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Tradução: Line

Revisão Inicial: Alli B.


Revisão Final: Aninha
Leitura Final: Ana Luisa
Formatação: Lorel e Ari
AVISO
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do código penal e lei 9.610/1998.
Para aqueles que são obrigados a viver em silêncio.
A todos os Prestons do mundo que merecem uma segunda
chance.
A todas as Kits deste mundo que merecem amor e aceitação.
E a todos aqueles que criticaram essa história antes de ser
publicada, porque quebrou todas as regras do romance.
Ele é para vocês.
Querido leitor,

Está é uma série de três livros previamente intitulada:


Complicated Parts, livro 1, 2 e 3.

Não tenha medo, Preston e Kit ainda são muito, “complicados”.


Eu só quero fazer com que os títulos sejam mais chamativos e não
tenha confusão com a duologia Complicated Hearts.

Eu espero que você ame Preston e Kit tanto quanto eu. Eu os


chamo de “personagens da alma” por um motivo, e eu estou muito
animada para vocês conhecê-los.

Aguente firme, eu juro que vale a pena.

XOXO

Ashley Jade.
Aviso da autora
Complicado - adjetivo:

Consistindo em muitas partes ou elementos interconectados.

Difícil de analisar, entender ou explicar.

Parte - substantivo plural: partes:

Uma peça ou segmento de algo como um objeto, atividade ou


período de tempo, que combinada com outras peças constituem o
todo.

Também conhecido como Preston Holden e Kit Bishop.

Esteja avisado de que a história deles é única e diferente de


qualquer outra já vista. Pode conter elementos que os incomodem.

Se você já leu o dueto de Complicated Hearts (a história de


Breslin, Asher e Landon - você estará bem familiarizado com o
primeiro livro do dueto e os personagens Preston e Kit).

Se você não fez isso, está tudo bem. Você pode ler este dueto
sem ter lido o dueto Complicated Hearts. Este é o livro de Preston e
Kit e é a história deles.

Dito isso: tanto Preston quanto Kit são personagens falhos e não
convencionais.

Para entendê-los, você precisará deixar suas expectativas e tudo


o que você pensava que sabia sobre livros de romance para trás antes
de virar a primeira página.
A história deles não é uma história de amor tradicional de
forma alguma... mas é uma história de amor.
Dizem que todo mundo tem um vício, obsessão ou fraqueza neste mundo.
Algo que pode penetrá-lo até o âmago e influenciá-lo de uma maneira que
nada mais pode.

Kit Bishop está em minhas veias. Mas, infelizmente para mim, ela é a
droga que eu nunca vou conseguir e a droga que eu não posso perseguir.
"Tudo é um jogo, a cima de todos o amor.”

- Tess Gerritsen
I

Três anos antes...

“OS SERES HUMANOS SÃO FALHOS, COMPLICADOS E


DESPORTIVOS." - BRIT MARLING

Se eles estivessem distribuindo troféus pelas piores 48 horas,


tenho certeza de que ganharia o primeiro lugar agora.

Agarrando o volante, analiso mentalmente a lista de verificação.

Peguei minha namorada me traindo - confere.

Com. Uma. Garota - tudo bem, talvez isso não seja tão ruim.
Inferno, é até meio quente.

Exceto pelo fato de que minha namorada traidora está


aparentemente noiva da dita garota - confere.

Minha namorada lésbica traidora decide então lançar uma


bomba atômica e me informa que está grávida - confere.

Minha namorada lésbica, grávida e traidora, então me diz que é


meu - confere.

Eu rapidamente cheguei à terrível conclusão de que minha


namorada lésbica, grávida e traidora está certa, porque ela... espere
... estava me traindo com uma garota. E da última vez que verifiquei,
garotas não produzem esperma – malditos confere, confere, confere.
E se toda essa merda não for ruim o suficiente - há também o
fato engraçado, de que meu irmão mais velho teve que vir em meu
socorro hoje cedo e me arrastar para fora de um cassino - apenas
para apressar minha volta.

Isso até eu entrar em uma sequência de vitórias de proporções


épicas e o cassino enviar um de seus capangas para investigar. E
por investigar - quero dizer, me levar para os fundos e vasculhar
meus bolsos para verificar se eu estava trapaceando.

No final, o capanga não encontrou nada que me incriminasse.


Ele, no entanto, encontrou minha verdadeira identificação.

Fui prontamente chutado para fora, sem nem mesmo um 'tenha


uma boa noite' ou meus ganhos substanciais.

Soltando um suspiro, baixo o volume do rádio, e olho pela


janela.

Sim, estou oficialmente perdido em algum lugar no meio do


nada. Impressionante.

Para adicionar um insulto a todos os ferimentos dos últimos


dois dias, o cassino em que passei minha noite ficava em uma área
que não estou nem remotamente familiarizado, e graças a todas as
horas gastas no jogo, meu celular descarregou.

Não teria sido um problema mas minha namorada lésbica e


grávida, traidora, pegou emprestado o carregador do meu carro na
semana passada e nunca mais devolveu.

Também me lembro do dia exato... porque foi o mesmo dia em


que o GPS do meu carro quebrou.

Algo que estou lamentando não ter consertado porque são quase
duas da manhã e não tenho ideia de para onde diabos estou indo
nesta cidade decadente e esquecida por Deus, que parece não ter
fim.

Eu entregaria meu cartão de homem e pararia em um posto de


gasolina para pedir informações neste momento, mas o único que
passei estava a cerca de cinco quilômetros de volta e estava fechado.
Fora isso, não vi nenhum sinal de civilização.

Não até que eu parei em uma ponte e buzinei para o carro que
está me impedindo de atravessar.

Quem diabos estaciona o carro no meio de uma ponte de pista


única? Nada menos do que um BMW.

Buzino mais três vezes e, quando o carro ainda não se move,


percebo que não há ninguém sentado nele, abro a porta e saio.

Com um suspiro de frustração, começo a andar e dou uma


olhada ao redor. Está escuro, mas a lua cheia ilumina o que parece
ser um grande rio abaixo de mim. E além do som da água ondulando
nas rochas, é assustadoramente silencioso.

A intuição me atinge e os cabelos da minha nuca se arrepiam -


talvez eu tenha topado com um descarte de lixo para a máfia ou algo
assim.

Atravessando para um lado da ponte, descanso meus cotovelos


na em uma barreira de aço e olho para baixo. Sim, este lugar seria
perfeito para despejar corpos. Está tão longe do caminho tradicional
que ninguém jamais encontraria a vítima.

Decidindo que não quero correr o risco de estar no lugar errado


na hora errada, porque Deus sabe que já estou com as mãos
ocupadas com meus laços com a máfia, começo a caminhar de volta
para o meu carro. Murmuro uma maldição quando pressiono o botão
errado no meu chaveiro e minha buzina toca.
— Tudo bem, seu idiota impaciente. Estou saindo, — uma voz
feminina rouca grita.

A curiosidade me faz girar e sou saudado por uma loira pequena


e esguia. Ou melhor, parcialmente loira porque as pontas do cabelo
são de um rosa brilhante muito perceptível. Meus olhos examinam
rapidamente algumas tatuagens visíveis antes de se estabelecerem
na carranca raivosa estampada em seu rosto manchado de rímel.

E é quando eu percebo quem ela é.

Olhos manchados de maquiagem combinados com cabelo rosa é


o que mais me lembra sobre a garota com quem peguei minha
namorada me traindo.

Ok, talvez não seja a única coisa. A visão dela trocando cuspe
com minha namorada no meio de uma lanchonete da faculdade está
firmemente reservada no banco de dados do meu cérebro.

Porra, de todas as pessoas no mundo que poderiam estar nesta


ponte comigo, tem que ser ela.

O olhar que ela me lança me diz que ela está pensando


exatamente a mesma coisa. — O que diabos você está fazendo aqui?
— Seus olhos castanhos ficam duros. — Becca lhe contou sobre este
lugar?

Eu balancei minha cabeça. — Não.

Ela coloca as mãos nos quadris. — Então que merda você está
fazendo na minha ponte, idiota?

— Cristo, o que é isso, Three Billy Goats Gruff 1?

Ela pisca. — O que?

1
Uma história de conto de fadas norueguesa que conta a história de três carneirinhos que precisam
ultrapassar uma ponte e tem um Troll que os atrapalha.
— Three Billy Goats Gruff — repito com mais ênfase. — Você
sabe, a história do troll em uma ponte que não deixa as cabras
passarem.

— Você acabou de me chamar de troll?

Foi mais uma suposição.

Está na ponta da minha língua comentar sobre seu cabelo rosa,


mas penso melhor. Deixo meus problemas com ela de lado já que é
a única que pode me dar instruções para sair daqui.

Nós nos encaramos por um momento e sua carranca se


aprofunda... e então seu lábio inferior treme.

Não tenho ideia do que dizer a essa garota, mas está claro que
ela está extremamente perturbada. Estou prestes a dizer que ela não
é um troll, mas é quando me dou conta.

Ela está sozinha. No meio da noite. Em pé em uma ponte.

Apenas dois dias depois de descobrir que a garota que ela


pensava ser sua noiva... a traiu.

Cada célula do meu corpo está me dizendo que esta situação


não é problema meu e para dar o fora daqui. Não me dou bem com
casos emocionais perdidos e não devo nada à garota parada na
minha frente chorando.

Mas o fato é que... alguém foi ferido nesta provação. E Deus sabe
que não foi Becca e com certeza não fui eu.

É a garota nervosinha com os olhos tristes olhando para mim


como se ela quisesse me jogar para fora desta ponte.

— Vou mover meu carro, — ela diz bruscamente.


Antes que eu possa me conter, eu digo: — Olha, eu sei que sou
a última pessoa no mundo que você quer...

— Acertou. — A pequena mão segurando suas chaves formando


um punho. — Te odeio.

— Você nem me conhece — digo a ela. — Não que você não iria
me odiar se me conhecesse. Eu não sou exatamente um santo. — Eu
me inclino contra o capô do meu carro. — Se vale de algo, eu não
tinha ideia que ela estava com você. Eu sei que isso não mudará sua
percepção sobre mim mas você está obviamente chateada. Talvez
conversar um pouco comigo ajude. — Eu levanto minhas mãos. —
Ou piore. Não dou garantias, mas vale a pena tentar. Depois,
podemos voltar a ser inimigos mortais e fingir que esta noite nunca
aconteceu.

Ela mexe o lábio inferior rechonchudo entre os dentes, me


estudando.

Aproveito para fazer o mesmo com ela. Percebo um pequeno


piercing em sua narina e outro no lado direito do lábio superior.

Meus dentes batem enquanto continuo minha avaliação. Eu sei


que não deveria fazer nenhum julgamento, mas se essa garota não
gosta de pau também, a população masculina foi seriamente
atingida.

Com rímel ou não, ela é linda. Uma nota vinte em uma escala
de dez - e eu não estou nem dentro do visual tatuado e com piercing.

Quando não vejo nada além daquela mistura de desespero e


raiva ainda girando naquelas orbes cor de avelã enquanto ela
termina de me avaliar de cima a baixo, em vez de uma centelha de
atração ou apreciação, percebo que minha suspeita anterior está
certa porque ela é claramente imune à minha aparência.
Não que eu esteja esperando que uma garota com o coração
partido caia aos meus pés, mas no que diz respeito à aparência -
estou no lado extremamente sortudo.

Acontece que os genes Holden são bons para alguma coisa.

Depois do que parecem horas, ela finalmente fala. — É verdade?

Quando eu olho para ela, ela diz: — O bebê. Ela está gravida?

O medo enche meu estômago quando três testes de gravidez


positivos passam diante dos meus olhos. — É o que parece. Ela tem
uma consulta médica em alguns dias para confirmar.

Ela balança a cabeça lentamente, como se entendesse minha


frase aos poucos, porque ela não consegue suportar toda a estrutura
dela.

— Você está feliz? — ela pergunta, e eu estaria mentindo se


dissesse que sua pergunta não me derrubou.

Quando não respondo, ela caminha até o carro e se senta no


capô ao estilo indiano, esperando minha resposta.

A ironia de que nossos veículos parecem estar se enfrentando


não é perdida por mim.

Imaginando que não tenho muito a perder nessa conversa


estranha, eu digo a verdade a ela. — Não particularmente. Não.

Então, novamente, nosso relacionamento nunca foi sobre isso.

Minha mente voa de volta para alguns meses atrás, quando fiz
uma aposta - na verdade uma série delas - com os Dragonis - que
por acaso são a família de Becca - e acabei perdendo uma tonelada
de dinheiro.
Meu irmão mais velho, Asher, não tem ideia e, considerando que
é algo que vou levar para o túmulo, ele nunca saberá. Mas eu perdi
uma grande aposta com os Dragonis de propósito.

Vincent Dragoni é irmão de Dominic Dragoni - que por acaso é


o chefe da máfia. Mas Vincent é também o treinador assistente de
futebol da Universidade Woodside e um conhecido agente de apostas
clandestino.

Ainda está confuso? Bem, espere - as coisas vão ficar muito mais
complicadas.

Meu irmão Asher - graças a sua namorada do colégio, Breslin


juntamente com o pai dela e um maluco – caiu em uma armação com
uma filmagem de sexo, apresentando outro cara o chupando.

Ele estava indo para a NFL, mas depois que o vídeo se tornou
viral, ele foi imediatamente expulso da Universidade Duke's Heart
por motivos ridículos e perdeu sua bolsa de estudos. E meu pai
sendo o idiota que ele é, alguém que tem tudo a ver com imagem
pública - o deserdou e o isolou financeiramente.

Os sonhos de Asher foram manchados, tudo porque algum


viciado que mora em um trailer e algum psicopata, colega de equipe
dele queriam ganhar dinheiro rápido armando para ele.

Bem, isso e Duke junto com a sociedade, não conseguia lidar


com a ideia de um dos maiores zagueiros em ascensão de todos os
tempos poderia ser gay.

Meu irmão pode estar fora do armário como bissexual agora,


mas quando aquele vídeo foi feito, ele ainda estava com sua
namorada do colégio, Breslin, e presumia ser hétero como uma
flecha. Mas tudo mudou numa noite, quando seu companheiro de
equipe se tornou um perseguidor, Kyle Sinclair, o chantageando com
um vídeo de um boquete que ele fez enquanto ele dormia.
Em troca de Kyle não lançar o vídeo, Asher teve que fazer todo
tipo de coisa por ele, como garantir a Kyle um lugar no time de
futebol de Duke. Embora agora saibamos que tudo isso foi apenas
uma estratégia para estar mais perto de Asher, porque ele estava
obcecado por ele.

Os últimos três anos foram um inferno para meu irmão e ele


acha que foi tudo culpa de Kyle. No entanto, descobri há alguns
meses que Breslin e seu pai foram os co-conspiradores por trás de
toda a operação, quando encontrei o pai dela em um bar e ele contou
tudo sobre a divulgação do vídeo; caso contrário, eu nunca teria
acreditado.

A única coisa positiva sobre o vídeo ter sido divulgado foi que
proporcionou a Asher liberdade de Kyle e liberdade de ser ele mesmo.
As coisas estão finalmente melhorando para meu irmão - em parte
graças a mim.

Depois que fiz um acordo com Vincent Dragoni de que Asher


levaria os Wolverines ao campeonato - algo que o time de futebol de
Woodside não via desde os anos setenta - em troca de perdoar minha
enorme dívida de jogo, Asher está jogando futebol novamente.

É apenas uma questão de tempo até que ele ganhe o campeonato


e a NFL perceba que, querendo ou não, ele é um ótimo atleta e merece
estar em campo.

As pessoas podem não concordar com o que eu fiz se


descobrirem, mas não me arrependo. Estou feliz que Asher agora tem
a chance de provar que pode fazer isso por seus próprios méritos.

O aborrecimento rasteja pela minha pele enquanto meus


pensamentos voltam para a minha namorada traidora.

Resumindo, comecei a namorar Becca Dragoni, que foi enviada


para me espionar como lacaio de sua família, porque isso foi benéfico
para mim. Foi um benefício que se tornou uma conveniência nos
últimos meses, porque éramos uma boa combinação.

Ela não reclamava do meu jogo porque cresceu perto disso e


nunca me perguntou aonde eu ia ou por que voltava tarde para casa.
Sem mencionar que ela era bonita de se olhar e o sexo entre nós era
decente.

Como agradecimento por suas contribuições para o


relacionamento, nunca me desviei ou a tratei mal. E contanto que
eu desse a ela algum dinheiro e a levasse a alguns lugares chiques...
ela estava contente.

Na verdade, as coisas estavam indo tão bem; que até acabei


alugando um apartamento para nós.

Não me interpretem mal, não estou apaixonado por ela nem


nada, mas quem precisa de amor quando temos um entendimento
mútuo?

Pelo menos nós tínhamos... antes que ela me traísse e me


enganasse.

Cristo, eu tenho apenas dezenove anos e no meu segundo ano


em Yale, não estou pronto para um casamento e um bebê. Verdade
seja dita, acho que nunca vou estar. Colocar outra pessoa antes de
mim nunca foi meu ponto forte.

As feições da garota se confundem, me trazendo de volta ao


presente. Não sei se ela parece mais surpresa ou ofendida com a
minha resposta anterior à sua pergunta. — Há quanto tempo você
está... você sabe... com ela?

Eu olho para o céu noturno enquanto penso. — Quatro meses


ou mais. — Eu levanto um ombro em um encolher de ombros. —
Talvez mais, talvez menos. Nunca realmente acompanhei. Vocês?
— Desde o último dia do nosso primeiro ano — ela responde sem
hesitação. — 25 de maio para ser exata. A conheci em uma festa de
fim de ano que alguma fraternidade estava dando. O resto, como
dizem, é história. Estamos juntas desde então. — Ela fecha os olhos
de dor. — Ou melhor, estávamos.

— E a Europa..., — começo a dizer, lembrando-me das férias de


verão com as amigas que Becca me disse que estava indo.

— Foi onde eu a pedi em casamento. Bem na frente da porra da


Torre Eiffel. — As lágrimas começam a cair em seu rosto novamente
e ela vira a cabeça em direção à água. — Com o anel de noivado da
minha mãe.

— Bem, pelo menos você pode devolvê-lo agora.

Ela estremece e eu percebo que de alguma forma consegui


ofendê-la.

Normalmente estou no topo do meu jogo. Como jogador, analiso


cada detalhe e expressão sutil no rosto de uma pessoa - todas as
coisas que seu corpo dá sem palavras - o que, por sua vez, me
permite lê-las como um livro. Assim, permitindo-me ver as cartas
proverbiais que eles têm.

Mas com essa garota? Eu nem preciso decodificar nada; ela é


tão sincera quanto possível. Suas emoções estão todas expostas para
o mundo ver e não consigo decidir se acho isso revigorante ou nocivo.

— Isso seria meio difícil — ela sussurra. — Não só porque Becca


provavelmente já o penhorou, mas minha mãe e meu pai morreram
neste rio quando eu tinha oito anos.

Fale sobre um soco no estômago. — Merda...

— Poupe-me, — ela diz, mas não há amargura em seu tom.


Apenas tristeza. — Suas desculpas não os trarão de volta.
— Eu não ia me desculpar. A morte deles não foi minha culpa
— Eu sigo seu olhar para a água. — Eu ia dizer que é uma merda.

Pela primeira vez desde que estamos conversando, ela me lança


um olhar que não consigo decifrar. — Sim, é.

Decidindo ficar mais confortável, sento no capô do meu próprio


carro. — Se importa se eu perguntar como eles morreram?

— Algo me diz que mesmo que eu dissesse que me importo, você


não daria a mínima e perguntaria de qualquer maneira.

Eu encolho os ombros. Sua avaliação não está errada.

Seus olhos voltaram para a água. — Eles estavam comemorando


seu aniversário de dez anos de casamento indo para o Caribe . O
tempo estava ruim, mas o novo piloto que contrataram garantiu que
haveria apenas um pouco de turbulência e o resto do voo seria
tranquilo. Alguns minutos após a decolagem, no entanto, o avião
deles caiu neste rio — um olhar de dor inunda suas feições. — Meus
pais foram mortos, mas o veredicto sobre o piloto ainda não foi
divulgado.

Agora eu sinto muito; eu teria que ser um completo sociopata


para não o fazer. Dito isso, algo sobre sua declaração não parece
certo para mim. — Não quero ser mórbido, mas como isso é possível?
Achei que você tivesse dito que o avião caiu no rio?

Ela exala uma respiração irregular. — Sim, mas ele não estava
no acidente... não exatamente. Não há ninguém para verificar com
certeza, já que os únicos dois passageiros do avião não saíram vivos,
mas de acordo com os investigadores, o avião ficou ocioso logo após
a decolagem. Eles também encontraram um paraquedas junto com
um colete salva-vidas na água, e quando encontraram o avião no
fundo do rio, a porta estava aberta. Com base nisso, eles pensaram
que havia a possibilidade de que ele tivesse saltado do avião antes
que ele caísse.

Meu peito se aperta. — Você quer me dizer...

— Que os últimos momentos dos meus pais na terra foram


passados assistindo o piloto que eles contrataram pular para um
lugar seguro enquanto os deixavam cair para a morte? Sim, muito
bonito.

Meu estômago está azedo. — Porra, isso é tão errado. Não é


preciso ser um gênio para descobrir que há algo ridiculamente
perturbador sobre o que aconteceu com eles.

Agonia corta seu rosto. — Eu sei. Mas visto que eles nunca
recuperaram o corpo do piloto, eles não tiveram escolha a não ser
presumir que ele morreu também. — Suas narinas dilatam. — A
investigação durou anos, mas não deu em nada.

— Você acha que o piloto ainda está vivo?

Seu rosto desmorona. — Eu acho. Para ser completamente


honesta, nada sobre a morte dos meus pais me convenceu.

Não posso culpá-la por se sentir assim. — Não quero ser todo
‘teoria da conspiração’ com você, mas seus pais eram pessoas
perigosas? Espiões? Mafiosos? Negociantes de mercadorias? Eles
tinham informações sobre algo que não deveriam? Eles obviamente
tinham dinheiro, já que estavam indo de avião particular para o
Caribe. — Eu paro quando percebo que não estou apenas cruzando
os limites com minhas perguntas, estou saltando sobre eles. — Só
estou tentando descobrir o que aconteceu.

Ela engole visivelmente. — Poupe-se do problema. Tenho quase


certeza de que já descobri a verdade e não há absolutamente nada
que eu possa fazer a respeito. Ninguém acredita em mim porque não
tenho nenhuma evidência para provar isso. É um beco sem saída.

— Você pode me dizer a verdade.

Ela me olha com um olhar frio. — Não só que eu nem conheço


você, mas você é uma das minhas pessoas menos favoritas no
planeta no momento. Por que eu deveria confiar em você?

— Não se trata de confiar em mim — digo a ela. — Ganhar sua


confiança não é algo que me importe o suficiente para fazer esforço
— Quando ela fica boquiaberta, acrescento: — Não estava tentando
insultá-la, só não desperdiço minha energia com pessoas que não
servem a nenhum propósito para mim. E você já deixou claro que me
odeia. Isso nada mais é do que dar a você a oportunidade de falar a
verdade para alguém que vai acreditar em você.

Ela bufa. — E você vai acreditar em mim?

— Claro, não tenho razão para não fazer isso.

Porque eu sei o que é pensar que ninguém vai.

Eu descanso meus cotovelos em meus joelhos, focando nela. —


Além disso, eu tenho mais algumas horas para matar.
Principalmente porque estou perdido, mas isso não é nada.

Ela balança levemente a cabeça. — Você é a pessoa mais


estranha que já conheci.

Eu pisquei. — Já fui chamado de coisa pior. Agora diga,


Nervosinha.

Ela parece positivamente irritada. — Nervosinha? Cristo, você


realmente acabou de me dar um apelido?

— Se eu disser que sim, você vai começar a falar?


— Não.

— Bom, porque eu não fiz — Eu tenho que reprimir um sorriso


enquanto seu aborrecimento aumenta. — Embora, no que diz
respeito aos apelidos, esse seja adequado para você.

— Eu posso pensar em algumas opções que serviriam para você


— ela murmura baixinho.

Eu bato meu relógio. — Eu acho que nós dois sabemos que listar
isso levará muito tempo. Você vai economizar tempo e esforço me
dizendo quem você acha que está por trás da morte de seus pais.

Ela puxa os joelhos até o peito. — Tudo bem, mas apenas porque
minha noite não pode ficar pior, não por que somos amigos ou algo
assim.

— Devidamente anotado.

— Você já ouviu falar do Kit-Bit?

— Sim — digo, lembrando-me de uma das maiores empresas de


software de computador pessoal do mundo. — Acho que todo mundo
usa o Kit-Bit.

O fantasma de um sorriso toca seus lábios. — Meu pai era o


programador de computador.

Minha boca quase bate no chão. — Não me diga.

Seus olhos brilham de orgulho. — Sem brincadeira — Ela


balança as sobrancelhas. — Vá em frente... pergunte-me qual é o
meu nome.

Eu olho para ela com desconfiança. — Qual o seu nome?

— Kit — Ela cruza os braços em volta dos joelhos, travando-os


no lugar. — A maioria das pessoas pensa que é uma abreviatura de
Katherine, mas não é. É meu nome verdadeiro. Embora meus pais
geralmente me chamassem de pequena bit.

Há tanta angústia em seus olhos que tenho que respirar. — Acho


que vocês eram próximos?

Ela acena com a cabeça. — Eles foram os melhores pais que


alguém poderia pedir. Meu pai trabalhava muito, mas sempre
arranjava tempo para a família. Nem ele nem minha mãe tratavam
sair comigo como uma tarefa árdua ou obrigação. Nós sempre nos
divertiríamos muito juntos.

— Parece que você teve uma vida boa — eu digo reprimindo meu
ciúme.

Superficialmente, minha vida era feita de sonhos, mas qualquer


um que morasse na casa dos Holden sabia que a realidade era mais
como um pesadelo.

— Eu tive. Oito curtos anos não foram suficientes.

Nossos olhos se conectam. — Não, não posso imaginar que foi.

Ela agarra os joelhos com tanta força que os nós dos dedos ficam
brancos. — Quando meu pai desenvolveu o Kit-Bit, ele se tornou rico
e bem-sucedido muito rápido.

— O sonho americano.

— Basicamente — ela zomba. — De qualquer forma, logo depois


que Kit-Bit disparou, o irmão de meu pai, meu tio Garrison, tentou
alegar que ele era o cofundador — Uma ruga se forma entre suas
sobrancelhas. — As coisas ficaram muito feias por um tempo. Em
um ponto, ele até ameaçou processá-lo.

— Droga — eu digo, e ela acena com a cabeça.


— No final, meu pai resolveu fora do tribunal. Não porque as
afirmações de meu tio estivessem certas, mas porque estava
destruindo minha avó, vê-los brigar. — Ela abaixa os olhos. — A
mulher é má, mas ela amava os dois filhos mais do que a própria
vida.

Ela levanta um ombro. — Eles não conversaram por alguns anos


depois disso. Então, um dia de Natal, quando eu tinha sete anos, ele
apareceu aleatoriamente em nossa casa chorando histericamente. —
Sua mandíbula se contrai. — Ele disse que foi diagnosticado com
câncer e seus médicos não lhe deram muito tempo de vida, então ele
queria fazer as pazes. Claro, meu pai o aceitou de volta de braços
abertos. Afinal, ele era família.

Um pressentimento penetra fundo em minhas entranhas. —


Deixe-me adivinhar, logo depois, houve um milagre de Natal
atrasado e ele estava em remissão.

Ela faz uma careta. — Menos de três semanas depois. E


misteriosamente o consultório de seu médico pegou fogo, arruinando
qualquer vestígio de seus registros médicos... não que isso
importasse. Meu pai e meu tio estavam mais próximos do que nunca.

Ela cruza as mãos no colo. — Veja, meu pai era um gênio da


computação e um grande empresário... mas ele carregava o coração
na manga, o que fazia com que as pessoas se aproveitassem dele. Ele
não era um egoísta — Ela ri. — Meus pais eram meio hippies de certa
forma, porque eles se preocupavam com paz, amor e felicidade. Eles
adoravam amar e ajudariam qualquer pessoa que precisasse.

Ela enxuga uma lágrima do canto do olho. — De qualquer forma,


alguns meses antes da morte de meu pai, meu tio investiu em uma
nova companhia aérea privada para os ricos e famosos.

Eu sinto meu coração cair um pouco com essas palavras e


silenciosamente peço que ela continue.
— Eu sei que parece loucura, mas acho que meu tio Garrison
teve algo a ver com o assassinato de meus pais. O piloto que meu pai
contratou como particular, também trabalhava para a companhia
aérea em que meu tio investiu, e eu... — Seus olhos perfuram os
meus. — Eu sinto isso em meus ossos, sabe? Há essa consciência
avassaladora que se assenta como uma pedra no centro do meu
peito. Mas ninguém acredita em mim.

Sua boca se achatou e aquela carranca zangada voltou. — Há


cerca de seis anos, contactei a polícia sobre minhas suspeitas. Eles
ouviram, mas acabaram dizendo que não havia nada que pudessem
fazer. Eles não tinham provas para acusá-lo e me disseram que não
só meu tio foi muito cooperativo quando falaram com ele, mas ele
investindo na mesma companhia aérea, que por acaso, contratou um
piloto que acabou batendo o avião que matou meus pais, era mais
uma má coincidência do que um motivo. Então eles me disseram que
se eu quisesse falar com eles novamente, eu precisava voltar com
meu tutor.

Ela inala uma respiração. — Mais tarde, quando eu trouxe isso


para minha avó, ela ficou tão furiosa que me trancou no porão até
que eu me desculpei por ter pensado em tal coisa.

— O que? — Eu rosno, me assustando.

— Relaxe, eu sobrevivi. Até aprendi a me acostumar; dado que


era uma ocorrência comum depois disso. Embora por um motivo
totalmente diferente.

Eu massageio a tensão crescendo como um arranha-céu no meu


pescoço. Toda essa situação é horrível. — Não é da minha conta, e
você não tem que responder, mas para quem foi o dinheiro do seu
pai?

— É super complicado. — Ela mastiga o lábio inferior. — Minha


mãe estava distante de sua família, então meus pais nomearam
minha avó Bishop, a mãe de meu pai, como minha guardiã no caso
de suas mortes e criaram um fundo fiduciário. No momento, minha
avó supervisiona, já que ela tem uma procuração, a beneficiária de
seu testamento e minha tutora, com o entendimento de que, quando
eu tiver vinte e cinco anos, o que sobrar será entregue a mim.

Quando faço um som sufocado e lanço lhe um olhar de horror,


ela rapidamente diz: — Eu sei o que parece, mas prometo que não é
tão ruim quanto você pensa. Meu pai escreveu instruções relativas a
mim que minha Avó deve obedecer. — Ela começa a marcar as coisas
com os dedos. — Necessidades como comida, abrigo e roupas são
pagas pelo fundo, e minha educação universitária está coberta.
Também recebo presentes enormes em meus aniversários e feriados.

Ela aponta para seu BMW. — Como este doce carro — Ela se
inclina contra o para-brisa. — Além de tudo isso, também recebo
uma mesada todo mês. Uma boa, já que meus pais eram bilionários
e tudo. Infelizmente, há alguns problemas com isso, graças à minha
Avó e suas contingências... — Ela faz uma pausa e a vergonha
sombreia seu rosto. — Deus, eu não deveria nem reclamar. Meus
pais garantiram que eu não precisasse de nada e, embora eu
desistisse de tudo em um piscar de olhos para ter mais um dia com
eles, sou extremamente feliz pelo que eles me deixaram.

— Nenhum julgamento aqui — eu digo a ela, me sentindo


aliviado. Pelo menos ela está sendo cuidada em algum nível. Não que
eu ligue, mas o grande empresário em mim fica feliz em ouvir isso.

Eu vejo uma estrela cruzar o céu noturno. — Pense só, só mais


três anos e será todo seu e você não terá mais que lidar com sua avó.

— Quatro anos, — ela corrige e eu faço os cálculos novamente.

— Desculpe, acho que pelo que você disse antes, você começou
seu último ano de faculdade e faria vinte e dois este ano.
Ela torce o cabelo no topo da cabeça e puxa algum tipo de
presilha, prendendo-o no lugar. — Não, eu sou um bebê de
dezembro. Meus pais me matricularam na escola cedo, então eu era
um ano mais nova do que todos os meus colegas. Eu vou fazer vinte
e um no dia 13 de dezembro.

Eu estremeço interiormente. — Número da sorte, treze, hein?


Vou fazer vinte em fevereiro.

— Fevereiro, o quê? — ela pergunta e eu imediatamente me


arrependo de ter dito qualquer coisa.

Murmuro minha resposta e seus lábios se contraem. — Você é


um bebê do Dia dos Namorados?

Eu olho para ela. — Você tem ideia de como isso é chato de


ouvir?

— Oh, por favor, — ela diz. — Eu nasci na sexta-feira, dia 13,


exatamente à 1:13 da manhã, pesando seis libras e treze onças 2.
Você tem ideia de como é irritante ouvir dos idiotas Triscaidecafobia 3
que eu sou uma espécie de amuleto de azar?

Eu tento não me encolher, eu realmente tento, mas ela me pega


mesmo assim. — Sério? Você também?

Eu estudo a pintura do meu carro. — Eu gosto de jogar. Nem é


preciso dizer que os jogadores tendem a evitar o número treze a todo
custo! Quando ela solta um suspiro, eu digo: — Não se preocupe,
não vou sair correndo gritando, nem nada.

— Nem mesmo se eu pedir com educação? — ela rebate.

Eu sorrio. — Nem mesmo se você pedir com educação.

2
3,06kg não alterei por conta da sequencia de números 13 que a Kit quis usar.
3
Medo do número 13.
Uma sensação desconfortável toma conta do meu estômago
quando me lembro de suas palavras anteriores. — Você disse antes,
sobre sua avó trancando você no porão, era uma ocorrência comum
enquanto crescia... por quê? Além do fato de que ela é má, é claro.

Ela empalidece. — Sabe, tenho lhe contado muitas coisas


pessoais e quase não sei nada sobre você.

— Isso não é verdade, — eu me defendo. — Acabei de lhe dizer


a minha data de nascimento e que gosto de jogar. Isso é mais do que
a maioria das garotas descobre no terceiro encontro.

Seus olhos piscam de raiva novamente e eu me lembro que


deveríamos ser inimigos.

Por algum motivo que não consigo identificar a decepção que


enche meu peito.

Talvez seja porque toda a situação de Becca e do bebê não


parece tão sufocante quando falo com ela.

Tem até sido meio... legal.

Não estou pronto para abandonar isso ainda, então limpo minha
garganta e digo: — Meu nome é Preston.

Ela me olha de cima a baixo. — Sim, eu sei. Faz sentido. Você


tem todo esse jeito esnobe e intitulado a seu favor.

Ela ignora meu olhar sujo e balança as pernas sobre o capô.


Tento não rir enquanto vejo seus membros curtos balançando alguns
centímetros acima do solo. — Então, Preston. Por que diabos você
está de terno?

Com isso, eu rio. — Sou formado em negócios em Yale.


Seu olhar é calculista. — Eu também sou formada em negócios,
mas isso ainda não explica nada. Não, a menos que você estivesse
em um estágio, e considerando que é fim de semana...

— Fui a um cassino hoje à noite. Eu gosto de usar ternos quando


jogo.

Ela inclina a cabeça para o lado. — Ah, isso faz você se sentir
crescido e importante?

Eu mostro a ela alguns dentes e uma covinha. — Nah, bebê. O


que está sob o terno me faz sentir adulto e importante.

Sua expressão se torce em desgosto. — Ugh, você realmente


acabou de me chamar de bebê e se referiu à sua — ela passa a mão
para cima e para baixo — anatomia masculina na mesma frase?

— Não sabia que minha anatomia masculina era tão ofensiva.


Nunca tive nenhuma reclamação antes.

Eu quero me chutar quando a dor pisca em seu rosto


novamente. Não sei por que me incomoda vê-la chateada, só que fico.
— Eu sinto muito.

Quando ela olha para seus sapatos, eu digo: — Minha cor


favorita é verde porque é a cor do dinheiro. Eu tenho uma cicatriz de
treze centímetros na parte de trás da minha cabeça que está coberta
pelo meu cabelo. E posso somar, multiplicar e dividir um conjunto
de números na minha cabeça mais rápido do que a maioria das
pessoas leva para processar uma frase solitária.

Ela congela. — Quanto é 5.528 vezes 6.623?

Eu pisco — 36.611.944.

Ela pega seu telefone. — Divida esse número por 26.500.

— 1.381. — Eu levanto um dedo — 58279245283.


Ela olha para baixo. — Puta merda, você é como Rain Man.

Eu endireito minha coluna, sentindo uma combinação estranha


de vulnerável e defensiva. — Ao contrário do que alguns de meus
médicos pensaram inicialmente, quando meus professores
insistiram que meus pais me examinassem, não tenho problemas
mentais e não estou no espectro do autismo.

Eu olho para longe, odiando o quão sincero estou sendo. Toda


essa conversa é estúpida e eu detesto não conseguir manter minha
boca fechada em torno dela. — Ninguém sabe porque tenho
hipercalculia 4, só que tenho.

Eu mantenho o fato de que um médico suspeitou de uma lesão


cerebral por algum tipo de trauma de infância. Além disso, meu pai
cobriu o traseiro quando disse que devo ter levado alguns golpes
acidentais na cabeça porque cresci jogando futebol com ele e meu
irmão mais velho. Daí a cicatriz.

Sua declaração não poderia estar mais longe da verdade. Odeio


o esporte e a única vez que não odeio, é quando estou ganhando
dinheiro com isso.

Considere isso apenas mais um motivo pelo qual sou uma


decepção para o Sr. Spencer Holden, ex-zagueiro da NFL que se
tornou um poderoso investidor e proprietário do time de futebol
americano da NFL.

Também conhecido como o homem que abusou de mim durante


anos.

Meu próprio monstro pessoal debaixo da cama.

4
É uma condição especifica de desenvolvimento na qual a capacidade de realizar cálculos matemáticos
é significativamente superior à capacidade geral de aprendizado e ao desempenho escolar em
matemática.
— Realmente não é grande coisa. Além de ser útil na aula de
matemática e quando jogo uma partida de blackjack, não adianta
nada.

— Eu acho que é legal — ela interrompe. — Caramba, eu estaria


cobrando das pessoas que me perguntassem problemas de
matemática.

— Eu não sou um show de horrores — eu falei mais duro do que


eu pretendia.

Seus olhos se arregalam. — Uau, eu nunca disse que você era


— Quando eu não respondo, ela se mexe desconfortavelmente. — Por
que você tem uma cicatriz?

— Por que sua avó trancou você em um porão?

Seus lábios se apertam. — Talvez devêssemos jogar jogueipow -


papel - tesoura.

— Não vou mentir, — digo a ela. — Estou tentando muito não


fazer um comentário inapropriado. É quase doloroso.

Para minha surpresa, ela ri. — Bem, só para você saber, estou
escolhendo uma tesoura. Dado que sou lésbica e tudo.

Eu recuo um pouco, encantado demais para ficar cabisbaixo


com sua confissão. — Tou-ché, Nervosinha. Eu ia fazer uma piada
idiota sobre ser mais duro do que uma pedra, mas bravo.

— Obrigada — diz ela, fazendo uma reverência simulada. —


Agora, em troca de eu superar sua bunda pervertida, diga-me algo
que você nunca disse a ninguém antes.

— Meu... — eu paro, considerando minha próxima declaração


cuidadosamente. Eu não tinha intenção de contar a ela, mas agora
estou querendo. E, tecnicamente, nunca contei a ninguém sobre
isso, então acho que se qualifica. — Meu pai é a razão da minha
cicatriz.

Ela franze a testa. — O que aconteceu?

— Um dia, quando meu irmão mais velho, Asher, tinha nove


anos e eu sete... — Seu rosto se contorce ao ouvir o nome dele, mas
eu continuo. — Asher disse que estava cansado demais para ir ao
treino de futebol, e meu pai enlouqueceu. Ele agarrou sua cabeça e
continuou batendo na mesa de café. O olho de Asher estava se
aproximando do canto a cada golpe e eu sabia que tinha que fazer
algo, então o afastei. Infelizmente, eu não era forte o suficiente para
movê-lo inteiramente e ainda acabou machucando ele, mas
felizmente, ele errou seu olho.

Um caroço enche minha garganta. — Mais tarde naquela noite,


depois que Asher foi todo suturado e todos foram dormir... meu pai
me arrastou para fora da cama e fez a mesma coisa comigo. Só que
ele bateu com a parte de trás da minha cabeça no canto da mesa
repetidamente, mesmo depois que comecei a sangrar por todo o
tapete. Ele me disse que pararia se eu pedisse desculpas por ter me
envolvido, mas me recusei. Ele estava machucando meu irmão e eu
queria protegê-lo. Até hoje, ainda me lembro da maneira como a
madeira batia em meu crânio repetidamente enquanto eu chorava.
Nunca senti algo tão doloroso antes.

Exceto o que veio depois.

A aflição atravessa seu lindo rosto e ela treme. — Oh meu Deus,


Preston. Isso é horrível. Ninguém nunca suspeitou de nada? Não que
seja sua culpa, mas você nunca contou a ninguém? Um professor?
Enfermeira escolar?

Eu balancei minha cabeça. — Eu não podia.

— Por quê?
Eu olho para ela e nossos olhares se chocam. — Provavelmente
pelos mesmos motivos que você nunca contou a ninguém sobre sua
avó trancando você em um porão.

Há um momento entre nós então, e mesmo que nenhuma


palavra seja trocada, acho que nunca vi alguém tão claramente
quanto a vejo.

— Meu pai é um ex-zagueiro da NFL que se tornou proprietário


e investidor de uma equipe esportiva. Ele tem dinheiro para se safar
de praticamente qualquer coisa.

Ela quebra o contato visual. — Não há nada pior do que quando


uma pessoa faz você se sentir impotente e você não pode contar a
ninguém sobre isso.

— Não, não há.

Ela afasta uma mecha de cabelo do rosto. — Eu... uh, eu me


apaixonei por aproximadamente quarenta e nove pessoas desde os
quinze anos.

Meu cérebro conclui rapidamente que é quase dez pessoas por


ano, mas eu ignoro isso porque estou um pouco surpreso com sua
confissão. Ou melhor, por que ela está me dizendo isso. — Eu não...

— Todos elas eram mulheres. — Sua expressão se fecha. — É


por isso que ela me puniu... ela odeia que eu seja gay.

Aqueles olhos castanhos perfuram-se em mim e sinto o impacto


direto na minha medula. — Eu sou gay, Preston, — ela diz, sua voz
falhando.

E assim, eu entendo a razão por trás de sua confissão agora. Eu


disse a ela antes que não me importava o suficiente para ganhar sua
confiança, mas ela deu mesmo assim.
Não importa que eu já tenha presumido que ela era lésbica por
causa da situação da Becca e da piada que ela fez. Ela ainda está me
dando sua verdade no sentido mais puro da palavra.

Ela está se abrindo para mim... e silenciosamente pedindo


minha aceitação.

E ela a tem.

Meu irmão Asher uma vez me disse que existe uma grande
diferença entre as pessoas presumirem ou até mesmo saberem que
ele é bissexual... e realmente confiar em alguém para dizer que ele
é.

Acho que nunca realmente entendi isso até agora.

Lágrimas estão escorrendo pelo seu rosto e tenho que me conter


para não andar até ela e enxugá-las.

— Eu quero tanto ser o que ela quer que eu seja, mas não posso.
— Ela enxuga as lágrimas com as costas da mão. — Eu fico pensando
que talvez se eu fosse, então eu...

Ela balança levemente a cabeça, como se rejeitasse totalmente


o pensamento, mas eu continuo. — Então você, o quê?

Ela envolve os braços em volta de si mesma. — Então saberia o


que é ser amada por alguém de novo... porque estou começando a
esquecer.

A distância entre nós aumenta e algo no fundo do meu peito se


desloca. Tenho todos os motivos para não gostar dela e, no entanto,
vê-la tão chateada assim é o equivalente a alguém virando o sol. O
mundo parece um pouco mais frio e menos brilhante quando ela
chora.
— Você não quer ser amada por alguém como ela. — Espero que
ela olhe para mim e então continuo. — Você merece mais do que um
amor baseado em contingências. Você, Kit Bishop, merece a porra
do negócio real. O melhor tipo de amor. O constante, inabalável,
altruísta, para melhor ou pior, nunca vai embora e que faria
qualquer coisa para ver você sorrir, esse tipo de amor. E um dia,
alguém vai chegar e dar para você de bandeja. Eles vão bater direto
em você e nunca mais soltá-la.

Ela sorri em meio a uma nova leva de lágrimas. — Você acha?

— Eu sei que sim.

Porque há alguém na terra que nasceu para amar essa garota


como ela merece. E eu espero como o inferno que elas se encontrem.

— Essa pode ser a coisa mais legal que alguém já me disse.

— Eu tenho meus momentos. — Esfrego minhas mãos nos


joelhos. — Então, quando você percebeu que era gay? Você sempre
soube ou houve algum tipo de experiência que levou à descoberta?

Ela pondera a questão por um momento antes de dizer: — Tenho


quase certeza de que sempre soube. Mas acho que algo começou a
clicar e percebi que era diferente das outras garotas, quando minha
mãe me surpreendeu fazendo minhas duas bonecas se beijarem
enquanto Ken era jogado em algum lugar da sala.

Eu coloco minha mão no meu peito. — Ai, pobre Ken.

Ela acena com a mão. — Não se sinta tão mal. Eu o dei a um


amigo que tinha centenas de bonecos, então tenho certeza de que ele
teve sua vez.

— Como sua mãe reagiu depois que ela soube?


Ela inala profundamente. — Ela foi incrível. Achei que ela ficaria
chateada ou me diria que eu estava fazendo algo errado, porque
minhas bonecas não deviam se beijar... mas ela não falou nada. Ela
se sentou ao meu lado, me envolveu em seus braços e disse que me
amava.

Ela se vira e fica de frente para a água. — Sempre que digo a


alguém... geralmente ouço a mesma merda estúpida. Se for um cara,
ele vai fazer uma piada sobre como eu sou um sonho molhado que
ganha vida. Então, quando ele percebe que estou falando sério e não
estou interessada, ele vai me dizer que sou... — Ela levanta os dedos
e faz aspas no ar. — “Muito bonita para ser lésbica e só não encontrei
o cara certo ainda.”

Ela esfrega as têmporas. — Se for outra garota, elas geralmente


dão apoio no começo... mas então acontece. Elas se distanciam
lentamente, dando desculpas para não sair ou ficar sozinhas comigo.
Como se elas estivessem com medo de que eu fosse dominada pelo
desejo incontrolável de puxar para baixo suas calças e enfiar meu
rosto entre suas pernas.

Ela encolhe os ombros. — É por isso que eu só tenho uma


melhor amiga. Ela nunca me tratou como se eu fosse uma leprosa.
Quando eu falei com ela, ela disse que não era grande coisa e pediu
uma pizza para nós. Ela nunca se distanciou de mim ou me tratou
como se eu fosse diferente.

— Entendo. — Quando ela me olha, eu digo: — Meu irmão é gay.


Bissexual, na verdade. Quando as pessoas descobriram, a maioria
não aceitou muito.

Ela bufa. — Isso provavelmente tem mais a ver com o fato de


que ele é um idiota.

Quando estreito meus olhos, ela diz: — Sim, eu sei tudo sobre o
seu irmão Asher. E se ele não tivesse trapaceado e mentido para
minha melhor amiga Breslin no colégio... ele teria pelo menos uma
pessoa ao seu lado.

Os minúsculos cabelos da minha nuca se arrepiam. Corri para


Breslin - literalmente corri para ela - no pátio, momentos depois que
encontrei Becca e Kit no refeitório. Eu não tinha ideia de que ela
frequentava Woodside antes disso, ou que ela é a melhor amiga de
Kit.

— Você quer me dizer que a amiga que você acabou de descrever,


a garota que nunca a julgou por ser gay é Breslin? — Eu me levanto.
— Eu odeio te dizer isso, mas aquela garota é uma vadia de duas
caras. Ela pode não estar te julgando, mas é apenas para que ela
possa esperar até que ela te foda.

Kit se levanta e a carranca zangada volta com força total. — Com


licença? — Ela fecha os punhos. — Não se atreva a falar sobre...

— Falar sobre quem? A garota que fugiu da cidade depois que o


namorado disse que ele era gay? A garota que bateu a porta na cara
dele e disse que nunca mais queria vê-lo de novo... deixando-o ali
com lágrimas nos olhos e o coração no chão? Sim, ela é a porra de
um pêssego. Realmente apoiadora. Tão apoiadora, que... — Mordo a
língua porque se eu compartilhar as informações que tenho sobre
Breslin... Kit contará a ela.

E se Breslin descobrir que eu sei tudo sobre sua pequena


armação antes de Asher, ela encontrará uma maneira de torcer a
verdade e afundar seus ganchos nele novamente.

Eu posso ver agora. A vadia esperará pela oportunidade


perfeita... provavelmente quando ele for um jogador de sucesso da
NFL... e então ela enfiará aquela faca em seu coração novamente e
arrancar dinheiro dele.
Foda-se isso. Estou guardando essa merda para mim. Pelo
menos até Asher e seu novo namorado, Landon, ficarem juntos por
tempo suficiente para que ele esqueça tudo sobre ela e p ossa seguir
em frente com ela e sua traição.

Kit chega perto do meu rosto, ou melhor, do meu peito, já que


ela é tão pequenininha. — Não chame minha melhor amiga de vadia.

— Não chame meu irmão de idiota, — eu replico, e ela me


empurra.

Quando meu corpo de 1,80m não se move, ela tenta novamente.

— Caia fora da minha ponte, — ela grita.

— Acredite em mim, que eu iria, mas não sei como sair daqui,
— grito de volta. — Por que diabos você acha que estou sentado aqui
falando com você há horas?

Ela olha para mim como se eu tivesse dado um tapa nela, e eu


imediatamente desejo poder retirar as palavras. — Droga, Kit. Eu...

— Cala a boca. — Ela procura em sua bolsa por uma caneta e


papel e rapidamente rabisca algo antes de bater no meu peito. —
Aqui. Agora vá.

— Eu...

Ela começa a andar para o carro. — Me deixe em paz, Preston.

— Kit.

Ela levanta a mão. — Você disse que poderíamos fingir que esta
noite nunca aconteceu e poderíamos voltar a ser inimigos, lembra?

Abro a porta do meu carro. — Sim, eu me lembro.


Seus olhos se tornam pequenas fendas. — Divirta-se curtindo a
vida que deveria viver com ela. Desfrute de ter tudo o que eu sempre
quis.

Quando ela me dá as costas, deslizo para o banco do motorista


e giro a chave.

O motor ruge para a vida e os faróis iluminam sua forma


enquanto eu coloco meu carro em marcha à ré e me afasto. Só então
noto duas grandes tatuagens de asas de anjo em lados opostos de
suas omoplatas.

Um momento depois, seu pequeno corpo começa a tremer com


os soluços.

Confere.
II

“AS MULHERES SÃO FEITAS PARA SEREM AMADAS, NÃO


PARA SEREM COMPREENDIDAS.” — OSCAR WILDE

É tudo o que posso fazer para não andar e bater suas cabeças
juntas enquanto os vejo do outro lado do refeitório.

Landon e Asher, os ex-namorados da minha melhor amiga, ou o


que quer que sejam neste momento, estão praticamente salivando -
sentados com o peito estufado, como dois cães lutando por um osso
enquanto seus olhos se fixam em Breslin.

Não que eu não consiga entender o porquê. Apesar das


especulações em torno do Campus ao longo dos anos, nunca fui
sexualmente atraída por ela. Provavelmente porque a considero mais
uma irmã do que uma amiga. Dito isso, a garota é linda. Ela é toda
curvilínea, seios enormes e cabelo ruivo feroz com uma
personalidade ígnea para combinar.

Meu olhar repousa em Asher e eu congelo. Não há como negar


que ele e seu irmão têm uma forte semelhança um com o outro,
incluindo covinhas profundas. Mas enquanto Asher tem olhos azuis
claros e cabelo loiro - dando a ele aquela vibração de menino
dourado, as feições de Preston são mais escuras... mais nítidas -
dando a sua aparência uma intensidade que falta ao irmão mais
velho.
E embora eu prefira boceta a pênis sete dias por semana e duas
vezes aos domingos, não posso negar - objetivamente falando, é claro
- que os dois Holdens são bonitos.

Idiotas de boa aparência.

Suspirando, volto a me concentrar em minha amiga. — Eles


ainda estão olhando para você.

Ela apunhala um pedaço de alface com o garfo, e eu me pergunto


qual deles ela imagina que seja, visto que os dois fizeram muito com
ela. — Eu sei.

Eu tomo um longo gole do meu refrigerante, silenciosamente


pensando se devo fazer minha próxima pergunta, já que não é da
minha conta. Por outro lado, Breslin se machucar de novo é
problema meu e se o que está acontecendo entre os três é o que estou
pensando - Mamma Mia, as coisas vão ficar complicadas.

— Ok, é isso, — digo porque prefiro focar no drama dela em vez


do meu. — O suspense está me matando. O que está acontecendo?
Você não dormiu no dormitório nas últimas duas noites, e sem
ofensa, mas parece exausta.

— Não tenho certeza, — ela diz. — Mas não quero falar sobre
isso agora.

A preocupação me dá um soco no estômago, mas quando abro a


boca para dizer que estou aqui para ela, cometo o terrível erro de
olhar para cima.

Só assim, minha preocupação por ela rapidamente se


transforma em preocupação por Preston Holden... porque ele tem a
coragem e, evidentemente, a estupidez, para começar a andar em
minha direção.
Não tenho nada a dizer a ele - nada de bom, pelo menos - depois
do que aconteceu na outra noite.

Meu coração dá espasmos quando ele se senta na nossa frente,


seus olhos apenas grudados em mim.

Breslin faz menção de se levantar, mas pego a mão dela por


baixo da mesa, silenciosamente implorando para que ela fique,
porque não quero ficar sozinha com ele novamente.

