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Airon
Airon
Airon
Desperto ao sentir algo roçar minha pele me causando arrepios
e cócegas, reprimo um sorriso ao perceber que Megan contornava
suavemente minhas tatuagens com as postas dos dedos e, para
observá-la melhor, abro os olhos tendo a bela visão de seus cabelos
espalhados por seu busto. Megan está tão concentrada no trajeto de
seus dedos que a expressão fascinação em seu rosto me
surpreende.
— Vai ficar abusando do meu corpo até quando, Sra.
Markcross? — rio ao ver seu rosto assumir um tom avermelhado.
— Des... desculpa, não foi... é só que... eu só estava... — ela
tenta se explicar se enrolando com as próprias palavras, me fazendo
gargalhar.
— Não tente se explicar está ficando pior — fixo meus olhos nos
dela, achando graça em seu jeito meigo e atrapalhado.
Ela está linda com seus cabelos bagunçados e as bochechas
coradas. Megan é diferente. Não se deixa abalar por qualquer coisa,
gosta de me desafiar e tem a língua solta em certas ocasiões, já em
outras, é fechada e reservada, como nos assuntos que envolvem seu
passado, mas acima de tudo, ela é doce, e isso me fascina.
Olhando dentro dos seus olhos verdes acabo me perdendo em
meus pensamentos e uma estranha tristeza se instala em meu
coração ao perceber que serei mais uma vez abandonado quando
tudo isso terminar.
Ela vai me deixar, como Samantha e como aquela mulher, quem
um dia chamei de mãe, fez, então procuro curtir e deixar o tempo
passar, tentando não me apegar a esse emaranhado de sentimentos
que estão começando a surgir dentro do meu peito e que estão
confundindo minha mente.
Desde o princípio, o que sinto por Megan é fascinação, por seu
jeito doce e delicado de ser, por sua incrível habilidade de fazer meu
humor passar de raiva a felicidade em instantes, por suas conversas,
seu corpo escultural, seus olhos e diversas outras qualidades que
dificilmente poderia descrever.
Sou tirado dos meus pensamentos quando a vejo se preparar
para sair da cama, seguro sua mão a puxando de volta, prendendo
seu corpo embaixo do meu.
— Aonde pensa que vai? — seguro suas mãos acima da sua
cabeça.
— Estava pensando em tomar um banho, mas um certo alguém
me prendeu antes de conseguir chegar ao meu destino — ela sorri e
seus olhos verdes esmeralda se destacam ainda mais.
— Como sempre uma menina levada e malcriada — deixo um
beijo suave em seus lábios.
— Eu não sou malcriada — se defende revirando os olhos.
— É sim — acabo rindo — , malcriada e linda — encaixo minha
perna entre as suas, pressionando sua intimidade.
— Airon, precisamos levantar — tenta se soltar, rindo do meu
comentário.
— Ainda não... — desço meus beijos por seu pescoço e sem
rodeios abocanho um de seus seios, circulando minha língua em seu
biquinho entumecido, me fartando do gosto maravilhoso de sua pele
alva.
Seu corpo sensual se deleita com meus toques, me dando total
acesso para brincar e explorar cada canto do seu corpo. Seus
gemidos roucos enviam arrepios por todo o meu corpo
descompassando as batidas frenéticas do meu coração.
Megan é maravilhosa e sua pele branca marcada de vermelho
pelos meus toques a deixa ainda mais irresistível, acabo perdendo o
controle dos meus próprios pensamentos, levando-a mais uma vez
ao ápice do prazer, deixando que nossos corpos se tornem um.
Ofegante, ela se aninha a mim e encosta a cabeça em meu
peito, aproveito o momento para brincar com os fios suados de seu
cabelo ondulado, passando meus dedos pelos pequenos cachos
castanhos.
Observando seu pequeno corpo agarrado ao meu, reparo na
confusão que se encontram os meus sentimentos. Uma hora a quero
de todas as formas, outra não quero nada além de sexo, mas a
realidade é que desde que a vi pela primeira vez quis muito mais do
que uma simples noite sem compromissos.
Sua beleza exuberante me tira do sério e o pensamento de outro
homem a tocando como na noite passada faz meu sangue ferver.
Fiquei extremamente bravo ao ver aquele desgraçado roçando os
lábios no pescoço da minha esposa.
— Você está bem? — ela pergunta com o semblante
preocupado.
— Sim — a observo com as sobrancelhas franzidas. — Por
quê?
— Você está com uma cara nada amigável — me observa
receosa.
— Estava pensando no desgraçado que tocou seu corpo na
boate — não consigo esconder a irritação na voz.
— Não sei ao certo o que seria de mim se você não estivesse
chegado naquele momento, mas o objetivo de te ver irritado foi
concluído e não foi nada agradável — envergonhada, se encolhe
esfregando o rosto em meu peito.
— Então seu objetivo era me irritar? — pergunto surpreso.
— Bem, não era totalmente esse o objetivo, mas fazia parte do
plano pirando o cretino — morde os lábios ao perceber que está
falando demais.
— Plano pirando o cretino? — ergo as sobrancelhas chocado. —
Então para você sou apenas um cretino?
Me sinto estranhamente magoado ao saber daquilo. Isso não
deveria me ofender como está me ofendendo.
— Não é bem assim — ela se defende. — Eu estava irritada
com a ligação que você recebeu, pensei que fosse sua namorada e
isso me fez te ver como um verdadeiro cretino, mas estava
enganada — tenta se explicar.
— Bom, pelo menos você concluiu o objetivo de me irritar —
passo as mãos pelos cabelos. — E se algo te incomoda, basta
perguntar.
— Me desculpe, não queria te magoar, foi algo idiota e muito
impensado, estava nervosa e acabei fazendo coisas que não deveria
— ela encosta a testa em minhas costas.
Suspiro, ignorando suas tentativas frustrantes de se explicar.
— Quero ter a oportunidade de te conhecer melhor antes de te
julgar, Airon, mas confesso que estou assustada como tudo
aconteceu — passa as mãos pelos meus braços deslizando
lentamente.
Me surpreendo com suas palavras e acabo ficando ainda mais
curioso para saber o porquê Samuel não encontrou nada sobre seu
passado. Apesar de Samuel ser um advogado e não um hacker, ele
possui privilégios a acessos às informações pessoais da maioria das
pessoas.
— Espero que isso não se repita — o tom da minha voz sai mais
rude do que eu gostaria.
— Às vezes você me assusta — sussurra pensativa.
— Não quero que tenha medo de mim, não lhe farei mal algum,
não sou esse tipo de pessoa. Sei que você não me conhece e está
assustada, mas pode ter certeza que sou muito grato por estar me
ajudando e por confiar em mim — falo com sinceridade.
— Eu sei que tem uma imagem a zelar por ser dono de uma
grande empresa, mas seja sincero comigo, não é por esse motivo
que me mantém ao seu lado — ela se afasta, apoiando apenas as
mãos em minhas costas.
Pensativo, pondero se deveria me abrir com Megan, mas
percebo que não estou nem um pouco preparado para entrar nesse
assunto.
— São assuntos familiares complicados — resumo tentando
encerrar aquele assunto que não me agrada.
— Entendo se você não sente à vontade em me contar. É cedo
ainda, você também não deve confiar muito em mim certo?! — ela ri
constrangida. — Ainda mais depois do que aconteceu na noite
anterior — se encolhe. — Mas, sinceramente, espero chegar o dia
em que poderei lhe ajudar de verdade — ela sussurra e me levanto
passando as mãos no rosto.
Megan não deveria ser tão doce, ela não deveria encher meu
coração de expectativas e esperança. Instantaneamente, o medo de
ser abandonado e deixado preenche meu coração e a voz de Sophia
Garrute, minha mãe, preenchem minha mente.
"Mark, meu filho, você não passa de um derrotado que ficará
sozinho. "
Passo as mãos no rosto tentando dispersar aqueles
pensamentos que me deixam atordoado. Megan parece visivelmente
chateada com meu silêncio, mas as lembranças da minha mãe me
chateiam.
— Não se preocupe quanto a isso, afinal, temos tempo — sorrio
tentando ser gentil. — Agora você precisa descansar, enquanto isso,
vou tomar um banho.
Incerta, ela concorda, se aconchegando na cama e antes que
essa discussão se complique ainda mais, caminho em direção ao
banheiro. Ligo o chuveiro, deixando as gotas quentes escorrerem por
meu corpo levando embora a dor e insegurança que se instalou em
meu peito.
Apoio as mãos na parede, deixando toda a preocupação e
incerteza irem embora junto as minhas frustrações do passado. Há
muito tempo as palavras horríveis da minha mãe não dominavam
meus pensamentos e não será agora que terei uma recaída por
culpa delas.
Demoro mais que o necessário no banho, na tentativa de
exorcizar os demônios do meu passado que assolam minha mente
nesse instante. Ao sair, me enxugo e vou para o quarto. Megan
dorme calmamente como um pequeno anjo enrolando em lenções
brancos.
Um aperto e uma dúvida se instalam em meu peito, afinal,
queria ser aceito por ela, mas é cedo demais para criar ilusões e
esperanças.
Paro em frente à cama apenas para observá-la e reprimo a
vontade de tocá-la. Sigo para o closet e visto uma calça de moletom
cinza com um suéter preto. Minha mente conturbada não se
acalmaria com tanta facilidade, então descido ir para cozinha
preparar o café da manhã, pois se tinha algo que eu sabia fazer com
maestria era cozinhar.
Cozinhar é um hobby que adoro, posso deixar todos os
problemas do dia a dia e relaxar enquanto preparo pratos de
diversas culinárias diferentes, é um prazer e uma paixão que acabei
adotando como um passatempo para dispersar a depressão que
tentou me dominar há anos. Minha maior especialidade são os
pratos italianos, mas hoje focarei apenas em um café da manhã
caprichado.
Me perco em meus pensamentos e afazeres preparando as
panquecas e quando estou quase terminando, vejo Megan parada na
porta observando atentamente as panquecas serem viradas na
panela com habilidade. Ela está linda com uma das minhas camisas
e seus cabelos soltos em cascatas sobre os ombros.
— Vai ficar aí me olhando com essa cara de safada até quando?
— provoco.
— Exibido — ela resmunga, me fazendo gargalhar. — Espero
que não se importe, mas tomei um banho e peguei uma de suas
camisas.
Ela olha para o próprio corpo analisando a camisa que para ela
mais parece um vestido.
—Não tem problema nenhum, falando nisso precisamos
comprar um vestido para você, hoje à noite haverá um jantar
beneficente e gostaria que você me acompanhasse — sorrio
voltando aos meus afazeres.
— Não preciso de um vestido novo — ela me observa
desconfiada.
— Se acha que vou deixar você ir com aquele pedaço de pano
minúsculo que chama de vestido está muito engada. Vou com você
escolher.
— Eu sei me virar sozinha, não preciso que você me
acompanhe para comprar um vestido — diz certamente irritada. — E
sinceramente, não sou o tipo de pessoa que gosta de participar de
festas como essas, mas como combinamos ajudar um ao outro, farei
um esforço — cruza os braços brava.
Já esperava por sua irritação, mas não cederei tão facilmente.
— Eu vou só para garantir que não seja algo muito do estilo da
sua amiga.
Ela suspira, revirando os olhos, e ignoro sua irritação servindo
as panquecas, ovos, pães e os frios. Pego a jarra de suco de laranja
natural e deixo algumas frutas sobre a mesa para que ela possa
escolher conforme o seu gosto.
Me sento, deixando o assunto do vestido para mais tarde por
que sei que isso vai acabar em uma discussão.
— Espero que tudo esteja a seu gosto.
Sentando-se de frente para mim, posso ver um pequeno sorriso
surgir em seu rosto. Ela pega as panquecas e come com gosto, me
deixando satisfeito e feliz. Nada como cozinhar e ver a satisfação
das pessoas enquanto comem.
— Está delicioso — diz dando mais uma garfada em sua
panqueca.
Megan é detalhista e observadora, ela não confia nas pessoas à
sua volta e isso me leva a pensar em seu passado e a falta de
informações que me foram fornecidas.
— É só um passatempo — sorrio ao vê-la comer.
Acabo mordiscando um pão com geleia apenas para
acompanhá-la e observá-la de perto.
— No que mais você é bom, Airon? — me encara curiosa com
olhos questionadores.
— Em muitas outras coisas, Megan — sorrio safadamente e vejo
suas bochechas corarem.
Entendendo o duplo sentindo da minha frase, ela desvia o olhar
do meu enquanto suas bochechas assumem um tom avermelhado.
Gosto de vê-la envergonhada, ela fica meiga.
Terminamos de comer conversando sobre assuntos aleatórios,
apesar de ser uma pessoa reservada, Megan é muito carismática e
isso me surpreende.
Quando ela se levanta indo em direção à pia levando os pratos
sujos, consigo ver perfeitamente sua bunda tentadora por baixo da
camisa branca e tento me conter.
Ver seu corpo através do fino tecido da camisa faz meu corpo se
arrepiar em desejo, instintivamente, me levanto a abraçando por trás,
mordiscando seu pescoço. Dando livre acesso aos meus beijos, ela
ri ao sentir minha barba roçar seu ombro fazendo cócegas.
— Vamos nos arrumar, precisamos comprar seu vestido —
mordisco sua orelha na tentativa de induzi-la a aceitar minha
proposta.
— Você não vai desistir não é mesmo? — pergunta se virando
de frente para mim.
— Não — rodeio os braços em sua cintura, a abraçando.
— Podemos discutir isso a tarde toda, mas no final sei que você
vai me convencer, porém ainda não aceito que você escolha o meu
vestido — franze as sobrancelhas, me encarando.
— Podemos entrar em um acordo, mas antes de irmos você
precisa passar no hotel e trocar de roupa — cruzo os braços a
observando.
Ela mantém o silêncio me observando com uma expressão
brava.
— O que foi? — pergunto sem entender o motivo do silêncio
repentino.
— Você é um idiota, Sr. Markcross — diz cutucando meu peito
com a ponta do dedo indicador, fazendo com que eu me afaste.
Passando por mim, ela caminha a passos largos e decididos em
direção ao quarto.
— Megan — chamo na tentativa de pará-la, mas é em vão.
— Mandar nas roupas que eu uso? Pode ir parando por aí! Isso
não estava no nosso contrato e nunca estará! — grita subindo as
escadas do apartamento correndo.
Suspiro, subindo vagarosamente. Por que as mulheres são tão
complicadas? Eu só não quero que outros homens cobicem seu
belíssimo corpo, afinal, ela é linda e não seria difícil ter vários
homens ao seu redor.
É tão difícil que ela consiga entender isso?
Isso tudo é completamente novo para mim. Me preparo
mentalmente para enfrentar sua raiva, não sei como lidar com seu
humor instável.
Depois de muito discutir com Airon sobre sua personalidade
possessiva, ele acabou cedendo um pouco o que não foi nada fácil
de conseguir, mas por fim, concordei em passar no hotel para trocar
de roupa já que não me sentia confortável com a que estava para ir
fazer compras.
Enquanto penteio meus cabelos no banheiro, consigo ouvir Katy
e Airon brigando no quarto.
— Vocês poderiam por favor parar de brigar? — olho para os
dois.
— Meg, esse cara é um merda, vou acabar com a raça dele —
Katy declara furiosa.
Ele ri debochado com ar de superioridade deixando Katy ainda
mais irritada.
— Parem com isso, vocês tratem de se entender logo — afirmo
brava com os dois. — Vamos logo comprar esse vestido antes que
eu desista — abraço Katy, me despedindo.
— Nada disso, Meg, vou te maquiar e te deixar um arraso para
que arrume um marido decente — ela sorri para mim animada.
— Katy?! — suspiro lançando um olhar de repreensão a ela.
É difícil aceitar o fato de ter me casado e não me lembrar de
nada, jamais cometeria o mesmo erro duas vezes.
— Jamais vou deixar outro homem tocá-la — o tom possessivo
de Airon me faz erguer as sobrancelhas.
— Olha... isso mostra que ontem à noite foi quente — Katy ri,
me fazendo revirar os olhos.
— Vamos — puxo Airon em direção à porta, completamente
envergonhada com o que Katy diz.
Antes que eles comecem a brigar novamente, resolvo encurtar o
assunto separando os dois o mais rápido possível. Quando
estávamos quase na porta, vejo uma sapatilha voando e acertando
em cheio a cabeça de Airon.
Ele para abruptamente na porta e se vira com uma expressão
indecifrável olhando para Katy. Ela ri descontroladamente me
deixando em uma situação difícil, onde eu não sabia se ria ou se
segurava a fera que se encontrava ao meu lado.
Ele semicerra os olhos usando todo seu autocontrole para se
manter calmo.
— Sinto-me tão leve — Katy ri apoiando a mão na barriga e
quase não consigo segurar a risada que quer escapar dos meus
lábios.
Airon a fuzila com o olhar de tal forma que chega a me enviar
arrepios pela espinha, mas Katy não demonstra nem um pouco de
medo ou arrependimento, muito pelo contrário, ela está irradiando
felicidade e paz.
— Vamos, você tem que se acostumar com a Katy, vocês
precisam dar um jeito de se entender — digo para os dois enquanto
empurro Airon para fora do quarto, que sai carrancudo e irritado.
James nos esperava em frente ao hotel com uma BMW. Airon
reclamou de Katy o caminho todo até chegarmos a uma rua cheia de
lojas exclusivas. Ele entra em uma imensa loja da Prada e por um
momento penso se foi uma boa escolha ter aceitado seu pedido.
Aquele lugar não fazia parte do meu mundo e me sentia
desconfortável estando ali, porém resolvo não questioná-lo, já que de
nada adiantaria.
Observo a loja admirada, esse vestido custaria com certeza uma
fortuna.
Acompanho Airon até a entrada e sua mão em volta de minha
cintura de certa forma me reconforta. Uma loira uniformizada com um
crachá escrito Susan vem ao nosso encontro caminhando
elegantemente sobre saltos finos pretos. Ou melhor, vem atender
exclusivamente o Sr. Gostosão ao meu lado, se insinuando
descaradamente para ele enquanto exibe seus peitos siliconados em
um decote exagerado sem nenhuma vergonha.
Aquilo certamente me irrita e sinto uma vontade tremenda de
colocá-la em seu devido lugar, mas controlo meus impulsos
permanecendo quieta.
— Em que posso ajudá-lo? — pergunta sorridente.
— Bom acho que você pode conversar com minha esposa, ela
saberá dizer o que quer — ele diz secamente, a ignorando.
O seu sorriso escancarado se fecha enquanto ela me mede de
cima a baixo.
Dessa vez admito que quero dar uma medalha de ouro para
Airon.
— Em que posso ajudá-la? — seu sorriso falso me enoja.
— Preciso de um vestido para um jantar — digo, a observando
com a sobrancelha arqueada.
— Por aqui, por favor.
Susan nos leva até uma sala separada onde há um grande
espelho que vai do chão ao teto, um enorme tapete felpudo
estendido entre duas poltronas de couro preto deixando o ambiente
mais moderno.
Airon senta-se em uma das poltronas cruzando as pernas
enquanto espera a moça voltar. Desconfortável continuo em pé
olhando ao redor achando tudo aquilo exagerada demais.
— Vou te ajudar a escolher — ele diz me olhando com uma
expressão séria.
Qual é o problema desse homem? Não consigo entendê-lo. Uma
hora está a mil amores e outra a possessão em vida.
— Você está falando sério? — pergunto ironicamente revirando
os olhos.
— Muito sério, Megan, e não revire esses lindos olhos verdes
para mim — ergue uma sobrancelha com aquele ar imponente e
impenetrável.
Em uma hora dessas cadê Katy com sua sapatilha voadora?
Seria muito bem-vinda.
Susan volta com uma arara de vestidos de várias cores e se
retira em seguida, me deixando sozinha com Airon. Suspiro, o
observando pensativa, ele permanece em silêncio me olhando com
uma expectativa fora do normal. Seus olhos azuis límpidos como o
oceano brilham intensamente.
— Poderia pelo menos esperar eu me vestir? — cruzo os braços
me sentindo pressionada.
— Não tem nada aí que eu já não tenha visto — seu sorriso
presunçoso me irrita.
— Não importa.
— Vamos lá, Megan — ele cruza os braços em expectativa com
os olhos vidrados em meu corpo.
— Você é um idiota — falo irritada – irritante — cuspo.
Ignorando seus protestos por tê-lo chamado de idiota, observo a
arara com diversos vestidos, separando os que eu gostava.
São todos maravilhosos e fico encantada com a maioria deles,
mas não sei de certo se ficariam bom em meu corpo.
Ignorando-o, começo a me despir de certa forma envergonhada.
— Belíssima visão — sorri satisfeito.
Reviro os olhos colocando o primeiro vestido, quando termino de
me trocar passando as mãos pelo pano fino de cor verde esmeralda
que contrasta com meus olhos, sua voz grave rompe o silêncio da
sala.
— Aberto demais, não tem pano nenhum nas costas — seus
olhos azuis impenetráveis diziam que era melhor não discutir e
seguir para a próxima opção.
Coloco o segundo e ele nega pensativo.
Coloco o terceiro e ele maneia a cabeça em um talvez, mas
deixa claro que não gostou da cor.
Vou para o próximo sentido minha paciência se esvair.
— Está marcando suas curvas, seus peitos estão saltando para
fora, não gostei é aberto demais — diz carrancudo.
Ele eleva a sobrancelha em um arco perfeito, um pouco
duvidoso.
Aquilo estava começando a me irritar.
— Por que você não me compra uma burca de uma vez? —
explodo revoltada e ele ergue uma de suas sobrancelhas grossas
para mim.
— Gostei da sua ideia, apenas com os olhos aparecendo seria
perfeito — ele sorri na maior cara de pau.
-Você só pode estar brincando Airon. –Elevo minha voz e ele
permanece em silêncio me observando.
Irritada demais para permanecer naquele ambiente visto minha
roupa brava, procurando minha bota que havia perdido no meio da
bagunça de vestidos que deixei espalhados pelo cômodo por estar
irritada demais com suas exigências.
— Está procurando isso? — ele não consegue esconder o
sorriso sacana por estar brincando comigo.
Suspiro profundamente controlando minha raiva para não
manda-lo a merda de uma vez por todas.
— Venha até aqui, Megan, venha buscar o que você quer — ele
gira o salto do meu sapato nas mãos.
Com o cotovelo apoiado na poltrona, apoia o queixo na mão
livre, com as pernas cruzadas e a cabeça inclinada levemente para a
direita enquanto brinca com meu sapato na outra mão rodando
vagarosamente, mantendo seu sorriso divertido nos lábios me
observando.
Semicerro os olhos observado seu sorriso se estender
levemente.
— Vá a merda. – cuspo com ódio.
Vendo que eu realmente não estava com paciência para suas
gracinhas ele estreita os olhos soltando um pesado suspiro.
— Desculpe – faz uma careta caminhando em minha direção
com os sapatos nas mãos. — Você é linda Megan, seu corpo chama
atenção com esses vestidos, ficou linda em todos.
Sua expressão séria e seus olhos perdidos indicam que ele
estava em um sério conflito interno.
— Sei que as vezes sou controlador demais, mas você me pediu
para tentar correto? Estou tentando — afirma pensativo acariciando
suavemente minha bochecha.
— Tem que ser mais compreensível Airon, você está sendo
abusivo e isso é irritante. — desvio o olhar chateada.
— Vamos a outra loja, talvez encontramos algo mais...
apropriado — diz me abraçando enquanto esfrega seus lábios pela
extensão do meu pescoço até minha orelha me enviando um arrepio
pelo corpo.
— Claro — sorrio me desvencilhando de seus braços enquanto
chamo Susan. — Vou levar este — sorrio satisfeita.
— Megan — Rosna torcendo o nariz.
Ignoro seu chamado, conversando animadamente com Susan e
sua falsidade, tento não encarar os olhos mortais de Airon sobre mim
e sinto que vou me arrepender mais tarde, mas a satisfação de levar
o vestido era maior.
A contragosto ele paga pelo vestido com uma expressão
fechada.
— Conversaremos sobre seu ato rebelde em casa — seu tom de
reprovação me fez rir.
— Claro, senhor — reprimo o sorriso, mas é inevitável.
Airon é extremamente mandão e controlador e as coisas não
são como ele pensa, não posso deixá-lo comandar minha vida da
maneira que lhe convém.
Parando para pensar, isso tudo é muito novo para mim, afinal, o
namoro com Ricardo não passa nem perto do que estou vivendo
com Airon em apenas alguns dias.
Passamos em mais algumas lojas e compramos alguns
acessórios e um par de sapatos Louboutin que combinam com o
vestido, em todo nosso percurso já tínhamos gasto a tarde toda com
as exigências do senhor engomadinho que me fez ficar mais de três
horas naquela loja por causa de um vestido longo.
Deixei que ele escolhesse as joias que usaria e para minha
surpresa sua escolha me deixou encantada. Uma gargantilha
delicada de esmeraldas que contrastam com os meus olhos, não era
nada chamativo. Uma pequena pedra envolta por ouro branco que
brilhava delicada entre minha clavícula, além do pequeno par de
brincos que fazia conjunto com o colar escolhido.
Apesar do transtorno com o vestido, estou satisfeita com a
escolha que fiz, sendo assim, no final nossas compras valeram a
pena.
James nos seguiu para todos os cantos e, sinceramente, estava
começando a ficar com dó por ter que ir a tantos lugares em um
único dia.
Na volta, Airon começa uma nova discussão, o que para mim já
não é novidade, é só saber lidar com a fera e driblá-la, porém, essa
era parte difícil, driblar um homem inteligente, mandão e possessivo,
isso realmente não é nada fácil.
— Megan, porque não vai no salão que indiquei? — fala
carrancudo.
— Katy está me esperando — limito a dizer.
— Katy é irritante, ainda não acredito que ela jogou uma
sapatilha em mim.
—Você mereceu, pare de ser chato e turrão — faço uma careta.
Ele semicerra os olhos e me encara com aquelas duas esferas
azuis irritadas. Às vezes tenho que conter minha língua grande que
não consegue parar dentro da boca.
Desvio meu olhar para o retrovisor e vejo a expressão supressa
de James que tenta conter a risada pela nossa briga infantil.
— James, James, se você soltar essa risada, teremos uma
longa conversa mais tarde — sua expressão séria indica que ele não
estava brincando.
— Desculpe-me, Senhor — James contém o riso assumindo
uma postura profissional e rígida.
Como o jantar parece ser algo realmente importante, ele não
discutiu muito, aceitou os fatos a contragosto e me deixou em frente
ao hotel.
Assim que chego no quarto Katy, está ansiosa para que eu
conte tudo o que aconteceu para ela, como não tivemos tempo de
conversar enquanto Airon estava aqui, ela quer saber todos os
detalhes da minha noite com ele.
Como ainda temos tempo, resolvo contar todos os detalhes a
ela, tirando as visões deliciosas que tinha de Airon nu em minha
mente. Depois de contar o que aconteceu, fico esperando ela dizer
algo, mas ela permanece em silêncio começando a me irritar.
— Katy você não vai dizer nada? — pergunto preocupada.
— É que ainda não consigo acreditar que você não é mais
virgem — ela diz olhando para mim com uma cara assustada de que
estava passada com aquela notícia.
— De tudo que te contei você só lembra dessa parte? — fico
envergonha.
— Não... Da parte que a bunda dele é uma delícia também —
ela ri.
Bom, essa parte não consegui esconder de Katy, afinal tinha um
fraco por bundas e barbas.
— Você ficou cinco meses com Ricardo e não deixou ele te tocar
— ela me observa duvidosa.
— Não me sentia confortável com Ricardo, ele não era
carinhoso e na maioria das vezes estava bêbado e fedendo a álcool
— abaixo meu olhar.
— Mas com o senhor magnata você se sentiu muito à vontade,
né, sua safada? — ela sorri abertamente.
— Sua idiota, vou tomar banho para começar a me arrumar —
me levanto e antes de chegar ao banheiro escuto ela me chamar.
— Meg, estou feliz que você está conseguindo superar todos os
seus traumas e seguir em frente sem se prender como fazia
antigamente, você demorou muito para conseguir um namorado e
aquele cretino do Ricardo só piorou as coisas, mas sabe que essa
história de casamento está mal contada. Sei que Airon está te
fazendo bem, mas ele esconde muitas coisas e isso é visível — se
aproxima preocupada.
— Eu sei, Katy, só não sei como chegar a essa conversa, mas
vou acabar descobrindo de um jeito ou de outro — suspiro, a
olhando.
Katy tinha toda a razão, quando toquei no assunto, ele ficou
completamente tenso e criou uma barreira se afastando
completamente.
— Não se apegue demais, okay? — ela sorri me abraçando.
— Okay, mamãe — brinco a fazendo rir, mas suas palavras
realmente me preocupam. — Mas me conte o que tem feito sem mim
— sorrio ansiosa para ouvir suas histórias.
— Ah, você sabe... as baladas noturnas me pertencem, não
perco um dia e estou adorando Willian. Quando ele não está com
uma expressão mortal estampada no rosto, é uma ótima companhia
e um bom amigo — ri encolhendo os ombros.
— Então você e Willian andam se divertindo por Las Vegas... —
acabo rindo da sua expressão de incredulidade.
— Não nesse sentido, Megan — me dá um tapa no ombro,
rindo. — Sabe que não gosto de contato físico direto e ter Willian do
meu lado ajuda muito, posso me divertir sem preocupações, ele
coloca medo em qualquer pessoa que tente se aproximar — ri
animada.
— Você está usando o pobre homem — balanço a cabeça em
negativo.
— Eu não estou usando, foi seu marido maluco que colocou ele
no meu pé, estou apenas aproveitando — balança os ombros com
indiferença.
— Você é maluca — nego e ela me empurra em direção ao
banheiro.
— Vamos, você irá se atrasar dessa maneira. Não quero ouvir a
voz irritante do seu “marido” — Katy usa um tom desdenhoso.
— No fundo ele é uma boa pessoa, Katy — tento convencê-la.
— Eu sei, mana, só gosto de irritá-lo. É interessante — ela
balança os ombros.
— Você é terrível — reviro os olhos e ela me empurra para
dentro do banheiro.
— Cala a boca e tome logo seu banho ou não terei tempo de
arrumar essa juba de leão — fecha a porta encerrando o assunto,
mas gosto de saber que pelo menos uma pessoa está aproveitando
nossas férias.
Tomo um banho relaxante e deixo meus pensamentos vagarem
sem rumo para tentar esquecer o que Katy me falou. Lavo meus
cabelos, me depilo, escovo os dentes e passo um creme corporal
com cheiro de frutas vermelhas. Quando saio, Katy me espera com
sua maleta de maquiagens sobre a cama.
Jogamos conversa fora enquanto ela arruma meu cabelo e
tenho que confessar que Katy é uma boa cabeleireira, na verdade,
ela é melhor do que muitos profissionais renomados que
encontramos por aí.
Disse várias vezes para ela abrir um salão, mas ela insiste em
dizer que isso é só um passatempo e que jamais abandonaria Jack,
seu chefe, o qual ela ama de paixão e considera um de seus
melhores amigos.
Ela faz uma trança rente e apertada dos lados, prendendo com
grampos na lateral, deixando os fios bem fixos. Como é uma trança
em moicano, os fios caiam soltos presos pela presilha até meus
ombros. Depois de passar bastante spray para que o penteado não
viesse a desmanchar ao longo da festa, começa a fazer uma
maquiagem bem esfumada. Lápis preto na linha d'água e uma
generosa camada de rímel deixando meus cílios longos e meus
olhos verdes bem marcantes e sensuais, assim como os lábios.
Visto o vestido com a ajuda de Katy para não desmanchar a
maquiagem nem o penteado maravilhoso. Minha escolha foi o preto
longo com uma abertura que vai até a metade da coxa. Ele desce
colado pelo meu corpo marcando minhas curvas, o decote em forma
de coração reserva pequenas e lindas pedrarias valorizando meu
busto. A transparência na parte de cima do peito desce até a base
das minhas costas deixando minha pele a mostra — o que
enlouquece Airon, mas vamos pular essa parte —, a sandália prata
fica escondida em baixo do belíssimo pano do vestido, aparecendo
apenas quando caminho.
Não me esqueço das joias e Katy se encanta com a gargantilha
assim como me encantei.
Percebo que apesar dos dois brigarem como cão e gato, eles
têm uma leve afinidade que os ligam.
Olho no espelho e fico supressa com a visão que tenho, para ser
sincera, nunca me senti tão linda como estou hoje. Katy está dando
pulinhos de alegria com a transformação que fez.
— Quero ver a cara do cretino na hora que ver você linda desse
jeito — diz toda sorridente.
Ela nem mesmo termina de dizer e a campainha do quarto toca.
Katy me observa com um sorrisinho sacana nos lábios enquanto vai
abrir.
Quando Airon entra no quarto, meu corpo todo se aquece ao ver
a imagem daquele homem em minha frente. Ele está divino com um
smoking preto de grife, uma camisa de botões branca por baixo, uma
gravata borboleta e seus sapatos igualmente pretos que reluz todo
seu glamour. Com certeza ele deixaria qualquer mulher com as
pernas bambas, estava divinamente sexy e sensual.
Airon me encara de cima a baixo minuciosamente, seus olhos se
estreitam ao passar pelo decote e pela abertura na lateral da minha
coxa.
— Fecha a boca, garanhão, vai babar no terno caro — Katy tira
sarro de Airon que a fuzila com os olhos.
— Tenho que admitir que você deixou Megan ainda mais linda
— ele sorri observando todo o meu corpo descaradamente.
Meu coração se acelera e tenho certeza que minhas bochechas
ficaram vermelhas. Deus... esse homem abala minhas estruturas.
Katy sorri gloriosa e satisfeita, inflando o peito.
Despeço-me e sigo Airon até o carro que estava a nossa espera
em frente ao hotel.
Achei que James nos levaria, mas quem está dirigindo é Airon e
confesso que amo observá-lo dirigir. Seus músculos contraídos
seguram o volante com força fazendo com que eles fiquem
marcados sobre a camisa, os olhos azuis concentrados na estrada
escura seguem atentamente os sinais e aqueles cabelos
propositalmente bagunçados lhe deixa mais jovem e sensual.
Ele é tão turrão que confunde meus sentimentos, mas por mais
que tente odiá-lo, olhar para aqueles olhos azuis cheios de
expectativas e esperança me acalma.
O caminho até o jantar foi feito em um silêncio agradável.
Enquanto ele dirige atentamente sua lamborghini, aproveito para
observar discretamente o homem ao meu lado.
Airon para o carro em frente ao prédio que mais se parece com
um cassino, há um longo tape vermelho estendido na entrada, vários
fotógrafos e repórteres se aglomeram uns aos lados dos outros na
competição de quem consegue as melhores fotos ou os melhores
comentários.
Ele desce do carro entregando as chaves para o manobrista,
que o esperava do lado de fora, e logo em seguida abre a porta, me
oferecendo gentilmente sua mão.
— Preparada para ser apresentada ao mundo dos negócios
hoje? — pergunta me ajudando a descer.
Arregalo os olhos observando sua expressão séria — o que
significa que ele não está brincando — e se antes eu estava com
medo, agora estou quase entrando em colapso.
— Você não comentou nada sobre isso — o fuzilo com os olhos.
Quando coloco os pés no tapete vermelho, abro um falso sorriso
disfarçando meu desconforto em meio a tantos repórteres.
Airon pousa sua mão em minha cintura guiando meu caminho
pelo tapete que se estendia até a entrada. Alguns repórteres nos
bombardeiam com perguntas maldosas sobre o casamento e outros
com perguntas curiosas, mas o que mais me assusta são os vários
flashes que me deixam atordoada.
Meu coração se acelera e o desespero começa a dominar meu
corpo e pensamentos. Airon pressiona os dedos em minha cintura
tentando me reconfortar, mas minhas pernas bambas não seguem
meus comandos.
Repentinamente, ele para pousando para algumas fotos
mantendo meu corpo próximo ao seu, dando a estabilidade
necessária para minhas pernas se manterem firmes. Os flashes
continuam a me assustar, mas tento parecer a mais natural possível
sorrindo para as câmeras.
Airon aproxima seus lábios de meu ouvido disfarçadamente,
para as câmeras parece que ele está me beijando.
— Você está bem? — sussurra preocupado.
Respiro profundamente apertando meus dedos em vvolta da
bolsa de mão que carrego tentando me recompor.
Não, eu não estou nada bem, não estou nada bem. Essa
exposição exagerada me assusta, mas sei que preciso continuar e
tento não pensar que essas fotos facilmente chegarão nas mãos de
Philipe Avallon.
— Meg? — Airon me observa preocupado.
— Tudo bem — tento soar convincente.
Voltamos a caminhar em direção à entrada e agradeço por ele
manter seus braços ao redor do meu corpo dando apoio à minha
caminhada.
Assim que colocamos os pés na entrada, tenho vontade de
estrangulá-lo impiedosamente.
— Você não avisou que teria tantos repórteres e fotógrafos —
falo brava.
— Se eu falasse, você não viria — diz calmamente arrumando
sua gravata.
— Idiota — murmuro baixinho irritada e sinto seus dedos
apertarem minha cintura.
— Eu escutei isso, Megan — engulo seco disfarçando meu
desconforto.
— Escutou o quê? A idade já vem batendo? Anda ouvido coisas
demais, senhor Markcross — solto as palavras sem pensar e me
arrependendo imediatamente ao ver seus olhos intensos me
encararem desafiadores.
— Mal posso esperar para te mostrar o que esse velho sabe e
pode fazer — sinto seu dedo indicador subir pela minha coluna me
causando arrepios pelo corpo.
Ignoro seu comentário seguindo a passos lentos para a porta
que dava acesso a festa, eu com toda certeza odeio toda essa
exposição. Poderia simplesmente falar para ele, mas não quero
envolvê-lo com Philipe.
Agradeço por ele estar concentrado demais na entrada à sua
frente e nos inúmeros convidados que chegam não percebendo meu
desconforto por estar neste lugar. Seu corpo relaxado e calmo se
torna rígido, seus olhos brincalhões estão sombrios e sua expressão
séria chega a ser assustadora.
Ele sustenta um olhar frio e calculista, analisando todos os
pontos daquela sala onde vários empresários se encontram
concentrados em suas conversas e bebidas. Procuro me manter ao
lado de Airon, um pouco assustada com a quantidade de pessoas
que se encontravam ali.
O local é maravilhoso, há um cassino à direita onde várias
máquinas e jogos estão à disposição dos convidados e à esquerda
estão dispostas várias mesas para o jantar, um palco onde irão
ocorrer as palestras e leilões para arrecadação do dinheiro revertido
às instituições carentes e alguns bares montados estrategicamente
em pontos do salão para facilitar o acesso às bebidas mais fortes. O
ambiente é aconchegante e reserva uma decoração em tons claros
que me traz uma sensação de paz e conforto. Airon não parece estar
muito à vontade em meio a tantas pessoas, o que me deixa um
pouco confusa.
