hóspede.

Sentia-me muito mal por estar mentindo daquela forma. Nunca fui do
tipo mesquinho de pessoa que achava que algum trabalho não era digno a
ponto de justificar com uma mentira, mas Alexandre era a última pessoa que
eu queria que soubesse sobre o meu fracasso profissional.

Afinal, já não bastava eu ter voltado para a casa dos meus pais?
— Sabe qual foi a última vez que eu vi você? Num programa matinal
de domingo, há uns dois anos — ele prosseguiu com um sorriso gostoso nos
lábios rosados. — Você estava falando sobre o seu livro, sobre o sucesso que
ele estava fazendo e...

— Por que você não está na portaria? — Marcela disse num tom
áspero, aproximando-se da gente como se fosse o próprio ceifador, levando-
me depois da minha morte por vergonha. — Eu já não cansei de dizer que
nada de bate-papo durante o expediente?

O meu rosto esquentou tanto que tinha certeza absoluta de que ele
devia estar parecendo com uma pimenta, assim como sempre acontecia
quando me sentia envergonhada.
Eu não era uma pessoa briguenta — na verdade, era justamente o
oposto, evitava conflitos sempre que podia —, mas nunca senti tanta vontade
de socar a cara de alguém como naquele momento.

Com um sorriso completamente sem graça e sem encará-lo, admiti: —


Eu trabalho aqui como recepcionista. — Voltei o meu olhar para a
desgraçada da Marcela e disse, num tom bem sério: — Você pode nos dar
licença, por favor?

Ela abriu a boca para retrucar — e, provavelmente, lembrar-me de que


era a supervisora da casa do caralho e que iria me demitir se eu não voltasse
para o meu posto —, entretanto, antes que ela tivesse chance, Alex se virou e,
pela expressão do rosto dela, a minha “chefe” parecia conhecê-lo também.

— Desculpe-me pela intromissão, senhor... — ela disse, parecendo


ainda mais envergonhada do que eu estava. — Perdão... Vocês dois se
conhecem?

Ainda com aquele sorriso charmoso, Alexandre respondeu: — Isso não


é da sua conta. Agora, pode nos dar licença? Você está nos atrapalhando.
Todo o desconforto daquela bruxa pareceu melhorar o meu, que fiquei
mais à vontade ao vê-la retornar para perto do balcão com o rabinho entre as
pernas, depois de levar uma baita martelada na testa.

— Desculpa... Eu não deveria ter mentido pra você — disse a ele,


finalmente criando coragem para encará-lo. Depois de um sorriso amarelo,
ainda desconcertada, completei: — O meu livro... Não deu muito certo...
Enfim, eu sou uma das recepcionistas do hotel, trabalho aqui há quase um
mês.

Ele sorriu e finalmente leu o nome do hotel na camisa azul do meu


uniforme.
Alex voltou o olhar dele para o seu relógio de pulso e tirando-nos
daquele assunto desconfortável, disse-me: — Quase meio-dia. Por que você
não almoça comigo? Conheço um restaurante incrível aqui perto.

— Eu adoraria, mas a Marcela não vai...


— Não precisa se preocupar com isso, deixa essa parte comigo — ele
me interrompeu com o sorrisinho travesso que continuava nítido em minha
memória. Abri a minha boca para recusar, mas, como era de se esperar vindo
de Alexandre Brandão, ele não permitiu um “não”: — Vai recusar um
convite de um amigo que você não vê há anos, princesa?

Princesa?

Se eu já não estivesse torrada de vergonha, teria ficado quando ele me


lembrou da forma como costumava se referir a mim.
Isso me fez rir e responder: — Eu só aceito se você parar de me chamar
assim.

— Negócio fechado — ele disse e estendeu a mão como se realmente


estivéssemos negociando.

Eu a apertei e aquele simples contato me deixou arrepiada, levando-me


de volta para o tempo em que eu ainda era uma garotinha boba e inocente,
tendo os meus primeiros sonhos eróticos com ele.
— Espere por mim aqui, por favor — ele comentou, antes de começar
a caminhar na direção do balcão e, consequentemente, de Martelinha.

Trinta segundos depois, ele retornou e anunciou: — Consegui uma


folga pra você pelo restante do dia. De nada.

Com um sorriso incrédulo no rosto e extremamente curiosa, indaguei:


— Como... como foi que você a convenceu?
— Acho que foi o meu charme — Alex brincou, roubando-me um
sorriso. Como continuei encarando-o em silêncio, ele prosseguiu: — Sendo
sincero, talvez não tenha sido somente o meu inegável charme... — Por fim,
depois de eu manter o meu olhar, exigindo saber o método usado por ele, o
meu velho amigo confessou: — Sou o dono do hotel.
Capítulo 03

Sempre soube que Alex era rico.


No passado, no auge dos meus dezessete anos, costumava frequentar a
casa de praia luxuosa que a família dele tinha. Naquela época, tomar sol na
lancha do pai dele era o ponto alto do meu mês. A minha primeira e única
viagem internacional — numa excursão para a Disney — havia sido custeada
pela família dele.

Conhecemo-nos através do meu irmão mais velho, Jonas, que sempre


foi o filho prodígio da família. Esforçado, ele conseguiu uma bolsa para
estudar Direito numa das faculdades particulares mais renomadas do país,
onde conheceu Alexandre, que cursava Administração. Eles se tornaram
melhores amigos e isso foi uma ponte para nos aproximarmos.

Eu ainda era uma garota que vivia num mundo fantasioso, sonhando
com os príncipes dos contos de fadas — e foi daí que veio aquele maldito
apelido. Então, quando coloquei os meus olhos naquele playboyzinho
marrento e gostoso, foi paixão à primeira vista.

Alex também não facilitava, sempre sendo muito atencioso e um


pouquinho safado, sussurrando “princesa” ao pé do meu ouvido sempre que
tinha uma oportunidade. Mas isso nunca passou de um amor platônico, até
aquela noite na praia, quando ele me deu o melhor beijo da minha vida. A
parte mais irônica era que tudo isso aconteceu justamente quando desisti de
alimentar falsas esperanças de um romance entre nós dois.

Nessa época, eu ainda estava forçando um namoro com Bruno, um


relacionamento só teve início porque eu estava desesperada para tirar
Alexandre da minha mente — e porque Bruno tentava tirar todos os garotos
da dele.

A noite da praia foi marcada por dois flagras; primeiro vi Bruno


beijando um garoto e isso estranhamente fortaleceu ainda mais todo o carinho
que eu sentia por ele e depois avistei Alex, colado com uma garota qualquer,
ignorando completamente o fato de que havia me beijado há pouquíssimos
minutos.

Quando o vi com aquela menina — logo depois de me permitir sonhar


com isso novamente —, meu mundo desabou. Fiquei tão deprimida que
passei a me culpar, questionando se eu havia sido clara o suficiente quando o
deixei para procurar por Bruno, perguntei-me se eu não deveria ter dito com
todas as letras que eu o amava.

O “e se” me assombrou por uma semana inteira.

E isso só terminou quando tive uma conversa com Bruno, que me


aconselhou a ir atrás de Alexandre.
“Não deixa um mal-entendido destruir isso” ele sussurrou, abençoando
aquela minha loucura.

E foi exatamente isso o que eu fiz.

Mesmo detestando-me eternamente por isso, fui completamente sincera


com ele, disse toda a verdade, que não se limitou a um “gosto de você”,
como naquela noite. Contudo, declarei-me da forma que eu conseguia fazer
de melhor, escrevendo.
Como uma boa aspirante a escritora, eu lhe escrevi uma cartinha —
daquelas que vão se desenrolando como um rolo de papel higiênico —, que
havia rascunhado por vários dias.
No entanto, ele, como se não fosse apenas cinco anos mais velho do
que eu, respondeu-me dias depois: “você é muito novinha pra mim, princesa.
Eu não devia ter beijado você naquela noite... É melhor a gente esquecer o
que aconteceu”.

Depois do seu amável chute, deixei de frequentar a casa dele e nunca


mais nos vimos. Nas vezes que ele foi à minha casa, acompanhado do meu
irmão, escondia-me para não ter que olhar para ele, de tanta vergonha que
sentia.

Um ano mais tarde, assim que começou a estagiar num escritório de


advocacia, Jonas se mudou e as visitas de Alexandre se encerraram de vez.

Agora, depois de reencontrá-lo naquele hotel — e de descobrir que ele


era o dono —, estava claro que o meu irmão havia pedido para a família dele
me empregar.

— Jonas me mandou um e-mail, perguntando se eu tinha uma vaga


numa das empresas, mas ele não disse que era pra você, então eu apenas
reencaminhei pro RH do hotel — Alex me explicou, assim que deixamos o
meu local de trabalho. — Se ele tivesse me dito...
— Obrigada — eu o interrompi, ainda sem graça com toda aquela
situação. — Você já me ajudou bastante, mesmo sem saber pra quem era a
vaga.

Não sabia se o meu irmão secretamente me detestava ou se realmente


não pensou que ter Alexandre como o meu chefe era uma das piores coisas
que poderiam ter me acontecido.

Aproximamo-nos de um veículo escuro e um motorista abriu a porta


para que entrássemos no carro, pouco antes de nos cumprimentar: — Boa
tarde, senhor... E senhorita.
— Boa tarde — fiz questão de responder, adorando ter sido chamada
de “senhorita”. Definitivamente, era a primeira vez que isso me acontecia.

— Mas e aí, como que estão as coisas? — ele questionou, voltando o


olhar pra mim. — E o seu irmão, está bem? Faz um tempão que eu não o
vejo. Antes de receber aquele e-mail, a última vez que soube dele foi quando
liguei para tentar contratá-lo. — Depois de sorrir, ele acrescentou: — Mesmo
com uma boa oferta, ele não aceitou, disse que não podia se desligar do
escritório.

Poderia dizer “eu o vejo tanto quanto você”, mas optei por responder:
— Jonas está bem, ama trabalhar naquele escritório... Não é nenhuma
surpresa ele ter negado a sua proposta.

Depois que o meu irmão se mudou, nos víamos pouquíssimas vezes no


ano, apenas em alguns eventos como Natal e Ano Novo, nos quais ele se via
obrigado a aparecer. Ele estava num outro círculo social e, infelizmente, isso
não me incluía — e nem aos meus pais, que passaram anos economizando
cada centavo para as despesas adicionais da faculdade dele.

Conversamos sobre algumas das memórias que compartilhávamos


daquele tempo. Evidentemente, nenhum de nós falou sobre o nosso beijo
naquele fim de ano e nem sobre a minha declaração tosca.
Ainda bem.

Alex estava sendo tão gentil que eu não conseguia manter aquela birra.
Sabia que, em parte, a culpa havia sido minha, por me iludir com um beijo
que era somente isso, um beijo, e ver estrelas num céu tempestuoso. Amamos
culpar o alvo de nossa paixão — ou obsessão — nos casos de amor platônico,
mas nos esquecemos de todas as vezes em que alimentamos isso, de todas as
vezes em que sonhamos acordadas com coisas que, evidentemente, não
aconteceriam.

Estava convencida de que se ele não tivesse bebido naquela noite,


aquilo nunca teria acontecido. Como ele mesmo havia admitido pra mim,
nunca passou de um erro, de algo que ele preferia esquecer.
O carro estacionou e, assim como fez para que entrássemos, o
motorista abriu a porta. Achava isso tão besta, pois tanto eu quanto Alex
tínhamos mãos e poderíamos desempenhar algo que era quase instintivo.

Nem adentramos o restaurante e já tinha uma recepcionista para nos


levar até uma das mesas. E isso me fez perceber que não eram as pessoas que
“faziam questão”, mas que o homem ao meu lado tinha esse perfil, de se ver
sendo cultuado como um rei por onde passava.

Nunca havia estado naquele lugar. Pela aparência de seu interior,


contudo, tinha certeza de que me assustaria até com o preço de uma
garrafinha de água com gás.
Assim que nos acomodamos, um garçom se aproximou e tirou os
nossos pedidos.

Alex pediu um prato que eu não conhecia e eu me limitei a uma salada


e um copo de água com gelo e limão. Não existiam preços no cardápio e
tinha certeza de que as únicas coisas que poderia pagar eram justamente as
que eu havia pedido.

— Que loucura encontrar com você, princesa — ele comentou rindo,


parecendo estar realmente muito animado com o nosso reencontro.
— Você prometeu, hein? — disse referindo-me ao seu apelido bobo.
— Negócios são negócios, senhor Brandão.

Ele concordou com um aceno de cabeça.


— Mas existem coisas que nunca mudam — comentou encarando-me
nos olhos e bastou isso para fazer meu coração voltar a acelerar. Ele estava
tentando dizer alguma coisa ou eu, mais uma vez, já havia começado a
fantasiar? — Falando em negócios, você tem experiência em quê, além dos
livros?

Eu sabia exatamente o que ele estava fazendo.


E não queria.

— Não precisa. De verdade, Alex — respondi de forma séria, não


querendo nenhum tipo de caridade da parte dele. — Eu adoro trabalhar no
hotel.

— Sua mentirosa.
Isso me fez rir e eu não tinha como me justificar, já que ele presenciou
a ceninha que Marcela fez lá no salão, só por eu estar parada conversando
com ele.

— Deixa de marra — Alexandre tornou a falar. — Você costumava ser


a minha garota, lembra? Então deixe-me cuidar de você.

“Você costumava ser a minha garota”.

Era isso.

Definitivamente.

Esse tipo de coisa que fazia com que mulheres como eu se


apaixonassem por caras como ele.
Mas dessa vez eu não cairia nessa.

De jeito algum!

Não de novo.
— Não tenho experiência em nada e, por isso, só conseguiram me
encaixar como recepcionista — disse com a nítida sensação de estar ouvindo
a voz da minha mãe no meu subconsciente: “olha só pro seu irmão. Você tem
que fazer uma faculdade e largar essa coisa dos livros”.

— Eu acho que tenho uma coisa pra você. Não é perfeito, mas o salário
é bem melhor que o de recepcionista. — Antes que ele pudesse matar a
minha curiosidade e revelar qual era a vaga, as nossas comidas chegaram.

Tive um desânimo ao bater o meu olho na salada, por mais linda que
fosse a apresentação do prato. Sentia-me no Master Chef, mas, ainda assim,
era uma droga de salada e eu estava morrendo de fome.

E acho que isso ficou evidente, pois ele questionou: — Quer provar um
pouco do meu?

Mas havia um sorriso de canto em seus lábios, que fez uma forte
sensação de calor emergir entre minhas pernas.
Balancei a cabeça de imediato, recusando.

— Imagina, não... Eu adoro salada.

— Vem cá — ele disse num tom de ordem e, fazendo-me mudar de


cadeira, sentei-me bem ao lado dele. Pelo jeito ele ainda tinha esse efeito em
mim, de me fazer obedecê-lo com prazer, sem questionar. Alexandre colocou
o prato dele no meio de nós dois e prosseguiu: — A comida daqui é
fantástica.
Fazíamos isso no passado. Nós dois costumávamos dividir o mesmo
prato durante as refeições. Simplesmente nos sentávamos no chão e
comíamos, brigando pela comida numa épica luta de garfos.

Eu não pegaria, mas ele não me deu muita escolha ao praticamente


enfiar o garfo dele dentro da minha boca.

Alex abriu um sorriso ao ver minha boca cheia com aquele pedaço
suculento de carne. E não sei por que fiz isso, mas enquanto mastigava,
instintivamente levei meu olhar para baixo, e vislumbrei suas coxas grossas
junto daquele enorme volume entre suas pernas, que tantas vezes encarei no
passado, imaginando como deveria ser.
— Você gostou? — ele me perguntou, fazendo-me desviar
rapidamente o olhar, com o rosto queimando. — Da comida, você gostou?

Talvez fosse meus pensamentos impuros ou apenas minha fome, mas


realmente estava delicioso. E, como minha barriga estava roncando, deixei de
fazer ceninha, peguei o meu garfo e, como uma completa esfomeada,
comecei a invadir o prato dele.

Talvez só assim para afastar todos aqueles pensamentos safados.


— Ei, amigo. Você pode nos trazer mais um desse aqui? — Alex
pediu, assim que o garçom se aproximou da nossa mesa.

Fiquei muito envergonhada.

Era como se só estivesse dando bola fora.

— Desculpa... Eu... eu juro que não estou passando fome — sussurrei


depois de mastigar, arrancando um sorriso dele. — Mas não queria ter que
deixar um dos meus rins aqui no final desse almoço.

— E quem é que te disse que eu deixaria você chegar perto da conta,


hein? Você é minha convidada especial, Thais — ele respondeu com aqueles
olhos cor de mel fixos em mim. — Agora, por favor, termine de comer.

Hesitei um pouquinho, mas, depois de seu olhar mandão — e daquele


“por favor” gentil —, tornei a roubar comida do prato dele.
Alex me acompanhou. Em determinados momentos, brigávamos por
pedacinhos de carne, exatamente como fizemos tantas vezes quando nos
sentávamos na varanda da casa dele, momentos antes de eu apoiar a minha
cabeça sobre o seu ombro e suspirar de forma apaixonada, imaginando como
seria tê-lo para mim.

— Você continua linda — o loiro me disse, desconcertando-me


instantaneamente com o elogio. — Nunca assumi, mas tinha uma quedinha
por você. — Com um sorriso malicioso em seus lábios convidativos, ele
acrescentou: — Seu irmão que me perdoe pela indiscrição, mas sempre te
achei... Como é que os adolescentes falam atualmente? Acho que é...
Gostosa.
Isso me fez revirar os olhos.

Foi automático; não consegui controlar.

Uma quedinha por mim?


Me achava gostosa?

Desgraçado de uma figa.

— Antes ou depois de você me dar aquele chute na bunda? —


questionei-o não conseguindo guardar o comentário ácido pra mim.
Eu não tinha sofrido como uma condenada para aquele cretino me dizer
isso anos depois, como se fosse uma piadinha minimamente engraçada.

— Mas você era novinha demais pra mim... Um bebê! — ele se


justificou, fazendo com que eu risse de descrença. Não acreditava naquilo:
tínhamos apenas cinco anos de diferença. Na época que estava com
dezessete, Alex tinha apenas vinte e dois. — Eu não quis tirar a sua
inocência.
Quem o ouvia falando daquela forma, repleto de palavras bonitas, até
acreditava. Se não tivesse ido atrás do meu ex-namorado gay após a minha
crise de moralismo naquela noite, seria eu quem estaria transando com ele ao
som das ondas do mar.

Ai que ódio.
— Sempre vou me envergonhar daquela declaração horrível que te fiz,
entregando aquela cartinha idiota e enorme. Ai meu Deus, se vergonha
matasse...

— Mas foi tão bonitinho. — Após rir junto comigo, ele emendou: —
Foi justamente por conta dela que eu soube que não era o cara certo pra você.

Maldita carta de rolo de papel higiênico!


O desgraçado era bom, continuava agindo como se fosse a porra do
príncipe encantado montado no cavalo branco. Tão gentil e galante a ponto
de transformar um chute no meu rabo em um gesto de pura nobreza.

Como eu poderia odiar aquele ordinário?

Não podia; era impossível.

Ele voltou olhar para o relógio e, depois de uma careta, respondeu-me:


— Queria poder passar a tarde toda contigo, mas tenho alguns compromissos
que infelizmente não consigo adiar. O que você acha de continuarmos com
isso na segunda-feira, hein?

— Por mim, tudo bem — respondi balançando a cabeça positivamente,


feliz por ele querer me encontrar novamente.

— Então, ficamos combinados de que você começa na segunda-feira


mesmo?
Ele estava se referindo ao emprego?

— Ah, você estava falando do trabalho? Sobre isso, eu não sei, Alex...

— Se você não aceitá-lo, serei obrigado a providenciar a sua demissão


do hotel — ameaçou-me com um sorriso tão contagiante que me fez sorrir
também. Ao notar que eu estava me divertindo, Alex prosseguiu: — Não é
pra rir não, mocinha. Eu estou falando sério, muito sério... Ou você aceita ou
você aceita, comigo as coisas são assim.

Mesmo sem ter a mínima ideia de como aquele trabalho seria,


confirmei com um aceno de cabeça. Aparentemente, continuava sendo
incapaz de dizer um simples “não” para ele.

— Acho que terei que aceitar então... Pelo jeito, você continua tão
mimado quanto antes.
— Sei ser um cara bem persuasivo quando quero — ele respondeu e,
antes que pudesse questionar qual seria minha função nesse novo emprego,
Alex tirou uma caneta prata de seu paletó e, em um guardanapo de papel,
escreveu o que parecia ser um número. — Meu telefone particular. Mande
um “oi” pra mim depois.

Guardei o papel em minha bolsa.

Como sabia que ele estava prestes a ir embora, lhe disse: — Foi ótimo
ver você.
Ele riu e, como se estivesse lendo os meus pensamentos, disse-me: —
Vê se não vai dar pra trás, hein, princesa? Nos vemos na segunda.
Capítulo 04

Alexandre fez questão de chamar um táxi para mim, mesmo eu


afirmando que poderia ir de ônibus, como uma pessoa completamente normal
e pobre. Para garantir que eu não desse para trás, ele afirmou que eu deveria
ir para casa, pois havia sido demitida do hotel.

Quando cheguei à casa dos meus pais, toda aquela ideia, de repente,
começou a parecer ruim; talvez ainda pior do que a carta estúpida que eu
havia escrito para ele na adolescência. Não pelo novo emprego, que eu ainda
nem sabia de que se tratava, mas pela proximidade com Alexandre, o mesmo
homem que havia sido o meu primeiro e único amor.

— Chegou cedo — observou o meu pai assim que me notou em casa.


— Está doente?

— Não, não... Eu estou bem... — disse de imediato, não parecendo


nem um pouco convincente.
O meu pai era um recém-aposentado. E, como passava o dia inteiro em
casa, não havia como esconder o fato de que não trabalharia mais no hotel. Se
mentisse, ele estranharia minha presença em casa no horário de trabalho pelo
restante da semana. Além disso, tratava-se do meu pai, meu herói e fiel
escudeiro; nunca havia guardado nenhum grande segredo dele.

— Na verdade, eu não vou mais trabalhar no hotel, pai — confessei


ainda incerta se aquela era mesmo uma boa decisão.

Seu Romário sorriu e respondeu-me: — Que notícia boa, minha filha.


— Não me deixando dar qualquer explicação, completou: — Termine aquele
livro. Tenho certeza de que será mais um sucesso.

Ele era tão adorável comigo que eu nem quis bancar a engraçadinha,
perguntando-lhe qual tinha sido o meu último sucesso, pois, até então,
conhecia apenas fracasso.
Aproximei-me do sofá e, pegando um cobertor verde-água, sentei-me
ao seu lado.

— Se a mamãe te pega me dizendo isso aí, o senhor está frito —


respondi num tom de brincadeira, mesmo sabendo que dona Mariza
realmente lhe daria um puxão de orelha, algo do tipo “pare de ficar enfiando
minhoca na cabeça dessa menina”.

— Ela sabe muito bem o que penso sobre isso — ele continuou,
seguindo firme com aquela posição. — Você tem um dom lindo. E não é
porque as pessoas não o valorizam, que você tem que desistir dele.
Isso aqueceu tanto o meu coração que tive que abraçá-lo e me esforçar
para não começar a chorar por todas as coisas ruins que tinham me
acontecido nos últimos meses. O fracasso na profissão que eu amava, a perda
do meu lindo apartamento e a minha tão valorizada independência financeira.
Foram muitas derrotas seguidas, tantas ao ponto de eu não conseguir nem
processar.

Meu pai era a única pessoa da minha família que me apoiava


incondicionalmente, completamente o oposto da minha mãe, que sempre viu
a minha profissão como um hobby bobo ou uma simples perda de tempo.

Em parte, eu até compreendia. Ela olhava para o lado e enxergava o


meu irmão mais velho formado, com uma carreira bem-sucedida, postando
foto de suas viagens internacionais, acompanhado de sua namorada de nariz
em pé. Em contrapartida, eu, com vinte e três anos de idade, ainda estava
morando de favor na casa dela. Não tinha um bom trabalho, namorado ou
quaisquer outras coisas que as mães sempre almejam para suas filhas.

— Não vou voltar para os livros, pai. Só deixei o hotel porque recebi
uma proposta melhor de emprego — expliquei, deixando claro que não
tornaria a escrever como forma de pagar as minhas contas. — O senhor se
lembra do Alexandre?
— O playboy?

Isso me arrancou um sorriso.

— Esse aí mesmo. Acabei me esbarrando com ele durante o meu


expediente; tivemos uma conversa bem legal e ele me ofereceu uma vaga em
algum lugar que eu ainda não sei onde ou pra quê. Mas ele me garantiu que o
salário será melhor.
— Se vai ser melhor, então por que você está com essa cara feia?

Fiz uma careta.

Perto do meu pai, era como se eu fosse completamente transparente.


Ele conseguia me enxergar de uma forma que mais ninguém podia.

— É o Alex, né? Eu tenho medo de... Ah, você sabe, pai, de voltar a
gostar dele.

O fato de ter esse tipo de conversa com meu pai, e não com a minha
mãe, era um pouquinho bizarro. Mas, diferente dela, eu o via como uma
espécie de amigo; alguém com quem podia conversar sobre qualquer assunto
e sabia que ele me entenderia mais do que qualquer outra pessoa, sem me
julgar ou tentar impor algo.

— Mas, minha filha, você sabe que esse garoto é gay, não é?
Okay, contei tudo, tirando a parte que havia visto Alex transar de
forma selvagem com uma mulher na praia, ao lado do meu até então
namorado que, esse sim, era gay.

Okay, eu não contava tudo para o meu pai.


Nessas horas, sentia falta de ter Bruno a dez minutos da minha casa.
Ele podia ser um péssimo namorado, mas havia se tornado o melhor amigo
que eu podia ter. Sabia que podia contar com ele para qualquer coisa.

— Ainda está com essa ideia absurda?

No ano anterior, quando vimos uma fotografia de Alexandre num


jornal da cidade, por ocasião da inauguração de um dos vários negócios dele,
já havíamos falado sobre isso. E meu pai levantou a questão de que era
estranhíssimo o fato de Alex, um homem bonito e rico, ainda ser solteiro.
Nesse dia, depois de eu reafirmar que Alexandre era um cretino por ter
destroçado o meu coração, o meu pai soltou: “eu tenho um pouco de pena.
Deve ser horrível ter que se esconder assim”. E isso me fez questionar com
um “o quê?” e então ele explicou afirmando que o meu maior crush era gay.

Senti vontade de rir e lhe dizer que ele estava errado, mas aí teria que
contar sobre o episódio da praia e outras coisas que me deixavam
desconfortável. Então, optei apenas por balançar a cabeça, discordando de
sua teoria.

Contudo, havia coisas estranhas em relação a Alex que eu também não


conseguia explicar.
Uma delas, por exemplo, era o fato de ele não estar com alguém; de
ainda não ter se casado, como todo homem rico da idade dele. E algo ainda
mais estranho: até onde eu tinha conhecimento — do tempo em que ele e
meu irmão ainda eram próximos —, Alexandre nunca namorou ninguém,
mantendo-se sempre como um dos “solteiros mais cobiçados”.

Além dessas questões, as redes sociais dele eram completamente


diferentes das de outros homens com o mesmo status e dinheiro. Alex não
possuía nenhuma foto na casa de praia de sua família ou em cima de uma
lancha, cercado por mulheres bonitas. Tudo o que existia eram fotografias
profissionais dele trajando um terno.

Pelo jeito, considerando o que eu vi naquela noite, ele só se interessava


em sexo sem compromisso e, por algum motivo, preferia manter essas
aventuras sexuais em segredo.

— Só porque ele não quis ficar comigo, não significa que ele seja gay.

— Se ele não for, então, com certeza, tem algum problema bem sério.
Diferente do meu pai, que enxergava Alexandre como um playboy
idiota que havia iludido e descartado a filhinha dele, a minha mãe o venerava.
Tinha certeza de que um de seus maiores sonhos não realizados era que
tivéssemos engatado um relacionamento.

Lembrava-me da cara de decepção dela quando apareci com o Bruno


em casa e disse que estávamos namorando. Sempre que podia, ela comentava
que, se eu não tivesse me afastado tão rapidamente de Alex, ele teria caído de
amores por mim e que hoje estaríamos casados, formando uma linda família.

— Não quero que a mamãe saiba nada sobre esse trabalho, pelo menos
não até eu saber se isso vai mesmo dar certo.
Se ela soubesse, surtaria com a novidade e criaria expectativas
estúpidas em relação a nós dois. Eu a imaginava me dizendo coisas do tipo
“se ele não tivesse interessado em você, jamais faria uma oferta de emprego,
querida”.

Ainda pior do que ela bancando a cupido para cima de mim, seria se o
trabalho desse errado, se eu não me encaixasse ou se a minha proximidade
com Alex me fizesse pular fora do barco. Tinha certeza de que dona Mariza
me culparia por tudo e seria como reviver o momento em que Alexandre me
acordou da minha ilusão e ela tentava me obrigar a continuar frequentando a
casa dele, na esperança de que ele olhasse para mim e magicamente se
apaixonasse.

Eu me culpava por ter me apaixonado sem que ele me desse sinal de


que sentia o mesmo por mim. Contudo, também culpava a minha mãe, por
sempre ter me incentivado a investir naquela fantasia ridícula. Foi como tê-la
me levando para o alto de um penhasco e me pedir para pular.

Não podia, de jeito algum, passar por todo aquele sofrimento de novo.
Eu havia aprendido da pior forma que não devia fantasiar algo com Alex,
pois ele não se ligava a ninguém. Principalmente alguém como eu, uma
virgem patética que se humilhou ao implorar por amor.

— Não vou contar nada a ela, não se preocupa.


— Obrigada, pai.
Capítulo 05

Assim que cheguei em meu quarto, mandei uma mensagem de texto


para Bruno, torcendo para que ele me respondesse o quanto antes.
S.O.S.

Eu preciso MUITO da sua ajuda!

Por sorte, ele não demorou a ficar online:


Se a ajuda for ler outro daqueles seus contos intermináveis, pode
ficar pra depois, amiga?

Ignorei o que o cretino havia escrito dos meus contos e lhe enviei:

Encontrei o Alex hoje no trabalho.


E você não vai acreditar, mas o filho da mãe é dono do hotel.

É oficial, Bru, eu DETESTO o desgraçado do meu irmão, que me


enfiou lá, mesmo sabendo que o lugar pertencia a família do Alexandre.

