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Beautiful Crime by Tamer


Throne by Saint Mesa
The Devil Within by Digital Daggers
Run by AWOLNATION
I Come With Knives by IAMX
Hollow by Cloudeater
Mercy by Hurts Desire by Meg Myers
Where the Dark Things Are by Kerli
Stardust by IAMX Flightless Bird, American
Mouth by Iron & Wine
Mr. Sandman by SYML
Vendetta by UNSECRET ft. Krigarè
Twisted by MISSIO
Out of the Woods by Anthem Lights
AVISO DE CONTEÚDO

Este romance sombrio e fumegante é


uma releitura distorcida de Hansel & Gretel
e apresenta um relacionamento MMF.
Preste atenção ao aviso - esta é uma história
sombria e partes dela podem ser
perturbadoras para alguns leitores. Por
favor, use seu bom senso para decidir se
este livro é para você.
Gatilhos:
Uma breve cena de abuso sexual explícito
por um membro da família (NENHUM
menor/criança está envolvido nesta cena),
romance cativo, consentimento duvidoso,
conteúdo sexual explícito, violência gráfica,
romance ménage MMF, referências a abuso
sexual passado por um membro da família,
busca de vingança, romance entre irmãos.
CAPÍTULO UM
GLORY

NÃO MAIS. NÃO mais. Não mais.


As duas palavras são um apelo
silencioso se repetindo em minha mente.
Minha consciência está fragmentada, e cada
toque de suas mãos ásperas sobre minha
pele.
Não mais.
Seus dedos desabotoam o botão da
minha calça.
Não mais.
Suas mãos a empurram para baixo
para me expor.
Não mais.
Ele alcança entre minhas pernas e
acaricia minha carne seca com dedos
calejados. Ele geme em meu ouvido e diz
que me ama.
Não mais!
Eu grito as palavras dentro da minha
mente, mas em voz alta, minha voz vacila,
sussurrada e quebrada. — Pare…
Ele me ignora como sempre faz.
— Eu não quero.
— Shhh, princesa. Você sabe que não
quer dizer isso.
Seus dedos me acariciam e eu me
encolho, lutando para ficar presente. Se eu
flutuar para longe do momento, flutuar em
um mar negro dentro da minha mente, ele
vai fazer isso como sempre faz. Ele vai me
foder, e eu vou voltar à consciência com dor
entre minhas pernas e um novo buraco no
meu coração.
Quantos buracos ele pode fazer antes
que meu coração desapareça
completamente, deixando um vazio
interior?
A felicidade de escapar me chama
enquanto ele acaricia, manipulando meu
corpo. Fecho os olhos e vejo uma imagem
do meu coração cinzento e moribundo cheio
de buracos, seco e desagradável, flutuando
dentro de uma gaiola vazia de ossos. Ele
bombeia uma, duas vezes, depois se
desintegra, as cinzas se afastam, partículas
escapando entre as barras de osso.
Eu quero me afastar com eles.
Eu quero ser livre disso.
Eu pensei que tinha escapado quando
fui para a faculdade – voltar para casa para
as férias de inverno foi um erro, embora eu
realmente não tivesse escolha. Eu só tenho
acesso ao dinheiro do meu pai se eu voltar
para ele, se deixá-lo me machucar. Levei um
ano depois de terminar o ensino médio para
convencê-lo a me deixar ir para a faculdade,
mas prometi a ele que voltaria para casa nos
intervalos... não porque ele é um pai
amoroso que quer acompanhar sua filha.
Ele me quer em casa para isso.
Estou livre dele há três meses e meio
e, ingenuamente, pensei que seria diferente
agora. Eu tenho dezenove; sou uma adulta,
uma estudante universitária. Eu tinha saído
de casa, embora nunca pudesse realmente
deixá-lo.
Nosso nome me seguiu como uma
maldição — Glory Tolliver, a herdeira
mimada do império Tolliver's Treats1. Os
doces de bordo do meu pai eram amados
em todo o mundo. Ele construiu sua fábrica
em nossa pequena cidade em Vermont e fez
uma fortuna.
Era uma vez, eu fui escolhida para
herdar tudo... isto é, até que ele se casou
com minha madrasta, Maura, quando eu
tinha doze anos. Isso foi apenas um ano

1
Delícias de Tolliver
depois que minha mãe morreu. Esse foi o
ano em que isso começou, e ninguém sabe.
Ninguém sabe, exceto eu.
Nem mesmo meu meio-irmão,
Huxley, sabe, embora saiba tudo sobre mim.
Eu me recuso a dizer a ele por medo de que
ele veja a verdade sobre mim. A verdade é
que eu não valho nada, nada mais que uma
pirralha mimada com um rosto bonito e
uma boceta apertada para meu pai abusar.
Suas mãos pesadas em meus quadris
me puxam de volta à consciência, longe da
imagem dos pedaços do meu coração cinza
flutuando como poeira na lasca de luz do sol
de uma janela.
— Não — eu tento usar minha voz,
mas é mansa, como sempre é — Eu não
quero isso.
Ele me silencia, me curvando sobre o
balcão da ilha, e minhas palmas pousam no
granito frio e escuro. A enjôo rola pelo meu
estômago e meu coração inexistente tenta
bombear adrenalina em minhas veias, mas é
apenas uma fraqueza pulsante.
Eu sou fraca.
Eu sou fraca?
Eu estremeço quando ele se move
contra mim, preparando-se para tirar o que
quer de mim, e isso me aterroriza mais
agora do que nunca. Quando eu era criança,
era mais simples de alguma forma. Eu não
tinha escolha. Ele era meu pai, e ele era
Deus nesta casa. Mas agora eu tenho uma
escolha... eu tenho uma voz.
Mas como eu falo quando estou em
silêncio por tanto tempo?
Meus olhos caem sobre o bloco de
facas de madeira preta segurando várias
lâminas na ilha à minha frente, e eu examino
a fileira de facas de bife. Eu poderia pegar
uma e ameaçá-lo com ele, embora eu saiba
que isso não impediria isso. Ele riria de mim.
Pior, ele pode pegar e virar contra mim. Eu
engulo em seco quando um nó de medo
sobe na minha garganta.
— Eu senti sua falta — diz ele com
tanto cuidado que me deixa doente.
Ele não se importa.
Ninguém se importa.
Meu celular toca e minha cabeça se
move em direção a ele enquanto ele
abruptamente para atrás de mim. Deixei-o
no balcão da ilha e poderia alcançá-lo se me
espreguiçasse. Ele vibra contra o granito
enquanto toca. Eu fico na ponta dos pés e o
alcanço, esticando meu braço o máximo que
posso, meus dedos abertos e agarrados
sobre a bancada manchada. Minha bunda
roça contra ele quando eu chego, me
inclinando mais sobre o balcão, e ele solta
um gemido repugnante enquanto se
prepara para entrar em mim.
Meus dedos varrem a borda do meu
celular e eu me esforço para agarrá-lo. Meus
dedos se dobram enquanto eu cavo minhas
unhas na borda da minha capa floral do
telefone, e deixo escapar um suspiro de
alívio quando ela desliza em minha direção.
Eu rapidamente viro e vejo o nome de
Huxley na tela – meu meio-irmão, meu
salvador constante.
— O que você está fazendo? — meu
pai pergunta.
Eu deslizo meu polegar pelo botão
verde para atender a chamada, mas assim
que eu digo — Hux? — é arrancado do meu
aperto.
Meu pai se levanta e se afasta de
mim, e eu me viro para vê-lo segurando meu
telefone em seu ouvido. — Hux, é bom ouvir
você!
Posso ouvir a voz de Huxley, mas não
consigo entender o que ele está dizendo.
— Ela está aqui, ela está bem — meu
pai diz a ele. — Estamos apenas tendo um
pequeno momento entre pai e filha.
Se eu ainda tivesse um reflexo de
vômito, eu vomitaria.
Ele estende a mão, tentando passar o
dedo por uma mecha do meu cabelo loiro
descolorido, mas eu afasto sua mão. Sua
resposta é uma simples inclinação de sua
cabeça. Eu rapidamente puxo minha
calcinha e jeans e os abotôo, esperando que
isso seja o fim desta noite.
Mas eu sei que não vai ser.
Ele conversa com Huxley enquanto dá
um passo à frente, planta a palma da mão
no topo da minha cabeça e me empurra
para baixo até meus joelhos dobrarem e eu
cair no chão na frente dele.
Não mais.
Não mais!
Eu coloco minhas mãos em suas coxas
e mergulho minha cabeça mais abaixo do
que sua mão pode alcançar, empurrando
para longe dele com força. Eu me viro e
corro ao redor da enorme ilha, o medo me
dominando enquanto vejo a frustração
endurecer os olhos do meu pai.
Ele está mais aterrorizante agora do
que nunca. Talvez seja o tempo em que
estive livre dele que torna sua presença tão
assustadora agora. Independentemente do
motivo, estou com medo e, pela primeira
vez, sinto um impulso urgente dentro de
mim para procurar ajuda... para sair disso,
para ficar longe dele.
Eu não posso mais fazer isso!
Eu me preparo, respiro fundo e
chamo pela única pessoa que realmente
esteve lá para mim. — Hux!
Eu não digo outra palavra além do
grito de uma sílaba por ajuda – é o suficiente
para chamar a atenção do meu meio-irmão,
supondo que ele possa me ouvir pelo
telefone. Encaro os desagradáveis olhos
verdes de Beau Tolliver e respiro
profundamente enquanto me mantenho
firme e espero. Espero que venha a ajuda e
não mais violência nas mãos do meu pai.
— Ela está bem — diz ele no meu
telefone, um olhar de malícia se espalhando
por suas bochechas barbadas em uma
mistura de cabelos escuros e grisalhos. —
Você sabe como ela fica... eu acho que estar
longe tem sido difícil para sua saúde mental.
— Uma pausa. — Certo. Pode vir, filho. A
que distância você está? — Ele faz uma
pausa e escuta, então levanta uma
sobrancelha grossa para mim. — Dez
minutos. Certo. Nos vemos então.
Ele encerra a ligação e lentamente
abaixa meu telefone para o balcão,
colocando-o virado para baixo no granito
preto e salpicado, embora ele não me
liberte de seu olhar.
— Porque você fez isso? — Ele fala
comigo devagar, como se eu fosse estúpida.
— Ele está preocupado com você agora. E
você nos deixou com apenas dez minutos
porque não conseguiu ficar de boca
fechada. Isso é quase nenhum momento
para nós. Volte aqui para que possamos
terminar o que começamos antes que ele
chegue aqui.
Eu endireito minha coluna, engolindo
um nó doloroso na minha garganta. — Não.
— A palavra parece estranha deslizando
entre meus lábios perfeitamente pintados
de rosa... mas também parece poderosa.
— Glory, eu não vou falar de novo.
Minha voz está calma, como sempre
foi. — E eu não vou te dizer não de novo.
— Bom — diz ele, curvando-se para
puxar as calças, embora ele não as abotoe.
Ele se move ao longo da borda da ilha, e isso
me assusta.
Ele não entendeu minhas palavras.
— Eu não vou te dizer não porque eu
não vou fazer isso com você. Nunca. Nunca
mais. — Eu engulo em uma tentativa de
estabilizar minha voz vacilante.
— Se você quiser aquele cheque para
o próximo semestre, você será minha doce
princesinha como sempre foi.
Eu balanço minha cabeça enquanto
ele contorna o balcão, se aproximando, e
enquanto eu me movia pelo lado menor, eu
me deparei com o bloco de facas. Há um
impulso, um instinto, uma necessidade
urgente que dispara pelo meu braço,
fazendo minha palma se contorcer para
envolver o cabo liso de uma lâmina
protetora.
Eu pisco e quando olho para minha
mão, estou segurando uma – uma faca –
mas não uma das pequenas facas de carne.
Minha palma está enrolada em torno do
cabo de uma enorme faca de açougueiro, e
minha mão dói por causa do meu aperto
forte e trêmulo.
Meu pai levanta as palmas das mãos
em rendição, embora nós dois saibamos que
ele nunca faria isso. — Glory — ele ri — não
vamos perder nosso tempo jogando. Huxley
estará aqui a qualquer minuto.
— Se afaste.
Ele rasteja em minha direção, e eu
dou um passo para trás – um erro. Ele podia
ver minha fraqueza naquele movimento. Eu
sempre mostro minha fraqueza.
Eu quero ser forte.
Eu preciso ser forte.
Eu me movo em direção a ele, meus
tênis brancos imaculados rastejando sobre
o chão de azulejos.
Seus olhos se arregalam quando ele
dá um passo para trás, e esse único passo
muda alguma coisa. A energia demoníaca
que estava fluindo dele penetra pelos meus
poros, envolvendo as cinzas do meu coração
e incendiando-as.
Dou outro passo em direção a ele, e
ele se afasta.
Eu inalo com a onda ardente de poder
que explode através de cada partícula
cinzenta, desencadeando pequenas
explosões de raiva enquanto cada partícula
explode com sua própria memória de uma
das centenas de vezes que ele abusou de
mim.
Palavras sussurram de meus lábios
enquanto eu avanço sem pensamento
consciente. — Você é doente.
— Glory Ann Tolliver, abaixe essa
faca. Agora mesmo!
Eu estremeço, uma resposta natural a
ele gritando e o uso do meu nome
completo. Eu balanço minha cabeça quando
o instinto de obedecer meu pai tenta tomar
conta, mas então algo estranho acontece. A
raiva atinge a parte da minha mente que se
fragmenta, martelando uma cunha cada vez
mais fundo na fenda, até que, de repente,
ela se quebra e um filtro carmesim desliza
na frente dos meus olhos.
O filtro nubla minha mente e silencia
o mundo ao meu redor. Move meus pés
debaixo de mim; ele aperta o cabo da lâmina
com mais força... Ele empurra meu braço
para frente.
Meu braço torce.
Meu pai cai.
A lâmina corta e escorrega e
esfaqueia.
Sinto-me presa dentro de mim,
perdida em alguma estranha possessão que
controla minhas ações. É calmante, de uma
maneira estranha. Minha mente se sente
livre da vergonha de permitir que meu pai
me maltrate quando tenho idade suficiente
para ficar longe.
Deixo escapar um suspiro pesado e
deixo o filtro me proteger do que estou
realmente fazendo, dos gritos e
sangramentos e sons de corte de carne
enquanto meu corpo assume o controle,
finalmente permitindo que eu me proteja.
O filtro me liberta, e a única cor que
vejo é o vermelho.
TRÊS PALAVRAS ECOAM dentro da
minha mente, passando por sinapses2
falhando e falhando em entender enquanto
meu corpo se move sem pensamento
consciente.
Não mais. Corre.
Não mais. Corre!
Meus pulmões doem, minhas
bochechas queimam de frio e meus pés
estão encharcados de neve. O filtro
vermelho está subindo, e estou voltando à
consciência. As sensações do mundo ao
meu redor são dolorosas e alertam à medida
que surgem.
— Glory! — Ouço Huxley chamar
meu nome e paro.

2
Local de contato entre neurônios, onde ocorre a
transmissão de impulsos nervosos de uma célula para outra.
Eu pisco uma vez, depois de novo,
gradualmente me trazendo de volta à
realidade. Não estou mais na mansão, não
estou mais na cozinha, não estou mais com
meu pai nojento. De alguma forma, estou do
lado de fora, cercado por árvores e
escuridão.
Floresta Sugar Wood.
Acordei de um torpor violento para
encontrar meu ser físico agrupado entre os
troncos das árvores de onde nossa empresa
familiar extrai seu bordo. Eu me viro,
adivinhando a direção de onde vim, grata
por ver que não fui longe. Ainda posso ver
os refletores brilhando no pátio dos fundos
e a sombra de Huxley enquanto ele passa
correndo por eles.
Eu olho para baixo e flashes
vermelhos em minha visão mais uma vez,
embora desta vez, não seja o filtro.
É sangue... o sangue do meu pai.
Há um rastro de impressões de tênis
vermelho estampadas na neve, revelando
meu caminho da mansão.
— Glory! — Ouço Huxley gritar
novamente.
Observo sua forma sombria e o vejo
correndo em minha direção, seguindo o
rastro de pegadas sangrentas pela neve.
O que eu faço?
Eu levanto as palmas das mãos para
ver que elas estão cobertas de um carmesim
espesso e parece fogo na minha pele. Tudo
dentro de mim queima, mas estou fixa no
lugar, me perguntando se estou escondida
entre as árvores e tão imóvel quanto seus
troncos que se erguem altos e escuros ao
meu redor.
Minha voz é um sussurro de novo,
quase inaudível. — Hux…
Eu escorreguei tão facilmente de
volta para a casca fraca da garota que eu era
antes. Mas por um momento, eu fui forte...
um momento sobre o qual eu não tinha
controle me fez forte. Embora agora a
queda da adrenalina lave minha força,
limpando-me da energia demoníaca que
desencadeou explosões de poder violento
dentro de mim.
Eu caio de joelhos, afundando em
centímetros de neve, e começo a chorar.
Meus soluços patéticos ecoam pelas
árvores, falando mais alto do que eu jamais
poderia com minhas próprias palavras.
— Glory. — Sua voz está tão perto
agora.
Eu levanto minha cabeça lentamente
e o vejo se aproximar. Minhas palmas
sangrentas estão viradas para cima como se
eu estivesse segurando alguma coisa.
Ele para bem na minha frente, seus
olhos me examinando e registrando a
realidade da minha aparência. — Glory?
Merda, o que aconteceu? — Ele se ajoelha
na minha frente e me sinto mais suave em
sua presença.
— Ele está morto?
— Eu não sei... — Seu tom oscila com
preocupação, ou talvez seja apenas do ar
frio do inverno. — Eu acho que ele deve
estar. Eu o vi e fiquei desesperado
procurando por você, então não verifiquei.
Quem fez isto? Havia alguém na casa? —
Sua cabeça balança de um lado para o outro,
vasculhando a floresta além de nós em
busca de uma ameaça em potencial. —
Merda, Glory. — Ele agarra meu braço e o
puxa em sua direção, torcendo-o e
inspecionando-o em busca de ferimentos
antes de fazer o mesmo com o outro. —
Você está ferida?
Eu balanço minha cabeça lentamente.
— Não... ninguém estava aqui. Hux, eu... —
Eu não posso dizer isso.
— Quem fez isto? — ele exige uma
resposta.
É por causa de sua insistência que
minha mente perturbada me obriga a
responder imediatamente — estou
preparada para responder a homens e suas
ordens. — Eu o matei. Eu fiz isso.
— Não, você não fez. Você não faria
isso. Alguém deve ter estado aqui.
— Meu pai tentou... — Eu engulo em
seco. — Ele tentou me machucar e eu bati.
Eu o esfaqueei. Eu o matei. Ele está morto.
Há tanto alívio nessas palavras.
Eu o matei.
Ele está morto.
Como pode haver tal alívio no
assassinato?
— O que você quer dizer com ele
tentou te machucar? O que ele fez?
Encontro os profundos olhos
castanhos de Huxley, sempre tão gentis e
atenciosos comigo. — Ele fez o que sempre
fez comigo.
O silêncio ao nosso redor é
ensurdecedor. Sinto que deveria ser mais
alto, como se devesse haver sirenes e gritos,
tiros e as lâminas de um helicóptero
procurando por mim acima das árvores.
Matei meu pai... matei Beau Tolliver.
Mas não há outro som além do eco
dos flocos de neve caindo no chão. De
alguma forma, posso ouvir cada um deles
caindo no chão.
— O que ele fez?
Eu não posso dizer as palavras. Eu não
vou dizer as palavras. Não posso contar a
Huxley o que está acontecendo comigo há
anos — as coisas que deixei meu pai fazer
porque estava com muito medo de falar,
com muito medo de perder minha herança.
Eu nem me importo mais com a
herança, não desde que me mudei e
descobri como era ser livre. Eu só precisava
de dinheiro suficiente para pagar minhas
aulas para terminar meu curso, então eu
poderia me tornar auto-suficiente e deixá-lo
para sempre.
Isso é o que eu disse a mim mesma de
qualquer maneira, quando a sensação
incômoda de pegar as mensalidades do
próximo semestre e os cheques de quarto e
pensão e correr me dominou. Talvez seja
isso que deveria ter acontecido. Eu deveria
ter deixado ele fazer o que queria comigo
esta noite, me passar o cheque e fugir para
encontrar um lugar para se esconder no
mundo onde ele nunca poderia me
encontrar.
Mas eu o matei em vez disso.
— Glory, me diga... o que ele fez com
você?
Minha voz é suave. — Eu não posso te
dizer. Eu nunca posso te dizer. Ninguém
pode saber. — Minhas mãos estão
tremendo, embora eu não saiba se é do frio
ou dos meus nervos. Eu deixo cair minha
cabeça, incapaz de olhar em seus olhos.
Os braços se fecham ao meu redor e
ele me puxa para seu abraço, me
envolvendo em calor e calma protetora. —
Está bem. — Sua palma embala a parte de
trás da minha cabeça, uma proteção que me
encoraja a deitar minha cabeça em seu
ombro e enterrar meu rosto em seu
pescoço.
Eu respiro e seu cheiro familiar me
acalma. Ele sempre cheira a café com sabor
de baunilha, doce e amargo ao mesmo
tempo, assim como ele. Eu me deixei
afundar em seu aperto. Deixo ele me
abraçar, acariciar meu cabelo, sussurrar que
tudo vai ficar bem.
— Eles vão me prender? Vou para a
cadeia? — Lágrimas caem dos meus olhos, e
eu choro em sua jaqueta bomber.
Ele agarra meus ombros e me
empurra para trás, suas mãos deslizando
para cima segurando minhas bochechas. —
Não, Glory. Ninguém vai te prender. Não
vou deixar isso acontecer.
— Eu o matei! — Eu grito, minha voz
ecoando alto pela floresta silenciosa.
O som poderoso da minha voz
tipicamente escassa se mistura com a noite,
desaparecendo gradualmente antes de
desaparecer entre as árvores, como se os
próprios galhos pudessem levá-lo mais
fundo na floresta, tão profundo que
ninguém jamais poderia encontrá-lo.
— Você disse que ele tentou te
machucar — Huxley argumenta. —
Autodefesa, certo?
Eu engulo quando flashes de
vermelho vêm à mente, me mostrando
imagens desbotadas e borradas da faca
cortando a carne do meu pai
repetidamente. Eu o cortei, o esfaqueei
muitas vezes para argumentar qualquer
coisa além de exagero, e só isso me torna
culpada.
Eu balanço minha cabeça. — Eu não
sei quantas vezes eu o esfaqueei... mais do
que eu precisava. Eles vão pensar que eu fiz
isso pelo dinheiro. Eles vão pensar que eu o
matei pela herança.
Eu observo sua expressão, meu olhar
percorrendo a linha de suas maçãs do rosto,
pronunciada na forma como sua mandíbula
está tensa. Olho através de sua testa
franzida, onde uma mecha de seu cabelo
loiro natural e dourado caiu apesar de seu
estilo cuidadoso. Meus olhos traçam uma
linha de seu nariz simétrico até seus lábios
macios, notando a barba de um dia que está
espreitando ao redor deles.
Lentamente, sua aparência muda de
salvador gentil para determinação de
conspiração. Observo seus olhos castanhos
piscarem; as rodas girando em sua mente,
trabalhando com a realidade dessa situação.
Ele sempre foi tão pensativo. Ele
nunca tomou uma decisão sem pensar
completamente sobre isso. Ele me ajudou a
sair de problemas mais vezes do que posso
contar. Eu sei que não tenho sido a meia-
irmã mais fácil de se ter. Eu sei que nunca fui
digna do cuidado que ele me mostra, mas
ele sempre vem em meu socorro.
Ele está em seu último ano em
Princeton, e eu não poderia estar mais
orgulhosa dele, mas ele quase não foi por
minha causa. A viagem de seis horas entre
nós quase o impediu de seguir seus sonhos
– se formar em uma faculdade da Ivy League
antes de ir para a faculdade de direito.
Tenho muita sorte por ele estar aqui
agora. Eu não sabia que ele estava voltando
para casa para as férias de inverno, e nem
meu pai. Às vezes me pergunto se Huxley
pode sentir minha dor de longe, como se de
alguma forma soubesse quando estou
prestes a me machucar e viesse me salvar
antes mesmo que eu pudesse chamá-lo.
Ele me salvou tantas vezes antes, e ele
nem sabe o quanto isso significa para mim...
o quanto ele significa para mim.
Quando sua cabeça começa a
balançar lentamente em um aceno, eu sei
que ele tem um plano. Ele descobriu algo,
alguma maneira de me ajudar a sair deste
pesadelo.
— Ok — ele diz. — Aqui está o que
vamos fazer. Vamos limpar, lavar todo o
sangue e nos livrar das provas. Vamos
enterrá-lo aqui na floresta e depois vamos
embora. Estamos voltando para Princeton
hoje à noite e, pelo que todos sabem, você
tem me visitado durante todo o intervalo,
ficando no meu apartamento. Ok? Se
formos fundo o suficiente na floresta,
podemos enterrá-lo e ninguém jamais o
encontrará.
Não discuto com ele, não o questiono,
não peço esclarecimentos. Concordo com a
cabeça e concordo em fazer o que ele diz
porque confio nele. Confio em Huxley com
minha vida porque ele nunca me
decepcionou antes.
Ele é a única pessoa com quem posso
contar, então dou a ele minha fé, aliviada
que, mesmo neste pesadelo vivo, não estou
sozinha.
Eu tenho Huxley.
Ele vai consertar isso.
CAPÍTULO DOIS
HUXLEY

— MAIS UM — EU gemo enquanto


Glory e eu rolamos o corpo sem vida do meu
padrasto na lona.
Três rotações e ele está tão bem
embrulhado quanto nós dois pudemos
enrolar. Nos levantamos, ofegantes pelo
esforço, mas nossa exaustão esta noite
ainda não atingiu um pico.
— Você deveria tomar banho e se
trocar — digo a ela. — Lave todo o sangue
de você e me traga suas roupas. Vamos
queimá-las na lareira.
Ela acena com a cabeça, seu rosto
quase impassível enquanto ela cegamente
segue minha direção. Mesmo nessa situação
de merda, meu peito enche de orgulho por
saber como tenho a confiança dela. Eu
deveria ter sua confiança. Eu trabalhei duro
o suficiente para isso ao longo dos anos.
Nunca foi fácil amar Glory com todos os
problemas em que se meteu na
adolescência, mas eu a amava do mesmo
jeito.
Eu a amava mais do que deveria.
Essa era uma razão pela qual eu sabia
que tinha que ir para a faculdade quando eu
tinha dezoito anos, embora eu odiasse
deixá-la para trás para limpar sua própria
bagunça. De alguma forma, ela conseguiu
passar os últimos três anos sem mim antes
de sair para a faculdade neste outono.
Ainda assim, sempre havia uma voz
irritante na parte de trás da minha cabeça
dizendo que eu não deveria tê-la deixado
sozinha. Ele me disse que algo não estava
certo aqui entre Glory e seu pai. Eu gostava
bastante de Beau quando minha mãe se
casou com ele, mas algo parecia estranho
com ele. É por isso que liguei e verifiquei
Glory com tanta frequência. É por isso que
eu liguei para ela hoje à noite, porque não
parecia certo para mim que ela viesse para
casa para as férias de inverno, sabendo que
ninguém mais estaria aqui.
Minha mãe estava fazendo um
discurso de vendas para a Tolliver's Treats
em um novo grande distribuidor e ela não
voltará até amanhã, no mínimo. E eu já tinha
dito a Glory que não voltaria para casa,
então não conseguia entender por que ela
queria voltar para casa sozinha com seu pai.
Talvez isso parecesse bom para outras
pessoas, mas não parecia certo para mim.
Eu deveria ter confiado nos meus instintos o
tempo todo. Talvez então, teria visto e eu
poderia ter feito algo sobre isso.
Ela sempre se encolheu com seu
toque.
Ela se encolheu com as palavras dele.
Ela fingiu sorrisos e resistiu a abraços.
E ela obedeceu a todos os seus
comandos, como se estivesse com medo das
consequências de não obedecê-lo.
Porra.
Todos os sinais estavam lá, e eu os
ignorei em favor de ser seu salvador, seu
salvador, aquele que veio ajudá-la quando
as coisas ficaram muito ruins.
Mas eu não sabia o quão ruim eles
eram até esta noite. Só percebi quando
estávamos enrolando a lona... quando notei
que suas calças estavam desabotoadas.
Espero que a conclusão que estou
tirando esteja errada, mas a náusea no meu
intestino me diz que estou certo.
Se vivêssemos em um mundo
perfeito, ela ganharia um toque de mão por
matar um homem que faria algo tão vil com
sua própria filha. Mas nosso mundo está
longe de ser perfeito. Estou tentando
encontrar uma maneira de justificar a
autodefesa em minha mente, mas foda -se,
o que ela fez com ele... eu não posso
começar a adivinhar quantas vezes ela o
esfaqueou. A cena é horrível, e eles vão
processá-la por esse exagero.
Eles vão cavar em seu passado e
tentar condená-la com base em todos os
problemas em que ela se meteu, sem
mencionar seus problemas de saúde
mental. E não vai fazer nada de bom para ela
que ele fosse a porra do Beau Tolliver. Ele
era dono desta pequena cidade e o mundo
inteiro sabe quem ele era. Eu não estou nem
um pouco convencido de que ela não vai cair
dura por isso, e venha o inferno ou a maré
alta, eu não vou deixar isso acontecer com
ela.
Ela é mais forte do que acredita, mas
não acho que ela sobreviveria à prisão.
Glory usa os dedos dos pés para
chutar os saltos de seus tênis antes
perfeitamente brancos, depois tira as meias
e as coloca no chão de ladrilhos. É uma
jogada inteligente. Ela não rastreará o
sangue mais longe pela casa dessa maneira.
Ela agarra a bainha de sua camiseta preta
justa e a tira sobre a cabeça.
Fecho os olhos e viro as costas, como
se a modéstia fosse necessária em nossa
situação atual, onde ela está coberta pelo
sangue de seu pai morto. Eu não poderia
dizer quando ela ficou tão confortável perto
de mim que não a incomoda ficar nua na
minha presença, e embora ela tenha feito
isso uma centena de vezes, ainda me pega
desprevenido e eu tenho que me forçar a
não olhar.
Ela pode estar confortável com isso,
mas eu não estou. Glory empurra um limite
que eu sei que não posso cruzar, porque se
eu fizer isso, eu nunca mais voltarei dele.
Tenho que manter minha reputação na Ivy
League e não acho que um caso com minha
meia-irmã seja uma boa atividade
extracurricular para adicionar às minhas
inscrições na faculdade de direito.
Eu ouço as peças de roupa caírem no
chão enquanto ela se despe nas minhas
costas, e eu engulo minha curiosidade
crescente. Cerro meus punhos em minhas
laterais em uma respiração que estremece
através de mim, causando uma dor nas
minhas bolas que não posso aliviar.
— Vou tomar um banho — ela
sussurra, e espero até ouvir seus passos
suaves no chão de ladrilhos antes de me
virar.
Suas roupas ensanguentadas são
dobradas cuidadosamente e colocadas em
cima de seus tênis sujos. A limpeza e o
cuidado com que ela colocou suas roupas
arruinadas quase me fazem sentir mal por
ter que destruí-las. A Glory é uma bela
bagunça e um desastre organizado. O
enigma de sua personalidade mantém meu
coração em um vício, apertado com tanta
força que não pode bater por ninguém além
dela.
É doloroso querê-la sabendo que
nunca poderei tê-la. Ela não precisa de mim
assim. Glory precisa que eu seja seu meio-
irmão, o cara que sempre se certificou de
que ela estava segura, cuidada; o cara que
sempre juntava os pedaços dos destroços
dela depois. Ela precisa de mim para cuidar
dela, para ter certeza de que está protegida
e segura.
Se me deixasse entrar como mais do
que isso, eu não seria capaz de protegê-la de
mim mesmo.
Mas vou protegê-la disso.
Eu saio enquanto Glory toma banho,
andando ao redor da cerca que cerca a
piscina no chão. Ando pela neve até o
galpão nos fundos do quintal, perto da linha
das árvores da floresta. Lá dentro, encontro
um velho trenó de madeira e o arrasto para
fora, esperando que aguente o suficiente
para mover o corpo de Beau. Eu a puxo para
mais perto da casa – o mais perto que posso
chegar do pátio pela porta de vidro
deslizante – e volto para dentro.
No momento em que enrolo a fita
adesiva ao redor da lona, prendendo o
corpo dele dentro, Glory terminou seu
banho. Ela entra na cozinha com nada além
de uma camiseta e sua calcinha, e meu
coração para ao vê-la.
Ela faz uma pausa enquanto nossos
olhos se encontram, colocando uma mecha
de cabelo molhado atrás da orelha. — Vou
me vestir depois que eu te ajudar a limpar.
— Você não tem que me ajudar a
limpar.
Ela caminha em minha direção. — Sim
eu quero. Essa é a minha bagunça. — Ela
abre o armário embaixo da pia da cozinha
atrás de mim. — Você precisa de mim para
ajudá-lo a movê-lo para fora?
— Não, deixe-me lidar com isso.
Ela se endireita, colocando um
borrifador de limpador no balcão enquanto
eu me curvo, agarrando a alça que fiz com
fita adesiva que envolve todo o corpo. Eu o
uso para arrastá-lo, observando a ponta da
lona enrolada onde seus pés estão dobrados
para me certificar de que não estou
arrastando um rastro de sangue atrás de
nós. Devemos ter feito um trabalho bom o
suficiente para colocá-lo na lona sem fazer
muita bagunça do lado de fora porque ele
arrasta de forma limpa.
Através de uma luta, consigo levar
Beau para fora e para o trenó. Então, eu
volto para ajudar Glory. Nós limpamos a
cozinha, seguindo todos os caminhos
possíveis que ela poderia ter andado
enquanto estava coberta de sangue, e
limpamos tudo com produtos químicos
fortes.
Nós revisamos isso de novo e de novo,
certificando-nos de que tudo está
exatamente como estava quando ela
chegou em casa, então eu a mando para
cima para colocar algumas roupas quentes.
Ela desce vestindo jeans que a
abraçam de um jeito que eu não deveria
notar, vestindo um suéter de tricô cor creme
enorme por cima de sua camiseta rosa justa
e macia. Usando também umas botas
felpudas que parecem quentes, mas
impraticáveis para uma caminhada no
deserto com o pé grande e a sola chata. Ela
veste uma pesada parka verde-caçadora
com capuz forrado de pele, e eu me sinto
satisfeito por mantê-la aquecida, pelo
menos.
Eu fecho minha jaqueta bomber,
notando a pequena mancha escura na
manga. Vou precisar jogar esta jaqueta no
fogo mais tarde e queimá-la como eu
queimei suas roupas ensanguentadas, mas
por enquanto, preciso dela para me
aquecer. Eu puxo minhas luvas dos meus
bolsos e as coloco antes de pegar a corda
presa ao trenó. Está pesado agora,
adornado com a lona azul brilhante e
enrugada cheia de restos mortais de Beau
Tolliver.
Paramos no galpão novamente para
que eu possa pegar uma pá de dentro, e
entrego para Glory. Ela tira uma mão do
bolso e segura o cabo, embora pareça
estranha segurando-o.
Ela não é a princesa que todos
pensam que é, mas é verdade que nunca fez
um dia sequer de trabalho manual em sua
vida. Eu não sei se eu já a vi suar fora de um
treino planejado, e isso geralmente
acontecia em seus sutiãs esportivos e
leggings combinando com sua maquiagem e
cabelo feitos.
Ela não é pretensiosa ou mimada, mas
parece o tipo, e é por isso que suas
pequenas explosões que a colocam em
apuros ficam fora de proporção. Ela
simplesmente perde o controle de si mesma
às vezes.
Todos nós fazemos.
— Está pronta?
Ela acena. — A que distância vamos?
— Até onde podemos. Precisamos de
tempo para cavar um buraco e precisamos
dificultar que ele seja encontrado.
— Tudo bem — ela concorda.
— Afaste nossos passos com a pá e
certifique-se de que todos os que você fez
antes também estejam cobertos.
Eu puxo as rédeas, arrastando o trenó
atrás de mim enquanto me dirijo para a
linha das árvores com Glory nas minhas
costas. Entramos na floresta. O silêncio nos
cerca, exceto pelos passos do trenó
deslizando sobre a neve crescente. A luz do
luar atravessa os galhos secos, permitindo-
nos luz suficiente para ver bem na frente de
nossos passos, mas à medida que
marchamos mais para dentro da floresta e
as árvores ficam mais densas, a luz diminui
até desaparecer, quase inteiramente.
— Isso é assustador — Glory
sussurra. — Como vamos encontrar o
caminho de volta sem nossos passos?
Merda. Eu não pensei nisso.
Paro e viro a cabeça para olhar ao
nosso redor, percebendo como seria fácil
me perder nesse labirinto de árvores. Solto
a corda e puxo meu celular, aliviado ao
descobrir que ainda tenho sinal, embora
esteja fraco. Não sei até onde vou ter, mas
precisamos ir muito mais fundo na floresta
do que isso.
Só consigo ver um brilho fraco dos
holofotes da parte de trás de nossa casa a
esta distância, então acho que estamos
longe o suficiente para não precisarmos
esconder nossos passos até voltarmos.
— Pare de cobrir nossos rastros —
digo a ela. — Podemos segui-los de volta a
este ponto em nosso caminho para casa.
Ela acena com a cabeça e seguimos
em frente, caminhando em silêncio pelo que
deve ser um quilômetro e meio. De alguma
forma, a neve cai mais rápido, mais pesada,
embora o caminho dos troncos seja mais
denso e os galhos secos acima devem
bloquear o caminho para que ela nos
alcance enquanto cai. Mudo de direção,
sabendo que seria tolice tomar um caminho
direto para fora, e caminhamos mais dez
minutos ou mais antes de eu finalmente
decidir que devemos parar.
— Acho que isso deve ser o
suficiente.
Glory se vira para olhar atrás dela. —
Hux, precisamos nos apressar. A nevasca
está começando a cobrir nossos rastros.
Olho para trás para ver que ela está
certa e imediatamente me sinto estúpido
por pensar que seria uma maneira confiável
de encontrar o caminho de volta para casa.
— Merda. Me dê isso. — Eu estendo minha
mão para a pá, sentindo uma nova urgência
para terminar isso.
Encontro um local aninhado entre
duas árvores — um local largo o suficiente
para que eu saiba que não deveria encontrar
muitas raízes ali, embora as bases sejam
próximas o suficiente para fazer um local de
enterro imperceptível.
— Devíamos ter trazido duas pás —
diz ela. — Eu poderia estar ajudando você.
— Você não precisa me ajudar. Eu
cuidarei disso. — Começo removendo a
neve, trabalhando até expor um pedaço
retangular de terra do tamanho do corpo.
— Você não tem que fazer tudo por
mim.
— Eu sei que não... eu quero.
Levo cinco minutos inteiros para eu
empilhar neve suficiente para ver a terra
embaixo, e assim que está evidente, eu bato
a lâmina da pá no gramado. Eu cavo, cavo e
cavo, e não demora muito para que a
exaustão comece a aparecer.
Esta vai ser uma longa noite.
CAPÍTULO TRÊS
GLORY

ESTOU TREMENDO COMO louca. Eu


não sei quanto tempo ele está nisso, mas
parece que horas se passaram desde que
começou a cavar. Está tudo feito agora. Meu
pai está no buraco, e Huxley trabalha para
cobri-lo com terra.
Eu ando e ando enquanto ele
trabalha, envergonhada que mais uma vez,
meu irmão mais velho está limpando a
bagunça que eu fiz. Ele sempre vem em meu
socorro, e eu amo isso nele – sei que sempre
posso contar com ele – mas não me sinto
merecedora disso. Não sinto que mereço o
cuidado dele.
A exaustão define suas feições
enquanto ele trabalha, parando por um
momento para passar as costas da mão pela
testa. Está congelando aqui fora, mas
mesmo assim ele está suando.
Eu não posso olhar para ele por muito
tempo porque ele parece diferente. Mais
velho, mais forte... mais atraente. Eu
balanço minha cabeça e me afasto para
evitar olhar para ele e ficar ainda mais
envergonhada por pensar no meu meio-
irmão tão bonito.
Em vez disso, olho para a floresta
escura, toda a escuridão varrendo as
árvores, exceto pelo pequeno círculo de luz
de nossos telefones celulares, que
colocamos ao redor do túmulo com suas
lanternas acesas.
A cova.
Eu deveria sentir algo sobre essa
palavra. Eu deveria sentir algo agora que
meu pai está morto... que, exceto por minha
madrasta, de quem eu realmente não me
importo, eu sou órfã.
Mas tudo o que sinto é alívio.
Meus olhos traçam sombras na
floresta silenciosa.
Curioso.
À distância, vejo uma vaga e
minúscula nuvem de fumaça branca se
mover na escuridão. Ela flutua na noite, mas
alguns segundos depois, vejo um tênue
ponto de luz laranja, quase como uma
faísca, antes que outra pequena nuvem de
fumaça se espalhe e se desvaneça.
Então há uma sombra... uma silhueta
escura de um humano que se move atrás de
um tronco de árvore.
Meus olhos devem estar pregando
peças em mim.
É verdade?
Eu me viro para olhar para Huxley,
meus lábios se abrindo para dizer a ele, mas
ele está trabalhando tão duro para limpar
minha bagunça que me sinto culpada por
incomodá-lo.
Provavelmente não é nada.
Provavelmente estou imaginando coisas.
Ainda assim, estou curiosa o
suficiente para descobrir se as pequenas
nuvens de fumaça branca são reais ou se
estou alucinando. Eu ando lentamente
entre as árvores, meus pés esmagando a
neve que se acumula rapidamente. Olho
para trás depois de alguns passos,
lembrando-me de que posso seguir minhas
pegadas de volta a Huxley, e só então
percebo o quão alto a neve se acumulou
desde que saímos de casa – e nosso
caminho de volta pode estar coberto.
Eu me viro e marcho de volta para
Huxley. Eu examino a neve no meu caminho,
procurando os rastros que fizemos, e
rapidamente desço em direção ao pânico.
Não consigo ver nenhum rastro além dos
meus passos – nenhum que nos leve para
fora deste local. Quando chego ao túmulo,
me curvo e pego meu celular de onde ele
está, enquanto ele joga outra pilha de terra
no monte crescente. Eu o levo comigo
enquanto olho, segurando a luz em direção
ao chão e procurando ao meu redor.
Eu me viro e olho para Huxley a alguns
metros de distância. — Não consigo
encontrar nossos rastros.
Ele para, olhando para mim, a luz do
meu celular lançando um brilho misterioso
ao seu redor. Suas sobrancelhas puxam em
uma linha reta. — Merda. Bem, o trenó
estava apontando... — Ele olha para baixo e
inclina a cabeça. — Você virou?
Eu balanço minha cabeça. — Você fez.
Você o puxou para perto do buraco e o virou
para deixá-lo cair.
Ele passa a mão pelo cabelo loiro
dourado. — Está... está tudo bem. Nós
vamos descobrir isso.
— Estamos perdidos?
Ele bufa uma respiração agitada. —
Eu disse que vamos descobrir isso. Uma
coisa de cada vez, Glory. Apenas deixe-me
terminar isso.
Estou tremendo e não é só de frio, é
de medo. São duas horas da manhã, escuro
como breu, e só consigo pensar em como
podemos congelar até a morte se não
conseguirmos encontrar o caminho de volta
no escuro.
Eu me pergunto se isso me torna
egoísta acima de tudo. Eu matei meu pai
esta noite, e estamos enterrando seu corpo,
tentando encobri-lo. E aqui estou eu, com
medo da escuridão e do frio e de como
sobreviveremos à noite na neve.
Eu mereço morrer de frio por isso.
Huxley finalmente termina de encher
o buraco com grama e começa a jogar neve
em cima dele. Nivelando com a parte
traseira plana da pá, alisando-a sobre a
superfície, e de alguma forma, consegue
fazer parecer que o local está intacto...
como se nunca estivéssemos aqui e não
houvesse um corpo enterrado embaixo da
terra. Estou impressionada com isso,
embora seja estranho pensar nesta
circunstância.
Estou impressionado com ele.
Ele se endireita e respira fundo,
passando a manga do casaco pela testa
suada, uma imagem perfeita de força e
poder. Ele exala, névoa escapando por entre
seus lábios. O estresse se estende por suas
feições e a culpa pelo que eu o fiz passar - o
que eu sempre o fiz passar - faz a vergonha
afundar dentro de mim.
Eu me movo rapidamente, fechando a
curta distância entre nós, e jogo meus
braços em volta do seu pescoço, abraçando-
o. — Obrigada, Hux. Eu sinto muito. Me
desculpe, eu continuo estragando as coisas
e você tem que continuar me salvando.
Ele está rígido por um instante, mas
depois de um momento, sinto a tensão de
seus músculos se soltarem e relaxarem. Ele
suspira e a pá cai de sua palma, caindo na
neve ao nosso lado enquanto ele envolve os
braços em volta da minha cintura e me
aperta com força.
— Eu sempre vou te salvar — ele
murmura. — Sempre. E se vale de algo, por
mais fodido que seja, estou orgulhoso de
você. Não estou orgulhoso da violência,
estou apenas... estou orgulhoso que você
finalmente percebeu seu valor e revidou.
Não fiz isso porque achava que valia
alguma coisa. Eu sei que não valho. Acabei
perdendo o controle de mim mesma por
completo, mas não quero que ele saiba
disso, ele vai pensar que sou louca.
Talvez eu seja.
Há uma pequena parte de mim que
sente seu orgulho, no entanto... o jeito que
me envolve, como seus braços fazem, me
abraçando completamente, me
alimentando com calor e carinho.
Ele se afasta lentamente, agarrando
meus ombros e abaixando a cabeça para
encontrar meus olhos. — Acho que sei o que
ele fez para te machucar. Há quanto tempo
ele está estuprando você?
Eu estremeço.
Deus, o impacto dessa palavra é
chocante.
É a palavra certa, mas ouvi-la em voz
alta a torna muito real.
Eu balanço minha cabeça. — Não
posso falar sobre isso. Agora não.
Suas feições suavizam, sua cabeça
inclinada para o lado. Sua mão sobe e
embala minha bochecha, seu toque me dá
uma sacudida de seu calor, mesmo através
da luva que cobre sua palma. — Eu entendo
— diz ele. — Agora acabou. Ele nunca mais
vai te machucar.
Eu concordo.
— Eu sempre vou te proteger.
Seu polegar roça meu queixo e sinto a
ternura de seu toque em todos os lugares.
Não é apenas uma escova no meu queixo, é
um afago no meu cabelo, uma carícia no
meu braço, um abraço apertado em volta da
minha barriga.
Pela primeira e única vez na minha
vida, sinto paz. Estou segura na presença de
Huxley, envolta na escuridão e cercada por
um silêncio tão alto que faz o mundo
parecer distante e inalcançável.

A PAZ SE ESTENDEU durante a


primeira hora, mas à medida que nos
aproximamos do final da segunda hora sem
fim para a linha das árvores à vista, nós dois
nos transformamos em conchas frenéticas
de nós mesmos, com medo de estarmos
perdidos para sempre e desesperados por
calor.
— Talvez devêssemos ir por aqui —
eu aponto à minha direita.
Huxley bufa: — Por quê? O que faz
você pensar que essa direção nos levará
para casa?
— Eu não sei... eu só sei que andar
em linha reta não está funcionando.
— Talvez devêssemos parar.
— E congelar até a morte?
— Não. Vamos esperar até o nascer
do sol. Talvez então possamos ver alguma
coisa e encontrar o caminho de volta.
— Isso não parece certo. Acho que
não estamos perto de casa. Eu também não
acho que a luz do sol vai nos mostrar o
caminho. Hux, estamos perdidos.
Realmente perdidos.
— Eu sei disso. Você não acha que eu
sei disso? Porra!
Seu grito ecoa pela noite,
ricocheteando como um grito angustiante
por ajuda. Exceto que não há ninguém por
perto para nos ajudar.
— Vamos... vamos um pouco mais
longe, ok? Vamos tentar nesta direção. —
Eu aponto para a minha direita novamente.
— Vamos caminhar por dez minutos e se
não nos levar a lugar nenhum, vamos parar
e esperar até o nascer do sol.
— Merda. Eu realmente fodi tudo
aqui.
O celular de Huxley morreu, embora
ainda tenhamos a lanterna no meu celular.
A bateria está acabando rapidamente e não
há sinal para fazer uma chamada. Mesmo
que tivesse, nos atreveríamos? Se
alertássemos alguém sobre nossa
localização, teríamos muitas explicações a
dar, e então não seria apenas assassinato
que eles iriam me acusar. Seria assassinato,
mover um corpo, encobrir um crime... e
Huxley seria preso por sua participação
nisso também. Estamos realmente
indefesos agora, e eu não sei o que diabos
fazer.
A única coisa que sei é que não vou
deixar Huxley pensar que ele fez algo
errado, que isso é culpa dele. Se eu não
tivesse me perdido em um acesso de raiva
dissociativa, então nem estaríamos aqui.
— Está bem. Nós vamos ficar bem.
Essa bagunça é minha culpa, não sua — eu
digo.
Em vez de tentar me assegurar o
contrário, ele fica em silêncio, e isso causa
uma pequena pontada de dor no meu peito
– uma dor que eu mereço.
— Vamos. — Eu pego sua mão,
puxando-o comigo enquanto mudamos de
direção.
Paramos depois de mais dez minutos
vagando silenciosamente pela noite.
Deixamos que os sons do vento assobiando
empurrando os galhos de árvores sem
folhas nos envolvesse e sussurrassem coisas
terríveis.
Você está PERDIDA.
Você está sozinha.
Você nunca vai escapar desta floresta.
Você vai morrer aqui.
Eu coloco minha mão no meu peito e
me viro para encará-lo. — Hux, eu estou...
A luz do meu celular se apaga, a
bateria finalmente descarregada.
— Porra.
Eu sinto a desconexão da realidade
tomar conta de mim. Está correndo pela
minha mente como a única maneira de me
separar desse pesadelo e evitar o pânico
total. Eu pressiono meus olhos fechados
contra o entorpecimento emocional que
está ondulando em minhas veias.
Mas então ele me agarra, me puxa
contra ele e me abraça. Um choque de
eletricidade tenta romper e superar o
entorpecimento que toma conta de mim.
Meus olhos se abrem novamente para uma
miragem, uma alucinação — ou pelo menos,
acho que deve ser.
Ao longe, vejo fumaça - não a
pequena nuvem branca que vi antes, que
irrompeu na noite. Esta é uma torre
ondulante de um sutil cinza subindo e
descendo.
— O que é aquilo? — Eu sussurro.
Ele me solta, suas mãos ainda
segurando meus ombros enquanto ele vira
a cabeça para olhar atrás de nós.
— Isso é... fumaça. Como fumaça de
chaminé.
Eu sinto a realidade rastejar de volta
para expulsar a dormência. — Você também
vê?
— Sim, eu vejo.
Suas palmas deslizam pelos meus
braços, uma caindo enquanto a outra agarra
minha mão e aperta. — Vamos. Vamos
segui-la antes que ele desapareça.
Eu tenho alguma apreensão, um
formigamento ansioso subindo pelos meus
braços, mas o frio o segue, me lembrando
que não demorará muito para que a
hipotermia se instale.
Temos que nos mover.
Caminhamos pela floresta escura,
tropeçando enquanto caminhamos pela
neve espessa sem luz, nossos pés pousando
em raízes e galhos abaixo. Chegamos a um
declive, e é um declive suave no início, mas
depois de um minuto, torna-se mais
íngreme.
Não vamos deixar que isso nos
detenha.
O tempo está se esgotando para nós
e o desespero dá um soco na adrenalina em
minhas veias. Embora a colina se torne
vertical, continuamos.
Juntos, subimos.
CAPÍTULO QUATRO
GLORY

HÁ UMA CASA no topo da colina.


Podemos vê-la agora. A fumaça cinzenta sai
da chaminé, insinuando o calor lá dentro.
Isso me dá força para seguir em frente,
apesar do jeito que eu tremo, apesar da
dureza do frio penetrando em meus ossos e
enfraquecendo meus músculos. Huxley e eu
chegamos ao topo da inclinação dura,
ambos lutando por cada respiração
enquanto nossos corpos cansados nos
carregam pela neve espessa.
Huxley chega primeiro ao topo e se
vira para estender a mão para mim. Eu a
pego e deixo que ele me puxe, me ajudando
a dar os últimos passos até a colina antes
que a terra se nivele. Não paramos de
mexer. Embora a subida tenha terminado, a
neve é espessa na clareira que cerca a
pequena casa marrom.
Reconheço o perigo inerente de
aparecer sem avisar na casa secreta de
alguém no meio da floresta, mas o perigo
que enfrentamos na floresta é muito maior.
Não solto a mão de Huxley enquanto
marchamos, deixando nossos rastros na
neve. Eu olho para a lua brilhante e redonda
no alto, brilhando para nós como um
holofote. É assustador na quietude
repentina, e um silêncio enervante se
instala ao nosso redor.
— Não está nevando mais — eu
sussurro. De alguma forma, parece errado
falar mais alto quando nos aproximamos da
casa.
Olho para Huxley para vê-lo balançar
a cabeça, um sorriso mostrando tensão em
suas bochechas. Seus olhos estão fixos na
casa à nossa frente... uma casa no meio da
vastidão da Sugar Wood Forest.
Parece-me estranho que haja uma
casa aqui.
Nossa família possui uma área
significativa desta terra, embora eu
realmente não saiba a que distância nossa
propriedade se estende de nossa casa – e
não sei a que distância estamos.
Independentemente do que eu saiba
e ou não, encontramos esta casa estranha e
estamos desesperados. Precisamos de calor
e precisamos disso agora. Embora as janelas
da frente estejam escuras, posso ver a tênue
luz em algum lugar lá dentro, talvez vindo do
quarto de alguém. Certamente, se alguém
está em casa, eles estão dormindo a esta
hora da noite.
Nós marchamos para frente, indo
direto para a porta. Estou pronta para socar
meu punho nela, mas Huxley dá um passo
na minha frente, me empurrando para trás
dele de forma protetora. Ele bate na porta...
mas não recebemos resposta. Bate de novo,
e de novo, e ainda assim, nenhuma
resposta.
— Eles devem estar dormindo. Talvez
eles não possam nos ouvir?
Ele balança a cabeça e bate
novamente, batendo o punho contra a porta
de madeira marrom. Esperamos e
esperamos, ambos tremendo e saltando
para afastar o frio.
— Há uma luz acesa na parte de trás
— digo a ele, movendo-me em direção à
janela onde a vi. — Talvez se dermos a volta
e batermos?
Huxley parece apreensivo, mas não
há espaço para apreensão quando estamos
com tanto frio.
— Fique aqui — ele me diz, e eu
aceno antes que ele desapareça ao redor da
casa.
Alguns momentos depois, eu o ouço
bater em uma porta dos fundos ou talvez no
muro de madeira... não sei. Mas quando
ouço o terceiro toque de seu punho
ecoando à distância, a porta da frente se
abre, balançando em minha direção e me
jogando para trás. Eu suspiro de surpresa
quando caio de bunda na neve, o que
instantaneamente envia um calafrio na
minha espinha.
Olhando para cima, vejo a silhueta
sombreada de um homem na porta escura.
Há uma faísca, as brasas de um cigarro,
depois uma nuvem de fumaça branca saindo
dele na noite. É a mesma que pensei ter
visto na floresta quando Huxley estava
enterrando meu pai.
Fico atordoada e imóvel enquanto o
homem na minha frente avança, revelando-
se enquanto o brilho do luar o banha em
uma luz peculiar. Ele joga o cigarro na neve,
e cai ao meu lado. Está sem camisa,
vestindo apenas um par de jeans
esfarrapados e gastos que abraçam seus
quadris robustos. Ele aperta os olhos para
mim enquanto se aproxima, e eu posso ver
a escuridão em seus olhos. Eles combinam
com seu cabelo escuro, que é grosso e
ondulado, longo o suficiente para
emoldurar seu maxilar esculpido.
Ele sopra uma última baforada de
fumaça do canto de seus lábios carnudos e
suas sobrancelhas – tão escuras quanto seus
cabelos negros – mergulham juntas no
meio.
— O que você está fazendo aqui Bird?
— Não soa muito como uma pergunta,
como se ele não se importasse com a minha
resposta.
Quem é esse homem?
Ele dá um passo mais perto, e eu
estremeço, então rapidamente fico de pé.
Quando abro a boca para falar, para gritar
para Huxley voltar, o homem moreno se
move rapidamente para o meu espaço,
virando a mão para tapar minha boca com a
palma da mão, enquanto a outra varre atrás
de mim e agarra a parte de trás da minha
cabeça.
Ele me puxa para perto. — Shh — ele
me silencia. — Não diga uma palavra.
Meus olhos estão arregalados
enquanto eu o observo.
— Parece que você está com algum
problema, Bird3.
Eu balanço minha cabeça contra sua
mão.
— E vocês dois cometeram um erro
ao vir aqui.
Meu coração bate
descontroladamente, lembrando-me que,
de fato, ainda é sólido, que ainda existe, que
não são partículas cinzentas flutuando como
fumaça na noite. Os olhos do homem pegam
e seguram os meus por uma única batida
antes que ele se mova. Suas duas mãos
descem ao mesmo tempo para agarrar
meus ombros e ele me vira bruscamente,
me empurrando para dentro de sua casa.
— Hux! — Eu grito, e é o único som
que consigo fazer antes que o estranho
moreno bata a porta atrás dele e a tranque.

