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Copyright © 2021 Beatrice Meirelles

Capa: Hórus Editorial


Revisão: Leticia Tagliatelli
Diagramação: Beatrice Meirelles e Fox Assessoria

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa,


porém no decorrer da estória poderão ser encontrados termos e gírias
para demonstrar a informalidade do texto.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o
consentimento escrito do autor.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.2018.
SUMÁRIO
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Epílogo
Agradecimentos
Laureen Vargas sempre teve tudo o que queria na palma da mão, mas
aos vinte anos, seu destino muda de forma devastadora.
Seu pai, um homem de negócios à beira da falência e com uma dívida
imensa, oferece sua filha virgem em troca do perdão da mesma.
Apenas no dia do casamento, Laureen finalmente conhece seu futuro
marido, um CEO herdeiro de um grande império no mercado de ações.
O que ela não sabia é que Gael busca nela a vingança da morte de
sua mãe.
Mocinho ou verdadeiro vilão?
Uma paixão ardente, sensual e extremamente arriscada aguarda por
Laureen neste romance hot de Beatrice Meirelles.
Quando a boca não consegue dizer o que o coração sente, o melhor
é deixar a boca sentir o que o coração diz.
William Shakespeare
A você, que de alguma maneira, chegou até aqui...
O acordo
Casamentos arranjados eram muito comuns antigamente,
famílias ricas se uniam com outras e formavam uniões para seus filhos.
Alguns se casavam por livre e espontânea vontade, sendo felizes na união, já
outros, detestavam seus cônjuges e suportavam a situação apenas pelo bem
de suas famílias.
Pensar desta maneira só mostrava o quanto o ser humano poderia ser
egoísta, antigamente isto era bem comum, mas hoje em dia não.
Só de Jorge Vargas pensar nisso, seu coração gelava mais do que o
normal e suas mãos molhavam de suor, tanto que poderia ter um infarto ali
mesmo, cair debruçado sobre a mesa a sua frente e simplesmente morrer, ou,
é claro, aceitar a proposta que seu “amigo” havia oferecido.
Na verdade, Jorge Vargas e Eduardo Brown nunca foram
completamente amigos. Ainda jovens, tiveram um pequeno desentendimento
por conta de dinheiro, é claro, e por outras coisas que Jorge levaria ao
túmulo se pudesse. Ambos estudaram juntos na faculdade e abriram seus
negócios, o problema, pelo menos para Jorge, é que seu “amigo” se tornou
muito popular e virou uma competição entre eles. Com isto, os dois travaram
uma guerra e acabou que, à beira da falência, Jorge se viu obrigado a pedir
ajuda à Eduardo.
Foi assim que a proposta surgiu.
— Você está mesmo querendo que nossos filhos se casem? —
questiona Jorge parado em frente ao Eduardo.
— Sim, vai ser bom para as duas famílias. Vocês poderão ser alguém
novamente e perdoo a dívida.
— E o que você ganha com isso, afinal?
— O resto das suas ações — dispara Eduardo. — Isso será o
pagamento que irei receber.
— Por que tem tanto interesse em ações que estão fodidas?
— Porque quero mostrar a você como se salva um império de
verdade, mas não se preocupe, você e sua família serão recompensados.
Terão uma boa fortuna e o melhor de tudo, sua filha será minha nora e meu
filho, o seu genro.
— E desde quando isso é bom para nós? Estaremos decidindo o
destino dos nossos filhos, e sabemos que não somos tão amigos assim, pois
temos nossas diferenças em relação ao passado.
— Sim, você está certo, temos as nossas divergências, mas nada tão
grave, pelo menos agora... Se passaram muitos anos, Jorge... Gael, se
casando, ao menos irá tomar jeito e deixará de viver em puteiros fuleiros,
sujando meu nome, já sua filha terá dinheiro para sobreviver. Você não quer
que sua família passe fome, quer?
Eduardo se debruça sobre a mesa, encarando o homem à sua frente,
com a fisionomia aflita. É claro que Jorge não queria que sua família
passasse necessidades, tão pouco obrigar sua filha se casar com um
completo estranho.
Mas, afinal, que escolha ele tem?
Sabia que se explicasse a situação para sua filha, ela entenderia,
afinal, Laureen sempre foi uma boa entendedora.
Será mesmo que ela entenderia o destino que ele estava dando a ela?
— Você tem certeza de que quer essas ações só para me humilhar e
mostrar como se salva um império?
— Sim, é isso mesmo, para alguns pode ser ridículo, já para mim,
vitória é sinônimo de poder.
Jorge coça o alto da sua cabeça careca e se posta em pé, fechando os
botões do seu paletó.
— Quanto tempo tenho para dar uma resposta?
— Um dia, é o que irei esperar. Aceite, é o melhor a se fazer.
Era visível o suor na testa de Jorge e seu pomo de adão subindo e
descendo vigorosamente.
— Entrarei em contato para dar uma resposta.
Eduardo assente e um sorriso nada convincente se forma em seu
rosto.
— Ótimo, espero que seja uma decisão sensata.
Jorge também esperava por isso.
Salvar o Império
Acordo com uma leve batida na porta e me sento bocejando
enquanto encaro o tempo do lado de fora que parece estar bastante
agradável, o que me deixa animada.
Me levanto, sigo em direção a porta e a abro dando passagem a
minha empregada, Lucy.
— Bom dia, senhorita Vargas.
— Bom dia, Lucy — respondo sorrindo.
Lucy é uma das empregadas da nossa casa e a escolhi como minha
confidente por nos identificarmos, além de termos muitas coisas em comum,
principalmente o amor pelos livros.
Por ser uma garota simples, Lucy, não tem muito recurso para
comprar livros e pelo que fiquei sabendo, ela envia para a mãe doente, que
mora na Alemanha, seu salário. Ela veio morar conosco, quando tinha
apenas dez anos, trazida por meu pai para ajudá-la. Nessa época, eu tinha
apenas seis anos, descobri que ela se interessava por livros, por isso permiti
que ela usufruísse da minha biblioteca e foi aí que nossa amizade começou.
Papai aceitou nossa amizade logo de início enquanto mamãe se opôs,
porém, com o tempo ela acabou aceitando. Por conta de morarmos na mesma
casa criamos algumas regras básicas, como não nos tratarmos com tanta
formalidade, pelo menos não quando estivéssemos sozinhas.
— Por que não trouxe meu café?
— Seu pai pediu para que viesse acordá-la porque quer muito falar
com você — diz cruzando os braços.
Vejo que ela assopra a mecha castanha que cai no seu rosto e suspira.
— E você sabe o que ele quer?
— Não consegui descobrir, mas pediu para sua mãe se reunir com
vocês no café, então acredito que deve ser algo importante.
— Com certeza é alguma coisa relacionada a empresa dele, talvez
queira que eu o ajude em algum discurso bobo, você sabe como papai é.
Lucy concorda sorrindo e se aproxima de mim, desmanchando o nó
das costas da minha camisola.
Me dispo e pego o roupão que está pendurado na porta do guarda-
roupa, o vestindo.
Lucy me segue até o banheiro luxuoso, prepara meu banho, enche a
banheira e coloca a colônia de jasmim que tanto adoro.
— Acredito que se fosse um discurso, ele não precisaria de você,
Laureen. — diz enfaticamente.
— Então terei que descer o mais breve possível para descobrir —
digo dando de ombros.
Damos risadas do meu jeito.
Entro na banheira me despindo completamente e esfrego minha pele
suavemente enquanto Lucy arruma meu quarto. Lavo meu cabelo, tiro o
embaraçado e analiso a situação.
O que papai quer de tão importante comigo?
Com certeza será algo e tanto, afinal, se não fosse, não iria pedir
para Lucy me chamar.
Para falar a verdade, vejo meus pais poucas vezes. Papai sempre
está na empresa, enquanto mamãe segue sua vida gastando com joias caras e
almoçando com suas amigas da alta sociedade.
Sempre achei isso tudo supérfluo, não que eu não gostasse de usufruir
dos bens que temos, mas preferia mil vezes pegar e dar a quem realmente
necessita, do que gastar com coisas fúteis.
Minha mãe, a senhora Elizabeth Vargas, não gostava muito disso,
dizendo que eu deveria me envolver com mulheres do meu nível para que um
dia eu pudesse encontrar um homem à minha altura para me casar.
Bem, se ela acha que em pleno século XXI eu irei me casar por
contrato, está enganada.
Nunca fui de me apaixonar, na verdade, a única vez que gostei de
alguém foi na época da escola, onde conheci um rapaz bastante gentil.
Chegamos a ficar algumas vezes, mas não passou disso, já que ele queria
algo que, naquele momento, não poderia dar.
E para ser sincera, ainda não havia dado para ninguém e nem
pretendia.
***
Saio do banho e me troco às pressas, coloco uma calça jeans que
marca meu corpo, uma blusa escura de gola alta, deixo meu cabelo solto,
apenas o penteando e finalizo com uma maquiagem leve. Olho para o relógio
e percebo que já passou uma hora desde que Lucy anunciou que meu pai
gostaria de falar comigo, com certeza ele estará bravo devido minha demora.
Calço meus tênis, apanho meu aparelho celular e noto que não tem uma
mensagem sequer. Para falar a verdade, nunca fui de ter muitas amizades, as
pessoas na escola me encaravam torto por ser filha de Jorge Vargas, como se
ter dinheiro fosse um crime. Por conta disso, preferia me manter focada nos
estudos e nos romances de época que lia junto com minha amiga, Lucy.
Muitas vezes propus a ela para que deixasse o emprego de
empregada na nossa casa e que continuasse a morar conosco sendo apenas
minha amiga. Ofereci uma parte da minha mesada para que ela ajudasse sua
mãe, mas Lucy se negou, dizendo que preferia estar perto de mim
trabalhando do que ser um peso nas minhas costas. Claro que ela nunca seria
um peso, mas entendi a sua posição e concordei, pois não queria deixá-la
desconfortável.
Saio dos meus pensamentos e me encaro no espelho, o reflexo de
uma mulher magra, cabelo loiro, pele clara, lábios grossos e nariz arrebitado
me encara e um enorme sorriso se forma em meu rosto, o que me faz analisar
meus dentes brancos e limpos.
Sigo em direção à porta e a abro, saindo de frente para um corredor
comprido. Ando por ele em silêncio, ansiosa para saber o que meu pai quer
conversar. Desço a escada, passo pelo hall, seguindo em direção a sala de
jantar, onde vejo papai sentado na cabeceira da mesa, com mamãe ao seu
lado, segurando sua mão.
Percebo que o olhar de ambos é sério, como se algo de ruim tivesse
acontecido. De repente, sinto um aperto no meu coração e uma sensação
estranha cobre cada célula do meu corpo.
O que está acontecendo, afinal?
— Laureen, você demorou — diz papai suspirando.
— Estava no banho, me desculpe — digo de maneira ardilosa para
que o pedido fosse aceito.
— Tudo bem, querida, sente-se, precisamos conversar.
Concordo e me sento ao seu lado enquanto uma das empregadas se
aproxima e serve uma xícara de café para mim. Vejo sobre a mesa diversas
frutas, pães, queijos e outras coisas. Me sirvo e enquanto como, encaro
mamãe que continua séria, sem proferir nenhuma palavra.
— Aconteceu alguma coisa, mamãe? — questiono erguendo a
sobrancelha.
— Você já vai saber, minha filha — diz suspirando.
Concordo voltando a comer, logo em seguida encaro meu pai que
continua sério.
— Como os estudos estão, Laureen? — meu pai questiona.
— Estão indo bem, eu acho, ainda não decidi que curso na faculdade
irei fazer, por enquanto, estou estudando um pouco de cada área que me
chama a atenção.
Ele concorda e repousa sua mão sobre a minha, a segurando.
Aperto a sua mão de volta, como um sinal de acolhimento e vejo seus
olhos demonstrarem uma tristeza enorme.
— Precisamos conversar sobre um assunto bastante delicado —
começa a dizer acariciando meus dedos.
— Estou ouvindo.
— Filha, você se lembra do Eduardo Brown?
— Bem pouco, ele não é um dos sócios do senhor ou algo parecido?
— Na verdade, não... Fomos amigos por alguns anos, ele se destacou
bastante no mercado de ações e acabou construindo um império e tanto.
— Assim como o senhor — digo sorrindo.
Vejo seu sorriso vacilar e fico sem entender.
— Não basta criarmos um império, precisamos saber mantê-lo — diz
enfaticamente.
— Entendo, e o que o Eduardo tem a ver com isso, por acaso ele está
quebrado e procurou o senhor para pedir dinheiro?
A hipótese disso ser verdade me deixa confusa.
Por que papai me chamaria para falar sobre um antigo amigo seu?
Vi pouquíssimas vezes Eduardo Brown, na verdade, o seu destaque
maior é nos telejornais, sempre falando do seu amplo conhecimento e da sua
riqueza.
— Na verdade, sou eu que devo... Precisei pedir dinheiro a ele
emprestado alguns anos atrás.
— Entendo — respondo realmente sem entender. — Aonde o senhor
quer chegar, papai?
— Você se lembra que o Eduardo tem um filho?
— Bem, na verdade, não. Nunca o vi e seria difícil me lembrar de
alguém que eu sequer conheço. — Dou risada.
O silêncio se instala no local e ao perceber isso fico sem graça.
— Não queria envolvê-la nisso, querida, mas temos um grande
problema. Nossas empresas estão indo de mal a pior.
Reflito ao ouvir isso...
Papai se destacou no mercado de ações ao fazer algumas empresas
quebradas retornarem ao mercado.
Como pode um especialista neste assunto, conseguir deixar sua
empresa ir de mal a pior?
— Teremos que economizar, é isso? Não vejo problema algum,
posso cancelar alguns eventos que mamãe insistiu em marcar para mim e
Lucy me ajuda a fazer as unhas e o cabelo, já que é muito talentosa.
— Não é sobre isso que seu pai quer falar, Laureen — responde
mamãe me encarando.
— E o que é?
— Você terá que cancelar sim todos os eventos e evitar qualquer tipo
de gastos à toa, mas vai além disso — responde papai suspirando. — Devo
muito dinheiro à Eduardo e o que temos na conta não pagaria, tivemos um
corte enorme de funcionários na empresa e duvido que consigamos mantê-la
por muito tempo.
— E como isso aconteceu, papai, se os negócios do senhor estavam
indo tão bem? — pergunto me sentindo nervosa.
— Você precisa entender, minha filha, que às vezes necessitamos
fazer coisas que não nos agradam tanto, para conseguirmos outras.
— O que quer dizer com isso?
— Para chegar aonde cheguei, precisei derrubar muitos obstáculos,
entende? Pessoas são esses obstáculos.
— O senhor está me dizendo que chegou neste patamar porque
roubou de outras pessoas? — sussurro sem acreditar que possa ser verdade.
Papai não faria isso, não é?
— Isso não é da sua conta — diz de maneira brusca. — Me perdoe,
minha filha, mas realmente não está sendo fácil.
— Certo, e o que o senhor quer que eu faça? No que posso ajudar?
— O encaro, depois encaro mamãe e vejo o olhar dela triste.
— Eduardo me propôs um negócio para liquidarmos a dívida, ele
ficará com as ações da empresa, irá assumi-la, mas continuarei tendo uma
boa porcentagem nos negócios. Isso com certeza nos salvaria.
— E o senhor aceitou, não é?
— Bem, em partes, porque... — Ele faz uma pausa dramática, fecha
os olhos por um segundo depois volta a me observar. — Lembra que eu citei
o filho dele?
— Sim, o que tem?
— Ele propôs um casamento... Disse que a união das nossas famílias
iria nos ajudar muito, sem contar que salvaria nosso império.
— Casamento, com quem? — pergunto aflita.
— Com você, Laureen... Eduardo quer casar você com o filho dele...
É a única maneira de salvarmos os negócios e nos salvarmos.
Uma decisão nada atraente
Casamento...
A palavra ecoa na minha mente me deixando um tanto quanto
atordoada.
Como uma pessoa poderia se casar com outra sem amor?
Só de pensar nisso, vejo o quanto a situação é um tanto ridícula.
É sério mesmo que papai cogitou esta hipótese?
— O senhor por acaso aceitou?
— Não, quero dizer, ainda não — diz suspirando.
Vejo papai se levantar e andar de um lado para o outro.
— Eduardo me deu um prazo de vinte quatro horas para responder se
aceitamos ou não, caso não o fizermos, ele fará de tudo para nos destruir.
— E por que para ele seria bom que seu filho se casasse com a filha
do devedor? Não faz sentido algum — digo também me levantando.
— Não seríamos mais rivais de mercado e ele conseguiria minhas
ações, teríamos um bom dinheiro, mas eu não seria mais dono da Company
Vargas.
— E eu estaria fadada a um casamento infeliz — respondo colocando
a mão sobre o peito.
— Não pense deste jeito, sei que é ridículo cogitar isso em pleno
século XXI, mas não temos escolhas. Se perdermos tudo, estaremos
condenados a uma vida de miséria. Ninguém nesta altura me daria um
emprego, jogariam na cara que eu quebrei minha empresa e as falcatruas
poderiam vir à tona.
— O senhor ao menos percebe a loucura que isso é? Não vivemos
mais em uma época em que os pais planejavam casamentos... Isso é ridículo!
— Laureen Vargas, olha como fala com seu pai! — mamãe me
recrimina se posicionando pela primeira vez no assunto. — Sabemos que
não é fácil e não queríamos chegar a este patamar, mas não temos escolha.
Se você não se casar com o filho do Eduardo, tenha em mente que tudo isso
que está à sua volta, não existirá mais. Nem mesmo Lucy poderá continuar
trabalhando conosco, você não quer prejudicar sua amiga ou a mãe dela, não
é mesmo?
— Isso que você está fazendo é chantagem emocional, mamãe, você
sabe que eu nunca iria querer prejudicar Lucy ou qualquer outro empregado
nosso. Mas vocês quererem me prejudicar, para o bel-prazer de vocês... Isso
é egoísta e nojento.
— Você não irá se casar com um homem qualquer, Laureen — diz
papai. — O filho de Eduardo é o CEO das empresas do pai, além de ser
muito respeitado na sociedade. Quase não o verá e nem vai parecer que é
casada.
— Claro, tirando o fato que terei que ter relações com ele, ou o
senhor acha mesmo que este homem aceitará se casar comigo apenas para
nos salvar?
O silêncio se instala no ambiente e suspiro sentindo vontade de
chorar.
— Você tem até às 6 da tarde para me dar uma resposta e se não
disser nada, entenderei como um sim.
— E mudará alguma coisa se eu disser não?
— Não, mas será muito mais fácil se você aceitar.
Fico em silêncio e balanço a cabeça em concordância, engolindo em
seco, como se algo estivesse dilacerando minha garganta.
— Então saiba que não irei aceitar e você está me condenando para
sempre... Eu nunca irei perdoá-los por isso. — Dou as costas para os dois e
saio ouvindo papai me chamar aos gritos enquanto mamãe o acalma.
Sigo em direção ao meu quarto em passos largos, entro batendo a
porta e passando a tranca, então me jogo sobre a cama e choro
descontroladamente, sem saber o que fazer para fugir deste destino que me
foi forçado.
***
Não desço para almoçar e tão pouco aceito comer no quarto. Fico tão
chateada com o que papai havia me dito que nem mesmo Lucy é capaz de me
animar.
Como ficar feliz em saber que você vai se casar com um homem
completamente desconhecido?
Pensar nisso me causa uma sensação estranha, como se algo
invadisse meu peito e arrancasse meu coração de dentro. É isso que está
acontecendo; papai usurpou meu coração e o entregou a uma pessoa que nem
mesmo sei como é.
Penso sobre o filho do tal Eduardo, tentando imaginá-lo, pego meu
celular, pronta para procurar no Google, no entanto, desisto no meio do
caminho, pois não quero ver o rosto do homem que supostamente vai ser meu
marido.
A ideia de fugir se instala na minha cabeça e crio um plano maluco;
eu poderia muito bem arrumar uma mala pequena, pegar algumas joias,
dinheiro no cofre, e sair por aí, sem rumo. Mas e se eu fizer isso, até quando
teria que me manter fugindo?
Com certeza meus pais iriam atrás de mim e não descansariam até me
encontrar.
“Não tem jeito, Laureen, a única opção é aceitar o que o destino
reservou a você...”
Destino, pensar a respeito disso me causa uma raiva enorme.
Como o destino pode ser tão traiçoeiro desse jeito?!
— Não adianta choramingar, Laureen — digo para mim mesma. —
Pelo jeito, papai estava decidido sobre o que fazer antes mesmo de me
contar. Ele apenas quis comunicar que minha vida acabou para sempre. —
Suspiro tristonha.
Se eu me casasse com este homem e depois de um tempo me
separasse dele?
Com certeza o tal acordo com meu pai seria anulado e estaríamos na
merda, ou até mesmo pior do que já estamos.
Reflito sobre o que papai havia me dito; para chegar até aqui, ele
havia derrubado muitas pessoas. Agora para ele, me casar com um
desconhecido é o de menos.
Ouço uma batida na porta e saio dos meus devaneios, ficando o
máximo possível em silêncio.
— Laureen, eu sei que você está aí, fui à biblioteca antes para me
certificar de que estava aqui — sussurra Lucy, mexendo na maçaneta. — Por
favor, abra a porta, vamos conversar um pouco, sei que precisa disso. Eu
trouxe sorvete e brigadeiro, seus doces preferidos.
Uma animação percorre meu corpo ao ouvir isso e sigo a passos
largos até a porta. A abro dando de cara com Lucy e um carrinho, onde
contém sorvete de diversos sabores, brigadeiro e calda de chocolate.
— Dessa vez você venceu — digo dando passagem.
Ela entra e rapidamente fecho a porta, voltando a trancar.
— Eu te conheço bem demais para saber que um pouco de doce a
faria abrir a porta e me permitir entrar — responde divertida.
— Você é boa mesmo — digo forçando um sorriso.
Ela faz o mesmo e começa a nos servir, me entregando uma taça com
sorvete de chocolate e bastante calda.
Levo o doce gelado até a boca e solto um gemido ao sentir o
delicioso sabor.
— Isso está deslumbrante!
— Eu sei, fui eu que fiz na noite passada — diz sorrindo de maneira
convencida.
Dou um cutucão nela e nos ajeitamos na minha cama.
— Fiquei sabendo da conversa com seus pais, sinto muito que tenha
que passar por isso.
— As notícias por aqui correm rapidamente — respondo suspirando.
— O que você acha disso tudo, eu devo aceitar este destino?
— E você tem escolha?
— Pensei em fugir, você poderia vir comigo, o que acha?
— Claro, assim quando formos pegas, eu seria demitida e você iria
se casar do mesmo jeito. Que plano sensacional!
— Debochada — digo rindo.
— Sei que não é fácil o que está passando e com certeza será
bastante difícil, mas você precisará ser forte.
— Forte, é claro. — Reviro os olhos e continuo comendo o sorvete,
me servindo de um pouco de brigadeiro. — Meu pai é tão egoísta que
sentenciou o meu destino sem ao menos pensar no que isso me causaria, ele
apenas quis me comunicar.
— Eu sei disso, e como disse, agora precisará ser forte, com certeza
ele vai dizer ao babaca do Eduardo que haverá casamento e os preparativos
serão feitos em um piscar de olhos. Sabe como são esses contratos.
— Nunca pensei que viveria uma coisa dessas — respondo me
lembrando dos diversos livros que eu já havia lido com o mesmo tema, a
diferença é que isso que estou vivendo é real e muito angustiante.
— Pense pelo lado bom, se esse futuro marido realmente é um
homem importante, como seu pai disse, ele quase não ficará em casa. Com
sorte, pouco se verão.
— O meu problema não é vê-lo e sim satisfazê-lo — respondo
envergonhada.
— Só por que você é virgem? Deixe de besteira, ele vai adorar isso.
— Aí que está, ele vai, mas e eu?
— Bem, não sei, se ele souber fazer, com certeza irá gostar —
afirma. — É muito gostoso, não se preocupe com isso.
— Você é uma safada, Lucy Connor.
— Talvez eu seja um pouco, mas agora falando sério, você precisa
usar isto ao seu favor.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Não dê o gosto ao seu pai de dizer que você aceitou, sendo que
você não disse nada, vá até ele, diga que aceita e pronto.
— Mas eu não quero aceitar.
— Eu sei, mas você dirá a ele que aceitará, porém, com algumas
condições.
— Condições... — Reflito sobre a palavra e a encaro. — Você é um
gênio!
Lucy sorri e concorda.
— Eu sei disso.
***
Olho no relógio e vejo que falta quinze minutos para as malditas seis
horas, então sigo em direção a saída do quarto e ando devagar pelo corredor,
olhando cada parte da nossa casa. Analisando o local grande, luxuoso e
ostensivo, percebo que realmente precisa de muito dinheiro para manter
tanto esta como as outras residências que papai tem em seu nome.
Desço a escada em espiral parando diante do hall e me lembro que
mais cedo estive aqui parecendo estar muito feliz. Agora, indo assinar minha
sentença final, é como se toda a alegria estivesse se esvaído do meu corpo
para sempre.