Após ler a minha mensagem, Bruno começou a digitar, mas logo


desistiu e fez uma chamada de vídeo, algo que se tornou bem comum desde a
minha mudança.
— Como assim você encontrou com o Alex? — o meu amigo
questionou assim que aceitei a sua ligação. Como continuei em silêncio, sem
saber por onde começar, Bruno tornou a falar: — Anda logo mulher, me
conta essa história direito!

— Eu estava fazendo o meu trabalho e de repente ele apareceu no


salão, eu tentei me esconder, mas ele me viu e aí começamos a conversar...
— Não consegui deixar de sorrir, lembrando-me do nosso reencontro
inusitado. — Foi como num daqueles meus vários sonhos, mas a diferença é
que eu não estava rica e com um namorado gostoso do meu lado pra causar
inveja nele. E, acredite ou não, a desgraçada da Marcela ainda apareceu e me
deu uma bronca na frente dele.

Só de me lembrar daquela vaca, o meu sangue fervia.


— Mas e aí, como é que o seu eterno crush está? — Bruno indagou
rindo. — Ele realmente está tão gostoso quanto naquela foto que a gente viu?

No último Natal, quando Bruno e eu ainda vivíamos pertinho um do


outro, nós dois fizemos uma espécie de “retiro espiritual do passado”, o que
basicamente consistia em stalkear todo mundo que a gente conhecia da época
de escola. Inevitavelmente chegamos na vez de Alex. E como nas redes
sociais dele não tinha muita informação, recorremos ao Google e
encontramos uma entrevista, junto com um ensaio fotográfico.

O título da matéria dizia “Os jovens mais promissores do


empreendedorismo no Brasil”.
Ele usava um terno escuro e o seu olhar era tão intenso que fiquei
excitada só de olhar para aquela foto.

— Você não faz ideia do quanto — afirmei, tentando me lembrar dos


detalhes de seu terno caro, do cheiro de seu perfume e da forma como nos
abraçamos. — Ele me abraçou e ah... Sério, Bru, eu acho que tive um
orgasmo.

Bruno riu tanto que a chamada de vídeo deu uma travada.


— E você lá sabe o que é um orgasmo, garota? — ele me provocou,
não perdendo a chance de usar o seu card preferido para me atacar, o clássico
“você ainda é virgem!”.

— E a culpa disso é de quem mesmo, Bruno? — questionei,


lembrando-o da minha maior chance, que fora desperdiçada há seis anos. —
Se eu não tivesse deixado o Alex pra ir atrás de você, a minha primeira vez
teria sido maravilhosa.
Bruno balançou a cabeça, defendendo-se da minha acusação: — Minha
culpa? Sua cretina... Você acabou com a sua primeira vez e depois acabou
com a minha, atrapalhando o meu beijo com aquele garoto. — Depois de rir
mais um pouco, ele tornou a falar: — Mentira, amiga... Eu agradeço a você,
todos os dias, por ter me impedido de transar com o Murilo. Só de lembrar
que fiquei com ele naquele dia, o meu estômago embrulha.

Antes que o meu melhor amigo começasse com a história de “você


precisa sair desse quarto e ir conhecer gente nova. E TRANSAR!”, tirei o
foco da minha virgindade: — E tem mais, o Alex me chamou pra trabalhar
com ele.

— Tipo como a secretária sexy e virgem dele? — ele tornou a rir,


debochando. — Amiga, essa história aí daria um livro ótimo, hein?
— Vai se ferrar, Bruno — rebati, rindo daquele bobo. — Mas eu ainda
não sei, ele não me disse a função. — Continuava muito dividida com aquela
proposta, sem saber o que deveria fazer. — Será que eu devo aceitar?

— SIM, GAROTA! — ele praticamente gritou. — Você ainda


pergunta? É claro que você tem que aceitar o emprego. Qualquer coisa será
melhor que a urubu da Marcela te atazanando.

Ele realmente estava certo, qualquer trabalho seria melhor que conviver
com aquela infeliz.
— Mas, sério, você sabe que esse cara quer muito te comer, não é? —
ele tornou a falar, deixando-me vermelha. — Ninguém sai por aí distribuindo
vaga de emprego. Se esse fosse o caso, a taxa de desempregados não estaria
tão alta.

Ainda sem graça, respondi: — Agora você está parecendo a minha


mãe. Não é nada disso, ele só estava tentando ajudar uma velha conhecida, só
isso. É coisa de rico, Bruno, eles amam fazer caridade.

— Só me promete uma coisinha, amiga? Só uma? — ele fez uma pausa


dramática e esperou até que eu balançasse a minha cabeça. — Se surgir uma
nova oportunidade, não sai correndo, não procura ninguém, só senta com
vontade em cima desse cara. Eu tenho uma teoria sobre todo o caos desse
século e acho, de verdade, que o universo vai voltar a se alinhar quando você
finalmente gozar. — Abri a minha boca para dizer que ele estava alucinando,
mas o meu amigo foi mais rápido: — Agora eu preciso ir, as coisas aqui estão
um pouquinho agitadas, mas me mantenha informado. E, Thais, aceite essa
droga de emprego.

E então ele desligou, levando com ele todas as dúvidas que eu tinha
sobre aceitar ou não aquela proposta. Após me decidir, tirei o meu celular da
bolsa juntamente com aquele guardanapo e adicionei o número de Alexandre.

Em seguida, tomei coragem e lhe enviei o “oi”.


Capítulo 06

Alex respondeu minha mensagem apenas na manhã do dia seguinte:


Bom dia.

Passei o seu número para o pessoal do RH. Em breve, eles vão entrar
em contato com você para explicar certinho toda a questão envolvendo
salário e carga horária. Mas já dá pra adiantar que você começa na
segunda-feira mesmo, como tínhamos combinado.

A minha equipe fica encarregada de te mandar o endereço e outras


informações.
Diferente de nossa conversa no dia anterior, ele foi extremamente
formal, realmente agindo como se fosse o meu chefe e não um amigo que até
me chamava de “princesa”. E isso me fez tirar da cabeça todos aqueles
pensamentos idiotas, pois talvez nós nem fôssemos nos ver muito nessa vaga
de emprego que ele havia me arrumado.

Respondi a mensagem, dizendo-lhe:

Tudo bem.
Muito obrigada.

Alexandre mandou-me apenas um emoji de polegar — algo que eu


simplesmente detestava — e a conversa se encerrou por ali mesmo.

Como minha mãe passava o dia todo no trabalho e meu pai concordou
em não dizer nada, foi fácil esconder dela que eu não era mais a recepcionista
daquele hotel e, principalmente, que estava prestes a trabalhar com o homem
dos sonhos dela.

O restante da semana passou voando.

Nesse meio tempo, a equipe dele entrou em contato comigo. Pediram-


me vários documentos e informações — incluindo as minhas medidas para
um uniforme —, entretanto, não me disseram qual era o trabalho.
Informaram-me apenas de que, como havia sido selecionada a dedo pelo
senhor Brandão, iniciaria na segunda-feira. Teria, porém, que fazer um curso
de especialização para que a minha contratação fosse efetivada.

Pensei em questionar qual seria minha função, mas fiquei um


pouquinho acanhada. Admitia que era idiota da minha parte, já que saber em
que consistia aquele trabalho era o mínimo do mínimo, mas a minha timidez
venceu essa batalha. Contudo, ao receber a informação quanto ao salário,
dissiparam-se quaisquer incertezas quanto à aceitação daquele emprego.

Com uma carga horária de, no máximo, trinta e seis horas por semana
— e minha total disponibilidade para viajar —, receberia em torno de dez mil
e outros benefícios que nem consegui analisar direito.
Foi difícil não alimentar a sensação de que aquilo era bom demais para
ser verdade, de que estava entrando numa fria e morreria congelada.

Na segunda-feira, chamei um Uber e saí de casa com o dia


amanhecendo. Ao conferir através do mapa, notei que se tratava de um local
mais afastado, do outro lado da cidade e isso me fez agradecer mentalmente
por ter me programado e acordado mais cedo, caso contrário chegaria
atrasada já em meu primeiro dia.

O trajeto levou quase cinquenta minutos e, quando o motorista


estacionou o carro, descobri que o mapa não havia mentido, realmente era
isolado e estranho. Não existia ali nenhum prédio, havia apenas uma espécie
de instalação, que era rodeada por um alto muro branco e, estendendo-se por
mais de dois quarteirões, impedia qualquer vislumbre do interior da
propriedade.
Como não podia ficar dentro do veículo para sempre, desci e, depois de
agradecer ao motorista pela viagem, caminhei até a entrada.

Não existia nenhuma campainha ou interfone, e os meus “oi” não


surtiram efeito. Mas como o enorme portão de metal estava entreaberto,
simplesmente entrei. Assim que encarei o interior da propriedade e observei
um monte de nada, desesperei-me, pois aparentemente tratava-se de uma
pista de decolagem.

Não tinha como eu estar no lugar certo.

Fechei os meus olhos detestando a mim mesma por ser tão desleixada.

Estava certa de que errara o local.

Meu celular estava bem velho e algumas partes do touch screen


trincado não funcionavam muito bem. Então, tinha uma chance de, depois de
ter escrito o endereço no aplicativo do Uber, o meu celular ter selecionado o
local errado, escolhendo a segunda opção das que haviam aparecido.
Olhei para a tela quebrada do meu telefone e descobri que faltavam
apenas cinco minutos para o horário que havia marcado.

Queria muito começar a chorar.

De forma hesitante, cliquei no contato de Alex, sabendo que não tinha


como ir embora sem antes falar com ele, explicando e desculpando-me pelo
que havia acontecido.

Liguei.

Na segunda chamada, senti alguém tocar no meu ombro e isso, somado


a toda a minha tensão, me fez dar um pulinho.
— Thais? — indagou um homem alto, com uma camiseta de botão
azul.

Balancei a cabeça confirmando.

Só então, notei que o meu telefone continuava ligando para Alex.


Encerrei a ligação e me concentrei no homem à minha frente.

Ele sorriu e estendeu-me a mão, ao dizer: — Sou Fabrício, o piloto. —


O estranho começou a caminhar e, mesmo sem me dizer nada, o segui pela
pista. — Era para o porteiro estar ali te esperando, mas esse cara é um baita
folgado, vive passeando por aí.

Apenas balancei a minha cabeça, concordando com tudo o que ele


estava me dizendo.
— O senhor Brandão não está na cidade, eu vim só para pegar você —
ele informou quando nos aproximamos de um avião branco.

Mesmo sabendo que o homem era o piloto e que voaríamos para algum
lugar, não deixei de sentir um frio na barriga ao subir a escadinha de metal.

O interior da aeronave era maravilhoso, totalmente diferente de


qualquer avião que já tinha estado. As poltronas — consegui contar dez —
eram grandes e bem espaçadas, todas num tom claro de cinza.

A primeira coisa que fiz foi desligar o meu celular, pois sempre ouvi
que se devia fazer isso ao entrar em um avião.
Fabrício fechou a porta e, ao olhar para mim, disse: — Você sabe dos
procedimentos, né? — Ia apenas balançar a minha cabeça confirmando,
mesmo sem saber exatamente do que ele estava falando, mas então o piloto
acrescentou, rindo: — É claro que sabe, você é comissária de bordo.

Comissária de bordo?

Abri minha boca para negar, mas Fabrício simplesmente se virou e


seguiu para a cabine de comando, largando-me ali atrás, sem ideia de quais
procedimentos ele estava falando.
— Eu me sento onde? — gritei sem saber o que deveria fazer.

— O avião tá vazio e o chefe não está aqui, então pode escolher


qualquer uma delas — ele gritou de volta.

Fiquei tentada a questionar “quais procedimentos?”. Tinha medo de


não fazer nada e derrubar a gente do céu. Ao me dar conta de que isso era um
pouquinho ridículo e improvável, limitei-me a escolher um lugar para me
sentar.
Mesmo um pouco perdida com aquele monte de informações que o
piloto havia despejado em cima de mim, sentei-me numa poltrona à direita,
longe do que parecia ser a mesa usada por Alex, e coloquei o cinto de
segurança.

Sem nenhum aviso prévio da parte do piloto, o avião começou a se


mover, fazendo com que a minha barriga congelasse.
Eu não tinha medo de avião, então não foi tão apavorante assim. Só
não conseguia processar aquela informação de que eu era uma comissária de
bordo. E isso me fez questionar se não havia sido confundida, se aquele cara
não estava procurando por outra Thais e, por uma infeliz coincidência do
destino, não me encontrou vagando perdida.

Isso durou até que eu me recordasse de que ele havia dito claramente
“senhor Brandão”. Definitivamente, não havia como isso e o meu nome
serem apenas uma coincidência.

Como meu celular estava desligado, não tinha a mínima ideia do


quanto o voo havia durado, porém havia sido tempo suficiente para que eu
respirasse fundo mais de três vezes e absorvesse um pouco de tudo aquilo.
Algumas coisas começaram a se encaixar, como o fato da equipe dele me
falar sobre um curso de cinco meses que eu teria que fazer. Contudo, ainda
me sentia perdida, pois nem em meus sonhos achei que um dia fosse
trabalhar como aeromoça.

Aquilo ainda não parecia real.

Assim que pousamos, com um impacto que balançou a aeronave,


levantei-me da poltrona e fiquei parada, sem saber o que fazer, além de
esperar pela chegada de Alexandre, a única pessoa que poderia esclarecer
todas as minhas dúvidas.
Fabrício abriu a porta e fez outras coisas nas quais não prestei muita
atenção.

Poucos minutos depois, uma mulher alta e loira — e maravilhosa, diga-


se de passagem — apareceu e entrou na aeronave. Mesmo sem utilizar
nenhum uniforme que deixasse isso evidente, tinha certeza de que ela era
uma aeromoça.
Ao lado dela, toda graciosa e esbelta, eu parecia com uma taboa
desengonçada.

— Por que você demorou tanto, Fabrício? — ela questionou, assim que
avistou o piloto.
— Eu não demorei. Você que é afobada demais e chegou muito cedo
— ele se defendeu, fazendo com que ela risse e revirasse os olhos.

Quando o olhar dela me encontrou, foi a deixa perfeita para que eu me


apresentasse: — Bom dia... Eu sou a Thais e o Ale...

— A comissária de quem o Alexandre comentou com a gente —


Fabrício completou a frase para mim.
— Daniela — ela respondeu ao meu cumprimento, estendendo-me a
mão. — Mas pode me chamar de Dani. — Confirmei com um aceno de
cabeça. E então ela levou os olhos escuros até o piloto: — Deixa o senhor
Brandão ficar sabendo que você o chama de “Alexandre” pelas costas.

Alex era tão severo ao ponto de não permitir que os seus funcionários
o chamassem pelo seu primeiro nome?

Fabrício comentou algo que eu não entendi e seguiu para a cabine de


comando, deixando-me com a comissária de bordo.
— Eu serei a responsável pelo seu treinamento durante as próximas
semanas. — A loira olhou para a bolsa em minha mão e continuou: — Vem
comigo, Thais, vou mostrar onde você pode guardar isso aí.

Seguimos para o fundo da aeronave e ela me levou para uma sala, que
era separada do restante por um arco de madeira marrom. Existia um sofá ali
dentro e, do lado esquerdo, uma espécie de bagageiro, parecido com aqueles
de voos comerciais.
— Como é um avião relativamente pequeno, a gente não tem um
armário ou algo assim. — Daniela comentou, abrindo a mochila e pegando o
que parecia ser o uniforme dela. Ela apontou para o bagageiro e completou:
— Você pode deixar as suas coisas aqui, junto com as minhas.

Depois que guardei a minha bolsa, a aeromoça me entregou um


uniforme composto por uma saia lápis e blazer, ambos na cor azul celeste;
uma camisa de botão branca e um lenço vermelho. Além disso, já existia um
broche dourado com o meu nome, “Thais Pontes”.

— Se preferir, você pode se trocar ali no banheiro — disse-me Dani ao


literalmente começar a se despir na minha frente para vestir o seu uniforme.

Se a sua beleza descomunal já não tivesse me intimidado, com certeza


aconteceria quando vi o seu corpo seminu. A garota não possuía nenhuma
gordurinha e, ainda assim, conseguia ter seios fartos e uma bunda grande. Sua
cintura era tão fina que me sentia assistindo a uma daquelas séries de época
em que mulheres ainda usavam espartilhos.

Eu não queria parecer uma garota idiota, sentindo vergonha — mesmo


estando com um pouco —, então fiz exatamente como ela e me troquei ali
mesmo.

— Muita gente pensa que o mais importante é saber salvar vidas ou


conseguir ficar em pé por horas, mas as coisas que realmente são importantes
nesse trabalho são postura e aparência — ela comentou enquanto observava o
próprio reflexo ao prender o cabelo. — O uniforme precisa estar sempre
impecável, limpo e bem passado. — Depois de olhar para mim, claramente
me analisando, ela acrescentou: — O senhor Brandão também prefere que o
cabelo esteja preso.

No mesmo segundo, segui o conselho dela e comecei a prender o meu


cabelo. Daniela me ajudou, deixando-o parecido com o dela.

Assim que terminei e encarei o meu reflexo no espelho à nossa frente,


ao lado do que parecia ser um bar, notei que, com aquela roupa justinha, eu
realmente me parecia com uma aeromoça, daquelas que a gente vê nos
filmes.
— Diferente dessas companhias aéreas, nós não precisamos usar batom
e esmalte combinando, na cor que eles exigem. Em contrapartida, nossa
maquiagem precisa ser bem leve, o mais natural possível — ela comentou,
chocando-me com o tanto de exigências. — Não há problema em usar batom,
delineador, lápis... Eu mesma não vivo sem isso. — Ela riu graciosamente,
antes de completar: — Só não dá pra vir com um batom roxo e unhas pretas.

Aparentemente, era um daqueles trabalhos em que a sua aparência


contava mais do que a sua capacidade e vontade de trabalhar. E eu detestava
isso, achava tão idiota — e sexista — ter que me maquiar de acordo com a
preferência de um homem.

— Mas eu prometo que é tudo muito simples. Você vai pegar as coisas,
tenho certeza disso — ela acrescentou, provavelmente percebendo meu olhar
de desespero, quase um pedido silencioso de socorro.

Concordei com ela, mesmo sem ter muita certeza disso e estando um
pouco assustada.

Em minha defesa, ao deixar a minha casa, não tinha ideia de que teria
que trabalhar dentro de um avião. No fundo, sempre achei que seria uma
espécie de secretária — essa era a teoria de Bruno também —,
desempenhando uma função administrativa.

— O “geralzão”, você vai pegar lá no curso mesmo... Ou seja, não vai


ser comigo que você aprenderá a usar extintor de incêndio, fazer massagem
cardíaca, técnicas de sobrevivência na selva e todas essas coisas básicas. —
A minha cabeça explodiu com aquele monte de informação, com as “coisas
básicas” que eu teria que saber para desempenhar a função. Podia ser
ignorância da minha parte, mas pensei que tudo o que teria que fazer seria
pagar de garçonete no avião. — Não dá pra se aprofundar muito. Então vou
te mostrar o que fazemos em nosso dia a dia, como membros da tripulação. E,
é claro, tudo o que o senhor Brandão espera de você como comissária.

Ela terminou de falar, e tudo o que a minha mente pensava era em


massagem cardíaca, treinamento na selva e extintor de incêndio. Essas coisas
estavam rodando em loop pela minha cabeça.
— Como eu disse antes, o primeiro de tudo é estar com o uniforme
impecável. Depois disso, é exatamente o que faremos agora — ela comentou
e começou a caminhar, voltando para o outro ambiente. Descemos a escada
de metal e, saindo da aeronave, nos colocamos à direita. — Nós da tripulação
sempre aguardamos pelo senhor Brandão aqui fora. Ele entra e, só então,
embarcamos.

Enquanto o nosso chefe não aparecia, Dani continuou a falar sobre a


função que teria de desempenhar: — Seja sempre simpática, mas só fale
quando lhe perguntarem alguma coisa. Na maior parte das vezes, as únicas
frases que você dirá no dia inteiro serão “Bom dia, senhor” e “Aceita alguma
bebida, senhor?”. Sempre dê bom dia, boa tarde e boa noite para ele e para
quem o estiver acompanhando.

E eu pensando que conseguiria uma coisa melhor que o meu antigo


cargo. No final das contas, eu me transformaria numa recepcionista de avião,
alguém que serviria bebidas, daria “bom dia” e teria que sorrir tanto quanto
Marcela costumava me forçar. A única diferença era que em vez dos velhos
chatos do hotel, teria que servir o homem que eu costumava amar.
Capítulo 07

Alexandre — ou melhor, “senhor Brandão” — apareceu quase vinte


minutos depois de nos colocarmos do lado de fora da aeronave. Trajando um
terno bordô, ele estava acompanhado de mais duas pessoas, uma mulher e um
homem que conversavam com ele enquanto carregavam pastas e tinham
celulares nas mãos.
Se pudesse chutar, diria que eram os assistentes dele.

Assim que se aproximou de mim, Alex parou e sorriu, dizendo-me: —


E não é que você veio mesmo, princesa?

Aquela sua última palavra me fez corar, pois soou impessoal demais
para uma relação de chefe e funcionária.
Com os olhos voltados para os outros dois, o piloto e Daniela, ele
questionou: — Então, pelo jeito, vocês já conheceram a minha amiga?

Sem dúvida alguma, a palavra “amiga” causou certo estranhamento na


tripulação — talvez, ainda mais do que o “princesa”. Ao que tudo indicava,
ele não possuía mais nenhum amigo como subordinado.

Os dois se limitaram a balançar a cabeça com um sorriso nos lábios,


como se estivessem com medo de dizer alguma coisa.
Alexandre ignorou as duas pessoas que chegaram com ele — que
realmente deviam ser os assistentes, já que eles também usaram a palavra
“senhor” para se referir a Alex — e me puxou, fazendo-me entrar na
aeronave ao lado dele, contrariando tudo o que Daniela me ensinou há alguns
minutos.
“Não fale com ele” ela havia me dito e então Alexandre me chamou de
“amiga”. “Entre apenas depois dele” Dani comentara também e agora o
executivo estava me puxando para a porta do avião.

Falhara em todas as observações de Daniela.


E a culpa não era minha.

Como era de se esperar, não consegui escapar das garras dele. Alex me
levou para uma das poltronas que ficava de frente com a sua mesa. Mesmo de
forma muito hesitante, aceitei me sentar com ele.

— Você sabe que eu deveria estar lá atrás, fazendo o serviço para o


qual você me contratou, não é? — brinquei com ele, enquanto encarava os
seus olhos cor de mel.
— Negativo... Contratei você pra me servir — ele argumentou,
também usando de um tom de brincadeira. Contudo, seu olhar intenso estava
colado em mim, tornando um pouquinho difícil não levar a sério a parte de
“servi-lo”. — E, nesse momento, quero que faça isso bem aí, sentada nessa
poltrona, junto comigo.

Essa fala dele — fora de contexto — podia muito bem parecer algo
extremamente sexual, como aquelas fanfics eróticas que eu escrevia sempre
que estava excitada.

Podia ouvir a voz do meu melhor amigo zombando de mim,


chamando-me de “comissária virgem do CEO” e afirmando que isso daria
um ótimo título de livro.
Eu não deveria, mas, novamente, meus olhos correram para a cintura
dele e depois desceram, seguindo para as coxas grossas, apertadas naquela
calça social. E, uma vez mais, aquele volume enorme estava lá, como se
estivesse esperando por alguém para ganhar vida.

Isso me deixou tão boba ao ponto de eu praticamente flertar com ele:


— E como é que eu posso servi-lo, senhor?
Ele sorriu mostrando os dentes, um sorriso que eu poderia jurar que
tinha uma pitadinha de malícia, algo muito safado. Senti que ele se preparou
pra me dizer alguma coisa, mas então desistiu e reformulou, provavelmente
abandonando a piadinha que me diria.

— Deixando-me atualizado sobre a sua vida nesses últimos anos — ele


respondeu, arrancando uma careta involuntária do meu rosto.

Tudo o que eu menos precisava, era compartilhar todos os meus


fracassos com ele.
Antes que pudesse começar a narrar tudo o que deu errado na minha
vida durante os últimos anos, Dani aproximou-se de onde estávamos. Ela
colocou um copo de água em cima da mesa, provavelmente era algo que Alex
sempre pedia ao entrar no avião.

Ele voltou o olhar pra mim e questionou: — Quer beber alguma coisa?

Neguei com um aceno de cabeça.

Sentia-me péssima naquela posição, em frente a garota que estava me


treinando.

— O que você achou da minha amiga, Dani?

A loira sorriu e respondeu de imediato: — Ela é adorável, senhor.


Agradeci o elogio com um sorriso.

Como a aeromoça continuou parada próxima da mesa, ele a dispensou,


dizendo: — É só isso.
— Onde é que nós estávamos mesmo? — ele questionou, assim que a
comissária se afastou. — Acho que bem na parte em que diria o quanto você
está linda nesse uniforme.

O elogio me deixou sem graça.


Sempre fui uma dessas garotas que não sabiam receber cortejos, ainda
mais vindos de homens tão bonitos quanto Alexandre Brandão. E isso
contribuiu para que a minha mão batesse no copo de água dele, virando-o em
cima da mesa e, consequentemente, molhando a sua calça.

Queria lhe pedir desculpas, repetindo a palavra “perdão” mil vezes,


mas tudo o que consegui fazer foi correr até os fundos do avião para pegar
um pouco de papel toalha, pois precisava consertar aquela lambança.

Quando eu retornei, encontrei-o em pé, com os olhos voltados para a


mancha enorme em sua calça social. Sua expressão séria deixou-me ainda
mais tensa e isso fez com que eu nem hesitasse para me abaixar e ir com o
papel toalha em cima da virilha dele, tentando secar a mancha que parecia só
aumentar.
— Eu vou secar... Prometo! — disse a ele, movimentando a minha mão
o mais rápido que pude, torcendo para tirar pelo menos o excesso de água.

Alguns segundos mais tarde, ainda naquela minha afobação para


consertar o meu erro estúpido, o papel toalha esbarrou numa coisa estranha
que logo identifiquei como sendo o pênis dele.

Sim, o pau dele.


Alexandre estava duro feito uma pedra.

O volume em sua calça era completamente visível e isso deixou as


coisas ainda mais desconfortáveis.
— Acho melhor eu parar de fazer isso... — sussurrei muito
envergonhada com a situação em que nos coloquei.

Aparentemente, ele se divertiu com o meu constrangimento. Ou então


estava rindo pelo desconcerto que havia causado a ele com aqueles meus
toques inapropriados.
— Eu até me desculparia por isso... — ele começou a dizer, apontando
para a sua ereção. — Mas, convenhamos, você praticamente bateu uma pra
mim.

Fechei os meus olhos, sentindo o meu rosto queimar.

— Eu estava tentando secar e...


— E quase me deixou mais molhado — ele completou a minha frase,
zombando de mim.

Queria desaparecer, enfiar a minha cabeça em um buraco e nunca mais


tirá-la de lá.

— Se você quiser, pode me demitir, Alexandre... Eu mereço ir pra rua


— disse sem nem mesmo conseguir encará-lo. — Na verdade, eu acho que
até prefiro ser demitida depois disso... Deve dar até uma justa causa.

— A justa causa é por ser desastrada ou por tocar no pau do seu chefe?
— ele tornou a debochar de mim. Quando Alexandre notou que eu realmente
estava muito envergonhada com o que havia acontecido, disse-me: —
Respira um pouco, Thais. Não foi nada demais... Quem tem que se
envergonhar com isso sou eu que fiquei duro. Quanto a mancha, o máximo
que vai acontecer é pensarem que eu me mijei.

— Me desculpa, Alex... Eu sou uma idiota... — disse enfim levando os


meus olhos até o rosto dele, que continuava rindo. — Agora, depois de ter
molhado e praticamente assediado você, eu acho que é melhor voltar a
trabalhar...

— Senta aí, garota! — ele disse num tom de ordem, apontando para a
poltrona ao seu lado. — Só vou autorizar você a sair daqui quando
terminarmos a nossa conversa. — Ele riu e prosseguiu, brincando: — Eu já te
disse que mando em tudo por aqui?
— Só umas três vezes.

— E elas foram o suficiente pra você compreender, princesa?

— Perfeitamente, senhor — respondi, por algum motivo achando bem


sexy a forma como ele pronunciou aquele “só vou autorizar você”, como se
realmente tivesse algum controle sobre mim. — Então, já que é a terceira vez
que você afirma que é o meu chefe e que manda em mim, deixe-me começar
agradecendo pelo emprego. E principalmente por não me demitir já no meu
primeiro dia... De verdade, eu sinto muito por... Você sabe.
Alexandre sorriu daquela forma gostosa que o tornava ainda mais
bonito e respondeu-me: — Não precisa se desculpar... E nem agradecer pelo
emprego. — Com um brilho malicioso no olhar, ele tornou a falar: — E não
tenho dúvida de que será muito prazeroso tê-la por aqui.

“Muito prazeroso”.

Às vezes, podia jurar que ele parava de brincar e realmente começava a


flertar comigo, mas, como havia ocorrido no passado, tudo poderia não
passar de uma simples fantasia da minha mente. Então, esforçava-me para
não dar muita bola para esses seus elogios, porque conhecia Alex e sabia que
o cretino fazia isso com todas as garotas, que era sempre muito gentil e
galante. A forma como ele lidou bem com aquela situação constrangedora era
a prova disso.
Alexandre quis saber sobre a minha família, perguntou como eles
estavam e não deixou de destacar o quanto gostava de todo mundo. E nisso,
perdemos o tempo de toda a viagem conversando, rindo e fazendo piadas
sobre o que havia acontecido mais cedo.

— Pelo menos essa macha está finalmente secando — ele comentou,


olhando para a virilha. — Então pode ficar tranquila que eu não devo precisar
de outra secagem como aquela.

— Dá pra parar de debochar de mim, seu bobo? — disse


compartilhando de sua risada.

Ele continuou me observando, com aquele sorrisinho safado e isso me


lembrou dos momentos divertidos que tivemos no passado. Era como se
tivéssemos voltado no tempo. De alguma forma, recuperamos parte da
intimidade que possuíamos ao ponto de eu chamá-lo de “bobo”.

Continuamos a conversar, entrando no assunto “dona Mariza”, que


também nos rendeu boas risadas.
— E foi por isso que ainda não falei pra ela que ia trabalhar com você
— disse depois de ter contado o quanto a minha mãe ainda o venerava. —
Você conhece bem a minha mãe, sabe que no dia seguinte ela me daria um
pote enorme de bolo e mandaria eu entregar pra você.

