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Livro 3

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda

Sumário
1. Grand Finale
2. As Consequências
3. Solitário
4. Outra Garota
5. Trabalho
6. Jantar e Sobremesa
7. Tentando
8. Sem Reservas
9. Falando em Línguas
10. Tal pai, tal Filho
11. Segundos
12. As Línguas do amor
13. Pronto ou Não
14. Aberto ao Público
15. Trovão e Relâmpago
16. O dia seguinte
17. Um Universo Secreto
18. Virando o jogo
19. Uma pausa grávida
20. O Preço certo
21. A maçã e a árvore
22. Flash
23. Esqueça, mas não perdoe
24. (In)Visível
25. Feche o negócio
26. Conhecimento Público
27. Superexposto
28. Referência
29. Registro Permanente
30. O Acordo Perfeito

Capítulo 1
Grand Finale
Dois Meses Depois
Brad
Nada dizia adeus como uma festa, e eu tinha que admitir que fazia muito
tempo que não via uma festa tão espetacular no iate clube. Mesmo a festa
anual não conseguiu conter a extravagância desta noite.
Angela realmente se superou.
E tudo em minha honra, nada menos.
Apesar das festividades ao meu redor, não pude deixar de sentir uma
certa melancolia.
A festa era para celebrar publicamente minha aposentadoria oficial da
Knight Enterprises. Quarenta anos de trabalho e luta para construir a
maior empresa de petróleo do mundo, seguida pela marca de hotel de
luxo mais procurada do mundo.
Tudo se resumia a isso, a quinhentos dos meus amigos e colegas mais
próximos em suas melhores roupas de domingo, batendo papo no iate
clube.
Não se engane quanto a mim.
Pude sentir apenas a maior gratidão por meus camaradas e seu desejo
de comemorar minhas realizações.
A bebida com infusão de manga e morango com cobertura de
morango, chamada The Bradlini em minha homenagem, e a banda ao
vivo tocando minhas músicas favoritas me alegraram muito.
Um único pensamento, porém, me deixou sentado em minha cadeira,
perseguindo cubos de gelo em meu copo com um pequeno guarda-chuva
rosa. Um único pensamento agarrou meu antigo coração.
Isso é tudo que resta?
— O que você está fazendo aí atrás, meu velho? — meu filho disse de
repente, batendo-me no ombro.
Meu filho, meu orgulho e alegria, Xavier.
Uma vez, eu me preocupei que ele não pudesse herdar minha
propriedade. No ano passado, ele provou seu valor duas vezes. Era por
isso que eu estava deixando o cargo.
Xavier não precisava mais da minha orientação, nem mesmo em meio
período. Ele era um homem em seu auge, cheio da fome necessária para
ser um grande empresário, com o desejo de crescer ainda mais.
Ele traria honra ao nome dos Knight, ao nosso legado.
— Estou apenas aproveitando o momento para absorver tudo, — eu
disse a ele, então me virei para falar com sua linda esposa. — Você
realmente se superou, minha querida.
Angela corou, como sempre, uma visão de altruísmo e graça.
— Foi um prazer.
— Por que você não entra na festa? — Xavier pediu novamente. Ele
pegou um Bradlini de um garçom que passava e o estendeu para mim.
— A dança vai começar em breve, — acrescentou Angela.
Aceitei o copo de bebida espumosa da cor do pôr-do-sol.
— Vocês dois vão. Eu vou em seguida.
Eles trocaram um olhar rápido e então Xavier pegou a mão de sua
esposa e a conduziu para a pista de dança.
Como seria ser jovem de novo?
Esse era o truque. Eu me sentia exatamente como há quarenta anos.
Tão vibrante. Tão faminto. Como se eu pudesse acordar todas as manhãs
e invadir Wall Street.
Mas bastou eu olhar no espelho para me lembrar da verdade. Então,
ao observar as rugas e a calvície, percebi que não era possível, que havia
chegado a hora de passar a tocha.
Isso é tudo que resta?
Eu vivi uma boa vida. Eu tinha um amor tão grande quanto os dos
contos de fadas. Eu criei um filho que era minha coisa preferida no
mundo. Minha carreira foi mais bem-sucedida do que a maioria jamais
poderia esperar alcançar.
O que sobrou?
Enquanto eu deixava a conversa e o barulho da festa de aposentadoria
tomarem conta de mim, meus olhos se fecharam.
Amelia, pensei. Meu amor. O que vem depois? O que você faz depois de
fazer tudo?
De repente, um tom agudo atravessou o iate clube. Estremeci, com os
ouvidos zumbindo e abri os olhos.
Uma mulher estava no centro do palco, uma jovem sensual, com
quadris largos e pele morena.
— Desculpe por isso, — disse ela, atrapalhando-se com o microfone.
— Agora, se vocês não se importarem, gostaria de começar com um dos
meus favoritos.
Ela contou com a banda, e então as notas mais doces que eu já ouvi
encheram o ar.
Como se estivesse possuído, me vi de pé em minha cadeira, meus
ossos de sessenta e cinco anos me levando para mais perto.
Mais perto dos encantamentos que dominavam o palco.
Mais perto de um futuro desconhecido.
O que pode sobrar?
Angela
— Viu, eu te disse. Está tudo bem, — Xavier disse, puxando-me em seus
braços.
Eu não estava convencida, mas deixei que ele me segurasse mesmo
assim, me guiando enquanto começamos a balançar com a música da
banda.
A dança ainda não havia começado, não propriamente, mas eu não
queria dizer a Xavier que éramos o único casal na pista de dança. Não
com a forma como ele estava olhando para mim agora.
Em vez disso, deixei seus braços fortes servirem de conforto enquanto
me preocupava com seu pai.
Brad não parecia ele mesmo a noite toda.
Quando ele me abordou para planejar sua festa de aposentadoria,
fiquei animada com a oportunidade de ajudar. Brad tinha feito tanto por
Xavier e por mim que foi uma honra ser capaz de retribuir, mesmo que
apenas um pouco.
Mas não pude deixar de pensar que havia feito algo errado.
Dei uma olhada por cima do ombro de Xavier. Brad ainda estava em
sua cadeira, com os olhos agora fechados.
— Eu não acho que ele vai dançar com a gente — sussurrei para
Xavier.
Eu o senti suspirar.
— Angela, por favor, tente se divertir. Você planejou uma festa
maravilhosa. Se eu conheço meu pai, a última coisa que ele quer é todo
mundo mexendo com ele.
Eu apertei meu abraço em torno dele e comecei a prestar atenção aos
passos que ele estava me guiando.
— Ok.
Eu tinha uma surpresa chegando em breve, de qualquer maneira. Se
isso não animasse Brad, nada mais o faria.
Como se fosse uma deixa, outro ruído estridente atravessou o iate
clube, fazendo-me perder o equilíbrio. Xavier me puxou com mais força
contra o peito, me impedindo de tropeçar e de fazer papel de boba.
— O que ela está fazendo aqui? — ele perguntou, com os olhos fixos
no palco.
Eu me virei também e sorri quando Penny pegou o microfone.
— Era o mínimo que eu podia fazer, — eu disse a Xavier.
— Para quê?
— Pela ajuda dela no meu resgate.
Os lábios de Xavier pressionaram em uma linha fina quando Penny
começou a cantar.
Seu relacionamento com Penny era complicado. Honestamente, ela
era uma pessoa maravilhosa. Muito gentil e surpreendentemente tímida
para alguém que subiu ao palco de forma tão convincente.
Mas acho que ela lembrou Xavier de uma época de sua vida da qual
ele não gostava.
Uma época em que ele era uma pessoa mais malvada e mais raivosa.
Acho que foi como olhar para trás, para fotos estranhas da infância.
Encolhendo-se com o quão estúpido e idiota você parecia... cem vezes
pior.
Talvez convidá-la tenha sido um erro.
Mas Penny era uma cantora, e uma muito boa. Ela conhecia todas as
favoritas de Brad.
Além disso, eu não pretendia contratá-la.
Eu encontrei o nome dela por acidente em uma lista de cantores para
eventos. Assim que eu o vi, eu soube que tinha que ligar para ela, para
agradecê-la.
Xavier me disse que foi Penny quem deu a ele a pista final meses atrás.
Se não fosse por ela, Xavier não teria encontrado o armazém para
onde Jacques me levou. Ele não teria chegado a tempo.
Jacques morreu naquele dia e, apesar das coisas terríveis que ele fez,
eu sabia que havia pessoas por aí que o amavam, que confiavam nele.
Pessoas como Penny.
O mínimo que eu podia fazer era dar a ela um trabalho que ela era
mais do que capaz de fazer.
Parecia que tinha sido uma boa escolha também, porque com o canto
do olho, percebi que Brad havia se levantado e estava indo lentamente
para a pista de dança.
Ele estava paralisado, seus olhos grudados em Penny enquanto ela
cantava os acordes finais de — Dream a Little Dream of Me.
— Olha, — eu sussurrei para Xavier, apontando para Brad.
— Eu vi, — ele respondeu. Sua voz rouca me fez virar para encará-lo, e
percebi que ele estava olhando para mim.
A música mudou, uma lenta batida espanhola enchendo o ar. Xavier
me puxou contra seu corpo musculoso e duro.
Eu engasguei quando sua mão desceu pelas minhas costas até minha
bunda.
— Xavier!
Meu marido se sentia confortável demais com exibições íntimas em
público.
Foi difícil para eu iniciar um simples beijo na privacidade da nossa
própria casa, muito menos tocá-lo quando estávamos em uma sala cheia
de pessoas.
— Vamos? — Sua perna deslizou entre as minhas quando ele
começou a me conduzir nos passos familiares do bolero.
Eu senti minhas bochechas aquecerem.
— Não tenho certeza se este é o momento certo.
Nós ficamos mais próximos nos últimos meses, e eu me sentia mais
conectada a ele do que nunca, mas não tinha certeza de por que precisava
provar isso deixando-o me apalpar a cada vez que saíamos de casa.
O tipo de afeto que ele parecia desejar era tão estranho para mim que
era opressor.
Xavier beijou meu ombro nu, em seguida, meu pescoço.
— Não posso gostar de dançar com minha esposa?
— C-claro, é só...
Minhas palavras sumiram, meio porque perdi a coragem de dizê-las,
meio porque Xavier me beijou.
Xavier
Dois meses.
Dois meses malditos.
Isso tinha que ser um recorde. Se não for um recorde mundial, será
um recorde pessoal.
Eu não conseguia me lembrar de ter passado mais de dois dias sem
sexo, muito menos dois meses.
Angela estava nervosa. Ela queria esperar.
Eu entendia isso, logicamente. Emocionalmente, porém, eu estava
pronto para bater na cabeça dela e arrastá-la para uma caverna e dar um
jeito nela.
A necessidade de tocar em Angela, de sentir seu corpo esfregar contra
o meu, era constante.
Sua mão no meu ombro, o roçar de sua perna contra a minha, nossos
dedos entrelaçados... Os menores toques se transformaram na dança
mais erótica.
Mesmo esta noite, em uma sala cheia de pessoas mais velhas, na festa
de aposentadoria do meu pai, enquanto minha ex-namoradinha olhava,
tudo que eu conseguia pensar era em possuí-la ali mesmo, no meio da
pista de dança.
Tudo que eu queria era levá-la para casa, tirar seu vestido branco
apertado e destruí-la.
A luxúria frequentemente me deixava fora de mim. Num segundo eu
estava gentil e carinhoso, no próximo, frio e mal-humorado.
Quando paramos em frente ao nosso prédio no final da noite, me vi
flutuando para frente e para trás entre os dois.
— Boa noite, Marco, — disse Angela enquanto eu a ajudava no banco
de trás.
Eu coloquei minha mão em suas costas, empurrando-a em direção à
porta, antes que Marco pudesse responder.
— Vamos entrar.
Ela olhou para mim enquanto cruzávamos o saguão.
— Está tudo bem?
— Tudo bem, — eu disse de volta, fechando minha mão livre em um
punho.
Ela continuou a tagarelar nervosamente enquanto entrávamos no
elevador, com o rubor subindo em suas bochechas enquanto ela
observava meus ombros tensos.
Tínhamos jogado esse jogo inúmeras vezes nas últimas semanas. Ela
sabia exatamente o que estava errado. O que eu queria. O que eu não
poderia ter.
— Você comeu o suficiente? Eu poderia preparar alguma coisinha.
Eu...
Eu precisava foder algo, ou socar algo, o que se apresentasse primeiro.
As portas do elevador abriram e corri para a cobertura.
— Xavier?
Certo, Angela me perguntou algo.
Eu parei ao lado da cozinha e girei nos calcanhares.
— Eu não estou com fome.
Angela vagarosamente caminhou em minha direção, com suas
sobrancelhas franzidas de preocupação.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Ela estava a centímetros de mim
agora, tão perto que nossos peitos se tocaram. Ela levantou uma das
mãos e envolveu minha nuca.
Quase gemi com o contato.
Lambi meus lábios, tentando ignorar a dor crescente na minha
virilha.
— O que você precisa, Angela?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
— Te agradecer. Eu me diverti muito com você esta noite.
Ela se inclinou e pressionou seus lábios nos meus no mais delicado
dos beijos.
Começou como uma faísca. De repente, todo o meu corpo estava em
chamas.
Em menos de um segundo, levantei Angela em um braço e usei o
outro para limpar o balcão da cozinha.
Castiçais, saleiros e temperos caíram no chão de madeira quando eu a
coloquei no balcão.
— Xavier, — ela respirou.
Eu puxei o zíper de seu vestido para baixo e deixei minhas mãos
correrem sobre a pele agora nua de suas costas.
Angela envolveu suas pernas em volta de mim, me puxando para mais
perto.
Seus dedos se enrolaram em meu cabelo enquanto eu tirava meu
paletó e comecei a desabotoar os botões da minha camisa social.
Estiquei-me até atrás dela novamente, com os dedos encontrando o
fecho de seu sutiã.
Por um segundo, pensei que ela me deixaria fazer isso.
Ela finalmente me daria acesso a seus seios fartos.
Me deixaria tomá-la como eu queria.
Então, eu senti uma pressão familiar contra meu peito e suas
mãozinhas me empurraram para longe dela.
— Xavier, pare.
Eu rosnei, me afastando do balcão, para longe dela e pelo corredor.
— Onde você está indo? — sua vozinha me chamou.
Eu não pude evitar uma crescente raiva em minha voz enquanto
rosnei minha resposta.
— Para a porra do chuveiro.
Angela
Sentei-me no balcão, meio vestida, com o coração disparado no peito,
tentando recuperar o fôlego.
Eu ainda podia sentir as mãos de Xavier em mim. Pedindo.
Implorando.
Eu sabia que teria que ceder logo.
Já estávamos namorando há mais de dois meses, éramos marido e
mulher há quase um ano, mas nosso casamento ainda não havia sido
consumado.
Xavier foi paciente comigo. Nunca pressionando. Nunca forçando.
Apreciei seus esforços mais do que ele poderia imaginar.
Eu podia ver que isso estava afetando ele, mas ele precisava de um
escape.
Nós chegamos perto algumas vezes, mas eu sempre o impedi de ir
mais longe.
Você está sendo boba, eu disse a mim mesma e pulei do balcão. Não há
nada a temer.
Esse era meu novo mantra. Não há nada a temer.
No entanto, não importa quantas vezes eu dissesse isso, não
parecíamos estar mais perto de fazer amor.
Cada vez que Xavier e eu estávamos perto, uma onda de pânico
tomava conta de mim e eu o afastava.
Exatamente como agora.
Quando me abaixei para pegar o saleiro agora lascado, ouvi o
chuveiro ligar no corredor e uma determinação de aço me atingiu.
Eu amava Xavier. Era hora de mostrar a ele o quanto. Esta noite foi a
noite. Não há nada a temer.
Tirei meu vestido dos ombros, deixando-o cair no chão da sala e dei
um passo em direção ao quarto de Xavier.
Então outro.
Não há nada a temer
Ele havia deixado a porta do banheiro aberta, como sempre. Um
convite. O vapor subiu para o quarto, quase suplicante.
Não há nada a temer
Desabotoei meu sutiã, tirei minha calcinha e passei pela porta aberta
do banheiro.
Eu não podia deixar meu medo me segurar mais. Eu não o evitaria
mais. Em privado ou público.
Xavier estava no chuveiro, com os olhos fechados e a cabeça jogada
para trás. O vapor saiu de seus ombros. Ele tinha uma mão apoiada
contra a parede de azulejos, a outra em volta do seu...
Eu não pude evitar o suspiro que escapou dos meus lábios. Minha
mão voou para cobrir minha boca, mas era tarde demais. Ele tinha
ouvido.
A cabeça de Xavier girou, seus olhos se arregalaram quando pousaram
em mim, e sua mão cessou seu movimento contínuo. Ele correu para se
cobrir.
— Merda, — ele murmurou, e a compreensão do que eu havia
acabado de ver me atingiu brutalmente.

Capítulo 2
As Consequências
Angela
Angela: Está tudo certo pra hoje?
Dustin: Sim, senhora!
Angela: Ótimo! Necessito de aconselhamento.
Dustin: Você tem minha atenção!
Dustin: Eu ganho alguma pista?
Angela: (emoji de três macacos tampando o olho) Dustin: Ah,
vamos. Não pode ser tão ruim.
Angela: Eu peguei o Xavier, sabe...
Dustin: Não, acho que não.
Angela: (emoji de mão, berinjela e gotas de água) Dustin: Oh
Dustin: OHHHHH
Angela: Sim, estarei aí em 30 minutos.
Quando entrei no café, encontrei Dustin no meio de uma escada ao
longo da parede oposta, com uma pintura enorme nas mãos.
Também não era a única ali. As paredes agora estavam cobertas com
suas pinturas.
Eu deveria estar encontrando ele e Em para o nosso encontro
semanal, mas parecia que Dustin já estava com as mãos ocupadas.
— Uau, — eu disse, parando no meio do pequeno espaço.
— Você gostou? — Dustin ligou.
— Eu adorei, — respondi, com os olhos correndo sobre as obras de
arte coloridas. — Seu chefe concordou com isso?
— Que chefe? — Dustin riu. Ele terminou de pendurar o quadro nas
mãos e começou a descer a escada. — Eu comprei o lugar.
— O quê?
Dustin estendeu os braços.
— Você me ouviu. Eu precisava de um lugar onde pudesse mostrar
meu trabalho. Algum lugar onde as pessoas pudessem apreciar arte sem a
pretensão de uma galeria. Achei que este era o lugar perfeito.
Eu sorri e cruzei a cafeteria para envolver meu amigo em um abraço.
— Parabéns!
— Obrigado, eu...
Um estrondo na sala dos fundos o interrompeu. Dustin revirou os
olhos e gritou: — Ben!
Um adolescente magro de avental apareceu aos tropeços.
— O que é que foi isso? — Dustin perguntou, com as mãos na cintura.
— Eu, uh, eu derrubei uma pilha de filtros de café, — Ben murmurou.
Os olhos do menino se voltaram para mim por um segundo e depois
para o chão.
— Bem, lembre-se do que eu disse, — disse Dustin.
— Se você quebrar...
— Eu tenho que comprar. Eu sei, — Ben completou.
— Não se esqueça disso. — Dustin apontou para a máquina de café
expresso. — Agora, faça dois cafés com leite para nós.
Dustin se sentou à nossa mesa de sempre, suas pinturas esquecidas
por enquanto. Sentei-me em frente a ele, ainda tentando assimilar tudo.
— Não quero ser rude, mas como você conseguiu comprar este lugar?
— Eu me perguntei.
Não que eu não estivesse feliz por meu amigo. Eu sabia que Dustin
não ganhava muito com sua arte, e ele tinha um histórico de gastar o
pouco dinheiro que tinha por perto. Eu só não queria vê-lo com
problemas.
— Bem, — ele começou. — Tudo começou há algumas semanas, na
época em que você foi levada por aquele francês horrível. Acho que
algumas pessoas viram o quadro que ele roubou no noticiário. Tenho
vendido peças com bastante regularidade desde então.
Meu estômago embrulhou.
— Você ganhou dinheiro com meu sequestro?
Dustin ficou boquiaberto.
— Bem, falando desse jeito... Você não está brava, está?
Eu estava brava?
Brava porque meu amigo estava finalmente realizando seus sonhos de
ser um artista de sucesso? Eu não poderia estar, mesmo que ele estivesse
lucrando por ser meu amigo, e com as consequências de uma noite
terrível.
— N-não, estou feliz por você, — consegui dizer a ele enquanto Ben
chegava com nossos cafés com leite. Ele demorou um pouco demais
conosco, até que Dustin o dispensou.
— Então, me diga exatamente o que aconteceu. — Dustin se inclinou
para frente, sempre ansioso pelas últimas fofocas. — Ou devemos esperar
por Em?
Às vezes, eu poderia jurar que ele estava mais investido na falta de
sexo entre mim e Xavier do que eu.
Corei quando a memória da noite passada explodiu.
— Eu, uh...
Fui salva pelo toque do sino, sinalizando a chegada de outra pessoa.
Dustin e eu olhamos para a porta e então nos levantamos para dar as
boas-vindas à convidada.
— Em, — eu gritei, puxando minha amiga para um abraço. — É tão
bom ver você!
Em e Lucas partiram em lua de mel algumas semanas depois que eu
recebi alta do hospital. Nós tínhamos mandado mensagens algumas
vezes desde que eles se foram, e eu tinha visto fotos de sua viagem para a
Grécia no Instagram, mas não havia nada como vê-la pessoalmente
novamente.
— Ei, garota! Sente-se, sente-se, — disse Dustin. Depois, mais alto: —
BEN! CAPPUCCINO, AGORA!
Em puxou uma cadeira para a mesa e se juntou ao nosso pequeno
círculo.
— Como estão as coisas? — Eu perguntei, pegando meu café.
— Tudo é tão mágico, — disse Em, com os olhos vidrados. —
Esperem. E vocês verão o que quero dizer, um dia.
Ela me deu um olhar de desculpas como se eu não tivesse ideia do que
ela estava falando. Como se eu nunca soubesse.
Senti uma pontada de dor no peito.
Só porque Xavier e eu não tínhamos nos casado por amor não
significava que não poderíamos compartilhar a mesma conexão com
qualquer outro casal, não é?
Talvez sim.
Talvez sempre houvesse uma espécie de desconexão entre nós e
seríamos mantidos juntos apenas por dependência forçada e luxúria?
— Bem, — disse Dustin, — Angela estava prestes a compartilhar suas
próprias notícias empolgantes.
Em engasgou.
— Você e Xavier...
Eu balancei minha cabeça.
— Não exatamente.
— Você vai ter que ser um pouco mais específica para nós, Angie, —
disse Dustin. — Como você pode 'não exatamente' fazer isso?
Ben chegou então, entregando a bebida de Em, dando-me um minuto
a mais para achar minhas palavras.
Enquanto ele fugia, fiquei na defensiva.
— Bem, eu queria. Eu ia fazer. Veja, chegamos em casa da festa de
aposentadoria de Brad e começamos a nos beijar na cozinha.
— Que tesão, — Dustin interrompeu, fazendo-me corar.
Em deu um tapinha no meu braço.
— Continue.
— Xavier disse que ia tomar banho. Então... então eu o segui. Quando
entrei no banheiro para me juntar a ele, ele estava... você sabe.
— O quê? — Em perguntou.
Eu forcei a palavra a sair.
— Se masturbando.
— Você o ajudou a terminar? — Dustin disse, sem perder o ritmo.
Eu balancei minha cabeça.
— Não! Não, eu saí.
— Saiu? — disse Em.
Dustin franziu a testa.
— Tipo, fugiu?
Eu balancei a cabeça, certa de que estava da cor de um tomate agora.
— Oh, Angela. — Dustin ergueu as mãos. — Você deu uma dentro!
— Como assim? — Murmurei. Chegar em Xavier assim não parecia
ser uma dentro. Parecia mais como um — cair fora.
— Se ele está fazendo isso, para que ele precisa de mim?
Dustin e Em trocaram olhares antes de Em pegar minha mão.
— É claro que Xavier quer mais, Angie. O que está te segurando?
— Não sei, — admiti. — Eu percebo o quanto ele quer transar. Mas
parece tão importante. Eu não quero bagunçar tudo.
— Bem, talvez seja hora de você falar com Xavier sobre como você se
sente. Você não pode esperar ter um bom sexo se não falar sobre as
coisas.
Eu fiz uma careta com o conselho da minha amiga. Eu não queria
pensar sobre ela e meu irmão discutindo esse tipo de coisa, muito menos
fazê-lo.
Mas ela estava certa. Talvez eu estivesse vendo tudo errado. Talvez eu
tenha exagerado um pouco.
— Eu me sinto mal. — Lágrimas encheram meus olhos. — Como se
eu o estivesse desapontando. Quanto mais eu o faço esperar, mais
frustrado ele fica. Estou sendo uma esposa terrível.
— Que se dane isso, — disse Dustin. — Você fará sexo quando estiver
bem e pronta. Se Xavier disser algo diferente, ele é um canalha. Não deixe
ninguém te forçar a nada, nem mesmo Em e eu.
Em acenou com a cabeça.
— Você está pensando demais nisso, Angie. Você só precisa de algo
para tirar sua mente das coisas.
Ela estava certa. Eu estava pensando demais nisso. Isso estava se
repetindo em minha mente por semanas. Cada pensamento que eu tive
desde que voltei do hospital girava em torno de Xavier.
Quando ele voltaria para casa?
O que será que ele quer para o jantar?
Que filme assistiríamos juntos?
Quanta falta dele eu sentiria quando ele viajasse a trabalho?
Com meu pai se sentindo melhor, e Xavier e eu nos dando bem, havia
pouco mais para ocupar meus pensamentos.
A única coisa que me impediu de enlouquecer nas últimas semanas
foi planejar a festa de Brad. Agora que tudo acabou, eu fui deixada por
conta própria novamente, ficando apenas com Xavier para me preocupar.
Certamente, isso não poderia ser saudável.
De repente, uma ideia me atingiu.
— Gente, acho que sei como consertar isso.
Xavier
Angela me pegou me masturbando.
Não havia dúvida.
Eu sonhei com ela entrando naquele banheiro por semanas. Fantasiei
com ela entrando no chuveiro, e envolvendo a mão em volta do meu pau.
Só a realidade poderia ter superado minha imaginação.
Eu já tinha feito isso por mulheres antes, me masturbado por elas,
nelas. Normalmente era muito excitante.
Desta vez, porém, foi diferente... provavelmente por causa do horror
que passou pelo rosto de Angela antes de ela sair correndo do banheiro.
O que ela esperava?
Eu não era como ela.
Eu não era um monge.
Eu precisava de sexo. Eu precisava gozar.
Se não pela mão dela, então pela minha.
Eu teria que falar com ela, dizer a ela que eu era um homem. Um
homem com necessidades.
Eu fiz uma careta, abaixando minha cabeça para a minha mesa.
Que azar da porra. Eu tinha mulheres fazendo fila para ter a chance
de transar e acabei ficando com a única mulher que não suportava ver
meu pau.
— Xavier! — Meu pai gritou de repente, me fazendo pular.
Ele entrou no meu escritório.
Estava subitamente de pé, passando a mão pelo meu cabelo.
Exatamente o que eu precisava.
— Estou no meio de algo, pai.
Ele se sentou na cadeira do outro lado da minha mesa, olhou ao redor
do meu escritório vazio, para a minha mesa vazia e ergueu uma
sobrancelha.
Eu olhei para ele.
— Você não deveria estar aposentado?
— Estava esvaziando meu escritório.
— E?
— E eu queria entrar e dizer olá ao meu filho. — Ele deu um sorriso
de gato Cheshire.
— Mm-hm, — eu respondi, abrindo meu laptop.
Eu poderia pelo menos fingir estar ocupado.
— Então, aquela festa foi incrível, hein? — Ele continuou.
— Foi, — eu concordei.
— Aquela cantora também. Ela tem muito pulmão.
Eu olhei por cima da tela do meu computador.
— Penny?
— É esse o nome dela? — Meu pai disse, de repente muito interessado
em endireitar as pastas de arquivo no canto da minha mesa.
Felizmente, Ron escolheu aquele momento para nos interromper.
— Está tudo pronto para partir, senhor, — ele disse ao meu pai. —
Suas coisas já estão no carro.
— Excelente! — Meu pai ficou de pé e acenou para Ron. — Então, há
apenas uma coisa a fazer.
Papai olhou para mim e Ron.
— Filho, deixo-o em boas mãos.
Eu pisquei.
— O quê?
Ele não esperava que...
— Ron me serviu bem por dez anos, — papai disse, dando um tapinha
nas costas de seu assistente.
Ron sorriu e teve a decência de parecer pelo menos um pouco
envergonhado.
— Foi uma honra, senhor.
Eu hesitei.
— Você está esperando que eu o leve a bordo?
— É claro, — disse papai.
— Ele não é um prédio ou um contrato, pai. Ele é uma pessoa. Sua
pessoa. Eu não vou permitir.
Meu pai franziu a testa.
— O que você está dizendo?
Ele com certeza não estava facilitando as coisas.
Soltei um suspiro e me virei para Ron.
— Você está demitido.
O sangue foi drenado do rosto do pobre coitado.
— O quê? — ele gaguejou quando meu pai começou, — Xavier...
É
— Não, — eu interrompi. — É minha empresa agora, pai. Não posso
sentir que você está olhando por cima do meu ombro vinte e quatro
horas por dia, sete dias por semana. Eu preciso começar de novo. Você
tem que entender isso.
— Ron tem sido leal..
— Tenho certeza de que Ron é um cara ótimo, mas ele é seu cara.
Minha decisão é final. — Eu olhei para os dois. — Agora, se me dão
licença, tenho uma ligação em dois minutos.
— Muito bem, — disse papai. — Vamos, Ron. Eu vou te pagar o
almoço.
Ele deu um passo em direção à porta, mas Ron parecia estar
congelado ao lado da minha mesa.
— Eu não posso acreditar.
Suspirei.
— Eu posso ligar para Henry. Ele pode saber sobre uma posição
aberta. Tenho certeza de que há outro executivo por aí que irá querê-lo.
— Mas eu dediquei minha vida inteira à Knight Enterprises por dez
anos, — disse Ron, franzindo a testa.
Meu pai suspirou e se virou.
— Nós encontraremos um emprego para você em outro lugar, — ele
prometeu a Ron, jogando o braço sobre os ombros e guiando-o em
direção à porta. — Talvez haja até um espaço aberto em outro
departamento.
Assim que a dupla saiu do meu escritório, deixei minha cabeça cair de
volta na minha mesa.
Meu dia não poderia ficar pior.
Meu telefone zumbiu ao lado da minha cabeça.
Na hora certa.
Com um gemido, eu o peguei.
No entanto, não era uma chamada recebida. Em vez disso, uma
mensagem de Angela iluminou minha tela.
Angela: Precisamos conversar.

Capítulo 3
Solitário
Xavier
— Angela? — Eu chamei quando as portas do elevador abriram.
— Na cozinha, — ela respondeu.
Ouvi sons de metal na madeira e o chiar de óleo.
Ela deve estar cozinhando.
Entrei na sala de estar e joguei minha bolsa na espreguiçadeira, em
seguida, me virei para a cozinha.
Com certeza, Angela estava ocupada cortando vegetais na ilha com
tampo de mármore.
— Olá, querido. — Ela sorriu, erguendo os olhos do trabalho.
Eu caminhei para o outro lado do balcão.
— Onde está Lucille?
Angela encolheu os ombros. — Eu dei a ela o resto da noite de folga.
O marido dela está na cidade.
— Você sabe que não precisa cozinhar, certo? — Eu disse, me
sentindo como um disco quebrado.
Esta não foi a primeira vez que tivemos essa conversa nos últimos
meses. Estava ficando cada vez mais frequente eu voltar para casa e
encontrar Angela no fogão.
Não que ela fosse uma má cozinheira. Pelo contrário, eu realmente
adoro a comida de Angela.
Tinha mais a ver com o princípio disso. Angela não precisava
cozinhar. Eu poderia ter outra pessoa para cozinhar para nós. Havia
coisas mais importantes com as quais minha esposa ocupar seu tempo.
— Eu gosto de cozinhar, — ela disse, recitando sua resposta usual.
Eu apertei minha mandíbula, segurando minha réplica.
Esta noite não era a noite para debater de novo o mesmo tópico.
Havia coisas mais críticas para discutir.
Com base na mensagem de texto que recebi de Angela, ela também
não estava feliz com o desenrolar dos acontecimentos da noite anterior.
Mas ela não queria me dar mais informações pelo telefone, então
passei a tarde toda preocupado com o momento em que voltasse para
casa.
Eu não sabia como falar com ela sobre o que ela tinha visto na noite
passada. Para ser honesto, estava um pouco chateado por ter que
conversar sobre isso.
Eu era um homem crescido e era o meu banho.
Minha casa, por falar nisso.
Isso significava que eu tinha permissão para fazer o que eu quisesse,
quando eu quisesse.
Se isso significava uma punheta, que fosse.
Além disso, foi ela quem entrou.
Eu estava sendo paciente e esperando por ela, mas ela realmente não
podia esperar que eu não fizesse nada até que ela estivesse pronta, não é?
— Você disse que queria conversar? — Eu solicitei, observando Angela
deslizar cebolas de sua tábua de cortar e colocá-las na frigideira quente.
— Ah, sim! — ela respondeu animadamente.
Bem, essa foi uma resposta diferente da que eu esperava. A reação
normal de Angela a qualquer coisa relacionada a sexo era ficar com a cor
de uma beterraba.
— Tem havido muita tensão entre nós ultimamente, — ela começou e
abriu a geladeira. — E essa tensão formou um desequilíbrio em nosso
relacionamento.
Eu cantarolei evasivamente. Desequilíbrio era definitivamente uma
maneira de definir isso.
Eu disse ao pai de Angela meses atrás que estava pronto para me casar
com ela... corretamente desta vez. Mas ainda não tinha acontecido.
Eu não tinha mais certeza se seria em breve. Ficou claro pelo modo
como Angela continuou me afastando que ela não estava pronta.
Angela voltou ao fogão e começou a despejar mais ingredientes na
panela. Um aroma rico e exótico encheu o ar ao nosso redor.
— A noite passada foi incrível, — ela continuou. — Fazia tempo que
não me sentia tão viva.
Meu queixo caiu um pouco. Ela estava falando sobre me pegar
masturbando?
Ela parecia apavorada quando confrontou meu pau na noite passada,
não viva.
Acho que não entendi alguma coisa, certo?
Limpei a garganta, tentando encontrar uma maneira de responder
sem dizer nada. Sem jogá-la fora de qualquer tangente em que ela se
meteu.
— Eu... fico feliz em ouvir isso.
— Eu quero mais disso, — ela continuou, determinada.
Eu não pude acreditar.
Angela estava dizendo que queria mais?
Será que minha noiva virginal pura finalmente quer ser fodida?
Eu realmente não estava vendo nenhuma outra interpretação aqui.
— Tem certeza? — Eu me esquivei. — Pela forma como deixamos as
coisas, não parecia que você estava pronta.
Ela se encostou no balcão, sorrindo de orelha a orelha.
— Era só nervosismo. Nunca fiz nada parecido antes. E acho que
esperei o suficiente... Acho que está na hora, Xavier.
Caminhando para o outro lado do balcão, parei na frente dela,
sentindo como se um tijolo de dez toneladas tivesse sido tirado do meu
peito.
— Você não tem ideia de quanto tempo estou esperando para ouvir
você dizer isso.
Pegando seu rosto entre minhas mãos, eu a beijei, suavemente no
início, depois com mais fome.
Eu tinha entrado em pânico a tarde toda por nada, pensando que
teria que ter uma discussão de relacionamento com minha esposa. Agora
ela estava praticamente me implorando para pegar ela aqui mesmo na
cozinha.
Eu me senti ficando duro e, pela primeira vez, não tentei esconder.
Em vez disso, eu a encostei no balcão, prendendo-a entre o mármore e
eu.
Meus dedos mergulharam sob a bainha de seu suéter, espalhando por
suas costelas.
Eu precisava ficar mais perto.
Eu precisava foder ela.
De repente, senti um familiar empurrando contra meu peito.
— Xavier, — Angela murmurou. Eu ouvi uma hesitação em sua voz.
— Mas que porra é essa? — Eu resmunguei antes que pudesse me
conter. Ela tinha acabado de dizer que queria. Isso não era uma merda de
luz verde?
Seu olhar caiu.
— Acho que podemos ter tido um mal-entendido.
Eu me afastei do balcão, com o peito arfando.
— Você acabou de me dizer ou não que queria sexo?
Eu estava muito chateado para ser paciente. Muito frustrado para
escolher bem minhas palavras.
Os olhos de Angela se arregalaram.
— Não! Quero dizer... não, Xavier...
Eu acenei para ela.
— Não, não. Eu entendi. Nós nunca vamos fazer sexo.
— Isso não é verdade. — Ela cruzou os braços sobre o estômago. Era
algo que ela fazia quando estava com medo, eu já havia percebido. Como
se ela estivesse tentando se tornar menor ou proteger seus órgãos
internos como você faz em um ataque de urso pardo.
— Sim, bem, parece que sim. Por que você acha que eu estava me
masturbando noite passada? Estou morrendo aqui, Angela.
— Sinto muito, — disse ela.
— Não, porra, — eu rosnei e enrolei minhas mãos no meu cabelo. —
Pare de dizer que você sente muito, porra.
— Eu... eu não sei mais o que dizer.
Só Deus pra me ajudar
Eu respirei fundo.
— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. Você sabe que não vou
pressioná-la. Não há nada para se desculpar. É só que... Do que você
estava falando se não era sexo?
— Um trabalho. — Em seguida, endireitando os ombros um pouco,
de novo, ela disse mais alto: — Eu quero conseguir um emprego.
— Para que diabos você quer um emprego?
Ela encolheu os ombros.
— Pra que eu tenha algo para fazer. Portanto, tenho algo de que me
orgulhar. Não posso simplesmente ficar sentada o dia todo esperando
você voltar para casa.
Eu apertei a base do meu nariz. Tentando manter meu nível de voz,
respondi: — Você não precisa de emprego, Angela. Você me tem.
— Eu preciso de mais.
Suas palavras foram como um soco no estômago.
— Primeiro você não me deixa fazer amor com você, não me deixa
dar-lhe prazer, e agora também não sou um provedor bom o suficiente?
Eu sabia que era um golpe baixo, mas para minha mente privada de
sexo e sobrecarregada de testosterona, era assim que parecia.
Angela estremeceu quando minha voz ficou mais alta.
— Você está distorcendo minhas palavras.
— Eu... — Eu estava prestes a responder quando um cheiro pungente
me fez parar. — O que é aquilo?
— Ah, não! — Angela passou por mim. Ela pegou a panela de legumes
em chamas e a jogou na pia. O vapor subiu em uma nuvem com um
grande assobio quando a água fria da torneira encharcou a comida
carbonizada.
Puxei meu telefone do bolso do meu terno.
— Estou pedindo pizza.
Angela: Quer almoçar comigo amanhã?
Brad: Isso parece maravilhoso!
Brad: Só queria saber o que eu faria comigo mesmo.
Brad: Estar aposentado não é só o que parece!
Angela: Eu sei como você se sente.
Brad: Vamos nos encontrar no The Plaza?
Angela: Sua mesa normal?
Brad: Sim. Nos vemos lá, minha querida!
Angela
— Angela, querida, — disse Brad enquanto me puxava para um abraço na
tarde seguinte. — É tão bom te ver.
— É bom te ver também, — eu disse e sentei na poltrona dourada em
frente a ele.
— Espero que você não se importe, — começou Brad, acomodando-se
novamente, — mas tomei a liberdade de pedir o nosso de sempre.
Uma gratidão pela generosidade de Brad tomou conta de mim.
— Maravilhoso!
— Você acredita que já se passou quase um ano desde que nos
conhecemos aqui? — ele disse.
Eu olhei para os lustres de cristal e as folhas de palmeira que caíam
sobre nossas cabeças.
— De jeito nenhum. Achei que nunca conseguiria me acostumar com
isso.
— Mas você se acostumou, como eu prometi que faria, — Brad me
assegurou, com orgulho evidente em sua voz.
Tive que admitir que ele estava certo. A primeira vez que encontrei
Brad para tomar chá, não sabia o que era o Plaza. Agora, eu tinha me
tornado assídua no Palm Court. A equipe sabia meu nome. Reconheciam
meu rosto. Memorizaram meu pedido.
De alguma forma, eu ainda não sentia que pertencia a este lugar.
Mesmo com meu vestido Kate Spade e saltos Stuart Weitzman, eu sentia
como se estivesse fantasiada.
— Pelo menos não estou de jeans rasgados. — Eu sorri, relembrando
nosso primeiro encontro.
— Você é deslumbrante, — elogiou Brad. — Então, a que devo o
prazer? Parecia que você estava atrás de mais do que saber das novas.
Eu me contorci no assento de veludo, tentando encontrar as palavras
para explicar a situação. Não que fosse tão difícil, mas era um pouco
desconcertante.
Ultimamente, não precisava de Brad para me guiar tanto quanto
antes. Não precisava que ele me dissesse qual garfo usar ou o que
significava — traje esporte fino. — Por outro lado, Xavier havia
trabalhado muito para tomar seu lugar, para preencher seu papel como
meu parceiro.
Xavier e eu estávamos nos comunicando bem recentemente, pelo
menos até a noite passada.
De alguma forma, pedir conselhos a Brad novamente parecia uma
violação da confiança recém-formada que Xavier e eu estávamos
construindo.
No entanto, eu não tinha certeza do que mais fazer. Xavier não
parecia aberto a qualquer tipo de ideia agora que não acabasse com nós
dois nus.
Os casais têm tantos problemas de comunicação?
Eu não poderia imaginar que verdadeiras almas gêmeas jamais
discordassem como nós.
Quando você ama alguém, você deveria estar na mesma página sobre
tudo.
Xavier e eu nem estávamos no mesmo livro.
— Xavier e eu brigamos, — eu disse a Brad.
— Lamento muito ouvir isso, minha querida, — disse Brad, sempre
solidário, sempre calmo. — Mas essas coisas são naturais. Sobre o que foi
a discussão?
— Eu disse a ele que queria um emprego.
— Bem, parece uma ideia maravilhosa!
O garçom chegou então e descarregou um bule de porcelana fina e
xícaras de chá, bem como uma bandeja com delicados sanduíches e
doces, em nossa mesa.
Assim que ele saiu, servi-me de um sanduíche de pepino.
— Também achei. Mas Xavier não gosta da ideia.
As sobrancelhas de Brad se uniram.
— Bem, o que você espera fazer?
— Meu diploma é em engenharia mecânica, — eu disse e dei uma
mordida no sanduíche. — Mas tenho muito pouca experiência prática.
Brad colocou um bolo de mirtilo na boca.
— E você quer seguir essa carreira?
— Não tenho certeza se estou pronta para trabalhar em um emprego
de tempo integral, — admiti. — Eu só preciso de algo para me manter
ocupada.
Qualquer trabalho que eu aceitasse teria que ser adequado ao nome
Knight.
Eu sabia. Eu aprendi, mais de uma vez, o peso que o legado de Knight
carregava.
Isso também significava que eu não poderia aceitar nenhum emprego
antigo em um café ou estagiar em uma empresa de engenharia. Então, eu
não sabia por onde começar minha busca por emprego.
Brad se recostou na cadeira, batendo o dedo no queixo.
— Sim, eu entendo. Acho que posso ter uma solução. Você me daria
alguns dias para examinar algumas coisas?
— Claro! — Se Brad tivesse alguma pista de trabalho, eu esperaria o
tempo necessário. Se ele pudesse me ajudar a encontrar um emprego
aceitável, eu sabia que poderia aquecer Xavier com a ideia.
— Há algo que eu esperava que você pudesse me ajudar em troca, —
disse Brad, repentinamente ocupado em mexer o chá.
— Oh? — Eu respondi, felizmente surpresa. — Certo. O que você
precisar.
Brad tinha feito mais por minha família e por mim do que eu jamais
pensaria ser possível. Eu faria tudo o que pudesse para retribuir essa
generosidade.
— Não tenho certeza de como dizer isso, então você vai ter que me
perdoar se eu divagar, mas... Receio estar enfrentando um problema
semelhante, Angela.
Meu coração afundou no meu peito. Estendi a mão, por cima das
xícaras de chá e iguarias, para colocar minha mão na dele.
Brad sorriu para mim e apertou minha mão. Então, com um grande
suspiro, ele continuou.
— Sei que faz menos de uma semana, mas não posso continuar assim.
Sem trabalho para ocupar meu tempo, não tenho ideia do que fazer
comigo mesmo.
Eu balancei a cabeça em compreensão.
— Você está solitário.
— Solitário?
— Se você tivesse algo para fazer ou alguém em quem pensar além de
você, acho que seria muito mais feliz, — eu disse.
Eu conhecia a sensação muito bem.
Eu me senti da mesma forma depois que me casei com Xavier no ano
passado. Como se eu fosse a única pessoa que restou no mundo. Como se
eu tivesse sido esquecida.
Ainda bem que nosso relacionamento havia melhorado, mas eu ainda
me sentia solitária alguns dias quando estava sozinha em nossa enorme
cobertura.
Era por isso que eu queria um emprego.
— Ora, acabei de me aposentar, então não consigo um emprego, —
disse Brad.
— Que tal um amigo? Alguém que você pudesse visitar? Alguém com
quem você pudesse fazer coisas? — Eu sugeri.
— Como uma namorada? — Brad balançou a cabeça. — Eu não acho
que seja isso. Tive meu grande amor pela Amelia. Você só consegue isso
uma vez na vida.
— Existem diferentes tipos de amor, — insisti, feliz com a distração
de ter a chance de consertar um problema de uma vez, em vez de sentir
que eu o estava incomodando.
— Eu acho que você poderia encontrar alguém que te faça feliz.
Brad franziu os lábios.
— Não tenho certeza se me sentiria bem sobre isso.
— Apenas pense sobre isso, ok? Eu posso te ajudar se você quiser.
— Como eles estão chamando isso hoje em dia? Braço direito!
Eu ri.
— Sim, eu ficaria feliz em ser seu braço direito.
— Eu vou... vou pensar sobre isso. — Ele acenou com a cabeça, e
então um sorriso brilhante iluminou seu rosto. — Você sabe o que mais
pode me animar?
— O que seria? — Eu perguntei, pegando um pedaço de bolo de
chocolate.
— Netos.
Eu engasguei, sem ter certeza se meu sogro estava brincando — ou se
era um pedido sério.

Capítulo 4
Outra Garota
Angela
Eu não pude deixar de ficar de mau humor no caminho de volta para casa
do Plaza.
Por que parecia que tudo o que alguém queria falar ultimamente era
sobre a minha vida sexual com Xavier?
Dustin aproveitou a chance de ouvir os menores detalhes sobre a
masculinidade de Xavier.
Em me olhava com simpatia toda vez que o assunto de
relacionamentos físicos era abordado.
E agora Brad estava perguntando sobre netos?
Era realmente tão inacreditável que Xavier e eu não tivéssemos
dormido juntos ainda?
Realmente tão chocante que eu não estava me jogando nele a cada
cinco minutos?
Nós nos conhecíamos há menos de um ano.
Gostávamos um do outro por menos de alguns meses.
Alguém mais se comportaria de maneira tão diferente em nossa
situação?
A resposta veio rapidamente: sim.
Centenas de mulheres se jogaram em Xavier sem saber nada sobre ele,
além de seu sobrenome.
Ele estava acostumado à atenção... muita atenção.
E estava claramente sentindo falta com base no que interrompi na
outra noite.
Eu estava certa quando disse a ele que havia um desequilíbrio em
nosso relacionamento, mas não identifiquei a causa.
Não tinha nada a ver com o fato de eu ter um emprego — e tudo a ver
com SEXO.
Quando paramos do lado de fora do prédio, agradeci a Marco e me
dirigi para o saguão.
Xavier não estaria em casa por um tempo. Eu ainda tinha tempo para
organizar meus pensamentos, para pensar sobre o que fazer.
Não era que eu tivesse medo de fazer sexo ou que fosse imune ao
charme Casanova de meu marido. Foi algo menos tangível que me
impediu de me entregar totalmente a Xavier.
Para mim, sexo era a maneira mais íntima de conhecer uma pessoa.
Algo compartilhado entre almas gêmeas e os mais verdadeiros amantes.
As ações anteriores de Xavier deixaram claro que ele não tinha as
mesmas crenças, que fazer amor não significava para ele a mesma coisa
que significava para mim.
Eu não sabia onde isso nos deixava.
Eu o amava. Eu disse a ele, sempre que pude.
E eu pensei que ele também me amava. Mas, ao contrário de mim,
Xavier ainda não tinha proferido essas três pequenas palavras.
Como eu poderia deixá-lo amar meu corpo quando eu não sabia se
ele amava minha alma? Quando eu não sabia que não era apenas sexo?
Que eu não era apenas outra garota?
As portas do elevador abriram e eu entrei na cobertura, com meus
saltos batendo no chão de madeira.
Eu estava passando pela cozinha quando ouvi.
Uma batida rítmica.
Uma mulher gemendo.
Grunhidos masculinos profundos.
Eu parei no meio do caminho, com meu estômago revirando por um
motivo totalmente novo.
Seguindo os sons até a cozinha, parei diante da despensa. A porta
deslizante balançou com o som das batidas.
Lágrimas de repente encheram meus olhos e minha mão voou para
cobrir minha boca, para silenciar meus soluços.
Xavier estava lá com outra mulher.
A certeza disso ressoou por mim, e me cortou.
Esta estaria longe de ser a primeira vez que eu o peguei tendo um
caso, não era a primeira vez que ele exibiu suas conquistas em nosso
apartamento.
No entanto, esta foi a primeira vez que ele fez isso desde que
concordamos em tentar. Tentar dar uma chance a nós.
Parecia que ele não queria mais, como se tivesse ficado entediado
comigo, assim como, de alguma forma, sempre esperei que ele fizesse.
Furiosa, limpei as lágrimas do meu rosto.
Eu estava certa em esperar.
Xavier não se importava comigo. Ele não me ama. Nunca amou.
O idiota simplesmente amava sexo.
Eu estava furiosa, com minha mente disparada e meu coração
partido, quando as portas do elevador abriram novamente de repente,
me fazendo virar.
Fiquei boquiaberta quando Xavier entrou na cobertura.
— Olá, meu anjo, — ele cumprimentou, e então sua expressão se
desfez quando ele viu minhas bochechas manchadas de lágrimas. — O
que há de errado? O que aconteceu?
Ele largou sua bolsa na porta e cruzou a sala em minha direção, suas
sobrancelhas levantando quando ele percebeu as batidas que ecoavam
pela sala de estar.
— Isso é...?
Eu concordei.
Xavier passou por mim, alcançando a porta da despensa.
Quando o painel de vidro fosco se abriu, eu engasguei.
Lucille estava na despensa, seus braços — e pernas — envolvendo um
homem calvo com um bigode grisalho.
— Sr. Knight!
— Puta merda!
Xavier saltou para o lado, puxando-me com ele, enquanto Lucille e o
homem tropeçavam para fora da despensa, endireitando as roupas.
— Eu sinto muito, Sr. e Sra. Knight! — Lucille disse, passando as mãos
pelos cabelos despenteados. Ela tinha marcas de mãos de farinha na
frente da blusa.
— Eu, ah, — Xavier hesitou, esfregando a nuca. Suas bochechas
estavam vermelhas. Foi a primeira vez que acho que o vi perturbado.
— Este é o seu marido? — Eu disse, quebrando o silêncio
constrangedor.
Lucille acenou com a cabeça e moveu-se para segurar o braço do
homem. Então ela pareceu pensar melhor e deixou os braços caírem ao
lado do corpo.
— Sim, este é Tony. Ele estava na Itália.
Tony estendeu a mão para Xavier.
Xavier olhou para a mão de Tony, em seguida, cruzou os braços sobre
o peito.
— Por que você e Tony não vão para casa passar a noite, Lucille, —
disse Xavier, finalmente encontrando sua voz. — Eu estava pensando em
levar Angela para jantar, de qualquer maneira.
— Não, não, Sr. Knight. Eu cozinharei, — Lucille disse, voltando a se
enfiar na despensa.
— Por favor, — Xavier chamou atrás dela. — Eu insisto.
— Sim, está bem. Obrigada, Sr. Knight, — Lucille disse, enxotando o
marido em direção ao elevador.
— Boa noite, Sr. e Sra. Knight.
— Boa noite, — gritei sem jeito.
No segundo em que as portas se fecharam atrás deles, Xavier caiu na
gargalhada.
— O que foi isso? — Eu perguntei, encontrando-me rindo também,
com sua alegria contagiante. A risada foi boa, catártica, depois do
desgosto que senti apenas alguns minutos atrás.
Eu alisei as linhas do meu vestido, tentando recuperar a compostura,
tentando ignorar o quão culpada eu me sentia por presumir que era
Xavier na despensa.
Ele tinha estado bem ultimamente, mas era difícil esquecer que as
coisas nem sempre foram boas. E isso não significava que eu deva sempre
esperar o pior dele.
Isso não seria justo.
Xavier balançou a cabeça.
— Que tal um dim sum?
— Você está falando sério?
Ele assentiu.
— Não tenho como comer nesta cozinha depois de ver onde estavam
as mãos de Lucille.
Quarenta minutos depois, estávamos na parte alta da cidade em um
lugar onde Xavier sabia que eu amava.
Estávamos sentados em um pequeno banco perto da janela.
As únicas outras pessoas no restaurante eram dois idosos jogando
mahjong em uma mesa perto da caixa registradora.
— Você viu o rosto de Lucille? — Eu ri, beliscando um pedaço de
brócolis entre meus pauzinhos.
— Eu estava muito focado em não olhar para outras áreas. — Xavier
riu, mordendo algum pak choi. — Não é de admirar que você a tenha
deixado sair mais cedo ultimamente.
Eu sorri e coloquei outro bolinho na boca.
— Eu disse a ela que ela não precisava trabalhar enquanto o marido
estivesse aqui. Ela insistiu!
Xavier fez uma careta.
— Espero que eles não tenham feito isso em nenhum outro lugar da
casa. — Tudo naquele momento era perfeitamente imperfeito, um bom
curativo após a dor daquela tarde. Depois do medo de que Xavier tivesse
caído em seus velhos hábitos. O medo de que eu não tivesse sido o
suficiente para ele. Depois de tudo que passamos, eu ainda não era o
suficiente para ele.
Xavier franziu a testa, seus olhos escuros passando rapidamente entre
a comida na minha frente e ele.
— Você pensou que era eu na despensa, não é?
Respirei fundo, mas não queria mentir.
— Sim, — eu admiti.
Um músculo em sua mandíbula saltou. Então ele se virou em seu
banquinho e puxou o meu para mais perto dele para que eu me sentasse
entre suas pernas.
Eu olhei para baixo, incapaz de sustentar seu olhar intenso.
— Olhe para mim, Angela. — Ele enganchou um dedo sob meu
queixo, levantando minha cabeça.
Eu respirei fundo, deixando meus olhos correrem sobre ele — percebi
o quão ridículo seu terno Prada parecia quando ele se empoleirou na
banqueta de vinil rasgado, como metade de seu rosto ficou vermelho
pelo brilho de um letreiro de néon do lado de fora, junto com a linha
afiada de sua mandíbula e de seus lábios carnudos.
— Eu sei que estou longe de ser um santo, — Xavier começou. — Mas
eu poderia jurar por qualquer Deus que você me pedir, pra fazer você
acreditar em mim, que eu não comi uma única mulher desde antes do
Jubileu de Prata.
— Xavier. — Corei com suas palavras, enrubescendo quando a culpa
por questionar sua fidelidade borbulhou novamente.
Eu não deveria ter duvidado dele.
Eu não tinha motivo para isso.
— Não, escute. Eu não quero mais ninguém. Só você, Angela. E porra,
eu quero você. Não sei o que mais posso fazer para fazer você acreditar
em mim.
— M-mas se você está... — dei uma olhada em nossos amigos
jogadores de mahjong para ter certeza de que não estavam ouvindo — …
se masturbando, então obviamente não estou fazendo você feliz.
Xavier riu.
— Eu preferia ter mais cinco anos de punheta do que uma garota
nova na minha cama todas as noites. Eu já fiz isso. Acredite em mim
quando digo que isso é muito melhor. Você é melhor.
— E se eu for péssima na cama? — Eu soltei, enquanto preocupações
vêm à tona agora que a tampa havia sido liberada.
Xavier riu.
— Eu prometo, você não será. E se for, terei o maior prazer em lhe
ensinar algumas coisas.
Eu engoli em seco.
— Eu gostaria disso. Posso fazer algo? Você sabe. Para facilitar até que
eu esteja pronta?
Xavier gemeu, pegando seus hashis novamente e começou a arrancar
os restos de sua comida.
— Infelizmente, até o pensamento de você em calças de moletom e
uma camiseta furada parece atraente agora.
— Sem moletom, entendi. — Eu sorri, já me sentindo mais leve.
Nosso relacionamento pode não ser perfeito, mas eu tinha que
acreditar que encontraríamos nosso caminho, mesmo que não fosse o
mesmo que todo mundo.
Xavier sorriu.
— Bom, agora, você está pronta para voltar? Acho que a casa teve
tempo suficiente para arejar.
Capítulo 5
Trabalho
Angela
Brad: Boas notícias!
Brad: Encontrei o emprego perfeito para você.
Angela: Sério?
Brad: Com certeza!
Angela: Muito obrigada.
Brad: Você não quer saber o que é?
Angela: Claro que sim!
Brad: Planejamento de eventos.
Angela: Planejamento de eventos?
Brad: A ideia surgiu do nada.
Brad: Você fez um trabalho incrível na minha festa de
aposentadoria.
Angela: Não sei...
Brad: Você será esplêndida, minha querida!
Brad: Eu realmente acredito que você tem um talento.
Angela: Acho que posso tentar.
Brad: Maravilhoso. Você vai conhecer seu primeiro cliente hoje.
Angela: Tipo, HOJE hoje??
Brad: Sim.
Brad: Isso é um problema?
Angela: Não, não.
Angela: Envie os detalhes.
Angela: Muito obrigada pela ajuda!
Duas horas depois, eu estava sentada no Boathouse, mexendo
nervosamente no guardanapo.
Brad me disse que eu me encontraria com alguém do conselho da
Animas, uma organização sem fins lucrativos focada na preservação de
animais em extinção.
Eu não sabia nada sobre como dirigir uma organização sem fins
lucrativos, ativismo por animais em extinção, ou mesmo planejamento
de eventos para esse assunto.
Essa coisa toda estava começando a parecer um erro.
— Tem certeza de que não posso oferecer algo para beber? — o
garçom perguntou ao meu lado, parecendo um pouco irado.
— Hum... — Eu estava sentada no restaurante por quase quarenta e
cinco minutos agora. Eu estava tão nervosa que cheguei meia hora mais
cedo, e agora o cliente estava quase quinze minutos atrasado.
Abri o menu de bebidas e recitei a primeira coisa que li.
— Uma mimosa, por favor.
— Faça duas, — chamou uma voz rouca atrás de mim.
Virei na minha cadeira para ver uma mulher deslizando pelas mesas
em minha direção.
Tudo sobre como ela se apresentava era grande, de seus cachos ruivos
grossos e boca larga até seus saltos de quinze centímetros e óculos
escuros Chanel.
O garçom saiu correndo, claramente intimidado, enquanto a mulher
puxava a cadeira na minha frente e se sentava na beirada.
— Desculpe pelo atraso, Angie! — Então, entendendo minha
expressão de surpresa, ela acrescentou: — Ou você prefere Angela?
— Pode ser Angie, — eu gritei, observando seu batom laranja
brilhante e o lenço de pele quase combinando em seu pescoço. — Isso é
raposa?
— Sim, não é glamoroso? Comprei no Bamey's. — Ela estendeu uma
ponta na minha direção, como se para me encorajar a sentir o pelo.
Eu fiz uma careta.
— Perdoe-me, mas você não trabalha com ativismo animal?
A mulher riu.
— Já estava morto quando o comprei.
Eu não tinha certeza se era essa a questão, mas não parecia ser da
minha conta apontar isso.
O garçom voltou com nossas bebidas, salvando-me da minha boca
grande.
— Gostaria de pedir agora?
— Os ovos Benedict, por favor, — disse a mulher, sem abrir o
cardápio. — Mas, por favor, não cozinhe mal o presunto desta vez.
— Claro, madame. E para você? — O garçom virou para mim.
De alguma forma, nos quarenta minutos que tive de me preparar para
esse momento, não havia pensado em abrir o cardápio nenhuma vez. Eu
já estive aqui antes, com Xavier, mas ele sempre pediu a comida. Eu
agarrei por um fragmento de memória.
O que eu comi da última vez que estive aqui?
— Quiche?
Felizmente, o garçom acenou com a cabeça e desapareceu
novamente.
Limpei a garganta e tirei um caderno da minha bolsa, tentando
parecer que sabia o que estava fazendo. Como se eu tivesse feito isso
antes.
— Então, Sra... — Eu congelei. Brad não me disse quem eu iria
conhecer.
— Me chame de Didi, — disse a mulher, com um grande sorriso.
Ela estendeu a mão sobre a mesa.
— Não se preocupe, Brad não sabia que eu estava vindo.
Normalmente, meu assistente lida com esse tipo de coisas, mas quando
eu soube que a Angela Knight organizaria a arrecadação de fundos, eu
sabia que tinha que conhecê-la pessoalmente.
Peguei sua mão que esperava.
— Estou honrada.
— Oh, sério, querida, a honra é minha.
Didi se recostou na cadeira e tomou um longo gole de sua mimosa.
— Então, hum... me fale sobre o evento que você está realizando, —
eu disse.
— Fazemos um evento anual, um leilão dos melhores de Nova York,
para arrecadar dinheiro para a Animas, — começou Didi. — Tudo terá de
ser organizado, desde as peças a leiloar ao bufê.
— Oh, uau, — eu disse, rabiscando suas palavras no meu caderno.
— Você não precisa se preocupar com isso ainda. — Didi sorriu.
Eu parei de escrever.
— Não?
— Não. Primeiro, quero que você organize o jantar da diretoria. É
semana que vem. Pense nisso como uma espécie de teste.
— Um teste?
— Eu preciso ver do que você é feita antes de entregar o leilão. — Didi
sorriu. — Não se preocupe, Angie. Já posso dizer que você vai se sair bem.
O garçom chegou com nossos pratos, e eu rapidamente tirei meu
caderno do caminho.
— Ovos Benedict e a quiche Lorraine.
— Então, Angie, — disse Didi, cortando seus ovos Benedict e fazendo
a gema escorrer em seu prato, — fale-me sobre você.
— Não há muito o que saber, — eu disse estendendo a mão para o
saleiro.
Didi apontou para mim com sua faca.
— Eu não posso acreditar que isso é verdade. Você é Angela Knight!
Você roubou o solteiro mais cobiçado de Nova York. Isso não é tarefa
fácil.
Havia algo em seu tom que fez meu estômago apertar.
Ciúme, talvez.
Seria possível que Didi fosse uma das muitas mulheres de Xavier? Se a
organização sem fins lucrativos para a qual ela trabalhava era uma
instituição de caridade para a qual a Knight Enterprises doava, havia
incontáveis festas de Natal e almoços que teriam fornecido a cobertura
perfeita para um romance.
Certamente Brad não me arranjaria uma das que já aqueceram a cama
de Xavier. A menos que ele não soubesse...
De repente, me peguei perguntando:
— Você conhece Xavier?
— Nossas famílias seguem os mesmos círculos, — disse Didi,
descartando a questão. — Fomos para a mesma escola particular.
Fizemos aulas no iate clube juntos. Verões nos Hamptons. Você sabe,
coisas normais.
Eu concordei. Talvez tenha sido daí que veio o senso de estilo de Didi
e seu falatório. Sempre pensei que fossem apenas peculiaridades do
próprio Xavier.
Agora eu percebi que eles podem ser sintomas de ter sido criado na
classe alta.
— Então vocês se conhecem bem? — Eu perguntei.
Didi encolheu os ombros.
— Eu suponho que já fomos próximos. Mas você sabe como é.
Eu não sabia. Em e eu éramos amigas desde que éramos crianças. Não
havia mais ninguém. E definitivamente não havia nenhum iate clube ou
fim de semana nos Hamptons.
Eu balancei a cabeça de qualquer maneira e dei uma mordida na
minha quiche para evitar elaborar.
Eu não tinha certeza do que estava acontecendo aqui. Foi uma
reunião de negócios? Uma entrevista? Brunch com uma amiga?
— Como você e Xavier se conheceram? — Didi perguntou. — Quer
dizer, já li os artigos, mas é sempre muito melhor ouvir a história da
fonte.
— Realmente era tão simples quanto isso, — eu disse a ela depois de
engolir. — Nós nos conhecemos uma tarde em uma loja de bolinhos, e o
resto é história.
— O amor verdadeiro. — Didi sorriu. — E o planejamento de
eventos? Como você entrou nisso?
— Na verdade, só recentemente descobri que tinha uma vocação para
isso, — comecei a dizer.
Parecia algo que você lia em uma revista feminina ou ouvia na HGTV.
Com sorte, algo exatamente que Didi conhecia bem.
— Eu gostaria de ter pensado nisso, — disse ela.
Eu fiz uma careta.
— O que você quer dizer?
Didi riu.
— Você não entra em organizações sem fins lucrativos pelo dinheiro,
querida. Você sabe como o jogo funciona. É tudo uma questão de
imagem.
Eu me peguei sorrindo. Era raro encontrar alguém tão franco e direto
entre os amigos e conhecidos dos Knights.
— Eu sei bem.
O brunch transformou-se em almoço e o almoço em coquetéis.
Quando eu estava voltando para casa pelo Central Park, o sol tinha
começado a se pôr.
Eu gostava de Didi. Muito. Ela estava cheia de uma paixão, motivação
e diversão, que eu sentia falta.
Nós duas não poderíamos ser mais diferentes, mas de alguma forma
sua boca ruidosa e seu cabelo grande se misturaram bem com meus
sorrisos tímidos e bochechas coradas.
Na verdade, ela me lembrava um pouco Xavier. Eles eram forças a
serem consideradas.
Talvez seja por isso que ela e eu nos demos tão bem.
Assim como com meu marido impetuoso, eu era a água para resfriar
suas chamas.
Fosse o que fosse, eu adorava estar perto dela. Ela me fez sentir
fortalecida, como se eu pudesse fazer o que quisesse, ser o que quisesse.
Quando saí do parque e fui para a rua, meu celular vibrou no bolso.
Xavier: Cadê você?
Xavier: Cheguei em casa e você não está aqui.
Angela: Desculpa!
Angela: Estou na rua.
Angela: Minha reunião demorou muito.
Xavier: Reunião???
Xavier: Deixa pra lá.
Xavier: Só se apresse.
Xavier: Tenho algumas notícias empolgantes.
Angela: Eu também!
Angela: Te vejo em um minuto.
Cheia de uma nova animação, acelerei meu passo.
Xavier ficaria orgulhoso de mim, feliz por mim. Eu tinha certeza
disso. Não só tinha encontrado um emprego aceitável, mas também
estaria trabalhando para uma de suas velhas amigas.
Quando entrei na cobertura, Xavier estava em pé, inclinado sobre a
mesa de jantar, acendendo as velas.
Pratos fumegantes de carne Kobe e legumes em juliana esperavam em
nossos lugares, embora Lucille não estivesse em lugar nenhum.
Xavier parecia ter gastado um tempo para tudo isso.
Ele ainda estava de terno, mas o paletó e a gravata estavam mais
soltos. As mangas de sua camisa estavam enroladas até os cotovelos e os
dois primeiros botões de sua camisa estavam abertos.
— Boa noite, esposa. — Ele sorriu enquanto eu caminhava em sua
direção.
— Boa noite, Xavier.
Ele beijou minha bochecha e, em seguida, se afastou para admirar
meu vestido.
— Você está linda.
— Para que tudo isso? — Eu perguntei quando ele puxou minha
cadeira.
Normalmente jantávamos juntos, mas não normalmente à luz de
velas, com música de orquestra tocando ao fundo, e raramente usando a
porcelana boa.
Xavier puxou sua própria cadeira.
— Eu disse que tinha uma surpresa, não disse?
Borboletas começaram a se agitar no meu estômago quando ele
pegou minhas mãos.
— Angela, consegui um emprego para você.

Capítulo 6
Jantar e Sobremesa
Angela
— Você o quê?
— Eu consegui um emprego para você, — repetiu Xavier, com seu
sorriso crescendo cada vez mais.
Ele está brincando?
Apenas alguns dias atrás, ele estava me dando um sermão sobre como
eu não precisava de um emprego. Agora ele saiu e encontrou um para
mim?
Eu abri e fechei minha boca algumas vezes, incapaz de encontrar as
palavras — quaisquer palavras — para responder.
— Lembrei-me de você me dizendo que trabalhava em uma empresa
aeroespacial quando nos conhecemos, — explicou Xavier. — Tenho um
amigo de um amigo que é CTO da SkyTech. Ele disse que há uma vaga de
estágio no departamento de engenharia e está disposto a levá-la a bordo.
— Eu o quê? Isso é loucura, — eu consegui balbuciar. Eu me inscrevi
para o estágio da SkyTech no ano passado, quando meu pai estava no
hospital e fui rejeitada.
Agora, de repente, eles me querem?
Xavier encolheu os ombros, em seguida, pegou seus utensílios.
— Seria um favor pessoal. Eu sei que você está pronta para isso.
Meu estômago se revirou e eu empurrei meu prato, de repente sem
fome. Não era minha habilidade que eles queriam. Eu era apenas um
parágrafo em uma troca de negócios. Parte da negociação. Um favor a
um amigo.
— Eu posso imaginar isso agora, — Xavier tagarelou. — Minha linda
esposa, chefe de engenharia da SkyTech.
Era disso que se tratava, Xavier me transformando em sua esposa de
sonho. Se eu precisasse de um emprego, seria um que ele aprovasse. Em
seus termos. Usando sua influência.
Contudo, isso não era sobre ele. Pela primeira vez, eu queria fazer
algo por mim mesma.
— Eu já tenho um emprego, — eu disse calmamente.
Xavier engasgou com a boca cheia de carne mal passada.
— O quê?
Sentei-me um pouco mais ereta na cadeira.
— Eu já tenho um emprego.
Ele tomou um gole de vinho tinto.
— Onde?
— Bem... eu acho que por mim mesma. Como um freelancer.
— Fazendo o quê?
Peguei meu garfo e comecei a mover os vegetais picados em meu
prato.
— Planejamento de eventos.
As sobrancelhas de Xavier se ergueram.
— Planejamento de eventos? Achei que você tivesse se formado em
engenharia mecânica.
— Sim.
Xavier deixou cair seus talheres em seu prato meio vazio.
— Então por que diabos você quer fazer planejamento de eventos?
Senti uma veia de raiva borbulhar, um mecanismo de defesa contra o
tom cada vez mais condescendente de Xavier.
— Sou boa em engenharia mecânica, mas sou muito apaixonada por
planejamento de eventos.
Xavier bufou.
— Perfeito. Então, me esforcei para garantir este emprego para você e
agora você vai jogar tudo fora para realizar seu sonho de uma semana de
se tornar uma planejadora de eventos. Você não tem experiência. Como
você vai encontrar clientes?
— Eu já tenho uma, na verdade. Eu a conheci no almoço hoje. Meu
primeiro evento está planejado para a próxima semana.
— Como você conseguiu o emprego, Angela? Não posso permitir que
você planeje bar mitzvahs para estranhos e festas de aposentadoria. Eu já
posso ver as manchetes, — Xavier rosnou.
Ele se levantou da cadeira e passou as mãos pelos cabelos enquanto
olhava para a cidade pelas janelas.
— Seu pai arrumou isso, — eu disse, me levantando também.
— Claro! — Xavier retrucou, Virando-se para me encarar. — Eu
deveria saber. Meu pai ainda tem você sob seu controle. Você é sua
pequena Eliza Doolittle.
Eu cruzei meus braços.
— O que isso deveria significar?
— Isso significa que vocês dois estão sempre planejando pelas minhas
costas. Eu disse que você não precisava de um emprego e você vendeu
sua triste história para meu pai. Então ele apareceu para salvá-la, como
sempre. Você não confia em mim? Você não tem fé em mim?
— Isso não é justo, Xavier, — eu empurrei de volta. — Você não pode
fazer isso ser sobre você. Você não pode ficar com raiva de mim por
encontrar uma solução sem você.
— Pelo amor de Deus, Angela, — Xavier disse, se aproximando, — Eu
consegui um emprego para você. Eu já desisti das mulheres. Eu levo você
para sair. Tudo o que faço é ouvir você.
Eu balancei a cabeça, deixando cair meus braços.
— Bem, sinto muito por ter sido tão difícil para você.
— Angela... — Xavier se enfureceu e parou. Suas narinas dilataram-se.
Um músculo em sua mandíbula saltou.
Eu dei um passo para trás.
Xavier nunca me machucou. Nunca machucaria.
Eu sabia. Mas o olhar em seus olhos agora era perigoso.
Meus lábios se abriram, mas antes que eu pudesse me desculpar pelas
coisas que eu disse, Xavier agarrou meu braço, puxando-me contra ele e
pressionando seus lábios nos meus.
Xavier
Angela engasgou quando nossos lábios se chocaram em uma confusão de
dentes e língua. Peguei seu lábio inferior cheio entre os dentes e mordi
com força, ganhando outra inspiração rápida.
Suas mãozinhas deslizaram pelo meu peito, segurando a gola da
minha camisa e me puxando para mais perto dela.
Mesmo que ela usasse salto, eu estava alguns centímetros acima dela,
e era difícil chegar perto o suficiente.
Já fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Já que eu tinha essa
necessidade urgente de enterrar meu pau em uma mulher.
Foder era uma coisa. Isso era fácil, divertido, independente.
O que eu precisava de Angela era muito mais...
E o fato de que ela não estava dando para mim estava me deixando
louco.
Eu coloquei minhas mãos em seu cabelo macio e deslizei minha
língua em sua boca.
Eu enlouqueceria logo se não pudesse levá-la. Se ela não me deixasse
ficar com ela.
O que mais poderia ser feito? O que mais eu poderia fazer para provar
a ela que a queria? Que eu queria que nós déssemos certo?
Uma explosão de surpresa passou por mim quando a senti abrir um
dos botões da minha camisa. Então outro.
Angela nunca deu o primeiro passo, nunca iniciou o contato. Esta foi
a primeira vez, e eu não estava longe de impedi-la.
Eu não pude conter o gemido que veio enquanto ela corria as mãos
pelo meu peito nu, enquanto suas unhas arranhavam ao longo das
marcas do meu abdômen.
Mais baixo. Muito mais baixo.
Mais duro.
Mais.
Sem quebrar o contato, coloquei um braço atrás de mim e agarrei as
costas de uma das cadeiras da sala de jantar, girando-a. Passei meu outro
braço em volta da cintura de Angela, levantando-a no meu colo enquanto
me recostava na cadeira.
Eu quase perdi o controle quando seus quadris se apertaram contra os
meus, enquanto ela colocava seus braços em volta do meu pescoço,
puxando-nos impossivelmente para mais perto.
Minhas mãos correram da cintura para as coxas, mergulhando sob a
bainha do vestido.
Angela gemeu, balançando os quadris para a frente, enquanto meus
dedos se espalharam na parte de trás de suas pernas e cravaram em sua
bunda.
Ela estava com a porra da calcinha de renda.
O tecido delicado estava praticamente implorando para ser rasgado.
Mas eu não poderia, ainda não. Ela nunca me deixou brincar tanto
antes, e eu não iria desperdiçá-lo rasgando roupas íntimas.
Em vez disso, levantei minhas mãos e peguei seus longos cachos
dourados em um punho. Gentilmente, puxei sua cabeça para o lado,
quebrando nosso contato.
Ela se jogou para mais perto, como se estivesse determinada a não
parar, e empurrou seus quadris para frente novamente.
Eu senti seu calor através do tecido do meu terno.
Não havia quase nada entre seu núcleo quente e meu pau.
— Não dá pra sentir o quanto eu te quero? — Eu sussurrei, beliscando
e beijando sua garganta.
— Sim, — ela respirou, com sua voz soando distante.
Eu trouxe minha mão livre para pegar seu seio e deslizei meu polegar
sobre a seda, sobre seu mamilo enrugado.
Enganchei meus dedos ao longo do decote profundo, puxando-o e a
renda de seu sutiã para baixo.
Quando seu seio de porcelana cheio saltou livre, puxei a cabeça de
Angela para trás e coloquei seu mamilo em minha boca.
— Xavier, — ela gemeu, sua mão apertando meu antebraço.
— Você não vai me deixar ter o que eu quero?
Angela
Sim, eu queria dizer a ele. Sim.
Mas as palavras ficaram presas na minha garganta quando Xavier
circulou sua língua em torno do meu mamilo duro.
Meus dedos agarraram seu cabelo escuro, e eu apertei meus quadris
nele, precisando sentir sua dureza contra mim. Querendo estar dentro de
mim.
Eu quero você mais do que tudo.
Neste momento, nada mais importava.
— Sim, — eu implorei. — Xavier, por favor.
Não havia outras palavras que eu pudesse usar para expressar o que
eu queria, o que eu precisava.
Estremeci quando ele deu um beijo entre meus seios, correu o nariz
pelo meu esterno, beijou a junção do meu pescoço e ombro.
— Fala que você me quer.
A ordem era dura e suave ao mesmo tempo. Como sorvete no café
quente. Ou um diamante envolto em veludo.
— Eu quero, — eu prometi.
Xavier me puxou de volta e me beijou novamente, me deixando tonta.
Eu respondi ansiosa, faminta.
Sua mão livre deslizou pela minha coxa, cada vez mais alto, até que
seu polegar percorreu a costura ao longo do centro da minha calcinha.
Eu gemi, pressionando em seu toque, e então... um telefone tocou.
Como um alarme de incêndio, trouxe a realidade para um foco rígido
e nítido.
— Ignore, — disse Xavier, apertando as mãos em volta da minha
cintura.
— Eu não posso. — Recebi muitas ligações de emergência para
ignorar o toque.
Eu me empurrei para cima e para longe dele e corri para pegar minha
bolsa em uma poltrona na sala de estar.
— Olá?
— Angela, — disse Brad da outra linha. — Só pensei em ligar e ver
como foi sua reunião hoje. Espero não estar interrompendo nada.
— Na verdade... — Eu comecei, apenas para ter minhas palavras
sumindo enquanto eu observava o olhar cheio de luxúria de Xavier, e
uma faísca familiar de medo apareceu dentro de mim. Eu trouxe a mão
aos meus lábios inchados.
O que eu fiz?
Nunca me senti tão fora de controle em toda a minha vida.
Se Brad não tivesse ligado naquele momento, poderíamos ter...
Eu engoli em seco.
Claramente, eu tomei muitas mimosas no Boathouse esta tarde.
Eu nunca poderia imaginar fazer amor depois de discutir assim. Eu
nem sabia que era possível ficar com tanta raiva de alguém e ao mesmo
tempo querer tanto esse alguém.
— Angela? — Disse Brad. — Posso ligar de volta em outra hora.
— Não, — eu disse, virando as costas para Xavier. — Pode ser agora.
Eu ouvi Xavier murmurando atrás de mim enquanto eu descia o
corredor para o meu antigo quarto. Fecho a porta atrás de mim.
— Então, como foi sua reunião? — Brad perguntou enquanto eu
pressionava minhas costas contra a porta e escorregava para o chão de
madeira. Senti minhas bochechas e pescoço corarem, meu próprio
coração batendo forte no peito.
— Bem, — eu consegui dizer. — Ótimo, na verdade.
— Que notícia maravilhosa! — Brad gritou.
— Na verdade, também tenho novidades para você, — eu disse. — Eu
encontrei uma maneira de achar um encontro para você.

Capítulo 7
Tentando
Brad
Apesar de serem três da tarde, o restaurante estava lotado. Vi todos os
participantes do encontro rápido pela janela e hesitei.
Talvez isso não seja uma boa ideia...
Eu balancei minha cabeça. Eu estava sendo ridículo. Era apenas um
encontro, muitos encontros... como entrevistas.
Foi isso. Eu entrevistei milhares de candidatos para a Knight
Enterprises. Hoje poderia ser tão diferente?
Encontrar um bom CEO ou assistente era tão difícil quanto
encontrar um parceiro.
Só que já faz cinquenta anos desde a última vez que fiz uma entrevista
para preencher uma posição como aquela, desde que procurei uma
pessoa importante.
Eu sabia que algumas pessoas passavam por amantes como sapatos.
Mas eu nunca fui assim. Pode me chamar de antiquado, mas eu
acreditava que havia uma pessoa para todos.
Eu já tive a minha.
Mas então as palavras de Angela da noite passada voltaram flutuando
para mim. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu não precisasse encontrar
outra. Talvez eu pudesse encontrar três ou quatro.
Afinal, eu tive um punhado de assistentes antes de Ron, cada um com
suas próprias aptidões e peculiaridades, mas confiei em cada um deles da
mesma forma.
— Você está aqui para o evento de encontro rápido para idosos,
senhor?
Virei-me para encontrar uma jovem enfiando a cabeça para fora da
porta do restaurante e percebi que devo ter parecido bastante peculiar
aqui fora, espiando pela janela.
Eu respirei fundo.
— Eu, ah, sim. Suponho que sim.
— Venha então. — Ela sorriu brilhantemente e segurou a porta aberta
para mim. — Estamos prestes a começar.
Lá dentro, ela me entregou um crachá e um marcador permanente.
Rapidamente rabisquei meu primeiro nome no adesivo e, em seguida,
colei na lapela da minha jaqueta.
— Ótimo — a jovem olhou para o meu crachá — Brad. Se você puder
se sentar, vamos começar agora.
Eu examinei o restaurante.
As mesas foram dispostas individualmente, com duas cadeiras. Os
assentos estavam ocupados por homens e mulheres, a maioria com vários
tons de cabelo prateado.
Havia apenas uma cadeira aberta, em frente a uma senhora
rechonchuda com grandes óculos cor de mostarda e um cabelo curto e
inclinado.
O visual não era o mais profissional, mas ela tinha um toque artístico.
Criatividade era uma característica que descobri ser uma vantagem nos
colegas. Talvez isso não fosse tão terrível quanto eu suspeitava.
A mulher ergueu a mão e acenou ao me ver se aproximando.
— Oi!
— Olá, como vai você? — Eu sentei em frente a ela.
— Muito bem! — ela quase cantou. — Meu nome é Dorothy. Meus
amigos me chamam de Dot.
— É um prazer conhecê-la, Dot. Eu sou o Brad.
— Brad? — Seus lábios pintados de violeta se abriram. — Isso deve ser
o destino. O herói do meu último livro se chamava Brad.
— Você gosta de ler? — Imaginei.
— Oh não, eu sou uma escritora, — Dot disse.
Bem, essa era uma profissão respeitável.
— Eu conheceria algum de seus trabalhos?
Dot deu um sorriso liso e ergueu uma de suas sobrancelhas
desenhadas.
— Você gosta de erotismo ocidental?
As duas entrevistas seguintes foram tão terríveis quanto a primeira.
Cada um começou bem. As mulheres pareciam bem polidas e se
portavam bem. Mas no meio do — encontro, — eu descobriria algo
desagradável.
Se não fosse escrever pornografia, era uma relação doentia com gatos
de estimação ou uma aversão à comida espanhola.
Não havia ninguém aqui. O mais próximo que cheguei foi de vinte e
sete. na melhor das hipóteses. Tinha sido bobagem acreditar que alguma
mulher jamais seria capaz de chegar perto da perfeição da minha Amelia.
Eu estava tentando parecer interessado na última mulher me
contando sobre sua recente viagem às Bahamas quando algo chamou
minha atenção.
Virei-me para encontrar uma banda montada no canto oposto da sala
e, com eles, a cantora da minha festa de aposentadoria.
Penny, Xavier a tinha chamado.
Assim como no iate clube, de repente me vi de pé, inexplicavelmente
gravitando em sua direção.
— Perdoe-me, um momento, — eu murmurei para o meu par, sem ao
menos um segundo olhar por cima do ombro.
Eu atravessei as mesas em direção à banda.
— Com licença?
— Sim? — Penny se virou para mim. Um sorriso iluminou seu rosto.
— Oh, olá, Sr. Knight.
Eu senti minhas bochechas corarem.
Ela se lembra de mim.
— Por favor, me chame de Brad.
Ela tinha um braço em um pedestal de microfone e mudou seu peso
para colocar um de seus quadris curvilíneos para o lado.
— Tudo bem, Brad. Como está a aposentadoria?
Eu engoli em seco.
— Tenho certeza que você pode ver com base em onde estamos.
Penny riu. O som era melódico, como a brisa da primavera passando
pelas folhas.
— Acho que este lugar é adorável, — disse ela.
— Não tão adorável quanto sua voz para cantar, — eu disse.
Suas bochechas enrubesceram e eu senti meu coração palpitar como
se eu fosse trinta anos mais jovem.
— Obrigada, — disse ela.
— O que te fez querer ser cantora? — Eu perguntei.
— Oh, mas eu não sou de verdade, é apenas um trabalho de meio
período. Eu acabei de me formar na NYU, na verdade.
— Artes?
— Negócios, na verdade. — Ela riu da minha expressão de surpresa.
— Quem diria que seria difícil encontrar um emprego em finanças na Big
Apple? Certamente não eu.
— Mas parece que você pertence ao palco, — eu disse seriamente. —
Por que negócios?
— Eu entendo muito isso na verdade... — Ela ergueu o queixo,
pensativa. — Sendo sincera, prefiro muito mais estar enrolada em casa,
com uma xícara de chá ao lado da cama e um bom livro nas mãos. Mas
eu... tenho que pagar as contas de alguma forma.
— De repente, estou me sentindo muito grato por suas contas. De
que outra forma eu seria capaz de desfrutar da sua voz?
Ela riu docemente.
— Hum, obrigada?
— É uma pena que o seu público não seja muito atencioso. — Eu
olhei para a estranha coleção de idosos, suas peculiaridades e estranhezas
em plena exibição.
— Acho que é fofo, — disse Penny. — Nunca é tarde para encontrar
aquela pessoa especial. — Ela parecia melancólica e eu podia ver o leve
traço de dor escondido em seus olhos.
Suas palavras fizeram meu estômago revirar.
Talvez ela esteja certa...
— Eles parecem um grupo divertido, — acrescentou ela, tentando
iluminar o humor repentinamente sombrio.
— Eu estive fora do jogo por um tempo, mas da última vez que
verifiquei, não havia nada de divertido em jogar cribbage e ler padrões de
tricô, — respondi.
Os olhos escuros de Penny brilharam.
— Então qual é a sua ideia de diversão?
Minha resposta veio rapidamente. Não havia como pará-la.
— Eu poderia mostrar a você, se você quiser.
As sobrancelhas de Penny se ergueram e minha respiração ficou presa
no peito.
Eu fui muito ousado.
O que eu estava pensando?
Ela tinha menos da metade da minha idade.
Eu trouxe minha mão até a minha nuca, tentando encontrar as
palavras para me desculpar.
Antes que eu pudesse, Penny disse:
— Eu gostaria muito disso.
Foi a minha vez de ficar surpreso.
— Mesmo?
Penny piscou e parecia que seu cérebro estava alcançando sua boca.
Ela ficou vermelha quando acenou para o equipamento musical atrás
dela.
— Eu, uh, termino às nove, — ela gaguejou. — Se você quiser ficar por
aqui, talvez possamos pegar uma bebida...?
— Ó-ótimo. Eu vou. — Eu coloquei o polegar sobre meu ombro. —
Melhor voltar.
Ela sorriu para mim, e de repente eu senti como se tivesse criado asas
e pudesse voar.
— OK. Falo com você mais tarde, Brad.
Angela
— Meu Deus! — Eu disse baixinho enquanto abria caminho pela porta
do café de Dustin.
— Meu Deus mesmo! — Em respondeu atrás de mim.
O lugar estava lotado, todas as mesas ocupadas, a fila indo até a porta.
Eu nunca tinha visto isso tão ocupado.
— Nossa mesa está ocupada. — Em fez beicinho.
— Pronto, — eu disse, apontando para um sofá desleixado contra a
parede oposta, onde um casal estava vestindo os casacos.
— Eu acho que eles estão indo embora. Por que você não vai guardar
a mesa e eu vou esperar na fila para fazer o pedido?
Em acenou com a cabeça e entrou na multidão.
Eu estava animada para me encontrar com meus amigos para nossa
atualização semanal esta manhã.
Parecia que Dustin estaria muito ocupado para se juntar a nós.
Ele estava atrás do balcão com Ben, os dois em uma dança estranha
enquanto flutuavam entre a caixa registradora e a máquina de café
expresso.
Finalmente, Dustin chamou minha atenção e acenou para que eu
entrasse na caixa registradora.
— Ei, Angela!
Hesitei, sem saber se deveria deixar meu lugar na fila. Não seria justo
se eu tivesse um serviço especial só porque Dustin era meu amigo.
— Vou trazer suas bebidas, — Dustin chamou, não me deixando
escolha.
Senti alguns pares de olhos me seguirem enquanto me movia para me
juntar a Em no sofá.
Parecia que a notícia da minha cafeteria secreta favorita tinha sido
divulgada.
— Então, — Em disse enquanto eu me sentava ao lado dela, — como
vão as coisas entre você e Xavier? Você teve a conversa?
Olhei ao redor da sala ocupada. Havia muitas pessoas por perto que
podiam ouvir conversas privadas.
— Está tudo ótimo! — Eu menti. — Que tal você e Lucas?
Eu esperava que ela entendesse por que rejeitei a pergunta. Que ela
não me pressionaria por mais.
Felizmente, embora muitas vezes seja uma preocupação, Em se abriu
mais facilmente do que um livro.
— Não sei o que fazer, Angie.
— Sobre o quê?
— Lucas e eu temos tentado engravidar, — ela revelou.
— Isso é incrível, — eu disse. — Eu estou tão feliz por você!
E eu estava. Eu não conseguia pensar em nada melhor do que ter uma
sobrinha ou sobrinho correndo por aí. Mas não pude sentir a sensação de
afundar que começou a crescer no meu estômago.
Em e eu sempre estivemos na mesma página. Estivemos na mesma
turma durante todo o ensino fundamental e médio, havíamos ido para a
faculdade ao mesmo tempo e conseguido nossos primeiros empregos
com semanas de diferença.
Agora, parecia que um abismo se abriu entre nós. Em estava falando
sobre ter filhos. Eu ainda era virgem.
Quando eu fiquei tão para trás?
Em balançou a cabeça e as lágrimas encheram seus olhos.
— Não, não é. Temos tentado desde nossa lua de mel, mas não está
acontecendo. Já tentei de tudo. Parei de beber cafeína. Eu coloco meus
pés na parede depois que fazemos sexo. Estou rastreando minha
ovulação. Nada disso está funcionando.
Puxei minha amiga para um abraço.
— Ei, ei. Vai ficar tudo bem.
— E se não ficar? E se houver algo errado comigo, ou com Lucas, e
não pudermos ter filhos? — Em fungou.
— Existem outras opções, — eu disse. — Mas você está se adiantando
demais aqui, Em. Faz apenas algumas semanas. Você não pode apressar
esse tipo de coisa. Isso vai acontecer no seu devido tempo.
Em assentiu fracamente.
— Você tem razão. Estou sendo boba.
— Eu tenho algo que pode te animar, — eu disse. — Eu preciso te
contratar.
— Me contratar?
Eu concordei.
— Posso estar planejando um grande evento em algumas semanas e
vou precisar de peças centrais. Não consegui pensar em mais ninguém
que preferisse fazer os arranjos.
— Um evento? — Em disse.
— Sim, consegui minha primeira cliente, — expliquei. — Ela trabalha
na Animas. Estou organizando um jantar para eles esta semana e, se der
certo, eles me pediram para organizar sua arrecadação de fundos anual.
Foi a vez de Em me puxar para um abraço.
— São notícias fantásticas!
Dustin chegou com nossos cafés com leite. Ele colocou as canecas na
mesa e desabou no sofá entre nós.
— Então, o que eu perdi?
— Não se preocupe conosco! — Em empurrou seu braço. — Você tem
mais com o que se preocupar. Este lugar está lotado!
Dustin enxugou a testa.
— Eu sei. Já vendi três peças hoje.
Meu celular vibrou no bolso e eu rapidamente o peguei enquanto
meus amigos continuavam a bater papo.
Didi: Está tudo ótimo para o jantar!
Didi: Estou realmente impressionada!!!
Eu sorri com as mensagens.
Até agora, planejar o jantar tinha sido moleza. Tudo estava pronto. E
o mais importante, Didi parecia animada com meu trabalho.
Se as coisas continuassem assim, não havia dúvida de que também
planejaria o leilão.
Angela: Fico feliz em ouvir isso!
Didi: Há apenas algumas mudanças de última hora...
Didi: Outro convidado respondeu ao convite Didi: Então, vamos
precisar de outro lugar à mesa Didi: Ela também é vegana e
alérgica a soja.
Didi: O diretor também mudou seu voo e não vai pousar até as 7
agora.
Didi: Então a refeição precisa ser adiada em uma hora.
Meu coração afundou em meu peito quando tantas mensagens
seguidas apareceram na tela. Faltavam menos de vinte e quatro horas
para o jantar.
Como poderia terminar tudo isso a tempo?

