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Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos
ou situações da vida real terá sido uma mera coincidência.
Nota da Autora
Índice
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo
Conheça os Meus Outros Trabalhos
Anne Miller
Prólogo
Seis anos antes.
Poderia ficar ali e deixar claro sobre o quanto ele estava sendo babaca
comigo, mas não queria perder tempo com isso — ainda mais em minha
primeira festa de gente grande. De qualquer forma, não era como se eu não
detestasse o gosto amargo da cerveja. Admitia perfeitamente de que só peguei
aquele copo porque queria parecer mais descolada no meio de todos aqueles
universitários.
Depois da contagem regressiva para o ano novo, meu irmão avisou que
iria a uma festinha — ou, nas palavras dele, para um “after” — com os
amigos. Por outro lado, eu queria apenas ficar em casa, trancada no meu
quarto, escrevendo o conto que mandaria para um concurso literário,
entretanto, minha mãe insistiu para que eu saísse um pouco de casa e me
divertisse como uma garota normal da minha idade.
Mesmo detestando a forma constante em que dona Mariza tentava me
moldar, não achei uma má ideia e perguntei ao meu irmão se podia
acompanhá-lo. Ele, evidentemente, recusou-se a me levar, mas, por sorte,
meu pai interveio ao meu favor, dizendo-lhe: “se lá não cabe a sua irmã,
então também não cabe você”. Sem escolha, Jonas foi obrigado a ceder,
levando-me com ele.
— Você por aqui, princesa? — A voz grossa de Alexandre fez com que
eu me virasse, buscando pelo rosto dele. O garoto não conseguiu esconder o
tom de surpresa. — Esse tipo de festa nunca foi muito a sua praia.
Ele usava uma camisa branca de botão aberta, deixando o seu abdômen
à mostra. Seu cabelo dourado estava jogado para o lado e, mesmo com a
baixa iluminação, seus olhos cor de mel pareciam brilhar.
Não.
Ele não era só isso.
Talvez fosse porque ele tinha um pouco de razão, porque eu era virgem
e, pelo andar da carruagem — com toda a lentidão de Bruno —, continuaria
sendo. Ou então era porque eu secretamente nutria sentimentos por ele e ter
aquele tipo de conversa com o homem com quem eu sempre quis transar era,
no mínimo, muito constrangedor.
Como fiquei em silêncio, desconcertada demais para respondê-lo, Alex
continuou com a sua provocação: — Dica de amigo, se você não quiser
morrer virgem, é melhor trocar de namorado.
Entendia que Alexandre devia estar bêbado, que já não tinha mais
controle daquilo que deixava a sua boca, mas, ainda assim, não deixava de
ser uma atitude imatura, uma atitude que eu não precisava tolerar.
Ainda com o meu rosto em chamas, dei cinco passos apressados,
afastando-me dele, mas não me pareceu ser o suficiente, então eu comecei a
correr, distanciando-me daquela parte da praia.
— Sei que não mereço, mas você pode, por favor, me desculpar? — ele
sussurrou, praticamente fazendo um biquinho. — Não quero brigar com a
minha garota preferida no primeiro dia do ano.
— Eles... Todos eles estão certos, Alex... — sussurrei assim que nos
desgrudamos, rompendo o nosso beijo perfeito. — É verdade o que dizem...
Eu gosto de você.
— Eu também gosto de você, princesa — ele sussurrou ao pé do meu
ouvido com aquele hálito quente. Alex puxou-me, colando os nossos corpos,
permitindo que eu sentisse os seus músculos em mim. E como se isso já não
fosse o bastante, os seus lábios descerem em direção ao meu pescoço,
arrepiando-me dos pés à cabeça. — Acho que sempre gostei.
Queria mais do que tudo continuar ao lado dele, ouvindo o som do mar
e sentindo o gosto daquela boca deliciosa, mas sabia que ir atrás do meu
namorado e colocar um ponto final em nosso namoro era o certo a ser feito.
Havia esperado tempo demais por esse momento, então não custava
aguardar um pouquinho mais.
Queria digerir aquele momento — algo que sonhei por muito tempo
—, aproveitá-lo sozinha, dividi-lo apenas com o céu estrelado e a areia pela
qual eu caminhava.
Eles continuaram se beijando até que o outro garoto notou que tinha
mais alguém ali, observando atentamente a tudo o que estava rolando.
Eu não estava irritada por ter sido traída — e seria hipocrisia minha se
estivesse —, só estava confusa, sem conseguir assimilar muito bem o que
havia acabado de presenciar.
— Gay?
Essa palavra fez com que ele chorasse ainda mais. Foi como se ele nem
mesmo tivesse notado que eu havia feito uma pergunta. Bruno ouviu a minha
frase como uma afirmação, quase como uma ameaça.
Ele concordou.
Bruno levantou a cabeça e me observou com os seus olhos azuis, que
continuavam marejados e sussurrou, ainda sem fôlego: — Obrigado por não
me odiar.
Quando ia dizer que não existia nada de errado com ele e que também
já tinha a intenção de terminar o nosso namoro de qualquer forma, avistamos
um casal aos beijos, agarrando-se publicamente. Não era nada parecido com
o que presenciei com Bruno e o outro garoto, tampouco um beijo mais
apimentado, eles estavam “quase lá” — ou já haviam terminado e estavam
repetindo a dose.
E a pior parte não foi estarem fazendo isso ao ar livre, para que todos
pudessem ver, mas o fato do homem ser ninguém menos que Alexandre
Brandão.
Capítulo 01
Peguei a última caixa e a levei para o segundo andar, junto com todas
as outras. Contudo, assim que me aproximei da porta, paralisei
completamente, como se existisse uma barreira mágica, impedindo-me de
entrar naquele cômodo.
— Vai ser tão bom ter você aqui comigo — mamãe sussurrou ao me
abraçar com força. Antes que eu pudesse abrir a minha boca, ela completou,
adivinhando exatamente o que eu lhe diria: — Vai ser temporário, eu sei
disso, querida. Mas, de qualquer forma, será ótimo ter você de volta.
“Você não tinha mais como pagar por ele” disse a mim mesma, como
se isso pudesse amenizar a dor no peito por ter que abandonar um lugar que
eu amava morar.
Não.
Não.
E não.
Assim que ela me disse isso, lembrei-me do motivo exato pelo qual me
mudei da casa dela, há dois anos. Minha mãe não conseguia deixar de se
intrometer na minha vida e isso era extremamente irritante, mesmo quando eu
sabia que ela só estava tentando me ajudar.
— Eu já tenho um emprego, mãe — rebati cansada daquele assunto. —
Eu estou quase terminando o livro novo...
Martelinha nem esperou pelo que eu tinha para lhe dizer — algo que
rimaria muito com “fruta” —, simplesmente se virou e tornou a passear pelo
hotel como se fosse a dona dele.
Despedir-me?
Filha da puta.
Aquela cretina não tinha autoridade pra isso — pelo menos, não fora de
sua mente alucinada.
Marcela era uma recepcionista a quem o nosso chefe, Sérgio, atribuiu o
título de “supervisora do setor”. Não havia sido nem uma promoção, era só
um título tosco para inflar um pouquinho o ego dela. Entretanto, isso subiu à
cabeça de Marcela a ponto de ela realmente se achar no direito de nos dar
broncas — ou “marteladas” — sem sentido a cada dois dias.
Eu me recusava a acreditar.
Em uma tentativa de me tranquilizar, minha mente gritou: “não, não é
ele!”.
Por mais que quisesse muito acreditar nisso, tive que me virar para tirar
a prova real, para confirmar que havia apenas me confundido, que meus
ouvidos estavam me pregando uma peça depois da martelada que tinha
recebido de Marcela.
Assim que lancei meu olhar, tive a certeza, realmente era Alexandre
Brandão quem falava concentrado ao celular. Porém, para a minha sorte, ele
parecia não ter me visto ainda. Meu coração quase saiu pela boca e fui
tomada por um enorme desejo de sair correndo dali com o rosto escondido.
Achei que nunca mais o veria novamente e realmente desejei isso com
todas as minhas forças. Depois de tudo que havia acontecido, ou melhor, do
que eu havia feito após aquela noite na praia, eu torcia para nunca mais ter
que encará-lo.
Mas ali estava ele e, para meu desgosto, o infeliz continuava mais
bonito do que nunca.
Seu cabelo loiro, num topete para o lado, parecia mais hidratado do que
o meu. Sua barba perfeitamente aparada e seu sorriso contagiante tornava
difícil detestá-lo. Seu terno de corte italiano, encaixando-se perfeitamente ao
seu corpo, fazia qualquer uma desejar vê-lo sem toda aquela roupa.
O desgraçado me reconheceu.
Era isso.
O meu fim.