— Dona Mariza é uma figura... — ele respondeu ainda muito


atencioso, realmente ouvindo tudo o que eu estava lhe dizendo. — E conte
pra ela, sim. Posso lhe garantir que não sou nenhum carrasco. Tenho certeza
de que vai adorar trabalhar comigo. Sou um cara incrível; pode perguntar pra
qualquer um aqui.

— E, pelo jeito, tão modesto quanto antes — ironizei não perdendo a


oportunidade.
— É como eu sempre digo, modéstia é só pra quem não tem mais nada
a oferecer.

Poderia continuar ali, conversando — e, na minha mente, flertando —


com ele para sempre. Alex era divertido, espontâneo e caloroso, além de todo
o seu charme, que fazia com que eu me sentisse especial apenas por estar
desfrutando de sua companhia. Mas eu era apenas uma subordinada, uma que
estava prestes a ser odiada por todo mundo, não podia continuar ao lado dele
daquela forma, sendo servida pelos meus novos colegas de trabalho.

— Tenho que voltar a trabalhar. — Antes que Alexandre pudesse


protestar como havia feito durante todo o meu expediente, eu lhe disse: —
Daniela está me treinando, então é melhor eu voltar... Foi bom falar com
você, chefe... E estou na torcida pra sua calça secar.

Depois que o avião pousava, nós da tripulação tínhamos o restante do


tempo livre para fazermos o que quiséssemos — ao menos, até que o nosso
chefe retornasse do compromisso. Nesse primeiro dia específico, Dani,
Fabrício e eu ficamos jogando baralho, sentados na mesa de Alexandre.

— E se ele chegar e pegar a gente aqui? — questionei realmente


preocupada com aquela possibilidade. Não queria cometer mais um erro em
meu primeiro dia de trabalho, já bastava aquela situação humilhante que
havia acontecido pela manhã.

— Aí a gente coloca a culpa em você! Das pessoas sentadas aqui, você


é a única que ele chama de amiga — Fabrício respondeu, fazendo com que
ríssemos. — E a única que derramou um copo de água em cima dele e depois
sobreviveu para contar história.
— Até parece que sou especial, Alexandre é gentil assim com todo
mundo — rebati, realmente não me enxergando em posição de privilégio.

— O senhor Brandão é tudo, menos gentil — o homem me


interrompeu. — Não gosto nem de pensar o que aconteceria comigo ou com a
Daniela se tivéssemos molhado o terno importado dele.

Dani lançou um olhar na direção dele e o piloto notou que estava


falando demais, principalmente na presença de alguém que o chefe deles
chamava de “amiga”.
— Fiquem tranquilos, eu não vou dizer nada, não sou puxa-saco e
muito menos dedo duro — afirmei, tentando tirar a gente daquele climão.

O dia passou, ironicamente, voando. E foi difícil não ficar pensando no


que Fabrício havia me dito, no “o senhor Brandão é tudo, menos gentil”.
Não havia conhecido um Alexandre que não fosse gentil. Ele sempre havia
me tratado bem, até mesmo quando me deu um fora. Então era um pouquinho
difícil de acreditar naquelas palavras.

Como descobri que o piloto e Dani moravam relativamente próximos


do centro da cidade, sugeri que dividíssemos um Uber e fomos embora
juntos. Alexandre tentou me oferecer uma carona, mas eu recusei, dizendo
que já havia combinado com os dois. Não queria manter aquele tipo de
contato — não agora que estava trabalhando para ele.
— O que você estava fazendo lá em São Paulo? — questionei voltando
o olhar para Daniela, ao me dar conta de que, ao chegar à pista de pouso pela
manhã, ela não estava lá.

— Nós dois estávamos — Fabrício respondeu por ela. — Quando o


senhor Brandão faz uma viagem que acaba durando mais do que o
programado, não tem como a gente voltar aqui pra cidade sem ele. Então
acabamos ficando por lá.

Aparentemente, era isso o que significava “disponibilidade para


viajar”.

— O único que veio pra cá foi o Fabrício, porque o seu amiguinho


fazia questão de ter você durante o dia de hoje — Daniela comentou de forma
debochada. — Tem certeza de que vocês eram só amigos?

Isso me fez revirar os olhos e rir, depois de confirmar com um aceno de


cabeça, deixando claro que, sim, éramos apenas conhecidos.
Eles desceram antes de mim, que morava num local um pouquinho
mais afastado da região central.

Como cheguei em casa quase dez horas da noite, a minha mãe


estranhou e me obriguei a contar a verdade para ela, assumindo que já não
trabalhava mais de recepcionista naquele hotel.

— COM O ALEX? — dona Mariza gritou, surtando mais do que eu


tinha previsto. — Meu Deus, Thais... Parece coisa do destino, filha.
“Começou” pensei, sabendo que teria que ouvi-la fantasiando ainda
mais do que a minha própria mente.

— É só um trabalho, mãe! — fiz questão de deixar isso bem claro. —


E, se depender de mim, um temporário. Agora, vou terminar o meu livro.
Não lhe dei tempo de me dizer mais nada sobre destino e Alexandre,
simplesmente segui para o quarto. E, quando cheguei lá, obviamente que não
fui escrever, já que estava cansada e sem inspiração alguma.

Mandei uma mensagem para o meu melhor amigo, contando sobre o


meu primeiro dia e depois tomei um banho bem gelado, tentando não pensar
naquele gostoso que agora era o meu chefe.
Capítulo 08

Um dos muitos benefícios do meu trabalho novo — além do ótimo


salário e ter o colírio do Alex para ser degustado pelos meus olhos — era que
quando o meu chefe não tinha um compromisso fora da cidade, ele não
precisava do seu jatinho particular e, consequentemente, também não
necessitava de sua comissária de bordo.

Então, nos dois dias seguintes, eu não precisei trabalhar.

Quinta-feira à noite, eu recebi uma mensagem de um dos assistentes


dele, avisando-me de que os meus serviços seriam requisitados no dia
seguinte pela manhã.
Dessa vez estava mais tranquila, sabia qual seria o meu trabalho e tudo
o que precisaria fazer. Cheguei com quase meia hora de antecedência e
aguardei pelos meus colegas, que não demoraram a aparecer também.

Entramos na aeronave, Fabrício foi para a cabine de comando e eu,


juntamente com Daniela, fui para os fundos colocar o meu uniforme.

Ao terminar de me arrumar, voltei o olhar para o meu reflexo no


espelho e não consegui deixar de estranhar.
“Você está linda nesse uniforme”, Alexandre havia me dito naquele
dia.

Eu ainda não concordava, mas estaria mentindo se dissesse que o


elogio não tinha me agradado.
Demos início ao trabalho. Começamos organizando as poltronas e, em
seguida, fomos para os fundos ajeitar coisas como cafeteira e bebidas no
refrigerador. Nesse meio tempo, Daniela tornou a me explicar como as coisas
funcionavam por ali.

— Em relação à limpeza, graças a Deus, isso não é com a gente.


Existem pessoas específicas pra esse serviço. — ela comentou, enquanto
terminava de organizar os copos. — Mas, por exemplo, se por um infeliz
acaso alguém vomitar durante uma viagem, aí você vai ter que limpar, já que
obviamente não dá pra esperar até a aterrissagem do avião.
Apenas balancei a cabeça e rezei mentalmente para que ninguém
vomitasse durante um voo.

— Foram sempre três pessoas na tripulação? — questionei, voltando o


meu olhar para ela assim que arrumei o último copo. Como ela franziu a
testa, aparentemente não me compreendendo, expliquei-me: — Você,
Fabrício e a pessoa que costumava ocupar o meu lugar.

Daniela balançou a cabeça negando.


— Trabalho aqui há dois anos e nunca tivemos mais que uma
comissária de bordo — ela respondeu, deixando-me surpresa com aquela
informação. — Não é como se houvesse muito trabalho... Uma pessoa
costuma dar conta. — Após notar a minha expressão, ela rapidamente
emendou: — Mas estou feliz em ter você na equipe com a gente.

Se apenas uma aeromoça dava conta do trabalho, por qual motivo


Alexandre teria me contratado?

Eu conseguia imaginar a voz do meu melhor amigo respondendo


“porque ele quer te comer, né criatura!”.
Por mais que soubesse que não encontraria uma resposta, foi
impossível não ficar pensando nisso, questionando-me quanto ao real motivo
daquela oferta de emprego.

Teria ele, depois de me encontrar no fundo do poço, ficado com pena e


me estendido a mão num ato de caridade?
Era isso ou então, por mais incrível — e irreal — que pudesse parecer,
Bruno realmente estava certo, Alex queria estar próximo de mim e usou toda
a questão envolvendo o trabalho como uma forma de nos reaproximar.

Mesmo com um pouquinho de medo da segunda opção — já que era


um tanto intimidante imaginá-lo me desejando tão intensamente —, torcia
para que não fosse a primeira, para que o meu chefe não me enxergasse como
alguém digna de pena.

Perto do horário de Alexandre chegar, colocamo-nos do lado de fora da


aeronave e nos posicionamos à direita, aguardando pela chegada dele. E
assim como da última vez, ele apareceu por volta das oito horas e estava
acompanhado por seus dois assistentes.
— Bom dia, senhor Brandão — disse, assim que ele se aproximou.

— Bom dia — ele respondeu e retribuiu o meu sorriso. Alexandre tirou


os óculos de sol, permitindo com que eu visse os seus olhos cor de mel. —
Ah, e, pra você, é só Alex.

Assim que ele entrou, nós seguimos atrás dele.


Diferente de como acontecera em meu primeiro dia de trabalho, optei
por me manter um pouquinho distante. Não queria quebrar a barreira de chefe
e funcionária novamente. Ainda que Alexandre me chamasse de “amiga”, ele
continuava sendo o homem que pagava pelo meu salário.
A manhã foi bem tranquila.

E, felizmente, não precisei limpar vômito de ninguém.

Pela primeira vez, servi uma bebida e, como não derramei tudo em
cima dele, podia dizer que havia sido um sucesso.

O avião pousou após duas horas de voo.

Coloquei-me próxima da porta para observá-lo descer da aeronave.

Ao passar por mim, o engravatado desacelerou o passo.

— Conhece a cidade? — demorei a notar que ele estava falando


comigo e não com um de seus dois assistentes. O meu silêncio despertou um
sorriso em seus lábios. Ele deve ter se dado conta de que eu não tinha ideia de
onde estávamos. E como se estivesse lendo cada um dos meus pensamentos,
ele continuou: — Estamos em Fortaleza, Thais.

Senti meu rosto queimar.


— Não, não conheço a cidade, senhor. — Como ele me encarou com
um olhar sério, que beirava a desaprovação, eu me corrigi: — Alex.

— Eu tenho compromissos pelo restante do dia, então vou demorar um


pouquinho — ele prosseguiu. — Por que você não aproveita que o tempo está
ótimo e vai conhecer a cidade? As praias são lindas, tenho certeza de que vai
gostar.

Depois de retribuir o seu sorriso, respondi: — Na verdade, é uma ótima


ideia, acho que vou sim. Obrigada pela dica.
Eu me troquei e até mesmo abri o aplicativo do Uber no meu celular
para pedir uma corrida até a praia mais próxima, mas antes de confirmar a
viagem, acabei desistindo da ideia. Estava quente demais e eu não estava
muito no clima pra passear sozinha por aí, mesmo numa cidade linda como
Fortaleza.

Sendo assim, resolvi voltar para o avião, mesmo sabendo que


Alexandre demoraria uma eternidade em suas reuniões. Assim que me
aproximei da aeronave, notei que Fabrício estava de saída.
— O senhor Brandão ainda vai demorar — ele me avisou quando parei
em frente a ele.

— Eu posso esperar no avião?

— Poder, você até pode, mas vou ter que te trancar aí dentro —
respondeu de forma séria, não me deixando dúvidas de que ele não estava
brincando.
— Pode ser — respondi, não me importando em ficar confinada no
avião luxuoso de Alexandre.

Eu entrei e ele fechou a porta. Como algumas das janelas estavam


abertas — não tinha ideia de como o ar-condicionado funcionava —, não
teria nenhum problema.

Ficar sozinha nunca me incomodou.

Fui para o final da aeronave e joguei-me em cima de uma poltrona e


fiquei mexendo no meu celular.

Uma hora e trinta minutos depois, ouvi o barulho da porta se abrindo.

Finalmente.
Levantei-me da poltrona e me preparei para caminhar na direção de
Fabrício, questionando se Alex o havia avisado do horário que voltaria, pois
já não aguentava mais ficar sentada naquele avião.
Antes que desse o primeiro passo e me aproximasse, ouvi uma voz
feminina.

Daniela.
E eu teria me aproximado para conversar com os meus colegas de
trabalho, se uma voz grave não tivesse soado junto com a dela.

— Ela tá passeando pela cidade. — A voz de Alexandre soou pelo


avião, evidentemente referindo-se a mim. — Não deve voltar por agora.

— E quanto ao Fabrício? — Dani argumentou, rindo de uma maneira


sexy, completamente diferente da forma como ela costumava rir perto de
mim.
— Ele trancou o avião, então deve demorar também — o nosso chefe
respondeu. — Está com medo do quê, Daniela? De que descubram a vadia
que você é?

Vadia?

Puta que pariu.


Se antes eu tinha a pretensão de me aproximar deles para dizer “e aí,
gente?”, agora sabia que, definitivamente, não deveria fazer isso.

Estavam em um momento íntimo demais para que eu interrompesse.

Merda.
Merda.

Merda.

De relance, vi Alexandre empurrando a comissária de bordo contra a


porta da aeronave.
Ela grunhiu um “ai, ai”, contudo, pela expressão de seu rosto, soube
que havia gostado.

Sem pudor algum, o loiro enfiou a mão por debaixo da saia lápis dela.
Ele o fez de maneira totalmente imponente, como se o corpo dela pertencesse
a ele.
— Olha pra mim — ele sussurrou de uma forma tão séria que me
assustou um pouco.

— Ai, Alex...

— Pra você é senhor Brandão, cadela — ele a interrompeu, arrancando


um gritinho abafado de Daniela.
Eu estava tão chocada a ponto de não conseguir nem fechar a minha
boca. Em minha defesa, toda aquela bizarrice estava ocorrendo bem na minha
frente. Definitivamente, tudo o que eu menos queria, era observar uma foda
alheia — principalmente uma de Alexandre com outra mulher —, mas não
tinha como evitar, os meus olhos não se desgrudavam dos dois.

Aquele homem a alguns metros de mim era tudo, menos o Alexandre


Brandão que eu conhecia.

Além de falar palavrões a torto e a direito, ele também soava de forma


agressiva, usando palavras como “cadela” e “vadia”. Era completamente o
oposto do homem carinhoso e atencioso pelo qual tinha me apaixonado.
Eu queria simplesmente desaparecer daquele avião. Sentia-me como
numa cena de crime, num lugar em que não deveria estar, observando e
ouvindo coisas que eu não podia estar presenciando.

Alexandre arrancou a saia azul de Daniela e a jogou no chão, deixando-


a com uma calcinha fio dental preta. E ao olhar para a peça de roupa atirada
no carpete bege da aeronave, não consegui deixar de ouvi-la me dizendo que
eu não podia amassar o meu uniforme.

Hipócrita.
Cretina.

Safada.

Eu quis muito fechar os meus olhos, mas quando o meu chefe começou
a abrir a sua calça, o meu olhar demasiadamente pervertido fixou-se ainda
mais nele.
Queria vê-lo sem roupa.

Não conseguia nem fingir para mim mesma.

Para a minha infelicidade, ele apenas abriu a braguilha da calça social e


pôs o membro pra fora, que infelizmente não consegui ver muito bem antes
que ele o encaixasse em Daniela.
Aquele cafajeste a pegou pelas pernas e a levantou, como se ela fosse
uma boneca. Em seguida, depois de encará-la, sorrindo como se fosse um
lunático, apoiou as costas de Dani sobre a porta do avião.

E então, ainda com o sorriso colorindo os lábios, Alexandre começou a


meter com uma ferocidade que me assustou. Ele parecia estar com ódio,
como se quisesse machucá-la; eu simplesmente não compreendia. Ela, por
outro lado, parecia amar cada uma das estocadas fundas dele, gritava
ansiando por mais.

Com a cabeça abaixada, eu continuava a observá-los, morrendo de


medo de ser flagrada.
Não tinha ideia do que diria aos dois se fosse vista. Não existia uma
desculpa boa o suficiente para o fato de não os ter interrompido lá no
começo, quando tive chance.

— Estive pensando... Por que você contratou outra comissária, senhor?


— Daniela o questionou, mostrando-me que eu não era a única pessoa que
passou o dia inteiro com aquela dúvida na cabeça.
— Porque eu quis.

— Eu não sou suficiente? — ela tornou a questionar com uma voz


manhosa antes de gemer alto, o que me lembrou de que Alex continuava
metendo nela com força. — Ela nunca vai satisfazer o senhor tanto quanto eu.

Mais bizarro do que aqueles diálogos no meio de uma foda selvagem


era a insistência de Daniela em usar a palavra “senhor”, algo que agora eu
tinha certeza absoluta de que Alexandre fazia questão.
Alex riu e, depois de provar um pouco dos lábios dela, disse tão baixo
que quase não ouvi: — Cala a boca, porra.

Ela choramingou e, ignorando o que ele lhe dissera, prosseguiu: — O


senhor ainda não me respondeu.

O engravatado aumentou os movimentos.

Era como se ele a estivesse punindo por aquela pergunta indesejada.

— Tá com ciúmes, puta?

— Estou sim, senhor — ela confessou sendo bem direta. — Pelo


menos aqui, você costumava ser só meu, e eu não gosto de dividir homem.
Isso o fez rir, ainda mais do que da última vez. Era como se Daniela
tivesse lhe dito uma piada engraçada.

— Não precisa se preocupar com isso, Thais não é pro meu bico.
Diferente de você, ela não é uma puta suja — ele disse de forma tão calma
que aquilo nem parecia uma ofensa horrível para Daniela. — Mas você
acertou numa coisa, não preciso de duas comissárias. Ela vai te substituir.

O rosto de Dani ficou branco, como se ela não estivesse esperando por
aquilo.
Eu mesma não estava esperando por aquilo.

— Você... você está me demitindo? — ela questionou tão incrédula a


ponto de não usar o “senhor” em sua frase.

Era difícil acreditar que tudo aquilo estava rolando no meio do sexo,
enquanto o pau dele ainda estava dentro dela.
— Estou — ele respondeu e, segundos depois, gemeu. Com um
sorrisinho cafajeste e maldoso nos lábios, o nosso chefe concluiu: —
Terminei.

Ele tirou o membro dele de Daniela e, só então, consegui dar uma boa
olhada. Parecia ser grande — não que eu tivesse visto um pênis na minha
frente antes — e tinha uma cabeça rosa, que eu tinha certeza de que estava
toda melecada.

Alexandre sentou-se de lado em uma das poltronas e abriu bem as


pernas. Nesse instante, consegui observar melhor o caralho dele. A cabeça
rosada estava brilhando por conta da porra e da luz que entrava pela janela.
Não era apenas grande, era bem grosso também.
Sentia-me hipnotizada por aquele pedaço de carne.

Queria tocá-lo.

Senti-lo, talvez tão intensamente quanto Daniela o sentiu.


— Eu não acredito que você me contou isso assim...

— Dá pra calar a boca e vir limpar o meu pau? — ele a interrompeu


soando cruel.
A própria Daniela parecia não estar acreditando no quão filho da puta
ele estava sendo. Depois de demiti-la — enquanto transava com ela —, Alex
pedia para que ela o chupasse?

Desgraçado.

Ela abriu a boca para contrariá-lo, mas então ele prosseguiu: — Estou
esperando... E, você sabe, eu detesto esperar.
Pensei que ela fosse tomar alguma atitude e dar um tapa bem dado na
cara daquele cretino. Para minha total surpresa, entretanto, a comissária
apenas se ajoelhou em frente a ele e começou a chupá-lo.

Estava chocada.

Ainda mais do que antes.


Minha respiração estava tão alta quanto os gemidos de Alexandre.

— Pronto, senhor — ela disse, levantando-se com uma expressão


terrível no rosto.

Alexandre guardou o membro dentro da calça e riu, satisfeito com a


“limpeza” dela.
Pela expressão no rosto de Daniela, sabia que ela começaria a chorar a
qualquer momento. Eu me senti triste por ela, mas, ao mesmo tempo, sentia
um pouco de raiva por ela ter desperdiçado a chance de dar um soco bem
dado na cara daquele desgraçado.

— Você não vai mais ser a minha comissária... Mas só porque vai se
tornar assistente administrativa numa das minhas empresas — ele disse ao se
levantar da poltrona.

Dani pegou a saia lápis do chão e, assim que pude ver o rosto dela,
notei que estava rindo de felicidade; um sorriso radiante, com uma expressão
tão incrédula quanto no momento em que ele a demitiu.
— Obrigada... Eu... eu não...

— Você fez por merecer — ele disse a ela, como se soubesse que
Daniela não conseguiria terminar aquela frase por conta da emoção. — Quero
deixar claro que não foi por isso aqui que nós temos. Você é uma ótima
funcionária e, por mais que eu queira te prender aqui comigo, sei que
promover você é o certo a se fazer.

Ela riu e, com as mãos nos lábios, disse: — Acho que acabei de ter
outro orgasmo.
— Então você está me devendo um — ele respondeu, mordendo o
lábio inferior. — Como é que podemos resolver isso?

— Você pode me convidar pra sua casa e me comer na sua cama preta,
como daquela vez. — Os olhos dela brilhavam. Dani parecia uma pessoa
completamente diferente perto de Alexandre. — Se quiser, pode usar até as
cordas e aquela droga de prendedor de mamilos.

— Faz tempo que não levo uma cadela pra casa — ele comentou com
um sorriso malicioso, como se estivesse pensando no que faria com ela. — É
uma boa ideia.
— Estou à sua disposição, senhor.

Tudo o que conseguia pensar era “esses desgraçados não vão sair
dessa merda de avião?”.
Estava começando a ficar angustiada.

Antes que pudesse surtar, Alexandre seguiu na direção da porta e


levando o celular ao pé do ouvido, atendeu uma ligação.
Aleluia.

Daniela seguiu para o banheiro, certamente para tirar a porra do nosso


chefe do corpo dela.

Então finalmente encontrei a minha chance de deixar o meu


esconderijo. Com a minha bolsa na mão, dei passos leves na direção da porta
e torci para que o meu chefe não estivesse ali na escada.
Por sorte, ele não estava.

Alexandre estava parado, há uns dez metros da aeronave, conversando


no telefone. Aproveitei que ele estava de costas para descer a escadinha e
contornar o avião, saindo do campo de visão dele.

Aguardei uns vinte minutos, tentando digerir o que havia acontecido,


as cenas bizarras que presenciei e, em seguida, retornei como se tivesse
acabado de chegar.

Alex continuava parado, mas, aparentemente, tinha finalizado a sua


ligação. Assim que me avistou, ele fez um gesto com a mão para que eu me
aproximasse.

E, nesse momento, o meu corpo enrijeceu.

Merda.
Merda.

Merda.

“Ele sabe que eu vi tudo”.


Foi impossível não me desesperar com esse pensamento em mente.

— Se divertiu?

Por um momento, realmente achei que Alex estivesse me perguntando


se eu havia gostado do que tinha visto dentro daquele avião, do sexo
selvagem que ele teve com Daniela.

Antes que eu pudesse me torturar com aquela possibilidade, ele


continuou: — Como foi o passeio?

Fiquei tão aliviada que comecei a rir.


“Não teve passeio nenhum, fiquei aqui e flagrei você fodendo com a
Dani. Ouvi você chamá-la de cadela e agora essa merda não sai da minha
mente”.

Queria muito lhe ter dito isso, mas não o fiz.

— Foi bom... Você tinha razão, a cidade é realmente linda.


— Da próxima vez, faço questão de acompanhar você pessoalmente.

Apenas forcei um sorriso, tentando disfarçar o quanto estava


desconfortável na presença dele.

O olhar do loiro estava tão intenso em meu rosto que era difícil
continuar ali parada em frente a ele. Depois de ter presenciado aquilo tudo —
de ter visto o caralho dele todo esporrado —, não conseguia mais ficar à
vontade com Alex. Era impossível não questionar se o executivo também não
me enxergava daquela forma, como uma “cadela”.
De repente, um pensamento aflorou em minha mente.

Lembrei-me do que ele havia dito a Daniela:

“Thais não é pro meu bico. Diferente de você, ela não é uma puta
suja”.

Por algum motivo — um muito estranho, confesso —, isso me deixou


um pouquinho frustrada.
Antes que eu pudesse me questionar por que era frustrante para mim
não ser vista como uma “puta suja”, ele tornou a falar: — Vamos demorar
mais uma hora pra decolar. Então, é bom você avisar sua mãe de que chegará
mais tarde. Eu não quero que ela se preocupe com você, O.K.?

Pronto.

Já tinha minha resposta.


Alexandre não me enxergava como uma “puta suja” porque me via
como uma menininha boba, a mesma que ele havia dispensado há alguns
anos.

Apontei na direção do avião e lhe disse: — Se não se importar, eu vou


entrar.

Não esperei pela resposta dele. Simplesmente me afastei, mantendo


aquela cena que ele e Daniela protagonizaram em minha cabeça, como se
estivesse presa num maldito looping.
Capítulo 09

Estar perto de Alex era uma tortura.


Lembrava-me sempre da cena que ele e a outra comissária
protagonizaram.

Com medo de que isso estivesse evidente em minha expressão facial,


limitei-me a lhe dizer o costumeiro “bom dia, senhor”. Quando ele ameaçava
engatar um assunto comigo, dava um jeito de lhe cortar gentilmente, voltando
para os fundos da aeronave.

No final do meu expediente, não tive muito sucesso.


Alex cercou-me, esperando por mim fora do avião.

— Hoje você vai embora comigo — ele disse alto o suficiente para que
Fabrício e Daniela ouvissem e entendessem que eu não entraria em um Uber
com eles, como costumávamos fazer.

Senti vontade de questionar com “eu vou?”, mas me controlei, pois


não podia dar a entender que existia uma coisa de errado. Se Alexandre
suspeitasse do meu desconforto, então seria obrigada a lhe contar que o havia
espionado.
Quando os meus colegas partiram, restaram apenas eu, Alex e as
estrelas acima de nossas cabeças.

Ele usava o mesmo terno do dia em que o reencontrei no salão do


hotel. Sua barba, que ele não aparou nos últimos dias, o deixou ainda mais
sexy, dando um toque mais másculo em seu rosto.
— Onde paramos? — ele questionou, com os olhos cor de mel
queimando o meu rosto.

— Você ia me levar embora — respondi, esforçando-me ao máximo


para não deixar transparecer o quanto estava desconfortável.
— Na verdade, pensei em conversarmos... Aproveitar um pouco mais
dessa noite linda — ele tornou a falar, pegando-me de surpresa.

Não havia sido uma pergunta.

Todos os extintos do meu corpo gritaram “corra o mais rápido que


você puder”.
Contudo, ainda assim, limitei-me a responder: — Tudo bem.

Alexandre escoltou-me de volta à aeronave.

Ele fechou a porta de metal e caminhou para os fundos dela. E, de lá,


questionou-me, imitando a minha voz: — Aceita uma bebida, senhorita
Pontes?
Sorri e lhe respondi: — Não, muito obrigada.

Como se não tivesse ouvido a minha resposta, ele retornou com duas
taças e uma garrafa de vinho. Alex colocou tudo em cima da mesa que ele
usava para trabalhar e voltou o seu olhar intimidante na minha direção.

— E aí, está gostando de trabalhar comigo?


Notei uma entonação diferente na palavra “comigo”, que foi seguida
de um sorriso sacana.

— Estou sim — respondi, não conseguindo manter um contato visual


com ele.

Sentia-me como uma presa acuada, que pressentia que o momento de


sua morte estava próximo. E isso me deixava ainda mais amedrontada, com
medo de que ele percebesse o meu desconforto e me perguntasse o motivo.

Ele serviu o vinho e, mesmo eu não tendo muito costume de beber,


fiquei com vergonha de recusar a bebida mais uma vez.
Continuava em pé, ainda desconfortável com a nossa proximidade,
principalmente com os olhos cor de mel dele que me comiam viva. Ele me
encarava de uma maneira diferente, com o que parecia ser... Desejo.

Era quase parecido com a forma com que ele observava Daniela.
Sentia-me muito intimidada e, ao mesmo tempo, incrivelmente bem.

Alex deu dois passos, aproximando-se de mim. Instintivamente, fui


para trás e acabei encostando as minhas costas na porta de metal.
A mesma porta em que Dani foi encurralada.

Merda.

Merda.
Merda.

— Não sei se avisaram a você, mas uma das coisas que eu mais
valorizo nas pessoas que trabalham comigo, é a vontade delas em me
satisfazer — ele sussurrou próximo demais do meu corpo.

Estávamos tão perto um do outro que a taça dele encostou em minha


camisa.
Não tinha ideia do que lhe responder.

E tinha medo de dizer a coisa errada.

— Estou sempre à sua disposição, senhor — respondi depois de alguns


segundos.
Dessa vez, ele não fez questão de me corrigir, dizendo-me coisas como
“pra você é apenas Alex”.

O CEO sorriu satisfeito e, ainda com aquela expressão que esbanjava


malícia, ele pronunciou baixinho: — E se eu te dissesse que quero foder você
aqui e agora, ainda estaria à minha disposição?
Caralho.

Fiquei totalmente sem reação.

Eu queria muito que ele me “fodesse”, mas não estava esperando por
aquilo. Soava estranho, quase irreal, principalmente porque ele havia sido
direto demais.
Então relembrei da fala do meu amigo, do que ele me disse quando
contei que trabalharia com Alex: “Se surgir uma nova oportunidade, não sai
correndo, não procura ninguém, só senta com vontade em cima desse cara”.

Bruno estava certo.

Não podia mais correr, tinha adiado isso por tempo demais.
— Sim... — Ele me repreendeu com o olhar, forçando-me a completar
com: — Senhor.

Antes que pudesse lhe dizer mais alguma coisa, confirmando uma vez
mais que queria aquilo, a mão esquerda dele invadiu a minha saia. Senti os
seus dedos tocando em minha boceta por cima da minha calcinha.

Precisei segurar a taça de vinho com força para não derrubá-la.


O meu coração estava tão disparado que tinha medo de morrer antes de
finalmente transar com ele.

— É disso que eu gosto — ele tornou a sussurrar, ainda tocando-me


daquela forma. — De uma cadela bem obediente.