Capítulo 8
Sem Reservas
Angela
Às oito da noite seguinte, eu estava sem tempo.
A hora do jantar havia chegado.
Eu andava de um lado para o outro no bar do Tavem on the Green.
O jantar estava acontecendo na Sala do Central Park. Eu podia ver a
mesa circular aparecendo e desaparecendo de vista através da porta ao
longo do outro lado do bar.
Um punhado de convidados já havia chegado e estavam servindo
coquetéis.
Ao longo da parede oposta ficava a entrada, onde o anfitrião saudava
os recém-chegados ao restaurante. Sorri quando ela passou com um
cavalheiro mais velho em um terno azul-marinho impecável. Eu
reconheci seu rosto sardento da lista de convidados.
Respire fundo, eu me lembrei.
Eu fiz tudo o que pude para cuidar da lista de mudanças de última
hora que Didi me enviou ontem à tarde. Não havia mais nada que eu
pudesse fazer agora — exceto esperar.
— Aí está você, querida!
Virei-me para encontrar Didi trotando em minha direção com saltos
de gladiador metálicos. Ela estava magnífica em seu vestido estampado
de leopardo na altura do joelho, com seus cachos ruivos de alguma forma
maiores do que da última vez que nos conhecemos.
— Você está aqui. — Eu sorri enquanto ela beijava minhas bochechas
no ar. Instantaneamente, me senti mais brilhante, como se simplesmente
estar mais perto dela me desse um impulso instantâneo de confiança.
— Todos os convidados, menos dois, já chegaram. Estão servindo
bebidas na sala principal. Assim que os dois últimos chegarem, podemos
começar com o primeiro prato e...
— Respire, Angie, — disse Didi. Ela olhou por cima do meu ombro
para a sala de jantar. — Você foi ótima. Diga aos servidores para
adicionarem outra configuração de lugar à mesa e venha se sentar.
— À mesa? — Eu hesitei.
— Por que não? — Didi riu. — Venha desfrutar dos frutos do seu
trabalho.
Eu dei a ela um grande sorriso enquanto um sentimento de orgulho
me enchia.
— Obrigada.
— Bom. Agora venha, vou apresentá-la a todos.
Depois de uma palavra rápida com o anfitrião, corri atrás de Didi para
a sala de jantar.
Ela já estava contando uma história. Os membros do conselho caíram
na gargalhada enquanto ela gesticulava descontroladamente.
Aproximei-me dela e Didi me olhou duas vezes, e então ela jogou o
braço em volta do meu ombro.
— Senhores, Margret, é um grande prazer apresentar a Sra. Angela
Knight.
Corei e dei um pequeno aceno de cabeça para os convidados que
haviam ficado em silêncio.
— Olá.
— Angela é uma planejadora de eventos extraordinária. Ela pode ser a
encarregada do leilão deste ano, — Didi continuou.
Notei alguns pares de olhos passando rapidamente entre nós.
Algumas sobrancelhas se ergueram. Girei minha aliança de casamento no
dedo e olhei para o chão.
Talvez eu devesse ter recusado o convite de Didi.
Era normal que o planejador do evento participasse da festa?
Ou foi meu sobrenome que causou a mudez de todos?
Margret — a única outra mulher à mesa — foi a primeira a quebrar o
silêncio.
É
— É maravilhoso ter você a bordo.
Havia dois ouvintes e os homens ergueram os copos, tilintando-os.
— Sente-se, sente-se, — pediu Didi, dando um tapinha nas costas da
cadeira ao lado daquela que ela estava antes.
Nós duas nos sentamos e os membros do conselho começaram a
conversar entre si mais uma vez. Eu examinei seus rostos, tentando
resistir à vontade de me afundar na minha cadeira.
Nunca estive perto de tantas pessoas elegantes ao mesmo tempo, e
definitivamente não enquanto tentava impressioná-los o suficiente para
ser contratada.
— Povo difícil, hein? — Didi sussurrou.
Eu ri, instantaneamente me sentindo aliviada por ela ter me puxado
para uma conversa.
— Já enfrentei pior.
— Eu não tenho dúvidas. Eu...
— Desculpe pelo atraso, — disse uma voz feminina com leve sotaque,
interrompendo Didi.
— O tráfego estava horrível.
Tive calafrios. Eu reconheci aquele tom nasal.
A mulher deu a volta para o outro lado da mesa e sentou-se em frente
à minha.
Era uma das senhoras que conheci na Festa de Gala em Paris.
Uma das garotas muito magras e de cabelos lisos com quem Xavier
tinha ido para a escola.
Quando ela empoleirou sua bunda ossuda na ponta da cadeira, seu
olhar encontrou o meu, e um sorriso liso se espalhou por seus lábios.
— Ah, a esposa. — Seus olhos afiados se voltaram para Didi. — Très
intéressant.
— Legal da sua parte se juntar a nós, Darla, — disse Didi, com uma
voz gélida.
Parecia que eu não era a única que teve um encontro desagradável
com a modelo francesa.
Pelo menos ela estava sozinha neste momento. Talvez ela fosse menos
má sem seu grupo em torno dela, apoiando-a.
Fiz sinal para um garçom que passava. Em poucos minutos, pratos de
salada estavam sendo entregues à mesa.
— Então, Angela, — disse um homem careca à minha esquerda, —
você começou a coletar os itens para o leilão?
— N-Não, ainda não. — Corei enquanto lutava para pronunciar as
palavras.
— Coletando itens? — Disse Darla.
— Se você tivesse chegado a tempo, — disse Didi, — você saberia que
Angela é a planejadora do evento que organizará o leilão deste ano.
Uma das sobrancelhas perfeitamente torneadas de Darla se ergueu.
— Você está planejando o evento? Você foi cortada das contas dos
Knights?
O homem ao meu lado riu.
Traidor.
Minhas bochechas ficaram mais vermelhas.
Felizmente, Didi veio em meu resgate novamente.
— Alguns de nós gostam de fazer mais com as nossas vidas do que
brincar de se fantasiar, Darla. — Franzi os lábios, não totalmente
chateada com Didi por fazer tal comentário, mas me sentindo culpada
pelas palavras duras.
Talvez não tenha sido uma ideia tão boa participar do jantar.
Os pratos de salada foram retirados e substituídos pelo nosso prato
principal.
Quando seu prato foi colocado diante dela, Darla franziu o nariz.
— Risoto para veganos. Que original.
— Tenho certeza de que podemos encontrar mais alface comum para
você, — disse Didi. — Eu não gostaria que você saísse da dieta.
Darla cruzou os braços e recostou-se na cadeira.
— Xavier estará presente no leilão este ano?
Eu engoli em seco, e o pedaço de batata que acabei de comer ficou
preso na minha garganta. Darla estava tramando algo. Eu sabia.
— Eu não perguntei a ele ainda.
— Espero que sim, — ela continuou. — É sempre bom ver velhos
amigos. Você não acha, Didi?
— Prefiro fazer novos, — respondeu Didi.
Darla riu.
— Acho que todos nós sabemos o quanto você é boa em fazer amigos.
O homem ao meu lado engasgou com seu lombo.
— Se não fosse, a Animas não receberia tanto destaque na imprensa,
— disparou Didi.
Darla franziu os lábios brilhantes.
— Eu poderia pensar em algumas coisas que você poderia fazer para
chegar na primeira página.
— Que tal conversarmos sobre o que poderíamos fazer para obter o
leilão na imprensa? — Margret interrompeu do outro lado da mesa,
olhando incisivamente para Darla e Didi.
O homem ao meu lado fez um pequeno ruído de desaprovação. Se era
pela conversa rápida das mulheres ou pela interrupção de Margret, eu
não tinha certeza.
Eu peguei outra batata, incapaz de evitar a sensação de que de alguma
forma eu tinha me colocado no meio de uma discussão de longa data.
Quando a sobremesa chegou e mais alguns drinques foram servidos, a
festa estava de volta aos trilhos.
Quando terminei a última mordida da minha torta de chocolate, Didi
se aproximou.
— Você realmente se superou, Angie.
Eu corei.
— Você acha?
— Com certeza. Enviarei os detalhes do leilão pela manhã.
Uma excitação borbulhou dentro de mim.
— Então eu consegui mesmo o emprego?
— Você já tinha ele. — Didi sorriu. Então sua expressão ficou mais
séria. — Sinto muito por Pepé Le Pew ali. Eu não sabia que você já tinha
tido o prazer de a conhecer.
Inclinei-me para mais perto dela.
— Obrigada por me defender.
Didi acenou com uma de suas mãos bem cuidadas.
— Foi um prazer, acredite em mim. É um campo de batalha lá fora,
Angie. Comparada com as outras mulheres que conheci, você é uma brisa
fresca. Fico feliz em te proteger.
Eu poderia voar. Saltava no ar e flutuava nas nuvens.
Didi gostou de mim, e mais do que minhas habilidades de
planejamento de eventos.
Meu primeiro instinto sobre ela estava certo. Ela era uma boa amiga.
Minha amiga.
Quando finalmente consegui sair, algumas horas depois, Marco
estava esperando por mim no Lamborghini. Depois de dar um abraço de
despedida em Didi, deslizei para o banco detrás.
— Você teve uma boa noite, Srta. Knight? — ele perguntou da frente.
— Incrível, — respondi, sorrindo. Não tinha certeza se era o
champanhe ou o fato de que a noite tinha corrido bem, mas podia jurar
que estava brilhando.
O jantar foi um sucesso. E assegurei o próximo leilão. Eu consegui.
Eu realmente consegui.
Fiz uma dancinha alegre no assento de couro.
Não conseguia me lembrar de uma vez em que me senti tão bemsucedida, tão
confiante.
Nem mesmo ao entrar em Harvard ou passar nos exames finais havia
me sentido tão bem.
Talvez tenha sido porque eu finalmente corri um risco e saí da minha
zona de conforto. Tentei algo em que talvez não fosse boa. Me expus.
Pensei em Didi, em seu carisma e determinação.
Aposto que ela se sentia assim o tempo todo. Como um céu cheio de
estrelas. Como descer da sua montanha-russa favorita.
E ela gostava de mim, tímida, desajeitada e gaguejante.
Só que, perto dela, eu não me sentia como antes.
Eu me senti mágica. Poderosa. Como se eu pudesse fazer qualquer
coisa.
Quando o carro parou em um sinal vermelho, o brilho que senti se
transformou em um incêndio, bem no fundo da minha barriga.
Havia outra coisa que eu queria.
Alguém.
Eu venci muitos dos meus medos no evento desta noite, mas ainda
havia um obstáculo que eu precisava superar.
Seria uma pena não aproveitar a coragem líquida que corria em
minhas veias para conquistá-la também.
— Devo acompanhá-la? — Marco disse quando paramos na frente do
meu prédio.
Eu já estava na metade do caminho para fora da porta do carro.
— Não, obrigada! Tenha uma boa noite.
A viagem pelo saguão e pelo elevador foi um borrão.
Tudo que eu podia sentir era o martelar do meu coração no meu
peito, o formigamento nas pontas dos meus dedos e aquele calor
pulsante profundo no meu núcleo.
Esta noite é a noite.
Estou pronta.
Eu quero isso.
— Xavier, — chamei enquanto entrava na cobertura escura.
As luzes da sala estavam apagadas, com o brilho das luzes da cidade
entrando pelas janelas.
Entrei no corredor.
— Xavier?
Empurrei a porta de seu quarto. Nosso quarto.
Xavier estava na cama, o edredom puxado até os quadris, o laptop
equilibrado em suas pernas.
O calor pulsante em mim escureceu, aprofundou-se em uma pulsação
derretida enquanto eu observava os planos nus de seu peito.
Ele ergueu uma sobrancelha, com os olhos indo do meu peito arfante
até os dedos dos pés.
— Você chegou.
Larguei minha bolsa no chão e dei um passo em direção à beira da
cama, jogando minha perna sobre ele, montando em seus quadris.
Ele rapidamente tirou seu laptop do caminho.
— Uau, Angela.
Eu dei a ele um olhar, um que mostrou a ele minha paixão, minhas
cartas. Eu estava colocando tudo na mesa.
— Estou pronta, — eu simplesmente disse, e então esmaguei meus
lábios nos dele.

Capítulo 9
Falando em Línguas
Xavier
Dizer que eu estava incrivelmente confuso seria um eufemismo. Os
últimos dias foram os mais difíceis.
Eu não tinha ideia do que diabos Angela queria.
Tudo o que eu fazia parecia aborrecê-la.
Ela queria sexo, mas depois ela não queria sexo.
Ela queria um emprego e ficou com raiva de mim quando eu
encontrei um.
Ela queria ser engenheira mecânica. Não, espere, uma planejadora de
eventos. Na próxima semana, provavelmente uma astronauta.
Eu não conseguia acompanhar.
Tudo que eu queria fazer era fazê-la feliz, mas estava me agarrando a
qualquer coisa tentando descobrir como.
Eu não tinha certeza se ela sabia mais alguma coisa.
Eu tinha esquecido do quão trabalhoso era todo esse maldito negócio
de ter uma namorada.
Angela saiu para o jantar que ela planejou e não voltaria até tarde.
Isso significava que finalmente tinha uma noite sozinho.
Para pensar.
Planejar.
E descobrir como diabos fazê-la feliz para que eu pudesse ter alguma
maldita paz de espírito.
Não me entenda mal. Eu me preocupava com Angela. Eu a queria em
minha vida. Mas também tornou a vida muito mais complicada.
Pior ainda, pareciamos estar num impasse na área de relacionamento
ultimamente.
Como se nós dois tivéssemos montado acampamento em lados
opostos de um rio e estivéssemos nos recusando a pular na porra de um
barco.
Eu não tinha a mínima ideia de quando o rio apareceu ou por que eu
era o único que precisava cruzá-lo. Eu nem tinha certeza do porquê de
não querer.
Tudo que eu sabia era que algo estava quebrado e eu precisava
consertar.
Foi assim que me vi — na minha primeira noite livre em meses —
fazendo a mesma coisa que fizera com todo o meu tempo livre nos
últimos meses: tentando descobrir os detalhes de como faria a pergunta.
Era mais fácil falar do que fazer.
Angela era uma romântica. Ela chorou quando assistimos Diário de
uma Paixão. Ela se importava com as coisas, como guardar sua virgindade
para O Cara Certo. Ela gostava de grandes gestos.
Eu poderia fazer grandes gestos.
Só que alugar um dirigível ou colocar sua fotografia na Times Square
não era o meu estilo. Precisava ser pessoal.
Privado.
Especial.
E eu não tinha ideia do caralho o que isso era.
Ultimamente, eu estava ainda mais confuso sobre se ela estava
mesmo pronta para dar o próximo passo. Se ela realmente queria.
Eu não era especialista em casamentos, mas tinha bastante certeza de
que a noiva não deveria ficar apavorada com a ideia de ver o pau do
noivo.
Ouvi os elevadores abrindo, em seguida, saltos altos batendo no
corredor.
Angela estava em casa. Eu rapidamente fechei as guias do meu
navegador e abri uma planilha em branco.
Ótimo, mais uma noite perdida. Eu não estava nem perto de uma
resposta.
Para piorar as coisas, eu podia sentir que estava ficando duro, como se
o pensamento dela se aproximando de mim fosse excitante.
Ela provavelmente estava num vestido sexy.
Usando várias cores vivas.
Cores que cravariam em minhas costas quando ela jogou suas pernas
sobre meus ombros enquanto eu me dirigia para dentro repetidamente,
mais e mais fundo.
— Xavier? — Sua voz me separou de meus pensamentos.
Puxei meu computador mais alto no meu colo, escondendo a
evidência da minha excitação, enquanto ela entrava no quarto.
Eu tinha razão.
Ela parecia sexy com qualquer vestido estampado de flores que a
fizesse parecer uma professora de jardim de infância muito gostosa.
Ou uma fada.
Ou alguma deusa da pureza cujo trabalho era atormentar os homens
até que entrassem em combustão devido à abstinência sexual.
— Você chegou, — eu disse, com minha voz um pouco alta.
Então, sem qualquer tipo de aviso, Angela se jogou em mim.
Em menos de um segundo, ela estava em mim. Sentada em mim.
Beijando-me.
Eu rapidamente joguei meu laptop para o lado.
Amarrando minha mão em seu cabelo, inclinei sua cabeça e, em
seguida, coloquei minha língua em sua boca.
— Estou pronta, — ela respirou, e suas mãozinhas moveram-se para
os botões de pérola na frente de seu vestido e começaram a abri-los.
Estou sonhando?
Desde quando meu anjo era tão seguro, tão confiante... tão sexy?
Mas eu não a deixaria ter toda a diversão. Eu não queria perder a
oportunidade de desembrulhá-la lentamente pela primeira vez.
Angela deixou escapar um pequeno suspiro quando eu nos virei de
repente para que ela se deitasse de costas e eu estava montado nela.
Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu que eu estava pelado
na cama. Percebi um lampejo de hesitação em seu rosto, e então suas
mãos deslizaram por minhas coxas nuas.
Soltei um gemido, meus olhos tremulando fechados com a sensação
de seus dedos traçando minha pele.
Ela está tão perto....
Eu não conseguia perder o foco.
Com um aceno de cabeça, abri meus olhos e continuei trabalhando
para baixo os botões de seu vestido.
— Você é linda, — eu disse a ela quando terminei e ela ficou nua
diante de mim.
Ela ainda estava de sutiã e calcinha, mas era o máximo dela que eu já
tinha visto de uma vez. Deixei meus olhos vagarem pelas planícies e vales
de sua pele pálida.
As marcas ao lado dos ossos do quadril.
Seus eram seios cheios, empinados e reais.
A curva de sua clavícula, onde eu podia ver a vibração de seu pulso.
— Perfeito, — eu murmurei, me abaixando sobre ela, capturando seus
lábios novamente.
Ela se mexeu embaixo de mim, quase impaciente. Senti quando ela
deslizou as mãos entre nós, até a cintura de sua calcinha, para poder tirá-
la.
Eu fiz uma careta e movi meus lábios para beijar sua linha da
mandíbula.
Angela arqueou em minha direção. No começo, achei que ela queria
se aproximar, mas então senti o tecido do sutiã deslizar entre nossos
peitos.
Em algum lugar da minha mente nublada pela luxúria, um sinal de
alerta disparou.
Eu agarrei os pulsos de Angela, prendendo-os acima de sua cabeça.
Teria sido tão fácil tomá-la. Para abrir as pernas e deslizar para dentro
dela. O velho Xavier teria.
Mas eu não fiz. Não poderia. Porque o novo Xavier se preocupava com
coisas como sentimentos, usava metáforas sobre barcos e rios e perdia
noites livres procurando maneiras de fazer sua esposa feliz.
Em vez disso, empurrei-me para trás e disse:
— O que você está fazendo?
— O que parece que estou fazendo? — Angela disse, sem fôlego, e
empurrou seus quadris contra os meus.
Deus, me dê forças.
— Pare, Angela, — eu disse, talvez um pouco duramente demais. Era
impossível para mim ser um poeta de merda com seu corpo nu
deslizando debaixo de mim. Eu precisava que ela parasse. Para me ouvir.
— Por quê? — ela disse, fazendo beicinho. — Você não quer fazer
amor comigo?
— Não.
Angela
A palavra ecoou em nosso quarto, me fazendo congelar.
Senti lágrimas quentes começarem a brotar em meus olhos enquanto
a rejeição corria por mim.
A confiança e a empolgação que me carregaram durante toda a noite
esvoaçaram para fora de mim.
Eu tentei me virar, me enrolar em uma bola, para escapar do corpo nu
de Xavier acima de mim. Mas não consegui. Ele se sentou firme e
decidido sobre mim, prendendo-me no lugar como uma borboleta em
uma tela.
— Merda, — disse Xavier. — Não foi isso que eu quis dizer.
Eu não pude responder. Eu não sabia como.
Xavier amava sexo. Era um de seus passatempos favoritos. E ele
simplesmente recusou.
Virou-me para baixo.
— Angela, — ele disse. Então ele praguejou novamente, liberando
minhas mãos.
Eu as trouxe para baixo e as cruzei sobre o meu peito, me escondendo
dele.
Quando Xavier falou novamente, sua voz era mais suave. Estava mais
controlado.
— Você acha que eu não quero dormir com você? Você não poderia
estar mais errada. Olhe para mim, Angela.
Eu funguei e lentamente abri um olho. Depois o outro.
O corpo nu de Xavier elevou-se sobre mim como uma estátua de
Adônis.
Meus olhos correram sobre ele, de seu cabelo desgrenhado e lábios
inchados pelo beijo, para seu peito e abdômen musculosos, para sua
masculinidade muito ereta, que de repente percebi que estava
surpreendentemente perto do meu rosto.
Eu me senti corar.
— Eu penso em foder você a cada segundo de cada dia, — ele rosnou.
— Sonho acordado com você curvada sobre a mesa do meu escritório.
Penso em deslizar meus dedos dentro de você no banco detrás do carro.
Todas as noites, quando vamos para a cama, quero te possuir.
— Então por que você não toma agora?
Xavier olhou para baixo.
— Eu quero que sua primeira vez seja especial. Eu não vou permitir
que você jogue fora assim.
Meus olhos começaram a lacrimejar novamente, por um motivo
totalmente diferente desta vez.
Xavier ouviu e se importou. O suficiente para me impedir — até de
mim mesma.
Eu ofereci a ele um pequeno sorriso.
— Como vamos continuar a partir daqui, então?
Os olhos de Xavier voltaram para os meus com um brilho perverso.
— Existem outras maneiras de nos divertirmos.
Eu engasguei quando ele se abaixou em cima de mim novamente e
beijou meu pescoço, em seguida, meu ombro.
— Isso não é o que... — eu respirei e então perdi as palavras quando
sua boca se fechou em volta do meu mamilo.
Era mais difícil se concentrar. Mais difícil de esquecer sobre como...
nós dois estávamos nus, agora que o fogo que tinha me alimentado antes
tinha ido embora.
Eu estava muito ciente de como de repente não tinha ideia do que
fazer com meus membros. Muito consciente de que minha cintura não
era nem de longe tão pequena quanto a de Darla.
Mas o que quer que ele estivesse fazendo com sua boca — sua língua
— estava me fazendo queimar de uma maneira nova, uma que eu não
tinha certeza se estava confortável.
Com as mãos em volta dos meus quadris, Xavier desceu pelo meu
corpo. Ele beijou uma trilha dos meus seios até o umbigo para...
— Xavier! — Eu me endireitei, juntando meus joelhos o melhor que
pude com ele entre eles.
— Relaxe, — ele murmurou, apertando as mãos em meus quadris.
— Mas... — Ele não poderia estar pensando em colocar seus lábios lá,
poderia?
— Por favor, deixe-me agradar você, — disse Xavier, abaixando a testa
na minha barriga.
Eu nunca tinha ouvido ele usar aquele tom antes. Nunca tinha ouvido
tanto desejo e necessidade em sua voz.
Eu fiz isso com ele?
Eu sabia que Xavier precisava de sexo, mas nunca pensei que houvesse
algo que o dirigisse além da testosterona e do desejo de dominação.
Talvez eu estivesse errada.
Talvez os olhos cheios de luxúria de Xavier e as mãos agarrando
fossem sua maneira de pedir algo mais. Sua maneira de me dizer que
queria me conhecer mais intimamente.
Não era a mesma coisa que eu queria? A mesma coisa que eu esperava
há meses?
Com uma respiração profunda, relaxei meu corpo e deitei na cama.
Xavier pareceu entender e deu um beijo lento e demorado na parte
interna de uma das minhas coxas. Depois na outra.
Abri mais minhas pernas, concedendo-lhe acesso à minha parte mais
privada.
Nunca estive tão perto de um homem antes.
Nunca deixei um homem tão perto de mim. O momento parecia
intenso, pesado e cheio de eletricidade.
A língua de Xavier disparou para fora, sacudindo contra a pérola no
ápice das minhas coxas.
Uma onda de prazer passou por mim, fazendo minhas costas
arquearem para fora da cama.
— Meu Deus...
Encorajado, Xavier grunhiu e moveu a língua mais rápido, circulando
meu clitóris.
O calor começou a crescer em meu núcleo. Meus mamilos
endureceram. Eu coloquei minha mão em seu cabelo, torcendo meus
dedos pelas mechas escuras.
Xavier moveu uma de suas mãos do meu quadril e usou seus dedos
para separar meus lábios sensíveis. Sua língua quente lambeu e depois se
lançou para dentro de mim, me fazendo gritar.
O calor se espalhou dentro de mim, pulsando, formigando, no ritmo
de seus movimentos.
Minha respiração se transformou em ofegante enquanto sua língua
continuava a se mover para dentro e para fora, perfurando-me uma e
outra vez.
— Xavier, — eu disse, com os olhos bem fechados, eu não posso.
As palavras eram absurdas. Sem significado. Elas eram a coisa mais
próxima que eu poderia usar para expressar meus sentimentos. Dizer a
ele que o calor que vinha crescendo dentro de mim era agora um inferno.
Que meu coração estava batendo mais rápido do que antes.
Que minha cabeça estava tão leve que eu tinha certeza que
desmaiaria se ele continuasse.
— Por favor, — eu implorei, arqueando-me mais perto dele. — Por
favor.
Então eu estourei.
Explodi.
Uma luz saiu de mim e preencheu a sala.
E depois, quando fiquei deitada sem fôlego e aberta como uma estrela
recém-nascida, Xavier sussurrou: — Eu te amo.

Capítulo 10
Tal pai, tal Filho
Angela
Bati na porta da frente do café de Dustin. Era cedo, logo após o
amanhecer. As ruas estavam silenciosas em comparação a como estariam
em algumas horas.
Pelas janelas do café, vi a luz sobre o balcão piscar e então Dustin
correu pelo café até a porta e destrancou-a.
— Bom dia! — Eu disse enquanto entrava pela porta.
— Você está mais animada — resmungou Dustin, trancando a porta
novamente.
O café demoraria uma hora para abrir.
Acordei cedo para dar uma corrida e fiquei satisfeita quando recebi
uma mensagem de Dustin no meio do caminho, perguntando se eu
queria ir vê-lo.
Com o café tão lotado ultimamente e Dustin tão ocupado
administrando o lugar e vendendo sua arte, encontros matinais eram a
única oportunidade de nos ver.
E esta manhã era uma em que eu precisava do meu amigo.
Dustin voltou para trás do balcão e começou sua rotina. Eu subi
numa das banquetas do bar, balançando minhas pernas para frente e
para trás.
— Então como foi sua noite? — Disse Dustin.
Um grande sorriso se espalhou pelos meus lábios.
— Incrível.
— Viu, eu te disse. Você é uma planejadora de eventos extraordinária.
Eu derramei um pouco de açúcar no balcão e usei meus dedos para
desenhar um pequeno coração. Não foi o jantar que tornou minha noite
tão incrível, mas eu não tinha certeza de como abordar o assunto com
Dustin. Em vez disso, eu disse: — Também fui contratada para o leilão.
Dustin se acomodou no chão, perto da geladeira, e começou a repor o
leite.
— Claro que você foi. Eles seriam estúpidos se não a contratassem. Só
a publicidade...
— Você gostaria de doar uma peça para o leilão?
Dustin ergueu os olhos.
— Sério?
— Claro, por que não? — Seu trabalho era conhecido bem o suficiente
agora. Seria um prêmio adequado e, se alguém importante o suficiente
comprasse, aumentaria a popularidade de Dustin como artista.
As sobrancelhas de Dustin se juntaram, com seu olhar caindo para o
piso de concreto polido.
— Você está sempre me ajudando. Eu me sinto um pouco mal por não
poder retribuir da mesma forma.
— Você é meu amigo, — eu disse a ele. — Isso é o que os amigos
fazem. E você me ajuda. Sua exposição foi o primeiro evento que
planejei, não foi? E você é quem me ajuda a navegar em todos os detalhes
difíceis de meu relacionamento com Xavier.
— Acho que você está certa, — ele disse, levantando-se.
— Eu sei que estou certa.
— Oh, sim! Obrigado. — Dustin bateu palmas e foi até a máquina de
café expresso. — Isso exige uma celebração.
Eu olhei para o açúcar novamente, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
— Há algo mais para comemorar também.
Ocupado em sua nuvem de vapor, Dustin cantarolou em resposta.
— Xavier disse 'eu te amo' na noite passada.
— O quê? — Dustin gritou — então praguejou quando o leite quente
borbulhou.
Eu sorri novamente. A mesma sensação de tontura que tive ontem à
noite estava voltando com força total. A manhã toda eu me senti
eufórica. Eu praticamente flutuei durante minha corrida.
Ele disse as três pequenas palavras que eu estava esperando.
Isso eu esperava.
Claro, ele só as disse depois de ser seduzido pelo meu corpo nu, mas
ainda assim as disse. Ele ainda me amava.
Dustin colocou dois cafés com leite no balcão.
— Eu sabia que devia haver uma razão para você estar brilhando!
Achei que fosse aquele novo hidratante que comprei para você. Mas o
amor é um tipo diferente de soro, não é? ME. CONTE. TUDO.
Inclinei-me mais perto, apoiando meus cotovelos na bancada.
— Bem, cheguei em casa depois do jantar ontem à noite e me senti
tão bem... Eu meio que me joguei em cima dele.
— ANGELA! — Dustin ofegou, cobrindo a mão com a boca.
— Eu sei. Eu sei. Mas o Xavier me parou. Disse que não queria...
Dustin me cortou.
— Aquele DESGRAÇADO!
Eu levantei um dedo.
— Não, não, foi muito gentil. Ele disse que queria esperar. Que minha
primeira vez seria especial.
— Vocês são demais. — Dustin torceu o nariz. — Só espero encontrar
alguém que me faça ficar com os olhos tão pegajosos quanto você e
Xavier.
Tomei um gole do meu café.
— Isso não é tudo. Eu meio que o deixei... ir... lá embaixo. Com sua
boca.
Dustin engasgou com a boca cheia de café.
— Me-u-De-us, — ele disse entre tosses. — Angela, sua putinha.
FINALMENTE.
Corei pelo que devia ser a milésima vez.
— Foi... indescritível. Eletrizante. Como um tiro de luz na minha
espinha.
— Então, ele é tão bom quanto se supõe. — Dustin apertou os lábios.
Eu fiz uma careta.
— Por quê?
— Ele teria que ser, para fazer você gozar em sua primeira tentativa
assim. Ou você tinha muito tesão acumulado, ou ele era bom pra caralho
— Dustin! — Eu disse, cobrindo meus olhos.
— O quê? Nem todo mundo é bom com a língua. Eu deveria saber. Eu
conheci minha porção de parafusos terríveis. Havia um cara que...
— Não quero saber, — eu disse. — Apenas me prometa que você fará
essa pintura.
Dustin concordou.
— Com certeza! Na verdade, acabei de encontrar a inspiração
perfeita. Vou começar agora.
Olhei em volta do café ainda escuro.
— Você não precisa terminar de arrumar?
Dustin revirou os olhos.
— Farei com que Ben o faça quando chegar aqui. Mas antes de entrar
na arte, quero ouvir mais sobre o seu mau comportamento.
Eu não pude evitar. E comecei a rir.
Brad: Vocês dois estão livres para jantar na próxima semana?
Angela: Basta dizer um dia e eu dou um jeito :) Xavier: Minha
única noite aberta é terça-feira.
Brad: Terça-feira seria esplêndido.
Brad: 20h no Waldorf?
Xavier: Claro Angela: Qual é a ocasião?
Brad: Bem, acho que conheci alguém especial.
Brad: Eu quero que vocês dois a conheçam.
Angela: Ótima notícia!
Angela: Ficaríamos honrados!
Xavier: O QUÊ!?
Xavier: O que você quer dizer com alguém especial?
Xavier: Uma mulher?
Xavier: Como?
Xavier: Quem é ela?
Xavier: Quanto dinheiro ela quer?
Angela: Xavier...
Brad: Por favor, filho, isso é muito importante para mim.
Brad: Você pediu para ser incluído nas conversas.
Brad: Não me faça lamentar a decisão.
Xavier: (3 emojis com carinha de tédio) Angela: Estaremos lá.
Brad: Ok.
Xavier
Isso era ridículo. Nunca, em mil anos, eu pensaria que conheceria a
namorada do meu próprio pai.
Ele deveria encontrar minhas amigas, não o contrário.
Em vez disso, eu era o responsável. Eu era o casado. O estabelecido.
Enquanto isso, ele aparentemente estava vagando pela cidade, pegando
mulheres a torto e a direito.
Tudo parecia uma grande inversão de papéis cósmicos.
Como punição por todos os anos que passei fazendo a mesma coisa
com ele.
A única diferença era que eu tinha feito isso na casa dos vinte anos.
Não nos meus sessenta.
Não depois de mais de trinta anos de um casamento feliz.
— Nós temos que ir? — Perguntei a Angela de dentro do meu closet.
— Claro que sim, — respondeu ela da outra sala, sem pestanejar. —
Você deveria estar feliz por seu pai.
Peguei dois laços da prateleira e, em seguida, segui sua voz até o
banheiro. Ela estava sentada na penteadeira, aplicando uma leve camada
de pó dourado cintilante nas pálpebras.
— Qual o motivo para estar feliz? Ele já está apaixonado. Isso é apenas
uma aventura ridícula para chamar a atenção, — eu disse e segurei as
gravatas para sua inspeção. — Por que ele não conseguiu um cachorro
como uma pessoa idosa normal?
— O roxo, — disse Angela calmamente, e então voltou ao assunto em
questão. — É disso que se trata? Você está preocupado que a mulher vá
substituir sua mãe?
Eu cerrei meus dentes, com uma dor apertando meu peito.
— Isso é ridículo. Ninguém poderia substituir minha mãe.
Angela ergueu uma sobrancelha para mim no espelho, mas não disse
mais nada.
Joguei a gravata rejeitada na bancada do banheiro e amarrei a outra
na nuca.
— Quem você pensa que ela é, afinal?
— Talvez alguém que ele conheceu no evento de encontros rápidos,
— Angela respondeu suavemente.
Encontros o quê?!
— Como é que é?
Angela girou no banco da penteadeira.
— Algumas semanas atrás, seu pai me disse que estava se sentindo
solitário. Eu encontrei um evento de encontros rápidos para ele
participar, para que ele pudesse conhecer algumas pessoas da sua idade.
Eu puxei o nó da minha gravata com força.
— Então, isso é tudo culpa sua.
— Xavier, você pediu para ser incluído nas conversas entre eu e seu
pai. Se você quiser se manter incluído, terá que se comportar. É apenas
um jantar.
Sentei-me na beirada da banheira.
— Se fosse apenas algum doce ou jogador de bingo, eu ficaria feliz em
sentar. Mas ele a chamou de 'alguém especial', Angela. E eles se
conhecem há quanto tempo? Ela está planejando algo. Eu sei isso.
Angela balançou a cabeça.
— Você acha que todas as mulheres são más?
Dei de ombros.
— Bem, eu não acho que elas sejam todas boas, se é isso que você está
perguntando.
Ela revirou os olhos e se levantou, alisando as linhas de seu vestido
preto apertado.
— Pronto para ir?
Por um momento, não consegui responder. Eu estava muito
distraído, pensando na outra noite. Estava quase a ponto de tirar o
vestido de seu corpo e festejar sua pele novamente.
Em vez disso, balancei a cabeça e me empurrei para fora da banheira.
— Sim.
Pegamos nossos casacos e saímos, onde Marco estava esperando no
Audi.
— O Waldorf, — eu disse a ele enquanto Angela e eu subíamos no
banco de trás. Então, quando entramos no trânsito, eu disse: — Você não
acha que eles vão se casar, é?
— Não, parece que ele só quer que a conheçamos, — disse Angela. Ela
agarrou minha mão, segurando-a com as suas. — Por favor, não se
É
preocupe tanto. É só um jantar. Você deveria estar feliz por ele estar feliz.
Eu sabia disso, eu sabia, mas não pude evitar de sentir que algo daria
terrivelmente errado.
As coisas estavam melhorando entre mim e Angela.
Eu não fui um desgraçado sortudo o suficiente para ter tudo na vida
dando certo. Algo aconteceria. Sempre era assim.
— Vou me comportar, — prometi quando paramos em frente ao
famoso hotel.
Respirei fundo para me equilibrar. Negociei com grandes
empresários. Almocei com Zuckerberg e Jobs. Eu poderia lidar com o
jantar com uma velhinha gentil.
De mãos dadas, entramos.
— Mesa para Knight, — eu disse à recepcionista do restaurante
Peacock Alley do hotel.
— Por aqui, — ela disse, nos levando para o labirinto de mesas.
Com o estômago apertando em um nó, examinei os rostos dos
clientes. Finalmente, encontrei o sorriso familiar do meu pai. Ele estava
rindo, com o braço em volta dos ombros de...
Eu parei no meio do caminho, puxando Angela junto comigo.
— Precisamos sair. Agora, — eu disse.
— O quê? Por quê? — Angela perguntou.
Eu concordei.
Angela esticou o pescoço, seguindo meu gesto.
— Oh.
Oh estava certo pra caralho.
Não era uma vovó doce e velha assando biscoitos que meu pai estava
segurando.
Era Penny de pele caramelo, bunda gorda e lábios deliciosos.
A garota com quem eu costumava transar.
Capítulo 11
Segundos
Angela
— Não, — disse Xavier, dando um passo para trás e cruzando os braços
sobre o meu peito. — Eu não vou lá.
Olhei para as pessoas à nossa volta, para a recepcionista que havia
parado para nos esperar.
— Não seja bobo, Xavier. Nós temos que ir. Dissemos que iríamos.
— Você me prometeu que seria a avó de alguém. — Ele apontou um
dedo em direção à mesa onde seu pai estava sentado. — Isso não é vovó
de ninguém. É a Penny.
— Eu sei, — eu disse a ele, me aproximando, baixando minha voz. —
Por favor, vamos apenas examinar e ver o que eles dizem. Eles já nos
viram de qualquer maneira.
Honestamente, fiquei tão surpresa quanto Xavier ao ver Penny
sentada à mesa com Brad.
Eu sabia que devia a eles o benefício da dúvida.
Talvez o relacionamento deles fosse platônico. Talvez eles fossem
apenas amigos. Talvez não fossem, mas quem era eu para julgar?
Xavier franziu o cenho.
— Por favor, — eu disse. — Por mim?
Suas narinas dilataram-se, um músculo em sua mandíbula saltou e ele
disse: — Tudo bem.
Eu dei um pequeno sorriso para a anfitriã, e ela começou a nos
conduzir em direção ao outro casal.
— Angela, Xavier, — anunciou Brad quando nos aproximamos da
mesa. Ele abriu os braços, levantando-se de um salto.
— É bom ver você, — eu disse a Brad quando nos abraçamos.
— Obrigado por terem vindo, — ele disse. — Eu gostaria de
apresentá-los à minha namorada, Penny. Eu acredito que vocês já se
conheciam antes.
— Essa é uma maneira de dizer, — ouvi Xavier murmurar ao meu
lado.
Tanto esforço para serem apenas amigos e deu nisso.
Lentamente, Penny ficou ao lado de Brad. Ela estava deslumbrante
em seu vestido prateado, e se o sorriso em seu rosto era alguma
indicação, ela estava feliz. Realmente, genuinamente feliz.
Eu passei meus braços em volta dela também.
— Bom te ver de novo.
— Bom te ver também, — ela disse e então olhou por cima do meu
ombro. — E você, Xavier.
Xavier não respondeu. Ele simplesmente se deixou cair na cadeira
mais próxima e acenou para um garçom que passava.
— Vodka. Pura. Com limão.
— Então, — eu disse enquanto o resto de nós tomava nossos assentos,
— como vocês dois, ah, se conheceram?
Parecia uma pergunta natural. Mesmo que eu conhecesse Penny por
um tempo já, eu não sabia como ela e o pai de Xavier se cruzaram de uma
maneira... íntima.
— Bem, é claro que nos conhecemos na festa da minha
aposentadoria, — começou Brad, pegando a mão de Penny. — Mas então
nós nos encontramos naquele evento de encontros rápidos para o qual
você me inscreveu, Angela. E somos inseparáveis desde então.
Eu levantei minhas sobrancelhas e olhei para Penny.
— Você estava em um evento de encontro rápido para idosos?
— Onde mais ela encontraria sugar daddies? — Xavier disse baixinho.
Penny riu levemente, embora eu vi um breve flash de desconforto em
seus olhos.
— Não, minha banda estava tocando no mesmo restaurante. Eu
cantei na hora do coquetel.
— Não consegui tirar minhas mãos dela desde então — disse Brad,
beijando as costas da mão dela. — Minha Penny da sorte.
O garçom chegou então com a bebida de Xavier. Xavier o arrancou
das mãos trêmulas do garçom e bebeu o copo de um só gole.
— Outro por favor.
— Isso é maravilhoso, — eu disse ao casal à nossa frente. — Mesmo.
Parabéns.
Brad sorriu para Penny, e os dois compartilharam um olhar tão
íntimo que eu tive que desviar o olhar. Corei, com meus olhos fixos no
meu colo.
Eu quase teria preferido que eles tivessem apenas começado a
namorar em vez disso.
Foi bom ver Brad tão feliz. Mas eu tinha que admitir que era um
pouco demais.
Segurar a mão de Xavier em público me fez corar.
E mesmo que Brad e Penny não estivessem tecnicamente fazendo
demonstrações públicas de afeto... os dois deveriam ter guardado isso
para quando estivessem sozinhos.
Especialmente quando os conhecemos como um casal pela primeira
vez.
Especialmente quando Xavier parecia mais prestes a explodir a cada
segundo que passava...
Havia outros pontos de interrogação surgindo também. Mais
sombrios.
O tipo de pergunta que eu tinha quase certeza de que arruinaria
alguns casais.
Brad sabia que Penny e Xavier dormiram juntos?
Ele sabia que ela era a ex-namorada de Jacques?
Jacques, que havia sequestrado e tentado me estuprar?
Ele não poderia saber, não é?
Xavier
Engoli minha terceira vodca.
Eu não aguentava ver meu pai olhar para Penny daquele jeito, com os
olhos arregalados.
Como se ela realmente significasse algo para ele.
Como se ela fosse uma substituta da mamãe.
Eu sabia que este jantar era um erro desde o início, mas isso era muito
pior do que eu poderia ter imaginado.
Não só papai se apaixonou por alguém que tinha menos da metade de
sua idade, como ele escolheu uma das mulheres com quem eu estive em
mais de uma ocasião.
Memórias de Penny continuavam passando pela minha mente.
Memórias de seus lábios em volta do meu pau, de sua bunda gorda
balançando enquanto eu metia nela, dela gemendo meu nome, seus
dedos arranhando minhas costas.
Então as memórias mudaram. E não era em mim que suas mãos e
lábios estavam; era em meu pai.
Bati meu copo vazio na mesa e peguei o vinho de Angela.
Não havia bebida suficiente em todo o maldito mundo para isso. Esse
era o tipo de coisa que levou anos de terapia e drogas pesadas para
endireitar.
Ele não sabia, não é?
Meu pai não era tão fodido.
Mas Penny sabia.
Ela contou a ele?
Ele se importou?
Ele gostou?
Tomei um longo gole de vinho tinto e girei em volta da boca.
— Xavier, — Angela sussurrou ao meu lado depois que ela terminou
de colocar seu pedido.
Ela estava preocupada.
Ela estava sempre preocupada.
Por mim ou sobre mim.
Eu não tinha certeza de qual era dessa vez. Talvez ambos.
Eu não queria sua pena. Seu conforto. Eu só precisava que isso
acabasse. Rapidamente.
Então, assim que o garçom desapareceu, olhei Penny nos olhos e falei.
— Ele sabe a verdade?
Angela
Minha respiração ficou presa na minha garganta quando o silêncio caiu
sobre a mesa, com a pergunta de Xavier pairando no ar.
— Xavier, não, — eu disse e estendi a mão para colocar minha mão
em sua perna.
Penny pigarreou.
— Está tudo bem, Angela.
— Não, não está tudo bem, porra, — Xavier cuspiu. — Ele sabe?
— Filho, por favor, — disse Brad, olhando em volta para se certificar
de que ninguém nos ouvia. — Este dificilmente é o lugar...
— Você escolheu este lugar, pai. — Xavier zombou. — Foi você quem
decidiu me dizer que estava namorando de novo, em público. Foi você
quem escolheu uma mulher três vezes mais jovem do que você.
— Eu acho que talvez seja hora de ir, — eu sugeri suavemente,
colocando a mão em seu ombro.
Se as pessoas não estivessem olhando antes, estavam agora, atraídas
pelos gritos de Xavier. Metade do restaurante estava nos observando.
Assistindo Xavier.
— Não, — disse Xavier, encolhendo os ombros. — Devemos nos
conhecer, vamos nos conhecer. — Com o canto do olho, percebi um
movimento. Quando me virei para o outro lado da sala, meu estômago
despencou.
Tínhamos chamado a atenção de mais do que apenas alguns clientes
do restaurante.
— Xavier… — eu comecei novamente. Eu tive que contar a ele. Para
avisá-lo. Havia um homem, meio escondido atrás de um pilar, com um
celular apontado para nós.
Mas Xavier não tinha interesse em ouvir.
Xavier
— Que tal eu te contar o quão bem Penny e eu nos conhecemos, hmm?
— Eu sorri diabolicamente.
— Você contou a ele sobre o auditório na NYU? Ou que tal quando
você e eu trepamos secretamente na biblioteca?
Penny engasgou, de repente tendo a decência de parecer tão
indignada quanto eu.
— Como você ousa, Xavier.
— Eu? Como você ousa! Você sabia que ele era meu pai.
— Por que não falamos sobre isso mais tarde, Xavier, — meu pai disse,
puxando Penny para ele. Protegendo a puta oportunista de mim.
Ele não viu o que ela estava fazendo? Quem ela era?
Ela não o amava. Ela amava seu dinheiro.
Meu pai já teve o amor de sua vida.
Isso não era nada além de sexo e mentiras, e eu não iria deixá-los
acreditar em mais nada.
— Não, vamos falar sobre isso agora, — eu atirei de volta.
A fúria estava borbulhando agora. Impossível de conter. Abastecido
por vodka e palitos de pão de parmesão.
— Vamos falar sobre o fato de que você está namorando uma mulher
com quem eu transei. Que fiz gritar de prazer. Que me implorou para
gozar dentro dela.
— Você cruzou a linha, Xavier! — Papai disse, com o rosto vermelho.
Ao lado dele, Penny assistia com olhos arregalados. Ela passou os
braços em volta da cintura — como se de repente tivesse escolhido ser
modesta.
Ser a porra de um ser humano decente.
Bem, era tarde demais.
— Não, são vocês dois que cruzaram, — eu cuspi de volta.
— Xavier, — Angela sussurrou novamente ao meu lado. Eu a senti
puxar a manga do meu casaco.
Com minha sorte, minha esposa provavelmente ficou do lado deles.
Provavelmente comprou suas mentiras.
Eu era a única pessoa que conseguia ver essa situação com clareza?
Angela
O homem com o telefone havia se aproximado agora. Ele estava a apenas
algumas mesas de distância.
Xavier estava fazendo um espetáculo tão grande que o homem não
precisava esconder. Não havia um único olho no restaurante olhando
para o cinegrafista. Porque todos eles estavam olhando para nós.
Eu sabia que minhas bochechas ficariam vermelhas, com a atenção e a
vergonha pelas ações de Xavier.
Há muito tempo não estivemos em uma situação que fizesse com que
a raiva de Xavier se manifestasse. Eu quase tinha esquecido o quão
incontroláveis seus acessos de raiva eram.
Só que, desta vez, eu só poderia culpá-lo pela metade.
Ele estava sofrendo. Eu pude ver isso.
Não esperava que uma criança aceitasse bem o namoro de um dos
pais com alguém jovem, muito menos quando era alguém com quem eles
próprios namoraram primeiro.
Não importava quem estava certo ou errado, eu precisava fazer com
que Xavier se acalmasse, antes que ele fizesse algo de que realmente se
arrependesse.
— Xavier, tem gente assistindo, — eu disse e agarrei sua mão,
apertando com força, fazendo-o olhar para mim.
Seus olhos escuros brilharam nos meus por um segundo, apenas para
atirar de volta para seu pai.
— Você quer Angela também, não é?
Fiquei boquiaberta.
— Você está sempre falando sobre como ela é parecida com minha
mãe, — Xavier continuou. — Você está morrendo de vontade de transar
com ela.
— Já basta disso, Xavier. Saia agora. Antes de envergonhar ainda mais
esta família, — disse Brad ao filho.
— Não se preocupe, — disse Xavier, levantando-se e jogando o
guardanapo sobre a mesa. — Você e aquela prostituta já causaram mais
constrangimento a esta família do que eu jamais poderia.
Antes que alguém tivesse a chance de responder, Penny se levantou
da mesa e deu um tapa no rosto de Xavier.
Câmeras piscaram. Pessoas aplaudiram.
Penny saiu correndo no meio da multidão, Brad logo atrás dela.
Xavier saiu furioso na direção oposta.
Afundei ainda mais em meu assento quando três garçons chegaram,
com os braços cheios de pratos quentes.
— O Peixe?

Capítulo 12
As Línguas do amor
Angela
Didi: O que diabos está acontecendo?!
Didi: Damas dos Knights: Pai e filho brigam por amantes em
comum. Xavier Knight estava indignado ontem... The Hourly Post
(Publicado 1h) Angela: Eu sei, parece ruim.
Angela: Mas tenho tudo sob controle.
Didi: Brad está dormindo com a ex de Xavier? Só quando você
pensou que as coisas com a família favorita de Nova York não
poderiam... NEW YORK MINUTE (Publicado 6h) Didi: Knights em
um sonho freudiano! Os clientes do restaurante Peacock puderam
desfrutar de um show e tanto... The Evening News (Publicado 3h) Didi:
Xavier protege Angela de um pai louco por sexo! Xavier Knight
foi forçado a proteger Angela de seu pai depois de Brad... The
New York Prophet. (Publicado 6h) Didi: Isso não parece estar sob
controle Didi: Não posso ter o leilão perto de má imprensa como
esta Angela: Que tal nos encontrarmos esta tarde?
Angela: Posso mostrar meu plano de ação.
Didi: Ok, venha ao meu escritório às 13h Deixei cair o celular na
cama ao meu lado e gemi.
Meu celular ficou aceso durante toda a manhã com alertas de
notícias.
Se isso não fosse terrível o suficiente, minha família também estava
me enviando mensagens, perguntando se o que eles tinham visto nas
notícias era verdade.
Você e Xavier estão bem?
Aquele desgraçado está te traindo?
Por que você não volta um pouco para casa para comer?
SANTO DRAMA! Venha me ver no café
Agora, acima de tudo, meu trabalho pode estar comprometido. Eu
nem tinha pensado no fato de que Didi poderia encontrar as fotos. Que
ela poderia decidir me tirar do evento.
Estendi minha mão para o outro lado da cama, o lado de Xavier, o
lado vazio.
Ele saiu cedo esta manhã, antes do amanhecer, sem dúvida para
tentar se antecipar a esse pesadelo de relações públicas.
Eu tentei falar com ele na noite passada sobre tudo o que tinha
acontecido, mas ele não queria ouvir. Ele estava muito cheio de raiva
para pensar com clareza.
Essa seria uma conversa para hoje à noite, quando as coisas
estivessem esperançosamente mais calmas.
Tendo adiado o dia por muito tempo, joguei para trás os cobertores e
saí da cama. Eu só tinha uma hora restante até que eu tivesse que
encontrar Didi.
— Angie. — Didi cumprimentou sem levantar os olhos quando apareci
na porta aberta de seu escritório. — Por favor, entre. Feche a porta.
A sede da Animas era uma fábrica modesta e reaproveitada em
Tribeca.
Uma recepcionista me conduziu por um espaço aberto e arejado até
um pequeno escritório no segundo andar.
— Obrigada, — eu respondi, fechando a porta de metal.
Sentei-me na cadeira do lado oposto da mesa de Didi.
Depois da escrivaninha, um cabideiro e uma planta de casa no canto
da sala, havia pouco espaço para mais.
Eu examinei sua mesa desordenada. Documentos e pastas de arquivos
de todos os tipos diferentes espalhados e empilhados na superfície.
Apontei para uma foto emoldurada de uma menina de cabelo de fogo
no canto oposto da mesa.
— Quem é?
— Minha filha, — disse Didi, largando o arquivo que estava lendo.
Demorou um pouco mais do que deveria para responder.
— Ela é linda.
Aqui neste escritório, Didi não era a mulher de negócios com voz de
aço com a qual eu havia me acostumado. Ela era mais suave de alguma
forma, mais humana.
— Então, o leilão, — disse. — Faltam apenas algumas semanas agora.
Eu concordei.
— Sim, quase tudo está definido. As doações, flores, bufê...
— Sim, sim, — disse Didi. — Eu li todos os seus e-mails. Tudo parece
esplêndido.
— Então o que você quer discutir?
— As notícias desta manhã, — disse Didi.
Eu olhei para o meu colo.
— Sim, eu sei que parece ruim, mas a equipe de relações públicas de
Xavier está nisso. A coisa toda será esquecida muito antes do leilão.
Didi recostou-se na cadeira.
— Eu sei como isso funciona. Afinal, estou em marketing. Além disso,
eu mesma fiz manchetes uma ou duas vezes.
— Então, sobre o que é essa reunião? — Eu fiz uma careta.
— Você. — Didi sorriu, caindo para frente para apoiar os cotovelos na
mesa. — Eu só queria saber se você estava bem. Eu sei que pode ser
muito... tudo isso. Especialmente se você não cresceu com isso.
Senti o primeiro sinal de lágrimas formigando em meus olhos e um
desejo irresistível de abraçar a mulher à minha frente.
Ela poderia estar gritando comigo sobre o mal que as notícias fizeram.
Ela poderia ter me despedido. Em vez disso, ela queria saber se eu estava
bem.
— Tem acontecido muita coisa ultimamente, — eu me peguei
admitindo.
Pode não ter sido apropriado abrir-me para um cliente assim, mas foi
muito bom conversar com alguém que não estava envolvido na situação.
Para alguém que não era tendencioso para Xavier ou para mim.
Didi acenou com a cabeça.
— Você falou com Xavier sobre alguma coisa?
— Eu tento, mas... mas as coisas têm estado um pouco estranhas
entre nós ultimamente.
— Estranho como? — Didi franziu a testa.
Hesitei por um segundo, me perguntando se seria uma boa ideia
entrar em tudo isso. Mas Didi tinha sido uma boa amiga. Ela me
contratou para o leilão e me defendeu da Darla. Ela se importou.
Respirei fundo.
— Não nos conhecíamos muito bem antes de nos casarmos, e acho
que isso está chegando até nós agora. Tem sido difícil se comunicar sobre
as coisas. Cada vez que conversamos, parece que não nos entendemos. Só
quero sentir que estamos na mesma página.
— Vou te contar uma coisa que minha mãe me ensinou, — disse Didi,
sua voz séria voltando. — Ela costumava dizer que o amor é falado em
várias línguas. Algumas pessoas através do toque, outras através das
palavras, algumas com presentes.
— Às vezes os relacionamentos se desintegram, mesmo quando duas
pessoas se amam muito, simplesmente porque não entendem como
expressar o que sentem para que seu parceiro os compreenda.
Uma expressão coquete encheu seu rosto.
— Se Xavier é como eu me lembro dele, ele é uma pessoa muito física.
Aposto que ele precisa de expressões físicas para se sentir amado.
Eu corei.
— Expressões físicas?
Didi encolheu os ombros.
— Sim. Afagos, beijos, sexo.
Ela riu, seus olhos nas minhas bochechas.
— Se a cor do seu rosto é alguma indicação, eu diria que você tem
uma linguagem de amor diferente.
Eu balancei a cabeça, corando ainda mais.
Didi suspirou.
— Se você quer se comunicar bem, aprenda a falar a mesma língua.
Ou, pelo menos, para falar duas.
Eu deixei suas palavras pairarem sobre mim.
Pensei em como Xavier parecia precisar de estimulação sexual mais
do que precisava de ar para respirar.
Palavras quase nunca eram suficientes para acalmá-lo, mas o toque
físico poderia mudar seu humor em um piscar de olhos.
Talvez houvesse algo de verdade nisso.
Talvez eu não tivesse dito a Xavier que o amava da maneira certa.
Talvez fosse por isso que parecíamos estar constantemente à beira de
uma briga nas últimas semanas.
Meu coração doeu com esse pensamento. Xavier estava chateado,
magoado, e eu não estava ao seu lado da maneira que ele precisava que
eu estivesse.
Isso tudo mudaria esta noite.
Eu estaria ao seu lado.
Eu iria mostrar a ele como me sentia de uma forma que ele
entendesse.
Já era tarde da noite quando cheguei em casa.
Depois do meu encontro com Didi, eu me encontrei com Em e
Dustin no café para dissipar todos os rumores que eles leram online.
Eu também soube que Em e Lucas encontraram uma clínica de
fertilidade e que Dustin estava quase terminando sua peça para o leilão.
Mas ele estava sendo reservado sobre isso e não me deu nenhuma
pista sobre o que a peça se tratava.
— Olá, Lucille, — chamei enquanto entrava na cobertura.
Nossa empregada estava na pia da cozinha lavando batatas.
— Boa noite, Sra. Knight. O Sr. Knight está em seu escritório.
— Ótimo, obrigada, — eu disse a ela, descendo o corredor. Larguei
minha bolsa em nosso quarto e depois me dirigi ao final do corredor,
para o escritório.
Precisávamos conversar sobre a noite passada e não parecia haver um
momento melhor do que o presente.
O jantar estaria pronto em breve, e se não falássemos agora, isso
significaria outra refeição em silêncio.
Bati de leve à porta do escritório, começando a abrir quando um
grunhido respondeu.
Xavier estava sentado na mesa com tampo de vidro, seu computador
aberto na frente dele. Seus olhos piscaram para mim, e ele apontou para
sua orelha, para os fones de ouvido sem fio aninhados ali. Ele estava em
uma ligação.
— Eu não me importo quanto custa, — Xavier rugiu para a pessoa na
linha. — Quero que o vídeo seja removido do site deles. Dê a eles o que
for necessário.
Cruzei a sala e girei minha aliança de casamento ao redor do meu
dedo enquanto esperava ao lado de Xavier.
Então as palavras de Didi voltaram para mim.
Se eu quisesse ter a melhor chance de essa conversa correr bem,
precisava falar com Xavier de uma forma que ele entendesse.
Respirando fundo, joguei minha perna sobre a de Xavier, montando
em seu colo e separando-o de seu computador.
Ele não gritou ou me empurrou. Em vez disso, uma de suas
sobrancelhas se ergueu, sua mão pousou na minha perna.
— S-sim, isso vai ficar bom. Diga-me assim que terminar.
Com a mão livre, Xavier puxou os fones de ouvido e os jogou sobre a
mesa atrás de mim.
Seus olhos correram por mim, lábios se curvando em um pequeno
sorriso.
— O que eu fiz para merecer essa surpresa?
— Precisamos conversar, — eu disse antes de perder a coragem. Antes
que ele pudesse me distrair com seus lábios ou dedos.
Xavier soltou um longo suspiro.
— Nós já estamos.
— Ontem à noite — eu comecei, arrancando um dos botões de sua
camisa.
— Eu sei. Eu... — Ele parou, pressionando os lábios em uma linha
fina.
Eu apliquei minhas mãos contra seu peito e as deixei deslizar para
cima e ao redor de seu pescoço.
— Tudo bem. Eu também fiquei surpresa. É demais para absorver.
— Ele nunca esteve com ninguém além da minha mãe, — admitiu
Xavier, mantendo meus olhos firmes. — E Penny não é nada parecida
com minha mãe.
— Eu sei que é difícil, — eu disse gentilmente. — Mas seu pai fez tudo
por você, Xavier. E para o bem ou para o mal, ele é a razão de estarmos
juntos.
Xavier se inclinou para frente, descansando a testa no meu ombro e
envolvendo os braços em volta de mim.
— Por que tem que ser ela?
Eu coloquei meus dedos em seus cabelos.
— Os dois pareciam felizes. Acho que devemos pelo menos tentar
estar feliz por eles.
— Ela é a ex-namorada de Jacques, — ele disse suavemente. — Como
você está bem com isso?
Eu soltei um suspiro.
— Você não pode escolher quem você ama, Xavier. Além disso, ela
terminou com ele, certo? Tenho certeza de que deve ter exigido muita
coragem... especialmente depois do que você me contou sobre eles.
Xavier me contou sobre como Penny ficou com Jacques por muito
tempo, apesar de seu abuso.
Meu coração doeu por ela.
Eu definitivamente poderia simpatizar com cuidar de alguém que te
machucou.
Eu sorri para Xavier.
Especialmente quando você podia ver o que havia de bom dentro
deles, tentando sair...
Ele me observou em silêncio e me perguntei o que se passava em sua
mente.
— Penny passou por muita dor de cabeça, Xavier. Ela está apenas
tentando ser feliz... e todo mundo merece isso.
Xavier cantarolou em resposta. Não estava bem concordando, mas ele
não estava gritando ou quebrando coisas também.
— Eu quero me desculpar, — ele disse, se afastando. Seus olhos
escuros seguraram os meus. — Pelo que eu disse sobre você ontem à
noite também. Por ignorar você.
Eu sorri.
— Acho que você aprendeu a lição.
Xavier gemeu, deixando sua cabeça cair para trás contra a cadeira do
escritório.
— Você não tem ideia de quanto foi uma dor de cabeça hoje.
Normalmente, meu pai lida com toda essa merda de relações públicas,
mas ele não atendia minhas ligações.
— Bem feito para você, — eu brinquei e então imediatamente me
arrependi, quando a expressão de Xavier escureceu.
— O que é que foi isso? — ele perguntou, inclinando-se para frente
para morder meu ombro de brincadeira. — Angela Knight acabou de
dizer algo maldoso?
Eu ri, tentando me livrar de seu aperto, apenas para ter Xavier
apertando seus braços em volta de mim.
— Eu acho que não, — ele rosnou, suas mordidas se transformando
em beijos.
— Xavier! — Eu chorei quando seus dedos se moveram para minhas
costelas.
Então meu celular vibrou na bolsa.
Xavier ergueu a sobrancelha provocativamente, mas parou seu
ataque, me deixando pegar meu telefone.
Em: Eu preciso que você me leve ao hospital Angela: O que há de
errado?
Em: É o Lucas.
Em: Ele sofreu um acidente de carro.
Angela: Já estou indo.

Capítulo 13
Pronto ou Não
Angela
Eu estava esperando no Hospital Mount Sinai por duas horas quando
Lucas e Em finalmente entraram na sala de espera.
No segundo que os vi, pulei da cadeira e joguei meus braços em volta
do meu irmão.
— Oh meu Deus, você está bem?
— Estou bem, Angie, — disse Lucas, me apertando com força. —
Apenas alguns arranhões e hematomas. Os médicos só queriam ter
certeza de que minha cabeça estava bem.
— O que aconteceu? — Eu perguntei, dando um passo para trás.
Havia uma bandagem em sua têmpora e alguns pontos em seu
antebraço.
— Algum idiota não leu a placa de pare, — disse Lucas. — Ele estava
em pior estado do que eu, pobre coitado.
— Você precisa ficar para mais exames? — Eu me preocupei.
— Não, o doutor disse que estou pronto para voltar pra casa — Lucas
assegurou, estremecendo ao colocar o braço sobre os ombros de Em.
Ela se enrolou ao lado dele, parecendo cerca de cem vezes mais calma
do que quando eu a peguei e a trouxe para o hospital.
Eu sabia muito bem como era receber uma chamada de emergência
no meio da noite.
Era fácil imaginar que o pior havia acontecido e que você nunca mais
veria seu ente querido.
— Bem, vamos levar vocês dois para casa então, — eu disse, ocupando
o lugar do lado livre do meu irmão e passando meu braço em volta de sua
cintura. — Apenas me dê dois minutos para fazer uma parada no
caminho.
Eu os conduzi em direção à saída e, após um breve desvio na cafeteria
do hospital, para o ar fresco da primavera.
Marco esperava no Audi, em frente ao hospital.
Xavier estava determinado a vir comigo para o hospital.
Ele só foi convencido a ficar e terminar seu trabalho quando eu
prometi que deixaria Marco me levar.
Já passava da meia-noite e Marco ainda não tinha chegado em casa.
— Você pode nos levar para a casa de Em, por favor, Marco? — Eu
perguntei ao motorista enquanto nos amontoamos no banco detrás.
Estendi a mão e entreguei a ele o café que comprei ao sair.
— Obrigada.
— O prazer é meu, Srta. Knight, — respondeu Marco, aceitando o
copo de isopor. Ele acenou com a cabeça em agradecimento e então
tomou um grande gole de café e saiu para a rua.
— Há algumas más notícias, — disse Lucas. Seus olhos se voltaram
para Em, que se sentou entre nós, por um momento antes de pousar em
mim. — O caminhão que eu dirigia estava cheio dos seus pedidos, Angie.
Senti um aperto em meu peito.
— Você quer dizer as flores para o leilão de amanhã?
Lucas acenou com a cabeça.
— Eu estava no meio do transporte do berçário para a nossa oficina
quando aconteceu o acidente. Você deveria ter visto a rua depois. A coisa
toda estava coberta de flores brancas.
— Está tudo bem, — eu disse a ele. — Podemos conseguir mais. Ainda
há tempo pela manhã.
— Não há como conseguirmos mais três mil orquídeas brancas em
menos de vinte e quatro horas. Especialmente não com um caminhão
destruído, — Em disse, pegando minha mão na dela. — Sinto muito,
Angie.
Meus ombros caíram. Eu fiz o pedido de flores para todo o evento
com Em. Não ter flores significava mesas vazias, sem decoração para as
peças do leilão, sem arranjos.
Sem flores, o salão estaria nu.
Respirei fundo para me acalmar. Tinha que haver outra maneira. Eu
só precisava pensar. Respirar.
— O importante é que você não se machucou, — eu disse, meio para
fazer minha amiga e meu irmão se sentirem melhor e meio para me
lembrar do fato.
— Eu posso fazer algumas ligações, — Em ofereceu. — Eles não vão
voltar até de manhã.
— Tudo bem. Eu vou dar um jeito. Você e Lucas já tiveram emoção
suficiente por uma noite, — eu assegurei a eles.
— Por favor, — disse Em. — É o mínimo que posso fazer. Vou
consertar isso, Angie.
— Ok, — eu concordei quando paramos na frente do prédio deles. —
Mas de manhã, por favor.
— Obrigado por vir em meu resgate. — Lucas piscou e foi ajudado
por Em no banco detrás.
— Boa noite. — Acenei.
Assim que a porta se fechou, coloquei meu rosto em minhas mãos.
O leilão estava a menos de 24 horas de distância, e todas as minhas
flores estavam espalhadas em algum lugar nas ruas sujas de Nova York.
Está tudo bem. Uma das conexões de Em terá o que eu preciso.
Ainda há tempo.
Ainda há esperança.
Afinal, quão difícil pode ser encontrar flores?
— O que você quer dizer com você não consegue encontrar as flores? —
Eu disse no meu celular na manhã seguinte.
Eu estava no meio do salão de banquetes do Tribeca Knight Hotel. Os
funcionários do hotel esvoaçavam ao meu redor.
Mesas estavam sendo montadas, cadeiras retiradas, pôsteres e luzes
eram pendurados, mas não havia uma única flor à vista.
— Você disse que um de seus amigos aceitaria o pedido, — pressionei.
Do outro lado da linha, Em suspirou.
— Eu disse que eles talvez aceitem. Sinto muito, Angie. Não sei o que
mais posso fazer. Liguei para todo mundo que conheço. Ninguém
consegue tantas orquídeas em tão pouco tempo.
— E quanto à frésia, então? — Eu perguntei, procurando uma
solução.
— Não está na temporada, — Em me disse. — Tulipas e narcisos são
as únicas coisas que você pode encontrar nessa quantidade nesta época
do ano. Eu realmente sinto muito.
— Não é sua culpa, — eu disse, fechando meus olhos. A última coisa
que eu queria era que minha amiga se sentisse culpada por algo que
estava fora de seu controle. — Te vejo mais tarde, ok?
Desliguei antes que Em tivesse a chance de responder. Eu não queria
que ela ouvisse nenhuma evidência das lágrimas que brotaram dos meus
olhos e fizeram minha garganta doer.
O leilão começa em menos de doze horas agora, e eu ainda não tinha
flores.
Eu falhei.
Xavier estava certo. Eu não fui feita para esse tipo de coisa. Eu deveria
ter feito o estágio que ele encontrou para mim.
Agora o evento estava arruinado.
Meu celular vibrou na minha mão e eu rapidamente desbloqueei meu
telefone, esperando que fosse Em com algumas boas notícias.
Xavier: Como está indo a montagem?
Meus dedos pairaram sobre o teclado por um momento enquanto eu
considerava mentir. A última coisa que eu precisava agora era Xavier se
gabando de como ele estava certo.
Mas eu chacoalhei minha cabeça. Mentir não resolveria nada.
Angela: Nada bem.
Xavier: Por quê?
Xavier: Parece ótimo aqui!
Aqui?
Oh, não...
Com uma inspiração rápida, eu rapidamente me virei, procurando no
corredor o contorno familiar dos ombros largos de Xavier.
De repente, senti alguém se aproximar por trás de mim e um par de
mãos ásperas envolveram minha barriga.
— Surpresa, — Xavier respirou próximo ao meu ouvido.
— O que você está fazendo aqui? — Eu disse muito rápido. Limpei
minhas bochechas, esperando que ele não tivesse visto as lágrimas.
— Eu estava na área para uma reunião e pensei em dar uma passada
para verificar as coisas. — Eu o senti encolher os ombros. — Além disso,
você sabe que o lugar é meu, certo?
Xavier me girou, e o sorriso em seu rosto caiu instantaneamente
quando ele viu meus olhos vermelhos inchados.
— O que há de errado?
Novas lágrimas encheram meus olhos quando a derrota caiu sobre
mim.
— Eu não tenho flores.
— Eu pensei que Em estava fazendo os arranjos. — Xavier enxugou as
lágrimas do meu rosto com os polegares.
— Ela estava, mas as flores ficaram arruinadas no acidente em que
Lucas estava ontem à noite, — eu admiti, finalmente cedendo e me
pressionando contra ele, deixando-o envolver seus braços em volta de
mim.
— Por que você não disse nada? — Disse Xavier.
— Achei que pudesse cuidar disso, mas ligamos para todas as
floriculturas de Nova Iorque, e o aviso é muito curto para conseguir o
que preciso. Eu não sei o que fazer.
Xavier riu.
— Angela, querida. Não há nada com que se preocupar.
— Como você pode dizer isso? Sem flores, todo o evento está
arruinado. Você estava certo; tudo isso foi um engano. Não sou
planejadora de eventos.
Xavier enganchou o dedo sob meu queixo, me forçando a olhar para
ele.
— Você confia em mim?
— Sim, — eu disse sem hesitação.
— Então não se preocupe com as flores. Eu cuidarei disso.
Como Xavier poderia dar um jeito nisso?
Ele gritaria para as flores crescerem mais rápido?
— Mas...
Xavier ergueu uma sobrancelha, interrompendo minhas palavras.
— Confie em mim, — ele disse, colocando um beijo na minha cabeça.
— Quando você estiver vestida para a noite, terá flores.
— Ok. — Eu solucei.
— Ok, — disse Xavier. — Agora, você quer uma carona de volta para
casa?
Eu balancei a cabeça e deixei Xavier pegar minha mão e me levar para
fora do salão de banquetes.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Tudo o que restou foi esperar.
Um banho quente e relaxante estava esperando por mim quando
voltamos para a cobertura.
Lembrando-me de agradecer a Lucille por ser tão atenciosa,
mergulhei na água com sabão, deixando-a aliviar o estresse que vinha
carregando desde a noite anterior.
Eu deixei meus olhos fecharem, respirando fundo algumas vezes para
acalmar meus nervos.
O salão estava pronto, as peças que estavam sendo leiloadas haviam
chegado e os bufês já se preparavam nas cozinhas dos hotéis.
Tudo estava pronto... exceto as flores.
Mesmo que a noite toda tenha sido um fracasso, eu estava orgulhosa
do que havia conquistado.
Eu nunca tinha feito nada assim antes na minha vida. Pelo menos,
nada nessa escala. A exposição de arte e a festa de aposentadoria não
eram nada comparadas ao leilão.
Com ou sem flores, eu fiz o melhor que pude, e isso tinha que contar
para alguma coisa.
Quando eu estava com a toalha seca, Lucille veio se juntar a mim e eu
me sentei na penteadeira. Juntas, trabalhamos para trançar e torcer meu
cabelo comprido em uma pilha de aparência luxuosa no topo da minha
cabeça.
Eu apliquei o mínimo de maquiagem — um pouco de cor em minhas
bochechas, um pouco de rímel, um pouco de brilho ao redor dos meus
olhos.
Finalmente, eu vesti meu vestido vermelho-sangue cavado nas costas.
Foi mais revelador do que eu estava acostumada, mas o corte e a cor
me fizeram sentir poderosa e corajosa. Eu imaginei que quanto mais eu
pudesse ter agora, melhor.
Uma bolsa envelope preta e um par de sapatos de salto agulha
dourados finalizaram o visual.
— Pronta ou não, — sussurrei para mim mesma enquanto examinava
meu reflexo no espelho.
— Oh, meu Deus, — eu respirei enquanto entrava no salão de
banquetes trinta minutos depois.
O chão estava coberto de feixes de orquídeas brancas, toda a sala
tomada por seu aroma.
No centro de tudo isso estava Xavier, com as mãos nos quadris.
— Como você fez isso? — Eu disse, com os saltos estalando no chão
enquanto eu cruzava a sala até ele.
— Você está deslumbrante, — ele disse, ignorando minha pergunta.
— De onde veio tudo isso?
Xavier sorriu.
— Angela, você é uma Knight agora. Por mais que eu saiba que você
odeie dar carteirada, nosso nome carrega poder. Não levei mais de meia
hora para encontrar todas as malditas flores de orquídea branca da
cidade e traze-las a este hotel.
— Obrigada, — eu respirei, jogando meus braços ao redor de seu
pescoço. — Muito obrigada.
— Da próxima vez, — disse Xavier, recuando e me olhando nos olhos,
— peça ajuda mais cedo. Você não está sozinha nisso, Angela. Quero
ajudá-la a realizar seus sonhos, não importa quais sejam.
— E se eu decidir ser uma encanadora? — Perguntei, sorrindo.
— Mesmo assim. Agora, há algumas pessoas aqui que estão esperando
para descobrir o que fazer com todas essas flores, e você tem — ele olhou
para o relógio — duas horas até que os convidados cheguem.
— Obrigada, — eu disse novamente, beijando sua bochecha, e então
corri em direção aos buquês.
Xavier tinha me salvado desta vez, mas ainda havia uma longa noite
pela frente.
E talvez fosse o nervosismo ou a síndrome de impostor, mas tive a
sensação dolorosa de que outro desastre me esperava. No entanto,
quando olhei das flores para Xavier e vice-versa, tive uma espécie de
esperança.
Esperava que fôssemos uma equipe e pudéssemos enfrentar qualquer
coisa.
De cabeça erguida.
Juntos.

Capítulo 14
Aberto ao Público
Brad
— Angela, querida, você se superou! — Eu disse, constrangendo minha
nora. Eu recuei, segurando-a com o braço esticado. — E você está divina!
— Você sempre diz isso. — Angela sorriu e beijou Penny nas
bochechas.
Aqueceu meu coração ver as duas juntas, amigáveis. Feliz mesmo.
Depois do jantar na outra noite, eu sabia que seria um risco trazer
Penny como meu par esta noite, mas me recusei a mantê-la escondida.
Eu a amava, não importa o que o mundo, ou mesmo meu próprio
filho, acreditasse. E ela merecia ser amada.
Olhei em volta para o corredor movimentado. A sala estava cheia com
os melhores de Nova Iorque, com suas peles, sedas e diamantes. Eles riam
e brindavam com taças de champanhe no reformado salão de baile do
pós-guerra.
Entre os lustres cintilantes e o doce cheiro de orquídeas pairando no
ar, a festa tinha uma sensação de luxo antigo que teria feito Audrey
Hepburn e Grace Kelly se sentirem em casa.
E então havia Penny, em seu moletom enorme.
— Você sabe que eles nem deveriam ter deixado você entrar, — eu a
provoquei. — Há um código de vestimenta.
— Claro, mas estou com o Brad Knight. — Ela riu, agitando os braços
para cima e para baixo enquanto suas mangas balançavam no ar. — Isso
vem com seu próprio conjunto de vantagens.
— Como comparecer a um evento formal de pijama? — Eu me
perguntei.
— Estou tão cansada de usar vestidos, — Penny insistiu. — Eu faço
isso o suficiente sempre que tenho que cantar.
Eu sorri, balançando minha cabeça, maravilhado.
Mesmo em suas roupas casuais, Penny ofuscou todos os outros ali.
E eu tinha que admitir que meio que preferia quando ela não estava
toda arrumada para o palco.
Ela parecia mais confortável.
Natural.
Linda.
Penny percebeu que eu estava olhando. Ela corou e olhou para baixo,
de repente descobrindo que seus sapatos Converse eram incrivelmente
interessantes.
Angela pigarreou com uma pequena risada.
— Hum, oi, — ela brincou. — Ainda aqui.
Eu sorri e olhei para minha nora.
— Onde está Xavier? — Eu perguntei a Angela.
— Conseguindo algumas bebidas para nós, — disse Angela,
segurando uma taça de champanhe vazia. — Só pensei em dar um pulo e
dizer olá antes do início dos lances.
— Mal posso esperar para ver o que está em leilão, — disse Penny ao
meu lado. Ela tinha uma afinidade com o que chamava de móveis —
retrô. — Todo o apartamento dela parecia algo da minha infância.
— Existem algumas peças ótimas, se assim posso dizer, — disse
Angela, seu blush característico pintando suas bochechas de vermelho.
Um par de ombros largos familiares chamou minha atenção, me
fazendo virar.
— Ron, — chamei, avistando meu antigo assistente enquanto ele
pegava um canapé de uma das bandejas de prata do garçom. Com um
sorriso tenso, ele se aproximou de nosso grupo.
— É ótimo ver você. Estou tão feliz que você decidiu vir, — eu disse a
ele, apertando sua mão. — Eu ainda me sinto péssimo sobre como meu
filho tratou você.
— O que Xavier fez? — Angela perguntou, com suas sobrancelhas
franzindo de preocupação.
— Ele demitiu Ron! — Eu disse a ela, jogando meu braço sobre o
ombro do pobre menino. — Disse que sentiria como se eu estivesse
observando cada movimento seu com Ron lá.
— Eu entendo a escolha, — disse Ron. — Tive acesso íntimo a todos
os aspectos dos negócios e da vida privada da Knight por anos. Xavier
precisa de um novo começo para se sentir confiante em sua nova função.
— Você sempre foi um homem honrado, — eu disse a ele, batendo em
suas costas.
— Oh! — Angela disse de repente, jogando a mão no ar em um
pequeno aceno. — Ali está minha chefe.
Seu entusiasmo era cativante.
— Você deve nos apresentar, — eu disse.
Angela me deu um olhar confuso.
— Vocês já não se conhecem? Você é quem nos conectou.
— Trabalho com a Animas há anos, — disse a ela. — Barbra, a chefe
de marketing, se aposentou alguns meses antes de mim. Eu não conheci
sua substituta.
— Bem, você vai amá-la. Vou buscá-la e já volto. — Eu assisti a Angela
disparar através da multidão para o lado de uma mulher.
Quando a mulher se virou para nós para abraçar Angela, meu coração
parou no meu peito. O cabelo ruivo, as roupas espalhafatosas... não podia
ser.
— Brad, — ouvi Penny dizer. Sua voz parecia distante. Como se
estivéssemos em lados opostos de um túnel. — Brad, o que há de errado?
Parece que você viu um fantasma.
— Oh, não, — eu sussurrei, balançando minha cabeça. — O que eu
fiz?
Angela
Enquanto eu me curvava no meio da multidão em direção a Didi, com o
brilho esmeralda de seu vestido brilhando como a pele de uma cobra sob
a luz do lustre, eu não pude evitar a agitação de nervos que encheu meu
estômago.
O evento estava perfeito até agora.
As pessoas estavam bebendo, sorrindo, conversando, e a sala parecia
exatamente como eu imaginei, os canapés estavam incríveis e os lances
começariam a qualquer segundo.
Tudo parecia ótimo, mas sem o selo de aprovação de Didi, tudo seria
em vão.
Quando me aproximei dela e do grupo de membros do conselho da
Animas com quem ela estava falando, estendi a mão e coloquei minha
mão em seu ombro.
— Desculpa por interromper.
— Angie, — disse Didi, pegando minha mão na dela e beijando meu
rosto no ar. — O lugar parece ótimo! As pessoas já estão comentando
sobre como o leilão deste ano está muito melhor, e o leilão ainda nem
começou.
— Fico muito feliz em ouvir isso, — eu disse a ela, apertando suas
mãos com força. — Eu tenho algumas pessoas que eu gostaria que você
conhecesse. Se eu puder te roubar por um segundo.
— É claro, é claro. — Ela puxou uma das mãos e acenou. — Mostre o
caminho.
Quando me virei para levar Didi de volta para Brad e Penny, um
grande estrondo ecoou pelo corredor, fazendo todos olharem para a
frente da sala.
A leiloeira estava no palco na outra extremidade da sala, batendo seu
martelo.
— Boa noite, senhoras e senhores, — ela disse. — O leilão já está
aberto. Vamos começar com o primeiro item.
Dois homens carregaram um grande retângulo coberto com tecido
até o centro do palco.
— Esta pintura é uma peça original do artista Dustin Sterling. A
licitação começará em dez mil dólares.
O pano foi arrancado da pintura e a sala explodiu em um suspiro
coletivo.
Meu sangue gelou em minhas veias.
Minha taça de champanhe vazia se espatifou no chão.
— Ai, meu Deus, — ouvi Didi dizer. — Aquele é...
Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça e olhar para o palco
onde, em detalhes realistas, estava uma representação perfeita de Xavier.
Se masturbando.
Xavier
Um bocado de negroni saiu dos meus lábios e tive um ataque de tosse.
— Que porra? — Murmurei, enxugando o queixo com as costas da
mão e olhando para baixo para garantir que não tinha cuspido em todo o
meu terno Valentino.
Alguns dos outros convidados da festa se viraram para olhar para
mim. Seja porque eu acabei de dar banho em todos eles com Negroni ou
por causa da réplica em tamanho real do meu corpo nu exibida no palco,
eu não tinha certeza de qual.
Tudo que eu sabia era que precisava encontrar o maldito Dusty para
poder torcer seu pescoço esquelético.
Como Angela pode ter deixado esta peça no leilão?
Como Dusty sabia como eu parecia?
Enquanto eu abria caminho por entre a multidão de pessoas, ainda
segurando duas bebidas, placas começaram a voar no ar.
— Dez mil dólares. Eu tenho dez mil dólares.
Eu ouvi quinze mil dólares? — o leiloeiro tinha começado.
Senti uma pontada de raiva tingida de vergonha aquecer minha nuca.
Quem diabos iria querer uma pintura minha puxando meu pau
pendurado sobre a lareira?
— Vinte mil dólares. Eu tenho vinte mil dólares. Eu ouvi trinta mil
dólares?
Isso estava ficando fora de controle. Onde diabos Dusty poderia estar?
Parei no centro do corredor, esticando o pescoço, usando minha
vantagem de altura para espiar por cima da multidão.
Eu congelei por um segundo, quando uma cabeça de cabelo vermelho
de aparência familiar chamou minha atenção, mas então balancei minha
cabeça.
Não, não pode ser.
Ela não vinha para esse tipo de coisa.
Ela não seria tão insensata.
Fui tirado de meus pensamentos um segundo depois, quando meus
olhos pousaram em outra pessoa, alguém melhor, e eles estavam
apontando direto para mim.
— Xavier! — Angela disse, com seus olhos arregalados enquanto ela
atravessava a multidão e batia no meu peito.
— Bellini? — Ofereci a ela um dos copos em minhas mãos e disse: —
Que porra é essa?
— Não tinha ideia, — disse ela. — Ele não me contou. Você tem que
me perdoar.
— Apenas me ajude a encontrar Dustin e tirar aquela peça do palco,
— eu disse a ela, caminhando em direção ao leiloeiro.
— O quê? Não! — Angela gritou, pegando meu antebraço. — Não
podemos tirá-la. Você já arrecadou quinhentos mil dólares para a
Animas.
— Quinhentos mil dólares? Alguém está pagando quinhentos mil
dólares por uma pintura minha me masturbando? — Eu repeti,
atordoado. E olhei de volta para a pintura, — Eu realmente pareço muito
bem.
— Xavier, — disse Angela novamente.
— O quê? Eu nunca percebi o quão bom artista Dustin era antes.
Angela revirou os olhos.
Dei de ombros.
— Você disse que não podemos retirá-lo do leilão. O que eu deveria
fazer?
— Dê um lance, — sugeriu Angela, puxando minha placa do bolso do
meu terno. — A menos que você queira que um estranho compre seu
retrato nu.
— Setecentos e cinquenta mil dólares? — o leiloeiro chamou.
Angela ergueu nossa placa no ar.
— Eu tenho setecentos e cinquenta mil dólares. Eu ouvi oitocentos
mil dólares?
Um novo punhado de placas disparou, me fazendo gemer. Angela se
moveu para levantar o nosso novamente, mas eu estendi a mão,
agarrando a placa.
— Não adianta, — eu disse a ela. — Há muita competição. Não vou
pagar um milhão de dólares por uma pintura do meu próprio pau duro.
Vamos encontrar meu pai. Ele saberá o que fazer.
Se ele estiver disposto a ajudar...
Eu não tinha falado com meu pai desde aquela noite no restaurante.
Eu disse um monte de coisas estúpidas. Estúpidas o suficiente para que
eu não o culpasse se ele não quisesse nada comigo.
— Eu os deixei lá, — Angela disse, me levando em direção ao outro
lado da sala.
A multidão explodiu em aplausos ao nosso redor quando a licitação
do quadro foi encerrada e a próxima peça foi trazida para o palco.
— Brad! — Angela chamou antes de mim, e meu pai e Penny
apareceram. — Brad, a pintura.
— Eu sei, querida, — ele concordou solenemente.
— Eu sinto muito, — disse Angela a ele. — Não fazia ideia que a
pintura era do... Xavier.
— Está tudo bem, minha querida. Nenhum dano causado, — papai
garantiu a ela, puxando-a para um abraço de um braço só.
— Sem problemas? — Eu perguntei. — Alguém acabou de comprar
uma pintura minha daquele jeito.
— Eu comprei, — disse papai.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
— Você? Por quê?
— Eu não poderia ter uma pintura do meu filho com seus ovos e
bacon soltos em público, — meu pai disse. — Especialmente depois da
má imprensa no início desta semana.
Eu senti uma sensação desconfortável crescer dentro de mim. Uma
que eu não estava acostumado a sentir. Uma que apenas meu pai e
Angela poderiam me fazer sentir. Meus olhos caíram para o chão como
se eu de repente estivesse fascinado com o design dos meus oxfords, e o
calor começou a subir pelo meu pescoço.
Vergonha.
Culpa.
Arrependimento.
Eu engoli em seco e depois olhei para cima, olhei meu pai nos olhos.
— Obrigado.
— Está tudo bem, filho — ele disse, estendendo a mão e colocando a
mão no meu ombro.
Havia mais palavras borbulhando agora, como se, uma vez que eu
dissesse uma coisa boa, fosse impossível parar.
— E eu... sinto muito por como me comportei na outra noite. Estou
feliz que você encontrou alguém, pai.
O sorriso do meu pai cresceu dez vezes, e ele me envolveu em um
abraço.
— Obrigado, meu menino.
Eu me virei e olhei para Penny por cima do ombro do meu pai.
— Eu também me desculpo com você. Está claro que você está
fazendo meu pai um homem muito feliz.
A linha defensiva de seus ombros caiu, com um pequeno sorriso
brincando nas bordas de seus lábios carnudos. Ela acenou com a cabeça
uma vez, aceitando o pedido de desculpas, seus olhos dançando entre
Angela e eu.
— Estou feliz que você encontrou seu alguém também.
Com o canto do olho, vi um flash vermelho e meu coração parou no
meu peito.
Novamente, eu balancei minha cabeça.
Não. Não poderia ser. Eu estava errado.
Ela não estava aqui.
— Que tal outra bebida? — Papai sugeriu.
Eu me encontrei balançando a cabeça.
— Ah, um segundo, acabei de ver Didi de novo, — disse Angela. — Eu
quero apresentá-la a todos.
— Didi? — Eu fiz uma careta.
— Minha chefe, — disse Angela, e então chamou:
— Didi!
— Oh, não, — meu pai sussurrou ao meu lado, puxando Penny para
perto de seu lado.
Meus olhos se voltaram para ele.
— Eu não tinha ideia, — ele me disse com fervor. — Acredite em
mim, Xavier.
Minha visão ficou vermelha quando Angela puxou outra mulher para
nosso pequeno círculo.
De repente, minha gravata estava muito apertada. Não consegui
respirar ar suficiente.
Meu pulso martelou em meus ouvidos.
A sala começou a girar ao meu redor.
— Claudia, — eu me peguei dizendo, olhando-a bem nos olhos.
Angela se virou para mim.
— Não, é Didi.
Eu balancei minha cabeça.
— Acho que reconheceria a mulher de quem estava noivo.