Dou um passo em direção ao som da voz do papai e noto que ele está
no escritório, então, sigo por um corredor claro, com algumas portas e
retratos nas paredes. Há diversas fotos de quando eu era criança, dos meus
pais se casando, entre outras e uma delas se destaca, mamãe vestida de
noiva. Seu cabelo loiro, igual ao meu, está solto, com um véu transparente
cobrindo seu rosto. O vestido cobre todo seu corpo, não deixando parte
sequer de fora e nas mãos há um buquê com rosas brancas.
Sempre achei este retrato lindo e quando mais nova, dizia que meu
sonho seria me casar deste jeito, mas ao analisar a situação que me encontro,
percebo que nunca terei a expressão de felicidade que meus pais têm nas
fotografias de casamento. Nunca irei colocar um vestido de noiva com
entusiasmo ou irei jogar o buquê com vontade para as outras convidadas. Eu
jamais iria amar o homem pelo qual estou sendo prometida e espero que ele
também nunca me ame, creio que assim será bem mais fácil.
— Filha?
Me viro e vejo mamãe me encarar.
Ela está vestindo uma calça social preta e um blazer simples, a
maquiagem é bem-feita e suas curvas se destacam em suas vestes.
— Oi, mãe — digo completamente desanimada.
— Aconteceu alguma coisa, meu bem?
— Papai, quero falar com ele — respondo cruzando os braços.
Ela concorda e entra no escritório, comigo a seguindo.
— Eu já disse, a situação vai ser resolvida, não se preocupe com
isso.
Ouço meu pai dizer assim que me vê.
Ele aponta o dedo me pedindo um momento.
— Te ligo mais tarde, tenho que resolver uma situação agora. — Ele
desliga o telefone e se vira para mim me encarando.
— Quero conversar com vocês dois — digo nervosa.
— Diga, querida — pede minha mãe.
— Eu vou aceitar o acordo de casamento — digo vendo a alegria e
alívio nos rostos dos dois. — Porém, tenho algumas condições que o senhor,
papai, vai acertar com Eduardo.
— Quais condições?
— Primeiro, eu quero que Lucy vá morar comigo e meu futuro
marido quando nos casarmos, pois somente ela sabe de tudo que gosto e que
preciso no meu dia a dia. Segundo, o salário dela deve aumentar, é claro, e
que ela possa visitar a mãe, já que em todos esses anos que trabalha aqui,
nunca conseguiu...
— Mais alguma coisa? — pergunta meu pai me cortando.
— Ainda não terminei... Quero que além disso, eu possa ter minha
liberdade, para ir aonde eu quiser, sem ser mandada por um homem que nem
o nome eu sei direito. Vou honrá-lo, como será prometido no altar, mas não
serei encarcerada por ninguém. Quero uma cerimônia simples, com poucos
fotógrafos, para expor sua conquista para o mundo. Também quero que ele só
me toque, com a minha permissão. Eu não estou preparada para este tipo de
coisa.
— Sim, minha filha, tenho certeza de que ele se casará com você e
irá respeitá-la.
— A propósito, este homem sabe que vai se casar, ou está
descobrindo assim como eu?
— Eu não sei, isso é com o pai dele — diz meu pai.
— Certo, o meu último pedido é bem simplório... Nada de filhos, não
quero herdeiros, já basta eu ter que me casar sem amor, agora ter filhos com
um homem que não amo, seria o ápice da loucura.
— Mas filhos fazem parte da construção de uma família — diz papai
espantado.
— Sim, e a construção de uma família se começa com amor, amizade
e relacionamento, coisa que não temos aqui, não é mesmo? — Encaro os
dois e suspiro. — É só isso mesmo, você vai ter o casamento que deseja e
sua riqueza, está feito.
Vejo o sorriso de alívio dos meus pais, mas não consigo disfarçar a
tristeza que assola meu coração.
Eu irei me casar com um completo estranho.
Você conhecerá seu noivo no altar
Percebo que meus pais estão aliviados com minha decisão,
mesmo notando meu olhar de tristeza e desprezo, porém, decido que o
melhor a se fazer, neste momento, é aceitar de uma vez por todas o destino
que me foi traçado.
Me pego outra vez pensando no destino...
Como que, tão de repente, nossas vidas poderiam mudar tanto?
Hoje você está andando e amanhã, com sorte, está morto. É isso que
eu quero neste exato momento...
Morrer.
Suspiro melancólica me revirando na cama, olho para o relógio e
vejo que já passa das 10 da noite.
Me levanto, saio do quarto, sigo pelo corredor e paro no andar
debaixo, onde fica nossa biblioteca.
Meus pais e eu sempre fomos amantes da leitura, mas com o passar
dos anos e a vida dos dois ficando agitada por conta dos negócios, fui a
única que ainda continuo a vir aqui.
Entro no cômodo com as prateleiras cheias de livros de diversos
tipos e sorrio ao passar a mão em suas lombadas. Pego um qualquer,
pensando em como seria viver uma vida daquelas de romances, onde o casal
se apaixona fervorosamente e constroem uma linda família.
Eu seria assim?
No final de tudo, eu seria feliz ao lado desse homem até então,
desconhecido?
— Você deveria procurar uma foto dele na internet, Laureen, assim se
ele for feio, irá conhecê-lo preparada. — Dou risada das minhas próprias
palavras.
Coloco o livro no lugar de antes, apanho outro e me aconchego na
poltrona. Encolho meu corpo e começo a virar as primeiras páginas,
tentando ao máximo absorver o conteúdo do livro e esquecer o inferno que
está prestes a acontecer na minha vida.
***
Acordo com o barulho do livro caindo no chão e me assusto, não me
recordando o momento em que cochilei na biblioteca. Bocejo me
espreguiçando, levanto e pego o livro do chão.
Volto o livro para a prateleira e saio do local andando tranquilamente
até que próximo ao escritório do papai vejo uma sombra. Ando devagar a
fim de saber quem é, não entendo o motivo de fazer isso, mas sigo meus
extintos e faço o mínimo possível de barulho.
— Você acha que isso é uma boa ideia, Jorge? — pergunta minha
mãe. — Acha mesmo que este casamento vai ser bom para a nossa filha?
— Eu não sei, meu amor, mas não temos outra escolha a não ser essa,
se não fizermos isso, estaremos arruinados para sempre. Não posso permitir
que nossa família se afunde deste jeito.
Fico parada, ouvindo a conversa dos dois, com o coração acelerado
e o suor brotando na minha testa.
— E se Eduardo planejar alguma coisa contra nossa filha?
— Ele não faria isso. Eduardo pode ser tudo, menos um covarde —
responde papai suspirando. — Vamos ter que arriscar e mesmo não sabendo
a real intenção dele em querer que nossos filhos se casem, teremos que
permitir. Não gosto da ideia de ver minha filha casada com um homem que
não ama, mas infelizmente serei obrigado a tirar isso dela se quisermos nos
manter vivos.
— Você fala como se Eduardo fosse nos matar se essa dívida não for
paga — responde mamãe aflita.
— E você dúvida disso? Eduardo é capaz de matar, tenho certeza
disso.
— Assim como você — responde mamãe. — Jorge, o que foi feito
no passado... Aquele acidente... Eu sei que você tem a ver com ele, só não
assume.
— Fique quieta, Elizabeth! — profere papai. — Esqueça o passado,
lembrar dele não resolverá nada... Tudo não passou de um acidente, você
sabe disso...
— Se você não se deitasse com qualquer mulher por aí — responde
mamãe de maneira amarga. — Isso foi tudo culpa sua.
— Pensei que houvesse me perdoado por isto.
— Uma mulher perdoa uma traição sim, Jorge, mas esquecer, isso
nunca.
Fico surpresa ao saber que papai traiu mamãe e saio correndo
disfarçadamente para que eles não me vejam.
Entro no meu quarto e tranco a porta sentindo meu coração acelerado
com tamanha surpresa por descobrir que meus pais não são quem eu
imaginava.
Afinal, do que eles estavam falando?
Sobre qual acidente meus pais estavam se referindo?
Será que Eduardo realmente nos mataria se eu não me casasse com
seu filho?
E o principal, por que sinto que tudo isso está interligado?
***
No dia seguinte, fico pensando na conversa que meus pais haviam
tido e o que eu poderia fazer para descobrir sobre o que realmente
aconteceu.
De que acidente eles estavam falando?
Só de recordar as palavras de mamãe sobre meu pai ser capaz de
matar alguém, um calafrio sobe pela minha espinha.
— No que está pensando? — pergunta Lucy me ajudando a arrumar
minhas roupas.
No café da manhã, meu pai havia dito que era melhor começar a
arrumar minhas malas, pois conforme Eduardo havia dito, o casamento
acontecerá em pouco tempo.
— Nada demais, eu só não dormi muito bem.
— Você engana seus pais, Laureen, mas eu não — diz minha amiga.
— Ande, me diga, o que está acontecendo, além da loucura deste casamento?
— Ontem à noite eu saí para ir até a biblioteca e acabei ouvindo uma
conversa dos meus pais que me deixou bastante aflita.
Lucy me encara com os olhos arregalados.
— Que conversa?
Conto rapidamente para Lucy, que fica espantada com os segredos
cabulosos dos meus pais. Assim que termino, ela segura minha mão e a
aperta.
— Eu quero que você prometa que não vai tentar descobrir sobre o
que eles estavam falando.
— Por quê?
— Pode acabar sobrando para você — diz com a expressão
temerosa. — Há coisas que devemos deixar guardadas debaixo do tapete e
isso é uma delas. Você pode acabar se machucando ao tentar descobrir.
Reflito sobre isso e dou de ombros.
— Eu sei que é perigoso, mas realmente fiquei curiosa sobre a
conversa que eles tiveram.
— Eu sei que sim e confesso que também estou curiosa para saber
mais, contudo, vou pedir de novo, me prometa que não vai se meter em
encrenca para descobrir.
— Tudo bem, eu prometo, mas se por acaso chegar a ver alguma
coisa diferente, não irei ficar calada.
— Está certa, por enquanto apenas foque neste casamento que vai
acontecer.
Concordo e me assusto ao ouvir uma leve batida na porta.
— Filha, você tem visita — diz minha mãe do outro lado.
Me recomponho esquecendo a conversa que havia tido com Lucy, que
vai até a porta, a abre para mamãe, que entra e me encara.
— Que bom que está arrumada, seu futuro sogro está lá embaixo...
Ele quer conhecê-la.
— Me conhecer para quê?
— Para ver a futura nora, minha filha. Por favor, colabore.
Suspiro e concordo seguindo até a penteadeira onde encaro o
espelho. Passo um brilho labial, reforço o perfume e ajeito meu cabelo
colocando um sorriso no rosto.
— Satisfeita? — pergunto sarcasticamente.
— Vamos logo, vai ser rápido, eu prometo.
— Que eu leve um tiro no meio do caminho — sussurro.
— O que você disse?
— Que eu não vejo a hora de escolher meus padrinhos — respondo
segurando o riso.
Lucy disfarça uma risada e mamãe me encara.
— Bem, não havíamos pensado nisso, que tal Lucy ser sua madrinha,
hein?
— Me perdoe, senhora, mas sou uma empregada, não cairia bem —
Lucy diz.
— Não, mamãe está certa — respondo adorando a ideia. — Por
favor, Lucy, aceite, assim será mais fácil. — Encaro minha amiga e
empregada.
Ela concorda dando de ombros.
— Se isso não for prejudicá-los.
— Claro que não, você está conosco há anos e será bom ter um rosto
nesta loucura toda. Sem contar que quando Laureen se casar, você irá morar
com ela, deixando de ser empregada para ter um cargo mais importante.
— Cargo mais importante? — questionamos juntas.
— Sim, ontem quando você nos disse que só aceitaria o casamento se
Lucy fosse com você, eu fiquei pensando sobre isso... Vi que ela não
precisará ser uma empregada, já que com certeza na sua futura casa haverá
diversos.
— Mas, senhora, eu preciso do salário — diz Lucy com a voz
embargada.
— E continuará tendo, porém, pago pelo marido de Laureen. Você
será como uma governanta e ajudará minha filha em tudo que precisar,
entendeu?
Lucy e eu nos encaramos, sem entender aonde mamãe quer chegar.
— Sim, senhora.
— Obrigada. — Ela me encara e noto seus olhos marejados.
— Me perdoe por isso estar acontecendo, minha filha.
— Você não queria que eu me casasse, não é mesmo? — pergunto
próxima a mamãe.
— Não, é claro que não, mas como seu pai disse, é necessário e ter
Lucy ao seu lado será mais reconfortante para mim.
Concordo a abraçando.
— Obrigada, mãe, farei isso por você.
— Tudo bem, querida, agora vamos logo conhecer seu futuro sogro,
ele está esperando há bastante tempo.
Suspiro sem nenhuma opção.
Saio do quarto com mamãe, sigo silenciosamente o caminho até a
escada e desço em direção ao escritório. Assim que passo pelo batente da
porta, um homem um pouco mais velho que papai, de fisionomia dura, olhos
e pele clara me encara e fico sem graça. Sigo até ele devagar, como se
minhas pernas fossem gelatinas.
— Ela está enorme desde a última vez que a vi — diz Eduardo
formando um sorriso em seu rosto.
Forço um sorriso e estendo minha mão para ele.
— Muito prazer em conhecê-lo, me perdoe se não me recordo do
senhor.
— Não se preocupe com isso, minha jovem, na época em que a vi,
era muito pequena, com certeza não iria se lembrar.
Sorrio e ele dá uma risadinha seca, me causando repulsa.
— Me perdoe pela pergunta, mas onde se encontra seu filho, até
então, meu futuro marido?
Vejo meus pais me encararem e Eduardo sorri.
— Meu filho não pôde vir, muitos negócios para resolver, inclusive a
futura casa de vocês e as férias que irá tirar quando se casarem. Você
conhecerá seu noivo no altar, mas não se preocupe, garanto que é um homem
educado, gentil e muito bonito.
Fico perplexa ao ouvir isso.
Então eu só conheceria o homem que vou me casar, no dia da minha
sentença final?!
— Ah, compreendo — digo sem ter muito o que dizer.
— Eduardo está muito animado com a união de vocês, minha filha,
ofereceu até mesmo uma viagem especial para onde quiserem para passarem
a lua de mel.
— Muito generoso da parte do senhor — respondo fazendo o meu
melhor teatro. — Fico realmente encantada com isso.
— Você é um doce, minha jovem, assim como sua mãe, que é muito
educada — diz nos olhando. — Eu escolhi a noiva certa para meu filho.
Sinto uma fúria tomar conta de mim ao ouvir suas palavras, como se
eu estivesse sendo comprada para ser entregue de bandeja ao seu filho.
Analisando a situação, é isso que está acontecendo. Estou sendo comprada
para que meus pais possam ter dinheiro, poder, e não ter suas vidas ceifadas.
Saio dos meus pensamentos insanos, encaro Eduardo estendendo a
mão e com um enorme sorriso.
— Foi um prazer conhecer o senhor, tem alguma previsão de quando
ocorrerá o casamento?
— Em breve... Essa semana, tudo será preparado, os convites
enviados e a prova do vestido. Não poupe nenhum centavo, meu filho faz
questão de pagar tudo.
— Sendo assim, tomarei a liberdade de escolher um vestido
deslumbrante para o momento, afinal, será um marco em nossas vidas, não é
mesmo, papai? — Encaro meu progenitor e ele engole em seco,
concordando.
— Sim, minha filha, será um momento muito especial, agora se nos
der licença, Eduardo e eu temos alguns negócios para discutir.
— É claro, até mais, senhor, mais uma vez, foi um prazer conhecê-lo,
nos vemos em breve.
Me despeço do homem à minha frente e saio do escritório, sentindo
um nó se formar em minha garganta ao saber que esta loucura está cada vez
mais perto.
Preparativos
A semana passa em uma lentidão que chega a me dar náuseas.
Não saio do meu quarto para nada, chateada por conta de tudo que está
acontecendo. Evito meus pais o máximo possível, mesmo me conformando
com a sentença que me deram, não consigo aceitar e fingir que nada está
acontecendo.
Como antes, não consegui procurar no Google nada sobre o meu
futuro marido, a dúvida em saber como ele realmente é, me deixa mais
confortável com isso tudo.
Lucy faz de tudo para me animar, me enchendo de sorvete, doces e
meus pratos favoritos, sendo repreendida por mamãe, que alega que preciso
estar magra para entrar no vestido.
Fico ainda mais triste e desanimada quando os preparativos do
casamento começam, com degustação de bolos, doces e outras coisas. Papai
escolheu uma orquestra para a festa, mesmo eu insistindo que seria
completamente desnecessário.
A lista de convidados foi outra briga, já que metade era de sócios
dele e a outra parte, sócios de Eduardo, já que mamãe não tem família e nem
ele. Eduardo com certeza escolheu seus sócios para se enaltecer no
casamento.
A cerimônia seria realizada na igreja católica, outra coisa que
critiquei, afinal, acredito que devemos nos casar em altares divinos quando
há amor de verdade, coisa que não é o caso. Porém, me conformei e aceitei
isso.
A festa seria cheia de comida boa, diversos convidados e uma noite
regada a sorriso forçados, coisa que detestei. Tudo isso me incomoda ao
extremo, mas como não tenho escolha, acabo aceitando o que papai e mamãe
desejam, deixando-os bastante felizes.
O dinheiro de Eduardo é gasto com sucesso, meu pai faz questão de
comprar um carro novo para que eu vá até a igreja, já que a festa será na
nossa casa. Aliás, casa deles, porque em poucos dias, eu não pertencerei
mais aqui.
NA verdade, eu não pertencerei mais a lugar algum, somente a um
homem completamente desconhecido.
***
— Como se sente sabendo que agora não é mais uma empregada e
sim uma futura governanta? — pergunto para Lucy que está fazendo uma
trança embutida em mim.
— Bem, tirando as aulas chatas que sua mãe está me obrigando a ter
para entender como se governa uma casa, a sensação é boa. Não ter que
lavar privada é realmente bastante gratificante.
— Eu fico mais aliviada em ter você ao meu lado para enfrentar isso
tudo, assim poderei ter seu apoio nos momentos difíceis.
— Claro que terá, mas não se esqueça que muitas coisas vão mudar,
principalmente o fato de que não viveremos tão grudadas como agora. Você
terá um marido e precisará dar atenção a ele.
— Eu sei, mas só de saber que te terei por perto, é mais tranquilo
passar por isso tudo. — Sorrio e me encaro no espelho, analisando a trança
embutida. — Acha que ficaria legal este penteado para o casamento?
— Não, mas iremos cuidar disso no momento certo, anda, vá se
preparar, o jantar será colocado à mesa logo.
***
— Está animada, querida? — pergunta papai durante o jantar.
— Animada com o quê, papai? Seja mais específico, por favor.
Percebo que mamãe torce o nariz e continuo a comer enquanto os
ignoro como estou fazendo nos últimos dias.
— Pelo menos finja que está animada com este casamento — pede
me observando. — Por acaso vai se casar com essa cara de enterro?
— Se depender de mim, sim — respondo dando de ombros.
— Já chega, vá para o seu quarto agora!
Me levanto derrubando a cadeira para trás e o encaro.
— Sabe qual parte deste casamento vai ser boa, papai? É que não
irei mais conviver com senhor. — Saio antes mesmo de ouvir uma resposta
sua e apenas ouço os estilhaços dos pratos baterem na parede da sala de
jantar.
Me sinto completamente chateada com a situação e me tranco no meu
quarto, desejando que este casamento infeliz aconteça logo e que eu possa ir
embora de uma vez por todas desta casa.
***
Os preparativos continuam e sinto que está cada vez mais perto do
casamento acontecer.
Fico surpresa em saber que realmente meu noivo, que nem mesmo fiz
questão de saber o nome, não veio me conhecer e penso sobre a situação.
Será que ele também está infeliz com esta união?
Como foi para ele saber que se casaria com uma mulher
desconhecida?
Esqueço essas questões e finjo me concentrar no que a estilista fala
em relação ao vestido, dando dicas e mais dicas do que poderíamos fazer.
Disse a ela que poderia ser um vestido qualquer desde que fosse costurado
do zero.
Minhas medidas são tiradas e assim que tudo termina, me sento e
aceito a taça de champanhe que me é oferecida por um dos empregados. Vejo
a mulher negra gesticular, rir e conversar com minha mãe. Não presto
atenção em nada e nem faço questão disso tudo.
Como uma mente tão perturbada consegue desligar tudo que está à
sua volta?
Continuo degustando o champanhe e assim que termino, faço a prova
de um vestido simples para que a estilista tire o molde dele.
— Quero que tenha um decote frontal e que realce meus seios —
digo pela primeira vez em horas. — De preferência com pedras preciosas na
frente e que realce minhas curvas.
As duas me encaram e ficam espantadas, talvez por finalmente dar
palpite sobre algo.
— Certo, querida, você deseja mais alguma coisa nele? — pergunta
a mulher com um sorriso enorme nos lábios.
Analiso suas expressões e fico em silêncio.
Penso se ela sabe a verdade sobre eu não querer me casar de livre e
espontânea vontade.
— Acho que é só isso mesmo — respondo depois de um tempo. —
Tenho certeza de que você vai fazer o seu melhor, sem sequer pensar em
economizar.
— Bem, se a senhorita está me dando liberdade para isso, pode ficar
tranquila que farei o meu melhor — responde sorrindo.
Concordo e me troco encarando as duas.
— Se me derem licença e estiver liberada, irei para o meu quarto
descansar um pouco.
— Claro, fique à vontade, deve ser uma loucura preparar um
casamento assim às pressas — diz a mulher.
— Poderia ser pior, mas eu supero — digo forçando um sorriso.
Antes de dar as costas para sair, noto o olhar de desaprovação da
mamãe e me divirto com isso, indo o mais rápido possível para meu quarto e
me trancando lá dentro sem nenhuma perturbação.
***
Abro os olhos quando ouço a batida na porta e levanto, indo em sua
direção. A abro e vejo o olhar sério da mamãe me encarar.
— Posso? — pergunta apontando para o ambiente.
— A casa é sua — digo dando passagem.
Ela entra encarando detalhadamente meu quarto, vendo na
penteadeira as bonecas de porcelana que coleciono desde nova. Ela e vovó,
que já faleceu, me deram a minha primeira boneca quando tinha seis anos.
Desde então, todo aniversário, até os dezessete, eu ganhava uma boneca
dessas.
— Você cresceu tão rápido — diz pegando a primeira boneca. —
Lembro quando sua vó era viva e ela me ajudou a escolher este presente
para você.
— Sinto falta da vovó também — digo me aproximando e pegando a
boneca das suas mãos. — Ela faz muita falta.
— Sim, se estivesse viva, tenho certeza de que nos ajudaria a nos
livrar desta loucura de casamento.
— Eu te amo, mamãe, mas não finja que realmente se importa com
isso — digo observando suas expressões e o suor é visível em sua testa, que
está franzida. — Sei que está aliviada por eu ter aceitado este casamento,
mesmo que não seja minha vontade me casar com um desconhecido.
— Me perdoe, filha — diz cabisbaixa. — Não vejo outra opção a
não ser esta.
— Ouvi sua conversa com o papai — digo querendo ser sincera.
— Que conversa?
— Sobre ele ter te traído — respondo devolvendo a boneca para o
lugar. — Mamãe, papai tem a ver com a morte da mulher que falavam?
— Não fale besteira, Laureen — diz impaciente. — Seu pai me traiu
sim, mas isso faz muito tempo e você nem era nascida. Esqueça isso e finja
que nunca tivemos esta conversa.
— A senhora não parece ter esquecido, já que jogou na cara dele
isso.
— Não interessa, é algo entre seu pai e eu... Não se intrometa e faça
o que eu disse; esqueça de uma vez por todas, entendeu? Não quero que se
meta em mais problemas, já nos basta este casamento.
— E se eu fugisse, mamãe? Por que a senhora vai permitir que meu
destino seja com um homem que eu não conheço?
— Fugir? — Percebo que a palavra soa desesperada na sua boca. —
Deixe de ser ingrata, garota, seu pai e eu sempre fizemos de tudo por você,
tem os melhores estudos, teve os melhores cursos, agora é sua vez de
retribuir isso.
Fico chateada ao ouvir suas palavras duras, é como se tudo que eles
tivessem feito por mim, fosse apenas para que depois tivesse que retribuir de
alguma maneira. Agora está explicado o motivo deste casamento estar
prestes a acontecer sem meu consentimento.
— Sinto muito — digo.
— Eu também, minha filha... Me desculpe, não quis jogar na cara o
que fizemos por você, pois é nossa obrigação como pais. Só peço que ao
menos finja estar feliz com este casamento, no final, pode ser que você acabe
se apaixonando pelo seu noivo.
— Como se apaixonar por uma pessoa que sequer vi? — questiono
me sentando na cama.
Minha mãe senta ao meu lado e segura minha mão.
— As melhores histórias de amor acontecem quando menos
esperamos.
Dou de ombros, pensando que não adiantaria reclamar, choramingar
e esbravejar.
O meu destino é este, certo?
Agora é só esperar o momento para que aconteça.
A prova do vestido
Os dias passam rapidamente, parecendo que duram minutos, o
que me deixa chateada a cada segundo. A cada hora que passa, o destino
escolhido pelos meus pais, está cada vez mais perto de acontecer.
Tento de tudo para ficar animada, visito a biblioteca, faço as provas
dos doces da festa, assisto filmes clichês na Netflix, mas nada me anima. Até
mesmo Lucy, que é a pessoa mais alto astral que conheço, não consegue me
animar nesses momentos tempestuosos que estou passando.