Nunca homem nenhum havia me tocado daquela forma — ou me


chamado daquilo —, então devia ser normal eu ter aquela reação, quase
parecida com um choque, sem nem conseguir respondê-lo.
Os lábios dele pronunciaram de forma silenciosa “acorda”.

E isso me deixou confusa.

E então passei a ouvir a palavra “acorda” sendo pronunciada, mas por


uma vez feminina, uma voz muito familiar.
— Acorda — a minha mãe tornou a gritar, me despertando daquele
sonho erótico e levando a imagem de Alexandre para longe de mim.

Demorou alguns segundos para que eu me desse conta de que tudo não
havia passado de um sonho.

Uma droga de sonho.


Um dos muitos que estava tendo, desde que presenciei aquela maldita
cena.

Estava deitada em minha cama, com minha mãe segurando os meus


braços, em uma tentativa de me acordar.

— Você vai acabar chegando atrasada — ela me disse, ao olhar para a


minha cara feia, que, definitivamente, não estava nada feliz em ter sido
acordada antes que a porcaria do sexo rolasse. — Desse jeito, você vai acabar
fazendo com que o Alex perca uma das reuniões dele, Thais.
Aparentemente, nem mesmo em meus sonhos conseguia perder a
porcaria da minha virgindade.
Capítulo 10

A cena de sexo continuava viva em minha mente, mas, diferente de


antes, não a enxergava mais como algo chocante e horripilante.
Ela me excitava.

Sim, exatamente isso.

A porcaria da imagem de Alexandre Brandão degradando Daniela me


excitava e eu me detestava por isso, principalmente pelos sonhos eróticos que
tive depois daquele incidente.
Em todos eles, o loiro empurrava-me com força e me fodia com a
mesma intensidade com que fez com Dani. Conseguia até mesmo sentir o seu
hálito quente em meu rosto enquanto nossos corpos se encaixavam
perfeitamente. Ele me chamava pelos piores nomes e quanto mais sujos eles
eram, mais eu ficava excitada.

Sentia-me envergonhada por ter esses pensamentos e desejos


pervertidos dentro de mim, mas não conseguia evitar. Tudo ficava ainda mais
patético quando me dava conta de que ainda era virgem, de que nunca havia
estado com um homem daquela forma.

No trabalho, as coisas também não estavam muito melhores. Ter


Alexandre em carne e osso era ainda pior do que tê-lo em meus sonhos. Não
conseguia mais olhar para ele e não me recordar daquele seu outro lado: do
“Alex dominador”, como eu secretamente o apelidei. E isso me deixava
sempre desconcertada quando ele me puxava para conversar.
Ele questionava “como está sua mãe?” e tudo o que eu ouvia era
“cadela” e outros dos adjetivos “carinhosos” que ele tinha para Daniela.

“Bom dia, senhor” sempre lhe dizia quando ele aparecia, segundos
antes de Alexandre ser gentil comigo, respondendo coisas como “Me chama
só de Alex, princesa”.
Quando isso acontecia, lembrava-me daquela frase que ele pronunciou
para Daniela — “pra você é senhor” — e me sentia ainda pior. Detestava ter
esses desejos, ainda mais por um homem como Alex, que já havia me
dispensado, porém, odiava ainda mais ser vista como esse anjinho imaculado.

Podia ser virgem, mas não era nada inocente.

Meus sonhos eróticos eram a prova disso.


Por mais horrível que pudesse parecer, eu queria aquilo. Eu queria que
ele me jogasse contra a parede, queria que ele me fodesse com força e,
principalmente, queria ser tratada daquela mesma forma.

Doentio?

Talvez, mas eu ainda queria.

Assim que cruzei a porta de casa, ignorei os meus pais, principalmente


a minha mãe, que me perguntaria sobre o Alex. Como não estava com a
mínima vontade de lhe contar como foi o meu dia, segui apressada na direção
do meu quarto.

Joguei a bolsa em cima da cama e peguei o meu notebook. Aquela


velharia demorou uns sete minutos para iniciar. Eu só não o atirava contra a
parede porque não tinha dinheiro nem pra consertar a tela quebrada do meu
celular.
Abri o chat e mandei uma mensagem para o meu amigo:

Está aí?

Pode falar agora?


Ele demorou quase vinte minutos para me responder.

Eu estou terminando de me arrumar pra uma festinha que vai rolar


na casa de um amigo. O Felipe vai estar lá, então eu tenho que ficar bem
gato.

Mas por quê?


Aconteceu alguma coisa?

Poderia simplesmente lhe dizer que estava bem e que poderíamos


conversar mais tarde, mas precisava muito do meu amigo e, acima de tudo,
precisava desabafar com alguém sobre a cena bizarra que tinha visto naquele
avião. Não suportaria mais ficar digerindo tudo aquilo sozinha.

Ainda estou em estado de choque.


E é muita coisa pra digitar.

Após ler a minha mensagem, Bruno fez uma chamada de vídeo que eu
aceitei, mesmo sabendo que o meu cabelo estava uma porcaria.

Ele estava seminu, vestindo apenas uma cueca boxer azul.


Às vezes, eu me esquecia do quanto ele era atraente.

Em nossa adolescência — no curto tempo em que namoramos —,


Bruno já era bonito, lembro-me de ter pensado “se tem alguém que pode me
fazer esquecer o Alex, é ele”. E os anos apenas o favoreceram, trouxeram-lhe
músculos e uma aparência mais viril.
Ele pegou uma camisa branca de botão e outra azul e questionou,
erguendo as duas: — Qual dessas você acha que vai fazer o Felipe se morder
de ciúmes?

Felipe era o ex-namorado de Bruno. E eles tinham uma relação pisca-


pisca — apagava e acendia a todo o momento. Então, nunca sabia se estavam
juntos ou separados, era muito difícil de acompanhar.

— A azul, ela combina com os seus olhos — respondi. E sem


conseguir esperar mais, despejei tudo em cima dele, que continuava olhando
para as peças de roupa: — Aconteceu uma coisa muito bizarra na semana
passada e eu não consigo mais guardar isso pra mim.
Ele ergueu a cabeça, trazendo os seus olhos para a tela do notebook.

E então, com a sua total atenção, eu prossegui: — Eu vi o Alex


fodendo a menina que trabalha comigo.

— Você, o quê?
— Isso mesmo que você ouviu — continuei relembrando o quanto
aquela cena havia sido bizarra. — E essa nem é a pior parte, Bruno.

Simplesmente contei tudo ao meu amigo, narrei exatamente o que


havia acontecido naquele avião, sobre toda a agressividade com que
Alexandre tratou Daniela, do sexo selvagem que presenciei e que não
conseguia mais tirar da cabeça.
— Caralho, amiga — ele comentou, ao final do meu relato. — Nunca
imaginei que ele fosse o tipo de cara que gosta dessas coisas. Sempre me
pareceu tão certinho...

Era a segunda vez que flagrava Alexandre transando com alguém. Se


acontecesse mais uma vez, eu já podia pedir uma música.
— Ele parecia um touro... — sussurrei, visualizando as cenas em
minha mente.

— Agora eu é que estou com vontade de transar com ele — Bruno


brincou, arrancando-me um sorriso.

— Foi bizarro... Você não está me entendendo! — insisti, agindo como


se aquelas cenas não tivessem me excitado. — Ele xingava ela de cadela e de
outros nomes... Quem é que gosta desse tipo de coisa?
Só de pronunciar isso, senti o calor subindo pelas minhas pernas.

Merda.

Talvez — mesmo que eu nunca fosse admitir, nem para o Bruno e nem
para ninguém — eu gostasse.

— Dependendo do cachorrão, não tem problema ser chamada de cadela


— ele respondeu, claramente me provocando. Não tive tempo de chamá-lo de
idiota e dizer, uma vez mais, que nunca aconteceria nada entre Alex e eu, que
o havia superado completamente. Antes dessas minhas desculpas, ele
prosseguiu: — Você notou que já é a segunda vez que você vê esse homem
fodendo, não é? E a parte mais estranha, é que nenhuma delas foi com você.
— E, novamente, ele não me deixou dizer nada: — Espero que na terceira, a
cadela seja você, amiga.

Não entendia o motivo para que eu continuasse indo atrás dos


conselhos de Bruno, quando sabia exatamente o que ele me diria.

— Você está viajando... Nós nunca... Nunca...

— Preciso desligar e terminar de me trocar, ir beijar um monte de cara


naquela festa e acabar com a noite do Felipe — ele me interrompeu
claramente desinteressado pelo meu discurso de “isso nunca vai acontecer”,
que nem mesmo eu acreditava. — Mas, agora falando sério amiga, se ele é
mesmo esse tipo de homem, que gosta dessas bizarrices e sente prazer em
humilhar, nem mesmo eu vou continuar te aconselhando a ficar com ele. Vê
se toma cuidado, O.K?

— Também não é como se ele fosse me prender numa masmorra,


Bruno — ri com essa ideia bizarra.

— Alguns homens gays também adoram esse lance de BDSM, de


dominar e degradar. E acredite, tem muita coisa macabra. Nunca duvide da
falta de sanidade de um homem rico e entediado — ele disse por fim, antes
de se despedir e desligar, deixando-me ainda mais pilhada do que já estava.
Essa conversa com o meu amigo me deixou pensativa e um pouquinho
curiosa a respeito de toda aquela bizarrice, o que me fez ir até o Google
pesquisar o que exatamente significava “BDSM”.

De acordo com o primeiro resultado “Bondage, Disciplina,


Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”.

A sigla era descrita, basicamente, como uma prática sexual onde os


praticantes encontravam prazer assumindo posições de dominação e
submissão, alguns, inclusive, gostavam de dor e desconforto — causar e
receber, de acordo com os respectivos papéis de dominador e submissa.
Após ler todas essas coisas, eu não fiquei apenas horrorizada, estava
estranhamente inspirada, de uma forma que não acontecia com muita
frequência. E isso fez com que eu clicasse no aplicativo do editor de texto e
então, com um sorriso enorme no rosto, digitei as primeiras palavras daquele
que viria a ser o meu novo livro.

Comecei com uma breve sinopse, apenas para que eu preservasse parte
da ideia que havia tido.
“Thayse se vê obrigada a aceitar um emprego como aeromoça de
Alejandro, um homem rico, sádico e muito poderoso, que não medirá
esforços para dominá-la completamente”.

Sim, eu sabia que aqueles nomes eram patéticos — quase idênticos aos
nossos —, mas poderia mudar isso mais tarde. O mais importante era
preservar a ideia original, que, pasmem, tratava-se claramente de um romance
erótico.

Um romance protagonizado por mim e Alexandre.


Capítulo 11

Depois de passar duas semanas inteiras com um rei na barriga,


contando pelos quatro cantos da aeronave que se tornaria a nova assistente
administrativa de Alex, Daniela deixou a tripulação do avião.
Não podia dizer que estava triste com a partida dela.

Pelo menos, agora já não corria mais o risco de assistir uma nova cena
de sexo deles.

Próximo do horário em que Alexandre costumava chegar, dirigimo-nos


para fora do avião e aguardamos por ele. Nosso chefe demorou um
pouquinho a mais para aparecer e, quando finamente deu o ar de sua graça,
estava com uma expressão terrível estampada na face.
Fiquei com medo de lhe dar “bom dia” e receber uma bronca.

Felizmente, Fabrício o fez antes: — Bom dia, senhor.

Ele parou, voltou o olhar para o piloto e esperei por um palavrão, do


tipo de esporro que havia me acostumado a tomar de Marcela em meu último
emprego. Tenho certeza de que o próprio Fabrício também achou, ao olhar
para o rosto de Alexandre. O CEO, entretanto, levou a mão até o ombro do
meu colega de trabalho e sorriu.
— Bom dia, Fabrício.

Como a barra estava limpa, também o cumprimentei e, assim como


havia sido com o piloto, Alexandre foi gentil comigo.

Entramos no avião e poucos minutos mais tarde os assistentes dele


apareceram. Eu não precisava ler mentes para saber que o problema havia
sido com os dois. Era como se Alex quisesse torcer o pescoço deles
lentamente.

— Senhor...
— Não, você não vai falar nada! — Alexandre interrompeu Nathalia, a
assistente dele. — Quando tinha que me falar alguma coisa, não o fez, não é?

Ela estava pálida.

Fiquei um pouco desconfortável com a cena e isso impediu que me


aproximasse para perguntar se ele queria alguma coisa.
— Quando eu disser pra você cancelar uma coisa, você cancela essa
coisa — ele continuou totalmente explosivo. Nunca tinha visto ele daquela
forma. Alex sempre foi muito calmo e paciente. A única vez que o vi de
forma diferente, foi quando presenciei o sexo dele com Daniela. Nathalia
abriu a boca, mas, uma vez mais, ele não permitiu que ela falasse: — Foda-se
que era a porra da Forbes.

— A ideia de não desmarcar foi minha — o outro assistente disse,


tomando a frente e tirando os olhos furiosos de Alexandre do rosto de
Nathalia. — Com todo o respeito senhor, mas não se cancela com um veículo
tão renomado.

Sentia que Alexandre estava prestes a se levantar daquela poltrona.


— Foram eles que desmarcaram comigo primeiro, como se o meu
tempo fosse menos valioso que o deles — Alexandre rebateu. — Eles acham
que eu tenho todo o tempo do mundo? Que podem simplesmente mudar a
data de uma entrevista que estava agendada há semanas?

— Mas senhor...
— Quem deu autoridade pra vocês desmarcarem as minhas reuniões de
hoje para encaixar essa droga de entrevista no lugar? — ele questionou.

Os dois assistentes ficaram em silêncio, e esses ínfimos segundos


pareceram ainda piores do que quando Alex ainda estava gritando.
O homem abriu a boca, entretanto, antes que pudesse dizer alguma
coisa, Nathalia o impediu: — Eduardo, não!

Nesse instante, Alex levantou-se da mesa e caminhou até os dois e


parou bem em frente ao homem, que estava com o rosto mais vermelho que
uma pimenta.

— Fala — ele exigiu, arrepiando até a mim que não tinha nada a ver
com aquela história. — Se eu tiver que pedir de novo...
— Foi... foi o seu pai, senhor — Eduardo confessou tremendo em pé.

Dessa vez, foi o rosto de Alexandre que ficou vermelho como se ele
estivesse prestes a explodir — ainda mais do que já tinha explodido.

— Ele mandou vocês me espionarem? — o engravatado questionou


encarando os dois, que pareciam cervos indefesos em frente a um leão
faminto.

— Pediu para que lhe comunicássemos caso alguma decisão


equivoca... — Nathalia se interrompeu, provavelmente se dando conta da
porcaria que estava prestes a dizer. — Só estávamos seguindo ordens, senhor.

— Tudo bem então — ele disse ao retornar para a sua mesa. Alex
voltou o olhar para os assistentes e completou: — Os dois estão demitidos.
Podem sair.

— Mas senhor? — Ainda atônito, Eduardo o questionou. — Nós só


estávamos...
— Seguindo ordens do meu pai? — ele completou a frase do homem.
— Então vão trabalhar pra ele, porra.

Tanto Nathalia quanto Eduardo desistiram de tentar se explicar,


simplesmente deixaram o avião. Fiquei com um pouco de pena dos dois,
principalmente de Nathalia, que parecia não ter muita culpa do que havia
acontecido.
Pensei em me esconder, esperar uns quinze minutos e, só depois disso,
me aproximar dele para lhe oferecer alguma bebida. Mas antes que eu
movesse o meu pé, ele se levantou da poltrona e se aproximou de mim.

— Infelizmente, tivemos uma mudança de última hora. Tenho que


estar em Nova York pra uma matéria idiota...

— Na Forbes, eu ouvi — disse, detestando-me por tê-lo interrompido.


Como ele não surtou comigo, senti-me confiante para completar: — Parece
bem importante...
— Avisa a sua mãe que não vamos voltar hoje, O.K.? — ele me cortou,
mostrando-me que, diferente das últimas vezes, não estava muito a fim de
conversar.

Balancei a cabeça e tive que me segurar para não respondê-lo com um


“sim, senhor”.

Demoramos cerca de meia-hora para decolar. Fabrício teve que se


programar e preparar a aeronave para o longo voo que enfrentaríamos.
O loiro sentou-se em sua poltrona e, assim que saímos do chão,
finalmente me coloquei em frente a ele e questionei: — Posso trazer alguma
coisa pra você beber, Alex?

— Café — ele respondeu com os olhos voltados para o notebook em


cima da mesa.

Fui para os fundos da aeronave e preparei o café dele na cafeteira.


Alexandre gostava de expresso, sem açúcar ou adoçante. A cápsula era
extraforte. Quando provei, na minha primeira semana como aeromoça,
detestei; parecia uma água suja amarga.
Levei a xícara até ele.

— Mais alguma coisa, senhor?

O “senhor” em minha frase fez com que ele voltasse o seu olhar na
minha direção.
— Desculpe, eu acho que não consigo me acostumar a te chamar só de
Alex quando todo mundo o chama de senhor.

Ele sorriu e respondeu: — Pode relaxar, Thais. Não vou te dar uma
bronca por conta disso. — Quando me preparei para retornar, sentando-me
numa poltrona nos fundos, ele me disse: — Senta aqui comigo.

Queria recusar, mas a sua última frase havia soado como uma ordem.
E, depois da cena que tinha presenciado mais cedo, não queria desobedecê-lo.

Como se tivesse lido a minha mente, ele me disse: — Não deveria ter
perdido a cabeça daquela forma, sinto muito que tenha presenciado isso.

— Imagina, eu quase não reparei em você gritando com aqueles dois


— brinquei, roubando-lhe um sorriso.

— Não deveria ter gritado com eles. Demitido? Com certeza. Mas
reconheço que passei do ponto na discussão — ele prosseguiu de uma
maneira calma, tornando a se assemelhar com o Alexandre que eu conhecia.
Ele me explicou o porquê estava tão estressado com a Forbes.
Aparentemente, eles cancelaram uma entrevista que estava programada para a
semana anterior, simplesmente disseram-lhe que tiveram que encaixar um
empresário norte-americano em cima da hora e que não teriam mais tempo
para ele. E ainda se justificaram, afirmando que a entrevista com ele havia
sido remarcada para a semana seguinte.

Orgulhoso, Alexandre pediu para que os seus dois assistentes


cancelassem tudo, que dissessem que não teria mais entrevista alguma, que se
eles não tinham tempo, o CEO também não gastaria o dele.

— Imagina a minha surpresa ao receber uma mensagem de Nathalia,


pela manhã, me informando que iríamos para a droga da entrevista? — ele riu
e então prosseguiu: — E como se isso não fosse o bastante, ainda descubro
que foi uma ordem do meu pai, que os dois assistentes estavam me
espionando a mando dele.

Simplesmente balancei a minha cabeça, concordando com tudo o que


ele estava me dizendo. Não tinha ideia do que lhe falar e sabia que Alexandre
não queria palavras vazias de conforto, ele só precisava uma boa ouvinte. E,
como ele me enxergava como uma espécie de amiga, encaixei-me
perfeitamente naquela posição.

— É como se o meu pai soubesse que eu vou falhar e, por isso, precisa
continuar de olho em mim, pra me impedir de fazer merda; como se eu ainda
tivesse dezoito anos de idade — ele continuou sério, mas sem me encarar. —
Sabe a pior parte? Ele estava certo sobre o lance da Forbes, foi burrice ter
cancelado, agi como um garoto, como um garoto mimado. — Ele forçou um
meio sorriso, um completamente frustrado. — E isso me faz pensar se estou
mesmo pronto pra isso... Pronto pra ter toda essa responsabilidade...
Eu queria muito dar a ele palavras de conforto, mas não sabia o que
dizer, quais palavras usar para fazer com que ele se sentisse bem. E a parte
mais irônica era que saber usar as palavras era imprescindível para uma
escritora minimamente competente.

— A verdade e talvez a parte que mais me irrita em toda essa história, é


que eu preciso muito dessa matéria estúpida... Preciso porque não tenho
credibilidade suficiente sozinho. As pessoas, principalmente os nossos
acionistas, não confiam em mim como Diretor Executivo. Eles sabem que eu
não sou como o meu pai; me veem como um playboy incompetente. E, por
esse motivo, a minha equipe e família estão tentando criar uma aura de
respeito e competência através de matérias na mídia.
Isso me lembrou daquela matéria que li no ano anterior, junto com
Bruno, em que o pintavam como um dos empresários mais promissores do
Brasil. Aparentemente, a equipe dele já estava preparando-o para assumir o
cargo de CEO.

— Eu não entendo muito sobre o seu trabalho ou sobre a companhia da


sua família... Tudo o que eu sempre soube é que vocês fabricam cerveja — eu
o interrompi, roubando um sorriso dos lábios dele. — Mas, pelo que peguei
de toda essa confusão, você vai ser a capa da Forbes, uma revista
importantíssima de finanças. E, até onde eu sei, nunca deram isso pra um
incompetente.

Não tinha a mínima ideia do que estava lhe dizendo — além do fato de
ter certeza absoluta de que a revista de finanças já havia, sim, estampado um
monte de incompetente na capa —, só queria que minhas palavras o fizessem
se sentir melhor, queria confortá-lo, pois entendia completamente como era
ser vista como incapaz.
Minha mãe sempre agiu dessa forma quando o assunto era a minha
carreira. E tinha certeza de que o problema não era apenas o fato de minha
profissão não ser das mais lucrativas. No fundo, eu sabia que ela não
enxergava potencial em mim. E quando começou a ver — enquanto assinava
dezenas de livros na minha noite de autógrafos —, eu fracassei, dando ainda
mais certeza a ela.

— Valeu pela força, princesa — ele sussurrou antes de me dar uma


piscadela. — Não sou o tipo de cara que desabafa assim, mas confesso que
foi bom.
Capítulo 12

Pousamos e o CEO seguiu para a entrevista e sessão de fotos com o


pessoal da revista. Como isso levaria o dia todo, fomos liberados do trabalho
e recebemos orientações para ficar em um hotel.
O lugar era bonito e bem luxuoso, daqueles em que você entra e logo
nota o quanto está malvestida. Fomos para a recepção e Fabrício disse que
tínhamos uma reserva em nome de “Brandão”.

— Uma suíte standard e uma deluxe? — De acordo com o meu inglês


péssimo, foi isso o que a recepcionista questionou, com os olhos na tela do
computador.

Ela disse mais alguma coisa, mas não consegui compreender.


— Documento — Fabrício me pediu, esclarecendo o que a atendente
havia dito.

Tirei meu passaporte da bolsa e o entreguei à moça, que, logo após


conferir meu nome, entregou-me um cartão dourado muito bonito. O efeito
metalizado era tão perfeito que, pelo olhar, realmente parecia ser de metal.

Fabrício, diferente de mim, recebeu um branco.


— Por que os nossos cartões são tão diferentes?

— Porque o meu quarto não fica na cobertura — ele respondeu,


abandonando-me na recepção e seguindo na direção dos elevadores.

Novamente olhei para o meu cartão e o virei, para verificar o número


do meu quarto.
001.

Deluxe Master.

Fui para o elevador e cliquei no último botão — que, na minha mente,


devia pertencer à cobertura —, mas não funcionava, simplesmente não ia.

Como apareceram outras pessoas para usar o elevador, fiquei


envergonhada e simplesmente o deixei, parando próxima da porta, sem a
mínima ideia do que deveria fazer. Mesmo sabendo que teria que pedir ajuda
a algum funcionário, dizendo que a porcaria do elevador não funcionava, não
sabia dizer isso em inglês.

Peguei o meu celular e fui para o Google Tradutor.


Digitei “o elevador não funciona” e a frase foi traduzida para “The
elevator doesn't work”.

“Pronto. Agora eu só preciso aprender a pronunciar essa merda”


pensei, amaldiçoando Fabrício por ter se doído tanto com a minha suíte na
cobertura a ponto de me largar ali.

— Thaís?

A voz familiar fez com que me virasse instantaneamente.

Diferente de como havia acontecido no hotel em que trabalhava, amei


ter ouvido o som da voz grave de Alexandre pronunciando o meu nome.

— Essa porcaria de elevador não funciona — disse ao meu chefe.


Ele riu, balançou a cabeça, divertindo-se comigo e me levou para o
elevador.

Isso me irritou um pouquinho.

Será que ele achava que eu não era capaz de clicar num botão?
— O acesso pro nosso andar só é liberado quando você coloca o cartão
aqui — Alexandre me explicou, fazendo com que eu me sentisse a pessoa
mais burra do mundo ao encaixar o seu cartão em um compartimento na
parede metálica do elevador. Assim que uma luz ficou verde, ele prosseguiu:
— Viu só, princesa?

Eu agradeci mentalmente por Alex ter me encontrado antes de eu me


colocar em frente à recepcionista e pronunciar aquela frase — que nem eu
sabia se havia sido bem traduzida — de forma errada.

— Acho que fiquei uns vinte minutos parada na frente da porta —


confessei enquanto subíamos, totalmente envergonhada pela minha burrice.
— E outros cinco dentro do elevador, apertando o mesmo botão.

— Deviam ter explicado isso pra você — ele disse depois de rir de
mim. — Vou puxar a orelha da recepcionista mais tarde.

— Por favor, não puxe. Ela deve ter dito, mas, como o meu inglês é
uma porcaria, é claro que eu não entendi muita coisa.
— Vou ter que te colocar em outro curso.

Isso me fez rir e me lembrar de que não havia nem começado a ver as
videoaulas do curso de comissária de bordo. Estavam todas amontoadas,
junto com um milhão de tarefas não concluídas.

A porta do elevador se abriu e notei que existiam apenas dois quartos


naquele andar inteiro.
— Eu estava pensando... O que você acha de beber alguma coisa? —
Alexandre propôs com um sorriso nos lábios.

Ele estava tão lindo naquele terno que era difícil até de pensar em uma
desculpa para recusar o seu convite.
— Agora? — questionei como se não fosse óbvio o bastante. — Ele
balançou a cabeça afirmativamente e, deixando-me sem saída, obrigou-me a
aceitar. — Tudo bem.

O cara tinha me levado pra uma das duas maiores suítes do hotel.
Eu não podia dizer “não”.

Depois de ignorar a minha mente gritando “você podia, sim”, entrei no


quarto.

Sem nenhum exagero, era maior que o meu antigo apartamento. E,


obviamente, essa também era a única semelhança entre eles. Tinha uma vista
incrível da cidade, que ofuscava qualquer um dos móveis caros. As cortinas
escuras, o tapete branco enorme e a cama king size foram as primeiras coisas
que observei. Próximo de um sofá marrom, estava um carrinho de serviço
com uma garrafa do que parecia ser champanhe.
Sentei-me no sofá e coloquei a minha bolsa em cima da mesinha de
centro.

Alexandre tirou o paletó e o dobrou, colocando-o sobre o sofá. Em


seguida, ele abriu o colete cinza e isso deixou a sua camisa branca visível.

O loiro caminhou até o carrinho de serviço e tirou a garrafa de


champanhe do balde de gelo de metal. Ele secou a garrafa com um pano
branco e então a abriu, sem esforço algum. Não tinha ideia de como ele havia
conseguido, mas não fez praticamente nenhum barulho, a rolha não saiu
voando pelo quarto e nós não terminamos molhados.
O meu chefe serviu a bebida em duas taças e me entregou uma delas.

— Obrigada — respondi ao aceitá-la. Voltei o meu olhar na direção


dele. — Posso saber o que estamos comemorando?
— Essa droga de dia finalmente chegando ao fim.

Isso me fez rir.

Provei um pouco e o sabor não era tão bom quanto pensei que seria.
Tinha certeza absoluta de que o problema era o meu paladar, que preferia os
espumantes vagabundos que estava acostumada a tomar no Ano Novo.

O engravatado sentou-se ao meu lado e me senti confortável para


questioná-lo: — Por que você não me deixou num quarto parecido com o do
Fabrício?

— Porque você não é o Fabrício.


Foi impossível não olhar para a expressão cafajeste dele e não pensar
“esse cretino quer me comer”. Ainda mais impossível não chegar à
conclusão de “e eu bem que deixaria”.

— E, claro, porque eu quero que a dona Mariza saiba que estou


cuidando bem da filhinha dela — ele prosseguiu depois de beber um gole de
sua taça.

Pronto.

Voltei a ser a garotinha inocente.

— Continua um cavalheiro — sussurrei, não conseguindo deixar de me


lembrar do momento em que ele chamou Daniela de “cadela”.

— Não consigo evitar.


Era tudo tão irônico.

Toda essa pose de bom moço me fazia questionar se tudo aquilo era
falso. Se a sua gentileza e carinho eram apenas um disfarce pro “pervertido
de merda” que ele realmente era.
E se realmente era isso, por que então o cretino nunca havia tentado
algo comigo?

Será que o problema era eu?


Alex não me achava atraente o bastante para bancar o pervertido para
cima de mim?

Se fosse isso, era bem ofensivo.

Acorda Thaís, esse cara é um dos playboys mais requisitados do país.

Por que ele perderia tempo transando com você?

Estava tão perdida nos meus próprios pensamentos que a taça de


champanhe virou em cima de mim, molhando-me inteirinha.

— Merda — xinguei em voz alta, detestando-me por ser tão desligada.


Alex se levantou e logo retornou com uma toalha branca, para que eu
me secasse. De início, fiquei hesitante em usar aquela toalha branquinha, não
queria sujá-la. Mas como Alexandre me encarava, peguei a toalha de sua mão
e comecei a me secar. Nesse meio tempo, ele abriu uma mala preta e pegou
uma camisa azul de botão.

— A sua sorte é que eu sou paranoico e sempre ando com, no mínimo,


três camisas.

Tirei a peça de roupa molhada, deixando o meu sutiã preto à mostra.


Mesmo um pouco envergonhada com a situação de estar praticamente
seminua em frente a ele, aproveitei a ocasião para observar se Alex olharia
para mim.
Ele olhou apenas no momento em que me entregou a camisa.

E depois até mesmo se colocou de lado.


— Aprendi a me precaver quando uma mulher derramou um copo de
café inteiro em mim — ele comentou enquanto eu me vestia. — A moça
ficou tão envergonhada, com uma carinha tão fofa, que eu fiquei até com
pena de brigar com ela.

“Pelo menos ela não havia deixado o pau dele duro ao tentar limpar a
mancha” pensei, lembrando-me daquela cena vergonhosa.
— Terminei.

Ele tornou a se sentar sobre o sofá e finalmente os seus olhos cor de


mel voltaram a me observar.

— Como foi na entrevista?


— Uma chatice, cheia de perguntas do tipo “por que você?”, sobre eu
ter assumido a presidência da empresa.

— E o que você respondeu?