Capítulo 15
Trovão e Relâmpago
Claudia
Passaram-se anos desde a última vez que estivemos em um quarto
juntos. Anos desde que vi seu rosto, ou senti suas mãos em meu corpo,
ou ouvi as palavras doces que ele sussurrou em meu ouvido.
Minha vida com Xavier parecia ter acontecido séculos atrás, e pode
muito bem ter sido.
Eu era diferente então. Diferente agora.
No entanto, ele parecia o mesmo. Tão sombrio e perigoso, como um
jovem Zeus, crepitando com energia e poder.
Muitas vezes me peguei pensando nele, em nós. Foi tudo há muito
tempo, as memórias eram brilhantes, mas borradas, como o mundo
girando do lado de fora de um passeio de carrossel. O romance, a paixão,
o sexo... tudo tinha sido real?
A memória da maneira como nossos quadris haviam se firmado
juntos, a maneira como nossos lábios e línguas lutavam pelo domínio,
era muito vívida para não ser.
Xavier e eu éramos bons juntos da mesma forma que o trovão e o
relâmpago. Nosso amor foi alto, brilhante e rápido... e acabou tão rápido
quanto havia começado.
Pelo que li, nossa tempestade deixou muitos danos colaterais. Muita
raiva, mágoa e álcool.
Pelo menos eu não era a única com dor.
Mas então ela chegou, quase da noite para o dia, como se tivesse sido
arrancada de uma loja de bonecas e trazida à vida.
Uma pequena Barbie.
Uma princesa perfeita e dócil.
Seu anjo.
De repente, ele estava sorrindo novamente. Feliz novamente. Cheio.
Enquanto isso, fui esquecida. Deixada de lado. Isso me sangrou até
ficar seca e apodrecer.
Não era justo.
Eu merecia mais, melhor e não ia deixar ninguém me impedir de
conseguir. Não ele, não o homem que me fodeu, e definitivamente não
Angela.
Eu podia ver o pânico crescendo nele enquanto agarrava sua esposa e
fugia do salão.
Nós nos conhecíamos muito bem para ele ter ficado. Ter esperado
para ver o que aconteceria, o que eu faria... Esses jogos de gato e rato
eram o que nós dois mais jogávamos.
Angela, sua ratinha minúscula, não passava de um brinquedo. Isso
ficou claro desde o momento em que nos conhecemos. Eu a fiz obedecer
a todos os meus pedidos. Uma mulher assim não poderia lidar com um
Knight.
Não, Xavier precisava de uma leoa, uma mulher forte, e deixe-me
dizer, eu estava à espreita. A única pergunta era: quando eu atacaria?
Eu procurei na multidão no leilão, e meus olhos pegaram o jovem de
ombros largos com quem Brad tinha falado antes, e sorri.
Perfeito.
Xavier
Minha visão estava vermelha.
Não havia nenhum pensamento por trás do que veio a seguir, apenas
puro instinto animal que me fez agarrar Angela pelo braço e correr.
Eu encontrei a porta com meus olhos e empurrei a multidão em
direção a ela.
Não importava quem estava no meu caminho ou quem parou para
cumprimentar. Eu os empurrei de lado, fixado em passar pela porta
aberta.
Saia. Saia. Saia.
Mais rápido. Mais. Mais.
A necessidade de fugir, de colocar o máximo de distância entre ela e
nós estava me consumindo.
Eu não tinha visto minha ex-noiva desde a noite em que a encontrei
transando com meu melhor amigo.
Desde que eles me traíram.
Desde a noite em que voltei para casa de uma viagem de negócios
para encontrá-la montada em Daniel, estilo cowgirl, no centro da minha
cama.
Minha resposta naquela noite foi a mesma de agora. Afaste-se. Saia.
Corra.
Eu corri direto para a rua, mas ela me seguiu. Gritou comigo. Mil
desculpas saindo de seus lábios.
Eu revivi o momento que veio a seguir mais vezes que eu queria
lembrar. Um táxi dobrando a esquina, vindo direto para ela.
Algum instinto primitivo, ainda voltado para proteger a pessoa que eu
amava, me fez virar e empurrar Claudia para fora do caminho, levando o
impacto eu mesmo.
Tudo depois disso foi dor.
Meu corpo.
Meu coração.
Minha vida inteira, porra.
Eu perdi tudo naquela noite. A mulher que eu amava, minha melhor
amiga, eu mesmo.
Eu usava a cicatriz nas minhas costas como um lembrete constante de
tudo. Eu podia sentir isso queimando agora, como se estar tão perto de
Claudia depois de todo esse ano o tivesse deixado inflamado. Como se
tudo estivesse acontecendo de novo.
Corri para fora do hotel e fui para a rua, só que dessa vez Marco
estava lá esperando.
Carros buzinaram. Portas bateram.
Alguém estava falando perto de mim. Ao meu lado. Dizendo meu
nome.
No entanto, eu não conseguia me concentrar na palavra. Não quando
meu coração estava batendo tão rápido que doía. Não com a sensação de
formigamento que vibrou sob minha pele.
Mais rápido.
Mais longe.
Mais.
Pensamentos e memórias borrados juntos apareceram.
Claudia envolta em meus braços. Claudia me surpreendendo com
uma viagem a St. Barts no meu vigésimo quinto aniversário. A cabeça de
Claudia jogada para trás em êxtase enquanto montava no pênis de
Daniel.
Achei que tinha escapado de tudo isso. A dor, o medo e o ódio. Mas de
repente eu soube que nunca faria isso. Se Claudia estivesse de volta, isso
só poderia significar uma coisa. Ela queria algo.
Mas o quê?
Angela
Eu nunca tinha visto Xavier assim antes.
Não achei que o homem soubesse o que era o medo, mas a expressão
em seus olhos quando viu Didi foi de completo terror.
Mesmo agora, enquanto andava de um lado para o outro no piso de
madeira da sala de estar da cobertura, ele ainda zumbia com a energia
nervosa.
Tentei falar com ele, acalmá-lo, no saguão do hotel e no carro, com
pouco sucesso.
Eu não sabia o que fazer com a situação. Havia tantas perguntas que
não paravam de surgir. Com o estado atual de Xavier, não parecia que eu
receberia respostas tão cedo.
— Xavier, — tentei novamente. Eu estava parada a poucos metros
dele, ao lado do sofá.
Nada ainda.
Eu mordi meu lábio, a preocupação me lavando.
Eu precisava de uma nova técnica se quisesse alguma chance de
chegar até ele.
Xavier se virou na frente da sala e eu entrei em seu caminho, jogando
minhas mãos para pressionar suavemente seu peito.
— Xavier.
Finalmente, seus olhos encontraram os meus.
— Angela.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei com cuidado. — Você
está me assustando. Me fala o que está acontecendo. Como posso ajudar?
— Não consigo descobrir o que ela quer, — ele disse. — Por que ela
fez isso. Deve haver um plano. Meu Deus, está calor aqui.
Ele puxou a gravata, tentando abrir espaço na garganta, mas suas
mãos tremiam muito para conseguir.
Gentilmente, eu fui até ele, afastei suas mãos e puxei a gravata
borboleta de seu pescoço, desfazendo alguns botões de sua camisa ao
mesmo tempo.
— Que tal pegarmos um pouco de ar? — Eu sugeri.
Ele me seguiu pelo corredor e subiu as escadas que levavam ao
telhado. Tínhamos um jardim lá, completo com terraço e piscina.
Contudo, raramente era usado, exceto nas poucas vezes nos meses de
verão que eu podia sair para ler em uma das espreguiçadeiras.
Peguei Xavier pela mão e o levei para uma daquelas espreguiçadeiras
agora. Fiz ele se sentar ao meu lado.
— O que ela fez com você? — Eu me perguntei baixinho, procurando
seus olhos.
Xavier franziu a testa, cerrando as mãos em seu colo.
— Eu disse a você o que ela fez.
Ele tinha. Eu sabia a verdade. Sabia que ele a pegou o traindo com seu
melhor amigo. Sabia que ela era a razão das cicatrizes nas costas e no
coração.
Ainda assim, sua reação foi muito forte. Eu encontrei outra questão
borbulhando à superfície, a única explicação que fazia sentido para mim.
— Você ainda ama ela?
Xavier inalou audivelmente, seus olhos escuros brilhando nos meus.
— Não.
Eu estremeci de alívio.
— Então por que você está agindo dessa maneira?
— Ela está planejando algo, — ele disse. — Só não sei o quê.
— O que ela possivelmente estaria planejando?
Xavier balançou a cabeça.
— Eu não sei, mas é o que ela faz. Claudia toma o que quer, custe o
que custar. Não posso deixar que ela me machuque assim de novo. Não
posso perder mais pessoas que amo.
Coloquei minha mão em sua bochecha pálida.
— Você não vai perder ninguém.
— Você não sabe disso. Você não a conhece como eu. Você está
trabalhando com ela há semanas, e tudo o que ela fez foi te alimentar
com mentiras.
— Xavier...
— Não, Angela. Eu não quero que você a veja novamente. Por favor.
Eu te amo muito. Eu-eu não posso...
Suas palavras foram cortadas por um músculo pulando em sua
mandíbula enquanto ele lutava com qualquer escuridão que o tivesse
agarrado.
Eu congelei por um momento quando suas palavras me atingiram.
Eu te amo.
Foi a primeira vez que ele disse isso para mim sem ver meu corpo nu.
Eu sabia então do que se tratava. Como eu poderia consertar.
Lentamente, inclinei-me e dei um beijo em sua bochecha.
— Eu também te amo.
Xavier se acalmou, então coloquei outro beijo em seus lábios.
— E eu não vou a lugar nenhum, — eu prometi. — Eu estou bem
aqui.
A tensão o abandonou quando eu o beijei novamente.
Ele respondeu ansioso, faminto.
— Diga-me que você é minha.
— Eu sou sua, — eu jurei, falando sério.
Sua mão veio e se enroscou no meu cabelo, sua testa apoiada na
minha.
— Eu preciso de você agora.
— Você me tem.
Estendendo a mão, comecei a abrir caminho para os botões de sua
camisa.
Xavier tirou o paletó e depois me deixou tirar a camisa de seus
ombros largos.
Arrepios se formaram em uma trilha em sua pele enquanto eu corria
meus dedos ao longo de seu peito nu.
Xavier estremeceu.
Meu vestido veio a seguir. Saiu por cima da minha cabeça.
Então Xavier estava me empurrando contra a poltrona, seu corpo
pairando sobre mim. Peito com peito, quadris se esfregando.
Xavier mordeu minha orelha, meu pescoço, meu ombro, com sua
mão descendo pelas minhas costelas para alcançar o topo da minha
calcinha.
Pela primeira vez, nenhum medo surgiu. Em vez disso, cravei minhas
unhas em suas costas, precisando dele mais perto.
Encorajado, sua mão mergulhou sob a bainha da minha calcinha, seus
dedos habilmente encontrando meu pequeno centro de nervos.
Eu engasguei, uma onda de prazer rolando sobre mim, enquanto seu
dedo circulava.
A mão de Xavier se moveu para baixo, mais perto do meu núcleo, e ele
soltou um gemido.
— Porra, você está molhada.
— Eu quero você, — eu respirei, com a cabeça girando.
Xavier grunhiu e deslizou minha calcinha pelas minhas pernas. Ele se
atrapalhou com o cinto e tirou os sapatos e as calças.
E então estávamos nos movendo.
Dançando.
Colidindo.
E eu não estava com medo.
Quando chegou a hora, Xavier trabalhou comigo através da dor,
transformou-a em um pico tão brilhante e cegante que eu estava
gritando seu nome.
Depois, quando eu estava envolta em Xavier e me sentia mais
completa do que o céu salpicado de estrelas acima de nós, ele disse: —
Case-se comigo.
Eu ri, corando.
— Estou falando sério, — disse Xavier, empurrando-se um pouco.
Ele pegou minha mão esquerda e deslizou meu anel de noivado do
meu dedo.
Meus olhos se arregalaram quando ele caiu de joelhos diante da
espreguiçadeira, ainda completamente nu.
— Angela, você vai me permitir a honra de fazer isso direito? Fazendo
do jeito que deveria da primeira vez? Eu te amo. Mais do que eu jamais
acreditei ser possível. Você quer se casar comigo?
Lágrimas encheram meus olhos e estendi minha mão trêmula.
— Sim.

Capítulo 16
O dia seguinte
Angela
Eu estava grávida.
Ou pelo menos o mundo pensou que eu estava grávida.
Aparentemente, o mundo incluía as pessoas em minha vida que
deveriam definitivamente saber que eu não estava grávida.
As manchetes eram como tiros disparados, marcando o início de
interrogatórios de telefonemas que chegavam ao meu correio de voz. A
cada segundo, outro telefonema vinha em minha direção.
Agora, todos a quem eu tinha dado meu número tinham me colocado
na discagem rápida.
Meu telefone estava mudo. Eu mal conseguia ouvir meus próprios
pensamentos sobre os sons de alertas de notícias aparecendo na tela do
meu computador como jatos comerciais caindo do céu.
Eu folheei as mensagens de voz, excluindo mensagens preocupadas
como se isso pudesse apagar o caos.
BEEP.
— MDS. Você está grávida? — Dustin disse na máquina. — A In Touch
me ligou, e eu queria saber se eu poderia dar a eles um comentário sobre
seu estado emocional, sendo que eu sou seu número um...
BEEP.
— Angie, por que você não nos contou as notícias incríveis? — Papai
entrou na conversa. — Eu não posso acreditar que finalmente vou ser avô
e tive que descobrir na Us Weekly. Precisamos comemorar...
BEEP.
— Ei, querida, é o Brad. Achei que provavelmente fossem apenas as
revistas... Juro que tentaram publicar que eu estava grávido alguns anos
atrás. Alguma narrativa estranha sobre alienígenas, você sabe, lixo. Mas,
para o caso de não ser uma inseminação artificial de Netuno, ligue-me
rápido antes de eu falir uma empresa de mídia...
BEEP.
— Angela, é a Lucille. Assim que eu chegar em casa, farei meu
ensopado pré-natal especial...
BEEP.
— IRMÃ! Você precisa me ligar agora, ok? Isso é realmente enorme, e
você simplesmente não pode continuar ignorando as ligações de todos.
Eu sabia que não poderia continuar negligenciando o que todos
estavam dizendo. Mas eu poderia ignorar por agora, certo?
Xavier já estava viajando para o Japão para um evento de negócios no
fim de semana, 3. 000 milhas acima da crise. Eu estava sozinha e — de
acordo com as notícias — com meu filho ainda não nascido.
Eu não suportaria sair de seus lençóis de cetim e enfrentar o mundo,
especialmente porque eles ainda tinham seu cheiro almiscarado.
Era quase meio-dia e meu estômago doía por algo, qualquer coisa,
para comer.
Mas eu estava com mais fome de estar perto dele, perto da sensação
de seu corpo se inclinando sobre mim, pressionando minhas mãos para
baixo, seu peito contra meus seios. A maneira como ele me beijou
enquanto abria o zíper do meu vestido, deslizando entre esses lençóis...
Agora eu sabia o quão insuportável tinha sido para ele, ter que esperar
todos aqueles meses por mim. Ele acabou escapando de mim esta manhã,
e já parecia que eu poderia implodir de desejo.
Não pude deixar de lembrar como, depois, eu me encaixaria
perfeitamente no recanto entre seu peito e ombro. Como seus braços
aparados me envolveriam como veludo. Eu não conseguia entender
como ele podia ser tão firme e ao mesmo tempo tão macio, como uma
garota trêmula protegida por mãos de titânio.
Mas agora, o mundo exterior já havia invadido nossa festa.
Nosso romance foi um alerta de notícias.
O relatório era que Xavier e eu, que acabávamos de nos tornar um
casal de verdade, estávamos nos tornando pais.
As manchetes levantaram a questão de "Estou grávida?" dentro da
minha cabeça como açúcar passando por claras de ovo. Era tudo fofo,
mas vazio. Isso obstruiu minhas ondas cerebrais, me tornando incapaz de
pensar em qualquer coisa além disso.
Como os tabloides souberam informar sobre minha — gravidez —
logo depois que Xavier e eu finalmente fizemos aquilo? O momento era
perturbadoramente perfeito.
Abaixei minha barriga. Eu estava inchada, tudo bem, mas tão
inchada?
Acordei com náuseas, mas também acordei com milhares de sites que
analisavam meu estado ginecológico. Isso foi o suficiente para deixar
qualquer um doente.
Com minha sorte, provavelmente ficaria grávida exatamente quando
não queria... e queria estar pensando na noite passada.
Eu queria estar enrolada ao lado dele, respirando sua essência com
cada inspiração. Eu queria estar tremendo com ele explodindo dentro de
mim, e seu corpo jorrando sobre mim como uma chuva de meteoros
espetacular.
Era como se suas unhas ainda estivessem cravando em minhas costas,
seus lábios ainda dançando ao longo do meu pescoço... Eu dei a ele tudo
de mim, e ele me deu uma nova pessoa de volta. Cada célula em mim
renasceu, despertou e ansiava por ele mais e mais.
Mas, em vez de Xavier, minhas mãos estavam cheias de mensagens de
voz.
Todos queriam saber o que estava acontecendo, mesmo que eu mal
tivesse acordado, ainda presa na memória vibrante de ontem.
Bem... nem todos.
BEEP. BEEP.
Meu celular vibrou com uma mensagem de Em. Em!
Já era hora.
Eu normalmente despejo todas as minhas emoções confusas sobre ela
o mais rápido possível. Ela provavelmente estava confusa sobre por que
eu não a tinha informado ainda. Peguei meu telefone, pronta para
desabafar com ela sobre Xavier, sobre as manchetes e sobre Didi.
Em: O que diabos está acontecendo?
Angela: Por onde você andou?
Angela: Eu tenho muito para te contar.
Em: Duvido, quero ouvir.
Em: Ugh, isso é tão injusto, Angie.
Em: Não acredito em você.
Angela: O que você quer dizer?
Angela: Desculpa.
Angela: Podemos nos encontrar?
Em: Okay
Em: Onde?
Angela: Que tal uma terapia?
Em: Eu preciso de comida reconfortante.
Angela: (3 emojis de sorvete)
Em: Talvez.
Angela: O sorveteiro na Quinta?
Em: Vejo você lá.
Enquanto eu caminhava entre as butiques e restaurantes exuberantes,
tive o cuidado de ficar longe de qualquer loja de maternidade. Caramba,
eu nem queria estar perto de um bebê.
Nós nos conhecemos no centro da cidade, onde até as toalhas eram
de alta costura. Luzes de contos de fadas cobriam o exterior de cada
exposição hipnotizante. Segui o caminho arborizado, percebendo que as
pessoas estavam olhando para mim — me reconhecendo.
Isso era impossível. As pessoas sabiam meu sobrenome, não eu.
Mas agora, eles conheciam meu rosto. Senti seus olhos em mim
enquanto me dirigia para a barraca de gelato, onde a única pessoa que eu
encontraria lá não se importava em olhar para mim.
Em já estava comendo sua delícia de mocha de avelã, nem mesmo
percebendo que eu estava lá.
Eu verifiquei meu relógio. Cheguei cinco minutos adiantada. Ela
pediu antes de eu chegar aqui?
Sempre fomos meio bobas, porque eu nunca conseguia me decidir
sobre um sabor e ela sempre queria experimentar dois.
— Você não esperou por mim! — Eu brinquei, apertando Em em um
abraço. Ela não envolveu seus braços em volta de mim. Em fez uma
careta, os olhos inchados de desprezo.
— Bem, Angie, você não esperou por mim.
Sobre o que ela estava falando?
— O que você quer dizer? Estou cinco minutos adiantada, —
expliquei.
— Eu não estou falando sobre isso. Estou falando sobre o que todos
estão falando, Angie, — disse ela, esfregando minha barriga. Eu tirei a
mão dela.
— Ouça aqui, sobre toda a gravidez...
— Eu nem sabia que você e Xavier estavam transando! — ela deixou
escapar.
Eu olhei ao redor em pânico. Parecia que ninguém tinha ouvido falar,
mas a ideia de alguém descobrir que eu ainda estava conhecendo meu
marido me fez sentir como um refrigerante sendo sacudido, pronto para
explodir em uma confusão escura e aquosa.
— Bem... — Eu sorri, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas
com a memória da noite passada. — Acabamos de fazer. Uma vez.
— Você transou uma vez, e agora está grávida?! Só pode estar
brincando comigo. Lucas e eu estamos tentando engravidar há meses, —
Em respondeu. — Eu não posso acreditar nisso. Eu sinto... O que há de
errado comigo?
— Oh, Em, não há nada de errado com você, — eu disse, percebendo
que essa possibilidade na minha vida era uma seta gigante de néon
apontando o que não havia acontecido com ela. — Talvez seja... seu
parceiro?
— Você quer dizer meu marido? Você é a irmã dele? — Em disparou
de volta.
Meu nariz enrugou em desgosto.
— Ugh, não me lembre. Não acredito que você transou com ele! — Eu
gemi.
— Oh, querida, levei ele à loucura, — ela enfatizou, piscando para
mim, feliz por me servir de um desconforto vingativo.
— Em, pare com isso antes que eu vomite no seu sorvete! — Eu gritei.
Sim, eu estava com nojo, mas feliz por ela não estar com raiva de mim
por seus problemas de gravidez. Eu certamente precisava da minha
melhor amiga para me ajudar a superar o meu.
— Escute, Em. As únicas pessoas que dizem que estou grávida
trabalham para tabloides. É uma notícia, não a história verdadeira, —
expliquei.
— Então, você não está grávida? — Em disse, com seus olhos
brilhando.
Por mais que eu ache que ela quisesse apoiar, ela não podia. Ela
precisava de apoio.
Você não poderia ser uma ponte e o carro passando por ela ao mesmo
tempo.
— Não, eu nunca estive grávida, — admiti.
Eu precisaria dizer isso cem vezes para todas as pessoas que
importavam.
Quem se importava com o que um bando de estranhos pensava? Em
nove meses, eles enfrentariam muitas decepções.
Mas para papai e Brad, e quase todos os outros que me conheceram
antes de eu ser digna das manchetes, essa decepção viria assim que eu
voltasse para casa.
— Então espere, eu estava tão obcecada com meu útero inútil que
não processei algo que você disse, — disse Em. — Você e Xavier selaram o
acordo?
— Nós fizemos amor, Em, — eu sussurrei, tão emocionada por
finalmente contar a alguém a verdadeira notícia monumental.
— Garota, você TRANSOU! Eu estou tão feliz por você! — ela
exclamou, rindo enquanto eu ficava cada vez mais quente e
provavelmente vermelha.
Peguei seu sorvete e dei uma mordida enorme.
— Pegue o seu, Angie! — Em repreendeu de brincadeira.
— Oh, desculpe. Eu só precisava resfriar o ar. — Eu ri de volta.
Em, ainda impressionada com minha ousadia, começou a gritar.
— Tudo bem então, minha deusa. É hora de uma festa de despedida,
— ela brincou. Sobre o que ela estava falando? Quem estava indo
embora? Eu lancei a ela um olhar perplexo.
— Pela sua virgindade, — ela explicou e pediu meu próprio sundae de
sorvete.
As coisas finalmente voltaram ao normal.
Eu verifiquei meu telefone para ver a hora. Em e eu ainda tínhamos
muito o que conversar, mas então meus olhos se fixaram nas notificações
no meu telefone.
Eu tinha mensagens esperando por mim.
Didi: Escute, Angela, preciso me explicar.
Didi: Podemos nos encontrar?

Capítulo 17
Um Universo Secreto
Angela
A única coisa que eu sabia sobre Didi era que ela era uma mentirosa.
Ela mentiu sobre quem ela era, o que ela queria e por que ela me
contratou.
Didi tomou um gole de café. Eu tomei um gole do meu. Nós não
falamos.
Não conversamos pelos últimos doze minutos.
Eu realmente não tinha muito a dizer.
Não havia razão para a ex-noiva de Xavier estar na minha vida, muito
menos no meu café favorito em Chelsea.
Eu não queria falar com ela.
Eu nunca teria falado com ela se soubesse quem ela era, mesmo se ela
tivesse dito a verdade desde o início.
Mas ela não o fez.
— Eu não sei o que dizer, exceto que eu sinto muito. Sério, — Didi
disse, com seus olhos penetrantemente intensos. — Por favor, diga-me o
que posso fazer para consertar as coisas e farei isso.
— Eu não sei como você pode consertar isso, Didi...
— Na verdade, é Claudia. Eu escolhi Didi para que Xavier não
soubesse que eu estava contratando você, — ela admitiu. Eu não podia
acreditar até onde Didi, quero dizer, Claudia, tinha ido — e para quê?
— Por que você fez isso? — Eu perguntei.
— Bem, você sabe que Xavier e eu estivemos juntos por quase uma
década e...
— Não, por que você me contratou? — Eu indaguei, sem saber se
deveria esperar uma resposta verdadeira.
— Eu acho... é porque eu preciso da sua ajuda, Angela. Eu preciso
muito disso, — ela disse, nervosamente mexendo em seu café. — Você vê
que este não é o primeiro erro que cometi...
Qualquer erro que Claudia estava lutando para trazer à tona era
pesado. Eu podia ver isso em seu rosto. Mas não saber o que era, me
sufocou, me deixou enjoada, embora fosse problema dela.
Eu precisava saber o que era.
— Todos nós cometemos erros, Claudia. O que há de errado? — Eu
pressionei. Ela não respondeu, então fiz outra pergunta. — Quando isso
aconteceu?
— Três anos atrás... quando Xavier me engravidou.
Engravidou?
Isso significa que... não poderia ser.
Xavier não tem filho.
— Não importa a direção que Xavier e eu estivéssemos indo, sempre
parecia que estávamos batendo um no outro, — Claudia disse em uma
voz distante. — Ele estava com tanta raiva de tudo e de todos.
Eu sabia que ela era uma mentirosa, mas suas palavras soaram
verdadeiras, me atingindo como se eu fosse uma igreja abandonada.
E Claudia estava sentada lá em confissão.
— Eu era o seu saco de pancadas emocional, a única pessoa a quem
ele podia dizer qualquer coisa e que pensava que nunca daria o troco. Eu
nem me sentia mais humana.
— Mas vocês eram noivos, certo?
— Sim. Nós íamos nos casar, basicamente nos odiando. Eu não
poderia fazer com que algo tão especial parecesse um castigo para ele ou
para mim. Então eu terminei. Eu terminei todo o nosso relacionamento.
Terminou?
— Xavier descreveu isso um pouco diferente. Ele disse, — eu limpei
minha garganta, — que ele pegou você com outro homem.
Didi suspirou:
— Sim, é verdade. Xavier queria tentar resolver as coisas depois. Eu
recusei.
— E o bebê? — Eu perguntei, pensando na menina ruiva na foto na
mesa de Didi.
— Ela tem três anos agora. O nome dela é Sophie, — disse Claudia. —
Ela não é apenas minha filha. Ela é meu universo. Antes de ela nascer,
não tive coragem de contar a Xavier sobre ela.
Eu não pude acreditar.
Xavier... tinha uma filha.
Uma filha que ele não conhecia.
Uma filha com Claudia, alguém que eu não conhecia.
Eu podia sentir meu estômago afundar dentro de mim como se
estivesse cheio de cimento.
Uma emoção tremia pelo meu corpo, a sensação de cimento subindo
pela minha garganta, onde um caroço estava crescendo. Eu me senti
como uma estátua congelada de dor, deixada em um museu para
apodrecer na solidão observada.
Sua confissão foi demais para eu aguentar.
Meus ossos congelaram dentro de mim como fósseis.
Meus pensamentos eram armadilhas pegajosas e sujas das quais não
podia escapar, profundas o suficiente para me afogar inteira.
Os olhos de Claudia estavam brilhantes de vergonha.
— Eu fui uma idiota. Eu sei disso. Eu não estava pensando em Sophie,
ou que ela precisaria de seu pai. Eu estava pensando em mim e em como
eu precisava ficar longe dele, — Claudia elaborou, com uma respiração
instável.
Cada uma de suas palavras foi um anzol agarrado à minha carne.
Eu não sabia qual linha me puxou ainda mais para o desespero.
Seria a filha de Xavier que vivia sem ele, como um membro fantasma?
Era porque Claudia estava tão desesperada para se reconectar que ela
estava disposta a me manipular?
Será que nossa amizade tinha sido apenas um estratagema para se
aproximar de Xavier?
Ou foi o fato de que Xavier e minha futura família foram destruídos
antes mesmo de começar?
— Agora, é tarde demais para dizer a Xavier. Se ele descobrisse que
perdeu três anos da vida de sua filha, seria insuportável — continuou
Claudia.
— Então você acha que ele deveria perder mais memórias? — Eu
ponderei em voz alta.
Era errado para ela manter esse segredo — essa pessoa — de Xavier.
Ele tinha o direito de se envolver na vida da filha, não tinha?
Ela não queria que ele estivesse presente na vida da filha, e não apenas
ser um estranho com o mesmo DNA?
— Escute, Angela. Você está apenas ouvindo os fatos. Há anos
agonizo com eles, — afirmou Claudia. — Ser mãe solteira é como tentar
construir uma montanha de areia. E acordar sabendo que, mesmo que
você esteja fazendo o seu melhor, nunca será boa o suficiente.
Pensei em meu pai e em como tínhamos sido duros com ele quando
ele nos criou sozinho. Ele nos deu tudo o que tinha, mas sempre pedimos
mais tempo, mais esforço, mais ele.
Não é de se admirar que, quando fôssemos adultos, seu coração
estava se partindo. Tínhamos retirado muito de sua saúde para nós
mesmos.
Eu ainda não entendia por que Claudia não queria que Xavier
soubesse sobre o bebê, mas foi um grande sacrifício — para ela e sua filha
— e um que eu não conseguia entender. Mesmo que eu tentasse. Porque
eu estava do lado de fora, olhando para dentro.
Ela estava certa. Não era minha função julgar suas escolhas ou seu
silêncio.
— Eu ganho um bom dinheiro na Animas, mas não é o suficiente para
criar uma filha, especialmente sem pensão alimentícia, — observou
Claudia.
— Xavier pagaria isso. É sua responsabilidade, — eu disse.
— Não. Eu não posso pedir isso. Não posso complicar suas vidas mais
do que já fiz. Já fui muito egoísta, Angie — disse Claudia, colocando a
mão sobre a minha em simpatia. — Não posso pedir mais nada, exceto
que você mantenha meu segredo.
Naquele segundo, percebi que, ao não pedir nada, Claudia estava
pedindo tudo.
Xavier
Eu mal podia esperar que Angela voltasse para casa.
Honestamente, eu queria arrancar a porra do relógio da parede,
quebrar o tempo pela metade para que ela pudesse vir mais cedo.
Eu não queria mais foder ninguém além do meu anjo, mas queria
possuí-la o tempo todo.
Eu tive muitas mulheres bonitas na minha cama, mas Angela foi a
primeira pessoa com quem eu realmente me conectei... a primeira em
que realmente confiei. Por completo.
Eu amei Claudia. Mesmo. Eu amei sua voz, sua atitude ousada, o jeito
que ela não aceitou nenhuma das minhas besteiras. Mas, na realidade, ela
pensava que eu era uma grande besteira.
Quando ela foi embora, isso foi o suficiente para me cortar ao meio.
Eu senti como se minhas melhores partes tivessem desaparecido.
Mas quando descobri que ela me traiu com meu melhor amigo,
Daniel, percebi que ela era a pior parte de mim.
No início, doeu tanto que eu não conseguia respirar. Ou falar. Ou me
mexer.
Mas então... foi como uma injeção de Novocaína no coração. Eu
estava tão entorpecido... Eu não era eu. Eu era um manequim que podia
andar. Então foi isso que eu fiz — eu caminhei. No mundo todo.
Entrando e saindo de resorts caros, carros caros e mulheres caras.
Até Angela. Ela me deu o poder de sentir novamente, e a noite
passada foi tão gostosa. Sua pele macia na minha...
Por um lado, ela me fez querer fazer coisas de relacionamento, como
abraçar.
Por outro lado, eu queria jogá-la na mesa da cozinha e transar com ela
até que o mogno se partisse ao meio.
Agora eu estava morrendo de vontade de ela voltar para casa, segurá-
la contra meu peito e beijar o mundo todo.
Foi quando ouvi passos se aproximando.
Assim que Angela entrou pela porta, eu corri na sua direção,
levantando-a, entrelaçando suas pernas em volta dos meus quadris. Eu a
joguei no sofá, deixando beijos em sua cabeça, queixo, clavícula.
Peguei sua mão, colocando um beijo suave nela.
E então coloquei meus dedos em seu coração.
Estava batendo fora de controle.
Angela
Xavier estava a centímetros do meu rosto, mas a uma galáxia de
distância.
O silêncio que prometi a Claudia deslizou entre nós, ocupando muito
espaço.
Ele me viu, me viu de verdade, mas não conseguiu se conectar de
verdade comigo. Porque eu estava escondendo algo. Minha armadura
estava levantada, embora eu estivesse deitada em cima dele.
Eu o estava protegendo da verdade.
— Você é o meu mundo inteiro, Angela, — Xavier professou,
mordiscando o lado da minha orelha. As ondas de choque prazerosas
galopavam por mim, tentando me distrair dos fatos que me consumiam
por dentro.
Percebi que, sim, eu era o seu mundo.
Mas Sophie... sua filha... ela poderia ser seu universo.
Fechei meus olhos, desejando, pela primeira vez, realmente manter a
verdade dentro de mim.

Capítulo 18
Virando o jogo
Angela
Xavier era alérgico a manteiga de amendoim, mas adorava chocolate.
Deitei esparramada ao longo da mesa da cozinha enquanto ele regava
cacau derretido para cima e para baixo de minhas coxas, seguindo os
caminhos açucarados com a língua.
Eu podia sentir meus dedos me segurando enquanto a sensação
tomava conta de mim, podia senti-lo deslizar meu vestido do meu peito,
com a confeitaria quente caindo em círculos na minha pele.
Xavier colocou seus lábios contra meus seios, limpando a calda de
chocolate com a língua. Ele permaneceu se pressionando contra mim,
sua respiração colidindo com o calor.
O ar frio na minha carne molhada me fez estremecer de prazer
enquanto ele colocava a boca no meu mamilo e o chupava suavemente.
Ele olhou para mim, seus olhos travessos enquanto minha respiração
ficava instável.
Eu busquei ar quando Xavier cavou uma colher profundamente no
chocolate derretido e jogou em meu vestido.
— Xavier! — Eu exalei, chocada que ele estava fazendo isso. Mas antes
que eu pudesse questioná-lo mais, ele puxou minha cabeça contra a dele
para um beijo profundo e ofegante.
— Acho que você vai ter que tirar, agora está sujo, — ele disse,
desembrulhando meu vestido e deixando-o no chão.
Seus dedos tiraram minha calcinha, abandonando-a no chão
enquanto ele se aproximava de mim.
Eu caí de costas enquanto ele me beijava de cima a baixo no meu
torso, minhas pernas, meu pescoço.
Enquanto eu me contorcia de alegria, a mesa fria da cozinha me
deixou ainda mais excitada.
Mordi meu lábio com força, agarrando cada parte de Xavier que eu
podia alcançar.
Respirações sônicas profundas começaram a escapar de mim.
— Oh, Angela, — Xavier sussurrou. — Meu anjo, meu...
A campainha da porta tocou de repente, interrompendo nossos
movimentos.
Xavier rosnou enquanto seus olhos piscavam em direção à porta.
— Não se mova, — ele avisou, se afastando de mim.
Eu ri e rolei sobre meu estômago, observando seu corpo nu disparar
em direção ao elevador.
— O que é? — Xavier gritou ao interfone. Sua mão se abaixou,
envolvendo em torno de sua masculinidade ereta e movendo-se
languidamente para cima e para baixo.
Eu mordi meu lábio. Assistindo. Espera. Querendo.
— Desculpe interromper seu fim de semana, Sr. Knight, — o porteiro
disse através do dispositivo. — Só quero que você saiba que acabei de
deixar um visitante subir.
Os olhos de Xavier se arregalaram, sua mão parando seus
movimentos.
— O quê?
— Ele disse que era o pai da Sra. Knight, — disse o porteiro, e então
sua voz foi cortada quando Xavier soltou o botão de chamada.
— Puta merda, — ele disse, com os olhos disparando das portas do
elevador para o meu corpo nu. — Porra, porra, porra.
Rolei para fora da mesa, pegando meu vestido do chão, enquanto ele
corria de volta para a cozinha e, ao acaso, pegava um alqueire de bananas
e os segurava contra sua virilha.
— Isso não vai funcionar, — eu sibilei, conseguindo puxar meu
vestido pela cabeça quando as portas do elevador se abriram.
— Filhinha! — meu pai anunciou, entrando na sala de estar.
Em pânico, Xavier caiu no chão atrás da bancada da cozinha.
— E-ei, pai, — eu disse, enrubescendo e tentando não pensar no
chocolate pegajoso por toda a minha pele, vestido e cabelo.
— O que você está fazendo aqui?
Os olhos de papai se arregalaram quando ele viu minhas roupas, o
recipiente de calda de chocolate na mesa e...
Oh.
Meu.
Deus.
Meu sutiã azul marinho estava no chão, na terra de ninguém entre
meu pai e eu.
Fiquei tão envergonhada que tive vontade de bater na parede e selarme dentro do
gesso.
Eu estava tão animada que Xavier e eu estávamos finalmente
conhecendo os corpos um do outro, para traçar os mapas na pele um do
outro.
Mas papai não deveria ser uma testemunha disso!
— Bem, — papai começou, — vim fazer uma surpresa para você, mas
posso ver que peguei você no meio de alguma coisa.
— Como você sabia onde me encontrar? — Eu perguntei, distraindoo para que eu
pudesse dar uma olhada em Xavier.
Ele tinha se arrastado até o final do balcão e estava tentando pegar
sua calça de moletom Versace. Eles ficaram onde haviam sido
descartados sem cerimônia no final da mesa de jantar, apenas fora de seu
alcance.
— Eu peguei o endereço com Em, — papai disse, observando
enquanto eu abria caminho até as calças. — Como eu disse, queria fazer
uma surpresa para você.
Chegando ao final da mesa, chutei a calça de moletom para a cozinha.
— Surpreender-me como?
— Bem, eu vi as notícias, — disse papai. — Então, pensei em vir e lhe
dar um presente de chá de bebê antecipado.
Meu estômago embrulhou. Eu adiei dizer ao meu pai que não estava
realmente grávida, recusando-me a retornar suas ligações. Não porque eu
queria ignorá-lo, mas porquê... responder à pergunta tinha sido demais.
Parecia que tudo o que eu estava fazendo era responder à pergunta.
E eu sabia que papai ficaria muito feliz com a notícia de uma gravidez,
com a notícia de um neto. Eu só não queria matar sua alegria. Mas agora
ele estava aqui.
Eu deveria saber que ele não esperaria eu retornar sua ligação.
— Pai, eu… — eu comecei, mas Xavier, tendo lutado para colocar suas
calças, me salvou de responder.
— Sr. Carson, — ele disse, surgindo atrás do balcão.
Os olhos do meu pai dispararam quando ele viu o peito nu de Xavier.
— Bonitão... Eu estava me perguntando onde você estava. Vocês dois
deveriam, ah, se endireitar. Danny está a caminho.
— Danny? — Eu me perguntei.
— Sim, nós dois vamos construir um berçário para você.
Oh, Deus. Eu abri minha boca para falar, mas as palavras não saíram.
Papai estava tão animado com isso. Se eu pegasse isso dele, quebraria
seu coração, fisicamente.
Eu não podia arriscar dizer a verdade a ele, não é?
Xavier não me notou em pânico silencioso. Ele tentou dizer ao papai
o que eu não conseguia.
— Isso é completamente desnecessário, Sr. Carson, não estamos
esperando um...
— Eu sei que vocês, Knights, provavelmente têm construtores e
designers de classe mundial — este é o lugar que você tem aqui — mas
um bebê precisa de algo construído com o carinho que só a família pode
dar, — papai disse, interrompendo-o.
Eu tinha que dizer algo antes que ele começasse a quebrar paredes.
— Obrigado, pai, sério. Mas eu não estou grávida, — eu disse.
— Eram apenas notícias de tabloide. As pessoas escrevem todo tipo de
coisas malucas sobre minha família, Sr. Carson, — Xavier elaborou.
Meu pai franziu a testa em descrença.
— Então por que você esperou tanto para dizer isso? — ele sondou, se
aproximando de mim.
— Bem... eu, uh, nunca disse a ninguém que estava grávida em
primeiro lugar. Foi... hum... um boato que outra pessoa começou, — eu
tentei explicar, com muito medo de admitir que gostava da sensação de
suas esperanças estarem crescendo.
Gostei da sensação de fazer meu pai feliz.
Deixando-o orgulhoso.
E dizer a ele parecia... machucá-lo.
— Mas espere, vocês dois estão aparentemente tentando como loucos,
— papai afirmou, não querendo aceitar que ele não teria um neto tão
cedo. — Pelo amor de Deus, você está coberta de calda de chocolate,
Angie.
Fiquei boquiaberta. Eu vi Xavier tentando segurar sua risada por
dentro.
— Sr. Carson, agradeço seu... interesse, mas isso é particular, — ele
conseguiu dizer, puramente por minha causa, eu sabia. Mas papai não
estava aceitando. Suas perguntas tornaram-se ainda mais invasivas.
— Vocês dois estão usando proteção? — Papai questionou, como se
estivesse tentando chegar ao fundo desse mistério.
Mas essa foi a gota d'água para mim.
Eu não poderia ficar na cozinha um segundo a mais, não depois que
meu pai, meu pai. estava comentando sobre essa situação.
Eu fugi da sala. Parecia que havia baratas rastejando sob minha pele.
Por causa de como isso tinha sido nojento, sim, mas também porque as
intuições de meu pai estavam corretas. Não estávamos usando proteção.
Eu posso estar grávida.
Deus, eu esperava que não estivesse. E depois do que descobri hoje
cedo...
Xavier nem sabia sobre seu primeiro filho.
Minha respiração ficou instável enquanto eu pensava sobre o que
significaria trazer uma criança para nossa família destruída, para todos
esses segredos abrasadores e mentiras desequilibradas.
Eu me recompus quando meu celular tocou.
Em: Angie, estou atrasada.
Em: Estou ATRASADA!
Angela: Para quê?
Em: meu CICLO está atrasado.
Em: Acho que estou grávida.
Em: Mds, chorando...
Angela: Você fez um teste?
Em: Comprando um agora.
Angela: Compre 2.
Angela: Por favor.
Em: Espere, o quê?
Em: Tipo, 1 para você?
Angela: Sim.
Em: Mds!
Xavier
Isso já se tornou ridículo pra caralho.
Angela e eu fizemos sexo uma vez.
Uma e meia se você contar antes de Ken nos interromper.
Ela não estava grávida. Todo mundo queria tanto que ela estivesse, de
nossos pais aos tabloides, que ela se convenceu de que poderia estar.
Quando Em veio com o teste, ela trouxe uma porra de uma comitiva
com ela.
Lucas e Danny entraram com ela como se fôssemos assistir futebol,
jogando high-five e abrindo algumas cervejas. Parecia um circo, como se
Angela e minha noite íntima tivessem se tornado um evento público.
Eu não conseguia acreditar que esses eram os pensamentos que eu
estava tendo, mas tudo que eu queria era ficar sozinho com minha
esposa! Aninhado ao lado dela. Sentindo sua pele, seu calor, seu conforto.
Mas em vez disso, eu tinha isso.
Essa comoção.
Esse caos.
E não havia nada privado, nada reconfortante nisso.
Angela
Lucas, Danny e papai estavam espreitando do lado de fora do banheiro
enquanto Em me entregava o teste.
— Gente, Angela e eu precisamos de privacidade, — disse Em. Eles
não se mexeram.
— Estamos muito animados e queremos estar com vocês, a cada
passo do caminho, — Lucas empurrou de volta, recusando-se a nos dar
espaço.
— Você vai nos assistir fazer xixi nos testes? — desafiou Em. Eu amei
como ela sabia como falar por si mesma — e por mim — sem nenhum
medo. Ela empurrou os homens para fora da sala e fechou a porta.
— Desculpe, eles insistiram em vir, — Em sussurrou. — Parte da
razão pela qual eu queria que eles saíssem daqui é para que eu pudesse
me desculpar por ser tão chata no outro dia.
Eu levantei minhas sobrancelhas em surpresa. Eu não tinha julgado
Em pela raiva que ela sentiu de mim quando ela pensou que eu estava
grávida, mas a memória permaneceu.
Honestamente, achei que ela me apoiaria sob uma tempestade na
mídia, e não ficaria desapontada por ela não ser a única com as notícias.
Ela me entregou o teste de gravidez e olhou para a parede do
banheiro enquanto eu fazia xixi nele. Na faculdade, nós dividíamos
banheiros o tempo todo. Ela mal fechava a porta quando éramos colegas
de quarto no ano passado.
Isso era normal para nós, mas ainda assim, com apostas tão altas,
parecia algo além de íntimo.
— Eu fui uma melhor amiga de merda, Angie. Eu estava tão brava por
não ser capaz de engravidar, e me culpei por tanto tempo, que no
segundo que soube que você estava esperando um bebê, projetei todas as
minhas inseguranças confusas em você, — Em admitiu.
Eu inalei suas palavras, o que tornou o ar espesso e vulnerável.
Levantei-me e coloquei o teste no balcão enquanto Em pegava o dela.
— Tudo bem. — Eu sorri pra ela. — Eu sei que você está passando por
muita coisa também. Estou muito feliz por estarmos fazendo isso juntas
agora.
— Eu realmente quero isso, Angie. Para nós duas, — ela disse.
Eu encarei a parede, sorrindo.
Foi tão bom receber um pedido de desculpas sem ter que pedi-lo. Já
havia desistido de nossa pseudo-briga. No entanto, era importante que
Emily não tivesse.
Ela bateu seu teste ao lado do meu. Eu me virei para ela.
— Você sabe que será uma mãe incrível, uma mãe muito legal, assim
que chegar a hora certa.
Em pegou minha mão e então ela acenou com a cabeça.
— Só espero que a hora seja agora.
Tentei manter meu sorriso firme, mesmo com a preocupação
correndo em minha mente. Eu não. pensei comigo mesma. Eu realmente
não sei.
Xavier
Para a família de Angela, os vinte minutos que as meninas levaram para
fazer os testes de gravidez foram insuportáveis.
Para mim, foi uma perda de tempo.
Angela não engravidaria depois de um ataque de intimidade. A
probabilidade disso era quase nenhuma.
Se fosse algo que realmente aconteceu, você sabe quantos filhos eu
teria por aí?
Isso era ridículo.
E Ken estava ficando ainda mais ridículo a cada segundo.
— Aposto que as duas estão grávidas, — previu ele, agarrando o braço
de Lucas. — Eu sinto isso nos meus ossos.
— Isso seria tão fofo, — concordou Danny, me surpreendendo com
seu entusiasmo. Danny era o mais varonil da família e aqui estava ele
delirando como uma universitária.
— Os bebês podem ser melhores amigos. Poderíamos comprar roupas
combinando para eles e fazer festas de aniversário em conjunto.
— Você realmente acha que elas estão grávidas ao mesmo tempo, e
que têm a mesma data de parto? — Eu soltei. — Isso é ridículo.
Lucas olhou para mim.
Ridículo.
Foi a única palavra que passou pela minha cabeça.
— Você não está nem um pouco animado para ter um bebê? — Lucas
perguntou, olhando para mim como se ele não pudesse me entender. Era
isso.
— NÃO HÁ BEBÊ NENHUM! — Eu trovejei.
Angela
Em e eu olhamos para nossos testes, os resultados desaparecendo
lentamente. Eles estavam um ao lado do outro, e meus olhos voaram de
um para o outro.
Eu podia sentir cada músculo dentro de mim ficando tenso.
Meus pulmões estavam tendo dificuldade para conseguir ar.
Meus dedos tremiam.
Meus joelhos dobraram.
E foi então que apareceram os resultados.
As pequenas marcas, claras como o dia.
Um dos testes deu negativo. Foi o que vi primeiro.
Mas o outro... Eu olhei para Em, com nossos olhos cheios de lágrimas.
Uma de nós estava grávida.

Capítulo 19
Uma pausa grávida
Angela
Em saiu do banheiro antes de mim, seus olhos brilhando com lágrimas
de alegria.
— Estou grávida! — Ela aplaudiu, e a sala explodiu em excitação.
Todos ficaram em êxtase com a notícia.
Exceto por mim.
Não sabia explicar, mas um pedaço de mim queimou de decepção.
Eu gostaria de estar grávida?
Não, não havia como.
Xavier e eu estávamos descobrindo como amar um ao outro.
Não seria justo levar uma criança a essa loucura.
Agora não, pelo menos.
E isso foi antes de pensar em toda questão Claudia/Didi.
Enquanto eu observava Em pular nos braços de Lucas, meu pai
pegando os dois em um abraço exultante, eu percebi qual era a âncora
que fazia meu estômago afundar.
Não fiquei desapontada. Eu era a decepção. A única coisa, a única
coisa importante para nossos pais era dar a eles netos, adicionar galhos à
árvore genealógica que eles plantaram para nós. E eu não estava fazendo
isso. Eu não estava pronta — ainda não.
Xavier estava pronto?
Então me dei conta.
Ele já tinha uma filha.
Como ele poderia não saber? Ele ao menos queria saber?
Não era como se Claudia ainda estivesse com ele, certo? Se ele
descobrisse... ele gostaria de voltar para ela?
Não era como se eu pudesse impedi-los. Eles eram uma família.
Xavier e eu éramos um acordo.
Eu lancei um olhar para Xavier enquanto Emily jogou os braços em
volta de mim, colocando a cabeça no meu ombro em êxtase.
— Não acredito que vou ser mãe, Angie. Eu não sabia que podia me
sentir tão feliz, — ela sussurrou.
Eu a apertei com todas as minhas forças, sorrindo.
— Eu te amo, Em. E eu também a amarei.
— Quem disse que estou tendo uma menina?
— Eu disse. — Eu ri, deixando os pontos de interrogação dentro de
mim se transformarem em pontos de exclamação. Todo mundo estava
comemorando. Lucas estava brilhando, radiante de excitação, como se
tivesse engolido o nascer do sol. Nunca o vi tão luminoso.
— Então ela será sua sobrinha. A melhor parte de tudo isso é que
minha família é sua família agora, — disse Emily.
Naquele momento, eu queria esvaziar todos os arquivos de dor
dentro de mim, dobrar todos os meus medos em guindastes de papel e,
em seguida, dar cada pedaço de mim para Em e sua futura filha.
Fiquei feliz por ela — por todos nós. Nada era mais importante do
que essa criança.
Isso foi o que eu disse a mim mesma, repetidamente. Mas os medos
confusos do que Xavier não sabia — o segredo que eu agora estava
mantendo ativamente — ainda ocupavam um canto escuro assustador
em minha mente.
Xavier
Quando soube da notícia, meu pai insistiu que ele levasse toda a família
para um jantar de comemoração no lugar mais exclusivo que pudesse.
O pai e os irmãos de Angela estavam entusiasmados com a comida
gourmet gratuita, mas não sabiam realmente o preço.
Quando a família de Angela encontrou seus lugares no elegante
restaurante de sushi, papai entrou com as mãos entrelaçadas nas de
Penny.
Eu olhei para Angela.
Como ele poderia trazer essa mulher para nosso evento familiar
particular?
Ela não era nada além da drogada que uma vez implorou para estar na
minha cama.
Tentei controlar minha respiração, para abafar minha raiva, mas vê-
los juntos ainda foi um choque para mim.
Ao mesmo tempo, porém, meu pai parecia feliz. Ele estava
praticamente brilhando.
Eu não o tinha visto rir tanto em décadas.
Talvez tenha valido a pena essa situação fodida.
Ele merecia ser feliz.
Enquanto o garçom nos servia martinis de lichia de cor creme, eu
tomei um gole generoso.
Angela percebeu e apertou minha mão, mas eu estava muito ocupado
observando meu pai.
Ele não conseguia tirar os olhos de Penny, não conseguia parar de
sorrir para ela.
Eu bebi mais.
Ele merece ser feliz, eu me lembrei.
Mas então meu olhar mudou para ela.
Ela estava claramente tentando minimizar a questão — ela usava uma
camiseta casual de grandes dimensões e alguns jeans rasgados.
Mas ela não conseguia esconder a bolsa de grife Chanel pendurada no
ombro, ou a pulseira de platina com diamantes em seu pulso.
As vantagens de namorar um Knight. Pensei antes que pudesse me conter.
E isso foi o suficiente para a raiva mostrar seu rosto.
— Penny, deve ser bom estar sentada em um restaurante sofisticado,
sem ter que cantar. — Eu a golpeei com minhas palavras.
— Bem, eu adoro cantar, mas estar aqui é bom, — Penny respondeu,
ilesa.
— Sempre é! — Papai concordou, sorrindo.
Nossos aperitivos haviam chegado e eu não perdi tempo em enfiar na
boca atum apimentado com molho de pêssego.
Depois de literalmente escolher minha esposa, o homem não
conseguiu considerar meus sentimentos — ou mostrar decência humana
— antes de tentar substituir minha mãe.
Eu simplesmente não conseguia entender o que ele viu nela. Sua
história com Jacques, o psicopata. Seus traços delicados, seu cabelo
encaracolado.
Ela era gostosa, mas não gostosa pra casar.
Ela era um tapa buraco.
Era isso.
E agora que ela estava presa ao quadril de meu pai, empurrando-a
direto para os holofotes de Knight, toda a cidade de Nova Iorque tinha
um passe de acesso total para a recuperação de meu pai, décadas em
formação.
Mas apesar de tudo isso, apesar da imprensa negativa e das bocas
abertas ao vê-los, era como se ele nem se importasse.
E a reputação dos Knights era algo com que papai sempre se
preocupou.
Foi por isso que ele se levantou de manhã e foi o último pensamento
que teve antes de dormir.
A única razão pela qual ele me deixou escapar impune foi porque eu
era seu filho. Ele amava ser meu pai mais do que ser um Knight.
Então me dei conta.
Penny significava tanto para meu pai?
— Você realmente acha que ele está feliz? — Sussurrei no ouvido de
Angela.
Ela inclinou a cabeça para Brad, que estava rindo enquanto assistia
Penny lutar com seus hashis. O pãozinho de manga com salmão da
garota estava virando mingau em seu prato.
— Não é óbvio? — Angela sorriu de volta para mim.
Brad
Eu queria ser feliz, de verdade.
Penny era suave e especial. Ela não conseguia preencher o vazio da
minha esposa perdida, mas sua voz delicada era como um fio carmesim
que poderia costurar a ferida com alegria.
Mas sentar naquela mesa, comemorando o nascimento do neto de
outra pessoa, me fez ansiar por mais. Por uma nova vida, um neto meu.
Xavier e Angela estavam juntos há um ano, um ano inteiro, e ainda
não se falava sobre planejamento familiar. Mesmo que eu nunca tivesse
deixado os dois me ouvirem dizer isso, me doeu. Eu não queria nada
mais do que mimar um ou dois netos meus!
— Parabéns ao meu filho maravilhoso, Lucas, e à sua linda esposa,
Em! É uma pena que você não tenha tido essa notícia quando eu estava
doente. Eu juro, ouvir que eu estava tendo um neto teria consertado meu
coração e nos salvado de muito estresse! — Ken brincou, enquanto todos
ergueram suas taças de cristal em comemoração.
Não pude deixar de sentir um pouco de ciúme do homem. Nós dois
fomos criados por mundos diferentes. Não havia dúvida sobre isso. Meus
mocassins de couro italiano e suas botas arranhadas pertenciam a
universos diferentes, mas o pai de Angela parecia feliz.
O homem tinha passado por tudo com sua saúde no ano passado e,
ainda assim, eu nunca tinha visto uma pessoa mais alegre.
Era como se ele tivesse tudo o que poderia desejar. Como se ele
estivesse contente.
Eu nunca estive contente em minha vida, sempre precisei da próxima
coisa. Caramba, eu estava fazendo isso agora, pensando em pressionar
meu filho a ter filhos apenas para que eu pudesse conhecer a alegria de
ser avô.
Eu me levantei da mesa, tremendo. Eu não queria que minha família
me visse assim — tão descontrolado.
— Com licença, — eu murmurei e corri em direção aos banheiros, em
direção à privacidade, em direção a um lugar onde eu pudesse ficar de
mau humor sem falar tudo sobre mim.
Sob a luz fraca das lanternas penduradas sobre mim, joguei um pouco
de água no rosto. Inspire. Expire. Inspire. Expire.
Recomponha-se.
Eu me virei para a porta, observando enquanto Ken entrava. Tentei
fixar um sorriso em meu rosto.
Brilhante.
— Muito obrigado por nos trazer aqui. Este restaurante é excelente.
Juro que nem os peixes resistiriam a esse sushi, — ele disse.
— É um prazer, Ken. É o mínimo que posso fazer. Eu não posso
acreditar que Em e Lucas acabaram de se casar e já estão tendo filhos. É
tão emocionante, — eu disse, tentando manter minha dignidade, fazer a
coisa honrosa.
O homem tinha todo o direito de estar feliz.
— Eu sei que você está chateado, — ele respondeu.
— P-por que eu estaria? — Eu me atrapalhei, tentando manter minha
compostura. Não era frequente um homem me pegar de guarda baixa.
— Porque também estou chateado.
Eu fiz uma careta.
— Você está? Por quê?
— Angela e Xavier são um casal lindo. Já se passou um ano e estou...
esperando alguns netos lindos. Não é?
— Sim, — eu admiti. — Mas esta noite é sobre Em e Lucas.
— Nah, é sobre família, — Ken disparou de volta. — Brad, você e eu
somos uma família e precisamos encorajar nossos filhos a construir as
suas.
— Você quer dizer a eles o que está em nossas mentes? Isso é como
pressão de grupo, Ken. Eu não posso fazer isso...
— Oh, mas eu posso.
Eu olhei para o homem na minha frente, vendo um brilho em seus
olhos.
— O que você está falando? — Eu perguntei.
— Um pouco de culpa para ajudar a fazer o truque. Pelo menos esta
condição cardíaca pode finalmente ser bem aproveitada.
Eu não pude evitar. Eu soltei uma risada. Fiquei chocado que Ken
fosse tão ousado, mas uma parte de mim também ficou impressionada.
Angela
Assim que o garçom ateou fogo ao sorvete frito, papai e Brad voltaram do
banheiro, trocando olhares amigáveis. Foi surpreendente e ótimo ver
Xavier e minha família se dando bem.
— Você tem que cavar primeiro, Em, — eu disse, entregando a ela
uma colher. Ela sorriu, esperando que as chamas parassem de ondular
sobre a iguaria, e então deu uma grande mordida.
— Ok, eu faria coisas ilegais por esta sobremesa. E sério! — ela
exclamou. — Vou ter um segundo filho só para podermos voltar a este
lugar.
— Ou podemos voltar quando você engravidar, Angela, — disse meu
pai.
Senti minhas bochechas queimarem, meu rosto provavelmente se
transformando numa rosa manchada.
— Angela é mais o tipo de garota tímida, Ken, você sabe disso —
respondeu Xavier facilmente.
— Você tem razão. Acho que o que estou tentando dizer é que vocês
dois estão casados há um ano, e Emily e Lucas acabaram de fazer seus
votos, — meu pai respondeu.
O que ele estava fazendo?
Ele não precisava nos lembrar.
— Eles não estão prontos, — Brad interrompeu, um sorriso se
formando em seus lábios.
Eu vi nossos pais trocando olhares.
Eles planejaram uma emboscada no banheiro masculino?
Papai se esticou sobre a mesa e pegou minha mão.
— Angie, e se algo acontecer ao meu coração de novo? Não suporto a
ideia de deixar este mundo sem ter um neto seu para me despedir.
Ele não ousaria.
Parte de mim não conseguia acreditar na maneira como ele estava
jogando suas cartas, mas a outra parte se encheu de hipóteses. E se ele
estivesse certo?
E se tivesse que acontecer agora?
— Não diga isso, pai. Não posso suportar a ideia de que algo aconteça
com você, — respondi, sentindo o peso do mundo se comprimindo em
um nó na garganta.
Tentei desviar o olhar, mas ele não deixou.
— Você já está prestes a se tornar um vovô!
— E quanto a Brad? Xavier, você é seu único filho. Ele não merece um
neto?
Foi então que senti meu rosto perder a cor.
A verdade passou por mim em ondas elétricas.
Brad tinha uma neta e não sabia que ela existia.
Quando prometi guardar o segredo para Claudia, não apenas jurei
escondê-lo de Xavier. Eu também estava enganando Brad.
Meu sogro era a razão de eu ainda ter um pai. Ele não apenas me deu
Xavier, mas também salvou a pessoa mais importante da minha vida
antes dele.
Esconder a neta dele era como amputar um galho de sua árvore
genealógica.
Eu olhei fixamente para Xavier. Como ele poderia não saber?
O segredo parecia mil telefones tocando dentro de mim, precisando
ser atendidos.
As palavras estavam prontas para sair da minha boca. Então, coloquei
o máximo de sorvete possível lá dentro, praticamente devorando a
sobremesa inteira.
Xavier agarrou minha colher enquanto eu mergulhava para outra
mordida. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, alarmado.
— Tem algo errado? — ele pressionou.
Eu balancei minha cabeça, fechando meus olhos com força. Contar a
verdade, aqui, na frente de todos, iria matá-lo. Eu precisava ficar em
silêncio, mesmo que isso estivesse me matando.
Mas ele não me deixaria morrer em paz.
Ele aproximou o rosto, olhando profundamente nos meus olhos.
— O que está acontecendo? Você está... escondendo algo?

Capítulo 20
O Preço certo
Angela
Angela: Podemos nos encontrar?
Didi: Você está bem?
Angela: Sim, é só que...
Angela: Não tenho certeza se posso manter esse segredo por
muito mais tempo.
Didi: Você prometeu.
Angela: Eu sei.
Angela: Mas eu não gosto de esconder coisas do Xavier.
Angela: Eu realmente acho que você deveria falar com ele...
Didi: Eu vou.
Didi: Em breve.
Angela: O que significa em breve?
Didi: Há algumas coisas que ainda preciso resolver.
Angela: Que coisas?
Angela: Talvez eu possa ajudar.
Didi: Ok.
Didi: Vamos nos encontrar.
Didi: Posso explicar.
Eu não queria que Xavier soubesse para onde eu estava indo. Isso
significava que Marco também não poderia saber.
Então, peguei o metrô para o Bronx, correndo de um trem para outro
no frio intenso.
A última vez que peguei o metrô para o Bronx foi bem quando me
mudei para a cidade, quando os trens ainda me confundiam, e eu estava
muito preocupada em não parecer uma turista.
Agora, eu conhecia o sistema de metrô como a palma da minha mão.
E embora o fato de ser dirigido por Marco ter tornado o
deslocamento muito mais fácil, havia algo de muito libertador em
navegar sozinha pelas plataformas do metrô. Foi como uma lufada de ar
fresco, bem quando eu precisava.
Ao mesmo tempo, eu mal conseguia sentir. Eu estava cheia da dura
realidade de que Xavier tinha uma filha — com Claudia.
Claudia tinha que dizer algo sobre isso. Para ele. Eu não sabia por
quanto tempo mais eu poderia me torturar mantendo seu segredo.
Nós nos encontramos num parque em seu bairro no Bronx, o que foi
bom. Nunca veríamos um Knight nesta parte da cidade.
A menos que você conte comigo, eu me lembrei.
Eu me perguntei se eu era realmente uma Knight agora. Conspirando,
conhecendo mulheres pelas costas do meu esposo... talvez eu finalmente
tivesse ganhado meu lugar na família intocável.
Eu esperei no parquinho.
Claudia queria que nos encontrássemos no balanço. Ela não estava lá.
Eu esperei, sentada em um, com minhas pernas me balançando para
frente e para trás em ansiedade. Quando Claudia passou de cinco
minutos atrasada para dez, e depois para vinte, eu balançava mais e mais,
desesperada por uma distração.
E se ela não vier? Eu pensei. Terei que esconder a verdade de Xavier para
sempre?
Quando eu estava prestes a pular do balanço e sair correndo dali,
Claudia correu até mim, parecendo um pouco exausta e com frio. No
entanto, de alguma forma, seu cabelo ruivo brilhante era perfeito,
mesmo com o vento forte.
— Ei, desculpe, o trabalho me atrasou, — ela disse.
— Sem problemas..., — eu murmurei, sem saber por onde começar.
Eu diminuí o movimento do balanço. Ela se sentou ao meu lado.
— Tenho trabalhado muitas horas extras. A pré-escola está prestes a
começar e, claro, eles querem que as mensalidades sejam pagas com
meses de antecedência.
— Oh. — Eu poderia apenas dizer isso? Eu me perguntei. Posso apenas
dizer a ela que Xavier precisava saber?
Se ela não pudesse contar a ele, eu contaria. Eu não pude evitar.
Nunca fui boa em guardar segredos, muito menos de alguém que amava.
— Ouça... vou contar a Xavier sobre Sophie, — afirmou Claudia antes
que as palavras pudessem borbulhar na minha garganta.
— Quando?
— Quando eu puder.
— Por que você não pode fazer isso agora? — Eu me perguntei em voz
alta, pensando em como seria mais fácil ter a verdade revelada.
Claudia respirou fundo, com dor.
— As coisas não estão tão boas para mim financeiramente no
momento. Trabalhar para uma organização sem fins lucrativos não é,
bem, tão lucrativo. Sophie precisa de tantas coisas e não posso dar a ela.
Se eu for para Xavier agora, ele pensará que estou atrás de seu dinheiro,
que estou apenas tentando usá-lo...
Eu gostaria de não saber como era a sensação, mas podia me lembrar
vividamente de como Xavier me odiava quando pensava que eu estava
apenas em sua vida para tirar dele.
— Eu prometo, Angela, vou entrar em contato assim que tiver
dinheiro suficiente para garantir que nossa filha esteja na pré-escola.
Apenas me dê um pouco de tempo. Eu não vou dormir até que possa
consertar isso. Faz muito tempo que não tenho uma boa noite de sono —
disse Claudia, com a voz embargada.
Eu pude ver que ela estava usando todo o seu poder para não chorar,
e meu coração estava pesado no meu peito.
Não era justo.
Eu estava vivendo uma boa vida com Xavier, comendo caviar e
dormindo em lençóis de seda, enquanto Didi e Sophie mal conseguiam
sobreviver.
Eu assisti meu pai criar meus irmãos e eu como pai solteiro. Eu
reconheci a mesma luta em Didi, agora. Ela precisava de apoio.
— O que seria necessário para consertar isso? — Eu perguntei. Didi
me ajudou muito na minha carreira. Certamente havia algo que eu
poderia fazer em troca para aliviar sua carga.
— O que você quer dizer? — Claudia respondeu, com as lágrimas em
seus olhos se transformando em um brilho.
Dei de ombros, tentando pensar em coisas que poderiam ter ajudado
meu pai quando eu estava crescendo.
— Eu poderia ajudá-la a encontrar uma babá, comprar alguns
mantimentos... O que você precisa?
Os olhos de Didi caíram para o chão.
— O pagamento inicial para a pré-escola dela é o que mais está
doendo agora.
Respirei fundo. Eu sabia que as pré-escolas não eram baratas, embora
alguns milhares de dólares dificilmente prejudicariam as contas
bancárias de Knight. Eu tinha certeza que Didi me pagaria assim que as
coisas mudassem para ela...
— Se você não tivesse que pensar nas contas da pré-escola, você
contaria a verdade para Xavier? — Eu me perguntei.
— Você poderia fazer isso?
Mordi meu lábio, me perguntando se eu poderia... se eu deveria.
Era isso realmente o que eu estava oferecendo?
Parecia a melhor solução.
Colocar Sophie em uma pré-escola tiraria muita pressão de Didi.
Talvez com menos estresse, ela seria capaz de resolver contar a Xavier
sobre sua filha.
Dei de ombros.
— Se é disso que você precisa, por que não?!
— Mas por quê? Por que você me ajudaria? — Claudia sondou.
— Nós duas só queremos que isso funcione, certo? — Eu disse. —
Para Sophie. Vocês duas não precisam estar sozinhas. Posso te ajudar.
Xavier pode te ajudar. Mas você precisa ser honesta e dizer a verdade a
ele.
— Tudo bem, — disse Claudia enquanto me agarrava, puxando-me
para um abraço caloroso. — Obrigada, — ela sussurrou em meu cabelo.
— Obrigada, Angela. Muito obrigada, — repetiu Claudia, com a voz ainda
trêmula.
Eu a abracei de volta, esperando que isso não fosse um erro.
Esperando que isso trouxesse Xavier mais perto de sua filha e não o
separasse de mim.
— MEU DEUS, você deu o dinheiro a ela? — Dustin gritou, derramando
o café com leite que ele estava me servindo.
— Bem, ainda não..., — eu disse, me perguntando se contar a ele era
uma boa ideia.
— Droga. Eu gostaria de ter o filho de um bilionário. Em vez disso,
sou apenas um artista faminto, fazendo café, tentando dormir nos
intervalos, — brincou Dustin.
— Dustin, — eu repreendi, olhando para os clientes bebendo café ao
nosso redor e esperando que nenhum deles estivesse ouvindo.
A última coisa que eu precisava era a notícia do filho da ex noiva de
Xavier chegando aos jornais antes que Didi tivesse a chance de falar com
ele.
Dustin encolheu os ombros.
— Se essa coisa de pintar não der certo, vou precisar de alguém para
cuidar de mim. Não tenho outros talentos.
Eu acenei para ele, tomando meu café com leite de lavanda. Então eu
tossi.
Nojento.
Parecia que eu estava comendo plantas enlameadas.
Tentei manter o gosto amargo na boca em segredo — e não rir porque
Dustin não era particularmente bom em fazer café.
Mas eu tinha que admitir, quando se tratava de correr riscos
estranhos, meu amigo foi o primeiro a experimentar florais no café. Isso
valeu a pena.
— Isso não é verdade, — assegurei-lhe e depois nos direcionei de
volta ao problema em questão. — Então você acha que eu não deveria
fazer isso? Dar o dinheiro a ela, quero dizer.
— Se eu te dissesse que Xavier me engravidou, você me daria
dinheiro?
— Isso não é uma piada, Dustin. Isso é sério, — eu choraminguei,
deixando cair meu rosto em minhas mãos.
— Desculpe, Angie. Eu sei que é. Estou feliz que você veio até mim
para desabafar, — observou Dustin, estendendo o braço sobre a mesa e
dando um tapinha na minha mão. — Mesmo se eu estiver piorando, pelo
menos você estava rindo um segundo atrás, certo? Mesmo que fosse
apenas no café com leite de lavanda?
Com isso, sorri. Eu estava feliz por ter ido até ele também.
O segredo me fez sentir tão solitária, como se houvesse uma caixa de
vidro ao meu redor e todos os outros estivessem apenas olhando para
dentro.
Alguém precisava saber o que eu estava fazendo, apenas para ter
certeza de que não sentia que tudo isso era apenas eu sonhando, presa e
pisoteada em um pesadelo louco.
— Não sei o que te dizer, Angie, — admitiu Dustin. — Eu acho que
você precisa confiar em seu instinto. O que parece certo?
Eu olhei para ele. Nada mais parecia certo. Eu não sabia como me
meti no meio dessa grande bagunça emaranhada. Mas eu sabia que não
gostava da ideia de Didi batalhando sozinha.
— Acho que preciso dar o dinheiro a ela, — decidi em voz alta.
— Vadia sortuda. — Dustin piscou e se inclinou para mais perto, com
seus olhos brilhando como sempre faziam quando ele fofocava. — Como
ela se parece?
— Quem?
Dustin revirou os olhos para mim.
Suspirei.
— Confiante. Ela também é bonita.
— Seja específica. Você acha que Xavier tem um tipo?
— Bem... ela é ruiva. Suas roupas são mais barulhentas do que um
show de rock and roll, — observei. Ele olhou para mim preocupado. —
Isso significa alguma coisa? — Eu perguntei, com meus olhos se
arregalando.
— Hum... claro que não. Talvez ela fosse loira quando eles
namoraram, — Dustin respondeu.
— O que você quer dizer? Você acha que ele prefere estar com alguém
como ela?
Dustin tomou um gole de café, e seu nariz enrugou com o gosto.
— Querida, seu sobrenome é Knight. Isso significa que você é o tipo
dele.
— E se os tipos não importam? Quero dizer, Xavier é o tipo de todo
mundo. Nunca conheci uma garota que não estivesse interessada nele.
— Dinheiro é uma coisa muito atraente, querida, — Dustin me
lembrou enquanto caminhava para trás do balcão para jogar seu café com
leite no lixo e começar com alguns novos.
Eu senti minhas bochechas queimarem. Eu conhecia muito bem o
poder de atração do dinheiro.
Quando você olha para isso de forma objetiva, o dinheiro foi como eu
acabei me casando com Xavier em primeiro lugar. E agora eu estava
parecendo mal para uma mulher em uma situação igualmente
desesperadora.
Desde quando me tornei tão hipócrita?
Não deveria importar quem era o tipo de Xavier, quem era casado
com ele ou quem tinha seu filho. Didi era uma amiga, minha amiga, e ela
precisava de ajuda.
Depois de deixar Dustin, corri até o banco. O caixa sorriu para mim
quando coloquei meu código.
Seus olhos se arregalaram assim que viu a quantia na conta bancária
conjunta dos Knight.
Ele ainda estava confuso quando eu pedi o dinheiro.
— Eu, hum, gostaria de retirar dezesseis mil dólares, por favor, — eu
praticamente sussurrei.
O caixa me olhou de cima a baixo, mudando de me medir para
mensurar o que tinha na tela.
— Você é a única titular da conta? — ela me perguntou.
— Como é? — Eu respondi, confusa. A única titular da conta?
— Bem, para uma quantia tão alta, temos que notificar o custodiante
da conta sobre o saque, — disse ela. — Vou apenas verificar o arquivo da
conta.
— O guardião da conta? O que isso significa? — Eu questionei.
— Vamos apenas enviar um e-mail rápido para a pessoa que iniciou a
conta para ver se ela aprova a transação.
Minha pulsação acelerou. O suor começou a se formar ao longo do
meu couro cabeludo.
Eu não estava fazendo nada ilegal.
Tudo ficará bem, tentei me assegurar.
Mas ainda assim... era ruim. Era muito, muito ruim.
Eu não queria que Xavier descobrisse sobre sua filha assim, porque eu
fui traída por um banco! E ele saberia que Claudia não apenas mentiu
para ele, mas que eu também estava envolvida. E a única razão pela qual
ele descobriu foi porquê... porque...
— Espere... deixa pra lá, — eu gritei para o caixa. — Eu não preciso
mais do dinheiro, então se você pudesse cancelar o...
— Eu já enviei o pedido, — ele interrompeu, com a irritação
escorrendo de seu tom.
Acabou.
Qualquer chance de redenção, de resgatar Xavier do redemoinho que
ele estava prestes a ser sugado, se foi.
O objetivo de conseguir o dinheiro, de ajudar Claudia
financeiramente, era manter as coisas escondidas, mas agora tudo estava
explodindo.
Não haveria sossego.
Na verdade, eu já podia imaginar o tipo de volume que me envolveria
assim que tudo ficasse claro.
Gritos insuportáveis.
Gritos.
Perguntas e respostas voando pelo ar.
Tudo dirigido a mim.
BEEP. BEEP.
O som de uma mensagem recebida no meu telefone tocou no ar, me
fazendo estremecer.
Acabou.
Tudo estava prestes a explodir, tudo porque fui burra demais para
perceber que não poderia simplesmente sacar milhares e milhares de
dólares sem que alguém descobrisse.
Eu decepcionei todo mundo, Xavier, Claudia e até mesmo a pobre
Sophie, tudo em um único descuido.
Eu respirei fundo.
E então tirei meu celular do bolso, olhando diretamente para a tela.
Brad: Está tudo bem?
Brad: Por que você precisa de tanto dinheiro?
Brad: Seu pai está doente de novo?
Brad: Angela!!!

Capítulo 21
A maçã e a árvore
Angela
Eu senti como se meu telefone estivesse prestes a queimar minha mão,
para então queimar o solo e, em seguida, queimar a terra, até o núcleo.
Eu não tinha respondido às mensagens de Brad. Eu não conseguia
enfrentar o dilema em que me coloquei. Mas agora ele estava me ligando.
TRIM! TRIM!
O caixa olhou para mim, parecendo cada vez mais desconfiado.
— Você vai atender? — ele sondou. Eu não sabia como responder, ou
mesmo se eu poderia responder.
Eu abri minha boca para falar, mas suspiros, em vez de palavras,
saíram.
TRIM! TRIM! TRIM!
Eu estava petrificada. Eu podia sentir o medo subindo pela minha
carne como gelo, me congelando em um estado de inatividade. Caramba!
— Acho que há um problema aqui, — o caixa gritou para seu gerente.
O medo ardente de que este homem aleatório fosse a única a contar a
Brad — ou Xavier — em vez de mim... Foi o que levou meu corpo a voltar
à realidade, para minha mente começar a funcionar.
— Não há nada de errado... eu... entendi, — murmurei para o caixa e
para o gerente, tentando forçar o sorriso mais doce e seguro que pude.
Eu atendi o telefone.
— Olá? — Eu disse, falhando em soar calma.
— Minha querida Angela, está tudo bem? Acabei de receber um email do Bank of
America, — respondeu Brad.
— Oh... bem, na verdade estou aqui agora, sim. Sou... sou eu.
— Então você estava fazendo o saque?
— Sim. Eu estava, — eu respondi, tentando soar normal em uma
situação nada normal.
Brad sabia que eu não era do tipo que gastava grandes quantias de
dinheiro em compras, ou em saídas, ou em qualquer lugar.
Eu era uma velha garota de jeans e camiseta, de ponta a ponta.
Independentemente do dinheiro a que tive acesso.
Mas esse saque... eu sabia que teria que ser explicado. De alguma
forma.
— Por quê? Para que você precisa desse tipo de dinheiro, querida? —
Perguntou Brad. Ele não parecia irritado ou descontente, nem um pouco.
Ele parecia genuinamente preocupado.
Eu me perguntei se ele podia ouvir meu coração batendo como um
tambor ao telefone. Eu podia sentir meu corpo esquentando, minhas
orelhas latejando, dedos tremendo, como se cada centímetro de mim
estivesse infectado com puro pânico.
— Uh... Eu realmente, hum, precisava... — eu disse, tropeçando nas
minhas palavras.
— Seu pai está bem? — Perguntou Brad. — Por favor, Angela. Você
pode me dizer.
— Ele está bem. Eu também estou bem, Brad. Mesmo. Eu só... não sei
o que dizer. Eu...
Eu olhei para o caixa.
Em seus olhos estreitos, eu era uma ladra.
— Quer saber, você não precisa dizer nada, Angela, — disse Brad com
firmeza.
Uma onda de choque percorreu meu corpo.
— O que você quer dizer?
— Eu confio em você. Sempre confiei em você. Se você precisa do
dinheiro, deve ser por um bom motivo. Além disso, é tão pouco.
Esqueci que, para um Knight, dezesseis mil dólares não era ultrajante.
— Obrigada, Brad. Mesmo. Assim que eu puder explicar o que está
acontecendo, eu irei, — eu prometi.
Brad riu.
— Não se preocupe com isso, Angela. Comece a trabalhar para me dar
netos! — E assim, o calor voltou às minhas bochechas, iluminando meu
rosto em chamas.
Isso de novo não.
— Brad, quero dizer, eu... — A linha telefônica foi cortada.
Um VRUUMMM emergiu da mesa do caixa. O dinheiro saiu
disparado da máquina, como se fosse uma encenação, só para mim.
Eu não pude acreditar.
Eu fiz isso.
Tudo se normalizaria para Sophie, para Claudia, e Xavier não
descobriria a verdade em algum banco do centro da cidade. Ele
descobriria corretamente, quando fosse a hora certa.
O caixa enfiou o dinheiro em um envelope imaculado. Ele estava tão
descrente quanto eu.
— Obrigada. — Eu sorri para ele enquanto pegava o envelope de sua
mão. Ao sair do banco, me misturando aos outros pedestres na calçada,
não pude deixar de sentir uma pontada de orgulho.
Eu estava fazendo a diferença na vida dessa garotinha, na vida da filha
do Xavier.
Não importava o quão bagunçado tudo estava prestes a ficar, isso
colocou um sorriso verdadeiro e honesto em meu rosto.
Angela: Estou com o dinheiro.
Claudia: Você pode passar na minha casa.
Claudia: Eu tenho muito o que fazer agora.
Angela: Ok, me mande seu endereço.
Quando Claudia abriu a porta de tela rasgada de seu apartamento,
tornou-se óbvio que ela precisava do dinheiro semanas atrás.
Em suas roupas vivazes e perfeitamente cortadas, Claudia não
combinava com o apartamento em nada. Peguei o envelope de dinheiro,
encontrando no ar o cheiro de carne fresca fervendo.
— Você gosta de hambúrgueres? — Claudia disse, medindo meu
interesse no cheiro delicioso.
Ela entrou na cozinha. Me pegando congelada no lugar, ela acenou
para mim.
E foi então que a vi — Sophie, borbulhando de alegria em seu assento.
Obviamente, ela era adorável; qualquer criança de três anos era.
Mas Sophie era a cara de Claudia, com mechas encaracoladas
castanho-avermelhadas saindo de sua cabecinha. Seus olhos, vibrantes e
alertas, percorreram a sala com curiosidade, engajados em cada canto e
fissura ao seu redor.
Claudia virou os hambúrgueres. Ela acenou com a cabeça para os
pães.
— Você me ajuda? — ela perguntou.
Puxei-os para fora e coloquei-os em pratos.
— Desculpe, tudo o que temos é plástico. É mais fácil com uma
criança. — Claudia riu.
— Imagino que seja. É muito... muito acolhedor aqui, — eu disse a
ela. Era para ser um elogio, mas pude vê-la estremecer. Ser caseira não era
exatamente o que as garotas do Upper East Side sonhavam quando
imaginavam seu futuro.
— Pode comer, — disse Claudia, entregando-me um hambúrguer.
— Ei, pimentinha! — Claudia murmurou para Sophie, entrelaçando
os dedinhos da criança nos dela. Ela moveu Sophie para frente e para trás
em uma pequena dança, fazendo-a explodir em risadas irresistíveis.
Claudia colocou o hambúrguer no prato de Sophie.
No entanto, os braços agitados de Sophie derrubaram o prato da
mesa.
Crac.
Fechei os olhos, preparando-me para o grito inevitável.
Não veio.
Levantei minhas pálpebras para encontrar Claudia limpando debaixo
de Sophie, que parecia tão tranquila como uma casa de chá na costa do
Japão, imperturbada.
Uau. Se ela conseguiu transformar a filha de Xavier em monge, Claudia
deve ser a melhor mãe da história, pensei.
— Eu sempre faço um extra, só para garantir! — ela disse enquanto
voltava para o fogão.
O que ela não fez certo? Se Claudia era o tipo de Xavier, seu tipo era
perfeito. O tipo de mulher que sabe instintivamente como ser mãe, como
controlar uma sala de reuniões, como iluminar uma sala com uma
história.
Eu não poderia fazer isso.
Nunca fui boa em estar perto de pessoas.
Nunca foi... nunca foi eu.
De repente, senti calor. Muito quente. Desconfortavelmente quente.
Como se o peso da expectativa estivesse caindo sobre mim.
Eu precisava sair daqui. Larguei o prato no balcão, tendo apenas dado
uma mordida no hambúrguer, e puxei o envelope da bolsa.
— Aqui, — eu disse a Claudia, colocando suavemente o envelope ao
lado do prato. — Sinto muito, tenho que ir.
Quanto mais tempo eu ficava aqui, menor me sentia. Porque não
parava de pensar que...
Xavier não me escolheu.
Brad o fez.
Por muito tempo, Xavier odiou essa decisão. Ele nem mesmo me
queria em sua vida. Eu era um incômodo respiratório.
Mas Claudia... Ele queria cada centímetro dela, desde o início. Ela era
os fogos de artifício e eu era apenas uma estrela em seu céu.
Uma mensagem vibrou no meu bolso.
Xavier: Cadê você?
Angela: Estou fazendo compras.
Xavier: Mande seu endereço pro Marco.
Angela: Estou meio que no meio de alguma coisa...
Angela: está tudo bem?
Xavier: você descobrirá em breve; ) Xavier: Você mandou sua
localização?
Angela: Eu posso te encontrar aí.
Xavier: Não
Xavier: Não pode.
Xavier: Vai estragar a surpresa.
Angela: Eu prometo que não vou procurar.
Angela: Basta colocar no Uber.
Xavier: Ótimo.
Xavier: Você almoçou?
Angela: Na verdade, não.
Xavier: Perfeito.
Xavier
Quando pedi a Angie para renovar nossos votos, fiquei, é claro, animado
com o significado por trás do ritual. O amor prometido, a unidade
prometida, o futuro prometido. Mas mais do que isso, eu estava animado
para ver o sorriso em seu rosto enquanto fazíamos as coisas certas.
Realmente certas.
E mais do que isso?
Eu estava realmente muito animado com o bolo.
Esperando no bistrô mais exclusivo de Manhattan, certifiquei-me de
que eles preparam todos os tipos de bolo para nós. Trufa de chocolate e
framboesa, caramelo salgado, cappuccino, praliné de avelã do sul e até
mesmo os tipos femininos, como limão e morango.
Quando Angela entrou na loja, ela parecia uma princesa. Seu rosto
estava vermelho de frio, com seus lábios e bochechas rosadas de todas as
maneiras certas.
Ela viu a sobremesa espalhada antes de me ver, e seus olhos
brilharam. Fui até ela, envolvendo minhas mãos em torno dela.
— Oi, — eu sussurrei em seu ouvido, dando-lhe um beijo suave.
— Oi pra você. — Ela sorriu de volta para mim.
— Você está pronta para um negócio sério? — Eu perguntei a ela. —
Não posso casar novamente com você se não sei se você é uma garota de
veludo vermelho ou doce de leite.
Ela riu, deixando-me guiá-la até a mesa. Pegamos nossos lugares.
— Como é que isso funciona? — ela perguntou.
— Bem, é um método muito sério. Como um laboratório de biologia.
Muitos passos cansativos, — eu disse a ela, pegando uma garfada de
caramelo e levando à sua boca. Ela deu uma mordida, praticamente
gemendo de prazer.
— Você gosta disso? — Eu perguntei. Ela assentiu com a cabeça e
pegou uma colher do Death By Chocolate, colocando-a na minha boca.
Droga.
Chocolate quente, droga.
Eu me aproximei dela enquanto passávamos por todas as delícias,
sentindo o calor irradiar de seu corpo.
— Eu simplesmente não consigo escolher. Eles são todos tão
perfeitos, — disse Angela, olhando para todos os bolos em potencial. Ela
olhou para mim através dos cílios, lambendo um pedaço de creme dos
lábios.
— Sabe, há uma coisa que não consideramos, — respondi, passando
meus dedos por sua coxa. Ela estava usando jeans justos e botas até o
joelho, e as botas nunca deixavam de me deixar louco. — Qual sabor a
deixaria mais satisfeita em nossa noite de núpcias?
Enquanto eu olhava em seus olhos, percebi que ela estava ficando
nervosa com a direção do meu flerte. A ousadia disso. Mesmo assim, ela
não desviou o olhar.
Será que eu finalmente estava corrompendo minha esposa?
Angela
Antes que eu percebesse, estávamos de volta em casa, com os lábios de
Xavier pressionando os meus, seus dedos sob as alças do meu sutiã
enquanto ele beijava todo o meu pescoço.
Ele tirou meu sutiã azul-petróleo de cima de mim e me empurrou no
sofá.
Ele segurou meus seios com os dedos, esfregando meu decote.
Então ele pressionou sua língua contra meus mamilos, circulando, em
êxtase.
— Eu quero fazer você gritar, — Xavier sussurrou. Algo sobre o tom
amoroso de sua voz e as palavras descaradas que ele estava dizendo me
levaram ainda mais além.
Eu precisava dele.
Ele me ajudou a tirar minhas botas e, em seguida, puxou meu jeans
para baixo, deixando-me com nada além de minha calcinha.
Xavier beijou minhas coxas, deslizando os dedos cada vez mais perto
de mim. Eu mal conseguia respirar, estava tremendo tanto, com tanta
fome dele — por tudo dele.
Como ele sabe fazer tudo isso? Para me fazer gemer? Para me fazer
tremer? Eu me perguntei, observando enquanto ele tirava a camisa.
Foi então que me dei conta.
Claudia.
Ela o ensinou.
Eles fizeram isso juntos.
Ele fez isso pra ela.
— Pare, pare... eu não posso, — eu saí, me afastando dele. Xavier
congelou, observando enquanto meu corpo quase nu cruzava o corredor.
Eu podia ver a decepção estampada em seu rosto.
— Você não pode o quê, meu anjo? O que há de errado? — Ele
perguntou, com preocupação misturada à frustração em sua voz.
— Nada, — eu consegui dizer, escondendo meu rosto em minhas
mãos.
— Angela... — Ele parou, fechando o espaço entre nós. Ele
gentilmente removeu minhas mãos do meu rosto e me olhou bem nos
olhos.
— O que está acontecendo?
Eu respirei fundo.
— Não consigo parar de pensar nela. Em você e ela... juntos...
— Eu e quem?
— Claudia, — eu disse, com minha voz tremendo. — Tem certeza de
que ainda não está apaixonado por ela?

Capítulo 22
F lash
Xavier
Xavier: Precisamos conversar.
Claudia: Quem está falando?
Xavier: Adivinhe, Didi.
Claudia: Xavier... já faz muito tempo.
Xavier: Encontre-me na exposição Dali amanhã às 2.
Se há uma coisa em que Claudia era boa, era estragar minha vida.
Mas eu pensei que tinha ficado melhor em me proteger, em pará-la.
Até que ela de alguma forma pegou Angela em sua loucura, levando-a
para um passeio que a consumia. O tipo de passeio que ela não conseguia
tirar da cabeça por tempo suficiente para agir intimamente comigo.
Brincar comigo era uma coisa. Eu era um menino crescido.
Eu poderia lidar com isso, mas colocar Angela em jogos mentais,
manipular sua inocência — sua pureza — era um jogo totalmente
diferente.
E eu não toleraria isso.
Especialmente quando a mulher que orquestra a loucura foi a mulher
que partiu meu coração.
Ela realmente me deu um baita baque. Éramos reais, pelo menos,
pensei que éramos.
Quando eu a pedi em casamento, eu realmente queria oferecer tudo a
ela. Dar a ela o mundo. Dar a ela meu coração.
E então eu a peguei me traindo.
Com meu melhor amigo.
Achei que seríamos capazes de superar isso, mas Claudia deixou claro
que ela havia terminado.
Se não fosse por meu pai me empurrando para a Angela, eu
provavelmente ainda estaria sozinho, amuado e isolado do resto do
mundo, saindo apenas para ter brincadeiras aleatórias para lamber
minhas feridas. Claro, elas eram modelos. Claro, elas eram o sonho de
qualquer cara.
Mas não foi satisfatório.
Não foi realmente nada, para ser honesto.
Agora, eu tinha tudo de novo. Uma mulher que eu não apenas amava,
mas confiava. Uma mulher que eu conhecia como sendo honesta,
cuidadosa, e uma mulher que se preocupava comigo, que queria o
melhor para mim.
E Claudia estava arriscando isso.
Tudo que eu preciso é um motivo para arruiná-la, pensei comigo
mesmo enquanto caminhava em direção a ela. Eu disse a ela para me
encontrar no Museu de Arte Moderna, esperando que o silêncio
obrigatório me impedisse de gritar com ela. Me impedisse de perder
minha cabeça.
Esperançosamente.
Claudia não tinha se vestido para o museu. Ela parecia que estava
indo para um baile de gala, seu vestido perfeitamente passado e seu
cabelo bem arrumado.
Ela sempre parecia seu melhor quando estava na pior, porra. Ela
estava deslumbrante quando me traiu com meu melhor amigo, e ainda
mais linda quando cancelou nosso noivado para fugir com ele.
— Fiquei surpresa que você quisesse me ver, — Claudia admitiu
enquanto olhava para os relógios gotejantes de Salvador Dali. Era minha
pintura favorita, mas eu não conseguia nem apreciá-la ao lado daquela
mulher.
— Espero que esta seja a última vez que te verei, Claudia, — eu disse
uniformemente. — Estou casado agora.
— Eu sei.
— Então você está fazendo tudo que pode para destruir isso?
Claudia baixou os olhos. Eu não poderia dizer se a culpa estava
pesando sobre ela ou se ela estava tentando evitar meu olhar para que eu
não pudesse dizer o que ela estava pensando.
Afinal, eu conhecia bem seu rosto mentiroso.
Eu já tinha visto isso mil vezes antes.
— Angela é uma garota legal, — disse ela, com um tom soando
genuíno.
E você é uma vadia doida, pensei. Ouvir o nome de Angela saindo de
sua boca imediatamente fez meu sangue ferver.
— Você acha que eu não sei disso? Você acha que eu não sei que ela
vai cair na sua e acreditar que você é a boa pessoa que diz ser? É muito
fácil cair nos seus jogos, — eu disse, fervendo. — Mas ela tem a mim para
protegê-la.
Claudia olhou para mim e foi como se seus olhos estivessem
perfurando minha alma.
— Eu te conheço melhor do que você pensa, Xavier, — disse ela
suavemente.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Por que estamos no MoMa? Você estava com medo de não
conseguir manter a calma.
Senti o suor acumular em minhas palmas. Por que fiquei surpreso?
Não havia nada que ela não usaria contra mim, incluindo minha própria
raiva.
— Eu não vou entrar nisso com você. Nem agora, nem nunca. Você
não vale a pena. Eu só queria dizer a você, pessoalmente, para ficar longe.
De mim, de Angela. Você não faz parte de nossas vidas. — Quando as
palavras a invadiram, eu vi seus lábios se curvarem em uma espécie de
sorriso malicioso.
Algo estava acontecendo.
— É uma coisa desagradável de se dizer à mãe de sua filha, — ela
respondeu.
Eu parei.
Congelado.
Meu sangue esquentou.
Minha mente começou a correr.
Isso não poderia... não havia como...
Ela estava alcançando... Não, ela estava indo com tudo.
— Eu não quero ouvir suas besteiras, Claudia.
— Sem besteira. Você precisa saber disso, Xavier. Eu preciso que você
saiba disso, — ela respondeu lentamente, como se, com cada sílaba, a
terra abaixo de nós pudesse rachar. — Eu tenho uma filha. O nome dela é
Sophie e ela tem três anos. Ela está querendo conhecer seu pai. Você.
Merda.
MERDA!
Merda de merda.
Eu queria gritar que ela estava mentindo, porra.
Eu queria gritar tão alto que o mundo ao meu redor se apagasse, que
ela fosse apagada da minha memória.
Mas não consegui.
Uma bomba atômica detonou dentro de mim, espalhando questões
radioativas em minha corrente sanguínea.
Onde está Sophie?
Ela é realmente minha filha?
Como Claudia pôde mantê-la longe de mim? Por que ela a escondeu de
mim?
Por que ela mencionaria isso agora que Angela e eu somos felizes?
Ela trouxe isso à tona porque Angela e eu somos felizes?
Eu queria jogar as pinturas das paredes e despedaçá-las.
Para perder cada grama da pessoa que eu era.
Mas não consegui.
A raiva invadiu meu corpo tão rapidamente que não consegui me
mover. Eu não conseguia respirar. Eu era uma estátua cimentada em
choque líquido, mais pedra do que homem.
E então Claudia veio para o segundo round.
Ela me puxou contra ela, chocando seus lábios contra os meus em um
beijo amaldiçoado.
Claudia
Flash.
Enquanto eu segurava Xavier contra mim, observei o fotógrafo
capturar nossos lábios se fechando.
Flash.
Corri minhas mãos por seus cabelos e ouvidos para que ele não
pudesse ouvir os cliques do obturador.
Flash.
Por um segundo escorregadio, foi bom, como quando, quando você se
corta, a adrenalina bombeia com o sangue, lembrando você de que ainda
é frágil. Que você ainda está viva.
Flash.
Xavier me empurrou para longe dele com força violenta. Quase bati
no chão, mas fiquei parada, desafiadora, com as pernas tremendo.
Eu tinha acertado em cheio.
— Que diabos está errado com você? — Ele fervia, com sua pele
normalmente bronzeada parecendo horrível.
— Eu... eu pensei que nós éramos uma família. Precisamos fazer isso
funcionar, por nossa filha, — eu implorei, tentando o meu melhor para
soar confusa e com o coração partido.
Mas os olhos de Xavier brilharam de raiva. Eu poderia dizer que ele
não estava acreditando.
— Se você quisesse, não teria deixado três anos se passarem, Claudia.
Você diz que me conhece? Bem, eu te conheço. Você não está aqui pela
sua filha. Você está aqui por você, — ele cuspiu em mim.
— Nossa filha, — eu sibilei, observando as palavras cortá-lo como
pontas de flecha.
— Prove, — ele respondeu no verdadeiro estilo Xavier. — Eu parei de
acreditar em você há muito tempo, e não vou começar de novo agora.
Prove que a criança é minha e podemos conversar novamente.
Eu sabia que ele era um homem difícil. Você não ganhou um lugar
entre os melhores e mais brilhantes do mundo escolhendo a maneira
mais fácil de resolver as discussões.
O que eu não adicionei aos meus cálculos foi que seu ódio por mim
era profundo o suficiente para permanecer resoluto, mesmo com uma
criança na mistura.
Por alguma razão, eu senti uma centelha da paixão, que costumava
correr entre nós, explodir.
Eu alguma vez o amei? Eu honestamente não sabia.
Achei que tinha adorado a ideia dele, de como ele era o homem que
tinha tudo, o herói da história. Meu Deus, até mesmo seu nome era
corajoso e nobre — Knight.
Mas quando nosso noivado acabou, ele se tornou mais Noite do que
Knight, um feitiço escuro lançado sobre mim, que fez até mesmo uma
sala lotada parecer vazia. Era como se eu não pudesse fugir de sua
sombra.
Quando eu estava com ele, ele lançava uma sombra sobre toda a
opulência que nos cercava.
Quando eu estava sem ele, toda aquela opulência estava escondida de
mim. Fora do meu alcance.
— Eu sou um homem poderoso, Claudia.
— Eu sei, — respondi, rindo por dentro.
Ele era um grande fantoche que não conseguia identificar suas cordas
de renda.
— Mas eu sou um inimigo ainda pior, — ele declarou, com seus olhos
vermelhos e brilhantes. — Escolha seu próximo movimento com cautela.
A última vez que o vi tão instável foi na vez em que o vi todos aqueles
anos atrás. Quando eu arruinei sua vida pela primeira vez. Ele descobriu
algo naquela noite que partiu seu coração em dois.
E agora, quatro anos depois, eu estava fazendo isso de novo.
Dando a ele uma notícia da qual ele não poderia se recuperar.
Contando a ele um segredo que não apenas destruiria a vida que ele
conhecia, mas alteraria o curso de seu futuro.
Quase me surpreendeu não sentir a menor sombra de culpa. Olhando
para ele, vendo o dinheiro praticamente pingando de cada centímetro de
sua pele, do suéter de cashmere aos sapatos de couro italiano, ele era um
alvo.
E eu estava jogando com ele.
Assim que vendesse a foto do playboy bilionário traindo sua esposa
perfeita e celestial, eu provaria meu gosto de riquezas. O gosto que eu
merecia, por dedicar todo esse tempo. Foi preciso mais do que uma sorte
cega para fazer alguém acreditar que estava em um relacionamento
perfeito.
E eu estava prestes a ser recompensada por meus talentos.
Xavier
Um pai. Eu posso ser a porra de um pai.
Eu senti que ia vomitar.
Eu não tinha ideia do que fazer com uma criança, e ter uma com
Claudia abriria todos os tipos de portas que eu tinha trancado há muito
tempo. Umas que eu não tinha intenção de abrir nunca mais.
Eu balancei minha cabeça.
Não é verdade.
Não pode ser verdade.
Ela está mentindo.
Porque era isso que Claudia fazia. Ela mentia, enganava e manipulava
todos para conseguir o que queria.
Era uma das coisas que eu achava tão atraente nela, sua assertividade
competitiva. Agora ela tinha voltado para me atacar.
Ela e eu sempre usamos proteção. Eu estive fora por duas semanas em
uma viagem de negócios antes de voltar para casa para encontrá-la com
Daniel. A garota poderia ser facilmente dele. Ou qualquer outra pessoa
com quem ela estava me traindo.
Minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo e fechei os
olhos, respirando fundo.
Eu precisava me acalmar e pensar nisso de forma racional. Claudia
me queria vulnerável, instável. Foi assim que ela cravou suas garras.
Eu não conseguia acreditar que Claudia pensava que poderia se
vingar de mim jogando uma criança na minha cara. O que ela estava
esperando? Uma grande reunião de família feliz? Eu não passaria outra
noite sob os lençóis daquela vadia nem por todo o dinheiro do mundo,
muito menos brincar de casinha com ela.
Enquanto uma parte de mim desejava poder conhecer a criança, vê-la
com meus próprios olhos, uma parte maior de mim se recusou a negociar
com uma terrorista.
A criança não era apenas uma criança. Ela era a arma com a qual
Claudia confiaria para dividir minha vida, para demolir tudo de bom que
eu tinha. Eu não poderia deixá-la fazer isso.
Mesmo que isso significasse não conhecer minha própria filha, eu
protegeria tudo o que Angela e eu criamos para nós mesmos — a
qualquer custo. Eu já tinha tomado essa decisão e a manteria.
Então, assim que a porra da Claudia me beijou, eu dei o fora de lá. Eu
tornei a ideia de que tinha uma filha como uma ferida grande demais
para pontos.
Eu não sangraria por aquela vadia manipuladora, não mais. Eu já tive
muita dor com ela.
Agora, as coisas eram diferentes. Agora eu tinha uma mulher por
quem daria minha vida.
Ela era a razão de eu acordar todos os dias não apenas contente, mas
feliz.
Quando as portas do elevador do nosso apartamento se abriram, eu
entrei, pronto para pressionar meu peito no dela.
Eu precisava sentir o calor de sua pele, de seu ser, em mim. Eu
precisava dela para me confortar, para me dizer que nada fora de nós
importava.
Não agora, pelo menos.
— Ei, Angela, eu cuidei da questão, — gritei, caminhando pelo
corredor até a cozinha. Foi quando encontrei Angela inclinada sobre a
bancada, tremendo de soluços.
— O que aconteceu? O que há de errado? — Eu perguntei, correndo
até ela.
Ela tentou formar palavras, mas elas foram vencidas por gritos de
angústia.
Tentei embalá-la, para confortá-la, mas ela apenas me empurrou.
Isso machuca. Não fisicamente, mas emocionalmente, como se ela
estivesse me tratando como um estranho invadindo seu espaço. Não
como seu marido, e não como o amor de sua vida.
— O que está acontecendo, Angie? — Eu implorei.
Então ela olhou para mim e meu coração parou. Seus olhos estavam
cobertos de lágrimas e seus lábios tremiam. Me matou vê-la com tanta
dor.
Angela pegou seu telefone e tudo o que eu estava sentindo ficou dez
vezes pior.
Porque tinha uma foto na tela de Claudia me beijando. Estava na
primeira página de um site de fofocas, mas logo seria notícia nacional.
Na foto, os braços de Claudia estavam em volta de mim com força.
Nossos olhos estavam fechados, nossos corpos bem juntos. Eu parecia
um participante voluntário, não uma vítima.
— Não é o que parece, Angela. Sério, eu posso...
— Você disse que não a amava! — Angela chorou. E então ela deixou
cair o telefone no balcão, como se fosse muito doloroso de segurar.
E ela correu — direto para o quarto, trancando a porta atrás dela.
Porra.