Meu pai e eu não estamos conversando, ele até tenta puxar assunto
comigo nas refeições, que é quando o vejo, mas o ignoro e deixo a mesa
antes mesmo de terminar de comer.
Pelo que venho observando, Eduardo cumpriu sua palavra, pelo
menos em partes. Mesmo que o casamento ainda não tenha acontecido, papai
está radiante em saber que, em poucos dias, não irá mais dever nada a
Eduardo Brown e terá dinheiro.
Esqueço isso e suspiro nervosa.
Decido tomar um banho desejando que a água leve todos os
pensamentos negativos da minha mente.
***
— Querida — minha mãe me chama.
Me viro e a vejo entrar no meu quarto.
— Sim? — digo prendendo meu cabelo em um coque frouxo.
— O vestido chegou, estão te esperando lá embaixo para prová-lo.
Fico quieta diante das suas palavras e apenas assinto sabendo que
não vai adiantar esbravejar, já se passou quase um mês desde o dia que
papai havia me sentenciado à morte.
É isso que me parece este casamento, a própria morte.
— Pensei que demoraria mais — digo fitando o chão.
— Então foi por isso que você pediu um vestido do zero — diz
mamãe nada surpresa. — Você queria tempo.
— Sim, mas não adiantou muita coisa, acho que é melhor irmos logo
provar o vestido.
Ela apenas concorda com um movimento de cabeça e sai.
Eu a sigo andando com lentidão e assim que chegamos na sala, o
local que escolheram para fazer a prova do vestido, fico nervosa ao ver a
mulher parada, com o vestido embalado.
Me aproximo devagar com medo de tropeçar nos meus próprios pés
e respiro fundo quando o sorriso dela se alarga ao apontar para o plástico,
que cobre o tecido claro.
— Bom dia, senhorita Vargas.
— Bom dia, é....
— Cayenne — diz seu nome.
Concordo sem sequer me lembrar dela.
— Cayenne — repito. — Você foi rápida, pensei que demoraria
mais.
— Bem, sendo quem é, achei melhor dar prioridade — diz de
maneira polida.
— Claro — respondo dando um sorriso amarelo.
— Vamos lá?
Cayenne tira o plástico do vestido e quando o vejo fico boquiaberta.
Não posso negar que o vestido é espetacular, do jeito que imaginei a
minha vida inteira. Na frente há um decote com as pedras preciosas que
havia pedido, nas costas o vestido é aberto, com um tule simples para cobrir
e sua cauda é enorme, dando ainda mais charme a ele.
Fico admirada e sorrio ao pensar que este será o vestido que irei
usar no meu casamento. Casamento este que terei sem amor, afinidade ou
qualquer outra coisa com meu suposto noivo.
Irei me casar esplendidamente, no entanto, do que adianta tanto
glamour se serei infeliz pelo resto da minha vida?
Afasto o pensamento melancólico e minha mãe se aproxima,
colocando o braço no meu ombro.
— Vamos lá, está na hora de prová-lo.
Concordo já me despindo, ficando apenas de lingerie. Cayenne me
ajuda a vestir e fico admirada em como ele se emoldurou em meu corpo.
Fecho os olhos, me sentindo apavorada e assim que ouço o fecho nas costas,
os abro, me analisando no espelho a minha frente.
Estou linda, o vestido realça minhas curvas e deixa meus seios
avantajados, me causando uma sensação na boca do estômago.
Sorrio para mim mesma e dou uma volta, feliz com o resultado.
— O véu — Cayenne diz se aproximando e para na minha frente.
Me abaixo um pouco e ela prende o véu no meu cabelo com um
enorme sorriso no rosto.
Me observo no espelho sentindo vontade de chorar, tenho que admitir
que mesmo não me casando de livre e espontânea vontade, estou magnífica.
— É lindo — digo com a voz embargada. — É realmente muito
lindo.
Vejo mamãe emocionada e continuo me observando.
Mesmo sabendo que não quero fazer isso, não há como voltar no
tempo e meu casamento está ainda mais próximo.
***
Quando estou prestes a tirar o vestido, ouço passos vindo na direção
da sala, me viro conseguindo ver o exato momento que papai entra no
ambiente e me encara com um enorme sorriso no rosto. Noto que seus olhos
estão marejados e sinto sinceridade neles, sabendo que se ele tivesse outra
escolha, a faria.
— Papai — digo sentindo minha voz rouca.
— Nos deixem a sós por um momento, por favor — pede.
Cayenne rapidamente sai da sala, assim como mamãe, que me
observa uma última vez antes de deixar o local.
— Você está linda, minha filha, parabéns.
— Obrigada — balbucio sem muita emoção.
— Sei que esses últimos dias têm sido difíceis para você e vim aqui
justamente para me desculpar.
— Pelo o quê?
— Por permitir que isto esteja acontecendo — diz desviando o olhar
do meu. — Você sabe que se eu tivesse escolha, tomaria outra, mas
infelizmente não tenho.
— O senhor teve, papai, anos atrás... Poderia ter feito tantas coisas
diferentes, se estou aqui, neste vestido hoje, faltando pouco para me casar, é
porque o senhor tomou alguma decisão no passado que arruinou meu futuro.
— Eu sei, eu sei... Me arrependo disso, mas infelizmente não temos o
que fazer.
— E o que o senhor quer, afinal? Tenho quase certeza que não veio
me pedir perdão, sendo que está bastante decidido das suas decisões.
Ele anda de um lado para o outro, assente colocando as mãos nos
bolsos da calça social e volta a me encarar.
— O dia do casamento está cada vez mais próximo, com tudo
acertado, os convites serão encaminhados para as pessoas certas com uma
data próxima. — Ele fica em silêncio e suspira. — Quero te pedir que no dia
do seu casamento, ao menos finja que está feliz.
— Posso fazer isso, desde que aceite um acordo.
— Qualquer coisa.
— O senhor não me levará ao altar, eu irei sozinha. Já não basta toda
essa loucura de casamento arranjado, o senhor me levar até o altar seria a
coisa mais ridícula da minha vida. Então fique ciente que eu darei os passos
para o meu destino sozinha, sem ninguém ao meu lado.
— Mas isso é inadmissível, eu sou seu pai, estou vivo e quero ter a
honra de levá-la até o padre.
— Eu queria ter a honra de escolher meu marido, mas nada é
perfeito, não é mesmo? — Ele me encara e assente se dando por vencido.
— Tudo bem, pegarei um dos carros para ir com sua mãe e você vai
no novo sozinha, mas se pensar em fazer uma gracinha...
— Não se preocupe com isso. — O corto. — Sou jovem, mas uma
mulher de palavra, irei até o altar e o casamento que você tanto deseja se
realizará.
Papai concorda.
O vejo dar um passo em minha direção e dou um passo para trás. Sua
expressão muda, como se estivesse arrependido e ele assente, saindo da sala
e me deixando sozinha.
***
Estou em uma sala clara, com janelas grandes e o sol refletindo sobre
elas. Ando para o nada e vejo que uso o vestido de noiva que Cayenne havia
preparado. Em minhas mãos, seguro um buquê de rosas brancas e nos pés um
sapato de salto alto.
Respiro fundo e continuo andando, olho o clarão se transformar em
uma igreja e rapidamente surgir pessoas que não conheço. Respiro fundo,
tentando controlar minha ansiedade e encaro o altar a minha frente. Observo
um rosto distorcido e inexpressivo. Conto até três mentalmente, tentando
assimilar seus traços, mas não consigo, apenas vejo o vulto de um corpo
grande masculino e a sombra dos seus olhos que são escuros como o breu,
quentes como o calor do fogo e ardilosos como um leão em busca da sua
presa.
Continuo andando e percebo que estou cada vez mais próxima do
homem com o rosto distorcido.
Por que só consigo visualizar seus olhos?
Como este homem é?
Me vejo parada ao seu lado, ele coloca sua mão no meu pulso e o
aperta sorrindo. Agora consigo ver seu sorriso, mas ao invés de ser bonito e
elegante, é sádico, doentio, perturbador e me causa arrepios.
— Você será minha para sempre — diz uma voz grossa e rouca.
Seus lábios não se mexem, mantendo o sorriso que me causa medo.
Tento me esquivar, me soltar dele, mas é em vão. Vejo que sua mão
me segura ainda com mais força, me machucando. Grito, mas é inaudível,
como se eu apenas abrisse a boca sem dizer nada. Volto a gritar, mais uma
vez sem som e me vejo derrotada.
Estou presa a este homem para sempre e ele vai destruir a minha
vida.
— NÃO! — grito assustada.
Dou um pulo da cama e percebo que estou no meu quarto. O suor
escorre pelo meu rosto e pinica minha pele, me deixando completamente
estarrecida com o que acaba de acontecer.
Tive um pesadelo, foi apenas isso, um pesadelo para lá de estranho
com o meu futuro noivo.
Tento relembrar seus traços, mas me recordo que não consegui ver,
apenas vi seus olhos sombrios e o sorriso sádico.
Sinto o medo tomar conta de mim e me encolho na cama tentando
reformular o que acaba de acontecer.
Que sonho mais estranho foi esse?
“Isso é porque você está receosa com este casamento, Laureen.”
Respiro fundo, procurando por meu celular e assim que o acho, o
pego, decidida a pesquisar no Google sobre meu futuro marido, mas desisto
ao perceber que, se por acaso ver como ele é, ficarei ainda mais nervosa
com este casamento.
— O que me resta é esperar que a cerimônia aconteça logo para
acabar esse pesadelo.
Sei o quanto estou errada, mas me conforto com esse pensamento.
Quando eu me casar, o pesadelo deixará de ser sonho e passará a ser
real...
Algo muito pior.
Me levanto, pego sobre a mesinha que há no quarto um pouco de água
e bebo rapidamente, a fim de que isso ajude o susto passar.
Olho o relógio e vejo que passa das cinco da manhã, em breve o sol
surgirá para um novo dia...
Um dia a menos da minha liberdade.
Penso a respeito disso, analisando a situação mais uma vez.
Ultimamente tenho feito muito isso, analisar...
Como se isso fosse ajudar em alguma coisa.
Penso nas duras palavras que havia dito ao meu pai, sobre não querer
que ele me leve até o altar, pelo menos assim eu me sentirei mais confortável
em saber que me guiei sozinha para a sentença, mesmo que seja culpa dele.
Como tem sido constante, me pego pensando no meu futuro noivo.
O que será que ele estaria fazendo agora?
Será que está feliz com este casamento?
Com certeza ele está com alguma mulher mais bonita e sensual que
eu, desfrutando do desejo carnal que a vida nos dá.
Penso a respeito disso, eu nunca havia feito sexo com alguém e saber
que minha primeira vez será com uma pessoa desconhecida, me causa
sensações estranhas.
Eu teria mesmo que fazer isso?
Quem sabe eu posso tornar meu marido um aliado, dizendo a ele que
dormiremos em quartos separados e não teremos relações sexuais. Se ele
não estiver de acordo em se casar, com certeza apoiará esta minha decisão.
Sorrio com a ideia de que isso pode dar certo e volto para a cama,
adormecendo novamente.
Data marcada
Papai me avisa que a data do casamento está marcada e será
para daqui uma semana.
Os convites já foram enviados às pressas para os convidados que
sequer conheço. Minha única convidada é Lucy, que será minha madrinha.
Seu vestido é muito bonito, com um decote discreto, amarelo-claro e saltos
altos. Vejo o quanto ela fica animada ao prová-lo e feliz por fazer parte deste
momento na minha vida, mesmo sabendo que não estou contente.
— Vai dar tudo certo, você verá, quem sabe não acabe se
apaixonando por este homem misterioso.
— Espero que isso não aconteça.
— Espera, senhorita Vargas? — pergunta arrancando uma risada
minha.
— Sim, aliás, não vai acontecer... Você sabe como funciona; primeiro
a gente conhece a pessoa, depois damos nosso primeiro beijo, as coisas vão
acontecendo devagar, começamos a namorar, nos entregamos de corpo e
alma e só depois nos casamos. Eu não serei assim, conhecerei meu marido
no altar e nem sei o seu nome direito.
— Porque não quer, é só pesquisar que saberá — responde Lucy
revirando os olhos. — Pense que ele é um bom partido, é um homem
importante nos negócios, ao menos terá uma vida tranquila, sem precisar se
preocupar em não ter dinheiro.
— Mas eu não quero viver dependendo de um homem — digo
suspirando. — Quero estudar, fazer uma faculdade, conhecer o mundo,
pessoas.
— Se o seu marido for um homem bom, poderá fazer isso tudo, não
vivemos mais no século XVIII, estamos no século XXI. Será que ele seria
tão retrógado assim?
— Acho que não — respondo como um murmuro. — Pelo menos eu
espero que não.
— Você saberá daqui uma semana — responde Lucy segurando
minha mão. — Não se preocupe, tenho certeza de que você irá se
surpreender.
Torço para que ela esteja certa.
***
Sabe quando você tem a sensação de que o tempo passa mais
depressa?
Quando você precisa que seu dia tenha quarenta e oito horas e, na
verdade, dura menos de cinco?
Estou me sentindo assim nesta semana de pré-casamento. Parece que
a cada segundo, as horas passam mais rápidas e quando pisco já se encerrou
mais um dia.
Agora falta apenas quatro dias para o casamento acontecer e estou
cada vez mais nervosa com isso tudo. É como se a minha sentença de morte
estivesse pronta e eu esperasse este acontecimento.
E para falar a verdade, não duvido que seja isso mesmo.
A cada minuto, hora e dia que se passa, eu sigo para uma morte lenta
e dolorosa.
Estou perdida...
***
Como combinado, a festa será em casa, com um buffet extraordinário
e muita comida. O casamento ocorrerá em uma igreja reservada, não tão
longe de casa, levando em consideração que moramos na cidade grande,
próximos a prédios e casas gigantescas.
— Está distraída — diz mamãe me tirando dos meus pensamentos. —
Na verdade, desde o dia que soube sobre o casamento, você parece viver no
mundo da lua.
— Meu sonho que isso fosse verdade — digo cruzando os braços. —
Só estou tentando processar tudo que vem acontecendo.
— Imagino que sim... Você vai se casar em quatro dias, precisa de
descanso e bem-estar, além de que está com olheiras enormes.
— Não tenho dormido muito bem, tive pesadelos a semana inteira —
confidencio a ela que suspira triste.
— Sabe, filha, meu casamento com seu pai não foi fácil, mesmo nos
casando por amor, temos as nossas diferenças.
— Para ele te trair, acredito que tenha mesmo — digo e sou
repreendida pelo seu olhar duro.
Mamãe se aproxima e se senta ao meu lado no sofá, segurando
minhas mãos.
— Isso é um detalhe que deve ser esquecido.
— E se acontecer o mesmo comigo, mamãe? E se meu marido me
trair por aí?
— Será mais fácil, já que você não sente nada por ele.
Concordo mexendo no meu cabelo, com a intenção de que isso alivie
os pensamentos.
— Eu sempre sonhei em me casar, mas não tão cedo e nem assim,
sem querer.
— Eu sei, minha filha, e nunca irei me perdoar por isso...
— Mas é necessário, eu sei. — A corto, esboçando um sorriso. —
Como papai está com essa história toda?
— Se quer realmente saber, ele está bem. Sabe que está sendo difícil
para você, mas está aliviado que tudo passará.
— Uma coisa que eu não entendo é porque papai teme tanto o
Eduardo. Não consigo acreditar que ele seja capaz de fazer algum mal.
— Eu também não acreditava que seu pai seria capaz de matar uma
mosca, mas quando você não tem para onde correr, precisa fazer escolhas.
— Escolhas essas que machucam outras pessoas. — Suspiro. —
Entendi.
— Uma hora você entenderá tudo.
— Então você está me dizendo que tem algo mais além do que eu
sei?
— Possa ser que sim — responde tristonha. — Por que você não
chama a Lucy para um chá? Seria bom você se distrair um pouco, ainda mais
que agora ela será sua governanta.
— Aliás, obrigada por isso, ter Lucy comigo será muito mais fácil.
— Não agradeça — responde se levantando. — Não vou abandoná-
la, filha, tenha certeza disso.
Concordo apenas com um movimento de cabeça e fico em pé,
decidida a esquecer isso pelo menos por um momento.
***
Quatro dias, se tornaram três, que logo viraram dois e quando vejo,
estou no banheiro, encarando o espelho.
A casa está cheia, como já era de se esperar e pessoas vão para
todos os lados com arranjos de flores, cadeiras, mesas e muitas outras
coisas. Há garçons e garçonetes, um buffet repleto de comida e música
teatral. Acho tudo exagerado, mas não reclamo, minha maior preocupação
neste momento é o que vai acontecer depois do sim.
Me despindo, caminho até a banheira, que Lucy me auxiliou no
preparo do banho. Mergulho, molho meu cabelo e fico imersa na água por
um longo minuto, saindo após não aguentar segurar mais a respiração.
Ensaboo meu corpo e lavo meu cabelo, hidratando-o com cheiro de rosas.
Assim que finalizo, depilo minhas pernas, sabendo que terei que manter
minha depilação em dia.
Ao terminar, saio do banheiro e sigo para o quarto, sendo recebida
por Lucy, mamãe, Cayenne, um maquiador e um cabeleireiro. Respiro fundo,
ignorando o falatório a minha volta e visto a lingerie de renda branca na
frente deles, sem me importar se estão me vendo nua. Após fazer isso, me
enrolo em um roupão e sigo até uma cadeira em frente ao espelho, soltando
meu cabelo molhado.
— Hoje é um dia muito especial, senhorita Vargas — diz Cayenne.
— O Joseph vai cuidar do seu penteado e Josh da sua maquiagem, queremos
você impecável.
— Obrigada, não consegui dormir nos últimos dias de tanta
ansiedade — digo soando sarcástica.
— Imagino que sim, casamentos são tão lindos — diz animada.
Forço um sorriso e Joseph começa seu trabalho, escovando bem meu
cabelo.
O processo leva menos de uma hora, quando dou por mim, meu
cabelo já está completamente escovado e ele começa a fazer o penteado.
Peço que seja algo simples, como um topete alto na frente e o comprimento
preso em um coque frouxo. Na frente, deixamos algumas mechas soltas,
colocando em volta da minha cabeça uma tiara de prata, com pequenas
pedras semipreciosas que pertencera a minha vó.
Fico surpresa em ver como o simples objeto antigo realçou meu rosto
e um sorriso sincero se forma em meu rosto quando Josh se aproxima e
começa a me maquiar.
Escolhemos uma maquiagem simples, apenas esfumaçando meus
olhos em preto para realçar meu rosto e um batom tom de pele. Ele passa o
delineador e finaliza com o pó no meu rosto, assim que termina, Josh se
afasta e me encaro no espelho.
Não posso negar, realmente estou muito bonita e por um milésimo de
segundo, a ideia de me casar se torna boa.
— Filha. — Saio dos meus pensamentos ao ver mamãe e me viro
para ela, que está emocionada. — Você está linda, querida.
— Obrigada — digo emocionada. — Não me deixe chorar, se não
vai borrar toda a maquiagem e Josh será obrigado a refazer.
Mamãe sorri concordando, então me viro e vejo Cayenne com o
vestido em mãos. Sinto meu coração cada vez mais acelerado, como se ele
pudesse sair do meu peito e ela se aproxima.
— Você está pronta?
— Acho que sim — digo receosa.
— Certo, vamos lá.
Como no dia da prova, Cayenne me ajuda a colocá-lo e me sinto
cada segundo mais nervosa, sabendo que dessa vez não estou me vestindo
para uma prova, mas sim para subir ao altar. Assim que ouço o zíper ser
fechado, uma onda de sentimentos cresce dentro de mim, como se eu fosse
uma bomba-relógio que pudesse implodir aqui mesmo.
Respiro fundo tentando me manter firme e abaixo um pouco a cabeça
para o véu ser colocado. Quando termina, Cayenne, o joga para trás e vejo
meu reflexo no espelho.
Assim como na prova, estou deslumbrante, o que me deixa bastante
surpresa.
Como uma roupa poderia subjugar tanto o corpo de uma mulher?
Fico estarrecida e dou uma volta, vendo a cauda deslizar pelo
ambiente.
— Estou linda — digo realmente emocionada.
— Você está mesmo, Laureen — diz Lucy batendo palmas de
felicidade.
Sorrio e me viro para mamãe que chora baixinho.
— Querida, nunca imaginei que você ficaria tão linda em um vestido
de noiva.
— Concordamos com isso, eu também nunca imaginei — digo rindo.
Ela sorri se aproximando de mim e me abraça forte.
— Estarei torcendo pela sua felicidade, mas se precisar de alguma
coisa, não hesite em me procurar.
Concordo sabendo que posso confiar em suas palavras.
— Acho que está na hora — digo sentindo minhas mãos tremerem. —
Mãe, me leve ao altar.
— Pensei que iria sozinha, seu pai me disse...
— Sim, mas quero que você me leve — digo interrompendo-a.
— Claro, minha filha.
Sorrio com isso e suspiro, encarando minha imagem uma última vez
no espelho.
Não há mais nada para se fazer, o momento está chegando e irei me
casar.
Acidente de trânsito
Sinto meu coração cada vez mais acelerado quando desço a
escada em direção a saída da casa. Minhas mãos estão molhadas por conta
do suor e minha respiração está entrecortada.
— Mantenha a calma — sussurra Lucy ao meu lado.
Levo minha mão até a sua e a aperto.
— Obrigada por estar ao meu lado neste momento.
Vejo seu sorriso se alargar e percebo que o tempo não está tão
favorável, pois o céu está escuro, carregado de nuvens, até mesmo parecia
que alguém havia morrido e eu não duvido disso. Estou morta por dentro por
ter que me casar com um completo desconhecido.
— O carro já está vindo — diz mamãe me trazendo para a realidade.
— Certo, e papai?
— Já está na igreja, ele preferiu ir na frente para recepcionar os
convidados.
Concordo e fico em silêncio, esperando.
Não demora e vejo um carro adentrar o jardim ao lado da nossa casa
e mamãe junto com a Lucy me ajudam a descer os degraus, segurando a
cauda e o véu do vestido.
— Lucy e eu iremos em outro carro, encontrarei você na igreja.
— Por quê?
— Quero te dar um tempo sozinha — diz afastando o cabelo do seu
rosto.
Apenas assinto, agradecendo mentalmente, entro no veículo, pego
meu buquê e me despeço das duas ao ver a porta ser fechada.
Logo vejo mamãe e Lucy seguirem para outro carro e seguro minha
respiração contando até cinco. O ato me ajuda a manter a calma pelo menos
um pouco, até o carro começar a se movimentar saindo do jardim do meu
antigo lar.
Me viro de costas e olho pelo vidro traseiro a casa que passei a
minha vida inteira ficar cada vez mais longe. Penso que nunca mais irei
voltar para cá, a partir desta noite, serei uma mulher casada e com
sobrenome diferente.
Logo o veículo está andando pelo trânsito da cidade, coloco o buquê
no assento ao lado e torço minhas mãos de nervosismo.
Como será que meu noivo é?
De repente, penso que minha atitude de não querer vê-lo pelo menos
na internet é um tanto quanto infantil, mas a dele de não vir me conhecer
pessoalmente é pior ainda, o que me faz rir.
E se ele for um homem feio, com mau hálito?
A ideia de encontrar um ogro no altar me causa boas risadas e dor no
estômago.
Não é porque irei me casar sem vontade que meu futuro marido tem
que ser feio.
Continuo um bom tempo pensando em como será meu futuro marido,
relembrando o pesadelo que havia tido.
E se fosse uma espécie de alerta?
E se realmente meu noivo que desconheço, é uma pessoa
assustadora?
Fecho meus punhos com força, chegando a sentir minhas unhas
machucarem a palma das minhas mãos. Tento me acalmar e fecho os olhos,
desejando que isso tudo não passe de um pesadelo.
E então algo acontece...
Sinto um solavanco forte e sou jogada para a frente, batendo com
tudo meu peito no banco. Solto um gritinho de dor e o buquê rola pelo chão
do carro, com meu coração acelerado por conta do baque.
— O que foi que aconteceu? — pergunto me sentindo assustada.
— A senhorita está bem? — pergunta o motorista, se certificando que
não estou machucada.
Sei que ele não se importa, está apenas vendo se não me machuquei
para não perder seu emprego.
— Estou bem — respondo. — Parece que bateram no nosso carro.
Respiro fundo sentindo a dor no peito.
Ele estaciona o carro no meio-fio, abrindo a porta e saindo
rapidamente. Abro a janela do carro e o vejo indo para trás, analisando a
traseira.
— Como é que estamos aí?
— Ferrados — diz suspirando.
Abro a porta e com um pouco de dificuldade, saio, olhando o veículo
que bateu na gente, parar com a frente destruída.
— Não poderia ser melhor — balbucio revirando os olhos.
Vejo a porta do carro que nos acertou abrir e o motorista sair.
Seu olhar é bastante sério e percebo o nervosismo dele.
— Vocês estão bem? Por favor, me perdoem, acabei acelerando mais
do que deveria.
— Está desculpado, mas deveria se atentar um pouco mais — digo
com o meu motorista me observando. — Veja que ironia, você acelerou para
ir mais rápido e agora está aqui parado, perdendo tempo.
