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PERIGOSAS

O que sobrou do meu


amor
Série: O que sobrou – Livro
1

Aline Pádua

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Copyright 2016 © Aline Pádua


1° edição – outubro 2016

Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo


todos os direitos reservados. Proibida qualquer forma de
reprodução da obra, sem autorização prévia e expressa da
autora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera


coincidência.

Ilustradora: Queen Designer


Revisão: Beka Assis
Diagramação: Aline Pádua

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Sumário
Agradecimentos
Sinopse
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Bônus
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14

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Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
O que sobrou do nosso amor
Anexo I
Outras obras
Contatos da autora

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Agradecimentos

Esse livro tem um grande significado para mim, principalmente


por ser uma pessoa que geralmente não termina algo que começa, e este
livro foi o primeiro que concluí, sendo um marco de minha realização
pessoal. Vê-lo agora em sua mais nova forma, baseado na mesma trama
original, só que ainda mais elaborado, faz-me sentir orgulhosa de cada
linha escrita.
Quero começar agradecendo a Deus por todas as bênçãos que tem
me proporcionado, pela força no dia a dia, por ter como sempre me
auxiliado nos momentos que pensei em desistir, e me impulsionado nos
momentos de grande vontade. Agradeço a minha família, por desde o
primeiro momento em que citei este livro, terem me apoiado
completamente. Ao meu namorado, a primeira pessoa a saber que concluí
essa obra, por ter toda paciência e me dar todo o apoio. A Manuele Cruz,
que foi mais que uma grande amiga desde que leu pela primeira vez este
romance, por ser sincera, argumentativa, verdadeira... Por ter me ajudado
com todas as dúvidas e imensas mudanças, sem sequer pensar duas vezes.
A Aline Lima, por sempre ouvir tudo que tenho a dizer, e não importa o
horário, estar me ajudando.
E como sempre, para as pessoas as quais não conheço realmente,
mas que estarão para sempre em meu coração: meus leitores. Desde o
primeiro voto até o último capítulo da trama, vocês foram excepcionais.
Não tenho palavras para descrever o quão grata sou por todo suporte que

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dão. Sem vocês, nada disso estaria acontecendo.

E por isso muito obrigada!

Aline Pádua

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Sinopse
O casamento dos sonhos com o homem dos sonhos é tudo o que
uma mulher perdidamente apaixonada pode querer, não? Melissa
Lourenzinni põe isso à prova.
Após anos apaixonada por um cara mais velho e melhor amigo do
seu irmão, não via mais como ser notada por Levi. Porém, na noite de seu
aniversário de dezesseis anos, uma pitada de ousadia acompanhada de
uma boa dose de álcool, mais uma avalanche de ciúmes, acaba por mudar
o rumo de suas vidas.
Uma gravidez inesperada uniu o casal, ou melhor, separou-os.
Apesar de dez anos de casados, Levi nunca demonstrou qualquer
sentimento por Melissa. Desacreditando no amor, Melissa está mais do
que decidida: está na hora de terem uma conversa. Porém, novamente, o
destino acaba brincando com os dois.
Um casamento
Uma traição
O que sobrará desse amor?

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Playlist

Take a bow – Rihanna


Thinking of you – Katy Perry
All of me – John Legend
I’m not the only one – Sam Smith
Apenas mais uma de amor – Lulu Santos
Fifteen – Taylor Swift
Unfaithful – Rihanna
Let it go – James Bay
Fifteen – Taylor Swift

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Prólogo

Melissa

Em frente ao espelho, prendo para o lado meus


cabelos encaracolados, deixando meu ombro à mostra. O
vestido branco que mamãe me ajudou a escolher tem o
caimento perfeito em meu corpo, e ressalta ainda mais minha
pele negra. Sem querer chamar tanta atenção, mesmo sendo a
festa de comemoração de meus dezesseis anos, optei por uma
maquiagem mais leve.
Como nunca havia gostado de ser o centro das
atenções, acabei cedendo ao pedido de meu irmão mais velho,
e a comemoração de seus 21 anos será junto a minha. Tenho
certeza que ele será o destaque da festa, e agradeço
imensamente por isso.
A princípio recusei sua proposta, mas ao saber que
Levi, seu melhor amigo, viria, acabei por concordar. Mesmo
não querendo, Levi sempre foi meu ponto fraco; e para vê-lo,
abri mão da minha tão sonhada viagem para o sul do país. Eu
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poderia viajar em outra data, e já fazia tanto tempo que eu não


o via, que queria pelo menos em uma noite ser a dona de seus
olhos verdes.
Ele nunca foi apenas o melhor amigo do meu irmão,
pelo contrário, sempre senti algo a mais por ele. Não
chegamos a ter nenhum tipo de ligação, nem mesmo de
amigos, mas mesmo assim meu coração batia mais forte
quando eu o via. E isso já se estendia por quatro anos. Só
posso torcer para que hoje à noite ele me olhe, para que assim
possa lutar pelo o amor que sinto.
— Perdida em pensamentos? — mamãe pergunta ao
entrar no quarto, e eu confirmo com a cabeça.
Ela então passa um colocar lindo e delicado pelo meu
pescoço, e sorrio emocionada. É o colar que ela ganhou de
meu falecido avô, quando ainda era criança.
— Obrigada, mamãe. — eu a agradeço com um
abraço, e logo vejo lágrimas em seu rosto.
Mamãe veste um tomara que caia de cor azul clara que
destaca sua pele clara, cabelos loiros e olhos azuis. Não
tínhamos muito em comum, pelo menos não fisicamente.
Minha maior semelhança, com toda a certeza, é com as
características físicas de meu pai. Os dois formam o casal

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mais lindo que já vi, e mesmo depois de todos os anos


casados, apenas via amor nos olhares direcionados de um ao
outro. Para mim, eles são a prova viva de que amor
verdadeiro existe, e que pode sim ultrapassar todos os
obstáculos. Um sorriso se abre em meu rosto ao me lembrar
da história deles.
— Qual o motivo da minha princesinha sorrir tão
genuinamente? — mamãe pergunta emocionada.
— Estava apenas me recordando de sua história com
papai. — respondo sorrindo. Ela me abraça novamente com
força e apenas consigo me aconchegar em seus braços. Me
sinto segura neles. — Um dia quero ter a sorte de um amor
tão forte quanto o de vocês. — digo, e apenas consigo
imaginar olhos verdes me olhando profundamente.
— Tenha a certeza que terá. — diz sorridente. — Não
acredito que você cresceu tão rápido. Minha princesinha já
está completando dezesseis anos.
Tento me controlar, mas lágrimas escorrem e mamãe
também perde o controle. Por fim, somos duas choronas que
quase destroem a própria maquiagem.
— Ele veio? — pergunto e mamãe assente. Ela sabe
sobre meus sentimentos por Levi, e mesmo não gostando

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muito disso, sempre me ajudou como pode.


— Você está linda, Mel. Se ele não te notar, será
porque não é mesmo para ser seu. — diz e passa a mão de
leve pelo meu rosto. — Você merece o melhor!
— Obrigada, mamãe. — Eu a abraço novamente. —
Obrigada por tudo.
— Vamos, princesa; senão seu pai é capaz de invadir
o quarto a qualquer momento e te arrastar para sua própria
festa. — brinca e eu sorrio. Sei bem como Matheus
Lourenzinni é, e não demoraria muito para que ele derrubasse
a porta do quarto.
Mamãe me ajuda a retocar a maquiagem enquanto
descemos as escadas em direção ao salão de festas. O local
que meu irmão escolheu não é nada menos do que um prédio
em frente à praia. Sabia que seria assim, Daniel sempre amou
o luxo, e poder convidar todos os seus amigos, em sua
maioria ricos, segundo ele, merece tal extravagância. Para
mim, tanto o salão de festas quanto os telões espalhados com
nossos nomes neles, são itens totalmente desnecessários.
Mal conheço as pessoas que passam por mim e me
parabenizam. Fico com um sorriso no rosto enquanto ando
pela festa e busco ao menos um dos meus colegas de colégio

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aqui, porém acabo por não encontrar quase ninguém em meio


ao mar de universitários presente.
As cores e luzes fortes não combinam em nada com
minha personalidade, e me sinto um peixe fora d'água; mas a
esperança de encontrar Levi me faz continuar sorrindo e
perambulando pela festa.
— Minha gatinha está perdida? — meu irmão
pergunta, me abraçando, e eu sorrio em sua direção.
— Só não sei o porquê desse exagero todo, Dani! —
sussurro em seu ouvido, e ele me olha com falsa indignação.
— Precisa se divertir, gatinha. — Ele enlaça minha
cintura enquanto me leva até o grande palco onde uma banda
toca. — Claro que sem álcool, e principalmente, sem garotos.
— Não comece com seu ciúme, por favor. — digo já
irritada, e ele beija de leve minha bochecha.
— Sabe que apenas quero te proteger. — Ele me
abraça ternamente — Te amo, gatinha!
— Também te amo, Dani.
Subimos os degraus até o palco e logo a música para.
Pensei em perguntar sobre Levi para meu irmão, mas previ
não ser uma boa hora. E como imaginei, era a hora do tão
esperado “parabéns pra você”.
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Enquanto todos os que estão aqui cantam e batem


palmas, sorrio aconchegada nos braços de meu irmão.
Logo que se encerram as felicitações, mesmo sob o
olhar matador de Dani, pego uma taça de champanhe que o
garçom serve, e experimento meu primeiro gole de álcool.
Desço as escadas devagar, e logo vejo que minha taça
está vazia. Como não senti efeito algum sobre mim, e pela
bebida ser de fato boa, acabo tomando mais umas e outras
sucessivamente. Uma, duas, três... E em meio as borbulhas de
champanhe em minha língua, avisto em meio à multidão o
que tanto busco.
Ele não está em meio a pista de dança como imaginei,
mas em um canto mais recluso, onde meu irmão também se
encontra. Tento fazer minhas pernas se moverem para mais
perto, mas é como se estivessem presas ao solo. Apenas
consigo ficar parada, olhando-o de longe.
Levi é de fato um homem que não passa despercebido
a ninguém. Os cabelos negros parecem ainda mais rebeldes
que antes, o bronzeado de sua pele é ressaltado pela camisa
vermelha, já quase aberta, que usa... E como se sentisse minha
análise, os olhos verdes por quem sou completamente
apaixonada se encontram com o castanho dos meus.

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Sorrio em sua direção, já sem saber o que fazer. Ele


me olha por alguns segundos e não esboça nenhuma reação.
Ao contrário do que imaginei, ele simplesmente vira o rosto e
puxa pela cintura uma loira que estava ao seu lado, e agora
está sentada em seu colo. Sem ao menos me lançar um
sorriso, vejo seus lábios encontrarem os dela em uma fração
de segundos. O que ele está fazendo?
Viro-me em direção contrária e caminho até o
segundo andar do salão. Não quero continuar vendo aquela
cena, e não sei ao certo quanto tempo ela ainda irá me
atormentar.
— Ei. — Alguém chama e ignoro. — Ei, candy!
— Oi, Pedro. — digo sem jeito, parando no mesmo
instante.
— Fugindo de sua própria festa? — brinca.
— Algo assim. — respondo, forçando um sorriso.
— Conheço algo que pode melhorar seu humor na sua
noite.
— O que? — pergunto sem esperanças.
— Vem! — Ele me estende a mão e eu a seguro.
Pedro é um grande amigo do colégio, sempre saímos
juntos e comemos em vários lugares diferentes. Ele sempre
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gostou de experimentar coisas novas, saber sobre os novos


empreendimentos na culinária. Não que ele fosse um mestre
cuca, pelo contrário, mas mesmo sendo tão novo, ele já tem
uma grande noção de como reger um lugar. E seu maior
sonho é ser dono do Chandel, nosso restaurante favorito no
momento.
— Preparada? — pergunta assim que chegamos
próximos a uma rodinha de pessoas que gritam.
— Vamos beber? — pergunto, e ele me estende um
pequeno copo, sorrindo em minha direção.
— Confie em mim. — Serve o que me explicou que se
chama dose.
— Arriba, abajo, al centro, a dentro. — Eu o olho
sem entender nada e ele gargalha. — Faça como eu.
Repito tudo o que ele diz, e também os movimentos
com o pequeno copo. Assim que o líquido desce por minha
garganta, eu o sinto queimar.
— E então? — Pedro pergunta alto, fazendo sua voz
sobrepor a música. — Champanhe ou tequila?
— Isso se chama tequila? — pergunto.
— A melhor bebida que já tomei. — diz, virando mais
uma dose.
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— Tequila. — finalmente respondo e ele sorri.


Logo me serve mais, e continuamos alguns minutos
ali, bebendo.
De repente a música para, e a voz de meu irmão se faz
presente:
— Boa noite a todos! Eu gostaria apenas de oferecer
essa música para minha gatinha. Mel, é pra você!
Fico sem entender sua dedicação por alguns segundos,
mas assim que Whisky a Go Go, do Roupa Nova começa a
tocar, entendo completamente. Dani sabe como sou louca sou
por essa música, e sem pensar duas vezes, puxo Pedro em
direção a pista de dança.
Envoltos a música, logo sinto o aperto de Pedro em
minha cintura aumentar, e sua respiração próxima a meu
rosto. Eu nunca havia beijado ninguém, pois queria entregar
meu primeiro beijo a Levi; mas nesse momento decido me
permitir. Já que Levi claramente não se importa comigo, é
melhor fingir que não me importo também. Pelo menos
durante alguns segundos.
Fecho os olhos e espero a sensação dos lábios de
Pedro nos meus, porém logo sinto meus braços queimarem
por um aperto forte, e meu corpo é praticamente arrastado

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dali.
Daniel geralmente tem essas crises de ciúmes, mas
estranho fato de estar sendo puxada com tanta força. Em meio
as luzes que piscam, a escuridão para onde ele está me
levando, além do efeito da bebida em meu organismo, demoro
para raciocinar direito. Quando finalmente paramos, olhos
verdes me encaram furiosos. Abro a boca para xingá-lo,
porém apenas sinto seus lábios cobrindo os meus.
Sinto o gosto forte de bebida em sua língua, e mesmo
sem saber ao certo o que fazer, me envolvo em seu beijo e me
entrego a ele. Meu corpo queima pelo seu toque, e logo sinto-
me sendo levantada até encaixar em sua cintura.
— Não podemos. — Levi diz assim que se afasta. Não
sei ao certo se ele fala para mim ou para si mesmo.
— Sabe que sim. — digo e mordo seu queixo com
leveza.
Não faço a mínima ideia do que estou fazendo, mas
cubro sua boca com a minha, e ele me beija novamente com
ardor.
— Vem comigo? — Seus olhos verdes me analisam, e
sorrio ao notar o quanto ele também parece me querer.
Sem conseguir responder devido ao nervosismo que
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me cerca, dou-lhe um selinho, que ele entende como resposta.


Aos beijos, eu o sigo por uma escada que nem sabia que
existia neste o prédio, e logo entramos em um quarto escuro.
— Sei que é só uma menina, mas eu não posso me
controlar. Não mais! — diz em um sussurro, enquanto
distribui beijos pelo meu pescoço.
— Posso ser sua menina. — digo e sinto seu sorriso
em minha pele.
— Só minha.
Aos poucos sinto minhas veias pulsarem mais
fortemente, e além de meu coração, entrego meu corpo a ele.
Não podia ser mais perfeito e tampouco com outra pessoa.
Mesmo sabendo que é imprudente me entregar a ele dessa
forma, eu simplesmente o quero, assim como ele. Por ora,
isso era o suficiente.

***

Sinto minha visão nublada pelas lágrimas que rolam


por meu rosto, e não consigo distinguir ao certo se são de fato
duas listrinhas roxas que aparecem no teste. Respiro fundo

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uma, duas, três vezes, e assim consigo focar minha visão. É


real, eu realmente estou grávida.
Encolhida no canto do banheiro do meu quarto, choro
compulsivamente. Choro por ter me entregue tão facilmente
ao homem por quem, infelizmente, ainda sou apaixonada... e
que simplesmente foi embora sem dizer mais nada logo
depois que lhe entreguei minha virgindade. Choro por ter
apenas dezesseis anos, e não ter me prevenido como deveria
depois de nossa noite. Choro por já amar o pequeno ser dentro
de mim, e não saber como serei a mãe que ele ou ela merece.
Ao olhar meu reflexo no espelho, os olhos inchados
pelo choro, a face vermelha e com resquícios de lágrimas, vi
uma imagem totalmente diferente da que tive de mim mesma
há cerca de dois meses em meu aniversário. Mas eu não posso
me esconder para sempre aqui, e tenho que encontrar alguma
forma de contar tudo a minha família. E pior, tenho que
contar para Levi.
Horas depois, tomo a coragem necessária e desço as
escadas em busca de mamãe. Eu havia esperado papai e
Daniel saírem para cavalgar, para assim contar primeiramente
a ela. Talvez ela me ajudasse a contar a eles, e soubesse me
auxiliar no que fazer.

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Como se sentisse minha presença do outro lado do


balcão da cozinha, ela se vira em minha direção, e o sorriso
que ostenta morre no mesmo instante.
— O que houve, Mel? Andou chorando? — pergunta
preocupada, e logo se aproxima de mim.
— Eu... — Não consigo dizer mais nada, e meu choro
volta com força total.
— Está tudo bem, meu amor. — mamãe me abraça
com carinho. — Me diz, o que houve?
— Estou... — Eu me afasto um pouco de seu aperto, e
ela me encara claramente angustiada. — Estou grávida,
mamãe!
— O que? — O grito de Daniel invade o ambiente, e
mamãe me puxa novamente para seus braços. — O que disse,
Melissa?
— Daniel! — mamãe o repreende.
— Me diga que isso é uma brincadeira de mau gosto.
— fala, claramente transtornado, e eu nego com a cabeça.
Papai chega a cozinha, e nos olha sem entender nada.
— O que houve aqui? — pergunta.
— Sua filha de dezesseis anos acaba de dizer que está

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grávida. — Daniel explode, e solta uma risada gélida.


— Mel. — papai me chama com calma — Isso é
verdade? — pergunta, e eu assinto, chorando.
Pensei que papai gritaria comigo, ou até mesmo se
afastaria, porém ele simplesmente me abraça com força.
— Quem é o pai? — Daniel pergunta se aproximando,
e sinto apenas medo do olhar que ele direciona para mim. Sei
que ele está decepcionado, e isso me quebra ao meio.
— Levi. — respondo em um sussurro, e Daniel pega a
primeira coisa que vê e joga na parede.
— Daniel! — papai chama sua atenção, e ele leva as
mãos aos cabelos, transtornado.
Com cuidado Daniel se aproxima de mim, e beija
minha testa. Sei bem o que ele quer dizer com isso, é algo que
sempre fez. É um dos nossos gestos secretos, e esse significa
claramente proteção.
Ele sai pela porta sem dizer mais nada, enquanto
choro nos braços de meu pai, que apenas se mostra cuidadoso
neste momento. Meu medo agora não é mais contar a Levi,
pois tenho certeza que meu irmão foi ao seu encontro. Meu
maior medo é o que virá, o que iremos fazer a partir de agora.

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Capítulo 1

Melissa

Dez anos depois

Acordo com o despertador berrando um sonoro bom


dia às sete da manhã. Olho para o outro lado da cama, e ela
está fria e vazia como sempre; o que comprova que mais uma
vez ele dormiu fora de casa. Respiro fundo e encaro a aliança
simples em meu dedo anelar esquerdo. Hoje completamos
uma década de casados, mas assim como todos os outros
aniversários, duvido que ele se lembre.
O pedido de casamento que sucedeu a sua descoberta
sobre minha gravidez, com toda certeza me pegou
desprevenida. Mas eu não tinha mais para onde correr, e não
permitiria que meu bebê crescesse sem um pai por minha
culpa. Hoje, olhando para trás, vejo que meu maior erro foi
não ter considerado o simples fato de que para Levi agir como
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pai, não precisaríamos nos casar. Mas ele cometeu o erro de


me propor, e eu cometi um pior ao aceitá-lo.
Nesses dez anos, tudo o que ele fez foi me ignorar, e
nunca esqueceu de deixar bem claro que sou um estorvo em
sua vida. Sempre tento me manter calma, e respiro fundo
todas as vezes para simplesmente não meter a mão em sua
cara e ir embora de uma vez dessa mansão ridiculamente
cheia de luxo, porém vazia de amor.
Por que não fiz isso ainda? Porque Levi é um homem
esperto, e arquitetou tudo da forma mais fria. Ele fez com que
assinasse documentos no dia do casamento, sem que eu
soubesse ao certo do que se tratava; além de fazer com que
meus pais não tivessem acesso a certos papéis, mostrando a
eles apenas o que era de fato do casamento. Estava tão alheia
a tudo naquele dia, que pouco fiz questão de ler o papel, e
simplesmente confiei nele. O que foi outro erro.
Um dos documentos assegura a Levi a guarda total de
nossa filha, Laura, caso o pedido de divórcio seja feito por
mim. Nunca fiz questão de saber o porquê dele ter me feito
assinar isso, pois não muda o fato de tudo o que me fez
passar. Além do pior dos porquês, que mesmo negando a mim
mesmo todos os dias, ele continua sendo o homem que amo.

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E no fundo, tenho alguma esperança de nos tornarmos uma


família.
Vou até o banheiro e resolvo tomar uma ducha rápida
e bem quente para começar o dia. Eu não tenho muitos
afazeres, meus dias são praticamente livres quando Laura vai
para o colégio. Tudo pelo simples fato de mais um documento
que assinei (novamente sem meu real consentimento) deixar
claro que ao me tornar a Senhora Gutterman, eu não poderia
ir para faculdade, e muito menos trabalhar. Devia ser a lady
que todo grande empresário como Levi necessita ao seu lado.
Na verdade, eu odeio tudo isso. Odeio ter que ir a cada
festa anual da empresa, ou qualquer outra comemoração.
Odeio encarar mulheres inteligentes e espertas, que falam
sobre suas próprias conquistas, enquanto eu continuo presa a
um homem que não me dá escapatórias. Sinto falta todos os
dias da fazenda onde cresci, de meus pais, de meu irmão...
Dos amigos do colégio que há anos não tenho contato, mas
que gostaria tanto de rever.
Desligo o chuveiro e enrolo-me no roupão de banho.
Encaro meu celular e noto que já está na hora de acordar
Laura, pois logo começariam suas aulas. Coloco um simples
vestido, e arrumo a cama praticamente intocada. Permito uma

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lágrima cair, pois dói muito estar nesta situação com ele. Dói
demais ver o desprezo em seus olhos quando estamos
sozinhos.
— Seu irmão está voltando hoje. — Levo as mãos ao
peito, assustada, e limpo rapidamente a lágrima em meu rosto.
— Você só pode estar querendo me matar. — Respiro
fundo, me recuperando do susto, e levanto-me sem nem ao
menos encará-lo.
— Daniel disse que está te ligando há dias, mas que
não obteve resposta alguma. — diz, e eu olho para meu
celular, que não informa nenhuma chamada perdida.
— Acho que meu celular deve estar com problemas,
ou Daniel ligou errado. — informo, e finalmente nossos
olhares se cruzam.
Levi simplesmente dá de ombros e vai em direção ao
grande espelho ao lado do closet. Ele não dormiu aqui, mas
vejo que sua roupa não é a mesma de ontem. Ele veste um
terno azul escuro que modela perfeitamente seu corpo
musculoso e alto, os cabelos negros estão perfeitamente
alinhados. Ele, como sempre, briga com a gravata.
Eu me aproximo cautelosamente, e nossos olhares se
encontram através do reflexo do espelho.

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— Hoje é a festa da empresa? — pergunto, e ele


apenas assente.
Além de ter de acompanhá-lo, eu devo ao meu irmão
estar na comemoração de sua chegada. Mesmo com tudo o
que houve, Daniel acabou aceitando a contragosto meu
casamento, e seguiu em frente com a ideia de ser sócio de
Levi em uma empresa de telecomunicações. Os dois hoje são
nomes de destaque nesse ramo, e eu não poderia estar menos
orgulhosa.
Levi continua mais alguns segundos tentando fazer o
nó corretamente, mas novamente se frustra. Não entendo
como um homem tão inteligente como ele consegue se enrolar
com isso. E como sempre, sem dizer nada, apenas entro em
sua frente e começo a de ajeitar sua gravata. Em alguns
segundos faço no nó perfeito, e sorrio por ter realizado
novamente com sucesso.
Assim que termino, passo as mãos leve pelo seu terno
e deixo-o ainda mais impecável. Sinto aquela mesma conexão
de anos atrás ao tê-lo tão perto, assim como me senti em
nossa primeira noite juntos. Respiro fundo, vencida, e me
afasto dele, antes que me entregue novamente.
— Melissa. — Eu me viro em sua direção, e seus

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olhos não mentem o que de fato quer.


— O que foi, Levi? — pergunto, e ele dá passos em
minha direção.
Tento me mover, porém meus sentimentos conflitantes
não permitem, e apenas continuo parada no mesmo lugar.
Quando meu celular começa a tocar, agradeço mentalmente a
seja lá quem for por quebrar esse momento.
Faz muito tempo que eu não permito que me toque,
pois sempre me sinto vazia após o ato. Prometi a mim mesma
que apenas serei dele novamente quando sentir que ele me
ama, mas acho que isso nunca acontecerá.
Pego meu celular rapidamente e levo até meu ouvido.
— Ignore. — Levi diz em tom de ordem e eu o afasto
com as mãos, já atendendo a ligação.
— Gatinha! — Daniel grita do outro lado da linha, e
eu gargalho.
— Oi gatinho. — eu o respondo, e Levi bufa em
minha frente.
— Atrapalho algo? — pergunta, e eu nego, já saindo
do quarto.
— Estou indo acordar sua sobrinha favorita.

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— Espero que ela não esteja aprontando muito.


— Bom, ela tem o gênio de Levi. Sabe como é.
— Infelizmente. — concorda e eu sorrio. — Liguei
para te avisar sobre minha chegada há alguns dias, mas acho
que estava discando o número errado.
— Também acho.
— Mamãe me passou esse número, e bom, finalmente
consegui falar com você. — diz. — Preciso encontrar com
você, gatinha. — Sua voz fica séria de repente.
— Aconteceu algo com você e Júlia? — indago
preocupada, e ele apenas nega. — Então?
— Eu e Júlia não estamos juntos há um tempo, ou
melhor, nunca nem fomos namorados. Mas isso não vem ao
caso agora, é sobre outra coisa que preciso falar com você.
— Está me deixando preocupada, Dani. — afirmo,
nervosa.
— Não fique. Apenas guarde uma dança para mim
hoje à noite, ok?
— Claro. — respondo, e ele logo se despede.
Entro no quarto de Laura, ainda preocupada com as
palavras de meu irmão. Ele nunca foi de me esconder algo, e

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poucas vezes brigamos. Há algo errado, e temo pelo o que ele


dirá hoje à noite.
Abro as cortinas do quarto, e logo Laura geme
insatisfeita pela claridade.
— Hora de acordar, pequena. — Tiro o edredom de
seu rosto, e ela o puxa com força para cima. —Vamos, tem
aula hoje!
— Não, mãe! — responde brava, e fecha os olhos
outra vez.
Hora de brincar.
— Você quem pediu. — Eu a pego no colo e a levo
até o banheiro, ligo a ducha e a molho toda.
Ao contrário de seu mau humor inicial, Laura começa
a gargalhar e me puxa para baixo do chuveiro também. Esses
momentos ao lado dela que me fazem sentir um pouco menos
de arrependimento por ter me casado com Levi. Em meio as
brincadeiras, tiro sua roupa e começo a dar-lhe um banho.
— Está toda pingando. — ela diz e começa a
gargalhar.
Começo a lavar seus cabelos cacheados, e sorrio
sozinha ao ver o quão parecido com os meus eles são. Laura é
praticamente minha cópia, se não fossem os olhos verdes
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como os do pai. Escuto a porta do banheiro sendo aberta, e


Laura continua alheia, cantando uma de suas músicas
favoritas.
— Cadê a minha princesa? — Levi pergunta, e abre o
box em seguida.
Laura solto um gritinho, e logo puxa o seu pequeno
roupão pendurado. Ela se cobre rapidamente, e eu fico sem
entender o porquê de se esconder do pai.
— O que houve, princesa? — pergunta curioso.
Ele sempre é carinhoso e amoroso com ela, e acho que
por isso ela acredita tanto que nós dois vivemos um conto de
fadas. Devo admitir que atuamos bem perto dela. Laura o
encara furiosa, enquanto ajudo-a a arrumar o roupão no corpo.
— Pai, você não pode me ver no banho. — diz, e eu
encaro Levi, assustada com a afirmação. Ele olha para mim
buscando alguma explicação, e eu simplesmente dou de
ombros.
— Princesa, quem te disse isso? — Levi pergunta,
pegando-a no colo de surpresa, já a levando para o quarto.
— Tio Dani! Ele disse que nenhum menino pode ver
uma menina no banho. — ela diz, e eu apenas consigo rir da
cara de espanto de Levi.
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— Mas o papai não é qualquer menino, filha, ele pode.


— Levi tenta argumentar.
— Não deixa de ser menino, pai! Então não pode! —
ela reafirma enquanto faz sinal de negação com a cabeça.
Já vencido pelo cansaço da minidiscussão, Levi a
deixa em cima da cama, dando-lhe um beijo na testa, e logo
em seguida sai do quarto. Arrumo minha princesa e a deixo
pronta para a aula. Chamo Marta, minha fiel amiga e
empregada da casa, e ela leva Laura para tomar o café da
manhã.
Enquanto isso vou ao meu quarto para trocar a roupa
molhada. Encaro o grande espelho, e sorrio ao ver o estado
em que Laura conseguiu me deixar. Meu vestido branco de
verão está todo colado ao corpo, e meu cabelo cacheado está
todo bagunçado. Preciso tomar outro banho antes de descer.
Vou ao closet primeiro e resolvo por um jeans rasgado
e all star. Estou tão focada em achar minha bata cinza que
nem percebi sua aproximação. Quando me dei conta, Levi já
estava me puxando pelo braço de encontro ao seu corpo. Eu o
encaro assustada, e antes que eu possa empurrá-lo para longe,
ele toma seus lábios nos meus. Nós não somos o típico casal
de conto de fadas, porém não posso dizer que não há química

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em nós. Há, e é explosiva. Porém quando suas mãos apertam


com força minha cintura, percebo a besteira que estou me
permitindo. Não irei ceder mais, não agora.
— Levi. — eu o chamo.
— O que? — pergunta, distribuindo beijos quentes em
meu pescoço.
— Não. — digo e ele parece fingir não ouvir. Então
tomo coragem e o empurro com força.
Ele me olha sem entender, e apenas saio em direção ao
banheiro. Eu me tranco e deixo as lágrimas descerem. Espero
alguma batida na porta ou algo, mas nada acontece. Como eu
já suspeitava, realmente não faço diferença alguma para ele.

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Capítulo 2

Melissa

Depois de mais um banho rápido, desço para comer.


Adentrando a sala de jantar, encontro Laura conversando
animadamente com Marta. Olho ao redor e noto que Levi
ainda não desceu, ou talvez já tenha saído. Torço para que a
segunda opção seja a real.
— Mãe.
— O que foi, princesa? — pergunto e sento-me ao seu
lado.
— Meu aniversário de dez anos está longe ainda, mas
eu já queria... — ela deixa a frase morrer no ar, e a encaro
sem entender.
— Diga. Qual o presente que quer? — indago e seus
olhinhos brilham. Sei bem que ela quer algo quando fala com
essa voz mansa.
— Um celular. — sussurra sem jeito.
— O que? — pergunto, fingindo não entender.
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— Mãe, eu quero um... — gagueja um pouco, e eu


sorrio de seu embaraço.
— Laura. — chamo sua atenção. — Se não disser o
que quer, não posso adivinhar. Talvez queira uma boneca
grande, ou melhor, uma barbie, que tal?
— Não. Eu quero um celular. — pede finalmente em
alto e bom som.
Acaricio de leve seus cabelos e ela me olha
esperançosa. Ela já havia pedido um celular no ano passado,
mas Levi acabou seduzindo-a com uma viagem. Esse ano
tenho certeza que não haverá escapatória. E também não vejo
mal algum dela ter um aparelho, desde que o use nos horários
combinados.
— Princesa, então...
— Já conversamos sobre isso, Laura. — A voz de
Levi me corta e eu o olho com fúria. Eu odeio quando ele me
interrompe em frente à nossa filha. — É muito nova para isso.
— Mas papai, o Rafa ganhou um celular do tio Ric no
ano passado, e ele tem a mesma idade que vou completar. —
ela insiste e Levi se senta calmamente a mesa, sem sequer
olhar para nós.
— Não vou entrar nesse assunto de novo, Laura. Se
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quiser, podemos ir a Disney outra vez, e...


— Papai, eu quero um celular. — ela o corta, já
segurando o choro. Respiro fundo, segurando de leve seu
braço.
— Laura. — ele a repreende duramente.
— Por que? — ela pergunta.
— Porque eu disse não. — responde sem a olhar.
Laura levanta da mesa de repente e se vira para sair.
— Filha. — eu a chamo e Laura simplesmente ignora,
indo em direção a sala de estar.
— Sua mãe está falando com você, Laura! — Levi
chama sua atenção, e Laura para no mesmo instante.
— Eu odeio você. — diz se virando para ele, e corre
em direção as escadas.
Levi e eu levantamos no mesmo momento, e antes que
ele vá até ela, coloco-me a sua frente.
— Deixa... eu falo com ela. — peço, e ele me olha
mais furioso ainda.
— Você ouviu o que ela disse? — pergunta dando
passos para trás e passando as mãos nervosamente pelos
cabelos. — Ela disse que me odeia por causa de um maldito

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celular! — exclama nervoso.


— Levi. — eu o chamo, e ele simplesmente ignora. —
Se acalme, assim não vai resolver nada.
— É tudo sua culpa! — grita se virando para mim, e
eu o olho sem entender. — Se não me contrariasse e não
cumprisse todas as vontades dela, eu não seria o vilão dessa
merda toda.
— Você enlouqueceu? — grito de volta.
— Só posso ter enlouquecido mesmo. — afirma
friamente. — Para ter pedido uma criança como você em
casamento, só podia estar fora da minha sanidade. — Suas
palavras me atingem em cheio.
Com as mãos trêmulas, seguro no encosto de uma das
cadeiras, e logo os nós de meus dedos ficam brancos. A força
física que faço é para que não demonstre o quão fraca sou por
ainda deixar que suas palavras duras me atinjam.
— Então por que ainda insiste nesse casamento? —
pergunto em um tom baixo.
Silêncio é o que obtenho como resposta. Sempre é
assim. Ele despeja mil maldições em cima de mim, e quando
falo sobre acabar nosso casamento, ele simplesmente se cala.
Mas a preocupação com Laura é maior do que mais uma briga
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sem fim com ele, então simplesmente saio dali.


Encontro Laura sentada em sua cama, e noto que há
uma folha em suas mãos.
— Princesa. — chamo baixinho, e seus olhinhos
verdes me encaram com pesar.
— Eu não queria ter dito aquilo, mãe. — confessa, e
lágrimas descem por sua face.
Sento-me ao seu lado e a abraço com força. Laura
nunca foi de explodir facilmente, sequer responde a mim e
Levi; e por isso, nos surpreendeu tanto o modo como falou
com o pai.
— Papai me odeia agora, não é? — pergunta, e eu
sorrio.
— Ele jamais faria isso. — digo, e ela me olha
incrédula. — Seu pai só está nervoso, Laura... sabe como ele
é.
— Eu sei. — sussurra e pega novamente o papel em
mãos.
— O que é isso? — pergunto, curiosa.
— Uma foto. — diz e me entrega a folha.
Olho para a imagem ali impressa e fico perplexa. É

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uma das poucas fotos que tenho com Levi, onde estou com a
barriga de grávida já bem evidente, e sorrimos um para o
outro. Foi em um dos poucos dias em que ele me fez sorrir
verdadeiramente, e se não fosse Daniel ter tirado essa foto,
acho que nunca mais me lembraria disso.
— Quem te deu essa foto? — pergunto.
Passos nos chamam atenção e olhamos ao mesmo
tempo em direção a porta. Penso que Levi irá entrar aqui e
falar com a filha, assim como sempre faz quando há
desentendimentos, mas simplesmente o vemos passar reto.
— Não se preocupe, princesa. — ela me encara triste.
— Vou falar com seu pai, tudo bem? Já volto para te levar a
escola.
Saio do quarto de Laura, e logo vejo no fim do
corredor que a porta do escritório de Levi está entreaberta.
Bato de leve na porta de madeira.
— Entre. — ele diz.
— Laura acha que você a odeia. — digo ao entrar, e
ele me encara sem jeito. — Sei que não quer dar um celular a
ela por medo de que ela faça algo errado e tudo mais. Mas
sabe como nossa filha é, Levi. Laura nunca nos deu trabalho
algum, e tenho certeza de que merece um voto de confiança.

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— Não preciso que me diga o que fazer sobre minha


própria filha. — afirma raivoso, e fico sem palavras.
— Nossa filha. — corrijo-o. — Ou esqueceu que fui
eu quem a carreguei durante nove meses?
— Que seja. — diz e folheia algum dos papéis
espalhados pela mesa.
— Ok. — digo já vencida. — Aturo você há dez anos,
Levi, tudo porque me fez assinar aqueles malditos papéis. —
Ele me encara boquiaberto. — Pode não se importar comigo e
muito menos sentir algo por mim, mas não trate sua própria
filha com indiferença. Ela não é culpada por seu mau humor,
e muito menos por nossa infelicidade.
Saio do escritório sem olhar para trás e pego Laura em
seu quarto. Durante o caminho até o colégio, consigo acalmá-
la um pouco, e deixo claro que logo Levi falará com ela.
Nem que eu tenha que obrigá-lo.
Assim que descemos do carro, esbarramos de cara
com seu primo Rafael, e a cunhada de Levi, Carla.
— Como vai, Mel? — Carla pergunta e me abraça
rapidamente.
— Bem, como a vida manda. — respondo e ela sorri.
— Hoje é a festa em homenagem ao seu irmão, não é?
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— indaga e eu assinto. — Então, há dias que Rafael me pede


para levá-lo à sua casa. Sei que geralmente Laura fica com
seus pais, mas se quiser, Ricardo e eu ficaríamos muito felizes
por ela dormir em nossa casa.
— Jura? — pergunto surpresa.
— Claro. Assim Rafael e ela poderão brincar, e seus
pais ficam livres para prestigiar seu irmão.
— Por mim não há problema algum. Depende apenas
dessa moleca aqui do lado. — digo olhando para Laura e
Rafael que conversam animadamente olhando algo no celular
dele.
— Lau. — Carla a chama. — Que tal dormir lá em
casa hoje?
— Eu posso, mãe? — Assinto. — Mas meu pai, será
que deixa? — pergunta preocupada.
— Já falei com ele, princesa. — minto. — Se quiser ir,
basta aceitar o convite de sua tia.
— Então eu quero. — diz animada, e eu vou até ela,
dando sua mochila.
— Depois da aula nós iremos para casa e faremos uma
pequena bolsa para você passar a noite nos seus tios, ok?
— Ok, mamãe. — Beija de leve minha bochecha e
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corre para dentro dos portões.