Capítulo 23
Esqueça, mas não perdoe
Angela
— Ele é um babaca do caralho, Angie! — Dustin se enfureceu enquanto
arrumava o sofá de sua sala para mim.
— Me desculpe, eu não tenho um quarto de verdade para você.
Mudar de um estúdio de merda para um de um quarto foi uma melhora,
mas não o suficiente para abrigar uma melhor amiga chateada, eu acho,
— ele brincou.
Eu sabia que ele estava tentando aliviar o clima, então ofereci minha
melhor tentativa de sorrir.
No entanto, provavelmente ainda parecia que eu estava prestes a
chorar.
Assim que Xavier parou de bater na porta do nosso quarto,
implorando-me para deixá-lo entrar, pressionei meu ouvido na porta e
ouvi seus passos recuando pelo corredor.
Eu sabia que a janela de oportunidade que eu tinha para escapar era
pequena, então enxuguei as lágrimas do meu rosto, respirei fundo e abri
a porta.
E então corri o mais rápido que pude na ponta dos pés, todo o
caminho até o elevador. Quando as portas do elevador se fecharam, eu
finalmente liberei o ar que estava segurando. Então corri direto para a
casa de Dustin.
— Sério, Angela, você não merece esse tipo de babaquice, ok? Você é
boa demais para ele, — continuou Dustin, colocando uma mão amiga no
meu ombro.
Mas ainda que muito grata por ele estar me deixando ficar com ele,
por ele estar me dando ouvidos e por todos os abraços que eu precisava,
algo sobre a maneira como Dustin estava criticando Xavier me deixou...
inquieta.
— Podemos falar sobre outra coisa? — Eu perguntei, indo até o sofá.
Eu precisava parar de falar sobre minha vida amorosa indo por água
abaixo, sobre o homem que me traiu. Novamente.
Não que eu não tivesse mil reclamações sobre ele. Meu corpo parecia
uma máquina de vender sentimentos. Basta apertar um botão e uma
retrospectiva cairia, como eu deveria saber que Xavier me trairia.
Ele sempre me traiu.
Ele provavelmente nunca parou.
— Garota, você precisa desabafar. É sério. Se você mantiver tudo
fechado, isso vai corroer seu corpo pequeno.
— Não quero desabafar, Dustin. Eu não quero falar nada.
— Mas ele FODEU COM TUDO! — Dustin gritou. — E você precisa
saber que você merece alguém melhor.
— Você não sabe a história completa, — falei antes que pudesse me
conter. — Você não sabe o que Xavier e eu... o que não tínhamos falado
entre nós...
Dustin ficou boquiaberto.
— Como é que é? Você está tentando me dizer que não sei sobre ser
tratada como merda por homens de merda? — Dustin respondeu. —
Cher? Dolly Parton? Barbra Streisand? Já ouviu falar delas?
— Hum, é claro, — eu respondi, imediatamente confusa. Eu não
estava tentando dizer isso a Dustin, de jeito nenhum, mas ele pensar que
isso era o que minha vagueza implicava era muito melhor do que saber a
verdade.
Que eu sabia de algo que Xavier não sabia.
Que eu sabia que ele tinha uma filha... com sua ex.
A quem ele claramente ainda amava.
— O que elas são? — Dustin sondou.
— O quê?
— Cher. Dolly. Barbra.
— Cantoras? — Eu adivinhei, ainda sem ter ideia do que ele estava
tentando provar.
— Verdade. Mas, mais importante, falso. Elas são ícones gays. Quem
você acha que sustentou toda a sua discografia de meninos que tratam o
amor como um jogo doentio? Quem se recusou a descartá-los enquanto
eles ultrapassaram seu auge de Hollywood?
Ele fez uma pausa dramática como se eu soubesse do que ele estava
falando.
— Milhares de gays. Porque sabemos como é, Angie. As únicas
pessoas que os homens fodem e fodem mais do que as mulheres são os
outros homens!
— Não tenho dúvidas de que você sabe como me sinto, Dustin, — eu
disse lentamente, tentando acalmar um pouco sua resposta dramática. —
Só estou dizendo que... não estou com vontade de pensar nisso. Não
agora. Prefiro me distrair.
Dustin olhou para mim e, depois de alguns momentos, acenou com a
cabeça.
— Ok. Sim. Seu trauma é o meu trauma, Angela.
Eu dei a ele um olhar interrogativo. Ele sorriu e se sentou ao meu
lado, agarrando minhas mãos nas dele.
— Você quer assistir a clipes de cães se reunindo com seus pais
soldados que acabaram de voltar da guerra? — Ele perguntou.
Uma risadinha escapou da minha garganta antes que eu pudesse
detê-la. E depois outra. E então, simplesmente assim, eu me perdi em um
ataque de risos, com meus olhos bem fechados.
Eu podia ouvir a risada de Dustin ao fundo, podia sentir suas mãos
ainda envolvendo as minhas, mas não conseguia me concentrar nele. Eu
estava muito ocupada focando no absurdo de todo o resto.
Uma semana atrás, eu estava tão feliz com minha vida.
Eu me sentia tão forte.
E agora... era como se o tapete tivesse sido puxado debaixo de mim,
revelando que nunca houve um piso debaixo dele.
Xavier
Qualquer atuação que eu estava fazendo, fingindo que eu sabia o que
diabos fazer com Claudia, estava acabada.
Quando a deixei no MoMa, realmente acreditei que havia resolvido o
problema. Eu esmaguei o problema antes que ficasse fora de controle.
Mas agora, isso estava claramente errado.
Tudo. Errado. Porra.
Estava oficialmente fora de controle e eu tinha falhado oficialmente
em esmagá-lo.
Era como se Claudia tivesse derramado ácido emocional por toda a
minha vida, destruindo as raízes que me conectavam a qualquer coisa
resistente.
Angela havia desaparecido do apartamento. Meu pai estava ignorando
minhas ligações. Mesmo Lucille não conseguia manter o contato visual.
Quando perguntei onde estava o leite de amêndoa, ela apontou sem
olhar para mim.
Tentei enviar uma mensagem de texto para Angela.
Tentei ligar, deixar mensagens de voz, tudo.
Até tentei ligar para Em.
Mas tudo que consegui foi um monte de nada.
Por mais agravante que isso fosse, enquanto eu estava sentado
sozinho no balcão da cozinha, bebendo meu café da manhã, não era
realmente surpreendente. Fiquei furioso quando cheguei em casa,
furioso porque Angela nem me deixou tentar explicar.
Mas então eu parei.
E me ocorreu que ela tinha visto uma foto comigo e minha ex-noiva
nos beijando. Que o resto de Nova Iorque, o resto do mundo também
poderia ver a foto.
Se as situações fossem invertidas, eu estaria fazendo muito pior do
que dar um tempo. Então parei de ligar para ela a cada cinco minutos.
Parei de enviar mensagens desesperadas e parei de incomodar seus
amigos.
Ela sabia onde eu estava.
Quando Angela estiver pronta para falar comigo, ela voltaria.
Ela voltaria para casa.
Por mais que eu tenha repetido essa lógica para mim mesmo ao longo
das últimas sete horas, eu não conseguia me forçar a realmente desistir.
Eu não podia simplesmente sentar e não fazer nada, esperando que ela
voltasse para casa. Esperando que ela voltasse para mim.
Embora eu não quisesse depender de meu pai para trazê-la de volta,
eu sabia que ela e meu pai tinham uma ligação especial.
Ela confiava nele muito antes de confiar em mim.
Então terminei meu café e fui para o elevador, pronto para embarcar
em uma viagem matinal para o centro da cidade.
Assim que cheguei ao prédio de meu pai no Upper East Side, o
porteiro abriu a pesada porta de carvalho.
— Bom dia, Sr. Knight. — Ele acenou para mim.
Eu balancei a cabeça de volta, correndo direto pelas portas até o
saguão.
Então eu estava no elevador particular do meu pai, indo para a
cobertura, um lugar grande demais para uma família de cinco pessoas,
quanto mais para um cara. Mas eu realmente não era de falar.
Eu não era estranho a residências luxuosas.
Não foi até eu estar no elevador que me ocorreu algo. Meu próprio
pai pode não acreditar em mim. Ele poderia pensar que a imagem e as
implicações dela eram reais.
Um pensamento esperançoso surgiu em minha mente. Talvez ele não
tenha visto.
Mas eu me esquivei.
Não seja estúpido. Claro que ele viu. Cinco de seus caras de relações
públicas provavelmente já enviaram fotos para ele.
Ele pode pensar que estou fazendo minhas velhas merdas, meu
comportamento de bad boy e festeiro. E claro, eu poderia tentar
convencê-lo do contrário, mas as ações falavam mais alto do que
palavras. Isso foi o que ele sempre me disse.
E ele viu minhas ações anteriores.
Ele tinha visto a maneira como eu tratava as mulheres antes de
Angela.
Uma vez mulherengo, sempre mulherengo.
Mas ele era meu pai. Ele seria capaz de olhar nos meus olhos e ver a
verdade, não é? Ele conheceria meu verdadeiro eu, não a versão fodida
que eles criaram para tabloides.
Ele saberia que eu estava loucamente apaixonado por Angela.
Que eu faria qualquer coisa para protegê-la, mesmo que isso
significasse ficar fora da vida da minha talvez filha.
As portas se abriram e eu entrei no saguão. Imediatamente fiquei
impressionado com o quão diferente parecia. Parecia que alguém
realmente estava morando nele.
Os cobertores de pele de carneiro foram jogados sobre o sofá de
couro feito à mão, os travesseiros de chiffon de dois mil dólares estavam
espalhados por todo o piso de madeira de avelã e, meu Deus, parecia que
ele estava lendo alguns de seus raros livros antigos.
Meu pai estava tentando se aposentar e, vendo seu terreno, parecia
um bom ajuste.
— Olá, pai? — Eu gritei. Ninguém respondeu.
Esperei mais alguns segundos.
— Pai? — Eu tentei de novo.
Foi quando ouvi passos.
O arrastar de chinelos macios — um som distinto que eu mesmo ouvi
algumas vezes.
Merda.
Este era um resultado que eu não tinha pensado.
Uma possibilidade que nem havia passado pela minha cabeça.
Eu fui lá para ver meu pai, para pedir-lhe conselhos — para ajudar a
salvar meu relacionamento — mas nunca esperei ser confrontado com
Penny.
Eu trouxe meus dedos para o meu cabelo, passando-os pelas minhas
mechas como se o mero movimento fosse o suficiente para me tirar dessa
situação.
Mas não foi.
Porque Penny estava saindo da porta no final do corredor, sua camisa
de botão muito grande expondo seu ombro nu, vindo direto na minha
direção.
Brad
Já fazia muito tempo que meu coração não doía tanto.
Em minha vida, vi fotos de meu filho fazendo várias coisas ultrajantes
na imprensa. Mas ele beijando Claudia, sua ex-noiva, enquanto ele era
casado com a mulher mais doce da terra? Isso foi, de longe, a pior.
Eu ansiava por ele, pela confusão e raiva que ele devia estar sentindo
com o retorno dela para sua vida. Rezei para que Angela fosse capaz de
ver além disso, para ver a verdade, para que eles pudessem superar esse
obstáculo juntos.
Isso era o mais importante — que eles permanecessem juntos.
Com a necessidade de ajudar, de fazer alguma coisa, resolvi ir direto à
fonte. Não havia dúvidas em minha mente de quem estava por trás de
toda essa dor.
Meu motorista me deixou em um bar no Bronx.
No instante em que vi a foto nos tabloides, entrei em contato com ela.
A mulher era uma coisa ruim, uma coisa terrível, e era hora de tratá-la
como tal. Eu entrei no bar surrado, vendo-a já em uma mesa. Coloquei a
pasta de couro em sua superfície pegajosa.
— Seja qual for a quantia que você está planejando chantagear meu
filho, isso é mais, — eu disse, mantendo minha voz firme.
Era difícil acreditar que, depois de todos os anos que a tratamos como
família, e todos os anos que Xavier perdeu para a dor da separação, ela
voltaria e faria isso.
Tiraria vantagem de nós desta maneira.
Ela abriu a pasta e encontrou quinhentos mil dólares em dinheiro.
— Não tenho mais fotos de Xavier. Você está me pagando por pagar,
— disse ela, ainda com os olhos no dinheiro. — Não estou chantageando
ninguém.
— Estou pagando para você deixar minha família em paz. Eu sei que
você e Xavier têm sua história, Claudia. Sempre pensei que você fosse
uma garota doce, sob toda aquela manipulação, — eu disse a ela.
Eu a vi estremecer.
— Mas agora você não está apenas o machucando. Você está
machucando Angela, e ela não é como você. Ela age por pureza, por
retidão, e ela não merece ser magoada. Então pegue o dinheiro. E fique
longe dos Knights.
Observei Claudia engolir as palavras.
Depois de alguns momentos, ela deu um leve aceno de cabeça e
endireitou os ombros, deslizando para fora de seu assento.
Ela fechou a pasta e, depois de me lançar uma última olhada, saiu do
bar.
Bem, pensei, respirando fundo, está resolvido.
Quando voltei para o meu carro, tentei limpar a sujeira das minhas
mãos. Mas então percebi que não era a viscosidade da mesa que estava
grudada na minha pele. Era a sujeira de toda a situação.
Xavier
— Onde está meu pai? — Perguntei a Penny, mal fazendo contato
visual. Se dependesse de mim, eu não estaria falando com ela, mas
precisava de respostas. Portanto, reter o contato visual foi o melhor que
pude fazer.
— Fazendo negócios, — Penny respondeu.
— Ele está aposentado.
— Apenas no papel. — Ela sorriu, e eu imediatamente me arrependi
de erguer meus olhos até seu rosto. A audácia dela em sorrir. Por apenas
estar no apartamento do meu pai. Como se ela morasse lá. Como se ela
fosse a dona do lugar.
Penny claramente apenas saltou de um homem rico para o outro
como um sapo em um lírio.
— Então, o que você está fazendo aqui, Penny? — Eu disse, dando um
passo mais perto, forçando-a a me olhar nos olhos. Forçando-a a ver isso,
embora meu pai pudesse ser cego de amor, eu certamente não era.
Eu queria que meu pai fosse feliz, com certeza. Mas quando sua
pequena bolha de euforia estourou, eu também queria ter uma pilha de
evidências contra a mulher que a estourou.
— Este é meu apartamento, Xavier, — Penny respondeu, com os
olhos arregalados parecendo sérios.
— Desde quando? — Eu perguntei, pasmo por meu pai deixá-la entrar
tão rápido.
— Algumas semanas.
Porra.
Enquanto eu pensava em maneiras de dizer ao meu pai para ter
cuidado — para cuidar dele de vadias oportunistas procurando uma
cobertura palaciana para chamar de lar — eu pude ver que Penny estava
me avaliando.
— Eu sei que você não gosta de mim, Xavier, mas...
— Você pulou de mim para o meu pai, — eu interrompi. — Sem
mencionar que você namorou aquele psicopata Jacques. Sério, Penny, o
que diabos há de errado com você?
Penny recuou de dor.
— Jacques... foi uma época sombria na minha vida. Mas eu terminei
com ele como você — Não, eu não gosto de você, — interrompi antes que
pudesse ouvir sua história triste novamente. — Mas, além de meus
sentimentos pessoais, você não me deu nenhuma razão para confiar em
você. Objetivamente.
Em vez de fugir com minhas palavras duras, ou cair em um poço de
lágrimas, Penny apenas apertou as mãos com força na frente dela.
— Você confiou em mim o suficiente para ir àquele armazém para
salvar Angela, — ela atirou de volta, com um pouco de fogo em seus
olhos.
Eu engoli a resposta amarga se formando em minha garganta.
Ela estava certa.
Logicamente, de qualquer maneira.
Mas sempre que eu olhava para ela, podia sentir o calor subindo pela
minha nuca. Algo se contorcendo sob minha pele que me deixou furioso.
O que há de errado comigo?
— Eu sei. Eu sei como parece, ok? Eu não sou burra, — disse ela,
olhando para o chão.
Mordi minha língua e ela continuou.
— Mas eu amo ele. Amo seu pai de verdade, Xavier. E farei tudo o que
puder para que isso funcione.
— Você o ama, Penny? Ou você ama o dinheiro dele?
— Nunca foi por dinheiro, Xavier.
— Okay, certo. Posso ver todas as suas novas joias e roupas de grife e...
— Brad me faz usar isso! — Penny disse. Ela riu de repente, o som me
pegando de surpresa. — Na verdade, brigamos um pouco sobre isso... Ele
gosta de me mimar.
— Eu não acredito em você.
Penny suspirou, olhando-me diretamente nos olhos.
— Lembra antes? Quando você e eu costumávamos... — ela fez uma
pausa — nos vermos. Quando você estava presente depois que eu
terminei com Jacques. Você costumava tentar me dar todos esses
presentes, e eu nunca aceitei nenhum deles.
Eu fiquei em silêncio.
Eu não pude negar.
— Eu sei que você pensa que eu sou uma interesseira. Que eu
simplesmente me apego a qualquer homem com dinheiro que vejo. Mas
Brad... Brad é o primeiro homem com quem estive que quer que eu seja
uma pessoa.
Penny sorriu. Ela parecia melancólica e feliz, e...
Parece que ela está apaixonada.
— Ele não quer apenas me ouvir cantar bem. Ele quer ler todos os
livros que eu recomendo a ele. Ele quer jogar jogos de tabuleiro comigo.
— Ele quer me ouvir falar, discutir, ficar com raiva, ser caótica e... e...
humana. Posso ser esquisita e idiota com ele. Então, sim, eu o amo.
— E não tem nada a ver com o dinheiro? — Eu pressionei. Pode ter
sido indelicado — ou totalmente rude — mas eu precisava saber. Eu
precisava ouvi-la dizer isso.
— Eu adoraria aquele homem se ele estivesse quebrado, limpando o
palco depois que eu fiz meu show, — disse ela. — Assim como Angela
ama você, Xavier.
— Você não sabe do que está falando, — eu disse, não querendo
entrar nisso, na minha vida privada no momento atual. Mas Penny não
estava desistindo.
— Não, você não sabe do que estou falando. Eu vi a foto, Xavier. E eu
sei que o que quer que seja... não foi você. Não o você que você é agora,
pelo menos.
Tentei recuar, para impedir que a conversa continuasse, mas Penny
apenas se aproximou de mim e agarrou minha mão.
— Angela vai te perdoar. Se você merece o perdão dela. Você precisa
lutar por ela, Xavier.
Eu fiquei sem palavras.
Até aquele momento, eu tinha pensado que o ato de menina doce de
Penny era tudo uma fachada.
Uma armadilha para atrair seu próximo alvo.
Mas talvez — apenas talvez — eu estivesse errado.

Capítulo 24
(In)Visível
Angela
Lucas: Onde você está?
Angela: No café de Dustin.
Lucas: Tô tentando ligar pra você.
Angela: Desculpa, o sinal não é muito bom aqui.
Angela: Está tudo bem?
Lucas: Em está no hospital.
Lucas: Eles não conseguem encontrar o batimento cardíaco do
bebê.
Angela: Ai, meu Deus.
Angela: Estou indo.
Conforme eu crescia, as pessoas me perguntavam o que eu escolheria
como meu superpoder.
Sempre disse que escolheria a invisibilidade.
O poder de se esconder, mas ainda assim ter acesso ao mundo. Para
ver, para ouvir, mas sem a pressão da interação.
Eu sonharia em ser invisível.
Honestamente, de muitas maneiras, eu já estava. Na escola, eu sabia a
resposta, mas não levantava a mão. Em casa, eu queria coisas, mas queria
que todos os outros tivessem sua lista de desejos satisfeita primeiro.
Para mim, se pudesse ficar invisível, eu estaria completa. Eu poderia
me mover por este mundo como um eco, ondulando em uma graça
silenciosa. Eu poderia fazer a coisa certa e não sofrer a pressão de poder
ser exposta.
Assim, haveria mais espaço para todos os outros, certo?
Mas quando eu soube que eles tinham perdido o batimento cardíaco
do bebê de Em — minha sobrinha — eu não queria ser invisível, não
mais.
Eu escolheria um superpoder diferente.
A capacidade de voar. Para chegar lá o mais rápido que pudesse, livre
de tráfego, estacionamento ou estradas.
Mas assim que cheguei ao hospital, estava de volta ao meu eu meio
transparente. Encontrei meu pai, que me olhou como se tivesse visto um
fantasma.
Eu não conseguia acreditar que depois de lutar para viver, depois de
fazer tudo que podia para estar vivo para encontrar seus netos, ele estava
de volta a uma masmorra estéril. Só que desta vez, ele não estava lutando
por si mesmo. Ele estava assistindo a luta de seu neto.
No quarto do hospital, o ar estava pesado de indignação. Lucas se
sentou ao lado de Emily, que estava na cama, segurando sua mão com
força. Papai andava de um lado para o outro enquanto a médica jogava
jargões para nós.
— Vou verificar suas medidas fetais. Só precisamos nos preocupar se
não houver batimento cardíaco fetal em um embrião com comprimento
entre cabeça e nádega maior que cinco milímetros, — disse ela, passando
os dedos pela barriga de Em.
— O que isso significa? — Lucas respondeu, com sua voz carregada de
pânico.
— O técnico de ultrassom chegará em breve para ver se você precisa
de um ultrassom transvaginal ou de um ultrassom abdominal 2D ou 3D,
— explicou a médica.
Aparências de confusão dispararam pela sala como estilhaços.
— Por favor, estamos com medo. Diga-nos o que está acontecendo! —
Em explodiu.
— Acabei de lhe dizer, senhorita, — respondeu a médica.
— Ela quer dizer nos diga o que está acontecendo em português, —
meu pai esclareceu.
— Ela está dizendo que há trovões, mas não necessariamente uma
tempestade, — uma voz anunciou da porta. Todos nós giramos nossas
cabeças e lá estava ele. O homem que amei.
O homem dos meus sonhos.
O homem de quem eu tinha tanta raiva.
O homem que me traiu.
O homem com quem eu me sentia segura.
— Certo? — Xavier perguntou, sua pergunta dirigida à médica. Ela
acenou com a cabeça, claramente tão atraída por ele quanto eu.
— Certo. Não há necessidade para ficar triste ainda, — ela assegurou
a Em. — Vamos fazer esses testes, e então teremos as respostas. Nós
vamos chegar ao fundo disso.
Eu sabia que as palavras da médica se destinavam à emergência
médica em questão, mas não pude deixar de desviá-las em direção ao
meu relacionamento com o homem parado na porta.
Nós chegaremos ao fundo disso.
Porque, se não o fizermos, eu não acho que meu coração será o mesmo.
Xavier
Eu não tinha certeza se Angela me queria aqui. Mas independentemente
de tudo o que aconteceu, eu sabia que ela precisava de mim aqui. Ela
precisava de alguém estável em quem pudesse confiar.
E mesmo com a tempestade de merda que eu trouxe sobre nós,
aquele cara ainda era eu.
A única coisa era que ninguém mais na sala pensava assim.
Em estreitou os olhos para mim.
— Tire ele daqui, — disse ela a Lucas, uma mão apoiada em seu
estômago.
Lucas olhou para mim, inseguro.
Então Angela se aproximou de mim e minha respiração ficou presa na
garganta.
— Tudo bem. Entendi, — ela disse ao irmão e depois me guiou para
fora da sala.
Estendi o embrulho de macarrão com queijo que trouxera para o
hospital, sentindo-me uma idiota com ele nas mãos, mas ofereci mesmo
assim.
— Lucille diz que Em sempre pede isso quando ela vem, — eu disse
enquanto entregava a ela o macarrão. — Achei que ela precisava de um
pouco de comida reconfortante.
— Obrigada, — respondeu Angela, claramente sem saber como agir.
O olhar desconfortável que ela me deu doeu como uma maldita abelha.
— Eu sei que você provavelmente quer que eu vá embora, — eu disse,
sem saber se contar a ela que Claudia me beijou apenas faria parecer que
eu tinha feito uma emboscada agora. Eu tive que fazer tudo o que podia
para evitar fazer ainda mais merda.
— Apenas vá embora, Xavier. Eu tenho que estar aqui por Em, por
minha família... — Ela parou.
— Nossa família. Eu me torno tio quando você vira tia, Angela. E eu
quero estar aqui por você.
— Hoje. Mas amanhã, você pode querer estar lá pela Claudia, — ela
respondeu. — Você tem uma família, uma filha.
Espere, o quê?
— Como... como você sabe sobre isso? — Eu perguntei antes que
pudesse me conter, e então estremeci. Agora parecia que eu estava
tentando esconder essa parte dela, que eu estava bravo por ela já saber.
— A Claudia me disse, — ela disse suavemente. — E eu... eu a
conheci.
— Você conheceu quem?
— A garota, Xavier. O nome dela é Sophie. — Quando os olhos
arregalados de Angela encontraram os meus, meu estômago afundou
ainda mais. Não apenas essa criança era real, mas minha esposa a
conheceu.
— Sophie pode não ser minha, — respondi, tentando encontrar uma
saída. Tentando trazer alguma aparência de esperança para a situação.
— Mas e se ela for? — Angela sondou, com os olhos me procurando
enquanto eu tentava responder e falhei. Ela não estava perguntando de
uma forma mordaz. Ela estava dizendo isso de uma maneira genuína e
real. E isso doeu muito mais.
— Não sei. Eu... há muito que quero discutir com você. Você é meu
amor, não vê isso? Eu só... não é hora de desvendar a bagunça, não agora.
— Você não tem que explicar. Eu entendo, — ela respondeu.
— Entende mesmo?
— Eu era uma substituta na sua vida, a esposa que você precisava até
que você pudesse resolver as coisas com a que você queria, certo?
Suas palavras estavam me cortando, mais afiadas do que qualquer
lâmina que eu conhecia.
— Não. — Eu balancei minha cabeça, tentando o meu melhor para
encontrar uma maneira de convencê-la do que eu sabia ser verdade. —
Eu amo você...
— Mas eu não sou ela, — disse ela, interrompendo minha frase.
Foi quando vi as lágrimas brotando de seus olhos.
— E graças a Deus você não é, — respondi sem perder o ritmo.
— Angela, eu a amei uma vez. Anos atrás. E então descobri quem ela
realmente é. Com filha ou sem filha, você é tudo para mim. Você não vê
isso? É só você. Então você pode me odiar. Você pode me implorar para
sair. Mas não vou. Vou ficar aqui até que Em esteja bem. Até que você
esteja bem. Quer você goste ou não, — eu disse a ela.
— Eu não gosto disso, — disse Angela, com os olhos no chão.
Eu poderia jurar que ela me deu um tapa na cara.
— Você não quer?
— Não. E eu realmente gostaria se... Xavier, se eu significar alguma
coisa pra você... É melhor se você apenas ir para casa.
Angela
Nos dias em que Em estava no hospital, cada um de nós se revezava em
seu quarto. Não importava se ela estava acordada ou dormindo.
Queríamos que ela soubesse que nunca estaria sozinha.
Nesse momento em particular, ela estava dormindo profundamente.
Papai e eu nos sentamos ao lado dela.
— Estou farto de estar aqui, — admitiu papai. — Bem quando eu
pensei que estaria fora do hospital para sempre, aqui estamos nós.
Eu concordei.
— Eu simplesmente não entendo por que isso continua acontecendo.
Somos boas pessoas, não somos?
— Claro, Angela, — ele respondeu, segurando minha mão. — Não
estamos sendo punidos.
— Não me sinto assim.
— Querida, sim, essas coisas horríveis continuam acontecendo. Eu
preferia estar em um chá de bebê do que num quarto de hospital. Mas
adivinhe. Continuamos sobrevivendo, todas às vezes, — ele disse, me
apertando. Eu descansei minha cabeça em seu ombro.
— Em é forte, e tenho certeza que meu neto é ainda mais forte, — ele
disse.
— Você está certo, pai. — Eu exalei. — Lamento estar sendo tão fraca.
Ele se virou para mim, colocando a mão em cada um dos meus
ombros.
— O que você está falando? Você é a mais forte de todos nós. Os
sacrifícios que você fez? Ninguém nesta família teve a coragem que você
teve, Angie.
— Casar com um estranho não foi corajoso, pai, — eu o lembrei.
Especialmente um traidor.
— Querida, casar com alguém é corajoso.
— Nós não temos um casamento de verdade. Você viu a foto. Todo
mundo viu.
— E daí? — meu pai perguntou.
Ele estava falando sério?
Como ele não poderia estar indignado?
Fui humilhada, exposta publicamente, de novo.
— Parecia que ela o estava beijando, não que ele estivesse
participando. Além disso, como eles conseguiram aquela foto naquele
exato momento? — Papai perguntou, como se estivesse discutindo com
um júri. — Você conhece a mulher, certo?
— Sim.
— Ela é honesta?
Claudia... ela era perfeita.
Uma boa mãe apenas tentando consertar as coisas para sua filha.
Não era?
Mas eu a conheci quando ela era Didi.
Quando ela estava mentindo sobre ser ex-noiva de Xavier.
Peguei meu telefone, puxando a foto horrível... e percebi que não era
realmente horrível.
Foi perfeito — tirado na distância certa, na luz certa, com a lente e a
moldura certas. Impossível de conseguir se não tivesse sido encenado.
Merda, teria sido quase impossível tirar essa foto.
Eu me virei para o papai. Ele parecia muito preocupado.
— Você acha que eu deveria ficar com Xavier? — Eu perguntei.
Papai se levantou e espreitou a cabeça para fora, em direção à sala de
espera.
— Dê uma olhada, — ele disse, acenando com a cabeça para onde ele
estava olhando. Levantei-me da cadeira e caminhei lentamente em
direção ao meu pai, meus olhos seguindo sua linha de visão.
E, com certeza, lá estava ele.
Meu marido.
Xavier.
Dormindo em uma cadeira de sala de espera miserável. Em uma sala
de espera vazia.
Papai colocou um braço em volta dos meus ombros e sussurrou em
meu ouvido: — Parece que ele vai ficar com você.
Xavier
O amor vai te bagunçar. Ele fará com que você queira tanto alguém que,
quando não o tiver ao seu lado, preferirá não estar acordado.
Curvado sobre o assento de merda da sala de espera, me perguntei
por quanto tempo ficaria aqui. Quanto tempo levaria para o bebê de
Emily ficar bem, para Angela e eu ficarmos bem, para acordarmos para
algo que não parecia um pesadelo.
Abrir os olhos foi como abrir uma lata de pavor. Até que eu pude
entender o que estava vendo.
Porque lá estava Angela, olhando para mim.
— Xavier... — ela disse suavemente.
— Como está Em? — Eu perguntei, esfregando o sono dos meus
olhos.
— Eles encontraram o batimento cardíaco, — ela respondeu,
pressionando minhas mãos contra seu peito. Eu podia sentir seu coração
batendo forte, e me senti tão perto dela que não queria que ela abaixasse
minha mão. Nem agora, nem nunca.
— Eu também, — eu disse a ela, sussurrando. — Você me fodeu muito
bem, sabia disso?
— O quê?
— A ideia de perder você, Angela, é pior do que a ideia de perder
qualquer outra coisa. Fui a Claudia para te proteger. Ela... eu não queria...
● — Foi uma armação, não foi?
Fios dourados tinham saído de seu coque, deixando-a parecendo uma
deusa em decadência.
— Eu vou te mostrar o que é um beijo de verdade, — eu declarei,
puxando Angela suavemente para mim, unindo nossos lábios. Eu agarrei
seu cabelo, puxando-a para o assento.
Ela montou em mim, minhas pernas entre as pernas dela, e passou as
mãos famintas pelo meu peito.
Nossas línguas entrelaçadas, dedos entrelaçados, olhos fechados.
Eu precisava disso.
Eu sentia falta disso.
Este era meu lar.
Eu a peguei, levando-a para fora da sala de espera vazia e para uma
sala abandonada no final do corredor. Eu a pressionei contra a parede,
me perdendo em seu cheiro, em seu cabelo, em seus gemidos.
Tudo que eu queria agora era estar com ela.
— Tranque a porta, — ela murmurou em meu ouvido, e eu fiquei
mais do que feliz em fazer o que ela disse.

Capítulo 25
Feche o negócio
Angela
Xavier me prendeu contra a porta de um quarto vazio do hospital. Eu
sabia que era inapropriado. Minha melhor amiga e meu pai estavam no
final do corredor, esperando para descobrir o destino de uma criança. E
aqui estávamos nós, nos agarrando.
Mas não parecia impróprio.
Parecia pontuar um — eu — esquecido por muito tempo. Parecia a
única opção, a única maneira de voltar ao normal.
Estava bem.
Foi tão bom.
Tão bom que todo o medo que eu tive sobre Xavier ainda amando
Claudia, sobre ele a escolher em vez de mim, se dissolveu no ar. Ele
estava aqui comigo. Ele estava me beijando.
Ele não estava acampado esperando por ela.
Ele estava aqui, esperando esta emergência emocional sair.
Ele estava me tocando, por toda parte, me fazendo sentir de uma
maneira que ninguém mais poderia. Pressionei meu peito nele, sentindo
um formigamento feliz irradiar por mim.
Coloquei meus braços em volta do pescoço dele, tocando sua barba
por fazer. Adorei a sensação que senti ao arranhar minhas bochechas
nuas, como fez minhas pernas tremerem de êxtase.
Passei minhas mãos por seus cabelos escuros, empurrando-os para
trás e puxando-o para perto de mim.
Foi quando ele pressionou seus lábios em meu pescoço.
Eu engasguei quando senti sua língua desenhar ao longo da minha
pele.
Eu não sabia o que era mais gostoso. A maneira como ele me tocou
fisicamente ou a maneira como ele não se importava se fôssemos pegos.
Ele estava tão seguro de si, tão focado em mim, que era como se ele
tivesse esquecido completamente onde estávamos.
Me contorcendo embaixo dele, coloquei minhas mãos entre nós,
meus dedos correndo pelos botões de sua camisa. As mãos de Xavier
foram para seu cinto, sua calça caindo no chão em torno de seus sapatos.
Meu vestido veio em seguida, por cima da minha cabeça.
Quando Xavier deu um passo para trás, seu olhar encoberto
percorreu meu corpo agora nu.
Mesmo que ainda me fizesse corar, adorei sentir seus olhos em mim,
vendo aquele sorriso malicioso aparecer. Eu sabia que ele estava
imaginando algo louco.
Uma sensação avassaladora de intimidade tomou conta de mim. Do
amor.
Mas Xavier não apenas me amava.
Ele me queria. Tudo de mim.
Ele me desejava tanto que não tive medo de desejá-lo, desejar o
melhor e as partes mais safadas dele.
Dominado pela confiança, sussurrei:
— Faça o que quiser, apenas faça rápido.
Ele respondeu me girando e me curvando. Minhas mãos balançaram
em volta dos meus tornozelos, meu cabelo caindo em volta do meu rosto.
Eu podia sentir sua respiração na minha coluna, seu corpo traçando
ao longo do meu, e ele se inclinou sobre mim e deu um beijo na minha
nuca, entre minhas omoplatas.
Eu ansiava por me sentir mais perto dele e me levantei novamente,
pressionando cada uma das minhas curvas contra seus ângulos,
entrelaçando nossos tornozelos, pressionando minhas costas contra seu
peito, minha cabeça contra seu ombro.
Suas mãos alcançaram meus seios enquanto ele balançava para frente
e para trás, sua dureza deslizando ao longo da minha umidade.
Então suas mãos se separaram em direções diferentes. Uma mão se
curvou para envolver a base do meu pescoço em um aperto suave, e a
outra deslizou para baixo entre as minhas pernas, girando sobre o meu
clitóris.
Eu soltei um gemido.
— Mais.
— Tanto quanto você quiser, — respondeu ele e, em seguida, me fez
gritar.
Estremeci de felicidade quando senti Xavier empurrar ainda mais
dentro de mim, sentindo seu corpo mais forte e mais profundo do que
nunca.
Tudo o que pude fazer foi gritar por mais.
Nosso casamento, nosso amor, não foi um bilhete de loteria da sorte.
Era um cubo de Rubik que teríamos que continuar resolvendo conforme
nossas cores mudavam.
Era um quebra-cabeça, não um obstáculo.
Seria difícil, mas se isso fosse qualquer indicação, também seria muito
divertido.
Claudia
Você já teve um momento que porra estou fazendo!
O tipo de momento que faz você analisar toda a sua vida, que faz você
se perguntar onde você pegou o caminho errado que a levou a essa
situação desesperadora?
Eu nem me sentia presente com seu corpo sobre o meu. Como eu
poderia? Seu suor estava por toda a minha pele, sua respiração pesada
bem no meu rosto.
Objetivamente, ele não estava fazendo nada de errado.
Ele estava tocando nos lugares certos, beijando aquele ponto do meu
pescoço que eu gostava, falando sujo sem soar vulgar.
Mas mesmo assim, não foi o suficiente.
Nada foi suficiente.
O dinheiro que ganhei com a foto de Xavier e eu — a foto que vendi
para os tabloides e blogs de fofoca — encheu minha conta bancária, mas
nada mais. Eu poderia ter sido capaz de me presentear com Chanel ou
uma noite no Plaza, mas isso não significava nada.
Não para mim, não mais.
Dinheiro era apenas isso.
Dinheiro.
Ainda me deixou querendo, me deixou precisando, algo mais. Algo
mais quente, mais conectado, mais aterrado.
Merda.
Eu gostaria de poder pegar o dinheiro e fugir. Eu queria de verdade.
Eu gostaria que dinheiro fosse suficiente para acelerar minha
adrenalina, para me fazer sentir tão viva e rejuvenescida como costumava
ser, mas não foi. Não mais.
E então havia Xavier. Ter que vê-lo, ter que vê-lo com ela.
Saber que alguém como ele, alguém como aquele bilionário playboy
havia encontrado o amor — e eu estava sozinha — parecia que eu seria
assim para sempre.
Lembrando-me da minha fraqueza.
De tudo o que eu não tinha, tudo o que não conseguia segurar.
E, no fundo, mesmo quando Xavier e eu estávamos juntos, mesmo
quando éramos felizes, apaixonados, nunca pensei que ele realmente
quisesse se casar comigo. Ele só queria a aprovação de seu pai — na
forma de uma mulher.
Então eu o traí. Daniel era tudo que Xavier não era — obcecado por
mim, generoso com seu carinho, sempre ao meu lado quando eu
precisava dele. Mas mesmo depois que nosso segredo foi revelado, não
duramos.
Não poderíamos ter durado.
Havia um holofote muito forte — muito ódio e descrença —
direcionado diretamente para nós. Seria como se casar em um campo de
batalha. Uma vitória se tivéssemos sucesso, mas as probabilidades
estavam contra nós, disparando balas em nossa carne vulnerável.
— Você é tão... gostosa... — O homem em cima de mim grunhiu, e
minha mente voltou ao presente. À situação em que me coloquei porque
queria me sentir viva novamente.
— Você também, — eu sussurrei de volta. Eu estava completamente
entediada, mas percebi que o coitado estava quase acabando. Portanto,
devia deixá-lo aproveitar.
Com um gemido final, ele gozou e então rolou de cima de mim. Ele
me puxou para perto dele para que meu rosto ficasse pressionado em seu
peito pálido. Depois de alguns momentos, não consegui segurar minhas
perguntas por mais tempo.
— Você trouxe? — Eu perguntei.
Ron acenou com a cabeça.
Nossa conexão era de conveniência. Nós dois fomos descartados por
Xavier.
O bilionário absorveu tudo o que tínhamos para oferecer e nos
deixou como um lago sem água, um cemitério de memórias submersas.
Quando Xavier descobriu sobre Daniel e eu, ele envergonhou seu amigo
em público, arruinando sua reputação e garantindo que ninguém ousasse
acabar comigo.
E Ron, Xavier o havia despedido sem ao menos um bom motivo.
Depois de décadas servindo seu pai, Xavier herdou o assistente como se
ele fosse uma herança de família. Quando ele decidiu que Ron não era de
seu gosto, ele o cuspiu.
Como eu, Ron precisava lutar.
De maneiras que Daniel nunca poderia.
Tudo o que precisou foi correr para ele depois que ele foi demitido.
Ron e eu nos conhecíamos desde quando eu estava namorando Xavier,
todos aqueles anos atrás. O assistente de Brad nunca estava muito atrás
de Brad, então ele estaria em reuniões familiares e eventos sociais.
E assim eu o encontrei em um Starbucks no distrito financeiro
algumas semanas atrás. Ele me contou o que aconteceu, como ele ainda
estava procurando trabalho. Como ele estava começando a ficar nervoso.
Foi quando eu vi o que ele era: outra pessoa que tinha sido fodida pelos
Knights.
Outra pessoa com informações que eu poderia usar.
E outra pessoa que, sejamos honestos, queria me ferrar.
Então eu o deixei entrar no meu apartamento, e ele me deixou entrar
em sua mente. E cara, ele tinha um grande cofre cheio de informações
ultrassecretas sobre os Knights.
— Eu trouxe. — Ron acenou com a cabeça, beijando minha testa
antes de estender a mão e colocar uma pasta na cama. Ele abriu sua
pasta, escolhendo um longo contrato.
Eu peguei de suas mãos. Estava mais que encantada.
O documento traçava um acordo entre Angela e Xavier, um acordo de
casamento, em troca de dinheiro.
Eles nem mesmo se conheceram antes de ela concordar em ser sua
esposa.
Faz sentido, zombei internamente. A única maneira de Xavier conseguir
que uma mulher esteja com ele é se ela não o tivesse conhecido, se ela não o
conhecesse.
Xavier tinha, para todos os efeitos, alugado uma mulher. Por um
preço colossal. Mas agora seu contrato com ela havia acabado.
Conforme eu folheava as páginas intermináveis do acordo, me sentia
energizada. Essa foi a adrenalina que eu estava procurando, a sensação de
vivacidade que eu tanto desejava.
Logo o mundo inteiro saberia a verdade sobre Angela e Xavier.
Eu me senti tonta.
Eu estava com calor.
— Ei, Ron. — Eu me aninhei de volta para o homem tenso. — Pronto
pro segundo round?

Capítulo 26
Conhecimento Público
Xavier
Eu não conseguia acreditar nos meus olhos.
Eu literalmente não pude acreditar neles.
No começo, achei que fosse um sonho. Um pesadelo.
Talvez eu tivesse comido um brownie com um pouco de erva
misturada sem saber, e esse fosse o barato.
Talvez, apenas talvez, isso fosse uma invenção da minha imaginação.
Mas então eu pisquei e os alertas de notícias ainda estavam lá no meu
telefone. E então mais deles apareceram. E ainda mais.
XAVIER KNIGHT COMPROU SUA NOVA NOIVA
CASAMENTO DE KNIGHT FEITO POR DINHEIRO
ANGELA & XAVIER KNIGHT SÃO UM ACORDO PAGO
Eu queria gritar. Eu queria bater na parede com meu punho, infligir
dor em algo que não era eu. Para focar em machucar alguém, em vez de
focar em minha própria dor.
Eu corri todo trajeto até o prédio do meu pai, não dando a mínima
para que o vento forte parecesse uma bofetada na cara a cada passo que
eu dava. No momento em que seu elevador particular estava abrindo em
seu foyer, eu já estava gritando.
— PAI! — Eu uivei.
Ele cambaleou, parecendo meio adormecido.
— Shhh, Penny e eu dormimos tarde, Xavier, — ele disse, esfregando
o couro cabeludo.
— Acho que você não viu as notícias? — Eu perguntei.
— Acabei de sair da cama. O que está acontecendo? — Papai
pressionou.
— Alguém vazou o acordo. Você sabe, o acordo que você forçou a
mim e a Angela.
— Isso não é possível, — papai disse, sua voz forte e nivelada. Ele
estava totalmente acordado agora.
— Cada página, cada condição, cada detalhe que você exigiu de
Angela. Eles são publicados para o mundo ver.
Eu me aproximei dele.
— O mundo inteiro pensa que eu tive que pagar para ter uma garota.
Eles pensam que eu sou um idiota de pau mole que precisa de seu pai pra
transar.
— Não fale assim comigo, Xavier, — meu pai ordenou. Eu o ignorei.
— E pior, eles acham que Angela é uma noiva de aluguel interesseira!
Você sabe o que acabou de fazer com a vida dela? Para minha vida? — Eu
me enfureci.
Eu estava cansado de me fazer de bonzinho. Não importava o que eu
dissesse. Não havia mais nada que eu pudesse perder. Ele não poderia me
tentar a fazer a coisa certa jogando a empresa na minha cara, jogando um
papel ou, não sei, a memória de minha mãe.
Tudo isso caiu por terra quando ele começou a trepar com minha ex.
O poder do meu pai se foi. Não havia mais nada que ele pudesse tirar
de mim.
Nem mesmo Angela. Ela estava com tanta vergonha de estar perto de
mim, respirando o mesmo oxigênio. E agora ela foi marcada como uma
mulher de aluguel, como se ela fosse minha prostituta em vez do sangue
em minhas veias, mantendo todos os músculos vivos.
Não havia como ela voltar para mim depois disso.
E eu não poderia culpá-la.
Eu também não voltaria.
A pior parte é que nem era verdade. Os jornais não se importaram
com o fato de Angela estar tentando manter seu pai vivo. Eles não se
importaram que ela fizesse meu coração disparar para fora do meu peito,
disparando como um despertador apreensivo.
— Quem você acha que fez isso? — Papai perguntou com cuidado.
Como se ele soubesse que eu tinha uma bomba amarrada ao peito e não
tivesse certeza de quando pressionaria o botão.
— Minha querida ex-namorada, — eu cuspi.
— Claudia?
— Claro que é Claudia, pai. Quem mais? — Eu zombei.
Observei meu pai respirar fundo. Então seus olhos se levantaram
lentamente até que encontraram os meus.
— Filho, isso não é possível. Eu me certifiquei disso. Eu fiz questão de
que ela te deixasse em paz.
Eu congelei.
— O que diabos você fez? — Eu rosnei.
— O que qualquer um na minha posição faria. Eu paguei para ela
parar de prejudicar minha família, — meu pai revelou.
Aí eu fiquei muito furioso.
— Isso não funciona com pessoas como ela! — Eu gritei. — Você
acabou de dar a ela mais recursos para nos atacar! Ela não vai parar até
que minha vida seja tão patética quanto a dela. Você não entende?
Talvez meu pai fosse um homem de bom coração, mas eu não era.
Tudo com Claudia... nunca foi sobre dinheiro. Sempre foi sobre tortura.
E meu pai tinha caído no seu jogo.
Meus olhos correram para ele, e pela primeira vez na minha vida, eu
vi o homem como ele era. Sua bondade era apenas um disfarce,
escondendo a verdade em seu âmago — sua obsessão por controle.
Ele daria, daria e daria, apenas para ser conhecido como a pessoa que
deu.
Só assim ele poderia controlar o resultado, sem qualquer chance de
fracasso.
A raiva saiu de mim. Eu não conseguia mais segurar.
— Eu não posso acreditar que uma pessoa poderia fazer tanta merda.
Coagindo a mim e a Angela a um casamento fodido? Mentindo para cada
um de nós sobre o que estávamos fazendo? Financiar a mulher que partiu
meu coração.
— Tudo o que fiz, fiz por você! — Meu pai respondeu, com agonia em
todas as suas feições. Meu pai começou a hiperventilar, curvando-se
sobre o sofá de dor. Ele estava gaguejando através de respirações
dolorosas, como se eu tivesse dado um soco em seu estômago.
Eu não me importei.
— Não, você fez tudo por você, — eu insisti. — Não acredito que
somos parentes. Não acredito que vim de você.
Eu quis dizer isso.
Papai queria que eu vivesse uma vida que ele não poderia. Mamãe
estava morta e, em vez de se recuperar de seu próprio trauma, ele queria
que eu fizesse isso por ele. Ele queria que eu tivesse o casamento que ele
perdeu, em vez de me permitir abrir meu próprio caminho.
Ele queria que eu seguisse em frente por ele.
Eu me sinto enojado.
— Você não pode ir embora, — disse papai, aninhando-se no sofá.
Mas eu já estava na porta, decidido a deixar essa bagunça para trás.
— Fique olhando, — declarei, embora tivesse ouvido a urgência em
sua voz.
— Não. Há mais uma coisa que você precisa saber.
Angela
O amor não devia ser uma tortura.
Eu sabia.
Sim, com certeza.
Mas mesmo sabendo disso, não poderia ir embora. Não do amor que
tive por Xavier. Mesmo que nosso amor fosse uma tortura, mesmo que,
todos os dias, eu ficasse chocada com as novas maneiras como ele era
capaz de me trazer dor, eu não poderia virar as costas para ele.
Podia?
Todo o nosso relacionamento tinha sido um ciclo de dominós da
altura de um arranha-céu caindo sobre nós. Eu mal conseguia me mover
de tão esmagada pelo peso deles. E o mundo inteiro foi convidado a
observar, a ver os danos.
Neste ponto, eu não tinha certeza se havia momentos felizes o
suficiente entre Xavier e eu para enfaixar as feridas abertas e agonizantes.
Principalmente este.
Para o mundo, eu não era mais Angela. Não, agora eu era o pior tipo
de pessoa. Do tipo que se casa por dinheiro. O tipo que finge amor em
troca de estabilidade financeira.
Desde que me casei com Xavier, a sociedade me conheceu como sua
esposa. Foi difícil se acostumar com aquele título. Demorou e exigiu
prática. Houve um tempo em que tudo que eu queria era voltar para a
Angela que eu era antes dele.
Mas agora, tudo que eu queria era voltar a ser Angela Knight.
Para a mulher que Xavier se casou, só porque eu podia.
Mas não conseguiria. Nem agora, nem nunca.
Porque o acordo estava lá, público, para o mundo ver.
E eu não era nada além daquela garota.
Aquela garota que se casou com um estranho por algum dinheiro.
Aquela garota que mentiu para o mundo, fingindo ter amor por causa
da ganância.
Aquela garota cujo rosto bonito era apenas uma máscara para as
profundezas da repulsiva hediondez por baixo.
A humilhação era... insuportável.
Queimou minha pele, gelou meus ossos e envolveu meu coração em
arame farpado.
Onde quer que eu fosse, meu nome era sinônimo de oportunista.
De interesseira.
Vadia gananciosa.
Para todos, Angela Knight era a mulher que vendeu sua alma por um
anel de diamante.
Eu encarei minha aliança de casamento. Eu me senti ridicularizada
por seu brilho, seu design elaborado e grandioso.
Eles estavam certos.
Eu estava fingindo.
Este anel, este quarto, este luxo, não fui eu. Eu nunca colocaria um
guardanapo na pizza antes de comê-la. Eu nunca teria certeza de que
meu sutiã combinava com minha calcinha ou que meu cabelo estava
preso com segurança em um penteado elaborado.
Eu tinha sido uma invasora nesta festa que Xavier chamava de lar.
E eu sempre seria.
Eu arranquei o anel de diamante do meu dedo e o coloquei na minha
mesa de cabeceira.
Se renovássemos nossos votos de casamento agora, seria uma piada.
Já éramos motivo de riso.
Precisávamos cancelar.
Talvez precisássemos cancelar tudo.
Este romance era uma fera amaldiçoada, sempre levantando uma
nova cabeça mais violenta e mais feia.
Talvez a única maneira de acabar com a dor fosse divorciar-se e deixar
tudo para trás.
Mas eu poderia fazer isso?
Eu poderia esquecer o homem que amei tão intensamente, tão
completamente e genuinamente?
Eu não conseguia parar de pensar em Xavier, não conseguia parar de
me preocupar por ele. Mesmo quando eu estava com raiva dele. Mesmo
quando ele estava errado.
Eu acho que isso era amor — tortura quando está ao redor de nossos
dedos, tortura quando cai através deles.
Minhas mãos estavam vazias agora, meus dedos estéreis.
Crrrr. Crrrr.
Alguém estava caminhando pela madeira dura.
O que significava... Xavier estava de volta.
Eu levantei o anel, olhando seus detalhes glamorosos. Certamente
não era pra mim. Mas, caramba, ele era — exagerado, mas delicado.
Eu deslizei a aliança de volta no meu dedo, assim que Xavier entrou
no quarto.
— Você está bem? — Ele perguntou, pressionando minha cabeça
contra seu peito. Eu não pensei que estar tão perto dele me faria sentir
melhor — que qualquer coisa poderia me fazer sentir melhor — mas aqui
estava eu. Me sentindo melhor.
— Eu não sei, Xavier. Eu não sei, — eu murmurei, e então os soluços
vieram.
Ele suspirou.
— Lamento dizer isso, mas tenho mais novidades...
Eu olhei para ele, tentando vê-lo através das lágrimas.
— Sophie não é minha, — revelou Xavier. Eu olhei para ele,
atordoada.
— O que você quer dizer? — Eu funguei.
— Meu pai fez algumas pesquisas... Sophie é filha de Daniel. O DNA
prova isso. O nome dele está até na certidão de nascimento, — explicou
Xavier. — Ela inventou tudo para chegar a mim... a você e a mim.
— Isso não é... quero dizer... é impossível. Ela ama Sophie, — eu
gaguejei. Como Claudia pôde jogar xadrez com a vida da filha assim?
— Talvez, Angela, mas isso não significa que ela não usou a porra da
criança para nos machucar e roubar, — Xavier respondeu, passando as
mãos pelo meu cabelo.
Era por isso que ela não queria pensão alimentícia de Xavier. Sophie
não era filha dele, e isso significava que eu não era sua madrasta.
Os olhos de Xavier estavam injetados. Nunca o vi tão arrasado, tão
furioso. Ele não se parecia consigo mesmo. Ele parecia perigoso, como
uma besta abusada liberada de sua jaula. Pronto para a vingança.
— Vou acabar com eles, — declarou ele.
— Xavier... — Eu disse, tentando acalmá-lo.
— Não. — Ele me cortou, beijando-me nos lábios. — Vou acabar com
todos eles.

Capítulo 27
Superexposto
Xavier
Angela e eu estávamos cercados por mil câmeras, mas desta vez, fui eu
quem as ligou.
Desde que a notícia de que Angela e eu tínhamos um casamento
arranjado, fomos perseguidos por paparazzi desesperados, pressionandonos por
detalhes.
Agora era hora de confessar.
Desta vez, mostraremos nossas cartas. Sem mais segredos, sem mais
mentiras. Angela e eu tínhamos algo real e não tínhamos nada a
esconder.
A coletiva de imprensa estava marcada para começar em vinte
minutos. Mas isso não impediu os perseguidores persistentes com
câmeras do lado de fora do nosso camarim.
Eu sabia o que eles queriam.
Eles queriam nos pegar carrancudos, nos pegar lutando. Qualquer
coisa que provasse que éramos tão falsos quanto eles pensavam que
éramos.
— Você tem certeza disso? — Angela perguntou, com sua voz suave
preenchendo o espaço entre nós.
Mesmo que ela tenha me feito a mesma pergunta um milhão de
vezes, e mesmo que eu tenha respondido com confiança todas as vezes
que ela perguntou, ela ainda tinha dúvidas.
Não que eu pudesse culpá-la.
A garota foi arrastada pela lama, tudo porque ela se envolveu no caos
que era a minha vida.
Antes de eu fazer as ligações para garantir esta entrevista coletiva na
noite passada, Angela olhou para mim com seus olhos arregalados, sua
boca se abrindo em um meio sorriso.
— Devíamos voltar para a ilha. Aquela em que caímos. — Ela deu uma
risadinha. — Não haverá nenhuma câmera lá. Nenhum paparazzi. Será
apenas eu e você.
Rimos juntos e eu a beijei, maravilhado com a sorte que tive.
Ela estava certa, é claro. Se pudéssemos chegar a algum lugar onde
pudéssemos estar um com o outro, sem complicações, seria muito mais
fácil.
Mas eu era um Knight, e coisas assim não eram fáceis para minha
família.
— Não podemos fugir, — sussurrei para ela em resposta.
— Eu sei. — Ela acenou com a cabeça, esfregando minha bochecha. —
Enquanto estivermos aqui, juntos, serei feliz.
— Promete? — Eu perguntei a ela, me arrependendo
instantaneamente. Porque eu não podia pedir isso a ela; era demais.
Depois de tudo que eu a fiz passar, até mesmo pedir para ela ficar ao meu
lado era demais.
— Eu prometo, — ela murmurou, me beijando novamente.
E eu exalei.
— Xavier? Tem certeza? — Angela perguntou novamente, me
trazendo de volta ao camarim. Aproximei-me dela, puxando-a para um
abraço apertado.
— Tenho tanta certeza disso quanto de que te amo, — respondi,
beijando sua testa.
Mesmo com todo o pânico consumindo-a, ela não pôde deixar de
sorrir.
— Ok, então, — ela disse, endireitando minha gravata. Eu sorri,
colocando minha mão sobre a dela.
— Arrasa eles.
Eu tirei um pouco de cabelo do seu rosto, colocando suas bochechas
macias em minhas mãos.
— Por você, — respondi, pressionando seus lábios contra os meus, —
qualquer coisa.
Claudia
Nada poderia tornar o caos de buscar minha filha depois da escola
melhor.
A nova babá se ofereceu para pegar Sophie na escola, mas eu
simplesmente não conseguia dizer sim. Eu não conseguia evitar uma
diversão assim.
Além disso, só porque eu podia pagar por ajuda não significava que
queria tudo isso.
O objetivo disso era poder pegar Sophie todos os dias depois da
escola, levá-la a qualquer atividade extracurricular que ela escolhesse. Eu
queria dar a ela a vida que ela queria. Eu queria ter certeza de que ela
tinha tudo.
E para fazer isso, precisava de recursos.
Recursos e um pouco de diversão. Para me manter sã.
Eu saí do carro, agarrei Sophie da professora e a ajudei a entrar no
carro. Assim que ela estava segura em sua cadeirinha, sentei ao volante.
— Música! Música! — Minha garotinha cantou.
— Como quiser. — Eu sorri de volta para ela pelo retrovisor. E então
coloquei a trilha sonora de Frozen, deixando a batida passar pelo carro.
Ron: Ei, gata.
Ron: Tenho pensado em você.
Ron: Vamos para Cipriani Wall St esta noite.
Claudia: Não posso.
Ron: Outro dia então?
Claudia: Ocupada.
Ron: Que tal amanhã?
Claudia: Isso também não vai dar.
Ron: Por que não?
Ron: Tudo bem?
Claudia: Eu não queria fazer isso por msg, mas...
Claudia: Acho que não devemos mais nos ver.
Ron: O quê?
Ron: Por quê?
Claudia: Só não gosto de você.
Ron: Você está brincando?
Ron: Você me usou!
Ron: Você só queria o contrato do acordo.
Claudia:...
Claudia: Sinto muito, Ron.
Ron: Não, você não sente.
Ron: Você não é melhor que os Knights.
Ron: Vocês todos se merecem.
Ron: Fodam-se todos vocês.
Xavier
De pé no palanque, eu estava tão apavorado que não conseguia nem ler
meu discurso.
Isso não era meu feitio, o que fez meu pulso disparar ainda mais
rápido. Eu podia sentir o suor escorrendo em minhas têmporas, e minha
gravata parecia muito apertada.
Se eu não pudesse consertar nossa reputação, perderia a empresa.
Nossas ações já haviam caído por causa de todo o caos.
Pobre papai... papai.
Eu não podia acreditar o quão duro eu tinha sido com ele.
Depois disso, eu preciso me desculpar por ser um idiota.
Todos os repórteres estavam gritando perguntas para mim. Limpei a
garganta o mais alto que pude para que pudesse pelo menos responder
algumas.
— Corre o boato de que minha esposa assinou um contrato antes de
se casar comigo, em troca de dinheiro, — anunciei. A multidão de
jornalistas ficou em silêncio. — Não estou aqui para contestar. Estou
aqui para lhe dizer que é a verdade.
Houve um rugido ao meu redor. Todos começaram a cuspir
manchetes em suas câmeras.
Xavier Knight confirma...
... Angela Knight era uma...
... um amor falso, mas uma funcionária de verdade...
Eles não esperaram que eu chegasse à parte boa.
— Essa é a verdade, mas não toda a verdade, — proclamei. — Antes de
me casar, eu era infeliz. Eu vi todos os tipos de mulheres, mas estava
completamente sozinho. Meu pai conheceu Angela e soube
imediatamente que ela era tudo de que eu precisava. Ela não era uma
interesseira. Na verdade, ela tinha muito mais a oferecer do que eu.
Respirei fundo e continuei.
— Mas eu era teimoso. Eu estava emocionalmente isolado. Eu nem
mesmo acalentaria o pensamento de amor, mas meu pai se recusou a me
deixar ficar com sua empresa, a única coisa com a qual eu poderia me
conectar, a menos que casasse com Angela. Então eu fiz.
Eu olhei para Angela. Seu rosto estava inchado de tanto chorar. Suas
bochechas estavam vermelhas, desconfortáveis com os segredos que eu
estava revelando. Mas eu precisava contar mais.
Eu precisava contar tudo.
— Essa foi a melhor escolha que já fiz, — expliquei à multidão. — No
começo, eu era como todos vocês. Eu julguei Angela mal. Achei que ela
estava com fome de dinheiro, disposta a fazer qualquer coisa pela vida da
classe alta, mas ela não estava.
Mais uma vez, arrisquei um olhar para Angela. Seus olhos estavam
fechados, como se ela não pudesse suportar assistir.
— O pai de Angela precisava de uma grande cirurgia cardíaca e a
família dela não tinha recursos para ajudá-lo. Então ela se casou comigo
para pagar suas contas médicas. Angela faria qualquer coisa por sua
família, incluindo se casar com um lixo que ela nunca conheceu.
Eu ouvi um suspiro do grupo de repórteres na minha frente.
Bom.
— Agora, Angela e eu somos uma família. Faremos qualquer coisa um
pelo outro. E isso inclui confessar tudo. Sobre a nossa história.
Um repórter estiloso do Cosmopolitan apareceu na frente da
multidão, chamando por mim.
— Você ao menos gosta dela? — ela comentou.
E finalmente meu pulso desacelerou, meus poros pararam de suar e
meu coração se abriu. Eu sorri.
— Não. Eu não gosto dela.Eu sou exagerado, cafona e apaixonado por
ela. Angela Knight me faz querer ouvir músicas de Taylor Swift. Ela me
faz ansiar pelas férias e me deixa aproveitar as coisas da vida que vêm de
graça. Eu a amo tanto que vou me casar novamente — desta vez de
verdade.
Uma repórter mansa e leal levantou a mão. Sem fôlego e oprimido
por ter acabado de arrancar minha pele para uma multidão avaliar meu
coração, eu a chamei.
— Sr. Knight, você está com raiva de seu pai por forçá-lo a um
casamento arranjado? — ela questionou.
— Não... eu estou muito grato pelo que ele fez. Tudo o que tenho
neste mundo... é por causa dele, — respondi. E então me afastei do
palanque e saí do palco, orgulhoso da verdade que deixei para trás.
Brad
Enquanto eu me sentava sozinho em minha poltrona de couro favorita,
com os olhos espreitando pela janela de vidro do chão ao teto em meu
escritório em casa, e minha mente girando com os eventos das últimas
seis horas.
Eu não podia acreditar que Xavier me odiasse tanto.
Eu não podia acreditar que tinha deixado as coisas saírem do
controle.
Eu não conseguia acreditar que o mundo inteiro conhecia os segredos
de nossa família.
Tentei me tranquilizar, dizer a mim mesmo que poderia pensar em
algo para consertar. Sempre havia uma maneira de consertar as coisas.
Assim que as coisas voltarem ao normal, Xavier vai me perdoar.
Isso foi o que eu disse a mim mesmo.
Apenas descubra uma maneira de fazer com que eles voltem ao normal.
Meu filho estava certo, é claro.
Eu tinha feito o acordo para mim.
Eu queria que ele se casasse porque não suportaria ver a luz da minha
vida se extinguir, tudo porque não havia ninguém para cuidar de suas
chamas. Eu não queria que meu menino lindo, inteligente e teimoso
ficasse sozinho.
A vida não foi feita para ser vivida sozinha.
E agora ele não estava mais sozinho. Ele tinha Angela ao seu lado,
para ajudá-lo a enfrentar o caos do mundo de frente.
Mesmo que ele me desprezasse, o fim justificou os meios. Ele a tinha,
e isso era tudo que eu sempre quis.
Então, talvez eu fosse algum tipo de maníaco por controle.
Talvez eu gostasse de poder mover as peças do quebra-cabeça, para
orquestrar a felicidade daqueles que eu amava.
E daí? Eu pensei com um sorriso.
Então percebi a dor mais profunda e intensa que já senti. Como um
machado no meu crânio. Eu congelei.
Então, eu vomitei.
Em seguida, o tremor começou. Meu corpo inteiro paralisou, com
minha cabeça vibrando sem controle. A cada novo tremor, uma agonia
excruciante passou por mim.
Procurei por algo — qualquer coisa — em que pudesse me
concentrar, uma distração que pudesse me agarrar neste momento de
dor inabalável.
Mas minha visão estava embaralhada. A luz parecia anzóis perfurando
meus olhos.
Então parecia que eu não tinha olhos.
Cada parte do corpo parecia que estava evaporando em nada.
Eu senti a vida em cada membro esvair e desaparecer.
Eu não podia morrer.
Assim não.
Agora não.
Tinha que lutar, pela minha vida, pelo meu filho.
Eu não estava pronto para Amélia ainda.
Eu respirei com tudo que pude, mas não adiantou.
Eu respirei e soube que era a última vez.

Capítulo 28
Referência
Xavier
— Um aneurisma cerebral começa com um vaso sanguíneo, — disse o
médico.
As palavras ecoaram por mim enquanto eu deslizava para o chão do
hospital. Eu estava mole, como se tivesse transcendido meu próprio
corpo, como se tivesse perdido a posse de meus membros.
A dor lacerante era tão profunda, tão indescritível, que tinha que
assumir uma forma física. Isso tinha que me queimar e derreter meus
ossos.
Eu encarei as luzes fluorescentes, com minha mente voltando para a
cobertura do meu pai.
Eu estava correndo para ele, para meu pai, para que pudesse me
desculpar. Para que eu pudesse pedir desculpas por ser tão idiota. Por ser
ingrato, duro e injusto.
Eu subi no elevador, ensaiando minhas desculpas a meu pai,
pensando na maneira correta de expressar meu remorso.
O que você fez, armando Angela e eu, não foi um erro, pensei. Foi um
presente, mesmo que tenha sido algo fodido.
Talvez ele tenha feito o casamento um pouco para ele, mas no final
das contas, eu tenho que acordar ao lado dela.
Era eu que tinha que segurar sua cintura fina e perfeita. Era quem
sabia que era amado por uma mulher tão perfeita para mim, uma mulher
que só meu pai poderia saber que foi feita para me amar.
Culpá-lo por nossos problemas era egoísmo.
Fui eu quem me envolvi com Claudia, e se havia alguém que fodeu
minha vida, foi ela. Sempre era ela.
Assim que as portas do elevador abriram, corri para o saguão de
papai.
Com sorte, ele ouviu a coletiva de imprensa. Esperançosamente, ele
ouviu minhas respostas sinceras, como eu não tinha mais medo de
confessar a verdade.
De admitir meu amor.
— Pai? — Eu gritei, esperando por uma resposta. Esperando pelo som
de seus pés, de chinelos, caminhando pelo corredor. Mas não havia nada.
O saguão estava silencioso como um maldito centro para surdos.
Andei para frente e para trás, sentindo que algo estava acontecendo.
— Pai? — chamei novamente, decidindo sair pelo corredor. Ele não
estava na sala de estar, na sala de jantar ou na cozinha. Ele não estava no
banheiro de hóspedes ou na biblioteca.
A porta de seu escritório em casa estava fechada.
Tentei bater.
Toc toc.
Toc toc.
Toc toc.
Nada.
Eu tentei a maçaneta, e ela se mexeu sob minhas mãos, a porta se
abrindo com um movimento fluido. Foi quando eu o vi. Estava caído de
frente, dobrando-se sobre si mesmo, na poltrona perto da janela.
— PAPAI! — Eu gritei, correndo em direção a ele. — POR FAVOR!
PAPAI! — Gritei ao sentir o pulso.
— Os vasos sanguíneos atingiram um tamanho perigoso no cérebro, —
disse o médico, me trazendo de volta à realidade.
Os paramédicos colocaram papai em uma maca.
Seus olhos não abriram.
Suas mãos não tremeram.
Sua respiração nem mesmo ficou embaçada no ar fresco de fevereiro.
Tirei meu casaco, cobrindo seu corpo despido com ele, tentando
proteger sua carne insaturada do frio.
— Pai, estou aqui. Eu não vou a lugar nenhum, eu juro, — eu
sussurrei em seu ouvido, sem saber se ele podia me ouvir.
— Muitas vezes parece uma fruta pendurada em um galho, — disse o
médico, continuando sua explicação, e meu desconforto em ouvir tudo
aquilo. — Se o vaso sanguíneo se rompe, causa sangramento no cérebro.
Assim que chegamos ao Hospital Bellevue, jalecos brancos
esvoaçavam sobre papai como pombas.
Eles o arrastaram para dentro, para a sala de cirurgia, tentando cortá-
lo e colá-lo novamente.
Angela sentou-se comigo, mas eu não conseguia sentir suas mãos em
volta das minhas.
Eu não sentia nada.
Nada, exceto o barulho estridente e violento dentro da minha cabeça.
Meu corpo era um edifício e todos os alarmes de incêndio estavam
gritando.
— Ele vai sobreviver, — Angela disse suavemente depois de horas de
espera, mas eu não tinha certeza se era por ela ou por mim. — Ele tem
que fazer isso. Por favor, ele tem que fazer isso.
No segundo em que o médico se aproximou de mim, soube que meu
pai havia partido.
Que eu receberia um discurso sobre como eles fizeram tudo o que
podiam. Eles tentaram o seu melhor, mas eles não conseguiram. Ele não
sobreviveu. Estava já muito debilitado.
Eu poderia dizer tudo isso pelo olhar agonizante que o médico estava
me dando.
A cirurgia não funcionou.
O sangue vazando matou todas as células ao seu redor.
Também aumentou a pressão dentro de seu crânio, destruindo o
suprimento de oxigênio.
Ele estava sufocando dentro de sua própria mente.
Eu sentia o mesmo.
Eu sabia exatamente o que diabos isso era.
Angela
Eu queria soluçar, mas não consegui.
Pelo menos não hoje.
O funeral tinha que ser planejado, os convidados, administrados, os
paparazzi, exilados. Xavier estava indiferente, uma concha sem nenhum
sinal de vida.
Como ele poderia ser outra coisa?
Pelo menos Em deu uma mão amiga. Ela tinha vindo com montes e
montes de flores, enchendo todo o espaço com lírios brancos.
A flor favorita de Brad.
A flor que trouxe os Knights para minha vida.
No dia mais amargo de nossas vidas, ela se certificou de que o ar
estivesse tingido de doçura.
Quando chegou a hora das pessoas fazerem discursos, eram
principalmente parceiros de negócios. Pessoas que fizeram acordos de
desenvolvimento com Brad, que se sentaram ao lado dele em inúmeras
salas de reuniões.
Xavier estava traumatizado demais para falar. Eu poderia dizer que ele
odiava cada segundo que os homens de terno atestavam a personalidade
de Brad, como se eles realmente o conhecessem.
Até Penny, que estava sentada no banco à nossa esquerda, parou de
soluçar por tempo suficiente para lançar olhares perplexos a esses
homens.
Como se eles tivessem a audácia de marcar o fim da vida de um
homem com uma história de sua perspicácia para os negócios.
Como se a soma de suas realizações fosse sua empresa, não sua
família.
Não as pessoas que ele amava.
Não foi assim que Brad deixou este mundo — lembrado pelas pessoas
que não o conheciam, que o respeitavam por ganhar milhões, não por
como ele os doou tão generosamente.
Eu não queria falar.
Havia muitas pessoas.
Eu odiava falar em público.
O público ainda pensava que eu era uma mentirosa interesseira.
Mesmo assim, quando o último milionário de terno desceu do
palanque, eu me peguei gravitando em direção a ele. Como se eu
estivesse flutuando, não andando, até o microfone.
— O dia em que conheci Brad Knight foi o pior dia da minha vida, —
falei lentamente, com a voz trêmula. — Até hoje.
Xavier olhou para mim, surpreso.
Mas então ele acenou com a cabeça e seus olhos me imploraram para
continuar.
— Brad acreditava nas pessoas da mesma forma que alguns de nós
acreditam em Deus. Se ele confiou em você, ele confiou em você de
corpo e alma. Sua fé nos outros era sua religião, — concluí.
— Se medirmos a influência em dólares, há muitas pessoas poderosas
aqui hoje. Mas Brad teria a mesma influência se você esvaziasse sua conta
bancária. Ele tinha o dom de ver o potencial e daria tudo o que tivesse
para deixá-lo crescer.
Eu respirei fundo.
— Brad se aproximou de mim naquele dia horrível, há mais de um
ano. Ele me pediu para fazer parte de sua família e perguntou se poderia
me ajudar a salvar a minha. Ele salvou meu pai. Ele me salvou, — eu
admiti, e meus olhos voaram para os de Xavier.
— E ele salvou meu marido.
Xavier tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.
Eu nunca o tinha visto chorar antes, e isso me fez querer envolvê-lo
em meus braços, para protegê-lo da dor.
— Brad nos deu tudo. Ele nos deu um ao outro e, com isso, nos deu a
capacidade de sobreviver sem ele.
Xavier
Estava um dia muito frio e chuvoso para ir ao Central Park, mas Angela
insistiu.
Eu estava tão entorpecido que ela poderia ter me arrastado para
qualquer lugar.
Meu corpo parecia carne ensanguentada. Não sobrou nada de mim —
nenhuma capacidade mental, nenhuma capacidade emocional, nenhuma
capacidade espiritual. Eu não era nada mais do que uma criatura morta,
esperando para ser esfolada.
Porque se meu corpo pudesse dar algo a alguém, estaria fazendo mais
do que atualmente faz por mim.
Sentamos em um banco do parque, com Angela tentando me
ressuscitar.
— Este era o lugar especial deles, — afirmou Angela, apontando para
o banco. Ela estava tentando me lembrar de como meus pais sempre
estiveram aqui.
Mas isso apenas me lembrou de que, agora, os dois se foram.
Eu tinha mandado meu pai embora sem um adeus e, pior, a última
vez que nos falamos foi a pior briga que já tivemos. Ele morreu pensando
que eu o odiava, pensando que eu era ingrato por tudo que ele lutou
tanto para me dar.
Ele morreu depois que eu destruí nosso relacionamento até virar uma
polpa sangrenta.
Suspirei, querendo ficar sozinho.
Eu não queria ninguém — especialmente Angela — perto de mim.
Eu não merecia seu amor.
Eu não merecia amor de forma alguma.
Eu era um animal. Não, uma besta.
Uma criatura tão cruel que não tinha lugar na porra do reino animal.
Um monstro.
— Xavier, eu preciso que você fale comigo, — Angela pressionou.
— O que você quer que eu diga? — Eu disse.
— Algo, por favor.
— As últimas palavras que disse a meu pai foram que não conseguia
acreditar que éramos pai e filho, — admiti.
Angela olhou para seus pés.
— Eu sei, — ela murmurou.
O quê? Como?
— Seu pai me ligou para ver se você estava bem antes da coletiva de
imprensa, — Angela explicou, lentamente encontrando meus olhos. —
Ele estava preocupado com você. Ele sabia que você ia se desculpar,
Xavier. Ele já tinha te perdoado.
Besteira.
Ela estava apenas mentindo para me fazer sentir melhor.
— Mas eu não me desculpei. E agora eu... eu nunca vou conseguir.
Essas foram as últimas palavras que eu disse a ele, — eu engasguei,
tentando empurrar minhas lágrimas de volta em meus olhos.
Angela balançou a cabeça.
— Não, Xavier. Só porque ele faleceu, não significa que ele não está
mais entre nós. Você sabe disso. Brad está cuidando de nós, como sempre
fez. Eu posso sentir, — disse ela. — Essas não foram suas últimas palavras
para ele. Ele ainda está ouvindo. Você quer dizer algo para ele? Apenas
faça agora, aqui.
Eu olhei para ela e me dei conta então, enquanto arrepios cobriam
cada centímetro da minha pele, o quão sortudo eu era.
Fechei os olhos, desejando ver meu pai.
Desejando imaginar seu rosto, seus olhos carinhosos e seu sorriso
bobo.
Sinto muito, pai.
Eu sinto muito mesmo.
Você foi o pai perfeito — em todos os sentidos.
Você me mostrou o que significa ser um homem.
E você me perdoou por estragar tudo.
Todas as vezes, você me perdoou.
Todas as vezes, você me recebeu de volta, de braços abertos.
E você me deu ela.
Você a encontrou para mim.
Você encontrou o amor por mim.
Eu te amo.
Sentirei sua falta todos os dias.
Estou tão orgulhoso — tão orgulhoso — de ser seu filho.
Quando abri meus olhos novamente, Angela estava sorrindo para
mim. Ela agarrou minha mão e deu um aperto, e então se levantou,
puxando-me com ela.
— Adeus, Brad, — disse ela baixinho, olhando diretamente para a
placa no banco. Havíamos corrigido as inscrições para que se lesse Rest in
Peace, Amélia & Brad Knight. Agora papai estava de volta com mamãe.
— Adeus, — eu sussurrei para a placa. — Eu amo vocês dois.

Capítulo 29
Registro Permanente
Xavier
Ron: Bro
Ron: Ei
Ron: Xavier
Xavier: O que vc quer?
Ron: Estou do lado de fora.
Xavier: Fora de onde?
Ron: Sua casa!! vai sair!?
Xavier: Sai daqui.
Ron: Não
Ron: Sai você.
Ron: Eu tenho (3 emojis de copo de cerveja) Xavier: você está
bêbado?
Ron: Siiimmm.
Ron: Vem aqui
Xavier: Saindo kct.
A campainha tocou, fazendo-me ranger os dentes. Rapidamente, pulei da
cama e corri para atender antes que o som acordasse Angela.
— Sr. Knight, — a voz do porteiro estalou pelo interfone. — Há um
homem muito embriagado aqui para ver você. Devo escoltá-lo à saída ou
mandá-lo subir?
Liguei o monitor de vídeo. Ron estava cambaleando pelo saguão atrás
do porteiro.
Ele estava tão bêbado que mal conseguia andar.
Queria chamar a polícia, mas Angela e eu não aguentaríamos mais
um escândalo. Os paparazzi haviam recuado desde o funeral, e eu não
conseguia suportar a ideia de fazê-los começar tudo de novo.
— XAAAAVIEEEEEEER! — Ron uivou, como um cachorro clamando
por atenção.
Se não fosse tão chato, teria sido impressionante.
O porteiro olhou por cima do ombro.
— Senhor?
Porra.
— Estou descendo, — eu suspirei. O pobre coitado merecia isso. Ele
não tinha ficado tão chateado por nada.
Eu joguei minha jaqueta e corri para o elevador. Então eu estava no
saguão, caminhando até o idiota bêbado balançando na entrada.
Assim que ele me viu, ele aplaudiu.
— Não posso permitir que ele faça tanto barulho no saguão, — disse o
porteiro.
Eu cerrei meus dentes, então agarrei o braço de Ron.
— Vamos.
O porteiro cruzou os braços sobre o peito enquanto eu arrastava Ron
de volta para o elevador.
Ron estava andando como se tivesse acabado de aprender.
Tropeçando e caindo a cada passo, ele manteve os olhos fixos na manga
do meu casaco.
— Você gasta MAIS em penas de ganso do que em FUNCIONÁRIOS.
Me pagaram uma merreca. Você é um merda, — ele resmungou.
Revirei os olhos, resistindo ao desejo de empurrar o filho da puta para
o chão. Um escândalo público dentro do meu maldito prédio não era o
que eu precisava.
Assim que consegui colocá-lo no elevador, coloquei-o no banco
almofadado.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Para ser honesto,
eu estava genuinamente curioso.
Ron olhou para mim e começou a chorar como um maldito
adolescente que descobriu que seu cachorro doente não fora enviado
para uma fazenda.
— Você é o único que sabe o que estou sentindo, — ele lamentou.
— Incompetente e bêbado? — Eu perguntei. — Não sei do que está
falando. Não agora, de qualquer maneira.
— Não... Claudia. Ela é...
Oh, Deus.
Por favor não me diga que esse idiota tem dormido com Claudia. É
sério.
Embora parecesse uma punição bastante precisa para os dois.
— Ela partiu meu coração!!!!! — Ron gritou, assim que as portas do
elevador abriram.
Angela disparou para o foyer, com os olhos arregalados de surpresa.
— Ron? O que você está fazendo? Você está bem? — Ela perguntou,
ajudando-o a sair do elevador. Ela me lançou um olhar confuso.
— Esta foi uma má ideia. Ele está indo embora, — eu disse, tentando
arrastar Ron de volta para o elevador. Mas Angela manteve seu domínio
sobre ele.
— Claudia meeee largou. Me tirou tudo, aquela vadia! — Ron
lamentou.
Eu traduzi.
— Eu acho que ele e Claudia estavam envolvidos, e ele veio aqui para
ser solidário?
— Romanticamente? — Angela disse, com seus olhos arregalados. —
Eles estavam...
— TRANSANDO! E eu a ajudei a foder vocês dois, mas então... ela me
fodeu pioooor ainda — Ron admitiu.
Angela e eu trocamos olhares.
Ron... Ele tinha acabado de confessar.
Não foi?
Isso foi uma confissão?
Angela foi até a cozinha pegar água para ele enquanto eu carregava o
idiota inútil para o sofá.
— Sinto muito, — Ron murmurou.
— Desculpe pelo quê? — Eu o persegui.
— Fui eu. Eu vazei, — ele soluçou.
— Vazou o quê?
Angela voltou para a sala com o copo na mão. Os olhos de Ron
correram dos dela para os meus em pânico.
Angela entregou a água a Ron, taciturna.
— Ele vazou o acordo. Foi assim que se tornou público, — ela
concluiu.
Aquele imbecil de merda!
Claro. Eu estava pronto para pegar seu crânio vazio entre minhas
mãos e esmagá-lo. Eu queria amassar sua cabeça como um pedaço de
papel. Foi uma boa coisa eu tê-lo despedido.
Ele não era apenas incompetente e desleal, mas também perigoso.
Como ele ousa ter a coragem de vir aqui para limpar sua consciência?
Não havia nenhuma maneira de dar a ele qualquer paz de espírito.
— Você está aqui para se desculpar? — Angela perguntou, sempre
tentando ver o melhor, mesmo nas piores pessoas.
— Não aceito, seu idiota, — eu rosnei, agarrando sua camisa e
puxando-o para mim. Eu olhei para ele, profundamente em seus olhos
brilhantes de bêbado. — Sua vida está arruinada, você sabe disso?
Ele acenou com a cabeça, muito angustiado para deixar o pânico
penetrar. Ele tomou um longo gole de água, ficando cada vez mais sóbrio.
— Eu sei... ela arruinou tudo pra mim. Eu não espero que você me
perdoe. Eu não me perdoo, — Ron admitiu.
Eu podia ver Angela sentindo pena dele, seus olhos amolecendo como
manteiga no microondas, mas eu não estava acreditando.
— Por que você está realmente aqui, Ron?
Ele respirou fundo. Então ele engoliu em seco.
— Você era um chefe terrível. E nós, assistentes, conversamos. Cada
assistente que você já teve o odiou, Xavier.
— Vá direto ao ponto, — eu exigi, fervendo.
— Eu coloquei um dispositivo de gravação em seu escritório. Horas e
horas de abuso emocional contra seus funcionários foram registradas. E
Claudia, foi tudo ideia dela. Foi ela quem me deu a coisinha que fez a
gravação.
— Você não...
Mas Ron deu um tapinha no bolso da calça jeans, como se estivesse
procurando algo com urgência. Então ele puxou seu telefone, clicou em
um botão e algo começou a tocar.
Era a voz de Claudia.
— Ei, Johnny, US Weekly precisa ouvir essas gravações. É o maior furo
sobre os Knights que já tive. Você vai querer esta exclusiva, — sua voz
soou do telefone.
Meus olhos se voltaram para Ron e depois para Angela.
Isso era mais do que chantagem.
Isso era extorsão.
— Eu tenho muito mais do que isso, — disse Ron, inclinando-se para
a frente no sofá. Por um segundo, ele parecia que cairia, mas ele se
firmou.
— Sabe o que isso significa? — Eu perguntei a Angela.
Seus olhos estavam mais arregalados do que eu já tinha visto. Mas ela,
muito lentamente, muito cautelosamente, assentiu.
— Claudia está em apuros, — ela sussurrou.
Angela
Xavier queria Claudia na prisão. Ele já havia baixado todas as gravações
de Ron e ligado para seus advogados. Ele estava indo tão rápido que mal
tinha discutido isso comigo.
Eu queria que Claudia fosse punida por todos os estragos que ela
causou, claro.
Eu queria que ela deixasse minha família em paz.
Mas eu não queria que isso custasse a sua família. A ideia de Sophie
ser arrancada de Claudia e ficar sem pais, sem pessoas que a amavam, que
podiam cuidar dela, era devastadora.
O sentimento de culpa era insuportável.
Eu me enrolei na cama e não pude deixar de soluçar.
Ouvindo meus gritos, Xavier terminou seu telefonema com o quarto
advogado do dia.
— Tudo vai acabar logo, meu anjo, — ele prometeu, vindo se deitar ao
meu lado. Ele passou os braços em volta da minha cintura, tentando me
acalmar. Mas ele não entendeu.
— Para quem, Xavier? Não para Sophie. Se mandarmos Claudia para a
prisão... — Eu engasguei, tentando recuperar o fôlego.
— Não é problema nosso. Sophie não é minha filha, Angela. Ela é o
produto da pior memória da minha vida.
— Mas ela é filha de alguém! Ela é uma criança, e precisamos protegê-
la, — eu disse suavemente.
— Esse era o trabalho de Claudia. Ela escolheu nos assediar em vez de
cuidar de sua filha — Xavier respondeu, com seus olhos enlouquecidos
de raiva.
— Eu sei. — Eu concordei.
Eu sabia que Claudia estava perturbada. Ela estava com o coração
partido. Ela provavelmente ainda estava apaixonada por Xavier, e essa era
a única razão plausível para ela arriscar tanto para destruí-lo.
Mesmo assim, não odiava a mulher.
E certamente não queria massacrá-la com taxas legais e prisão.
Eu não poderia fazer isso, não com outro ser humano.
Não com uma mãe.
Comecei a hiperventilar. Xavier me apertou com mais força.
— Tudo bem. Tudo vai dar certo. Eu prometo. O que você precisa? —
ele sussurrou.
— Eu preciso que você conserte isso de outra maneira, — eu disse a
ele.
Xavier
Os olhos de Claudia estavam pintados de terror.
Eu tinha acabado de tocar as gravações para ela. Eu gostava de vê-la se
contorcer em pânico, sabendo que ela não poderia fugir da bagunça que
causou.
Tudo o que ela podia fazer era sentar e implorar.
— Por favor, Xavier. Por favor, — ela rastejou. — Eu precisava do
dinheiro. Não consigo fazer com que Daniel pague pensão alimentícia.
Eu nem sei onde ele está.
— Então você decidiu chantagear pelo nosso dinheiro? — Eu não
pude acreditar. Ela não tem acesso ao idiota que ela precisava, então ela
tinha tentado nos foder.
Claudia baixou os olhos.
Seu constrangimento deixou claro que eu estava certo.
— Eu sinto muito. Mesmo. Mas, Xavier, por que você me trouxe aqui?
— Claudia perguntou, olhando em volta para Bryant Park.
A poucos metros de distância estava a fonte.
Três anos atrás, eu a pedi em casamento bem aqui. Era verão, e a água
da fonte estava tão alta que estávamos cobertos de névoa.
Agora, era apenas neblina.
— Porque eu precisava de um lembrete de que nem sempre te odiei —
eu disse.
— Faça o que você precisar, Xavier, de verdade. Mas você não precisa
me separar de Sophie. Por favor, ela já teve um dos pais que a abandonou,
— Claudia implorou.
Tirei um envelope do bolso.
— Há duas passagens aéreas e a escritura de uma casa aqui dentro. Eu
não sei onde você estará. Minha antiga assistente resolveu todos os
detalhes, — expliquei, entregando-lhe o envelope. — Você terá tudo o
que você precisa. Você leva Sophie e dá o fora da minha vida. Pra sempre.
Claudia olhou para o envelope sem acreditar. Ela olhou para mim
com olhos confusos e agradecidos.
— Combinado, — ela concordou, estendendo a mão para apertar a
minha. Mas eu me afastei. Eu não suportava a ideia de ela me tocar.
— Por favor, Xavier, espero que você possa me perdoar.
Mas eu não devia a ela um pedido de desculpas aceito.
Eu não devia nada a ela.
Eu devia a mim o direito de seguir em frente.
— Eu não posso te perdoar. Mas eu posso te esquecer, — eu disse.
Então eu fui embora, deixando-a em minhas memórias.