3
Passarinho
Estou trancada.
Eu tropeço para trás
desajeitadamente, meus saltos tropeçando
em um tapete, minha bunda colidindo com
uma mesa de madeira, suas pernas
guinchando pelo chão de madeira enquanto
meu peso a desloca.
— Volte — eu digo, mas minha voz é
fraca.
O homem não diz uma palavra
enquanto se aproxima de mim.
— Nós estávamos perdidos — eu
explico. — Nós saímos muito tarde no
escuro e nos perdemos. Nós apenas...
Estávamos esperando que você pudesse nos
ajudar.
Ainda assim, ele não fala.
Eu me afasto e ele me segue.
— V-você pode nos ajudar?
Ele continua se movendo em minha
direção.
Minha respiração acelera de medo,
sentindo o perigo inerente em que nos
colocamos no momento em que pisamos na
propriedade desse homem. Acho que ele
não quer nos ajudar. Eu não acho que este é
um bom homem. Acho que deveria ter
medo.
Huxley bate na porta da frente,
gritando por mim, e o homem olha para o
som por cima do ombro. Aproveito a
distração, virando e correndo pelo corredor
escuro, indo para o único quarto com uma
luz acesa nos fundos, pensando que talvez
possa me trancar ou escapar por uma
janela.
E depois?
De volta à floresta congelante?
Eu chego ao quarto com a luz e corro
para dentro, mas ele está bem atrás de mim.
Eu alcanço a porta, pronta para fechá-la,
mas ele bate suas palmas maciças contra ela
e a abre. Eu recuo quando ele vem em
minha direção e, pela primeira vez, eu o vejo
claramente na luz.
Ele é lindo.
Bonito, sombrio e perigoso.
Minhas mãos se fecham em punhos
ao meu lado, um suor frio brotando em
minhas palmas. — Por favor, estávamos
com frio…
Meus olhos disparam para a pele clara
esticada no abdômen esculpido. Meu olhar
traça as linhas, captando a imagem
completa de um homem forte e taciturno -
um homem olhando para mim com raiva se
espalhando por suas bochechas salpicadas
de barba preta.
Minha distração é o que me faz
entrar. Em um piscar de olhos, ele vem atrás
de mim, sua mão disparando tão rápido que
eu não tenho tempo para reagir antes que
ela trave na minha garganta. Seus dedos
enrolam em volta do meu pescoço,
deslizando para trás para agarrar logo
abaixo da base do meu crânio. Ele me puxa
em seu corpo duro com um puxão forte, e
eu bato minhas palmas contra seu peito nu
para empurrar de volta.
— Não! — Eu grito, mas é tarde
demais para protestos.
Ele se move atrás de mim enquanto
me vira de frente para a porta, seu aperto
na parte de trás do meu pescoço tão forte
que imagino que hematomas se formarão
da marca de seus dedos. Ele me empurra
para frente, me levando para o corredor e
de volta para a escuridão.
Ouço Huxley puxando freneticamente
a porta trancada, e ela chacoalha nas
dobradiças. Eu alcanço minhas mãos sobre
meus ombros, tentando agarrar seu pulso
para lutar, mas ele é forte, muito mais forte
do que eu. Ele me força a entrar em um
quarto escuro do outro lado do corredor,
mas está escuro apenas por um momento.
Uma luz repentina banha o quarto
quando ele aciona um interruptor atrás de
nós... e eu quero desesperadamente voltar
para a escuridão.
Isto não é um quarto.
É uma prisão.
Dois passos na sala e barras de metal
desenham uma linha no espaço, criando
uma gaiola retangular. Como uma fera com
a boca aberta e faminta, a porta da jaula
está entreaberta. E o homem segurando
meu pescoço está pronto para alimentá-lo.
Empurrando-me, ele me leva até a
cela da prisão e me joga no canto mais
distante. Eu levanto meus braços de forma
protetora pouco antes de bater, e eles
apertam entre meu peito e o canto onde as
paredes se encontram, meus punhos
fechados sob meu queixo. Ele se aproxima,
seu corpo se molda às minhas costas, me
prendendo no lugar.
Seu corpo está quente contra o meu.
Estou congelada, e em meu desespero para
derreter, sinto um estranho tipo de alívio
escorrer pelo meu corpo como calor líquido.
Eu quero que ele fique, me envolvendo em
seu calor.
Mas ele não fica.
Ele dá um passo para trás, e eu me
viro em um flash, a adrenalina rapidamente
me lembrando que estou em perigo aqui. Eu
avanço, preparando-me para correr, mas
ele é mais rápido. Ele se agacha na minha
frente e prende algo de metal em volta do
meu tornozelo rápido demais para eu
processar. Olho para baixo e vejo a algema
que foi colocada no meu tornozelo, mas
antes que eu possa me livrar dela, ele a
prende com um cadeado.
Entro em pânico. Eu grito e puxo
minha perna para o lado, empurrando
contra a pesada corrente presa a ela – uma
corrente que está presa ao chão.
— Huxley!
Há um estrondo, o som de vidro se
quebrando, e o homem moreno e eu
viramos a cabeça bruscamente para olhar
para o corredor. Ele se vira e se afasta, me
deixando na jaula com a porta aberta. Não
importa que a porta esteja aberta porque
não posso sair do espaço. Eu testo o
comprimento da corrente e é uma maldita
provocação. Eu posso dar um passo para
fora da jaula e isso é o mais longe que posso
ir.
Começo a gritar por socorro, mas
engulo meu som quando ouço punhos
colidindo, pele batendo na pele, corpos
batendo na parede,no chão, grunhindo e
gritando, enquanto Huxley, sem dúvida, luta
contra o homem misterioso.
Meus olhos se arregalam, meu
coração dispara, minha respiração acelera
de ansiedade. Fico imóvel e parada como
uma estátua enquanto o silêncio cai muito
de repente, e esforço meus ouvidos para
ouvir.
Há um baque, então o inegável som
de um corpo sendo arrastado pelo chão.
Arraste, para.
Arraste, para.
Arraste…
O estranho aparece, curvado, seus
braços sob um Huxley inconsciente
enquanto ele o arrasta para trás ao longo do
corredor.
Eu suspiro e minha mão tapa minha
boca.
Não não não…
Huxley me salva... Huxley sempre me
salva.
Se ele não pode me salvar agora,
então nós dois estamos condenados.
CAPÍTULO CINCO
HUXLEY

OUÇO GLORY implorar fracamente


enquanto o medo em seu tom me faz voltar
à consciência. — Por favor, nos deixe ir.
Estou de costas e o chão é duro ao
longo da minha coluna. Eu pisco, rolando
minha cabeça enquanto a consciência volta
lentamente, mas então, de repente, eu
acordo, sentando-me em um flash.
Eu suspiro quando viro minha cabeça
para encontrar Glory ao meu lado. Levo um
momento para processar o que estou vendo
porque é tão bizarro. Suas pequenas mãos
estão enroladas firmemente em torno das
barras de metal que nos prendem em uma
pequena sala.
Eu fico de pé e meu corpo se inclina
enquanto minha visão escurece por um
momento. Estico a mão para me segurar
antes de cair, embora minha mão pouse em
nada. Mas então Glory está ao meu lado, me
agarrando, seus braços envolvendo minha
cintura para me firmar. Eu luto contra a
tontura, piscando contra o turbilhão da sala,
e consigo estender a mão e envolver meu
punho em torno de uma das barras. Eu a
puxo, me levantando para que Glory não
tenha que suportar o meu peso.
— Hux — ela diz.
A maneira como o medo dela afunda
dentro de mim me deixa doente. Isso inicia
um fogo no meu intestino que queima
brilhante e quente, desencadeando uma
explosão de energia protetora.
Eu coloco meu braço em volta dos
ombros dela enquanto me equilibro com o
outro contra a barra, olhando para o
homem que nos fez prisioneiros. — Deixe-
nos sair — eu exijo. — Abra esta maldita
porta ou eu juro, eu vou te matar, porra.
Finalmente dou uma boa olhada no
idiota que nos enjaulou, e não tenho certeza
de como processar o que vejo. Eu esperava
ver alguém forte e sólido com base na
maneira como ele lutou comigo quando eu
invadi uma janela. Eu não esperava ver
músculos magros e uma estrutura
esculpida. Seus olhos castanhos escuros
estão estreitados em nós, nos estudando, e
seu cabelo negro está despenteado e
bagunçado da nossa briga.
Ele não parece ser muito mais velho
do que eu – talvez alguns anos – e isso me
parece estranho porque não consigo
entender por que um cara atraente em seus
vinte anos viveria sozinho tão fundo na
floresta. Estou apenas supondo que ele
mora sozinho, é claro, mas as chances
parecem boas, já que ele tem uma maldita
gaiola dentro de sua casa que
provavelmente não gostaria que ninguém
mais soubesse.
Ele não diz uma palavra, apenas
inclina a cabeça para o lado, nos observando
com olhos escuros e curiosos – olhos
penetrantes que se enterram
profundamente e queimam dentro de mim.
— Deixe-nos sair — eu digo
novamente, minha voz lenta e dominante.
— Quem é Você? — Ele tem uma voz
baixa, um tom áspero, um timbre
autoritário. — Por que você está aqui?
— Por favor, nos deixe ir — implora
Glory. — Eu te disse, estávamos perdidos.
Só precisávamos de ajuda.
— Diga-me seus nomes.
Aperto o ombro de Glory, esperando
que ela entenda para manter a boca
fechada. Se ele ainda não sabe quem ela é,
não quero que descubra. Se ele souber o
nome dela, saberá que tem dinheiro.
— Você não precisa saber nossos
nomes — digo a ele. — Apenas deixe-nos
sair e vamos sair em silêncio.
— Não — ele diz com determinação,
então se vira e sai da sala.
Ele não fecha a porta do corredor
porque não precisa. Estamos trancados
dentro dessa porra de jaula.
Solto Glory e agarro as barras com as
duas mãos, dando-lhes uma boa e sólida
sacudida, testando a força delas. Eles
vibram em meu aperto enquanto eu torço
meus braços contra eles, mas são fortes e
não mostram nenhum sinal de fraqueza. —
Porra!
— O que nós vamos fazer?
Eu giro, escaneando rapidamente a
sala, meu olhar pousando em uma porta de
madeira na parte de trás da gaiola. — Você
tentou isso? — Eu pergunto, já me movendo
em direção a ela.
— Não é uma saída — ela diz
enquanto eu giro a maçaneta.
Ela se abre para longe de nós, para o
quarto além, que rapidamente vejo ser um
banheiro pequeno, básico em todos os
sentidos da palavra. Há um vaso sanitário,
uma pia, um único chuveiro, sem espelho,
sem janelas. Piso de cerâmica branca,
paredes pintadas de branco... exceto que
são decoradas com simples desenhos de giz
de cera, como se uma criança estivesse aqui
e colorisse as paredes.
Mais importante, há outra porta em
frente à que eu vim. Meu pulso bate
esperançoso, enviando uma explosão de
adrenalina em minhas veias enquanto
minha mão pousa na maçaneta e torce. Eu
abro a porta na minha direção, esperançoso
por uma saída, mas meu coração afunda
pesadamente. A saída é selada atrás de mais
barras de metal.
Eu agarro um enquanto me aproximo,
espiando o espaço além das barras. Parece
outro quarto, embora esteja vazio. Há um
colchão em cima de um carpete velho e
manchado, mas fora isso, o quarto está
vazio.
Eu me viro, olhando ao redor do
banheiro, procurando por algo, qualquer
coisa que possa ser útil... mas não há nada.
Estamos presos e não há nada que
possamos usar para nos defender.
— O que vamos fazer, Hux?
Eu balanço minha cabeça em
descrença.
Como acabamos aqui?
Como passamos tão facilmente de um
pesadelo para outro?
— Eu não sei... — eu digo a ela
honestamente. — Não sei o que fazer.
Enfio a mão nos bolsos, de repente,
pensando que meu celular deve estar lá.
Não está, e não importaria se estivesse. Já
estava morto e quem sabe se há serviço
aqui, de qualquer maneira.
— Ele tirou tudo dos seus bolsos e
dos meus — diz ela, algo de metal
chocalhando contra o chão enquanto ela
caminha em minha direção.
Sigo o som até seus pés e vejo uma
algema presa ao tornozelo. Ela está
acorrentada a um gancho que está preso ao
chão. — Cristo — eu murmuro, caindo de
joelhos em sua frente. — O que ele fez?
Eu puxo o cadeado que prende a
algema e descubro que é sólido. Agarro a
corrente, correndo de mão em mão pelo
comprimento até chegar ao gancho
aparafusado. Eu puxo com força, testando
sua força. É sólido também. — Merda. — Eu
deixo cair a corrente e ela cai pesadamente
no chão. Eu penteio meus dedos pelo meu
cabelo, puxando as pontas em frustração.
— Por que isso está acontecendo? O
que ele quer conosco?
— Eu não sei porra! — Eu estalo.
Ela se encolhe e dá um passo para
trás.
Eu me levanto e corro para fechar o
espaço entre nós, envolvendo-a em meus
braços e puxando-a para perto. Ela está
rígida, com os braços presos ao lado do
corpo.
— Sinto muito — eu sussurro contra
seu cabelo. — Eu só... eu não tenho
respostas. Eu não tenho respostas, e isso me
assusta. Eu sempre sei o que fazer. —
Quando minha mão vem para embalar a
parte de trás de sua cabeça, ela suaviza,
puxando seus braços livres do meu aperto
para me abraçar de volta, para me segurar
tão perto dela quanto eu a seguro para mim.
— Eu não vou deixar ele te machucar. Eu
vou encontrar uma saída para nós. — No
entanto, mesmo quando as palavras saem
da minha boca, sei que minhas promessas
podem ser falsas.
Não sei se posso impedi-lo de
machucá-la.
Não sei se consigo encontrar uma
saída para isso.
O não saber é mais aterrorizante do
que qualquer coisa, porque eu nunca fiquei
sem saber o que fazer.
Eu sempre sei o que fazer.
Eu sempre a salvo.
Mas nisso... talvez eu não consiga me
salvar.
CAPÍTULO SEIS
AMBROSE

EU QUASE ME PERGUNTO se isso é


parcialmente minha culpa. Talvez eles
tenham sentido minha energia quando eu
os vi cavando na floresta horas atrás e, sem
saber, seguiram de volta para minha casa.
No início da noite, eu tinha visto esses
dois a quase cinco quilômetros de distância.
Eu os encontrei por acidente e fiquei para
observá-los por cerca de trinta minutos
porque sua presença foi inesperada e suas
ações despertaram meu interesse. No fundo
da floresta, no escuro, no inverno gelado de
Vermont com uma tempestade de neve
soprando... encontrá-los lá parecia
inesperado.
Eu assisti enquanto o garoto golpeava
o chão congelado, conseguindo cavar um
buraco do tamanho de um corpo por pura
força de vontade. Eu tinha cavado o
suficiente para reconhecer o que eles
estavam tentando fazer, e isso cativou
minha atenção. Esses dois jovens adultos de
aparência saudável estavam enterrando um
corpo na floresta no meio da noite.
De quem era o corpo?
Como é que morreu?
O que esses dois tinham a ver com
aquela morte?
A garota parecia agitada, em
constante movimento e inquietação,
brincando com a luz do telefone. Em um
ponto, eu pensei que ela tinha me visto, mas
então ela voltou para o namorado ou quem
quer que ele fosse e ficou ao seu lado. Toda
vez que parecia que ela estava se
oferecendo para ajudar, ele insistia,
insistindo em fazer o trabalho ele mesmo.
Cavalheiresco, suponho, uma
característica que não possuo.
Eu saí depois de observá-los por um
tempo... antes que eles terminassem seu
trabalho sujo. A presença deles me distraiu
e me confundiu, e eu deixei meu machado
para trás, o que foi uma estupidez da minha
parte. Normalmente, eu não me
preocuparia com isso, exceto pelo fato de
que fui encontrado em um lugar inacessível.
Claramente, fiquei muito confortável, muito
complacente, pensando que ninguém
jamais me encontraria aqui.
Eu desço o corredor em direção à luz
fraca, de volta ao meu quarto. Pego um
moletom preto do meu armário e o visto
antes de sentar na cama para amarrar
minhas botas pretas. Então, pisando fundo
no corredor, vou para a porta da frente.
Ao passar pela porta aberta da sala
onde os prendi, atrevo-me a dar uma única
olhada nos dois pássaros engaiolados, e a
visão deles faz meu pulso acelerar com uma
energia ansiosa.
Por que diabos eu os prendi?
Por que eu simplesmente não os
mandei embora?
A visão deles me faz parar com a
cabeça virada em suas direções, mas eles
não me notam imediatamente. O menino
tem seus braços em volta dela, mantendo-a
perto. Há tanto carinho e energia protetora
na forma como ele a segura, e eu posso
sentir isso ondulando através dele, viajando
para fora em ondas que me atinge e fazem
meu estômago apertar com uma estranha
mistura de ciúme e necessidade.
Eu nunca conheci um sentimento
como esse - um sentimento de ser protegido
e cuidado.
Eu preciso de um cigarro.
O menino vira a cabeça quando estou
prestes a me mover e espero que ele grite
comigo, grite para eu deixá-lo sair. Mas,
curiosamente, não. Sua testa franze, se
enruga em ressentimento acalorado por sua
situação atual, e o ódio apaixonado em seus
olhos castanhos faísca no ar entre nós.
Eu não posso olhar para eles.
Eu caminho em direção à porta, pego
minha jaqueta preta pesada e a coloco por
cima do meu moletom. Fecho o zíper, puxo
o capuz sobre a cabeça e saio pela porta da
frente, trancando-a atrás de mim.
A nevasca parou, mas há 12
centímetros de felpa na clareira ao redor da
minha casa. Não me incomoda. Eu me
arrasto para frente, pisando na neve
enquanto me dirijo para a linha das árvores.
Ando por um quilômetro e meio antes
de parar para tirar um maço de cigarros do
bolso do casaco. Eu tiro um da embalagem
e o acendo antes de continuar.
Já percorri esse caminho tantas vezes
que nem preciso pensar para onde estou
indo. É memória muscular4. O ar frio não me
incomoda muito - é a mesma temperatura
do meu coração congelado e morto - mas a
neve ao redor dos meus tornozelos
encharca meu jeans, fazendo com que cada
passo pareça pesado. A umidade ao redor
dos meus tornozelos faz os neurônios
traumatizados em meu cérebro dispararem
com as memórias do meu passado
assombrado.
Afundo na lembrança indesejada das
noites frias de inverno quando meu pai me
levava para a floresta, vestindo nada mais
do que meu pijama esfarrapado – uma
camiseta simples e calças compridas de
flanela.
Ele me levava para longe, nas
profundezas, então me deixava para trás.
Ele colocava o relógio em volta do meu
pulso com um alarme de trinta minutos,
então exigia que eu ficasse parado até que o
alarme tocasse, e quando tocasse, eu

4
Quando você fez algo repetidamente até que seja
automático
deveria encontrar o caminho de volta para
casa.
Ele tentou me convencer de que
estava fazendo isso para o meu próprio bem
- para me ensinar habilidades de
sobrevivência e navegação - mas é claro que
isso era besteira. Ele não me ensinou porra
nenhuma. Ele estava esperando que eu
morresse de exposição antes de encontrar
meu caminho de volta, então ele não tinha
mais que lidar comigo.
Mas eu sempre encontrei o caminho
de volta.
Às vezes me pergunto por que lutei
tanto para sobreviver. Não é como se eu
fosse recebido de volta com orgulho e
louvor. Ele simplesmente me jogava na
maldita gaiola e me deixava lá por dias. Eu
não consigo entender por que enchi aquela
mesma jaula de traumas com novas almas
para despedaçar.
Porque eles encontraram você... e
você não queria ser encontrado.
Eu desvio do caminho sem pensar
conscientemente, meus pés me carregando
pela longa passagem até o lugar onde deixei
meu machado. Um quarto de milha depois,
paro em frente ao tronco grosso de uma
árvore familiar. Sua base é larga e quase fica
separada das árvores ao redor, como se suas
raízes grossas as empurrassem para longe
enquanto crescia... como se o resto da
floresta estivesse se espalhando por sua
presença iminente.
Lembro-me de quando encontrei esta
árvore pela primeira vez quando tinha
quatorze anos. Eu lutei contra meu pai pela
primeira vez e consegui me afastar antes
que ele pudesse me bater. Corri o mais
longe e rápido que pude na floresta porque
não sabia se ele estava com raiva ou me
seguindo. Eu não olhei para trás. Corri até
cansar e depois vaguei.
Vaguei até sentir a atração desta
árvore.
Embora as folhas de outono
estivessem espalhadas e empilhadas pelo
chão da floresta naquele dia, a maioria dos
bordos ainda segurava suas folhas
moribundas, não querendo soltá-las ainda.
Mas esta árvore - a que estou de pé
agora - estava completamente nua, as
folhas empilhadas em torno de sua base.
Não havia sinais de doença ou infecção, era
uma árvore saudável. Mas de alguma forma,
parecia ansiosa para perder suas folhas,
ansiosa para mudar as estações.
Eu me sentia da mesma forma –
ansioso para deixar minha infância para
trás, assumir o controle, lutar. Essa foi a
primeira vez que senti que poderia
recuperar meu poder.
E um ano depois, eu fiz.
Agora estou em seus túmulos, sobre o
local onde, dez anos atrás, eu os cavei e os
enterrei ao lado desta mesma árvore, e
sinto seu mal tentando arrancar seu
caminho do chão. Eu não acredito em Deus,
então com certeza não acredito no diabo.
Mas estou mais do que familiarizado com a
doença da humanidade e a energia
distorcida que ela deixa para trás. Essa
energia se reproduz e procura, enrolando-se
em qualquer novo hospedeiro que possa
encontrar. Posso senti-lo agora nas raízes
desta árvore, estendendo-se desde a base
sob meus pés, infectando esta floresta,
infectando-me.
As árvores falam em seu silêncio, o
vento soprando e farfalhando através dos
galhos nus acima. Eu olho para cima, o luar
espreitando através das nuvens escuras,
iluminando os galhos em forma de garra
enquanto eles balançam. Eu posso ver como
o vento sopra através deles, ondulando
ramos ainda em movimento, e minha
cabeça segue sua direção, observando
enquanto sopra de volta para o sul em
direção à minha casa.
Aquela casa também está infectada.
E os dois que prendi dentro dela
sentirão os efeitos disso em breve.
Eu os prendi lá como meus pais me
prenderam.
Eu dou uma longa tragada no meu
cigarro e lentamente sopro a fumaça do
canto dos meus lábios. Eu o jogo na neve e
piso nele, certificando-me de que a luz se
apague antes de me virar e ir mais fundo na
Floresta Sugar Wood5. Recolho meu
machado esquecido e pego uma braçada de
madeira que cortei antes de voltar.
Eu deveria ter mandado aqueles dois
embora quando bateram na minha porta,
mas talvez já fosse tarde demais quando
chegaram. Eles já foram infectados pela
floresta. Já estavam ficando doentes
quando chegaram à minha porta. Então,
talvez seja bom eu sentenciá-los à morte
prendendo-os na jaula que está aberta e
esperando há dez anos.
Sugar Wood deixou todos nós
doentes, e não posso deixá-los infectar o
resto do mundo.

5
Madeira de açúcar
CAPÍTULO SETE
HUXLEY

DORMI Algumas horas, mas a maior


parte do tempo tenho estado inquieto. Os
pisos de madeira são duros e a ansiedade
óbvia de estar trancado dentro de uma
gaiola na casa de algum psicopata me
impediu de baixar a guarda.
Estou grato que Glory foi capaz de
encontrar algum descanso, pelo menos. Ela
está dormindo profundamente agora, seu
corpo enrolado contra o meu lado e sua
cabeça no meu peito. Talvez o toque dela
seja outra razão pela qual não consigo
dormir. Meu coração está batendo
dolorosamente desde que ela deitou a
cabeça no meu peito. Ela deve ter sido capaz
de ouvi-lo bater.
Eu esfrego minha mão em suas costas
enquanto ela descansa, sem vontade de
deixá-la ir, embora minha mente grite para
me levantar, me mover, para descobrir uma
maneira de sair dessa bagunça. Mas não
posso desistir deste momento porque,
mesmo em nossa situação de merda, sou
egoísta o suficiente para preferir mantê-la
por perto do que agir.
Há um baque alto do lado de fora e
isso me assusta. Também assusta Glory, a á
acordando.
Ela se levanta e olha ao redor da sala.
— O que é que foi isso?
Eu vejo seus ombros caírem quando a
percepção a atinge novamente de que ainda
estamos presos aqui, que não é um sonho.
Outro baque alto soa, e eu me sento
também.
A luz ilumina a casa do corredor,
mostrando-nos claramente que o sol
nasceu. Embora não haja janela dentro do
nosso quarto da gaiola, muita luz penetra
pelas grandes janelas na frente da pequena
casa, e se infiltra em nosso quarto.
Eu alcanço Glory, passando minha
mão pela parte de trás de sua cabeça.
Ela se vira para olhar para mim, seus
olhos verdes examinando as feições do meu
rosto. — Você dormiu? — ela pergunta
baixinho, e a preocupação genuína em sua
voz me estripa.
— Um pouco.
Ela suspira. — Eu estava esperando
acordar e descobrir que tudo isso foi um
sonho... um pesadelo.
— Eu sei. Eu esperava o mesmo.
— Ele voltou?
Eu balanço minha cabeça. — Não.
Pelo menos não o vi descer pelo corredor. —
Eu me mexo, sentando-me mais ereto com
as costas contra a parede. — Acho que ele
está lá fora. — Outro baque alto ecoa,
confirmando meus pensamentos. — Parece
que ele está cortando madeira ou algo
assim.
Ela se vira de lado para me encarar,
com os joelhos dobrados. — O que nós
vamos fazer?
Solto um longo suspiro e esfrego as
mãos no rosto. — Eu honestamente não sei,
porra.
— Eu sinto muito. Isso é tudo minha
culpa. Se eu não tivesse perdido o controle
com meu pai, nunca estaríamos na floresta.
Isso nunca teria acontecido. Eu sou tão
fodida.
Ela enterra o rosto nas mãos e me faz
ferver de raiva ouvi-la falar sobre si mesma
assim. Eu agarro seus pulsos, talvez com um
pouco de força demais, e os puxo para longe
de seu rosto. Sua cabeça se levanta e seus
olhos se arregalam de surpresa com a minha
aspereza, mas eu tenho sua atenção.
— Você não é uma fodida, Glory. Sim,
você já estragou tudo algumas vezes em sua
vida, mas seus erros não te definem. E,
independentemente, o que você fez com
seu pai... isso não foi um erro. Ele te
machucou. Ele te machucou da maneira
mais repugnante que se possa imaginar, e
ele mereceu o que você fez com ele.
— Mas não estaríamos aqui se eu não
tivesse...
Eu puxo seus pulsos, puxando-os para
mim, puxando-a para mais perto enquanto
me inclino para frente. — Se você não
tivesse, eu teria. Eu o teria matado se o
encontrasse... fazendo isso com você.
Ela engole visivelmente, sua garganta
macia balançando, atraindo meu olhar para
a curva de seu pescoço. Sua pele parece tão
macia, tão suave, e me pego imaginando se
ela é sensível ali... se meus lábios fariam
cócegas em sua pele ou despertariam
desejo...
— Hux? — É como sair de um transe
para arrastar meus olhos para encontrar os
dela. Ela olha para mim com uma ligeira
inclinação de cabeça e olhos semicerrados.
Sua voz é um sussurro quando ela fala
novamente. — Você... Seus olhos estão
diferentes quando você olha para mim
agora.
Meus punhos cerram
inconscientemente, mas eles estão
enrolados em seus pulsos. Ela engasga
quando eu aperto, e a maneira como isso faz
seus lábios carnudos se abrirem é quase
convidativo.
O que diabos há de errado comigo?
Eu engulo meu desejo por ela porque
tenho certeza de que não tem lugar para
isso nesta jaula. — Eu não sei o que você
quer dizer.
Ela olha para baixo e balança a
cabeça. — Não tente me fazer pensar que
estou vendo coisas. Eu sei o que vejo
quando olho para você.
— O que você vê?
— Bem, eu não vejo meu meio-
irmão. Não exatamente. Eu vejo um homem
que veio em meu socorro várias vezes,
mesmo por sua conta e risco.
— Eu me preocupo com você. — Eu
deixei minhas mãos caírem de seus pulsos e
agarrei suas bochechas em vez disso. — Eu
sempre vou te resgatar, Glory. Sempre.
Ela se inclina para frente e eu sinto a
mudança entre nós como algo visceral,
como se algo invisível se agitasse dentro
dela e se estendesse entre nós, arranhando
minha carne ardente e me puxando para
mais perto. Antes que eu perceba, os lábios
dela estão a apenas uma respiração dos
meus e eu não tenho ideia do que está
acontecendo aqui.
Eu tento me convencer de que isso é
apenas desespero, que é apenas
necessidade de uma conexão maior em
meio a uma crise perigosa, uma necessidade
de solidificar um vínculo físico para
fortalecer um ao outro quando nos
sentimos tão impotentes.
Mas eu sei que é algo mais. São
desejos doloridos e reprimidos por mais
pressa para a superfície. São anos de
negação para mim e anos de solidão para
ela. É uma necessidade que não posso mais
negar a mim mesmo, sabendo que nunca
poderei negá-la.
Quando seus olhos se fecham, parece
uma porta se fechando em nosso passado,
em nosso vínculo platônico como meio-
irmãos. Parece permissão...
Não.
Parece um pedido, uma demanda
para tocar meus lábios nos dela e pegar o
resto do nosso relacionamento inocente,
engoli-lo, e deixar acender um fogo em meu
estômago que eu sei que vai queimar nós
dois em cinzas.
Sua língua varre inocentemente em
seus lábios e foda-se, isso me faz perder o
controle. Agarrando suas bochechas, eu
bato meus lábios nos dela, beijando-a com
uma paixão feroz que nunca compartilhei
com ninguém.
Ela choraminga contra meus lábios, o
som mais doce se deixar ir enquanto ela os
separa para mim. Sua língua procura a
minha tão ferozmente quanto a minha
procura a dela, e foda-se, ela tem um gosto
melhor do que eu jamais imaginei que teria.
Tem um gosto doce, assim como o doce de
bordo.
Seu corpo se inclina no meu enquanto
agarra minha camisa, e eu imagino que ela
pode sentir meu coração batendo
descontroladamente sob seu toque. Uma
mão desliza para o pescoço dela,
envolvendo o lado dele, meu polegar
deslizando sobre aquela pele macia e suave.
Eu a beijo como se pudesse consumi-
la, profundamente e com fome. Por alguma
razão, eu sempre a imaginei retribuindo um
beijo com inocência gentil, com exploração
curiosa e suave, mas ela acabou com minha
ilusão. Ela não esconde nada, e isso me faz
pensar se ela me queria tanto quanto eu a
quero — se nós sempre nos desejamos e
estávamos apenas negando a nós mesmos
inutilmente.
Ela se move rapidamente,
deslocando-se para montar minhas pernas
estendidas. Eu gemo quando seu corpo
balança no meu, enquanto pressiona a
palma da mão na parede acima da minha
cabeça para se preparar enquanto se curva
e aprofunda nosso beijo.
Meu Deus, eu nunca esperei...
Minha cabeça estala, virando em
direção à porta e quebrando nosso beijo
quando o vejo entrar como uma sombra
negra na noite. Glory engasga quando ele se
aproxima, suas mãos caindo enquanto ela
rapidamente puxa sua perna sobre a minha,
movendo-se atrás de mim. Eu fico de
joelhos e me movo na frente dela para
proteger seu corpo com o meu.
Ele se move na frente da gaiola,
chegando perto, agachando-se. Suor
pontilha sua testa, e suas mãos descansam
no cabo de um grande machado, a lâmina
assentada pesadamente no chão entre suas
pernas. Há algo estranho girando atrás de
seus olhos escuros, algo que não consigo
identificar.
— O entretenimento é para o seu
benefício ou para o meu? — ele pergunta
com uma inclinação de sua cabeça.
Fico pensando, escolhendo o silêncio.
— Diga-me seus nomes.
— Não.
— Diga-me seus nomes, e eu vou
pensar em deixá-los ir.
— Foda-se, não. Você não precisa
saber quem somos, e nós não precisamos
saber quem você é. Deixe-nos ir e vamos
desaparecer. Temos nossos próprios
malditos segredos para esconder.
O homem sorri, levantando sem graça
o canto dos lábios. Ele passa a mão pelo
cabelo preto espesso, e estou fixado na
escuridão de seus olhos.
— Vocês dois são meu segredo agora
— diz ele. — Mas eu não decidi se é um
segredo que vale a pena manter... ou
enterrar.
Glory choraminga, suas mãos subindo
para agarrar meu bíceps enquanto ela
pressiona seu rosto nas minhas costas. Sua
necessidade de mim fortalece minha
determinação, me dá orgulho, faz meu peito
subir de indignação contra esse homem
como seu salvador, seu protetor.
Ele se inclina para o lado, tentando
espiar Glory ao meu redor. — O que há de
errado, bird? Ficar trancada em uma gaiola
te assusta? Ou isso te liberta? Isso lhe dá
permissão para fazer coisas que você
sempre quis fazer, mas nunca se permitiu?
— Ele olha para mim. — Foi a primeira vez
que ela beijou você? Ou já te beijou antes e
temeu que este pudesse ser o último?
— Isso não é da sua conta.
— Tudo o que você faz é da minha
conta agora.
Seus olhos se enterram nos meus, a
escuridão dentro deles desencadeando uma
onda de... algo. Ansiedade? Raiva? Paixão?
Não consigo encontrar as palavras para
descrever o que toma conta de mim, mas é
uma sensação inquietante.
— Tenho uma entrega a fazer — ele
nos diz. — Estarei de volta em algumas
horas. Use o chuveiro se quiser, vocês dois
estão com aspecto infernal. Se vocês se
comportarem, talvez eu me sinta inclinado a
alimentá-los quando voltar.
Glory fica de pé e sai correndo para
agarrar as barras na frente dele. Ele se
levanta para encontrar os olhos dela,
embora sua altura o force a olha-la. — Não
nos deixe aqui, por favor! Apenas deixe-nos
ir para casa. Eu prometo, não diremos uma
palavra sobre você para ninguém. Nós só
queremos ir para casa. Nem sabemos o seu
nome. Não contaremos a uma alma. Por
favor.
Deus, como a voz dela treme...
O homem se aproxima, olhando para
ela de uma forma que faz meus punhos
cerrarem, embora eu não saiba se quero
socá-lo ou abraçá-la mais.
— Meu nome é Ambrose Bishop —
diz ele, seu olhar piscando em seu rosto,
traçando uma linha até seu peito arfante. —
Agora você sabe meu nome... e isso é muita
informação para deixar você ir.
O conhecimento é mais limitador do
que a jaula, porque é condenável. Ele não
pode nos deixar ir agora com o
conhecimento de seu nome - ele nos disse
intencionalmente e a verdade disso nos
atinge violentamente, como uma explosão
silenciosa de energia através das barras de
metal.
Ele não pretende nos deixar ir.
Ambrose Bishop gira e sai da sala ao
som do grito de Glory.
CAPÍTULO OITO
AMBROSE

EU FAÇO o caminho para a fábrica de


guloseimas de Tolliver uma vez por semana
para entregar madeira cortada da floresta.
Eles queimam com bastante rapidez hoje
em dia para ferver o bordo para seus doces.
Eles só o usam para alguns fogões a lenha
que fazem seus deleites premium - se eles
fervessem todo o bordo dessa maneira, eu
teria metade da floresta cortada em alguns
meses.
O resto de seus doces são fabricados
em massa, mas a Tolliver's sempre anunciou
que os doces premium são especiais, como
se ferver o bordo queimando a mesma
madeira da qual eles o extraíram o tornasse
melhor de alguma forma. Não.
Este costumava ser o trabalho do meu
pai, mas eu assumi sem uma única pergunta
de ninguém quando ele morreu. Eu tenho
feito isso por uma década agora em seu
lugar e, pelo que todos sabem, meu pai
simplesmente mudou para outro emprego...
ou talvez eles possam adivinhar que ele está
morto. Eu não sei porra. Ninguém neste
lugar dá a mínima e todos nós cuidamos da
nossa vida.
O gerente de piso assina a entrega e
dá o cheque semanal. Eu me viro para sair
da fábrica antes que a cadela me veja, mas
é inútil tentar evitá-la porque ela sempre me
vê.
— Ambrose — ela chama, pisando no
chão da fábrica de cimento em seus saltos
inapropriadamente altos. — Uma palavra,
por favor.
Maura Tolliver, a segunda esposa de
Beau Tolliver. Ela está aqui com mais
frequência do que ele, e governa com mão
de ferro. A empresa deles se expandiu para
vender em todo o mundo quando ele se
casou com ela sete ou oito anos atrás, e é
porque ela é uma cadela implacável quando
se trata de seus negócios.
Ela é uma cadela implacável, ponto
final.
Enfio as mãos nos bolsos do casaco e
me viro para olhar para ela enquanto ela
anda em minha direção. — Estou ocupado,
Maura.
— Nós dois sabemos que isso não é
verdade. — Ela para na minha frente. —
Meu escritório. Há algo que precisamos
discutir.
Atrevo-me a olhar para a gerente do
andar, que levanta a sobrancelha e aperta
os lábios para reprimir um sorriso
desajeitado. Ela acha que eu ainda estou
fodendo Maura – todos eles pensam – e se
eu desse a mínima para o que as outras
pessoas pensavam de mim, eu poderia ficar
envergonhado por isso. Mas minha mente
não tem mais capacidade de se importar.
Maura se vira com um arquear de
sobrancelha em expectativa e se afasta,
balançando sua bunda atrevida de 37 anos
em sua saia lápis ridiculamente justa,
pensando que isso vai me atrair para segui-
la. Isso me atraiu a seguir alguns anos atrás,
mas lidar com ela agora é cansativo. Ainda
assim, sigo, porque o poder que ela tem
sobre mim me assusta. Eu sei demais, e fiz
demais para ela ignorar seus caprichos.
Eu a sigo pelos degraus de metal
abertos até o segundo andar, o zumbido das
máquinas e o zumbido do chão da fábrica
ainda ecoando por toda parte.
Atravessamos o loft até o escritório dela. Ela
destranca a porta cinza e espera que eu
entre antes de fechá-la atrás de nós,
cortando os sons intermináveis da fábrica e
trancando-a novamente.
Eu espero que ela vá atrás de mim, me
use e abuse como todo mundo tem feito na
minha vida patética, mas estranhamente,
ela não faz isso, e isso me dá um arrepio na
espinha.
Ela cruza lentamente, quase
sombriamente para sua mesa de madeira
flutuando no centro do espaço, se
abaixando em sua cadeira logo atras. —
Preciso da sua ajuda com um assunto muito
importante.
Deixo escapar um suspiro rouco e caio
na cadeira em frente a sua mesa. — O que é
desta vez?
— Este é um assunto discreto. Ainda
não saiu na imprensa. Voltei para casa por
volta do meio-dia e estive com a polícia nas
últimas horas discutindo essa coisa terrível
que aconteceu.
— O que você está falando?
Ela suspira, fingindo algo que lembra
tristeza. — Meu marido, meu filho e minha
enteada estão todos... desaparecidos.
Cheguei em casa da minha viagem de
negócios e descobri uma casa vazia, embora
nossos veículos estivessem todos lá. Os
sapatos de Beau estavam na porta da frente,
onde ele sempre os tira. Minha enteada
chegou em casa para as férias e seu carro
estava lá, mas ela também tinha ido
embora. O mais suspeito era o fato de que o
carro do meu filho estava na garagem – ele
não deveria estar voltando para casa. Mas
eles não estão em lugar algum e não
conseguimos contatá-los por telefone ou
mensagem. A polícia suspeita de crime.
Dou-lhe um contato visual inflexível,
notando a maneira sem emoção que ela
compartilha isso comigo. — Você deve estar
arrasada. — O sarcasmo morde meu tom.
Ela finge uma expressão sombria. —
Eu estou. É devastador não saber onde eles
estão.
— Corta essa. O que você quer de
mim?
Ela se levanta e circula ao redor da
mesa, cada clique lento de seus saltos
contra o chão duro ecoa ameaçadoramente
e me deixa tensa. Ela desliza entre mim e a
mesa, deixando pouco espaço entre nós, e
ela inclina a bunda para trás contra a borda.
— Eu preciso de sua discrição com
isso. — Ela estende a mão para pegar a
minha, segurando-a entre as palmas das
mãos como se se importasse comigo,
embora eu não sinta nada. — Eu preciso que
você os encontre.
— O que faz você pensar que eu
posso encontrá-los?
— Você rastreou pessoas para mim
antes.
— Não pessoas desaparecidas.
— Eu sei que você pode me ajudar
com isso. Eu sei que você vai me ajudar. —
Ela move minha mão por baixo de sua saia
lápis e a empurra para cima de sua coxa. —
Você sabe que posso tornar sua vida muito
difícil se você não me ajudar. Nós sempre
ajudamos uns aos outros, não é?
Eu puxo minha mão bruscamente e
me levanto com tanta força que minha
cadeira tomba.
Ela se levanta e se aproxima. — Eu
preciso que você os encontre e certifique-se
de que eles não voltem.
— O que?
Ela empurra para o meu espaço. —
Você ouviu o que eu disse. Descubra o que
aconteceu com eles... e certifique-se de que
eles permaneçam desaparecidos. Para o
bem.
Ela se abaixa para segurar meu pau
flácido. Eu a agarro pela garganta e a
empurro de volta até que ela bate contra a
borda da mesa, deixando escapar um
suspiro estrangulado. Ela sorri contra isso, e
isso me afasta ainda mais. Ela acha que
ainda pode me manipular do jeito que fez
anos atrás.
— Você os quer mortos?
— Você sabe que eu adoro quando
você é rude comigo — ela ronrona.
Eu a solto e dou um passo para trás,
quase tropeçando na cadeira caída. — Eu
não quero te ajudar com isso.
— Realmente não importa o que
você quer, não é? Eu lhe disse o que eu
quero que você faça, então você fará. Que
outra opção você tem? Dizer à polícia o que
eu lhe pedi para fazer? — Ela ri através de
suas palavras. — Claro, você não vai à
polícia, porque eu contaria a eles todos os
detalhes sórdidos de seus crimes.
— Crimes que você me pagou para
cometer em seu nome.
— Entre você e eu, Ambrose, acho
que você é o único que seria acusado. Quem
acreditaria que eu te contratei para fazer
alguma coisa?
Ninguém acreditaria em mim.
Ninguém está do meu lado.
Eu sempre estive sozinho... sozinho.
É por isso que ela se agarrou a mim
quando eu era jovem e estúpido, e agora
estou preso, fazendo seu trabalho sujo. No
começo, fiz com a promessa de sexo,
carinho, atenção. Agora, faço o trabalho
sujo dela porque não tenho escolha, porque
ela tem todas as cartas com as provas contra
mim pelas coisas que fiz por ela.
Mas eu quero sair.
Eu quero acabar com ela.
Eu cerro os dentes. — Há mais em
jogo para você aqui, Maura. Você está atrás
da herança, não é? A fortuna da família
Tolliver? Então, o que eu ganho por isso? Se
eu me certificar de que eles nunca mais
voltem…
Sua mandíbula fica tensa e ela torce
os lábios, olhando para mim com
severidade. — Cinco por cento.
— Cinco por cento de quê?
— Do nosso negócio. Se Beau estiver
morto, terei plena autoridade para tomar
decisões sobre as guloseimas de Tolliver.
Isto é, se Glory e Huxley também estiverem
mortos.
— Você realmente quer que eu
encontre sua família e os mate?
— Sim — ela confirma. — E vamos
precisar de corpos... ou pelo menos partes
de seus corpos para confirmar que estão
mortos.
— Mas por que matar todos eles? Por
que todos eles têm que estar mortos?
— Porque aquela minha enteada é a
próxima no testamento depois de Beau.
Eu inclino minha cabeça para o lado,
olhando para ela com discernimento. — E o
seu filho?
Ela solta uma respiração longa e lenta,
como se isso fosse difícil para ela, embora
nós dois saibamos que não é. — Ele terá que
ser morto também. Não sei onde estão, mas
desapareceram todos ao mesmo tempo. Eu
tenho que assumir de alguma forma, seus
desaparecimentos estão todos conectados.
Se você encontrar Beau e Glory,
provavelmente encontrará Huxley. E se ele
souber, dirá a verdade. — Ela coloca a mão
sobre o coração em um movimento falso e
exagerado. — Meu filho sempre foi bom
demais para este mundo. Eu aceitei que ele
terá que morrer também.
Eu rio sem humor. — Você precisa de
medicação.
Seus olhos se estreitam. — Por uma
vez na porra da minha vida, estou fazendo o
que é melhor para mim. Honestamente,
Ambrose, somos todos apenas um bando de
animais. A moralidade é a pior coisa que já
aconteceu a este mundo. É para ser a
sobrevivência do mais apto.
— Você vive uma vida triste e
patética em seu mundinho solitário.
Ela sorri. — Não estou triste e minha
vida é bastante alegre. Eu tenho poder e
faço o que quero. O que mais eu poderia
pedir? — Ela se afasta da mesa e vem em
minha direção novamente. — Faça isso por
mim, e eu lhe darei o que você sempre quis.
— Oh? E o que eu sempre quis?
Ilumine-me com sua visão.
— Independência. Liberdade. Paz. Eu
lhe darei um bônus de cinquenta mil dólares
e, assim que liquidar a empresa, lhe darei
seus cinco por cento. Serão milhões,
Ambrose. O suficiente para você viver o
resto de seus dias fazendo o que diabos você
quer fazer. Eu até lhe darei dinheiro se você
quiser, para que possa viver seu estilo de
vida simples e fora da rede. Eu vou deixar
você ir, e eu nunca vou ligar para você
novamente. Você pode desaparecer por
tudo que me importa.
— Você quer dizer, você me deixaria
ir?
Estou preso aqui pelos segredos que
ela guarda — as coisas que fiz por ela das
quais não me orgulho, todos os crimes que
cometi a pedido dela.
Se eu tivesse a promessa de que ela
me deixaria seguir com todos os segredos,
junto com o conhecimento dos crimes
horríveis que cometi... Se eu tivesse
dinheiro suficiente para nunca ter que fazer
nada disso novamente, dinheiro suficiente
para fugir, desaparecer, construir minha
casa escondida em algum lugar da floresta
em um lugar onde ninguém pode me
encontrar...
Isto seria tudo.
— Você está disposto a matar por
tudo que você sempre quis?
Antes que eu possa pensar em uma
resposta, percebo que minha cabeça está
naturalmente balançando, embora eu sinta
uma pitada de enjôo rolar pelo meu
intestino. Estou disposto e isso não me cai
bem.
Ela sorri e dá um passo para trás antes
de se virar, movendo-se para circundar sua
mesa. Ela se curva, abrindo a gaveta de
baixo e vasculhando o lixo até encontrar o
que está procurando, arrastando-o para
fora. Ela se levanta devagar e tira um pouco
da poeira do que parece ser um porta-
retratos em suas mãos.
— Acho que eu deveria ter isso na
minha mesa para que a polícia não suspeite
que eu sou insensível. Tenho certeza que
você sabe como é minha família pela mídia.
— Não assisto televisão e não estou
nas redes sociais.
Ela me olha chocada. — Bem, o que
diabos você faz com seu tempo livre?
Minha testa se enruga com seu
julgamento apressado. — Eu leio. Que porra
você faz?
Ela encolhe os ombros. — Não te
julguei pelo tipo intelectual.
Foda-se, cadela.
Ela vem até mim, de pé ao meu lado e
virando o quadro para que eu possa vê-lo.
Eu suspiro e volto meu olhar para ele.
Reconheço Beau, é claro, porque o vi na
fábrica com Maura.
Mas então…
Um choque de relâmpago atinge meu
coração quando meus olhos caem sobre
dois adolescentes loiros sorridentes que
parecem muito familiares. Minhas palmas
suam e eu as esfrego contra meu jeans.
— Minha enteada Glory Tolliver e
meu filho Huxley Hill. Ele nunca quis mudar
de nome quando me casei com Beau.
— Isso é... Isso é... Essas são as
pessoas que você quer que eu encontre e
mate?
— Sim.
Eu deveria sentir algum alívio pelo
fato de que, inexplicavelmente, já encontrei
dois deles. Em vez disso, os dois me
encontraram.
Como eles me encontraram?
É como se o universo os enviasse para
mim, os orientasse a rastejar sob minha
bota e pedir para serem esmagados. Mas
vê-los nesta foto lava um estranho tipo de
desconforto em minhas veias e eu me
sinto... desconfortável.
— Temos um acordo, então?
Um nó sobe na minha garganta, e eu
engulo. — Cinquenta mil bônus e cinco por
cento dos ativos liquidados? Liberdade
completa de você e suas besteiras... para
sempre?
— Esses são os termos.
— Quero dez mil adiantados, de boa
fé.
Ela olha para mim, procurando nos
meus olhos a confirmação de que pretendo
completar a tarefa. Não sei o que ela vê lá.
Eu quero o dinheiro. Eu quero a liberdade
que ela está me oferecendo, embora o
desconforto que estou sentindo com isso
perfure todas as outras batidas do meu
coração.
Você ia matá-los de qualquer
maneira... não ia?
Você disse a eles seu nome.
Nunca houve nenhum outro
resultado.
Eu sufoco as palavras: — Considere
feito.
Saio da fábrica quinze minutos depois
com os bolsos cheios de dinheiro que
mantenho em punho até chegar à minha
caminhonete. Entro e bato a porta, tiro o
dinheiro dos bolsos e enfio tudo no porta-
luvas.
Foda-se.
Posso ficar livre de Maura Tolliver e
ter tudo o que sempre quis. Tudo o que
tenho a fazer é encontrar Beau Tolliver e
matar os passarinhos louros que se
afastaram demais do ninho e acabaram na
minha gaiola.
Bird.
Eu pressiono meus olhos para
encontrar imagens de mechas loiras
douradas girando em minha mente – lábios
carnudos e rosados com olhos verdes, olhos
castanhos com um maxilar esculpido e uma
pitada de barba por fazer.
Eu afasto a imagem deles da minha
mente enquanto coloco a marcha da
caminhonete e rolo para frente.
Não consigo pensar neles como
pessoas. Não posso permitir que seus rostos
perfurem minha mente com simpatia. Eu
tenho que fazer isso para que eu possa
finalmente me livrar desse lugar insidioso e
infeccioso.
Eu tenho que matá-los para ser livre.
CAPÍTULO NOVE
GLORY

MINHA ENERGIA ESTÁ esgotada.


