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Envio: Soryu
Tradução: Dani C., Pietra, Maisa, Sara
Avelar
Revisão Inicial: Mayara e Ariana B.
Revisão Final: Carla C. Dias
Leitura e Formatação: Bec B. North
"Todo o mundo é um palco,
E todos os homens e mulheres meros atores."
~ Shakespeare, Do jeito que você gosta
CAPÍTULO UM
River
— Você está brincando comigo? —Minha voz soou muito fina, até
mesmo para os meus ouvidos. Este som agudo e estranho não era
nada parecido comigo. Queria estrangular dona dessa voz. Parecia
mal intencionada, desesperada. Isso não era eu. Esta não era a pessoa
que me tornei.
— River! — disse. Ele sequer tentou tirar seu pau da boca da
menina.
Merda, ela sequer parou de chupá-lo.
Não podia ver o seu rosto. Seu cabelo loiro caído pelos ombros e
costas. Ela era magra sob o pequeno vestido que usava, aquele que
deveria abraçar as suas curvas.
Era o meu vestido que usava.
Podia ver sua coluna no meio das costas.
Ela era magra demais.
Disse a ela um milhão de vezes que precisava comer mais. Mas
ela sempre se privou de comer. Dizia que seu metabolismo era rápido,
mas substituía refeições por biscoitos de água e sal e refrigerante diet.
Isto a mataria, eventualmente.
Minha irmã nunca me escutava. Ela era modelo, desde que tinha
quinze anos. Primeiro foram catálogos; depois conseguiu sua primeira
sessão fotográfica numa revista; agora fazia passarela. Ela era famosa.
Éramos famosas.
Eu seria mais famosa – a realização atingiu-me, enquanto estava
em pé ali. Seria famosa por isto. Nada mais. Isto.
Estaria nos tablóides amanhã. Os tablóides adoravam histórias
picantes, famílias desfeitas pelo drama. E isto certamente era picante.
Era como se tudo estivesse paralisado, como se alguém
simplesmente tivesse apertado o botão de pausa na minha vida,
enquanto olhava para trás e para frente, dela para ele, a minha mente
completamente dormente.
Era como se assistisse pela televisão.
Quase ri. Havia uma parte de mim que queria rir. Podia sentir
isso, borbulhando dentro de mim, ameaçando transbordar.
Muito em breve todo mundo assistiria na televisão. A equipe de
filmagem estava atrás de mim, em silêncio, os que me filmavam para
esta peça, parte de um especial ao vivo para esta noite. Eles
esperavam por minha reação. Assim, poderiam capturá-la, bem no
momento.
Uma mulher devastada.
Queria cortar seu pênis. Queria dar uma de Lorena Bobbitt1 e
cortá-lo totalmente.
1 Lorena Bobbitt fez manchetes em 1993, quando a cortou o pênis de seu marido com uma faca. Lorena foi até a
cozinha, pegou uma faca e voltou para o quarto para cortar o pênis de seu marido dormindo. Em seguida, entrou no carro
e começou a dirigir. Em algum lugar ao longo da estrada escura, abriu a janela e atirou o pênis no acostamento da
estrada. Horas mais tarde, uma equipe de busca encontrou o pênis cortado, e os cirurgiões foram capazes de recolocá-lo.
Vi seu rosto, suas mãos no cabelo dela, forçando-a para baixo
sobre ele, enfiando ainda mais em sua garganta.
Conhecia aquela expressão em seu rosto.
Estava apenas ali como uma espécie de idiota, observando-o.
Havia um grupo de operadores de câmera atrás de mim e o imbecil
sequer se preocupou em abrandar. Sequer diminuiu o seu ritmo.
Jesus, ele vai gozar, pensei. Ela vai chupá-lo, em frente às
câmeras, bem na minha frente e ele vai gozar.
E estará tudo na televisão.
Sequer olhei para ele enquanto passava pelos dois.
Traidores.
Não sabia se a equipe de filmagem estava atrás de mim ou focada
no boquete. Que escolha para eles. Ambos dariam boas matérias.
Eu me senti estranhamente calma enquanto caminhava pela
casa, o barulho dos meus saltos ecoando nos pisos de mármore, pelo
corredor. Passei por todas as nossas fotos na parede, as fotos
emolduradas de viagens de esqui, Paris e Bora Bora e da turnê com a
banda. Entrei em seu quarto, aquele onde mantinha as coisas que
amava, as bolas de beisebol e cartões antigos. As paredes estavam
cobertas com memórias do rock, o disco de ouro e as guitarras que
colecionava. Prateleiras de material assinados por seus amigos,
mentores, os seus ídolos.
Peguei um bastão, essa coisa colecionável que era seu orgulho e
alegria. Fiquei lá, segurando-o. Os objetos aqui eram inestimáveis.
Principalmente insubstituíveis. Foi o suficiente para me dar uma
pausa por um momento. Não aceito coisas como esta facilmente –
apenas não era de destruir objetos preciosos.
Mas levei o bastão até o meu ombro.
Balanço, bater, bater.
E começaria quebrar.
Eu os ouvi atrás de mim. Ouvi-os correndo, os seus passos, sua
voz indignada, a dela estridente. A equipe de filmagem dizia alguma
coisa. Mas ninguém me tocou. Ainda não.
Tenho certeza de que alguém chamará a segurança. Eles
deviam. Acho que os produtores têm segurança.
Todo mundo me odiaria. Ninguém esperava este tipo de reação
de minha parte. Já podia ouvir a desaprovação na voz da minha mãe
na minha mente.
Este tipo de comportamento é inaceitável em público. Não
importa o que aconteça, sorria para a câmera e se comporte com
graciosidade.
Isto definitivamente não era gracioso. Mas quem me culparia?
Em exatamente três horas e meia, me casaria com aquele homem
ao vivo na televisão, aquele cujo pênis estava enfiado na garganta da
minha irmã, no meio da sala da nossa casa.
Quando entrei no carro, esperei até que estivesse na estrada para
tirar o cartão SIM do telefone e atirá-lo pela janela, observando-o
quebrar em pedaços pela estrada. Os fragmentos da minha vida.
Então por que me sinto tão aliviada?
Elias
— Merda — disse Adam, me batendo forte nas costas. — Se
anima, caralho. É a porra da sua festa de aposentadoria.
— Sim, cara — disse. — Só um pouco distraído, isso é tudo.
— Porra sim, você está! — tomou um longo gole de cerveja. —
Todos esses peitos, deveria estar distraído para caralho.
Estávamos em uma suíte em um quarto de hotel em Las Vegas,
festejando. Pelo menos os meus amigos estavam, todo o grupo de
rapazes que conheci nos últimos anos, vivendo em San Diego. Éramos
principalmente caras da Marinha, alguns dos meus amigos Fuzileiros.
Eu? Eu estava distraído na minha festa de aposentadoria.
Uma aposentadoria do caralho.
Não escolhi deixar a UDOE. A Unidade de Desativação de
Objetos Explosivos, que era o meu trabalho. Foi o que fiz durante os
últimos cinco anos. Não era muito tempo para a maioria das pessoas,
mas para mim foi uma vida. Juntei-me à Marinha aos dezessete anos.
UDOE era tudo para mim. Era tudo que sabia e não queria deixá-la.
Quando os caras disseram que teria uma festa de despedida, não
falavam sobre toda a coisa que era fazer vinte anos ou a besteira de
receber um relógio de ouro. Eles falavam sobre ficar medicamente
aposentando. Isso era uma coisa completamente diferente.
Isso não era uma maldita aposentadoria. Não depois de cinco
anos. Não nos meus termos, de qualquer maneira.
Isso era sofrer eutanásia, ser sacrificado como um cão de merda
só porque perdi a minha perna.
— Homem, toma uma bebida e se anime. —Adam me entregou
uma cerveja. — Sei que você sentirá a minha faltar para caralho e tudo
mais, mas é um maldito viado. Temos bebidas, garotas e uma suíte em
Las Vegas. Não se tem tudo isso em West Bend.
— Saudades suas, rá. Vá se foder, cara. — Mas peguei a cerveja
de qualquer maneira. Não era culpa dele que agia como um idiota.
Não era um bebedor, não gostava de estar fora de controle. Não
conseguia me lembrar da última vez que bebi uma cerveja. Fazia anos.
Mas esta parecia ser aquele tipo de ocasião. O fim de uma era.
Isso parecia terrivelmente melodramático. E eu não era um
homem do tipo emocional demais.
Mas porra, eu era um cara UDOE. Sempre fui, sempre seria. Não
sabia o que fazer fora da Marinha. É tudo que conheço desde que
tinha dezessete anos. Minha mãe estava toda muito feliz em assinar a
papelada que me deixaria ir para o campo de treino mais cedo.
E tudo que queria era ficar bem longe de West Bend e as merdas
com que cresci.
Para ficar bem longe do imbecil. O meu pai.
Agora, aqui estava eu, voltando para essa merda. Para o buraco
de merda de terra onde fui criado. Voltar para ser a porra de um pária
por causa do meu irmão.
Mas não de volta para o meu pai. Ele morreu na semana passada.
Não disse a uma única maldita pessoa que ele está morto.
E não derramei uma lágrima de merda por ele.
— Aqui — disse Chase, entregando-me um copo de plástico
vermelho, mesmo que já segurasse uma cerveja. — Consegui um
uísque bom para porra também. Somos grandes jogadores hoje à
noite, idiota. Beba. Assim que terminarmos de olhar para os peitos,
iremos para o cassino.
Tomei um gole do copo, sentindo a queimação do álcool, quando
deslizou na minha garganta. Que merda? Você só vive uma vez, certo?
Capítulo Dois
Capítulo Dois
River
Digiria a toda velocidade pela estrada no crepúsculo do início da
noite. Podia ver as luzes de Vegas à frente. Não sabia para onde ia
quando saí de Hollywood, mas de alguma forma acabei aqui. Dirigia
em uma nevoa. Ainda estava atordoada, minha cabeça confusa e
enevoada.
Deveria sentir algo, pensei. Mais do que apenas esse vazio.
Viper – sim, este definitivamente não era o seu nome real – seu
nome verdadeiro era David – era o meu tudo. Era.
Era tão difícil dizer onde ele terminava e eu começava, depois de
um tempo. Havia tantas outras pessoas envolvidas: o seu agente, meu
agente, nossos gerentes, nossas famílias.
Nossos fãs.
Eu não tinha ideia do que estava fazendo neste momento. A
única coisa que eu sabia era que eu tinha que sair.
Quando cheguei ao hotel, meu cabelo estava escondido, debaixo
do meu boné de beisebol. Não tirei os óculos escuros, embora
soubesse que me fazia ridiculamente pretensiosa. Sempre odiei esse
tipo de coisa, as estrelas que usavam os seus óculos escuros dentro
dos lugares, só porque se achavam melhores que os outros.
Mostrei ao funcionário a minha identidade falsa, dei-lhe o meu
cartão de crédito falso, o material que usava quando não podia
arriscar ser encontrada pelos paparazzi. Usava-os agora por esse
motivo. Os funcionários do hotel eram conhecidos por deixar
fotógrafos saberem onde estava – pelo menos era a minha vasta
experiência.
Por vasta, queria dizer desde que fui reconhecida.
Não era sempre mansões e carros quentes e festas com os
meninos e meninas do momento. Antes de tudo isso, eu era tão lixo
quanto possível, vivendo em um trailer com a minha mãe e irmã, mal
conseguindo sobreviver com vales refeição. Bem, para ser mais
precisa, era a minha mãe, minha irmã e o rolo de namorados de
merda que a minha mãe desfilava pelo trailer, aqueles que bateram
nela, bateram em nós.
Alguns deles fizeram mais do que apenas bater em nós.
Não que ela fosse melhor. Ela era pior do que qualquer um deles,
pelo menos para mim. Eu era o bode expiatório.
E ela ainda era parte da minha vida, em Malibu, vivendo em um
lugar que eu pago.
O destino é cruel às vezes, mas não para as pessoas que deveria
ser.
Tudo mudou quando fui descoberta, sentada em uma calçada
com o meu vestido de verão esfarrapado, com meus joelhos esfolados
e braços machucados, os meus membros bronzeados com uma
mistura de sol e sujeira. Estava com os pés descalços não porque era
verão, mas porque alguém roubou os meus sapatos na escola e não
conseguíamos pagar outro par. Minha irmã e eu tínhamos ido à
procura de algum troco perdido na calçada, vasculhando ao redor
para ver se arranjávamos o suficiente para um refrigerante depois da
escola, mas realmente estávamos apenas tomando um tempo longe do
reboque porque a minha mãe estava lá dentro com um de seus
namorados e não era seguro ir para casa.
Elias
A forma como esta garota me olhava, seus lábios entreabertos,
este rubor nas faces que deixava tudo rosado, como se acabasse de
correr ou algo assim... Não conseguia pensar em mais nada, além
estar dentro dela. Não me movi de onde estava de pé no batente da
porta, para não tocá-la. Mas a senti ficar mais perto de mim.
— Me seguindo? — perguntou. Sua voz era suave.
— Quero saber o que realmente olhava no estacionamento —
disse. — Se não era a minha perna, o que era?
Ela exalou com força e não sabia se estava chateada ou não. Até
que respondeu. — Sua bunda.
— O quê? — A ouvi, mas queria ouvi-la dizer isso novamente.
Senti essa emoção fluir de mim e juro por Deus, todo o sangue no meu
corpo foi direto para o meu pau.
— Sua. — respirou fundo, pontuando a palavra. — Bunda. Olhava
para sua bunda enquanto andava na minha frente.
Senti-me sorrir. Não poderia evitar.
— O quê? — perguntou. Seus lábios eram tão carnudos que não
conseguia pensar direito.
— Então você é algum tipo de estrela de reality ou o quê? — abri
minha boca e foi o que saiu. Não era a o que queria perguntar. A única
coisa que queria saber era se ela se casaria.
River suspirou alto desta vez. — Não — disse — Mas meu
casamento seria televisionado. Ao vivo. Na noite passada. Com Viper
Gabriel.
— Merda. — Viper Gabriel. — Você namora com Viper Gabriel?
—Agora a reconheci. A vi na capa de revistas.
Porra. Ela não era apenas um pouco famosa. Ela era realmente
muito famosa.
E disse que olhava a minha bunda.
— Estava — disse.
— Estava o que? — estava confuso. Estava preocupado com o fato
de que não conseguia fazer o sangue fluir na direção certa – para o
meu cérebro.
— Estava para me casar — explicou. — Passado. Até que o peguei
com a minha irmã.
— Merda — disse, balançando a cabeça. Não podia imaginar por
que um cara que estava com ela, colocaria seu pênis em qualquer
outro lugar, além de dentro dela.
River deu de ombros. — Então agora sabe por que estou aqui —
disse. — Então, por que você está aqui?
Não sei por que fiz isso. Não quis ninguém em um longo tempo,
muito menos alguém assim, alguém fora do meu alcance.
Eu a beijei. Forte. Seus lábios se separaram com a minha boca
pressionada na dela e sua língua encontrou a minha. Beijá-la acendeu
algum tipo de fogo dentro de mim.
Eu a empurrei na parede mais próxima, forte demais, pensei.
Precisei dizer a mim mesmo para ir com calma, mas River gemeu e
isso me deixou louco. Peguei um punhado de cabelo na base do seu
pescoço e puxei-a para mim.
— Lembra quando costumava me beijar desse jeito?
River saltou e virou a cabeça ao som da voz que cortava o
momento entre nós. O casal mais velho olhando para nós tinha que
estar em seus oitenta. O homem olhou para nós e piscou antes de
falar.
— Costumava? — perguntou. — Beijei você assim esta manhã.
— Oh, sei que sim, querido — disse, acariciando o braço de seu
marido. — Estou falando em uma parede assim e não a parede de
casa. — abaixou a voz, adotou um tom conspiratório. — Ele costumava
ser muito mais selvagem. Um exibicionista.
— Posso mudar isso se trouxe minhas pílulas com você — disse.
River reprimiu uma risada e limpei minha garganta. —
Desculpem-nos — disse River, tomando minha mão na dela e me
puxando para fora da loja e novamente para o carro. Quando
chegamos, ela parou, apoiada na porta do lado do passageiro, com as
mãos em minha cintura. Ela riu quando me tocou, as palmas das
mãos no meu peito, alisando o tecido da minha camisa. O gesto
parecia familiar e desconhecido, tudo ao mesmo tempo. Era uma
estranha mistura.
— Não sabia que tinha um público lá — disse.
Beijei-a novamente, precisando senti-la contra mim. Assim que
a toquei, estava duro novamente e, por um minuto, estava convencido
de que pensaria que era algum tipo de pervertido sexual obcecado.
Mas ela arqueou as costas e podia senti-la se pressionando em minha
dureza, em vez de se afastar.
Eu não posso acreditar que alguém como ela me quer.
Em seguida, se afastou. Podia sentir seus lábios nos meus,
mesmo depois dela se afastar. — Provavelmente deveríamos sair
daqui antes que tenhamos um público ainda maior — sussurrou.
Limpei a garganta novamente, alcançando a maçaneta da porta
do carro, propositadamente não me afastando dela. Minha mão estava
em sua bunda e o movimento puxou-a para mim. — Ainda certa de
que quer vir comigo? — perguntei. A questão imediatamente me fez
pensar em sexo e só poderia pensar em estar dentro dela.
Venha comigo.
Quando respondeu, sua voz estava ofegante. — Sim.
Capítulo Sete
River
Elias colocou a capota de volta no conversível. Deixando mais
aconchegante do que antes, quando estávamos dirigindo com a capota
baixa e o vento soprando.
Era mais íntimo, de alguma forma. Havia menos espaço entre
nós, e era tranqüilo. Ainda assim, por pouco tempo, nenhum de nós
fez qualquer tentativa de conversa fiada.