— Sinto muito de verdade, senhorita — diz sincero. — Você vai se
casar.
Não é uma pergunta já que estou usando vestido de noiva, com véu, o
que não tem outra explicação a não ser um casamento.
Quem sairia assim à toa?
— Sim, e você me atrasou para o meu casamento.
— Sinto muito.
— Na verdade, obrigada — respondo com um sorriso.
Vejo a porta traseira do carro se abrir e um homem sair.
Assim que o vejo, é como se cada detalhe a minha volta
simplesmente desaparecesse e estivéssemos somente nós dois aqui, parados,
um encarando o outro. Não posso negar, ele é um homem muito bonito. Seu
cabelo é escuro e seus olhos acastanhados demostram uma fúria que fico
curiosa em desvendar. Sua barba está bem alinhada, marcando seu lindo
rosto angelical. Posso afirmar que em toda minha vida, nunca vi um homem
tão bonito como ele.
A pele clara se destaca ainda mais com o smoking preto que ele usa.
Noto a gravata borboleta e ele ergue a sobrancelha, talvez sem entender o
porquê estou o encarando.
— O que está acontecendo aqui, Reginald? — questiona com a voz
grossa e sensual.
Fico arrepiada ao ouvi-lo e me repreendo mentalmente por isso.
— Só me certificando que a senhorita está bem — diz Reginald, o
motorista.
— E você está bem? — pergunta o homem me encarando.
— Sim, estava dizendo ao seu motorista que ele me atrasou para o
meu casamento, mas está tudo bem.
— Certo, nos perdoe por isso, o carro eu posso mandar consertar,
desde que você não se importe que seja feito isso outra hora, também estou
atrasado para o meu casamento.
Fico surpresa ao ouvir isso e com a coincidência em saber que este
homem também irá se casar.
— Tudo bem, meu motorista pode cuidar disso com o seu, o que
acha?
O homem assente e vejo meu motorista se aproximar do seu, trocando
algumas palavras que não ouço. Vejo Reginald dar um cartão para o outro e
encaro o homem que me observa atentamente.
— Bom casamento para você, senhorita...
— Laureen, me chamo Laureen.
— Certo, me chamo Gael. Mais uma vez, me perdoe.
— Tudo bem, um bom casamento para você também.
Um sorriso sincero se forma em meu rosto e o vejo fazer o mesmo.
Sinto pingos de chuva começarem a cair e entro no meu carro
acenando para o rapaz, o perdendo de vista.
Não demora e meu motorista volta para dentro do veículo me
encarando.
— A senhorita está bem mesmo?
— Sim, estou, agora vamos seguir logo para a igreja.
— Vai ser uma entrada e tanto com o carro amassado — responde
mais para ele do que para mim.
Rio com isso e movimento a cabeça em concordância.
O carro passa ao nosso lado e vejo o homem uma última vez,
marcando bem seu olhar sério e enigmático.
***
Conto de 10 a 0 e quando vejo, estamos em frente à igreja. Respiro
fundo e avisto mamãe e Lucy do lado de fora, ao perceberem o carro
amassado, seus olhares se contorcem e se aproximam rapidamente de nós.
— O que houve? — pergunta mamãe, assim que o carro para em
frente à entrada da igreja.
— Fomos acertados por um motorista um tanto imprudente — digo
suspirando.
Elas me ajudam a sair do carro e arrumam a cauda do vestido,
esticando-o e alinhando. O véu também é arrumado e mamãe me observa.
— Vocês estão bem?
— Sim, até que foi divertido, acredita que o rapaz que nos acertou
também estava indo se casar?
— Que loucura, mas vamos esquecer isso por um momento. Quando
você estiver preparada, entraremos.
Sinto o medo voltar a tomar conta de cada parte do meu corpo e
minhas mãos suam cada vez mais. Respiro fundo, mentalizando coisas boas,
como se isso fosse apenas uma fase e se depender de mim, acabará em
breve.
“Tolinha!”
Ouço meu pensamento e vejo o quanto é verdade.
Isso não irá acabar, pelo contrário, está apenas começando e será
ainda mais difícil a partir do momento que eu disser “sim”.
— Segure minha mão, mamãe, e não me deixe vacilar.
— É claro, querida — diz mamãe já me agarrando. — Vamos.
Movimento minha cabeça e quando Lucy já está dentro do local,
posicionada no seu devido lugar, subo os degraus da igreja, caminhando
devagar para o meu destino.
Entrar em uma igreja para se casar chega a ser cômico, já que estou
me direcionando para o verdadeiro inferno, mas me mantenho firme e sorrio
respirando fundo, aceitando o destino que me foi dado.
Finalmente eu irei me casar...
Casada com o CEO
Caminho devagar em direção ao altar, segurando a mão de
mamãe com força. Ouço a marcha nupcial e na minha mente ela se transforma
na marcha fúnebre, então, ergo meu olhar em direção ao meu futuro marido e
o encaro, o que me faz congelar travando no meio do caminho.
A igreja está cheia e todos os convidados me encaram, surpresos
com a minha atitude. Fico parada por um bom tempo, o olhando atentamente,
sem acreditar que o homem que vi no trânsito e bateu no meu carro, é meu
futuro marido.
Como ele se chama mesmo?
“Me chamo Gael.”
Ouço sua voz em minha mente e sinto um arrepio percorrer minha
espinha, então mamãe aperta minha mão, me trazendo para a realidade.
— Está tudo bem? — pergunta baixinho.
O som no local é alto.
— Foi ele que bateu no meu carro — sussurro.
Volto meu olhar para o altar e vejo papai, Lucy, Eduardo, o padre e
Gael. Todos me encaram sem entender e o olhar inexpressivo do meu pai me
fita, como se pudesse me matar aqui mesmo por esta vergonha.
— Falaremos disso depois, é melhor seguirmos, as pessoas estão
olhando.
Concordo com mamãe e voltamos a caminhar, agora com todos
demonstrando um certo alívio em seus olhares.
Será que eles esperavam eu desistir deste casamento?
Dou alguns passos, como se, ao invés de me aproximar, eu ficasse
ainda mais longe do altar. Então vejo o homem que chamou minha atenção
pouco tempo atrás, me encarar.
— Laureen — sussurra me observando. — Então é você, a noiva do
trânsito.
— Que ridículo! — disparo. — Me desculpe, quis dizer que a
situação é ridícula. Nos conhecermos assim, em um acidente, sem sabermos
que iriamos nos casar.
Um sorriso angelical se forma em seu rosto e me sinto sem graça,
então o padre pigarreia e nos viramos para ele, com Gael se aproximando e
segurando minha mão. Um arrepio percorre cada parte do meu corpo, como
se o seu toque disparasse cargas de eletricidade, me trazendo à vida
novamente, o que é estranho.
Por que estou sentindo estas coisas?
— Boa tarde a todos — começa o padre nos encarando. — Antes de
tudo, vamos ler um versículo da bíblia.
Fico quieta, achando isso tudo muito ridículo e desnecessário. Nunca
fui uma pessoa muito cristã, mas sempre sonhei em me casar na igreja.
Porém, um casamento tradicional, verdadeiro e por amor.
— Sua mão está suando — sussurra Gael, enquanto o padre lê o
versículo que não presto atenção.
— A sua é quente — disparo me repreendendo por isso.
Outro sorriso se forma em seu rosto e noto a sua beleza, ficando sem
graça.
— Nesta tarde, duas pessoas decidiram se unir em prol do amor —
diz o padre me fazendo rir.
Ele me encara e fico sem graça.
— Desculpe — murmuro.
— Continuando... — O padre retorna e vejo Gael segurar a risada
também. — O amor mais uma vez falou mais alto e estes dois jovens
decidiram se unir em uma só carne.
Vejo Gael segurar ainda mais a risada e faço o mesmo.
— Padre, poderíamos pular esta parte? — peço, notando os
convidados rirem conosco.
— Vocês que mandam — diz nervoso. — Gael Brown, você aceita se
casar com Laureen Vargas de livre e espontânea vontade, prometendo honrá-
la, protegê-la e amá-la pelo resto dos seus dias?
— Sim — responde Gael se controlando para não rir.
— Laureen Vargas, você aceita se casar com Gael Brown de livre e
espontânea vontade, prometendo honrá-lo, protegê-lo e amá-lo pelo resto de
sua vida, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença?
Encaro Gael e desvio meu olhar para papai que demonstra medo e
receio, então me viro para mamãe, que chora baixinho, talvez de
arrependimento, talvez de alergia. Nunca saberei...
Volto meu olhar para Gael Brown que sorri de lado.
— Aceito — digo sentindo que estou entrando em um lugar obscuro
que jamais poderei sair.
— Então, com a permissão que me foi dada, eu os declaro casados.
— diz o padre aliviado. — Pode beijar a noiva.
Vejo Gael levantar meu véu devagar e meu coração se acelera cada
vez mais, então o visualizo mais uma vez e ele se aproxima, colando seus
lábios nos meus.
O beijo começa devagar, talvez esperando minha permissão, então
abro a boca e Gael mergulha sua língua, nos misturando por completo. Sinto
o gosto do seu beijo; uma mistura de pasta dental e morango, e correspondo
o ato, sabendo que não terei escolha.
Não é ruim, muito pelo contrário, sinto uma sensação tão diferente
que o puxo para próximo de mim e ficamos nos beijando por longos minutos,
ouvindo as pessoas à nossa volta nos aplaudir.
Volto a realidade e o afasto devagar, com ele finalizando com um
selinho. Assim que nos separamos, assinamos os papéis e ele me observa.
— Esposa — murmura sorrindo de lado.
— Esposo — respondo sem graça.
Gael estende a mão para mim e a seguro, sentindo meus batimentos
cada vez mais acelerados, então ele me guia em direção ao tapete e vamos
andando até a saída da igreja, comigo sem entender.
Os convidados se colocam em pé e nos aplaudem, com alguns
jogando arroz em cima de nós. Vejo o carro amassado parado do lado de
fora, Gael se desvencilha de mim, indo até o veículo e abre a porta. Desço
os degraus devagar, ele me ajuda a entrar no carro, fechando a porta e dando
a volta.
Não demora e ele está ao meu lado.
Olho para o lado de fora e observo os convidados gritando e
aplaudindo. Procuro entre as pessoas um rosto conhecido até que encontro
mamãe que acena para mim e jogo o buquê, com o veículo começando a se
movimentar rapidamente, sem eu ter a chance de saber quem o pegou.
— Para onde estamos indo? — questiono sem entender.
— Para sua antiga casa, iremos antes dos convidados para que você
possa colocar uma roupa mais leve. Acredito que este vestido esteja a
incomodando.
— Um pouco — digo encarando seus olhos.
Ele me observa e me sinto sem graça, como se estivesse exposta.
— O destino é engraçado — diz olhando pela janela. — Nos
encontrarmos pela primeira vez em um acidente de trânsito.
— Às vezes o destino gosta de brincar conosco — respondo. —
Posso fazer uma pergunta?
— Tecnicamente você já fez, mas claro que pode.
— Por que você não foi me conhecer antes? — questiono ignorando
sua piada sem graça.
— Acho que deve saber que sou um homem de negócios — diz
voltando a me encarar. — Fiquei tão surpreso quanto você quando soube do
casamento, no dia, estava viajando e só voltei ontem.
— Você só voltou para se casar com uma desconhecida?
— Sim — responde seco.
— E você vê isso como algo normal?
— Na verdade, não, e se eu disser a você que queria me casar,
estarei mentindo, mas a vida inteira meu pai tomou as decisões por mim, eu
já esperava que isso aconteceria em algum momento.
Fico em silêncio ao ouvir isso, me sentindo ao menos um pouco
aliviada em saber que ele também não queria se casar.
— Mas, e você.
— Eu o quê?
— Queria se casar comigo?
— Claro que não, como poderia querer me casar com uma pessoa
que nem conheço?
— Bem, se não lembra, você fez isso minutos atrás — responde
dando de ombros.
— Por falta de escolha — digo. — Me desculpe, não quero ofender.
— Não está — responde. — Estou curioso com uma coisa.
— Qual?
— Você não pareceu me conhecer quando nos encontramos no
acidente... Você não foi atrás para saber quem eu era?
— Não, preferi esperar, assim não ficaria tão nervosa, sem contar
que fiquei com medo de você ser um homem horrendo.
Gael dá risada e me vejo rindo com ele.
— E eu superei suas expectativas?
Fixo meus olhos em cada detalhe do seu rosto angelical.
— Bem, já que somos casados agora, não posso reclamar em relação
a isso, você é muito bonito — digo envergonhada.
— Você também é muito linda.
— Obrigada. Agora me diz, você realmente é um CEO das empresas
do seu pai?
— Sou sim, ele me deu o cargo tem um ano, desde então, minha vida
se tornou um verdadeiro inferno.
— Por quê?
— Muitas viagens.
— Então nos veremos pouco — afirmo.
— Na verdade, não, aceitei o casamento se ele concordasse diminuir
as minhas viagens. Você foi a minha salvação.
— Fico feliz em saber que servi para alguma coisa — respondo
rindo.
Ele fica em silêncio.
Encaro o lado de fora, percebendo que o trânsito está tranquilo, no
entanto, a chuva cai forte.
— Posso fazer outra pergunta?
— Fique à vontade, esposa — diz me olhando.
— Você também não pareceu me reconhecer, não sabia como eu era?
— Não, assim como você, preferi não vê-la até o dia do casamento
— responde.
Concordo e sorrio.
— Mamãe estava do lado de fora da igreja quando eu cheguei, ela
não te viu?
— Entrei pelos fundos para evitar que alguém me visse.
Ouço isso e seguimos o restante do caminho em silêncio, com Gael
sem encostar em mim, o que me deixa tranquila.
— Sou uma péssima noiva, eu sequer vi quem pegou o buquê —
digo.
— Você vai acabar descobrindo isso, não se preocupe, ainda temos
uma longa noite pela frente.
Me arrepio sabendo que teremos que manter um papel de casal feliz
por mais algumas horas.
— Você é um bom ator, foi convincente na hora do beijo — digo
puxando assunto.
— Na verdade, eu não estava atuando naquele momento, o beijo foi
real, assim como da sua parte.
— Como você tem certeza de que o beijei por querer? — pergunto
cruzando os braços e o observando.
Seu olhar demonstra certa euforia.
— Um beijo daqueles não dá para fingir, mas se você quiser, posso
ser um ótimo ator pelo restante da noite.
— Seria bom, quero dizer, pelo menos em relação a estarmos felizes
com esta união, se é que me entende.
— Entendo.
É a única coisa que ele diz e quando vejo, já estamos próximos de
casa.
Assim que o carro para, Gael sai e dá a volta para abrir a porta para
mim, me ajudando a descer do veículo. Seguro sua mão, sentindo o calor
dela e saio, olhando para a casa que morei a minha vida inteira.
— Cheguei aqui mais rápido do que imaginei.
— Você pensou que se casando comigo, não voltaria mais aqui,
mesmo a festa sendo na casa dos seus pais?
— Basicamente isso — digo rindo.
Subimos os degraus com Gael ainda segurando minha mão e entro no
local, olhando em volta da casa que passei minha vida inteira.
— Bonita — diz observando em volta.
Noto que a casa continua bastante agitada, por conta da preparação
da festa.
— É melhor eu ir me trocar logo — digo apontando para a escada.
— Claro, estarei aqui embaixo bebendo um uísque.
Concordo e sigo com dificuldade para o andar de cima, indo para o
meu quarto. Assim que entro, observo que na cama há um vestido mais
simples, porém muito bonito. Tiro o vestido de noiva com certa dificuldade
e assim que finalmente consigo, fico apenas de lingerie e me sento, refletindo
sobre o que está acontecendo.
Agora não tem como voltar atrás, estou casada com um homem que
por enquanto apenas sei o nome e que é um CEO na empresa do seu pai.
Gael é uma incógnita e me vejo em um dilema, eu quero conhecê-lo.
***
Uma batida na porta me tira dos meus pensamentos e rapidamente me
enrolo no vestido de noiva, vendo a porta ser aberta e meu marido entrar no
meu quarto.
— Me desculpe por entrar assim, é que as pessoas já estão chegando
e sua mãe ordenou que eu viesse atrás de você.
— Por que ela mesma não fez isso?
— Acho que está ocupada com os convidados — responde e me
encara. — Desculpe, você ainda nem se vestiu. — Aponta para o vestido na
cama e fico sem graça. — Vou sair para que se arrume.
— Tudo bem, pode ficar, apenas fique de costas, se mamãe o ver no
corredor e eu trancada aqui dentro, é capaz de achar que tem alguma coisa
errada.
Ele me encara e assente virando de costas.
Rapidamente jogo o vestido de noiva na cama e pego o outro, me
vestindo mais rápido do que consigo.
Suspiro, aliviada e me olho no espelho.
O vestido branco bordado com pérolas marca minhas curvas e realça
meus seios. Meu penteado continua intacto, com a tiara da vovó realçando
minha beleza.
— Estrou pronta — digo me virando para Gael.
Ele me encara um minuto inteiro em silêncio e vejo seu pomo de
adão se mexer.
— Você é realmente muito linda — murmura. — Meu pai escolheu
uma bela esposa para mim.
— Obrigada — digo sentindo meu rosto ruborizar.
— Não tem o que agradecer. Vamos descer?
Concordo e ele estende a mão para mim.
A pego e seguimos em direção a saída do quarto, andando devagar
até a escada. Paro olhando a movimentação das pessoas e todos nos encaram
aplaudindo. Me preparo com Gael para o meu melhor teatro.
A noite acaba de começar...
Festa de casamento
— F ique calma, é apenas uma multidão de pessoas
desconhecidas, não há o que temer — diz Gael parado ao meu lado.
— Então você também não conhece os convidados? — questiono
curiosa.
— Conheço... Meu pai, os seus e agora você, que é minha esposa.
Rimos disso e dou de ombros começando a descer os degraus
devagar.
Os saltos nos meus pés me incomodam, mas não mais do que todas
aquelas pessoas nos olhando como se fôssemos a atração da noite e
realmente sinto que somos isso.
Fico aliviada ao chegar no último degrau, surpresa por não ter caído.
Vejo mamãe se aproximar e me abraçar apertado dando um beijo na minha
testa.
— Obrigada, querida — sussurra para que ninguém ouça.
— Vamos apenas sorrir hoje, mamãe — peço tomando os vários
olhares.
Ela concorda e meu pai se aproxima, cumprimenta Gael e vem em
minha direção. Ele me abraça e decido retribuir, me lembrando que é melhor
que as pessoas pensem que estou feliz.
— Espero que você possa me perdoar um dia e que desta união surja
o amor — diz baixinho apenas para que eu ouça.
— Um dia o perdoarei sim, papai, mas não espere que eu me
apaixone pelo marido que você escolheu para mim.
— Aquele beijo foi bem apaixonado, não? — insiste me observando.
Reviro os olhos sem que as pessoas vejam e decido ignorar, sabendo
que ele está apenas me provocando.
— Acho que está na hora de aproveitarmos a festa, senhor Vargas,
assim como minha esposa e eu — diz Gael me puxando em sua direção e
passando o braço na minha cintura.
Solto um gritinho baixo de surpresa e meu pai concorda com um
movimento de cabeça.
— Está certo, rapaz, vamos aproveitar a comida, bebida e a música.
Meu pai se afasta e me viro para o meu marido, que sustenta um
sorriso debochado em seus lábios.
— Obrigada, às vezes meu pai sabe ser difícil.
— Sou seu marido, estou aqui para defendê-la, certo?
Fico sem graça ao ouvir isso.
Decidimos seguir para o salão de festas, onde uma música
orquestrada toca baixinho. Assim que entramos no local, mais palmas soam
pelo cômodo e forço um sorriso, com Gael ainda com a sua mão na minha
cintura.
— Se nós não conhecemos estas pessoas, será que elas sabem para
quem estão batendo palmas? — pergunta estreitando as sobrancelhas.
Cubro a boca com a mão, a fim de que não vejam eu rir.
— Tenho que confessar que você é um ótimo piadista, senhor Brown.
— É porque você ainda não conhece meus dotes, senhora Brown —
responde sorrindo.
Fico em silêncio.
Somos guiados para a mesa principal, onde estão meus pais, o pai de
Gael e dois lugares reservados para nós. Faço questão de puxar uma cadeira
para Lucy, que está se divertindo na festa e me abraça apertado quando me
vê.
— Quis te dar um tempo, levando em consideração o motivo deste
casamento — diz ainda abraçada a mim.
— Obrigada, eu te amo — digo e me desvencilho dela seguindo para
a mesa.
Gael puxa a cadeira para que eu me sente, agradeço surpresa com sua
educação, e me ajeito no lugar, observando mamãe me encarar com um
sorriso de lado.
A hora seguinte é como se fosse uma faca na minha garganta,
dilacerando minha pele devagar a cada palavra dita. Percebo que o pai de
Gael, Eduardo, está animado com a nossa união, o que ainda me deixa
bastante receosa.
Qual será o motivo dele desejar tanto este casamento?
Porém, mais animado que ele, está meu pai, que bebe, come e
conversa sobre negócios.
Me sinto um pouco incomodada com tudo e Gael me observa,
estendendo a mão para mim.
— Você deseja dançar comigo?
— Tenho dois pés esquerdos — comento sendo sincera, pois sou
péssima em dançar.
— Vamos tentar, aposto que vai ser um prato cheio para os
jornalistas.
— Têm jornalistas aqui? — pergunto surpresa. — É claro que têm.
Gael ri e fixo meus olhos em seu lindo sorriso, o que me deixa com
uma sensação estranha na boca do estômago.
— Vai aceitar?
— Se eu não aceitar, se dará por vencido?
— Não — responde convicto da sua palavra.
— Então vamos logo passar vergonha.
Nos levantamos e ele me guia para o meio do salão.
Gael para na minha frente e faz uma reverência dramática,
arrancando um sorriso meu, então os convidados nos assistem e ele volta
para perto de mim.
— Espero que não se importe, mas tomei a liberdade de escolher a
música.
— Isso não me incomoda, só quero saber quando foi que escolheu, já
que não saiu do meu lado momento algum.
— Quando meu pai estava preparando tudo com os seus... Foi um dos
meus pedidos, enquanto viajava. É uma música que eu gosto e acho que
combina com casamentos.
— Ok — digo acreditando no que ele diz.
Então os primeiros acordes de A Thousand Years, da Christina Perri,
começam a serem tocados no violino. Fico surpresa com a escolha de Gael,
ele me estende a mão e a seguro com firmeza.
— Não me deixe tropeçar — peço de maneira divertida, mas sincera.
— Não vou deixar.
Coloco minha mão livre sobre seu ombro e ele leva a sua até a minha
cintura, então me guia devagar na dança. Fixo meu olhar no seu, que está
sério e começamos a dançar. Gael mostra ser um ótimo dançarino e o
acompanho o máximo que consigo, pisando no seu pé algumas vezes sem
querer. Ele não demonstra nada, pelo contrário, se mostra ser um verdadeiro
cavalheiro, sabendo que não estou errando de propósito.
Ainda dançando, me sinto completamente ridícula por não ter
pensado nisso antes, já que em todos os casamentos têm dança, certo?
Por que no meu seria diferente?
Por que não treinei para dar o meu melhor antes?
Chega a ser piada pensar em dar o meu melhor, levando em
consideração que nem estar casada eu queria, mas não posso negar que
desde o momento que vi Gael, ele tem me surpreendido. Ele me surpreendeu
por ser bonito, educado, gentil e entender a situação em que estamos,
casados sem nenhum dos dois querer, me mostrando que mesmo eu não
querendo isso, ele pode me tratar bem.
A música termina e ele para na minha frente, encarando fixamente
meus olhos e boca, enquanto sinto minha respiração acelerar.
— Até que você não foi tão ruim — sussurra com o suor brotando em
sua testa.
— Vou levar isso como um elogio — respondo rindo.
Ele concorda.
Uma salva de palmas ecoa por todo o local, agora com os
convidados tomando conta da pista de dança e seguimos em direção à mesa.
— Por estar infeliz casada comigo, até que você sorri bastante. —
Alfineta.
— Você também.
— Está certa — comenta piscando.
Voltamos aos nossos lugares e vejo o brilho nos olhos de Lucy,
emocionada com a nossa dança.
— Você estava linda na pista de dança, amiga — diz eufórica.
— É porque você não sabe quantas vezes pisei nos pés de Gael —
confidencio arrancando uma risada sua.
— Isso faz parte. — Pisca bebendo um gole de champanhe.
A acompanho e voltamos a conversar.
Noto que meu marido me fita de canto de olho, enquanto conversa
com meu pai e o seu, e isso, por mais estranho que seja, me causa uma calma
que não sinto há muito tempo.
***
Para minha sorte, a hora passa rapidamente e os convidados
começam a ir embora após cortarmos o bolo, no entanto, sei que após a festa
finalizar, outra parte deste pesadelo irá se iniciar.
A famosa noite de núpcias...
Só de pensar nisso, minhas mãos ficam frias e o suor desce pelas
minhas costas, me causando um arrepio inexplicável.
E se Gael me forçar a me deitar com ele?
“Ele não faria isso, eu acho, mostrou por enquanto, ser um
cavalheiro.”
Encaro Gael ao longe ainda com meu pai e o seu, talvez conversando
sobre negócios.