Estou fisicamente exausta.
Estou com fome.
Emocionalmente, estou desapegada
para minha própria segurança mental. Se eu
pensar sobre onde estamos e o que pode
acontecer conosco por muito tempo, os fios
finos da minha sanidade ameaçam se
desfazer.
Pelo menos havia água quente para
que pudéssemos nos revezar para nos
aquecer e se limpar no banheiro assustador.
Tomei uma espécie de banho – meio dentro
e meio fora da cabine, já que não conseguia
puxar meu jeans até o fim da minha perna
acorrentada.
Huxley abre a porta do banheiro,
voltando para se juntar a mim na jaula
depois de tomar banho. Ele passa por cima
das minhas pernas estendidas, depois se
abaixa para se sentar ao meu lado, nós dois
de costas para a parede.
Eu inclino minha cabeça em seu
ombro e respiro fundo. O cheiro estranho de
sua camisa encharcada de suor e manchada
de terra misturado com o frescor de sua
pele limpa cria um aroma estranhamente
reconfortante.
Eu levanto minha palma, meus dedos
descansando contra minha coxa, e ofereço
minha mão para ele. Ele desliza a palma da
mão na minha e nossos dedos se curvam ao
mesmo tempo, como todas as outras vezes
que demos as mãos, embora não seja a
mesma coisa. Isso parece distintamente
diferente. Nós cruzamos uma linha de
fronteira quando nos beijamos, e
independentemente de nossas
circunstâncias urgentes que nos
empurraram tão rapidamente através dela,
eu não posso voltar a vê-lo do jeito que eu
fazia antes.
De repente, eu o vejo pelo homem
que ele é e minha pele coça por atrito com
a dele. Meu polegar se move em sua pele,
acariciando-o, acalmando-o, testando a
sensação com ele.
Os resquícios de tensão do nosso
beijo horas atrás se acumulam através do
toque leve, enviando uma onda lenta e
ardente pelo meu braço. O calor se espalha
pelo meu peito e acende pequenas chamas
entre as cinzas espalhadas do meu coração.
Espero o calor de sua proximidade, seu
toque terno, seu cuidado, mas o que não
espero é a forma como o calor cai dentro de
mim, como se as cinzas cintilantes
flutuassem de minhas costelas e
acendessem uma nova chama em minha
barriga, reunindo baixo e profundo.
Deixo escapar um gemido
involuntário quando a memória de seus
lábios nos meus faz meu estômago apertar
de um jeito agradável, de um jeito estranho.
Seu polegar desliza com o meu, esfregando
minha pele, adicionando mais calor com sua
fricção que me rasga novamente para
causar aquele aperto, aquela necessidade.
O que é esse sentimento?
Eu levanto minha cabeça e olho para
ele, descobrindo que seus profundos olhos
castanhos já caíram sobre mim. Seus lábios
estão entreabertos, seus olhos se estreitam,
e a curiosidade passa por sua mandíbula
trêmula.
O que está acontecendo aqui?
O que é este lugar?
O que é esse belo desejo que me
atravessa?
Meus olhos correm para seus lábios, e
acho que ele sabe... acho que ele sabe que
estou pensando em beijá-lo novamente. Ele
se aproxima e outro aperto me pega de
surpresa, me forçando a ofegar com meus
lábios a apenas um centímetro dos dele.
Seus olhos brilham com fome e eu sinto
cada célula do meu corpo ganhar vida com
antecipação.
Então, o ronco de um motor se infiltra
no espaço, interrompendo Huxley desde o
momento em sua hipervigilância. Ele vira a
cabeça para olhar em direção à porta.
Volte para mim, Hux.
Eu balanço minha cabeça.
Algo está errado comigo.
Eu deveria estar tão consciente
quanto ele. Estamos presos aqui, em perigo,
e eu deveria estar focada na desgraça que
estamos enfrentando. Eu puxo minha mão
de seu aperto e esfrego minhas palmas
contra meu jeans.
Com o momento quebrado,
esperamos silenciosamente enquanto o
motor desliga, enquanto a porta da frente
se abre, deixando entrar uma lufada de
vento uivante de inverno. Ela se fecha e
ouço o bater de botas. Depois de um minuto
longo e ansioso, ele aparece na porta...
Ambrose Bishop.
Ele para e fica ali, nos observando
com seus olhos castanhos escuros – olhos
que são muito parecidos com os de Huxley.
Depois do que parece ser um
momento extraordinariamente longo de
quietude, ele fala. — Eu sei quem você é.
Huxley cerra os punhos e a tensão nos
atravessa. Se Ambrose realmente sabe
quem somos, quem eu sou, ele pode me
pedir resgate.
Mas talvez isso seja bom.
Eu só valho algo para ele vivo, então...
certo?
Ele dá um passo à frente e joga algo
pequeno na gaiola. Ela aterrissa no piso de
madeira com um tinido metálico e quando
se acomoda, posso ver que é uma chave
pequena.
— Tire a algema do tornozelo dela e
coloque no seu — ele diz para Huxley.
Huxley fica de joelhos e estende a
mão pelo chão para pegar a chave, então se
vira para mim e coloca a mão no meu
tornozelo acima da algema. Ele desliza a
chave no cadeado, trabalhando para
destravá-lo e remover a algema
completamente. Eu suspiro de alívio por ter
tirado a coisa pesada do meu pé, descendo
para esfregar meu tornozelo com as duas
mãos. Mas Huxley não o coloca no
tornozelo. Em vez disso, ele se levanta e
corre para as barras.
— Eu não vou colocar isso — diz ele,
sua determinação palpável.
Algo muda.
Algo estala
Algo desliza entre as barras, enrola
em torno de Huxley e Ambrose, e assobia.
Não sei o que estou sentindo, mas
posso sentir o gosto, inebriante e denso no
ar ao nosso redor.
Ambrose se afasta, desaparecendo na
parte da frente da casa, mas quando ele
volta um momento depois, o ar inebriante
irrompe em um caos crepitante e faísca. O
cano de uma espingarda aparece enquanto
ele entra na sala, parando com a arma a uma
polegada de distância da gaiola... apontada
diretamente para mim.
— Coloque em seu tornozelo ou eu a
mato agora. Eu só preciso de um de vocês
para falar.
Meus olhos estão arregalados, fixos
em Ambrose sobre o cano de sua arma. Seus
olhos se estreitam e mudam de Huxley para
mim. Ele pisca e sua cabeça balança
levemente, quase como se estivesse
confuso com alguma coisa.
Eu posso sentir sua confusão.
Eu posso sentir a de Huxley também,
quando ele vira a cabeça para olhar para
mim ainda sentado no chão. Eu pego seus
olhos e dou-lhe um pequeno aceno de
cabeça.
— Coloque isso, Hux — eu sussurro.
— Tudo bem.
Eu não deveria estar tremendo,
tremendo de medo?
Huxley se vira para mim e se agacha
na minha frente, colocando as mãos no meu
rosto e enviando aquele calor
desconcertante escorrendo pelas minhas
entranhas.
Ele fala tão baixinho que eu mal
poderia ouvi-lo se não estivesse tão
atentamente observando seus lábios se
moverem. — Se você tiver uma chance, você
corre, você me deixa para trás. — Eu
começo a protestar, mas ele me para com
um beijo rápido que de alguma forma rouba
minha respiração e me deixa sem palavras.
— Falo sério.
Ele lentamente se levanta. Meus
olhos permanecem fixos nele, observando
atentamente sua forma enquanto ele se
move para pegar a corrente, senta-se no
chão e prende a algema em volta do
tornozelo. Ele bate a pequena chave de
metal no chão e a empurra pela madeira,
empurrando-a entre duas das barras da
gaiola.
Ambrose dá um passo à frente e a
ponta de sua bota de combate preta desce
em cima da chave. Ele arrasta o pé para trás,
trazendo a chave com ele, e fora do nosso
alcance. Ele se abaixa, a espingarda ainda na
mão, e pega a chave, colocando-a no bolso
da calça jeans.
Meus olhos seguem o movimento e
ficam presos na curva de seu quadril,
traçando a linha de seu cinto e pousando na
leve protuberância na frente de seu jeans.
Minhas sobrancelhas se erguem enquanto
tento entender isso, enquanto tento
entender o fato de que a visão desperta
alguma doença dentro de mim.
Minha mente vagueia, flutuando para
longe e dissociando-se do que está
acontecendo. Meus olhos estão fixos no
lugar e não consigo pensar com clareza.
Momentos ou minutos depois, volto à
consciência com o toque de metal frio
batendo na lateral do meu braço.
Meus olhos baixam para ver o que me
tocou e se arregalam de horror ao ver que é
o cano de sua arma. Eu nem tinha percebido
a abertura da porta da gaiola. Minha cabeça
balança bruscamente e eu olho para
Ambrose, seus olhos presos no meu rosto.
— Mova-se, Bird — ele ordena, seu
tom áspero, mas forçado. — Fora.
Olho para Huxley, pensativo e
fervendo, lutando tanto contra si mesmo
para diminuir sua vontade de lutar por mim,
de me salvar. Mas mesmo Huxley não pode
me salvar se este homem estiver
determinado a puxar o gatilho. Essa bala vai
me rasgar se ele atirar, e a visão dela invade
minha mente. É uma visão de horror – a
espingarda atirando em mim à queima-
roupa, meus tendões e carne explodindo do
meu corpo, meu sangue lavando sobre
Huxley enquanto pintava o quarto em
sangue.
Deus, não.
Náusea rola pelo meu estômago e me
leva a ficar de pé, tanto para
autopreservação quanto para evitar que
minha visão sangrenta ganhe vida, pois
aquela cena assombraria Huxley para
sempre.
Ambrose dá um passo para trás e eu
dou um passo cuidadoso para frente. Espero
que seja difícil caminhar em direção ao
estranho e sua arma, mas não é. Ele se move
para trás e eu para frente, e nossos olhos
permanecem fixos.
Deus, seus olhos são tão escuros e
profundos, como os de Huxley. Ele poderia
esconder um milhão de segredos atrás
daquelas esferas sombrias, e eu com medo
acho que poderia me perder procurando
por elas. Eu sei que seus segredos devem ser
mais sinistros do que qualquer um que
Huxley poderia esconder. Parte de mim
quer desviar o olhar, com medo de
encontrar a verdade, mas uma parte mais
desesperada de mim quer mergulhar fundo
e descobrir a verdade maligna desse
homem.
Mal?
Eu vejo o mal nele?
Acho que não …
Ambrose corre para fechar a porta e
trancá-la no momento em que coloco o pé
para fora da jaula, prendendo Huxley lá
dentro sozinho. Engulo em seco, me
preparando para o que quer que venha a
seguir, querendo dar a Huxley um olhar
reconfortante, mas com medo de olhar de
volta para ele. Se eu vir medo em seus olhos,
isso pode me fazer desmoronar.
É mais fácil segurar a escuridão de
Ambrose porque cada momento que passo
olhando em seus olhos me leva mais fundo
em um transe, mais longe da realidade. No
entanto, sinto que posso lidar com a
escuridão em seu olhar. É inquietante e me
faz sentir desconfortável, mas não me
atinge com medo absoluto.
Talvez seja isso que o torna perigoso
para mim.
Talvez eu seja ingenuamente sem
medo.
Talvez haja algo profundamente,
sombriamente errado comigo.
Ambrose volta para o corredor e eu
saio atrás dele. Ele aponta sua arma para a
frente da cabine, me guiando para virar
naquela direção, mas eu paro do lado de
fora da porta. — Dessa maneira. Sente sua
bunda nessa cadeira. — Ele indica uma
cadeira de madeira simples que é puxada de
sua mesa de madeira simples ao lado de seu
modesto espaço da cozinha.
A cadeira está virada para a sala de
estar, de frente para o encosto de um sofá
velho que flutua no pequeno espaço do
outro lado de um tapete comprido e estreito
que me lembro de ter tropeçado quando
entrei. Mas há algo mais óbvio do que sofás
e tapetes e cadeiras que me prendem a
atenção... me agarra pelo pescoço e me
aperta sem fôlego.
O medo finalmente me atinge.
Uma corda marrom pende das vigas,
duas pontas parando logo acima da cadeira
onde ele quer que eu me sente. Eu me viro
para encará-lo enquanto o pânico toma
conta de mim.
O que ele planeja fazer com isso?
Me enforcar com isso?
— Não — eu digo a ele. — Não por
favor.
— Glory? — A voz de Huxley vem de
trás de mim, e olho por cima do ombro para
ver seu rosto marcado em preocupação
enquanto ele envolve as mãos ao redor das
barras da jaula.
Ambrose se move em minha direção
tão rapidamente que não consigo recuar
rápido o suficiente para evitar o toque da
arma no centro do meu peito. — Mova. Ele
me força a virar e andar para trás pelo
corredor.
Ele me leva para trás até que eu sinto
a cadeira bater na parte de trás dos meus
joelhos e meu corpo cai para sentar. As
pontas penduradas da corda atingiram a
parte de trás da minha cabeça e correram
pelo meu cabelo antes de aterrissar na
frente do meu rosto. Eles balançam
ameaçadoramente do movimento antes de
se estabelecerem.
Eu não consigo respirar.
Eu não posso falar.
Meus dedos se curvam ao redor do
assento da cadeira ao meu lado, agarrando
a madeira com tanta força que imagino que
meus dedos estão brancos.
Ambrose abaixa a arma, deixando-a
encostada em um armário de madeira a
menos de três metros de distância de mim.
Eu olho para ele, penso em correr para
pegá-la e aponta-la para ele, mas em um
flash, ele está na minha frente, tão perto
que seria impossível.
Tão perto.
Eu posso sentir o cheiro dele.
Ele cheira a fumaça de cigarro e o
aroma doce e terroso dos bordos. É uma
leve lembrança do cheiro dos doces de
bordo da nossa família, do chão da fábrica
da Tolliver's Treats. É um cheiro
estranhamente reconfortante porque
lembra minha mãe.
Eu só ia visitar a fábrica com ela —
antes de ela morrer, antes de meu pai se
casar novamente, antes de Huxley entrar na
minha vida. Eu não consegui visitá-la
novamente depois que ela morreu porque
parecia errado. Era triste sem ela, embora as
lembranças de visitá-la fossem tão alegres.
Andávamos de mãos dadas, agradecendo
aos trabalhadores no chão por fazer um
bom trabalho, provando guloseimas, rindo e
sendo felizes.
Eu realmente não conheço a alegria
desde que ela morreu.
Lágrimas com o lembrete, uma
tristeza repentina vindo sobre mim, tão
avassaladora que lava meu medo
completamente. Minha cabeça cai para
frente e começo a chorar, soluçando
levemente no meu lugar. Meu aperto na
cadeira afrouxa naturalmente quando ele se
inclina sobre mim, agarrando meus dois
pulsos e levantando-os acima da minha
cabeça.
Eu não luto com ele. Sinto a
resignação do desapego emocional deslizar
pela minha mente, ameaçando me proteger
com minha submissão final. O fluxo de
minhas lágrimas para, e eu me submeto a
ele para proteger minha sanidade. Eu até
mantenho meus braços para cima enquanto
ele envolve a corda grossa em volta das
minhas mãos, amarrando meus pulsos.
Meus olhos ficam desfocados, se
afastando da realidade. Tudo o que posso
ver através do brilho das lágrimas restantes
é a suavidade preta de seu moletom, a
apenas alguns centímetros do meu rosto.
Ele termina de prender meus pulsos juntos
e, em seguida, chega bem acima de mim.
Seu moletom se afasta de seu jeans,
expondo a pele de porcelana esticada sobre
os músculos abdominais esculpidos.
Então ele puxa e minhas mãos se
erguem acima de mim, meus ombros se
esticando dolorosamente enquanto sou
puxada para cima do meu assento. Solto um
grito de surpresa e ouço Huxley chamar meu
nome.
Eu pisco e quando abro meus olhos,
eles encontram seus olhos escuros.
Ambrose.
Ele suga uma respiração enquanto
olha para mim, nossos quatro braços
esticados acima de nós, seu trabalho para
fazer algo acima de nossas cabeças
enquanto eu respiro e olho. Então ele se
move, circulando atrás de mim, o som de
suas botas pesadas pousando na cadeira de
madeira. Eu posso senti-lo se mover para
subir no assento e se erguer sobre mim por
trás.
Inspiro lentamente e, ao expirar, meu
peito afunda pesadamente - sinto como se
minhas costelas esmagassem a intensidade
do medo e da tristeza, desintegrando-se em
pedaços que caem como pedras pesadas em
minha barriga - e meu estômago aperta.
Novamente... o que é essa dor
agradável?
Por que senti isso com Huxley?
Por que eu sinto isso com Ambrose?
É como uma necessidade, mas é
desesperada e avassaladora.
Eu gemo quando ele dá um puxão
final nas cordas, efetivamente me
amarrando tão forte e alto que meus pés
mal roçam a madeira embaixo, sem
realmente tocar, não realmente flutuando.
A madeira guincha quando ele
empurra a cadeira para longe e eu sinto a
pulsação dele enquanto me circula, como
ondas de sonar que me alertam para sua
presença enquanto passa por cada
centímetro da minha pele.
Ele para na minha frente e se
aproxima, elevando-se acima de mim com
sua altura e músculos magros contra meu
corpo pequeno e frágil. Se ele quer me
machucar, ele pode... ele não terá nenhum
problema em fazê-lo.
Minha respiração acelera e eu
pressiono meus lábios fechados, engolindo
a sensação estranha que ele me dá e deixo
cair dentro de mim.
Sua voz é áspera, mas profundamente
pecaminosa. — Glory Tolliver. Há apenas
uma coisa que preciso saber antes de matar
você e seu meio-irmão.
Minha mandíbula aperta.
Ele realmente sabe quem somos.
Uma respiração passa, depois outra, e
finalmente ele pergunta: — Onde está seu
pai?
CAPÍTULO DEZ
GLORY

— ONDE ESTÁ SEU PAI? — Ambrose


pergunta novamente.
Eu balanço minha cabeça.
— Você não sabe? Ou você não vai
me dizer?
Eu engulo, sabendo que não posso
responder a essa pergunta.
— Isso pode ser fácil ou difícil, Glory.
Vai me dizer onde está seu pai?
Quase tenho vontade de gritar, de
dizer a ele que meu pai está morto porque
eu o matei e Huxley o enterrou na floresta.
Mas não digo uma palavra.
Ambrose se aproxima, seu corpo
pressionando contra o meu. A corda balança
enquanto eu luto para manter o equilíbrio,
meus pés escorregando pelo chão de
madeira enquanto meus ombros torcem e
meu corpo gira.
Sua mão se move rapidamente entre
meu ombro e minha orelha, serpenteando
para agarrar minha nuca. Com um puxão
firme, ele arrasta meu corpo e me segura
contra ele.
Eu suspiro com a sensação de seus
músculos duros contra minhas curvas, meus
seios modestos achatados pela maneira
como ele empurra contra mim.
Ele abre a boca para falar, mas então
seus lábios se fecham novamente. Lábios
macios… tão perfeitamente formados, com
curvas bem definidas e carnudos em todos
os pontos certos. Eles são tão diferentes dos
de Huxley – os dele são mais largos e mais
finos.
As duas bocas são lindas.
Fechei os olhos, tentando me
concentrar contra a distração dos lábios e os
pensamentos de beijá-los.
Como eu poderia pensar em beijar os
lábios na minha frente?
Eu puxo meus braços com insistência,
tentando provar a mim mesma que eu
quero lutar, que eu os quero livres, que eu
quero correr longe e rápido. Eu deveria
querer todas essas coisas. O homem na
minha frente é perigoso e doente - ele nos
sequestrou quando estávamos apenas
procurando ajuda e nos manteve em uma
gaiola em sua casa. Uma gaiola que ele deve
ter construído em algum momento. Ele está
torcido com a intenção e não há como dizer
o que ele vai fazer comigo, o que ele vai
fazer com Huxley.
Gritar.
Chutar.
Lutar.
Meu corpo permanece imóvel.
— Onde está seu pai, Bird? Esta é a
última vez que estou perguntando.
— Por que você quer saber?
Ele inclina a cabeça e um sorriso
condescendente curva o canto de seus
lábios. — Ela fala.
Eu limpo minha garganta e tento
parecer mais confiante, mais intencional. —
Por que você quer saber sobre meu pai?
— Essa não é uma informação que
você precisa saber.
— Eu não estou dizendo a você onde
ele está.
Ele balança a cabeça um pouco e me
libera, dando um passo para trás, afastando-
se tão rapidamente que me faz balançar.
Meus pés correm pelo chão, buscando
apoio para me impedir de girar em meus
pulsos. Eu levanto minha cabeça para olhar
acima de mim, para ver como minha pele
fica rosada sob a corda áspera enquanto ela
se arrasta sobre minha pele, meu peso
puxando duramente para baixo.
O clique e a faísca de um isqueiro
chamam minha atenção, e eu nivelo meu
queixo para vê-lo levar um cigarro aos
lábios, inclinando-se para frente com a
cabeça inclinada sobre a pequena chama
para acendê-la. Fumaça branca sai da ponta
enquanto ele tampa o isqueiro e o enfia de
volta no bolso. Seus olhos permanecem
fixos nos meus enquanto ele dá uma longa
tragada antes de soprar devagar,
uniformemente.
Eu não sinto falta do jeito que ele olha
para mim, pendurado como um pedaço de
carne para ele fazer o que quiser. Sinto-me
enjoada ao pensar nisso, mas com a náusea
ainda há aquele aperto peculiarmente
agradável no fundo do meu núcleo. O puxão
disso dispara uma necessidade dolorosa
através de mim a cada vez, uma onda de
desejo rastejando por minhas veias e
escurecendo meu sangue com luxúria.
É luxúria.
Eu fui tocada, lambida e fodida
provavelmente centenas de vezes na minha
curta vida – tanto consensualmente quanto
não. Mesmo consensualmente com os
meninos da escola, nunca me importei
muito com isso. Escolher ser sexual com
garotos que meu pai não aprovava era um
ato de rebelião contra tudo que ele tinha
feito comigo – eu nunca desejei isso. Eu
nunca senti o mesmo momento explosivo
que eles tiveram quando grunhiram,
ficaram rígidos e gozaram dentro de mim.
Eu nunca senti prazer.
Achei que não era possível para mim.
Eu nunca precisei dessa forma antes,
nunca quis, nunca senti nada fisicamente...
bom. E não parei de sentir isso desde que
beijei Huxley.
É por causa de Huxley, não é?
Esse desejo?
Tem que ser por causa do nosso
vínculo, como me sinto tão segura e
protegida em seus braços.
Então por que eu ainda sinto isso com
esse estranho misterioso e retorcido
enquanto seus olhos percorrem meu corpo?
Ambrose se aproxima, segurando o
cigarro entre dois dedos. — Você fuma,
Bird?
— Não. — Eu engulo, esperando
empurrar para baixo o tom áspero de desejo
que parece estar arranhando minha
garganta. — É ruim para você... isso vai te
matar.
Ele encolhe os ombros, tão
descuidadamente frio que meus olhos
vibram com a visão. — Eu também. Mas
ainda preciso saber onde seu pai está. E já
que você decidiu que deveríamos fazer isso
da maneira mais difícil... — Ele chega ao
meu redor e agarra meu cabelo, prendendo-
o na base do meu crânio e inclinando minha
cabeça para trás com um puxão forte. Eu
grito quando ele se aproxima novamente,
nossos corpos se encostando enquanto ele
me encara, seus olhos se estreitando na
carne macia da minha garganta exposta.
Respiro profundamente pelo nariz,
sentindo minhas narinas dilatarem com a
minha respiração acelerada. Ele move o
cigarro em sua mão, beliscando a ponta
dele, então ele o abaixa lentamente. A
ponta de faísca atinge minha pele no ponto
sensível logo abaixo da parte de trás da
minha mandíbula, perto da minha orelha. Eu
chio enquanto ele pressiona, então solto um
ganido quando ele a levanta, mas
imediatamente pressiona novamente. Ele
queima, um calor abrasador saindo do local,
parecendo carne rasgada. Ele faz isso de
novo e de novo, queimando uma linha na
minha mandíbula.
Minha pele queima, chiando com
cada pressão, mas depois de alguns
momentos, estou anestesiada pela dor,
porque é a segunda sensação dele contra
mim, a sensação de seu corpo duro e
masculino me segurando no lugar e me
forçando a tomar sua tortura.
Isso deveria me machucar muito mais
do que machuca.
Deveria me assustar, mas não.
Já fui torturada o suficiente na minha
vida para me acostumar com isso.
Mas isso... isso é diferente.
Eu ouço sua respiração pesada, sinto
seu coração batendo forte, vejo sua
mandíbula apertada com a tensão. É
diferente porque ele não apenas me
queima, ele segue o rastro sibilante de carne
queimada com os lábios, acariciando minha
pele, salpicando suavemente uma linha de
beijos sobre a linha de queimaduras de
cigarro sob minha mandíbula.
Sua mão cai do meu cabelo para as
minhas costas, dedos esparramados entre
minhas omoplatas e me puxando para mais
perto.
O que ele está fazendo?
O que EU estou fazendo?
Por que estou sentindo essa doença?
— Este lugar, está porra de floresta…
— ele sussurra perto do meu ouvido — isso
me atormenta. — Seus lábios percorrem o
lado do meu pescoço. — Isso me faz querer
você. Eu não te conheço, e isso me faz
querer você.
Seus quadris se movem e eu sinto sua
ereção contra meu estômago, dura e
crescendo espessa sob a barreira de seu
jeans.
Uma visão vem à mente - minha mão
envolvendo sua espessura e puxando-o para
o prazer. Nubla minha visão, puxando
aquele fio de tensão agradável para minha
barriga mais uma vez. Eu separo meus lábios
para deixar escapar uma respiração
crescente e sai com um gemido
estrangulado que surpreende a nós dois.
Eu nunca fiz um som assim antes.
Isso arranca algo urgente de mim,
algo quente e desesperado, algo que tira
minha mente do perigo da minha situação,
o medo desse estranho, e queima tudo em
cinzas.
A suavidade se acumula entre minhas
pernas e eu suspiro com a sensação disso.
Estou sobrecarregada, tonta pela forma
como minha respiração acelera, doendo
pelo puxão de meus braços acima da minha
cabeça, adrenalina inundando minhas veias
por estar à sua mercê.
O que está acontecendo comigo?
— Pare... — Eu respiro a palavra sem
entusiasmo enquanto ele joga o cigarro no
chão de madeira e o esmaga com um giro
acentuado de sua bota.
Ele poderia ter se afastado, apagado
corretamente em um cinzeiro, mas a
maneira como suas mãos se aproximam
para agarrar minha cintura com dedos
apertados e sua língua lambe uma linha na
minha clavícula fala com a energia frenética,
confusa e desorientadora entre nós.
— O que você está fazendo? — Eu
pergunto, meus olhos se fechando com a
sensação que ele cria.
— Eu não sei — ele murmura na
minha pele.
— Am-Ambrose... — Eu gaguejo seu
nome.
Ele levanta a cabeça e olha para mim,
ofegante com os lábios perfeitos e
entreabertos. Seus olhos escuros estão
encapuzados. Seu cabelo preto
despenteado e a barba por fazer preta o
fazem parecer quase selvagem – como se
ele fosse algo mais do que humano – e de
alguma forma, isso me faz sentir mais
segura.
Eu devo estar quebrada.
Como eu poderia me sentir mais
segura amarrada em uma cabana isolada
com uma criatura selvagem do que em
minha própria casa?
São os olhos dele, eu acho. Há uma
suavidade neles, mesmo que ele tente
esconder isso nas sombras. Eu posso me ver
refletido lá - uma alma gêmea que foi
maltratada e quebrada por aqueles em
quem deveríamos confiar.
— Quem machucou você? — Eu
sussurro.
Ele pisca e joga a cabeça para trás.
Eu posso sentir seu espírito quebrado
puxando para trás, tentando afastá-lo,
querendo fugir. Embora eu esteja
acostumada com os outros se afastando de
mim, me deixando na minha hora mais
sombria, não se importando de verdade
comigo como outra coisa senão a herdeira
da fortuna Tolliver, de alguma forma, não
suporto pensar nesse estranho se
desconectando.
— Por favor — eu digo, embora eu
não saiba o que estou implorando.
O silêncio cai entre nós e lentamente,
gradualmente, sinto seu espírito voltar. Eu
sinto isso se instalando dentro de seus
ossos. Eu o sinto empurrar contra o meu e
seu corpo está lá também. Ele se molda a
mim, as mãos espalhadas pelas minhas
costas, me arqueando contra ele.
Seus lábios esmagam os meus, e isso
desencadeia uma explosão dentro de mim.
Esse prazer de apertar o estômago torce e
enrola, levando bons sentimentos para
dentro do meu núcleo. Sua língua passa
pelos meus lábios e isso me surpreende,
mas o que me surpreende mais é que eu não
recuo. Em vez disso, eu gosto dele.
Deus, eu odeio o sabor de tabaco
defumado de seu cigarro. Eu odeio tanto
quanto odeio que ele seja meu captor,
alguém que quer me machucar. No entanto,
por trás desse horror está a doçura, como
xarope de bordo em panquecas em uma
preguiçosa manhã de domingo.
Ambrose é como uma fruta podre –
ainda doce ao gosto, embora sua doença me
infecte.
A infecção é tão boa.
Suas mãos estão em mim, movendo-
se grosseiramente sobre meu corpo,
tateando, agarrando e tocando. Seus dedos
puxam o botão do meu jeans, puxando o
zíper para baixo. Meus quadris se afastam
por instinto para evitar o toque indesejado
lá, mas eu os balanço para frente
novamente no momento em que percebo
que quero seu toque.
Há uma pulsação dolorosa entre
minhas pernas, minha boceta pulsando
como mais umidade do que eu já tive antes
em poças e gotas. Seu corpo se move ao
longo do meu, movendo-se ao meu lado,
sua ereção pressionando meu lado, logo
acima do meu quadril enquanto ele quebra
nosso beijo. Ele enfia a mão dentro da
minha calcinha, e eu grito, meu corpo
balançando enquanto me esfrego contra o
toque inesperado.
— O que você está...
Seus dedos se curvam, mergulhando
baixo, acariciando minhas dobras
escorregadias. — O que é isto? — ele
murmura, seus lábios contra a concha do
meu ouvido. — Por que você está molhada
para mim?
Para ele?
Estou molhada para ele?
— Eu... — Eu expiro enquanto sua
língua desliza para fora e lambe sob minha
mandíbula.
Não tenho palavras.
Sua mão desliza para baixo, a palma
de sua palma roçando meu clitóris, me
fazendo gemer enquanto seus dedos se
curvam e pressionam lentamente dentro de
mim.
Eu balanço na ligação, meus quadris
balançando em sua mão, meu corpo me
levando a buscar esse prazer desconhecido
que ele me concede. Sua outra mão
serpenteia em volta da minha cintura, dedos
agarrando meu quadril quase
dolorosamente para me segurar no lugar,
para manter meu quadril pressionado em
seu pau. A maneira como ele ofega contra
minha bochecha é inquietante de uma
maneira absolutamente deliciosa.
Seu desejo por mim está crescendo,
engrossando seu pau, que ele esfrega
contra meu quadril enquanto seus dedos
grandes acariciam dentro de mim.
Magia negra.
Sua luxúria é uma poção que ele me
alimentou em sua língua.
Seus dedos desenham runas dentro
de mim, invocando um demônio de puro e
doloroso prazer.
Suas respirações aquecidas contra
minha pele sussurram um encantamento
para fortalecer seu feitiço em mim.
Sombrio, magia negra.
Ele sussurra dentro de mim, rasteja
sob minha pele, cresce em força e volume
até que eu estou cheia dele – tão cheia que
ameaça explodir de mim.
Minha cabeça rola contra meus
braços, meu peso pesa sobre meus ombros
enquanto meu corpo cai e treme em seu
aperto. A magia gira na minha barriga,
brilhando como diamantes negros que se
acumulam e ficam pesados.
— Goze para mim — ele sussurra. —
Porra, Goze.
Suas palavras cortam como uma faca
cerimonial, cortando minhas entranhas e
derramando aquela magia negra para baixo,
para baixo, para baixo. Os diamantes negros
explodem, quebrando sua magia cintilante
em partículas brilhantes que disparam
através da minha boceta e fazem meu corpo
convulsionar em puro e perfeito prazer.
Eu ouço meu grito enquanto ele rasga
através de mim, mas minha voz soa tão
distante. A perfeição pulsante e formigante
continua... a maneira como seus dedos
trabalham dentro de mim o puxa para fora,
pressionando com força contra um ponto
que parece um botão mágico.
Meu corpo treme e eu fico mole
quando a tensão me aperta e me solta,
como se o demônio do prazer que ele
convocou tivesse sido expulso do meu corpo
e liberado no mundo.
Eu quero de volta.
Eu quero sentir isso de novo.
Meus olhos travam nos dele quando a
mão que me acariciou me deixa, subindo
para tocar meu queixo e virar meu rosto em
direção ao dele. Meu cheiro em seus dedos
enche minhas narinas e derrama vergonha
instantânea na minha garganta.
— Não — eu sussurro, muito pouco,
muito tarde.
Sua mão deixa meu queixo, e ele traz
seus dedos escorregadios sob o nariz. Eu o
observo com olhos encapuzados e saciados
enquanto ele inala meu perfume,
suavemente escovando minha umidade
sobre seus lábios perfeitos.
— Eu quero provar você. Eu quero
lamber sua boceta pingando até que você
esteja me implorando para fazer você gozar
assim de novo.
Eu gemo, o mero pensamento disso
apertando meu núcleo, embora a vergonha
da minha vulnerabilidade espalhe as cinzas
do meu coração.
— O-o que você quer de nós?
Ele pisca, então novamente. Ele
balança a cabeça e é como se o feitiço
estivesse quebrado.
Não... eu quero permanecer
enfeitiçado nesta maldição distorcida.
Ele dá um passo para trás, afastando-
se de mim, mas eu quero seu calor contra o
meu corpo novamente. Eu pisco, a realidade
dele e o que ele está fazendo para nós
voltando ao foco. E então ouço Huxley
gritando por mim, sua voz perturbada,
dolorida e desesperada.
Ele podia nos ouvir.
Ele podia ouvir o que estava
acontecendo comigo.
Ele não sabe o quão bom foi e o
quanto eu quero sentir isso de novo. Eu
nunca senti nada assim antes. Eu nunca
conheci o prazer antes. Eu nunca gozei.
Deus, dei meu primeiro orgasmo ao meu
sequestrador, meu captor, amarrada às
vigas e forçada sem que ele pedisse meu
consentimento.
Mas realmente, eu consenti. Eu
queria isso. Eu só nunca disse as palavras em
voz alta.
Como se isso importasse. Ele não
perguntou, e eu não disse.
Ambrose sabia o quanto eu queria
isso?
Está errado, tão errado.
Eu deveria ter dado a Huxley – ele
merece meu prazer mais do que ninguém –
mas Ambrose aceitou.
Não. Ambrose ganhou.
Ele causou isso.
Ele fez acontecer.
E eu quero mais.
CAPÍTULO ONZE
HUXLEY

EU A OUVI gemer.
Eu a ouvi gemer.
Eu a ouvi chorar e gritar.
Eu não sei o que ele fez para
machucá-la. Não sei por que ele está
exigindo saber onde está o pai dela. Tudo o
que sei é a pontada no peito porque estou
indefeso aqui dentro desta jaula.
Meus dedos estão brancos enquanto
meus punhos se curvam em torno das
barras de metal. Eu balanço e puxo eles,
esperando que haja uma fraqueza em sua
fusão que possa milagrosamente ceder e me
deixar escapar.
Glory precisa de mim, e estou preso.
Eu não posso ajudá-la aqui.
Eu ouço suas botas pesadas pisando
no chão e minha mandíbula aperta. Tudo
aperta, meus músculos esticando
dolorosamente. Eu quero rasgá-lo com
minhas próprias mãos por colocar um dedo
nela.
Ele aparece na porta, seu peito
subindo e descendo bruscamente com
respirações pesadas, punhos cerrados ao
lado do corpo. Ele parece quase maníaco,
seu cabelo preto grosso despenteado e suas
roupas amarrotadas.
Eu cerro os dentes. — O que você fez
com ela?
— Nada que ela não quisesse — diz
ele, fumegando como se estivesse com raiva
de mim. — Diga-me onde está Beau Tolliver.
Soltei uma risada áspera. — Eu não
estou te dizendo merda nenhuma.
— Você quer que eu a machuque de
novo?
Aperto as barras e eu puxo, incapaz
de controlar minha raiva crescente. — Não
a toque, porra, de novo! O que você fez com
ela?
— Onde está Beau Tolliver?
Solto e levanto o dedo médio de
ambas as mãos, estendendo-as pelos
espaços entre as barras. — Eu tenho esses
dois fodidos para dar sobre quais
informações você quer de nós, e eu vou
enfiá-los na sua bunda.
Ele avança, estendendo a mão e
agarrando um dos meus pulsos antes que eu
possa puxá-lo de volta. Ele aperta enquanto
sua outra mão sobe, agarra meu dedo
médio e começa a puxar para trás. Eu grito
quando ele o dobra longe demais, enquanto
a dor rola, atravessando meu braço.
— Essa é uma boa maneira de
quebrar o dedo — diz ele com um resmungo
baixo.
Seu som vibra através de mim,
ondulando pelo meu peito, chocando meu
coração a uma parada mortal. Eu o encaro,
dando-lhe toda a intensidade da minha raiva
pelo fato de que ele ousou colocar as mãos
na minha Glory.
É raiva refletindo nos olhos escuros
que nós dois compartilhamos.
Raiva refletindo raiva.
Dor refletindo dor.
Porra.
A dor em seus olhos ameaça me
amolecer, puxando a corda salvadora presa
ao centro do meu coração. Isso me
enfraquece, me atrasa, me acalma.
Gradualmente, ele afrouxa seu aperto no
meu dedo, embora seu aperto no meu pulso
permaneça firme.
Então, ele puxa, puxando meu braço
todo, enfiando meu ombro no espaço entre
as barras. Eu estremeço quando ele torce
meu braço, virando meu ombro, e grito
quando sua mão desce no meu cotovelo.
— Eu poderia quebrar seu braço.
Levar você para o chão, pise no cotovelo,
parta-o em dois. É isso que você quer de
mim? Você quer ver a doença dentro de
mim?
Ele puxa de novo e meu corpo bate
contra as barras de metal, meu ombro é
arrastado pela abertura. — Solte! — Eu
exijo.
Ele não responde, embora eu possa
ouvi-lo respirar, irregular e pesado. Eu só
posso realmente vê-lo com o canto do meu
olho. Eu me preparo quando o sinto
empurrar para frente do meu cotovelo,
aumentando a pressão, me fazendo pensar
que ele vai seguir em frente e quebrar meu
maldito braço.
Ele pode quebrá-lo, porra.
Eu não estou dizendo merda
nenhuma a ele.
Eu fico tenso, meus olhos se fechando
enquanto me preparo para o estalo... mas
então seus dedos circundam meu bíceps e
apertam, me segurando firmemente no
lugar enquanto seu corpo se move,
enquanto ele se aproxima.
Eu posso sentir seu calor quando ele
vem até as barras, apertado contra o meu
lado, e minha respiração fica presa em meus
pulmões. Ele coloca a mão livre na gaiola e
agarra minha bochecha, seus dedos
escorregadios enquanto deslizam pela
minha mandíbula e seu polegar aperta meu
queixo para me agarrar.
Porra.
Eu inalo e meus joelhos ficam fracos.
Conheço o cheiro de sexo tão bem quanto
conheço o cheiro de Glory, e há uma mistura
inebriante de ambos em sua mão. Eu engulo
em seco quando meu desejo por ela
aumenta. Mas mais do que isso, eu posso
sentir o cheiro dele também. O cheiro dele
misturado com o dela é avassalador...
inebriante.
— Você sente a umidade dela na
minha mão? — ele pergunta baixinho. —
Você sente o cheiro dela? — No começo,
acho que ele está tentando me provocar,
me chatear porque ele a tocou. Mas há uma
sutil oscilação em seu tom, um lampejo de
desejo que sugere sinceridade. — Eu a
amarrei, amarrei seus pulsos e a fodi com
meus dedos até que ela gozou na minha
mão.
Droga.
Minhas bolas apertam e meu pau
engrossa sob meu jeans.
O que diabos há de errado comigo?
Seu polegar roça meu lábio, puxando-
o para baixo. — Como isso faz você se sentir,
Huxley Hill?
Eu deveria morder sua mão, apertar
seu polegar e cortá-lo até o osso com meus
dentes. Eu deveria agarrar seu pulso com
minha mão livre e puxar seu braço pelas
barras, quebrar seu braço como ele
ameaçou quebrar o meu.
Eu deveria.
Mas eu não faço.
Minha língua formiga com uma dor
para correr em seu polegar, para lamber
seus dedos até limpá-los. O desejo escuro
torce nós dentro de mim que imploram para
serem desvendados. Porra, eu não queria
um homem assim... não desde Noah, e
nossa breve aventura terminou há mais de
um ano.
É como se ele pudesse ler minha
mente quando ele arrasta a mão para trás,
deixando seus dedos escorregadios
passarem pela minha bochecha. Seu polegar
puxa mais forte no meu lábio e eu os separo,
deixando-o empurrar os dedos dentro da
minha boca. Porra, eu gemo com o gosto
disso... o gosto de Glory e Ambrose na
minha língua.
— Foda-se — ele geme enquanto eu
chupo seus dedos.
Estou perdido.
Estou tão perdido.
Não sei o que está acontecendo
comigo. Como posso desejá-lo? Como posso
desejar saber que ela está lá fora,
choramingando e sozinha, amarrada como
ele disse?
Morda seus malditos dedos.
Meus dentes descem, mas eles não
apertam, eles brincam de raspar em seus
dedos, sabendo como a queimadura e a dor
deles se arrastando sobre sua pele devem
provocá-lo a querer.
Eu quero que ele me queira.
Eu quero que ela me queira.
Porra, eu quero os dois.
Seus dedos se soltam quando ele
puxa a mão para trás. O calor de seu corpo
me deixa frio quando ele solta meu bíceps e
dá um passo para trás, me liberando.
Seus olhos estão arregalados quando
ele levanta as mãos para seus cachos pretos
ondulados e penteia os dedos. Eu deveria
estar satisfeito com a maneira como ele
balança a cabeça tão sutilmente, feliz em vê-
lo confuso e claramente perdendo seu jogo
distorcido. Não estou satisfeito com isso...
sofro por isso.
Eu sofro pela frustração em seu rosto.
Eu sempre sofro com a dor dos
outros.
Quero que nosso sofrimento acabe...
todo o nosso sofrimento.
Não sei que porra é essa, mas essa
energia pulsante e mutante entre nós é
tóxica, venenosa e está me comendo vivo de
dentro para fora.
Ele está doente e desejá-lo parece
uma infecção – latejante e dolorida, se
espalhando como fogo.
Num piscar de olhos, ele se foi.
Ele desaparece da sala, e ouço a porta
da frente abrir e depois fechar. Deixo
escapar um longo suspiro e, depois de
alguns momentos de silêncio, chamo Glory:
— Você está bem? Você está sozinha?
— Ele saiu... mas eu posso vê-lo lá
fora.
— Você pode ver o que ele está
fazendo?
— Cortando lenha — ela responde, e
sua voz soa estranha.
— Você pode se libertar?
— Não sei. As cordas estão
apertadas.
— Experimenta. Você tem que
tentar.
— Estou tentando.
Eu ouço seus grunhidos e gemidos
enquanto ela trabalha. Dou um passo para
longe e encosto as costas na parede, caindo
contra ela. Eu não posso ouvi-la fazer esses
sons. Estou perdendo a cabeça.
Seus sons de esforço são pontuados
pelo baque, baque, baque de madeira sendo
cortada do lado de fora, e é impossível para
mim não pensar em Ambrose balançando
um machado com poder e graça.
— Você pode vê-lo, Glory? — As
palavras estranguladas saem da minha boca
antes mesmo de eu pensar nelas.
Há quietude e silêncio por um
momento. Então, ela diz: — Sim — e a
palavra se prolonga em uma longa
expiração.
Eu esfrego minha mão no meu peito
antes de meus dedos se fecharem em um
punho que agarra minha camiseta. Isso não
deveria estar acontecendo. Nada disso
deveria estar acontecendo, mas menos
ainda, meu pau não deveria estar duro.
É difícil para ela... é difícil para ele.
Isso me deixa doente?
Eu engulo a doença. — Glory?
— Sim?
— Você está bem?
— Eu... eu não sei como responder a
isso.
— Sim. Eu também.
— Por que você acha que ele quer
saber onde meu pai está? Ele perguntou a
você?
— Eu realmente não sei. Mas não
diga uma palavra a ele, ok? Se ele obtiver as
informações que deseja, não precisará mais
de nós e estaremos praticamente mortos.
Ele não vai precisar mais de nós.
Há alguma decepção nesse
pensamento.
— Ele está voltando — diz ela, sua
voz desaparecendo em um sussurro.
Eu me afasto da parede, movendo-me
para as barras novamente. — Apenas fique
calma. Se você pode fugir, você corre, ok?
Não volte para mim.
— Eu sempre voltarei para você, Hux.
Você voltaria para mim.
Abro a boca para falar, mas sou
silenciada pelo som da porta abrindo e
fechando, pelo bater de suas botas na
entrada e pelo trote na madeira. Eu prendo
minha respiração e esforço meus ouvidos,
esperando que de alguma forma, Glory se
liberte.
CAPÍTULO DOZE
AMBROSE

EU PRECISAVA ME distanciar da
luxúria viral que se espalhava por aquela
casa. Deixei Glory amarrada ao lado da mesa
da cozinha e saí. Peguei meu machado, e
agora estou descontando meu desejo
agressivo em pedaços de madeira. Tronco
após tronco, coloco-os em cima do toco de
árvore no centro da clareira do lado de fora
da minha porta da frente.
Embora o golpe do meu machado
normalmente queime minha hostilidade
furiosa, não consegue reprimir a brutalidade
dentro de mim agora. Exceto que essa
brutalidade não é hostil... está manchada de
luxúria.
Soltei um rugido primitivo de
frustração, dor e confusão com o golpe final
do meu machado. A lâmina corta o ar com
fúria e se encaixa no tronco com um baque
ecoando. A força do meu golpe é forte o
suficiente para dividi-lo ao meio. Os pedaços
estilhaçados caem, metade do tronco
caindo do toco na neve.
Meu peito arfa quando me curvo para
recuperá-lo e, quando me levanto, o
movimento de dentro da casa chama minha
atenção. Eu posso ver Glory através da
janela, se contorcendo em suas amarras, e
ela se contorce dentro de mim também.
O machado de repente parece muito
pesado em minhas mãos, e ele escorrega
entre meus dedos, caindo na neve com um
baque ao cair. Sem pensamento consciente,
meus pés me levam de volta para dentro,
me movem pelo chão e me fazem parar na
frente de Glory.
Ela está deslumbrante desse jeito,
pendurada com as mãos amarradas acima
da cabeça. Seu cabelo loiro tingido mostra
sua cor marrom escura natural nas raízes,
emaranhada e bagunçada, e seus
impressionantes olhos verdes me encaram
descontroladamente. Meu pau se contrai ao
vê-la, mas já estava engrossando para
Huxley.
Eu preciso matá-los.
Preciso descobrir onde está o pai
deles e matá-los todos.
Mas quando olho para ela, não
consigo entender o pensamento. Tudo o
que posso pensar é no jeito que sua boceta
se sentiu com meus dedos presos dentro
dela, o jeito que ela gozou tão forte,
estremecendo e se contorcendo quando a
agarrou. E a maneira como Huxley a provou
em meus dedos...
Porra, eu os quero.
Eu os quero mais do que eu já quis
qualquer coisa ou alguém. Não há lógica
nisso, e é perigoso porque eu tenho que me
concentrar. Meu trabalho é matá-los, pegar
o dinheiro de Maura, e então poderei me
livrar deste lugar e de sua influência
infecciosa.
Mas…
Se vou me voltar para a escuridão e
matar criaturas aparentemente inocentes
como esses dois, então devo apreciá-los
enquanto ainda os tenho. Ainda não sei
onde está Beau Tolliver e preciso extrair
essa informação deles.
Não há razão para que eu não possa
me divertir enquanto faço isso.
Nenhuma razão... exceto pela vozinha
no fundo da minha mente.
Eu tenho que lutar para ignorá-lo,
porque me diz para me afastar dela, parar
de olhar para seu peito arfante, parar de
pensar em seus lábios grossos em volta do
meu pau.
Eu estendo a mão e torço meu dedo
em torno de uma mecha de seu cabelo,
girando-a, observando a forma como a loira
falsa gira contra meus dedos. É macio,
embora seja sujo.
É assim que ela é, macia, mas suja.
Eu quero compartilhar minha sujeira
com ela.
Sua cabeça cai, inclinando-se para o
lado e se aproximando de onde minha mão
gira seu cabelo. Ela se inclina para o meu
toque, não para longe dele, e foda-se, isso
faz meu pau pulsar, implorando para estar
dentro dela.
Ela quer.
Leve ela.
Deixo escapar uma respiração abatida
e aquecida e alcanço seus pulsos, meus
dedos lutando para desfazer os nós que a
seguram no lugar. Eu a quero no chão. Eu a
quero de quatro. Eu quero fodê-la por trás e
fazê-la gritar. Eu quero que Huxley a cale
com seu pau dentro de sua boca.
Seria mais fácil tirar as cordas das
vigas primeiro e desamarrá-la dessa
maneira, mas minha mente impaciente é
invadida pela necessidade insistente de tê-
la agora. Se eu fosse um tolo, quase poderia
pensar que ela também me quer. Sua
respiração acelera, suas pálpebras cobrem
suas pupilas dilatadas, e eu sinto o calor de
seu olhar enquanto meus dedos cavam
entre nós, trabalhando freneticamente para
puxá-la e libertá-la.
Suspiro de alívio quando o último nó
se desenrola e seus braços caem
pesadamente para os lados. Estou pronto
para agarrá-la, beijá-la, fingir que tenho sua
afeição por alguns momentos felizes de
foder e se desfazer juntos. Mas então seus
olhos disparam de mim para a porta e de
volta.
Ela vai correr.
Eu afundo enquanto ela mergulha em
uma corrida, correndo para a porta da
frente que eu estupidamente não tranquei
atrás de mim no meu estado de fome de
pau. Ela agarra a maçaneta e puxa, mas eu
sou rápido também. Minha palma pousa na
madeira acima de sua cabeça, fechando-a
antes que ela possa abri-la mais de uma
polegada.
Ela se vira quando eu me aproximo,
meu corpo prendendo o dela contra a porta.
Eu alcanço e giro a trava, em seguida, seguro
a trava de corrente enquanto ela me
observa.
— Vamos — eu provoco — me bata,
Bird. Me chute. Luta comigo.
É quase como se ela nem estivesse
tentando com a maneira como ela me
encara, piscando para mim com olhos que
parecem enganosamente inocentes, olhos
que de alguma forma também estão
entorpecidos pela dor da experiência.
Conheço o olhar porque vejo em meus
próprios olhos quando me olho no espelho,
e me pergunto que tipo de dor sua
experiência lhe trouxe.
Eu trago minha outra palma para cima
para juntar a primeira, pressionando contra
a porta, prendendo sua cabeça entre eles
enquanto me curvo sobre ela. Ela não
parece assustada, e estou surpreso com
isso. Dado o que eu fiz com ela, o medo é a
única emoção que ela deveria sentir.
Meus olhos são atraídos para sua
garganta enquanto ela engole, e isso me faz
pensar em quão frágil é seu pescoço
esbelto. Isso me faz querer envolver minha
mão em torno dele e apertar. Isso me faz
querer trancá-la de volta para mantê-la a
salvo de qualquer pessoa que não seja eu
que tente machucá-la.
Meu frágil Bird.
Eu tento mais uma vez provocá-la. —
Vamos, princesa.
E algo estala.
Seus olhos se estreitam, passando de
uma presa de olhos arregalados a um
predador, e algo escuro pinta sombras em
suas bochechas rosadas.
— Não me chame assim. Não mais.
Nunca mais. — Sua voz é distorcida, áspera
e tensa, cheia de dor.
A dor ressoa no meu peito como
familiar.
Não mais.
Nunca mais.
As palavras em si não são familiares,
mas estou ciente da emoção por trás delas.
Eu sei com o escárnio raivoso espalhado em
suas bochechas e o brilho violento por trás
do verde brilhante de seus olhos que ela foi
ferida como eu fui ferida... e agora ela está
prestes a lutar comigo.
Percebo que vou ter que reagir meio
segundo antes que ela estale, o que me
pega totalmente desprevenido. Suas
pequenas mãos vêm para encontrar meu
peito, e ela me empurra com força –
surpreendentemente forte para uma coisa
tão pequena – e eu tropeço para trás. Eu
corro para capturá-la contra a porta
novamente, mas ela se foi antes que eu
possa prendê-la. Ela corre ao meu redor e
corre em direção à cozinha, indo direto
para... o forno? Não, ela está indo para o
bloco de facas no balcão ao lado.
— Merda.
Eu corro atrás dela, alcançando-a
rapidamente, e envolvo meu braço ao redor
de seu quadril, meu antebraço desenhando
uma linha em sua pélvis enquanto eu a puxo
para trás.
— Não! — ela grita enquanto eu a
levanto do chão.
Seus braços balançam e suas pernas
chutam loucamente, e eu me pergunto
onde essa luta foi antes.
Eu a acionei. Algo que eu disse a
desencadeou.
Princesa.
Eu a chamei de princesa, e ela se
perdeu.
Eu posso usar esse conhecimento
contra ela... embora de alguma forma, eu
saiba que não vou.
Puxando-a para trás, eu a arrasto
chutando e gritando pelo corredor. Vou
levá-la para o meu quarto onde vou domar
esse gato selvagem. Pelo menos, esse é o
meu plano antes que ela enfie o calcanhar
na dobra da minha coxa, quase perdendo
meu pau.
Eu estremeço de surpresa, gemendo
quando meu aperto involuntariamente
afrouxa. Ela torce e arremessa, e com meu
aperto momentaneamente afrouxado, ela
consegue se libertar, caindo dos meus
braços. Seus joelhos se dobram quando seus
pés tocam o chão, e ela cai para a frente,
caindo de quatro.
Foda- me.
— Glory! — Ouço Huxley chamar
enquanto ela rasteja pelo corredor.
Sua cabeça vira enquanto ela se move
na frente da porta da sala da gaiola. Ela deve
fazer contato visual com ele porque de
alguma forma parece acalmá-la. Ela congela,
ficando estranhamente imóvel, dada a
forma como ela estava lutando comigo, e
depois de um momento, ela se senta sobre
os calcanhares. Sua cabeça ainda está virada
para ele enquanto ela pressiona
submissamente as palmas das mãos nos
joelhos.
Interessante.
Assumindo sua calma, eu me abaixo,
preparando-me para deslizar minhas mãos
sob seus braços e levantá-la de pé. É quando
ela gira em um joelho, plantando o outro pé
no chão, levantando-se com rapidez e graça
como um maldito soldado, e vem atrás de
mim para lutar com punhos e fúria.
Eu pego um de seus pequenos punhos
na palma da minha mão enquanto ela
balança para o meu estômago. Eu torço seu
braço enquanto nossos pés se entrelaçam.
Ela desequilibra-se, inclinando-se para o
lado antes de cair na sala onde Huxley está
enjaulado. Seus dedos do pé engancham ao
redor do meu tornozelo em seu caminho
para baixo e eu tropeço com ela.
Eu me preparo, minhas palmas
batendo no chão acima de sua cabeça
quando aterrissei sobre ela, meu corpo
fazendo uma ponte sobre ela. Seu pé pousa
na minha coxa e empurra contra ela,
forçando seu corpo a escorregar para trás ao
longo do chão. Eu bato meus joelhos para
pegar seus quadris entre eles, mas ela rola
de bruços e arranha o chão, movendo-se em
direção à gaiola... em direção a Huxley.
Entre a luta, a fúria e a luxúria
pecaminosa correndo em minhas veias, eu
me transformo em uma fera faminta.
Animal para animal, predador para presa, a
doença interna de Glory chama a minha.
Cavando meus dedos como garras, eu
agarro sua cintura, a empurro para trás e a
viro. Eu bato meus quadris para segurá-la no
chão, meu pau duro contra sua barriga
avisando-a do veneno dentro de mim –
veneno que poderia transformá-la e torná-
la vil como eu.
Meu peito arfa quando olho para suas
bochechas avermelhadas e minha expiração
arranha duramente a parte de trás da minha
garganta, saindo como um rosnado
ofegante. Ela engasga quando eu desço
meus quadris, e suas pálpebras caem,
caindo para cobrir o verde selvagem
enquanto eles suavizam com muita
facilidade da guerra total para a rendição.
Nós nos encaramos, e ela me conta
sobre sua fraqueza com um rápido
movimento de sua língua e um piscar de
olhos em meus lábios.
— Foda-se — a voz soa áspera, cheia
de luxúria, como a minha. Mas não é minha
voz... é Huxley.
Minha cabeça gira naturalmente, algo
dentro de mim implorando para ver como
seu rosto está agora, mas eu mal o
vislumbro. As mãos de Glory estão no meu
rosto, me virando para trás, me puxando
para baixo e me puxando para um beijo
inesperadamente ansioso.
Eu separo seus lábios com os meus, e
o gemido estrangulado que ela me alimenta
ondula uma onda de pura necessidade pela
minha espinha. Ele perfura meus quadris e
queima profundamente em meu intestino.
Minhas bolas apertam quando ela se
levanta contra mim, enquanto sua língua
pequena e macia luta pelos meus dentes
para me provar completamente.
Ouço as barras de metal da jaula
gemerem sob o aperto de Huxley, mas todos
os meus outros sentidos estão com ela. Eu
provo sua doçura de bordo, cheiro seu
desejo inebriante, vejo a escuridão
consumi-la antes que meus olhos se
fechem, e eu a sinto... em todos os lugares.
Ela está em todo lugar.
Assomando e ameaçando meu
presente, meu futuro.
Meu futuro está longe deste lugar –
longe da Floresta de Sugar Wood – mas
preciso que Maura me liberte dos segredos
que ela guarda contra mim, de todo o
trabalho sujo que fiz para ela. E eu tenho
que fazer este último trabalho para ser livre.
Eu tenho que matá-los.
Pare.
Pare com isso agora.
Jogue-a na gaiola antes de se prender
à sua presa.
Meu corpo treme com a necessidade
quando enfio a mão no bolso, tirando a
chave que abre a porta da gaiola. O chão
estremece debaixo de nós enquanto eu
dolorosamente separo meus lábios dos
dela, enquanto eu sento nos calcanhares e
alcanço atrás de seu rosto perplexo para
agarrar seu cabelo loiro falso.
Ela grita de surpresa quando eu a
arrasto desajeitadamente ao longo do chão,
nós dois torcendo e fugindo e lutando pelo
controle. Estou de joelhos na frente da porta
da gaiola enquanto ela chuta atrás de mim.
Ela pega meu pulso, tentando afastá-lo de
seu cabelo, mas ela não tem força com a
bunda no chão.
Ela chuta seus pezinhos, tentando
encontrar apoio, embora eles apenas
escorreguem e batam na madeira. No
momento em que ela consegue colocar um
pé no chão, eu tenho a porta da gaiola
aberta. Eu empurro meus pés com um
grunhido, e ela grita novamente enquanto
seu cabelo vem comigo enquanto eu a puxo
de pé.
Eu a lanço para dentro com tanta
violência que seu ombro bate na parede dos
fundos com um baque retumbante, que a
faz gritar e estremecer. A visão de seu rosto
enquanto ele se contorce de dor faz meu
corpo apertar com uma tensão culpada. Eu
reúno cada grama de força dentro de mim
para fechar a porta da jaula, para girar a
fechadura, para puxar a chave.
Glory cai no chão e Huxley cai com ela.
Ambos viram bruscamente a cabeça para
olhar para mim ao mesmo tempo.
Não olhe para eles.
Concentre-se na sua liberdade.
Eu passo as costas da minha mão pela
minha boca, ofegante enquanto lentamente
me afasto enquanto olho para um ponto na
parede acima de suas cabeças. — Não
brinque comigo — digo a eles. — Eu vou...
— minha voz treme, e eu luto para
estabilizá-la — Eu volto. E quando eu voltar,
quero algumas malditas respostas sobre
Beau Tolliver.
CAPÍTULO TREZE
GLORY