— Se comporte, filho. — Carla pede a Rafael, e ele
simplesmente sai andando. Ao contrário de Laura, Rafael
nunca foi uma criança fácil.
— Bom, eu tenho que ir, pois ainda tenho que revisar
todos os quadros antes da exposição na galeria. — diz se
despedindo, e também sigo meu caminho.
Sentada em meu carro, disco várias vezes o número de
Levi para avisar-lhe sobre onde deixaremos Laura hoje,
porém não obtenho resposta. Eu tenho autoridade como mãe
de escolher onde minha filha pode ficar, ainda mais por ser na
casa do irmão dele; porém sei o quão cauteloso Levi é com a
segurança de nossa filha, então nada melhor do que lhe avisar
sobre isso.
Sua chamada está encaminhada para a caixa-postal.
Deixe um recado após o sinal.
Desligo novamente o telefone e decido ir avisá-lo
pessoalmente. O caminho até a empresa leva cerca de meia
hora, e torço para que Levi não esteja em nenhuma reunião
quando eu chegar. Mas como meu dia novamente será livre,
totalmente tedioso, não custa muito esperar alguns minutos.
Ao estacionar o carro à frente do enorme prédio fico

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bestificada com a modernidade do local. Há quanto tempo


não venho aqui? Três, cinco, oito meses? Tenho certeza de
que modificaram muita coisa na fachada, pois apenas o L&G
destacado em letras grandes e cinzas que permanece o
mesmo.
Vou em direção a enorme recepção no primeiro
saguão e sorrio ao perceber que ainda é a mesma
recepcionista que trabalha aqui. Daniel havia me dito que
sempre têm problemas nesse cargo, porém acho que ele se
enganou. Talvez por estar morando fora há tanto tempo tenha
se confundido com as informações que são passadas.
— Bom dia, senhora Gutterman. — ela me
cumprimenta.
— Pode me chamar de Melissa. Confesso que estou
um pouco perdida por aqui, algumas coisas mudaram. —
Sorrio sem jeito. — Quero encontrar o elevador privativo, por
favor.
— Ah sim, claro. — Ela chama um homem, que logo
se apresenta como segurança. — Jorge irá levá-la até lá.
Tenha um bom dia, senhora... quer dizer, Melissa.
— Obrigada... — Olho em seu crachá. — Obrigada,
Sophie. Um bom dia para você também.

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O grande segurança me leva em direção ao elevador e


nem me dirige uma palavra. Vejo que ele tenta fazer contato
com alguém, mas parece que algo não está certo, pois sua cara
de mau apenas piora.
— Algum problema? — pergunto curiosa.
— Nada com que tenha que se preocupar, senhora
Gutterman. — responde educadamente.
— Obrigada pela ajuda. — Agradeço quando ouço o
sinal do elevador, que finalmente chega ao décimo sexto
andar.
Saio do elevador, e logo de cara estranho o repleto
silêncio do ambiente. Sempre pensei que o telefone da
secretária de Levi não parasse de tocar, ainda mais na manhã
de uma segunda-feira.
O ambiente é clean, e muito bem decorado. Há uma
mesa grande de vidro que tem uma simples plaquinha chumbo
escrito o nome de sua secretária. Vejo que os papéis em cima
da mesa estão praticamente intocados e penso que talvez ela
tenha ido ao banheiro. Mas tem algo estranho aqui.
De repente o silêncio ensurdecedor se desfaz com o
som de algo caindo no chão. Assusto-me na mesma hora, mas
me recomponho ao ouvir a voz de Levi vindo de dentro da

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sala posicionada em frente à mesa da secretária.


— Cuidado. — Sua voz parece mais grossa que o
normal, e dou um pulo ao ouvir um grito feminino vindo do
mesmo local.
Mas o que?
— Mais! — Ouço uma voz feminina gritar, e minhas
mãos trêmulas seguram a maçaneta da porta da sala. — Isso,
Levi!
Lágrimas já descem pelo meu rosto e seguro os
soluços que querem sair. Não pode ser o que estou pensando.
O barulho de algo se chocando com força contra a
parede faz com que meu coração falhe uma batida. Não, Levi,
você não faria isso comigo.
Sem conseguir mais me conter, abro a porta de uma
vez, e estaco com o que vejo.
O homem que amo está com as calças nos joelhos e
tem o corpo de uma mulher loira sobre a mesa. O corpo o
qual ele parece venerar. Meu marido me trai em plena luz do
dia, em cima da mesa do trabalho.
— Isso. — ele grunhe sem ainda perceber minha
presença, e deixo sem querer um soluço escapar.
Os olhos verdes que tanto sonhei caem sobre mim,
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sem acreditar. A loira me olha sobre seu ombro e abre um


sorriso satisfeito. E pior eu a reconheço, é Natalie... ou
melhor, Nicole. A mesma mulher com a qual ele viaja
sempre. A mesma mulher com quem ele deve me trair há
tempos.
Levo minhas mãos a boca pela ânsia que toma conta
de mim no momento. Nojo se alastra pelo meu corpo por ter
de presenciar uma cena tão deplorável. E a única coisa que
penso é correr para longe.

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Capítulo 3

Melissa

— Melissa. — Levi chama, já colocando a calça, e eu


simplesmente saio correndo. Entro no elevador e felizmente
as portas se fecham no mesmo segundo.
A última imagem que tenho é de Levi tentando chegar
até mim e seus gritos ecoam em minha mente. Por que ele
veio atrás de mim? Será que iria usar a típica frase: Não é isso
que está pensando?
Solto o ar com força, e meus pulmões parecem
rasgados. Encaro meu reflexo no grande espelho do elevador,
e a imagem que vejo faz com que me sinta ainda pior. Não
pelo que sou e muito menos minha aparência, mas pelo filme
que parece se passar em minha mente, sobre o que senti desde
que o vi pela primeira vez.
Tinha doze anos quando Daniel ingressou na
faculdade. Eu não tinha mais meu companheiro fiel ao meu
lado, mas sabia que era por uma boa causa. Daniel se dividia
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entre provas e trabalhos, e claro que havia um meio tempo


para as festas que ele não deixava de participar. O mais
engraçado é que eu não sentia nada além de orgulho pelo meu
irmão, e a cada vez que ele me contava quando seriam suas
férias, contava os dias para que chegasse rápido.
Daniel havia se mudado para o centro da cidade e
dividia um apartamento com um velho amigo do colégio,
Levi Gutterman. Há muito tempo não encontrava esse tal
amigo, e pouco tinha em memória sobre quem se tratava. Pelo
que minha mãe me contava, ele havia perdido os pais quando
tinha quinze anos e tinha um irmão mais velho.
E foi em uma das férias de meu irmão, que acabei me
apaixonando por Levi.
Era um dia especial, pois meu irmão veio à fazenda
para passar um mês inteiro conosco. Nada de reclusão no
centro, e muito menos em seu novo apartamento, apenas
nossa família. A extensão do telefone do meu quarto tocou e
eu atendi:
— Oi, gatinho.
— Ei, gatinha. Em poucos minutos estarei em casa,
ok? — Dani disse e abri um sorriso. — Diga a mamãe que
tenho uma surpresa para ela.

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— Que surpresa? — indaguei, curiosa.


— Vocês verão. Beijos, gatinha.
— Dani. — eu chamei, mas ele apenas encerrou a
ligação. Espertinho!
Peguei a toalha em cima da cama e fui para o
banheiro. Coloquei meu som no último e deixei a porta do
banheiro entreaberta para conseguir ouvi durante o banho.
Quando entrei embaixo da ducha fria, cantei, feliz.
“Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade
Como eles disseram

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer


E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir
Festa estranha, com gente esquisita
- Eu não estou legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
- É quase duas, eu vou me ferrar”
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Saí do box, enrolando-me na toalha, e deixei meus


cachos molhados caírem por minhas costas. A música
continuou me embalando, e de tão animada, saí do banheiro
de olhos fechados com a escova de cabelos nas mãos,
fingindo ser um microfone.

E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?
(Eduardo e Mônica – Legião Urbana)

Quando jogo meus cabelos para trás em uma


performance um tanto exagerada, estaquei ao ver olhos
verdes profundos me encarando sem piscar.
— Ah meu Deus! — gritei, jogando a escova em sua
cabeça.
— Merda. — ele grunhiu.
Segurei a toalha com força ao redor do meu corpo e
fiquei sem saber o que fazer. Reparei melhor no homem à
minha frente e notei que seus cabelos eram negros e a pele
clara se destacava. Quando ele me encarou novamente, notei

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que havia um pequeno corte em sua sobrancelha.


— Quem é você? — perguntei nervosa, já segurando
um perfume.
— Desculpe, eu com certeza entrei no quarto errado.
— Ele levou as mãos para cima em sinal de rendição. — Sou
Levi Gutterman.
— O amigo do Dani? — perguntei incrédula e ele
assentiu. — Nossa, eu...
— Acho que você tem uma boa mira. — Então ele
sorriu, e pela primeira vez vi meu mundo parar por um
instante.
— É. — disse, e respirei fundo, para não demonstrar
que estava encantada por ele.
— Eu sinto muito por isso. Vou procurar meu quarto.
— disse e foi em direção a porta.
— Sou Melissa. — falei e ele parou um instante, se
virou para mim e me olhou intensamente antes de falar:
— Eu sei.
O bipe do elevador me faz despertar de pensamentos e
limpo com pressa o rosto. No momento que as portas se
abrem, o mesmo segurança que me levou até o elevador,
praticamente me reboca até uma parte distante da recepção.
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— Me solte ou vou gritar. — peço e ele sequer me


olha.
— Sinto muito, senhora Gutterman; estou apenas
cumprindo ordens. — diz.
— De quem? — pergunto, e ele abre uma porta, me
induzindo a entrar.
Quando paro para prestar atenção, reparo que estou
em uma sala de reuniões. Há uma mesa enorme, com certeza
com mais de dez lugares, e noto que apenas um está ocupado.
— Me deixe sair daqui. — peço, olhando o homem
que me destruiu, de cabeça baixa passando as mãos nos
cabelos com força.
— Mel, eu...
— Agora eu sou Mel, Levi? — pergunto frustrada. —
Será que pode parar de me tratar como se ainda fosse uma
criança? Pare de querer mandar em mim! — grito.
— Não posso deixar você sair daqui. — diz.
— Que merda você está falando? — pergunto
incrédula.
— Porque se você sair daqui, nunca mais irá me
deixar falar.

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— Eu nem quero que você fale. — digo, já cansada.


— Essa droga toda que você vem fazendo com nosso
casamento deve ter afetado seu cérebro, pois eu não vou te
deixar falar, nem que me tranque nessa sala pelo resto dos
dias.
— Melissa. — Finalmente ele me olha, e apenas sinto
nojo ao encará-lo de frente.
— Talvez você ainda precise de mim para representar
a frente de todos a empresa hoje à noite. — digo com raiva, e
seus olhos parecem feridos, mas sei que o que digo mostra a
verdade sobre o porquê não me deixar sair. Ele não quer que
os outros saibam sobre o que fez. — Terá de se contentar em
levá-la. Eu não virei, e muito menos ficarei momento algum
ao seu lado.
— Não vou permitir que se afaste. — diz decidido, e
levanta da cadeira.
— Tente se aproximar para ver se não o acerto com
apenas um chute. — eu o desafio. — Tenho um irmão mais
velho, Levi, e sei bem me defender. Você não irá me prender
a você... não mais.
— O que quer dizer com isso? — pergunta incerto.
— Que acabou, Levi. A Melissa certinha, que aceita

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tudo de você, cansou de ser a mulher perfeita enquanto você


corre atrás de qualquer uma que possa te satisfazer. — acuso,
derrotada. — Sabe o quanto te odeio por tudo isso? Sabe o
quanto estou me segurando para não ir aí e acertar seu rosto?
Mas eu não vou fazer isso, porque tenho nojo... Nojo de tudo
em você!
Meu desabafo faz com que meu coração dê pulos no
peito e os machucados, antes cicatrizados, se abram
novamente. Uma dor de cabeça descomunal me atinge, e
apenas sei que preciso sair daqui.
Levi me encara por alguns segundos, e como se não
acreditasse em tudo o que disse, me vasculha
minuciosamente.
— Você me ama? — pergunta de repente.
Procuro algum resquício de ironia, porém não
encontro. Ele só pode estar louco. Se eu o amo? Como
alguém tem coragem de fazer essa pergunta depois de tudo
isso?
— Apenas me diga. — insiste.
— Não vou dizer nada, Levi. Não quero simplesmente
mais olhar para a sua cara. E que diabos você quer saber de
amor agora?

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— Eu... — gagueja um pouco, e fico inerte a tudo


aquilo. Ele nunca me pareceu frágil.
— Você não tem direito de perguntar sobre amor, não
tem direito algum! — grito, me lembrando novamente da
cena. — Eu quero que abra essa porcaria de porta e me deixe
sair, antes que eu comece a gritar, e todos do saguão saibam o
que houve.
— Apenas me prometa que não irá me deixar. — pede
baixinho, me deixando atônita. — Se me prometer isso, eu
abro a porta.
— Sério? — pergunto duvidosa, e ele assente. — Eu
prometo. — minto descaradamente, e Levi bufa.
Ele pega o celular e disca um número. Em poucos
segundos a porta é aberta e já me encaminho para fora.
— Podemos conversar mais tarde? — pergunta atrás
de mim, e minha vontade é de acertá-lo em cheio.
Ignoro sua pergunta e saio juntamente com o
segurança da empresa. Entro no meu carro e permito-me
respirar leve novamente. Meu corpo e minha alma parecem
sujos e marcados.
Como um homem poder ser tão imprevisível, e ao
mesmo tempo tão asqueroso?
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— Por que, Levi? — pergunto para o vazio e o


silêncio é minha resposta.
Respiro fundo uma vez e dou partida logo em seguida.
Primeiro: eu não sei o que fazer. Segundo, tenho certeza que
não dormirei naquela casa com ele, e muito menos
conversaremos.
Preciso falar com minha mãe, mas a covardia me
impede. A derrota de ver o casamento dos sonhos se tornar
um pesadelo me faz querer desistir de tudo. Mas não posso,
pois mesmo no meio de tanta tristeza, eu tenho minha
pequena para alegrar meus dias. E ela, eu me nego a perder.
Estaciono o carro após rodar alguns minutos e entro na
primeira cafeteria que encontro. Sento-me em um canto
afastado, e peço apenas um café amargo.
— "Um café amargo, porquê de doce já me basta a
vida." — um garoto cita ao anotar meu pedido, e eu sorrio
mesmo sem querer. Sorrio pela frase não me representar nem
um pouco nesse instante.
Quando o café finalmente chega, tomo o primeiro gole
e o líquido queima minha língua. Talvez eu não devesse ligar
para minha mãe e contar... Mas eu sei que preciso. Preciso dar
um jeito em tudo isso, de uma vez por todas.

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Sem querer mais enrolar, pego meu celular e disco seu


número.
— Oi, Mel.
— Oi, mamãe. — digo, e mal noto a voz embargada
que sai. Por que dói tanto contar a ela?
— O que houve, querida?
— Nem sei nem por onde começar. Está tudo
desabando.
— O que foi que Levi fez? — pergunta. — Hoje é o
aniversário de casamento de vocês, não é? Ele se esqueceu
novamente?
— Queria eu que esse fosse o problema. — confesso,
já segurando as lágrimas.
— Mel...
— Eu o vi, mamãe. — Limpo uma lágrima e bebo um
gole generoso de café. — Eu o vi com outra... Em cima da
mesa... Na empresa. — Minha voz falha várias vezes e engulo
o choro.
Não vou chorar por ele. Não mais.
— Venha para casa. Passe um tempo conosco. —
sugere. — Sei que o ama Mel, pois se dói tanto quanto sua

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voz denuncia, você o ama muito. Apenas venha para casa que
resolveremos tudo.
— Tenho medo. — confesso.
— Por Laura? — Respondo um sim simples “sim”. —
Ele não irá conseguir tirá-la de você.
— Mas, e os documentos, mamãe? — Suspiro
cansada. — Ele pode tudo com aqueles malditos papéis.
— Vai pedir o divórcio? — pergunta, surpresa.
— Sim. Não posso mais, mamãe... não depois do que
vi.
— Conheço alguém que pode ajudar — diz.
— Quem? — pergunto sem entender.
— Um advogado. O melhor do Rio em casos de
divórcio.
— Levi tem a advocacia Soares a sua disposição. Não
sei se podemos lutar contra isso. — confesso derrotada.
— Ele não irá conseguir. Nem que para isso eu tenha
que ir conversar pessoalmente com Caleb.
— Mamãe. — exclamo, incrédula.
— Onde está a minha garota cheia de sonhos? — ela
me corta. — Quero o seu sorriso de volta, não pedaços de

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você andando por aí. Estou aqui por você, e nada irá tirar
Laura de nós.
— Tem razão, mamãe. Estou indo para casa. — digo,
e assim nos despedimos.
Deixo algumas notas em cima da mesa e saio do café.
Preciso ir o mais rápido possível para a mansão de Levi e
fazer pelo menos uma simples mala para Laura. De qualquer
forma ela dormirá na casa da tia hoje, assim não estranhará a
situação.
Durante o caminho até a mansão, meu celular toca
diversas vezes, e todas as ligações são de Levi. O que ele
quer?
Ao estacionar em frente à mansão, sequer penso em
entrar com o carro. Assim que pego as chaves da casa no
porta luvas, encaro o ambiente que pensei um dia poder
chamar de lar. Ledo engano.
Subo as escadas e vou direto ao quarto de Laura.
Quando meu telefone toca novamente, cogito em desligá-lo,
mas ao ver que é Levi, decido por atender. Preciso saber onde
ele está, assim saberei se tenho minutos suficientes para fazer
uma mala também.
— Mel. — sua voz rouca no viva voz faz meu coração

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sangrar novamente, e sei que mais tarde nada me impedirá de


chorar por isso.
Por que nosso coração insiste justo naquele que não
pode retribuir?
— Levi.
— Está em casa? — pergunta. Olho ao meu redor e
meu estômago se contrai. Não, realmente não estou na minha
casa.
— Não.
— Irá para casa hoje?
— Não. — respondo a contragosto.
— Ficou monossilábica? — pergunta, nervoso.
— Sim. O que quer de mim, Levi?
— Conversar. — diz. — Preciso lhe confessar algo.
— Teve dez anos para isso, Levi. Além de que, justo
hoje completamos uma década de casados. — suspiro
frustrada. — Por que, Levi? Por que fez isso comigo?
— Mel...
— Esqueça, é melhor nem saber a resposta. — fecho
uma grande mala. — Onde está? — pergunto, e após alguns
minutos ouço apenas sua respiração.

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Vou até "nosso" quarto e pego a grande mala que ele


mesmo usa para viajar e jogo tudo o que consigo dentro.
Choro a cada roupa amassada e sinto vontade de quebrar esse
lugar. Pego o vidro de seu perfume e arremesso contra o
grande espelho, que se parte em infinitos pedaços.
— Melissa? — praticamente berra.
— Está com ela, não é? Por isso não me diz onde está?
— Silêncio me responde novamente. — Você é patético!
— Mel... — Fecho minha mala de qualquer forma, e
ao olhar para a porta, me deparo com Marta assustada.
— Desculpe por isso, Marta. — Aponto para o
espelho. — Você vem comigo, tudo bem?
— Para onde vão, Melissa? — a voz de Levi de
repente volta.
— Não te interessa. — respiro fundo e desativo o viva
voz. — Quero o divórcio.
— O que? — pergunta incrédulo. — Irá mesmo deixar
Laura para trás?
— Não me faça rir, Levi. Meu advogado entrará em
contato com você. — digo e já desligo o aparelho.
Marta me ajuda e logo após faz uma mala para si, e
mesmo sem perguntar nada, sei que está estupefata com a
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situação. Até eu estou.


Após quatorze anos lutando por amor, tudo
simplesmente parece em vão. Como se todas as noites ao seu
lado tivessem sido um desperdício. Como se nada fosse
sobrar disso.

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Capítulo 4

Levi

Melissa encerra nossa ligação, e eu simplesmente


entro em pânico. Estou escondido em meu antigo
apartamento, o que seria simples de dizer a ela... mas como
admitir algo agora? Como posso dizer algo e ela
simplesmente acreditar? Suas palavras frias e sem emoção são
a prova do inevitável. Melissa jamais me perdoará.
Pego a garrafa de uísque e dou um gole generoso. O
álcool desce queimando minha garganta, e meu estômago
vazio protesta. Eu não tenho mais ao que recorrer nesse
momento. Não consigo enfrentar quem quer que seja agora,
enquanto a culpa me corrói por dentro, junto ao uísque.
Com o celular em mãos, disco várias vezes seu
número, e em todas elas, vai direto para a caixa postal.
Melissa está indo embora de nossa casa, de minha vida.
Choro baixinho agarrado a uma das lembranças mais fortes
que tenho de nós dois, e me permito pela primeira vez, em
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dez anos, aceitar o que sinto.


Amar alguém que é proibido de ser amado não é fácil.
E tudo piora quando se envolve uma gravidez inesperada. Fui
e continuo sendo fraco para entender e aceitar o amor. Após a
morte de meus pais, esse sentimento praticamente deixou de
existir para mim, e nunca soube como classificá-lo. De certa
forma eu sempre soube o que sinto, pois a culpa por trair
Melissa sempre me perseguiu.
Mas agora, olhando para o porta-retratos em minhas
mãos, o mesmo que contém a foto que Melissa me deu em um
dos primeiros natais que passei com sua família, sei que tudo
o que fiz foi em vão.
Lutei anos contra um sentimento inevitável,
acreditando que a mulher certa é aquela que se escolhe para
ser sua. Mas hoje, após ver os seus olhos machucados, soube
que cometi o pior erro de minha vida ao culpá-la por minha
própria escolha de casamento, por tê-la feito assinar todos os
documentos que me garantem sua presença ao meu lado.
Mesmo negando a mim mesmo, sei que ela me
conquistou desde o momento que me acertou com sua escova
de cabelo. Desde o momento em que seus olhos castanhos
cruzaram com os meus. E hoje, sei que daria qualquer coisa

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para voltar no tempo, e não ter cometido tantos erros com ela.

Melissa

No caminho até a fazenda, o silêncio reina dentro do


carro. Marta me olha algumas vezes, e simplesmente suspiro
fundo. Ela sempre foi minha fiel escudeira dentro de casa, já
havia me pego várias vezes chorando pelos cantos e mesmo
assim jamais me julgou. Por que não consigo contar a ela
sobre Levi?
— Pode perguntar. — tento quebrar o gelo. Ela me
encara sem jeito, e apenas nega com a cabeça. — Somos
amigas, Marta.
— Eu sei, Mel... É que realmente nem sei o que
perguntar. — confessa.
— Levi me traiu. — digo rapidamente, e ela me
encara boquiaberta.
— Aquele filho da... — ela deixa as palavras
morrerem no ar e aperta com força as têmporas.
— Eu o vi. — respiro fundo. — Na empresa, com ela
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em cima da mesa... — Minha língua trava, e só assim percebo


que dói demais admitir isso, como se revivesse a mesma cena
milhares e milhares de vezes.
— Eu sinto muito. — diz.
— Eu também.
Novamente o silêncio se instala, mas dessa vez por
minha própria culpa. Marta me conhece o suficiente para
saber que quando estou ferida, me isolo de tudo ao meu redor.
Eu necessito de espaço, ao menos um pouco. O engraçado é
que ao mesmo tempo que Marta é explosiva, é totalmente
complacente. Tenho sorte de ter alguém assim ao meu lado,
que me entenda sem precisar de mais detalhes. Detalhes os
quais ainda não consigo dizer em voz alta.
Após uma hora de estrada, finalmente chegamos a
fazenda. O ar acolhedor que apenas um lar transpassa me faz
relaxar, e com isso todo desespero se apodera de mim, pois eu
sei que não tenho como me segurar aqui. E quando começar a
falar com meus pais, simplesmente vou quebrar.
— Não tenho muito dinheiro, como bem sabe... mas
se precisar de mim, Mel, estarei sempre aqui. — Marta diz
assim que estaciono o carro. Solto o cinto de segurança e a
abraço com força.

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— Mal sabe o quão importante é para mim. — Abro


um sorriso em meio a algumas lágrimas.
Batidas no vidro no carro nos fazem saltar, e sorrio ao
notar que meu pai nos recebe com seu lindo sorriso. Matheus
Lourenzinni não é apenas meu pai, mas também meu grande
herói. Saio do carro, e seus braços fortes e tão convidativos
me recebem com carinho, e deixo tudo desabar em seu peito.
— Vamos para dentro, minha princesa. — sussurra em
meus cabelos e beija minha testa em seguida.
Quando abro os olhos e me afasto dele, noto mamãe
desfazendo um singelo abraço em Marta. Ela me olha como
sempre, e isso é suficiente para saber que mesmo após todas
as dores de cabeça que lhe proporcionei, nada mudou.
Sem dizer uma palavra, ela me abraça com carinho e
afaga meus cabelos com cuidado, do mesmo modo como
fazia quando era criança. Deixo-me aconchegar em seu
aperto, e finalmente solto um suspiro de alívio. Agora eu
posso respirar.
Ao atravessar a porta de entrada, uma avalanche de
memórias invade minha mente. Minha infância toda passa em
um tipo de câmera lenta, e sorrio por saber que nada no
mundo compra os momentos inesquecíveis que vivi aqui.

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— Precisa de algo, Mel? — Marta pergunta, e eu


apenas nego. — Vou para o meu quarto então. Qualquer coisa
apenas me chame. — diz e sobe as escadas em seguida.
— Ela é uma boa moça. — papai comenta.
— Sim, uma ótima amiga também. — Meus pais me
encaram, esperando algo, e sinto meu peito doer. Não consigo
falar sobre o que houve agora. Só quero fugir por alguns
instantes.
— Quer um tempo sozinha, não é? — mamãe
pergunta.
— Sou tão óbvia assim? — zombo de mim mesma, e
papai abre um sorriso fraco.
— Essa é a sua casa, Mel; não precisa se sentir
incomodada aqui. Quando quiser conversar, apenas nos
chame, ok? — papai diz e assinto sem jeito. Ele vem até mim
e beija minha testa, e em seguida vai em direção a cozinha.
— Faço as palavras do seu pai as minhas. Tome um
banho e dê um pouco de tempo para si mesma. — Sorri de
lado. — Não trouxe nenhuma roupa?
— Sim, apenas esqueci minha mala no banco de trás.
Marta trouxe uma mala de mão, e a vi saindo com a dela, mas
nem me toquei da minha. — Reviro os olhos de minha falta
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de atenção.
Quando estamos indo em direção a saída, papai
adentra a sala com minha mala em mãos.
— Vou deixá-la em seu quarto. — Ele sobe as escadas
e vou logo atrás.
Assim que meu pai sai, fecho a porta do quarto atrás
de mim e encaro o ambiente tão familiar. O tema clássico
ainda impera, assim como todo branco espalhado em cada
detalhe. Meus pais com certeza não mexeram em nada daqui,
está da mesma forma que deixei há dez anos.
Sento-me na cama e passo as mãos sobre o edredom
macio. Penso no quanto Laura não tem gosto algum parecido
com o meu. Enquanto tudo aqui é simplesmente clean, o
quarto de Laura tem todas as sete cores do arco-íris. Pensar
em minha pequena faz meu coração se apertar ainda mais.
Como ela reagirá ao divórcio? Laura é apegada demais ao pai,
e sei que isso a machucará em grande escala. Por esse motivo
acabei deixando que ficasse na casa de seus tios hoje,
distraísse sua cabeça e não soubesse sobre nada ainda.
No caminho para a fazenda, passei na casa de Carla e
deixei uma pequena mala de roupas para Laura passar a noite.
Não expliquei nada, pois a festa da empresa já é motivo

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suficiente para que Carla não desconfie de minha atitude.


Avisei no colégio que Laura pode ser liberada a ser levada
pela tia, mas mesmo assim pedi para que Carla emprestasse
seu celular para Laura me ligar assim que saísse. Mesmo
sendo muito cedo, resolvo já ligar meu celular. Coração de
mãe se aperta em qualquer distância.
Eu me surpreendo ao notar que ainda não passa das 13
horas, e ainda mais pela quantidade de ligações perdidas.
Todas elas feitas pela mesma pessoa: Levi. Noto também
minha caixa postal lotada e resolvo simplesmente ignorar.
Não foi o que ele fez por dez anos? Nada mais justo do que o
deixar para lá pelo tempo que puder.
Deito-me e fecho os olhos por alguns instantes. Tento
me lembrar de momentos bons, de momentos que ainda
possam me prender a Levi. E com raras exceções, há
praticamente nenhum. Esse quarto me lembra praticamente o
nosso começo, onde eu o vi pela primeira vez. Me faz lembrar
de seu pedido inesperado, e no quanto me arrependo de ter
dito sim.
Penso e repenso sobre tudo, e tento esquecer ao
mesmo tempo, porém não consigo. É como se algo em minha
mente não permitisse que as imagens dele com outra mulher

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desapareçam. Como se elas fossem a prova de que sempre


estive errada sobre ele.
Eu que sempre procurei amor, encontrei apenas
desilusão. Tudo isso pela sorte de me apaixonar pelo homem
que jamais compreenderei.

***

— Por que está me pedindo isso? Levi, não


precisamos. — Lágrimas escorriam por minha face, e Levi
apenas manteve o rosto indiferente.
— Precisamos pensar em nosso filho agora, Melissa.
Não vou ficar longe dele. — ele insistiu, convicto.
— Levi...
— Olha, nenhum de nós imaginou que isso um dia
poderia acontecer. Sei que a aliança é simples, e não tem
algum tipo de luxo... — suspirou, frustrado. — Mas posso
comprar algum diamante caso queira. Só quero que se case
comigo pelo bem do nosso filho.
— Eu não me importo com joias, Levi. E preciso
confessar que a aliança por mais simples que seja, é perfeita.

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Mas não sei...


— Case comigo, Melissa! — Fiquei muda e tentei
negar, mas algo me impediu.
Gritei uma, duas, três... Dezenas de vezes, e minha
voz não sai.
— Não! — grito alto.
— Ei, psiu. — Sinto meus cabelos sendo acariciados.
— Está tudo bem, gatinha.
— Daniel? — pergunto surpresa.
O sonho que tive pareceu tão real, como se revivesse o
dia que Levi me pediu em casamento... o mesmo no qual ele
fez questão de deixar claro que faria tudo pelo bem do nosso
filho.
— Estava tendo um pesadelo? — meu irmão pergunta
preocupado.
— Escutou algo? — pergunto, e ele nega. — Quando
chegou?
— Há pouco.
Olho em direção a janela e noto que já escureceu.
Quanto tempo eu dormi?
— Ah droga, preciso ligar agora mesmo pra Carla.

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— Calma, gatinha, mamãe já falou com ela. Laura


está sã e salva na casa dos tios. — diz serenamente e me
acalmo. Meu irmão me olha com pesar, e vejo dor em sua
face.
— Mamãe te contou? — pergunto.
— Levi veio aqui. — confessa e fico boquiaberta. Ele
nunca tinha ido atrás de mim, mesmo em todos esses anos. —
Isso tudo ter acontecido foi culpa minha. Não livrei você do
cara que dizia ser meu melhor amigo, para no fim, ter que vê-
la sofrer por ele.
— Dani...
— Não adianta dizer que foi sua escolha, eu devia ter
impedido do mesmo jeito. Eu conheço o jeito que Levi é, pois
crescemos praticamente juntos. Sabe que a maioria dos
defeitos que temos são iguais, pelo menos a respeito das
mulheres.
— Por isso seu pânico quando soube do pedido de
casamento anos atrás? Suspeitava que ele não pudesse manter
uma relação, não é? — pergunto, derrotada.
— Eu realmente pensei que ele te amava, Mel. Mas
esses dias estão apenas me provando o quanto me enganei
sobre várias coisas. — Ele me encara com pesar.

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— Não precisa me olhar desse modo, Dani. De jeito


algum eu quero sua pena. Quero apenas meu irmão ao meu
lado, só isso que te peço.
— Daqui por diante, estarei com você a cada segundo.
Assim como éramos quando crianças. — Ele se deita ao meu
lado e ficamos fitando o teto por um certo tempo.
— Dani. — eu o chamo, e ele me encara. — Levi veio
atrás da esposa troféu? — pergunto insegura.
— Não dei tempo para que ele sequer abrisse a boca.
— diz com uma falsa calma. — Quando fui ver, ele já estava
jogado no chão, e papai tentando me tirar de cima dele. Já
havia cancelado aquela droga de festa. Minha vontade é de
nem voltar para a empresa. — complementa já explodindo.
— Eu sinto muito por isso, Dani. Sei que são amigos...
quer dizer, melhores amigos. Não quero...
— Nem termine essa frase, Melissa; se não juro que a
próxima que vai para o chão é você. — ele me corta.
— Desculpe.
— Não precisa se desculpar, gatinha. — Beija minha
testa e me envolve em um abraço. — Apenas me deixe
protegê-la dessa vez.
— Tudo bem. — Deito em seu peito.
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As lembranças logo me invadem novamente, e a


vontade de chorar é inevitável.
— Não precisa fingir que não dói, Mel. — Noto seus
olhos marejados.
— Alguém já te machucou, Dani? De modo que o
mundo chega a parecer um lugar insuportável? — pergunto,
enquanto as lágrimas embaçam minha visão.
— Que você apenas consegue pensar: e agora? —
pergunta e eu assinto. — Não passei pelo mesmo que você,
gatinha... mas uma mulher já conseguiu me quebrar a ponto
de não querer seguir em frente com nenhuma outra. —
confessa.
— Por que nunca me contou a respeito? — pergunto,
e ele continua em silêncio.
— Não sou um homem romântico, mas por ela eu fui.
E as vezes temos que encarar que o nosso melhor pode não
ser o suficiente para alguém. — Meu coração sangra por ouvi-
lo, e mal percebo quando ambos estamos chorando.
— Ele nunca me amou, não é? — pergunto, e Dani
apenas me encara assustado.
Se meu irmão, que conhece Levi a vida toda, fica sem
fala em frente a uma pergunta tão simples, eu já tenho minha
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resposta. E por mais que doesse nunca ter tido seu amor, eu
não deixarei que isso me impeça de querer seguir em frente.
Eu seguirei, sem Levi.

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Capítulo 5

Melissa

— Princesa, daqui a pouco vou aí te buscar, tudo


bem? — Laura responde um “sim” triste do outro lado da
linha; mas não posso deixá-la com os tios por mais tempo. —
Prometo levá-la para cavalgar. — ela logo se anima e desliga
o telefone para arrumar sua mala.
— Vai mesmo buscá-la? — Dani pergunta, sentando
ao meu lado na mesa da cozinha.
— Sim. — Mordo um pedaço de bolo. — Tenho medo
que Levi a pegue antes de mim. Sabe que os documentos são
claros e...
— Já falei com Caleb. — diz simplesmente.
— O quê? — pergunto assustada.
— Eu sempre ignorei esse fato de Levi tê-la feito
assiná-los. Pensei que ele apenas fez para continuar com você.
— diz e retorce o rosto. — Estou há anos morando no

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exterior, Mel. Não cuidei como deveria de você e de Laura,


mas ontem à noite liguei para Caleb. — Encaro-o, assustada.
— Caleb sequer sabia da existência dos papéis, porque na
época que Levi os fez, ele estava de férias. Pelo que Caleb me
disse, não vai apoiar Levi.
— O quê? Por quê? — indago incrédula.
— Caleb jamais separaria uma mãe do próprio filho.
— Dá de ombros. — Acredite, tendo Caleb ao seu lado, Levi
jamais levará Laura de você.
— Mamãe conseguiu um horário para hoje, com o tal
advogado Amorim. — explico. — Não faço a mínima ideia
de quem seja, mas aparentemente, ele obteve sucesso na
maioria dos casos.
— Perguntei a Caleb sobre ele. Disse que conhece
Amorim há tempos, que ele até chegou a estagiar na no
escritório advocacia dele, mas como não lida bem com
acionistas, então resolveu seguir a carreira sozinho.
— Espero que ele consiga. — confesso com tristeza.
— Não posso perdê-la.
— Você não vai.

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***

Após o café da manhã, decidi ir à cidade para buscar


Laura. Não consigo parar de temer não a encontrar na casa
dos tios.
Pego as chaves do carro e me despeço rapidamente de
minha família. Olho as ligações perdidas em meu celular e
noto que há duas de Lili, minha melhor amiga. Que bela
amiga eu sou, não?
Disco seu número, e em poucos minutos, ela já atende:
— Oi, Lili.
—' 'Oi, Lili'', nada. Como você me liga no meio da
madrugada, conta tudo o que houve, e simplesmente desliga o
celular? — praticamente grita, e sorrio de sua preocupação.
Mas o que ela diz é a verdade. No meio da madrugada,
acordei ao lado de meu irmão e entrei em pânico. Eu não
reconhecia meu antigo quarto, e lembranças de tudo o que
houve me vieram repentinamente. Minha cabeça começou a
girar, e apenas pensei em ligar pra Lili, pois ela sim poderia
me entender.
Lilian Oliveiro é seu real nome, Lili para os próximos.

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Nos conhecemos há alguns anos no banheiro feminino do


colégio de Laura. Enquanto eu lavava as mãos, durante uma
das reuniões de pais, encontrei-a chorando em um box do
banheiro. Desde então não nos desgrudamos. Lili já era
divorciada e pouco contou sobre seu ex-marido, o qual ela
ainda ama. Por motivos que não entendo, os dois haviam se
separado repentinamente. Talvez ela conseguisse me ajudar,
mas depois que contei tudo, fiquei tão sem apavorada que
desliguei o celular.
— Eu sinto muito, Lili. — ela bufa. — Sabe que te
amo, não é?
— Nem tente me chantagear, Melissa! — reclama. —
Quero você e Laura no meu apartamento hoje mesmo, já que
agora você realmente pode.
— Lili. — eu a repreendo.
Encosto no carro e acabo lembrando as palavras de
Levi: ''Enquanto for minha, não tem porquê visitar a casa de
seus amiguinhos. Tem uma mansão aqui, traga-os para cá.''
Não foi só estudar e trabalhar que ele me proibiu.
Coisas comuns, como ir visitar minha amiga, era algo
impossível. Sei que deveria ter ido contra, mesmo com os
documentos, mas eu simplesmente não conseguia ir contra

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ele... As coisas mudaram tão de repente.


— Melissa. — A voz de Lili me traz para realidade.
— Espero vocês, ok?
— Ok. — confirmo, e logo nos despedimos.
A casa de Ricardo e Carla não fica muito distante da
de Levi, mas felizmente, fica em outro condomínio. Quase
uma hora depois, eu chego até a casa deles, e me apavoro ao
notar que o carro de Levi está estacionado na frente.
— Droga! — praguejo baixinho e penso rapidamente
no que fazer. Não posso enfrentá-lo, não agora.
Eu pego o celular e disco rapidamente o número de
Carla.
— Carla, preciso que traga Laura discretamente até
aqui fora. — peço antes mesmo dela me cumprimentar.
— Oi, Melissa, aqui é o Ricardo. — diz sem jeito e
fico estática. Como posso contar ao meu cunhado o que
houve?
— Ric, pode chamar Carla para mim? — pergunto, e
ele apenas diz que já volta. — Oi, Mel.
— Carla, desculpe ligar desse jeito, mas preciso que
traga Laura para fora de casa sem que Levi perceba.