Parecia bobo, mas eu ainda estava sofrendo com aquele beijo.
Tudo o que eu conseguia pensar era a maneira como me senti quando
ele me beijou, meu coração disparado, meu corpo no limite. Eu sabia
que deveria estar triste sobre o meu relacionamento. Eu deveria estar
triste que eu não estava me casando.
Exceto que em vez disso, sentia essa enorme sensação de alívio, o
peso de um fardo tirado dos meus ombros.
Eu me senti positivamente vertiginosa.
Ri, o som eclodindo do nada, esta estranha liberação da tensão e
estresse das últimas vinte e quatro horas. Elias deveria pensar que eu
era louca.
— O quê? — perguntou. — É aquele casal? Eles foram uma
maldita viagem, hein? Acha que foram transar no banheiro?
Deixei escapar uma risada mais alta, cobrindo minha boca.
Acalme-se, River. — Sim — balancei a cabeça. — Definitivamente.
— Ainda serei assim quando tiver oitenta — disse Elias. — Com
uma fodida ereção pela minha velha senhora.
Ri de sua franqueza. Elias apenas parecia não ter problema em
dizer o que vem à cabeça. Ele foi a primeira pessoa com quem saí em
anos que não parecia ter uma agenda, não tentava conseguir alguma
coisa de mim.
— É engraçado? — perguntou.
— Não — disse. — É bonitinho como eles estavam apaixonados.
Espero que ainda tenha tesão por alguém quando estiver mais velha.
— Você será uma sexy senhora — disse ele. — Sem dúvida.
— Bem, em termos de Hollywood, isso está a 10 anos de
distância.
— Não entendo essa besteira — disse Elias.
— Qual parte? — perguntei. — A obsessão em permanecer
jovem?
— Toda essa merda em geral — disse ele — Parece que iria foder
com sua cabeça. Quero dizer, sem ofensa, você parece muito normal e
tudo. Para uma atriz, quero dizer.
Eu ri. — Dê um tempo — disse. — Vou impressioná-lo com a
minha marca de loucura.
— Rá. — Ele fez uma pausa, batendo com os dedos no volante
enquanto dirigia. — Vá em frente.
— Vá em frente para o que?
— Me impressione — disse ele. — Qual é a sua marca de loucura?
Fiquei em silêncio por um minuto. Minha loucura era demais
para alguém como Elias - alguém que parecia um cara normal, se
houvesse tal coisa – lidar com ela. — Bem, eu não posso entregar
todos os meus segredos, — eu disse. — Mas já está, provavelmente, na
internet de qualquer maneira, então eu poderia muito bem dizê-lo
aqui. Eu quebrei com um taco de beisebol todas as merdas do Viper,
todas as suas recordações e outras coisas.
— Sério? — perguntou. — Então você quebrou a merda de um
bando de suas coleções, porque transava com sua irmã? Isso não é
nada.
— Era um material realmente inestimável — disse, timidamente.
— Como um Troféu Heisman que adquiriu. E o taco foi de Mickey
Mantle.
— O idiota merecia isso, não? — perguntou. — Ele tem sorte que
não enfiou o bastão em sua bunda. Só estou um pouco impressionado
com o fato de que destruiu a sua pequena coleção.
— Pequena?— perguntei. — Não tenho certeza se deveria estar
decepcionada ou com medo de que não ache que isso é loucura.
— É — disse ele. — Não diria que é uma loucura. Mais como
justiça caipira.
— Justiça caipira, hein? — perguntei, meu rosto ficando
vermelho. Todo esse tempo e esforço para fugir do meu passado e
meu comportamento sempre me trai.
Elias olhou para mim e piscou. — Não se preocupe, querida —
disse ele. — É um elogio, não um insulto. De onde venho isso significa
que você tem algumas bolas.
Senti as lágrimas começarem a brotar nos meus olhos e me virei
para olhar pela janela, tentando furiosamente afastá-las. Agora não.
Não aqui, na frente dele, desse cara que acabei de conhecer. Não
choraria. Sequer sei por que estava chateada.
— Merda — disse Elias. — Não quis dizer nada com isso.
Não sabia por que chorava, só que me sentia como se tivesse com
a adrenalina alta pelas últimas vinte e quatro horas e agora estava no
pico. Enxuguei uma lágrima do meu rosto.
Elias estendeu a mão e me tocou. Sua mão em minha perna
estava quente, o calor irradiando através de meu corpo. Mesmo
através da névoa de lágrimas, seu toque era elétrico.
— Não disse que é louca ou qualquer coisa — disse Elias,
parecendo confuso.
— Não sou uma chorona — disse, fungando. — Realmente não
sou. Não sei qual o meu problema.
— Está tudo bem — disse — Tenho esse efeito nas mulheres.
— Fazê-las chorar? — perguntei. Não pude deixar de sorrir.
— Bem, às vezes é difícil estar na presença de alguém que tenha
tão boa aparência — disse, apontando para si mesmo.
Não pude deixar de rir. — Sim, posso ver como isso as faria
chorar.
— Ei — disse. — Sabe do que precisa?
— O quê? — Limpei o canto do meu olho. Pelo menos não achava
que era um bebê total. Ou foi educado o suficiente para não dizer isso
na minha cara, de qualquer maneira.
— Você gosta de drive-in?
Elias
Merda. Lancei-lhe um olhar. Pelo menos não chorava mais. Não
posso evitar, mas fico um pouco em pânico com a visão de uma
menina chorando. Qual cara não se sentiria assim? Mas acho que
acabou de terminar com seu noivo e essas merdas. A maioria das
meninas chafurdaria em um litro de Ben e Jerry e ouvindo música
sentimental – que é como fazem nos filmes, certo? Pelo menos essa
garota não era como as outras garotas e merda, ela quebrou os
colecionáveis de seu noivo em pedaços com um taco de beisebol.
Isso era legal pra caralho.
Podia respeitar uma merda assim, mesmo que fosse louca.
Então, se chorava no carro agora, quem era eu para julgar?
— Se gosto de drive-in? — perguntou. — Isso é meio aleatório.
Mas tudo bem. Quer dizer, como uma sala de cinema?
— Não — disse. — Como um restaurante. Estou faminto.
— Oh —disse. — Você quer dizer um Sonic.
Revirei os olhos. — Enquanto aprecio o fato de que você sabe
mesmo o que é um Sonic, sendo uma grande estrela de cinema e tudo,
não. Não é uma cadeia. É um lugar antigo. Ele está aqui desde os anos
cinqüenta. — Olhava, prestando atenção para que pudesse entrar em
vista. — Pelo menos, costumava estar aqui. Tem sido alguns anos.
— Desde quando esteve em casa?
— Sim.
— Por que? — perguntou.
— Você é horrivelmente intrometida — disse. Olhava quando o
Linda’s Drive In apareceu.
— Como é West Bend, afinal? — perguntou, quando entramos no
estacionamento.
Dei de ombros. — Não sei. Como qualquer outra cidade pequena.
Como explico West Bend para uma estranha? Muito bonita por
fora, mas podre até o caroço dentro? Talvez fosse apenas eu e meus
irmãos que éramos dessa maneira, apenas aparência, mas nenhuma
substância. É o que o meu pai costumava dizer.
Deus tenha sua alma, minha mãe disse quando me ligou para
dar a notícia.
Ri amargamente. Não se pode descansar o que não tem, disse a
ela.
— Todas as cidades pequenas são iguais? — perguntou.
Formularia uma resposta espertinha, mas apenas grunhi, já que
entrávamos no estacionamento. E então River praticamente pulou por
cima de mim para olhar o menu. — Com licença — disse, quando
colocou a mão em minha coxa.
— Não reclamou quando estava tão perto de você assim mais
cedo. — disse ela.
Verdade. Podia ver por dentro de sua camisa, de modo que foi
um bônus. Senti a familiar agitação entre as minhas pernas e ela
olhou para baixo, então para mim. Dei de ombros. — Não coloque sua
mão ai, se não quer que ele fique duro.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas fomos interrompidos pela
atendente na janela. Enquanto a menina anotava nossos pedidos,
encontrei-me realmente querendo saber o que River estava prestes a
dizer.
Comemos em silêncio por um tempo, até River falar. — Então —
disse ela. — Você cresceu em West Bend?
— Sim. — Coloquei uma batata frita na minha boca e não dei
mais detalhes.
Ela deixou o silêncio durar um minuto antes de quebrá-lo. —
Alguém já lhe disse que é incrível com conversa fiada?
Olhei pra ela.
— Pensei assim — ela disse, sua voz leve. — Bem, há essa coisa
chamada conversa, onde uma pessoa faz uma pergunta e outra
responde, mas diz mais algumas coisas em resposta.
Dei de ombros. — Não sou muito de falar de onde cresci. — Sai
de West Bend logo que pude e só voltei uma vez. Não estava
exatamente ansioso para voltar agora.
Especialmente considerando o fato de que agora tinha que
pensar no que faria com uma estrela de cinema no reboque.
Claro que não poderia levá-la para minha casa. Uma garota como
ela correria gritando quando visse de onde vim. Mão a boca é
provavelmente a melhor maneira de descrever a situação da minha
família enquanto crescia – nós tivemos quatro paredes e um pedaço
de terra, mas não muito mais que isso. Meu pai – o idiota, como meus
irmãos e eu o chamávamos – fez uma pequena mineração em nossa
terra e trouxe uma pequena renda, até que foi a merda quando eu
estava no colégio.
Não traria uma garota como ela para casa comigo, para ver o
casebre de madeira da minha família, isso com certeza, mesmo que o
idiota não estivesse mais lá.
— Bem, quanto tempo mais até chegarmos a West Bend? —
perguntou.
— Cerca de uma hora mais ou menos — disse.
— Então tem cerca de uma hora ou assim de um público cativo
aqui — disse ela. — Considerando que teve sua língua na minha
garganta mais cedo, diria que estamos familiarizados o suficiente para
conversa fiada. — piscou para mim e isso me fez rir.
— Tudo bem — disse. — O que quer saber?
— Quem disse que quero saber algo sobre você? — perguntou. —
Sou uma estrela de cinema do caralho e você não quer me perguntar
nada?
As mesmas palavras malditas saídas da boca de outra pessoa e
teria soado preso e mal-intencionado e simplesmente brega. Mas
havia esta... leveza sobre tudo o que dizia, esta brincadeira sobre ela.
Eu ri. — Você é mesmo convencida, não é?
— Basta dirigir — disse ela. — Não vejo nenhum ponto em fazer
rodeios sobre isso. Há, obviamente, algo que te preocupa em voltar
para casa, e é claramente homem o suficiente para me dizer se não
quiser discutir o assunto.
— Não quero discutir isso — disse.
— Viu como foi fácil?
— Tudo bem, princesa — disse. — Onde cresceu? Hollywood?
Acha que será capaz de se adaptar na América rural?
Ela olhou para baixo por um minuto e esperava que não
começasse a chorar novamente. Mas ela não o fez, apenas mordeu
uma batata frita. — Golden Willow, Geórgia — disse. — Conheço
cidades pequenas. Acho que vou me virar muito bem.
— Certo. — Não esperava isso.
— Surpreso? — perguntou, seu sorriso aumentando.
— Não esperava que fosse uma menina do interior — disse.
— Nem todas nós, estrelas de cinema, crescemos ricas, você
sabia? — disse ela. — Não fui sempre uma princesa.
— Você não é realmente o que esperava de uma atriz.
— Ainda bem que não sou decepcionante — disse ela, mastigando
o resto de uma batata. — Odiaria ser um clichê.
Vi quando deu uma mordida em seu hambúrguer e virou para
mim, seus olhos castanhos brilhantes, cabelo bagunçado — Você é
definitivamente diferente, River Andrews — disse. — Isso tenho
certeza absoluta.
Capítulo Oito
Elias
— Você tem certeza de que este lugar é discreto? — perguntou
River. — Se trata de alguém que conhece há bastante tempo?
— Parece que vai visitar um bordel ou algo assim — disse. — É
uma pousada.
Deliberadamente deixei de mencionar que não era amigo dos
proprietários e que as pessoas de West Bend podem não ser estar
particularmente felizes por ver um dos irmãos Saint, arrastando com
ele uma estrela de cinema exigindo permanecer incógnita. Esse não é
o tipo de problema que apenas joga sobre as pessoas que achavam que
você era a escória da terra.
Não que conhecesse as pessoas gerenciando a pousada de
qualquer maneira. Não pessoalmente.
Isso para não dizer que não temos história, uma história sórdida.
Mas não sabia mais o que fazer com River. Tudo o que conseguia
pensar era no olhar que inevitavelmente cruzaria seu rosto quando a
trouxesse para a minha casa.
Não, obrigado. Não sou um masoquista.
E tenho certeza que não a levaria para casa comigo.
Não para a minha casa. Não para a minha mãe.
Não para o meu irmão.
— Tem certeza que não deveria ligar antes? — perguntou, me
dando um olhar estranho.
— Tenho certeza que está tudo bem. — disse. Eu não tinha.
River me encontrou no meu lado do veículo. Sua mão foi até a
gola da minha camisa, seus dedos demorando em minha linha do
pescoço. O jeito que fez isso, o jeito que parou lá, me fez lembrar de
uma cena de um filme antigo, a forma como uma mulher ajusta a
gravata de um homem.
— Bem — disse — Suponho que isso é um adeus. — Nas pontas
dos pés, tocou seus lábios suavemente na lateral do meu rosto.
— A levarei para dentro — disse. — Jesus, sou um cavalheiro.
Ela riu, este obsceno som, sem pretensão alguma. Seu dedo
arrastou em meu peito e ela mordeu a parte inferior de seu lábio.
Podia vê-la passar a língua ao longo da borda do lábio e isso me fez
querer ser o único a morder. — De alguma forma duvido disso — ela
disse.
— Que sou um cavalheiro? — perguntei, com a testa franzida. De
repente, estava ofendido que não pensasse em mim dessa forma.
Queria saber o que precisaria fazer para provar que era, de fato, um
cavalheiro.
River assentiu com a cabeça, um sorriso brincando nos cantos de
sua boca. — Elias Saint, duvido que seja um cavalheiro.
Ela virou e caminhou em direção à casa do rancho branco,
deixando-me perguntando se que era um insulto ou um elogio.
E me deixando em seu rastro.
Me ocorreu que não era o primeiro homem a se sentir assim.
Na porta da frente da casa da fazenda, River bateu. Estava atrás
dela, me sentindo como se estivesse no ensino médio novamente, o
filho sujo de um mineiro de carvão, um garoto ruim de minha casa
ruim. Sabia que June Barton possuía este lugar agora e que a família
de June não era assim. Não a conhecia, mas disso eu sabia.
Ela não me conhecia, tampouco. Não pessoalmente. Isso é com o
que contava. A última coisa que queria, com River aqui, era que June
percebesse quem era.
Uma mulher veio até a porta, com um avental sobre sua camiseta
e jeans. O avental não fez muito para esconder sua gravidez; na
verdade, parecia acentuar sua barriga. — Olá — disse ela. — Sou June.
Vocês são os Robinsons? Não esperava vocês – Achei que tivessem
cancelado a reserva. — olhou para River e eu.
— Não — disse River e olhou para mim por um momento e
pensei que viraria e fugiria. O que fazia aqui em West Bend, afinal?
Mas, em seguida, respondeu. — Não somos os Robinsons. Na verdade,
só queria ver se tinha qualquer disponibilidade.
June olhou entre nós dois novamente. Parou por um momento,
apertando os olhos, e por um segundo fiquei com um medo irracional
de que me reconhecesse.
Mas o momento passou, June abriu a porta de tela, convidando-
nos para dentro. No interior, a casa da fazenda foi pintada de branco e
azul, os pisos de madeira reluzente. Era um lugar agradável e eu
estava feliz que era o lugar onde June vivia agora. Estava feliz que
minha família não era responsável pela destruição de toda a sua vida.
Estava feliz que tinha isso, embora não a conhecesse. Era muito
jovem naquela época, quando tudo aconteceu.
Uma criança, não tinha certeza de quantos anos, talvez uns dois
anos, veio cambaleando pela sala e June pegou-o nos braços. — O que
faz, pequeno Stan? — perguntou. — Será que o seu pai perdeu o
controle de você?
— Não, estou bem atrás dele — uma voz gritou e um homem
apareceu, vestido com calça jeans desbotada e uma camiseta, os
braços cobertos de tatuagens. Reconheci imediatamente uma das
tatuagens como a identificação de um franco-atirador da Marinha.
Tinha certeza que era Cade. Era jovem quando toda a merda
aconteceu, apenas uma criança, mas conhecia Cade, mais tarde, por
reputação. Sabia que foi ferido na Marinha e conseguiu uma Estrela
de Prata.
Esperava que não soubesse quem era.
— Tarde — disse Cade. — Visitando West Bend?
— Estou — disse River. — Ele veio p...
Eu a interrompi. — Apenas visitando.
River me deu um olhar estranho.
— Sabe, você parece tão familiar — disse June. — Aposto que
você escuta isso o tempo todo, mas parece com essa menina dos
filmes, aquela em todas essas comédias românticas, sabe de quem
estou falando, Cade?
Cade revirou os olhos. — Sim — disse ele. — Sou realmente fã de
comédias românticas.
— Ela está casada com uma estrela rock, Viper Gabriel. Ou se
casando ou algo assim — disse June. — River – é isso. River Algo. Está
na ponta da minha língua. A gravidez está me fazendo estúpida
ultimamente, não me lembro de nada.
River riu. — Você pode guardar um segredo? — perguntou.
June inclinou-se para frente. — Claro.
— A vi uma vez — disse ela.
— Sério? — perguntou June — Você é da Califórnia ou algo
assim?