“Descanse em paz, Thais Pontes. Sua vida foi podre e curta.” disse
mentalmente, como se realmente pudesse morrer a qualquer momento.
— Thais?
Pensei que ele fosse parar à minha frente para conversarmos, mas
Alexandre continuou se aproximando e me pegou desprevenida ao me
abraçar — um abraço que saiu meio desajeitado, comigo completamente sem
jeito com toda aquela proximidade.
Não sabia se ele estava tentando ser gentil ou se realmente não tinha
notado o meu uniforme de trabalho, pois existia, literalmente, uma logomarca
do hotel estampada na minha camisa.
Eu diria apenas um “não” e torceria para que ele não me fizesse outra
pergunta, obrigando-me a revelar que era a recepcionista. Entretanto, por
algum motivo estúpido, apenas balancei minha cabeça confirmando que era
uma hóspede.
Sentia-me muito mal por estar mentindo daquela forma. Nunca fui do
tipo mesquinho de pessoa que achava que algum trabalho não era digno a
ponto de justificar com uma mentira, mas Alexandre era a última pessoa que
eu queria que soubesse sobre o meu fracasso profissional.
Afinal, já não bastava eu ter voltado para a casa dos meus pais?
— Sabe qual foi a última vez que eu vi você? Num programa matinal
de domingo, há uns dois anos — ele prosseguiu com um sorriso gostoso nos
lábios rosados. — Você estava falando sobre o seu livro, sobre o sucesso que
ele estava fazendo e...
— Por que você não está na portaria? — Marcela disse num tom
áspero, aproximando-se da gente como se fosse o próprio ceifador, levando-
me depois da minha morte por vergonha. — Eu já não cansei de dizer que
nada de bate-papo durante o expediente?
O meu rosto esquentou tanto que tinha certeza absoluta de que ele
devia estar parecendo com uma pimenta, assim como sempre acontecia
quando me sentia envergonhada.
Eu não era uma pessoa briguenta — na verdade, era justamente o
oposto, evitava conflitos sempre que podia —, mas nunca senti tanta vontade
de socar a cara de alguém como naquele momento.
Princesa?
Eu ainda era uma garota que vivia num mundo fantasioso, sonhando
com os príncipes dos contos de fadas — e foi daí que veio aquele maldito
apelido. Então, quando coloquei os meus olhos naquele playboyzinho
marrento e gostoso, foi paixão à primeira vista.
Poderia dizer “eu o vejo tanto quanto você”, mas optei por responder:
— Jonas está bem, ama trabalhar naquele escritório... Não é nenhuma
surpresa ele ter negado a sua proposta.
Alex estava sendo tão gentil que eu não conseguia manter aquela birra.
Sabia que, em parte, a culpa havia sido minha, por me iludir com um beijo
que era somente isso, um beijo, e ver estrelas num céu tempestuoso. Amamos
culpar o alvo de nossa paixão — ou obsessão — nos casos de amor platônico,
mas nos esquecemos de todas as vezes em que alimentamos isso, de todas as
vezes em que sonhamos acordadas com coisas que, evidentemente, não
aconteceriam.
— Sua mentirosa.
Isso me fez rir e eu não tinha como me justificar, já que ele presenciou
a ceninha que Marcela fez lá no salão, só por eu estar parada conversando
com ele.
Era isso.
Definitivamente.
De jeito algum!
Não de novo.
— Não tenho experiência em nada e, por isso, só conseguiram me
encaixar como recepcionista — disse com a nítida sensação de estar ouvindo
a voz da minha mãe no meu subconsciente: “olha só pro seu irmão. Você tem
que fazer uma faculdade e largar essa coisa dos livros”.
— Eu acho que tenho uma coisa pra você. Não é perfeito, mas o salário
é bem melhor que o de recepcionista. — Antes que ele pudesse matar a
minha curiosidade e revelar qual era a vaga, as nossas comidas chegaram.
Tive um desânimo ao bater o meu olho na salada, por mais linda que
fosse a apresentação do prato. Sentia-me no Master Chef, mas, ainda assim,
era uma droga de salada e eu estava morrendo de fome.
E acho que isso ficou evidente, pois ele questionou: — Quer provar um
pouco do meu?
Mas havia um sorriso de canto em seus lábios, que fez uma forte
sensação de calor emergir entre minhas pernas.
Balancei a cabeça de imediato, recusando.
Alex abriu um sorriso ao ver minha boca cheia com aquele pedaço
suculento de carne. E não sei por que fiz isso, mas enquanto mastigava,
instintivamente levei meu olhar para baixo, e vislumbrei suas coxas grossas
junto daquele enorme volume entre suas pernas, que tantas vezes encarei no
passado, imaginando como deveria ser.
— Você gostou? — ele me perguntou, fazendo-me desviar
rapidamente o olhar, com o rosto queimando. — Da comida, você gostou?
Ai que ódio.
— Sempre vou me envergonhar daquela declaração horrível que te fiz,
entregando aquela cartinha idiota e enorme. Ai meu Deus, se vergonha
matasse...
— Mas foi tão bonitinho. — Após rir junto comigo, ele emendou: —
Foi justamente por conta dela que eu soube que não era o cara certo pra você.
— Ah, você estava falando do trabalho? Sobre isso, eu não sei, Alex...
— Acho que terei que aceitar então... Pelo jeito, você continua tão
mimado quanto antes.
— Sei ser um cara bem persuasivo quando quero — ele respondeu e,
antes que pudesse questionar qual seria minha função nesse novo emprego,
Alex tirou uma caneta prata de seu paletó e, em um guardanapo de papel,
escreveu o que parecia ser um número. — Meu telefone particular. Mande
um “oi” pra mim depois.
Como sabia que ele estava prestes a ir embora, lhe disse: — Foi ótimo
ver você.
Ele riu e, como se estivesse lendo os meus pensamentos, disse-me: —
Vê se não vai dar pra trás, hein, princesa? Nos vemos na segunda.
Capítulo 04
Quando cheguei à casa dos meus pais, toda aquela ideia, de repente,
começou a parecer ruim; talvez ainda pior do que a carta estúpida que eu
havia escrito para ele na adolescência. Não pelo novo emprego, que eu ainda
nem sabia de que se tratava, mas pela proximidade com Alexandre, o mesmo
homem que havia sido o meu primeiro e único amor.
Ele era tão adorável comigo que eu nem quis bancar a engraçadinha,
perguntando-lhe qual tinha sido o meu último sucesso, pois, até então,
conhecia apenas fracasso.
Aproximei-me do sofá e, pegando um cobertor verde-água, sentei-me
ao seu lado.
— Ela sabe muito bem o que penso sobre isso — ele continuou,
seguindo firme com aquela posição. — Você tem um dom lindo. E não é
porque as pessoas não o valorizam, que você tem que desistir dele.
Isso aqueceu tanto o meu coração que tive que abraçá-lo e me esforçar
para não começar a chorar por todas as coisas ruins que tinham me
acontecido nos últimos meses. O fracasso na profissão que eu amava, a perda
do meu lindo apartamento e a minha tão valorizada independência financeira.
Foram muitas derrotas seguidas, tantas ao ponto de eu não conseguir nem
processar.
— Não vou voltar para os livros, pai. Só deixei o hotel porque recebi
uma proposta melhor de emprego — expliquei, deixando claro que não
tornaria a escrever como forma de pagar as minhas contas. — O senhor se
lembra do Alexandre?
— O playboy?
— É o Alex, né? Eu tenho medo de... Ah, você sabe, pai, de voltar a
gostar dele.
O fato de ter esse tipo de conversa com meu pai, e não com a minha
mãe, era um pouquinho bizarro. Mas, diferente dela, eu o via como uma
espécie de amigo; alguém com quem podia conversar sobre qualquer assunto
e sabia que ele me entenderia mais do que qualquer outra pessoa, sem me
julgar ou tentar impor algo.
— Mas, minha filha, você sabe que esse garoto é gay, não é?
Okay, contei tudo, tirando a parte que havia visto Alex transar de
forma selvagem com uma mulher na praia, ao lado do meu até então
namorado que, esse sim, era gay.
Senti vontade de rir e lhe dizer que ele estava errado, mas aí teria que
contar sobre o episódio da praia e outras coisas que me deixavam
desconfortável. Então, optei apenas por balançar a cabeça, discordando de
sua teoria.
— Só porque ele não quis ficar comigo, não significa que ele seja gay.
— Se ele não for, então, com certeza, tem algum problema bem sério.
Diferente do meu pai, que enxergava Alexandre como um playboy
idiota que havia iludido e descartado a filhinha dele, a minha mãe o venerava.
Tinha certeza de que um de seus maiores sonhos não realizados era que
tivéssemos engatado um relacionamento.
— Não quero que a mamãe saiba nada sobre esse trabalho, pelo menos
não até eu saber se isso vai mesmo dar certo.