Um senhor baixinho de cabelos grisalhos se aproxima de nós
com um grande sorriso nos lábios e cumprimenta Airon
animadamente.
— Sr. Markcross, como vai? — ele estende sua mão para Airon
que retribui o aperto gentilmente.
— E essa linda mulher ao seu lado? Ainda não a conheço — me
observa sorridente.
Antes mesmo de esperar Airon responder sua pergunta, ele
segura minha mão e deposita um beijo molhado e exagerado. Franzo
as sobrancelhas incomodada com a sua demora em beijar minha
mão a puxando de volta rapidamente.
— Essa é minha esposa Megan, senhor Trevor, como já deve
saber pelos noticiários nos últimos dias — diz entredentes com uma
carranca evidente.
— Claro que fiquei sabendo, mas não sabia que ela era tão
linda.
Airon lhe lança um olhar frio e ameaçador intimidando o homem
à nossa frente que logo se despede.
— Desse jeito vai afastar todos à sua volta — comento
ignorando seu estado de humor sensível.
— Droga — Airon bufa contrariado.
Às vezes ele é tão carinhoso que não consigo entender suas
mudanças bruscas de humor.
Ele acaricia meu rosto com a ponta dos dedos expressando
paixão com seus belíssimos olhos azuis, o que me deixa surpresa.
Com a mão na base da minha coluna, me conduz pelo salão
cumprimentando todos e me apresentando para vários empresários
e algumas mulheres do mundo dos negócios. As horas passam
rapidamente e Airon continua a falar sobre empresas, ações e
produções. Por ter cursado administração, entendo perfeitamente o
que eles discutem, mas confesso que não me interessa muito ouvir
sobre isso nas minhas férias.
Pego uma taça de champanhe e beberico o líquido lentamente
enquanto espero Airon terminar sua acalorada conversa sobre novos
fornecedores.
A cada dia que passa percebo que Airon de alguma forma já me
conhecia e por mais que ele tente esconder isso, não consegue. O
verdadeiro problema é que não consigo me lembrar de tê-lo visto a
não ser em revistas e jornais.
Concentrada em meus pensamentos, analiso o local observando
as pessoas distraídas em seus afazeres e conversas, mas sou
surpreendida quando os meus olhos param em um senhor de meia
idade que faz meu corpo todo tencionar e meu coração acelerar
descontroladamente quase atravessando meu peito.
Tento manter a calma acreditando veementemente que estou
vendo demais, mas o homem se vira em minha direção fixando seu
olhar sombrio nos meus, me enviando fortes arrepios de medo pelo
corpo. Seu sorriso assustador faz meus olhos se encherem de
lágrimas.
Nunca me esqueceria desses cabelos negros bagunçados e
essa barba rala por fazer, apesar do tempo, ele ainda continua o
mesmo.
Philipe me olha com desprezo, raiva e ódio. O pânico dentro de
mim começa a tomar conta do meu corpo e minha respiração
ofegante denuncia meu desespero.
Minhas pernas ficam bambas e minhas mãos suam devido ao
medo e pavor, arfo na tentativa de me manter calma. Agarro o terno
de Airon com as mãos trêmulas, não me importando com o que
passa a nossa volta, meu olhar de pavor o deixa confuso.
— Megan, o que aconteceu? Você está... — o interrompo de
imediato.
— Vamos embora, agora, por favor — o desespero toma conta
do meu corpo e as lágrimas rolam por meu rosto sem permissão.
— Megan, o que está acontecendo? Está me deixando
preocupado — Airon segura meus ombros tentando me fazer olhar
para ele.
— Ele está aqui — sussurro assustada olhando para os lados.
Mal consigo me manter sobre os saltos e quando me viro,
Philipe caminha em minha direção sussurrando lenta e
pausadamente um "te encontrei".
O pânico e o desespero dominam meu corpo, Airon me
bombardeia com várias perguntas que não consigo entender.
Nesse momento só consigo ver o homem que destruiu minha
vida vir em minha direção com o um sorriso sarcástico e diabólico.
Por impulso, meu corpo age sozinho em sistema de defesa. Seguro
meu vestido e corro em direção à saída trombando em algumas
pessoas, mas nem mesmo paro para me desculpar, só quero
desaparecer, sumir dali o mais rápido possível.
Assim que passo as portas de entrada, olho para os lados sem
saber para onde ir, institivamente corro em direção à rua a fim de
encontrar um táxi ou alguém que me tire daquele lugar, mas meu
salto enrosca em um buraquinho da calçada me fazendo torcer o pé
e ir de encontro ao chão, antes de tocar o solo frio da calçada sinto
mãos fortes me segurarem.
O pânico desencadeia uma reação nervosa e começo a me
debater e gritar suplicando a Deus que aquele homem não encoste
em mim.
— Calma, pequena... sou eu... calma — escuto a voz
preocupada de Airon e paro de gritar e me debater.
O abraço fortemente tentando conter os tremores que passam
em meu corpo, meu coração bate descontrolado e minha respiração
está ofegante.
— Calma, eu estou aqui, não vou deixar nada acontecer com
você — ele acaricia minhas costas com uma mão e a outra passa em
meus cabelos me confortando.
Deixo as lágrimas escorrem por meu rosto molhando seu colete
preto enquanto o medo toma cada parte do meu corpo, mas suas
palavras gentis sussurradas em meu ouvido acalmam as batidas
desenfreadas do meu coração.
— Me tira daqui, por favor — sussurro e sem dizer nada ele
concorda com um aceno de cabeça.
Quando vou dar o primeiro passo em direção ao carro que já
estava a nossa espera, gemo de dor ao sentir uma forte fisgada em
meu pé.
Airon mais uma vez me impede de cair e antes que eu possa
dizer algo, me leva até o carro no colo. Não reclamo, pois estava
sem condições de discutir ou questionar e eficientemente o
manobrista nos espera com a porta aberta facilitando o trabalho de
Airon em me colocar sentada no banco do passageiro. Antes de
sairmos, ele agradece ao manobrista lhe dando uma gorjeta.
Em silêncio, Airon segue pelas ruas coloridas de Las Vegas e
cada segundo parece fazer minha mente explodir em preocupação e
medo. Estou atordoada e assustada e não sei o que fazer ou pensar.
— Desculpa — sussurro olhando o vidro escuro do carro.
Sei que todo esse ataque de pânico irá render ótimas matérias
para os jornalistas curiosos.
— Não tem porquê se desculpar.
— Você nem mesmo ministrou a palestra e mal ficamos na festa
— abaixo o olhar encarando minhas mãos tremulas.
— Vamos para o hospital, sua saúde é mais importante que uma
palestra — diz observando a minha reação.
— Não, Airon, me leve para o hotel por favor, preciso ver a Katy
urgentemente — falo em desespero.
— Sem discussões, nós vamos para o hospital e você voltará
comigo para o meu apartamento onde iremos conversar com calma e
você descasará — diz sério.
— Eu não quero falar sobre isso hoje — digo baixinho, engolindo
meu desespero.
— Tudo bem, não irei perguntar nada hoje, mas gostarei de
saber detalhes de toda essa história amanhã — ele fica inquieto.
Não discuto, apenas observo a cidade passar pela janela do
carro enquanto tento formular uma boa resposta para as suas
perguntas. Não queria envolver Airon no meu passado, mas depois
de hoje é impossível, sem contar que agora Philipe tem total acesso
a mim pelas revistas e fofocas que circulam Airon, não vai demorar
nada para meu tio me achar em Londres.
O desespero desses pensamentos faz todo meu corpo
estremecer.
Preciso encontrar Katy o quanto antes, precisamos voltar para
Londres e falar com mamãe e papai. Precisamos fugir novamente.
Sim, fugir.
Fugir mais uma vez para que ele não nos ache, fugir para outro
país, deixar tudo e todos como da última vez.
Me perco em pensamentos com a dor angustiante em meu
peito, ter que deixar todos, inclusive Airon, é difícil, sei que ele não
aceitará algo assim, mas esse casamento foi um erro maior do que
eu poderia imaginar.
Sou tirada de meus pensamentos quando o carro estaciona em
frente ao hospital.
Airon desce do carro e abre a porta pra mim. O modo Airon
cavalheiro e carinhoso às vezes chega a me dar medo, mas tenho
que ser sincera, é lindo vê-lo agir dessa forma.
Estendo a mão para que ele me ajude a descer e sou
surpreendida mais uma vez quando ele me pega no colo me levando
para a entrada do prédio.
— Airon, me coloca no chão, foi só uma torção, você não
precisa me carregar no colo — digo constrangida, mas ele caminha
em direção à entrada sob o olhar curioso das pessoas ignorando
meus protestos.
— Airon... — reclamo mais uma vez.
— Megan, em toda minha vida nunca vi alguém tão teimosa.
Você não pode aceitar minhas ações e sorrir? — ele questiona me
olhando com aquele par de esferas azuis cintilantes.
— Não, você só precisa me dar um apoio, não precisa me pegar
no colo, todos estão olhando — digo envergonhada.
— Deixe que olhem — sorri lindamente, fazendo meu peito se
apertar.
Engulo as lágrimas que ameaçam cair e sorrio aceitando sua
ajuda, apesar de tê-lo conhecido de uma maneira catastrófica, não
quero deixá-lo assim tão de repente. As coisas parecem estar se
encaixando e melhorando. Nos aproximamos muito nesses últimos
dias e agora não quero precisar deixá-lo.
Philipe destruiu e continua destruindo minha vida. Engulo
minhas frustrações quando ele me coloca sentada em uma das
cadeiras e vai falar com a recepcionista. Aguardamos por alguns
minutos até meu nome ser chamado, entramos na sala do médico
que examina meu tornozelo minuciosamente enquanto faz várias
perguntas, assim que termina de examinar, dá o diagnóstico.
— É uma entorse de tornozelo grau um em que ocorre um
estiramento dos ligamentos, não foi nada grave, mas o local
apresenta inchaço, então sugiro que fique de repouso e coloque gelo
de 3 em 3 horas durante 20 minutos. Vou prescrever um anti-
inflamatório e analgésicos para cessar a dor. Caso a dor não passe,
você deve voltar para exames mais complexos.
— Muito obrigado, doutor — Airon estende a mão para o homem
e fico olhando pra ele impressionada, só entendi que torci o pé,
preciso por gelo e tomar remédios.
Depois de sair do hospital, Airon segue para seu apartamento,
onde não demoramos muito para chegar. Ele mais uma vez me pega
no colo e me leva até o elevador.
— Vou ficar mal acostumada com você me levando no colo a
todos os lugares — o observo constrangida.
— Prefiro você mal acostumada com outras coisas — morde o
lóbulo da minha orelha me fazendo arrepiar, roça a barba em meu
pescoço provocando mais arrepios pelo meu corpo.
Seguro seus cabelos com uma das mãos mordendo meus
próprios lábios em desejo.
As portas do elevador se abrem e vamos em direção ao seu
apartamento, o ajudo a abrir e fechar a porta, já que está me
carregando, sobe as escadas comigo no colo enquanto me provoca
roçando a barba por fazer em meu rosto e pescoço.
— Para — digo rindo.
Apesar de ser excitante, faz cócegas.
— Parar com o quê? Não sei de nada — me deita na cama
rindo.
Em vez de se afastar, olha dentro dos meus olhos. Consigo ver
um olhar confuso e relutante. Toco seu rosto com as pontas dos
dedos e ele fecha os olhos, roçando seu rosto em meus dedos.
Relutante, ele se levanta indo em direção à porta.
— Onde você vai? — pergunto um pouco chateada.
— Você está machucada, vou dormir lá em baixo hoje — ele diz
enquanto caminha.
— Fica — peço e ele se vira me observando. — Por favor.
— É melhor não.
— Eu sei que vou ter pesadelos, então não me deixe aqui
sozinha. — Digo angustiada suplicando para que ele fique ali
comigo.
Vejo sua postura mudar, ele fica tenso e seu olhar demonstra
preocupação, medo, indecisão e confusão... como se estivesse em
uma luta interna.
Eu sei que ele quer saber de tudo o que aconteceu, talvez seja
por isso que não quer ficar aqui comigo, talvez esteja chateado, mas
não quero que ele saia. Ele tem sido tão carinhoso, não sei quando
irei vê-lo novamente ou se algum dia vou voltar a revê-lo depois que
eu conversar com Katy, então quero aproveitar o momento.
Ele ainda me observava pensativo.
— Desculpa, eu preciso fazer algumas ligações e resolver
alguns assuntos — se vira e sai do quarto fechando a porta.
Sinto um aperto no peito quando o vejo me deixar, meus olhos
se enchem de lágrimas, tantas coisas passam por minha cabeça.
É como Philipe dizia... Quem gostaria de alguém como eu?
Ele apenas foi carinhoso comigo por sentir pena de me ver em
pânico. Nunca quis mostrar fraqueza diante dele, sempre mostrei
que sou forte e que sei lidar com meus problemas sozinha, mas a
verdade é que todo meu interior está destruído e machucado por um
homem que me odiou a minha vida inteira, por um homem que
deveria ser meu segundo pai, mas foi um demônio em forma
humana.
Travo uma luta interna entre minha mente que acusa as reações
de Airon e meu coração que o defende com unhas e dentes dizendo
que ele tem seus motivos.
Como sempre, deixo minha mente vencer, deixando de lado as
razões do coração.
Fico deitada na enorme cama macia com o cheiro dele, o cheiro
amadeirado que inebria meus sentidos. Choro por ser incapaz de
conseguir me defender, por ser incapaz de lutar contra meu passado,
choro por muitos motivos e um deles é aliviar a dor e o aperto dentro
do meu peito.
Não sei porque estou tão magoada, mas me sinto
completamente sozinha. Olho no relógio sem conseguir dormir, rolo
de um lado para o outro na cama tentando desviar meus
pensamentos tristes.
Além do meu tio assolar meus pensamentos, Airon também me
tira a paz.
Depois de remoer todos do meu passado e presente, julgando e
condenando o meu futuro, acabo pegando no sono.
Acordo assustada após ter um pesadelo terrível com meu tio
Philipe. No sonho, ele me persegue e me pega atingindo seu
objetivo. O pânico toma conta de meu corpo e custo a acalmar os
tremores que o pânico me causa.
Sabia que sonharia com ele. Suspiro ainda assustada e perdida,
me sento na cama olhando o quarto em volta, me lembro de tudo o
que aconteceu e suspiro.
Foco no relógio em cima da escrivaninha e vejo que ainda é
madrugada, mordo os lábios me sentando sobre a cama enquanto
passo as mãos pelos cabelos pensando no que farei daqui pra
frente.
A melhor decisão é ir embora de uma vez por todas, não posso
ficar em Las Vegas muito menos em Londres, seria um alvo fácil
agora que Philipe me viu com Airon.
Airon não se importaria se eu fosse embora, muito menos
sentiria minha falta, afinal esse casamento jamais deveria ter
acontecido. Por mais que eu queira acreditar nesses pensamentos, o
forte aperto no peito indica que não estou completamente satisfeita
com tudo isso.
— Sai dessa, coração, não adianta você protestar por um
homem que não te ama e só está com você para benefícios próprios,
sobre os quais ele nem chegou a se explicar dignamente. Estou
fazendo um favor pra mim, para você e para ele — converso comigo
mesma.
Decidida a ir embora, me levanto da cama com certa dificuldade
pela dor em meu tornozelo. Procuro por papel e caneta para
escrever uma carta de despedida para Airon.
Acho um bloco de notas do lado do relógio e uma caneta dentro
de uma das gavetas da escrivaninha, suspiro e arranco uma folha
para começar a escrever.
Não sei porque meu peito insiste em doer por estar deixando
tudo isso para trás, nós mal nos conhecemos. A quem quero
enganar? Nós realmente mal nos conhecemos. Ele se mostrou um
homem incrível, porém frio quando realmente precisei dele.
Não o culpo, assimilar todo o pânico e desespero com certeza o
assustou, mas eu realmente esperei que ele não me deixasse
sozinha nesse quarto frio.
Termino de escrever a carta e a coloco ao lado do relógio, retiro
a aliança que está em meu dedo anelar e a observo por alguns
instantes, meus olhos se enchem de lágrimas e uma delas cai na
folha de papel borrando minha assinatura.
Tento limpar, mas é em vão, e acabo por borrar ainda mais a
tinta molhada. Deixo a aliança sobre a carta que havia escrito e saio
do quarto com sutileza, não faço ideia de onde Airon esteja.
Desço as escadas com dificuldade, a cada degrau sinto fisgadas
e pontadas em meu tornozelo, com muito esforço consigo descer
todos os degraus sem emitir ruído.
Ao chegar na sala, vejo Airon deitado no sofá só de boxer, sorrio
e inconscientemente me aproximo dele. O observo deitado no
pequeno espaço e, por um momento, me permito analisar seu corpo
musculoso, os riscos de sua tatuagem, seus cabelos negros
bagunçados... gravando cada detalhe do seu corpo em minha mente.
Tudo poderia ser diferente, mas nem tudo é como esperamos.
Toco levemente os seus cabelos macios com as pontas dos
dedos, sorrio ao sentir os fios negros se envolverem em meus dedos
delicadamente.
Airon se remexe no sofá resmungando algo que não consigo
entender, fico estática torcendo para que ele não acorde e felizmente
ele se vira de lado, continuando a dormir calmamente. Solto o ar, que
até então não tinha percebido que estava prendendo, e recolho
minha mão.
Olho mais uma vez para ele e sigo em direção à porta
mancando, saio do prédio cabisbaixa, dou sinal para o primeiro
taxista que passa na rua. O carro para e eu entro no veículo
entregando o endereço do hotel para o motorista, ali naquele espaço
pequeno e apertado onde nem mesmo conheço o motorista que me
leva, mas que me olha com compaixão, deixo minhas lágrimas
lavarem minha alma e aliviarem a dor do meu coração.
Observo a vista da cidade que passa pelo vidro escuro do táxi,
mas nem minha visão e muito menos minha mente conseguem focar
em algo. O taxista para em frente ao Treasure Island, onde pago a
rodada e sigo para o quarto de hotel no automático. O vestido longo
se arrasta no chão dificultando ainda mais o meu caminho até o
elevador.
Sei que deveria ter retirado essas roupas de festa, mas meu
psicológico estava abalado demais para pensar em algo assim, sem
contar que nem mesmo levei uma muda de roupa para o seu
apartamento, afinal não esperava que encontraria Philipe no jantar.
Passo pela recepção focando minha atenção no elevador à
frente e tento ao máximo ignorar os olhares estranhos sobre mim.
Agradeço pela demora mínima das portas de metal se abrirem e
subo para o quarto batendo na porta. Katy demora um pouco para
abrir e se surpreende fazendo uma careta ao ver meu estado crítico.
Megan Park
Ao terminar de ler sou dominado pela fúria amassando o papel
entre meus dedos com uma força exagerada.
Ela não pode simplesmente tirar conclusões sobre meus
próprios sentimentos, como ela insinua que me ama e que a melhor
opção é me deixar, ainda tem a capacidade de pedir para que eu não
vá atrás dela.
Mulher complicada, impulsiva, teimosa, nunca consigo prever
seus próximos passos ou seus pensamentos, o que me deixa
sempre frustrado e irritado.
Acabo por desamassar o papel e passo os dedos por sua
caligrafia borrada, o forte aperto em meu peito estrangula meus
sentimentos me sufocando em minhas próprias palavras não ditas.
Fecho meus olhos cansado mentalmente, me encosto no banco
e me surpreendo quando sinto uma forte vontade de chorar, vontade
essa que já não tenho a 12 anos, agora me encontro aqui um
homem de trinta e dois anos perdido e sufocado em sentimentos que
não compreendo, como um adolescente que acabou de levar um
verdadeiro pé na bunda.
Meu celular vibra no bolso da calça e atendo ao ver que era
Willian.
-Diga que elas estão ai. –Falo exasperado.
-Não senhor, a mais de uma hora as duas fizeram o checkout. –
Diz em um suspiro.
-Voltei imediatamente Willian. –Suspiro irritado.
Não vou deixa-la fugir, não vou perder mais ninguém em minha
vida, eu sei que sou um cretino, um canalha que não merece o amor
de Megan, e que nem ao menos me esforcei adequadamente para
mantê-la por perto, então de certo modo mereço o que estou
passando, mas não vou deixar ela fuja.
— James volte imediatamente para o apartamento, quero que
você e Willian preparem o jato para voltarmos para Londres. Quero
tudo pronto dentro de uma hora sem atrasos, Megan provavelmente
já embarcou não adianta perdermos tempo indo até o aeroporto.
Também quero que consiga todos os endereços ligados a Megan e
sua amiga, assim que chegarmos vamos a cada um deles. — Isso
provavelmente sobrecarregou James, mas sei que ele dará conta de
tudo.
— Sim Senhor. Eu sei que o senhor conseguira acha-la. —
James diz em um tom consolador.
— Obrigada James, mas no fundo não mereço o amor dela,
você mais do que ninguém sabe o que fiz. — Suspiro derrotado.
— Nada que uma boa conversa não resolva, o senhor só não
pode esconder dela pro resto da vida, uma hora ela descobrirá. —
James diz sério.
James tem razão, não posso esconder para sempre o meu
passado de Megan tenho que contar tudo a ela, principalmente as
questões do casamento, mas não sei por onde começar, entretanto o
mais importante agora é encontrá—la.
Chego ao prédio e vou direto para o apartamento, arrumo
minhas malas, faço algumas ligações e deixo tudo organizado para
minha volta. Entro em contato com Sam e peço mais algumas
informações as quais não demoro para receber no celular.
Demoro cerca de meia hora para organizar tudo, tomo banho
tentando me acalmar, mas é difícil quando não consigo tirar Megan
da mente. Me troco e vou para cozinha, meu celular começa a tocar
e vejo que é James.
— O jatinho está pronto senhor.
— Ok James, prepare o carro estou descendo.
Sai do apartamento entregando a chave para recepcionista, vou
direto para o carro e sigo em direção ao aeroporto onde Willian me
espera.
Depois de alguns minutos chegamos na área reservada onde o
jatinho já estava preparado, o piloto e copiloto já estão em suas
posições esperando minhas ordens.
Sigo em silêncio para meu lugar confirmando a nossa partida,
Willian e James se ajeitam nas poltronas e faço o mesmo.
Demorou mais do o previsto para levantarmos voo, mas tudo
está dentro dos planos. Espero chegar rapidamente para encontrar
Megan aonde quer que ela esteja já que não atende nenhuma das
minhas ligações.
Não importa quanto tempo levarei para encontrá-la, mas terei
uma bela e longa conversa com essa mulher impulsiva, para que
aprenda a não decidir meus sentimentos por mim, e para que
entenda que ela pode fugir o quanto quiser, mas ainda será minha
mulher.
Rolo sua aliança entre os dedos observando o dourado do ouro
brilhar suavemente junto aos pequenos diamantes cravejados no
arco.
Ao chegamos em Londres depois da cansativa viagem de volta,
optamos por pegar um táxi e ir para nosso apartamento arrumar o
resto das malas já que iriamos para casa do papai.
Não consegui convencer Katy para irmos amanhã, ela insiste
que quanto mais rápido nos organizarmos menos tempo Philipe terá
para nos encontrar. Não pude discutir sobre esse assunto, afinal ela
tem razão.
Sinto minha cabeça pesada e dolorida, a viagem foi
desgastante, não consegui desligar minha mente sequer um minuto,
mesmo com Dona Carmelita me contando toda história da sua vida.
Só consegui me distrair nas primeiras horas de voo, uma vez
que ela entrou em uma conversa acalorada de como seu marido era
o melhor homem do mundo, que apesar de ter sido forçada a se
casar, acabou se apaixonando perdidamente por ele, dessa forma
não consegui mais tirar a figura daqueles intensos olhos azuis da
minha mente.
Katy continua brava e não conversava comigo.
Ela está irritada pela decisão que tomei, disse que sou
precipitada e impulsiva e afirmou com todas as letras que sou burra e
idiota o suficiente para deixar um homem milionário para trás.
O único que pode me ajudar! Suspiro ao lembrar de suas
palavras.
Sei que ela quer o melhor para mim, mas também quero o
melhor para Airon. Meu maior medo é que Philipe o machuque.
O que não é muito difícil já que aquele homem inescrupuloso
não tem limites e muito menos moral. Não seria problema nenhum
para Philipe acabar com Airon e depois comigo, um aperto em meu
peito surge e a vontade de chorar também.
Afasto meus pensamentos focando minha atenção nas coisas
que tenho que arrumar, preciso pegar o resto de minhas roupas e
colocar em outra mala.
Fico chateada ao perceber que quando tudo está se ajeitando
precisamos nos mudar, dou uma boa olhada em todo meu
apartamento que irá ficar para trás. Talvez eu venda ou alugue, acho
melhor vender para não ter possibilidades de Philipe me encontrar de
alguma maneira.
Ter que deixar tudo dói, ver tudo que conquistei sendo deixado
para trás por causa de um homem doente é triste e angustiante, mas
não posso pensar somente em coisas ruins.
Novos amigos, nova casa, novo país, nova língua; bufo só de
pensar em tudo isso, droga de vida, droga de passado, droga de
família, fez certo meu pai que deixou tudo pelo amor da vida dele.
Sinto um nó na garganta ao pensar nisso, eu também estou
deixando tudo para trás inclusive Airon. Deixo as lágrimas escorrem,
eu sei que essa dor vai passar mesmo que demore alguns dias ou
meses. Essa dor vai passar.
Dou mais uma boa olhada nos detalhes do meu apartamento e
saio trancando a porta enquanto arrasto minhas malas para baixo
com dificuldade, meu pé insiste em doer e fisgar.
Me despeço do senhor Osvald com um forte abraço explicando
que estou me mudando de última hora, enquanto espero o táxi
chegar com Katy converso com o porteiro. Osvald é um homem de
meia idade por quem tenho muita consideração por ter vivido longos
anos nesse prédio e apartamento. Ele sempre me tratou com carinho
se preocupando comigo por morar sozinha.
Como sempre Katy demora mais do que o previsto, assim que
ela chega, coloco minhas malas no porta-malas do táxi com a ajuda
do motorista. Ao entrar no carro tento puxar assunto, mas ela nem
mesmo olha para mim e continua emburrada olhando para a janela
de braços cruzados, suspiro e faço a mesma coisa olhando o lado de
fora.
Estou com saudades de mamãe e papai, mas confesso que é
estranho voltar a morar na casa deles, porém é necessário até
organizarmos nossa partida, afinal tenho que pedir demissão do meu
emprego e Katy do dela, colocar meu apartamento a venda e
terminar de organizar outros detalhes da nossa mudança, me
despedir de alguns colegas e amigos.
Depois de alguns minutos de viagem o taxista para enfrente
aquela casa nostálgica e me surpreendo ao ver um senhor de um
metro e oitenta, com cabelos grisalhos, um bigode grande e uma
pança visível sentado na varanda a nossa espera.
— Pai. — Gritamos em uníssono.
Tento correr mais ao sentir a fisgada no pé desisto
imediatamente andando com dificuldade até ele.
— Minhas princesas, como vocês estão? — Ele nos abraça e
afaga nossos cabelos.
— Ninguém liga para mãe né? — Escuto a voz dramática de
mamãe e rio.
Olho aquela senhora de longos cabelos marrons iguais os de
Katy e sorrio, mamãe estava linda com seu vestido florido, ela é
magra e alta, apesar dos seus cinquenta e dois anos ela aparenta ter
quarenta. Papai também não aparenta ter cinquenta e sete anos eles
são jovens e bem cuidados.
Formamos um abraço coletivo de família e me sinto em casa,
nesses últimos dias a saudade deles tem batido forte.
— Que saudade de vocês Sr. Afonso e Sra. Olívia. — Digo
sorrindo e acabo ganhando um tapa de mamãe. — Aí. —
Resmungo.
— Não nos chame assim. — Ela diz brava puxando minha
orelha.
— Aí mãe, eu entendi, desculpa, desculpa. — Faço bico a
olhando.
Katy e papai riem de mim e eu mostro língua para eles. Minha
gratidão por essa família sempre será infinita, se não fosse por eles
não sei o que seria de mim hoje. Na verdade, eu sei, só não quero
cogitar pensar nessa horrível possibilidade.
— Filha o que aconteceu com seu pé? — Pai pergunta me
olhando.
— Longa história pai. — Digo o olhando constrangida.
— V ou ter muito tempo para ouvi-la. — Ele me encara e eu já
sei que ele está falando sobre o casamento.
— Vamos jantar antes que esfrie, já está tarde. — Mamãe diz
entrando.
— Vocês nos esperaram? — Katy pergunta chocada.
— Mais é claro que sim, estávamos com saudades.
Levamos nossas malas para nosso antigo quarto. Katy e eu
dormíamos juntas quando pequenas, por que tínhamos medo das
histórias de terror contadas pelo papai, então acreditávamos que
juntas venceríamos o mal. Sorrio com a lembrança.
Nada mudou desde que nos saímos para estudar e trabalhar, as
camas ainda são as mesmas, com os mesmos ursinhos de pelúcia
em cima, a cor rosa bebê nas paredes está um pouco desbotada,
mas ainda tem sua exuberância, a cômoda branca do lado da cama
ainda mantém minha caixinha de música e os meus livros
enfileirados.
Mamãe sempre manteve o quarto como deixamos, não se
emocionar com as lembranças é quase impossível, deixamos as
malas em um canto e descemos para cozinha, mamãe havia
preparado carne assada com babatas, salada, arroz temperado e
macarrão.
Ela preparou um baquete para quatro pessoas, como sempre
ela exagerou.
O cheiro invade minhas narinas me deixando com água na boca.
Faz tanto tempo que não como da comida da mamãe que minha
barriga ronca estrondosamente me trazendo recordações.
— Uau Meg você sempre teve um leão ai dentro. — Mamãe
brinca rindo.
— Isso só acontece quando se trata da sua comida mãe. — Me
sento ao lado de Katy enquanto rimos.
— Meg depois do jantar precisamos conversar sério sobre esse
assunto de casamento que anda rolando por ai nesses noticiários. —
Papai me olha um pouco bravo, me encolho e assinto com a cabeça
olhando para Katy que dá de ombros.
Dessa vez ela não vai me ajudar a me safar, está muito brava
comigo.
Comemos conversando amenidades e sinceramente agradeço
por isso, foi um jantar em família que a muito tempo não tínhamos,
enquanto jantávamos consegui deixar meus pensamentos sobre
Airon de lado e me concentrar na conversa e nas histórias de mamãe
e papai que não perdiam a oportunidade de relembrar nossa época
do colégio e quão trabalhoso foi para segurarem as minhas rédeas e
as da Katy.
Ajudamos mamãe a lavar os pratos e enxugar a louça, na
verdade eu mais olhei do que ajudei já que quando forçava o pé
sentia leves fisgadas, mas estava doendo menos do que o dia
anterior e isso me deixa feliz, significa que não foi nada grave como
o médico disse.
Quando terminamos de arrumar tudo tomo meus remédios e
vejo que já passa das onze da noite. Papai está sentado no sofá me
esperando para nossa longa conversa sobre o casamento, o pé
machucado e o aparecimento de Philipe.
Percebo que não vou sair daqui tão cedo.
Me sentando ao lado de Katy no sofá que me evita com todas as
forças, e só fala comigo quando é extremamente necessário começo
a contar tudo o que aconteceu.
Eles atenciosamente ouvem cada palavra e cada detalhe que
deixo escapar sobre Airon, Philipe e o casamento.
Levo uma bronca e um sermão de minutos por ter bebido além
da conta, ele sempre foram contra bebidas alcoólicas e só faltaram
me bater por eu ter contado essa parte, mas não tinha como pular.
Depois de quase trinta minutos sobre como a bebida alcoólica
pode acabar com a vida de alguém, deixam que eu continue a
esclarecer a sequência dos acontecimentos que me levou até Philipe
e acarretou o pé machucado.
— Meg você sabe que Philipe virá atrás de você. — Mamãe diz
preocupada.
— Eu já conversei com meu amigo na Austrália, ele disse que é
um ótimo país e que tem muitas oportunidades de emprego, não
seria difícil recomeçar a vida lá. — Papai diz.
— Austrália? — Eu, mamãe e Katy falamos juntas olhando uma
para cara da outra.
— Não tem outro lugar pai? —Katy diz chateada.
— Não, Austrália me parece um ótimo lugar e já tem vaga de
emprego na empresa do meu amigo, não podemos ignorar isso. —
Papai diz sério.
Não digo nada apenas concordo, afinal é tudo por minha causa.
Katy não gostou dá ideia mais parece estar animada em
conhecer e morar em um novo país, porém ainda está me evitando.
Hora ou outra mexe no celular ignorando quando converso com ela,
isso me deixa chateada, mas eu sei que ela tem razão.
Toda vez que penso em ir embora meu peito se aperta e me
lembro de Airon.
O que esse homem fez comigo? Porque não consigo
simplesmente deixa-lo como fiz com Ricardo? São tantas perguntas
sem respostas que surgem em minha mente, na verdade eu sei a
resposta para cada uma delas, só não quero aceitar o fato de estar
me apaixonando por ele, sou tirada de meus pensamentos quando
papai me chama.
— Megan. — Olho para ele esperando que diga algo, mas ele
fica em silêncio.
— Fala pai. — Digo intrigada.
— Você tem certeza que é isso que quer? Você sabe que não
importa quantas vezes tivermos que mudar, mudaremos sem pensar
duas vezes para proteger você. Porque te amamos e queremos o
seu melhor, mas em todos esses anos eu nunca te vi falar de um
homem como você falou desse Airon. — Fala intrigado.
Assinto esperando que continue.
— Não conheço ele mais já o vi várias vezes nas revistas, não
parece ser um homem ruim, você nunca deixou ninguém se
aproximar e quando vi aquelas notícias sobre seu casamento e uma
foto sua, seu velho quase teve um infarto, achei que fosse mentira,
um mal entendido, alguém muito parecida com você, mas Katy
confirmou meus medos quando liguei para ela. — Ele suspira.
— Desculpa. — Murmuro sem ter muito o que dizer.
— Eu sei que esse casamento não deve ter acontecido por bons
motivos e ele esconde algo, mas somente você pode descobrir isso e
você está jogando tudo fora por causa de Philipe. Megan você tem
certeza que é isso que você quer? — A pergunta vinda de papai me
pega de surpresa.
Eu jamais imaginei que ele me faria essa pergunta.
Meus olhos marejados querem derramar as lágrimas presas que
contive até agora, mas me forço para segura-las.
Não sei o que dizer nem mesmo o que responder, muito menos
o fazer. Eu quero ficar, mas ao mesmo tempo quero proteger todos,
proteger minha família, proteger Airon, me proteger.
— Estou do lado de seu pai, você sabe que faremos tudo o que
for preciso por você, assim como faremos para Katy também. Você
veio para essa família para trazer felicidade, quando Katy nasceu eu
tive que fazer uma operação para remoção do útero por conta de um
tumor, eu não podia ter mais filhos e sempre quis mais uma menina.
— Ela sorri.
Mordo os lábios me lembrando do dia em que os conheci.
— Naquela tarde você mudou nossas vidas Meg, e com certeza
para melhor. Não pensamos duas vezes em te acolher como um
membro de nossa família, mas Meg minha querida você tem que
seguir a sua vida e esquecer o passado. Se para isso for preciso
enfrentar Philipe, nos uniremos e daremos um jeito. — Mamãe diz
enquanto se senta do meu lado me abraçando.
Aquelas palavras dançam em minha mente me deixando
atordoada, todos têm razão quanto a Philipe, mas ninguém sabe o
quão maluco ele consegue ser. Eu estou perdida e não sei o que
fazer, não posso coloca-los em risco.
— Eu não sei o que fazer. — Coloco as mãos nos olhos
abaixando a cabeça tentando conter as lágrimas.
— Pense minha querida. Eu sei que você vai escolher a melhor
opção. — Papai diz se levantando e vindo em minha direção, ele me
abraça e afaga meus cabelos.
— Ela é teimosa! Eu já disse que a melhor opção é falar com
Airon, apesar de não gostar muito dele estou triste que você tenha
deixado o coitado em Las Vegas sem nenhuma explicação.
— Você não se explicou? — Mamãe pergunta surpresa.
— Eu não estava preparada para contar tudo e as coisas
aconteceram rápido demais. — Me encolho.
— Megan você é muito impulsiva. — Mamãe me repreende.
— Ei, ela não precisa ficar com esse homem estranho, ela já
tem a nós, uma família unida e que a ama. — Papai diz enciumado.
— Isso é porque você está com ciúmes de saber que nossa
menina está crescendo. — Mamãe o provoca.
— Juro que vou acabar com esse riquinho quando encontra-lo,
ainda mais se eu descobrir que ele te fez algum mal.
Rio do comentário de papai.
— Vamos gata você precisa de uma belíssima noite de sono,
parece que você levou um soco em cada olho. — Katy muda o rumo
da nossa conversa e eu agradeço por isso.
Katy tinha razão, realmente estou precisando de uma boa e
maravilhosa noite de sono, juntas seguimos para o quarto, deixando
mamãe e papai na sala conversando.
Antes de me deitar tomo um banho rápido devido ao cansaço da
viagem, depois da conversa que tivemos meus pensamentos estão
desordenados entre o certo e errado.
Porém consegui entender que mesmo que eu tome a decisão de
deixar tudo, preciso conversar com Airon. Ele merece uma
explicação, mas ainda não estou preparada para vê-lo, muito menos
para falar com ele.
Posso imaginar que ele está uma fera e falar com ele será
impossível.
Saio do banho revigorada, já era tarde e pretendo organizar os
assuntos da venda do apartamento amanhã, então visto um pijama
um tanto infantil, mas confortável.
Quando vou me deitar escuto a campainha tocar, vou até as
escadas para ver se tem alguém para atender a porta, mas pelo visto
todos já foram todos dormir.
Está tarde e nenhum vizinho tocaria a campainha em uma hora
dessas, na verdade tem apenas um que tocaria, mas acredito que
ele não teria motivos para vir hoje aqui.
Meu coração se acelera ao pensar que Philipe pode estar atrás
daquela porta, mas respiro profundamente retirando esses
pensamentos da minha mente quando percebo que seria impossível
Philipe descobrir minha localização em apenas algumas horas.
Ele precisaria de mais tempo para chegar até aqui e confirmar
nossos endereços, pelo menos é o que eu acho.
Não querendo me assustar reúno forças e desço as escadas
para me aproximar da porta e tentar ver quem é, mas infelizmente
não temos janelas tão próximas a porta.
Airon
Chego a Londres mais tarde que o previsto, havia ligado para
Ray deixar um carro preparado para me levar direto para mansão,
tenho algumas coisas para resolver antes de me encontrar com
Megan.
Deixo Willian e James encarregado dos assuntos do termino da
viagem e avisto um dos meus conversíveis à minha espera. Entro no
carro e dou a ordem para Ray seguir viagem.