River balançou a cabeça. — Não — disse. — Mas viajei pra lá. —
entregou a June, um cartão de crédito e RG. Eu me perguntei se
tinham o seu nome verdadeiro ou se eram falsos.
June pegou o cartão para seu laptop, falando o tempo todo. —
Ela era legal? Ela parece que ela seria legal.
River sorriu. — Acho que ela foi legal — disse ela. — Embora
algumas pessoas pareçam ter sentimentos mistos sobre ela.
Limpei minha garganta para cobrir o meu riso e River olhou para
mim. June não parecia notar.
— Tenho camas king size e um quarto menor com apenas camas
simples — disse June. — A king size está bem?
— Se estiver disponível, gostaria de alugar a casa.
June fez uma pausa, o cartão de River em sua mão, no meio do
movimento. — Toda a casa?
— Se tiver outros convidados, é claro que entendo — disse River.
— Não quero que mexa em nada. Mas se não, gostaria de apenas
alugar todos os quartos para que fiquem vazios.
A testa de June franziu e podia sentir os olhos de Cade fitando na
parte de trás da minha cabeça. Eles achavam que roubamos um cartão
de crédito ou algo assim.
June olhou River por um longo minuto. — São cinco quartos —
disse.
River assentiu com a cabeça, parecendo completamente à
vontade sob o escrutínio. — Isso está perfeito — disse.
June finalmente quebrou seu olhar e assentiu. — Acho que a
próxima semana inteira estava livre, exceto para o Robinson — disse
ela. — Temporada turística é no inverno aqui, então as coisas estão
lentas agora. Quanto tempo ficará?
— Provavelmente ficarei aqui por alguns dias, dependendo de
algumas coisas.
June clicou algumas coisas em seu laptop, e, em seguida, olhou
para nós. — Acho que toda a casa seria bom, então.
— Bom — disse River. — Está resolvido. Tem algum lugar que
possa alugar um carro?
— Será que vocês dois não chegaram dirigindo? — June
perguntou, depois parou, distraída. — Esqueci de perguntar seu
nome.
A boca de River abriu e respondi antes que dissesse qualquer
coisa. — E — disse. — Os amigos me chamam de E.
Não era verdade. Ninguém nunca me chamou de E.
— Bem, deixe-me fazer um tour do lugar e Cade pode ajudá-los
com suas malas, se precisarem — disse June.
— Não há malas — disse River. June foi à frente e a seguimos
pelo corredor.
Após June fazer o tour e nos deixar em um dos maiores quartos,
River virou para mim. — Bem, E... — disse, sorrindo, — obrigada pela
carona.
Ela ficou ali, centímetros longe de mim e fiz o possível para não
beijá-la. Disse a mim mesmo que era uma complicação que não
precisava. Sua situação não era simples e nem a minha. Tive
complicações suficientes para lidar – complicações que enfrentaria.
Então virei para o outro lado, longe daqueles olhos brilhantes e
lábios maravilhosos.
— Te vejo por aí, River. — Olhei por cima do meu ombro
enquanto saí e sorria para mim.
Ela piscou. — Te vejo por aí, Elias.
River
— Sinta-se livre para passear — disse June. — Você monta?
Balancei a cabeça. — Um pouco. — Tive que aprender a andar,
apenas o material básico, para um papel que tive, mas não queria
explicar isso a June.
— É legal, não é? — perguntou June, observando-me saborear o
meu chá na varanda da frente.
Concordei. Legal não era mesmo a palavra certa para ela. A coisa
toda – a pousada, a casa ao lado, o celeiro para os cavalos que parecia
ao mesmo tempo novo e rústico – e tudo isso cercado por prados e
colinas cobertas de artemisias e árvores de álamo. Era tudo como algo
saído de um livro.
Quando crescíamos, nós vivíamos no interior, mas não esse tipo
de interior, o tipo onde a paisagem se espalha por colinas, prados e
picos de montanha na distância. Nosso tipo de interior envolvia
trailers e pickups agrupados, crianças correndo nuas no jardim da
frente e os velhos olhando de soslaio para você enquanto você passa,
sentados do lado de fora bebendo de garrafas embrulhadas em sacos
de papel marrom.
Era quase tão longe deste tipo de interior quanto se poderia ser.
Este tipo de interior, eu só queria respirar.
Aqui fora, cercado por isso, eu não poderia evitar, mas sentir-me
calma. Pacífica.
— Estar aqui no interior cresce em você — disse June. —
Especialmente quando se tem coisas das quais se está fugindo.
Olhei-a, mas ela apenas piscou inocentemente e tomou outro
gole de sua xícara de café.
Mudei de assunto. — Há quanto tempo mora aqui? — perguntei.
— Oh, cresci aqui — disse — Fui embora quando tinha dezessete
anos, mas não conseguiu abandonar este lugar. Voltamos aqui depois
que saí da Marinha. Há apenas alguns lugares que ficam com você,
sabe? Lugares que têm uma maneira de incorporar-se profundamente
em a sua alma.
— Acho que nunca tive realmente um lugar que senti assim. — eu
disse. Isso não era verdade exatamente. Golden Willow ficou em mim,
tomado sua residência em minha alma, mas não da maneira que ela
estava falando. Era como uma espécie de parasita que não iria me
deixar, afastando qualquer felicidade que me atrevi a ter.
— Acho que este lugar foi o meu primeiro amor — disse June. —
E então, quando Cade voltou aqui também, eu acho que só estava
destinado a ser.
Como se na sugestão, o marido se juntou a nós na varanda. Ele
caminhou atrás dela, deslizou seus braços ao redor da barriga, e
beijou-a na lateral de suastêmporas. June fechou os olhos e recostou-
se contra ele. Era um gesto tão íntimo, eu me senti quase como se eu
estivesse me intrometendo em um momento privado.
— Ei, baby — disse Cade. — Vou até a loja por um tempo.
Pequeno Stan dorme em um dos quartos de hóspedes.
— Tudo bem — disse June. — Te vejo mais tarde.
— Minha loja é na cidade — disse — Se precisar de algo, posso
trazer.
— Obrigada — disse. — Acho que precisarei alugar um carro ou
algo assim, mas isso pode esperar até amanhã.
— Tudo bem — disse — Mas se precisar de algo, não hesite.
— Obrigada.
Desviei os olhos, dando ao casal um momento de privacidade
quando ele se inclinou para beijar June nos lábios.
— Não chegarei muito tarde, June — disse.
Ela riu. — Fique o tempo que quiser — disse — Stan tem sido
bonzinho para dormir nos últimos dias e dormirei em uma hora.
— Tentarei não ficar lá a noite inteira. — sorriu. — Até logo.
Vi quando cruzou o prado para a outra casa e subiu em uma
motocicleta, o cromo brilhando, mesmo à luz do crepúsculo. O ronco
do motor cortou a quietude do ar e meus olhos seguiram-no quando
foi embora.
Senti uma onda de medo olhando para ele, ouvindo o ronco do
motor da moto. Trouxe algumas lembranças de volta, de viver no
Golden Sunset Mobile Home Park, na pequena cidade do sul que não
tinha nada, exceto a fábrica de papel e dois clubes de strip. Os
motoqueiros passavam pela cidade, enchendo o único hotel nas
proximidades, um lugar decadente com uma placa néon pendurada à
beira da estrada, que faltavam duas letras: CIDADE M – T - L. A luz
ligada de forma intermitente, zumbindo ligado e desligado e dando ao
lugar uma aparência ainda mais vergonhosa.
Odiava aqueles tempos, quando os motociclistas desfilavam pela
cidade. Sempre era más notícias para a minha irmã e eu. Motoqueiros
significavam que minha mãe sumiria por dias enquanto ficaríamos
por nós mesmas, voltando apenas para desmaiar no quarto até ficar
sóbria novamente.
— Cade tem uma loja na cidade — disse June, sua voz cortando
meus pensamentos. — Acabou de abrir não muito tempo atrás. Faz
trabalhos de pintura personalizada em motos.
— É bom ter algo parecido com isso — disse. — Sempre pensei
que seria bom ser capaz de criar algo a partir do nada, sabe?
— Admiro isso nas pessoas criativas — disse June. Olhou para
mim, sua expressão me analisando, mas não disse mais nada. —
Ficamos naquela casa ali. Se não precisa de mais nada esta noite, irei
embora com o pequeno Stan. Voltarei na parte da manhã, bem cedo.
Costumo trazer o café da manhã por volta das nove, apenas muffins e
coisas assim, mas se quiser algo mais tarde do que isso, apenas me
avise. A cozinha está toda equipada, então ficará bem.
— Nove horas parece bom — disse. — E, June?
— Sim? — perguntou, virando e parando antes voltar.
— Obrigada — disse. — Tudo isso é maravilhoso.
— Você é mais do que bem-vinda para ficar o tempo que quiser.
Este é o tipo de lugar onde pode ficar incógnita. — fez uma pausa. — A
propósito, adoro comédias românticas.
Ela sabia quem eu era. Se alguém tivesse dito algo assim, me
sentiria ameaçada, em perigo. Mas quando June disse, parecia
reconfortante, como uma promessa de que este era um lugar
seguro. Essa era uma sensação estranha.
Capítulo Nove
Elias
Dirigi pela cidade a caminho da minha casa, ao longo da rua
principal, passando pelas pequenas cafeterias e sorveteria, e as lojas
que vendiam todo tipo de bugigangas do interior. West Bend era o
tipo de cidade pequena que você vê nos filmes, com um centro que
parecia que tinha sido transplantado diretamente dos anos cinqüenta.
Ao que tudo indica, era um pequeno local pitoresco, o tipo de lugar
onde nada de ruim acontece. Se estava apenas visitando West Bend,
um dos turistas que vêm durante o inverno na temporada de esqui,
essa é definitivamente a impressão que teria.
Isso é o que River pensou, sabia. Podia ver a expressão em seu
rosto dela, quando nós estávamos dirigindo até aqui, e, em seguida,
parando na pousada.
Claro que um visitante não conhecia West Bend como eu. Um
visitante não teve nenhuma história aqui, o tipo de história de crescer
em um lugar onde o seu irmão fez o que o meu fez. Um lugar onde
seus pais eram o que os meus eram.
Um lugar onde você era a porra de um pária.
Memórias que nunca se desvanecem, não em uma cidade
pequena como esta. Seus pecados só se tornam mais amplificados,
contos de advertência passados de geração em geração.
Nós vivíamos na periferia da cidade, em um par de acres que
meu pai tinha comprado antes da cidade ser do tamanho que era
agora. Do tamanho que é agora foi realmente um exagero. Havia
talvez umas duas mil pessoas em West Bend. Mas quando eu era mais
jovem, era ainda menor. Ainda mais fechadas e mais mente fechada,
atrasada.
Havia mais algumas lojas e as pessoas mais ricas com segundas
residências aqui, e mais os turistas que vêm para cá durante a
temporada de esqui, mas a cidade não tinha mudado tanto assim. Pelo
menos não onde a casa da minha família ficava. Lá fora, nas margens
da cidade, ainda existia gente sofrendo em qualquer tipo de existência
que podiam. Lá fora, onde ficavam pessoas como o meu pai, que era
dono de um pequeno pedaço de terra e trabalhavam a terra com o que
quer que pudessem obter. Do jeito que ele tinha feito com a mina de
carvão em nossa propriedade.
As pessoas pensam em minas de carvão como grandes lugares
explorados por empresas de mineração. Mas a verdade é que há
pessoas que, pelo menos quando eu era criança, faziam a mineração
em sua própria propriedade. Era uma espécie de contrabando, exceto
que era legal. Meu pai tinha a autorização que ele precisava quando
éramos crianças, e não era uma operação complicada. Era bastante
simples - ele colocava detonadores na lateral da montanha em nossa
propriedade, atirando um pouco de cada vez. Ele vendia carvão da
maneira que as pessoas vendem lenha, esse negócio que nos forneceu
apenas o suficiente para riscar uma existência.
E então ele bebia a maior parte do que ele ganhou, chegava em
casa com raiva, pronto para descontar em quem cruzasse com ele.
Em seguida, a merda aconteceu com Silas - o problema com os
explosivos, quando ele os colocou sem permissão e meu pai perdeu
licença de mineração - e não havia mais mineração. Meu pai se tornou
um faxineiro em nossa escola.
Em seguida, nós fomos os filhos do zelador bêbado do ensino
médio.
Dizer que fiquei feliz em deixar West Bend era a porra de um
eufemismo.
Fugi de West Bend, logo que pude ir embora.
É engraçado como a vida funciona. As coisas vêm sempre em um
círculo completo quando você menos espera. Jurei por tudo o que
acreditava que nunca voltaria aqui novamente. A única vez que voltei,
para ter certeza que meu irmão Silas não estava morto, apenas
confirmou que precisava ficar bem longe deste lugar.
À minha frente, a casa estava em forte contraste com as casas
que passei no caminho para fora da cidade. Meus pais não
mantiveram os reparos, poderia dizer isso, embora adivinhasse os
reparos teria sido mais do que a casa valia a pena. Não era um bom
lugar quando crescia e era ainda menos ainda agora.
Um cão apareceu correndo até o carro. Não tinha certeza se era
um vira-lata ou não.
A porta da casa abriu e uma figura estava no batente, sombreado
pelo beiral da porta à luz no meio da tarde. Ela protegeu os olhos do
sol, mas eu podia vê-la apertando os olhos para mim. Ela saiu,
vestindo um roupão de banho e chinelos de cetim de salto alto, bobs
no cabelo, acenando para o cão. — Afaste-se do carro e deixe-o em
paz, seu vira-lata sarnento.
Abri a porta e sai e o cão foi para longe no quintal. — Oi, mãe —
disse.
— É ele? — perguntei.
Minha mãe acendeu um cigarro, soprou a fumaça através da
cozinha antes de responder. Ela brincava com a caixa de fósforos na
mesa da cozinha, em seguida, puxou o robe de cetim apertado em
redor dela antes de responder. —É ele — disse ela. — Não sabia o que
fazer, então o deixei lá.
— Jogar na privada funcionaria — disse. Não gosto da ideia de
ele estar lá em uma urna sobre o manto, como se olhasse por nós ou
algo assim. Como se fosse uma espécie de amada figura paterna.
— Elias, você não quer dizer isso — disse. Ela cruzou os pés,
balançou o chinelo de gatinho peludo com o pom-pom em cima na
ponta do dedo do pé. Minha mãe estava presa em algum lugar na
década de cinqüenta, de muitas maneiras, de todos os problemas, o
menor dos quais envolvia seu guarda-roupa. — É anticristão falar dos
mortos desse jeito.
Não fui capaz de abafar o riso, o som amargo. — Bem, foi
anticristão ele ser um bêbado inútil e espancador de criança.
— Seu pai tinha seus próprios demônios, Elias — disse — Um dia
entenderá.
— Duvido. — Isso era verdade. Nunca entendi por que meu pai
era quem era, frio e insensível quando não estava bêbado, pior do que
quando estava.
E nunca entenderia por que minha mãe ficou, tão embrulhada
em um cobertor de negação que raramente era consciente dos
horrores sob seu próprio nariz.
Ela fumava, mas não bebia ou usava drogas; pelo menos não
isso. O vicio de minha mãe era a religião. Agarrou-se a isto como uma
droga. Antes de nos ter, foi uma criança rebelde, em festas e fora de
controle, pelo menos de acordo com as histórias que nos contou. Foi
quando teve o meu irmão mais velho, aquele quem causou todos os
problemas, que mudou o curso das nossas vidas nesta cidade. Ela
tinha dezesseis anos quando ele nasceu. Tornou-se firmemente
religiosa, mas nenhum tipo de religião específica. Incorporou pedaços
de coisas com as quais se deparou, em seguida, com veemência as
reclamou como seu – católicos, protestantes, judeus, budistas, isso
não importa.
Meus três irmãos e eu viemos muito mais tarde, depois que se
casou com o nosso pai.
Abraham Saint.
Quando crescíamos, nos disse que soube que era seu destino
quando o conheceu, que seu nome era um sinal. Era um sinal de Deus,
que tinha se deparar com este homem com o nome religioso.
A verdade era exatamente o oposto. Ele não era um presente de
Deus. Ele era uma maldição.
Mas ela persistiu, continuou acreditando. Ela nos deu os nomes
de santos, com alguma noção equivocada de que nos nomeando em
homenagem a santos, de alguma forma nos protegeria. Minha mãe era
perpetuamente ingênua.
O rufar de suas unhas na mesa tirou-me dos meus pensamentos.
— Elias — disse ela, cobrindo minha mão com a dela. Sorriu
tristemente, o rosto pálido, mesmo por baixo da maquiagem
cuidadosamente aplicada. Sempre foi uma mulher bonita e ainda era
agora, mesmo depois dos anos de merda com meu pai. — Você ficará?
A casa está tão vazia desde que ele se foi.
Minha mãe nunca foi boa em ficar por conta própria. Era uma
daquelas pessoas que eram apenas pessoas na presença de outros, que
de alguma forma deixam de existir quando estavam por conta própria.
Sua expressão era infantil em sua intensidade, e eu não podia evitar,
mas senti pena dela. — Por um tempo, mãe.
A verdade era que não tinha certeza de quanto tempo ficaria em
West Bend ou o que faria. Estava fugindo, mas não sabia para onde.
Ela assentiu com a cabeça. — Um pouco é bom — disse ela. Ela
ficou em silêncio por um momento antes de finalmente falar. — Sua
perna, como está?
— Está tudo bem, mãe — disse. Era uma pergunta
estranhamente direta, vindo de minha mãe. Ela soube de minha lesão
apenas uma vez, após o ocorrido, ao telefone. Ela não veio me ver no
hospital, mas também não esperava isso.
— Dói?
— Agora? — balancei minha cabeça. — Às vezes. É como uma dor
fantasma.
— Mas parece, você sabe, normal agora.