Preston agarra sua nuca, e antes que eu possa perguntar o que


diabos ele está fazendo aqui... ele puxa algo do bolso e desliza sobre
a mesa.

Minha respiração congela no meu peito porque eu reconheceria


aquela caixa de joias com meus olhos fechados.

É o anel de noivado da minha mãe.

Ele olha para mim então e eu honestamente não sei como é


possível odiar alguém e, ainda assim, querer abraçá-lo com tudo que
você mal consegue segurar.

— Dê isso para alguém que mereça na próxima vez.

Suas palavras são como um soco no rosto. Não apenas porque


me traz de volta à nossa conversa na ponte... mas é um lembrete da
situação em que estamos e porque nunca podemos ser amigos.

— Como está o bebê? — Eu pergunto quando ele se levanta. As


palavras parecem lixa na minha garganta, mas eu sei o quanto eu
odeio ele e Becca, eu nunca poderia encontrar em meu coração, ódio
ou desejar o mal para um bebê inocente.

Um bebê que Becca e eu conversamos certa vez sobre ter depois


que nos casássemos.
Ele olha ao redor da sala e solta um suspiro. — O bebê está bem.
Fizemos nossa primeira ultrassonografia hoje.

Há algo significativo em seus olhos quando ele diz isso, quase


como se finalmente tivesse aceitado que o bebê está acontecendo...
quer ele goste ou não.

Um raio de dor passa por mim com minha própria aceitação.


Não há como voltar disso. Becca vai ter um filho... com ele.

A garota que amo vai ter tudo o que deveríamos ter... com outra
pessoa.

Eu respiro e aceno, tentando como o inferno para superar a dor.


Posso me sentir desmoronando como uma placa de gesso barata a
cada batida de meu coração partido.

— Sinto muito, — Preston diz solenemente em minha direção


antes de se afastar, seu corpo alto ficando embaçado.

No segundo em que ele sai por aquelas portas, a frágil represa


dentro de mim se quebra e eu perco o controle.

Eu odeio a ideia de pessoas testemunhando meu colapso,


especialmente porque eu dei a todos eles um show na semana
passada, mas eu não consigo evitar.

Nunca fui boa em controlar minhas emoções e quando sinto


algo, bom ou ruim, sinto de todo o coração e alma.

Breslin se levanta e me envolve em seus braços antes de me


levar para o banheiro.

— Eu sinto muito, querida, — ela sussurra. — Eu gostaria de


poder esquecer tudo isso.

— Eu também. — Meus dedos envolvem a caixa de joias. — Isso


era da minha mãe.
É minha tentativa débil de fazer com que ela entenda o quão
sério eu falo sobre Becca. Eu sei que Breslin tinha suas reservas
sobre ela, e no final, ela estava certa, mas eu pensei que Becca e ra
única.

Nosso relacionamento não era perfeito e, no fundo, sempre senti


que havia algo nela que eu não conseguia entender, mas disse a mim
mesma que não importava. Porque quando eu estava com ela, eu era
feliz.

E já faz muito tempo desde que eu realmente senti isso.

Quase nove longos anos.

Mas, ao que parece, cada risada e sorriso entre nós foi uma
mentira - porque ela era uma mentirosa, uma trapaceira - e tudo o
que ela fez foi se aproveitar de mim.

A garota realmente merece um Oscar por sua atuação... p orque


eu me apaixonei. Me apaixonei por ela.

Na verdade, isso não está certo - eu não me apaixonei - porque


me apaixonar por alguém implica que a pessoa vai cuidar de você.

Becca não. Ela me deixou cair no chão.

Ela me deixou cair.

E agora, preciso reunir a força necessária para me levantar de


novo, mas não sei como começar a fazer isso, porque ainda estou
deitada nos escombros da bagunça que ela deixou para trás.

Sufocando outro soluço, vou até a pia e lavo o rosto, tentando o


meu melhor para encontrar a vontade de respirar novamente. — Eu
tenho que ir para a aula.

Não mencionei que tenho que fazer algo que temo ainda mais
depois da aula.
Eu pego meu reflexo no espelho e me encolho. É aquela época
do mês que eu odeio terrivelmente, e não tem nada a ver com a
chegada da tia Flow na cidade.

Eu tenho que ir a um encontro com um cara esta noite. Tudo


para receber minha mesada.

Infelizmente, há uma cláusula de incentivo no testamento de


meus pais afirmando que eu só posso receber minha cota mensal
com base no fato de que estou levando uma vida saudável e
produtiva. Essa advertência é o que dá a minha avó - que é
basicamente a guardiã - motivos para fazer suas estipulações
injustas.

Eu sei que a cláusula, assim como a razão pela qual o fundo não
seria entregue a mim até os meus vinte e cinco anos, era a maneira
deles de me proteger e de tentar serem bons pais. É muito dinheiro
para entregar a uma jovem e, nas mãos erradas, pode ter efeitos
desastrosos.

Dito isso, a cláusula tornou minha vida um inferno.

Até mesmo o advogado da família tentou dizer a minha avó que


a cláusula aludia a drogas e comportamento imprudente em geral -
não a sexualidade de sua filha - mas ela argumentou que, como meus
pais nunca especificaram isso, estava dentro do seu direito de tomar
as decisões que bem entendesse, pois ela era minha guardiã e o
fundo está em seu nome até eu ter vinte e cinco anos.

Aparentemente, eu ser lésbica é sua definição de não viver uma


vida saudável ou produtiva. Portanto, ela acha que está tudo bem
me intimidar e me punir para que eu seja hetero.

E porque esse dinheiro é a única coisa que me resta dos meus


pais... eu deixei.
Gostaria de pensar que meus pais teriam vergonha de suas
ações, mas, infelizmente, nunca saberei.

Felizmente, eu só tenho mais quatro anos dessa merda, e


quando o dinheiro for meu, a vingança também será - porque a vovó
Bishop vai ter o maior choque de sua vida quando eu encontrar a
garota mais gostosa por aí, e participar de um inferno de uma
experiência gastronômica diretamente em sua preciosa mesa de
cozinha antiga de um milhão de dólares.

Posso sentir os olhos de Breslin em mim, mas estou


completamente despreparada para as próximas palavras que sairão
de sua boca. — Há algo acontecendo entre você e Preston?

Minhas sobrancelhas sobem para o teto. E eu que pensei que


minha melhor amiga realmente me conhecia. — O que? Não. Qual é
o seu problema? — Eu aponto para mim mesma. — Só boceta aqui.

Meu Deus, ela não pode estar falando sério. Minha mente flutua
de volta à noite no rio e uma sensação estranha sobe pela minha
espinha. De repente, percebo que ela não está exatamente errada
sobre sua suspeita, ela está muito errada sobre a parte subjacente
disso.

Mesmo assim, o fato de que ela pode perceber isso é alarmante.


Ela é mais perceptiva do que eu imaginava.

Então, novamente, sempre fomos capazes de ler uma a outra


como um livro.

Tipo como eu sei que ela dormiu com Landon e Asher


recentemente mesmo que ela não me diga.

Dito isso, só porque conversei com Preston e contei coisas que


nunca contei a ninguém, incluindo minha melhor amiga, não
significa que tenho sentimentos por ele.
Sentimentos diferentes do ódio forte.

Quer dizer... ele vai ter um filho com minha noiva. Correção -
Ex-noiva.

Ele também é um idiota que vem equipado com um certo


apêndice com o qual não quero absolutamente nada.

Pego algumas toalhas de papel do dispensador, nojo passando


por mim. — Eu não posso acreditar que você sequer pensa uma coisa
dessas. Vamos colocar desta forma - se um asteroide atingir a Terra,
deixando apenas eu e ele para repovoar o planeta ou enfrentar minha
morte prematura sendo comida e sondada por alienígenas... eu
alegremente pularia em direção aos alienígenas e os agradeceria.

Ela pisca. — Olha, me desculpe...

O calor sobe para minhas bochechas e eu olho para ela. Não sei
se estou mais chateada com Breslin por pensar o que ela pensou, ou
comigo mesma, porque de alguma forma isso não faz sentido... eu
não odiei Preston por aquelas poucas horas que conversamos na
ponte.

E a ideia de falar com ele de novo? Não é a pior coisa do mundo.

— Não quero falar sobre isso agora.

Antes que ela pudesse dizer outra palavra, saio correndo pela
porta do banheiro.
III

“QUANTO MELHOR O JOGADOR, PIOR O HOMEM.” – PUBLILIUS


SYRUS

Estou no meio do pátio quando ouço. — Preston?

Eu paro no meio do caminho, fazendo uma careta ao som de sua


voz.

Ela está carregando seu filho - eu me lembro. Uma criança que


vi pela primeira vez hoje.

Meu irmão está convencido de que não é meu, considerando que


Becca é uma trapaceira e tudo - e logicamente sei que ele pode estar
certo.

Mas no segundo que vi aquela imagem na tela, algo dentro de


mim mudou, e eu percebi que não havia talvez sobre o bebê que eu
não conseguia tirar os olhos. Eu senti.

A pobre criança ainda nem nasceu e já tem a pior sorte do


mundo.

Lentamente, eu me viro para encará-la. — Ei.

O rosto de Becca se contorce em confusão. — O que você ainda


está fazendo aqui? Você me deixou há uma hora.

Ela está certa. Eu tinha toda a intenção de voltar para Yale após
a consulta, mas senti como se tivesse o peso do mundo em meu
bolso. E mesmo sabendo que era a última pessoa que Kit queria ver,
precisava fazer a coisa certa e devolver o anel de noivado da mãe
dela.

Era o mínimo que eu podia fazer, considerando que a garota já


perdeu muito, e estou arrancando tudo que ela sempre quis, bem
debaixo dela.

Mesmo que eu não queira.

Ou melhor, eu não queria... porque aquela ultrassonografia está


seriamente fodendo comigo.

Ela dá um passo mais perto e eu me forço a ficar parado. Becca


é bonita, linda até. Seu cabelo loiro-claro e olhos azuis, combinados
e impressionantes, fariam a maioria dos caras dar o seu pé direito
para ter uma chance com ela. Mas, infelizmente, ela também é a
razão pela qual dizem que a beleza é apenas superficial.

Decidindo ser honesto com ela, digo: — Fiquei para poder falar
com Kit.

Instantaneamente, sua postura fica rígida e me ocorre que é a


maior emoção que vi da garota desde que a conheci. — Por quê?

Enfio a mão no bolso e procuro as chaves. — Porque você nunca


devolveu a ela o anel de noivado e deveria ter devolvido.

Seus olhos se estreitam. — Você não tinha o direito...

— Besteira, Becca, nós dois sabemos que você não deveria


guarda-lo. Ela não merecia o que você fez com ela.

Quero acrescentar que eu também não. Mas, ao contrário de Kit,


a infidelidade de Becca me deixa mais irritado do que com o coração
partido.

Eu olho para baixo, para sua barriga ainda lisa, lembrando que
o médico disse que ela já estava com quase 12 semanas. — Era a
coisa certa a se fazer. Acho que devo começar a dar um bom exemplo
para meu filho.

Seus olhos se arregalam. — Esta é a primeira vez que você


chama o bebê de seu.

Merda. Sento-me em um banco próximo porque minha cabeça


está começando a girar.

Ela está bem na minha frente. — Você está certo. Devíamos dar
um bom exemplo para o bebê.

Antes que eu possa impedi-la, ela coloca minhas mãos em sua


barriga. Meu coração dá um salto quando sinto uma leve batida e
não consigo me afastar do contato.

— Eu sei que você está com raiva de mim, — ela diz. — Eu sei
que não é isso que você quer, e sinto muito pelo que fiz. Mas não me
arrependo por criar este milagre com você.

Eu respiro fundo e solto o ar lentamente enquanto ela coloca a


mão em cima da minha. — Eu sei que você não acredita em mim,
mas eu juro que você é o único cara com quem eu estive. Este é o
nosso bebê, Preston. Não o puna pelo meu erro.

Eu engulo o caroço se formando na minha garganta porque ela


está certa. Este bebê não pediu para nascer, mas nós o criamos. E
por mais que eu desejasse poder cuidar da minha responsabilidade
sem lidar com Becca - não posso, porque estamos nisso juntos.

Não importa o que eu sinta por ela agora, devo a essa criança a
melhor vida possível... e isso significa fazer o certo pela mãe também.

Eu descanso minha testa contra seu estômago. — Não acredito


que vou ser pai.
As pontas dos dedos dela roçam meu couro cabeludo. — Se vale
de alguma coisa, acho que você será um excelente pai.

— Espero que sim. — Não quero ser o tipo de pai que o meu foi.

Eu dou um beijo em sua barriga, silenciosamente prometendo


ser o melhor pai que posso ser.

— Estamos realmente fazendo isso? — Becca sussurra, sua voz


falhando. — Vamos mesmo ser uma família?

— Sim, vamos. — No segundo em que as palavras saem da


minha boca, algo na minha visão periférica chama minha atenção.

Por um breve momento, os olhos manchados de lágrimas de Kit


encontram os meus. Ela parece totalmente arrasada, mas não há
nada que eu possa fazer a respeito. Não posso consertar essa
situação e não posso fazer isso ser melhor para ela. A única coisa
que posso fazer é melhorar para minha família, porque nada mais
importa a partir de agora.

Eu afasto meu olhar e me levanto, minha atenção de volta em


Becca como deveria ser. — Quando é a sua próxima aula?

Ela checa o relógio. — Em meia hora, mas eu realmente não


quero ir. Estou tão cansada e com tanta fome que só quero comer e
dormir.

Eu observo as bolsas sob seus olhos e a conduzo em direção à


saída.

— Onde estamos indo? — ela questiona.

Eu coloco meu braço em volta dela, colocando-a ao meu lado. —


Casa. Assim posso cuidar de você e do amendoim.

Nenhum de nós olha para Kit quando passamos por ela.


IV

Três meses depois


“VOCÊ E EU E NUNCA NÓS: UMA SÉRIE COMPLICADA DE
QUASE INTERAÇÕES.” — WILLIAM BOLITHO

— Oh, Deus, cara de bebê. Você vai me fazer gozar.

Palavras não podem expressar o quanto eu odeio quando ela me


chama assim. Principalmente durante o sexo.

Ela joga a cabeça para trás e eu agarro seus quadris e deslizo


para dentro dela novamente.

Por instinto, meus olhos vão de seus seios gigantescos para sua
barriga agora visível.

Eu desviei o olhar rapidamente, no entanto. A última vez que


fizemos sexo e ela me pegou olhando para isso, ela enlouqueceu, e
não de um jeito bom.

Em vez de me divertir, passei os próximos dez minutos


explicando que não estava olhando porque ela engordou, mas que a
visão dela carregando meu filho, embora ainda avassaladora, era
linda.

É como se ela nem tivesse me ouvido, porque continuou falando


sem parar, culpando o bebê por fazê-la parecer uma baleia. Minha
única opção era enfiar minha cabeça entre suas pernas, porque pelo
menos então ela estava muito distraída para continuar reclamando.
Eu vejo enquanto ela persegue o resto de seu clímax, e bem
quando estou me preparando para assumir - ela arqueia as costas e
começa a me foder até o esquecimento, gritando uma série de coisas
sujas que fariam uma estrela pornô corar.

Normalmente, eu estaria nisso, mas esta performance dela


cheira a falsidade.

Eu descanso minha cabeça no sofá, deixando as ondas de prazer


assumirem enquanto tento como o inferno ignorar a vozinha irritante
no fundo da minha mente.

Ela só está te fodendo bem porque você terá os resultados da


paternidade na próxima semana.

Quando ela me disse que estava grávida, exigi o teste, mas


desisti depois que ela disse que fazer uma amniocentese seria
prejudicial para o bebê.

Mas quanto mais o tempo passava e quanto mais apegado eu


ficava, mais a necessidade de saber a verdade me atormentava.

Mesmo que ela jure que é meu, eu só quero ter certeza.

Minha cabeça tem estado tão fodida com isso ultimamente;


comecei a fazer apostas com agiotas, que eu sei que é melhor nunca
mexer.

Tentei parar, mas não consigo.

Eu preciso de distração. Eu preciso da adrenalina.

Mas acima de tudo? Preciso de algo que me faça sentir invencível


e me nivelar - porque sempre que paro e penso no quanto meu
mundo vai ser destruído se o garotinho que passei os últimos meses
amando e chamando de meu filho acabar não sendo meu... mais
fundo na espiral eu entro.
Cheguei ao ponto em que começo a perder apostas. Não é nada
importante e nada que eu não recupere com minha próxima aposta...
mas ainda assim.

Estou começando a perder. E se esse bebê não for meu... eu vou


perder isso também.

Se tudo isso não fosse estressante o suficiente, as coisas com


Becca e eu foram de toleráveis para horríveis.

Poucos dias atrás, ela falou em se casar pela milionésima vez, e


tudo piorou entre nós. Eu disse a ela que isso estava fora de questão
até depois que nosso filho nascesse e eu tivesse uma garantia de que
ele era meu.

Claro, ela argumentou e tentou me convencer de que me casar


depois que ela desse à luz era a coisa errada a fazer, mas eu fui
implacável.

Sem teste de paternidade. Sem casamento.

Ela gritou e jogou coisas, implorou e implorou. E quando nada


disso funcionou - ela me lembrou mais uma vez que eu era uma
pessoa de merda e um péssimo pai por até mesmo considerar o
procedimento perigoso. Mas sem o conhecimento dela, tenho feito
pesquisas e existe um teste de paternidade não invasivo que não fará
mal ao bebê.

Quando eu disse a ela, ela tentou desviar de novo, o que só fez


a pedra de ansiedade na boca do meu estômago crescer, mas eu
sabia como convencê-la.

Coloquei um anel em seu dedo e prometi que assim que


recebesse os resultados estaríamos noivos.

No dia seguinte, tínhamos uma consulta marcada para o exame


de sangue.
Eu me mexo enquanto ela continua a me cavalgar, o ácido
subindo no meu estômago como um vulcão.

Eu tenho que acreditar que ela está dizendo a verdade neste


momento. Becca sabe o quanto eu já amo essa criança. Ela sabe o
quanto isso me mataria se não fosse meu.

Porém, o que ela não sabe? É o quanto eu arriscaria confessando


ao meu pai que ela está grávida.

Se as coisas não saírem como planejado, os papéis serão


invertidos mais uma vez e ele terá a maior vantagem contra mim.

Porque então todos saberão.

Mas não tenho escolha - farei o que for preciso para garantir
que meu filho seja cuidado e protegido.

— Mais forte — exijo porque esses pensamentos são o suficiente


para deixar meu pau mole e se eu não conseguir minha libertação
logo, vou acabar vomitando minhas malditas tripas por cima dela e
deste sofá.

Quando ela não altera o ritmo, faço um gesto para que ela mude
de posição.

Assim que ela está deitada de costas, eu bombeio dentro dela


novamente, me concentrando na maneira como sua boceta me agarra
e a forma como seus seios saltam, afogando todo o resto.

Eu chego entre nós e brinco com seu clitóris, trazendo-a para


mais perto da beira.

— Becca — eu digo, minha voz estrangulada enquanto pego o


botão entre meus dedos. — Eu vou precisar que você goze para mim
novamente.
Ela adora quando eu imploro para ela gozar, e eu sei que ela
gosta disso... mas, novamente, ela não percebe que não tem nada a
ver com o prazer dela e tudo a ver com o meu.

Eu preciso ouvir seus gemidos. Eu preciso ver seu corpo perder


o controle enquanto se contorce debaixo de mim.

Preciso de todas essas coisas para me lembrar que estou neste


momento... e apenas neste momento.

Ela balança os quadris, mas permanece em silêncio com um


sorriso presunçoso no rosto.

Empurro com mais força, tentando não ir para aquele lugar,


mas estou escorregando, caindo, e se não tomar cuidado... logo
estarei lá.

Eu belisco seu clitóris e bato nela. — Ou pare com a besteira e


dê creme no meu pau como uma boa menina, ou nunca vou foder
essa boceta de novo.

— Oh, Deus, — ela engasga. Segundos depois, seus olhos


reviram e ela convulsiona enquanto seus gemidos enchem a sala de
estar do nosso apartamento.

Eu me concentro nos sons, no cheiro de sexo no ar e na visão


de seus seios pesados balançando.

Minhas bolas ficam apertadas e eu escorrego para fora dela. —


Eu quero gozar nos seus peitos.

Seu olhar fica esfumaçado e eu rasgo a camisinha e rapidamente


solto meu gozo, observando enquanto ela gira em torno de seus
mamilos.
Quando a última gota atinge sua pele, ela suspira e olha para
seu anel de noivado. — Basta pensar em como nossa vida sexual
será mais quente quando nos casarmos.

O estado calmo em que meu corpo estava relaxando há muito se


foi com essas palavras.

Felizmente, ela não está esperando uma resposta porque ela me


empurra para longe e se levanta do sofá. — Eu vou me limpar. Mas
quando eu voltar, é melhor você estar pronto para a segunda rodada.
— Seu olhar viaja para o meu pau e ela lambe os lábios
sugestivamente antes de pular.

Sim, ela está puxando todas as paradas neste fim de semana.

Com uma maldição, eu puxo minha calça de moletom.

Um momento depois, alguém bate na porta da frente. Eu não


estava esperando companhia, mas atendo mesmo assim.

Só para ficar cara a cara com a última pessoa que esperava ver.

— Desculpe — Kit começa antes que eu possa dizer uma palavra.


— Eu sei que isso é estranho... eu vir aqui e tudo. Eu... hum... —
Ela aponta para a pequena caixa que está segurando. — O aluguel
do meu apartamento acaba em breve e quando eu estava fazendo as
malas, me deparei com algumas das coisas de Becca.

Ela olha para baixo. — Na verdade, isso não está certo. Há


alguns meses, empacotei as coisas dela, mas só recentemente reuni
coragem para dar a ela. Quer dizer, acho que poderia ter apenas
esperado até o recesso de inverno acabar e o novo semestre começar,
mas não tenho ideia de qual é o novo cronograma dela, então achei
que seria mais fácil e...

Eu me encosto no batente da porta e cruzo os braços. — Você


está tagarelando.
Ela para e respira, seus olhos pousam no meu peito nu antes de
desviar o olhar. — Você não está usando uma camisa.

— Eu estava malhando.

Não é exatamente uma mentira.

O rosa de suas bochechas combina com as pontas de seu cabelo.


— Eu sabia que era uma má ideia. Eu deveria apenas ter enviado
pelo correio. — Ela empurra a caixa na minha direção. — Desculpe
te incomodar.

— Kit — Coloquei a caixa no chão. — Você não me incomodou.

Seus olhos percorrem o corredor, olhando para qualquer lugar,


menos na minha direção. — Eu devo ir.

— Você está bronzeada.

Eu luto contra a vontade de me chutar. Não só pelo olhar


estranho que ela me dá, mas porque não chega nem perto do que eu
realmente quero dizer para a garota que está na minha frente.

Em vez disso, engulo as palavras que lentamente abrem um


buraco no centro do meu peito sempre que penso nela.

O que é muito frequente para um homem na minha situação.

— É janeiro — eu murmuro. — A maioria das pessoas não fica


tão bronzeada no inverno.

— Acabei de voltar do Caribe — Ela franze a testa. — Minha avó


insiste para irmos todos os anos durante as férias. Ela acha que é
uma honra para a memória dos meus pais fazer a viagem que eles
nunca fizeram.

— Isso é...
— Um pouco mórbido? Sim, eu sei — Ela balança a cabeça. —
Eu odeio ir.

— Então, por que você vai?

— Eu não tenho escolha. Pelo menos não antes dos vinte e cinco
anos. — Ela levanta um ombro em um encolher de ombros. — Eu só
fiz 21 anos no mês passado.

Eu sei. — Treze da sorte.

— Certo — Ela mexe o lábio inferior entre os dentes. — Olha, eu


duvido que isso aconteça, mas se você topar com Breslin, você se
importaria de manter o fato de que me viu esta noite para você
mesmo?

Eu levanto uma sobrancelha. — Por que? Ela está controlando


com quem você pode falar agora?

Ela me lança aquela carranca zangada. — Não, de forma


alguma. É que... eu deveria voltar das minhas férias amanhã. E se
ela descobrir que eu voltei mais cedo, ela vai querer saber porquê,
mas ela tem suas próprias coisas acontecendo e eu não quero...

— Por que você voltou mais cedo? — Eu interrompo porque não


dou a mínima para os problemas de Breslin.

Ela parece um cervo pego pelos faróis. — Não importa. Eu


realmente aprecio você não dizer nada a ela, ou a seu irmão.

— Kit — Eu seguro o seu olhar, recusando-me a deixar isso


passar. — O que aconteceu?

Uma mistura de tristeza e animosidade cruza seu rosto. —


Minha avó e eu discutimos. Eu... — Algo atrás de mim chama sua
atenção e ela congela.

Como a porta está aberta, só pode ser uma pessoa. Merda.


Quando me viro, é ainda pior do que eu esperava.

Porque lá está Becca... parada lá em uma roupa de lingerie


vermelha.

Eu olho Kit, mas ela está exclusivamente focada em Becca. —


Eu vim aqui para deixar algumas de suas coisas.

O rosto de Becca se contorce. — Você poderia ter enviado pelo


correio, você sabe.

Abro a boca para dizer a Becca para cortar a atitude e lembrá -


la de que foi ela quem machucou Kit, mas Becca rosna e diz: —
Agora, se você não se importa, meu noivo e eu estávamos no meio de
alguma coisa.

É quando o olhar de Kit desce para sua barriga e o anel de


diamante em sua mão.

— Desculpe. Tenha uma boa noite, — Kit murmura enquanto se


vira, parando para me dar um olhar de desdém antes que ela vá
embora em um flash.

Algo puxa dentro do meu peito e eu não posso evitar, mas sinto
que a traí de alguma forma. O que não faz absolutamente nenhum
sentido, mas nada do que sinto faz sentido quando se trata dela.

— Não acredito que ela apareceu aqui — diz Becca, mas eu a


ignoro porque meus pés estão se movendo mais rápido do que o
necessário para processar a ação ou dizer a mim mesmo para não
fazê-lo.

Eu corro escada abaixo e saio pelas portas do saguão, na


esperança de alcançá-la antes que ela chegue em seu carro.
Quando vejo um flash cor-de-rosa correndo em direção ao
estacionamento, avanço e pego o braço dela. — Becca foi uma vadia
com você.

Ela foge do meu alcance. — Que diabos está fazendo?

Eu ignoro o vento de inverno de gelar os ossos enquanto fico lá


descalço e sem camisa. — Eu queria ver se você estava bem.

Ela fecha os punhos. — Eu sabia que não deveria ter vindo aqui.
Eu nem sei por que eu fiz.

— Você ainda pensa sobre aquela noite na ponte?

Sua mandíbula quase atinge o chão. — O que?

— A noite na ponte — repito. — Você ainda pensa sobre isso?

Meu batimento cardíaco bate em meus ouvidos enquanto espero


por sua resposta.

É uma resposta que não recebo porque ela diz: — Acho que você
deveria voltar para o seu apartamento.

Eu desconsidero essa afirmação. — Eu nunca falei com ninguém


do jeito que falei com você naquela noite. Na verdade, odeio a maioria
das pessoas e acho que elas são uma merda. Mas isso...

— Deus, pare — ela gesticula entre nós, seu olhar ficando duro.
— Não somos amigos, Preston.

— Nós poderíamos ser.

— Não, não poderíamos.

Ela começa a andar para o carro novamente, mas eu agarro seu


pulso onde posso sentir seu próprio coração batendo a mil por hora.
— Você poderia ter enviado a caixa, mas não o fez. Você poderia ter
dado a ela quando a viu no Campus, mas não o fez. Inferno, você
poderia ter dado a Breslin para dar a Asher para dar a mim, mas
você não o fez. Você não escolheu nenhuma dessas opções. Em vez
disso, você escolheu aquela que a levou diretamente a mim.

Ela tenta se desvencilhar do meu alcance. — Você é maluco,


sabia disso?

Eu aperto meu aperto. — Talvez, mas você é uma mentirosa,


porque nós dois sabemos o motivo pelo qual você veio aqui.

Ela me empurra com o braço livre. — Me deixar ir.

— Dê-me um bom motivo e eu o farei.

— Além do óbvio? Tudo bem, que tal três? — Ela se aproxima do


meu rosto e faço tudo o que posso fazer para não diminuir a
distância. — Motivo um - a garota com a qual você deveria se
preocupar está lá em cima. Motivo dois - ela está com o seu anel no
dedo. — Seu lábio inferior treme. — E o motivo três - ela está grávida
do seu maldito filho.

A verdade me perfura e eu a solto, apenas para ela me empurrar


novamente. — Você está perseguindo a garota errada.

Fico em silêncio enquanto ela entra em seu carro e sai em alta


velocidade, esperando até que ela não seja nada além de um pequeno
ponto na distância para caminhar de volta para Becca.

— O que diabos está acontecendo? — Becca grita quando abro


a porta da frente.

Fechando a porta atrás de mim, eu passo ao lado dela. — Nada.

Ela me segue quando entro na cozinha. — Você transou com


ela?
Pego uma garrafa de uísque, mas a picada de sua mão na minha
bochecha direciona minha atenção de volta para ela. — Eu não sou
exatamente o tipo dela.

Minha resposta a faz ferver. — Como você pôde fazer isto


comigo?

Abro um armário e pego um copo. — Eu não fiz nada. —


Rasgando uma página de seu manual favorito de deflexão,
acrescento: — Não sou você, lembra?

Ela parece envergonhada. — Eu sinto muito. Eu não quis te


acusar de traição. Só estou tentando descobrir por que você correu
atrás dela.

— Porque eu quis — digo a ela honestamente.

Acontece que não me importo o suficiente com os sentimentos


de Becca para inventar uma mentira e acalmá-la, afinal.

— Isso não faz nenhum sentido. A menos que... — ela engasga


— Oh meu Deus. Você está apaixonado pela Kit?

— Não estou apaixonado por ninguém.

Minhas palavras pairam no ar entre nós como um terrível


segredo que acaba de ser trazido à luz.

Sua mão voa sobre o rosto. — Você é um idiota.

Levo o copo à boca, deixando o líquido âmbar revestir minha


garganta antes de falar. — Vamos, Becca. Não é como se você
estivesse apaixonada por mim também. Não aja como se tivesse sido
queimada quando foi você quem acendeu o fósforo.

Ela respira fundo. — E se eu dissesse que te amo?


Eu abaixo meu copo e bato no balcão. — Eu perguntaria o por
quê.

Ela pega minha mão e a coloca em sua barriga. — Por causa


disso. Você não acha que deve isso ao nosso filho? Fazer isso
funcionar? Tentar amar a mãe de seu filho e dar a ele uma família
de verdade?

É como se ela estivesse nadando no meu subconsciente e


adicionando mais peso aos tijolos que têm me afundado lentamente
nos últimos três meses.

Eu dou um passo para trás, parando quando minha coluna


atinge a parede atrás de mim e não há nenhum outro lugar para ir.
Estou começando a me sentir na prisão e a Becca é a diretora.

Mas não tenho escolha a não ser cumprir minha pena, porque
meu filho merece. — Você está certa. Eu sinto muito.

Alívio lampeja em seu rosto... e então seus lábios estão nos


meus e ela está me beijando freneticamente.

Parte de mim quer dizer a ela para parar, mas não posso porque
sei que preciso fazer tudo o que puder para fazer isso funcionar.

Tentáculos envolvem meus pulmões; seu aperto é tão forte que


tenho certeza de que estou sendo sufocado.

Alheia ao meu corpo travando, Becca continua sua emboscada


e envolve seus dedos em volta do meu pau através da minha calça
de moletom.

Digo a mim mesmo para manter minha cabeça no jogo e ir em


frente, mas é como dizer a um surdo para curtir uma música que
está tocando no rádio.
Quando ela começa a cair de joelhos, eu a detenho. — Você
não... eu não... — Eu protelei, tentando fazer as palavras saírem. Eu
nunca recusei sexo com ela antes e isso por si só, é motivo para
alarme. — Esta não é uma boa ideia.

Seu rosto se contrai. — Por quê?

Porque nada parece certo entre nós mais.

Porque você não é a garota que eu não consigo tirar do meu


sistema - aquela para a qual meus pensamentos vagaram
implacavelmente nos últimos três meses.

Mas eu não digo nada disso a ela. Em vez disso, digo: — Você
está grávida de mais de seis meses. Deixar você se ajoelhar no chão
frio da cozinha, para me chupar não é bom para minha consciência.

Sua mandíbula funciona enquanto ela se levanta. — Desde


quando você se importa com isso?

Ela está certa, eu raramente faço. Não me esforço para magoar


os outros, mas também não me esforço para confortá-los ou ajudá-
los.

Além do meu irmão mais velho, Asher, ocasionalmente,


geralmente não dou a mínima para ninguém ou alguma coisa, a
menos que isso me afete diretamente.

Sei bem de quem herdei essa qualidade particular.

Abro a boca, mas uma fome familiar me atinge com força total,
uma compulsão tão forte que é quase instintiva.

Cortando a conversa, passo por ela e vou para o quarto para me


vestir.

Eu não pretendia fazer nenhuma aposta esta noite, mas,


novamente, nunca é realmente algo que eu planejo.
É mais como um desejo que não posso ignorar.

Eu ouço seus passos vindo pelo corredor antes de ela entrar no


quarto, parecendo além de irritada. — Você está perdendo seu tempo
sofrendo por ela, Preston. Duvido muito que Kit, algum dia, lhe dê
um tempo... muito menos saiba como agradá-lo.

Pego meu paletó e ela dá um passo à frente. — Eu sei que você


é inteligente o suficiente para perceber qualquer coisa que ela faça
com você. Será apenas para se vingar de mim, já que ela claramente
ainda está obcecada com a minha mera existência. A garota tem
problemas. Ela é um desastre de trem esperando para acontecer.
Confie em mim.

Eu paro no meio do botão e olho para ela. — Eu não vou vê-la.

Quando ela relaxa visivelmente, eu digo: — Mas se eu fosse você,


tomaria cuidado com seus passos.

— Por quê?

— Porque é uma queda infernal de sua torre de marfim.

Sua boca se abre e eu a acotovelo. — Eu estarei em casa mais


tarde.

Estou no meio do caminho para a porta quando uma estatueta


de cerâmica passa voando pela minha cabeça antes de se espatifar
contra a parede.

— Sabe, eu tentei ser paciente com você, Preston. Mas agora,


você não me dá escolha.

Eu me viro e a encaro. — Como é que é?

— Isso não está funcionando.


O alívio me atinge e estou feliz por ela perceber isso. Até que ela
diga: — E Deus me ajude, você vai se arrepender de não ter tentado.

Os cabelos da minha nuca se arrepiam. — O que diabos isso


quer dizer?

Ela não me responde. Em vez disso, ela abre o armário e começa


a jogar as roupas em uma mala. — O que isso significa, é que você
não terá permissão para vê-lo.

Meu estômago embrulha e posso sentir a cor sumir do meu


rosto. — Olha, você está com raiva e os hormônios...

Ela bate o topo de sua mala para baixo. — Você não quer se
casar comigo e ter uma família? Bem, parabéns... você não tem mais
uma.

Eu sabia que Becca era manipuladora, mas me ameaçar de não


ver o bebê a menos que eu me casasse com ela é um outro nível de
fodido.

Ela jogou bem as cartas, porque ela me tem bem onde ela me
quer. Minhas bolas estão oficialmente presas por seu torno
metafórico.

Eu soco a parede de frustração. — Por que você está fazendo


isso?

Sua boca se aperta. — Você nunca olhou para mim do jeito que
olhou para ela esta noite. — Ela aponta para o estômago. — Estou
grávida e usando o seu anel... mas você olhou para ela como se ela
fosse o seu mundo inteiro.

Meus dentes se apertam. — Então, porque você está com ciúmes


do jeito que olhei para a garota com quem você me traiu... você acha
que está tudo bem me ameaçar com não ver o bebê? As crianças não
são moedas de troca.
Seu lábio se transforma em um rosnado. — Não se atreva a me
fazer parecer o cara mau. Fiz de tudo para tentar fazer esse
relacionamento funcionar.

Se por tudo, ela quer dizer usar meu cartão de crédito e me


distrair com sexo, então com certeza, vou admitir.

— Becca...

— Você nem mesmo vai dizer aos seus pais que estou grávida.

— Eu direi a eles quando estiver pronto.

Ela fecha o zíper da mala. — Não está bom o suficiente. Este


bebê merece um pai que cuidará dele. Alguém que nunca vai
machucá-lo.

A faca que ela enfiou no meu peito se retorce. — Você sabe que
eu nunca o machucaria.

Ela endireita a coluna. — Então prove isso. Prove acreditando


em mim quando digo que ele é seu. Prove casando comigo e se
tornando uma família, porque é disso que nosso filho precisa.

Eu fecho meus olhos, lutando contra o pânico alojando-se na


minha garganta, porque uma vez que eu fizer isso, é isso. Não há
como voltar. — Iremos ao tribunal esta semana.

Todo o rosto dela se ilumina. — Mesmo?

Quando eu aceno, ela envolve seus braços em volta de mim e eu


expiro pesadamente. — Sem mais besteiras, ok? Chega de ameaçar
tirá-lo de mim.

— Chega de besteiras, — ela concorda. — Prometo.

Dou um beijo em sua testa. — Você deveria descansar.

— Você ainda está saindo?


O impacto do que estou prestes a fazer parece um bloco de
concreto em meu peito. — Não, não mais.

Porque estou prestes a fazer a aposta final por conta própria.

Agarrando meu terceiro copo de uísque, eu inalo profundamente


e olho para o relógio na parede.

É uma tentativa fútil de procrastinação, porque sei que, assim


como eu, o homem quase não dorme.

Demônios fazem isso com uma pessoa.

Com o coração pesado e apenas coragem líquida suficiente para


ver essa merda passar, eu saio do sofá e faço o meu caminho para a
varanda dos fundos. Está muito frio lá fora, e me lembro do
meteorologista dizendo algo sobre uma tempestade de neve iminente
enquanto levo o telefone ao ouvido.

Ele atende no terceiro toque. — O que?

Minha mandíbula trava enquanto o vento amargo ondula, me


entorpecendo exatamente como eu queria. — Isso é jeito de
cumprimentar seu filho?

É, o quanto ele é um parasita vil e ruim.

Uma risada me escapa, e soa tão ameaçadora quanto eu me


sinto. — Bem, você sabe o que eles dizem. A maçã não cai muito
longe, não é?

Há um longo suspiro na outra linha e eu me deleito com sua


irritação. — Vamos direto ao assunto, Preston. Quanto esta ligação
vai me custar desta vez?
Tanto quanto você me custou, seu pedaço de merda.

Meu coração bate no meu peito como um tambor. É isso. O


momento que vem crescendo como um vulcão desde que me lembro.
— Que tal cada centavo que você tem, para começar.

— Muito engraçado, — diz ele, sem se incomodar com meu


pedido.

O gelo corre em minhas veias. — Você está me ouvindo rindo,


velho?

Ele limpa a garganta. — O que diabos está acontecendo com


você?

Minha cabeça gira e fecho os olhos, tentando ao máximo manter


os monstros à distância. — Isso realmente não é da sua conta. A
única coisa com que você deve se preocupar é ter certeza de que
recebo o que estou pedindo.

O jogo de futebol que ele estava ouvindo muda ao fundo. — Isso


é para me assustar?

A sensação familiar de estar fraco e indefeso faz meu estômago


dar um nó e quase engasgo com a bile subindo pela minha garganta.

Segurando o corrimão até que meus nós dos dedos fiquem


brancos, lembro a mim mesmo que a única maneira de vencer um
demônio... é ser mais cruel do que ele. — Claro que você deveria
estar com medo.

— Filho, você está bêbado, chapado ou simplesmente estúpido


pra caralho. Não sei quem você pensa que está tentando chantagear,
ou que tipo de golpe você pensa que está dando, mas você não tem
nada contra mim, seu adolescente punk.

— É aí que você está errado.


— Não tenho ideia do que você está falando.

Não é mais a bile me sufocando; é o segredo profundo e sombrio


atado com tanta vergonha e medo, que nunca fui capaz de contar a
outra alma. Aquele que foi varrido para baixo do tapete - é mais fácil
fingir que nunca aconteceu, assim como ele.

— Vou contar a todos a verdade sobre você. Vou dizer ao mundo


exatamente quem e o que você é.

Porque eu nunca esqueci. Mesmo que você tenha.

Ele fica quieto pelo que parece uma eternidade antes de


sussurrar: — Isso é extorsão.

Eu bufo. — Bravo. Nada passa por você.

Sua respiração fica instável e eu sorrio. Há uma satisfação


doentia em ser capaz de arrancar o controle de suas mãos.

Desde que me lembro, o acontecimento não dito daquela noite


foi minha chave para conseguir o que eu queria dele. E enquanto
isso me qualifica como um indivíduo pervertido, porque qualquer
criança normal teria contado a alguém em vez de recorrer à
chantagem - ele usou isso para sua própria vantagem, permitindo
que eu ficasse em silêncio alimentando meus problemas de jogo.

Toda essa charada vem acontecendo há tanto tempo que mal me


lembro da vida antes dela. E todas as vezes que tentei contar a
verdade ao meu irmão sobre aquela noite... não consegui.

Costumava ser a vergonha que me impedia. O horror do que


Asher pensaria de mim. Do que os outros pensariam se soubessem.

Mas em algum lugar no caminho, tornou-se a vergonha do que


eu estava fazendo - chantagear meu pai em vez de denunciá-lo - que
me impediu de dizer a verdade.
Em outras palavras, a realidade fria de que não sou uma boa
pessoa, e provavelmente nunca serei.

Mas ter um filho muda tudo, porque tenho outra pessoa além
de mim em quem pensar e proteger. O que significa que o jogo
acabou.

Antes de cortar totalmente os laços com o bastardo, porém,


estou levando cada centavo dele. Dessa forma, ele sabe o que é se
sentir impotente, mesmo que apenas por um curto período.

— Você não tem provas. O que você está insinuando nada mais
é do que uma alegação infundada — ele resmunga. — Ninguém vai
acreditar em você.

Ninguém vai acreditar em você. Mesmo agora, essa afirmação


causa uma reação visceral em mim, porque são as mesmas palavras
que me mantiveram calado todos esses anos.

Mas não sou mais uma criança, e isso significa que posso fazer
ameaças.

— Você realmente quer arriscar? Porque tenho quase certeza de


que a mídia terá um dia de campo com essa alegação. — Faço uma
pausa porque o que vou dizer a seguir está completamente fodido.
No entanto, isso colocará o último prego no caixão e fará com que
ele perceba o quão sério eu estou falando sobre isso. — E não vamos
esquecer o recente escândalo em relação ao seu outro filho. Porque
estou disposto a apostar que, uma vez que a verdade seja revelada,
as pessoas vão especular se foi sua culpa. Todo mundo vai se
perguntar se suas perversões são responsáveis pela doença de Asher
- como você gosta de chamá-la. Seu hipócrita de merda.

— Maldição, eu cometi um erro. É isso que você precisa ouvir?


— ele grita antes que sua voz diminua. — Foi há muito tempo. Eu
estava com raiva e bêbado. Eu não sabia o que estava fazendo. Eu...
— Eu não estou interessado em suas desculpas idiotas, — eu
digo bruscamente. — Eu não acho que ninguém mais estará.

— Preston, por favor. Não sou uma espécie de monstro, filho.


Eu sei que no fundo você sabe disso. Foi uma transgressão única,
da qual mal me lembro, porque estava muito debilitado. Um pelo
qual fiz de tudo para compensar desde que aconteceu. Achei que
ajudá-lo financeiramente ao longo dos anos e ajudar seu passatempo
de jogo era ajudá-lo a enfrentar a situação e você me perdoou, mas
evidentemente não. Vejo o quanto o magoei agora e estou disposto a
me desculpar sinceramente para que você possa seguir em frente
para sempre. Vou até pagar a terapia, se quiser. Mas eu não posso...

Estamos muito além do ponto de terapia e desculpas. — Você


pode, e você vai. Você tem 48 horas, ou vou a público.

— Que tal trabalharmos em um novo arranjo? Um plano de


pagamento que será muito lucrativo para você.

Ele não entende. Não é pelo dinheiro; é sobre eu ter a vantagem.


Eu dando ordens.

Eu invertendo o roteiro e pegando minha vida de volta... tirando


tudo dele.

— Não estou interessado em nada além do que pedi.

Eu olho para o céu noturno e a sensação biliosa na boca do meu


estômago se intensifica quando ele permanece em silêncio. — Ok
então, divirta-se na prisão. Tenho certeza que eles realmente vão te
amar lá.

Ele faz um som estrangulado e sei que está prestes a


desmoronar como um castelo de cartas. — Não posso transferir
milhões para você em apenas dois dias. Vou precisar de mais tempo.

Ele tem razão. — Você tem sete dias.


Agora, sete também pode ser seu número do azar, filho da puta.

— Está bem.

Eu o paro antes que ele desligue. — Mais uma coisa.

— O que?

Qualquer que seja a compostura que eu estava agarrando, ela


se encaixa. — Se você chegar perto do meu filho, seu filho da puta
doente. Eu vou te matar, porra.

Um momento depois, a linha fica muda e eu esvazio o conteúdo


do meu estômago na varanda, desejando poder expulsar todas as
memórias desprezíveis dele junto com ele.
V

“UM JOGADOR NÃO PASSA DE UM HOMEM QUE VIVE DE


ESPERANÇA.” – WILLIAM BOLITHO.

É um fato - a maioria dos jogadores faz isso porque gosta da


adrenalina.

Um verdadeiro jogador sabe que não há nada como a adrenalina


que vem ao apertar o botão de aposta máxima em uma máquina
caça-níqueis quando você está com os últimos cinco dólares. A
alegria que você sente quando vence o dealer durante um jogo de
blackjack. Ou o orgulho que decorre de blefar até a última rodada de
pôquer para terminar vitorioso quando você tinha apenas um par de
dez.

A euforia que vem da vitória certamente nos fará voltar por mais.

Mas não foi isso que nos trouxe lá em primeiro lugar.

Estamos lá porque ansiamos por uma fuga.

Estamos lá porque nada mais importa, uma vez que você rola os
dados figurativos.

Seu trabalho, sua parceira, sua família e seu passado - tudo


deixa de existir no segundo que você define suas apostas e faz sua
jogada.

E o tempo que se estende entre sua aposta e o resultado... é a


ilusão final de controle.
Esse é o ponto alto que realmente queremos.

A noção de que nosso destino pode mudar em um piscar de olhos


e nós ajudamos nisso.

É por isso que estou atualmente aqui na terra prometida -


embora eu tenha dito a Becca que ficaria em casa - quebrando uma
das minhas regras fundamentais do jogo.

A primeira para ser exato. Nunca jogue quando estiver bêbado.

E neste momento? A quantidade de álcool que consumi faz meus


noves parecerem valetes e estou prestes a quebrar minha segunda
regra.

Saiba quando desistir.

Ou, pelo menos, não seja um idiota e aumente a aposta para all-
in quando você tem apenas um par de noves.

Estou tão exausto que não consigo nem blefar para me livrar
disso, algo que os outros dois jogadores na mesa e o dealer sabem,
mas o que está feito está feito.

Eu tomo outro gole do meu uísque, entre mais cedo e agora eu


perdi a conta de quantos tomei esta noite. Mas é o suficiente para
que, quando - chocante - o homem do outro lado da mesa revele um
par de reis e todas as minhas fichas vão para ele, não doa tanto.

E por que haveria? Tenho uma porra de uma tonelada de


dinheiro entrando. Mas, mesmo que não tivesse, vou compensar na
próxima rodada de qualquer maneira.

Eu sempre faço.

Pelo menos esse era o plano... mas quando os dois homens aqui
no cassino para uma conferência de negócios se levantam da mesa e
encerram a noite, uma onda de irritação me atinge.
— Oh vamos lá. Jogue mais algumas rodadas, — eu murmuro,
dando um tapa na mesa. — É o seguinte? Eu serei legal e pagarei
uma bebida para vocês dois antes de pegar meu dinheiro de volta.

Eles olham para mim como se eu estivesse louco - o que é uma


avaliação bastante precisa, dados os trinta mil que acabei de perder
- antes de balançarem a cabeça e irem embora.

— Maricas, — eu grito em sua direção, fazendo o traficante


suspirar.

— Eu acho que é hora de você ir para casa, amigo. Vou pedir a


alguém no balcão de atendimento que chame um táxi.

— Eu não preciso de um táxi, — eu gritei. — Eu apenas preciso...

Escapar da minha vida fodida. Não ser um fracasso.

Parar de me sentir uma vítima.

Eu aceno o traficante no meio da frase e pego meu telefone. Este


cassino de merda não vai funcionar hoje à noite e estou bêbado
demais para dirigir até o próximo que está a mais de uma hora de
distância.

Peço outro uísque no bar, aperto o botão de chamada e espero


Buster atender.

Buster - um agenciador de apostas do notório mafioso Rocco


Rossi - tem sido meu cara favorito nos últimos dois meses.

No início, fiquei hesitante, não apenas porque apostar em


esportes não é minha maneira favorita de jogar, mas também porque
a família do crime Rossi fazia os Dragonis parecerem crianças em
idade pré-escolar.

O telefone de Buster desliga após o quarto toque e eu percebo


que tenho uma das duas opções.
Posso apostar um pouco mais até que esse sentimento causado
pelos eventos desta noite suma; ou posso ir para casa, para minha
futura esposa grávida.

Eu bato o resto da minha bebida e tropeço para fora da porta, a


sensação em meu peito ficando mais pesada a cada passo instável
que dou para o meu carro.

Antes que eu possa me conter, coloco minha chave na ignição e


pressiono um botão no painel, conectando o Bluetooth do meu
telefone aos alto-falantes.

Não tenho ideia do que estou fazendo - na verdade, isso é


besteira - estou ciente de minhas ações, estou apenas embriagado o
suficiente para não me importar com as consequências delas.

Tudo que sei é que quero falar com ela de novo.

Ela atende no terceiro toque, sua voz rouca preenchendo o


pequeno espaço ao meu redor. — Quem é?

— Eu penso em você toda vez que vejo a cor rosa.

Há uma inspiração aguda. — Como você conseguiu meu


número? E por que diabos você está me ligando às três da manhã?

Eu ignoro suas perguntas. — Você não acreditaria como a cor é


comum. Muitas coisas no mundo são rosa.

— Jesus, você está bêbado?

Eu me inclino para trás no banco, a densidade em meu peito


diminuindo um pouco. — Bêbado é um termo bastante relativo, você
não acha?

— Responda à pergunta, Preston.

— Ei, isso rima.


Ela geme. — Onde você está?

— São quatro perguntas agora. Embora você tenha descoberto


a primeira, então, tecnicamente, são três.

— Preston — ela repete e a irritação em seu tom me faz sorrir.

— Aí está minha garota brava, — eu pondero. — Aposto que você


está carrancuda agora, não é?

— Você está testando seriamente minha paciência, Holden.

Eu decido jogar um osso para ela. — Eu roubei seu número do


telefone de Becca alguns meses atrás.

— Imaginei. Mas por quê?

Eu evito essa pergunta e respondo outra. — Eu posso ter bebido


um pouco de uísque esta noite. — Giro uma maçaneta e aumento o
calor. — No momento, estou sentado no meu carro, estacionado em
frente a um cassino onde acabei de perder trinta mil.

E está levando tudo em mim para fazer a coisa certa e não voltar
atrás.

— Eu... merda. Eu nem sei o que dizer. Isso é...

— Relaxe, — eu digo a ela. — Eu não liguei para você para uma


conversa estimulante ou conselho financeiro. Na verdade, tenho um
monte de dinheiro entrando em breve. Mas mesmo que não o tivesse,
sempre compenso a diferença na minha próxima aposta.

— Esse não parece um sistema muito confiável.

— Está tudo bem — eu resmungo. — Tenho estado em uma série


de derrotas ultimamente, mas tenho tudo sob controle.

— Você tem? Porque não parece.


Em algum nível, eu sei que ela tem razão. O fato de estar
sentado em um carro do lado de fora de um cassino, bêbado, ligando
para uma garota de quem preciso ficar longe, deve ser uma
verdadeira bandeira vermelha para eu avaliar minhas escolhas de
vida.

Então, novamente, nunca fui do tipo que me preocupa com


bandeiras vermelhas. No mínimo, prefiro avançar direto por elas indo
a toda velocidade.

Exceto com ela. Não tenho absolutamente nenhum desejo de


trazê-la para a minha bagunça. Este telefonema foi um erro.

— Acho que vou indo.

— Espere — ela diz. — Eu não quero você dirigindo bêbado.


Agora que estou de pé, posso ir buscar você.

Minha resposta é automática. — Não. Você não pode.

— Por que não?

Eu agarro o volante, ignorando a vozinha dentro de mim que


está protestando, porque eu sei o que tenho que fazer. — Vou me
casar esta semana.

Sua respiração fica irregular e eu continuo. — Nós vamos ter


um menino. Acho que depois que Becca se formar, vamos nos mudar
para os subúrbios e...

— Por que você está me contando isso? — Sua voz falha na


última palavra e é como um soco no estômago.

Porque eu destruo tudo de bom na minha vida.

Porque ainda não consigo olhar meu reflexo no espelho ou


fechar os olhos sem vê-lo.
Eu arrasto uma respiração baixa e lenta. Se não disser isso
agora, se não contar a ela essa verdade antes de cortar o cordão, sei
que vou me arrepender para sempre. — Eu gostaria que as coisas
fossem diferentes. Gostaria que nos conhecêssemos antes que Becca
acontecesse e tivéssemos a chance de ser amigos.

— Pre...

— Vou voltar para a casa da minha noiva e do meu bebê e


esquecer que você existiu. Não vou incomodá-la novamente, Kit
Bishop.

Sua voz é quase um sussurro. — Obrigada.

Estou prestes a encerrar a ligação quando ela diz: — Espere. Por


favor, não dirija para casa. Chame um Uber, ok?

Como se fosse uma deixa, tudo ao meu redor começa a se


inclinar. — Eu irei.

— Adeus, Preston.

— Adeus, Kit.

No momento em que nos desconectamos, a massa em meu peito


se expande e se divide, espalhando-se por mim como um câncer do
qual nunca serei capaz de me livrar. Uma doença para a qual não há
cura.