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— Mas...
— Sei que isso é estranho e não posso contar o
porquê. — Lembro-me no mesmo instante daquela cena
lamentável. — Mas prometo que logo te conto tudo, ou
melhor, você ficará sabendo.
— Mel... Ok, vou leva-la aí. — suspira fundo. — Já
estou saindo.
Em poucos minutos vejo Carla saindo com Laura.
Saio do carro e minha filha corre até meus braços no mesmo
instante.
— Oi, princesa. — beijo os seus cabelos e ela entra no
carro.
Carla vem com a mala de Laura em mãos e coloca no
banco de trás.
— Agora eu sei que o jeito estranho de Levi tem um
motivo além do que ele nos contou. — diz e assinto sem jeito.
— Caso queira conversar, saiba que estou aqui.
Vou até ela e lhe dou um abraço.
— Obrigada por cuidar de Laura. Leve Rafa qualquer
dia até a fazenda. — digo.
— Foi algo muito sério? — pergunta, e sei que se
refere a Levi.
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Respiro fundo e tento não chorar na sua frente. Dói


demais ter de relembrar o que houve.
— Eu... — Olho em direção a porta da frente de sua
casa e me assusto ao notar que Levi saiu. — Preciso ir, me
desculpe.
— Melissa! — ele grita, porém entro no carro e dou
partida em seguida.
Quando estamos há alguns quilômetros longe do
condomínio, consigo respirar aliviada. Felizmente Levi não
me seguiu, o que me mostra que seu irmão deve tê-lo
impedido.
Algumas quadras depois, olho novamente no celular o
endereço que Lili me passou. Por ser perto do colégio de
Laura, em poucos minutos paro em frente ao seu prédio.
— Onde estamos? — Laura finalmente pergunta algo,
e fico um pouco perplexa por só agora ter notado o silêncio
dentro do carro.
— Vamos visitar a tia Lili. — conto e seus olhinhos
brilham. — Está tudo bem, princesa?
Laura sai do carro e faço o mesmo, travando-o em
seguida. Ela vem ao meu lado na calçada até a portaria, e
simplesmente, ignora minha pergunta. Algo está errado.
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Após nossa entrada ser liberada, pego Laura no colo e


a levo até o elevador. Finalmente ela expressa algo, e sei o
quanto fica brava ao ser tratada feito um bebê. Mal sabe ela
que sempre será uma bebezinha para mim.
— Mãe, não sou mais bebê. — reclama, e eu a coloco
no chão.
— Pois parece que sim. Eu te fiz uma pergunta e até
agora não me respondeu. — eu a repreendo, e ela fica sem
graça.
Quando finalmente abre a boca para falar algo, o bipe
do elevador soa e as portas se abrem. Pego sua mão, e ainda
olhando para o chão, acabo esbarrando em um corpo.
— Me desculpe. — digo e encaro a pessoa a minha
frente.
Surpresa é a palavra que me define. O homem em
minha frente é loiro, com olhos azuis profundos. A barba rala
mostra como o tempo passou para nós, mas o sorriso enorme
é inconfundível.
— Não posso acreditar. — diz e me olha mais
surpreso ainda.
— Pedro! — exclamo feliz, e ele me puxa para um
abraço apertado.
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— Como vai, candy[1]? — Sorrio ao ouvir meu antigo


apelido.
— Senti falta de ser chamada assim. — Ele sorri, e
fico encantada por sua beleza. Quem diria que ele ficaria tão
belo assim?
— E como se chama essa princesa ao seu lado? —
pergunta, e Laura sequer o encara.
— Essa é Laura, minha filha. — respondo, e ele
estende a mão para ela.
Laura continua imóvel ao meu lado, e fico com
vergonha por minha filha agir de tal modo. Olho-a sem
entender e ela apenas se mantém calada.
— Tudo bem então. — diz e puxa a mão de volta. —
Estou atrasado para o trabalho, mas qualquer dia desses me
procure. Sou o dono do Chandel.
— Está brincando? — pergunto, e ele sorri, negando.
— Conquistei um dos meus maiores sonhos. —
Estende um cartão. — Estarei esperando sua visita.
— Pode deixar. — Ele acena ao entrar no elevador, e
dou um singelo “tchau” ao ver as portas se fechando.
Como poderia imaginar que um dia o veria outra vez?

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Acabei até me esquecendo de perguntar o que ele faz nesse


prédio. Será que mora aqui também?
Deixo a surpresa de reencontrá-lo de lado, e encaro a
mocinha emburrada que me olha brava.
— Qual o problema, Laura? — Ela me olha sem jeito
e seus olhos estão marejados. Agacho-me a sua frente e limpo
uma lágrima que desce por seu rosto. — O que foi, princesa?
— Não quero um novo pai. — diz, e a encaro,
incrédula.
— De onde tirou isso? — pergunto e ela olha para o
chão. — Laura. — insisto.
— Ninguém.
— Laura. — chamo sua atenção.
— Rafa disse que você não ama mais meu pai, e agora
vai procurar outro para mim. — confessa e fico perplexa.
— De onde ele tirou um absurdo desses? — pergunto
já nervosa.
— Ele ouviu uma conversa do tio Ric com meu pai,
que disse que a senhora não o ama mais. — Ela chora
desesperadamente e eu a abraço com força.
Será que Levi contou a Ricardo sobre o que houve?

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Será que ele acredita mesmo que não o amo mais? Tantas
perguntas sem resposta alguma.
— Princesa, eu jamais tirarei seu pai de você. —
respiro fundo. — Rafael está inventando coisas para te deixar
triste, mas tenha a certeza de que mesmo que um dia eu não
ame mais seu pai, ele jamais deixará de ser o seu herói.
Minha pequena soluça um pouco, e meu coração se
parte ao mesmo tempo. Como Rafael pôde dizer isso a própria
prima?
Em alguns minutos Laura finalmente se acalma, e fica
animada para conhecer o apartamento de Lili. Assim que
tocamos a campainha, Lili abre a porta, nos encarando com
um semblante nada bom.
— Demoraram. — diz antes mesmo de nos abraçar.
— Não reclame. — entro em seu apartamento, e já
noto o quão colorido é, porém azul claro é a cor que se
destaca.
— Eu preparei algo para comermos. Estão com fome,
não é? — pergunta.
— Sim. — Laura responde animada.
— Venham.
Vamos até a cozinha e Lili serve Laura com capricho.
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Encaro minha amiga mais de perto e noto as olheiras se


destacando na pele clara. Os cabelos loiros bagunçados
parecem sem vida, e seu sorriso para Laura é obviamente
forçado.
— O que houve? — pergunto assim que ela se senta
ao meu lado.
— Ele veio aqui. — diz e suspira fundo. — Como eu
queria odiá-lo, Mel.
— Se quiser me contar, sabe que...
— Dói demais falar. Ele veio aqui apenas para me
dizer que está feliz e vai se casar com uma mulher de verdade.
— confessa.
Encaro-a incrédula e ela assente, mexendo sem
vontade na comida em seu prato.
— Eu o odeio sem ao menos saber o nome. — Ela
sorri fracamente. — Quer falar sobre tudo?
— Melhor não, quero apenas esquecê-lo depois disso.
— Bebe um pouco de água. — E você, como está?
— Na mesma. A única coisa que quero é que Levi se
torne parte do meu passado, e nem sequer uma lembrança. —
digo baixinho para Laura não ouvir.
Encaro minha filha, e os olhinhos verdes me remetem
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a tudo o que quero esquecer. Mas como esquecer Levi se


tenho uma cópia dele dentro de casa? Se toda vez que Laura
me olhar, lembrarei dos olhos dele? Terei que buscar um jeito
de deletá-lo de minha memória.
Lili me encara como se entendesse o que penso, e
simplesmente sorri sem jeito. Não somos as pessoas mais
sortudas no amor, mas espero que um dia outra pessoa se doe
a nós do modo como sempre sonhamos. Que uma de nós
consiga seguir em frente.

Levi

Quando acordei nessa manhã — em meio a bebidas e


pedaços de objetos de meu antigo apartamento — não
imaginei que encontraria o motivo de meu sofrimento logo
mais. Ao ir à casa do meu irmão, apenas busquei algum
conselho, sem ter que contar em detalhes do que houve. Mas
quando vi Melissa levando Laura de mim, mais uma parte de
meu ser se quebrou. Ela estava realmente me esquecendo,
ignorando, e até mesmo não me amava mais, como tinha dito

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a Ricardo mais cedo.


— Não tente ir atrás dela. — Carla diz assim que o
carro de Mel parte. — Ela não quer falar com você.
— Ela te contou? — pergunto, e sinto vergonha se
apoderar de mim.
— Não. — responde. — Mas não é difícil imaginar o
que seja.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Pergunte ao seu irmão. — Dá de ombros. — Ele
saberá responder.
— Carla. — Sigo atrás dela e entro em sua casa. Ela
sobe as escadas, e noto que limpa o rosto antes de chegar até
o fim.
O que está havendo?
— Levi. — meu irmão me chama.
— O que foi, Ric? — Ele me leva até o seu escritório,
e fica apenas encarando o teto por alguns instantes.
— Você a traiu? — pergunta de supetão.
— Eu...
— Apenas responda, não vou julgá-lo. Aliás, não
tenho moral alguma para julgar alguém. — diz e fecha os

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olhos com força, como se lembrasse de algo muito ruim.


É estranho ver meu irmão nessa situação, pois há anos
não o encontro de tal maneira, a não ser na data de
falecimento de nossos pais. Ricardo nunca se mostrou um
homem sentimental.
Nossa diferença de idade não é grande. Ricardo é
apenas três anos mais velho, mas mesmo assim sempre
cuidou de mim, ainda mais depois do acidente de nossos pais.
E por isso sinto-me ainda pior em ter de confessar a ele sobre
o que fiz.
— Sim. — digo envergonhado.
Meu rosto se contrai no mesmo instante e encaro o
celular sem jeito. Há dezenas de mensagens, ligações, e até
mesmo recados na caixa postal... todos de Nicole. Eu me sinto
um lixo por decepcionar a pessoa que praticamente me criou.
— Sua cara me diz tudo. — diz decepcionado. —
Irmão, por que fez isso com Melissa?
— Ric, eu posso...
— Não pode explicar nada, Levi. — ele me corta. —
Com quem foi se envolver a ponto de fazer uma merda
dessas? — pergunta nervoso.
— Uma ex-ficante... — Levo as mãos ao rosto,
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frustrado. — O nome dela é Nicole. Nós ficamos uma época


antes de gravidez de Melissa e... resumindo, depois do
casamento, continuei com esse caso e...
— Espera aí. — Meu irmão me encara incrédulo. —
Como ela se chama? — pergunta.
— Nicole.
— Nicole do que Levi? — pergunta parecendo ainda
mais nervoso.
— Silveira. — respondo e meu irmão fica pálido. —
O que está acontecendo, Ric?
— Nicole não é quem você pensa que é, Levi. — diz e
bate os punhos com força na mesa, deixando-me perplexo. —
Não acredito que essa vadia teve a coragem de se meter com
você; ainda mais que conseguiu manipulá-lo tanto assim.
— De que merda está falando? — pergunto,
completamente perdido.
— Apenas me responda, você ama Melissa? —
pergunta de repente.
— Amo, mas...
— Isso é suficiente. — diz me cortando. — Eu
conheço essa Nicole, ela é...

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De repente a porta do escritório se abre e Carla entra,


nos olhando tristemente.
— Amor. — chama, e ela simplesmente ignora.
— Melissa te ama muito, Levi... e sim, eu ouvi a
conversa de vocês dois. Eu não consigo acreditar que Nicole
se envolveu com você. Deus! — diz, deixando-me ainda mais
confuso.
— Carla, eu não sei o que dizer. Não estou
entendendo... — Fico ainda mais perdido, e ela segura minhas
mãos com força.
— Você é como um irmão para mim, nos conhecemos
desde sempre. Apenas nos escute com atenção. — insiste.
— O que está havendo? — pergunto incrédulo.
— Rafael não é meu filho biológico. — confessa. —
Ele é filho de Ricardo com Nicole.

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Capítulo 6

Melissa

Depois de passar praticamente o dia todo ao lado de


minha melhor amiga, sinto-me bem melhor a respeito de tudo,
tanto porque Lili sempre consegue me botar para cima,
quanto porque sua presença sempre me fez sentir importante.
E talvez seja meu maior problema, ter de me sentir importante
de alguma forma para as pessoas.
No caminho de volta a fazenda, Laura dorme
tranquilamente no banco de trás e Who knew embala o
momento. Uma playlist um pouco depressiva demais, porém
me faz querer cantar alto, mesmo não querendo acordar
minha pequena.
“You took my hand
You showed me how
You promised me you'd be around
Uh huh
That's right
I took your words

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And I believed
In everything
You said to me
Yeah huh
That's right

If someone said three years from now


You'd be long gone
I'd stand up and punch them out
Cause they're all wrong
I know better
Cause you said forever
And ever
Who knew

Remember when we were such fools


And so convinced and just too cool
Oh no
No no
I wish I could touch you again
I wish I could still call you friend
I'd give anything”[2]

(Who knew – P!nk)

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— Mamãe.
Abaixo o som, e olho pelo canto de olho para Laura.
Ela esfrega as mãozinhas nos olhos e boceja com gosto.
— Estamos chegando? — pergunta.
— Quase lá, pequena. — digo ao avistar a entrada da
fazenda.
Com a ausência do som, logo ouço meu celular tocar.
Espanto-me ao notar a quantidade de ligações perdidas de
minha mãe, além das inúmeras mensagens.
Resolvo não retornar pois em menos de cinco minutos
já estou estacionando em frente a nossa casa. Como já passa
das seis da tarde, o ar frio do início da noite nos recebe.
— Vem aqui, princesa. — pego Laura ainda sonolenta
no colo e entro em casa.
Mamãe está sentada no sofá com meu pai ajoelhado a
sua frente. Os dois me encaram espantados quando me veem.
— Só vou levá-la para o meu quarto. — informo e
eles assentem. Noto que os olhos de mamãe estão vermelhos,
e sinto uma pontada ruim no peito.
Algo está errado.
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Assim que acomodo Laura confortavelmente na cama,


sigo rapidamente para o andar debaixo.
Apenas minha mãe está na sala dessa vez, e ela
simplesmente me abraça com força.
— O que está havendo? — pergunto.
— Apenas... Levi está aí. — diz sem jeito. — Daniel
está com ele no celeiro.
— Mas qual o motivo de estar assim, mamãe? —
limpo uma lágrima de seu rosto.
— Não quero que sofra ainda mais, princesa. —
respira fundo.
— Seja lá o que for, não vou mais cair nos encantos de
Levi, mamãe. Tenha a certeza disso.
— Não é por isso, Mel. Apenas quero que vá lá falar
com seu irmão, e se possível escute Levi, ao menos um
pouco. Pelo menos coloque um fim de vez, caso for o que
deseja.
— É o que mais quero.
Saio de casa incerta, e lentamente me encaminho até o
celeiro. De longe vejo papai conversando com um senhor
próximo à entrada da fazenda, com certeza algum vendedor.

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Quando estou há poucos passos do celeiro, consigo


ouvir a voz alterada de meu irmão.
— Você acha mesmo que vou cair nesse seu papinho
de marido infiel arrependido? Acha mesmo que Melissa vai
acreditar nessa merda toda?
— Ela pode até não acreditar, mas vou fazer com que
me ouça. Você querendo ou não, Daniel, ela é minha mulher.
— Levi responde, e sinto meu estômago embrulhar.
— Por que não conta toda verdade a ela então? De que
a trai desde sempre? — Estaco, e fico apenas ouvindo do lado
de fora.
— Conte a ela que sempre teve essa obsessão sem
nexo por essa tal Nicole. — meu irmão grita. — Acha mesmo
que ela vai ser idiota de te aceitar de volta?
Minha cabeça gira, e apenas consigo pensar que tudo
parece ainda mais errado. Então meu irmão sempre soube de
tudo?
— De onde tirou isso? — Levi pergunta.
— Eu descobri isso um pouco antes de voltar para o
Brasil, e foi por pura coincidência. Acredite ou não, de
alguma forma Melissa descobriria sua sujeira. — meu irmão
diz, e ao menos sei que ele não me escondeu nada.
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Era sobre isso que ele falaria comigo na noite da festa.


— Eu a amo, Daniel. — Levi diz baixo.
Abraço meu próprio corpo e desço com as costas
apoiadas na parede até o chão.
— Ama tanto que vivia fodendo com Nicole?
Sem conseguir mais apenas escutar, levanto-me e
entro de uma vez no celeiro. Ambos estacam no lugar.
— O que está fazendo aqui, Melissa? — Daniel
pergunta. — Eu pedi para mamãe ligar para você e não te
deixar vir para casa.
— Já tenho 26 anos, Daniel. Não tem porque
comandar o que faço ou deixo de fazer. — eu o corto.
Encaro o homem que tanto me magoou. Ele está
sentado em cima de um caixote, com a cabeça baixa e as
mãos no rosto, como se estivesse com vergonha.
— Levi. — eu o chamo e ele sequer mexe.
— Melissa, pare com isso. — Daniel tenta me
interromper.
— Não se meta. — peço. — Levi, olhe para mim.
Os olhos verdes que tanto me encantaram me encaram
sem vida, e noto que há lágrimas não derramadas neles. O que

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está havendo, afinal?


— Diga para mim. E verdade? — pergunto.
— Mel...
— Diga de uma vez, Levi. Você sempre me traiu com
ela?
— Sim. — confessa, e meu coração falha uma batida.
Não sei porque, mas em algum lugar em meu ser realmente
acreditei que ele não seria capaz disso.
Mas ele foi, ele é.
Viro-me para sair, e simplesmente começo a correr até
meu carro. Lágrimas banham meu rosto e falta-me ar para
respirar. O homem para quem entreguei tudo não me traiu,
apenas. Ele sempre me traiu.
Vasculho meu bolso da calça e encontro as chaves do
carro. Apenas consigo pensar em sair de uma vez daqui. Entro
no carro, e já coloco a chave na ignição. Os gritos altos de
Levi e Daniel não me impedem.
Pela primeira vez na vida, farei algo por mim mesma.
Saio rápido com o carro e as lágrimas inundam meus
olhos. Em poucos minutos na estrada, pingos de chuva caem
sobre meu para-brisa.

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Ouço buzinas altas e desvio por um segundo meu


olhar para o retrovisor. Assim que me viro novamente para
frente, faróis altos me cegam. Tento jogar o carro para o outro
lado, e só então percebo que invadi a pista contrária.
Em meio segundo sinto meu corpo sendo elevado com
força para cima e minha cabeça parece ser esmagada. Tento
respirar, tento forçar meus olhos a permanecerem abertos. Em
vez disso, mergulho na escuridão.

Levi

Um segundo pode modificar tudo, e mais uma vez, um


segundo destrói minha vida. Vejo o carro de Melissa capotar
uma vez e meu coração falha uma batida.
— Não! — grito o mais alto que posso e encosto o
carro de qualquer maneira.
Corro para fora em meio a chuva, e antes mesmo de
chegar até o carro, vejo seu corpo deitado no frio do asfalto.
A cabeça de Melissa está praticamente em uma poça
de sangue, e não consigo evitar as lágrimas que descem.
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Penso em tocá-la, porém me seguro pois sei que não é correto.


Daniel chega ao meu lado em poucos instantes e já
encerra alguma ligação. Com certeza ele chamou a
emergência.
Ajoelho-me ao lado dela, e faço algo que há muito
tempo não fazia: rezo. Peço aos céus para que não a tire de
mim, que não a tire de Laura, mesmo que tudo isso tenha sido
minha culpa. Que eu seja levado em seu lugar, então. Ela não
pode morrer... Simplesmente, não pode.
— Levi, precisa sair de perto dela. — Simplesmente
não consigo me mover. — Levi.
— Não, por favor. — Encaro Daniel. — Não posso
perdê-la.
O mesmo medo que senti quando soube do acidente
dos meus pais se instala em meu peito, como se estivesse
vivendo aquele momento novamente. O pior de tudo, é que
quando esse mesmo medo me atingiu pela primeira vez, perdi
meus pais em um único dia.
Não posso perder o amor de minha vida. Não a minha
menina.

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Bônus

Carla
— Boa noite, querido. — beijo com cuidado a testa de
Rafael, e em meio ao sono que já o embala, ele apenas aperta
com mais força o edredom.
Tão lindo.
O dia não foi fácil. Contar toda a verdade para Levi
não é algo que pensei ter de fazer. Ele não merecia saber de
toda a sujeira que houve entre mim, Ricardo e Nicole. Ou
tudo o que tive de passar para ter meu filho.
Vou até meu escritório e analiso novamente as várias
telas que estão prontas. Sempre sonhei em ter uma galeria de
arte, e agora ter em mãos quadros tão maravilhosos de novos
artistas é simplesmente minha realização.
Por que não consigo me sentir completa, então?
Aperto com força o laço de meu robe e sento-me de
frente para a grande janela do escritório, que tem a vista linda
do jardim. Uma taça e uma garrafa de vinho tinto me
acompanham, como na maioria de minhas noites. O momento
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de sentar, beber, e refletir sobre tudo o que houve, e


questionar-me novamente o porquê de ainda insistir nesse
casamento.
— Bebendo novamente? — Derrubo a taça, e ela se
espatifa em mil pedaços. Meu coração está acelerado, e levo a
mão no peito devido ao susto.
— O que faz aqui, Ricardo? — pergunto impaciente.
— Quero conversar com você. — diz e ouço sua
respiração profunda. — Serei rápido, Carla.
— Ok. — Desvio dos cacos de vidro e vou em sua
direção.
Assim que saímos do escritório, sinto um pequeno
ardido na sola do pé. Levanto-o, e não me assusto ao notar um
pequeno caco ali. Sempre fui o desastre em pessoa.
— Droga. — Fecho os olhos.
— O que foi? — Ricardo pergunta nervoso, e seguro-
me na primeira coisa que encontro, no caso, seu corpo.
Ele me envolve e respiro fundo. Quanto tempo não
nos aproximamos assim?
— Deixe-me ver. — Mostro-lhe meu pé, e ele retira
com cuidado o caco. — Não olhe! — ordena, e mantenho
meus olhos fechados com força.
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Não posso ver meu próprio sangue, pois caso isso


aconteça, desmaio em poucos segundos.
— Segure em meu pescoço. — Faço o que pede, e
logo sinto meu corpo sendo tirado do chão. — Vou te levar
para fazer o curativo, ok?
— Ok. — apenas sussurro e deito minha cabeça em
seu ombro. Seu cheiro não mudou nada, o mesmo perfume
que lhe dei em nosso primeiro aniversário de namoro.
Será que ele ainda é o mesmo? Pois eu nunca mais
dei.
Ele me coloca sentada em um colchão, então suspeito
que estejamos em meu quarto. Sinto sua mão em meu pé e
prendo o ar. Não queria ser cuidada por ele. Nunca mais.
— Ai. — Sinto algo envolvendo meu pé.
— Prontinho. — diz, e ouço seu sorriso bem próximo
a mim. — Pode abrir os olhos.
Assim que olho a minha frente, seu rosto é minha
única visão. Os cabelos loiros bagunçados, a barba como
sempre por fazer, as linhas de expressão que ganhou ao longo
dos anos, o sorriso fraco que estampa, e por fim, os olhos.
Olhos verdes que tanto me hipnotizaram, e ainda hoje tem o
mesmo efeito.
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Penso em tocá-lo, minhas mãos parecem ter vontade


própria, porém me seguro. Lembro-me de nosso filho, de
Nicole, da traição... Não posso.
— Ric, por favor. — peço quando seus lábios estão
próximos aos meus. Eu o empurro, e ele me encara
decepcionado. — Não consigo.
— Carla. — Eu o encaro, me esgueirando até o alto da
cama. Preciso dormir, esquecer de tudo ou ao menos tentar.
— Faz tantos anos. — Noto lágrimas descerem por sua face e
quero confortá-lo. Quero dizer que o amo ainda e que vamos
superar tudo. Mas minha voz trava na garganta... Não sou tão
forte.
— Feche a porta ao sair. — peço, e ele dá de ombros,
derrotado.
Quantas vezes ele havia tentado se aproximar?
Milhares? Não sei ao certo, só tenho a certeza de sempre que
cedo, acabo me arrependendo. Talvez o melhor fosse o
divórcio, o melhor para todos nós.
— Não vou desistir de nós, Carla; tenha a certeza
disso. — diz e bate com força a porta.
Respiro fundo e caio em lágrimas. Olho para o
curativo em meu pé, e noto o quão cuidadoso ele foi. Por que

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estragou tudo, Ric?


Deito a cabeça no travesseiro, e revivo tudo o que
passamos, de como sempre que olho para trás, ele está lá. Seja
como amigo, namorado, amante... Sempre sendo meu tudo.
Quem diria que nós não daríamos certo? Justo o casal
que todos juravam que duraria para sempre.
Lembro-me da gestação que passei, da escolha que
tive de fazer, e de como ela desencadeou uma sucessão de
desastres. Tudo estaria perdido se não fosse Rafael. Meu
pequeno sempre será o centro de meu mundo, e mesmo que
não o tenha carregado em meu ventre, é como se tivesse saído
de dentro de mim.
Quando o sono já está para me levar, ouço o toque de
meu celular. Acendo o abajur, e estranho ao ler o nome de
Levi na tela.
— Levi?
— Preciso de vocês. — pede urgente, e noto sua voz
chorosa. — Mel, ela... Ela sofreu um acidente e...
— Onde está, Levi? — pergunto, já me levantando.
Piso com força no chão e meu pé protesta, mas ignoro. Vou
até o closet, e coloco a primeira roupa que encontro. — Levi?
— insisto.
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— Oi, Carla. — Ouço a voz de Daniel.


Quanto tempo não nos falamos?
— Oi, Dani. Por favor, me diga o que houve.
— Mel sofreu um acidente. — Sua voz triste corta
meu coração.
— Onde estão? Estou indo para aí! — digo nervosa, e
rezo internamente para que Melissa esteja bem.
— Vou te mandar o endereço por mensagem. — diz
temeroso. — Senti falta da sua voz.
— Dani. — a ligação é desfeita, e sinto-me ainda mais
frustrada.
Será que ele nunca me perdoará?
Saio do quarto e vou direto para o de Ricardo. Eu o
encontro sentado na cama, com fotos em mãos. Nossas fotos.
— Ricardo. — eu o chamo, e ele me olha sem graça.
— Melissa sofreu um acidente. — digo rapidamente.
— O que? — pergunta, se levantando.
— Precisamos ir ao hospital. — Suspiro fundo.
Ricardo levanta rapidamente e vem até mim. Noto que
ele pega o celular no bolso, e o encara frustrado.
— Descarregado. Levi deve ter me ligado. Droga! —
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diz nervoso.
Noto que Daniel me mandou a mensagem, e me viro
para sair.
— Daniel me mandou o endereço. Vou ligar para
minha mãe, pedir para que fique com Rafa agora. — digo
rapidamente.
— Por que Daniel está falando com você? — Ricardo
pergunta, mas simplesmente ignoro.
Ligo para minha mãe e ela atende rapidamente,
confirmando que logo estará aqui. Ela mora há duas casas
daqui, então não demora muito, e ela já toca a campainha.
— Obrigada por ficar com Rafa, mamãe. — digo e ela
assente, beijando meu rosto.
— Mande notícias assim que puder. — pede e eu
concordo, saindo de casa.
Ricardo me segue, indo pegar o carro. Assim que
entramos, ele arranca com o carro, e o silêncio parece
ensurdecedor.
— Se arrepende da escolha que fez, não é? — Ricardo
pergunta de repente, e eu apenas encosto com a cabeça na
janela fria do carro.
— Não temos tempo para isso agora, Ricardo.
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— Nunca o teremos. — constata, e assim se cala.


Não quero lembrar de nosso passado, não quero ter de
retornar. Há algo muito mais importante agora, o bem-estar de
Melissa. E por isso apenas me concentro em chegar ainda
mais rápido ao hospital. Levi deve estar destruído com isso,
ainda mais pelo medo de perder a mulher que ama sem ter
mostrado quão importante ela é para ele.

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Capítulo 7

Levi

Toc toc toc...


O único som que escuto desde que cheguei, desde que
me sentei nesse banco frio e duro de hospital, desde o
momento que os enfermeiros nos mandaram esperar.
Imagens do corpo de Melissa caído no chão frio e
molhado do asfalto passam em minha mente. Fecho os olhos
com força, e apenas consigo lembrar com ainda mais nitidez
da tristeza em seu olhar quando confirmei que a traio há
muito tempo. Qual é o meu maldito problema?
— Tome, querido. Vai te fazer melhorar. — Carla me
entrega um pequeno copo de café, e apenas assinto.
Viro o líquido aos poucos na boca e sinto minha
garganta queimar. Por mim, nem me alimentaria; mas faço
por Carla, pela paciência que está tendo comigo.
Ricardo está novamente no balcão da recepção
tentando conseguir alguma novidade sobre o estado de
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Melissa, mas até agora nada. Horas infernais que não acabam.
Isso me faz lembrar da conversa que tive com Carla e
Ricardo, de toda a verdade que eles despejaram em meu colo.
— Como assim Rafa é filho de Nicole? — perguntei
incrédulo. — Como assim vocês a conhecem?
— Na época em que engravidei, a situação do meu
casamento com Ricardo não era das melhores. Vivíamos
brigando, e em um desses dias acabei desmaiando. Descobri
que minha gravidez era de risco, que poderia chegar a hora
de escolher entre mim e o bebê. Ricardo se negou a prometer
que escolheria nosso filho, isso quando eu estava com dois
meses de gestação, e aos poucos tudo piorou ainda mais. Pois
bem, tudo pareceu melhor quando uma velha amiga minha,
de quando era criança, apareceu procurando por emprego.
Ela estava sozinha, sem família ou alguém que pudesse
ampará-la. Essa amiga é Nicole. — Fiquei sem fala. O que?
— Por estar sensível com tudo, acabei confiando demais
nela, e assim ela se aproximou de nós. Você não a conheceu
nesse tempo, nem teve conhecimento de nada, pois estava
fazendo seu intercâmbio no terceiro ano de faculdade,
lembra? — Apenas assenti. — Enfim, Ricardo, ela e eu
compartilhamos vários momentos juntos. Nosso casamento

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até melhorou com isso... Acho que depositei todas minhas


frustrações em cima da amizade com Nicole, e imaginei que
ela fazia o mesmo. Enfim, eu não desconfiei das intenções
dela para com Ricardo antes, mas a verdade é que ela sempre
o quis. — Permaneci sem fala. — Ela ligou para Ricardo em
uma noite qualquer e disse que passei mal e que estava na
casa dela... A casa que eu a ajudei a alugar.
— Eu fui feito um patinho caindo na armadilha. —
meu irmão a interrompeu, suspirando fundo. — Quando
cheguei na casa de Nicole, além das bebidas que havia
tomado, pois Carla e eu havíamos brigado novamente pelo
mesmo motivo, Nicole me entregou uma água... ela me
drogou. Só lembro de acordar no outro dia sem roupa
alguma, e na cama dela. — confessou, fechando os olhos com
força.
— Ela havia me mandado uma mensagem no mesmo
dia para que fosse até a casa dela porque precisava de mim.
Ela queria que eu os pegasse na cama. — Carla disse e vi dor
em seu olhar. — Quando seu irmão chegou em nossa casa
naquele dia, tudo o que ele fez foi chorar. Pediu perdão
várias vezes e fiquei sem entender. No mesmo instante,
Daniel, seu amigo apareceu atrás de um material dele, o qual
você tinha deixado em nossa casa. Enfim, pedi para que ele
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entrasse, tentei me recompor... porém recebi uma nova


mensagem e abri. Era uma mensagem de Nicole, uma foto...
A foto dela e seu irmão. — Fechou os olhos. — Eu expulsei
Ricardo de casa no mesmo momento, e minhas pernas
cederam minutos depois. Daniel foi quem me socorreu. Os
primeiros meses eram primordiais ao bebê, e quando vi
sangue em minhas pernas, soube que o havia perdido. —
Lágrimas desceram por seu rosto, e continuei apenas
estático. — Foi nesse dia que perdi meu bebê.
— Eu não acredito. — Levei as mãos à cabeça,
incrédulo. — Como tudo isso aconteceu e eu não fiquei
sabendo? Seus pais não ficaram sabendo disso, Carla?
— Meus pais viviam fora do país na época, e mal
sabiam direito de minha gravidez. Quando perdi meu bebê, a
única pessoa que permiti ao meu lado foi Daniel. Não contei
a ninguém mais sobre o que aconteceu. Eu e Daniel nos
tornamos amigos, verdadeiros amigos. Nicole logo soltou a
bomba de sua gravidez em meio a uma mensagem, e ameaçou
tirar o bebê caso Ricardo não ficasse com ela. E foi aí que
tudo me desestabilizou... Fiquei um tempo fora do Rio, fui
para Salvador e me permiti sofrer em silêncio. As noites eram
piores, e a única pessoa com quem pude contar foi Dani. Ele
sempre esteve lá nesses momentos, passou praticamente todas
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as férias dele comigo, enquanto Ricardo tentava evitar que


Nicole fizesse uma besteira.
— Meu Deus! — disse perplexo.
Finalmente comecei a raciocinar. Eu nem me toquei
de nada na época pois fiquei um ano fora por conta do
intercâmbio.
— Foi então que tive a ideia de enganar Nicole,
apenas para ter meu filho nos braços. — meu irmão começou
a dizer. — No dia em que Rafael nasceu, disse a ela que
jamais ficaríamos juntos, e ela simplesmente desapareceu
após ter alta. — disse.
— Eu retornei para o Rio meses depois, logo após ver
que além de me prejudicar, estava fazendo o mesmo com
Daniel. Já que ele, após as férias acabarem, vivia mandando
mensagens para mim, preocupado, e eu sabia que seu
rendimento na faculdade não ia bem. Decidi que estava na
hora de enfrentar tudo. — Continuei perplexo. — Quando
cheguei em casa, me surpreendi ao encontrar Ricardo. Ele
me contou que estava indo ao hospital ver o filho, Rafael, que
estava na incubadora, por ser prematuro. Rafael nasceu
quase na mesma época que o bebê que eu perdi nasceria. Ele
nasceu com pouco mais de sete meses. Naquele instante não

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pensei, apenas fui com Ricardo até o hospital, e me apaixonei


por Rafa assim que pus os olhos nele. — Ela tentou impedir
as lágrimas, mas notei que chorava ainda mais. — Era meu
filho, sabe? Mesmo que não o tivesse carregado, ele era meu.
— Eu pedi uma segunda chance, implorei na
realidade. Carla não cedeu, apenas disse que cuidaria de
Rafael como se fosse dela. — meu irmão complementou.
— Daniel não me julgou em momento algum quando
contei a ele sobre minha decisão, pelo contrário, me deu
ainda mais apoio. Mas eu percebi o quanto doía nele toda
aquela situação, o quanto estava machucado me vendo viver
ao lado de Ricardo novamente. Então, em um dia, ele
apareceu aqui e se declarou. Ele me pediu em casamento.
O que?
— O que? Isso é impossível. Daniel jamais...
— Ele o fez, tanto que até hoje me odeia pela escolha
que fiz. Ele não entendeu que não podia retribuir o amor que
ele sentia, mesmo querendo mais que tudo o amar, mas
infelizmente não escolhemos isso. Desde então ele nunca mais
falou comigo.
E só assim entendo o porquê de Daniel focar tanto em
sair do país no último ano da faculdade, pois agora sim faz

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sentido, já que ele sempre foi ligado a família e de repente


quis sair para o mundo.
— Eu não sei o que dizer. — disse encarando o chão
de seu escritório.
— Eu não sei como Nicole entrou na sua vida. —
Carla disse cabisbaixa. — Mas ela não é uma boa pessoa,
Levi.
— Eu amo Melissa. — confessei baixinho. — Demorei
tempo demais para perceber, mas eu a amo mais que tudo.
— Eu sinto muito. — disse me abraçando. — Você é
como um irmão para mim, Levi. Não suporto a ideia de estar
passando por isso agora.
— Irmão... — Ricardo me chama, e vejo a minha
frente, meu próprio reflexo.
Somos dois imbecis, só que eu sou ainda pior.
— Preciso falar com Daniel, falar com Melissa...
Preciso fazer algo. — digo frustrado. — Daniel sabe quem é
Nicole? — pergunto.
— Não, nunca disse a ele quem era a mulher que fez
tudo de ruim a mim. — Carla diz. — Por que?
— Ela era minha assistente pessoal. — Eles me
encaram perplexos.
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— Já falou com ela? — Carla pergunta insegura.


— Liguei para ela e disse que havia acabado, que iria
ficar com a minha mulher. — confessei sem jeito. — Não quis
encará-la porque senti que seria mais uma traição para
Melissa. Não quero magoá-la ainda mais.
Toc, toc, toc...
O mesmo som de saltos me desperta para a realidade
novamente. Encaro o copo de café em minhas mãos, e noto
que ainda está na metade. Não quero beber, apenas quero
saber de Melissa.
Encaro todas as pessoas sentadas aqui na sala de
espera. Clara e Matheus se abraçam com força, e sinto um nó
no peito ao encará-los. Mal consigo imaginar o medo que
sentem pela filha. Daniel e Lilian estão de mãos dadas, e
ambos parecem derrotados... todos estamos.
Ricardo vem até mim e se senta ao meu lado, então
estou cercado por ele e Carla, e é a única força que tenho.
Laura está com a Marta na fazenda, e felizmente ela se
ofereceu para ficar com minha filha, sabendo que os demais
não conseguiriam. Enquanto Melissa não sair daqui, não
tenho condições para encarar minha filha, pois sinto-me
culpado por tudo.

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— Se ela... — Travo, e lágrimas descem por meu


rosto.
— Ela não vai, querido, ela é forte. — Carla me
consola em seu colo enquanto choro baixinho.
Lembro-me do enterro de meus pais, de como foi
difícil dizer adeus, de como ainda é difícil aceitar. Mesmo
após tantos anos, é como se aqueles dias estivessem vivos na
memória.
— Família de Melissa Gutterman? — O médico
finalmente aparece, e limpo as lágrimas rapidamente, me
levantando.
— Como minha princesa está, doutor? — Clara
pergunta, apoiada em Matheus, com o rosto inchado e os
olhos vermelhos. Estamos acabados.
— Bom, o quadro dela é estável no momento. —
Solto um suspiro. — Porém ocorreu um imprevisto. Ela
entrou em coma.
— E agora, doutor? Quando ela irá voltar? — Clara
pergunta em desespero.
— Bom, ela pode retornar daqui algumas horas, ou
dias, semanas... Não posso dar-lhes uma certeza... há casos
que levam anos, ou simplesmente os pacientes não voltam. —
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Eu o olho, incrédulo. — Estamos fazendo todos os exames


possíveis, mas ainda não há nada concreto. Apenas posso
dizer que ela sofreu uma lesão no acidente, a qual ocasionou o
coma. Faremos todo o possível para que ela volte, tenham
certeza disso.
Meu mundo para com essa afirmação, e nem presto
mais atenção no que o médico fala. Meu coração parece
esmagado e caio de joelhos no chão. Carla e Ricardo me
abraçam, chorando, e tudo ao meu redor desaparece.
O que farei agora?

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Capítulo 8

Levi

Um mês depois

Os dias nunca pareceram tão desgastantes quanto


agora. Olhando para minha frente, vejo novamente a parede
cinza do hospital, e meu corpo protesta devido a cadeira nada
confortável da sala de espera. Quanto tempo passei sentado
aqui?
Encaro meu relógio de pulso, e ele já marca cinco da
manhã. Espero ansioso para que Daniel saia do quarto de
Melissa para que eu possa passar um tempo com ela. Os
médicos já haviam dito que mesmo com a lesão que sofreu,
não era para ela estar em coma, então tudo o que podemos
fazer é esperar, que ela irá voltar quando estiver pronta.
Mas quem consegue ficar calmo com essa afirmação?
E se Melissa não voltar? O que eu farei? Como direi isso a
nossa filha?
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— Levi. — Daniel me chama. — Carla me disse sobre


tudo, sobre Nicole... Eu não sei nem o que dizer, não fazia
ideia.
— Não quero falar nisso agora, Daniel, por favor.
Apenas quero ficar ao lado de Melissa. — peço e ele assente.
O que menos me importou nesses dias, e sequer me
perguntei, foi sobre o modo como conheci Nicole e como nos
aproximamos... E assim percebo que na verdade nunca a
amei.
Mesmo a contragosto, a família e amigos de Melissa
me deixaram vê-la e passar um tempo com ela. Talvez tenham
percebido que mesmo sendo o pior dos homens, não irei
desistir de ficar ao lado dela, e que faria de tudo para vê-la
sorrir novamente.
— Mamãe chegará por volta das dez. Os médicos
disseram que é bom conversar com ela, como já sabe. — ele
suspira fundo. — Muitos pacientes contam que escutavam
tudo o que lhes diziam enquanto ainda estavam desacordados,
e isso os incentivou a voltar. Não entendo de medicina e
muito menos sou religioso, mas tente trazê-la de volta.
— É o que mais quero. — afirmo e ele sai
rapidamente.