Balancei a cabeça. — A prótese é boa — disse. — Esta é bastante
realista. Tenho outra para corrida.
— Iria visitá-lo. — Minha mãe se inclinou para trás em sua
cadeira, seus olhos focados na parede atrás de mim. Acendeu outro
cigarro, com as mãos tremendo enquanto se atrapalhou com o
isqueiro. Quando falou, sua voz falhou. — Não podia... Eu só não
queria ver você assim.
— Está tudo bem, mãe — disse. Para todas as suas insuficiências,
tive um tempo difícil ficar com raiva dela. Era como estar irritado com
uma criança.
— Você já viu Silas? — perguntou.
— Não — Não vi meu irmão gêmeo há três anos, desde que voltei
para West Bend para visitar, pensando que as coisas pudessem ter
mudado, que, após dois anos fora, as pessoas poderiam, estar
diferentes. Mas as pessoas não mudam.
E família? Eles mudam menos que todos.
— Não sei o que aconteceu com vocês dois — disse ela. — Mas
você precisa vê-lo, Elias. As coisas não estavam bem com ele antes,
mas ele está em um mau caminho agora, desde que veio de Vegas.
Era como ouvir a minha mãe falar em uma língua estrangeira, o
jeito que reconhecia que o meu irmão estava em algum tipo de
problema. Isto – de ser direta, honesta – não era algo que fazia.
Talvez a morte de meu pai abalou algo dentro dela.
— Prometa-me que irá vê-lo, Elias — disse, com voz suplicante.
— Sim, mãe — disse. — Irei vê-lo. — Mas isso não quer dizer
nada. Essa coisa que sangue é mais grosso do que água? Isso era um
monte de besteira, pensei. Silas e eu, fomos próximos, mas isso foi há
muito tempo atrás.
Capítulo Dez
River
2
Post Traumatic Stress Disorder - Transtorno de estresse pós-traumático é uma perturbação psicológica que ocorre em
resposta a uma situação ou evento estressante/marcante.
— Por que, não tem isso?
— Claro que não, não tenho — disse. — Era como chamavam a
isso. Preferiram me aposentar por razões médicas em vez de ficar
administrativamente fora do exército por um padrão repetido de
insubordinação. — enfatizou a última frase e revirou os olhos, mas
continuou a falar. — Estava de serviço limitado por causa da minha
perna. Não conseguia lidar com todos os idiotas que tive de ficar perto
por causa do meu serviço reduzido, eram uns babacas. Porra, isso
causou mais problemas do que quando estava na UDOE. Acabou me
metendo numa fria com o meu tenente, esse babaca que nunca foi
colocado no exterior, fora do arame.
— Fora do arame?
— Você fica em uma base ou em um acampamento quando está
colocado, não é? — perguntou. — O perímetro é o arame. Fobbits3
como ele ficam dentro do arame durante o serviço militar. Não
entendem como o mundo real funciona.
— Você foi expulso porque brigou com o seu tenente? —
perguntei. — Isso parece muito injusto.
Elias deu de ombros. — Acho que foi um pouco mais do que
apenas brigar com ele. Dei um soco no cara. Fui ver o capitão por
causa dele. — Deve ter visto o olhar confuso na minha feição, porque
explicou. — Isso é quando precisa ver o comandante oficial e ele
decide sua punição, tira-lhe o seu posto no exército e esse tipo de
merda.
3
É uma gíria militar pejorativa para não combatentes, para equipes e outras unidades de retaguarda que não entram em
cenários de guerra ou conflito, só dão apoio.
— Então, ele o expulsou — disse.
Elias balançou a cabeça. — Não — disse. — Isso tem que passar
por um processo legal. Ele tirou-me o meu posto e tive que perder o
meu salário, mas não fui acusado de agressão. Deveria ter sido
acusado, mas me deram uma oportunidade ou qualquer coisa
parecida com isso. O capitão disse que pensava que precisava ver um
psiquiatra ou algo assim.
— Será que isso ajudou? — perguntei.
— Não estou destruído — disse — Só porque perdi a minha perna
não significa que não posso cuidar da minha própria merda.
— Obviamente — disse. Isso soou mais sarcástico do que
pretendia.
— O que isso significa?
Dei de ombros. — Nada — disse. — Você apenas parece o tipo de
cara que não depende de ninguém.
Ele estreitou os olhos, mas não disse nada. Deliberadamente
deixei de fora o que diria, que controlar a raiva não parecia ser a pior
ideia do mundo para alguém que ficava tão facilmente irritado.
— Não é realmente a minha coisa, não faz parte de mim, confiar
nas pessoas — disse ele.
— Não brinca.
Ele ficou quieto por um tempo, mas podia ver que seu cérebro
trabalhava. — Fico irritado — disse — No estacionamento da loja, não
tive a intenção de chateá-la por olhar para a minha perna.
— Não se preocupe — disse. — Acho que é um ponto sensível.
— Não é, no entanto — disse. — Não realmente. Não me
incomoda, quero dizer. Tenho mais sorte do que um monte de outros
caras. É apenas uma perna, de qualquer maneira. Sou um biônico de
merda agora.
Passei a minha mão pelo seu abdômen musculoso, depois mais
abaixo, observando o seu pênis responder ao meu toque. — Você pode
muito bem ser biônico aqui, também — disse, minha tentativa de
aliviar o clima.
Ele sorriu, a lateral de seus olhos azuis enrugando. Não sabia
exatamente o que carregava com ele, mas parecia que o peso do
mundo estava em seus ombros – até que sorriu. Então era como se
tudo se isso se dissipasse.
— Quer que te mostre o biônico? — perguntou, com a voz baixa.
Fechei minha mão ao redor da base de seu pênis, senti-o endurecer
com o meu toque.
— Isso é uma promessa? — perguntei. Passei a mão levemente
para cima e para baixo, esfreguei o polegar sobre o pré-sêmen já
brilhando na cabeça.
— Venha aqui e lhe mostrarei — disse. Ele me puxou contra ele,
sua dureza pressionada em mim e me beijou. Quando enfiou a mão
entre minhas pernas, fez-me ofegar. — Acho que gosta do biônico.
— Só um pouco — disse. Começava a pensar que gostava muito
mais do que apenas um pouco.
Depois, os seus dedos traçaram um caminho preguiçosamente
pelo meu braço. — Provavelmente precisa de ajuda para arranjar um
carro alugado — disse — Certo?
— Isso seria ótimo — disse, limpando a garganta. — Se quiser.
Provavelmente, há uma loja aberta agora.
— Porra, sim — disse — Fiz uma promessa na noite passada.
Senti meu rosto ficar vermelho e quente com o pensamento do
que queria que me fizesse.
— Sabe quanto tempo ficará?
— Não pensei nisso — disse. Era verdade. Nada disto foi
planejado. Não tinha ideia do que fazia aqui, em West Bend ou com
ele. Tudo isto é insano. Era uma loucura pensar em ficar aqui por
alguns dias. Devia voltar para a minha vida. Precisava voltar para a
minha vida. Fugir de um set de filmagem foi uma loucura. Não era
algo que fizesse. Não podia imaginar a tempestade de merda que
aconteceria.
Senti sua mão sobre o meu peito. — Seu coração está acelerado —
disse com a voz suave. — E você está toda tensa.
— Não sei o que farei — disse. — Quanto tempo ficarei. — Isso
não é verdade. Sabia que não podia ficar muito tempo.
— E é por isso que você está tensa?
— Não — admiti. — É o pensamento do que espera por mim
quando voltar as perguntas, as decisões que preciso tomar...
— Sobre Viper — disse.
— Sobre tudo. — Já sabia o que queria fazer com Viper. Isso nem
mesmo era uma decisão. Queria que ele saísse da minha vida
completamente. Era com todo o resto que não sabia como lidar –
minha família, minha carreira – essas eram as grandes questões.
Essas eram as coisas que não conseguia explicar – não queria explicar
a um estranho. Como podia explicar como tudo era fodido, o fato de
que minha mãe era quem era, que continuei a apoiá-la depois de tudo
o que fez e que ainda me fazia? Era esse disfuncional e estranho
relacionamento com a minha família que não podia explicar.
Era embaraçoso.
Não podia explicar isso a um estranho.
Ele não me pediu para explicar. — Você está com fome? —
perguntou. — Estou com fome.
Estava grata por mudar de assunto. — Absolutamente.
River
Não é da sua conta.
As palavras de Elias ecoaram em minha cabeça quando fechei a
porta do carro e voltei para a cama e para o pequeno-almoço. Depois
que o deixei na cidade, esperei e o vi caminhar a passos largos de volta
para seu carro como um homem em uma missão.
Zangado com o mundo, disse a mim mesma. E ele sequer
percebeu isso, porra.
Porque me importo, de qualquer maneira? Ele estava certo, não
era da minha conta, cacete. Só porque dormia com ele, não, nada
disso, uma vez que ainda não tinha transado com ele, não significava
que precisava saber quem era. Passava algum tempo aqui em West
Bend, apenas alguns dias e isso era tudo.
Esta era apenas uma pausa da minha vida normal.
Precisava me lembrar disso.
Alguns dias fora da caixa e voltaria para ela. Precisava voltar.
Segunda-feira, se não aparecesse nas filmagens, o estúdio ficaria
chateado para cacete. Estávamos perto do final do filme e eles,
provavelmente, pensariam que cheguei ao fundo do poço ou algo
assim, fiquei louca, com tudo o que aconteceu com Viper. Entretanto,
filmariam sem mim, mas alguém me procuraria. Em breve.
Andei pela cidade, olhei algumas das vitrines das lojas, os
espaços decorados com bugigangas, roupas de cowboy e botas. Estar
aqui era como voltar no tempo.
Era quase o suficiente para esquecer tudo o que aconteceu no
mundo real. Em Hollywood. Não que Hollywood fosse parecida com o
mundo real. Não delirava o suficiente para pensar isso. Mas era a
minha realidade.
Só não sabia se queria que fosse o meu futuro.
Quando voltei para a pousada, Cade e June estavam na varanda
da frente e June tinha uma cesta de piquenique em sua mão. Ergueu-a
quando saí do carro.
— Fazíamos um lanche — disse — Então achei melhor trazer-lhe
algumas coisa, no caso de estar com fome e não se sentir com vontade
de cozinhar. Cade faz uma salada de frango deliciosa.
Cade estava ao seu lado, com um sanduíche meio comido na
mão. — O ingrediente secreto é curry — disse — June come como uma
caminhoneira desde que ficou grávida.
— O garoto odiará salada de frango — disse June.
— Bem, com um elogio como esse, como poderia não provar? —
Abri a porta da frente. — Existe suficiente aí para todos nós? Será que
ficariam e almoçariam comigo?
— Claro — disse June. Então, para Stan — Baby, venha aqui. —
Ele tirava as pétalas fora das flores em um vaso perto da porta. — Não
as coma.
Dentro, June colocou os pratos e Cade sentou-se com Stan em
seu colo.
— É bom — disse enquanto mordia o meu sanduíche. — Muito
bom.
Cade sorriu.
— Ele é um grande cozinheiro — disse June. — Melhor do que eu
em um monte de receitas. Os muffins desta manhã? Sua receita.
— Você é como um pau para toda obra — disse. — Trata dos
cavalos e de tudo aqui também?
Cade assentiu. — Faz parte de tomar conta de um rancho — disse
— No entanto, tenho algumas mãos ajudando no rancho por que
agora estou mais na loja.
— Vi sua loja hoje quando aluguei um carro — disse. — Fechado
para almoço – obviamente estava aqui.
Comemos por alguns minutos em silêncio, mas não era o tipo de
silêncio constrangedor que geralmente sentia perto das pessoas. June
e Cade eram fáceis e descomplicados.
Então fiz a pergunta que esteve em minha mente desde que tinha
deixei a cidade. — Você sabe alguma coisa sobre os irmãos Saint?
Era como se todo o ar fosse sugado para fora da sala. — Onde
ouviu esse nome? — perguntou June.
— Elias Saint. — Soltei as palavras antes que pensasse em me
parar. — Ele é o cara que estava aqui comigo.
Um olhar escuro atravessou o rosto de Cade e olhou para June
significativamente. — Você o conhece há muito tempo? — ele
perguntou.
— Não muito, na verdade — admiti. — Ele me ajudou a sair de
uma enrascada. — Não entrei em detalhes, sentindo-me subitamente
desconfortável com o fato de que toquei no assunto, uma vez que
ambos conheciam claramente o seu nome.
— Ele não é alguém com quem deva gastar tempo — disse Cade,
ríspido.
— Cade, você não sabe — disse June, subindo o tom de sua voz.
Ela deu-lhe um olhar.
— Um leopardo não muda as suas manchas — disse Cade.
— Não é justo — disse June — que ele pague pelos pecados de seu
irmão. Ele era um garoto, naquele tempo.
Cade grunhiu e afastou-se da mesa, beijando a testa de sua
esposa antes que saísse pela a porta. — Preciso voltar para a loja —
disse, entregando-lhe Stan.
— Xau-xau — Stan balbuciou.
Cade beijou sua cabeça. — Xau-xau, baby — disse. Então olhou
para June e para mim. — Essa família não é boa, todos eles.
Depois que Cade partiu, June virou para mim. — Não ligue para
ele — disse — Ele não tem a mente fechada pra muitas coisas, mas
quando se trata de mim, sim.
— Não entendo — disse. Não sabia o que Elias ou a sua família
fizeram, mas esta cidade parecia estar atenta a ele.
— O que ele disse não é verdade — disse June. — sobre a sua
família. Nem todos eles são maus. O pai, Abraão Saint, era um pedaço
de merda, como lembro, bebia muito. Acham que batia nas crianças,
mas está morto agora, acabou de morrer, há uma semana? Talvez
duas semanas? Não consigo acompanhar as coisas ultimamente.
Uma ou duas semanas.
Tinha que ser por isso que Elias voltou para cá. Ele não disse
nada. Mas então, por que se meteu em um caso casual?
— Não entendo — disse. — Então, são todos maus por causa do
pai de Elias? — Cresci em uma cidade pequena e entendia como a vida
podia ser mesquinha e complicada em uma pequena cidade, mas isto
parecia demais, até mesmo para mim.
June abanou a cabeça. Ela colocou Stan no chão, depois se
levantou e abriu um armário, tirando alguns brinquedos e os colocou
no meio do chão. — Não acho que Elias é ruim, querida — disse — Ele
parece um cara legal. Parece gostar muito de você, também.
Não sei se ele gosta muito de mim, pensei.
— Então, o que é? — perguntei. — A que coisa Cade se referia?
— Cade apenas é super protetor por vezes, é tudo — disse — Tudo
o que aconteceu foi há muito tempo atrás, quando estava no colégio.
Você tem o quê, vinte e poucos anos? — não esperou pela minha
resposta, apenas continuou. — Elias tem a sua idade. Devia ser uma
criança quando aconteceu, imagino. Não conhecia os Saints naquela
época. Havia um irmão mais velho – Mason – mais velho que eu
alguns anos, trabalhou como rancheiro para o pai do Cade.
Escutei atentamente, o tempo todo pensando em como esta
cidade era especial, pois todos, de alguma forma, estavam ligados.
Acho que isso podia ser reconfortante ou assustador, dependendo de
como se relacionava com as pessoas na cidade. Senti uma pontada
momentânea de empatia por Elias.
— Mason e minha irmã tinham alguma coisa — disse June. —
Mesmo que fosse alguns anos mais velho. Todos diziam que ele era
uma má influência para ela e que isso poderia ter causado as coisas,
mas a minha irmã era uma criança selvagem naquela época também.
Eles estavam em uma festa, Mason e minha irmã e foi aí que
aconteceu.
— O que aconteceu?
— Mason e ela voltavam de carro da festa — disse June. — Ele
estava bêbado. Meus pais procuravam pela minha irmã. Houve um
acidente, colisão frontal e os meus pais morreram. Mason, também.
Minha irmã cometeu suicídio depois disso, não podia suportar viver
com a culpa.
Coloquei minha mão na boca. — Oh, meu Deus, June — disse —
Sinto muito. Não fazia idéia.
— Obrigada por isso — disse — Mas isso foi há muito tempo
atrás. Uma vida inteira. Um monte de pessoas carregou um monte de
culpa pelo que aconteceu, mesmo que não houvesse nada que
pudessem fazer sobre isso, inclusive Cade. Não havia necessidade
disso, não se podia fazer nada.
— É a isso que Cade se referia, sobre a família de Saint?
— Sim — disse June. — Parti logo depois que aconteceu, mas
ouvi que a família sofreu muito com isto tudo. Para começar, o pai não
tinha uma boa reputação, mas depois disto, não tenho certeza. Eu
imagino que não foi fácil para eles aqui.
Podia imaginar o que Elias passou nesta pequena cidade, sendo
de uma família com esta reputação. Gold Willow, na Geórgia, não era
exatamente como West Bend, não era tão pequena que você conhecia
todo mundo e sabia tudo o que acontecia, mas era o tipo de lugar onde
a reputação da minha mãe nos seguia. Não ajudava o fato de
atrairmos atenção – olhares de desgosto ou piedade, dependendo de
quem via a minha irmã e eu – caminhando com os pés descalços e
com roupas de segunda mão esfarrapadas.
Se havia uma coisa na vida que entendia, era sobre ser um pária,
um indesejado.
Também sabia que a sensação de ser um indesejado nunca te
deixa. Fica gravado em sua alma, na essência de quem é. Não importa
quantos fãs tenha ou quanto dinheiro ganhe, ela estará sempre lá.
Eu me perguntava se Elias se sentia da mesma maneira.
Disse a mim mesma que não importava. Não preciso saber a
história de Elias. Ele pode ter todos os tipos de razões para estar como
estava e poderia ter todo o tipo de química com ele, mas isso não
importava. Estava aqui por alguns dias, aguardando o meu tempo... e
Elias tinha mais problemas do que precisava, com feridas que não
desaparecem simplesmente.