Eu deslizo a tela do meu telefone, com a intenção de abrir o


aplicativo Uber, mas um número pisca na tela.

Buster.

E assim, o dispositivo que estou segurando agora tem o


potencial de se tornar uma de duas coisas. Uma bomba que tornará
o dano pior ou um bálsamo que aliviará a dor.
Estou congelado enquanto olho para o telefone mais fodido do
mundo na palma da minha mão, incapaz de pressionar o botão que
vai acabar com a tortura ou me dar outro golpe.

A transpiração mancha minha testa e meu corpo lateja de


necessidade. Não quero nada mais do que responder ao impulso
serpenteando por minha corrente sanguínea.

Para lançar os dados e escapar.

Mas então penso no meu futuro filho... e percebo que talvez o


universo esteja me oferecendo uma opção para sair desse buraco
negro que se repete em espiral.

Talvez esta seja minha chance de uma nova vida. Uma espécie
de reencarnação.

Uma maneira de consertar meus erros, ou pelo menos, não


estragar tudo e cometer mais.

Talvez eu deva prestar atenção a essas bandeiras vermelhas,


porque elas vão impactar mais do que apenas a mim agora.

Pela primeira vez, tomo a decisão certa.

Ignoro Buster e chamo um táxi para me buscar para que eu


possa ir para casa com meu filho, porque ele é a coisa mais
importante na minha vida a partir de hoje.

Você já acordou com a sensação de que o dia pela frente seria


ótimo? Uma manhã tão boa que você poderia jurar que as estrelas
devem ter se alinhado só para você em algum momento enquanto
você dormia?
Eu também.

No entanto, esta manhã? Eu não tenho uma ressaca enorme.


Não estou ligando para nenhum agiota ou me preparando para ir ao
cassino mais próximo. E pela primeira vez, a necessidade de Becca
de pairar sobre mim até que eu saia da cama não me faz pensar em
mijar em seu mingau de aveia orgânico ou creme facial de mil
dólares.

Portanto, no geral, o dia começou melhor do que a maioria.

Eu vejo Becca se vestir, meu olhar caindo em sua barriga. É


fascinante e assustador como o inferno que um pequeno ser humano
que é metade de mim esteja crescendo ali.

Calor preenche o espaço ao redor do meu coração enquanto eu


ando e coloco minha mão em sua barriga. Eu posso ser um
verdadeiro merda, mas uma coisa eu sei sem dúvida é que eu amo
esse bebê desde que ele era um amendoim na tela de uma
ultrassonografia.

Tenho certeza de que ele é a única coisa que amei.

Becca limpa a garganta. — Você se importa? Eu preciso colocar


uma calça.

Eu recuo. — Certo. Desculpe.

Eu corro a mão pelo meu queixo, meditando sobre minhas


próximas palavras. Não estou exatamente feliz com a ideia de passar
um dia inteiro com ela, mas sei que preciso fazer um esforço. Criar
vínculos com o bebê parece um bom lugar para começar.

— Você tem planos para hoje?


Ela encolhe os ombros. — Não, na verdade. Dado que as aulas
começariam novamente em Woodside amanhã, eu iria pegar leve.
Talvez recuperar o sono.

— Oh. Sim, provavelmente é uma boa ideia.

Ela deve detectar a sugestão de decepção em meu tom, porque


ela ergue uma sobrancelha para mim. — Por quê?

Eu arrasto meus pés, me sentindo desconfortável. — Não me


lembro de você ter mencionado uma daquelas festas para mulheres
grávidas.

— Você quer dizer um chá de bebê?

Eu estalo meus dedos. — Sim, um daqueles.

Ela olha para baixo. — Eu não acho que isso vá acontecer.


Minha mãe está morando do outro lado do país com seu sexto marido
atualmente, e meus tios não vão colocar sua vida na máfia em espera
para me fazer uma festa dessa.

Eu cavo minhas mãos em meus bolsos. — Acho que devemos ir


às compras e comprar algumas coisas para ele. O quarto dele só tem
um berço até agora, e é verdade que não sei muito sobre bebês, mas
acho que ele vai precisar de mais do que isso.

Ela ri. — Ele vai precisar de muito mais do que um berço. —


Sua testa enruga. — É um pouco opressor, para ser honesta.

Eu dou um pequeno aperto em sua mão. Eu não quero que ela


sinta que está sozinha nisso, porque ela não está. — Vamos superar
isso juntos, ok?

Ela olha ao redor da sala. — Você quer ir agora?

— Claro... — eu começo a dizer até me lembrar. — Eu deixei


meu carro em um cassino na noite passada.
Ela pega sua jaqueta. — Eu posso levar você para pegá-lo depois
que terminarmos.

Eu balanço minha cabeça porque o pensamento do meu filho


indo para qualquer lugar perto de um cassino me enoja. — Não. Esta
é a minha bagunça.

— Realmente não é grande coisa.

Para ela, não é, mas é o maior problema para mim. Fiz uma
promessa ontem à noite de ficar melhor e colocar meu filho em
primeiro lugar e pretendo cumpri-la.

— Vou chamar um táxi, você fica aqui e faz uma lista das coisas
que precisamos. — Eu olho para o meu relógio. — Estarei em casa
em uma hora.

Eu começo a caminhar até a porta, mas paro abruptamente. —


Está com fome? Quer que eu pegue alguma coisa no meu caminho
de volta?

Ela dá um tapinha na barriga. — Um pouco. Suponho que


poderia comer algo no novo lugar orgânico que acabou de abrir, se
você não se importa.

— Pode deixar.

Eu começo a andar de novo, mas sua próxima declaração me faz


parar no meio do caminho. — A propósito, liguei para o condado
mais cedo. Acontece que não há período de espera para uma licença
de casamento. Então, eu estava pensando que poderíamos ir amanhã
depois que as aulas terminarem.

O ar em meus pulmões fica suspenso, tornando impossível


respirar, mas ela continua sem perder o ritmo. — Ou poderíamos
fazer algo maluco e voar para Las Vegas. Eu sei o quanto você adora
jogar e tudo. Acho que pode ser divertido.
Minhas mãos começam a coçar com essa necessidade insaciável,
e tenho que contar mentalmente até cinco. Quando isso não é o
suficiente, cravo minhas unhas em minha carne até sentir a pele
rasgar, concentrando-me na ferroada que ela provoca.

Ir para Las Vegas agora seria como enviar um viciado em drogas


para uma reabilitação cercada por campos de papoula.

A tentação é forte demais.

— O tribunal está bom. — Eu esfrego minha nuca. — Como você


disse, as aulas começam amanhã. Não acho que nenhum de nós deva
perder nenhuma aula, a menos que seja uma emergência.

Eu vou sair de novo, mas para meu horror absoluto, ela joga os
braços em volta de mim. — Você gostava de mim, Preston.

Meu corpo fica rígido. Eu odeio afeição física como ela é, mas
odeio ainda mais quando vem com um lado de porcaria emocional.

Dito isso, ela não está exatamente errada em sua avaliação.


Houve um tempo em que eu gostava dela. Ou melhor, a tolerava
muito mais.

Quando ela funga, uma onda de culpa me atinge. Becca pode


não ser a garota que eu não consigo tirar da minha cabeça, mas ela
é a mãe do meu filho.

— Vou fazer melhor, — digo a ela.

— Eu espero que sim, — ela sussurra. — Eu não estava


mentindo quando disse que te amava, e eu acho que se tentássemos,
realmente tentássemos, seríamos muito bons juntos.

Minha garganta balança em um gole e uma respiração sai de


mim, me deixando sem palavras.
Nós dois tomamos meu silêncio como meu acordo, no entanto -
e um momento depois - ela o selou com um beijo.

E tento não fingir que é a boca de outra pessoa na minha.

— Seu pedido estará pronto em quinze minutos, — a morena do


balcão me informa.

Eu pago pela comida de Becca e ando ao redor da seção de


comida para viagem do restaurante, lutando contra pensamentos de
voltar para o cassino.

Depois de examinar várias fotos de pratos saudáveis na parede


e ouvir mais uma música da Enya começar a tocar, eu já tinha o
máximo que podia aguentar.

Meu telefone toca quando eu saio e quando vejo que é Asher


ligando pela terceira vez, pressiono o botão ignorar. Existem apenas
dois motivos pelos quais ele me ligaria esta manhã e não preciso
ouvi-lo me dar um sermão sobre como devo deixar os amigos de
Breslin em paz, ou sobre como não deveria ficar bêbado em cassinos.

Eu coloco meu telefone no bolso e dou uma olhada. O


restaurante está localizado em uma das muitas lojinhas caras e
pitorescas aqui em Connecticut, então decido dar uma olhada em
algumas. Não estou querendo comprar nada, só preciso de distração.

Estou andando por uma prateleira aleatória em uma loja da


mamãe e papai quando algo me para no meio do caminho.

A senhora idosa que está por perto me lança um olhar estranho


enquanto estudo o bichinho de pelúcia, mas não me importo.
Evidentemente, ela nunca recebeu o memorando de que dragões são
durões. Não apenas porque parecem assustadores, mas atacam
qualquer um que tente machucá-los.

O pensamento faz meu estômago apertar enquanto as memórias


passam por mim.

Quando eu era criança, a única maneira de adormecer era fingir


que tinha um dragão no meu quarto cuidando de mim.

É completamente estúpido e eu morreria antes mesmo de


admitir isso para alguém, mas foi a única coisa que me ajudou a me
sentir seguro.

Este dragão não se parece com o que eu costumava imaginar,


mas ele é colorido e tem uma aparência legal. Não posso deixar de
me perguntar se meu filho também gostaria dele.

Algo me diz que sim.

Sempre que ele estiver com medo, posso garantir que ele não
tem nada com que se preocupar, porque eu e este dragão o
manteremos seguro.

Um sorriso toca meus lábios. Talvez eu não seja tão ruim nisso,
afinal de contas.

— Você está bem, jovem?

A voz da balconista me tira da minha névoa. — Sim. — Eu pego


o dragão e caminho até o balcão. — Acho que estou agora.

Com isso, ela levanta uma sobrancelha, mas eu não ligo para
ela, porque nada pode diminuir meu ânimo. Estou praticamente
bêbado de puro otimismo.

Depois de passar meu cartão, pego meu dragão e começo a


caminhar de volta para o restaurante, meu sorriso crescendo mais.
Tudo vai ficar bem.

O som do meu telefone tocando novamente interrompe meus


pensamentos felizes, e eu o levo ao ouvido. — Deixe-me adivinhar,
irmão. Kit disse a Breslin que liguei para ela ontem à noite e Breslin
está puta. — Aborrecimento faz meu temperamento subir enquanto
eu continuo, — Bem, você pode dizer a sua pequena rata ruiva que
eu não dou a mínima...

— Eu sinto muito. É Preston Holden?

A voz irreconhecível me pega desprevenido. — Quem quer saber?

— Estou ligando da DGL. Este é o número que temos cadastrado


para ligar com os resultados da paternidade. No entanto, preciso que
você confirme que é Preston Holden antes que eu possa divulgá -los.

— Sim, — eu sussurro, surpreso que eles estão ligando hoje em


vez de terça-feira, como disseram que fariam. — Eu sou ele.

O homem pigarreia antes de dar a notícia que mudará minha


vida para sempre. — A amostra que coletamos de você não é uma
combinação genética.

Eu sinto como se alguém tivesse arrancado todo o chão debaixo


de mim, e eu tenho que me apoiar contra a vitrine mais próxima.

— Sinto muito, acho que houve um engano. — Eu engulo e


parece que o vidro está caindo. — Qual era exatamente a
porcentagem? Eu sei que deveria ser 99,9% ou melhor, mas eu sou
um cara de números. Então, se fosse, digamos, 98,9% ou algo...

— Me desculpe senhor. Não é assim que o teste de paternidade


funciona. Há uma porcentagem apenas se os marcadores genéticos
forem compatíveis e nenhum dos seus correspondem. Você é bem-
vindo para fazer outro teste, mas...
Eu desligo porque quanto mais ele fala, pior tudo fica.

Becca jurou que eu era o pai repetidamente.

Eu olhava direto em seus olhos cada vez que ela fazia - seus
olhos mentirosos, manipuladores e de puta.

A dor irradia por minhas costelas e meu coração bate a mil por
hora. A dor desse golpe é como nada que eu já experimentei. É o
tormento cruel que vem com a consciência preocupante de não
perceber o quanto eu queria que esse bebê fosse meu até agora.

Agora que ele se foi. Agora que não tenho nada.

Agora que voltei a ser Preston Holden - o idiota, o jogador - em


vez de pai.

Meu corpo treme de raiva, a força é tão intensa que quase caio
ali mesmo na calçada.

É uma coisa boa Becca não estar perto de mim, porque tudo
seria direcionado a ela. Apesar da pequena parte de mim que me
odeia por insistir no teste de paternidade em primeiro lugar agora.

O som do meu telefone tocando mais uma vez me faz pensar em


jogar essa merda no trânsito.

Mas não, porque espero que seja o laboratório ligando de volta


para me dizer que eles cometeram um erro grave. — Olá?

Minhas esperanças são destruídas ao som da voz do meu irmão.


— Estou tentando ligar para você há horas.

— Este não é um bom momento, Asher.

Estou quase desligando, mas ele diz: — Ele está no hospital.

Eu não tenho ideia de quem ele é até que a respiração de Asher


torna-se irregular e ele grita — Ele bateu em um pedaço de gelo preto
e bateu com o novo Mercedes em uma árvore. O hospital tentou
entrar em contato com a mamãe, mas ela está em um cruzeiro. Eles
me ligaram porque estou listado como seu contato de emergência.

Meu primeiro pensamento é que o carma deve estar indo atrás


dele.

Mas meu próximo pensamento, aquele sobre nossa última


conversa, faz minhas entranhas se contorcerem. — Estou a caminho.
VI

“O AMOR NÃO É COMPLICADO, AS PESSOAS SIM.” —


DESCONHECIDO.

— Eu deveria pegar o turno da manhã no café amanhã antes


das aulas começarem, mas...

— Vou cobrir isso — interrompi. — Minhas aulas só começam à


tarde de qualquer maneira.

— Tem certeza?

Se Breslin não estivesse sentada em um hospital com Asher


agora, eu a repreenderia por ser tão teimosa.

— B, eu tenho você. Mas, se você quiser compensar, me encontre


no refeitório antes do início das aulas, assim podemos almoçar a
tarde e conversar. Parece que faz uma eternidade desde a última vez
que conversamos.

E há muito que quero lhe contar.

— É um encontro, — ela diz, e eu tenho que morder minha


língua para me impedir de fazer a ela as perguntas que estão
queimando um buraco no meu estômago.

Preston está aí? Ele voltou para casa bem? Como ele está lidando
com a notícia sobre o acidente de seu pai?

Um suspiro de frustração passa pelos meus lábios e eu me jogo


em uma das muitas caixas que ainda preciso desempacotar. Deus,
isso é tão estúpido. Não tenho absolutamente nada do que me
envergonhar. Estou sendo uma cidadã preocupada aqui, caramba.

O que significa que tenho todo o direito de perguntar como o


noivo da minha ex-namorada e o pai do seu bebê está... certo?

Certo.

— Bre... — Minha boca se fecha quando percebo que ela desligou


há um minuto.

Sem pensar, percorro o registro do meu telefone, parando ao ver


a chamada recebida às 3h05.

Boom, aí está ele, olhando para mim como uma espinha grande
e feia na pele de porcelana... implorando para ser estourada ou
camuflada.

Meu dedo dança sobre o botão de chamada antes de tomar a boa


decisão de pressionar delete e terminar com este tango para sempre.

Nós não somos amigos.

O que em previsão é provavelmente uma coisa boa, porque ele é


auto destrutivo na melhor das hipóteses e egoísta na pior.

Meu peito dói com alguma emoção que não ouso identificar, mas
eu a afasto e começo a desempacotar.

Estou descarregando o conteúdo da minha segunda caixa


quando ouço uma batida.

— Vá embora, — eu resmungo.

Quando ignoram meu aviso e batem novamente, coloco meu


estilete no chão e vou até a porta da frente.

Se eu tiver sorte, é algum drogado idiota perguntando se pode


pegar um isqueiro emprestado. Mas se não for? É alguma idiota com
excesso de zelo que de repente quer ser amiga antes de nos
formarmos, tudo porque algum artigo de merda na mídia social disse
a ela que isso a tornaria uma pessoa melhor.

Kelly, a garota chata da minha aula de economia no semestre


passado que tagarelava incessantemente sobre seu cachorro
chamado Galo - quando ela não estava me chamando de aberração,
- vem à mente e eu gemo.

Quando giro a maçaneta, percebo que Kelly seria uma dádiva de


Deus agora. Porque um novo inferno me cumprimenta na forma de
minha ex-namorada.

Estou arrependida de ter deixado aquele estilete para trás.

— Oi, — ela começa. — Eu teria ligado para você, mas não


consegui ligar.

— Eu bloqueei seu número durante as férias de Natal — eu a


informo secamente, mantendo meu rosto inexpressivo.

— Oh — Ela franze a testa. — Acho que mereço isso depois de


tudo que fiz você passar.

— Não vou discutir sobre isso.

Olho para baixo e percebo que o vestido que ela está usando é
vermelho, o que lhe cai muito bem, porque, para mim, ela é o diabo.

Infelizmente, estou tão distraída com a presença dela que não


percebo que ela cruzou a soleira e está dentro do meu dormitório,
até que a porta se fecha atrás dela.

Tenho que desviar o olhar, não por causa da raiva, mas porque
não confio em mim mesma para fazer a coisa certa quando se trata
de Becca.

Porque eu ainda a amo.


Becca deve sentir isso porque ela usa a oportunidade para se
aproximar ainda mais, fazendo meu coração dar um pequeno salto
de protesto; quase como se o órgão soubesse que há perigo à frente
e quisesse abandonar o navio.

— Eu fui uma vadia com você ontem — ela sussurra, e aquele


perfume floral dela que eu me lembro, como apenas um amante pode
invadir minhas narinas.

Dou um passo para trás, tentando colocar alguma distância


entre nós, mas ela pega minha mão. — Eu sinto muito por te
machucar, Kit.

O contato percorre meu corpo como uma dose dupla de Bacardi


151 com o estômago vazio. E, assim como o agente intoxicante
enfraquece minhas defesas e faz com que minha armadura
desmorone até que tudo que consigo lembrar é o quanto eu a
amava... em vez de como ela rasgou minha alma em pedaços.

Ela enfia uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu


sinto sua falta. Não há um segundo que eu não pense em você.

Quando uma lágrima cai por sua bochecha e eu sei que há


verdade por trás de suas palavras, o campo de força em torno do
meu coração explode em mil pedacinhos.

— Então por que você me traiu? — Eu sufoco um soluço, mas


isso só faz o próximo se soltar. — Achei que nós... achei que você
fosse feliz.

— Eu era — Ela segura meu rosto, seus polegares pegando


minhas lágrimas. — Eu era tão feliz com você!

— Então por que você me machucaria?


É a pergunta que eu me pergunto minuto após minuto e noite
após noite desde o segundo em que meu coração se partiu naquele
refeitório.

— Eu teria feito qualquer coisa por você, Becca. Qualquer coisa.

É verdade, essa garota poderia ter pedido a maldita lua e eu


teria encontrado uma maneira de laçá-la para baixo.

O pensamento é como um bumerangue reabrindo a ferida. Eu


removo suas mãos do meu rosto e dou vários passos para trás.

Seus olhos correm ao redor da sala antes de travar nos meus.


— Você quer a verdade?

Eu dou a ela um pequeno aceno de cabeça. Não importa o


quanto possa doer, talvez me ajude a encerrar.

— Você me assustou — Ela levanta a mão. — Bem, você não.


Mas a intensidade do seu amor... nosso amor... me assustou. Tudo
sobre nós me assustou.

O que ela diz não faz sentido para mim. O amor deve ser intenso.
Inferno, é a coisa mais intensa que existe. Caso contrário, não é
amor.

— Não entendo.

Ela se aproxima de mim. — O que quero dizer é que nunca senti


nada parecido com o que sinto por você. Foi confuso, não só porque
nunca me apaixonei por outra garota tão forte, mas porque tinha
medo de estragar tudo, sabe? Que eu faria algo estúpido e acabaria
perdendo você.

Eu levanto uma sobrancelha. — Então, em vez de falar comigo


sobre seus medos, você...
— Fiz algo estúpido e acabei perdendo você de qualquer maneira
— Ela funga. — Profecia autor realizável, eu acho.

Ela descansa sua testa contra a minha e eu ignoro o próximo


aviso de meus problemas cardíacos.

— Essa não é a única coisa que você quer que eu diga a você,
no entanto. É?

Sua voz assume um tom rouco e minhas próprias cordas vocais


ficam presas na minha garganta. A dinâmica dessa conversa mudou
e não sei como voltar ao assunto. Não quando ela está olhando para
mim do jeito que está agora.

Como se ela quisesse devorar cada centímetro do meu corpo.

Ela pressiona a mão no meu peito e sorri maliciosamente


quando sente meu coração bater rapidamente contra sua palma.
Como se ela soubesse que ainda é dela para ser tomado.

Pena que não sobrou muito desta vez.

— Você quer saber sobre ele. — A mão que cobre meu coração
cai para o meu peito. O toque é tão leve que se pode facilmente
confundi-lo com um acidente.

Mas eu sei melhor, porque com a Becca... tudo é intencional.

— Você quer saber se o sexo com ele era melhor do que sexo
com você, não é? Como foi quando ele me fodeu.

Minha pulsação dispara e eu honestamente me odeio por ser um


pouco curiosa, apesar da nova dose de dor que suas palavras trazem.

Sua mão cai. — Bem, pare de se perguntar. Porque não importa.


Ele não importa.
Ela agarra meu queixo e meu coração bate em um apelo
desesperado, querendo que ela conserte o dano que ela causou.

— Ele nunca importou. Ele era apenas algo que eu pensei que
queria, porque temia o que as pessoas pensariam sobre eu me casar
com uma garota.

Ela acaricia minha bochecha e eu me inclino em seu toque.


Becca nunca falou comigo sobre esses sentimentos antes e não posso
deixar de sentir empatia.

— Mas não estou mais com medo, Kit. E eu sei que você não vai
acreditar em mim quando eu disser isso, mas eu estava planejando
terminar com ele assim que percebi que nenhum futuro valia a pena,
a menos que fosse com você.

Quero perguntar a ela se isso foi antes ou depois de ela enfiar


uma faca no meu coração e me ver sangrar por causa do trauma,
mas ela olha para baixo e diz: — Infelizmente, o destino tinha outros
planos. E agora eu sei o quanto estraguei tudo.

Eu olho para baixo em sua barriga, no volume está um lembrete


gritante de porque ela não deveria estar aqui agora e porque eu
preciso que ela vá embora.

— Eu queria te dizer — ela continua. — Quero dizer, obviamente


eu tinha que fazer.

Ela está se infiltrando novamente. Eu posso sentir isso. — Por


que você não fez isso?

— Porque eu queria mantê-la apenas um pouco mais. — Os


cantos de sua boca viram para baixo. — Sempre lamentarei pelo que
fiz a você. Há tantas coisas que eu gostaria de poder mudar.
— Eu não sei o que você quer de mim, Becca. — A névoa se
dissipou um pouco e eu me preparei. — Não podemos mudar o
passado. O que está feito está feito.

Nós nos encaramos por vários segundos antes de eu dizer o que


deveria ter dito no momento em que abri a porta para o meu passado.
— Eu acho que você deveria ir.

Seu rosto se contorce de dor. — Tem certeza de que é isso que


você quer?

Não. — Sim.

Ela inclina a cabeça, estreitando o espaço entre nossas bocas.


— Está bem. Se você tem certeza, então eu irei.

Estou aliviada porque estou a um fio de navalha de desabar.

— Mas não antes de eu fazer isso.

— O que...

Não tenho a chance de terminar essa declaração porque seus


lábios estão nos meus e tudo começa a girar dentro de mim como um
tornado.

A mágoa, a dor... os sentimentos que ainda tenho por ela.

Logicamente, eu sei que isso é errado e eu deveria afastá -la em


vez de beijá-la de volta, mas ainda há uma pequena parte de mim
que não consigo me desvencilhar dela.

O amor é um vício. Uma dependência. Um desejo.

É por isso que permitimos que o veneno entre em nosso sistema


em primeiro lugar.

É o que nos faz aceitar muito menos do que merecemos.


O fogão está quente. Todos nós sabemos disso. Todos nós fomos
avisados.

No entanto, todos nós o tocamos pelo menos uma vez na vida.

Alguns de nós até perseguem a queimadura.

Porque no final do dia, é melhor se iludir pensando que alguém


te ama, mesmo uma pessoa tóxica... em vez de enfrentar a realidade
fria de que essa pessoa não ama.

A bolha de engano que criamos é nossa proteção.

Ninguém quer ser rejeitado.

Preston.

Seu nome piscando na minha cabeça é o equivalente a ser


afogada em água gelada e eu quebro o beijo.

— Não podemos fazer isso. — Limpo meus lábios com as costas


da mão como se isso fosse apagar o erro que acabei de cometer.

— O que? Por quê?

— Você tem um noivo — eu a lembro. — Eu sei que seu código


moral não está exatamente ajustado, mas isso é errado.

— Eu não posso me casar com ele — Seus lábios acariciam


minha orelha. — Eu estou apaixonada por você.

Quero apontar todas as coisas monumentais que estão erradas


com essa afirmação, começando com o fato de que você não deve
quebrar as pessoas que ama, mas tudo em que consigo pensar é em
Preston.

Não apenas seu pai está no hospital atualmente, mas sua noiva
o está traindo. — Ele pediu que você se casasse com ele e você disse
que sim. E você vai ter um filho dele. Ele te ama, Becca. Ele não
merece ser ferido como...

Como você me machucou.

Ela balança a cabeça. — Confie em mim. Ele não me ama ou a


este bebê.

Eu abro minha boca para protestar, mas ela cai no chão em um


ataque de lágrimas e meu coração pula para minha garganta.

— Se ele fizesse, ele não estaria jogando o tempo todo. Ou


ficando bêbado e ligando para diferentes garotas para se
encontrarem noite após noite.

Minha mente voa de volta para o telefonema novamente e eu


estremeço. Merda, ele é ainda mais idiota do que eu pensava.

Ela levanta um dedo. — Eu sei, eu mereço por causa do que eu


fiz para você.

Eu me sento ao lado dela. — Não, você não merece.

Ela me dá um meio sorriso. — Você realmente acredita nisso?

Pego uma caixa de lenços de papel da mesa de cabeceira e


entrego um a ela. — Não sei.

Ela enxuga os olhos. — A verdade é que nem estou chateada


com isso. Eu não o amo, nunca amei. Eu só estava tentando fazer a
coisa certa pelo bebê — Ela funga. — Já acabou tudo entre nós a um
tempo.

Digo ao meu coração para não ouvir, mas é um glutão de castigo.


— Eu não...
Ela coloca o dedo nos meus lábios. — Eu sei que você tem todo
o direito de me odiar. Mas se você me der mais uma chance, você
não vai se arrepender.

— Becca...

Ela segura meu rosto com as mãos. — Eu sei que é difícil para
você confiar em mim novamente, mas estou disposta a fazer o que
for preciso.

Seus lábios encontram meu pescoço e meus olhos se fecham.


Deus, eu quero acreditar nela. Mais do que isso, quero poder perdoá-
la.

Como uma ducha fria em temperatura abaixo de zero, meu rival


permeia meu cérebro. — E ele?

— Eu disse a você, acabamos. Tudo que eu quero é você, Kit.

Ela não me dá a chance de contestar porque ela me reclama com


a boca novamente. Quero protestar e dizer a ela que isso está
acontecendo muito rápido e preciso pensar, mas seus dedos
começam a percorrer meu corpo, enviando o tufão para outra espiral.

— Agora deite-se e deixe-me mostrar o quanto eu senti sua falta.

O fogo está quente, lembro a mim mesma enquanto ela tirava


minhas calças de ioga de meus quadris.

Mas alguns de nós perseguem a queimadura.

Porque queremos tanto ser amados.


VII

“NA MESA DE JOGO NÃO HÁ PAIS E FILHOS.” — PROVÉRBIO


CHINÊS.

Meus dedos se enrolam nas bordas da cadeira em que estou


sentado, quase como se meu aperto sozinho pudesse impedir o
último resquício de minha compostura de se desfazer.

Eu mentalmente analiso a lista de verificação de tudo o que


aconteceu nas últimas horas. Às vezes é mais fácil dividir as coisas
na forma de linha do tempo antes de processar tudo e agir de acordo.

Descobri que o bebê não é meu - confere.

Fui informado pela equipe médica que meu pai nada mais é do
que um vegetal - confere.

Eu finalmente confrontei a namorada do meu irmão sobre armar


para Asher, junto com seu pai imprestável e o louco Kyle, apenas
para ser provado que estava errado sobre seu envolvimento - confere.

Então, momentos depois, observei o mesmo psicopata obcecado,


Kyle Sinclair, correr pelo corredor do hospital com uma arma, na
tentativa de matar Breslin, antes de ser arrastado algemado -
confere.

Meu cérebro pulsa quando me lembro da cereja deste bolo


fodido.
Quando ouvi Asher dizer à polícia durante o interrogatório que
meu pai e Kyle tinham um relacionamento. Um que começou quando
Kyle era apenas um adolescente - confere.

O ácido agita meu estômago e outra onda de náusea me atinge.

Acho que não sou sua única vítima.

Ter dezesseis está longe de ser uma criança... mas ainda está
errado, certo?

Então, novamente, aos quatorze anos eu estava recebendo


boquetes das meninas do fã-clube do meu irmão sob as
arquibancadas da escola durante seus jogos de futebol. E aos quinze,
eu estava fazendo sexo com elas, então que porra eu sei.

Eu passo a mão pelo meu cabelo e olho ao redor da sala de


espera. Só então percebo que Breslin nunca mais voltou do banheiro.

Estou me preparando para ver como ela está, porque Asher vai
explodir se eu não fizer isso, quando ele aparecer.

— Você viu ela?

Tenho certeza que minha expressão tem pego escrito por toda
parte. — Ela me disse que estava indo ao banheiro. — Eu verifico
meu relógio e fico de pé. — Cerca de vinte minutos atrás.

Aborrecimento delineia suas feições. — Você não pensou em ver


como ela estava?

Quero argumentar que tecnicamente sim... cerca de um minuto


atrás.

Ele começa a andar e eu decido confessar. Ele já está com raiva


de mim, então devo deixar tudo em aberto.
— Eu disse a ela sobre Kyle chantageando você, mas em minha
defesa, pensei que ela já sabia.

Ele me olha como se eu tivesse cometido uma traição.

Pensando bem, talvez eu tenha. Vendo que Breslin não sabia


sobre Kyle chantageando Asher quando eu a confrontei... significa
que ele nunca disse a ela.

Merda. Tenho certeza de que é outra marca de confere.

Acontece que não entendo por que ele nunca contou a ela.
Então, novamente, eu não entendo muito de nada relacionado ao
relacionamento dele com Breslin ou Landon.

— Eu também pensei que ela tinha algo a ver com isso até uma
hora atrás.

— O que? — A veia em sua testa se projeta. — Breslin nunca...

Eu o interrompi, embora eu estivesse errado, não quero ouvi-lo


defendê-la como se ela fosse uma figura bíblica. Eu só quero que ele
entenda de onde eu vim. — Sim, eu sei disso agora. Eu só imaginei
com o pedaço de merda do pai por trás disso, talvez...

— Como você sabe disso?

Eu poderia perguntar a ele exatamente a mesma coisa.

Basta dizer que essa não é a reação que eu esperava dele ao


ouvir a notícia de que o pai de Breslin era o co-conspirador.

No entanto, a expressão em seu rosto deixa claro que este


pequeno interrogatório é uma via de mão única.

— Para encurtar a história, — eu começo, dando a ele a versão


resumida do que eu disse a Breslin antes. — Acabei encontrando-o
em um bar algumas horas antes de o vídeo se tornar viral. Dei a ele
todo o dinheiro que tinha comigo para fazê-lo contar a verdade.
Assim que o fez, tentei dissuadi-lo de lançar o vídeo, mas obviamente
não funcionou. O velho bêbado tinha uma ponte para queimar.

Eu passo a mão pelo meu rosto. — Eu tentei avisar você naquela


noite, mas você não atendeu o telefone. E eu não disse a você que
era o pai de Breslin por trás disso, porque a última vez que falamos
sobre Breslin foi antes de você ir para a faculdade e perder a cabeça.
Eu não queria que você a contatasse. Eu estava tentando te proteger
e fazer o que achei certo. Acontece que eu estava errado.

— Sim, não brinca.

Quero reiterar que pensei que estava fazendo a coisa certa, mas
ele sai correndo. — Eu preciso de uma carona.

Eu o sigo até o estacionamento que agora está coberto com uns


bons dezoito centímetros de neve. — Onde estamos indo?

Obviamente, presumo que seja para encontrar Breslin, mas


foda-se se eu sei onde ela está. Também não estou muito interessado
em dirigir em uma nevasca para descobrir.

Ele abre a porta do carro e entra. — Visto que Breslin sabe que
Kyle me chantageou e o pai dela vazou a fita, só há um lugar onde
ela poderia estar.

O vento frio sopra quando eu paro no estacionamento de trailers


onde o pai de Breslin mora.

Asher ficou em silêncio durante a viagem, o que significa que ele


está perdido em pensamentos profundos ou pensando em maneiras
criativas de me matar e se safar.
Dados os acontecimentos da noite, eu escolheria o último.

Seu olhar está examinando. — Tem certeza que não está


escondendo mais nada de mim?

Eu agarro o volante com tanta força que meus dedos ficam


brancos.

Asher tem o direito de estar com raiva de mim, vou admitir. Mas
ele não é o único que tem coisas acontecendo em sua vida.

Eu ficaria mais do que feliz em trocar meus problemas pelos


dele.

— Não. Desculpe te desapontar, irmão mais velho, mas tenho


andado preocupado com minhas próprias merdas ultimamente.

— Certo — ele ferve. — Acho que isso significa que é melhor eu


deixar minha pá pronta para que eu possa limpar tudo para você
novamente.

Eu aperto os freios com tanta força que o carro desliza até parar.
— O que diabos isso quer dizer?

— Sabe, você poderia pelo menos ter me agradecido por ganhar


o campeonato.

Eu bufo, acho totalmente divertido o quão arrogante ele pode


ser. — Eu deveria ter dito obrigado? Engraçado, porque da última
vez que verifiquei, perder aquela aposta e me envolver com Dragoni
é o que está tornando seu sonho da NFL realidade.

Ele me encara com um olhar feroz. — Você realmente não


entende, não é? E se eu perdesse? E se as coisas não corressem bem?
O que então?
— Não sei. — Eu inalo profundamente, odiando o traço de
preocupação em sua voz. — Eu descobriria outra maneira de acertar
as contas. Eu sempre faço.

— Como? Fazendo outra aposta? Uma que você pode perder.


Cristo, quando a merda para? Onde você traça a linha, Preston?
Quando alguém que você ama se machuca, ou quando essa pessoa
tira sua vida?

Estou prestes a dizer que ele está fazendo montanhas com


pequenos montes, porque intencionalmente perdi a aposta com o
Dragonis para fazê-lo jogar futebol novamente, mas ele abre a porta
do carro e diz: — Você vai ser um pai em breve, irmão. É hora de
crescer antes que você acabe fodendo uma vida inocente junto com
a sua.

Suas palavras me atingem como um golpe físico. — Não, eu não


vou.

Eu fecho meus olhos quando a conclusão se estabelece. — Há


uma razão pela qual eu não atendi meu telefone quando você me
ligou sobre papai hoje cedo. Eu estava recebendo os resultados do
teste de paternidade.

Não é exatamente preciso, visto que ignorei suas ligações antes


de obter os resultados, mas não estou com vontade de discutir com
ele sobre isso.

Ele exala bruscamente. — Você se esquivou de uma bala.

— Eu queria que o bebê fosse meu.

Não sei por que estou dizendo isso a ele, mas sei que falar sobre
um bebê que não é meu parece mais fácil do que falar sobre meu pai,
ou o que eu o ouvi contar à polícia sobre Kyle.
Alguém de fora, olhando para dentro, presumiria que Asher e eu
somos próximos. Mas a verdade é que, embora eu me importe com
ele, sempre vou mantê-lo à distância.

Porque mantenho todos à distância.

— Prest...

— Parte de mim se arrepende de ter feito o teste agora, mas eu


não pude aguentar, Asher. Eu precisava saber.

Emoções, do tipo que podem levar um homem às lágrimas,


ameaçam transbordar, mas eu as engulo.

Não chorei, nenhuma vez desde os sete anos, e não pretendo


agora.

— Comecei a falar com o bebê todas as noites quando Becca ia


dormir. Contando histórias. Prometendo a ele ou ela que eu seria um
pai melhor do que o meu jamais foi.

Solto um suspiro ao me lembrar de todas aquelas noites que


passei fazendo promessas a uma criança que não era minha. Talvez
este seja meu carma por ter duvidado que o bebê seria meu. A
maneira do universo de dizer, vá se foder.

Ele aperta meu ombro. — Você será. Quando for a hora certa.

Eu me inclino contra o encosto de cabeça. — Eu pensei que esse


momento seria agora. — Eu olho pela janela e noto que mais cinco
centímetros caíram desde que saímos do hospital. — Talvez eu só
quisesse algo que me desse o empurrão de que precisava para limpar
minha vida e me recompor.

Não percebo que disse isso em voz alta até que ele diga: — Bem,
você sabe o que dizem. Admitir que você tem um problema é o
primeiro passo. — Ele me lança um olhar penetrante. — Você vai
superar isso.

Estou prestes a dizer a ele que não há nada para eu superar


porque estou bem, mas um cabelo rosa e minha cara de raiva favorita
passam pela minha mente. Juro que aquela garota invade meus
pensamentos nos momentos mais aleatórios.

No entanto, percebo que tenho um motivo válido para vê-la


novamente.

Eu poderia dirigir de volta agora e vê-la.

Uma forte rajada de vento gelado sopra quando Asher sai do


carro. — Parece que o tempo está piorando.

O aborrecimento sobe pela minha espinha. Uma viagem de três


horas facilmente se tornará oito horas com esse clima.

— Eu sei. Eu estava pensando em ir para Woodside hoje à noite,


mas acho que vou esperar até amanhã.

Ele ri. — Mal posso esperar para ver a cara de Becca quando ela
vir suas merdas por todo o Campus.

Meu irmão é mais pervertido do que imagino. — Que diabos está


errado com você? Posso ser um idiota, mas não vou jogar uma garota
grávida na rua no meio do inverno. Não importa o quanto eu não a
suporte.

Ela pode merecer isso, mas o bebê não.

Ele levanta uma sobrancelha. — Então por que você vai para
Woodside amanhã?

Uma longa pausa se estende entre nós antes de eu finalmente


dizer, — Para ver Kit.
Já que não quero que ele leia mais nada sobre isso, porque meus
sentimentos sobre ela são meus e apenas meus, acrescento: — Eu
não sou o único que Becca magoou e Kit tem o direito de saber que
o bebê não é meu.

Fico grato quando ele não se intromete mais e bate no capô do


meu carro. — Dirija com cuidado, irmãozinho.

Eu o saúdo. — Me ligue se precisar de mim. Eu vou atender.

Um desejo familiar sobe pela minha espinha enquanto eu dirijo.


Se alguma vez houve uma noite em que precisei fugir, foi esta.

Viro à esquerda que me levará à rodovia, mas quando meu carro


vira para o lado oposto da estrada devido à neve, lembro -me de que
não só é perigoso dirigir, mas não posso mais confiar no dinheiro do
meu pai porque ele é uma cenoura maldita.

Ou posso?

Acontece que acabou sendo uma bênção disfarçada que meu pai
não pôde ou não quis transferir todo o seu dinheiro para mim de
uma só vez quando eu exigi ontem à noite.

Não apenas porque pareceria muito suspeito agora, mas porque


sei que sou o principal beneficiário de seu testamento.

Costumava ser Asher, mas depois da briga que ele e meu pai
tiveram, o testamento foi atualizado.

No entanto, não posso comemorar ainda, porque existe uma


pequena possibilidade dele ter transferido uma quantia de dinheiro
não revelada para minha conta, como disse que faria, e isso por si
só vai parecer estranho. A menos que eu possa encontrar uma razão
válida para explicar por que ele fez isso. Mas, primeiro, preciso
descobrir quanto dinheiro eu teria recebido.
Cristo, agora, eu preferiria de ter seguido em frente e mandá-lo
embora, em vez de chantageá-lo. Isso tornaria as coisas muito mais
fáceis para mim.

Eu deslizo até parar, pego meu telefone e entro na minha conta


bancária. Não saber o que ele fez ou deixou de fazer está me deixando
louco.

Fico aliviado quando minhas economias mostram que tenho


pouco mais de doze mil - exatamente o que tinha da última vez que
entrei no sistema.

Jogando meu telefone no console, eu solto um suspiro de


alívio... até que me lembro que leva mais de vinte e quatro horas
para processar uma transferência.

Eu bato no volante em frustração. Não há como saber com


certeza o que ele fez, a menos que eu olhe seu extrato.

Colocando o carro de volta na estrada, decido fazer uma curta


viagem até sua casa e descobrir.

Demoro mais do que esperava para chegar aqui devido às


estradas, mas depois que digito o código no teclado e abro a porta
da frente, vou direto para seu escritório.

Estou no meio da escada quando ouço passos se aproximando.


— Ei, Sra. Panfile.

A Sra. Panfile é nossa governanta residente desde que nos


mudamos para cá, há seis anos.
Ela também é uma das únicas pessoas no planeta que não me
irrita pra caralho. O que provavelmente tem a ver com o fato de que
a mulher mal fala uma pitada de inglês. Além disso, sua atividade
recreativa favorita passa a ser do tipo que pode ser enrolado e
fumado enquanto ouve Bob Marley, mas não vou me meter nisso.

— Preston! — ela grita em seu inglês quebrado, correndo escada


acima.

Fico tentado a perguntar o que há de errado, mas ela grita: —


Sr. Holden.

Eu encolho os ombros, já que não há porque fingir estar triste


com isso. — Sim. Ele está ‘torrado’.

A pura confusão estraga seu rosto. — Com fome?

— Não. — Eu aponto para cima. — Eu preciso cuidar de algumas


coisas.

Ela aperta meu braço. — Sra. Holden para casa em breve.

Meu pescoço se arrepia. — Quando? Achei que ela estava presa


em um barco?

— Si. — Ela levanta três dedos. — Três semanas. Mas amanhã


à noite ela volta para casa. — Ela aperta o peito. — Tão triste.

Sim, aposto que sim. Não é nenhum segredo que minha mãe
ganha mais dinheiro dele com ele estando vivo do que ela jamais
ganharia após sua morte.

Meu pai era muitas coisas, mas ingênuo sobre sua farsa de
casamento não era uma delas. Esse acordo pré-nupcial é forte. Ela
terá sorte se conseguir manter seu carro e o apartamento em St.
Barts quando tudo estiver dito e feito.
Posso praticamente ouvi-la rezando por um milagre no meio do
Atlântico. Talvez se ela fosse uma mãe decente, em vez de estar tão
envolvida em seu papel de esposa troféu e seu dinheiro, ela teria
minha simpatia e apoio. Em vez disso, tudo que sinto é um alívio por
não ter me casado com Becca.

Ao contrário de meus pais, nunca me casarei com alguém por


conveniência ou dinheiro.

Ou porque estou sendo ameaçado por uma vadia manipuladora.

Quando eu me casar, será porque a amo mais do que a mim


mesmo.

Porque eu valorizo o coração dela mais do que o meu.

Mas, como nenhuma dessas coisas está na minha lista de


desejos, não prevejo que isso seja um problema.

Eu dou a ela um sorriso tenso. — Eu vou indo. — Eu me viro,


mas uma ideia me bate. — Pensando bem, acho que estou com fome.

Embora ela seja tão inofensiva quanto uma pomba de pelúcia,


não quero que ela me verifique enquanto estou lá. Pelo menos agora
ela estará distraída.

Seu rosto se anima, como se ela estivesse aliviada por poder


fazer algo por mim.

Espero até que ela saia correndo antes de caminhar até o


escritório dele.

Parece exatamente como da última vez que estive em casa.

A grande mesa de carvalho é impecável e brilhante, cortesia da


Sra. Panfile. As cadeiras de couro marrom para escritório são feitas
para negócios, mas confortáveis o suficiente para suportar longas
reuniões. Memórias do futebol lotam as prateleiras, mas não o
suficiente para serem consideradas cafona; mais como uma
homenagem de bom gosto ao seu esporte favorito. E quando meus
olhos examinam o canto da sala, noto que o pequeno bar ainda tem
várias garrafas de requintados uísques para escolher.

Nem uma única coisa está fora do lugar. Incluindo o computador


que fica bem no centro de sua mesa.

Aquele para o qual ele não habilita a proteção por senha porque
nossa casa tem segurança de primeira linha e, segundo ele, um
intruso nunca chegaria tão longe.

Idiota do caralho. As senhas de computador não são para


invasores domésticos. É para impedir aqueles que se intrometem.

Eu pressiono uma tecla no teclado e um segundo depois, uma


versão mais jovem dele em sua camisa de futebol do Duke's Heart
ilumina a tela.

Ele se parece tanto com meu irmão, é doentio.

Eu me jogo na cadeira e abro um navegador para que possa fazer


o login automático em seu banco...

E então eu congelo.

Não é preciso ser um gênio para descobrir que um homem com


aparelhos de suporte de vida não estaria entrando em sua conta
bancária.

Embora eu tenha quase certeza de que seu acidente não está


levantando nenhuma bandeira vermelha com as autoridades, isso
não significa que seus advogados financeiros não vão vasculhar as
coisas e relatar qualquer coisa considerada suspeita.

Como uma grande parcela de dinheiro sendo transferida poucas


horas antes de sua morte.
Meu estômago embrulha, e sei que estou sendo paranoico com
isso... mas o homem não era exatamente um recluso ou um Joe-
Schmo. Ele era o dono de um time de esportes podre de rico.

E quando um rico morre antes do tempo, independentemente


das circunstâncias, sempre se presume o crime.

Pelo menos, é o que todos os crimes veiculados na TV nos levam


a acreditar.

Eu descanso meus cotovelos na mesa e pressiono as palmas das


mãos nos meus olhos. Estou completamente perplexo quanto ao que
meu próximo passo deveria ser.

Estou começando a me sentir como se estivesse no meio de um


jogo de pôquer fodido.

Devo fazer o login e conferir... assim posso ver o que o flop 5


trará? Ou cubro meu traseiro e desisto antes do flop... por que
minhas cartas não são tão boas para começar?

Então, novamente, qualquer jogador de pôquer decente sabe que


é menos sobre as cartas e mais sobre como você joga a mão que
recebeu.

Se você jogar com uma boa estratégia, ainda pode ganhar com
uma mão ruim.

Eu estalo meus dedos e retiro meu telefone. Meu melhor curso


de ação é ir direto à fonte.

Meu pai nunca se mexeu sem consultar Bob, seu advogado


financeiro e amigo íntimo. E para minha sorte, eu o conheço muito
bem. Ele até puxou alguns pauzinhos e me conseguiu um estágio em
uma corretora de valores no verão passado.

5
Termo utilizado no poker. É quando a mesa mostra as cartas.
Não sei por que não pensei em ligar para ele antes.

Bob, como a maioria dos advogados, queima o óleo da meia-


noite, então não fico surpreso quando ele atende ao primeiro toque.
— Ei, Preston. Eu ainda estou procurando saber como tudo
aconteceu. Eu sinto muito.

— Sim. — Minha voz transmite a quantidade certa de tristeza.


— Obrigado, Bob. Tem sido... — Eu paro para um efeito dramático.
— Foi um dia muito difícil.

— Eu aposto. Tentei dizer a ele que nomear um procurador de


saúde sem instruções explícitas sobre medidas de suporte à vida não
era o ideal, mas ele não deu ouvidos. — Ele suspira pesadamente. —
De qualquer forma, me desculpe por não ter ligado para você antes,
garoto. Estou um pouco ocupado com a papelada. Além de atender
a todos os telefonemas de sua mãe, é claro.

Eu o ouço acender um fósforo no fundo. — Eu a lembrei com o


que ela concordou no caso de sua morte, quando ela assinou aquele
acordo pré-nupcial horrível, mas nem é preciso dizer que ela ainda
está irritada.

Com isso, meus ouvidos se animam... até que ele diz: — Não
quero ser rude nem nada, mas seu irmão está por perto por acaso?

Sua pergunta me surpreende. — Não, ele vai passar a noite com


a namorada. — Eu me sento direito. — Eu posso dizer a ele para
ligar para você, no entanto. É uma emergência? Algo importante que
você precisa dizer a nós dois?

— Não exatamente, mas é urgente. — Ele dá uma longa tragada


no cigarro. — Considerando o quão irada sua mãe está, eu acho que
é melhor eu sentar e conversar com ele antes que ela volte para casa
e as coisas fiquem feias. Ela já está ameaçando colocá-lo em outra
instalação e contestar o testamento.
Uma sensação estranha sobe pela minha espinha. Não é que o
que ele está dizendo não faça sentido. Na verdade, faz todo o sentido.
O corpo do homem ainda nem está frio e ela já quer fazer o inferno.

O que não faz sentido, entretanto, é por que Bob está pedindo
para falar com Asher quando eu sou o principal beneficiário.

Os nervos se acumulam no meu estômago e eu desabotoo os


primeiros botões da minha camisa, esperando que ela me livre dessa
sensação constrangedora.

Quando isso não funciona, eu me aproximo e me sirvo de um


copo do uísque mais caro do bar. Macallan 25.

Eu tomo um gole refrescante e chego à conclusão óbvia de que


meu pai deve ter colocado Asher de volta no testamento, afinal.

Não estou chateado, visto que estava planejando fazer um


cheque para ele de qualquer maneira.

Levo meu copo aos lábios, refletindo sobre suas palavras de


antes. — Sim, provavelmente é uma boa ideia nós três nos reunirmos
e formular um plano sobre como lidar com ela.

Ele fica em silêncio por um longo momento antes de dizer: —


Claro. Seu irmão vai precisar de todo o apoio que puder conseguir
quando ela voltar para casa, já que ela vai lutar com unhas e dentes.
— Ele engole em seco. — E você sabe que sempre fico feliz em sentar
e dar conselhos sobre suas aulas em Yale.

De repente, a transferência estúpida é a menor das minhas


preocupações e a sensação de mal estar no estômago está de volta
com força total.

O que diabos está acontecendo?


— Eu agradeço isso, Bob. Terei certeza de abordar isso em breve.
No entanto, eu realmente quero falar sobre o testamento de meu
pai... visto que ele me informou há alguns meses que eu era seu
principal beneficiário.

Meus dedos batem contra a mesa. Confere.

Vamos, Bobbie. Vamos ver aquele flop.

— Você sabe, pensando bem. Acho que estamos nos adiantando


um pouco aqui. Provavelmente, é melhor esperarmos para ver o que
os próximos dias trarão antes de discutirmos isso mais adiante.

Ele está contornando, não há dúvida, mas mantenho a calma, e


o levo ao confronto direto.

— Segundo os médicos, ele não vai sair dessa. Portanto, não


vejo realmente sentido em prolongar isso e esperar o inevitável. E até
um momento atrás, você também não, visto que foi tão rápido em
querer falar com meu irmão sobre isso.

Ele limpa a garganta. — É minha opinião profissional que você


deve esperar e ver se receberá uma cópia do testamento antes de
tirar quaisquer conclusões.

Oh, agora ele vai ficar todo profissional comigo. Foda-se isso.

O suor escorre pelas minhas costas e minhas mãos se apertam


ao lado do corpo. A maioria dos jogadores de pôquer diria que estou
passando por um tilt agora. O que é uma boa maneira de dizer que
suas emoções estão dominando você e que você precisa desistir
porque não consegue pensar com clareza.

A pior coisa a fazer quando isso acontecer é continuar jogando.


E você definitivamente nunca quer aumentar ou entregar o all-in.

Porque você perderá tudo.


— Engraçado, porque não me lembro de pedir sua opinião
profissional. Mas, ei, já que estamos trocando conselhos, aqui vai
um... Eu não sou surdo e certamente não sou burro, eu sei o que ele
me disse.

— Ouça, eu sei que você está no limite, mas sou apenas o


mensageiro aqui, — diz ele. — E eu odeio ser o único a dizer isso,
especialmente agora, mas às vezes o que nossos entes queridos nos
dizem não corresponde ao que está expresso em seu testamento.

— Você não precisa me explicar as coisas como se eu fosse uma


criança, Bob. Diga-me quem é o seu principal beneficiário.

— Seu irmão Asher.

Ele diz isso com tanta naturalidade que me dá vontade de


colocar meu punho no telefone.

— Quanto ele está recebendo?

— De acordo com os desejos de seu pai, tudo.

Mas não é o dinheiro de Asher. É meu.

De uma só vez, jogo todas as garrafas de uísque no chão.

— Você ainda é um adolescente, Preston, — Bob diz


freneticamente. — Seu pai provavelmente queria que você se
formasse na faculdade antes de colocar essa responsabilidade sobre
você. Asher é mais velho. Ele está mais maduro. Ele é...

A criança de ouro. O prodígio.

O filho que ele não escolheu para ser sua vítima.

Eu desligo a ligação assim que a Sra. Panfile entra na sala.

Ela tenta olhar para a minha mão que está sangrando, mas eu
a encaminho para a porta. — Dê o fora daqui.
Quando ela não escuta, agarro seu braço e mostro a saída.

E então eu perco minha merda completamente.

Coisas saem voando das prateleiras, lascas de madeira e


rachaduras, vidros se espatifam. Tudo em meu caminho está
destruído até que eu não possa mais suportar o esforço.

Mas não é o suficiente... nunca será bom o suficiente.

Mesmo na morte... ele ainda venceu.

Porque a casa sempre vence.

O ar ao meu redor fica sufocante e a sala começa a balançar.