— Filha.
Ouço a voz de mamãe e a encaro.
— Sim?
— Quase todos os convidados já estão indo embora e suas coisas já
foram colocadas no carro do seu marido — diz torcendo as mãos.
Devo ter puxado esta mania dela.
— Entendi. — É o que consigo dizer.
— Você sabe o que vem agora, não é? — pergunta se sentando ao
meu lado e sussurra. — Você é uma mulher casada...
— Mãe, eu sei o que é sexo, não estamos no século XVI.
— Eu sei, mas nunca a vi namorar, sequer ficar com algum rapaz...
— Ser virgem não quer dizer que eu não sei o que é transar. Já tive
um namorado na época da escola, mas nada que fosse sério e não passasse
de beijos.
Ela balança a cabeça em concordância.
— Então você sabe sobre a noite de núpcias.
— Sim, e não irei fazer isso, conversarei com Gael e pedirei um
tempo. Vocês me obrigarem a casar é uma coisa, mas me forçar a me deitar
com um homem é inadmissível.
Mamãe se cala e concorda, sabendo que tenho razão, pois só me
deitarei com um homem no dia que estiver preparada.
— Você está certa, me desculpe, não quis parecer rude.
— Tudo bem, o pior já aconteceu mesmo — digo e me levanto ao ver
Gael se aproximar.
— As coisas estão prontas, vim perguntar se você já quer ir embora
ou quer esperar todos os convidados irem embora.
— Melhor irmos — digo dando de ombros, afinal que diferença faria
esperar aqueles desconhecidos irem embora?
— Tudo bem, vou avisar ao motorista que já vamos. Fiquei sabendo
sobre Lucy, a governanta, ela vai para nossa casa daqui uns dias, para
aproveitarmos a lua de mel.
— Não vamos viajar? — questiono erguendo a sobrancelha.
— Se quiser, sim.
— Eu quero — digo dando de ombros.
Gael me encara e assente, se afastando, então me viro para mamãe.
— Enquanto estiver viajando com meu marido, peça para Lucy ir
para minha nova casa, assim quando voltar já a encontro.
— Claro, querida — diz me abraçando.
A aperto contra meu corpo e sinto vontade de chorar ao me lembrar o
que havia acontecido mais cedo.
Estou condenada!
Seguro as lágrimas e ela dá um beijo no meu rosto, com papai e Lucy
se aproximando.
— Filha.
Meu pai me abraça e retribuo sem vontade, sabendo que ele é o
maior culpado disso tudo, então me afasto e me viro para minha amiga.
— Avisei mamãe para você ir direto para minha nova casa, irei
viajar com Gael.
— Fique tranquila, estarei lá.
A aperto contra mim e ouço um pigarro, então me viro e vejo
Eduardo.
— Você tomou uma boa decisão, minha jovem, fico feliz com esta
união.
— Obrigada — respondo de má vontade. — Se me derem licença,
tenho que ir.
Sigo em direção ao hall e vejo meus pais me seguindo com Lucy,
então saio para o lado de fora da casa e vejo Gael próximo ao carro me
esperando. Respiro fundo e conto mentalmente até três, descendo cada
degrau tão devagar que uma tartaruga chegaria primeiro que eu.
Meu marido estende a mão para mim e a seguro, entrando no veículo.
Ele fecha a porta e encaro meus pais e minha melhor amiga, então o carro se
afasta rapidamente e logo eles se tornam apenas borrões.
Seco uma lágrima que desce involuntariamente e Gael me encara, em
silêncio, então olho para a frente e decido pensar no meu futuro.
O que vai ser de agora em diante?
Noite de núpcias? Sem chance!
Continua chovendo do lado de fora, o carro segue devagar pelo
trânsito e quando vejo, estamos entrando em uma área verde de uma enorme
casa. O lado de fora dela é bonito; revestido em pedra rústica e lembra um
castelo.
Seguro minha respiração ao pensar que o momento que mamãe havia
me falado, está quase chegando.
Claro que sempre soube o que é sexo, pelo menos isso me foi
contado, mas pensar que possivelmente teria que fazer com um homem que
não amo, e ainda sem vontade, me deixa com as pernas bambas.
O carro para em frente à casa, vejo um homem surgir com um guarda-
chuva e abrir a porta para mim. Noto que ele é jovem, deve ter no máximo
vinte e seis anos, usa o cabelo penteado para trás e sua barba é rala, dando
um charme a sua pele clara. Assim que abre a porta, vejo o sorriso estampar
em seus lábios enquanto me encara.
— Seja bem-vinda, senhora Brown — diz fazendo uma reverência
exagerada.
— Obrigada — digo estendendo a mão para ele que a pega e me
ajuda a descer do carro, me cobrindo com o guarda-chuva.
Rapidamente subimos os degraus da pequena escada, logo vejo Gael
sair do carro, dar a volta e correr em nossa direção, com seu corpo sendo
molhado pela tempestade.
— Senhor Gael — murmura o homem ao meu lado.
— Preston, obrigado por estar aqui, pensei que estaria de folga.
— E estava, mas sabia que o senhor precisaria de ajuda com as
coisas da senhora Brown.
— Me chame apenas de Laureen, por favor — peço em meio à
confusão de bagagens.
Vejo o motorista tirá-las do porta-malas e correr em meio a chuva,
deixando-as perto de nós.
Preston se vira em direção a porta frontal de madeira maciça e não
demora dois homens surgem, carregando minhas coisas. Assim que as malas
passam pela porta, tenho a real ideia do que está acontecendo.
Não que antes não soubesse, mas vendo minhas coisas entrando no
meu novo lar, é como se meu corpo saísse de um estado de choque e me
trouxesse para a dolorosa realidade.
— Vamos entrar, está frio aqui fora — diz Gael segurando meu braço
e me guiando para dentro.
Concordo sem muitas opções e assim que entramos, fico perplexa
com a beleza do local.
A casa me lembra a minha, com uma escadaria de mármore, um hall
de entrada, quadros por todos os lugares e piso de madeira. No entanto, o
que me chama a atenção é um quadro de Gael, na parede frontal da entrada.
Ele está com o peito desnudo, olhando para a frente, como se
estivesse me observando. Analiso cada traço da pintura, observando o
realismo nos pelos ralos do seu peitoral forte, o que me deixa com a mente
fervendo.
Seria ele tão belo na realidade quanto na pintura?
— Enquanto suas coisas são levadas para o quarto, vou mostrar um
pouco da casa.
Concordo e sou levada para o lado leste da mansão.
Passamos por um corredor onde contém mais pinturas, algumas
famosas e outras desconhecidas, mas com uma beleza e tanto.
— Os quadros são lindos — digo analisando um especificamente
onde mostra uma mulher de costas, observando a natureza.
— Obrigado, eu mesmo que pintei.
Noto seu rosto um pouco corado, o que me deixa surpresa, e abro a
boca no formato de um “O”, fazendo Gael rir logo em seguida.
— Por que demonstra tanta surpresa com isso?
— Sendo um homem importante, não pensei que teria tempo para tais
coisas — respondo dando de ombros.
— Sempre fui apaixonado pela arte, foi nas telas brancas que
encontrei a paz que precisava depois que minha mãe morreu.
— Sinto muito que isso tenha acontecido.
— Não se preocupe, já superei sua morte, era apenas uma criança
quando isso aconteceu.
Faço um movimento de cabeça, concordando com o que diz.
Seria muita intromissão perguntar como havia sido a morte dela?
— Isso é bom, quero dizer, ter superado é bom.
Gael concorda e continuamos andando, com ele parando em frente a
uma porta de madeira simples.
— Aqui é um lugar que acho que vai gostar — diz abrindo a porta e
me dando passagem.
Entro no local e fico surpresa ao ver uma enorme biblioteca, o que
faz meus olhos brilharem. Há inúmeras prateleiras de livros organizados em
ordem alfabética e me sinto completamente encantada com isso.
— É lindo, alguém contou que sou apaixonada por livros?
— Seu pai me disse hoje quando conversamos.
— Então você preparou tudo muito rápido — brinco.
— Na verdade, eu também sou apaixonado por literatura, e passo
boa parte do meu dia a dia aqui, isso é claro, quando não estou trabalhando.
Achei interessante mostrar a você um ambiente que pudesse se familiarizar,
já que isso tudo é novo para nós dois.
— Obrigada por isso, eu realmente gostei bastante.
— Não agradeça, sinta-se à vontade para vir aqui quando quiser —
diz com um sorriso de lado.
Sinto uma felicidade ao ouvir isso e retribuo o sorriso, seguindo para
outra parte da casa.
Conheço seu escritório, cozinha e alguns dos seus empregados, além
da sala de estar, seu mini cinema particular e só depois me guia para o andar
de cima.
— Estava pensando em dar a escolha a você para tomar a decisão —
diz passando pelas infinitas portas.
— Que escolha?
— De dormir comigo ou em um quarto separado — sugere.
— Espera, você não vai querer ter uma noite de núpcias comigo? —
pergunto me sentindo aliviada.
— Se eu dissesse que não quero, estaria mentindo, mas sei que você
não quer — responde. — É bom que descanse hoje, amanhã viajaremos ao
anoitecer.
— E para onde vamos? — pergunto curiosa.
— Você vai ver... Então, o que decide?
Dormir sozinha ou com Gael?
Se eu fosse dormir com ele, com certeza iria querer ter algo a mais, e
realmente não me sinto nada preparada.
“Noite de núpcias? Sem chance! Eu vou dormir sozinha mesmo.”
— Se não se importa, esta noite irei optar por dormir sozinha.
— Claro, venha, vou mostrar onde vai ficar — diz voltando a andar,
agora a minha frente.
Será que ele ficou chateado com minha decisão.
Com certeza, afinal de contas, para os homens é muito mais fácil
transar sem ter sentimento algum. Claro que nem toda mulher
necessariamente faz sexo só quando está apaixonada, existem diversas que
usam e abusam dos homens, e são verdadeiras deusas.
Queria eu ser assim.
Saio dos meus pensamentos e sou guiada até o final do corredor,
onde há uma porta dupla de madeira branca. Gael a abre e com um gesto, me
dá a liberdade para entrar no local.
Entro e vejo um quarto simples com cheiro de desinfetante, como se
tivesse sido limpo recentemente. Encaro cada parte e vejo uma cama de
casal com travesseiros, uma cômoda simples e um espelho.
— Não tem muita coisa, mas acho que dá para usar esta noite — diz
em tom brincalhão. — Suas coisas estão no closet. — Aponta para uma
pequena porta que não havia reparado. — Eu sabia que você não iria dormir
comigo, então mandei que trouxessem suas coisas direto para cá.
— Muito obrigada — respondo sem graça.
Por que este homem me deixa assim?
— Até mais — diz me dando as costas.
O vejo se afastar e entrar em uma porta próxima da minha, então
fecho a minha porta e me jogo na cama, sentindo uma avalanche de emoções
me consumir. De repente, lágrimas escorrem pelo meu rosto e soluço
baixinho, pensando em toda a loucura que minha vida está.
Como meus pais permitiram chegar a este ponto?
Com certeza neste exato momento papai está bebendo seu uísque
enquanto comemora sua vitória e sua vida.
Penso em Eduardo e neste contrato de casamento...
Simplesmente não faz sentido algum para mim ele querer unir seu
filho a mim.
Por que ele desejou tanto este casamento?
Penso em Gael e no primeiro instante em que nos vimos.
Quem diria que pouco tempo depois estaríamos casados?
Reflito em como ele foi gentil comigo a todo instante e pensando no
nosso beijo, acabo adormecendo.
***
Gael Brown
Sangue, suor e justiça foi o que me moveu durante todos esses anos.
Quando papai me disse que iria me casar com a filha do seu inimigo,
vi um filme passar em minha cabeça.
Como poderia me casar com uma desconhecida?
Então criei um plano bem articulado e descobri algumas coisas sobre
Laureen Vargas, agora conhecida como senhora Brown. Coisas, como por
exemplo, o amor pelos livros, por sua amiga Lucy, e claro, pelos seus pais.
Se ela não os amasse, não teria se casado com um completo estranho para
salvar um império falido e a pele deles.
Descobri, ainda jovem, que mamãe havia sido assassinada pelo
nosso inimigo; Jorge Vargas, o meu sogro...
E foi aí que tudo começou na mente diabólica de papai.
Eu iria me casar com Laureen, tratá-la como uma rainha e quando
menos esperasse, atacaria, destruindo-a por completo e assim derrotando
nosso inimigo.
Mas ao ver a mulher seguir em direção ao altar, meu coração
acelerou mais do que o normal e me vi em um campo minado.
Valeria a pena magoar uma pessoa que não tem nada a ver com as
atitudes do seu progenitor?
— Você não pode desistir, Gael Brown, sua mãe foi assassinada a
sangue frio por aquele canalha — murmuro para mim mesmo.
Ando de um lado para o outro no quarto e suspiro, pensando em
como Laureen está no outro.
Será que ela estaria dormindo?
Estaria despida?
O pensamento de tê-la para mim é insano, mas jamais me deitaria
com uma mulher sem ser de livre e espontânea vontade, pois isso iria contra
todas as minhas regras.
Bebo um gole do uísque que está em minhas mãos e torço o nariz ao
sentir o forte gosto. Que situação meu pai havia me colocado, submeter uma
jovem a casar sem vontade e depois destruí-la, dilacerá-la e quebrá-la por
completo.
— Mas o pai dela não pensou quando matou minha mãe — digo para
mim mesmo. — Ele merece toda a punição possível, machucá-lo
indiretamente é o melhor a se fazer.
Termino minha bebida e coloco o copo de lado, saindo do quarto
apenas de cueca e seguindo devagar em direção ao quarto de Laureen. Abro
a porta devagar para não fazer barulho e a vejo dormindo, ainda com a
mesma roupa.
Vejo a tranquilidade em seu rosto e engulo em seco, sentindo a bile
subir pela minha garganta.
Ela é apenas uma garota, inocente e frágil.
Como ser capaz de machucá-la?
Suspiro e fico a olhando por um bom tempo, então esbarro na porta e
ela acorda, dando um pulo da cama e soltando um grito.
— Gael, você me assustou! — diz nervosa.
— Me perdoe, não foi minha intenção, apenas queria saber se está
confortável — digo a encarando.
Bela, isso não posso negar, Laureen, é realmente uma mulher linda.
— Estou bem.
Percebo que ela encara meu corpo, parando seus olhos inocentes na
minha cueca. Assim que percebe que noto seu ato, desvia o olhar e fica
cabisbaixa.
— Certo, se está bem, vou me deitar, se precisar de alguma coisa,
estou próximo a você.
Ela assente e eu a encaro uma última vez, sentindo uma sensação
estranha na boca do meu estômago. Uma sensação que nunca senti com outra
pessoa.
Eu quero beijá-la!
— Obrigada — sussurra tímida.
— Posso pedir uma coisa antes de ir?
— Claro.
— Quero te beijar, será que posso? — pergunto apoiando uma perna
na outra.
Laureen me encara e vejo seu rosto ficar vermelho, então ela assente
devagar.
— Tudo bem — diz se dando por vencida.
Me aproximo dela e paro na sua frente, com minha barriga ficando
diante do seu rosto, então ela se levanta, levo minha mão até sua face,
acariciando-a devagar e passando meus dedos em seus lábios rosados.
— Não é porque eu não te amo e não queria estar casado que não
posso fazer isso, não é mesmo?
— O que quer dizer com isso?
— Que vou aproveitar o máximo que puder desta união — respondo
e me aproximo dela, encostando meus lábios nos seus.
Sem qualquer pudor, invisto minha língua dentro da sua boca e logo
estamos entrelaçados em um beijo ardente. Passo uma de minhas mãos para
trás da sua nuca e a outra repouso nas suas costas. Laureen desliza seus
dedos pela minha barriga e para no cós da cueca. Fico surpreso em como ela
se entrega facilmente a este momento, vendo que estive errado em pensar que
ela é completamente inocente.
Aproveito o beijo e mordisco seu lábio inferior, com ela soltando um
gemido baixo. Instantaneamente meu pau começa a ficar duro dentro da
cueca e encosta em sua pele, causando um arrepio pelos seus braços. Sorrio
com isso e descolo nossas bocas, encarando-a dentro dos olhos.
— Você beija bem, Laureen — digo de maneira maliciosa.
— Você também, Gael.
— Uma pena que tenha rejeitado a noite de núpcias, eu poderia
mostrar o que posso fazer com minha boca, além de beijos — sussurro em
seu ouvido, causando um arrepio em sua pele.
Laureen me encara e vejo seu rosto vermelho de vergonha, então me
afasto dela e a encarando uma última vez, saio do quarto, pensando que será
fácil tê-la como minha presa.
A viagem
Acordo na manhã seguinte me lembrando do que havia
acontecido na madrugada e direciono minhas mãos até meus lábios,
pensando no beijo que Gael havia me dado. Sinto uma sensação diferente
hoje, como se eu esperasse que ao acordar, estaria vivendo em uma casa
mal-assombrada, com um demônio ao meu lado.
Sorrio ao perceber que a tristeza não me consome, pelo menos, não
por enquanto, então vou até o banheiro e vejo sobre a pia uma escova de
dentes nova e meu kit de maquiagem.
Lavo meu rosto, me repreendendo por não ter tirado a maquiagem na
noite anterior e escovo os dentes, cuidando da minha higiene diária. Após
terminar, sigo para o quarto e coloco uma roupa confortável; calça jeans,
tênis e uma blusa de mangas compridas, mesmo não achando que seja uma
roupa apropriada para uma mulher recém-casada, mas não me importo com
isso.
Uma batida na porta me traz para a realidade, pigarreio me
aproximando dela e a destranco. Depois que Gael foi se deitar, a tranquei,
com medo de que pudesse acabar desejando a famosa noite de núpcias.
Não, não me sinto apaixonada, mas como não me sentir atraída por
aquele homem?
Só em pensar na sua beleza angelical, no seu sorriso bonito e no seu
corpo, que tive o prazer de ver ontem somente usando uma cueca, sinto uma
sensação estranha em todo meu corpo.
“Olha como estou pensando, até mesmo parece que o desejo...”
Abro a porta, encarando meu marido que está sorrindo, com o cabelo
bem arrumado e usando uma roupa no mesmo estilo que o meu.
— Bom dia, senhora Brown, veja, parece que estamos bem
sintonizados em relação as nossas vestes.
Concordo e sorrio sem graça.
— Bom dia.
— Vim convidá-la para tomar café comigo — diz ainda parado
próximo ao batente da porta.
— Claro, vamos.
Saio do quarto e Gael segura meu pulso, me fazendo voltar em sua
direção de maneira abrupta.
— Você não vai dar um bom dia decente para seu marido? —
pergunta passando a língua no lábio inferior.
— O que seria um bom dia decente para você? — questiono me
soltando dele e cruzando os braços sobre o peito.
— Se eu realmente falar, você vai se assustar, mas um beijo já vale.
— Pensei que não havia se casado comigo por vontade própria.
— Não significa que não podemos tirar proveito da situação —
responde piscando.
Fico em silêncio, concordo e me aproximo dele, pronta para dar um
selinho. Assim que encosto meus lábios nos seus, Gael me puxa contra seu
corpo e mergulha sua língua na minha boca, me fazendo perder o ar.
O beijo, o nosso terceiro beijo...
Cada vez que nos beijamos, ele me deixa sem fôlego.
Ele se mantém conectado a mim até que o empurro e sinto seu dente
morder meu lábio, me fazendo soltar um gritinho de dor.
— Ai! — murmuro sentindo o gosto metálico do sangue.
Ele limpa sua boca e leva o polegar até o lábio.
— Te machuquei? — questiona se aproximando.
— Sim, mas não foi nada de mais — digo veemente.
— Deixe-me ver, se não tivesse me empurrado, isso não teria
acontecido. — Gael se aproxima, segura meu queixo, leva o dedo até meu
lábio e analisa o pequeno corte. — Não foi nada grave.
— Foi o que eu disse.
— Espere. — Ele se aproxima, deposita um selinho, sugando meu
lábio inferior devagar, levando o sangue até sua boca. — Isso vai ajudar.
Fico surpresa com sua atitude nada convencional e não digo nada,
sentindo a ardência no meu lábio.
— É melhor irmos tomar café logo — sugiro querendo esquecer isso.
Gael assente e coça a cabeça, me observando bem, então segue em
frente e eu o sigo, andando devagar.
Desço a escada e sou conduzida a sala de jantar, onde há ovos
mexidos, pães, café, leite, suco e frutas.
Gael se coloca na cabeceira da mesa e me sento ao seu lado, vendo-o
se servir. Fico parada, apenas analisando-o comer e ele me olha.
— Você não vai comer? Não sabia do que gosta, então pedi apenas o
básico.
— Está ótimo, obrigada — digo enchendo minha xícara e levando até
o lábio.
O café quente faz minha boca arder e me contorço na cadeira sem que
Gael veja, depois me sirvo de pão e algumas frutas. Como em silêncio,
chateada com a insegurança que sinto neste momento, então termino de
comer rapidamente e vejo meu marido me olhar.
— Estava pensando em irmos viajar agora cedo, o que acha? Suas
malas estão feitas, é só colocar no avião e decolarmos.
— E para onde vamos? Você ainda não me disse.
— É surpresa, mas você vai gostar — responde sério. — Como sua
boca está?
— Doendo um pouco, mas nada grave.
Ele concorda e termina seu café.
— Se não quiser me beijar, tudo bem, é só me dizer, mas entenda uma
coisa; somos casados agora e você é minha mulher mesmo não querendo.
Assim como sou seu marido sem opção. Veja isso como um favor que estou
fazendo a você, pois se não fosse este casamento, você e seus pais estariam
ferrados.
Ouço suas duras palavras e engulo em seco, vendo que infelizmente
ele está certo. A escolha não foi minha, mas ir até o fim sim.
— Me desculpe, ainda é tudo muito novo para mim — murmuro.
— Assim como para mim, mas não temos escolhas... Você quer
anular o casamento e ver seus pais pagarem de uma maneira nada
convencional?
— Que maneira?
— Não vem ao caso, mas me diga, quer anular o casamento?
— Não — respondo séria. — Fiz isso pelos meus pais, mas te peço
um pouco de paciência em relação a nós.
— Laureen, não existe um nós, apenas um contrato — responde com
dureza.
— Pensei que tivesse dito que somos casados e poderíamos
aproveitar isso — comento.
— Sim, mas você deixa nítido que não quer.
— E isso te incomoda? Quero dizer, você me forçaria...
— Não é do meu feitio transar com uma mulher sem que ela tenha
vontade, senhora Brown — murmura. — Quero apenas que entenda que
somos casados agora e marido e mulher fazem coisas, como se beijar, por
exemplo.
Concordo sem alternativa, pois ele está certo.
Somos casados agora e eu havia gostado do nosso beijo de
madrugada.
Por que simplesmente não deixar as coisas acontecerem devagar?
— Você está nervoso?
— Talvez um pouco.
— Por quê?
— Tenho certeza de que isso não te interessa.
Fico magoada ao ouvir suas palavras, pensando em como uma pessoa
pode mudar de humor tão rapidamente.
Será que isso tudo se devia ao fato de eu tê-lo afastado de mim?
Ou de querer encerrar nosso beijo?
— Se me der licença, irei para meu quarto, quando estivermos
prontos para a viagem, sabe onde me encontrar — digo me retirando da
mesa.
Sigo em direção a saída, com Gael se aproximando e segurando no
meu punho com força.
— Me desculpe por isso, não estou acostumado a ser rejeitado, ainda
mais por uma mulher tão linda quanto você.
— Não o rejeitei, apenas finalizei o beijo, você parecia que iria me
devorar — sussurro com medo de que alguém possa nos ouvir.
Onde estão todas as pessoas desta casa?
Como eu queria Lucy aqui neste momento.
— E eu quero te devorar, Laureen, mais do que imagina, você é uma
tentação do diabo — responde sensualmente. — Pode ir para seu quarto, nos
vemos daqui a pouco, fique atenta que mandarei alguém buscar suas malas.
Fico quieta, surpreendida em como o humor de Gael Brown muda e
assinto. Me solto dele e sigo o mais rápido possível para o meu quarto.
***
Reflito sobre o que havia acontecido mais cedo.
Gael ficou chateado por eu ter interrompido nosso beijo, sinto a
confusão tomar conta de mim neste momento.
Não havia sido ele que dissera ter casado comigo sem vontade?
Organizo uma mala para a viagem e a deixo próxima a porta, sabendo
que logo alguém a buscará. Não demora, ouço uma batida na porta e sigo
rapidamente até ela, abrindo e dando de cara com Preston.
— Olá, senhora Brown, vim pegar suas coisas — diz ao entrar assim
que dou passagem e pega minha mala junto a porta. — Obrigado, assim que
colocarmos tudo no carro e o senhor Brown estiver pronto, alguém vem
chamá-la.
Concordo, em silêncio e fecho a porta ao vê-lo se afastar.
Me jogo na cama e suspiro, a procura do meu celular, que está sobre
a mesinha de cabeceira e eu nem havia notado. O pego e envio uma
mensagem para Lucy, dizendo que a amo e o que havia acontecido desde que
a vi pela última vez.
Lucy: Não fique paranoica, às vezes, ele ficou nessa mudança de
humor por ter se sentido rejeitado mesmo.