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Caminho pelo extenso corredor que dá nos quartos, e


logo recebo a identificação de visitante. As enfermeiras e
médicos já estão acostumados com minha presença, pois
praticamente estou morando no hospital. Tivemos de inventar
a mentira de uma viagem para Laura, enquanto ela passa
tempo com os tios e avós, pois não consigo voltar para casa...
Não consigo encarar minha filha.
Entro no quarto de Melissa, e a visão de seu corpo faz
meu corpo tremer. Passo de leve a mão por sua face e sinto a
quentura de sua pele. Os hematomas já não estão mais
aparentes, e ela parece apenas um anjo em sono profundo.
Meu anjo.
— Volte para mim, minha menina. — peço segurando
suas mãos.
Como sempre, o único som no quarto é o dos
aparelhos. Melissa continua imóvel. Choro baixinho com a
cabeça em seu colo, e peço aos céus para que a tragam de
volta nem que seja para me odiar, nem que seja para nunca
mais ficarmos juntos. Só quero vê-la acordada outra vez.
As horas passam, e na maioria delas conto histórias de
minha infância para Melissa; histórias que nunca havia
comentado com ninguém, pois dói lembrar da infância já que

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remete imediatamente aos meus pais. Mas dizer a ela parece


algo tão certo, que simplesmente me vejo despejando meu
passado em seu colo.
Encaro novamente o relógio e noto que já são quase
dez horas, e com certeza Clara deve ter chegado para ficar
com a filha. Levanto-me da poltrona e aliso novamente a face
da minha esposa, minha menina...
— Eu volto logo. — Dou um beijo em sua testa. —
Volte para mim, minha menina.
Saio do quarto com o coração novamente esmagado e
tento me concentrar em meus passos. Seria tão fácil desabar
no meio desse corredor.
Assim que adentro a sala de espera, como imaginei,
Clara e Matehus estão sentados ali. Os dois me forçam um
sorriso, e eu apenas tento não chorar na frente deles. Nunca
me senti tão sozinho como agora.
— Volto as duas, tudo bem? — pergunto ao me
aproximar.
Matheus me olha com cara de poucos amigos, e Clara,
ao contrário, pede para conversarmos um minuto.
Enquanto Matheus se encaminha até o quarto de
Melissa, sigo Clara até a lanchonete do hospital. Sento-me a
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sua frente na pequena mesa, e ela pede dois cafés.


— Assim como eu, Matheus não aceita muito bem sua
presença ao lado de Melissa. Mas eu vejo que por mais que
tenha errado com minha filha, que nada vai conseguir impedi-
lo de vê-la. — Pega um dos copos deixados em nossa mesa.
— Há dias que não o vejo comer, a não ser quando Carla o
obriga. Você toma banho no hotel mais próximo, onde passa a
maior parte do seu tempo, e ainda deve dormir o que? Duas
horas? — indaga, e eu apenas fico em silêncio. — Bom, você
não merece minha filha, Levi... mas eu deixarei que ela
decida por si quando acordar.
— Obrigado. — Eu a encaro, envergonhado.
Não tenho palavras para descrever a decepção que
vejo em seu rosto. Além dos pais de Carla, meu segundo
apoio sempre foram eles, os Lourenzinni. Passei várias férias
na fazenda, aprendendo mais sobre a terra, cavalos e tudo
mais. Como pude ser tão baixo e magoar a joia mais preciosa
de uma família que sempre cuidou de mim?
— Vou indo. — sorri fracamente e logo sai.
Levanto-me em seguida e tomo de uma vez o pequeno
copo de café ali deixado. Saio do hospital mesmo contrariado,
e vou novamente até o hotel que acabou se tornando minha

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casa por esses dias.


Felizmente preciso apenas atravessar a rua para dar de
cara com a grande recepção do hotel, mas o que vejo apenas
faz com que sinta ainda mais nojo e vergonha de mim mesmo.
— O que faz aqui? — indago nervoso. — Como me
encontrou?
— Bom, não foi tão difícil. As notícias voam, e logo
soube sobre o estado de sua esposa, mas não imaginei que
estaria assim. — Aponta-me de cima embaixo. — Muito
menos que o veria acabado dessa maneira.
— Eu já sei de tudo, Nicole. — Ela apenas sorri. —
Sei sobre meu irmão e você, sei sobre Rafael... O que está
fazendo aqui?
— Fui até a sua casa mais cedo e acabei me
surpreendendo ao encontrar Carla e Ricardo lá. Quantos anos
faz que não os via? Porém, não me surpreende que eles
tenham remorso ainda. Sempre foram dois...
— Cale a boca. — Eu a puxo pelo braço e levo até
uma parte mais escondida da recepção. — Não ouse falar da
minha família! Como pude não perceber o quão fria e
interesseira você é? Como pode atuar tão bem?
— Eu te amo, Levi. — Suas palavras me causam
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apenas nojo, palavras que não significam nada.


— Mas eu não, Nicole. — Seus olhos se arregalam e
ela fica vermelha.
— Você enlouqueceu? Só porque a pretinha está em
coma, não precisa ser solidário...
— O que disse? — rosno. — Nunca mais diga algo
sobre Melissa, ouviu bem? Eu a amo, sempre amei. Não sei
porque diabos fui tão imbecil e me meti com você, mas ela é a
mulher da minha vida. Não ouse ofendê-la nunca mais.
— A mulher da sua vida? — gargalha. — Duvido que
não esteja morrendo de vontade de me beijar. Duvido que não
queira me sentir novamente... Vamos lá, Levi! Nunca
mentimos um para o outro.
— Fique longe de mim e da minha família, Nicole. —
Eu me afasto dela. — Está demitida da empresa. Espero
nunca mais vê-la por lá.
— Mas eu... Eu não tenho para onde ir, Levi. — Sua
voz sai esganiçada, mas logo noto o falso choro. Como pude
me iludir tanto?
— Com certeza conseguirá algo, Nicole. Sua carta de
recomendação a mandará para bem longe daqui. Espero que
bem longe do Rio de Janeiro.
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— Está mesmo me descartando? — pergunta com o


semblante já impassível.
— Estou pondo um fim em algo que nunca deveria ter
começado.
— Seu irmão não me quis, Levi, e veja só como ele é
feliz hoje. — sorri amplamente. — Vou apenas esperar você
voltar chorando para o meu colo, como sempre fez. Assim
que a sua pretinha acordar e não te perdoar, terá apenas a
mim. — Então ela sai, antes mesmo que eu possa lhe xingar
novamente.
Raiva toma conta de meu ser e vou em direção aos
elevadores. Preciso de um banho frio para me acalmar, para
chorar por todos os erros. Encarar Nicole, uma mulher linda,
de cabelos loiros, olhos claros e corpo de modelo... Apenas
uma casca. Hoje vejo que por dentro é completamente oca.
Assim que entro no quarto, arranco minhas roupas
com força e vou direto para debaixo da ducha. A água fria
parece lavar muito mais que meu corpo, pois logo desabo no
chão. E sentado no chão frio, choro feito criança.
Choro por todos os aniversários de nosso casamento
que eu sabia, mas simplesmente ignorei. Choro por todos os
dias que encontrei Melissa linda em casa, e não tive coragem

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de lhe elogiar. Choro por não ter sido capaz de me entregar de


corpo e alma a uma mulher que sempre me deu tudo, sem ao
menos pensar duas vezes.
— Qual é seu maldito problema? — Bato com força a
cabeça no azulejo e choro ainda mais.
Só quero Melissa de volta, mesmo que seja para não
ser minha.

***

Acordo com o despertador e noto que já são 13:30, e o


cansaço fez com que apagasse de vez em cima da cama. Meu
corpo protesta ao me levantar, mas não ligo, preciso ficar com
Melissa.
Coloco uma roupa limpa e arrumo meu cabelo de
modo que fique ao menos apresentável. As olheiras são
evidentes, a barba está além de por fazer, e noto meu corpo
mais magro. Só agora vejo o quanto nosso psicológico pode
ferrar nosso físico.
Ao chegar ao hospital, como sempre, as recepcionistas
me saúdam. Quem aqui já não me conhece? Sento-me

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novamente no mesmo banco frio e aguardo Clara sair.


Quando o relógio finalmente marca 14:00, Clara e
Matheus saem pelo grande corredor. Estranho ao notar que
parecem mais leves e até mais esperançosos.
— Está tudo bem com ela? — pergunto receoso.
— Ela mexeu os dedos da mão. — Clara conta feliz.
— Matheus pediu para que ela o respondesse de alguma
forma, e ela o fez.
Levo as mãos ao rosto, incrédulo, e choro de
felicidade. Pode até ser um pequeno avanço, mas já é muito
além do que esperamos por toda essa semana infernal.
— Meu Deus, eu... — Fico sem palavras enquanto
vejo os dois se abraçarem com tanto carinho e felicidade.
Quem me dera um dia poder ter momentos assim com
Melissa.
— Bom, eu vou entrar e... torcer para que ela
demonstre mais alguma coisa. — confesso esperançoso e
ambos assentem. — Até mais.
Pela primeira vez entro no quarto de Melissa com um
sorriso no rosto. Encaro-a ainda mais em expectativa do que
antes, pois tenho a tarde para vê-la fazer algo. Nem que fosse
apenas levantar um dedo.
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— Por favor minha menina, volte para mim. — peço


ao beijar sua testa, e minha resposta, novamente, são os
barulhos dos aparelhos. — Não vou desistir.
Sento-me na poltrona ao lado de sua cama e seguro
sua mão direita com cuidado. Beijo-a várias vezes e rezo
baixinho para que Deus a traga de volta. Temos mais do que
esperança agora.

***

— Levi... — Uma voz fraca me chama, e forço meus


olhos a se abrirem.
Estaco no lugar ao notar que Melissa está acordada.
Ela me encara confusa e eu fico estático, sem conseguir
acreditar que seus olhos estão abertos.
— Levi? — pergunta confusa, assim que me afasto.
— Eu... — Minhas palavras pairam no ar ao perceber
que ela não me mandou embora e muito menos me afastou.
Algo está errado. — Preciso chamar o médico.
Saio do quarto ainda mais confuso, e ao encontrar seu
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médico, conto o que houve. Ele adentra o quarto dela


sorridente, e Melissa abre um sorriso fraco ao recebê-lo.
— Como vai, senhora Gutterman? — pergunta.
— Eu... — Só assim noto sua dificuldade para falar.
— Fique calma, aos poucos irá voltar tudo ao normal
— o médico diz e anota algo em sua caderneta. — Preciso
que saia, senhor Gutterman. Precisamos fazer exames com a
sua esposa.
Saio do quarto a contragosto, olhando uma última vez
para Melissa, a qual parece completamente perdida.
Pego meu celular assim que chego na recepção e ligo
para todos que consigo. Informo o que aconteceu e logo todos
estão no hospital, assim como eu, ansiosos para ouvir o que o
médico irá dizer.
— Eu disse a você que ela é forte, querido. — Carla
diz e me abraça com carinho, dando-me ainda mais força.
— Família de Melissa Gutterman? — o médico
chama. — Por enquanto posso adiantar para vocês que a
paciente não tem nenhum dano aparente, ao menos
fisiológico, por conta do coma; mas teremos que esperar os
resultados de alguns exames para confirmar isso. Ademais,
ela está bem e se recuperando. — esclarece.
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— Podemos vê-la? — Clara pergunta ansiosa, e o


médico abre um sorriso sem dentes.
— Amanhã poderão. Hoje ela passou por vários
exames e precisa descansar. — diz e todos assentimos, claro
que um pouco desapontados.
Mesmo assim, pela primeira vez após esse mês
infernal, sinto-me um pouco feliz e com esperança de ver
Melissa completamente recuperada nos próximos dias.

***

No outro dia, já cedo, estou de volta ao hospital, assim


como a maior parte da família de Melissa. Assim que as
visitas são liberadas, deixo com que eles entrem primeiro,
pois eu já a vi por alguns instantes ontem.
Quando finalmente é minha vez de entrar, fico um
pouco receoso, pois não sei como Melissa reagirá a minha
presença. Mas antes de chegar ao seu quarto, encontro seu
médico parado em frente à sua porta.
— Bom dia, senhor Gutterman. — diz e eu o
cumprimento. — Já informei os pais de sua esposa, mas

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gostaria de conversar com o senhor também. Bom, o caso de


sua esposa é um pouco mais complexo do que imaginávamos.
Felizmente ela está voltando bem e o corpo parece não ter
sofrido nenhum dano grave. O problema consiste que algumas
memórias dela se “perderam”, memória relativamente
recentes. E como ela mesma disse a mãe mais cedo, ela não
sabe como sofreu o acidente. Aos poucos esperamos que sua
memória volte, mas não temos certeza. Mas caso a memória
dela não volte ao longo dos dias, terá que contar aos poucos a
ela tudo o que houve. Por isso ela precisa da família agora,
para auxiliá-la. — afirma. — Bom, ela está dormindo agora,
mas está bem. Acredite em mim, senhor... ela é um milagre.
O médico se afasta e vou cambaleando para dentro de
seu quarto. Melissa pode não se lembrar de nada do que
houve, da causa do acidente... Muito menos de mim e Nicole.
E o pior, não posso contar-lhe o que houve. Não ainda. As
dúvidas que tinha a respeito de Melissa agora se esvaem. Se
pensei que talvez ela me deixaria, agora tenho certeza.
Eu não estou preparado para perdê-la, e em momento
algum estarei. Olhando seu semblante calmo e terno, sinto-me
culpado por ter feito isso com ela. Se não fossem meus erros,
ela não teria que se recuperar disso, e muito menos perderia
memórias. Eu não sei como agir, apenas espero que quando
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ela estiver melhor, possa recuperar tudo que perdeu.

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Capítulo 9

Melissa

Um mês depois

— Você poderá ir embora hoje, Mel. — mamãe diz


animada, e sorrio, cúmplice.
— Finalmente. Já faz praticamente um mês que estou
aqui desde que acordei e...
— Está sentindo algo, querida? — pergunta
preocupada.
— Estou bem, mamãe. — respondo a mesma pergunta
pela milionésima vez.
— Desculpe, princesa.
— Sinto que está escondendo algo de mim. — Ela
desvia o olhar, do mesmo modo que todos fazem quando
pergunto algo. — O médico me disse que não podem me
dizer nada ainda pelo meu bem-estar, que minha memória

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pode voltar aos poucos, já que simplesmente não consigo me


lembrar do que ocasionou minha lesão e o coma... mas não
quero que haja assim comigo, mamãe. Nunca escondemos
nada uma da outra.
— Não posso te dizer, querida. — Suspira. — Quero
que se recupere logo, e tenho certeza que quando for a hora
certa, sua memória voltará.
Ela toca meu rosto com cuidado, e beijo suas mãos
com carinho. Algo dentro de mim parece inquieto, pois não
existe nada pior do que não saber o que aconteceu. Temo que
seja algo muito grave, algo que não aceite muito bem. O
problema é que não tenho uma suspeita qualquer do que seja.
Meu médico informou durante toda minha
recuperação que minha memória ainda é falha, mas como
minha última lembrança é a porta da sala na empresa de Levi,
aos poucos ela pode se expandir até que eu consiga me
lembrar. Ele disse que por via das dúvidas é melhor focar em
minha recuperação, e só depois, caso as lembranças não
voltem, meus familiares me contarão tudo.
— Com licença. — Levanto meu rosto, e me espanto
ao ver Levi entrar com um buquê de rosas vermelhas. —
Como vai a nossa menina, Clara? — Ele vem até mim e beija

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minha testa com carinho.


Quem é esse homem, e o que fizeram com o meu
marido? Ele tem sido outro desde que acordei, e esteve ao
meu lado todos os dias e me auxiliou como pode. Eu estou
completamente perdida com esse novo tratamento dele para
comigo.
— Você me chamou de.... — Minha voz parece travar
na garganta, e quando olho ao meu lado em busca do apoio de
minha mãe, noto que ela não está mais aqui.
— Menina. — ele diz e sorri levemente. — Minha
menina.
Meu coração parece falhar uma batida, e abaixo a
cabeça, sem poder encará-lo. Ele continua estendendo as
rosas em minha direção, porém não consigo. Ele estava me
chamando de sua menina, do mesmo modo de anos atrás,
quando fui dele pela primeira vez.
— Melissa. — insiste. Limpo disfarçadamente uma
lágrima que teimou em descer e o encaro, forçando um
sorriso. — Não gostou das flores? — pergunta, parecendo
envergonhado. — Eu posso lhe trazer outras, de outras
espécies, se quiser...
— São minhas favoritas. — confesso e pego o buquê.

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Cheiro-as profundamente e sinto o seu perfume.


— Por que está chorando?
— Eu apenas não consigo acreditar. — Dou de
ombros. — Não sei como agir perto de você agora, desse
novo Levi. — aponto-o de cima abaixo. — Você nunca...
— Eu quase morri quando senti que tinha te perdido.
— Ele me encara, e noto dor em seu olhar. Em dez anos
juntos, eu jamais o vi demonstrar fragilidade.
— Levi...
— Eu sei que fui o pior marido para você, quer dizer,
o pior homem. — Toca meu rosto com leveza. — Mas eu
jamais viveria sem você. Você é a minha menina, sempre foi.
Seus olhos verdes parecem amedrontados, e as
lágrimas descem pelo meu rosto. Ele as limpa com carinho, e
não consigo desviar nossos olhares.
— Sabe que sempre fui sua, não é? — pergunto sem
jeito, e ele abre um sorriso.
— Nada me faz mais feliz do que ouvir isso.
Penso que ele irá me beijar e já sinto meu corpo
formigar por antecipação. Tudo o que preciso nesse momento
é sentir seu toque. Porém, ele apenas se aproxima de meus
cabelos e sussurra:
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— Serei o homem que você merece.


Respiro fundo sentindo seu cheiro, e me apego ainda
mais as suas palavras. Depois de anos, ouvir o que sempre
esperei é como um bálsamo para tudo o que me ocorreu ao
seu lado. Não entendo ainda o porquê das ações de Levi, mas
se ele diz que percebeu que me perder seria sua morte, eu não
duvidarei
Apenas quero que isso não seja um sonho.

***

Assim que os portões de nossa casa se levantam,


sorrio ao ter a certeza de que não passarei mais uma noite no
hospital. O cuidado que minha família tem para comigo é
maravilhoso, mas ter de encarar aquele quarto cinza e branco
não é algo agradável.
Levi estaciona o carro e sai antes mesmo que eu possa
tirar meu cinto. Ele dá a volta, já abre minha porta, e o tira por
mim.
— Sabe que posso fazer isso por mim mesma, não é?
— zombo e ele beija minha testa.

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— Quero cuidar de você, minha menina. — Meu


coração se derrete no mesmo instante. — E sabe que ainda
precisa de alguns cuidados.
Saio do carro e ele passa as mãos pela minha cintura.
— Levi, não precisa de tudo isso...
— Sua mãe disse que mais tarde estará aqui. — Ele
me corta e eu bufo. Ele sorri, e antes de entrarmos, ele nos
para e coloca as mãos em cada lado do meu rosto. — Não
sabe como é bom te ver bem, te ter aqui novamente.
— Levi...
— Shiu. — Coloca minha franja atrás da orelha. —
Sei que não se lembra do que lhe disse enquanto estava
desacordada. Sei também que ainda não posso lhe contar o
que ocasionou o acidente, e nem quero que se preocupe com
isso. Mas quero que saiba que quando te trouxe para morar
comigo aqui, não foi por acaso.
— Como assim? — pergunto sem entender. Ele parece
se perder nas palavras, e fecha os olhos com força, como se
sentisse dor.
— Essa casa foi meu pai quem mandou construir. Ele
a desenhou detalhadamente para minha mãe. — Levo as mãos
a boca, assustada, e ele respira fundo. — Quando houve o
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acidente, segundo uma amiga de minha mãe, meu pai estava


trazendo-a para cá, para mostrar a ela o presente.
Seus olhos verdes estão apagados e lágrimas descem
pelo seu rosto. Levi nunca falou comigo abertamente sobre a
morte dos pais, e muito menos sabia que essa casa foi feita
por Tuan, seu pai.
— Seu pai era um romântico apaixonado, não é? —
pergunto cautelosa, e Levi abre um sorriso sincero.
— O único homem que vi como ele, foi seu pai. O
amor que unia eles...
— O amor que os une, Levi. — Eu o corto, e ele me
encara sem entender. — Nunca me pediu opinião sobre o que
houve, e muito menos falou comigo sobre isso, mas sabe o
que acho? Que o amor deles é tão forte que não teria como
um deles ir sozinho. O amor deles venceu a morte, e deixou
você e Ricardo como frutos dele.
Levi não diz nada, e simplesmente me puxa para um
abraço forte, mas com certo cuidado.
— Como tive tanta sorte de ter encontrado você? —
pergunta baixinho, e sorrio internamente por suas palavras.
Ele desfaz o abraço, porém continua segurando em
minha cintura. O carinho de suas mãos logo sobe até minhas
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costas, e ele segura minha nuca em poucos segundos. Encaro-


o em expectativa e noto que ele parece lutar com algo
internamente. Eu me aproximo dele e seguro em seu rosto.
Sua barba por fazer me causa arrepios e solto um leve suspiro.
Olho em seus olhos, e ele abaixa a cabeça para me encarar.
Tão alto e tão perfeito.
— Amo a cor dos seus olhos. — confesso, e ele me
puxa ainda mais contra ele.
Corpos colados e respirações alteradas. Sua boca se
abre e fecha várias vezes. Sem querer mais esperar, eu o puxo
em minha direção, e ele corresponde.
— Mãe! Pai! — Dou um pulo para trás e Laura vem
correndo em nossa direção.
Levi gargalha gostosamente, e antes que ela pule em
mim, ele a pega no ar.
— Vem aqui, princesa. — Eu a abraço com força, e
sinto algo molhar meus ombros.
Encaro-a e choro junto a ela por notar sua
preocupação, pela saudade que sinto de tê-la próxima a mim.
Nunca me imaginei por tanto tempo longe de Laura, sendo
que pelo que sei, fiquei um mês em coma; e isso somado a um
mês de recuperação, fizeram com que Laura ficasse sem mim

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por dois meses. Para mim, um mês já foi um martírio, mas


não queria que ela ficasse envolta ao meio hospitalar, e muito
menos que me visse ainda debilitada.
— Senti saudades de vocês. Nunca mais viajem por
tanto tempo, por favor. — pede inocentemente.
Olho para Levi, e ele apenas assente com a cabeça,
então descubro que essa foi a história que inventaram para
ela. Ele não havia me dito sobre isso, apenas contou que
preferiram não levá-la para o hospital, para que não ficasse
assustada, mas com o tempo, caso eu não voltasse, eles
contariam a verdade pra ela. Mas eu os entendo, sei que
pensaram no bem-estar de Laura.
— Prometo que nunca mais levarei sua mãe para
viajar por tanto tempo, princesa. — Ela sorri e meu coração se
enche de alegria.
Ali, parados em frente à nossa casa, minha família
parece finalmente completa. Por mais que não entenda o que
ocasionou minha ida ao hospital e o coma, nada mais me
interessa agora do que viver esse momento.
— Vamos entrar? — Levi pergunta e Laura corre para
dentro.
Seus olhos me encaram sem jeito, e eu sorrio enquanto

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caminho para dentro da casa. O que encontro na sala é o


mesmo ambiente, o de sempre. Marta vem até mim e me
abraça com carinho. Já havíamos nos falado no hospital, mas
foi bem rápido. Ela toca de leve meu braço e sai rapidamente,
me deixando sem entender sua reação. Mas assim que volto
meu olhar novamente para a porta, encontro Levi me olhando.
Ele não diz nada e eu também não. Sento-me no sofá
com Laura ao meu lado, e fico apenas fingindo por não
entender nada. Por mais que ele não tenha admitido em voz
alta, pela primeira vez na vida sei que sente o mesmo que eu...
Que ele me ama.

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Capítulo 10

Levi

Assisto com um sorriso bobo e de alívio em meu rosto


Melissa conversar animadamente com sua melhor amiga,
Lilian. Noto que Clara não consegue parar de sorrir também,
vendo a filha interagir tão bem com todos. Parece que
finalmente é real, que conseguimos acreditar que Melissa
venceu essa batalha.
Laura brinca animadamente com o tio, e eu apenas
continuo sentado no sofá. Foi ideia de Clara trazer todos até
nossa casa para ver Melissa, pois assim ela não estranharia a
situação. O que me surpreendeu, pois Clara foi a única pessoa
além de Carla e Ricardo, que me apoiou a trazer Mel para cá.
Eu não estranho, e muito menos ignoro, o modo
protetor que tanto Matheus e Daniel tem para com ela, assim
como Lilian e Marta. Sou culpado de tudo o que houve, não
há dúvidas disso. mas agradeço o fato de Clara me dar esse

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voto de confiança em cuidar de Melissa, pelo menos pela


última vez.
A campainha toca e me antecipo para abrir a porta.
Assim que abro, Carla me dá um forte abraço, e Rafael gruda
minhas pernas.
— Como vai o meu garoto? — pergunto, e ele sorri
animado.
— Lau está aí? — pergunta.
— Lá dentro, ela vai gostar de te ver. — Mal termino
de dizer e Rafael corre para dentro da casa.
— Fico feliz que tenha vindo. — Carla me olha com
carinho.
— E eu por estar aqui. — diz e passa por mim.
Encaro meu irmão sem jeito, e ele parece
simplesmente envergonhado. Não há palavras que expressem
o quanto dói ter essa barreira entre nós. De certa maneira,
meu irmão se sente culpado pelo que houve. Acho que ele
pensa que se tivesse me contado sobre a verdadeira mãe de
Rafael, eu não teria me envolvido com Nicole. Mas o passado
não pode ser mudado, e eu não o culpo por isso. Quem
poderia adivinhar?
— Oi, irmão. — diz, me cumprimentando. — Como
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estão as coisas? — pergunta.


— Por enquanto, tudo bem. — Ele assente e passa por
mim.
Vou logo atrás de meu irmão, e vejo Carla abraçar
com carinho Melissa, que retribui da mesma forma. As duas
conversam por alguns segundos, mas logo Carla se afasta para
cumprimentar a todos. Ricardo faz o mesmo, e logo todas as
mulheres entram em uma conversa.
Meu irmão senta ao lado de Matheus e os dois
conversam sobre negócio. Resolvo apenas observar tudo, pois
tenho certeza que Matheus não quer ouvir minha voz e muito
menos meus palpites.
O gritinho animado de Laura e sua risada enchem o
local. Sorrio ao vê-la correr da cozinha até mim, junto ao
Rafa. Todos gargalhamos ao ver Daniel entrar na sala sujo de
farinha; ele ainda finge estar bravo.
— Vou pegar vocês dois e não terei misericórdia. —
brinca. Laura e Rafa correm em direção as escadas. — Não
nasci para ser pai, tenho certeza disso agora.
— Você está se saindo super bem. — Carla intervém.
Todos voltam a conversar, porém eu presto atenção na
cena. Daniel parece desconfortável assim que Carla se
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aproxima dele, porém não a afasta.


— Estou sujo. — Mostra o rosto.
— Qual é, Dani? Sinto sua falta. — diz e o puxa para
um abraço.
— Eu também. — ele diz baixinho e a aperta com
força.
Olho ao redor para ver se Melissa notou a cena, porém
ela está gargalhando junto a Marta, Lilian e Clara. Matheus
parece alheio a cena, mas tenho certeza que notou algo a
mais. Já Ricardo parece destruído. Sem se fazer de rogado, ele
sai da sala de estar e vai em direção a cozinha. Sem conseguir
me conter, vou atrás dele.
Paro no batente da porta e sinto dor ao notar o estado
em que meu irmão se encontra. Ele segura com força a ilha da
cozinha, e logo leva uma das mãos ao rosto. Ricardo sempre
foi o tipo de pessoa impenetrável, nada o abalava desce a
morte dos nossos pais. Mas parece que agora nem eu o
conheço tão bem.
— Ric. — Ele não se vira, então me aproximo. Toco
seus ombros, segurando com força. — Não fique assim,
irmão.
— Eu sei que a feri, sei que não sou o homem certo
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para ela... e isso me mata por dentro. — Chora ainda mais.


— Ei, olhe para mim. — peço, porém ele se mantém
imóvel. — Olhe para mim, irmão.
Ric me olha temeroso, e pela primeira vez na vida,
não sou eu o irmão que sofre. Eu o puxo para um abraço forte,
e ele desaba em meu ombro.
— Levi... Ah meu Deus! O que houve? — A voz de
Carla se faz presente, e meu irmão se afasta rapidamente.
Ele não pensa duas vezes e sai pela porta da cozinha,
que dá para o jardim.
— Carla...
— O que houve com ele, Levi? — pergunta assustada.
— Tem certeza que precisa fazer essa pergunta? — Eu
a encaro de forma inquisitiva, e ela leva as mãos a boca.
— Eu não entendo. — diz ainda sem acreditar no que
viu.
— Meu irmão te ama, Carla, mesmo que não acredite
nisso. — Suspiro fundo. — Ele realmente te ama.
— Eu vou falar com ele. — Antes que possa impedi-
la, ela já passou por mim.
Já confuso por toda essa situação, resolvo então voltar

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para a sala. Melissa continua conversando, e eu apenas


encosto no batente da porta. Assisto-a sorrir alegremente e
sinto-me leve por alguns instantes.
— Posso falar com você? — Daniel para ao meu lado
e eu assinto.
Subimos as escadas até meu escritório em silêncio, e
encontro Laura e Rafael no meio do caminho.
— Podemos ir no jardim, pai? — pede animada.
— Assim que sua tia Carla voltar de lá, podem ir. —
digo e ambos assentem. Não quero que estraguem a conversa
de meu irmão.
Quando entramos no escritório, Daniel parece
inquieto. Eu o olho sem entender, então apenas sirvo um copo
de uísque.
— Obrigado. — Toma um gole. — Vou ser direto
com você; me conhece bem e sabe que não sou de enrolar.
— Ok.
— Sabe bem que não afastamos Melissa de você pelo
bem físico dela. — Assinto. — Mas se eu souber que ela está
mal ou sofrendo embaixo desse teto, eu juro que não pensarei
antes de tirá-la daqui.
— Entendo. — digo simplesmente.
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— Estou falando sério, Levi. Se eu tiver alguma ideia


de que foi atrás de Nicole...
— Eu não vou. — eu o corto. — Posso ter ferrado
tudo antes com Melissa, e mesmo que não acredite, eu a amo.
— Pouco me importo com o que sente ou deixa de
sentir. Enquanto Mel não se lembrar e estiver se recuperando,
sei que o melhor para ela é ficar aqui. Mas sei também que
assim que ela se lembrar, ela irá pedir o divórcio. — Toma o
resto do líquido. — Tenho que ir.
Daniel sai sem dizer mais nada e apenas viro meu
copo de uísque de uma vez. Ele ainda não tocou no assunto de
seu passado, nem tentou novamente depois do hospital, mas
eu não irei forçá-lo... não quero sequer pensar nisso.
O líquido queima ao descer, porém pouco me importo.
O que me machuca é saber que tudo o que Daniel disse é a
mais pura verdade. Eu perderei Melissa de qualquer forma.

***

Horas mais tarde, após todos se despedirem, apenas


consigo pensar no quão difícil tudo está sendo para meu

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irmão. Daniel voltou dos Estados Unidos depois de anos, e


meu irmão com certeza sente medo de perder Carla para ele.
Não sou ninguém para garantir nada, mas tenho quase certeza
de que Carla jamais o deixará. Que assim como ele, ela o
ama.
— Algum problema? — Melissa pergunta ao sair do
banheiro, e eu apenas nego com a cabeça. Não quero omitir
nada dela, porém é preciso.
— Apenas estou pensando o quão linda está nessa
camisola. — E realmente, ela está maravilhosa.
— Obrigada. — diz sem jeito.
Ela vem até mim e deita-se na cama. Eu a puxo para
meu peito, e ela se aninha feito uma gatinha.
— Sabe que sempre sonhei com isso? — pergunta
baixinho.
— Eu também, minha menina. — confesso e beijo sua
testa com carinho.
Seu olhar vem ao meu e suas mãos tocam com
delicadeza minha barba. Logo sua boca está próxima a minha,
e sei bem o que ela quer, o mesmo que eu tanto quero. Desvio
de sua boca e beijo com carinho sua bochecha. Quero tanto
beijá-la, amá-la... tanto que chega a doer. Mas ainda não
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posso. Eu me sinto sujo simplesmente por tocá-la. Eu não a


mereço de forma alguma.
— Por que está fugindo de mim? — pergunta, e eu
simplesmente ignoro. — Qual é o problema, Levi? — Ela se
afasta do meu corpo, e logo levanta-se a minha frente.
Ela com certeza está brava.
— Mel...
— Nada de "Mel", Levi. — ela me corta. — Você me
trata pela primeira vez como sua mulher, mas simplesmente
não me toca.
— Mel...
— Eu entendo que as coisas entre nós nunca foram as
melhores e que... faz um bom tempo que não ficamos juntos,
mas... — ela limpa uma lágrima. Não chore, minha menina!
— Eu te quero tanto que chega a doer. — Levanto-me,
vou até ela, e a pego em meus braços.
— Então por que não me tem? — pergunta chorosa, e
sinto meu corpo ferver. Eu a quero tanto.
— Por recomendações médicas, Mel. — minto.
— Um beijo não vai me quebrar, Levi. — Ela me
empurra. — Não minta para mim!

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— Não estou mentindo. — Eu a pego pela cintura e


jogo com cuidado na cama.
Meu corpo paira sobre o seu, e minhas mãos descem
por seus braços.
— Levi. — Ela me olha em expectativa.
— Não me faça...
Sem que eu espere, ela me beija. Quando seus lábios
tocam os meus, apenas consigo corresponder.
Beijo-a com todo o amor que sinto, com toda vontade
reprimida que tenho, sentindo a culpa me invadir, e ao mesmo
tempo encontrando finalmente meu lar.
Assim que separamos nossas bocas pela falta de ar,
mordo de leve seu pescoço.
— Você acaba comigo, mulher. — Ela ri lindamente.
— Pensei que fosse sua menina. — zomba.
— Você é... A mais terrível. — digo, e dessa vez a
beijo.
Sinto que é errado beijá-la dessa forma, sem que ela
saiba de tudo. Mas eu pararei nisso, não deixaria que seguisse
além. Não conseguirei amá-la sem ter a certeza de que ela me
ama também... que ela me ama apesar de tudo. Mas nesse

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momento permito-me tê-la próxima a mim, pois não deixarei


que ela acredite que não a desejo, que não a quero... sendo
que tudo que sonho é que ela seja novamente minha.

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Capítulo 11

Melissa

Dois dias depois

Sinto os raios de sol queimando sobre minha pele e


me espreguiço com vontade. Meu sono estava tão bom, que
apenas quero ficar aqui, dormindo o dia todo.
Quando sinto um peso a mais na cama, forço meus
olhos a abrir pela curiosidade. Surpreendo-me ao ver Levi
deitado ao meu lado, apenas vestido em uma calça de
moletom, e com um sorriso sincero no rosto.
— Boa tarde, minha menina. — diz e beija levemente
meus lábios.
— Boa tarde? — pergunto incrédula e ele assente. —
Mas tinha que levar Laura ao colégio... Espera, você não foi
trabalhar?
— Desde que ocorreu o acidente, não vou a empresa.

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— confessa, dando de ombros. — E já deixei Laura no


colégio, não se preocupe com isso.
— Mas...
Deixo minhas palavras morrerem no ar e encaro o
homem em minha frente, sem reconhecê-lo. Eu posso não me
lembrar do que houve pouco antes do acidente, mas o nosso
passado é claro para mim.
Levi em momento algum abriu mão de algo na
empresa para simplesmente ficar comigo. Muitas vezes viajou
por dias, até mesmo chegou a ficar meses fora; e
simplesmente ligava para falar com Laura. Muitas vezes
chegou tarde de reuniões ou simplesmente não dormia em
casa. Vê-lo falar de modo tão despreocupado sobre a empresa
acende algo dentro de mim, como se eu pudesse e devesse
procurar algo em meu interior.
— Ai! — reclamo ao sentir uma forte pontada na
cabeça.
— Tudo bem, Mel? — pergunta preocupado.
— Dor... — Aponto minha cabeça, sem conseguir
prosseguir com a fala.
— Um minuto, amor. — diz e corre para fora do
quarto.
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Deito minha cabeça no travesseiro e fecho os olhos


com força. Dói, dói muito.
— Aqui, querida. — Ele me entrega um comprimido e
um copo d'água. — Tome com cuidado.
— Obrigada. — digo ao engolir.
Enrolo-me novamente aos lençóis e tento manter meus
olhos abertos.
— Vou levá-la ao hospital...
— O médico disse que isso é normal, Levi. — Passo a
mão pelo seu rosto. — É só mais uma de minhas enxaquecas.
Caso piore, prometo que iremos.
— Ok. — Cede mesmo contrariado.
— Preciso apenas dormir mais um pouco. — suspiro
fundo. — Desculpe lhe dar trabalho, não quero que largue a
empresa e...
— Nada no mundo me tirará do seu lado, nunca mais!
— diz convicto e apenas me calo.
Assim, relaxo meu corpo e fecho os olhos
vagarosamente. Não tenho mais o que argumentar com ele,
nem forças para conversar. Sem ao menos perceber, caio em
sono profundo.

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Levi

Noto a respiração de Mel mais tranquila e seu corpo


parece relaxado em meio ao sono que a embala. Não consigo
descrever o pânico que tomou conta de mim quando a vi com
dor. Cada segundo parece que estou mais próximo de perdê-
la.
— Eu te amo, minha menina. — sussurro em seu
ouvido.
Minha covardia ainda não permitiu que declarasse
meus sentimentos em voz alta. Temo que isso possa mudar a
perspectiva de Melissa sobre mim. Quero fazê-la me
conhecer, mostrar-lhe quem sou de verdade... mostrar a ela
um lado que ninguém teve, que ninguém além dela terá.
Deixo-a no quarto e me encaminho até o escritório.
Abro o cofre e retiro de lá os documentos que a prenderam a
mim por todo esse tempo. Uma década a prendendo contra
sua vontade, usando Laura como minha arma para não perdê-
la. Não sei como fui tão burro e não percebi que desde sempre
foi por amor.
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Começo a reler linha por linha dos papéis e bebo um


gole de uísque a cada cláusula estúpida. Eu a proibi de viver,
de fazer suas próprias escolhas... Enquanto isso continuei com
minha vida, do modo mais egoísta possível.
Pego meu celular do outro lado da mesa e disco
rapidamente o número de meu amigo. Eu preciso de um
auxílio nesse momento.
— Soares.
— Como vai, florzinha?
— Levi? — pergunta em tom surpreso.
— Pois é, eu mesmo. Como vai, Caleb?
— Bom, no mesmo de sempre. — Faz uma pausa. —
Aconteceu algo? Desculpe, é que faz um tempo que não nos
falamos, e estive viajando muito no último ano.
— Bom, não seria o melhor advogado se não
trabalhasse, não é? — zombo e ouço-o bufar. — Na verdade,
liguei porque...— Tento continuar, mas as palavras parecem
travar em minha língua.
— Por que? — insiste.
— Há alguns anos pedi para que Herrera fizesse um
serviço para mim, alegando que você sabia do que se tratava.
Pedi para que fizesse alguns documentos que...
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— Prenderiam Melissa a você, correto? — pergunta e


fico pasmo.
— Como sabe disso?
— A sua sogra falou comigo há algum tempo. Ela me
contou sobre os documentos. Pediu para que eu fosse o
advogado de Melissa, mesmo sabendo que éramos amigos
desde a faculdade.
— Então sabe de todas as porcarias que estão escritas
nesses papéis, não é? — pergunto nervoso.
— Porcarias? Pensei que havia ligado para me
persuadir a não anular os documentos. — diz em tom
surpreso.
— Pensou errado, amigo. Quero saber como faço para
anulá-los, hoje mesmo se puder.
— Levi. — respira fundo. — Liguei para você no
mesmo dia que falei com Clara. Isso foi há um tempinho
atrás, mas não obtive resposta alguma.
— Sinto muito, os últimos tempos não foram os
melhores. — confesso. — Melissa... — Penso em contar
sobre tudo, porém não consigo assumir minha vergonha,
minha culpa.
— Não precisa dizer nada, Levi. Podemos nos
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encontrar amanhã e conversar, o que acha?