Preciso encontrar uma maneira de me livrar dessa sensação
rastejando sob minha pele.

Por instinto, eu disco o número de Buster.

Quando ele não atende após o sexto toque, eu amaldiçoo sua


existência. Com tempestade de neve ou não, ser um agenciador de
apostas é uma operação de vinte e quatro horas. O que significa que
é hora de encontrar um novo.

Infelizmente, isso não vai acontecer esta noite, visto que estou
preso até que a neve pare e eles arem as estradas.

Eu preciso escapar.

A claustrofobia faz com que a sensação horrível suba


novamente, só que desta vez, ela ameaça me engolfar por completo.

Grunhindo, eu caio contra a parede e enterro meu rosto em


minhas mãos. Minha cabeça lateja com tanta força que parece uma
bigorna, e distraidamente traço a cicatriz que lateja.

Kit.
Só o pensamento de vê-la amanhã libera um pouco da pressão,
torna mais fácil respirar novamente.

Especialmente porque não há mais uma nuvem negra chamada


Becca pairando sobre nós, nos impedindo de ser amigos.

E Deus sabe que eu realmente poderia usar uma dessas agora.

Mesmo que seja minha culpa, eu não tenho ninguém a recorrer.


Não só afasto as pessoas quando elas chegam perto demais, mas
também não sou exatamente o que você chamaria de acessível.

Na verdade, a maioria diria que sou insondável.

Mas quando falo com a Kit é... não sei.

Talvez seja só isso. Não sei o que quero dela, porque com ela
não há plano.

Tudo que sei é que quero contar coisas a ela. Coisas


importantes. Coisas não importantes. Coisas que nunca admiti para
ninguém.

Também quero ouvir coisas importantes sobre ela, porque são


importantes para ela. E por alguma razão que não consigo
identificar, isso é importante para mim.

Ela é importante para mim.

Antes que eu possa me convencer do contrário, pego o número


dela e pressiono o botão de chamada.

Eu disse a ela que não ligaria de novo na noite passada, mas fiz
essa promessa em circunstâncias diferentes.

Circunstâncias que não existem mais.

A decepção enche meu peito quando vai direto para o correio de


voz.
Eu tomo a decisão em uma fração de segundo de deixar um
recado, principalmente porque eu sei que não tenho a menor chance
de ela me ligar de volta, a menos que eu dê a ela um bom motivo
para isso.

— Eu vou ir direto ao ponto. Acho você interessante, genuína e


um pouco estranha como eu, para ser honesto. — Eu continuo sem
parar para respirar. — Sempre que falo com você, saio me sentindo
uma pessoa melhor. Não porque você seja particularmente
inspiradora ou algo assim. Sem ofensa. Mas porque me sinto um
pouco mais humano. Um pouco menos sozinho.

Eu estremeço. — Porra, isso foi extravagante. Tão extravagante,


eu deveria pegar minhas bolas de volta, deletar e começar de novo.
— Eu inalo uma respiração. — Mas eu não vou... porque é real. — O
fantasma de um sorriso toca meus lábios enquanto penso em nossa
conversa na ponte. — E você, Kit Bishop, merece a porra do negócio
real.

Eu desligo e expiro pesadamente enquanto a realidade da


situação se instala sobre mim.

Em algum lugar entre todas as mentiras de Becca e minhas


idiotices monumentais... Acabei pegando alguns sentimentos
peculiares por uma garota que deixou claro que não quer nada
comigo.

O som da porta se abrindo atrai minha atenção e quando vejo a


Sra. Panfile parada lá com um kit de primeiros socorros e um olhar
preocupado em seu rosto, não posso deixar de sentir uma pontada
de remorso.

Ela deve sentir que é seguro agora porque se ajoelhou ao meu


lado e começou a cuidar da minha mão.
— Minha vida foi uma merda completa nas últimas vinte e
quatro horas — eu grito, porque explicações e desculpas são a
mesma coisa para mim.

Eu levanto meu telefone. — Para piorar, meu agente de apostas


não está atendendo.

Suas sobrancelhas franzem em confusão... e então ela sorri e


puxa um baseado do avental.

Ela claramente confundiu agentes com traficantes, mas sei que


não adianta explicar a diferença para ela, porque ela não vai
entender.

Em vez disso, aceito o baseado e acendo. Infelizmente, tudo o


que faz é me deixar desejar mais estar participando do meu
passatempo favorito.

E assim, o desejo está rastejando sob minha pele novamente,


ainda mais forte do que antes.

Ela faz menção de se levantar, mas eu pego sua mão e lanço um


sorriso que a faz corar. — Você já jogou pôquer, Sra. Panfile?
VIII

“SE O AMOR NÃO ESTIVER COMPLICADO, ENTÃO


CLARAMENTE SOU MUITO RUIM NISSO.” — KIT BISHOP.

— Você está perto?

O fato de ela sempre ter que perguntar, deveria ser um sinal a


ela que não estou.

Então, novamente, a maior parte do nosso relacionamento


sexual consistia em eu dar prazer a ela o tempo todo e raramente
vice-versa, então eu acho que realmente não é nenhuma surpresa.

— Eu não posso fazer isso.

Eu levanto antes de fazer algo estúpido que vai aumentar ainda


mais o meu lapso horrível de julgamento, como pedir desculpas por
não ter um orgasmo.

Ela se levanta lentamente, incrédula. Como se ela estivesse


perplexa que apenas o mero pensamento dela me derrubando não
fosse suficiente para fazer o trabalho.

E embora eu admita que no passado poderia ter acontecido, isso


foi antes.

Antes que ela traísse. Antes de ela engravidar. Antes que ela
jogasse a merda fora de mim.

Seus lábios se apertam. — Da última vez que verifiquei, não era


você que estava fazendo algo.
Eu olho para ela. — Eu não quero dizer sexo. — Eu puxei minhas
calças mais rápido do que a velocidade da luz. — Quero dizer nós.

Sua expressão se suaviza. — Qual é, Kit. Não seja assim.

Ela tenta me alcançar, mas eu recuo. — Você estava usando


lingerie vermelha.

Sai antes que eu possa me impedir.

Ela ergue uma sobrancelha. — Huh?

— Ontem, — eu sussurro, a memória rasgando através de mim


novamente. O mesmo que ricocheteou como um pingue-pongue em
minha mente desde o momento em que Becca estacionou o rosto
entre minhas coxas.

Por que a percepção tardia só acontece depois que você toma


decisões erradas?

— Você me disse que nunca o amou e acabou, mas você usou


lingerie sexy para ele ontem.

Um Preston sem camisa parado em uma porta pisca diante dos


meus olhos e meus dentes estalam.

Ela empalidece. — Você sabe que eu gosto de usar coisas


bonitas. Isso não significa nada, boneca. Juro.

Não sei o que me deixa mais enjoada. Becca mentindo bem na


minha cara de novo, ou ela usando seu antigo apelido para mim
enquanto faz isso.

— Eu acho que você deveria ir.

Seu lábio inferior treme e odeio a forma como meu coração se


aperta. Gostaria que o órgão idiota fosse uma máquina imune às
emoções, em vez de ser usado na manga como um acessório de moda.
Aquele que faz as pessoas tratarem como se fosse nada mais do que
uma tendência passageira.

Pessoas como Becca.

Sua mão roça minha bochecha. — Eu sei que te machuquei.

— Sim, você fez. — Você ainda faz.

Ela bagunça as pontas do meu cabelo. — Mas não tome


nenhuma decisão final sobre nós agora, ok? Não sem me dar a
chance de consertar isso para que possamos voltar a ser como
éramos.

— É exatamente isso. — Eu me afasto de seu toque. — Não quero


voltar a ser como éramos. Porque a maneira como éramos acaba com
meu coração ficando partido.

Eu forço as lágrimas que estão a um segundo de escapar. Não


quero mais chorar na frente dela. Não quero dar a ela todo o meu
poder para que ela possa exercê-lo atendendo às suas próprias
necessidades, como sempre parece fazer.

— Eu vou tomar banho. Quando eu voltar, espero que já tenha


ido.

Ela começa a protestar, mas não deixo, porque sei que cada
vogal, cada sílaba que sai de sua boca tem o objetivo de me tirar do
sério.

— Preciso de tempo para pensar e não posso fazer isso com você
aqui.

Depois de trancar a porta do banheiro com segurança atrás de


mim, a primeira lágrima cai.

E elas não param de cair.


Não até que eu a esfregue da minha pele, saia do chuveiro e
ande de volta para o meu quarto para descobrir que ela se foi.

Quando meu despertador dispara ao amanhecer, lembro-me


vagamente de ter dito a Breslin que cobriria seu turno matinal na
cafeteria.

Com um grunhido, eu deslizo minha mão para fora das cobertas


e pego meu telefone para dizer a Larry - cujo nome eu só me
preocupei em aprender depois de trabalhar para ele por quase dois
anos - que estou cinco minutos atrasada.

Depois de um minuto sólido jogando alguma versão de Whac-A-


Mole com minha mesa de cabeceira e não encontrando nenhum sinal
do meu telefone, eu saio da cama.

Só para quase tropeçar nele um segundo depois - o que é


estranho, porque tenho certeza de que o coloquei na mesa de
cabeceira para carregar em algum momento na noite passada.

É claro que a coisa está quase morta quando eu o pego, mas


espero o melhor enquanto conecto-o ao carregador e me visto; mesmo
que os cinco minutos que ele está conectado não durem cinco
segundos em meu turno.

Então, novamente, não é como se eu tivesse mais com quem


conversar.

Não desde que meu relacionamento com Becca terminou. Ou


desde que Breslin se envolveu em seu relacionamento não tão secreto
com Asher e Landon.
Ou devo dizer apenas Landon... porque ela se recusa a namorar,
muito menos reconhecer seus sentimentos por seu ex-namorado,
Asher.

Mesmo que Asher e Landon estejam namorando. Eu acho.

Eu esfrego minhas têmporas e faço uma nota mental para


perguntar a ela como as coisas estão entre eles ao decorrer do nosso
almoço de hoje. A última vez que soube, Asher e Landon tiveram uma
grande discussão antes de Landon sair para se apresentar com uma
banda de rock indie na Inglaterra durante as férias de inverno. E de
acordo com Breslin, ele mal falou com nenhum deles desde então
porque ainda está bravo com eles.

Eu olho para o teto e balanço a cabeça. Tudo soa como uma


tigela cheia de sopa de drama.

Ainda mais agora porque Breslin largou tudo para voltar para
sua cidade natal com Asher ontem.

Malditos Holdens. Eles têm um jeito de complicar tudo.

Tento não pensar em um certo Holden enquanto enrolo uma


trança no meu cabelo e verifico meu telefone em busca de chamadas
perdidas ou mensagens de texto.

Quando a única mensagem que aparece é de um cara com quem


eu deveria ter um encontro no final desta semana, graças à minha
avó incorrigível, pego minha bolsa e as chaves e saio correndo pela
porta.

Estou no meio do estacionamento mal arado do dormitório


quando escorrego e coloco minha bunda em uma placa de gelo.

— É bom ver os dólares da nossa mensalidade sendo bem


usados, — grito para o homem da manutenção que observou minha
queda de seu arado de neve enquanto apreciava seu bagel.
Murmurando uma maldição, eu me levanto, convencida de que
a única vantagem nesta manhã sombria é que é o primeiro dia do
meu último semestre antes de me formar na faculdade.

Um nó se forma no centro do meu peito quando penso em como


é uma pena que meus pais não estejam aqui para testemunhar.

Você pensaria que eu estaria acostumada com isso,


considerando que já faz tanto tempo, mas não importa quanto tempo
tenha passado, ainda dói.

Ainda mais com cada marco que se aproxima, porque é um


lembrete de quantos eles perderam... e por quantos mais eles não
estarão aqui.

Eu endireito meus ombros e me forço a não pensar mais nisso


enquanto destranco meu carro. Eu sei que é isso que meus pais
gostariam que eu fizesse.

Eles iriam querer que eu fosse feliz e positiva como sempre


foram.

Eles me diziam para esquecer o passado... porque todo


amanhecer é o início de um novo dia. Uma chance de fazer ótimas
novas memórias.

Sou a primeira a admitir que nem sempre é fácil para mim ser
otimista sobre as coisas. Na maioria das vezes, fico com raiva do
mundo por ter tirado meus pais de mim tão jovem.

Mas quando eu paro e percebo que o nascer do sol está rosa esta
manhã, não posso deixar de sorrir, porque sei que é a maneira do
universo de me dizer que meus pais ainda estão comigo.

Talvez hoje seja um grande dia afinal.


IX

“QUERO ESTAR COM VOCÊ. É TÃO SIMPLES E TÃO


COMPLICADO ASSIM.” — CHARLES BUKOWSKI

A estrada pela qual estou viajando parece durar para sempre,


apesar do sol brilhando e das estradas claras à minha frente.

Eu verifico o tempo no meu relógio desde que levantei mais tarde


do que eu queria esta manhã - graças a um pouco de maconha, álcool
e deixando a Sra. Panfile me empurrar para um jogo de strip poker
depois que tirei todo o seu dinheiro.

Acordar ao lado de uma governanta nua de 62 anos me


acariciando não é uma experiência que eu gostaria de repetir.

O que significa que preciso me recompor.

Como se fosse uma deixa, eu olho para o meu telefone e cerro


os dentes.

Nunca fui o tipo de cara que tem que esperar uma garota ligar
e não posso dizer que gosto disso.

Eu ignoro a sensação estranha roendo meu estômago quando


percebo que Becca não ligou também. Não que eu queira que ela o
faça, mas estaria mentindo se dissesse que não esperava que ela se
rebaixasse depois de obter os resultados.
Então, novamente, ela provavelmente sabe que há uma chance
melhor de ser atingida por um raio duas vezes do que me ter de volta
depois do que ela fez.

Eu ligo o rádio, esperando que a distração acabe com todos os


pensamentos sombrios que ameaçam se libertar e me ajude a me
concentrar em consertar as coisas com Kit em vez disso.

Não tenho ideia do que dizer quando a vir. Acho que devo
começar com o motivo que dei a Asher na noite passada, mas então
tenho medo que ela veja através de mim e saiba o quanto me mata
saber que o bebê não seja meu.

Também não quero dar a ela nenhum motivo para pensar que
estou preso a Becca. Ou que só estou tentando ser amigo dela para
poder usá-la para deixar Becca com ciúmes... porque então nossa
amizade acabará antes de começar.

Mas se eu não contar a ela sobre os resultados da paternidade


primeiro, ela provavelmente não vai me dar atenção ao me ver.

A rocha encontra o ponto difícil.

A determinação surge em meu corpo como um fio elétrico e eu


pressiono o acelerador até estar voando pela rodovia.

Mesmo que as cartas estejam contra mim... Vou fazer minha


aposta e deixar as fichas caírem onde puderem.
X

“FOI A POSSIBILIDADE DE ESCURIDÃO QUE FEZ O DIA


PARECER TÃO BRILHANTE.” — STEPHEN KING.

— Vá embora, — eu digo ao imbecil batendo na minha porta


debaixo das minhas cobertas.

Meu turno na cafeteria acabou de terminar e como Breslin está


atrasada e não estará aqui para o almoço, decidi aproveitar a hora
que tenho antes de minha aula começar e colocar o sono em dia.

Batida. Batida. Batida. Batida. Batida.

Evidentemente, alguém com desejo de morrer considerou isso


impossível.

Eu saio da cama e tropeço para a porta, pronta para repreender


Becca por não me dar o espaço que eu pedi a ela.

As palavras que eu estava pronta para dizer desaparecem


quando coloco minha máscara de dormir para cima e vejo Landon
parado ali.

A julgar por sua aparência e o fato de que ele cheira como se


estivesse tomando banho de álcool por um mês direto, eu diria que
ele teve bastante tempo para ser uma estrela do rock na Inglaterra.

Enquanto eu continuo olhando para ele através da minha visão


apertada, eu vagamente me lembro de Breslin mencionando que sua
turnê não terminaria até o final desta semana.
Então, por que ele está aqui agora?

Pensando bem, não me importo. Estou muito mais aborrecida


com meu sono interrompido do que curiosa.

— Você sabe, existem essas coisas bacanas chamadas telefones.


Você pressiona alguns botões e isso permite que você fale com
alguém sem ter que acordar uma pobre pessoa inocente com suas
batidas implacáveis. Você deveria tentar alguma hora.

Seu rosto cai e eu me sinto uma vadia por brigar com ele.
Landon é um amor e, ao que parece, ele já está tendo um dia ruim.

Eu aceno para ele entrar. — Ela ainda não voltou.

Ele dá um passo hesitante para dentro. — Deixei meu celular


no avião.

Pego meu telefone do carregador e entrego a ele. Ele morreu


quando eu comecei a trabalhar, mas deve ter energia suficiente para
fazer uma ligação rápida.

— Divirta-se.

Ele o encara com cautela, como se eu tivesse acabado de


entregar a ele um estoque de drogas roubadas do cartel, em vez de
um dispositivo de comunicação.

Mas que porra. Eu posso dar um beijo de adeus naquele cochilo.

— Ugh — Eu ando pela sala, recolhendo minhas coisas. — OK,


vamos lá.

Ele levanta uma sobrancelha escura em questão. — Ir aonde?

Jogo um moletom pela cabeça. — A cafeteria. — Pego minha


jaqueta e a mochila em seguida. — Breslin ainda não está em casa e
você obviamente precisa de alguém para conversar, antes de fal ar
com ela. Além disso, fico mal-humorada quando estou com fome,
então você vai me pagar o almoço.

— Estou bem.

Quando eu olho para ele, ele diz: — Tudo bem, não estou bem.
Estou com ciúme e não sei como fazer isso passar.

Aponto para a porta porque odeio dar conselhos com o estômago


vazio. Mesmo que a solução para essa porra de grupo gigante seja
clara como o dia.

— Você não está com ciúmes, Landon. Isso implicaria que você
tem inveja do que outra pessoa tem. Mas você já tem o que Asher
tem. — Eu paro, percebendo que estou deixando o outro de fora. —
E o que Breslin tem.

Começamos a andar pelo corredor. — O que você está se


sentindo, meu amigo, é ameaçado.

Ele pensa sobre isso por um momento antes de dizer: — É justo.


Eu continuo tentando superar isso, mas sempre que os imagino
juntos sem mim eu...

Pensando seriamente em lavar seu cérebro com ácido apenas


para tirar a imagem deles juntos da sua cabeça para sempre?

Espere, isso não é sobre mim.

— Dói? — Eu ofereço.

Ele balança a cabeça. — Medo. Eles têm uma conexão e um


passado com os quais nunca poderei competir.

— Então por que você está fazendo isso? Tentando competir com
isso, é claro.
Por que eu estou? Apesar de Becca jurar que eles acabaram,
Preston e Becca ainda estão tendo um bebê juntos. Jamais poderei
lidar com esse tipo de vínculo.

Ele franze a testa. — Porque eu os amo e não quero perdê-los.

Eu ouço você alto e claro, irmão.

Becca não está apenas sob minha epiderme, ela está sob todas
as camadas do meu coração. E ela está apodrecendo como um caso
de mofo.

Eu me concentro em Landon e seus problemas. — Olha, eu não


sei merda nenhuma sobre estar em um relacionamento poli amoroso,
e Deus conhece o pensamento de um pênis, quanto mais dois, me
deixa seriamente doida, mas eu me apaixonei mais de uma vez na
minha vida.

Quarenta e nove vezes para ser exata.

— Ok, — ele fala lentamente, parecendo confuso.

Eu paro no meio do caminho e olho para ele porque preciso que


ele entenda onde estou indo com isso. Posso não ser capaz de
consertar meu coração partido, mas sei sem dúvida que Breslin, e
até mesmo Asher - apesar de ser um grande idiota às vezes - o amam
profundamente e não vão parar por nada para consertar o dele. Só
isso me diz que seu relacionamento - por mais não convencional que
seja para estranhos - vale a pena ser resgatado.

— Você se apaixonou por Breslin pelos mesmos motivos que


você se apaixonou por Asher?

Ele passa a mão no queixo. — Não. Razões inteiramente


diferentes. Mesmo sentimento, mas os dois não são mutuamente
exclusivos, porque não são a mesma pessoa. Sinto-me atraído e
valorizo diferentes aspectos deles individualmente.
Ele levanta a caixa do violão no ombro. — Breslin porque ela é
agressiva e teimosa, mas por trás desse exterior rígido ela é sensível
e calorosa. — Ele bate no peito. — Nós corremos no mesmo
comprimento de onda e eu posso ser eu mesmo perto dela, sem
pretensões. Ela me entende e me aceita como eu sou. E mesmo
quando ela me frustra, de alguma forma fico em paz quando estou
com ela.

Sento-me em um banco do pátio porque tenho a sensação de


que isso pode demorar um pouco. — E Asher?

— Asher é um curinga. Superficialmente, ele é imprevisível,


imprudente e egocêntrico. E, no entanto, há uma profundidade
genuína nele, uma vez que ele deixa você entrar. — Ele balança os
calcanhares. — Ele me desafia e embora sejamos opostos, de alguma
forma nos encaixamos quando estamos juntos. Ele é meu melhor
amigo e rival em um só lugar. Somos turbulentos e complicados, mas
isso faz parte do sorteio.

Eu estudo seu rosto, me perguntando qual é o problema. — Não


entendo por que você se sente ameaçado pelo que eles têm, quando
parece que você também tem algo incrível com eles.

Eu levanto um dedo porque ainda não terminei. Às vezes,


pessoas de fora podem ver objetivamente coisas sobre os
relacionamentos das pessoas que as pessoas que estão dentro, não
conseguem, porque estão muito confusas com seus sentimentos.

E um cara sensível e atencioso como meu amigo Landon tem


muitos sentimentos. O que significa que ele está muito nublado.

— A conexão e o passado deles não negam a conexão que eles


têm com você, porque se isso acontecesse, ninguém estaria lutando
para fazer esse relacionamento funcionar. Um ou todos vocês já
teriam desistido.
Eu fico de pé porque falar sobre emoções está me deixando com
mais fome a cada segundo. — Eu entendo que você está inseguro e
com medo de que eles vão correr para o pôr do sol sem você, mas
olhe para o quadro geral aqui. Se eles não quisessem ou amassem
você, eles o teriam deixado para ficar um com o outro. Você dá a eles
algo que o outro não pode. E antes que você fique chateado, isso não
significa que você está carente, simplesmente significa que você é
importante, Landon. Você é importante para eles. Pelas mesmas
razões que são importantes para você. — Eu dou um tapinha em seu
ombro. — Você não é uma peça sobressalente. Muito pelo contrário,
na verdade, você é a parte que os torna completos. E eu aposto que
se você comunicasse e contasse a eles suas preocupações, eles iriam
tranquilizá-lo de uma forma que eu não posso.

Ele sorri e vejo um pouco da tensão que ele carregava


desaparecer.

Ele aponta para o refeitório. — Vamos, Kit. Você mereceu aquele


almoço. Vou comprar para você o que quiser.

Se a ideia de beijar um cara não arruinasse meu apetite, e ele


não estivesse namorando minha melhor amiga, eu totalmente
apostaria nele agora.

Eu esfrego minha barriga enquanto caminhamos pelas portas


do refeitório. — Bom, porque estou morrendo de fome. — Eu faço
uma careta. — Eu tive que fazer cinco horas inteiras de trabalho
escravo no café sozinha esta manhã.

Ele ri enquanto procuramos uma mesa vazia na sala semicheia.


— Também conhecido como trabalho?

Estou prestes a fazer minha própria piada, mas localizamos uma


mesa bem no fundo e nos dirigimos para ela.
Trocamos um olhar quando vemos um cara vestindo uma
jaqueta preta curvado no final, de costas para a parede.

Dado que seu capuz está colocado e ele está de bruços,


descansando a testa em seus braços, ele está claramente dormindo.

Acho que esse cara pode ser meu animal espiritual.

— Ei — digo em sua direção, só para ter certeza de que ele não


está entediado enquanto espera por alguns amigos. — Se importa se
nos juntarmos a você?

Quando não há resposta, dou de ombros e me sento.

Eu luto contra a vontade de provocar Landon sobre como esse é


o protocolo padrão para quem está dormindo.

Landon coloca o estojo do violão no chão e agarra a cadeira à


minha frente. — Pronta para levantar e pegar comida?

Claramente, meu amigo não entendeu a parte sobre eu estar de


pé por cinco horas. Então, novamente, o cara trabalha em vinte
empregos diferentes... além de ser um graduado duplo que também
está na lista do reitor.

Eu abro meus braços. — E desistir deste assento nobre? Oh não.


Vou querer o clube de abacate e frango grelhado, no entanto. — Eu
dou a ele um sorriso de comedor de merda. — Dois deles... e um Dr.
Pepper.

— Entendi. — Ele se levanta. — Cuidado com o violão.

Eu começo a acenar para ele porque não é como se eu fosse


deixar alguém se intrometer e roubá-lo... mas eu olho para cima e
os pelos minúsculos na minha nuca se arrepiam.
Preston Holden está indo direto para nossa mesa, e as bordas
duras de sua mandíbula estruturada, combinadas com o olhar
severo em seus olhos me dizem que ele está pronto para a batalha.

Sinto a cor sumir do meu rosto quando percebo que ele deve
estar aqui para me confrontar sobre Becca.

Quero dizer, é claro que ele faria. Ela é a mãe de seu filho... e
eu...

Merda. O que exatamente sou nesta situação?

Meu estômago embrulha quando se trata de mim.

Merda. Eu sou uma destruidora de lares.

Eu puxo Landon de volta para seu assento. — Não vá.

— O que? — Ele vira a cabeça. — Por que... — Suas palavras


caem quando ele vê Preston.

Eu olho para a saída, me perguntando se tenho tempo suficiente


para sair correndo antes que ele chegue.

Minhas esperanças logo são frustradas porque Preston está


parado na nossa frente um momento depois, graças à sua estatura
assustadoramente alta e pernas longas.

— Ei, podemos conversar?

Eu silenciosamente espero que sua pergunta seja dirigida a


Landon.

Estou sem sorte, porque esses olhos estão exclusivamente fixos


em mim.

— Desculpe, não posso. — Eu me levanto tão rapidamente que


minha cadeira sai voando. — Minha aula começa em alguns minutos.
Quando ele abre a boca para protestar, acrescento: — Breslin
estará entrando por essas portas a qualquer minuto e não vejo minha
melhor amiga há quase um mês. — Pego minha mochila. — Amigos
antes das putas e tal.

Eu aceno para Landon se levantar para que eu possa parar de


divagar como uma idiota e ir embora.

Ele olha entre nós, parecendo inquieto. — Escutem, rapazes, eu


não...

— Você deveria estar na prisão, — Preston grita abruptamente,


interrompendo-o.

Amado Jesus. Está na ponta da minha língua argumentar que a


prisão é um pouco dura para minhas transgressões e lembrá -lo de
que Becca era minha primeiro, mas o cara no final da nossa mesa se
levanta sem aviso, se agarra nas costas da minha jaqueta, e me puxa
para ele.

— Que porra é essa? Pare com isso.

Não só odeio ser maltratada, mas, honestamente, não tenho


ideia do que está acontecendo ou qual é o problema desse cara.

Preston que estava visivelmente irritado fica pálido de repente...


e é quando eu sinto algo frio e duro contra minha têmpora.

Eu não tenho tempo para surtar por ter uma arma apontada
para minha cabeça; porque num piscar de olhos, o cara estende o
outro braço e abre fogo no refeitório.

Não há nada além de gritos de terror de gelar os ossos enquanto


uma enorme onda de pessoas corre para as saídas.

Li sobre tiroteios em escolas no jornal, vi cobertura no noticiário


e vi retratos em filmes de segurança escolar.
Mas nenhum desses poderia ter me preparado para o que
realmente é.

Não há nada mais angustiante do que perceber se você vive ou


se torna outra estatística em uma placa memorial... dependendo de
algum psicopata com o dedo no gatilho.

Quando vejo que nem Landon nem Preston se movem, abro a


boca para dizer a eles para me esquecerem e saírem enquanto ainda
podem, mas o cara que está me segurando sob a mira de uma arma
zomba: — Corra e eu a matarei. — E meu estômago cai livre.

— Kyle, não faça isso, cara... — Preston começa a dizer, e eu


quero perguntar a ele como ele sabe o nome desse maníaco, mas
então algo absolutamente horrível acontece.

O cara aponta sua arma para a massa de estudantes que estão


lutando para sair vivos.

E então ele puxa o gatilho... várias vezes.

Acontece tão rápido que é quase como se eu estivesse em um


sonho. Não, um pesadelo.

Meus ouvidos zumbem e a multidão já petrificada se torna


violenta enquanto todos se empurram e se atropelam para passar
pelas portas duplas.

Cometo o erro de olhar para baixo e perceber o sangue se


acumulando de dois corpos no chão.

Oh Deus. Isso não pode estar acontecendo.

Eu quero fechar meus olhos e gritar toda a dor como eu


costumava fazer quando eu era uma garotinha.

Mas não posso... porque ainda estou no olho da tempestade.


Tudo ao meu redor gira e a bile sobe pelo meu esôfago quando
reconheço um dos corpos, como Kelly da minha aula de economia.

Lágrimas embaçam minha visão e meus joelhos dobram quando


vejo o caderno roxo encharcado de sangue bem ao lado dela.

Não importa mais que eu a achasse chata e ela pensasse que eu


era uma aberração de sapatões.

Nenhuma dessas merdas superficiais importará novamente.

Porque ela está morta.

Eu congelo, paralisada de medo.

E ele vai me matar também.


XI

“A MORTE NÃO É COMPLICADA. ACEITAR QUE VOCÊ VAI


MORRER, É.”— PRESTON HOLDEN.

Controle-se, Kit.

Eu silenciosamente peço que ela olhe para mim, mas ela está
completamente fora de questão.

Não posso dizer que a culpo. Não é apenas um lunático


apontando uma arma para a sua cabeça, ela simplesmente
testemunhou duas pessoas sendo baleadas e mortas.

Eu mudo meu peso para um pé e depois o outro, me


perguntando como diabos Kyle conseguiu sair da prisão em primeiro
lugar.

Duvido que ele pagou fiança, considerando que atirou em uma


enfermeira no hospital antes de tentar atacar Breslin. E Deus sabe
que ele não é experiente o suficiente para não apenas chocar, mas
efetivamente executar um plano de fuga nas poucas horas em que
ficou preso.

E não esqueçamos o fato alarmante de que ele não tem uma,


mas duas armas.

Eu vejo Kyle apontar uma daquelas armas para Landon. — Você


- pegue a sacola debaixo da mesa e tire todas as cordas elásticas.
Então, eu quero que você feche as portas com elas. Estarei de olho
em você, então certifique-se de deixa-las bem firmes. Entendeu?
Quando Landon acena em concordância, ele cava a arma na
têmpora de Kit. — Se você sair correndo por aquelas portas, vou
matá-la e depois a ele. A vida deles está literalmente em suas mãos
agora, quatro olhos. Entendeu?

Não sei muito sobre o namorado do meu irmão, mas sei que ele
é um cara sério.

No entanto, isso é vida ou morte, não desistir da última fatia de


pizza.

O que pensamos que sabemos sobre os outros não significa nada


quando as apostas são tão altas.

Eu sairia por aquela porta e nunca olharia para trás se tivesse


a mesma oportunidade.

Meus olhos caem em Kit novamente, e o terror absoluto que vejo


naquelas esferas cor de avelã faz algo em meu peito apertar.

Eu tenho que desviar minha atenção de volta para Landon


porque olhar para ela tão assustada e frágil fode minha cabeça e eu
não consigo pensar direito.

Eu observo com perplexidade quando ele puxa uma bolsa preta


com a palavra Polícia debaixo da mesa antes de localizar as cordas
elásticas.

Meu cérebro tenta juntar algumas peças novamente, mas então


Kit engasga, — Por favor, não.

Como Kyle roubou uma bolsa de polícia agora é a última das


minhas preocupações... porque tudo que me importa é fazer o que
for preciso para manter a tristeza longe da voz dela.

— Eu não vou fugir, — Landon garante a ela. — Eu prometo.


Posso praticamente ouvir seu coração bater a cada passo que
ele dá em direção às portas e me ocorre o quão brutal isso deve ser
para ela.

Se Landon fugir, Kyle vai nos matar.

Mas no caso de Kit, não é apenas o medo da morte que a faz


entrar em pânico.

É o medo de ser abandonada e deixada para morrer como seus


pais foram.

Primitivamente, dou um passo em sua direção.

— Ninguém se move até que as portas estejam fechadas, — Kyle


late para mim. — Então podemos começar a festa. — Seus olhos se
estreitam. — Talvez eu dê mais uma mordida na maçã suculenta da
árvore genealógica Holden e faça disso uma festa de verdade.

A raiva bombeia pelo meu sangue e se não fosse por Landon


quase derrubando as cordas elásticas e o suspiro alto de Kit - me
lembrando que há outras pessoas aqui comigo - eu perderia a cabeça
e faria algo que poderia nos matar.

Basta dizer que suas reações me dizem que eles sabem


exatamente quem Kyle é agora.

No entanto, me ocorre que Kyle não tem ideia de quem é Landon


- porque tenho certeza de que se o perseguidor louco de Asher
soubesse que ele era o namorado do meu irmão... ele já o teria
matado.

Landon parece assustado; e por uma fração de segundo, acho


que ele vai fugir.
Eu mantenho meus olhos treinados nele enquanto ele termina
de trancar as portas... até que o elevador do outro lado do refeitório
toque.

O cara corpulento segurando uma câmera parece


absolutamente horrorizado quando as portas se abrem e ele vê um
homem apontando uma arma para ele.

Um milissegundo depois, Kyle puxa o gatilho e atira duas balas


em seu peito, fazendo com que seu grande corpo caia entre as portas
do elevador.

Toda a sua vida terminou em um piscar de olhos.

Kit começa a soluçar histericamente e Landon cambaleia de


volta para nós.

E Kyle, bastardo que é, passa o braço em volta da cintura de Kit


antes de começar a arrastá-la ao redor da sala como um brinquedo.

— Agora que já está tudo resolvido — ele diz, apertando seu


aperto sobre ela.

Kit estremece em meio às lágrimas e meu sangue ferve, porque


ele a está segurando com tanta força que não há dúvida de que a
está machucando.

Abruptamente, ele para de se mover e foca sobre Landon. —


Sabe, não tenho certeza do que fazer com você. — Ele gesticula para
mim e Kit com a arma na mão direita. — A melhor amiga e o irmão
são ativos valiosos no meu plano de vingança. Mas você? Você não
serve a nenhum propósito, o que significa que você é um peso morto
neste cenário. Trocadilho intencional.

Sua declaração é tão errada que é quase cômica. Se ele


realmente quisesse vingança contra meu irmão e Breslin, Landon
seria a maneira perfeita de se vingar, já que os dois estão
apaixonados por ele.

Cristo, é totalmente confuso o quão ignorante Kyle é. Você


pensaria que alguém teria sido mais diligente e feito o dever de casa
antes de fazer algo tão extremo.

Então, novamente, os emocionalmente perturbados não são


conhecidos por serem meticulosos.

A arma na mão de Kyle muda para Landon. — O que significa


que você tem que ir.

Porra, o tiro saiu pela culatra com uma vingança.

— Espere, — eu grito ao mesmo tempo que Kit.

Eu preciso saber o fim do jogo para que eu possa descobrir uma


maneira de nos tirar daqui com vida. — O que você quer, Kyle?
Conte-nos e nós faremos.

— A menos que você o mate. — Kit acrescenta projetando o


queixo para Landon.

Kyle encolhe os ombros. — Todos nós vamos morrer hoje de


qualquer maneira. O que é mais alguns minutos.

No que diz respeito às respostas, essa deve ser a pior.

A história provou que assassinos e terroristas nunca se dão


bem... porque eles sempre morrem junto com suas vítimas.

No entanto, eu esperava que Kyle estivesse delirando o


suficiente para pensar que ele acabaria conseguindo o que queria
com essa provação. Como Asher dizendo que o amava e prometendo
que eles poderiam viver felizes para sempre, e por sua vez; ele nos
libertasse.
Mas o fato de que ele já aceitou sua própria morte... significa
que não temos a menor chance de sairmos desta sala vivos.

Eu engulo e parece que o ácido está descendo pela minha


garganta. — O que exatamente você quer antes que isso aconteça?

Como de costume, o jogador em mim não pode deixar de rolar


os dados.

Um sorriso se estende pelo rosto de Kyle. — Ligue para seu


irmão e conte a ele sobre a pequena situação em que você está.
Certifique-se de colocá-lo no viva-voz para que eu possa ouvir a
agonia em sua voz enquanto ele implora por sua vida.

— OK. — Eu inalo profundamente. — Eu posso fazer isso, sem


problema. Mas primeiro, posso te pedir um favor?

Dizer que ele está surpreso com meu pedido seria um


eufemismo. — O que?

Se minha vida está para acabar... quero pagar minhas dívidas.

E devo a Kit muito mais do que a qualquer outra pessoa.

Porque por algumas horas em uma ponte uma noite... Eu sabia


o que era ter uma conexão genuína com outra pessoa.

E se eu morresse há três meses... nunca teria experimentado


isso.

— Deixe-me trocar de lugar com ela.

Eu sei que Kyle não a deixará ir, mas pelo menos agora ele não
a estará machucando. Ou apontando uma arma para sua cabeça.

Os olhos vidrados de Kit se arregalam e não tenho certeza do


que fazer com a expressão em seu rosto.
Não até que ela me dê aquela cara feia... e eu mordo de volta um
sorriso.

Ela não estaria carrancuda se não estivesse com raiva, e ela não
ficaria com raiva se não se importasse.

Kyle coça a cabeça com uma das armas, interrompendo nosso


pequeno impasse. — Olha, eu não estou interessado em nenhuma
merda de amantes perdidos que vocês dois têm...

— Nós não somos amantes, — Kit interrompe. — Eu não balanço


dessa maneira.

Eu sorrio - sua proclamação afirma que eu a irritei também - e


sua carranca se aprofunda.

Kyle revira os olhos. — Cristo todo-poderoso, não acho que vocês


entendam o significado das palavras não interessado ou morto. —
Ele suspira. — Tudo bem, mas sem graça. Sejam rápidos.

Quando ele a empurra para frente, seus olhos me cortam como


uma faca quente na manteiga.

— Eu devia uma a você — murmuro enquanto trocamos de


lugar.

Ela começa a responder, mas Kyle segura a arma na minha


cabeça e começamos a andar para trás até parar perto do elevador.
— Ligue para Asher.

Pego meu telefone e pressiono o número de sua discagem rápida.

— Eu estava prestes a ligar para você, — disse Asher pelo viva-


voz. — Não vá para Woodside hoje, há um atirador no Campus e a
polícia ligou...

Meu crânio praticamente vibra quando Kyle me acerta com a


arma, incitando-me a falar. — Sim, eu sei. Porque Kyle Sinclair está
atualmente me mantendo sob a mira de uma arma no refeitório. —
Eu olho para Kit. — Kit está aqui também e... — Eu olho para
Landon, que está implorando silenciosamente para eu não dizer seu
nome.

Eu não estava planejando, considerando que a reação de Asher


a essa notícia faria Kyle enlouquecer e atirar em Landon.

Abro a boca para continuar falando com Asher, mas Landon faz
algo peculiar.

Ele sutilmente enrola a manga da camisa para cima, quase como


se estivesse tentando comunicar alguma mensagem secreta para
mim.

Mas a única interpretação que posso tirar dessa ação é que ele
está se preparando para fazer algum trabalho, o que não faria
sentido.

Bem, ou isso ou ele...

Puta merda de jackpot.

Landon tem um ás na manga.

— Sim, essa é a situação agora, irmão.

A respiração de Asher fica irregular na outra linha antes de ele


dizer: — Kyle, eu sei que você está ouvindo agora. Diga-me o que
você quer e eu farei acontecer. Estou dirigindo para o Campus,
estarei aí em menos de cinco minutos. Deixe Preston e Kit irem, eles
não merecem isso.

Há um choro abafado ao fundo e uma voz que soa como a de


Breslin engasga: — Por favor, Kyle, não faça isso. Leve-me em seu
lugar.
— Diga àquela vadia estúpida para calar a boca antes que eu
torne o assassinato da amiga dela longo e doloroso, em vez de rápido
e indolor, — Kyle grita atrás de mim e Kit fica rígida.

— Você não precisa matar ninguém — diz Asher. — Nós podemos


resolver isso, eu sei que podemos. Fale comigo sobre o que está
acontecendo e me diga o que você quer. Estou ouvindo.

Kyle ri loucamente. — Sabe, pensei que matar Breslin seria o


suficiente. Dessa forma, eu poderia fazer vocês dois sofrerem pelo
que fizeram. Ela por ser uma puta de trailer idiota que tirou você de
mim, e você por ainda ser obcecado por uma puta de trailer idiota,
quando você sabe o quanto eu te amo.

A ironia de ele chamar outra pessoa de obcecado não se perde


em mim enquanto ele continua: — Eu me escondi no refeitório hoje
esperando encontrá-la, porque todos nós sabemos que era o lugar
favorito de Breslin para sair na escola e era apenas uma questão de
tempo antes que ela aparecesse.

Ele ri. — Mas então uma oportunidade se apresentou e eu pensei


comigo mesmo: Há uma maneira melhor de fazer os dois pagarem.
Posso matar as duas pessoas que eles mais amam. Dessa forma,
vocês dois terão que viver o resto de suas vidas com a agonia de
perder alguém que amam. Então talvez você saiba como eu me senti,
porque você vai sentir essa dor a cada momento de cada dia.

— Kyle — Asher diz calmamente. — Isso não tem que acontecer.


Eu sei que você está sofrendo e eu sei que você está chateado.
Entendo. Mas não precisa ser assim, você ainda pode ter o que
quiser. Estou parado no estacionamento do meu dormitório agora.
Venha me pegar. Sou seu.

— Tarde demais para isso agora, — Kyle cospe. — Você ouviu


isso?
O som de sirenes à distância faz meu coração bater forte no meu
peito.

Estamos chegando ao fim de nossa corda.

— Você teve sua chance, Asher. Eu te amei tanto, mas você


estragou tudo. Agora é o fim do jogo. A única maneira de qualquer
um de nós sair é em um saco para cadáveres.

Tanto Asher quanto Breslin começam a implorar por nossas


vidas, o que só deixa Kyle ainda mais irado e ele começa a gritar todo
tipo de coisas vis para eles.

Jesus, esse cara tem tanta raiva, tanto veneno dentro dele.

O sangue jorra em meus ouvidos e a dor que atinge minhas


costelas é aguda e lancinante quando me lembro do que ouvi Asher
dizer à polícia.

Eu sei exatamente porque Kyle é do jeito que é.

O conhecimento se assenta como o peso de mil tijolos em meu


peito.

Eu olho para Kit que está tão perturbada que ela não está mais
prestando atenção em nada ao seu redor, e então para Landon que
está focado em Kyle.

Certa vez, li um artigo de segurança que dizia que, se você já foi


mantido como refém, deve continuar dizendo ao agressor seu nome
e algumas outras coisas sobre você... porque isso os força a
reconhecer que você é uma pessoa e não um peão deles.

E embora eu não ache que divagar um monte de fatos


engraçados vai ajudar qualquer um de nós, porque Kyle está longe
demais, e isso só vai deixá-lo mais irritado; eu acho que há algo que
posso dizer a ele com o qual ele pode se identificar.
Mas isso exigiria revelar a única coisa que prefiro morrer do que
contar a outra pessoa. Literalmente.

Meus ombros caem em derrota, porque mesmo que isso


signifique salvar minha vida... Eu não posso fazer isso.

A única coisa que posso fazer é torcer para que o que quer que
Landon tenha na manga funcione.

Provavelmente é a única vez na minha vida que gostaria de não


ter esperança.

Porque a esperança não é sólida, concreta ou tangível.

Não é nada mais do que uma ilusão em que acreditamos porque


odiamos nossa realidade.

A maldita ironia de tudo isso.

Eu entrei nesta cafeteria hoje com o coração cheio de esperança


e determinação, mesmo depois que minha vida foi uma merda... na
esperança de convencer uma garota que me detesta a dar uma
chance ao que quer que seja essa coisa entre nós... o que ela
estivesse disposta a me dar.

Mas recebi muito mais do que esperava porque acabou que a


esperança - a entidade mágica que sempre permaneceu no fundo da
minha alma, apesar de toda a dor... pode ser fatal.

Kit Bishop. Seu nome carrega um peso que não existia antes.

Ela é a garota responsável pela razão de eu estar aqui e pela


razão de eu morrer aqui.

Eu deveria odiá-la por isso. Parte de mim quer. Mas é minha


culpa por deixá-la me impactar em primeiro lugar.
O olhar de Landon trava com o meu novamente e ele vira a
cabeça para a esquerda... silenciosamente apontando para o
elevador que está a poucos metros de distância.

Aquela sendo mantida aberta por um cadáver.

Tenho certeza de que ele está tentando insinuar que o elevador


é uma boa maneira de escapar, já que as portas do refeitório estão
todas amarradas com elásticos.

Eu levanto uma sobrancelha para ele. Embora ele não esteja


errado, acho que não percebeu que Kyle atiraria em nós antes mesmo
de entrarmos.

Só quando ele olha para Kit, que ainda está tremendo e


soluçando, depois para mim de novo, antes de seus olhos pousarem
no telefone que estou segurando para Kyle... que eu conecto os
pontos.

Poderia funcionar se Kyle estivesse distraído. Mas a única


maneira de ele se distrair é se um de nós o atacar, dando aos outros
dois uma chance de fugir.

E o olhar de Landon me diz que ele já está à altura do prato.

Eu balancei minha cabeça. Essa não é uma opção filha da puta.


Estamos juntos nessa.

Ele estreita os olhos, mas o cabelo rosa na minha visão


periférica chama minha atenção.

Kit.

Eu não quero que ela morra.

Eu também não quero que Landon morra, mas se eu tiver que


escolher...
Eu a escolho.

Eu escolho a nós.

Porra. Meu irmão nunca vai me perdoar por isso, mas é a única
opção.

Kyle não vai poupar nossas vidas. Nossas ordens de morte foram
assinadas, lacradas e entregues no momento em que ele colocou os
pés dentro do refeitório com uma arma.

Cabe a nós mudar nosso destino.

Respiro fundo e dou uma última olhada em Landon. Temos uma


chance disso, e nosso melhor curso de ação é agir agora, enquanto
Kyle ainda está preocupado ao telefone.

Não quero que meu irmão ouça o que está para acontecer, então
deslizo meu dedo sobre o botão de desligar... logo antes de largá-lo.

— Pegue isso, — Kyle late, como eu esperava que ele fizesse.

Enquanto eu afundo em meus quadris, faço uma oração


silenciosa para que Landon saiba como dar um soco, e Kyle não puxe
o gatilho.

Tudo acontece tão rápido, é tudo um grande borrão enquanto


Landon ataca Kyle e eu me movo para longe e corro direto para Kit.

Eu ouço Kyle uivar de dor atrás de mim, mas se torna um ruído


de fundo quando eu envolvo meu braço em torno de Kit e prossigo
para arrastá-la, chutando e gritando, em direção ao elevador.

Meu sangue se transforma em gelo e meu coração bate fora do


meu peito quando uma bala passa zunindo pela minha cabeça.

Ela ainda está lutando comigo, então não tenho escolha a não
ser pegá-la e forçá-la a passar pela abertura da porta.
— Landon! — Kit grita enquanto empurro o cadáver que está no
meu caminho para o lado e entro.

A última coisa que vejo antes de as portas se fecharem é o que


parece ser uma agulha de insulina enfiada no olho de Kyle.

Eu começo a sorrir porque foi uma jogada feia, mas então Kit
mergulha para o painel de botões como uma lunática. — Saia do
caminho, idiota. Eu não vou deixá-lo.

Eu a empurro de volta. O sacrifício de Landon não significará


nada se essas portas se abrirem e Kyle nos matar também. — Você
está fora de sua merda...

Sou interrompido pelo som de balas disparando em rápida


sucessão.

Existem apenas quatro botões neste pedaço de merda, incluindo


o botão de parada de emergência, então eu pressiono o único que
posso... o do andar acima de nós.

— O que está lá em cima?

De um modo geral, se há elevador, há escadas que levam ao


mesmo destino.

Eu não recebo uma resposta dela, mas não importa. Não vamos
descer até que eu saiba que é seguro. E como tenho quase certeza
de que Kyle é o último homem de pé, isso demorará um pouco.

Eu bato o botão de parar quando estamos entre os andares... e


é quando um punho atinge minha mandíbula.

Estou muito confuso para falar. Eu sei que ela está chateada,
eu entendo. Eu também não gosto do que aconteceu com Landon.
Mas não entendo por que ela está me tratando como uma espécie de
vilão.
Na verdade, sou o herói dela. Fui eu quem jogou a bunda dela
no elevador, apesar de ela chutar e gritar.

— Temos que ajudá-lo! — Ela me empurra e quando eu não me


movo, ela pula para o painel novamente. — Eu não posso deixá-lo
morrer. Ele é meu amigo.

Eu coloco minhas mãos em sua cintura, segurando-a no lugar.


— Pare.

Ela tenta me dar uma joelhada nas bolas, mas eu torço antes
que ela possa fazer contato. — Acalme-se, Bishop.

— Como você pôde fazer isso com ele?

Meu coração dá um puxão e sei que a culpa que sinto é algo que
carregarei para sempre. — Não havia outra escolha.

— Sempre há uma escolha. — Ela aponta para si mesma. — Não


sou o tipo de pessoa que deixa alguém morrer. Eu não sou...

Ela desaba em meus braços e a tristeza envolve-me como um


grande manto de tristeza.

Deus, meu coração está tão pesado. Tão pesado para o que
aconteceu com Landon. A escolha que fui forçado a fazer. Tão pesado
por como isso vai destruir meu irmão. Como já está destruindo Kit e
fazendo-a reviver o que aconteceu com seus pais.

A pior parte é que não há como consertar isso. Não posso mentir
e garantir que tudo ficará bem. Não posso voltar no tempo e me
recusar a seguir o plano de Landon.

A única coisa que posso fazer é segurá-la enquanto ela


desmorona. — Estou tão...

Não tenho chance de terminar essa frase porque ela estende a


mão ao meu redor e aperta o botão, fazendo o elevador voltar à vida.
Não sei se devo ficar impressionado ou chateado.

Eu vou com chateado. Puto vai nos manter vivos.

Aperto o botão e ele para... e então faço a única coisa que posso
fazer. Para sua segurança e minha.

Eu a encosto na parede, prendo seus pulsos em minha mão e os


prendo acima de sua cabeça. — Se Kyle nos matar, Landon morrerá
em vão. Ele escolheu isso, Kit. Este é o plano que ele bolou. Passe
isso pela porra do cerebelo e deixe marinar, porque eu não sou o
bandido aqui. Eu sou o cara que viu sua chance e a aproveitou.

Seu corpo fica frouxo, sua expressão derrotada. — Te odeio.

— Devidamente anotado.

Seu peito arfa antes que ela solte um grito. Ou o que quer que
esteja entre um grito e um gemido... tudo que sei é que o som me
estilhaça.

Mas não tanto quanto quando aquelas lágrimas voltaram. Muito


mais rápido agora. Só que desta vez, elas estão misturadas com
ondas gigantes de calafrios que assolam seu corpo inteiro, e com
cada vazante da maré, ela clama por sua mãe e seu pai.

Meu Deus. Nunca soube que uma pessoa pudesse chorar tanto.
Tão severamente.

É como se ela estivesse chorando do fundo de sua alma. Se


desfazendo pedaço por pedaço quebrado bem na minha frente.

Não é apenas uma das coisas mais pessoais que já testemunhei.


É o mais triste e angustiante.

Eu desprezo as coisas que isso faz comigo.


Sua respiração acelera, vindo em rajadas curtas e esfarrapadas.
Eu preciso descobrir uma maneira de acalmá-la antes que ela
desmaie.

Eu seguro seu rosto com minha mão livre. — Ganhei meu


primeiro jogo de pôquer quando tinha doze anos. — Espero que ela
olhe para mim antes de continuar. — Meu pai estava com alguns de
seus antigos companheiros de time de futebol durante uma noite e,
embora ele me dissesse que eu não tinha permissão para ficar no
quarto com eles, eu entrei de qualquer maneira.

Eu corro meu polegar sobre sua mandíbula e ela respira fundo.


— Ele decidiu me dar uma lição por desobedecê-lo, então me fez
sentar e jogar. Se eu ganhasse, conseguiria o que queria. Mas se eu
perdesse, ficaria de castigo e confinado em meu quarto pelo resto do
verão.

Seus olhos se arregalam e eu continuo. — As apostas eram


muito altas, mas para o choque de todos, incluindo o meu, acabei
ganhando. Foi a primeira vez que ganhei dele em alguma coisa. A
primeira vez que realmente senti que venci na vida.

Enfio a mão no bolso e tiro o pequeno disco azul. — Esta foi uma
das fichas do pote vencedor naquela noite. Eu o peguei quando ele
não estava olhando e, desde então, sempre o considerei minha ficha
de pôquer da sorte. Sei que a maioria das pessoas vai dizer que sorte
não existe e que não passa de uma ilusão, mas acredito nisso. Eu
me sinto mais calmo e mais no controle da minha vida quando a
tenho.

Ela engasga quando eu coloco a ficha dentro do bolso de sua


calça jeans. — Ilusões nem sempre são ruins, Kit. Às vezes, é a
maneira de sua mente salvá-lo quando a realidade continua
tentando quebrá-lo. Uma maneira de lhe dar algo em que acreditar
quando você não tem mais nada.
Eu descanso minha mão em seu quadril. — Nossa realidade é
uma merda agora e, infelizmente para você, eu não sei nada sobre
confortar alguém. Mas se você puder fingir que não sou seu inimigo
mortal e trabalhar comigo, farei o possível para ajudá-la a superar
isso. Combinado?

Ela me dá um pequeno aceno de cabeça. — Combinado.

Parece que ela quer dizer outra coisa, mas decide não fazer isso.

— O que?

— Eu... — Ela hesita, olha para seus pés. — Breslin me contou


o que aconteceu com seu pai. Sinto que deveria dizer que sinto
muito, mas sei o quão horrível ele...