Já tinha complicações suficientes na minha vida. Não precisava
de mais nada.
Capítulo Dezesseis
Elias
— Mãe? — chamei. Fiquei perto da porta por um momento, não
querendo entrar, quase como se ficasse aqui, não seria sugado para
qualquer que fosse o drama que acontecia. Por mais que tivesse
regressado pra casa porque estava perdido, sabia que não queria ficar
enraizado aqui permanentemente. Não queria tomar conta dela para
sempre.
Parece insensível, sei que sim. Honre seus pais e tudo isso. E
minha mãe não era má, não do jeito que o meu pai era. Ela era
apenas... incapaz. Nunca foi forte. Era uma das razões pelas quais
voltei, para me certificar que estava bem.
Só não queria ficar preso aqui em West Bend.
Não queria acabar como ela.
Ela fez sinal para entrar, um cigarro aceso pendurado na
extremidade de seus dedos. — Pensava em comprar uma daquelas
boquilhas para segurar o cigarro, sabe? — perguntou, apontando para
o final apagado do cigarro. — A forma como as atrizes costumavam
fumar com elas era especial. Parece elegante. Mantém os dedos sem
manchas de nicotina.
Exalei alto. — Talvez devesse parar de fumar, mãe — disse. —
Não é bom para sua saúde, você sabe. Câncer e tudo isso.
Ela olhou atrás de mim, para o aparelho de televisão, sem som,
mas sintonizado numa novela. — Seu pai costumava reclamar sobre
isso o tempo todo, também — disse ela.
— Essa era a única coisa na vida em que concordamos — disse.
Só que o idiota não se importava se a sua saúde era ótima. Foda-se,
não dava a mínima se vivia ou morria. Porra, só se preocupava com
não ter que comprar cigarros para a minha mãe, em poupar dinheiro.
Quando éramos crianças, pegávamos dinheiro trocado para ela,
ou pedir às pessoas uma moeda, para que ela pudesse comprá-los
quando meu pai se recusava. Entre os dois, a sua bebida e os seus
cigarros, era um milagre que eu e meus irmãos tivéssemos comida.
— Seu pai odiava isso — disse — Ele se importava comigo.
Não me incomodei em corrigi-la.
— Mãe — comecei, então me coloquei em sua frente para
bloquear a sua visão da televisão. — Preciso falar com você sobre algo.
— Sim, baby — disse. Inclinou a cabeça para tentar ver a novela
diurna. — Mais tarde, está bem? Esta é a reprise de um dos meus
episódios favoritos. O irmão desse cara morreu em um acidente de
paraquedismo trágico, vê? Só que ele não está realmente morto. Ele
voltou e dorme com a esposa desse cara.
— Não — disse, caminhando até a televisão, desligando-a.
— Por que fez isso? — parecia indignada, mas colocou o cigarro
na sua boca casualmente.
— Porque isto é importante — disse — Na cidade, alguém disse
algo sobre a propriedade, sobre cuidar da propriedade. O que
acontece?
Ela me afastou com um gesto de desprezo. — É aquele
empresário — disse — Quer comprar a nossa propriedade.
— Fizeram uma oferta? — perguntei. — É um preço justo?
Virou e atravessou a sala, seu roupão de banho esvoaçante atrás
dela. — Não quero pensar nisso — disse — Simplesmente não posso
lidar – a papelada e tudo isso – depois do que aconteceu com o seu
pai.
Senti uma onda de raiva por sua causa. A minha mãe ignorava
todas as coisas ruins na vida e isso tinha nos mantido com o meu pai.
Ela viveu neste lugar, na sua mente, onde o meu pai não era um
idiota, onde não voltava para casa bêbado nas noites de sexta-feira
depois de gastar o pouco dinheiro que tínhamos, com o cinto na mão,
procurando alguém para punir. E agora, depois de morto, agir como
se devesse lamentar, era uma loucura. Devia estar aliviada por que se
foi.
— Precisa pensar nisso, mãe — disse. — Se oferecem um preço
justo, precisa considerar.
Começou a remexer nos armários, puxando uma tigela e
utensílios de cozinha. — Tenho bananas — disse — Farei o pão de
banana que sempre gostaram. Silas veio aqui ontem.
— Sim?
Ela estava de costas para mim enquanto pegava uma caixa de
ovos da geladeira. — Fez perguntas sobre essas coisas — disse — Sobre
o acidente com o seu pai, como morreu. Vocês sabem que isso me
estressa mais do que posso suportar e depois fico com dores de
cabeça.
— Tudo bem, mãe — disse. Fiz uma nota mental para perguntar a
Silas sobre isso. Ela pode nunca ter sido uma grande mãe, mas não
merecia definhar nesta casa de merda, não se um grande empresário
oferecia algo por ela.
— Falou com Silas, então? — perguntou
— Sim, falei com ele.
— Não gosto que briguem — disse. — São gêmeos. Devem ser
unidos. Todos deveriam – Killian e Luke, também.
Talvez se nossa infância tivesse sido normal, seríamos todos
amigos. Isso é o que queria dizer, mas não o fiz. Ao invés disso,
perguntei — Já falou com Luke e Killian?
Ela virou, com as costas no balcão, seu tom era defensivo. —
Luke vem até aqui de vez em quando — disse — Bombeiros
paraquedistas viajam muito, você sabe. Ele gostaria de estar aqui mais
vezes, mas não pode. Envia-me cartões postais.
Tinha certeza de que o trabalho de Luke não era a única coisa
que o mantinha longe de West Bend.
— E Killian — disse — está viajando, também. Para as
plataformas de petróleo. Não sei muito sobre ele, me dá notícias a
cada poucos meses. Claro, isso é porque está fora de contato por
longos períodos de tempo. Mas diz que gosta.
— Olha, mãe — disse. — Quero que fique bem, que tenha
dinheiro. Quero ver o que eles oferecem.
Ela virou em direção ao balcão, me afastou com a mão. — Mais
tarde, Elias — disse — Não agora. Já sinto uma dor de cabeça se
aproximando.
Suspirei. Não conseguiria que falasse, não sobre este tema. Veria
o que Silas tinha a dizer sobre isso. Se tivesse alguma coisa a dizer.
— Só mais uma coisa, mãe — disse. — Encontrei Jed Easton na
cidade hoje.
Ela parou o que fazia, a colher de mistura em sua mão, mas não
se virou. — É?
— Ele disse que deveria dar-lhe um oi da parte de seu pai —
disse. — Do que falava?
Ela ficou em silêncio, por um momento. — Não tenho ideia —
disse, com a voz tensa.
— Não tem ideia do por que o pai de Jed, o prefeito da cidade, lhe
mandou um oi? — perguntei. — Não sabe o que quer com você?
Ela balançou a cabeça. — Precisa ficar fora das coisas que não lhe
dizem respeito, Elias — disse, com a voz sombria. Era a primeira vez
que ouvi a minha mãe falar diretamente sobre algo assim na minha
vida. Ela não era assim.
Agora estava interessado.
Também sabia quando deixar as coisas em paz. Então, por agora,
não a pressionaria.
Então, me surpreendeu novamente. — Acho que deveria sair
agora — disse.
River
Andei para longe da estalagem e da casa da fazenda, deixando a
égua guiar-me mais do que a guiava. Percebi que conhecia este lugar
melhor do que eu, conhecia as colinas e os prados aqui, os bosques de
árvores de álamo que pareciam pequenos oásis no deserto. Só que isto
aqui era o oposto do deserto, tudo exuberante e verde, mesmo no final
do verão. Era o mais longe possível de Hollywood, longe da fumaça e
da poeira de Los Angeles.
Montando aqui assim, não conseguia entender por que Elias
odiaria voltar aqui. Mas acho que ele tem o mesmo tipo de
relacionamento que tenho com minha cidade natal.
Aqui sozinha, podia ver por que alguém poderia nunca querer
partir. Como June e seu marido. Era idílico. Este era o tipo de lugar
em que podia sentir-me como se estivesse em casa.
Sentir-me em casa não era algo que senti em um longo tempo,
talvez nunca.
Puxei a sela e os cobertores na parte de trás da égua e a escovei.
Quando saí do celeiro, Cade andava em minha direção. — Como foi o
passeio a cavalo? — perguntou.
— Ótimo — disse. — Nunca montei em qualquer lugar como este.
Cade assentiu. — Sim. West Bend não é como qualquer outro
lugar.
— Não — concordei. — Posso ver porque é especial, com certeza.
É lindo aqui fora.
— O que disse anteriormente, sobre os irmãos Saint — Cade
começou.
— Está tudo bem — disse. — June explicou. É complicado.
— Não — disse — Não é tão complicado. Fui intenso demais.
June brigou comigo sobre isso, disse que era muito protetor. Não lhe
diga que disse que estava certa, mas estava. Tudo isso aconteceu há
muito tempo atrás e os outros irmãos, eram apenas crianças. Não
devia ter falado, não sei nada sobre Elias.
— June é a sua família — disse — Faz sentido protegê-la desse
jeito.
Cade apontou para a casa da fazenda. — June colocou o pequeno
Stan para dormir — disse — Quer tomar uma cerveja? Sei que ela
adoraria vê-la novamente.
— Claro — disse. — Apenas me deixe ficar limpa e irei logo.
Depois que tomar banho e me trocar, fui até a casa de Cade e
June. O sol estava baixo no horizonte no momento em que caminhava
na direção da casa deles, o céu todo iluminado, como uma pintura em
aquarela, todo rosa, roxo e vermelho. Respirei profundamente, o
cheiro do ar da noite como um bálsamo.
— June não dirá isso, ma é a sua maior fã — disse Cade. — Ela
está muito excitada e contente por estar aqui. Quer dizer, não assisti
seus filmes – sem ofensa.
Ri. — Sem problemas — disse. — Não fiz nada além de comédias
românticas, filmes para mulheres mesmo. — Fiz uma pausa por um
momento, tentando pensar como deveria dizer o que queria. — Estou
aqui escondida, entende isso, certo?
Cade abriu a porta da frente da casa e me fez sinal para dentro. —
Sim, deduzi isso — disse — Você não é a primeira pessoa que escondo
em West Bend.
Abriu a geladeira e tirou uma cerveja, tirou a tampa e a passou
para mim. — Bebida local — disse ele.
Tomei um gole. — É legal. Então escondeu outras celebridades
aqui? Você e June fazem parte de algum programa de proteção de
celebridades?
Cade sorriu, mas a sua expressão estava séria. — Isso seria
demais, hein? Não, só tenho alguma experiência em ajudar as pessoas
a ficarem fora da vista, isso é tudo.
— Aprecio isso — disse. — Não ficarei aqui por muito tempo, de
qualquer maneira. Imagino que não demorará muito tempo até
alguém descobrir que estou aqui, por conta própria.
Cade assentiu, dando um gole em sua cerveja. — Verificou a
internet ou qualquer coisa? — perguntou.
Balancei minha cabeça. — Estou evitando. Por quê?
— June disse que está na web. — revirou os olhos. — Não presto
atenção a toda essa merda de fofocas, mas ela checou hoje, disse que
queria ter a certeza de que ninguém sabia que estava aqui. Disse que
estava em uma situação complicada.
Ri. — Sim, essa é uma maneira de dizer. Peguei o meu noivo e a
minha irmã transando.
— Posso acabar com ele se quiser — disse Cade. Ele fez uma
pausa. — Brincadeira. Piada de franco-atirador, me desculpe.
— Você era um franco-atirador?
— Marinha, sim — disse — Muito tempo atrás.
— Elias estava nos Fuzileiros — disse.
Cade assentiu. — Explica a perna — disse. Essa foi a extensão do
que disse em voz alta, mas podia dizer que sua mente trabalhava.
Estava escrito por todo o rosto. Queria saber o que pensava sobre
Elias, mas não perguntei.
— Você sabe, realmente não estou brava com isso — disse,
inclinando-me no balcão da cozinha.
— Sobre o quê?
— Viper e a minha irmã — disse. — Estava brava quando isso
aconteceu, mas realmente não estou preocupada com isso agora. Isso
é estranho?
— Merda — disse Cade. — Eles que se fodam. Mas sou a última
pessoa a dizer-lhe o que é comportamento normal.
— Que história é essa de comportamento? — perguntou June,
colocando os braços ao redor do peito de Cade, tanto quanto poderia
com sua barriga entre eles. — Como foi o passeio, River?
— Foi ótimo — disse. — Não montava um cavalo há muito tempo.
— Apenas dizia a River que não sou a pessoa certa a perguntar
sobre comportamento normal — disse Cade.
June riu. — Ele realmente não é — disse — Tem sorvete no
congelador?
— Trouxe-o para casa — disse Cade, revirando os olhos. —
Falando de comportamento normal. Você é como uma página de um
manual de gravidez.
— Eu sei — disse June, colocando uma colher no pote de sorvete
e levando à boca. Então parou, com os olhos arregalados. — Oh.
Alguém mais quer?
Eu ri. — Estou bem com a cerveja.
— Esta é a minha substituição da cerveja — disse — Quer levar
isso para a varanda? Se acordarmos o pequeno Stan, demorará uma
eternidade para dormir e acho que não consigo lidar com outra
rodada de adormecer a criança.
— Se há alguma dúvida de quem comanda nesta família, é Stan
— disse Cade. — Ele é como um mini-ditador.
Lá fora, nos sentamos no ar fresco da noite.
— Dizia a River que você praticamente a persegue — disse Cade,
sorrindo para June.
— O quê? — June se inclinou em sua cadeira de balanço e deu
um tapa na perna. — Você não disse isso. Não te persigo!
Eu ri. — Está tudo bem — disse. — Contanto que não ferva um
coelho ou algo assim e o deixe em meu fogão.
— Não lhe disse que a perseguia — disse Cade, virando e
murmurando drasticamente — completamente — enquanto June lhe
bateu novamente no braço.
— Pare — disse — Ela acreditará nisso. Ele me massacra porque
vi um dos sites de fofocas e realmente me senti mal com isso. Mas, em
minha defesa, só queria ver se alguém falava sobre onde estava. —
olhou para Cade. — Apenas para fins de investigação. É isso aí.
— Alguém falava sobre isso? — perguntei. De repente, estava
nervosa.
— Bem, falam sobre isso agora — disse June.
— June — a voz de Cade soou como um aviso.
— Não — disse. — Quero ouvir, seja o que for.
— É tudo conversa — disse June. — Coisas estúpidas.
— Eles viram Elias — disse.
— Há um vídeo de você com ele em um hotel em Las Vegas —
disse June. — Partindo em seu carro.
Meu coração afundou. Basicamente apertei um botão gigante de
pausa na minha vida, fugi para cá e não estava pronta para começar
novamente. Não queria que a realidade se intrometesse.
Ainda não, de qualquer maneira.
Não tinha certeza exatamente do por que. Mas sabia que havia
algo sobre estar aqui, neste lugar, que me fez querer ficar apenas por
mais um tempo. Mesmo que soubesse que era irreal.
— Então, aparecerão algumas pessoas por aqui — disse Cade. —
Provavelmente, em breve.
— Quando foi o vídeo postado? — perguntei.
— Parece que esta manhã — disse June.
— Tudo bem — disse. — Sabia que isso aconteceria.
— Um grupo de repórteres de tablóides e besteira — disse Cade.
— Qualquer pessoa que apareça, podemos mantê-los longe da casa.
Suspirei. — Obrigada pela oferta — disse. — Mas eles podem ser
realmente desagradáveis. E você tem uma criança.
Cade pigarreou. — Quando disse que poderia mantê-los longe,
não era uma sugestão. Isso é o que acontecerá. Isto aqui não é
propriedade pública.
June encolheu os ombros. — Ele é mesmo teimoso, River.
Balancei a cabeça. — Ok, então.
— Há mais uma coisa... — A voz de June sumiu.
Cade revirou os olhos. — June querida — disse ele. — Ela não
precisa ver essa merda.
— Gostaria de ver — disse June. — Se fosse comigo. Só dessa
forma é que eu tenho todas as informações para ter de tomar algumas
decisões.
— Acho que não é uma boa ideia — disse Cade.
— Basta pegar o laptop — disse June. Depois que entrou, virou
para mim. — Há algo que deve ver. Quando procurei hoje por você na
internet, estava em todo o lugar.
Cade colocou o notebook aberto em suas mãos e o deu a June.
Ele balançou a cabeça. — Acho que pode ser complicado.
June mexia em algo na tela, e então virou a tela para mim. —
Aqui — disse ela.
Vi Viper na tela, sentado em um sofá em nossa casa. Minha ex-
casa. Ele tinha uma nova guitarra em seu colo. Destruí sua antiga
guitarra. — Essa música é dedicada a minha noiva, River. Sei que está
aí fora, ouvindo e só quero dizer... — o encarei, dormente, enquanto
ouvia ele tocar a música. — Baby, estou tão perdido sem você aqui...
Quando seu pedido de desculpas musical terminou, desliguei o
computador e o entreguei a June antes de sentar. — Hum — disse.
June e Cade trocaram um olhar e depois ficaram olhando o piso
da varanda.
— Bem, isso foi interessante — mal consegui dizer as palavras
antes de ter um ataque de risos.
Cade e June não disseram nada, apenas me olharam e fiz uma
pausa longa o suficiente para dizer— Não posso acreditar que me
casaria com esse babaca.
Cade sorriu. — Viu, June querida? — perguntou. — Sabia que não
cairia nessa besteira. É uma música estúpida, também. Merda, aquela
parte sobre o buraco em seu coração? — fez uma careta de desgosto. —
Sequer tenho palavras para isso.