Se ela soubesse, surtaria com a novidade e criaria expectativas
estúpidas em relação a nós dois. Eu a imaginava me dizendo coisas do tipo
“se ele não tivesse interessado em você, jamais faria uma oferta de emprego,
querida”.
Ainda pior do que ela bancando a cupido para cima de mim, seria se o
trabalho desse errado, se eu não me encaixasse ou se a minha proximidade
com Alex me fizesse pular fora do barco. Tinha certeza de que dona Mariza
me culparia por tudo e seria como reviver o momento em que Alexandre me
acordou da minha ilusão e ela tentava me obrigar a continuar frequentando a
casa dele, na esperança de que ele olhasse para mim e magicamente se
apaixonasse.
Não podia, de jeito algum, passar por todo aquele sofrimento de novo.
Eu havia aprendido da pior forma que não devia fantasiar algo com Alex,
pois ele não se ligava a ninguém. Principalmente alguém como eu, uma
virgem patética que se humilhou ao implorar por amor.
Ignorei o que o cretino havia escrito dos meus contos e lhe enviei:
Ele realmente estava certo, qualquer trabalho seria melhor que conviver
com aquela infeliz.
— Mas, sério, você sabe que esse cara quer muito te comer, não é? —
ele tornou a falar, deixando-me vermelha. — Ninguém sai por aí distribuindo
vaga de emprego. Se esse fosse o caso, a taxa de desempregados não estaria
tão alta.
E então ele desligou, levando com ele todas as dúvidas que eu tinha
sobre aceitar ou não aquela proposta. Após me decidir, tirei o meu celular da
bolsa juntamente com aquele guardanapo e adicionei o número de Alexandre.
Passei o seu número para o pessoal do RH. Em breve, eles vão entrar
em contato com você para explicar certinho toda a questão envolvendo
salário e carga horária. Mas já dá pra adiantar que você começa na
segunda-feira mesmo, como tínhamos combinado.
Tudo bem.
Muito obrigada.
Como minha mãe passava o dia todo no trabalho e meu pai concordou
em não dizer nada, foi fácil esconder dela que eu não era mais a recepcionista
daquele hotel e, principalmente, que estava prestes a trabalhar com o homem
dos sonhos dela.
Com uma carga horária de, no máximo, trinta e seis horas por semana
— e minha total disponibilidade para viajar —, receberia em torno de dez mil
e outros benefícios que nem consegui analisar direito.
Foi difícil não alimentar a sensação de que aquilo era bom demais para
ser verdade, de que estava entrando numa fria e morreria congelada.
Fechei os meus olhos detestando a mim mesma por ser tão desleixada.
Liguei.
Mesmo sabendo que o homem era o piloto e que voaríamos para algum
lugar, não deixei de sentir um frio na barriga ao subir a escadinha de metal.
A primeira coisa que fiz foi desligar o meu celular, pois sempre ouvi
que se devia fazer isso ao entrar em um avião.
Fabrício fechou a porta e, ao olhar para mim, disse: — Você sabe dos
procedimentos, né? — Ia apenas balançar a minha cabeça confirmando,
mesmo sem saber exatamente do que ele estava falando, mas então o piloto
acrescentou, rindo: — É claro que sabe, você é comissária de bordo.
Comissária de bordo?
Isso durou até que eu me recordasse de que ele havia dito claramente
“senhor Brandão”. Definitivamente, não havia como isso e o meu nome
serem apenas uma coincidência.
— Por que você demorou tanto, Fabrício? — ela questionou, assim que
avistou o piloto.
— Eu não demorei. Você que é afobada demais e chegou muito cedo
— ele se defendeu, fazendo com que ela risse e revirasse os olhos.
Alex era tão severo ao ponto de não permitir que os seus funcionários
o chamassem pelo seu primeiro nome?
Seguimos para o fundo da aeronave e ela me levou para uma sala, que
era separada do restante por um arco de madeira marrom. Existia um sofá ali
dentro e, do lado esquerdo, uma espécie de bagageiro, parecido com aqueles
de voos comerciais.
— Como é um avião relativamente pequeno, a gente não tem um
armário ou algo assim. — Daniela comentou, abrindo a mochila e pegando o
que parecia ser o uniforme dela. Ela apontou para o bagageiro e completou:
— Você pode deixar as suas coisas aqui, junto com as minhas.
— Mas eu prometo que é tudo muito simples. Você vai pegar as coisas,
tenho certeza disso — ela acrescentou, provavelmente percebendo meu olhar
de desespero, quase um pedido silencioso de socorro.
Concordei com ela, mesmo sem ter muita certeza disso e estando um
pouco assustada.
Em minha defesa, ao deixar a minha casa, não tinha ideia de que teria
que trabalhar dentro de um avião. No fundo, sempre achei que seria uma
espécie de secretária — essa era a teoria de Bruno também —,
desempenhando uma função administrativa.
Aquela sua última palavra me fez corar, pois soou impessoal demais
para uma relação de chefe e funcionária.
Com os olhos voltados para os outros dois, o piloto e Daniela, ele
questionou: — Então, pelo jeito, vocês já conheceram a minha amiga?
Como era de se esperar, não consegui escapar das garras dele. Alex me
levou para uma das poltronas que ficava de frente com a sua mesa. Mesmo de
forma muito hesitante, aceitei me sentar com ele.
Essa fala dele — fora de contexto — podia muito bem parecer algo
extremamente sexual, como aquelas fanfics eróticas que eu escrevia sempre
que estava excitada.
Ele voltou o olhar pra mim e questionou: — Quer beber alguma coisa?
— A justa causa é por ser desastrada ou por tocar no pau do seu chefe?
— ele tornou a debochar de mim. Quando Alexandre notou que eu realmente
estava muito envergonhada com o que havia acontecido, disse-me: —
Respira um pouco, Thais. Não foi nada demais... Quem tem que se
envergonhar com isso sou eu que fiquei duro. Quanto a mancha, o máximo
que vai acontecer é pensarem que eu me mijei.
— Senta aí, garota! — ele disse num tom de ordem, apontando para a
poltrona ao seu lado. — Só vou autorizar você a sair daqui quando
terminarmos a nossa conversa. — Ele riu e prosseguiu, brincando: — Eu já te
disse que mando em tudo por aqui?
— Só umas três vezes.
“Muito prazeroso”.
Pela primeira vez, servi uma bebida e, como não derramei tudo em
cima dele, podia dizer que havia sido um sucesso.
— Poder, você até pode, mas vou ter que te trancar aí dentro —
respondeu de forma séria, não me deixando dúvidas de que ele não estava
brincando.
— Pode ser — respondi, não me importando em ficar confinada no
avião luxuoso de Alexandre.
Finalmente.
Levantei-me da poltrona e me preparei para caminhar na direção de
Fabrício, questionando se Alex o havia avisado do horário que voltaria, pois
já não aguentava mais ficar sentada naquele avião.
Antes que desse o primeiro passo e me aproximasse, ouvi uma voz
feminina.
Daniela.
E eu teria me aproximado para conversar com os meus colegas de
trabalho, se uma voz grave não tivesse soado junto com a dela.
Vadia?
Merda.
Merda.
Merda.
Sem pudor algum, o loiro enfiou a mão por debaixo da saia lápis dela.
Ele o fez de maneira totalmente imponente, como se o corpo dela pertencesse
a ele.
— Olha pra mim — ele sussurrou de uma forma tão séria que me
assustou um pouco.
— Ai, Alex...
Hipócrita.
Cretina.
Safada.
Eu quis muito fechar os meus olhos, mas quando o meu chefe começou
a abrir a sua calça, o meu olhar demasiadamente pervertido fixou-se ainda
mais nele.
Queria vê-lo sem roupa.
— Não precisa se preocupar com isso, Thais não é pro meu bico.
Diferente de você, ela não é uma puta suja — ele disse de forma tão calma
que aquilo nem parecia uma ofensa horrível para Daniela. — Mas você
acertou numa coisa, não preciso de duas comissárias. Ela vai te substituir.
O rosto de Dani ficou branco, como se ela não estivesse esperando por
aquilo.
Eu mesma não estava esperando por aquilo.
Era difícil acreditar que tudo aquilo estava rolando no meio do sexo,
enquanto o pau dele ainda estava dentro dela.
— Estou — ele respondeu e, segundos depois, gemeu. Com um
sorrisinho cafajeste e maldoso nos lábios, o nosso chefe concluiu: —
Terminei.
Ele tirou o membro dele de Daniela e, só então, consegui dar uma boa
olhada. Parecia ser grande — não que eu tivesse visto um pênis na minha
frente antes — e tinha uma cabeça rosa, que eu tinha certeza de que estava
toda melecada.
Queria tocá-lo.
Desgraçado.