No caminho ligo para Samuel pedindo informações do endereço
de Megan e Katy, ele me passa alguns endereços relacionados a
elas, mas não acredito que vou encontrá-las na casa de alguma
amiga e sim em seus devidos apartamentos.
Ao chegar na mansão, dispenso os serviços de Ray, tomo um
banho rápido para tirar o cansaço da viagem, respondo rapidamente
alguns e-mails que não podem esperar e vou para garagem.
Dou partida no Agera e o ronco do motor me acalma.
Sim, sou apegado aos meus carros, e não, eu não tenho só um.
Amo carros e motos, não é à toa que tenho minha própria
coleção dos conversíveis que me chamam a atenção. O Koenigsegg
Agera branco é um dos meus carros favoritos além da minha
Hayabusa.
Saio da mansão e sigo direto para o apartamento de Megan. Ela
tinha que morar do lado oposto para facilitar minha vida?!
Procuro um lugar para estacionar e tudo conspira contra mim,
não consigo achar sequer um estacionamento para facilitar as
coisas. Por fim consigo uma vaga e saio do carro em direção ao
prédio sem prestar muita atenção a minha volta.
Antes de conseguir entrar sou barrado pelo porteiro que me
observa desconfiado.
— Não é permitido a entrada de desconhecidos no prédio sem
aviso de algum morador.
— Preciso conversar com Megan Park. — Digo com calma.
Já não basta ter que procura-la agora também sou considerado
uma ameaça. Quando eu te encontrar juro que não vou ser piedoso.
— Me desculpe senhor, ela foi embora hoje e disse que estava
pensando em se mudar de país por conta de alguns acontecimentos.
— Meu coração perde algumas batidas ao ouvir o ele diz.
Antes mesmo dele terminar saio irritado para o carro, entro
seguindo em alta velocidade ignorando sinais vermelhos e
sinalizações de transito para o apartamento de Katy, mas acabo
recebendo a mesma resposta..
— Para onde elas foram. — Bato a mão no volante irritado. —
Droga.
Fico no carro sem saber o que fazer, olho no relógio do carro e
vejo que já estava tarde, suspiro cansado tanto fisicamente quanto
mentalmente.
Creio que ainda tenho alguns dias para encontrá-la, mas isso é
completamente frustrante.
Encosto a cabeça no volante pensando se devo ir em todos os
endereços que tenho, mas opto por esperar.
Talvez isso seja um castigo por tudo de mal que fiz no passado.
Meu celular apita chamando minha atenção, acredito que seja
Samuel com mais informações. Observo o número desconhecido e
vejo que recebi uma mensagem de texto.
Megan
Me trocar as presas depois que Airon ficou enrolando enquanto
conversávamos e os minutos passaram voando.
Desço e vou para a cozinha ajudar Dona Olga a preparar os
pratos para o almoço, mas ela praticamente já fez tudo.
Escuto os gritos de Katy ao chegar, ela entra como uma doida
na cozinha sendo guiada por Willian, Dona Olga ri ao ver Katy pular
em cima de mim me abraçando saltitante.
—Você não me contou que estava morando em uma mansão. —
Diz com um bico fingindo estar chateada.
—Você não me contou do seu caso com Willian. — Sussurro só
para ela ouvir pois Willian está parado na porta.
—Porque nós não temos caso nenhum e ele é apenas meu
amigo, você que fica colocando coisas na cabeça. — Faz pose
despreocupada batendo o dedo na minha testa.
—Tá bom que eu acredito. — Digo ironicamente.
—É sério, depois te conto certinho vai. — Diz rindo.
Willian faz um aceno com a cabeça e sai logo em seguida
deixando Katy comigo, apresento Dona Olga para ela que a agarra e
começa a dar pulinhos como fez comigo. Olga ri com a empolgação
de Katy e retribuí o abraço constrangida.
Airon se aproxima com um lindo sorriso no rosto, mas me
surpreendo ao ver Samuel atrás dele, um homem alto, com cabelos
loiros acastanhados, e um belíssimo par de olhos azuis claros, barba
rala por fazer que lhe fornece um charme especial. Corpo forte e
definido, percebo que Samuel é o tipo de homem que pode fazer
Katy babar e se jogar aos pés.
—Bom dia Katy. — Airon a cumprimenta parando ao meu lado.
Katy solta Dona Olga e faz uma careta para Airon, mas para
imediatamente ao observar Samuel. Ela volta seus olhos maliciosos
para mim e reviro os olhos sabendo que ele faz o seu tipo perfeito de
homem.
Ela fica completamente constrangida com a presença de Sam.
Ok, agora posso começar a me preocupar.
Será que roubaram Katy e deixaram outra pessoa no lugar?
—Meg quem é o Senhor gostoso aqui? — Ela aponta para
Samuel olhando para mim curiosa.
Era muito milagre para ser verdade. Aí está nossa famosa Katy
de volta.
—Samuel. — Ele toma a frente se apresentando. — É um
imenso prazer conhece—la. — Estende a mão em direção a Katy
que por alguns instantes parece ficar envergonhada.
—Katy. — Ela agarra a mão de Samuel em resposta.
Samuel olha fixamente dentro de seus olhos castanhos, e logo
em seguida ele deposita um beijo demorado em sua mão, as
bochechas de Katy assumem um tom vermelho intenso que me faz
rir.
Tenho certeza que por um homem desses ela não esperava.
Estou surpresa pois ele é o primeiro homem em anos que
consegue deixar Katy sem palavras e ao mesmo tempo vermelha.
Acho que o mundo está próximo do seu fim mesmo.
Dona Olga que estava preparando a salada do outro lado do
balcão abre um sorriso enorme, cutuco as costelas de Airon que tem
um sobressalto e me olha com as sobrancelhas franzidas.
Indico os dois com a cabeça e ele abre um sorriso dando de
ombros, o clima na cozinha está começando a ficar quente e
pequeno demais com esses dois flertando abertamente dessa
maneira.
—Fico feliz em conhecer uma das mulheres que conseguiu
colocar a vida certinha desse homem de cabeça para baixo. — Ele
aponta para Airon que faz uma careta. — Agora vamos conhecer a
tão famosa Megan. — Ele sorri para mim.
—Se você flertar com minha mulher igual fez com a Katy eu
acabo com a sua raça. — Airon diz em tom áspero e ameaçador.
—Cala boca. — Katy chuta a canela de Airon com força.
—Katy sua... — Ela chuta a outra perna fazendo Airon se
contorcer.
—Katy?! — A repreendo.
Airon se recupera e passa o braço envolta do pescoço de Katy
bagunçando seus cabelos.
Os dois se xingam ao começarem uma guerra verbal enquanto
Sam ri da cena e eu reviro os olhos.
—Prazer, sou Samuel. — Ele sorri estendo a mão para mim.
Ele é realmente encantador.
—Megan. — Sorrio de volta segurando sua mão.
Katy e Airon continuam brigando ao nosso lado.
Dona Olga chama minha atenção dizendo que o almoço está
pronto e que será servido na mesa do lado de fora da casa.
—Katy e Airon. — Chamo os dois.
Airon volta sua atenção para mim, mas Katy me ignora e
continua suas ofensas.
Não se segurando eles trocam tapas, na verdade Airon apenas
tenta se defender dos ataques de katy.
Os chamo várias vezes, mas agora nenhum dos dois me ouve.
—Katy! — A voz grossa de Sam a atinge em cheio.
Ela para de desferir palavras ameaçadoras na direção de Airon
e direciona toda sua atenção para Samuel.
Fico boquiaberta diante da sua reação e vejo a surpresa
estampada nos olhos de Airon.
Estou começando a ficar preocupada, Katy não abaixa o tom de
voz para ninguém, ela geralmente tem brigas terríveis com papai, os
dois tem o mesmo gênio forte e nem mesmo mamãe ou eu
conseguimos separa—los.
E com apenas um chamado de Samuel ela volta toda sua
atenção para ele?! Ele deve ter algum dom especial.
Aproveito que os dois param de brigar para falar o que quero.
—O almoço está servindo. — Observo Airon irritada.
—Não me olhe assim. — Ele se abaixa passando a mão na
canela.
Seguimos para o lado de fora onde a mesa já está posta e
preparada. Nos preparamos para almoçar e Olga faz questão de nos
servir.
Ela preparou um verdadeiro banquete em poucas horas.
Comemos enquanto conversávamos animados.
Samuel nos contou um pouco de sua vida e percebi que ele é
uma pessoa solitária, ele não contou nada relevante sobre seu
passado o que mostra que assim como todos nós, ele tem seus
segredos e inseguranças mesmo sendo um homem centrado e
decidido.
Katy por outro lado se mantém quieta, apenas ouve o que ele
tem a dizer, isso me preocupa, pois vê—la em silêncio dessa
maneira é raro, mas obviamente ela jamais entraria em assunto que
envolva seu passado.
Apoio minha mão em sua coxa e seus olhos castanhos se
voltam para mim.
—Está tudo bem? — Pergunto preocupada somente para que
ela ouça.
—Sim. — Sorri.
Concordo porque sei que ela não vai falar nada no momento.
Assim que terminamos o almoço deixamos os meninos
conversando e vamos nos trocar.
Coloco um biquíni mais comportado, não gosto de roupas muito
curtas e pequenas, Katy também opta por um biquíni mais
comportado, mas que valoriza suas curvas e deixa sua pele morena
mais sensual.
Apesar de estar frio, hoje amanheceu mais quente nos dando a
oportunidade de aproveitarmos um pouco a piscina.
—Katy o que você achou de Samuel? — Pergunto curiosa a
observando.
—Ele é interessante Meg, mas você sabe que não vou dar uma
chance para ele. — Ela diz desanimada.
—Katy você sempre diz que eu tenho que me libertar do meu
passado e seguir em frente, mas você também precisa se dar uma
chance de recomeçar. — Digo a olhando preocupada.
—Eu sei Meg, mas não me sinto preparada para isso. — Ela
suspira.
—E o Willian? — Pergunto mudando o clima tenso que se
instalou.
Falar sobre relacionamentos com Katy sempre a faz se fechar,
eu sei que ela não percebeu ainda porém, seu comportamento muda
perto de Samuel e isso pode lhe fazer bem.
—Já te disse Meg não tenho nada com o Willian, quando
estávamos em Las Vegas fui a vários pontos turísticos e como você
estava ocupada demais me deixando de lado por causa do Airon,
arrastei Willian comigo e acabamos formando uma grande amizade,
não nego que Willian é lindo quando não está por trás daquele terno,
ele é um moreno sensual cheio de tatuagens, mas é somente isso
Meg. — Ela diz despreocupada.
—Você fez Willian de escravo que eu sei. — Digo rindo.
—Ele me levava onde eu queria e carregou minhas sacolas
enquanto tinha minha belíssima companhia, mas vou ser sincera, ele
é um amor de pessoa e acabamos criando uma forte amizade, você
sabe que é difícil eu fazer amizades com homens e outra, sinto como
se ele fosse meu irmão mais velho. — Ela ri achando graça. — Sam
faz muito mais meu tipo do que Willian e você sabe disso, deixa esse
assunto pra lá vamos logo. — Ela pega seu short preto e o vestindo.
Depois de nos trocarmos descemos para falar com os meninos,
eles já estão na piscina quando chegamos e brincam animados.
Estou surpresa por ver Airon descontraído e relaxado, ele fica mais
jovem quando está assim, isso com certeza lhe faz bem e ele precisa
de mais momentos assim.
—Andem logo meninas, vem jogar com a gente. — Sam nos
chama animado batendo a mão na bola.
—Estamos indo. — Katy responde com a mesma animação.
Sem demora ela mergulha saindo ao lado de Samuel. Como não
sou muito boa nadadora não arisco um mergulho igual ao de Katy,
apenas me sento na beira da piscina entrando sem muito esforço.
Fico ao lado de Airon que me observa com um sorriso no rosto após
selar meus lábios com um leve beijo.
—Vamos jogar. — Katy diz empolgada sabendo que sou
péssima em esportes com bola.
Me aproximo de Airon com uma careta.
—Sou uma péssima jogadora. — Falo a verdade e ele franze a
testa surpreso.
—Vou vencer essa pra gente. — Diz decido e concentrado.
Airon não é o tipo de homem que diz a todo instante que me
ama, muito pelo contrário, ele nunca proferiu essa pequena frase
com um significado tão grande, mas suas ações me provam os seus
sentimentos e isso me deixa feliz.
Vejo Katy e Sam cochicharem e semicerro os olhos os
observando, vindo de Katy com certeza o plano dos dois será
maldoso.
O jogo começa calmo, até consigo ajudar Airon em alguns
arremessos e defesas, mas conforme marcamos pontos, Katy e
Samuel se empenham em ganhar e começo a perder alguns pontos
ao deixar a bola passar por mim.
Acabamos por brincar a tarde toda e só saímos quando o sol se
esconde atrás das nuvens dando lugar a um tempo nublado, o vento
gélido assumiu o ambiente indicando que a qualquer momento pode
começar a chover.
Olga deixou lanches naturais e suco preparados para nós.
Agradeço imensamente porque ultimamente tenho sentido mais fome
do que o normal.
No final da tarde Katy e Samuel estão mais próximos do que
deveriam. É difícil ver ela deixar um homem se aproximar dessa
maneira e por mais que insista em se afastar quero acreditar que
Samuel fará a diferença em sua vida.
Pode ser que meus pensamentos sejam precipitados, mas
depois de Túlio ela nunca deixou nenhum homem se aproximar,
então quero acreditar que Samuel fará a diferença em sua vida, pois
os olhares curiosos e lascivos que eles trocam só podem indicar o
começo de uma grande e longa amizade colorida.
Como o vento frio não permite que voltemos para a piscina,
decidimos tomar um banho quente e continuar nossa conversa na
sala de jogos da mansão.
Acordo sonolenta procurando por Airon, toda via não o encontro
em lugar algum. Suspiro ao perceber que acordei tarde demais e que
ele provavelmente está na empresa.
Olho para o relógio sem me preocupar e me assusto ao ver que
vou me atrasar para o trabalho se ficar mais um minuto na cama, em
um pulo corro para o banheiro tomando um banho rápido, me troco
colocando uma meia calça cor da pele, uma saia lápis preta e uma
camisa de mangas compridas devido ao frio. Jogo um terninho preto
por cima e calço um salto médio. Opto por uma maquiagem leve e
rápida já que estou atrasada, deixo meus cabelos soltos inquieta
com o horário que corre rapidamente.
Passo pela cozinha apenas para dar um beijo em Dona Olga que me
repreende por sair sem tomar café, por sorte William já me espera do
lado de fora como um verdadeiro segurança, trajado em seu terno
preto e óculos escuros.
Franzo as sobrancelhas ao ver um segundo homem ao seu lado
trajado da mesma maneira, ele tem em torno de 1,85 de altura bem
mais baixo que Willian que parece ter 2,00 metros, aparenta ser forte
pois, mesmo com um terno preto consigo ver seus músculos
definidos, ele me lembra James.
—Bom dia Willian. — Sorrio.
—Bom dia Megan. — Me cumprimenta com um sorriso no rosto.
—E quem é você? — Pergunto curiosa.
—Esse é Ray Cooper ele vai nos acompanhar a partir de hoje
por ordens do Senhor — Willian diz apontando para o jovem ao seu
lado.
—Prazer Ray, pode me chamar de Meg. — Estendo a mão para
ele.
—O Prazer é meu Meg. — Sorri apertando minha mão com
gentileza.
—Você por um acaso é filho do James? — O observo
desconfiada.
—Sim. — Diz timidamente.
—Impossivel não notar a semelhança. — Acabo rindo enquanto
Ray abre a porta para mim e Willian assume a direção.
Me encosto no banco suspirando pesadamente, não gosto de
me sentir perseguida e vigiada, mas entendo a proteção exagerada
de Airon.
Fazemos o caminho em silêncio até a empresa onde trabalho,
ao chegarmos desço do carro e espero os dois senhores de preto me
acompanharem até o meu andar. Eles poderiam usar roupas menos
chamativas.
Os dois me acompanham um de cada lado me escoltando como
se eu fosse um objeto raro, estou até sentindo como se estivesse
naquelas cenas de filmes e só falta o efeito dos cabelos balançando
ao vento.
Para ser sincera estou com muitas saudades de Ronald, faz um
mês que não o vejo, assim que chego no setor todos os olhares se
voltam para Willian e Ray. Reviro os olhos cumprimentando a todos
rapidamente. Sigo para minha sala enquanto os dois ficam parados
em minha porta um de cada lado. Na verdade, nem mesmo sei se
Ronald vai gostar da ideia de ter dois homens desconhecidos em sua
empresa, mas espero que ele entenda.
Percebo que Ronald não está na empresa, procuro por ele pelo
nosso andar, mas não recebo respostas úteis de nenhum dos
empregados. O clima está pesado e todos me olham desconfiados e
receosos.
Começo a me sentir desinformada dos assusto da empresa,
procuro Lorena pelo corredor afim de retirar dela algumas
informações importantes, mas não a encontro em lugar algum.
Chateada volto para minha sala organizando minhas coisas sobre a
mesa.
Me assusto ao escutar a porta se abrir com tudo, olho para cima
assustada observando Lorena entrar como um furacão em minha
sala após bater à porta.
—Menina quem são esses gatos na sua porta? Me apresenta
um que eu fico satisfeita. — Lorena pergunta se jogando na cadeira
a frente para se abanar.
—Longa história Lo. — Suspiro.
—Nem me importo com sua sorte grande, só quero o telefone
daquele moreno delícia ali do lado. — Sorri apontando para a porta.
—O nome dele é Willian e o loiro é o Ray. — Dou risada do seu
jeito.
—É menina, você tirou sorte grande se casando com aquele
ricaço, nem comenta nada com as amigas faz tudo às escondidas. —
Diz chateada.
—Me desculpa é que não tínhamos nada planejado. Aconteceu
tudo muito rápido. — Dou uma desculpa qualquer para encurtar o
assunto.
—Você estava linda Meg, saiu em todos os jornais pena que as
fotos estavam meio embaçadas. — Faz biquinho.
—Obrigada. — Digo sem graça.
Pena que não me lembro de nada, não digo, mas é a verdade.
—Você sabe onde Ronald está? — Pergunto curiosa mudando
de assunto.
—Chegou a poucos minutos de uma reunião. — Diz apontando
para a sala de Ronald que fica ao lado da minha.
—Quero vê—lo. — Me levanto animada.
Assim que saio de minha sala com Lorena, Ray se prontifica a
me acompanhar, mas o impeço com um sorriso.
—Não vou sair do andar. — Digo me despedindo de Lorena que
volta para a recepção.
Ele assente voltando ao seu posto ao lado da porta.
Gostaria de conversar com Airon sobre eles me acompanharem
até mesmo dentro da empresa, gosto da companhia dos dois, mas
eles podiam me esperar em outro lugar.
Sigo para sala de Ronald, bato na porta e escuto um "entre".
Ansiosa e animada entro sorrindo ao ver aquela cabeça careca
concentrada em seus papéis.
—Oi. — Digo o olhando.
Em um sobressalto ele se levanta me olhando surpreso.
—Minha menina você está de volta. — Vem em minha direção me
abraçando apertado.
—Senti sua falta. — Aperto mais o abraço me aconchegando.
—Essa empresa sem você não é a mesma coisa minha menina. Já
estava tendo um ataque com você fora por um mês, finalmente
voltou. — Me solta do abraço e me analisa minuciosamente.
—Obrigada Sr. Ronald. — Digo envergonhada.
Jogando muita conversa fora e obviamente não escapei do
assunto casamento, levei um sermão por me casar sem avisar
ninguém e mal sabe ele que também me casei sem saber de nada.
Obviamente pulei essa parte, ele não precisa saber disso. Depois de
meia hora de conversa estou achando que Willian será capaz de
invadir a sala para ver se estava tudo bem.
Converso com Ronald sobre Willian e Ray e ele não fica muito
satisfeito, mas dá apoio total à Airon por estar cuidado da minha
segurança muito bem. Acabo me irritando por ver como ele defende
Airon, como se fossem amigos de longa data.
E no final acabo descobrindo que eles realmente se conhecem a
muito tempo, já participaram de várias reuniões juntos inclusive aqui
na empresa, mas eu nunca o vi por aqui e isso me intriga.
Será que ele já me conhecia e aproveitou que estávamos em
Las Vegas para nos casarmos? É um pensamento estranho, mas
não posso descartar a possibilidade.
Depois de conversar com Ronald e passar por seu minucioso
interrogatório colocando todos os assuntos em dia, volto para minha
sala para fazer o meu serviço acumulado.
Começo a sentir um estranho mal estar e me lembro que não
tomei o café da manhã.
Suspiro observando o horário e ainda faltam duas horas para o
almoço, nunca me senti mal por não tomar o café da manhã, mas
hoje estou diferente, sinto a necessidade de comer algo salgado
urgentemente.
Passo na sala de Ronald e digo que não estou me sentindo
muito bem por isso, irei almoçar mais cedo, ele concorda um pouco
preocupado, mas digo para que não se preocupe pois os meninos
estão comigo.
Ray e Willian me acompanham e acabo por me apoiar em Willian
algumas vezes ao sentir leves tonturas e me faz achar que a rua está
girando rapidamente. Não consigo me concentrar nas diversas
perguntas preocupadas de Willian.
—Você está bem? — Willian pergunta.
—Sim Willian. — Minto apenas querendo chegar a algum
restaurante.
—Quer que eu ligue para senhor? — Ray pergunta com o
celular em mãos.
—Não. — O impeço suspirando.
—Vamos para o hospital. — Willian afirma.
—Não. — Recuso.
—Você está pálida, tem certeza de que está bem? — Willian me
observa duvidoso.
—Willian, para, você é pior que minha mãe. — Suspiro fazendo
Ray rir.
Mesmo com Willian me enchendo de perguntas, Ray me dá uma
mãozinha dispersando o foco de Willian das minhas tonturas
repentinas. Entro no restaurante e os dois decidem ficar do lado de
fora, porém os obrigo a entrarem e almoçar comigo.
Se vão ficar comigo o dia todo farão as coisas do meu jeito. Eles
resistem o máximo que podem, mas sou persistente o bastante para
convence—los a base de uma pequena ameaça onde disse que
recusaria aceita—los como meus seguranças. Relutantes entram e
me acompanham a mesa.
Apesar de recusarem constantemente o almoço, no final os dois
me acompanham em uma remição leve e saborosa. Na verdade o
meu foi totalmente gorduroso e cheio de massas e tomei um suco
natural para não ficar com a consciência pesada mais tarde.
No caminho de volta passamos em frente a uma padaria onde
meus olhos se fixam em um belíssimo cupcake recheado e com um
morango grande e vermelho sobre o chantilly branquinho.
Minha boca se enche d'agua e acabo não resistindo a tentação
de compra—los, peço quatro, dois para mim e um para cada um dos
meninos. Saio da loja e entrego os deles que me olham surpresos e
sem entender. Sorrio para eles e digo:
—Se acostumem. — Caminho de volta para a empresa
comendo meu cupcake que por sinal está uma delícia.
O resto do dia segue normalmente abarrotado de trabalho e e—
mails para serem enviados.
Ao longo do dia recebo mensagens de Airon no whatssap
perguntando se estou bem.
Willian sempre é rápido em contar o que está acontecendo
comigo para ele, para não preocupa—lo respondo dizendo que está
tudo ótima, assim posso continuar os meus afazeres que não são
poucos.
Quando olho no relógio já são oito horas da noite, fiquei duas
horas a mais na empresa.
Arrumo minhas coisas e passo na sala do Sr. Ronald me
despedindo dele que ainda trabalha concentrado.
—O Senhor precisa descansar mais. — Sorrio para ele.
—Eu sei, já estou indo para casa só faltam alguns ajustes nessa
planilha. — Ele diz sorrindo.
—Até amanhã senhor teimoso. — Me despeço e ele acena um
tchau rindo.
Não gosto da ideia de ver Willian e Ray me esperando até tarde.
Eles ficaram em pé do lado de fora o tempo todo, e mesmo que eu
insista para que se sentem ou voltem mais tarde os dois não movem
um musculo fora do lugar.
Não adianta, preciso conversar com Airon sobre essa atitude,
adoro tê—los como meus seguranças, eles são preocupados e
gentis, mas não gosto de vê—los aqui em pé e estáticos, fico
cansada apenas por me imaginar no lugar deles.
Voltamos para casa e minha mente não consegue focar em
outra coisa a não ser no cansaço dos dois, depois de um dia como
esse acredito que eles merecem férias.
Chego na mansão empolgada para ver Airon, mas não encontro em
casa, o que me deixa triste. Vendo que ele ainda não havia chegado,
vou até a cozinha a procura de algo para comer.
Me surpreendo e fico feliz ao ver o meu prato preparado por
Olga à minha espera, na verdade há dois pratos o meu e o de Airon.
Depois de jantar tomo um banho relaxante aliviando a tensão do dia
—a—dia.
Ao sair do banho recebo uma mensagem de Airon avisando que
ficará na empresa até tarde por conta de algumas complicações, ele
está preocupado com minha saúde e se desculpou por não poder vir
mais cedo.
Não o julgo e nem crio paranoias estranhas em minha cabeça,
sei como é difícil trabalhar em uma empresa, se consigo me atrasar
sendo apenas a administradora imagine Airon como Dono de tantas
filiais espalhadas pelo mundo.
Após me deitar sinto enjoos estranhos. O jantar estava uma delícia,
mas meu estomago se revira querendo expelir tudo que comi a
pouco tempo.
Não consigo me conter e corro para o banheiro vomitando todo
o conteúdo em meu estomago.
***
No dia seguinte acordo sem ter Airon ao meu lado, mais uma
vez ele saiu mais cedo a caminho da empresa, e eu dormi demais.
Não gosto de acordar e não tê—lo ao meu lado, é estranho, me
acostumei a acordar e ser recepcionada por seus incríveis olhos
azuis celeste que me encaram cheios desejos.
Me levanto e me troco rapidamente para o trabalho, outra vez
Ray e Willian estão à minha espera. Meu estômago fica embrulhado
o dia todo e nada que como me faz bem.
Culpo os cupcakes do dia anterior por me fazerem tão mal
repentinamente, fico pensando no que poderia ter me causado esses
enjoos repentinos além deles.
Não consigo me concentrar de maneira adequada no trabalho,
mas faço tudo o que me foi mandado até o horário de ir embora.
Chego em casa mais cedo, entretanto Airon ainda está na empresa.
Leio um livro para passar o tempo e peço para Olga me preparar
uma refeição leve, não estou me sentindo muito bem, por fim acabo
me encolhendo na cama e o sono me toma de forma bruta.
Durmo pesado e mesmo sentindo que Airon meche em meus
cabelos apenas resmungo sem conseguir abrir os olhos.
***
Mais um dia sem ver Airon... É, posso dizer que isso está
começando a me chatear.
Sinto falta dele e de seus toques e por mais que tente me
manter acordada antes dele chegar não consigo. Eu não consigo
nem mesmo ver os horários em que ele está chegando e muito
menos perguntar o que está se passando na empresa.
Chego dez minutos atrasada e assim que passo pela recepção
recebo um olhar de perdão de Lorena. Não tenho tempo de
perguntar o que está acontecendo apenas subo para o meu andar e
quando chego tenho um aviso sobre minha mesa para ir a sala do
Senhor Ronald.
Observo o aviso com as sobrancelhas franzidas, Ronald nunca
deixaria um recado desses em minha mesa, para ele eu poderia
atrasar até mesmo uma hora que não faria diferença, mas jamais
abusaria da confiança que ele tem em mim lhe causando problemas.
Respiro fundo e bato na porta entrando logo em seguida, assim
que entro trombo com alguém parado em frente a porta, sinto braços
envolta da minha cintura que me seguram forte me impedindo de cair
ao fechar a porta atrás de mim com tudo.
Olho para cima passando a mão na testa e me surpreendo ao
ver Ricardo.
—Você me deve muitas explicações Megan. — Sua voz grossa
invade meus ouvidos me causando arrepios de pavor e o seu
perfume invade meus sentidos me causando náuseas.
—Você está me machucando, me solte. — Puxo meu braço do
aperto de suas mãos olhando dentro de seus olhos castanhos o
desafiando.
—Eu chego de viagem e descubro que você está casada com
aquele riquinho de merda. Você é minha namorada e eu não aceito
que outro homem te toque entendeu? — Diz me chacoalhando.
Aproxima seu rosto do meu pescoço cheirando toda a extensão
até minha orelha. A única coisa que consigo sentir é nojo e repulsa,
empurro ele com força e puxo meu braço novamente de seu aperto,
mas dessa vez consigo me soltar.
—Escuta aqui Ricardo, eu não te devo satisfação nenhuma e
mais uma coisa, da próxima vez que você encostar em mim dessa
maneira vou mandar Willian arrebentar sua cara de playboyzinho,
não enquadre Airon no mesmo patamar que o seu pois ele jamais se
comparará a você! — Cuspo as palavras batendo um dedo em seu
peito e olho dentro de seus olhos irritada. —E tem mais... — Puxo o
ar com força para terminar tudo o que tenho a dizer. — Deveria ter
pensado em mim como sua namorada antes de me trair com a sua
empregada. — Grito irritada.
Ele me observa com espanto enquanto saio da sala batendo a
porta com força, Ray vem em minha direção com cara de poucos
amigos.
—Estou bem Ray. — Digo o mais calma possível.
—Tem certeza? — Ele olha para o meu braço e para na porta
onde Ricardo está.
Droga, Ricardo tem que ser sempre um completo imbecil?
Seguro o suspiro querendo dizer que não só para ver Ray o intimidar,
mas em respeito a Ronald me contenho.
—Sim, estou bem. -Apenas sigo para minha sala irritada sem
esperar uma possível resposta.
Me sento na cadeira apoiando a cabeça nas mãos.
Como esse patife vem me cobrar alguma coisa depois de tanto
tempo? Paro e analiso meu humor instável nos últimos dias.
Meu Deus o que está acontecendo comigo? Desde de quando
tenho coragem de enfrentar alguém assim?
Tento me acalmar e seguir com meu trabalho, mas me sinto
cansada e exausta depois da discussão com Ricardo. Alguém bate
na porta tirando minha concentração das planilhas que eu já refiz
umas cinco vezes por ter errado detalhes bobos.
Mando que entrem e assim que olho para cima cruzo os braços
irritada com os nervos a flor da pele ao observar Ricardo.
—O que você quer Ricardo? — Digo curta e grossa.
—Acho que começamos do jeito errado. Meu pai foi viajar e
volta amanhã então, deixou a empresa em minhas mãos, tenho uma
reunião as 11:00 horas e preciso que você vá comigo. — Ele diz
manso e calmo.
—Tem certeza que precisa que eu vá? — Olho bem para ele.
—Sim Meg. — Ele diz autoritário me deixando irritada.
—Ok. — Apenas concordo pois aquele era meu trabalho e
querendo ou não quando Ronald não estava esse cretino era meu
chefe.
-Não se atrase, estarei te esperando as dez horas. –Sai da sala
batendo a porta.
Suspiro e me encosto na cadeira olhando para o teto, Deus, já
não basta me preocupar com Philipe agora Ricardo quer dar uma de
louco também?
Volto aos meus afazeres e paro apenas quando olho no relógio
e vejo que são dez horas, arrumo minhas coisas para acompanhar
Ricardo a tal reunião que não estou nem um pouco afim de ir.
Saio da sala e vejo Ricardo me esperando do lado de fora.
Ele se oferece para me levar, mas recuso entrando rapidamente
na BMW de Airon, Willian conversa com Ricardo — eu o havia
deixado plantado na entrada da empresa sem culpa nenhuma —
para saber onde seria a reunião.
Em silencio espero o caminho ser feito em um clima um pouco
desconfortável, mas acredito que o problema possa estar comigo
então, opto por me manter quieta.
Quando Willian estaciona em frente há um prédio grande, visto
meu terninho e pego minhas coisas sem prestar atenção ao meu
redor, assim que coloco os pés na calçada sinto minhas pernas
fraquejarem ao olhar o nome da empresa que pega toda a extensão
do prédio em um letreiro enorme escrito CrossRoad.
Sinto o ar faltar dos pulmões e minha respiração falhar.
Ricardo para ao meu lado com um sorriso debochado e tenho
uma vontade imensa de enfiar meu belíssimo salto fino em sua
garganta.
—Vamos lá Se-nho-ra Markcross. —Diz pausadamente
colocando a mão na base de minha coluna.
Empurro sua mão e caminho em sua frente a passos largos o
deixando para trás.
Assim que entro na recepção noto que tudo é exageradamente
bem arrumado e organizado, o chão de porcelanato escuro dá um ar
sério, mas os móveis em tons claros deixam o ambiente
aconchegante.
Não consigo enxergar a personalidade gritante de Airon no
designer do interior desse prédio, ela parece ter sido totalmente
planejada para agradar os clientes que entram e saem de maneira
constante.
Airon é sério, frio e solitário e passa toda essa frieza e
insensibilidade para tudo a sua volta, pode—se ver isso na mansão
que contém uma decoração antiga e sem vida, apenas alguns
quadros mais coloridos quebram o ambiente rustico do lugar.
—Tenho uma reunião marcada com senhor Markcross, poderia
me informar qual é a sala de reuniões? — Pergunto calmamente a
recepcionista.
—Você está representando alguém? — Pergunta
profissionalmente.
—Ronald Stay. — Digo rapidamente.
—Pode seguir até o vigésimo. — Diz educadamente apontando
o elevador do seu lado esquerdo.
—Obrigada. — Vou até o elevador onde Ricardo já me espera
com um sorrisinho vencedor.
Sinto uma forte vontade de arrancar aquele sorriso de seu rosto
a base de tapas e socos, mas controlo meu súbito ataque de raiva.
Subimos até o vigésimo andar em silêncio o que agradeço, pois
se ele fizesse alguma graça não responderia pelos meus atos, saio
do elevador e uma das recepcionistas já esta a nossa espera, a
seguimos pelos corredores da imensa empresa e estou tão irritada
que não consigo prestar atenção nos detalhes da decoração que
agora sim parecem representar Airon.
Assim que entro na sala de reuniões os olhos de Airon caem
sobre mim e me sinto intimidada, seus olhos azuis penetrantes me
encaram descaradamente fazendo as batidas do meu coração se
acelerar. Todos me observam com a sobrancelha erguida ao ver que
parei repentinamente na porta e não me movi mais.
Fico envergonhada ao ver que estou o encarando mais do que
deveria.
Olho para Ricardo que sorri ao apontar o único lugar vazio entre ele
e Airon.
Não nego que minha vontade é matar Ricardo lentamente com
minhas próprias mãos.
Não demora muito e a voz potente de Airon irrompe pela sala
chamando a atenção de todos.
—Convidei os senhores nessa tarde, pois estou com planos de
unificar empresas menores com a CrossRoad, mas antes gostaria de
saber o que os senhores têm a me oferecer. — Ele se recosta na
cadeira observando todos seriamente.
Um grande burburinho de surpresa se instala na sala, ninguém
esperava que Airon desse uma oportunidade tão grande como essa
para empresas menores como a de Ronald, entretanto, pegou todos
de surpresa, tenho certeza que ninguém preparou uma oferta a
altura do que ele espera e conhecendo Airon essa é sua intenção
porque quer ver a criatividade dos integrantes em oferecerem seus
produtos sem um preparo ou marketing antes.
Ele pacientemente espera todos se acalmarem e vejo que até
mesmo Ricardo ficou surpreso com a proposta. Seus olhos passeiam
rápido de mim para os integrantes curiosos.
Essa tensão toda está me deixando excitada e constrangida.
Meu Deus estou no trabalho... O que está acontecendo comigo?
Faz dias que não o vejo e para ser sincera estou com saudades,
não consigo manter o foco na reunião ao ver Airon andar de um lado
para o outro na sala com seu terno lindo que se encaixa
perfeitamente em seu corpo bem malhado enquanto ouve cada
proposta.
Ao decorrer da reunião tudo anda pacificamente bem até estar
chegando nossa vez de falarmos e ofertamos nossos produtos, eu
realmente gostaria de ganhar essa oportunidade para Ronald, mas
Ricardo começa com uma aproximação inesperada.
Ele aproxima seu rosto do meu pescoço e sussurra em meu
ouvido algumas coisas sobre o assunto, me afasto disfarçadamente
para que os outros empresários não vejam, olho para Airon e engulo
em seco, ele tem o maxilar travado e os punhos serrados enquanto
tenta manter seu foco no que diz.
Ricardo não para suas investidas por ai, ele segura minha mão
sobre a mesa a apertando com delicadeza, puxo minha mão
observando impaciente a irritação de Airon aumentar. Ele sobe passa
a mão pelo meu braço e posso sentir o cheiro de seu perfume que
me causa náuseas, me esforço para me concentrar em Airon e
ignora—lo, mas está ficando difícil com tantos olhares voltados para
mim principalmente aquelas duas esferas azuis cintilantes e furiosas.
A mão de Ricardo sobe pela minha coxa adentrando em minha
saia, ele aperta minha coxa com força e me remexo na cadeira
incomodada com sua audácia ao segurar forte em sua mão e a
empurrando para longe.
Os olhos de Airon estão fixos sobre a mesa de vidro escuro
onde ele pôde ver exatamente onde a mão de Ricardo estava, mas
uma vez ele aperta minha coxa e empurro sua mão com tudo a
tirando dali.
Isso tudo já está sendo patético e minha paciência já se
esgotou.
Me viro irritada para certar um tampa em seu rosto, mas a voz
grossa, áspera e rígida de Airon inrrompe a sala me assustando.
—Estão todos dispensados por hoje. — Seu tom de voz faz
todos se encolherem principalmente eu.
Eles se entreolham sem saber o que fazer, eu me levanto
rapidamente arrumando minhas coisas para ir para casa, não voltarei
para empresa com Ricardo lá.
—Megan. — Sua voz me atinge em cheio fazendo um arrepio
descer pela minha coluna. — E Sr. Stay permaneçam na sala. —
Paraliso ao ver que os outros já saíram.
Ricardo se coloca de pé o observando confiante, paralisada
observo os movimentos de Airon sobre a sala, ele passa as mãos
sobre os cabelos negros tentando manter o pouco de calma ainda
lhe resta.
—Sr. Stay acredito que tenha visto as reportagens nas revistas e
em noticiários na televisão sobre o meu casamento com a Srta. Park,
sendo assim agora ela é minha esposa, peço por gentileza que
segure suas mãos ao invés de toca—la pois, da próxima vez você
poderá perde—las. — Ele mantém o tom firme e áspero.
—Oras Markcross, tenho que dizer que antes dela ser sua
esposa ela foi minha namorada e isso me dá o direito de toca—la o
quanto eu quiser, ela é uma mulher belíssima que a muito tempo
deveria ter se casado comigo. — Ricardo se vira para mim tocando
minha cintura e me afasto com um movimento rápido.