Capítulo 30
O Acordo Perfeito
Angela
Era o dia do meu casamento.
Novamente.
Isolada no meu camarim, fiquei de calcinha e sutiã.
A última vez que coloquei um vestido de noiva, estava cercada de
pessoas.
Quando andei até o altar, havia uma multidão ao meu redor. Eu olhei
para Xavier no altar e prometi estar com ele na saúde e na doença, e eu
estava completamente sozinha.
Hoje eu não estaria casada com Xavier.
Eu estava me casando com ele.
Eu não era uma troca, mas uma promessa. Honestamente, o que eu
estava prometendo a Xavier não era diferente das coisas que já tínhamos
feito. Estar presente em meio a provações e tragédias? Nós tínhamos
feito isso.
Entre meu pai e o pai dele, acidentes de avião e parceiros de negócios
agressivos, tivemos provações e tragédias suficientes para durar uma vida
inteira.
Ocorreu-me que, quando Brad faleceu, o acordo havia morrido com
ele.
Não havia mais ninguém para decepcionar e nenhuma conta de
médico a pagar.
A teia que ele havia costurado, amarrando Xavier e eu juntos, tinha se
desfeito, então era hora de darmos o nó.
Era hora de nos livrarmos de nossas inseguranças como uma segunda
pele. Era hora de dizer sim, e realmente fazer o que fosse necessário para
que nosso amor sobrevivesse.
Coloquei meu vestido de noiva.
Era um vestido magnífico de organza texturizado, com corpete
drapeado embelezado com delicadas rendas.
Eu olhei para meu reflexo.
Eu parecia... de tirar o fôlego.
Mas, ao contrário da última vez, ainda parecia comigo.
Eu estava com um vestido de noiva, não uma fantasia.
Subi as escadas do convés inferior até a enorme seção principal do
veleiro.
O verão havia chegado e sua brisa nos impeliu pelo porto de Nova
Iorque. Meu pai estava esperando, com o pôr do sol destacando seu rosto
brilhante.
Percebi que este não era apenas o primeiro casamento de verdade
para mim, mas para ele também.
Papai envolveu seu braço em volta da minha cintura e me
acompanhou até o altar.
Enquanto eu olhava para os rostos pelos quais eu passava, sorri o
maior de todos os sorrisos.
Todos ao meu redor sabiam quais coberturas eu gostava na minha
pizza, como eu era antes de saber como fazer minha maquiagem e que
amava Xavier mais do que respirar.
Em sorriu para mim, com sua barriga de grávida saliente em seu
vestido de verão de cetim.
Dustin sorriu e apontou para Danny, balbuciando para mim:
— Ele é tão gostoso!
Estávamos rodeados por alfazemas, rosas brancas e pequenos lírios
castanhos. O cheiro era atraente, mas eu não conseguia respirar porque
estava muito sobrecarregada. De alegria, claro.
Meus pensamentos estavam vibrando como uma migração de
borboletas monarca voando pelas Montanhas Rochosas, com milhares de
asas piscando no ar.
Gratidão.
Essa era a palavra que eu procurava. Era a única com que poderia
descrever adequadamente a massa de emoções girando em meu
estômago.
Assim que o veleiro cruzou ao lado da Estátua da Liberdade, cheguei
ao altar.
Eu encarei Xavier. Seu terno tinha um corte perfeito, permitindo que
seus ombros largos se acomodassem em perfeita harmonia com seus
braços atléticos. Eu examinei cada centímetro dele, cada ângulo e veia,
sabendo que esta noite, e para sempre depois, eles pertenceriam a mim.
Xavier
Enquanto as velas ondulavam no céu tangerina, o pastor me perguntou
se eu aceitaria essa mulher como minha esposa.
Eu já a havia levado para ilhas abandonadas, para coletivas de
imprensa, salas de emergência e funerais.
Eu e ela já havíamos vivido o inferno.
Eu a tinha levado para minha casa e a observei fazer um lar que
parecia o paraíso.
Eu tinha tirado sua virgindade.
Eu a tinha confundido com uma interesseira, por um erro.
Eu a tinha dado como certa.
E eu a tinha tomado como minha esposa há muito tempo.
Mas naquele altar, eu só queria tirar a dor.
Eu queria fazer isso até o fim dos tempos?
Foda-se, sim, eu aceito.
Sim.
Sim.
Sim.
Antes que eu percebesse, nossos votos foram renovados e estávamos
nos beijando da maneira como deveríamos no dia do nosso primeiro
casamento.
Da maneira que a deixasse saber que se ela ficasse cega, eu escreveria
seus poemas de amor em braile.
Da maneira que se ela ficasse surda, eu ainda mostraria a ela todas as
minhas melhores partes.
Da maneira que prometi que se não pudéssemos nos tocar, ela ainda
sentiria minha presença.
Eu estava prometendo amá-la do jeito que faço tudo o mais — de
forma irresponsável, apaixonada, sabendo que posso não acertar todas as
vezes. E ela sabia disso. E ela aceitou.
O barco entrou em erupção de comemoração assim que nos casamos
novamente.
Mas quando nos sentamos para comer o banquete, não consegui
olhar para Angela.
Meus olhos estavam grudados no assento vazio à minha frente. Onde
meu pai deveria estar sentado. Decidimos que a melhor maneira de
homenageá-lo seria deixando uma cadeira vazia para ele. Por seu espírito.
Para sua memória.
Mas isso significava que havia um lembrete físico de que ele havia
partido.
Meus olhos se fixaram na cadeira vazia e me senti vazio.
Embora tenham passado meses desde que papai se foi, este foi o
primeiro marco do qual ele se ausentou. Foi a primeira vez que eu não
pude olhar para ele e saber se eu estava fodendo com tudo, ou ficando
mais maduro, gloriosamente.
O peso da morte de papai foi tão grande que mal consegui pegar no
garfo.
Angela tirou das minhas mãos e me alimentou. Ela passou o braço em
volta de mim, mexendo no meu cabelo.
— O que há de errado, Xavier? — Ela perguntou, inocente como
sempre.
— Eu acho... eu não posso comemorar nada sabendo que ele se foi, —
eu admiti. — Tudo o que ele queria era me ver como um pai, e eu não
pude nem fazer isso por ele.
Angela olhou para mim duramente e por muito tempo.
— Tudo o que Brad sempre quis foi que fizéssemos isso, Xavier. Para
você não ficar sozinho, — disse ela. — Eu prometo que você nunca estará
sozinho. Na verdade, estamos comemorando hoje por ele. Em sua honra.
Suas palavras eram como o ar puro em uma tempestade de areia. Esta
era a nossa hora de ignorar todas as merdas e nos alegrar por termos
sobrevivido a tanta merda juntos. Então, tirei minha cabeça da
melancolia e me permiti sentir feliz.
E mais do que feliz... amado.
Angela
Xavier estava me levando para o nosso quarto de hotel, no estilo nupcial
antiquado, mas eu me esquivei de seu abraço.
Eu não queria mais doçura. Eu não queria cavalheirismo. Eu queria
estar presa na cama. Eu queria que ele me tratasse como alguém igual,
uma parceira tão experiente quanto ele. Eu queria que ele me fizesse
gritar.
Eu me afastei dele e o joguei contra a parede, beijando-o com todas as
minhas forças. Com sua surpresa, Xavier conseguiu agarrar meus pulsos,
me girar e abrir o zíper do meu vestido.
— Você está mal-humorada esta noite, esposa.
— Só para você, marido, — retruquei com um sorriso.
Rendas no valor de milhares de dólares foram jogadas no chão, e
então ele rasgou minha calcinha.
Ele pegou meus pulsos com uma mão musculosa e traçou meu torso
com a outra. Seus dedos permaneceram em meus mamilos, cavando em
meus quadris apertados.
Então ele me abaixou no chão, suavemente, e meus joelhos fizeram
contato com o mármore, meu corpo ainda envolto em camadas de
tecido.
Eu o observei abrir o zíper das calças, olhando para mim com um
sorriso sujo. Ele se libertou do tecido.
Ele estava latejando e rígido enquanto eu torcia minhas mãos em
torno dele. Eu corri para cima e para baixo enquanto envolvia meus
lábios em torno de sua ponta.
Com meus olhos nele, circulei minha língua em torno dele e sua
respiração ficou pesada.
Ainda assim, Xavier manteve os olhos em mim, imaginando quem eu
me tornei.
Tomei mais e mais dele, surpreendendo a nós dois. Suas pernas
tremiam, sua voz vibrava com gemidos esmagadores até que foi demais.
Ele tinha que me ter, tudo de mim, imediatamente.
Ele agarrou meu pescoço, prendendo-me de costas.
Xavier puxou minhas pernas para cima, beijando meus tornozelos
com entusiasmo terno.
Sua língua estava em toda parte, sua respiração eletrizante na minha
carne.
Comecei a tremer, perdendo o controle. Ele alcançou a pele entre
minhas coxas com a língua e lambeu.
Todo o meu corpo estremeceu, meus ombros envergaram juntos,
meu pescoço foi estendido para trás.
Enquanto eu gritava, ele entrava em mim, uma e outra vez.
Cada estocada era mais profunda, mais rápida, mais entorpecente e
deliciosa.
Eu ainda estava pulsando, e Xavier cruzou meus tornozelos em volta
do pescoço, em seguida, passou os dedos pela raiz do meu cabelo.
Ele não terminou.
Ele beliscou meus mamilos no ritmo com o resto de seu corpo,
girando entre o prazer e a nitidez.
Era como estar em uma ducha fria e depois ser imerso em salpicos de
calor escaldante.
Cada célula de mim estava encharcada.
Cada célula de mim pertencia a ele.
Eu não aceitaria de outra maneira.
— Eu te amo, Sra. Knight, — disse Xavier entre as respirações.
— Eu te amo mais, Sr. Knight, — eu respondi, tão perto do limite, de
me perder, que eu não podia esperar mais um segundo.
O caos, a excitação, a espontaneidade e a paixão.
Era realmente o acordo perfeito.
Em: Angie!
Em: Desculpe te mandar uma mensagem na noite de núpcias...
Em: Mas ainda estou neste barco.
Em: E minha bolsa estourou!
Livro 4 – Sem Revisão
Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda

Sumário
1. Sexo na praia
2. Negócios suspeitos
3. Hollywood Knight
4. Seja feita a tua vontade
5. Laços de família
6. A assistente perfeita
7. Fechando o negócio
8. Diário de Brad
9. A exposição de Marlena
10. Uma vista de milhões de dólares
11. Planejamento para a Vague
12. Preparações
13. Altos e baixos
14. Sendo babá de Bella
15. Os bebês mudam tudo
16. Negócios ou lazer?
17. Um castelo transformado em prisão
18. Problemas familiares
19. Alguns conselhos paternos
20. Numa fria
21. Nada poderia ser pior...
22. Por um fio
23. Chá com um pouco de desastre
24. Começo do Fim
25. Um pouco de descanso
26. Perdido no escuro
27. É mais escuro antes do amanhecer
28. O futuro, juntos
29. Ponto de ruptura
30. Uma chama fraca
Capítulo 1
Sexo na praia
Angela
Frequentemente presumimos que os momentos mais felizes da vida
serão aqueles que planejamos. Os grandes eventos: aniversários,
formaturas, casamentos... os dias que nos preparamos, os eventos que
antecipamos.
Mas sempre achei que os momentos que menos esperava me traziam
mais alegria.
Eu ficava espremida entre meus irmãos no banco detrás enquanto
papai cantava junto com a estação de rádio country, e eu percebia: não
fica melhor do que isso.
Isso era felicidade. Isso era paz.
Contudo, novamente, pode-se supor que eu seria mais feliz em minha
lua de mel em Bali, deitada na praia, ouvindo o barulho das ondas. Eu
ficaria feliz em passar um tempo em um resort de luxo com meu marido,
que parecia o Príncipe Encantado e tinha dinheiro suficiente para me
comprar um reino.
E você estaria certo.
Depois de um cochilo agradável ao sol do fim da tarde, abri os olhos.
Meu marido, Xavier, estava olhando para mim. Seu torso bronzeado
brilhava com gotas de água do mar e meu coração quase explodiu ao vê-
lo.
Meu Deus, sim. Eu estava feliz.
Claro, nosso relacionamento não era um conto de fadas. Mal
podíamos fazer uma pausa. Pouco antes do nosso segundo casamento.
fomos apanhados em um escândalo de paternidade. Depois, perdemos
meu sogro. Brad. por causa de um aneurisma cerebral estranho.
Mas agora, depois de muitas semanas, tudo finalmente parecia dar
certo.
— Ei. anjo, — Xavier sussurrou. Apoiando-se em um braço forte, ele
se inclinou para me beijar. Ele se afastou e eu fiquei instantaneamente
perdida em seus olhos deslumbrantes, tão azuis quanto o vasto oceano
diante de nós.
Dois drinques de laranja ornamentados apareceram em uma mesa
baixa, entregues por um garçom elegantemente vestido.
— Pedi um mai tai para você, — explicou meu marido com uma
piscadela. — Espero que você não se importe.
— Nem um pouco, Sr. Knight, — sorri, sonolenta por causa do sol.
Quando levantei minha taça, admirei o enorme diamante que brilhava
em meu dedo bronzeado.
Embora eu nunca tivesse escolhido algo tão chamativo, era
totalmente o gosto do meu marido. E por esse motivo, eu adorei.
— Saúde, Sra. Knight, — Xavier exclamou, segurando meu olhar. —
Por estar aqui com você. E, claro, por Bali.
Levando o copo aos lábios, ele olhou para o oceano, que estava se
transformando em um azul profundo sob o sol poente.
Nunca o tinha visto mais relaxado. Eu queria traçar cada linha
definida de seu corpo musculoso. Eu queria cercá-lo como um escudo
humano para que nada pudesse tocar sua felicidade.
Claro, eu não podia. Eu só pude sentar ao lado dele, apreciando a
vista.
Eu sabia que estar aqui fazia Xavier se sentir próximo de seu pai. Brad
e Amélia foram a Bali em lua de mel e voltaram muitas vezes com o filho
único.
Ele ainda olhava para a paisagem da ilha com a empolgação de um
garotinho. Estando aqui com ele, fui arrebatada pela magia também.
— Temos uma hora até o jantar, querida, — disse ele, olhando para o
relógio. — Eu deixei algo na cama que mal posso esperar para ver você
vestir.
Eu ri. dando um beijo em sua bochecha. — Mal posso esperar! — Eu
respirei. — Acho que vou me arrumar agora.
— Vejo você na villa, — disse ele, segurando minha mão até o último
segundo enquanto eu me afastava.
Não era normal eu demorar tanto para ficar pronta. Mas. desde que
chegamos a Bali, eu havia deixado de lado minha aversão ao glamour.
Sim, o esplendor do resort era diferente de tudo que eu tinha
experimentado antes, mas meu marido estava aqui. E eu pertencia
exatamente ao seu lado.
Quando a areia sob meus pés se transformou em um calçadão de
madeira que conduzia ao longo da praia até nossa villa, refleti sobre as
duas últimas semanas em Bali.
Xavier e eu deixamos Nova Iorque para nossa lua de mel quase dois
meses depois do planejado. Queríamos ter certeza de que tudo estava
bem com Em e seu novo bebê, e Xavier teve que resolver algumas coisas
no trabalho.
Nossa noite de núpcias não foi exatamente como esperávamos. Xavier
e eu pulamos da cama e entramos em um táxi direto para o hospital.
Demos folga a Marco, pensando que nada poderia nos tirar de nosso
apartamento. Mas então, é claro, algo aconteceu.
E não teríamos perdido por nada no mundo.
Xavier ficou sentado a noite toda na sala de espera com meu pai
ansioso enquanto eu segurava a mão de Em durante cada contração.
Isso durou uma eternidade, Em sofrendo e empurrando enquanto
Lucas, Danny e papai apareciam na porta a cada cinco minutos para uma
atualização. (Em se recusou a deixá-los entrar no quarto.)
Mas finalmente, com o amanhecer, veio a menina mais linda. Em a
chamou de Bella, e todos nós imediatamente esquecemos sobre a noite
difícil.
Quando Xavier e eu desabamos sobre nossos lençóis de algodão
egípcio, estávamos cansados demais até para fazer amor. Nossa noite de
núpcias havia acabado e já era a manhã seguinte. Tínhamos planejado
partir para Bali naquela tarde, mas sabíamos que teríamos que reagendar
o jato particular.
— Estou estabelecendo uma regra, — ele disse enquanto aninhava
minha cabeça em suas mãos. — Sem telefones em Bali. Durante as três
semanas inteiras. Sem notícias, sem mensagens de texto, nada... só eu e
você.
— Hmmm, — murmurei com um sorriso, me perguntando se esse
CEO poderia passar um dia sequer sem verificar seu e-mail.
Mas com certeza, ele estava falando sério. E até minha família achou
que era uma boa ideia. Xavier e eu passamos os próximos dias nos
certificando de que nossos assuntos de trabalho estavam em ordem para
que pudéssemos relaxar totalmente em nossa lua de mel.
Eu estava planejando a festa de abertura do mais novo hotel da
Knight Enterprises em Los Angeles. O objetivo da festa era mostrar a
opulência da propriedade, para que não precisasse de muitos enfeites.
Consegui colocar tudo no lugar antes de partirmos.
Quando chegamos a Bali. Xavier trancou cerimoniosamente os dois
iPhones no cofre da villa. Desde então, estamos isolados de nossas vidas
em casa.
E eu tive que admitir, eu adorei.
Não havia nenhum bipe ou vibração na mesa de cabeceira, e eu deixei
as horas se misturarem em longos banhos de sol.
Deslizando a porta de vidro da vila fechada atrás de mim, olhei para o
enorme quarto e soltei um suspiro. Nós realmente estávamos no paraíso.
Como se o quarto em si não bastasse, a praia ficava bem na nossa porta.
Tudo o que precisávamos fazer era cruzar nosso convés.
Eu praticamente flutuei pelo tapete branco imaculado até a cama,
onde corri meus dedos pelo vestido de seda branca que Xavier comprou
para mim.
Era simples e elegante, com um decote profundo e uma saia longa.
Eu sabia que o decote iria mostrar muita pele, mas mal podia esperar
para sentir o material em meu corpo.
Embora eu possa ter evitado um vestido como esse no passado, estar
em Bali me fez sentir muito relaxada. Eu estava bronzeada por longos
dias ao sol. e o tempo todo sozinha com meu adorado marido me fez
sentir mais confiante do que nunca.
Pulei para o banheiro e deixei o chuveiro lavar o sal da minha pele. Saí
em uma nuvem quente de vapor e peguei um pouco de babosa.
Levantando minha perna na beira da banheira de hidromassagem,
hidratei meu corpo antes de borrifar Chanel n° 5 na minha clavícula.
Eu estava olhando para o espelho embaçado quando Xavier abriu a
porta.
— Eu esperava pegar você assim, — ele sorriu através do vapor, vindo
em minha direção.
Eu não pude deixar de rir enquanto ele passava o dedo na minha
canela. Xavier usava uma toalha em volta da cintura e eu fui trazido de
volta para suas travessuras no chuveiro meses atrás...
Quando eu coloquei os olhos em um homem nu pela primeira vez na
minha vida.
Aquele playboy arrogante era um homem diferente do Xavier que eu
conhecia agora. E eu era uma mulher diferente.
Ele beijou minha bochecha antes de ir para o chuveiro, tirando sua
toalha ao longo do caminho.
Eu coloquei minha maquiagem diante do espelho, observando o
reflexo de meu marido enquanto ele ensaboava seu corpo divino, e
captando seus olhares demorados.
Xavier
Água quente choveu sobre mim. Era bom, é claro, mas eu precisaria
interromper o banho.
Olhei através do vidro para minha esposa, nua diante do espelho.
Quando ela ficou na ponta dos pés, admirei sua bunda perfeita. Suas
marquinhas de bronzeado só a deixaram mais incrivelmente sexy.
Desliguei o chuveiro, interrompendo o fluxo de água. Já era o
suficiente.
Quando saí do chuveiro, ela se virou, a escova de rímel ainda
posicionada perto do olho.
— Você terminou...? — Ela começou, mas fez uma pausa enquanto
seus olhos viajavam pelo meu corpo gotejante até minha ereção maciça.
Não foi a primeira vez que minha esposa me viu com uma ereção no
chuveiro, mas ela não era mais a virgem ruborizada de antes.
Ok, talvez ela ainda tenha ficado corada. Mas ela não desviou o olhar.
Diminuí o espaço entre nós, segurando-a por trás. A pele macia de
sua bunda contra o meu pau me fez suspirar, e me inclinei para cheirar o
perfume em seu pescoço.
Meu cabelo pingou água em cima dela, mas ela não protestou.
Observei como seus mamilos endureceram, então peguei um de seus
seios em minha mão.
— E o jantar? — Ela sussurrou, virando-se para me encarar e correndo
os dedos pela minha barriga antes de envolvê-los em torno do meu
membro.
Eu fiquei ainda mais duro, me esforçando para tocá-la.
— Eles vão segurar a mesa, — eu prometi.
E então eu a levantei, carregando-a em meus braços para a nossa
cama enorme.
Eu a deitei e subi ao lado dela, sobre as pilhas de lençóis como nuvens
brancas, até estar em cima dela.
Meu cabelo encharcado pingava gotas de água em sua pele.
Ela se contorceu embaixo de mim, agarrando minhas costas e me
puxando para mais perto.
Ela abriu as pernas, envolvendo-as em volta da minha cintura.
Abaixei-me e cuidadosamente toquei o doce espaço entre elas. Ela já
estava molhada e esperando por mim, e vi seus olhos azuis rolarem em
êxtase.
— Eu preciso de você, — eu disse a ela. Quantas vezes eu disse essas
palavras nesta cama? Demais para contar. — Eu preciso de você o tempo
todo. Para todo sempre.
Angela abriu os olhos e sustentou meu olhar enquanto tocava meu
rosto.
— Você me tem, — disse ela com um sorriso.
E então ela deslizou a mão pelo meu corpo até a minha
masculinidade, e me inclinou para dentro dela.
Inclinei-me e, finalmente, éramos um.
Fiquei parado por um momento, sentindo-a ao meu redor,
observando-a me observar.
— Eu te amo, Angela.
— Eu também te amo, — ela gemeu.
Ela apertou as pernas com mais força, me incentivando, e eu dei a ela
o que ela queria. Eu empurrei para dentro dela, abaixando meu peso para
que pudesse enfiar livremente.
Suas respirações e gemidos demorados rapidamente me trouxeram ao
meu limiar.
Eu queria gozar, mas não antes dela.
Metendo superficialmente e rapidamente, me movi do jeito que sabia
que ela gostava. Ela me puxou para mais perto, mais perto...
— Estou prestes a gozar, — ela sussurrou em meu ouvido.
Sim.
Goze.
E então ela gritou, o lindo som enchendo a sala enorme.
Logo depois dela, eu gozei, me dando mais a ela a cada estocada. As
ondas de prazer bateram em mim como o oceano fora de nossa janela,
enorme e implacável.
Quando acabou, eu rolei para fora dela e a puxei em meus braços.
Meu mundo inteiro estava ali naquela cama.
Eu estava no meu lugar favorito. Sozinho com Angela, em Bali. Se ao
menos pudéssemos ficar lá para sempre.
Mas nossos dias no paraíso estavam contados.

Capítulo 2
Negócios suspeitos
Xavier
De todas as coisas que eu queria mostrar a Angela em Bali, era com
isso que eu estava mais animado. A casa na praia era nada menos que
mágica.
E aquecendo-se com o brilho da nossa vida amorosa, o restaurante da
vila era ainda mais bonito do que eu me lembrava.
Sentamos no deck que dava para o oceano e o pôr do sol vermelho e
laranja escaldante. Nada poderia vencer isso.
Mas então eu olhei de volta para o outro lado da mesa, para minha
esposa de perfil enquanto ela olhava para a vista, com seu cabelo loiro
caindo em volta do rosto, e sua pele bronzeada sob o lindo vestido
branco que comprei para ela...
Isso é ainda melhor.
Eu senti que meu coração poderia explodir do meu peito, na mesa ao
lado dos primeiros pratos do menu de degustação e nossas taças de
chardonnay francês.
— É muito importante estar aqui com você, — comecei. — Obrigado
por ter vindo. Eu sei que não é exatamente a sua cena.
— Não. — Angela sorriu, balançando a cabeça. — Eu adoro isso.
Quase parece que Brad está aqui; este lugar me lembra muito dele. —
Lágrimas quentes surgiram atrás dos meus olhos por um momento. Ela
tinha lido minha mente.
O restaurante era cinco estrelas, mas havia algo de descontraído nele.
Era um tipo de lugar com areia entre os dedos dos pés. Afinal, era bem
em cima da praia.
Foi por isso que meu pai adorou. E eu pensei que Angela iria adorar
também.
— Este era o restaurante preferido dos meus pais no inundo. E esta
era a mesa favorita deles.
Eu sabia que ela não gostaria que eu alugasse o lugar inteiro, então
apenas me certifiquei de que tivéssemos a melhor mesa do local. A mesa
dos meus pais. Aninhado no canto do convés, mas mais próximo da água.
Dei uma mordida no ceviche, saboreando o limão antes de engoli-lo
com vinho. Eu sorri para o anjo que era minha esposa, estabelecendo-se
em nossa noite perfeita juntos.
— Eu sei que você tem pensado muito neles desde que chegamos
aqui, — disse Angela, seus olhos suaves como os de uma corça. Ela
colocou os dedos no meu braço e, mais uma vez, meu coração inchou no
peito.
— Sim, — eu admiti, olhando para minhas mãos.
— Achei que estar em Bali me faria sentir mais saudades do papai.
Sim, claro, mas é mais como se eu estivesse apenas... lembrando dele.
— Isso é o que ele teria desejado, — disse ela, inclinando a cabeça
para o céu em chamas. A luz vermelha do sol dançou em seu vestido. —
Para você celebrar a vida dele.
Com uma das mãos segurei a dela e com a outra terminei minha taça
de vinho. Quando um garçom se materializou para enchê-la, pensei nas
palavras de Angela.
Segundo os advogados de meu pai, ele queria que se passassem seis
meses antes da leitura de seu testamento. Ele queria que celebrássemos
sua vida sem pensar nas coisas que ele deixou para trás.
— Gosto de pensar em quando meus pais estiveram aqui em lua de
mel, — eu disse, sorrindo. — Quando eles eram jovens, e meu pai ainda
dirigia a companhia de petróleo antes de começar com os hotéis... e eles
falaram sobre ter um filho...
Angela sorriu conscientemente para mim, o que me incentivou.
— Isso me faz pensar sobre isso também. Me faz perceber o quanto
quero ter uma família com você. E não apenas porque papai queria tanto
um neto... quero criar um filho com você.
Eu me inclinei na direção dela. — Eu quero fazer tudo com você.
Seu sorriso se alargou. Quando olhei para ela, parecia que éramos as
únicas pessoas no restaurante. Meu Deus, no mundo.
Só eu e essa mulher que virou minha vida de cabeça para baixo, que
me olhou como se eu fosse o homem bom que nunca pensei que poderia
ser.
De seus lábios perfeitos veio a voz de um anjo: — Eu também quero
tudo.
Angela
Acordei cedo quando o sol apareceu sobre o oceano, com o céu
listrado de rosa e laranja. Não pela primeira vez na viagem, senti como se
tivesse acordado em um sonho.
A janela estava aberta. O bater das ondas que me embalou para
dormir todas as noites me tirou dos meus sonhos pela manhã.
Significava que acordei cedo, mas não me importei. Eu adorava ver o
sol nascer, entrando e saindo do sono. Eu adorava assistir Xavier
enquanto ele dormia.
Na luz pálida, deixei meus olhos percorrerem seus traços perfeitos
sem a timidez que às vezes sentia em suas horas de vigília. Aqui,
dormindo ao meu lado, meu marido estava tão chocantemente bonito
como sempre.
Mas dormindo, ele parecia tão despreocupado e inocente como uma
criança.
Incapaz de conter meu amor, beijei sua bochecha.
Eu não queria perturbá-lo, mas seus olhos piscaram e se abriram. Ele
sorriu preguiçosamente para mim.
— Levantou cedo de novo, pelo que vejo, — ele sussurrou, levando os
dedos ao meu rosto.
Eu concordei.
Nós só tínhamos mais dois dias em Bali. Embora eu não quisesse ir
embora, estava animada com o que viria a seguir. Eu sabia que onde quer
que eu fosse, Xavier estaria ao meu lado.
Depois de Bali, íamos para Los Angeles para a inauguração do hotel.
Tive a sensação de que essa parte de nossas vidas seria diferente das
outras. O quarteto de jazz que contratei estava fazendo um show
esgotado no Hollywood Bowl na noite anterior à abertura. A noite seria
tão elegante quanto a própria propriedade.
Eu não me deixaria mais ser alvo de garotas malvadas. Ou homens
malvados, para falar a verdade.
Eu permaneceria firme no tapete vermelho, posando para os
paparazzi com meu marido. Xavier tinha me dito que eu era linda tantas
vezes que finalmente comecei a acreditar que era verdade.
Decidi que usaria meu novo vestido branco para o evento.
Era estranho para uma noiva usar tanto branco? Depois de seu
segundo casamento?
Eu não me importava. O amor de meu marido me deu confiança para
fazer o que eu quisesse. Dizer o que eu quiser, me vestir como eu quiser,
fazer amor como eu quiser...
Xavier passou o braço em volta da minha cintura, puxando-me para
perto dele. Sua pele estava tão quente de sono que meus músculos
relaxaram completamente. Antes que eu percebesse, eu estava dormindo
novamente também.
Quando acordei de novo, o sol estava alto.
Xavier estava vestido com uma túnica branca bonita, empurrando um
carrinho em direção ao deck.
— Serviço de quarto? — Eu perguntei, me questionando há quanto
tempo eu estava dormindo.
— O café da manhã está servido! — Ele anunciou.
— Waffles para a princesa.
Eu sorri, pulando da cama e colocando meu próprio robe.
Eu o segui até o deck, onde ele estava organizando nossa refeição na
mesa que estava lá.
— Eu disse ao entregador que montaria a mesa sozinho, — disse ele,
piscando os olhos. — Ele não queria que eu me desse ao trabalho, mas
acabei convencendo-o.
Ele caminhou em minha direção, olhando para mim por baixo de seus
cílios escuros.
— Ninguém pode ver minha esposa na cama, — disse ele, puxandome para um beijo. —
Exceto eu.
Eu ri.
— Obrigado pelo café da manhã.
O sol forte fez minha cabeça doer. Pensando em todo o vinho que
acompanhou o menu de degustação da noite anterior, percebi que estava
com uma pequena ressaca.
— Vou pegar meus óculos de sol, — eu disse, entrando.
— Eu também estou de ressaca, — disse Xavier. — Mas nada cura
uma ressaca como o serviço de quarto.
Eu sentei na minha cadeira em frente a ele, o mundo agradavelmente
sombreado.
Depois de uma grande mordida no waffle, perguntei: — O que está na
agenda para hoje?
Ele sorriu para mim como se conhecesse uma piada e eu fosse o
ponto final. — Você vai ver.
— O que isso significa? — Perguntei.
— Estamos indo para uma viagem de campo. Fora da propriedade.
Para encontrar alguns amigos meus. E eu recomendo que você use
sapatos confortáveis.
Uma hora depois, estacionamos nosso jipe na entrada de uma
floresta. Uma parede de rocha, com séculos de idade, estava coberta de
musgo verde brilhante. A floresta era exuberante e profunda.
Xavier nunca mencionou que tinha amigos em Bali antes, e eu estava
rezando para que eles não fossem nada parecidos com as modelos
esnobes que Conheci em Paris...
— Você tem amigos aqui? — Eu perguntei enquanto Xavier me
ajudava a descer do veículo.
— Claro, — disse ele com um sorriso, apontando para a placa:
SAGRADO SANTUÁRIO DA FLORESTA DO MACACO
— Os macacos são meus amigos! — Ele gritou, me pegando para um
abraço.
Eu ri, balançando minha cabeça. — Você me pegou, — eu admiti.
Assim que começamos a andar, notei macacos em todos os lugares.
Havia mamães macacas agarradas aos seus bebês, macacos pulando
nos tornozelos dos turistas, em suas costas e cabeças...
— Isso é selvagem.
— Louco, hein? — Xavier perguntou. Ele apertou minha mão. — Não
se preocupe, não vou deixar nenhum macaco pegar você.
Ele beliscou meu lado, me provocando. Eu ri, porém seu sorriso
desapareceu. — Mas, falando sério, não olhe nos olhos deles.
Eu ri incerta quando um macaco se lançou sobre uma menina,
fazendo-a gritar.
— Vamos continuar caminhando. — Ele nos guiou ao redor da família
grande da menina, que conseguira separar o macaco da menina, mas não
do pai.
Eu amei como meu marido parecia determinado, me guiando através
dos turistas na floresta. — Viemos aqui para que eu possa mostrar este
templo... Só não consigo me lembrar exatamente como chegar lá.
Enquanto eu mantinha o ritmo ao lado dele, admirava o rosto do meu
marido... sua mandíbula tão afiada que poderia cortar pedra, e a barba
que ele vinha crescendo desde que chegamos aqui.
Ele sorriu para mim, e eu encontrei seus olhos através das lentes
escuras de nossos óculos de sol. Ao nosso redor, a floresta verde profunda
ressoava com macacos tagarelas e pássaros grasnando. Xavier me
aconselhou a usar meu short cáqui e uma camisa de botão, além do
chapéu novo que ele comprou para mim. Eu me senti como se estivesse
em um safári.
Talvez em outro momento da minha vida, eu ficaria com medo. Mas
não fiquei. A mão de meu marido estava firme e segura ao redor da
minha. E eu também provei que era forte.
Aproximamo-nos de uma fratura na copa das árvores. Quando
entramos numa área aberta, Xavier disse: — Lá vamos nós!
Então apareceu um enorme templo, com estátuas guardando o lugar
do lado de fora.
— Oh, meu Deus.
Foi feito inteiramente de pedra. E a pedra estava completamente
coberta por um musgo verde eletrizante. Parecia antigo e futurista ao
mesmo tempo.
Xavier e eu contornamos o templo, admirando as estátuas de deuses
hindus.
Esta área estava, para minha surpresa, relativamente ausente de
visitantes. Visitantes humanos, pois havia muitos macacos. Mas parecia
que até os macacos lá estavam se calando. Isso fez com que todo o lugar
parecesse sagrado. Preso entre o tempo.
Caminhamos em silêncio. Pensei em tirar minha câmera para tirar
fotos, mas algo me disse que minha memória bastaria. As fotos não
podiam fazer justiça.
Somente quando estávamos de volta sob a cobertura da copa da
floresta é que começamos a conversar novamente.
Eu praticamente pulei no caminho, eu estava tão animada com o
templo assustadoramente bonito e a promessa da floresta densa à nossa
frente.
— É tão incrível, certo? Ver isso faz o tempo parar ou algo assim.
— Eu sei! — Eu falei, estendendo a mão para beijar seu rosto.
Ele sorriu e novamente eu me senti como se ele fosse um garotinho,
como se fôssemos duas crianças em uma aventura.
Nesse momento, um macaco pousou na cabeça de Xavier. Deve ter
saltado de um galho de árvore porque o atingiu como um raio.
— Uau! — Xavier disse, alcançando acima de sua cabeça para agarrar
o macaco. Tentei ajudar, mas a criatura estava decidida. Ele estendeu a
mão ágil e agarrou os óculos de sol de Xavier.
O macaco os arrancou e saltou de novo antes que eu pudesse reagir.
— Ei! — Xavier gritou, avançando em direção ao macaco, que subiu
no galho mais alto da árvore. O infeliz bilionário sacudiu o galho,
fazendo voar as folhas, mas não conseguiu incomodar o macaco.
— Você está brincando comigo?! — Ele gritou para o pequeno ladrão.
Outros turistas se reuniram para assistir à briga de meu marido. Eu ri
tanto que as lágrimas escorreram pelo meu rosto.
Quando ele se virou, sua boca estava aberta em descrença.
— Aqueles eram Gucci! — Ele gritou.
De volta ao hotel, Xavier e eu colocamos nossos trajes de banho para
um mergulho noturno no oceano.
— Vou precisar comprar novos óculos de sol, — queixou-se Xavier. —
Espero que haja algo decente na loja de presentes.
— Tenho certeza que encontraremos algo, — assegurei-lhe. beijando
seu nariz sardento. — Agora vamos!
Quando eu estava abrindo a porta de vidro deslizante, ouvi um
iPhone ping!
— Achei que tivéssemos colocado nossos telefones no modo
silencioso. — Eu disse, franzindo a testa.
— Minha bateria deve estar prestes a morrer, — respondeu meu
marido, olhando para o cofre.
— Tenho certeza de que não é nada...
Eu segui Xavier para o ar tropical, olhando para o cofre. Embora nós
dois quiséssemos negar, não poderíamos ficar no paraíso para sempre.

Capítulo 3
Hollywood Knight
Angela
Só quando estávamos no carro enviado pela Hollywood Knight eu
liguei meu telefone novamente. Ele acendeu de volta à vida quando eu
abaixei a janela do banco detrás, deixando entrar o ar quente da noite.
Califórnia. Mesmo este estado, tão longe de Nova Jersey, parecia
familiar para mim depois de viajar pelo mundo.
O Escalade preto tinha garrafas de água gelada nos suportes para
copos. Xavier passou um para mim.
Eu beijei seu rosto.
Então as mensagens começaram a chegar.
Pai: Querida, o jogo começou e os nachos terminaram! A única
coisa que falta é você. Beijos Pai: OS GIANTS GANHARAM!!!!!
Dustin: Devo gastar $ 500 em um par de mocassins Gucci?
Dustin: Eles são vintage e adoráveis Dustin: Sim ou sim?
Dustin:??
Dustin:??
Dustin: Ah, certo. Sem telefone.
Dustin: Que fofo.
Dustin: Te amo, sua vadia. Me mande uma mensagem quando
voltar.
Em: Eu sei que você não está com o seu telefone, mas estou
com saudades!! Espero que Bali seja incrível.
Em: ser mãe é uma loucura.
Em: mal posso esperar por um dia entre garotas com você.
Eu sorri enquanto palavras e imagens das últimas semanas fluíam
como se estivessem viajando através de uma máquina do tempo.
Xavier estava olhando para seu telefone também.
De volta ao mundo real, pensei comigo mesma. Inclinei-me para beijar
meu marido novamente. Com ele, até o mundo real não era tão ruim.
Xavier
A mais nova propriedade dos Knight deveria ser a mais glamorosa até
agora, e depois de alguns dias de estadia, Angela e eu concordamos que
era mesmo.
Estávamos hospedados no hotel durante a pré-inauguração exclusiva,
em que menos da metade dos quartos estavam disponíveis. Antes da
festa, nossos clientes mais leais experimentariam luxo e serviços sem
precedentes.
O burburinho no ar confirmou o que eu já sabia: havíamos nos
superado com Hollywood Knight.
Sair de Bali foi como sair do paraíso, embora estivéssemos mais ou
menos em férias.
O carro do Hollywood Knight nos levou por uma rota panorâmica
por Los Angeles, passando pelo icônico letreiro de Hollywood enquanto
dirigíamos pela movimentada Hollywood Boulevard. Pela janela, vi as
estrelas dos meus artistas favoritos brilhando nas calçadas. E aquele era o
meu chapa, Leo DiCaprio, que vimos sair de um Coffee Bean?
Bem, isso não é tão ruim.
E então, depois do que pareceu uma vida inteira de viagens,
estávamos lá.
O Hollywood Knight. Logo acima da movimentada Sunset Strip.
Assim que descemos do carro, sentimos o glamour descontraído do
lugar.
Havia um piano de cauda no saguão, localizado perto do restobar,
onde um pianista de jazz tocava todas as noites para os nossos
convidados.
O local foi projetado para mergulhar nossos hóspedes no brilho e
charme da velha Hollywood, mantendo a simplicidade elegante do século
XXI. O interior do hotel era de madeira clara e mármore branco, e
parecia que não havia nenhum ângulo em todo o lugar. Eram linhas lisas
e suaves.
Passamos os dias seguintes cuidando dos detalhes finais da festa de
abertura e tomando sol na piscina infinita.
Dormi até tarde na suíte de lua de mel. deixando as férias se
estenderem enquanto Angela fugia para as reuniões com o bufê.
E então, antes que percebêssemos, era a noite da festa. Observei
Angela se preparar na frente do espelho de corpo inteiro e fechei o zíper
de seu vestido de seda branca.
Coloquei um terno de linho azul e juntos descemos a grande
escadaria para o evento de fim de semana mais quente de Los Angeles.
O saguão brilhava com a luz de 100 velas e o burburinho dos foliões.
Champanhe fluiu e um quarteto encheu a sala com um jazz suave.
Eu tinha que admitir, esta era a nossa propriedade mais
impressionante. Era perfeitamente simples. Olhei para minha linda
esposa, cujo cabelo loiro estava puxado para trás em um coque
bagunçado, observando a cena com os olhos arregalados.
Observá-la aqueceu meu coração.
Papai ficaria muito orgulhoso dela.
Ela encontrou meu olho e mordeu o lábio enquanto sorria.
E ele ficaria orgulhoso de mim, de como eu era bom para ela.
E isso era tudo o que importava.
Angela
Na noite do evento, o saguão fervilhava de conversas e risadas
graciosas. Fiquei ao lado do quarteto tocando ao lado do piano de cauda
e admirei meu trabalho.
A festa foi exatamente o que eu esperava que fosse — sem esforço e
glamourosa. Convidados da lista A desfilaram no tapete vermelho
enquanto os garçons distribuíam arte comestível de um chef famoso.
Xavier apareceu ao meu lado com duas taças de champanhe. Ele
tilintou a dele na minha.
— Saúde, querida, — ele disse, seus olhos brilhando, — para você! Por
planejar a festa de inauguração de maior sucesso que um hotel Knight já
viu.
Fechei meus olhos quando ele se inclinou para me beijar.
— Três pessoas já pediram para comprar suítes, — disse ele com uma
piscadela.
Um casal passeando de repente mudou de direção, e a mulher
imponente conduziu seu homem em nossa direção.
Oh, Deus.
Não pude evitar a súbita onda de ansiedade que senti. Esta jovem era
claramente uma modelo, seu sorriso era um escárnio velado.
Ela era uma das ex-amantes de Xavier?
— Bonsoir, mon cheri, — ela cumprimentou, inclinando-se em direção
a Xavier para cumprimentar com dois beijos.
Certo. Uma antiga colega de classe da França.
A mulher não se preocupou em se apresentar a mim. Em vez disso, ela
tirou um cacho castanho da testa com a unha em forma de garra e ficou
ali me olhando de cima a baixo.
Eu senti meu rosto esquentar. Quantas vezes eu encolhi diante do
olhar crítico de uma bela mulher?
Seus lábios franziram em desgosto. Embora isso geralmente me faça
querer derreter no chão, desaparecendo de vista, esta noite foi diferente.
Esta foi a minha festa e eu estava ao lado do meu marido. Que direito
essa mulher tinha de impulsionar seu próprio ego, e esmagar o meu?
— Eu sou Angela, — eu disse, quebrando o silêncio enquanto estendia
minha mão para ela. Ela estendeu a mão com cuidado e segurou-a entre
suas unhas afiadas e bem cuidadas. Não quebrei o contato visual o tempo
todo. A sobrancelha da modelo franziu.
Eu — estava intimidando?
O casal arrogante se afastou de nós, com a mulher sacudindo o
cabelo.
— E ela é Celine, — disse Xavier, virando-se para mim. — Eu nunca a
vi sem palavras.
Nesse momento, uma senhora glamourosa com uma cabeça de
cachos brancos dos anos 1920 colocou a mão sobre o cotovelo de Xavier.
— Senhorita Marlboro, — disse ele, — se eu não te conhecesse,
pensaria que você estava me seguindo.
A mulher riu da piada de Xavier, mas sorriu para mim sob os óculos
de armação vermelha de gato com falsa timidez.
— Não, Xavier, — ela ronronou. — Achei que já era hora de encontrar
essa criatura divina da qual tanto ouvi falar.
Eu sorri de volta para ela, observando seu temo de duas peças feito de
cetim com estampa de leopardo. Seu glamour excêntrico me disse que
ela era uma força a ser reconhecida.
— Marlena Marlboro. — disse ela, afastando-se do meu marido e
cobrindo as mãos com as minhas.
— Angela, — eu disse, deixando nosso aperto de mão durar.
Não pude deixar de sentir um magnetismo pela velha.
— Marlena era uma amiga querida do meu pai, — explicou Xavier.
— E eu sinto muito por ter perdido seu velório. Eu estava amarrada
em Veneza para a Bienal. Parecia errado, mas eu sei que ele gostaria que
eu perseguisse minha arte.
Marlena fez uma pausa e as lágrimas brilharam em seus olhos, mesmo
enquanto sorria. — Brad me conheceu quando eu era uma criaturinha
ambiciosa. Mais tarde na vida, quando ambos perdemos nossos grandes
amores, Brad e eu tivemos uma correspondência longa e significativa.
Xavier franziu a testa. — Meu pai escrevia cartas?
— Oh, sim! Ele era um escritor e tanto, na verdade. — Enquanto ela
acenava para um homem elegante em nosso círculo, Xavier aproveitou a
oportunidade para diminuir a distância entre nós. Ele sutilmente correu
o dedo sobre a pele exposta da parte inferior das minhas costas, enviando
arrepios na minha espinha.
— Rupert! — Marlena deu uma risadinha, abraçando o cavalheiro. —
Por favor, conheçam o Sr. e a Sra. Knight.
— É um prazer. — Rupert acena graciosamente com a cabeça. — Mas
que propriedade deslumbrante. Não é uma festa fabulosa?
— De fato! — Marlena arrulhou.
— Tenho que agradecer a minha esposa por isso. — Xavier sorriu para
mim e eu senti minhas bochechas corarem. Eu pensei que estava
mantendo a calma, mas meu reflexo de rubor me entregou toda vez...
— Foi você que produziu o evento? — Rupert pergunta, e quando eu
concordo, ele suspira de alívio.
— Você é bem a mulher que eu estava procurando. Meu novo espaço
de arte abre em Nova Iorque em algumas semanas, e eu preciso de ajuda
para me preparar...
— Oh, sério? — Eu perguntei, minha mente já girando com ideias.
— Oh, sim! A exposição de abertura é uma retrospectiva das pinturas
de Marlena, — Rupert continuou.
— Angela tem experiência em eventos de galeria, — Xavier
acrescentou. — Ela planejou uma inauguração que lançou a carreira de
um jovem pintor!
Corei com toda a atenção, mas fiquei feliz com a ajuda do meu
marido.
Marlena e Rupert trocaram um olhar travesso.
— Seria maravilhoso trabalharmos juntos! — Rupert propôs.
— Uau! — Eu jorrei. Este evento não poderia ter soado mais fabuloso.
— Vou te dar meu cartão. Por que você não me liga depois do fim de
semana?
Agarrei o pedaço fino de cartolina entre meus dedos, mal acreditando
que tinha tido tanta sorte.
— Perfeito. — Eu disse, sorrindo.
Xavier
Fiquei tão orgulhoso quanto o pai de um quarterback vencedor do
Super Bowl ao ver Angela fazer contatos.
Ela não era apenas a produtora do evento, mas também a anfitriã. Ou
era anfitriã comigo.
Ela estava abraçando sua posição social, e isso me fez querer
mergulhá-la no chão e dar-lhe um grande beijo bem aqui no meio da
festa.
Se papai pudesse nos ver agora.
Quando puxei Angela para o canto do salão, ela riu, apertando minha
mão.
— Estou me divertindo, — ela sussurrou.
— Não soe tão surpresa!
Eu beijei sua testa.
Então, meu telefone começou a tocar. Quando o tirei do bolso da
calça, apareceu o nome do meu advogado.
Esta não era uma ligação que eu pudesse ignorar.
— Harry, — eu disse como uma saudação.
— Xavier. Que bom que atendeu.
— Sim, estou meio que no meio de algo.
— Serei breve. O testamento de seu pai está pronto para ser lido.
Eu engoli em seco.
Já haviam se passado seis meses desde que papai faleceu. Não sabia
que temia a leitura de seu testamento. Tornou tudo mais... real.
— Oh, tudo bem. Quando e onde?
— Amanhã ao meio-dia em meu escritório.
— Obrigado, Harry. Angela e eu estaremos no primeiro voo de Los
Angeles. Te vejo lá...
— Xavier, mais uma coisa. Só quero avisar que há algumas... surpresas
no testamento.
— Uhhh, — eu gaguejei, me perguntando o que diabos isso poderia
significar.
Será que o velho deixou tudo para a caridade? Pensei no acordo que
ele fez com Angela alguns anos atrás. O truque que ele aplicou para que
eu pudesse encontrar a mulher dos meus sonhos. Meu velho certamente
foi criativo com a maneira como gastava seu dinheiro.
Mas essa era a fortuna dos Knights de que estávamos falando. Ele não
teria feito nada muito caprichoso... teria?
— Vejo você amanhã, Xavier. Obrigado.
Eu abri minha boca, mas o tom de discagem já estava tocando.
Suspirei, colocando meu telefone de volta no bolso.
Angela me olhou com curiosidade.
— Temos que estar em Nova Iorque amanhã, — eu disse a ela. meus
ombros caindo sob o peso de tudo isso. — As férias acabaram, querida.

Capítulo 4
Seja feita a tua vontade
Xavier
Embora o escritório do advogado em Midtown fosse refrigerado por
um ar-condicionado central, eu estava pegando fogo. Eu desfiz o
primeiro botão da minha camisa e olhei para Angela desesperadamente.
Estávamos no escritório há apenas cinco minutos, mas eu já estava
perdendo o controle.
Ela apertou minha mão. Ela também não estava exatamente
confortável, sentada entre Penny e eu. Nós três éramos as únicas pessoas
na sala ao lado do advogado, que passava os dedos pelo bigode farto e
castanho.
Penny também mal conseguia se controlar. Seus olhos estavam
começando a lacrimejar e ela enrolou um lenço de papel em seu punho.
Eu me senti tenso com a presença dela, a raiva ameaçando crescer
dentro de mim.
Mas tentei me controlar. Eu tinha quase certeza de que Penny não era
a vagabunda oportunista que eu inicialmente pensei que ela fosse. Ela era
apenas uma garota que queria ser feliz e ela encontrou essa felicidade
com meu pai.
Mas vê-la lá na leitura do testamento lançou uma sombra escura
sobre esses pensamentos.
Há quanto tempo ela conhecia meu pai?
Não o suficiente para CONHECÊ-LO.
Não o suficiente para ganhar um lugar nesta sala.
Provavelmente foi isso que ela planejou durante o tempo que
passaram juntos. Fique com um velho antes que ele fique senil, mas não
antes que ele possa mudar seu testamento...
Agora eu entendi por que papai queria esperar seis meses. Se eu
estivesse aqui logo depois de perdê-lo, quando a dor ainda era tão
recente, teria gritado para Penny sair da sala. Ou algo pior.
Eu exalei pelo nariz. Pela primeira vez na vida, tentei banir meus
pensamentos mordazes.
— Bem-vindos à família do falecido Brad Knight. Agradeço por
estarem aqui hoje.
Eu olhei para ele. Ele ajeitou a gravata borboleta.
— Embora nos encontremos em circunstâncias nada afortunadas,
lemos o Ultimo Testamento de Brad Knight para celebrar sua vida e tudo
o que ele conquistou.
O advogado pegou uma pasta de couro marrom de sua mesa e abriua.
— Sem mais delongas, vou ler uma carta de Brad Knight, seguida de
seu testamento.
Ele pigarreou.
— Para a minha família. Enquanto escrevo isto, antecipo um tempo
em que não estarei mais com vocês. Escrevo com amor e otimismo no
coração ao pensar em todos vocês: Xavier, meu único filho, Angela,
minha única filha e minha querida e doce Penny.
— Talvez vocês estejam se perguntando por que escolhi deixar seis
meses entre meu falecimento e a distribuição de meus bens materiais. A
logística da morte ocupa o cérebro, e eu queria que vocês se lembrassem
de mim com o seu coração, mesmo que apenas por um curto período de
tempo.
Eu ouvi Angela fungar ao meu lado. Eu sabia que ela estava lutando
contra as lágrimas por minha causa, pelo que eu era grato. Se eu a visse
chorando, não poderia me conter...
— As próximas páginas detalham a herança que cada um de vocês
receberá. Que essas coisas os ajudem a alcançar seus sonhos. Espero que
eles tragam a vocês uma fração da alegria que vocês me deram em minha
vida.
— Agora estou com meu grande amor. Amélia, em algum grande
além. Saiba que estou em paz. Sou grato por deixar minhas posses desta
vida em mãos tão dignas e capazes.
— Com todo meu amor, Brad.
Meu nariz doeu, como sempre faz antes de chorar. Naquele
momento, eu não me importava com o dinheiro ou as posses de meu pai.
Eu só queria ele— o homem que sempre soube o que dizer. O homem
que não tinha medo de mostrar amor ou de arriscar tudo por outra
pessoa.
Quantas vezes ele havia se arriscado comigo? Quantas vezes eu o
decepcionei?
Eu nunca faria isso de novo. Olhei para minha esposa ao meu lado,
seus olhos transbordando de amor. Tudo o que papai queria era que eu
encontrasse o amor verdadeiro como ele encontrou com minha mãe. Ele
o encontrou para mim e me ajudou a salvá-lo antes que fosse tarde
demais...
De certa forma, meu pai viveu através de Angela. Aos olhos dela, eu
era o homem que ele sabia que eu poderia ser.
— Para Angela — 1, continuou o advogado, — minha nora e querida
amiga, deixo os jogos de jantar de porcelana Wedgwood da minha mãe,
minha biblioteca particular, meu Jaguar conversível e dez milhões de
dólares.
A respiração de Angela ficou presa ao meu lado. Certamente a
generosidade de meu pai a surpreendeu. Mas não a mim.
— Para Xavier, meu orgulho e alegria, zelador do negócio que
construí. Agradeço sua dedicação à Knight Enterprises como seu
destemido CEO. E eu deixo para você...
Sentei-me ereto, limpando minha garganta. Fiquei nervoso, ou talvez
animado, ao pensar no meu telefonema de ontem. O que no testamento
de meu pai poderia me surpreender?
minha coleção de carros esportivos e a garagem de Manhattan, as
joias de sua mãe, três caixas de meus pertences para serem
compartilhadas com Angela e um bilhão de dólares.
Suspirei aliviado. Nada parecia fora do comum. Meu pai cuidou de
mim durante toda a minha vida e agora, mesmo com ele morto, não seria
diferente.
Eu fiquei um pouco surpreso com os carros esportivos. Quanto tempo
papai passou gritando comigo por correr na estrada? Quantas das minhas
multas por excesso de velocidade ele pagou? O velho sempre teve senso
de humor...
— Minha riqueza restante, eu doo para várias instituições de caridade
em nome de minha amada Amélia Knight.
— E para a querida Penny, que me mostrou que eu não precisava ficar
sozinho, deixo a cobertura Central Park West...
Meu estômago se agitou. Eu não pensei que ele deixaria seu lugar
comigo, mas para Penny?!
— '... e eu a considero minha sucessora como presidente do conselho
da Knight Enterprises... '
Uma tosse saiu da minha garganta como se meu corpo estivesse
rejeitando o que acabei de ouvir.
Penny era a presidenta!?
Eu senti como se o ar condicionado estivesse bombeando gás tóxico
para o quarto. Eu estava queimando e não conseguia mais respirar.
O advogado falava sem parar, mas não ouvi nada.
Bastou um olhar para o rosto chocado de Penny, seus lábios grossos
franzidos em um — O, — para me avisar que eu tinha que sair.
Agora.
Eu tirei minha mão da de Angela e corri para a porta. Em vez de
esperar pelo elevador, subi as escadas de dois em dois, descendo os sete
andares.
Só pensava na empresa. Claro, meu pai deixou para mim. Mas, assim
como quando ele estava vivo, ele não podia confiar em mim.
Ele precisava de alguém para me vigiar em seu lugar.
Claro, Penny se formou na NYU em administração de empresas.
Claro, ela era praticamente um gênio quando se tratava de
balanceamento de contas.
Mas ela era melhor do que eu?
De jeito nenhum.
E ainda pior...
Ela era minha ex.
Angela
Corri para fora do escritório do advogado atrás de Xavier.
Não consegui encontrá-lo no corredor, mas lá estava ele na rua, com a
camisa desabotoada e suando tanto que o cabelo grudava na testa.
Alguns momentos depois. Marco parou e Xavier quase se jogou no
banco detrás.
— Querida! — Eu gritei uma vez que estávamos trancados dentro do
carro e voando pela cidade.
— Abra as janelas, Marco! — Xavier gritou, inclinando a cabeça para
trás enquanto ele hiperventilava.
— Xavier... — eu comecei. Ele parecia que estava prestes a explodir.
Eu conheço ele. Eu o tinha visto chateado, mas nunca assim.
Marco encontrou meu olhar no espelho retrovisor e ergueu as
sobrancelhas.
Tentei imaginar o que Xavier poderia ter sentido. Eu sabia que isso
era mais do que apenas uma empresa. Tratava-se da confiança de seu pai.
— Xavier, — eu disse novamente, desta vez com o meu nível de voz.
Eu estava tentando ser um farol em uma tempestade, tentando conduzilo de volta para
águas calmas.
Não precisava ser tão ruim, certo? Meu marido estava agindo como se
isso fosse o fim do mundo. — Talvez você nem perceba que ela está no
conselho. Ou talvez ela seja útil! Tenho certeza de que ela seguirá bem os
passos de Brad...
Seu corpo estava tenso e o ar, carregado, como se ele fosse um fio
elétrico. Minhas palavras de conforto não foram de nenhum consolo.
— Vamos tirar o resto do dia de folga, — eu disse, pressionando seu
peito com minha mão aberta. — Podemos nos acomodar e pedir comida
para viagem. Amanhã é um novo dia...
Ele exalou ao meu toque. Com isso, eu o senti relaxar um pouco.
— Parece bom, anjo.
Eu estava desfazendo minha mala no quarto quando ouvi a
campainha tocar.
Eu caminhei pelo longo corredor da cobertura. Por mais difícil que
tenha sido deixar Bali e depois Los Angeles, era bom estar em casa.
— Olá? — Chamei no interfone.
— Alguém está aqui com caixas de Brad Knight. Devo deixá-lo levar?
— O porteiro respondeu.
— Oh! Sim, por favor!
Eu não esperava que receberíamos nossa herança tão rapidamente,
apenas algumas horas depois que o testamento de Brad foi lido, mas eu
estava animada.
Quando voltamos para o apartamento, Xavier pulou no chuveiro e
depois em suas roupas de ginástica. Ele estava fazendo um longo treino,
que eu aprovei.
Foi um de seus mecanismos de enfrentamento mais saudáveis.
O entregador carregou três grandes caixas de papelão para a sala.
Agradeci quando ele saiu.
Sozinho com as caixas, me encontrei em um dilema.
Devo esperar que Xavier os abra? O testamento de Brad dizia que ele
os deixou para nós dois, e meus dedos estavam formigando de ansiedade.
As caixas também foram decoradas com grandes laços vermelhos.
Brad sempre deu presentes incríveis, e eu tinha a sensação de que não
seria diferente. Eu só podia imaginar o que havia dentro.
Enquanto brincava com a fita em uma das caixas, elaborei um plano.
Eu o abriria o suficiente para espiar dentro... e então Xavier e eu
poderíamos desempacotá-los juntos.
Com a tesoura de cozinha, cortei a fita. Então, dobrei as abas de
papelão...
No topo da caixa havia pilhas de cadernos com capas de couro gastas.
Antes que eu pudesse me conter, peguei um. Eu o abri para encontrar
um registro datado escrito à mão em tinta escura. Eu reconheci o diário
instantaneamente.
Brad.
A página foi datada de 15/06/19.
Fechei o livro e o segurei contra o peito, sentindo como se Brad
estivesse na sala comigo. Eu me peguei prendendo a respiração, mas
sabia que não poderia continuar lendo sem mostrar a Xavier.
Não fazia ideia de que Brad algum dia mantinha um diário..., mas
então me lembrei das palavras de Marlena Marlboro.
Brad era um escritor. E ele nos deixou seus diários.
Xavier
Através da névoa da minha ressaca, observei o elevador subir os
andares até meu escritório na Knight Enterprises.
Angela tentou me consolar na noite anterior, mostrando-me os
diários que meu pai aparentemente manteve por anos e pedindo comida
chinesa suficiente para alimentar uma fraternidade.
Apreciei seu esforço, mas sabia que só havia uma coisa que poderia
me acalmar: muito uísque.
O elevador abriu para o corredor bem iluminado do escritório.
O bater da minha sola no chão de ladrilhos alertou a equipe da minha
presença. Meus funcionários se viraram para me olhar. O chefe estava de
volta à cidade.
— Bethany, — eu chamei enquanto estava perto da mesa da
recepcionista. Ela estava conversando com uma garota de terninho cuja
energia nervosa me dizia que ela era uma nova contratada. — Um Advil
com meu café com leite, por favor.
— Oh, Xavier! Desculpe, não tenho seu café pronto. Eu não sabia que
você estaria hoje.
— Basta trazer para o meu escritório, — eu resmunguei. — Em dobro.
Continuando além das mesas, fiz uma pausa. Parecia que estava
chovendo, mas o sol estava brilhando lá fora.
— Austin! De onde vem essa trilha sonora? Estamos em uma maldita
floresta tropical?
— Ei, chefe, — Austin respondeu. — E algo novo que estamos
tentando. Pode ajudar na produtividade. Está no e-mail revisado da
política de conduta.
— Hmmm, — eu rosnei, nunca diminuindo meu passo.
Que tal este e-mail? Claro, eu estive fora do escritório por algumas
semanas e meu pai tinha ido embora. Era natural que as coisas
mudassem. Mas eu senti um cheiro estranho.
Penny.
Eu continuei à espreita. Passei pelo meu escritório e, quando me
aproximei do de meu pai, diminuí o ritmo.
Mesmo depois que ele se aposentou, o escritório permaneceu seu. O
que faríamos com isso agora que ele se foi de verdade?
Aproximei-me do escritório e então meu sangue gelou. Meu coração
parou no meu peito.
O do meu pai já havia sido substituído. E onde estava seu nome,
agora dizia:
PENNY KNIGHT
Capítulo 5
Laços de família
Angela
A cafeteria de Dustin estava movimentada quando cheguei. Ele
praticamente gritou quando me viu. Todos os clientes hipsters se viraram
para olhar.
Enquanto eu corava, ele exultou e me levou para minha mesa
favorita, marcada com uma placa artesanal — RESERVADO.
— Dê-me dez minutos e então sou todo seu.
Sorri ao vê-lo recuar para trás do balcão, o avental amarrado nas
costas.
Decidi aproveitar a oportunidade para ligar para o Rupert da festa em
LA. Segurando seu cartão de visita nas mãos, tentei acalmar meus nervos
enquanto o telefone tocava.
— Rupert Hall! — Uma voz amigável cumprimentou.
— Oh, Rupert! Oi. É a Angela. Da festa do Hollywood Knight.
— Angela, estou tão feliz que você ligou. Você ainda está interessada
em ajudar na minha abertura?
— Eu estou! Gostaria de saber se você poderia me dar alguns detalhes.
— Fantástico. Você tem uma caneta? Vou te dar as especificações.
Abri meu caderninho e comecei a fazer anotações.
— Ok, o evento é na próxima sexta-feira, então teremos um pouco
mais de uma semana para planejá-lo. Adoraria ter um quarteto de jazz
como você teve em LA. Precisamos de um fornecedor e um barman.
Marlena quer que sirvamos carne, mas eu sou vegano...
Eu estava escrevendo o mais rápido que podia, tentando anotar os
detalhes que vinham sem parar. — E quero impressões das pinturas de
Marlena, em tamanho de pôster e cartão-postal, que possamos vender à
noite... e você precisará encontrar técnicos para instalar a exposição. As
telas estão sendo transportadas de Berlim, então precisarão ser esticadas
novamente...
Rupert continuou mal descrevendo uma tarefa complexa antes de
partir para a próxima.
Eu olhei para cima para ver Dustin sentado na minha frente, seus
olhos arregalados como se dissessem, que merda é mais importante do que
eu agora?
— Rupert, eu...
— Eu sei, querida. É melhor nos encontrarmos. Se você estiver pronta
para o trabalho, claro. Ah, e nosso orçamento é bastante generoso — $80.
000 — e ainda cuidaremos bem de você. O que você diz?
— Eu aceito! — Eu disse para Rupert enquanto sorria para Dustin.
— Fantástico, — Rupert suspirou. — Manteremos contato, querida.
Aproveite o dia.
Desliguei a ligação e não pude deixar de gritar de alegria. Depois de
pesquisar o nome de Rupert no Google, descobri que ele era um galerista
de enorme sucesso e que sua estreia em Nova Iorque era muito
aguardada.
Eu mal podia esperar para fazer parte disso.
— Então... quem era? — Dustin perguntou, empurrando um latte de
lavanda sobre a mesa para mim. A flor na espuma estava perfeita.
— Obrigado, Dustin. Você está melhorando!
— Ah, não. O novo barista fofo que contratei fez isso. — Ele apoiou o
queixo nas mãos. — Então... eu preciso ouvir tudo. Mas primeiro, me diga
quem estava no telefone.
Inclinei-me para o meu amigo, zombando de sua linguagem corporal
fofoqueira.
— Aquele era Rupert Hall, um galerista abrindo um novo espaço no
SoHo. — Eu joguei meu cabelo para trás do ombro. — E eu estou
planejando o evento.
Dustin suspirou pelo nariz.
— Sua vadia sortuda! Você merece isso. Eu posso vir?!
É
— É claro! Você tem que vir, — eu disse, tomando meu café com leite.
— Na verdade, estou meio nervosa. Vai ser uma quantidade louca de
trabalho, e foi isso que ouvi hoje...
Dustin me olhou pensativo, girando os anéis nos dedos.
— Eu sei, — disse ele com um sorriso. — Contrate um assistente!
Quão fofo seria isso? — Eu não pude deixar de sorrir de volta. Eu, ter um
assistente? Por que não? Antes, eu sentia que estava fingindo ser uma
produtora de eventos. Mas agora, eu era uma de verdade.
— Sabe, Dustin, gosto da sua maneira de pensar.
Meu amigo deu de ombros e fingiu mexer no cabelo como eu.
Revirando os olhos, coloquei meu café com leite de volta no pires.
— Ok, agora eu tenho que lhe contar sobre Bali...
Xavier
Virei a chave na fechadura e abri a porta da cobertura. Fiquei muito
grato por ver meu anjo no sofá da sala de estar. Com um gemido, eu
imediatamente caí de barriga no sofá em frente a ela.
— Bem-vindo ao lar, querido! — Ela disse, como se eu não
aparentasse nem soasse como a morte.
Eu olhei para o meu lado para encontrá-la ocupada em seu laptop. Ela
nem estava olhando para mim!
— O que você está fazendo? — Eu resmunguei.
Ela fechou o computador e sorriu.
— Acabei de postar um anúncio. Estou planejando o show de
abertura de arte que Rupert e Marlena mencionaram em Los Angeles, e
vou contratar um assistente!
Sua excitação foi quase o suficiente para me tirar do meu estupor
deprimido. Mas não exatamente o suficiente.
— Longo dia de trabalho? — Ela perguntou, franzindo a testa. Ela se
sentou ao meu lado e se inclinou para beijar meu pescoço.
Apenas estar perto dela fez meu corpo derreter no sofá de couro
macio ainda mais fundo.
Suspirei.
— O dia mais longo de todos os tempos.
— Conte-me sobre isso.
Eu me virei e fiquei deitado de costas. Ela desabotoou minha camisa e
passou as mãos no meu peito. O gesto me acalmou e eu olhei em seus
olhos amorosos.
— Foi tão ruim, Angela. Você não vai acreditar. — Só de falar com ela
me fez sentir como se tivesse tirado um grande peso dos meus ombros.
Ela não disse nada enquanto esperava que eu continuasse. — Então.
Penny não é apenas uma acionista, ela está trabalhando no escritório! E
não apenas no escritório, ela assumiu o escritório do papai! Ela está no
maldito Conselho de Executivos e ela não sabe merda nenhuma de
negócios.
Cobri meus olhos com a mão e suspirei novamente. Eu nem tinha
contado a ela a pior parte ainda.
— Penny não tem um diploma em administração? — Angela
perguntou. — Lembro-me de que Brad ficava se gabando para mim de
que ela se formara com distinção.
— Claro, ela é inteligente, mas isso não significa que ela pode
simplesmente pular direto para o topo! — Eu gemi. — E como se meu pai
não confiasse em mim o suficiente para cuidar dos negócios sozinho.
— Oh, Xavier. Tenho certeza de que foi muito difícil para você... —
Essa foi a subestimação do século.
— Então, se ela está no conselho, ela tem muito poder?
— Ela consegue um voto. Assim como eu consigo um voto.
Observei Angela lutar por uma resposta positiva.
— Bem... você é um bom líder, querido. E acho que ela sempre gostou
de você. Talvez você tenha ganhado uma nova aliada.
— Fica pior, Angela, — eu disse, empurrando meus braços para que
eu ficasse sentado no sofá, encostado no apoio de braço.
Sua sobrancelha franziu mais profundamente enquanto ela ficava
ainda mais preocupada.
— Ela também é minha madrasta, — eu suspirei. Senti as lágrimas
subirem aos meus olhos, mas não desviei o olhar dela.
— O que você quer dizer? — Angela sussurrou.
— Papai se casou com ela. Angela. Em segredo. Ela é uma Knight. E,
tecnicamente, ela é minha madrasta.
Eu balancei minha cabeça. Como se não fosse o suficiente para meu
pai namorar minha antiga paixão, ele teve que se casar com ela também.
Desde que meu pai morreu, eu havia me familiarizado demais com os
sentimentos de perda e tristeza. Mas agora, eu estava confuso e com
raiva, e as emoções conflitantes fizeram meu coração parecer um
brinquedo de mastigar compartilhado por um bando de rottweilers.
Angela colocou as mãos no meu rosto, embalando minha cabeça.
Eu encarei seus olhos e tentei sorrir. Ela estremeceu e eu sabia que
minha expressão estava desfeita na melhor das hipóteses.
— Isso é louco, — ela disse, finalmente.
Eu esperava que ela tentasse racionalizar a situação, dissesse que meu
pai tinha seus motivos, que merecia ser feliz, que queria o melhor para
nós.
Eu sabia que tudo isso era verdade, mas não era o que eu precisava
ouvir.
Eu precisava de alguém para me dizer que eu não era louco. Eu
precisava ouvir que o mundo inteiro estava louco e eu estava preso no
meio dele. E eu não sabia até que ela me deu isso.
— Eu te amo, — eu suspirei, puxando seu rosto perfeito para perto do
meu para que eu pudesse beijá-la.
Angela
Meu coração inchou no meu peito quando beijei Xavier. Eu gostaria
de poder tirar toda a sua dor.
— Eu te amo, Xavier, — eu disse.
Ele parecia um cachorrinho chutado na rua. Tudo que eu podia fazer
era acariciar atrás das orelhas dele, mas queria deixar tudo melhor.
— E tudo aqui, — eu continuei, apontando para o nosso
apartamento, e então puxando-o para mais perto de mim, — é bom. Está
sob controle. E tudo depende de nós.
Ele sorriu.
— Como você sempre sabe o que dizer?
— Eu não! — Eu rebati, inclinando-me para beijá-lo. — Você sabe.
Você me faz lembrar o que é importante. E isso, você e eu, é tudo o que
importa. — Xavier beijou meu pescoço antes de me olhar atentamente.
Prendi a respiração, imaginando o que ele diria.
— Você é minha família agora, — ele continuou.
— Você é tudo que eu tenho. Somos apenas nós e a família que
formamos juntos.
Ele passou o braço em volta da minha cintura.
— Isso é o que eu quero mais do que qualquer coisa, — ele sussurrou.
— Ter uma família com você.
Pequenos fogos de artifício explodiram em meu coração enquanto eu
olhava para o homem diante de mim.
A estrada que nos trouxe até aqui era rochosa e sinuosa. Tinha sido
tão difícil que às vezes eu não queria nada mais do que sair do carro.
Mas agora, eu estava muito grata por ter me segurado. Só porque
saltado no escuro é que estávamos prontos para ir até a luz...
O calor em meu coração irradiou para fora, em minhas mãos que
desfizeram o resto dos botões da camisa de Xavier.
Alcancei o tecido, sentindo sua pele e os músculos tensos de seu
abdômen.
Nossos beijos se tornaram mais profundos, mais desesperados. Ele
ficou de joelhos, então me empurrou de volta no sofá, se abaixando em
cima de mim.
Quando senti sua ereção contra minha coxa, gemi, tentando alcançá-
la.
— Eu quero você, — eu sussurrei enquanto o apertava, sentindo-o
ficar ainda mais forte sob o meu toque. — Vamos fazer um bebê. — Suas
mãos estavam por todo o meu corpo, alcançando meu vestido. Ele
segurou minha bunda e então moveu seus dedos para baixo de mim,
sentindo a umidade que já encharcava minha calcinha.
Eu desfiz seu cinto e, em seguida, o botão de sua calça enquanto
massageava seu membro com a outra mão. Ele rosnou.
Finalmente, ele entrou em minha calcinha e gentilmente enfiou o
dedo dentro de mim. Eu gemi, e seu sorriso travesso me fez querer saber
exatamente em que coisa safada ele estava pensando...
Mas antes que eu pudesse descobrir, nosso interfone tocou. Era o
porteiro, alertando-nos de um visitante.
— De novo?! — Eu explodi, e Xavier colocou o dedo em meus lábios.
Eu o peguei na boca, mas fiquei quieto, rezando para que o visitante fosse
embora para que pudéssemos terminar o que começamos.
Mas então a batida voltou.
— Você está brincando comigo? — Eu gemi.

Capítulo 6
A assistente perfeita
Xavier
Trim! Trim!
O som continuou enquanto eu abotoava minhas calças.
— Um minuto, porra! — Eu gritei, tentando reorganizar a
protuberância em minhas calças para ser menos perceptível.
— Xavier, — Angela assobiou. — E se for... algo importante?
Amarrei um moletom na cintura para esconder minha ereção.
'Eu não poderia dar me importar menos.
Finalmente, o vestido de Angela estava em ordem, e eu estava decente
também. Ela balançou a cabeça, tão frustrada com a interrupção quanto
eu. Coloquei minha mão na parte inferior de suas costas e, juntos,
caminhamos até a porta.
Eu abri a porta e não fiz nenhuma tentativa de esconder meu
desgosto pela pessoa que estava diante de nós.
— Henry, — eu cuspi. — O que diabos você está fazendo aqui?
O palhaço estava vestido com toda a sua glória de mauricinho, como
se tivesse navegado dos Hamptons para nossa cobertura.
Ele estava rodando uma garrafa magnum de champanhe Dom
Perignon vintage em um carrinho de prata.
— E o que diabos vamos fazer com isso? — Eu perguntei, antes que ele
pudesse responder.
Meu primo franziu a testa com a minha franqueza. Ao meu lado,
Angela cruzou os braços.
— Olá para você também, querida prima, — ele disse sarcasticamente.
— Eu trouxe um presente para você. É para vocês dois. Eu teria trazido
para o casamento, mas não fui convidado.
— Foi uma cerimônia íntima, — eu disse com um encolher de
ombros. — Mas se eu me lembrasse que você era um festeiro, talvez eu
tivesse aberto uma exceção.
— Olha, cara. Pense nisso como uma oferta de paz. Sinto muito por
ter instigado você nos Hamptons e estou feliz por você e sua esposa. Eu
realmente estou.
Henry suspirou. Claramente, se desculpar o deixou desconfortável, e
eu notei que Angela apreciou o gesto.
Mas eu não era convencido tão facilmente.
Lembrei-me do que ele disse sobre Angela nos Hamptons que me fez
estourar na cara dele. Que ela era uma noiva por correspondência.
Alguma prostituta. Não, um homem como Henry não mudou de opinião
por causa da bondade de seu coração.
Ele estava aqui porque queria algo.
— Não sei, Hen, — comecei usando o apelido de infância que sempre
o fazia se contorcer. — Eu sinto que isso tem menos a ver com o
casamento e mais a ver com o testamento do meu pai.
Eu levantei uma sobrancelha para o pequeno bastardo arrogante.
— Eu admito, — Henry revelou, — minha família ficou um pouco
magoada quando soubemos que fomos deixados de fora do testamento
de Brad. Tia Heather, em especial.
— Achamos que seria uma boa ideia se eu viesse falar com você,
apenas para ter certeza de que não há nenhum... ressentimento ou algo
assim, entre a Knight Enterprises e nós.
Senti meu sangue começar a ferver. Henry era o mesmo quando meu
pai estava vivo. Ele sempre foi um filho da puta aproveitador, sempre
tentando ganhar algo. Assim como eu suspeitei, ele não deu a mínima
para a morte do meu pai. Ele só queria seu dinheiro e poder, e agora ele
viu uma maneira de obtê-los.
— Já basta da sua festa de piedade. Henry. Se sua família precisasse de
ajuda, meu pai teria colocado você no testamento. Mas ele estava
pensando na empresa...
Minhas mãos se fecharam em punhos enquanto minha voz soava no
corredor.
— E há comoção suficiente na Knight Enterprises hoje em dia sem
você enfiar a cabeça nas coisas. Então, saia!
Apontei para o elevador, meu peito arfando.
Mas Henry ficou pregado bem na porta, um sorriso puxando os
cantos de sua pequena boca presunçosa.
— Comoção na Knight, hein? — Ele zombou. — Ouvi dizer que o
velho Brad deixou para Penny a maior parte da empresa. Mas não percebi
o quanto isso estava mexendo com você.
Eu fervi. Se meu primo misturasse mais uma metáfora em minha
casa, eu teria que chamar uma ambulância para levá-lo daqui para fora.
— Vá embora, Henry.
— Acho que você quer fazer isso da maneira mais difícil, primo.
Quero ter uma palavra a dizer nos negócios da minha família. E agora
que Brad se foi, não há ninguém protegendo você.
Ele girou sobre o calcanhar de seu mocassim e caminhou pelo
corredor. Angela pegou minha mão e pude sentir seus olhos preocupados
em mim.
Pouco antes de eu bater à porta, Henry chamou:
— Você não é mais o menino de ouro do papai, X!
Angela
Xavier e eu acordamos cedo. Ele foi para a academia e eu fiz uma
longa corrida no Central Park. A interrupção de Henry na noite anterior
me deixou frustrada — e não apenas porque ele nos interrompeu no
momento mais inoportuno.
Odiava ver meu marido tendo problemas no trabalho. Mas tentei
seguir meu próprio conselho e ser grata pelo que tínhamos: um ao outro.
E, felizmente, eu tinha meu próprio trabalho para me distrair.
Fiquei muito feliz ao descobrir que recebi muitas inscrições de meu
anúncio de emprego online. Comecei a agendar entrevistas para mais
tarde naquele mesmo dia.
Caminhando pela Quinta Avenida, me senti muito bem. Eu sabia que
estava bem vestida com minha saia cinza e sapatos de bico fino. O ar de
verão estava perfumado e vivo, e eu respirei tudo, animada para a tarefa à
minha frente.
Programei minhas entrevistas na cafeteria de Dustin, é claro, e
cheguei para descobrir que ele havia colocado a mesma placa
improvisada — RESERVADO — na minha mesa favorita.
Quando me sentei. Dustin apareceu de trás do balcão e sentou-se na
cadeira à minha frente.
— Olá, senhora chefe, — ele me cumprimentou, deslizando um
mochaccino gelado.
— Obrigado, senhor chefe, — respondi timidamente.
— Quando nossa primeira vítima chega? — Ele perguntou.
— Meu primeiro assistente em potencial chega em... — Eu verifiquei o
Rolex em meu pulso. — Cinco minutos.
Expulsei Dustin para poder revisar minhas anotações e, quando ergui
os olhos novamente, vi um menino tímido perto do balcão que parecia
totalmente perdido.
Eu acenei para ele.
— Você deve ser o Tom!
O menino ficou vermelho como um tomate por cima do nó da
gravata.
— O-oi, Sra. Knight.
— Me chame de Angela. — Eu sorri e ele sentou-se à minha frente. —
Então li em sua inscrição que você coordena todas as viagens da equipe
de debate da faculdade. Que interessante! Diga-me o que você gosta
sobre planejamento.
Ele pigarreou, afrouxando a gravata. Eu tentei fazer minha cara mais
bonita, mas eu estava claramente intimidando esse pobre garoto.
— Eu, uh... eu gosto... quando paramos no McDonald's no caminho
de volta para o campus?
Dustin apareceu atrás de Tom e colocou um cappuccino na frente
dele. Meu amigo mostrou a língua e passou o dedo pela garganta.
As próximas entrevistas foram tão trágicas quanto a primeira, e
Dustin deu seu selo de desaprovação a cada vez.
Finalmente, tive apenas mais uma reunião e rezei para que essa
garota fosse a escolhida.
— Angela Knight? — Uma voz me chamou enquanto eu folheava
minhas anotações, a maioria delas apenas grandes e gordos — Não —
escritos repetidamente.
— Oh! Calla Lily? — A garota diante de mim era doce, sorria e seu
aperto de mão era forte.
Ela tinha cabelo loiro encaracolado e pilhas de pulseiras de sementes
em ambos os pulsos. Seu visual era descolado, mas ainda profissional. Eu
estava gostando de tudo.
— Sente-se, — praticamente cantei. — Você poderia me falar um
pouco sobre você?
— Eu adoraria! — Ela começou. — Bem, eu sou extrovertida, então
fico energizada por estar perto de outras pessoas... e nada me deixa mais
feliz do que criar um espaço onde as pessoas possam se reunir e se
expressar.
Essa garota estava falando minha língua. Fiquei emocionada.
— Eu também sou assim! — Eu jorrei. — Conte-me sobre um evento
que você planejou recentemente. Talvez algo com o grupo ambientalista
que você mencionou?
Dustin colocou um branco liso na mesa diante dela e demorou-se
para ouvir sua resposta.
— Bem. no meu coven, oferecemos uma grande festa a cada lua cheia
e convidamos todos os grupos pagãos e satanistas locais... — Eu
praticamente cuspi meu café e Dustin sufocou uma risada. Seus olhos
estavam arregalados de exasperação e ele balançou a cabeça lentamente.
Suspirei, olhando para a doce e sorridente garota diante de mim,
sabendo que ainda não tinha encontrado minha assistente perfeita...
Meia hora depois, saí do café e decidi dar uma longa caminhada pelo
parque. Eu sabia que seria um desafio encontrar uma assistente, mas não
pensei que seria tão difícil!
O Central Park estava cheio de ciclistas, famílias e empresários em
seus intervalos para o almoço. Todo mundo estava curtindo o sol.
De repente, ouvi o lindo som de um violino. Por capricho, segui a
música, que terminou quando me deparei com um grupo de jovens
aplaudindo sentados em cobertores de piquenique.
Ao lado deles, uma mesa estava cheia de bandejas de charcutaria,
queijos e crudités.
Aproximei-me de sua reunião e observei uma jovem com um longo
vestido amarelo agradecer a todos por terem vindo e convidar os outros
para saborearem a comida. Suas amigas aplaudiram e assobiaram,
agradecendo por seu trabalho árduo.
Enquanto os convidados formavam uma fila ao lado da mesa de
refrescos, a garota de vestido amarelo afastou-se para o lado e sorriu,
admirando seus esforços.
Eu sabia que precisava falar com ela.
— Com licença, — chamei atrás dela. Ela se virou e sua expressão foi
calorosa e aberta. — Não quero incomodar você..., mas não pude deixar
de admirar este lindo evento!
Eu estendi minha mão e apertamos.
— Eu sou Angela Knight.
— Eu sou Zoe, — ela disse, claramente imperturbável pelo meu
nome. Talvez ela não tivesse ouvido falar dos Knights... o que a tornava
uma candidata ainda mais atraente.
Limpei minha garganta, de repente nervosa. Eu sabia que essa garota
era perfeita.
— Vim aqui porque também sou produtora de eventos, — disse eu,
esperando não estar muito ansiosa. — E na verdade... estou procurando
uma assistente...

Capítulo 7
Fechando o negócio
Xavier
— Não se preocupe. Dave! Tem mais de onde veio isso, — eu gritei
enquanto derramava alguns dedos de Jameson Gold em seu copo.
Claro, o trabalho não andava fácil ultimamente. Mas aqui estava eu,
fazendo o que fazia de melhor...
Fechando a porra do negócio.
Uma estação de esqui, montanha incluída, era exatamente o que a
Knight Enterprises precisava para chegar ao próximo nível de serviço de
luxo. E nos Alpes suíços, nada menos.
Eu estava perto de torná-lo meu.
Sentei-me casualmente na minha mesa, de frente para os dois
empresários reunidos em meu escritório de canto.
— Um brinde aos Alpes! — Eu brindei. Todos nós batemos nossos
copos juntos. Depois de tomar um gole, continuei: — E a muitas viagens
de esqui com as esposas — hein, meninos?
Eles aplaudiram, comendo tudo.
Foi muito fácil. Eu sabia o que os homens queriam ouvir, e era uma
combinação bem simples de bebida fluindo e notas sussurrando. —
Minha esposa não suporta o frio, — reclamou Joseph, estudando seu
punhado de anéis de ouro.
— Então, leve a amante! — Dave gritou, batendo em suas costas.
Todos nós gargalhamos até ficarmos com o rosto vermelho.
Claro, eu era um novo homem agora — leal à minha esposa, em
contato com minhas emoções e assim por diante — mas esses caras não
precisavam saber disso.
— Agora, senhores, — eu comecei, pronto para ir para a matança. —
Podemos conversar sobre números por um minuto?
— Não tão rápido aí, — Dave disse, esvaziando seu copo. — Vamos
tomar um shot, X. O que você acha?
— É claro! — Eu concordei, embora em minha cabeça eu
amaldiçoasse o desgraçado. Ele não ficaria satisfeito até que eu
tropeçasse em um estupor de embriaguez. Terminei meu copo e enchi os
nossos dois com uísque.
— Não tão rápido, X! — Dave gritou, abaixando-se sobre um joelho.
— Você vai se ajoelhar para isso! Assim como meus irmãos costumavam
fazer na Alpha Delta Phi!
Puta merda.
Eu não estava com vontade de reviver as fantasias da fraternidade de
Dave. mas me ajoelhei ao lado dele e soltamos um barulhento — Saúde!
Com minha cabeça inclinada para trás, ouvi a porta do meu escritório
se abrir. Quase cuspi minha dose quando abaixei meu copo — Penny
acabara de entrar na sala.
— Penny?! — Eu lati.
— Olá, cavalheiros. — Ela sorriu, caindo no assento de couro livre e
cruzando as pernas bem torneadas na altura dos joelhos. — Joseph, é
bom ver você de novo.
— Você também! — O pobre coitado deixou escapar. Seus olhos
percorreram seu corpo, seu modesto vestido casual de negócios
insinuando o corpo bem torneado que ela tinha por baixo.
Voltei para o meu lugar na minha mesa, cruzando os braços sobre o
peito e desejando que a sala não girasse.
Levei toda a minha compostura para não gritar com Penny para ir
embora.
Eu vi o que ela estava fazendo.
Penny geralmente era uma garota quieta e reservada — pelo menos
até ela subir ao palco. Pude ver que ela estava canalizando a mesma
energia nesta reunião.
E esses pobres filhos da puta estavam caindo na armadilha.
Decidi apenas continuar a reunião como se ela não estivesse lá.
— Então, vamos voltar ao assunto. Os números... — Comecei.
— Oh, Xavier, isso não é divertido, — Penny interrompeu.
Quem essa vadia pensava que era? Fumaça deve ter saído dos meus
ouvidos de tanta raiva.
— Eu prometi a Joseph que contaria a ele nossos planos para o spa, —
ela continuou.
Os dois homens estavam prestando atenção em cada palavra dela. Eu
dificilmente poderia dizer a ela para dar o fora.
Tudo bem então. Eu jogaria o jogo dela e melhor. — Oh, sim, — eu
disse. — A reforma que planejamos vai revitalizar totalmente o espaço
existente. Pense em mais vidro, mais lareiras, tudo branco como a neve
fora das janelas do chão ao teto.
Os homens acenaram para mim com aprovação antes de seus olhares
voltarem naturalmente para as panturrilhas nuas de Penny.
— Precisamente. E poderemos utilizar a água do vizinho Lago Moritz,
criando uma piscina coberta de água doce — a única desse tipo em toda a
Suíça!
— Ooooh, — Joseph jorrou. — Isso é simplesmente fantástico. Penny.
Jesus Cristo. Revirei os olhos.
— Nós também pensamos assim. — minha antiga paixão concordou.
— Tudo bem. tudo bem. Podemos conversar sobre negócios agora, —
afirmou Dave.
Finalmente. Inclinei-me, pronto para ele dizer o número...
— Podemos vender a propriedade por trinta milhões e, no futuro,
dividiremos o lucro em setenta por cento para você e trinta por cento
para nós.
Perfeito. Os números tocaram em meus ouvidos como sinos. Parecia
uma doce vitória.
— Vamos levar...
— Vamos levar algum tempo para olhar outras propriedades, —
Penny interrompeu. — Não estamos dispostos a aceitar uma participação
de setenta por cento, mas agradeço a dedicação de seu tempo, senhores.
Puta. Que. Pariu!
Quem essa mulher pensava que era? Eu pulei da minha mesa,
clamando por uma maneira de salvar o negócio.
— Gente, eu... — comecei, mas não tinha certeza do que dizer. A boca
de Dave estava aberta em choque. Joseph procurou o rosto de seu
parceiro de negócios.
Penny estava de pé, alisando sua saia.
Enquanto eu olhava para ela, ela piscou.
— Foi bom vê-los novamente, senhores, — ela disse, conduzindo-os
para fora da porta. — Vocês ouvirão de nós em breve.
Joseph e Dave partiram em estado de choque e álcool. Assim que as
portas se fecharam, me virei para Penny, pronto para soltar algumas boas
palavras.
Ela desabou na cadeira de couro com um grande suspiro.
— Ugh, não acredito que conseguimos isso! — Ela disse.
Ela abanou as bochechas vermelhas com as mãos.
— Eu nunca realmente fechei um negócio antes.
Claro, eu pratiquei. mas é muito diferente quando estou sozinha no
meu quarto de pijama... — Ela riu, balançando a cabeça maravilhada.
Por um segundo, fiquei sem palavras.
Era como se ela fosse uma pessoa diferente.
— Fechado um negócio?! — Eu exigi. — Está mais para ter arruinado!
O que diabos você está pensando?!
— Huh? — Os olhos de Penny estavam arregalados de confusão. —
Nós conversamos sobre isso ontem, Xavier. Estávamos executando a
rotina de mocinho e bandido, certo?
Do que ela está falando?
Minha expressão foi aparentemente toda a resposta que ela precisava.
Ela pareceu murchar, sua excitação desaparecendo.
— Você não estava ouvindo, estava? — Um olhar de preocupação
brilhou em seu rosto. — Oh meu Deus, se você não sabia, deve ter
parecido que eu atropelei você. Puxa, Xavier, sinto muito.
Eu respirei fundo enquanto pensava em ontem.
Eu me lembrava vagamente de uma reunião que tivemos..., mas
estava distraído. Eu tinha um monte de merda com que lidar, e a inserção
de Penny na empresa não foi uma coisa fácil de se acostumar.
— Está tudo bem, eu acho... — Penny suspirou. — Confie em mim,
ok? As coisas irão funcionar.
Ela se levantou e me deixou sozinho fumando.
Confiar em Penny?
Isso era definitivamente algo mais fácil de dizer do que fazer...
Angela
— Então, este é o lugar da Marlena. — Eu inclinei a tela na direção de
Zoe. — Olha só essas esculturas que ela fez há alguns anos! Elas não são
loucas?!
Minha nova assistente e eu olhamos para o meu MacBook, cativadas
pelos monstros de silicone fluorescente que Marlena havia criado.
— Incrível. E olhe! Eles eram enormes! Há uma foto de Marlena ao
lado deles.
Um híbrido de hipopótamo-coelho amarelo neon estava
praticamente no queixo de Marlena. A artista olhou maliciosamente para
nós por trás de seus óculos vermelhos característicos.
Eu sorri para Zoe. Ela ainda estava olhando para o trabalho de
Marlena, e seu entusiasmo genuíno me emocionou.
Quando ofereci o emprego a Zoe no parque, ela aceitou
imediatamente. Eu a convidei para ir até a cobertura para um café e um
planejamento, para que pudéssemos conversar sobre os detalhes do
trabalho.
Bem, eu disse — apartamento — quando a convidei, então Zoe ficou
naturalmente surpresa com o quão... confortável o lugar era.
— Olha, o único evento que tenho no momento é a inauguração da
galeria..., mas espero ter mais trabalhos em breve. Que tal eu pagar a
você apenas pelo primeiro mês e depois partirmos daí?
Zoe acenou com a cabeça. — Isso parece ótimo.
Ó
— Ótimo. Portanto, o trabalho será de meio período, cerca de vinte
horas por semana, mas às vezes mais. O que você acha de três mil dólares
por mês?
Zoe mal conseguiu esconder sua expressão de choque. Eu sabia que
era muito dinheiro, mas queria ajudar essa jovem.
— Isso é tão generoso da sua parte.
Dei de ombros. — Então, agora que está resolvido, vamos falar do
evento!
Peguei meu caderno e examinei minhas tarefas.
— As pinturas de Marlena precisam ser esticadas na galeria, então
vamos precisar de uma grande equipe técnica...
Eu estava prestes a digitar uma pesquisa no Google quando Zoe falou.
— Oh, eu conheço uma equipe grande! Meu irmão mais velho tem
um negócio de manuseio de arte.
— Que fantástico!
— Ele adoraria ajudar, tenho certeza. Vou mandar uma mensagem
para ele agora.
Fiz uma verificação ao lado da minha nota de — manuseio de arte.
— Você tem uma família muito talentosa, — eu disse. — Meus pais
são músicos, — explicou ela, — e sempre nos incentivaram a ser
criativos.
— Como o show que você organizou no parque outro dia! — Eu sorri.
— Você também toca algum instrumento?
— Não, eu só gosto de ouvir, — Zoe disse. Então ela corou. — Mas eu
adoro dançar. — Eu não pude deixar de ficar encantada com a jovem.
Seus olhos castanhos eram honestos e ela era claramente humilde,
embora fosse tão capaz.
Eu poderia dizer que Zoe era tímida, mas ela era jovem. Ela me
lembrou de mim mesma alguns anos antes. Tão animada...
— Eu também adoro dançar! — Eu gritei. — Bem, meu marido e eu
amamos o bolero.
Ela deu uma risadinha. — O bolero é super divertido.
— Então, eu vou deixar você ir pra casa por hoje, — eu disse,
levantando da minha cadeira e puxando-a para um abraço rápido. —
Muito obrigada pelo seu trabalho árduo! Eu não posso te dizer o quão
sortuda eu sou por ter te encontrado. Você está livre para se encontrar
novamente amanhã?
Ela concordou, e então eu a acompanhei até o elevador e a liberei.
Sozinha no meu apartamento, eu praticamente pulei de volta para a
mesa da sala de jantar. Eu senti que encontrei a assistente perfeita. E eu
tinha que admitir — eu adorava ser chefe!
Foi incrível dar a alguém a oportunidade de guiar uma jovem
promissora por meio de um projeto.
Suspirei feliz, recostando-me na cadeira.
Decidi abordar mais uma coisa na minha lista de tarefas a fazer e
peguei meu telefone.
Angela: Oi, garota! Como você está?
Em: Ei
Em: Deus
Em: Tão cansada
Em: Mas bem
Em: Deus
Em: Tão cansada
Em: Mas bem
Angela: Tenho uma pergunta para você!
Angela: Envolve flores
Angela: Você teria interesse em fazer arranjos para a
inauguração de uma galeria de arte que estou planejando?
Angela: Vai ser incrível!
Em: Uh...
Em: Acho que não, Angie. Eu sinto muito.
Em: Eu só quero focar em Bella agora.
Em: Espero que você entenda!
Angela: Claro
Coloquei meu telefone virado para baixo sobre a mesa.
Eu entendi bem? Claro que sim, em teoria. Mas então por que me
senti triste de repente, depois de estar tão feliz? E por que eu me sentia
tão longe da minha melhor amiga e cunhada?
Porque embora ela estivesse apenas em Nova Jersey, estávamos em
lugares totalmente diferentes agora. E eu não tinha percebido isso. Em
estava casada, mas eu também. E Xavier e eu também planejávamos
construir uma família.
Claro, Em teve um bebê, e isso mudou tudo. Talvez eu simplesmente
não tenha percebido o quanto...
Em parecia tão disposta a deixar de lado um grande trabalho para
passar mais tempo com a Bella. Em breve eu poderia deixar minha
carreira de lado? Bem quando estava começando a decolar?
Eu balancei minha cabeça e me levantei da mesa. Eu estava pensando
muito.
Olhando para a cobertura banhada pelo sol do meio-dia, eu sabia
exatamente o que poderia me distrair.
Xavier e eu tínhamos organizado os diários de Brad em uma estante
especial. Como se estivesse atraída por um ímã, caminhei em direção a
eles.
Peguei um livro de couro fino e abri em uma página aleatória. Eu
imediatamente engasguei. Nada poderia ter me preparado para as
primeiras palavras do diário de Brad...