Ela abriu a boca para contrariá-lo, mas então ele prosseguiu: — Estou
esperando... E, você sabe, eu detesto esperar.
Pensei que ela fosse tomar alguma atitude e dar um tapa bem dado na
cara daquele cretino. Para minha total surpresa, entretanto, a comissária
apenas se ajoelhou em frente a ele e começou a chupá-lo.
Estava chocada.
— Você não vai mais ser a minha comissária... Mas só porque vai se
tornar assistente administrativa numa das minhas empresas — ele disse ao se
levantar da poltrona.
Dani pegou a saia lápis do chão e, assim que pude ver o rosto dela,
notei que estava rindo de felicidade; um sorriso radiante, com uma expressão
tão incrédula quanto no momento em que ele a demitiu.
— Obrigada... Eu... eu não...
— Você fez por merecer — ele disse a ela, como se soubesse que
Daniela não conseguiria terminar aquela frase por conta da emoção. — Quero
deixar claro que não foi por isso aqui que nós temos. Você é uma ótima
funcionária e, por mais que eu queira te prender aqui comigo, sei que
promover você é o certo a se fazer.
Ela riu e, com as mãos nos lábios, disse: — Acho que acabei de ter
outro orgasmo.
— Então você está me devendo um — ele respondeu, mordendo o
lábio inferior. — Como é que podemos resolver isso?
— Você pode me convidar pra sua casa e me comer na sua cama preta,
como daquela vez. — Os olhos dela brilhavam. Dani parecia uma pessoa
completamente diferente perto de Alexandre. — Se quiser, pode usar até as
cordas e aquela droga de prendedor de mamilos.
— Faz tempo que não levo uma cadela pra casa — ele comentou com
um sorriso malicioso, como se estivesse pensando no que faria com ela. — É
uma boa ideia.
— Estou à sua disposição, senhor.
Tudo o que conseguia pensar era “esses desgraçados não vão sair
dessa merda de avião?”.
Estava começando a ficar angustiada.
Merda.
Merda.
Merda.
— Se divertiu?
O olhar do loiro estava tão intenso em meu rosto que era difícil
continuar ali parada em frente a ele. Depois de ter presenciado aquilo tudo —
de ter visto o caralho dele todo esporrado —, não conseguia mais ficar à
vontade com Alex. Era impossível não questionar se o executivo também não
me enxergava daquela forma, como uma “cadela”.
De repente, um pensamento aflorou em minha mente.
“Thais não é pro meu bico. Diferente de você, ela não é uma puta
suja”.
Pronto.
— Hoje você vai embora comigo — ele disse alto o suficiente para que
Fabrício e Daniela ouvissem e entendessem que eu não entraria em um Uber
com eles, como costumávamos fazer.
Como se não tivesse ouvido a minha resposta, ele retornou com duas
taças e uma garrafa de vinho. Alex colocou tudo em cima da mesa que ele
usava para trabalhar e voltou o seu olhar intimidante na minha direção.
Era quase parecido com a forma com que ele observava Daniela.
Sentia-me muito intimidada e, ao mesmo tempo, incrivelmente bem.
Merda.
Merda.
Merda.
— Não sei se avisaram a você, mas uma das coisas que eu mais
valorizo nas pessoas que trabalham comigo, é a vontade delas em me
satisfazer — ele sussurrou próximo demais do meu corpo.
Eu queria muito que ele me “fodesse”, mas não estava esperando por
aquilo. Soava estranho, quase irreal, principalmente porque ele havia sido
direto demais.
Então relembrei da fala do meu amigo, do que ele me disse quando
contei que trabalharia com Alex: “Se surgir uma nova oportunidade, não sai
correndo, não procura ninguém, só senta com vontade em cima desse cara”.
Não podia mais correr, tinha adiado isso por tempo demais.
— Sim... — Ele me repreendeu com o olhar, forçando-me a completar
com: — Senhor.
Antes que pudesse lhe dizer mais alguma coisa, confirmando uma vez
mais que queria aquilo, a mão esquerda dele invadiu a minha saia. Senti os
seus dedos tocando em minha boceta por cima da minha calcinha.
Demorou alguns segundos para que eu me desse conta de que tudo não
havia passado de um sonho.
“Bom dia, senhor” sempre lhe dizia quando ele aparecia, segundos
antes de Alexandre ser gentil comigo, respondendo coisas como “Me chama
só de Alex, princesa”.
Quando isso acontecia, lembrava-me daquela frase que ele pronunciou
para Daniela — “pra você é senhor” — e me sentia ainda pior. Detestava ter
esses desejos, ainda mais por um homem como Alex, que já havia me
dispensado, porém, odiava ainda mais ser vista como esse anjinho imaculado.
Doentio?
Está aí?
Após ler a minha mensagem, Bruno fez uma chamada de vídeo que eu
aceitei, mesmo sabendo que o meu cabelo estava uma porcaria.
— Você, o quê?
— Isso mesmo que você ouviu — continuei relembrando o quanto
aquela cena havia sido bizarra. — E essa nem é a pior parte, Bruno.
Merda.
Talvez — mesmo que eu nunca fosse admitir, nem para o Bruno e nem
para ninguém — eu gostasse.
Comecei com uma breve sinopse, apenas para que eu preservasse parte
da ideia que havia tido.
“Thayse se vê obrigada a aceitar um emprego como aeromoça de
Alejandro, um homem rico, sádico e muito poderoso, que não medirá
esforços para dominá-la completamente”.
Sim, eu sabia que aqueles nomes eram patéticos — quase idênticos aos
nossos —, mas poderia mudar isso mais tarde. O mais importante era
preservar a ideia original, que, pasmem, tratava-se claramente de um romance
erótico.
Pelo menos, agora já não corria mais o risco de assistir uma nova cena
de sexo deles.
— Senhor...
— Não, você não vai falar nada! — Alexandre interrompeu Nathalia, a
assistente dele. — Quando tinha que me falar alguma coisa, não o fez, não é?
— Mas senhor...
— Quem deu autoridade pra vocês desmarcarem as minhas reuniões de
hoje para encaixar essa droga de entrevista no lugar? — ele questionou.
— Fala — ele exigiu, arrepiando até a mim que não tinha nada a ver
com aquela história. — Se eu tiver que pedir de novo...
— Foi... foi o seu pai, senhor — Eduardo confessou tremendo em pé.
Dessa vez, foi o rosto de Alexandre que ficou vermelho como se ele
estivesse prestes a explodir — ainda mais do que já tinha explodido.
— Tudo bem então — ele disse ao retornar para a sua mesa. Alex
voltou o olhar para os assistentes e completou: — Os dois estão demitidos.
Podem sair.
O “senhor” em minha frase fez com que ele voltasse o seu olhar na
minha direção.
— Desculpe, eu acho que não consigo me acostumar a te chamar só de
Alex quando todo mundo o chama de senhor.
Ele sorriu e respondeu: — Pode relaxar, Thais. Não vou te dar uma
bronca por conta disso. — Quando me preparei para retornar, sentando-me
numa poltrona nos fundos, ele me disse: — Senta aqui comigo.
Queria recusar, mas a sua última frase havia soado como uma ordem.
E, depois da cena que tinha presenciado mais cedo, não queria desobedecê-lo.
Como se tivesse lido a minha mente, ele me disse: — Não deveria ter
perdido a cabeça daquela forma, sinto muito que tenha presenciado isso.
— Não deveria ter gritado com eles. Demitido? Com certeza. Mas
reconheço que passei do ponto na discussão — ele prosseguiu de uma
maneira calma, tornando a se assemelhar com o Alexandre que eu conhecia.
Ele me explicou o porquê estava tão estressado com a Forbes.
Aparentemente, eles cancelaram uma entrevista que estava programada para a
semana anterior, simplesmente disseram-lhe que tiveram que encaixar um
empresário norte-americano em cima da hora e que não teriam mais tempo
para ele. E ainda se justificaram, afirmando que a entrevista com ele havia
sido remarcada para a semana seguinte.
— É como se o meu pai soubesse que eu vou falhar e, por isso, precisa
continuar de olho em mim, pra me impedir de fazer merda; como se eu ainda
tivesse dezoito anos de idade — ele continuou sério, mas sem me encarar. —
Sabe a pior parte? Ele estava certo sobre o lance da Forbes, foi burrice ter
cancelado, agi como um garoto, como um garoto mimado. — Ele forçou um
meio sorriso, um completamente frustrado. — E isso me faz pensar se estou
mesmo pronto pra isso... Pronto pra ter toda essa responsabilidade...
Eu queria muito dar a ele palavras de conforto, mas não sabia o que
dizer, quais palavras usar para fazer com que ele se sentisse bem. E a parte
mais irônica era que saber usar as palavras era imprescindível para uma
escritora minimamente competente.