Caleb e eu temos a mesma idade. Fizemos cursos
completamente diferentes, e nos conhecemos em uma briga
de bar enquanto eu fazia intercâmbio em Londres, na época
da faculdade; nada muito relevante. Nem de longe imaginei
que nos tornaríamos amigos.
Porém, um ano depois, quando voltei ao Brasil,
reencontrei Caleb nos corredores da faculdade. No fim,
Daniel, Gustavo, Caleb e eu sempre saíamos juntos. Mas
depois da faculdade, muita coisa mudou. Assim como eu,
Caleb se casou cedo e teve de assumir as rédeas de sua
família. Daniel continuava o mesmo de sempre, e Gustavo
havia se afastado antes mesmo do término da graduação.
— Levi?
— Desculpe. — saio de meus devaneios. — O bar de
sempre?
— Ótimo. — diz. — Se quiser mesmo anular os
documentos, leve-os amanhã. Bom, não há problema em
rasgá-los... os oficiais estão na advocacia. Não sei como anda
seu casamento e muito o que houve, mas... — Suspira
cansado. — Vá por mim, Levi, essa mulher te ama. Você tem
sorte, amigo.

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— Eu sei. — confesso envergonhado. — Como vai a


pequena Luna?
Caleb começa a contar sobre sua filha e me permito
sorrir por alguns instantes. Falo sobre minha princesinha e
vejo que realmente crescemos. Nossos assuntos já não são
mais baseados em mulheres e notas. Falamos de nossas
famílias.
— E Victória? — pergunto curioso.
Antes que ele possa responder, gritos de Melissa me
deixam em alerta.
— Preciso desligar, Melissa acordou e... te explico
amanhã. — Desligo o telefone na mesma hora.
Chego ao nosso quarto correndo, e assim que a vejo
sentada na beira da cama, eu a puxo para meu colo. Analiso
seu rosto, tentando entender suas expressões. Desespero toma
conta de mim. Será que...
— O que houve, amor? — pergunto preocupado. — A
dor de cabeça voltou? Vamos ao hospital agora mesmo!
— A dor ainda persiste um pouco, mas não é por isso
que te chamei. — diz cautelosa.
— O que foi, minha menina? — pergunto ansioso.
Seus olhos castanhos me encaram profundamente.
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— Levi, quem é Nicole?

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Capítulo 12

Melissa

Sinto lágrimas correrem pelo rosto e parece que um


buraco se abriu em meu peito. Tento gritar alto, porém minha
voz é sufocada. Olho ao redor e me encontro praticamente
sozinha.
Parece um corredor, então o sigo. Quando paro em
frente a uma porta, tento abri-la. Tento empurrá-la com
força... algo me diz que há algo atrás dela. Quanto mais forço,
menos consigo ver. Forço ainda mais, e um nome surge em
minha mente.
Acordo sobressaltada e levo as mãos a minha cabeça.
A enxaqueca parece ter voltado com ainda mais força e tento
me localizar. Estou no meu quarto, em minha cama... Foi
apenas um sonho. Um sonho para lá de estranho. Porém, um
nome me atormenta: Nicole. Tento me lembrar de alguém
com esse nome, mas isso apenas piora minha enxaqueca.
— Levi! — grito repetidas vezes.

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Preciso de alguma resposta, esse nome só pode


remeter a alguma de minhas lembranças perdidas.
Em poucos segundos Levi aparece no quarto, e não
posso deixar de notar seu olhar de desespero.
— O que houve, amor? — pergunta. — A dor de
cabeça voltou? Vamos ao hospital agora mesmo!
— A dor ainda persiste um pouco, mas não é por isso
que te chamei.
— O que foi, minha menina? — pergunta, parecendo
ainda mais preocupado.
— Levi, quem é Nicole?
Podia mentir a mim mesma e dizer que não notei
nenhuma diferença em seu semblante, porém Levi parece
abalado, assustado, e ainda mais desesperado. Algo
aconteceu, tenho certeza agora; e essa Nicole está envolvida.
— Levi. — chamo sua atenção, e ele finalmente me
encara.
— Não posso mentir para você. — diz abaixando a
cabeça. — Mas também não posso lhe contar a verdade.
— Mas...
— Eu espero que se lembre de tudo o que houve, Mel,

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espero mesmo. — Suspira cansado. — Só peço para que não


se preocupe com os fragmentos que começarem a surgir em
sua mente. O médico disse que isso é normal, e é sinal de que
logo mais se lembrará de tudo.
— Por que não me diz quem é ela? — pergunto já
temerosa.
— Ela é alguém do passado de meu irmão. —
confessa e me encara. Seus olhos verdes são transparentes, e
consigo ver dor e verdade neles.
Ele não está mentindo, e isso simplesmente me
assusta.
— Queria poder lhe contar tudo, mas não posso, Mel.
É para seu próprio bem.
Lágrimas de insatisfação, cansaço e raiva com toda
essa situação descem com força pelo meu rosto. Meus soluços
logo se tornam altos, e choro feito criança.
Levo as mãos ao rosto e tento me controlar, porém ao
olhar para Levi, desabo ainda mais. Assim como eu, ele chora
freneticamente.
— Eu sinto muito, minha menina. — Eu o abraço com
força. — Eu sinto tanto por tudo isso.
— Eu sei. — sussurro em meio as lágrimas, e apenas
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deixo minha dor se esvair um pouco.


Antes não tinha noção de nada sobre o que houve.
Agora sei que existe uma tal de Nicole envolvida em meio a
isso.

***

Após irmos buscar Laura no colégio, resolvo tomar


um banho relaxante e deixo com que a água me acalme um
pouco. Por um instante não quero me lembrar do nome que
veio à minha mente. Apenas quero esquecer que algo ocorreu
e aproveitar os momentos ao lado de minha família.
Saio do banho enrolada na toalha e o gritinho feliz de
Laura faz com que desvie meu caminho para a janela.
Assisto-a brincar animadamente com meu irmão e sorrio com
a cena. Consigo até imaginar meu irmão e seus filhos, pois só
do modo que trata Laura, sei que será um ótimo pai.
Vou então até o espelho e começo a pentear meus
cabelos enquanto canto uma das músicas pop antigas que
adoro: Time after the time (Cindy Lauper).Canto a música
alto e me perco nas batidas que crio em minha mente. Danço
pelo quarto e uso a escova de cabelo como microfone.
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Rodopio uma, duas, três vezes. Na quarta, apenas sinto meu


corpo se chocar com algo.
Abro os olhos e estaco ao notar o olhar encantado de
meu marido. Isso parece um flashback da primeira vez que
nos vimos.
— Dessa vez não vai jogar a escova em mim, certo?
— zomba e eu gargalho.
— Eu deveria. — Eu o desafio.
— Por que, minha menina? — pergunta. Ele enlaça
minha cintura e sorri perto de minha boca. — Por que mereço
apanhar agora?
— Por ser tão... — Passo as mãos pelo seu rosto. Os
olhos verdes, meus olhos verdes. — Lindo.
— Linda. — Beija-me com devoção e posse.
Com o simples toque dele, sinto-me mais relaxada,
feliz... e pela primeira vez, amada.
— Tenho algo para lhe contar. — diz assim que separa
nossos lábios.
— Posso ao menos me vestir antes? — brinco.
— Prefiro você assim. — sorri maliciosamente.
— Então, sobre o que é? — pergunto curiosa.

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— Faculdade.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Bom, queria saber se já pensou em fazer algum
curso de graduação. — diz cauteloso.
— É. — gaguejo um pouco. — A muito tempo atrás,
sim. — confesso, envergonhada.
— Eu a inscrevi em um cursinho. — diz baixo e o
encaro incrédula.
— O que? — quase grito.
— Não gostou da novidade? — Desvencilho-me de
seus braços e ando até o outro lado do quarto.
— Está brincando comigo? — pergunto nervosa.
— Não, eu apenas queria fazer uma surpresa, e...
— Você me proibiu de estudar Levi, de trabalhar... —
Eu o olho, furiosa. — Por que fez minha inscrição em um
cursinho? Eu não vou deixar com que fique com Laura! —
grito.
— Não, Melissa! — diz atordoado. Ele vai até uma
pasta que está em cima da cômoda, e fico ainda mais confusa.
— O que tem aí?
— Tome. — Tira algumas folhas de dentro e me

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entrega. Começo a ler o documento, e logo noto ser o mesmo


que assinei sem nenhum tipo de conhecimento há anos. —
Rasgue. — diz de repente e fico pasma.
— O que?
— Rasgue. — Dá de ombros. — Quero sua felicidade,
Melissa; e só agora percebi o quão babaca venho sendo com
você nos últimos anos. — Ele me encara ansioso. — Rasgue
tudo isso, seja livre e realize seus sonhos. Não quero você
presa a mim por conta disso; quero apenas seu amor, Mel.
Fico ainda o encarando, desconfiada e emocionada ao
mesmo tempo. Eu havia passado anos sofrendo por não poder
ir a faculdade, ou no mínimo trabalhar... e de repente Levi se
arrepende de tudo e diz para realizar tal sonho. Isso é tão
confuso.
— Você realmente me inscreveu em um cursinho? —
pergunto emocionada.
Esse homem em minha frente faz com que meu
coração ao mesmo tempo desconfie, o ame ainda mais. Levi
apenas assente, e então num ato corajoso, rasgo o documento
no meio. Encaro-o e noto que sorri aliviado, e sem me conter,
o abraço com força.
— Não sabe o quanto isso é importante para mim. Não

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sei o que mudou entre nós, mas tenha certeza de que nunca o
amei tanto como agora. — confesso, e Levi me encara com
lágrimas nos olhos.
— Eu...
— Papai! — O gritinho de Laura nos tira de nosso
momento, e fico apenas na expectativa de ouvir as três
palavras.
— Já volto. — Beija meus lábios e logo sai atrás de
nossa filha.
Sento-me na minha cama e só assim noto que
continuo de toalha. Troco-me rapidamente e ajeito meus
cabelos em um rabo de cavalo.
Penso e repenso sobre tudo que houve, e tento conter
o sorriso largo em meu rosto. Nunca fui tão feliz quanto
agora.

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Capítulo 13

Melissa

Saio do quarto e vou em direção ao andar debaixo.


Assim que chego a sala, escuto gritos de Laura vindo do
jardim. Vou até lá, e a cena com a qual me deparo faz meu
coração se encher de felicidade.
Laura está correndo do pai, enquanto ele a persegue
com a mangueira. Os dois tem uma interação tão grande que
sequer consigo imaginar algum momento que ele a maltratou.
Fico algum tempo parada, apenas absorvendo a imagem
deles.
— Gatinha. — Os braços de meu irmão me rodeiam, e
viro-me pra ele. — Como anda se sentindo?
— Estou bem, sinto-me leve como nunca antes. —
confesso.
— Eu te amo, gatinha. — Viro-me e o abraço. — Não
sabe como senti medo de te perder.
— Também te amo, Dani. — Toco seu rosto e noto
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seu sorrio forçado. — Tem algo errado? — pergunto incerta.


— Nada com que deva se preocupar. — Dá de
ombros.
Seu celular toca, e assim que ele olha o visor, bufa
baixinho.
— Algum problema? — pergunto.
— Apenas a recepcionista que se tornou minha
assistente pessoal mais uma vez me ligando com dúvidas. —
diz claramente nervoso.
— Qual o problema? Já que ela é nova no cargo, você
não acha bom ela tirar dúvidas?
— O problema é ela, por ser irritante e... — Ele fica
quieto de repente, e leva as mãos aos cabelos.
— Isso me cheira a amor. — brinco, e ele fecha seu
semblante.
— Não sonhe tão alto, Melissa.
Só por ter dito meu nome, já sei que é um assunto
proibido. Nunca o vi apaixonado, mas pelo que parece, Dani
já sofreu por amor, tenho certeza.
— Tenho que ir falar com ela. — revira os olhos. —
Volto assim que der, gatinha.

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— Ok, boa sorte! — Ele dá um beijo em minha testa e


logo sai.
Sinto cheiro de paixão no ar.
Volto minha atenção novamente para Levi e Laura, e
uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto, e lembranças do
passado vem com força a minha mente. Lembro-me de
quando a peguei no colo pela primeira vez, de como Levi
ficou emocionado ao ver que a cor dos olhos dela é idêntica
aos dele. De como, mesmo com a gestação difícil, foi mágico
poder vê-la crescer dentro de mim. De que mesmo que Levi
fosse meu amor, Laura se tornou meu mundo quando descobri
que a tinha em meu ventre.
Levi finalmente me vê e sorri em minha direção.
Limpo as lágrimas rapidamente e tento disfarçar.
Ele franze o cenho de repente e eu não entendo. Dou
um passo para frente, porém é em falso, e perco o equilíbrio.
Ao mesmo tempo que tento me segurar, tento entender onde
foi parar o outro degrau da escada.
Minhas mãos não alcançam o pequeno corrimão, e
meu corpo vai para frente. Tento amortecer a queda, porém
sinto apenas o impacto em minha cabeça.
— Mãe!

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Ouço o grito de Laura e tento dizer algo. Logo seu


corpinho está ao meu redor e sorrio para ela.
— Está tudo bem, pequena. — Passo as mãos por seus
cabelos.
— Minha menina, vem cá! — Levi me ajuda a
levantar com cuidado e segura meu rosto com as mãos. —
Sente alguma dor? Bateu a cabeça, não foi? Droga! Rafael
quebrou o degrau esses dias, esqueci de te dizer. Merda, eu...
— Ei, se acalme! — Sorrio fraco. — Não sinto dor
alguma, estou bem.
— Acho melhor irmos ao hospital e...
— Levi Gutterman! — digo alto. — Está assustando
nossa filha.
— Ok, eu só...
Os olhinhos de Laura estão arregalados, com certeza
se assustou com minha queda. Sinto um certo incômodo na
cabeça, mas resolvo ignorar.
— Ei, não precisa ficar preocupada. — digo e ela
força um sorriso. — Por que não vê se tem os ingredientes
necessários para seu lanche favorito na geladeira? Assim,
posso fazê-lo para você.
— Eba! — sorri, já mais animada.
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— Vá na frente, eu preciso falar com seu pai. — digo


e ela faz uma careta. — Será rápido, filha. Vai lá!
Ela então corre para dentro, e nem me dá tempo de
pedir para que tome cuidado.
Viro-me para Levi, e ele me abraça com carinho,
como se sua vida dependesse disso.
— Eu sinto tanto medo. — sussurra. — Não
suportaria perdê-la.
— Levi. — Eu o forço a me olhar. — Eu te amo, você
sabe disso. Não vai me perder.
Ele desvia o olhar, e tento identificar o que está
havendo.
— Eu não te mereço. — diz convicto. — Não mesmo.
— Levi...
— Deixe-me dizer isso. — Suspira fundo. — Eu sei
que nunca fui um bom homem, sei que nunca te tratei como
merece. Mas eu era um tolo, ou melhor, ainda sou. Mas sei
agora que nada vale a pena sem você. Eu amo você, minha
menina. E sinto muito por não ter dito isso antes.
Lágrimas vem aos meus olhos e não consigo controlar.
Ele disse mesmo que me ama?

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Deus! Ele disse!


— Eu te amo mais do que tudo. Sem você eu jamais
conseguiria seguir em frente. — Seus olhos estão marejados.
— Espero que um dia me perdoe por ter sido um completo
idiota.
— Eu já perdoei. — Toco seu rosto e seus olhos
parecem sofridos. — Eu sempre estarei aqui.
— Obrigado por existir, minha menina.
Ele então toca meu rosto e me aproxima do seu. Seus
lábios descem sobre os meus, e ofego por sua aproximação.
— Eu te amo. — diz novamente e me beija.
Eu me entrego ao beijo como me entreguei há uma
década atrás, em nossa primeira vez. E como sempre, ele me
faz esquecer tudo... até a dor de cabeça que insiste em me
incomodar.
Eu o amo.
Ele me ama.
Isso que importa.

***

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Mesmo querendo comer em casa, Laura acabou nos


convencendo de jantarmos no shopping.
Assim que chegamos em casa, ela se joga no sofá e
começa a resmungar algo.
— Vem, princesa. — Levi a chama. — Para o quarto!
— Não! — resmunga. — Quero dormir aqui hoje.
— Nada disso! Vamos! — Ele então a pega e joga nos
ombros.
Laura está tão cansada que sequer questiona o pai.
Sorrio da cena e vou logo atrás.
Assim que passo pelo quarto de minha princesa, vejo
que ela já "capotou" na cama. Levi beija de leve sua testa, e
aproveito para fazer o mesmo.
— Tive pena de ter que obrigá-la a colocar pijamas.
— ele diz e eu sorrio.
— Por hoje ela pode. — digo.
Ele assente e vamos para nosso quarto. Jogo minha
bolsa no chão e tiro os saltos que já me incomodam. Sinto
uma leve tontura, mas consigo me manter ereta.
— Mel.
— Sim?

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— O que acha de tirarmos férias? — Levi pergunta


sem jeito.
— Mas eu não iria fazer cursinho? — brinco e seu
semblante cai.
— Ah, certo. Me desculpe... é que faz tanto tempo.
Quer dizer, nunca tiramos férias em família. Viajamos...
— Estou brincando, Levi. — Sorrio. — Gosto da sua
ideia de viagem.
— Sério? — pergunta, aparentemente surpreso.
— Sim. Em alguns meses serão as férias escolares de
Laura, não é? — pergunto e ele concorda. — E bom, não tão
cedo poderei voltar a estudar. Recomendações médicas, se
lembra? Sem esforço.
— É verdade. — diz, já mais sorridente. — O que
acha de irmos para o sul?
— Blumenau? — pergunto animada. Sempre sonhei
em conhecer esse lugar.
— O que quiser. — Ele vem até mim. — Pense com
carinho nisso. Quem sabe até sonhe com nossa viagem. —
brinca.
— Ok, pode deixar. — Dou-lhe um beijo casto. —
Vou tomar outro banho.
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Eu me afasto dele e entro no banheiro.


Deixo a banheira enchendo, e enquanto tiro minhas
roupas, penso na proposta de Levi e sorrio sozinha. Uma
viagem para o sul do Brasil é algo esplêndido.
Retiro a presilha do cabelo, e assim que encaro meu
reflexo no espelho, sinto uma pontada na cabeça.
— Merda. — reclamo baixinho.
A passos lentos vou até a banheira, toco a água e noto
que já está quente, então entro nela. Com certeza a água me
ajudará a relaxar um pouco.
Antes de molhar minha outra mão, pego a caixinha de
som que sempre deixo do lado de fora do box, e coloco minha
playlist para tocar.
Extreme preenche o ambiente com More than words e
deixo meu corpo ficar imerso por água.
Deito minha cabeça para trás e tento não fechar os
olhos. Devido ao cansaço que sinto, é muito fácil cochilar
aqui mesmo. Mas novamente uma forte dor vem em minha
mente e não consigo controlar. Seguro com força a borda da
banheira e tento gritar por Levi, mas nada sai.
Apago ali mesmo.

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***

Abro os olhos um pouco incerta e tento focar minha


visão. Vejo que ainda estou dentro da banheira e que sequer
Levi veio até mim. A música que ainda toca é More than
words, e como está no fim da música, percebo que apaguei
por pouco tempo.
Levanto-me e me enrolo no roupão. Tento entender o
que houve para que tenha apagado, mas nada vem em mente.
Sinto outra dor forte e fecho os olhos com força. Como se
estivesse presa em um sonho, começo a ouvir a voz de meu
irmão.
Mas não é um sonho, são lembranças... minhas
lembranças.
— Você acha mesmo que vou cair nesse seu papinho
de marido infiel arrependido? Acha mesmo que Melissa vai
acreditar nessa merda toda?
— Ela pode até não acreditar, mas vou fazer com que
me ouça. Você querendo ou não, Daniel, ela é minha mulher.
— Levi respondeu, e senti meu estômago embrulhar.
— Por que não conta toda verdade a ela então? De

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que a trai desde sempre? — Estaquei e fiquei apenas ouvindo


do lado de fora. — Conte a ela que sempre teve essa obsessão
sem nexo por essa tal Nicole. — Meu irmão gritou mais alto.
— Acha mesmo que ela vai ser idiota de te aceitar de volta?
Minha cabeça girava, e apenas conseguia pensar que
tudo parecia ainda mais errado. Então meu irmão sempre
soube de tudo?
— De onde tirou isso? — Levi perguntou.
— Eu descobri isso um pouco antes de voltar pro
Brasil, e foi por pura coincidência. Acredite ou não, de
alguma forma Melissa descobriria sua sujeira. — meu irmão
disse, e ao menos soube que ele não me escondeu nada.
Era sobre isso que ele falaria comigo na noite da
festa.
Seguro com força na parede e tento não perder essas
lembranças. Não, eles não estão falando disso. Só pode ser
uma invenção de minha mente.
— Eu a amo, Daniel. — Levi disse baixo.
Abracei meu próprio corpo e desci com as costas
apoiadas na parede até o chão.
— Ama tanto que vivia fodendo com Nicole?
Abro os olhos no mesmo instante e grito alto como se
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estivesse sendo sufocada há poucos minutos.


A porta do banheiro se abre no mesmo instante e Levi
aparece.
— O que houve, minha menina?
Não consigo raciocinar direito, e tento me controlar,
mas minha mão vai direto para seu rosto, deixando a marca de
meus cinco dedos.
— Eu não sou sua menina. — digo com ódio. — Eu
não me chamo Nicole!
Seus olhos verdes se arregalam e ele começa a chorar.
Eu não consigo sentir mais nada por ele no momento, apenas
nojo.
Levi morreu para mim.

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Capítulo 14

Levi

Encaro o jardim e penso em como essa viagem será


algo bom para minha família. Lembro-me pouco dos meus
pais, mas as palavras que meu pai me disse quando
observámos mamãe correr atrás de Ric ficaram marcadas em
minha memória.
— A mulher da sua vida não vai ser aquela te
desestabiliza ou estabiliza, ela será o meio termo imperfeito.
Você ainda é jovem, não entende muito bem disso, mas um
dia a mulher certa vai chegar, e ela vai olhar para você do
mesmo modo que sua mãe me olha. E será ela quem irá
arrumar suas gravatas caso você puxe a mim.
Sei que na época ele me disse isso enquanto divagava
sobre seu relacionamento com mamãe, ele poderia até mesmo
achar que eu não lembraria. Mas eu lembro de absolutamente
tudo que passei ao lado deles. E suas palavras apenas me
remetem ao remorso agora, por não ter percebido que sempre
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foi Melissa... Por ter me iludido com Nicole, e ter feito com
que meu casamento acabasse antes mesmo de começar.
De repente ouço o grito alto de Melissa e me apavoro.
Corro até a gaveta do criado mudo e pego a chave extra do
banheiro. Assim que o abro, entro em pânico ao ver Melissa
com os olhos fechados, segurando-se na parede.
— O que houve, minha menina? — pergunto incerto e
preocupado.
Tento me aproximar, mas logo sinto uma grande
ardência em meu rosto. Melissa me encara friamente, e levo
as mãos onde seus dedos me marcaram.
— Eu não sou sua menina. — diz e meu mundo para.
— Eu não me chamo Nicole.
Arregalo os olhos, e sem conseguir me conter, começo
a chorar. Não tenho palavras para dizer nada, e apenas
consigo tentar buscar algo de bom no semblante de Melissa.
— Diz para mim o que aconteceu quando abri aquela
maldita porta. — exige em tom baixo, mas vejo suas mãos
tremendo. — Só pode ser a porta da sua sala, pois é a última
coisa que me lembro.
Continuo calado e meu choro não cessa. Não consigo
admitir isso em voz alta. Não para ela.
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— Você não se lembra? — pergunto em meio a um


soluço, e ela apenas nega com a cabeça.
— Lembrei de sua conversa com meu irmão no
celeiro. — Respira fundo. — É tudo verdade, não é? Por isso
ficou tão assustado quando perguntei sobre Nicole? Você me
trai com ela desde sempre? — Continuo em silêncio, sem
saber o que fazer. — Diz para mim. — exige novamente, e eu
continuo embarbascado com a situação. — É o mínimo que
pode fazer, Levi.
— Mel, eu não posso...
— Você me traiu e agora não pode admitir isso em
voz alta? — pergunta, e sua voz se eleva.
— Por favor, me deixe...
— Se você não me disser, eu vou me lembrar. — diz
decidida. — E caso isso não aconteça, eu mesma procurarei
essa tal Nicole e...
Caio de joelhos no chão ao ouvi-la falar de tal modo e
sua fala cessa. Não é a Melissa que conheço, não a minha
menina. Sua voz é gélida, e eu sei que mereço isso.
— Você me viu com ela. — digo entre os soluços e
levo as mãos ao rosto, sentindo nojo de mim mesmo.
— Eu vi você e ela...
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— Mel, não...
— Eu os vi transando na sua sala? — pergunta e
levanto meu olhar, para simplesmente encontrá-la encarando
a pia. — Eu sempre pensei que você era demais para mim,
Levi. Sempre pensei que nunca seria o suficiente, e vejo que
eu estava certa.
— Não, minha menina, você sempre foi. — confesso e
choro ainda mais. — Você sempre será.
— Levante daí, Levi. — pede e se afasta ainda mais
de mim. — Chorar e se ajoelhar não vai adiantar de nada,
sabe disso.
— Mas Mel, eu...
— Preciso ficar sozinha. — pede e passa por mim.
Bato com força minha cabeça na parede e desabo ao
ouvir a porta de nosso quarto sendo aberta.
Eu esperava qualquer reação dela, menos essa. Aos
poucos me arrasto pela parede e corro para fora do quarto,
tentando encontrá-la. Como já imaginava, ela está no quarto
de Laura, abraçada a nossa filha.
Olho pela fresta da porta, e como se sentisse minha
presença, Melissa se vira e me encara. Ela então se levanta e
vem até a porta, fechando-a em minha cara, trancando em
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seguida.
Encosto-me na porta e desabo novamente.
— Eu te amo, minha menina. — declaro e deixo as
lágrimas descerem.
Eu a perdi.

Melissa

Abraço Laura e deixo as lágrimas caírem, as quais


lutei bravamente para que Levi não visse. Sei que minha
primeira reação foi violenta, mas eu não sou assim, nunca fui.
Eu não sou o tipo de mulher que explode, apenas consigo
analisar tudo e depois agir. Mas Levi parece ter quebrado até
isso em mim, pois minha maior vontade era de acertá-lo a
cada segundo que ouço sua voz.
E ele admitiu o que tanto temia, o que sempre temi.
Tento então me lembrar do que vi quando abri aquela porta,
mas como sempre a escuridão é minha resposta.
Por que não consigo me lembrar?
E mesmo sem querer, consigo imaginar um pouco de
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como possa ter sido. Choro ainda mais e tento controlar


minha respiração, pois não quero que ele ouça e saiba que
sofro.
Ele sempre me viu sofrer todos os dias em que me
negava um simples carinho nos últimos dez anos de casados,
nos momentos em que fiz jantares e ele nunca apareceu... E
até mesmo quando desisti em partes desse casamento e
simplesmente o ignorava. Mas nunca imaginei que ele poderia
me trair, nunca pensei que seria tão covarde assim.
Ele me prendeu em um casamento onde não tinha
como sair sem perder a guarda de minha própria filha, sem
poder estudar e trabalhar. Para que? Para no fim transar com a
mulher que o convinha. Sendo que me tinha aqui, esperando
por ele. Mas pareço tão anestesiada com essa dor, que sei que
já a sofri antes... Como se fosse apenas um flashback do que
já passei.
Um filme dos últimos dias ao seu lado passa em
minha mente, de como ele agiu do modo como sempre
sonhei. Eu me tornei importante em sua vida, sem ele sequer
se importar com a empresa. Ele quis que eu estudasse, e ainda
queria uma viagem para a cidade que sempre sonhei
conhecer. Agora eu não consigo entender o porquê disso,

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sendo que tudo foi mentira, e esses últimos dias foram apenas
a ilusão de um homem que nunca existiu.
E em meio ao choro e incredulidade, caio em um sono
que me leva a reviver um passado que me dói demais, mas o
qual sempre me mostrou o quanto errei ao entrar nesse
casamento.
Era nosso aniversário de um ano de casados.
Preparei o jantar e pedi para que minha mãe cuidasse de
Laura naquela noite. Estava animada como nunca, mesmo
que nos últimos tempos Levi tenha se mostrado tão distante
que sequer me beijava. Mas não era de desistir fácil, então
mostraria a ele que estava tudo bem, que estava aqui por ele.
Como já sabia que seu horário de chegada, tudo
estava em perfeita ordem às oito da noite. Eu me vesti do
modo mais belo que pude e me maquiei de forma que ficasse
simples, mas elegante. Eu queria ao menos seduzir meu
marido e mostrar a ele que meu amor valia a pena.
Sentada em frente à mesa posta, esperei por alguns
minutos, e de repente os minutos se tornaram horas...
intermináveis horas, para ser mais clara.
Respirei fundo várias vezes tentando controlar as
lágrimas, mas quando encarei o relógio e vi que eram duas

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da manhã, senti como se fosse meu fim. Ele não apareceria.


Ele sequer se lembrou, tinha certeza. Mesmo não querendo
demonstrar fraqueza, fiquei ali, sentada, esperando a porta
da frente ser aberta, esperando o mínimo de respeito dele,
que ao menos viesse para casa.
Quando relógio marcou quatro da manhã, finalmente
ouvi a porta sendo destrancada. Encarei meu reflexo no
grande espelho da sala de jantar e senti meu mundo desabar
ainda mais. Eu parecia péssima, assim como realmente
estava. Levi entrou a passos incertos e deu uma breve olhada
em minha direção. Sorri amargamente para ele e virei mais
uma taça de vinho, o seu vinho favorito. Quando ele veio se
aproximando, tentei colocar mais na taça, mas o vinho havia
acabado, e eu sequer percebi que bebi a garrafa toda.
— Melissa? — perguntou, incerto. — O que aconteceu
aqui?
— Nada com que tenha que se importar, senhor
Gutterman. — Ri sem humor e tentei me levantar, mas foi em
vão. Seus braços me ajudam a ficar de pé. — Agora me diga,
como estava com sua amante? — perguntei, impedindo que
as lágrimas descessem.
Eu não deveria falar a respeito disso, mas era a única

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opção que me restou. Não queria acreditar que ele seria


capaz disso.
— Você bebeu demais, Melissa. — disse nervoso. —
Vamos para o quarto.
Soltei-me dele, e mesmo cambaleando consegui subir
as escadas sozinha. Entrei no quarto de Laura e tranquei a
porta, e sequer escutei Levi me chamar. Sozinha, finalmente
me permiti chorar.
Acordo sobressaltada e lágrimas correm por meu
rosto, assim como nas fortes lembranças que tive. Lembro-me
agora do quanto me martirizei na época pensando que ele
tinha uma amante... Eu deveria ter sido mais esperta e o
confrontado ainda sã. Mas de nada adiantaria, se mesmo que
esse homem tenha sido o pior para mim, eu ainda o amo.

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Capítulo 15

Melissa

Acordo com o corpo de Laura se mexendo contra o


meu. Noto que ela ainda dorme e saio com cuidado de sua
cama. Vou em direção ao banheiro dela e encaro meu reflexo
no espelho.
Estou péssima, se não for algo pior.
Lavo meu rosto e encaro-me novamente. Não que
minha aparência esteja tão acabada, mas é como se pudesse
ver meu interior. Consigo relembrar cada momento ao lado de
Levi, ano após ano esperando pelo amor dele, o qual nunca
senti de verdade, a não ser nesses dias após o acidente.
Dói demais ver que todas as vezes que ele me pediu
perdão por algo, ele não se referiu ao passado, mas sim a
traição.
— Como pode alguém pedir perdão depois de dez
anos de traição? — pergunto baixo, e o silêncio é minha
resposta.

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Eu entendo o lado de minha família nisso tudo, pois


com certeza por recomendações médicas me deixaram morar
com Levi, para que não estranhasse a distância.
Sento-me no chão e fico divagando sobre tudo. Então
isso agora será minha vida?
Mesmo querendo ficar me perguntando e lamentando
sobre tudo, levanto-me e dou um jeito em meus cabelos
bagunçados. Saio do banheiro e encontro Laura na mesma
posição, então deixo-a então dormir um pouco mais, já que
hoje é sábado.
Assim que saio do quarto dela, assusto-me ao ver Levi
dormindo sentado ao lado da porta dela. O que ele faz aqui?
Por um momento apenas o inspeciono, tentando me
enganar de que ele não me fez isso, de que ele não me traiu.
Tento forçar minhas memórias para ver o que aconteceu
assim que abri a maldita porta que insiste em atormentar meus
pensamentos; mas como sempre, apenas sinto uma dor de
cabeça.
— Mel? — Suspiro fundo e o encaro, notando que ele
sente dor nas costas ao tentar levantar.
— Laura ainda está dormindo, mas acho que vai
querer ir ao parque como prometeu a ela. — digo

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rapidamente. — Vou pegar algumas coisas e sair.


— Vai para onde? — pergunta incerto.
— Não interessa, Levi. — digo e respiro fundo,
tentando manter-me fria. — Cuide de nossa filha, ao menos
faça isso.
— Mel, por favor, deixe-me...
— Deixar você se explicar, Levi? — pergunto e sinto
as lágrimas querendo descer. — Só me diga uma coisa, por
que brincar comigo? Qual o motivo de fazer isso?
— Eu vi você no chão molhado do asfalto em uma
poça de sangue. — diz e lágrimas descem por sua face. —
Você ouviu minha conversa com Daniel e falou comigo, e no
mesmo instante correu para o carro e pegou a estrada em meio
a chuva... Eu vi tudo, Melissa!
Fico um pouco em choque, mas logo consigo
assimilar algumas coisas. Foi essa a causa do acidente, a
admissão de traição dele para meu irmão.
— E por isso sentiu culpa? Quis enganar mais uma
vez a idiota da Melissa até que a memória voltasse? Para quê?
Para ir rir com sua amante e...
— Eu não... Não, Mel! — diz e tenta se aproximar,
porém dou passos para trás. — Eu me arrependi de tudo que
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fiz no momento em que você me viu com... — ele de repente


fica em silêncio.
— Com Nicole? — indago nervosa e com nojo do
homem em minha frente.
Sinto uma forte dor de cabeça e escoro-me na parede
para não cair. Novamente a porta vem em minha mente e
finalmente a reconheço: a porta da sala de Levi.
— Diz para mim, Levi. — digo com raiva. — Pelo
menos assuma o que fez. — exijo.
— Eu não consigo dizer isso. — diz covardemente.
— O que? — praticamente grito. — Conseguiu transar
com ela por dez anos, pelas minhas costas, mas não consegue
admitir o que fez em voz alta? — pergunto, sentindo
novamente a raiva me consumir.
Como ele foi capaz disso?
— Eu sei que não te mereço, Melissa. Nunca mereci,
na verdade... mas o modo como agi com você agora, foi a
primeira vez na vida que fui eu mesmo contigo, e...
— Me poupe disso, Levi. — digo enfática. — Quero o
divórcio.
— O que? — pergunta em um sussurro.

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Viro-me e sigo para o “nosso” quarto, encontrando a


cama intocada. Vou até o closet e pego uma grande mala,
jogando dentro dela algumas roupas que dão para passar ao
menos uma semana fora daqui. Preciso urgentemente de um
lugar para morar, talvez o apartamento que Daniel me deu há
alguns anos, o qual nunca foi usado.
— Melissa, sei que não me quer mais, e eu sequer
posso implorar por uma chance. — diz e continuo de costas,
ignorando-o. — Por favor, apenas espere um pouco antes de
contar isso para Laura. Ela pode estranhar e...
— Eu sei como cuidar da minha filha, Levi. — Viro-
me para ele e encaro-o com nojo. — Se aguentei todos esses
anos ao seu lado não foi por conta do meu amor idiota e
infantil por você, mas porque não queria perdê-la. Mas o que
fez... — Balanço a cabeça negativamente. — Não sei os
papéis que rasguei realmente valem alguma coisa, mas tenha
certeza de que vou procurar o melhor advogado, e não irá
sequer pensar em tirar Laura de mim.
— Eu jamais farei isso, Melissa. Eu te amo. — diz e
noto sinceridade em seu olhar, porém meu interior grita em
dor.
— Eu nunca vou acreditar nisso, Levi. — digo

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nervosa.
Ele me encara, perplexo, e apenas continua parado,
observando meus passos. Queria poder dizer que não me
importo disso ser verdade, mas no fim sinto-me ainda mais
quebrada com sua aproximação e insistência.
— Pode me deixar a sós? — pergunto e escuto-o
suspirar fundo.
— Eu poderia mentir e dizer que não vou lutar por
você, mas eu vou. Se você quer o divórcio, Melissa, eu te
darei. — Assusto-me, mas continuo arrumando as roupas na
mala. — Mesmo o divórcio não irá me impedir de lutar,
porque eu te amo, Melissa. Eu te amo, minha menina.
Com isso ele sai, deixando-me sozinha em meio as
roupas. Mesmo sem querer, desabo novamente. Lágrimas
descem por meu rosto e tento não fraquejar.
Ele está com pena.
Ele não me ama.
Tenho que me convencer disso, pois no fim, essa deve
ser a verdade.

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Capítulo 16

Levi

Dias depois

Já são nove da noite, e estou completamente sozinho


em minha casa. Os últimos dias tem sido difíceis. Dei todo
espaço que Melissa precisa para se estabilizar, e prometi a ela
que assinarei o divórcio, por mais que isso me faça sofrer. Eu
farei tudo o que ela quer.
Eu encontrei Caleb no dia combinado, e contei a ele
parte do que houve, aquilo que consegui admitir. Pedi então
para que anulasse de vez todos os papéis. E assim, Melissa
está quase livre de mim... Só não totalmente pois ainda não
deu entrada no divórcio.
Ela resolveu passar o último fim de semana na casa
dos pais com Laura, e não sei ao certo se ela contou a eles de

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que se lembrou, mas pelas mensagens que Clara me manda,


perguntando sobre o bem-estar dela, tenho quase certeza de
que não... Só ainda não entendi o porquê.
Melissa quis sair de nossa casa logo após voltar da
fazenda, mas com certo cuidado consegui convencê-la de
ficar por aqui ao menos enquanto arruma um lugar para ficar,
um local seguro. Ofereci-me para ajudá-la, porém ela foi
irredutível e negou no mesmo instante. E assim restou-me
apenas concordar.
Tentamos não demonstrar por enquanto a Laura o que
está havendo, pois sei que minha filha sofrerá com isso. E é o
que mais temo além de perder Melissa, fazer minha filha
sofrer por conta de meus erros.
Surpresa maior foi receber ligação de Ricardo há
algumas horas avisando que Laura irá dormir em sua casa,
pois ela tem uma viagem amanhã com o colégio, e ele se
ofereceu em levá-la; já que Rafael, mesmo sendo de outro
ano, também vai. Meu irmão disse também que Melissa sabe
disso e concordou. Eu sequer sabia da viagem de minha filha.
Não percebi, mas já estou me tornando um péssimo pai.
Nesse exato momento sinto-me pela primeira vez no
lugar de Melissa. Observei-a bem nos últimos dias. Ela

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sempre chega por volta das seis da tarde, ou até mesmo antes.
Hoje dei o resto do dia de folga pra Marta, e após saber que
Laura não viria, preparei um jantar para Melissa e eu,
tentando ao menos sentar-me a mesa com ela. Mas como a
vida dá voltas, aqui estou eu, completamente só.
Quantas vezes Melissa dever ter passado por isso?
Quantas vezes deve ter notado que cheguei tarde demais, ou
simplesmente não cheguei em casa? Quantas vezes ela deve
ter já imaginado eu e uma amante? Aposto que muitas. E
agora, sou eu nessa situação.
Mas e agora? Onde Melissa está? E pior, com quem
ela está?
Mesmo sabendo que é errado, pego um copo e encho
de uísque, encarando o jantar que fiz ser deixado de lado. Não
a culpo por isso, pois sei que mereço esse sofrimento. E já
que não tenho redenção, a bebida se tornou minha única
saída.
O copo não fica vazio em nenhum momento, e quando
vejo o relógio já marca vinte e três horas. Sem pensar muito
bem, jogo o copo na parede e começo a beber direito do bico
da garrafa.
Imagens de Melissa com outro homem me

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atormentam, e sinto a dor de ser trocado, deixado... traído.