Capítulo 8
Diário de Brad
Brad
07/09/1980, Martha's Vineyard
Eu não posso acreditar que aquela vadia da Amélia me venceu na Regata.
Lembrei-me dela imediatamente. A garota que conheci no Central Park!
Mas eu não conseguia acreditar que estava vendo ela aqui.
Tenho que admitir, quando a vi parada na doca, nem pensei que ela
estava na competição.
Achei que ela fosse a namorada de alguém ou a modelo que o clube de
vela contratou para entregar o troféu. Ela tem pernas de um quilômetro de
comprimento e cabelos castanhos que usava soltos, balançando em volta da
cintura.
Então, quando a vi subir em seu Sunfish, meu primeiro pensamento foi:
bem, espero que ela seja solteira.
Mas então eles dispararam a arma e todos nós saímos. Ela estava sempre
à minha frente, então eu tive que vê-la puxar as cordas com aqueles braços
bronzeados e oleados que brilhavam ao sol, seu corpinho ágil quando se
dobrava repentinamente na cintura ou nos joelhos...
Desnecessário dizer que eu não estava prestando a maior atenção ao meu
próprio barco. Ela é uma ótima marinheira também. Ela chegou em primeiro
lugar, comigo em segundo.
Subi no cais atrás dela e coloquei de lado meu orgulho na esperança de
conseguir um encontro.
Mas ela não prestou muita atenção em mim.
Enquanto eu a parabenizava, tirando meus óculos de sol, ela me olhou
como se já conhecesse gente como eu: arrogante, rico e esperando vencer a
competição.
Eu nem tive tempo de perguntar a ela quanto tempo ela ficaria na ilha,
muito menos se eu poderia levá-la para sair, porque seus amiguinhos vieram
correndo e gritando, pulando para cima e para baixo.
Então Walt, Joe e Tommy vieram de Yale para me dar os parabéns, mas
principalmente para dar uma olhada mais de perto na garota marinheira e
seu grupo de amigos.
Chamei o grupo para perguntar se eles iriam para a festa mais tarde. Suas
amigas bobas disseram que não perderiam, mas Amélia não disse nada.
Todos nós fomos ao Tommy para comemorar antes da festa. Estávamos
bebendo o uísque de seu pai e conversando sobre começar em Wall Street.
Tenho sorte porque posso ir direto com meu pai. Vai ficar tudo bem com o
petróleo, mas até o papai sabe que quero começar algo sozinho assim que
colocar os pés no chão.
Eu tenho meu grande plano, que é trabalhar minha carreira na Knight
alguns anos antes de seguir meu próprio caminho. Papai diz que
hospitalidade é um negócio brutal, mas acho que me convém.
Enfim, mais tarde naquela noite foi a festa no iate clube.
Mamãe estava lá, e suas amigas me bajulavam como sempre fazem, mas
papai me chamou de lado e exigiu saber por que eu consegui o segundo lugar
O que eu poderia dizer a ele? Que alguma garota bonita me distraiu? Eu
nunca ouvir ia o fim disso.
Depois de sair dessa, ajudei o pessoal a fazer uma fogueira na praia e
então todos os jovens desceram.
Eu estava bebendo cerveja e esperando pela Amélia. Finalmente, ela
apareceu, usando um vestido curto branco com gola. A roupa dela me
distraia ainda mais do que o short que ela usava no veleiro.
Ela estava cercada por seus amigos. Eu queria falar com ela, mas então
Walt me passou um baseado e eu fiquei com vergonha.
Finalmente, eventualmente, sentei-me ao lado dela em um tronco de
madeira flutuante.
Ela olhou para mim como se soubesse que eu iria sentar ao seu lado, como
se fosse apenas uma questão de tempo.
Quando perguntei, ela disse que foi para a escola em Vassar e estudou
história da arte. Eu disse a ela que acabei de terminar em Wharton e que
estou me mudando para Manhattan.
Eu estava pensando sobre o quão perto Vassar é da cidade, mas eu não
disse isso, é claro.
Acontece que ela está aqui em Vineyard com sua amiga de faculdade. Sua
família passa o verão em Cape Cod.
Eu perguntei a ela se ela já tinha ido ao Bonnie's e ela disse que não, e eu
disse, bem, sua amiga não é muito boa então, porque Bonnie's tem o melhor
sorvete do mundo!
Ela sabia para onde eu estava indo com tudo isso, e ela apenas sorriu. Ela
tem esse jeito de te mostrar tudo e nada com seu sorriso.
Então eu disse a ela que poderia levá-la no dia seguinte se ela quisesse, e
ela disse que claro.
Isso é hoje. Vou buscá-la em algumas horas.
07/10/1975, Martha's Vineyard
Ontem à noite foi meu primeiro encontro com Amélia.
Quando desci para a cozinha à tarde, mamãe perguntou se eu estava
saindo para encontrar uma garota. De alguma forma, ela sempre notava.
Talvez porque eu penteio meu cabelo.
Eu disse a ela que sim, mas não diria quem. Contudo, se esta noite
corresse bem, talvez eu a convidasse para jantar algum dia.
Isso deixou minha mãe muito feliz.
Quando eu finalmente sai, foi um daqueles dias perfeitos em que as
nuvens eram grandes e fofas, mas nunca bloqueavam o sol.
Subi a longa entrada para a casa de Seymour. Peguei as escadas até a
varanda e bati.
Amélia abriu a porta e fechou-a rapidamente atrás dela, como se ela não
quisesse fazer uma cena com a minha presença. Eu entendi, já que ela é sua
convidada e tudo mais.
Ela ficou quieta no início, na garagem. Era apenas o som de seus chinelos
e meus sapatos de barco. Fiquei nervoso porque não teríamos um bom tempo
juntos.
Mas então, quando estávamos caminhando por alguns minutos,
começamos a falar sobre vela, e seu cachorro em casa, e as aulas que ela
queria ter no próximo semestre.
Fizemos uma longa caminhada até a sorveteria, o que me serviu muito
bem.
Então estávamos na sorveteria e eu paguei por tudo, é claro. Eu comprei
um sundae com calda de chocolate quente e ela acabou comprando um cone
de chocolate.
Nós conversamos sobre a faculdade enquanto comíamos. Ela disse que
seus amigos da escola eram diferentes de seus amigos em casa. Eu disse que os
meus eram iguais. Eu nunca tinha pensado nisso antes, mas era verdade.
Ela ficou pensativa ou triste por um minuto, o que me deixou nervoso. Foi
difícil para mim entendê-la. Talvez ela estivesse pensando em como éramos
diferentes, quando eu não achava que éramos tão diferentes.
Mas o momento passou e estávamos nos divertindo novamente.
Caminhamos até o porto e segurei sua mão. Estava quente.
Eventualmente, o sol se pôs, e ela me disse que deveria voltar.
No caminho para a casa dela, eu estava pensando em quando poderia
beijá-la. Sua porta era a escolha óbvia, mas ela tinha sido tão rápida ao sair
que eu me preocupei que ela corresse para dentro.
Decidi pela caixa de correio, mas então a caixa de correio veio e foi
embora. Ao nos aproximarmos da casa, perguntei se ela gostaria de vir jantar
comigo algum dia.
Ela me deu aquele sorriso de quem já sabe algo de novo e disse OK.
Com certeza, a amiga dela estava na varanda quando voltamos. Eu
definitivamente não poderia beijá-la, e Amélia mal olhou para mim quando
disse adeus.
Voltei para casa olhando as estrelas e me sentindo um pouco incerto. Não
sei o que é, mas hoje também não consigo parar de pensar em Amélia.
Xavier
Eu estava tão agitado, mesmo depois do meu longo intervalo para o
almoço, que subi as escadas de volta ao escritório.
Bem, eu subi as escadas para os primeiros oito andares, e então entrei
no elevador para os vinte restantes.
Em minha defesa, meu estômago estava cheio de ostras e caranguejos.
Depois que Penny estourou o maldito negócio da Suíça, eu precisei
sair do escritório antes que eu estourasse algo.
Eu tinha ido ao restaurante de frutos do mar que meu pai sempre
amou, pensando nele enquanto eu engolia os bivalves crus... e tomava
uma vodca, ou duas.
Tentei descobrir como meu pai teria reagido.
Ele ficaria orgulhoso de mim por levar uma hora para se acalmar, eu
sabia. Mas acabei resolvendo que mesmo meu pai sensato não aceitaria
tal anarquia. Em seu próprio escritório, nada menos!
Tentei me lembrar desse suposto plano de jogo que Penny havia
mencionado.
Quando eu concordei em fechar um negócio lado a lado com ela?
Eu estava seriamente distraído o suficiente para concordar com algo
tão estranho sem nem mesmo perceber?
Eu era Xavier Knight.
Eu nunca precisei de ajuda.
Quanto mais eu pensava nisso, mais convencido eu ficava de que
Penny estava apenas brincando comigo.
Isso, ou eu posso ter bebido muitos seltzers de vodca no almoço.
Não, eu não podia ficar parado enquanto Penny destruía o nosso
objetivo!
O elevador abriu e eu corri para o escritório da Knight Enterprises
como um touro vendo uma capa vermelha. E Penny era a porra do
toureiro.
Abri a porta do escritório de Penny sem bater, encontrando-a parada
perto de uma janela, olhando para o horizonte de Manhattan. Ela parecia
estar acabando de desligar o telefone.
— Como você ousa... — Comecei com um grunhido, minhas mãos
endurecendo em punhos.
Mas antes que eu pudesse realmente me soltar, ela pulou de alegria e
veio correndo para um abraço.
— Xavier! — Ela explodiu, sua voz ecoando pela sala espaçosa. —
Conseguimos! Fechamos o negócio!
Meus músculos ficaram tensos, a raiva que eu sentia desapareceu de
puro choque. Eu mal pude registrar que minha ex-companheira-de-fodaagora-madrasta
estava me abraçando.
Que pensamento maluco é esse...
— Nós o quê? — Perguntei.
— O negócio da Suíça! Conseguimos! — Ela deu um passo para trás
para olhar para mim, seu rosto se iluminou de pura emoção. — Alô?
Xavier?
Ela acenou com a mão na frente do meu rosto, então estalou algumas
vezes para garantir.
— Os detalhes? — Eu engasguei, incapaz de formar uma frase
completa.
— Oitenta e vinte, — ela sorriu com orgulho. — A nosso favor, é
claro.
Minha mente girou.
Oitenta?
Esses números eram inéditos.
Impossível
Nenhum empresário sensato concordaria com tais termos.
Mas aparentemente...
— Joseph é um fofo. — Ela riu. — Eu poderia dizer que ele realmente
queria que o negócio acontecesse também. Ele só precisava de um
pequeno choque para lembrá-lo de que ele poderia perdê-lo...
Sua voz sumiu enquanto ela me encarava.
Talvez porque eu estava olhando para ela como se ela fosse uma
pessoa louca.
— Hum. — Ela hesitou. — Eu deveria ter tentado oitenta e cinco por
cento?
— Não, — eu disse. — Não, isso é...
Bom pra caralho.
— Nada mal, — eu terminei desajeitadamente.
Penny sorriu, cheia de orgulho.
— E também abre um novo precedente. Podemos abrir com oitenta
por cento como nosso ponto de partida a partir de agora. — Ela se virou e
foi até a janela, olhando para a vista impressionante de Nova Iorque.
— Estou tão feliz por finalmente poder colocar meu diploma em
prática. — Ela suspirou. — Formamos uma grande equipe, Xavier.
Eu fiz uma careta.
Ela continuou insistindo que faríamos isso juntos. Que esse era um
plano que tínhamos feito. Mas eu não conseguia me lembrar de
concordar com nada disso.
Foi tudo Penny.
Ela fez um negócio melhor do que eu.
E isso me irritou pra caralho.
O velho Xavier Knight teria visto a possibilidade imediatamente.
Eu estava distraído.
Eu estava ficando mole.
— Certo, — eu disse. — Bem, estou feliz que seu plano não tenha nos
ferrado.
Com isso, deixei seu escritório. Quando voltei ao meu, fiquei
encostado na porta, suando.
Eu precisava me recompor.
Ou então Penny pegaria a Knight Enterprises bem debaixo do meu
nariz.

Capítulo 9
A exposição de Marlena
Angela
Enquanto eu olhava para a galeria por cima da minha taça de martini,
percebi que estava me acostumando com esta sensação:
Orgulho.
Meu coração estava tão grande quanto um marshmallow no microondas.
Até eu tive que admitir que me superei com este evento. Rupert
estava bebendo o coquetel exclusivo da noite, o Marlena Martini, e uma
multidão se reuniu ao redor da mesa de mercadorias para comprar uma
cópia do trabalho do artista.
Zoe estava sorrindo e conversando com Marlena.
Eu sabia que minha nova assistente era uma grande parte do motivo
do sucesso do evento.
Nos últimos dias. Zoe e eu passamos incontáveis horas no espaço da
galeria. Éramos curadoras, além de produtoras, ajudando Marlena a
decidir onde suas peças deveriam ser penduradas depois que as telas
fossem esticadas novamente.
O trabalho de Marlena parecia incrível no espaço aberto da galeria.
Sua exposição foi intitulada — Os amigos da senhora Liberdade — e
apresentava representações alegres e coloridas de — Mademoiselle
Magnificence — e — Senor Sovereignty, — entre outros.
— Outro evento fantástico, — uma voz baixa sussurrou em meu
ouvido.
— Xavier! — Eu falei, girando para abraçar meu marido. Ele ainda
estava com o temo do escritório e seu cabelo estava um pouco
despenteado, o que só o deixava mais sexy.
Ele me beijou, passando os dedos pelo meu cabelo, que eu usei solto
para um look mais casual. Afinal, estávamos no Village.
Eu senti olhos em nós. Esse era outro sentimento com o qual eu
estava acostumada.
— Olhe para os pássaros do amor! — A voz do meu pai soou e eu me
virei para vê-lo se aproximando de nós com Em e meus irmãos ao seu
lado.
— Ei. mamãe! — Eu a cumprimentei, puxando-a para um abraço. Eu
apertei os ombros da minha melhor amiga. Ela parecia exausta, mas
estava usando maquiagem, que eu não a via usar há semanas. — Esta é a
minha primeira vez desde o bebê, — ela jorrou, — e estou tão feliz por
você ter escolhido martinis de cranberry para o evento, não posso nem
dizer o quanto a você.
— Esse é o Marlena Martini para você, — brinquei. — Mas fiquei feliz
em saber que era sua bebida favorita também!
Nos acomodamos em nossa conversa familiar, Xavier perguntando ao
meu pai sobre os consertos no deck e Em divulgando as dificuldades da
amamentação.
Depois de alguns minutos, me afastei para encontrar Marlena e
Rupert. Com certeza, estavam rindo juntos na frente da pintura de
Marlena da estátua da liberdade usando um biquíni, subindo de volta em
seu estande na Baía de Nova Iorque. — Parabéns a vocês dois! — Eu
disse. — A inauguração é um grande sucesso.
— Oh, querida! Tenho que te agradecer! — Marlena jorrou, seus
olhos brilhando por trás da moldura vermelha. — E você, meu caro
amigo!
Eu observei enquanto Marlena e Rupert se abraçavam.
Quando a festa do amor acabou, Rupert se virou para mim.
— Sério, Angela, você tornou este evento tão perfeito para mim! Posso
me concentrar no que realmente importa... a arte! Já vendemos cinco
pinturas!
— Uau! — Eu exalei. Eu nem queria perguntar quanto custava uma
Marlena Marlboro.
— Oh! Hannah! Por favor, conheça a Angela, extraordinária
produtora de eventos.
Rupert estava parado ao lado de uma mulher alta usando óculos
escuros dentro de casa. Ela exalava estilo e poder com sua franja dura e
bob.
Eu apertei sua mão e me apresentei, mas a misteriosa mulher não
disse nada. E então, tão rapidamente quanto veio, ela se afastou.
— Quem era aquela? — Perguntei a Rupert.
— Aquela era Hannah Flintour, — ele sussurrou. — Editora-chefe da
revista Vague. Ela está procurando alguém para ajudar na festa de gala
anual. O produtor deles falhou e eles precisam de uma substituição...
Eu levantei minhas sobrancelhas. Que interessante...
Eu peguei o olhar de Zoe do outro lado da sala e acenei para ela.
Pegando martinis da bandeja de um garçom que passava, forneci bebidas
frescas para minha assistente e nossos clientes.
— Para a exposição! E muitos mais! — Eu gritei. Todos nós erguemos
nossas taças.
— Para sua equipe fantástica! — Rupert repetiu.
— Para... como vocês se chamam? — Marlena perguntou, tomando
um gole.
— Uh, eu não tenho um nome ainda, na verdade, — eu disse. Eu não
tinha pensado muito nisso antes.
— Talvez de ‘A Z’, — sugeriu Marlena.
Eventos de A Z. pensei comigo mesma, sorrindo para minha assistente.
Agora, isso não soou nem um pouco ruim.
Dustin
No segundo em que coloquei minha bota Jimmy Choo de salto alto
no espaço da galeria, eu soube que Angela tinha feito isso de novo.
Só minha própria exposição era tão cheia de estrelas e glamour,
quando eu era um artista da fome.
Eu ri para mim mesmo, pensando naquela época, praticamente eras
atrás agora, quando eu agarrei um martini e fiz uma pose.
Claro, eu estava com uma roupa que exigia atenção. Usei minha calça
de couro preta mais respirável com uma camisa de botão de linho branco
simples, que enfeitei com uma verdadeira pilha de colares de ouro que
comprei em uma loja vintage no SoHo.
Na minha cabeça, eu usava o chapéu de feltro que a própria Angela
comprou para mim quando estávamos nos tornando amigos. Um chapéu
dourado pode ser considerado brega. mas não do jeito que eu o usava.
— Angie! — Chamei enquanto desfilava pela multidão, com os saltos
estalando. Eu vi seus acenos lindos. Eu reconheceria aquela loira natural
em qualquer lugar.
— Dustie, — ela gritou, retribuindo meu beijo duplo. — Você
finalmente chegou! E esta é exatamente a mulher que eu quero que você
conheça.
Angela deu um passo para trás, alargando o círculo de pessoas, e eu vi
diante de mim a viúva mais fabulosa em que pus os olhos.
Eu a reconheci instantaneamente.
A Marlena Marlboro.
— Marlena, — eu sussurrei, minha boca aberta.
Ela me deu um sorrisinho tímido, como se me reconhecesse como
um dos seus. Mal sabia ela!
— Dustin também é pintor. E é um grande amigo meu.
Segurei a mãozinha decorada de Marlena na minha.
Todas as coisas bonitas que essas mãos fizeram...
— Sim, ouvi falar da sua exposição fabulosa, — murmurou Marlena.
— A notícia de suas pinturas viajou por todo o Atlântico até Berlim!
'Uau! — Eu gritei.
A conversa continuou, mas eu mantive meus olhos nesta criatura
divina, seu batom vermelho brilhante e aqueles óculos adoráveis.
Eu quero ser igual a você quando crescer, pensei comigo mesmo.
— Sabe, eu reconheceria aquele chapéu em qualquer lugar, — disse
uma voz profunda, como se viesse de um sonho.
Afastei-me do círculo para encontrar um homem diabolicamente
bonito parado diante de mim. Perto de mim, devo acrescentar.
Ele tinha penteado seu cabelo encaracolado e seus lindos olhos verdes
brilharam para mim. Engoli em seco.
— Já nos encontramos antes? — Consegui dizer, sentindo como se a
galeria esquentasse alguns graus.
Arrisquei uma olhada para baixo, verificando a roupa do homem
misterioso. Ele usava uma camisa estampada ousada sob um terno de
corte elegante. Eu desviei meus olhos de seus sapatos brilhantes,
admirando sua constituição atlética.
— Não, — disse ele com um sorriso. Um sorriso que quase me fez cair
das botas. — Eu conheço o chapéu...
Eu estreitei meus olhos para ele, levando minha taça de martini aos
lábios e esperando que ele continuasse.
— Eu deveria, afinal, já que sou o homem que o projetou.
— Anthony Jacobs? Em carne e osso? — Eu disse, mostrando a ele
meu melhor ardor.
— De fato, — ele retornou. — E a quem devo o prazer?
— Dustin Stirling, — eu disse. — E o prazer é todo meu.
Anthony estendeu a mão e eu peguei, surpresa com seu aperto firme.
Agradavelmente surpreso, é claro.
— Sabe, Dustin, eu costumava querer esquecer que alguma vez
desenhei um acessório tão desajeitado... — Ele se inclinou, o canto
daqueles lábios perfeitos virando para cima. — Mas eu nunca vi ninguém
usá-lo como você.
O elogio fez meu coração cantar.
— Isso é porque não há ninguém como eu. — Eu pisquei.
Xavier
Eu agarrei a mão de Angela e a levei para longe do grupo de batepapo. Eu já tive o
suficiente das apresentações e da conversa fiada... Eu
queria ficar sozinho com minha esposa, mesmo que apenas por um
segundo.
— Você sabe que eu não posso sair da festa, — Angela repreendeu,
adivinhando meu plano enquanto eu me dirigia para os banheiros.
— Eu só estou procurando um pouco de privacidade, — eu disse com
um encolher de ombros. Eu fui para atrás de uma parede e nos
encontramos sozinhos.
Passei meus braços em volta da cintura dela e a puxei para um beijo.
Agora isso estava melhor.
Ela se afastou, tocando meu rosto e sorrindo com conhecimento de
causa.
— Espere um pouco, seu safado, — ela rosnou.
Voltamos para a festa e, quando vi quem estava diante de nós, tive
vontade de correr para o banheiro masculino. Mas Angela e eu fomos
vistos.
Era Penny, e ela parecia ter acabado de ver um fantasma.
— Bela exposição. Angela, — Penny conseguiu dizer, tentando sorrir,
mas saiu como uma careta. — Xavier, eu preciso falar com você.
— Angela e eu estávamos prestes a sair... — Eu disse com os dentes
cerrados, pronto para fugir do lugar, mesmo se eu tivesse que pular por
uma janela.
— Não posso esperar! — Ela deixou escapar.
Eu estava prestes a conduzir Angela pela galeria pela terceira vez, mas
minha esposa se recusou a se mover.
— O que é, Penny? — Ela perguntou.
Penny olhou entre nós antes de suspirar.
— O valor das nossas ações despencou durante todo o mês. Não
divulgamos informações sobre nosso novo acordo, e o mercado presumiu
que estávamos estagnando sem Brad... — Penny explicou, recuperando o
fôlego antes do golpe devastador final.
— Alguém arrebatou uma participação de trinta por cento da Knight
Enterprises. Foi Henry Knight. Seu primo acabou de comprar um lugar
no conselho.

Capítulo 10
Uma vista de milhões de dólares
Xavier
— Querido! — Angela chamou da cozinha.
Eu estava tirando os sapatos de trabalho quando ela veio correndo,
com o vestido e o avental esvoaçantes, os chinelos voando, quase me
jogando no chão.
Seu entusiasmo me fez sorrir, mesmo depois de um dos dias de
trabalho mais longos da minha vida.
Jazz estava tocando na cozinha. Senti um cheiro delicioso. Eu sabia
que era sua famosa lasanha.
— Alguém está feliz em me ver, — observei.
— Eu poderia dizer a mesma coisa, — resmunguei.
Ela me segurou pelos ombros e me olhou penetrantemente. Eu sabia
que ela queria ouvir o que estava me incomodando...
Mas contar a ela sobre o longo dia no escritório seria como reviver
tudo de novo.
Eu não queria mais pensar em Penny pairando fora do meu escritório
como uma abelha e esperando o pior.
Caramba, foi tão doloroso pensar nisso à tarde, Henry entrou no
escritório da Knight Enterprises como se fosse o dono do lugar, gritando
por mim como se tivesse comprado os outros setenta por cento da minha
empresa.
Só a memória já me fez estremecer.
Eu não consegui me igualar ao entusiasmo de Angela. Saí para o
nosso quarto para tirar o temo.
Talvez se eu colocar algo mais confortável, me sinta mais confortável
também.
Ela seguiu em meus calcanhares, esperando enquanto eu colocava
minha calça de moletom.
Quando estava vestido, gemi, caindo de barriga na cama. Angela
aninhou-se ao meu lado. Passei meus braços em volta de seu corpinho
quente.
Eu beijei suas bochechas até os lábios.
— Você está bebendo vinho? — Perguntei.
— Sim, — disse ela com um sorriso, beijando minha têmpora, — e o
jantar está quase pronto.
— Mmmmmm.
— Talvez você se sinta melhor depois de comer, — sugeriu ela. —
Além disso, Xavier, você realmente deveria ler os diários de Brad! Eu li
algumas páginas, e elas me surpreenderam. Eu me senti tão perto dele.
Eu fiz uma careta.
— Não sei...
Ainda era muito cedo para mim. Eu não acho que poderia suportar a
dor de me sentir perto dele, sabendo que nunca estaríamos fisicamente
juntos novamente.
Angela não me forçou. Fomos para a sala de jantar, onde a mesa já
estava posta. Longas velas tremeluziam em seus suportes de prata sobre
uma toalha de mesa branca imaculada.
Eu sabia que deveria estar agradecido, mas não conseguia afastar a
sensação de que a Knight Enterprises estava prestes a ser roubada de
mim.
Como se Penny não bastasse, agora tenho que pensar em Henry também...
— Eu vou pegar a lasanha, — disse Angela, colocando meu
guardanapo no meu colo e enchendo meu copo com um Merlot vintage.
— Tome uma bebida! Isso vai fazer você se sentir melhor.
Ela me beijou na bochecha e eu a observei entrar na cozinha, os
cordões de seu avental amarrados bem acima de sua bunda perfeita.
Tomei um gole, mal provando o vinho, embora fosse luxuoso.
Quando Angela voltou com a caçarola entre as duas mãos, resolvi tirar os
negócios da minha mente o melhor que pude e me concentrar no que
importava: Ela.
Ela serviu um quadrado grande e fumegante no meu prato e depois
no dela. Sentamos juntos em uma das extremidades da enorme mesa de
jantar, comigo na cabeceira e ela ao meu lado.
— Obrigado. Angela, — eu disse, apertando sua coxa sob a mesa.
Ela sorriu para mim com um grande pedaço de queijo na boca.
— Adivinhe, — ela incitou, praticamente saltando em sua cadeira.
— Você é a melhor esposa do mundo? — Eu chutei, fixando-a com
meu olhar mais ardente.
— Não! Fala sério. — Ela deu um tapa na minha coxa, mas também
deu uma risadinha feliz.
— Marlena está apaixonada por você porque a exposição foi muito
boa?
— Oh, por favor. — Ela revirou os olhos. — Se ela está apaixonada por
alguém, é você.
Dei de ombros.
— Uh...
— Ok, eu vou te dizer, — Angela cedeu, deixando o garfo cair no
prato com um barulho. — Todas as pinturas de Marlena foram vendidas na
inauguração!
— Isso é fantástico. — Sorri para mim mesmo, pensando no papel que
tive em sua felicidade e imaginando sua alegria quando a exposição
terminasse e ela recebesse uma entrega especial... Tive de pular para
pegar uma das pinturas de Marlena. Eles foram arrebatados como doces.
Eu agarrei a mão dela que estava segurando a borda da mesa.
— Estou tão orgulhoso de você.
E eu realmente estava.
— Isso não é tudo, — ela continuou. — Conheci uma mulher no
evento chamada Hannah Flintour. Ela é editora da revista Vague. Você já
ouviu falar dela?
Meu queixo caiu. Angela deu uma risadinha de deleite. Claro que já
tinha ouvido falar da mulher. Nós a conhecemos algumas vezes em
eventos de moda na cidade. Flintour tinha a reputação de ser fria e
implacável, e ela não tentava convencer ninguém do contrário.
Dito isso, ela era a realeza da moda. E qualquer um que pudesse
aquecer o coração da rainha do gelo estava feito para o resto da vida.
— Bem. Vague tem uma festa de gala todo ano, e eles estão
procurando por um novo produtor... — Angela continuou, seus olhos
brilhando. — E Rupert disse que ela ficou impressionada comigo!
— Não estou nem um pouco surpreso, minha querida. — Inclinei-me
e beijei sua bochecha.
— Não estou esperando nada, é claro, — acrescentou ela
apressadamente, — mas é simplesmente emocionante.
Mudei meu olhar para o meu prato, que estava vazio. Eu estava
animado por minha esposa, mas também fiquei surpreso que sua carreira
com eventos tenha se tornado tão séria.
Achei que fosse apenas algo para preencher o tempo dela... Quer
dizer, obviamente não precisávamos do dinheiro.
Mas Vague era o negócio verdadeiro; não havia maneira de contornar
isso.
Recostei-me na cadeira, apoiando as mãos na barriga cheia. Eu deixei
meus olhos fecharem.
— Você está cansado? — Angela perguntou, desapontada.
Acho que não fiquei entusiasmado o suficiente com Hannah Flintour.
Mas como eu poderia explicar a ela que a última coisa que eu queria
pensar era no trabalho? Mesmo se fosse dela e não meu?
— Não cansado. Mas eu adoraria deitar um pouco, — eu sussurrei,
olhando para ela.
Ela sorriu, mordendo o lábio. Quem diria que a virgem com quem me
casei se tornaria uma assanhada?
— Isso é tão engraçado, — disse ela, — porque preciso descansar os
pés também.
Esse foi todo o convite de que precisava.
Eu me levantei e peguei a mão de Angela, levando-a para a sala.
Podemos ir para a cama mais tarde.
Agora, eu queria levá-la para a espreguiçadeira.
Angela
Xavier e eu ficamos na sala de estar. A única luz vinha do horizonte de
Manhattan que brilhava através das janelas do chão ao teto.
Nosso prédio era o mais alto ao redor, e nós estávamos no último
andar. Devíamos ter a melhor vista de toda Manhattan...
Eu senti como se fôssemos apenas nós dois, no topo do mundo. Foi
totalmente romântico.
E muito sexy.
Xavier olhou para mim como se não pudesse se importar menos com
a vista.
Ele desfez o nó do meu avental e se inclinou no meu pescoço,
mordiscando minha orelha antes de sussurrar: — Eu não posso te dizer o
quanto eu te quero agora.
Talvez fosse a vista — a energia de toda a cidade — mas me senti
estranhamente ousada.
— Então me mostre, — eu disse.
Corri minhas mãos pelo peito firme do meu marido, seu abdômen
tanquinho e, finalmente, até sua virilha. Encontrei seu pau e comecei a
massageá-lo com ambas as mãos, sentindo-o enrijecer sob meu toque.
Xavier gemeu.
— Tire tudo, — ele implorou.
Ele tirou a camisa enquanto eu puxei para baixo sua calça de
moletom de cashmere, caindo de joelhos na frente dele. Sua ereção
estava esticando sob sua cueca boxer preta, mas eu queria continuar a
tocá-lo assim.
Continuei a estimulá-lo com minha mão, explorando seu corpo
enquanto ainda estava escondido para mim. Beijei a trilha de pelo que
descia por seu estômago antes de me mover para baixo, envolvendo meus
lábios em torno de seu membro sólido através do material macio.
Eu pressionei minha língua contra ele até que a umidade o
encharcasse.
— Oh, meu Deus, Angie, — Xavier engasgou, passando as mãos pelo
meu cabelo.
Eu sabia que o estava surpreendendo. Eu estava me surpreendendo.
Mas me senti bem.
Eu me levantei novamente e tirei sua cueca, seu pau sólido como uma
rocha enquanto ele o inclinava em minha direção.
Ele levantou meu vestido sobre minha cabeça e desabotoou meu
sutiã. Ele beijou meus seios, passando o dedo sob a faixa da minha
calcinha antes de tirá-la.
— Eu preciso de você, — ele sussurrou.
Perdido no desejo, tornei-me estranhamente ousada. — Eu preciso de
você também... Deixe-me fazer amor com você.
Não precisei dizer a ele duas vezes. Xavier reclinou-se na
espreguiçadeira e abriu os braços para mim.
Seu corpo perfeito parecia ainda mais irreal na luz fraca enquanto eu
subia em cima dele, montando nele.
— Me pega, — eu sussurrei, e ele correu seus dedos pela minha coxa,
me fazendo estremecer de antecipação. Finalmente, eu o senti contra o
meu lugar mais sensível, onde eu estava encharcada e esperando por ele.
Quando ele gentilmente empurrou seu dedo dentro de mim, eu
resisti contra ele. Os olhos de meu marido em mim, observando-me
desfrutar de seu toque, me fizeram sentir como uma deusa.
Com a outra mão, ele segurou meu seio.
Eu não aguentava mais.
Eu acariciei seu membro uma última vez antes de posicioná-lo sob
mim. E então eu afundei em cima dele.
Finalmente.
Parecia beber água depois de um dia ao sol.
Colocando a peça final de um quebra-cabeça. Era como coçar uma
coceira. Foi perfeito.
Meu corpo assumiu o controle enquanto eu o montava, sentindo suas
mãos na minha cintura. Eu precisava dele mais profundamente, de novo
e de novo.
Senti meus seios balançando, mas não me importei.
Os gemidos de meu marido só me deixaram mais e mais excitada,
aumentando a sensação de calor dentro de mim.
O aperto de Xavier aumentou, e eu sabia que ele estava atingindo seu
pico. Eu estava ainda mais animada porque ele estava se perdendo no
meu ritmo.
Eu era a única no controle.
— Oh, Angela, — gritou ele, — estou quase gozando.
— Eu também. — Eu gemi. inclinando-me para que nossos rostos
ficassem próximos um do outro. Continuei me movendo em cima dele,
sua respiração irregular em meu ouvido. Eu me empurrei nele,
precisando dele cada vez mais fundo.
Seu corpo ficou tenso sob mim, e eu sabia que ele estava prestes a
perder o controle. Isso trouxe a sensação de um clímax dentro de mim, e
juntos nós gozamos, seu pau pulsando dentro de mim enquanto minhas
paredes se contraíam em torno dele.
Minha energia gasta, eu desabei sobre ele, e ele passou os braços em
volta de mim.
— Uau, — ele ofegou.
— Eu sei.
Eu me apoiei em meus braços e sorri para ele, meu cabelo nos
envolvendo em uma cortina de privacidade. Ele ainda estava dentro de
mim.
— Como devemos nomeá-lo? — Ele sussurrou.
Eu estava prestes a pedir um esclarecimento, mas então percebi e
apenas sorri.
— Arlington? Rupert? — Ele sugeriu enquanto eu ria. — Belinda,
Valerie, Madeleine...
— Stella, — eu sussurrei. Eu nunca tinha pensado no nome antes,
mas parecia... certo.
— Stella, — ele repetiu. Ele se sentou e me beijou.
Só então ouvi um toque soando na pilha de roupas jogadas no chão.
Afastei-me de meu marido e estendi a mão para pegá-lo.
Recebi um novo e-mail... de Hannah Flintour.
Abrindo meu telefone com um dedo trêmulo, mal pude acreditar nos
meus olhos.
— Xavier!!! — Eu gritei. — Eu consegui uma entrevista para o Vague
Gala!

Capítulo 11
Planejamento para a Vague
Angela
Dustin entregou dois mechas de hortelã gelados na minha mesa
regular em seu estabelecimento.
A cafeteria estava ainda mais movimentada do que o normal, com
jovens trabalhando remotamente em seus laptops e descolados de
macacão que deviam ter vindo do Brooklyn.
— Obrigada, Dustie.
Eu joguei um beijo para ele antes de voltar para Zoe.
— Ok, então... — comecei examinando minhas anotações. Eu havia
passado o dia anterior examinando as edições anteriores da revista
Vague, recortando fotos e tentando entrar na mentalidade da elite da
moda de Nova Iorque.
— Todos os anos eles escolhem um tema para a sua Gala, — expliquei.
— E o tema tem que inspirar muitos looks diferentes. Afinal, é uma festa
à fantasia.
Passei a detalhar a reunião. — Na próxima semana, terei uma reunião
com o comitê de gala onde apresentarei o tema que decidirmos... e se eles
gostarem mais, então o evento é nosso!
Tomei um gole do meu café. O mocha de menta foi o primeiro café
que tomei na loja de Dustin e ainda era o meu favorito.
Zoe tirou uma pasta da bolsa e abriu suas extensas anotações.
— Eu fiz muito brainstorming ontem, — disse ela, — e tenho uma
ideia que acho realmente boa. O resto é eh.
Eu sorri. — Vamos ver isso!
Zoe pegou uma reprodução de uma pintura grega e me entregou.
Ele mostrava figuras em marrom claro vestindo togas e enfeites
elaborados contra um fundo preto. — Esse é Dionísio. — Ela apontou
para a figura envolta em videiras, e ele carregava nos braços uma grande
vasilha de vinho.
— E aquele, — ela continuou gesticulando para a outra figura, que
estava sentada e tocando uma pequena harpa, — é Apoio.
Eu olhei para ela, esperando que ela explicasse sobre o que estava
falando. Ela estava inclinada sobre a mesa, claramente animada para
explicar seu plano.
— Então, os dois eram filhos de Zeus, mas Apoio tinha tudo a ver com
ordem, lógica e pensamento racional... enquanto Dionísio era o deus do
caos e da dança, do vinho e da emoção.
Eu franzi minha sobrancelha, ainda sem ter certeza de onde ela
queria chegar com tudo isso. Ela continuou, implacável.
— Que tal isso para um tema? Caos e OrdEm: Dionísio vs.
Apoio. Os convidados podem escolher qual deus governará seu
visual durante a noite... e seu comportamento.
Ela sorriu diabolicamente.
Eu não estava convencida. Minha confusão deve ter aparecido em
meu rosto porque ela continuou: — Além disso, as pessoas podiam
apenas brincar de Grécia Antiga para se inspirar. Todo mundo adora os
gregos.
Eu não queria decepcioná-la facilmente. A ideia dela foi certamente
criativa, mas eu pensei que era demais.
— Esse é um tema muito legal, — comecei, — e você está certa. Todo
mundo adora a Grécia Antiga. Mas estou preocupada que seja um
pouco... complicado.
Eu fiz uma careta quando o sorriso de Zoe desapareceu. Ela olhou
para o colo por um momento antes de reunir um sorriso novamente. —
Eu entendo, — disse ela com um pequeno encolher de ombros. — Agora
me diga sua ideia.
Agora eu sorri.
Eu abanei uma seleção de fotos diante dela.
Lady Gaga usando um elaborado capacete de prata. Uma modelo
caminhando pela passarela no último show de Alexander McQueen.
Finalmente, um stormtrooper de Star Wars.
Zoe me olhou com ceticismo, mas exibia um pequeno sorriso astuto.
— O futuro da moda, — eu disse, abanando as mãos diante de mim
como se visse as palavras em luzes.
Zoe acenou com a cabeça. — Eu gosto disso.
— Imagine as roupas que as pessoas vão inventar! — Eu jorrei.
— Verdade! — Zoe enfiou a imagem grega de volta
em sua pasta. — E simples e divertido.
— Obrigado, — eu disse. Eu sabia que era uma escolha certa.
Zoe suspirou, apoiando a cabeça no punho. — Gosto da minha ideia
pelo aspecto social. Mas acho que é um pouco complicado...
Eu acenei com minha mão.
— Não se preocupe com isso. Mas vamos com o Futuro da Moda para
a proposta.
Ela acenou com a cabeça. Eu esperava não ter ferido os sentimentos
de minha assistente, mas estava claro para mim — minha ideia era
melhor. Nesse momento, Dustin puxou uma cadeira e se juntou a nós à
mesa.
— Oi. queridas, — disse ele. jogando a cabeça para trás para que seu
cabelo brilhante caísse para trás.
— Dustin! — Eu gritei. — Você não está deslumbrante hoje?
Era verdade. Ele estava parecendo especialmente fabuloso.
— Eu sei, — disse ele com uma piscadela. — E porque estou
apaixonado.
Eu suspirei.
Dustin está apaixonado? 1
— Sim, — ele continuou, sem avisar. — Eu Conheci um homem...
Dustin suspirou, olhando para o teto.
Meus olhos encontraram os de Zoe e sorrimos.
— Estou tão animada por você! — Eu gritei. — Então, é oficial ou o
quê?!
Ele revirou os olhos. — Oh, Angela. Você é tão antiquada. Claro que
não é oficial. Acabamos de nos conhecer na exposição. Mas tenho a
sensação de que estou no caminho certo.
Eu apertei o braço do meu melhor amigo. Eu não poderia estar mais
feliz por Dustin.
Ao olhar para minha assistente, soube que ela se sentia da mesma
maneira.
Estávamos todos envolvidos em algo grande.
Xavier
Eu cerrei meus dentes e cerrei meu punho sob a mesa.
Esta reunião do conselho já estava indo água abaixo, e só estávamos
conversando por dez minutos.
Eu estava em meu lugar apropriado, à cabeceira da mesa, mas estava
ao lado de Penny e Henry. Já era ruim o suficiente que eles estivessem na
sala, muito menos em posições de poder.
Poder que ambos estavam exercendo.
Isso me deu dor de cabeça.
— Vamos falar de reformas para a estação de esqui. Nosso orçamento
é muito grande, mas ainda precisaremos ser estratégicos, — disse
Matthew, um membro sênior do conselho que conhecia bem meu pai e
sempre atuou como moderador.
— O spa é nossa maior prioridade, — comecei. — É necessário que o
resort também seja viável para clientes que não praticam esqui.
— Estaremos reformando todas as instalações do spa, — acrescentou
Penny.
Ela ainda estava um pouco estranha na mesa executiva, mas estava
aprendendo rápido. Para minha grande irritação, todos pareciam gostar
dela.
— Aqui, detalhamos nossos planos para uma piscina de água doce em
um rio lento... — Ela apontou para a tela, onde uma imagem protótipo de
uma piscina sob uma cúpula de vidro brilhante apareceu.
— Eu não sei, não. — A voz de Henry soou como pregos em um
quadro-negro. — E um resort de esqui, então acho importante que nos
concentremos no esqui-.
Eu mal podia acreditar que o imbecil arrancou uma risadinha de
alguns de nossos membros mais velhos do conselho com aquele
comentário.
Ele estufou o peito e pigarreou. Eu olhei para ele.
— As melhorias nas montanhas que descrevi aqui exigiriam a maior
parte do orçamento, mas acho que receberiam os maiores dividendos. —
Henry pressionou o controle remoto para revelar uma simulação
animada de uma gôndola luxuosa se aproximando de um chalé e restobar
no meio da montanha.
Os membros do conselho soltaram um hmmm coletivo. Eu revirei
meus olhos. Não pude evitar.
— Concordo que precisaremos substituir alguns dos elevadores e
gôndolas na montanha, — comecei, — mas um restobar nomeio da
montanha? Isso é realmente necessário? Imagine os processos que
poderíamos enfrentar com hóspedes embriagados descendo uma ladeira
do diamante negro!
Suspirei, exasperado.
Henry riu, jogando a cabeça para trás.
— Estamos falando da Europa\ Nunca haveria complicações por causa
de um simples bar.
Tudo bem. Isso foi o suficiente.
— Eu estive na Europa, seu idiota! — Eu cuspi antes que pudesse me
conter. — Eu fui para a porra de um colégio interno francês!
Algumas pessoas murmuraram. Eu sabia que estava ficando fora de
controle, mas não pude evitar.
Diabos, eu não queria evitar isso.
Eu queria dar ao meu primo algo que realmente apagasse aquele
sorriso presunçoso de seu rosto.
— Xavier... — Penny começou olhando ao redor
desconfortavelmente.
Eu olhei para ela. Eu alcancei meu limite com ela também.
Ambos eram apenas oportunistas, tentando tirar tudo o que podiam
do meu pai. E agora, de mim. Eu tentei ser bonzinho, mas isso não me
levou a lugar nenhum.
— Isso é besteira\ — Eu bati meu punho na mesa. — Alguém mais
nesta sala realmente se preocupa em criar uma propriedade lucrativa?!
A mesa ficou quieta.
Tranquei os olhos com cada membro do conselho, desafiando
qualquer um a falar.
— E então? — Eu exigi.
— Por que não começamos com uma votação? — Penny sugeriu,
quebrando o silêncio. — Opção um... gôndolas e restobar. Opção dois...
gôndolas quando necessário e reforma do spa. Todos para a opção um,
levantem as mãos.
Henry ergueu a mão como o animal de estimação do professor da
primeira série.
Apenas duas mãos estavam no ar.
— Todos para a opção dois...
Eu levantei meu braço com o resto, olhando para Henry.
— A segunda opção é... — Penny concluiu, ocupando-se em escrever
notas para evitar a atmosfera tensa na sala de reuniões.
Eu podia vê-la olhar para mim de vez em quando, e a preocupação em
seus olhos me irritava ainda mais.
Eu não encontraria seu olhar. Quem diabos ela pensava que era,
minha babá?
Minha madrasta...?
Só o pensamento me deu vontade de vomitar.
Eu mantive meus olhos fixos em Henry, meu punho ainda fechado na
mesa.
Ele não parecia perturbado por não conseguir o que queria. Na
verdade, o desgraçado estava sorrindo.
Então eu entendi.
Henry não dava a mínima para o resort. Tudo o que importava era me
fazer ficar mal.
Como um líder inadequado.
Olhei ao redor da sala para encontrar os membros do conselho
trocando olhares com os olhos arregalados e murmurando baixinho
entre si.
Meu primo idiota estava conseguindo?
Capítulo 12
Preparações
Angela
De pé em uma sala de reuniões da revista Vague, eu poderia dizer que
não fiquei tão intimidada desde... sempre.
Literalmente, sempre.
Eu tinha visto minha cota de garotas malvadas e mulheres bonitas.
Mas o grupo diante de mim estava em um nível totalmente diferente.
Essas pessoas eram mais do que supermodelos. Eram os homens e
mulheres que escolhiam as supermodelos.
Eu alisei minhas mãos para baixo da saia do meu vestido para limpar
minhas palmas suadas.
Xavier tinha me ajudado a escolher minha roupa, e fiquei feliz que
alguém com um gosto impecável já tivesse aprovado meu look. Eu usei
um vestido vermelho estruturado com uma blusa de gola alta simulada.
Estava ajustado, mas não apertado. Confiante, mas não vistoso. Sexy,
mas não vulgar.
Xavier me garantiu tudo isso.
Minha peça de referência foram meus sapatos. Eram saltos
plataforma pretos com um design assimétrico. Um tinha um laço de fita
translúcido no arco do meu pé e o outro no calcanhar.
Eu estava de pé, mesmo que tremesse nos calcanhares.
— Então. — Eu comecei, já me xingando por minha entrada fraca no
assunto. — Obrigada por me receber. Estou animada para compartilhar
minhas ideias para a Gala.
Hannah Flintour fez uma careta para mim. Seus olhos estavam
escondidos pelos óculos de sol, mas seu rosto denunciava seu desgosto.
Eu cliquei no pequeno controle remoto e a foto de Lady Gaga com o
capacete apareceu. Em seguida, a passarela de Alexander McQueen. Eu
tinha escolhido as mesmas imagens que mostrei para Zoe.
Então Cheguei ao slide final:
O FUTURO DA MODA
— Na Gala deste ano, vamos imaginar o que ainda acontecerá. Nossos
convidados irão revelar o futuro inovador que eles imaginam. — Eu
entreguei as falas que ensaiava no meu espelho.
— Será uma noite de expectativa. Juntos, criaremos 'O Futuro da
Moda’.
Com meu discurso proferido, sorri para os rostos ao meu redor, sem
fôlego e esperançosa.
Mas os editores da Vague não demonstraram nenhum sinal de
entusiasmo. Seus rostos eram tão planos quanto o papel embaralhado em
suas mãos.
Eu engoli em seco.
Foi Hannah Flintour quem falou primeiro.
— É parecido com a festa no jardim da Vague dois verões atrás.
Chamamos ela de 'Futuro da Moda’.
Sua menção foi sem emoção, mas eu sabia que este tinha sido um
golpe devastador.
Como pude ser tão idiota?! Não tinha feito minha pesquisa. Eu nem
conhecia os outros temas que Vague havia usado no passado.
— Oh, — eu disse, com esforço. Recusei-me a acreditar que
simplesmente perdi minha chance. Mas o que mais eu poderia dizer a
eles?
O que mais poderia impressionar os magnatas da Vague? O que
poderia ter o poder de um soco?
Minha boca estava seca. Eu não tinha nada.
Mas então eu percebi.
Caos e Ordem.
— Bem. então, imagine isso. Apoio e Dionísio.
Os dois filhos são de Zeus, mas não poderiam ser mais diferentes. Um
era a lógica, o outro, o impulso. A cabeça e o coração.
' — Caos e OrdEm: Dionísio vs. Apolo. ' Nossos hóspedes
podem escolher o deus que desejam incorporar. Será uma noite
de opostos.
O grupo ainda estava em silêncio, mas o ar na sala parecia mudar.
Eles poderiam estar...
Interessados?
— Nós poderíamos ter dois lados da festa, — eu continuei. — O lado
de Apoio seria cheio de arte, jazz e comida sofisticada, enquanto o lado
de Dioniso teria vinho, vícios, música para dançar. Seria... um lindo caos.
A mesa dos editores exibia as mesmas expressões em branco.
Eu estava suando, parado diante deles, esperando praticamente uma
eternidade até que um deles falasse.
— Eu gosto, — disse um homem com uma jaqueta de couro
vermelha.
— O deus do vinho e o deus da razão, — comentou uma mulher. —
Funciona.
Então a própria Hannah Flintour abriu a boca.
— Os convidados podem escolher que deus encarnar na forma como
se vestem... e na forma como se comportam.
A sala explodiu em risadas abafadas.
Sim! Pensei. O selo de aprovação da própria rainha.
— Obrigada pelo seu tempo... Angela, — Hannah disse, checando
suas anotações. — Entraremos em contato com você dentro de uma
semana.
Eu balancei a cabeça e juntei meus pertences. Quando fechei a porta
da sala de reuniões atrás de mim, soltei um suspiro como se o tivesse
prendido o tempo todo.
Em seguida, saí pelos corredores sagrados de Vague com meus saltos
batendo no chão branco.
Hannah Flintour gostou da minha ideia!
Xavier
— Outra rodada! — Eu gritei.
Há alguns anos, eu teria aproveitado a oportunidade para me
aproximar das belas e peitudas bartenders do Hatchback, mas hoje eu era
alguém sério.
Apenas bebidas.
— Obrigado, amigo! — Rodney gritou, batendo seu copo vazio contra
o meu antes de nós dois terminarmos nossas bebidas.
Eu não conseguia lembrar qual era aquele número antigo. Cinco? Foi
o suficiente para me fazer sentir solto.
Claro, era por isso que eu estava aqui. Para liberar a tensão. E todos os
empresários que povoavam este bar tiveram a mesma ideia.
Então, é hora de relaxar.
— Então, Xavier, — Will de Wall Street chamou do sofá de couro em
nosso círculo. — Como vai a Knight sem o velho olhando por cima do
seu ombro?
— Ele ainda está! — Eu gritei, aceitando o copo recém-enchido que
foi colocado diante de mim.
— Não é sempre assim! — Rodney gritou. — Foi a mesma coisa
quando o velho Bernard faleceu. Ele me nomeou CEO, claro, mas
preencheu o conselho com seus comparsas.
— Você não vai acreditar no que meu velho fez, — eu gemi. Todos os
meus companheiros se inclinaram para ouvir a notícia suculenta, e eu
tomei um bom gole.
— Ele fez a maldita namorada dele ser a presidente do conselho! —
Rugi.
Os caras explodiram em gargalhadas. Até então, a situação era uma
tragédia. De repente, eu também pude ver o humor nisso. E então eu
estava rindo muito.
— Ela deve ter pegado o coitado pelas bolas! — Rodney entrou na
conversa e eu ri até chorar.
De repente, Will parou de rir.
Virei atrás de mim para ver uma mulher caminhando em nossa
direção, seu corpo bem torneado aparecendo mesmo por baixo de seu
modesto traje de negócios.
Era Penny.
Vê-la no bar masculino me pareceu totalmente hilário. Quando ela
chegou ao nosso lado, eu estava rindo muito para me dirigir a ela.
— Xavier, eu esperava falar com você, — ela começou. Seu tom era
sério, mas eu entendia o que estava em jogo.
— Ei, querida, — Rodney chamou.
— Esta é a garota de quem falei! — Eu gargalhei. Os meninos e eu
perdemos qualquer noção de seriedade de novo.
— Xavier... — Penny olhou para mim e meus amigos de bebida com
cautela. — Podemos conversar um minuto sobre o trabalho?
Ela olhou para mim como se eu fosse uma bomba-relógio — falou
como se achasse que poderia me desarmar mantendo o tom de voz.
Mas era tarde demais.
Eu estava além do ponto de retorno.
Quem Penny pensava que era vindo para este lugar de negócios? Este
era praticamente um bar exclusivo para homens. Ela estava em território
hostil e eu não ia jogar bem.
— Pelo menos seu pai tinha bom gosto, — Rodney me disse baixinho.
— Isso é verdade... e eu saberia — eu acertei primeiro!! — Eu nem me
incomodei em manter minha voz baixa.
— Xavier! — Penny gritou, indignada. Ela deu uma rápida olhada ao
redor do bar. — As pessoas estão nos gravando... — Ela sussurrou
ferozmente.
Eu olhei ao nosso redor. Alguns homens estavam com seus telefones
pendurados. Mas por que eu me importaria?
— Sim? — Eu murmurei. — Isso te excita? Desculpe, mas não estamos
dando um show a eles, não importa o quanto você queira... — As mãos de
Penny se fecharam em punhos e, por um segundo, pensei que ela fosse
me bater. Quase dei boas-vindas à violência. Talvez tenha sido
exatamente o choque que eu precisava.
Em vez disso, ela apenas olhou para mim com desgosto.
— Se Brad pudesse te ver agora... — Ela se virou e saiu sem dizer uma
palavra.
Eu não pensei duas vezes nela.
— Outra rodada! — Chamei.
Rodney me deu um tapa nas costas. — 'Ah, garoto, — ele disse com
um arroto.
Angela
Eu estava morrendo de vontade de contar a Xavier sobre meu dia
emocionante. Eu estava na cobertura, esperando que ele voltasse. Ele
provavelmente estava perdendo força após uma semana estressante no
trabalho.
Eu não me importei.
Tive a atividade perfeita para ocupar meu tempo. Abrindo o diário de
Brad de onde eu havia parado, sentei no sofá de couro macio e comecei a
ler.
Brad
15/07/1975, Martha's Vineyard
Amélia deixou a ilha hoje.
Ela está indo para casa na Pensilvânia para trabalhar como garçonete até
o recomeço das aulas.
Eu ainda tenho um mês aqui, e estou preocupado em passar o tempo todo
pensando nela.
Na segunda-feira, Amélia veio jantar. Ela ficou tímida no início, mas
papai preparou todos os coquetéis para nós, e ela e mamãe começaram a
conversar sobre arte, e então a noite passou rápido.
Eu sabia que mamãe a adorou. Ela ficou olhando entre nós como se algo
importante estivesse acontecendo.
Foi meio constrangedor, mas também foi bom.
Quando eu acompanhei Amélia de volta para a casa de sua amiga Lyla,
eu finalmente a beijei. Nós nos beijamos por um tempo, mas não tanto
quanto eu queria, e então ela entrou sem dizer uma palavra.
Naquela noite eu fiquei louco porque eu não sabia quando iria vê-la
novamente. Ela disse que estaria ocupada.
Passei o dia seguinte na praia com meus amigos, depois fomos jantar na
cidade. Eu estava no limite o tempo todo, esperando ver Amélia toda vez que
dobrasse uma esquina.
Os próximos dias são meio confusos para mim agora.
Eu a vi, finalmente, na fogueira na praia. Ela estava com seus amigos, e
eu sabia que ela me viu, mas ela não apareceu.
Eu caminhei direto para ela, colocando areia em meus mocassins.
Enquanto estávamos sentados perto do fogo, eu disse a ela que pensava
nela o tempo todo e queria vê-la o máximo que pudesse antes de ela ir
embora.
Eu sabia que isso a deixava feliz, embora ela não tenha dito nada em
resposta. Ela pegou minha mão, no entanto, e mais tarde, ela me beijou.
Como isso aconteceu tão rápido? Ontem à noite, sua última aqui, nós
deitamos sob as estrelas em um cobertor por horas.
Eu a segurei em meus braços e me perguntei se era assim que o amor
parecia. Quase quis dizer a ela o que estava pensando, mas não ousei.
Eu disse que Vassar é muito perto de Nova Iorque, e gostaria de visitá-la lá
se ela não se importasse. Ela disse que tudo bem.
Eu disse que ela poderia me visitar também, e ela disse que sim.
Meu coração disparou do meu peito, até as estrelas e vice-versa.
Quando nos despedimos, tentei memorizar como ela se sentia em meus
braços, como sua pele estava quente sob minhas mãos...
Fui para a cama sentindo como se o mundo fosse maior e melhor do que
eu jamais imaginei antes.
Agora estou sentado na praia com mamãe, me xingando porque nunca
perguntei a Amélia —
Angela
Meu celular tocou e quebrou minha concentração.
Eu não queria deixar o inundo de Brad. Eu queria ficar ali. revivendo
seu verão mágico com Amélia, o amor de sua vida sobre o qual eu tinha
ouvido falar tanto.
Mas e se a ligação fosse da Vague?
Eu pulei da minha cadeira e peguei meu telefone.
A tela piscou:
HANNAH FLINTOUR
De jeito nenhum!
Eu suspirei. Aceitei a chamada, respondendo sem fôlego.
— Olá?!

Capítulo 13
Altos e baixos
Angela
— Angela? — Perguntou a voz ao telefone.
— É ela, — eu sussurrei.
— Quem fala é Hannah Flintour.
Sentei-me para não cair no chão se desmaiasse.
— Então. — Hannah Flintour continuou, — todos nós amamos sua
proposta do Caos e da Ordem.
Eu sorri.
— Dionísio e Apoio. Tão inteligente e a nossa cara. — ~
— Obrigada! — Eu falei, meu sorriso ocupando todo o meu rosto.
— Acabamos de ter uma longa discussão aqui na Vague... — Hannah
começou, e eu prendi a respiração. — E adoraríamos trabalhar com você
para a Gala!
MDS
Eu estava sonhando?!
Ou eu acabei de conseguir a Gala?!
— Estou muito feliz em ouvir isso! — Eu explodi. Meus joelhos
estavam balançando para cima e para baixo de excitação.
— Agora. Angela, antes de fazermos qualquer negócio aqui, quero ser
honesta com você por um segundo.
— Tudo bem... — eu disse, certa de que nada que ela pudesse dizer
me faria mudar de ideia.
Eu estava planejando a Gala.
— Trabalhar conosco na Gala é o sonho de qualquer produtor de
eventos. Mas é um trabalho incrivelmente difícil.
— E estou pronto para...
— Um minuto, querida. Esta tarefa exigirá toda a sua atenção durante
os dois meses que antecedem o evento. É mais do que um trabalho de
tempo integral. Não é fácil e não é para os fracos de coração.
Eu engoli em seco. Mesmo assim, não havia dúvidas em minha
mente.
— Eu entendo, Hannah, — eu disse a ela. — E estou pronta para o
desafio.
Eu exalei, estabelecendo-me na realidade do meu novo trabalho. — É
uma honra trabalhar com você nisso!
— Fico feliz em ouvir isso. Angela. Entrarei em contato amanhã com
mais detalhes. Ciao ciao!
— Incrível. Muito obrigada! Ciao!
Eu encarei meu telefone.
Eu acabei de dizer ciao?
Quem sou eu?!
Eu era a mulher que estava planejando a GALA\!
Eu me levantei e fiz uma dança feliz.
Havia tantas pessoas para quem eu queria contar.
Mas primeiro?
Zoe!
Angela: Ei, garota.
Angela: Tenho GRANDES notícias.
Angela: Você está livre para me encontrar amanhã de manhã?
Na cafeteria do Dustin?
ZOE: Sim!
ZOE: Mal posso esperar.
Eu estava muito animada para ficar parada. Continuei minha dança
boba até a caixa de som da sala de estar.
— Alexa, toque algo que eu possa dançar!
Eu mal podia esperar que Xavier voltasse para casa, mas até então,
gostaria de comemorar com Alexa.
ABBA despejou do alto-falante. Eu aumentei.
— Oh, yes! — Eu cantei, tocando air guitar e pulando ao redor da sala.
Xavier
Voltei para casa e encontrei minha esposa dando uma festa dançante
sozinha no apartamento.
Já era tarde e eu estava bêbado. Fiquei feliz em vê-la. mas não estava
com vontade de dançar. Embora eu tenha me divertido muito no
Hatchback, as coisas começaram a ficar significativamente menos
divertidas depois que Penny foi embora.
Claro, eu fui rude e cruel. Mas eu só estava brincando. Todo inundo
sabia disso.
Certo?
— Vamos! — Angela chamou, puxando minha mão para que eu me
juntasse a ela.
— Vou esperar aqui, — eu disse, caindo no sofá.
Meu corpo afundou no couro macio. Eu me senti como um balão
vazio.
Eu assisti minha esposa fazer o cha-cha, e então ela se virou e
balançou sua bunda bem torneada para mim.
— Sente-se aqui comigo! — Eu implorei.
Fiquei feliz em vê-la tão feliz, mas tudo que eu queria era estar perto
dela. Tão perto que não tive que pensar em mais nada...
Ela pulou no sofá e montou em mim.
— Então me diga o que te fez tão feliz, — eu pedi, olhando em seus
olhos brilhantes.
A música ainda estava alta, então ela se inclinou e aproximou meu
rosto com as mãos.
— Peguei a GALA!!! — Ela explodiu, gritando de alegria.
Eu encarei minha esposa. Não havia entendido suas palavras.
Quão bêbado eu estava?
— Eu sei, — ela continuou. — Eu também mal posso acreditar!
Então me dei conta. Angela iria planejar a Gala Anual da Vague.
Claro, eu sabia que Angela tinha verdadeiro talento. Mas por alguma
razão, eu não tinha considerado que tudo daria tão certo...
— Parabéns, querida! — Eu disse, puxando-a para baixo para que eu
pudesse beijá-la. — Eu estou tão feliz por você.
— Obrigada, — ela jorrou. — Vai dar muito trabalho... mas mal posso
esperar.
— Quanto trabalho? — Perguntei.
— Dias longos, — disse ela. — Hannah disse que seria mais do que em
tempo integral até a Gala! Vou fazer hora extra, assim como você! — Ela
ainda estava sorrindo, esperando que eu comemorasse com ela. Mas eu
simplesmente não conseguia reunir o entusiasmo.
Talvez, em algum lugar no fundo da minha mente, eu não quisesse que
Angela tivesse o evento de Gala. Claro, eu queria que ela realizasse seus
sonhos, mas não tinha percebido que seus sonhos eram sobre trabalho.
Achei que eles envolviam fazer uma família. Comigo.
— Quando é a Gala?
— Em dois meses, — ela respondeu, franzindo a testa.
— Dois meses, Angie?
Eu sabia que meu desapontamento era claro, mas estava chateado. Eu
não poderia lidar com isso agora.
Achei que em dois meses Angela poderia estar grávida. E estaríamos
no caminho para ter uma família unida.
Para cumprir o último desejo do meu pai...
Eu me levantei de repente. Angela se levantou ao meu lado,
colocando as mãos no meu peito.
— Claro que é em dois meses, — disse ela, e sua voz era baixa. — O
que há de errado, amor?
Eu encolhi os ombros para longe de seu toque, sem encontrar seus
olhos.
Eu não poderia dizer a ela o que sentia.
— Por favor! — Ela disse, tentando se segurar em mim enquanto eu
me retirava para o meu quarto. — Me diga o que está errado!
— Alexa, desligue a maldita música!!! — Eu gritei. Finalmente, tudo
ficou quieto.
Suspirei. Esta semana durou um século. Tudo que eu queria era
dormir.
— Angela, eu pensei que nós dois queríamos ter uma família. Tipo,
começando agora. Mas agora eu vejo quais são suas prioridades. — Ela
ficou boquiaberta. Eu vi que o que eu disse havia cutucado uma ferida.
— Querido... — Ela tentou.
Eu não estava esperando para ouvir suas explicações.
— Tenho de dormir, — disse eu.
— Eu ainda quero uma família! O que são alguns meses?! Eles vão
voar. Podemos continuar tentando agora!
Ela divagou desesperadamente, seguindo-me enquanto eu me despia
no meu quarto.
— Tudo ficará bem, Xavier. A Gala não mudará nada!
Apenas com minha cueca samba-canção, subi direto na cama. Eu
estava cansado demais para escovar os dentes.
— Podemos...
— Angela, — eu disse, minha voz tensa. — Eu preciso ir para a cama.
E eu acho que seria melhor se eu dormir sozinho esta noite.
Meus olhos já estavam fechados e puxei o cobertor sobre minha
cabeça.
Angela
Como foi possível passar de tão feliz para tão triste?
Se a vida era uma série de altos e baixos, eu estava abaixo do nível do
mar agora. E eu havia caído do topo do Monte Everest.
Arrastei meus pés até a porta do meu quarto e olhei para a silhueta na
cama.
Se eu ao menos pudesse me enterrar ali com meu marido e envolvê-lo
em meus braços com tanta força que pudesse desfazer a noite que
acabamos de ter.
Talvez se eu tivesse tocado no assunto de forma diferente... se eu
tivesse mostrado a ele que nossa família ainda era a primeira na minha
lista de prioridades...
Mas, honestamente, ficar grávida nem tinha passado pela minha
cabeça durante o meu telefonema com Hannah Flintour. Eu estava
focada em realizar meu sonho.
E eu não queria me desculpar por isso.
Demorei-me na porta por mais um momento. Por mais que eu
odiasse deixá-lo, eu queria respeitar o desejo de Xavier de ficar sozinho.
A sala escura era uma cidade fantasma sem a música de dança. Peguei
o diário de Brad da prateleira e levei-o comigo para o quarto de hóspedes.
Acendi a luz do quarto que costumava ser meu.
Ao cruzar o tapete e sentar na cama, pensei em todas as noites que
passei aqui. Quão estranho Xavier era para mim no passado. E quão
estranho é seu mundo...
Pode ter sido há muito tempo. Meu marido era um homem
totalmente diferente do playboy com quem me casei.
Seu mundo de poder e luxo se tornou meu mundo.
Eu escovei meus dentes no banheiro adjacente. Percebendo que todo
o meu pijama estava no quarto principal, tirei a roupa e coloquei o
roupão que estava pendurado na porta, como se nosso apartamento fosse
um hotel.
Rasguei a capa do edredom e subi na cama. A extensão de lençóis
brancos me acolheu e de alguma forma acalmou minha tristeza.
Não querendo me perder em meus próprios pensamentos, peguei o
diário de Brad da mesinha de cabeceira e pressionei o livro de couro
contra meu peito.
Se você ainda estivesse aqui.
Eu sabia que Brad entenderia essa sensação de estar dividido entre o
trabalho e a família.
Abri seu diário no lugar que parei no início desta noite, quando
Amélia tinha acabado de deixar Martha's Vineyard. e Brad estava deitado
ao sol, sentindo sua falta...
Brad
Agora estou sentado na praia com mamãe, me xingando porque nunca
perguntei a Amélia o que ela pensava de Martha's Vineyard.
Se eu soubesse disso, talvez eu fosse capaz de entendê-la. Ela estava
sempre pensando, observando silenciosamente a cena, e eu pensei que ela
estava se divertindo, mas agora não posso ter certeza.
Eu só espero que ela tenha gostado daqui. Se ela realmente gostou, isso
pode significar que ela realmente gostou de mim.
Acho que não sei o que fazer com tudo isso, e agora que ela se foi, me
pergunto o que ela me deixou para segurar.
Não é como se ela fosse tão fácil de se conviver, o que parece algo que as
pessoas querem...
Muitas vezes eu me sentia nervoso com ela, como se não tivesse certeza se
disse a coisa certa.
Normalmente, eu nunca me preocupo com coisas assim.
Mas sempre que Amélia estava por perto, ela era a única pessoa que eu
via. Ela era a coisa mais brilhante da ilha, e agora que ela se foi, estou no
escuro.
Acho que todo o sol está subindo para minha cabeça. E mamãe fica me
perguntando se planejamos manter contato...
Estou ficando louco pensando em tudo isso e me sentindo meio solitário.
Mais algumas semanas antes de eu ir para Nova Iorque. Sempre pensei
que é quando minha vida realmente começaria. Especialmente agora que
Amélia pode me visitar lá...
Acho que vou dar um mergulho. Talvez então eu consiga parar de pensar
Angela
Fechei o diário de Brad e coloquei minha mão em sua superfície
macia.
Eu gostaria de poder voltar no tempo e confortá-lo quando ele era tão
jovem e sofria. Eu diria a ele para não se preocupar porque ele e Amélia
encontrariam o amor verdadeiro.
Eles construiriam uma bela vida juntos.
Não se preocupe... Vai dar tudo certo.
Tentei me agarrar a essas palavras. Ler sobre a solidão de Brad
enquanto eu estava tão sozinha aliviou meu fardo de alguma forma.
Fechei os olhos, pensando em Brad. jovem e deitado ao sol, e em
Xavier, dormindo sozinho em nosso quarto. E então eu também
adormeci...

Capítulo 14
Sendo babá de Bella
Xavier
Tentando tirar o melhor proveito da minha ressaca e do estresse
conjugal, fui cedo para o escritório.
Bethany me trouxe meu café com leite e um pouco de Advil, e eu
consumi ambos enquanto olhava para o horizonte de Manhattan.
Essa era a visão de um CEO.
Eu olhei para o caos do tráfego abaixo e os passageiros correndo
como formigas.
Isso me deixou com os pés no chão. Isso tirou minha mente da minha
briga com Angela na noite anterior e me trouxe de volta a quem eu era.
CEO da Knight Enterprises.
Filho do meu pai.
A porra de um líder.
Com meus mocassins Tod's descansando em minha mesa, eu senti
uma calma acelerada. Eu ia ter um bom dia. A tensão em torno do resort
suíço havia começado a diminuir e estávamos parados, esperando os
empreiteiros começarem.
Eu poderia concentrar a energia em outro lugar... e sabia exatamente
o que fazer.
Eu não ficaria aqui, olhando para a cidade de Nova Iorque como um
falcão solitário. Não, eu sairia e veria as pessoas.
Gastaria um tempo vendo a cara das pessoas. — Medir a temperatura
da empresa, — como meu pai costumava dizer.
Eu me levantei e abotoei minha jaqueta. Depois de um último olhar
de admiração para minha cidade, a melhor cidade do mundo, eu saí do
escritório.
Encontrei o estado normal de comoção.
Telefones tocando, digitação frenética, reuniões improvisadas na
copiadora.
Ah, sim. Este era o meu nicho na selva de concreto.
— Bom trabalho, Austin! — Eu falei enquanto dobrava a esquina das
mesas no andar, correndo em direção à máquina de café expresso.
Encontrei duas mulheres paradas na cozinha, e ambas não eram
familiares para mim.
— Bom dia! — Eu as cumprimentei. — Vocês são nossas novas
recepcionistas? É um prazer me apresentar. Xavier Knight, CEO.
Eu apertei a mão de uma delas.
— Na verdade, sou sua mais nova consultora, — explicou ela. — Riley
Smith. Temos uma reunião com Penny em algumas horas.
Eu dei a ela meu sorriso vencedor.
— Meu erro! Quando li o e-mail, pensei que Riley fosse um homem!
A mulher ao lado dela tossiu.
— Acontece o tempo todo, — Riley me assegurou.
— E você é—? — Perguntei à outra mulher, mas fui interrompido
porque Penny entrou na cozinha.
— Bom dia, Riley e Maria! — Penny disse, alegre como um pássaro.
Ela mal olhou na minha direção enquanto a máquina de café expresso
zumbia.
— Xavier.
— Penny.
Então ela ainda estava irritada com meu mau comportamento no
Hatchback. Ah. bem. Ela superaria isso mais cedo ou mais tarde.
Quando a máquina parou, fui confrontado com o som abafado da
chuva saindo dos alto-falantes do escritório.
— O que diabos é isso? — Perguntei. — E como se estivéssemos na
porra de uma floresta tropical ou algo assim, hein, pessoal?
— Eu gosto disso! — Riley sorriu. — E é bom para a produtividade. É
uma tendência em Wall Street.
— Eu também acho que é bom. — Maria olhou para mim. Droga, ela
era uma filha da puta! — Foi ideia sua, Xavier?
— Foi minha, — disse Penny, mexendo no açúcar.
Eu cruzei meus braços, focando no pequeno nó de cabelo preto e
lustroso amarrado em seu pescoço. Na época em que Penny e eu
costumávamos... uh, confraternizar, ela usava o cabelo solto e cacheado,
caindo em cascata sobre suas costas, acima de sua bunda espetacular.
Era meio fofo ela brincar de se vestir para o escritório.
— Penny, gostaria de repassar algumas coisas com você antes da
reunião mais tarde. — Riley pediu.
— Bem, vamos conversar agora! — Eu disse.
— Também gostaria de ouvir no que você está trabalhando.
— Levaria muito tempo para informá-lo, — disse Penny, finalmente
me encarando, — depois que você perdeu nosso último encontro.
— Quando—?
— Ontem, — Penny encarou, — quando você saiu do trabalho mais
cedo.
Caralho. Eu saí para o Hatchback um pouco antes do fim do
expediente
Penny ergueu sua caneca. — Todos nós conversaremos em algumas
horas, Xavier.
Ela saiu e as duas mulheres a seguiram.
Eu as observei irem embora e então fui deixado sozinho. Eu cerrei
minhas mãos em punhos. Por que essas mulheres, minhas funcionárias,
estavam dando preferência a Penny? Como se ela fosse sua líder?
Voltei correndo para o meu escritório, onde cuidaria de negócios
reais. Eu manteria minha cabeça baixa o dia todo, cumprindo tarefas da
minha lista. Eu mostraria a toda a equipe que era um líder capaz.
Sentando na minha mesa, abri meu laptop, que apitou a cada novo email que chegava.
Peguei meu telefone de mesa e apertei a discagem rápida.
— Bethany, traga-me outro café com leite!
Angela
Zoe chegou à cafeteria de Dustin no momento em que Dustin estava
entregando dois cafés com leite de aveia em nossa mesa.
— Bom, vocês dois estão aqui! — Eu gritei, colocando minhas mãos
sobre a mesa, me preparando para dar a notícia. Meu melhor amigo e
minha assistente me encararam atentamente.
— Nós conseguimos a GALAI
Tenho certeza de que meu sorriso podia ser visto do espaço. Eu só
descobri ontem à noite, mas parecia que estava mantendo a notícia para
mim mesma há anos.
— Eu sabia\ — Zoe gritou.
— Eu também, meninas! — Dustin respondeu. Ele tirou o resto do
café de sua bandeja, certamente destinado a algum outro cliente, e
segurou-o no ar. — Saúde para vocês! E para a festa do século!
Nós alegremente brindamos com nossas canecas.
— Tenho que ir fazer outro macchiato de caramelo, — explicou
Dustin depois de terminar o drinque.
— Vocês festeiras, divirtam-se!!
Eu assisti feliz enquanto meu amigo se afastava, e então me virei para
Zoe. Seus olhos estavam arregalados e brilhantes. Ela foi a única outra
pessoa que entendeu que isso era um grande negócio. E era tudo nosso.
— Conte-me tudo sobre a reunião, — ela ordenou.
— Eu sabia que eles amariam você!
Corei, pensando naquela reunião terrível. Eles me amaram mesmo?
Eles me escolheram, então acho que sim!
— Zoe, foi insano, — comecei. — Era uma mesa cheia de gente muito
intimidadora. O grupo mais estiloso que você já viu. E Hannah Flintour
manteve seus óculos de sol o tempo todo.
'Não! ''Zoe exclamou.
— Sim! Então, apresentei o tema Futuro da Moda, e eles não
pareciam muito interessados...
Não queria admitir para minha assistente que eles já haviam usado o
tema. Eu não queria mentir, mas o momento passou e deixei de fora o
detalhe.
Zoe prestou atenção em cada palavra minha.
— Mas então eu lancei o Caos e Ordem, e eles amaram\ — Eu jorrei.
— Meu Deus!! — Zoe gritou. — Então, estamos usando minha ideia?!
Dei de ombros. — Bem, sim, se você quiser pensar dessa maneira!
— Você disse a eles que eu que tive a ideia? — Zoe perguntou, ainda
mal conseguindo conter sua empolgação.
— Bem. não exatamente... — eu disse. Eu deveria ter dito? — Não
houve realmente uma oportunidade de trazer isso à tona...
O sorriso de Zoe vacilou.
— Certo, é claro, — ela murmurou, olhando para sua xícara de café. A
energia em nossa mesa mudou imediatamente. O que acabou de
acontecer?
— Eu tenho que usar o banheiro, — Zoe disse rapidamente,
levantando-se sem olhar nos meus olhos.
Eu concordei. Então Zoe saiu correndo da sala tão rapidamente que
parecia que estava pegando fogo. — Para onde ela está indo? — Dustin
perguntou, deslizando para a cadeira livre.
Suspirei. — Estou preocupada que Zoe esteja chateada.
Mas como ela poderia estar? Eu estava pagando por seu trabalho e
suas ideias. Éramos uma equipe. Teria sido estranho creditar a ela o tema
da reunião da Vague. Certo?!
Expliquei a situação a Dustin. Ele franziu a testa, pensando.
— Não sei, Angie. — disse ele por fim. — Foi ideia dela. Talvez ela não
se sinta valorizada.
Mordi meu lábio, perdida em pensamentos. Não gostei de ver minha
assistente chateada. Mas se Zoe estava se sentindo desvalorizada, eu
sabia exatamente como mostrar a ela o quanto ela significava para mim.
Algumas horas depois, eu estava no Washington Square Park para
encontrar Em e Bella. Eu estava animada para levar minha-melhoramiga-que-virou-irmã
para almoçar e passar algum tempo com o bebê.
Em estava atrasada, então eu sentei em um banco assistindo um
mímico fazer malabarismos com pinos de boliche.
— Angie! — Uma voz exasperada chamou meu nome. Virei-me para
encontrar Em, empurrando o carrinho de Bella e parecendo totalmente
enlameado.
— Em. — Eu pulei para abraçá-la, esperando que meu rosto não
traísse meu choque.
Quando eu a segurei com o braço estendido, ela estava em uma forma
mais áspera do que eu já tinha visto. Ela tinha bolsas escuras sob os olhos
e uma espécie de dreadlock brotando do lado direito da cabeça.
— A bebê acabou de dormir, — disse ela com um suspiro. Eu olhei
para a bebezinha perfeita sentada no carrinho, tão pacífica quanto um
anjo.
— Graças a Deus! — Ela continuou. — Bella tem me mantida
acordada por dias. Deixe-me dizer, Angie, todas as coisas horríveis que
dizem sobre ser mãe são verdadeiras.
Ela se sentou no banco e fechou os olhos.
— Meu Deus, Em, — eu disse, me acomodando ao lado dela.
— Me desculpe, eu não tenho mais energia, — Em começou, Virandose para mim
novamente. — Eu queria, mas não tenho dormido muito, e
Bella continua...
— Em, — eu interrompi, — Eu tenho uma ideia melhor. Estou
dizendo isso como sua irmã — você está exausta! Por mais que eu queira
passar mais tempo com você, o que você precisa é um momento para si
mesma.
Ela olhou para mim como se estivesse prestes a chorar. Então eu
continuei:
— Que tal agora se você tirar a tarde de folga e ir ao spa? Eu conheço
um ótimo lugar bem aqui. Será meu prazer. E vou tomar conta de Bella à
tarde.
— Não sei, Angie...
Eu podia ver a hesitação em seus olhos. Eu sabia que ela não queria
me decepcionar e definitivamente não queria admitir que precisava de
uma pausa.
Puxei minha irmã para um grande abraço, tentando dizer a ela com
meu abraço o que eu não poderia dizer com minhas palavras.
Eu te amo.
Eu entendo.
Você merece isso.
— Você realmente é um anjo, Angela, — disse Em, sorrindo, as
lágrimas brilhando em seus olhos.
— Não chore! — Eu repreendi.
— Eu sei. Tenho estado tão emocionada esses dias. Talvez seja porque
eu não durmo mais. — Em suspirou novamente e balançou o carrinho de
Bella suavemente com a mão. — Tem certeza que pode lidar com ela?
— E claro! — Eu prometi. — Estou animada para ter algum tempo a
sós com minha sobrinha.
Em passou os próximos cinco minutos detalhando como cuidar de
uma criança de cinco meses.
Ela me mostrou o enorme kit de suprimentos que trazia para todos os
lugares, que incluía brinquedos, mamadeiras e chupetas.
Depois que ela disse adeus a Bella por mais alguns minutos, eu
finalmente a convenci a ir.
— Nossa, — eu sussurrei baixinho enquanto estava sozinha perto do
carrinho.
Em nunca teve um osso sentimental em seu corpo. Mas ter um bebê a
transformou completamente.
Eu olhei para a pequena Bella. adormecida e totalmente alheia a todo
o barulho que fizemos sobre ela.
— Oi. pequenina. — Eu olhei para ela, cativada por seu rosto. Seu
nariz minúsculo com narinas ainda menores de cada lado. Seus pequenos
lábios, enrugados e perfeitos.
Ela era um querubim. E ela era minha sobrinha.
Este pequeno espécime divino veio de minha melhor amiga e meu
irmão. E ela mudou todas as nossas vidas para sempre.
Claro, enquanto olhava para este lindo bebê, me perguntei como seria
ter o meu. Imagine quanto amor eu sentiria por algo que veio de mim.
Eu amava muito Bella. mas Em me mostrou que nada poderia se
comparar ao amor de uma mãe. Minha briga com Xavier ainda
assombrava minha mente. Resolvi naquele momento que mostraria a
meu marido o quão sério eu estava pensando em constituir uma família.
Eu queria minha própria bonequinha, com os olhos azuis de Xavier.
Eu queria olhar para alguém do jeito que Em olhou para Bella.
— Tudo bem, boneca, — eu disse para a criança pacífica. — Vamos
dar um passeio.
Assim que comecei a empurrar o carrinho, Bella abriu seus lindos
olhinhos.
— Olá, fofinha. — eu murmurei.
Ela olhou para mim por um momento antes de seus olhos se
fecharem novamente. Seu rosto se contraiu e ficou vermelho...
Então ela gritou como se estivesse sendo assassinada!

Capítulo 15
Os bebês mudam tudo
Angela
Bella estava tendo um acesso de raiva quando o carro de Marco
acelerou na parte alta da cidade.
Acontece que, não importa quantas vezes você diga — Shhhh,
bebezinho, — os bebês não ouvem. Eu aprendi isso da pior maneira.
Quando Bella começou a chorar no Washington Square Park, tentei
balançar o carrinho para frente e para trás. Quando isso não funcionou,
eu a peguei em meus braços, mas isso só a fez chorar mais.
Olhei em volta, esperando desesperadamente que uma doula ou
parteira pudesse estar passeando no parque. Mas ninguém veio em meu
auxílio. Na verdade, as pessoas me olhavam como se eu fosse louca. Ou
mesmo abusiva.
Eu precisava de reforços.
Em estava fora de questão. Eu sabia que ela viria correndo, mas a
última coisa que eu queria era arruinar seu relaxamento.
Então liguei para Marco. Felizmente, ele estava por perto e chegou
rapidamente. Ele dobrou o carrinho no banco de trás enquanto eu
amarrava o bebê gritando na cadeirinha que ele pegou.
O choro do bebê era mais alto do que qualquer buzina tocando ao
nosso redor.
— Espero que Lucille saiba como ajudar, — gritei enquanto tentava
fazer Bella beber uma garrafa de fórmula. Ela não estava interessada.
Marco me deu um sorriso tenso no retrovisor. — Tenho certeza que
ela vai ajudar.
O porteiro me ajudou a colocar Bella e sua carruagem no elevador. Eu
segurei o bebê chorando no meu peito durante a viagem mais longa da
minha vida.
Finalmente, entrei no apartamento. Coloquei Bella no sofá. Ela agitou
os braços e as pernas em seu macacão listrado rosa.
Quando olhei para cima, Lucille estava parada perto da cozinha,
olhando para nós.
— Você sabe como consolar um bebê? — Eu perguntei a ela,
desesperada.
Lucille arregalou os olhos e balançou a cabeça.
Merda.
— Bem, você pode tentar me ajudar?! — Eu implorei.
Lucille caminhou na ponta dos pés em nossa direção como se Bella
fosse uma bomba que poderia explodir a qualquer momento.
Juntos, olhamos para a criança chorando.
— Eu tentei alimentá-la, embalá-la... — Fiz uma lista mental de coisas
que os bebês precisavam.
— Precisamos verificar a fralda, — disse Lucille gravemente.
Eu encontrei seu olhar e assenti.
Não tínhamos trocador para o bebê, então optamos pela mesa da sala
de jantar. Tirei suas roupas minúsculas e desfiz as abas pegajosas,
horrorizada com o que poderia encontrar dentro...
Mas quando tirei a fralda completamente, descobri que estava limpa.
Então qual era o problema?!
Olhei para Lucille em busca de respostas. Ela encolheu os ombros e
gesticulou com as mãos. Ela estava sem ideias.
Peguei a bolsa de fraldas enorme de Em, conseguindo prender uma
nova fralda em Bella.
Eu coloquei os braços pequeninos do bebê em suas mangas
pequeninas e suas minúsculas pernas em suas minúsculas calças, até que
ela estivesse toda vestida.
Então, milagrosamente, o bebê parou de chorar. Seu silêncio foi o
som mais doce que eu já ouvi. Superada pelo alívio e felicidade, me virei
para Lucille com um enorme sorriso no rosto. Ela me deu um grande
sinal de positivo.
Meu alívio se dissipou rapidamente. Não podíamos simplesmente
deixar o bebê dormir na mesa da sala de jantar, não é? Que tipo de
cuidadora permitiria isso?
O que Em pensaria?
— Precisamos movê-la, — sussurrei para Lucille.
Lucille balançou a cabeça com fervor. Eu balancei a cabeça de volta.
Continuamos assim por alguns segundos a mais. Eu estava com um
bebê há apenas uma hora e já estava perdendo a cabeça.
Voltei para a tarefa em mãos. Se eu pudesse mover Bella para seu
carrinho sem acordá-la, ela poderia dormir confortável e feliz.
Juntei minha coragem e estendi a mão para o bebê. Lucille cobriu os
olhos.
Eu aninhei uma mão sob seus ombros e sua cabeça, e a outra sob seu
traseiro...
Mas então Bella acordou. E no segundo que ela acordou, ela estava
chorando.
Lucille me lançou um olhar que em qualquer língua significaria: Eu
avisei.
Eu queria chorar também, olhando para o bebê infeliz.
E realmente tão ruim estar sob meus cuidados? Eu queria perguntar a
ela.
Eu puxei minhas mãos e esperei que o bebê pudesse voltar ao seu
estado de paz. Mas não tive tanta sorte.
O que mais eu poderia ter feito? Eu estava exausta. E sem ideias.
Eu estava pegando meu celular para ligar para Lucas quando a porta
da cobertura se abriu.
— Lar Doce Lar! — Ele disse. — Espere... isso é um bebê?
Xavier
Voltei para casa para encontrar Angela, Lucille e Bella, todas na sala
de estar.
— O que Bella está fazendo na mesa da sala de jantar? — Perguntei.
Não pude deixar de sorrir ao observar a cena diante de mim, mas todas as
três mulheres, jovens e velhas, estavam claramente infelizes.
— Eu estava trocando a fralda, — explicou Angela como se fosse
óbvio.
— E ela ainda está chateada... — eu disse, as engrenagens girando. —
Você já tentou enfaixá-la?
Minha esposa olhou para mim como se eu fosse uma pessoa
completamente diferente.
— Enfaixar, — eu repeti. — Tentou?
Angela caiu na cadeira da sala de jantar. — Eu não sei como enfaixar
um bebê! — Ela gritou, sua voz falhando.
Aproximei-me da criaturinha gritando na mesa. Mesmo quando ela
fez um som tão horrível, Bella ainda era totalmente adorável.
— Angela, você poderia pegar meu cachecol de cashmere azul para
mim? Está pendurado no guarda-roupa.
Só posso imaginar o olhar desconfiado que minha esposa me lançou,
mas ela saiu da sala.
Claro, eu não sabia exatamente como fazer isso. Mas me lembrei de
assistir tia Heather enfaixar um dos bebês da minha prima como um
embrulho alguns anos atrás.
Quão difícil pode ser?
— Nós vamos te fazer feliz, hein, bebê, — eu disse a Bella. Ela
continuou a chorar, mas tive a sensação de que poderia fazê-la se sentir
melhor.
Angela voltou com o cachecol. Eu levantei Bella e coloquei o tecido
macio embaixo dela. Comecei a enrolar o tecido em seu lado esquerdo,
colocando seu braço ao lado do corpo em uma ligeira curva. Em seguida,
envolvi seus pés e, em seguida, envolvi seu braço direito.
Bella estava enrolada. E então ela parou de chorar.
Eu levantei este pequeno pacote incrível e a embalei em meus braços.
Eu ri um pouco para mim mesmo porque estava tão feliz que eu tinha
sido capaz de ajudá-la.
Quando olhei, Angela estava bem ao meu lado. Seus olhos me
disseram que ela tinha se apaixonado por mim novamente.
Bom.
— Onde você aprendeu afazer isso? — Ela perguntou.
— Só meio que inventei, — admiti. E então pisquei. Angela ficou na
ponta dos pés e me beijou. Assim que nossos lábios se tocaram, senti
alívio e amor irradiando de seu corpo.
Seu beijo foi como voltar para casa. Parecia um pedido de desculpas.
Ela não se afastou. Sua mão estava apertando meu braço e ela se
inclinou para mim. Ela queria estar perto de mim. Eu pude sentir isso.
Quando finalmente acabou, meu sorriso mostrou a ela que a
discussão da noite anterior havia ficado para trás. Claro, tínhamos nossas
questões.
Tínhamos algumas coisas para resolver.
Mas segurar este bebê em meus braços, com o amor da minha vida ao
meu lado, me fez ser o homem mais feliz do mundo.
Eu só podia imaginar como seria se a criança fosse minha...
Angela
Eu segurei as lágrimas enquanto observava Xavier e Bella. Meu
marido aproximou a cabeça de cabelo ralo do bebê e beijou-a
suavemente.
Como era possível sentir tanto amor?
As últimas horas foram uma verdadeira montanha-russa emocional.
Como eu passei tão rapidamente de um colapso nervoso para a
felicidade amorosa?
Pensei na Em antes. Ela também estava prestes a desmoronar
algumas vezes em nossa breve conversa.
O que havia neste bebê que nos lançou, duas mulheres capazes, em
espirais emocionais?
Um bebê era um pacote de alegria. Mas eu percebi que os bebês
também traziam intensos flashes de medo, orgulho, dúvida... Todos
atacando ao acaso.
Um bebê mudou tudo. Agora eu finalmente entendia o peso disso.
Enquanto eu observava Xavier confortar Bella com confiança, senti
uma onda insana de amor e adoração.
Este homem era meu. E ele era perfeito.
Nossa briga na noite anterior acabou, e tudo o que importava estava
bem aqui e agora.
Eu queria me desculpar por tudo. Eu queria beijá-lo o dia todo, fazer
amor a noite toda e ter lindos bebês juntos, para todo o sempre.
Esse sonho que compartilhamos era a única coisa que importava
naquele momento.
Meu marido sorriu para mim.
— Eu te amo!!! — Eu quase gritei.
— Como foi. mana? — Lucas me perguntou depois que abri a porta
para ele. Bella estava dormindo em seu carrinho, mas Lucas
imediatamente a ergueu com as mãos gentis de um pai.
— Você não está com medo de acordá-la?! — Perguntei.
Ele encolheu os ombros. — Ela estava chorando muito, hein? — Ele
perguntou com conhecimento de causa.
— Uh, sim. — Eu acenei com a cabeça. — Mas prometa não contar a
Em. Xavier a acalmou. Ele foi incrível com ela.
Meu irmão sorriu para mim com o mesmo sorriso bobo de sempre. —
Isso é porque ele tem jeito pra ser pai.
Como de costume, não pude deixar de rir de seu comentário.
Fiquei assustada com o meu telefone zumbindo no bolso.
Quando foi a última vez que verifiquei meu telefone?
Era Hannah Flintour.
— Tenho que atender, — disse a Lucas e me despedi dele e do bebê. —
Alô?
— Angela, é Hannah, — sua voz fria respondeu.
— Você tem um minuto?
— Claro, um segundo.
Segurei meu telefone no meu peito enquanto beijava Xavier. Corri
minha outra mão pelo seu cabelo. Eu só queria ficar sozinha com ele, mas
precisava atender.
'Eu te amo, — disse ele.
— Eu também, — eu sussurrei, e senti sua mão na minha cintura até
o último momento possível.
Sozinha na cozinha, peguei o telefone novamente.
— Ok, Hannah. E aí?
Eu a ouvi suspirar. — Bem, você não vai acreditar, — ela começou, —
mas precisamos encontrar um local diferente para a Gala deste ano.
— O quê?! — Eu explodi.
A Gala da Vague era sempre no mesmo lugar — o Museu de História
Natural.
Isso fazia parte da identidade do evento.
Mudar era algo louco. Obviamente, Hannah Flintour também não
estava feliz com isso.
— Por quê? — Perguntei.
— Digamos apenas algumas relações azedas.
— Ok...
Que diabos? A Vague tinha uma rixa secreta com o museu?
— Bem, precisaremos encontrar um novo local que tenha um poder,
como o Museu de História Natural...
Hannah continuou, e por um momento, observei Xavier e Lucas
bajulando Bella. Então precisei pegar uma caneta e um caderno.
A ligação se transformou em uma reunião e, quando desliguei o
telefone, o relógio do forno disse que era meia-noite.
Eu estava cansada demais. E agora Zoe e eu tínhamos outro projeto
para adicionar à lista: Encontrar o novo local perfeito.
Eu fui para o quarto principal. Deparei-me com a luz apagada e Xavier
dormindo.
Era engraçado como as coisas haviam mudado. Agora Lucas tinha um
bebê e Xavier estava dormindo à meia-noite. Enquanto isso, eu estava no
telefone com Hannah Flintour...
Tirei minhas roupas e subi na cama nua. aninhada contra meu
marido.
Se ao menos ele ainda estivesse acordado, pensei enquanto o segurava.
Eu queria fazer amor.
Mas meus olhos também estavam fechando.
Amanhã está sempre aí...