Eu: Nós não dormimos juntos e não consumamos o ato sexual.
Será que isso o incomoda, mesmo me dando a chance de escolher?
Lucy: Com certeza o incomoda, é tudo muito novo para os dois,
vai por mim, ele deve ter ficado chateado por conta do beijo mesmo.
Deixo o celular de lado ao concordar com minha amiga e reflito
sobre isso.
Se Gael havia ficado chateado porque interrompi um beijo, do que
ele seria capaz se eu não fosse para a cama com ele?
***
Ouço uma batida de leve na porta e me levanto, vendo Gael entrar no
meu quarto.
— Já está tudo pronto, vamos?
— Claro — respondo um pouco séria.
Passo por Gael, mas ele é mais rápido e para na minha frente.
— Está acontecendo alguma coisa que eu deva saber? — questiona
estreitando as sobrancelhas.
— Não que eu saiba — respondo firme, olhando-o dentro dos olhos.
— Me desculpe por mais cedo, se fui grosso em algum momento com
você — diz mexendo no cabelo.
— Tudo bem, como disse, nosso casamento é apenas um contrato,
não deveríamos estar tendo esta conversa.
Gael me encara e assente, me dando passagem.
Saio do quarto, ele me segue e se aproxima segurando minha mão.
Um arrepio involuntário percorre minha espinha e me sinto sem graça, como
se estivesse nua na sua frente.
Por que este homem me causa essas sensações?
Desço a escada em silêncio, pensando em o quanto Lucy faz falta
neste momento e se ela estivesse aqui, certamente saberia me acalmar, acabo
respirando fundo e conto mentalmente até dez.
Saio com Gael da casa e vejo o carro parado a nossa frente. Sigo até
ele e abro a porta antes que meu marido o faça, entrando no carro sem ao
menos encará-lo. Ele me fita do lado de fora por um longo minuto, depois dá
a volta, entra no veículo e pigarreia.
— Estamos prontos, Joshua — diz ao motorista, que concorda e
acelera sem dizer uma única palavra.
O movimento me deixa nervosa, até mesmo mais do que quando vim
para cá no dia anterior. Saber que estamos indo para uma suposta lua de mel
me causa avalanches de sensações estranhas como curiosidade, medo e
ansiedade.
O que esperar desta viagem, afinal de contas?
Com o passar do tempo, o trânsito a nossa volta se torna apenas um
borrão e prendo o cinto, com medo da alta velocidade do motorista.
— Será que você poderia pedir para seu motorista ir mais devagar?
— peço encarando Gael.
Ele me observa atentamente por um longo minuto e assente,
colocando a mão sobre o ombro do homem que está atrás do volante.
— Você ouviu a minha esposa, vá mais devagar, por favor — pede
ainda com os olhos fixos em mim.
O motorista desacelera e respiro mais aliviada, agradecendo-o com
um meneio de cabeça.
— Me diga, Laureen, pois estou curioso.
— O quê?
— Como é para você estar longe dos seus pais neste momento, já que
passou a vida inteira perto deles?
— Estranho — digo sem entender a pergunta. — Principalmente pelo
fato de que estou com um completo estranho.
Ele ri e concorda, voltando-se para mim.
— Não se preocupe que aos poucos você vai me conhecer — diz
firme. — Você quer me conhecer?
— Talvez, assim será mais fácil passar por isso tudo — respondo
sentindo medo.
Por que sinto isso?
— Certo, espero que goste da viagem, estamos indo para uma ilha
paradisíaca só nossa.
— Só nossa?
— Sim, teremos tudo que precisarmos lá, sem ninguém nos
perturbando ou a mídia em cima de mim. Às vezes é difícil ser CEO de uma
empresa, as pessoas caem em cima como se você fosse um prato cheio para
os corvos.
— E você está feliz com isso? Levando em consideração que havia
me dito que estava cansado de viagens.
— Bem, esta viagem é diferente, agora estou com a minha esposa.
Engulo em seco e concordo, voltando minha atenção para o lado de
fora, vendo que estamos próximos a um galpão.
O carro para, saio junto com Gael, que segue pelo hangar e avisto o
avião particular dele pronto para decolar. Nossas malas são levadas
diretamente até ele e vejo meu marido conversando com o piloto, algo que
não consigo ouvir.
Torço minhas mãos de nervosismo.
Como posso me controlar, sabendo que irei viajar para uma ilha com
um completo estranho?
— Já está tudo pronto, o piloto me avisou que é só embarcarmos —
diz me tirando dos meus pensamentos.
— Tudo bem — digo com a voz trêmula.
— Está nervosa?
— Um pouco.
— Não fique, não há o que temer, é apenas uma viagem de casados.
— É justamente isso que me preocupa.
Ele me encara e concorda, sabendo do que estou falando.
— Já conversei com você a respeito disso, não é do meu feitio foder
com uma mulher que não queira. Posso ser um canalha, mas estuprador, não.
— Então você admite que é um canalha?
Ele dá de ombros e segue em direção ao avião.
Dou passos lentos até a máquina de ferro e subo a escada, olhando o
ambiente revestido de couro a minha volta. Meu marido aponta uma das
poltronas para mim e me sento, com ele parando na minha frente e passando
o cinto pelo meu corpo.
— Isso vai ajudá-la a se proteger — murmura.
Concordo me sentindo ainda mais receosa e solto um gritinho ao
sentir o cinto passar no meu braço, fazendo minha pele arder.
— Me desculpe, apertei demais?
— Está bom — respondo acariciando minha pele.
A vermelhidão surge no ponto em que Gael passou o cinto e ele
acaricia, causando uma onda de nervosismo por todo meu corpo.
— Ok — murmura. — Estamos prontos — diz se dirigindo ao piloto.
A porta do avião é fechada, vejo uma aeromoça se aproximar com
uma garrafa de champanhe.
— Aceita uma taça? — pergunta sorrindo.
— Obrigada — digo dispensando-a.
— Ela aceita — responde Gael autoritário.
O olho sem entender e vejo o desconforto estampado no rosto da
aeromoça.
— Acho que não aceito — respondo firme.
— Você vai aceitar — murmura. — Vamos fazer um brinde, esposa, o
que acha?
Ouço o tom da sua voz mudar e fico ainda mais nervosa, começando
a acreditar que Gael é um homem de dupla personalidade.
— Tudo bem, marido. — Dou ênfase na palavra e a mulher me
entrega uma taça, enchendo-a, logo depois ela faz o mesmo com a de Gael e
ele estica o braço, batendo a sua na minha. — Qual é o motivo deste brinde
inusitado?
— É um brinde ao que quero fazer com você — murmura levando a
taça até a boca.
Fico sem palavras e bebo o líquido borbulhante, dando de ombros.
— E o que você quer fazer comigo?
— Em breve você vai saber, Laureen, não se preocupe.
Apenas assinto e quando vejo, já alçamos voo, então deixo minha
taça de lado e fico analisando o lado de fora do avião, pensando que me
casar com Gael foi o menor dos meus problemas.
O pesadelo maior está prestes a acontecer.
Viagem de barco
Algumas pessoas sentem medo ao entrarem em um avião e vê-
lo começar a voar. No meu caso, é o contrário...
Cerca de seis horas depois de estarmos voando, sinto meu coração
gelado ao começarmos aterrissar em um pequeno aeroporto que desconheço.
Saio do avião com Gael logo atrás de mim e sinto a brisa fresca
bater no meu rosto, me causando arrepios pelos braços.
— Vamos pegar meu barco para chegarmos na ilha.
Concordo e olho em volta, analisando o mar ao longe.
— Esta ilha é sua?
— Sim, por quê?
— Por nada, apenas curiosidade — digo dando de ombros.
Ele concorda e o vejo se afastar, indo falar com um homem baixinho,
barrigudo e careca.
Fico parada no mesmo lugar por cerca de vinte minutos, quando Gael
volta em minha direção com um sorriso no rosto.
— Nossas malas vão ser levadas para o barco e assim que estiver
pronto, iremos continuar a viagem. Você quer fazer alguma coisa enquanto
tudo é preparado?
— Que tipo de coisa?
— Eu não sei, conhecer um pouco do local — diz dando de ombros.
Penso a respeito disso e vejo rendição na sua voz, como se estivesse
tentando apaziguar o que havia acontecido dentro do avião horas atrás.
— Acho que vai ser bom.
Ele concorda e segura minha mão.
— Vamos lá então.
***
Gael me leva em uma boutique que tem próximo onde pousamos e
confesso que fico sem graça ao ver roupas e joias uma mais linda que a
outra. Não que eu não tivesse minhas próprias joias ou roupas de grife, mas
é estranho ver um homem desconhecido me dar estes itens tão pessoais.
— Leve essa, é magnifica — diz apontando para um colar de
diamantes.
— Você não acha um exagero, ainda mais o preço?
— Isso não é problema para mim, leve-o, quero que use comigo.
Concordo.
A mulher me entrega o colar para que eu prove, com a ajuda de Gael,
o coloco no pescoço e me encaro no espelho, com ele logo atrás de mim.
— É realmente magnífico — sussurro encarando-o brilhar no meu
pescoço.
Gael concorda com um movimento de cabeça e deposita sua mão em
meu ombro.
— Ficou ainda mais lindo em você.
— Obrigada.
Um sorriso de lado se forma em seu rosto, retira o colar do meu
pescoço, entregando novamente para a mulher para que ela o coloque na
embalagem. Com a insistência de Gael, escolho mais alguns acessórios,
como brincos de pérolas e anéis de diamantes. Assim que finalizamos a
compra, ele me guia para o lado de fora, com sua mão em minhas costas e
vislumbro dois seguranças armados atrás de nós.
— Isso realmente é necessário? — pergunto apontando para os
homens.
— Sendo quem sou, é sim, e estamos com joias — murmura
entregando as compras para os seguranças.
Fico em silêncio e quando vejo, estamos seguindo em direção a um
barco que está parado, pronto para velejar.
— Já andou de barco antes?
— Não, mas acredito que não seja pior que avião.
— Não se preocupe, acho que você vai gostar — diz rindo.
Concordo e com sua ajuda, entro no local, observando o mar aberto
ao longe.
Ouço o barulho dos pássaros, o que me acalma, então vejo os dois
seguranças entrarem logo atrás de nós e Gael seguir em direção ao
comandante. Fico parada, receosa de que possa acontecer alguma coisa e me
assusto ao ver Preston surgir atrás de mim.
— Senhora Brown, é muito bom vê-la novamente — diz com um
sorriso no rosto.
— Preston — digo engolindo em seco. — Você vai ficar conosco na
ilha?
— Não, apenas irei acompanhá-los e depois disso os outros e eu
iremos retornar para a casa do senhor Brown.
— E como você veio parar aqui tão rápido?
— Viemos de avião, senhora, em um outro, para não os atrapalhar.
Concordo, em silêncio, achando isso uma loucura e tanto.
— Certo — murmuro.
— A senhora quer conhecer um pouco do barco enquanto o senhor
Gael resolve alguns assuntos com o comandante?
— Pode ser — concordo sem muitas opções.
— Certo, venha comigo então.
Sigo Preston e ele me mostra um pouco do barco, me levando até a
piscina que há nele e depois me mostrando a cabine do comandante, onde
Gael e um homem conversam sobre coisas que não entendo. Após isso, ele
me mostra o barco por dentro, o que me deixa bastante surpresa.
O local é grande, revestido de madeira na cor carvalho e tem um ar
bastante ostensivo. Vejo uma pequena saleta para fazermos nossas refeições
e depois um quarto, com apenas uma cama e um local para colocarmos
nossas coisas, onde já estão as nossas malas, o que me deixa surpresa.
Ele me mostra também o pequeno banheiro e assim que conheço todo
o ambiente, Gael desce e vem até nós dois.
— Já estamos prontos para navegar — diz com um sorriso no rosto.
— Com licença — Preston diz se afastando e sumindo da minha
visão, com certeza seguindo para um ambiente do barco que ele não viu
necessidade em me mostrar.
— Você está ansiosa para esta viagem?
— Estou curiosa — confesso abaixando a cabeça.
Gael leva a mão até meu queixo e o ergue, fixando seu olhar em mim.
— Eu também estou curioso com o que ela irá nos reservar. Se quiser
dormir um pouco, vai ser bom, afinal, iremos levar mais algumas horas para
chegar até a ilha.
— É longe, não é? — pergunto de maneira irônica. — Seis horas de
viagem de avião, agora mais algumas de barco.
— É longe sim, isso tudo para não sermos perturbados por ninguém,
inclusive, não teremos empregados e nem seguranças.
Concordo, sabendo que questionar sua decisão será inútil.
Não há o que fazer, Gael é quem manda aqui.
— Tudo bem, vou descansar um pouco.
Ele assente e viro de costas, sendo puxada em sua direção com
ferocidade. Solto um gritinho baixo, assustada e vejo meu corpo colado ao
seu, com meu marido segurando meus braços com força.
— Durma com os anjos, minha Laureen — murmura depositando um
beijo na minha testa.
Ele me solta e respiro fundo, sentindo a vulnerabilidade tomar conta
de mim, então Gael sai do quarto e fecho a porta, trancando-a e me jogando
sobre a cama.
***
Dizem que nem mesmo quando casamos será possível conhecer as
pessoas e suas intenções. Claro que, em um processo normal, do conhecer
até se casar é mais fácil, afinal, criamos laços com a pessoa e assim aos
poucos um vai moldando o outro.
Mas quando você se casa com um completo estranho, o que pode
fazer?
Nada, exatamente nada.
Gael no primeiro instante em que nos vimos mostrou ser doce, gentil
e brincalhão, no entanto, depois do “beijo renegado”, vi que ele tinha muito
mais para mostrar. Um lado escondido nas sombras que aos poucos, se
revelava e depois se escondia novamente.
Deitada na cama, sentindo o barco navegar em alto mar, sinto uma
sensação estranha de que Gael Brown é um homem enigmático e bastante
difícil de desvendar.
Quem realmente ele é?
Será que havia machucado minha boca de propósito ou foi apenas um
acaso?
Suspiro procurando meu celular e ao achá-lo vejo que não há um
traço de sinal, o que me faz esbravejar e xingar Gael por me trazer para um
lugar tão longe.
Me levanto e começo a andar de um lado para o outro.
Que situação!
Como poderei ficar tranquila na situação em que me encontro, diante
de um casamento por contrato e um marido difícil de decifrar?
Decido espairecer um pouco a mente, abro a porta e saio do quarto
pequeno. Não havia conseguido pregar o olho por um minuto sequer,
pensando em tudo que vem acontecendo na minha vida.
Subo a escada e me vejo do lado de fora, com a brisa do vento
batendo no meu rosto e o sol já se pondo. Avisto Gael e o comandante
conversando na cabine, para não os atrapalhar e até mesmo ficar sozinha,
sigo em direção a proa do barco, andando devagar e analisando o mar.
A água está agitada, como se a qualquer momento pudesse nos
devorar. Ela bate com firmeza na lateral do barco e sinto um pouco de medo,
desacostumada a andar neste meio de transporte.
Me sento no chão e olho para a frente, avistando apenas o mar e o
céu aberto, contemplando a beleza da natureza. Fico olhando por um bom
tempo o local e me assusto ao ver uma sombra parada ao meu lado. Ergo
meu rosto e vejo Gael sorrindo, com as mãos nos bolsos da calça.
— A vi de longe sentada aqui e resolvi ver como está — diz
presunçoso.
— Estou bem, não consegui dormir, então resolvi vir para cá um
pouco.
Ele concorda e se senta ao meu lado.
— Você quer beber alguma coisa ou comer?
— Estou sem fome, obrigada.
Gael volta a concordar com um movimento de cabeça e ficamos em
silêncio, olhando o local à nossa frente.
— É lindo, não acha? O mar e o céu parecem que estão tão próximos,
mas ao mesmo tempo longe.
Analiso a forma que ele diz e concordo, vendo o quanto ele tem
razão. De onde estamos, é como se o céu se encontrasse com o mar,
transformando-se em um, mas erguendo um pouco o corpo, percebe-se o
quanto a visão é enganosa e vemos que ambos estão longe um do outro.
Vejo que isso combina com Gael e eu, estamos lado a lado, próximos
um do outro, no entanto, com sentimentos divergentes e as vontades de
ambos são contraditórias, é como se estivéssemos distantes.
Confesso que isso me causa uma sensação estranha que não consigo
explicar como é.
Jantar
Cerca de duas horas depois, finalmente começamos a avistar a
ilha ao longe e não demora muito, estamos ancorados.
Com a ajuda de Gael, desço do barco e os seus homens descem
nossas bagagens, levando-as para uma casa distante da margem do píer. Fico
encantada com o local à nossa volta, é como se estivéssemos em filmes
clichês que passam na televisão.
Os coqueiros verdejantes balançam por causa do vento forte, a areia
é limpa e retiro meus sapatos, sentindo a maciez dela.
Vejo os homens de Gael seguirem por uma trilha e o seguimos,
chegando cada vez mais perto de uma casa revestida de vidro. Fico ainda
mais admirada com o ambiente ao ver uma piscina, uma área de churrasco e
de descanso, com espreguiçadeiras. Gael percebe minha felicidade ao ver a
beleza de cada detalhe e me guia para dentro da casa, me deixando ainda
mais surpresa ao ver o piso de mármore, paredes claras e uma sala bem
decorada.
— Vem, vou te mostrar a casa — diz me guiando pela mão.
Concordo e ele me puxa, passando pela sala e seguindo para a
cozinha, que fica ao lado. Assim como a sala, ela também é bem decorada,
com móveis e eletrodomésticos modernos. Depois de ver cada detalhe,
seguimos por um corredor, que nos leva para um pequeno banheiro, que não
deixa de ser incrível, apesar da simplicidade e para outras duas portas, que
ao abrir, revelam quartos idênticos, lado a lado.
— Vou ficar em um e você no outro, até você se sentir confortável
para podermos dormir juntos.
— Isso não te incomoda? Digo no sentido de não dormimos na
mesma cama.
— Nem um pouco, até porque sou um homem da noite, é difícil para
mim dormir cedo e gosto de beber meu uísque e fumar um charuto enquanto
ando de um lado para o outro.
— Terapia?
— Pode-se dizer que sim — responde piscando.
Voltamos lado a lado para a sala e vejo os homens descarregarem o
barco, encherem os armários e geladeira de comida e colocarem nossas
coisas nos quartos. Preston ordena tudo com maestria e assim que termina,
encara o patrão e faz uma reverência.
— Infelizmente não há sinal de operadora ou wi-fi aqui, então
voltaremos no tempo determinado pelo senhor para buscá-los.
— Obrigado, Preston, mais uma vez você foi magnífico — responde
Gael, apertando sua mão.
O homem sorri, feliz, e se vira para mim, curvando seu corpo de
maneira cordial e logo saindo com os outros o acompanhando.
Vejo Gael se despedir do comandante e corro para o lado de fora,
vendo-os irem embora com o barco rapidamente.
— Quanto tempo ficaremos aqui sozinhos? Temos tudo que
precisamos?
— Ficaremos bem — diz sem responder minha primeira pergunta. —
Temos comida, água potável, produtos de higiene, roupas e remédios, caso
aconteça alguma coisa. Não tem com que se preocupar.
— Você já veio para cá antes? — questiono curiosa.
— Apenas uma vez, por quê?
— Você acha aqui seguro com estas paredes de vidro?
— É sim, temos travas de seguranças e os vidros são reforçados.
Estamos em uma ilha, o que poderia nos atacar aqui, um chipanzé?
— Têm chipanzés aqui? — pergunto inocentemente.
Gael ri e nega com a cabeça.
— Não tem com que se preocupar, Laureen, estamos seguros aqui e
sozinhos, sem ninguém para nos preocupar.
— Bem, se você está me dizendo, fico mais tranquila, apenas me
incomoda o fato de não termos internet e nem sinal de telefone. Gostaria
muito de falar com minha mãe é avisar que chegamos bem.
— Encarreguei Preston de cuidar disso, dando notícias aos seus pais.
No momento, o melhor é ficarmos longe de pessoas, afinal, com certeza os
jornais estão falando somente sobre o nosso casamento.
Assinto e volto para dentro da casa, com ele me seguindo.
Me jogo no sofá e Gael vai até a cozinha, pegando um suco para mim
e uísque para ele. Aceito o copo quando ele volta para sala, bebo um pouco
do líquido, o encarando sentado de pernas cruzadas, enquanto ele bebe o
uísque em silêncio e me observa atentamente.
— Está gostoso? — pergunta apontando para o copo.
— Está sim, obrigada. — Forço um sorriso.
Ele retribui, levando o copo até os lábios e bebendo mais do líquido
âmbar.
Ficamos em silêncio por um bom tempo e peço licença, me
levantando e indo para o quarto, decidida a tomar um banho e relaxar um
pouco o corpo e a mente.
Encosto a porta do quarto, me dispo, ficando apenas de lingerie, me
enrolo no roupão e saio do local, seguindo para o banheiro do corredor.
Entro, fecho a porta, fico nua, abro a ducha e deixo a água molhar meu
corpo. A água quente me causa deliciosas sensações que eu nem sabia que
poderia sentir, me dando paz. Lavo meu cabelo com o xampu que tem no
banheiro e assim que finalizo, ensaboo meu corpo, passando sabonete
líquido nas minhas partes íntimas. Assim que termino, fecho o registro e me
seco, voltando a me enrolar no roupão e abrindo a porta.
Esbarro no corpo de Gael ao sair e ele me segura com firmeza para
que eu não escorregue, me ajudando a ficar em pé.
— Está tudo bem? Você se machucou? — pergunta estreitando as
sobrancelhas.
— Estou bem, sou um desastre de pessoa — digo rindo.
Um sorriso se forma em seu rosto e assente coçando a cabeça.
— Eu também sou.
Ficamos em silêncio e o encaro.
Gael me olha atentamente, então me recordo que estou apenas de
roupão e me afasto dele, seguindo para a porta do quarto.
— Se não se importa, eu vou me trocar — digo apontando para o
quarto.
— Claro, enquanto isso vou tomar um banho e depois irei preparar
alguma coisa para o nosso jantar.
— Tudo bem. — Dou um sorriso, ele retribui e fico observando suas
pequenas presas.
— Então até logo — digo entrando no quarto.
Fecho a porta e encosto meu corpo nela, sentindo o nervosismo tomar
conta de mim.
“Droga, por pouco Gael não me pega nua!”
Seco meu corpo rapidamente, notando que somente na sala há
paredes de vidro e me visto rapidamente, colocando uma lingerie clara e um
vestido simples, já que a noite está agradável. Arrumo meu cabelo, secando
na toalha o máximo que consigo e passo apenas um brilho labial, aplicando
um pouco de perfume sobre a pele.
Fico dentro do quarto, com medo de sair e acabar esbarrando em
Gael de novo. Ouço a porta ao lado se abrir e com isso, sei que ele está indo
para o quarto.
Aliviada, saio do meu quarto e passo diante do seu, vendo que a
porta está aberta e não há sinal de ninguém lá dentro.
— Gael? — chamo sem ouvir uma resposta.
A curiosidade se aguça, dou um passo em direção ao local, entro e o
vejo de costas, completamente nu. Coloco a mão sobre a boca ao ver suas
costas largas e sua bunda grande, me deixando surpresa com isso. Fico
parada, vendo Gael secar seu corpo e então ele se vira, me olhando.
— LAUREEN! — grita se assustando com minha presença.
— Desculpe! — murmuro, fechando os olhos, enquanto sinto meu
rosto queimar de vergonha por ser pega no flagra e me viro de costas.
— Pode descobrir os olhos, estou enrolado na toalha — murmura
com um tom de deboche na voz.
Faço o que ele diz e vejo que realmente Gael está vestido, apenas
com seu peitoral malhado de fora. Vejo seus gominhos e sinto água na boca
ao ver como são definidos, descendo meu olhar até um suposto volume que
marca a toalha.
— Me desculpe por isso, não foi minha intenção...
— Me ver pelado? — questiona debochado. — Tudo bem, fique
tranquila, mas me diga, aconteceu alguma coisa?
— Apenas vi a porta aberta, o chamei e não tive resposta — digo
dando de ombros.
— E aí você decidiu entrar e ver se não fui atacado por um chipanzé?
— pergunta rindo.
— É sério, mesmo você dizendo que aqui é seguro, estas paredes de
vidro me deixam incomodada.
— Tudo bem... Fique tranquila, estou bem e nada me atacou — diz
erguendo os braços e dando uma volta. — Viu? Tudo intacto, mas a parte de
trás você mesma já verificou, não é?
— Mais uma vez me desculpe.
— Tudo bem, quer se certificar que a parte da frente também está ok?
Reviro os olhos e ele ri, se divertindo com a situação.
— Por enquanto não, obrigada.
— Por enquanto? Então isso significa que em breve você vai querer
ver — pontua se divertindo ainda mais.
— Vou deixá-lo se trocar, o encontro na cozinha — digo mudando de
assunto e saio do quarto antes que ele diga mais alguma coisa.
Porém, fico pensando sobre o que eu havia dito...
Por enquanto?
Não posso negar que a curiosidade de o ver completamente nu me
domina, mas não irei dar o gostinho de Gael saber disso.
Sigo em direção a cozinha, lembrando o quanto a bunda de Gael
Brown é bonita.