Mesmo cogitando a ideia de que Melissa não é assim, ela não
o faria ainda casada comigo. Ou faria?
A passos tortos, vou até o nosso quarto e pego o
álbum de casamento. Melissa estava tão linda naquele dia.
Um sorriso largo estampado em seu rosto, assim como o
meu... Não posso negar mais isso. Só pelas fotos é nítido que
nos amamos... que eu sempre a amei.
Saio andando pela casa com as fotos em uma mão e a
bebida em outra. Quando me toco, já estou no chão da sala,
abraçado as fotos, chorando pelos erros, pelos acertos... Por
tudo. Por ter sido um babaca completo sem escrúpulos.
Quando a porta da frente finalmente se abre, apenas
vejo de relance Melissa se aproximar de mim.
— Você bebeu? — pergunta e eu sorrio para ela,
vendo o quão linda está com um simples vestido azul.
— Eu te amo, minha menina. — digo de relance.
— Levi, por que bebeu assim? — pergunta e noto-a
nervosa.
Será que estou tão ruim assim?
— Eu fiz um jantar pra nós. — confesso, e torço para
que não saia enrolado. Não posso estar tão bêbado.
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— Você precisa de um banho e cama. — diz e tenta


tocar em mim, porém não permito.
— Não, minha menina. — digo e lágrimas correm por
minha face. — Não mereço sua bondade e compaixão. Brigue
comigo, Melissa. Julgue-me como quiser.
— Não sou assim, Levi. Deveria ao menos saber
disso. — Tento me afastar, porém ela não permite. — Anda
logo, não posso com seu peso, sabe disso. Então me ajude!
Mesmo a contragosto deixo com que ela me ajude a ir
até o banheiro. Ela liga a ducha e me encara sem jeito.
— Não faça mais isso. Nossa filha poderia chegar e
ver essa cena. — Apenas assinto, e nem penso em dizer que
sei que Laura não virá, para apenas ficar observando-a.
Essa pequena proximidade com ela é a única coisa que
tenho desde que ela me pediu para sair do closet há quase
duas semanas.
— Tente não se machucar. — diz e eu assinto. — A
propósito, preciso falar com você.
Sem dizer mais nada, ela sai. Entro debaixo da ducha
fria e o choro vem com força. Talvez seja a bebida induzindo
ainda mais a parte de mim que sofre por ela. Mas não tenho
vergonha, eu sofro pela mulher que amo... a mulher que não
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mereço.
Um bom tempo se passa e escuto batidas na porta.
Percebo então que é melhor sair antes que acabe dormindo no
chão do box. Enrolo-me em um roupão e encaro meu péssimo
reflexo no espelho. Tento dar um jeito em meus cabelos,
porém estou horrível. E assim mesmo, saio do banheiro.
Encontro Melissa sentada na cama, encarando
algumas fotos espalhadas pela cama. Ela sequer entrou nesse
quarto desde que teve lembranças, e geralmente dorme no
quarto de hóspedes.
— Melhor? — pergunta de repente e me encara.
Apenas assinto, sentindo-me envergonhado. — Eu vou me
mudar neste fim de semana. — Sinto como se o mundo
desabasse sobre mim. — Ainda não falei com Laura a
respeito, mas deixe que falarei com ela, ok? — pergunta, e eu
continuo parado, sem reação.
— Prefere falar sozinha com ela? — pergunto e
Melissa suspira fundo.
— Sim, para não a confundir ainda mais. — Dá de
ombros e se levanta. — Tudo bem para você? — pergunta e
me encara.
— Como quiser, Melissa. — digo derrotado.

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Ela então assente e se vira para sair; mas antes que


atravesse a porta, eu digo:
— Eu te amo.
Melissa continua seu caminho e finge não me escutar,
assim como fez nos últimos dias. Eu digo a ela todos os dias
que a amo, tentando de alguma forma mostrar algo, mas no
fundo sei que o melhor é demonstrar isso. Amor não são
palavras, são atitudes. E eu preciso fazer algo a respeito.

***

Quando acordei nessa manhã, jamais pensei que tudo


pareceria ainda pior. Após colocar meu terno e tentar
inutilmente arrumar minha gravata, assim que saí do quarto,
vi de relance Melissa seguir para dentro do quarto com uma
mala.
Ela já começaria a mudança hoje mesmo.
Mesmo sentindo-me péssimo, tenho que ir trabalhar e
enfrentar o mundo, já que não sei nem como lutar pela mulher
que amo. O dia na empresa é infernal, e sinto-me perdido sem

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uma secretária, já que a minha está de licença maternidade.


Nicole, mesmo sendo minha assistente, nunca me ajudou em
nada, e por isso não faz nenhuma falta. Já eu, preciso logo
contratar alguém.
Mesmo a trancos e barrancos, consigo fazer algo em
minha sala. Assino vários papéis e organizo-me como posso
nesse dia que parece não ter fim. Olho em meu celular as
horas e noto que já ultrapassei o horário que geralmente saio
daqui, quer dizer, o horário que aderi por agora, já que antes
nunca tive um horário fixo.
Laura está viajando com o colégio, e pelo que
consegui conversar com minha cunhada mais cedo, os alunos
foram para uma espécie de acampamento mirim e voltam
amanhã. Não sei nem como Laura não me disse nada sobre,
ou até mesmo Melissa. Acho que devem tê-lo feito,
principalmente Laura, mas como estou alheio a tudo, devo
apenas ter concordado e me esquecido.
Finalmente saio de minha sala e vou em direção ao
elevador, que chega em alguns segundos. Levanto meu olhar
assim que as portas se abrem, e me assusto com a cena que
vejo.
Daniel está praticamente se escondendo atrás de uma

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jovem morena, a qual se não me engano, é a recepcionista que


se tornou sua assistente pessoal provisória. E pior, ela está
corada e com os cabelos bagunçados. Mas como não tenho
porquê me intrometer, entro no elevador e apenas
cumprimento-os com a cabeça.
Assim que entro em meu carro, decido por pegar o
caminho mais longo para casa, o qual tem um dos restaurantes
que geralmente almoço, mas que hoje teria de ser meu jantar,
já que tenho quase certeza de que Melissa não aparecerá em
casa tão cedo, assim como tem feito todos os dias.
Estaciono meu carro em frente ao Chandel, o
restaurante de um dos primos de Caleb, Pedro. A comida
daqui é excelente, e é um dos poucos lugares que gosto de vir.
Entro no restaurante já pensando no que comer, e
tentando ter fome para isso. Nos últimos dias não tenho
comido corretamente, dando lugar a bebida em meu
organismo.
Vou até o balcão e peço para que guardem uma mesa
para mim, já que resolvo ir ao banheiro antes de comer.
Assim que siga para o corredor dos banheiros, escuto a voz
uma voz conhecida e fico incrédulo.
Volto alguns passos e vejo uma porta fechada,

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escutando novamente a voz.


Não, eu devo estar pirando!
Fico algum tempo apenas parado, tentando ouvir mais
alguma coisa, porém não escuto nada, e assim constato que
estou realmente enlouquecendo, ouvindo a voz de Melissa em
todos os cantos.
Sigo para o banheiro e lavo minhas mãos, passando
um pouco de água no rosto para ficar mais calmo. Quando
finalmente me sinto melhor, saio do banheiro e estaco assim
que levanto meu olhar, encontrando a mulher que amo
abraçada a Pedro.
O que?
Lágrimas se formam em meus olhos, mas a raiva é
maior e me cega. Antes mesmo de pensar direito e dos dois
me verem, puxo Pedro do aperto de Melissa e o acerto com
força, derrubando-o no chão.
— Para, Levi! Por Deus, para! — Escuto os gritos de
Melissa, e já possesso de ódio, paro no mesmo instante de
bater. Viro-me para ela e sinto-me sujo, renegado, com raiva.
— O que pensa que está fazendo? — ela pergunta e tenta
ajudar Pedro a se levantar.
Ódio toma conta de mim.
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— O que você pensa que está fazendo? — pergunto


com raiva. — É minha mulher e fica agindo feito uma puta,
defendendo seu novo amor.
As palavras saem de minha boca antes mesmo que eu
possa impedi-las. Os olhos magoados de Melissa mostram-me
o quão baixo e idiota fui. Abro a boca para dizer algo, porém
sou impedido por um soco direto em meu rosto.
— Nunca mais! — Pedro grita. — Nunca mais a trate
dessa maneira!
Encaro-o com ódio, mas não revido. Apenas observo
Melissa abraçada a ele, e o modo como me olha, com medo,
faz com que me sinta um monstro. E no fim, acho que foi isso
que me tornei.
Saio do restaurante e paro na primeira conveniência
que encontro, comprando várias garrafas de uísque. Sem me
importar com mais nada, vou até meu velho apartamento e
por lá fico. Abro a primeira garrafa e sorrio, olhando para
todas as outras lacradas.
Será uma longa bebedeira.

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Capítulo 17

Melissa

— Você está bem? — Pedro pergunta abraçado a


mim, e eu assinto.
— Me desculpe por isso. — Toco seu rosto e me
afasto. — Estou morta de vergonha.
— Esse cara é louco por você. — ele diz e eu nego
com a cabeça.
— Acho que precisa de gelo nesse rosto. — brinco e
ele sorri para mim.
Felizmente, ele não me odeia.
— Senhor Soares, eu gostaria de...
Viro-me em direção a voz feminina que se calou e
encontro uma mulher loira de olhos azuis. Encaro Pedro
inquisitiva e ele dá de ombros, confirmando o que já sei. Ela é
a mulher pela qual ele me contou ser apaixonado.

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Pedro e eu nos esbarramos de novo quando fui no


apartamento de Lili, e assim combinamos de nos ver para
conversar. Resolvi então vir hoje ao restaurante, comer algo,
mas acabamos conversando dentro de seu escritório, já que
ele está cheio de trabalho.
— Desculpe, eu volto depois. — a mulher diz, e
praticamente corre pra longe de nós.
— Ela não gostou de mim. — digo e sorrio pra ele, o
qual parece decepcionado.
— É isso que ela sempre faz, foge de mim. — diz
frustrado.
— Acho que há mais nessa história do que me contou.
— Instigo-o, e ele me encara envergonhado. — Ok, não vou
forçar nada.
— Lola é uma incógnita para mim. Não sei se ela me
ama ou odeia, ou pode até mesmo não sentir nada. — diz.
— Bom, pela reação dela ao me ver com você, tenho
quase certeza de que ela sente algo... e acho que pode ser ao
menos paixão. — digo e ele abre um pequeno sorriso.
— Você acha, candy? — pergunta, já mais animado.
— Conquiste-a, Pedro. — Bato em seu ombro. —
Tenho que ir, tenho que pensar em como falar com Laura
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amanhã sobre minha separação com o pai dela, e acho que


isso não vai ser fácil.
— Devia pedir a ele para falar com ela juntamente a
você. — sugere. — Deve ser difícil, Mel.
— Muito.
Logo me despeço de Pedro e vou para casa que será
minha moradia por poucos dias. Começo a arrumar algumas
coisas de Laura em seu quarto, aproveitando que ela está
viajando.
Arrumei o apartamento que meu irmão me deu de
dezoito anos, o qual pensei que no fim daria para Laura, mas
agora será nossa nova casa. O lugar está impecável, e por isso
não terei que demorar muito para poder me mudar para lá.
Basta agora falar com Laura a respeito. Sei que ela já notou a
minha distância de Levi, mas deve estar imaginando que é
apenas mais uma briga. Espero apenas que ela não sofra tanto
com isso, mesmo sabendo que é inevitável.
Marta deve estar em seu quarto estudando, e nunca me
senti tão só nessa casa. Por mais que tenha tido dias tristes
aqui, eu adoro o lugar. Penso agora sobre o que Levi me
contou, da casa ter sido projetado por seu pai de presente para
sua mãe. É uma linda declaração de amor. Quem me dera um

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dia ter um amor assim.


Fico pensando a respeito de tudo entre nós, sem
conseguir discernir ainda ao certo como agir. Ainda não falei
com o advogado, mas acho que também não demorarei. Fico
questionando a mim mesma se realmente o amo, se isso que
estou sofrendo é por um amor que ainda há em mim, ou por
tudo que sonhei por nós dois.
As horas passam e deixo algumas coisas arrumadas.
Sigo para a cozinha e como apenas um biscoito, sem ter
sequer a vontade de fazer algo para comer.
Sentada na cozinha, começo a repassar várias coisas
em minha mente. Penso nos últimos dias e sei que não estão
sendo fáceis. Viver sob o mesmo teto que Levi faz-me sentir
suja, e não consigo não lembrar a cada segundo da sua
traição.
Tentei me lembrar sobre o que vi, sobre tudo que
houve, mas a conversa dele com meu irmão é a única coisa
que veio à mente. O resto é vazio, escuro, e sem nenhum
nexo. Há momentos que penso ser melhor assim, já que não
está sendo fácil ao menos imaginar o que aconteceu, então
imagine só me lembrar da cena ao vivo e a cores?
Tomo um remédio para enxaqueca e subo as escadas,

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indo para o quarto de hóspedes. Ajeito-me entre a cama e os


edredons, pensando em olhos verdes que tanto me magoaram,
mas que ainda me prendem tanto.
— Será que ainda o amo? — pergunto ao quarto
vazio.
E com essa pergunta, adormeço.

***

Acordo com o toque de meu celular. Meio


desorientada. levo minha mão até ao criado mudo e o pego.
Levando-o em seguida a orelha.
— Alô. — digo limpando os olhos.
— Bom dia. — Escuto uma voz feminina
desconhecida.
— É, bom dia. — respondo já alarmada.
Olho meu celular rapidamente e noto que já são oito
da manhã.
— Desculpe, mas com quem falo? — pergunto.
—Na realidade, deveria se perguntar sobre quem se

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casou. — diz e eu me assusto.


— O que? Do que está falando? — pergunto confusa,
e já levanto-me da cama.
Silêncio se faz do outro lado e fico preocupada. Vou
até o quarto de Levi e bato algumas vezes, porém ele não
abre. Abro a porta e encontro o quarto vazio.
— Alô? — insisto. — Ok, eu vou desli...
— Não pense em terminar essa frase, afinal não
queremos que a princesinha de olhos verdes se machuque. —
diz e fico estática.
— O que? Do que está falando? Quem é? — pergunto
desesperada.
Desço as escadas correndo e busco Levi pela casa,
porém ele não está.
— Mamãe! — Escuto a voz de Laura do outro lado da
linha e fico estática, parada em um degrau. — Viu só, a
princesinha está aqui comigo. — a voz feminina diz, e sinto-
me quebrar.
— Nicole? — arrisco e a pessoa gargalha.
— Não é tão burra como pensei. — Lágrimas já
descem por meu rosto.

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— O que quer com minha filha? — pergunto nervosa


e procuro por Marta em seu quarto.
— Primeira coisa, que deve prestar atenção. Se
chamar a polícia eu mato os dois. — diz e paro no mesmo
instante. — Quero Levi e Ricardo comigo, em menos de uma
hora, senão as criancinhas morrem.
— Espera. — fico sem fôlego. — Como assim dois?
— pergunto perdida.
— Tia! — Escuto o grito de Rafael, e logo a
gargalhada de Nicole. — Viu só, o principezinho também
participa da festa.
— Como? — pergunto incrédula.
Marta sai do seu quarto no mesmo instante e me
encara inquisitiva.
— O que houve, Mel? — ela pergunta, porém ignoro.
— Nicole, me diga onde estão. Por favor, não faça
nada com...
— Sem papo furado, querida Mel. — debocha. —
Onde estão os homens que pedi? — pergunta e eu entro em
pânico.
— Eu vou ligar pra eles, vou...

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— Seja rápida. — diz rapidamente. — Ou as crianças


morrem.
Dito isso, ela desliga. Entro em pânico e tento discar o
número de Levi, o qual infelizmente vai para a caixa postal.
— Mel, o que está havendo? — Marta pergunta
perdida e eu começo a chorar. — Calma!
Escuto a porta da frente sendo aberta e corro para o
outro andar. Chegando lá, Levi me encara assustado, e eu
tento me acalmar para dizer algo.
— Melissa, o que houve? — pergunta.
— Nicole me ligou. — digo e ele arregala os olhos. —
Ela está com Rafael e Laura. — Limpo as lágrimas que
descem. — Ela os sequestrou, Levi.
— O que? Não! — diz incrédulo e pega o celular,
ligando para alguém em seguida. — Ric, Carla não iria pegar
as crianças no colégio hoje?
Ouço sua conversa e fico ainda mais ansiosa. Esse
realmente foi o combinado, Carla os pegaria para nós no
colégio após a viagem.
Levi fala algumas coisas no telefone e eu começo a
me sentir mal. Preciso de minha filha aqui.
— Levi. — Eu o chamo assim que ele desliga o
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telefone.
— O que ela disse, Mel? — ele pergunta e eu tento me
manter em pé. Estou muito nervosa.
— Ela quer você e Ricardo onde ela está. Mas sem
polícia, senão ela vai matá-los. — conto desesperada. — Ela
não me passou endereço algum. Eu não sei onde é, Levi. —
Começo a chorar desesperadamente.
— Calma. — ele diz e se aproxima de mim, me
abraçando. Soluço em seu peito, e tento me acalmar. — Me
empresta seu celular. — pede.
Passo o celular para ele, e Levi se afasta.
— Vou resolver isso. — diz e segura meu rosto com
as mãos. — Nossa filha vai voltar para casa, sã e salva, ok?
— Assinto várias vezes, com o coração apertado. — Marta,
cuide dela, por favor. — ele diz, e só assim noto que Marta
está próxima a mim, quando ela toca meus ombros.
— Traga nossa filha para casa, Levi. — peço e ele
beija minha testa.
— Eu trarei.
Então ele sai, deixando-me sem saber o que fazer.
Mesmo apoiada em Marta, caio no chão, chorando,
com medo e pavor sobre o que está acontecendo. Só quero
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que esse pesadelo acabe.

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Capítulo 18

Levi

Assim que saio de casa com o celular de Melissa, olho


para o número que ligou para ela. Noto que Nicole sequer
usou o confidencial, ela quer realmente ser encontrada.
Pego o carro e vou em direção à casa de meu irmão.
Ricardo está me esperando na frente da casa e entra
rapidamente.
— Ela me ligou pelo celular de Carla. — conta. — Ela
me passou o endereço onde está. — Suspira frustrado, e
coloca o endereço em meu GPS.
— Ela disse algo mais? — pergunto e dirijo o mais
rápido que posso.
— Além de destilar todo veneno de sempre, ela nos
deu uma hora para chegar até ela, senão... — Ele para de falar
e joga a cabeça contra o banco.
— Onde Carla está? — pergunto.

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— Com Nicole também. — conta desesperado. — Só


que desacordada, pelo que Nicole falou.
— Deus! — exclamo incrédulo.
— Eu não sei o que pensar, Levi. — diz frustrado. —
Nicole deve estar armada e... Eu não vou me perdoar se algo
acontecer com eles, irmão. Eu não...
— Não é sua culpa, Ric. — digo convicto e o olho
com pesar, pois no fundo eu sei que a culpa é toda minha. E
agora estou fazendo outros pagarem o preço pelos meus erros.
Em cerca de vinte minutos chegamos ao local que
Nicole indicou. Vejo que é um terreno baldio, e logo ao lado
tem uma velha casa.
Ricardo e eu nos entreolhamos e vamos até lá, batendo
na porta em seguida. Tentamos abri-la porém está trancada.
Como não obtemos nenhuma resposta, pego o celular
de Melissa e retorno para o número que a ligou.
— Ora ora...
— Onde está, Nicole? — pergunto, já a cortando. —
Estamos onde pediu, agora diga onde está.
— Tão impaciente, meu amor. Mas saiba que te amo
desse jeitinho. — diz e sinto a ânsia tomar conta de mim.

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— Onde? — insisto.
Ela desfaz a ligação e sinto-me ainda mais frustrado.
Mas de repente a porta da frente da casa se abre, revelando
Nicole com uma arma em mãos.
— Finalmente, meus queridos. — diz e aponta a arma
pra mim. — Entrem.
Olho para Ricardo, e ele parece tão ou mais perplexo
do que eu diante a essa situação. Soube a pouco tempo do
quão mentirosa e manipuladora Nicole é, mas criminosa...
isso nunca passou por minha mente, e duvido de que pela de
meu irmão.
A passos incertos entro na casa, e fico ainda mais
assustado ao ver Laura amarrada a Rafael, e ambos
amordaçados do lado esquerdo do cômodo.
— Filha, fica calma. — digo rapidamente.
— Rafa... — Ricardo diz e encara Nicole. — Solte-os,
Nicole. Já nos tem aqui. — diz, e Nicole abre um largo
sorriso.
— Ainda não. — ela continua apontando a arma pra
mim. — Antes de tudo precisamos conversar.
— Onde Carla está? — meu irmão pergunta, e Nicole
o encara com o semblante fechado.
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— Gostaria de dizer no inferno. — diz e gargalha. —


Mas para seu azar, ela ainda está viva.
— Por Deus, Nicole. Por que está fazendo isso? —
pergunto impaciente, querendo tirar de algum modo a arma
das mãos dela.
— Por amor. — diz e sorri, vindo até mim e
colocando a arma contra minha barriga, tocando com a outra
mão o meu rosto. — Por amar vocês dois.
E agora tenho ainda mais certeza, Nicole é
completamente doente.
— Deixe-os ir, Nicole. — Ric insiste, então Nicole se
vira para ele, apontando a arma em sua direção.
— Eu quem decido hoje, Ricardo. Está mal-
acostumado, achando que é o dono do mundo. — gargalha
sem vontade. — Mas não vai ser como na época em que me
enganou para dar à luz àquele monstrinho ali. — ela diz e vai
até Rafael, apontando a arma em sua cabeça.
— Nicole, não! — Ricardo grita.
— Você sabia, príncipe? Que eu sou sua mamãe. —
diz e tira a mordaça da boca de Rafael, o qual a encara
completamente surpreso e assustado.
Ela passa a arma pelo rosto dele e entro em desespero.
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Precisamos pará-la.
— Tira as mãos do meu filho, sua vadia. — Olho em
direção a voz e me assusto ao ver Carla sair de um quarto,
aparentemente desorientada, com uma mão na cabeça.
— Olha só quem acordou para a festinha. — Nicole
amordaça Rafael novamente e bate palmas. — Olá, querida
amiguinha.
— Solte as crianças, elas não têm nada a ver com isso.
— Carla diz, e enquanto Nicole presta atenção nela, e de
canto de olho vejo que Ric fazer um sinal com a mão.
Percebo então que há um pedaço de madeira próximo
a meu irmão, o qual sei que ele quer usar.
— Pense grande, Carlinha. — Nicole debocha. — Eles
são a razão de ter perdido os homens que amo. Melissa
prendeu Levi com a princesinha de olhos verdes, e você
roubou meu príncipe, e conseguiu prender Ricardo.
— Deus, você é louca! — digo, tentando chamar sua
atenção. — Arquitetou isso desde sempre? — pergunto
incrédulo, enquanto Ric tenta pegar o pedaço de madeira.
— Quando te conheci, confesso que não sabia quem
era; mas quando contou seu sobrenome... foi amor
instantâneo. — Sorri, amarga. — Mas agora acho melhor
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começarmos a festa de verdade.


— Nicole, pense bem no que vai fazer...
— Shiu. — diz e aponta a arma pra Carla. — Adeus,
amiguinha.
— O que? — pergunto, e então Nicole destrava a
arma. — Nicole, não faça isso.
— Tarde demais para pedir algo, amor. Eu quem
decido.
Tento impedi-la, mas quando escuto o som do tiro já é
tarde demais. Ricardo está em cima de Nicole, e Carla está
parada há alguns passos de mim.
Ricardo entrou na frente da bala que era para Carla.
— Não! — Nicole grita e tira o corpo de Ricardo de
cima do seu. Ela continua com a arma em mãos e leva essa
até o próprio rosto, chorando desesperadamente. — Por que
fez isso, meu amor? — pergunta a Ricardo, o qual tosse
sangue.
— Irmão...
— Não se aproximem. — Nicole grita e aponta a arma
para mim.
— Ele vai morrer, Nicole. — Carla diz em desespero.

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— Por favor, deixe-nos levá-lo ao hospital.


Analiso meu irmão e vejo que foi ferido no abdome.
Precisamos urgentemente tirá-lo daqui.
— Não, amor... eu não queria fazer isso. — Nicole diz
e continua com Ricardo em seu colo. — Fala comigo, amor.
Ricardo apenas continua encarando Carla.
— Eu te amo, minha bela. — ele diz e Carla chora
ainda mais.
— Ric, não...
Vejo meu irmão começar a fechar os olhos e Nicole
entra em desespero. Ela pega a arma e coloca no peito.
— Iremos ficar juntos agora, amor. — diz, e antes que
possamos fazer algo, ela leva a arma a cabeça e atira.
Nicole cai morta ao lado de meu irmão.
Corro até eles e jogo a arma longe. Carla tira meu
irmão rapidamente do colo de Nicole e chora tentando acordá-
lo.
Corro até as crianças, as quais estão claramente
assustadas e traumatizadas, desamarrando-as e tirando as
mordaças.
— Pai! — Rafael corre até Ricardo e o abraça. — Pai,

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não!
— Princesa. — digo para Laura, me abraça, chorando.
— Ele tem batimentos ainda, Levi. — Carla diz e sorri
um pouco em meio as lágrimas. — Precisamos de uma
ambulância.
Pego o celular em meu bolso e ligo para a emergência.
Assisto essa cena de horror ao meu redor e meu
coração falha uma batida. Eu mereço a morte, pois é minha
culpa, não meu irmão.
Só peço a Deus que ele não se vá. Não podemos
perdê-lo.

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Capítulo 19

Melissa

Cada minuto que se passa parece infinito. Marta ligou


para meu irmão e Lili e contou o que houve. Há algum tempo
Daniel apareceu aqui e depois foi atrás de Levi. Não consigo
nem pensar no que está acontecendo, minha preocupação
agora apenas piora.
— Ei. — Lili me chama, e eu a encaro ainda com as
lágrimas descendo.
— O que foi? — pergunto, na esperança de alguém ter
ligado ou mandado uma mensagem.
— Daniel me mandou uma mensagem. — Fico em
alerta. — Calma, Laura e Rafael estão bem. — esclarece, mas
noto que está preocupada.
— O que aconteceu, Lili?
— Eles estão no hospital. As crianças estão apenas em

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observação e... seu cunhado foi baleado; está passando por


uma cirurgia de risco.
— Meu Deus! — exclamo atônita, já me levantando.
— Preciso ir para lá, agora.
Lili assente, e assim como Marta, vem comigo até o
carro.
— Deixa que eu dirijo. — ela diz, e eu apenas vou em
direção ao banco do passageiro. Quero apenas ver minha
filha.
Minutos depois, assim que Lili estaciona,
praticamente pulo do carro. Vou em direção a recepção e digo
o nome de Laura, querendo vê-la imediatamente.
Logo eles liberam minha entrada, e minhas amigas
ficam para trás, já que só os familiares podem vê-la.
Vou até o quarto que me disseram e sinto-me um
pouco mais aliviada. Laura está deitada em uma cama,
dormindo feito um anjo. Levi está ao lado dela, tocando de
leve sua mão e de olhos fechados. Ele sequer notou minha
presença.
— Oi. — digo e chego próxima a minha filha, tocando
de leve seu rosto.
Começo a chorar de alívio, e mal consigo crer que ela
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está realmente aqui.


— O médico resolveu sedar Rafael e ela por tudo que
viram. — Levi diz e respira fundo. — Mas logo eles
acordarão.
— Obrigada. — digo e ele abre um fraco sorriso.
Vejo dor e preocupação em seus olhos, e só assim me
lembro que Ricardo está nesse mesmo hospital, só que sendo
operado.
— Alguma notícia de Ricardo? — pergunto e Levi
nega.
— Ele está entre a vida e a morte. — Ele leva as mãos
aos cabelos e passa várias vezes. — Eu só quero que ele saia
dessa.
— Ele vai, Levi. — digo complacente. — Ricardo é
forte.
— É o que espero. — diz cabisbaixo.
Viro-me novamente para Laura e passo as mãos por
seus cabelos encaracolados. Minha princesa.
— Ela e Rafael precisarão de acompanhamento. Eles
viram tudo o que houve. — confessa de repente, e eu o encaro
sem entender.

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— O que aconteceu? — pergunto.


— Nicole os amarrou e amordaçou. — Fico estática.
— Ela tentou atirar em Carla, mas Ricardo entrou na frente.
Nicole achou que ele havia morrido, então atirou em si
mesma. — diz rapidamente.
— Meu Deus! — exclamo, perplexa.
— Eu sinto muito. Na realidade, não sei nem como te
pedir perdão por fazer nossa filha presenciar isso. — diz e
lágrimas descem por seu rosto. — Ela é meu maior orgulho,
Melissa. Eu sinto tanto por ter falhado com ela, com você,
com meu irmão...
— Ei. — digo e sem pensar muito, me aproximo dele.
— Não é sua culpa.
— Se Ricardo morrer, eu... — ele leva as mãos ao
rosto e chora feito um menino.
Nesse momento, não penso sobre o que ele me fez,
apenas puxo seus braços e o abraço por um segundo, tentando
diminuir sua dor, sua culpa.
— Ele vai sair dessa, Levi. — digo e me afasto. Ele
me olha com pesar.
— Obrigado. — diz e força um sorriso. — Vou te
deixar a sós com ela um pouco.
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— Tudo bem.
Ele então sai, e assim aproveito para velar o sono de
minha pequena.

Levi

Ando pelos corredores do hospital e logo encontro a


lanchonete. Sento-me na primeira mesa que consigo e peço
um café amargo. Olhando novamente ao meu redor, lembro
de quanto foi difícil ficar todos os dias aqui, vendo Melissa
em coma. Agora meu irmão está entre a vida e a morte... e
tudo isso por minha única e exclusiva culpa.
Assim que pego o café, o líquido desce queimando
minha garganta, fazendo com que acorde um pouco, mas as
lembranças do que houve há pouco ainda estão impregnadas
em minha mente. Além do depoimento que tive de dar na
delegacia sobre Nicole, os minutos intermináveis até a
ambulância chegar praticamente nos destruíram; e pior, minha
filha e sobrinho viveram tudo isso.
— Levi. — Olho para cima e vejo Clara.

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— Oi. — Forço um sorriso.


— Daniel nos contou o que houve. — diz e eu assinto.
— Ricardo vai ficar bem, Levi. Ele é forte, assim como
Melissa.
— Eu espero, Clara. — Abaixo a cabeça derrotado. —
Ele tem que ser.
— Daniel nos contou em partes o que houve, mas
estou aqui para agradecer por ter salvo a vida de minha neta.
— Encaro-a, perplexo.
— Não precisa dizer isso, Clara. Por minha culpa
Laura passou por isso.
— Não somos culpados pela loucura alheia, Levi. —
diz e toca de leve minha mão. — Uma coisa que aprendi na
vida é que não podemos nos culpar por tudo que ocorre a
nossa volta. O mundo gira, as coisas mudam... temos que
aceitar isso.
— É difícil. — assumo a verdade.
— Eu sei. — ela então se levanta. — Mas seja forte.
Estamos aqui com você, ok?
— Obrigado. — digo, mesmo sabendo que não
mereço ao menos que ela fale comigo.
Volto para a sala de espera minutos depois, e encontro
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Carla abraçada a Daniel, a qual chora descontroladamente.


— Ei. — eu a chamo, e ela praticamente pula em
meus braços. Sento-me na cadeira ao seu lado e ela se
aconchega a mim.
— Ele se sacrificou por mim, Levi. Ele não pode... —
Ela soluça.
— Meu irmão é forte, Carla. — Tento encorajá-la,
mesmo estando também quebrado.
— Eu o amo tanto, Levi. — diz e chora em meu peito.
— Tanto.
— Eu sei, querida. Ele também te ama muito. — Toco
seus cabelos.
Olho para cima e Daniel meneia a cabeça,
demonstrando que vai sair um pouco, e eu apenas assinto.
Noto que ele vai em direção a alguém que está mais afastado
e me assusto ao reconhecer a mulher com ele. É Sophie, sua
assistente. Estava tão preocupado que sequer a vi com ele
quando chegou na delegacia, não sei como, mas acho que
rastreando meu celular, ele conseguiu chegar até lá.
Vejo os dois conversando por alguns segundos e logo
Sophie sai, indo em direção a saída do hospital.
— Vou até o quarto de Rafael, ver se ele já acordou.
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— Carla diz de repente e se afasta. Ela tenta limpar as


lágrimas e ajeita os cabelos. — Ele deve estar muito abalado
com tudo isso.
— Sim, tenho certeza. — Ela assente. — Carla, eu
sinto muito.
— Eu também, querido. — diz e toca meu rosto, se
levantando em seguida. — Eu também.
E agora entendo que Carla se culpa tanto ou até mais
do que eu. Acho que dessa história, nenhum de nós sairá
inteiro.
Posso tentar não pensar, mas a culpa pela morte de
Nicole também é minha, e isso me assombra. Se eu não
tivesse sido tão fraco, e honrado meu casamento, nada disso
teria acontecido. Meu irmão não estaria correndo risco de
vida e uma mulher tão jovem não teria se suicidado. Dessa
culpa eu nunca me livrarei.

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Capítulo 20

Levi

Semanas depois

Passo as mãos nos cabelos de minha filha e ela sequer


se mexe em sua cama. Hoje foi sua primeira consulta com o
psicólogo, e felizmente ela parece ter gostado. Não consegui
conversar com Laura abertamente sobre quem era Nicole, e
acho que nunca o farei; mas ao menos ela não me perguntou
nada sobre isso, e nem parece curiosa. Acho que ela também
só quer esquecer de tudo que viu.
— Ela dormiu?
Viro-me em direção a porta e assinto para Melissa,
que abre um pequeno sorriso. Beijo de leve a cabeça de Laura
e arrumo as cobertas ao redor dela, tentando deixá-la mais
confortável.

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Assim, deixo a luz noturna ligada e saio do quarto.


Melissa passa por mim, entrando no quarto de nossa filha, e
novamente vejo o quanto ela ainda me evita.
Vou para o meu quarto e começo a tirar a camisa, já
que tudo que preciso hoje é um bom banho. Não estou tão
angustiado como antes, já que finalmente meu irmão não
corre mais risco de vida, e logo mais poderá sair do hospital.
Ricardo sofreu complicações na cirurgia, o que acabou
principalmente comigo, Carla e meu sobrinho. Ficamos em
alerta a cada instante, a cada novidade que o médico nos
dizia. Mas no fundo, a culpa me corroeu de uma maneira a
qual não sei explicar, pois todos os dias quando ia ver Rafael
na casa dos avós, via que ele estava destruído pelo medo de
perder o pai. Ele é um garoto forte, e está demonstrando isso a
cada instante em que o vejo segurar a mão de Carla com
força, quando ela não consegue segurar o medo na frente dele.
Sento-me na cama e levo as mãos à cabeça, sentindo-
me um pouco mais aliviado ao lembrar da fala do médico
hoje: “Ricardo está fora de perigo e logo poderá ir para casa”.
Essa com certeza foi a melhor notícia que poderia ouvir. Um
pouco de minha culpa, acabou se esvaindo, mas mesmo
assim, ainda me sinto acabado.

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Penso em Melissa e em como as coisas tem sido


difíceis para ela. Por achar melhor para Laura, ela decidiu
ficar morando comigo por mais um tempo, para que nossa
filha sinta-se em casa enquanto se recupera um pouco do que
viu.
Quando ela me disse que ficaria aqui por isso, pensei
por um segundo que poderia tentar conversar com ela a
respeito do que aconteceu; mas até agora, cerca de duas
semanas depois, ela não me deu sequer uma oportunidade.
Apenas fala comigo a respeito de Laura e de repente se afasta.
Não tenho ido a empresa, pois Daniel acabou ficando
com a responsabilidade de gerir tudo por lá por enquanto.
Mesmo assim ele me manda os papéis que precisam de minha
assinatura e pede para que releia alguns contratos, mas não
tenho feito nada além disso. Cuido de minha filha, assino
papéis, e observo Melissa de longe.
Em nenhum dos dias que se passaram Pedro veio até
nossa casa. Pensei que em algum momento ele apareceria, e
até agora temo por isso. Ainda sequer consegui pedir perdão
pelo que disse para ela quando a vi abraçada a ele. Mesmo
assim, ainda me pergunto se eles têm algo ou não pois a cada
dia que passa, por mais que Melissa esteja sob o mesmo teto

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que o meu, eu a vejo se distanciar ainda mais.


Batidas na porta me surpreendem.
Levanto-me e vou em direção a ela, abrindo em
seguida.
— Oi. — Melissa diz e engulo em seco.
— Oi. Algum problema? — pergunto, estranhando o
fato dela vir até meu quarto.
— Na realidade, quero conversar com você. — diz e
eu a encaro sem entender. — Falei com Carla hoje e ela me
falou a respeito de Nicole ser a mãe biológica de Rafael. —
Suspira fundo. — Não quis perguntar nada a mais sobre isso
para Carla, porque vejo o quanto ela está sofrendo; mas queria
saber se você pode me contar sobre isso.
Encaro-a por alguns segundos e analiso seu semblante.
Melissa não parece mexida com o assunto, e apenas prende os
braços ao redor do corpo como se abraçasse a si mesma. Ela
demonstra frieza em suas palavras, mas sei que há algo que a
atormenta. E eu terei que dizer o que sei para ela, esperando
que isso a ajude.
— Entra. — Ela passa por mim e permanece em pé no
meio do quarto, olhando-o por alguns segundos.
Noto o quão insegura está em minha frente agora, e
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ainda mais nesse quarto, o qual mesmo não nos tendo feito
tão feliz, sempre foi nosso.
Ela então me encara e força um sorriso, esperando
alguma atitude minha. Limpo a garganta e sento-me na
poltrona ao lado da cômoda, encarando-a por alguns
segundos. Mas por fim, acabo contando tudo que sei, nos
mínimos detalhes.
— Meu Deus! — ela exclama assim que termino de
falar, e eu apenas encaro o chão a minha frente. — Ela era
completamente...
— Obcecada? — Balanço a cabeça negativamente,
sentindo nojo de mim mesmo, de ter de contar isso a Melissa.
— Ela sequestrou Carla e as crianças praticamente do lado do
colégio... Ela intimidou Carla, pois ao se aproximar de Rafael
mostrou que em sua bolsa tinha uma arma, e bom, Carla teve
de segui-la.
— Não sei como Carla está lidando com isso tudo...
— Ela leva as mãos a boca. — Ela deve estar sofrendo muito
por ver Ric nesse estado, sem ainda poder sair. Acho que por
isso ela me falou sobre isso hoje... pela notícia boa que
tivemos, deve estar se sentindo um pouco melhor para falar a
respeito.