AS MÃOS DE HUXLEY ESTÃO firmes no


meu bíceps, a única coisa que me prende na
realidade enquanto meus sentidos giram
fora de controle.
Eu me machuquei.
Eu quero.
Eu preciso.
Eu anseio por alívio, por sentir aquela
explosão que senti contra os dedos de
Ambrose.
Minhas palmas suadas esfregam
contra meus joelhos, então meus dedos se
curvam, cavando em minhas coxas
carnudas. Eu puxo minhas mãos para trás,
arrastando linhas doloridas pelas minhas
pernas enquanto minha cabeça cai para
frente, intencionalmente evitando o olhar
de Huxley.
— Você está bem? — ele pergunta
baixinho.
Há algo estranho em seu tom, algo
excitante sobre a forma como suas mãos
apertam meus bíceps tão intensamente.
Meu ombro lateja com uma dor pulsante de
onde ele apertou contra a parede quando
Ambrose me jogou. A dor se mistura com a
necessidade correndo por mim, fazendo
minha pele arrepiar... mas de um jeito bom.
É como bolhas estourando sob a superfície,
ondulando alfinetadas que me provocam e
me deixam frenética para procurar fricção
em minha carne com cócegas.
Minha cabeça balança de um lado
para o outro e não consigo falar, com medo
do que vai sair da minha boca. Eu pressiono
meus olhos fechados contra o zumbido de
necessidade que vibra através do meu
núcleo e pulsa através do meu clitóris.
Deus, por que me sinto assim?
Como Ambrose me faz sentir assim?
Eu o quero tanto que o beijei em vez
de lutar com mais força para me libertar.
— Glory... — Meu nome sai rouco, e
Huxley se mexe de joelhos.
— Hux, eu não posso... eu nunca...
tem algo errado comigo.
— Não há nada de errado com você.
— Eu o beijei. Eu o queria. — É bom
e ruim admitir.
— Olhe para mim.
Lentamente, e com hesitação, levanto
a cabeça. Meus olhos raspam sobre seu
corpo desde os joelhos, até suas coxas
musculosas, através da protuberância em
seu jeans...
Eu suspiro.
Ele precisa do jeito que eu preciso?
Ele está infectado por esta casa, por
este homem igual a mim?
Eu afasto meus olhos de seu colo com
grande tensão, levantando-os para olhar
seu rosto sob meus cílios. Meu peito arfa.
Minha língua desliza para fora para lamber
meu lábio inferior antes que meus dentes o
segurem. Quando encontro seus olhos
castanhos, a estranha luxúria crescendo
dentro de mim se encaixa em uma bola
densa que cai pesada e dura, puxando essa
necessidade para baixo com um desespero
que não posso lutar.
Eu preciso gozar.
Eu preciso aliviar essa dor terrível.
Minha mão desliza entre minhas
pernas enquanto meus joelhos se separam
e meus dedos correm para pressionar
contra minha boceta. Eu me toco sobre meu
jeans e no momento em que há contato,
minha cabeça se joga para trás e eu gemo
em antecipação ao alívio que estou tão
desesperada para encontrar.
Não consigo me concentrar.
Não consigo pensar em mais nada.
— Glory.
Esfrego com força, embora sem ideia
do que fazer para encontrar a explosão. Eu
deveria me sentir envergonhada pelo que
estou fazendo aqui na frente de Huxley,
preso em uma jaula na casa de um louco na
floresta.
Eu sempre senti vergonha do sexo
antes – sempre foi algo tirado de mim. Foi
tirada pelo meu pai, mas não só por ele. Foi
tirada por todos os outros garotos de quem
eu tentei encontrar aprovação também. Eu
deixei tantos me foderem, esperando que
isso os fizesse me amar, mas eles nunca o
fizeram. Nunca foi bom; nunca pareceu
certo. Nenhum deles nunca se importou se
eu gostasse.
Não sei se isso parece certo, mas
tenho certeza de que é necessário. E Huxley
sempre cuidou de mim quando precisei
dele.
Eu preciso dele agora.
Eu preciso tanto disso, eu me
preocupo que eu possa me perder sem isso.
— Ele me fez gozar — eu sussurro,
sentindo o sangue correr para minhas
bochechas. — Foi a primeira vez que senti
isso. Huxley, eu preciso. Eu preciso disso
agora. Eu preciso gozar novamente. Eu
preciso tanto.
Lágrimas quentes picam no fundo dos
meus olhos pela forma como essa
necessidade imunda me consome. Eu sinto
isso através de cada célula do meu corpo,
cada molécula gritando e implorando para
ser tocada. Momentos de fricção frenética
contra meu jeans passam, e estou
choramingando, esperando que algo me
atinja e me mostre que estou fazendo o que
preciso para obter esse alívio, mas isso só
cria frustração e medo e enraizamento
profundo. vergonha.
Tenho medo de permanecer
reprimido assim, preso em um desejo
doloroso que nunca se resolverá como uma
dor crônica que me atormentará até o dia da
minha morte.
— Ajude-me — eu imploro com uma
respiração áspera, meus olhos travando nos
dele. — Não sei fazer…
Ele apenas me observa e respira, seus
olhos queimando nos meus. Eu sei que ele
quer, mas ele está se segurando. Ele está se
segurando e cada segundo que passa me
leva ainda mais à insanidade.
— Huxley, por favor.
Nenhum movimento.
Eu rapidamente desfaço o botão do
meu jeans e puxo o zíper para baixo. Eu fico
de joelhos, forçando suas mãos a se
afastarem dos meus braços. Enfio a mão por
baixo da calcinha e deslizo os dedos entre as
pernas, soltando um gemido áspero ao
sentir minha carne molhada e inchada.
Eu não sei o que estou fazendo. Eu
nunca me toquei antes - eu nunca quis
prazer e liberação, então nunca procurei
uma maneira de obtê-lo. Minha mente está
agitada com os sussurros da minha carne
enquanto meu corpo envia faíscas de falsos
começos e paradas. Meus dedos estão
selvagens, esfregando e torcendo,
mergulhando em minhas dobras.
Eu preciso gozar.
Eu preciso gozar agora.
— Huxley! — Eu grito para ele.
Eu o vejo se encolher, vejo seus olhos
se erguerem para encontrar os meus de
onde eles olhavam para minha mão que
desaparece sob o tecido. Eu assisto seus
olhos castanhos escuros enquanto eles
giram com intenção, com pensamento,
desacelerando para descansar nos meus
enquanto eles ainda estão determinados.
Sim.
É o olhar de determinação que ele
recebe quando vem em meu socorro. O
olhar que me diz que ele está aqui para mim,
que ele me ama, que ele vai fazer o que eu
precisar que ele faça.
E Deus, o jeito que aquele olhar me
faz sentir...
Eu suspiro quando seus dedos se
fecham ao redor do meu pulso, enquanto
ele puxa minha mão para fora do meu jeans
e me força a parar. Eu gemo com a ausência
de toque, mas confio nele. Confio em Huxley
para me ajudar, para me tornar melhor,
para me libertar desse desejo estranho.
Suas mãos agarram minha cintura e
ele me gira em um piscar de olhos, então
serpenteia um braço em volta da minha
cintura para me puxar para trás contra ele.
Ele me empurra para baixo para que possa
sentar entre suas pernas abertas, me força
a inclinar para trás contra seu peito forte, e
as cinzas do meu coração ganham vida,
flutuando dentro de minhas costelas como
sílex em chamas saindo de uma fogueira.
Ele puxa meu cabelo para trás sobre
meu ombro e sinto seus lábios contra minha
orelha. — Eu queria te tocar para sempre.
Tem certeza de que quer isso?
Estou choramingando, ofegante,
morrendo.
Eu aceno freneticamente. — Sim.
Sua mão vem ao meu redor enquanto
ele se inclina contra a parede e eu deixo
minha cabeça cair para trás em seu ombro.
Eu estremeço com o toque de seus dedos
em minha barriga, e olho para baixo para ver
como sua mão afunda gradualmente sob a
barreira macia da minha calcinha. Eu mal
posso respirar enquanto ele geme e se move
atrás de mim, enquanto sua ereção
crescente pressiona com força contra a
parte inferior das minhas costas, enquanto
seus dedos descem, descem, descem entre
minhas pernas.
— Ahh — eu gemo, meu corpo fica
tenso enquanto ele brinca com dois dedos
contra a minha abertura. Eu bato minhas
mãos em suas coxas e o aperto com força
para me preparar. — Oh meu Deus.
— Você não pode simplesmente se
esfregar em carne viva — ele sussurra, sua
voz comandando com instrução
pecaminosa. — Isso não vai te levar a lugar
nenhum e só vai te deixar frustrada. Toque
com intenção, Glory.
Minhas costas arqueiam enquanto
seus dedos se curvam e mergulham
suavemente dentro de mim. Ele os cutuca
um pouco mais fundo, e eu posso sentir as
pontas de seus dedos esfregando ao longo
da minha parede interna, movendo-se com
precisão, como se ele estivesse procurando
por algo. Eu sei quando ele o encontra
porque ele pressiona contra esse ponto. Isso
faz meu estômago apertar, e o calor corre
para o meu núcleo. Ele mantém os dedos
parados, pressionando aquele único ponto
antes de começar a acariciar, afagar, alisar.
— Diga-me o que se sente melhor.
Preste atenção. Mais pressão — as pontas
de seus dedos pressionam para cima com
mais força enquanto ele acaricia e meu
corpo convulsiona, tão apertado que seu
toque se tornou um gatilho de prazer — ou
menos. — Ele continua a acariciar, mas mais
suave, mais gentil...
Isso é bom também, mas eu preciso
de mais.
— Mais.
Ele me dá o que eu pedi, esfregando
com pressão perfeita até que eu esteja me
contorcendo embaixo dele, até que eu
esteja choramingando e gemendo, mais
desesperada do que nunca por liberação.
— Porra. Você se sente tão bem —
ele murmura. Seus lábios estão no meu
pescoço, traçando uma linha de beijos
suaves até a nuca. — Deus, eu quero fazer
você gozar.
Meus olhos se fecham. — Me faça
gozar. — Não tenho certeza se minhas
palavras são audíveis.
Eu afundo no prazer, apreciando a
forma como ele arrasta a intensidade para o
meu núcleo, deixando-o preencher todos os
sentidos e me levar a um estado puramente
feliz.
Então seu polegar pousa no meu
clitóris e eu grito com o prazer que dispara
através de mim. Huxley coloca sua mão
desocupada na minha boca, e Deus, de
alguma forma isso aumenta a intensidade
do que estou sentindo.
— Shh — ele sussurra. — Eu não
quero arriscar que ele te ouça se voltar. Eu
quero isso para mim.
Eu gemo, e sinto a forma como vibra
contra sua palma. Ele deve sentir isso
também porque seu gemido combina com o
meu e ele trabalha sua mão com mais
intensidade, seu foco e determinação
aumentando. Eu posso sentir a forma como
toda a sua energia atrai minha boceta.
Eu quero isso para mim, ele disse.
Deus, do jeito que ele me quer...
— Foda-se — ele geme enquanto
circula o polegar, enquanto acaricia os
dedos, tecendo algum tipo de magia doentia
entre minhas coxas. — Meu polegar... muito
ou não o suficiente? — Sua mão cai da
minha boca e pousa na lateral do meu
pescoço. Ele fica ali levemente, embora seu
toque pareça pesado e significativo.
— É... — Faço uma pausa para
respirar fundo — é perfeito.
— Feche os olhos — diz ele. — Não o
persiga. Apenas deixe-o construir. Deixe
pulsar. Deixe doer.
— Dói.
— Deixe-o. Deixe doer. Deixe isso te
deixar desesperada. O alívio está chegando,
Glory. Eu estou dando a você. Porra, você
me faz precisar disso também. — Ele se
move atrás de mim. — Você pode me
sentir? Você pode sentir o quanto eu quero
você? O quanto eu sempre quis você?
Eu respiro a palavra — Sim.
— Você sempre esteve fora dos
limites. Minha meia irmã. Isso era proibido,
tabu, mas foda-se, do jeito que eu queria
você. Do jeito que eu sempre quis você.
— Hux.
Suas palavras são uma corda apertada
em torno das estrelas rodopiantes de prazer
em minha barriga, puxando-as juntas,
agrupando-as em uma estrela pesada que
desmorona enquanto ele geme em meu
ouvido. Ele cai pesado e duro, então
explode, luz branca piscando atrás das
minhas pálpebras.
Meus olhos se arregalam e minhas
costas se arqueiam enquanto meu corpo
inteiro aperta, treme, luta contra o clímax
apressado... e meu corpo não consegue
detê-lo. Eu grito, selvagem e desinibida,
enquanto a coisa mais espetacular que eu já
senti rasga minha boceta, agarra seus
dedos, pulsa, agita e me enche de momento
após momento de felicidade pura e
inegável.
E quando a tensão quebra, eu caio
mole em seu aperto, meu corpo caindo
contra o dele, escorregando pelo chão. Seus
dedos param de se mover, mas eles ainda
estão dentro de mim, ainda enrolados
contra a minha parede da frente, como se
ele não quisesse me soltar.
— O que está acontecendo aqui? —
ele pergunta.
O que está acontecendo aqui
conosco?
O que está acontecendo aqui neste
lugar?
O que está acontecendo aqui com
Ambrose?
— Eu não sei — eu digo a ele
honestamente.
Com cuidado e relutância, ele puxa os
dedos do meu corpo, e eu imediatamente
sinto falta deles. Seu toque era diferente do
de Ambrose. O toque de Huxley era
específico, preciso, seguindo um caminho
claro para me levar ao clímax. O toque de
Ambrose era áspero, exigente, descendo
uma colina que inevitavelmente me levou
ao mesmo lugar.
Ambos eram entorpecentes, e para
uma garota como eu, que caía em
dissociação ao menor indício de atividade
sexual, era uma felicidade.
Felicidade de entorpecer a mente.
O que é essa casa mágica no meio de
Sugar Wood?
Ambrose é algum feiticeiro que nos
tem sob seu feitiço?
A urgência sexual me deixou agora
que Huxley cuidou de mim – como ele
sempre faz – mas ainda há um indício disso
flutuando na minha barriga, impossível de
ignorar por causa dele.
— Você está duro.
— Sim — ele suspira — vai passar. Eu
só preciso de alguns minutos.
Eu me empurro para cima e
lentamente me viro para encará-lo,
sentando de joelhos entre suas pernas. —
Deixe-me...
— Não — ele range, apertando os
olhos fechados. — Eu não quero que você
me toque como um favor retribuído.
— Não é só isso...
— Glory, não. — Ele estende a mão,
como se fosse tocar minha bochecha, mas
para. Seus olhos caem sobre seus dedos,
vendo a maciez da minha excitação, e isso o
detém. Por um momento, eu me preocupo
que isso o aborreça, mas então ele faz algo
inesperado.
Ele lambe os lábios e empurra os
dedos molhados dentro da boca. Seus lábios
se fecham em torno de seus dedos e ele
cantarola enquanto os chupa, seus olhos se
fechando enquanto sua cabeça cai para trás
contra a parede.
Lentamente, ele os arrasta para fora e
deixa suas mãos caírem no chão em ambos
os lados de seus quadris. Ele respira fundo,
embora não abra os olhos, como se
saboreasse meu sabor persistente em sua
língua.
Deus, como isso me torce por dentro.
— No seu aniversário de dezesseis
anos, você usou um vestido vermelho
deslumbrante para a festa que seu pai deu
para você — ele começa, ainda respirando
lentamente, os olhos ainda fechados.
— Eu me lembro — digo a ele. — No
Plaza em Nova York.
Ele concorda. — Sim. Você estava tão
bonita naquela noite, e eu não acho que
você estava ciente disso. Eu não conseguia
parar de olhar para você. Eu sempre tive
problemas para tirar meus olhos de você,
mas naquela noite foi quando eu realmente
a vi e eu soube... eu sabia que estaria
comparando todas as pessoas que eu já
conheci com você, e ninguém nunca seria
bom o suficiente. Ele abre os olhos e eles
travam nos meus. — Eu queria você.
Imaginei arrastá-la para longe dos garotos
inúteis que a cercavam, levando você para o
andar de cima, me ajoelhando por você.
Minha respiração fica presa na
admissão. — Nós dividimos um quarto
naquele fim de semana... Você e eu ficamos
juntos no mesmo quarto.
— E eu nunca lutei tanto na minha
vida. — Ele se senta mais reto, se inclina
para frente e agarra meu rosto com as duas
mãos fortes. — Naquela noite eu fantasiei
com você por horas enquanto você dormia
na cama ao lado da minha. Pensei em
colocar minhas mãos em você, me perguntei
como seria tocar sua pele sedosa, lutei
contra minha vontade de mergulhar
debaixo das cobertas e acordá-la com minha
cabeça entre suas pernas e minha língua em
seu clitóris.
— Por que... por que você não fez?
Estou confusa. Ele poderia ter feito
isso, e eu não teria dito uma palavra. Eu o
teria deixado. Eu sempre deixo os meninos
fazerem isso quando eles tentam porque
era mais fácil do que dizer não.
— Havia tantas razões pelas quais eu
não podia. Por um lado, eu tinha acabado de
fazer dezoito anos e você era menor de
idade. Por outro, eu era seu meio-irmão e
parecia errado. Mas naquela noite, a razão
mais importante era que você estava
vulnerável, e eu nunca tiraria vantagem de
você nesse estado. Você estava chateada
naquela noite.
Eu quase vacilo, a memória me
atingindo apesar de todos os meus
melhores esforços para suprimi-la. Meu pai
havia prometido que não me tocaria, que a
noite era minha, uma festa para mim e só
para mim. Ele jurou que não, mas mentiu.
Meu cabelo tinha sido enrolado e
torcido lindamente em um penteado suave.
Era exatamente como eu queria que fosse,
e eu estava tão feliz que minha festa de
dezesseis anos seria tudo o que eu queria
que fosse. Mas meu pai doente deu uma
olhada em mim e quebrou sua promessa.
Ele me machucou, me usou, arruinou meu
penteado com sua aspereza e me fez chorar,
o que arruinou minha maquiagem também
– tudo nos minutos antes de eu ir ao salão
de baile do hotel para minha festa.
Arruinou minha noite... claro que sim.
Ele me arruinou inteiramente toda
vez que me tocou.
Não consigo contar a Huxley nenhum
desses detalhes miseráveis porque não
quero lembrar deles.
— Meu pai...— eu começo a dizer,
mas ele rapidamente me corta, seu polegar
roçando meus lábios.
— Você não tem que dizer outra
palavra. Agora sei o que ele fez com você, e
você não precisa dizer mais nada sobre isso
se não quiser.
— Eu realmente não quero.
Ele acena suavemente. — Se ele é a
razão pela qual você estava chateada
naquela noite, então estou feliz por não ter
tocado em você, por não ter tentado.
Qualquer conexão que tivéssemos feito
teria sido manchada por aquele filho da
puta. Eu só... eu simplesmente não consigo
acreditar que nunca dei um jeito nisso
antes. Eu mesmo o teria matado, e nunca
estaríamos nessa confusão.
— Ainda teríamos que nos livrar do
corpo.
— Eu só o enterrei para você. Eu não
poderia mandar você para a cadeia por
matá-lo. Você merece viver sua vida e ser
feliz. Se eu mesmo o tivesse matado, teria
me entregado e felizmente vivido o resto da
minha vida atrás das grades sabendo que
você estava salva.
Viro a cabeça, olhando para as barras.
— Acho que nós dois acabamos na cadeia de
qualquer maneira.
Ele solta um suspiro pesado. — Vou
dar um jeito nisso, Glory. Eu prometo, eu
vou te tirar disso.
Já me disseram muitas promessas
falsas na minha vida, mas Huxley nunca me
prometeu nada que não cumprisse. E não
tenho dúvidas de que ele vai tentar de tudo
para manter essa promessa também...
embora eu não saiba se ele tem algum
controle sobre isso.
CAPÍTULO CARTOZE
HUXLEY

TOCAR GLORY ERA mais intoxicante


do que eu jamais sonhei que seria. Eu estava
tentando me convencer nos últimos seis
meses que eu estava colocando-a em um
pedestal, que eu tinha criado, uma fantasia
do que eu achava que ela poderia estar
dentro da minha mente. Eu tentei me
convencer disso como uma maneira de
deixá-la ir, de me esforçar para encontrar
outra pessoa para preencher o vazio dentro
de mim. Mas deslizar meus dedos dentro
dela provou que todas as fantasias que eu
tinha de estar com ela estavam certas. Ela
era macia, quente, molhada, responsiva -
mais responsiva do que ela sabia.
Me chocou descobrir que ela nunca
gozou antes, embora eu suponha que faça
sentido saber o que seu pai fez com ela
durante seus anos de formação. Se fosse eu,
provavelmente teria me afastado do prazer
também.
Merda.
O pensamento disso me faz querer
vomitar.
Glory deitou a cabeça no meu colo
para descansar, caindo excepcionalmente
rápido em um sono tranquilo. Estou
tentando permanecer humilde, embora
uma parte de mim insista que de alguma
forma eu dei a ela essa paz, fazendo-a gozar.
Ela estava tão desesperada por alívio,
estranhamente desesperada, e eu entendi
isso. Uma energia estranha e primitiva cerca
este lugar – uma energia que fica mais forte
quanto mais perto ele está – e está
extraindo partes de mim que eu reprimi por
muito tempo.
Ambrose.
Ele voltou algum tempo depois, e a
corrente foi movida do meu tornozelo de
volta para o de Glory. Ele me deixou sair da
jaula, mas não antes de prender meus pés
com duas algemas nos tornozelos, presas
por uma corrente ligada entre elas.
Nós nos movemos pela floresta agora.
Parte da neve derreteu com a tempestade,
então não é muito difícil atravessar
enquanto ele me conduz. O frio se
aprofunda quando o sol se põe, penetrando
em meus ossos. Meus músculos enrijecem,
especialmente minhas pernas, onde tenho
que andar em passos curtos, minhas
passadas longas habituais prejudicadas pela
corrente.
Ele me conduz por entre as árvores,
criando um caminho sinuoso enquanto
entra e sai e contorna os troncos.
Caminhamos por quinze, talvez vinte
minutos, antes de uma pequena clareira se
abrir perto da base de uma enorme árvore
de bordo, e ele parar em frente a ela. Com
suas botas pretas, jeans escuros, moletom
preto e sobretudo, ele cria uma silhueta
escura – uma sombra – na base larga. Ele
enfia as mãos nos bolsos e olha para os
galhos.
Eu desenho meus olhos ao longo de
seu contorno. De costas para mim e seu
capuz puxado para cima, ele é uma figura
escura sem rosto em uma floresta árida e
fria. A imagem na minha frente se imprime
em minha mente - eu imediatamente sei
que nunca vou esquecer essa visão
perturbadora.
Além de sua silhueta, a textura da
casca áspera sobe no tronco da árvore,
atraindo meus olhos para os galhos nus que
se estendem pelo céu. Os galhos são
assustadores no modo como balançam no
alto, nus no auge do inverno, galhos ao
longo dos galhos raspando nas linhas laranja
e amarelas pintadas pelo sol poente.
— Meus pais estão enterrados aqui
— diz ele.
Eu tiro meus olhos dos galhos para
olhar para suas costas. Eu não sei se ele quer
uma resposta, e eu não tenho uma de
qualquer maneira, então eu permaneço em
silêncio.
Ele se vira para mim e se recosta na
árvore enquanto tira um maço de cigarros
do bolso do paletó. Sua cabeça se inclina
quando ele coloca a ponta entre os lábios,
uma mão subindo para bloquear a ponta da
brisa fria enquanto ele acende o isqueiro.
Ele dá uma tragada lenta antes de agarrar o
cigarro entre dois dedos e puxá-lo para
longe, deixando sua mão cair ao seu lado.
— Como você acha que eles
morreram? — ele pergunta.
Eu balanço minha cabeça,
desinteressado em jogar este jogo, ansioso
para voltar para Glory.
— Alguma ideia sobre por que eles
estão enterrados aqui em um local não
marcado na floresta?
Eu dou de ombros. — Eu deveria me
importar?
Ele olha para o chão da floresta, onde
restos de folhas marrons secas e crocantes
espreitam através da neve dos rastros que
ele chutou com os pés. Ele dá outra tragada
no cigarro e olha para longe.
— Eu não construí essa gaiola em que
você está. Eu não sou um idiota sádico que
sequestra adolescentes perdidos na
floresta. Essa gaiola está lá desde que eu
tinha três anos e nunca foi feita para
capturar ninguém.
Sinto uma pontada de interesse na
forma como isso tensiona meus músculos e,
embora eu tente lutar contra minhas
palavras, elas saem de qualquer maneira. —
Então para que isso foi feito?
Seus olhos escuros se movem,
embora sua cabeça permaneça imóvel, e
eles travam na minha, me segurando
porque um lampejo de dor pisca atrás deles
– algo que eu só reconheço porque já vi isso
antes.
Eu vi isso nos olhos de Glory, também.
— Foi feito para mim.
Eu respiro fundo, meu peito subindo
com indignação inesperada. — Quem fez
isso?
Ele dá um passo à frente, afastando-
se da árvore, e planta os pés bem abertos,
como se estivesse sentando em uma divisa.
— Nosso querido Sr. e Sra. Bishop, os
pedaços de merda sob meus pés. Você fica
curioso para saber o que aconteceu com
eles? Como eles morreram? Por que eles
estão enterrados aqui?
Sim.
— Apenas diga o que você tem a
dizer, porra.
— Aquela gaiola foi meu quarto
desde o dia em que comecei a engatinhar.
Eu quase tenho que me perguntar como eu
sobrevivi à fase de recém-nascido com pais
como os meus, mas por algum milagre, eu
sobrevivi — ele zomba e balança a cabeça.
— Ao longo dos anos, me acostumei a viver
isolado, tanto que evito as pessoas o
máximo que posso agora. — Ele junta as
pernas e caminha pelas sepulturas, dando
outra tragada no cigarro. — Você e sua
irmã...
— Meia-irmã — eu sinto a
necessidade urgente de esclarecer.
— Sua irmã adotiva. Vocês dois se
encontraram na minha companhia, em
algum lugar que você não pertence, e até
onde eu sei, isso é motivo suficiente para
acabar com suas vidas miseráveis e enterrar
vocês dois com a porra dos meus pais.
— Besteira. Se você tivesse alguma
vontade de fazer isso, você já teria feito.
— Eu faria? Agora estou curioso,
Huxley... Você acha que sou um homem
impulsivo?
— Uma garota de dezenove anos
perdida e congelada aparece na sua porta
no meio de uma tempestade de neve
procurando por abrigo, e sua reação
instintiva é lutar com ela, acorrentá-la e
trancá-la em uma gaiola. Sim, eu diria que
você é um pouco impulsivo em sua tomada
de decisão.
Ele para, vira a cabeça, mostrando-me
a torção de seu escárnio. — Acho que isso
me torna mais oportunista do que
impulsivo.
— Corta a besteira. Não há
oportunidade nisso para você.
— Você não tem ideia de quanta
oportunidade há nisso.
— Então me diga.
Ele se vira para mim diretamente e
marcha em minha direção, parando tão
perto que eu estremeço quando ele leva o
cigarro aos lábios, enquanto a faísca da
ponta pisca a um sopro de minha bochecha.
Ele exala, soprando fumaça pelo canto da
boca, seus olhos escuros focados nos meus,
pensativos.
— Onde está o pai de Glory?
— Por que diabos você quer saber?
— Não importa. Apenas me diga
onde posso encontrá-lo.
— Não. — Eu balanço minha cabeça.
— Você vai ter que ser um pouco mais
convincente do que isso.
Ele deixa cair o cigarro, e meu olhar o
segue para o chão, observando sua bota se
esgueirar para pisar e torcer. Porque minha
cabeça está virada, eu não vejo isso
chegando até que seja tarde demais. Sua
mão empurra para frente e se aloja em volta
da minha garganta. Ele me empurra de volta
contra um tronco de árvore e a força tira o
vento de mim, me fazendo ofegar enquanto
seus dedos apertam. — Isso é convincente o
suficiente para você?
Foda-se.
Há algo sinistro, mas inegavelmente
sexual no chiar de sua pele na minha... algo
que eu não deveria sentir pelo toque de um
louco que me mantém refém. Talvez seja a
maneira como ele assume o controle que
me tira do sério, amortecendo a onda
urgente de adrenalina que me diz para lutar
com ele, para vir em meu próprio socorro.
Seu toque inicia uma guerra dentro
do meu corpo, minha necessidade de ser
livre - para resgatar Glory - lutando
brutalmente com essa sensação estranha e
repulsiva que implora para me render.
Ambrose é uma ameaça - um perigo claro e
presente - e minha ansiedade deve estar em
níveis máximos com a palma da mão travada
em volta da minha garganta... mas não é.
Quase sinto como se pudesse escapar
em seu aperto firme, deixar de lado a
preocupação, desistir, ceder...
Ceder a quê?
Não, eu preciso estar com raiva.
Eu preciso lutar com ele.
Eu tenho que salvar a Glory.
— Você não vai encontrar o pai dela,
— eu cuspo as palavras.
Ambrose inclina a cabeça. — Oh?
— Ninguém nunca vai encontrá-lo.
— De alguma forma eu duvido disso.
— Se você sabe o que é bom para
você, você vai nos deixar ir. Você sabe quem
é Glory, não sabe?
— Sim, porra, eu sei.
— A família dela tem dinheiro,
recursos. Eles provavelmente estão nos
caçando agora. É apenas uma questão de
tempo até que eles nos encontrem, e então
o que você vai fazer? Você será preso,
acusado de sequestro, agressão sexual...
Suas sobrancelhas se fecham em uma
linha áspera e reta. — Eu não agredi
sexualmente ninguém.
— Você tinha seus dedos dentro dela.
Ela me disse que você a fez gozar. Ela não
queria isso de você. Você tirou algo dela. Ela
nunca vai ter de volta a experiência de seu
primeiro orgasmo.
— O que?
— Você me ouviu.
— Isso é uma mentira do caralho. Ela
tem dezenove. Essa não poderia ter sido sua
primeira...
— O pai dela abusou dela por anos!
Ela nunca conheceu nada além de agressão
e violência de homens, e você acabou de
tirar outro pedaço de sua maldita alma.
Seus olhos se arregalam
gradualmente, suas íris quase pretas se
deslocando conforme eles pegam cada
centímetro do meu rosto, como se minha
expressão guardasse uma verdade que ele
não entende muito bem. Então, qualquer
que seja a suavidade que seus olhos
acabaram de expor volta à dureza, e eu
engulo contra sua mão pressionando.
— Mas você disse que eu a fiz gozar.
Eu sorrio. — E eu também. Você só
conseguiu porque tirou dela. Eu? Ela me
deu. Ela me implorou por isso.
— Quando?
— Depois que você lutou com ela de
volta para aquela porra de gaiola.
Agora é a vez dele sorrir. — Você quer
dizer depois que ela me puxou para cima
dela para beijá-la? Não se engane. Ela me
queria. Você foi apenas a mão amiga.
— Foda-se. Que porra você quer com
a gente? Que porra você quer com o pai
dela?
— Eu não quero nada com nenhum
de vocês — diz ele, embora seu olhar mude
sutilmente. — É sobre o que eu tenho que
fazer por mim mesmo.
De repente, estou curioso.
Estou curioso sobre a forma como sua
mandíbula se move com a tensão.
Estou curioso sobre a forma como
seus olhos escuros mudam.
Estou curioso sobre a forma como
seus dedos se contorcem contra a minha
garganta.
Estou curioso sobre ele.
— Diga-me onde ele está — diz ele.
Eu não respondo.
Ele se aproxima, sua perna se
movendo entre as minhas enquanto ele
pressiona. Meu pulso acelera. Eu imploro
que minha raiva cresça, lave minhas veias e
me limpe do desejo cheio de fúria que
ameaça rastejar através de mim. Eu me
concentro na fúria, deixo que ela acelere
minha respiração e acelere a batida do meu
coração, mas porra, quando seus ombros
caem, eu posso sentir isso passar por ele
também. Eu posso sentir a vibração de sua
luxúria raivosa porque combina com a
minha.
Porra. Combina com a minha.
Seu aperto aumenta, e quando ele se
move para esmagar meu corpo com o dele,
eu me perco. Eu perco quem eu sou, o que
eu defendo. Perco minha vontade de lutar,
minha necessidade de escapar disso. Eu
preciso escapar dele, mas mais
urgentemente, eu preciso conhecê -lo.
Eu engulo em seu aperto, e com um
flash preto esfumaçado em seus olhos, ele
se move rapidamente e seus lábios pousam
nos meus.
O mundo muda quando ele me beija.
Fica mais escuro, mais frio, mas também, de
alguma forma, está cheio de magia
distorcida – magia que me faz estremecer e
me mover, puxando meus sentidos para a
consciência. Ele aperta meu queixo,
segurando minha cabeça firmemente
contra o tronco da árvore enquanto sua
língua empurra meus dentes e implora para
me provar.
Eu quero prová-lo também, e eu
quero... Foda-me, eu quero.
Ele tem gosto de pecado, como uma
maldita maldição. Estou tão impressionado
com seu calor contra mim que nem me
importo que ele me amaldiçoe também.
Nós gememos em uníssono, e a
vibração compartilhada envia um pico de
energia frenética chicoteando por nós dois.
Eu sei que não sou só eu que sinto isso,
porque seus quadris balançam para frente e
seu pau está duro contra o meu.
Eu quero aquilo.
Eu quero seu pau duro tanto quanto
eu quero a boceta molhada de Glory.
Eu deixo minha mão flutuar para
frente, deslizar entre nós e agarrá-lo através
de seu jeans.
Quebrando nosso beijo, ele murmura
— Foda-se — embora ele não se afaste.
A maldição acende a agressão que
aperta minha mandíbula e faz meus dentes
doerem, agressão que me faz apertar a
pesada espessura entre suas pernas com
vontade.
Eu deveria tirar vantagem dele. Eu
deveria arrancar a porra do pau dele pelo
que ele fez conosco. Eu deveria quebrá-lo e
correr, voltar para libertar Glory, roubar sua
caminhonete e me livrar desse pesadelo
para sempre.
Mas o pesadelo me alimenta, me
consome, me deixa faminto por aspereza,
sexo e consumo. A escuridão cai ao nosso
redor com o sol poente e os galhos nus das
árvores rangem e gemem na brisa fria e
escaldante, sussurrando sua intenção de
esconder todos os nossos segredos mais
imundos e sombrios, choramingando com a
necessidade de liberar e libertar essa
loucura.
Sem aviso, ele recua, passando os
dedos pelos cabelos ondulados e negros.
— Foda-se — ele murmura. — Eu não
te posso foder... Apenas me diga onde
diabos eu posso encontrar o pai dela.
— Você não vai encontrá-lo porque
ele está morto. — Eu o observo enquanto a
intensidade faz meu peito arfar com
respirações pesadas, ainda cheias de luxúria
e raiva. — Ele está enterrado na maldita
floresta.
Ele não parece chocado ou confuso.
Há apenas uma pitada de curiosidade na
leve inclinação de sua cabeça. — O que?
Como ele morreu? Quem o enterrou?
— Glory o matou, e eu o enterrei. —
Perdi o controle de mim mesmo, dos meus
filtros, e as palavras caem estupidamente da
minha boca. Mas quanto mais eu falo, mais
sinto o fardo sair dos meus ombros. — Ele
estava tentando estupra-la, e ela acabou
com isso. E estou muito orgulhoso dela. Eu
mesmo teria feito isso quando descobri
como ele a machucou, mas ela me venceu.
Então, eu limpei sua maldita bagunça
porque é isso que eu faço. Eu cuido dela. Eu
faço o que for preciso para protegê-la
porque ela é minha. Ela sempre foi minha.
Uma batida silenciosa passa...
silenciosa, exceto pelos sons da floresta
rangendo.
Então, baixinho, ele diz: — Ela não é
sua —. Seu tom não é autoritário ou áspero,
não é desafiador ou combativo. É uma
questão de fato, tanto que ele quase
poderia me fazer acreditar nele.
Mas eu sei que ele está errado.
Ela é minha. Eu a reclamei com meus
dedos em sua boceta, segurando-a contra
mim quando ela gozou.
Mas ele a fez vir primeiro.
— Que porra você quer de nós? — eu
grito.
— Você nunca teria feito isso
sozinho.
— O que?
— Se você descobrisse o que ele
estava fazendo, você não o teria matado.
Mostra sua arrogância afirmar isso agora, já
que ela mesma cuidou do trabalho. Não há
risco para você em dizer isso, e sabendo que
você nunca poderia provar sua afirmação, é
fácil dizer.
— Você não sabe do que diabos está
falando. Eu enterrei o maldito corpo para
ela!
— E daí? Você é um limpador. Você
não é um criador de bagunça. Você sempre
estará limpando depois dela. Ela nunca
pode ser sua se isso é tudo o que você é.
— Foda-se.
— Você acha que assassinos podem
realmente pertencer a alguém?
— Ela não é uma assassina. Ela fez o
que tinha que fazer.
Ele balança a cabeça para mim, calmo
e frio pra caralho. — Eu esfaqueei minha
mãe no coração enquanto ela dormia, mas
com meu pai... eu levei meu tempo. Deixei-
o ficar na jaula por três dias antes de acabar
com a vida dele com meu machado. Eu o
dividi como um maldito tronco. Enquanto
você fica aí pregando orgulho para sua
meia-irmã por ter assassinado seu pai
abusivo, você me condenaria no mesmo
instante por fazer o mesmo com meus
próprios pais abusivos, não é?
— Se você o deixou em uma gaiola,
você está falando de premeditação...
— Você não sabe do que diabos você
está falando — ele zomba. — Você não tem
ideia do inferno que eu vivi. A hipocrisia de
sua alma mancha o orgulho que você diz ter
dela, e só por isso ela não é sua. Ela não
pode ser sua. Ela é uma assassina... assim
como eu.
Sem outra palavra, ele se vira e sai na
direção de onde viemos. Fico atordoado e
sem palavras.
Ele está errado.
Não é hipocrisia julgá-lo — o que ele
fez com seus pais é totalmente diferente.
Mas ele diz que foi abusado... como
Glory.
Não importa. Deixe-o pensar que sou
um hipócrita por ver o vilão dentro dele.
Não há maldade em Glory, nem um toque
dela. Ela é perfeita, angelical.
Ela é uma assassina.
Não importa!
Eu a amo e farei o que for preciso para
protegê-la, salvá-la... para fazê-la sentir
felicidade novamente.
Silenciosamente, eu me viro e sigo
Ambrose, sabendo que não posso fugir dele,
não posso escapar dele com as correntes em
meus tornozelos. Mas ainda mais
importante, eu sei que não posso deixar
Glory para trás.
Não vou deixá-la sozinha com um
homem amaldiçoado.
Não vou deixá-la sozinha com ele.
CAPÍTULO QUINZE
AMBROSE

NÃO FIQUEI EXATAMENTE surpreso


quando Huxley me contou o que Beau
Tolliver tentara fazer com sua própria filha.
Eu não estava surpreso porque eu já tinha
visto o quão quebrada ela é, o jeito que uma
única palavra poderia ativá-la como um
interruptor e transformá-la em uma
lutadora brutal... como eu.
As pessoas não se comportam apenas
assim - elas fazem isso como um produto de
sua genética ou como resultado de um
trauma. Talvez seja uma combinação de
ambos para ela. A forma como a luz atrás de
seus olhos tinha morrido quando eu a
chamei de princesa – pouco antes de ela
explodir – deixou óbvio como ela sofreu em
sua vida.
E doente como é, saber que isso só
me atrai mais para ela... me atrai para eles.
Huxley é lamentavelmente ignorante do
que ela é, quem ela é, do que ela é capaz...
Pior, ele é ignorante de si mesmo. Mas não
duvido dele quando ele diz que a ama. Só
não sei se ele a ama ou a ideia dela.
Tudo isso me deixa curioso,
interessado... envolvido.
Envolvimento significa conexão, e
conexão é perigosa sabendo o que tenho
que fazer com essas duas belas criaturas
presas na minha gaiola de infância.
Eu giro a fechadura para trancar a
porta da jaula atrás de mim quando Huxley
está dentro, então eu jogo a chave de suas
algemas de tornozelo através das barras.
— Isso vai destravar a algema dela
também — digo a ele, acenando para o pé
acorrentado de Glory.
Ele se abaixa para pegar a chave do
chão e, como um verdadeiro cavalheiro,
move-se para soltá-la antes de soltar suas
próprias fechaduras. Meus olhos estão fixos
em seus dedos hábeis enquanto ele trabalha
– pontas dos dedos ágeis, dedos longos e
grossos, veias estouradas desenhando
linhas nas costas de suas mãos.
Eu me pergunto se ele já colocou a
palma da mão no pescoço de alguém
enquanto ele fodia. Eu me pergunto se ele
faria isso com Glory. Eu acho que ele faria se
ela pedisse. Acho que ele ficaria feliz se ela
pedisse. Ele está reprimido por trás do jogo
de cavalheiro que joga.
Eu deveria virar e ir embora; Eu
deveria deixá-los apodrecer de preocupação
por algumas horas enquanto descubro meus
próximos passos com eles, mas meus pés
não se movem.
— Você realmente matou seu pai? —
Eu pergunto a Glory.
Seus olhos se estreitam enquanto sua
cabeça se vira para mim. Eu seguro seu olhar
por um instante antes que ela se volte para
olhar para Huxley enquanto ele puxa a
algema de metal do tornozelo. Ela abre a
boca, mas ele a interrompe enquanto se
levanta.
— Sinto muito — ele diz para ela,
agarrando suas bochechas. — Contei-lhe
tudo. Eu estava com raiva e perdi o controle
de mim mesmo... tudo simplesmente
desmoronou.
Ela procura seu rosto. Embora seus
olhos estejam semicerrados em confusão
para saber por que ele me contou seu maior
segredo, há algo que parece alívio passando
por seus ombros enquanto eles caem em
relaxamento.
Era um fardo muito pesado para ela
carregar.
— É verdade, então? — Eu pergunto.
Lentamente, suas mãos caem de suas
bochechas e ela olha para mim. Sua
garganta balança enquanto ela engole,
então assente lentamente. — Sim, mas eu
não queria fazer isso.
— Isso é uma mentira. — Eu levanto
minhas sobrancelhas. — Ninguém mata
alguém por acidente. Sempre há intenção.
Sempre.
— Tive que me defender. — Sua voz
é calma, mansa, e ela vira o olhar para o
chão. — Eu precisei.
— E há a verdade nisso — eu
respondo. — Você tinha que fazer isso.
Assim como eu tive que matar meus pais.
Assim como eu tenho que matar...
Assim como eu tenho que te matar.
— Assim como você tem que matar
quem? — Glory pergunta, corajosamente
dando um passo à frente e envolvendo seus
dedos frágeis ao redor das barras na frente
de seu peito. — O que você ia dizer?
Balanço a cabeça e levanto o pé,
preparado para recuar. Antes que eu possa
dar um passo, sua mão atravessa as barras,
e seus dedos roçam meu antebraço, me
pegando com uma pontada afiada, um
relâmpago.
Eletricidade estática.
Isso é tudo, isso é tudo que eu sinto
quando ela me toca. Mas foda-se, a picada
disso acende um fogo que poderia derreter
o gelo ao redor do meu coração. Essa
corrente elétrica é pegajosa, prendendo-se
em mim com um aperto brega, me puxando
em direção a ela. Dou um passo à frente e
envolvo minhas palmas sobre seus dedos ao
redor das barras. Ela engasga com o meu
toque e tenta se afastar, mas eu a seguro
com firmeza para que ela não possa me
soltar.
Talvez eu não possa deixar ir,
também.
— O que eu ia dizer não importa para
você, Bird. O que importa é que você e eu
somos iguais, não somos? Você e eu somos
assassinos.
— Não — ela balança a cabeça — eu
não sou como você, eu sou...
— Você é o que? Diferente? Especial?
Você ganha um passe livre para matar o
papai porque você é uma garotinha que não
poderia representar uma ameaça para mais
ninguém? Eu aperto suas mãos, inclinando-
me para mais perto, e sinto seus dedos
batendo contra minhas palmas. — Eu vejo
você, Bird. Eu vejo todos vocês e sei
exatamente o que vocês são.
Ela está quieta enquanto olha para
mim por várias batidas, sua cabeça
inclinando sutilmente para o lado. — Você
me vê — ela sussurra, como se estivesse
testando as palavras, testando como elas
soam, se estão infectadas com doença ou
distorcidas com desonestidade.
Elas não têm.
Eu a vejo.
— O que eu sou então? — Sua
pergunta é calma, contemplativa. Ela está
realmente me perguntando, não mordendo
de volta com sarcasmo.
Algo se move atrás das minhas
costelas... uma vibração, talvez algo
parecido com um batimento cardíaco. E
aqui eu pensei que o meu tinha murchado e
parado de bater na noite em que matei
meus pais.
Meu aperto afrouxa, e meus
polegares acariciam seus dedos. Espero que
ela se afaste das barras, mas ela não o faz.
Ela aguenta. Ela mantém os olhos nos meus.
Ela fica comigo.
Eu me aproximo, o mais perto que
posso chegar com a barreira entre nós. Suas
narinas se dilatam quando ela solta uma
respiração silenciosa e pesada, sua língua
passa rapidamente pelos lábios e seu corpo
se aproxima.
— O que eu sou, Ambrose?
Uma das minhas mãos se solta,
deslizando suavemente pelo pulso e pelo
antebraço. — Algo pequeno e frágil. Algo
que deveria estar livre para voar, mas você
não pode porque suas asas estão cortadas.
— Ela estremece ao meu toque. Eu olho
para sua pele macia de porcelana sob meus
dedos enquanto acaricio seu braço. — Meu
pequeno pássaro…
Ela respira pesadamente, seu olhar
verde fixo no meu em escrutínio. Posso ver
que ela me entende. Eu a vejo, eu a
conheço, e ela me conhece também.
Podemos nos ver porque nós dois
tiramos vidas?
Porque nós dois tivemos o destino
monstruoso de acabar com as pessoas que
nos trouxeram a este mundo?
— Nós podemos conseguir dinheiro
se é isso que você quer — Huxley diz,
quebrando o feitiço entre nós.
Eu a solto e dou um passo para trás.
— Agora que você sabe o que Glory
fez com o pai dela, você pode guardar esse
segredo em troca de nos deixar ir. Nunca
contaremos a ninguém que você nos
manteve aqui porque sabe o que ela fez.
Você sabe que eu nunca arriscaria que ela
tivesse problemas por isso.
Eu olho diretamente para Glory. —
Você realmente quer ir, Bird?
Ela engole em seco, então acena com
a cabeça, mas eu não acredito nela.
— Ele está certo — ela murmura. —
Você conhece meu segredo. Se você nos
deixar ir, não contaremos a ninguém o que
você fez conosco, porque se o fizermos,
sabemos que você também contará nosso
segredo.
Huxley estende a mão para agarrar a
dela e ela instantaneamente a pega, seus
dedos se movendo entre os dele e travando
em seu aperto. Acontece tão suavemente,
tão facilmente, como se fosse ensaiado -
como se fosse tão natural para eles se
tocarem que o simples ato de estender a
mão um para o outro é como assistir a um
pintor desenhar uma pincelada perfeita e
suave em sua tela. É como uma obra de arte
em construção.
Eles são lindos juntos e isso está me
queimando por dentro.
Eu balanço minha cabeça, me
movendo para trás. — Não. Porra, não. Eu
nunca confiaria em você. — Eu corro meus
dedos pelo meu cabelo.
Há uma parte de mim que está
considerando isso – a parte ingênua que
ainda acredita em milagres e espera por
bondade e liberdade. A única maneira de ser
livre é completar minha tarefa por Maura,
espero que ela mantenha sua palavra de me
libertar dos crimes do meu passado que ela
colocou contra mim, e dê o fora deste lugar.
— Por favor? — Cada molécula
congela ao som da voz gentil e suplicante de
Glory.
A maneira como a palavra escapa de
seus lábios, deslizando pelo espaço como
uma pergunta esperançosa, em vez de uma
demanda, dói.
Eu deveria matá-los agora e acabar
com isso.
Eu deveria…
Não posso.
Eu preciso dar o fora daqui.
— Vocês são tolos em pensar que eu
confiaria em qualquer um de vocês. — Eu
me viro e saio antes que meu passarinho
possa me chamar de volta para ela
novamente.