Quando ergo minha mão para bater em Ricardo vejo Airo o
segurando pela gola do terno o encostando na parede com força e
brutalidade, Ricardo solta o ar pesado dos pulmões com um gemido
de dor.
Posso ver Airon se controlando para não soca—lo, mas no
fundo estou torcendo para que isso realmente aconteça. Balanço a
cabeça tirando esses pensamentos da minha mente, isso geraria
problemas para Airon na empresa.
—Eu te avisei moleque, você acha que pode fazer o que quer,
mas está enganado. O respeito que tenho pela sua empresa é por
causa do seu pai e não de você, sempre te achei incapaz e
incompetente, você não consegue cuidar do próprio nariz sozinho
jogando todo o peso sobre seu pai, e você realmente está certo,
Megan foi sua namorada, mas hoje é minha esposa e se você se
aproximar dela novamente eu quebro isso que você chama de cara a
qual não serve para nada. — Airon fecha a mão em seu pescoço o
fazendo respirar com dificuldade.
—Airon. — Me aproximo dele passando as mãos em seus
braços. — Se acalme. — Peço com medo de que ele machuque
Ricardo e isso possa prejudica—lo com a empresa e a justiça.
—Entendido? — Airon pergunta apertando mais o pescoço de
Ricardo.
Ele assente completamente sem graça, nervoso e sem ar.
Ricardo aparenta ser forte por seu físico avantajado, mas sempre foi
frouxo e medroso.
—Airon, por favor! — O chamo apertando meus dedos em meus
braços.
Ele solta o pescoço de Ricardo que respira com dificuldade,
assim que sua respiração se normaliza ele sai da sala praticamente
correndo sem dizer nada.
—Até quando ia deixar aquele desgraçado te tocar? — Se vira
para mim irritado me prendendo contra a mesa e seu corpo.
—Eu... — Sou interrompida quando ele cola seus lábios nos
meus me beijando com sede e paixão, isso faz automaticamente
meu coração se acelerar.
Ele me senta sobre a mesa enquanto me beija e passa as mãos
sobre minha coxa levantando minha saia com rapidez, desce seus
beijos para o meu pescoço o chupando e mordendo com certa força
me fazendo gemer em reposta as suas investidas desesperadas.
Não reclamo do seu desespero e indelicadeza, todos esses dias
senti falta e saudades de ter seu corpo junto ao meu.
Agarro seus cabelos o acariciando enquanto deixo ele explorar
meu corpo.
—Você é minha e eu fico louco quando outros homens lhe
tocam com desejo e volúpia. — Ele apoia as mãos em minha nuca
beijando meus lábios desesperadamente.
Agarro seus cabelos, cruzo as pernas e o puxo para mais perto de
mim deixando nossos corpos colados, suas mãos apertam minhas
coxas com força e deslizam pela minha pele. Ele para o beijo quando
estamos praticamente sem folego. Encosto minha testa na sua
acariciando seu rosto com uma das mãos enquanto ele segura meu
rosto com as duas mãos.
—Senti saudades meu amor. — Me afasto um pouco olhando
dentro de seus olhos e vejo a surpresa em seu olhar quando o
chamo de amor.
Ele sorri com os olhos cheio de paixão.
—Eu te amo Meg. — Suas palavras me deixam completamente
surpresa e absorta.
Sorrio e não contenho as lágrimas que começam a rolar pelo
meu rosto, eu nunca imaginei que ele diria tais palavras para mim,
seu olhar mostra surpresa e ao mesmo tempo medo ao perceber que
confessou seus sentimentos.
—Eu também te amo. — Ainda sorrio para ele que passa seu
polegar em meu rosto limpando minhas lágrimas que insistem em
escorrer.
Posso ver o alivio instalado em seu rosto e corpo quando
correspondo aos seus sentimentos.
É impossível não ama—lo.
—Se aquele desgraçado tocar em você novamente... — Beijo
seus lábios o impedindo de continuar.
—Eu acredito que ele não vai tentar aproximação depois do que
você disse para ele, eu achei que você iria mata—lo. — Falo
suspirando.
—Se ele encostar em você com segundas intensões novamente
eu realmente o matarei. — Sua voz sai grave soando ameaçadora.
—Eu não duvido de você, mas se acalme. — Acaricio seu rosto.
Escuto baterem na porta e logo alguém entra, a secretaria de
Airon nos olha com as bochechas vermelhas, descruzo as pernas da
cintura dele arrumando minha blusa e saia.
—Me desculpe interromper. — Ela abaixa a cabeça
envergonhada e escondo meu rosto no pescoço de Airon ainda mais
constrangida.
—Tudo bem Melissa pode falar. — Ele diz enquanto tento descer
dá mesa, mas seu corpo me impede.
—O Senhor tem uma teleconferência em 15 minutos. — Diz em
um fio de voz evitando olhar para cima.
—Obrigada Melissa. — Ela se retira da sala às pressas.
—Você irá se atrasar, me deixa descer. — O empurro, mas ele
que não se move um único centímetro.
—Não quero você perto do Ricardo. — Me observa sério.
Seus olhos estão fixos nos meus e posso ver que ele está
bravamente travando uma luta para não pedir que eu saia do meu
emprego. De certa forma isso me surpreende pois, se fossem
algumas semanas antes ele mal se importaria com que eu acho, mas
agora ele está ponderando a situação e me dando liberdade para
decidir sobre o que realmente quero.
—Eu sei, mas tenho muito trabalho a fazer. Ray e Willian estão
comigo e não vão deixar ele se aproximar, apesar de ter certeza que
ele vai pensar duas vezes antes de se aproximar de mim novamente
depois da sua conversa pacifica com ele, mas falando em Ray e
Willian precisamos conversar sobre isso. — Cruzo os braços o
encarando.
—Sem discussões Meg, são muito homens querendo te pegar e
tenho que garantir sua segurança. — Diz com em tom autoritário. —
Por mim você não voltaria para aquela empresa de jeito nenhum. —
Seu tom é possessivo e mandão.
Contenho o riso ao perceber que ele não conseguiu se conter,
sabia que ele estava travando uma luta interna para evitar brigas.
—Não vou discutir sobre isso agora se não você vai se atrasar,
mas quando chegar em casa falaremos sobre o assunto. — Ele
coloca as duas mãos sobre minha bunda me colocando no chão. —
Vai chegar tarde hoje? — Pergunto na esperança de encontra—lo
em casa quando eu chegar.
—Não. — Roça seus lábios nos meus em um beijo suave e
provocante.
Desejo que o relógio pare para que esse momento continue,
mas infelizmente logo em seguida ele se afasta deixando apenas um
beijo em minha testa.
Arrumo minhas roupas e lhe dou mais um beijinho de despedida.
Saio da sala e ao ver sua secretaria fico envergonhada.
Assim que entro no elevador me surpreendo com minha imagem
nos espelhos brilhantes em seu interior. Minhas roupas estão
amassadas, meus cabelos bagunçados, minha pele carrega algumas
marcas vermelhas dos lábios de Airon e minhas coxas tem marcas
dos seus dedos desesperados que buscavam contato.
Enquanto o elevador desce tento ao máximo arrumar minhas
roupas, cabelo e minha postura disfarçando o desejo explícito de
querer senti—lo ainda mais que deixe ainda mais marcas vermelhas
pelo meu corpo.
Assim passo pelas portas do elevador Ray e Willian vêm em
minha direção apresados e caminham ao meu lado em direção ao
carro que estacionado na vaga exclusiva em frente a empresa.
Quando coloco os pés na calçada sinto todo o meu corpo paralisar
ao ver Noah Avallon do outro lado da rua observando silencioso o
prédio da CrossRoad.
Seus olhos inexpressivos se voltam para mim e um pequeno
sorriso nasce em sua face, ele me encara por alguns instantes e faz
um pequeno aceno com a cabeça se infiltrando no meio da multidão
de pessoas que passam de um lado para o outro.
—Megan, você está bem? Megan? — Willian me chama
diversas vezes enquanto fita o ponto em que estou olhando e não vê
nada.
—Você está branca, aconteceu alguma coisa? — Ray pergunta
preocupado e me apoio em seu braço para conseguir manter o peso
do meu corpo sobre as pernas fracas.
Respiro profundamente encarando meus pés e depois de sentir
o sangue voltar a correr em minhas veias como se não estivesse ali
antes, ergo o olhar para Ray que afasta alguns de meus fios de
cabelo colados no rosto.
—Você está gelada senhora. Quer voltar para a empresa?
—Me levem para casa, por favor. — Digo em um fio de voz e
sinto que a qualquer momento posso desmaiar.
Willian se prontifica para abrir a porta enquanto Ray me guia até o
carro temendo que eu caia.
Como havia pedido, eles me levam até a mansão onde me sinto
segura e protegida de qualquer mal que Philipe queira me causar.
Assim que chego vou direto para o quarto. Me deito e mesmo
querendo ficar acordada me sinto muito exausta e com vontade de
chorar.
Ultimamente meu emocional tem estado bem instável e agora
Noah aparece para atormentar meus pensamentos.
Resolvo ligar para Katy para contar o que aconteceu nesse dia
problemático. A única coisa boa e maravilhosa que me aconteceu foi
a confissão inesperada de Airon que faz meu coração transbordar de
alegria em meio a tantos problemas.
—Oi Meg! — Ela atende animada.
—Oi Katy! Como vão as coisas com Sam? — Pergunto a
provocando.
—Você não sabe. — Ela dá gritinhos de alegria do outro lado da
linha quase me deixando surda. — Ele me chamou para sair hoje à
noite, estou tão feliz. Sabe, achei que iria manter ele a distância
como sempre faço com os homens, mas ele é diferente.
Não sei explicar. — Suspira apaixonada. Sorrio ao ouvir ela toda
animada e fico feliz ao saber que está se dando bem com Sam.
—Eu avisei que você se apaixonaria. — Dou risada dela.
—Não precisa exagerar. — Ela bufa irritada.
—Ainda serei a madrinha do casamento. — Dou risada dela.
—Eu casando? — Preciso afastar celular do ouvido com sua
risada estrondosa.
— Airon deve estar afetando seus neurônios Meg. Vamos deixar
isso pra lá, porque me ligou? Tenho certeza que não foi por causa de
Samuel. — Ela ri do outro lado da linha.
—Estou com saudades. — Não quero preocupa—la com meus
problemas, ela já tem problemas de mais, é melhor não falar nada
sobre Noah se não ela vai ficar preocupada.
—Vai, conta logo. — Ela insiste.
Ela não precisou insistir duas vezes, porém evito falar sobre
Noah e apenas conto os desaforos de Ricardo e como Airon o
colocou em seu devido lugar. Do outro lado da linha ela ri
escandalosamente quando conto das caras de desespero que
Ricardo fez. Quando conto a confissão de Airon ela realmente surta
gritando estrondosamente em meus tímpanos, acabamos
conversando por vários minutos e minha preocupação com Noah
diminuiu gradativamente, porém sei que preciso contar para Airon
sobre o que aconteceu hoje e que não devo mais esconder as coisas
dele.
Depois de conversar com Katy desço para comer alguma coisa,
eu deveria voltar para a empresa, mas não suporto a ideia de
encontrar Ricardo então ficarei em casa e depois falo pessoalmente
com Ronald. Encontro Dona Olga na cozinha e sorrio ao vê-la toda
animada preparando seus deliciosos pratos.
— Olá Dona Olga. — Sorrio a abraçando.
Escuto uma gritaria e risadas vindo do lado de fora, as meninas
entram correndo na cozinha.
— Megan. — Elas gritam juntas e me abraçam animadas.
Retribuo o abraço com carinho, elas são lindas e seus olhos
castanhos chamam a atenção, passo a mão nos cabelos macios das
duas enquanto elas me apertam em um verdadeiro abraço de urso.
— Oi meninas.
— Cadê os modos que ensinei a vocês? — Dona Olga diz brava
enquanto elas se encolhem.
— Tudo bem Dona Olga eu gosto que elas me tratem assim,
afinal todos vocês são como uma família para mim. — Digo e logo
em seguida minha barriga ronca alto.
— Acho que tem alguém com fome. — Renata diz rindo.
Ainda rindo voltam correndo para área da piscina.
— Quer que eu faço um lanche natural para você antes do
jantar? — Dona Olga pergunta e assinto constrangida.
Ela prepara um lanche caprichado eu como tudo me sentindo
satisfeita, lavo meu prato e meu copo mesmo com Olga insistindo
para que eu deixe. Observo a área da piscina pela janela da cozinha
e o sol já dá lugar aos tons escuros da noite, querendo aproveitar
aquela vista maravilhosa vou até as espreguiçadeiras me deitando ali
para observar as lindas cores do céu dando lugar as estrelas.
Fico aqui por incontáveis minutos até a lua juntar-se ao cenário,
o vento gélido se intensifica me deixando arrepiada, forço minha
blusa de frio em meu corpo me abraçando inconscientemente.
Uma das coisas que mais gosto é olhar para lua enquanto
imagino quantas pessoas no mundo podem estar fazendo a mesma
coisa, me pego sorrindo com esse pensamento.
— Olá pequena. — Sorrio ao ver Airon se aproximando.
— Olá grandão. — Ele sorri de volta enquanto caminha
elegantemente em minha direção.
Cabelos desgrenhados, barba rala por fazer que emoldura seu
rosto quadrado com uma fina camada de pelos negros e intensos
olhos azuis.
Mordo os lábios o analisando caminhar, Airon tem um jeito único
de me prender e chamar a atenção, nós temos uma forte ligação e
isso as vezes acaba me surpreendendo.
Ele senta-se ao meu lado na espreguiçadeira de frente para
mim, seus olhos fixam nos meus e ele deixa um leve beijo em meus
lábios enquanto acaricia meu rosto com o polegar.
— Willian disse que você passou mal de novo. — Ele passa as
mãos pelos meus cabelos.
— Não foi nada, estou bem agora. — Sorrio. — Na verdade eu
vi Noah hoje. – Suspiro o encarando.
Seus olhos me observam com certa preocupação, passo a mão
em seus braços ao ver a tensão dominar seu corpo. Me sento o
abraçando encostando minha cabeça em seu ombro e meus lábios
em seu pescoço.
— Eu apenas o vi perto da empresa. — Sussurro próximo ao
seu ouvido.
— Porque não me avisou antes? Deveria ter avisado Willian ou
Ray. — Sua voz é calma, mas tem um leve tom de repreensão.
— Porque quando me dei conta ele já tinha se misturado a
multidão de pessoas na rua e não queria deixar você preocupado,
você anda muito ocupado na empresa ultimamente. — Digo sorrindo
para ele.
— Você tem que se preocupar mais com sua segurança Megan.
— Beija minha testa preocupado.
— Me desculpe. — Mordo os lábios o observando.
— Tudo bem, mas você precisa parar de esconder as coisas de
mim, não hesite em avisar os meninos quando você precisar. — Me
analisa minuciosamente.
— Da próxima vez avisarei. — Sorrio o acalmando.
— Vem vamos jantar. — Ele segura minha mão me puxando
para ele.
Seus braços fortes se envolvem em minha cintura puxando meu
corpo de encontro com o seu, seus lábios macios pressionam os
meus em um beijo demorado e suave.
— Estava com saudades de vocês. — Ele deixa um leve beijo
em meu pescoço.
— Eu também estava. — Acaricio seus cabelos com carinho
recebendo um lindo sorriso.
Airon segura minha mão me guiando até a cozinha, assim que
chegamos Dona Olga já preparou a mesa de jantar, nos servimos e
conversamos amenidades. As gêmeas estavam animadas e riam
enquanto falavam entre si.
A comida está maravilhosa, Olga sabe colocar a quantia exata
de tempero em cada prato deixando com gosto único e maravilhoso,
porém quando vou experimentar o suco de maracujá meu estômago
embrulha e retorce me causando uma forte ânsia.
Me levanto rapidamente correndo para o primeiro banheiro que
encontro colocando tudo o que havia comido para fora. Me apoio na
parede apoiando a mão sobre o abdômen e depois de me acalmar
enxaguo a boca várias vezes me livrando daquele gosto horrível e
amargo. Jogo um pouco de água no rosto e seco com a toalha de
rosto dependurada ao lado do espelho. Me observo no espelho e me
sinto abatida e cansada.
— Meg você está bem? Abre a porta. — Airon bate na porta do
banheiro quase a derrubando e tenho um sobressalto com o susto.
— Megan. — Ele continua a bater com tanta força que me preocupa.
— Já vou. — Respondo terminando de secar as mãos.
Assim que destranco a porta Airon me observa preocupado, o
abraço e encosto a cabeça em seu peito querendo apenas me deitar.
— Você está bem? — Ele acaricia meus cabelos me
observando.
— Sim. — Tento ser o mais convincente possível, mas falho
drasticamente.
— Vamos ao hospital, agora. — Diz convicto.
— Não quero. — Seguro sua mão o fazendo parar.
— Pare de ser teimosa Megan, já faz dias que você está
passando mal devíamos ter ido ao médico faz tempo. — Ele diz
bravo.
— Por favor. –O observo cansada. –Quer apenas me deitar ao
seu lado. —Suplico.
Ele me olha incerto e indeciso enquanto pondera a situação.
— Airon... — Insisto e ele suspira.
— Se você passar mal de novo iremos a um médico sem
discussões e sem cara de piedade. — Seu tom de voz é de
repreensão, mas acabo sorrindo.
— Tudo bem. — Concordo sorrindo.
— Vem vamos tomar um banho. — Ele segura minha mão me
levando até o andar de cima. — Pode parar com essa cara de safada
porque só vamos tomar banho. — Faço bico e cara de piedade. —
Você não vai me convencer novamente.
— Seu chato. — Vou pro banheiro o deixando para trás.
Ele me segue com um vitorioso sorriso nos lábios. Tento parecer
brava, mas é em vão quando ele se aproxima e começa a me despir
com todo o cuidado e carinho como se eu fosse quebrar. Retira
minha roupa e depois a sua, liga o chuveiro em água morna e deixo
que a água caia em meu corpo relaxando os meus músculos
cansados. Airon pega a bucha e coloca nela sabão líquido com
cheirinho de baunilha, começa a passar por todo o meu corpo me
ensaboando e me limpando sem malicia.
Ele sorri ao ver as marcas roxas de seus lábios em meu
pescoço de mais cedo em seu escritório. Suspiro o observando com
os olhos semicerrados.
— Você fez de propósito. — O observo e ele fica em silêncio por
um momento depois sorri.
— É para todos verem que você é minha. — Diz
possessivamente.
Acabo revirando os olhos com a atitude que ele acabou
tomando. Até gosto da sua superproteção, mas a possessividade já
é algo muito além.
— E como elas vão saber que você é meu? — Pergunto com os
olhos semicerrados.
Ele abre um sorriso enorme e para de me ensaboar para fixar
seus olhos nos meus.
— Elas vão saber, pois quando uma delas se aproximar eu vou
estar tão focado pensando em você que não verei nenhuma mulher a
minha frente, porque a mulher que eu amo já está ao meu lado. —
Ele olha dentro dos meus olhos dizendo cada palavra com amor e
paixão.
Meus olhos brilham com aquelas palavras que fazem meu
coração se acelerar.
— Eu te amo tanto. — Envolvo meus braços envolta do seu
pescoço o beijo com amor.
A cada dia que passa eu o amo mais e mais.
Ele sorri para mim e continua a me ensaboar, depois de me
enxaguar pego a bucha e faço o mesmo nele. Começo a ensaboar
seu corpo aproveitando para olhar cada detalhe de seus músculos
definidos.
— Assim eu não aguento já é difícil me controlar enquanto te
vejo nua, praticamente impossível com você tocando meu corpo e
me olhando dessa maneira. — Sua voz rouca faz todo meu corpo se
arrepiar e se acender.
— Eu te amo. — Sussurro em seu ouvido.
— Megan. — Ele rosna como um verdadeiro animal me fazendo
rir.
Me encosta na parede na parede enquanto apoia meu corpo
fazendo com que eu cruze as pernas em sua cintura. Beija o colo do
meu peito em direção ao meu pescoço, por fim acabamos fazendo
amor em baixo do chuveiro.
***
Quando acordo percebo que Airon já havia ido para a empresa,
as coisas parecem difíceis por lá e o trabalho vem se acumulando
tomando todo o seu tempo. Olho pela enorme janela do quarto que
revela um dia nublado e acinzentado, já estamos na época do frio é
bem provável que neve esse ano, procuro colocar uma roupa mais
quente e ir para o trabalho.
Assim que chego dou de cara com Ricardo que me olha torto,
mas não tenta nenhuma aproximação, passo por ele de cabeça
erguida e vou direto para sala de Ronald que vem em minha direção
preocupado.
— Minha menina me perdoe pelas coisas que meu filho te fez.
—Ele suplica enquanto segura minha bochecha as apertando entre
suas mãos.
— Não se preocupe com isso. — Sorrio movida pela compaixão
diante de toda sua preocupação.
— Recebi uma ligação do seu marido me contando o que ouve
ontem, me perdoe por Ricardo ser tão idiota, foram os próprios erros
dele que fizeram você se afastar. — Esse assunto já está ficando
constrangedor.
— Tudo bem! O Senhor sabe que o considero um pai e sempre
vou considerar, pode deixar esse assunto pra lá, já passou. — Dou o
meu melhor sorriso convincente. — Acho melhor eu começar a
trabalhar tenho vários papeis para organizar. — Vou saindo devagar
para ele não perceber.
— Não se esforce demais e nem fique na empresa até de noite.
— Diz com uma expressão triste e cansada.
Meu coração dói ao vê-lo assim, eu realmente o considero um
pai, mas não posso fazer nada em relação ao Ricardo. Ronald
sempre quis que eu me casasse com seu filho e sempre fez de tudo
para manter nós dois unidos. Eu tentei passar por cima de todas as
nossas brigas para ver Ronald feliz, mas isso tudo só estava
causando minha própria infelicidade e quando ele me traiu foi
realmente o fim de tudo.
Volto para minha sala com o coração partido por ver Ronald tão
cansado com a conduta de Ricardo, ele sempre deixou o pai na mão
quando mais precisou e em nenhum momento se prontificou em
verdadeiramente ajudar o pai, apenas a gastar o dinheiro que ele
consegue com muito esforço.
Distraio-me nos papeis que tenho para conferir, mando vários e-
mails para diversas lojas farmacêuticas para saber como andam os
estoques de medicamentos e sem demora chegam novos pedidos de
várias medicações, organizo todos os pedidos passando para o setor
de conferencia dos produtos e quando dou por mim já está no meu
horário de almoço.
Saio com Ray e Willian que me esperam do lado de fora como
sempre e para ser sincera a companhia deles me faz bem. Me
acostumei com os dois atrás de mim para qualquer lugar que eu vá,
eles acabam me fazendo companhia.
Chegamos ao restaurante e faço com que eles entrem para
almoçar comigo, acho tão injusto ficarem apenas olhando, fazemos
nossos pedidos e começo a prestar atenção em uma matéria que
passa na televisão do restaurante enquanto Ray e Willian conversam
entre eles.
A matéria fala sobre a saúde da mulher e entra no tópico
gravidez, é difícil ouvir o que a repórter fala pelo barulho no ambiente
lotado, aparece na tela da televisão os sintomas mais comuns da
gravidez, mudança de humor, náuseas e vomito, atraso menstrual e
vários outros.
Aquelas palavras ecoam na minha mente sem parar e sinto meu
estômago se revirar com o desespero.
Como não percebi antes? Achei que fosse apenas um mal-estar
e cansaço do dia a dia corrido, mas não é nada disso. Me levanto em
um solavanco da mesa fazendo Willian e Ray entrarem em alerta
total com as mãos em suas armas.
— Com licença, volto em um instante. — Pego minha bolsa indo
em direção ao banheiro a passos rápidos sem esperar pela resposta
deles, que me seguem preocupados, mas param ao ver que eu iria
ao banheiro.
Tranco a porta e imediatamente ligo para Katy com o coração a
mil, começo a entrar em desespero e meus olhos lagrimejam em
preocupação.
Eu não estou preparada para ter um filho.
Katy demora para atender o celular, o que só me causa mais
angustia e medo.
— Meg? — Não deixo ela terminar de falar.
— Eu acho que estou gravida. — Digo de uma vez.
— O que? – Ela grita do outro lado, eufórica.
— Katy, é sério eu preciso que passe na farmácia e compre
vários testes de gravidez para mim, Willian e Ray estão comigo eles
não vão me deixar sair sozinha. — Digo desesperada.
— Estou trabalhando. — Diz triste. — Eu não acredito que vou
ser tia. — Grita mais uma vez fazendo com que eu afaste o celular
do ouvido.
— Não é motivo para comemoração. — Falo irritada.
— É claro que é Meg, eu vou ser tia e você vai ser mãe. — Ela
enfatiza a palavra mãe me enviando calafrios pela coluna.
— Isso não importa no momento, apenas sai logo do seu
emprego e vá para o apartamento, vou ligar para Ronald e dizer que
não estou bem.
— Farei isso somente pelos meus sobrinhos. — Diz confirmando
animada.
A ignoro desligando meu celular logo em seguida.
Ligo para Ronald e digo que aconteceu um imprevisto, como
sempre ele é muito compreensivo e diz não ter problema nenhum eu
não trabalhar na parte da tarde. Talvez ele esteja se sentindo
culpado pelo que aconteceu com Ricardo e mesmo me sentindo mal
por usar o ocorrido ao meu favor agradeço por isso me salvar num
momento tão complicado.
Saio as presas do banheiro onde Willian me espera do lado da
porta, suspiro vendo que nem mesmo no banheiro me deixam em
paz. Pago a conta sem ter tocado na comida e deixo o troco lá por
estar com presa.
Invento uma desculpa para os meninos e peço que me levem ao
apartamento de Katy pois ela estava passando muito mal da gripe e
eu preciso cuidar dela. Compreendendo a situação eles seguem
rapidamente até o apartamento dela.
Chego ao mesmo tempo que ela, Willian desce do carro
preocupado e vai até Katy perguntando se ela está bem ou se
precisa de algo.
Ela observa Willian como se ele tivesse duas cabeças e faz cara
de interrogação me olhando.
— Nossa porque não me disse que estava mal da gripe Katy? —
Suplico para que ela entenda minha indireta.
Automaticamente ela começa a tossir e espirrar enquanto
esfrega a mão na ponta do nariz para ficar vermelho
disfarçadamente, mas como se estivesse limpando o mesmo.
— Ah Willian obrigada, mas pode deixar que a Meg me ajuda. –
Ela finge uma voz fanha me surpreendendo.
Às vezes acho que Katy poderia ser atriz de HollyWood.
Sem nem mesmo desconfiar Willian concorda enquanto observa
o estado de Katy com preocupação.
— Obrigada Willian ligo para você vir me buscar mais tarde. —
Aceno para Ray e arrasto Katy para dentro do prédio o mais rápido
possível.
— Que história é essa de estar doente? — Ela me encara
irritada enquanto subimos para seu apartamento.
— Foi a melhor desculpa que eu arranjei para conseguir vir para
cá sem que Willian percebesse, Ray é facilmente influenciado, mas
Willian é esperto. Nós já enganamos ele diversas vezes. — Faço
uma careta suspirando cansada.
— Pior que é verdade. — Ela ri.
— Você comprou? — Pergunto enquanto entramos em seu
apartamento.
— Cinco tipos diferentes não tem como errar. — Ela tira a
sacolinha da bolsa me entregando. — É só fazer xixi no pauzinho. —
Brinca com a situação descaradamente.
— Não é hora de brincadeira, não estou preparada para ser
mãe, na verdade nem sei se Airon está preparado para ser pai
depois de tudo que ele passou. — Meu coração batendo a mil em
desespero e preocupação.
— Eu tenho certeza que ele vai amar Meg. — Ela olha para mim
com um olhar compreensivo.
Pego os testes da mão dela e vou para o banheiro. Abro todos
os testes e leio as instruções de cada um, todos dizem para urinar no
potinho e mergulhar a fita dentro, então assim faço, deixo os testes
enfileirados um do lado do outro enquanto espero o resultado que irá
demorar de um a cinco minutos para ficarem prontos, não
aguentando de ansiedade saio do banheiro a procura de Katy.
— E ai, vou ser tia? — Seus olhos brilham com a expectativa.
— Demoram cinco minutos então ainda faltam dois minutos. —
Suspiro. — Estou com medo.
— Calma você será uma ótima mãe. — Ela me abraça apertado.
— Você não está ajudando. — Suspiro cansada.
Sentamos no sofá e esperamos os testes ficarem prontos. Olho
no relógio de segundo em segundo e nunca imaginei que alguns
minutos demorariam tanto para passar. Assim que bate cinco
minutos no relógio eu levanto com tudo do sofá.
— Vamos ver juntas. — Falo.
Ela segura em minha mão e me arrasta para o banheiro com
presa, abrimos a porta e olhamos uma para outra, caminho com
receio até os testes que estão sobre o lavabo e todos estão com
duas fitinhas.
Katy começa a gritar e pular de felicidade enquanto eu não sei o
que fazer.
— Eu estou gravida Katy. — Começo a chorar de felicidade e
desespero ao mesmo tempo.
— Eu vou ser tia. — Ela grita e pula sem parar.
Me apoio na parede do banheiro digerindo a informação
desastrosa.
Como vou falar para Airon que ele vai ser pai? Suspiro.
— Meu Deus, eu vou ser mãe, Katy. — De repente sinto uma
felicidade tão grande dentro do peito, mas a preocupação me
domina.
— Airon vai ter um surto psicótico. — Passo as mãos tremulas
no rosto.
— Com certeza ele vai. — Ela faz uma careta nada animadora.
— Obrigada por me animar para contar a maravilhosa noticia pro
pai do meu filho. — Digo fazendo careta.
— Para de ser paranoica vai logo contar pra ele, o que você está
esperando? — Ela diz me empurrando.
— Está me expulsando porquê? Sam vai vir aqui? — Pergunto
olhando para ela desconfiada.
— Não sua boba. — Ela fica vermelha com meu comentário e eu
começo a rir. — Vai logo contar para aquele cretino que você está
prenha, vai. — Ela mostra a língua para mim enquanto bate na
minha bunda.
— Nem vou comentar nada sobre o fato de vocês estar me
chamando de vaca. — Pego os testes colocando dentro da caixinha
os guardando na bolsa.
Procuro o celular dentro da bolsa digitando rapidamente uma
mensagem para Willian vir me buscar.
— A Meg é uma vaca e o Airon é um boi, fizeram coisinhas e
agora vão gerar um bezerrinho ou bezerrinha. — Faz gestos com as
mãos e eu começo a rir.
— Para de ser retardada Katy seu nível de demência está
aumentando ultimamente, será que é por causa do Samuel? — Olho
para ela desconfiada.
— Não tem nada a ver com o Sam, afinal nós nem estamos
juntos. — Ela me olha chateada.
— O que aconteceu, vocês não foram jantar? — Pergunto
preocupada.
— Ele é um idiota igual a todos os outros, sei lá, talvez o
problema seja eu e não ele, mas deixa para lá você precisa
encontrar o Airon e dizer que ele vai ser pai. — Ela sorri para mim e
eu a abraço.
— Te amo, qualquer coisa que precisar é só me ligar. — Digo
enquanto a abraço, depois de uns segundos me afasto a olhando. —
Katy deixe Samuel se aproximar de você, não tente afasta-lo. — Vejo
os olhos dela marejados e sorrio. — Você também merece ser feliz,
você sabe que nem todos são iguais.
— Prometo que vou conversar com ele. — Ela sorri me
abraçando novamente.
Me despeço dela e vou embora, Willian já está me esperando
com o carro parado em frente ao prédio, assim que passo pela porta
olho de relance para a esquina do outro lado da rua e acho ter visto
Noah. Fico observando o local e parece ser coisa da minha cabeça,
Noah não saberia onde encontrar Katy, estou muito paranoica, entro
no carro animada com o propósito de não deixar nada estragar meu
humor.
Automaticamente passo a mão sobre a barriga imaginando se
vai ser menina ou menino, eu sempre quis uma menina, mas na
verdade acho que agora quero um menino. Seria maravilhoso ter um
menino com os olhos de Airon, sou tirada de meus pensamentos
com a voz de Willian.
— Como vai a Senhorita Katy? — Ele pergunta me olhando pelo
retrovisor.
— Ela vai bem Willian, não precisa se preocupar é uma gripe
leve. — Sorrio para ele. — Katy gosta de fazer tempestade por
pouca coisa. — Vejo a preocupação nos olhos de Willian e me sinto
culpada por mentir.
— Que bom que ela está melhor. — Ele diz mais aliviado.
— Porque não vai visita-la? Tenho certeza que ela ficaria feliz.
— Digo animada.
— É uma boa ideia Senhora. — Ele sorri.
— Faça isso, ela ficará feliz em te ver. — Sorrio de volta.
Olho para o lado de fora da janela enquanto vejo Londres
passando, estou dando um empurrãozinho para Willian. Sinto que
ele gosta dela, mas não quer admitir, agora só basta Katy decidir
entre Willian e Sam. Ela tem que se libertar de seus traumas e deixar
as pessoas se aproximarem.
Enquanto seguimos de volta para casa resolvo mandar uma
mensagem para Airon, para saber o horário que chegaria em casa.
Após enviar fico olhando para o aparelho esperando a resposta,
meu celular começa a vibrar e vejo que é uma ligação de Airon, meu
coração se acelera e minhas mãos suam, sinto um estranho gelo na
barriga por não esperar uma ligação, ainda não estou preparada
para contar para ele.
— Oi. — Sou interrompida pela sua preocupação.
— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — Ele me enche
de perguntas e eu começo a rir.
— Calma, eu estou bem. — Escuto ele suspirar do outro lado da
linha.
— Achei que você tinha passado mal de novo. — Sua voz sai
em um tom preocupado.
— Eu estou bem, só queria saber se vai demorar para chegar
em casa, eu preciso conversar com você sobre um assunto
importante. — Falo calmamente.
—Pode falar, não estou ocupado no momento.
— Não posso falar pelo celular.
— Você está me deixando preocupado. O que aconteceu?
— Quando você chegar conversamos melhor.
— Meg, é sério, fala de uma vez o que está acontecendo,
alguém te falou alguma coisa? Eu juro que não fiz nada, quando eu
chegar em casa você vai estar lá? Você não vai embora? — A voz
dele está tão preocupada que me faz sentir um aperto no peito.
— Está tudo bem eu não disse que era um assunto ruim é algo
importante, mas é algo bom. Você se preocupa demais meu amor. —
Tento acalma-lo.
— É que não quero te perder. — Sua voz rouca me atinge em
cheio, sou pega de surpresa com suas palavras, não sei quando vou
me acostumar com esse homem romântico.
— Eu sei meu amor, você não vai me perder, ok? Agora vou
deixar você trabalhar. — Vejo Willian me olhando pelo retrovisor e
fico envergonhada.
— Tudo bem pequena assim que terminar essa reunião eu vou
para casa.
— Você disse que não estava ocupado Airon. Porque não me
disse antes? — Meu tom sai mais bravo do que eu esperava.
— Isso não importa, assim que terminar aqui vou para casa sem
discussões. — Sua voz autoritária me faz suspirar.
Cadê o homem romântico de minutos atrás?
— Ok Senhor mandão, só não terá discussões porque acabei de
chegar e porque só te atrasaria, se não teríamos uma longa e
acalorada discussão. — Digo debochada.
— Sempre afiada. — Ele ri do outro lado.
— Até a noite. — Digo encerrando o assunto antes que
entremos realmente em uma discussão acalorada.
Ele se despede e eu desligo o celular descendo do carro, sigo
em direção a cozinha para comer algo já que agora terei de me
alimentar por dois e não posso deixar meu pequeno desnutrido e
morrendo de fome.
Depois de comer um lanche natural que não me fazia mal, subo
para o quarto e tomo um banho demorado e relaxante.
Tenho certeza que Airon não conseguirá sair da empresa antes
das sete da noite por mais que ele tente, então resolvo preparar uma
surpresa para ele, sei que ele vai entrar em colapso quando
descobrir, mas realmente espero que ele goste.
Nós nunca conversamos sobre a possibilidade de termos um
filho, então não sei qual será sua reação, mas realmente espero que
seja boa.
Megan
Procuro Ray por toda a casa e o encontro na garagem ou
oficina, não sei dizer ao certo que lugar é este, mas é enorme cheio
de carros e ferramentas.
— Ray você viu James por ai? — Quero que James vá ao
shopping comigo, ele vai entender que quero fazer uma surpresa
para Airon.
— James ficou com o patrão Senhora. — Ele diz caminhando
em minha direção. — Mas se precisar de alguma coisa eu posso
ajuda-la.
— Você poderia me levar ao shopping se não for um incomodo?
— Digo enquanto espero sua resposta.
— Estou a sua disposição, só espere um momento para que eu
possa pegar as chaves do carro, o Senhor Willian foi visitar a
senhorita Katy. — Aceno com a cabeça esperando.
Willian foi realmente visitar Katy, sinto que morrerei antes de ter
meu filho.
Ray prepara o carro e saímos da mansão em direção ao
shopping sem problemas, no caminho acabo perguntando para Ray
sobre sua família. Ray foi criado por seu pai desde pequeno já que a
mãe foi embora, pois não aguentou a vida de pobreza que eles
levavam. James estava desempregado e sem condições para
sustenta-lo, na mesma época seu pai e o pai de Airon se
conheceram e a história dos dois mudou completamente. Por este
motivo ele tem grande respeito por toda a família Markcross.
Chegamos ao shopping, digo para Ray que vou rapidamente em
uma loja e que pode me esperar do lado de fora, mas como nada é
do jeito que quero ele não aceita e insiste em me acompanhar. Não
queria que ninguém além de Katy soubesse antes de Airon, mas pelo
jeito Ray será o segundo a ficar sabendo.
Ainda não me acostumei com a ideia de ter um segurança atrás
de mim, gosto de Ray e Willian, mas eles podiam pelo menos se
vestirem de maneira menos formal, parece que todos me olham
desconfiados.
Suspiro tirando os pensamentos da minha mente ao avistar uma
loja de bebê, sigo para o interior da loja com o coração acelerado e
as mãos tremulas. Ray me olha desconfiado e entro sem dizer nada.
Começo a olhar as roupinhas e acabo me emocionando, pego na
mão um sapatinho de crochê branco e sorrio com o tamanho, é tão
pequenininho que cabe em meus dedos.
Fico tão encantada com o sapatinho que o levo junto com um
macacão com a frase "Sou do papai".
Ao terminar as compras chamo Ray para irmos embora, ele
ficou em um canto observando tudo em silêncio, apesar de tudo não
me sinto totalmente confortável em comprar os presentes, mas fiquei
extremamente encantada com tudo que a loja tem a oferecer.
— Vamos Ray. — O chamo enquanto caminho.
— Sim Senhora.
— Ray não conte com Airon, é uma surpresa. — Sorrio.