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— Ela ama meu irmão, e está com medo de perdê-lo


após eles terem passado por tanta coisa. — digo. — Mas logo
Ric estará em casa e eles poderão se acertar.
— Tomara. Levi? — ela me chama e eu a encaro,
mesmo não querendo.
Seus olhos castanhos me atraem de uma forma que
não sei explicar. Ela me traz paz, conforto... Minha vontade é
simplesmente abraçá-la e mantê-la em meus braços.
— Obrigada novamente por ter salvado nossa filha. —
diz, e eu apenas respiro fundo. — Sei que se culpa pelo que
houve, mas... Sinceramente, não precisa. Por mais que tenha
errado comigo, você não errou com Laura. E tenha certeza de
que o que aconteceu com seu irmão também não foi sua
culpa.
— Por que faz isso? — pergunto e me levanto. — Por
que continua sendo tão doce e boa? — Levo as mãos ao
cabelo, já angustiado. — Não mereço você, Melissa. Nunca
mereci, e você continua...
— Eu sou assim, Levi. — diz e dá de ombros. — Eu
confesso que estou magoada e que a cada dia dói um pouco
mais pelo que me fez, mas eu não posso julgá-lo por nada...
não sou ninguém para isso.

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— Você é tudo, Melissa. — digo nervoso. — Não


sabe o que me causa vê-la falar de repente assim comigo,
como se...
— Nada tivesse acontecido? — Ela sorri sem vontade.
— Eu guardo minha dor para mim, assim como você. Do
mesmo modo que tranca a dor pela morte de seus pais e se
mata por dentro em culpa, eu tenho meus próprios medos e
demônios.
— Isso significa que nunca poderá me perdoar, não é?
Que assim que achar que Laura está melhor, irá embora? —
pergunto angustiado, e lágrimas já descem por meu rosto.
Melissa apenas me encara, com os olhos marejados.
— Sinto muito por isso. — diz e se vira de costas,
indo em direção a porta.
— Eu te amo. — repito, e pela primeira vez vejo-a
falhar um passo. Mesmo assim ela sai do quarto.
Sento-me novamente na poltrona e fico pensando no
que fazer, em como posso tentar ao menos lutar por ela. Deve
haver um jeito de fazer isso, e eu irei descobrir.

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Capítulo 21

Melissa

Vejo-os de longe, sorrindo em direção ao moço que


lhes vende ingressos para o filme que Laura tanto pediu para
assistir. Analiso a cada passo de Levi, e como ele parece
diferente. Não só a respeito de mim, mas também com a
própria filha.
Ele sempre a tratou da melhor maneira possível, mas
antes não lhe via sorrir tão abertamente, ou até mesmo contar
algo de sua infância para ela. E agora eu o vejo fazer isso
sempre, seja no jantar, ou até mesmo quando saímos com ela
para a rua. Mesmo negando, tenho que admitir que ele me
surpreendeu.
Depois de todo pesadelo que passamos, e finalmente
Ricardo não estando mais em risco, a vida parece sorrir para
nós novamente. Laura está se recuperando bem, apesar dos
pesares, e consigo ver seus olhinhos verdes brilharem por
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conta de coisas que há semanas atrás ela sequer ligar. Passar


pelo o que passou poucas pessoas conseguem se recuperar, e
por isso o sorriso sincero em seu rosto me deixa ainda
animada, mesmo ainda convivendo sob o mesmo teto que
Levi.
Minha família não me julgou, tampouco minhas
amigas o fizeram. Eles entenderam meu lado quando lhes
contei a respeito. Só quero a recuperação rápida de Laura e
que ela não sofra outro trauma tão cedo; e sei o quanto a
separação com seu pai pode abalá-la.
Vejo uma livraria ao meu lado e resolvo entrar, já que
os dois ainda estão enrolando para escolher algo. Assim que
adentro a livraria, sinto-me plenamente em casa, pois amo
estar em meio a histórias, finais felizes, dramas... A realidade
é que sempre amei esse mundo, e sempre sonhei em escrever.
Pego um livro no estante e sorrio ao ver o nome: Uma
carta de amor[3]. Leio a sinopse e sorrio apaixonada, por me
lembrar de outras histórias deste mesmo autor, as quais me
fizeram perder o fôlego, assim como sua recente publicação
que fiz questão de comprar e acabei devorando em poucos
dias, acabo procurando mais sobre ele, buscando algo
diferente para agregar em minha extensa lista de leituras.

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— Uma bela mulher querendo receber uma carta de


amor?
Viro-me para a voz masculina e encontro um homem
de terno, com os cabelos negros bem cortados e olhos cor de
mel. Ele sorri de modo singelo, e sem que eu diga nada, pega
o livro de minhas mãos.
— Você não me parece uma mulher que precisa ler
esse tipo de livro. — diz e me devolve. — Deveria ter um
homem que lhe enviasse várias cartas de amor.
— A qual livro pareço ser adepta então? — pergunto
curiosa, abrindo um sorriso para o homem que parece tão
empenhado em me surpreender. Mas ao mesmo tempo ignoro
seu segundo comentário.
— Este aqui. — ele diz após vasculhar a estante, e
retira um livro.
Encaro a obra e vejo que é a minha maior paixão do
momento Querido John, de Nicholas Sparks[4].
— É, realmente acertou. Amo romances de Sparks. —
admito, e ele abre um largo sorriso, guardando o livro
consigo. — Vai comprá-lo? — pergunto surpresa.
— Acho que posso conseguir aprender muito, já que
esse tal Sparks consegue fazer mulheres suspirarem. — diz
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sério, e eu o encaro divertida.


Esse homem realmente existe?
— Bom, as frases dele são realmente encantadoras.
Talvez isso te ajude. — digo e ele sorri.
— Cite uma. — pede e me encara em expectativa.
— "Quando eu penso em você e eu e no que
compartilhamos, sei que para os outros seria fácil
menosprezar o tempo que passamos juntos simplesmente
como um subproduto dos dias e noites à beira-mar, uma
“aventura” que, a longo prazo, não significa absolutamente
nada. É por isso que não conto às pessoas sobre nós. Eles não
iriam entender, e não sinto necessidades de explicar,
simplesmente porque sei em meu coração como foi real.
Quando penso em você, não posso deixar de sorrir, sabendo
que você me completa. Eu te amo, não só agora, mas sempre,
e sonho com o dia em que você vai me abraçar novamente."
— cito, e ele me encara com um brilho no olhar.
— Mãe! — Escuto a voz de Laura e me viro. Vejo-a
parada na entrada da livraria, com Levi ao seu lado.
— Estou indo. — digo e me viro novamente para o
homem ao meu lado.
— É uma mulher encantadora. — diz e sorri pra mim
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de um modo galanteador.
— Foi um prazer conhecê-lo, milorde. — brinco. —
Espero que consiga arrancar muitos suspiros por aí.
— Espero que um dia possam ser suspiros seus. — diz
e fico estática, completamente sem jeito.
— Desculpe, tenho que ir. Até mais! — Saio, mas
ainda consigo ouvi-lo dizer um “Até logo”.
Homem galanteador, mas com toda certeza doido.
Passo no caixa o livro que escolhi, e após pagar,
encontro Laura e Levi do lado de fora da livraria.
— Finalmente escolheram o filme? — pergunto.
— Sim, começa daqui alguns minutos. — Laura diz
animada e já coloca as mãos em minha sacola, com certeza
querendo ver o que comprei.
Deixo com que pegue e ela sorri animada ao ver que é
um livro. Ao menos esse gosto ela puxou de mim.
Noto Levi calado, e ele apenas responde e sorri a algo
que Laura diz. Mas não pergunto nada, não quero causar
algum desentendimento e acabar brigando com ele, porém
acho estranho sua súbita mudança.
Após entrarmos no cinema, Laura senta-se ao meu

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lado e estranho por não querer sentar entre mim e o pai; mas
ela parece tão animada com o filme que resolvo nem
perguntar. O filme começa, e por ser um desenho infantil
acabo não prestando muita atenção; nunca gostei muito disso.
O tempo passa e Laura continua compenetrada no
filme. Não ouso olhar para o lado e ver se Levi faz o mesmo,
pois seu cheiro me deixa incomodada por estarmos tão
próximos. Mesmo com tudo, ele ainda mexe comigo.
Encosto minha cabeça na cadeira macia e começo a
repassar a história de Querido John em minha mente. Fico me
perguntando até hoje, me colocando no lugar da personagem
principal, Savannah, tentando entender como ela conseguiu
ser tão corajosa e dizer adeus ao homem que ama, mesmo
sabendo que ele a amava também. Isso parece surreal para
mim.
Solto um suspiro fundo e imagino quanto o amor dela
e de John é real, mesmo que seja apenas uma história de
ficção. Ele toca o coração das pessoas... E fico me
perguntando se o amor que senti pelo Levi desde que o vi é
tão real quanto esse, se é capaz de superar tudo.
Mesmo sem querer, viro-me para Levi e o encaro,
sentindo toda aquela turbulência dentro de mim novamente, a

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qual nunca se foi, apesar de tudo. Noto que ele não é o mesmo
homem de antes, sequer se parece com o cara com quem me
casei. Ele parece outro homem, e mesmo assim ainda acende
algo dentro de mim, porém algo diferente; e ainda não
descobri como definir isso.
Continuo o analisando, e logo ele percebe minha
inspeção, encarando-me no mesmo instante.
— Tudo bem, Melissa? — pergunta, e eu apenas
consigo focar em seus olhos.
Assinto para ele, o qual me encara um pouco
desconfiado, mas logo volta sua atenção para o filme. Faça o
mesmo, mas ao invés de voltar a minha divagação sobre
Querido John, começo a repensar minha própria história de
“amor”. Sobre como nunca imaginei ter de passar por tudo
isso.
Não tento me lembrar mais sobre o que houve, pois sei
que não adianta. Meu médico disse que é algo que eu poupo
de mim, e talvez seja melhor. Mesmo querendo ver com meus
próprios olhos o que aconteceu tudo o que me esqueci, acabo
apenas aceitando, e por enquanto ainda tenho paz sem essas
lembranças.

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Capítulo 22

Levi

Laura sorri para mim e eu forço um sorriso para ela.


— O que foi, pai? — pergunta, deixando-me atônito.
— Só fico feliz que esteja bem, pequena. — Ela se
deita na cama e eu a cubro com o edredom. — Eu sinto muito
por tudo.
— Vou ficar bem. — diz e toca meu rosto. — Você e
mamãe estão brigados, não é? — pergunta, analisando-me.
— Infelizmente sim. — Sou sincero. — Mas não se
preocupe com isso agora.
— Tá bom. — diz e beija meu rosto. — Boa noite,
pai. Você é o melhor! — fala, deixando-me emocionado.
— Boa noite, pequena. — Beijo sua testa, e ela se
enrola em meio ao edredom, fechando seus olhinhos verdes.
— Eu te amo. — sussurro.

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Saio do seu quarto com cuidado, tentando não fazer


barulho. Assim que saio no corredor, espero ver Melissa ali,
como sempre, me esperando sair para falar com Laura, porém
não a encontro.
Vou em direção ao meu quarto, mas ao ouvir um som
um pouco alto vindo da sala, desço as escadas. Marta não
deve estar em casa pois teve uma viagem com a faculdade,
então estranho o fato de apenas poder ser Melissa fazendo
isso.
Quando chego a sala, não encontro nada além da
televisão ligada em um programa de clipes, a qual está
realmente muito alta.
— Melissa? — eu a chamo, porém não obtenho
resposta. Desligo a tv e vou em direção a cozinha, pois a luz
está acesa.
Encontro Melissa escorada na grande ilha segurando
uma taça, ao lado de uma garrafa de vinho. Encaro-a
incrédulo, pois poucas vezes a vi beber; ainda mais hoje, que
tudo parecia estar bem.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Você. — Ela sorri forçadamente, bebendo mais um
gole da taça.

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— Melissa, você disse a Laura que ia tomar banho e...


— Surpreso por me ver bebendo? — pergunta e
balança a cabeça. — Tenho feito isso há alguns dias, o vinho
me acalma um pouco. Você não o viu porque sou discreta,
mas infelizmente quis ouvir música e deve ter ficado alto
demais. — diz rude.
Noto que ela já se enrola um pouco em suas palavras e
a encaro nervoso. Melissa está bêbada.
— Por que fez isso? — pergunto sem entender. —
Sabe que Laura está lá em cima, e sei que não quer mostrar
isso a ela.
— Isso o que? — pergunta, já parecendo nervosa. —
Que sou humana? Que não sou a mãe perfeita? Ou melhor,
que fui traída pelo homem que amei? — praticamente grita.
— Melissa! — eu chamo sua atenção. — Me dê essa
taça aqui. — Tento tirar de sua mão, porém ela se afasta,
dando passos largos pra longe de mim.
— Cansei da perfeição, Levi. — diz e passa as mãos
pelos cabelos. — Laura não vai me ver assim, sempre que a
põe para dormir, ela dorme em poucos segundos. Ao menos
ela não me virá tão ridiculamente errada.
— Por favor, me dê a taça. — insisto.
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— Pra quê? — diz e se aproxima de mim, batendo em


meu peito. — Por que você ainda mexe comigo? Por que
ainda continua me fazendo sentir algo por você? — pergunta
e bate com ainda mais força. — Eu quero tanto te odiar,
tanto...
Seguro os braços dela e a encaro derrotado.
— Eu te amo, Melissa. — digo e lágrimas se formam
em seus olhos, as quais logo molham sua face. — Não te
quero assim, você não é assim.
— Sou como? — pergunta e se afasta. — A mulher
doce e boazinha que você trai?
Fico mudo, sem saber o que dizer, e muito menos o
que fazer. Ela tem direito de explodir e me julgar, e pela
primeira vez, mesmo sem entender o porquê, vejo-a agindo de
tal modo.
— Você é perfeita. — Sou sincero e ela me encara
incrédula, gargalhando.
— Sou tudo menos isso. — diz e se aproxima de mim,
prendendo os braços ao redor de meu pescoço. — Me beija.
— pede e sinto-me ainda pior, pois sei que está sob o efeito
do álcool.
— Você não quer isso, Mel. — tiro seus braços com
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cuidado, finalmente tirando a taça de sua posse. — Vamos...


vou te deixar em seu quarto para que tome um banho e
descanse.
— Viu só! — diz e se afasta, segurando com força as
mãos contra a ilha da cozinha. — Você continua como
sempre, me rejeitando.
— Não! — digo de relance e ela me encara. — Eu não
posso fazer isso, pois sei que vai se arrepender.
Ela fica em silêncio por alguns segundos, olhando
para o nada, como se estivesse perdida.
— Tem razão. — diz e suspira fundo. — Foi um erro
isso.
— Mel, olha...
— Me deixa sozinha. — diz e faz sinal com as mãos
para que eu saia. — Por favor.
Mesmo sem querer, saio da cozinha; porém fico na
sala de estar, olhando-a de longe. Vejo Melissa pegar a taça e
dar um último gole, virando todo o líquido. Ela então pega a
garrafa e despeja todo o resto do líquido na pia.
— Burra! — Ouço-a dizer baixinho.
Ela então se senta no chão e fica ali, quieta, chorando.

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Sinto-me impotente e ao mesmo tempo corajoso.


Então, em um ato inesperado e sem aguentar vê-la sofrer, vou
até ela e a abraço, com todo amor e saudade que sinto.
Melissa soluça em meu peito, fazendo com que chore
junto a ela.
— Me perdoe, amor. — digo e beijo seus cabelos. —
Não chora.
— Por que, Levi? — pergunta e se afasta um pouco,
encarando-me como se fosse uma menina com medo. — Por
que fez isso comigo?
— Porque fui cego demais. — Toco seus cabelos e
coloco uma mecha atrás da orelha. — Porque não mereço
você.
— Dói tanto. — confessa e limpa algumas lágrimas
que descem. — Dói demais saber o que sei, e mesmo assim
ainda... — Ela para de falar e chora ainda mais.
— Mel... — Fico também sem saber o que dizer diante
de sua aproximação.
— Só por agora, fica comigo. — diz e toca meus
lábios com os dedos trêmulos. — Só hoje.
— Mel, você bebeu e...
— Não passei de duas taças, Levi. — Ela suspira
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fundo. — Eu apenas explodi tudo o que guardava, a bebida


me ajudou um pouco nisso.
— Você vai me odiar amanhã se te tocar além do que
já estou fazendo. — digo, e para minha surpresa ela toca meu
rosto com as duas mãos, encarando-me em expectativa.
— Preciso tirar essa dor de dentro de mim. — diz
sincera. — Preciso de você, nem que seja pela última vez.
— Mel...
— Errado. — diz e aproxima seus lábios dos meus.
— Minha menina. — digo, e sem querer mais pensar,
cubro sua boca com a minha.
Em meio as lágrimas, mágoas, passado, tristeza... a
saudade e o amor se sobressaem. Beijo-a com fome, paixão,
desejo, como se fosse aquela mesma noite há uma década,
quando a beijei pela primeira vez.
— Eu te amo. — digo e beijo seu pescoço. — Amo
você, minha menina.
Melissa nada diz e apenas levanto-me com ela em meu
colo, fazendo com que enlace minha cintura com suas pernas.
Subo as escadas com ela em meus braços, sem conseguir
parar de beijá-la, tocá-la... Sem conseguir acreditar que ela
está mesmo aqui, em meus braços.
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Entro com ela em nosso quarto, e só paro de beijá-la


para coloca-la deitada na cama. Encaro seu rosto, e noto que
ela não chora mais, apenas me olha do mesmo modo, com
paixão.
— Não vamos pensar. — diz e me puxa pra ela. —
Não hoje.
Assinto para ela e tiro minha camisa, subindo sobre
seu corpo na cama. Tiro suas roupas, deixando-a apenas de
lingerie embaixo de mim, beijando assim cada pedacinho de
sua pele.
— Linda. — Beijo seu colo. — Perfeita. — Beijo sua
boca e cubro novamente seu corpo.
Toco seu rosto com carinho e a encaro, buscando algo
além em seus olhos castanhos. Melissa não diz nada, apenas
reage a cada toque meu. Eu só espero que isso seja uma prova
de que ela... ela ainda me ama. E com a incerteza de seu
amor, livro-me do resto de nossas roupas, deixando nossos
corpos falarem por si.
Quando a tomo para mim novamente, não há mais
passado ou qualquer outra coisa que possa nos impedir. Há
apenas eu e Melissa, em puro prazer, na beira do precipício. E
nesse momento eu sei que jamais poderei viver sem ela, pois

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ela se entrega a mim da mesma maneira de antes, de modo


selvagem e ao mesmo tempo doce, sendo como sempre a
minha menina.

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Capítulo 23

Melissa

— Não vou permitir que se afaste. — disse decidido e


levantou da cadeira.
— Tente se aproximar para ver se não o acerto com
apenas um chute. — eu o desafiei. — Tenho um irmão mais
velho, Levi, sei bem me defender. Você não irá me prender a
você, não mais.
— O que quer dizer com isso? — perguntou incerto.
— Que acabou, Levi. A Melissa certinha, que aceita
tudo de você cansou de ser a mulher perfeita enquanto você
corre atrás de qualquer uma que possa te satisfazer. —
acusei, já derrotada. — Sabe o quanto te odeio por tudo isso?
Sabe o quanto estou me segurando para não ir aí e acertar
seu rosto? Mas eu não vou fazer isso, porque tenho nojo...
Nojo de tudo em você!
Meu desabafo fez com que meu coração desse pulos
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no peito, e os machucados antes cicatrizados se abriram


novamente. Uma dor de cabeça descomunal me atingiu, e
apenas soube que precisava sair dali.
Levi me encarou por alguns segundos, e como se não
acreditasse em tudo o que disse, me vasculhou
minuciosamente.
— Você me ama? — perguntou de repente.
Acordo sobressaltada, com uma cruel dor de cabeça.
Sento-me rapidamente na cama, sem entender ao certo onde
estou, tentando entender o que é sonho, lembrança ou
realidade. Olho para o quarto escuro e encaro o relógio no
criado mundo, sabendo que ainda são quatro da manhã.
O que vi pareceu tão real que... Só pode ser mais uma
lembrança perdida. Eu senti novamente o nojo por Levi, o
mesmo sentimento ruim daquele instante. Mas agora, notando
meu corpo nu apenas enrolado em um lençol ao lado do
homem o qual me causou esse sentimento, vejo que não existe
mais. Ficou para trás.
Ainda confusa, analiso Levi por alguns instantes, o
qual dorme serenamente. Os cabelos negros, já grandes, estão
bagunçados por seu travesseiro. O lençol caído em sua cintura
mostra o tórax nu, e um de seus braços está próximo a mim,

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como se antes estivesse ao meu redor.


Lembro-me então do que houve na noite passada e não
consigo ao menos me culpar por isso. Seu toque foi algo que
necessitava, e de certa forma, mesmo cedendo ao desejo,
acabei me entregando além disso. Não apenas transamos,
fizemos amor, tenho certeza.
O toque suave e ao mesmo selvagem dele, suas
palavras de carinho em meio ao prazer. Levi me fez sentir
amada... E pela primeira vez na vida, senti-me única e
especial para ele. Será isso mesmo real?
Como minha dor de cabeça não passa, acabo
levantando e decido tomar um banho para ao menos relaxar.
Deixo a banheira encher, e assim que água está morna, entro
nela. Fico submersa por um tempo e sinto-me um pouco
melhor, e assim que preciso de ar, saio debaixo d’água e
encosto a cabeça na beira da banheira.
Passo as mãos por meu corpo, perguntando-me em
que momento parei de me importar com minhas lembranças e
passei a prestar atenção em Levi, nesse novo Levi. Mas como
sempre, não obtenho alguma resposta. Mesmo sem entender,
não me sinto suja por ter me entregue a ele, mas ainda não sei
definir ao certo como estou. Lembro-me do homem que vi na

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livraria, de como quis que ele me causasse algo além, que


pudesse sentir algo... Mas meu ser parece condenado a esse
amor por Levi, como se não pudesse esquecê-lo, por mais que
existam outros homens por aí.
Ouço o barulho da porta sendo aberta, e Levi aparece,
usando apenas uma cueca.
— Oi. — diz inseguro. — Tudo bem?
— Sim, só tive uma forte dor de cabeça. — Não minto
completamente, mas não quero falar com ele a respeito da
lembrança.
— Arrependida? — pergunta receoso e eu noto seus
olhos verdes frágeis. — Antes de responder, apenas me deixe
ficar mais um pouco contigo, sim? — pede, e sem querer
raciocinar apenas assinto.
Ele vem até mim e faz sinal para que vá para frente na
banheira. Passo as mãos por meus cabelos e os coloco para
frente. Em pouco tempo ele entra atrás de mim, e puxa-me de
encontro com seu peito.
— Sempre sonhei com isso antes. — Sou sincera, e
lágrimas se formam em meus olhos. — Sempre quis estar
assim, em seus braços.
— Eu quero conquistar você, Mel. — diz e segura
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com delicadeza meu rosto, forçando-me a olhá-lo pelo ombro.


— Posso não ser o homem que te merece, mas quero me
esforçar, quero me tornar esse homem. Na realidade, quero
provar a você o quanto a amo, o quanto nada faz sentido sem
você.
— Levi, olha...
— Sei que está confusa, ainda mais depois do que
fizemos. — Ele toca de leve meu rosto. — Mas eu te amo,
amo muito, mesmo que não acredite ainda nisso. E quero
provar meu amor a você.
— Eu não me arrependo do que fizemos. — Sou
sincera. — Eu apenas estou tentando assimilar tudo que
houve, tentando entender porque ajo como ajo, tentando ser
madura e encarar que não consegui perdoá-lo, mas mesmo
assim me entreguei a você. Eu ainda não sei definir o que
sinto por você.
Levi fica em silêncio, apenas me olhando, como se
quisesse marcar minha presença com ele. Não posso mentir e
dizer que o perdoei, pois mesmo depois do que houve aqui, a
dor de sua traição ainda está em meu peito, me sufocando aos
poucos, fazendo-me acreditar que a qualquer momento se
repetirá, impedindo-me de acreditar em seu amor.

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Por que a horas atrás, enquanto estava nos braços dele,


esse dor simplesmente desapareceu por alguns instantes?
— Só me deixe lutar por você. — Ele respira fundo.
— Olhe para minha mão esquerda. — Pede, e então pego sua
mão, sem entender. — Eu não consegui tirar minha aliança,
em momento algum, desde que a coloquei. — diz me
surpreendendo. — Mesmo não tendo honrado tudo que
prometi a você em nosso casamento, eu sempre a deixei aí, no
lugar dela; e ela sempre me fez lembrar o quão errado eu agia.
— Levi, não precisamos...
— Eu nunca consegui dormir na mesma cama que ela.
— Meu corpo fica tenso no mesmo instante, não acreditando
que estamos falando disso. — Por isso não vinha para casa.
Sentia-me sujo por ter feito o que fiz, e de repente voltar para
cá e deitar ao seu lado... Eu não conseguia, nunca consegui...
Eu via em seus olhos sua desconfiança, de como percebeu
minhas mudanças.
Continuo em silêncio, sentindo-me tão quebrada
quanto antes. Percebo agora o domínio que Levi tem sobre
mim.... ele consegue me quebrar e reconstruir em segundos,
tornando tudo isso ainda mais confuso.
— Eu me arrependo todo santo dia. — diz e ouço sua

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respiração profunda em meu pescoço. — Fui um fraco,


Melissa. Fui covarde e egoísta por todo tempo que ficamos
juntos. Além do que, mesmo depois de ter errado tanto, eu a
machuquei quando a insultei na frente de todos no restaurante
de Pedro.
— Esqueça isso. — digo, já não querendo mais ouvi-
lo, sentindo-me mal com tudo isso.
— Não consigo. Só quero dizer que sinto muito, pois
nunca pensei aquilo de você. Sei que não é assim, Melissa. E
mesmo que quisesse se envolver com Pedro, é uma mulher
livre. — Fico ainda mais surpresa com suas palavras. — Mas
também não vou negar o quanto doeu ver aquilo, vê-la nos
braços dele. Foi uma das várias vezes que me pus em seu
lugar, e vi como deve estar sendo difícil para você, minha
menina. E vejo o quão forte você.
— Às vezes temos que aceitar, Levi. — digo, já um
pouco cabisbaixa após suas confissões, que de certa forma me
fizeram acordar novamente para a realidade. — Talvez o
certo seja ficarmos separados, seja o melhor pra todos.
— Uma chance, Melissa. Apenas uma última chance.
— pede e me abraça com força, protegendo-me em seus
braços. — Deixe-me conhecer você, saber de seus gostos,

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conviver... Não precisamos de nada além, apenas deixe-me


ser seu por enquanto. Se em qualquer momento perceber que
não consegue mais, que não me quer, eu prometo me afastar e
te deixar livre.
Penso sobre os prós e contras de seu pedido, mas a
segurança que ainda sinto só por estar próxima a ele fala mais
alto. Deixo minhas incertezas um pouco de lado, e pela
primeira vez resolvo me arriscar. Talvez essa aproximação
com ele seja o necessário para entender meus próprios
sentimentos.
— Não me quebre, Levi. — peço, segurando as
lágrimas. — Uma chance.
— É tudo o que preciso, minha menina. — diz e puxa-
me ainda mais, fazendo com que deite em seu colo, mexendo
em meus cabelos, enquanto a água morna nos faz relaxar.
Fico em silêncio, recebendo seus carinhos. Mas de
repente, sua voz rouca e grossa começa a cantar uma música,
deixando-me embarbascada.
“I'm not a perfect person
There's many things I wish I didn't do
But I continue learning
I never meant to do those things to you
And so I have to say before I go
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That I just want you to know

I've found a reason for me


To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you

I'm sorry that I hurt you


It's something I must live with everyday
And all the pain I put you through
I wish that I could take it all away
And be the one who catches all your tears
That's why I need you to hear

I've found a reason for me


To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you
And the reason is you
And the reason is you
And the reason is you

I'm not a perfect person


I never meant to do those things to you
And so I have to say before I go

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That I just want you to know

I've found a reason for me


To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is you[5]
“(The reason – Hoobastank)

E ele continua cantando, fazendo-me chorar ainda


mais, dando-me a certeza com esse ato, de que pode
realmente valer a pena uma última chance. Uma última
chance para esse amor.

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Capítulo 24

Melissa

Não sei em que momento foi que cheguei aqui, mas


agora estou deitada nos braços de Levi, enquanto sua
respiração é leve e baixa. Saio com cuidado de seus braços e
encaro o relógio em cima do criado mudo. Já são seis da
manhã, e como Marta está de folga por esses dias devido a
uma viagem com a faculdade, resolvo levantar e ir preparar
algo para comer.
Enrolo-me em um lençol e levanto, indo em direção
ao closet, para colocar uma roupa. Visto uma simples regata
branca e uma calça jeans de cintura alta, pego sapatilhas azul
marinho e coloco. Noto no canto do closet minha grande
mala, ainda feita. Encaro-a e suspiro fundo, pensando se em
algum momento terei que arrumar todas as roupas e partir.
Saio do closet e arrumo meus cabelos no grande
espelho do quarto, e sinto minha mente escurecer nesse
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instante. Seguro-me com força contra o mesmo e tento não


cair, e vi em minha mente algo como o espelho quebrado, e
uma raiva grande em meu interior.
— Mel. — Escuto a voz de Levi e seus braços me
cercam. — Tudo bem, minha menina? — pergunta. Abro os
olhos, encarando-o em busca de respostas.
— Eu vi o espelho se quebrando... Pareceu tão real. —
digo e ele arregala os olhos.
— Vem cá. — fala e senta-se na cama, puxando-me
para seu colo. — Quando cheguei em casa após tudo que
aconteceu, depois que me viu na empresa com Nicole. — diz
com pesar, e eu apenas assinto, sentindo-me vazia. — Assim
que cheguei no quarto, vi seu perfume quebrado no chão e o
espelho também. Não sei ao certo o que fez, mas acho que o
quebrou.
— Nossa! — exclamo sem acreditar. Tento lembrar
mas minha mente brinca comigo.
— Ei. — Toca meu rosto. — Não force, Mel. Tenho
certeza de que vai se lembrar.
Ele pega minha mão esquerda e beija com carinho,
fazendo-me notar a aliança em meu dedo anelar. Eu sequer
lembrei dela, mesmo depois de ter lembrado de algumas

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coisas.
Como se percebesse meu olhar, ele abre um fraco
sorriso.
— Você nunca tirou a aliança. — diz e suspira fundo.
— Em todos os momentos, você esteve com ela... até mesmo
quando te vi depois do acidente no hospital.
— Eu não sei porque, eu não me lembro... Sequer
lembrei que a usava. Acho que me acostumei tanto. — Eu o
encaro e noto seus olhos brilhando, e logo vejo uma lágrima
correr por seu rosto.
— Essa era a aliança de minha mãe, ela me deu um
dia antes de sofrer o acidente. Lembro que ela me fez
prometer não contar para meu pai. — Ele sorri fraco, e noto o
quanto isso mexe com ele. — Foi como se ela tivesse sentido
que aconteceria. — Mais lágrimas descem por seu rosto. —
Lembro também de meu pai chegando em casa e notando a
falta da aliança na mão dela. Eles discutiram por cinco
segundos, e ela o dobrou, dizendo que tinha mandado gravar
algo especial. — ele sorri largo, como se lembrasse da cena.
— Eles eram ótimos, não é? — pergunto, e Levi
assente.
— Claro, eles brigavam as vezes, mas eram por coisas

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banais. Como quando meu pai nos permitia tomar sorvete


após uma gripe, ou até mesmo quando desenhávamos na
parede e ela sequer se importava, sendo meu pai a ficar bravo.
— sorrio, imaginando as cenas, e vendo que minha tristeza
acabou evaporando em segundos.
— Obrigada por me fazer sorrir. — digo, tocando seus
lábios com os dedos.
— É o que mais quero, Mel. — Beija de leve meus
lábios e se levanta comigo. Ele olha em direção ao relógio e
me encara animado. — Vou fazer o café da manhã para nós,
já que hoje nossa pequena volta para o colégio.
— Mas, eu ia...
— Nada de “mas”. Deixe-me mostrar o que sei para
vocês. — diz ainda mais animado, fazendo-me sorrir também.
— Nunca pensei que cozinhasse. — Sou sincera. —
Quando cheguei aqui e vi a mesa posta naquele dia que você
bebeu demais, lembra? — Ele assente, e noto que está um
pouco envergonhado. — Bom, fiquei surpresa.
— Eu, na realidade, aprendi o básico durante a
faculdade. — Dá de ombros. — Espero não desapontar vocês.
Apenas sorrio para ele, que sai do quarto, e ouço seus
passos se afastando. Vou então até o quarto de Laura e
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encontro-a dormindo serenamente.


Toco de leve seus cabelos e a chamo, a qual logo abre
os lindos olhos verdes e me fita animada; o que é até estranho,
pois Laura odeia acordar cedo... mas talvez seja pelo fato de
sentir falta da rotina no colégio. Ao menos ela já vai voltar.
Rafael pediu para não ir ainda, pois quer esperar o pai sair do
hospital. E por tudo que passou, Carla acatou seu pedido...
nada mais justo para ele agora.
— Bom dia, pequena. — digo e ela já pula da cama.
— Nunca te vi tão animada assim. — zombo, e ela me encara
inquisitiva. Idêntica ao pai.
— Amo ficar em casa, mãe. — Suspira fundo. — Mas
quero rever meus colegas, aprender...
— Sei disso, filha. — digo e vou até ela, abraçando-a.
— Eu te amo.
— Também te amo, mamãe.
— Vá tomar um banho para se vestir. — ela assente,
indo para o banheiro. — E Lau. — Ela se vira pra mim. —
Seu pai é quem está fazendo o café da manhã. — digo e ela
arregala os olhos, fazendo-me gargalhar.
Minutos depois descemos as escadas. Laura vai na
frente, como sempre com pressa. Escuto um o seu gritinho e
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apresso os passos, encontrando-a abraçada ao pai,


gargalhando.
— Bom dia novamente, madame. — Levi diz,
colocando Laura ao seu lado, e fazendo um sinal de
reverência.
— Bom dia. — digo estranhando seu ato. — Qual o
cardápio de hoje? — brinco e ele sorri.
— Bom, nossa pequena aprovou. — Dá de ombros. —
Venha!
Vou atrás dos dois até a sala de jantar e encontro uma
bela mesa montada. Noto que há pães, ovos mexidos e
panquecas.
— É algo simples, mas é o meu melhor. — diz,
olhando-me em expectativa. — Fiz algo para você... sei que
adora.
Ele sai, então aproveito e me sento. Laura faz o
mesmo, olhando-me curiosa.
Levi vem com uma caneca grande, e sinto logo o
cheiro forte de chocolate.
— Chocolate quente? — pergunto surpresa.
— Chocolate amargo quente. — corrige, depositando
a caneca a minha frente. — Sei que o adora, pois sempre faz
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em dias frios.
— E até mesmo no natal. — Laura intervém. —
Mesmo não estando frio.
— Laura. — chamo sua atenção e ela sorri debochada.
— Espero que gostem. — ele diz e senta-se ao lado de
Laura, encarando-nos animado.
Olho para a mesa a minha frente, minha filha sorrindo
de coisas simples e Levi de modo que nunca vi. Sinto-me
estranha por não conseguir estar feliz com isso. Meus
sentimentos conflitam por dentro, mas mesmo assim forço um
sorriso a ele, por sua dedicação. Mas desde quando comecei a
fazer algo por pena dele?

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Capítulo 25

Melissa

Alguns dias depois

Encaro pela grande janela da sala de estar, a beleza da


fazenda e o clima ameno. Vim para a casa de meus pais hoje,
por saber que minha mãe não trabalha e pode me ouvir.
Mesmo assim, agora que estou aqui, não sei nem por onde
começar a falar.
— Parece inquieta. — ela diz e eu me viro, vendo-a se
sentar num dos sofás. — Coloquei a lasanha para assar e logo
poderemos comer.
— Obrigada, mãe. — digo e vou até perto dela,
sentando-me também,
— É sobre Levi, não é? — pergunta, e eu assinto sem
jeito, e ao mesmo tempo envergonhada.
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— Como sabe? — pergunto.


— Não para de encarar sua mão esquerda e mexe
sempre na aliança. — comenta, e só assim noto que realmente
tenho essa mania. — Faz isso quando está nervosa.
— Ele tem sido bom comigo. — Respiro fundo. — Há
alguns dias acabei bebendo um pouco de vinho, e meio que
usei isso como desculpa para enfrenta-lo. Só que nossa
proximidade não deu muito certo, e eu... Bom, eu acabei
transando com ele. — Mamãe me olha surpresa.
— Se arrependeu? — pergunta e eu levo as mãos a
cabeça, negando.
— O problema maior é que não me arrependi do que
fiz. Levi me pediu outra chance e eu acabei cedendo, mas ao
mesmo tempo ainda sinto que há lacunas não preenchidas em
mim. Não que sejam as lembranças ou algo do tipo, mas
coisas que preciso saber que aconteceram, mesmo não me
lembrando. — digo e mamãe toca minha mão.
— Vocês já conversaram abertamente sobre tudo? —
pergunta e eu nego.
— Ele diz partes das coisas, e isso já me dói tanto...
Não sei como lidar caso saiba tudo de uma vez...
— Mel, você não pode viver com essa dúvida para
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sempre. Pelo que me contou, você está dando uma nova


chance para ele, mas eu sei que está indecisa sobre isso. —
Ela respira fundo. — Quando aceitei seu pai após tudo o que
passamos, não foi fácil... Ainda mais quando a ex dele
apareceu na nossa festa de casamento. — Sorrio, lembrando-
me de sua história. — Mas eu apenas pude seguir em frente
com ele, quando senti que era minha escolha, que ele
realmente era o meu homem e de mais ninguém. — diz e
sorri. — Eu não sei o que ele sente por você, filha. Mas eu sei
o quanto você sofreu por ele, e não foram poucas vezes.
— Mãe. — eu a chamo, e ela me encara inquisitiva.
— O que eu te disse? Eu te contei sobre a traição e...
— Você ligou para mim e contou o que viu, disse que
queria o divórcio e eu te mandei ir pra fazenda. Você chegou
um tempo depois e foi para o seu quarto, ficou por lá sozinha
e acabou dormindo. Daniel chegou e foi ficar com você.
Penso sobre suas palavras, mas nada me vem em
mente.
— Eu não consigo me lembrar, nada mesmo, mãe. —
digo, sentindo-me incapaz.
— Sabe que há coisas que vão demorar para voltar,
Mel. Não se cobre tanto. E eu sei que não importa muito o

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que houve naqueles dias, mas sim o que Levi fez, ou melhor,
quer ouvir ele contar tudo.
— Eu acho que não conseguirei lidar com isso. —
Passo as mãos com força, contra minha calça, e sinto-as
suando. — Eu não sei mais o que sinto! Uma parte de mim
não consegue aceitar o que houve, e a outra está assustada
com seu novo jeito, sem saber se é amor ou ilusão no fim.
— Fale com ele e dê um tempo para si mesma. Tente
entender o que sente. — Ela me olha e noto seu semblante
leve, como se entendesse sua situação. — Você passou anos
amando um homem que inventou em sua mente. Por mais que
Levi sempre mexesse com você, por tudo que contou, nunca o
conheceu de verdade... Precisa ver se esse homem que está ao
seu lado agora é realmente o que ama, ou se não é apenas uma
ilusão.
Penso sobre suas palavras e elas me tocam de um jeito
único. Pela primeira vez é como se finalmente abrisse os
olhos. Parte de mim se nega a sentir algo por ele, e não é
apenas pelo que se passou, mas também por sua mudança; e
ainda mais pelo que está por vir.
Preciso ter uma conversa séria com Levi, saber ao
menos sua história. Preciso tentar entender como o homem

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amoroso, carinhoso e dedicado que vive comigo hoje, se


escondeu nesses últimos anos. Ou se ele apenas está vivendo
uma ilusão, ou fazendo isso por culpa. Por mais que sua
aproximação e toque me encantem, talvez isso não seja o
suficiente. Talvez nós dois estejamos nos enganando a
respeito dos sentimentos.