— Kit. — Minha voz é baixa, letal. — Eu não quero falar sobre


isso.

— Se você mudar de ideia...

— Eu não vou.

Nem agora. Nem nunca. Nem com ela nem com mais ninguém.

Essa boca dela começa a protestar novamente, mas eu a


imobilizo com um olhar gelado, emitindo-lhe um aviso final.

— Certo, tudo bem. Vou desistir.

Seu olhar gira ao redor. — Quanto tempo você acha que vamos
ficar aqui?

— Não muito tempo. — Eu olho para baixo em seu corpo e digo


ao meu pau para não reagir. — Você está com o telefone?

Ela balança a cabeça. — Está no refeitório. Provavelmente sem


bateria agora.
Ela recua e eu reprimo a vontade de perguntar por que ela
nunca me ligou de volta.

Não é como se isso importasse de qualquer maneira. A reação


dela por eu aparecer foi alta e clara.

— Bem, nesse caso, pode levar horas. Talvez dias.

É um tiro barato. Eu sei que ela está com medo e meu ego está
machucado.

Seus olhos ficam grandes. — Dias?

— Pior cenário.

— Qual é o melhor caso?

— Nós saímos daqui inteiros, — eu inexpressivo.

Ela engole. — Certo.

Quando ela começa a tremer, me sinto um idiota. Eu disse a ela


que iria ajudá-la a superar isso e estou fazendo o oposto e tornando
tudo pior. Preciso colocar minhas uvas verdes de lado antes que ela
tenha outro colapso.

— Nós ficaremos bem.

Seu olhar fixo pingue-pongue ao redor. — Estou me sentindo


um pouco claustrofóbica.

Não quero soltar seus pulsos porque não confio que ela não vá
correr para o botão, então puxo para baixo o zíper de sua jaqueta. —
Melhor?

— Na verdade. — Ela ergue os olhos. — Importa-se de me


devolver minhas extremidades?

— Depende. Você está pensando em me socar de novo?


— Você acha que eu te contaria se fosse?

Não posso discutir com essa lógica. — É justo.

Eu a solto e ela não perde tempo tirando a jaqueta dos ombros


antes de pegar a bainha do moletom.

Calor percorre minhas costas e se instala em meu pau quando


ela o puxa sobre sua cabeça e eu pego uma fatia de seu abdômen
tonificado e piercing no umbigo.

— Preston?

Estou tão fixado na sugestão de tinta preta aparecendo acima


do cós da calça jeans que quase não a ouço. — Sim?

— E se ele nos encontrar? — Ela estica o pescoço, olhando para


algo atrás de mim. — Ele poderia escalar o poço do elevador e
encontrar uma maneira de entrar. Não é como se fosse tão difícil,
existem apenas dois andares neste prédio, incluindo o refeitório.
Acontece o tempo todo nos filmes.

Eu sigo seu olhar frenético para o sangue no chão e altero minha


postura, impedindo-a de olhar para ele. — Ele não vai.

Ela aperta a garganta. — Como você pode ter tanta certeza? Ele
é claramente um assassino psicótico que...

Eu levo meu dedo aos lábios dela, silenciando-a. — Eu não vou


deixar ele te matar.

Ela empalidece. — Você não pode prometer algo assim. E por


que você faria isso em primeiro lugar? Não somos nem amigos. E
você deixou L... — A emoção obstrui sua garganta. — Eu não quero
morrer.

Ela está tão vulnerável neste momento, tão flexível. Isso lasca o
gelo ao redor do meu coração.
— Você está certa, não posso prometer isso. Mas o que posso
prometer é que farei tudo o que puder para garantir que sairemos
daqui vivos. Nós dois. — Eu enquadro seu rosto com minhas mãos,
forçando-a a olhar para mim. — Somos eu e você, Nervosinha. Até o
fim, entendeu?

Ela envolve seus dedos em volta dos meus pulsos, me segurando


no lugar. — Você faz parecer que somos uma espécie de dupla
dinâmica.

Eu sorrio. — Quem disse que não somos?

Ela bufa. — Se for esse o caso, acho que você precisa de um


ajudante melhor. Eu sou meio idiota quando se trata de morrer.

— Eu te dei minha ficha de pôquer da sorte, lembra? Então, se


por acaso ele nos encontrar, você ficará bem.

Ela sorri e mesmo que seus olhos estejam inchados e aquela


merda negra esteja manchando suas bochechas, estou
impressionado com o quão linda ela é.

— Você realmente acredita nisso, hein?

— Eu sou um jogador, Kit. A superstição é a nossa religião, os


cassinos são as nossas igrejas e Lady Luck é o Deus que adoramos.

O canto de sua boca puxa para cima. — Eu acho que você quer
dizer Deusa, dado que Lady Luck é uma mulher e tudo.

Eu sorrio. — Isso ela é. É muito divertido ficar de joelhos para


orar.

Ela faz uma careta. — Uau, mesmo em face do perigo você ainda
encontra tempo para ser um pervertido.

— Prioridades, bebê.
Ela faz uma careta. — Não me chame de bebê.

Lá está ela.

Ela cruza os braços com uma bufada e o logotipo em sua


camiseta chama minha atenção. É uma cabra horrível tomando café.
— Qual é o problema com a cabra feia?

Ela olha para baixo. — Isso não é uma cabra, é uma lhama. E
ele não é feio. — A mordida ofensiva em seu tom é adorável. — Eu
trabalho no Java Llama Café.

— Você tem um emprego? — Não adianta esconder minha


surpresa. — Achei que seus pais fossem bilionários e você recebesse
uma mesada todo mês.

Ela enfia o dedo no meu peito. — Ok, primeiro - isso foi rude. E
em segundo lugar, sim, eu tenho um emprego.

— Por quê? Não é como se você precisasse do dinheiro.

— Eu fui com Breslin quando ela se inscreveu. Achei que não ia


doer. — Ela encolhe os ombros. — Além disso, ouvi dizer que fica
bem nos currículos. Eu gostaria de fazer algo mais do que comprar
minha vida depois de me formar. Especialmente porque minha avó
continua insistindo nisso... — Ela acena com a mão. — Não importa,
não é importante.

O fato de ela não me contar prova o contrário. — O que?

Ela revira os olhos. — Por que eu te contaria quando disse que


não é importante?

— Sou alérgico a frutos do mar.

Suas sobrancelhas se erguem. — O que?

— Eu acabei de te dizer algo que não é importante. Sua vez.


— Bem, isso é meio importante...

— Por quê? — Eu descaradamente corro meu olhar de seus seios


pequenos e empinados até a curva de seus quadris e vice -versa. —
Você está pensando em me levar para jantar, Bishop?

— Certo. — Seus olhos se estreitam. — O que acha de um buffet


de frutos do mar à vontade?

— Como algo que você realmente goste.

Sua boca abre em choque, e então ela cai na gargalhada. Não


apenas uma risada comum. Ela joga a cabeça para trás e agarra a
barriga, seu pequeno corpo em convulsão.

A menina ri como ela chora... com todas as partes dela.

Quero ressaltar que foi mais uma réplica divertida do que


engraçada, mas a visão dela parecendo tão despreocupada me rouba
o fôlego.

Ela enxuga os olhos com as costas da mão. — Você é um idiota,


mas eu precisava disso. — Sua expressão fica frouxa. — Você
realmente quer saber?

Eu concordo.

— Minha avó me faz sair com caras por dinheiro.

— O que? — Eu rujo, fazendo-a pular.

As avós devem dar a você suéteres feios e doces de caramelo, e


não serem suas cafetinas.

Então, novamente, pelo que Kit me disse, sua avó é uma


verdadeira mala.

A raiva rola por mim e tudo em que consigo pensar é em


encontrar aquela velhota e dar a ela um pedaço do que eu penso.
Fazendo a neta dormir com homens por dinheiro. Isso é uma
merda fodida.

— Acho que entendo porque você me disse que seus pais eram
ricos agora. Cara, tudo faz muito sentido. Não admira que você seja
lésbica.

Suas sobrancelhas franzem em confusão, mas eu levanto a mão.


Não quero julgá-la, mas ela precisa saber que é melhor do que isso.

— Olha, eu sei que o dinheiro é bom. E claramente você é muito


talentosa, devido ao seu carro caro e outras vantagens. Mas você não
tem que chupar pau...

— Você acha que eu sou uma prostituta? — ela grita.

Eu pisco — Isso é uma pegadinha?

Quão longe ela está na toca do coelho?

Ela geme. — Eu não faço sexo com eles, seu burro. Eu te disse,
eu vou em encontros. Por sua vez, ela me dá minha cota mensal de
meus pais. Não acredito que você pensou que eu era uma prostituta.

Meus ombros sobem em um encolher de ombros. — Em minha


defesa, nunca estive em um encontro que não terminasse, pelo
menos, em um trabalho manual.

— Certo, bem, não há nada disso acontecendo. Os caras que ela


escolhe são doces e respeitáveis em sua maior parte. Normalmente,
nós apenas pegamos fast food e saímos. — Ela mastiga a unha do
polegar. — É um arranjo muito simples. Eu vou a um encontro com
um cara de sua escolha, eu recebo minha mesada. É apenas uma
vez por mês, então não é grande coisa.

— Exceto que é. Porque ela está forçando você a fazer algo,


manipulando você com o dinheiro de seus pais.
Ela afunda contra a parede. — Eu sei. Acho que continuo
esperando que ela acabe entendendo. Desista de tentar me mudar e
me aceite como eu sou.

— O dinheiro é realmente tão importante? — Quando ela me


olha, eu digo: — Sem julgamento aqui. Acredite em mim, ninguém
entende o que o dinheiro afrodisíaco poderoso é mais do que eu.

— Não é pelo dinheiro. Quero dizer que é, mas não por causa da
ganância monetária. O dinheiro é tudo que me resta deles. — Ela
enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha. — E sempre que ela
ameaça me cortar, eu fico com medo. Como se eu não fosse
cuidadosa, tudo o que eles deixaram vai escorregar pelos meus dedos
e será como perdê-los duas vezes.

Em algum nível, posso entender isso. Embora motivos e


circunstâncias inteiramente diferentes, o resultado ainda é o mesmo.

Ela também não está recebendo o dinheiro que merece, porque


outra pessoa está no controle dele.

Pessoas que merecem muito menos do que nós.

É como um vislumbre do que posso esperar no futuro.

Sei que meu irmão me dará de bom grado parte do dinheiro de


nosso pai, esse não é o problema. A questão é que isso virá com suas
próprias contingências e eu estarei à sua mercê. Um cãozinho de
estimação para a rica e poderosa estrela da NFL.

Dane-se.

Já passei minha vida sendo controlado por um homem que


odeio, e nem a pau vou deixar isso acontecer de novo. Não importa
quem seja.
Kit também não deveria aceitar isso. O dinheiro será todo dela
em mais quatro anos. Ela deveria dizer a sua avó para ir se foder e
viver sua própria vida.

— Por que você atura isso? Eu sei que o dinheiro é o seu vínculo
com eles, eu entendo. Mas você realmente acha que seus pais
gostariam que você aceitasse a forma como ela a trata?

— Eu gostaria de pensar que eles não iriam, mas... — Sua voz


some e ela inclina a cabeça.

— Mas o que?

Seus olhos estão vidrados quando ela olha para mim. — Quanto
mais o tempo passa, mais coisas eu esqueço deles. Como o som da
voz do meu pai. Ou como eram as mãos da minha mãe. — Ela funga.
— Tenho sorte de ter um vídeo e fotos para me ajudar a lembrar
dessas coisas... mas, ultimamente, estou começando a esquecer as
coisas que não podem ser capturadas. As coisas que não vou receber
de volta. Como a pele da minha mãe era macia. Ou com que precisão
ela passava o batom. — Sua voz racha como cristal. — A maneira
como meu pai costumava cantarolar para si mesmo enquanto estava
programando em seu computador. Ou a esquete de robô que ele fazia
sempre que eu entrava em seu escritório.

Ela cruza os braços ao redor de si mesma. — Estou começando


a achar que meu tio estava certo naquela noite.

O olhar de coração partido em seu rosto faz meu peito doer. —


Sobre o que?

— Lembra quando eu disse que vim para casa mais cedo do


Caribe porque entrei em uma briga com minha avó?

— Sim.
Faz apenas alguns dias. Embora agora que penso nisso, pareça
mais longo.

É assim que você encontra alguém que deveria ser um elemento


permanente em sua vida? Como se o tempo real não se aplicasse ao
seu relacionamento porque você sente que os conhece desde sempre?

Ela torce o nariz. — Bem, a razão pela qual brigamos foi porque
ele apareceu.

— Merda.

Ela me dá um aceno de cabeça apertado. — Eu sei. Não o vejo


há anos, desde que tiraram meus pais do rio e ele teve a coragem de
aparecer no condomínio da minha avó como um rei cumprimentando
seus camponeses. No aniversário da morte dos meus pais, nada
menos.

Ela fecha os punhos. — Acontece que ela o convidou. Enquanto


isso, ele nem se deu ao trabalho de vir ao funeral. — Ela faz um
barulho no fundo da garganta. — O que provavelmente é uma coisa
boa, porque tenho quase certeza de que teria cuspido nele e causado
uma cena.

Seus lábios apertam. — Não é preciso dizer que perdi a cabeça


durante o jantar naquela noite e fiz uma cena para ele. Eu joguei
minha bebida em seu rosto e ameacei esfaqueá-lo com uma faca de
carne se ele não rastejasse de volta para baixo da rocha de onde veio
como a cobra que ele é.

Orgulho incha em meu peito e eu sorrio. — Linda garota.

Ela não retribui meu sorriso. Em vez disso, seus ombros se


curvam e seu olhar se volta para dentro. — Ela me disse para ir
embora. Ela o escolheu, assim como eu sabia que ela sempre faria.
— Uma respiração estremece dela. — Enquanto eu fazia as malas,
ele me encurralou no meu quarto.

Instantaneamente, estou em alerta. Como um cão de guarda


pronto para atacar. — Ele te machucou?

Estou quase espumando pela boca, pronto para desenhar e


dividir o filho da puta como eles faziam nos velhos tempos.

— Não, — ela diz suavemente. — Não fisicamente, de qualquer


maneira.

O medo enrola meu intestino enquanto a vejo tentar controlar


suas emoções. — Ele me disse que eu estava louca por pensar que
ele tinha algo a ver com a morte deles, e que eu só estava procurando
alguém para culpar, porque estava com raiva. E para enfatizar ainda
mais seu ponto de vista, ele trouxe o piloto... e as fotos.

Quando eu dou a ela um olhar questionador, o embaraço inunda


suas feições. — Eu... hum. Tive muitos problemas quando era mais
jovem. Eu pirava sem motivo na escola - atacava meus colegas,
professores. Basicamente, qualquer pessoa sem nenhum motivo real.
E quando não estava fazendo isso, estava desenhando o piloto.
Imagens violentas e perturbadoras. Imagens que assustam as
pessoas. — Ela limpa a garganta. — Minha personalidade fez um
total de cento e oitenta. Eu não era mais a garotinha feliz e alegre
que costumava ser.

Meu desejo de defendê-la é instintivo. — Quem poderia culpar


você?

— Esse foi o ponto de vista de quase todos nos primeiros anos.


Até que meu comportamento piorou e fui expulsa da escola. Depois
disso, tive um professor particular e minha avó me colocou em
terapia. Meu terapeuta informou a nós duas que não era normal que
eu ainda ficasse tão atingida com o que aconteceu, e minha obsessão
doentia em ver o piloto sofrer... era apenas isso... doentia. Fui
colocada em alguns medicamentos para entorpecer a mente que me
fizeram não sentir nada, bom ou ruim, e eventualmente - parei de
discutir com as pessoas e parei de desenhar. Tive permissão para
voltar à escola quando o ensino médio começou.

Suas palavras perfuram meu peito e espero que ela continue.

— Meu tio trouxe tudo isso à tona quando me encurralou. Ele


me disse que era a prova de que eu era mentalmente instável e estava
inventando coisas na minha cabeça. Ele disse que eu precisava
superar isso e seguir em frente, porque aconteceu há muito tempo.
Que não havia nenhuma razão para eu ainda estar de luto pelos
meus pais, quando não é como se eu os conhecesse para começar.

Ela enrola os braços em volta da cintura. — Eu não posso deixar


de pensar que talvez ele esteja certo. Talvez eu esteja louca. E talvez
eu nunca tenha realmente conhecido meus pais em primeiro lugar.
Como eu poderia? Eles morreram quando eu tinha oito anos. Fiz 21
anos no mês passado. Eles estão mortos há mais da metade da
minha vida. E agora que minhas memórias estão desaparecendo e
eu praticamente não tenho nenhuma, é quase como se eles nunca
tivessem existido.

Ela abaixa o queixo e cobre o rosto com as mãos como se


estivesse tentando se proteger de uma tempestade perigosa.

Isso parte meu coração.

— Kit. — Eu não reconheço minha voz. Há uma nota de calor


nela que nunca ouvi antes.

Ela me olha por entre os dedos e nossos olhares se chocam.

Tudo dentro de mim se agita, me enviando em uma espiral para


um território desconhecido.
A conexão entre nós parece uma coisa tangível. Um fluxo de
energia que você pode alcançar e tocar. É o suficiente para me
derrubar.

Mas não vou deixar. Porque se ela está se preparando para um


acidente, quero ser o único a suavizar sua aterrissagem.

Não, mais do que isso. Eu não quero apenas amortecer sua


queda, quero cair com ela. Dessa forma, ela nunca terá que passar
por isso sozinha.

Eu estendo meus braços e sua resposta é automática. Uma força


gravitacional que a puxa para mim como uma corda magnética.
Vinculando-nos permanentemente.

No momento em que ela está em meus braços e todos os seus


quatro membros me envolvem, algo muda.

Na maior parte, tendo a operar em velocidade supersônica -


luzes, cores, todos os tipos de estímulos zunem pelo meu cérebro.
Isso coloca meu corpo em um estado constante de luta ou fuga,
enquanto luta desesperadamente para acompanhar minha
necessidade impulsiva de mais, mais, mais. O único momento em
que meus neurônios não estão disparando rapidamente é quando
estou bêbado ou dormindo.

Mas agora? É como se meus circuitos tivessem sido regulados.

A kit não abafa o ruído, cega as cores ou desacelera as coisas.


Não. Ela me centra.Torna mais fácil assimilar tudo.

Como o cheiro de seu cabelo. É algum tipo de mistura de frutas,


talvez mirtilo ou framboesa. Seja o que for, é inebriante.

Minhas mãos deslizam pela parte inferior de suas costas,


parando quando eu alcanço as pequenas marcas acima de sua
bunda, e me foda de todas as formas, porque sua pele parece cetim
quente. Tão delicada e suave.

Isso faz meu coração acelerar.

Ou talvez não, porque não é o meu coração batendo


descontroladamente contra o meu peito como um animal selvagem
preso em uma gaiola.

É o dela.

Isso me deixa perplexo, eu brevemente esqueço o motivo pelo


qual ela está em meus braços para começar.

— Você não é louca. — Eu seguro sua bochecha, esperando que


ela olhe para mim. — Você é colorida e bonita e não convencional.
Uma mistura única de coração e fogo que nunca deve ser diluída.
Uma garota tão imperfeitamente perfeita que me rouba o fôlego.

Lágrimas enchem seus olhos e ela me aperta com mais força.

— Eles existiram — eu sussurro quando ela deita a cabeça no


meu ombro. — Estou segurando a evidência aqui mesmo em meus
braços.

E eu não quero deixá-la ir.

Os segundos se estendem entre nós pelo que parece uma


eternidade antes de ela falar. — Obrigada.

— Pelo que?

Ela funga. — Por isso. Por não me chamar de caso perdido. Por
dizer as coisas boas como você fez.

Eu quero dizer a ela que ela nunca tem que me agradecer por
isso, porque eu quis dizer o que disse, mas ela levanta a cabeça.

Não tenho certeza do que fazer com a expressão em seu rosto.


— Eu tenho que te perguntar algo importante e eu preciso que
você me diga a verdade.

— Não é um problema.

— Você ainda está com Becca?

Eu balanço minha cabeça com tanta força que estou surpreso


que não se desprende do meu corpo. — Não.

Ela me olha com ceticismo. — Você jura?

Eu encontro seu olhar. — Pela minha vida. Acabamos. Tão


acabados, que vou ter que encontrar uma maneira de ressuscitar os
antigos egípcios para que eles possam inventar alguns novos
hieróglifos para a palavra.

— Tem certeza...

— Finito 6.

— Então você não tem nenhum...

— Niet 7.

— Ok, porque...

— Caput.

— Preston.

— Persona não-grata, porra, Kit. Acabamos.

O alívio brilha em seu rosto. — Então é realmente verdade.


Deus, eu estava tão preocupada que vocês dois ainda estivessem

6
Palavra em italiano para ‘acabou’.
7
Palavra em holandês para ‘não’.
juntos e eu fosse uma espécie de destruidora de lares. Ou pior, que
você ainda sentia algo por ela e nós...

Eu a cortei porque preciso que ela acredite em mim.


Especialmente agora que ela deixou claro que quer seguir o que quer
que seja essa coisa entre nós, tanto quanto eu.

— Você não tem nada com o que se preocupar. Na verdade, parte


do motivo pelo qual vim aqui hoje foi para poder dizer que estávamos
acabados. — Eu inclino seu queixo. — Acredite em mim, os únicos
sentimentos que tenho por ela são do tipo assassino. Se eu nunca a
ver novamente em minha vida, será muito cedo.

Seus olhos se estreitam em pequenas fendas. — Não vai ser um


pouco difícil, considerando que ela...

— Ainda mora comigo? — Eu moo meus molares. — Sim, não


por muito tempo. Vou me livrar daquela súcubo e de seu bebê
bastardo para sempre.

A boca de Kit cai aberta e ela faz um gesto frenético para eu


colocá-la no chão.

No momento em que faço isso, ela me empurra. — Que porra é


essa, Preston? Becca me contou o quão mal você a tratou na noite
passada, mas é muito pior do que eu pensava.

Sua declaração me enraíza no local e eu balanço minha cabeça,


certo de que devo ter ouvido mal.

Assim que abro a boca para perguntar a ela o que diabos está
acontecendo, uma voz autoritária grita: — Polícia!
XII

“PARABÉNS, IDIOTA. AGORA EU TE ODEIO.” — KIT BISHOP.

— Polícia! — a voz repete. — Vou precisar, que seja quem for


que está nesse elevador, se identifique.

— Noite passada? — Preston morde, alheio ao oficial que está


tentando nos resgatar.

Ele dá um passo à frente e meu coração aperta, apesar da onda


de raiva bombeando em minhas veias.

Acontece que o cara que me consolou como um amigo e me


segurou como se eu fosse algo precioso... nada mais é do que um
lobo em pele de cordeiro.

Não, pior do que isso. Ele é um monstro sem coração que se


referia a seu bebê por nascer como um bastardo depois de declarar
que iria jogar a futura mãe de seu filho na rua.

Não importa o que ela fizesse, nem Becca nem o bebê mereciam
alguém que fizesse isso com eles.

— Responda-me, Kit.

Sua voz é um estrondo profundo que faz meu sangue ferver.

Bang. Bang. Bang.

Eu levanto meu dedo médio para ele e, em seguida, direciono


minha atenção para o policial. — Obrigada, oficial. Meu nome é Kit
Bishop, a pessoa com quem estou é Preston Holden e já estamos
prontos.

Eu vou alcançar o botão, mas a grande mão de Preston envolve


meu pulso e ele me puxa para ele.

— Solte-me.

— Não, não até você...

— Senhorita, — o oficial grita. — Está tudo bem?

Eu começo a responder, mas Preston bate na parede com a mão


livre. — Precisamos de um minuto aqui.

Eu fico boquiaberta com ele. — Você perdeu a cabeça? Você não


pode...

— Escute, — diz o policial. — Podemos fazer isso da maneira


fácil ou da maneira mais difícil, porque uma vez...

— Maldição, oficial. Eu só preciso de um maldito minuto com


ela!

Eu fico boquiaberta com o idiota desequilibrado na minha


frente. — Deus me ajude, não estou com vontade de ter outra arma
apontada para a minha cabeça de novo hoje, seu psicopata maluco.
Corta essa merda, Holden.

Um rádio estala ao longe. — Aqui é o oficial DeBoer pedindo


ajuda. Parece que há uma situação de refém ativo no elevador.

Meu coração pula na minha garganta. — Não. Não sou refém


dele, oficial. Ele é apenas um idiota teimoso. — Eu chuto o idiota em
questão. — Você ao menos percebe o que está acontecendo por sua
causa agora, seu idiota.
Ele permanece imperturbável, seus traços duros como granito.
— Responda à pergunta.

Juro pela minha vida, nunca conheci ninguém que desse menos
trepadas do que ele.

— Me solte e eu considerarei isso, — eu cerrei meus dentes.

Ele solta meu pulso. — Comece a falar.

Os nervos ficam presos na minha garganta e eu engulo em seco.


— Ela veio ao meu dormitório ontem à noite e conversamos.

Seu olhar está examinando. — Vocês conversaram.

Não é uma pergunta, é uma acusação. E se tivesse acontecido


cinco minutos atrás, teria me cortado no tamanho e me feito sentir
horrível.

Cinco minutos atrás, quando pensei que poderíamos ser amigos.

Cinco minutos atrás, quando perguntei a ele sobre Becca,


porque queria confessar ao meu amigo o que aconteceu.

Cinco minutos atrás, quando eu pensei...

Eu sacudo o pensamento da minha cabeça antes que possa criar


raízes. Não importa. A única coisa que importa é o que está
acontecendo entre nós agora.

E neste momento? Eu odeio a maneira como ele está me


avaliando como se eu fosse a única errada. — Você está com
dificuldades de audição ou algo assim? Sim, conversamos.

Ele segura os dois braços de cada lado do meu corpo, me


prendendo. Como uma cobra que encontrou seu jantar. — Bem,
evidentemente eu era o assunto da conversa. Importa-se de me
informar o que ela disse?
— Na verdade, eu me importo.

Ele inclina a cabeça para o lado, estudando meu rosto. Como se


ele estivesse calculando cada movimento meu e pudesse ver através
de mim.

Eu odeio como isso me deixa inquieta.

Quase tanto quanto eu odeio como por uma fração de segundo


ele... nós...

Não, não, não.

Pelo amor de Deus, eu nem gosto de pau.

Tudo o que eu pensei que poderia ter sentido, não era nada mais
do que uma resposta a uma situação emocional e estressante.

Eu precisava de conforto... ele era o único por perto. Não era


nada mais do que biologia humana.

E agora que a névoa se dissipou e a realidade apareceu, vejo a


verdade clara como o dia.

Preston Holden é tóxico. Um abutre intrigante que ataca as


pessoas.

Becca, seu bebê por nascer, até mesmo seu próprio irmão. E
agora eu.

Dane-se isso.

Eu me recuso a deixá-lo me intimidar ou me usar. Eu sei a quem


meu coração pertence e não é a ele.

É a garota que me fez chorar até dormir quase todas as noites


nos últimos meses... porque eu sentia muito a falta dela.
E se eu tiver alguma chance de fazer funcionar com ela, preciso
me livrar dele.

— O que conversamos não é da sua conta. Não te devo nenhuma


explicação. — Eu chego perto de seu rosto. — Mas se você valoriza
seus testículos, sugiro que recue e fique longe de mim e de Becca
para sempre.

— Cristo, por que você está agindo assim? Eu pensei que nós...
— Ele faz uma pausa, seus olhos brilhando com confusão. — O que
exatamente ela disse a você?

Sua expressão séria faz meu coração apertar e eu tenho que me


lembrar que ele é um idiota frio e sem coração que não quer nada
com seu bebê.

Ele é tudo que Becca me disse que ele era.

— Ela me contou tudo, Preston.

— Então nada disso faz sentido. A menos que... — Lentamente,


ele arrasta seu olhar para cima e para baixo em meu corpo. — Você
dormiu com ela ontem à noite, não foi?

Eu olho para ele. — Isso realmente não é da sua conta.


Especialmente agora que você não está mais na foto.

Seus tiques de mandíbula. — Estúpida ou desesperada?

— Com licença?

— Qual é você? Estúpida o suficiente para se apaixonar por


alguém que estava obviamente brincando de merda com você de
novo? Ou desesperada para transar?

Minhas bochechas ardem, mas não vou deixá-lo saber o quanto


suas palavras doem.
— Isso é muito interessante vindo de você. Considerando que
você é o epítome de um perdedor, se é que houve um. — Eu faço uma
careta, nojo ondulando através de mim. — Portanto, o que você
pensa sobre mim não significa absolutamente nada. Você pode julgar
onde o sol não brilha.

Ele sorri, a ação mostrando suas covinhas profundas. — Veja, é


aí que você está errada. Eu não estou te julgando. Se vale de alguma
coisa, você tem minhas condolências, bebê. — Meu abdômen aperta
quando ele corre o nariz ao longo do meu pescoço e me inala. — Sua
boceta não vale os problemas que traz. Acredite em mim. — Ele se
inclina até que seus lábios estejam a um centímetro dos meus. —
Obrigado por me livrar da minha dor de cabeça, amiga.

Com isso, ele se estica e aperta o botão do elevador.


XIII

“SÓ DÓI QUANDO EU RESPIRO.” — KIT BISHOP.

— Ela não está disponível. Posso anotar uma mensagem?

A irritação sobe pela minha espinha enquanto seguro o telefone


do hospital entre a orelha e o ombro. Já é ruim o suficiente minha
avó não atender o celular para mim, agora não tenho escolha a não
ser deixar uma mensagem com uma de suas governantas.

— Na verdade, você pode. Diga a ela que sua única neta está no
hospital depois que ela quase foi baleada e morta na universidade
hoje, e ela realmente poderia dar algum apoio familiar. Talvez uma
carona para casa também, se não for pedir muito.

— Não posso garantir que a alcançarei em tempo hábil, mas com


certeza transmitirei sua mensagem. Posso sugerir que no futuro
caberia a você ligar para o celular dela a respeito dessas situações
específicas.

— Eu fiz. Seis vezes desde que cheguei aqui.

— Entendo. Bem, nesse caso, há mais alguma coisa que eu


possa fazer por você, senhorita?

— Sim, diga a minha avó que caberia a ela pegar o celular e


ouvir suas mensagens de voz de vez em quando.

Eu ignoro o bufo desagradável vindo do outro lado da cortina e


bato o telefone no receptor.
Penso em ligar para Becca em seguida, mas uma enfermeira
entra.

— Quando posso ir para casa?

Ela me dá um sorriso que não atinge seus olhos. — Não por mais
algumas horas, eu temo. Dadas as circunstâncias, que o médico quer
que você converse com uma assistente social antes que ele libere
você para alta.

Ela dá um tapinha na minha perna com simpatia antes de se


virar para sair.

— Espere. — Eu manobro para fora da maca virada pseudo-


cama e me levanto. — Alguma notícia sobre Landon Parker?

Preston e eu tentamos perguntar à polícia sobre ele depois que


fomos forçados a sair do elevador com as mãos para cima, mas eles
não nos disseram nada.

O refeitório horrível em que entramos também não forneceu


nenhuma resposta, visto que a maior parte da cena do crime estava
coberta com lonas e o que quer que não estivesse... estava em um
saco de cadáver.

Eu não conseguia contá-los. E dada a forma como sua mão


envolveu a minha quando eu impulsivamente a alcancei naquele
momento, eu não acho que Preston poderia também.

Bem, exceto por um - porque eles ainda estavam fechando o


zíper enquanto a polícia nos escoltava para fora.

Eu luto contra um arrepio quando os olhos sem vida de Kyle


perfuram minha mente.

Mesmo na morte, eles pareciam exatamente os mesmos. Vazios.


Como se toda a dor em seu coração corroesse sua alma... mas
não antes de tirá-lo de cada grama de sua humanidade primeiro.

Acho que nunca vou conseguir tirar o visual da minha cabeça.

— Sinto muito, — diz a enfermeira, tirando-me dos meus


pensamentos. — Não posso dar nenhuma informação.

— Ele era meu amigo. — Minha voz falha e sei que estou a um
fio de navalha de perdê-la novamente, mas estou impotente para
minhas emoções. — Ele salvou minha vida.

A cortina que divide o pequeno quarto do hospital se abre


rapidamente.

— E a minha, — Preston diz, se posicionando na ponta da cama


e cruzando os braços.

A enfermeira olha entre nós dois. — Eu realmente não posso...

— E se fosse você? — Eu questiono ao mesmo tempo que Preston


diz: — Ele é o namorado do meu irmão. Eu sei que tecnicamente não
nos qualifica como família, mas acho que justifica me dizer se ele
está vivo ou não.

Sua expressão estoica suaviza ligeiramente. — Não preciso


saber detalhes específicos, mas agradeceria se você pudesse me
avisar. Assim posso me preparar para quando meu irmão passar por
aquelas portas e eu tiver que puxar o tapete debaixo dele.

Eu sei que Preston está apenas tentando persuadir a


enfermeira, mas um caroço incha na minha garganta quando eu
percebo que terei que fazer o mesmo por Breslin.

Ela franze a testa. — Ele foi levado de avião para o hospital.

O alívio flui por mim porque isso significa que ele está vivo, mas
então ela diz: — Os ferimentos dele são substanciais, então você
provavelmente deve preparar seu irmão para o pior. Isso é realmente
tudo que posso dizer neste momento, sinto muito.

Lágrimas embaçam minha visão quando ela sai, e eu agarro a


lateral da cama. É como se alguém tirasse meu coração batendo e o
submergisse em um mar de culpa.

— Kit, — Preston começa a dizer ao mesmo tempo que Breslin e


Asher entram na sala.

Eu mal tenho tempo para processar o que está acontecendo


antes de Breslin me envolva em um abraço tão forte que dói, e Asher
faz o mesmo com Preston.

— Graças a Deus você está bem, — ela sussurra, e eu perco o


minúsculo fragmento de compostura que eu estava agarrando.

Eu não posso fazer isso com ela. Eu conheço essa dor muito
bem e prefiro andar no fogo do que fazer minha melhor amiga passar
por isso.

Ela embala meu rosto em suas mãos, confundindo meu medo


com aflição. — Kit, querida, está tudo bem. Você está bem.

Não, não estou bem e não está nada bem. Nada vai ficar bem de
novo... e é tudo culpa minha.

Landon não estaria naquele refeitório se não fosse por mim.

Oh Deus. Eu não consigo respirar. A verdade é uma vadia tenaz


e insensível. Ela poderia fazer Karma fugir com seu dinheiro a
qualquer dia.

Não importa como você o faça, de jeito nenhum a morte dele não
cairá sobre meus ombros.

Sou responsável por tirar um humano doce e atencioso como


Landon deste mundo.
Não me torna melhor do que o piloto que levou meus pais.

— O que está acontecendo? — Asher sussurra.

Eu olho para o chão e respiro fundo, tentando com todas as


minhas forças reunir a coragem necessária para dizer as palavras
que irão despedaçar seus corações.

— Kit — Breslin diz bruscamente.

Eu enrolo meus braços em volta de mim. — Landon estava no


refeitório com a gente.

Ela me encara confusa e eu sei que ela não está entendendo o


que estou dizendo, porque como ela poderia?

Landon deveria estar na Inglaterra e Preston nunca disse a eles


que ele estava no refeitório.

Não estou apenas puxando o tapete debaixo dela, estou puxando


o mundo inteiro debaixo dela.

Eu sei o quanto ela ama Landon. Inferno, eu sabia que ela estava
apaixonada por ele antes mesmo dela saber que estava.

Como você diz à sua melhor amiga que não é apenas responsável
por o namorado dela estar em perigo, em primeiro lugar... mas você
deixou o homem que ela ama para morrer?

Eu não consigo fazer isso.

Mesmo que ela mereça ouvir isso de mim e eu seja a única a


dizer a ela...

Eu simplesmente não tenho o que é preciso para partir o coração


de alguém. É uma habilidade que nunca herdei.

Eu olho para Preston. Eu preciso que ele faça isso.


Ele encontra meus olhos brevemente antes de dizer as palavras
que eu não consigo me decidir. — Ele estava tentando nos proteger
e Kyle atirou nele.

Breslin empalidece e pisca, chocada demais para entender uma


palavra do que Preston disse a ela. Não até que um som gutural saia
da garganta de Asher antes que ele saia correndo da sala e ela o
seguisse.

Estou bem atrás dela, o que é bom; porque quando uma mulher
usando um uniforme ensanguentado - a mesma mulher com quem
Asher está gritando obscenidades - diz o nome de Landon, ela agarra
o peito e balança.

Eu cruzo meus braços em volta dela e nós duas caímos no chão.


Ela está tão histérica que eu nem acho que ela percebeu que está
gritando o nome de Landon. Não que isso importe, porque por dentro
também estou gritando.

Gritando como eu sinto muito.

Gritando o quanto me arrependo de ter feito Landon ir ao


refeitório comigo.

Gritando como eu gostaria de ter lutado mais com Preston no


elevador.

Gritando o quanto eu quero tirar sua dor... embora eu saiba que


nunca serei capaz.

Estou gritando como antes.

Porque dói.

Porque sempre vai doer, caralho.

Porque a dor nunca vai embora.


A morte é uma ferida que nunca cura. Você não pode enfaixar,
costurar ou consertar.

É crônico. Incurável. Permanente. Final.

E não acaba com a vida que leva... destrói uma grande parte dos
que ficaram para trás. As pessoas que são forçadas a continuar
vivendo em um mundo onde seus entes queridos não existem mais.

É um castigo que ninguém merece.

— Preston disse que Landon estava tentando proteger vocês dois


quando foi baleado, — Breslin engasga. — Eu não sabia que ele
estava lá. Preston nunca nos contou. Por que ele não nos disse que
Kyle atirou nele?

— Eu sinto muito, — eu sussurro, embora eu não mereça seu


perdão. — Eu sei que isso não retira o que eu fiz, eu só preciso que
você saiba.

Ela se levanta lentamente, seus membros tremendo como galhos


de árvore em um furacão. — Eu não...

Eu me levanto do chão. — Kyle não tinha ideia de quem era


Landon. É por isso que Preston nunca mencionou que estava
conosco quando estava no telefone. Ele não queria que Asher
surtasse e desse a Kyle uma razão para machucá-lo. Kyle não atirou
em Landon antes do telefonema.

Ela cambaleia para trás. — Se ele não sabia quem era Landon,
então por que ele fez isso? — Ela me olha de cima a baixo. — Você e
Preston não estão feridos. Landon interferiu quando Kyle tentou
atacar um de vocês?

Eu começo a fechar meus olhos, mas penso melhor. O mínimo


que posso fazer é olhar para ela enquanto confesso. — Não
exatamente. Eu não sei o exato...
— O que você quer dizer com não sabe, Kit? Você estava lá
quando Kyle atirou nele, não estava?

Minha culpabilidade está me asfixiando, mas ela merece saber


a verdade.

— Não, tecnicamente não.

— Onde você estava?

— No elevador com Preston — Eu dou um passo a frente. —


Landon atacou Kyle para que pudéssemos ter uma chance de
escapar. Ele fez mais do que nos proteger, ele salvou nossas vidas.

Um som estrangulado irrompe e ela agarra o estômago. — Você


quer me dizer que você simplesmente fugiu? Você não parou quando
Kyle atirou nele? Nunca tentou ajudá-lo? Em vez disso, você o deixou
morrer sozinho no chão frio da cafeteria... como uma espécie de
cordeiro sacrificial?

Meu coração afunda e fratura bem no centro. Vou abraçá-la,


dizer o quanto me odeio, mas ela me empurra.

— Não...

— Ela não o deixou — uma voz profunda ressoa atrás de mim.


— Eu a puxei para dentro do elevador e me recusei a deixá-la sair.
Ela não teve escolha — Ele caminha até ela. — Eu sei que você está
chateada, mas não a faça se sentir pior do que já está. Se você está
procurando alguém para culpar, culpe-me. Landon me deu uma
saída e eu peguei.

O som da mão de Breslin chicoteando a bochecha de Preston é


ensurdecedor. — Você é a pessoa mais egoísta que já conheci na
minha vida.
Ele esfrega a marca vermelha que ela deixou. — Considerando
quem é seu pai, acho isso difícil de acreditar.

Abro a boca para informá-lo que não é a hora nem o lugar para
ser mordaz, mas Breslin avança. — Ouça-me e ouça bem, seu idiota
arrogante. — Ela aponta para o peito dele. — Se você já sentiu
alguma coisa dentro desta cavidade vazia por seu irmão, pare de usá -
lo para limpar sua bagunça e fique bem longe... antes que ele acabe
como meu Landon.

A expressão firme de Preston vacila. — Bre...

— Não. Nem tente. Não sou seu irmão e definitivamente não sou
uma de suas putinhas, corretor de apostas ou companheira de
pôquer. Você não pode me enganar com suas falas de merda ou
desculpas. Vejo você como um pedaço de merda egoísta, o que você
realmente é.

Ela dá um passo para trás, seu olhar furioso saltando entre nós
antes de pousar em mim. — Eu não sei o que dizer para você. Mas
não me siga quando eu virar.

Com isso, ela sai furiosa... e o órgão em meu peito que estava
pendurado por um fio, pulveriza.

Os eventos das últimas vinte e quatro horas se chocam contra


mim como um maremoto e lágrimas grandes e feias vomitam de mim.

Em uma longa passada, Preston me puxa para ele até que estou
envolvida em nada além de seu calor. Uma parede resistente de
proteção entre mim e todo o remorso e dor de cabeça em que estou
me afogando.

Eu sei que não deveria deixá-lo perto de mim, muito menos me


tocar e me consolar, mas seus braços são a única coisa que me
impede de chegar ao fundo do poço.
Não consigo nem começar a entender e não tenho certeza se
quero. Tudo que sei é que preciso disso. Eu preciso dele agora.

Mesmo que não seja nada mais do que uma ilusão, eu preciso
sentir como se alguém neste mundo realmente se importasse
comigo... ou eu vou quebrar em tantas partes, será impossível me
recompor novamente.

— Eu tenho você, — diz ele antes de me levantar em seus braços


e começar a andar.

Eu sei que sim. Não faz sentido, como nada mais faz... mas eu
acredito nele.

Eu me agarro a Preston como se ele fosse uma âncora, chorando


tanto que perco cada grama de ar dos meus pulmões com cada
soluço.

Mesmo que não devêssemos ser amigos. Mesmo que eu deteste


o tipo de pessoa que ele é.

Mesmo que eu deva saber melhor.

Eu confio em Preston Holden.


XIV

“O QUE É ESSA COISA BATENDO NO MEU PEITO? E COMO EU


FAÇO ISSO PARAR? — PRESTON HOLDEN

— Com licença, — diz uma enfermeira que empurra um paciente


em uma maca.

Kit se mexe em meus braços, enterrando o rosto em meu


pescoço.

— Mova-as.

— Este é um hospital, meu jovem. Não é um...

— Eu não dou a mínima, senhora.

Eu passo por ela e continuo pelo curto corredor até encontrar


nosso quarto. Uma vez que estou dentro, vou para a minha cama e
puxo a cortina em torno de nós.

Kit funga. — Ela nunca vai me perdoar.

Minha mandíbula trava e eu penso minhas próximas palavras


com cuidado.

O que eu quero dizer a ela é que Breslin é uma vadia, então


realmente não é uma grande perda se ela não a perdoar, mas eu sei
que isso não vai ajudar em nada.

Breslin é importante para ela. E a julgar pela forma como ela


entrou aqui antes, Kit é importante para Breslin.
No entanto, a garota sabe guardar rancor. Se Landon morrer, o
ressentimento que Breslin nutrirá por Kit irá romper seu vínculo.

— Ela vai, — eu ofereço, dando a ela a porcaria padrão que as


pessoas dizem. — Ela está chateada agora, mas vai superar isso.

— Não, ela não vai. Você não entende? Eu era a razão pela qual
ele estava lá em primeiro lugar.

Cristo, eu não sei o quanto mais posso aguentar isso. Kit está
agindo como se ela fosse o Grim Reaper e isso não poderia estar mais
longe da verdade. — Você quer saber o que eu realmente acho?

Ela balança a cabeça, recuando para olhar para mim.

Eu aperto meu controle sobre ela. — Não é sua culpa. O que


aconteceu com Landon é uma merda, não há como evitar isso. Mas
você não colocou uma coleira em volta do pescoço e o arrastou até lá
com uma guia. Nem o coagiu a ir a algum lugar perigoso.

Meu polegar percorre seu lábio inferior vacilante. — Era uma


lanchonete de escola. Onde milhões de estudantes em todo o mundo
almoçam todos os dias. Mas a questão é que, se era um refeitório ou
não, não importa - poderia ter acontecido em qualquer lugar, Kit. E
a única pessoa que poderia ter previsto o que aconteceu hoje, era
aquele que tomou para si a responsabilidade de entrar lá e tirar a
vida de pessoas inocentes. Mas essa pessoa não é você e não sou eu.
Só há uma pessoa para culpar por tudo isso, e seu nome era Kyle.

Ela olha para baixo. — Eu entendo isso, mas ainda não muda a
parte que desempenhei nele.

Eu inclino seu queixo. — Você foi almoçar com seu amigo,


Nervosinha. Isso é tudo. Não havia como você ter previsto o que iria
acontecer. — Eu encolho os ombros. — Tecnicamente, você é a razão
de eu estar lá também, mas não estou culpando você. — Eu coloco a
palma em sua bochecha. — Porque eu sei, não importa quão boa seja
a mão com que você começa, o river pode mudar tudo.

Ela franze o rosto. — O river? Isso é algum tipo de analogia com


o pôquer?

Eu rio, não apenas porque ela é adorável, mas porque o duplo


sentido não está perdido em mim. — Acho que você nunca jogou.

Ela balança a cabeça. — Eu acho que o jogo é estúpido. Sem


ofensa. Eu simplesmente não vejo o ponto. Você perde muito mais
do que pode ganhar.

Eu sorrio. — Vejo seu desafio, Bishop, e lhe proponho um jogo.

— Não — Ela revira os olhos. — Não tenho desejo de jogar, muito


menos com alguém como você.

Eu coloquei minha mão sobre meu coração, fingindo ofensa. —


Você me magoa.

Ela começa a sorrir, mas então, sem aviso, ela se desvencilha


de mim e se levanta. — Isto está errado.

Eu levanto uma sobrancelha. Eu não tenho ideia do que ela quis


dizer. — Não tenho certeza se entendi.

Ela recua, colocando alguns metros entre nós. — Não podemos


ser amigos. — Antes que eu possa responder, ela acrescenta: —
Agradeço o que você fez por mim no elevador e agora, mas não muda
nada.

Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Então, eu só sou bom


o suficiente para ser seu amigo quando você está chateada e não há
ninguém por perto?

Suas narinas dilatam. — Não, não é isso. Não fique aí e aja como
se não entendesse por que uma amizade não pode acontecer. Becca...
— É uma puta manipuladora, — eu rugi, frustrado com sua
incapacidade de tirar aqueles óculos cor de rosa. — Jesus Cristo,
como você pode não ver isso? Você é tão ingênua? Tão estúpida?

Suas mãos se apertam ao lado do corpo. — Eu não sou crédula


e não sou estúpida. Eu sei mais do que ninguém como Becca pode
ser.

Eu bato no meu crânio. — Então que diabos...

— Foi nela que eu pensei! — ela grita, sua voz cheia de emoção.
— Depois que Kyle atirou naqueles dois primeiros alunos e eu pensei
que seria a próxima... Becca passou pela minha mente. Apesar do
quanto ela me machucou, eu queria mais uma chance de dizer a ela
o quanto eu a amava... e a odiava. Não importava; Eu só queria mais
tempo com ela.

Ela enxuga as lágrimas. — Há uma razão para isso, Preston. Eu


sei que você não entende e não espero que entenda. Seu
relacionamento com ela era muito diferente daquele que ela e eu
tínhamos. Você não a ama e ela não o ama. Mas eu a amo e sei que
ela...

— Está brincando com você.

Não sei o que Becca disse a ela ontem à noite, e ela está tão
perdida que não importa mais.

Tenho que tirá-la do vórtice de Becca.

Eu ando até ela. — Eu não estou te dizendo isso para ser um


idiota, ou porque tenho qualquer sentimento residual por ela. Estou
lhe dizendo porque sei com certeza que, embora você pense que a
ama... ela não a ama. Ela nunca fez isso.

Eu bato em sua têmpora. — Você não pensou nela no refeitório


porque era um sinal, ou destino, ou amor verdadeiro, ou qualquer
das merdas que você está se convencendo de que era. Você pensou
nela porque é assim que os tóxicos e manipuladores funcionam. Eles
invadem seus pensamentos. Fodem seu psicológico. Eles atacam
pessoas inocentes como você, Kit. Confie em mim, eu sei.

Meu estômago se revira de náusea, mas eu engulo. Isso não é


sobre mim; trata-se de chegar até ela. Fazê-la ver que ela merece
algo melhor do que alguém como Becca.

Ela começa a se virar, mas eu agarro seu rosto e me curvo para


que estejamos no mesmo nível.

O ar entre nós fica pesado. Carregado com uma tensão tão densa
que arrepia minha pele.

Eu sei que ela sente isso. Posso praticamente ouvir seu coração
batendo a mil por hora.

Aqueles lábios carnudos dela se separam para inspirar mais ar


e meu pau se estica contra o meu zíper, me provocando com o que
eu queria tomar desde o momento em que ela fez uma careta para
mim naquela ponte.

Eu me inclino e Kit treme, aqueles olhos arregalados me


encarando como se eu fosse louco. Inferno, eu só posso ser.

Mas eu não vou desistir... foda-se. Estou apostando no máximo


e apostando tudo.

Ela coloca a mão no meu peito. — Pres...

Eu fecho o espaço entre nós.

Instantaneamente, seu corpo derrete em mim, seus dedos


agarrando meu cabelo enquanto eu a faço abrir sua boca. Eu gemo
quando a ponta de sua língua passa a minha na mais doce
provocação... logo antes de ela morder meu lábio com tanta força que
sinto o gosto de sangue e seu joelho recua, tentando me acertar nas
bolas.

Eu recuo, esquivando-me por pouco do ataque, para o alívio das


joias da minha família, assustado. Essa agora é a segunda vez em
um dia, em que ela tentou atacá-los.

Ela limpa a boca com as costas da mão. — Que parte de ‘Estou


apaixonada por Becca e sou lésbica’ você não entende?

Eu cuspo sangue no chão. — Eu estava tentando...

— O que, me converter? Ou me foder e me deixar toda confusa


na esperança de me atrair para longe dela?

— Essas são minhas únicas escolhas? Se for assim, ficarei feliz


em escolher a última.

Ela estreita os olhos. — Você é inacreditável.

Eu pisquei. — Eu sei.

— Não quero dizer isso como um elogio, seu narcisista maldito.

Minha mandíbula funciona. — Supere, Bishop. Foi um maldito


beijo, não uma tortura chinesa. — Eu mantenho seu olhar. — Não
aja como se não houvesse nada lá. Lésbica ou não, eu sei que você
sentiu isso.

Ela balança a cabeça. — A única coisa que senti foi alguém me


usando como uma fuga para evitar seus próprios problemas.

— Eu não...

— É só isso... você não. — Ela começa a caminhar em direção à


porta. — Você não se importa em como suas ações afetam outras
pessoas. Você não se preocupa com os danos que deixa para trás. A
única coisa com a qual você se preocupa é você mesmo.
— Kit — eu sussurro, desejando que ela não saia.

Nossos olhos se encontram e meu peito se fecha.

Se olhares pudessem matar... eu ficaria grato.

Porque o olhar que ela está me dando é pior do que a morte... é


a realidade fria e dura.

Ela está vendo meu verdadeiro eu pela primeira vez.

— Você sabe como os tóxicos e manipuladores funcionam


porque você é um deles, Preston.

Ela sai, deixando-me com nada além do gosto de framboesa em


meus lábios e um espasmo no coração que eu não tinha tanta certeza
de ter.

Mas eu sei que está aí agora. Eu sinto isso... e isso dói pra
caralho.
XV

“VOCÊ É O SILÊNCIO E A CONFUSÃO DO MEU CORAÇÃO.” -


FRANZ KAFKA

Não se vire,

Digo a mim mesma enquanto continuo marchando pelo corredor


do hospital.

Não tenho certeza para onde estou indo, mas qualquer lugar é
melhor do que estar naquela sala. Com ele.

Me beijando.

Me beijando como se minha sexualidade não significasse


absolutamente nada.

Me beijando como se eu não estivesse apaixonada pela garota


com quem ele não quer ter nada a ver.

Me beijando... como se eu pertencesse a ele.

— Boneca! — a voz que conheço tão bem que chego a ouvir seus
gritos em meus sonhos.

Eu me viro a tempo de ver Becca correr pelo corredor e meu


coração pular do meu peito.

— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto, sem fôlego.


Ela me abraça. — Onde mais eu estaria? Eu estava na minha
primeira aula quando recebi o alerta da escola no meu telefone
informando que algum maníaco estava no refeitório atirando nas
pessoas. Quando eles finalmente nos deixaram sair, ouvi alguns
alunos falando sobre um vídeo postado no YouTube dele segu rando
uma garota de cabelo rosa sob a mira de uma arma. Ele tinha quase
um milhão de visualizações antes de ser removido.

Lágrimas se alojam em minha garganta. — Não acredito que você


veio aqui por minha causa.

— Claro que eu...

Ela não tem a chance de terminar essa declaração porque eu


inclino minha cabeça e a beijo.

Eu a beijo do jeito que eu queria quando pensei que minha vida


tinha acabado.

Meu coração começa a bater mais forte... até que para e tomba
sobre si mesmo como um motor de arranque de carro defeituoso em
uma manhã fria de inverno.

Tudo em que consigo pensar é onde meus lábios estiveram por


último.

— Você está bem, boneca?

A voz de Becca me leva de volta para onde meu foco deveria


estar.

Eu dou a ela um pequeno aceno de cabeça. — Sim, apenas um


pouco abalada, eu acho.

Ela faz beicinho. — Sabe, é uma pena que não temos mais nosso
apartamento. Eu iria te levar para casa e cuidar de você, até estar
melhor. — Ela passa os braços em volta do meu pescoço, me puxando
para perto novamente. — Eu até...