MAURA BATE A porta atrás dela


enquanto eu me sento na cadeira em frente
a sua mesa. — Quero uma atualização.
Enfio a mão dentro do casaco e tiro o
telefone do bolso da jaqueta, verificando
sutilmente se o aplicativo de gravação de
áudio que baixei mais cedo está ligado e
gravando.
Tomei muitas decisões estúpidas com
Maura ao longo dos anos, mas esta manhã
me ocorreu que talvez eu precisasse de
algum seguro quando se trata desse acordo
com ela. Eu nunca pensei que seria capaz de
deixar minha casa, nunca pensei que ela me
daria a oportunidade de ser livre de fazer
suas más ações. E com Glory e Huxley na
linha, isso me faz querer ser mais esperto.
Se eu tiver que acabar com essas duas coisas
lindas, preciso ter certeza de que ela vai me
deixar ir. Se ela tentar me derrubar pelos
meus crimes, então eu a levarei comigo.
Satisfeito por estar capturando essa
conversa, coloco o telefone de volta no
bolso enquanto Maura se acomoda na
cadeira atrás de sua mesa.
— Beau está morto — digo a ela sem
rodeios. — Isso faz você feliz?
Um sorriso doentio torce os lábios de
Maura e me diz que sim. — Ele está morto?
Você tem certeza? Como você o encontrou?
— Você me pediu para lidar com isso.
Eu lidei com isso. Não estou entrando em
detalhes.
— Como posso confiar que você lidou
com isso? Que provas você tem?
— Por que eu traria provas? Você
quer que sejamos pegos?
— Nós? — Ela lentamente empurra a
cadeira para trás e se levanta. Seus saltos
estalam enquanto ela se move pelo chão,
circulando sua mesa e inclinando sua bunda
contra a borda da frente enquanto ela olha
para mim. — É sua palavra contra a minha
se você for pego.
Minha mandíbula fica tensa. — Se
você quer que o trabalho seja feito, então
você tem que se certificar de que eu não
seja pego para que eu possa terminá-lo.
Quero meu dinheiro, Maura, e assim que o
tiver, partirei antes que alguém possa me
encontrar.
Ela suspira. — Você sabe que sentirei
sua falta se você for.
— O que você vai perder? O olhar de
desgosto no meu rosto quando você me faz
te foder?
Ela sorri e inclina a cabeça. — Ah, é da
má atitude que mais sentirei falta.
— Foda-se.
Sem se alterar, ela empurra a mesa.
Maldita sociopata. — Eu quero o crânio
dele.
— O que?
— Eu quero o crânio de Glory
também.
Eu rio sem humor, olhando para baixo
e balançando a cabeça. — Você está
brincado comigo.
— Não. Eu quero os crânios deles.
Meu pé salta onde está cruzado sobre
meu joelho, e cruzo os braços sobre o peito.
— E o crânio do seu filho? Suponho que você
também queira o dele?
Sua testa franze, olhando para mim
como se isso fosse a coisa mais ridícula que
já foi dita durante toda essa conversa. —
Não, eu não quero o crânio do meu filho. Eu
não teria pedido para você matá-lo se isso
pudesse ser evitado, mas às vezes você tem
que se sacrificar para conseguir o que você
realmente quer... o que você realmente
merece.
Eu preciso de um maldito cigarro.
Raiva pulsa em minhas veias, fazendo
minhas pernas se contorcerem. Essa coisa
toda deve ser fácil. O universo me entregou
Glory e Huxley em uma maldita bandeja de
prata, como se fosse meu destino fazer isso
por Maura. Eles vieram até mim antes
mesmo que ela pedisse por suas mortes,
mas foda-se.
Seus crânios?
A visão passa pela minha mente – os
dois mortos no chão, sangue jorrando e
espirrando do cadáver de Glory enquanto
eu via através de seu pescoço de porcelana
perfeito para separar sua cabeça; uma visão
de descascar seu rosto do osso para revelar
o crânio embaixo e limpá-lo para entregar a
Maura.
Uma onda de náusea rola pelo meu
estômago e eu balanço minha cabeça para
limpar o visual. Eu quero destruir a Glory de
milhares de maneiras, mas não assim...
nunca assim.
Eu quero os olhos dela em mim.
Eu quero que seus gemidos
encontrem meus ouvidos.
Eu quero as mãos dela na minha
carne.
Eu quero meu nome saindo de seus
lábios.
E Huxley... eu quero suas lágrimas e
sua agonia enquanto eu o fodo mais forte do
que ele pode suportar. Quando eu terminar
com ele, eu quero que ele implore por mais.
O pensamento deles mortos fode
com minha mente. Passo uma mão trêmula
pelo meu cabelo despenteado e fico de pé,
ansioso para sair e acender um cigarro para
acalmar meus nervos.
— Dois crânios, então. Quer mais
alguma coisa, Maura? Eu gostaria de me
livrar de você agora.
Ela cruza os braços. — Quanto tempo
você acha que vai levar?
— Vai levar o tempo que for preciso.
— Eu quero que isso seja feito até o
final da semana ou o negócio será
cancelado.
— O negócio não está cancelado.
Beau já está morto. Estou a um terço do
caminho e você não vai recuar agora.
Ela levanta um único dedo de seus
antebraços cruzados. — Uma semana,
Ambrose. Encontre-os, mate-os e traga-me
os crânios de Beau e Glory. Caso contrário,
você pode dar adeus à sua liberdade.
CAPÍTULO DEZESSEIS
GLORY

A CADEIRA DE MADEIRA range pelo


chão de madeira enquanto Ambrose a
arrasta para o nosso quarto. Sua presença é
particularmente sombria neste momento.
Sua presença é sempre escura, mas antes
que eu pudesse ver um ponto de luz atrás de
seus olhos quando ele se aproximou,
quando ele me tocou. Não vejo nenhum
indício de que a luz ainda esteja lá agora, e
isso me lava de ansiedade, ondulando em
ondas sob minha pele.
Ele segura um machado em uma mão,
o cabo parecendo puxá-lo para baixo como
se um grande peso estivesse preso à sua
extremidade. Ele para e coloca a cadeira
alguns metros na frente das barras. Ele
levanta a mão para passar por seus cabelos
ondulados antes de abaixar suavemente no
assento, as pernas bem abertas.
Minha garganta está seca, mas um
suor estranho brota em minhas mãos
enquanto vejo algo que só posso descrever
como desespero empurrando seus ombros
para baixo. Ele se inclina para a frente, apoia
os cotovelos nos joelhos e coloca as duas
mãos na ponta do cabo do machado, a
lâmina pesada assentada no chão entre as
botas pretas.
Há um desejo vago e retorcido dentro
de mim que me faz desejar estar sentada a
seus pés, perto o suficiente para tocar o
couro preto de suas botas, perto o suficiente
para envolver meus braços ao redor de sua
perna e descansar minha bochecha contra
sua coxa.
Eu chupo uma respiração
estremecendo com o pensamento disso,
com a visão perversa de conceder
submissão ao meu captor.
Do chão, fico de joelhos e agarro as
barras à minha frente enquanto Huxley se
levanta e fica de pé, os pés plantados na
largura dos ombros e os punhos cerrados ao
lado do corpo.
Ambrose respira fundo e sopra
lentamente. Estou extasiada com a atenção,
meus ouvidos se esforçando para ouvir o
que ele está prestes a dizer.
— Quando você apareceu — ele
começa — eu não tinha ideia de quem você
era. Eu deveria saber. Eu deveria ter
reconhecido seu rosto. — Ele me olha por
baixo dos cílios. — Eu não reconheci até que
Maura Tolliver me chamou em seu
escritório e me pediu para fazer um favor a
ela.
Uma brisa forte poderia me derrubar.
Ele conhece minha madrasta?
Ele levanta a cabeça e olha para
Huxley, cujos nós dos dedos ficaram brancos
por causa da tensão em seus punhos. —
Entrego madeira cortada uma vez por
semana na fábrica de guloseimas de
Tolliver. Costumava ser o trabalho do meu
pai, mas assumi depois que o matei para
afastar qualquer suspeita de seu súbito
desaparecimento. Conheço a Maura desde
que comecei a fazer entregas e, às vezes, ela
me pede para fazer algumas... tarefas
desagradáveis para ela. Não estou
exatamente orgulhoso disso. — Ele faz uma
pausa, olhando para suas mãos segurando o
cabo do machado, mas meu olhar sobe e se
fixa em Huxley ao meu lado. — Eu
machuquei pessoas por sua mãe, Huxley. Eu
matei por ela. A primeira vez que fiz isso, foi
estúpido. Eu fui estúpido. Eu mal era um
adulto quando a deixei me fisgar com a
promessa de sexo em troca de acabar com a
vida de seu perseguidor. Eu o matei por ela
porque ela me convenceu de que ela
precisava que eu fizesse isso para mantê-la
segura. Eu não sabia então o que sei agora.
Sua mãe é uma atriz maravilhosa.
— O que você quer dizer? — Huxley
pergunta com os dentes cerrados.
— Sua mãe é sem alma, sem coração.
Aquele perseguidor que ela me fez matar...
Ele não a estava perseguindo. Ele era um ex-
amante que traiu uma vez, e ela
simplesmente queria vingança. E porque eu
era muito burro para ver isso, matá-lo me
custou minha vida, minha liberdade. Porque
ela sabe o que eu fiz, e ela me mantém
refém por manter esse segredo, por manter
todos os outros segredos que se seguiram.
Mas me foi dada uma oportunidade. Ela me
ofereceu minha liberdade em troca de
algo... particularmente horrível.
Uma sensação doentia de medo toma
conta de mim e arrepios surgem em meus
antebraços quando olho para Ambrose.
Ambrose encontra meus olhos. —
Maura não gosta de você. Ou seu pai, como
se vê.
— Ela é a razão pela qual você queria
saber o que aconteceu com meu pai? — Eu
pergunto. — Ela pediu para você descobrir?
Ela... ela sabe o que eu fiz com ele?
— Ninguém sabe o que você fez com
ele, exceto as pessoas nesta sala. Ninguém
sabe o que ele fez com você também.
Viro a cabeça, incapaz de olhar para
ele com a menção do que meu pai fez
comigo.
— Qual é o seu ponto, então? — A
agitação de Huxley arranha sua voz com um
tom áspero.
Ambrose ri sombriamente, inclinando
a cabeça em direção ao chão antes de
levantá-la novamente, olhando para Huxley
através das mechas onduladas de cabelo
escuro que caem na frente de seus olhos
escuros. — Sua mãe é uma puta. Ela é a
razão pela qual todos nós precisamos ter
uma discussão muito séria agora.
— Certo — Huxley zomba — como se
uma discussão durante nosso cativeiro
pudesse ser tudo menos séria.
— Vocês dois e Beau Tolliver foram
dados como desaparecidos um dia depois
de terem tropeçado em minha casa.
Evidências no local apontaram para crime, e
encontraram os dois veículos na casa dele.
Quando fiz minha entrega, Maura me
chamou em seu escritório para compartilhar
suas trágicas notícias, mas se você espera
que ela esteja chateada com isso, então
você está errado, porque o que ela me pediu
para fazer a seguir...
— O que? Que porra ela pediu para
você fazer? — Huxley dá um pulo para
frente, as palmas das mãos se abrindo,
depois fechando rapidamente em torno das
barras de metal.
Ambrose fica de pé e o cabo do
machado cai, batendo no chão com um
barulho. Ele se afasta, enfiando as mãos nos
bolsos de seu moletom preto. Ele para, se
vira para nós, e com um estreitamento de
seus olhos que de alguma forma parece
remorso, ele deixa suas palavras saírem. —
Ela disse para me certificar de que vocês três
nunca mais fossem encontrados.
— O que? — Eu suspiro ao mesmo
tempo que Huxley diz: — Você é um
mentiroso do caralho.
— Eu não estou mentindo, Huxley.
Ambrose puxa um celular do bolso de
trás, a primeira vez que o vejo com um
telefone desde que tropeçamos em sua
propriedade. Ele bate na tela algumas vezes
e logo ouvimos vozes gravadas, e são de
Ambrose e Maura.
Ela está falando sobre querer nossos
crânios.
Nossos crânios?
Ela me quer morta.
Ela queria meu pai morto também.
E ela quer nossos crânios como
troféu.
Mas quando ela menciona Huxley, as
cinzas do meu coração se espalham,
estremecendo a náusea pelo meu
estômago. Minhas mãos cobrem minha
boca em descrença ao perceber que ela
quer Huxley morto também.
Ela quer seu próprio filho morto.
A gravação termina e o silêncio nos
cerca, envolvendo a sala e nos fechando
dentro dessa merda de situação.
Então, momentos depois, Huxley
quebra o silêncio, sua voz venenosa de
desprezo. — Para que serve o machado?
Minha cabeça se move para olhar
para ele e eu o encaro, piscando.
É só quando Huxley faz a pergunta
que eu sei... eu sei para que serve o
machado. Ambrose vai nos matar. Ele vai
nos matar porque Maura exigiu que ele
fizesse isso.
Mas por que ela exigiu isso?
Claro, eu sei a resposta, e perceber
isso me atinge com força no estômago. É
sobre a fortuna dos Tolliver. Era sempre
sobre o dinheiro para ela; foi por isso que ela
se casou com meu pai para começar. O fato
de termos desaparecido foi simplesmente
uma oportunidade conveniente para nos
matar.
Ela sabia que nos perdemos na
floresta?
Ela não poderia saber onde
estávamos ou por que estávamos lá. E nós
apenas tropeçamos na casa de Ambrose
procurando uma saída de Sugar Wood. Foi
uma coincidência que nós o encontramos,
que ele nos encontrou.
Uma coincidência nos uniu.
Ou foi predestinado?
A voz de Huxley é mais suave quando
ele repete a pergunta novamente: — Para
que serve a porra do machado?
Ambrose inclina a cabeça para os
lados, esticando o pescoço. Ele tira uma
chave do bolso e se abaixa para pegar o
machado com a outra mão, indo em direção
à porta da jaula.
Ele vira a chave na fechadura. — Vou
fazer isso rápido, indolor.
À medida que clica, o mesmo
acontece com o meu entendimento.
O machado é para realizar a ação...
para matar nós dois.
— Não. Não — murmuro, recuando e
pressionando minhas costas para o canto
mais distante enquanto Ambrose abre a
porta da gaiola.
— De jeito nenhum. Eu não vou
deixar você tocá-la! — Huxley grita e se
lança para ele.
Ambrose joga o machado da mão
direita para a esquerda, então estende a
mão para agarrar Huxley pela garganta. Ele
o pega desprevenido quando Huxley colide
com Ambrose, que o joga para longe,
fazendo com que ele bata com o ombro
contra uma das barras de metal da gaiola,
soltando um grunhido de dor ao bater.
Ambrose me agarra pelo pulso e me
puxa para ele, girando nós dois e me
empurrando para fora da jaula antes que
Huxley possa me alcançar. Eu tropeço no
meu dedo do pé quando ele pega um
amassado no piso de madeira, mas então
Ambrose é arrancado das minhas costas.
Eu me endireito e me viro para ver
Huxley atacá-lo, dando um soco forte na
lateral de seu estômago, forçando-o a se
dobrar com um gemido. Ambrose traz o
cotovelo para trás, acertando Huxley no
esterno6 e deixando-o sem fôlego.
Enquanto Huxley cambaleia para trás,
Ambrose corre para a frente, fugindo da
jaula.
Eu passo para trás.
Eu deveria virar.
Eu deveria correr.
Eu deveria... mas não.
Eu me sinto enraizada no lugar, a
mesma energia distorcida que me faz
desejá-lo me mantém amarrada a ele. Ele

6
O osso esterno é um osso formado por três partes,
alongado e chato, que se situa na frente do tórax, ao centro
do peito, e, juntamente com as costelas, protege o coração,
os pulmões e alguns dos nossos principais vasos sanguíneos.
vai me matar, depois vai matar Huxley e, de
alguma forma, não posso fugir.
O que está errado comigo?
Ambrose bate a porta da gaiola e gira
a chave na fechadura antes que Huxley
possa se recuperar e escapar. Então
Ambrose se vira, se mexendo como se
estivesse pronto para ir atrás de mim, mas
ele congela quando descobre que eu ainda
estou parada na porta, imóvel.
Eu olho para frente sem expressão,
nem mesmo olhando para Ambrose, apenas
enraizada inexplicavelmente no lugar. Eu
me ouço dizer: — Chega — embora minha
voz pareça desconectada do meu corpo. Eu
posso sentir a dissociação acontecer. Eu
tento lutar contra isso, mas minha mente
está tentando se proteger do que quer que
Ambrose esteja prestes a fazer comigo. —
Não mais.
— Glory, corra! — grita Huxley.
— Por favor, não mais disso. — As
palavras escapam dos meus lábios, mas
sinto que não estou dizendo isso para
ninguém.
Meus olhos estão perdendo o foco,
embora eu lute. Luto me perdendo em um
momento em que preciso estar presente,
consciente, lutando pela minha vida.
Eu ouço Ambrose largar o machado
enquanto ele bate no chão duro. Eu o sinto
se movendo em minha direção, e sinto suas
palmas calejadas contra minhas bochechas.
Eu não recuo ao seu toque; Eu não reajo à
energia que ele traz para o meu espaço –
energia que está cheia de dor e paixão.
Mas à medida que os momentos
passam, sinto aquela energia pulsar,
penetrando no meu núcleo, faiscando como
uma corrente elétrica que me dá um choque
de volta à vida. Meu foco muda de um ponto
distante no espaço, gradualmente virando
para encontrar os olhos escuros de
Ambrose. Meus lábios se abrem para
inspirar uma respiração ofegante enquanto
nossos olhos se conectam.
Eu pisco e minha testa franze em
confusão. Eu olho para ele com admiração
porque ele me trouxe de volta. Eu voltei à
consciência por ele... por causa dele.
— Ambrose — eu sussurro, minha
voz fraca. — Não faça isso com a gente.
— Eu tenho que... Maura tem poder,
ela vai...
— Leve-me! — Huxley grita, o que
nos assusta.
Ambrose vira a cabeça para olhar
Huxley na jaula, segurando as barras com os
nós dos dedos brancos, determinação feroz
em seu rosto.
— Leve-me — diz ele novamente. —
Pegue a porra do meu crânio e solte Glory.
Deixe-a correr ou... ou leve-a com você
quando sair com seu dinheiro. Maura nunca
saberá. A Glory pode mostrar-te onde o
Beau está enterrado, e você pode
desenterrá-lo, tirar-lhe o crânio. Dê a ela o
meu e o dele, e deixe Glory ir livre. Eu juro
para você, ela não vai contar a ninguém.
Glory manteve o segredo sobre seu pai por
anos. Ela também pode guardar esse
segredo. Não pode, Glory?
Sinto uma única lágrima escorrer pelo
meu rosto. — Huxley...
— Você não pode, Glory? — Huxley
repete, sua voz suplicante, trêmula.
Não, não posso. Não posso viver sem
Huxley.
As batidas passam em silêncio
estagnado.
Ambrose levanta a mão e a arrasta
para o lado da minha cabeça, me
acariciando, me acariciando como se
estivesse dizendo que tudo ficará bem. Mas
nada vai ficar bem se Huxley morrer, e eu
tenho que continuar vivendo sem ele.
Prefiro morrer a viver sem ele.
— Por favor — Huxley implora. — Ela
nunca vai saber. Você tem que salvar Glory,
Ambrose, você tem que fazer.
A mão de Ambrose desliza pelo meu
braço e se prende ao redor do meu pulso.
Ele me puxa ao lado dele enquanto tira a
chave do bolso, parando na frente da porta
da gaiola.
— Não — eu protesto, atordoada
demais para lutar.
— Eu vou fazer isso. Vou levá-la
comigo — Ambrose diz. — Eu vou cuidar
dela.
— Não! — Eu puxo meu braço para
trás, tentando arrancá-lo de seu aperto, mas
ele se mantém firme enquanto gira a
fechadura e abre a porta da gaiola.
Huxley me alcança enquanto
Ambrose me arrasta na frente dele. Agarro
uma barra à minha esquerda, torcendo meu
corpo, tentando agarrá-la com as duas mãos
para evitar ser colocada de volta nesta jaula.
Se eu voltar para esta jaula, Huxley morrerá.
— Pare! — Consigo segurar a barra
em minhas mãos.
Os braços de Huxley envolvem minha
cintura e me puxam para trás. — Solte.
Glory, pare.
Huxley puxa enquanto Ambrose
envolve suas palmas sobre minhas mãos e
solta meus dedos. Eu tento me agarrar
novamente, mas ele trabalha rápido, e
quando minhas mãos caem das barras,
Huxley me arrasta para trás. Ele me vira e
me empurra para a parte de trás da jaula,
me fazendo tropeçar. Eu me inclino para
frente, mas me seguro com as palmas das
mãos contra a parede dos fundos. Mas
quando eu giro para correr atrás dele, a
porta da gaiola bate na minha cara.
O cadeado clica.
Olho para Huxley e Ambrose parados
lado a lado, bufando enquanto me
observam através da barreira.
Huxley deveria lutar com ele. Ele
deveria tentar correr, mas não o faz. Ele só
olha para mim com aquela expressão de
determinação feroz.
Meu grande salvador vindo em meu
socorro uma última vez.
E desta vez será a última vez porque
vai custar-lhe a vida.
CAPÍTULO DEZESSETE
HUXLEY

EU COMEÇO A FALAR, para dizer a


Glory que a amo, mas não digo uma única
palavra antes de Ambrose colocar as mãos
em mim. Ele agarra minha camisa no centro
do meu peito e torce, juntando o tecido em
seu aperto antes de me girar e me empurrar
para trás no corredor. Ele bate minhas
costas contra a parede em frente à porta da
gaiola, e eu solto um oomph 7quando o ar
sai dos meus pulmões.
— Pegue seu machado — eu rosno
para ele. — Acabe com isso agora.
— Lute comigo.
— O que?
— Lute comigo, Huxley. Lute pela sua
vida. Você está desistindo?
— Eu não estou desistindo. Estou
cedendo. Estou farto dessa besteira. Você ia
matar nós dois, de qualquer maneira. Pelo
menos assim, sua vida será poupada.
— Vou levá-la comigo quando você
estiver morto. Quando tiver o dinheiro e
minha liberdade de Maura, levarei Glory
comigo e a manterei. Eu nunca vou deixá-la
ficar livre de mim.
Não tenho nada a dizer em resposta a
isso. Eu não tenho controle sobre o que
acontece com ela quando eu morrer. Eu só

7
Arfada de satisfação, excitação ou enérgica
tenho controle sobre o que acontece agora,
e agora eu o vejo perturbado e fraco por ela.
Eu sabia que se pudesse dar a ele uma
solução que o deixasse poupar a vida dela,
ele a pouparia. Pelo menos é o que estou
dizendo a mim mesmo. Todos nós vemos a
química doentia que existe entre eles. Se eu
não posso impedi-lo de terminar esse
negócio com minha mãe, então pelo menos
eu poderia salvar a vida de Glory me
sacrificando. E seria bom para minha mãe se
Ambrose trouxesse meu crânio para ela.
Talvez minha alma permaneça com isso, e
eu possa assombrá-la além do túmulo.
Náusea rola pelo meu intestino com o
pensamento de minha mãe ordenando
minha morte. Eu não teria acreditado se não
tivesse ouvido eu mesmo. Embora eu
suponha que seja crível — ela era uma mãe
fria e distante. Ela cuidou de minhas
necessidades físicas, mas isso foi mais para
seu próprio benefício. Ela gostava de manter
as aparências. Mas isso... me querer morto
para que ela possa ignorar nossos nomes na
fila para a fortuna da família...
É nojento.
É vil.
E eu posso sentir minha alma se
estilhaçar com o conhecimento.
— Então fique com ela — eu
finalmente respondo. — Mas não a mate.
Prometa-me que não a matará. Deixe a
Glory viver.
Sua cabeça se inclina para trás e seus
olhos suavizam. — Você está desistindo
disso facilmente? Lute comigo.
Faço uma pausa, engolindo um nó
seco na garganta. Seu aperto na minha
camisa afrouxa e desliza para cima,
travando em volta do meu pescoço.
Porra.
— Não vejo outra maneira.
— Eu poderia matá-la — diz ele,
baixando a voz. — Eu poderia matá-la, levar
os crânios dela e de Beau para sua mãe e
levar você comigo em vez disso. — Ele se
aproxima, sua bochecha roçando a minha
enquanto ele se move para sussurrar: — Eu
poderia te salvar em vez disso.
Essas palavras batem em mim e
minha força se derrama como uma
cachoeira, meu corpo relaxando no dele. Eu
sou aquele que salva, não aquele que é
salvo. Ninguém nunca foi meu salvador, e
aqui está ele, oferecendo-se para ser apenas
isso. E estou caindo nessa, anzol, linha e
chumbada. Ele está brincando comigo e
fodendo com meus sentimentos. Ele não me
salvaria sobre ela, e eu nunca permitiria que
isso acontecesse, de qualquer maneira.
Eu sempre serei o salvador de Glory.
Eu coloco minhas mãos contra seu
peito e empurro, fazendo com que ele me
solte com surpresa e dê um passo para trás.
— Eu não preciso de você para me salvar.
Pegue a porra do seu machado.
Eu me viro e marcho para a porta da
frente para que ele seja forçado a me seguir.
— Foda-se — ele murmura atrás de
mim.
Então, eu ouço Glory gritar: — Não! —
e eu viro minha cabeça por cima do ombro
para olhar.
É quando eu o vejo vindo atrás de
mim com o machado em uma mão, um
sorriso de escárnio em seu rosto bonito e
uma determinação sombria em seus olhos
estreitos. A visão de Ambrose marchando
em minha direção, com sua grande mão em
volta do cabo e o machado pendurado ao
seu lado, desperta medo total.
Que porra estou fazendo?
Por que eu não lutei com ele?
O desejo instintivo de me salvar
finalmente toma conta de mim – eu não
posso por minha vida descobrir onde diabos
ele foi quando ele me colocou contra a
parede. Estou sendo estúpido, muito
estúpido com esta oportunidade em que
estou fora da jaula sem algemas e preciso
lutar pela minha vida.
Ele vem em minha direção quando me
viro para encará-lo, e deixo a raiva tomar
conta de mim. Eu corro a toda velocidade e
quando nossos corpos colidem, eu envolvo
minha mão ao redor de seu pulso. Ele
levanta o braço, segurando o machado, meu
aperto apertando seu pulso. Mas,
estranhamente, não há convicção em seu
movimento, nenhuma força enquanto ele
tenta trazer o machado para me atacar…
É quase como se ele realmente não
quisesse.
Eu arrisco e solto aquele braço,
optando por dar um soco em seu estômago.
Ele geme e tropeça um passo para trás, o
machado caindo de sua mão. Ele bate no
chão, quase acertando meu pé, mas eu o
ignoro.
Eu corro atrás dele, me curvando,
batendo meu ombro em seu estômago e
empurrando-o para trás em uma corrida.
Seus pés levantam do chão e ele cai de
costas, me fazendo cair para frente com ele.
Suas mãos se fecham em punhos e
balançam para mim enquanto eu caio em
cima dele. Um se conecta dolorosamente
com o lado do meu rosto. A força disso me
bate duro e eu caio de lado no chão.
Ele corre para me virar enquanto eu
pisco contra a escuridão que desaparece ao
redor das bordas dos meus olhos. Seus
quadris se apoiam nos meus, seus joelhos se
apertam ao lado da minha cintura, e suas
palmas batem contra o chão de madeira em
ambos os lados da minha cabeça. Meu
corpo fica imóvel enquanto me recupero
daquele golpe único e vertiginoso.
Esperando outro, minhas mãos sobem para
proteger meu rosto, mas outro golpe nunca
vem.
A fúria da luta diminui à medida que
os momentos de respiração passam. As
bordas pretas na minha visão desaparecem
e eu volto à clareza... e tudo que posso ver é
Ambrose acima de mim.
Seu peito arfa e seus cotovelos ficam
travados enquanto ele se segura sobre mim,
como se estivesse lutando para se manter
ali. Seu cabelo escuro cai em pedaços para
emoldurar seus olhos e eu estou preso neles
enquanto a raiva se transforma...
Ele gira lentamente.
Ele se desfaz.
E vem o desespero.
Sua cabeça abaixa, como se ele fosse
se curvar e me beijar, e eu quero que ele o
faça.
Eu quero que ele me beije.
Eu quero ele.
Depois de um momento de hesitação,
seus lábios pousam nos meus com força
contundente, e eu os separo ansiosamente.
Essa fúria, essa briga, essa coisa distorcida
entre nós existe para sobrecarregar nosso
desejo, e é exatamente isso que ela faz. Isso
me muda, me deixa estúpido, me faz querer
ser fodido por um homem que ia me matar
momentos atrás.
Ele realmente iria me matar?
Tão forte e poderoso como ele é com
seu músculo magro e esculpido, a maneira
como ele tentou levantar o machado para
me atacar foi fraca - patética, realmente -
descomprometida. E não há nada neste
beijo febril que me diga que ele me quer
morto.
O cativeiro deve ter me feito delirar.
Eu sei disso, mas isso não muda a luxúria.
Isso não me faz querê-lo menos. Eu já estou
ficando duro sob seu corpo forte enquanto
sua língua luta contra a minha pelo controle.
Eu gemo, levantando minhas mãos
para agarrar os lados de seu rosto, para
puxá-lo para baixo com mais força, para
encorajá-lo a afundar totalmente nessa
depravação comigo. E ele quase faz.
Muito rápido, ele retruca, nossas
bocas se separando estalo enquanto ele
recua, bufa uma respiração pesada, então
salta para seus pés. Eu me sento, preparado
para lutar pela minha vida novamente, mas
ele não pega o machado, ele não pega em
mim. Ele passa a mão trêmula pelo cabelo
grosso enquanto olha para mim, então enfia
a mesma mão no bolso.
Ele pega uma chave e a joga no chão
ao meu lado, o pequeno pedaço de metal
caindo com um tinido. — Vá — diz ele
suavemente. — Pegue-a e vá. Dê o fora
deste lugar antes que todos nós nos
machuquemos. Eu não vou te machucar
mais. Não posso. Isso está me matando.
Ele se afasta enquanto eu o observo
com os olhos arregalados, atordoado com o
rumo dos acontecimentos. Suas mãos
cavam em seu cabelo, agarrando e puxando
enquanto ele anda, sua agitação palpável.
Pegue a chave.
Glory Livre.
Corre.
As instruções rasgam minha mente,
exigindo que eu aja e aja agora. Mas meu
corpo hesita em alcançá-lo, ainda o
observando, ainda desejando-o, ainda
cantarolando com a necessidade dele.
— Vá. Afaste-se de mim, desta
floresta, desta maldição, desta infecção.
Este lugar é um inferno, e nenhum de vocês
pertence aqui.
Com grande relutância que eu não
entendo muito bem, eu alcanço a chave que
caiu ao lado da minha cintura, empurro
meus pés, e corro de volta para a sala da
gaiola para libertar Glory desse pesadelo
acordado de uma vez por todas.
CAPÍTULO DEZOITO
GLORY

ESTOU FRENÉTICA, PERDENDO a


cabeça de uma forma que mal consigo
descrever. Estou acostumada a me retirar,
me desconectar da realidade quando coisas
ruins estão acontecendo ao meu redor, mas
esse estado histérico que me invadiu é
doloroso e avassalador. Lágrimas caem
como cachoeiras pelo meu rosto enquanto
eu grito e choro, gritando por Huxley,
gritando por sua vida.
Tudo dentro de mim dói enquanto
tudo ao meu redor gira em caos.
Se ele morrer, acho que vou morrer
também.
Eu preciso dele.
Sempre precisei dele, e sempre
precisarei.
Não consigo imaginar um mundo sem
ele.
Quando ouço passos rápidos no chão,
correndo em minha direção, espero ver
Ambrose aparecer na porta. Meu rosto cai
de raiva quando um rugido cheio de raiva
borbulha no meu peito, preparando-se para
explodir à primeira vista dele.
Mas não é Ambrose na porta, é
Huxley, e ele está vindo em direção à gaiola
a toda velocidade. Ele tem uma chave – a
chave da gaiola – e suas mãos se contorcem
enquanto ele se atrapalha para inseri-la na
fechadura.
— Huxley? — Minha raiva desliga
como um interruptor e instantaneamente
se torna confusão.
— Ele nos disse para ir. Temos que
correr.
Eu libero meu aperto de morte nas
barras enquanto ele destranca a porta e ela
se abre, meus olhos arregalados em choque
com o rumo dos acontecimentos. Ele agarra
meu pulso e puxa, virando-se para correr de
volta para a porta, mas eu preciso dele. Eu
pensei que ele ia morrer, e eu tenho uma
segunda chance com ele na minha frente
agora.
Eu puxo meu braço para trás,
parando-o, e quando ele se vira para mim,
eu estendo a mão, agarro seu rosto e o puxo
contra mim. Eu o beijo mais forte do que já
beijei alguém antes. Ele começa a se afastar,
mas rapidamente desiste, agarrando meus
pulsos pelas bochechas e me beijando de
volta.
Apenas alguns momentos depois, ele
arrasta os lábios e deixa cair a testa na
minha. — Temos que ir. Temos que correr,
ok? Ele está nos deixando ir, e eu não sei
quanto tempo levará para ele mudar de
ideia.
— Ele deixou você ir?
Huxley assente.
— Ele está deixando nós dois irmos?
— A confusão toma conta de mim. — Eu
pensei que você estava morto. Achei que ele
ia te matar. Achei que nunca mais te veria.
Uma vibração no meu estômago me
implora para colocar meus lábios nos dele
novamente, e assim eu faço. Eu o beijo
porque preciso, porque momentos atrás, eu
o ouvi lutar por sua vida e já estava de luto
pela perda dele. Eu tenho que estar perto
dele, eu tenho que tocá-lo.
Eu não estou com medo de Ambrose,
ou uma necessidade urgente de fugir... eu
só preciso de Huxley. Eu arqueio minhas
costas e me curvo contra ele enquanto
aprofundo nosso beijo. Ele inclina para trás
e eu inclino com ele até que suas costas
colidem com a parede atrás dele.
Ele está duro contra o meu estômago,
e estou surpresa com isso porque ele estava
apenas lutando por sua vida, mas eu não me
importo. Eu o quero com força. Eu quero
que ele precise de mim tanto quanto eu
preciso dele – e eu preciso dele
desesperadamente. Eu preciso dele dentro
de mim, eu preciso dele ao meu redor, em
todos os lugares.
Seu aperto em meus pulsos aumenta
e ele puxa meus braços para baixo com
tanta força que me faz ofegar e quebrar
nosso beijo. Seus olhos queimam em minha
alma enquanto ele olha para mim, seu peito
inflando com respirações pesadas enquanto
seu rosto se contrai. Várias vezes, ele parece
estar prestes a falar, mas as palavras não
saem, apenas luxúria, necessidade e febre.
Quando ele finalmente fala, é um
sussurro tenso. — Temos que ir. Agora. —
Suas palavras expressam urgência em
correr, embora seus quadris se movam
contra os meus.
Eu deveria estar correndo. Eu deveria
estar pegando sua mão e arrastando-o
comigo, correndo para a porta da frente,
correndo para a floresta se esse for o único
caminho a seguir.
Em vez disso, meus pés estão
enraizados no local, meu corpo moldado ao
dele, meus lábios inchados e doloridos para
serem beijados novamente.
— Solte-me — implora Huxley. — Por
favor, me solte. Nós temos que ir. Não
teremos outra chance.
Ele está me implorando para me
mover, para liderar, como se meu toque o
mantivesse aqui com mais força do que a
ameaça de morte nos obrigasse a sair.
— Glory, mexa-se. — Sua voz treme.
— Mova-se — Por favor, apenas mexa-se.
— Não sei como sair.
O que estou fazendo?
Tudo o que eu queria era sair daquela
jaula horrível, fugir desse lugar de
insanidade e tentar encontrar alguma
versão fodida do normal com Huxley. Agora
que a oportunidade está diante de mim, não
consigo agarrá-la.
Eu não sei por quê.
Eu não sei como.
Mas o pensamento de sair agora – de
deixar Ambrose para trás – me faz sentir
doente.
— Huxley... — eu digo o nome dele,
implorando por quê, eu não sei.
Um som de estrondo vindo da sala de
estar nos sacode e nos pega de surpresa.
Huxley pisca para mim e balança a cabeça,
de alguma forma saindo do que quer que o
prendia aqui comigo.
Mas eu não sinto isso. Eu não sinto
nada, e eu ainda estou aqui, ainda na frente
dele, precisando que ele fique aqui comigo.
Ele suga uma respiração, então se vira
com meu pulso ainda firmemente em seu
aperto e corre. Em um piscar de olhos, ele
está avançando pelo corredor, me
rebocando atrás dele, me empurrando para
frente tão rapidamente que eu tropeçaria e
cairia se ele afrouxasse o aperto por uma
fração sequer.
Ele me arrasta para a sala de estar,
através da divisão entre a sala e a cozinha,
indo rapidamente para a porta da frente.
Não.
EU não posso... sair.
Nós não podemos... sair.
Vejo Ambrose na cozinha, os braços
apoiados na beirada do balcão e a cabeça
inclinada sobre a pia. Pratos quebrados
estão espalhados pelo chão. Ele não está
nos observando, nos perseguindo, não está
tentando nos parar. Ele está realmente nos
deixando ir. Ele realmente quer que a gente
vá.
Não. EU me recuso a acreditar.
Eu paro abruptamente; tão de
repente que pega Huxley de surpresa, e ele
me solta. Eu dou um passo para trás, então
me viro e rastejo um centímetro para frente,
em direção a Ambrose.
— Você realmente está nos deixando
ir? — Eu pergunto com uma inclinação de
minha cabeça.
— Nós não estamos esperando que
ele responda isso — Huxley diz, agarrando
meus ombros por trás e puxando.
Eu dou de ombros, dando outro
passo. — Ambrose?
— Vá embora — diz ele com os
dentes cerrados. — Vá embora antes que eu
mude de ideia.
É quando eu sinto isso, quando o
conhecimento de algo verdadeiro – odiado,
embora a verdade seja – me inunda. Ele lava
a lógica e a dúvida até que tudo o que resta
é desejo e instinto.
Eu.
Não posso.
Vá embora.
Não sei por que, mas sei que não
posso deixar Ambrose. Sinto por ele, tanto
quanto sinto por Huxley, embora de uma
maneira totalmente diferente. Sinto-me
inexplicavelmente ligada a ele, como se
corações mortos pertencessem um ao
outro, como se o universo nos arrastasse até
aqui para esta casa no meio de uma floresta
sinuosa.
Eu quero que minhas palavras saiam
fortes, com convicção, mas como sempre,
elas não saem. — Mude sua mente.
Sua cabeça se vira para nós enquanto
Huxley me agarra pelo cotovelo e me puxa
de volta. Eu planto meus pés e me afasto
com todas as minhas forças, arrancando
meu braço de seu aperto.
— Glory! — Huxley está tremendo,
mas não de raiva... de ansiedade. Eu odeio
estar causando essa ansiedade, mas eu
tenho que fazer isso.
Eu sou tão estúpida, mas eu tenho que
fazer isso.
Dou um passo na direção de Ambrose
e limpo minha garganta. Ele deixa cair uma
mão do balcão e olha para mim, suas
sobrancelhas escuras desenhando uma
linha reta em sua testa, olhos estreitos em
mim com confusão.
Ele dá um passo à frente e seu
movimento me assusta, a intensidade de
sua energia tão avassaladora que me faz dar
um pequeno passo para trás.
— Vá, Bird. — Sua voz é grossa e
suave. — Voe Livre. Saia e não volte mais.
— Você quer que eu saia? Você quer
que a gente vá embora?
Seus olhos se erguem, lançando-se
para olhar Huxley atrás de mim. — Que
porra você está esperando? Tire ela daqui.
Huxley agarra meu bíceps por trás e
me puxa para trás, me girando e me
empurrando em direção à porta. Ele me leva
em direção a ela, mas eu levanto minhas
mãos, bato minhas palmas contra a madeira
e empurro de volta.
— Não! — eu grito. — Eu não vou
embora. Não até que ele me diga que é isso
que ele realmente quer.
— Ele nos disse para ir. Por que isso
não é suficiente para você? — Huxley
levanta a voz enquanto eu consigo me virar
para encará-lo, minhas costas encostadas
na porta enquanto ele me aperta contra ela.
— Ele nos disse para ir, mas não é o
que ele quer. Ele não quer nos machucar.
Ele poderia ter nos matado, mas não o fez.
— Ele nos manteve reféns, Glory! O
que diabos há de errado com você?
Eu o sinto antes de perceber que ele
está vindo, sua aura empurrando contra nós
enquanto ele corre para o nosso lado. —
Vai! Vá embora! — Ambrose me agarra e me
arrasta para longe de Huxley com tanta
força que tropeço na direção dele. Ele me
pega contra seu peito forte enquanto abre a
porta com uma mão.
— Não!
Huxley agarra meu braço mais uma
vez, tentando me arrancar do aperto de
Ambrose, me puxando para um cabo de
guerra entre dois homens cuja presença faz
meu corpo zumbir.
Ambos me querem.
Ambos querem que eu vá embora.
Mas se eu for embora, isso acabou...
essa infecção doentia e repulsiva vai se
curar e a perfeição distorcida em meu
intestino vai parar.
Não pode parar.
Eu não posso deixar isso.
Estou entre eles enquanto ambos me
empurram em direção à porta. Atrás dele, a
neve cai com flocos lentos e suaves,
suavemente flutuando no chão. Mas eu não
vou. Eu me recuso a ir. E não consigo pensar
em outra maneira de impedi-los de me
empurrar do que pegar os dois de surpresa.
Por um breve momento, paro de
lutar. Eu deixo eles me empurrarem, e seus
corpos se juntam, quadris batendo
enquanto eu tropeço um passo para trás no
patamar. Uma faísca acende no momento
em que eles se tocam, um clarão inegável
entre eles que poderia iniciar um incêndio –
e eu sei que Huxley também não quer ir. É
por isso que ele hesitou quando eu o beijei.
Quando eles olham um para o outro,
eu deixo ir. Eu permito que o puro instinto
assuma o controle, sabendo que nesta casa,
meu instinto me leva à loucura sexual.
Qualquer um pode pensar que isso é
loucura, mas eu sei que não é. Louca é a
dissociação, o filtro vermelho que me
inundou e desconectou minha mente dos
momentos em que me tornei violento e
matei meu pai.
Isso – esse fogo, esse calor, essa coisa
doentia e retorcida entre nós três – é algo
que eu quero. Eu salto para frente, jogo
meus braços ao redor do pescoço de
Ambrose e o beijo. Nossos lábios se tocam e
o calor suave dele contra o meu é o
catalisador para mudar tudo o que
sabemos.
Espero que Huxley me afaste,
empurre Ambrose de volta. Espero ser
empurrada pela porta novamente, sentir o
ar gelado do inverno em minhas bochechas
e minha respiração ser roubada de mim
enquanto sou forçada a sair do único lugar
em que já me senti realmente livre.
— O que há de errado, Bird? Ficar
trancada em uma gaiola te assusta? Ou isso
te liberta? Isso lhe dá permissão para fazer
coisas que você sempre quis fazer, mas
nunca se permitiu?
Essas palavras que Ambrose me falou
uma vez antes soam tão verdadeiras agora,
como se ele me conhecesse na época... acho
que ele deve me conhecer agora.
Eu sinto o ar deixá-lo enquanto corre
de suas narinas, aquecendo minhas
bochechas e espalhando calor pelo meu
corpo. A tensão se afasta dele com um
estalo quando suas mãos sobem para
agarrar minhas bochechas e me puxar para
mais perto.
— Glory, pare — adverte Huxley,
embora sua voz seja arejada e sem
convicção.
Ambrose se afasta de mim, ainda
segurando minha bochecha com uma mão
enquanto estende a outra e agarra Huxley
pela camisa no centro de seu peito. Ele o
empurra contra nossos lados e o cala com
um beijo.
Eu suspiro, chocada com a visão disso.
Minha cabeça puxa para trás em surpresa,
mas a grande mão de Ambrose desliza da
minha bochecha, seus dedos deslizando no
meu cabelo, envolvendo a parte de trás da
minha cabeça para me segurar no lugar. A
resposta de Huxley me choca porque ele
não luta... ele cede.
Ele cede como eu cedi porque talvez
ele saiba o que eu sei. Nós fomos feitos para
encontrar Ambrose e nos devolver juntos à
magia negra da luxúria que ele conjura.
CAPÍTULO DEZENOVE
GLORY

SEU BEIJO SE APROFUNDA, torcendo-


se em bocas famintas e línguas chicoteantes
que lutam contra o outro pelo poder.
Prendo a respiração enquanto assisto,
mantida no lugar pela mão firme de
Ambrose na base do meu crânio.
Ele poderia soltar e eu não me
mexeria. Observá-los devorando um ao
outro me enraíza, como se o desejo deles
lançasse um feitiço em mim para
permanecer no lugar e testemunhar sua
loucura enquanto a minha própria se enrola
em meu estômago e afunda profundamente
dentro de mim.
Huxley parece em paz, tão
desprotegido, embora a tensão e a raiva que
o prendiam antes ainda o atraiam com
força. Ele parece carente, como eu me sinto,
e minha barriga aperta em torno do
desespero dentro de mim.
Como se ele sentisse, Ambrose se
afasta de Huxley e olha para mim, seus olhos
lançando sombras profundas enquanto se
enterram em minha alma. Há mil coisas que
quero dizer agora.
Eu quero implorar para ele nos deixar
ficar.
Quero implorar a Huxley que não me
faça ir.
Eu quero implorar para que ambos
me compartilhem, me desejem, me amem...
me façam gozar.
— Eu quero você — ele respira as
palavras. — Vocês dois. Mas isso não é real.
Não é nada. É este lugar esquecido por Deus
que nos faz sentir assim.
Bruscamente, ele nos solta e dá um
passo para trás, virando-se e andando com
os dedos passando por seu cabelo preto.
— Eu não acho que é o lugar — eu
chamo, seguindo-o. — Eu acho que é você.
Você nos faz sentir assim.
Ambrose se vira para me encarar,
jogando as mãos para os lados. — E daí se
for? Isso não pode se tornar nada. Você não
pode ficar. Você tem que sair. Não me deixe
te machucar.
— Você teve a chance de me
machucar... de machucar nós dois. —
Aponto atrás de mim para Huxley. — Você
ia matá -lo, mas parou. Você não fez isso. Em
vez disso, você deu a chave a ele e nos disse
para correr. Se você realmente o quisesse
morto, ele estaria morto agora. E ouvi você
falar com ele no corredor antes de decidir
nos deixar ir. Você o avisou que me levaria
com você, que nunca me deixaria ser livre.
— E eu não vou deixar você ser livre,
Glory. Não posso. Não, a menos que você
saia agora. Dê o fora antes que eu volte a
mim.
Eu levanto meu queixo e endireito
minha coluna. — Se voltar a si significa que
você vai me ter, se isso significa que você vai
nos ter então...
— Nós? — Ele aponta por cima do
meu ombro. — Ele não quer nada comigo.
Não ouse falar em nome dele.
Huxley se move para ficar ao meu
lado, seu corpo virado para o meu. — O que
você está tentando fazer aqui?
Eu me viro para encará-lo e agarro
suas bochechas, trazendo meus lábios para
perto dos dele. — Pela primeira vez na
minha vida — eu sussurro, sentindo seu
corpo balançar em direção ao meu — eu
estou tentando falar por mim mesma. Pela
primeira vez na vida, sei o que quero, o que
preciso, o que me fará feliz. — Meus quadris
se movem livremente sem pensamento
consciente, flutuando em direção ao dele
até que nossos corpos se toquem. — Estou
sendo estúpida, gananciosa e egoísta,
possivelmente arriscando minha vida por
um momento de satisfação. — Meus lábios
roçam os dele e ele suga uma respiração,
seus olhos se fechando enquanto ele cai
profundamente em um feitiço que eu não
sabia que estava lançando. — Quero você.
Eu quero ele. Eu quero a sensação estranha,
escura e intensa que tenho quando vocês
dois estão na sala comigo.
Uma mão firme se fecha ao redor do
meu pulso, me puxando para longe de
Huxley, me girando e me empurrando para
uma cadeira na mesa da cozinha. Assim que
minha bunda atinge o assento, Ambrose se
inclina sobre mim, suas mãos pressionando
minhas coxas enquanto ele se aproxima.
— Você está jogando um jogo
perigoso aqui, Bird. Você está certa de que
está sendo estúpida e egoísta. Quanto a
arriscar sua vida...? — Ele faz uma pausa,
olhando profundamente em meus olhos. —
Eu não quero você morta. Eu nunca quis
você morta. Qualquer um de vocês. Eu... —
Ele empurra minhas pernas, virando e
andando para longe. — Eu deveria matar
vocês dois, mas não posso. Eu não posso e
não vou. — O silêncio cai sobre nós por
alguns momentos tensos. Mas então isso se
rompe com um sussurro quase inaudível de
Ambrose — Meus pais... — Ele se vira para
olhar para mim, seus olhos mudando da
escuridão sem esperança para o
pensamento esperançoso.
— Seus pais? — Eu pergunto.
— Se Maura quer dois crânios, eu os
tenho. — Ele vira a cabeça para Huxley. —
Meus pais. Podemos desenterrá-los. Posso
pegar seus crânios e dizer que pertencem a
Glory e Beau. Como ela poderia saber?
Sinto um alívio súbito e imenso com
essa ideia brilhante, sabendo que
efetivamente elimina qualquer risco
adicional à minha vida ou à de Huxley. É
seguro para eu fazer essa escolha de ficar,
pedir a Huxley que fique, para nós dois
encontrarmos a paixão pertencente a um
feiticeiro do desejo.
— Você faria isso por nós? — Huxley
pergunta baixinho com a cabeça inclinada.
Eles olham quietos em um silêncio
antecipado. Milhares de palavras não ditas
flutuam entre eles, e eu espero, observando
os dois, imaginando o que está sendo dito.
— Só se você prometer ficar comigo.
Huxley exala audivelmente e a
frustração vem junto. — Bem, nós teríamos
que fazer isso, não é? Onde diabos mais nós
iríamos? — Ele joga as mãos para cima,
então deixa as palmas baterem contra seus
lados enquanto ele se vira e anda. — Se
Maura pensa que estamos mortos, temos
que nos esconder. Teríamos que ir a algum
lugar que ela nunca nos encontraria.
— E eu poderia levar vocês dois para
longe daqui. Eu poderia esconder vocês
dois, nós poderíamos...
— O que? — Huxley interrompe. —
Nós poderíamos o quê?
— Nós poderíamos ser livres juntos
— diz Ambrose, e as palavras me atingem
com força no peito. Ele se move lentamente
em direção a Huxley. — Eu vou dar a ela os
crânios dos meus pais, e ela vai assumir que
você está morto. Ela provavelmente vai me
pedir para plantar provas em algum lugar
para que suas mortes sejam presumidas, e
assim que seus atestados de óbito forem
assinados, ela receberá sua fortuna. Ela vai
me dar o dinheiro que prometeu e me
libertar, e você pode ser livre comigo. — Ele
para na frente de Huxley, a poucos
centímetros de distância, e eles se
observam com olhos intensos e respirações
pesadas. A voz de Ambrose se torna
dolorosamente esperançosa. — Poderíamos
deixar esta vida para trás e encontrar paz
em outro lugar... juntos.
Fecho os olhos, subitamente
dominada pela tensão, com medo de olhar
para qualquer um deles. Temo que, se
observar esse momento de indecisão entre
eles, o resultado se torne desfavorável,
como se meus olhos observadores
pudessem amaldiçoar qualquer
possibilidade de um futuro aqui.
Eu nunca imaginei que algo tão
distorcido e tóxico pudesse se tornar meu
futuro, mas eu quero. Eu quero cada grama
de sua paixão venenosa.
Parece que os anos passam enquanto
eu espero atrás dos meus olhos fechados.
Mas então, duas palmas suaves pousam em
meus joelhos e antes mesmo de eu abrir
meus olhos, eu sei que elas pertencem a
Huxley. Ele é sempre tão gentil comigo, tão
preocupado com como ele me faz sentir.
— É isso que você quer? — ele
pergunta.
Começo a dizer sim sem hesitar, mas
ele fala novamente antes que eu possa.
— Você quer que desistamos de
nossas vidas, finjamos nossas mortes e
fiquemos com o homem que nos manteve
cativos? — Ele se abaixa para se ajoelhar na
minha frente. — Não se atreva a dizer sim se
não tiver certeza, Glory, porque não há
como mudar de ideia nisso. Se ficarmos,
então a vida como a conhecemos está
acabada. Se ficarmos, nunca poderemos
voltar. Se ficarmos... — ele faz uma pausa,
olha para baixo, então de volta para mim —
Eu estou fazendo você minha. Vou levá-la e
arruinar tudo o que éramos antes. Com ele,
vou enlouquecer. Eu vou deixar ir e você
verá partes de mim que você não sabia que
existiam. Vai arruinar o que somos.
Eu engulo. — Mas o que nos
tornaremos?
— Veneno.
O ar sai de mim enquanto suas mãos
deslizam pelas minhas coxas, rastejando
sobre meus quadris e sob a bainha da minha
camisa. Eu suspiro e me mexo no meu
assento quando sua pele toca a minha.
— Estaremos arruinados para
qualquer outra pessoa porque ninguém será
capaz de sobreviver ao nosso veneno.
Somente nós. Você e eu... e Ambrose.
Medo se mistura com desejo afiado e
envia um arrepio de adrenalina pelos meus
braços. Eu nunca vi esse tom mais escuro de
marrom nos olhos de Huxley, nunca o ouvi
falar desse jeito. As mãos de Huxley
deslizam, subindo pelos meus lados, depois
de volta para baixo. Ele agarra a bainha da
minha camisa, pronto para retirá-la.
— Agora me diga... — ele espera, seu
peito arfando — é isso realmente o que você
quer?
— Sim.
Deus, sim.
Ele levanta minha camisa e a tira pela
minha cabeça em um movimento rápido, e
então eu me curvo, agarrando suas
bochechas, beijando-o rudemente. Ele
afasta minhas mãos e agarra meu rosto com
o dele, levantando-se de joelhos para me
encontrar enquanto nos perdemos nessa
necessidade perversa.
— Venha comigo — diz Ambrose e
rouba a atenção de nós dois, quebrando
nosso beijo e puxando nossos olhares junto
com seu movimento. Ele não faz mais nada,
não diz mais nada... ele simplesmente passa
e se move para o corredor, desaparecendo
rapidamente no quarto no final do corredor.
Huxley fica de pé, como se possuído
pelo comando de Ambrose. Ele se inclina
sobre mim, agarrando meus pulsos e
puxando-os ao redor de seu pescoço antes
de soltar para deslizar as mãos sob minha
bunda.
— Segure-se em mim — diz ele.
Eu agarro seu pescoço, abraçando-o
perto enquanto ele me levanta da cadeira
com facilidade, me encorajando a dobrar
completamente ao redor dele – meus
braços ao redor de seu pescoço, minhas
pernas ao redor de sua cintura, minha alma
ao redor de seu coração.
— Hux — eu choramingo, e ele me
beija de novo enquanto se move.
Isso está realmente acontecendo?
Ele me carrega pelo corredor,
passando pela sala onde estivemos
enjaulados por tanto tempo, apenas
querendo ser livres. Eu não posso acreditar
o quão livre eu me sinto agora indo para o
quarto do homem que nos fez reféns. A
doença de tudo isso torce dentro do meu
estômago, apertando minha barriga e
enviando uma corrida escura pelas minhas
veias. O prazer disso é doloroso. É um
veneno correndo por mim — exatamente
como Huxley disse — e nunca mais serei a
mesma depois disso.
Não quero ser a mesma depois disso.
Estou perdida para o deslizamento da
língua de Huxley na minha, a maneira
ansiosa, mas controlada, com que ele me
prova. É contido e desequilibrado de uma só
vez, e isso me faz afundar em seu aperto,
meu corpo ficando pesado de desejo. Então,
de repente, minhas costas tocam o colchão
e meus olhos se abrem.
Ambrose.
Onde ele está?
Como se ele pudesse ouvir minha
pergunta silenciosa, ele aparece acima de
mim, alcançando meus pulsos e esticando
meus braços acima da minha cabeça para
descansar no colchão. Meus olhos se
fecham novamente ao seu toque. Há algo
sobre os dois estarem aqui juntos -
igualmente envolvidos nessa depravação -
que me ajuda a relaxar, me ajuda a
mergulhar nisso e me abrir para eles.
Huxley me cobre, me beijando
profundamente enquanto suas mãos
encontram minha barriga e rastejam mais
alto. Meus dedos flexionam e se estendem
acima da minha cabeça, procurando algo
para segurar. Sinto o alívio passar por mim
quando Ambrose segura minhas mãos,
segurando-as com força em suas palmas
enquanto sinto sua energia mudar para
Huxley.
— Pare de beijá-la e olhe para mim.
Desafiadoramente, Huxley aprofunda
o beijo, e Deus, eu amo isso. Eu amo o jeito
que ele cai em mim, o jeito que ele me
devora completamente com os lábios
abertos e a língua urgente.
Ambrose solta uma das minhas mãos
e então Huxley é empurrado para longe.
Meus olhos se abrem para ver a mão de
Ambrose no cabelo de Huxley, segurando os
fios loiros dourados para levantá-lo para
longe de mim. Eu assisto por baixo deles
enquanto Ambrose se aproxima, seu nariz
quase tocando o de Huxley.
— Você já foi fodido por um homem
antes? — Ambrose pergunta.
— Sim — responde Huxley.
Oh meu Deus.
— Bom — Ambrose respira. —
Porque eu quero foder vocês dois.
Eu suspiro quando Ambrose remove a
distância entre seus lábios e o beija
rudemente. Huxley responde com igual
aspereza, beijando-o de volta tão
desesperadamente quanto ele me beijou.
Isso não deveria me deixar com
ciúmes?
Isso só me faz querer mais.
Meus quadris se movem e minha
boceta gruda no pau de Huxley, que está
endurecendo rapidamente através de seu
jeans. Ele geme quando Ambrose o prova.
Eu quero provar os dois.
Ambrose se afasta do beijo para
sussurrar contra sua boca — Eu quero ver
você levá-la à insanidade. Eu a quero se
contorcendo em loucura e implorando por
liberação. Eu quero que você goze dentro
dela enquanto eu gozo dentro de você.
Eu observo o rosto de Huxley
enquanto Ambrose fala, e a forma como sua
expressão se transforma – tão perdida em
sua luxúria – é honestamente a coisa mais
linda que eu já vi. Seu rosto está tenso, mas
relaxado, como se as palavras de Ambrose,
seus comandos, lhe proporcionassem algum
alívio. Tenho certeza de que é um alívio
porque Huxley sempre assume a liderança.
É um fardo que não posso tirar de seus
ombros, mas Ambrose pode... e ele o faz.
— Tire ela — Ambrose diz, sua mão
soltando o cabelo de Huxley para descer e
agarrar minha palma novamente.
Então as mãos de Huxley estão no
botão do meu jeans. Ele me deixa nua de
uma vez, tirando minha calcinha para baixo
com minha calça enquanto ele a puxa pelos
meus quadris e a desce pelas minhas
pernas.
Uma vez que eles estão fora, eu
hesito, juntando minhas coxas, de repente
ciente de quão exposta e vulnerável estou.
Instintivamente, puxo meus braços, mas
eles mal se movem com Ambrose segurando
minhas mãos.
Como eu amo a sensação de suas
palmas nas minhas, mas ser pressionada tão
rigidamente enquanto ele pressiona meus
braços no colchão está quase provocando. A
escuridão puxa minha mente, tentando
afastá-la da consciência, mas eu luto contra
ela. Eu luto com tudo dentro de mim porque
eu quero estar ciente.
Ambrose deve sentir meu pânico
porque ele solta minhas mãos.
Instantaneamente lamento a perda de seu
toque, mas não lamento por muito tempo.
Ele vem se ajoelhar na cama, se
aproximando até que seus joelhos estão
praticamente escarranchados na minha
cabeça.
Eu levanto minhas mãos enquanto
olho para ele, a necessidade de tocá-lo forte
demais para ignorar. Eu agarro seus quadris
enquanto ele se inclina sobre mim, seus
olhos nos meus, seu cabelo escuro caindo
ao redor de seu rosto para emoldurar
pecaminosamente. Ele pega os bojos do
meu sutiã e empurra o tecido para baixo,
expondo meus seios ao ar frio dentro da
cabine. Eu suspiro, então gemo quando
meus mamilos endurecem imediatamente.
Suas palmas descem para cobrir meus
seios e o contraste quente é divino. A
umidade se acumula entre minhas pernas
enquanto ele amassa os montículos, os
calcanhares de suas mãos cavando contra
meus mamilos.
— Coloque sua boca nela — ele diz a
Huxley, que cai de joelhos na minha frente.
— Prove-a.
Seus lábios tocam minha pele com
pressa, pressionando meu joelho enquanto
ele abre minhas pernas com as mãos e se
acomoda entre elas. Sua língua toca o
interior da minha coxa, e ele lambe todo o
caminho, enviando um arrepio pela minha
espinha.
— Hux.
Seu olhar está fixado entre minhas
pernas, olhos escuros me inspecionando
com intenção, curiosidade e desejo. Sua
língua percorre seus lábios e ele inala
profundamente. — Isso é tudo para nós,
Glory? — Seu polegar provoca, subindo para
escovar levemente a linha da minha fenda.
— Você já esteve molhada assim com outro
homem?
— Nunca — eu falo a verdade.
Ambrose puxa as mãos de volta para
beliscar e rolar meus mamilos com os dedos.
Meus quadris saltam para fora da cama com
um choque de eletricidade através do meu
núcleo. Huxley coloca a palma da mão no
meu estômago e me pressiona de volta para
baixo. Esse controle gentil que ele exibe me
deixa louca como cada centímetro da minha
pele formigando com a necessidade.
— Você quer que eu te prove? —
Huxley se aproxima e eu posso sentir sua
respiração quente em minha pele. — Você
vai gostar se eu deslizar minha língua dentro
de você? Chupar seu clitóris? Levar você à
beira da insanidade, como Ambrose quer?
Meu estômago se contrai enquanto
meus músculos se contraem. — S-sim...
— Pare de provocar e prove-a. —
Ambrose o alcança, agarrando a parte de
trás de sua cabeça com uma palma e o
empurra para frente.
Huxley não luta com ele; em vez disso,
ele enterra o rosto entre as minhas pernas e
me ataca com a boca e a língua, me beijando
com tanta urgência quanto beijou meus
lábios antes. Minhas coxas se contorcem
quando o prazer instantaneamente
aumenta entre minhas pernas e ondula meu
interior, me sobrecarregando de uma forma
que me faz sentir doente, mas da melhor
maneira possível.
Huxley lambe e suga enquanto
Ambrose o segura, seu calor me cobrindo de
cima. O ar está espesso com o gemido de
calor e paixão. Os sons, as respirações, os
gemidos e gemidos compartilhados entre
nós são como veneno em minhas veias –
veneno tomando conta de mim como
Huxley me disse que seria.
Eu estou mudando.
Eles estão me mudando.
Minhas pernas se fecham em torno
das orelhas de Huxley enquanto a tensão
aumenta no meu centro, enquanto meu
corpo flutua com o deles em uma nuvem
invisível de luxúria.
Deus, isso é tão bom.
Ambrose é grosso, sua ereção
crescendo atrás de seu jeans – posso ver a
protuberância onde seus quadris pairam
acima do meu rosto.
Eu quero.
Eu levanto minhas mãos, lutando para
desabotoar sua calça jeans, mas ele afasta
minhas mãos com um empurrão suave.
— Não, bird, não. Você não levanta
um dedo agora.
— Por que? — Eu choramingo. — Eu
quero.
Ele libera Huxley, que continua seu
consumo frenético sem direção. Seu toque
muda de duro para suave enquanto ele
acaricia minha pele, esfregando as mãos no
meu peito, sobre meus seios, descendo pelo
meu estômago e subindo novamente. —
Estamos todos aqui por sua causa. Porque
você escolheu ficar quando eu deixei você ir.
Porque você me queria. Eu nunca fui
desejado assim, e tudo que eu quero fazer é
deixá-la louca de prazer. Eu não quero fazer
você desaparecer empurrando meu pau na
sua garganta.
— Eu não vou desaparecer... — eu
digo, embora eu saiba que ele está certo.
— Você já se machucou o suficiente.
Suas mãos continuam a se mover ao
longo de minhas curvas enquanto Huxley
passa sua língua pesadamente sobre meu
clitóris. Ele aperta os lábios em torno dele e
chupa, e o choque de prazer faz meus
quadris subirem da cama. Todas as quatro
mãos estão em mim - Huxley está em meus
quadris, Ambrose está na minha barriga - e
todas estão me empurrando para baixo, me
segurando com uma gentileza que nunca
experimentei antes. Eles podem me segurar
se o fizerem dessa maneira, concedendo-
me tal prazer que minha mente não pode
deixar o momento.
— Por favor — eu imploro — eu não
posso...
Não aguento uma sensação tão boa.
As partes quebradas dentro de mim
querem que me machuquem, me usem,
abusem de mim. Eu quero isso porque é
tudo que eu já conheci. Seu controle gentil
e determinado está confundindo meus
sentidos, me sobrecarregando e me fazendo
ofegar. Sinto que não consigo recuperar o
fôlego e, embora meus pulmões doam,
felizmente pararia de respirar aqui e agora,
meu último momento de morte à beira da
felicidade perfeita com os dois homens que
possuem as partículas restantes do meu
coração cinza.
Eu quero falar; Eu quero dizer a eles o
que estou sentindo, mas tudo o que sai são
suspiros e gemidos e sons estrangulados
que ficam presos na minha garganta. Eu
estaria se debatendo e me contorcendo se
pudesse, mas Huxley passou os braços em
volta das minhas pernas, agarrando minhas
coxas e apertando minhas pernas ao redor
de sua cabeça para que eu não pudesse me
mexer.
Seu rosto está enterrado na minha
boceta e eu tenho um pouco de medo que
ele sufoque lá embaixo... mas o jeito que ele
me come me faz pensar que ele morreria
feliz assim.
Eu não entendo o jeito que ele me
quer, o jeito que qualquer um deles me
quer. Mas eu amo isto.
Eu amo isso.
Ambrose se afasta e desliza as mãos
sob meus ombros. Ele me levanta, chegando
mais perto antes de se sentar sobre os
calcanhares. Ele me inclina contra seu colo,
me inclinando perfeitamente para olhar
para o rosto de Huxley entre minhas pernas.
— Olhe para ele — ele sussurra
através do meu cabelo emaranhado. — Olha
o quanto ele te quer, o quanto ele precisa te
provar. Observe-o enquanto ele te faz gozar.
Goze para nós, Bird.
A maneira como ele sussurra traz
aquela magia negra que me envolve em
luxúria, e eu sucumbi inteiramente a ela.
Meu corpo fica tenso em torno do meu
centro. Os olhos de Huxley se abrem e me
atingem com escuridão – o tom marrom de
suas íris parece uma escuridão sombreada
em seu consumo enfeitiçado.
O olhar me cativa inteiramente, me
mantém imóvel, atrai cada molécula de
prazer para meu núcleo úmido e pulsante.
Eu não sabia que o sexo poderia ser assim.
Eu não sabia que poderia me sentir segura e
liberta. Eu não sabia que poderia agarrar
meus sentidos e libertar minha mente.
Nunca foi libertador antes – não até Huxley
e Ambrose.
Ambrose empurra meu cabelo para
longe do meu pescoço com o nariz antes de
me beijar ali, sugando levemente minha
pele enquanto pressiona seu rosto na curva
do meu pescoço. Ambos lambem e chupam
e isso faz minha cabeça ficar leve. Minha
pele formiga enquanto o fogo queima na
minha barriga. Meu corpo se curva em torno
do prazer enquanto algo se contorce dentro
de mim.
Agarro o edredom com as duas mãos
enquanto cada músculo fica tenso,
alertando para a explosão que está
crescendo e crescendo e crescendo... e
então estoura. Cócegas, formigamento de
prazer dispara através do meu clitóris e
desencadeia uma reação em cadeia, uma
série prolongada de erupções que pulsam
através da minha boceta e me chocam em
felicidade.
Eu suspiro e gemo.
Huxley suga e geme.
Ambrose lambe e sussurra em minha
pele.
Minhas coxas se contorcem quando
Huxley afrouxa seu aperto. Ele se afasta e
fica parado com um sorriso pecaminoso em
suas bochechas – e isso me faz querer mais
dele. Ele coloca um joelho na cama ao lado
do meu quadril, chegando perto enquanto
se inclina para frente, seu corpo pairando
sobre o meu. Eu quero beijá-lo. Eu quero me
provar em seus lábios.
Ambrose tem a mesma ideia. —
Deixe-me prová-la — diz ele.
Huxley geme, um estrondo profundo
em seu peito, enquanto seus olhos brilham
com fome. Ele se curva enquanto Ambrose
se inclina, e suas bocas se encontram com
fúria. Eles se beijam tão intensamente que
eu sinto que sou parte disso.
Eu sou parte disso.
Eu sou o gosto em suas línguas.
Eu sou o sabor que sua fome erótica
anseia.
Mal consigo desviar os olhos, mas o
faço por um momento, tempo suficiente
para olhar para baixo e ver a protuberância
no jeans de Huxley.
Meus dedos trabalham com urgência
em sua fivela, seu botão, seu zíper. Ele se
afasta do beijo antes que eu possa chegar
dentro para tocar a parte dele que eu nunca
soube que poderia precisar dessa maneira.
Ele pega minhas mãos e as empurra
para o lado, estende a mão para envolver a
palma gentilmente em volta da minha
garganta e abaixa para pressionar sua testa
na minha enquanto encontra meus olhos. —
Eu quero foder você sem sentido. Eu quero
ver você perdida na paixão. Eu quero levá-la
à beira da insanidade e puxá-la de volta
antes que você caia.
— Por favor — eu respiro.
Ambrose de repente desaparece, e eu
caio de volta na cama com Huxley pousando
em cima de mim antes que ele se mova de
joelhos para montar em meus quadris. Eu
me arrasto para trás ao longo da cama para
que eu possa puxar minhas pernas para
cima de onde elas estão penduradas na
lateral, e Huxley se move comigo.
Seus lábios tocam os meus e minha
língua desliza para prová-lo ansiosamente.
Ele me beija tão vorazmente quanto ele fez
entre as minhas pernas, cutucando a parte
interna das minhas coxas com os joelhos
para me abrir para ele. Ele libera minha
garganta para terminar o que eu comecei,
estendendo a mão entre nossos corpos se
contorcendo para libertar seu pau de seu
jeans.
O beijo é interrompido quando me
aproximo dele, minhas mãos se arrastando
entre nós para encontrar sua carne quente.
Nós dois gememos quando eu envolvo uma
das minhas mãos ao redor dele, e eu me
encontro sem fôlego novamente, ofegante
por mais.
Tão rápido quanto Ambrose me
deixou antes, ele retorna, seu rosto
aparecendo sobre o ombro de Huxley
enquanto ele mergulha para beijar seu
pescoço. Os olhos de Huxley se fecham, e
sinto uma pontada de prazer disparar
através de mim ao vê-lo.
Eu preciso vê-lo gozar.
— Tire suas roupas — Ambrose
ordena, puxando-o para fora da cama,
deixando-me fria e nua.
Eu pressiono meus cotovelos para
olhar para eles. Ambrose está nu e
espetacular – alguém bonito demais para
ser tão quebrado. Olho para suas mãos em
movimento e vejo que ele está se
preparando para rasgar um preservativo.
O calor se espalha pelo meu peito
com esse simples ato. Tenho certeza de que
ele está apenas tentando se proteger, mas
eu poderia me enganar pensando que ele
está tentando me proteger ... proteger a
todos nós. Independentemente disso, eu
não quero a barreira. Quero os dois crus. Eu
preciso senti-los entrar em mim.
— Não. — Eu balanço minha cabeça
para ele. — Não coloque. Eu tenho um DIU.
Espero alguma hesitação, alguma
dúvida, uma exigência de provas. Mas tudo
o que recebo é uma confiança ansiosa, e
foda-se, isso é tão bom quanto gozar. Um
rosnado baixo ressoa em seu peito e ele joga
o pacote de lado. Ele se aproxima de Huxley,
inclinando-se para ele. Ambrose levanta a
bainha de sua camisa, tirando-a e tirando-a
dele. Então sua mão envolve o pênis de
Huxley, solto acima do elástico de sua cueca
boxer e jeans.
E magicamente, espiritualmente, nós
três soltamos um suspiro coletivo de alívio,
porque de alguma forma, prazer para um de
nós significa prazer para todos nós.
Huxley balança, inclinando-se em seu
aperto, e logo eles estão se beijando
novamente, bocas famintas se consumindo.
Minha mão flutua por vontade própria,
deslizando pelo meu estômago, buscando o
calor entre minhas pernas enquanto
implora por outra liberação.
Exceto que meu toque sozinho não é
suficiente.
Nunca poderia ser o suficiente com o
jeito que eu preciso desses homens.
— Eu preciso de você — eu sussurro,
e ambos se voltam para olhar para mim.
Huxley termina de se despir enquanto
Ambrose sobe em mim. Minha respiração
gagueja em meus pulmões enquanto sua
energia pulsa através de mim, aumentando
a adrenalina pelo medo que ainda perdura.
Não temo mais o que Ambrose fará comigo.
Em vez disso, temo o quanto posso me
apaixonar por ele, já posso sentir isso
acontecendo. Não faz sentido, mas eu não
me importo. Eu quero me apaixonar por ele.
Eu quero me apaixonar pelos dois.
Eu já me apaixonei por Huxley.
Ambrose agarra a parte interna das
minhas coxas, abre minhas pernas e as
pressiona no colchão. Sem aviso, ele
empurra dentro de mim. Estou tão molhada
do orgasmo com Huxley que Ambrose
desliza com facilidade, embora seu pau
grosso me estique enquanto ele empurra
profundamente. Eu suspiro, saboreando a
plenitude de sua intrusão, e deixo cair os
cotovelos, caindo de volta no colchão para
me deleitar com a sensação, convidando-o a
me foder como quiser.
Ele me fode lentamente enquanto
Huxley sobe na cama e se ajoelha ao meu
lado, me mostrando seu pau que está alto e
orgulhoso, implorando para ser tocado. Eu
viro minha cabeça para ele, lambendo meus
lábios e sinalizando meu desejo de prová-lo
do jeito que ele me provou.
— Você quer isso?
Eu aceno, torcendo e levantando
minha parte superior do corpo em direção a
ele enquanto Ambrose continua a empurrar
lentamente em mim. Huxley se aproxima,
trazendo seu pau grosso em direção aos
meus lábios, e eu suspiro quando ele está
perto o suficiente para eu lamber. Eu corro
minha língua pela ponta, observando seus
músculos do estômago apertarem no
primeiro contato.
Eu quero todo ele apertando e se
contorcendo.
Eu quero ele se contorcendo e
gritando enquanto goza.
Eu envolvo meus lábios em torno dele
e o tomo em minha boca.
— Foda-se — ele sibila. — Glory.
Sua mão pousa na minha cabeça,
acariciando até chegar à base do meu
crânio. Ele penteia seus dedos no meu
cabelo e me segura lá, gentilmente
pulsando seu pau dentro da minha boca.
Ele não me força a engasgar com ele,
e eu realmente não sei o que fazer com isso.
Ele é gentil, cuidadoso comigo, empurrando
golpes rasos com apreciação e gratidão pelo
meu desejo de agradá-lo.
Ele está grato.
Ele se importa.
Ele me faz sentir humana.
Eles me fazem sentir digna.
Isso faz meus olhos se encherem de
lágrimas e eu pisco, tentando escondê-las
porque não quero que ele pare com isso.
Não quero que nenhum dos dois pare com
isso. Ambos estão me tocando, me
acariciando, me adorando com golpes fáceis
de seus paus duros.
Eles não estão tirando de mim... eles
estão dando.
E eu sei agora que eu nunca vou
deixá-los. Eu nunca vou deixar nenhum
deles.
O polegar de Huxley roça sob meu
olho, agarrando uma lágrima e a enxugando
enquanto pisco para ele. Ele puxa seu pau
para longe, mas eu me inclino para isso,
abro minha boca ainda mais, implorando
para ele voltar.
— Diga-me que você está bem — ele
diz suavemente, e de repente, Ambrose
para também.
Ambos param e olham para mim,
esperando minha resposta como se fossem
parar com isso agora se eu mandasse. Meu
peito aperta e dói. Parece que minhas
costelas estão se fundindo, formando uma
barreira em torno das cinzas do meu
coração, esmagando as partículas de
fumaça de volta e tentando acender as
brasas do órgão quebrado de volta à vida.
Dói, mas também é bom.
Parece que a força está crescendo
dentro de mim.
Parece que minha voz fraca poderia
se tornar forte novamente, como se minhas
palavras tivessem significado aqui.
— Você quer parar? — Huxley
pergunta.
— Não — eu digo com firmeza. —
Não, não pare. Por favor, não pare. Não por
nada. Eu quero isso. Eu quero vocês dois.
Por favor.
O calor desce. Ambrose me cobre,
curvando-se para beijar meu pescoço
enquanto ele começa a se mover dentro de
mim novamente. Huxley acaricia minha
bochecha, passando o polegar pelo meu
lábio inferior e puxando suavemente. Eu
abro para ele novamente e ele me deixa
tomá-lo, ele me deixa lambê-lo, ele me
deixa correr minha língua ao longo da parte
inferior de seu pau antes de eu envolver
meus lábios em torno dele e chupar.
Nós três nos movemos em perfeita
harmonia, agradando um ao outro como se
fosse tão natural e necessário quanto
respirar... porque é.
Nós torcemos e nos contorcemos e
imploramos e respiramos, uma bela tensão
crescendo e pulsando entre nós como um
único batimento cardíaco, uma única
necessidade que só poderia ser satisfeita
entre nós três.
Em algum momento, Ambrose
assume o controle, empurrando Huxley de
costas e me levantando em cima dele. Ele
segura meus quadris por trás e me guia para
o pau de Huxley, me empurrando para baixo
lentamente para levá-lo dentro de mim. Eu
suspiro, jogando minha cabeça para trás
enquanto me sento nele e ele me preenche
mais completamente do que eu jamais
pensei que poderia ser preenchida.
Eu sinto a dureza de Ambrose
pressionar a parte inferior das minhas
costas enquanto ele me segura lá, enquanto
seus dedos cavam em minha carne para me
manter imóvel e me impedir de me mover.
Eu quero deitar em Huxley, abrir
minhas bochechas para Ambrose, e tê-lo
empurrado dentro da minha entrada
traseira. Eu quero que ele me reivindique
inteiramente. Mas ele não me deixa mover.
— Por favor — eu imploro. — Eu
preciso gozar.
— Não se mova — diz ele contra o
meu ouvido.
Eu o sinto espalhar as pernas de
Huxley debaixo de mim, me empurrando
para frente, e eu tenho que abrir meus
joelhos um pouco mais para continuar
montada nele. Eu sinto Ambrose se mover
atrás de mim, sua mão acariciando minha
coluna, todo o caminho entre minhas
bochechas, e mais abaixo... até que seu
toque desaparece.
Eu sei onde a mão dele foi.
Eu vejo isso no rosto de Huxley
enquanto ele engasga e seus olhos reviram
de prazer.
Ele quer ser preenchido tanto quanto
eu, e Deus, como eu quero isso para ele.
Quero o prazer dele mais do que o meu,
embora saiba que o prazer dele está ligado
ao meu. Já posso senti-lo crescendo e
inchando.
Eu sinto Ambrose contra minhas
costas novamente, seu pau embaixo de
mim. Eu sei o momento em que ele começa
a empurrar dentro de Huxley porque ele
engasga e seus olhos se arregalam, sua
cabeça inclinada para trás enquanto o
gemido mais erótico que eu já ouvi ressoa
através dele.
— Foda-se ele, Glory — Ambrose
ordena, uma mão pousando no meu quadril.
— Use-o para fazer você gozar, e nós iremos
com você.
— Porra. Glory, foda-se — implora
Huxley.
Uma nova onda de umidade flui entre
minhas pernas, minha boceta já pulsando e
meu estômago apertando com a
necessidade. Minha boceta implora por
fricção e pressão, mas não estou
acostumada a ficar por cima. Estou
acostumada ser fodida, não tendo prazer
por mim mesma.
Eu começo a me mover, levantando e
abaixando em seu pau, e posso ver o quanto
Huxley gosta disso, mas não é muito certo
para mim.
— Pare. Você vai se esgotar desse
jeito. — Ambrose agarra meus quadris com
ambas as mãos, me parando, me segurando
no colo de Huxley. Ele me guia,
pressionando meus quadris para frente e
para trás. — Assim, Bird. Balance seus
quadris. Mantenha-o dentro de você e
esfregue seu clitóris em seu estômago.
Como esses homens conhecem meu
corpo melhor do que eu mesma?
Uma onda de puro êxtase ondula
através de mim pela maneira como eles me
conhecem, pela maneira como me guiam,
pela maneira como querem me fazer sentir
bem. Eu amo o jeito que ambos podem
assumir o controle de mim sem me assustar.
Eu amo tudo isso.
Amo eles.
Faço o que Ambrose me diz e em
instantes, todo o meu corpo se contrai. Um
estremecimento me atravessa enquanto
gemo, enquanto deixo cair meu corpo para
frente e pressiono as palmas das mãos no
colchão de cada lado da cabeça de Huxley.
Eu balanço mais rápido, pressionando meus
quadris com força e esfregando meu clitóris
contra a base de seu pau e sua barriga.
Minhas pálpebras tremem, mas tento
mantê-las abertas enquanto sinto Ambrose
atrás de mim, acompanhando meu ritmo,
empurrando dentro de Huxley por baixo de
mim.
Huxley segura meu olhar enquanto
nossos lábios se separam, enquanto
gememos e choramingamos em desespero.
— Eu vou gozar — eu sussurro
enquanto sinto o pênis de Huxley inchar
dentro de mim, engrossando e pulsando
enquanto ele se aproxima de sua própria
liberação.
— Foda-se — Ambrose geme atrás de
mim, inclinando-se para mim e
pressionando seus lábios na minha coluna.
Ele apimenta beijos por todas as minhas
costas e estou sobrecarregada com a
sensação. — Venha para nós, Bird. Grite por
nós. Deixe-nos saber como é bom. Faça-nos
ir com você.
— Porra, faça isso, Glory — Huxley
exige com olhos semicerrados. — Porra,
goze no meu pau. Me leve com você.
Eu sinto o aperto, a tensão, o clímax
crescente enquanto minhas estocadas se
tornam frenéticas. — Deus — eu expiro. —
Deus, eu estou gozando. eu... eu...
Meu queixo cai e meus olhos se
fecham quando algo mais poderoso do que
magia negra rasga minha alma. Um som se
liberta do meu peito – uma estranha
combinação de um suspiro, um gemido, um
grito estrangulado. Meu corpo fica rígido,
tremendo enquanto o clímax me consome,
gira em torno do pênis de Huxley dentro de
mim e puxa sua liberação.
Eu sinto um líquido quente socar
dentro de mim enquanto as ondas de prazer
me atingem de novo e de novo, enquanto
Huxley levanta seus quadris do colchão e me
fode enquanto ele grita sua liberação.
E Ambrose, o homem que tem magia
negra nos corrompeu todos juntos nessa
luxúria tóxica, geme e fode Huxley mais
forte, mais rápido, mergulhando nele até
que ele se desfaça com um gemido áspero
que ecoa por toda a sala.
Nós gozamos juntos.
Nós colapsamos juntos.
Encontramos felicidade na loucura
juntos.
CAPÍTULO VINTE
HUXLEY