— Ela ainda precisava ver o vídeo — disse June, sorrindo. — Foi
muito ruim. A parte em que disse que podia ver em sua alma e sabia
que a sua alma queria estar com a dele?
Eu chorava de tanto rir. — Isso é embaraçoso.
— Para ele — disse June.
— Para mim, também. No que pensava? — perguntei, mais para
mim do que para eles. — Realmente me casaria com aquele cara.
Cade fez uma careta. — Trepando com a sua irmã — disse ele,
balançando a cabeça. — Qualquer cara que escreve uma canção tão
ruim deve ser eliminado a tiro.
— Ele é uma grande estrela — disse, com a voz suave. Eu me
senti entorpecida, desprendida de tudo. Balancei a minha cabeça. —
Não sei porque não vi que era um babaca. Nada mudou. Ele sempre
foi assim.
— Às vezes, é difícil ver o que está bem na frente de seu nariz —
disse Cade. Estendeu a mão e segurou a de June e ela deu um tapinha
nela, sorrindo enquanto olhava para ele.
O som de um motor de carro e a trituração de cascalho cortou o
ar noturno e vi um carro entrar na garagem do hotel. Podia ser de
noite, mas ainda conseguia ver de quem era o carro, sem problemas. E
quem saía do carro.
Ouvi a voz de June, suave, como se falasse apenas para Cade. —
Falando em ver o que está debaixo do seu nariz...
River
Não podia acreditar que fez tudo isso pra mim. As luzes
penduradas nas árvores, o vinho... até mesmo arrumou um iPod e
alto-falantes... Ouvi Into the Mystic, de Van Morrison, tocando
suavemente ao fundo. — Ninguém nunca se deu a este trabalho todo
por mim — disse.
— Isso é uma coisa boa?
— Que ninguém nunca fez isso para mim?
Ele inclinou a cabeça para o lado. — Você sabe o que quero dizer.
— Merda, Elias — disse. — Tudo isto... mais do que bom.
Ele balançou a cabeça e me entregou um copo de vinho. — Ok,
então.
Ok, então. Começava a perceber que Elias era o tipo de cara que
tinha muito mais acontecendo sob a superfície do que pensava. Águas
profundas e misteriosas, pensei.
— Então — disse, bebendo do meu copo de vinho. — Por que
realmente me trouxe aqui?
Elias deu de ombros. — Queria vê-la nua.
— Você já me viu nua, acho que se lembra — disse, com a voz
suave. Eu, definitivamente, lembrava. Não conseguia parar de pensar
em suas mãos em mim. — O que há de tão especial sobre este lugar?
Elias olhou para longe. — costumava vir muito aqui — disse —
Quando era criança. Era o meu lugar, quando tinha que me afastar. A
minha fuga. Minha casa é alguns quilômetros daqui.
Havia muito não dito no que disse, uma grande quantidade de
espaços em branco, que preenchi com base no que June disse sobre os
Saints. Assumi que Elias tinha que fugir muito naquela época. Não
sabia o que dizer, exceto que parecia importante que compartilhasse
este lugar comigo. Então, disse apenas — É bonito.
Elias não disse nada, apenas deu um passo à frente e me beijou
forte nos lábios. Sua língua encontrou a minha e derreti nele, meu
corpo colado ao dele enquanto me beijava avidamente. Quando se
afastou de mim, o jeito que me olhou, com luxúria em seus olhos, me
fez estremecer.
— Tire as suas roupas — disse ele.
— O quê?
— Quero vê-la — disse ele.
— Pensei que me trouxe aqui para comer — provoquei. Estive
com ele na noite passada, mas, de repente, me senti nervosa.
— Sim — disse ele, piscando.
Ri. — Pervertido.
Ele balançou a cabeça. — Ainda não — disse ele. — Mas em breve
serei.
Suas palavras provocaram uma onda de excitação com a
expectativa de estar com ele. — Você primeiro — disse.
— O quê?
— Tire as suas roupas — disse. — Você primeiro.
Ele sorriu. — Achei que nunca pediria. — vi quando tirou a
camisa sobre a cabeça, em seguida, jogou-a para o lado na grama.
Quando terminou de se despir, estava ali, completamente nu, com as
mãos nos quadris, sorrindo. Orgulhosamente exibindo sua ereção.
— Agora você — disse. — Tire tudo. Quero vê-la completamente
nua.
Ri de sua crueza. Parecia fora de lugar depois de ter feito algo tão
doce. Agarrando a borda da minha camisa, levantei-a sobre a minha
cabeça. Joguei minha camisa no chão e alcancei minhas costas para
abrir o sutiã. Todo o tempo, olhava para Elias. Não é como se já não
tivesse me despido assim antes para ele.
Mas havia alguma coisa na maneira como Elias me olhava que
me deixou nervosa, autoconsciente, descarada e desafiadora, tudo isso
ao mesmo tempo. Ele me fez querer jogar a precaução ao vento.
Cacete, ele me fazia jogar a precaução ao vento.
Não tinha certeza se isso me aterrorizava ou me emocionava.
Mas fiquei lá, meu peito nu, olhando em seus olhos azuis,
enquanto a brisa levemente acariciava minha pele, da mesma forma
que um amante faria. Não desviei o olhar enquanto desabotoei a
minha calça e a tirei, deixando toda a minha roupa no chão.
— Jesus — disse ele. Sua voz estava rouca e olhou para mim, com
uma expressão nublada de desejo.
— O quê?
— Você é gostosa pra caralho — disse.
— Elegante. — fui sarcástica, mas, na verdade, as suas palavras
bruscas me excitaram. Gostei do jeito que era rude com as palavras.
— Vire — disse — Quero ver você toda.
Uma brisa agitava as árvores e os meus mamilos endureceram no
frescor do ar. Senti como se estivesse sob algum tipo de holofote.
Mesmo depois que virei, sentia seus olhos em mim.
Não o ouvi se mover, mas senti seu toque, sua palma em meu
ombro. Tremi involuntariamente, uma resposta reflexiva. — E? —
perguntei. — Gosta do que vê?
Não disse nada. Mas senti suas mãos na minha cintura, e então
uma mão em minha coxa, afastando minhas pernas.
E então estava ajoelhado aos meus pés atrás de mim, com a
cabeça entre as minhas pernas, sua boca em mim. Sua língua se
moveu em mim e quase perdi o equilíbrio quando passou a língua por
toda a extensão da minha boceta. — Merda — disse, pouco mais que
um sussurro.
Ele afastou seu rosto de minha boceta e senti a sua respiração
quente em mim, me provocando, me insultando com cada palavra. —
definitivamente gosto do que vejo por esse ângulo — disse, me
sondando com os dedos. — E definitivamente gosto do seu gosto.
Meus músculos apertaram ao redor dele, como se tivessem uma
mente própria. Meu corpo definitivamente parecia que tinha uma
mente própria quando estava perto de Elias. Ou, talvez isso fosse por
transar com um cara para esquecer outro.
De qualquer forma, não me importei. Não quando Elias fazia o
que fazia. Ele me deixava tão desesperada, carente por ele, que faria
tudo o que quisesse. Não estava acostumada a me sentir assim, meu
corpo dolorido, ansiando por ser preenchido.
Ele me levou até ao limite, minha respiração ofegante enquanto
me sondava incansavelmente com os dedos. Então parou e se
levantou. A sensação palpitante entre as minhas pernas era tudo que
pensava. Queria que continuasse a fazer o que fazia.
Fiquei na frente dele, os meus dedos vagando sobre o seu peito,
em seguida, em seu abdômen e sobre a sua bunda. Sua boca desceu
sobre mim, forte e me beijou com avidez, sua língua encontrando a
minha, me sondando. Agarrei-o e passei a mão sobre o comprimento
de seu pênis.
Quando soltou a minha boca, olhou para mim com expectativa.
— Bem? — perguntou. — E você? Gosta daquilo que sente?
— Querendo elogios novamente? — o provocava. Ele, com
certeza, não precisava que dissesse que o seu pau é enorme como o de
um cavalo. Porra, com o que estava entre suas pernas, deveria andar
por aí como se fosse dono do mundo.
Elias alcançou entre as minhas pernas e passou os dedos para
trás, molhados com minha umidade. — Não — disse ele. — Você
obviamente gosta do que sente.
Fiquei de joelhos, a grama fresca debaixo de mim, meus olhos
seguindo toda a sua extensão enquanto o ajudava a sair da calça jeans.
Senti seu olhar em mim, quando passei a mão por cima do lado da
prótese. Mantive o meu contato visual com ele, de alguma forma,
estava ciente que importava que entendesse que não sentia repulsa
por qualquer parte dele. Passei as minhas mãos sobre a parte externa
das coxas, sentindo seus músculos poderosos flexionarem sob o meu
toque e depois abri minha boca para levá-lo.
— Merda. — Elias passou as mãos pelo meu cabelo, agarrando na
raiz quando eu o cobri com a minha boca. — Sua boca é tão gostosa.
Ele que era gostoso, pensei, olhando-o enquanto o tinha em
minha boca. Gostei disto, levando-o em minha boca, completamente
no controle de seu prazer.
Quando agarrou o meu cabelo, me puxando de seu pênis para
levantar e olhá-lo, a sua expressão estava nublada com luxúria. — Se
continuar, gozarei — disse — E não quero isso. Ainda não. — Ele me
beijou com força na boca e, em seguida, ao longo da minha clavícula e
do lado do meu pescoço. Então, me virou para beijar a minha nuca.
Senti que inspirou, e a dureza de seu pênis pressionou em minha
bunda. Arqueei contra ele quando passou os braços ao meu redor,
com as mãos apertando os meus seios.
— Por favor — sussurrei. Praticamente implorava. Eu era
devassa, carente por ele.
Elias me empurrou para frente alguns passos, em direção a uma
árvore e ri com a ideia de estar aqui, nua, onde qualquer um poderia
encontrar-nos. Nunca ousei fazer qualquer coisa como isto, não como
River Andrews.
Senti-me ridícula, boba, perigosa... e com uma sensação de
liberdade.
— O quê? — perguntou Elias.
Balancei a minha cabeça. — Apenas pensando em nós, aqui fora,
nus.
Ele deslizou suas mãos sobre meus braços, orientando-os para
tocar neste ramo que saia da árvore e tocava no chão. Era pitoresco,
este lugar e imaginava que era um desses lugares onde as pessoas
vinham para piquenique, quando o leito do rio tinha água.
— Isso é engraçado, não é? — perguntou. — Nós, aqui, nus? —
mergulhou seus dedos dentro de mim e engasguei.
— Não... agora, não é.
Prazer me atravessou e ouvi o som de algo rasgando. Por cima do
meu ombro, o vi rasgando o pacote da camisinha com os dentes. Eu
nunca estive tão pronta para qualquer um.
Quando entrou em mim, foi sem hesitação. Em um impulso
rápido, estava dentro de mim. Arqueei minhas costas, pressionando
minha bunda nele e suas mãos agarraram meus peitos, me puxando
para ele. Apertei as minhas mãos no galho da árvore, a casca áspera
cortando as minhas mãos, mas não me importei. Tudo o que podia
sentir era ele.
— Você é tão apertada — disse e senti uma onda de umidade em
resposta a suas palavras. Nunca fui fã de linguagem suja, mas algo
sobre como este homem falava me deixava quente e incomodada
antes e agora me deixava louca.
— Sim — engasguei. — Mais forte.
Senti sua boca perto da minha orelha enquanto falava,
pontuando cada palavra com outro impulso dentro de mim. —
Cuidado com o que deseja, querida — disse. Beliscou meus mamilos e
um choque de dor me atingiu.
— Oh, meu Deus. — Estava tão perto.
— Espere — rosnou, perto do meu ouvido. — Espere até que diga
que pode gozar.
Podia ouvir-me gemer, de algum lugar fora do meu corpo, mas
não havia mais nada a não ser ele e eu. Não queria qualquer outra
coisa. Seu toque apagou tudo naquele momento, tornou impossível
pensar em qualquer coisa, exceto o que fazia com o meu corpo. Tudo
que podia imaginar era ele – suas mãos sobre meus seios, sua
respiração em meu ouvido, seus lábios em meu pescoço e seu pênis,
me enchendo. Foi êxtase, puro e simples.
— Agora — disse e no instante em que falou a palavra, gozei,
gritando quando entrou em mim. O calor de meu orgasmo eclipsou
tudo mais.
Depois disso, estava ali, completamente imóvel enquanto o
pulsar entre as minhas pernas diminuiu e a névoa na minha cabeça
diminuía. Movi as minhas mãos e estremeci. Minhas mãos estavam
doridas de ter agarrado a casca áspera da árvore.
Elias respirava pesado contra o meu pescoço. — Merda — disse.
Concordo, pensei. Merda era a única coisa que havia para
dizer.
CAPÍTULO DEZOITO
Ele é apenas uma aventura. Você não sabe nada sobre ele.
Isto não vale a pena. É isso?
River
Minha cabeça girava. Teria que ser franca com Elias sobre o
filme. Precisava dizer-lhe. Ele entenderia. Estava contratualmente
obrigada.
Teria que voltar para Hollywood.
Não seria tanto tempo.
Era a única coisa razoável, disse a mim mesma enquanto dirigia
para o endereço que me deu.
Precisava fazer o que era prático.
O que realmente sei sobre mim e Elias, de qualquer maneira?
Sabia como me senti quando me tocou, quando me segurou. Mas isso
não dizia nada sobre nós, certo?
Isso não era o suficiente para tomar uma decisão sobre alguém,
não é? Conhecer uma pessoa em duas semanas não conta para nada.
Não quer dizer que isso era algo.
Poderia facilmente ser nada. Uma aventura.
A parte razoável de mim dizia que era uma aventura. Por
definição, que era um ressalto.
Não tome decisões que alterem a vida no meio de uma situação
estressante, meu terapeuta me aconselhou.
Escolher alguém e decidir que era um relacionamento quando
fugia de seu casamento... era provavelmente uma daquelas coisas que
não deveria fazer.
Não era saudável.
O que Elias e eu tínhamos... não era real, então.
A única coisa inteligente a fazer seria voltar para Hollywood,
sozinha e terminar o meu filme.
Por outro lado... Elias poderia vir comigo.
Poderia pedir-lhe para vir. Poderia dizer-lhe como me sentia em
estar com ele aqui. Poderia dizer-lhe que queria mais.
Poderia correr o risco, dizer-lhe como era louca, que nunca me
senti assim com ninguém antes, que o pensamento de sair daqui sem
ele era apenas... desolador.
Quando vi o seu Mustang no estacionamento do bar, meu
coração acelerou. Eu me preparei, respirando fundo.
Finalmente falaria.
Ele poderia rir completamente de mim, dizer que era louca.
Ajeitei meu cabelo, me perguntando por que não fiz um corte de
cabelo adequado enquanto estava aqui, ao invés dessa porcaria.
Minhas mãos tremiam.
Caminhei pela calçada em direção à entrada e quase virei...até
que vi Elias conversando com um cara na esquina. Eles estavam...
fumando.
Elias não fumava.
Ou não me disse que ele fumava.
Parei meio movimento em um aceno e soltei minha mão. Eles
riam e brincavam, não tinham me visto e estava de pé, fora da vista,
mas ao alcance da voz, paralisada quando ouvi meu nome e estrela de
cinema.
O cara que estava com ele perguntava sobre mim.
— Apenas uma maldita aventura — ouvi Elias dizer. — Uma
garota como essa, está brincando? Merda, tem uma data de validade
escrito sobre tudo isso.
O outro cara riu. — Sim cara — disse, balançando a cabeça. — De
maneira nenhuma.
Podia sentir o sangue ferver do meu rosto, minhas mãos de
repente ficaram frias. Recuei alguns passos, em seguida, virei e corri
novamente para o carro, afastando-me o mais rápido que pude, antes
de sentir lágrimas nos meus olhos.
Apenas uma maldita aventura.
Data de validade escrita tudo sobre isso.
Voltei para a pousada, sobre o limite de velocidade, voando ao
redor das curvas da estrada, apenas tentando ficar o mais longe de lá
o mais rápido possível.
Tentando ficar longe dele.
Limpei as lágrimas do meu rosto.
O que havia de errado comigo? Primeiro Viper e agora Elias?
Tinha que haver alguma coisa sobre mim, algo fundamentalmente
fodido.
Achou que havia algo em você que não fosse um rolo rápido no
feno? Achou que fosse algo especial?
Podia ouvir as palavras na minha cabeça.
Você sempre será River Gilstead, não importa o quão longe vá.
Sempre será minha filha. Lixo, abrindo as pernas para qualquer um
que possa tê-la.
Não, não, não.
Precisava dar o fora daqui.
De volta para a pousada, liguei para meu gerente de viagens e
reservei o próximo vôo de volta para Los Angeles. — Não — disse. —
Não por West Bend. Por Denver ou algo assim. Sei que são quatro
horas de distância. Vou dirigir. Só quero dar o fora dessa cidade.
Ao mesmo tempo, coloquei as poucas coisas que queria manter a
minha bolsa, deixando a June um monte de coisas que comprei aqui.
Não levaria nada comigo, exceto o que estava na minha bolsa. Não
queria qualquer lembrança deste lugar.
Ou de Elias.
Deixei um bilhete para June, agradecendo-lhe a sua
hospitalidade.
Caneta na mão, pairava sobre o pedaço de papel, tentando
descobrir o que queria dizer a Elias. Esse era o problema, não havia
muita coisa que queria dizer.
Foda-se, pensei. Eu diria o que queria dizer.
Fechei a porta, fechando este capítulo da minha vida. Este foi
apenas um pontinho, pensei. No grande esquema das coisas, não
significava nada.
Elias
— Do que os dois idiotas estão rindo? — perguntei, afastando a
fumaça no ar que flutuava entre ele e Roger.
— Você — disse Silas.
— O que quer dizer, porra?