— Seu segredo está seguro comigo e parabéns. — Ele sorri
para mim e posso dizer que Ray é um homem lindo igual ao pai só
que em versão mais jovem.
— Obrigada Ray, vamos, quero chegar antes dele em casa. —
Caminho pelo shopping com um pouco de presa, mas sem deixar de
observar as vitrinas de cada loja.
Assim que chegamos na mansão vou direto para o quarto,
escuto o barulho do chuveiro e me apreso em colocar a caixinha
sobre a cama junto com os exames positivos os deixando
enfileirados esperando Airon sair do banho.
Airon
Não consigo sair da empresa tão rápido quanto imaginei, depois
da reunião tive que revolver uns problemas que Adam estava
causando, ele está mexendo os pauzinhos e isso me irrita.
Quando termino vou para casa, não consigo parar de pensar no
que Megan tem a dizer. Ao chegar sigo para o quarto onde ela
costuma ficar na maior parte do tempo, mas não a encontro em lugar
nenhum.
Um desespero toma conta do meu coração e imagino que mais
uma vez ela foi embora e me deixou. Entro no closet e vejo as
roupas dela no lugar e meu coração se acalma, meu tio Adam pode
aparecer a qualquer momento tentando fazer a cabeça dela contra
mim, então pode ser que ele tentou entrar em contato com ela.
Isso de certa forma me assusta, Adam pode usar qualquer meio
para me atingir.
Ele é muito bom com mentiras e pode colocar Megan contra
mim sem pestanejar. Suspiro descendo para a cozinha onde
encontro Dona Olga fazendo um bolo.
— Boa tarde Dona Olga. — Sorrio para ela.
— Boa tarde menino, tão cedo em casa, aconteceu algo? — Ela
me olha preocupada.
— Megan precisava conversar comigo então vim mais cedo,
mas não a encontro em lugar algum. — Falo me apoiando na
bancada.
— Vi ela saindo com o Ray. — Ela diz enquanto decora o bolo.
— Obrigada Dona Olga. — Dou um beijo em seu rosto e volto
para o quarto.
Descido tomar um banho enquanto espero Megan voltar, tomo
um banho demorado, mas a tensão em meu corpo não me deixa. As
palavras de Megan ecoam em minha mente me deixando aflito.
Tenho saído muito cedo ultimamente, a empresa tem exigido
muito de mim, várias reuniões e assuntos para revolver e quando
chego em casa Megan já está dormindo, não sei se é pelo fato dela
ter começado a trabalhar, mas ela parece estar cada dia mais
cansada.
Me enxugou e coloco uma calça de moletom, ao sair do
banheiro passo a toalha pelo cabelo deixando todos os fios
bagunçados ao secá-los. Assim que passo pela porta vejo Megan
encostada na parede me observando, ela abre um belíssimo sorriso
para mim e eu retribuo.
Só este simples ato faz todas as minhas preocupações se
dissiparem e ela como sempre está linda.
— Oi pequena. — Digo a observando enquanto caminho em sua
direção.
— Oi meu amor. — Ela se aproxima e eu dou um beijo em sua
testa.
Com carinho ela passa os braços envolta do meu pescoço
deixando um leve beijo em meus lábios, retribuo o beijo com amor,
mas minha vontade é de joga-la sobre a cama e fazer dela somente
minha. Controlo meus pensamentos me afastando para poder
observar seus olhos.
— O que queria me falar? — Pergunto de uma vez esperando
que ela comece a falar, mas ela apenas me observava.
Ela aponta para cama e eu me viro olhando um pacotinho de
presente sobre a mesma. Olho para Megan e para o presente sem
entender o que está acontecendo. Prefiro não questionar, então
caminho até a beirada da cama pegando a pequena caixinha de
presente e a olhando.
— Abre. — Ela me incentiva inquieta.
Começo a abrir o presente observando a reação dela, assim que
termino de abrir a pequena caixinha, vejo um sapatinho branco de
bebê e uma roupinha escrito "Sou do pai". Olho assustado sem
entender o que de fato está acontecendo. Meu coração se acelera e
sinto como se minhas forças sumissem e minhas pernas fraquejam
enquanto tento me manter de pé.
— Meg o que é isso? — Pergunto a olhando enquanto ainda
seguro macacão em mãos.
— O que você acha? — Ela sorri.
Olho novamente para o presente e meu coração bate tão forte
dentro do peito que sinto que a qualquer momento ele pode parar.
— Eu vou ser pai? — Faço a pergunta com uma expectativa
tremenda ao mesmo tempo em que temo ouvir a resposta.
— Sim. — Ela sorri para mim com os olhos marejados.
— Isso é sério? — Sinto o ar faltar em meus pulmões enquanto
meus olhos se enchem de lágrimas.
Começo a andar de um lado para o outro em desespero sem
saber o que fazer ou falar — eu vou ser pai — as palavras ecoam em
minha mente enquanto tento manter a calma, mas é tudo em vão.
Passo as mãos nos cabelos tentando me conter, mas a
felicidade e o desespero dentro de mim só aumentam.
— Eu vou ser pai! — As lágrimas escorrem dos meus olhos
enquanto a observo.
— Sim meu amor, você vai ser pai! Eu estava me sentindo muito
mal esses dias então resolvi fazer o teste de farmácia e todos deram
positivo. — Ela caminha em minha direção.
Megan passa as mãos pelo meu rosto enxugando as lágrimas
que escorrem sem parar, suas mãos suaves passam pelos meus
cabelos acariciando meu rosto com a outra mão que estava livre.
— Nós vamos ter um bebê meu amor. — Ela sorri olhando
dentro dos meus olhos e sinto minhas pernas fraquejarem.
— O meu filho, meu pequeno herdeiro, eu vou ter um filho com a
mulher que eu amo? Você está mesmo me concedendo o maior
desejo do meu coração? — Caio de joelhos no chão.
Fico na altura da sua barriga a abraçando e beijando enquanto
deixo as lágrimas lavarem meu rosto, ela passa as mãos pelos meus
cabelos e não paro de encher sua barriga de beijos.
— Obrigado, obrigado por me dar um privilégio tão grande como
esse, obrigado por realizar o meu maior sonho. — Vejo os olhos dela
se encherem de lágrimas. — Meu menino vai nascer. — Abraço mais
forte sua cintura encostando o rosto em sua barriga. — Eu te amo
Megan.
— Eu também te amo meu amor. — Ela passa as mãos sobre os
meus cabelos enquanto deixo as lagrimas escorrerem livres em meu
rosto.
Acaricio sua barriga sem conseguir acreditar que isso tudo é
real. Eu posso estar sonhando ou tendo alucinações, mas seu cheiro
delicioso é único e seus toques suaves e carinhosos me mostram
que tudo isso é verdadeiro.
Megan se ajoelha a minha frente e beija meus lábios me
abraçando apertado, a felicidade dentro de mim é tamanha que meu
maior desejo agora é que o relógio pare para que esse momento
fique registrado eternamente.
Sento no chão a colocando em meu colo enquanto a beijo. Não
me importo, mas em demonstrar meus sentimentos para ela. Eu
realmente a amo e quero que ela saiba e sinta todo o amor que
tenho por ela.
— Meu filho e Minha mulher. — Dou ênfase nas palavras meu e
minha enquanto mordisco o lóbulo de sua orelha.
— Meu homem possessivo. — Ela sorri encarando meus olhos.
Eu sei que as vezes exagero na minha possessividade, mas não
tenho culpa e nem consigo controlar meu ciúme por ela. Já perdi
pessoas de mais na minha vida pelos meus erros bobos e não quero
perde-la, então a única maneira que encontro é mantendo-a perto de
mim.
— Precisamos marcar uma consulta para ver como vai nosso
pequeno. — Ela diz enquanto coloca a mão sobre a barriga.
— Ligarei para uma amiga minha agendando o mais rápido
possível, quero ver meu pequeno logo. — Sorrio para ela colocando
a mão sobre a sua.
— E se for uma menina? — Ela pergunta me olhando
desconfiada.
— Se for uma menina eu espero que ela tenha seus olhos. —
Mordo os lábios dela os puxando para mim e recebo um de seus
maravilhosos sorrisos que eu tanto amo.
Levanto ela em meus braços e a coloco deitada sobre a cama,
começo a beijar seus lábios e seu pescoço enquanto vou tirando sua
roupa lentamente.
A única coisa que peço a Deus é para que esse momento de
felicidade dure para sempre, que não precisemos enfrentar mais
dificuldades, porque a única coisa que quero é ver ela sorrindo e feliz
ao meu lado.
Os dias seguem normalmente, não notei mais a presença de
Noah muito menos de Dylan e isso acalma meu coração. Estava
muito paranoica com o fato de ter visto um deles perto do prédio
central.
Temo que Philipe tente algo contra Airon e não contra mim, mas
agora tenho mais uma pessoa para me preocupar, meu pequeno que
está crescendo dentro de mim.
Passo a mão na barriga involuntariamente sorrindo.
Airon está me tratando como se eu fosse de vidro e fosse
quebrar a qualquer momento.
Ele não me deixa fazer nada, tocar em nada, pegar nada, com
medo que aconteça algo comigo e com nosso filho. Além de ser
extremamente possessivo está extremamente protetor e não quer
que eu vá trabalhar para que eu possa cuidar da minha saúde e do
nosso bebê.
Ele fica completamente carrancudo quando bato de frente com
suas ideias absurdas e descativeis, entendo perfeitamente que ele
tem medo de perder mais um filho, mas não há necessidade de eu
abandonar meu emprego por isso.
Se é difícil lidar com esse homem "possessivamente protetor"?
Digamos que não exatamente, apesar de ser assim ele compreende
e aceita os fatos quando enxerga que está errado.
O difícil mesmo é faze-lo admitir e enxergar que está errado.
Essa parte é quase impossível, porém aprendi a ama-lo assim e
seria estranho vê-lo mudar do dia para noite.
Airon está mais do que animado com o nosso bebê e chega a
ser difícil controla-lo, mas isso o torna mais carinhoso e amoroso.
Sabe, terei pena se meu pequeno for na verdade uma pequena,
seu pai não deixaria ela olhar para os lados e a trancaria em uma
escola de freiras para garantir que nenhum homem se aproxime.
Airon já marcou minha consulta para o final de semana, não
iniciei uma discussão e deixei que fizesse do seu jeito, visto que já
sofreu demais por causa da Samantha.
Sinto a raiva crescer dentro do meu peito ao me lembrar desse
nome e dessa mulher, mas procuro me acalmar.
Olho para o monitor a minha frente e não consigo me concentrar
em meu trabalho, a todo momento me pego pensando em Airon e
em nosso bebê, a consulta ainda vai demorar, mas a ansiedade me
consome.
Eu quero saber como meu bebê está, qual é seu sexo, se está
saudável e de quantas semanas estou.
Airon quer que eu vá trabalhar com ele na CrossRoad, assim
facilitaria minha proteção e também poderíamos passar mais tempo
juntos, mas não quero tê-lo como chefe pois, eu perderia a minha
liberdade e isso seria completamente estranho para mim.
Ele me envia mensagens constantes perguntando se estou me
sentindo bem ou se estou me alimentando adequadamente.
"Ele consegue ser pior que uma mãe coruja."
A única coisa que consigo pensar neste momento é que quero ir
embora e abraça-lo, sentir seu corpo próximo ao meu e dizer o
quanto o amo e o quanto quero estar perto dele.
Observo o relógio e vejo que já está no horário do meu almoço,
saio da minha sala e sigo com os meninos para o mesmo restaurante
de sempre próximo a empresa. Particularmente gosto desse lugar,
apesar de estar sempre lotado e bem movimentado é um local que
me transmite paz e serenidade.
Ray e Willian observam minuciosamente tudo o que eu como e
me obrigam a escolher um cardápio saudável com ordens de Airon.
Essa atitude está começando a me irritar, mas não quero
começar uma briga com ele por estar tão focado no meu bem estar.
Assim que volto para a empresa, Brad um dos recepcionistas,
me entrega um envelope lacrado escrito o meu nome, seguro o
envelope nas mãos olhando para ele sem entender.
— hum... gata um homem mandou te entregar. — Diz
despreocupado.
Meu coração gela ao pensar no que pode ter dentro do
envelope, será que é alguma ameaça de Philipe?
— Quem era o homem? Você não perguntou o nome dele Brad?
— Olho para ele temendo sua resposta.
— Ele se recusou a dizer o nome e mudou de assunto saindo da
empresa, mas ele era alto, e tinha cabelos negros longos até a altura
dos ombros e seus olhos eram de um azul incrível, nunca vi alguém
com olhos como os dele, mas ele tinha uma aparência cansada e
abatida, porém não deixava de ser lindo. — Ele se debruça na
bancada me fazendo rir enquanto descreve o homem que não se
parece em nada com Philipe.
— Você não tem jeito mesmo. — Rio negando com a cabeça.
— Eu não tenho jeito gata? Olha os bofes atrás de você, nem
mesmo se quer apresentou para as amigas. — Ele suspira fazendo
um movimento como se tirasse os cabelos inexistentes dos ombros.
— Vai trabalhar Brad. — Dou um tapa leve em seu ombro e ele
finge se ofender.
— Ainda é agressiva... que mundo é esse? — Suspira revirando
os olhos indignado.
Ignoro o drama de Brad e observo Willian que está com uma
expressão fechada ao meu lado, franzo as sobrancelhas sem
entender o que estava acontecendo, mas antes que eu possa
perguntar algo ele faz primeiro.
— Megan não acha melhor investigamos esse envelope? —
Willian pede desconfiado.
Semicerro os olhos observando seu nervosismo diante daquele
envelope, me sinto desconfiada e realmente acho estranho sua
atitude perante aquele papel pardo.
— Não Willian. — Observo sua reação curiosa, mas ele apenas
assente mudando sua postura para o segurança imponente que é.
Talvez seja apenas coisas da minha cabeça.
O que Willian saberia afinal?
Como Brad já havia parado com o seu drama momentâneo,
descido não provoca-lo e sigo para minha sala antes que ele note
novamente minha presença. Adoro seu jeito, mas as vezes ele fala
demais atrasando meu serviço na empresa com suas fofocas sobre
nossos colegas de trabalho.
Assim que chego na sala fico observando o papel sobre minhas
mãos e ao mesmo tempo que quero abri-lo me sinto receosa e com
medo. A famosa sensação de pavor e curiosidade percorre minhas
veias com algo estranho e indecifrável. Sou vencida pelo medo e
coloco o envelope sobre a mesa deixando para abri-lo mais tarde.
Philipe poderia mandar qualquer pessoa me entregar isso.
Continuo com meu trabalho e hora ou outra me pego
observando o envelope sobre a mesa, a curiosidade começa a
controlar meus pensamentos e seguro-o nas mãos o observando
mais do que deveria.
Sou vencida por aquela inquietação e acabo por abrir o
envelope pardo com cuidado enquanto respiro profundamente, retiro
um papel de dentro onde contém uma carta digitalizada.
Analiso o papel dobrado sem saber ao certo se realmente quero
ler as informações contidas naquela folha, mas a reação de Willian
querendo o papel antes de mim me deixou curiosa para saber o que
estava ali, acabo por desdobrar a folha e começo a ler as letras
computadorizadas.
Airon
Sam me ligou dizendo que recebeu uma mensagem estranha de
Adam e ele não conseguia decifrar a porra do código que ele
mandou. Sinceramente espero que não seja nada de importante e
sim somente mais de suas cansativas ameaças, afinal queria chegar
cedo em casa para conversar com Megan.
Sigo frenético pelos corredores da empresa e abro a porta em
um baque vendo Sam ter um sobressalto com minha entrada nada
discreta.
— Porra cara que susto. — Ele diz irritado com a mão no peito.
— Vamos ao que interessa Sam. Onde está a mensagem do
Adam? — Pergunto igualmente irritado.
Ele abre o e-mail e me mostra.
Fico intrigado sem entender o que ele quis dizer, leio e releio a
mensagem e não tem sentindo algum.
Ele não é de mandar códigos, leio mais uma vez.
— Tem algo errado aqui. O que ele quis dizer com dois
passarinhos? Entendo o fato dele querer se vingar de mim pelas
empresas, mas será que Alice se juntou a ele? — Encaro Sam
confuso.
— Alice não seria tão doida, mas a única coisa que sei é que ele
surtou de vez. — Suspira cansado.
— Airon você acha que Adan se juntou a alguém? - Ele fica
pensativo me observando.
Por alguns segundos permaneço calado pensando no que pode
estar acontecendo e no que Adam está planejando. Existem muitas
possibilidades, mas essa frase é vaga demais para descobrirmos
algo.
Não tem muito sentindo, eu não consigo imaginar o que pode
estar acontecendo, Adam não costuma ter esse tipo de atitude, isso
é completamente novo para mim.
Depois de alguns segundos observando o e-mail a minha frente
o desespero me toma por completo.
— Philipe. —Engulo em seco sentindo um nó se formar em
minha garganta.
— Philipe se juntou ao Adam. — Samuel arregala os olhos
entendo o nível de complexidade que estamos e desespero toma
todo o meu corpo ao saber que Meg está em perigo.
Um forte arrepio de medo passa pelo meu corpo quando me
lembro que Megan foi para casa de Katy e elas ficariam sozinhas.
— Megan e Katy corre perigo. — Pego o celular com as mãos
tremular e ligo para Willian que me atende no segundo toque.
-Senhor.
-Katy e Megan correm perigo, leve as duas para a mansão
imediatamente. –Ordeno não deixando que ele fale algo mais.
— Nem brinque com isso Airon, acabei que encontrar Katy. –
Samuel se levanta com rapidez.
— Eu sei Sam, mas é provável que Philipe odeie Katy e sua
família por terem ajudado ela a fugir. — Falo preocupado enviando
uma mensagem a James para manter os pais de Katy em
segurança.
— Eu juro que matarei Adam se algo acontecer com Katy. É
estranho esses sentimentos, mas eu sinto que ela precisa de ajuda e
proteção. — Passa as mãos pelos cabelos enchendo um copo de
whisky e o virando de uma única vez.
— É interessante vê-lo apaixonado. — Ergo uma sobrancelha o
encarando.
— Cala boca cara isso é diferente. — Me olha com irritação.
— Tente ligar para Katy, Megan provamente não atenderá. –
Faço uma careta ao me lembrar da nossa briga e distância
-Brigas? –Samuel pergunta discando para Katy.
-Ela descobriu sobre o contrato falso. –Me limito em dizer e a
careta de Samuel já diz tudo.
Eu sei, eu pisei na bola feio e confesso meus erros, mas eu
acredito que mereço uma segunda chance.
-Ela não atende. –Samuel diz preocupado.
Fico inquieto enquanto espero uma resposta de Willian dizendo
que as duas estão em segurança. Meu celular começa a tocar e
rapidamente o pego pensando ser Ray ou Willian, mas sinto meu
coração se aliviar ao ver que era Megan.
— Meg? — Chamo preocupado.
— Airon, não... — Ela grita angustiada e desesperada meu
coração se acelera e minha respiração fica descompassada quando
escuto um estalo alto seguido de um gemido de dor.
— Megan? — Grito preocupado.
Outro estrondo me deixa em alerta e Megan grita o nome de
Katy enquanto a ligação é cortada.
Estou em choque, em desespero, completamente aturdido e
passado com a ligação. Eu não acredito que deixei Megan ser pega
por aquele desgraçado, com toda certeza eu matarei os dois com
minhas próprias mãos.
Meu telefone toca novamente e acredito ser Adam querendo
alguma negociação, mas vejo que é Willian e atendo rapidamente.
-Senhor chegamos tarde. –Diz com pesar.
-Exijam as câmeras de segurança e não saiam daí até
finalmente terem todos as filmagens da rua e do interior do prédio. –
Ordeno desligando.
Me levanto cego de ódio e quero guardar cada grama da minha
raiva para descontar em Philipe e Adam quando tiver a oportunidade
de colocar as mãos neles.
— O iremos fazer? –Samuel me observa igualmente nervoso e
irritado.
-Irei usar a única pessoa que realmente pode lidar e bater de
frente com Philipe. –Aperto o celular entre os dedos.
-Não gosto desse homem. –Samuel suspira.
-Não temos muitas opções, se Philipe é o que realmente falam,
deve temer Durval assim como muitos, afinal ele não é um simples
mafioso. –Murmuro discando o seu número para lhe cobrar favores
antigos.
— Ainda continuo não gostando dele, mas compreendo o nível
de complexidade da situação. — Samuel faz uma careta ciente de
que Durval era nossa única opção.
Megan
Foco todo a minha atenção nos sons a minha volta e nos cheiros
que consigo sentir, por estar vendada e amordaçada sou obrigada a
colocar em pratica meus outros sentidos para tentar descobrir onde
estão me levando.
O barulho da cidade ainda é intenso então, sei que ele não está
me levando para um lugar muito afastado, mas sabendo que Philipe
está na jogada tenho certeza que irá procurar um lugar inacessível
para outras pessoas.
Como imaginei o barulho da cidade logo fica distante dando
lugar a calmaria e ao silêncio enquanto seguimos sem parar.
Não tenho noção de quanto tempo faz que estamos viajando,
mas sei que já se passaram algumas horas. Me sinto cansada com
dores nos braços por estar com os pulsos amarrados sem poder me
movimentar adequadamente.
Depois de um longo caminho em uma provável estrada de terra
cheia de buracos que me fez balançar para todos os lados várias e
várias vezes e bater a cabeça no vidro, o carro finalmente para e
Adam me segura pelo braço me fazendo descer de modo indelicado.
— Vamos cadelinha. — Ele sussurra em meu ouvido me
assustando.
Bufo irritada, esse cara é um maluco doentio.
Sou arrastada para um lugar que não faço a mínima ideia de
onde é e para ajudar não escuto nada em minha volta.
Tudo está em completo silêncio.
O ranger de uma porta me faz virar a cabeça e atentamente
prestar a atenção nos sons inexistentes do ambiente. Sou obrigada a
subir uma escada aos tropeços até ser forçada a me sentar em uma
cadeira e amarrarem minhas mãos no encosto para impedir uma
provável fuga.
— Meg? — Escuto a voz de Katy.
— Katy... Katy você está bem? — Pergunto virando minha
cabeça em direção a sua voz, mas o pano preto impede minha visão.
— Quem te trouxe para cá? — Pergunto com medo da resposta.
— Noah e Ethan, eles sabiam que eu era boa de luta e me
atacaram em dupla. — Diz irritada.
— Aqueles covardes desgraçados. Nunca fiz nada para eles e
sou obrigada a passar por tudo isso novamente, por Deus, não sei o
que fiz para merecer tudo isso. — Falo irritada entre lagrimas.
— Caladas. — Os pelos do meu corpo se eriçarem ao ouvir a
voz grave.
Tanto eu quanto Katy ficamos em silêncio, já sabemos
exatamente até que ponto a loucura de Philipe vai.
Minha venda é tirada e a luz forte do local quase me cega, tenho
que piscar várias vezes para me acostumar com a intensa claridade.
Olho ao redor e tudo está desfocado, mas logo a imagem a
minha frente fica nítida e posso ver um quarto antigo de chão de
madeira velho e empoeirado.
Katy está sentada em uma cadeira ao meu lado, amarrada como
eu. A diferença é que seu rosto já está coberto por marcas roxas de
uma possível luta e um corte na boca.
Philipe caminha pelo quarto fazendo as tabuas rangerem com
seu peso e mesmo que tente acalmar meu coração o pânico e o
desespero tomam conta do meu corpo.
— O que você quer de mim? Eu nunca te fiz nada e você
sempre me maltratou como se eu fosse um nada. — Digo com
desprezo o olhando.
Ele se aproxima segurando meu rosto com uma de suas mãos
apertando minhas bochechas já machucadas por Adam.
— Eu mandei ficar calada. — Ele coloca mais pressão no aperto
me fazendo franzir as sobrancelhas de dor.
— Meg, não escute esse maníaco. — Katy fala e Adam puxa
seus cabelos.
— Não toque nela, vocês querem a mim, não ela, deixem a Katy
em paz. — Tento gritar, mas com a mão de Philipe apertando meu
rosto fica difícil.
Adam puxa ainda mais os cabelos de Katy a fazendo gemer de
dor. Tento me livras da mão de Philipe, mas ele desfere um tapa tão
forte em minha bochecha que sinto o gosto de sangue em questão
de segundos e minha visão se embasa com a tontura que me
domina.
— Você é desprezível e sua fuga me custou um bons milhões, e
tudo por sua causa. — Ele se volta para Katy. — Não consegui
concluir meus planos.
Se aproxima de Katy desferindo um tapa no rosto dela como fez
comigo.
— Sua linda Megan vai ser torturada lentamente enquanto você
não pode fazer nada. — Philipe arranca a venda de Katy de uma vez
e desfere outro tapa em seu rosto.
Me debato na cadeira tentando me soltar, mas é impossível.
Ela fica perdida por alguns segundos devido a luz forte, mas
assim que seus olhos se acostumam com a claridade do local eles
fixam nos de Philipe com desprezo.
— Se você acha que isso vai me parar está enganado. — Ela
avança em cima de Philipe e ele dá alguns passos para trás, mas
antes de ser impedida por Adam, consegue acertar o rosto dele com
cuspi cheio de sangue.
Tenho vontade de rir, mas me controlo para não deixa-lo ainda
mais em fúria.
— Vadia. — Ele avança em Katy com ódio, mas Adam impede o
segurando.
— Ira matá-la se fizer isso. — Ele diz com fúria.
Depois de alguns segundos em que Philipe tenta manter a
sanidade mental e Katy sorri satisfeita, ele nos observa com os
punhos cerrados até continuar.
— Vou ligar para o homem que você chama de marido e você
vai agir naturalmente como se nada estivesse acontecendo, estamos
entendidos? — Ele pergunta segurando meus cabelos me fazendo
olha-lo nos olhos.
— Sim. — Não contesto por medo dele atingir algum soco em
meu abdômen.
Ele pega meu celular e disca o número do Airon colocando no
viva voz, depois de alguns toques a voz de Airon preenche o
ambiente fazendo meu coração acelerar, automaticamente as
lágrimas escorrem pelo meu rosto com medo do que será de nós.
— Airon. — Minha voz sai embargada e cheia de medo.
Ele com certeza virá atrás de mim. Virá atrás de Philipe
querendo vingança, mas não posso deixar que isso aconteça, não
posso colocar a vida de Airon em risco assim como a minha e de
Katy.
Philipe não medirá esforços para me atingir e tentará colocar um
fim em meu relacionamento para que possa concluir seus planos,
não posso deixar isso acontecer.
O tom de voz desesperado de Airon me indica que ele já sabe o
que está acontecendo, porém não tem certeza se estou ou não bem.
Por medo e desespero de que algo aconteça com Airon acabo
agindo por total impulso.
— Airon, não... — Minha frase é cortada por um tapa tão forte
que fica inevitável não gemer de dor e sentir meus sentidos sumirem
por milésimos de segundos.
Ele vai até uma mesa cheia de utensílios estranhos e segura um
chicote nas mãos batendo com força nas pernas de Katy fazendo
com que ela grite de dor.
— Katy. — Grito vendo o local onde ele bateu pontilhar gotas de
sangue e escorrer.
— Se você me desobedecer quem pagará será sua amiga
então, fique com essa merda de boca fechada. Se aquele
desgraçado do seu marido vir atrás de você, terei o prazer de tortura-
lo na sua frente e depois mata-lo lentamente. — Ele sorri.
— Seu maluco doentio, espero que você morra e definhe na
cadeia, eu te odeio, seu desgraçado, eu juro que vou esmurrar sua
cara quando eu sair daqui. — Cuspo as palavras totalmente irada e
logo vejo a consequência.
Levo uma forte pancada na cabeça que me deixa
completamente atordoada e perdida.
— Vamos Adam, voltaremos mais tarde. — Philipe sai da sala
irritado.
Airon
Cobrei os favores que Durval me devia e ele já está à procura de
Meg por toda a cidade. Sabendo que Philipe tem seus contatos
Durval acabou cobrando favores de alguns de seus devedores
apenas para me ajudar, afinal se tem algo que ele odeia é o
envolvimento de mulheres inocentes em casos como esses.
Durval é o chefe da máfia britânica e eu já trabalhei para ele por
alguns anos, por isso meu passado não me agrada totalmente, mas
me dá a oportunidade de lhe pedir favores como agora.
Samuel está aflito, desnorteado e não sabe o que fazer para
recuperar Katy. Ele não gosta de Durval, mas não vê outra saída.
Para ser sincero nunca vi ele tão maluco como agora, ele jamais se
apegou a mulheres e no quesito "galinha" Samuel com toda certeza
já está em níveis alarmantes.
Katy mexeu com ele de tal maneira que as vezes acho que a
qualquer momento ele poderá entrar em colapso, mas consigo
entende-lo perfeitamente pois meu medo de perder Megan e meu
filho me enlouquece.
Deixei a empresa nas mãos de Melissa, ela surtou, endoidou e
quase pirou quando se viu obrigada assumir todas as
responsabilidades de um empresário.
Ela terá que participar de algumas reuniões que não
conseguimos desmarcar e fechar os negócios por mim. Geralmente
deixo esses afazeres para Sam, mas não estamos em condições de
suportar horas e horas dentro de uma sala ouvindo propostas de
outros empresários.
James conseguiu as imagens do prédio de Katy e a única coisa
que descobrimos foi que Adam levou Megan em um SUV preto sem
placa. O que me surpreende é que ele conseguiu convencê-la a ir
por vontade própria, com toda certeza usou alguma chantagem para
persuadi-la.
As horas se arrastam rapidamente e isso me enlouquece a cada
segundo meu coração parece que vai explodir e o desespero me
enlouquece. Eu amo Megan e não posso perdê-la.
Passo as mãos no rosto tentando dispersar nossa conversa de
hoje, não tive a oportunidade de me desculpar corretamente, de dizer
olhando em seus olhos o quanto a amo, pois ela está magoada
demais com minhas mentiras.
Eu preciso tê-la em meus braços novamente, preciso ter a
certeza de que ela está bem e de que nada de ruim irá acontecer.
A noite toma o céu e não tenho nenhuma notícia significativa de
Megan. É frustrante ser obrigado a esperar informações de Durval e
não poder fazer nada para ajudar.
Pelo menos temos a certeza de que Philipe não saiu de Londres
e pelo que Durval me falou câmeras da rodovia registraram a saída
de um SUV preto sem placa. Durval acredita que Philipe está em
alguma fazenda abandonada. O único problema é que o local
escolhido por Philipe é cheio de fazendas abandonadas e não temos
tempo para fazer uma busca em todas.
Acabo por dar um murro na parede ao lembrar do gemido da
Meg e do grito de Katy. Descido tomar um copo de Whisky para ver
se meus níveis de raiva e adrenalina abaixam um pouco e acabo por
virar dois copos de uma vez. É como se álcool não surtisse efeito em
meu organismo e nem mesmo a sensação do líquido forte rasgando
minha garganta diminui a dor do meu peito.
Odeio me sentir impotente, quero trazer Megan e Katy de volta.
Me sinto responsável pelas duas, eu prometi que as protegeria e
agora Philipe e Adam colocaram suas mãos sujas e imundas nelas.
Me sinto completamente incapaz e culpado diante desta
situação, na verdade eu deveria ter sido mais insistente com Megan
e jamais ter deixado que Ray ou Willian a deixasse sozinha, mas
nunca me passou pela mente que Philipe usaria Katy e Adam para
conseguir pegar Megan.
Dessa vez meu tio passou dos limites e não medirei esforços
para vê-lo completamente longe do meu caminho, eu não terei
piedade. E se por ventura Alice estiver participando desse sequestro,
acabarei com sua vida assim como a de Adam e Philipe.
Megan
Megan
Estou com sede e com fome, minha barriga ronca
descontroladamente e meu único pensamento está ligado a Airon.
Realmente queria estar envolvida em seus braços fortes.
Levo um tremendo susto quando escuto gritos de dor abafados
pelas paredes, Katy me olha assustada e o desespero toma conta
dos nossos corações, os gritos masculinos aumentam conforme as
horas passam e o medo de Philipe estar machucando Airon me
domina.
— Katy o que é isso? — Pergunto assustada e com medo.
— Não faço ideia, mas não é boa coisa. — Diz com uma
expressão de medo que nunca vi antes.
-Será que Philipe conseguiu pegar Airon? - A observo
desesperada. –Não consigo ouvir nada além de gritos é difícil
identificar. –Algumas lágrimas rolam dos meus olhos imaginando o
pior.
-Se aclame Meg, Airon pode ser um idiota, mas não cairia nas
armadilhas de Philipe com tanta facilidade. –Fala com convicção.
Suas palavras me acalmam um pouco, mas os gritos
aterrorizantes continuam por vários minutos e finalmente cessam.
Não demora muito e a porta do quarto é aberta em um baque
assustando tanto a mim quanto Katy.
Philipe joga Ethan e Noah completamente machucados e
ensanguentados aos nossos pés e observo a cena totalmente
horrorizada e chocada.
Noah está com o olho inchado e roxo, as roupas rasgadas e
vários cortes pelo corpo, sem contar a enorme quantidade de sangue
espalhados pelo seu corpo. Já Ethan não tem o olho roxo, mas seu
nariz sangra e sua boca tem um corte profundo, em seu corpo
marcas de vergões com pontilhados de sangue escorrido como os
das pernas de Katy.
Oh meu Deus, ele torturou os próprios filhos? Olho para a cena
chocada e apavorada.
— É isso que acontece com os traidores. — Philipe me observa
com um sorriso no rosto e não consigo conter minhas lágrimas.
Ele se aproxima de mim me desamarrando da cadeira.
— Philipe não. — Grito tento pará-lo, mas ele segura meus
cabelos me arrastando para fora da sala. –Não.
Seguro suas mãos sentindo a dor reverberar pelo meu corpo, o
desespero toma conta de mim e impulsivamente tento me soltar.
-Meg, não. -Katy grita desesperada. –Philipe pare por favor.
Katy tenta se soltar do aperto da cadeira enquanto Philipe me
arrasta pelo quarto sem se importar, mesmo machucado Noah se
levanta atordoado e parte para cima do pai, mas é impedido por um
chute forte no abdômen que o faz cair no chão gemendo de dor.
Mesmo sabendo que não adiantaria lutar, tento ao máximo me
soltar de suas mãos, mas ele apenas me arrasta pelos corredores da
casa grande e desconhecida até um quarto separado dos demais.
Meu estômago se embrulha ao sentir o cheiro de sangue seco e
podre tomar o ambiente. Não sei a quantos dias Philipe está nessa
casa, mas vejo que utilizou esse quarto para torturar várias pessoas.
Os enjoos aumentam e sou obrigada a reprimir as ânsias que
querem me tomar por medo de Philipe desconfiar da minha gravidez.
***
Sonolenta brigo com meus próprios músculos os forçando a me
sustentar, meus braços estão dormentes e meus ombros e pulsos
doem. A cada segundo o quarto fica mais frio e minha dificuldade de
respirar aumenta. Meu pescoço parece não aguentar sustentar o
peso da minha cabeça e sou obrigada a apoiar o rosto em meu braço
na tentativa de manter os olhos abertos.
Tive tempo suficiente para pensar em cada fase da minha vida,
tanto as boas, quanto as ruins e em nenhuma delas encontrei o que
fiz de errado para Philipe me perseguir e odiar tanto.
Meus pensamentos são quebrados quando ele entra acendendo
uma luz forte que machuca meus olhos. Estou tão fraca que é difícil
erguer a cabeça e encara-lo. Sinto minha boca amarga e a sede me
incomodada e preocupação com meu bebê aumenta.
— Água. — Peço em um fio de voz e ele sorri negando.
Suspiro tentando me manter acorda, mas a escuridão bate em
meus olhos enquanto luto com ela com todas as forças que ainda me
restam.
Philipe se aproxima de mim e segura meus cabelos me fazendo
olha-lo nos olhos, fico o encarando sem nada dizer.
— Porque fugiu de mim? — Seus olhos não demonstram um
pingo de arrependimento, somente raiva e desprezo.
— Eu ouvi sua conversa com aqueles homens, você ia me
vender para um prostibulo. — Falo com dificuldade.
— Perdi muito dinheiro por sua causa vadia. — Diz irritado
andando de um lado para o outro.
—Você é doente Philipe. –Rio irônica. –Doente a ponto de
maltratar e torturar os próprios filhos.
— Calada. — Ele acerta minhas costas com um chicote e a
minha única reação é gritar. — Eles mereceram o que tiveram, o que
você sabe? — Ele desconta sua raiva em mim me batendo em vários
lugares com o chicote.
Grito sentindo minha pele se rasgar em contato com as pontas
do chicote.
— Sabe o porquê de tudo isso? — Pergunta ofegante e eu não
respondo nada, não tenho forças para isso.
Apenas junto minhas mãos com força nas correntes para
aguentar o peso do meu próprio corpo, enquanto sinto cada
chicotada ardendo em minha pele.
— Vou te contar uma história muito interessante. — Ele me olha
e vejo seu olhar mergulhado em um passado distante. — Havia uma
mulher chamada Jessye, era uma latina linda que mudou-se para os
Estados Unidos em busca de uma melhora de vida junto com a
família. Ela conseguiu um emprego na mansão dos Avallon, linda e
charmosa, pele morena, delicada, esbanjava sua graça por onde
passava, mas nenhum Avallon era permitido se quer chegar perto de
uma empregada ou manter um relacionamento. Ela simplesmente
me encantava, mas nunca prestou atenção em mim apenas em
Lucas. Como eu sabia que nenhum Avallon tinha permissão para se
aproximar de uma empregada, nunca me preocupei com Lucas. Eu
havia planejado tudo, nós fugiríamos e eu a faria feliz, mas ela
recusou minha oferta e dias depois descobri que ela estava grávida
de Lucas. Meu irmão deixou tudo, ele apagou seu nome da família
para ficar com a Jessye e eu tive que ver a felicidade deles de longe,
os odiando mais a cada dia que se passava. — Fico chocada com a
história.
Ele não tem direito de falar dos meus pais, eles lutaram por sua
felicidade e para me darem uma vida de paz.
— Agora você sabe o porquê querida, você se parece muito com
ela, parte meu coração te ver tão vulnerável e indefesa, ver seu lindo
rosto sangrar, mas se você não tivesse nascido ela seria minha
mulher e não a de Lucas. — Ele balança a cabeça negativamente.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e o ódio que sinto pelo
homem a minha frente só aumenta.
Como ele pode ser tão mesquinho e arrogante? Tão horrível?
— Seu, maluco, sádico, você me culpa por uma coisa que nunca
seria sua, minha mãe nunca te amou e agradeço a Deus por isso,
seu louco, nojento, você é podre, os Avallon's são podres e racistas,
eu tenho nojo desse nome. — Cuspo as palavras com nojo e raiva.
Philipe é completamente maluco e doente essa é a realidade,
não tenho palavras para descrever o quão nojento, desgraçado e
horrível ele é.