Capítulo 16
Negócios ou lazer?
Dustin
— Então, o que você acha?
— O roxo, — eu disse com convicção.
— Definitivamente o roxo.
Os olhos de Jake brilharam com aprovação. — Você tem um dom para
isso, você sabe.
— Um grande elogio, vindo do próprio incomparável Anthony Jacobs!
— Eu gritei.
— Oh, por favor. — Jake revirou os olhos, seus longos cílios
capturando os raios de sol empoeirados do meu apartamento.
Eu sorri preguiçosamente, observando-o vasculhar enormes faixas de
tecido, deixando de lado a seda roxa brilhante que eu tinha escolhido.
Meu apartamento estava em seu estado perpétuo de caos organizado:
cavaletes perdidos, salpicos de cor, pilhas de telas e o cheiro de acrílico e
óleos, tudo misturado como um dos sonhos febris de Picasso.
Eu adorava isso, mas sempre senti que algo estava faltando. Algo que
desse unidade ao lugar, um centro calmo para a energia vibrante e
espontânea para a sala.
Olhando para Jake, eu sabia que tinha encontrado.
Seu cabelo recém-saído da cama era de um castanho dourado à luz do
sol, seus olhos verdes brilhantes cintilavam com vida. Eu o observei
franzir a testa e morder o lábio inferior enquanto contemplava o
próximo pedaço de tecido e, de repente, desejei que aqueles fossem meus
dentes em seus lábios.
Eu ri, balançando minha cabeça, maravilhado.
Jake me deixou com os olhos arregalados.
Eu coloquei meu queixo em minhas mãos enquanto o observava
trabalhar.
Eu me pergunto se é assim que Angela se sente em relação a Xavier?
Lembrei-me de ter dito a Angela, brincando, que um dia esperava
encontrar alguém que me deixasse todo bonitinho e com olhos de corça,
mas, no fundo, nunca realmente esperava por isso. Quero dizer, acredite
em mim, eu consegui sobreviver. Mas eu nunca conheci ninguém que
chegasse perto de ser um namorado.
Exceto Jake...
Jake pareceu sentir meu olhar. Ele olhou para cima com uma
sobrancelha arqueada, um desafio em seus olhos. — O quê? — Ele sorriu.
A inspiração me atingiu como um raio, como uma liquidação em
minha butique favorita.
Vendemos tudo! 90% de desconto!
Eu pulei do sofá.
— Não se mova! — Eu chorei.
— Huh? — Jake perguntou, incrédulo.
— Não. não, não. — Aproximei-me dele e arrumei cuidadosamente
sua postura para que fosse como antes. Coloquei minhas mãos em seus
quadris, cutucando-o para se apoiar em uma perna, guiando suas mãos
para descansar em sua cintura. Peguei seu rosto em minhas mãos,
tentando organizar sua expressão naquele sorriso brincalhão e desafiador
de um momento atrás.
Senti meu coração batendo forte enquanto olhava em seus olhos,
minhas mãos ainda em concha em torno de suas bochechas.
— Não se mova, — eu sussurrei.
Jake revirou os olhos, um leve rubor em suas bochechas.
— Bem, — ele solicitou. — Apresse-se, Sr. Artista.
Você sabe que não posso ficar parado por muito tempo.
Eu abri um sorriso para ele enquanto tentava pegar minhas tintas e
montar um cavalete. Sentei-me na frente dele, encontrando o ângulo
perfeito onde a claraboia pousava perfeitamente no topo de sua cabeça.
Ele era minha peça central. Uma âncora em um redemoinho de cor e
movimento.
Olha só pra mim, ficando todo pegajoso. Angela iria rir de mim com
certeza.
Ficamos em silêncio por um tempo. Jake ficou o mais imóvel que
pôde, atendendo ao meu pedido, enquanto eu esboçava a cena diante de
mim na tela.
— Eu não estava brincando, você sabe, — disse Jake.
— Hum?
— Você realmente tem talento para design de moda.
— Bem, duh. Você já olhou para mim? — Eu olhei para ele por trás da
tela, torcendo meu rosto na expressão mais estranha que eu poderia
fazer.
Ele riu, e o som me fez sentir leve como uma pena.
— Você poderia ter um futuro no design, Dustin. Se você quisesse,
claro.
Comecei a trabalhar com mais cores na tela, revirando a ideia na
minha mente.
— A Coleção Dustin Stirling, de Anthony
Jacobs. Isso boa bem.
— Espere aí, figurão, você tem que criar um design primeiro, — disse
ele.
— Vou resolver isso logo depois de terminar minha pièce de résistance,
— eu disse, transbordando de confiança.
Eu o ouvi suspirar, diversão em sua respiração.
— Bem, é melhor que sua pièce-de-qualquer-coisa esteja chegando
rapidamente. Minha perna está começando a doer.
Eu sorri enquanto olhava para ele por cima da tela. Tive a sensação de
que haveria muito mais pinturas por vir.
Angela
— Obrigado, Marco, ligo para você quando estiver pronto para ir.
Ele acenou com a cabeça enquanto fechava a janela, e eu o observei
dar para fora da garagem. O carro de luxo parecia muito deslocado ao
lado da caminhonete degradada do meu pai no subúrbio de Nova Jersey.
Eu puxei meu vestido de grife, de repente me sentindo envergonhada.
Quando foi a última vez que usei jeans?
— O que você está fazendo parada aí na garagem, sua esquisita?
Eu me virei para ver Lucas encostado na porta e com um sorriso no
rosto.
Eu mostrei minha língua para ele enquanto marchava escada acima,
inclinando-me para um abraço. Eu olhei para ele.
Ele parecia cansado.
Havia olheiras sob seus olhos e parecia que fazia um tempo desde que
ele se barbeou.
— Como vai a nova vida do papai? — Perguntei.
— É ótima, você não percebe? — Ele riu. — Estou dormindo três
horas inteiras por noite.
Eu dei um tapinha em seu ombro, dando um aperto encorajador.
— Mas vale a pena, certo?
— Oh, Bella é a alegria da minha vida. — Lucas sorriu, e eu pude ver a
felicidade genuína brilhando em seu exterior abatido. — Eu só queria que
os bebês não fizessem tanto cocô. Tem uma montanha de fraldas usadas
no lixo. Angela. Uma montanha.
Eu enruguei meu nariz enquanto o empurrava para entrar na casa. O
zumbido da TV misturava-se ao aroma sedutor de uma caçarola de
queijo pegajosa assando no forno. Senti meus ombros relaxarem um
pouco e a tensão escapar do meu corpo enquanto eu caminhava pelos
corredores familiares até a sala de estar.
— Ei, filhinha, — papai chamou do sofá.
Eu me apertei ao lado dele, dando-lhe um abraço apertado.
— Olá, pai. — Meus olhos se desviaram para a TV, o noticiário do
meio-dia soando ao fundo. — Onde está o Danny?
— Oh, ele está terminando no restaurante. As coisas estão ficando
agitadas, com a grande reabertura e tudo.
— Reabrindo? — Eu fiz uma careta.
— Oh, sim, — papai disse casualmente. — Estamos colocando uma
nova camada de tinta no local. Achei que seria uma boa maneira de dar
um pouco de vida a ele, talvez trazer alguns rostos novos.
— Oh.
Papai olhou de lado para mim. — Angela?
Levantei-me do sofá um pouco rápido demais, cambaleando um
pouco para me equilibrar.
— Eu vou ajudar com a caçarola.
Fui até a cozinha e pude sentir os olhos de papai nas minhas costas.
Eles estão reabrindo o restaurante? Por que eles não me disseram
nada? Eles se esqueceram de me dizer ou simplesmente não se
preocuparam em me contar? Ou talvez sim. e eu simplesmente não
estava prestando atenção no momento...
Eu balancei minha cabeça, tentando limpar os pensamentos da minha
mente. Um nó começou a se formar no meu estômago, mas isso pode ter
sido apenas a minha fome falando.
Encontrei Em na cozinha removendo a caçarola e colocando-a em
cima do fogão. Ela parecia muito melhor depois da ida ao spa. Embora
ela ainda tivesse olheiras, havia uma determinação brilhante neles, em
vez de um desespero.
— Ei, Angie, — ela disse, me abraçando com as luvas de cozinha ainda
colocadas. Eu a apertei de volta, feliz por meu pequeno presente a ter
ajudado.
— Onde está Bella? — Perguntei.
— Ela está dormindo lá em cima, finalmente. — Em riu. — Ajude-me
a pôr a mesa, sim?
Tínhamos acabado de colocar os pratos e talheres quando Lucas
entrou na cozinha com Danny logo atrás dele. Danny desabou em uma
cadeira com um gemido.
— Cara, estou morrendo de fome. Oh, ei, Angela.
Cortei para ele um grande pedaço da caçarola, colocando uma pilha
de queijo derretido em seu prato.
— Como vai a reabertura? — Perguntei.
— Caçarola de queijo de novo? — Ele reclamou.
— Se não gosta, não coma, — disse Em.
Danny deu uma mordida, falando alto. — Quase pronto. Vou voltar
para lá depois de um almoço rápido, — ele suspirou, virando-se para
mim. — E um monte de trabalho. Especialmente agora que Lucas está
fugindo de mim.
— Pulando para fora? — Lucas disse incrédulo enquanto se sentava ao
lado de Danny. — Você quer enfrentar a montanha de cocô?
— Você está exagerando, — Danny acusou.
— Não. — Papai interrompeu enquanto saía da sala de estar. —
Literalmente uma montanha de cocô.
Danny continuou a comer sua comida, sem ser perturbado pela
imagem mental nojenta. — De qualquer maneira, o trabalho está ficando
mais difícil com a bebê Bella ocupando todo o seu tempo.
Sentei-me ao lado de papai e Emma, cortando uma fatia para mim. A
brincadeira em torno da mesa da sala de jantar foi fácil, e eu senti o nó
em meu estômago se desfazendo lentamente. Afinal, eles eram uma
família.
— Falando em trabalho e bebê Bella, — eu disse. — Como você está
encontrando tempo para administrar a floricultura, Em? Deve ser difícil
fazer as duas coisas.
— Muito difícil, — Em concordou. — É por isso que Lucas e eu
decidimos vender a loja.
Quase engasguei com a caçarola cheia de queijo.
Papai me deu um tapinha nas costas rudemente, me entregando um
copo d'água. Eu engoli.
— O quê? — Eu engasguei quando a morte por caçarola foi evitada. —
Não era esse o seu sonho, Em? Uma floricultura em Nova York?
— Era, — Em concordou. — Mas agora tenho um novo sonho. E é ser
mãe.
— Bem desse jeito? — Perguntei.
— Simples assim, — ela confirmou, pegando a mão de Lucas do outro
lado da mesa.
Tentei envolver minha cabeça em torno disso. Parecia que era ontem
quando Em finalmente abriu sua loja em Nova Iorque. Lembro-me de
como ela estava animada, o brilho e a paixão em seus olhos enquanto
arrumava as flores da maneira certa.
E agora ela estava desistindo de tudo.
— Você não conseguiu encontrar um meio-termo? — Eu perguntei,
espantada.
— Bem. talvez, — Em cedeu. — Mas também pensamos que o
dinheiro poderia ser usado para comprar uma casa.
— Queríamos nosso próprio lugar para criar nossa família, —
acrescentou Lucas.
Fiquei tonto, meu apetite repentinamente perdido. Tudo estava
mudando tão rápido.
Muito rápido.
Sem mim.
— Oh, eu sei, — eu disse com um sorriso. — Posso comprar uma casa
nova para vocês dois! — Eu esperava abraços e risos, não o silêncio
desconfortável que me cumprimentou.
— Angela... — Em disse. Ela olhou para Lucas.
— Agradecemos a ideia, mas acho que gostaríamos de fazer isso nós
mesmos. — Meu irmão olhou para mim de forma estranha, quase como
se ele não soubesse quem eu era.
Senti o nó voltar ao meu estômago, apertando minhas entranhas
como um torno.
— Isso é muito dinheiro, filhinha. — Papai ergueu uma sobrancelha
para mim.
— Nem um pouco, — eu insisti. — São apenas algumas centenas de
milhares...
— Calma aí, Sra. Knight, — ele brincou. — Você está cercado por
pessoas comuns nesta mesa, lembra?
Minhas palavras morreram em meus lábios.
Desde quando não sou considerada parte do grupo? Quando me
tomei uma estranha?
Tentei sorrir, tentando engolir o pânico que borbulhava na minha
garganta. Eu me sentia uma estranha na minha família. Eu senti como se
eles tivessem seguido em frente sem mim, que eu havia me desviado em
um novo caminho sem nem mesmo perceber o quão longe eu havia
vagado.
— Desculpe, pessoal, acabei de lembrar que tenho um trabalho para
pôr em dia esta noite. — A desculpa parecia vazia em meus ouvidos, mas
parecia funcionar. — Vejo vocês na próxima vez, ok?
— Você precisa de uma carona para a estação de trem? — Danny
perguntou.
— De jeito nenhum, — Lucas brincou. — Nossa irmã é levada em um
beamer agora, você não sabia? — Eu ri enquanto me afastava, mas
parecia que estava engolindo vidro quebrado.
— Ei. docinho, — papai chamou. Parei para olhar para ele e havia
preocupação em seus olhos. — Se cuida.
Eu balancei a cabeça, abrindo a porta da frente e fechando-a atrás de
mim.
Eu realmente mudei tanto? Eu era realmente tão diferente?
Eu caminhei até o meio-fio, o número de Marco já digitado no meu
telefone, meus pensamentos em um turbilhão.
Em tinha desistido de seu sonho por sua filha.
Por sua família.
Eu posso fazer o mesmo?

Capítulo 17
Um castelo transformado em prisão
Xavier
Sentei-me nas familiares cadeiras de couro de pelúcia na sala de
reuniões da Knight Enterprises, olhando para a longa mesa de mogno e
as cadeiras vazias diante de mim.
Eu amava esse lugar.
Do meu lugar de comando na cabeceira da mesa, fechei inúmeros
negócios aqui. Eu senti o sangue bombear em minhas veias quando me
aproximei de um cliente, senti o momento em que eles cederiam às
minhas propostas tão seguramente quanto um predador poderia sentir o
momento de atacar.
Eu falei sobre os concorrentes, destruí os rivais, tudo nessa posição de
poder.
Foi uma adrenalina alta.
Uma onda de excitação.
A emoção de saber que eu era o homem mais poderoso da sala.
Na cidade.
Estávamos prestes a realizar uma reunião sobre as margens de lucro
projetadas para o novo resort nos Alpes.
Eu deveria estar subindo pelas paredes, olhando para a vista
impressionante de Nova York enquanto ensaiava minhas propostas
baixinho. Eu deveria estar limpando minha mente e afiando minha
língua, pronta para derrubar qualquer contra-argumento que ousasse ser
levantado contra mim.
Mas eu não estava pensando em nada disso.
Em vez disso, estava pensando em meu pai.
Eu estava pensando em meus momentos finais com ele, a raiva e o
arrependimento ainda queimando em mim.
Pensava sobre como ele egoistamente decidiu se casar novamente
sem me contar, como ele egoistamente decidiu dar a Penny, minha excompanheira de
merda que se tornou madrasta, uma participação na minha
empresa, sem me contar.
Fiz um esforço consciente para relaxar meu aperto no apoio de braço
antes de rasgar o couro. Eu tive que firmar minha respiração antes de
jogar a porra da cadeira pela janela.
Eu sabia que papai não fez nada para me magoar.
Ele só queria encontrar a felicidade.
Ele apenas fez o que achou que seria o melhor.
Isso não significa que não doeu pra caralho, que não me levou até a
raiva.
Fiz um esforço consciente para relaxar meu aperto no apoio de braço
antes de rasgar o couro. Eu tive que firmar minha respiração antes de
jogar a porra da cadeira pela janela.
Eu sabia que papai não fez nada para me magoar.
Ele só queria encontrar a felicidade.
Ele apenas fez o que achou que seria o melhor.
Isso não significa que não doeu pra caralho, que não me levou até a
raiva.
Ainda assim, o que eu não daria para tê-lo de volta. Tê-lo aqui para
que ele pudesse ver seu neto, ver a linda família que eu queria ter com a
Angela.
Meu anjo.
Pensando nela, toda a raiva se esvaiu. Todo o estresse, o
aborrecimento, desapareceram como um caso de uma noite no início da
manhã.
Mesmo as coisas que eu amava no negócio não podiam ser
comparadas. A emoção de fechar um negócio não chegou nem perto da
emoção de ter sua pele na minha, o som dela suspirando meu nome.
Fechei os olhos e me imaginei voltando para casa depois de um dia
exaustivo de trabalho, tudo para que eu pudesse ver seu rosto se iluminar
quando ela se virou e seus olhos pousaram nos meus.
Xavier.
Eu sorri. Quase pude ouvir sua voz.
— Xavier?
Espere. Isso não soa como ela.
— Xavier!
Meus olhos se abriram e os assentos vazios diante de mim foram
preenchidos de repente.
Penny estava inclinada na cadeira à minha direita, seus olhos
brilhando de preocupação.
— Você está bem? — Ela colocou a mão na minha testa. — Você não
parece estar com febre... — Afastei a mão dela com um pouco de força
demais. Tentei ignorar a dor em seus olhos.
Você não é a porra da minha mãe.
— Parece que pegamos nosso CEO babando, — Henry zombou. —
Por que você não vai tirar uma soneca, Xavier? Vamos apenas te informar
depois.
Algumas pessoas abafaram o riso baixinho.
E assim, raiva e desprezo inundaram tudo à minha volta.
Puta que pariu.
Eu sorri como punhais para a sala, e as pessoas que riram encolheram
em seus assentos. Henry olhou para trás, imperturbável.
— Ok, vamos continuar, — disse Penny, tentando acalmar a tensão na
sala. — As projeções para o resort nos Alpes parecem boas. Eu estimaria
um aumento de dezessete por cento nos lucros até o final do trimestre.
— Hmm, — eu murmurei. O último lugar que eu queria estar agora
era nesta sala de reuniões, cercado por um bando de cobras e idiotas.
Penny fechou este negócio. Ela pode lidar com o trabalho pesado.
— ... O construtor nos disse que a nova extensão será concluída logo
que...
O que Angela está fazendo agora? Eu me perguntei. Pensei em vê-la
segurando a pequena Bella em nosso apartamento, e um sorriso apareceu
em meus lábios.
— Xavier.
Eu pisquei.
Penny estava franzindo a testa novamente, e o olhar de Henry estava
cheio de veneno. A sala da diretoria ficou em silêncio.
— O que Penny acabou de dizer? — Henry exigiu.
— O quê?
— Você me ouviu.
Meus olhos se estreitaram.
— Ela estava falando sobre como a nova extensão do resort seria
concluída em breve, — eu disse entre dentes.
Quem diabos Henry pensa que é?
— Qual construtor?
— O que é isso, um teste surpresa?
— Responda a maldita pergunta, Xavier.
Olhei ao redor da sala, repleta de rostos cheios de expectativa. Até
Penny estava olhando para mim, esperando por uma resposta.
— Dream Mason, — eu disse.
Henry se recostou na cadeira, bajulador como sempre.
— Xavier... — Penny pareceu hesitar por um segundo antes de
continuar. — Nós rejeitamos Dream Mason. Sua cotação de materiais era
muito alta.
— Bom. — Dei de ombros. — Muito bem, temos bom senso.
— Dream Mason, — eu disse.
Henry se recostou na cadeira, bajulador como sempre.
— Xavier... — Penny pareceu hesitar por um segundo antes de
continuar. — Nós rejeitamos Dream Mason. Sua cotação de materiais era
muito alta.
— Bom. — Dei de ombros. — Muito bem, temos bom senso.
— Inacreditável. — Henry se inclinou para a frente em sua cadeira,
olhando ao redor da sala. — Dá para acreditar que esse cara é nosso
CEO?
— O que você disse? — Eu rosnei.
Ele me encarou, e eu tive que lutar com tudo que eu tinha para ficar
no meu lugar e não me levantar e olhar seu rosto presunçoso.
— Você não limpou seus ouvidos recentemente, Xavier? E como se
você não pudesse ouvir nada hoje. Não é o que estamos falando, não é o
que está acontecendo com nosso próximo grande projeto...
Eu me atirei para fora da minha cadeira, que caiu no chão atrás de
mim.
Penny se inclinou para frente, capturando meu olhar. Havia uma
mensagem silenciosa em seus olhos.
Um apelo.
Ele não vale a pena, me disse.
Henry deu um sorriso de satisfação.
Este filho da puta estava me provocando. Ele queria que eu o pegasse
pela gola de sua camisa e o espancasse até deixá-lo sem sentidos. Ele está
tentando brincar com o conselho, me fazer parecer um vilão. Quer me
fazer parecer incompetente.
E o que mais me irritou foi que estava funcionando.
Avancei na direção de Henry e ele se virou para mim, preparando-se
para uma luta.
— Xavier! — Penny gritou.
Passei correndo por Henry, indo direto para as portas.
— Covarde, — ele sussurrou.
— Vou tomar um pouco de ar fresco, — fervi.
Empurrei as portas com força, abrindo caminho pelo corredor. Eu
ouvi o som de saltos altos atrás de mim no corredor.
Deixe-me em paz.
— Xavier! — Penny chamou. Ela meio que correu para me alcançar,
parando para bloquear meu caminho. — Droga, Xavier. Espere!
Eu olhei para ela, raiva borbulhando em meu peito.
Ela me agarrou pelo braço e me arrastou para o escritório do meu pai.
Não, eu tive que me lembrar. Seu escritório, agora.
Ela fechou a porta, empurrando suas costas contra ela. Ela olhou para
mim, uma determinação de aço brilhando em seus olhos.
— Nós precisamos conversar.
Angela
Eu estava exausto.
Eu não conseguia afastar aquela sensação horrível de mal-estar se
formando na boca do estômago depois de deixar a casa da minha família
em Nova Jersey. A viagem de carro de volta a Nova Iorque pareceu durar
séculos, e eu me peguei pulando para cima e para baixo no assento. Eu
me sentia inquieta. Eu tinha que fazer algo.
Algo.
Então me dediquei ao meu trabalho. Zoe e eu estávamos procurando
locais para a Gala, e passamos o dia todo em Nova Iorque.
Estivemos em vários armazéns, em um museu de ciências e até em
um navio abandonado no porto. Nenhum deles parecia ser o adequado.
O local tinha que ser perfeito. Cheio de talento e personalidade como o
museu, um espaço digno da Gala. Nenhum dos lugares que visitamos
chegou perto.
Meus pés doíam e minha cabeça latejava, mas me arrastei para frente,
determinada a encontrar pelo menos um local possível até o final do dia.
Não ajudou o fato de Zoe estar estranhamente quieta também.
Ela parecia desinteressada, sua personalidade naturalmente
borbulhante estava subjugada. Sempre que eu tentava tirar ideias dela,
ela me dava respostas concisas de uma palavra.
Estávamos descendo a rua trinta e dois, abatidas após um dia
infrutífero de buscas, quando o vi.
Uma grande estrutura ergueu-se no céu. Parecia quase estranho,
camadas de níveis circulares projetando-se para cima, sua superfície
reflexiva de bronze brilhando com o pôr do sol.
— Você vê isso também ou estou ficando louca? — Eu perguntei a
Zoe.
Ela olhou e viu a estrutura, seus olhos brilhando.
— Oh, acabou! — Ela disse.
— Sabe o que aquilo é?
Ela acenou com a cabeça, um pouco de seu eu natural retornando.
— E uma nova estrutura que eles construíram para a Hudson Yards
chamada The Ves sei. Aparentemente, é como um labirinto lá dentro,
enrolando-se no céu.
— Zoe, é isso! — Olhando para o The Vessel, eu sabia que era aqui que
eu queria que a Gala acontecesse.
Lustroso.
Moderno.
Um símbolo de uma nova Nova Iorque em evolução.
— Você quer alugar Hudson Yards para a Gala? — Zoe perguntou,
incrédula.
Eu assenti com um brilho nos meus olhos.
— Eles não eram mesquinhos com nosso orçamento. Vamos ser
ousadas em nossa escolha, — disse com uma piscadela.
Ela encolheu os ombros e parecia que estava segurando um pouco de
seu entusiasmo. — Você é a chefe.
Inclinei minha cabeça para olhar para ela, me perguntando o que
estava acontecendo em sua cabeça. Liguei meu braço ao dela e a senti
enrijecer, só um pouco.
Decidi ignorar por enquanto.
— Vamos jantar, vamos?
Zoe e eu encontramos um lugar com um pad thai forte.
Gosto de pensar que o silêncio durante a refeição foi porque a comida
era muito boa. mas algo me dizia que era algo mais.
Desde que conseguimos o show de Gala. Zoe estava agindo de forma
estranha. Ela ficou chateada por eu não especificar que o argumento de
venda foi baseado na ideia dela?
Éramos uma equipe, não éramos? O que isso importa?
— Ei. Zoe, — eu comecei. Eu vasculhei minha bolsa enquanto ela
pegava seu pad thai.
— Sim?
— Eu tenho algo para você. — Peguei a pequena caixa preta e deslizei
sobre a mesa em direção a ela. Observei Zoe abri-lo, examinando os
pequenos brincos de diamante aninhados dentro.
— Para que serve isso? — ela perguntou.
— Eu só queria comprar algo para você, — eu disse com um encolher
de ombros. — Eu senti que não estávamos na mesma página por um
tempo e achei que isso poderia animá-la um pouco.
— Então você comprou brincos para mim?
— Você gosta deles? — Eu perguntei, sorrindo.
— Hum, sim, Angela. Eles são legais. Obrigada. — Ela fechou a caixa,
colocando-a na bolsa.
Meu sorriso vacilou um pouco. Ela não parecia muito feliz.
— Escute, eu vou encerrar por hoje. Vamos discutir os detalhes do
Hudson Yards amanhã, certo? Acho que preciso ir para casa e descansar
um pouco.
— Zoe se levantou, deixando algum dinheiro na mesa.
— Você está bem?
— Sim, tudo bem. Falo com você amanhã, Angela. — Eu a observei ir,
o toque metálico da campainha da porta soando quando ela entrou na
noite.
Peguei o resto da minha comida, olhando para a nota de vinte dólares
amassada que Zoe havia deixado na mesa. Peguei minha carteira e
descobri que minhas mãos tremiam um pouco.
Pensei em quando estive em Nova Jersey.
Eu me sentia uma estranha para minha própria família. Agora Zoe
estava distante.
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos, sentada sozinha à mesa.
O que eu estava fazendo de errado?

Capítulo 18
Problemas familiares
Penny
Eu olhei para Xavier enquanto ele andava pelo meu escritório, a
tensão em cada linha de seu corpo.
Ele estava chateado. Era fácil saber.
Eu tinha mais do que o meu quinhão de experiência com homens
raivosos.
Seus dentes cerrariam.
Seus olhos escureceriam.
Suas mãos se fechariam em punhos.
E então eles pairavam sobre mim cada vez maiores...
Fechei os olhos com força, levando a mão à garganta.
Jacques se foi. Você tem que se concentrar no que está à sua frente.
Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que ameaçava me
engolir por inteira.
Quando Brad me pediu em casamento, para esquecer todos os
estigmas e fugir, meu mundo inteiro mudou. O sol parecia mais forte. A
comida tinha um gosto melhor. Eu era a garota mais feliz do planeta.
Mas a vida era cruel e destruiu nosso amor quando ele mal havia
começado.
Agora eu estava no antigo escritório de Brad. preocupada com o
futuro de uma empresa multibilionária e a estabilidade emocional de
meu novo enteado.
Enteado.
Eu abri meus olhos e vi que ele ainda estava andando como um
animal selvagem.
Como uma besta presa em uma gaiola.
Ver Xavier como enteado era impossível. Eu não poderia
magicamente me tornar uma figura materna para ele. Além disso, ele era
mais velho Joque eu...
E não é como se eu fosse imediatamente alguma extraordinária mulher
de negócios.
Eu estava tão confusa e — por mais que ele nunca admitisse —
assustada quanto Xavier.
Mas pelo menos eu estava tentando.
Era muito esperar uma ajudinha de Xavier?
Meus olhos estavam começando a arder e eu pisquei ferozmente, me
recusando a deixar as lágrimas derramarem.
Em vez disso, canalizei minha frustração em minha voz.
— O que há de errado com você?! — Perguntei.
Ele parou de andar e olhou para mim. Seus olhos brilharam como se
quisesse envolver as mãos em volta da minha garganta. Ele deu dois
passos largos até a minha mesa, pairando sobre ela e sobre mim.
— O que há de errado comigo? — Ele gritou. — O que há de errado
comigo?
Tentei não vacilar, meu coração batendo forte na garganta.
Mantenha-se forte. Penny.
— A porra do mundo inteiro enlouqueceu! — Ele gritou furioso para
mim, e não pude deixar de soltar um pequeno suspiro de alívio. — Eu
preciso explicar como essa situação é fodida. Penny? Você é tão estúpida?
— Eu entendo, Xavier. As coisas estão realmente confusas agora,
mas...
— Se você entendeu, então por que estamos falando sobre essa
merda? Vou demitir cada um desses idiotas, suas novas políticas de RH
que se danem. Eu vou...
— Pelo menos estou tentando, Xavier! — Eu o cortei.
Ele parou no meio do discurso, me encarando com agudeza.
— Você não acha que eu estou tão confuso quanto você? Eu amava
Brad. Xavier, mas quando concordei em me casar com ele, quando
concordei em ajudar a proteger a empresa que ele tanto amava, pensei
que ele estaria aqui comigo.
Observei um pouco da raiva deixá-lo, em seu lugar nascia uma lenta e
crescente tristeza.
— Eu quero fazer isso funcionar, Xavier. Tanto pelo bem de Brad
quanto pelo seu. Mas eu preciso que você me ajude aqui. O que Henry
disse naquela sala de reuniões...
Eu vi seus punhos cerrarem.
— ... Para ser honesto, ele expôs você. Todo mundo poderia dizer que
você realmente não se importava lá.
— Você pode me culpar? — Ele perguntou. — Isso nem era meu
negócio. Era seu. Se você não consegue nem mesmo lidar com os
pequenos detalhes, então...
— Eu posso culpar você, Xavier. Esta é a sua empresa. Você é o CEO.
Aja como tal.
Eu podia ver a raiva borbulhando dentro dele novamente. Abri uma
gaveta da minha escrivaninha e tirei a foto que esperava que o ajudasse a
acalmá-lo.
Ofereci-o como uma oferta de paz.
Xavier
Eu olhei para a foto que Penny segurava nas mãos.
Uma foto da minha mãe.
Ela parecia radiante em um vestido de verão. Mesmo o grande chapéu
de sol não conseguia esconder seu sorriso brilhante.
— Era a foto favorita de Brad, — ela disse baixinho. — Ele me disse
que sempre que estava frustrado ou inseguro, ele olhava para a foto e isso
o ajudava a acalmá-lo. Limpe sua cabeça. Talvez te ajude também.
Era uma foto da mamãe que eu nunca tinha visto antes. Peguei a foto
em minhas mãos, tentando encontrar a paz que meu pai parecia
encontrar quando olhou para ela.
Mas só conseguia pensar em como Penny parecia saber mais sobre
papai do que eu. Como isso me fez sentir desconfortável.
Eu poderia confiar nela?
Mulheres manipuladoras já haviam me queimado antes. Isso era algo
que eu nunca perderia, um instinto de proteger o que era meu dos
mentirosos e trapaceiros do mundo.
Claro, Angela veio e provou que eu estava errado, mas essa era
Angela. Essa garota poderia transformar um assassino em série em um
santo.
Papai encontrou Angela para mim.
Certamente eu poderia confiar em seu julgamento mais uma vez com
Penny?
Ela estendeu a mão com cuidado, descansando os dedos nas minhas
mãos, seu toque leve como uma pena.
— Eu não estou aqui para substituir Amélia, Xavier.
Eu nunca quis. Eu nunca poderia.
Eu me afastei de seu toque, sinos de alarme disparando em minha
mente.
Foi a coisa perfeita que ela poderia dizer para ganhar minha
confiança.
Perfeito demais.
Foi um movimento perfeitamente calculado. Um pelo qual me recusei
a cair.
— Tudo bem. — Eu disse. — Vou trabalhar mais com você. No
mínimo, isso dará a Henry menos munição para atirar em mim.
Penny sorriu, o alívio relaxando o arco tenso de seus ombros.
Quem sabe, talvez ela estivesse sendo genuína. Mas eu não morderia
a isca. Ainda não. Eu trabalharia junto com ela por enquanto, mas ao
primeiro sinal de que ela estava aqui para me prejudicar, eu a chutaria
pessoalmente pela porta da frente.
Os desejos de papai que se danem.
Angela
Eu joguei os sais de banho na banheira, observando a mágica
acontecer. O cheiro de rosas rolou sobre mim, espuma de sabão e pétalas
de rosa flutuando na superfície da água.
Eu mergulhei na água fumegante, suspirando de satisfação enquanto
o calor se infiltrava em meus ossos exaustos. Eu deixei a espuma lavar
minha pele, a água me envolvendo em um abraço suave.
Fechei os olhos, afundando mais na banheira, soprando bolhas na
superfície da água.
Foi um dia longo e estressante.
Qual a melhor maneira de relaxar do que um banho de espuma?
Ainda me lembrava dos dias em que era criança, quando pegava todo
o sabonete da cozinha e enchia a banheira com ele para poder fazer meus
próprios banhos de espuma improvisados. Eu fazia explosões na água,
ria, até começar a enrugar os dedos.
Acontece que o detergente não é o melhor produto para a sua pele.
Eu ri, lembrando-me do rosto chocado de papai quando ele percebeu
que precisava sair e comprar mais detergente por causa de sua filha
maluca.
Agora, aqui estava eu, em um apartamento de cobertura no topo da
cidade de Nova Iorque, desfrutando de um luxuoso banho misturado
com flores e óleos essenciais em uma banheira de hidromassagem de
última geração.
Muito longe do detergente de outrora, com certeza.
Muito longe daquela garotinha suburbana na banheira...
Eu me enrolei em uma bola, abraçando meus joelhos no meu peito.
Eu ainda era eu, não era?
Se eu me olhasse no espelho, ainda veria a simples e velha Angela.
Então, por que me sinto um estranho em minha própria pele?
Fui salva da espiral de meus pensamentos quando a porta do banheiro
se abriu.
Xavier estava lá na porta, seus olhos perfurando os meus.
— Bem-vindo ao lar. — Eu sorri para ele. — Vai me fazer companhia?
Ele fechou a lacuna entre nós em três longas passadas, escorregando
na banheira antes mesmo de tirar a roupa. Água com sabão transbordou
da banheira de hidromassagem e se espalhou pelo chão do banheiro.
— Xavier! — Eu engasguei, rindo. — Pelo menos tire a roupa...
Seus lábios estavam nos meus, sufocando as palavras antes que
pudessem deixar minha boca. Senti suas mãos envolverem minha
cintura, sua língua correndo ao longo da parte inferior do meu lábio,
implorando para entrar.
Eu gemia no beijo, e ele aproveitou a oportunidade para entrelaçar
sua língua com a minha. Este beijo se aprofundou, tão quente e pesado
que me deixou tonta e com falta de ar. Uma onda de excitação percorreu
meu corpo, apesar da água quente.
Ele começou a traçar beijos no meu pescoço, na minha clavícula, e eu
enrolei meus dedos em seus cabelos, empurrando para cima para sentir o
máximo que pude do meu corpo.
Havia algo tão gostoso em como ele nem esperou para tirar a roupa
antes de entrar na banheira.
Como se ele não pudesse esperar para colocar as mãos em mim...
Eu senti meu interior gritar com luxúria. Minhas mãos se
atrapalharam desajeitadamente, tentando desabotoar sua camisa.
Xavier se inclinou para trás e rasgou sua camisa, os botões voando
pelo banheiro enquanto ele revelava seu peito e abdômen esculpidos,
brilhando molhados com água e sabão.
Oh, meu...
Seus lábios estavam nos meus mais uma vez, e eu me inclinei na água
para acariciá-lo através de suas calças. De alguma forma, consegui tirá-las
de cima dele e logo senti sua dor latejante pulsando entre minhas coxas.
Eu queimei de necessidade, esfregando contra o comprimento dele.
— Pode vir, — eu gemi em seu ouvido, mordendo seu lóbulo para
garantir.
Ele não precisava de mais incentivo.
Eu gritei quando o senti me encher até a borda, minhas unhas
arranhando suas costas. Nós rapidamente construímos um ritmo, meu
corpo inteiro cantando com prazer. A água espirrou para frente e para
trás ao nosso redor, pétalas de rosa e espuma derramando
descuidadamente sobre a banheira.
De repente, Xavier me girou, me curvando sobre a borda da banheira
de hidromassagem enquanto me pegava por trás. Gritei de novo, minha
voz rouca de tanto gritar seu nome.
— Xavier, — eu gemi. — Xavier!
Ele grunhiu, seu ritmo ficando mais frenético e errático. Ele estava
chegando perto do clímax, e eu também. Senti uma onda de pânico,
irracional e indesejada, crescer dentro de mim.
A vida parecia estar correndo a uma velocidade vertiginosa, deixandome na poeira
muito, muito para trás.
Posso lidar com a adição de gravidez à mistura?
— Goze nas minhas costas, — eu disse. — Eu quero sentir você gozar
em cima de mim.
Xavier se inclinou sobre mim, uma mão descendo para torturar meu
clitóris enquanto a outra apertava meu mamilo, tudo no ritmo de suas
estocadas. Eu estava perdida em uma névoa de prazer, gritando quando
gozei, meu sexo convulsionando em tomo de seu pau latejante.
Eu o ouvi suspirar e rapidamente me afastei dele, sentindo seu pau
escorregar para fora de mim. Eu rapidamente empurrei de volta para ele,
apertando seu pau entre as minhas nádegas, esfregando-me nele até que
o senti passar por todas as minhas costas.
Suspirei, o alívio que senti rapidamente substituído por culpa.
O que Xavier iria dizer?
Xavier
Eu gemi, cavalgando a onda do meu orgasmo, enquanto enterrei meu
pau na bunda de Angela.
A vista não era motivo para reclamar.
Ver sua bunda fluindo na curva de seus quadris e cintura estava me
mantendo como uma rocha sólida.
Mesmo se meu corpo pudesse continuar, eu senti como se o calor do
momento tivesse ido embora. Por que ela não queria que eu gozasse
dentro dela? Especialmente com nossas esperanças de começar uma
família...
O entendimento me atingiu com tanta força que parecia que me
havia despertado do estado em que me encontrava.
Ela realmente não queria começar uma família.
Senti uma pontada de dor deslizar em meu coração como uma adaga.
Seu trabalho era realmente tão importante?
Mais importante do que eu?
Não me entenda mal. Eu pensei que era muito sexy que ela quisesse
que eu gozasse em sua bunda. A maneira como ela disse isso, sua voz
geralmente tão doce e inocente, quase me fez explodir ali mesmo.
Recostei-me na banheira de hidromassagem, esperando Angela se
virar e olhar para mim.
Ela não fez nada disso.
Esperei mais um momento para ela dizer alguma coisa, mas ela ficou
em silêncio. Era como se ela estivesse no tribunal e esperando que eu a
julgasse.
Suspirei, saindo da banheira. Comecei a tirar minhas roupas
encharcadas, ligando o chuveiro.
— Xavier... — disse ela.
— Está tudo bem. — Tentei sorrir, mas percebi que não a enganei. —
As coisas estão muito ocupadas, certo? Vamos nos lavar e dormir um
pouco.
Eu olhei pra ela. Sua expressão era tão apologética que me machucou.
Isso meio que me irritou, para ser honesto.
Ela estava com pena de mim?
Afastei-me dela e entrei no chuveiro. Mesmo que eu ainda pudesse
vê-la através da porta de vidro, parecia que nunca tínhamos estado tão
separados.

Capítulo 19
Alguns conselhos paternos
Xavier
O mundo passou em um borrão fora do carro, meus pensamentos
girando em minha cabeça com a mesma rapidez.
A noite anterior foi estranha, para dizer o mínimo.
Depois do meu banho, encontrei Angela esperando por mim na cama.
Ela estava olhando para mim com aqueles olhos grandes e inocentes dela,
um pedido de desculpas já em seus lábios.
Eu apenas balancei minha cabeça e dei a ela um sorriso indiferente,
afastando-me dela enquanto me preparava para dormir. Eu realmente
não queria falar sobre isso. Depois de um dia horrível no trabalho, a
última coisa que eu queria fazer era ter uma conversa difícil com minha
esposa.
Minha esposa, que pode ou não querer começar uma família comigo.
Quando acordei na manhã seguinte, Angela já tinha ido embora para
planejar mais de seu evento de gala.
Por um lado, eu estava orgulhoso dela por ser tão produtiva, tão
independente e focada no trabalho. Lembro-me de considerá-la uma
interesseira quando a Conheci, e ela estava provando ser tudo menos
isso.
Ela sairia e ganharia o dela.
Por outro lado, eu me sentia como em segundo plano, seu trabalho
era sua principal prioridade.
Eu ri uma vez, um som curto e amargo.
Provavelmente foi assim que Angela se sentiu quando começamos a
nos ver.
Doce ironia.
Eu sabia que não seria capaz de me concentrar adequadamente no
trabalho com isso me corroendo, então cancelei todas as minhas
reuniões e compromissos de hoje. Eu sabia que Penny ficaria chateada e
Henry teria um dia agitado no escritório sem mim, mas eu seria um
incômodo se fosse lá.
Então, aqui estava eu, a caminho de Nova Jersey. Não gosto de fugir
dos meus problemas. Eu tinha feito o suficiente disso, enchido minha
vida com bebidas e mulheres. Era hora de enfrentar as coisas de frente.
E se isso significasse ir me encontrar com meu sogro, então para o
inferno com isso, eu engoliria meu orgulho e faria isso.
Minha mão segurava com força um dos diários de meu pai.
Eu poderia estar pronto para ouvir alguns conselhos de Ken, mas não
tinha certeza se era forte o suficiente para ser capaz de ler o que estava
dentro dessas páginas.
Ainda não.
Eu não tinha certeza se algum dia teria.
Mesmo assim, por algum motivo, não consegui jogar o livrinho de
volta no porta-luvas. Passei minhas mãos sobre a capa de couro liso, me
confortando como um bebê agarrado ao seu cobertor favorito.
Eu olhei para o mundo passando por mim pela janela.
Quando me tornei tão fraco?
— Pode entrar, bonitão. — Ken segurou a porta aberta para mim
enquanto eu caminhava até a varanda da frente. Ele parecia mais
saudável cada vez que o via.
De certa forma, foi tudo graças a Ken que pude conhecer Angela. Se
não fosse por sua saúde debilitada na época, meu pai nunca teria feito a
proposta que mudou minha vida.
Eu era um idiota por estar grato por ele estar tão doente?
Talvez.
— Pode entrar, bonitão. — Ken segurou a porta aberta para mim
enquanto eu caminhava até a varanda da frente. Ele parecia mais
saudável cada vez que o via.
De certa forma, foi tudo graças a Ken que pude conhecer Angela. Se
não fosse por sua saúde debilitada na época, meu pai nunca teria feito a
proposta que mudou minha vida.
Eu era um idiota por estar grato por ele estar tão doente?
Talvez.
Ele estava melhor agora, então dispensei o pensamento da minha
mente.
Sentei-me à pequena mesa da cozinha enquanto ele remexia na
geladeira, tirando duas latas de cerveja. Ele deslizou uma pela mesa para
mim. Eu realmente não me importava com essas marcas baratas. Tinha
gosto de moedas de um centavo diluídas.
Mesmo assim, abri-a e tomei um gole, seguindo o exemplo de Ken.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo, o único som sendo o
tique-taque de um relógio pendurado na parede da cozinha.
— Onde estão todos os outros? — Eu me perguntei, enrolando.
— Danny está no restaurante, como sempre. Em e Lucas estão
visitando os pais de Em com Bella.
— Ah.
Tomei outro gole da água mijada.
— Por que você está aqui, bonitão? — Ken perguntou. Ele nunca
mediu palavras. Eu gostava disso. Ele era uma lufada de ar fresco vindo
dos parceiros de negócios enjoativos, sempre tramando e planejando
como eles poderiam tirar proveito de qualquer situação.
— É sobre Angela, — comecei.
— Com certeza não seria sobre qualquer outra coisa, seria? Angela é
praticamente a única coisa que temos em comum.
— Não posso argumentar contra isso, — admiti.
— Vá em frente, então, — disse ele, tomando um grande gole de
cerveja.
— Angela e eu temos tentado começar uma família.
Ele tossiu, cuspindo enquanto engasgava com um pouco de sua
cerveja. Esperei até que ele conseguisse respirar normalmente.
— Bem, vocês dois são casados, afinal, — disse ele. — Já estava na
hora. Eu estava começando a ficar preocupado.
— Especialmente depois que um dos últimos desejos do meu pai foi
ter um neto, eu queria ter um filho o mais rápido possível. Afinal,
estamos mais do que financeiramente estáveis. Tenho certeza de que
você não se oporia a ter outro neto correndo por aí também.
Ken assentiu, enxugando a mesa com uma toalha de papel.
— A questão é que não tenho certeza se estamos mais na mesma
página. Angela está meio distante. Ela está tão focada em seu trabalho
que começar uma família é uma prioridade distante.
Ele me observou falar, a cerveja em suas mãos esquecida.
— Chegou ao ponto em que nem tenho certeza se ela quer mais
filhos, — admiti.
Nós caímos no silêncio mais uma vez e comecei a me perguntar se vir
aqui era apenas uma perda de tempo. Eu estava prestes a me levantar
para sair quando Ken falou.
— Ela esteve aqui ontem, sabe. Para almoçar conosco. Ela estava
tentando esconder, mas eu poderia dizer que ela se sentia desconfortável.
Havia algo a incomodando. Ela parecia desconcertada conosco, mas o
mais importante, ela parecia desconcertada consigo mesma.
Quando Ken falava, geralmente era velado por humor e sarcasmo.
Ouvi-lo falar tão sinceramente me fez ouvir atentamente, prestando
atenção em cada palavra sua.
— Ela está mudando, Xavier. Acho que ela está se adaptando a ser a
Sra. Knight e está tentando se encontrar entre todo o glamour e brilho.
Você sabia que ela se ofereceu para comprar uma casa para Em e Lucas?
— Ele riu, balançando a cabeça. — A velha Angela teria pensado que isso
era tão ridículo quanto o resto de nós achava.
— Realmente não seria um problema, — eu disse. — Lá vai você
também. — Ken bebeu o resto de sua cerveja. — Sabe, quando te conheci,
não gostei de você, — disse ele de repente.
Eu ri. — Poucos homens gostam.
— E as mulheres? — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Isso importa? — Eu rebati.
— Malditos bilionários, — ele murmurou. — O que quero dizer é que
dei minha bênção a vocês porque vi o quanto vocês se importavam com
Angela. Como você seria solidário e compreensivo, mesmo se não fosse
podre de rico.
Ken esmagou a lata de alumínio e jogou-a em uma caixa azul
próxima.
— É disso que ela precisa agora. Seu apoio e compreensão. E sua
paciência, meu chapa. Ela vai se encontrar. Ela só precisa que você dê
apoio a ela.
Suspirei.
Não era exatamente um conselho inovador, mas de alguma forma
ouvi-lo sair da boca de Ken o fez soar verdadeiro.
— Paciência não é exatamente meu forte, Ken. Mas vou esperar por
ela. Ela vale a pena.
— Caramba, claro que vale.
Eu levantei a lata de cerveja para ele, engolindo tudo de uma vez.
— Você não está dirigindo, está? — Ken perguntou.
— Por favor, — eu disse, me levantando e caminhando até a porta da
frente.
Ele me seguiu até a varanda da frente, vendo Marco e o BMW beamer
estacionado em sua garagem.
— Malditos bilionários, — ele murmurou novamente.
— Nós vamos ficar presos aqui por um tempo, Xavier, — Marco disse
do banco do motorista. Parecia haver algum tipo de comoção à frente,
então o tráfego foi reduzido a um engarrafamento.
Abaixei a janela e coloquei minha cabeça para fora, olhando para o rio
de luzes de freio vermelhas diante de mim. Um ciclista passou voando
por mim, errando minha cabeça por pouco enquanto se afastava,
palavrões saindo de sua boca.
Sentei-me bufando, a janela me isolando do mundo exterior.
Meu olhar foi atraído para o diário discreto que estava na outra
extremidade do assento do carro. Lembrei-me da conversa que tive com
Ken e me perguntei se papai tinha algumas pérolas de sabedoria
escondidas naquelas páginas.
Ah, foda-se.
Peguei o diário e, com uma respiração profunda, abri em uma página
aleatória.
Brad
23/06/1982, Manhattan
Amélia está irritada comigo. De novo.
Minha esposa era linda, a luz da minha vida. Mas eu seria um mentiroso
se dissesse que ela não me dá uma forte dor de cabeça de vez em quando.
Eu não posso exatamente evitar. Desta vez, pelo menos. Sei que prometi a
ela que, no verão, teria mais tempo para ficar com ela, mas a empresa exige
atenção. A Knight Enterprises está finalmente começando a avançar a sério.
O petróleo era fácil. Qualquer idiota poderia cavar um buraco e ter sorte.
Resorts e hotéis — agora isso é um desafio. Encontrar os melhores locais,
vencer os concorrentes pelo preço perfeito, criar um espaço que atrairia
clientes de todo o mundo — isso é uma emoção.
Ainda assim, nada disso vale a pena se Amélia não estiver a bordo. Ela
tinha ficado duvidosa sobre estar com um magnata como eu. para começar.
Eu prometi a ela que ela era minha prioridade, acima de qualquer projeto em
que eu pudesse agarrar Mas é no verão que a indústria das férias realmente
começa.
Isso significa mais trabalho para mim, obviamente.
Certo?
13/07/1982. Manhattan
Brad, seu gênio. Ela amou como você sabia que ela faria.
Os ingressos surpresa para Bali funcionaram perfeitamente. Amélia gritou
como uma criança animada. Ela provavelmente está correndo pela casa,
fazendo as malas como uma mulher possuída.
A empresa conseguirá sobreviver por duas semanas sem você.
E uma sensação estranha, não é?
Você não tira férias há anos. Mas talvez seja exatamente disso que você
precisa.
Às vezes você tem que dar um passo para trás e lembrar por que está
trabalhando tanto. Por que você está trabalhando tanto?
É para ela.
Sempre será para ela.
Além disso, você verá Amélia de maiô por quatorze dias seguidos.
A empresa pode esperar.
Xavier
Fechei o diário com um raro sorriso nos lábios.
Parecia estranho ler suas palavras. Parecia um passo para trás no
tempo, como uma espiada privada na mente de meu pai.
Uma foto do amor de mamãe e papai.
Acho que é exatamente o que um diário é, não é?
Era estranho como eu era semelhante ao meu pai quando ele era um
jovem animado, vagando pelo mundo dos negócios. Um pouco
assustador e um pouco hilário.
Eu ri, fechando o livrinho.
Tive uma ideia.
Obrigado, pai.
Nosso novo resort ficava nos Alpes suíços, não era? A extensão estava
para ser concluída e precisaríamos de alguns executivos para ir ver o
projeto concluído, é claro.
Espero que Angela goste de esquiar

Capítulo 20
Numa fria
Angela
Inclinei-me sobre o parapeito da varanda do luxuoso chalé, minha
respiração formando e desaparecendo na minha frente em pequenas
baforadas congeladas.
A vista era incrivelmente bela.
Quase literalmente.
O vale congelado abaixo de mim brilhava como um mar de diamantes
ao sol, ventos vivos de neve erguendo-se altos e orgulhosos contra as
encostas suaves da encosta da montanha suíça.
Xavier me surpreendeu com uma escapada de fim de semana para os
Alpes suíços.
Lembrei-me de andar nervosamente no apartamento há dois dias, me
perguntando o que diria a ele quando chegasse em casa. Eu escapuli bem
cedo pela manhã, esperando me enterrar nos preparativos para a Gala e
atrasar as consequências de nosso, uh... incidente sexual. No segundo que
ele passou pela porta, as desculpas estavam derramando dos meus lábios,
mas ele me silenciou com um beijo.
— Você já esquiou? — Ele perguntou enquanto me segurava contra o
peito. Lembro-me de fechar os olhos enquanto o estrondo de sua voz
percorria meu corpo.
Eu tinha esquiado.
Uma vez.
Em uma excursão escolar quando era criança.
Mas eu estava cautelosamente otimista.
Esquiar era como andar de bicicleta, certo? Você nunca se esquece.
Eu passei o dia seguinte arrumando minhas tarefas, e o que eu não
consegui completar, dei a Zoe para fazer no fim de semana. As coisas
ainda estavam um pouco estranhas entre nós, mas ela aceitou a carga de
trabalho extra sem reclamar, então talvez as coisas estivessem
melhorando. Suspirei, satisfeita. Abracei meu suéter de lã Prada mais
perto do meu corpo, enchendo meus pulmões até a borda com o ar
fresco e gelado da montanha.
Quem diria que ter uma assistente poderia ser tão útil?
De repente, braços fortes envolveram minha cintura e uma caneca
fumegante de chocolate quente era apresentada diante de mim. Eu sorri
e recostei-me no peito de Xavier, envolvida em seu calor. Peguei a caneca
e segurei perto do meu rosto, o cheiro quente de chocolate derramando
sobre mim.
— Então, o que você acha do novo chalé? — Xavier me perguntou.
Tecnicamente, estávamos aqui a negócios.
Devíamos examinar as novas instalações e, como os primeiros
hóspedes a se hospedar na extensão do resort deveríamos testar a
experiência como um todo.
E nós pretendíamos fazer isso.
Completamente.
— É lindo, Xavier. Todos vocês fizeram um trabalho muito bom com
o lugar. — O novo chalé foi construído com uma combinação distinta de
madeira e vidro. O luxuoso resort oferece instalações de última geração
com uma estética rústica refrescante, mas elegante.
— Foi principalmente o trabalho de Penny, — Xavier murmurou atrás
de mim. Não pude ver seu rosto, mas havia algo em sua voz que me
preocupou.
Aborrecimento?
Ciúmes?
Eu me contorci em seus braços, virando-me para olhar em seus olhos,
mas quando olhei para ele, ele parecia tão calmo e composto como
sempre.
E tão incrivelmente bonito como sempre.
Fiquei na ponta dos pés para beijá-lo nos lábios. Eu queria que fosse
um beijo rápido, mas sua mão serpenteou em meu cabelo e agarrou a
parte detrás da minha cabeça, prendendo meu rosto no dele enquanto
ele aprofundava o beijo.
Eu me derreti em seus braços e o mundo ao nosso redor desapareceu
enquanto eu também me perdia na sensação de seus lábios nos meus.
Ele se afastou, meus lábios ardendo contra o ar frio da montanha.
— Você criou um apetite, Sra. Knight? — Ele perguntou, sua voz
rouca.
Eu tracei círculos sem rumo no peito de Xavier com meu dedo. Era
verdade, eu não tinha comido nada desde que pousamos no início da
manhã.
Mas eu estava com fome de outra coisa...
Eu deixei minhas mãos vagarem para baixo em seu peito, deslizando
mais para baixo em seu corpo antes de dar uma volta e dar um aperto
brincalhão em sua bunda.
Ele ergueu uma sobrancelha para mim. Eu dei a ele um sorriso
malicioso.
— Eu acho que você pode estar certo...
Em um movimento suave, Xavier me pegou. Envolvi minhas pernas
em torno de seu torso. — Nós vamos nos atrasar para o brunch, — Xavier
murmurou em meu pescoço.
Eu engasguei, pressionando meus lábios contra sua orelha.
— Tudo bem. — Eu sussurrei.
Xavier riu, lentamente emaranhando nossos corpos.
— Ainda estamos tecnicamente aqui a negócios, Angela. — Ele piscou
para mim, mas eu pude sentir que nem ele se convencia completamente
disso.
— Teremos mais tempo para isso mais tarde.
Eu o observei voltar para dentro, a preocupação me consumindo. Ele
ainda estava preocupado com o que aconteceu da última vez?
No entanto, ele estava certo. Não estávamos aqui apenas por lazer.
Suspirei enquanto o seguia para dentro.
Bem, eu poderia esperar pelo brunch, pelo menos.
Xavier
Angela e eu saímos para a área de estar. A luz natural das enormes
janelas de vidro com vista para as encostas inundou o quarto de
inspiração escandinava, construído com grandes toras de madeira e
coberto com peles artificiais.
Pelo menos, foi o que foi dito no briefing.
Eu estava tão distraído que não vi nada disso. Minha mente ainda
estava fixada em quão assertiva Angela era, a sensação de suas pernas em
volta de mim.
Francamente, era muito sexy.
Normalmente eu a teria levado ali mesmo, uma reunião de brunch
que se danasse.
Mas minha conversa com Penny ainda estava fresca em minha mente.
Mesmo que eu não pudesse ter certeza de suas verdadeiras intenções,
seus pontos eram válidos.
Henry estava me fazendo passar por idiota por causa do meu
descuido.
Isso não aconteceria novamente.
Aproximamo-nos da mesa e encontramos Henry já à espera, com um
café da manhã continental preparado à sua frente. Ele se sentou ao lado
de uma mulher familiar, alta, ágil e bonita, seu olhar penetrante fazendo
Angela parar por um momento.
Daria.
— Você está bem? — Eu sussurrei.
Angela parecia um pouco pálida, os olhos arregalados.
Daria e Angela nunca se deram bem. E foi principalmente por minha
causa. Lembrei-me da primeira vez em que se encontraram na França,
como fiquei em silêncio e sorri enquanto Daria insultava minha então
falsa esposa.
Se eu pudesse viajar no tempo, me daria um soco na cara.
Vendo que isso era obviamente impossível, me contentei em dar um
aperto encorajador na mão de Angela.
Minha esposa acenou com a cabeça, sua boca uma linha sombria de
determinação.
Aproximamo-nos da mesa. A dupla se levantou para nos
cumprimentar.
— Bonjour, Xavier. — Daria se inclinou para um abraço e eu retribuí
sem entusiasmo.
— Angela, — veio a saudação concisa de Henry.
— Ei, Henry.
Sentamo-nos e Daria não perdeu tempo para se voltar para Angela.
— Ah. a esposa também está aqui. Estou surpresa. — Ela espetou um
morango com o garfo, levando a fruta aos lábios. Ela o colocou na boca,
falando em torno dele. — Eu tinha certeza que Xavier já teria se cansado
de você.
— Não se engasgue, Daria, — murmurei.
Angela pegou sua comida e sorriu de volta, embora fosse obviamente
forçado.
— Você mesma disse. Daria. Eu sou a esposa dele, não uma garota
fácil em busca de um caso, — disse Angela. — E é preciso ser uma garota
fácil para conhecer uma.
Minha esposa sorriu para ela, parecendo um demônio usando a
máscara de um santo padroeiro.
— Para referência futura — os casamentos duram um pouco mais do
que uma noite.
Quase engasguei com minha torrada.
Meus olhos se voltaram para minha esposa, e ela parecia tão calma e
controlada quanto um Knight poderia. Senti seus dedos procurando os
meus por baixo da mesa e pude sentir que ela tremia, muito levemente.
Eu dei outro aperto encorajador em sua mão.
Vá atrás dela, amor.
— Excusez-moi? — Daria disse, e seus olhos se estreitaram.
— Oh, desculpe, — respondeu Angela. Ela deu uma mordida em sua
torrada, imitando Daria. — Vocês dois estão noivos?
— Não, — Henry disse, olhando entre as duas mulheres. — Somos,
uh, amigos íntimos.
— Namoro, — Daria sibilou. — Estamos namorando.
— Hmm... — Angela meditou, dando outra mordida em sua torrada.
— O quê? — Daria rebateu.
— Onde vocês dois se conheceram? Numa cabine no banheiro
masculino?
Eu ri. Muito. Eu não pude evitar.
Minha linda, amorosa, doce e inocente esposa Angela estava
massacrando Daria. Simplesmente destruindo-a.
Observei enquanto a boca de Daria abria e fechava, seu rosto
vermelho de fúria. Até Henry estava sem palavras, com os olhos
arregalados.
Será que Angela realmente adivinhou corretamente? Oh, isso era ouro.
— Bem, vamos começar com a reunião, que tal? — Eu pressionei.
Henry e eu conversamos sobre negócios, sobre o estado do resort e
possíveis detalhes que poderíamos acertar antes da inauguração.
O tempo todo Henry nervoso olhando para Daria, que parecia um
tomate maduro.
Angela, por sua vez, comia em silêncio seu café da manhã, sempre
sorrindo para Daria sempre que seus olhos se encontravam. Eu
praticamente podia sentir a raiva crescendo da modelo francesa.
Eu amei cada segundo disso.
Eventualmente, nossa reunião chegou ao fim e eu aproveitei o
momento por tempo suficiente.
Eu me levantei, puxando Angela comigo.
— Bem. por mais agradável que tenha sido este brunch, é melhor
irmos embora. — Eu dei a eles uma última olhada, apreciando seus
rostos atordoados. — Vocês dois se merecem.
Nós dois fugimos, e mal conseguimos sair da sala antes de Angela
explodir em um ataque de risos. Seu rosto estava vermelho brilhante,
seus lindos olhos arregalados de descrença.
— Eu realmente fiz isso? — Ela perguntou, olhando para mim.
Eu a peguei em meus braços, girando-a em círculos.
— Eu não sabia que você tinha essa boca em você, — eu ri.
— Nem eu, — ela admitiu.
— Você já pensou em começar uma carreira como atriz? Talvez um
comediante de stand-up?
— De jeito nenhum. — Ela riu, encolhendo-se. — Eu morreria de
vergonha.
— Eu seria seu maior ã, — insisti.
— Então eu teria exatamente um ã.
Eu ri. amando a maneira fácil como nossas brincadeiras
ricocheteavam uma na outra. Tive a sorte de não só ter Angela como
minha esposa, mas também como minha melhor amiga.
Continuamos pelo corredor, onde as grandes janelas do chão ao teto
nos davam uma vista espetacular das encostas abaixo.
Coloquei Angela de volta no chão e ela se encostou na janela, olhando
animadamente para as colinas.
Ela se virou para mim, seus olhos brilhando.
— Vamos ao trabalho!
Angela
— Lembre-se! — Xavier chamou do topo da colina. — Faça uma
pizza! Uma pizza!
O vento açoitou meu rosto, a queda suave de neve se transformando
em uma rajada enquanto eu acelerava colina abaixo. Os flocos de neve
bateram em meus óculos, obscurecendo minha visão.
Essas coisas deveriam ter limpadores de para-brisa instalados.
Eu deslizei pelo que supostamente era a colina dos coelhos, mas
aparentemente a colina dos coelhos nos Alpes suíços não era brincadeira.
Ele descia a montanha em uma curva preguiçosa, flanqueado em cada
lado por outras formações altíssimas.
Parecia manejável o suficiente, e conversei com Xavier em me deixar
descer a colina sozinha.
Esquiar é como andar de bicicleta, certo? Pensei, me sentindo confiante.
Você nunca esquece de verdade.
Minha confiança durou cerca de dez segundos.
Meus esquis deslizaram sobre a neve suavemente compactada com
facilidade e eu continuei indo mais rápido.
E mais rápido.
O vento estava positivamente uivando em meus ouvidos agora, a neve
chicoteando ao meu redor furiosamente até que eu mal podia ver na
minha frente.
Quão rápido eu estava indo?
Senti meu corpo inteiro ficar tenso, meus dentes batendo em meu
crânio.
Virei meus pés para que meus dedos estivessem apontando um para o
outro, tentando fazer a forma de pizza com meus esquis que Xavier disse
que ajudaria a frear.
Só que eu devo ter bagunçado isso de alguma forma, porque a
próxima coisa que eu percebi era que estava caindo no ar, sem saber qual
direção era para cima ou para baixo.
Eu fiquei sem peso pelo que pareceu uma eternidade antes de bater
com força na neve. Eu ouvi um alto e sinistro SVAP/enquanto eu
tombava e rolava.
Eu bati no tronco de uma árvore, gemendo enquanto esperava o
mundo parar de girar.
Pisquei até retomar parte da consciência, apenas para descobrir que
ainda não conseguia ver nada. A neve estava realmente caindo, ventos
fortes fazendo a árvore acima de mim balançar e gemer. Eu mal
conseguia ver dois metros à minha frente. Um vendaval atravessou a
linha das árvores e me atingiu com neve. Parecia uma chuva de vidro
quebrado.
Eu apertei meus óculos, mas não adiantou.
A visibilidade era zero.
Eu me examinei, lembrando do estalo alto que ouvi com pavor.
Felizmente, nada parecia estar quebrado. Os esquis haviam voado de
minhas botas, perdidos na tempestade que crescia ao meu redor. Tateei
ao redor e encontrei meio esqui saindo da neve ao meu lado.
Pelo menos era um esqui e não um osso.
— Xavier? — Chamei, mas o rugido do vento arrebatou minha voz.
Tentei me levantar, mas uma dor repentina queimou em meu
tornozelo e uma enorme rajada de vento me derrubou de volta.
Cutuquei meu tornozelo, estremecendo com o quão sensível estava.
Foi apenas uma torção.
Nada com risco de vida, mas no meio desta nevasca crescente...
— Xavier! — Tentei de novo, o medo congelando o sangue em minhas
veias.
Ou era a nevasca?
— Xavier!
Mas ele não respondeu.
A nevasca girou ao meu redor, me prendendo em uma gaiola
congelada.
E eu estava sozinha.

Capítulo 21
Nada poderia ser pior.
Xavier
— ANGELA!
Eu gritei na tempestade, o desespero apertando meu coração.
Eu a observei descer a colina, me preparando para persegui-la. Foi
quando a tempestade nos atingiu.
Num momento ela estava lá, no próximo só via branco.
Seu idiota, eu me repreendi.
Seu estúpido, idiota de merda.
Gritei por ela novamente, os ventos ferozes queimando minha
garganta como uísque barato decorado com vidro esmagado.
Eu não me importei.
Eu gritaria com a garganta sangrando até ela me ouvir.
Por favor, me ouça...
— ANGELA!
Nada.
Apenas o uivo raivoso do vento.
Continuei descendo a encosta, tentando manter a velocidade
controlada. Meus instintos me incentivaram a acelerar para baixo, a toda
velocidade à frente. Mas eu não conseguia ver nada nesta branquitude, e
não poderia ajudar muito Angela se eu me matasse batendo em uma
árvore a toda velocidade.
Talvez Angela ainda estivesse nas encostas em algum lugar. Se eu
passasse por ela sem saber, nunca me perdoaria.
Eu praticamente cresci em esquis, mas a tempestade deixou até a
colina dos coelhos traiçoeira. Lutei para manter o equilíbrio enquanto o
vento me golpeava de todas as direções.
E se eu que tenho experiência estou tendo dificuldades, então...
Aguente firme, Angela.
A nevasca era implacável, e o frio infiltrava-se pelas dobras do meu
pesado equipamento de esqui. Meus dedos já estavam ficando dormentes
dentro das minhas luvas.
Uma rajada de vento bateu em mim como um trem de carga. Eu bati
no chão com força, batendo na neve. Eu fiquei ofegante, o vento batia em
mim como se tivesse levado um soco no estômago. Meus pés estavam
presos em um ângulo estranho, meus esquis projetavam-se para fora da
neve.
Tirei minhas botas das amarras, marchando pelas encostas.
— ANGELA! — Eu tentei de novo.
— ANGELA, PORRA!
Senti a raiva correndo em minhas veias, quentes o suficiente para que
eu pudesse jurar que a neve ao meu redor iria derreter.
Mas isso não aconteceu.
Continuou empilhando, empilhando, empilhando, e empilhando...
Eu bati meu punho no chão, a fúria escapando em um grito.
Meus dedos enluvados se enfiaram na neve e bateram em algo
embaixo. Algo duro. Escavando embaixo, descobri uma metade quebrada
de um esqui.
Angela.
Ela tinha que estar por perto.
Eu examinei meus arredores, desejando que meu olhar perfurasse a
parede de neve ao meu redor.
Espere, querida. Estou indo.
Angela
Eu me encolhi contra o tronco da árvore quando outro uivo de vento
passou por mim. Diante da árvore curvada, borrifos de neve raspavam
contra a pouca pele exposta que eu tinha como arame farpado.
Meu tornozelo latejava e choques de dor entravam em sincronia com
meu batimento cardíaco.
A adrenalina bombeou através de mim, meus instintos me incitando
a sair na tempestade para tentar encontrar abrigo. Cerrei os dentes,
fechando os olhos e me concentrando no tornozelo torcido.
A dor ali me ajudou a concentrar. Isso focalizou meus pensamentos.
Também foi um lembrete muito óbvio de que eu não iria muito longe
mancando em uma nevasca. Pelo menos a árvore contra a qual eu estava
encolhida fornecia a menor aparência de um quebra-vento.
Então eu sentei lá.
Era melhor economizar energia e esperar por ajuda do que exaurir e
me perder minhas forças na tempestade.
Eu me enrolei em uma bola, a nevasca implacavelmente batendo com
rajadas de neve em mim. Senti o frio passar por baixo das camadas de
minhas roupas, senti ele lançar um punho de ferro em torno de meus
ossos.
Eu comecei a tremer.
Era o frio?
Medo?
Eu não conseguia sentir meus dedos. Ou meus dedos do pé.
Eu vou morrer aqui?
Eu pisquei, e uma onda repentina de calma me inundou. Fechei meus
olhos, meus cílios congelados juntos. Memórias brilharam em minha
mente espontaneamente. Meu primeiro encontro desastroso com Xavier,
até o paraíso que havíamos encontrado em Bali.
Angela.
Imaginei sua voz profunda aveludada dizendo meu nome.
— Angela!
Eu sorri. Meu nome sempre soou como música em seus lábios. Quase
parecia que ele estava bem aqui comigo...
— ANGELA!
Meus olhos se abriram e lá estava ele.
Gelado da cabeça aos pés na neve e gelo, suas mãos apertando meus
ombros, esfregando meus braços, sacudindo a vida de volta em mim.
Meu próprio cavaleiro de armadura brilhante.
— Ei, Sr. Knight, — eu murmurei, me divertindo comigo mesma pelo
jogo de palavras. Minha cabeça caiu.
Por que eu estava com tanto sono?
Xavier está aqui agora.
Até minha própria voz dentro da minha cabeça parecia distante.
Você pode relaxar durma. Xavier irá protegê-lo.
Eu sorri, balançando a cabeça para mim mesma.
Eu fechei meus olhos.
A escuridão estava tão quente. Tão confortável...
— Angela!
Xavier me sacudiu vigorosamente. Eu forcei meus olhos a abrirem.
Minhas pálpebras pareciam pesadas como chumbo.
— Olhe para mim. Angela, — Xavier pediu, gritando através da
tempestade. Sua voz vacilou. Eu nunca o tinha ouvido falar assim antes.
Ele parecia... assustado.
— Você está ferida em algum lugar? — Ele perguntou.
— Acho que torci o tornozelo.
Ele olhou para minha perna e, embora eu não pudesse ver sua
expressão facial por baixo dos óculos e o borrão da tempestade, eu
poderia dizer que ele estava preocupado.
— Tudo bem. Eu vou te ajudar a levantar, ok? Nós vamos chegar a
algum abrigo.
— Mas podemos nos perder, — eu apontei.
— Não vamos. — Sua voz estava confiante. — O layout do resort está
gravado em minha mente. Há uma cabana próxima.
Concordei. Eu senti como se estivesse me movendo embaixo da água,
minha cabeça em uma névoa estranha. Os braços fortes de Xavier
envolveram minha cintura, seus ombros largos sustentando meu braço
enquanto ele carregava a maior parte do meu peso.
— OK. Um pé na frente do outro. Você está pronta? — Eu o senti me
dar um aperto encorajador.
Eu balancei a cabeça, tomando coragem por tê-lo ao meu lado.
Poderíamos estar no meio de uma nevasca, mas me senti completamente
segura em seus braços, mais resistente do que o tronco de qualquer
árvore.
— Vamos.
Xavier
Eu chutei a porta da cabana de madeira, o vendaval da tempestade
quase arrancando a porta de suas dobradiças. A porta se abriu com
violência por uma raivosa explosão de neve invadindo o quarto.
Fechei a porta atrás de mim, lutando contra a força do vento. Esta
maldita nevasca realmente não queria nos deixar em paz.
Angela estava tremendo muito ao meu lado, e seus lábios ficaram
azuis de frio.
Embora a cabana não ficasse muito longe de onde estávamos, a
caminhada até aqui foi como estivéssemos na lama. Estávamos
congelados, gelo e neve aderindo a todas as superfícies de nossos corpos.
Mancamos em direção à lareira e coloquei Angela no tapete de pele
de animal diante dela. Estendi a mão e liguei o interruptor para ligar a
lareira a gás.
Sem lenha e fósforos aqui.
Eu me virei para Angela.
— Você está bem?
— Si-si-si... — ela gaguejou através do barulho de seus dentes por um
momento antes de desistir e assentir.
Eu andei pela cabana, arrancando cobertores e lençóis da mobília,
deixando-os amontoados ao lado de Angela. Eu rasguei meu
equipamento de esqui, me despindo até ficar completamente nu.
Fui até a Angela, começando a despi-la também. — Precisamos tirar
essas roupas congeladas de você, — eu disse.
Ela acenou com a cabeça, ajudando-me a tirar a roupa.
Normalmente, vendo seu corpo nu, eu teria enlouquecido de tesão.
Mas agora, sexo era a coisa mais distante da minha mente.
Eu só precisava colocar um pouco de calor de volta em seus ossos
congelados.
Ficamos de conchinha, nossos corpos nus à luz do fogo. Enrolei os
cobertores em torno de nós, envolvendo-a com tanto calor quanto eu
poderia.
Ficamos assim por um tempo, nossos corpos entrelaçados, o calor da
lareira enchendo lentamente a sala. O único som era o uivo furioso da
nevasca batendo nas janelas, além da nossa respiração e a batida
constante de nossos corações.
O tremor de Angela diminuiu lentamente e eu senti seu corpo
exausto ficar mole contra o meu.
— Xavier... — A voz de Angela era apenas um sussurro.
— Hum? — Empurrei meus lábios contra seu cabelo, sentindo o
cheiro dela.
— Eu sinto muito. Por antes.
Pensei em nosso tempo na banheira.
— Não há nada para se desculpar, — eu assegurei a ela.
— Não. de verdade, — ela insistiu. — E que há muita coisa
acontecendo, e...
Inclinei-me, virando suavemente seu rosto para o meu para que eu
pudesse beijá-la.
— Eu entendo. Sério. Apenas descanse um pouco agora.
Ela acenou com a cabeça e sorriu para mim, embora eu pudesse dizer
que seu coração não estava totalmente acreditando. Ela se virou e, em
poucos instantes, pude sentir sua respiração profunda e estável enquanto
caía em um sono exausto.
Suspirei, estabelecendo-me com ela segura em meus braços, antes de
finalmente cair em um sono profundo.
Sentei-me em meu escritório improvisado no meu quarto no chalé,
vasculhando a pilha de e-mails em minha caixa de entrada.
Angela estava tirando uma soneca, seu tornozelo enfaixado pela
equipe médica local.
Houve um grande susto ontem depois que o Sr. e a Sra. Knight
desapareceram na nevasca. A equipe de segurança do resort nos
encontrou rapidamente na manhã seguinte, e nós fomos levados de
motos de neve para ter certeza de que estávamos bem.
Tirando a torção do tornozelo de Angela e alguns machucados,
estávamos completamente saudáveis.
Tivemos muita sorte, considerando tudo.
Meu olhar se desviou para minha esposa adormecida. A tela do laptop
não tinha esperança de prender minha atenção. Admirei como Angela
era linda, o formato de seus lábios perfeitos, como seus cílios longos
lançavam sombras em suas bochechas.
Muita sorte.
Um flash vermelho na tela do laptop chamou minha atenção.
Um alerta automático de notícias.
O Drama Mais Recente da Saga Knight!
Eu fiz uma careta, clicando nele.
Isso era sobre a nevasca?
Meu estômago embrulhou quando vi um vídeo granulado meu no
Hatchback, furiosamente balbuciando palavras bêbado. Eu ouvi uma voz
de mulher discutindo comigo enquanto eu cuspia insultos em sua
direção.
Penny...
Outro alerta de notícias disparou.
Então outro.
E assim que Xavier Knight trata seus funcionários?
Xavier Knight—Mulherengo, Bêbado, CEO horrível?
Será que a Knight Enterprises sobreviverá a mais um escândalo?!
Senti a bile subir na minha garganta e a raiva me deixando vermelho.
Quem diabos estava por trás disso, desta vez?
Penny?
Henry?
Meu telefone tocou estridente e urgente. Eu olhei para o identificador
de chamadas.
— Que porra é essa? — Eu exigi ao telefone.
— Volte para Nova Iorque agora, — disse Penny. — Nós precisamos
conversar.

Capítulo 22
Por um fio
Dustin
— Aqui está sua camomila, — eu disse, colocando a caneca fumegante
na frente de Zoe.
— Obrigada. — Ela sorriu para mim. Zoe estava uma bagunça. Seu
cabelo estava preso em um coque frouxo, seus grandes óculos de
armação não faziam nada para esconder as bolsas sob seus olhos.
Ela pegou a maior mesa da cafeteria, a superfície cheia de pilhas sobre
pilhas de papelada que se erguiam ao acaso como um jogo de Jenga
bêbado.
— Precisa de mais alguma coisa? — Perguntei.
— Não, estou bem. Obrigada, Dustin.
Eu lancei um olhar de desaprovação sobre a mesa diante de mim.
— Parece que você precisa de ajuda.
Ela suspirou, olhando para a montanha de trabalho diante dela.
— Sim, bem, Angela provavelmente está voltando dos Alpes Suíços
agora...
— Espere um segundo, — eu disse, franzindo a testa. — Você está me
dizendo que Angela deixou você com todo esse trabalho no fim de
semana enquanto ela saiu de férias?
— Bem. não são férias, — Zoe disse. — Ela me disse que seu marido
precisava da ajuda dela para, hum, teste de instalações.
Puxei uma cadeira ao lado de Zoe enquanto processava o que ela
estava me dizendo. A fila no balcão estava crescendo lentamente, e eu
podia ver os olhares desesperados que meu novo contratado estava
lançando para mim do outro lado da sala.
Eu o poupei de um pequeno encolher de ombros, meus olhos
transmitindo uma mensagem simples.
Você pode lidar com isso.
— As instalações do novo resort nos Alpes suíços? — Perguntei.
— Sim.
— Então ela está esquiando.
Zoe suspirou novamente.
— Acho que sim.
— Garota, isso soa como férias para mim.
Ela tirou os óculos, girando os ombros e beliscando a ponta do nariz.
— Bem, ela é a chefe. Eu não tenho muita escolha, tenho?
Coloquei minha mão sobre a dela e dei um aperto encorajador.
— Você sempre tem uma escolha. Zoe.
Zoe tomou um gole de chá, encolhendo os ombros.
— A carga de trabalho é difícil, com certeza, mas Angela paga bem.
Consegui finalmente dar ao meu irmão mais novo aquele Playstation que
ele sempre quis no seu aniversário! — Ela sorriu, mas o momento se foi
rapidamente. — Pena que não posso estar lá para a festa.
— Por que não? — Perguntei.
— Bem, o aniversário dele é hoje.
Eu engasguei de horror.
— Então o que você está fazendo aqui, sua idiota? Vá à festa do seu
irmão!
Ela balançou a cabeça e me ofereceu um sorriso indiferente.
— Obrigada, Dustin, mas eu disse a Angela que poderia lidar com
tudo isso quando ela voltasse. Não se preocupe comigo, de verdade. Além
disso, o planejamento de eventos é meio que minha praia.
Eu apertei os olhos, olhando para ela de perto. Ela claramente tinha
paixão por seu trabalho. Mas ela parecia exausta.
Exausta demais...
Angela estava explorando essa pobre garota até os ossos.
— Você quer um muffin de bolo de cenoura? — Eu ofereci. — E por
conta da casa.
Ela riu. Desta vez, seu sorriso era genuíno.
— Claro, Dustin. Obrigada.
Ela voltou seu foco para a página à sua frente e eu balancei minha
cabeça, maravilhado.
Eu sabia que eu não teria tolerado algo assim.
Você contratou uma assistente incrível, Angela.
Não ferre isso.
Ben apareceu aleatoriamente em minha mente, o bom barista que
havia desistido de mim de repente alguns meses atrás. Eu olhei para o
meu novo barista, afogando-se na enxurrada de pedidos atrás do balcão.
Falando em chefes horríveis...
Eu ri, a ironia não passou despercebida por mim.
Eu me levantei, lançando-me para o resgate.
Acho que devo ajudar antes de perder outro.
Penny: A imprensa percebeu sua chegada... vai ter um circo
inteiro no aeroporto Penny: Tente manter a calma, ok?
Penny: Por favor?
Penny: Não queremos colocar mais lenha na fogueira.
Penny: Me responda, por favor Penny: Xavier!
Xavier
Joguei meu celular na bolsa, colocando-o no modo silencioso antes
que Penny finalmente decidisse me ligar.
Eu não queria ouvir a voz dela. Não até que eu realmente tivesse que
fazer.
Nosso jato particular estava prestes a pousar no aeroporto.
Fiquei olhando pela janela, ansioso em meu assento.
Se Penny nunca tivesse entrado no Hatchback, nada disso teria
acontecido. Esse lugar era meu refúgio para relaxar e extravasar. E ela
entrou, a fonte do meu estresse, completamente ignorante das regras não
ditas do lugar.
Adicione lenha ao fogo, eu cuspi na minha cabeça. Foi você que jogou
um litro de gasolina quando entrou. Você até acendeu o maldito fósforo.
Senti o couro do meu apoio de braço ranger sob minhas mãos
enquanto apertava minha raiva na cadeira.
O avião pousou e eu já podia ver o bando de repórteres enfileirados
perto do terminal.
Quem vazou o vídeo?
Penny?
Não. isso não parecia seu estilo. Ela era mais o tipo de foder para
chegar ao poder.
Nah.
Parecia ser obra de Henry.
Quando eu colocar minhas mãos naquele filho da puta...
Meu aperto no apoio de braço aumentou.
Imaginei que fosse o pescoço de Henry.
Angela
Sentei-me em frente a Xavier no jato, meu estômago um nó de
ansiedade.
Ele estava chateado.
Eu podia ouvir o couro gemendo sob seu controle daqui.
Eu queria ir confortá-lo, mas reconhecia esse tipo de comportamento
de Xavier. Fazia algum tempo que não via isso, desde antes de
renovarmos nossos votos um pelo outro, quando nosso relacionamento
ainda era limitado por papel e tinta, em vez de confiança e amor.
Quando ele me odiava.
Nada que eu pudesse dizer a ele agora o consolaria.
As vezes era melhor deixá-lo pensar sozinho.
A melhor coisa que pude fazer foi ficar por perto. Eu estaria pronta
para apoiá-lo quando ele quisesse.
Ajustei a bolsa de gelo contra meu tornozelo.
Não era nada muito sério, apenas um pouco dolorido. Eu podia andar
bem, mas qualquer atividade extenuante foi descartada por algumas
semanas.
Eu não estaria correndo por um tempo.
Mas esse era o menor dos nossos problemas. Houve outro vazamento
de um vídeo polêmico, e a mídia de Nova Iorque estava mais uma vez em
alvoroço sobre Xavier e o futuro de sua empresa.
Problemas pareciam seguir nós dois a qualquer lugar. Nós os
atraíamos. Como ímãs. Foi esse o preço que pagamos por nos amarmos?
Luta e drama constantes?
No final das contas, isso não importava.
Eu pagaria qualquer preço por estar com Xavier.
Ainda assim, seria bom se tivéssemos uma pequena pausa...
Embora eu suponha que meu querido marido cabeça quente não
estava exatamente ajudando nesse aspecto.
Nosso avião parou e vi um mar de repórteres e paparazzi na pista.
Borboletas voaram em meu estômago.
Eu odiava estar no centro das atenções.
Xavier se levantou, oferecendo a mão para me firmar.
— Não fale com ninguém lá fora. Marco está por perto com o carro.
— Sua voz era tensa e controlada, um poço de fúria agitando-se logo
abaixo da superfície. — Fique perto de mim, ok?
Eu assenti com a cabeça, apertando sua mão.
— Sempre.
As portas do jato abriram e fui imediatamente cegada por uma
tempestade de flashes de câmeras. Os gritos e berros vieram logo depois,
como um trovão após um relâmpago. O barulho era uma parede física,
vozes batendo umas nas outras até que se tornou apenas um tumulto
ininteligível.
Descemos as escadas, o destacamento de segurança de Xavier nos
ajudando a percorrer o mar de repórteres.
— Xavier! Por que você é tão abusivo com seus funcionários?
— Há rumores de que você estava envolvido com aquela mulher no
vídeo. Você está traindo sua esposa?
— Angela!
Eu vacilei.
— Ele é abusivo em casa? O que você pode dizer sobre as ações do seu
marido? — Eu inadvertidamente parei em meu caminho, atordoada com
as acusações dos repórteres. O cinegrafista avançou, encorajado pela
minha resposta, lutando contra a segurança.
— Você manca, Angela. Xavier te machucou? Ele fez isso, não foi?
— Hum, não...
Xavier gentilmente me puxou junto, olhando para o repórter.
Se olhares pudessem matar...
Mas o repórter não desistia.
Ele conseguiu passar pela segurança, seu impulso o enviando para
cima de mim. Ele pisou no meu pé machucado e eu gritei de dor.
Ele parou abruptamente, seus olhos se arregalando.
— Sinto muito, — disse ele sobre o rugido da imprensa.
— Tudo bem...
O punho de Xavier colidiu com seu rosto. Eu ouvi um barulho
doentio, sangue espirrando no ar quando o repórter foi jogado no chão.
Houve um silêncio de choque, os olhos de todos em Xavier.
Ele se inclinou e arrancou a câmera das mãos do homem atordoado,
seu nariz uma bagunça sangrenta.
— Nunca mais toque na minha esposa de novo, seu merda. — A voz
de Xavier era mortal. Um arrepio de medo percorreu minha espinha. Na
verdade, eu senti que Xavier iria matá-lo se ele me tocasse novamente.
Em vez disso, Xavier ergueu a câmera acima de sua cabeça, batendo-a
violentamente no chão, os pedaços estilhaçados ricocheteando na
multidão.
Isso quebrou o encanto.
Um rugido de perguntas dividiu o ar ao meu redor, os flashes das
câmeras me cegaram e os próximos momentos foram um borrão. A
equipe de segurança convergiu ao nosso redor, movendo-nos ainda mais
rápido através da multidão agitada. Antes que eu percebesse, eu estava na
parte detrás do beamer, Xavier ao meu lado, Marco nos afastando do
corpo a corpo.
Meu coração ainda batia forte, a adrenalina rugindo em minhas veias
por causa da multidão da imprensa. Eu ainda podia ver a expressão nos
olhos de Xavier enquanto ele olhava para o repórter sangrando.
Eu nunca tinha visto Xavier tão... cruel.
Eu não pude deixar de me perguntar o quão longe Xavier iria para me
proteger.
— Você está machucada? — Xavier perguntou, seus olhos
transbordando de preocupação.
— Não, — eu menti. Meu tornozelo latejava, mas eu não queria que
ele ficasse ainda mais irritado.
Eu realmente temia pela vida daquele repórter.
— Henry, aquele desgraçado. Ele está por trás disso, eu sei disso.
Coloquei a mão na perna de Xavier.
— Xavier, você machucou aquele homem.
— Ele te machucou primeiro. — Ele rosnou.
— Foi um acidente, — insisti. — E todas aquelas pessoas também
viram...
— Deixa comigo, Angela. Não se preocupe. O que é importante é que
você esteja segura e que estamos indo para casa.
Eu assenti, querendo acreditar nele.
Havia uma dúvida se formando na boca do meu estômago. Respirei
fundo para tentar acalmar meus nervos em pedaços já. Provavelmente foi
apenas o estresse de todos aqueles repórteres.
Mas esse sentimento de pavor não ia embora.
Parecia um presságio...
Havia uma dúvida se formando na boca do meu estômago. Respirei
fundo para tentar acalmar meus nervos em pedaços já. Provavelmente foi
apenas o estresse de todos aqueles repórteres.
Mas esse sentimento de pavor não ia embora.
Parecia um presságio...