Não tinha a mínima ideia do que estava lhe dizendo — além do fato de
ter certeza absoluta de que a revista de finanças já havia, sim, estampado um
monte de incompetente na capa —, só queria que minhas palavras o fizessem
se sentir melhor, queria confortá-lo, pois entendia completamente como era
ser vista como incapaz.
Minha mãe sempre agiu dessa forma quando o assunto era a minha
carreira. E tinha certeza de que o problema não era apenas o fato de minha
profissão não ser das mais lucrativas. No fundo, eu sabia que ela não
enxergava potencial em mim. E quando começou a ver — enquanto assinava
dezenas de livros na minha noite de autógrafos —, eu fracassei, dando ainda
mais certeza a ela.
Deluxe Master.
— Thaís?
Será que ele achava que eu não era capaz de clicar num botão?
— O acesso pro nosso andar só é liberado quando você coloca o cartão
aqui — Alexandre me explicou, fazendo com que eu me sentisse a pessoa
mais burra do mundo ao encaixar o seu cartão em um compartimento na
parede metálica do elevador. Assim que uma luz ficou verde, ele prosseguiu:
— Viu só, princesa?
— Deviam ter explicado isso pra você — ele disse depois de rir de
mim. — Vou puxar a orelha da recepcionista mais tarde.
— Por favor, não puxe. Ela deve ter dito, mas, como o meu inglês é
uma porcaria, é claro que eu não entendi muita coisa.
— Vou ter que te colocar em outro curso.
Isso me fez rir e me lembrar de que não havia nem começado a ver as
videoaulas do curso de comissária de bordo. Estavam todas amontoadas,
junto com um milhão de tarefas não concluídas.
Ele estava tão lindo naquele terno que era difícil até de pensar em uma
desculpa para recusar o seu convite.
— Agora? — questionei como se não fosse óbvio o bastante. — Ele
balançou a cabeça afirmativamente e, deixando-me sem saída, obrigou-me a
aceitar. — Tudo bem.
O cara tinha me levado pra uma das duas maiores suítes do hotel.
Eu não podia dizer “não”.
Provei um pouco e o sabor não era tão bom quanto pensei que seria.
Tinha certeza absoluta de que o problema era o meu paladar, que preferia os
espumantes vagabundos que estava acostumada a tomar no Ano Novo.
Pronto.
Toda essa pose de bom moço me fazia questionar se tudo aquilo era
falso. Se a sua gentileza e carinho eram apenas um disfarce pro “pervertido
de merda” que ele realmente era.
E se realmente era isso, por que então o cretino nunca havia tentado
algo comigo?
“Pelo menos ela não havia deixado o pau dele duro ao tentar limpar a
mancha” pensei, lembrando-me daquela cena vergonhosa.
— Terminei.
O irmão de Alexandre havia morrido quando ele ainda era uma criança.
Não sabia muitos detalhes de como essa tragédia ocorreu, mas durante o
tempo em que convivi com a família dele, notei que era um tema tão doloroso
ao ponto dos seus pais nunca tocarem no nome do filho em minha presença,
nem mesmo uma única vez.
Assim que tornei a abrir os meus olhos e a luz do quarto não me cegou,
consegui observar melhor os detalhes do ambiente. Então me dei conta do
quanto ele era parecido com o de Alex.
“As duas suítes ficam na cobertura. Claro que seriam parecidas, sua
idiota” a minha mente gritou, levando pensamentos negativos para longe.
Não.
Não.
Não podia...
Eu me recusava a acreditar que havia perdido a minha virgindade com
Alexandre Brandão e nem me lembrava disso.
Eu adorei.
PS: Não precisa se preocupar, as coisas não vão mudar entre a gente.
— Alex.
Soltei o bilhete, deixando com que ele caísse no chão e então me joguei
sobre a cama, completamente certa de que realmente havíamos transado.
“A noite de ontem foi uma delícia” e “as coisas não vão mudar entre a
gente” não poderiam significar outra coisa.
Essa lembrança me fez rir, assim como também fez com que me desse
conta de que não poderia mais continuar sendo a mesma garotinha boba e
inocente. Se eu queria um homem como Alex, precisava ser mais como
Daniela e menos do tipo que recebia “eu não sou o cara certo pra você”.
Peguei a minha mochila e apanhei uma peça de roupa. Porém, quando
estava vestindo uma camiseta verde, parei o que estava fazendo.
Sequei o meu cabelo e coloquei uma maquiagem leve. Sabia que ele
havia me visto com aquela aparência horrível pela manhã, mas, ainda assim,
queria soar natural, como se não tivesse me esforçado tanto para ficar bonita.
E que beijo.
Não lhe dei a chance de dominar isso, explorando aquela boca gostosa.
Quis beijá-lo desde a primeira vez que o vi, quando ele apareceu lá em
casa, como um amigo do meu irmão. E agora, sabia que também quis fazer
isso no momento em que nos reencontramos naquele hotel.
Segui na direção da minha bolsa pra colocar alguma coisa por cima
daquela lingerie. No fundo, eu só queria uma desculpa para fugir dos olhos de
Alexandre.
— Aonde você vai?
— Você está com a cabeça quente, não tem que decidir nada agora —
ele tornou a falar, como se não estivesse prestando atenção em nada do que
eu estava lhe dizendo. Pelo menos, não na parte que importava. — Você está
cansada de ontem e...
— O que eu não tenho? — indaguei, virando-me para encará-lo. Eu já
estava no fundo do poço, completamente coberta por lama. Um pouquinho
mais de sujeira não faria diferença. — Só pra eu saber.
Estava acontecendo.
Finalmente estava acontecendo.
Como Alexandre não subiu na cama para dar continuidade naquilo que
ele estava fazendo antes de eu abrir a minha boca grande, eu fui obrigada a
voltar o meu olhar na direção dele e constatei que o loiro não gostou muito do
que ouviu de mim.
— Disse que sou virgem, não que tenho sífilis — brinquei usando um
pouco de humor para escapar daquela situação.
— Eu não sou essa garotinha inocente que você pensa que eu sou —
respondi cansada de ser vista daquela forma. Eu era uma mulher crescida e se
não fosse pela minha péssima situação financeira dos últimos tempos, poderia
até dizer que nem morava com os meus pais, que era independente. — Na
verdade, você não faz ideia do quanto eu sou pervertida.
— Claro que é... Pervertidamente virgem.
— Tudo bem, O.K.? Eu admito que não sou a pessoa mais experiente
quando o assunto é sexo...
Com os meus olhos queimando aquela expressão séria que ele tinha no
rosto, levei a minha mão no meio de suas coxas grossas e, sem medo, apalpei
o volume em sua calça, que, contrariando tudo o que ele estava me dizendo,
parecia indicar que Alexandre estava, no mínimo, interessado naquela nossa
conversa.
— Não fodo virgens — ele tornou a dizer, contrariando o seu pau, que
parecia uma rocha. Eu estava prestes a me humilhar ainda mais,
pronunciando “por favorzinho” ou qualquer outra coisa que o fizesse mudar
de ideia. Mas, felizmente, nada disso foi necessário. — Mas acho que, dessa
vez, posso deixar passar.
Que filho da puta.
Hipócrita?
Com toda certeza.
Mas quem é que poderia me julgar? Eu era uma virgem de vinte e três
anos e o homem com quem eu sempre quis transar estava parado bem na
minha frente.
Diferente da última vez — quando abri a minha boca e cuspi que era
virgem na cara dele —, Alex não hesitou em se aproximar de mim, subindo
no colchão e me cercando como um leão.
Sua mão direita acariciou a minha boceta. Foi um toque bem sutil, mas
o suficiente para me arrepiar, acelerando o meu coração e deixando a minha
respiração ofegante.
Ele ficou ali parado, olhando para mim, como se estivesse apreciando
uma paisagem.
— Você é que não deveria foder a minha colega de trabalho, pra início
de conversa.
Eu me encolhi e me preparei para levantar da cama e correr para o mais
longe possível daquele quarto, poupando-me de mais humilhação.
— E onde é que você pensa que vai? — ele questionou sem realmente
querer uma resposta. — Você realmente é uma pervertida safada e não vai
sair daqui enquanto eu não aplicar a sua punição.
A minha punição?
Meu Deus.
Ainda com aquele dedo dentro de mim, ele continuou: — Sei bem o
que você quer de mim, sei que espera algo parecido com o que viu, enquanto
bisbilhotava a minha foda. — Meu estômago gelou e realmente fiquei
assustada, pois era como se ele estivesse dentro da minha mente, lendo cada
um dos meus pensamentos mais depravados. Seus olhos queimaram-me,
antes de ele finalmente prosseguir: — Mas, por hoje, eu vou me limitar a
garantir que você tenha apenas uma boa primeira vez.