Ele puxa uma arma da cintura e aponta para minha cabeça, eu
sorrio para ele demonstrando que não tenho medo, mas na verdade
estou implorando para que aconteça um milagre antes que ele tire
minha vida.
Um estrondo faz com que eu me assuste e Philipe entra em
alerta observando a porta com um grande sorriso no rosto. Sem dizer
nada, guarda sua arma e sai do quarto as presas enquanto agradeço
a Deus mentalmente por ter salvo minha vida e a do meu filho mais
uma vez.
Espero que seja Airon, pois não aguentaria muito ali. Meu corpo
estava fraco demais e minha mente já não aguentava mais lutar
contra o cansaço e sono.
Não demora muito e Philipe volta com seu sorriso doentio no
rosto. Ele se posiciona atrás de mim segurando meus cabelos
fazendo com que eu olhe para frente enquanto mantem a arma
apontada para minha cabeça.
— Seu precioso marido chegou, vamos ver quem sai vivo nessa
história? — Ele sussurra em meu ouvido.
Um arrepio passeia por todo o meu corpo temendo o que
poderia acontecer com Airon, eu não quero perde-lo essa é minha
única certeza.
Airon
Nós encontramos com Durval e me surpreendi ao ser levado a
sua casa, ele não costuma convidar visitantes para o local, mas
acredito que a situação em que nos encontramos pede um lugar
mais reservado e equipado.
E como esperava Durval, preparou seus melhores homens e
carros, pelo que Dylan falou seu pai contratou muitos homens para
fazerem a segurança do local e impedir que qualquer aproximação.
Durval não é um homem de muita comunicação, se ele tem um
trabalho a fazer seu foco com certeza estará completamente voltado
para seu dever e isso me satisfaz, pois ele não costuma falhar.
Na verdade, desconheço o dia que esse homem falhou.
Partimos sem demora e Samuel está inquieto ao meu lado. Um
verdadeiro poço de emoções que não consegue conter a adrenalina
em seu próprio corpo.
Começo a ficar irritado quando se passam trinta minutos e Dylan
diz que estamos apenas na metade do caminho. Como podia
demorar tanto para chegarmos nessa fazendo se estamos
quebrando todos os limites possíveis de velocidade.
Durante o trajeto minha mente fértil cria vida para mil
possibilidades do que Philipe poderia fazer com Megan e o medo
domina cada parte do meu corpo. Eu não posso perde-la, simples
não posso e desespero coroe cada parte do meu corpo.
Depois de quase uma hora entramos em uma estrada de terra e
cerca de vinte minutos depois avistamos o esconderijo. Realmente é
um local fechado e a casa está cercada por homens armados.
Durval no carro da frente com seus homens não pensa duas
vezes em mandar bala nos homens que cogitavam a possibilidade
de nos parar. Aquilo não deveria me surpreender, mas surpreende.
Após ver vários corpos caídos e a maioria deles fugindo por
estar em desvantagens. Durval desce segurando seu chapéu
enquanto brinca com a metralhadora atirando para todos os lados.
— Esse homem dá mais medo do que eu poderia imaginar. —
Dylan fala assustado.
— É. — Samuel concorda igualmente surpreso com a atitude de
Durval.
Com uma mão Durval indica que o local está limpo para
entramos, os homens de Duval correm pelo campo atrás dos
possíveis aliados de Philipe enquanto o próprio nos dá cobertura.
Seguimos juntos para a casa e assim que chegamos Durval se
encarrega de mandar a porta abaixo com alguns tiros no trinco e um
único chute. Vários homens armados tentam impedir nossa
passagem, mas James, Willian, Ray e Dylan entram na frente.
Samuel, Durval e eu esperamos do lado de fora até que tudo
esteja limpo para chegarmos até as meninas. Não demora muito
para que finalmente iniciemos nossa busca no interior da casa e vejo
que Ray levou um tiro de raspão no braço e Willian tem um corte na
boca.
Procurei em todos os cômodos da parte de baixo, mas elas não
estavam ali, pelo caminho encontro alguns homens e sou obrigado a
usar a força para que saiam da minha frente.
Juntos seguimos para o andar superior, mas acabamos nos
separamos para agilizar ainda mais a procura. James opta por ficar
comigo, enquanto os Willian, Samuel e Dylan seguem para o lado
oposto. Durval optou por ficar na parte de baixo para garantir que
ninguém escape ou tente nos interromper.
Todos os quartos estão vazios, mas o que está começando a me
irritar é o fato de não encontrar Megan em nenhum deles. Eu juro
que matarei Dylan se ele mentiu para mim.
Os sons de tiros constantes me deixam eufórico e mesmo
avisando Durval que não era para matar ninguém e sim ferir, ele não
deu ouvidos.
Chegamos a última porta do corredor essa é nossa única
esperança, Megan só pode estar aqui.
Ela tem que estar aqui!
James me observa esperando a ordem para arrombar a porta,
seguro a arma firmemente em mãos fazendo um aceno em
confirmação. Entro com tudo segurando a arma e a imagem que
tenho faz meu coração parar.
Megan está dependurada por correntes que seguram seus
braços suspensos, seu rosto e braços descobertos tem várias
marcas roxas e sangue escorrido, seu nariz sangra, sua roupa está
rasgada deixando visível os vergões com sangue.
Philipe se mantem atrás da minha menina a usando com um
escudo enquanto segura os cabelos dela com uma mão fazendo-a
olhar para cima. Aponta a arma para sua cabeça com um sorriso
vitorioso e o ódio dentro de mim cresce abruptamente.
Agradeço por James não ter entrado junto comigo, pois assim
tínhamos uma carta na manga em uma situação como essas.
Megan olha dentro dos meus olhos enquanto chora silenciosa,
seus lábios cortados e inchados balbuciam meu nome em um fio de
voz que faz meu coração se estilhaçar.
Ela não merece passar por isso. Sinto as emoções se
engasgarem em minha garganta e sou obrigado a engoli-las para me
concentrar no homem a minha frente.
— Olhe... se não é o maridinho superprotetor. Tive vários
problemas para conseguir tirar essa pequena fugitiva de você. —
Philipe aperta ainda mais os cabelos de Megan a fazendo gemer de
dor.
Seguro com força a arma em minhas mãos enquanto a aponto
para ele.
— Seu desgraçado. — Dou um passo para frente e ele aperta o
cano da arma contra a cabeça de Megan me fazendo parar.
— Quietinho ai, e solte a arma ou eu vou atirar nela. — Ele
ameaça apertando ainda mais a arma contra a cabeça de Megan
fazendo-a fechar os olhos rapidamente devido a dor.
Assim que seus olhos se fixam nos meus o medo está
estampado neles, ela está estática e paralisada, muito fraca e
debilitada e não posso fazer escolhas erradas então, abaixo
lentamente a arma olhando para Philipe.
— Isso mesmo. — Diz sorridente.
Coloco a arma no chão e me levanto lentamente.
— Chute para mim. — Pede.
Faço o que ele manda chutando a arma em sua direção, assim
ele aponta sua arma em minha direção colocando uma de suas
mãos na cintura de Megan a apoiando de pé. Travo o maxilar e fecho
as mãos em punho sentindo ódio e a adrenalina correndo em minhas
veias.
— Eu sempre te achei um bom rapaz, mas você escolheu a
mulher errada para se envolver. — Diz com superioridade e um largo
sorriso no rosto.
Estou locou para enfiar um belo soco em seu nariz, mas limito
meus pensamentos.
— Eu avisei que você veria seu amado morrer em sua frente. —
Philipe sussurra no ouvido de Megan, mas com o silêncio do local
posso ouvir perfeitamente o que ele diz.
O seu corpo pequeno e frágil estremece nos braços de Philipe
enquanto suas lágrimas não param de escorrer. Ela está pálida e
seus lábios estão sem cor e sem vida.
Philipe ajeita sua mira em minha direção e eu tento pensar em
algo rápido, mas é impossível sabendo que algo pode acontecer com
ela.
Tomada pelo desespero ela sorri para mim e sussurra um "Eu te
amo" enquanto seus olhos me lançam um pedido silencioso de
perdão. Balanço sutilmente a cabeça em negativo implorando a Deus
que ela não faça nada.
Tudo se passa em questão de segundos, mas vejo em câmera
lenta diante dos meus olhos.
Megan afasta a cabeça com tudo e vai de encontro ao rosto de
Philipe fazendo sua cabeça se chocar com o nariz dele. Com a dor
ele cambaleia para trás com a mão no nariz, mas com o baque
acaba apertando o gatilho e logo em seguida solta a arma a
deixando cair no chão.
Escuto o grito de dor vindo de Megan e o desespero dilacera
meu peito me fazendo tremer, vejo o sangue escorrer em suas
costelas, mas mesmo assim ela consegue chutar a arma de Philipe
em minha direção.
— James. — Grito enquanto as lágrimas escorrem pelo meu
rosto.
James entra na sala e se assusta ao ver Megan.
— Cuida da Megan. — Ordeno.
Sem pensar duas vezes me jogo sobre Philipe no chão que
ainda se mantem com a mão no nariz vendo o sangue jorrar do
mesmo. Prendendo seu corpo com minhas pernas desconto toda a
minha ira e raiva desferindo socos em seu rosto. Ele ainda tenta se
defender e me acertar, mas não consegue.
Minha raiva é tanta que a dor em minha mão passa
desapercebida, eu apenas quero acertar seu rosto com os meus
punhos.
— Cadê seu sorriso sarcástico e sádico agora seu desgraçado?
— Digo desferindo uma sequência de socos nele parando somente
quando o vejo desmaiado no chão.
James intervém minha luta me tirando de cima dele, remorso,
medo e pena são coisas que eu jamais sentiria se soubesse que ele
morreu. Na verdade me sentiria extremamente feliz, mas o infeliz
ainda respira mesmo com dificuldade e minhas mãos e roupas estão
sujas de sangue.
— Airon você não precisa mata-lo, você não é um assassino,
temos que tirar Megan daqui e leva-la para o hospital, rápido. —
James quebra meus pensamentos.
— Megan. — Olha para minha menina que levou um tiro de
raspão na costela e por um momento achei que havia lhe perdido.
Abraço seu corpo pequeno e machucado com cuidado enquanto
James termina de soltar suas mãos. Assim que as algemas são
soltas os braços dela caem ao lado de seu corpo, a seguro nos
braços aninhando sua cabeça em meu peito e a ouço gemer
baixinho. James cobre seu corpo frio e pálido com seu paletó.
Ela encosta a cabeça em meu pescoço e com dificuldade sorri
tentando erguer um braço para tocar meu rosto mais geme de dor.
— Sssh pequena, eu estou aqui agora, se acalme. — Seus
olhos verdes e cansados não escondem o brilho de felicidade ao me
ver e isso faz meu coração se apetar. — Desculpa ter demorado para
chegar. — Minha voz sai embargada e sem me importar deixo as
lágrimas pesadas escorrem por meu rosto.
Ela apenas assente e fecha os olhos cansados ajeitando sua
cabeça sobre meu peito, um desespero toma conta de mim ao vê-la
fechar os olhos. É como se ela estivesse morrendo em meus braços
e fico estático segurando seu corpo leve.
Eu não posso perde-la, não posso, meu corpo treme em
resposta ao meu desespero e James coloca sua mão em meu ombro
me trazendo para a realidade.
— Se acalme Senhor ela está apenas dormindo. — James
aperta levemente o local onde mantem sua mão me passando
forças. — Precisamos leva-la ao hospital, ela está muito fraca e isso
pode prejudicar o bebê, além disso precisamos encontrar a Senhorita
Katy. — James diz saindo do quarto deixando o corpo de Philipe
caído no chão.
Observo mais uma vez o corpo adormecido de Megan e me
culpo por ter sido um inútil e não chegar mais cedo para salva-la,
mas o alivio toma conta do meu corpo por ter minha garota em meus
braços.
Katy e Megan foram levadas para a emergência assim que
chegamos ao hospital, mesmo querendo saber o que aconteceu,
impediram nossa entrada e Samuel ficou tão atônito aponto de brigar
com um dos enfermeiros ameaçando processar o hospital.
Depois de ver que suas ameaças não surtiriam efeito algum se
acalmou um tanto quanto chateado e se sentou ao meu lado a
espera de notícias.
Como sei que não adiantaria de nada tentar entrar sem
permissão, a única opção é esperar. Ao longo das horas passamos
por um interrogatório explicando detalhadamente tudo o que
aconteceu com Megan e Katy para um enfermeiro.
Não sei há quantas horas estamos aqui, mas tanto eu quanto
Samuel já estamos irritados e inquietos pelo fato de não termos
notícias das duas. Samuel apoia os cotovelos nos joelhos e a cabeça
nas mãos contando os segundos para que alguém apareça com
notícias.
Uma pessoa para em minha frente e esperançoso ergo meu
olhar com grande expectativa de encontrar o médico, mas a figura de
um delegado baixinho, magro e de bigode surge fazendo-me
suspirar. Não estou com cabeça para explicar tudo o que aconteceu
no momento e eu sei que serei obrigado a responder muitas
perguntas.
Como imaginei o delegado começa a nós interrogar e vemos
que algumas respostas não deveriam ser reveladas, por isso,
acabamos por ocultar informações sobre Durval.
Quando o delegado finalmente para com o questionamento, — o
que já estava me deixando irritado — somos obrigados a ouvir um
sermão por agirmos sozinhos e não chamarmos a polícia.
Samuel já estava a ponto de explodir quando lanço um olhar pra
ele se calar, ele engole suas palavras totalmente vermelho de raiva.
— Eu só tenho mais uma pergunta para vocês. — O delegado
fala e eu agradeço por isso.
— Sim? — O observo cansado.
— Qual é o seu envolvimento com El Toro? — Ele analisa minha
expressão minuciosamente.
Ergo uma sobrancelha o encarando com uma expressão de
dúvida.
— Não sei do que está falando. — Finjo desconhecer o assunto.
Durval as vezes tem que aprender a ser mais discreto.
— Ele é procurado a muitos anos pela polícia. — O delgado
afirma.
Tenho vontade de rir, mas me contenho sabendo que não é o
momento.
— Talvez Philipe ou Adam tenham envolvimento com esse
homem. — Jogo a possibilidade no ar e ele parece se convencer o
que agradeço muito.
Satisfeito ele sai do hospital nos deixando a sós mais uma vez,
Sam suspira aliviado e faço o mesmo.
— O que Durval fez com Philipe e Adam para que o delegado
viesse a nos questionar? — Sam pergunta intrigado.
— Não sei, mas com toda certeza ele deve ter deixado sua
marca para trás antes de ir embora. — Sorrio satisfeito, pois
conhecendo bem Durval ele não deixaria as coisas baratas para
Philipe.
— Certamente eles merecem ter uma boa conversa com Durval.
— Sam sorri satisfeito.
Durval é um homem aparentemente calmo e relaxado, usa o
codinome de El toro e em questão de segundos pode se tornar um
homem perigoso e sanguinário. Seu humor é instável, mas acima de
tudo ele é um homem extremamente sarcástico e sádico, porém,
quando o assunto é a família ninguém o segura.
Durval protege seus integrantes como se fossem seus filhos e
irmãos, todos aqueles que o ajudam ou que já fizeram parte da sua
vida — como eu — tem proteção direta vindo da parte dele, é por
isso que acabo recorrendo aos seus serviços quando necessário.
Apesar de Samuel nunca ter feito parte da máfia britânica,
Durval tem um grande interesse nele. O porque eu também não sei,
mas ele o trata como um antigo membro assim como eu. Samuel,
não gosta disso, mas ele aceita a amizade procurando manter um
contato distante com o mesmo.
Willian, Ray e os filhos de Philipe também estão sendo tratados
no mesmo hospital.
Fiquei extremamente surpreso ao saber que Philipe havia
torturado os filhos, mas eu não podia esperar menos de uma pessoa
como ele, certo? Não sei porque ainda tenho a audácia de me
surpreender com as ações daquele psicopata.
— Acompanhantes da senhorita Katy Clarkson e Megan Park
Avallon. — Escuto o doutor chamar e me levanto rapidamente vendo
Samuel fazer o mesmo.
Durval
Sinto os pelos do meu corpo se eriçarem ao ficar a sós com
Philipe Avallon e Adam Markcross, minhas pupilas dilatam ao
observar seu corpo dependurado a minha frente como um
maravilhoso saco de pancadas digno de toda a minha atenção.
Meu coração de acelera enquanto brinco com a faca entre meus
dedos esperando ansiosamente que os dois homens a minha frente
abram os olhos para podermos brincar.
Sim, quero brincar com eles.
Fico satisfeito com o serviço dos meus homens, nem mesmo
precisei mandar e eles já amarram os dois nas correntes para que
possamos brincar um pouquinho antes que os policias cheguem.
Estou ansioso para ver o nível de coragem deles ao ficarem de
frente com um homem e não duas mulheres indefesas.
Philipe é o primeiro a abrir os olhos e isso me faz sorrir
satisfeito, Airon destruiu seu rosto mais do que eu gostaria, assim
ficará difícil apreciar o desespero e o medo nos olhos dele.
— Como se sente sendo a caça e não o caçador? — O provoco
sentando em uma cadeira a sua frente.
Ele arregala os olhos um pouco perdido sem saber onde está.
— Quem é você? Não te devo satisfações. — Sua voz
autoritária me irrita.
— Você não tem direito de fazer perguntas. — Sorrio animado.
— Sou eu quem dito as regras agora e estou ansioso para saber
quantas horas de tortura você aguenta, espero que seja forte o
suficiente para que as coisas ao menos fiquem interessantes, mas te
olhando assim não aguentará nem 5% do que tenho a oferecer. —
Suspiro triste.
Me levanto segurando o chicote de couro cru nas mãos que ele
usou para bater nas meninas de Samuel e Airon.
Bato levemente o chicote em minha mão o observando, dou
uma bela chicotada nas suas costas nuas e vejo ele se contorcer de
dor, mas não sai um único gemido dos seus lábios.
— Frustrante, quero ouvir seus gritos, vamos lá, me de diversão
— Meus olhos faíscam de ansiedade por uma boa sessão de tortura
e belos gritos.
— Quando eu sair daqui você vai ter o que merece. — Diz
irritado.
Gargalho andando em sua volta.
— O engraçado é que se depender de mim você não irá sair daí,
mas se por ventura você sair estarei te esperando alegremente nos
meus aposentos, se preferir deixo anotado o endereço e lá
poderemos conversar como dois adultos de igual para igual, em um
nível bem mais avançado do que essas tralhas que você tem aqui. —
Observo seus equipamentos e me sinto desmotivado.
Queria meus brinquedos, desvio o olhar pensando no meu
quarto de tortura.
Respiro profundamente voltando a fita-lo e toda minha
inspiração para tortura volta quando vejo sua expressão de irritação.
A adrenalina toma conta do meu corpo e seu olhar ameaçador
só me instiga a continuar.
— Até poderia ser mais justo com você Philipe, poderia te soltar
em uma floresta enquanto você corre desesperadamente em busca
de uma saída e eu corro atrás de você com minhas armas e se por
ventura ou sorte você conseguisse sair vivo, meus homens te
achariam e te matariam do mesmo jeito. Isso seria extremamente
prazeroso, mas como você não foi justo com a mulher do Airon e do
Sam eu não pegarei leve, aprenda que mulheres devem ser tratadas
como rainhas e não meros brinquedos ou lixo. — Desfiro várias
chicotadas em seu corpo sem nem ao menos deixa-lo pensar.
Não resistindo, ele geme de dor e meus ouvidos agradecem
pelo som prazeroso que reverbera pelo meu corpo como música.
Depois de deixar sua pele bem marcada e com várias feridas
abertas, pego o álcool sobre a mesa e jogo em cima delas. Sorrio
alegremente quando ele grita desesperado, as gargalhadas saem do
fundo da minha alma enquanto o vejo se contorcendo.
Bailo de um lado para o outro na sala jogando um pouco mais
de álcool em suas feridas pronto para usar os alicates.
Adam acorda com os gritos de Philipe e meu sorriso se estende.
Tortura em dose dupla me faz estremecer.
Meus olhos pegam fogo imaginando tudo o que posso fazer com
os dois. Ordeno que rasguem a blusa de Adam assim como fizeram
com Philipe para deixar as coisas mais interessantes.
— O que é isso? — Adam pergunta assustado.
— Você sempre é o mais covarde Adam, provoca e corre, pena
que hoje você está em minhas mãos. — Sorrio animado andando
pela sala com uma faca e um alicate nas mãos. — Talvez eu
devesse cortar sua língua... Claro... Mas não antes de arrancar da
sua boca dente por dente. — O pensamento faz meu coração saltitar
de alegria. — Vamos lá meninos me encham de prazer. — Grito
animadamente.
— Louco. — Adam diz em um sussurro.
— Muito mais do que você pode imaginar. — Grito sorrindo.
Seu olhar assustado me deixa ainda mais animado e cheio de
ideias.
— Você bateu na Katy, certo? Ela é a menina do Samuel e
sinceramente eu gosto daquele rapaz meu querido Adam, apesar de
que ela não estava tão machucada quanto a menina do Airon, mas
isso não faz diferença. — Ele me olha desesperado.
Rodo a faca entre os dedos observando os dois.
— Talvez eu possa pegar mais leve com você Adam. — Fico
pensativo.
Ele suspira aliviado e não consigo conter o sorriso que cresce
em meus lábios.
— Mentira. — Grito. — Você levará a pior por perseguir Airon
por anos, ele já sofreu demais por sua causa, afinal, foi por sua culpa
que a primeira mulher dele morreu, eu sei de toda a história e estou
tentado a acabar com sua vida. — Me aproximo com a faca na mão.
— Cala a boca, Samantha era minha, minha mulher. — Ele grita
ao ponto de ficar vermelho de raiva.
— Não me importo só quero ouvir seus gritos de dor. — Digo
realmente sem me importar.
Enfio a faça de serra no buraco de bala que há no ombro de
Adam, ele grita desesperadamente e faço questão de mexer a faca
dentro de sua ferida rodando lentamente.
Seus gritos me deixam extasiados me levando a um nível
profundo de loucura, a adrenalina que corre em minhas veias é
tamanha que não percebo quando ele desmaia chegando ao ápice
da dor.
Suspiro chateado vendo que ele não aguentou nem mesmo 5
minutos de tudo o que tenho a oferecer, fraco, completamente fraco.
Suspiro sentindo meu sangue borbulhar nas veias.
— Senhor, as ordens do senhor Markcross foram para que não
matássemos ninguém. — Um dos meus homens fala me trazendo a
realidade novamente.
— Aquele cretino sabe como acabar com a minha felicidade. —
Suspiro.
Já que Adam esta inconsciente novamente, me volto para
Philipe que ainda aguenta uns bons e prazerosos minutos.
— Seu amigo não aguentou nada e acabou deixando você na
mão, vamos terminar logo com isso antes que os donos da lei
cheguem, eu não suporto policiais. — Acerto um soco nas costelas
de Philipe.
Ele já está cansado, mas seus gemidos de dor ainda me deixam
feliz, mas minha mente não está tão focada na tortura como no
começo.
Depois de mais algumas chicotadas, gostaria de dar uma
descarga elétrica com os fios de alta tensão em seu corpo, mas aqui
não tenho os equipamentos necessários para isso e é uma pena
Airon não querer eles mortos.
Não satisfeito com meu trabalho inacabado, deixo os dois
amarrados para que a polícia os encontrem.
Queria terminar meu serviço, mas saber que a polícia os
encontrará já me deixa satisfeito pois, tenho grandes assuntos
inacabados com eles.
Escrevo na parede do quarto El Toro com o sangue que escorre
das feridas de Philipe, para deixar claro que quem fez tudo isso fui
eu e não Airon.
É claro que eles não imaginariam minha ligação com Airon,
acreditariam que Philipe me deve algo e por isso vim cobrar minhas
dividas, as vezes eles são tão ingênuos, sorrio com o pensamento.
Ao longo do caminho ouvimos as sirenes cada vez mais
próximas do local, deixem que os "justiceiros" resolvam a situação de
Philipe e Adam agora.
Airon
O doutor liberou a entrada de Samuel no quarto de Katy e me
chamou para uma conversa particular. Acredito que não consigo
esconder minha preocupação já que ele me observa com
compreensão. Meu coração está disparado e minha respiração
acaba ficando pesada devido ao medo que sinto no momento.
Nada pode acontecer ao meu filho e muito menos a minha
esposa.
— O caso da sua esposa é grave, sendo assim, tivemos que
induzi-la a um coma. — O doutro explica com calma
— Ela vai ficar bem? E nosso filho? — Pergunto com medo da
sua respostas.
— Ela levou muitas pancadas na cabeça e precisa realizar
exames periódicos para vermos se não há nenhuma sequela. Ela
também está com uma costela trincada e descolamento de placenta,
quanto menos ela se mover e manter a calma será melhor. –Ele me
observa preocupado.
-Ela ficará bem? E Meu filho?
-Os bebês estão bem não se preocupe. –Diz analisando as
folhas em suas mãos.
-Os bebês? –Pergunto confuso.
-Você não sabia? Ela está gravida de gêmeos. –Me observa
com as sobrancelhas arqueadas. -Mas, o descolamento de placenta
é grave e ela vai precisar de repouso.
-Eu vou ser pai de gêmeos. –Falo mais para mim do que para o
médico e nesse momento peito se enche de alegria e ansiedade,
mas o fato de Megan estar em coma induzido me preocupa. — Por
quanto tempo Megan ficara sedada? — Pergunto o observando.
-Não aplicamos uma sedação forte nela, fizemos somente para
mantê-la calma e ver como seu corpo reage. Ela está muito
desidratada e precisa descansar. -O doutor explica calmamente e
fico aliviado ao saber que meus filhos estão bem, mas muito
preocupado com a situação de Megan.
Agradeço e sigo para o quarto minha pequena está, passo em
frente ao quarto de Katy e penso em perguntar como ela estava, mas
percebo que os dois estão discutindo e prefiro não atrapalhar.
Assim que entro vejo minha menina deitada naquela cama com
os olhos fechados, vários aparelhos ligados a ela mostrando como
está sua saúde, curativos espalhados por seu corpo tampam as
marcas que Philipe deixou.
Me sento em uma cadeira que fica ao lado da cama, seguro a
sua mão com cuidado e passo meus dedos levemente pela sua pele,
me permito chorar todas as minhas frustrações e pensar no quão
inútil sou por não poder fazer nada por ela agora.
— Vamos pequena você tem que ser forte. Estou aqui com você.
Vamos superar isso juntos. –Sinto meus olhos marejados. -Eu sei
que você está magoada comigo pelas coisas que fiz, mas prometo
ser o melhor homem do mundo quando você acordar. Seja forte meu
amor, lute para que você possa melhorar rapidamente, estou com
saudades dos seus intensos olhos verdes me desafiando. —
Sussurro enquanto acaricio seus cabelos levemente.
Digo o quanto ela é importante em minha vida. O quanto eu a
amo. O quanto ela me faz falta e peço que ela tenha forças e
melhore logo. Peço que ela volte para mim o mais rápido possível,
pois não sei o que seria da minha vida sem Megan e meus filhos.
Eu sei que eles ainda não nasceram, que ainda são minúsculos
e estão se formando na barriga da mãe, mas a felicidade de saber
que serei pai preenche cada parte do meu peito e a felicidade de
saber que Megan é pessoa que está me proporcionando tamanho
prazer transborda por meus olhos.
***
***
5 dias depois.
Todos os dias foram a mesma coisa, tinha que voltar para casa
enquanto os médicos realizavam os exames periódicos em Megan,
mas sempre que eu podia estar lá não perdia a oportunidade de ficar
ao seu lado.
Os médicos finalmente param com o sedativo e agora estou
esperando minha garota acordar. De acordo com eles, ela precisa do
seu tempo para abrir os olhos e confesso que esse tempo e demora
está me matando.
Faz horas que estou sentado ao seu lado esperando
ansiosamente que seus lindos olhos verdes se abram.
— Ei pequena, acorde, eu estou aqui com você. — Acaricio seu
rosto com as pontas dos dedos. — Vamos lá Meg, estou com
saudades de você. — Eu não sei se ela pode me ouvir, mas quero
acreditar que sim.
Por horas converso com ela como todos os outros dias, falo
sobre nossas melhores experiências e como está sendo horrível
meus dias sem ela. Conto que Katy está melhor e já recebeu alta,
mas Sam não desgruda dela por um segundo fazendo-a beber muita
água e tomar os remédios adequadamente nos horários certos, pois
ela é uma completa cabeça de vento e esquece.
— Eu te amo tanto. —Seguro sua mão fortemente a encostando
nos lábios.
O som de um gemido baixinho me faz levantar abruptamente ao
ver Megan se remexer desconfortável.
Megan
Está tudo escuro e não consigo abrir os olhos, é como se algo
me prendesse e não deixasse que eu acorde. Os dias passam e
essa escuridão não termina, as vezes escuto a voz de Airon próxima,
escuto ele sussurrar que sente saudades e que precisa de mim, isso
me enche de alegria, mas não consigo responder.
Todos os dias luto contra essa escuridão que me cerca, as
vezes, tudo fica silencioso e não consigo me lembro de nada,
simplesmente apago.
Não sei quantos dias faz que estou aqui, mas hoje sinto Airon
mais próximo e posso escutar tudo o que me diz atentamente, mas
ainda assim não consigo responder. As coisas em minha mente vão
clareando aos poucos e agora consigo sentir o toque de suas mãos
sobre a minha.
Aos poucos meus sentidos vão voltando e consigo abrir meus
olhos com dificuldade, uma luz forte invade minha retina a
machucando, pisco várias vezes para conseguir enxergar as coisas a
minha volta, estou deitada com vários fios conectados ao meu corpo
e a dor de cabeça me faz querer fechar os olhos novamente.
Respiro fundo e ao tentar me mover cada parte do meu corpo
doí me fazendo soltar um gemido.
Posso ouvir Airon ao meu lado, mas minha mente confusa não
consegue focar nada do que ele pergunta.
Abro os olhos novamente e finalmente fixo meus olhos naquele
mar azul que tanto amo e me acalma.
-Airon? –Acabo franzindo as sobrancelhas quando seus olhos
transbordam e a felicidade é explicita em cada um de seus gestos.
—Meg... –Ele me abraça deitando a cabeça meu peito e mesmo
que eu queira levar as mãos até seus cabelos a dor me impede de
me mover.
-O que aconteceu? –Pergunto perdida e confusa.
Estou um pouco atordoada, mas consigo me lembrar de Airon e
apesar de tudo estar confuso me sinto feliz por tê-lo ao meu lado.
Ele se ergue me encarando com aqueles olhos azuis cheios de
esperanças banhados em lágrimas que escorrem por seu rosto
livremente. Seus dedos tocam meu rosto com cuidado como se a
qualquer momento.
-Eu te amo tanto. — Diz com um grande sorriso estampado em
seus doces lábios.
Com certa dificuldade consigo segurar sua mão e apertar meus
dedos envolta do seu com carinho.
— Eu também te amo, mas tudo está confuso. — Acabo
franzindo as sobrancelhas e uma pontada em minha cabeça me faz
gemer novamente.
-Você não pode se esforçar. –Diz preocupado. –Eu vou chamar
o médico.
Ele nem mesmo espera a minha confirmação e sai com pressa
em busca do médico, não demora nem mesmo alguns minutos e ele
volta com algumas enfermeiras.
Aos poucos minha mente vai clareando e consigo me lembrar do
que aconteceu. A confusão vai passando e as coisas começam a se
encaixar em seu devido lugar. A preocupação com Katy e os
meninos começam a me deixar ansiosa e o medo de algo ruim ter
acontecido com meu bebê me enlouquece.
— Katy, está bem? Ethan e Noah estão? — Sinto um calafrio
passar pelo meu corpo ao lembrar de Philipe. –E meu bebê? –Apoio
a mão na barriga sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— Meg se acalme. –Airon segura minha mão mais uma vez. –
Estão todos bem. –A convicção e certeza em sua voz me acalma. -
Katy levou três pontos na cabeça por causa de um corte, mas está
bem. Ela e Sam estão se entendo como nunca. Sam até parece um
adolescente que nunca se apaixonou antes, é engraçado ver os dois
juntos. — Ele ri enquanto fala. — Agora Ethan e Noah eu não sei
muito bem, só sei que deram entrada no hospital, mas logo saíram.
— Sua voz não esconde a raiva que sente deles.
Por mais que Ethan e Noah erraram, no final eles foram boas
pessoas. Não que eu acredite neles, mas também não os odeio tanto
quanto antes. Queria pelo menos saber se eles estão bem. Quero
entender o que aconteceu e saber que fim teve Philipe e Adam, mas
não vou perguntar isso agora. Perguntar deles estragaria
completamente o humor do Airon e ele está tão lindo, tão carinhoso e
amoroso que quero curtir o momento.
Como sempre, ele está incrivelmente sexy e sensual com uma
calça jeans e uma camiseta gola v azul clara, seus cabelos
bagunçados e despenteados me tiram do sério, ele é sempre tão
lindo. Quero abraça-lo, enfiar minhas mãos nesses cabelos e beija-lo
intensamente, mas tenho que conter minhas emoções.
Meus pensamentos são quebrados com a chegada do médico,
ele é alto, um pouco acima do peso, aparenta ter entre 50 a 60 anos,
cabelos grisalhos bem cortados, olhos castanhos escuros
intimidadores, nos lábios sustenta um sorriso animado e divertido.
— Boa tarde Megan, sou o Dr. Raphael e estou cuidando de
você desde que chegou aqui. — Ele diz brincalhão.
— Boa tarde Doutor. — Respondo envergonhada.
— Como está se sentindo? — Pergunta enquanto começa a me
examinar minuciosamente.
— Estou com um pouco de dor de cabeça e uma dor incômoda
nas costelas, me sinto um pouco confusa as vezes. — Digo tocando
o lugar que dói.
— Bom você está sentindo dor ai porque ela está trincada, então
quanto mais repouso fizer, melhor. Sem contar que você também
está com descolamento de placenta, não é nada grave desde que
você faça o repouso certo. Você está gravida de gêmeos então o
cuidado tem que ser dobrado.
-Eu estou gravida de gêmeos? –Pergunto surpresa.
-Sim, já está com quase quatro meses e ainda não sabia? –
Pergunta surpreso.
-Descobrimos a pouco tempo a gravidez e logo em seguida tudo
isso aconteceu. –Airon fala preocupado, mas não tão surpreso
quanto eu.
-Vamos ter dois bebês? –Apoio a mão na barriga sentindo os
olhos se encherem de lágrimas.
Airon tenta conter a emoção, mas vejo que para ele é mais
difícil, afinal seu sonho sempre foi ser pai e ele está realizando em
dobro.
-Eu sei que está descoberta deve deixar vocês assustados e
realmente a gravidez de múltiplos requer mais cuidados. Quando
tiver alta deve fazer o máximo de repouso que conseguir e evitar
caminhadas longas. — Explica com cuidado. –Além disso devem
procurar um ginecologista para acompanhar a gravidez o mais rápido
possível. -Desconecta alguns fios, mas deixa o soro em minha veia.
Concordo com tudo o que ele fala, pois não quero colocar a vida
dos meus bebês em risco, enquanto isso, Airon permanece ao meu
lado me apoiando em tudo o que eu preciso e em nenhum momento
deixa de transparecer a alegria e felicidade de ser pai de gêmeos.
Depois de dias no hospital finalmente recebi alta. Airon por outro
lado não deixa que eu faça nada com medo de que algo aconteça
comigo ou com nossos filhos.
Desde que voltei do hospital ele não vai para empresa, joga
todas as reuniões para o Samuel e Melissa, e resolve os assuntos
mais importantes por telefone, e-mail ou teleconferências. Ele
realmente está cuidado de mim e isso me enche de alegria, mas
vezes ele exagera na dose de superproteção.
Jamais imaginei que ele demonstraria tanta atenção e carinho
assim, mas ele se sente culpado pelo contrato de casamento ser
falso. Realmente fiquei magoada, mas um contrato não muda o fato
de ama-lo, no entanto, para ele é como se eu o odiasse por isso.
Já expliquei diversas vezes que não o odeio, mas quem enfia
isso na cabeça desse ser mandão e teimoso? Ninguém.
Fomos a clínica da Dra. Rose para ver se estava tudo bem com
nossos pequenos, ela realizou alguns exames e concluiu que graças
aos céus meus filhos estão bem, só preciso fazer um pouco mais de
repouso para que tudo se normalize.
Ainda não posso fazer esforços exagerados, mas o
descolamento da minha placenta teve uma melhora significativa.
Logo posso voltar com todas as minhas atividades diárias
normalmente.
Nessa semana tomei uma decisão muito difícil, mas que foi
necessária, pedi demissão do meu emprego. Partiu meu coração ter
que ligar para Ronald e explicar tudo o que aconteceu nessas
últimas semanas, mas apesar de ficar muito triste ele compreendeu
perfeitamente e como um pai veio me visitar e se surpreendeu ao ver
a variedade de cores existentes no meu rosto.
Os hematomas já estavam bem apagados e amarelados nada
que uma boa camada de maquiagem não cobrisse.
Ricardo mandou uma carta se desculpando por tudo o que fez,
mas não ousou comparecer, também depois das ameaças de Airon
ele jamais chegará perto de mim novamente e fico grata por isso.
Noah, Ethan e Dylan vieram se desculpar pessoalmente por
tudo que fizeram.
Descobri que Ethan se declarou para Katy, fiquei boquiaberta ao
saber do corrido e não acreditei no que meus ouvidos estavam
escutando. Airon odiou o fato de ter os três perto de mim, mas fiquei
feliz por eles virem se desculpar, afinal a vida é feita de recomeços e
esse com certeza era um.
Como um meio de se desculparem eles queriam passar metade
das empresas Avallon e Imperius para o meu nome já que por direito
metade de tudo é meu, porém neguei veementemente.
Eles tentaram convencer Airon a se tornar sócio deles, mas ele
também se recusou. Juntar as empresas seria algo absurdamente
incrível, mas a realidade é que nenhum de nós precisamos que isso
aconteça. Aprecio a gentileza dos três, mas fui obrigada a negar
todos os possíveis acordos que eles apresentavam, acredito que não
preciso disso.
E no momento estou na minha belíssima e macia cama
enquanto meu lindo homem está preparando o almoço para mim.
Deus eu morri e estou no céu?! Só pode.
Meus pais vem todos os dias me visitar, Katy também vem e
ficamos horas conversando, isso quando ela e Airon não estão se
estranhando. Os dois são piores que cachorro e gato, mas a verdade
é que eles se amam e não dão o braço a torcer um pro outro.
Sei que não deveria ter feito isso, mas contei a Airon o que
aconteceu com Katy. Só contei depois que ele me prometeu que não
contaria nada para Samuel e deixaria que os dois se resolvessem.