O som de alguém limpando a garganta a interrompe.

— Kit Bishop — uma voz cheia de desdém diz.

Eu inclino minha cabeça e reconheço o homem parado ali como


um dos assistentes de minha avó. Por que uma mulher de setenta
anos tem assistentes pessoais, está além da minha compreensão,
mas ela tem vários.

— Oi, Reggie.

— Reginald, — ele responde laconicamente.

Eu sei.

Eu olho além dele e de seu comportamento abafado, na


esperança de localizar minha avó. Sem dúvida ela está em algum
lugar fumegando devido ao meu beijo com Becca. — Onde ela está?

Seus lábios se apertam. — Se você está se referindo à sua avó,


infelizmente ela não está aqui.

— Então o que diabos você está fazendo aqui?

Ele olha para mim por baixo do nariz. — Ela me mandou buscar
você.

— Para me buscar? — Eu solto os braços de Becca do meu


pescoço. — Ela ouviu alguma das mensagens de voz que eu deixei
para ela?

— Ela ouviu — ele me garante. — Portanto, estou aqui.

— Por que minha avó não está aqui? — Eu cerro os dentes, não
me importando em soar como uma criança no meio de uma birra.
Você pensaria que o dia em que minha avó largaria tudo por
mim seria hoje.

— Sra. Bishop está indisposta. Minhas instruções são para leva-


la de volta ao seu dormitório quando você terminar aqui.

— Deixe-me ver se entendi — digo sentindo-me como um vulcão


prestes a entrar em erupção. — Ela disse para você me levar de volta
ao Campus onde quase fui morta hoje?

Reggie olha em volta, visivelmente desconfortável.

— Você sabe, Reg. Eu acho que estou bem. — Pego a mão de


Becca. — Você pode dizer a ela que peguei uma carona para casa de
outra pessoa.

Reggie olha para o teto. — Muito bem.

— Além disso, você faria a gentileza de informá-la que não


poderei cumprir minha obrigação mensal na próxima semana. — Eu
torço meu cabelo em volta do meu dedo inocentemente. — Se ela
perguntar por que, você pode dizer que estou indisposta.

— Como você desejar — diz ele antes de girar nos calcanhares.

— Indisposta tendo muito sexo lésbico quente e sujo com a


minha namorada grávida.

Pobre Reggie quase tropeçou em seu caminho pelo corredor.

Eu me viro para Becca. — Tenho que falar com uma assistente


social antes de me dispensar, mas não deve demorar muito.

— Sem problemas. — Ela olha para baixo. — Você realmente


acha que é uma boa ideia chatear sua avó?
Quero perguntar por que ela se preocupa tanto com a mulher
que obviamente não se importa comigo, mas minha enfermeira de
antes aparece. — A assistente social está pronta para você agora.

Solto a mão de Becca e dou um beijo nela. — Voltarei em breve.

Ela aponta para a sala de espera lotada. — Vou tentar pegar um


assento em algum lugar.

— Becca?

— Sim?

— Obrigada por estar aqui.

Obrigada por me amar quando ninguém mais ama.


XVI

"COMEÇAMOS COM UM OLÁ SIMPLES, MAS TERMINAMOS


COM UM ADEUS COMPLICADO." — DESCONHECIDO

Eu cavo meu bolso em busca do meu celular e amaldiçoo quando


o acho vazio. É mais provável que esteja com a polícia, o que significa
que não verei até que determinem que posso.

Eu olho para o telefone do hospital no quarto e franzo a testa.


Buster não atende números desconhecidos.

Meu corpo fica tenso e as paredes ao meu redor começam a se


fechar.

Eu preciso sair daqui. Agora.

Mas não posso, não só porque meu carro ainda está na escola,
mas eles não vão me dar alta até eu falar com alguém.

Dane-se isso.

Não estou falando com nenhum psiquiatra em troca de minha


liberdade. Tenho mais de dezoito anos. Essas pessoas podem ir
chutar pedras.

A única razão pela qual vim aqui em primeiro lugar foi para ver
o que aconteceu com Landon.

E ela.
Eu corro minha língua ao longo do pequeno corte no meu lábio
inferior, sentindo o gosto de cobre.

Foda-se ela. Se Kit quiser se enredar na teia de engano de Becca


novamente, não vou ficar no caminho dela.

Nem sei por que me preocupei em fazer isso em primeiro lugar.

Ela não era nada mais do que uma coceira para coçar. Uma
fuga. Uma garota em quem eu pensava sem parar, porque não queria
me estabelecer com a garota que me prendeu.

Besteira.

Eu esfrego o nó que se forma no meu pescoço e solto um suspiro.

Besteira ou não, não importa. Kit não está apenas obcecada por
Becca, ela joga no outro time. Nenhuma quantidade de persistência
da minha parte vai mudar isso.

Além disso, o que eu poderia oferecer a ela de qualquer maneira?

Sua última declaração pode ter me irritado, mas apenas porque


é a verdade.

Eu sei exatamente que tipo de pessoa eu sou. Inferno, minha


lista de pecados habituais tem mais de um quilômetro de
comprimento.

Kit estava certa em se afastar de mim. Pena que ela não pode
fazer o mesmo quando se trata de Becca.

Pego o telefone para chamar um táxi e sair daqui, mas o som de


passos do outro lado da cortina me faz parar.

Por um momento, acho que é Kit e meu coração fodido ameaça


bater no meu peito.
Ele para completamente, quando ouço a enfermeira dizer: — A
sala de espera está enchendo rapidamente. Você está muito melhor
esperando aqui pela sua namorada.

— Obrigada — o próprio anjo da manipulação responde, e a


raiva que me percorre é o suficiente para fazer minha cabeça zumbir.

— Claro, querida. Agora, se você não se importa que eu


pergunte, de quanto tempo você está? Parece que você acabou de
sair da capa de uma revista de glamour. Qual é o seu segredo?

— Eu estou com vinte...

— Vinte e seis semanas e cinco dias.

Eu abro a cortina. — Embora eu ache que realmente depende


de que dia ela trepou com o cara com quem ela me traiu, não é?

Só assim, o órgão em meu peito queima de raiva pela cadela


sentada do outro lado da sala... e com saudade do bebê que não é
meu.

A mandíbula de Becca quase atinge o chão antes que ela se


recupere. — Você está perdido, Preston? — Ela finge olhar ao redor.
— O cassino fica a alguns quilômetros de distância.

A enfermeira olha entre nós. — Vou ver se consigo fazer uma


troca de quarto.

Eu dou a Becca um sorriso de comedor de merda. Eu a tenho


exatamente onde a quero e ela não vai a lugar nenhum.

— Isso não será necessário. Nós dois somos adultos, com


certeza, podemos lidar com o fato de estarmos na mesma sala juntos.
Certo, cara de bebê?

Quase cuspi a palavra para ela.


Becca sorri para a enfermeira. — Nós ficaremos bem.

Não entendo o que a enfermeira murmura para si mesma


enquanto sai correndo, porque Becca se levanta da cadeira e vem até
mim.

— O que você está fazendo aqui? — Ela enruga o nariz. — Eu


sabia que você tinha uma queda por ela, mas não acho que você
progrediu para um perseguidor.

Ela claramente não tem ideia de que eu estava em Woodside


hoje, ou que estava preso em um elevador com Kit.

Acho que vou guardar essas cartas.

— Eu não estou perseguindo ela. — Eu cruzo meus braços. — E


eu perguntaria por que você está aqui, mas felizmente para mim, eu
não preciso. Já sei que trabalho conivente e desagradável você é.

Ela passa um dedo pelo meu bíceps. — Soa como uma bronca
de alguém sobre sua noiva trocando-o por uma menina. — Ela olha
para baixo. — Eu diria que foi sobre os resultados da paternidade,
mas nós dois sabemos que você nunca deu a mínima para o bebê.

A raiva bombeia em minhas veias e cerro os dentes com tanta


força que minha mandíbula dói. — Coma merda, sua boceta de
merda.

Ela dá um passo para trás. — Uau, você beija sua mãe com essa
boca?

— Minha mãe? Não. — Eu passo meus dedos por seu cabelo,


puxando-a para mais perto. — No entanto, uma loira linda e sexy. —
Quando seus olhos ficam semicerrados, acrescento: — Com pontas
rosadas e uma bunda linda...

Eu sorrio, convidando-a a preencher o resto da frase sozinha.


Becca me lança um olhar furioso. — Fofo, mas eu sei que Kit
não iria chegar perto de você, muito menos te beijar. Não apenas
você não é o tipo dela, ela está muito apaixonada por mim.

Eu me inclino para frente. — Quer apostar?

Sou especialista nos jogos de Becca. Pena que ela não seja
quando se trata de mim.

Sua mão envolve minha nuca. — Certo. Porque passei a noite


passada na cama dela.

Chamada.

Eu removo sua mão. — Eu sei. — Confere. — Ela me disse.

Ela parece tão confusa que quase dói não rir.

— Quando?

Eu começo a responder, mas faço uma pausa. Eu tive uma


suspeita sorrateira cavando em meu intestino desde que saí do
elevador.

Aumentar. — Não que seja da sua conta, mas eu deixei uma


mensagem de voz para ela ontem à noite e ela me ligou de volta esta
manhã.

Seus olhos se iluminam e eu sei, sem sombra de dúvida, que ela


sabe exatamente a que estou me referindo. — Isso não é possível.

É divertido como ela está tentando chamar meu blefe. Mal sabe
ela que a mão que estou segurando é um full house.

E estou prestes a largá-lo na bruxa malvada que está na minha


frente.

Eu a encaro. — Eu sei que não. Porque você apagou meu correio


de voz do telefone dela enquanto estava lá.
Ela empalidece e tenta se virar, mas eu agarro seu braço. —
Admita.

— Tudo bem, mas foi só porque você não me deixou escolha —


ela retruca. — Então, espero que você goste de colher o que plantou,
porque este é apenas o começo.

A raiva sobe pela minha espinha e tenho que me lembrar que


nunca vou bater em uma mulher, porque se Becca fosse um cara,
ela estaria deitada de bruços sem nenhum dente na boca.

Talvez então ela parasse de vomitar todas as suas mentiras e


besteiras.

Ela tenta se desvencilhar do meu alcance, mas eu comprimo


meu aperto. — Por que você gosta de machucar as pessoas, hein?

Não é uma pergunta retórica, estou genuinamente curioso pra


saber por que ela está tão infeliz.

Seu rosto se contorce e ela levanta o queixo em desafio. — Por


que você faz? — Ela enfia o dedo no meu peito. — Você quer apontar
o dedo para mim? Bem, olhe na porra do espelho, porque você e eu
somos feitos do mesmo tecido.

Fico em silêncio, não apenas porque me recuso a dar crédito a


sua declaração reconhecendo-o - mas sei que se der corda suficiente
a Becca, ela vai acabar se enforcando.

De preferência, quando a Kit entrar.

— Você pode negar o quanto quiser, mas sabe que é verdade, —


continua Becca. — Assim como você sabe, no fundo, por baixo de
todas essas suas camadas corruptas, que ela nunca vai querer você.
Não importa quantas vezes você a persiga em um estacionamento ou
apareça na escola para lhe devolver as joias... nada disso faz
diferença. Você nunca será seu cavaleiro de armadura brilhante.
Para ela, você não é nada além do vilão. — Ela coloca sua perna entre
as minhas, roçando minhas bolas com o joelho. — Não apenas
porque o simples pensamento de seu pau a repele, mas porque ela
ainda está apaixonada por mim.

Um coquetel inesperado de raiva e ciúme percorreu meu sangue.


Dou o máximo de mim para permanecer imóvel, não colocar minhas
mãos em torno de sua traqueia e apertar até que ela finalmente feche
a boca.

Seus lábios roçam minha bochecha. — Isso é o que realmente


está te deixando tão nervoso agora, não é? Quer eu a queira ou não...
eu a tenho. De todas as maneiras que você nunca vai.

Drama à parte, a validade de suas palavras são como um soco


na garganta.

Um Royal Flush para o meu péssimo Full House.

Ela bate na minha orelha com a língua, como a cobra que ela é.
— O engraçado é que eu nem gosto de boceta. Mas Kit? Ela é uma
exceção. Não só pelo fato dela ser rica, mas a garota está tão
desesperada e perdidamente apaixonada por mim, ela é uma massa
de vidraceiro em minhas mãos. Alguém que posso usar para
satisfazer todas as minhas necessidades.

As pontas dos dedos dela dançam ao longo da minha coxa. —


Você não acreditaria como foi fácil para ela me perdoar. Tudo que eu
precisei fazer foi dizer a ela que sentia muito e dizer que sentia falta
dela, e puf - ela estava arrancando minhas roupas e implorando para
me fazer gozar.

Minha frequência cardíaca acelera e eu tenho que morder o


interior da minha bochecha para parar a onda de luxúria e ódio que
bate em mim.
Becca, pequena prostituta astuta que é, aproveita a
oportunidade para acariciar o comprimento do meu pau com o dedo.
— Eu tinha esquecido como ela era boa em comer boceta. Tão
ansiosa para agradar. — Ela esfrega minha ponta, sorrindo quando
fica mais espessa. — Como se ela nunca se cansasse disso.

Eu puxo sua mão. — Então, o que exatamente você precisava de


mim?

Quando suas sobrancelhas se juntam em confusão, acrescento:


— Você mesma disse: Kit não é apenas fácil de manipular, ela tem
muito mais dinheiro do que eu. Sem mencionar que ela continuará
acreditando nas suas mentiras e aceitando você de volta. Isso me faz
pensar, por que você me escolheu em vez dela, quando ela era
claramente a melhor escolha para você.

Todo mundo tem um motivo para fazer as coisas que faz, boas
ou más.

Mas não é por isso que estou perguntando a ela. Eu conheço


Becca bem o suficiente para saber que sua resposta à minha
pergunta será a que melhor se encaixar em seu plano.

É com isso que estou contando.

Por mais que eu desejasse que não fosse verdade, Becca não
está errada sobre Kit.

O fato de que ela aceitou Becca de volta de braços abertos,


combinado com as coisas que ela disse antes, prova isso.

E embora eu não entenda, porque o amor não é uma emoção


que eu possa compreender. Eu sei que é a fraqueza de Kit.

Inferno, eu poderia ir até ela agora e contar a ela tudo que Becca
acabou de me dizer, mas ela não vai acreditar em uma palavra disso.
Ela vai dar desculpas ou se convencer de que inventei. E isso antes
que Becca possa fazer sua mágica.

Kit é uma romântica. Apesar de ser um pouco cuspidora de fogo,


aquele coração dela é tão grande e profundo quanto o Pacífico.

Ela é uma boa pessoa. Uma boa pessoa que atrai todos os maus
como uma mariposa para a chama.

Becca continuará sugando tudo o que puder dela, até que não
haja mais nada em seu coração, exceto um espaço vazio. Uma parte
vaga que não funciona mais.

Eu não quero que isso aconteça

Não quero que ela continue dando tudo o que tem a oferecer a
alguém que não aprecia ou não merece.

E por mais que eu desejasse que fosse eu quem pudesse ser esse
alguém, eu sei que nunca será. Não pode.

Não apenas porque ela é lésbica, mas porque eu e Becca somos


mais parecidos do que gostaria de admitir.

O que significa que preciso fazer isso agora, antes que seja tarde
demais.

Se eu não fizer isso, ela não só continuará sendo o peão de


Becca, mas também ganhará um lugar na minha lista de pessoas
que uso quando for conveniente para mim.

Infelizmente, só há uma maneira de tirar permanentemente


essas vendas dela para sempre.

Minha própria teoria do utilitarismo fodido.

Eu tenho que quebrar seu coração em um milhão de pedaços a


fim de protegê-la e espero que, quando ela o reconstruir, ela se
lembre da lição sem estar muito cansada para se apaixonar por
alguém novamente. Alguém melhor do que a vadia na minha frente.

Eu seguro a bochecha de Becca. — Você vai me responder?

Ela está tão surpresa com o meu toque que ela se assusta. —
Não é óbvio?

Eu balanço minha cabeça e algo pisca em seus olhos.

Por um momento, temo que ela não vá me dar a resposta que


estou esperando. Aquela de que vou precisar para fazer isso.

Eu suavizo meu olhar e corro meu polegar sobre seu lábio


inferior. Atraindo-a para minha armadilha.

Ela fecha os olhos com dor brevemente e se eu não a conhecesse


bem, quase acreditaria nas próximas palavras que saíram de sua
boca.

— Eu realmente te amei, Preston.

Uma lágrima cai por sua bochecha. É impressionante como ela


é boa atriz. Talvez seja aí que ela deva voltar a olhar.

— Você sempre foi tão distante e frio, e eu sabia que você não
sentia o mesmo por mim, mas não me importava. Eu ainda te amava.
— Ela olha para baixo. — Eu dormi com um cara que não deveria
antes de começarmos a namorar. Olhando para trás, eu deveria ter
dito a você, mas não achei que isso importasse. Não até que vi duas
linhas em um teste de gravidez.

Esta não é uma conversa que eu quero ter. Não porque eu tenha
algum sentimento persistente por ela, mas por causa dos que ainda
tenho pela criança que ela está grávida.

Não sei o que fazer com esses sentimentos remanescentes por


um bebê que não é meu. Para onde exatamente eles devem ir?
A agitação bloqueia minha mandíbula e tenho que me lembrar
de não cair na armadilha óbvia que ela está preparando para mim.

— Eu deveria ter te contado então, mas eu queria que o bebê


fosse seu. Por um tempo, eu honestamente pensei que sim. E quanto
mais tempo passava, mais eu me convencia disso.

Seus lábios se contraem. — Aí você falou em fazer um teste de


paternidade de novo e fiquei com medo, porque sabia que estraguei
tudo por não ter contado você no começo. — Ela esfrega a barriga.
— Sei que não podemos mudar o passado e não espero que você
acredite em mim, mas sempre sentirei muito pelo que fiz a você. Há
tantas coisas que eu gostaria de poder retirar.

A dor no meu peito é tão forte que quase desmaio.

Não porque eu acredite nela. Eu não. Se ela estivesse


arrependida, ela teria confessado a possibilidade de que ele não era
meu. Ela não teria tentado me chantagear para me casar com ela.

Se ela realmente estivesse arrependida, ela teria me ligado logo


depois de receber os resultados da paternidade. Não fugir para Kit
para garantir que ela não só me machucasse, mas também tivesse
um plano reserva.

Não, a garota parada diante de mim com lágrimas de crocodilo


nos olhos não se arrependeu, e ela certamente não me ama. Tenho
certeza de que ela nunca compreenderá o conceito de algo tão
altruísta.

Não que eu seja muito melhor, mas ela cruzou os limites que eu
nunca faria em sua busca para conseguir o que queria.

Até agora.
Eu coloco minha outra mão em seu rosto e elimino a distância,
beijando-a suavemente. Mostrando a ela muito mais gentileza do que
eu já fiz no passado. Muito mais do que o que ela fez comigo.

Ela está muito surpresa com o meu gesto para retribuir o beijo
no início, mas então ela o faz... e meu estômago recua.

Se ela sentiu outra mulher nos meus lábios, ela não diz isso
quando se afasta. — Pelo que foi isso?

— Vou te perguntar isso uma vez e apenas uma vez, entendeu?


— A acrimônia em minha voz voltou.

Ela acena com a cabeça, parecendo cautelosa. — OK.

— Eu ou ela? E eu sugiro que você escolha com sabedoria


porque não vou lhe dar outra oportunidade.

Ela me olha com admiração. — Você. — Ela franze o rosto. —


Achei que você me odiasse.

Eu odeio.

— Você pensou errado. Ouvir o quanto você me ama e o quanto


você sente...

— Eu te amo. E eu sinto muito, — ela interrompe, colocando a


mão no meu peito.

Eu mostro para ela uma covinha. — É mesmo?

Ela acena com seriedade e eu olho para baixo, apontando para


minha ereção que agora está a meio mastro.

— Então por que você não cuida disso para mim. Ajoelhe-se e
prove o quanto você realmente sente.

Seus olhos escurecem de luxúria e ela se ajoelha no chão. —


Você não queria isso na outra noite.
Abro meu zíper. — As coisas mudam. Agora tire e chupe. Se você
fizer um bom trabalho, vou deixar você voltar para casa. Posso até
foder essa sua boceta suja na minha cama.

Se ela está ofendida por ser tão degradada, ela não demonstra.
Muito pelo contrário.

Ela vai com tudo, ansiosa, me levando em sua boca.

Eu agarro a parte de trás de sua cabeça e a faço engasgar antes


que eu recupere os meus sentidos. A última coisa que preciso é
deixar qualquer margem para dúvidas quando Kit entrar.

Eu removo minhas mãos e as coloco atrás da minha cabeça. —


Diga-me o quanto você me quer. O quanto você me ama e meu pau.

A náusea me retorce porque não quero essa armadilha de Vênus


perto de mim. Nem mesmo pelo privilégio de me chupar.

Becca deve dizer que meu interesse por ela não é o que era
antes, porque ela começa a atacar meu eixo com força total,
engasgando-se a ponto de chorar.

— Eu fodidamente amo seu grande pau, Preston, — ela diz entre


longas chupadas que terminam com cuspe escorrendo por seu
queixo.

Eu fecho meus olhos e finjo que não é a boca dela ao meu redor,
mas a de outra pessoa.

Uma certa garota nervosinha com uma carranca linda. A garota


em quem nunca consegui parar de pensar desde o momento em que
nos conhecemos.

O que me deixa totalmente perplexo, porque não é como se


fôssemos amantes ou amigos.

Éramos nada mais do que dois navios passando à noite.


E ainda... Eu sei, sem dúvida, ela é a única pessoa por quem eu
faria qualquer coisa. Se isso faz sentido para mim ou para qualquer
outra pessoa.

Kit Bishop está em minhas veias.

Mas, infelizmente para mim, ela é a droga que nunca poderei


consumir e o barato que não posso perseguir.

Ela não passa de uma ilusão. É tudo o que ela sempre será.

Eu resmungo e empurro meus quadris, lutando como o inferno


para manter minhas mãos atrás da minha cabeça enquanto uma
fantasia doentia de Kit me dando prazer começa a surgir em minha
mente.

É um timing impecável também, porque um momento depois;


duas coisas acontecem.

Um - Becca repete sua última declaração.

E dois - abro meus olhos e encontro um par de olhos castanhos


devastados.

Kit não grita ou começa a chorar como eu esperava que ela


fizesse. Como eu quero que ela faça - nem mesmo quando Becca
inclina a cabeça para olhar para ela brevemente antes de voltar para
o meu pau.

Em vez disso, ela agarra o ponto sobre o coração, quase como


se o próprio órgão estivesse se partindo fisicamente - tudo enquanto
me encara como se eu fosse o culpado. Aquele que deve ser
responsabilizado pelo impacto.

A pessoa responsável por este acidente.

Porque eu sou.
Os músculos do meu peito se contraem com pesar - mas eu
ignoro, separo meus lábios e solto um gemido baixo.

Kit ainda está olhando para mim, então eu endureço meu olhar.
— Porra, você vai me fazer gozar logo.

A resposta de Becca é acelerar seus movimentos e dou a Kit um


sorriso malicioso de satisfação.

Eu a quero longe de Becca para sempre. Eu preciso que ela


finalmente veja Becca como ela é.

Ela começa a se virar, mas faz uma pausa, me dando uma


última olhada. Desta vez, há lágrimas em seus olhos. — Preston.

Meu nome sai em um sussurro sufocado, como um pequeno


animal ferido em seu último suspiro.

Isso me faz me odiar por manchar algo tão precioso.

Cada célula do meu corpo quer empurrar Becca para longe e


dizer a Kit por que fiz isso, mas não posso porque ela sai correndo
da sala.

Deixando-me com nada além da bagunça que fiz.

Exatamente como eu queria que ela fizesse.

Eu olho com nojo para o Anticristo, que ainda está com os lábios
em volta de mim. Fervendo, eu pego a parte de trás de sua cabeça e
fodo a mentirosa, traidora, boca de puta furiosamente.

O pequeno indício de satisfação que recebo ao vê-la engasgar


com tanta força no meu clímax que sai de seu nariz de oito mil
dólares faz pouco para entorpecer o desprezo que tenho por ela.

Quando ela se levanta, estalo os dedos e aponto para o meu


escroto. — Limpe minhas bolas.
Ela obedece e estou dividido entre querer rir de sua bunda
patética e perguntar se a porra que ela está tirando do meu saco tem
um gosto tão acre quanto meus sentimentos por ela agora - mas não
quero gastar mais um segundo respirando o mesmo ar que ela.

Felizmente para mim, não preciso mais.

Eu me enfio de volta em minhas calças e passo por ela.

— Onde você está indo? — ela grita quando eu chego à porta.

Eu mordo de volta um sorriso. — Bem, isto é constrangedor.

Eu olho por cima do meu ombro para ela. — Esse foi o seu
presente de despedida. Achei que nosso relacionamento deveria
terminar da mesma maneira que começou... com você de joelhos.

O olhar presunçoso em seu rosto me surpreende. — Acho que


nós dois conseguimos o que queríamos então. — Quando fico em
silêncio, ela acrescenta: — Você queria que a Kit me odiasse. Mas,
infelizmente para você, você acabou jogando direto na minha mão.
— Ela se levanta e limpa o canto da boca antes de lamber o polegar.
— Eu acredito que os jogadores chamam de blefe, certo?

Meu queixo aperta e eu balanço minha cabeça. Não vou perder


minha energia dando voltas e mais voltas com ela. Pela primeira vez
na minha vida, estou desistindo. Eu terminei com ela e não há nada
que ela possa fazer ou dizer para mudar isso.

— Tenha uma boa vida, Becca.

Estou um pé fora da porta quando isso acontece.

— Preston, — ela grita, sua voz trêmula e afiada.

Estou prestes a dizer a Becca para diminuir o drama e guardá-


los para alguém que se importa, mas então ela grita: — Socorro.
Quando eu cometo o erro de me virar... a coisa que bate no meu
peito congela antes de cair no chão.

Onde o sangue escorrendo por suas pernas está começando a se


acumular em seus pés.
XVII

"OH, QUERIDA, É VERDADE. AS COISAS BONITAS TAMBÉM


TÊM MASSAS E RISCOS.” - ANÔNIMO

Um feixe de luz do sol atravessa a pequena janela do meu


dormitório, me forçando a abrir os olhos com um gemido.

Foda-se o sol. Sua estrela superinflação e pomposa.

Virando-me na cama, respiro fundo a dor nas costelas e


estremeço.

Sim... ainda sinto que alguém colocou meu coração no


liquidificador. Então sorriam de orelha a orelha enquanto
pressionavam liquefazer.

A bile se agita em meu intestino quando o rosto de Preston passa


pela minha mente e eu alcanço a pequena lata de lixo ao lado da
minha cama.

Só de pensar nele me dá nojo. Literalmente.

Quando tudo o que sai é um bocado de ácido estomacal, lembro-


me de que não comi muito enquanto estive enfurnada aqui nos
últimos seis dias.

Ou são sete agora? Talvez quatro? Eu honestamente não tenho


ideia.

Eu tomo um gole de água da garrafa na minha mesa de


cabeceira e passo em volta da minha boca antes de cuspi-la no lixo.
Coração partido - não apenas dói como o inferno, mas também
proporciona uma higiene impecável.

Acho que é porque coisas simples e cotidianas, como limpeza,


não parecem mais necessárias ou importantes. Não quando o
instrumento vital em seu peito, responsável por mantê-lo vivo, deixa
de funcionar como deveria.

Uma pontada aguda me corta e me enterro sob as cobertas,


esperando que passe.

Lágrimas ameaçam derramar quando a intensidade aumenta -


meu corpo busca desesperadamente uma saída para toda essa
angústia presa dentro de mim, mas eu me sento e enterro as palmas
das mãos em meus olhos, mantendo-os sob controle.

Eu me recuso a dar a eles minhas lágrimas. O Senhor sabe que


um deles já teve mais do que seu quinhão delas. Junto com todas as
outras partes de mim mesma que dei a ela.

Suponho que esse seja o meu carma por me recusar a ler o que
está escrito na parede e me deixar ser arrastada por gente como
Becca Dragoni novamente.

E minha penitência por confiar em alguém como Preston


Holden.

A dupla dinâmica que esses dois são. Um seduz... e o outro


destrói.

Esse pensamento me faz jogar minha garrafa de água na parede


com tanta força que o plástico se quebra e o conteúdo se esparrama.

Assim como eles fizeram comigo.

— Acho que você está se sentindo melhor?


Eu viro minha cabeça para encontrar Breslin parada na porta,
a preocupação revestindo seu rosto bonito, embora exausto.

— Um pouco — eu sussurro, minha voz soando tão culpada e


tímida quanto eu.

— Isso é bom. — Ela atravessa a sala e abre uma gaveta. — Vim


buscar algumas coisas antes de voltar para o hospital. Estarei fora
da sua frente em um minuto.

Eu fico em silêncio enquanto a estranheza nos cerca como uma


névoa.

Eu não posso me obrigar a contar a ela o que aconteceu com


Becca e Preston... porque dói demais.

E ela não consegue deixar de me odiar por ser responsável por


um dos dois amores de sua vida que quase morreu.

Eu posso praticamente sentir a divisão de nossa amizade


crescendo com cada breve interação que tivemos desde o tiroteio, e
isso me mata. No entanto, não tenho desejo de fazer nada para
impedi-la de seguir seu curso.

Não tenho certeza se desejo mais alguma coisa. É como se eu só


pudesse operar em certas frequências agora, e meu humor está
miserável e amargo. Ou entorpecido e desapegado.

Nem é preciso dizer qual eu prefiro.

— Kit — diz ela de repente, e eu olho em seus olhos agora


vidrados. — Eu preciso que você saiba que apesar de quão chateada
eu estava no hospital naquela noite, estou feliz que você esteja viva.

Isso nos torna um de nós.

Ela espera que eu diga algo, mas quando eu não digo; ela levanta
a bolsa no ombro e se dirige para a porta.
— Breslin, — eu sussurro, minha voz quase um sussurro.

Ela faz uma pausa, de costas para mim. — Sim?

— Eu... — Eu engulo as palavras que eu realmente quero dizer.


— Dirija com cuidado.

Seus ombros estão tensos. — Espero que você supere esse seu
estômago em breve. — Ela vai fechar a porta atrás dela, mas não
antes de dizer, — Talvez então você possa visitar Landon. Eu sei que
ele realmente adoraria ver você.

A batida forte da porta me diz as palavras que ela realmente


queria dizer também.

As palavras que mereço ouvir.

Eu ando para cima e para baixo no corredor com meu coração


na garganta.

Não tenho ideia do que dizer além do óbvio - sinto muito por
deixá-lo sangrar no chão de uma cafeteria enquanto fiquei em um
elevador como uma medusa covarde.

Por causa dele.

Minha barriga vira e eu tenho que agarrá-la para me impedir de


vomitar.

Merda, talvez eu realmente esteja ficando doente e não seja mais


uma farsa.

Eu solto uma respiração trêmula e abaixo o capuz do meu


moletom. Pare de ser uma maricas, Kit. O mínimo que você pode
fazer é olhar o homem nos olhos, pedir desculpas e agradecê -lo por
salvar sua vida.

É a coisa certa a fazer. O que eu deveria fazer. O que meus pais


gostariam que eu fizesse. Caramba, se eles ainda estivessem vivos,
eles - com razão - ficariam enojados e envergonhados por ter
demorado tanto.

Meu coração bate dolorosamente contra o meu peito a cada


passo que dou em direção ao seu quarto de hospital.

Breslin e Landon param no meio do beijo, e chega a uma parada


abrupta quando eu entro, e eu vomito as primeiras palavras que vêm
à minha cabeça. — Desculpe, eu provavelmente deveria ter batido ou
algo assim.

Breslin levanta-se rapidamente. — Não seja boba. Estou feliz


que você veio.

Landon sorri para ela e depois para mim. — Ei estranha. Como


tá indo?

Sua disposição alegre só faz o chumbo no meu estômago ficar


mais pesado. Ele tem todos os motivos para me estrangular e, no
entanto, está agindo como se estivesse feliz por eu estar aqui... em
vez do motivo de estar aqui.

Eu arrasto meus pés, desejando que o chão se abra e me engula


inteira.

— Kit? — Breslin e Landon dizem ao mesmo tempo e percebo


que nunca respondi à pergunta de Landon.

— Oh, você sabe, estou indo — eu digo para meus sapatos.

Não consigo olhar para ele. Vê-lo naquela cama de hospital


apenas adiciona outro bloco de concreto doloroso ao resto da pilha.
— Você pode nos dar um minuto, Bre? — Landon diz e faço tudo
o que posso fazer para não implorar a ela para ficar.

— Certo. — Ela olha entre nós antes de seu olhar pousar em


mim. — Eu vou encontrar Asher no refeitório e trazer um pouco de
comida para você, ok?

Quando Landon e eu estremecemos, ela pragueja baixinho. —


Eu sinto muito. Eu não...

— Está tudo bem, — Landon garante a ela ao mesmo tempo que


digo: — Não estou com fome.

Não é mentira. Só o pensamento de comer faz com que o vômito


suba pela minha garganta. A última vez que tive fome... três pessoas
inocentes foram mortas e meu amigo foi baleado.

Não perco a preocupação que surge em seu rosto quando ela sai.
Me deixando sozinha com Landon.

Dizer que estou inquieta seria um eufemismo. Meus olhos


vagam pela sala, olhando para qualquer lugar, menos diretamente
para ele. — Você tem a cesta de muffins de fibra.

— Eu tenho — ele diz, se mexendo na cama. — Você enviou


apenas cerca de uma dúzia delas.

Eu balanço meus calcanhares e estudo a pintura no teto. —


Bem, você sabe, a fibra é saudável. Mantém você regular e tudo isso.
Ouvi dizer que é bom para...

— Kit — ele responde, a frustração em sua voz inconfundível.

Finalmente, eu olho para ele, e a represa dentro de mim se abre


- derramando uma semana de lágrimas, culpa e sofrimento com ela.
— Sinto muito, Landon.

Sua expressão se suaviza. — Venha aqui.


Quero protestar porque não mereço ser consolada por ele, mas
quando ele começa a sair da cama e faz uma careta, corro até ele.

Instantaneamente, seus braços me envolvem e isso só me faz


chorar mais. — Sinto muito — repito em meio aos soluços, porque
nunca vou conseguir parar de me desculpar com ele. — E eu sinto
muito por ser tão covarde e não vir aqui para me desculpar com você
antes. Não que o fato de eu estar arrependida mude alguma coisa ou
torne isso...

— Você não tem nada para se desculpar, Kit.

— Sim eu tenho. — O tom áspero da minha voz o fez recuar para


olhar para mim. — Eu te deixei. Você era meu amigo e eu o deixei lá.

Ele balança a cabeça. — Ok, em primeiro lugar - ainda sou seu


amigo. Segundo - da última vez que verifiquei, você foi arrastada
para o elevador, chutando e gritando. — A ponta de seu polegar toca
minha bochecha manchada de lágrimas. — Mas mesmo se você não
fosse, você ainda não teria nada do que se desculpar.

— Você está errado — digo a ele, apontando para o meu peito.


— Eu deveria ter...

— Droga, Kit. Não — ele interrompe, agarrando meu rosto. —


Olhe para mim.

Quando o faço, ele diz: — Fiz uma escolha por todos nós naquele
refeitório. Era meu plano e eu não dei a você e Preston outra opção
a não ser ir em frente com ele. Não se desculpe por fazer o que eu
queria que você fizesse. — Sua mandíbula endurece. — Eu teria
odiado vocês dois se não o fizessem.

Sua declaração faz com que uma onda de raiva cresça dentro de
mim, não apenas porque ecoa o que Preston disse no elevador, mas
me faz sentir ainda pior. — Por que você se sacrificaria por nós? Você
não estava com medo de nunca mais ver Breslin ou Asher
novamente?

Pensamentos de Becca me esmurram e cerro os punhos


enquanto continuo. — Por que você arriscaria sua vida por duas
pessoas que não significam tanto quanto as duas pessoas que você
ama?

Era para ser uma pergunta, mas em vez disso saiu como uma
acusação.

Sua expressão é de dor. — Eu estava petrificado por nunca mais


vê-los novamente, mas eu sabia que Breslin não poderia perder você
e Asher não poderia perder Preston. Eles nunca seriam os mesmos
se fossem um de vocês e eu não poderia deixar isso acontecer. A
única chance que vocês dois tinham de sair vivos foi a que fiz.

Eu jogo meus braços em volta dele porque não há mais nada


que eu possa dizer a ele depois disso. De qualquer maneira, nada de
bom. Não posso ficar aqui e dizer ao homem que salvou minha vida
que gostaria que ele não se incomodasse.

Se Kyle me matasse, pelo menos eu teria morrido sabendo que


a garota para quem eu dei meu coração me amava de volta... mesmo
que fosse apenas uma ilusão. Fingir que você é amado é muito
melhor do que saber que você não é.

Mas Preston tirou isso de mim. Ele não apenas partiu meu
coração; ele quebrou minha ilusão.

— Eu o odeio — eu engasgo enquanto uma nova dose de dor


incandescente me atravessa como uma faca quente na manteiga. —
Eu o odeio pra caralho.
Landon me embala em seu peito. — Eu sei, às vezes há
momentos em que eu também. Eu tenho que ficar me lembrando que
ele estava mentalmente doente e lutando com seus demônios.

Eu fico olhando para a bandagem aparecendo por cima de sua


bata de hospital, me sentindo estúpida e envergonhada. — Sim. —
Eu me endireito e limpo os olhos com a manga. — Você tem razão.

Ele me lança um olhar estranho. — Kit, há algo mais


acontecendo? Eu sei que não sou Breslin, mas você pode...

— Não. — Eu dou um passo para trás. — Estou bem. Tudo está


bem.

Ele começa a abrir a boca, mas Breslin e Asher entram na sala.


Meus olhos caem para onde suas mãos estão unidas e, em seguida,
de volta para Landon, que está sorrindo brilhantemente para os dois.

Acho que algo bom saiu dessa tragédia, afinal, porque parece
que os três acabaram resolvendo seus problemas.

Meu coração se contorce e, quando começo a pensar em uma


desculpa para ir embora, porque estar perto do trio feliz é o
equivalente a cutucar uma crosta feia e escorrendo, ouço um telefone
tocar.

Eu vejo Asher - que agora percebo que está vestindo um terno -


olhar para seu celular e franze a testa antes de devolvê -lo ao bolso.

Ele se parece muito com seu irmão mais novo neste momento;
faz meus dentes estalarem.

— Suponho que não era ele? — Pergunta Landon, tirando-me


dos meus pensamentos.

— Não. — Asher solta a mão de Breslin e se joga na grande


cadeira da sala. — Tentei ligar para o celular dele, mas está fora de
serviço. A única coisa que posso fazer é rezar para que ele me ligue
para que eu possa ajudá-lo ou decida voltar por conta própria.

— Ele vai — Landon diz. — O funeral acabou de acontecer esta


manhã, talvez ele precise de alguns dias para clarear a cabeça antes
de entrar em contato novamente.

Breslin bufa. — Limpar a cabeça dele? Acho que você quer dizer
apostar cada centavo que ele tem antes de ligar para Asher para tirá-
lo de qualquer problema em que ele esteja.

Landon esfrega a nuca. — Sim, isso também.

— Funeral? — Eu questiono, me odiando por ser tão curiosa


quando eles estão claramente falando sobre o mesmo idiota que eu
detesto.

Breslin vai até Asher, que parece mais perturbado a cada


segundo. — O pai de Asher acabou falecendo na mesma noite em que
o tiroteio aconteceu. — Ela esfrega as costas de Asher. — O funeral
foi esta manhã e Preston fugiu da cidade depois que terminou. Asher
acha que ele pode estar em apuros novamente. Como de costume,
ele se ofereceu para ajudá-lo, mas Preston recusou... por enquanto.

Fui pega tão desprevenida com a notícia que quase fico


surpresa.

E então eu percebo.

— Eu não posso acreditar que ele deixou seu bebê — eu deixo


escapar, a raiva substituindo meu choque. Eu me sinto como uma
bomba poucos segundos antes de explodir. — Na verdade, pensando
bem, eu posso.

Eu olho para Asher porque estou pegando fogo agora e ele é a


coisa mais próxima do alvo real que eu tenho. — Seu irmão é o idiota
mais egoísta e egocêntrico que já conheci.
Eu rio sarcasticamente, como uma espécie de hiena louca. O
ódio que tenho pelos dois está praticamente sangrando de todos os
orifícios do meu corpo. — Pena que ele foi embora, porque ele e Becca
se merecem. E espero, para o bem de todos, que o bebê deles não
goste de nenhum dos dois - o que, suponho, é tão inútil quanto
desejar um riacho de água no deserto, considerando que é filho de
Satanás e sua puta burra e traidora.

Todos eles me olham com os olhos arregalados, como se eu


tivesse enlouquecido.

Eles não estão errados. Eu realmente enlouqueci.

Asher começa a falar, mas Landon o interrompe. — Kit tem


razão... mais ou menos. Não consigo ver seu irmão abandonando o
filho que ainda não nasceu. Não tem como ele ter ido embora para
sempre.

Asher tenta falar novamente, mas desta vez, é Breslin quem


intervém. — Preston não é um cidadão honesto, mas ele não
abandonaria seu filho. Ele definitivamente estará de volta à cidade a
tempo para o nascimento.

Asher levanta uma sobrancelha, parecendo confuso. — O que


diabos vocês três estão fumando? O bebê não é dele.

Eu olho para Breslin e Landon, que parecem tão perplexos


quanto eu.

— Não é? — Breslin questiona ao mesmo tempo que eu digo: —


O bebê é dele. Confie em mim.

Asher balança a cabeça. — Não, não é.

O olhar de Breslin faz um pingue-pongue entre nós. — Tem


certeza?
— Sim — grito ao mesmo tempo que Asher diz: — Positivo.

Breslin e Landon trocam um olhar.

— Isso realmente esclarece as coisas — Landon murmura.

Breslin dá um gole em sua bebida e suspira. — Ok, obviamente,


precisamos chegar ao fundo disso.

Landon acena com a cabeça. — Asher, você vai primeiro, por


que você tem certeza que o bebê não é dele?

Asher se recosta na cadeira e abre os braços, olhando para todos


nós. — Bem, para começar, meu irmão consegue mais bunda do que
um assento de vaso sanitário. Ele já estava fazendo sexo a três
quando consegui minha primeira punheta de Breslim.

Eu ignoro a estranha dor em meu peito enquanto Breslin


engasga com sua bebida e Landon aperta a ponte de seu nariz. —
Temos que trabalhar em suas habilidades de explicação. O que tudo
isso tem a ver com ele não ser o pai?

— Preservativos, — exclama Asher. — Meu irmão não faz sexo


sem eles, nunca. Nosso pai era muito rígido quanto a não engravidar
ninguém antes de completar 30 anos. Preston sempre os usa, e eu
sei que ele os usou com Becca porque ele me disse que sim. Ele pode
ter gostado dela em um ponto, mas ele sabia que não devia confiar
nela.

Eu rolo meus olhos. — Certo, porque os preservativos nunca


rasgam ou funcionam mal. — Eu cruzo meus braços sobre meu peito.
— Preservativos ou não, seu irmão confirmou que o bebê era dele
enquanto estávamos presos no elevador.

Asher dá de ombros. — Bem, então ele mentiu para você por


algum motivo. Provavelmente porque ele não queria que você
enlouquecesse quando descobrisse que Becca não apenas te traiu
com ele, mas também com um cara aleatório, enquanto estavam
confinados em um pequeno espaço juntos. — Ele gira um dedo em
volta da cabeça. — Não posso dizer que o culpo, você é meio maluca.

Juro que deve haver algo no DNA dos Holden que foi projetado
especificamente para me irritar. — Ou talvez ele mentiu para você
para que você não desse a mínima para ele sobre abandonar seu
filho antes de sair da cidade, já pensou nisso? — Eu jogo minhas
mãos para cima. — Oh espere, claro que não... porque preservativos.
Juro por Deus, pessoas como vocês são a razão de termos rótulos de
advertência.

— Chega, Kit, — Breslin range os dentes enquanto Landon


estreita os olhos para mim.

Asher se inclina para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.


— Olha, meu irmão não é exatamente um santo, e eu não entendo
por que ele faz metade das merdas que ele faz na maioria das vezes,
mas ele não faria isso. Ele ficou arrasado quando o resultado da
paternidade saiu e ele descobriu que o bebê não era dele. Acho que
nunca o vi tão chateado.

— Resultados de paternidade? — Eu sussurro, ou pelo menos


acho que sim. Tudo que posso ouvir é minha pulsação batendo em
meus ouvidos enquanto repasso a última parte de nossa conversa no
elevador.

— E aí está por onde você deveria ter começado, Asher, —


Landon diz enquanto fecho meus olhos.

Não faz nenhum sentido... em absoluto. Por que ele me deixou


acreditar na mentira de Becca em vez de me dizer a verdade? E por
que ele ficaria com ela novamente depois que ela mentiu para ele
sobre ser o pai?
Eu dou um passo para trás quando a realização me atinge como
uma panela quente no rosto.

As setas apontam apenas para uma direção. Preston fez tudo


isso... para me machucar.

Pior do que me machucar - ele queria me destruir.

É também por isso que ele me beijou. Ele queria que eu


questionasse minha sexualidade e tivesse sentimentos por ele. Dessa
forma, minha queda seria muito mais difícil.

Eu confiei nele.

Tento respirar após o tsunami de dor que inunda meu peito,


mas não consigo. A traição de Becca foi uma ressaca. Mas a de
Preston é uma correnteza... e está me puxando para baixo.

Estou me afogando, como ele queria.

Eu preciso sair daqui.

Estou no meio do corredor quando Breslin me alcança. — Becca


é ainda mais vadia do que eu pensava. Eu realmente quero chutá-la
em sua placa de Petri de vagina por foder com você.

Eu ignoro suas palavras e continuo andando. Não posso ficar


perto dela ou de qualquer outra pessoa... Não quero. Quero afastar
todo mundo porque estou tão cansada de ser magoada. Estou
cansada de ser usada. Estou cansada de dar a todos o meu coração
e vê-los pisar nele.

Estou cansada de nunca ser boa o suficiente.

E estou tão cansada de todos que amo, me deixando de uma


forma ou de outra.

Talvez eu deva ser a primeira a fazer isso desta vez.


Breslin não precisa mais da minha amizade. Ela está feliz e
apaixonada não por uma, mas por duas pessoas agora. E
considerando que a faculdade está quase acabando e não seremos
mais colegas de quarto, não há motivo para ela manter contato.

Portanto, estou cortando o cordão antes que ela o faça e


poupando-me da tortura acabar com isso lentamente.

— Kit — ela grita, e eu me viro e a encaro.

— O que?

Ela fica boquiaberta para mim. — O que você quer dizer com o
quê? Estou tentando falar com você e ter certeza de que você está
bem.

Eu pressiono um dedo nos meus lábios. — Desculpe, estou


tendo problemas para acompanhar. Uma semana atrás, você brigou
comigo por estar bem e não morrer, quando seu namorado decidiu
atacar a pessoa que nos mantinha sob a mira de uma arma... e hoje
você está preocupada com o meu bem-estar?

A culpa se apodera de seu rosto. — Você sabe que eu não...

— Não, eu não sei. E para dizer a verdade, não tenho certeza se


me importo. — Eu levanto meu queixo antes de dizer as mesmas
palavras que ela me disse. As palavras que eu conheço que irão
irritá-la ou afastá-la. — Não me siga quando eu virar.

Eu vou andar novamente, mas seus braços me envolvem, me


segurando no lugar. — Eu estava fora de mim. Tudo o que eu
conseguia pensar era em Landon e o quanto me mataria perdê-lo. Eu
estava apavorada e precisava de alguém para culpar porque a pessoa
que eu queria estava morta. — Sua voz treme e ela aperta seu aperto.
— Mas eu estava errada e sinto muito.
Minha cabeça dói e tudo o que resta do meu coração torce, mas
eu me liberto de seu aperto de qualquer maneira.

— Não sei o que você quer de mim ou por que está escolhendo
se desculpar agora. — Eu olho maliciosamente para ela. — Oh,
espere, eu entendo. Agora que Landon está bem, você e seus
namorados resolveram as coisas e vocês são uma grande e feliz orgia
- tudo no mundo deve estar ótimo de novo, hein? Bem, novidades,
B. O mundo não gira em torno de você.

Não há engano na ofensa em seu rosto, e eu quero retirar as


palavras no segundo que elas saem da minha boca, mas eu me
recuso.

— Eu tenho uma merda para fazer, vejo você por aí.

Ela puxa meu braço. — Jesus Cristo, Kit. O que mais eu tenho
que dizer ou fazer para provar o quanto estou arrependida?

Eu a olho bem nos seus olhos. — Você pode começar me


deixando sozinha. Para sempre.

Ela pisca. — Você não pode estar falando sério. Você é minha
melhor amiga.

— As coisas mudam.

Seu rosto cai. — Esta não é você, Kit.

Ela está certa... não é. Esta é a nova Kit. A Kit que pode sair
pelas portas do hospital, ignorando os apelos de sua melhor amiga
para que ela volte.

A adrenalina corre através de mim, fazendo meu corpo tremer


enquanto corro para o meu carro.

Deus, estou com tanta raiva. Fodidamente zangada com os dois.


Um soluço sufocado brotou da minha garganta. Por ele.

Estou colocando minha chave na ignição quando meu telefone


toca e vejo o nome da minha avó Bishop piscando na tela.

Eu prontamente aperto o botão de ignorar e saio do


estacionamento.

Porque esse é a Kit que não liga mais para nada nem para
ninguém.

A Kit que não se machuca... nunca. Porque ela não sente mais
absolutamente nada.
Capítulo 1

Três anos depois...


— A próxima fusão não só aumentará a receita desta empresa,
mas também expandirá o crescimento para ambas as partes
envolvidas. — Ela lambe os lábios e sorri, e é uma coisa boa eu estar
sentada porque sinto meus joelhos fraquejarem.

— Eu sei que alguns de vocês têm reservas e eu entendo -


grandes mudanças podem ser assustadoras. No entanto, coloquei
meu sangue, suor e lágrimas em Pretty Kitties, então confie em mim
quando digo que esta é a melhor solução para salvar a empresa.

Marge, a supervisora de cobrança - se é que você pode chamá-


la assim - revira os olhos. — Oh, por favor. Este é o movimento errado
e você sabe disso. Acho que falo por todos quando digo que Pretty
Kitties - uma empresa de brinquedos sexuais femininos é elegante e
inofensiva. Mas juntar forças com Porn Rub? O que devo dizer aos
meus filhos? Desculpe, vou chegar tarde em casa esta noite, eu tenho
que calcular as horas faturáveis para alguma vadia enfiar pau na
bunda.

Alguns dos meus colegas de trabalho riem e acenam com a


cabeça em concordância.

Eu pego minhas cutículas. — Parece que alguém está com um


pouco de ciúme de não ser pago pelo pedaço de pau que tem na
bunda.

Marge me lança um olhar sujo. — Diz a lésbica.

Eu me inclino para frente. — Isso era para ser um insulto?


— Não se preocupe, Marge, não é contagioso, — diz Juan, meu
extravagante e impecavelmente vestido amigo de vendas, e eu sorrio
para ele por ter vindo em minha defesa.

— Tudo bem, chega. — Minha chefe aguça o olhar enquanto ela


olha ao redor da mesa para nós. — Eu sei que essa fusão com o Porn
Rub não é ideal para todos. No entanto, se a nova direção não for
algo em que você esteja interessado, não deixe a porta bater em sua
bunda ao sair. Este é um negócio e há uma tonelada de dinheiro que
pode ser feito com este negócio. E se você quiser que mamãe lhe dê
um pedaço da torta, sugiro que você se cale e preste atenção.

Dou tudo de mim para não me levantar e dar-lhe uma salva de


palmas. Ela não é apenas uma das mulheres mais lindas que já vi -
sua atitude de assumir o controle é muito excitante.

Pare com isso, Kit. Eu belisco minha coxa sob a mesa. Ela é sua
chefe.

Sua chefe muito gostosa.

Uma chefe gostosa que beijou você enquanto dividia um táxi


depois da festa de feriado da empresa no mês passado. E então fingiu
que nada tinha acontecido na segunda-feira seguinte.

— Kit? — ela questiona, sua voz rica como veludo.

Eu olho para cima e respiro fundo. Se Rihanna e Eva Mendez


tivessem uma filha... seria parecida com ela.

Eu posso sentir o olhar de todos em mim enquanto eu limpo


minha garganta. — Sim?

— Você ainda está comigo?

Claro que sim. — Absolutamente.


Ela parece aliviada. — Bom. Porque o Porn Rub quer que você
seja a chefe do departamento de mídia social deles. Eles sabem que
você precisará de algum treinamento extra, mas se fizer um bom
trabalho, ganhará o dobro do que ganha agora. Parece bom?

Eu não sabia que as empresas pornográficas, mesmo as mais


conhecidas, tinham departamentos de mídia social, mas não vou
recusar isso. Não só por causa do dinheiro, mas porque Jess me deu
uma chance e me contratou quando ninguém mais o faria.

Porque eu sou péssima.

Eu empurro esse pensamento para o segundo plano antes que


ele possa me arrastar para baixo. Trabalhei muito para ter minha
vida de volta após minha espiral descendente e, finalmente, estou
em um bom lugar novamente. — Estou ansiosa por isso.

Ela morde o lábio e meu estômago afunda. — Eu também. — Ela


sustenta meu olhar por uma fração de segundo antes de pegar uma
pilha de envelopes e começar a jogá-los individualmente.

Estou prestes a perguntar o que há neles, mas então Juan grita:


— Vegas! Isso é melhor do que uma venda na Nordstrom.

Todos ao meu redor gritam e aplaudem, e com certeza; quando


abro meu envelope; há uma passagem de avião com meu nome.