***
Espero Gael sentada na cozinha e assim que ele aparece usando uma
sunga boxer e peitoral desnudo, sinto meu rosto ruborizar por conta da cena.
Ele me encara e percebo um olhar divertido, como se quisesse rir da
situação, então desvio meu olhar do seu e o vejo ir até o fogão.
— O que você gosta de comer? — questiona com os braços
cruzados.
— Acho que de tudo, não tenho problemas com alimentação. Faça o
que quiser comer.
— Você comeria o que eu quero comer? — pergunta malicioso.
Engulo em seco, pensativa diante de sua pergunta com segundas
intenções.
Ele estaria mesmo falando de querer me comer ou estou enganada?
— Depende do que seja. — Decido entrar no seu joguinho e ele ri,
balançando a cabeça em concordância.
— Acredito que se eu disser, você primeiramente vai se negar e com
certeza não irá comer.
— Se você está certo disso, então acho melhor pensarmos em outra
coisa para o cardápio.
— Mas e se eu disser que quero isso agora, neste momento? —
pergunta malicioso.
— Eu terei que negar — digo com a voz firme. — Por favor, não
estou preparada para isso.
Ele me observa de soslaio, vai até a geladeira, abre e retira algumas
batatas.
— Por que você me negaria comer batatas? — questiona rindo. —
Pensou que eu estivesse falando de outra coisa?
— E não estava?
— Eu não sei. — Balança os ombros, colocando os legumes a minha
frente. — Descasque-as para mim, por favor, irei fazer purê acompanhado de
bife, você gosta?
O olho por um instante, pensando se ele está falando sério ou apenas
brincando com a minha cara.
— Gosto sim — respondo de maneira mecânica. — Mas devo
confessar que fiquei curiosa em saber o que é que você quer comer e eu iria
negar.
— Não se faça de boba, porque sabemos que você não é — comenta.
— Me diz, quero ouvir da sua boca.
Gael me encara e ergue a sobrancelha, pensativo.
Ele sabe que eu sei do que estamos falando, mas quero ouvi-lo dizer,
apenas para implicar com ele.
Mas qual o motivo dessa implicância?
Realmente seria só isso mesmo?
— Sua boceta, Laureen, é isso que eu quero comer — responde
devasso. — Adoraria comer sua boceta aqui, neste balcão, e fodê-la de uma
maneira que ninguém jamais fez.
Ouço isso e sinto meu rosto arder de vergonha.
Gael não sabe que sou virgem.
— Vou descascar as batatas — respondo desviando meu olhar,
tentando disfarçar a voz falha.
— Certo.
Gael me encara com um sorriso cínico, que me deixa ainda mais
envergonhada.
Como seria transar, afinal de contas?
Lucy sempre me dizia que a sensação é única, principalmente quando
você faz com a pessoa que realmente gosta.
Será que um dia terei a oportunidade disso acontecer?
Pensando a respeito do que Gael falou, pego uma faca e começo a
descascar os legumes, ansiando pelo momento de podermos ficar mais
próximos.
Preparamos o jantar com uma música clássica que Gael coloca para
tocar no aparelho de som, como não temos acesso à internet, nossos recursos
neste sentido são limitados, nos permitindo ouvir apenas os discos e CDs
que têm na casa.
Assim que finalizo de cortar as batatas, as coloco para cozinhar e
vejo Gael preparar os bifes, temperando-os e grelhando. O purê é preparado
rapidamente e enquanto mexo a panela, Gael arruma a pequena mesa que
temos na cozinha. Coloca sobre ela os pratos, talheres, taças, e escolhe um
vinho suave para tomarmos. Após finalizar, levo o purê até a mesa e nos
sirvo, enchendo os dois pratos que estão com os bifes grelhados.
Gael puxa a cadeira para que eu possa me sentar e assim que me
ajeito, ele se senta à minha frente, enche nossas taças e ergue a sua.
— Vamos brindar ao nosso primeiro jantar juntos, afinal não
colocamos fogo na cozinha.
Rio concordando, ergo minha taça e bato na sua. Assim que elas se
encostam, volto a minha na direção do meu rosto e bebo um pouco do
líquido, saboreando.
— É delicioso — digo colocando a taça de lado e indo para a
comida.
Levo um pouco do purê até a boca e sinto o delicioso gosto, depois
corto um pedaço farto do bife e como.
Gael come em silêncio, apenas me observando, enquanto beberica da
sua taça. Me sinto sem graça por vê-lo com seu olhar fixo em mim e continuo
comendo, me dando por satisfeita logo em seguida.
— Não vai comer mais? — pergunta apontando para meu prato
vazio.
— Estou satisfeita.
Ele concorda e assim que termina, se levanta, retira a louça da mesa
e deposita na pia.
Me levanto para lavar a louça rapidamente, enquanto Gael limpa a
mesa e o fogão, assim que terminamos tudo, seguimos para a sala, com
nossas taças, bebendo mais vinho.
— Estou curioso para conhecê-la mais um pouco — diz se sentando
de frente para mim, enquanto a música clássica continua tocando.
— Quer saber sobre o quê?
— Sobre tudo... Me conte, como foi sua infância, seus estudos. Não
me poupe detalhes.
O encaro e penso a respeito da minha infância.
— Minha infância foi tranquila — começo a contar, relembrando dos
momentos que vivi. — Me lembro que meu pai trabalhava bastante e sempre
estava ocupado. Quase não o via, a não ser quando ia ao seu escritório.
“Mamãe sempre foi a mais presente, ela me levava na escola e fazia
questão de me buscar, mas é claro que nem sempre foi esse mar de rosas.
Fora isso, mamãe me forçava a ir em chás de mulheres da sociedade para
que eu pudesse me habituar aos costumes delas.”
— Chá de mulheres? Pensei que faziam isso no século VXIII — diz
Gael rindo.
— Eu também, mas mamãe dava seu jeito de conseguir alguns desses
chás, inclusive, se bobear, ela encontra algum por aí para me enfiar e dizer
que sou casada com um homem importante.
Vejo Gael sorrir e concordar, enchendo nossas taças.
— Interessante... Então minha esposa além de educada, gentil e
bonita, é uma mulher que gosta de chá com as amigas.
— Detesto — digo revirando os olhos.
Caímos na gargalhada e ele assente.
— Você disse que seu pai sempre foi bastante ocupado...
— Sim, como disse, para vê-lo, eu tinha que ir até seu escritório, é
estranho ver que um homem que trabalhou a vida inteira, tenha que fazer sua
filha se casar para salvar os negócios.
— Infelizmente nem todos têm o dom para os negócios. Felizmente
meu pai é generoso e o ajudou, apesar da dívida que ele tem.
Concordo, pensando mais uma vez sobre o motivo deste casamento,
tem que ter algo por trás, eu sinto isso.
— Lembro uma vez que fui ao escritório do meu pai e mexi nas
coisas dele, acabei derrubando o uísque em alguns documentos importantes e
depois disso fiquei de castigo e não pude mais ir ao seu escritório, pelo
menos não até crescer e deixar de ser tão desastrada.
— Então seu lado desastrada é desde pequena. — Gael provoca.
— Sim, a questão é que depois disso, quase não o via mais, por
trabalhar tanto.
Gael me encara e concorda pensativo.
— E sua mãe, ela trabalhava com seu pai?
— Poucas vezes, para falar a verdade, quando ela ia para o
escritório de papai, eu ficava com umas das empregadas, então não sei
direito — respondo curiosa em saber o motivo de suas perguntas. — Mas e
você, como foi sua infância?
— A minha foi tranquila, pelo menos até certo ponto — responde
desviando seu olhar do meu. — Meu pai exigia que eu tivesse aulas de luta,
ele dizia que isso me traria resistência na vida adulta. Ganhei um cargo na
sua empresa com quinze anos, alguns anos depois da morte de mamãe, algo
que me abala até hoje.
— Sinto muito que a tenha perdido.
— Eu também sinto, mas sinto ainda mais pelo culpado estar livre —
responde me encarando com o maxilar travado.
— Não podemos perder a esperança de que um dia a pessoa que fez
isso, irá pagar.
Ele concorda com um movimento de cabeça e fixa seus olhos nos
meus.
— Sim, tenho convicção de que isso irá acontecer — responde se
levantando. — Sinto muito em encerrar a noite, mas irei para o meu quarto,
sinta-se à vontade.
Me levanto e deposito a taça na pia, vendo-o fazer o mesmo, então
seguimos juntos pelo corredor, cada um parando diante da sua porta.
— Te vejo amanhã, marido — digo brincando.
— Até amanhã, esposa, boa noite.
— Boa noite — falo piscando.
Ele faz o mesmo e entra para seu quarto, então sigo para o meu e
fecho a porta. Me deito na cama pensando na noite que havia tido com Gael,
então adormeço.
Confusa
Dormindo, tenho meus sonhos invadidos por coisas estranhas,
que me causam medo e aflição.
“Me vejo em um corredor sombrio, com apenas uma porta.
Devagar, ando em sua direção e assim que chego próxima a ela, coloco
minha mão na maçaneta e a viro, entrando em um quarto simples, com
apenas uma cama. Olho em volta e vejo um homem parado de costas, que
estão desnudas. Me aproximo e deposito minha mão na sua pele, sentindo
a quentura. O homem vira e vejo que é Gael, porém, seu rosto está
machucado, com o lábio inferior cortado e o olho inchado.
— O quê... — Minhas palavras ecoam pelo cômodo e Gael tapa os
ouvidos, como se minha voz o machucasse.
O vejo proferir algo, porém, não ouço som algum, como se ele
tentasse gritar algo para mim.
Analiso seus lábios, tentando compreender, mas sem sucesso.
Com medo, me afasto de Gael e ele se vira abruptamente para mim,
então o vejo com os olhos ferozes e caio para trás, vendo o ambiente
mudar.
Agora estou indo para o altar me casar. Diferente da maneira que
foi, não fico surpresa ao ver Gael, o que me incomoda de fato é que ele
não parece nada com o homem que me casei.
Suas feições estão diferentes; sombrias, seus olhos são apenas dois
globos escuros, o sorriso é sádico e diante da sua mão há uma faca.
Mais uma vez, o vejo mexer os lábios, como se estivesse falando
algo, mas não compreendo. Tento ler seus lábios, confusa com o que está
acontecendo e antes que consiga, ele levanta a mão com a faca na minha
direção, como se fosse me machucar.”
Acordo assustada e me vejo no quarto da casa na ilha, esfrego meus
olhos e vejo a luz do sol atravessar as cortinas, me causando desconforto.
Me sento e penso a respeito dos pesadelos que eu havia tido, não
posso chamar isso de sonho.
Penso no primeiro, onde vi Gael em um quarto, de costas. Parecia
que minha voz o machucava, mas não consigo entender o motivo. Então me
vejo pensando no segundo, onde Gael mostrava ser diferente do que conheci.
Fico assustada ao pensar nisso e suspiro temerosa.
O que esses pesadelos significam?
***
Gael Brown
Me vejo completamente frustrado ao pensar em como meu plano já
começou dando errado. Para falar a verdade, a ideia de trazer Laureen para
uma ilha, longe de qualquer tipo de comunicação, foi do meu pai, alegando
que isso faria com que os pais da minha esposa temessem o que poderia
acontecer.
O plano inicial era trazê-la para cá, e deixá-la presa, servida de pão
seco e água apenas, mas simplesmente não consigo pensar em fazer uma
coisa dessas.
O desejo de vingança ainda é muito grande em mim, quero que Jorge
Vargas pague por tudo de ruim que havia feito a minha família, sabendo que
a melhor maneira de me vingar seria quebrando pedaço por pedaço de
Laureen, mas algo me impede. O seu jeito delicado, sincero e até um pouco
divertido, não permitem que eu a machuque.
Penso a respeito do nosso jantar na noite anterior; havia sido algo
legal de se fazer, e pude ver que aos poucos conseguirei conquistar sua
confiança. Apenas preciso me controlar um pouco mais em alguns aspectos,
como por exemplo o meu lado rude que as vezes aflora sem que eu perceba.
Não me senti rejeitado pelo beijo interrompido, para falar a verdade,
beijar esta mulher não significa nada para mim, apenas sei que me
aproximarei dela, farei com que comece a gostar de mim e então estarei
pronto para dar continuidade ao meu plano maligno.
O que seria pior do que despertar o amor em alguém e não o
corresponder?
Rio sozinho, pensando que será a coisa mais fácil tê-la para mim.
Não vejo a hora dela se entregar e acabar vendo que foi usada.
Como seu pai se sentiria ao saber que sua joia rara fora usada em um
esquema de vingança?
Será que em momento algum ele pensou a respeito disso?
Esqueço isso por um tempo, sigo até o banheiro que há no corredor e
percebo que o silêncio impregna no quarto ao lado.
Entro no local e faço minhas necessidades, olhando meu reflexo no
espelho.
— Seja firme, Gael Brown, seu pai não iria gostar de saber que você
já está mudando o plano — murmuro para mim mesmo.
Suspiro, dando um soco na parede e sinto a dor se alastrar pela
minha mão.
— PORRA! — grito e vejo a porta do quarto de Laureen sendo aberta,
com ela saindo vestida com um roupão e o cabelo preso.
— Você está bem? — pergunta se aproximando.
— Só machuquei a mão — digo segurando meu punho, a dor é latente
e solto um gemido baixo. — Que merda!
— Como você fez isso? — questiona segurando minha mão
machucada, seu toque é como fagulhas pela minha pele, o que me deixa
atordoado.
— Eu dei um soco na parede — respondo sincero.
— Quanta imprudência, venha, vamos ver isso. Onde temos uma
caixa de primeiros socorros?
— Na cozinha, dentro do armário — respondo sentindo dor.
Ela assente e me puxa delicadamente pelo corredor. Enquanto
aguardo na sala, ela vai até a cozinha, pega a caixa, abre e verifica o que
temos.
— Não temos muita coisa, mas dá para improvisar.
Até isso meu pai havia pensado cuidadosamente, pois remédios não
eram opções nesta viagem, o objetivo era sentir dor.
“E agora quem está sentindo dor é você, seu babaca!”
— Aqui, achei um analgésico que vai ajudá-lo na dor e temos
ataduras.
Ataduras...
Outra parte do plano do meu pai.
Ele acha que é bom para fazer o quê?
Enforcar?
Fazê-la digerir?
Amordaçá-la?
— Obrigado — digo ao pegar o copo com água, que Laureen trouxe
previamente, seguido do remédio.
Tomo e Laureen se aproxima, enrolando a atadura na minha mão.
Solto um gemido baixo de dor, pensando o quanto sou idiota. Assim que
termina, Laureen guarda as coisas e senta ao meu lado.
— Está tudo bem? — pergunta estreitando as sobrancelhas.
— Por que não estaria?
— Por que você socaria a parede sem motivos? Normalmente
fazemos essas coisas quando estamos nervosos com algo, mesmo sendo
imprudente você se machucar para descontar a raiva, é mais normal do que
imaginamos.
Ela fica em silêncio e suspiro.
— Não é nada de mais, apenas tive um pesadelo. — Minto dando de
ombros.
— Ah, eu também tive, e nem por isso sai socando a parede —
responde me fazendo rir.
Até que ela é boa nisso.
— Que tipo de pesadelo? — pergunto me ajeitando no sofá.
Ela se ajeita no sofá, agora de frente para mim e dá de ombros.
— Sonhei que eu te via em um quarto, parecia um pouco vulnerável e
minha voz o incomodava — comenta desviando o olhar do meu. — Você
dizia algumas coisas que eu não conseguia ouvir, era como uma televisão no
mudo.
Laureen fica quieta e engulo em seco.
Que pesadelo mais estranho seria esse?
Seria um sinal das minhas verdadeiras intenções?
— E depois disso, o que aconteceu?
— Bem, logo em seguida eu me via no altar, pronta para me casar
com você.
— Então isso sim foi um sonho, porque é impossível não querer se
casar comigo — digo em tom de brincadeira.
Ela ri e balança a cabeça.
— O pior foi que você estava diferente... Com um ar de uma pessoa
sádica, doentia e determinada a tudo para me machucar. Como no primeiro
pesadelo, você dizia coisas inaudíveis e acordei quando estava pronto para
me atacar.
Fico em silêncio, confuso com seus pesadelos, como se ela soubesse
de fato o que está prestes a acontecer e seu subconsciente estivesse
alertando-a em relação as minhas intenções.
— Neste caso, é um alívio você ter acordado — digo dando de
ombros.
Ela concorda e estreita os olhos na minha direção.
— Mas e você, qual pesadelo teve a ponto de sair socando a parede?
Dou um sorriso de lado e balanço os ombros.
— Não sou como você que se abre tão espontaneamente para as
pessoas — digo querendo mudar de assunto. — Prefiro não falar sobre isso.
Laureen me encara e assente ao levantar.
— Você está no seu direito, vou ao banheiro e depois irei preparar
um café para a gente, o que acha?
A encaro e concordo, achando gentil de sua parte.
— Claro, ajudo no que conseguir — digo estendendo a mão
enfaixada.
Ela ri, concordando, enquanto se afasta sumindo do meu campo de
visão.
***
Laureen Vargas Brown
Depois de ajudar Gael com sua mão machucada, vou até o banheiro e
me arrumo. Penteio meu cabelo e faço uma maquiagem leve apenas para
passar o dia.
Sigo em direção ao meu quarto e tiro o roupão, substituindo-o por um
vestidinho florido acima dos joelhos. Coloco uma sapatilha, deixo meu
cabelo preso e saio do local seguindo para a cozinha.
Gael está sentado na banqueta que temos para dividir um ambiente do
outro. Vejo que ele olha para o nada, com os olhos vidrados e fico me
questionando o que de fato havia acontecido.
Será que realmente ele machucou a mão por conta de um pesadelo
que preferiu não me contar?
— O que quer para o café?
— Não sei, o que você fizer está ótimo — diz seriamente.
— Certo, farei ovos mexidos e torradas, gosta?
Ele assente e então começo a preparar nosso café.
Mesmo a minha vida inteira sendo servida por pessoas, não deixei de
aprender o básico. Mamãe fez questão que eu aprendesse para que eu
pudesse justamente cozinhar um dia para o meu marido. Ela dizia quando eu
era mais nova que a maneira mais sincera de declarar um amor, é cozinhar
para a pessoa.
Pena que neste quesito ela estava errada...
Não cozinharia para Gael por amor, mas sim por falta de escolha.
Esqueço isso começando a preparar os ovos, derreto a manteiga na
panela e os quebro dentro dela, enquanto fritam passo manteiga nas fatias do
pão e os esquento em uma frigideira, deixando-os bem douradinhos. Assim
que finalizo, volto minha atenção para os ovos e enquanto terminam, coloco
a água para ferver e passo o café, sentindo o delicioso aroma invadir o
ambiente.
Quando tudo está pronto, coloco sobre a mesa, Gael se aproxima
sentando-se de frente para mim e o ajudo a se servir.
— Você é rápida nessas coisas — diz apontando para o café.
— Minha mãe me ensinou a fazer um pouco de tudo, até mesmo a
costurar — digo enchendo duas xícaras com o líquido escuro.
— Ela ensinou direitinho — diz com os olhos brilhando.
Fico sem graça e começamos a comer em silêncio, até noto Gael se
lambuzar com os ovos.
Assim que ele finaliza, termino de comer e pego a louça suja,
colocando-a diante da pia. Gael me encara e levanta, indo até ela e lavando
com dificuldade.
— Deixa que eu faça isso — digo indo para o seu lado.
Ele dá um passo para trás e se encaixa nas minhas costas, causando
uma onda de arrepios pela minha espinha.
Sinto sua respiração atrás da minha orelha e fico imóvel, sentindo
sua pélvis encostar na minha bunda e logo em seguida se afastar.
— Me desculpe — sussurra na minha orelha. — Não foi minha
intenção... — Suas palavras se perdem no ar e pigarreio, sentindo meu rosto
arder.
Claro que Gael Brown tem segundas intenções comigo, é natural,
afinal de contas, sexo sem sentimentos envolvidos é muito mais fácil para um
homem do que para a mulher.
Um homem nunca vai se sentir usado após o sexo, como uma mulher
pode se sentir.
Gael se afasta ainda mais e nervosa, me viro para ele, que está com
um sorriso sedutor em seus lábios rosados. De repente, uma vontade insana
de beijá-lo surge diante de mim e coloco as mãos na beirada da pia, como se
isso pudesse me ajudar a ficar imóvel.
— Tudo bem — respondo com a voz embargada. — Acontece.
Ele ri e percebo que não foi sem querer sua atitude, mas sim para me
provocar.
— Se você não se importa, vou me deitar um pouco — diz dando as
costas e seguindo pelo corredor.
O contemplo andando devagar e sinto a necessidade de segui-lo,
então vou atrás dele e seguro sua mão boa.
— Espere — sussurro com ele voltando a me olhar.
Nossos olhares se fixam e é palpável a chama que nos envolve, o que
me deixa confusa com tudo que está acontecendo.
Há quantos dias estamos casados?
Dois?
Três?
Não mais que isso... E já estou me sentindo desse jeito.
“Acalme-se, você só está confusa, é normal, mas você não sente
nada por este homem, assim como ele também não.”
— Precisa de alguma coisa?
A voz de Gael me traz de volta para a realidade.
— N-não, me desculpe — digo o soltando.
Ele encara minha mão repousar ao lado do meu corpo e assente.
— Ok. — É a única coisa que diz, voltando a andar.
Fico parada e o vejo desaparecer da minha visão, percebendo o
quanto sou idiota.
O que estou pensando?
Tarde tórrida
Passo o resto da manhã trancada no meu quarto, pensando
sobre o que havia acontecido comigo. Gael em momento algum mostrou de
fato estar interessado em mim, a não ser as brincadeiras, o que me deixa com
a pulga atrás da orelha.
Será que realmente eram brincadeiras ou verdades?
Esqueço isso e saio do quarto quando já passa da hora do almoço,
percebo que a porta do quarto ao lado está fechada, então sigo até a cozinha
em silêncio e resolvo preparar um risoto como refeição. Enquanto preparo a
comida, coloco música clássica para tocar, dançando sozinha e cantando
cada parte da letra. Me divirto com isso, feliz por este momento simples,
então termino o almoço e saltitante, arrumo a mesa, me assustando ao ver
Gael parado no batente do corredor, me olhando com um sorrisinho de lado.
— Você me assustou — digo abaixando a música.
— Não foi minha intenção, estava no quarto e ouvi a música, então
resolvi vir até aqui para ver o que estava acontecendo.
— Foi aí que me viu dançar de maneira ridícula, acredito que deve
ter achado engraçado — digo rindo um tanto envergonhada.
— Não foi nada ridículo, você estava linda, queria que pudesse se
ver neste momento.
— Por quê?
— Para ver o quanto está bonita — diz se aproximando de mim. —
Seu sorriso se mostra verdadeiro, dá para perceber que pela primeira vez,
desde que a conheci, realmente está feliz.
Fico sem graça e balanço os ombros.
— Música sempre me acalmou, deve ser por isso.
Ele assente e passa a língua no lábio de maneira sensual.
Seguro minha respiração enquanto meu marido se aproxima ainda
mais.
— É bom ver que está alegre, mas é triste saber que não sou eu o
causador da sua felicidade.
Fico em silêncio e ele traz a ponta dos seus dedos até meu rosto,
acariciando suavemente.
— Gael, eu...
— O quê?
— Nada, é só que a comida está pronta e pensei que seria bom você
se alimentar — digo mudando de assunto.
Ele concorda sem questionar e senta.
— O cheiro está gostoso, o que temos para comer?
— Fiz um risoto de peixe, especialidade de mamãe, espero que você
goste — digo o servindo.
Gael agradece e começa a comer.
Faço o mesmo, sentindo o gosto invadir minha boca e me delicio,
pensando o quanto ficou parecido com o de mamãe.
Não demora e após finalizarmos o almoço, arrumo a cozinha, me
lembrando de mais cedo, já Gael se joga no sofá e deita.
— Me faça companhia — pede apontando para o outro sofá.
Concordo e me sento, observando-o me encarar atentamente.
— Me diga mais sobre você, quero saber tudo.
Penso a respeito da curiosidade de Gael em me conhecer, até mesmo
parece que somos íntimos, o que com certeza não é verdade.
— Me diga o que deseja saber, que eu conto.
— Sobre os seus antigos namorados, seu primeiro beijo, a sua
primeira vez, como foi para você?
Sinto meu rosto arder ao ouvi-lo.
Sério que Gael quer saber isso?
Ainda que sejamos casados, não temos esta liberdade um com o
outro.
Por que ele quer saber sobre a minha suposta primeira vez?
E o que eu devo dizer, que sou virgem?
— E-eu...
— Não precisa sentir vergonha, somos casados, sabe que uma hora
ou outra teremos que ter esta conversa.
Fico cabisbaixa e assinto, torcendo minhas mãos.
— Nunca fui de namorar muito, então eu... eu... — sinto minha voz
falhar e Gael estreita as sobrancelhas.
— Você...?
— Eu sou virgem — digo envergonhada.
Encaro meu marido e vejo o olhar de surpresa dele, como se isso
fosse a coisa mais difícil de encontrar no mundo.
— Você é muito brincalhona, mas não precisa mentir para mim a
respeito disso, é normal hoje em dia nos casarmos com mulheres que não são
mais virgens. Apesar de contrato de casamento ser algo do passado, isso não
é problema para mim. Assim como eu tive meus momentos antes de saber
que iria me casar, você deve ter tido os seus...