Sou tirada dos meus pensamentos quando meu lindo homem
entra no quarto com uma badeja sortida de comidas, sorrio o
observando, nunca me canso de ver esses cabelos bagunçados.
Assim que ele entra no quarto mantém seus olhos intensos em mim
e um sorriso sincero surge em seu rosto, como sempre ele consegue
fazer com que meu coração bata mais forte.
Será que algum dia isso vai passar? Espero que não, pois todos
os dias da minha vida quero deseja-lo com a mesma intensidade que
o desejo agora.
— Se continuar me olhando não responderei pelos meus atos.
— Ele ergue uma sobrancelha me dando o seu melhor sorriso.
Essa cara de safado acaba comigo.
— Gostei da ideia. — Sorrio mordendo os lábios inferiores.
Vejo ele travar o maxilar e firmas as mãos ao lado da bandeja
me olhando com um desejo absurdo, mas se limita a suspirar e dizer
o que escuto todos os dias.
— Você não pode tem que ficar de repouso até melhorar. — Ele
se aproxima e coloca a bandeja no meu colo se sentando do meu
lado.
Faço um biquinho para ele que sorri me dando um beijo nos
lábios. Sei que é para o meu bem e dos nossos filhos, mas é difícil
quando ele aparece extremamente sexy na porta do nosso quarto.
— Eu sei meu amor. — Sorrio dando uma piscadinha.
— Então não provoca porque fica difícil. — Ele franze as
sobrancelhas bravo, reprimo um sorriso.
— Não tenho culpa se você aparece todo sexy e gostoso na
porta do nosso quarto. — Acabo rindo.
— Tentarei ser menos sexy pequena. — Pisca me fazendo
balançar a cabeça em negativo.
— Todos os dias você tenta. — Volto minha atenção para a
bandeja no meu colo.
O cheiro está delicioso fazendo meu estômago roncar.
Ele deita ao meu lado com as pernas cruzadas e as mãos atrás
da cabeça enquanto me observa comer. Hoje ele trouxe capeletti ao
molho branco com camarões, como gosta de cozinhar comidas
italianas, cada dia provo um prato diferente e tenho que ser sincera,
ele simplesmente arrasa como cozinheiro.
De sobremesa ganho uma belíssima torta de morango que me
faz lamber os lábios. Morangos sempre são divinos e eu
simplesmente amo.
— Obrigada meu amor, como sempre tudo está uma delícia. —
Sorrio deixando a bandeja sobre a cama.
Me preparo para levantar pois quero ir até o banheiro me
arrumar um pouco. Ficar deitada o dia inteiro é cansativo e apesar de
ter Airon praticamente vinte e quatro horas ao meu lado, me sinto
frustrada por não poder sair nem mesmo um pouquinho de casa.
— Onde pensa que vai. -Me observa preocupado.
— Apenas ao banheiro e deixa que eu vou sozinha. — Já deixo
avisado, mas seus olhos estreitos me indicam que isso geraria uma
discussão.
— E se você cair? — Seus olhos azuis estão atentos a cada
passo que dou.
— Eu não vou cair Airon, eu estou bem, só não posso fazer
esforços. — Explico com calma.
A contragosto ele resmunga deixando que eu vá.
Aproveito para escovar meus dentes e arrumar os meus cabelos
que estavam despenteados, passo uma maquiagem leve para me
sentir mais apresentável. Estou de repouso, mas não estou morta
preciso me cuidar.
— Meg, você disse que era rápido, mas faz 20 minutos que está
aí dentro. — Ele bate na porta preocupado.
Suspiro com o homem superprotetor que bate incansavelmente
na porta, sei que ele se sente preocupado, mas as vezes ele me
sufoca. Como sei que é de sua natureza proteger as pessoas a sua
volta por tudo que aconteceu em seu passado não o julgo,
simplesmente abro a porta e encontro um par de olhos azuis
preocupados à minha espera.
— Estava apenas me arrumando para você. — Dou uma leve
piscadinha sorrindo.
Airon segura meu rosto com as duas mãos dando um beijo
demorado nos meus lábios.
— Você já é linda meu amor. — Ele sorri me deixando mais um
beijo leve nos lábios.
— Gostei disso. — O abraço com carinho sentindo seus dedos
passearem por minhas costas.
— Meg, a noite eu tenho uma surpresa para você. Eu sei que
você não pode ficar saindo e nem se esforçando, mas quero te levar
para jantar se você aceitar é claro. — Um lindo sorriso surge em
seus lábios e a ansiedade fica explicita em seu rosto.
— É claro que eu aceito. — Falo ansiosa.
A curiosidade domina meu peito me deixando inquieta.
Sem que eu espere ele me pega no colo caminhando em
direção a cama, seus lábios roçam minha orelha enviando arrepios
por todo meu corpo. Com cuidado me deita e sobe sobre meu corpo
sem soltar seu peso. Seus lábios passeiam pela minha orelha e pelo
meu pescoço me fazendo suspirar. Subo minhas mãos por seus
braços fortes e definidos, mas ele segura com calma minhas mãos
sussurrando em meu ouvido.
— Descanse bastante para nosso passeio a noite minha
pequena. — Logo em seguida ele está em pé ao lado da cama.
Me sinto frustrada com a distância de nossos corpos, cruzo os
braços chateada ao ver que ele estava apenas me provocando e
ainda tem a capacidade e coragem de rir.
— Você é tão injusto. — Falo irritada e chateada pronta para me
levantar, mas ele me impede.
— Se você não descansar não haverá surpresa a noite. Vou
estar no escritório resolvendo alguns assuntos da empresa. — Pisca
me deixando um beijo na testa e logo em seguida segue em direção
a porta.
— Sai logo daqui seu canalha. — Jogo o travesseiro nele que ri
da minha irritação.
— O canalha que você ama. — Ele pisca para mim e não
consigo segurar a risada.
— Convencido. — Ele sai do quarto rindo.
Já que vou sair com ele realmente não posso me esforçar então,
nesse momento preciso focar no repouso. Pensando bem, não será
legal sair com Airon cheia de amarelos, esverdeados e roxos, então
ligo para Katy me ajudar com o meu visual. É claro que ela aceitou
na hora.
Airon ficou a maior parte do tempo em seu escritório resolvendo
os assuntos da empresa que imagino não serem poucos, mas de
meia em meia hora ele passa para ver se estou bem, por volta das
seis horas da tarde Katy chega para me ajudar.
Conversamos muito sobre Samuel e sobre Ethan e até então ela
não havia me contado detalhadamente sobre o ocorrido, fiquei com
certa pena do Ethan, mas obviamente quero que Sam se dê bem
nessa, nem que eu tenha que forçar Katy a ficar com ele.
Katy faz minha maquiagem e acaba sendo forçada a usar uma
grande quantidade de corretivo e bases. Opto por uma sombra mais
leve e um belíssimo batom vermelho, os meus preferidos. Katy ficou
com uma pequena cicatriz na testa onde ela levou os pontos, mas
sua franja esconde a pequena marca perfeitamente.
— Meg você está bem? — Airon pergunta ao entrar no quarto e
se surpreende ao ver Katy.
Já se passou meia hora? Ele é realmente pontual. Acabo
sorrindo com esse pensamento.
— Ela está ótima some daqui e não aparece mais. — Katy
caminha até ele o empurrando para fora.
— Mas eu quero ver se ela está bem. — Diz chateado.
— Mas nada, eu estou aqui e ela está ótima. Só volte quando
ela estiver pronta. — Katy empurra Airon com dificuldade, mas ele
empaca na porta. — Vai Airon. — Ela diz irritada e eu somente
observo.
— Ok, mas daqui meia hora eu volto. — Ele vai a contragosto.
— Se voltar eu vou te chutar para fora. — Katy bate à porta e
passa a chave logo em seguida.
Ela volta irritada e para em minha frente se concentrando agora
em meu cabelo, logo voltamos a conversar e rir. Katy arruma meus
cabelos, mas opta por deixá-los soltos somente prendendo uma
pequena presilha do lado direito em um leve puxado.
Escolhemos um vestido vinho de mangas longas, já que
estamos na metade de março e as vezes faz frio, é um vestido
comportado, mas generoso em seu decote, desce colado em meu
corpo marcando minhas curvas e minha leve barriga. Quando chega
no quadril ele se solta em um lindo caimento até os pés.
Escuto a maçaneta da porta girar e Airon rosna do lado de fora
me fazendo rir.
— Katy, abre a porra dessa porta. — Ele grita irritado.
— Vai se arrumar garanhão, se não vai acabar perdendo minha
linda irmã para um homem mais sexy do que você. — Ela continua
retocando meu batom enquanto provoca Airon.
— Obrigado pela parte que me toca Katy, mas abre a porra da
porta. — Ele está literalmente bravo.
— Isso não foi um elogio seu idiota, nem aqui nem na china eu
te chamaria de sexy, some daqui peste, vai se arrumar, Meg está
quase pronta. — Katy passa mais um pouco de blush na minha
bochecha. — Como você consegue suporta-lo? — Ela me encara
abismada e eu acabo rindo.
— É só você saber lidar com seu lado superprotetor, mandão e
teimoso que ele se torna um anjo. — Rio ainda mais de sua cara
feia.
— Me poupe dos detalhes. — Ela diz rapidamente me fazendo
rir alto.
— Você ainda entenderá, principalmente quando Sam resolver
fazer birra e ficar embicado. — Ela desvia o olhar e cora.
— Nós somos somente bons amigos. — Ela diz envergonhada.
— Amigos que se beijam, sei. Pare de afasta-lo ou eu juro que
vou contar tudo para ele antes de você ter a coragem para contar. —
Falo irritada.
— Cala boca Meg, você não vai contar nada. Ainda não estou
preparada, eu não quero que ele se afaste de mim. — Irritada ela
acaba se entregando e eu sorrio largamente.
— Adorei saber disso. — Digo e ela tenta desviar a conversa.
— O assunto aqui é você e não eu, vai logo que já está tarde
conversamos sobre isso outro dia. — Ela se joga na cama e suspira.
Me levanto e pego minha bolsa de mão colocando um batom e
meu celular dentro, caminho até a porta.
— Vai ficar ai pensando no Samuel? — Pergunto enquanto ela
fica perdida em seus pensamentos olhando para o teto esparramada
na cama.
— Só vou porque quero ver o Airon babando em você e pare de
usar o Sam contra mim, isso é injusto. — Ela se levanta rapidamente
me seguindo.
Paro ao lado da escada e observo Airon ao lado do sofá
inquieto, hoje ele está mais inquieto do que o normal. Está lindo com
seu terno feito sob medida.
Ele mantém as duas mãos nos bolsos da calça enquanto
caminha de um lado para o outro olhando para o chão, começo a
descer as escadas e Katy observa tudo de cima.
Quando ele escuta o barulho dos meus pequenos saltos sobre o
piso de porcelana ergue o olhar me observando. Um belíssimo
sorriso toma conta dos seus lábios enquanto caminha em minha
direção me esperando com uma de suas mãos estendidas. Com
delicadeza seguro sua mão ficando de frente para ele e aproveitando
o momento Airon deixa um suave beijo em meus lábios.
— Você está linda. — Sussurra em meu ouvido.
— Você também.
— Espere um momento, vou pegar minhas coisas no nosso
quarto já que Katy me confinou para fora. — Ele sobe as escadas
correndo.
Passa por Katy e diz algumas coisas fazendo a mesma sorrir e
concorda batendo a mão na dele.
Franzo as sobrancelhas sem entender aquela reação
inesperada entre os dois.
Kate me lança um sorriso enorme, não sei o que esses dois
estão planejando, mas minha curiosidade está a mil, ainda mais
quando eles se juntam para algo, isso não vai dar certo.
Não demora muito e Airon volta com a carteira nas mãos.
Olho para ele desconfiada e depois para Katy.
Airon segura minha mão e me despeço de Katy com um aceno
seguindo para o carro, James já está a nossa espera e Willian abre
um enorme sorriso ao me ver. Parece que todos sabem de algo
menos eu.
— Meg, você está linda. — Willian abre a porta do carro para
mim.
— Obrigada Will. — Agradeço sorrindo.
— Ela é realmente linda. — Airon diz.
Sinto minhas bochechas se esquentarem com o comentário dos
dois.
— Ei vocês dois parem com isso. — Falo constrangida entrando
no carro.
— Só estamos falando a verdade. — Airon se senta ao meu lado
segurando minha mão.
O caminho é feito em um silêncio agradável, enquanto Airon
acaricia minha mão com calma, mas a sua expressão de
preocupação está começando a me deixar ansiosa, porém opto por
não falar nada já que ele cederia.
Paramos em frente a um lindo restaurante e sorrio sentindo a
ansiedade aumentar dentro do meu peito.
Airon
Caminho até a entrada do restaurante segurando a mão de
Megan, uma mulher alta e magra nos acompanha até uma mesa de
dois lugares reservada. Escolhi um restaurante romântico, o interior é
em tons de bege, marrom e vermelho, sua iluminação é baixa dando
um ar aconchegante para o local.
Puxo a cadeira para Megan se sentar e tomo o meu lugar a
observando com cautela.
Meu coração bate descompassadamente em meu peito, hoje é o
dia que vou fazer um pedido oficial de casamento para ela e apesar
de saber que ela me ama tenho medo que sua resposta seja
negativa por tudo o que passamos.
O garçom trás o cardápio e vejo o sorriso de Megan se estender
por seu rosto. A especialidade do local é comida japonesa então
optamos por pedir o prato principal da casa.
Ao correr das horas conversamos amenidades enquanto o
nosso pedido não chega.
A cada momento a ansiedade e inquietação dominam meu
corpo e sei que ela já percebeu isso, mas ainda não questionou o
motivo de eu estar assim.
Quero que hoje seja um dia especial, que ela se lembre e se
orgulhe desse momento. Quero deixar marcado em sua memória
como uma belíssima noite, afinal já erramos demais nesse
relacionamento conturbado.
Sei que acabamos de passar por um momento delicado por
causa de Philipe, mas quero aproveitar o momento para apagar os
momentos ruins de sua mente e gravar boas memórias.
Não fui o melhor "Marido" nesse tempo, mesmo estando ao seu
lado sempre acabava por afasta-la devido aos meus receios e
medos. Me arrependo de não ter confessado meus sentimentos
antes. Sei que deveria ter me entregue a ela desde o primeiro
momento, mas acredito que isso não aconteceu para que
pudéssemos deixar todos os nossos medos no passado e seguirmos
juntos no futuro.
Nosso pedido não demora para chegar, comemos e
conversamos, enquanto admiro a belíssima mulher que está a minha
frente. Seus olhos verdes sempre me encantaram com sua beleza.
Terminamos o jantar e o garçom retirar nossos pratos, a música
de fundo é suave e decido que agora seria o momento certo para
fazer o pedido. Estou nervoso e ansioso, nunca me senti assim
antes, mesmo ela morando comigo e já sendo minha mulher eu
quero oficializar tudo da maneira correta.
Me levanto abruptamente e Meg me olha preocupada, caminho
até o lado da mesa e me ajoelho ao seu lado.
— O que você está fazendo? — Ela pergunta com seus
belíssimos olhos verdes preocupados.
Ignoro sua pergunta e me concentro no pedido.
Coloco a mão no bolso retirando uma pequena caixinha preta
aveludada, os casais ao redor param o que estão fazendo para nos
observar.
— Megan você aceita se casar comigo? — Abro a pequena
caixinha que continha a minha aliança e a dela. Um anel de ouro
branco com um diamante rosa brilhando gloriosamente no centro.
Desde que falei para Sam no hospital que me casaria com
Megan da maneira correta, iniciei uma busca pelo anel perfeito.
Queria algo único e sofisticado, enquanto Megan estava no hospital
aproveitei uma tarde para iniciar minha busca por várias joalherias.
Pesquisei em três, mas não conseguia encontrar aquilo que
buscava. Um Senhor muito educado e compreensivo me indicou um
leilão que ocorreria naquela mesma noite.
Eles leiloariam um anel de diamante rosa, o vi em uma foto e
naquele momento percebi que aquele anel teria que ser dela, sem
pensar duas vezes peguei o anúncio e marquei o endereço do local
onde ocorreria o leilão.
Como eu tinha que ficar com a minha pequena no hospital,
mandei James, Ray e Sam no meu lugar. Um dos três teria que
conseguir aquele anel, avisei os três que não me importava com o
preço a ser pago, a única coisa que eles precisavam fazer era trazer
aquela maravilhosa peça para mim e assim fizeram.
E confesso que estou ansioso para ver o delicado anel
contrastar com a pele da minha linda e amada mulher. Claro, se ela
aceitar o meu pedido.
Ela olha para o anel e para mim sem acreditar no que está
vendo.
Demora um pouco para compreender o que está acontecendo e
quando compreende abre um maravilhoso sorriso com os olhos
cheios de lágrimas.
— Sim. — Ela se levanta e eu faço o mesmo.
Segurando sua mão deslizo o anel em seu dedo, logo em
seguida deposito um beijo sobre a aliança. Ela segura minha aliança
que é simples e sem muitos detalhes deslizando sobre meu dedo
deixando um beijo sobre ela.
Envolve seus braços em meu pescoço me beijando sem se
importar com as pessoas ao nosso redor e escuto alguns assovios e
palmas que me fazem sorrir feito um bobo por ter sido aceito por ela.
— Eu te amo. — Sorrio dando vários selinhos em seus lábios e
rosto.
— Eu também te amo meu amor. — Observa sorrindo.
As palmas e assovios dos casais ao lado aumentam e até posso
ouvir alguns suspiros de mulheres que provavelmente estão
esperando o pedido de seus respectivos namorados.
A imprensa com certeza vai cair em cima desse pedido de
casamento já que para eles somos casados, mas a realidade é que
não me importo. O que realmente me importa é tê-la como minha
mulher oficialmente pois realmente a amo.
Voltamos nossa atenção para o jantar e Megan faz questão de
expressar toda a sua felicidade enchendo meu peito de alegria.
Não demoramos para ir embora, pois Megan já havia se
esforçado demais por uma única noite. Voltamos para casa e faço
questão de segura-la em meus braços a levando para o quarto.
Coloco gentilmente seu pequeno corpo sobre a cama e retiro
seus sapatos os deixando no chão. Faço uma massagem em seus
pés e subo retirando seu vestido, dobro o mesmo colocando sobre a
poltrona que fica ao lado da nossa cama. Aproveito para retirar
minhas roupas ficando só de cueca boxer.
Vou até o closet e coloco uma calça de moletom, escolho uma
camisola de seda para Megan. Volto até o quarto com a camisola
nas mãos vestindo minha linda futura esposa com delicadeza
enquanto distribuo beijos por todo o seu rosto descendo até sua
barriga.
Nossa noite foi regada de muito amor, sem malicia apenas
curtindo cada carinho. Megan adormece encostada em meu peito
envolvida por meus braços. Aproveito esse momento maravilhoso
para acariciar os seus cabelos castanhos até que adormeço.
Depois do pedido de Airon comecei os preparativos para a festa
de casamento, quero algo simples. Uma festa somente para família e
amigos.
Airon insiste em algo mais sofisticado que exige uma quantidade
exorbitante de dinheiro, da qual acho desnecessário gastar, mas ele
nem se importa com isso.
Para ser sincera eu ainda não me acostumei a poder gastar
livremente, apesar de ganhar bem no meu antigo emprego ainda era
um dinheiro controlado.
Com Airon é diferente, ele gosta de esbanjar sua quantia imensa
de dinheiro acumulado me dando um cartão sem limites. Quase não
uso o dinheiro dele já que ele faz questão de me encher de
presentes, roupas e sapatos sem ao menos precisar.
Obviamente não reclamo. Que mulher não gosta de ganhar
mimos do seu marido ou melhor dizendo quase marido.
Quando quero alguma coisa vou lá e compro sem me preocupar,
afinal sou uma pessoa desempregada exclusivamente por causa
dele que ficou me enchendo as paciências para sair do meu
emprego e cuidar da minha saúde e dos nossos pequenos.
Os preparativos para o casamento estão indo maravilhosamente
bem, Katy e mamãe estão me ajudando a preparar tudo. O único
problema até agora é o vestido de noiva, toda vez que vou prova
precisa ser ajustado já que minha barriga cresce a cada dia.
Hoje completo 21 semanas de gravidez, fiz todos os repousos e
já voltei com todas as minhas atividades diárias sem restrições. Airon
como sempre fica preocupado com certas coisas que faço, mas está
aceitando melhor o fato de que posso me cuidar sozinha.
Neste momento estamos aguardando a Dra. Rose em sua
clínica, não preciso nem fazer a observação de que Airon está quase
tendo um enfarto e não para quieto por um segundo.
Vê-lo nesse estado de ansiedade me deixa igualmente ansiosa
e nervosa.
Ele teima que serão dois meninos e de tanto que ele fala já
coloquei na cabeça que realmente serão dois meninos com os olhos
do pai, pois os olhos azuis do Airon sempre me fascinaram.
— Meg, essa espera toda está me irritando. — Diz nervoso.
Geralmente ele marca as consultas em dias que não precisamos
ficar esperando para sermos atendidos, mas hoje a doutora estava
com a agenda lotada e a ansiedade dele em saber qual é o sexo dos
bebês nos trouxe até aqui.
— Se acalme e espere. —Apoio a mão em sua perna que não
para quieta.
— Samuel não para de me ligar eu preciso voltar para empresa.
—Ele aponta para o celular.
— Eu avisei que era melhor virmos outro dia, mas você não tem
paciência. — O repreendendo encarando seus olhos azuis aflitos e
ansiosos.
— Eu não aguentaria esperar mais um único dia para saber o
sexo dos nossos filhos. — Ele me lança um olhar cheio de piedade e
ansiedade e sou obrigada a ceder ao seu desespero.
— Eu sei meu amor. — Sorrio acariciando sua perna na tentativa
de acalma-lo.
Passo meus dedos por seus cabelos o ajeitando, mas aquele
cabelo era bagunçado naturalmente, não adianta tentar arruma-los
que eles insistem em voltar pro mesmo lugar.
Meu nome é anunciado pela secretaria e Airon mais do que
depressa se coloca em pé.
Airon
Estamos a horas esperando essa doutora que não chega nunca.
Samuel não para de me ligar e já imagino que algo deve ter
acontecido na empresa, já estou começando a ficar preocupado.
Megan segura minha mão em sinal de apoio e meu corpo relaxa no
mesmo instante, suspiro pesadamente observando a sala da Dra.
Rose.
Espero que meus filhos estejam bem, quero saber o sexo dos
meus pequenos embora eu tenha certeza que são dois meninos,
pois se forem meninas terei sérios problemas no quesito ciúmes.
Isso é normal, certo? Todo o pai teria ciúmes das suas filhas.
Meus pensamentos são quebrados com a chegada da doutora
na sala.
— Bom dia, como passou nossa linda mamãe? — Estende a
mão para Megan e logo em seguida para mim.
— Muito bem. —Megan responde gentilmente.
— Será que hoje conseguiremos ver o sexo dos bebês? —
Pergunto curioso e obviamente ansioso.
— Faremos o ultrassom para ver se os bebês colaboram com a
posição. Vamos torcer para que esses pequenos abram as perninhas
hoje. —Ela sorri gentilmente.
Desespero me defini.
— Vamos começar? —Se levanta.
— Claro. — Meg concorda indo em direção a maca.
Apenas assinto e sigo as duas.
Meg se deita e eu me sento ao seu lado em uma cadeira
enquanto seguro sua mão delicadamente e ela aperta a minha
gentilmente.
Megan está tão ansiosa quanto eu, mas ela sabe disfarçar bem
o seu nervosismo e ansiedade, já eu nem tanto.
Já com tudo pronto a doutora espalha o gel por sua barriga que
por sinal já está bem grande. Amo ficar acariciando sua barriga e a
enchendo de beijo, geralmente meus filhos respondem com chutes, o
que me deixa extremamente feliz.
Logo a imagem dos meus pequenos aparece na tela do
computador, fico fascinado toda vez que viemos fazer os exames.
Amo ver meus meninos — porquê de fato, eu sei que serão meninos
— essa ideia faz com que meu coração se encha de alegria.
A doutora passa o aparelho de um lado para o outro na barriga
da Megan, que está absorta em seus pensamentos observando
atentamente a tela onde a doutora mostra nossos pequenos.
— Bem, vejamos aqui. — Ela ponta para uma parte especifica
da tela e eu simplesmente não entendo nada.
Meu coração se acelera em expectativa a sua resposta, mas ela
fica analisando a tela mais do que deveria e aquilo começa a me
desencadear uma crise nervosa de ansiedade.
Megan aperta minha mão esperando assim como eu a resposta
da doutora ansiosamente.
— São dois lindo e saudáveis meninos. — Sorri olhando para
mim e para Megan.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando escuto a palavra
meninos, eu sabia, sabia que seriam os meus herdeiros, meus filhos.
Megan começa a chorar segurando fortemente minha mão com um
grande sorriso nos lábios naturalmente rubros.
— Meus dois meninos. — Digo com a voz embargada e encosto
a cabeça nos cabelos da Megan inspirando profundamente. — Eu te
amo pequena, eu te amo muito, obrigado por conceder meu maior
sonho. — Sussurro em seu ouvido e ela acaricia meu rosto enquanto
chora de felicidade igual a mim.
A doutora limpa a barriga da Megan com um paninho retirando
todo o gel.
Me afasto acariciando as mãos da Megan com o polegar e ela
retribui com um belíssimo sorriso.
— São dois meninos amor você tinha razão. — Ela apoia a mão
em meu rosto sorrindo com os olhos brilhantes e cheios de
felicidade.
— Eu sabia que seria dois meninos minha pequena. — Sorrio
convencido.
Depois de conversar com a Doutora e ela explicar que nossos
filhos estão bem, seguimos para empresa, preciso ver o que Samuel
quer comigo já que não para de me ligar. Espero ser algo muito
importante, pois queria ir para casa e aproveitar minha tarde com a
Megan.
Ao chegar na empresa James leva Megan para casa, ela
reclamou de cansaço no caminho até a empresa e realmente deve
estar cansada já que vem correndo para organizar os preparativos
do casamento que acontecerá mês que vem.
Subo de elevador, mas me arrependo.
Parece que hoje todos resolveram andar de elevador, a cada
andar uma parada, demora mais do que o esperado para chegar no
último andar e encontrar Melissa.
— Samuel está a sua espera senhor. — Melissa diz enquanto
caminho para a minha sala.
— Eu sei Melissa, ele não parou de me ligar um segundo se
quer. — Ela assente e eu entro em minha sala.
Ele está sentado na minha cadeira, mexendo no meu notebook
com os pés em cima da minha mesa. Suspiro querendo joga-lo fora
da minha sala a pontapés.
— Você tem a sua sala, a sua mesa e o seu computador, porque
está mexendo nas minhas coisas? — Pergunto irritado.
— Simples, fazem duas horas que estou te ligando. Eduard,
queria fechar um contrato e eu preciso da porcaria da papelada que
está no seu notebook, então vim procurar por mim mesmo. — Ele
bufa irritado. — Você deveria me agradecer por fechar um contrato
de milhões já que sou um advogado e não um administrador.
— Muito bem Sam, mas preciso lembra-lo que esse contrato de
milhões não vai só para o meu bolso, já que você é a porcaria do
meu sócio e deveria ter a porcaria do contrato salvo no seu
computador. Cadê a sua secretaria? Vai falar que despediu outra. —
Bufo irritado e ele dá de ombros.
— Não pude fazer nada em questão de despedi-la, ela não fazia
nada certo e ainda atrasava o meu dia. Vou contratar Katy para ser
minha secretaria. — Diz sorridente e eu reviro os olhos.
— Katy, não aceitaria de maneira nenhuma. Sai da clínica as
presas achando que seria algo importante, chego aqui e você já
resolveu tudo. — Minha vontade é de estrangula-lo lentamente.
— Tenho algo importante para falar sobre Philipe e Adam, mas
me diz qual é o sexo dos bebês? Estou torcendo para que seja duas
meninas, eu vou mimar tanto essas meninas que você vai
enlouquecer. — Ele se ajeita na cadeira enquanto fala.
— Para sua informação vai ser dois meninos e farei questão de
deixá-los bem longe de você. Afinal, o que de bom você ensinaria
para eles? Como pegar todas as mulheres antes de conhecer Katy "a
domadora de cafajeste"? — Digo ironicamente o encarando.
Ele faz uma careta e olha para o lado pensativo enquanto
passas as mãos pelos cabelos preocupado.
— Realmente isso tudo foi antes de conhecer Katy. Agora sou
um homem de valores me respeite. — Ele me lança um olhar
acusatório e eu gargalho.
— Homem de valores. — Não consigo segurar a gargalhada.
— Ok, pode parar. — Ele suspira.
— Já te ameacei o suficiente e sei que você não vai pisar na
bola com a Katy, afinal se você fizer isso será uma única vez. — A
tensão se espalha por seu corpo.
— Airon você precisa me contar o que aconteceu com ela cara,
eu sei que você sabe. — Ele diz preocupado.
— Eu simplesmente não posso invadir a privacidade dela, quem
vai te contar vai ser ela e não eu. Continue assim que você chega lá,
você já foi cachorro o suficiente para uma vida toda, agora tome as
rédeas da sua vida e segue na linha que Katy acaba cedendo. Ela é
louca, infantil e paranoica, mas tem um coração maravilhoso. — Digo
com sinceridade.
Katy e eu na maior parte do tempo estamos brigando, mas é
como se ela fosse minha irmã mais nova. Aquele tipo de irmã que te
irrita e você não consegue se dar bem, mas no fundo sente que deve
protege-la com unhas e dentes.
— Desde de quando você é tão filósofo? — Ele me olha sério.
— Vai se foder. — Digo irritado. — Fala logo sobre Philipe e
Adam e some da minha sala. — O expulso me sentando na minha
cadeira a contragosto ele se levanta sentando na poltrona frente a
mesa.
— Dylan me ligou hoje de manhã avisando que colocou o pai no
hospício e precisa da sua assinatura para mandar Adam para o
mesmo lugar. — Diz calmamente.
— Quem diria que aqueles três se revoltariam contra o pai. —
Falo surpreso.
No final tenho que agradecer a eles pois me ajudaram muito,
mas nunca vou ir totalmente com a cara deles.
— Adam e Philipe estavam presos e pelo que soube passaram
poucas e boas na prisão. O que Durval fez com eles não foi nem
metade do que passaram na cadeia, é claro que a influência dentro
da prisão foi do próprio Durval, pois ele ficou chateado por não poder
brincar com os dois por mais tempo. Aquele homem sempre me deu
e sempre me dará arrepios. — Ele faz uma careta.
— Durval tem suas qualidades. — Digo pensativo.
— Qualidades? Ele é um completo sádico que gosta de ver o
sofrimento das pessoas e nunca presta serviços sem segundas
intenções.
— Sorte a minha que ele me devia favores, mas apesar de ser
sádico ele só maltrata pessoas que realmente merecem a sua ira e
falta de escrúpulos. Nunca ouvi boatos contrários, mas continue me
falando sobre Philipe e Adam. — Falo com calma querendo saber
mais sobre o que aconteceu com os dois.
— Como você sabe Dylan fez questão de colocar o pai em um
hospital psiquiátrico como maníaco perseguidor, então
provavelmente ele não sairá de lá tão cedo. Para mantê-los no
hospital precisa da autorização de um parente que cobrirá os custos
e gastos, se você assinar os papeis Adam vai pro mesmo buraco que
Philipe e adeus dor de cabeça, afinal eles só saíram de lá com
ordem dos familiares. — Explica tudo detalhadamente e eu amei a
ideia de deixar meu tio preso em hospital psiquiátrico.
— Onde estão os papéis para que possa assinar? — Pergunto
esperando os papéis em minha mesa o mais rápido possível.
— Estão aqui. — Samuel abre uma pasta que estava sobre a
mesa retirando os papéis. — Também tenho que informar que eles
irão ficar em alas separadas de outros pacientes, pois os crimes
cometidos foram graves. Obviamente acrescentei mais algumas
banalidades em sua ficha, entretanto o suposto envolvimento deles
com Durval já deixa suas fichas negra. — Ele estende os papéis para
mim.
— Gostei de saber que eles não sairão de lá, merecem ficar
trancados em salas minúsculas sem comunicação e sem contato
com a população, pois realmente são pessoas doentes e não podem
viver em meio a sociedade. — Falo folheando o contrato.
Leio algumas cláusulas destacadas por Samuel, mas assino
sem titubear, pois sabia que Samuel já havia lido todas aquelas
folhas de trás para frente.
— Aqui está. — Entrego nas mãos de Sam. — Não quero ter
problemas com Adam nunca mais, quanto a Philipe, tenho certeza
que os próprios filhos não querem ver a cara dele, não precisamos
nos preocupar.
Meu celular vibra no bolso interno do terno, olho o número e
acho estranho a clínica que meu pai está internado estar me ligando.
Será que aconteceu alguma coisa com ele?
Apesar de não querer visita-lo me preocupo com sua saúde e
com o seu bem estar, atendo o celular logo em seguida.
— Gostaria de falar com o senhor Airon Markcross por gentileza.
— Faço careta para Samuel e ele entende que coisa boa não é.
— Pode falar. —Escuto um silêncio.
— O Senhor Bryan Markcross apresentou uma gradativa piora
no seu quadro esses dias, estamos ligando pois precisamos que
compareça a clínica o mais rápido possível para conversar com o Dr.
Sanches. — Ela diz profissionalmente.
— Amanhã irei a clínica. — Ela agradece se despedindo logo
em seguida.
Desligo o celular e o guardo enquanto Samuel me olha com uma
expressão preocupada.
— O que foi? Você está com uma cara de quem comeu e não
gostou. — Me encara desconfiado.
— A clínica onde meu pai está internado ligou avisando que ele
piorou ultimamente. — Suspiro pesadamente.
As coisas estavam boas demais para ser verdade.
— Entendo, acredito que está na hora de você fazer uma visita
pro seu velho. —Ele se levanta e bate a mão no meu ombro.
— Você sabe que as coisas não são tão simples. Não quero ver
a cara dele. Ele me abandonou depois que minha mãe o deixou
como se eu fosse um nada. Preferiu me culpar pelas coisas erradas
que ele fez, para que o peso da culpa saísse de suas costas. —Meu
nervosismo e irritação se elevam.
— Eu sei Airon. –Samuel solta o ar pesadamente. –Se
compararmos nossos pais não saberemos qual é o mais cretino. Mas
você não pode odiá-lo pro resto da vida, um dia você terá que
perdoa-lo. — Ele aperta meu ombro e eu suspiro em resposta. —
Antes tarde do que nunca.
Sei que tenho que ir visita-lo, mas simplesmente não quero.
Na verdade, eu não estou preparado para isso.
Qual será sua reação ao me ver?
Talvez meu medo seja de não ser aceito por ele novamente ou
talvez a única coisa que quero é ser reconhecido pelo meu pai como
um verdadeiro homem e bom filho.
Me afundando em meus próprios pensamentos não prestando
atenção na voz de Samuel, só saio do meu transe quando a voz fina
de Melissa rompe a sala pelos alto-falantes.
— Senhor Markcross e senhor Rizzon, os senhores tem uma
reunião em cinco minutos. A sala já está preparada e alguns dos
empresários já chegaram. — Melissa diz profissionalmente.
— Odeio quando ela me chama de senhor Rizzon. — Samuel
faz uma careta.
— Vamos logo antes que ela entre aqui e nos leve a força. Você
sabe que ela é capaz disso e com certeza eu não vou despedi-la, já
que ela é a única secretaria que me respeita como chefe e você é
um folgado que sempre a coloca em maus lenções por se atrasar
trinta minutos para as reuniões. — Me levanto indo em direção a
porta.
— Somente lembrando que quem me enfiou nessa merda foi
você. Eu nunca quis ser seu sócio, mas você me enfiou nisso tudo.
Ainda sou a porra de um advogado. —Irritado ele passa por mim
abrindo a porta.
Quer pisar no calo de Samuel é lembrar que eu o obriguei a ser
meu sócio. Ele fica irado todas as vezes que o forço a participar das
reuniões.
— Claro Sr. Rizzon, não precisa se estressar, você adora jogar
na minha cara que te obriguei, porém não me arrependo de nada. —
Sorrio debochadamente.
— Vai a merda Airon, seu puto, desgraçado, eu te odeio. — Ele
sai da sala praguejando irritado.
— Senhor Rizzon eu também te amo, mas sinto lhe informar que
vou casar mês que vem. — Passo o abraço em volta do seu ombro
caminhando ao seu lado.
Melissa nos observa assustada.
— Melissa juro que vou matar seu maravilhoso chefe. — Sam
diz irado.
— Desculpa senhor Rizzon, isso vai contra as regras da
empresa, só para ressaltar senhor Markcross é realmente um chefe
maravilhoso, mas ele também é chato, carrancudo, paranoico,
possessivo principalmente com a Megan. Sou obrigada a ouvi-lo
reclamar o dia todo quando algum homem chega perto da sua
amada mulher, mas voltando a lista. Ele é mandão, turrão, teimoso,
desconfiado, cismado e muita das vezes folgado, mas ele é uma
pessoa muito querida para mim. Poderia continuar a minha lista, mas
vocês estão três minutos atrasados. — Ela diz brava.
Me sinto levemente ofendido com toda a lista que ela fez contra
a minha pessoa, mas ela não mentiu em nenhum momento e sou
obrigado a permanecer calado.
— Melissa você é a melhor, deveria existir mais pessoas como
você no mundo. — Sam bate palmas e Melissa cora.
— Obrigada senhor Rizzon, eu também tenho uma lista sobre o
Senhor. Quer que eu comece agora ou deixe para mais tarde? — Ela
sorri ao perguntar.
Samuel automaticamente fecha a expressão sabendo que sua
lista será três vezes pior que a minha.
— Melhor deixar para mais tarde Melissa. — Ele se esquiva
caminhando para o elevador pensativo e preocupado.
Pisco para Melissa que ri balançando a cabeça negativamente,
ao entra no elevador Samuel suspira aliviado quando as portas se
fecham.
— Achei que ela nos atacaria com alguma faca escondida
embaixo da mesa. —Ele desabotoa o terno passando a mão na testa
logo em seguida.
— Eu disse que ela é a melhor secretaria que poderia existir,
você precisa de uma secretaria assim. Pode deixar que na aproxima
entrevista eu escolherei sua secretaria. — Bato em seu ombro. —
Farei questão de escolher uma senhora de 65 anos.
— Já disse que quero a Katy. — Ele diz emburrado.
— Uma, se você conseguir convence-la eu te pago o dobro.
Duas, ela é pior que Melissa. — Assim que termino de dizer o
elevador se abre.
— Ela realmente é pior que Melissa. — Ele diz baixo enquanto
sai do elevador.
Em silêncio e concentrados entramos na sala de reuniões pronto
para começar, a reunião demorou quase duas horas, mas
conseguimos discutir tudo o que foi preciso.