— Simples... Porque sou neto do homem que a construiu e filho


daquele que a manteve por todos esses anos.
Eu ri, porque isso era claramente uma piada. Mas Alex continuou sério,
mostrando-me que realmente havia respondido aquilo numa entrevista com a
Forbes, quando toda a sua equipe estava tentando vender uma imagem de
competência dele.

Ao notar o meu olhar de espanto, ele prosseguiu: — Poderia ter dito


que fui escolhido como CEO porque sou um homem organizado, porque sou
ótimo em me comunicar e entender as pessoas ou então porque eu trabalho
mais do que qualquer outra pessoa com a minha idade e com o meu saldo
bancário. — Um sorriso de frustração tomou conta dos seus lábios. — Mas
sabemos que não seria verdade. Mesmo eu sendo todas essas coisas, tenho
apenas vinte e oito anos e nem vinte por cento da experiência do restante do
pessoal da diretoria. É uma piada tão ruim quanto meritocracia.

Ele deu um gole longo, tomando todo o restante do champanhe em sua


taça.
— Fui escolhido porque o meu pai está com câncer terminal e o meu
tio é um inútil — ele continuou chocando-me com a informação de que o seu
pai estava morrendo. — Sem o meu irmão... Quem é que escolheriam além
de mim?

O irmão de Alexandre havia morrido quando ele ainda era uma criança.
Não sabia muitos detalhes de como essa tragédia ocorreu, mas durante o
tempo em que convivi com a família dele, notei que era um tema tão doloroso
ao ponto dos seus pais nunca tocarem no nome do filho em minha presença,
nem mesmo uma única vez.

Alex me contou na época que depois do incidente, seus pais passaram a


agir como se o menino nunca tivesse existido, que simplesmente deixaram-no
para trás e que essa foi a única forma que encontraram para seguir em frente.
— Eu... eu sinto muito pelo seu pai — disse sentindo um aperto
enorme no coração.

Conhecia o pai dele e, definitivamente, não o achava tão agradável


quanto Alexandre e a mãe. Parte disso devia-se a maneira como ele sempre
tratou o filho caçula. O CEO nunca teve muita atenção e nas raras vezes em
que isso acontecia, era por conta de uma repreensão. No entanto, agora o
homem estava morrendo por uma doença devastadora, não havia como não
me entristecer ao descobrir sobre isso.

— Foi o motivo de eu ter gritado com os meus assistentes e não com


ele hoje pela manhã — ele tornou a falar. — Como posso brigar com o meu
pai sabendo que ele pode morrer a qualquer momento?

— Eu quero muito abraçar você — disse, não esperando pela resposta


dele para avançar, quase derramando a taça de champanhe novamente.
Não esperei pelo seu consentimento do meu chefe. Simplesmente o
abracei com toda a minha força e, enquanto o envolvia com os meus braços,
sussurrei: — Estou aqui, sempre que precisar conversar.

— Obrigado — ele me disse assim que nos afastamos. Alex encheu as


nossas taças e brindou: — À porcaria da vida.
Capítulo 13

Abri os meus olhos e, instantaneamente, a claridade do quarto fez com


que eu os fechasse.
Definitivamente, eu não estava bem.

Minha cabeça doía e sentia um mal-estar horrível, como se o meu


corpo estivesse podre, prestes a despedaçar. Como se isso não fosse ruim o
bastante, a última noite havia sido resumida a flashes em minha mente,
apenas alguns fragmentos desconexos.

Lembrava-me de estar bebendo com Alexandre, de ele ter ligado para o


serviço de quarto, pedindo por mais bebidas e então, tudo ficava preto e agora
acordava no meu quarto de hotel, sem a mínima ideia de como havia chegado
ali.
Havia sido meu primeiro porre com bebida.

E, se dependesse de mim, também seria o último.

Assim que tornei a abrir os meus olhos e a luz do quarto não me cegou,
consegui observar melhor os detalhes do ambiente. Então me dei conta do
quanto ele era parecido com o de Alex.
“As duas suítes ficam na cobertura. Claro que seriam parecidas, sua
idiota” a minha mente gritou, levando pensamentos negativos para longe.

Tornei a observar o ambiente e as semelhanças começaram a me


assustar, pois os quartos possuíam os mesmos móveis, a mesma vista de
Nova York e o... Mesmo paletó dobrado no sofá.
Não.

Não.

Não.

Eles não eram parecidos, era a mesma droga de quarto.

Continuava na suíte de Alexandre e sabia disso porque o paletó da


noite anterior continuava dobrado sobre o sofá, o balde de gelo e a garrafa do
champanhe também continuavam ali, em cima do carrinho de serviço de
quarto. No chão, conseguia ver as duas garrafas de vinho que o meu chefe
pedira mais tarde, cujo conteúdo havia me deixado bêbada.
Instantaneamente, levantei o edredom que me cobria e constatei que
estava usando apenas uma lingerie.

Meu estômago gelou.

Fechei os meus olhos e tentei me acalmar, mesmo sabendo que aquilo


era motivo suficiente para um surto.
Não podia ser verdade.

Não podia ser verdade.

Não podia...
Eu me recusava a acreditar que havia perdido a minha virgindade com
Alexandre Brandão e nem me lembrava disso.

Era basicamente um “você ganhou, mas não pode levar!”.

Ao lado da cama dele, existia uma escrivaninha marrom e notei que


tinha um bilhete escrito à mão.
Nem pensei, simplesmente apanhei o papel e comecei a ler.
Bom dia, princesa.

A noite de ontem foi uma delícia.

Eu adorei.

PS: Não precisa se preocupar, as coisas não vão mudar entre a gente.

— Alex.
Soltei o bilhete, deixando com que ele caísse no chão e então me joguei
sobre a cama, completamente certa de que realmente havíamos transado.

“A noite de ontem foi uma delícia” e “as coisas não vão mudar entre a
gente” não poderiam significar outra coisa.

Ignorei o quanto isso era aterrorizador e segui para o banheiro.


Encontrei tudo o que precisava, de secador de cabelo à escova de dente.
Tomei um banho de banheira bem demorado e, relaxada embaixo d’água, a
ideia de ter transado com Alex não parecia mais tão ruim assim — ainda que
eu continuasse não me lembrando de nada.
Como havíamos transado, todas aquelas barreiras restantes haviam
caído. Eu não era mais virgem e agora tinha certeza de que não existia nada
de errado comigo, de que Alexandre me desejava também.

Era quase como fechar um ciclo, um que se iniciou há seis anos,


quando escrevi uma cartinha de amor para ele.

Essa lembrança me fez rir, assim como também fez com que me desse
conta de que não poderia mais continuar sendo a mesma garotinha boba e
inocente. Se eu queria um homem como Alex, precisava ser mais como
Daniela e menos do tipo que recebia “eu não sou o cara certo pra você”.
Peguei a minha mochila e apanhei uma peça de roupa. Porém, quando
estava vestindo uma camiseta verde, parei o que estava fazendo.

Tinha certeza de que Alex voltaria para o quarto. E quando


acontecesse, eu não queria mais ser a Thais Pontes, a comissária de bordo
certinha dele.
Tirei a roupa que havia acabado de vestir, ficando apenas com o
conjuntinho de lingerie azul.

Você já perdeu a virgindade, Thaís.

Agora agarre esse filho da mãe.


Ele te deve uma noite de sexo.

Sequei o meu cabelo e coloquei uma maquiagem leve. Sabia que ele
havia me visto com aquela aparência horrível pela manhã, mas, ainda assim,
queria soar natural, como se não tivesse me esforçado tanto para ficar bonita.

Assim que terminei, deitei-me em cima da cama e fiquei mexendo no


celular, até ele finalmente aparecer, quase duas horas depois.
Meu olhar o encontrou assim que a porta se abriu.

Forcei um sorriso e sussurrei: — Bom dia.

Ele retribuiu o sorriso e me respondeu: — Está mais pra boa tarde. —


Como fiquei em silêncio, reunindo coragem para fazer o que havia planejado,
ele prosseguiu: — Você está bem? Demorou pra acor...
Eu me levantei da cama, saindo debaixo do edredom.

Os olhos dele engoliram o meu corpo seminu, roubando as suas


palavras e isso, estranhamente, me deu mais confiança para prosseguir com
aquele meu joguinho de sedução.

Aproximei-me de onde ele estava parado e nem mesmo hesitei,


simplesmente continuei avançando e o beijei, pegando-o desprevenido.

E que beijo.

Não lhe dei a chance de dominar isso, explorando aquela boca gostosa.

Quis beijá-lo desde a primeira vez que o vi, quando ele apareceu lá em
casa, como um amigo do meu irmão. E agora, sabia que também quis fazer
isso no momento em que nos reencontramos naquele hotel.

Não me controlei e, assim que nos afastamos, rompendo a ligação do


beijo, puxei o paletó escuro dele, ansiosa para vê-lo sem toda aquela roupa.
No entanto, Alex segurou a minha mão e, com os olhos em mim,
questionou: — Eu estou um pouco perdido... O que está acontecendo?

Isso deveria me deixar envergonhada.

Mas não deixou.


Aquele cretino me devia uma noite de sexo e eu cobraria isso.

— Eu não me lembro do sexo de ontem à noite e isso significa que


você me deve uma foda, Alexandre Brandão — sussurrei com a minha voz
mais sexy. Incorporei aquela personagem que estava escrevendo. — Você
não vai me escapar dessa vez.

Ele riu um pouco sem graça e, com a testa franzida, argumentou: — O


quê? Eu... eu não tenho ideia do que você está falando, Thais.
Isso foi o suficiente para destruir toda aquela minha armadura sexy.

De repente, tornei a ser a Thais Pontes certinha, insegura e muito,


muito envergonhada.

— Você confirmou isso naquele seu bilhete — afirmei, sentindo o meu


rosto queimar. — Disse que a noite anterior havia sido uma delícia.
— E foi, mas porque a gente conversou e eu finalmente consegui falar
sobre o meu pai com alguém... Disse pra você que não sou bom nessa coisa
de desabafar — ele respondeu, fazendo-me abrir a boca num estado de
choque. — A gente só conversou e bebeu, não houve nada mais além disso.

Se vergonha matasse, teria me espatifado no chão naquele momento.


Meu rosto estava em brasas e eu queria muito ter uma desculpa para
sair da frente dele.

E então, lembrei-me daquele “PS” que ele havia escrito.

Não tinha como aquilo não ser sobre sexo.


— Você disse pra eu não me preocupar, que o que havia acontecido
não mudaria as coisas entre a gente.

— Depois primeira garrafa de vinho, você me disse que estava


apaixonada por mim e, então, derrubou a taça inteira em cima da gente — ele
respondeu, provando que não existia limite para o meu fundo do poço. — Aí
você arrancou a camisa que emprestei pra você, deitou na cama e apagou.
Como você já estava deitada aqui, eu achei melhor pegar a sua chave e
dormir no quarto ao lado. Deixei o bilhete porque não queria que você se
sentisse mal com o que tinha me dito ou feito, mas hoje fiquei um pouco
preocupado, já que você não saiu do quarto durante o dia inteiro, então
peguei uma chave reserva na recepção e vim ver como você estava.

Depois daquela explicação, não me restavam mais dúvidas.


Eu era a pessoa mais idiota da face da terra.

Segui na direção da minha bolsa pra colocar alguma coisa por cima
daquela lingerie. No fundo, eu só queria uma desculpa para fugir dos olhos de
Alexandre.
— Aonde você vai?

— Enfiar a minha cabeça no primeiro buraco que encontrar —


respondi muito envergonhada e extremamente cansada do papel de idiota que
sempre acabava desempenhando em frente a ele. — Aceitar esse emprego foi
um erro.
— Foi só uma confusão boba — ele respondeu. — Você estava
desorientada por conta da bebida e...

— Eu realmente não me lembro de ter dito isso ontem, mas eu já te


disse essas mesmas coisas uma vez, lembra? — Eu queria começar a chorar,
mas me recusava a fazer isso na frente dele. Não queria e não podia me
envergonhar ainda mais. — Não tinha como isso aqui dar certo, não com
você sendo o meu chefe.

— Você está com a cabeça quente, não tem que decidir nada agora —
ele tornou a falar, como se não estivesse prestando atenção em nada do que
eu estava lhe dizendo. Pelo menos, não na parte que importava. — Você está
cansada de ontem e...
— O que eu não tenho? — indaguei, virando-me para encará-lo. Eu já
estava no fundo do poço, completamente coberta por lama. Um pouquinho
mais de sujeira não faria diferença. — Só pra eu saber.

— O problema nunca foi você. É que eu...

— Não se atreva a repetir aquela merda pra mim de novo, Alexandre


— disse, interrompendo-o mais uma vez. Não o deixaria usar aquele falso
cavalheirismo para cima de mim, não agora que eu sabia que ele não era esse
príncipe encantado. — Quem diz se você é ou não o homem certo pra mim,
sou eu.
Pelos seus olhos arregalados, ele não estava esperando por aquilo.

— Enfim, me desculpe pelo beijo e por ter distorcido as coisas mais


uma vez...
— O problema nunca foi com você — ele murmurou, roubando a
minha atenção. Com aquelas lanternas me queimando, Alex prosseguiu: — E
quando digo que não sou homem pra você, não é com um cavalheirismo
idiota, Thais. Eu queria ser esse cavalheiro que você pensa que eu sou.

— Essa sempre foi a parte que eu mais detestava em você — respondi,


não mentindo sobre aquilo. Havia sido aquele falso cavalheirismo estúpido
que o fez me chutar no passado. — Não tenho ideia da merda que eu disse
pra você ontem, mas tudo o que eu quero hoje é uma foda, nada mais que
isso. — Soltei a minha bolsa sobre o sofá e disse com uma confiança que
nem mesmo eu sabia que possuía: — Você quer ou não?

Ele não respondeu. Ficou pensativo por alguns segundos, certamente


considerando aquilo — e as consequências que isso traria — e então
simplesmente avançou na minha direção, roubando-me um beijo e levando
com ele todo o restante do meu fôlego.
Capítulo 14

Estava acontecendo.
Finalmente estava acontecendo.

Dei-me conta disso no momento em que senti a mão grande e pesada


dele apertando a minha bunda enquanto continuávamos em pé naquele
quarto, no meio de um beijo que estava quase me deixando sem ar.

Enquanto Alexandre estava me engolindo com aquela língua ávida


dele, algo que eu poderia muito bem descrever como “paraíso”, me senti na
obrigação de lhe contar um pequeno detalhe sobre mim.
Detestava-me por ser tão honesta, mas não conseguiria prosseguir sem
a absoluta certeza de que ele soubesse.

— Não que isso faça alguma diferença pra você, mas...

— Cala a boca — ele me interrompeu jogando-me sobre a cama. Seus


olhos voltaram-se na minha direção e ele sorriu, aparentando estar faminto.
— Hoje eu quero você quietinha. Entendeu?
Pensei em soltar de uma vez, como numa depilação com cera,
simplesmente puxaria o mais rápido possível e reclamaria da dor depois.

— Eu sou virgem! — disse um pouco envergonhada, desviando o meu


olhar de seu rosto.

Como Alexandre não subiu na cama para dar continuidade naquilo que
ele estava fazendo antes de eu abrir a minha boca grande, eu fui obrigada a
voltar o meu olhar na direção dele e constatei que o loiro não gostou muito do
que ouviu de mim.

Devia ter lhe escutado e simplesmente calado a minha boca.

Alex encarava-me com uma expressão que beirava ao horror, como se


eu ainda fosse aquela mesma garotinha de dezessete anos de idade, como se
nós dois estivéssemos fazendo algo de errado naquele quarto.

— Disse que sou virgem, não que tenho sífilis — brinquei usando um
pouco de humor para escapar daquela situação.

Mas a minha piadinha de mau gosto não funcionou.


O CEO balançou a cabeça, totalmente incrédulo, e começou a abotoar a
camisa, mostrando-me que o fato de eu ainda ser virgem realmente impediria
o nosso sexo.

— É exatamente sobre isso que eu estava me referindo quando disse


que não sou o homem certo para você — ele finalmente disse algo, trazendo
o seu olhar de volta para mim. — Entendeu agora?

— Eu não sou essa garotinha inocente que você pensa que eu sou —
respondi cansada de ser vista daquela forma. Eu era uma mulher crescida e se
não fosse pela minha péssima situação financeira dos últimos tempos, poderia
até dizer que nem morava com os meus pais, que era independente. — Na
verdade, você não faz ideia do quanto eu sou pervertida.
— Claro que é... Pervertidamente virgem.

— Tudo bem, O.K.? Eu admito que não sou a pessoa mais experiente
quando o assunto é sexo...

— Você, literalmente, não tem experiência nenhuma, Thais — uma vez


mais ele me lembrou.
— O que eu estou tentando te dizer, é que...

— Não vai rolar — ele me interrompeu novamente, sendo ainda mais


direto. — Sem chance.
Antes que ele pudesse continuar, dizendo-me que eu não era garota
para ele ou o seu clássico “não sou o cara certo pra você e blá blá blá”,
levantei-me daquela cama e aproximei-me de onde ele estava parado.

Com os meus olhos queimando aquela expressão séria que ele tinha no
rosto, levei a minha mão no meio de suas coxas grossas e, sem medo, apalpei
o volume em sua calça, que, contrariando tudo o que ele estava me dizendo,
parecia indicar que Alexandre estava, no mínimo, interessado naquela nossa
conversa.

Sentia-me safada e poderosa, ainda que estivesse apenas tocando em


seu cacete por cima da calça social dele.
— Eu quero muito, muito dar pra você. — Apertei o caralho do meu
chefe, arrancando um tímido gemido de seus lábios. — Então você pode, por
favor, agir como um cara normal e só me comer?

Eu tinha plena consciência de que não era nada sexy praticamente


implorar por uma foda, mas por aquele homem eu certamente abriria uma
exceção. Faria qualquer coisa por Alexandre Brandão e agora sabia disso, o
pau duro dele na minha mão era apenas um lembrete.

— Não fodo virgens — ele tornou a dizer, contrariando o seu pau, que
parecia uma rocha. Eu estava prestes a me humilhar ainda mais,
pronunciando “por favorzinho” ou qualquer outra coisa que o fizesse mudar
de ideia. Mas, felizmente, nada disso foi necessário. — Mas acho que, dessa
vez, posso deixar passar.
Que filho da puta.

Detestei o fato de ele estar se fazendo de difícil, quase como se me


comer fosse mais um ato de caridade da família Brandão.
Por outro lado, concordava que era exatamente o que eu merecia por
ter me atirado em cima daquele homem na primeira oportunidade que tive.

Antes de iniciar no emprego, eu fiz o maior drama sobre tê-lo como


meu chefe e o quanto essa nossa proximidade não seria boa para uma relação
profissional. Agora, depois de todo o drama, estava deitada numa cama,
abrindo bem as minhas pernas e implorando para que ele me fodesse como
uma vagabunda qualquer.

Hipócrita?
Com toda certeza.

Mas quem é que poderia me julgar? Eu era uma virgem de vinte e três
anos e o homem com quem eu sempre quis transar estava parado bem na
minha frente.

Era a minha chance.

Diferente da última vez — quando abri a minha boca e cuspi que era
virgem na cara dele —, Alex não hesitou em se aproximar de mim, subindo
no colchão e me cercando como um leão.

Queria dizer que me sentia indefesa, fazendo uma analogia perfeita


entre um predador faminto e sua presa, mas a verdade era que Alexandre
estava mais para jantar do que eu que sempre ansiei por aquele momento.

Ele começou beijando a minha coxa e foi subindo, até chegar em


minha virilha. Estava tão bom que eu tinha medo de abrir os meus olhos e
descobrir que tudo aquilo não passava de mais um dos meus sonhos eróticos.
Alexandre retirou a minha calcinha e o meu coração disparou, o que
era perfeitamente normal levando em conta de que aquela se tratava da única
vez em que fiquei nua em frente a um homem que não fosse Bruno. Podia
dizer que estava bem mais à vontade do que pensei que estaria.

Sua mão direita acariciou a minha boceta. Foi um toque bem sutil, mas
o suficiente para me arrepiar, acelerando o meu coração e deixando a minha
respiração ofegante.

Ele ficou ali parado, olhando para mim, como se estivesse apreciando
uma paisagem.

— Se o seu objetivo é me irritar, então, definitivamente, está dando


certo — brinquei, realmente ansiosa para darmos início à “brincadeira”.

— Você pediu pra que eu te comesse, não foi, princesa? — ele


questionou, arrancando-me um sorriso. O meu chefe não me deu tempo de
respondê-lo com “só achei que seria um pouco mais rápido”, completando:
— Mulheres são como vinhos, tem que ir degustando com calma, apreciando
o gosto único de cada uma delas.
Que poético!

E muito, muito irônico, já que eu o vi se referindo a uma mulher como


“cadela”.

— Não me pareceu isso quando eu vi você fodendo a Daniela no avião


— contra-argumentei, lembrando-me de que Alex fez tudo, menos “degustá-
la lentamente”. — Você a descreveu de muitas formas, mas nenhuma delas se
parecia com vinho.
Ele imediatamente parou o que estava falando e fazendo.

E só então eu me dei conta de que, novamente, tinha falado demais.


Tudo o que pensei foi “merda!”.

— O.K. Agora eu realmente estou começando a acreditar que você é


mesmo uma pervertida — ele respondeu, deixando-me muito envergonhada.
— Caralho, Thais!
— Desculpa... Eu juro que não foi intencional — revelei, dando-me
conta de que aquele sexo não aconteceria e tudo porque eu era uma imbecil.
— Eu estava no avião e aí vocês entraram e começaram a se agarrar... Você
chamou a garota de cadela, Alexandre. — Como ele permaneceu em silêncio,
horrorizado com a minha revelação, continuei: — O que você queria que eu
fizesse? Que saísse do meu esconderijo e dissesse “gente, eu estou aqui,
parem de se comer”?

— Queria que não ficasse lá parada, me assistindo foder a sua colega


de trabalho, como se isso fosse algo minimamente normal.

— Você é que não deveria foder a minha colega de trabalho, pra início
de conversa.
Eu me encolhi e me preparei para levantar da cama e correr para o mais
longe possível daquele quarto, poupando-me de mais humilhação.

— E onde é que você pensa que vai? — ele questionou sem realmente
querer uma resposta. — Você realmente é uma pervertida safada e não vai
sair daqui enquanto eu não aplicar a sua punição.

A minha punição?
Meu Deus.

Alex riu como o cafajeste que eu sabia que ele era.

— Onde nós estávamos mesmo? — ele indagou, tornando a observar a


minha boceta, que agora temia pela punição que ele aplicaria.
— Na parte que a minha boceta era um vinho — respondi, não
deixando de rir.

— Então, continuando, eu estava apenas dizendo que você não é um


vinho qualquer... — ele tornou a falar. Antes que eu pudesse fazer mais uma
piadinha, ele abriu as minhas pernas e tornou a tocar em meu sexo, sendo
bem mais direto que das vezes anteriores. Seu dedo indicador afundou em
mim, arrancando-me um longo gemido. — Que essa boceta nunca foi tocada
assim por ninguém e que isso faz de você um vinho bem raro.

Provavelmente saber que eu já tinha visto aquele seu outro lado o


deixou mais confortável, impediu com que Alexandre tentasse escondê-lo de
mim. Sendo assim, talvez o que pensei se tratar de um erro tivesse apenas
facilitado as coisas entre a gente.

Ainda com aquele dedo dentro de mim, ele continuou: — Sei bem o
que você quer de mim, sei que espera algo parecido com o que viu, enquanto
bisbilhotava a minha foda. — Meu estômago gelou e realmente fiquei
assustada, pois era como se ele estivesse dentro da minha mente, lendo cada
um dos meus pensamentos mais depravados. Seus olhos queimaram-me,
antes de ele finalmente prosseguir: — Mas, por hoje, eu vou me limitar a
garantir que você tenha apenas uma boa primeira vez.

Eu não tinha ideia se aquilo era algo bom ou ruim, simplesmente


balancei a minha cabeça e deixei que ele continuasse tocando a minha boceta
já molhada com os seus dedos.
Alex inseriu outro dedo e começou a movimentá-los dentro de mim,
aumentando a intensidade dos meus gemidos.

Meus dentes rangiam. Não conseguia concentrar-me em nada que não


fossem aqueles malditos dedos em minha boceta e na sensação que estava
sentindo.

Instintivamente, as minhas pernas se fechavam, como se o meu corpo


não estivesse suportando aquele nível de prazer.
Mas o meu chefe não permitiu, tornando a abri-las.

— Quero que as deixe assim, bem abertas pra mim. Ouviu? — ele
sussurrou, assim que as abriu novamente, deixando-me arreganhada. Ele não
tirou os olhos do meu rosto até que eu balançasse a minha cabeça,
confirmando que havia compreendido. — Boa garota... Se fechá-las de novo,
eu serei obrigado a puni-la.

Ele seria obrigado a me punir?


Puta que pariu.

Estava com tanto tesão que aquela ideia me excitou ainda mais. Dessa
forma, fechei as minhas pernas de propósito, curiosa a respeito de sua
“punição”.

No mesmo instante, Alex acertou-me em cheio, dando uma palmada


em meu sexo.

Isso me pegou totalmente desprevenida.

Não sei se gritei pelo tesão ou porque aquilo realmente doeu.

— Não me teste, garota — ele afirmou com uma expressão séria,


assemelhando-se ao homem que vi metendo em Daniela. — Saiba que
mesmo você não merecendo, vou fazer você gozar... Mas preciso da sua
colaboração pra isso. Eu quero que você se entregue completamente para
mim, que seja obediente.
— É instintivo — respondi logo após lhe dar um sorriso envergonhado.
— Eu não consigo controlar as minhas pernas enquanto você...

— Consegue sim... Confio no seu potencial. — Eu estava tão molhada


que sentia que poderia ter um orgasmo até mesmo com um de seus tapas. —
Não tenho nenhuma corda aqui, então você vai ter que colocar força nessas
pernas. — Antes que pudesse insistir que não conseguiria, ele me alertou: —
Se fechá-las, você já sabe o que vai acontecer.
Usei as minhas duas mãos para segurar as pernas, fiz isso como se a
minha vida dependesse disso. E ele adorou ver toda aquela minha obediência,
assistindo-me ficar toda aberta a espera de seus dedos.

Tentei não pensar no que aquele “não tenho nenhuma corda aqui”
significava.

Ele foi se aproximando cada vez mais e antes que eu pudesse somar um
com um, o desgraçado avançou, trazendo sua boca até a minha fenda.
Caralho.

Não estava esperando por aquilo.

Não me preparei o suficiente.

Ele me lambeu, passando a sua língua quente pelos lábios da minha


vagina. E isso me arrepiou mais do que qualquer outra coisa, fez com que o
meu corpo amolecesse, a ponto de já não ter mais certeza se conseguiria
continuar segurando as minhas pernas.

E então ele começou a me chupar, forçando sua língua e lábios em


mim. Alex estava me comendo, engolindo-me com aquela boca que nunca foi
tão perigosa. A sua barba por fazer, roçando em minha carne, fez com que eu
desse o meu primeiro gritinho. Simplesmente desisti de segurar as minhas
pernas e elas se fecharam, prendendo a cabeça dele, que continuou lá
embaixo, comendo-me tão vorazmente quanto antes.

O meu corpo inteiro se contorceu e estava tão tensa a ponto de nem


notar os gemidos escapando por entre os meus lábios. Fechei os meus olhos e
choraminguei, totalmente certa de que aquilo só podia ser um orgasmo.
Meu chefe se afastou e a primeira coisa que ele me disse foi: — Você
fechou as pernas.

Meu estômago gelou.

— Abra — ele ordenou, deixando-me um pouquinho assustada, pois


sabia que estava prestes a apanhar.
Mesmo com muito receio, abri as minhas pernas, deixando a minha
boceta à mostra novamente. A pobre coitada estava completamente indefesa,
não conseguiria escapar daquelas mãos grandes e sádicas.

Fechei os meus olhos, ainda temendo pela punição.

Só os abri quando senti algo estranho.


Os lábios de Alex tornaram a tocar em meu sexo, mas dessa vez em um
breve beijo.

— Você é uma delícia, princesa — ele sussurrou, afastando-se do meu


quadril para observar o meu rosto, que devia estar todo corado.

Alex não tirou a roupa, simplesmente abriu a braguilha e colocou o seu


pau para fora.
Não era a primeira vez que eu observava aquele membro suculento,
mas não o tinha visto tão de perto naquela ocasião. Agora, tão próximo
assim, ele parecia ainda mais imponente, grande demais para caber em mim.

— Ele é grande — constatei com um sorrisinho tímido, como se aquele


não fosse o primeiro pau que eu tinha na minha frente.

— Pra combinar com a sua bocetinha apertada — respondeu-me ele


com um sorrisinho sacana, que me deixou ainda mais excitada.
“É agora, Thais. Está finalmente acontecendo” pensei enquanto ainda
encarava o membro dele, ansiosa e levemente assustada.

Como nunca tinha feito nada daquilo, era impossível não questionar se
sentiria alguma dor.

“Se fosse ruim, ninguém faria isso, garota”, a minha mente gritou de
volta, divertindo-me.
Eu não era tão idiota assim e sabia muito sobre sexo, mesmo sem tê-lo
praticado. Tinha assistido a vários vídeos na internet e lido muitos livros que
narravam detalhadamente o ato. Entretanto, tudo isso se resumia a parte
teórica e de uma maneira muito romantizada.

Agora, eu estava com as minhas pernas abertas, esperando um homem


de verdade meter em mim.

— Tem certeza de que você quer mesmo dar pra mim algo que você
guardou por tanto tempo? — ele me perguntou com as suas esferas cor de
mel em mim.
Era uma pergunta muito válida.

Ainda que eu não fosse celibatária e a minha virgindade guardada fosse


mais uma consequência da falta de oportunidade do que de uma escolha,
sempre quis fazer isso com o cara certo, com alguém que eu amasse de
verdade. E não existia ninguém mais perfeito do que ele, o meu primeiro e,
até então, último amor.

— Sim — sussurrei, totalmente certa de minha decisão. — Eu quero,


Alex.

Ele se aproximou, enchendo a minha barriga de borboletas, com um


sorriso safado e, ao mesmo tempo, acolhedor, deixando-me confiante para
dar aquele passo.
Nossos corpos começaram a se encaixar, como se fossem feitos para
isso. Lentamente, o seu caralho foi deslizando dentro de mim, a ponto de eu
sentir cada pedacinho dele entrando em minha boceta. Quando ele entrou
completamente, as suas coxas estavam coladas em mim e o meu corpo nunca
esteve tão quente quanto naquele momento.