— Quero que as deixe assim, bem abertas pra mim. Ouviu? — ele
sussurrou, assim que as abriu novamente, deixando-me arreganhada. Ele não
tirou os olhos do meu rosto até que eu balançasse a minha cabeça,
confirmando que havia compreendido. — Boa garota... Se fechá-las de novo,
eu serei obrigado a puni-la.
Estava com tanto tesão que aquela ideia me excitou ainda mais. Dessa
forma, fechei as minhas pernas de propósito, curiosa a respeito de sua
“punição”.
Tentei não pensar no que aquele “não tenho nenhuma corda aqui”
significava.
Ele foi se aproximando cada vez mais e antes que eu pudesse somar um
com um, o desgraçado avançou, trazendo sua boca até a minha fenda.
Caralho.
Como nunca tinha feito nada daquilo, era impossível não questionar se
sentiria alguma dor.
“Se fosse ruim, ninguém faria isso, garota”, a minha mente gritou de
volta, divertindo-me.
Eu não era tão idiota assim e sabia muito sobre sexo, mesmo sem tê-lo
praticado. Tinha assistido a vários vídeos na internet e lido muitos livros que
narravam detalhadamente o ato. Entretanto, tudo isso se resumia a parte
teórica e de uma maneira muito romantizada.
— Tem certeza de que você quer mesmo dar pra mim algo que você
guardou por tanto tempo? — ele me perguntou com as suas esferas cor de
mel em mim.
Era uma pergunta muito válida.
— Está tudo bem? — ele questionou, com uma expressão séria. Até
mesmo o sorriso sacana havia desaparecido de seus lábios. — Eu quero que
saiba que, se por acaso mudar de ideia e não quiser mais fazer isso, podemos
parar a qualquer momento. É só me dizer, O.K.?
Com ele dentro de mim, parei de me pilhar e fiz tudo o que queria.
Aproveitei para beijá-lo o máximo que eu pude, roubei aqueles lábios para
mim e a cada vez que fazia isso, notava que Alexandre não devia estar tão
acostumado com aquilo, de ter uma mulher roubando o controle dele, ainda
que em algo tão simples quanto um beijo.
Depois de mais alguns minutos naquela dança lenta e prazerosa, nossos
corpos se desconectaram. Instantaneamente, voltei o meu olhar na direção
dele, querendo uma resposta, uma estrelinha na minha testa.
Queria ficar ali naquela cama e lhe perguntar, mas assim que notei que
havia sangrado, fui para o banheiro apressada, o que era algo besta da minha
parte, já que o próprio sabia sobre a minha virgindade.
Limpei-me com um banho rápido e voltei para o quarto enrolada em
uma toalha.
Mas, ainda assim, não conseguia deixar de estar feliz pelo momento
maravilhoso que tive ao lado dele.
Foi diferente, especial e único.
Então, não era fácil separar essas duas coisas, principalmente depois do
momento perfeito que tivemos.
Ainda estava um clima estranho. Sabia que parte disso devia-se ao fato
de eu ter ficado na cobertura e ele não. Queria muito dizer que não tinha
culpa pelo tratamento diferenciado que recebíamos, mas não queria piorar
ainda mais a situação.
— Por que você não faz essa pergunta pra ele, Fabrício? — disse a ele,
claramente tentando esconder o meu nervosismo. Eu queria deixar o assunto
morrer ali, mas não consegui, estava irritada demais para isso. — Aproveita e
reclame também sobre o tratamento diferenciado, sobre o motivo de termos
ficado em suítes diferentes.
Essa era outra das coisas que me irritavam em Fabrício. Todas essas
informações pela metade que ele soltava como uma espécie de aviso.
— Por que você não para de me jogar enigmas e fala de uma vez o que
quer me dizer, Fabrício? — disse, cansando daquele seu joguinho.
Se ele tinha algo para me dizer, então que me dissesse de uma vez e
não em parcelas.
Ele recusou.
Tudo isso fez com que eu me lembrasse daquela noite na praia, do dia
em que confessei que gostava dele e do beijo que tivemos, mas,
principalmente, de que bastou eu virar as minhas costas para que ele corresse
para os braços de outra.
O clima estava tão tenso que optei por ir embora sozinha, chamei um
Uber e nem comentei nada com Fabrício. Entrei no carro e segui para a
minha casa.
— Não consegui ver muito da cidade, mas por onde eu passei é lindo.
Meu pai sempre foi o meu maior conselheiro. Mas não consegui
comentar sobre o que havia acontecido no hotel, não me sentia confortável
para dividir isso com ele.
Então, depois de jantar e de aguentar todas as perguntas da minha mãe,
que sempre terminavam em “mas e o Alexandre?”, enquanto o meu pai
revirava os olhos, subi para o meu quarto, fechei a porta e finalmente
consegui suspirar, lembrando-me da sensação de ter Alex em cima de mim,
engolindo-me com os seus olhos cor de mel.
Queria muito ligar para o Bruno e contar tudo o que havia acontecido,
contudo, conhecia-o bem demais e sabia exatamente o que ele me diria. Seria
algo como “finalmente vocês dois transaram, parabéns, amiga. Mas agora
desencana disso aí, Thais. Esse cara detesta compromisso”.
E eu me apeguei a isso.
Era brega.
E apelativo.
E talvez ruim.
Não.
Por mais que eu não devesse tratar a perda da minha virgindade dessa
forma — como uma coisa a ser comemorada —, sentia que era como se eu
tivesse finalmente me livrado de um problema, de uma cobrança
desnecessária e estúpida.
Queria lhe perguntar algo como: “Eu fodo tão mal assim?”.
Mas o que saiu da minha boca foi: — Aceita algo pra comer, senhor?
Ele abandonou o iPad, onde parecia estar lendo uma espécie de jornal
digital, e trouxe os seus olhos cor de mel na minha direção.
— E quais são as minhas opções? — Alex questionou, pegando-me
desprevenida.
— Pensei que o senhor não quisesse mais repetir esse prato. — Não
consegui segurar o comentário para mim. Em parte, porque realmente estava
curiosa a respeito da mudança repentina. E, é claro, estava ofendida pela
frieza com que ele me tratou os últimos dias. — O que fez o senhor mudar de
ideia?
— E se eu quiser isso?
— Você não quer — ele rebateu, como se realmente pudesse responder
por mim. — Você acha que quer, mas não sabe onde está se metendo.
— Acho que esse é um bom momento pra eu dizer que não curto muito
esse lance de apanhar — disse a ele, realmente preocupada com aquela cinta,
que continuava na mão dele.
Não conhecia muito sobre BDSM, mas sabia que envolvia dor, as
palavras “sadismo” e “masoquismo” não deviam estar ali de enfeite.
Compreendia que era muito contraditório da minha parte lhe dizer
aquilo. Em um momento, falava para ele para me mostrar o caminho e no
seguinte já estava correndo dele, entretanto, tinha que ser sincera. Por mais
sexy que fosse a imagem dele com aquela cinta na mão, não queria senti-la na
minha pele.
Sim, eu achei.
E me sentia estúpida por isso.
Mais uma vez, dava-lhe uma prova do quanto não servia para aquilo.
— Quem sabe não levo você pra casa comigo um dia desses... Mostro
os meus brinquedos e aí você me diz se gosta ou não de apanhar — ele
tornou a falar, quebrando o silêncio deixado por sua pergunta não respondida.
Ele ajeitou-se na poltrona, abrindo bem as pernas. — Mas, por hoje, você vai
ter que se contentar em só chupar o meu pau.
Não perdi tempo e segurei-o com a minha mão direita. O membro dele
estava tão quente e duro. Os pentelhos raspavam em meu polegar e as bolas
dele esquentavam o meu mindinho.
Estava maravilhada.
Não sabia muito bem o que deveria fazer, já que nunca tive um pau em
minha boca antes. Mas muito disso era algo instintivo. Tomei cuidado para
não encostar a ponta dos meus dentes em sua pele e simplesmente deixava
com que a mão dele, que continuava segurando o meu cabelo, me guiasse.
Alexandre não estava sendo bruto e isso permitia com que eu
aproveitasse bastante daquela sensação, explorando o cacete dele com a
minha língua. Lambi a cabeçona sem me importar com o pré-gozo, que
começava a ser expelido. Adorei sentir o gostinho salgado.
Sentia-me tão safada com aquele mastro melecando a minha boca que
nem parecia que se tratava da primeira vez que eu fazia aquilo.
— Eu vou...
O aviso foi tarde demais.
Senti a porra jorrando dentro da minha boca. Estava tão envolvida que
nem mesmo pensei, acabei engolindo o que consegui manter dentro da minha
boca. Parte dela escorreu pelos cantos da minha boca, sujando o meu
uniforme e a poltrona cinzenta.