AMBROSE ESTÁ PROFUNDO dentro


de Glory enquanto ele a segura por trás,
aconchegando-a. Cada um deles tem uma
mão no meu pau onde eu deito na frente
dela, beijando-a com paixão enquanto nós a
construímos novamente em direção a um
terceiro orgasmo. A mão de Ambrose aperta
ao redor da base do meu pau enquanto sua
mandíbula fica tensa, enquanto seus
músculos ficam rígidos, enquanto ele a fode
com impulsos bruscos e ofegantes.
Glory geme na minha boca e a
vibração do som dela é incrível. Ela treme
através de mim, fazendo meu pau se
contorcer em suas mãos.
— Foda-se — murmuro contra seus
lábios. — Porra, eu preciso ficar dentro de
você.
Eles me soltam enquanto Ambrose a
empurra para frente contra o meu peito,
movendo-se atrás dela, em seguida,
levantando-se sobre um joelho. Eu agarro
sua perna e a levanto sobre a minha
enquanto ele a fode por trás, forte e rápido.
Glory envolve seus braços em volta de mim,
me abraçando forte, e eu sinto o calor se
espalhar de seu coração para o meu
enquanto eles batem juntos, batendo em
um ritmo pulsante de necessidade.
— Venha dentro de mim — ela
sussurra. — Eu quero que vocês dois gozem
dentro de mim.
Eu deixo minha mão deslizar por seu
lado, vagar sobre seu quadril e deslizar
sobre sua bunda. Eu agarro sua bochecha e
puxo, abrindo-a para ele. — Você pode
aguentá-lo aqui? aguentar nós dois ao
mesmo tempo?
Ela estremece, beijando meu
pescoço. — Sim. Por favor, sim.
Ambrose se afasta de repente e a
afasta de mim. Ela engasga, mas não luta
quando ele a vira para encará-lo, trocando
nossas posições. — Eu vou machucá-la se eu
transar com ela lá — diz Ambrose para mim.
— Ela é muito apertada. Vou perder o
controle.
— E você não acha que eu vou? — Eu
esfrego meu dedo no vinco entre suas
bochechas enquanto ela engata a perna
sobre Ambrose. Tateio ao redor até
encontrar o buraco enrugado e o circulo
com meu dedo, fazendo Glory sacudir e
apertar sua perna com mais força ao redor
de Ambrose. — Você gosta disso?
Ela não responde com palavras,
apenas um aceno fervoroso enquanto vira a
cabeça para trás para me olhar por cima do
ombro. Eu beijo sua bochecha, descendo
por seu pescoço e sobre seu ombro
enquanto Ambrose alcança entre seus
corpos. Ele pega seu pau, o alinha e entra
em sua boceta novamente. Seus olhos se
fecham e seus lábios se abrem – tão
rosados, perfeitos e sensuais.
Eu me abaixo para pegar a umidade
de sua boceta, molhar meus dedos e
espalhá-la ao redor de sua entrada traseira.
Eu entro nela com meu dedo, empurrando
lentamente dentro dela e circulando,
preparando-a para me levar. Não demora
muito para que ela esteja ofegante e se
contorcendo, seu corpo implorando por
mais. Eu gradualmente retiro meu dedo e
alinho meu pau para entrar nela enquanto
Ambrose se mantém firme, esperando que
eu me junte a ele dentro dela.
Eu empurro lentamente enquanto ele
agarra sua bochecha, virando sua cabeça em
direção a dele. Ele a beija profundamente,
atraindo-a como se ela fosse sua última
lufada de ar antes de afundar na água. Vê-lo
beijá-la assim, e ver a maneira como ela
responde, causa um aperto agradável e
doloroso no meu estômago. Há uma
pontada de ciúme no meu estômago, mas é
leve, leve o suficiente para eu ignorar.
Seu corpo resiste quando eu empurro
dentro dela, o buraco apertando enquanto
eu me enfio um pouco mais fundo. Ela
engasga, quebrando o beijo com Ambrose,
e vira a cabeça novamente para olhar para
mim.
— Diga-me para parar se doer.
Seus lindos olhos verdes agarram os
meus. — Não dói... eu gosto.
Foda-se.
Parece um privilégio tocá-la, beijá-la,
fodê-la. É um privilégio - um que eu nunca
quero manchar. Embora eu queira enfiar
dentro dela e fodê-la até que ela me implore
para fazê-la gozar de novo, eu facilito meu
caminho com cuidado, dando-lhe tempo
para se ajustar porque Ambrose e eu a
estamos esticando de uma maneira que ela
provavelmente nunca foi esticada antes.
Passado um certo ponto, seus
músculos internos me agarram, e me puxam
até o cabo. Nós três gememos porque todos
nós sentimos isso... todos nós sentimos o
jeito que ela segura nós dois.
— Deus — ela respira, virando-se
para Ambrose e enterrando o rosto em seu
peito. — Deus, isso é tão bom. Tão Tão bom.
Dou um aceno rápido para Ambrose e
ele começa a se mover novamente,
gentilmente empurrando para dentro e para
fora dela. Glory geme enquanto suas costas
se arqueiam, enquanto sua cabeça rola no
travesseiro e seus olhos vibram de prazer.
Se eu pudesse colocar esse olhar em seu
rosto todos os dias, porra, eu faria. O jeito
que eu a quero é desesperador e para
sempre.
Eu lentamente começo a me mover
com Ambrose, empurrando em uníssono
para dar a ela a emoção final. Mas quando
nossos olhos se encontram, eu sei que a
emoção não é só para ela – e não é só por
causa dela. Tudo isso, nós três juntos, é por
causa dele. É porque nos deparamos com
ele aqui no meio do nada.
Alguma coisa teria acontecido entre
mim e Glory se não tivéssemos encontrado
nosso caminho até aqui? Se não tivéssemos
encontrado Ambrose? Ele é a razão pela
qual Glory está em meus braços agora?
Sinto uma sensação de gratidão
tomar conta de mim enquanto ele me
encara por cima de Glory. Como cola, ela é a
substância entre nós, a coisa que nos une e
nos mantém aqui neste lugar. Eu estava
pronta para sair quando ele nos deixou ir,
mas ela implorou para ficar.
Ela lutou para ficar.
E eu fiquei por causa dela.
Talvez eu venha a me arrepender
mais tarde, mas neste momento perfeito
em que sinto total aceitação e adoração,
estou feliz por ela ter lutado por isso.
Ambrose me alcança por cima de
Glory, sua mão pousando na minha
bochecha, seus dedos penteando meu
cabelo, me puxando para mais perto. Nós
dois levantamos nossas cabeças e nossos
lábios se encontram acima do corpo
trêmulo de Glory, beijando acima de seus
gemidos, enquanto a usamos para nos
conectar. Minha língua mergulha dentro de
sua boca enquanto nosso ritmo acelera,
nossas estocadas se encontram dentro de
seu corpo e conduzem nós três até um
penhasco íngreme.
Nosso beijo termina quando
ofegamos, enquanto sentimos Glory apertar
e torcer ao nosso redor.
— Eu não quero que isso acabe — eu
sussurro para os dois.
— Não precisa — diz Ambrose, e vejo
sinceridade nas profundezas escuras de sua
alma atormentada.
Eu quero salvá-lo.
Como todo mundo com quem já
cuidei na vida, quero salvá-lo.
Mas salvá-lo significa alcançar minha
própria escuridão e rasgá-la para a
superfície. Se essa escuridão sair, ela pode
nunca mais ser colocada de volta.
— Eu te amo — Glory diz tão baixinho
que acho que a ouvi mal. Ambrose e eu
olhamos para ela, seus olhos bem fechados.
— Eu amo vocês dois. Gozem comigo, por
favor. — Sua boca cai aberta enquanto seu
corpo torce para trás, enquanto seus
quadris balançam e nos encorajam a fodê-la
até o esquecimento.
Eu tomo a liderança de Ambrose
enquanto ele pega um ritmo furioso. Nós a
estrangulamos de ambas as extremidades
até que ela esteja tremendo e gritando e,
finalmente, se desfaça em torno de nossos
paus. O orgasmo dela é o catalisador da
nossa explosão mútua. Nós gememos e
gritamos e fodemos alto em nossos clímax
até que cada um de nós esteja além do
cansaço. Então desabamos em perfeita
exaustão.
Eu envolvo meu braço em torno de
Glory enquanto ela se enterra no peito de
Ambrose, e ele agarra minha mão. Ele me
agarra com força, como se precisasse de
mim tanto quanto precisa dela.
E eu sei que ele faz.
Descansamos um pouco antes de
tomarmos banho juntos e fodermos de
novo. Em pouco tempo, Glory está
reclamando de fome e sede, então
começamos a nutri-la.
Ela se senta ao meu lado na mesa da
cozinha, vestindo apenas sua calcinha e uma
camisa de flanela que ela pegou emprestada
de Ambrose, que é grande demais para ela.
Ela inclina a cabeça no meu ombro
enquanto damos as mãos e eu roço seus
dedos com o polegar. Ambrose está no
fogão, fazendo panquecas para nós à meia-
noite.
Eu observo enquanto ele vira a
comida na frigideira, notando o sorriso sutil
que toca suas bochechas. Ele não parecia
nada além de mal-humorado e zangado
desde o momento em que aparecemos aqui,
mas agora ele parece feliz... quase feliz.
Ainda há uma escuridão iminente lá,
mas não parece mais a escuridão dele.
Parece uma escuridão que o assombra – a
mesma escuridão que parece assombrar
esta casa, esta floresta. Não é um
encantamento, embora tudo nele pareça
magia negra.
Meu rosto cai quando percebo o que
realmente o atormenta.
Minha mãe.
Ela tem um poder sobre ele.
Ela ordenou que ele nos matasse -
não apenas sua enteada, mas eu, seu filho,
sua própria carne e sangue.
A raiva borbulha em minhas veias,
aquecendo minha pele, e eu aperto a mão
de Glory com muita força.
— Ei. — Ela levanta a cabeça do meu
ombro para olhar para mim. — O que está
errado?
Ambrose se vira para olhar para nós.
Eu balanço minha cabeça. — Minha
mãe. Eu simplesmente não posso acreditar
que ela me quer morto.
— É horrível — Glory concorda. —
Mas depois de darmos a ela o que ela quer,
todos nós podemos sair juntos. Nós nunca
teremos que pensar nela novamente.
— Você quer dizer depois que
desenterrarmos os pais dele. — Eu empurro
meu queixo em direção a Ambrose. — Ele dá
a ela seus crânios, pensando que pertencem
a você e seu pai, e leva todo o seu dinheiro.
— Eu não me importo com o dinheiro
— diz ela. — Eu não preciso mais disso. Não
se nós três estivermos juntos.
— Não é sobre o dinheiro, Glory. É o
fato de que ela me quer morto para que ela
possa ter tudo para ela. Dinheiro que nem
pertence a ela. Dinheiro que pertenceria a
você quando seu pai morreu.
— Foda-se ela e foda-se o dinheiro —
diz Ambrose, trazendo pratos para a mesa e
nos servindo. Ele coloca uma garrafa do
famoso xarope de bordo de Tolliver no
centro da mesa – eu amo pra caralho essa
coisa, mas de repente, me dá nojo de olhar
para ela. — Ela vai pegar seus crânios, me
dar minha parte, e nós três vamos
desaparecer. Ela vai pensar que você está
morto e nunca mais vai nos incomodar.
Solto Glory e me inclino para frente,
apoiando meus antebraços na mesa. —
Veja, é aí que eu acho que você está errado.
— O que você quer dizer? — ele
pergunta.
— Você disse que a conhece, então
você deve saber como ela é. Você não pode
confiar em uma palavra que sai da boca
dela. Eu não confiaria no que ela faz depois
que você entrega os crânios. E o que diabos
ela vai fazer com os crânios, afinal? Eu lanço
minhas mãos no ar antes de deixá-las cair na
mesa.
Ambrose desvia o olhar com um
suspiro. — Eu sei. Eu sei que não podemos
confiar nela completamente. Mas é a única
chance que ela me deu de ir embora com a
promessa de uma ficha limpa. E a parte da
herança que ela me prometeu vai me ajudar
a recomeçar em um novo lugar...
— Esse dinheiro ficará preso
legalmente por meses. E isso só depois de
decidirem cancelar a busca por nós e nos
declararem mortos. Quanto tempo você
acha que isso vai levar?
Glory olha para mim e Ambrose
estreita os olhos quando a compreensão
vem sobre ele. — Porra. Porra, eu nem
pensei nisso.
— Tenho certeza que ela estava
apostando nisso. Ela é uma manipuladora,
uma abusadora ... Ela não pode se safar
dessa porra.
— Não precisamos de dinheiro para
funcionar — acrescenta Glory. — Nós
poderíamos simplesmente sair,
desaparecer, sair da rede.
— É quase impossível viver fora da
rede hoje em dia — digo a ela.
— Mas nós poderíamos tentar...
— Não. — Eu me inclino para trás,
cruzando os braços sobre o peito. — Não. Há
apenas uma opção aqui e eu... — Eu hesito.
— Só há uma boa opção.
Ambrose encontra meus olhos e vejo
meus pensamentos refletidos de volta para
mim. Ele entende. — Você realmente acha
que poderia viver com você mesmo? — ele
pergunta baixinho.
— O que? — Glory pergunta.
Eu encaro Ambrose. — Você pode
viver consigo mesmo? Depois do que você
fez com seus pais?
— Sim. Eles me machucaram. Eles
mereceram.
— Ela nos quer mortos — eu digo. —
Ela quer pegar o dinheiro da minha Glory...
dinheiro que ela merece por todas as
merdas que ela passou. O abuso que ela
sofreu de seu pai, a besteira de estar aos
olhos do público, criticada por todas as
decisões e erros que ela já cometeu — Faço
uma pausa e respiro. — Sim, eu poderia
viver comigo mesmo.
— O que você está falando? — A
testa de Glory está enrugada em confusão.
Eu me viro para olhar para ela,
encontrando seu olhar diretamente. —
Estou falando em acabar com a vida da
minha mãe.
— Você é... o quê?
— Se nós acabarmos com ela, é isso.
Ela não terá domínio sobre Ambrose. Nunca
teremos que nos preocupar com ela nos
caçando. Será isso. Ela vai embora. Podemos
sair e ser livres.
— Mas você entende o que significa
ser livre, não é? — Ambrose pergunta,
empurrando de sua cadeira e andando para
longe. — Vocês dois ainda terão que viver
como se estivessem mortos, a menos que
você queira colocar Glory de volta no centro
das atenções pela morte de seu pai. Ela terá
que ir ao tribunal, testemunhar, lutar por
uma alegação de legítima defesa. E o que
você acha que vai acontecer então? Ela
pode perder e ir para a cadeia. Ela pode
ganhar e ser livre. Mas de qualquer forma,
isso abrirá a porta para mais investigações.
Eles vão começar a investigar o
desaparecimento de Maura, minha conexão
com ela, minha conexão com vocês dois.
Nós vamos pegar fogo por matá-la. A única
maneira de você se livrar disso seria viver
como se estivesse morto, se esconder do
mundo comigo para sempre. Não sei se
nenhum de vocês está pronto para esse tipo
de compromisso.
Glory olha para mim, depois para
Ambrose. — Eu estou. Eu só estava em casa
na noite em que meu pai morreu para
conseguir dinheiro para a faculdade, mas
pensei nisso... pensei em pegar aquele
dinheiro e fugir, me esconder em algum
lugar para que ele nunca mais pudesse me
encontrar. Não quero ser encontrada
novamente.
Caminhando em direção à mesa
novamente, Ambrose lhe dá um pequeno
sorriso, então se vira para olhar para mim.
— E você? Você está preparado para desistir
de sua vida por isso?
Glory se vira de lado em seu assento
para me encarar, pegando minhas mãos nas
dela. — Eu nunca pediria para você desistir
de sua vida, Hux. Você sempre quis ir para a
faculdade de direito. Era o seu sonho.
— Nunca foi realmente meu sonho...
era dela. — Eu estendo a mão para tocar sua
bochecha com a minha mão. — E você não
está me pedindo para desistir da minha
vida. Estou disposto a fazer isso porque
quero você. — Olho para Ambrose. — Porra,
eu quero vocês dois. E por mais que eu
queira isso... eu a quero morta.
CAPÍTULO VINTE E UM
AMBROSE

— TEM CERTEZA que quer fazer isso?


— Eu pergunto.
Huxley respira fundo, determinação
franzindo a testa, embora seus joelhos
saltem ansiosamente. — Sim — ele
finalmente diz.
Eu me agacho entre as cadeiras na
mesa onde Huxley e Glory estão sentados e
coloco minha palma em seu joelho. Ele para
de pular ansioso e vira a cabeça para olhar
para mim.
A escuridão dançando em seus olhos
castanhos me pega e se recusa a me soltar.
Nunca foi a escuridão que me atraiu para
ele. Na verdade, há mais escuridão em Glory
do que jamais poderia haver em Huxley,
embora ele não reconheça isso do jeito que
eu reconheço. No entanto, eu vejo o que
está lá, a profundidade disso que existe
dentro dele e a forma como está lutando
para ser lançado sobre a única pessoa que
poderia destruir todos os nossos futuros.
Mas é a mãe dele que estamos
falando de assassinar, e essa nunca é uma
decisão fácil de tomar, especialmente para
um filho privilegiado como ele. Eu tive uma
vida inteira de ódio e abuso nas mãos de
meus pais para me alimentar. Eu tive sua
crueldade brutalmente entregue a mim, dia
após dia durante a maior parte da minha
vida. E ainda assim, foi difícil acabar com
eles.
Não eles.
Minha mãe.
Parte de mim quer pensar que a
crueldade dela foi resultado da do meu pai...
que talvez ela não fosse tão cruel se eu
tivesse um pai diferente. Talvez isso fosse
apenas uma ilusão. Independentemente
disso, existe uma conexão diferente de
qualquer outra entre mãe e filho, e Huxley
encontrou privilégio nas decisões de sua
mãe.
Embora a alma de Maura seja tão feia
quanto a de meu pai, acho que ela fez bem
em esconder isso de seu filho... até agora.
— Tenho certeza sobre isso — diz ele
lentamente. — Isso tem que ser feito. Pela
Glory, se não por mais ninguém.
Ninguém mais.
As palavras atingem meu peito e
queimam.
Claro, é para a Glory. Eu quero que
seja feito para Glory, também.
Mas ninguém mais a quem ele está se
referindo inclui a mim, e embora eu esteja
feliz por estar nisso, dói saber que sou o
segundo para os dois. Isso me faz desejar,
por apenas um momento, que eles tivessem
ido embora quando eu lhes dei a chance - se
eles tivessem, eu estaria sozinho agora.
Eu poderia ser feliz sozinho agora que
eles me trouxeram de volta à vida?
Fico de pé e viro as costas para eles,
andando alguns passos antes de parar,
enfiando as mãos nos bolsos para procurar
um cigarro e um isqueiro. — Falarei com ela
amanhã. Vou convidá-la para passar a noite.
Vou buscá-la e trazê-la de volta. — Seguro o
cigarro nos lábios e o acendo, dando uma
boa tragada antes de apagá-lo. — Nós
vamos cuidar dela e enterrá-la na floresta.
— Eu me viro. — Talvez um sacrifício final
seja exatamente o que este lugar precisa
para nos deixar ir.
A cabeça de Glory abaixa enquanto
ela esconde um sorriso secreto, mas
chegamos a um ponto em que não pode
haver segredos entre nós três. Tudo tem
que ser colocado na mesa ou nunca
poderemos confiar um no outro.
— Do que você está sorrindo? — Eu
pergunto a ela.
Ela levanta a cabeça para olhar para
mim, o pequeno sorriso desaparecendo
rapidamente. — Não é nada…
— Não é nada. Você tem que ser
honesta conosco sobre como está se
sentindo sobre isso. Se você não acha que
pode...
Ela levanta a palma da mão para me
cortar com uma confiança aberta recém-
descoberta que me faz querer amarrar suas
mãos e interrompê-la com um beijo. — Não
é o que você está pensando. Foi apenas um
pensamento mórbido passageiro.
— Que pensamento? — Huxley
pergunta. — Nos diga.
Ela olha para ele enquanto seu rosto
endurece, enquanto ela desliga e se afasta.
Eu ando lentamente em direção a eles
enquanto Huxley estende a mão para
acariciar sua bochecha.
— Você pode me dizer qualquer coisa
— ele garante.
Meus olhos se estreitam em suas
feições enquanto ela lança olhares furtivos
entre nós – olhares sombrios. Seus olhos
verdes - que geralmente são brilhantes e
vívidos - escureceram com sombras.
— Apenas diga o que você estava
pensando — eu exorto, diminuindo a
distância e ficando ao lado deles.
Ela engole e olha para baixo. — Eu
estava pensando em como seria distorcido
se você nos colocasse de volta na jaula antes
de trazê-la aqui. Deixe-a pensar que você
nos encontrou e nos trancou para nos matar
como ela queria. — Glory levanta a cabeça,
travando os olhos com Huxley. — Eu estava
pensando em como seria bom limpar o olhar
presunçoso de seu rosto quando ela pensa
que ganhou.
Uma pausa pesada paira no ar, e
depois de uma ou duas batidas, Glory tenta
se afastar. Huxley agarra o rosto dela para
puxá-la de volta, inclinando-se para mais
perto dela e olhando profundamente em
seus olhos.
Cuidadosamente, pergunto: — E
quem estaria limpando o olhar presunçoso
de seu rosto?
— Vocês. Eu. Huxley. Nós três...
juntos. Suas feições se contorcem de
vergonha. — Desculpe, foi fodido, eu sei.
Ela diz isso como se fodido não fosse
normal aqui.
Nós três estamos fodidos em todas as
definições imagináveis do termo.
— Sim, isso é foda — Huxley diz, e eu
quero repreendê-lo por ser tão descuidado
com suas palavras, — mas é brilhante pra
caralho. Você é brilhante pra caralho, Glory.
— Ele dá um beijo rápido em seu nariz e
deixa suas mãos caírem antes de olhar para
mim. — Isso daria a ela uma última chance,
não é? Uma última chance de nos ver, de me
olhar nos olhos e dizer que ela me quer
morto. Limparia minha consciência para
saber que ela tinha mais uma chance de me
salvar.
Eu sopro uma bola de fumaça sobre
sua cabeça. — E se ela se arriscar? O que
todos nós fazemos então?
— Ela não vai aceitar— Glory diz. —
Eu sei que ela não vai.
Eu sei disso também, mas preciso que
Huxley realmente pense nisso.
— Se ela escolher salvar minha vida,
então vamos incriminá-la pela morte de
Beau. Seria nossa palavra contra a dela, não
seria? Três para um... eu aceito essas
probabilidades.
— Não acho que seja tão simples.
Ele balança a cabeça. — Eu não acho
que seja, também. Mas uma chance de
limpar completamente minha consciência
do que estamos falando vale o risco para
mim.
Glory faz um pequeno som, algo como
um murmúrio de concordância, embora
haja a respiração ofegante de um gemido
misturado a ele – um gemido alimentado
pelo desejo com o qual estou me
familiarizando.
Eu caio de cócoras entre eles,
enganchando meu cotovelo nas costas de
sua cadeira e sorrindo para ela. — O que
exatamente é sobre essa conversa que está
excitando você, Bird?
— Eu não disse...
— Você não tem que dizer uma
palavra. Eu posso sentir o pulso de sua
luxúria a uma milha de distância.
Ela encosta o ombro no encosto da
cadeira e descansa a cabeça no meu braço.
Meu peito incha de calor ao simples toque
dela.
— Eu quero que você me foda de
novo — ela ronrona.
Meu pau se contrai. — Eu sei disso,
mas por quê?
— Eu não sei o que você está
perguntando.
— Você sabe exatamente o que
estou perguntando. Que parte dessa
conversa te deixou excitado? É o
pensamento de que Maura logo estará
morta? O poder que você terá sobre ela? O
controle? É a ideia de ficar trancado naquela
jaula novamente? Ou... é a violência?
Sua respiração fica presa e ela soluça
um suspiro.
— É a violência. — Olho para Huxley.
— Como você se sente sobre isso? Saber o
pensamento de machucar alguém que
merece isso a deixa excitada?
Seus olhos piscam e se estreitam. —
Não sei.
Ela olha para mim, procurando meu
olhar para confortá-la porque o
pensamento de qualquer tipo de rejeição de
Huxley é demais para ela suportar – está
escrito em todo o seu rosto. Estendo a mão
para tocar sua bochecha, envolvo minha
mão em torno de seu queixo e esfrego meu
polegar em seu lábio inferior.
— Está tudo bem, Glory. Também
gosto da violência. Não há nada de errado
em admitir isso. É humano.
— É isso? — A voz de Huxley corta
entre nós, cortando nossa conexão como
uma faca.
Dirijo minha irritação para ele. — Se
você não é homem o suficiente para admitir
que o pensamento de acabar com alguém
que te prejudicou o deixa excitado, tudo
bem. Mas não dirija seu julgamento para
ela.
— Não a estou julgando, mas não vou
admitir algo que não seja verdade apenas
para seu benefício. Eu não gosto de
violência. Eu não...
— A visão do corpo ensanguentado
de Beau Tolliver deixou você doente? Você
correu do quarto para vomitar porque a
visão disso o enojou tanto? Eu me levanto e
volto minha atenção para ele, lentamente
me endireitando em toda a minha altura e
pairando sobre ele. Ele levanta o queixo
para olhar para mim. — Isso fez você sentir
alguma coisa? A visão de sangue nas mãos
dela fez você chorar de arrependimento por
não estar lá para tirar a vida por ela? Você
mesmo disse isso... você o teria matado
quando descobriu o que ele estava fazendo
com ela se Glory não tivesse feito isso ela
mesma.
Sua mandíbula está tensa. — Onde
você quer chegar?
Eu me abaixo e deslizo dois dedos sob
seu queixo, inclinando sua cabeça para trás.
— Você está mais preocupado em limpar
sua consciência do que com o fato de que
vamos matar sua mãe. É a única razão pela
qual você quer dar a ela uma última chance
de mudar de ideia – não porque você vai
perdoar se ela o fizer. Mas porque ela te
criou para cuidar dela e de todos ao seu
redor. Ela criou você para ser um salvador,
não um ceifador... e eu sei como isso te
come vivo por dentro.
Seu peito arfa enquanto sua
respiração se aprofunda, enquanto seus
dedos se contorcem. Ouço a respiração de
Glory atrás de mim, pesada e aquecida. O
jeito que eles me querem é excitante,
inebriante, ensurdecedor.
— Você sabe que ainda é o salvador
dela. — Eu empurro minha cabeça para trás
para indicar Glory. — Independentemente
do que acontece com sua mãe, em seus
olhos... — Eu me inclino sobre ele, trazendo
meus lábios para perto para assistir sua
parte com uma expiração forte — você é um
Deus. — Estendo a mão e coloco meu
cigarro no cinzeiro sobre a mesa. Eu o libero
enquanto dou um passo rápido para trás,
deleitando-me com o fato de que ambas as
lindas cabeças loiras se voltam para me
seguir. — Glory se ajoelharia e adoraria você
se você pedisse a ela. Ela imploraria a seus
pés pelo perdão de seus pecados, mesmo
quando você e eu sabemos que ela não
precisa.
Glory se encarrega de escorregar de
seu assento e se ajoelhar diante dele. Ele se
move para trás, como se tentasse se afastar,
embora seus joelhos permaneçam
separados e ele a alcance.
— Ela não precisa pedir perdão por
sua doença, porque essa coisa demente
entre nós não tem uma semelhança
passageira com a verdadeira depravação
dos humanos, não é? Maura Tolliver merece
morrer, e ela vai morrer. Não há nada de
errado em esperar pela violência que
acabará com uma criatura merecedora. Ela
não é inocente e não merece sua
consciência.
— Huxley? — Glory se senta sobre os
calcanhares, olhando para ele com olhos
preocupados. — Você está bravo comigo
por querer o sangue dela em minhas mãos?
Ah, como meu bird quer voar.
Ele avança, agarrando o rosto dela,
curvando-se para pressionar a testa contra
a dela. A maneira como eles se amam é
assombrosa e bonita. Eles nunca poderiam
estar juntos lá fora no mundo real. A
imprensa teria um dia de campo com a
herdeira namorando seu meio-irmão
aspirante a advogado com quem ela
cresceu. Mas aqui, comigo, eles podem ser
exatamente quem são.
E eu posso ser eu mesmo com eles
porque eles viram o pior em mim e
escolheram ficar.
Eles escolheram ficar comigo.
Eu puxo meus ombros para trás
quando um sentimento com o qual não
estou familiarizado passa por mim –
orgulho. Estou orgulhoso que eles me
escolheram, que eles escolheram ficar.
Estou orgulhoso deles pela maneira como
eles continuam derrubando paredes e como
eles afundam em seus eus mais profundos e
verdadeiros através do caos que gira ao
nosso redor.
— Eu não estou bravo com você —
Huxley diz a ela. — Não estou nem um
pouco bravo. Se alguma coisa, estou... com
medo.
— Do que você tem medo?
Ele fecha os olhos. — Tenho medo de
mim mesmo... do que posso ser abaixo da
superfície. Tenho medo de descobrir que
não sou igual a você. — Ele diz isso para ela,
mas então ele vira a testa contra a dela e
abre os olhos para olhar para mim. —
Qualquer um de vocês. — Ele me segura
com seu olhar, falando diretamente comigo.
— Receio que não sou real o suficiente para
você. Que vocês dois vão afundar na
depravação sem mim, que eu poderia ir
embora e vocês dois encontrariam conforto
um no outro sem mim. Que você ficaria bem
sem mim
— Você não entende o quanto nós
precisamos de você? Como você equilibra
essa coisa entre nós? — Eu me aproximo,
estendo a mão e acaricio a parte de trás de
sua cabeça. — Nós atraímos você para a
escuridão conosco, e se você nos deixasse
lá, nunca mais voltaríamos. Você é nossa
corda para a realidade... Nos traz de volta
depois que nos perdemos.
Com agitação repentina, ele se afasta
de Glory, empurra sua cadeira para trás com
um guincho e a deixa cair no chão enquanto
ele marcha para longe e anda de um lado
para o outro. — Você tem alguma porra de
ideia de quanta pressão isso coloca em
mim? A responsabilidade de trazer vocês
dois de volta da escuridão? Que porra está
acontecendo aqui? — Ele passa as mãos
pelo cabelo, confusão gravada em seu rosto.
Eu sei o que ele precisa... o que ele
não está disposto a admitir. Ele precisa de
permissão. Permissão para deixar ir e parar
de pensar com responsabilidade. Permissão
para soltar. Permissão para ceder aos seus
impulsos e necessidades.
Eu corro atrás dele, minha mão
estendida alcançando-o enquanto ele dá um
passo para trás. Mas ele não se afasta rápido
o suficiente, e eu coloco minha palma em
torno de sua garganta, empurro-o
descontroladamente, e bato suas costas
contra a parede. Suas mãos sobem, como se
ele quisesse agarrar as minhas, mas seus
dedos simplesmente descansam ali. Seus
olhos castanhos estão arregalados e
esperando enquanto ele bufa pelo nariz.
— Não há pressão. — Eu moldo meu
corpo ao dele, meu pau lateja quando se
alinha com o dele. — Você não tem que
fazer nada para nos trazer de volta. Sua
presença é suficiente. Você é o suficiente.
Seu olhar muda e se estreita,
estudando as linhas do meu rosto, e embora
já tenhamos fodido como animais, me sinto
mais nu e exposto do que nunca. Isso faz
meu estômago apertar com náusea, mas eu
não odeio a sensação porque está misturada
com emoção crua e luxúria primitiva –
sentimentos que eu nunca conheci antes de
Huxley e Glory entrarem na minha vida
patética.
Eu inclino seu queixo, pressionando
com mais força, apertando sua mandíbula
entre o polegar e o dedo indicador
estendidos. Assim que me inclino para beijá-
lo, sinto sua presença nas minhas costas,
seu toque suave ao longo da minha coluna
contrasta com a minha aspereza. Ela beija
suavemente entre minhas omoplatas e
acaricia sua bochecha contra minhas costas.
Embora ela me faça querer derreter por ela,
não a deixo tirar meu calor.
Beijo Huxley com a aspereza que ele
precisa, espalhando seus lábios com os
meus e enfiando minha língua entre seus
dentes. Eu o mantenho parado com meu
corpo enquanto esfrego meu pau
engrossado contra o dele.
Nosso beijo quebra naturalmente
enquanto nós dois gememos com o atrito
entre nós. Eu me inclino contra ele,
trazendo meus lábios ao seu ouvido. — Pare
de tentar se controlar. Deixe-me dizer-lhe o
que fazer.
— O que… — ele faz uma pausa para
assobiar em uma respiração trêmula por
entre os dentes enquanto eu mordo o
lóbulo de sua orelha e puxo — faz você
pensar que eu confio em você o suficiente
para fazer isso?
Eu deslizo minha mão entre nossos
corpos, envolvo minha palma ao redor de
seu pau e aperto. — Porque seu corpo já
sabe. Deixe sua mente seguir sua liderança.
Eu dou um passo para o lado rápido,
liberto-o, agarro Glory e a empurro para
frente para tomar o meu lugar. Eu pressiono
ao longo de seu traseiro, colocando-a entre
nós enquanto levanto seu cabelo sobre seus
ombros. — O que o deixaria fazer com você,
Glory? Você confia nele com sua vida? Com
sua luz? Você se sente segura o suficiente
em sua presença para descer às trevas
sabendo que seu coração sempre o trará de
volta à luz?
— Eu vou deixar você fazer o que
quiser, Hux — ela diz, seu queixo levantado
para olhar para ele enquanto ela agarra seus
lados. — Me deixar ir. Deixe-me ser obscura.
Então me traga de volta com sua luz. Eu só
quero sentir isso... Você pode me machucar,
me foder, me amarrar.
— Cristo, Glory — ele exala, e eu sei
que ele está esperando muito tempo para
deixar de respirar.
— Por favor, Hux...
Ela mal consegue dizer o nome dele
antes que ele aja. Ele agarra seus ombros
rudemente, chicoteando-a com tanta força
que me faz tropeçar para trás. Ele a joga
para trás para que sua bunda atinja a borda
do fogão. Ela coloca as mãos para trás para
se segurar e seus dedos acidentalmente
roçam o queimado onde eu fiz as
panquecas, que ainda está quente. Ela sibila
e se encolhe, afastando a mão, mas Huxley
a cala com um beijo.
Ele a consome tão intensamente que
ela derrete, seu rosto se suaviza quando ela
cai nele e esquece qualquer queimadura
persistente. Seus lábios se movem
freneticamente em sua bochecha, ao longo
de sua mandíbula, ao lado de seu pescoço
enquanto ele empurra contra ela e a
mantém no lugar com seu corpo.
Suas mãos trabalham entre eles,
agarrando sua calcinha e empurrando-a
para baixo de suas pernas nuas. Ela os chuta
para longe e ele levanta a barra de sua
camisa - minha camisa - enquanto ele agarra
seus quadris e a vira para enfrentar o fogão.
Ele se abaixa enquanto ela arqueia as costas
e agarra atrás do joelho, forçando seu joelho
para cima, a apenas alguns centímetros de
distância do fogão.
Ela não vacila, não diz para ele parar,
não tenta se afastar. Ela confia nele tão
implicitamente que ela o deixaria arriscar
queimá-la pela promessa de prazer, porque
nós dois sabemos que ele vai cumprir.
Eu vejo o jeito que ele se esforça, o
jeito que ele luta ficando de joelhos para
adorar sua boceta.
— Tome dela — eu digo a ele. — Ela
pediu para você tomá-la, então faça isso.
Seus ombros relaxam com a
lembrança da permissão que lhe foi
concedida. Ele agarra seus quadris e
empurra sua bunda para trás, forçando-a a
se curvar sobre o fogão. Ele puxa para baixo
a calça de moletom cinza que eu o
emprestei, junto com sua cueca boxer, e em
segundos, ele está nu na minha cozinha.
Meus olhos permanecem em sua
bunda esculpida enquanto ele aperta seu
pau, alinhando-se atrás dela. Ele é uma obra
de arte, um espécime de homem tão
perfeitamente esculpido que parece irreal,
perfeito demais para este mundo. Mas se
ele puder abraçar a escuridão interior, ele
será perfeito o suficiente para o meu
mundo... para o mundo de Glory.
A mão de Huxley desliza entre suas
bochechas, alcançando debaixo dela para
enfiar os dedos dentro de sua boceta sem
aviso ou facilidade. Ela grita enquanto seus
quadris empurram para frente contra a
borda do fogão.
Eu tenho que ver porra.
Eu corro para me mover ao lado
deles, caindo de joelhos ao lado do joelho
levantado de Glory para que eu tenha uma
visão perfeita de sua boceta brilhante. Eu
gemo quando vejo Huxley adicionar um
terceiro dedo e ele a fode rudemente com a
mão. Ela se contorce, empurrando seus
quadris para longe, mas ele bate os quadris
para frente, enfiando seu pau duro entre
suas bochechas, segurando-a lá enquanto
suas palmas descem para agarrar a borda do
fogão.
— Ai! — ela grita e puxa a mão para
trás — ela tocou o fogão novamente. —
Hux... — Há uma pequena sugestão de
advertência em seu tom e eu vejo sua
mandíbula tensa.
— Mantenha — digo a ele. —
Adicione outro dedo. Estique-a bem. Vamos
fazer doer antes de deixá-la gozar.
Com um rosnado baixo e retumbante
no peito, ele vira a mão, torcendo-a para
enfiar o dedo mindinho dentro dela com os
outros três. Ela ofega e choraminga e se
afasta, mas ela não para.
— Dói, bird? — Eu sussurro.
Ela balança a cabeça ferozmente
enquanto seu corpo estremece e Huxley de
repente para. Assim que ele o faz, ela está
alcançando atrás dela com uma mão,
acenando sem rumo para o braço dele. —
Não pare. Me machuque como eu já me
machuquei antes... então faça tudo melhor
como você sempre faz. Eu quero isso de
você.
Ele a agarra, a puxa do fogão, a vira e
a joga no chão de quatro. Ele se ajoelha
atrás dela e a puxa de volta contra ele
enquanto ela luta para se endireitar e se
erguer sobre as palmas das mãos. Ele
levanta a bunda dela no ar enquanto puxa
os quadris para trás, em seguida, bate nela,
seu pau deslizando em sua boceta
encharcada.
Desistindo da luta para se levantar,
Glory grita e deixa a parte superior de seu
corpo cair no chão, sua bochecha
pressionada contra a madeira. Sua cabeça
se vira para mim, seus olhos procurando os
meus. Sorrio para ela enquanto Huxley sai e
bate de volta para dentro com um gemido,
enquanto seus olhos rolam e seus cílios
tremem.
Quero deitar ao lado dela, acariciar
seu cabelo, agarrar seu pescoço, empurrar
seu rosto com força para o chão, acariciar
sua bochecha. Eu quero dar a ela um prazer
sem fim e, ao mesmo tempo, tirar dela tudo
o que ela tem para dar. Seu lindo rosto se
contrai, seus lábios rosados se abrem
enquanto ela ofega, sua bochecha raspando
o chão com cada uma de suas investidas
ásperas.
— Porra — ela suspira — porra, isso
é tão bom. Venha... goze dentro de mim,
Hux. Por favor.
Eu deslizo minha mão por baixo dela,
agarro sua garganta e a levanto do chão.
Ambos choramingam e gemem quando eu a
coloco de pé com uma mão com Huxley
ainda dentro dela por trás. Suas costas
arqueiam quando ela fica de joelhos. Ele
passa um braço em volta da cintura dela
para segurá-la enquanto eu a forço a esticar
o pescoço para trás contra seu ombro. De
joelhos, me movo na frente dela, nossos
corpos se tocando enquanto me aproximo.
Eu me inclino sobre ela, pressionando
um beijo rápido em sua garganta antes de
deslizar meus lábios em sua pele para
sussurrar em seu ouvido. — Você goza com
ele, ou ele não goza.
Ela bufa enquanto sua cabeça cai para
trás mais pesada no ombro de Huxley. —
Ainda não cheguei…
Meu polegar roça sob seu queixo. —
Então, porra, chegue lá.
Huxley e eu nos movemos como um,
como se nossos instintos e necessidades
estivessem totalmente alinhados com o
corpo frágil e bonito de Glory entre nós. Eu
deixo cair minha mão de sua garganta e
empurro entre suas pernas. Ele agarra sua
cintura com mais força com o braço
enquanto desliza a outra mão dentro do V
desabotoado na gola de sua camisa.
Suas costas se arqueiam
impossivelmente mais em nosso ataque
sincronizado de seus sentidos. Ela pressiona
seu seio em sua mão enquanto empurra sua
boceta para frente contra meus dedos.
Ele agarra, arranha e brinca com seu
mamilo enquanto meus dedos brincam
abaixo. Eu posso sentir o quão duro seu pau
está enquanto meus dedos roçam o
comprimento pressionando dentro dela.
Nós três encontramos facilmente nosso
ritmo distorcido. Embora eu ainda esteja
totalmente vestido com um moletom, me
sinto tão nu quanto estar nu diante deles.
Os olhos de Huxley seguram os meus
com um olhar de pura posse – um olhar que
luta com o meu porque sinto a verdade
primordial retumbando em meu peito,
despertando meu coração frio e morto.
Esses dois são meus.
Eles são meus desde o momento em
que coloquei os olhos sobre eles na floresta.
Eu nunca, nunca vou deixá-los ir.
Algo parecido com um rosnado ressoa
através de nós dois enquanto empurramos
contra ela, destruindo sua boceta com seu
pau e meus dedos. Ela levanta a cabeça,
embora sua expressão mostre o quanto ela
está perdida na paixão; seus olhos semi-
encapuzados e lábios perfeitos se
separaram para deixar escapar respirações
audíveis e gemidos. Nosso olhar se volta de
uma vez para olhar para ela, enquanto ela
vira os olhos para olhar para frente e para
trás entre nós dois.
Suas pálpebras se fecham quando um
calafrio a percorre, uma vibração tão forte
que abala a todos nós. — Beije-me — ela
implora.
Ela pode estar falando com qualquer
um de nós, mas Huxley e eu sabemos a
verdade – ela quer isso de nós dois. Nós dois
nos inclinamos para ela ao mesmo tempo,
pressionamos nossas bocas contra a dela ao
mesmo tempo, separamos nossos lábios
para ela ao mesmo tempo.
Ela se abre para nós e deixa nossas
línguas lutarem por espaço dentro de sua
boca. Suas mãos sobem para agarrar a parte
de trás de nossas cabeças enquanto ela
torce a parte superior do corpo, lutando
para nos beijar ao mesmo tempo. Três
línguas provam, lambem, lutam e pecam.
A língua de Huxley é grossa e forte,
provando com precisão e habilidade. Glory
é suave e sensual, lambendo languidamente
e absorvendo cada gota de prazer que a
alimentamos. E a minha é ansiosa e grata,
rápida e certeira, entregando sensação a
ambos com força.
Nossos quadris balançam e
empurram, esfregam e rolam, movendo-se
sem rumo através de batidas que não
servem para a liberação de um orgasmo,
mas ao invés disso, constroem o desejo
intenso por mais, mais, sempre fodendo
mais.
Nunca quis ninguém assim, ninguém,
mas agora, quero os dois na mesma medida
e farei qualquer coisa para mantê-los...
Foda-se qualquer coisa.
Essa coisa entre nós não é doente.
Não é depravado. Não é fodido, não do jeito
que eu pensei que seria.
Eles são o antídoto para a energia
venenosa que me atormenta.
Eles são a vacina contra meu
sofrimento futuro.
Eles são a cura que eu não sabia que
precisava.
Seis mãos ficam frenéticas –
agarrando, arranhando, segurando,
tocando – cada um de nós caindo em uma
loucura obsessiva para agradar um ao outro.
Algo tem que ceder, algo tem que se
flexionar e dobrar, ou todos nós vamos
quebrar com a necessidade.
E assim como eu esperava, Glory se
curva para nós. — Fodam-se — diz ela com
calor em seus olhos. — Deixe-me ver vocês
foderem um com o outro antes que vocês
dois gozem dentro de mim.
— Glory... — Huxley começa, mas ela
o interrompe com os dentes mordiscando
seu lábio inferior.
— Cale a boca e faça isso por mim,
Hux.
Sua mão desliza tão rapidamente de
seu peito para sua garganta que me
surpreende vê-la subir. Ele a agarra, a
empurra para o lado e a leva para o chão,
jogando-a de costas e se acomodando sobre
ela.
— É isso que você quer? — Ele passa
a língua até o lado do pescoço dela, e eu tiro
meu moletom sobre a minha cabeça.
Ela estremece em seu aperto e
consegue um aceno brusco contra seu
aperto. — Sim.
— Então eu vou gozar na sua boca
depois que ele me foder.
— Sim — ela repete.
Eu envolvo meus braços ao redor de
sua cintura e o puxo de cima dela, virando-o
sobre mim e jogando-o de cara contra o
chão. Ele me recompensa com um gemido
enquanto coloco meu peso em cima dele,
agarrando seus pulsos e forçando seus
braços acima da cabeça. Ele cerra os
punhos, mas não luta comigo porque quer
isso. Ele adora estar no controle, mas ele
adora me entregar ainda mais.
Sua bunda levanta do chão,
empurrando contra meus quadris como se
estivesse implorando por isso. Ele está
implorando por isso, e foda-se, eu quero
dar. Eu soltei um de seus pulsos para
alcançar entre nós, puxando minha calça de
moletom e cueca boxer para baixo apenas o
suficiente para libertar meu pau.
Eu levanto minha mão e aceno meu
dedo para Glory em um movimento de
venha cá. — Venha aqui.
Ela rola e fica de quatro para rastejar
até mim – uma porra de uma deusa
rastejando até mim.
Sento-me de joelhos atrás de Huxley
e trago minhas duas mãos para sua bunda,
dando um bom aperto enquanto prendo a
atenção de Glory. Eu abro suas bandas,
provocando um gemido dele enquanto os
olhos de Glory se arregalam de desejo.
— Cuspa — digo a ela, traçando meu
polegar ao longo de sua fenda. — Deixe-o
molhado para mim.
Ela balança a cabeça ansiosamente
enquanto Huxley pressiona seus
antebraços, virando a cabeça para olhar por
cima do ombro. — Foda-se — ele sibila.
Glory se inclina sobre ele e eu vejo
seus lábios se contorcerem enquanto ela
empurra saliva para a frente de sua boca. Ela
cospe silenciosamente, pingando líquido em
sua fenda. Estou prestes a dizer a ela para
espalhar para mim, mas não preciso. Ela
estende a mão e traça a saliva pela costura,
circulando em torno do buraco que estou
doido para foder.
Com os dentes cerrados, Huxley
implora: — Cristo, foda-me.
Eu deixo Glory brincar por um minuto,
observando a curiosidade em sua expressão
enquanto ela circula pelo local. Então ela se
curva e cospe novamente, alegremente
preparando-o para me levar. Eu tenho que
segurar seu pulso e puxar sua mão só para
chamar sua atenção, e ela me dá com um
piscar de olhos nos meus.
— Você queria assistir — digo a ela.
— Então observe, bird. Vai. Sentar. Ver. —
Eu inclino minha cabeça em direção à mesa
logo atrás de nós.
Dou-lhe um sorriso torto quando a
solto, um que faz um sorriso absolutamente
imundo se espalhar por suas bochechas
rosadas. Ela puxa o lábio inferior entre os
dentes enquanto se levanta, virando e
dando um passo para trás em direção à
mesa enquanto eu aperto meu pau para
alinhá-lo com a entrada de Huxley.
Eu começo a empurrar para dentro e
seu corpo estremece. — Porra, sim.
Pernas da mesa de madeira rangem
no chão atrás de nós, seguidas por um
estrondo, um baque — Oh, merda — de
Glory.
Huxley e eu viramos a cabeça para
olhar para ela, as palmas das mãos
agarrando a borda da mesa enquanto ela
esbarra nela com o traseiro, o xarope de
bordo tomba da mesa no chão.
— Desculpe — ela murmura
enquanto se inclina para pegá-lo. — Não
pare.
Eu mantenho meus olhos nela
enquanto continuo pressionando Huxley,
esperando até que ela coloque a garrafa na
mesa e me dê um pequeno e doce sorriso
enquanto leva o lado de sua mão aos lábios,
lambendo um pouco da calda derramada.
Eu a ouço cantarolar enquanto volto
minha atenção para Huxley, enquanto ele se
aperta em torno de mim enquanto eu entro
nele. Ele está de quatro e eu agarro seus
quadris, segurando-o firme até que seus
músculos relaxem, até que ele me puxa para
dentro dele, centímetro por centímetro
firme.
Porra, ele se sente bem.
Meus olhos se fecham enquanto
saboreio a sensação dele se apertando ao
meu redor, enquanto ele geme e estica uma
mão para se acariciar quando começo a me
mover. Eu o fodo lenta e profundamente, e
leva apenas alguns momentos para eu cair
em transe, me perder no ritmo e no calor
dele ao meu redor.
E então eu a sinto ao meu lado, sua
energia sensual deslizando em meu espaço
enquanto ela cai de joelhos e se aproxima.
Abro os olhos para olhar para ela e encontro
seu olhar cheio de calor e fome.
Lentamente, ela lambe o lábio
inferior. Então, ela levanta um dedo e
desenha uma linha naquele mesmo lábio,
desenhando uma substância pegajosa nele.
Ela se inclina e me beija suavemente,
gradualmente se abrindo para mim em sua
sensualidade crua.
Minha língua procura se misturar com
a dela e é quando sinto o gosto do xarope de
bordo em seus lábios – o xarope de bordo
que eles fazem na fábrica de seu pai morto,
além de seus doces de bordo.
Mas foda-se se não tiver o gosto dela,
doentimente doce. Eu agarro a parte de trás
de sua cabeça e a seguro contra mim
enquanto o beijo se aprofunda, enquanto
lambo até a última gota de seu lábio e me
certifico de que não há nada remanescente
em sua língua grossa.
— Eu nunca poderia fazer um deleite
mais delicioso do que você, Glory. — Eu
deixo cair minha testa na dela enquanto ela
olha para mim por baixo de seus cílios. — Eu
quero consumir cada parte de você,
saborear cada doce pedaço de loucura que
você me alimenta.
— Eu quero você — ela ofega. — Eu
preciso de vocês dois... sempre.
Tão facilmente quanto respirar,
prometo a ela: — Sempre.
Huxley estende um braço para trás,
golpeando seu quadril. — Você já assistiu o
suficiente? Eu preciso da sua boca em mim,
Sugar.
8
Sugar.
Um apelido muito apropriado para a
coisa mais doce da minha vida. Ela tem
gosto de céu, mas se você tirar muito dela,
ela vai se voltar contra você e fazer você
desejar nunca ter dado uma única mordida.
Uma raposa cruel.
Ela se virou contra seu pai nojento
quando ele tomou demais, e ela vai fazer o
mesmo com Maura.
E mal posso esperar para ver.
O pensamento pulsa pelo meu pau e
me força a mover meus quadris, foder e
empurrar enquanto Huxley ascende,
levantando-se enquanto eu o fodo. Glory
rapidamente se inclina sobre o colo dele
para lhe dar o que ele precisa, porque ela lhe
daria qualquer coisa.
Acho que ela pode me dar qualquer
coisa também.