Silas balançou a cabeça. — Você e uma garota como River
Andrews — disse — Não é possível acreditar nessa merda. Você a
deixou na casa de June? Por que não a trouxe aqui?
— Foda-se, homem — disse. — E sim, ela está com June.
— É melhor voltar para ela, então — disse Silas. — Antes que caia
em si e perceba que perdeu tempo com você. Com uma garota como
ela é apenas uma questão de tempo antes que perceba que não quer
um caso com um dos irmãos Saint.
— Fale por você — disse. — Eu sou o bonito.
— Somos gêmeos, imbecil.
— Não quer dizer que não seja o mais bonito de nós dois. — Virei
para sair. Ele tinha um ponto sobre River, no entanto. No que ela
pensava? Teremos que resolver o que ficou em aberto, o que será de
nós ou algo assim. Alguém como ela não ficaria em West Bend
indefinidamente.
Tratei disto como se estivesse em algum lugar, passando tempo e
conversando com ela como se fosse minha namorada ou algo assim.
Porra, queria que ela ficasse indefinidamente.
Capítulo Vinte e Três
Elias
— River — chamei. Seu carro não estava na calçada e o lugar
estava vazio. Peguei meu celular e liguei, mas só tocou.
Provavelmente foi até a cidade para algo, pensei. Talvez pegar
algo para o jantar ou alguma merda.
Isso é o que pensei até que andei até o quarto e olhei para as
roupas empilhadas ordenadamente em cima da mesa, com um bilhete
para June. Todas as minhas coisas estavam intocadas, atiradas a esmo
ao redor do quarto onde foram descartadas quando nos despimos,
muito consumidos pelo desejo para nos preocuparmos sobre tudo que
estava sendo limpo.
Fiquei parado em descrença. Ela não tinha ido embora.
Ela não fez. Ela não teria.
Sequer deixou a porra de um bilhete. Apenas um para June.
Então vi o pedaço de papel em cima da cama, dobrado ao meio, o
meu nome escrito em um lado. Abri-o, sentindo-se entorpecido.
Elias,
Foi divertido enquanto durou, mas uma aventura é apenas uma
aventura, certo? Tudo tem uma data de validade.
Cuide-se.
Beijos, River
Amassei o bilhete, apertando-o em meu punho e atirei-o pelo
quarto.
Que porra é essa?
Uma aventura é apenas uma aventura?
Tudo tem uma data de validade?
Era como se o bilhete fosse escrito por outra pessoa.
— Porra! — gritei no quarto vazio. — Merda, foda-se, filha da
puta maldita.
— Olá? — ouvi a voz de June no piso térreo. — Elias, é você?
Desci as escadas, tão chateado que mal podia ver direito.
June ficou na entrada da casa, com a mão enrolada ao redor do
pequeno Stan.
— Ei, Elias — disse ela. — River está aqui? Queria ver se ela não
se importaria de me fazer um favor.
Deixei escapar minha respiração. — Não, acho que ela lhe disse
também — disse com minha voz amarga.
— Dizer o que?
— Ela por... — parei, consciente do pequeno Stan ao lado de
June. — Ela se foi.
— O que quer dizer, foi?
— Foi, foi — disse. — Arrumou suas coisas e saiu daqui.
— Ah, merda — disse June, com a mão sobre sua boca. — Oh,
não. É minha culpa.
— O que você quer dizer?
— Mama — disse Stan, gesticulando em direção a boca dele.
— Aqui, querido. — June entregou-lhe um copo com canudinho.
— Oh Deus — disse ela. — Não deveria ter lhe mostrado o artigo
on-line.
— Que artigo?
— Está em todos os jornais — disse. — Pensei que ela iria querer
saber, não estava surpresa por ele.
— Que artigo, June?
— Seu noivo. Ex-noivo, quero dizer. Ele está noivo de sua irmã.
Eu me sinto doente.
— Não entendo — disse. — Ela não se importa com o que
aconteceu com Viper. Ou pensei que não se importava. Por que ela
simplesmente levantou e saiu?
June abanou a cabeça, a testa amassado. — Não faz sentido —
disse. — Ela estava chateada, apesar de tudo. Ela me mandou embora,
disse que precisava fazer uma ligação. Oh, meu Deus, provavelmente
queria reservar um vôo ou alguma coisa, certo?
— Eu… acho. — ainda me recuperava. A River que conhecia não
iria embora, sair disso tudo como se fosse nada.
Será que realmente a conhecia?
Não foi nada.
Uma aventura.
Com uma atriz famosa. Alguém famoso.
Não havia nenhuma maneira que River Andrews estar
apaixonada por você. Um antigo UDOE cara. Um show de horrores
do caralho. Sim, River Andrews e um amputado.
Esqueça sobre ela.
— Ela deixou um bilhete? — perguntou June.
— Não um que importa — disse.
June ficou em silêncio.
— Que favor que você precisa? — perguntei.
Ela balançou a cabeça. — É Cade — disse ela. — Ele tem que sair
por um tempo. Queria ver se River me ajudaria com Stan enquanto
vou a consulta amanhã do meu médico.
— Está tudo bem? — perguntei mentalmente preocupado com
River, até que vi as lágrimas acumularem nos olhos de June. Ela não
parece ser de tipo a ser uma chorona.
— Tem a ver com o seu clube — disse.
— Seu clube?
— Ele costumava ser um membro de um clube de moto em Los
Angeles — disse ela. — Alguém – um de seus irmãos – Crunch. Ele...
teve um tempo difícil. — Sua voz falhou. — Ele... algumas coisas ruins
aconteceram, Crunch está em apuros agora e Cade faria qualquer
coisa por ele. Cade vai para Los Angeles esta noite... — fez uma pausa,
piscando. — Sinto muito. Não sou uma espécie de menininha
derretida. A gravidez, está me deixando emotiva. Vai dar tudo certo.
— Cade parece ser o tipo de cara que pode cuidar de si mesmo —
disse.
— Ele pode — disse. — Mas a última vez que se envolveu em
negócios do clube, quase o destruiu.
— Bem, não sei sobre clubes de motociclistas — disse — Mas sei
um pouco sobre a fraternidade. E lealdade.
— Você está perto de seus irmãos — disse June.
Eu ri o som amargo. — Falava sobre minha unidade — disse. —
UDOE, Eliminação
— Sei o que é — disse. — Eliminação de Explosivo. Você estava
na Marinha.
— Sim.
— Estava também, uma vez — disse. — Cade esteve nos
Fuzileiros. — fez uma pausa. — Engraçado como as pessoas que não
são nem mesmo seu sangue tornam-se família, hein?
E como as pessoas que deveriam ser o mais próximo do mundo
para você, eram os mais distantes, pensei.
— Você irá atrás dela? — perguntou June. Levei um minuto para
para registrar que falava de River.
— Por que deveria? — perguntei. — Ela deixou claro o que
pensava de mim em seu bilhete.
— Pensei que disse que o bilhete não era nada importante —
disse June.
— Nada que importa — disse. — Disse o que pensava. Disse que
havia uma data de validade para nós.
June ficou pensativa. — Hum — disse — Ela parecia tão sincera.
— Acho que é uma ótima atriz — disse.
River
— Champanhe? — A aeromoça parou na minha cadeira.
— Por favor — resmunguei com a voz rouca. Quando voltou,
peguei o copo, com a mão trêmula e bebi em um só gole.
A aeromoça fez uma pausa. — Outro? — perguntou e assenti. —
Srta. Andrews?
— Sim? — sussurrei. Olhei-a de debaixo dos meus óculos de sol.
Sabia que parecia pretensioso, mas estava além de me importar agora.
Minha cabeça latejava.
— Avise-me se há alguma coisa que precisa — disse — Minha
filha é sua maior fã. Ela ficará feliz em saber que estava no meu vôo.
Forcei um sorriso. — Será que ela gostaria de um autógrafo?
A aeromoça sorriu. — Seria maravilhoso — disse. — Vou pegar
uma caneta.
Flutuava através do resto do vôo, pensando em Elias. Senti como
se alguém me deu um soco no estômago, enjoada com a ideia de voltar
para minha antiga vida.
Era cruel a forma como a vida era, às vezes, mostrando como as
coisas poderiam ser, dando-nos um vislumbre momentâneo de
felicidade... e, em seguida, afastando-as, uma vez que provou.
Não sei como voltaria para minha antiga vida.
Não sabia por que queria voltar.
Parte III
“Atreva-se a viver a vida que você sonhou para si mesmo. Vá
em frente e faça seus sonhos se tornarem realidade.”
River
Brandon pegou minha mão, cobrindo-a com as suas. — Por que
não vem esta noite? — disse — Você pode chorar no meu ombro.
Puxei minha mão como se tivesse sido eletrocutada. —
Realmente não procuro por algo mais do que amizade — disse.
Brandon, parecia bom o suficiente no início, todo simpático depois de
ter voltado de West Bend e chateada por ter que estar no set. Sem
ofensa, ele disse sorrindo, quando lhe contei que simplesmente não
estava bem por estar aqui.
Ele havia se divorciado recentemente e disse que entendia o
sentimento. Sentada em seu trailer, agora, porém, definitivamente
notei uma vibe estranha vinda dele.
Lamentava-me de ir a seu trailer repassar o texto e falar com ele
sobre Elias. Brandon riu. — Não sugeri que fôssemos mais do que
amigos — disse — Mas amigos podem transar, não podem?
— Obrigada, mas não — disse, virando-me para sair. — Estou
bem com minhas falas, na verdade. Podemos ler no set.
Ele sorriu. — O que, agora só tem tesão com caras com uma
perna? — disse, segurando meu pulso. Tentei me soltar, mas ele
apertou com força.
— Solte o meu pulso.
— Vamos River — disse — Não seja uma vadia. Viper estava
certo. Ele disse que era frígida.
— Não fale merda sobre mim. — lhe dei um tapa no rosto com a
mão livre e vi sua expressão mudar para raiva.
Ele me empurrou contra a parede e a única coisa que podia ouvir
era o bombeamento de sangue em meus ouvidos, minha respiração
curta.
— Foda-se, Brandon. — gritei — Saia de perto de mim.
Brandon passou a mão sobre meu peito e tentei afastá-lo, mas
prendeu meus braços acima da minha cabeça. — Talvez o problema
seja que precisa de um homem de verdade para aquecê-la — disse,
alcançando entre as minhas pernas.
Lutei, tentando tirar a sua mão com a minha perna, mas ele
colocou os dedos em minha calcinha.
— Definitivamente frígida — disse — Mas posso deixá-la
molhada.
Lágrimas rolaram de meus olhos e gritei, mas ele cobriu minha
boca com a dele, forçando sua língua na minha.
— Você gosta um pouco rude também — sussurrou. — Isso é o
que Viper disse.
Houve uma batida na porta e ela se abriu. — Roger disse que
River estava aqui lendo o texto com — parou recuando. — Oh,
desculpe interromper!
Gritei, desta vez o mais alto que pude e Brandon parecia
atordoado por um momento, afastando-se de mim.
Alguém que não conhecia, ficou ali, olhando, imóvel. Mas sua
presença era suficiente. Dei um chute nas bolas de Brandon tão forte
quanto podia. Então peguei a coisa mais próxima a mim, um vaso de
flores sobre uma mesa e atirei em sua cabeça.
— Sua puta — gritou e se inclinou quando se lançou para mim,
ainda segurando suas bolas.
A pessoa estava parada com os olhos arregalados, mas pegou
minha mão e me puxou para fora do trailer.
— Ele me agrediu. — Minhas palavras vieram em suspiros, minha
respiração curta. Não conseguir respirar.
Segurei o seu braço, sentindo-me tonta. — Não quero estar aqui
— disse, antes de desabar na calçada.
Capítulo Vinte e Cinco
Elias
Trabalhava com uma peça na garagem, coloquei a música tão
alto que mal podia pensar. Essa era uma das vantagens deste lugar
que aluguei. Tinha uma garagem onde podia trabalhar e passei todo
momento, desde que River me deixou, transformando este lugar em
uma oficina.
Ocupei a minha mente.
O problema era que, mesmo com o trabalho, era muito tranqüilo.
Apenas eu e meus pensamentos.
Tinha muito tempo. E não era bom.
Eu e os meus pensamentos... Sozinho... Não era uma boa
combinação.
Pelo menos não pensava sobre o Afeganistão. River substitui
esses sonhos que estavam em minha mente, ocupando o meu cérebro,
sua imagem se repetindo.
Não tinha certeza se era uma coisa boa.
Estava tão distraído pensando nela que não ouvi o carro parar ou
percebi quando Silas abriu a porta.
Não até que gritou, que levei um susto. — Merda, Silas!
Desliguei a música e apaguei a tocha de acetileno trabalhava,
tirei meus óculos de solda. — Que porra é essa, cara? — disse. — Você
é um fantasma ou algo assim? Por que não telefonou antes?
— Elias — disse. Seu rosto estava pálido. — É a mãe.
— A vi ontem — disse. — O que está errado?
— Telefonei sem parar pela última hora — disse. — Você precisa
entrar no carro.
— O que aconteceu?
— Rápido — disse, com a voz entrecortada.
— Sim, deixe-me colocar algo limpo — disse.
Balançou a cabeça. — Apenas entre no carro, Elias.
— O que está acontecendo, Silas?
— Mamãe está no hospital — disse — Fui vê-la, encontrei-a no
quarto. Ela tentou se matar.
— Não — disse, seguindo-o para o carro.
— Vamos lá — disse. — Ela está no hospital. Liguei para Luke.
Eles mandaram uma mensagem da Cruz Vermelha para Killian.
— Ela estava bem ontem. — não conseguia raciocinar
O rosto de Silas parecia sombrio.
River
— Não terminarei o resto do filme com aquele idiota. — me ouvi
gritar, as palavras parecendo um guincho. — Não me importo sobre a
merda do meu contrato. Prestarei queixa de assedio. Não há nenhuma
maneira que o estúdio obrigar-me terminar o filme com ele no set.
— Ninguém os forçará a trabalharem juntos. — um dos
funcionários da equipe que o estúdio enviou para me apaziguar, falou.
— Seus sentimentos são justificados. Todos queremos colocar um
ponto final nisso.
— Mas o que? — perguntei. — Há sempre um ‘mas’. — Não
confiava no estúdio, qualquer que fosse a besteira que tentariam
vender-me.
— A última coisa que o estúdio quer é publicidade negativa para
o filme — disse — E não acho que queira, neste momento, toda a
atenção da mídia focada no que aconteceu com você recentemente.
— Isso é uma ameaça? — perguntei. — Soa como uma ameaça. —
Esse mesmo sentimento familiar de pânico voltou.
Ele acenou com desdém. — Claro que não, River — disse, sua voz
suave, paternalista. — Mas o filme está quase completo. Suas cenas
estão essencialmente terminadas. As cenas que faltam para
concluírem são menores e podem ser feitas com uma atriz substituta.
É possível que o filme seja concluído, mesmo que não esteja no set.
— Você quer dizer que poderia ser feito. — disse.
— Terminado — disse.
— Qual é o ‘mas’ ? — perguntei.
— Nenhum ‘mas’ — disse — Você está livre e liberada. Está feito.
Há um bônus adicional para a conclusão mais cedo.
— Suborno? — disse.
Ele fez um som de desdém pra mim. — Essa não é uma boa
forma de ver isso — disse — É simplesmente um bônus por ser tão
flexível e disposta a completar o filme antes do previsto... E por sua
compreensão da importância de não chamar a atenção negativa para o
filme.
Era suborno.
Minha cabeça girava. E estava terminado. Estava livre e liberada.
Poderia ir para outro lugar. Fazer outra coisa.
Tirar férias.
Viajar pelo mundo.
Seja qual for a merda que queria.
O problema era que a pessoa que realmente queria ver não
queria me ver.
— Onde assino? — perguntei.
Capítulo Vinte e Seis
Elias
— Eles nos dirão alguma coisa?
Silas balançou a cabeça. — Eles não dizem nada. É por isso que
vim buscá-lo.
Ele deixou o resto não dito. O que realmente quis dizer é que ele
foi e me pegou no caso dela morrer.
— Não entendo — disse. — Ela estava bem ontem quando
conversamos.
— Sobre o que conversaram? — O rosto de Silas estava branco.
— Nada — disse. — Juro por Deus, nada. Sequer a pressionei
sobre a venda da propriedade. Nada estressante.
— Você deve ter dito alguma coisa — disse Silas.
— Está dizendo que é minha culpa? Que eu causei isso?
Silas balançou a cabeça. — Desculpe. Não. Não disse. É só que...
não é algo que ela faria. Não faz qualquer sentido.
— Conversamos sobre os programas que assistia — disse. —
Assim como o tempo antes disso. Os romances que leu. Sua amiga
Rhonda. Fofoca. Não sei. Foi tudo. Nada fora do comum. Sabe como
ela é.
— Ela não estava deprimida?
— Não — disse, virando a cabeça para qualquer sinal de que algo
estivesse diferente. Mais do que o habitual. — Quer dizer, ela disse
que papai a amava, não como da última vez, quando a vi antes – ela
parecia... melancólica, como se relembrasse.
— Jesus Cristo — disse Silas. — Não acha que ela se matou por
causa da morte do idiota não é?
— Não — disse, mas não estava tão certo. — Não sei.
Essa era a verdade. Eu não sabia de mais nada.
River
— Hoje temos uma entrevista exclusiva com Donna Gilstead,
mãe de River Andrews, que nos falará sobre seu próximo livro,
Vivendo com River. — a jornalista deu um sorriso brilhante para a
câmera, em seguida, virou em direção ao seu co-anfitrião, igualmente
perfeito. — Promete ser uma entrevista muito interessante, não é
mesmo, Dave?
— Promete, Samantha — disse — Particularmente desde que
River Andrews deixou de falar para ficar em silêncio desde sua
separação de Viper Gabriel.