Minha chefe limpa a garganta, esperando que nos acalmemos


antes de ela falar novamente. — Porn Rub, junto comigo, montamos
um pequeno workshop. Considerando que esta é uma mudança tão
drástica, pensamos que algum treinamento seria útil. — Seus olhos
brilham. — E como queremos que seja uma experiência divertida
para todos os envolvidos, bem como uma celebração, imaginamos
que Vegas seria o lugar certo. — Ela espera que a conversa animada
diminua novamente antes de falar. — Ok, isso praticamente encerra
a reunião de hoje. Termine o resto do dia, aproveite o fim de semana
e vejo vocês em Las Vegas.

Com isso, ela nos dispensa.

— Não acredito que vou trabalhar com pornô, — murmura


Marge enquanto reúne suas coisas e sai pela porta.

— Algo me diz que não será por muito tempo, — Juan murmura
antes de se inclinar e sussurrar. — Mais torta para nós, certo?

Pego meu bloco de notas e me levanto. — Torta com um lado


pornô. O passatempo favorito da América.

Ele me lança um olhar estranho. — Sabe, para uma garota que


descobriu que estava indo para Las Vegas e recebendo um aumento,
você não parece tão animada. — Ele cutuca meu braço. — É tudo o
que você vai ver agora? Porque acredite em mim, querida. Pinto é
fantástico.

Eu dou uma olhada para ele. — Vamos concordar em discordar


nisso. A menos, é claro, que você não se importe que eu liste todas
as razões pelas quais boceta é a segunda melhor coisa para o céu.

Ele torce o nariz. — Ugh, ponto tomado. Deus sabe que ouço o
suficiente dessa porcaria sempre que visito meus pais.

Pego meu café e jogo minha bolsa por cima do ombro. — Eu


sinto sua dor. Minha avó também não aceitava minha — faço aspas
no ar — “doença”. Ser criada por ela não foi exatamente um
piquenique.

— Parece que você está melhor sem ela.

Eu estremeço interiormente. — Sim eu estou. Quero dizer, ela


ainda está viva e chutando, mas não nos falamos há anos. — Eu
aceno com a mão porque odeio o tom amargo que nossa conversa
tomou. — Como você disse, é o melhor.

Ele inclina sua xícara de café para mim. — S...

— Você pode esperar um minuto, Kit? — minha chefe grita,


interrompendo-o.

Juan deve notar o rubor subindo pelas minhas bochechas


porque ele pisca e sussurra: — Eu quero todos os detalhes. Sem os
monólogos da vagina — antes de sair da sala.

Tento relaxar antes de me virar e encará-la. — E aí?

— Eu não queria dizer isso durante a reunião, mas o PR quer


que você passe algumas semanas no escritório deles em Nova York.

— PR? — No momento em que a pergunta sai da minha boca, eu


percebo. — Certo, Porn Rub. Duh.

Eu odeio seriamente a maneira como meu cérebro vira mingau


em torno dela.

Visto que fiz 24 anos no mês passado, você pensaria que seria
madura o suficiente para parar de me transformar em uma imbecil
em torno das mulheres pelas quais me sinto atraída.

Então, novamente, Asher, que recentemente fez 25 anos,


tornou-se famoso por fazer uma dancinha idiota no campo de futebol
sempre que seu time marca um touchdown. Portanto, acho que a
idade é realmente apenas um número e não um indicador de
maturidade.

Minha chefe inclina a cabeça e percebo que ela está esperando


minha resposta. — Algumas semanas em Nova York não serão um
problema. — Eu mordo meu lábio, debatendo minhas próximas
palavras com cuidado. — Posso te fazer uma pergunta?
Os dedos digitando freneticamente em seu telefone pararam. —
É claro.

— Espero que isso não pareça rude. Eu não sou uma azeda
crítica como Marge é, é só...

Seus lábios se contraem. — Você quer saber como e por que


alguém, dono de um negócio que incentiva mulheres a abraçar suas
necessidades sexuais, acaba se fundindo com uma empresa
pornográfica.

— Sim. — Eu encolho os ombros. — Não que eu tenha algo


contra a pornografia, mas não há como negar que é muito unilateral
no que diz respeito a que tipo de sexo em particular a indústria
pornográfica atende. Do ponto de vista dos negócios, não entendo
como a Pretty Kitties se beneficiaria. Dentre quaisquer coisas,
poderíamos estar perdendo clientes.

Ela aponta a caneta para mim. — Você está 100% correta sobre
ser unilateral. O que é exatamente o que Pretty Kitties, ou melhor,
PR, vai mudar. A empresa sozinha vale milhões, mas o CEO - junto
com o assistente executivo, que supervisiona a sede principal em
Nova York - percebeu que poderia ganhar ainda mais dinheiro e
possivelmente dobrar seus lucros, abrindo uma divisão que atende
exclusivamente às mulheres.

— Mas o Porn Rub obtém a maior parte de sua receita com


anúncios e conteúdo enviado pelos usuários. Eles não fazem o
conteúdo sozinhos, então não entendo como eles podem...

— No momento eles não querem — ela interrompe. — Mas


haverá algumas mudanças em breve. Os usuários continuarão com
as mesmas opções de sempre no site, só que agora terão vídeos
produzidos pelo Porn Rub voltados para mulheres. Os vídeos
incluirão produtos feitos por Pretty Kitties, além dos uploades
populares que mostram nossos brinquedos em seus vídeos.
Concordo com a cabeça porque, em teoria, faz sentido, mas não
posso deixar de me perguntar. — Você acha que terá sucesso?

Sua mandíbula se contrai e por um momento acho que ela vai


me deixar pegar, mas para minha surpresa, ela olha para seus pés.
— Tem que ser. Caso contrário, estou extremamente ferrada. —
Quando ela levanta a cabeça, noto que seus olhos estão vidrados. —
Se eu te contar algo, posso confiar que você guardará para si mesma?

Nunca a vi tão tímida. — É claro.

— Eu estava a um batimento cardíaco de fazer o pedido para o


Capítulo 11.

Minha mão voa sobre minha boca, não em condenação, mas em


choque. — Eu nunca teria adivinhado. Achei que os negócios
estavam bons?

Ela torce as mãos. — Estavam. Mas quando comecei esta


empresa, há três anos, coloquei tudo o que tinha nela, junto com
coisas que eu não tinha... como dinheiro. Eu era jovem e otimista,
então peguei um grande empréstimo e descobri que poderia pagar
tudo de volta assim que ela decolasse. Mas, descobri da maneira
mais difícil que era uma coisa terrível de se fazer, porque acabei
ficando com muitas dívidas. Eu mal conseguia me segurar, o que era
muito frustrante porque as vendas eram o triplo do que eram antes,
mas ainda não era o suficiente para salvar o negócio. Do jeito que eu
vi, eu só tinha duas opções. Um, implorar ao meu banco por outro
empréstimo - o que é claro que eles imediatamente negaram, ou
propor uma fusão de negócios com uma das maiores empresas
pornográficas do mundo e fazê-los ver que estão perdendo muito
dinheiro por não incluir mulheres em seu grupo demográfico; e rezar
para que eles tenham ficado intrigados o suficiente para entrar em
contato comigo. Eu estava dirigindo para me encontrar com o
advogado da falência quando recebi o telefonema e eles marcaram
uma reunião. Depois de propor meu plano e mostrar meus dados a
eles, tive que ser franca sobre minha dívida. Para minha surpresa,
eles ainda estavam dispostos a fazer negócios juntos, mas apenas se
eu lhes entregasse 90% da minha empresa e lhes desse total controle
para fazer o que quisessem com ela - incluindo liquidar se não
produzir lucro suficiente para eles. Felizmente, consegui negociar
um acordo para manter minha equipe de dezessete funcionários
também.

Eu me sinto tão mal por ela. Vender brinquedos sexuais não é


uma indústria na qual eu jamais pensei que estaria envolvida, mas
eu sei que é o bebê dela. E agora ela tem que entregá-la a outra
pessoa.

— Sinto muito, Jess. Não consigo imaginar o quão nervosa você


deve estar.

Ela acena com a cabeça. — Você não tem ideia, Kit. Ou vou
acabar milionária no meu vigésimo sétimo aniversário. Ou estarei
morando em uma caixa de papelão.

Eu instintivamente pego a mão dela. Eu não posso me conter.


— Eu não vou deixar você falhar.

E se eu tivesse completado vinte e cinco anos no mês passado,


em vez de vinte e quatro, ela não teria medo de ficar sem-teto, porque
eu pagaria os empréstimos e ela conseguiria manter o controle total
de sua empresa. Mas, do jeito que está agora, minha situação
financeira não é muito melhor do que a dela. Só que, ao contrário
dela, tenho uma luz garantida no final do meu túnel.

E meu Deus, que túnel escuro tem sido por quase três anos.

Depois que saí do hospital, jurando nunca mais deixar ninguém


me machucar... Eu estava em uma situação ruim. Um lugar tão
deprimente e sombrio que me desliguei e me fechei.
Eu estava cansada de me afogar. Cansada de sentir. Eu só
queria flutuar e ficar dormente.

Então foi exatamente isso que eu fiz.

Deixei Woodside sem me formar e naveguei pela vida em uma


névoa densa de vários lugares, várias substâncias e vários corpos.

Acabei até na última página de alguns tabloides. Algo que teria


devastado meu pai introvertido que, apesar de sua riqueza, ficava
longe de todas as coisas de Hollywood.

Eu me tornei o que jurei que nunca seria. A epítome de tudo que


meus pais desprezavam.

Mas eles não estavam por perto para me impedir... e fiz questão
de afastar qualquer um que tentasse. Incluindo minha melhor amiga
e minha avó... mesmo depois de ela cumprir sua ameaça de me
cortar.

Eu não me importei.

Por dezoito meses, convivi com pessoas que tinham acesso a


mais dinheiro do que jamais saberiam o que fazer, mas no fundo
eram infelizes - porque todos sabiam o que eu fazia.

Que embora o dinheiro pudesse me comprar muitas coisas boas,


nenhuma quantia de dinheiro poderia comprar o que eu realmente
queria.

O dinheiro nunca traria meus pais de volta.

E com certeza nunca compraria amor para mim - não o tipo que
eu sempre desejei. Nem mesmo quando eu dei todo o meu de graça.

Então, me joguei no esquecimento com todo o dinheiro que havia


economizado de minhas mesadas anteriores.
As coisas eram muito mais fáceis sem nenhuma
responsabilidade ou prestação de contas.

Minha vida era absolutamente linda pra caralho quando parei


de me importar com isso.

Até que não foi.

Minha verificação da realidade veio na forma de uma modelo


alta e pernas longas do Brasil chamada Gabriela.

Foi amor à primeira vista, eu tinha certeza disso. Gabriela foi


um anjo enviado do céu para mim. E o barman que me serviu meu
terceiro chá gelado Long Island e a sexta dose de vodca naquela noite
concordou ansiosamente enquanto nos observava antes de
entrarmos na pista de dança.

Trinta minutos e outra dose depois, no entanto, ela estava se


desculpando por ter que sair, porque estava atrasada para a grande
festa que seu agente estava dando.

Eu, é claro, decidi me convidar porque estava bêbada e


apaixonada por ela.

Ela não teve objeções quando agarrou minha mão e me levou


para fora do clube. Lembro-me de dizer que deveríamos chamar um
táxi porque eu não estava em condições de dirigir - mas ela me disse
que demoraria muito e seu agente a demitiria se ela não aparecesse
na próxima meia hora.

Olhando para trás, eu deveria ter protestado e dito a ela que era
uma má ideia.

Em vez disso, desmaiei quando ela me disse o quão bom ela iria
me foder. E eu não argumentei quando ela insistiu que estava sóbria
o suficiente para nos levar até lá e tirou minhas chaves da minha
bolsa.
A última coisa de que me lembro é de acordar espremida entre
os bancos do motorista e do passageiro e o som das sirenes.

Bem, isso e o fato de que meu carro passou por uma grande
janela de vidro e estava no meio da casa de alguém.

Infelizmente para mim, Gabriela não estava em lugar nenhum.


E dado que os proprietários da casa onde ela entrou com o meu carro
não estavam em casa, e o carro estava registrado em meu nome, era
quase impossível provar que eu não era a motorista.

Mas pelo menos minha garota foi gentil o suficiente para me


deixar um símbolo de nosso romance turbulento.

Uma bolsa contendo cocaína. O que, olhando para trás, explica


por que seu agente exigiu que ela fosse à festa. A garota estava
segurando todo o entretenimento.

Eu não poderia estar tão brava, no entanto. Afinal, ela disse que
iria me foder bem.

E cara, ela fodeu.

Ela me fodeu tão bem... que resultou em uma visita ao hospital,


uma viagem para a prisão, honorários advocatícios caros... e um
registro.

No entanto, isso me deu minha melhor amiga de volta, então é


isso.

Achei que Breslin ia desmaiar quando me viu na prisão. E então


pensei que ia desmaiar quando Asher, de todas as pessoas, acabou
pagando minha fiança. Uma fiança que não pude pagar porque gastei
a maior parte das minhas economias durante minhas travessuras
imprudentes e sabia que tinha uma chance melhor de encontrar um
gênio em uma garrafa do que minha avó, me dando um centavo do
dinheiro dos meus pais. Especialmente depois que ela soube que o
motivo de eu estar nessa situação era porque eu tinha me
apaixonado por uma modelo brasileira que conhecia há duas horas.

Eu estava enfrentando um crime e sabia que provavelmente


seria mandada embora até que precisasse de dentadura.

Havia o fundo do poço... e então havia eu. E eu não podia culpar


ninguém além de mim por isso.

Preston pode ter acendido o fósforo que desencadeou minha


autodestruição três anos atrás, mas fui eu que escolhi manter o fogo
aceso até que se transformasse em um inferno.

Felizmente, tive sorte do meu lado, porque Landon e Breslin me


ajudaram a encontrar um grande advogado que foi persistente o
suficiente para insistir que eles tirassem as impressões na bolsa e
no saco de cocaína para provar que não era meu e rastrear a
vigilância do clube mostrando Gabriela - que deixou o passaporte
naquela bolsa - pegando as chaves do meu carro e pulando no banco
do motorista antes de sairmos.

Além de ser minha primeira acusação, meu advogado


mencionou ao tribunal que eu era um dos reféns no infame tiroteio
no Campus de Woodside, lembrando ao tribunal que eu nunca fui
encontrada atrás do volante, porque eu estava grata por ninguém ter
se machucado e, sinceramente, estar arrependida por ter errado,
garantindo minha clemência.

Eu escapei com um ano de liberdade condicional.

Eu fiquei com Breslin, Asher e Landon em sua casa em Nova


Orleans durante todo o tempo, e se eu não tivesse sido grata por
todos eles antes... eu certamente estava naquela época.
Eles tinham todo o direito de virar as costas e me deixar com
minha bagunça - é o que eu merecia. Mas, em vez disso, eles me
ajudaram a limpar e a ficar de pé.

Devo tudo a eles.

— Você é um amor, — diz minha chefe, interrompendo meus


pensamentos. — Mesmo que nós duas saibamos que não mereço sua
gentileza.

Sua declaração me confunde. — Por que...

Ela me encara com um olhar. — Eu beijei você depois da festa


de Natal no mês passado.

Tenho certeza de que meu rosto combina com as pontas rosadas


dos meus longos cabelos. — Eu pensei que você estava bêbada
demais para se lembrar. Mas eu prometo que nunca disse a ninguém,
incluindo Juan. — Minha palma voa para minha testa. — Droga, isso
é mentira. Eu disse a minha melhor amiga Breslin, mas ela nunca
diria nada, nem mesmo para seus namorados Asher e Landon.
Embora...

— Você fica adorável quando está nervosa. — Ela ri. — Agora


me faça um favor e respire antes de desmaiar.

Eu aceito sua sugestão e encho meus pulmões. Estou dividida


entre querer fazer uma dança feliz porque ela me acha adorável e
desejar que o chão se abra e me engula por causa da minha
tendência de divagar quando estou seriamente interessada em
alguém.

— Eu me lembro do beijo, Kit, — diz ela e eu engulo em seco. —


Mas foi um grande erro que nunca deveria ter acontecido. Eu sou
sua chefe.
A decepção que me atinge é poderosa. Imagina, justamente
quando encontro uma garota que não é apenas linda, mas também
inteligente, trabalhadora e não uma pessoa tóxica ou manipuladora
- eu não posso tê-la.

Jess é tudo que eu quero e o tipo de garota que eu deveria


perseguir.

Cara, que situação do caralho.

Eu coloco um sorriso no rosto. — Está totalmente bem. Entendo.


— Eu sigo meu polegar na direção da porta. — Eu provavelmente
deveria voltar para minha mesa e agendar os posts da Pretty Kitties
para este fim de semana.

— Kit — diz ela quando chego à porta.

— Sim?

— Não serei mais sua chefe direta depois de Vegas.

Antes que eu possa dizer uma palavra, ela pega seu celular que
está vibrando e o leva ao ouvido. — Tenho que atender, é o novo
chefe, mas tenha um bom fim de semana.

Eu aceno como a idiota sorridente e atordoada que sou.


Felizmente ela está muito interessada em seu telefonema para
perceber.

— Ei, você. Eu pretendia retornar sua ligação após a reunião,


mas estava conversando com a Kit, a garota de quem eu estava
falando. — Ela ri. — Ela é incrível, Jared. Você realmente vai gostar
dela. — Ela me dá uma piscadela. — Eu sei.

Quando ela gesticula para que eu lhe dê um pouco de


privacidade, percebo que ainda estou ali, sorrindo para ela como
uma idiota apaixonada.
Eu rapidamente fecho a porta atrás de mim e caio contra ela.

Boa, Kit. Muito bom.

— Eu gosto de preto e doce, assim como meus homens, —


declara Juan enquanto passa por mim em direção à copiadora.

— Huh?

Ele aperta um botão. — É como vou aceitar a xícara de café que


vai salvar sua bunda de parecer uma bagunça quente e pegajosa. —
Ele estala os dedos. — Agora tire a pele da porta dela, antes que ela
a abra e você caia em cima dela.

Eu ando até ele. — Eu não sou pegajosa.

Ele levanta uma sobrancelha perfeitamente depilada. — Certo,


e eu tenho uma minivan e moro em uma mansão com minha esposa
Cathy, que cozinha o jantar para mim e meus três filhos, enquanto
usa o colar de pérolas que comprei para ela no aniversário dela.

Eu descanso contra a copiadora. — Eu não sei, Juan. Isso é um


monte de detalhes para não ser verdade.

O canto de sua boca se curva. — Provavelmente porque é


baseado na minha fantasia real. Apesar de Cathy ser Charlie
Hunnam e eu sou aquele que usa um tipo muito especial de colar de
pérolas. — Ele bate no meu braço com a pilha de papéis que está
segurando. — Agora pare de jogar e me traga um pouco de café, Sra.
Clingy.

— Eu não sou pegajosa — eu repito enquanto faço meu caminho


para a pequena sala de café.

— Você meio que é — Marge grita de seu cubículo. — Eu


perguntei se ela queria metade do meu sanduíche uma vez e ela agiu
como se fosse uma proposta de casamento. A garota me trouxe flores
e almoço no dia seguinte.

— Eu estava com fome — defendo acima do riso de meus colegas


de trabalho. — Eu estava tentando ser legal e agradecida.

Isso só os faz rir ainda mais.

Com um gemido, pego meu celular e ligo para Breslin. Preciso


de uma opinião objetiva e sei que ela vai me dar uma.

Ela atende no segundo toque e eu não perco tempo. — Eu sou


pegajosa?

— O que... — Woof.

— Você está de brincadeira? Fomos dar um passeio há dois


minutos, Picasso — diz ela a seu filhote de labrador, que percebo que
não é mais um filhote com base em seu latido profundo.

— Desculpe, o que você estava dizendo?

— Eu sou pegajosa?

Woof. Woof.

— Merda, ele está fazendo xixi na camisa da sorte de Asher. Pare


com isso, Picasso. Mamãe falou com você sobre isso, nós não fazemos
xixi nas coisas do papai...

— Que diabos, querida? De novo? — Asher grita ao fundo. — Eu


pensei que você tinha dito que ele se formou na academia para cães
com honras.

— Ele fez, — Breslin diz ao mesmo tempo em que Landon diz —


Não é culpa dele você ter deixado sua camisa jogada por aí. Você
sabe que é o alvo favorito dele. Você está praticamente o provocando
com isso.
— Eu vou desligar, B. Parece que você está com as mãos
ocupadas.

— Eu sinto muito. Eu te ligo de volta quando não for tão...

— Agora ele está cagando nela e sorrindo para mim, — ruge


Asher. — Por que você tem que ser tão idiota, Picasso?

Woof.

— Ele não é um idiota — diz Breslin defensivamente.

— Ele está sorrindo porque está aliviado agora, — Landon


acrescenta antes que a linha seja desconectada.

Tento suprimir minha risada quando termino de fazer o café de


Juan e volto para o meu cubículo para trabalhar.

Três horas depois, agendei uma variedade de postagens em


vários sites de mídia social para o fim de semana e respo ndi
pessoalmente a mais de quinhentos e-mails, mensagens, tweets,
perguntas e comentários do Facebook nas páginas de mídia social
da Pretty Kitties.

E uma vez que as linhas telefônicas de Juan - junto com os


outros representantes de vendas - ainda estão explodindo ao meu
redor, dou-me um tapinha nas costas por ter feito um bom trabalho.

Então pego meu bloco de notas e faço um brainstorm 8 de


algumas novas ideias de anúncios cativantes para postar na próxima
semana.

Estou digitando um para o nosso vibrador especial do ponto G


da Pretty Kitty quando meu celular toca.

8
O Brainstorming ou “tempestade de ideias”, é uma técnica que tem como objetivo auxiliar as pessoas
na busca por soluções criativas para diferentes tipos de problemas. Normalmente é usado quando você
precisa de um maior conhecimento sobre um produto, processo, problema ou suas causas.
Eu pressiono o botão que conecta meu Bluetooth aos meus fones
de ouvido. — Rápido, B — eu preciso de uma palavra sexy que rima
com inspetor ponto G.

Há um limpar de garganta que é nitidamente masculino. — Kit


Bishop.

Reconheço o desdém em seu tom imediatamente. — Como você


conseguiu esse número, Reggie?

— Reginald, — ele corrige. — E estou ligando em nome de sua


avó.

— Bem, eu certamente não pensei que você estava me ligando


para me chamar para sair e assistir a um filme. Agora, se me dá
licença, tenho trabalho a fazer. Eu agradeceria se você perder meu
número.

Eu vou desligar, mas sua próxima declaração me faz parar no


meio do caminho. — Ela está morrendo.

— O que?

Suas palavras são como um chute no estômago e isso envia uma


onda de emoções através de mim. Além do meu tio de merda, essa
mulher é a única família que tenho. Sim, ela era implacável e má. E
Deus sabe que eu odiava suas punições, regras e como ela podia ser
cruel.

Mas também não posso deixar de me lembrar dos tempos em


que ela não era tão fria. Como quando descobri que meus pais
morreram e ela me abraçou enquanto eu chorava e prometia que
sempre cuidaria de mim.

— É câncer — ele diz suavemente. — No ano passado ela foi


diagnosticada com câncer de garganta e o prognóstico era bom. No
entanto, há duas semanas, ela foi diagnosticada com câncer de
pulmão. Por estar em estágio avançado, ela optou por não se
submeter ao tratamento. Ela não tem muito tempo, Kit. Talvez um
ou dois meses, no máximo.

Meu peito fica pesado e fecho os olhos com força.

A promessa que ela fez àquela menina inconsolável acabou


sendo uma mentira. Ela não me apoiou quando percebi que era gay
- em vez disso, ela me condenou. E ela não se deu ao trabalho de vir
ao hospital depois do tiroteio, ou quando acabei na prisão.
Basicamente, todas as vezes que precisei dela. Ou melhor, as vezes
em que precisei ser amada e cuidada mais do que seus julgamentos
e desaprovação.

Eu engulo as lágrimas que ameaçam se soltar. Não consigo


chorar por uma mulher que me fez desejar estar morta tantas vezes
que perdi a conta. Uma mulher que considerei importante, tudo
porque meus pais a nomearam para ocupar o seu lugar. Uma mulher
que falou comigo por meio de punições e ameaças, em vez de
palavras e compreensão.

Uma mulher cuja ideia de amor era bater em todas as partes de


mim que ela não aprovava - até que eu estivesse quebrada... assim
como sua promessa.

— Desculpe, Reg. Tentei cavar fundo para encontrar uma a


merda de uma ou duas palavras para dar, mas não encontrei nada.
Tenha um...

— Ela não pode falar — ele interrompe. — Talvez isso influencie


sua decisão de vê-la.

— Não faz.

— Ela está perguntando por você. — A pontada desesperada em


sua voz é indiscutível.
— Eu pensei que você disse que ela não conseguia falar?

— Ela não faz. Ela se recusa a usar sua eletrolaringe, então ela
se comunica com seu bloco de notas.

— Adeus, Reg...

— Espere — ele diz antes de eu desligar a ligação. — Sua avó


quer que eu lhe informe que o advogado da família encontrou
algumas informações interessantes durante sua revisão mais
recente, e caberia a você ouvir sobre isso. Ele estará na residência
dela neste domingo, finalizando seu testamento, caso você caia em
si e mude de ideia sobre a visita. Bom dia.

Com isso, ele desliga o telefone.

Toca de novo quase imediatamente e não hesito em responder.


— Você realmente acha que me ameaçar vai funcionar?

— Quem diabos está te ameaçando? — Pergunta Breslin.

Eu massageio minhas têmporas. — Achei que você fosse o


assistente da minha avó - aparentemente, algo está acontecendo com
o testamento dos meus pais, mas não vou descobrir o que, a menos
que vá lá no domingo para falar com ela e o advogado da família.

— Não quero ser insensível, mas por que eles só estão


descobrindo isso agora? Seus pais se foram há anos, você pensaria...

— Ela tem câncer... é terminal. O advogado provavelmente se


deparou com isso quando estava preparando o testamento dela.

— Oh, — ela sussurra. — Sinto muito, Kit.

Começo a falar, mas ela pragueja e diz: — O time de Asher está


nos playoffs no domingo. Mas talvez se eu voar amanhã e
aparecermos às...
— Não. — Eu preciso cortar isso pela raiz antes que Breslin
acabe perdendo o maior jogo da carreira de Asher. — Se algo der
errado e seu voo de volta atrasar, ou você acidentalmente perdê-lo,
Asher ficará com o coração partido. Eu vou ficar bem, B. Asher
precisa de você.

— Eu sei, mas não quero que você chegue ao fundo do poço de


novo.

Sua preocupação me dá vontade de alcançá-la pelo telefone e


abraçá-la. — Eu não vou, eu prometo. Consigo lidar com isso.

— Tem certeza?

— Positivo. Além disso, qual é a pior coisa que pode acontecer?


Já perdi meus pais, então não posso perdê-los de novo. Isso nada
mais é do que ela tentando me dar uma última bronca antes que ela
morra.

— Sim, você tem razão. Mas prometa que vai me ligar se


precisar. Posso pegar o próximo voo depois do jogo e...

Woof.

— Eu juro por Deus! — Asher grita ao fundo. — É como se ele


quisesse que eu perdesse o jogo do playoff. É isso, estou jogando
suas guloseimas na piscina, seu vira-lata.

Woof.

— Talvez Picasso mijando nela a torne ainda mais sortuda —


Landon oferece. — Já pensou nisso?

Breslin suspira. — Aqui vamos nós novamente.

Eu ri. — Vá cuidar do seu cachorro... e dos seus homens.


Capítulo 2

Meu estômago embrulha-se quando espio por cima da mesa a


minha avó, que se parece com o gato que comeu o canário. Ou
melhor, estripou a pobre criatura, observou-a sofrer e depois lambeu
os dedos para limpar.

Mesmo quando a mulher não consegue mais falar, ela ainda é


uma megera mal-intencionada que tem prazer em me deixar infeliz.

Quando cheguei e a vi pela primeira vez em três anos - sentada


em uma cadeira de rodas, parecendo muito mais frágil e magra do
que eu me lembrava, senti um aperto no coração. Não pude deixar
de pensar que talvez houvesse uma chance de enterrar o passado e
salvar nosso relacionamento antes que fosse tarde demais.

No entanto, menos de dois minutos depois, ela rabiscou em seu


bloco de notas que eu estava com muita maquiagem nos olhos e que
minha jaqueta favorita parecia ter sido feita em uma fábrica
clandestina de Bangladesh.

Então, antes que eu pudesse defender minha aparência, ela


passou a Reggie outro bilhete que dizia: Pergunte à minha neta se a
mataria parar de parecer um unicórnio lésbico e se livrar daquele
cabelo rosa.

Se não fosse o advogado que escolheu aquele momento para


entrar na sala, eu a teria estrangulado com o lenço de seda enrolado
em seu pescoço.

Inferno, eu ainda posso, dependendo de como o resto desta


reunião vai ser.
— Seu pai nomeou sua avó como sua beneficiária, — Barry, o
advogado, repete lentamente, quase como se doesse dizer isso. E
talvez doa, já que ele era amigo do meu pai e parece que ele deixou
cair a bola sobre a documentação mais importante que meu pai
deixou para trás. — Portanto, sua propriedade está em seu nome.

— Eu sei. — Eu me sento direito. — Eu entendo, mas me


disseram que tudo será entregue a mim quando eu tiver 25 anos.

Ele olha para sua pilha de papelada. — Isso é o que seus pais
queriam.

— Então qual é o problema?

Ele olha para minha avó e uma sensação horrível sobe pela
minha espinha. — A cláusula de incentivo. — Eu olho para os meus
sapatos. Eu não acho que posso tolerar a satisfação que minha
próxima declaração vai dar a ela. — Olha, você tinha todo o direito
de não me dar minha mesada quando larguei a faculdade e passei
por minha fase difícil. Mas, estou muito melhor agora...

— Não é a cláusula de incentivo, — diz Barry, sem se preocupar


em esconder seu aborrecimento. — A cláusula determinava se você
recebia sua cota mensal, mas esse dinheiro vinha de um fundo
fiduciário separado. Abandonar a faculdade e ser presa não é o
motivo de você parar de recebê-lo todos os meses. Seu pai pretendia
apenas que o dinheiro desse fundo durasse até você completar 21
anos.

Sinto como se alguém tivesse jogado um balde de água gelada


na minha cabeça. — Então, há mais de um fundo fiduciário para
mim?

Barry lança um olhar para minha avó. — Eu não posso acreditar


que você nunca disse a ela nada disso.
Minha avó dá de ombros e acende um cigarro. Todos nós
paramos e olhamos para ela, porque evidentemente ter um buraco
em seu pescoço não é o suficiente para fazê-la abandonar o mau
hábito.

— Não se preocupe — diz Reggie. — Ela não pode mais fumar.


Pelo menos, ela não deveria.

Minha avó revira os olhos e acende um segundo, ondulando-os


como se estivesse queimando sálvia, o que é irônico, considerando
que ela está nos infectando de forma egoísta com sua fumaça de
segunda mão, como o demônio maligno que é.

Barry balança a cabeça e concentra sua atenção em mim. — Não


exatamente. Tecnicamente, é apenas um fundo fiduciário e todo o
resto é considerado seu patrimônio. Dinheiro, propriedades...

— Que deveria ir para mim no meu próximo aniversário. — Eu


olho para minha avó. — Você me disse depois do funeral que é o que
eles queriam.

Por um momento, eu vejo um lampejo de algo parecido com a


emoção humana em seus olhos, mas desapareceu quando Barry fala
novamente.

— É, Kit. No entanto, há um problema.

— Que tipo de problema?

Ele move a mão para frente e para trás, tentando direcionar a


poluição atmosférica dos cigarros da minha avó para fora de seu
rosto. — Desculpe, sou alérgico a fumaça.

Ele começa a tossir violentamente, e minha avó lança a ele um


olhar cheio de gelo suficiente para construir um iglu, então começa
a acender mais dois deles.
Quando o pobre Barry começa a tossir o que tenho certeza de
que é um pulmão, Reggie leva minha avó para o pátio para que ela
possa balançar seu câncer do lado de fora.

Depois que lhe entrego um copo d'água, ele continua de onde


parou. — Mesmo que seu pai quisesse que sua propriedade fosse
entregue a você, ele nunca passou pelos canais adequados para
garantir que isso acontecesse.

Ele aponta solenemente para sua papelada. — Quando


redigimos seu testamento, naturalmente, sua mãe era a beneficiária.
Mas quando você tem filhos, especialmente filhos menores, é uma
boa ideia que os pais organizem as coisas. Eu disse a ele o que
poderíamos fazer para garantir que sua herança fosse para você se
ele e sua mãe morressem antes de você atingir a maioridade - mas
ele recusou. Ele disse que se isso acontecesse, sua avó seria
nomeada tutora, e ele queria que sua propriedade fosse para ela até
que você fizesse 25 anos ou se casasse, o que ocorrer primeiro. Mais
uma vez, expliquei que ele deveria tomar as medidas adequadas, mas
ele... — Seu rosto cai. — Ele disse que confiava em sua avó para
cumprir seus desejos e não queria que sua propriedade fosse
amarrada até que você tivesse 25 anos, caso você ou ela precisasse
do dinheiro antes disso. Ele achava que torná-la a beneficiária era o
melhor para todos.

Seus ombros se curvam. — Ele encerrou a conversa pouco


depois. Ele tinha apenas 36 anos, Kit. Os jovens normalmente não
levam sua vontade a sério. E é difícil para os pais jovens,
independentemente da riqueza, pensar no que aconteceria se eles
morressem. Não é uma conversa que qualquer pai goste de ter.

Pego um lenço de papel e me forço a inspirar. Não estou


chateada com o dinheiro, estou chateada com a lembrança de como
eles eram jovens quando foram tirados de mim.
Estou chateada porque estou conversando com um advogado
sobre os últimos desejos de meus pais, em vez deles.

Estou chateada porque esse sentimento estranho está cavando


em meu intestino, mas me sinto culpada por até mesmo reconhecê-
lo e querer respostas - porque eu escolheria meus pais ao invés do
dinheiro deles em um piscar de olhos se tivesse escolha.

Mas não tive escolha... e o dinheiro deles é a única coisa que me


resta deles.

Ou era. Não tenho mais certeza, e não ajuda que Barry continue
evitando qualquer que seja o problema quando eu preciso que ele
cuspa tudo. — Se ele queria que sua propriedade fosse para mim e
confiou em minha avó para fazer a coisa certa... então qual é o
problema?

Ele olha para minha avó, que está sendo trazida de volta por
Reggie. — Ela. — Seu rosto fica frouxo. — Você não é a principal
beneficiária listada em seu testamento.

Uma onda de raiva e confusão passa por mim. — O que? — Eu


me viro e olho para ela. — Cada centavo que você tem é dos meus
pais. Por que você não me faria sua beneficiária?

Sou filha deles, não há mais ninguém a quem deva ir.

Ela anota algo em seu bloco de notas e entrega a Reggie.

— Ela vai fazer de você sua beneficiária se você se casar. — Ele


olha para o bloco de notas novamente e se mexe
desconfortavelmente. — Com um homem. — Seus olhos se tornam
frios. — Ela diz que é seu último desejo.

Minha reação automática é instantânea e eu pulo da cadeira. —


Oh meu Deus, você é inacreditável! Desejo de morte ou não, isso não
está acontecendo.
Minha avó estala os dedos, gesticulando para que Reggie a leve
para fora da sala.

Em um flash, eu agarro os braços de sua cadeira de rodas,


forçando-a a olhar para mim. Ela foi longe demais desta vez. — Isso
é errado e você sabe disso. Você não pode continuar me punindo
porque minha sexualidade a ofende, vovó.

Ela rabisca algo viciosamente em seu caderno, mas eu agarro e


jogo. — Não. É hora de você me ouvir.

Não sou mais a adolescente confusa e solitária que ela pode


trancar no porão por ser gay. Eu cansei de deixá-la ter todo o poder
e controle sobre mim.

Aproximo-me de seu rosto porque essas são as últimas palavras


que pretendo dizer a ela, e quero ter certeza de que ela ouça em alto
e bom som. — Faça o que quiser com o dinheiro. Eu não preciso
disso e não preciso de você. Eu nunca precisei.

Com isso, eu a viro, giro nos calcanhares e saio com a cabeça


erguida.

Estou quase na porta da frente quando ouço os passos de Barry


atrás de mim. — Ela está deixando tudo para o seu tio.

Suas palavras são como uma bala direto no coração e meus


joelhos dobram antes de atingir o chão de mármore.

A dor atravessa meus pulmões e eu aperto minha garganta,


lutando para respirar.

Minha avó sabia exatamente onde me acertar quando deu seu


último soco pro nocaute.

Lágrimas ardem em meus olhos, mas eu as enxugo rapidamente.


Não vou dar a ela a satisfação de rolar aqui para testemunhar os
efeitos das minhas feridas de batalha com a faca que ela cravou em
minhas costas.

Uma raiva quente e branca corre através de mim e começo a


tremer de raiva. Eu preferia vê-la mijar no dinheiro dos meus pais e
depois colocar fogo antes que um único centavo vá para aquele
bastardo.

Barry me ajuda a ficar de pé. — Podemos ir perante um juiz,


mas considerando que ela não tem muito tempo, isso pode não
acontecer até depois de sua morte. — Sua voz cai para um sussurro,
apesar de ninguém mais estar por perto. — E assim que seu tio tiver
acesso à propriedade... — Sua voz some, mas ele não precisa
terminar a frase. Eu sei muito bem do que meu tio é capaz. Vivo com
a perda todos os dias.

Não há nenhuma maneira no inferno de ele receber um centavo


das pessoas que ele armou para matar.

Sobre o meu cadáver.

— Barry? — Eu questiono, interrompendo-o quando ele começa


a falar novamente.

— Sim?

— Você é casado?

Ele pisca. — Sim, minha esposa e eu comemoramos nosso


vigésimo aniversário de casamento ontem, na verdade.

Bem, aí se vai essa ideia.

Pego meu telefone para ligar para Breslin. Se alguém pode me


ajudar com essa situação, é ela. A menina não tem um, mas dois
namorados.
Eu só preciso que ela me deixe pegar um deles emprestado por
um tempo.

Meu peito arde de culpa quando passo o dedo sobre o botão de


chamada. Os namorados de Breslin não são suéteres - é seguro dizer
que ela não ficará feliz com a ideia de eu me casar com qualquer um
deles.

Sem falar no fato de que todos eles já fizeram muito por mim. O
mínimo que posso fazer é não perturbar o equilíbrio do
relacionamento deles envolvendo-os em outra situação complicada
minha.

Vou ter que descobrir outra coisa. E rápido.

Eu olho Barry. — Você tem algum amigo solteiro que estaria


disposto a se casar por uma hora em troca de um milhão de dólares?

Barry faz uma careta. — Você quer dizer que está pensando em
concordar com isso?

— Que outra escolha eu tenho? Não vou deixar que ele ganhe
um centavo do dinheiro dos meus pais. Se eu tiver que me casar com
alguém com um cromossomo Y por algumas horas para evitar que
isso aconteça, que assim seja. — Eu começo a voltar para o escritório
da minha avó. — Agora com licença enquanto vou beijar a bunda da
minha avó e tentar não vomitar.

Minha avó me dá um sorriso presunçoso quando entro na sala,


quase como se ela estivesse antecipando meu retorno.

— Tudo bem, você venceu, — eu digo, derrotada. — Eu vou me


casar.

Barry chega um momento depois. — O Bar vai pegar minha


bunda se eles descobrirem sobre isso. — Ele saca uma caneta e olha
para minha avó. — Eu quero este acordo por escrito, e é melhor você
deixar para ela tudo como seu filho queria.

Minha avó olha feio para ele e pega os cigarros.

Barry escreve algo em seu bloco de notas. — Vou precisar que


vocês duas assinem isso. — Ele tosse, afastando a fumaça. — Reggie
terá que assinar como testemunha depois, e então poderemos fazer
um novo testamento que lista Kit como a beneficiária. Concorda?

Eu começo a acenar com a cabeça, mas minha avó belisca


Reggie. — Não. A Sra. Bishop tem uma lista de regras que sua neta
deve obedecer.

Meus dentes se apertam. — Claro que ela tem. — Eu me jogo em


uma cadeira. — Vamos acabar com isso.

Reggie limpa a garganta e estende o papel que minha avó


entrega a ele como se fosse um pergaminho. — Regra número um -
você deve permanecer casada por um ano inteiro.

A respiração que eu estava prendendo saiu em um grande


whoosh e a bile sobe pela minha garganta. Faz menos de um minuto
que concordei com isso e já é a pior decisão da minha vida.

Casar com um homem por cinco minutos é moleza. Inferno, as


celebridades fazem isso o tempo todo.

Mas um ano inteiro?

Eu agarro o braço da cadeira com tanta força que meus nós dos
dedos ficam brancos, e eu tenho que me lembrar por que estou
fazendo isso em primeiro lugar.

Eu ansiosamente pego o copo de água que Barry me entrega,


desejando que fosse algo mais forte.
Minha avó, sem se preocupar em esconder o sorriso pomposo
em seu rosto - acena com a mão Reggie, indicando que ele deve
continuar.

— Regra número dois - sua avó deve escolher o pretendente.

— O pretendente? Você está falando sério? Este não é o século


XVIII. — Eu olho para ela. — Não. Sou eu quem está sendo forçada
a me casar com alguém para conseguir o que é meu por direito. Eu
deveria escolher.

Os olhos da minha avó se estreitam e eu sei que ela vai discutir.

Minha garganta aperta. Conhecendo-a, ela escolherá alguém


que não suporto só para me irritar. Alguém arrogante, manipulador,
egoísta e controlador como ela.

Cristo, eu sinto que estou em uma caixa trancada e ela está


cortando lentamente meu suprimento de ar.

Talvez seja por isso que as próximas palavras que saem da


minha boca são. — Além disso, eu tenho um namorado.

Reggie levanta uma sobrancelha, Barry engasga com a água e o


olhar no rosto da minha avó me diz que ela sabe que estou mentindo.

Mas prossigo porque não quero ficar presa a alguém que não
suporto trezentos e sessenta e cinco dias seguidos. Pelo menos agora
tenho uma chance de adquirir algum tipo de controle sobre essa
situação ridícula.

— Não me olhe assim, vovó. Você não me vê há três anos, não


tem ideia do que está acontecendo na minha vida.

Ela torce o nariz e pega o bloco de notas de Reggie. Depois que


ela termina de escrever, ela vira para que eu possa ler.

Besteira.
Eu cruzo meus braços e a encaro. — Não é.

Minha voz interior está me dizendo para calar a boca e parar


enquanto estou ganhando, mas eu a ignoro. — Ele e ótimo. Nos
conhecemos há alguns anos, mas voltamos a entrar em contato
recentemente e... você sabe. Não podemos manter nossas mãos longe
um do outro e todo esse jazz.

Pare de falar, Kit. Somente. Pare. De. Falar.

— Provavelmente porque ele está muito no exterior a negócios.

— Qual é o nome dele e o que ele faz? — Reggie questiona e


Barry faz sinal para eu ficar quieta.

— Ele... desculpe, não tenho liberdade para dizer. — Coloco uma


mecha de cabelo atrás da orelha. Minha única opção é continuar com
essa farsa. — Seu trabalho é ultrassecreto. Seu nome também.

— Tem certeza que não é Bond? — Barry murmura, beliscando


a ponta do nariz.

Os cantos dos lábios de Reggie se contraem.

Minha avó inclina a cabeça e, por um momento, acho que ela


realmente acredita em mim.

Isso até que ela anote algo em seu bloco de notas e gesticule
para que Reggie leia.

— Ela quer conhecê-lo. Se ela aprovar, ela arranjará o


casamento e mudará o testamento.

Barry me fixa com um olhar que reflete exatamente como estou


me sentindo.

De alguma forma, consegui tornar uma situação ruim em uma


totalmente horrível, complicando tudo.
Em outras palavras, eu realmente estraguei tudo.
Capítulo 3

— New Orleans vai aguentar este ano, — grita um homem acima


do barulho do pequeno bar de esportes.

Seu sotaque é inconfundivelmente sulista.

— Nah, — argumenta o homem sentado ao meu lado. — O novo


quarterback deles não é páreo para o de Nova York. Além disso, ele
é muito arrogante. Ele gosta mais de dançar no campo do que de
jogar nele. Provavelmente porque ele é gay.

Eu bebo o resto da minha cerveja e peço outra enquanto os


homens continuam brigando de um lado para o outro. Depois de
verificar meu telefone, olho para a televisão. O jogador número três
está se preparando para lançar a bola.

Não resta muito tempo de jogo e o New York lidera por quatro
pontos. Eles precisam de um touchdown.

— Quer colocar seu dinheiro onde está sua boca e fazer uma
aposta?

Eles param de brigar e olham para mim.

— Sim, tudo bem, — diz o primeiro cara. — Vou apostar algum


dinheiro em Nova Orleans. — Ele bate uma nota de cem dólares no
bar. — Gay ou não, ele tem um braço assassino.

O outro cara ri e tira sua carteira. — Vou apostar cem em Nova


York só para provar que você está errado.
Ambos se voltam para mim com expectativa. — Por quem você
está torcendo?

— Estou torcendo pelo número três. — Jogo duas notas de


cinquenta na pilha e olho para a TV. — Mas meu dinheiro está em
Nova York.

Um momento depois, a bola é interceptada e metade das pessoas


no bar torce enquanto a outra metade pragueja.

Eu pego meus ganhos. — Nova York teve estatísticas melhores


este ano. Os números não mentem.

Meu co-conspirador, Max, estende o punho e eu bato nele. Faz


meses que fazemos essa merda com turistas.

Imagino como será nosso novo esquema agora que a temporada


de futebol acabou.

O cara que perdeu a aposta me olha com desconfiança. É claro


que ele ainda não percebeu. — Por que você disse que estava
torcendo pelo número três, então?

Eu tomo um gole da minha cerveja. — Ele é meu irmão.

Ele quase cai do banco do bar. — Droga, eu pensei que você


meio que se parecia com ele. — Max começa a gargalhar e o homem
pragueja baixinho. — Acho que é verdade o que eles dizem. Nasce
um otário a cada minuto.

Meu telefone vibra e clico no ícone de mensagem.

Matteo: Aqui está o endereço. Há rumores de que haverá um


jogo mais tarde. Jogue o descartável antes de ir.

Preston: Entendi.
Matteo: Mais uma coisa.

Preston:?

Matteo: Salvatore disse que é melhor você ganhar esta noite.


Se não...

Coloco o telefone no bolso e fico de pé. — Bem-vindo a Vegas.


Capítulo 4

Eu corro meus dedos pelo meu cabelo e aplico outra camada de


brilho labial quando vejo meu reflexo nas paredes espelhadas do
elevador. Considerando tudo o que aconteceu na casa da minha avó
mais cedo, quase acabei perdendo meu voo.

Eu estava ansiosa para descansar um pouco depois de pousar,


mas Juan me informou que Porn Rub e Pretty Kitties planejaram uma
recepção no bar do hotel. Eu não tinha intenção de ir, mas como
estou dividindo o quarto com Juan, ele praticamente me forçou a ir .

Ele me disse que se eu não colocasse o vestido que


acidentalmente empacotei na minha pressa de chegar ao aeroporto
a tempo, me arrumar e me encontrar com ele no bar na próxima hora
para um drinque - ele iria me torturar cantando músicas de shows
durante a nossa viagem a Las Vegas.

Então aqui estou. Usando um vestido preto, apertado e sem


alças que abraça todas as minhas curvas e falhas - e pensando se a
melhor hora para pedir ao meu amigo homossexual do trabalho que
se case comigo em troca de dinheiro, seria quando eu saísse do
elevador e me encaminhasse para o bar.

A música está tão alta e as luzes coloridas são tão cegantes que
não vejo Juan até que ele puxa minha mão e me puxa para perto
dele.

— Ah! Você está aqui! — ele grita acima da música antes de se


virar para o cara bonito e visivelmente desconfortável ao lado dele.
— Kit, este é meu novo amigo Ronald. E Ronald, esta é minha amiga
Kit de quem eu estava falando.

O homem me olha de cima a baixo, parecendo perplexo. — Eu


pensei que você disse que ela era lésbica.

— Oh meu Deus, Ronald. — Juan ri histericamente e o homem


enrubesce de vergonha. — Ela é, querido. Nem todas usam flanela e
Timberlands.

Eu cruzo meus braços. — Algumas de nós até tomamos banho,


colocamos desodorante e urinamos sentadas.

Deixo de fora que às vezes gosto de usar flanela. E porque não?


É aconchegante e confortável, ao contrário deste minivestido de
spandex que Juan insistiu que eu vestisse esta noite.

— Sinto muito, — diz o homem. — Eu não esperava que você


fosse tão bonita, só isso.

Eu provavelmente deveria estar ofendida com sua declaração,


mas o olhar sincero em seu rosto me diz que ele não tem intenção de
fazer mal.

Juan se inclina para ele. — Ronald faz TI para Porn Rub e não
sai muito. Ser social não é seu ponto forte.

O homem acena timidamente. — É verdade. Eu não saio há


anos. Às vezes me esqueço de como é conversar com as pessoas cara
a cara.

— Eu entendo totalmente; meu pai gostava de computadores e


ele os preferia a pessoas também. — Eu sorrio. — Juan aqui é uma
borboleta social, mas não se deixe assustar. Ele é um grande
partido... — Eu paro de falar quando Juan me olha.
Estou prestes a puxá-lo de lado e perguntar qual é o seu
negócio, mas ele se vira para Ronald e diz: — Você seria um pêssego
e nos buscaria uma bebida no bar?

Quando Ronald vai embora, Juan se abaixa e sussurra: — Ele é


casado.

— Mesmo? — Eu olho para ele. — Uau, isso é uma merda.

Ele levanta um dedo. — Com uma mulher.

Tenho certeza que minha boca bate no chão. Juan poderia dar
a minha melhor amiga Breslin e seu relacionamento complicado uma
corrida pelo dinheiro agora.

Ele faz beicinho. — Tenho quase certeza de que ele é gay. — Ele
olha em volta. — Por que outro motivo um homem casado flertaria
com homens?

Ele tem razão. Então, novamente, eu sei que meu próprio gaydar
esteve desligado uma ou duas vezes. Normalmente devido a um
pensamento positivo da minha parte depois de conhecer uma garota
gostosa. Parece que o próprio Juan pegou um caso grave.

— Talvez ele seja muito amigável. Você sabe, para alguém que é
antissocial.

Ele levanta um ombro em um encolher de ombros. — Quem


sabe. Ele disse que trouxe a esposa para Las Vegas, mas deixou o
quarto do hotel esta manhã e não falou com ela desde então. Ele
basicamente está vagando sozinho hoje. Quando perguntei o motivo,
ele disse que não queria falar sobre isso.

Algo está definitivamente suspeito ali. — Talvez eles tenham


brigado. — Pego seu braço. — De qualquer maneira - não é seu circo,
não são seus macacos. Vamos encontrar nossos colegas de trabalho.
Ele olha para a frente. — Não precisamos ir longe.

Ele está certo porque, quando me viro, vejo Marge dançando com
pessoas que nunca conheci antes. E Jimmy, o contador, que nunca
diz uma palavra a ninguém, está contando piadas para algumas
pessoas do outro lado do bar. O resto dos meus colegas de trabalho
estão todos se misturando e se divertindo.

Este é de longe uma das recepções de maior sucesso em que já


estive.

Pena que mal posso esperar para ir embora.

— Eu realmente gosto dele — Juan lamenta. — Eu sei que tudo


isso é estranho, mas há algo entre nós.

Tudo o que posso fazer é não revirar os olhos. — Não siga com
isso, cara. Você só o conheceu há uma hora e, até agora, as únicas
coisas que você sabe sobre ele é uma - ele guarda muito para si
mesmo. E segunda - ele está mentindo para a esposa sobre sua
sexualidade e a traindo. Essas são características essenciais de um
assassino em série. — Eu cutuco ele nas costelas. — Pelo que
sabemos, ele saiu do quarto depois que cortou o corpo de sua esposa
e...

— Eu não fiz isso — diz Ronald atrás de mim. Quando nos


viramos para encará-lo, ele empurra os dois copos que está
segurando para mim. — Aqui estão suas bebidas. Tenha uma boa
noite.

O rosto de Juan cai enquanto ele se afasta. — Muito obrigado,


Kit.

— Me desculpe eu...

Juan não ouve minhas desculpas porque ele sai atrás de Ronald.
Perfeito. Consegui não apenas irritar meu único amigo no
trabalho, mas também meu futuro ex-marido.

Estou prestes a sair, mas então acontece.

A fumaça se dissipou, os pássaros começaram a chilrear e eu


tenho certeza que o bar em forma de cilindro com vista para Las
Vegas que estou atualmente se inclina.

Ela é a mulher mais linda que já vi na minha vida.

E isso é apenas em uma quinta-feira normal no escritório. Mas


esta noite?

Jess é muito linda. Algo que ela deve estar ciente porque cada
pessoa no bar está olhando para ela.

Ou talvez não, porque ela está muito ocupada olhando para...

Bem, merda. A chefe mais quente da história dos chefes mais


quentes está olhando diretamente para mim. Instantaneamen te, eu
engulo uma das bebidas em minha mão. Fiz questão de não
consumir álcool desde o incidente com a modelo brasileira, mas se
eu não tiver algum tipo de coragem líquida agora, vou explodir minha
chance com ela.

Estou prestes a tomar minha segunda bebida e me aproximar,


mas congelo quando percebo.

Eu deveria me casar... com um cara.

Não posso flertar com minha chefe, que está fazendo cara feia e
me olhando fixamente. Não importa o quanto eu queira aqui. Ela não
vai perseguir nada com uma garota casada.

Acho que poderia contar a ela sobre a herança na esperança de


que ela entenda - mas não tenho certeza se estou pronta para revelar
isso ainda.
A última coisa que preciso é me apaixonar por outra garimpeira
que vai me usar.

Não que Jess seja, ela não é. Estou noventa e nove por cento
certa disso. Mas esse um por cento? Já me queimou antes.

Eu tenho as cicatrizes para provar isso, e os machucados no


meu coração que servem como meu lembrete constante para que eu
nunca esqueça.

É por isso que preciso ter certeza de que da próxima vez que eu
cair... alguém estará esperando para me pegar.

Alguém que não me deixa cair.