— Está tudo bem? — ele questionou, com uma expressão séria. Até
mesmo o sorriso sacana havia desaparecido de seus lábios. — Eu quero que
saiba que, se por acaso mudar de ideia e não quiser mais fazer isso, podemos
parar a qualquer momento. É só me dizer, O.K.?

— O.K. — respondi um pouquinho envergonhada, já que ele estava


literalmente dentro de mim e mantinha os seus olhos colados no meu rosto.
Para aliviar um pouco dessa tensão e mostrar que, sim, eu queria tudo o que
estava acontecendo, emendei: — É gostoso.
— Você que é gostosa. — Ele começou a movimentar o quadril e,
consequentemente, fez com que alguns gemidos tímidos deixassem os meus
lábios.

Ironicamente, não era tão intenso quanto o momento em que os dedos


dele estavam em minha boceta, mas isso se devia ao fato de ele estar indo
com calma, de estar certificando-se a cada segundo de que eu estava mesmo
aproveitando o sexo, de que queria estar naquele quarto com ele.

Alexandre me beijou, roubando os meus lábios enquanto seu pau


entrava e saia lentamente de mim. Era estranho ter a sua língua dentro da
minha boca, estar sentindo o seu cheiro tão intensamente. Não parecia real.

Era totalmente diferente do que assisti naquele avião, mas igualmente


gostoso, pois aquele homem continuava me dominando, ainda que num ritmo
diferente.
Eu, sem experiência alguma para me agarrar, sempre pensei que a parte
mais emocionante do sexo fosse sua intensidade, exatamente como presenciei
com Daniela. Quanto mais louco e selvagem, mais prazeroso. E talvez
realmente fosse isso para algumas pessoas, mas, naquele instante, o que mais
me impactava eram coisas bem simples, como o fato do corpo grande dele
estar por cima do meu, o cheiro de seu perfume, o suor começando a se
formar no canto de sua testa, é claro, os seus olhos fixos em mim, assistindo-
me desabrochar como uma flor.

Ele metia como se eu fosse de porcelana, como se pudesse me


despedaçar com o mínimo de força.

Com ele dentro de mim, parei de me pilhar e fiz tudo o que queria.
Aproveitei para beijá-lo o máximo que eu pude, roubei aqueles lábios para
mim e a cada vez que fazia isso, notava que Alexandre não devia estar tão
acostumado com aquilo, de ter uma mulher roubando o controle dele, ainda
que em algo tão simples quanto um beijo.
Depois de mais alguns minutos naquela dança lenta e prazerosa, nossos
corpos se desconectaram. Instantaneamente, voltei o meu olhar na direção
dele, querendo uma resposta, uma estrelinha na minha testa.

Eu havia me saído bem para uma virgem?

Queria ficar ali naquela cama e lhe perguntar, mas assim que notei que
havia sangrado, fui para o banheiro apressada, o que era algo besta da minha
parte, já que o próprio sabia sobre a minha virgindade.
Limpei-me com um banho rápido e voltei para o quarto enrolada em
uma toalha.

No fundo, eu estava com esperança de que repetíssemos o que havia


acontecido. Tinha certeza absoluta de que estaria mais preparada agora que
tinha uma ideia do que aconteceria. Mas Alexandre já não estava mais no
quarto.
Capítulo 15

Recebi uma mensagem do CEO alguns minutos mais tarde:


Não deveria ter saído sem avisar, peço que me desculpe.

Precisava de um banho gelado.

E se tivesse entrado no banheiro junto com você, tenho certeza de


que ainda estaríamos lá.
A mensagem me deixou mais aliviada, pois me mostrou que Alexandre
realmente se importava comigo ao ponto de se explicar, algo que eu sabia que
ele não devia fazer com muita frequência.

Depois que o êxtase por finalmente ter perdido a minha virgindade


passou, eu fiquei um pouquinho envergonhada, lembrando-me de tudo o que
aconteceu naquele quarto antes do sexo finalmente rolar. Relembrei que
havia, literalmente, me jogado em cima de Alex, quase implorando pela
transa.

Mas, ainda assim, não conseguia deixar de estar feliz pelo momento
maravilhoso que tive ao lado dele.
Foi diferente, especial e único.

Contudo, era impossível não questionar como as coisas seriam a partir


daquele momento, se o sexo destruiria a nossa relação profissional e até
mesmo a pessoal, que estávamos resgatando aos poucos.

“Ele transava com a Daniela e isso nunca impediu a relação


profissional deles” pensei, tentando dispersar os pensamentos ruins, que
começavam a se acumular. Mas, obviamente, o meu consciente não facilitou,
respondendo com coisas como “você não é a Daniela”.

Eu tinha sentimentos por Alexandre.


Sempre tive sentimentos por ele.

Então, não era fácil separar essas duas coisas, principalmente depois do
momento perfeito que tivemos.

Conclui tudo com “você pensa demais, garota” e comecei a me vestir,


colocando o meu uniforme de comissária de bordo, ainda me perguntando
como é que poderíamos voltar a agir normalmente, como se aquilo não
tivesse acontecido.
Deixei a minha suíte e encontrei Fabrício no saguão do hotel.

Ainda estava um clima estranho. Sabia que parte disso devia-se ao fato
de eu ter ficado na cobertura e ele não. Queria muito dizer que não tinha
culpa pelo tratamento diferenciado que recebíamos, mas não queria piorar
ainda mais a situação.

— Devíamos ter saído há mais de uma hora — o piloto comentou,


quebrando o silêncio. Eu havia sido a causa do nosso atraso, então mantive-
me calada. Mas o ele não soube lidar com o meu silêncio, emendando: —
Vocês dois estavam juntos, não é?
Aquilo me pegou de surpresa.

Sabia que era estranhíssimo o fato de Alexandre e eu termos nos


atrasado juntos e que isso abria margem para aquela interpretação — a gente
fodendo —, porém não achei que o meu colega seria direto daquela forma.

Fiquei tão atônita que não consegui lhe responder, o que,


provavelmente, deve ter lhe dado a resposta.
— O quê? — finalmente devolvi a pergunta, como se já não fosse tarde
demais.

— Quer saber, Thais? Não precisa nem me responder... Isso aí está


escrito na sua testa — respondeu-me ele, deixando-me sem argumentos.
Fiquei tão atônita com aquele confronto que nem me dei conta de que,
na verdade, não lhe devia uma satisfação da minha vida.

— Por que você não faz essa pergunta pra ele, Fabrício? — disse a ele,
claramente tentando esconder o meu nervosismo. Eu queria deixar o assunto
morrer ali, mas não consegui, estava irritada demais para isso. — Aproveita e
reclame também sobre o tratamento diferenciado, sobre o motivo de termos
ficado em suítes diferentes.

Ele ficou alguns segundos em silêncio e então me disse, voltando os


seus olhos pra mim: — Suítes diferentes... Você acha mesmo que esse é o
motivo por eu ter me estressado no outro dia?
— Foi o que me pareceu.

— Você está enganada. Eu estou aqui há mais tempo e já vi isso aí que


vocês têm acontecendo várias e várias vezes. E vou te contar um segredinho,
nunca acabou bem.

Essa era outra das coisas que me irritavam em Fabrício. Todas essas
informações pela metade que ele soltava como uma espécie de aviso.
— Por que você não para de me jogar enigmas e fala de uma vez o que
quer me dizer, Fabrício? — disse, cansando daquele seu joguinho.

Se ele tinha algo para me dizer, então que me dissesse de uma vez e
não em parcelas.

Ele abriu a boca e pela expressão séria e determinada de seu rosto,


preparei-me para finalmente ouvir o motivo de ele ter aquela birra do chefe,
mas o piloto foi interrompido pelo próprio Alexandre, que se aproximou de
onde estávamos parados.

— Vamos? — o meu chefe questionou, tirando-nos daquele clima


estranho.

Durante o voo, não conversei muito com Alexandre.

Simplesmente aproximei-me da poltrona dele e lhe ofereci algo para


beber.

Ele recusou.

Essa foi a nossa conversa pós-sexo.

Tudo isso fez com que eu me lembrasse daquela noite na praia, do dia
em que confessei que gostava dele e do beijo que tivemos, mas,
principalmente, de que bastou eu virar as minhas costas para que ele corresse
para os braços de outra.

Era difícil não chegar à conclusão de que isso estava se repetindo


diante dos meus olhos.
Finalmente transamos e, novamente, eu me virei por um segundo e ele
já não estava mais lá no quarto, havia fugido como um garotinho assustado.

Ele havia se arrependido, não pela nossa relação profissional, como eu


havia pensado anteriormente. Alex fugiu porque aparentemente eu era uma
pessoa que ameaçava esse descompromisso que ele sempre teve com tudo.
Esses pensamentos impediram-me de pensar nas coisas que Fabrício
havia me dito mais cedo, no saguão do hotel. Lá no fundo, não me importava
com o que o piloto pensava, assim como também não ligava para todos os
corações que o meu chefe devia ter amassado pelo caminho — certamente o
grande segredo que ele queria me contar.

O clima estava tão tenso que optei por ir embora sozinha, chamei um
Uber e nem comentei nada com Fabrício. Entrei no carro e segui para a
minha casa.

Assim que cheguei, o meu pai me recebeu com um abraço gostoso.


— Pensei que teria que ir te buscar lá em Nova York — ele respondeu,
arrancando-me um sorriso. Como eu me mantive calada, ele prosseguiu: — E
aí, como foi?

— Não consegui ver muito da cidade, mas por onde eu passei é lindo.

Meu pai sempre foi o meu maior conselheiro. Mas não consegui
comentar sobre o que havia acontecido no hotel, não me sentia confortável
para dividir isso com ele.
Então, depois de jantar e de aguentar todas as perguntas da minha mãe,
que sempre terminavam em “mas e o Alexandre?”, enquanto o meu pai
revirava os olhos, subi para o meu quarto, fechei a porta e finalmente
consegui suspirar, lembrando-me da sensação de ter Alex em cima de mim,
engolindo-me com os seus olhos cor de mel.
Queria muito ligar para o Bruno e contar tudo o que havia acontecido,
contudo, conhecia-o bem demais e sabia exatamente o que ele me diria. Seria
algo como “finalmente vocês dois transaram, parabéns, amiga. Mas agora
desencana disso aí, Thais. Esse cara detesta compromisso”.

Então, dessa vez, não chegaria fazendo alarde — narrando


detalhadamente o sexo —, só daria a notícia de que não era mais virgem, não
precisava nem citar o nome do Alex, apenas descrever o momento como “foi
bom, mas eu nem lembro o nome do cara”. Ele não acreditaria,
principalmente vindo de uma garota tão careta quanto eu, mas, ainda assim,
era melhor do que praticamente confessar que havia me apaixonado de novo
pela pessoa que tinha me dado um pé na bunda.
Tudo o que me restou, foram os momentos que tivemos na viagem.

E eu me apeguei a isso.

Contudo, apenas lembrar-me do que havia acontecido não me pareceu


o bastante. Isso me fez ligar o computador e abrir o arquivo do livro que
estava escrevendo — aquele que secretamente era sobre Alexandre e eu — e
então as palavras simplesmente começaram a surgir, fluindo naturalmente.
Digitei por horas, narrando tudo o que havia acontecido, desde o momento
em que achei que havíamos transado até o momento em que, de fato,
transamos.
Após essa cena específica, com a personagem principal perdendo a
virgindade, com os vestígios de dominação escapando pelas expressões
sacanas do galã e com aquela montanha russa de sentimentos, eu me dei
conta de que existia um título perfeito para o meu livro.

Era brega.

E apelativo.
E talvez ruim.

Mas descrevia exatamente tudo o que seria narrado naquelas páginas,


assim como o que estava acontecendo em minha própria vida.
Eu me permiti, ainda que bastante envergonhada, escrevê-lo:

Virgem Para o Meu Chefe.


Capítulo 16

As pessoas não mentiam ao dizer que mudamos quando perdermos a


virgindade.
Obviamente, não é como naqueles filmes de comédia romântica em
que até a pele da protagonista parece mais hidratada. A garota transava e, de
repente, o mundo a volta dela se transformava.

Não.

Definitivamente, não era assim.


Contudo, existiam mudanças.

Desde a nossa infância sofremos com pressão popular, seja em relação


ao primeiro selinho ou ao famigerado “beijo de língua”. Naquela época, beijo
não passava de troca de saliva e, ainda assim, eu não queria ser a última
garota do meu grupo a beijar.

A partir de nossa adolescência, o sexo passa a ser uma cobrança e


virgindade se torna uma espécie de tabu, quase um motivo de vergonha.
Depois dos dezenove, passei a mentir, pois não aguentava mais as pessoas
arregalando os seus olhos e me questionando “como assim você ainda é
virgem?”.
A única pessoa que sabia era Bruno e, ainda assim, era uma tortura
sempre que ele me lembrava disso em uma de suas brincadeirinhas. Sabia que
ele não fazia por mal e que realmente se preocupava comigo, por eu estar me
isolando do mundo. Mas era chato e inconveniente.

Por mais que eu não devesse tratar a perda da minha virgindade dessa
forma — como uma coisa a ser comemorada —, sentia que era como se eu
tivesse finalmente me livrado de um problema, de uma cobrança
desnecessária e estúpida.

Trabalhei apenas dois dias nessa semana. Alexandre estava muito


ocupado numa das filiais da companhia dele. E como ele não precisava voar
em seu jatinho particular, meus serviços não eram necessários.
Em ambos os dias, não conversamos muito. Limitei-me a ser a
comissária de bordo e ele parecia confortável demais sendo o meu chefe
ocupado e inacessível. Os assistentes — Nathalia e Eduardo — retornaram,
sendo readmitidos por ele. E na maior parte das vezes, Alex estava ocupado
demais com eles, falando sobre trabalho, para me dar atenção.

O CEO já não me pedia mais para chamá-lo de “Alex”, certamente ele


se deu conta de que “senhor Brandão” era mais adequado. A minha teoria
preferida dos últimos dias era de que ele queria separar as coisas para não me
confundir, de que dentro daquele avião, devíamos ser profissionais.

Aproveitei o tempo que tinha para me dedicar ao curso à distância de


comissária de bordo e, é claro, ao meu livro novo, que estava fluindo
estranhamente bem. Pelo menos naquelas páginas, os personagens estavam
juntos, vivenciando um momento perfeito depois do sexo.
Na sexta-feira, voamos para São Paulo, onde o meu chefe teria uma
reunião. Foi tudo muito tranquilo e as únicas palavras que troquei com
Alexandre foram “bom dia, senhor”, logo que ele entrou na aeronave.

Fiquei tentada a questionar se tinha acontecido alguma coisa de errado,


se eu havia feito ou dito algo que o chateou. Eu queria um motivo para a
nossa relação ter mudado tanto depois de transarmos naquela suíte cara. No
fundo, eu sabia qual seria a resposta dele — “você é muito inocente pra mim
blá blá blá” —, mas, mesmo ciente disso, queria ouvi-la de sua boca, só me
faltava a coragem para lhe perguntar.

Na volta, aproximei-me da poltrona dele para lhe fazer a mesma


pergunta de sempre e estava pronta para receber o seu “não”, que agora nem
acompanhado de “obrigado” vinha mais. Eduardo e Nathalia, por algum
motivo que eu não sabia, permaneceram em São Paulo, então precisei
concentrar-me apenas no executivo.

Queria lhe perguntar algo como: “Eu fodo tão mal assim?”.

Mas o que saiu da minha boca foi: — Aceita algo pra comer, senhor?

Ele abandonou o iPad, onde parecia estar lendo uma espécie de jornal
digital, e trouxe os seus olhos cor de mel na minha direção.
— E quais são as minhas opções? — Alex questionou, pegando-me
desprevenida.

Eu arrumava tudo isso pela manhã — mantimentos, bebidas e outras


das coisas que serviria no avião —, mas não havia memorizado exatamente o
que tinha no compartimento de comida. Alexandre costumava aceitar apenas
bebida, ele era rígido demais com sua própria alimentação, parecia ter horror
a gordura e açúcar, nunca o peguei comendo nenhuma porcaria. Então, eu já
fazia essa pergunta esperando por uma negativa.

Forcei um sorriso, totalmente desconcertada.


— Se o senhor me der licença, eu posso ir verificar o que temos lá atrás
— disse, sentindo o meu rosto queimar.

Ele fez um gesto com o dedo indicador, para que eu me aproximasse. E


eu o fiz, chegando perto o suficiente para sentir o cheiro gostoso de seu
perfume.
— O que eu quero comer, não está lá atrás — ele respondeu num
sussurro.

Seus olhos me queimavam e em seus lábios existia um sorriso


extremamente sacana. Senso assim, não precisava questionar o que era essa
coisa da qual ele queria comer, o sorrisinho malicioso dele deu-me a resposta.
Poderia agir como uma garota normal e simplesmente flertar com ele,
mas se fizesse isso, não estaria sendo eu mesma.

— Pensei que o senhor não quisesse mais repetir esse prato. — Não
consegui segurar o comentário para mim. Em parte, porque realmente estava
curiosa a respeito da mudança repentina. E, é claro, estava ofendida pela
frieza com que ele me tratou os últimos dias. — O que fez o senhor mudar de
ideia?

— Eu não mudei de ideia, Thais. Sempre quis você, mas... — Ele


sorriu, um sorriso muito diferente daqueles maliciosos, esse era claramente de
frustração. — Não sei se é certo envolver você nisso.
Eu compreendia o que ele estava me dizendo. Alexandre não era do
tipo de homem que apreciava sexo convencional. E há uma semana, eu ainda
era virgem. Então, sim, conseguia entender o ponto dele ao achar que estava
me levando para o “mau caminho”.

No entanto, não aceitava, justamente pelo fato de querer aquilo tanto


quanto ele.

— E se eu quiser isso?
— Você não quer — ele rebateu, como se realmente pudesse responder
por mim. — Você acha que quer, mas não sabe onde está se metendo.

— Você pode me mostrar e me deixar decidir por contra própria.


Pensei que ele desconversaria, mas fui completamente surpreendida.
Com aquelas lanternas coladas em mim, ele desabotoou a calça social e tirou
a cinta, gelando o meu estômago.

Foi inevitável não imaginá-lo me batendo com aquela coisa.


E essa ideia deixou-me hesitante, colocou-me em dúvida, deixando-me
sem saber se queria mesmo aquilo. Uma coisa era ser chamada de alguns
nomes safados — algo que realmente me excitava —, outra completamente
diferente era levar uma cintada. Se o seu plano era me assustar e,
consequentemente, me afastar, estava funcionando.

— Acho que esse é um bom momento pra eu dizer que não curto muito
esse lance de apanhar — disse a ele, realmente preocupada com aquela cinta,
que continuava na mão dele.

Não conhecia muito sobre BDSM, mas sabia que envolvia dor, as
palavras “sadismo” e “masoquismo” não deviam estar ali de enfeite.
Compreendia que era muito contraditório da minha parte lhe dizer
aquilo. Em um momento, falava para ele para me mostrar o caminho e no
seguinte já estava correndo dele, entretanto, tinha que ser sincera. Por mais
sexy que fosse a imagem dele com aquela cinta na mão, não queria senti-la na
minha pele.

— Você só diz isso porque nunca apanhou de mim, princesa — ele


respondeu com um sorriso que me assustou e me excitou ao mesmo tempo.
Alex ergueu a cinta na altura do meu busto, deixando-me apreensiva, mas
antes que eu pudesse imaginar alguma coisa, ele começou a rir de forma
debochada, quebrando toda a tensão que nos envolvia. — Achou mesmo que
eu ia bater em você com isso aqui?

Sim, eu achei.
E me sentia estúpida por isso.

Mais uma vez, dava-lhe uma prova do quanto não servia para aquilo.

— Quem sabe não levo você pra casa comigo um dia desses... Mostro
os meus brinquedos e aí você me diz se gosta ou não de apanhar — ele
tornou a falar, quebrando o silêncio deixado por sua pergunta não respondida.
Ele ajeitou-se na poltrona, abrindo bem as pernas. — Mas, por hoje, você vai
ter que se contentar em só chupar o meu pau.

Ele abriu o zíper e depois de abaixar um pouco da cueca azulada, seu


caralho pulou pra fora.

Sabia que ainda tínhamos cerca de vinte minutos antes de nos


prepararmos para o pouso, então simplesmente ajoelhei-me e me coloquei em
frente a ele e seu cacete grosso.
— Eu posso? — fiz um charme, sedenta por aquele pedaço de carne.

O loiro permitiu com um aceno de cabeça.

Não perdi tempo e segurei-o com a minha mão direita. O membro dele
estava tão quente e duro. Os pentelhos raspavam em meu polegar e as bolas
dele esquentavam o meu mindinho.

Parecia uma criança segurando um brinquedo novo.

Estava maravilhada.

Apertei o caralho dele como se fosse de borracha e senti as veias


pulsarem em meus dedos. Era estranho, mas ter o sexo dele em minha mão
dava-me uma sensação de poder, algo que não conseguiria descrever nem
mesmo para o meu livro.
Talvez ele também tivesse notado isso, pois segurou o meu cabelo e
pressionou a minha cabeça contra a sua virilha, roubando o controle das
minhas mãos. Não lutei contra ele, simplesmente abocanhei o seu cacete.

Não sabia muito bem o que deveria fazer, já que nunca tive um pau em
minha boca antes. Mas muito disso era algo instintivo. Tomei cuidado para
não encostar a ponta dos meus dentes em sua pele e simplesmente deixava
com que a mão dele, que continuava segurando o meu cabelo, me guiasse.
Alexandre não estava sendo bruto e isso permitia com que eu
aproveitasse bastante daquela sensação, explorando o cacete dele com a
minha língua. Lambi a cabeçona sem me importar com o pré-gozo, que
começava a ser expelido. Adorei sentir o gostinho salgado.

Sentia-me tão safada com aquele mastro melecando a minha boca que
nem parecia que se tratava da primeira vez que eu fazia aquilo.

Achava que estava indo bem, com exceção de um momento em que


acabei me empolgando e os meus dentes rasparam na cabeça do pau de
Alexandre. Ele fez uma careta e eu ri envergonhada.
— Agora as minhas bolas... — ele sussurrou, tirando seu pau da minha
mão. Depois de me dar um sorrisinho, o CEO emendou: — Só não vai
morder.

Quase tive uma crise de riso.

Mas me controlei, seguindo para o saco dele. Comecei passando a


língua pela sua pele, ignorando todos os pentelhos naquela região. Com
bastante cuidado, coloquei uma de suas bolas na boca.
Queria satisfazê-lo ao máximo, literalmente esvaziar aqueles bagos.

— A minha bola esquerda já está com ciúme — ele sussurrou, fazendo-


me mudar, chupando a outra. — Até que não está sendo tão ruim assim.
“Tão ruim assim”.

Aquilo não me pareceu um elogio.

Tirei a bola dele da minha boca, pois precisava respondê-lo: —


Desculpa, é que eu meio que acabei reprovando nessa matéria na escola. —
Antes que ele pudesse me dizer mais alguma coisa, completei: — Seu
babaca!

Alex riu e isso me fez rir também.

— Foi um elogio! — ele se defendeu, ainda rindo da minha frase. —


Quando não começa bem, pulo o oral e vou logo pra penetração. Então, sinta-
se elogiada, senhorita Pontes.
Entendia o motivo de ele agir daquela forma. Era muito complicado
dominar um sexo oral, você não tinha muito controle quando o recebia. Tudo
o que ele podia fazer era segurar o meu cabelo e pressionar a minha cabeça.
Em contrapartida, eu podia morder o pau dele e acabar com qualquer fantasia
de controle que ele achava que tinha.

— Mas pode ficar tranquila, princesa... Vou treinar você direitinho —


ele tornou a falar. — Você vai ser a número um em chupar pau.

Queria mandá-lo calar a boca, mas no fundo gostava daquilo, de todo o


estímulo verbal, das brincadeirinhas. Deixava-me mais confortável.
Voltei a chupar o pau dele. Lambi a cabeça com muita vontade e
mantive os meus olhos colados no rosto de Alex, pois queria assistir o prazer
dançando em sua expressão facial. Ele gostou, pois deixou-me no controle da
situação. Simplesmente continuou sentado com as pernas bem abertas e me
deixou brincar com o caralho dele.

E para mim, foi como um novo dia na Disneylândia.


Fiz movimentos de vai e vem e me esforcei ao máximo para abocanhá-
lo completamente. E o executivo estava gostando, conseguia ouvir os
gemidos baixinhos dele, por mais que ele se esforçasse muito para escondê-
los de mim.

— Eu vou...
O aviso foi tarde demais.

Senti a porra jorrando dentro da minha boca. Estava tão envolvida que
nem mesmo pensei, acabei engolindo o que consegui manter dentro da minha
boca. Parte dela escorreu pelos cantos da minha boca, sujando o meu
uniforme e a poltrona cinzenta.

— Olha só quanto desperdício? — ele sussurrou, levando com o dedo


parte da porra em meu rosto de volta para os meus lábios. Ele apontou para o
esperma na poltrona. — Que boquinha furada, hein?
Novamente, não pensei. Simplesmente lambi a região da poltrona,
levando a porra de volta para a minha boca.

— Pronto, senhor — respondi, arrancando um sorriso que parecia ser


de satisfação.

Diferente da primeira vez que transamos, eu já não me sentia mais tão


desconfortável na presença de Alexandre. Ele era o meu chefe e também era
o homem que gozou na minha boca.

Eu estava à vontade com isso.


Não havia motivos para me envergonhar.

— As coisas estão indo rápido demais, senhor Brandão. Se


continuarmos nesse ritmo, da próxima vez que transarmos você já vai estar
me chamando de cadela — brinquei, enquanto arrumava o meu cabelo.

— É isso o que você quer? — ele indagou, pegando-me desprevenida


com aquela pergunta. Não achei que Alex levaria aquela brincadeira a sério.
— Ser a minha cadela?
Eu o queria, mais do que qualquer outra coisa.

Porém, ainda tinha certo receio de tudo o que o acompanharia.

— Se você continuar sendo tão bom, você pode me chamar do que


quiser.
Ele riu e observou-me de uma forma extremamente maliciosa, era
como se Alex estivesse pensando no que queria fazer comigo, numa de suas
bizarrices que eu detestava admitir que estava gostando.

— Confesso que eu nunca pensei que isso fosse dar tão certo — ele me
disse, parecendo bem sincero. — Dá até pra dizer que você não era a única
virgem... Obviamente não foi a minha primeira vez fodendo alguém, mas...
— Ele hesitou por alguns segundos, mas logo completou: — Foi a primeira
em que fiz isso com alguém que realmente mexe comigo.

Eu mexia com ele?


Aquela sua última frase deixou-me sem palavras, não tinha ideia do
que lhe dizer e sentia medo de responder com algo extremamente exagerado e
meloso, que poderia soar como uma cartinha estúpida de amor.

Não, não precisávamos de outra carta de rolo de papel higiênico.


Felizmente ele não esperou por uma resposta da minha parte,
prosseguindo: — Você estava certa... Depois que voltamos de Nova York,
achei que tinha cometido um erro. E esse foi o motivo por eu ter andado tão
distante nos últimos dias.

Como Fabrício claramente começou a descer e em breve estaria


pousando a aeronave, sentei-me na poltrona ao lado de Alexandre. Nem
esperei pelo convite dessa vez. Recusava-me sair de perto dele antes de
terminarmos aquela conversa.

— E o que fez você mudar de ideia? — repeti a pergunta que fiz antes
de transarmos. — Por que você não enxerga mais isso como um erro?
— Eu ainda enxergo como um erro — ele afirmou, deixando-me
confusa. — Mas acho que, no fim das contas, a minha vontade de comer você
falou mais alto.

Lancei um olhar incrédulo na direção do loiro.

— Mentiroso. — Antes que ele pudesse continuar insistindo naquilo,


argumentei: — Se fosse só por isso, eu não precisaria ter implorado tanto pra
gente transar daquela vez.
Não duvidava mais da atração dele por mim, mas Alexandre era
inteligente demais para simplesmente mudar de ideia — fazendo aquilo que
considerava um erro — só porque estava com vontade de transar comigo. Ele
poderia transar com a mulher que quisesse, não tinha sentido insistir em algo
que ele mesmo considerava errado só pra se “aliviar”.
Pela expressão de seu rosto, parecia que, dessa vez, fui eu quem o
pegou desprevenido.

— É diferente... Isso que temos é diferente de tudo o que eu já tive —


afirmou ele, claramente envergonhado. — E me assusta, acho que sempre me
assustou, mas, ao mesmo tempo, não consigo evitar.
Eu me sentia exatamente da mesma forma.

Abri a boca para lhe dizer isso, mas ele foi mais rápido, mudando o
assunto: — Saiba que, a partir de agora, eu não vou mais pegar tão leve com
você, Thais Pontes. Você pediu pra eu te mostrar o que gosto. E farei isso,
mas quero ir com bastante calma, em pequenas doses... Não quero correr o
risco de assustar você.

— Eu não me assusto fácil, Alexandre Brandão — respondi não


querendo ser vista como alguém frágil, que precisava de tratamento
diferenciado. Não me controlei e brinquei: — Eu já transei duas vezes. Isso
sem contar aquela vez em que assisti você transando, o que eu acho que deve
contar como sexo também. Ou seja, sou uma mulher muito experiente, me
recuso a ser café com leite.
Ele riu da minha piada e os seus olhos brilharam, antes de ele
comentar: — Eu adoro café com leite... É gostoso...

— Você que é gostoso — sussurrei, tomando aqueles lábios pra mim e


imitando algo que ele havia me dito em nossa primeira vez. — E, só pra
constar, o café com leite desnatado e sem açúcar que você toma é horrível.

— Horrível?
— Sim, horrível — afirmei, segurando-me ao máximo para não beijá-
lo.
— O que é que eu vou fazer com você, hein, Thais? — ele brincou,
rindo enquanto balançava a cabeça. — Não estou acostumado a mulheres tão
teimosas.

“Tenho certeza de que você já deve estar pensando em uma punição”


a minha mente gritou.
Adorei cada segundo daquela conversa ao ponto de nem notar o
impacto do pouso. Contudo, assim que me dei conta disso e de que logo
Fabrício deixaria a cabine de comando, levantei-me da poltrona.

Depois de sorrir para o meu lindo chefe, afastei-me lentamente,


seguindo para os fundos da aeronave com um sorrisinho bobo no meu rosto.
Capítulo 17

Como os compromissos de Alexandre eram todos na cidade, fiquei


quase uma semana sem precisar trabalhar e isso me deu tempo suficiente para
pensar em todas as coisas que ele havia me dito, incluindo a parte em que eu
mexia com ele.