— Confesso que eu nunca pensei que isso fosse dar tão certo — ele me
disse, parecendo bem sincero. — Dá até pra dizer que você não era a única
virgem... Obviamente não foi a minha primeira vez fodendo alguém, mas...
— Ele hesitou por alguns segundos, mas logo completou: — Foi a primeira
em que fiz isso com alguém que realmente mexe comigo.
— E o que fez você mudar de ideia? — repeti a pergunta que fiz antes
de transarmos. — Por que você não enxerga mais isso como um erro?
— Eu ainda enxergo como um erro — ele afirmou, deixando-me
confusa. — Mas acho que, no fim das contas, a minha vontade de comer você
falou mais alto.
Abri a boca para lhe dizer isso, mas ele foi mais rápido, mudando o
assunto: — Saiba que, a partir de agora, eu não vou mais pegar tão leve com
você, Thais Pontes. Você pediu pra eu te mostrar o que gosto. E farei isso,
mas quero ir com bastante calma, em pequenas doses... Não quero correr o
risco de assustar você.
— Horrível?
— Sim, horrível — afirmei, segurando-me ao máximo para não beijá-
lo.
— O que é que eu vou fazer com você, hein, Thais? — ele brincou,
rindo enquanto balançava a cabeça. — Não estou acostumado a mulheres tão
teimosas.
Não queria me iludir — não de novo —, mas era difícil não ficar
balançada ao ouvir algo assim, principalmente porque Alex mencionou que
aquela era a primeira vez que ele ficava com alguém que mexia de verdade
com os sentimentos dele.
Eu quero você.
Hoje.
Às dezenove horas, o meu motorista vai passar aí pra buscar você.
Não se atrase... Ou serei obrigado a aplicar uma punição.
Poderia muito bem lhe dar mais corda — mesmo com a minha timidez
pedindo por socorro —, porém, optei por voltar a observar o apartamento
dele.
As paredes eram decoradas por quadros enormes, todos cheios de vida,
então foi difícil impedir os meus olhos de se perderem, mergulhando em cada
um dos detalhes.
Minha barriga gelou com a palavra “brinquedos”, o que fez com que
eu tomasse alguns segundos para lhe responder positivamente com um aceno
de cabeça.
Caralho.
— Como é a sua primeira vez aqui dentro, vou quebrar uma das
minhas regras e deixar você escolher um brinquedo pra gente usar.
— Acho que esse é o momento perfeito pra eu te contar que não tenho
muita experiência — brinquei, obviamente utilizando-me do humor para
vencer parte do meu desconcerto. — Transei uma vez com um louco num
hotel em Nova York, depois em um avião, o que foi bem emocionante, mas
foi só isso... Ah, já te contei da vez que assisti um cara transando?
— Não precisa se preocupar com isso, princesa... Vou ensinar tudo o
que você precisa saber — ele disse de uma forma sexy. Antes que pudesse
dizer mais alguma coisa, ele completou: — Anda logo! Se não escolher, farei
isso por você.
Por algum motivo, aquilo não me pareceu algo muito bom, então
comecei a me mexer, caminhando até as prateleiras.
Pensei em fazer mais uma piadinha, mas acabei desistindo, pois não era
hora para isso. Sentia que poderia destruir o clima facilmente, já que
estávamos numa situação bem estranha. Qualquer brincadeira poderia soar
como gozação com o fetiche dele e não pegaria muito bem.
— Pra você.
Peguei o objeto, que pela caixa parecia ter saído de uma joalheria. Abri
e descobri que se tratava de um colar lindo de ouro branco, que possuía a
letra “A” de pingente.
Talvez fosse pelo simples fato de que eu queria ser dele, mas não sabia
se isso justificava todo o meu tesão em ouvi-lo me dizer aquilo.
Alexandre me levou para a cama e deitou-me sobre o colchão, que
descobri ser bem mais confortável do que aparentava. Notei que nos cantos
existiam uma espécie de algema acolchoada e isso me assustou um pouco, já
que ele obviamente me prenderia.
O meu pavor deve ter ficado nítido em minha expressão facial, pois
Alexandre sentou-se sobre a cama comigo e, ainda com os olhos em mim,
sussurrou: — Lembra daquilo que conversamos durante a sua primeira vez?
— Balancei a minha cabeça, confirmando e então ele continuou: — A gente
pode parar isso aqui a qualquer momento.
Sabia que parte dele queria muito me dizer “essas palavras não
servem!”, mas Alexandre não queria apenas me dominar naquele quarto, ele
queria que eu aproveitasse aquilo tanto quanto ele.
— Pensa pelo lado bom, minha princesa... Você não vai ter problemas
pra manter essas pernas abertas dessa vez — ele sussurrou.
Foi inevitável não me lembrar da sensação de ter aqueles lábios em
minha boceta.
Gemi baixinho, pois era tudo o que podia fazer naquela cama; deixá-lo
me usar e aproveitar cada segundo disso.
— Você está gostando bastante, não é, sua safada? — ele disse mais
num tom de afirmação que de pergunta. Certamente notou, através dos dedos
em meu sexo, que estava muito excitada. — É quase uma decepção, já que,
no fim das contas, você é só mais uma putinha suja, como todas as outras.
Desgraçado!
Acho que gritei antes mesmo da língua dele tocar a minha boceta.
— Alex...
— É senhor, cadela! — ele me interrompeu, tornando a se aproximar
de mim.
Merda.
Entendia que o objetivo nunca foi causar dor ou ele não teria sido tão
gentil. Alex queria que eu soubesse que ele estava no comando, que enquanto
eu estivesse presa naquele quarto, ele seria meu mestre e que faria o que
quisesse comigo.
Depois de deslizar a tira de couro uma vez mais em minha boceta, ele a
trouxe até os meus lábios.
Dessa vez, Alex inseriu dois de seus dedos dentro de mim e os vibrou,
pegando-me totalmente de surpresa. Os movimentos eram tão rápidos que
mal conseguia gemer.
Nada parecia.
As mãos dele retornaram aos meus seios. Mordi o meu lábio inferior e
tornei a sentir a língua dele em minha boceta. O desgraçado estava indo num
ritmo muito intenso, sentia até os fios ralos da barba dele raspando contra o
meu sexo. Sentia o seu hálito quente, seus lábios macios e a sua língua
habilidosa.
Meus olhos correram para aquele cacete grosso, que já estava bem
duro.
Que macho gostoso da porra!
— Agora que você sabe um pouco mais sobre como eu trato as minhas
vadias, ainda quer ser minha? — ele questionou, quase me convidando para
ser uma das “vadias” dele.
Seus lábios foram para o meu pescoço, que ele encheu de beijos,
formigando a minha pele. Tentei aproveitar ao máximo daquela sensação
gostosa. Queria poder tocá-lo também, acariciar o seu rosto feroz e o seu
peitoral firme, enquanto continuava sendo tomada por ele, mas minhas mãos
continuavam presas na cama.
— Eu quero você pra mim, Thais — ele tornou a murmurar, ainda com
os lábios na minha pele. — Quero que seja só minha.
Queria lhe perguntar se ele havia falado sério, se realmente queria que
eu fosse dele — só dele —, mas talvez fossem apenas palavras sem um
significado real, ditas momentos antes de ele atingir o êxtase.
Ele tornou a buscar pela minha boca e, após um minuto maravilhoso de
beijos, Alex levantou-se da cama.
Antes que ele desse um único passo, pronunciei, com uma voz bem
séria: — Não ouse a fazer isso, Alexandre Brandão.
Ignorando completamente o que eu lhe disse, ele deixou o quarto.
— Agora você vai ter que aguentar ele na sua boceta de novo — ele
sussurrou, claramente se referindo ao fato de eu tê-lo acordado.
— Porque não tenho uma em casa — disse, como se aquilo não fosse
óbvio o bastante. Como ele não parecia muito disposto a mudar de ideia, eu
acrescentei: — Por favor.
Ele não resistiu ao meu olhar pidão e deu meia-volta, nos levando até a
banheira.
Quis muito lhe dizer que, tecnicamente, ainda não era uma submissa,
que não sabia praticamente nada sobre aquele assunto, mas eu gostava de tê-
lo se referindo a mim daquela forma, quase como se eu tivesse uma relação
de verdade com ele, então simplesmente ignorei.
— Aqui é mais gostoso — sussurrei, avançando para beijá-lo. Subi em
cima de seu corpo, finalmente colocando as minhas mãos naquele peitoral
gostoso. Quando nossos lábios se afastaram, emendei: — E eu posso sentar
em você.
Beijei o pescoço dele e então subi para a sua orelha, que mordisquei de
leve, antes de sussurrar: — Lamento te desapontar, mas aquela garotinha
nunca foi inocente.
Ele me puxou, ajeitando-me em seu colo.