Capítulo 23
Chá com um pouco de desastre
Angela
Fiquei na ponta dos pés para dar um beijo de despedida em Xavier
enquanto ele entrava no elevador.
— Boa sorte no trabalho hoje, — eu disse. — Mantenha-me
informada, ok?
— Te aviso, — ele prometeu.
Eu sorri quando Xavier desapareceu atrás das portas do elevador. Eu
fiquei lá por mais um momento antes de me virar para me preparar para
o resto do dia.
O Gala seria em dois dias e eu teria uma reunião com Zoe no café de
Dustin em breve.
Nova Iorque ainda estava em alvoroço por causa das últimas ações de
Xavier.
Havia um vídeo incriminador flutuando em torno dele lançando
abusos contra um colega de trabalho desconhecido, embora eu tivesse
certeza de que era Penny. O vídeo estava tão granulado e desfocado que
você mal conseguia distinguir mais alguém além de Xavier, mas pude
reconhecer a voz de Penny.
Agora havia fotos dele agredindo um repórter no aeroporto.
Ouvi dizer que ele estava processando por danos.
Claro que sim, pensei. Quem não quer um pedaço de Xavier Knight? -
Se pudéssemos ficar sozinhos, longe dos olhos curiosos do público...
Eu acho que isso vem no pacote de ser um bilionário e tudo.
Eu vasculhei meu guarda-roupa, me perguntando o que deveria
vestir.
Embora o drama girasse em torno de meu marido, eu tinha certeza de
que alguns repórteres ansiosos me sinalizariam para fazer algumas
perguntas ridiculamente pessoais.
Eu me conformei com um moletom e minha camisa Oxford grande.
Amarrei meu cabelo em um coque apertado, escondendo-o sob um boné
de beisebol. Encontrei os grandes óculos escuros que usei em Bali e os
joguei sobre os olhos para obscurecer ainda mais meu rosto.
Eu me examinei no espelho.
Deve estar bom o suficiente, decidi.
Peguei o vestido que pedi para Zoe usar no Gala, fechando o zíper em
seu estojo protetor. Era um lindo vestido vermelho, a saia se alargando
em babados e babados. Era da Miu Miu. Jovem e ousado, era tão Zoe.
Com sorte, o presente iria ajudá-la a sair de qualquer depressão em que
ela estava.
Coloquei meu tênis favorito e apertei o botão para chamar o elevador.
Uma corrida realmente ajudaria a limpar minha mente, mas meu
tornozelo não seria capaz de aguentar.
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar minhas preocupações.
A Gala já estava no horizonte.
Eu tinha que me concentrar.
Eu andei pelas ruas movimentadas da cidade de Nova Iorque,
eventualmente entrando na cafeteria de Dustin, o cheiro de café e doces
me invadindo. Zoe já estava sentada à nossa mesa, com as pastas
empilhadas à sua frente.
Dustin saiu de trás, carregando duas canecas de chá em uma bandeja.
— Bem-vinda de volta. Angela. — A voz de Dustin me fez parar. Ele
geralmente ficava muito feliz e cheio de energia sempre que eu voltava de
uma viagem. Agora ele parecia retraído, mantendo sua saudação curta e
cortada.
Era apenas minha imaginação ou ele parecia um pouco frio?
— Ei, Dustin. — Eu balancei minha cabeça. Provavelmente estava
apenas imaginando coisas. Sentei na frente de Zoe enquanto Dustin
colocava nossas bebidas na nossa frente.
— Como foram as coisas enquanto estive fora? — Eu perguntei a Zoe.
Ela apontou para as pastas na minha frente. — Tudo feito! Todos os
detalhes foram resolvidos, e muitos deles só precisam da sua aprovação
final para serem processados.
— Trabalho incrível. Zoe! — Eu sorri. Ela parecia estar animada, sua
personalidade natural emergia novamente. Foi bom vê-la de volta de
bom humor. — Oh, eu trouxe algo para você.
— Huh?
Abri o zíper da bolsa protetora para mostrar o vestido.
— Eu comprei para você para que você possa usar um vestido bonito
para o Gala. Você provavelmente não tem nada para andar no tapete
vermelho, certo? — Girei o vestido, a saia flutuando no ar. — E da Miu
Miu! O que você acha? — Eu abri a sacola com um floreio, esperando os
gritos animados começarem.
Mas eles nunca vieram.
— Oh, — ela disse. Seu sorriso se foi. Ela parecia desanimada.
Meu coração afundou.
O que eu fiz agora?
— É lindo, Angela. Obrigada. — Ela sorriu enquanto pegava o vestido,
fechando o zíper e colocando-o sobre o assento ao lado dela. Ela não
parecia nada satisfeita.
— Você não gostou? — Perguntei. — Posso pegar outro para você.
— Não, é ótimo. De qualquer forma, — ela disse com desdém,
mudando rapidamente de assunto. Ela abriu uma das pastas, virando-a
para que eu pudesse ver. — Em relação à colocação das lanternas...
Meu telefone vibrou, interrompendo-a.
Era uma mensagem de Xavier.
Os lábios de Zoe se pressionaram em uma linha fina.
— Desculpe. Zoe, — eu murmurei. — Um segundo...
Xavier: Conseguimos acertar as coisas com aquele repórter
idiota em quem eu bati.
Xavier: Ele queria $ 2 milhões, você acredita nisso?
Angela: O que você fez?
Xavier: Paguei a ele $ 2 milhões.
Angela: o que você fez?
Xavier: Paguei a ele $ 2 milhões.
Xavier: Vale a pena evitar um caso de polícia.
Angela: Caramba.
Angela: Bom trabalho, querido Xavier: O outro vídeo vai ser
mais complicado.
Xavier: Tenho uma equipe de relações públicas trabalhando
nisso.
Xavier: Eles não são tão bons quanto os de meu pai eram.
Angela: Vai ficar tudo bem?
Xavier: Sim, não se preocupe.
Xavier: Penny está chateada.
Xavier: Aquele desgraçado do Henry provavelmente está rindo
demais.
Xavier: Talvez eu deva empurrá-lo pela janela?
Angela: Xavier...
Xavier: Brincadeira. Como estão as coisas com você?
Angela: Certo...
Angela: Em uma reunião agora para o Gala.
Xavier: Ok. Boa sorte. Te vejo depois.
Eu olhei para cima para encontrar Zoe esperando pacientemente. Eu
ouvi Dustin limpar a garganta atrás do balcão, balançando a cabeça em
desaprovação para mim.
Senti meu coração pular uma batida, e a carranca de Dustin fez com
que alarmes disparassem em minha mente.
Eu me senti como uma aluna sendo pega com seu celular pelo
professor.
— Desculpe, — eu disse novamente. — Onde nós estávamos?
Zoe suspirou, começando de novo.
— Então, como eu estava dizendo, a colocação das lanternas no plano
original estava espalhada pelo Hudson Yard. não servindo realmente
muito além de iluminar os caminhos. Mas eu estava pensando...
Eu balancei a cabeça enquanto Zoe explicava as mudanças que ela fez
no plano e todos os pequenos detalhes corajosos que ela descobriu no
fim de semana.
Ela falou sobre a logística do evento, o número de convidados
esperados, a quantidade de vagas disponíveis, as bebidas e aperitivos que
seriam servidos...
Eu encontrei minha mente vagando de volta para Xavier.
Ele me garantiu que as coisas iam ficar bem na Knight Enterprises,
mas eu tive um mau pressentimento que se recusava a ir embora.
Algo parecia diferente desta vez.
Claro, a roupa suja de Xavier já havia sido levada em público antes, e
sempre havíamos conseguido, de alguma forma, deixar tudo melhor.
Mas isso foi quando Brad ainda estava vivo.
Não que eu não confiasse na capacidade do meu marido de manter a
empresa bem, mas Brad realmente foi a rocha que ancorou o Império
Knight em Nova Iorque.
Talvez tenha havido muitos escândalos.
Talvez tenha sido a gota d'água.
Esta foi a nossa primeira crise real sem Brad aqui para nos salvar...
— Angela?
Pisquei para encontrar Zoe olhando para mim com expectativa.
Ela me fez uma pergunta?
— Huh?
Um silêncio desconfortável preencheu o espaço entre nós.
— Qual foi a última coisa que ela disse? — Dustin exigiu de seu
balcão. Seus olhos se estreitaram para mim, sua voz tensa.
— Dustin... — Zoe disse.
O que estava acontecendo?
— Desculpe, minha mente estava em outro lugar, — eu disse. — Você
poderia repetir isso. Zoe?
— Inacreditável. — Dustin murmurou baixinho.
Eu me senti enrubescer de vergonha.
O que estava acontecendo comigo?
Eu vi Dustin balançando a cabeça para mim novamente. Eu o deixei
com raiva de alguma forma também?
Esperei que Zoe dissesse algo, mas ela apenas olhou para a mesa à sua
frente.
— ... mais fazer isso.
— Zoe?
— Eu não posso mais fazer isso, — ela repetiu. Ela se levantou e
juntou suas coisas com pressa, o vestido que comprei para ela
embrulhado em suas coisas.
Eu me levantei, alarmada.
— Espere, Zoe. Eu sinto muito. O que há de errado?
— 'O que há de errado'? — ela perguntou, incrédula. — Você é uma
chefe horrível, Angela. Isso é o que está errado. — Ela passou por mim e
eu estava chocada demais para fazer qualquer coisa a respeito.
Eu ouvi a porta abrir, o sininho tilintando enquanto Zoe desaparecia
nas ruas lá fora.
Sentei-me novamente, uma dormência se espalhando dentro de mim.
Eu encarei a montanha de documentos na minha frente, sem enxergá-los
de verdade.
Eu estava vagamente ciente de Dustin sentado na minha frente.
— Você mereceu isso, — disse ele com naturalidade.
— O que eu fiz? — Perguntei.
— Você realmente não sabe? — Dustin respondeu, mais surpreso do
que zangado.
Eu balancei minha cabeça, impotente.
Dustin deixou escapar um longo suspiro, balançando a cabeça em
derrota.
— Oh, garota...
— Você sabe? — Perguntei.
Dustin ficou em silêncio por um tempo, pensando em algo.
— Você sabia que a festa de aniversário do irmão mais novo de Zoe foi
no último fim de semana? — Ele perguntou.
— Eu nem sabia que ela tinha um irmão mais novo, — admiti.
— Há muitas coisas que você não sabe, Angela. — Ele suspirou
novamente em frustração. — Adivinha o que Zoe estava fazendo em vez
de ir à festa do irmão mais novo?
Ocorreu-me que as pilhas de papelada sobre a mesa eram uma dica
inevitável.
— Oh, meu Deus. — Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos.
— Mesmo que ela não tivesse uma festa de aniversário para ir,
empurrar todo esse trabalho para ela não era muito justo, Angela.
Especialmente se você estiver nos Alpes, esquiando, enquanto Zoe está
aqui trabalhando pra caramba.
Eu gemi, a culpa batendo em mim.
Dustin estava certo.
— Eu nem percebi, — eu disse. — Eu nunca tive uma assistente
antes...
— Ela não se sente valorizada. Você mal prestou atenção a todo o
trabalho árduo que ela fez. Você também ficaria irritada, não é?
Eu estava muito envolvida em meu próprio drama para perceber que
Zoe estava sofrendo. Havia tanta coisa acontecendo com Xavier, com sua
empresa...
Mas isso não era desculpa.
Eu relembrei todo o comportamento de Zoe e de repente tudo fez
sentido. Ela reagiu da mesma forma quando soube que eu não dei crédito
a ela pelo tema da Gala. Ela provavelmente se sentiu desvalorizada e
traída naquela época também.
— Dar aquele vestido a ela provavelmente também não ajudou, —
Dustin continuou. — Ela não quer se sentir como um caso de caridade.
— Sim. continue a numerar meus erros. Eu mereço.
— Você merece, — Dustin riu.
Era como oferecer para comprar uma casa para Em e Lucas
novamente.
Quem eu estava me transformando? Desde quando eu exibia dinheiro
como se fosse resolver todos os meus problemas?
Fiquei sentada em desespero por um tempo antes de Dustin falar
novamente.
— Então, o que você vai fazer agora? — Ele perguntou.
Eu examinei as pilhas de detalhes de eventos que Zoe tinha
cuidadosamente organizado para mim. Ela era uma assistente incrível e,
mais do que isso, uma pessoa genuinamente gentil.
E agora ela provavelmente me odiava.
Eu me senti em uma espiral, passando por todas as coisas que eu
poderia ter dito, todas as coisas que eu poderia ter feito...
Por que não percebi antes?
Eu sempre me orgulhei secretamente de minha empatia. Eu adorava
ser gentil com as pessoas. Adorava estender a mão àqueles em
necessidades.
Quem eu estava me tornando?
A pergunta de Dustin ecoou na minha mente.
Levantei-me, recolhendo todas as pastas com desânimo.
— Tenho um baile de gala para fazer em dois dias, — murmurei.
E acabei de perder Zoe.

Capítulo 24
Começo do Fim
Dustin
— E Angela não tinha ideia? — Jake perguntou, seus olhos brilhando.
Eu revirei meus olhos. Ele parecia adorar o drama entre Angela e Zoe.
Foi na manhã seguinte ao desentendimento. Eu tinha passado a noite na
casa de Jake, um apartamento luxuoso no coração de Midtown.
Não era tão porra-eu-tenho-dinheiro quanto o apartamento de
Xavier e Angela, mas eu classificaria bem alto nessa escala. As janelas do
chão ao teto podem escurecer ou iluminar sob comando,
proporcionando uma vista deslumbrante de Nova Iorque, atualmente ao
nascer do sol.
— Ela diz que não. — eu respondi. — Mas eu acredito nela. Essa
menina realmente tem um coração de ouro, mas às vezes ela pode não
perceber o que está acontecendo ao seu redor.
— E você é um dos amigos mais próximos dela, carne e unha, — ele
brincou. — Alguém precisa cuidar dela, eu acho.
— Quanta besteira, — eu ri, pegando um travesseiro de penas e joguei
no rosto dele.
Jake empurrou a arma fofa, imperturbável.
Ele rolou no colchão king-size, arrastando os lençóis de seda junto
com ele. Ele se apoiou nos cotovelos, apoiando o queixo nas mãos
enquanto me encarava.
— Então? O que eles farão agora? — Ele perguntou, extasiado.
Minha respiração ficou presa na minha garganta por um momento, o
sol nascente transformando seus cachos castanhos em ouro derretido,
manchas de cobre brilhando em seus olhos verdes vibrantes.
— Alôôôôôôô, — ele chamou. — Terra para Dustin?
Eu pisquei.
— O-o quê?
Jake franziu a testa, uma covinha na bochecha.
— Você ainda está meio dormindo? Eu perguntei o que Angela e Zoe
estão...
Eu o interrompi com um beijo rápido.
Eu vi seus olhos ficarem em branco por um momento, antes que ele
voltasse ao presente, seu rosto se contorcendo em uma carranca. Ele
pegou o travesseiro e me deu um tapa.
— Não, você não precisa disso! — Ele disse. — Não me distraia.
Detalhes! Eu quero detalhes! — Eu ri. maravilhando-me novamente com
o fato de ter encontrado esta pequena besta magnífica nos confins da
cidade de Nova Iorque.
— Está bem, está bem. — Sentei-me na cama, esticando o sono de
meus ossos. — Eu não tenho ideia do que eles vão fazer agora. Zoe saiu.
Angela provavelmente está com vergonha de falar com ela
novamente, então ela vai para o Baile de Gala sozinha.
Jake franziu a testa, sua carranca ficando pensativa.
— E você está bem com isso? — Ele perguntou finalmente.
Suspirei.
— Não, — eu disse. — Não, acho que não.
— Quero dizer, parece que Angela simplesmente não sabia, —
continuou Jake. — Também é meio que culpa de Zoe por não ter dito
nada, afinal.
— Você está certo, Jake.
— Como sempre, — ele respondeu presunçosamente. — Sim. Sim. —
Eu baguncei seu cabelo, para seu protesto. — Eu vou falar com Zoe,
certo?
— Angela ajudou você a começar sua carreira, não foi? — Ele cutucou.
— E o mínimo que você pode fazer.
— Eu sei, eu sei, — eu gemi. — Já estou indo. E aqui estava eu ansioso
por uma manhã preguiçosa com você.
— Você não pode ser preguiçoso perto de mim, Dustin. Agora leve sua
bunda gostosa lá fora. Você tem uma pilha de panquecas esperando por
você, se conseguir.
Levantei-me, vestindo um pouco de roupa, com a promessa de
panquecas me animando.
Jake me observou enquanto eu estava na soleira da porta do
apartamento.
— Xarope extra? — Eu confirmei.
— Sim. — Fui recompensado com um sorriso brilhante.
Fechei a porta atrás de mim, caminhando pelo corredor em direção
ao elevador.
Eu tinha um relacionamento para salvar.
Dustin: cadê você, garota?
Zoe: No Central Park, perto do Bethesda Terrace.
Zoe: Alimentando alguns pássaros!
Dustin: fica aí, quero falar com você sobre uma coisa Zoe:
Perfeito!
Eu entrei no Central Park, procurando por Zoe. Foi fácil encontrá-la.
Ela estava sentada em um banco, alimentando alguns pombos com
uma senhora idosa.
Deus, quão tipicamente angelical você pode ser? Essa garota rivaliza até
mesmo com Angela.
— Zoe! — Chamei.
Ela ergueu os olhos e sorriu para mim, despedindo-se da senhora de
aparência gentil. — Ei, Dustin, eu ia visitar seu café mais tarde, na
verdade. — Ela estendeu uma bolsa de temo.
— O que é isso? — Perguntei.
— E o vestido que Angela me deu, — disse ela. — Eu não queria pegar.
Eu meio que peguei tudo com pressa para sair de lá e... bem, eu não
preciso mais disso.
Eu balancei minha cabeça, empurrando o vestido de volta para ela.
— Dustin? — Ela disse, confusa.
— Fique com ele, — eu disse. — Nós precisamos conversar.
Xavier
Eu estava no meu limite.
Essa equipe de relações públicas era incompetente ou estava
desperdiçando meu tempo de propósito.
Ambas as infrações mereciam a rescisão imediata de seus contratos.
Eu passei a noite aqui em meu escritório na Knight Enterprises,
apagando fogo após fogo. Eu já tinha bebido sabe-se lá quantas xícaras de
café, ficando até depois da meia-noite para colocar a situação sob
controle.
E isso que papai tinha que fazer toda vez que eu fodia tudo? Eu me
perguntei.
Se fosse, eu não dei a ele o devido crédito. Ele era um campeão e eu
fodi muito mais do que o meu quinhão.
Eu havia me trancado deliberadamente dentro de casa, recusando-me
a ver Penny ou Henry. Eu não tinha certeza se conseguiria manter a
calma se visse qualquer um de seus rostos.
Eu tinha ligado para Angela na noite anterior, dizendo a ela que não
seria capaz de voltar para casa à noite.
— Oh, — disse ela, a preocupação aparente até mesmo através do
telefone. — Você quer que eu vá até você? Posso trazer uma muda de
roupa para você, pelo menos.
Eu sorri. Essa era minha linda e atenciosa esposa. Ela nem estava
chateada por ser deixada sozinha durante a noite. Sua primeira
preocupação foi meu bem-estar. Só de ouvir a voz dela me acalmou um
pouco.
— Não, está tudo bem, não se preocupe com isso. Estarei em casa
amanhã à noite.
E a longa noite passou.
O dia seguinte veio e se foi, e eu finalmente estava terminando
quando o sol começou sua lenta descida.
Eu estava exausto. Eu tinha roubado alguns momentos de descanso
ao longo do dia — cinco minutos aqui, dez minutos ali. Ter um chuveiro
privativo no prédio também funcionou maravilhosamente. Ainda assim,
eu não podia esperar para estar na minha própria cama, com Angela em
meus braços, com todo esse show de merda atrás de mim.
Eu estava fazendo as malas para sair quando a porta do meu
escritório se abriu.
E lá estava Penny.
Tão irritante como sempre.
— Xavier, precisamos conversar...
Aí vamos nós.
Sua voz tão doce se encheu de preocupação.
Parecia tão falso. Tão forçado.
Um pico de fúria passou por mim, o tom condescendente em sua voz
me deixou vermelho.
— Bethany deixou você entrar, não é? — Perguntei.
Acrescentei minha secretária à lista de pessoas que despediria pela
manhã.
— Não é culpa de Bethany, — acrescentou ela rapidamente, lendo
meus pensamentos. — Não demita ela, por favor. Eu é que forcei minha
entrada.
— Eu especificamente disse a ela para não deixar ninguém entrar, e
aqui está você. Ela não consegue nem seguir instruções simples. Vou
despedir quem eu quiser. — Eu praticamente rosnei as palavras. — Eu
sou a porra do CEO.
— Bem, você não foi exatamente o melhor exemplo de CEO... — Pude
ver que Penny estava reunindo coragem, preparando-se para uma
discussão.
Eu olhei para ela. desafiando-a a continuar.
Para minha surpresa, ela o fez.
— Eu pedi para você tentar manter a calma no aeroporto, Xavier. Eu
até avisei que todos eles estariam lá... mas você surtou. Você surtou com
todos ao seu redor, as consequências que se danassem.
— Você não sabe do que está falando, — murmurei. — Eu não sei? —
Ela desafiou. — Quantos escândalos isso vai levar, Xavier? Eu sei que você
está passando por muita coisa, e estou tentando ajudá-lo com seus
problemas, mas...
— Oh, eu sei exatamente qual é o meu problema. — Eu bati meus
punhos na mesa, o mogno gemendo em protesto.
Penny se encolheu, um lampejo de medo em seus olhos.
Mas não consegui me conter. A raiva cresceu como um vulcão, e
Penny estava prestes a conseguir um lugar na primeira fila para a
erupção.
— Meu problema são todas as pessoas estúpidas que sugam dinheiro e
fama de mim. Meu problema são todos os idiotas nesta empresa que não
sabem fazer seus malditos trabalhos!
Eu bati na mesa de novo, um estalo alto me dizendo que a madeira
tinha acabado de quebrar.
— Todo mundo na porra do mundo é cego, menos eu? Eu sou a única
pessoa nesta cidade com algum bom senso?!
Minha garganta parecia desgastada, por causa da minha raiva.
— Meu problema é o Henry.
Eu olhei para Penny, com toda a raiva, estresse e veneno saindo de
mim.
— Meu problema é você.
As coisas teriam ficado bem se Penny e Henry simplesmente tivessem
desaparecido da minha vida.
— O que eu fiz? — Penny perguntou em voz baixa. — O que eu fiz
para que você me odiasse tanto?
Eu abri minha boca para gritar com ela. mas nenhuma palavra saiu.
Na minha cabeça, eu sabia que não tinha nenhum motivo verdadeiro
para desprezar Penny. O meu lado lógico sabia que ela realmente não era
uma pessoa mal-intencionada.
E isso me irritou ainda mais. Minha raiva era irracional. Sem sentido.
Eu sabia que no fundo do meu coração, havia uma parte escura e feia
em mim que eu estava tentando suprimir. Um pensamento que eu
tentava manter enterrado.
Mas Penny continuou forçando, arrastando-o cada vez mais perto da
superfície...
— Amar Brad era crime tão grande? — Sua voz falhou e ela teve que
levar um segundo para se recompor. — Encontrar a alegria em trabalhar
na Knight Enterprises é tão imperdoável?
Penny balançou a cabeça e eu pude ver a ameaça de lágrimas em seus
olhos.
Não chore, mulher.
— Me desculpe se eu te deixei desconfortável, Xavier, ou se você
sentiu que eu estava saindo da linha. Mas, honestamente, estou
tentando...
— É sua culpa que ele se foi.
Minhas palavras saíram como um sussurro, mas elas pararam Penny
em seu caminho.
Ela cambaleou para trás como se eu a tivesse golpeado, seu rosto uma
máscara de agonia. Minhas palavras foram uma adaga, e eu a apunhalei
direto no coração dela.
As lágrimas que ela estava tentando segurar transbordaram.
— Se não fosse por você, ele ainda estaria aqui, — eu disse, minha voz
aumentando. As palavras correram para fora de mim agora — aquela
parte escura e feia da minha alma mostrando seu rosto horrível.
Penny cobriu a boca, tentando abafar o soluço em sua garganta.
— Ele ainda estaria vivo. Ficaríamos felizes. Ele teria a chance de ver
seu neto. — Minha voz tremeu — se de raiva ou desespero, eu não sabia.
Minha mente voltou para aquele telefonema final que eu tive com ele,
as acusações que eu joguei nele. As últimas palavras que falei com meu
pai foram odiosas e cruéis. Eu senti algo quebrar dentro de mim.
É
— É TODA SUA CULPA, PORRA! — Eu gritei.
As palavras soaram verdadeiras.
Mas eu estava falando com Penny ou comigo mesmo?
— E tudo culpa sua, — eu repeti, me sentindo vazio. Penny
cambaleou em direção à porta, as lágrimas escorrendo livremente pelo
rosto.
Eu cruzei uma linha, talvez uma da qual nunca pudesse voltar. Ela
parecia em estado de choque, como se não pudesse acreditar no que
estava ouvindo.
Honestamente, nem eu poderia
Ela abriu a porta do meu escritório, com o pé meio para fora quando
ela parou.
Ela olhou para mim e eu esperava que ela ficasse furiosa. Eu esperava
que ela odiasse minhas entranhas, desprezasse a pessoa horrível que eu
era.
Em vez disso, vi tristeza.
Tristeza e uma dor profunda, profunda que me cortou até o âmago.
— O conselho tem se reunido sem você. — Sua voz era um sussurro.
— Eu tenho defendido você, Xavier. Tentando convencê-los do
contrário... mas depois disso...
Ela balançou a cabeça tristemente. — Não tenho certeza se ainda
posso garantir algo para você.
Penny me olhou nos olhos e suas próximas palavras deveriam ter me
chocado. Elas deveriam ter me surpreendido, me irritado, qualquer coisa.
Mas não senti nada.
— Eles vão votar contra você como CEO.

Capítulo 25
Um pouco de descanso
Angela
Eu assisti enquanto o sol se punha no horizonte, as luzes de Nova
Iorque brilhando como estrelas no céu noturno.
Todos os detalhes do Gala foram verificados duas ou três vezes, foram
colocados todos os pingos nos is.
Zoe havia feito um trabalho incrível. Ela realmente tinha um talento
para planejar eventos, e eu só queria que ela estivesse lá comigo para ver
todo o seu trabalho árduo valer a pena.
A culpa me assaltou e tive vontade de afundar nos lençóis e
desaparecer.
E de quem é a culpa por ela não estar na Gala?
Meus olhos mudaram para meu reflexo na janela.
Trim, trim, trim.
Eu caminhei até a sala de estar, me enrolando no sofá.
Pelo menos Xavier estaria em casa logo.
Ele deve estar exausto depois de sua noite no escritório.
Embora a viagem aos Alpes tenha sido bastante agradável, sem incluir
a nevasca, é claro, não havia ajudado muito para recarregar as baterias, por
assim dizer.
No mínimo, acabou causando mais estresse do que valia a pena.
Nós dois tínhamos voltado para Nova Iorque exaustos, recém-saídos
de uma desgraça de gelo evitada e direto para o fogo que era nossa vida
profissional.
Alguns dizem que o mundo vai acabar em fogo... meditei.
Talvez estávamos tratando de tudo isso da maneira errada.
Caramba, se eu parasse pra pensar sobre isso, estávamos tentando
resolver muito dos nossos problemas com dinheiro...
Pensei em uma lista de verificação mental, eliminando itens um por
um.
1. Refúgio nos Alpes Suíços.
2. Vestido de gala de Zoe. Muito imprudente.
3. Os brincos de Zoe como uma oferta de paz. Muito errado.
4. Sentindo-se afastado de sua família? Oferece comprar uma casa para
eles!
Esse último em particular me fez estremecer de vergonha.
Houve outras vezes? Temia que provavelmente houvesse, mas me
acostumei tanto a ter riquezas que me esqueci delas e aceitei isso como a
norma. Eu pulei do sofá, com uma ideia vindo à mente. Eu senti um
sorriso se espalhar pelo meu rosto.
Eu precisava voltar às minhas raízes.
Voltar para os jeans surrados em vez de vestidos de grife, linhas de
metrô apertadas em vez de carros particulares.
Eu ainda tinha algum tempo antes de Xavier voltar.
Eu coloquei minha roupa de corrida, preparando-me para ir até o
Duane Reade mais próximo.
Era hora de acabar com o Ben & Jerry's.
Xavier
Peguei o elevador privado até o nosso apartamento de cobertura, o
peso da responsabilidade pesando sobre meus ombros.
Eles estão tentando me tirar do meu cargo de CEO. Eles estão tentando
tirar tudo de mim.
Eu fiquei no meu escritório por mais um momento depois que Penny
saiu, de queixo caído como um idiota. Sua revelação foi como um banho
de água fria, minhas chamas de raiva apagadas.
Tudo o que restou foi poeira e cinzas.
Sempre presumi que seria o chefe da Knight Enterprises, aconteça o
que acontecer. Quero dizer, era a porra do meu sobrenome estampado
em todo o edifício, pelo amor de Deus.
Agora havia uma possibilidade muito real de perdê-lo, e isso me
forçou a ver as coisas sob uma nova luz. Uma nova perspectiva.
Eu odiava essa nova perspectiva. Eu desprezava isso tudo com todas
as minhas forças.
Eu pensei sobre isso. Pensei profundamente, tentando colocar meu
enorme ego de lado por apenas dois minutos. Tentei me distanciar um
pouco do problema para ter uma visão objetiva da situação e Cheguei a
uma única conclusão.
Eu me votaria para sair do cargo de CEO também. A Knight
Enterprises sofreu um golpe após o outro por causa do meu ego, e foi
uma espécie de milagre que a empresa ainda estivesse de pé.
O nome desse milagre era Brad Knight.
Milagres não duravam para sempre, e parecia que eu precisaria de
outro agora se tivesse alguma esperança de manter meu título de CEO.
Eu desabei no banco macio do elevador com minha cabeça em
minhas mãos.
Eu disse umas merdas para Penny.
Eu não a culpei pela morte de papai. Na verdade. Acabei de pensar na
coisa mais rancorosa e dolorosa que poderia dizer no momento e as
palavras flutuaram de meus lábios com a mesma naturalidade com que
respirava.
Você realmente é um merda.
Pelo menos Angela estava esperando por mim lá em cima. Eu
realmente não a merecia. Especialmente agora que nosso sustento estava
em perigo...
Minha respiração ficou presa na minha garganta quando eu entendi
uma coisa.
Você vai ter que contar a ela.
Antes que eu pudesse bolar um plano, as portas do elevador abriram.
Entrei em nosso apartamento, meus pés se arrastando como se eu
estivesse na frente de um pelotão de fuzilamento.
Dê-me o pelotão de fuzilamento em vez desse pesadelo, pensei.
— Bem-vindo de volta!
Eu olhei para cima e lá estava ela. Meu próprio anjo pessoal, vestida
com seu pijama de seda, seu cabelo preso em um rabo de cavalo frouxo,
seus pés envoltos em chinelos de panda fofos.
Suas mãos estavam atrás das costas, escondendo algo de mim.
Ela olhou para mim e acenou com a cabeça conscientemente.
— Dia difícil? — Ela perguntou.
— Você não tem ideia, — eu ri, nem um pingo de humor no som.
— Bem, vamos consertar isso. — Ela saltou até mim, empurrando
algo no meu peito. Eu olhei para baixo para encontrar um tubo de
Sorvete de Biscoito de Caramelo Ben & Jerry e minhas sedas Armani
empacotadas juntas.
Ela ergueu seu próprio pote de sorvete de baunilha e sorriu para mim.
— O que é isso? — Perguntei.
— Troque de roupa, — ela exigiu enquanto pegava minha mão e me
levava até a nossa sala de estar. A visão me parou no meio do caminho.
Nossa elegante e sofisticada sala de estar foi transformada em algum
tipo de abominação de castelo de travesseiros. Cobertores feitos de
barracas improvisadas, luzes de Natal baratas penduradas ao longo de
tudo como arame farpado. Ela apresentou essa loucura para mim como o
Dr. Frankenstein exibindo seu monstro.
— Está vivo... — eu murmurei baixinho.
Angela sorriu, seus olhos brilhando maliciosamente.
— Estamos dando uma festa do pijama, — ela exigiu.
— E não aceito não como resposta.
Angela
Eu gritei de alegria ao ver Xavier comendo sorvete dentro do castelo
de travesseiros comigo, suas pernas cruzadas sob o brilho das luzes de
Natal. Eu tinha visto a relutância em seus olhos que beirava o horror,
mas ele finalmente cedeu às minhas demandas.
— Não se acostume com isso, — disse ele com a boca cheia de
biscoito de caramelo. — Sempre achei que os castelos de travesseiros
eram infantis, mesmo quando eu era criança.
Eu mostrei minha língua para ele.
— Tanto faz, sua alteza. É assim que nós, plebeus, nos divertimos.
Xavier bufou, e quase engasguei com minha colher de baunilha.
— Então você não falou com Zoe desde então? — Ele perguntou.
— Não. — eu suspirei, murchando. — Peguei e larguei o telefone um
milhão de vezes para tentar ligar para ela, mas sinto que incomodá-la
mais seria considerado assédio neste momento.
— Se isso a incomodava tanto, ela deveria ter dito algo, — disse
Xavier. Ele despejou os últimos pedaços de sorvete antes de jogar o balde
vazio em uma lata de lixo do outro lado da sala.
Bati palmas educadamente e ele me recompensou com um sorriso
malicioso.
— Além disso, — ele continuou. — Você vai arrasar na Gala, mesmo
sem ela.
— Talvez... mas foi minha culpa por não considerar como ela se
sentia. — Entreguei a ele meu pote vazio de sorvete e ele repetiu a ação,
jogando-o na lata de lixo. — Você joga basquete? — Eu perguntei,
impressionado.
— Não. Sou naturalmente atlético. — Ele piscou e eu revirei os olhos,
embora não conseguisse evitar que um sorriso aparecesse em meus
lábios.
— Que tal Penny? — Eu perguntei, minha voz baixa. Ele me contou
sobre sua explosão em seu escritório, e meu coração doeu por ambos.
Claramente, eles estavam sofrendo.
Matava-me não saber como fazer tudo melhor — como eu poderia
ajudar.
O humor de Xavier azedou. Eu rastejei até ele, me enrolando em seu
colo. Eu o senti suspirar quando seus braços me envolveram, sua
respiração fazendo cócegas no topo da minha cabeça.
— Eu não sei, — ele disse finalmente. — Acho que devo a ela um
pedido de desculpas, mas...
— Mas?
— Haverá uma reunião importante no trabalho em breve. — O tom
de sua voz mudou, e de repente eu tive borboletas nervosas passando
pelo meu estômago.
— Uma reunião para quê? — Perguntei.
Xavier não respondeu. Eu me virei em seu colo para olhar para ele.
— Xavier? — Tentei sentir o que ele estava pensando, mas não
consegui entender nada de seu rosto na luz fraca.
— Apenas sobre o futuro da empresa, — ele disse finalmente.
— Oh, entendo, — eu disse, embora eu realmente não soubesse. —
Vai ficar tudo bem?
— Sim, — ele disse, e sua voz estava cheia de uma determinação tão
feroz que meu coração começou a bater forte no meu peito. Por que ele
estava tão tenso? — Tudo vai ficar bem.
O clima em nosso pequeno castelo de travesseiros de repente se
tornou muito sufocante.
Oh, não, nada disso.
Eu me contorci em seu colo, pegando um travesseiro. Eu me virei,
jogando-o direto em seu rosto. Ele bateu nele, e apenas olhou para mim
em estado de choque.
— A-ha! Direto na cara, — eu gritei.
Ele agarrou o travesseiro, sua voz chegando a ser um rosnado. — Você
vai se arrepender disso, — ele avisou.
Eu sorri, vendo a tensão sumir de seus ombros. Eu me senti mais leve
do que há dias.
— Não me subestime, Sr. Knight, — respondi, confiante em minhas
habilidades de guerra de travesseiro.
E então a guerra começou.
Xavier
Deitamos juntos, respirando pesadamente, o castelo de travesseiros
em ruínas ao nosso redor. Angela estava deitada em cima do meu peito,
seu cabelo uma bagunça, o suor escorrendo pelo pescoço, seu pijama de
seda escorregando de seus ombros.
Sua respiração fez cócegas em meu pescoço e eu me senti mexer e
endurecer debaixo dela.
Ela definitivamente percebeu, esfregando-se em mim, a única coisa
entre nós eram lençóis finos de seda. Angela gemeu, o som enviando
desejo correndo em minhas veias.
Mas havia algo que eu precisava ter certeza primeiro.
— Angela, — comecei.
— Xavier, — ela gemeu de volta. Eu cerrei meus dentes, desejando
controle sobre mim mesma.
— Sobre nossos planos para o futuro, — continuei.
— Sobre ter uma família...
Ela colocou um dedo nos meus lábios, olhando para mim, a cortina
de seu cabelo nos separando do resto do mundo.
— Podemos esperar para ter essa conversa até depois que nossos
problemas de trabalho tenham ficado para trás? — Ela perguntou. — Não
é que eu não queira começar uma família com você, Xavier. E apenas...
— Tudo bem. — Lembrei-me de minha conversa com Ken. — Vou
esperar o tempo que você precisar.
Seja paciente com ela. Ela vale a pena.
Ela sorriu para mim, radiante.
— Obrigada, — ela sussurrou, se abaixando para me beijar. Seus
lábios se arrastaram até minha orelha. — Embora isso não signifique que
não possamos nos divertir...
Ela começou a arrastar os lábios pelo meu pescoço, desabotoando
minha camisa enquanto beijava meu peito...
Eu gemi, apreciando a sensação de seus lábios na minha pele antes
que o pensamento do encontro iminente lampejasse em minha mente.
Não pude contar a Angela.
Mas eu com certeza não iria deixá-los tirar a empresa de mim. Eu
protegeria minha posição. Eu protegeria a segurança de nosso futuro
juntos.
Custe o que custar.

Capítulo 26
Perdido no escuro
Angela
Fiquei olhando pela janela do carro. As ruas passaram aceleradas do
lado de fora e meu coração disparou.
Esta noite definiria minha carreira como produtora de eventos.
A Gala.
Respirei fundo algumas vezes, tentando me assegurar de que havia
feito tudo que podia, que não importava se eu estivesse estressada ou
não, o evento ocorreria do mesmo jeito.
Qual era o sentido de se estressar, certo?
Se ao menos meu coração ouvisse meu cérebro.
A náusea fez minha cabeça girar. Algo se agitava no meu estômago,
mas de jeito nenhum eu iria me permitir vomitar.
Que desastre isso seria.
Me senti uma impostora com o vestido sob medida que desenhei para
o evento.
Caos e Ordem.
Impulso ou lógica.
Dionísio ou Apoio.
Todos os convidados escolheriam um lado para representar, suas
roupas e suas ações representariam sua divindade escolhida.
O evento em si seria dividido igualmente ao meio entre as duas
facções, embora os convidados estivessem livres para se mover e se
misturar livremente como quisessem.
Achei que era adequado, como produtora do evento, que meu vestido
refletisse os dois lados da moeda.
Eu usava um vestido assimétrico, cada lado representando um deus
diferente.
O lado de Apoio era um tecido de cor creme silencioso, mas ousado,
com renda dourada acentuada por toda parte, o tecido abraçando minha
pele antes de terminar na minha coxa. Ele falava de elegância, poder e, o
mais importante, ordem.
Essa ordem desapareceu e floresceu no vibrante e cintilante Dionísio,
cremes e dourados se transformando em roxos e castanhos brilhantes.
Redemoinhos de cor fluíam caoticamente pela minha cintura, alargandose em uma meia
saia com babados que desciam até meu tornozelo, o
tecido cintilante que lembrava uma chama.
Espontaneidade. Movimento. Caos.
Eu usava meu cabelo solto em ondas soltas, saltos Louboutin pretos
adornando meus pés.
Um brinco de diamante foi perfurado na orelha de Apoio, um brinco
de videira pendurado na orelha de Dionísio.
— Você parece um ser de outro mundo. — Xavier apertou minha mão
no carro.
— Angela, vá-pra-casa, — eu murmurei sombriamente. Eu parecia
uma aberração. Um alienígena.
— Isso foi uma referência ET?
— Sim.
— Isso era para ser um elogio, Angela. Você está deslumbrante além
das palavras. A arte ganhou vida.
— Oh, certo. Picasso. Eu posso ver isso totalmente.
Xavier riu, e eu descobri que isso realmente ajudou a acalmar um
pouco meus nervos. Ele se inclinou e me deu um beijo rápido na
bochecha. — Você vai se sair bem. Angela. Acredite em si mesma. — Ele
sorriu encorajadoramente para mim antes que uma sombra caísse sobre
seu rosto. — Eu gostaria de estar lá para apoiá-lo, mas...
— Está tudo bem, — eu disse. — Sua reunião é muito importante,
certo? Você já veio para casa só para me ver partir para a Gala. Isso é mais
do que suficiente.
Xavier esteve fora o dia todo, preparando-se para qualquer grande
reunião que aconteceria amanhã.
Eu entendi porque ele não poderia vir. Eu sabia que, sem dúvida, se
meu marido pudesse se afastar do trabalho e vir para a Gala, ele o teria
feito.
Ainda assim, estaria mentindo se dissesse que não gostaria que ele
viesse de qualquer maneira.
Marco parou ao lado do Hudson Yards. Tudo que eu precisava fazer
era abrir a porta e sair. Eu respirei fundo, fechando meus olhos.
Senti os lábios de Xavier pressionarem suavemente nos meus, seu
toque persistente e doce. Senti meu pulso lento, meu coração batendo
em sincronia com o dele. Quando abri meus olhos, me perdi em seu
olhar.
— Vai ser incrível, — ele me assegurou com uma voz suave. — Agora
saia daí. amor.
Ele estendeu a mão e empurrou a porta, e minha respiração ficou
presa na garganta.
A Gala foi deslumbrante.
O tapete vermelho se estendia diante de mim, uma linha de um
vermelho brilhante que dividia o Hudson Yards no meio. O Vessel ficava
no final do tapete, cada metade perfeitamente alinhada entre os
acampamentos de Apoio e Dionísio.
E meu Deus, as estruturas.
O espaço parecia surreal, quase onírico, lá fora, no céu noturno. Era
como se o espaço tivesse sido arrancado de um livro de histórias e jogado
bem no meio da cidade de Nova Iorque.
Apoio estava à direita; lanternas altas com intervalos perfeitos
formavam uma grade no espaço. Fontes elegantes de esculturas de gelo
expeliam águas cristalinas, peças de arte e instalações decoravam o
espaço, e uma pequena orquestra foi montada exatamente no centro de
tudo, sua música flutuando na brisa noturna.
Dionísio era um borrão de movimento.
Malabaristas com fogo percorriam a área, acrobatas pendurados em
sedas coloridas, seus corpos se retorcendo e contorcendo ao som de uma
percussão frenética martelada por músicos vestidos de maneira
extravagante.
Apoio era como um museu elegante, Dionísio era um carnaval, os
dois colidindo um com o outro tendo The Vessel como peça central.
O ambicioso plano no papel ganhou vida.
Os convidados estavam vestidos quase tão extravagantemente quanto
eu, todo o terreno uma passarela de moda.
Era o sonho de um designer.
Se ao menos Zoe estivesse aqui comigo...
Virei-me para compartilhar minha emoção com Xavier, mas Marco já
havia ido embora.
Mais convidados passaram por mim no tapete, e de repente me senti
desesperadamente sozinha, apesar de estar no meio de uma multidão.
Minhas emoções despencaram imediatamente. Eu fui de uma vertigem
irracional para desnecessariamente ansiosa.
O que diabos está acontecendo comigo?
Respirei fundo, caminhando pelo tapete vermelho, tentando me
concentrar no meu trabalho. Fiz um olhar crítico sobre tudo,
certificando-me de que cada detalhe estava definido e em seu lugar.
Várias pessoas me cumprimentaram ao longo do tapete, comentando
sobre minha roupa ultrajante. Eu sorri, bancando a organizadora cordial,
tentando ao máximo não me atrapalhar com minhas palavras ou
tropeçar em meus pés.
Mesmo assim, desejei poder compartilhar esse momento com
alguém.
Convidei todos, mas todos estavam ocupados com uma coisa ou
outra.
Em e Lucas tinham um bebê para cuidar.
Danny estava ocupado administrando o restaurante.
E, honestamente, essa não era a cena do papai. Eu me sentiria muito
mal submetendo-o a esse povo artístico. Ele provavelmente ficaria
entediado e voltaria para casa de qualquer maneira.
Eu examinei a multidão ao meu redor, desejando um rosto familiar.
— Ah. olha quem é. A mulher do momento. — Eu congelei. Eu
reconheceria aquele sotaque francês esganiçado em qualquer lugar.
Qualquer um, menos este rosto familiar, implorei silenciosamente.
Eu me virei e, com certeza, lá estava Daria. Ela estava deslumbrante
em seu vestido, o brilho selvagem de penas e correntes sugerindo que ela
pertencia ao lado de Dionísio.
— Oi, Daria. — Eu forcei um sorriso.
— Qual é o problema? — Ela perguntou, sua voz pingando com
preocupação fingida. — Você parece um pouco pálida. A pressão está
afetando você?
— Nem um pouco, — eu menti. — As coisas estão indo bem.
— Hmm, — ela murmurou, não convencida. — Eu gosto da sua
roupa. Se você fosse ousada e hedionda, eu diria que você realmente
acertou em cheio.
Daria apenas me encarou, como se esperasse pelo segundo que eu
cederia.
Foi quando vi Dustin, parecendo absolutamente ridículo em um temo
pastel.
— Bem, se você me dá licença... — Murmurei enquanto me afastava,
Daria me encarando o tempo todo.
— Dustin! — Eu gritei.
— Oh, Angela! — Ele se aproximou de mim e me deu um grande
abraço, tomando cuidado para não bagunçar meu vestido. — Você e Zoe
fizeram um trabalho maravilhoso. Quero dizer, olhe para este lugar!
Dançarinos com fogo? Uma orquestra inteira? — Ele beijou seus dedos.
Eu sorri, radiante com seu elogio.
— Onde está Jake? — Eu perguntei a ele.
— Oh, ele está em algum lugar de Apoio, sendo um quadrado. Eu
disse a ele que Dionísio é a melhor parte. Quero dizer, o deus do vinho e
das festas, certo? — Ele me cutucou, inclinando-se mais perto, uma
sobrancelha levantada. — E fertilidade.
Eu corei.
— Abrace o seu Dionísio interior, garota.
Eu ri, minha ansiedade desaparecendo.
— Talvez depois do trabalho, — eu disse com um sorriso.
Dustin parecia que ia dizer algo mais, mas seus olhos se arregalaram,
olhando para alguém por cima do meu ombro.
— Angela.
Eu girei, levando um susto ao ver Hannah Flintour parada atrás de
mim com seu olhar tão intimidante como sempre. Ela optou por não
usar um vestido, mas um smoking prata sob medida, com a cauda
alargando-se atrás dela.
Seu cabelo estava penteado para trás para acentuar ainda mais suas
maçãs do rosto proeminentes.
Oh, olá de novo, ansiedade.
— Hannah, — eu gritei. — Você está, uh, se divertindo?
Idiota, Eu me repreendi.
Ela ergueu uma sobrancelha, o que poderia muito bem ser uma
gargalhada estridente para alguém como ela.
— Relaxe, Angela. Você fez um bom trabalho aqui. Todo mundo
parece estar se divertindo. — Ela olhou em volta, balançando a cabeça
lentamente para si mesma. — Um trabalho muito bom.
— Obrigada, Hannah.
Ela estendeu a mão e eu a encarei estupidamente por um segundo
muito tempo antes de perceber que deveria apertar.
— Estou ansiosa para trabalhar com você novamente no futuro, —
disse ela.
Oh. Meu. Deus.
Eu me senti como se estivesse nas nuvens.
— Muito obrigada! — Eu soltei. — Eu não vou deixar você...
As luzes apagaram-se.
Todas elas.
Eu congelei, caindo das nuvens direto para a terra fria e rochosa.
Olhei em volta, e os convidados estavam confusos. Os músicos pararam
de tocar, os performers pararam seus atos, cautelosos para continuar na
luz fraca.
Hannah Flintour olhou em volta, confusão evidente em seu rosto.
— Isso faz parte do programa? — Ela perguntou.
Não. Entrei em pânico. Não, não faz.
— Podemos ter algumas dificuldades técnicas, — eu disse, tentando
ao máximo soar calma e composta, quando na verdade eu estava tudo
menos isso. Meus olhos estavam fixos na grande barraca elétrica nos
arredores do terreno do Gala. — Eu vou dar uma olhada nisso. Se você
me der licença...
Comecei a me encaminhar para a tenda quando um flash vermelho
chamou minha atenção.
Uma garota com um vestido vermelho familiar estava correndo para
longe da Gala, entrando na noite. Eu apertei os olhos, tentando dar uma
olhada melhor.
Zoe?
Fui segui-la quando percebi. Um poço de pavor se abriu em meu
estômago, a traição deslizando como uma faca entre minhas costelas.
Ela fez isso?
Por que mais ela estaria aqui? E por que ela estaria fugindo?
Lágrimas surgiram em meus olhos, mas eu mandei para longe, me
recusando a deixá-las cair.
Continuei caminhando em direção à área de elétrica, cambaleando no
escuro.
Eu precisava consertar esse problema.
A noite inteira dependia disso.
A multidão começou a murmurar, suas vozes aumentando de
desagrado. A equipe de gala circulava e os participantes da festa
tropeçavam uns nos outros na escuridão.
A Gala estava se transformando no caos.
Parecia que Dionísio faria o que queria.

Capítulo 27
É mais escuro antes do amanhecer Angela
Atravessei a multidão de participantes confusos, estremecendo a cada
murmúrio de decepção e aborrecimento.
— Que tipo de evento é esse? — Um homem de aparência altiva em
uma máscara de baile choramingou. — Se eu quisesse andar no escuro,
iria para uma daquelas boates que meu filho sempre...
— Quer parar de pisar no meu pé? — Uma mulher que parecia estar
usando uma roupa de bailarina sibilou.
Sua companheira, outra mulher vestindo um maiô rodeado por um
tutu, olhou para ela. — Não fui eu, Elaine. Culpe o homem pintado ao
seu lado.
O homem pintado, por sua vez, simplesmente encolheu os ombros.
Senti uma gota de suor rolar pela minha testa, meus olhos fixos na
distante barraca elétrica como um navio perdido caminhando em direção
a um farol.
Exceto que o farol estava escuro, e eu provavelmente me jogaria
contra a face do penhasco.
Uma mulher esbarrou em mim, fazendo-me tropeçar.
— Olha pra onde você está indo, — disse uma voz terrivelmente
familiar com sotaque francês.
Oh, por favor, agora não.
Daria se virou para me fixar com seu brilho, seus olhos brilhando
quando ela percebeu que era eu. — Oh, Angela, ma chérie, — ela soltou.
Ela olhou para mim e sorriu, inclinando-se para mais perto. Ela podia
sentir meu pânico.
Ela era um tubarão e havia sangue na água.
— Escolha interessante, ter toda a energia desligada. Por favor, digame, qual foi a sua
inspiração por trás disso?
— Existem apenas algumas dificuldades técnicas, Daria. Na verdade,
estou tentando descobrir isso... — Tentei contorná-la, mas ela bloqueou
meu caminho.
Ela enlaçou seus braços em volta dos meus, sorrindo brilhantemente
para mim.
— Oh, não seja tão modesta! Você não tem que fingir, — ela jorrou.
Sua voz aumentou, chamando a atenção de todos ao nosso redor. — Você
é a produtora do evento! A pessoa responsável por um evento tão
maravilhoso.
Todo mundo estava olhando e eu senti os pelos da minha nuca se
arrepiarem.
— Por favor, — ela continuou, fazendo beicinho. — O suspense é
insuportável. Você não vai nos dizer o que está acontecendo?
Um murmúrio de concordância retumbou como uma onda na
multidão ao meu redor.
— Hum, — eu gaguejei. — Não é realmente...
— O que foi isso, ma chérie? — Ela interrompeu.
— Por favor, fale um pouco mais alto. Tenho certeza de que todos
estão ansiosos para ouvir o que você tem a dizer.
Minha cabeça girou, a Gala ao meu redor parecia balançar para frente
e para trás em um ângulo alarmante. A salada que comi no almoço
parecia determinada em sua liberdade. Eu podia sentir sua tentativa de
fuga subindo pela minha garganta.
Se eu fosse vomitar, poderia muito bem vomitar em Daria.
Isso iria mostrar a ela.
Aproximei-me dela, preparando-me para uma guerra bioquímica,
quando uma voz cortou a multidão.
— Com licença, senhoras e senhores. — Eu reconheceria aquela voz
forte e confiante em qualquer lugar.
Hannah Flintour.
Eu engoli a bile subindo na minha garganta.
Eca.
Ela cortou a multidão, rapidamente percebendo minha expressão de
pânico e a intenção malévola do braço de Daria entrelaçado com o meu.
Daria engoliu em seco, me soltando e dando um pequeno passo para
longe.
— Eu sei que vocês estão todos ansiosos, — Hannah se dirigiu àqueles
que se reuniram ao nosso redor, guardando um olhar particularmente
gelado para Daria. Observei Daria encolher em seu vestido. — Mas, por
favor, tenha um pouco de paciência.
— É claro que tudo isso faz parte do programa, — outra voz falou na
multidão. Ela se espremeu para chegar à frente, uma mulher mais velha
de aparência amável, resplandecente em seu vestido melindroso
inspirado nos loucos anos 20. — Dionísio é caótico, certo?
Eu engasguei, lágrimas de alívio brotando dos meus olhos.
Marlena Marlboro!
Murmúrios soaram por toda a multidão, muitos deles duvidosos.
Marlena piscou para mim.
Eu sorri, desejando poder abraçá-la sem fazer uma grande cena.
Hannah se aproximou de mim, me levando gentilmente em direção à
área de elétrica.
— Obrigada, — eu sussurrei.
— Conserte isso, — ela sussurrou de volta, seu tom abaixo de zero me
levando de volta para a nevasca suíça.
Eu assenti com a cabeça, abrindo caminho através da parede de
participantes.
Eu me arrastei em direção à tenda, passando por inúmeras cenas de
participantes insatisfeitos perambulando, confusos sobre o que fazer ali.
Pelo menos a orquestra começou a tocar novamente.
Pequenas misericórdias.
Eu finalmente Cheguei à enorme barraca, ouvindo o zumbido usual
dos geradores elétricos completamente silenciosos. Entrei e encontrei
alguns técnicos amontoados perto de um dos geradores, expressões
confusas em seus rostos.
— O que aconteceu? — Perguntei.
Steve, o eletricista chefe, se virou para mim.
— Desculpe, senhora, — disse ele, Virando-se para mim. — Os
geradores quebraram. Deve haver algum tipo de fiação defeituosa nessas
coisas.
— Você pode consertar isso?
Ele balançou sua cabeça. ' — Receio que não. Essas coisas precisam
ser devolvidas à fábrica para alguma manutenção pesada. Tivemos sorte
de não ter pegado fogo.
Eu engoli em seco.
— Que tal os backups? — Perguntei.
— Quebrados também. — Steve balançou a cabeça. — Nunca em
todos os meus anos todos os geradores explodiram de uma vez. — Sua
equipe ao redor dele assentiu, parecendo tão confusa quanto ele. —
Fizemos uma chamada para trazer geradores de backup, mas vai demorar
um pouco para eles chegarem.
— Quanto tempo?
— Três horas, pelo menos.
— Três horas?! — Eu praticamente gritei.
Ele acenou com a cabeça, parecendo apologético. — Eles têm que
carregá-los e despachá-los até aqui. No momento em que tirarmos esses
antigos do caminho e os novos forem todos conectados...
Meus ombros caíram, o desespero mostrando sua face.
— Desculpe, senhora, — disse Steve novamente.
Eu balancei minha cabeça. — Não é sua culpa, Steve. Mantenha-me
informado sobre o status dos backups, ok?
— Pode deixar.
Saí da tenda, respirando fundo.
Três horas.
Olhei para a escuridão do Gala e não pude deixar de ver isso como um
reflexo de como me sentia no momento.
Miserável.
Absolutamente miserável.
Fui até a rua lateral ao lado da barraca, sentando-me no meio-fio. Eu
estiquei minhas pernas, olhando para os ridículos saltos altos em meus
pés.
O que eu vou fazer agora?
— Você vai estragar seu vestido, sentada aí assim.
Eu olhei para cima.
— Zoe?
— Ei, Angela.
Eu me levantei, sorrindo quando a vi com o vestido que comprei para
ela. Zoe não poderia estar por trás disso. Não havia como ela sabotar
todos os geradores de uma vez. Eu não conseguia acreditar que o
pensamento tinha passado pela minha cabeça.
— O vestido fica bem em você, — eu disse.
— Obrigada.
O silêncio se estendeu entre nós, deixando o ar pesado.
Eu fui tão horrível com Zoe. Até suspeitei que ela havia sabotado o
evento que trabalhamos tanto para realizar. A vergonha me tomou e eu
disse as palavras que estavam ecoando em minha mente. — Me desculpa,
Zoe, — eu deixei escapar. As palavras vieram com pressa. — Eu não
deveria ter tratado você do jeito que eu fiz. Eu estava tão envolvida em
meu próprio drama que não percebi o quão terrível eu fui com você.
— Tudo bem.
— Eu sei. eu sei, eu sou horrível. Você pode me chamar de qualquer
coisa... — eu pausei. — Espere, o quê?
— Está tudo bem, — Zoe repetiu, rindo. — Dustin falou comigo sobre
isso. Provavelmente não ajudou o fato de eu ter ficado quieta sobre isso
também, então é minha culpa também.
A esperança chamejou dentro de mim, uma pequena chama que a
mais leve brisa poderia soprar.
— Então, você me perdoa? — Perguntei.
— Eu não estaria aqui se não o fizesse. — Ela sorriu. Eu dei um passo
à frente e a abracei, lágrimas de alívio brotando em meus olhos. Ela riu
de novo, me abraçando de volta.
— Oh, estou tão feliz que você está aqui, — eu soltei. — Tudo o que
planejamos saiu ótimo! — Então, meu rosto caiu. — Bem, pelo menos até
que a energia acabar.
— Sim, eu percebi. — Zoe olhou para a Gala à distância. — Mas não
se preocupe com isso. Já tomei conta de tudo.
Minhas sobrancelhas subiram até a linha do cabelo. — Você já cuidou
disso? Como? Steve me disse que a energia não estaria funcionando por
mais três horas.
— Eu usei nosso fundo de emergência, dã.
— Fundo de emergência?
— Eu expliquei isso para você no café de Dustin, — Zoe me lembrou
pacientemente. — Embora claramente você não estivesse prestando
atenção.
— Ops. — Eu corei. — Desculpa.
— Mm-hrn, já perdoada.
Suspirei de alívio. — Mas o que você fez?
— Oh, deve chegar a qualquer segundo agora... ah! — Ela gesticulou
para que eu me virasse. — Deleite seus olhos e cante meus feitos.
Eu me virei.
Caminhões começaram a chegar ao local. Alguns do lado de Apoio,
outros do lado de Dionísio. A multidão começou a se reunir ao redor
deles, e estiquei o pescoço tentando ter uma visão melhor. Então, um
milagre aconteceu.
Luz.
As pessoas nos caminhões de Dionísio distribuíram velas minúsculas
para a multidão. A luz se espalhou lentamente por toda a Gala enquanto
mais velas eram distribuídas, pequenas orbes de luz afastando a
escuridão.
Mas o lado de Apoio permaneceu escuro.
Pisquei furiosamente, esfregando meus olhos para essa nova
realidade. Eu estava vendo isso direito?
— Zoe! Você é incrível!
Ela ergueu um dedo. — Espere por isso...
Eu apertei meus olhos, olhando mais de perto. Os caminhões do lado
de Apoio também distribuíam algo. Mas o que...
Os dois lados começaram a convergir no meio, e de repente eu vi.
Os patronos de Apoio receberam lanternas de papel!
Os dois lados se juntaram, enquanto as pessoas de Dionísio
começaram a colocar suas velas dentro das lanternas de papel de Apoio.
A Gala parecia mágica.
Uma cama quente à luz de velas envolvia a Gala em um brilho laranja
quente, cintilando como estrelas na noite.
— Pessoas que representam Dionísio receberam uma vela, — Zoe
explicou. — Fogo. Crueza, selvageria e caos.
Eu conectei os pontos.
— E Apoio recebeu as lanternas de papel!
Zoe assentiu, sorrindo de orelha a orelha.
— O caos ganhou forma. E assim... — Ela abriu os braços em um
floreio dramático. — A beleza nasce.
Eu a abracei novamente, gritando.
— Oh, Zoe! Você é um gênio! Uma visionária!
— Mmm. sim, — ela ronronou. — Continue assim.
— Como você conseguiu tudo aqui tão rápido?
— Bem, usar o nome Knight certamente abre portas. — Ela piscou.
Eu ri, recuando para olhá-la nos olhos.
— Você vai voltar a trabalhar comigo? Não como minha assistente
desta vez. Como parceira.
— De A a Z? — Zoe sorriu.
— De A a Z, — eu concordei.
Observei enquanto o último equipamento era carregado no último
caminhão, a frota de veículos se preparando para deixar o Hudson Yards.
A Gala foi um sucesso estrondoso.
Hannah Flintour até esboçou um pequeno sorriso.
Hannah Flintour.
Sorrindo.
Eu reintroduzi Zoe como minha parceira para Hannah. e nossas
perspectivas futuras com ela pareciam brilhantes.
O último caminhão desapareceu e eu fui deixada sozinha. Olhei em
volta para o Hudson Yards vazio, uma sensação de melancolia tomando
conta de mim.
Suspirei, ligando para o Marco do meu celular.
No final, a noite correu bem.
Então, por que me sinto tão vazia?

Capítulo 28
O futuro, juntos
Angela
Desabei na cama, com preguiça de secar meu cabelo depois do banho.
No instante em que minha cabeça tocou no travesseiro, uma onda de
exaustão me atingiu.
Parecia que organizar a Gala tinha esgotado muito mais de mim do
que eu pensava, mesmo com a ajuda de Zoe.
Eu me enrolei em uma bola, segurando um travesseiro contra o peito
enquanto olhava para o horizonte da cidade de Nova Iorque.
Por que me senti tão insatisfeita?
Eu repassei a noite em minha mente.
A Gala acabou sendo exatamente como eu imaginava. Foi incrível
como nosso plano no papel se manifestou no mundo real.
Claro, a falta de energia foi muito estressante. mas graças ao
raciocínio rápido de Zoe, a Gala foi um sucesso ainda maior do que antes.
Eu salvei meu relacionamento com Zoe e senti que ele poderia estar
mais forte do que nunca.
Hannah Flintour se apaixonou por nossa execução e raciocínio
rápido, e ela basicamente garantiu que seríamos as primeiras a saber
quando ela planejar outro evento.
Então, o que estava faltando?
Suspirei, sabendo exatamente o que era.
Xavier não estava lá.
Papai não estava lá.
Lucas, Em e Danny não estavam lá.
Eu me lembrei de como eu mal tinha arranjado tempo para visitá-los,
sacrificando o tempo com a família para que pudesse me concentrar na
minha carreira. Havia aquela sensação terrível de estranhamento, a
sensação de que a vida estava levando todos cada vez mais para longe de
mim.
Minha carreira também foi uma fonte de tensão entre Xavier e eu.
Meu marido maravilhoso só queria começar uma família comigo, e o
pensamento me deixou radiante de alegria. Meu estômago embrulhou
nervosamente com a ideia de carregar um bebê, mas eu sabia que era
algo que Xavier e eu queríamos.
Eu estava tão obcecada com o planejamento de eventos, tão
consumida com o próximo evento. Eu gemi e rolei, jogando meu
cobertor por cima da minha cabeça e me fechando para o resto do
mundo.
Eu adorava produzir eventos. De verdade.
O desafio foi gratificante. A sensação de realização ao ver meu
trabalho árduo dando frutos foi incrível.
Mas não significava tanto se viesse à custa de relacionamentos com
aqueles que amo.
Eu queria ser capaz de compartilhar minha paixão com eles, não
escolher um em detrimento do outro.
Eu joguei os cobertores fora, sentando-me. um fogo queimando
dentro de mim.
Meus relacionamentos sofreram por causa da Gala, mas isso não
significa que eu não poderia compensá-los.
E isso começou com Xavier.
Xavier
Eu deveria contar a Angela.
Olhei estupidamente para o chão do nosso elevador privado
enquanto era carregado para a nossa cobertura. Passei o dia no escritório
falando com os membros do conselho, tentando avaliar o humor dos
executivos antes da votação na reunião.
Não parecia bom.
Eu tinha encontrado tudo, desde olhares desinteressados até
simpatia.
Nem precisei falar com Henry. Eu sabia onde ele estava.
O pior de tudo foi que Penny se recusou a falar comigo.
Ela se recusou até mesmo a me ver.
Não posso dizer que a culpei.
Portanto, passei a maior parte do meu dia agonizando sobre o que eu
poderia dizer para influenciar o voto a meu favor.
Frustrantemente, eu geralmente não obtive nada.
Eu deveria contar a Angela.
A ideia de dizer à minha esposa que talvez não tenha um emprego
amanhã me deu vontade de engolir vidro. Isso me fez querer me jogar de
um penhasco em um poço de víboras.
A vergonha queimava dentro de mim.
Você é Xavier Knight, Eu me repreendi.
Mas mais do que isso, eu era um marido.
De que você serve se não pode sustentar sua esposa? Se não pode sustentar
sua futura família?
Não, decidi. Vou convencer o conselho, e Angela não vai ficar sabendo.
Não há motivo para preocupá-la com algo que não vai acontecer.
As portas do elevador abriram e eu entrei na sala de estar, afrouxando
minha gravata. Desta vez, não havia um castelo de travesseiros
monstruoso.
Mas quase desejei que houvesse.
— Angela? — Chamei.
— Aqui, — ela chamou de nosso quarto.
Entrei e encontrei uma agradável surpresa esperando por mim.
Angela estava parada na janela, de costas para mim enquanto olhava
para o horizonte da cidade. Ela usava nada além de uma das minhas
camisas sociais, o tecido enorme terminando na parte superior de suas
coxas.
Ela se virou para mim. Os botões estavam desabotoados, a camisa mal
cobria seus seios, a linha lisa de seu estômago terminando sobre a
calcinha de renda preta.
Eu devorei a visão, mexendo com minha necessidade.
— Ei, — ela disse com um sorriso malicioso
— Olá. minha linda. — Fui deitar na cama e Angela rastejou até mim,
montando em minha cintura.
— Como foi o baile de gala? — Eu perguntei, minha voz rouca.
— Oh, foi lindo, Xavier. Eu gostaria que você pudesse ter estado lá
para ver isso.
— Eu vi. Bem, pelo menos um pouco. Já existem fotos circulando
online. — Sentei-me, meus braços em volta de seus quadris enquanto a
beijava.
— Estou tão orgulhoso de você.
Ela sorriu para mim e eu senti meu coração palpitar no meu peito.
— Há algo que quero falar, — disse ela.
— Hum? — Enterrei meu rosto em seu pescoço, respirando seu
cheiro.
— É sobre nós. — Ela me empurrou um pouco para trás para que
pudesse me olhar direito. — Eu sei que tenho estado muito ocupada com
o trabalho ultimamente. Tanto é que tenho estado nos negligenciando.
Eu já estava balançando a cabeça antes de ela terminar, mas ela
continuou.
— Eu só queria dizer que sinto muito. Sinto muito por machucar
você. Sinto muito por colocar meu trabalho acima de nós. — Ela pegou
minhas mãos nas dela e as colocou contra o peito. Senti seu coração
batendo forte sob meus dedos.
— Juro que sempre colocarei nós dois em primeiro lugar. Você é mais
importante para mim do que qualquer carreira.
Eu me senti transbordando de felicidade, toda a ansiedade e dúvida
desaparecendo como sombras diante do sol. Essa mulher em meus
braços era a pessoa mais atenciosa e amorosa que já Conheci, e tive a
sorte de chamá-la de minha esposa.
— Apenas nós dois? — Eu perguntei, minhas palavras carregadas de
significado.
Ela não me respondeu.
Ela apenas se inclinou e pressionou seus lábios nos meus, me
empurrando para a cama.
Eu retribuí o beijo, passando minha língua pelos lábios dela,
implorando para entrar. Ela obedeceu, e nossas línguas se entrelaçaram
em um beijo profundo e apaixonado.
Minhas mãos percorreram seu corpo, mapeando cada curva como se
fosse a primeira vez. Meu toque vagou por suas costas, sobre seus
quadris, até que eu estava segurando sua bunda. Eu apertei e a senti
gemer em nosso beijo.
Ela se afastou, ofegando por ar. Ela começou a desabotoar minha
camisa, abrindo caminho lentamente para baixo, como se tivéssemos
todo o tempo do mundo. Eu queria virá-la, imobilizá-la e tomá-la
agressivamente, mas resisti ao desejo.
Suas mãos desafivelaram meu cinto e eu tirei minhas calças, minha
rigidez esticando minha boxer.
Ela se pressionou no meu pau, seus quadris girando lentamente
enquanto ela se apertava contra mim. Eu gemi, deslizando minhas mãos
por sua barriga para provocar seus seios.
— Xavier, — ela engasgou, gritando quando eu belisquei seus
mamilos.
Ela puxou minha boxer, meu pau balançando livre enquanto ela
deslizava sua calcinha para o lado. Ela se posicionou sobre mim,
provocando-me, sua luxúria escorrendo sobre meu eixo.
Com uma lentidão agonizante, ela se abaixou sobre mim,
envolvendo-me em seu calor. Eu curvei meu quadril para frente,
empurrando-me profundamente dentro dela.
Ela gritou em êxtase e minha mente girou de prazer.
Senti suas paredes deslizarem e se contraírem em torno do meu pau
pulsante enquanto lentamente construímos um ritmo, nossos corpos se
movendo em sincronia um com o outro. Eu agarrei sua bunda, apertando
com força e movendo-as para cima e para baixo na velocidade das
minhas estocadas.
— Meu Deus, — ela ofegou. Ela estava chegando perto. Seus olhos
estavam fechados em concentração enquanto ela mordia o lábio, seus
seios saltando enquanto eu batia dentro dela uma e outra vez.
Porra, ela é tão gostosa.
— Xavier, — ela gritou. — Xavier, eu vou gozar!
Senti uma pressão crescendo dentro de mim, sua boceta tão
incrivelmente apertada ao meu redor. Eu a virei, jogando-a de costas,
seus tornozelos apoiados em meus ombros. Ela ficou sem ar, seus olhos
arregalados antes que eu me enfiasse selvagemente dentro dela,
mergulhando em uma dimensão mais profunda de êxtase.
— Oh, caralho, — Angela soltou, seus olhos rolando para a parte
detrás de sua cabeça.
Quase gozei ali.
Minha esposa nunca praguejou. Ouvi-la gritar assim enquanto eu a
fodia...
Aumentei meu ritmo, meu quadril empurrando freneticamente
enquanto me sentia perto do meu clímax.
— Xavier! — Suas costas arquearam, suas pernas travando atrás do
meu pescoço enquanto eu a sentia gozar, suas paredes praticamente
ordenhando meu pau.
— Porra, — eu grunhi. — Eu também vou!
— Dentro de mim, — ela gritou, ainda no meio de seu orgasmo. —
Me enche.
Eu gritei quando gozei, meu pau latejando quando me lancei bem no
fundo, sua boceta me apertando até ficar seco.
Caímos amontoados nos braços um do outro, com os cabelos
grudando na pele molhada de suor. Ela sorriu sonhadoramente para mim
antes de aninhar seu rosto no meu peito.
— Eu te amo, — ela sussurrou.
— Te amo mais.
— Impossível, — ela riu.
Eu sorri, beijando o topo de sua cabeça.
— Estou tão animada com o futuro, — ela sussurrou. — Eu não posso
esperar para ter uma família com você, Xavier.
— Eu também, querida. — Eu apertei meu abraço em torno dela,
pensamentos sobre a reunião de amanhã invadindo minha mente. Tinha
que manter minha posição.
O fracasso não era uma opção.
— Eu também.

Capítulo 29
Ponto de ruptura
Xavier
Eu ajustei minha gravata no espelho enquanto Angela beijava meu
ombro por trás, com seus braços em volta de mim.
Seus olhos mal olhavam por cima do meu ombro, e sempre que meu
olhar encontrava o dela no espelho, seus olhos enrugavam daquela
maneira adorável que faziam quando ela sorria.
Eu ri.
— O quê? — Ela perguntou.
— Eu estava pensando em como você é fofa.
Seu rosto ficou vermelho antes de ela se esconder atrás das minhas
costas. Eu ri de novo. Eu prometi a mim mesmo que nunca daria isso
como garantido.
— A que horas você vai estar em casa? — Ela murmurou nas minhas
costas.
— Deve ser um dia curto hoje, — eu disse. Mancamos em direção ao
elevador, Angela se recusando a me soltar. — Você vai ser minha mochila
hoje?
— Estou um pouco pesada para uma mochila, — disse ela.
Abaixei-me de repente, envolvendo meus braços sob seus joelhos e
içando-a nas minhas costas.
Ela gritou, assustada quando a girei.
— Xavier! — Ela gritou, rindo.
Eu a trouxe para a sala de estar, colocando-a suavemente no sofá
antes de me virar para beijá-la.
— Nem um pouco pesado. — Eu pisquei.
Ela revirou os olhos para mim, sorrindo enquanto balançava a cabeça.
— Boa sorte, — disse ela.
Eu concordei. — Volto em breve.
Sentei-me na parte detrás do BMW beamer, meu humor piorando a
cada minuto. Quanto mais perto eu chegava do escritório, mais irritado
ficava.
Eu tinha ouvido pessoas descreverem seus entes queridos como o sol
antes, mas para mim, Angela era mais como uma nuvem.
Sabe aqueles dias realmente quentes em que o sol estava forte demais,
e você ficava chateado sempre que tinha que estar a céu aberto?
Era como lidar com o mundo exterior na maioria dos dias, raiva e
sarcasmo como substituto do protetor solar.
Mas Angela era suave. Gentil. Ela me protegia dos piores brilhos do
sol, e os dias eram mais agradáveis quando ela estava por perto.
Linda, até.
Agora minha própria nuvem pessoal se foi, pelo menos por enquanto,
e eu parecia estar dirigindo em direção ao meio de uma porra de uma
estrela.
Meu olhar desviou-se para o bolso lateral da porta do carro, um dos
diários do papai ainda estava preso nele desde que visitei Ken em Nova
Jersey.
Eu o agarrei, suspirando enquanto o abria.
Tudo bem, pai. Algum conselho de última hora?
Brad
16/11/1983, Manhattan
Tive uma revelação hoje.
Eu estava sentado na banheira de hidromassagem mais cedo, depois de
um longo e frustrante dia na empresa, quando percebi.
Administrar uma empresa era como namorar uma mulher.
Genial, certo?
No começo, tudo é emocionante. Tudo é novo e fresco, as possibilidades
parecem infinitas. O céu é o limite e tal.
Você está conhecendo os trâmites, está descobrindo coisas novas e tudo
está aumentando.
Então, depois de um tempo, as coisas começam a se acalmar. Suas
emoções se nivelam quando você começa a construir uma rotina. A intensa
excitação se vai. Os selvagens noturnos não são mais tão atraentes.
Você tira seus óculos rosa e percebe que nem tudo é diversão e jogos. Há
trabalho a ser feito. Trabalho real e honesto. Você percebe que é melhor você
estar nisso por um longo tempo, porque se você não estiver, isso vai quebrar e
queimar bem rápido.
A dúvida começa a surgir. Vale a pena? É isso que você quer fazer pelo
resto da vida? Mais e mais coisas se acumulam, mais e mais estresse, até que
você alcance o que eu gosto de chamar de um ponto de ruptura.
Meu ponto de ruptura com a empresa é fácil. Eu paro quando estiver
falido.
Com Amélia, porém, isso é mais complicado.
Ela me disse hoje que queria filhos.
Nunca pensei muito em ter filhos. Nunca tive o desejo de ter um.
Então, quando ela tocou no assunto, me pegou desprevenido. E fiquei
surpreso ao descobrir que a ideia me assustava.
Isso me assustou muito.
Um pequeno eu correndo por aí? Como as pessoas não acham a ideia
disso aterrorizante? Quero dizer, e se ele acabasse por ser um idiota como eu?
Essa merda definitivamente seria a minha morte.
Quando eu disse a ela não, ela parecia arrasada. Com o coração partido.
Então nós brigamos. Um grande problema.
Eu pensei que estava acabado. Foi este o meu ponto de ruptura com
Amélia? Quer dizer, eu a amei até a morte. Mas será que nunca poderíamos
concordar?
O que eu faria por Amélia?
Bem, isso é óbvio.
Qualquer coisa.
Eu descobri o que pensei ser o meu ponto de ruptura e o superei. Eu não ia
deixar o medo controlar minha vida. Se Amélia queria ter filhos, essa é uma
jornada que eu estaria disposto a fazer com ela.
Quer dizer, não é como se eu fosse dar à luz a criança. Isso é por conta
dela. Eu só tinha que plantar a semente.
O que quero dizer, Brad, é que, quando você encontrar seu próximo ponto
de ruptura, terá de se perguntar se vale a pena o sacrifício para quebrá-lo. Se
não valer, faça as malas e passe para a próxima coisa.
A vida é muito curta para se preocupar com coisas estúpidas como medo
ou orgulho.
Xavier
Fechei o diário com um sorriso triste nos lábios.
Não sabia que alguém poderia falar merda de mim depois da morte.
Desculpe, pai. Eu cresci para ser um merda, não foi?
Coloquei o diário de volta no bolso lateral, fechando os olhos. Eu
sabia o que tinha que fazer. E eu com certeza não iria gostar.
— Eu sinto muito.
A sala de reuniões estava trancada em um silêncio atordoante, tão
absoluto que provavelmente você poderia ouvir um alfinete cair nas ruas
lá fora.
Eu olhei ao redor da sala.
O rosto de Henry era uma máscara de choque.
Penny ainda se recusava a olhar para mim.
— Sinto muito, — repeti, caso eles pensassem que estavam sonhando.
Eles não estavam. Mas eu estava preso em meu próprio pesadelo pessoal.
— Eu sei que tenho sido um idiota, um misógino, um babaca
ignorante e todos os outros nomes que vocês provavelmente me
chamaram pelas minhas costas. — Uma risada soou ao redor da mesa,
mais de surpresa do que divertida.
— Vocês têm todos os motivos, motivos muito válidos, para me
retirar da presidência. Não trabalhei bem com outras pessoas e causei
mais crises de relações públicas do que gostaria de mencionar. Mas me
escutem.
— Eu sempre achei que teria controle sobre a Knight Enterprises.
Quero dizer, meu nome está no prédio. Achei que, enquanto os lucros
aumentassem e estivéssemos expandindo, eu poderia fazer o que diabos
eu quisesse. Claramente... — Fiz um gesto para a sala ao meu redor. — Eu
estava errado.
— Eu tratei todos vocês como merda em nome dos negócios. Mas não
é assim que um líder deve agir. Eu tive um monte de merdas pessoais
acontecendo na minha vida, mas isso não é desculpa. — Olhei ao redor
da mesa, fazendo contato visual com cada pessoa.
Penny ainda estava olhando para o chão.
— Eu juro, pelo meu orgulho como um Knight, que vou me sair
melhor de agora em diante. Apenas me deem mais uma chance.
Os executivos do conselho se entreolharam, inseguros, embora eu
pudesse ver que meu apelo havia chegado a eles. Alguns deles pareciam
estar considerando.
— Você realmente acha que pode apenas se desculpar e deixar tudo
isso para trás? — Henry perguntou. — Você acha que apenas dizer
desculpes vai nos fazer esquecer o quanto você foi um merda? Que
garantia temos de que você fará o que diz?
— Já dei a minha palavra, — disse eu. — Confie em mim. Por favor.
— Ridículo, — Henry zombou. — Alguém mais vai defendê-lo antes
de começarmos a votação?
Olhei ao redor da sala, mas ninguém encontrou meu olhar. Eu senti a
esperança dentro de mim se esvair até que meu olhar encontrou um par
de olhos castanhos brilhantes.
Penny.
Penny
Xavier olhou para mim, seu apelo claro.
Eu senti o clima da sala balançando por um fio. Eles podem estar
dispostos a perdoá-lo, mas alguém precisava intervir e dizer algo em seu
nome.
Devo fazer isso? Eu me perguntei.
A questão era, até o momento em que Xavier explodiu comigo... me
acusando de ser responsável pela morte de Brad... eu estava planejando
fazer exatamente isso.
Eu fui a única pessoa na Time Xavier. Tentei convencer os outros
membros a portas fechadas de que Xavier merecia outra chance.
Mas parecia que Xavier nem queria que eu o ajudasse...
Pelo menos, não até agora.
E, para ser honesta...
Eu não tinha certeza se ainda tinha coragem de defender alguém que
me machucou tanto.
A situação toda era assustadoramente parecida com a minha situação
com Jacques. Continuei tentando e tentando ajudá-lo, apenas para ser
repetidamente rejeitada.
Talvez eu esteja destinada a ser um capacho para o resto da minha vida...
Eu olhei firmemente nos olhos de Xavier, tentando ver através de
todo o drama. Através de toda a raiva, mágoa e desprezo para vê-lo como
o homem que ele realmente era.
Eu sabia que ele não era realmente um playboy bilionário arrogante.
Ele não era realmente um empresário paranoico. Ele não era
realmente tão paranoico a ponto de pensar que qualquer um que
tentasse se aproximar dele estava atrás de sua influência, poder e
dinheiro.
O verdadeiro Xavier era o marido doce e amoroso que eu tinha visto
de relance quando ele estava com Angela.
Mas a questão era... ele poderia superar seus demônios e se tornar seu
verdadeiro eu na Knight Enterprises?
Sempre que estava no escritório, parecia zangado. Estressado. Ele
estava mais para um tubarão do que homem, espetando qualquer um que
ousasse tentar se aproximar dele.
Era quase como se o lugar fosse uma droga para ele.
Veneno.
Uma relação tóxica que o destruiria.
Seu pedido de desculpas era verdadeiro e genuíno, ou foi o grito de
guerra final de seus maus hábitos, agarrando-se para salvar sua vida?
O rosto sorridente de Brad passou pela minha mente e as memórias
da noite em que ele me convidou para entrar na Knight Enterprises
voltaram rapidamente para mim...
— Você não pode estar falando sério, — eu disse, rindo de seu pedido
ridículo. — Só porque eu venci você em um jogo de Banco Imobiliário não
significa que eu poderia fazer isso.
Estávamos sentados no jardim do telhado da cobertura de Brad, um jogo
de Banco Imobiliário quase terminado se estendia diante de nós. Ele sorriu
para mim e meu estômago deu um pequeno salto de animação.
Ele me encarou seriamente. Ele queria que eu me tornasse presidente da
Knight Enterprises.
— Você não sabe, querida? Todos os negócios são baseados no Banco
Imobiliário.
— Fala sério, por favor.
— Oh, mas estou. Bem, não sobre o Banco Imobiliário, mas sobre isso. —
Ele pegou minhas mãos nas suas, as luzes do horizonte de Nova Iorque
brilhando como estrelas na noite atrás dele.
— Acabei de me formar...
— Summa cum laude, — interrompeu Brad.
— Não tenho experiência!
— Penny, — disse ele, sorrindo suavemente.
— Acredite em mim, tenho olho para os negócios. E você é brilhante.
— Eu não sei sobre isso... — eu disse. Não havia como passar de uma
recém-formada na NYU a presidente de uma empresa multibilionária... por
mais capaz que Brad pensasse que eu era.
— Você já deu o salto antes, — disse Brad, seu dedo traçando a faixa de
platina simples em torno do meu dedo anelar — O que é mais um?
Era verdade.
Quando Brad me pediu em casamento, eu fiquei apavorada. Aterrorizada
com as consequências. Do que as pessoas pensariam de nós. De estigmas
sociais.
Mas eu também estava animada.
Exultante.
No final das contas... foi a melhor decisão da minha vida.
— Além disso, — Brad continuou. — Estarei por perto para ajudá-la se
você precisar. Mas tenho a sensação de que você vai me mandar embora por
querer ajudar muito em breve. — Ele piscou.
— Deixe-me pensar sobre isso. — eu consegui soltar. — Acredite em mim,
a última coisa com que você deve se preocupar é seu conhecimento de
negócios, — Brad me assegurou. — Lidar com Xavier será o mais difícil.
Um nó subiu na minha garganta.
— Certo, — eu gritei.
Brad sorriu e recostou-se na cadeira, olhando para a cidade que se
estendia diante de nós.
— Você é gentil. Penny. As vezes pode ser um defeito. Ele vai desafiar você.
Ele vai gritar, se enfurecer e batalhar com você todos os dias.
— Você está realmente tentando me convencer do negócio aqui, não está?
Brad riu, e o som acalmou alguns dos meus nervos.
— Mas a gentileza nem sempre é a resposta certa. — Ele olhou nos meus
olhos, e pude ver a sabedoria e inteligência feroz em seu olhar.
— Às vezes, Penny, o que é melhor nem sempre é tão óbvio. Você saberá a
resposta quando a vir. Tenho certeza disso.
Suspirei, aconchegando-me ao seu lado.
— Entendo, — menti. — Agora devo aplicar a cera ou retirar a cera,
sensei?
Brad riu de novo, iluminando seus olhos. — Karatê Kid? Sério? Eu não sou
tão velho.
— Continue se convencendo disso, — provoquei.
Eu encarei Xavier diretamente, o silêncio na sala sufocante.
O que meu coração diz?
E de repente eu soube.
Eu tinha me decidido.

Capítulo 30
Uma chama fraca
Angela
Saltei de vela em vela, acendendo cada uma, cantarolando uma
melodia feliz baixinho.
Eu dei alguns passos para trás, admirando minha obra.
Jantar caseiro?
Apertei o botão play no meu controle remoto, os alto-falantes
escondidos por todo o apartamento tocando uma música suave e
romântica lounge.
Checado.
Lingerie com renda preta?
Eu espiei em nosso quarto, o chão e a cama cheios de pétalas de rosa,
a lingerie mais reveladora que eu já vi descansando sobre os lençóis de
seda.
Eu corei.
Checado.
Eu pulei para um espelho, verificando meu reflexo. Eu usava um
vestido branco simples, meu cabelo penteado caindo sobre meus ombros.
Eu usava pouca maquiagem, optando por protetor labial em vez de
batom.
Eu me sentia mais confortável assim.
Eu olhei para o relógio, meu estômago revirando nervosamente.
Xavier estaria em casa a qualquer segundo agora.
Mal posso esperar para contar a ele as novidades.
Eu planejei tudo perfeitamente em minha mente.
As portas do elevador abririam, e a primeira coisa que Xavier veria era
eu em meu vestido, o cheiro tentador de uma refeição caseira dando as
boas-vindas a ele.
Teríamos um jantar romântico à luz de velas enquanto ele me contava
sobre seu dia, e depois que ele bebesse e jantasse, eu contaria a ele a
surpresa.
Enfiei a mão em um dos bolsos do meu vestido, apertando o pequeno
objeto escondido dentro.
Ele estaria nas nuvens, naturalmente, e me carregaria para o nosso
quarto, onde veria as pétalas de rosa, a lingerie... seus olhos olhariam nos
meus, e...
E...
Eu gritei, me sentindo como uma garotinha preocupada com sua
primeira paixão.
Mordi meu lábio em uma tentativa de evitar que meu sorriso
revelasse algo.
Mal posso esperar para ver seu rosto quando ele descobrir!
Um som me dizia que nosso elevador estava subindo.
Ele está aqui!
Saltei para o meu lugar na frente do elevador, meu coração batendo
forte no peito. Observei o lento progresso do elevador subindo o prédio,
a antecipação insuportável.
Eu balancei, de um lado para o outro, minha energia borbulhando.
Observei meu vestido girar suavemente ao meu redor, o tecido leve
dançando no ar.
Trim.
O elevador abriu, meu marido do outro lado.
— Bem-vindo! — Eu sorri.
Avancei para abraçá-lo. mas parei, meu sorriso congelando no lugar.
Algo estava errado.
Xavier parecia em estado de choque.
Ele estava completamente abatido, a gravata torta, o cabelo uma
bagunça desgrenhada como se ele tivesse passado as mãos pelos cabelos
repetidamente, talvez até tivesse tentado arrancá-los pela raiz.
Mas o pior de tudo eram seus olhos.
Normalmente cheios de confiança e travessura, eles pareciam
sombrios. Mortos. Desprovidos de emoção. Eles tinham bordas
vermelhas e rios de sangue.
Ele estava chorando?
Eu me aproximei dele, a preocupação explodindo dentro de mim.
— Xavier? — Eu entrei em pânico. Minhas mãos se preocuparam com
ele, sem saber o que fazer. — Você está machucado? O que houve?
Ele não respondeu.
Ele apenas ficou lá, olhando para longe, com sua mente muito, muito
distante.
A porta do elevador começou a fechar, esbarrando em Xavier antes de
abrir novamente. Ainda assim, ele não se moveu.
Eu estendi as mãos trêmulas, segurando seu rosto.
— Xavier? — Eu disse, minha voz tremendo. — Você está me
assustando.
Eu o observei piscar, um lampejo de vida, de reconhecimento em seus
olhos quando ele finalmente olhou para mim.
— Angela, — disse ele, com a voz rouca.
Quebrou meu coração vê-lo assim.
— Vamos, — eu disse, puxando-o suavemente para dentro do nosso
apartamento.
Eu o levei para a sala de estar, passando pela cozinha e nosso jantar à
luz de velas. Eu o sentei no sofá. Eu tomei meu lugar suavemente ao lado
dele, meus braços em volta de sua cintura.
Eu apertei, tentando derramar meu amor e apoio nele.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo e pensei que talvez ele
falasse primeiro. Mas os minutos foram passando.
Devagar.
Agonizantemente devagar.
As velas começaram a queimar e a comida foi esfriando.
Eu não aguentava mais.
— Xavier? — Tentei.
Nada.
Coloquei minha mão em seu rosto, virando-o para que ele olhasse
para mim.
— O que aconteceu?
Ele olhou para mim e eu vi a culpa tomar conta dele.
— Sinto muito, — disse ele.
Meu estômago caiu, o pavor apertando meu coração.
— Pelo quê?
— Não fui totalmente honesto com você, Angela. — Ele falou
devagar, como se cada palavra trouxesse dor física para dizer em voz alta.
Eu me encolhi. me preparando para o pior. Sobre o que ele poderia
ter mentido? Houve outro desastre? Alguém de quem gostamos se
machucou?
Ele estava me traindo?
Minha mente conjurou cenário após cenário.
— É sobre a reunião no trabalho, — ele começou. O alívio me
inundou, seguido imediatamente pela vergonha. O que quer que tenha
acontecido, claramente abalou Xavier. Que tipo de parceiro eu era para
ficar aliviada com isso?
— Você pode me dizer qualquer coisa. — Eu dei a ele outro aperto
encorajador.
— A reunião foi sobre minha posição na empresa, — disse ele. — Eles
queriam me votar para não ser CEO.
Eu engasguei, o horror tomou conta de mim.
A julgar pela reação dele...
— Eles me expulsaram, Angela. — Ele parecia tão derrotado. Tão
quebrado. — Eu perdi a empresa do papai.
Passei meus braços em volta do pescoço dele, puxando-o para baixo
para que eu pudesse embalá-lo contra o meu peito. Eu acariciei seu
cabelo, oferecendo o pouco conforto que pude.
— Eu sinto muito, — eu disse.
Xavier não respondeu. Ele apenas me deixou segurá-lo.
— Eu tentei me desculpar com todos, — ele disse finalmente. — Eu
tentei fazer as pazes...
A raiva começou a crescer dentro de mim.
Como eles poderiam ter machucado Xavier assim? Claro, ele cometeu
alguns erros, mas eles não notaram o quanto essa posição significava para
ele?
Não se tratava apenas de ser o CEO de uma empresa que vale bilhões.
Este era o legado de Xavier.
Era uma de suas conexões mais fortes com Brad.
E eles tiraram tudo dele.
— Quem fez isto? — Eu praticamente rosnei. — Foi Henry?
Isso trouxe um pouco de vida de volta a Xavier.
— E se tivesse sido? — Ele perguntou, olhando para mim.
— Então eu vou acabar com ele, — eu jurei.
Xavier riu uma vez, um som curto e amargo.
— Em parte, — admitiu Xavier. — Mas é principalmente por minha
conta, Angela. Nem mesmo Penny me defenderia.
Meu coração se partiu pelo que parecia ser a centésima vez. Fiquei
surpresa ao ver que ainda havia pedaços pequenos para quebrar.
Penny...
— Talvez se eu não tivesse sido um idiota com ela. Talvez se eu não
tivesse dito tantas coisas horríveis... Ela disse que era para o melhor. —
Xavier enterrou seu rosto em meu peito.
Um pequeno soluço escapou da minha garganta e eu o sufoquei.
Eu tinha que ser forte por nós dois.
— A pior parte é que eu nem mesmo a culpo, — ele sussurrou. —
Papai pediu a ela que ajudasse a garantir a segurança da empresa. Ela só
estava fazendo o que achava certo.
— Mas não é certo, — insisti. — Xavier, você é o único que sabe o que
é melhor para a Knight Enterprises. E muito mais do que apenas uma
empresa para você.
— Não fiz um bom trabalho ao mostrar isso, — lamentou. —
Especialmente em relação a Penny.
Eu apenas o abracei com mais força. Nunca me senti tão impotente
antes. Não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer por Xavier
agora, e essa percepção foi como uma faca no estômago.
As velas queimaram lentamente, deixando-nos sentados no escuro.
As luzes da cidade de Nova Iorque apareciam nas nossas janelas, mas
o horizonte não parecia bonito para mim neste momento.
Parecia distante. Frio. Insensível e indiferente.
Senti uma pergunta borbulhando em meus lábios, e não pude evitar
que escapasse, não importa o quanto eu tentasse.
— O que acontece agora? — Perguntei.
Eu senti Xavier ficar tenso em meus braços.
— Não sei, — respondeu ele. As palavras me congelaram até os ossos.
— Não sei.
Xavier não era mais o CEO da Knight Enterprises.
O que isso significa para o nosso futuro?
Eu ainda amava Xavier. Eu ficaria com ele, não importando as
circunstâncias, eu não tinha dúvidas em minha mente.
Minha mão vagou para o meu estômago, descansando sobre a
pequena vida que estava dentro de mim.
O teste de gravidez positivo fez um buraco no meu bolso.
Não era mais apenas eu e Xavier.
Havia um pequeno para cuidar.
Nosso futuro.
Nossa família.
Eu olhei para Xavier, o amor da minha vida.
Ele parecia tão vulnerável, tão quebrado neste momento.
Como eu poderia dizer a ele que estava grávida?
Como eu poderia deixar cair o peso dessa responsabilidade sobre ele
agora?
Eu engoli o segredo, meu anúncio morrendo em meus lábios.
Eu não pude contar a ele.
Ainda não.
Ainda assim, aquela pergunta me incomodava, queimando um buraco
em meu coração. Fechei os olhos, o peso da incerteza me esmagando
como chumbo.
E agora?

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