Não queria me iludir — não de novo —, mas era difícil não ficar
balançada ao ouvir algo assim, principalmente porque Alex mencionou que
aquela era a primeira vez que ele ficava com alguém que mexia de verdade
com os sentimentos dele.

Definitivamente, não era algo pequeno.

Mas me controlei na medida do possível, tentei não ficar esperançosa


demais, sonhando acordada com coisas fantasiosas.
Na quarta-feira à tarde, eu recebi uma mensagem dele.

Eu quero você.

Hoje.
Às dezenove horas, o meu motorista vai passar aí pra buscar você.
Não se atrase... Ou serei obrigado a aplicar uma punição.

Aquilo parecia uma intimação e isso me lembrou de que ele havia me


dito que não pegaria mais leve comigo. Esse pensamento fez com que o meu
estômago congelasse.

Eu queria muito vê-lo, então não reclamei da sua “intimação” em


forma de convite, limitando-me a lhe enviar:
Nos vemos à noite, senhor.

Pelo conteúdo da mensagem de texto, tinha certeza absoluta de que


transaríamos. E diferente das outras vezes em que isso aconteceu, agora tinha
uma oportunidade de realmente me preparar para essa ocasião, de pelo menos
vestir uma calcinha decente.
A gente não se via muito fora daquele avião, sem que eu estivesse
usando o uniforme de comissária, então queria vestir algo muito bonito, que o
surpreendesse de verdade. Coloquei o meu melhor vestido, um que havia
comprado para a festa de formatura de uma prima minha, há quase um ano.

Felizmente, a roupa ainda me servia como uma luva.

Contudo, ao observar o meu reflexo no espelho do quarto, notei que o


vestido verde já não parecia mais tão bonito assim.
Eu estava bonita. Talvez não tanto quanto queria estar com um vestido
barato daqueles, mas precisava jogar com as ferramentas que tinha. Diferente
de Alexandre Brandão, não possuía dinheiro sobrando para gastar.

O motorista chegou às dezenove horas em ponto. Não queria me


atrasar, mesmo achando interessante a ideia de receber uma punição do meu
chefe, então não demorei a entrar no carro.

Além da oportunidade de conversar com Alexandre longe do nosso


local de trabalho — e do sexo que com certeza faríamos —, estava animada
para conhecer a casa dele, para observar de perto todas as coisas que ele
gostava.
Depois que nos mudamos, deixando a casa dos nossos pais, a primeira
coisa que notamos é o quanto o nosso lar reflete quem nós somos.
Conseguimos perceber se a pessoa é organizada, se é extremamente surtada
quando o assunto é limpeza ou se é tão desleixada ao ponto de deixar roupa
suja jogada pelos quatro cantos.

Evidentemente, não encontraria bagunça — certamente porque ele


tinha alguém para limpar tudo para ele —, mas, ainda assim, poderia analisar
a decoração, descobrir se ele era um desses ricaços adeptos ao minimalismo
ou se acumulava coisas demais.
Seria bem divertido.

Entramos no estacionamento de um prédio muito bonito, que tinha


mais andares do que eu poderia contar. O motorista dele acompanhou-me até
a portaria e, para a minha surpresa, Alexandre estava esperando por mim.

Ele não usava um daqueles ternos caros que eu estava acostumada a


ver em seu corpo. O loiro vestia um suéter bordô e uma calça de moletom
cinzenta. E mesmo sabendo que aquelas vestimentas casuais dele deveriam
custar o equivalente a dez vestidos do que estava usando, ele não deixava de
se parecer com alguém comum, com alguém do meu mundo.
Isso me lembrou do tempo em que eu não enxergava essa aura
imponente envolta dele, de quando ainda almoçávamos na varanda da casa
dos pais dele, utilizando apenas um prato, naquela nossa guerra épica de
garfos.

— Oi — sussurrei, um pouco tímida, ao me aproximar dele.

— Se eu soubesse que você estaria tão linda assim, teria me arrumado


mais — respondeu-me ele com um sorriso.
Essa era provavelmente a coisa que mais gostava nele, toda essa
atenção e carinho. Alexandre sabia fazer com que eu me sentisse bonita e
única. Tinha certeza de que ele devia ter se encontrado com mulheres muito
mais bonitas e elegantes do que eu, mas enquanto estava em frente a ele,
quase acreditava naquelas mentiras encantadoras.

Entramos no elevador e, devido a nossa proximidade, a tensão


aumentou. Ele clicou no botão 20, aparentemente o último andar do prédio, e
trouxe os seus olhos cor de mel para mim.
Subimos em silêncio, com os olhos dele me queimando. Mas também
não podia dizer que era desconfortável, porque adorava ser observada por ele
daquela forma, como se estivesse apreciando uma obra de arte.

A porta do elevador privativo abriu e estávamos diretamente na sala de


estar dele.

Observei o enorme sofá marrom escuro, que podia confortar facilmente


dez pessoas, olhei também a mezinha de centro e a televisão gigantesca, que
ficava no centro de um painel escuro.
— Eu adoro casas pequenas... Elas são sempre tão aconchegantes... —
ironizei, ainda observando o local.

— São como você então... Apertada e aconchegante — ele sussurrou,


deixando-me desconcertada com o comentário que, definitivamente, não era
uma metáfora para casas pequenas.

Poderia muito bem lhe dar mais corda — mesmo com a minha timidez
pedindo por socorro —, porém, optei por voltar a observar o apartamento
dele.
As paredes eram decoradas por quadros enormes, todos cheios de vida,
então foi difícil impedir os meus olhos de se perderem, mergulhando em cada
um dos detalhes.

Era bem bonito.


E muito, muito grande.

Foi inevitável não pensar: “Deve ser um inferno limpar um


apartamento tão grande assim”. Mas aí eu me dei conta de que ele não devia
nem arrumar a própria cama ao se levantar pela manhã.
Poderia continuar deslumbrada com o seu apartamento luxuoso, mas
tudo isso foi embora ainda na minha adolescência, quando me dei conta do
quanto de dinheiro a família dele tinha.

Tinha passado dessa fase.

Ignorei tudo e simplesmente dei três passos, aproximando-nos. Toquei


em seu peito por cima do suéter de algodão e olhei para cima, encarando o
sorriso naqueles lábios convidativos. Foi automático, os nossos rostos foram
se juntando e acabamos num beijo.
— Fato curioso: eu passo o dia inteiro com vontade de fazer isso —
confessei, assim que os nossos lábios se afastaram. — Mas aí, como a
excelente profissional que eu sou, me controlo e só pergunto se você aceita
beber alguma coisa.

Ele sorriu e me respondeu: — Você não é a única a passar vontade


naquele avião. E, fato curioso, não sinto apenas vontade de te beijar. Quando
você me pergunta se eu quero alguma coisa, eu, como o ótimo chefe que sou,
me controlo e nunca respondo que quero te comer.

Fato curioso: estava começando a me excitar.


Como se estivesse lendo a minha mente e todos os meus pensamentos
safados, ele indagou: — Acha que está pronta para conhecer os meus
brinquedos?

Minha barriga gelou com a palavra “brinquedos”, o que fez com que
eu tomasse alguns segundos para lhe responder positivamente com um aceno
de cabeça.

Eu estava mesmo pronta?


Provavelmente não.

Eu não era estúpida e sabia bem o que aqueles “brinquedos”


significavam e sabia também que deviam ser coisas muito bizarras.

Abandonei esses pensamentos e o acompanhei pelos corredores do


apartamento. Existiam quadros por todo lugar, era como se o apartamento
dele fosse uma espécie de galeria de arte.
Entramos num cômodo que identifiquei como sendo o quarto dele.
Tinha uma cama enorme, que parecia ainda maior que uma king size, um
guarda-roupa planejado e um espelho que cobria uma parede inteira.

Instintivamente, busquei por algo macabro.

Contudo, a única coisa intimidante naquele lugar era o seu tamanho.


O cara tinha até uma espécie de sofá.

Antes que pudesse questionar onde estavam os seus brinquedinhos, ele


pegou um controle pequeno em uma das gavetas de seu guarda-roupa e clicou
num botão. De repente, o espelho começou a se mover lentamente, dando
acesso a um segundo cômodo escondido.

Eu me sentia em um filme do Batman, descobrindo a localização da


batcaverna.
— Primeiro as damas.

Ainda um pouco hesitante, como se tivesse um monstro horripilante


naquela sala, eu avancei sem pensar muito, simplesmente entrando no
cômodo.

Caralho.

Era tudo o que conseguia pensar.

Tratava-se de um segundo quarto, um pouco menor que o anterior, mas


igualmente espaçoso. Tinha uma cama no centro com um colchão preto —
certamente a “cama preta” que ouvi Daniela se referir depois de vê-los
transando —, num material que lembrava muito couro. As paredes cinzentas
eram praticamente todas cobertas com prateleiras pretas, com inúmeros
objetos que eu desconhecia.

Identifiquei de relance apenas um chicote e algo que se parecia muito


com uma algema, mas que possuía uma espécie de barra de ferro grudada.
Além de o quarto trazer uma decoração toda com cores escuras, a
iluminação era mais fraca que no anterior, com uma luz quase violeta. Era
como se estivéssemos numa boate, só que no lugar de música e bebida,
tínhamos chicotes e mais um monte de objetos estranhos.

— Muito bizarro? — questionou-me ele, claramente ansioso por uma


reação da minha parte.

— Sinceramente? Menos do que eu pensei que seria.


Tirei um tempinho para observar melhor aquele ambiente, ver aquele
mundo secreto de Alexandre mais de perto. Voltei o meu olhar para as
paredes e comecei a reconhecer mais objetos, coisas como cordas, correntes,
coleiras e outros que, sim, podia dizer que eram bizarros.

— Como é a sua primeira vez aqui dentro, vou quebrar uma das
minhas regras e deixar você escolher um brinquedo pra gente usar.

Era muita informação.


Não tinha ideia do que escolher.

— Acho que esse é o momento perfeito pra eu te contar que não tenho
muita experiência — brinquei, obviamente utilizando-me do humor para
vencer parte do meu desconcerto. — Transei uma vez com um louco num
hotel em Nova York, depois em um avião, o que foi bem emocionante, mas
foi só isso... Ah, já te contei da vez que assisti um cara transando?
— Não precisa se preocupar com isso, princesa... Vou ensinar tudo o
que você precisa saber — ele disse de uma forma sexy. Antes que pudesse
dizer mais alguma coisa, ele completou: — Anda logo! Se não escolher, farei
isso por você.

Por algum motivo, aquilo não me pareceu algo muito bom, então
comecei a me mexer, caminhando até as prateleiras.

Não pegue nada que envolva dor.


Nada que envolva dor.

Desviando-me dos chicotes, caminhei até a coleira de couro que havia


avistado anteriormente e a peguei.

— Uma coleira pra uma cadela... Muito apropriado.

Pensei em fazer mais uma piadinha, mas acabei desistindo, pois não era
hora para isso. Sentia que poderia destruir o clima facilmente, já que
estávamos numa situação bem estranha. Qualquer brincadeira poderia soar
como gozação com o fetiche dele e não pegaria muito bem.

Achei que ele fosse colocar a coleira no meu pescoço, proclamando-me


sua “cadela” de uma forma que me excitaria mais do que eu me orgulhava em
admitir, mas Alex comentou: — Na verdade, tenho uma coisinha melhor pra
você.
Ele caminhou para os fundos do cômodo, indo buscar essa “coisinha”.

O CEO voltou com uma caixa preta.

— Pra você.

Peguei o objeto, que pela caixa parecia ter saído de uma joalheria. Abri
e descobri que se tratava de um colar lindo de ouro branco, que possuía a
letra “A” de pingente.

— Essa coleira fica melhor em você... — ele prosseguiu, arrancando-


me um sorriso bobo. Que desgraçado! — Agora, quando você usar, vão saber
que você tem um dono.
Aquilo me excitou muito.

Que droga tinha de errado comigo?

Talvez fosse pelo simples fato de que eu queria ser dele, mas não sabia
se isso justificava todo o meu tesão em ouvi-lo me dizer aquilo.
Alexandre me levou para a cama e deitou-me sobre o colchão, que
descobri ser bem mais confortável do que aparentava. Notei que nos cantos
existiam uma espécie de algema acolchoada e isso me assustou um pouco, já
que ele obviamente me prenderia.

O meu pavor deve ter ficado nítido em minha expressão facial, pois
Alexandre sentou-se sobre a cama comigo e, ainda com os olhos em mim,
sussurrou: — Lembra daquilo que conversamos durante a sua primeira vez?
— Balancei a minha cabeça, confirmando e então ele continuou: — A gente
pode parar isso aqui a qualquer momento.

Antes que pudesse lhe dizer que queria continuar, mesmo um


pouquinho assustada com tudo aquilo, ele prosseguiu: — Inclusive, é
exatamente pra isso que serve uma safeword. Em tradução literal, nossa
palavra de segurança. Quando você pronunciá-la, a gente para tudo no
mesmo instante. — Ele sorriu e continuou com sua aula de BDSM, dando
uma de professor. — Essa palavra precisa ser curta e de fácil entendimento.
Pode ser qualquer coisa.

— Que tal “para” ou “não!”? — questionei, fazendo com que ele


sorrisse.
— Justo.

Sabia que parte dele queria muito me dizer “essas palavras não
servem!”, mas Alexandre não queria apenas me dominar naquele quarto, ele
queria que eu aproveitasse aquilo tanto quanto ele.

O loiro me ajudou a tirar a minha roupa, deixando-me completamente


nua em cima daquela cama estranha. Sentia a textura do material contra a
minha pele soada e ele fazia barulho quando eu me movimentava.
Alex prendeu-me, começou pelas minhas pernas e em seguida fez o
mesmo com as minhas mãos. Fiquei deitada, com as pernas e braços bem
abertos, completamente imobilizada e nua.

Era uma sensação muito estranha. Estava amarrada e despida, numa


cama dentro de quarto com um monte de coisas que me assustavam.

Ou eu era muito corajosa ou então completamente louca.


Mas no fundo, confiava em Alexandre, sabia que ele nunca faria nada
contra a minha vontade. Mesmo não sendo muito convencional quando o
assunto era sexo, ele continuava sendo o mesmo homem gentil e atencioso de
sempre, certificando-se a todo momento que eu estava bem.

— Pensa pelo lado bom, minha princesa... Você não vai ter problemas
pra manter essas pernas abertas dessa vez — ele sussurrou.
Foi inevitável não me lembrar da sensação de ter aqueles lábios em
minha boceta.

As mãos dele pousaram em meus seios. Ele apertou de forma leve,


sentindo-os e manteve o seu olhar sério em meu rosto. E nesse momento,
pude notar dentro de seus olhos o quanto ele me desejava.
Os dedos dele escorregaram em direção a minha boceta.
Instintivamente, o meu corpo se contorceu em cima daquela cama, mas não
consegui me mexer, as correntes me impediram. Foi quando realmente senti
que estava imobilizada, incapaz de fazer alguma coisa.

Dois de seus dedos afundaram em mim.

Gemi baixinho, pois era tudo o que podia fazer naquela cama; deixá-lo
me usar e aproveitar cada segundo disso.
— Você está gostando bastante, não é, sua safada? — ele disse mais
num tom de afirmação que de pergunta. Certamente notou, através dos dedos
em meu sexo, que estava muito excitada. — É quase uma decepção, já que,
no fim das contas, você é só mais uma putinha suja, como todas as outras.

O loiro tirou os dedos da minha boceta e os levou até os meus lábios.

Diferente daquela vez no hotel, ele não me fez uma pergunta,


simplesmente os colocou em minha boca, fazendo com que eu provasse do
meu próprio gosto.
— Eu não planejei chupar a sua boceta hoje, mas ter você assim, toda
molhadinha, me fez mudar de ideia... — ele prosseguiu, enfiando-se no meio
das minhas pernas, como um animal faminto. — Dessa vez, eu até deixo você
fechar as pernas.

Desgraçado!
Acho que gritei antes mesmo da língua dele tocar a minha boceta.

Meu corpo se contorceu. Ao menos, o máximo que conseguia com as


algemas prendendo-me ao colchão. Às vezes, fazia tanta força em meus
braços, que era como se as correntes pudessem se partir. A minha sorte era
que elas eram revestidas por um tecido acolchoado ou acabaria me
machucando naquela brincadeira.
Alexandre me comeu com aquela sua língua gulosa. Ele me lambeu
todinha. Foi tão intenso que não consegui me controlar, gritando alto.

— Que boceta gostosa... — ele sussurrou com um sorrisinho que me


deixou ainda mais sedenta.

O loiro afastou-se de mim, levantando-se da cama. Alex livrou-se da


camisa e suéter, deixando o seu abdome trincado à mostra. Fiquei com água
na boca, morrendo de vontade de chupar cada um daqueles gominhos.
Contudo, estava presa na cama, totalmente incapacitada.
O CEO caminhou até uma das prateleiras e pegou um objeto muito
parecido com um chicote, mas com a ponta em forma retangular, com o que
parecia ser couro.

O meu estômago gelou.

— Alex...
— É senhor, cadela! — ele me interrompeu, tornando a se aproximar
de mim.

Merda.

Ele deslizou a ponta gelada do chicote pelo meu corpo, trilhou um


caminho que foi do meu seio esquerdo até a minha boceta. Alexandre
pressionou a tira de couro contra o meu sexo e eu gemi alto.
Era inevitável não esperar pelo momento em que ele me bateria com
aquela coisa. Contudo, a parte mais estranha talvez fosse eu estar ansiando
por aquilo. Sentia muito medo, mas continuava esperando, quase desejando
que aquela coisa subisse e despencasse, acertando-me em cheio.

Ele sorriu, provavelmente dando-se conta do quanto estava mexendo


comigo e bateu três vezes, bem de leve, em minha boceta.
Não senti dor.

Sentia apenas prazer.

Entendia que o objetivo nunca foi causar dor ou ele não teria sido tão
gentil. Alex queria que eu soubesse que ele estava no comando, que enquanto
eu estivesse presa naquele quarto, ele seria meu mestre e que faria o que
quisesse comigo.
Depois de deslizar a tira de couro uma vez mais em minha boceta, ele a
trouxe até os meus lábios.

Não esperei pelo seu comando, lambendo-a.

— Boa menina — ele sussurrou, com aquele sorriso sacana e maldoso


que passei a amar. — Quero ir com bastante calma, então pode respirar... Não
vou bater nessa boceta hoje, mesmo você merecendo.
Ele subiu novamente na cama, soltou o chicote e tornou a focar em
meu sexo.

Dessa vez, Alex inseriu dois de seus dedos dentro de mim e os vibrou,
pegando-me totalmente de surpresa. Os movimentos eram tão rápidos que
mal conseguia gemer.

Meus dentes rangeram e nunca gritei tão alto.


Filho da puta.

Tinha certeza de que acabara de ter um orgasmo.

E, ainda assim, não parecia o bastante.

Nada parecia.

— Se continuar me fazendo gemer assim, logo os seus vizinhos vão


reclamar — disse a ele, com a minha respiração ofegante.

— Pode gritar a vontade, as paredes são a prova de som... — ele


respondeu, como um vilão de filme de terror. — Além de mim, ninguém
pode ouvir os seus latidos.

As mãos dele retornaram aos meus seios. Mordi o meu lábio inferior e
tornei a sentir a língua dele em minha boceta. O desgraçado estava indo num
ritmo muito intenso, sentia até os fios ralos da barba dele raspando contra o
meu sexo. Sentia o seu hálito quente, seus lábios macios e a sua língua
habilidosa.

Em alguns momentos, quase sussurrava um “não”.


Não porque não queria aquilo, mas porque era simplesmente intenso
demais. Mas me controlei, pois não queria, de forma alguma, que aquilo
parasse.

Aquele homem tinha nascido pra fazer aquilo.

Pra chupar a minha boceta.


E me dominar.

Ele se afastou e tornou a caminhar pelo quarto, deixando-me em cima


da cama, sem mal conseguir observar o que ele estava fazendo.

Alex retornou com uma corda e isso me deixou muito apreensiva.


Ele quer me prender ainda mais?

Suas mãos tornaram a tocar em meus seios e, antes que pudesse


raciocinar, ele já estava envolvendo-os com aquela corda, amarrando os dois,
forçando um “X”.
Não estava tão apertado, mas fazia bastante pressão, sentia as cordas
prendendo-os. E isso, somado ao fato de eu já estar amarrada na cama,
deixava-me ainda mais impotente diante dele. Sentia que estava totalmente
imobilizada e indefesa em frente a ele, que caminhava livremente.

Depois de me observar por alguns segundos, apreciando aquela visão,


ele abaixou a calça de moletom, junto com a cueca, ficando completamente
nu.

Meus olhos correram para aquele cacete grosso, que já estava bem
duro.
Que macho gostoso da porra!

Se as minhas pernas já não estivessem bem abertas para aquele


homem, estariam naquele momento.

Alex voltou os seus olhos cor de mel na minha direção.

— Agora que você sabe um pouco mais sobre como eu trato as minhas
vadias, ainda quer ser minha? — ele questionou, quase me convidando para
ser uma das “vadias” dele.

O executivo não me deu tempo para responder.

Ele simplesmente levou os seus dedos de volta a minha boceta.


— Pelo jeito, você ainda quer... — ele prosseguiu, com aquele
sorrisinho perverso e safado. — Continua molhadinha...
O loiro pincelou a minha boceta com a cabeça de seu pau, enchendo o
meu estomago de borboletas, preparando-me para o momento em que me
invadiria. Aquele cretino continuou esfregando o seu caralho em mim,
claramente tentando me provocar, deixando-me mais ansiosa pelo momento
da penetração.

— Você quer que eu implore? — questionei, com os olhos no rosto


daquele safado. — Me fode logo! — Como ele manteve o olhar em meu
rosto, acrescentei: — Senhor.

Com um sorrisinho de satisfação, ele atendeu ao meu pedido,


finalmente enfiando o seu caralho em mim. Nossos corpos se completaram. E
me senti extremamente confortável, como se não estivesse presa, com os
braços e pernas abertas.

Lentamente, ele começou a meter, sem desviar o olhar do meu rosto.


Amava a forma como ele me encarava, cheio de desejo, com uma expressão
indecifrável, como se estivesse decidindo o que mais faria comigo.

Seus lábios foram para o meu pescoço, que ele encheu de beijos,
formigando a minha pele. Tentei aproveitar ao máximo daquela sensação
gostosa. Queria poder tocá-lo também, acariciar o seu rosto feroz e o seu
peitoral firme, enquanto continuava sendo tomada por ele, mas minhas mãos
continuavam presas na cama.
— Eu quero você pra mim, Thais — ele tornou a murmurar, ainda com
os lábios na minha pele. — Quero que seja só minha.

Gemi enquanto o seu pau continuava entrando e saindo de mim,


enquanto ele pressionava tão profundamente ao ponto de eu sentir as suas
bolas.

Alex me beijou, dominando a minha boca de forma tão feroz quanto


fez com o restante do meu corpo. Os movimentos dele aumentaram e em
menos de um minuto ele chegou ao orgasmo, deixando um gemido mais alto
escapar de seus lábios.

Queria lhe perguntar se ele havia falado sério, se realmente queria que
eu fosse dele — só dele —, mas talvez fossem apenas palavras sem um
significado real, ditas momentos antes de ele atingir o êxtase.
Ele tornou a buscar pela minha boca e, após um minuto maravilhoso de
beijos, Alex levantou-se da cama.

Eu me senti quase vazia sem o pau dele me preenchendo daquela forma


gostosa. Era tão estranho e nem parecia que há pouquíssimo tempo eu ainda
era virgem, que tinha vivido tanto tempo sem sentir aquela sensação.

Seus olhos cor de mel voaram na minha direção.


— Vou tomar um banho.

Assim que ele me disse aquelas palavras, soube que o desgraçado me


deixaria ali, amarrada naquela porcaria de cama, ainda com as minhas pernas
abertas, como se eu fosse um mero objeto daquela casa.

Antes que ele desse um único passo, pronunciei, com uma voz bem
séria: — Não ouse a fazer isso, Alexandre Brandão.
Ignorando completamente o que eu lhe disse, ele deixou o quarto.

Isso fez com que eu deixasse escapar uma risada de frustração.

Eu esganaria aquele babaca.


Tiraria aquele sorrisinho sacana com um tapa bem dado.

— Pensando bem, seria um desperdício deixar você aqui... — ele


comentou, ao retornar para o quarto. O CEO aproximou-se da cama e
começou a me desalgemar. — Acha que dá conta de limpar o meu pau,
princesa?

Balancei a minha cabeça, confirmando.


Se dependesse de mim, limparia aquele cacete ali mesmo no quarto, só
com a minha boca.

Ele me desamarrou e tirou aquela corda dos meus seios. Foi


maravilhoso poder movimentar os meus braços e pernas novamente.

Levantei-me da cama e, sem dizer uma única palavra, ajoelhei-me em


frente a ele, ficando na altura daquele caralho gostoso, que já havia
amolecido. Não pedi a sua autorização dessa vez, simplesmente o agarrei-o,
fechando a minha mão direita entorno dele. Senti parte da porra dele
melecando-me e isso, por algum motivo, me deixou mais acesa.
Apenas com esse meu toque, o cacete dele começou a ganhar vida
novamente.

— Agora você vai ter que aguentar ele na sua boceta de novo — ele
sussurrou, claramente se referindo ao fato de eu tê-lo acordado.

Faria esse sacrifício com prazer.

Não me importava em ficar dolorida mais tarde.

Aproximei meus lábios daquela cabeçona e comecei a chupá-lo


lentamente. Iniciei com lambidas, removendo o restinho de porra que havia
sobrado. Tudo isso, enquanto voltava o meu olhar para cima, observando a
expressão safada dele, que devia estar adorando assistir eu me submeter
daquela forma.

Fiz a mesma coisa com a base e toda a extensão, certificando-me de


que estava deixando-o “limpinho”. E então desci para as suas bolas, que me
deram mais trabalho, já que parte da porra havia escorrido para aquela região.

Adorei o gostinho salgado e se pudesse, passaria o dia inteiro ali,


embaixo do caralho quente dele.
— Prontinho, senhor Brandão — sussurrei, ao terminar de “limpar” o
pau dele. Como ele permaneceu em silêncio, eu me obriguei a continuar,
tentando tirar um elogio daqueles lábios: — E aí, o que o senhor achou do
meu serviço?

— Uma delícia, Thais Pontes — ele respondeu, com um sorriso de


canto. — Mas infelizmente essa limpeza não vai durar muito tempo, porque
eu vou comer essa boceta de novo... E de novo... E de novo.

Alexandre não me deu tempo nem de pensar, seus braços me


agarraram, tirando-me do chão. Não reclamei, já que amei estar naqueles
braços grandes, tão pertinho do rosto dele.
Ele me carregou até o banheiro, que era tão grande quanto o restante de
seu apartamento de luxo. Tinha uma banheira cinza escura no canto esquerdo
e uma ducha no direito. Assim como o restante da casa, a maior parte dos
móveis era de cor escura.

Alex caminhou na direção do chuveiro.

— Eu quero tomar banho de banheira — eu lhe disse, dando um


tapinha em seu peito, para que ele parasse de andar.
— Por quê?

— Porque não tenho uma em casa — disse, como se aquilo não fosse
óbvio o bastante. Como ele não parecia muito disposto a mudar de ideia, eu
acrescentei: — Por favor.

Ele não resistiu ao meu olhar pidão e deu meia-volta, nos levando até a
banheira.

Alexandre me colocou lá dentro.

Ele abriu o registro e ela começou a encher, molhando-me.

— Pra uma submissa, você faz muitas exigências — ele me disse, ao


entrar na banheira, juntando-se a mim.

Quis muito lhe dizer que, tecnicamente, ainda não era uma submissa,
que não sabia praticamente nada sobre aquele assunto, mas eu gostava de tê-
lo se referindo a mim daquela forma, quase como se eu tivesse uma relação
de verdade com ele, então simplesmente ignorei.
— Aqui é mais gostoso — sussurrei, avançando para beijá-lo. Subi em
cima de seu corpo, finalmente colocando as minhas mãos naquele peitoral
gostoso. Quando nossos lábios se afastaram, emendei: — E eu posso sentar
em você.

Ele me deu um daqueles sorrisinhos safados e respondeu-me: — Eu


criei um monstro... Perverti aquela garotinha inocente.

Beijei o pescoço dele e então subi para a sua orelha, que mordisquei de
leve, antes de sussurrar: — Lamento te desapontar, mas aquela garotinha
nunca foi inocente.
Ele me puxou, ajeitando-me em seu colo.

Em poucos segundos, seu caralho já estava dentro da minha boceta. Ele


deslizou de forma tão natural que quando me dei conta, ele já estava todinho
em mim, me preenchendo daquela forma maravilhosa.

As mãos dele agarraram a minha bunda com força e os seus olhos cor
de mel continuavam em mim, queimando-me. Alex levantava e me abaixava,
fazendo com que o seu caralho duro entrasse e saísse. Era uma delícia sentir a
cabeça do mastro dele entrando gostoso em mim.

Seus lábios buscaram pelos meus seios, que ele chupou com vontade,
enquanto continuava me comendo com força. Senti seus dentes mordiscando
os meus mamilos, que já estavam duros. Foi dolorosamente bom, como tudo
o que envolvia aquele homem. Nenhum prazer vinha sem um pouquinho de
dor, tudo exigia um sacrifício.
Enquanto continuava quicando em seu cacete, voltei o meu olhar pra
baixo e vi o colar que havia ganhado, com o pingente com a letra “A”.

Cacete.

Era mesmo real?


Sentia seu caralho entrando e saindo de mim e tinha certeza de que
aquelas mãos pesadas deixariam uma marca na minha bunda. A sensação era
maravilhosa. Não estávamos num ritmo apressado, mas ainda assim soava
como algo bruto e quase selvagem, com aquele homem querendo me engolir.

Contudo, adorei estar por cima do corpo dele dessa vez, podendo olhar
para o seu rosto de cima, apoiar as minhas mãos em seu peito firme e tomar
aqueles lábios para mim sempre que quisesse. Era uma liberdade que não tive
quando estava amarrada à cama de seu quarto macabro.

Ficamos naquela dança lenta por mais alguns minutos, até que Alex
gozasse pela segunda vez, me inundando com a porra dele.
— Você gozou dentro de mim — eu me dei conta, alguns segundos
mais tarde.

— É exatamente onde minha porra pertence... Dentro dessa boceta


apertada — ele sussurrou, antes de me beijar.

O seu beijo impediu-me de lhe dizer algo que nem ele mesmo havia se
dado conta.