— Fique atento — disse Samantha. — Donna Gilstead é a
próxima na Entertainment News Lately.
— Porra. — desliguei o controle remoto em meu novo
apartamento, que aluguei quando voltei para cá, um sem vínculos com
o meu passado, sem Viper e, de repente, estava em silêncio. Tudo
estava muito tranquilo.
De todas as coisas que minha mãe podia fazer, esta era uma das
piores. Um livro? Não a subestimei muito, mas lucrar com minha
infelicidade era demais.
Sentei-me ali, no vazio do meu novo lugar, com os pensamentos
revoltos. E minha mente foi para o corte. Pensei no frio da lâmina de
aço em minha pele, a onda de alívio que traria.
Sentei lá, paralisada, meus braços apoiados na poltrona,
paralisados pela indecisão, ponderando sobre as possibilidades em
minha mente.
Mas não me cortei. Em vez disso, liguei para minha empresária.
— É River — disse. — Quero que marque uma entrevista com
Deborah Ames. Estou pronta para ir a público.
Capítulo Vinte e Sete
Elias
— O que aconteceu? — Killian explodiu na área de espera como
se possuísse o maldito lugar. Estava com barba por fazer, botas sujas
de graxa e poeira, jeans rasgado, usando uma jaqueta de couro e ainda
segurando seu capacete. Duas das outras pessoas a espera foram para
o outro lado da sala e Killian lançou-lhes um olhar duro. Então, se
levantaram e saíram. Se as circunstâncias fossem diferentes, isso teria
sido engraçado.
Inferno, ele estava vestido engraçado. Killian não era exatamente
um cara pequeno – era um jagunço e intimidante pra caralho para a
maioria das pessoas.
Claro, nós quatro juntos provavelmente éramos bastante
intimidantes.
— Fico feliz que esteja aqui cara — disse Silas, cumprimentando
Killian. — Não gosto disso, mas ainda assim, é bom te ver.
— Você também, cabeça de merda — disse
— Acabou de pegar um vôo para cá? — perguntou a Luke.
Luke assentiu, com sua mandíbula apertada. Luke tinha uma paz
interior, não deixava muito da merda dominá-lo, era viciado em
adrenalina, mas quando não pulava de aviões ou embarcava para o
lado de uma montanha, era bastante calmo. No entanto, sempre
sabíamos quando estava chateado. Ele apertou a mandíbula e rangeu
os dentes. Quando éramos crianças, rachou um deles, rangendo muito
à noite. Nosso pai descobriu e disse que estava quebraria os seus
dentes para que não precisasse que um dentista o removesse e minha
mãe se jogou na frente de Luke, levado a surra por ele.
— Sim, ela está aqui desde ontem à noite — disse Luke.
— Bem, então me dê os detalhes — disse Killian. — Estes médicos
não disseram tudo o que aconteceu?
— Ela ainda está na UTI — disse. — Overdose. Com Tylenol e
bebida.
— Ela nem bebe. — disse Killian.
Balancei minha cabeça. — não acham que foi muita bebida
alcoólica.
— Não faz sentido — disse Silas. — Toda essa merda não faz
nenhum sentido.
— O que quer dizer? — perguntou Killian.
Suspirei. — Silas tem uma teoria de que tem algo acontecendo
aqui, que o idiota foi assassinado ou alguma merda — disse. — Ele lhe
contará tudo, se escutar.
Killian virou para Silas e ele levantou as mãos — Não sou louco —
disse — Tem algo acontecendo e agora isso. Não faz qualquer sentido
ela se matar e não com o idiota morto. Ele foi seu problema por anos.
Ela ficaria feliz que ele se foi.
— Ou... — disse. — Seriam como prisioneiros, sabe?
— Prisioneiros, o que quer dizer? — perguntou Luke.
— Você sabe, como quando os prisioneiros são libertados depois
de anos de prisão — disse. — Matam-se quando finalmente saem. Não
conseguem lidar com isso.
— Onde ouviu sobre isso? — perguntou Luke.
— Foi nesse filme, o de uma prisão
— Sonho de Liberdade — disse Killian.
— Exatamente.
Silas revirou os olhos. — ele dirá que as minhas teorias são
loucas, mas usa as teorias filmes. Merda. — fez uma pausa, olhando
para a televisão, no outro lado da sala. — Essa não é – a tela diz River
Andrews. – a sua garota?
Olhei para a TV e vi seu rosto. River Andrews, sentada em frente
a uma dessas apresentadoras de talk show cujo nome não conseguia
me lembrar, uma daquelas mulheres famosas que fazem celebridades
chorar, falando verdadeiras besteiras de coração para coração.
— Ei — Silas se aproximou de uma das enfermeiras na área da
recepção. — Tem um controle remoto para a TV?
Ela o olhou, depois para a televisão e ergueu as sobrancelhas. —
Oh, sim — disse, ao clicar com o controle remoto. — Essa é aquela
garota que estava aqui em West Bend, não é?
Ouvi a entrevista, a voz de River mais alta no quarto e, apesar de
tudo em mim dizer para virar, não prestar atenção na tv, que não
queria ouvir o que saía de sua boca, fui até a televisão e escutei.
Todo o resto, o ruído hospital, meus irmãos falando, se
desvaneceu ao fundo.
— River Andrews — a anfitriã sorriu, sua expressão acolhedora,
desarmando-a. Como a avó de alguém. Ela se inclinou para frente. —
Você deve estar em uma montanha-russa de emoções ao longo do mês
passado, traída por seu noivo, fugindo para o Colorado... — a sua voz
sumiu.
River assentiu. — Bem, Deborah — disse — Foi um momento de
mudar a vida, pegar Viper com minha irmã.
Eu me sinto doente. Queria me afastar, parar de ouvi-la falar
sobre como foi destruída pelo engano de seu noivo. Não precisava
escutar sobre essa merda.
Por que me torturar?
Ouvi River falar novamente, uma resposta a uma pergunta que
perdi.
— Tinha que ser esmagador — disse Deborah. — pegar os dois,
juntos e então descobrir sobre o noivado deles. Descobrir que Viper
era infiel há algum tempo.
River balançou a cabeça. — Desejo-lhes tudo de melhor no
mundo — disse — Realmente espero que sejam felizes juntos.
A anfitriã balançou a cabeça e fez uma careta. — Você parece
muito calma agora, River — disse atraindo-a. — Sua mãe tem planos
de lançar um conto de sua infância, da sua vida.
River exalou e agora vi a dor em seus olhos. — Esse será o conto
de minha mãe, não meu — disse — Nada disso é meu.
Senti uma pontada de empatia por ela, sabendo sobre seu
relacionamento com sua mãe. Sabia que descobrir que sua mãe
escrevia um livro sobre ela a machucaria.
— Mas certamente deve ter algum tipo de sentimento sobre tudo
isso, River — disse — Ninguém tem essa calma toda com tudo isso.
— Merda — disse Silas. — Ela estava no bar naquele dia.
— Do que está falando? — perguntei. — Calem a boca. Estou
tentando ouvir.
River sorriu. — Um bom amigo me disse uma vez que nenhumas
dessas coisas são as mais importantes na vida. Essas são as de menor
importância.
Ela falava de mim. Era eu o amigo.
Não tinha certeza se estava satisfeito que o que disse importava
ou desapontado que me chamou de amigo.
— Como o que, por exemplo? — perguntou Deborah.
— Muitas coisas — disse River — Família. Amizade. Amor.
Deborah era mais astuta do que aparentava. Seus olhos se
iluminaram e ela se aproximou. Para matá-la, pensei. — Estava
ligada a alguém quando esteve no Colorado? — perguntou.
River franziu os lábios. Não sabia no que pensava, mas senti-me
pendurado sobre o que estava prestes a dizer.
— Estava — disse.
— Um veterano militar — disse Deborah, olhando para um bloco.
— Eliminação Bombas. Ferido no Iraque.
— Afeganistão — River corrigiu. — Ferido no Afeganistão.
— Ela se lembra muito de você — disse Silas, ao meu lado.
— Cala a boca. — Não conseguia tirar os olhos da tela.
— E? — Perguntou Deborah. — Você e...
— Elias. — disse River.
— Elias. — Deborah disse. — Bem, deixe-me fazer a pergunta que
cada homem na América quer saber. Você ainda está em contato com
Elias? Era real ou apenas uma aventura?
River olhou para o seu colo, em seguida de volta para Deborah. A
câmera focou em seus olhos. Ela olhou diretamente para a câmera.
Ela olhava diretamente para mim.
Engoli em seco. Tudo desapareceu no fundo e esperei que
respondesse.
— Pensei que era um negócio real — disse — Ele não se sentia da
mesma maneira. Estava errada.
Ao meu lado, ouvi Silas murmurar sob sua respiração. — Merda.
A porta abriu e uma garota, que não era River, usando um top,
com os braços cobertos de tatuagens, um piercing em seu nariz, ficou
na frente de nós, um olhar confuso em seu rosto. Então sorriu. — Há
dois de você.
— Quem é você?
Ela colocou a mão em seu quadril. — Sou Abby. Quem são vocês?
Silas sorriu. — Silas e Elias.
Ela nos olhou de cima a baixo. — Gêmeos — disse — Entendi.
— River está aqui?
— Então você é o Elias, hein? — perguntou com seu olhar duro.
Ela exalou. — Acho que posso entender o porquê.
— O porquê de que?
— Você é quente, acho, de um tipo robusto. — disse. — Quer
dizer, prefiro boceta, mas entendo o que ela viu.
— Ela está aqui? — perguntei.
— Ei, River — chamou. — O cara da pizza está aqui.
— Não pedi qualquer...
Lá estava ela, de pé na porta. Olhando para mim.
— Elias — disse, com os olhos focados nos meus. E então olhou
para Silas. — Vocês são gêmeos.
Dei de ombros, envergonhado. — Não mencionei que era meu
irmão gêmeo — disse. — Não pensei, e...
— Acho que ouviu alguma coisa no bar... — Silas começou.
— Sim, ouvi o que disse. Data de validade. Apenas um caso.
Olhei para Silas. — Não, eu — disse. — Este filho da puta disse
isso.
Silas levantou as mãos — Culpado. — disse — Era eu. Em minha
defesa, realmente disse que havia uma data de validade nisso porque
alguém como você de nenhuma maneira realmente namoraria este
idiota. Porque está perdendo tempo.
Atrás dela, Abby gritou. — Ah-rá. — disse. — Não disse que havia
uma explicação? — passou por River e fez sinal para Silas. — Acho que
devemos dar-lhes alguma privacidade. — disse, dando um passo para
trás.
Os dois pararam a alguns metros de distância.
— Posso vê-los — gritei. — Perdi uma perna, não sou cego.
Ouvi a gargalhada de Abby. — Pensei que era você. — disse River.
— Dizendo aquelas coisas. Pensei que era você.
Balancei a cabeça. — Eu sei.
— Você não me disse que tinha um irmão gêmeo.
— Não sei o que dizer sobre isso. Foi um descuido infeliz.
— Percebi. Por que veio aqui, Elias? — virou rosto em minha
direção, os lábios entreabertos. Queria a minha boca sobre a dela.
— Sem flores ou qualquer coisa? — a voz de Abby quebrou o
silêncio.
— Abby. — River advertiu. virou para mim. — Não há flores ou
qualquer coisa?
— Não. — disse. — Sem flores. Apenas meu coração.
Silas deu uma gargalhada. — Isso foi brega pra caralho.
— Saia. — River gritou e voltaram para o apartamento, o som do
riso se tornando abafado. Ela virou para mim. — Seu coração, hein?
Dei de ombros. — Não tenho mais nada para oferecer a você. —
disse. — É isso. É tudo que tenho. Não sei o que acontecerá no futuro.
Não sei o que acontecerá amanhã. Mas quero estar com você. Quero
você. É isso. Tudo que sei é que te quero.
River me olhou, antes de finalmente falar. — Elias, eu...
A voz de Abby soou alto da sala de estar. — Beije-o agora!
River virou. — Sério gente, se eu ouvir mais uma coisa, eu juro
que vou matá-los com as minhas próprias mãos!
Ela saiu e fechou a porta atrás de si, sacudindo a cabeça.
— Então. — disse. — Você dizia?
— Aqui está a coisa. — disse. — Pode me mandar ir para o
inferno, me chamar de louco ou qualquer merda. Não a conheço o
suficiente e estou perfeitamente ciente de que isso é um fato. Mas
estive perto de morrer e vi morte o suficiente em minha vida para
saber que quando alguém te toca, porque é tão diferente de qualquer
outra pessoa que já conheci, que... bem, é apenas realmente muito
importante.
As palavras simplesmente saíram de minha boca, de maneira
implacável. — Então, quero estar com você. Eu te amo. Isso é tudo que
tenho. Você pode me dizer para ir para o inferno ou o que quiser. Mas
disse o que precisava.
— Tudo bem. — disse.
— Tudo bem?
Ela assentiu com a cabeça. — Tudo bem, a tudo isso. Quero você
também, Elias.
Puxei River para mim, minha boca beijando a dela. Com seus
lábios pressionados nos meus, o mundo estava correto novamente.
Epílogo
River
— Você tem certeza que tudo isso caberá? — estava com as mãos
nos quadris, examinando o apartamento, minhas caixas empilhadas
ordenadamente no meio da sala. Doei a maioria das coisas de Viper
em antecipação à mudança para West Bend.
— Você viu a casa — disse Elias. — Se encaixará. Tem certeza de
que quer se mudar para uma fazenda em West Bend? Não é
exatamente Hollywood.
Coloquei meus braços ao redor de sua cintura e o olhei, o homem
que me faz tão feliz. — Isso é completamente louco. — disse. — Não
gosto de Hollywood. Estou totalmente, cem por cento, sobre a minha
decisão.
— Acha que será feliz lá comigo? — perguntou Elias. — Pode ser
muito tranqüilo para você, afinal é uma estrela de cinema e tudo.
Ri. — Tranqüilo é bom. — disse. — E não serei uma estrela de
cinema em West Bend, de qualquer maneira, serei apenas uma
estudante universitária normal, com aulas para me tornar uma
professora. Além disso, não pode controlar todos os lugares.
Elias me deu um forte tapa na bunda. — Não se esqueça disso
também. — disse, circulando ao meu redor, sua respiração em meu
ouvido. — Se precisar de um lembrete antes de sair, embora... — Ele
apertou sua dureza em minha bunda. — Posso levá-la para outra sala
e...
Um dos homens da mudança entrou. — Acho que temos tudo
inventariado.
Elias gemeu. — Timing perfeito, obrigado.
Mais tarde, entrei novamente no carro e vi pelo espelho lateral
Hollywood ficando para trás.
Deixei para trás a vida que conhecia para iniciar uma nova com
este homem.
Elias batia os dedos no volante enquanto dirigia e me inclinei n o
assento. Eu me sentia calma, totalmente em paz.
Elias
— Onde ele está? — perguntei. — Deveria ser deixado Silas levar
o meu Mustang, para que ficasse com você na Califórnia.
River passou as mãos sobre o peito. — Ah, mas então não teria
todo esse tempo sozinho comigo nas últimas semanas. — disse.
Beijei-a, deixando minhas mãos vaguear pelos seus quadris,
apertando sua bunda. — Você está certa. — disse. — Talvez me lembre
de por que fiquei sozinho com você.
River gemeu. — Com prazer. — disse, pegando em minha mão. —
Sem mobília ainda. Então acho que não importa qual quarto batizar
primeiro, certo? Além disso, tenho certeza que Silas foi apenas levar
um recado ou algo assim.
— Sim. — Isso provavelmente era ele. Mas River não sabia tudo,
os desaparecimentos de Silas, seu comportamento errático.
Uma motocicleta rugiu, cada vez mais alto quando se aproximava
e River e eu fomos para a porta.
Killian saiu da motocicleta.
— River, este é Killian, um dos meus irmãos.
Killian estendeu a mão e sorriu. — Prazer em conhecê-la.
— Tenha classe, cara.
— Preciso falar rapidinho com você, Elias. — Killian me deu uma
olhada e River me beijou na bochecha.
— Só farei alguma coisa útil aqui dentro. — disse.
— Olha só — disse Killian. — Pensei sobre isso e acho que Silas
está certo.
Gemi. — Jesus, você também não. Vamos lá, sabe que Silas é
inteligente pra caramba, mas às vezes é um inteligente louco. E dê
ênfase na loucura.
Killian balançou a cabeça. — Não. Acho que há algo realmente
acontecendo nesta cidade, mais do que apenas um empresário
chegando à cidade. Acho que está certo sobre o que aconteceu. Não
acho que a morte do idiota foi um acidente. E não acho que a mãe teve
uma overdose.
River olhou para cima enquanto tirou duas bolsa da mala e
sorriu para mim. — Tudo certo? — perguntou, enquanto passava por
mim.
— Sim. — disse. — Está tudo bem.
River e eu ficaríamos muito bem, sabia disso. Mais do que bem.
Antes dela, fui um grande cínico, convencido de que não havia o tal
felizes para sempre, nenhum final feliz de filme para mim. O universo
teve um grande senso irônico, dando-me uma estrela de cinema, que
estrelou em comédias românticas e me apaixonei por ela.
As coisas aconteceram com um propósito e começava a acreditar
nisso. Então, talvez a morte de nossos pais era a maneira do universo
trazer meus irmãos e eu para perto um dos outros, unindo-nos para
um propósito comum.
Mesmo se não tivesse ideia agora do que esse efeito era.
Iria descobrir.
Não agora, no entanto. Agora, iria sentar, tomar uma cerveja
com Killian e River e brindar o fato de que nós começávamos uma
nova vida aqui em West Bend.
Todo o resto, o que acontecia, podia esperar. Agora, estava feliz.
Fim