Apesar de ter enchido as paciências de Sam estava preocupado
com meu pai.
Ao termino da reunião a maioria dos funcionários já haviam ido
embora, inclusive Melissa que estava atacada hoje. Ela geralmente é
uma mulher calma, mas acredito que deixa-la na frente da empresa
em meu lugar e no de Samuel a sobrecarregou, talvez ela mereça
um mês de férias adiantadas.
Mesmo sendo tarde volto para minha sala e organizo meus e-
mails que estavam uma bagunça, quando olho no relógio vejo que
são quase nove da noite.
James está a minha espera com o carro em frente ao prédio da
CrossRoad, o caminho todo fico em silêncio, pois o assunto sobre
meu pai está me consumindo.
Eu realmente não gosto disso, mas pelo que vejo terei que
enfrentar de vez as minhas paranoias e medos.
Airon chegou visivelmente preocupado e chateado. Não sei o
que aconteceu na empresa, mas coisa boa não foi. Ele geralmente
está alegre e animado, no entanto hoje ele apenas me deu boa noite
e foi tomar banho.
Neste momento estou deitada criando mil e uma possibilidade
do que pode ter deixado ele assim, passo a mão na minha barriga e
minha mente continua a criar diversas alternativas, mas nenhuma me
convém.
A única coisa que posso fazer é perguntar para ele quando sair
do banho, o difícil é arrancar as coisas dele, pensa em um homem
complicado e multiplica por três, esse com certeza é o Airon, mas
com jeitinho consigo o que quero.
Estou tão distraída com os meus pensamentos que quando vou
olhar para o lado sou surpreendida com uma belíssima visão de
Airon que está com uma toalha enrolada na cintura, seus cabelos
molhados e bagunçado do jeito que eu amo, aquelas gotas de água
escorrendo pelo seu peito me chamam a atenção me fazendo ofegar
involuntariamente.
— Você está com cara de quem vai me atacar a qualquer
momento. — Ele sorri de lado prendendo minha atenção aos seus
lábios.
Queria muito corresponder aquele olhar cheio de desejo, mas a
minha curiosidade e preocupação estavam falando mais alto, então
me sento na beirada da cama o observando.
Ele se aproxima se encaixando entre minhas pernas mordo
fortemente os lábios contendo a vontade de morder seu abdômen
sarado e molhado.
— Esse olhar não me engana. — Um grande sorriso se estende
por seu rosto me fazendo corar.
— Eu realmente quero, mas primeiro quero saber o que
aconteceu na empresa. Você chegou preocupado. — Olho para ele
preocupada.
— Não se preocupe com isso. — Suspira visivelmente cansado
e pensativo.
— Airon eu sei que aconteceu algo. — Fixo meus olhos nos
seus o encarando. — Não confia em mim? — Pergunto um tanto
magoada.
— É claro que eu confio em você pequena, só não quero te
preocupar. — Beija minha testa.
Suspiro chateada.
Ele sempre faz isso, me deixa fora dos assuntos importante, é
tão irritante.
— Meg vai fazer birra agora? — Acaba rindo de mim e isso me
deixa ainda mais irritada.
— Não quero saber Airon. Um relacionamento é para confiarmos
um no outro e contarmos tudo. Nunca escondo nada de você, mas
você sempre tenta esconder as coisas de mim. — Falo chateada.
Franzido as sobrancelhas ele pondera tudo o que eu havia dito
passando as mãos nos cabeços. Vai até o closet veste uma calça de
moletom, volta e senta-se ao meu lado.
— Airon por favor. — Insisto.
— Você está certa estou sendo um idiota. — Passa as mãos nos
cabelos soltando um longo e pesado suspiro. — Eu não queria te
falar nada porque na verdade eu não sei o que fazer. — Ele faz uma
careta.
— Juntos podemos chegar a uma solução. — Sorrio passando a
mão em sua coxa em sina de conforto.
— Você se lembra que falei sobre o meu pai? — Ele me observa
pensativo e angustiado.
— Claro, ele está internado em uma clínica de reabilitação,
certo? — Falo olhando em seus olhos.
— O quadro dele piorou e a secretaria da clínica me ligou hoje
pedindo que eu fosse fazer uma visita, mas a verdade é que eu não
quero. Ele sempre me humilhou, pisou em mim e me culpo por minha
mãe ter o deixado e ido embora com outro. As empresas dele
estavam falidas e perdidas. Ele tinha entregue tudo de bandeja para
Adam, mas eu fui lá e recuperei tudo. Ele nunca enxerga o que eu
faço, só sabe me culpar e me julgar. — Desabafa jogando um mar de
sentimentos reprimidos para fora.
Passo a mão em suas costas o confortando enquanto ele apoia
as mãos na cabeça sem saber o que fazer, porém estou decida a
leva-lo para ver o pai.
— Vamos visitar ele amanhã. — Falo com convicção e sorrio
para ele dando em beijo em seu rosto.
— Vamos? — Me olha surpreso.
— Sim, nós vamos. Eu sei que ele te humilhou e te culpou por
coisas que você não fez, mas você tem que tirar isso de dentro do
seu coração. Tem que enfrenta-lo e mostrar que não é mais aquele
menino e sim um homem. Um homem que não tem culpa dos erros
cometidos pela sua mãe, mostrar que da mesma maneira que ele
sofreu você também sofre, afinal não foi só ele que foi deixado para
trás. Nós vamos juntos visitar seu pai e tudo dará certo. — Tento ao
máximo passar forças para ele.
— Não sei pequena, meu pai é como Adam. — Diz pensativo.
— Se você não tentar se entender com ele não saberá, ele está
doente, você precisa vê-lo antes que se arrependa. — Passo a mão
por seus cabelos molhados.
Pensativo ele permanece em silêncio por alguns minutos
ponderando o que é certo ou errado.
— Tudo bem, amanhã vamos ver o meu pai, não adianta ficar
fugindo ou remoendo o passado. — Ele dá um beijo na minha
cabeça e eu assinto sorrindo.
Conversamos sobre mais algumas coisas, mas estava tão
cansada que acabo pegando no sono rapidamente apoiada com a
cabeça em seu peito enquanto sinto seus dedos brincarem
suavemente com os meus cabelos.
***
Ao acordar Airon já não estava mais ao meu lado, tomo um
banho rápido e desço para a cozinha pois sei que o encontrarei lá.
Tomamos o café da manhã juntos e ele me obrigou a comer tudo o
que a nutricionista passou para manter minha saúde e a dos nossos
filhos estáveis.
Nos trocamos rapidamente pois James estava a nossa espera,
estou realmente feliz por Airon estar prosseguindo sua vida dessa
maneira. Ele está dando mais um passo em seu passado conturbado
e realmente espero que consiga se entender com seu pai.
Apesar dele estar tenso, inquieto e pensativo, espero que seu
pai tenha mudado, obviamente para melhor, não o conheço, mas
pelo pouco que Airon comenta sobre ele sei que não é muito
diferente de Adam seu irmão.
Demoramos quarenta minutos para chegar na clínica, assim que
chegamos a secretaria se levanta e vem em nossa direção. Espero
Airon terminar de conversar com ela e com uma expressão abatida
Airon concorda com algumas coisas que ela diz e logo ela sai nos
deixando ali.
— Eu não deveria ter vindo pequena. — Faz uma careta
suspirando.
— Vamos lá, grandão. — O incentivo e ele assente incerto.
A secretaria nos guia até o quarto nos deixando a sós. Airon
encara a porta por longos e intermináveis segundos e eu apenas me
mantenho ao seu lado dando o tempo necessário para ele se sentir à
vontade.
Finalmente após minutos ele abre a porta entrando no quarto, o
sigo entrando logo atrás dele me surpreendendo com o que vejo.
O pai de Airon é literalmente igual Adam só que mais debilitado
com uma aparência cansada e abatida.
— Você não me disse que ele era a cópia do Adam. — Falo
baixo em seu ouvido somente para ele ouvir.
— Bryan e Adam são gêmeos. — Ele responde, mas não desvia
o olhar do seu pai.
O senhor que está deitado nos olha e mais uma vez sou
surpreendida, seus olhos azuis são idênticos ao de Airon.
— Mark meu filho, finalmente você apareceu. — Bryan observa
Airon com pouca empolgação o que não condiz com seu tom de
voz.
— Sim pai. — Ele suspira. — O senhor sabe que odeio quando
separa meu sobrenome dessa forma.
Airon não esconde o desgosto de ser chamado daquela maneira
pelo pai.
— O que te trouxe até aqui? Você não veio simplesmente
porque seu velho está morrendo. — O tom de sua voz me irrita.
Airon abaixa a cabeça observando o chão e logo em seguida o
encara novamente.
— Não pai, eu realmente não vim. Na verdade, eu vou me casar
com Megan e o senhor vai ser avô, nosso casamento será daqui
algumas semanas. Achei que o Senhor gostaria de conhecer minha
mulher e os futuros netos. — Apesar da grosseria do pai ele tenta
relevar a situação e mudar de assunto.
O comprimento com um aceno de cabeça e sorrio um pouco
inibida, seus olhos azuis e intensos se voltam para mim me
observando de baixo para cima onde para demasiadamente em meu
rosto sem nada dizer.
— Você arrumou uma belíssima mulher meu filho, essa
felizmente não te abandou. — Ele profere aquelas palavras mal
intencionadas com sarcasmo.
Airon fecha os punhos e posso ver a dor transbordar em seus
olhos junto a decepção e magoa de um passado que já ficou para
trás, mas que Bryan insiste em trazer átona apenas para machucar o
filho.
A ironia, sarcasmo e falta de escrúpulos de Bryan me irrita cada
vez mais. Incentivei Airon a vir até para tentar se entender e redimir
com o pai, mas agora posso ver quem realmente não quer
aproximação.
Esse homem merece morrer sozinho e sem ninguém para lhe
ajudar, essa é a verdade.
— Você nunca vai mudar, certo? Não importa quantas vezes eu
tente me aproximar. Essa é a última vez que venho aqui. Não adianta
continuar com tudo isso, você sempre jogará a culpa dos seus erros
sobre mim como se eu fosse o culpado por aquela mulher ter
deixado você. Eu não a considero minha mãe, mas você, bom, você
eu ainda tinha esperanças de poderia ser meu pai, engano meu. —
Airon se vira irritado caminhando em direção a porta.
Seguro sua mão o puxando para perto de mim ao perceber que
seu peito subia e descia em busca de ar, nunca vi ele tão bravo
como hoje.
— Toda culpa é sua. Ela se cansou de você, você nem deveria
ter nascido. –Cospe as palavras com ódio. -Ela jamais teria se
cansado de mim e ido embora se não fosse por você. Foi pouco o
que Samantha fez, você merecia muito mais e essa mulher? Você
tem certeza que o filho é seu? — Bryan ri irônico.
— Não fale dessa maneira com Megan, ela não é como você ou
como a mulher que você tanto sente falta. Você é pobre de espirito, a
culpa de ter sido deixado é única e exclusivamente sua por ser tão
mesquinho e mal caráter. — O tom de voz de Airon se eleva e ele
caminha em direção ao pai possesso.
Entro em sua frente apoiando minha mão em seu peito o
empurrando para trás na tentativa de segura-lo. Seus olhos perdidos
e machucados se voltam para mim enquanto me encaram com raiva
e ódio.
— Você precisa esfriar a cabeça. — Acaricio seu rosto. — Eu
não me ofendi com as palavras vazias de seu pai, mas você precisa
se calmar. — Toco novamente seu rosto, mas ele segura minha mão
me repreendendo com um único olhar por pará-lo.
— Você está defendo ele? Você ouviu as coisas que ele falou de
você? É por isso que eu não queria vir nessa merda, ele nunca vai
mudar. — Grita comigo.
— Não estou defendo ele, só não quero que você faça algo que
se arrependa depois. — Digo com calma não deixando que sua
irritação e raiva me afete.
Me sinto extremamente culpada por ter feito ele vir até aqui.
— Eu nunca vou mudar? — Bryan ri ironicamente. — Você me
trancou nessa clínica como se eu fosse um animal e me deixou aqui.
Samantha fez a melhor coisa se afastando de você ou seria a
próxima a ser enjaulada. — Ele provoca.
— Cala boca. — Irritada grito com Bryan.
Sinto as mãos de Airon tremer e o observo preocupada.
— Airon sai daqui agora. — Acabo gritando com ele que me olha
surpreso e ao mesmo tempo magoado.
Esse olhar perdido e machucado me faz querer chorar, no
entanto procuro me controlar.
— Faça como você quiser eu achei que ficaria do meu lado. —
Ele solta minha mão com raiva e sai batendo a porta do quarto.
Meus olhos se enchem de lágrimas mais engulo o choro
voltando toda a minha atenção para Bryan.
— Você é um canalha idiota. — Aponto para Bryan que me olha
surpreso. — Eu forcei seu filho a vir até aqui para conversar com
você e mesmo ele negando várias vezes aceitou o meu pedido, pois
sabia que precisava por um ponto final nessa história ridícula, mas
para você é mais fácil julga-lo e fazer dele o seu erro do que assumir
os seus próprios problemas. — Cuspo irritada.
— Você não sabe de nada. — Virando o rosto evitando me
encarar.
— Não, eu não sei de nada e nem quero saber, não quero saber
que você humilhou seu filho e o culpo por causa dos seus erros. Sua
mulher foi embora por culpa sua e não por culpa dele. Ela foi embora
porque você se preocupou mais com o dinheiro e com a fama do que
com a mulher que estava ao seu lado e merecia sua atenção. E
mesmo a perdendo em vez de melhorar você somente piorou, culpou
seu filho, afundou sua empresa e se afundou nas bebidas, foi mais
fácil ver tudo desmoronar do que erguer a cabeça e seguir em frente
como Airon fez. Ele recuperou as empresas que seu irmão tentou
roubar de você, te tirou das ruas, das bebidas e te internou pra que
melhorasse, tentou se aproximar, tentou mostrar que ele não é o
homem que você tanto despreza e julga, mas não, para você é mais
fácil culpa-lo, como se ele fosse um nada. Você é horrível, você é
nojento e usar Samantha para magoa-lo é baixo. Eu me arrependo
de ter pedido para ele vir aqui, me arrependo de ter te conhecido. —
A essa altura eu já estava chorando enquanto jogava todos os meus
sentimentos para fora com ódio.
Minhas mãos tremem com a ira que me consome, minha cabeça
parece que explodirá a qualquer momento e meu coração se acelera
mais do que deveria. Acabo deixando o ódio e as minhas emoções
tomar conta de mim.
— E mais uma coisa, eu jamais vou abandona-lo. Por que ele é
homem incrível, ele é esforçado, batalhador, amoroso e carinhoso.
Ele pode até ser complicado e intenso, mas ele faz tudo para
melhorar. Faz de tudo para me ver feliz. Infeliz é quem se afasta de
uma pessoa tão maravilhosa por culpa-lo e julga-lo. Eu o amo, amo
tanto que faria tudo por ele. Esses filhos são dele sim, sabe porquê?
Por que ele foi meu primeiro homem e será o único. — Não espero
ele responder apenas viro as costas e saio do quarto enquanto vejo
tudo a minha volta girar.
Airon
Saio do quarto irritado com meu pai e principalmente com
Megan.
Vim até aqui porque ela me pediu e insistiu, pois sei que tenho
que concertar os meus erros e mostrar ao meu pai que não sou o
culpado de nada, mas não se tem dialogo com uma pessoa como
ele.
Ele só sabe me culpar e me julgar e nada fará com que ele
mude de ideia.
Para piorar minha vida Megan ficou no quarto com ele, ela me
deixou e ficou lá dentro com aquele homem irritante e odioso.
A raiva que sinto nesse momento faz minhas mãos tremerem.
Na tentativa de acalmar meus pensamentos e meu corpo me sento
nas cadeiras que ficam em frente a porta do quarto e encostando
minha cabeça na parede.
Quero voltar lá dentro e arrastar Megan para fora a força e leva-
la embora, foda-se o meu pai ou que ele pensa, só quero ficar em
paz com a minha mulher e os meus filhos.
Os minutos se passam e Megan não sai de lá de dentro, me
acalmo e percebo que fui um idiota. Descontei meu ódio na mulher
que amo e que tentou me ajudar.
Bufo passando as mãos nos cabelos após puxa-los ao me
lembrar do olhar magoado que ela me lançou quando alterei meu
tom de voz e impedi o seu toque.
Pouco me importa meu pai, para mim ele aparenta estar muito
bem. Apenas quero ir embora e pedir desculpas para Megan pois sei
que ela está magoada.
Quando estou pronto para me levantar e chamar Megan, a porta
do quarto se abre em um solavanco me obrigando a levantar
rapidamente devido à preocupação. Megan sai do quarto pálida e
atordoada se apoiando na parede.
— Megan? Você está bem? O que aconteceu? — Pergunto
preocupado apoiando minha mão sem suas costas.
Ela balança a cabeça em negativo e cai para o lado fazendo
meu coração disparar em puro desespero e preocupação. A seguro
em meus braços antes que seu corpo atinja o chão, entro em
desespero e começo a gritar por socorro, vários enfermeiros
aparecem correm em minha direção e pedem que eu a coloque no
quarto ao lado do meu pai, não deixam que eu fique na sala e me
tiram a força de lá.
— É culpa dele. — Grito no corredor deixando que o ódio me
cegue.
Entro no quarto do meu pai, furioso mesmo com dois
enfermeiros tentando me impedir.
— Se acontecer alguma coisa com Megan ou com os meus
filhos eu juro que acabo com a sua vida. Juro que paro de pagar tudo
isso aqui e foda-se o que vai acontecer com você. — Ele me olha
tristemente e sorri cansado.
Três enfermeiros me imobilizam impedindo que eu continue
minha ameaças contra ele me arrastando para fora do quarto, mas
antes posso ouvi-lo dizer palavras que jamais imaginei sair de seus
lábios.
— Você tem uma mulher incrível, me perdoe por tudo meu filho.
— Fico tão surpreso com aquelas palavras que nem mesmo luto com
os três enfermeiros que praticamente me jogam para fora do quarto.
Um dos enfermeiros me repreende dizendo que se eu fizesse
mais alguma coisa ou invadisse mais algum quarto, eles me
colocariam para fora e só deixariam entrar quando Megan
acordasse.
Concordo atordoado demais para discutir com eles depois das
palavras que ouvi do meu pai. Fico em silêncio esperando notícias
de Megan enquanto o cansaço e a preocupação me consomem
lentamente.
Após longos e fatídicos minutos uma mulher de idade avançada
sai do quarto onde Megan estava, me levanto indo até ela.
— Como ela está? Como os meus filhos estão? — Pergunto
preocupado.
— Calma meu jovem, todos estão bem. Ela passou por um
estreses muito forte o que fez a pressão subir e consequentemente
desmaiar. O processo de gravidez é algo delicado, cada mulher
reage de uma forma. No momento ela está dormindo e tomando
soro, assim que ela acordar você pode mandar um dos enfermeiros
me chamar. — Ela sorri.
Agradeço e entro no quarto, ver Megan deitada em uma maca
não é agradável, me traz recordações ruins. Me sento ao seu lado
esperando ela acordar.
Eu realmente não deveria ter gritado com ela. Talvez a culpa
nem foi do meu pai e sim minha, talvez ela tenha ficado tão magoada
que acabou se sentindo mal.
Suspiro vendo o quão idiota eu consigo ser.
Remoendo a minha briga com meu pai e o meu surto repentino
com Megan, os minutos se arrastam até vê-la abrir os olhos perdida.
Se senta na beirada da cama me olhando confusa, me levanto de
presa e caminho até ela a abraço com certa força beijando sua
testa.
— Pequena me desculpa, eu fui um idiota, não deveria ter falado
com você daquela maneira. — Falo com pressa preocupado demais
com suas reações.
Sua mão sobe por meu braço acaricia meus cabelos com calma
apoiando seu rosto na curva do meu pescoço.
— Tudo bem você estava nervoso. — Ela se afasta olhando em
meus olhos. —Me perdoe, eu não devia ter insistido para você vir até
aqui. — Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Eu não sei o que você disse pro meu pai, mas ele agiu muito
estranho quando entrei lá para ameaça-lo por ter lhe causado mal. —
Sorrio fazendo uma careta e ela se surpreende.
— O que você fez? E o que ele disse? — Ela pergunta meio
desconfiada.
— Bom, eu não fiz nada pois os enfermeiros me barram, apenas
ameacei de parar de pagar o seu tratamento se algo acontecesse
com você ou com nossos filhos e ele me disse que tenho uma
mulher incrível e me pediu perdão por tudo, foi bem rápido talvez eu
estivesse delirando com a raiva. — Digo pensativo.
— Você não estava delirando Airon. — Ela ri aliviando a
preocupação em meu peito.
— Não? — Franzo as sobrancelhas me fingindo de
desentendido.
— Não mesmo. Sabe, eu meio que posso ter sido bruta com
minhas palavras e isso acabou abrindo os olhos de seu pai. — Ela
faz uma careta duvidosa me fazendo rir.
— Não me importo, não quero falar com meu pai novamente, já
tentei tudo o que pude e ele ignorou, deixa que o tempo se
encarregue do resto. — Dou de ombros suspirando.
— Você tem razão meu amor. — Ela deixa um suave beijo em
meus lábios.
Sei que Megan provavelmente usou palavras duras com meu
pai, pois ele jamais mudaria de opinião. Como a doutora havia
pedido que a chamasse assim faço.
Ela retira o soro da Megan e diz que estamos liberados para ir
embora, mas que é importante tomar cuidados caso Megan
apresente sintomas de pressão alta, pois isso é algo perigoso em
uma gravidez e pode causar sérios problemas ao feto.
Aconselhou também que procurássemos nosso médico para
acompanhar de perto o caso e fazer novos exames se necessário.
Voltamos para casa e procuro não tocar mais no assunto do
meu pai, não me importa mais, tentei de todas as maneiras me
aproximar dele e ele não quis. Não vou perder meu tempo, nem
deixar Megan magoada por culpa dele. Bryan já conseguiu destruir
muitas coisas em minha vida, mas a família que eu tanto esperei ele
jamais vai destruirá.
A única coisa que quero agora é passar meus dias em paz ao
lado de Megan preparando nosso casamento.
Observo meu reflexo no espelho e fico surpresa com a imagem
a minha frente, o vestido branco se envolve perfeitamente as minhas
curvas e acomoda minha barriga já grande com delicadeza. A porta
se abre e Katy e mamãe entram no quarto animadas.
Elas estão simplesmente lindas.
Katy é minha dama de honra e está perfeitamente a rigor com
um vestido rosa bebê que vai até a altura do joelho marcando suas
curvas delicadamente, cabelos presos em um coque com uma
maquiagem suave além de segurar o pequeno buque de flores
brancas.
Mamãe está elegante em um vestido azul claro que combina
com o tom claro de sua pele, seus longos cabelos castanhos caem
soltos por seus ombros até a altura de sua cintura, uma maquiagem
leve marca seus olhos castanhos escuros assim como os de Katy.
Os cabeleireiros e maquiadores terminam os retoques finais no
meu visual com cuidado e perfeição. Como escolhi fazer a cerimonia
e festa de casamento na mansão preferi que fosse durante o dia,
escolhi um vestido de casamento mais simples, mas que me
deixasse elegante.
Um vestido branco bordado com pequenas e delicadas pedras
sobre a renda suave, ele é longo e sem muitos detalhes, mas é um
vestido sofisticado e delicado que valorizava o meu corpo e
valorizava minha barriga grande. O penteado deixa meus cabelos
ondulados fixo em um lindo coque preso pela coroa.
Não posso me esquecer de mencionar as gêmeas Greice e
Renata, é claro que elas são minhas floristas e dama de honra. Airon
escolheu Samuel como padrinho, é claro que Katy será seu par e a
felicidade estampada em seu rosto quando soube da notícia não
nega o quanto ela gosta dele, mas sua teimosia ainda prevalece em
questão de aceitar um relacionamento com ele.
Convidei poucas pessoas, na verdade somente as pessoas mais
próximas e amigos mais íntimos, deixei para Airon acrescentar na
lista alguns empresários que de acordo com ele não poderia faltar.
Dona Olga recusou deixar o buffet fazer o bolo do casamento,
ela fez questão de preparar o bolo e todos docinhos. Aceitei de
coração já que os seus doces são os melhores, sua maravilhosa
torta de morango não poderia faltar.
Katy não para quieta e está me deixando ansiosa, por mais que
eu vejo Airon todos os dias em seus maravilhosos ternos. Hoje estou
mais do que ansiosa para ver seus olhos azuis, cabelos bagunçados
e seu lindo sorriso safado, fico a imaginar como ele deve estar lindo
vestido de noivo.
— Minha querida você está tão linda. — Mamãe diz sentando ao
meu lado.
— Obrigada mãe, você e Katy estão maravilhosas. Desse jeito o
pai ficará com ciúmes e Samuel terá um ataque cardíaco. — Acabo
sorrindo ao ver Katy me lançar um olhar de repreensão.
— Katy está enrolando o coitado do moço. — Mamãe ri fazendo
a equipe de cabeleireiros rir.
— Gata se você não quer aquele bofe eu estou aceitando. —
Diz Diego se abanando com o pente que segurava em mãos.
— Tira os olhos meu filho ele é só meu. — Katy faz cara feia
para Diego que cai na risada.
— Viu gata, ela tem ciúmes do bofe, mas fica dando mole. — Ele
balança a cabeça em negativo e Thiago o repreende. — O que foi
Thiago está com ciúmes? Não se preocupe tem Diego para todo
mundo. — Rimos com a discussão dos dois que descontraem o
momento de ansiedade.
Katy ainda está com cara feia, mamãe prefere observar o
andamento da conversa em vez de opinar. Rimos muito com as
provocações do Diego e do Thiago e a cada momento que se passa
vejo minha linda amiga ganhar um tom vermelho intenso em suas
bochechas.
Samuel conseguiu criar um vínculo grande com nossa família, o
que faz ele ser protegido por papai e isso deixa Katy mais do que
irritada.
Quando Thiago termina de retocar meu batom arrumo meu
vestido sentindo meu coração disparar dentro do peito. Mamãe me
entrega o buque de rosas brancas e vermelhas o qual seguro em
frente ao corpo com as mãos tremulas.
— Airon ficará encantado quando te ver Megan. Você está
maravilhosa e os pequenos da titia estão lindos igual a mamãe. —
Katy acaricia minha barriga por cima do vestido fazendo voz de
criança.
— Minha menina você está incrível, vocês cresceram tão rápido.
Achei que havia perdido o seu casamento e a oportunidade de te ver
vestida de noiva, te amo minha filha. — Mamãe diz acariciando meu
rosto, meus olhos se enchem de lágrimas ao me lembrar de tudo o
que passei para chegar até aqui.
Foram tempos complicados e difíceis, mas eu gosto de acreditar
que tudo tem a hora certa de acontecer.
— Eu também te amo mãe. — A abraço segurando as lágrimas
para não borrar a maquiagem.
— Você está um arraso gata, nós realçamos sua beleza natural,
vai lá e arrasa o coração do seu bofe, quero dizer nosso chefe e faz
o favor de não borrar a minha perfeita maquiagem. — Diego diz se
abanando e recebe um tapa no ombro de Thiago.
— Você não tem jeito Diego, um dia sua língua te condenará. —
Thiago diz negando com a cabeça.
— Sou sincero bicha e eu adoro uma algema, então que minha
condenação chegue logo. — Ele fecha os olhos fazendo pose.
Sou obrigada a gargalhar com a discussão daqueles dois a
minha frente, apesar de atirado e completamente maluco é visível o
amor e carinho que Diego reserva única e exclusivamente para
Thiago que é mais retraído e quieto.
Airon com toda certeza não gostaria nem um pouco de ouvir
essa conversa.
— Vai logo o que está esperando? Ele vai achar que você fugiu.
— Thiago estala os dedos com pressa enquanto Diego apoia a mão
na minha cintura me forçando a andar até a porta.
— Eu já estou indo vocês são tão ansiosos. — Faço uma careta,
mas pisco para Diego que sorri.
Katy e mamãe vem logo atrás de mim me ajudando a descer as
escadas com aquele vestido, encontro James, Willian e Ray no hall
de entrada, eles param para me observar com sorrisos bobos no
rosto.
— Se eu não respeitasse tanto o chefe juro que fugiria com você
senhora. — Ray se aproxima com um grande e simpático sorriso no
rosto depositando um suave e respeitoso beijo em minha mão.
— Tenho que concordar com Ray. — Willian diz e James sorri.
— Se o senhor ouvir essa conversa nossos pescoços correm
perigo. — James sorrindo abertamente.
Acredito que essa deve ser a primeira e única vez que vi James
sorrir com tanta sinceridade e carinho. Isso de certa forma preenche
o meu coração de felicidade.
— Podem ir tirando os olhos da minha lindíssima irmã. — Eles
riem obedecendo as ordens de Katy sem questionar.
— Sr. Markcross está te esperando ansiosamente senhora. —
James sorri para mim e os três saem para o jardim onde acontecerá
a cerimônia.
Continuo meu caminho e paro em frente a grande porta que leva
ao jardim da mansão.
Meu coração se acelera e a ansiedade toma conta do meu
corpo. Greice e Renata estão animadíssimas ao meu lado e escolhi
seus vestidos em um tom salmão que ia até um pouco acima dos
seus joelhos.
Elas me abraçam deixando um beijo no meu rosto uma de cada
lado.
Aos poucos todos vão se ajeitando e caminhando para seus
devidos lugares. Meu coração bate descompassadamente quando
escuto a música tocar indicando que posso entrar, respiro fundo
algumas vezes na intenção de diminuir a ansiedade.
Papai se aproxima deixa um beijo em minha testa.
— Você está linda minha menina. — Ele sorri e seus olhos
brilham ao me observar.
Sorrio gentilmente para ele e meus olhos se enchem de
lagrimas. Pensar que todo o meu passado foi regado de sofrimento e
dor e hoje estou aqui, concluindo minha felicidade e me casando
com o homem que amo.
Às vezes olho para trás e fico imaginando se tudo o que vivi
esses meses foram realmente reais.
— Vamos querida? — Papai estende o braço para mim com os
olhos cheios de lágrimas me tirando dos meus devaneios.
Seguro o braço dele e vejo que tudo aquilo era real, meu sonho
de construir uma família estava se tornando realidade. Caminho
sobre as pétalas de rosa espalhadas sobre o tapete vermelho.
Ergo o olhar em direção ao altar e meus olhos encontram
diretamente os de Airon.
É como se tudo a minha volta não existisse, seus olhos azuis
brilham de uma maneira inexplicável, seu sorriso e sua felicidade
está estampando em cada traço de seu rosto.
Caminho em meio aos olhares admirados dos convidados e
procuro não desviar meus olhos dos de Airon, pois hoje mais do que
nunca ele está impecável.
Seus cabelos bagunçados estão incrivelmente alinhados de uma
maneira sexy que nunca vi antes, seus olhos azuis brilham
intensamente deixando a cor mais viva e intensa.
Não contenho algumas lágrimas que rolam pelo meu rosto, a
felicidade dentro do meu peito explode em forma de satisfação e
alegria.
Passamos por tantas lutas, brigas e rivalidades que quero
apenas viver intensamente cada dia da minha vida ao lado de Airon.
Ao chegar ao altar papai me deixa um beijo na testa e entrega
minha mão ao Airon. Sorrio docemente segurando sua mão com
carinho enquanto caminho até o altar onde o padre nos esperava
com a bíblia aberta.
O padre começa a cerimônia fazendo uma oração e explicando
o que é um casamento e como devemos ter respeito um pelo outro
além de união, amor e confiança.
— Airon Markcross você aceita Megan Park Avallon como sua
legitima esposa, para ama-la e respeita-la, na riqueza e na pobreza,
na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os
separe? — O padre entrega o microfone para o Airon.
— Sim, eu aceito, ama-la e respeita-la, além prometer faze-la a
mulher mais feliz, para vivermos uma vida de alegria e paz, pois
quero ver seus maravilhosos olhos verdes brilharem de alegria, ver
seu sorriso e sua felicidade junto a mim e nossos filhos, mas também
quero consola-la em seus momentos de tristeza e dificuldade. Quero
ser o homem que trará seus melhores sorrisos. Pequena, quero te
fazer a mulher mais feliz do mundo. — Diz olhando dentro dos meus
olhos transmitindo cada grama de seus sentimentos em suas
palavras cheias de amor.
Não consigo conter as lágrimas que rolam soltas pelo meu rosto,
a emoção, felicidade e alegria que sinto é tão grande que a minha
vontade é me jogar em seus braços e beija-lo.
— Megan Park Avallon você aceita Airon Markcross como seu
legitimo esposo, para ama-lo e respeita-lo, na riqueza e na pobreza,
na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os
separe? — O padre me entrega o microfone e sem titubear
respondo.
— Sim, eu aceito, ama-lo e respeita-lo por toda a minha vida.
Agradeço a Deus por ter te colocado em meu caminho. Um completo
acaso do destino que me trouxe a maior felicidade e o mais puro
amor. Eu prometo te amar, respeitar e cuidar de você todos os dias
da minha vida. — Digo cada palavra expressando todos os meus
sentimentos por ele.
Ele abre um maravilhoso sorriso para mim e sussurra um "Eu te
amo" enquanto as lágrimas escorrem de seus olhos. Trocamos as
alianças e pude ver Katy e mamãe se derretendo de chorar.
— Pode beijar a noiva.
Airon me puxa pela cintura enroscando uma mão em meu
pescoço e colando seus lábios nos meus, um beijo quente e
desesperado, cheio de amor e ternura, transmitindo todos os seus
sentimentos e desejos por mim.
Escuto várias palmas e assovios enquanto nos beijávamos, paro
o beijo olhando em seus olhos azuis que eu tanto amava.
— Eu te amo. — Sussurro sorrindo para ele.
— Eu também.
Caminhamos entre a multidão de pessoas que nos parabenizam
e seguimos para a festa que seria no jardim da mansão.
O local está impecável com rosas brancas e vermelhas, as
mesas tinham delicadas toalhas rendadas deixando o ambiente
aconchegante, elegante e sofisticado.
Os fotógrafos aproveitavam cada pose e movimento para tirarem
uma porção de fotos em ângulos diferentes. Airon conversa
animadamente com um grupo de homens e eu sou barrada por
Melissa a secretaria de Airon, que fica encantada com o meu vestido
e com a minha barriga.
Katy se junta a conversa e ficamos por um bom tempo ali até
várias mulheres se reunir na pequena roda.
Samuel se aproxima de Katy e a atenção da minha linda irmã se
volta completamente para o garanhão de cabelos loiros muito bem
vestido e confesso que é estranho vê-la tão próxima e relaxada ao
lado um homem com tamanha presença e influência como Samuel.
Samuel tem um poder incrível sobre ela, nem mesmo nosso pai
consegue controla-la da maneira que ele faz, mas ela continua sendo
terrivelmente infantil e cabeça dura.
A cerimonialista se aproxima dizendo que está na hora da valsa
do casal.
Sigo para a pista de dança montada no jardim, Airon coloca
suas mãos sobre minha cintura e eu em seus ombros. Dançamos a
valsa por longos minutos até ser liberada para os outros casais,
assim que liberam a pista de dança James se aproxima e pede uma
dança, Airon se afasta deixando James guiar os passos.
— Cuide bem da minha pequena, James. — Airon sorri ao se
afastar.
— Sempre senhor. — James sorri com um brilho no olhar.
James é como um pai para mim, ele é como Dona Olga que
cuida de todos como seus filhos e faz questão de acolher os que
estão a sua volta com muito amor.
— Megan, estou tão feliz por vocês dois, eu disse para você ter
paciência e agradeço aos céus por você ter me ouvido, eu nunca vi
Airon tão feliz. — Diz enquanto dançávamos uma música lenta.
— Obrigada James. — Sorrio o abraçando. — Você é como um
pai para mim. — Ele sorri de volta afagando os meus cabelos.
— Você conseguiu liberta-lo de todos os seus medos, obrigada
por traze-lo de volta. — James sorri deixando um beijo em minha
testa.
— Não foi só ele que se libertou James, eu também fui liberta.
— Sorrio deixando um beijo em sua bochecha.
Tanto eu quanto Airon estamos libertos de passados terríveis e
horríveis que custaram nos deixar. Que nos perseguiu
insistentemente enquanto tentávamos viver nossas vidas sem
esperança de ver um final feliz, mas quando nos conhecemos
acabamos nos permitindo viver momentos novos e diferente e a cada
passo que dávamos para o futuro estávamos mais unidos e
apaixonados.
A música para e James me dá um abraço apertado após deixar
um beijo em meu cabelo.
Ethan, Noah e Dylan chegam atrasados, mas meu coração se
enche de alegria ao vê-los presente. Airon ainda não gosta deles,
pois diz que não confia e nunca vai confiar em pessoas que me
fizeram tão mal, mas meu coração não consegue guardar raiva
sendo que no final de tudo eles foram tão bons comigo.
Eles nos cumprimentam desejando felicidades, no final Airon
acaba se enturmando e sendo simpático, porém Ethan escapa de
fininho da conversa e vai atrás de Katy que estava junto de Sam,
observo de longe a reação de Samuel que não gosta da presença de
Ethan.
Deixo eles se resolverem enquanto converso com Dylan e Noah,
tudo está maravilhoso e a felicidade que sentia era enorme. Como eu
já estava cansada, peso para que a cerimonialista chamar as
mulheres solteiras para jogar o buque.
Katy tenta correr, mas mamãe obriga ela a participar, meio
escondida ela se camufla entre as meninas.
Faço a contagem e jogo o buque logo em seguida, escuto os
gritos histéricos das mulheres ao tentar pegar o buque e ao me virar
me surpreendo ao ver que Katy segurava o buque perfeitamente em
suas mãos, ela me olhava boquiaberta e corada.
Perdida e sem jeito ela me lança um olhar de ajuda e socorro e
eu dou de ombros sorrindo.
Samuel abre um enorme sorriso ao ver a cena e ela apenas
aceita sorrindo envergonhada.
Eu e Airon nos despedimos e seguimos para mansão deixando
os convidados curtindo a festa. Nossa lua de mel seria no nosso
quarto, como não posso fazer viagens longas por causa da gravidez
decidimos ficar na mansão.
Não reclamei de nada, pois a melhor coisa é estar trancada com
ele dentro de um quarto, mostrando todo o nosso amor e desejo um
para o outro.
Muitas vezes acreditei ter feito a pior coisa da minha vida em me
casar com um estranho. Acreditei ter sido meu pior erro, mas na
verdade foi o meu melhor, pois não me arrependo de ter ido aquela
viagem e ter conhecido Airon, se não fosse um momento de loucura
eu jamais realizaria todos os meus sonhos e construiria uma família
tão linda.
A verdade é que nas maiores loucuras saem as melhores
realidades e a minha realidade se chama Airon Markcross o magnata
da minha vida.
3 ANOS DEPOIS