8
Doçura, docinho, açucar.
Eu o seguro enquanto encontro um
ritmo, enquanto Glory envolve seus lábios
macios e doces ao redor do pênis de Huxley
e o leva dentro de sua boca. Sua cabeça cai
para trás enquanto sua mão pousa na parte
de trás de sua cabeça, não a empurrando
para baixo, mas acariciando seu cabelo loiro
falso.
Eu gostaria de poder tirar a tintura e
ver a cor escura de suas raízes até os fios. Ela
é deslumbrante exatamente como é, mas eu
egoisticamente quero ver a escuridão levá-
la inteiramente, tirando o que sobrou de sua
máscara para deixá-la crua e nua e
inteiramente real.
Eu vejo como sua cabeça balança em
seu colo, enquanto uma de suas mãos
desaparece para alcançar sua boceta. Por
mais que eu ame vê-la chupar Huxley do
jeito que eu quero, não posso suportar a
ideia dela se fazer gozar quando podemos
fazer isso por ela.
Eu deslizo minha mão sobre o peito
duro de Huxley e subo por sua garganta,
beliscando sua mandíbula para inclinar seu
queixo para trás. Eu sussurro em seu ouvido:
— Eu quero seu pau dentro da boceta dela
para que eu possa fodê-la através de você.
Seu corpo estremece e afunda em
meu aperto enquanto eu afrouxo meu
aperto, deixando minha mão deslizar em
seu peito antes de cair para que ele possa se
mover livremente. Ele desliza os dedos em
seu cabelo, agarra-a com força, e puxa sua
cabeça para cima de seu colo. Seus lábios
deixam seu pau com um estalo molhado, e
ela ofega, olhando para ele com olhos
semicerrados, a pele ao redor de sua boca
corada de rosa.
— Deite-se na minha frente — ele diz
a ela, e ela o faz.
Sinto um despertar profundo em
minha alma, uma reverberação de perfeita
harmonia que nunca senti antes. A
perfeição de nós três juntos é algo que não
consigo descrever com nenhum nível de
precisão. E eu sei que eles sentem isso
também.
É a maneira de Glory precisar que nós
dois a comandemos e cuidemos dela, a
maneira como ela precisa confiar em nós
para que ela possa se soltar e nos deixar dar
a ela tudo o que ela precisa.
É o equilíbrio perfeito de Huxley entre
controle e submissão – a maneira como ele
me deixa comandá-lo para que ele possa se
sentir livre enquanto domina os sentidos
dela.
É minha propriedade, minha
reivindicação de ambos, que nos conduz e
nos leva à insanidade feliz.
É cura para todos nós.
Todos nós sentimos esse alinhamento
perfeito quando Glory abre as pernas e
Huxley a puxa para mais perto, deslizando
profundamente dentro dela. Nós sentimos
isso juntos, tudo de uma vez, deixando
escapar um único gemido em uníssono
enquanto ele a enterra até o fim enquanto
eu estou enterrado dentro dele. Ele se deita
sobre ela, deixando-me nos controlar,
deixando-me fodê-lo, o que o move dentro
dela.
Soltamos nossa loucura pacífica.
À medida que o calor aumenta, a
tensão aumenta e o prazer surge. Quando
Glory convulsiona em seu gozo, isso nos faz
explodir todos de uma vez e caímos juntos.
Caímos profundamente.
Caímos loucamente.
Caímos para sempre.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
GLORY

ESTOU APAIXONADA.
Profundamente e estranhamente
apaixonada por dois homens pelos quais eu
nunca deveria ter me apaixonado - meu
meio-irmão e meu ex-captor.
Ainda mais estranho, eu permiti que
meu ex-captor me colocasse de volta na
minha jaula para um teste doentio da
moralidade da minha madrasta.
E foi ideia minha.
Minha mente não está certa... acho
que nunca esteve. No entanto, de alguma
forma, isso não me incomoda mais.
Encontrei paixão, prazer e devoção nesta
doença, e nunca mais quero ficar bem.
Mas Huxley ainda luta e me mantém
suave, me mantém gentil e amorosa porque
eu nunca quero que ele se sinta magoado ou
com medo. Ele anda pelo pequeno espaço
enquanto esperamos que Ambrose volte
com Maura. Ele enviou uma mensagem
vaga, informando que ele tinha algo para
mostrar a ela, e ela concordou em deixá-lo
buscá-la e levá-la para sua casa.
Eu não sei se ela é estúpida,
descuidada ou destemida porque já passa
das quatro da manhã e ela está deixando um
homem levá-la para um lugar desconhecido
no meio da floresta.
Ambrose diz que ela nunca esteve na
casa dele antes – que ninguém nunca esteve
– e eu acredito nele. Vi como o caminho que
seu caminhão percorreria desaparece na
linha das árvores, estreito e escondido. Ele
disse que levaria trinta minutos para
atravessar a floresta e chegar à estrada
asfaltada. Estamos aqui há mais de uma
hora, esperando seu retorno, e a ansiedade
de Huxley cresce a cada minuto que passa.
— E se ele não voltar?
— Ele vai voltar, Hux. Por que ele não
faria isso?
— E se tudo isso for apenas um...
algum jogo para ele? E se ele não voltar?
— Como você pode pensar isso
agora? Depois de tudo o que aconteceu
entre nós. Você sabe que ele está voltando.
Ele gira para me encarar. — Acho que
tenho boas razões para questionar isso
neste momento, não é?
Eu balanço minha cabeça. — Não. De
jeito nenhum.
Isso é estranho, essa mudança entre
nós onde estou calma e segura e ele está
ansioso e desconfiado. Eu vou até ele,
deslizo meus braços ao redor de sua cintura
e o abraço apertado enquanto pressiono
minha bochecha contra seu peito. Ele
suspira, envolvendo seus braços em volta de
mim e embalando a parte de trás da minha
cabeça em sua mão.
— Eu sei que você está certa — ele
sussurra depois que uma batida passa. — Eu
sei. Só estou com medo.
— Do que você tem medo?
— Medo de ter encontrado algo que
não posso deixar de lado. Temendo pelo
nosso futuro. Com medo de estar
arruinando minha vida por causa de alguma
paixão passageira.
Minhas sobrancelhas se contraem
quando a raiva se infiltra. Mas de alguma
forma, sou capaz de afastá-la, empurrá-la de
volta, impedir que ela me agarre e me feche.
Isso por si só é suficiente para me fazer
saber o quão real isso é, quão importante,
quão especial é esse vínculo entre nós três.
Isso me mantém presente. É a única coisa no
mundo que poderia me manter na
realidade, porque é a única coisa real que eu
realmente quis.
Eu levanto meu queixo para olhar
para ele. — Você realmente acha que isso é
apenas uma paixão passageira? Você
realmente acha que poderíamos nos
separar e ficar bem? Se é isso que você
pensa, então você nunca deveria ter voltado
para esta jaula comigo. Você deveria ter me
deixado para trás e encontrado seu próprio
caminho para casa. Volte para a escola,
torne-se um advogado e esqueça o que
aconteceu com você.
Ele engole em seco, uma expressão de
dor puxando suas feições. — Mas então eu
estaria sem você... sem ele...
— E o que o pensamento disso faz
você se sentir?
Ele aperta minha cabeça,
empurrando meu rosto contra seu peito
novamente enquanto me puxa para mais
perto. — Como cair em desgraça.
Eu suspiro, apertando-o com força. —
Você nunca poderia cair em desgraça. Não
comigo. Eu te amo. Estou apaixonada por
vocês dois, e o pensamento de ficar sem
nenhum de vocês, só...
— Você não precisa pensar nisso. —
Ele acaricia meu cabelo. — Você nunca
precisa pensar sobre isso.
O ronco baixo de um motor
interrompe o silêncio que nos cerca, e sinto
Huxley soltar um longo suspiro. — Ajude-
me, Glory. Dê-me forças para fazer isso. —
A maneira como ele sussurra suas palavras
soam como uma oração, como uma oração
sombria para uma deusa da vingança – para
mim.
Sou rapidamente dominada pela raiva
e determinação, como se sua fé em mim
girasse minha alma, afastando minha
mansidão e revelando a tela vermelho-
sangue da justiça que tomou conta de mim
quando matei meu pai.
Ele teve o que mereceu.
E Maura também.
Nós nos soltamos quando ouvimos a
porta da frente se abrir e vozes –
especificamente o tom áspero de Maura –
enchendo a casa. Eu me afasto das barras,
pressionando minhas costas contra a
parede atrás de mim, mas Huxley dá um
passo à frente e agarra as barras em seus
punhos.
— Você realmente precisa parar de
fumar — ouço Maura dizer a Ambrose. —
Sua casa fede.
— Obrigado pela dica — ele responde
friamente.
Sua voz muda, seu tom caindo em
algo inebriante e expectante, e isso me faz
querer vomitar. — Então, o que você queria
me mostrar? Seu quarto? Deus, espero que
seus lençóis estejam limpos. Como você
aguenta viver aqui assim?
— Eu não trouxe você aqui para
foder, Maura.
Os nós dos dedos de Huxley ficam
brancos quando ele agarra as barras com
mais força.
— Então por que diabos você me
trouxe aqui? Prefiro não ficar mais tempo
nesta porra de retiro no deserto do que
preciso. Cristo, quem vive assim?
— Eu quero meu dinheiro.
Ela ri. — Você ainda não terminou o
trabalho.
— Está quase finalizado. Foi por isso
que eu te trouxe aqui, para te mostrar algo.
Mas não vou terminar até que tenha
dinheiro na minha conta.
Um breve sussurro de dúvida ondula
através de mim, um arrepio rápido que me
faz pensar se Ambrose nos trairia. Se ele, de
fato, nos matasse agora para pegar o
dinheiro de Maura. Mas rapidamente afasto
o pensamento porque conheço a sua alma,
assim como conheço a de Huxley, e ele
nunca faria isso conosco.
— O que você tem para me mostrar
então?
— Me siga.
Seus passos se aproximam e eu
prendo a respiração, esperando que eles
apareçam na porta. A ansiedade sobre a
reação dela, sobre a reação de Huxley, me
faz mal ao estômago.
Ambrose aparece primeiro, nos
dando um momento de contato visual – um
rápido lampejo de seus olhos escuros para
reconhecer que nada mudou, que ele ainda
nos ama e nos quer, que nunca nos trairia
por ela.
Embora ele ainda tenha a chave da
jaula que nos mantém presos a ele.
Ele se move para dentro da sala,
dando um passo para o lado e cruzando os
braços sobre o peito. Então Maura aparece
na porta, parando de repente no momento
em que seus olhos pousam nas barras de
metal.
Ela está vestida elegantemente, como
sempre, com uma saia lápis preta, uma
blusa branca e saltos altos pontudos. Claro
que ela estaria vestida com perfeição a esta
hora da manhã, sempre tão preocupada
com sua aparência. Ela sempre pareceu
mais jovem do que seus trinta e sete anos,
embora isso seja principalmente porque ela
usou o dinheiro do meu pai para pagar
injeções e tratamentos para manter a
aparência jovem. Suponho que ela teve que
pagar para parecer mais jovem para manter
a atenção do meu pai.
Doente, filha da puta.
Sua boca se abre em surpresa e ela
vira a cabeça lentamente em direção a
Ambrose, embora seus olhos permaneçam
fixos em nós.
— Mamãe? — Huxley diz fingindo
surpresa.
Ele precisa testá-la para limpar sua
consciência, e eu entendo. Eu odeio que ele
sinta que tem que passar por esse show
para provar que ela merece isso.
— Eu disse para você matá-los, não
mantê-los vivos em uma gaiola — diz ela e o
vermelho começa a me consumir.
Eu me afasto da parede e me movo
para ficar ao lado de Huxley, envolvendo
minhas mãos ao redor das barras como ele
faz.
Ambrose se vira e encosta as costas
na parede lateral, chutando um pé contra
ela. — Achei que você gostaria de uma
última chance de salvar seu filho.
Que tipo de mãe não quer proteger
seu filho?
Ela nem sequer olha para Huxley, não
tenta qualquer conforto, encorajamento ou
garantia de que o ama. Ela apenas caminha
em direção a Ambrose. — Eu não quero vê-
lo — ela range os dentes. — Eu só quero o
trabalho feito. Você pode lidar com isso? Se
não puder, não haverá dinheiro para você,
Ambrose. Apenas tempo de prisão.
— Tempo de prisão? — Ambrose se
levanta, forçando-a a dar um passo para trás
enquanto ele se move em seu espaço. — Ah,
acho que não.
Ela empurra de volta, espetando um
dedo em seu peito. No momento em que ela
o toca, o filtro vermelho desce. Eu me sinto
desaparecer, sinto que estou perdendo-me
para a raiva violenta e uma necessidade
urgente de envolver minhas mãos em torno
de sua garganta. Eu alcanço Huxley,
procurando algo para me agarrar, qualquer
coisa para me manter presente, acordada e
consciente.
Ele passa o braço pelas minhas costas,
envolve os dedos em volta da minha cintura
e me puxa para perto, me segurando
firmemente contra o seu lado. Isso me
firma, embora a raiva esteja esquentando
dentro de mim, me fervendo de dentro para
fora.
— Faça seu trabalho — Maura diz a
Ambrose. — Termine agora e depois
falaremos sobre seu dinheiro.
— E minha liberdade — acrescenta
ele, torcendo os lábios em um sorriso
arrogante. — Você me prometeu liberdade
de você. Liberdade de toda a sujeira que
você tem de mim.
Ela acena com a mão com desdém. —
Sim, você vai ter, mas isso — ela balança o
braço, apontando o dedo para nós —
precisa ser feito agora.
Os dedos de Huxley se curvam,
cavando na minha lateral, me ajudando a
ficar presente. — O que precisa ser feito,
mãe?
Seus olhos saltam para os dele e ela o
olha de cima a baixo... mas ela não o vê. Ela
não poderia vê-lo com o jeito que ela olha
para ele com tanto desdém, tão indiferente
e cruel.
Eu a odeio.
Eu a odeio.
Lágrimas quentes queimam atrás dos
meus olhos enquanto ela facilmente desvia
o olhar dele, enquanto ela se afasta de seu
próprio filho e olha para Ambrose sem
nunca responder a Huxley.
— Mate eles. Faça isso agora. Eu vou
esperar — porra. Ela se vira e sai, seus saltos
altos estalando sobre o piso de madeira.
A dor toma conta de mim, tanta dor
quando ela vira as costas para o meu Huxley,
que de alguma forma, isso lava a raiva. Isso
me supera, me enchendo com o pior tipo de
tristeza que eu já conheci - isso me quebra
porque ela feriu meu amor, e isso dói mais
do que qualquer coisa que alguém poderia
fazer comigo pessoalmente.
Incapaz de parar as lágrimas, eu
choro, e Huxley me agarra, me vira, me puxa
para ele para me envolver em seu calor.
Ambrose bate à porta do corredor e vem até
nós rapidamente, enfiando a chave na
fechadura e abrindo a porta.
Sinto um estranho tipo de alívio
percorrer Huxley quando a jaula se abre,
enquanto Ambrose entra e circula atrás de
mim e ambos me cobrem com calor em seu
abraço conjunto.
— Desculpe, Hux — eu sussurro. —
Sinto muito pelo que ela fez.
Eu sinto a contração em seu peito
contra minha bochecha, a respiração dele
enquanto ele tenta parar suas emoções para
confortar as minhas, e eu me sinto egoísta.
Eu tenho que parar.
Eu tenho que fazer isso melhor para
ele.
Eu olho para ele, balançando meus
braços para liberá-los para que eu possa
agarrar suas bochechas, forçar seu rosto a
se inclinar para baixo para encontrar meus
olhos, e mantê-lo lá.
— Eu te amo — digo a ele com
honestidade crua. — Eu te amo tanto, e
nunca mais vou deixar ninguém te
machucar assim de novo.
Ele balança a cabeça ligeiramente,
mas eu vejo o brilho se formando sobre seus
olhos e isso machuca muito. Minha mãe era
tudo para mim antes de morrer, e não
consigo imaginar sua rejeição, seu ódio, sua
disposição de me deixar morrer.
— Você ainda quer fazer isso? —
Ambrose pergunta atrás de mim. — Eu
posso fazer isso por você se você precisar de
mim. Suas mãos podem ficar limpas.
Huxley balança a cabeça lentamente,
a raiva forçando um sorriso de escárnio em
suas bochechas enquanto suas
sobrancelhas mergulham para dentro. — Eu
não quero mãos limpas nisso. Não depois
disso.
— Eu quero machucá-la... — eu digo
a ele.
Seu olhar escurece, estreitando em
mim enquanto ele abaixa sua testa na
minha. — Eu não vou te impedir.
O alívio que sinto nessa permissão é
esmagador, doloroso, feliz, tão consumidor
quanto minha raiva violenta, mas muito,
muito melhor.
Eu não sou uma pessoa ruim... eu sei
que não sou.
Mas o pensamento de machucá-la,
matá-la, destruí-la pelo jeito que ela o
machucou me faz estremecer de
necessidade.
— Então me deixe ir atrás dela. — Eu
abaixo minhas mãos em seu peito,
empurrando suavemente, não para afastá-
lo, mas para encorajá-lo a me soltar e
machucar quem o machucou.
Ele engole visivelmente, então dá um
beijo no topo da minha cabeça. — Vá — ele
diz, então me solta e dá um passo para trás.
Estou congelada no precipício deste
momento sombrio - um momento sombrio
que definirá o resto de nossas vidas juntos.
Se continuarmos com isso, se matarmos
Maura, nossos destinos estarão selados
para sempre. Teremos que deixar tudo o
que sabemos para trás e fugir, encontrar
nosso próprio lugar juntos, um lugar onde
possamos nos esconder do mundo. E
embora uma parte de mim hesite em deixar
para trás o conforto de um estilo de vida
rico, o resto de mim implora para fugir dele,
da vida que queimou meu coração em
cinzas e quebrou minha alma em pedaços.
Quero meu futuro com Huxley e
Ambrose, mesmo que tudo o que tenhamos
seja um ao outro.
Ambrose pressiona a palma da mão
nas minhas costas enquanto ele se afasta,
me encorajando a seguir em frente. —
Estamos bem atrás de você — diz ele. — Vai.
Viro a cabeça, olhando para os dois
antes de assentir, antes de sair da jaula,
abrir a porta e sair para o corredor.
Eu me viro, dou um passo à frente e
ali, parada na cozinha onde transei com o
filho dela, está Maura, segurando o celular,
tentando encontrar um sinal. Ela não vai
conseguir um, e não importaria se o fizesse.
Ninguém pode salvá-la agora.
— Como você vive assim? — ela diz
enquanto abaixa a cabeça para olhar do
outro lado da sala para mim, pensando que
eu sou Ambrose saindo para dizer a ela que
o trabalho está feito.
Seus olhos travam nos meus e seu
rosto cai. Sua cabeça inclina para o lado, e
eu vejo a confusão em sua expressão. Ela se
afasta do balcão onde se inclinou e dá um
passo à frente.
— O que você está...
Mas eu nunca a deixei terminar a
frase.
O vermelho raivoso tenta me
dominar, mas minha dor é mais forte,
cruzando minha visão como uma sombra
negra escura... e é muito melhor. Não me
leva embora. Não me desconecta nem me
esconde da realidade. Ela me envolve e me
fortalece, me encoraja, me dá a fúria que eu
preciso sem me esconder, presa em minha
própria mente.
Com a escuridão me cercando, eu
corro para ela.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
GLORY

MAURA CORRE PARA A porta


enquanto eu vou atrás dela, tropeçando em
seus calcanhares enquanto ela alcança a
maçaneta. Mas sou mais rápida e a alcanço
primeiro. Minha mão esquerda envolve seu
pulso, puxando-a para trás enquanto eu
alcanço com a minha mão direita e aperto
minha palma ao redor de sua garganta.
Sua mão sobe para empurrar meu
antebraço, mas sou mais forte em minha
fúria, empurrando-a para trás e batendo-a
contra a porta. O ar sai de seus pulmões com
um oomph satisfatório quando ela bate na
madeira, a parte de trás de sua cabeça
batendo contra ela.
O medo que acende uma chama atrás
de seus olhos me alimenta, lágrimas através
de mim, fortalece minha raiva primitiva que
me chama para apertar meu aperto em
torno de sua garganta. Ela luta comigo,
jogando as mãos e acertando meus braços,
meus ombros, até minha cabeça. Mas não
há dor quando estou tão focada, tão
decidida a estrangulá-la por toda a dor que
ela causou a Huxley, por todas as noites em
que me obriguei a esquecer que ela tinha
sido uma testemunha do horror que eu
tinha experimentado.
Ela estava lá…
Ela viu o que meu pai fez... ela sabia o
que ele estava fazendo comigo. Acho que
reprimi as memórias, mas de repente, tudo
volta correndo. Ela tinha visto isso
acontecer. Ela testemunhou meu tormento.
Ela me chamou de prostituta, viu meu pai
fechar e trancar a porta e não fez nada.
Nada.
Ela fez vista grossa para o meu abuso
e me culpou por isso, mas ela não está mais
se safando disso.
Não mais.
Não mais.
Não. Porra. Mais.
Sinto algo bater na lateral da minha
cabeça, como uma ponta afiada atingindo
meu crânio. Eu ouço Huxley e Ambrose
gritarem, a raiva afundando em suas vozes
enquanto um deles me arrasta de volta. Eu
pisco e olho para a mão dela enquanto
Ambrose agarra Maura pelos ombros, a gira
e a joga no chão. Ela está segurando seu
estilete em uma mão.
Foi com isso que ela me atingiu?
As mãos de Huxley estão em meus
ombros enquanto ele me gira para encará-
lo. Eu levanto minha mão e pressiono minha
palma contra o local onde fui atingida, logo
acima da minha orelha. Ele lateja e dói, mas
não é nada mais do que uma dor de cabeça.
— Você está bem? — Huxley
pergunta, inclinando-se para nivelar seus
olhos com os meus.
Eu concordo. — Estou bem. — Eu olho
ao redor dele para ver Ambrose agarrado na
cintura de Maura no chão, lutando para
agarrar seus pulsos agitados enquanto ela
luta com ele.
Dou uma rápida olhada para Huxley –
outro olhar tranqüilizador de que estou bem
– antes de me mover ao redor dele,
passando pela luta de Ambrose e Maura no
chão ao lado da mesa da cozinha. Eu me
dirijo para o fogão e o bloco de facas ao lado
dele, mas o filtro vermelho e violento cai na
frente dos meus olhos, me arrastando de
volta para uma memória que me faz parar a
apenas um passo de distância.
Curvada sobre a ilha da cozinha.
Celular tocando.
Alcançando uma faca.
O corpo ensanguentado e sem vida do
meu pai no chão.
Caindo de joelhos na neve.
Mãos vermelhas, cobertas de sangue.
Huxley aparecendo diante de mim
para vir em meu socorro.
Saio do filtro vermelho da memória e
volto para a realidade negra, dando o último
passo, estendendo a mão e puxando uma
longa lâmina do bloco. Eu me viro e dou um
passo, pronta para cair de joelhos ao lado de
Ambrose e enfiar a ponta da minha arma em
seu coração doente, mas a voz calma e
determinada de Huxley me impede.
— Espera. — Ele olha para Ambrose.
— Amarre as mãos dela para que ela não
possa machucar Glory novamente.
Os olhos de Maura se arregalam
quando o medo a domina, quando entende
que seu filho está conosco e não com ela. —
Huxley! O que você está... Faça alguma
coisa!
Ele puxa uma cadeira da mesa e a gira
para encará-la, seus olhos frios e duros
enquanto observa Ambrose puxá-la do
chão. — Estou fazendo alguma coisa, mãe.
Estou retomando minha vida.
— Seu... — ela gagueja, sua luta
diminuindo com sua confusão acelerada
enquanto Ambrose a gira e a empurra para
baixo no assento. Sua blusa está meio
desabotoada e seu cabelo preso cai em
pedaços emaranhados ao redor de sua
cabeça. — O que você está dizendo, Huxley?
O que você está fazendo? — Ela acrescenta
uma inflexão dolorosa à sua voz, e é tão
falsa que faz meu sangue ferver.
Eu dou um passo para frente,
estendendo a faca e acenando em sua
direção. — Estamos fazendo com você o que
você queria que fizessem conosco. Não aja
como se estivesse surpresa.
Ela balança a cabeça. — Eu não sei do
que você está falando.
— Você não pode mentir para nós,
Maura! — Aponto a ponta da faca para o
corredor. — Nós estávamos lá quando você
disse a Ambrose para terminar a porra do
trabalho! Ele gravou você em seu escritório
e ouvimos tudo... Sabemos tudo o que você
pediu para ele fazer. Ouvimos cada maldita
palavra que você disse!
Ela vira a cabeça, olhando para cima e
por cima do ombro para Ambrose enquanto
ele puxa a corda em nós apertados ao redor
de seus pulsos, seus braços presos atrás das
costas. — Ambrose?
— Você estava se enganando ao
pensar que poderia confiar em mim — diz
ele. — Eu nunca gostei de você. Você era
uma foda boa quando eu não tinha alguém
melhor, mas agora você é apenas um
desperdício de espaço no meu caminho. —
Ele dá um puxão final, provocando um
gemido agudo com o aperto da corda
enquanto Maura se endireita e franze os
lábios. Ele se move para o lado dela e se
inclina para lhe dar um contato visual
marcante. — E seu filho me dá orgasmos
muito melhores do que você já deu.
— Seu maldito mentiroso — ela
cospe enquanto Ambrose se endireita e se
move para ficar ao lado de Huxley. — Meu
filho não é gay.
A voz de Huxley é plana, monótona e
sombriamente perfeita para a situação em
questão. — Eu não diria que tenho
preferência, mãe. — Ele a olha de cima a
baixo. — Mas eu diria que tenho uma
capacidade muito maior de amar do que
você.
— Não é que eu não te ame ... —
Maura começa, deslizando para frente no
banco, tentando fazer o papel de
arrependida.
— É exatamente que você não me
ama. Você nunca fez, não é? Você fingiu
humor doentio e sarcástico todas as vezes
que disse que eu arruinei sua vida, mas era
verdade, não era? Você me odiava desde o
momento em que nasci?
— Como você ousa me perguntar
isso? Eu te dei tudo, a porra do mundo
inteiro, e você vê onde isso me levou? Eu me
sacrifiquei por você. Você sabe quantos
paus eu tive que chupar antes de encontrar
um homem que cuidasse de nós dois? Eu
não queria você quando tinha dezesseis
anos, mas eu...
— E você não me quer agora—
Huxley avança. Através de seu braço
estendido, ele aponta o dedo na direção de
Ambrose. — Você disse a ele para nos
encontrar e nos matar.
— Eu não teria pedido a ele para te
matar se você já não estivesse
desaparecido. Você provavelmente estava
praticamente morto de qualquer maneira,
não estava? Onde ele te encontrou, afinal?
— Como se você se importasse.
Como se isso importasse. Você disse a ele
para nos matar .
— A oportunidade se apresentou...
Huxley grita. Alcançando os ombros
dela, ele agarra o topo da cadeira com as
duas mãos, curvando-se para olhá-la
diretamente nos olhos. — A oportunidade?
Você mesmo se ouve? Eu deveria deixar
Glory estripar você como um peixe e deixá-
la sangrar.
O rosto de Maura muda, toda a
falsidade se derrete e dá lugar à sua
realidade fria e sem coração. — O que você
quer então? Dinheiro? Liberdade? Pegue
sua miserável mesada da minha conta
corrente e vá embora. Eu não poderia me
importar menos se você desaparecer da
minha vida.
A cabeça de Huxley vira para o lado.
— Mas esse é o problema, não é? Você está
mentindo na minha cara. A única razão pela
qual estamos todos aqui juntos é porque
você quer Glory e eu mortos... porque
estamos no caminho de você ganhar
controle total sobre a fortuna dos Tolliver.
Quase como se Beau soubesse que você era
uma vadia atrás de ouro e se certificasse de
que você fosse a última da fila para pegar o
dinheiro dele. Mas o maldito bastardo não
apostou no quão sem coração você é, não
é? Ele não contava com Glory lutando e
acabando com sua vida por toda a dor que
ele causou a ela. E você não apostou no fato
de que Glory é mais forte do que todos nós;
ela ama mais profundamente do que
qualquer um de nós é capaz, e sua lealdade
a mim é mais espessa do que o sangue.
Quando você me machuca, você a machuca.
E você sabe o que ela faz quando está
machucada?
Maura tem a ousadia de virar a
cabeça, de olhar para mim com escárnio, e
fala comigo em tom zombeteiro — Chorar e
se curvar para o papai?
Agarro o cabo da minha lâmina com
mais força. Ambrose empurra Huxley para o
lado antes de dar um soco na cadela, seus
dedos aterrissando com um estalo
reverberante que ecoa pela sala. Ela
escorrega para o lado da cadeira, caindo no
chão sobre o quadril, incapaz de se manter
de pé com as mãos amarradas atrás das
costas.
Ambrose se ajoelha ao lado dela,
curvando-se e agarrando suas bochechas
com tanta força que posso ver sua pele ficar
branca sob seus dedos.
— Você tem alguma ideia do que
aconteceu com Beau? — Ambrose
pergunta. — Você é a maior idiota do
planeta? Eu não matei Beau. Ele estava
morto antes mesmo de você saber que ele
estava desaparecido. Glory o assassinou
depois que ele a estuprou, e seu filho a
ajudou a enterrar o corpo. E vamos deixá-la
acabar com a sua vida da mesma forma que
ela terminou com a dele.
Maura se debate, puxando as amarras
enquanto Ambrose agarra seu cotovelo e a
puxa do chão para ficar de pé. Ele a solta e
ela cambaleia, tentando recuperar o
equilíbrio com um sapato tirado e o outro
ainda calçado.
— Tudo bem — diz Maura. — Então
me mate. Acabar com todas as nossas
chances de conseguir algum desse dinheiro.
Eles descobrirão que Glory matou Beau e ela
irá para a prisão. Ela olha para o filho. — E
você também, porque você a ajudou. O que
você estava pensando?
— Eu a amo. Isso é tudo que eu
estava pensando, — Huxley diz com os
dentes cerrados.
— Tanto que você iria para a prisão
por ela? Huxley, por favor. Você perdeu a
porra da cabeça.
— Talvez eu tenha. — Ele dá de
ombros. — Mas encontrei algo de que
preciso mais do que minha mente.
Ela faz beicinho, inclinando a cabeça.
— Ah, e o que você encontrou, minha
criança sem noção? Amor? Você acha que
isso vai durar?
Eu vejo a mudança nele, a forma
como os olhos de Huxley brilham quando
algo dentro dele se rompe e o liberta. Ele
fica mais alto, mais forte, de alguma forma
mais brilhante e mais obscuro ao mesmo
tempo. É como vê-lo tomar posse de cada
parte profunda e escura de si mesmo, e isso
envia uma corrida pelas minhas veias. Meu
coração bate mais rápido.
— Não é só amor, mãe. É sacrifício.
Não fiz nada além de dar toda a minha vida.
Eu me sacrifiquei e salvei, mas ninguém
estava lá para me salvar quando eu precisei.
Ninguém até eles. Glory e Ambrose me
querem o suficiente para sacrificar tudo por
mim, para me ajudar a fazer isso, para
passar por isso...
— Passar o quê? Matar sua mãe?!
Essa é a sua maldita escolha, Huxley!
— Ah, cale a boca, Maura — Ambrose
diz friamente, atraindo meus olhos para
onde ele está ao lado da mesa da cozinha.
Observo enquanto ele vasculha a
bolsa de couro preto de Maura,
encontrando e tirando alguns doces que
estão embrulhados individualmente em
plástico marrom – nossos famosos doces de
bordo da Tolliver's Treats.
— Acho que já ouvimos o suficiente
— Ambrose começa, levando os doces com
ele enquanto circula Maura para encostar a
bunda no encosto do sofá. Ele olha para
Huxley. — Você já disse o que precisava
dizer? — Ele estende a palma da mão cheia
de doces, acenando para ele. — Deixe Glory
terminar isso. Ela está fumegando.
Só percebo quando ele diz que estou
respirando pesadamente, bufando pelo
nariz com as narinas dilatadas. Ambos os
meus punhos estão enrolados com força, a
faca fortemente na minha mão ao meu lado.
Eu mal estou me controlando, mas eu não
tinha percebido até que Ambrose disse.
Huxley olha para Ambrose, uma
calma estranha e sombria suavizando suas
feições em complacência. Escuridão e ódio
sombreiam seus olhos. Ele merece segurar
essa escuridão se quiser, mas eu odeio vê-lo
desse jeito, com tanta dor. Eu vou até eles
antes que eu possa pensar em ir até ela,
mesmo que a raiva cresça e cresça dentro de
mim.
Parando na frente de Huxley, estendo
a mão para acariciar sua bochecha com a
mão livre. Ele se inclina para o meu toque,
sua expressão suavizando um pouco
enquanto ele fecha os olhos. — Eu vou fazer
isso direito — digo a ele. — Apenas me deixe
acabar com ela e então podemos ser felizes
novamente. Todos nós.
Seus olhos se abrem suavemente, e
ele vira a cabeça para beijar minha palma. —
Ela não nos deixou escolha. Isso tem que ser
feito.
— Tem que ser feito — repito.
Eu deixo minha mão cair enquanto
dou um passo para trás e olho para
Ambrose, silenciosamente implorando para
ele confortar Huxley ou protegê-lo ou algo
assim, qualquer coisa. Porque eu sei que
Huxley é bom demais para isso, puro
demais, amoroso demais, gentil demais.
Embora ele esteja furioso e ferido neste
momento, eu sei que ele vai se sentir
culpado por isso mais tarde.
Dou outro passo para trás enquanto
Ambrose se vira para ele, embala sua
bochecha suavemente em sua mão forte e
dominante, e se inclina para pressionar um
beijo gentil em seus lábios. Minha
respiração fica presa à medida que se
aprofunda, enquanto Ambrose o conforta
nesses momentos violentos.
Eu me viro para Maura, pronta para
enfiar minha faca dentro dela, para
esfaqueá-la, cortá-la, rasgá-la em pedaços,
mas fico paralisada quando a vejo sorrir
para mim.
— Tire esse sorriso do seu rosto. —
Eu tento soar forte, mas eu sinto minha
mansidão rastejar de volta quanto mais ela
olha para mim daquele jeito, com um sorriso
maligno espalhado em suas bochechas que
dispara sinais de alerta em minha mente. —
Você não ganhou. Você perdeu tudo.
— Talvez sim — ela diz, então inclina
a cabeça. — Talvez não.
Eu ouço o amassar de embalagens de
plástico e ela e eu nos viramos para olhar.
Ambrose coloca um dos doces de bordo na
boca e Huxley faz o mesmo um momento
depois.
— Gosto de um pequeno deleite com
meu entretenimento — diz Ambrose em
resposta à nossa atenção. — Não nos deixe
interromper.
Dou-lhe um aceno de cabeça e ele
sorri para mim. Isso me dá força, embora de
repente eu esteja me sentindo ansiosa. Eu
tento me livrar disso, voltando minha
atenção para Maura. Dou um passo em
direção a ela, e ela recua, mas o maldito
sorriso ainda está em seu rosto e é
inquietante.
— Glory — Ambrose diz
abruptamente, e isso me faz parar. Sua voz
é repentinamente estranha. Quando me
viro para olhar para ele, ele dá um passo em
minha direção, os olhos arregalados, o
sorriso desaparecido.
— Dizem que você não deve aceitar
doces de estranhos — ronrona Maura. —
Mas talvez você também não devesse
aceitar isso de mulheres sem coração.
Ambrose cai, seus joelhos batendo no
chão.
— Porra... porra... — Huxley diz. Ele
vira a cabeça para olhar para mim enquanto
seus dedos tocam seus lábios, chegando à
mesma conclusão que estou tirando no
mesmo momento.
O doce…
O que ela fez com isso?
— Eu não me preocuparia muito —
diz Maura. — Ele vai ficar bem. Ambos vão.
— Ambrose cai de lado no chão, e eu corro
para o lado dele, mas ele já está
inconsciente. — Ele nunca iria se safar de
nada disso, você sabe. Eu ia ter certeza de
que ele tinha feito o que eu pedi para ele
fazer, ter certeza que ele tinha uma amostra
do nosso mais novo sabor, e deixá-lo dormir
em paz enquanto eu dirigia seu caminhão de
volta para chamar a polícia. — As pálpebras
de Huxley caem quando ele cai de joelhos, e
eu largo a faca, virando para agarrar seus
ombros enquanto ele balança. — Tudo faz
sentido, realmente. Ambrose foi meu
amante menosprezado, que assassinou
minha família inteira pensando que isso nos
permitiria ficar juntos. Vocês todos teriam
partido então, e nada ficaria no meu
caminho. A fortuna seria minha, e eu não
teria que dar um centavo para Ambrose.
— Faça isso — Huxley sussurra
enquanto pisca, enquanto suas pálpebras se
fecham, e ele cai de lado, pesado demais
para eu segurar. Consigo guiar sua queda, e
ele cai com a cabeça perto dos joelhos de
Ambrose.
Eu observo os dois, meus olhos em
seus peitos, certificando-me de que eles
estão respirando e estão bem. Quando
tenho certeza de que são, deixo que me
levem.
Deixei a sombra envolver-me,
arrancar qualquer bondade que pudesse ter
restado em minha alma, e deixei que ela me
levasse inteiramente. Eu envolvo minha
palma ao redor do cabo da lâmina e
lentamente me levanto.
— Você é fraca, patética, garotinha
— Maura zomba. — Você acha que me
assusta? Você acha que eu tenho medo de
que você me machuque? — Seu rosto muda
de zombaria para ódio. — Eu sei que você
não vai. Você não é capaz de revidar. Você
deixou Beau te machucar por anos,
curvando-se para o querido papai só porque
ele queria. Seu pai é doente, e você
provavelmente também.
Eu sinto uma calma lavar sobre mim.
— Não sou doente. Eu sou forte. Mais forte
que você.
— Mais forte que eu? Você não sabe
o que é forte. Forte é ter um bebê aos
dezesseis anos, ser expulsa de casa e
aprender a se virar sozinha. Você é uma
putinha privilegiada que nunca teve que
trabalhar um dia em sua vida.
— Talvez eu seja. Mas você sabe o
que você é?
— O que? — Ela inclina a cabeça para
o lado em desafio.
— Entretenimento.
Eu circulo atrás dela e agarro a corda
que prende seus pulsos na minha mão livre.
Eu a empurro para frente, marchando com
ela até a porta. Eu a solto para segurar a
maçaneta, torcer e abrir a porta.
Eu a empurro para a entrada, vendo a
neve cair lentamente, mas pesadamente
atrás dela... lenta e pesadamente, como a
escuridão cai sobre minha alma. Ela se vira
para mim, olhando para mim com os olhos
arregalados.
Viro a lâmina em minha mão, amplio
minha postura e deixo a escuridão tomar
conta de mim. — Corre.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
HUXLEY