Levi

Assino alguns papéis e releio alguns relatórios que


Daniel mandou hoje cedo através de sua assistente. Sophie,
sua assistente, tem sido muito prestativa, ajudando-me mesmo
não sendo seu trabalho, sendo que ainda tem que aguentar a
ira de Daniel, o qual, por sua sala ficar no mesmo andar da
minha, consigo ouvir e ver muitas vezes gritando com ela.
Não entendi ao certo o porquê dele estar pior, mas também
não há como perguntar.
Ouço batidas na porta e retiro os óculos de leitura, e
limpo de leve meu rosto.
— Entre. — digo.

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Sophie entra e abre um simples sorriso para mim. Ela


parece ser uma garota doce, não sei como Daniel consegue
trata-la tão mal. Caso isso continue, mesmo não sendo mais
seu amigo, terei que interferir, pois essa empresa também é
minha e não quero nenhum funcionário sendo maltratado por
conta do mau humor do patrão.
— Bom dia, senhor Gutterman. — diz e vem com uma
grande pasta até mim. — O senhor Lourenzinni pediu para
que te entregasse. Precisa de sua revisão e sua preparação
para uma nova reunião.
— Certo, pode deixá-las aqui na mesa mesmo, vou
olhar agora. — digo e ela se aproxima, colocando a pasta
sobre a mesa. — E Sophie, quer dizer... posso chamá-la
assim? — pergunto, e ela assente um pouco sem graça. Sei
que não devo me intrometer, mas é fácil ver as enormes
olheiras em seu rosto, e não muito difícil de deduzir que é por
culpa de Daniel. — Gosta de seu emprego com Daniel? —
pergunto e ela me encara inquisitiva.
— É, eu... — ela gagueja um pouco e fica de repente
sem fala.
— Senta um pouco. — peço e ela se senta, olhando-
me um pouco desconfiada. — Olha, poderia mentir e dizer

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que não escuto os gritos de Daniel, e fingir que não vejo o


modo grosseiro com o qual a trata. — Ela arregala os olhos e
eu lhe dou um sorriso sem dentes. — Eu mal posso imaginar
como ele a tratava antes, ainda mais pelo tempo que apenas
vocês dois ficavam sozinhos nesse andar. Então, tenho uma
proposta a te fazer.
Não sei de onde tirei isso, mas pela cara da mulher a
minha frente, ela parece um pouco aliviada. Talvez esteja
realmente a ajudando.
— Que proposta, senhor? — pergunta.
— Bom, eu realmente preciso de uma assistente
pessoal e uma secretária, e vejo que você consegue dar conta
tanto dos seus afazeres com Daniel, além de as vezes me
ajudar, mesmo ficando sobrecarregada. Quero que aceite ser
minha assistente a partir de hoje.
Ela me encara assustada, acho que sem saber o que
dizer. Encaro-a em expectativa, e ela abre a boca algumas
vezes, mas a fecha rapidamente.
A porta da minha sala de repente se abre, e um grande
sorriso surge em meus lábios ao ver Melissa. Ela
primeiramente me encara e então seu olhar cai em Sophie.
Sinto o medo me invadir e temo pelo próximo passo dela.

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Tem sido sempre assim ultimamente, cada santo dia, com


medo de que qualquer erro, deslize ou até mesmo alguma
palavra que possa afastá-la de mim. Não sei como ela se sente
vendo-me com outra mulher nessa mesma sala.
— Desculpe, eu não vi sua secretária, e pensei que não
estivesse ocupado. — Sophie se levanta no mesmo instante.
— Olá, Sophie, não é? — Melissa pergunta, surpreendendo-
me. — Ela e Sophie se cumprimentam amigavelmente, e noto
que Melissa não parece tensa. — Eu me lembro de você
quando vim aqui na última vez e... — Melissa para de falar no
mesmo instante, e então entendo qual foi a última vez. O dia
em que ela me flagrou.
— É um prazer revê-la, senhora Gutterman. — Sophie
sorri e me encara. — Posso pensar um pouco sobre a
proposta, senhor?
Só assim volto minha atenção a ela.
— Claro, Sophie. — Ela abre um sorriso. — Informe-
me sobre sua decisão mais tarde. Ela logo sai e o silêncio cai
sobre mim e Melissa na sala. — Então, é uma grande surpresa
te ver aqui. — digo, tentando aliviar a tensão que se instalou
de repente.
Melissa sorri fraco e analisa a sala, logo se virando pra

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mim.
— Fui ver minha mãe hoje cedo. Peguei o novo carro
que comprou e fui até ela. Conversamos sobre várias coisas, e
bom, resolvi enfrentar o que estou passando. — diz e anda
pela sala, tocando em alguns objetos.
— Como assim? — pergunto, ainda sem conseguir
levantar da cadeira, com medo de sua fala.
— Eu antes estava com medo de vir até aqui, nessa
empresa, em sua sala. — Ela dá de ombros e continua de
costas para mim, ainda vasculhando o local. — Mas ao ver
essa porta, a qual tanto me atormenta, não tive nenhuma
lembrança ou dor... Simplesmente nada.
— Eu não sei o que dizer.
— Fiquei um pouco aliviada no fim. — Ela então se
vira para mim e me encara cabisbaixa. — Talvez não queira
me lembrar do que vi, mas quero saber tudo, Levi.
— O que? — pergunto enquanto ela vem até mim, e
senta-se na cadeira em frente da mesa.
— Preciso que me conte tudo sobre você, sobre...
Nicole. — diz e fecha os olho. — Tenho que ser sincera. Eu
não te conheço. Você não é o cara playboy e intocável pelo
qual me apaixonei, e muito menos o babaca pelo qual
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continuei lutando por amor... Eu sinto que idealizei algo, e


mesmo achando que te amo, não posso mais afirmar isso.
— Espera, você não... — Fico sem fala, levando as
mãos à cabeça. — Não me ama?
— Eu não tenho resposta para isso agora. Sinto que
vou quebrar a qualquer momento, e mesmo estando em seus
braços é como se a qualquer momento você possa estar nos
braços de outra. — Ela toca o cabelo cacheado e aperta um
pouco, como se estivesse nervosa, mas noto sinceridade em
seu olhar. — Eu não sei se o que sinto é insegurança de
perder o homem que acho que amo, ou se quero realmente
tentar reconstruir tudo com você.
Calado.
Abalado.
Quebrado.
Sinto-me afundar em minha cadeira, cada terminação
de meu corpo sendo atingida por suas palavras. Suas duras e
sinceras palavras. Ela não confia em mim, e não sabe se quer
realmente um dia tentar voltar a confiar.
— Não confia em mim. — constato, e ela apenas me
encara, dando-me seu consentimento. — Quer que eu te conte
tudo? Para saber se realmente me ama e quer estar comigo?
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— Sim. — responde, encarando-me nos olhos, do


modo corajoso como sempre fez.
— Tudo bem, minha menina. — digo e coloco os
cotovelos em cima da mesa, curvando minha cabeça pra
frente. — Vou te contar tudo o que quiser saber.

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Capítulo 26

Melissa

Encaro as ondas quebrando na praia e suspiro fundo.


Faz um bom tempo que não venho aqui, mesmo morando
nessa cidade. Olho por cima do ombro e vejo Levi
caminhando até mim, já sem o paletó, e apenas vestido com
uma calça social azul escuro e sua camisa branca enrolada até
os antebraços. Nos pés ele ainda usa os sapatos sociais, mas
parece não se importar por estar vestido tão atípico na praia.
— Pareço esquisito, não é? — pergunta quando chega
mais próximo e abre um sorriso.
— Bom, você que quis vir até aqui. — Dou de
ombros.
Tentei fazer Levi ficar na empresa para conversarmos,
mas ele quis vir até a praia, como se realmente precisasse
disso. Não entendi muito bem, mas acabei acatando sua
vontade. Nunca o imaginei assim, tão solto e livre.

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— Eu vinha aqui com meus pais quando era criança.


— Ele olha para algumas grandes pedras. — Ali era o local
favorito de minha mãe, e sempre que venho aqui é como se
pudesse senti-la... não sei, isso me dá forças.
— Quer se sentar lá? — pergunto, vendo seu olhar se
perder diante da visão.
— Tudo bem para você? — pergunta, e eu dou de
ombros, analisando seus sapatos sociais.
— Você é o esquisito aqui. — zombo e ele sorri, me
ajudando a ir até as pedras, sentando-se numa delas,
deixando-me de frente pra ele.
— Há coisas sobre mim que são difíceis de dizer,
Melissa. Principalmente sobre meus pais. Eu nunca falei tão
abertamente sobre eles antes, nem mesmo com Ricardo.
Apenas depois que percebi o quanto te amo que consegui me
abrir, e foi com você.
Ele me encara um pouco sem jeito e eu assinto,
esperando ainda mais de suas palavras. Ele sabe que não é
sobre seus pais que temos que falar, é algo além disso.
— Conheci Nicole na época da faculdade, na
realidade, em uma das várias festas que ia. Nós ficávamos na
época, mas nunca foi nada sério e muito menos namoramos.

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— Ele suspira fundo e passa as mãos pelos cabelos. — Ela


nunca me pareceu uma pessoa ruim, e de certa forma, era uma
das poucas mulheres com a qual me envolvi mais de uma vez.
Não fui santo, Melissa, você sabe disso. — Assinto, e ele de
repente se cala, focando na imensidão do mar.
Apenas encaro minhas mãos, assimilando suas
palavras. Ele realmente está sendo sincero e não sei se isso
será bom ou ruim. Mas tenho que arriscar, entender o que
estou sentindo.
— Quando Daniel me contou da gravidez, eu estava
em meu apartamento estudando para provas, sem esperar mais
do dia. Foi um choque e ao mesmo tempo uma realização. —
Encaro-o espantada. — Eu sempre sonhei em ser pai, Mel.
Meu sonho sempre foi ser como meu pai, construir algo como
eles tinham.
— Levi. — chamo-o, ele me encara e noto seus olhos
marejados. — Antes de saber da gravidez, eu só quero
entender sobre nossa noite. Por que? Por que não deixou que
Pedro me beijasse e...
— Eu sempre olhei você de longe. — Ele abre um
leve sorriso. — A garotinha que Daniel sempre fez questão de
falar com tanto orgulho, e eu pensei que seria como uma irmã

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para mim. — Arregalo os olhos, assustada com suas palavras.


— É sério... quando te conheci eu ainda tinha o que? Doze
anos? Pensei que seria alguém para te proteger e... — Ele
balança a cabeça em negação. — Mas quando te vi, senti algo
a mais, algo que nunca soube explicar até realmente perceber
do que se trata. Eu vi de longe você crescendo, tornando-se
uma mulher; e quando dei por mim aquele sentimento havia
se transformado, tornou-se desejo, vontade... E na sua festa de
dezesseis anos não consegui mais resistir aos meus instintos.
— E depois que me teve, apenas foi embora. —
constato, lembrando-me de como doeu vê-lo partir naquela
noite.
— Eu não soube lidar com o que tinha acontecido. Fui
ingênuo e egoísta, e não pensei nos seus sentimentos. Mas eu
me senti tão confuso quando a tive. Foi a primeira vez que
senti algo a mais por uma mulher, e acho que por isso me
tranquei. — diz e respira fundo, como se estivesse evitando
dizer algo.
— Eu não entendo. — digo e ele me encara. — Eu
conheço algumas de suas feições, Levi. Principalmente a que
usa para me esconder algo. — Ele abre a boca para falar algo,
mas levanto mão, impedindo-o de prosseguir. — Seja sincero

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comigo.
— Horas antes de Daniel me contar o que houve, eu
estava novamente pensando em você. Eu tentei esquecer
nossa noite, tentei estar com outras mulheres para esquecer
seu toque, mas nada funcionou. Sentia-me incapaz e inseguro,
e não percebi naquela época o quanto isso era estúpido, mas
enfim... Quando Daniel me contou, eu apenas senti que o
certo era me casar com você por nosso filho, e tentar construir
algo ao seu lado...
— Como o seus pais, não é? — Ele assente, parecendo
ainda mais nervoso.
— Mas as coisas saíram de meu controle. Eu me
sentia cada vez mais estranho próximo a você, e os
documentos que fiz foram por medo de poder perder Laura...
Claro que não percebi o quanto também te controlava, por já
te amar e não saber definir. — ele limpa uma lágrima que
desce por seu rosto e fico sem entender. — Quando me
envolvi novamente com Nicole foi em um dia dos dias em
que brigamos após o nascimento de Laura... Eu senti que você
estava tendo poder sobre mim e quis ser dono de mim mesmo,
e assim dormi com ela, tentando provar minha idiotice.
— Então tudo aquilo de querer ser como seus pais

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ficou para trás? — ele assente, parecendo envergonhado. —


Tudo pois sentiu que eu o dominava? — pergunto incrédula.
— Eu nunca amei Nicole, sequer disse isso a ela. Eu
achei que ela era a mulher certa para mim depois de me casar
com você e perceber que o casamento não é um conto de
fadas. Pensei que o problema fosse você, mas na realidade
não percebi que relacionamentos são difíceis. — Fico ainda
mais surpresa.
— Eu não posso acreditar nisso. — digo incrédula,
lembrando das várias vezes que disse algo e ele se afastou.
— Eu tinha uma foto sua, a qual tiramos durante a
gravidez de Laura... Eu sempre deixei-a em minha sala para
que pudesse olhar pra você, tentando entender minhas
próprias ações. Um dia acabei trazendo a foto para casa e
Laura a encontrou. Eu não tive coragem de pegar de volta, já
que ela gostou tanto. — ele dá de ombros. — Mesmo sendo
um idiota, nunca consegui não me sentir culpado pelo que fiz.
— Então sempre se encontrava com ela, nas várias
vezes em que dormiu fora e nas viagens de trabalho? —
pergunto sentindo meu coração apertado, tentando segurar as
lágrimas.
— Não. — diz e o encaro nos olhos, buscando alguma

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mentira. — Foram dez anos, Mel, pois sempre usei disso


como uma válvula de escape; mas na maioria das vezes em
que sumia, era porque me culpava, e ficava em meu
apartamento bebendo. — Suspira fundo. — Sou um idiota, eu
sei. E a culpa só piorou quando você me viu com...
— Ok. — digo, cortando-o. — Então tudo o que tem
feito é por culpa, não é? Sempre foi. — falo vencida, quando
tudo faz sentido em minha mente.
— Não. — ele diz rapidamente. — Eu demorei para
poder entender o que sinto, mas eu... eu te amo, Mel. Fui
imaturo, ingênuo e errei muito. Sei também que não te
mereço, mas...
— Levi, você parece confuso... Acho que nós dois
estamos.
— Eu não estou confuso, Melissa. — diz convicto,
tocando de leve em minhas mãos. — Tenho medo de deixá-la
se afastar e te perder mas se está confusa... Eu não sei como
agir.
— Preciso de um tempo para poder pensar sobre tudo
e reavaliar meus sentimentos. Acho que nós dois precisamos
disso... — Suspiro fundo. — Eu tenho que ir, fazer algumas
coisas. — digo para tentar ficar ao menos um pouco longe de

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seus olhos verdes, que me parecem tão machucados. — Eu


irei para casa hoje, não se preocupe.
Ele desce da pedra e me ajuda a descer, olhando-me
ainda com os olhos marejados.
— Eu te amo, minha menina. — diz e me encara em
expectativa.
— Pode buscar Laura no colégio? — pergunto e ele
assente, mas me olha desconfiado.
— Vai fazer algo importante? — pergunta e eu apenas
nego com a cabeça.
Aproximo-me dele e beijo seu rosto, já para me
despedir. Vou para a calçada e dou uma última olhada, vendo-
o ainda focado em mim, com lágrimas em seu rosto. Não sei o
que fazer, mas preciso pensar um pouco... Ao menos sair de
perto dele por alguns instantes, para absorver tudo isso.

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Capítulo 27

Melissa

Encaro a comida a minha frente e ela não parece tão


chamativa. Tudo em mim se remexe por dentro, e tudo que
menos quero é comer, mas mesmo assim dou a primeira
garfada.
Não soube para onde ir após me encontrar com Levi
na praia, e resolvi me refugiar no único local que acho que ele
não viria: o restaurante de Pedro.
De certa forma entendi o que ele sente a respeito de
meu amigo. Levi deve se lembrar de que quase beijei Pedro
anos atrás, e nos ver próximos agora deve fazê-lo sentir
ciúmes; pelo menos foi o que demonstrou. Sinto-me confusa e
angustiada, sem saber o que pensar ou como agir daqui por
diante.
Aos poucos, enquanto degusto minha comida, penso
em tudo que se passou. Em meus dezesseis anos, a gravidez
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difícil, o casamento inesperado, a vida a dois que nunca


imaginei ter tão cedo... Tudo entre nós foi assim, de repente.
De repente ele me beijou, de repente transamos, de
repente ele me abandonou, de repente a gravidez, de repente
um pedido... De repente a descoberta de uma traição, de
repente um acidente e por fim, a descoberta de um sentimento
chamado amor da parte dele.
E da minha parte, o que sinto?
Será que ainda é aquele amor de antes?
Eu acho bem improvável, já que sequer posso
comparar o homem de hoje com o de antes. Não é possível,
em minha mente, amar do mesmo modo pessoas diferentes.
Talvez seja até impossível.
E então? O que fazer? Ficar repensando a vida,
forçando algo a dar certo por desejo ou confusão? Ou
simplesmente aceitar que não posso continuar com isso e
preciso de um tempo comigo mesma, dar meus próprios
passos?
Isso é confuso, mas ao mesmo tempo me ajuda a
pensar.
— A bela dama novamente. — Ouço uma voz familiar
e encaro o homem em minha frente, abrindo um sorriso
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desconfiado.
— O cara da livraria. — deduzo, e ele novamente faz
uma reverência.
No fim acho que ele está mais para palhaço do que
galanteador.
— A que devo a honra de uma bela visão nesse dia?
— pergunta, e eu o encaro, inquisitiva.
— Estou apenas comendo. — digo e ele me encara de
modo diferente. — O que foi? — pergunto.
— Parece ainda mais perdida em pensamentos do que
quando a vi pela primeira vez. — diz e sorri de lado. — E
ainda mais bela. — ele sorri, fazendo-me sorrir também.
— Bom, mais perdida talvez. Sobre ser bela, eu
discordo. — digo e ele sorri ainda mais largo.
— Mas vejo que não tenho chances com a senhorita.
— diz e aponta para cadeira vazia a minha frente. Assinto,
deixando-o sentar. — Obrigado! — diz e continua sorrindo.
— Não sou um homem de enrolações, mas notei o fato da
aliança em sua mão esquerda.
— Ah sim. — Encaro minha mão esquerda e assinto.
— Eu sou...
E só assim noto que sequer sei o que sou, e pouco sei
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o que essa aliança faz em meu dedo.


Por que não a tirei desde que o vi com ela?
Por que não a tirei após lembrar em parte do que
houve?
Pode até ter se tornado uma parte de mim, mas será
que eu realmente a quero aqui, em meu dedo, intitulando algo
a respeito de mim que não existe?
— Parece complicado. — o cara diz a minha frente, e
eu apenas assinto, sem saber o que dizer. — Sou Bruno. —
diz de repente e dá de ombros. — Devia ter dito isso há algum
tempo.
Sorrio, vendo que a conversa entre nós simplesmente
flui.
— Sou Melissa. — digo e estendo minha mão a ele.
Penso que ele irá apenas pegá-la, porém ele dá um leve beijo
em meus dedos.
— Completamente encantado.
— Ainda não sei se seu tom é de deboche ou de
galanteio. — digo e ele levanta as sobrancelhas, encarando-
me de modo surpreso.
— Uma bela observação para uma bela donzela. —
Ele se encosta na cadeira, levando a mão direita ao queixo,
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tocando-o, como se estivesse me analisando. — Você não


parece só confusa, mas também desconfiada.
— Bom, minha vida não é um livro aberto, mas posso
garantir algo: não tem sido fácil.
— Isso é relativo... quer dizer, eu penso que é relativo.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— A vida é difícil para todos, mas nós sempre damos
um jeito de complicá-la ainda mais. Ou seja, no fim, ela se
torna complicada, pois difícil sempre foi, entende? —
pergunta, e mesmo um pouco perdida, consigo entender o que
quer dizer. — Por exemplo, por que duas pessoas que se
amam simplesmente não dão certo? — pergunta e sinto meu
coração disparar. — As pessoas complicam os sentimentos,
portanto elas não conseguem ficar juntas. Pode ser uma
mistura da falta de confiança com ciúmes, ou vários outros
fatores.
— De onde tirou isso? — pergunto curiosa.
— Da minha própria vida complicada. — Sorri sem
jeito. — Mas no fim, vim conversar com a bela dama e acabei
falando mais do que devo.
— Não, tudo bem. — Abro um pequeno sorriso. —
Acho que certas coisas eu precisava ouvir.
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— Complicando sua própria vida? — pergunta e sorri,


olhando-me de forma curiosa.
— Um pouco. — dou de ombros.
Encaro a comida a minha frente e só assim me lembro
dela. O cara, que agora sei que se chama Bruno, apenas me
observa.
Penso em tudo que ele disse e fico em silêncio,
tentando entender meus próprios sentimentos. De certa forma
algumas coisas que ele disse fazem sentido, e para mim fazem
além disso. Mas qual a melhor escolha? Como pensar sobre
tudo?
— Eu preciso ir. — digo de repente, e ele me encara
espantado. — Garçom! — chamo.
— Mas Melissa, eu pensei que estivesse bem e...
— Olha, Bruno. — digo, e ele me encara de modo
decepcionado. — Minha vida está complicada o suficiente, e
não quero te envolver e acabar complicando a sua também.
Desculpe.
O garçom vem até mim e peço para que embrulhe a
comida para viagem, para que assim possa comer mais tarde.
De jeito algum desperdiçarei comida por conta de meus
problemas pessoais.
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Minutos se passam e o tal Bruno continua sentado à


minha frente, enquanto eu espero o garçom voltar com o que
irei levar, porém meu foco é em outra coisa, ou melhor,
pessoa: Levi.
Assim que o garçom volta com um pequeno embrulho
em mãos, eu agradeço e pego a conta com ele. Pago em
alguns segundos e já me levanto.
— Olha, Melissa, eu não quis ser intransigente. Não
sei porque mas quis me aproximar de você desde que te vi
pela primeira vez, independentemente de sua aliança ou não.
Paro no mesmo lugar por conta de suas palavras.
Penso então em tudo que passei, e no que Levi me contou,
sobre mesmo tendo feito o que fez, continuou com a aliança
em mãos. Porém uma aliança que não serviu para sua
lealdade, mas sim como um recado de si mesmo sobre sua
traição.
— Preciso ir. — digo, e Bruno me encara sem graça.
— Foi bom conhecê-lo, até mais!
Passo por ele e o escuto responder minha despedida,
mas não me viro, e continuo meu caminho para fora do
restaurante. Meu corpo parece pesado e minha cabeça
também. Sinto uma das enxaquecas que ainda me assombram,

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e que meu médico disse que podem continuar por um bom


tempo.
Encaro a calçada e vejo um táxi estacionando, e sem
pensar muito entro nele. Meu carro acabou ficando na
empresa de Levi, já que ele decidiu ir à praia e me levou no
dele, pensando que voltaríamos para pegar o meu; porém
depois farei isso. E de certa forma, agradeço por estar no táxi,
já que minha cabeça incomoda muito.
As ruas do Rio passam ao meu lado e vejo-as pela
janela, porém sequer consigo focar na cidade. Meus
pensamentos estão distantes enquanto tento controlar essa
enxaqueca.
Minutos depois adentro minha casa e ouço barulhos
vindos da cozinha, os quais parecem piorar ainda mais minha
dor. Subo as escadas em busca de meu remédio, para que ao
menos isso melhore. Já no quinto degrau, sinto meu corpo
vacilar e me agarro no corrimão. Com muito esforço consigo
chegar no andar de cima, e a passos lentos, segurando-me na
parede, chego até o meu quarto com Levi.
Porém antes que possa entrar, uma lembrança vem
com força em minha mente, fazendo-me fechar os olhos e
simplesmente sentir meu corpo leve.

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— Levi. — Tento gritar, mas de repente minha voz


some.
Vejo ele, vejo ela, os dois em cima da mesa. A dor
dilacera meu coração como se fosse a resposta para o que
preciso. E isso me machuca demais, saber que preciso parar
de lutar contra mim mesma e minha própria vida.
Abro os olhos com dificuldade e vejo um vislumbre
de olhos verdes. Minha boca parece seca e não consigo mais
raciocinar direito. Meus olhos se fecham novamente e sinto a
dor novamente em meu peito. Minha cabeça parece que vai
explodir e com isso, sinto meu corpo se desligar... perdendo
todos meus sentidos.

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Capítulo 28

Melissa

Escuto sons vindos do exterior, mas eles parecem ao


mesmo tempo dentro de minha cabeça. Sinto uma mão quente
segurando a minha e forço meus olhos a se abrirem.
Encaro Levi, que está com a cabeça baixa e com ela
em direção a minha mão, sussurrando algo baixinho, e eu não
duvido que não esteja rezando. Surpreendo-me novamente
com ele, mas mesmo assim, ainda sinto que esse sonho que
tive significa algo, algo que preciso pensar.
— Ei. — chamo-o com certa dificuldade, e logo ele
me encara.
Seu rosto está vermelho, assim como seus olhos, e
noto seu abatimento. Levi parece quebrado.
— Está se sentindo bem, minha menina? — pergunta
parecendo preocupado, e assinto, já não sentindo nenhuma
dor.

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— Eu desmaiei, não foi? — pergunto e ele assente.


— Fiquei tão preocupado. Eu não sei o que faria caso
algo te acontecesse. — diz e lágrimas correm por seu rosto.
Agora sou eu que me sinto quebrada diante de seu
jeito indefeso e frágil. Eu tenho a certeza agora de que não
conheço esse homem, e ele também não me conhece. Além de
que vê-lo assim faz com que sinta algo que nunca quis: pena.
— Precisamos conversar sobre algo. — digo e ele me
encara cabisbaixo.
— Eu até imagino o que seja.
Forço um sorriso, lembrando-me do que veio em
minha mente antes de desmaiar. Vi a cena que tanto neguei a
mim mesma acontecer, como se fosse real novamente. Fico
me perguntando, e se eu não tivesse ido até a empresa e o
visto? Ele teria acordado e percebido que me ama? Se é que
ele realmente não sente apenas culpa por tudo e está
confundindo seus sentimentos.
— Estou confusa, de um modo em que ficarmos
juntos não vai ajudar. — Seus olhos se fecham e ele sequer
me encara, acho que sem saber como agir. — Levi. — eu o
chamo, e ele mostra seus olhos com um certo pesar. — Eu
tenho dúvidas demais sobre o que vivemos, e não posso

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mentir e dizer que estou pronta para recomeçar algo que


sequer fomos, me entende? — Ele assente, afastando-se um
pouco de mim, respirando fundo. — Foram dez anos, Levi.
Antes, com tudo que houve, eu não conseguia ver além
disso... não consegui entender que nossas escolhas podem
danificar não só a nós como...
— Nossa filha. — ele complementa, como se
finalmente isso fizesse sentido.
— Duvido que Laura queira viver num lugar onde os
pais praticamente têm medo de errar novamente e a mãe não
sabe o que sente. Isso tanto pode, como já deve estar
machucando ela. Não se trata apenas de nós. Uma vez
ficamos juntos achando ser o melhor para ela, mas hoje eu
acho que já somos maduros o suficiente para ver que não é
assim. Não podemos fazê-la viver no meio disso.
— Eu pensei que podia conquistar você. Mesmo com
tudo, eu realmente achei que a chance que me deu e tudo mais
seria o suficiente. — ele diz, já mais conciso.
— Eu também pensei, mas não estou preparada para
isso agora. — digo a verdade sobre minha decisão. — Preciso
me concentrar em cuidar de Laura e aceitar o que passamos...
Além de conhecer a mim mesma.

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Sinto sua dor, pois vejo o modo como ele me encara,


sem saber o que fazer ou como agir. Encaro a aliança em
minha mão, e pela primeira vez a tiro. Levi abaixa a cabeça,
parecendo destruído.
— Eu quero te devolver, pois sei o quanto é
importante para você, Levi. — Entrego a ele a aliança, o qual
se nega por um instante, mas logo a guarda, encarando-me
incrédulo. — Não sei se esse é o fim de tudo que passamos,
mas não posso continuar mentindo para mim, para você e
muito menos para Laura, de que consigo recomeçar agora.
— Eu senti que faria isso cedo ou tarde, pelo modo
diferente que me olha. Não há mais aquele brilho de anos
atrás; e acho que não o tinha há algum tempo. — Ele suspira
fundo, forçando um sorriso. — Eu te amo, Melissa. Espero
um dia fazê-la acreditar nisso.
Nesse momento tenho mais a certeza de coisas que
ainda não consigo entender e aceitar: o amor de Levi. Mesmo
com tudo que passou, com suas revelações e novas atitudes,
ainda não consigo acreditar no que diz, mesmo querendo. E
hoje, não consigo querer mais.
Preciso entender que o amor as vezes não é o
suficiente, e como Savannah do livro de meu livro favorito,

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ser corajosa o suficiente para entender isso. Um amor


unilateral, uma vez meu e agora dele, não consegue sustentar
uma relação. Seríamos novamente a realidade de um casal
perdido em meio ao medo de erros, e sem saber como agir.
Antes eu sempre soube o que sentia por Levi, um
amor puro e ingênuo, que acreditou um dia poder conquistar
esse homem. Mas hoje, após tudo o que houve, as mágoas, o
passado, as lembranças assim como a desconfiança
conseguem falar mais alto, o que me prova que não parece
existir o mesmo amor dentro de mim.
Preciso pensar em algo que sobrou desse ingênuo
amor para poder seguir em frente, e tentar ao menos descobrir
meu próximo passo, acabar com todas as dúvidas. Olho para
Levi, ainda sentado à minha frente, mas que logo se levanta e
beija minha testa, olhando-me uma última vez antes de sair.
Nesse quarto vazio, sozinha e em meio a aparelhos do
hospital, sinto um pequeno alívio em meu peito. E pela
primeira vez sei que fiz a escolha correta; notando que o que
sobrou do meu amor foram pedaços de mim mesma, os quais
terei que juntar.
Continua...

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O que sobrou do
nosso amor
Série: O que sobrou – Livro
1.5

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Sinopse

Melissa Lourenzinni passou por várias turbulências em sua vida,


e percebeu que o amor que sentia pelo marido se esvaiu após dez anos de
um casamento infeliz e uma traição. O perdão não é impossível, mas a
confiança foi quebrada. Agora, ela só quer entender o que sente e cuidar
de sua filha, a qual se tornou seu mundo.
Levi Gutterman perdeu a mulher que ama por conta da própria
imaturidade e negação, além de seus erros no passado. Ele consegue
manter apenas o mínimo de contato com ela, no caso, através de sua filha.
Porém, ele não consegue desistir do que sente, muito menos agora, que
tem a certeza que jamais amará outra mulher.
Um casamento destruído
Uma mulher confusa após uma traição
Um homem apaixonado em busca de redenção
Será que algo sobrará desse amor?

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Prólogo

Melissa

No futuro

- Um ano após os acontecimentos do primeiro livro

Passo as mãos de leve por meu vestido, encarando


meu reflexo no grande espelho de meu quarto. Não sei se a
cor e o corte são exagerados, mas algo dentro de mim diz que
acertei. O vestido vai até meu pescoço, como uma espécie de
gargantilha, porém minhas costas estão completamente
expostas. O tom branco destaca minha pele negra, fazendo-
me sentir ousada, mas pela primeira vez em minha vida,
sinto-me totalmente confortável.
Não sou mais uma garota e finalmente vejo isso. Não

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tenho mais medo de usar aquilo que gosto,


independentemente da moda do momento, e muito menos
penso sobre o que outros acharão. Sinto-me linda, livre,
independente, de uma forma que antes nunca estive.
Meu cabelo curto faz com que sinta-me ainda mais
altiva. Um corte de cabelo pode não parecer nada, mas para
mim modificou muita coisa, muito além de meu exterior.
Sorrio para o espelho, finalmente me reconhecendo como
Melissa Lourenzinni.
— Pois é. — falo sozinha, enquanto passo novamente
o rímel.
Nunca me senti tão nervosa antes na vida, e fico
repassando em minha mente como agir ou o que fazer. Parece
de fato meu primeiro encontro, e na realidade, realmente é.
Nunca fiz isso, e ao me lembrar dos vários bilhetes deixados
em meu correio, sinto-me um pouco incerta.
Esse cara secreto dos bilhetes, ou melhor, admirador
secreto, apareceu algum tempo depois de minha separação
definitiva de Levi. Desde a segunda semana em meu
apartamento novo comecei a receber bilhetes, os quais já
chegam há meses, para ser mais exata, praticamente um ano.
E hoje, finalmente o conhecerei.

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Pego minha bolsa e coloco o batom dentro, mesmo


sabendo que certamente não terei de retocá-lo. Encaro-me
novamente no espelho e respiro fundo, repassando em minha
mente se realmente estou pronta para isso. Porém logo sorrio
aliviada; eu sei que estou.
Encontro Laura com Sophie na sala, que é minha mais
nova cunhada. Mesmo ainda não entendendo ao certo sua
relação com meu irmão, ela se tornou uma grande amiga.
Laura está sentada no sofá e Sophie praticamente
jogada no tapete.
— Tem certeza que pode ficar com ela? — pergunto e
Sophie revira os olhos, sentando-se. — Sério, caso tenha algo
pra fazer e...
— Está tudo bem, Mel. — Ela sorri olhando pra
Laura, que está concentrada em seu celular. — Viu só? — ri e
eu a encaro estupefata.
— Ei, mocinha. — chamo Laura, a qual demora um
pouco pra me olhar. — Não fique muito nesse celular. Sabe
que tem lições para fazer, não é?
— Mas mãe, meu pai sequer me deixou chegar perto
do celular ontem e...
— Ele está certo nisso. — digo, cortando sua fala e já
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beijando sua testa. — Se comporte, e pode pedir a pizza que


tanto adora.
— Sério, mãe? — pergunta animada e me abraça. —
Você é a melhor!
Viro-me para Sophie e meneio a cabeça.
— Pergunte a ela se sou a melhor quando não deixo
comer chocolate demais. — brinco e Sophie sorri. — Um dia
vai me entender, quando tiver um filho... E se ele puxar o
gênio de Daniel... — Sophie me encara sem jeito, mas mesmo
assim continuo. — Será difícil uma criança com o gênio de
meu irmão.
— É. — diz sem graça e dá de ombros.
— Ok então! — digo e coloco minha bolsa no ombro.
— Estou indo!
— Vai arrasar, sei que vai. — Sophie diz e eu sorrio
para ela.
— É o que espero.
Saio do apartamento e meu coração parece querer
saltar do peito quando entro no elevador. Sei que só verei esse
homem misterioso no local marcado, mas mesmo assim, algo
dentro de mim já se remexe.
Abro minha bolsa e pego seu último bilhete, sentindo
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meu coração disparar ainda mais, se é que isso é possível.


Ele mandou várias coisas, e entre elas, muitas frases
de meu autor favorito; o que deixa mais claro para mim quem
é esse homem. E ele, com toda certeza, é o meu recomeço.

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Outras obras

O homem que não amei – Trilogia Soares – Livro 1


Sinopse
Um casamento baseado em um acordo, e um passado não
revelado.
Victória Fontana passou por cima de tudo por um único e
exclusivo amor, sua filha, Luna; chegando a ponto de conviver sob o
mesmo teto que o homem que mais repudia, o qual a traiu inúmeras
vezes, e trocou míseras palavras com ela durante os vinte anos de
casados. Porém, o tempo passa, e agora sua filha irá se casar. Essa seria
finalmente a liberdade que Victória sempre sonhou, que no auge dos seus
quarenta anos, tudo o que deseja é encontrar um verdadeiro amor e se
afastar de vez do atual marido.
Caleb Soares é um homem reservado e completamente fechado.
Ele guarda segredos que envolvem não só seu passado, mas de toda sua
família. Sua prioridade sempre se baseou em cuidar de sua filha, e em
hipótese alguma revelar algo a Victória. Vinte anos vivendo ao lado da
mulher que ama não foram o suficiente para ele se declarar... Um erro do
passado fez com que Caleb trancafiasse seu amor e deixasse com que ela
o odiasse. Quando Victória pede o divórcio, ele finalmente se dá conta de
que seu amor por ela não passou com o tempo.
Será ele capaz de abrir seu coração?

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Será ela capaz de acreditar em seus sentimentos?


Caleb tem uma chance de conquistar sua esposa, e caso não
consiga, a perderá para sempre.
Link para compra aqui

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A mulher que amei – Trilogia Soares – Livro 2

Sinopse
Castiel Soares, ao contrário do que muitos pensam, sempre foi o
mais centrado e obediente dos irmãos. Cometeu erros como qualquer ser
humano, e alguns deles atormentavam seu sono... Até conhecê-la.
Danielle Campos sofreu uma grande perda no passado que
transformou sua vida completamente. E mesmo com a dor que sentia,
nunca deixou nenhum sentimento ruim a corroer... Até conhecê-lo.
Ele pensou que ela seria sua salvação.
Ela quer de todas as formas sua destruição.
Um sentimento arrebatador entre a linha tênue do amor e do ódio.
Qual falará mais alto?

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Contatos da autora

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Até a próxima!
[1]
Candy: Doce
[2]
Você pegou minha mão / Você me mostrou como /
Você me prometeu que ficaria por perto / Aham / Tá certo /
Eu absorvi suas palavras / E eu acreditei / Em tudo que você
me disse / É, aham / Tá certo / Se alguém dissesse que daqui
três anos / Que você iria embora / Eu me levantaria e socaria
todos eles / Porque eles estariam errados / Eu sei melhor que
eles / Porque você disse "para sempre" / E sempre" / Quem
diria / Lembra-se quando nós éramos tão bobos / E tão
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convencidos e tão, tão legais / Oh não / Não não / Eu queria


poder te tocar de novo / Eu queria poder ainda te chamar de
amigo / Eu daria qualquer coisa
[3]Uma carta de amor é uma obra publicada em 1998, da autoria
do romancista Nicholas Sparks.
[4]
Nicholas Sparks: romancista mundialmente famoso,
conhecido por obras como Um amor para recordar, Diário de uma paixão,
Querido John, entre outras.
[5]
Não sou uma pessoa perfeita / Há muitas coisas que
eu gostaria de não ter feito / Mas eu continuo aprendendo /
Nunca quis fazer aquelas coisas a você / E então tenho de
dizer, antes de partir / Que só quero que você saiba /
Encontrei uma razão pra mim / Para mudar quem eu
costumava ser / Uma razão pra começar tudo de novo / E a
razão é você / Sinto muito por ter te machucado / É algo com
que tenho de viver diariamente / E toda a dor que te causei /
Eu gostaria de poder levá-la embora / E ser aquele que segura
todas as suas lágrimas / É por isso que eu preciso que você
ouça / Encontrei uma razão pra mim / Para mudar quem eu
costumava ser / Uma razão pra começar tudo de novo / E a
razão é você / E a razão é você / E a razão é você / E a razão é
você / Não sou uma pessoa perfeita / Nunca quis fazer aquelas
coisas a você / E então tenho de dizer, antes de partir / Que só
quero que você saiba / Encontrei uma razão pra mim / Para
mudar quem eu costumava ser / Uma razão pra começar tudo
de novo / E a razão é você.

NACIONAIS - ACHERON

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