As mãos dele agarraram a minha bunda com força e os seus olhos cor
de mel continuavam em mim, queimando-me. Alex levantava e me abaixava,
fazendo com que o seu caralho duro entrasse e saísse. Era uma delícia sentir a
cabeça do mastro dele entrando gostoso em mim.
Seus lábios buscaram pelos meus seios, que ele chupou com vontade,
enquanto continuava me comendo com força. Senti seus dentes mordiscando
os meus mamilos, que já estavam duros. Foi dolorosamente bom, como tudo
o que envolvia aquele homem. Nenhum prazer vinha sem um pouquinho de
dor, tudo exigia um sacrifício.
Enquanto continuava quicando em seu cacete, voltei o meu olhar pra
baixo e vi o colar que havia ganhado, com o pingente com a letra “A”.
Cacete.
Contudo, adorei estar por cima do corpo dele dessa vez, podendo olhar
para o seu rosto de cima, apoiar as minhas mãos em seu peito firme e tomar
aqueles lábios para mim sempre que quisesse. Era uma liberdade que não tive
quando estava amarrada à cama de seu quarto macabro.
Ficamos naquela dança lenta por mais alguns minutos, até que Alex
gozasse pela segunda vez, me inundando com a porra dele.
— Você gozou dentro de mim — eu me dei conta, alguns segundos
mais tarde.
O seu beijo impediu-me de lhe dizer algo que nem ele mesmo havia se
dado conta.
Mas concordava com ele em uma coisa, se tivesse que ficar sem aquilo,
com certeza sentiria falta também.
Capítulo 18
Mas, como havia me cansado, dessa vez não quis acordar a “fera”, pois
sabia que a consequência seria fazê-la dormir e já me sentia um pouquinho
dolorida.
Não o provoque!
— Não deu, não! — ele respondeu. Antes que pudesse dizer que estava
cansada demais para continuar transando, ele acrescentou: — Quero dormir
agarradinho com você.
— E não faz mesmo, mas, sendo sincero, a maior parte das coisas que a
gente costuma fazer também não fazem muito o meu estilo... — ele brincou,
aproximando ainda mais os nossos corpos. — Ou você realmente achou que
eu pego leve assim com as minhas outras garotas?
Pegar leve?
Aquilo que fizemos, definitivamente não era “pegar leve” pra mim. E
isso me deixou curiosa e um pouquinho assustada ao pensar em como deveria
ser uma foda “normal” com ele.
— E também, se eu sentir fome no meio da noite, eu posso
simplesmente te comer... Viu só? Todo mundo ganha — ele tornou a falar,
bancando o engraçadinho.
Minhas mãos tocaram em seu peito despido. Senti os fios ralos e então
subi o meu olhar, fitando a sua expressão sacana.
— Vou avisar os meus pais, inventar que vou dormir na casa de uma
amiga do trabalho — disse rindo do quanto aquilo soava patético. Tinha vinte
e três anos, mas, ainda assim, devia satisfações aos meus pais, já que morava
na casa deles. — Se minha mãe souber que estou aqui, ela já vai comprar um
vestido para o nosso casamento.
Ele sorriu e respondeu: — Não se o seu pai me matar antes.
Daniela.
Basicamente, uma das outra das “garotas dele”.
— Então, por que você não coloca seu celular no modo noturno? —
sugeri, pensando “e aproveita pra bloquear essa vaca”. Como ele parecia
não ter compreendido, expliquei: — Assim ninguém vai conseguir te
incomodar com uma ligação indesejada.
— Eu nem imagino como isso deve ser difícil pra você, ter que passar
por algo assim, ter essa dor constante no peito — disse, detestando-me por
nos colocar naquele assunto, simplesmente porque estava com ciúmes de um
homem que nem era meu.
— A parte mais difícil é pensar em todo o tempo que a gente perdeu,
nas coisas que nunca fizemos e que agora já não podemos mais fazer. Não
que a culpa disso seja somente minha... Você conhece o meu pai, sabe do que
estou falando... — ele me disse, antes de morder um pedaço do seu sanduíche
natural. — Mas eu também não facilitei as coisas, não abaixei a minha
guarda, não consegui derrubar esse muro que criei entre a gente... Esse muro
que foi se estendendo e me isolando do restante das pessoas...
— Bom dia — respondi, torcendo para não estar com um bafo matinal
horrível.
Continuamos nos observando. Após mais alguns segundos daquele
clima tenso e silencioso, o loiro sorriu e balançou a cabeça, como se estivesse
se lembrado que algo que o divertia.
Era impossível não temer por esse mesmo resultado, temer de que
estivéssemos fadados a repetir o nosso passado. A diferença era que, dessa
vez, a minha cartinha havia sido um livro inteiro, que ele nem mesmo sabia
que eu havia escrito.
Assim que deixei o quarto, notei que Alex e eu não éramos os únicos
em seu apartamento.
— Bom dia, senhorita — uma mulher, provavelmente a responsável
pela limpeza do apartamento dele, me disse.
Vinte minutos depois, ele finalmente voltou a sua atenção para mim,
dizendo-me: — Eu deixo você em casa.
Concordei com um aceno de cabeça e então ele se levantou, deixando
claro que já estávamos de saída. Peguei as minhas coisas rapidamente e o
segui até o elevador, onde, novamente, ele permaneceu calado, perdido em
seus próprios pensamentos.
— Por que é que eu sinto que você está prestes a terminar algo que a
gente nem tem? — questionei, voltando o meu olhar para ele, observando-o
trocar de marcha.
Ele ficou tão sem graça que tive a minha resposta.
— Eu...
— Está tudo bem, Alexandre. Não precisa se explicar — eu o
interrompi, não querendo ouvir coisas como “não é você” e “eu não sou o
cara certo”. — Eu já entendi tudo...
Abri a minha boca, mas ele foi mais rápido: — Eu gosto de você e
gosto ainda mais disso que a gente tem. Então, não, Thais... Eu não quero
terminar nada. — Ele voltou os olhos para a estrada, antes de continuar: —
Essa conversa foi só pra me certificar de que você não confunda as coisas.
Cacete!
Provavelmente era disso que Fabrício havia me alertado, o que
significava que já haviam existido outras — várias, pela conversa que
tivemos na porta do hotel.
— Regras?
— Sim e você terá que seguir cada uma delas. — Ele falou aquilo
como se fosse algo extremamente simples. — Quero muito que seja minha...
Mas quero também que entenda que ser minha implica em... — ele riu, antes
de completar: — Ser minha.
— Me dê um exemplo — pedi, querendo compreender onde estava me
enfiando. — Na prática, o que toda essa droga significa?
Relacionamentos?
Parecia mais um contrato de trabalho.
Em teoria, tudo aquilo parecia lindo como um arco-íris, mas sabia que
na prática podia ser bem diferente.
Por mais tosco que aquilo soasse, fez com que eu me lembrasse de
Daniela. Uma mulher absurdamente linda e muito confiante. E, ainda assim,
era alguém que havia se sujeitado a dividi-lo com outras duas — três, se
considerássemos as vezes em que fiquei com ele.
Pensando por esse lado, talvez realmente não fosse desespero, talvez o
desgraçado fizesse aquilo valer a pena para todas elas.
Alexandre sorriu.
— Eu...
Só nós dois.
Juntos.
Sem mais três garotas no meio, aquela proposta melhorou muito. E
sabia que não era tão simples assim pra ele abandonar garotas com quem ele
estava acostumado a sair, com quem já havia criado um vínculo.
Pensei em lhe dizer “preciso pensar”, mas o fato era que eu não
precisava.
Dinastia King
Dinastia King é uma série de livros únicos e cada livro narra a história
de um casal.
LIVROS DA SÉRIE
Uma Babá Para James King (Livro 01)
LIVROS DA TRILOGIA
LIVROS DA TRILOGIA
*Livro único*
Sinopse: O plano era muito simples, tudo o que Gabriele Novais
deveria fazer era se dedicar ao seu trabalho na Revista Global e nunca, em
hipótese alguma, colocar um homem como a prioridade de sua vida — assim
como a sua mãe cansou de fazer no passado.
No entanto, esse seu plano caí por terra no momento em que o seu
supervisor revela que a diretoria — leia-se o dono machista da revista —
nunca daria a ela o cargo de “editora chefe”, a posição que Gabriele
sempre almejou, simplesmente por ela ser uma mulher... Uma mulher
solteira.
Com a ajuda de seu melhor amigo gay — que sempre fingiu ser o
namorado dela —, Gabriele decide contratar um acompanhante de luxo para
fingir ser o seu noivo e, desta forma, provar a todos que ela é a mais
capacitada para o cargo.
Em um jogo de prazer e sedução, ela se encontra completamente
encantada por esse misterioso cafajeste.
O homem perfeito tem um preço.
Você está disposta a pagar por ele?
Embarque nesse romance erótico e envolvente, que tem tudo para te
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