Alguém que pode me dar algo real.

Alguém que está loucamente, profundamente apaixonada por


cada parte de mim... não apenas pelas partes que os beneficiam.

Meu coração não sobreviverá a outro parasita como Becca


novamente. Mal aconteceu da primeira vez.

Jess poderia muito bem ser o amor da minha vida, mas,


infelizmente, nunca saberei - porque minha avó conseguiu arruinar
qualquer chance que eu tivesse de descobrir.

Sinto uma forte dor no peito enquanto me dirijo para a saída e


só aumenta quando sinto um leve toque no ombro.

— Ei estranha. — Jess franze a testa quando eu olho para ela.


— O que está errado?

— Nada, acho que estou um pouco com jet lag, só isso. — Eu


aceno para a pista de dança. — Isso está ótimo, no entanto. Todo
mundo está se divertindo muito.

— Sim, exceto você.


Abro a boca para protestar porque não quero ser uma estraga-
prazeres e estragar a noite dela, mas as palavras me faltam quando
ela se inclina sugestivamente e diz: — Como podemos mudar isso?

Sem esperar por uma resposta, ela me leva a uma mesa em


algum canto escuro do bar.

— Aqui. — Ela pega uma taça do que parece ser champanhe. —


São as coisas boas, eu prometo.

Eu deveria recusar, eu sei disso. Eu deveria nos poupar do


trabalho e voltar para o meu quarto.

Eu deveria... mas eu não faço.

Porque se eu vou ficar trancada como um pássaro em uma gaiola


pelo próximo ano da minha vida? Eu quero uma última noite de
liberdade.

E eu quero isso com a garota sexy e irresistível parada na minha


frente. A garota olhando para mim como se ela me quisesse tanto
quanto eu a quero.

Meus nervos disparam e pego o copo com dedos trêmulos. Jess


me lembra joias caras. Linda e estilosa, mas não posso deixar de me
sentir como uma criança prestes a brincar de se fantasiar sempre
que olho para ela. Ela é apenas dois anos mais velha do que eu, mas
está anos-luz à minha frente em todas as maneiras que contam.

Ela é mais legal, mais inteligente, mais bonita e muito mais


durona do que jamais serei. Ela sabe exatamente quem ela é e ela
usa sua autoconfiança como uma coroa.

Mas eu? Sou estranha, sensível e emocional. Meu humor muda


com a cor das minhas meias e minha ideia do encontro perfeito é
engolir um burrito em um estúdio de tatuagem em vez de em
restaurantes ou clubes chiques. E embora eu tenha vinte e quatro
anos e seja oficialmente uma adulta - na maioria dos dias sinto que
tenho apenas metade da minha idade.

Só assim, minha mente bate em aceleração - por que e se tudo


o que eu sou, vir a ser as mesmas qualidades que ela odeia? E se eu
for muito estranha para ela? E se eu estragar tudo como sempre
faço? E se ela descobrir sobre a herança e me usar como todas as
outras garotas antes dela? E se Juan estiver certo sobre eu ser
pegajosa?

E se eu nunca descobrir nenhuma dessas coisas porque perdi


minha única chance com ela? Tudo porque não fui honesta sobre a
situação em que estou.

— Kit? — Sua voz aveludada me tira dos meus pensamentos. —


O que está acontecendo?

— Olha, eu não tenho certeza para onde isso vai — eu digo sem
parar para respirar. — Mas antes que as coisas fiquem sérias entre
nós, acho que devo a você, contar...

Ela coloca o dedo sobre meus lábios. — Você é tão adorável, mas
está muito agitada agora.

Ela está certa. Esqueça o pegajoso - aquele navio já partiu.


Estou no barco expresso para uma terra neurótica.

Jess me deu uma taça de champanhe, não um convite para


morar com ela. Eu olho para Marge, que está fingindo estar
enrolando Jimmy na pista de dança e suspiro.

Maldita seja, Marge. Não há mais almoços e flores.

— O que?
Minhas bochechas esquentam quando percebo que disse isso
em voz alta. — Desculpe, eu estava perdendo o controle. — Eu tomo
um gole da minha bebida. — Você está certa, isso é bom.

Ela começa a sorrir, mas um grupo de pessoas ridiculamente


atraentes que passa atrai sua atenção. — Ei pessoal. — Ela acena
para as pessoas bonitas. — Kit, estes são alguns dos seus novos
colegas de trabalho. — Ela recita uma lista de nomes, mas nenhum
deles pega. Estou muito focada em suas aparências, o que é horrível,
eu sei - mas todos parecem ter saído de um anúncio da Abercrombie
& Fitch. Só que eles estão usando muito menos roupas... o que é
impressionante.

E é quando eu percebo. Ela se refere àqueles novos colegas de


trabalho. O talento.

Jess os convida para uma cabine conosco e, antes que eu saiba


o que está acontecendo, nosso canto silencioso está sendo infiltrado
por estrelas pornôs.

Termino minha taça de champanhe e tento não ficar de mau


humor. Talento, de fato. Eles são completos idiotas atrapalhando
meu encontro com minha chefe. Como diabos eu deveria competir
com implantes e - porra, porque a garota cheirando uma linha de
coca do pacote de seis de algum cara está usando adesivos que mal
cobrem seus mamilos.

O cara fingindo ser uma mesa humana balança as sobrancelhas


para mim. — Ei, coisa quente. Você festeja?

Não assim, eu não. — Estou bem, obrigado.

— Como quiser.

Eu olho e vejo Jess digitando em seu telefone celular enquanto


uma garota se inclina um pouco perto demais para se sentir
confortável e ri do que quer que Jess esteja digitando. Um momento
depois, o cara ao lado dela pede uma rodada de doses antes de
enrolar uma nota de um dólar e cheirar uma linha na mesa humana.

Deus, estou longe de ser uma puritana, mas este não é o meu
cenário. Não mais.

Quando o criado e a pastinha começam a se beijar, aproveito a


oportunidade para deslizar para fora da cabine.

Estou procurando Juan para que possa me desculpar por mais


cedo, quando Jess corre até mim. Começo a pensar em uma desculpa
para dar a ela, mas cada uma delas evapora quando ela me arrasta
para outro canto escuro.

Só que desta vez - ela me beija.

Quero me beliscar para ter certeza de que isso está realmente


acontecendo, mas tenho muito medo de que acabe.

Nosso beijo é em partes brincalhão e maníaco e estou sem fôlego


quando ela se afasta. — Você fica fofa quando está com ciúmes.

Demoro um segundo para entender que ela pensa que foi por
isso que fui embora. Não tenho certeza de como responder porque
tudo está ficando nebuloso devido ao álcool e ao beijo.

Ela bagunça meu cabelo. — Mas ela não é com quem eu quero
sair agora.

Eu engulo um gole de ar, minha cabeça girando como um


ciclone. — Eu, hum - antes que as coisas avancem, eu preciso dizer...

Seus lábios encontram os meus novamente, efetivamente me


silenciando.
— Eu sei que sua mente está indo a mil por hora — ela diz entre
beijos. — Mas você precisa relaxar e se divertir hoje à noite. Podemos
falar sério amanhã, ok?

Meu corpo afrouxa contra a parede quando seus lábios


acariciam meu pescoço. Talvez se divertir não seja uma ideia tão
ruim, afinal. A tensão sobe na minha barriga quando sua língua bate
na minha orelha, e me lembro que já se passou bem mais de um ano
desde a última vez que fiz sexo. Se não fosse por alguns dos meus
brinquedos sexuais Pretty Kitty favoritos me ajudando, eu
provavelmente teria desabado e levado para casa qualquer coisa em
uma saia há muito tempo.

Mas eu não fiz. Não importa o quão solitária eu ficasse - eu


permanecia forte, solteira e focada em recompor minha vida.

Eu suspiro quando ela desliza um dedo pela minha coxa. E esta


é minha recompensa.

— Você quer se divertir comigo esta noite? — ela ronrona


timidamente.

Eu fecho meus olhos e aceno. Não quero fazer algo estúpido


como balbuciar e estragar o momento.

Ela me beija de novo, e algo calcário pousa na minha língua. O


gosto é horrível e vou cuspi-lo, mas ela me entrega sua taça de
champanhe.

— Aqui, isso deve ajudar a descer mais facilmente.

— Eu não uso drogas.

— Não se preocupe, não é nada ruim. Apenas uma coisinha para


ajudá-la a se soltar e se divertir.
Quando eu dou uma olhada para ela, ela puxa uma pequena
lata de seu decote e coloca uma lingueta na boca. — Viu?
Perfeitamente seguro.

Eu quero dizer a ela que eu estaria me divertindo muito sem


quaisquer substâncias, mas ela levanta meu queixo e diz: — Eu
nunca te machucaria.

Eu deveria pensar melhor antes de ouvi-la, porque já ouvi essas


mesmas palavras de pessoas que não fizeram nada além de me
machucar.

Mas Jess não é como as outras. É por isso que gosto tanto dela.
Ela nunca me deu um motivo para não confiar nela. Nem mesmo um
sinal de alerta.

Tomo um gole e a pílula desce com facilidade. — O que é?

Eu ignoro a vozinha na minha cabeça me repreendendo por não


perguntar antes de engoli-la.

— Êxtase. É super leve, então você provavelmente nem vai


sentir.

Considerando que nunca usei E antes, duvido disso. Eu olho em


volta nervosamente. Eu confio em Jess, mas a ideia de estar chapada
de algo que nunca tomei antes em um bar cheio de pessoas que eu
não conheço, não me cai muito bem. Eu me pergunto se é tarde
demais para correr para o banheiro e vomitar.

— Quer sair daqui e subir para o meu quarto?

— Sim, — eu respiro, sentindo-me aliviada por ela ser perceptiva


o suficiente para entender minhas preocupações sem eu ter que dizer
a ela.
Ela termina sua taça de espumante, acena para as estrelas
pornôs e saímos do bar.

No segundo em que estamos dentro do elevador, Jess me puxa


para outro beijo. As pessoas estão olhando para nós, mas nenhuma
de nós se importa. Estou tão bêbada com ela que sinto que estou
subindo e nunca mais quero voltar para baixo.

Nem percebo que as portas do elevador se abriram e chegamos


ao nosso destino até que uma mulher pigarreia.

Nós tropeçamos para fora, todas risos e sorrisos, e me ocorre


que fantasiei, desejei e esperei por este momento com Jess por mais
de oito longos meses.

Eu paro de andar e olho para ela. Realmente olho para ela.

— O que há...

Eu a beijo de novo, porque ela está aqui. Porque isso é real. Eu


sei que é.

Jess não é um caso. Pela primeira vez, não estou me metendo


em coisas com alguém que não conheço, por causa de alguma faísca
de atração. Claro, ela é linda. Mas ela é tantas outras coisas também.
Como trabalhadora, determinada, independente. E a maneira como
ela está olhando para mim agora me diz que essa coisa entre nós,
não será outro erro doloroso do qual vou me arrepender quando o
sol nascer.

Eu pressiono meus lábios em seu pescoço antes de começar meu


declínio de beijos por seu corpo.

— Por favor, não me machuque.


Minha voz sai baixa, como um apelo. Porque é. Eu preciso que
ela seja gentil com o coração batido e machucado que estou prestes
a entregar a ela.

Um coração que é fácil de quebrar, mas tão difícil de recompor.

Um coração que deseja desesperadamente ser amado -


conseguiu cambalear até o limite mais uma vez. Preparado para
despencar, mas morrendo de medo de cair.

O fogo está quente - minha mente me avisa.

E então eu fecho meus olhos e caio.

Porque alguns de nós perseguem a queimadura.

Mesmo depois de já termos rastejado para sair do fogo.


capítulo 5

Todos os olhos estão em mim, esperando que eu faça meu


movimento.

É uma decisão fácil – dobre no flop.

Um dos homens sentados à mesa murmura algo em russo, sem


dúvida irritado com minha decisão.

Merda difícil. Não posso me arriscar, há muito em jogo.

Como o milhão que terei que ganhar e depois dar a Salvatore


Campanelli para que ele não me arranque os joelhos e me jogue no
Lago Mead.

Este jogo não é para diversão, é estritamente profissional. Entre,


pegue o dinheiro e dê o fora.

Nunca pensei que chegaria o dia em que não gostaria de jogar


pôquer, mas como dizem, é tudo diversão e jogos até que alguém se
machuque.

Ou no meu caso - eles acabem trabalhando para a máfia...


gostem ou não.

Jogar poker porque quero é uma coisa. Jogar porque você tem
uma proverbial arma apontada para sua cabeça é outra.

Acontece que há muito mais dinheiro a ser ganho em uma


operação ilegal de jogo clandestino do que em um cassino em Las
Vegas.
Em um cassino, depois de ganhar uma quantia substancial,
você tem sorte de poder entrar novamente. Eles vão acusá-lo de
contar cartas na próxima vez ou se recusar a pagar por quebrar
alguma política de besteira que não existia até momentos antes.

Há uma razão pela qual o relâmpago nunca atinge o mesmo


lugar duas vezes.

É algo que Salvatore Campanelli, o novo chefe da família do


crime Campanelli, conhece muito bem.

Rumores dizem que ele costumava ser um grande jogador, mas


tudo acabou depois que ele perdeu seu irmão caçula por causa de
uma dívida que não pôde pagar a alguns russos quando tinha vinte
e poucos anos. Para encurtar a história, os Campanellis se vingaram
e Salvatore nunca mais apostou.

No entanto, o cara tem um grande rancor contra todo e qualquer


mafioso russo. E agora que ele é o chefe de sua própria máfia, ele
tem a missão de atacar os russos sempre que puder. Só que em vez
de matá-los como um chefe da máfia normal - sua arma favorita é
um jogador que pode continuar sugando dinheiro deles.

É por isso que estou sentado aqui no momento. O plano é


simples. Um dos informantes de Campanelli dá a ele informações
sobre o jogo de pôquer clandestino mensal e me garante uma vaga.
Campanelli, por sua vez, me dá o dinheiro para os buy-ins e blinds,
e eu transformo em ouro.

Ou melhor, eu fazia.

Tudo mudou no mês passado quando perdi meu primeiro jogo.


Você pensaria que o filho da puta teria me dado uma folga, visto que
ele ganha noventa e nove por cento de todos os meus ganhos, mas
ele não aceitou tão bem.
Tentei apontar que perder um jogo funcionou a nosso favor,
porque os russos estavam começando a suspeitar da minha
sequência de vitórias de três meses e que, se eu não tivesse perdido,
meu próximo jogo seria um jogo fraudulento de roleta russa.

Mas acontece que Salvatore, assim como eu, é um homem que


se importa muito pouco.

Ele me acusou de me voltar contra ele e de trabalhar para os


russos. Quando abri minha boca para dizer que ele estava louco, ele
calmamente me informou que iria me matar e a todos os membros
da minha família se eu não ganhasse o próximo jogo.

Não há discussão com um psicopata italiano que está


convencido de que você está do lado do inimigo.

Desnecessário dizer - recebi o memorando em alto e bom som.


Ganhar este jogo não é uma opção.

A mão atual se desenrola - e o resmungão cujo nome agora sei


é Niko, murmura mais algumas merdas em russo depois que perde.

Estou prestes a pedir a ele para repetir o que disse em inglês


quando houve uma mudança no ar. Todos eles se sentam eretos
como os bons soldadinhos que são quando seu comandante-chefe
Vladimir Pavlovich entra.

Uma garota chamada - foda-se, se eu consigo lembrar, mas ela


dá uma chupada decente, imediatamente corre e lhe entrega um
copo de vodca.

Ele avalia a mesa antes de seus olhos pousarem em mim. — Ah,


o menino bonito.

Os homens riem como se fosse a merda mais engraçada que eles


já ouviram.
Por dentro, estou ansioso para dizer a todos para irem se foder,
mas não é bom deixá-los me ver suar ou dar a Vladimir qualquer
motivo para me expulsar.

Pego minha cerveja e dou a todos um sorriso de merda. —


Vamos, rapazes. Não me deixe ser bonito e rico. Não é justo para um
homem ter tudo. — Eu aponto para minhas fichas. — Vamos jogar
pôquer ou o quê?

Minha declaração diverte Vladimir, que solta uma gargalhada,


termina sua vodca e vai embora.

De volta ao normal.

Ou não, porque Niko, o resmungão, me lança um olhar severo.


— Ele nem é russo. Como é que ele tem permissão para jogar com a
gente?

Alguns caras param de olhar para as cartas e olham para mim,


sem dúvida pensando na mesma coisa.

Porra, eu não preciso disso esta noite. — Dinheiro é dinheiro,


certo? Além disso, quem disse que eu não sou russo?

Eu não sou, mas esse cara está me irritando e eu preciso parar


com essa merda antes que aumente.

Ele gira o líquido em seu copo. — Esse sotaque americano diz o


contrário. — Ele cospe a palavra americano como se fosse rançosa.

Eu levanto um ombro. — Bem, sua babushka não teve queixas


sobre meu pau americano na noite passada.

Ele salta da mesa, cuspindo uma série do que tenho certeza que
são doces gentilezas russas, mas alguns dos caras o puxam de volta
e dizem para ele se acalmar.
Eu levanto minhas mãos. — Olha, cara. Estou aqui para jogar,
não desenhar um diagrama da minha árvore genealógica. Russo ou
não, Vladimir não tem problema sobre eu estar aqui, então você
também não deveria.

Isso faz os outros homens relaxarem, mas esse cara não. Isso só
o deixa com mais raiva. Ele cuspiu mais alguma coisa em russo antes
de chupar os dentes para mim e pegar suas cartas. — Vamos jogar.

Um pouco mais de três horas depois, dois dos sete jogadores


saíram depois de perder tudo o que trouxeram aqui, e o pote
finalmente chegou a um milhão.

É agora ou nunca. Alguns homens estão falando em voltar para


casa depois disso, então, se eu não agir agora, perderei minha única
oportunidade.

Infelizmente, minhas cartas não cooperam. Eu tenho um par de


dois e um três após o flop.

Normalmente, eu desistiria nesta situação. Se eu não tenho


cartas logo de cara, rejeito a mão mais rápido do que uma prostituta
com uma doença venérea.

Mas não desta vez.

Desta vez, eu aumento. Eu estou indo até o fim.

Já que sou famoso por dobrar no flop e raramente passar da


vez, isso desperta algum interesse na mesa.

— Suas bolas finalmente caíram, — declara Niko, mas não perco


a expressão de inquietação no rosto dele e de todos os outros.

Que é exatamente o que eu quero.

A chave para fazer as pessoas desistirem é enganá-las, fazendo-


as pensar que sabem como você joga. Se eles pensam que sou um
jogador cuidadoso, como dobrando no flop ou pedir um turn, então
é seguro presumir que quando eu aposto, eu tenho uma mão muito
boa.

Meu estômago aperta depois que o turn me dá um cinco, mas


continuo estoico como o resto deles. Além da barreira do idioma,
outra desvantagem de jogar pôquer com os russos é que todos eles
têm suas faces voltadas para baixo.

Eu não tenho escolha a não ser blefar muito ou ir para casa,


então eu vou para a matança.

Eu aumento novamente, empurrando um pouco mais da metade


das minhas fichas na minha frente.

A apreensão está praticamente saindo deles em ondas.

Exceto Niko, que aceita o desafio e aumenta novamente.

É um movimento agressivo e faz com que três homens desistam


imediatamente. O último homem olha para Niko, que esfrega o nariz,
e depois para mim, e então para suas cartas novamente antes de
empurrar sua pilha de fichas para frente. Felizmente, aquele nano
segundo de apreensão me diz que ele não tem uma boa mão; ele só
quer impressionar Niko, que sem dúvida estava lhe dando um sinal.

Não é a situação ideal para eu estar. Outro homem pode


começar a incitar os dois homens a desistir, mas não eu. Ações falam
mais alto do que palavras, e eu quero que eles ouçam aquela vozinha
dentro de suas cabeças dizendo-lhes para desistir.

O turn me dá mais um três. Não é ruim, mas com certeza


também não é bom.

Não é o suficiente para vencer. Não, a menos que Niko e seu


lambe bunda estejam blefando. Eu vou descobrir no final do
confronto.
Niko estala os nós dos dedos antes de empurrar toda a sua pilha
para frente. — Vou com tudo.

Eu não olho para minhas cartas enquanto faço o mesmo. — Eu


também.

Por uma fração de segundo, a compostura de Niko vacila antes


de seu rosto voltar a ser uma máscara impassível.

Seu amigo, por outro lado, passa a mão pela cabeça, oscilando
na beirada. Niko esfrega o nariz novamente, sem dúvida dizendo-lhe
para se acalmar antes que ele estrague seu pequeno acordo paralelo.
Mas isso só faz o suor escorrer por sua testa. — Ele não é do tipo
que blefa, Niko.

Ele está errado. Eu sou do tipo que blefa, mente, trapaceia e


rouba para manter minha cabeça fora do cerco, mas fico lisonjeado
por ele ter uma opinião tão elevada de mim.

Ele se levanta, anda um pouco para a frente e para trás e se


serve de outro copo de vodca.

Eu nunca vi um experiente russo declinar antes, mas não posso


dizer que o culpo, há um milhão de dólares em jogo.

Os olhos de Niko se tornam pequenas fendas. É claro que seu


amigo quebrou o acordo silencioso e ele não vai chamar como
deveria. Jogada inteligente.

Conforme previsto, ele balança a cabeça e vira as cartas. Eu


estremeço interiormente quando vejo um straight. Muito melhor do
que meus dois pares miseráveis. O cara deveria ter chamado.

Niko olha para mim. — Eu reconsideraria se fosse você.

Sua vodka deve ser enriquecida com absinto se ele acha que vou
cair nessa.
— Estou bem. — Eu sorrio e aponto para suas cartas. — Depois
de você.

Meu coração bate forte e meu sangue gela quando as primeiras


cartas que ele vira são dois ases. A bile sobe pelo meu esôfago
enquanto as memórias da única outra vez em que estive tão nervoso
durante um confronto me atingem.

Não, foda-se isso. Eu não irei para aquele lugar. Não aqui, não
agora. Não na frente deles. Eu venci aquele filho da puta quando
tinha doze anos e vou vencer este também. Eu não tenho muito, mas
deve haver algo meu que esse cara quer. Algo que posso trocar por
outra rodada. Eu não posso perder. Eu me recuso.

Estou tão ocupado pensando em maneiras de negociar que


quase não percebo até que seja tarde demais que suas outras cartas
são cinco, quatro e dois.

Esse par de ases é a única coisa boa em sua mão.

Meu sorriso cresce quando eu viro minha mão - revelando dois


pares.

Quero perguntar a ele se ele quer um pouco de creme para essa


queimadura, mas já estou enchendo uma mochila. Só quero ir
embora, dar a Salvatore seu dinheiro e voltar para minha casa de
merda no quarto de motel.

— Como ele continua ganhando? — Niko exclama enquanto


coloco o dinheiro na bolsa.

Eu o olho bem nos olhos. — Porque vocês estão apostando. —


Eu puxo o zíper. — E eu estou jogando pôquer.

Com isso, puxo a alça por cima do ombro e saio.


Capítulo 6

— Feche seus olhos.

Eu mal ouço o comando sobre as batidas frenéticas do meu


coração.

A venda pendurada em seu dedo balança como um pêndulo e


tento entender o que ela está perguntando. Tudo está começando a
ficar um pouco desarticulado e está demorando um pouco mais para
meu cérebro processar as coisas do que o normal.

Mas não de um jeito ruim. Longe disso. Sinto como se estivesse


flutuando em um balão de hélio que navega por um céu feito de
algodão doce.

Uma risada borbulha de mim, porque isso nem mesmo faz


sentido.

Controle-se, Kit. Ou você vai estragar tudo.

Assentindo, eu faço o que ela diz e o material de seda é colocado


sobre meus olhos. Depois que Jess o prende no lugar, eu descanso
a parte de trás da minha cabeça contra a porta do quarto de hotel
que conseguimos tatear nosso caminho apenas alguns momentos
antes.

Meu coração bate contra o peito como uma britadeira e coloco


minha mão sobre ele, esperando que a ação o impeça de pular para
fora do meu corpo.

A imagem de um coração de desenho animado com asas permeia


minha mente e eu rio novamente.
Não é engraçado, mas expulsa um pouco da minha ansiedade e
me ajuda a superar as ondas de nervos que continuam me
dominando. Eu a quero e quero isso, mas estou com tanto medo de
fazer algo para bagunçar tudo. Ou pior, ela vai cair em si e perceber
o quão idiota eu sou e meus sentimentos sobre estar fora de seu
alcance serão confirmados.

— Parece que alguém está se divertindo. Importa-se se eu entrar


na festa?

Abro a boca para responder que ela é a festa, mas então Jess
levanta meu vestido e sua boca encontra o ponto vibrante entre
minhas pernas.

O calor se espalha por mim e eu suspiro quando ela puxa minha


calcinha para baixo com os dentes. Eu as chuto ansiosamente para
o lado, não querendo perder mais um segundo. Estou tão pronta
para isso. Eu estive tão pronta para isso.

Sua respiração atinge minha pele nua, e eu sinto a sensação até


os dedos dos pés. Ela lambe uma linha quente ao longo da minha
fenda, e meu balão flutua mais e mais alto. Eu a chupei no corredor
antes, mas não tinha certeza se ela retribuiria, e não sou o tipo de
garota que pede ou implora a alguém; não importa o quanto eu esteja
ansiosa por isso.

Mas, ao que parece, eu não precisava com Jess, porque ela sabe
do que eu preciso sem que eu tenha que dizer a ela. Ela repete o
movimento e eu gemo quando o balão em que estou aumenta e meus
joelhos começam a tremer. Ou talvez seja a terra sob meus pés que
está tremendo. Deus, faz muito tempo que não sou tocada assim, e
graças ao álcool e ao êxtase em meu sistema me deixando ainda mais
sensível, junto com a venda aumentando meus sentidos, estou
sujeita a desmoronar com o próximo toque suave de sua língua.

— Você está pronta para se divertir ainda mais?


Eu lambo meus lábios e aceno com a cabeça, odiando que estou
sendo privada do visual dela me dando prazer, mas não querendo
ser uma desmancha prazer. — Sim. — Minha voz é uma rouquidão
grossa misturada com necessidade. Preciso tanto gozar que não
consigo ver direito. Na verdade, não consigo ver por causa da venda,
mas isso não vem ao caso. Estou morrendo de vontade de Jess ter
seu jeito travesso comigo.

A ponta de seu dedo circunda meu clitóris e eu juro que vejo


estrelas.

— Olha como ela está molhada.

Eu estou tão longe, flutuando sem rumo como uma pena ao


vento, eu nem estou incomodada que ela esteja falando sobre minha
boceta como se fosse uma entidade separada. Sem aviso, o toque
feminino suave entre minhas coxas é substituído por uma barba por
fazer e uma voz masculina abafada geme: — Você estava certa,
Jessica. Ela é perfeita.

Meu estômago embrulha, meu feliz balão estala e eu começo a


cair em queda livre.

Por instinto, chuto o homem que não tem o direito de estar tão
perto de uma parte tão íntima do meu corpo com toda a força que
posso e arranco minha venda.

Meus olhos percorrem a sala, ajustando-se à luz fraca. Eu olho


para Jess primeiro e depois para o homem curvado, uivando de dor.
Um homem que nunca vi na minha vida.

O sangue escorre do nariz para a camisa branca engomada. —


Que porra é essa?

Que porra é isso mesmo. Eu não consigo entender como diabos


acabei nesta posição confusa. Jess nunca mencionou um cara se
juntando a nós. Caramba, eu não sabia que ela mudava dessa forma.
Eu nunca teria pensado em algo com ela em primeiro lugar se
soubesse. Aprendi minha lição sobre namorar garotas bi-curiosas há
muito tempo, graças a Becca.

— Oh meu Deus, — Jess diz, correndo para ele. — Você está


bem, Jared?

Minha mente volta para a última sexta-feira no escritório


quando ela estava no telefone, mas não tenho tempo para examinar
o pensamento porque Jess grita: — Merda. Acho que você quebrou o
nariz dele. Vá pegar um pouco de gelo, Kit.

Ela está realmente me pedindo para ajudar o idiota que enfiou


o rosto entre minhas pernas sem minha permissão?

Eu engulo a bile enquanto tudo me atinge como um caminhão


Mack.

Sete minutos atrás, eu estava entregando a essa garota meu


coração mutilado no meio de um corredor de hotel e implorando para
ela não me machucar.

Dois minutos atrás, eu estava voando alto enquanto oferecia a


ela uma parte de mim que não dou a qualquer um. Não mais.

E um minuto atrás, ela estava concedendo permissão em meu


nome para um cara me usar como seu brinquedo. Depois dela...
depois de eu...

Minha mão voa para o meu estômago. Deus, estou me sentindo


mal. Doente e traída. E tão estúpida.

— O que você está esperando? Pegue a porra do gelo! — Jess


late como se eu não fosse nada mais do que um funcionário que ela
pode mandar.
Porque isso é tudo que sou para ela.

Se suas ações ainda não tornaram isso flagrantemente óbvio


para mim, o fato de que ela está embalando a cabeça de um cara
velho em suas mãos e cuidando dele em vez da garota que ela
machucou, tornam.

Recuso-me a passar mais um segundo neste quarto, então pego


minha bolsa e corro para a porta.

Lágrimas pinicam meus olhos quando ela se fecha atrás de mim,


mas só quando estou no meio do corredor é que permito que a
primeira se solte.

Enrolando meus braços em volta de mim, eu pego o elevador até


o meu andar, ignorando os olhares que recebo de estranhos.

Eu me sinto tão suja e usada. Quero arrancar minha pele e


mergulhá-la em alvejante. Mas a sensação desagradável empalidece
em comparação com a forma como meu coração dói ou como minha
alma empola de tristeza.

Eu sou tão ruim no amor que deveria ser condenada pelo


tribunal para ter a declaração tatuada em minha testa em letras
maiúsculas.

Achava que Jess era diferente de todas as outras e tínhamos


algo especial. Acontece que ela era apenas mais uma ilusão. Eu pisco
para o teto. Se eu continuar distribuindo partes do meu coração para
as pessoas erradas, logo não terei mais nenhuma.

Eu vasculho minha bolsa em busca do meu cartão-chave


quando chego ao meu quarto. Talvez Juan me perdoe e me dê um
ombro para chorar esta noite.

O som de pele se batendo e grunhidos masculinos assaltam


meus ouvidos no segundo que viro a maçaneta.
— Sim, Ronald. Mais forte, papai, — uma voz que é
inconfundivelmente o lamento de Juan e eu rapidamente fecho a
porta.

Meu Deus, eu poderia ter passado toda a minha vida feliz sem
ouvir isso. O mesmo pode ser dito sobre o conhecimento de que Juan
é passivo.

Eu balanço minha cabeça e faço minha descida escada abaixo.


Já que ficar no meu quarto por enquanto está fora de questão, fare i
a próxima melhor coisa. Vou dar uma caminhada e clarear minha
cabeça. Ou chorar. Seja como for, não importa. Eu só preciso
respirar antes que o peso do que Jess fez, combinado com a crosta
que foi arrancada da minha velha ferida agonizante, me mande em
espiral para outra toca de coelho.

Meus saltos de renda de dez centímetros batem no concreto e


me xinguei por não usar jaqueta. É Vegas, então não é como se o
clima do final de janeiro aqui chegasse perto de quão brutal pode ser
em Connecticut, mas ainda está frio.

Então, novamente, talvez o frio seja bom para minha raiva,


porque agora está subindo como uma onda. A coragem de Jess. O
que ela ganharia fazendo isso comigo? Pelo amor de Deus, sou
lésbica. Ela realmente achou que eu ficaria bem com um cara - um
que eu nunca conheci antes - fazendo sexo oral em mim e só Deus
sabe o que mais? Chefe ou não - correção, chefes ou não, isso não
está certo.

A indústria pornográfica enlouquecedora está cheia de nada


além de usuários de drogas, idiotas e manipuladores.

Talvez isso seja um pouco de julgamento da minha parte, mas


estou exasperada e chateada.

E triste... porque eu amava meu trabalho.


A compreensão é um soco no estômago. Eu não apenas adorava
ser a gerente de mídia social da Pretty Kitties, mas também era muito
boa nisso. Isso me deu uma sensação de realização e orgulho.

Mas agora estou desempregada. Sem propósito. Perdida e


vagando sem rumo. Eu olho em volta. Literal e figurativamente,
porque não reconheço nada por perto.

Eu cerro meus punhos, minha cabeça girando como um


redemoinho. Foda-se isso. Não vou deixar que me demitam por causa
de seus critérios. Vou processá-los por má conduta sexual no local
de trabalho. Tenho certeza que o juiz vai levantar uma sobrancelha,
considerando que é pornografia e tudo, mas ainda assim. Eu recebo
meu informe de rendimento e pago meus impostos, droga. Eu sou
uma cidadã americana. Tenho direito ao devido processo legal,
habeas corpus e todas essas coisas boas. Ou é coisa ruim? Eu não
sei porque estou pirando de bêbada e chapada.

Eu respiro fundo e tento impedir o ar de girar ao meu redor.


Puxa, não me sinto tão bem. Como se concordasse comigo, meu
estômago tropeça como uma garota de uma irmandade em uma festa
do barril. O que aconteceu com todas as luzes bonitas e aquele
edifício em forma de cúpula que era o meu hotel? Só estou
caminhando há quinze minutos ou mais, quão longe eu poderia ter
ido?

Evidentemente longe o suficiente, porque não só está rua não é


bem iluminada, como parece degradada.

Merda. Devo estar fora da Strip. Outra rodada de tontura me


atinge e eu estendo meu braço, me apoiando contra a lateral de um
prédio que positivamente não está aberto para qualquer tipo de
negócio. O mesmo pode ser dito para tudo nas proximidades, dado o
quão assustadoramente silencioso é. A culpa é minha por não ter
prestado atenção. Felizmente, estou com meu telefone, então vou
chamar um Uber. Tenho certeza de que eles encontram esse tipo de
coisa o tempo todo, então eles não terão nenhum problema em
descobrir onde estou e me levar de volta para o hotel.

Eu só preciso que a minha cabeça gire para parar por dois


segundos para que eu possa pescar meu telefone. Mole-mole.

Não quero largar o prédio porque é a única coisa que me mantém


de pé, então pego minha bolsa com a mão livre. Eu me dou um soco
mental quando localizo o objeto elegante. Assim que eu vou retirá -
lo, no entanto; algo, ou melhor, alguém, bate em mim e eu perco o
rumo e caio.

Muito obrigada, idiota.

O idiota em questão não me ouve porque está correndo mais


rápido do que o vento, enquanto carrega o que parece ser uma
mochila de algum tipo. Mas quem sabe, está escuro e meu cérebro
está dando o que parece ser uma festa rave subaquática com meus
neurônios, apesar da minha insistência para que eles levem para
outro lugar. Sem mencionar todo o álcool que posso sentir subindo
pela minha barriga e filtrando pelas minhas veias.

Estou em pior forma do que pensava. Na verdade, este


pavimento está parecendo um ótimo lugar para cair agora.

Eu balanço minha cabeça, me amaldiçoando quando provoca


outra rodada de tontura. Tirando o cascalho de minhas mãos e
joelhos, vejo Forrest continuar sua corrida e se levantar do chão.

Apenas para ser espancado por outra pessoa no segundo que eu


me levanto. Foda-se, não sou feita de vidro. Certamente, eles podem
me ver. Idiotas rudes.

— A sério? Alguém ainda tem boas maneiras?


Esse cara me ignora e continua correndo. Igual ao primeiro. Um
segundo depois, outro cara passa zunindo, não me acertando por
pouco.

Meu Deus, eu não sabia que Vegas tinha tantos maratonistas


treinando às duas da manhã.

O primeiro cara ainda está à frente, mas não muito porque o


cara dispara furiosamente como um canhão. Em seguida, ele agarra
as costas da camisa do primeiro cara e os dois caem.

Bem feito pra eles. Eu olho em volta para ter certeza de que a
debandada acabou antes de me levantar novamente.

Pego meu telefone mais uma vez, mas gritos furiosos atrapalham
minha atenção e quando eu olho para os homens, meu estômago
embrulha.

Os dois caras estão se unindo e dando socos no primeiro cara


que está protegendo sua mochila como a vida. Admito que ele é
grande e está se segurando muito bem com sua mão livre, mas dois
caras contra um não é uma luta justa.

Fique fora disso, Kit.

Um grito queima minha garganta quando vejo um deles puxar


uma arma. O cara que está sendo atacado não percebe, porque ele
está muito ocupado lutando contra o outro cara que fica tentando
arrancar o saco de suas mãos.

Eu não sei o que é tão importante nessa bolsa estúpida, mas


não vale a pena morrer por isso.

— Ei, — eu grito, esperando assustá-los o suficiente para se


espalharem, mas eles estão muito longe para me ouvir.

Não vá lá, Kit.


Meus pés começam a se mover por conta própria e enquanto
meu cérebro está me castigando por me tornar a garota em um filme
de terror que é estúpida demais para viver, meu coração está batendo
forte de pânico enquanto flashbacks do tiroteio me cortam como uma
faca crepitante na manteiga.

As pessoas que perderam suas vidas sempre viverão em minha


consciência culpada, e eu vou me culpar eternamente e gostaria de
ter feito algo para evitá-lo.

Talvez desta vez eu consiga.

Apesar do barulho na minha cabeça piorando, eu consigo


localizar meu telefone, me preparando para chamar a polícia. — Dê
a ele a bolsa, ele tem uma arma!

Duas coisas acontecem naquele momento.

Um - o cara com a arma diz algo no que parece russo antes de


apontar para mim.

E dois - um segundo depois, a mochila cai aos pés do atirador


com um baque pesado.

— É seu, Niko. Agora, abaixe a porra da arma e vá embora.

O estrondo profundo de sua voz me enraíza no local. Conheço


essa voz melhor do que conheço a minha. É a voz que me assombra,
me atormenta e me torce por dentro com tanta força que não consigo
respirar devido à onda de raiva que me estrangula sempre que passa
pela minha mente.

É a voz do homem que me salvou no refeitório da escola... e


então se virou e me matou da maneira mais brutal.

Direto pelo meu coração.


Eu balanço minha cabeça, desesperada para manter alguma
forma de lógica. Não pode ser ele. Não é ele.

Eu olho para cima ao mesmo tempo em que os homens começam


a sair, ou pelo menos acho que eles fazem. Meu coração está batendo
tão forte que reverbera em meus ouvidos e minha visão está
embaçada, fazendo com que tudo fique fora de foco...

Exceto por ele.

Minha cabeça zumbe e há um zumbido estranho no ar que


parece rolar por todo o meu corpo. Eu cambaleio para trás, tentando
como o inferno nadar, mas não consigo. Estou sendo arrastada pela
maré.

Eu afasto meu olhar, certa de que deve ser um erro. Esse cara
parece diferente. Mais velho. Sólido. Um pouco mais ousado...
perigoso até. Nada como o cara magro e mauricinho de terno que
continua rondando os cantos escuros da minha mente como um
ladrão.

Eu aperto meu peito; minha realidade está tão desorientada que


não consigo formar pensamentos coesos. Ele está dizendo algo, acho
que pode ser meu nome, mas não consigo ouvir nada porque o
zumbido em ziguezague na minha cabeça está piorando. Tento me
afastar novamente, mas meu corpo não recebe o memorando. Em vez
disso, cambaleio e, quando cometo o erro de olhar para cima, meu
pior medo se confirma.

Através do caleidoscópio feito dos pedaços do meu coração


partido - eu o vejo. E desta vez não há engano sobre isso.

Preston Holden está parado bem na minha frente.

E ele é a última coisa que vejo antes que meu corpo ceda, tudo
escurece... e eu caio.
Capítulo 7

— Kit. — Bato palmas, esperando que a ação faça com que ela
se concentre.

Suas orbes cor de avelã injetadas de sangue olham para mim


em confusão e depois em horror quando ela cambaleia para trás.

Antes que eu tenha tempo de reagir, ela cai mais rápido do que
uma pilha de dominós. Eu consigo pegá-la antes que ela atinja o
chão.

Excelente. Esta situação foi de mal a pior. Lidar com uma garota
desmaiada é a última coisa de que preciso depois de perder o
dinheiro de Campanelli para os russos.

Uma garota desmaiada que eu não vejo há três anos e dois dias,
mas quem está contando.

— Bishop. Acorde, porra.

Silêncio. Estou tentado a deixá-la aqui, mas o poltergeist


batendo na minha caixa torácica não permite. Em vez disso, verifico
para ter certeza de que ela ainda está respirando antes de jogá-la
por cima do ombro.

Cristo, eu não posso acreditar que a garota instável em meus


braços é Kit Bishop.

Ela quase se matou esta noite. O que diabos ela estava


pensando?
Esqueça isso - a julgar por seu vestido minúsculo que deixa
pouco para a imaginação, e aquele olhar vidrado em seus olhos antes
de desmaiar, ela não estava pensando em nada. Ela está muito
embriagada. Provavelmente devido a uma festa em Las Vegas.

O que, suponho, explica por que ela estava vagando sozinha às


duas da manhã. Kit não é estúpida. Um pouco ingênua com certeza,
mas ela está longe de ser uma idiota. E ela está mais do que apenas
bêbada.

— O que você está fazendo?

Quando eu não obtenho uma resposta, eu empurro meu ombro


até que ela se mova.

— Bar. — Ela começa a escapar, então eu a cutuco novamente.


— Álcool.

— Sim, sem brincadeira. Você usou drogas esta noite?

— Não - um pouco.

Eu aperto a ponta do meu nariz. — O que...

— O tipo que me faz rolar em nuvens muito quentes.

Êxtase. Essas nuvens dela estão quentes porque ela está


superaquecendo e provavelmente desidratada. E se ela usou E com
algum idiota em um bar, não há como dizer o que mais havia nele.

Procuro meu telefone em volta dos bolsos e praguejo ao me


lembrar que o joguei antes do jogo. Merda.

Pensando rápido, procuro o que ela estava segurando. Por sorte,


não tenho que procurar muito, porque segundos depois, um telefone
no chão se acende e alguns toques de Melissa Ethridge começam a
tocar.
Quando me curvo para pegá-lo, vejo o nome — BILF — piscar
na tela. Não tenho ideia de quem ou o que é, mas não me importo.
Eu pressiono o botão ignorar para chamar um táxi.

— Vou deixar você no hospital.

Ela faz um som choramingando. — Não.

— Por que?

Ela se mexe. — Minha avó - por favor, sem hospital.

Minha mandíbula aperta quando algo dentro do meu peito


muda.

Dizem que todo mundo tem um vício, uma obsessão ou uma


fraqueza neste mundo. Algo que pode penetrar em você até o âmago
e influenciá-lo de uma forma que nada mais pode fazer.

Eu tenho todos os três.

Acontece que uma é ela.

Mas ela também é a única coisa que eu nunca poderei ter - o


que significa que preciso me livrar dela.

— Puta merda, não estou com vontade de cuidar de um caso de


caridade esta noite.

Ela se contorce, tentando manobrar para fora do meu controle.


— Então me deixe. — Sua voz está arrastada, quase inaudível. —
Todo mundo faz isso mesmo.

Não, eu não vou ceder. Não posso me dar ao luxo... por uma
infinidade de razões. A mais recente consiste no fato de que terei um
chefe da máfia psicótico na minha bunda em algumas horas.

Sua respiração suaviza e ela afunda contra mim, se acomodando


- como se soubesse que vou ceder antes de fazer isso.
Como se ela soubesse que ainda está em minhas veias,
incrustada em minha medula... não importa quanto tempo se passou
ou quanto as coisas mudaram.

Ela ainda é minha constante. A última pessoa em quem penso


quando arrasto minha bunda triste para a cama depois de muitas
cervejas, e a primeira pessoa em quem penso quando acordo com
minha cabeça latejando.

Ela é meu vinte e um no blackjack, meu jackpot em uma


máquina caça-níqueis e meu Royal flush que está sempre fora do
meu alcance.

Ela é o veneno letal que não consigo tirar do meu sistema.

Foda-se, Nervosinha.

Com um suspiro, me rendo e sigo em direção ao meu motel.


Carregando a garota que segura todos os cacos da pessoa que ainda
não consigo encarar no espelho.

— Quente, está tão quente.

— Isso não é nada, você deve vir visitar no verão. — Eu chuto a


porta atrás de mim e a coloco no edredom floral desatualizado. —
Não vomite na minha cama.

Ela murmura algo que não consigo decifrar antes de virar de


lado. Tento não olhar para a curva de sua bunda enquanto entro no
banheiro para pegar uma toalha fria.

Eu me certifico de pegar uma garrafa de água do frigobar no


meu caminho de volta. — Aqui.
Ronco suave é minha única resposta.

Abrindo a garrafa d'água, peço ao bom Deus um pouco de


paciência. Então eu a rolo de volta para mim, coloco a toalha em sua
testa e a levanto para tomar alguns goles.

Eu deveria ter pedido a ele um pouco de força de vontade em vez


disso, porque a parte de cima do vestido dela escorrega levemente e
os lábios carnudos dela gemem ao redor da garrafa antes que ela
engula.

Já estive com muitas mulheres, mas nenhuma delas jamais me


deixou tonto como ela. Eu ainda a quero em todas as funções, em
todas as superfícies e à minha disposição.

Você pensaria que três anos teria diluído a potência, tirado um


pouco do brilho da maçã, mas não o fez. Nem mesmo chegou perto.

Cada vez que eu gozava e cada vez que eu fodia... ela estava lá.
Permanecendo como uma mancha que não fica limpa.

Lembrando-me que sempre queremos o que não podemos ter.

Mordo o interior da minha bochecha quando a ponta da língua


dela se lança para pegar o líquido escorrendo do canto da boca.

Ela perde completamente, porém, e eu vejo como a gota desce


pela fenda supraesternal - também conhecida como aquele pequeno
recorte sexy entre suas clavículas, antes de deslizar para baixo em
seu peito e continuar até ela...

— Esta água é boa.

Sentindo como se tivesse sido pego com a mão no pote de


biscoitos, eu desvio meu olhar. — Tenho certeza de que é apenas
uma garrafa com um rótulo chique.

— Posso ter mais?


Acenando com a cabeça, vou buscar outra para ela no frigobar.
— Além de ir a bares e beber ecstasy, o que mais você está fazendo
em Vegas?

— Trabalho. — Sua voz é baixa e suas palavras ainda estão um


pouco confusas. — Eu realmente amava meu trabalho.

Meus ouvidos sintonizam em seu uso do tempo passado. —


Amava? O que aconteceu?

Ela abaixa a cabeça entre as mãos. — Não tenho certeza.

A tristeza em seu tom me faz querer enfiar o punho na parede e


tenho que me lembrar que, seja qual for o problema, é besteira de
Kit, não minha.

Eu estendo a garrafa para ela. — Aqui.

Ela não faz nenhum movimento, em vez disso, ela afunda,


cochilando pela segunda vez.

Colocando um joelho na cama, eu envolvo um braço em volta


dela para apoio e a puxo de volta. — Ainda não, bela adormecida.
Você precisa beber um pouco mais de água primeiro.

— Não, obrigada.

— Kit.

Quando ela começa a declinar novamente, eu empurro seu


queixo até que seus lábios se separem e o coloco entre seus lábios.
— Tome um gole.

Finalmente, ela toma. Juro que é como lidar com uma criança.
Meu peito se contrai com esse pensamento, mas me concentro em
Kit, que tira a água de mim e começa a engolir como se ela não se
cansasse.
Eu pego de volta e coloco na mesa de cabeceira. — Você vai
passar mal se beber muito rápido.

Eu congelo quando sua palma desliza sobre meu peito. — Isso é


muito macio. Do que é feito?

Estou prestes a dizer a ela que é apenas uma camiseta preta


normal, mas as palavras saem dos meus lábios quando ela se
aventura mais para baixo, fazendo com que meu abdômen se
contraia sob seu toque. Aparentemente, eu, sem saber, entrei em um
dos círculos do inferno porque esta é a forma mais doce de tortura
que existe.

Eu pego seu pulso enquanto ainda tenho o controle para impedi-


la. — Não me toque.

Ela encolhe os ombros, sem parecer nada desanimada. —


Desculpa. — Seus olhos ficam caídos e ela afunda no travesseiro. —
Obrigado pela ag...

— Eu quero você fora daqui pela manhã.

Eu começo a me mover para fora da cama, mas um puxão no


meu braço me impede. — Por quê?

Porque eu não suporto estar na mesma vizinhança que você.

Minha mandíbula funciona. — Eu tenho coisas para fazer.

— Isso não foi o que eu quis dizer.

Contra meu melhor julgamento, eu olho para ela... e


imediatamente me arrependo.

Num impulso, vou limpar a porcaria preta que mancha seu rosto
por causa das lágrimas, mas estendo o braço e apago a luz. — Durma
um pouco.
Eu me levanto de novo, mas ela me puxa de volta, com mais
força desta vez, e minha compostura se rompe. Eu já tive tudo o que
posso aguentar.

— O que diabos você quer de mim, Bishop?

Eu não percebo o quão mortal meu tom é até que seus olhos se
arregalam. — Você nunca foi tão mau em meus sonhos antes.

Uma risada cruel e amarga me escapa - é claro que ela pensaria


que tudo isso é algum tipo de alucinação em seu estado delirante.

Mudando, eu coloco meus braços em cada lado de seu corpo,


pairando acima dela. — Bem, eu odeio dizer a você, querida, mas
isso não é um sonho. — Eu inclino minha cabeça para ficarmos nariz
com nariz. — No entanto, se você não calar a boca e parar de me
irritar, vai se tornar seu pesadelo bem rápido. Entendeu?

— Não entendo...

Eu soco o colchão. — É exatamente isso. Você não entende, e


nunca vai entender, então faça um favor a nós dois e pare de falar.

Ela franze a testa e o órgão dentro do meu peito desliza até parar
completamente.

— Não sei por que você está sendo tão mau comigo quando...

— Quando o que? — Eu me inclino mais, passando sobre seus


lábios. — Quando eu magoei seus pequenos sentimentos ao ser
chupado? — Eu inclino minha cabeça, escovando minha boca ao
longo de sua orelha. — Qual é o problema, Nervosinha? Isso te deixou
com ciúmes? — Ela choraminga, mas eu não paro. Eu preciso que
ela me odeie. Eu preciso apertar seus botões do jeito que sua mera
presença parece apertar cada um dos meus.
Mas, principalmente, eu preciso que ela dê o fora da minha vida
novamente. Para o meu bem.

Eu belisco seu pescoço, provocando-a deliberadamente. — É


isso, não é? Você desejou que fosse você me levando profundamente
e chupando todo o esperma do meu pau. Não é?

— Não... — Um gemido a interrompe e nos surpreende a ambos.


Mas não tanto quanto o que acontece a seguir.

Ela começa a se esfregar na perna que está presa entre as dela.

Um rubor se espalha de suas bochechas até o peito. — Eu não


posso evitar. — O constrangimento inunda suas feições. — Oh Deus.
Eu preciso acordar.

Estou dividido entre querer estourar aquela bolha dela com uma
verificação da realidade e minha própria ganância egoísta. Como de
costume, o último vence.

Eu olho para o comprimento de seu corpo e uma onda de


excitação me atinge como um trem de carga, fazendo meu pau esticar
contra o meu zíper. Toda a sua movimentação fez com que seu
vestido se enrugasse além das coxas... a única coisa que me impede
de ver cada centímetro daquele Santo Graal suave é a perna em que
ela ainda está se esfregando.

Minha mandíbula tica e eu afasto meu olhar. — Você não está


usando calcinha.

É como se ela estivesse me provocando intencionalmente.

Ou ela não me ouve ou está longe demais para reconhecer minha


pergunta. Seus olhos rolam para trás e seu peito arfa, fazendo com
que a parte de cima de seu vestido mergulhe mais - revelando uma
visão agonizante e provocadora de seus mamilos rosados.
Como uma cobra que quer provar sua comida antes de devorá-
la inteira, minha boca encontra a pele exposta e eu dou um pequeno
movimento com minha língua. — O que aconteceu com sua calcinha,
Kit?

Meu autocontrole está por um fio. Ela tem menos de um


segundo para parar o que está fazendo, ou vou fazer uma boa para
nós dois abrindo as pernas, agarrando a cabeceira da cama e
transando com ela até o meio da próxima semana.

— Minha chefe a tirou com os dentes. — Ela estremece. — Um


pouco antes de sair correndo da sala porque ela queria que eu
transasse com um cara velho.

Duas coisas acontecem naquele momento.

Um - tenho o desejo repentino de encontrar a chefe dela e jogá-


la da ponte mais próxima. Não admira que ela estivesse andando
sozinha.

E dois - eu desenvolvo uma consciência. Com base no que ela


acabou de me dizer e dado o estado de estupor em que se encontra;
sua chefe é uma manipuladora sexual não profissional ou uma vadia
conivente que não dá a mínima para Kit - porque Kit está muito
bêbada e drogada para impedir que alguém se aproveite dela.
Inferno, dependendo do que mais Kit possa ter usado, ela pode nem
se lembrar de nada disso amanhã. Há baixo e então há escória.

Prontamente, eu saio de perto dela e me levanto, a clareza da


situação batendo em mim.

— Você estará de volta amanhã à noite?

Não tenho ideia do que ela está falando, e acho que ela também
não, porque fecha os olhos e adormece. Com um suspiro pesado,
puxo o edredom ao redor dela. Até que algo chame minha atenção,
me deixando imóvel.

Preso ao colar de prata fino que ela está usando, aninhado entre
aqueles seios pequenos e empinados...

É minha ficha de pôquer da sorte.

Simples assim, estou rachando, estilhaçando bem no centro


como o solo durante um terremoto de magnitude oito.

— Vá embora ao nascer do sol, Bishop.

Com isso, vou até o banheiro para cuidar da minha ereção,


descobrir como conseguir um milhão de dólares para Campanelli nas
próximas doze horas... e encontrar uma maneira de esquecer tudo
sobre a menina dormindo na minha cama.

Eu olho para a mancha úmida na minha coxa e praguejo.

Eu preciso que Kit Bishop saia e saia da minha vida para sempre
antes que ela estrague tudo.

Pela segunda vez.

Continua...

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