ESTOU PRESO EM um tipo estranho


de sono. Posso sentir algo atrás da minha
cabeça, um joelho ossudo batendo na parte
de trás dela, me acordando. Mas abrir os
olhos é difícil, e a inconsciência empurra a
escuridão ao redor das bordas da minha
visão.
Eu ouço um gemido e é familiar.
Estou na cama com Ambrose?
Isso não pode estar certo...
Quando eu adormeci?
Onde? Como?
— Huxley? — Eu ouço meu nome
fracamente, e tenho certeza que a voz
pertence a Ambrose. — Huxley — ele diz
com mais urgência, e eu o sinto se mover ao
meu redor.
Eu pisco, tentando abrir meus olhos,
mas as pálpebras estão pesadas pra caralho.
Tudo no meu corpo me diz para relaxar,
deixar ir, voltar a dormir. Mas minha mente
está acordada dentro do meu corpo, e é
insistente que algo está errado, que eu
preciso sair disso e acordar.
Eu sinto suas palmas nas minhas
bochechas e uma pontada de eletricidade
de seu toque ondula através de mim. Suas
mãos caem em meus ombros, e ele me
sacode. Tento piscar novamente, lutando
contra esse sono que quer vencer. Eu o sinto
me puxar para seu colo e seu calor afunda
através de mim.
Seu calor é duro contra o frio que
sinto em meus ossos, está tão frio aqui. Há
uma brisa invernal soprando em meu rosto,
que contrasta com o calor de suas pernas
sob meus ombros.
— Huxley! — Ele me sacode
novamente. — Acorde caralho! Glory e
Maura se foram.
Porra.
Eu luto para abrir meus olhos,
piscando até que eles fiquem abertos por
mais de meio segundo. — O que? — Eu
consigo murmurar.
Ele me puxa, me levantando, e o
movimento envia energia correndo através
de mim. Ele envolve seus braços em volta de
mim, me abraçando perto. Meus braços
lentamente voltam à vida e o envolvem,
embora meu aperto seja fraco.
Seus dedos cavam em meu cabelo na
parte de trás da minha cabeça, embalando-
me contra seu peito forte, e eu ouço as
batidas rápidas de seu coração. — Porra,
Huxley. Você está bem. Você está bem. — O
tremor em seu tom sugere seu alívio – como
se ele realmente não soubesse se eu estava
bem antes.
Meu aperto em torno dele aumenta,
meus músculos se contraindo para a vida de
uma vez com a necessidade urgente de
confortá-lo. Mas então me lembro de
nossas circunstâncias e o que me levou a
desmaiar no chão.
Glory.
Eu me afasto com um puxão,
agarrando seus ombros e olhando
diretamente em seus olhos escuros. —
Onde está a Glory?
— Eu não sei, porra, mas ela e Maura
sumiram.
Ele olha por cima do meu ombro, e eu
viro minha cabeça para seguir seu olhar. A
porta da frente da cabana está aberta, e
uma forte nevasca pontilha manchas
brancas caindo contra o fundo escuro da
floresta.
— Merda. — Eu fico de pé quando
meu batimento cardíaco acelera, mas
imediatamente, eu balanço e tropeço,
caindo de joelhos. — O quê aconteceu
conosco? — Eu pergunto, trazendo a palma
da minha mão para pressionar contra minha
testa latejante.
— Maura. Maura aconteceu com a
gente. Acho que foi o doce.
— O que?
— Acho que ela colocou alguma coisa
nele.
— Por que diabos ela iria… — eu
começo, mas eu me cortei. Neste ponto,
tudo é crível. — Não importa. — Eu coloco
um pé no chão e espero o redemoinho na
minha cabeça se estabilizar antes de me
levantar lentamente. — Temos que
encontrar a Glory.
Faço uma pausa quando estou de pé,
respirando com cuidado através da náusea
rodopiante que ameaça me deixar de
joelhos novamente. Olho para ver Ambrose
de pé, mas inclinado sobre o encosto do
sofá, segurando-o para se equilibrar.
Minha alma se sente rasgada em dois.
Uma metade me puxa em direção a ele, me
incita a ajudá-lo a ir para a cama e forçá-lo a
descansar enquanto eu cuido dele. O outro
me implora com mais insistência para me
controlar e correr o mais rápido que puder
para aquela floresta até encontrar Glory.
Ambas as partes de mim precisam salvar os
dois, mas estou tão doente que mal consigo
me manter de pé.
— Nós temos que ir — Ambrose diz,
então respira profundamente antes de se
levantar. Eu o observo com o canto do olho
enquanto ele meio que anda, meio que
tropeça pela sala. Ele destranca um armário
de pé aninhado no canto de trás da cozinha
e tira duas coisas.
Uma espingarda e um machado.
Segurando-os trêmulos, um em cada
mão, ele vem em minha direção, segurando
o machado. Eu olho para ele e sinto um
estrondo de raiva vibrar no meu peito.
Minha mãe me quer morto.
Ela drogou a mim e ao Ambrose com
sua porra de doce de bordo. E agora ela está
lá na floresta com Glory, e eu não sei se ela
está bem, mas eu sei que minha mãe
também a quer morta, e essa mulher é uma
lutadora.
Eu envolvo minha palma ao redor do
cabo do machado e dou a ele um aceno de
cabeça. Ele cai pesadamente em minhas
mãos quando ele o solta, mas o peso está
me aterrando, afirmando, me firmando
através dos restos de náusea e tontura.
Ele me olha com intensidade dolorosa
enquanto sua mão livre se estende para
mim, deslizando ao longo da minha
bochecha, os dedos cavando meu cabelo ao
lado da minha cabeça. Ele me puxa para
frente e encosta sua testa na minha. Meu
coração pula com seu toque, com sua
proximidade, com a vingança indignada que
pulsa de sua alma e mexe com a minha.
— Não há mais jogos. Encontramos
Maura e acabamos com ela.
Eu aceno contra sua cabeça. — Nós
acabamos com ela e trazemos Glory para
casa em segurança.
Seus olhos se fecham e, a princípio,
acho que é por causa do veneno que ainda
corre em suas veias. Mas então ele inclina o
queixo e pressiona um beijo suave, mas
exigente, em meus lábios, que faz todo o
meu ser ondular com sua intensidade.
— Todos nós voltamos para casa —
ele sussurra contra meus lábios.
Relutantemente, nos separamos um
do outro e passamos pela porta da frente.
Nossos pés afundam na neve enquanto mais
neve continua caindo rápido e furioso do
céu. É quase ofuscante como ela cai,
pintando listras brancas brilhantes nos
troncos escuros das árvores na beira da
clareira. A luz da cabine de dentro nos
permite ver tão longe.
Estou aliviado ao ver a caminhonete
de Ambrose ainda estacionada aqui – pelo
menos nenhuma delas foi embora. Mas isso
significa que elas estão na floresta em algum
lugar, e não há como dizer quanto tempo
estão lá fora ou até onde chegaram.
— Por aqui — diz Ambrose, e eu viro
minha cabeça para seguir sua mão
enquanto ele aponta para algumas pegadas
que desaparecem rapidamente na neve.
Se eu pudesse sair correndo, eu o
faria, mas ainda sinto o balanço enquanto
me movo, o mundo ao meu redor
constantemente se inclinando e mudando a
cada passo que dou. Posso ver como isso
afeta Ambrose na maneira como a parte
superior do corpo se inclina a cada passo.
Mas nós dois lutamos por isso porque
precisamos. Nenhum de nós vai parar até
sabermos que Glory está segura e a mulher
que se diz minha mãe está morta.
Seguimos os rastros até a linha das
árvores e Ambrose entra na floresta com
familiaridade. Assim que passo pela linha
das árvores para segui-lo, o mundo está
envolto em escuridão. Eu mal posso ver um
pé na minha frente, e pisco, esperando que
meus olhos se ajustem rapidamente.
— Fique comigo — Ambrose diz
enquanto acelera o passo.
Embora o balanço vertiginoso esteja
gradualmente desaparecendo, eu me sinto
ainda mais desorientado pela escuridão,
como eu forço meus olhos tentando ver,
mas mal consigo distinguir um galho antes
que ele me bata no rosto. Mas Ambrose...
ele se move com facilidade, como se a
natureza fosse o antídoto para a droga
girando dentro dele, como se as árvores
falassem com ele e o guiassem em seu
caminho.
Corremos pela floresta por talvez dez
minutos antes de ouvirmos algo estalar –
um estalo alto ecoando pela noite como se
alguém pisasse em um galho. Paramos e
caímos no silêncio que se segue.
Por alguns momentos, o mundo está
parado e quieto. Quase posso ouvir o
barulho da neve caindo enquanto os flocos
correm para o chão, correndo para
preencher os espaços entre as árvores.
— Não se mova. Não respire. Não
faça barulho, Maura. — A voz de Glory
sussurra e ecoa ao nosso redor. Viro a
cabeça, procurando a fonte, mas não
consigo encontrá-la. — Estou me
aproximando de você agora.
Alguém começa a correr — podemos
ouvir os passos pesados na neve.
Ambrose agarra minha camisa no
centro do meu peito, me puxando para
perto dele enquanto diz: — Por aqui. — Ele
então me empurra para a direita.
Eu não acho, eu só me movo, saindo
correndo naquela direção, correndo atrás
da minha mãe ou da Glory, eu realmente
não sei. Os passos que ouvi ficam mais altos
e mais distintos enquanto corro, desviando
de troncos de árvores pretas e arranhando
galhos. Estou alcançando alguém e estou
cauteloso, sem saber se é minha mãe ou
Glory. Tenho que tomar cuidado para não
machucar Glory por engano.
Mas então paro de repente quando
ouço minha mãe gritar, um grito de dor e
medo ecoando pela floresta escura. Isso me
faz parar, desencadeando minha
necessidade de economizar, embora eu
saiba agora que ela não estenderia a mesma
cortesia para mim. Ela teve a chance, e ela
não escolheu me salvar.
O grito se transforma em soluços
ecoantes quando um brilho misterioso
começa a espreitar do chão à distância. O
nascer do sol está se aproximando e logo
haverá luz na floresta.
— Pare por favor! — minha mãe grita
e eu corro em direção ao som.
Logo posso ver uma silhueta se
movendo entre as árvores, mancando e
lutando para fugir, e imediatamente sei que
é minha mãe.
— Corra, Maura. Você não pode mais
se esconder... — A voz de Glory soa distante
e próxima ao mesmo tempo. — Corre.
Corre. Corre.
Porra.
Glory se foi. Ela está perdida para
aquela raiva sangrenta e violenta
novamente, e isso me deixa mais temeroso
por sua segurança do que se ela estivesse
calma e agindo como de costume. Ela
perdeu o controle, e sem controle, erros são
cometidos. Ela poderia se machucar e
continuar porque a raiva a empurra para
frente.
A luz continua a crescer, elevando-se
daquela linha ao longe, e revela lentamente
nossa cena. Minha mãe fica à vista enquanto
ela dá a volta no tronco de uma grande
árvore em uma pequena clareira.
A árvore é familiar.
É uma árvore que Ambrose me trouxe
uma vez antes.
Abraçando o baú, ela espia a cabeça
ao redor dele, procurando por Glory sem
ideia de que estou bem atrás dela.
Suas mãos estão desamarradas,
embora a corda ainda esteja presa a um de
seus pulsos, como se ela tivesse sido solta.
Ela ainda está usando aquela saia lápis
impraticável e seus pés estão descalços na
neve. Há sangue cobrindo sua perna
esquerda e todo o seu peso é transferido
para a direita.
Ela parece uma merda.
Glory está brincando com ela.
Dou um passo à frente e um galho se
quebra sob meu sapato.
Eu paro.
Maura paralisa.
Então, lentamente, ela se vira. De pé
na base da grande árvore de bordo - logo
acima dos túmulos dos pais de Ambrose - ela
me olha com olhos temerosos, um tremor
percorrendo seu corpo.
— Hu-Huxley... — ela gagueja através
dos lábios trêmulos e tingidos de azul.
E foda-se, isso aperta meu coração, a
corda que ativa minha empatia sem fim e
minha maldita necessidade de salvar as
pessoas de si mesmas.
Ela me queria morto.
O machado me pesa, passando pelo
meu braço e ombro, lembrando-me de que
está ali em minhas mãos. Dou mais um
passo à frente enquanto a luz cresce,
enquanto o sol continua a nascer.
Meu coração dispara quando minha
mãe chora, delineador preto escorrendo por
suas bochechas, seu cabelo emaranhado,
enquanto seus pés descalços caminham
para frente, pisando nos túmulos dos pais
de Ambrose.
Ela merece morrer como eles?
Minha consciência exige uma
reavaliação e sou forçado a permitir. À
medida que seus passos aceleram em minha
direção, meu coração afunda, forçando o
desconforto a fluir através de mim com o
olhar de minha mãe. Dou um passo para
trás, com medo de que tenhamos cometido
um erro, com medo de me arrepender disso
para sempre.
E então seu rosto muda de tristeza
para raiva total, e ela grita comigo do outro
lado da pequena clareira em cima de seus
túmulos. — Eu gostaria que você nunca
tivesse nascido!
Um único tiro soa e eu pulo,
assustado com o som dele. Eu assisto com
os olhos arregalados enquanto uma mancha
escura se espalha lentamente do estômago
de minha mãe, fluindo gradualmente,
encharcando o tecido de sua blusa.
Ela olha para baixo com choque,
então olha de volta para mim. E embora ela
sussurre as palavras, uma brisa sopra ao
redor delas enquanto elas saem de seus
lábios, varrendo-as através dos galhos nus e
girando-as para ecoar ao meu redor.
— Eu nunca te amei.
EU.
Vejo.
Vermelho.
Um rugido primitivo se forma em meu
intestino, ganha força em meus pulmões e
explode de mim incontrolavelmente. Meus
pés se movem sem pensar, correndo atrás
dela enquanto o machado se move em
minhas mãos, movendo-se para ser
segurado por ambas as mãos, levantando-se
bem acima da minha cabeça.
Maura cai de joelhos quando sua mão
vem para tocar seu lado, puxando-a para
olhar o sangue que se acumula. Quando eu
me aproximo dela, minha mente chuta um
canto rítmico, me dizendo para atacar,
atacar, atacar.
A poucos passos de distância, um
borrão corre do meu lado, um borrão
correndo com cabelo loiro falso e raiva em
seus olhos. Ela é mais rápida do que eu, mais
feroz do que eu, mais determinada do que
eu.
Glory bate em Maura, jogando seu
corpo no chão antes de se acomodar em
cima dela, montando sua cintura, erguendo
a faca bem acima da cabeça com as duas
mãos minúsculas.
Paro e observo Glory fazer o que eu
queria fazer.
Ela abaixa sua faca, enfiando-a no
peito de Maura. Seu corpo estremece e sua
cabeça cai para o lado enquanto ela tosse
sangue, derramando um líquido carmesim
sobre a neve branca e brilhante.
Glory puxa sua lâmina e ataca
novamente.
Golpea, golpea, golpea.
Estou atordoado.
Estou congelado.
Observo enquanto Glory apunhala
minha mãe repetidamente, grunhindo com
cada golpe de sua lâmina enquanto o
sangue respinga em seu rosto.
Ambrose aparece das árvores,
caminhando lentamente da direção que
Glory veio, passeando em direção a ela
casualmente e sem cuidado, carregando a
espingarda que ele usou para incapacitar
minha mãe em suas mãos.
Ambrose para atrás de Glory e
lentamente vira a cabeça na minha direção.
— Você quer que eu a impeça? — ele
pergunta enquanto Glory continua a
esfaqueá-la sem remorso.
— Não mais. Não mais. Não mais —
ela canta com cada movimento de sua
lâmina.
Em pouco tempo, Maura para de
tossir, para de rolar a cabeça, para de se
mexer completamente. No entanto, Glory
continua seu ataque enquanto lágrimas de
raiva escorrem por seu rosto, brilhando em
suas bochechas enquanto refletem a luz do
sol nascente.
— Chega... — Torna-se um sussurro à
medida que sua velocidade e vigor
diminuem, à medida que o tempo entre
cada facada se estende.
Com um golpe final em seu peito,
Glory para, suas mãos ainda em volta da
maçaneta, sua cabeça inclinada enquanto
ela começa a soluçar. O machado cai da
minha mão e cai pesadamente na neve.
Ambrose abaixa sua espingarda e nós dois
nos movemos para ela ao mesmo tempo.
Eu alcanço Glory, e ela levanta o
queixo para olhar para mim. — Eu perdi o
controle de novo — ela sussurra, a dor
enrugando as feições de seu rosto.
Ela levanta as mãos, estendendo a
mão para mim como uma criança perdida
que precisa de conforto. Eu sempre vou dar-
lhe conforto. Eu agarro seus braços e a
levanto de cima de Maura, despreocupada
com o sangue que encharca Glory da cabeça
aos pés enquanto a puxo em meus braços e
a arrasto para longe do corpo.
Ela envolve os braços em volta do
meu pescoço e me abraça, chorando em
meu ombro. Ambrose se junta a nós um
segundo depois, envolvendo seus braços ao
redor de nós dois, oferecendo-me conforto
em seu abraço enquanto dou tudo o que
tenho para Glory. Eu posso dar
infinitamente a ela agora porque ela me
fortalece; ela me reabastece quando eu dei
a ela tudo o que tenho para dar. E mais do
que qualquer coisa no mundo, isso me faz
sentir inteiro. Isso me faz sentir alinhado
com o universo. Faz-me sentir em paz.
Apesar da vileza de nossas vidas e do
derramamento de sangue que nos trouxe
aqui, estamos juntos agora. Nossas três
almas quebradas costuradas para sempre
como uma só com este ato final de violência
para acabar com a pessoa que pretendia nos
destruir.
Exceto... minhas mãos ainda estão
limpas.
E isso parece errado.
Parece fora de equilíbrio.
Ambos ensanguentaram as mãos
nisso, e as minhas estão limpas. Eu não acho
que posso seguir em frente com isso
pesando em mim.
Eu me afasto de Glory, segurando
seus ombros, mergulhando para nivelar
meus olhos com os dela. Dou-lhe um
pequeno sorriso, o incentivo que ela precisa
tão desesperadamente. Eu coloco uma
mecha de cabelo ensanguentado atrás de
sua orelha, então levanto meus olhos para
encontrar os de Ambrose enquanto eu a
empurro de volta contra ele. Eu dou um
passo para trás e a solto. Então, ele a agarra
pelos ombros e a gira para encará-lo,
rapidamente envolvendo-a em seu abraço
caloroso.
Eu me curvo e pego o machado, e
parece que estou segurando o peso do
mundo enquanto o arrasto comigo até o
cadáver ensanguentado de minha mãe.
Deveria me machucar vê-la assim, e embora
isso atraia minha humanidade, lembro-me
de que era isso que ela queria que fizesse
comigo. Ela queria que este fosse eu, fatiado
e sem vida. Ela queria que isso fosse Glory.
Eu respiro fundo de indignação,
deixando a justiça encher meus pulmões
enquanto eu movo o machado para ser
segurado entre minhas duas mãos. Eu o
levanto acima da minha cabeça, puxando o
peso monumental mais alto. Meu olhar cai
para seu pescoço manchado de sangue e
ouço suas palavras da gravação de Ambrose
ecoando em minha mente.
— Eu quero os crânios deles.
Ela queria minha Glory morta.
Ela queria o crânio da minha Glory.
E esse lembrete é suficiente para
fazer a verdadeira imagem dela ganhar vida
diante de mim. Um monstro jaz aqui no
chão da floresta, morto em cima dos
túmulos dos monstros que levaram
Ambrose ao assassinato. E o monstro de
Glory também está enterrado nesta
floresta.
Ambrose e Glory foram corajosos o
suficiente para matar seus monstros, e
embora ela já esteja morta, farei o mesmo
com os meus apenas para ser digno deles.
A sensação de magia negra da Sugar
Wood Forest ondula pelos galhos,
arranhando o ar gelado, infectando-o com o
pecado que afunda dentro de mim. Ele sobe
pelos meus braços, escurece minhas veias e
explode na ponta dos meus dedos com
insistência para dar o golpe final.
Com um sussurro de encorajamento
das árvores maculadas, da floresta que deu
vida aos Deleites de Tolliver e dos monstros
que a administravam, deixei meus braços
caírem.
Balançando para baixo com um golpe
rápido e pesado, eu golpeio, cortando a
lâmina do machado de forma limpa em seu
pescoço.
— Eu quero os crânios deles.
Ela nunca terá o crânio de Glory, mas
a floresta pode ter o dela.
Eu sinto Ambrose envolver sua mão
em volta do meu pulso, puxando e me
encorajando a soltar o machado. Eu afrouxo
meu aperto, solto e dou um passo para trás.
E Glory está ali para me levar para
longe da violência e para a paz de seus
braços, me puxando e me abraçando.
Eu a aperto, trazendo minha mão até
a parte de trás de sua cabeça e a seguro
firmemente no lugar. Eu descanso meu
queixo no topo de sua cabeça enquanto o
sol brilhante nasce atrás de Ambrose. A
visão de sua escuridão sombreada pela luz é
o primeiro momento em que percebo que a
nevasca parou, e me pergunto há quanto
tempo. A neve caindo da floresta como a
praga levantou de nossas almas.
— Está feito — diz Glory,
pressionando um beijo no meu peito. —
Está tudo feito agora. Acabou.
O captor que mudou tudo sorri para
nós com a luz do sol emoldurando-o como
um anjo caído. — E o resto está apenas
começando.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
GLORY
CINCO ANOS DEPOIS

EU PASSO as palmas das mãos sobre


as coxas, limpando o solo das minhas mãos
no meu jeans enquanto olho para fora da
horta onde me ajoelho. Acho que vi um
cervo do outro lado da cerca de madeira que
Huxley construiu ao redor do jardim.
Levanto-me e ando entre as fileiras de
tomates, cenouras e manjericão recém-
brotados. Temos uma estufa para auto-
sustentação durante todo o ano, mas Huxley
sabe como adoro estar ao ar livre ao sol
durante a primavera e o verão.
Depois dos longos e sombrios
invernos aqui no noroeste do Pacífico, é
uma cura para mim estar fora da cabana.
Realmente, é uma cura para ter minhas
mãos no solo, me conectar com a Terra e
mostrar minha gratidão pela vida que ela dá
– pela felicidade que fomos abençoados por
encontrar aqui.
Sugar Wood foi manchada pelo mal e
arruinada para sempre pela minha família.
Os Tollivers tiraram daquela floresta,
sangrando as árvores de seu bordo e
lucrando com isso – e nunca devolvendo a
ela tudo o que a tiraram.
Mas aqui encontramos terras
preciosas e desabitadas, escondidas nas
profundezas da floresta que se estendem
por quilômetros ao longo da costa oeste.
Chegamos a este lugar procurando abrigo,
um lugar para nos escondermos do mundo
como se estivéssemos mortos, porque é
assim que temos que viver — como se
estivéssemos mortos.
Chegamos a este lugar com gratidão,
atentos ao modo como a energia humana
permanece, torce e influencia a mente.
Sugar Wood continha toda a energia
negativa dos monstros que enterramos lá,
mas não seremos monstros neste pedaço
perfeito do mundo que encontramos.
Tivemos que tirar um pouco da
natureza neste trecho da floresta, mas
devolvemos a ela em igual medida. A
jardinagem me mantém com os pés no
chão, me lembra de onde a vida vem e onde
termina. Plantar novos vegetais e flores ao
ar livre a cada estação me permite devolver
a vida à Terra, algo novo para nutrir e
crescer, e minha alma se sentiu mais leve
desde que comecei a fazê-lo.
Estou determinada a manter o
máximo possível de boas energias neste
pedaço perfeito do planeta que
encontramos.
No final da fila, coloco meus cotovelos
em cima da cerca de madeira, descansando
meu queixo em meus antebraços para
espiar por cima. A pequena corça do outro
lado abaixa a cabeça, farejando ao longo da
cerca. Seu pelo bronzeado é salpicado de
pontos brancos que me lembram a queda de
neve.
Parte de mim não gosta que
tenhamos que colocar a cerca para manter
os bichos fora do jardim, mas tornou-se
necessário porque eu pareço ter atraído
muitos deles para o nosso esconderijo
aconchegante na floresta. Veados, coelhos,
pássaros, esquilos - todo tipo de criatura me
encontra aqui, e sempre coloca um sorriso
no meu rosto.
Eu nunca me importei muito com
animais ou natureza em minha vida antes,
mas com o passar dos anos, eu fiquei mais e
mais apaixonada por isso, mais feliz do que
jamais pensei que poderia ser em uma vida
sem privilégios e riquezas.
Tudo o que nos pertence,
construímos juntos. Não tínhamos dinheiro
quando saímos de Sugar Wood. Não valia o
risco de tentar sacar dinheiro de contas
bancárias quando precisávamos que o
mundo pensasse que estávamos mortos.
Tínhamos um caminhão e um ao outro e
nada mais.
Mas foi o suficiente.
A paz é a coisa mais valiosa para mim
agora.
A corça levanta a cabeça e me olha,
inclinando a cabeça para me observar
enquanto eu a observo. — Você está
procurando meus tomates? — Eu pergunto.
— Volte em algumas semanas e eu terei o
suficiente para você.
— Eu continuo te dizendo, querida,
eles nunca vão responder — Huxley diz com
um sorriso.
Viro a cabeça para vê-lo passar,
andando na direção oposta. — Isso não vai
me impedir de tentar — eu chamo atrás
dele.
Ele me dá uma piscadela rápida
enquanto passa, parecendo
particularmente robusto hoje. O arranhão
em seu rosto é áspero à medida que ele fica
mais forte e a camisa de flanela enrolada
nas mangas é um novo visual para ele. É
diferente, mas é um visual que funciona e
que eu gosto muito, muito.
Estar aqui o mudou também, e de
todas as maneiras boas. Não que algo
precisasse mudar dentro dele – Huxley
sempre foi perfeito para mim.
Mas algo se libertou dentro dele na
noite em que matamos sua mãe. Não é mais
algo sobre o qual falamos, embora
tenhamos falado muito sobre isso naquela
época. O primeiro ano foi difícil para nós,
mas depois... encontramos este lugar.
Encontramos este pequeno pedaço do
paraíso aninhado em segredo, e era como se
o universo tivesse se alinhado para nós.
Eu me afasto da cerca e me viro para
encará-lo enquanto ele se afasta,
carregando uma pilha de toras pela clareira
ao lado da modesta cabana que
construímos por conta própria. Observo
enquanto ele se aproxima do toco perto do
galpão onde guardamos nossa madeira
cortada — um galpão que também
construímos por conta própria.
Ambrose está na frente do toco,
erguendo o machado bem acima da cabeça
e empurrando-o para baixo com força,
partindo um tronco com um golpe perfeito.
Ele a coloca no chão enquanto Huxley coloca
as toras ao lado do toco, enxugando o suor
da testa com a parte de trás do antebraço.
Ele sorri para Huxley quando se levanta,
seus dentes brilhando emoldurados por
seus lábios macios e barba preta espessa.
Ele levanta a barra inferior de sua
camiseta de mangas compridas para
deslizar sobre o rosto, revelando seu torso
esculpido por baixo. Sinto um arrepio
percorrer minha espinha e uma dor brota do
nada entre minhas pernas. Nunca deixará de
me surpreender, do jeito que eles
conhecem. Encontramos uma harmonia tão
perfeita, nós três juntos aqui neste belo
trecho da Terra, que eles sabem
intuitivamente quando eu tenho uma
necessidade... qualquer tipo de
necessidade.
Eu não teria que levantar um dedo se
não quisesse porque eles fariam qualquer
coisa por mim alegremente. Não entendo
como tive tanta sorte de ter esse tipo de
amor deles, mas sei que nunca vou dar
como certo. E porque eu sei que eles fariam
qualquer coisa por mim, eu deixo eles
fazerem qualquer coisa comigo.
Às vezes eles brincam juntos, às vezes
eu brinco com Huxley, às vezes eu brinco
com Ambrose. Mas os melhores momentos
são quando todos jogamos juntos, e já faz
mais de uma semana desde que jogamos.
Eu os quero agora e eles sabem disso.
A cabeça de Huxley vira sobre o
ombro para olhar para mim ao mesmo
tempo em que Ambrose abre os olhos para
encontrar os meus do outro lado da clareira.
Eu tomo uma respiração trêmula quando
uma brisa fresca de fim de primavera
chicoteia ao meu redor, fria, desliza em
meus braços nus, fazendo meus mamilos
endurecerem sob minha camiseta.
O rosto de Ambrose se transforma em
algo sério – aquele olhar obscuro e
pecaminoso que ele ganha quando quer
fazer coisas terríveis e bonitas comigo.
Eu quero que ele faça coisas terríveis
e bonitas para mim.
Seus olhos estão fixos nos meus a
doze metros de distância enquanto ele
caminha em direção a Huxley, agarra suas
bochechas para virar a cabeça em sua
direção e se inclina para beijá-lo com força.
Um gemido suave me escapa,
soprando pelo quintal, ecoando
silenciosamente ao nosso redor. Ambrose
gira Huxley ao redor e empurra suas costas
contra o galpão, prendendo-o lá com seu
corpo enquanto ele o beija urgentemente,
rudemente, deliciosamente.
Fico parada enquanto assisto,
sentindo pulsar entre minhas pernas.
Ambrose interrompe o beijo e olha de
volta para mim, embora mantenha Huxley
preso no lugar com seu corpo duro. Meu
olhar cai no rosto de Huxley para encontrar
seus olhos fechados em choque delicioso,
seus lábios entreabertos, esperando que
Ambrose o devorasse.
Mas estou me sentindo um pouco
egoísta, um pouco gananciosa. Eu quero ser
o centro das atenções deles. Faz algum
tempo que não somos realmente selvagens
juntos, e sinto a necessidade disso
farfalhando entre as árvores. É uma coceira
que exige ser coçada. Até a Terra insiste que
despejemos nossa violência uns contra os
outros em pequenas doses – usamos uns
aos outros para todas as nossas
necessidades, mesmo as obscuras.
Principalmente as obscuras.
Isso nos mantém equilibrados.
Liberamos nossos impulsos primitivos
com segurança um no outro, para que
nunca precisemos liberá-los em mais
ninguém. Não deixamos mais ninguém
entrar em nossas vidas. Isso perturbaria
nossa harmonia discordante.
Os olhos de Ambrose se estreitam em
mim de forma predatória e minha
respiração fica presa em meus pulmões. Ele
sabe o que eu preciso e ele vai entregar.
— Foda-se — murmuro sem fôlego.
Antes que ele possa sequer pensar em
fazer um movimento, eu sorrio para ele, me
viro e corro.
Eu não preciso olhar por cima do
ombro para saber que ele está vindo atrás
de mim... para saber que ambos estão vindo
atrás de mim. Passo pela linha das árvores e
corro para a floresta. Meus pés me
carregam rapidamente pela terra macia,
meus sapatos esmagando os galhos
enquanto eu salto sobre os troncos e me
desvio entre as árvores.
— Voe mais rápido, Bird — ouço
Ambrose falar atrás de mim — estou indo
pegar e enjaular você.
O desejo afunda em meu intestino. Eu
quero que eles me peguem, mas não vou
desacelerar.
Não é divertido se a perseguição não
for real.
Eu sinto os dois correndo comigo,
enquanto nossa alma viaja pelas árvores,
para sempre conectada, nunca me deixando
escapar completamente deles.
À distância, vejo a corça de antes, com
a cabeça abaixada e fuçando no chão da
floresta.
Um sorriso toca minhas bochechas ao
vê-la ali, mas não é só ela. Há outro... não,
há três deles.
Três filhotes juntos?
Que extraordinário.
Mas onde está a corça?
Eu corro na direção deles por
nenhuma razão além do instinto me
puxando para perto deles. Quando suas
cabeças se erguem todas de uma vez, as
orelhas se erguendo e todos olhando na
mesma direção, sinto isso em meus ossos.
Perigo.
Eu lancei um olhar na direção de seu
olhar coletivo.
Um leão da montanha está à frente
deles, agachado e rastejando em direção a
eles, preparando-se para atacar.
Onde está a mãe deles?
Por que eles não estão correndo?
Sem pensar duas vezes, corro direto
para eles, correndo na frente deles e paro.
— Glory! — Ambrose grita quando
me viro para encarar o puma.
— Glory, desce! — Huxley grita, e eu
ouço o clique quando ele engatilha a arma
que sempre carrega quando estamos do
lado de fora – exatamente por isso.
Eu ergo minha palma na direção de
sua voz, embora meus olhos permaneçam
fixos no predador na minha frente,
rastejando baixo, se aproximando desses
inocentes filhotes que não sabiam procurar
predadores em sua própria casa. Como
Ambrose, Huxley e eu não sabíamos cuidar
dos predadores em nossas próprias casas.
Energia protetora feroz rasga meu
intestino e meu corpo, queimando a raiva
em minhas veias.
— Abaixe-se. Eu tenho a chance —
Huxley insiste, sua voz um pouco mais
próxima agora.
Mas eu apenas balanço minha cabeça
enquanto alargo minha postura, planto
meus pés e puxo meus ombros para trás
para ficar alta e orgulhosa acima do puma
diante de mim. Eu abri meus braços para os
lados, segurando-os protetoramente na
frente do cervo congelado atrás de mim.
Eu deixei a raiva do meu passado – a
raiva contra os predadores que criaram
todos nós e falharam em proteger nossas
crianças interiores – ferve e borbulha dentro
de mim. Deixei subir no meu peito e aquecer
minha voz. Eu deixo envolver a força em
torno de minhas palavras, e em um tom
profundo e forte, eu grito para a criatura
mortal na minha frente: — Para trás!
Finalmente encontrei minha voz,
minha força, meu poder. Eu a sinto pulsar ao
meu redor, como um campo de força
protetor.
E o leão da montanha sente isso
também.
Ela se levanta, seu movimento quase
imperceptível com a forma como ela se
move gradualmente, mas ela se levanta,
saindo de sua postura agressiva.
— Segure firme — eu ouço Ambrose
dizer suavemente, mais perto do que antes.
— Você a pegou, Bird.
Eu o sinto empurrar para o campo de
força e isso me fortalece ainda mais. A
frente de seu ombro toca a parte de trás do
meu, e mais poder ondula através de mim.
Eu olho para o leão da montanha enquanto
ela lentamente se afasta, mas eu posso ver
o movimento de Huxley pelo canto do meu
olho, circulando ao seu lado, segurando sua
arma para um tiro certeiro se ele precisar
pegá-la.
Mas com eles ao meu lado, me
protegendo sem passar por cima de mim,
me dando espaço para assumir o controle
enquanto me vigia com toda a ferocidade
dos leões protegendo seu orgulho, sou a
mulher mais poderosa do mundo.
— Para trás! — Eu grito novamente
com a confiança que se derrama por dentro
e escorre pelo meu núcleo.
O predador salta, se vira e foge.
Deixo escapar um longo suspiro e o
poder do que acabei de fazer – espantar a
porra de um leão da montanha – afunda
dentro de mim. É uma bola densa de medo
que se mistura com luxúria, criando um
tornado de necessidade que rasga minha
barriga.
Espero que Ambrose me toque
primeiro, porque ele está bem ali,
pressionado atrás de mim. Mas minha
atenção é atraída para o meu lado quando
Huxley coloca a trava de segurança, enfia a
arma na parte de trás de sua cintura e corre
direto para mim.
Ele estende a mão para mim
enquanto balança a cabeça, seus olhos
arregalados com a mesma combinação de
medo e luxúria que me intoxica. — Isso foi
aterrorizante... e tão quente. — Suas mãos
deslizam sob minha mandíbula, agarram
meu rosto e me seguram apertado
enquanto seus lábios esmagam os meus e
ele me leva para trás.
Minhas costas batem em uma árvore
atrás de mim e o estúpido e lindo grupinho
de cervos finalmente se dispersa, como se
eles sentissem mais perigo entre nós três do
que sentiram com o puma.
Eles podem estar certos.
Porque eu sei que isso vai ser sexo
violento e perigoso.
É o que eu quero.
Huxley beija molhado e
descuidadamente em minha boca, minha
bochecha e até meu pescoço. Seus quadris
se movem para frente, cavando contra o
meu corpo enquanto sua cabeça mergulha
para que ele possa acariciar seu rosto na
curva do meu pescoço.
Meus olhos se abrem quando sinto
Ambrose se aproximar, e ele entra
rapidamente. Ele agarra meu pulso no
pescoço de Huxley e me puxa para longe
dele de lado. Eu suspiro quando ele me puxa
com força da árvore, minhas costas
raspando contra a casca enquanto deslizo
ao longo dela. Ele me puxa para frente,
envolvendo a palma da mão em volta da
minha cabeça e me segurando firme para
me beijar violentamente. Sua língua corta a
minha. Seus dentes mordem.
Então Huxley vem atrás de mim,
fechando em torno de mim, me envolvendo
em calor enquanto ele pressiona seu pau em
minha bunda. Eu choramingo na boca de
Ambrose enquanto Huxley beija meu
pescoço, chupa e morde, e procura mais de
mim com agressividade.
Eles se separam para se beijar, e
minha cabeça cai para trás contra o ombro
de Huxley. Eu olho para suas bocas
lambendo, enquanto eu afundo entre eles,
meus joelhos ficando fracos enquanto o
desejo escorre pelo meu núcleo.
— Foda-me — eu respiro,
implorando a ambos.
Ambos me agarram, trabalhando
freneticamente para me despir. Huxley tira
minha camisa enquanto Ambrose trabalha
meu jeans. Ele puxa o zíper para baixo, e
então eu sinto o braço de Huxley fechar em
volta da minha cintura nua antes que ele
enfie a mão na minha calcinha e apalpe
minha boceta com força. Eu suspiro e
arqueio minhas costas enquanto seus dedos
caminham pelo meu clitóris, pressionando
rudemente e esfregando em círculos
descuidados e dolorosos.
— Você gosta disso? — ele respira
contra o meu ouvido. — Você nos quer
rudes?
— Sim — eu chio. — Faça-me sentir o
quão desesperadamente você me quer.
Ambrose acaricia meus seios,
puxando os bojos do meu sutiã para baixo
para me expor. Ele se curva e lambe meus
mamilos, fazendo meu corpo balançar de
prazer.
— Eu sempre quero você
desesperadamente — diz Huxley. — Todo
maldito dia.
— Mostre-me — eu choramingo.
Ambrose torce meu mamilo entre os
dedos, enquanto sua outra mão se estende
e penteia meu cabelo castanho – eu cortei o
loiro tingido alguns anos atrás e estou
deixando crescer desde então. Ambrose
gosta mais assim, e Huxley não se importa
com a cor do meu cabelo desde que eu
goste.
Eles só querem a versão mais real e
verdadeira de mim.
Ambrose desliza a mão atrás da
minha cabeça, levantando-a do ombro de
Huxley e me arrastando com ele enquanto
ele recua. Seus dedos deslizam entre os fios
do meu cabelo, e ele torce a mão,
envolvendo meu cabelo em torno de seu
aperto e puxando minha cabeça para trás.
Eu grito com a picada forte.
— Tira a roupa, Bird. — Ele passa a
língua da cavidade da minha garganta até a
ponta do meu queixo, me fazendo
estremecer.
Ele me solta de uma vez e eu
choramingo. Dando um passo para trás,
alcanço atrás de mim para soltar meu sutiã
e jogá-lo de lado. Eu o encaro enquanto tiro
meus sapatos e tiro minha calça jeans e
calcinha.
Fico orgulhosamente entre eles e
seus olhares famintos, sabendo que eles
nunca vêem todas as imperfeições do meu
corpo que tantas vezes nomeio para mim.
Tudo o que eles veem é uma mulher que
amam infinitamente, e em nossos
momentos como este, sou capaz de me ver
através de seus olhos – porque seus olhos
são tão insistentes com adoração e
devoção.
— Você quer lutar contra nós? —
Huxley pergunta atrás de mim, sua voz
pesada com luxúria.
A palavra escapa em uma respiração
sem pensamento consciente. — Sim.
Eu costumava ser fraca. Eu costumava
deixar coisas ruins acontecerem comigo
sem lutar, sempre esperando que Huxley
me salvasse. Então, às vezes nós jogamos
jogos sombrios – jogos que me ajudam a
lembrar minha força e quanto poder eu
realmente possuo.
E eu tenho tanto poder sobre eles.
Eu gosto da maneira como isso se
desenvolve dentro de mim quando jogamos
este jogo. Eu gosto do jeito que me faz sentir
mais forte. Isso me permite representar
quem eu era antes quando estava tão fraca
e indefesa e reescrever a narrativa... Eles
tentam me controlar, me deixam lutar e me
deixam vencer.
Embora às vezes eu goste de perder
de propósito.
Os olhos de Ambrose piscam
sombriamente para mim, sua mão caindo
para cobrir e apertar a protuberância em
seu jeans.
— Vire-se — Huxley ordena, e com
uma respiração profunda, eu lentamente
me viro para encará-lo.
Ele tira a arma da cintura e a coloca a
uma distância segura para evitar acidentes
em meio à paixão. Então, ele tira um
pequeno pedaço de corda do bolso de trás e
meu sorriso se contorce, observando-o
enrolar em sua mão. Aposto que ele pegou
antes de me perseguir na floresta,
esperando que terminasse assim... sabendo
que terminaria.
— De joelhos — diz ele.
Eu balanço minha cabeça lentamente,
mostrando a ele sem palavras que eu não
vou apenas obedecer.
— De joelhos, Bird — Ambrose
repete atrás de mim.
Meus olhos se deslocam para a
direita, propositalmente revelando meu
próximo passo, porque sei o que quero que
ele seja. Eu afundo, começando a correr,
mas não tento muito desta vez. Assim que
eu me inclino, ambos estão atrás de mim. Os
braços de Huxley envolvem minha cintura e
levantam meu corpo nu do chão. Ele gira
enquanto minhas pernas chutam e eu tento
golpeá-lo com meus cotovelos. Mas
Ambrose está bem ali na minha frente,
agarrando meus pulsos com força e
puxando meus braços na minha frente.
Ele segura meus dois pulsos em uma
de suas mãos grandes enquanto a outra
segura e puxa a ponta da corda, ainda
enrolada na mão de Huxley. Huxley me
coloca de pé, mas não afrouxa seu aperto
em mim.
E é aqui que a diversão começa.
Dobro os joelhos, torço, mergulho e
me puxo para o lado para me afastar deles
enquanto eles lutam para manter as mãos
em mim.
— Segure os braços dela — Ambrose
diz, e as mãos de Huxley saem da minha
cintura para agarrar meus cotovelos,
apertando meus braços juntos na minha
frente, me segurando firme.
Ambrose enrola um pouco da corda
em volta dos meus pulsos, mas ele não
consegue me segurar enquanto eu puxo
com força, puxando meus dois cotovelos
para trás e apertando-os com força nos
bíceps de Huxley.
Seu peso muda um pouco para trás e
eu aproveito o balanço, empurrando meu
peso de volta contra ele e empurrando até
que ele tropece. Ambrose me solta quando
o pé de Huxley pega e ele tropeça, caindo de
costas no chão. Eu caio com ele, caindo em
cima dele. Suas mãos agarram minha
cintura quando ele aterrissa e me vira, me
jogando de cara na terra, me sufocando com
seu corpo quente e duro.
Eu quero derreter, afundar no solo e
me fundir com a terra. Por um minuto,
esqueço o jogo que estamos jogando,
permitindo que Huxley tenha tempo
suficiente para chegar entre nós, tempo
suficiente para desabotoar, abrir o zíper e
liberar seu pau. Viro a cabeça, deixando
minha bochecha pressionar a terra
enquanto seus dedos deslizam pela minha
boceta. Ele desce entre as minhas pernas
para me encontrar já molhada para ele.
— Foda-se, Glory — ele murmura,
mudando atrás de mim.
Eu abri meus joelhos para ele,
querendo desesperadamente que ele
afundasse dentro de mim. Eu o deixei
alinhar sua ponta e empurrei seu pau dentro
de mim com um impulso cheio e dolorido.
Eu deixei isso nos destruir por alguns
segundos felizes, onde nós dois soltamos
gemidos estrangulados.
E então Ambrose agarra minhas
mãos, puxando-as na minha frente,
tentando novamente enrolar a corda em
volta dos meus pulsos.
Deus, sim.
Lembro-me do jogo novamente e de
quão poderoso é o orgasmo quando luto e
venço.
Eu aperto minhas coxas juntas e
empurro meus quadris enquanto Huxley
puxa para fora, subindo meus joelhos ao
longo do chão, tentando sair de baixo dele.
Ele agarra a parte de trás do meu pescoço e
empurra meu rosto na terra, cobrindo
minhas bochechas com terra - isso me faz
sentir como se eu fosse uma parte da terra,
uma com a natureza, perfeitamente
alinhada com todas as melhores e piores
partes do mundo. Como uma pessoa
completa.
Eu sou ruim e eu sou boa.
Sou escuridão e sou luz.
Sou violenta e sou pacífica.
Eu pertenço a mim, e eu pertenço a
eles.
Eu luto contra a dor para tirar o meu
prazer.
Me debato até que eu possa puxar
meus braços para longe de Ambrose, até
que eu tire Huxley das minhas costas. Eu fico
feroz e furiosa enquanto eles tentam me
derrubar – como o mundo inteiro uma vez
tentou me derrubar.
Mas, como sempre, minha violência
toma conta de mim, embora não como no
passado. Com eles, minha agressividade é
desejada, algo que lhes traga tanto prazer
quanto a liberação dela me traz. E quando
misturamos tudo isso com nossa
carnalidade imprudente, isso envia ondas
de choque por toda a porra do universo.
Meus olhos pegam Ambrose, e ele
sabe com um único olhar que eu não sou
mais sua presa, que meu poder está
tomando conta de mim e eu vou assumir o
controle. Eu vejo o flash enquanto ele tenta
mudar de curso e descobrir como me
subjugar antes que eu assuma e vença...
mas ele demora muito.
Em seu momento de indecisão, eu ajo.
Ajoelhando-me, empurro Huxley de
costas, jogando-o no chão enquanto luto
para subir em cima dele. Ele me empurra de
volta quando eu coloco meu joelho sobre
ele, montando em sua cintura e colocando
meu peso sobre ele. Nossas mãos se
agarram enquanto ele luta para agarrar
meus pulsos e eu luto para agarrar os dele,
grunhindo e ofegando em nossa luta.
Ele se levanta e minha boceta dói por
mais disso, por mais dele se movendo
contra mim. Mas tanto quanto isso, minhas
mãos coçam para empurrar, bater, agarrar e
apertar.
Ambrose muda comigo, virando
comigo para lutar contra Huxley. Seus olhos
pegam os meus por um breve momento de
calor que conecta nossa energia enquanto
nós dois direcionamos nossa paixão de luta
para Huxley. Ambrose segura seus pulsos
para mim, puxando-os para trás e batendo-
os no chão acima de sua cabeça. Meus
lábios se abrem enquanto meus olhos
queimam de paixão, observando Ambrose
enrolar a corda nas mãos de Huxley.
O corpo de Huxley se contorce
embaixo de mim, resistindo e balançando,
tentando me livrar, mas não estou me
movendo.
Estou levando.
Estou ganhando.
Eu me afasto, chego entre nós para
envolver minha palma em torno de sua
ereção, e o alinho para me encontrar. Então
eu sento com força em seu pau, e o mundo
inteiro para de girar. Nós três gememos ao
mesmo tempo, e então eu começo a me
mover, balançando meus quadris para
frente e para trás, fodendo Huxley.
— Tome sua porra — Ambrose rosna
para mim. — Pegue, Glory. Foda ele.
Eu não preciso do comando, mas
foda-se, suas palavras afundam dentro de
mim e pulsam através do meu clitóris. Eu o
fodo com golpes rápidos e duros, tão
forjados com tensão que eu sei que vou
explodir forte e rápido.
Eu me inclino para trás, estendendo
minha mão para esfregar meus dedos sobre
meu clitóris. Mas Ambrose levanta as mãos
amarradas de Huxley, empurrando-as para
baixo, fazendo-o mover seus dedos para
descansar perfeitamente contra meu clitóris
enquanto eu me esfrego neles. Eu gemo
quando Huxley enrola os dedos para me
deixar foder seus dedos duros, quando vejo
suas mãos amarradas para mim, sabendo
como ele gosta, como ele quer ser amarrado
por mim e me deixar tirar dele.
— Glory — Huxley respira. — Merda,
Glory!
Eu o sinto inchar, Eu sinto como ele
está bem ali à beira do clímax, mas eu não
estou pronta ainda, e pelo amor de Deus, eu
estou gozando primeiro. Eu bato meus
quadris para parar e olho para ele. — Não se
atreva a gozar ainda.
— Porra, eu preciso disso — ele
implora.
— O quanto você precisa disso? — Eu
pergunto.
— Faça-me gozar, Glory. Porra, por
favor.
Eu quero dar a ele tudo.
Eu quero dar a ele todo o maldito
mundo pelo jeito que ele me mudou... pelo
jeito que ele me fez a melhor versão de mim
mesma... pelo jeito que ele me fez feliz.
Movo meus quadris novamente,
lentamente no início, apenas para ele. — Eu
vou deixar você gozar dentro de mim, mas
então eu quero sua língua no meu clitóris
enquanto Ambrose me fode.
Sua cabeça balança em uma espécie
de aceno e seus dedos mexem contra meu
clitóris, me fazendo gemer. — Sim. Apenas
me faça gozar dentro de você.
Eu rolo meus quadris, gradualmente
pegando meu ritmo, esfregando e
empurrando e fodendo seu pau enquanto
seus dedos esfregam contra meu clitóris.
Ambrose se ajoelha ao meu lado e seu pau
está para fora agora também. Eu chego a
envolver minha mão em torno dele
enquanto ele se inclina para me beijar, não
suavemente, mas rudemente, lutando
minha língua com a dele.
Inexplicavelmente, eu sinto isso.
Eu não achava que estava lá ainda,
mas de repente, eu sinto isso no jeito que o
pau de Huxley incha dentro de mim – o jeito
que ele me deixa vencer, me deixa tirar dele,
me faz sentir como uma deusa acima dele.
— Quão rápido você pode gozar? —
Eu pergunto contra os lábios de Ambrose.
— Tão rápido quanto você quiser.
— Oh — eu gemo, minha cabeça
rolando para trás em meus ombros
enquanto Huxley pressiona seus dedos com
força contra meu clitóris. — Como você faz
isso comigo?
— Como você faz isso com a gente?
— Ambrose pergunta antes de morder meu
lábio inferior.
Eu abro meus olhos para olhar para
ele. — Goza. Goza agora, porra, e goze no
peito dele.
— Merda — ele murmura, agarrando
seu pau e acariciando.
Eu pressiono uma mão no pulso de
Huxley para mantê-lo no lugar enquanto
seguro a bochecha de Ambrose com a outra,
cravando meus dedos em sua carne para
segurar seu rosto perto do meu.
Meus quadris se movem mais rápido,
mais forte, levando-nos ao esquecimento.
Nós nos tornamos um, juntos no chão da
floresta, nossos gemidos e gritos de
desespero rolando juntos até que estamos
ofegantes como um, ofegando como um,
perseguindo o prazer como um.
Enquanto minha boceta aperta o pau
de Huxley, a alegria de nossa união me
oprime, encurrala as partículas do meu
coração cinza dentro da minha caixa
torácica e, de uma vez, as esmaga de volta.
Ele envia uma onda de choque através do
meu corpo. Ele força cada músculo a ficar
tenso contra o clímax profundo da alma. Ele
flui para fora do meu coração, viaja pelo
meu corpo, salta contra meus dedos e
pontas dos meus dedos dos pés, e dispara
de volta ao meu coração.
A porra de Huxley se derrama dentro
de mim, me enchendo, enquanto Ambrose
respinga em seu peito, enquanto todos nós
soltamos um único suspiro unificado de
puro alívio e completa satisfação.
Eu desabo no peito melado de Huxley,
despreocupada com a bagunça enquanto
ele me rola para o meu lado. Ambrose
embala seu corpo em volta do meu por trás,
estendendo a mão para puxar as cordas das
mãos de Huxley.
Nós deitamos lá juntos no solo e nos
galhos que cobrem o chão abaixo. Eu sinto
como se eu pudesse afundar alegremente
na terra com esses dois.
— Quero ser enterrada aqui com
vocês, quando morrermos — digo sem
pensar.
Huxley ri, acariciando o lado da minha
cabeça. — É nisso que você está pensando
agora? Quando morrermos?
Eu pisco para ele enquanto Ambrose
passa a mão pelo meu lado, apoiando-se em
seu cotovelo para se inclinar e beijar meu
pescoço.
— Não estou pensando em morrer.
Só estou dizendo... Quando acontecer...
algum dia... quero estar bem aqui entre
vocês, mesmo na morte. Eu quero que
nossos corpos voltem para a terra. Nós três
juntos, para sempre.
— Sua mente é um lugar mórbido e
lindo — Ambrose sussurra em meu ouvido
antes de se inclinar sobre mim para beijar
Huxley.
Seus dedos traçam linhas pelo meu
quadril e deslizam pela minha coxa. Eu me
sinto já crescendo em necessidade
novamente e fecho meus olhos fechados
para aproveitar a sensação de estar
aninhada entre eles.
— Eu amo vocês. Os dois. Eu só
gostaria que pudéssemos deixar nossa
harmonia para trás neste lugar quando
formos embora. Devolver nossa paz à terra
e deixá-la florescer nesta floresta.
Huxley beija minha testa. — É isso que
você quer?
Abro meus olhos para pegar seu olhar
escuro no meu. — Sim.
— Então vamos ter certeza que você
tem isso — diz Ambrose, passando a mão
sobre os cachos que levam ao meu sexo.
— Como?
— Quem morrer por último... —
Huxley começa, espiando por cima de mim
para olhar para Ambrose, e eles se revezam
falando como se pudessem ler os
pensamentos um do outro... e eu não ficaria
surpreso se eles pudessem.
— Quem morrer por último, enterra
os outros dois. — acrescenta Ambrose.
— Então termina a vida deles no
túmulo — Huxley diz baixinho, seus olhos
estreitados intensamente em Ambrose.
— E nós garantimos que Glory...
— A Glory não pode ser a última.
Viro a cabeça para que meus olhos
possam olhar entre eles, observando-os
fazer uma promessa não dita que dá voltas
dolorosas e perfeitas no meu estômago.
— Você quer dizer que? — Eu
pergunto a eles. — Você faria isso por mim?
Ambos desviam os olhos para me
olhar, e sinto o poder de seu vínculo, seu
compromisso em me fazer feliz... mesmo na
morte.
— Eu prometo — diz Huxley.
Então Ambrose segue: — Eu prometo.
Um sorriso verdadeiro se espalha pelo
meu rosto, sabendo que nenhum dos dois
jamais quebraria uma promessa para mim.
Sinto conforto neste juramento mórbido,
sabendo que uma promessa como esta é
mais eternamente mais significativa do que
o casamento, do que qualquer ritual terreno
que alguém possa fazer.
— Então selamos com um beijo? —
Eu pergunto.
Eles olham um para o outro, depois
olham para mim. E enquanto suas bocas
descem sobre a minha, sinto o peso do
universo pressionando sobre nós,
envolvendo-nos como um abraço celestial
que reconhece que pertencemos aqui,
juntos para sempre. Pertencemos um ao
outro na vida, na morte, para sempre e
além. Encontramos nosso equilíbrio perfeito
juntos.
Todos os erros do nosso passado
foram corrigidos.
Toda a nossa dor se foi.
Não há mais sofrimento.
Não há mais abuso.
Não há mais traumas.
Não mais.
Tudo o que resta para nós é o prazer,
a paz e o voto sombrio que nos une por toda
a eternidade.
AGRADECIMENTOS

Escrever este livro foi uma jornada


tão louca e distorcida e sou muito grata por
todas as pessoas que me ajudaram a
terminá-lo!
Eu tenho que agradecer ao meu
marido primeiro - querido, você realmente
veio para garantir que eu tivesse o tempo e
o espaço que precisava para fazer isso. Eu
sei que isso tirou muito tempo de nós, mas
prometo que vou devolver esse tempo!
Para Danielle, Mary e Maria... sério,
OBRIGADA. Seu apoio constante, amor,
orientação e honestidade me mantém em
pé e me torna uma escritora melhor. Eu
literalmente não poderia fazer isso sem
vocês – vocês são as melhores!
Danielle, um agradecimento extra por
todo o trabalho que você faz como minha
PA. Você é literalmente INCRÍVEL e eu não
sei o que faria sem você (então não tente se
esconder de mim).
Rachel, você não está orgulhosa de
mim? Eu escrevi a parte MM do MMF! Eu sei
que disse que não conseguiria, mas
consegui! E eu não poderia ter feito isso sem
você. Obrigada por todas as cenas sensuais
de MM que você me enviou para ler como
— pesquisa de livro — e por me dar a
confiança e o apoio que eu precisava para
ampliar meu repertório de escrita.
Para minha equipe de rua e ARC eam,
eu absolutamente adoro você. Seu apoio e
amor pelos meus livros me humilha.
Obrigada por compartilhar, revisar e ajudar
outros leitores a encontrar meus livros!
Dez com Pretty in Ink Creations, a
capa que você fez para este livro é
impressionante - muito obrigada por fazer
uma arte tão bonita para este conto
distorcido! Nada com Najla Qamber
Designs, estou tão feliz que sempre posso
contar com você para fazer meus
manuscritos tão bonitos - obrigado por
sempre fazer um trabalho tão incrível!
Para minha editora incrível, Silvia...
Como você sempre consegue polir minhas
palavras tão lindamente? Estou tão feliz por
ter encontrado você e espero que você
esteja pronto para todos os livros malucos
que ainda estão por vir!
Meu último agradecimento vai
diretamente para você, leitor. Você pegou
este livro, leu as palavras que escrevi, e só
por isso, sou grata. Se você se conectou com
os personagens ou a história e gostou desta
leitura, saiba que você e eu nos conhecemos
através dessas palavras, e sou eternamente
grata por você ter feito a jornada comigo.
SOBRE O AUTOR

Brynn Ford é uma autora de romance


sombrio e sujo para leitores ousados. Ela é
uma amante do escuro, distorcido e
brincalhão e se esforça para trazer os
aspectos não mencionáveis do romance
apaixonado em suas histórias.
Brynn mora no meio-oeste dos
Estados Unidos com o marido e os filhos,
que ela espera que um dia fiquem
envergonhados com os livros da mãe.
Quando ela não está escrevendo
obsessivamente, você pode encontrá-la
assistindo a programas favoritos enquanto
come muita porcaria ou lê fanaticamente,
sempre procurando se perder na montanha-
russa emocional de uma história muito boa.
Ela é bastante idealista, apesar de seu
fascínio pelos aspectos perversos e
distorcidos da humanidade. Ela acredita
firmemente que seus personagens
continuam a viver fora das páginas nas
mentes de seus leitores. As histórias não
terminam simplesmente porque não há
mais páginas para virar.

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