— Fodemos sem preservativo e eu não tomo anticoncepcional —


deixei claro, fazendo com que Alex finalmente me entendesse. Ele me lançou
um olhar acusatório, como se aquilo fosse minha obrigação, o que me
obrigou a me defender: — O que foi? Caso tenha se esquecido, há algumas
semanas nem transar eu transava. Ou vai me dizer que isso é obrigação da
mulher, seu machista!

— Eu nem falei nada sua esquentadinha! — ele sussurrou, como se não


tivesse pensado que a culpa era minha, como todo homem babaca. — Sou
homem o suficiente pra assumir que foi um descuido meu. Juro que não
costumo me esquecer disso, mas com você foi tão automático que nem me
liguei.

Aquilo era fofo, soava quase como um elogio.

Então eu me derreti toda.


A verdade é que estava na defensiva porque me sentia ainda pior do
que ele por ter me esquecido desse detalhe, já que, diferente de mim, Alex
possuía uma vida sexual bem agitada. Podia até estar deslumbrada,
entretanto, devia manter a minha sanidade.

— Pode relaxar, senhor Brandão. Eu não vou dar o golpe do baú em


você — brinquei, provando mais um pouco dos seus lábios.

— E você pode relaxar também, senhorita Pontes. Eu não vou te passar


nenhuma IST — ele respondeu rindo, como se estivesse dentro da minha
cabeça, lendo cada um dos meus pensamentos.
Isso me fez rir também, provavelmente entregando que realmente
pensei: “puts, espero não ter pego nada nessas duas vezes que toquei na
porra dele”.

— Isso faz tanta falta... — ele sussurrou, aproximando-se de mim para


mais um beijo. Quando os lábios dele se afastaram dos meus, Alex
completou: — Esse tipo de coisa, só rir de coisas bobas e conversar.
Momento descontraídos assim fazem muita falta.
Não sabia o que lhe dizer, já que nunca tive aquilo com alguém,
praticamente um “pós-sexo”. Na primeira vez que transamos, Alexandre
fugiu do quarto, como se fosse ele quem tivesse sangrado. Na vez seguinte,
estávamos no avião, então não dava para eu ficar em cima dele,
completamente nua, rindo e me derretendo com o seu charme.

Mas concordava com ele em uma coisa, se tivesse que ficar sem aquilo,
com certeza sentiria falta também.
Capítulo 18

Ironicamente, deixamos a banheira e fomos para a ducha nos lavar de


verdade.
Obviamente ficamos nos esfregando enquanto tomávamos banho. Em
alguns momentos a mão boba de Alexandre escorregava, indo até o meu
sexo, que ele acariciava, antes de me dar um de seus sorrisinhos sacana. E eu
fazia o mesmo, tirando todas as casquinhas possíveis daquele corpo gostoso.

Mas, como havia me cansado, dessa vez não quis acordar a “fera”, pois
sabia que a consequência seria fazê-la dormir e já me sentia um pouquinho
dolorida.

Depois disso, fui até a masmorra do sexo — o meu apelido carinhoso


para o cômodo bizarro de Alex — para pegar as minhas roupas espalhadas
pelo chão. E ao observar o lugar uma vez mais, notei o quanto aquilo era
surreal, assim como a minha noite havia sido.
Talvez a parte mais estranha fosse o quanto eu estava levando tudo
àquilo com naturalidade, normalizando todas aquelas coisas que eram, no
mínimo, incomuns em uma relação. Com certeza ele havia pegado leve, já
que ainda estava me introduzindo a esse novo universo, mas, ainda assim, era
surpreendente o fato de eu estar conseguindo digerir tudo aquilo.

Retornei ao quarto principal e observei o CEO vestir uma cueca boxer


preta. Adorei observar a bundinha dele e o seu pacote marcado pelo tecido de
algodão.

Não, não e não.


Você está cansada, Thais.

Não o provoque!

— Já deu a minha hora — disse, aproximando-me dele para um beijo


de despedida.

— Não deu, não! — ele respondeu. Antes que pudesse dizer que estava
cansada demais para continuar transando, ele acrescentou: — Quero dormir
agarradinho com você.

Aquilo me surpreendeu, pois realmente não esperava algo assim. Ele


parecia mais do tipo que dispensava a mulher logo após o sexo, sem oferecer
nem um café da manhã. E isso ficou muito claro quando ele deu a entender
que não tinha muitos momentos “pós-sexo”.
Aparentemente, ele só comia e dispensava, como se as garotas fossem
um fast-food.

— Achei que isso não fizesse muito o seu estilo.

— E não faz mesmo, mas, sendo sincero, a maior parte das coisas que a
gente costuma fazer também não fazem muito o meu estilo... — ele brincou,
aproximando ainda mais os nossos corpos. — Ou você realmente achou que
eu pego leve assim com as minhas outras garotas?
Pegar leve?

Eu estava até dolorida.

Aquilo que fizemos, definitivamente não era “pegar leve” pra mim. E
isso me deixou curiosa e um pouquinho assustada ao pensar em como deveria
ser uma foda “normal” com ele.
— E também, se eu sentir fome no meio da noite, eu posso
simplesmente te comer... Viu só? Todo mundo ganha — ele tornou a falar,
bancando o engraçadinho.

— Ah, então sou a sua comida de emergência?


— Sim, você é, princesa — ele me puxou, colando os nossos corpos.

Minhas mãos tocaram em seu peito despido. Senti os fios ralos e então
subi o meu olhar, fitando a sua expressão sacana.

— Vou avisar os meus pais, inventar que vou dormir na casa de uma
amiga do trabalho — disse rindo do quanto aquilo soava patético. Tinha vinte
e três anos, mas, ainda assim, devia satisfações aos meus pais, já que morava
na casa deles. — Se minha mãe souber que estou aqui, ela já vai comprar um
vestido para o nosso casamento.
Ele sorriu e respondeu: — Não se o seu pai me matar antes.

— Sempre tem essa possibilidade — brinquei.

— Tá com fome? — ele me perguntou, mudando de assunto, tirando-


nos daquele tópico “casamento”.
— Um pouquinho.

— Então, enquanto você manda a mensagem para os seus pais, vou


buscar alguma coisa pra gente comer.

Confirmei com um aceno de cabeça e Alex deixou o quarto.


Deixei de enrolar e avisei os meus pais que não voltaria para casa, que
dormiria no apartamento da minha “amiga do trabalho”. Após mandar a
mensagem, tirei o meu vestido, ficando apenas com as roupas debaixo e corri
para a cama me esquentar embaixo do edredom dele.

Alexandre voltou dez minutos depois com uma bandeja de prata na


mão. Tinha suco de laranja, dois sanduíches e torrada com manteiga.

— O que acha de um café da manhã à meia-noite? — ele comentou, ao


entrar no quarto.
— Parece bem gostoso. — Observei a bandeja novamente e não me
controlei, questionando: — Mas você vai mesmo comer pão e torrada com
manteiga?

Alexandre sorriu e me disse: — O meu sanduíche é esse com o pão


integral e a torrada é pra você.

Ele colocou a comida na cama e me serviu um copo de suco. Peguei


uma torrada e tomei muito cuidado para não derrubar nenhum farelo sobre o
colchão.
O celular dele começou a tocar e, no mesmo segundo, Alex o pegou
para checar quem estava ligando para ele.

À distância, consegui ler o nome na tela do telefone.

Daniela.
Basicamente, uma das outra das “garotas dele”.

— Pode atender — disse fingindo que aquilo não me incomodava.

— Não, eu retorno amanhã cedo — ele respondeu, ignorando a


chamada. — Detesto receber ligações à noite.
Dei mais uma mordida na torrada, esforçando-me ao máximo para não
deixar com que aquela ligação de Daniela destruísse a minha noite perfeita
com Alexandre. Não tínhamos nada, então não existiam motivos para que eu
me pilhasse com aquilo.

— Então, por que você não coloca seu celular no modo noturno? —
sugeri, pensando “e aproveita pra bloquear essa vaca”. Como ele parecia
não ter compreendido, expliquei: — Assim ninguém vai conseguir te
incomodar com uma ligação indesejada.

Não escondi o tom da minha voz naquele “indesejada”.


Aparentemente, não estava conseguindo não ficar pilhada.

— Eu não posso... Não agora, não com a condição delicada do meu


pai... — ele respondeu. — Sempre que recebo uma ligação no meio da noite,
o meu primeiro pensamento é de que algo aconteceu com ele... De que ele
morreu. — Finalmente entendi aquele seu “detesto receber ligações à noite”.
Soube que não tinha relação com Daniela, que ele detestava qualquer pessoa
ligando. Não tinha o que lhe dizer, então permaneci em silêncio. — É bizarro,
eu sei, mas, depois de um tempo, você simplesmente espera pelo pior.

— Eu nem imagino como isso deve ser difícil pra você, ter que passar
por algo assim, ter essa dor constante no peito — disse, detestando-me por
nos colocar naquele assunto, simplesmente porque estava com ciúmes de um
homem que nem era meu.
— A parte mais difícil é pensar em todo o tempo que a gente perdeu,
nas coisas que nunca fizemos e que agora já não podemos mais fazer. Não
que a culpa disso seja somente minha... Você conhece o meu pai, sabe do que
estou falando... — ele me disse, antes de morder um pedaço do seu sanduíche
natural. — Mas eu também não facilitei as coisas, não abaixei a minha
guarda, não consegui derrubar esse muro que criei entre a gente... Esse muro
que foi se estendendo e me isolando do restante das pessoas...

Alexandre ficou em silêncio por alguns segundos, momentos que


passaram tão lentamente ao ponto de parecerem minutos. Queria apenas
abraçá-lo e deixá-lo nos meus braços, fazer com que ele se sentisse amado.
— Acho que, de certa forma, cresci e acabei me tornando o meu pai,
pegando pra mim todas as coisas que eu sempre detestei nele — o loiro
prosseguiu, fugindo de mim com o olhar. — Detestava-o por não se
expressar, mas também não sou muito bom nisso... Por que você acha que eu
prefiro me relacionar dessa forma?

— Você não é parecido com o seu pai, Alexandre — disse, com a


minha atenção na expressão triste dele. — Desde que a gente se conhece,
você me trata com carinho e respeito. E parte disso acaba surgindo até mesmo
quando você está bancando o dominador malvado.
Ele riu, provavelmente achando a parte do “dominador malvado”
engraçada.

— É verdade — afirmei rindo, lembrando-me de todos esses


momentos, que se olhasse com cuidado, veria que nunca existiram dois
Alexandres, que eles sempre se complementaram. — Você sempre quer saber
se eu estou gostando ou não, está a todo momento me dizendo que podemos
parar quando não me sentir à vontade... Você é esse tipo de pessoa,
independente se consegue ou não se expressar de forma mais transparente.

— É você que enxerga o melhor das pessoas, Thais — ele rebateu. —


Você sempre foi assim... Sempre viu o melhor em mim.
Sorri e aproximei os nossos rostos lentamente. Levei a minha mão até a
bochecha quente dele, sentindo os fios de sua barba por fazer e o beijei,
querendo transmitir o meu amor para além das palavras, queria que ele
sentisse isso. Selei os nossos lábios e senti uma paz imensa, como se aquele
toque tivesse levado todos os problemas embora, como se tivesse curado
tudo.
Epílogo

Abri os meus olhos lentamente e notei que continuava em cima do


peito de Alexandre e isso me arrancou um sorriso. Poderia me levantar, mas
continuei com a minha cabeça apoiada no corpo dele, tirando o máximo de
proveito daquele momento.

— Bom dia, minha princesa — ele sussurrou, dando-me um leve susto.

Obriguei-me a me afastar um pouquinho, colocando-me ao seu lado no


colchão. Aproveitei para encarar o rosto dele, observando aqueles olhos
misteriosos, enquanto me perguntava se ele também estava se sentindo
daquela forma, como se aquilo — acordar juntinhos — fosse algo
estranhamente certo.

— Bom dia — respondi, torcendo para não estar com um bafo matinal
horrível.
Continuamos nos observando. Após mais alguns segundos daquele
clima tenso e silencioso, o loiro sorriu e balançou a cabeça, como se estivesse
se lembrado que algo que o divertia.

Provavelmente era da noite passada, da minha expressão quando


entramos na “masmorra do sexo”.

Nunca quis tanto ler um pensamento quanto naquele instante.


— E aí, eu passei? — questionei, tirando-o de seu pensamento
aleatório. — Naquela sua prova de ontem?

— Acho melhor a gente tomar café antes de discutirmos sobre isso —


ele desconversou, deixando-me um pouco insegura.
Mesmo arrancando-me da minha zona de conforto, a noite anterior
havia sido maravilhosa. Até aquele instante, quando perguntei a minha
“nota”, tinha praticamente certeza de que Alexandre havia gostado também.
Mas aquela sua resposta deixou-me com o pé atrás, sem saber o que esperar.

Há seis anos eu também pensei ter entendido tudo. Escrevi aquela


cartinha com a certeza absoluta de que ele me amava. E então Alex me deu
um pé na bunda.

Era impossível não temer por esse mesmo resultado, temer de que
estivéssemos fadados a repetir o nosso passado. A diferença era que, dessa
vez, a minha cartinha havia sido um livro inteiro, que ele nem mesmo sabia
que eu havia escrito.

Não queria recorrer ao clichê de garota que passeia pelo apartamento


vestindo uma camisa do cara, então peguei o meu vestido verde e o coloquei
de volta. Escovei os meus dentes com o dedo — literalmente — e torci para
que fosse o suficiente.

Assim que deixei o quarto, notei que Alex e eu não éramos os únicos
em seu apartamento.
— Bom dia, senhorita — uma mulher, provavelmente a responsável
pela limpeza do apartamento dele, me disse.

— Oi... Bom dia — respondi, sentindo-me um pouquinho


envergonhada.

A mesa do café da manhã já estava arrumada e tinha muita coisa, mais


do que eu ou ele poderíamos comer. Peguei uma cadeira que me deixava de
frente com o CEO. Ele me serviu um copo de suco de laranja, exatamente
como havia feito na noite anterior.
Nós tomamos café em silêncio. Alexandre estava lendo alguma coisa
no iPad dele e eu não queria interrompê-lo para falar sobre nós dois, quase
tendo uma “DR” sem termos um relacionamento.

Vinte minutos depois, ele finalmente voltou a sua atenção para mim,
dizendo-me: — Eu deixo você em casa.
Concordei com um aceno de cabeça e então ele se levantou, deixando
claro que já estávamos de saída. Peguei as minhas coisas rapidamente e o
segui até o elevador, onde, novamente, ele permaneceu calado, perdido em
seus próprios pensamentos.

Entramos em seu carro — dessa vez, um esportivo — e, para a minha


surpresa, seria ele quem o dirigiria.

Seus olhos me encaravam tão intensamente que era como se estivessem


queimando o meu rosto e isso fez com que eu abandonasse o meu celular e
parasse de fingir que estava fazendo algo importante, voltando a minha
atenção para ele.
Existia alguma coisa errada e isso estava impregnado em sua expressão
facial.

Infelizmente, eu sabia o que deixaria a boca dele antes mesmo de


Alexandre começar a falar: — Nós precisamos conversar.

— Por que é que eu sinto que você está prestes a terminar algo que a
gente nem tem? — questionei, voltando o meu olhar para ele, observando-o
trocar de marcha.
Ele ficou tão sem graça que tive a minha resposta.

E foi como se o chão aos meus pés estivesse desabando.

Uma vez mais, encontrava-me naquela posição. E era sempre a mesma


droga de história. Primeiro, achava que não tinha chance alguma com ele,
mas então nos aproximávamos, Alex fazia uma espécie de declaração, eu
acreditava e então ele fugia, como um garotinho assustado.

— Eu...
— Está tudo bem, Alexandre. Não precisa se explicar — eu o
interrompi, não querendo ouvir coisas como “não é você” e “eu não sou o
cara certo”. — Eu já entendi tudo...

— Eu não... — a voz dele cortou-me, colocando-nos em um silêncio


desagradável. Ele riu de forma frustrada, antes de completar: — Eu não posso
dar o que você quer de mim, Thais.

Queria muito questionar “e o que é que eu quero?”, mas sabia


exatamente ao que ele se referia. Alexandre não podia me dar o
relacionamento lindo e colorido do qual eu sempre sonhei, ele não seria o
meu príncipe encantado.
E estava tudo bem.

Toda essa minha visão dele mudou no instante em que o ouvi


chamando a Daniela de “cadela”, naquela cena de sexo que praticamente me
traumatizou.

— Mas essa é a questão, Alex... Eu não estou te pedindo nada.


Os olhos cor de mel dele voaram até o meu rosto e notei o quanto ele
estava descrente.

Ele não acreditava em mim.

E isso fez com que eu me irritasse: — E não coloque a culpa em mim.


Não aja como se o problema fosse o que eu sinto. Não quando a verdade é
que você só está fugindo disso porque mexe com você, porque mexe com os
seus sentimentos.

— Detesto ter que fazer isso, pagar de certinho, explicando tudo de


forma quase didática, mas é que eu não quero machucar você — ele
prosseguiu, com aquele papel de bom moço que eu já não conseguia mais
comprar. — E eu sei que já te machuquei no passado, sei que aquela noite na
praia acabou com a nossa amizade e não quero ver isso se repetindo.
Ah, então agora ele se lembrava?

Abri a minha boca, mas ele foi mais rápido: — Eu gosto de você e
gosto ainda mais disso que a gente tem. Então, não, Thais... Eu não quero
terminar nada. — Ele voltou os olhos para a estrada, antes de continuar: —
Essa conversa foi só pra me certificar de que você não confunda as coisas.

— Pra eu me confundir, primeiro teria que ter uma ideia mínima do


que a gente tem — respondi, não conseguindo evitar um sorriso sarcástico.
— E esse claramente não é o caso.
— Isso aí é simples, nós não temos nada — ele respondeu. — Ainda
não. Mas eu quero que você seja minha. — Isso me fez franzir a testa.
Primeiro, ele me dizia que não queria compromisso e agora falava que queria
que eu fosse dele? Não tinha sentido, mas ele não me deu a chance de falar,
completando: — Só que as coisas têm que ser do meu jeito.

O que aquilo significava?

— Você quer que eu seja a sua submissa? — zombei, não controlando


a minha risada. — A sua escrava sexual?
— É exatamente isso, Thais — ele afirmou, gelando o meu estômago.
— Tirou as palavras da minha boca.

Cacete!
Provavelmente era disso que Fabrício havia me alertado, o que
significava que já haviam existido outras — várias, pela conversa que
tivemos na porta do hotel.

— Vai me dar uma espécie de contrato pra eu assinar?


— Não, mas terão regras, Thais, muitas regras — ele respondeu, com
uma expressão tão séria que notei que não era uma de suas brincadeiras.

Quando ele falou isso, comecei a rir.

Não me parecia algo sério.


A última vez que ouvi a palavra “regras” naquele tom foi quando
ainda era uma criança, sendo obrigada a obedecer aos meus pais.

— Regras?

— Sim e você terá que seguir cada uma delas. — Ele falou aquilo
como se fosse algo extremamente simples. — Quero muito que seja minha...
Mas quero também que entenda que ser minha implica em... — ele riu, antes
de completar: — Ser minha.
— Me dê um exemplo — pedi, querendo compreender onde estava me
enfiando. — Na prática, o que toda essa droga significa?

— Que eu vou dominar você, não apenas na minha cama — ele me


respondeu. Abri a minha boca para contestar, mas ele foi mais rápido: — Não
exigirei nada que machuque você. São apenas algumas coisas que, com o
tempo e experiência, fui descobrindo em meus relacionamentos.

Relacionamentos?
Parecia mais um contrato de trabalho.

Em teoria, tudo aquilo parecia lindo como um arco-íris, mas sabia que
na prática podia ser bem diferente.

— Então você vai ter carta livre pra mandar em mim?

— Sim e não, princesa. “Sim” para o que se refere ao sexo e pra


algumas outras coisinhas que considero importante. E “não” para todo o
restante — ele tornou a falar, deixando-me ainda mais confusa. Ao notar a
minha testa franzida, deixando claro a minha confusão, ele tentou
contextualizar: — Em resumo, não farei nada que você não queira.

— E você sabe tudo o que eu quero, não é?

— Como sou o primeiro e o único homem que já fez você gozar,


suponho que, sim, eu sei.
Meu rosto ruborizou no mesmo momento.

— Atualmente, me encontro casualmente com outras mulheres, todas


minhas submissas — ele prosseguiu sem me encarar, surpreendendo-me pela
sinceridade e pela falta de senso. — Dentre elas, está a Daniela, que você
conhece. Você seria a minha número quatro.

— A sua número quatro? — repeti, não conseguindo esconder o meu


tom de deboche. Ele não podia estar falando sério. — E como isso funciona,
cada uma fica com um dia da semana?
— Não precisa se preocupar com esses detalhes, princesa. Mas fique
tranquila, garanto que tenho energia suficiente pra satisfazer a todas vocês
por igual — ele respondeu, com um sorriso sacana.

Eu senti uma imensa vontade de mandá-lo se ferrar, só por cogitar que


eu aceitaria uma proposta nojenta daquelas.

Dividi-lo com mais três garotas?


Jamais!

— Não, muito obrigada — recusei ao seu convite nada atrativo. Queria


encerrar ali, mas não aguentei, tinha que descarregar: — Eu sei que de longe
eu posso parecer uma garota idiota, completamente desesperada, mas... Isso
aí, essa proposta nojenta, seria demais, Alex, até mesmo pra mim.
Entramos no meu bairro e isso me deixou aliviada, pois não passaria
mais muito tempo ao lado dele, naquele clima tenso que eu detestava admitir
que gostava tanto.

— Não quero me gabar, mas existem várias garotas interessadas nessa


proposta nojenta... Garotas que adorariam estar no seu lugar — ele
prosseguiu, roubando-me um sorriso. Nem mesmo Alex conseguiu se segurar
e começou a rir de sua fala pretenciosa. — O que eu estou tentando dizer, é
que não seria nenhum desespero aceitar ser minha.

Por mais tosco que aquilo soasse, fez com que eu me lembrasse de
Daniela. Uma mulher absurdamente linda e muito confiante. E, ainda assim,
era alguém que havia se sujeitado a dividi-lo com outras duas — três, se
considerássemos as vezes em que fiquei com ele.
Pensando por esse lado, talvez realmente não fosse desespero, talvez o
desgraçado fizesse aquilo valer a pena para todas elas.

Mas, mesmo assim, não era para mim.

— Você me conhece, Alex... Não sou como essas garotas... — afirmei,


rindo com esse pensamento, algo óbvio demais. — E a prova disso é que até
pouquíssimo tempo, eu ainda era virgem.
O seu carro estacionou em frente a minha casa. E então eu me preparei
para descer e provavelmente lhe enviar uma mensagem de texto pedindo a
minha demissão, assim que ele fosse embora, mas ele usou o braço pra me
impedir de sair do veículo.

— Realmente, você não é como as outras...


— De acordo com as suas próprias palavras, eu sou um vinho bem raro
— brinquei, relembrando o que ele havia me dito no dia em que transamos
pela primeira vez.

Alexandre sorriu.

Provavelmente ele também estava se recordando daquele nosso


momento.
O CEO ficou pensativo e sua expressão mudou, ele permaneceu sério e
em silêncio, como se estivesse tentando resolver um problema matemático.

Quando estava pronta para me despedir e sair do carro, deixando-o ali


com os seus próprios pensamentos, ele finalmente falou: — E se eu abrir mão
de todas as outras? — Sua expressão continuava carregando seriedade. E,
pela forma como ele falou, não parecia estar sendo uma negociação fácil. —
Você aceitaria ser minha?

— Eu...

— Só nós dois, Thais. Você seria a dona de todos os dias da minha


semana — ele me interrompeu, pegando-me desprevenida com a proposta. —
É claro que isso vai gerar um lado negativo, já que você vai ter que se
esforçar bastante pra satisfazer a todas as minhas vontades... — Com um
sorriso nos lábios, ele prosseguiu: — Mas seria só você.

Só nós dois.

Juntos.
Sem mais três garotas no meio, aquela proposta melhorou muito. E
sabia que não era tão simples assim pra ele abandonar garotas com quem ele
estava acostumado a sair, com quem já havia criado um vínculo.

Tratava-se claramente de um sacrifício dele por mim.


Ele havia me escolhido no lugar de todas elas.

Pensei em lhe dizer “preciso pensar”, mas o fato era que eu não
precisava.

Se aceitasse a sua proposta, nós continuaríamos juntos.


E se eu recusasse...

De fato, eu não precisava pensar.

Voltei o meu olhar para o rosto de Alex.


— Ainda tenho algumas dúvidas e outras mil exigências, mas... —
Hesitei, realmente com medo de estar cometendo um erro terrível. Contudo,
sabia que me arrependeria ainda mais se dissesse “não”. — Por que, não,
senhor Brandão?

FIM DA PRIMEIRA PARTE.

A última parte da duologia Domínio será lançada no dia 27 de


setembro. Enquanto isso, conheça alguns dos meus outros trabalhos.
Conheça os Meus Outros Trabalhos

Dinastia King

Dinastia King é uma série de livros únicos e cada livro narra a história
de um casal.

Confira a sinopse do primeiro volume, “James King”:


Um bilionário que fugia do passado.
Uma babá que desejava recomeçar.
Cansada de viver sob a sombra de Fernando e de sua vida perfeita
após o término de um noivado que durou anos, Cristine Alves decide deixar o
Brasil e passar uma temporada no exterior, longe de tudo e de todos. O
recomeço dos seus sonhos. E a forma que ela encontra — a única que se
encaixa no seu orçamento —, é inscrevendo-se em um programa de
intercambio para babás.
Cumprindo com todos os requisitos do programa, Cristine é enviada
aos Estados Unidos para cuidar de duas crianças, filhos de um viúvo que lhe
foi descrito como ocupado e muito reservado. No entanto, a professora, que
se orgulha de toda a sua experiência com crianças e de seu excelente inglês,
pensou em tudo, menos na possibilidade do seu novo chefe, James King, ser
o homem mais sexy, rico e misterioso que ela já conheceu.
Na busca por um recomeço, Cris encontra uma improvável amiga, um
monte de problemas “internacionais”, duas crianças apaixonantes e um
homem que lhe desperta coisas que ela nunca sentiu.

LIVROS DA SÉRIE
Uma Babá Para James King (Livro 01)

Uma Babá Para Dylan King (Livro 02)

Uma Amante Para Adam King (Livro 3)


Trilogia Acompanhante de Luxo

Todos os volumes dessa trilogia já estão disponíveis na Amazon.


Sinopse: Ela tem um preço.
Ele está disposto a pagar.
Sabrina Lancaster é uma das acompanhantes de luxo mais requisitadas
do "mercado". Imune a qualquer tipo de paixão, o seu único objetivo é tirar o
máximo de dinheiro dos clientes de sua lista — ou, como ela costuma dizer,
ser muito bem recompensada pelo serviço de qualidade que oferece a eles.
A mulher extremamente confiante e autossuficiente, que nunca
acreditou em amor — ou qualquer outra coisa parecida com isso —, tem a
sua vida completamente abalada quando um homem poderoso e sedutor cruza
o seu caminho e faz com que antigas memórias retornem do fundo de sua
mente. Ele, o seu novo cliente — conhecido como "Marinho" — é um
homem complicado e misterioso, com "métodos estranhos", envolvendo
dominação. E o que ela ainda não sabe, é que o CEO não medirá esforços
para comprá-la.
"A Garota do Bilionário" é o primeiro volume da trilogia
"Acompanhante de Luxo". Embarque nessa história erótica e envolvente, que
tem tudo para te conquistar.

LIVROS DA TRILOGIA

BOX Completo da série (todos os livros)

A Garota do Bilionário (Livro 01)

Nas Mãos do Bilionário (Livro 02)


Cem Dias Com o Bilionário (Livro 03)
A Mulher do Bilionário (Spin-Off da Série)
Trilogia CEO

Todos os volumes dessa trilogia já estão disponíveis na Amazon.


Confira a sinopse do primeiro volume.
Uma linda mulher.
Um CEO de tirar o fôlego.
Já conhece essa história? Olhe de novo, pois essa aqui tem tudo para
te surpreender.
Depois de vários problemas em sua vida amorosa e financeira,
Vanessa Waller é obrigada a voltar para a casa da melhor amiga e trabalhar
em uma grande organização, algo que ela — que detesta qualquer tipo de
esforço — passa a odiar. Mas tudo muda quando a jovem conhece Bryan
Leal, o irresistível CEO. Depois de se dar conta da posição dele na empresa,
Vanessa começa a buscar novas maneiras de chamar a sua atenção, com o
objetivo de conquistá-lo e, quem sabe, lucrar um pouco com isso. Mas será
que ela, a rainha da manipulação, corre o risco de se apaixonar primeiro?
Embarque nessa história divertida e extremamente envolvente.
Renda-se a “operação” mais quente da Amazon.

LIVROS DA TRILOGIA

Operação CEO (Livro 01)


O Irmão do CEO (Livro 02)

A Escolha do CEO (Livro 03)


Marido de Aluguel

*Livro único*
Sinopse: O plano era muito simples, tudo o que Gabriele Novais
deveria fazer era se dedicar ao seu trabalho na Revista Global e nunca, em
hipótese alguma, colocar um homem como a prioridade de sua vida — assim
como a sua mãe cansou de fazer no passado.
No entanto, esse seu plano caí por terra no momento em que o seu
supervisor revela que a diretoria — leia-se o dono machista da revista —
nunca daria a ela o cargo de “editora chefe”, a posição que Gabriele
sempre almejou, simplesmente por ela ser uma mulher... Uma mulher
solteira.
Com a ajuda de seu melhor amigo gay — que sempre fingiu ser o
namorado dela —, Gabriele decide contratar um acompanhante de luxo para
fingir ser o seu noivo e, desta forma, provar a todos que ela é a mais
capacitada para o cargo.
Em um jogo de prazer e sedução, ela se encontra completamente
encantada por esse misterioso cafajeste.
O homem perfeito tem um preço.
Você está disposta a pagar por ele?
Embarque nesse romance erótico e envolvente, que tem tudo para te
conquistar.

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Anne Miller
Anne Miller é pseudônimo criado para dar vida a romances que
sempre estiveram presos na cabeça da autora. Anne começou a sua jornada
na plataforma Wattpad. Como muitas outras, ela sempre sonhou em contar
as suas histórias — com uma pegada bem quente — para o mundo e,
finalmente, está tendo a chance de vivenciar esse sonho. Além da trilogia
“Acompanhante de Luxo”, também tem a série “Dinastia King” disponível
na Amazon.

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