— Não tive... Sempre fui uma garota dedicada aos estudos, sem
sequer faltar ou me atrasar. Namorar nunca esteve nos meus planos, apesar
de que sempre achei a ideia reconfortante. No entanto, os anos foram
passando e aqui estou eu, casada com um homem desconhecido, em uma ilha
no meio do nada e ainda por cima virgem.
Gael fica em silêncio, surpreso com o que acaba de ouvir.
— Isso é sério mesmo?
— Sim — afirmo ainda envergonhada.
Ele levanta e se aproxima, sentando ao meu lado.
— Então eu sinto muito por saber que você não teve a chance de
provar um pouco do que o mundo tem a oferecer antes de casar. Agora você
está presa a mim e possa ser que nunca faça amor com alguém que goste.
— Dada as circunstâncias, não me importo com isso, me diga, você
já fez amor com alguém que amava?
— Nunca amei, Laureen, isso não é algo que priorizo na minha vida.
Fico quieta, mesmo não concordando com ele, não o julgo, afinal,
nem todos nasceram para o amor.
Será que Gael e eu nascemos para isso?
— Agora que você sabe que sou virgem, o que pensa disso?
— Penso que, como disse antes, você não aproveitou nada de
delicioso que o mundo pode oferecer, realmente sinto muito que tenha sido
forçada a casar com um homem que não tem sentimento algum.
— Posso dizer que tenho empatia — digo rindo.
Gael ri e se aproxima ainda mais, colando sua perna na minha.
— E beijo, ao menos isso você deu, não é?
— Algumas vezes... Foi em um garoto da época da escola.
— E o meu beijo, como foi para você?
Desvio meu olhar do seu ao ouvir sua pergunta.
Como dizer a ele que havia gostado?
Não posso negar isso, realmente os nossos beijos haviam sido muito
bons.
— Você só morde bastante — brinco apontando para o meu lábio
ainda machucado.
Ele revira os olhos e sorri.
— Se quiser, posso mostrar que não mordo — diz convicto de suas
palavras.
Meu rosto arde e meu corpo todo entra em combustão, é tudo muito
estranho e novo para mim neste momento.
— Pelo menos, não se pedir.
Continuo quieta e vejo Gael trazer sua mão até meu rosto, me
acariciando com o polegar.
— Me diga, você iria para a cama comigo? — pergunta sem pudor
algum.
Penso a respeito, me imaginando na cama com Gael e o que poderia
acontecer entre nós dois.
— Iria, mas não forçada, deixaria as coisas acontecerem aos poucos.
Ele continua acariciando meu rosto e assente.
— Posso te beijar?
Suas palavras ecoam na minha mente e minha única reação é balançar
a cabeça em concordância, sentindo o calor aumentar cada vez mais a nossa
volta. Gael se aproxima devagar e encosta seus lábios nos meus, causando
um arrepio na minha espinha. Devagar, ele traz sua língua até a minha e me
vejo enroscada ao meu marido, sentindo o delicioso gosto do seu beijo
molhado. O sabor é diferente das outras vezes que senti, é algo mais denso,
delicioso e tórrido. Sinto uma sensação encobrir a boca do meu estômago e
solto um gemido sem querer, com Gael nos separando e me encarando por
completa.
— Gael, e-eu...
— Não se preocupe, vamos apenas aproveitar o momento — diz
acariciando meu rosto.
Me ajeitando no sofá, ele coloca seu joelho entre as minhas pernas e
acaricia meu rosto com a mão boa.
— Permita que eu mostre um pouco o que o mundo tinha a te oferecer
e você não pôde ter.
— O quê? — questiono receosa.
O suor pinica minha pele e a minha respiração fica entrecortada.
— Vai ver... — É a única coisa que diz.
Sua mão desliza pelo meu pescoço, para na minha clavícula e quando
vejo, a ponta dos seus dedos acariciam meus seios por cima do vestido, o
que me faz ficar em alerta, sentindo algo que nunca senti na vida.
Como descrever isso?
É como se meu corpo estivesse em chamas, se misturando ao choque
que os dedos de Gael me causam. A sensação é gostosa e completamente
nova para mim, quando vejo, ele vai deslizando sua mão pela minha barriga
e para bem na minha perna desnuda. Seus olhos se encontram com os meus e
me penetram de uma maneira que nunca fizeram antes. É como se meu
marido olhasse cada detalhe meu, sem perder nada.
— Está preparada? — pergunta e assinto, sabendo que sim, mesmo
não fazendo ideia do que ele pretende fazer.
Gael sorri e puxa meu vestido para cima, revelando minhas coxas e
logo em seguida, minha calcinha.
Meu rosto queima de vergonha, sabendo que isso é inédito para mim
enquanto noto que meu marido encara o tecido fixamente. Vejo sua língua
umedecer seus lábios e sua mão seguir em direção ao meu sexo coberto.
Fico sem reação e Gael puxa a calcinha devagar, deslizando pela
minha perna. Não faço ou digo nada, apenas contemplando a cena. Meu
íntimo reprime e ele sorri ainda mais, enquanto me sinto envergonhada,
afinal é a primeira vez que um homem vê meu sexo.
— Sua boceta é linda — murmura lambendo os beiços. — Vai
permitir que eu faça o que eu quero?
— Sim — respondo hipnotizada.
Gael concorda e leva o indicador até minha carne, acariciando meu
clitóris. Fico sem reação, sentindo o quanto a sensação de alguém me tocar é
gostosa.
Como pude ficar sem isso por tanto tempo?
Seu dedo passeia pelo interior das minhas coxas, o vejo acariciar
com o polegar e o dedo do meio, fazendo movimentos leves de vaivém.
Seguro no sofá, mordendo a boca para não gemer e Gael continua, como uma
espécie de tortura.
Como um simples toque pode ser tão gostoso?
— Você já se tocou antes, Laureen? — pergunta sem parar os
movimentos. Seu olhar se conecta com o meu e nego com a cabeça. — Quero
que me diga, você já se tocou antes?
— Não. — A palavra sai misturada com um gemido.
— O que está sentindo?
Seus dedos continuam me acariciando e suspiro de prazer.
Isso é prazer?
É isso que outras mulheres sentem ao serem tocadas?
— É gostoso — respondo grunhindo. — Gael...
— O que foi, esposa? — questiona ainda movimentando seus dedos.
Fecho os olhos, me contorcendo de prazer e soltando um gemido alto
por conta do toque tão delicioso.
— Quer mais? Me diga, você vai deixar eu fazer tudo que quero?
Assinto, concordando.
É claro que irei permitir, se tudo que ele pretende for tão gostoso
quanto isso, estou feita.
— Sim, faça — peço me sentindo vulgar.
Seria considerada vulgar por estar gostando de ser tocada pela
primeira vez?
— Hoje vou mostrar um pouco do que você pode ter comigo.
Fico quieta e abro os olhos novamente, vendo Gael parar de me tocar
e se ajoelhar na minha frente, me encarando enquanto espero ansiosa pelo
que vai vir pela frente. Ele passa a língua nos seus lábios, como uma tortura.
Seguro a respiração, esperando, então meu marido se aproxima e coloca seu
rosto em frente ao meu sexo.
Solto um grito misturado com um gemido ao sentir sua língua na
minha intimidade.
Que delícia!
Ele faz movimentos circulares na minha boceta e quando vejo,
mordisca meu clitóris, causando uma onda de arrepios por todo meu corpo.
Fico sem reação, sentindo minha respiração ainda mais acelerada enquanto
Gael continua com a boca na minha boceta.
— Está gostando? — pergunta e assinto gemendo. — Isso é apenas
uma das coisas que alguém pode te oferecer.
— Continue, por favor.
— Vamos fazer diferente... Enquanto chupo sua boceta, quero que
você friccione continuamente seu clitóris, pode ser?
— Sim.
Ele volta a chupar minha boceta, então levo meus dedos até minha
área de prazer e o acaricio devagar.
É estranho eu finalmente me tocar, nunca havia feito isso na vida e
saber que estou fazendo pela primeira vez, enquanto um homem chupa minha
boceta, me deixa espantada. Meu corpo se arrepia ainda mais com meu toque
cada vez mais rápido. Um súbito arrepio toma conta do meu corpo e continuo
esfregando, enquanto Gael continua me chupando, quando de repente solto
um gemido alto.
Paro de me tocar e ele se afasta limpando a boca. O vejo levantar e
noto o enorme volume no meio de suas pernas com uma mancha em sua
calça.
— Por hoje é só — diz me observando.
Continuo parada e seminua enquanto Gael dá as costas, seguindo
pelo corredor e entrando em seu quarto. Confesso que me sinto estranha, me
ajeito levantando e sentindo minhas pernas bambas. De repente, sinto um
líquido escorrer entre elas e levo minha mão automaticamente até meu sexo,
sentindo algo viscoso. O analiso e sinto o cheiro estranho, como se fosse
uma mistura de algo com urina. Passo a mão na minha roupa e corro
rapidamente para o meu quarto, limpo minhas pernas e me deito na cama
pensando a respeito sobre o que isso possa ser e ao ver que não tenho
respostas, viro meu corpo de lado e suspiro, recordando o que acabara de
acontecer entre Gael e eu. Porém, de tudo que fizemos, o que realmente me
incomoda é o fato dele ter ido para o quarto de maneira abrupta.
O que havia acontecido?
Suspiro e sinto uma lágrima escorrer pelos meus olhos, sentindo um
vazio e a sensação de que fui usada pelo meu marido.
Estranho
Gael Brown
“A mente é a maior inimiga do homem...”
Falhei, fui um completo idiota ao me dar o luxo de provocar Laureen
e no fim acabei provando do meu próprio veneno. Não esqueço o que ela
havia feito por mim; cuidou da minha mão que machuquei por imprudência e
de preparar nossas refeições.
Como não pude imaginar que ela é virgem?
Isso torna tudo ainda mais interessante, e claro, doentio.
Não sei se conseguirei machucá-la a este ponto.
“O coração de uma mulher é um oceano de desejos escondidos.”
E se por acaso, ao transar com Laureen, as coisas fugissem ainda
mais do combinado?
Com certeza meu pai não ficará nenhum pouco satisfeito ao descobrir
que não fiz o que combinamos.
Como permitir que coisas ruins acontecessem com esta mulher que
pouco me conhece e me trata tão bem?
Covarde!
É isso que eu sou, um homem sem escrúpulos e completamente
covarde.
Será que entrar neste joguinho de vingança do meu pai havia sido um
erro?
Eu deveria realmente me vingar de Laureen, sendo que ela não tem
nada a ver com a história?
— Ela sequer tinha nascido quando mamãe morreu — digo andando
de um lado para o outro.
Acendo um charuto e trago, soltando a fumaça devagar. Encho um
copo com uísque e bebo em um único gole, notando que se eu continuar me
envolvendo com esta mulher, irei me desestabilizar por completo.
— E olha que vocês não têm nem uma semana de casados — digo
vendo o quanto isso é ridículo. — Você precisa se afastar desta mulher e
focar, Gael Brown, ou vai acabar esquecendo o real objetivo deste
casamento.
Termino de beber e continuo fumando, analisando tudo que está
acontecendo. Está na hora de ao menos ser um pouco duro com Laureen, ou
esta mulher vai me destruir.
E se for para alguém sair destruído, que seja o pai dela.
***
Laureen Vargas Brown
Acabei caindo no sono e quando percebo já está cedo e o sol reflete
na janela. Ouço ao longe o som do mar e sorrio, saindo do quarto e indo
direto para o banheiro. Após fazer minhas necessidades, sigo para o meu
quarto e visto um biquíni vermelho, cobrindo meu corpo com um roupão de
seda. Prendo meu cabelo, passo um brilho labial e saio do quarto seguindo
em direção a cozinha.
Vejo Gael sentado na sala lendo um livro e me assusto, mas logo um
sorriso de lado se forma.
— Bom dia — digo alegre.
— Dia — responde de maneira fria.
Fico surpresa com o mau humor logo cedo e não dou bola, volto
minha atenção para a cozinha e preparo o nosso café.
Coloco sobre a mesa algumas frutas frescas que temos, leite, frios e
por último o bule com o líquido escuro. Vejo meu marido levantar ainda com
a mão enfaixada e se aproximar da mesa. Ele senta, diferente do dia anterior
que puxou a cadeira para mim, e se serve, ainda olhando para o livro, que
vejo ser de Shakespeare.
— Gosto muito deste livro — digo me servindo de café. — Você vai
gostar.
— Iria gostar mais se ficasse quieta e eu pudesse me concentrar na
leitura — responde me causando um desconforto.
Meu rosto queima de vergonha e concordo com um movimento de
cabeça, perdendo o apetite.
O que eu havia feito de errado para Gael amanhecer tão nervoso?
— Desculpe, eu...
— Tudo bem, só tome seu café e fique quieta.
O encaro e seus olhos se encontram com os meus. Vejo uma
profundidade de medos e angústias, e me levanto decidida a ir para o meu
quarto.
— Perdi a fome, se me der licença...
Passo ao seu lado, pronta para seguir para o corredor e sua mão
fecha em volta do meu pulso, causando um arrepio em mim.
— Onde é que você vai?
— Estava pensando em ir para o meu quarto, mas com seu humor
ácido, prevejo que vou para outro lugar — digo me soltando dele e seguindo
em direção à saída da casa.
Gael levanta e deixa o livro de lado, vindo em minha direção.
— Não lembro de ter permitido que você saia.
— E eu tão pouco de ter pedido sua permissão — digo abrindo a
porta.
Ele corre e para bem na minha frente, encostando seu corpo no meu.
— Sou seu marido, você tem que me comunicar o que pretende fazer
ou não.
— Somos casados apenas por conveniência, não pense que só porque
carrego seu sobrenome, se tornou meu dono — digo dando a volta no seu
corpo e seguindo em frente, passando pelo jardim simples enquanto Gael me
segue.
— Por acaso a donzela acordou azeda hoje? — pergunta me
provocando.
— Se a donzela for você, sim, acordou azeda demais! — respondo
enfurecida.
Continuo andando e logo me vejo à beira da praia, sentindo a areia
nos meus pés que nem havia percebido estarem descalços.
— Você poderia ser menos engraçadinha, não acha?
Sinto um puxão no meu braço e viro meu corpo, encarando meu
marido.
— E você menos insuportável — cuspo as palavras.
Ele leva as mãos até a cabeça, bagunçando o cabelo.
Vejo seu peitoral subir e descer por debaixo da camiseta regata e ele
estreita as sobrancelhas.
— Você se julga muito esperta, mas nem sabe o que está acontecendo
aqui.
— E por acaso você sabe?
Gael fica em silêncio e balança os ombros.
— Faça o que achar prudente. — Dá as costas e o vejo seguir para a
casa.
— Covarde! — murmuro nervosa com tudo que aconteceu.
Decido seguir andando pela praia e me sento na areia, próxima da
água que molha a ponta dos meus pés. Fico um bom tempo olhando o mar,
pensando que ele nos separa da cidade grande, que é apenas um borrão ao
olhar de longe, e reflito a respeito do mau humor de Gael.
Será que tem a ver com alguma coisa que fizemos ontem?
Até então, ser chupada daquela maneira por ele, me deixou
completamente relaxada. Mas ao ver a maneira que foi para o quarto, sem ao
menos me olhar direito, mostra que fui usada e sua atitude de hoje deixa isso
claro.
Penso o quanto sou idiota por permitir que isso aconteça, se não
tivesse caído na lábia de Gael, nada disso teria acontecido.
— Pelo menos ele chupa bem, não que eu tenha recebido um oral de
outra pessoa para me certificar — digo em voz baixa e rio achando isso
ridículo.
Suspiro tristonha, curiosa em saber o motivo de Gael mudar tão de
repente.
— Deve estar arrependido de ter se casado comigo e estar preso
aqui, nesta ilha, sem poder transar com alguma mulher.
Continuo sentada, pensando na loucura que minha vida se tornou nos
últimos dias e penso em Lucy, sabendo que ela com certeza me ajudaria
nisso. Seco uma lágrima que escorre e solto um grunhido, chorando
copiosamente e desejando que isso não passe de um infeliz pesadelo.
***
Fico durante horas na beira da praia e quando o sol está quase se
pondo, me levanto, sentindo a fraqueza devido a desidratação por não ter
comido nada e nem ter bebido água.
Ando vagarosamente até a casa e entro em silêncio, observando tudo
quieto.
Sigo até a cozinha e abro a torneira, bebendo água direto dela.
Procuro algo para comer e me sirvo de uma fruta, andando em direção ao
meu quarto em silêncio e entrando sem ao menos olhar para os lados.
— Você demorou demais, pensei que iria morar na praia — diz Gael
deitado sobre a minha cama.
Me assusto com sua presença e finalizo a fruta, ainda em silêncio.
— Me desculpe, fui duro com você mais cedo.
Cruzo os braços e continuo encarando Gael, que se aproxima de mim
ao levantar da cama.
— Vai ficar em silêncio?
— Minha voz não estava te incomodando mais cedo?
Ele revira os olhos e suspira, colocando as mãos na cintura.
— Fui idiota, ok? Estou pedindo desculpas, realmente fui estúpido,
mas estou me redimindo.
— Você se redimir não significa que eu sou obrigada a desculpá-lo
— afirmo ainda com os braços cruzados.
— Mulher difícil — fala coçando a cabeça.
— Como se você fosse a pessoa mais fácil de lidar.
— Aí que está, Laureen, eu realmente não sou uma pessoa fácil de
lidar — diz com a voz melancólica. — Por favor, me perdoe por mais cedo,
fui um completo idiota.
Apenas o encaro, pensando o quanto o humor deste homem muda
rapidamente. No dia anterior estávamos aos beijos e ele me chupando, mais
cedo estava me tratando mal e agora me pedindo desculpas?
— É assustador como seu humor muda de maneira abrupta — digo
receosa. — Não sei o que está acontecendo com você, mas te desculpo,
desde que comece a ser mais maleável quando estiver de mau humor.
O vejo assentir e suspiro mais aliviada.
— Vou preparar o jantar para você, enquanto toma banho para tirar a
areia do corpo — diz apontando para mim.
— Me permita fazer uma pergunta.
— Claro.
— Quando é que vamos embora? Aqui não tem muito o que fazer.
Gael me encara e balança os ombros.
— Em breve, não se preocupe.
Concordo sem dizer mais nada e sigo direto para o banheiro,
trancando a porta e me preparando para o banho.
Pelo jeito, a noite vai ser longa...
***
Gael Brown
Como uma pessoa pode ser tão confusa e idiota ao mesmo tempo?
Simplesmente não consigo cumprir minha promessa de quebrar
pedaço por pedaço de Laureen Vargas e me vejo cada vez mais perdido em
relação a isso. Pensar que seria fácil destruir tanto ela quanto seu pai, foi
algo idiota de se pensar.
Com certeza vai ser mais difícil do que imagino...
Ainda mais que eu não consigo maltratar esta mulher.
Esqueço isso e após Laureen ir para o banho, sigo para a cozinha e
começo a preparar o nosso jantar, como ainda está um pouco cedo e minha
mão não dói tanto quanto no dia anterior, resolvo preparar uma massa.
Enquanto vou preparando, coloco uma música para tocar e balanço
meu corpo no ritmo, me sentindo um pouco mais leve após me desculpar com
Laureen. Claro que não sinto exatamente nada por ela a não ser tesão e
pensar na sua boceta deliciosa, me causa uma ereção imediata, ainda mais
em saber que ela é virgem.
Eu daria tudo para fodê-la sem pudor algum...
Mesmo não sentindo nada por ela, não significa que não me sinto
mais tranquilo em ter me desculpado. Fui rude e um completa idiota, com
certeza meu pai iria odiar saber que fiz as pazes com ela.
Esqueço isso e depois que a massa está pronta, a coloco para
cozinhar enquanto preparo o molho.
Laureen surge no batente da porta com uma blusinha branca e shorts
curto, revelando suas pernas torneadas.
— O cheiro está bom — murmura receosa.
Concordo com um movimento de cabeça e encho duas taças de vinho,
entregando uma a ela.
— Vamos beber um pouco para esfriarmos a cabeça.
— Eu preferiria um champanhe para isso, vinho esquenta —
responde maliciosa.
Safada!
Mesmo sendo uma mulher inexperiente, até que ela é bem safadinha.
— Champanhe — repito com os pensamentos maliciosos. — Se
fôssemos beber champanhe, faria de você a minha taça.
Laureen me encara sem entender.
— Como assim?
Dou risada e balanço a cabeça.
— Deixe isso para lá, é melhor beber o vinho mesmo.
— Agora fiquei curiosa — diz bebericando a bebida.
— Tenho certeza de que se você souber do que estou falando, vai
querer desistir de beber champanhe.
Minha esposa fica em silêncio e concorda.
— Do jeito que você disse, parece algo para lá de estranho.
— Para alguns realmente é, mas é muito prazeroso, isso eu garanto.
— Então estamos falando de prazer?
— Mais do que você imagina — respondo piscando.
Seu lábio fica entreaberto e ela continua bebendo.
— Sendo assim, acho que seria mais prudente você voltar para as
panelas, afinal, o que teremos para o jantar? Estou faminta.
Percebo que Laureen está mudando de assunto e decido jogar o seu
jogo.
— Estou fazendo macarrão, porém, com massa caseira — digo
sorrindo.
— Parece delicioso — responde organizando a mesa.
Volto minha atenção para as panelas e não demora tudo já está
pronto, finalizando o preparo ao ralar o queijo parmesão.
Laureen fica deslumbrada quando coloco o prato à sua frente com a
massa e cubro com o molho, jogando manjericão e queijo por cima.
Me sento de frente para ela e encho mais as nossas taças, começando
a comer e me deliciando com a comida.
Desde novo sempre fui apaixonado pela gastronomia e me aventurei
pela culinária. Por conta do meu pai, não cheguei a fazer o curso, já que ele
sempre me viu como o herdeiro que iria cuidar dos negócios. Quando assumi
o cargo de CEO da empresa, deixei de ajudar nos jantares e com as viagens
longas e cansativas para ajudá-lo nos intermináveis contratos, não cozinhei
mais.
É a primeira vez em muito tempo que cozinho para alguém, e mesmo
sabendo que meu pai não iria gostar nem um pouco desta história, fico feliz
em saber que é para Laureen que eu havia cozinhado.
Volta
Os dias passam rapidamente e quando vejo faz uma semana que
Gael e eu estamos na ilha sem fazer nada. Após discutirmos e ele se
desculpar, tudo se tornou mais leve. Infelizmente, não voltamos a nos beijar
e tão pouco fazer algo a mais, o que de certa forma me deixa um pouco
chateada e ele estressado. Pelo menos, acho que é por isso.
Fico curiosa em relação a tal taça que ele havia dito e o questiono
sobre isso, mas Gael não dá o braço a torcer e acaba não me contando.
Aproveitamos o momento de paz e fomos a praia alguns dias,
nadamos e exploramos a ilha em volta da casa, e para o meu desgosto, não
tem nada de interessante.
Sinto falta de Lucy e dos meus pais, mesmo sabendo que quando
formos embora, não os verei com frequência. É estranho estarmos em uma
ilha só nós dois, mas não posso negar que é interessante.
O tempo vem esfriando e o mar ficando agitado, com isso, Gael, por
meio de um rádio antigo que eu nem fazia ideia que funcionaria, decide
encerrar a viagem pela ilha.
— Podemos ir para outro lugar, ao invés de voltarmos para a casa —
diz enquanto arrumamos as coisas.
— Pensei que você não gostasse tanto de viajar — digo torcendo o
nariz.
— Viajar a trabalho não é divertido, agora para descansar é outra
coisa — responde revirando os olhos.
— Queria ao menos ver minha família, ver Lucy...
— Pode fazer isso, mas por vídeo chamada, prometo levá-la para um
lugar que tenha sinal.
Penso sobre isso e nego.
— Acho melhor só voltarmos para a casa mesmo.
Gael me observa e assente, se dando por vencido.
— Se é o que você quer...
Não digo nada, sabendo exatamente que não é isso que eu quero.
Nos últimos dias, tenho pensado muito em como seria ir para a cama
com meu marido, principalmente depois dele ter feito o que fez comigo...
Porém, sei que estando em casa, será muito mais difícil disso
acontecer, afinal, não iremos nos ver tanto, não é mesmo?
Viajar sozinha novamente com Gael, seria a porta para acontecer o
inevitável e isso seria um problema.
“Problema em sentir prazer?”
Suspiro.
— As coisas já estão prontas — diz me tirando dos meus
pensamentos. — O barco está chegando.
Concordo, vendo-o se afastar e suspiro aliviada por saber que não
ficarei mais sozinha com este homem.
— O que você está pensando, Laureen? Pouco tempo atrás você
sequer queria se casar e agora está pensando no seu marido de outra
maneira, como se pudesse cogitar a ideia de gostar dele — digo para mim
mesma. — Droga, como sou burra!
***
Sinto um alívio percorrer cada milímetro do meu corpo ao ver que
finalmente estamos em solo firme depois de horas dentro do barco.
O trajeto inteiro Gael ficou com o comandante e eu dentro do
pequeno quarto, pensando na viagem que havíamos tido. Apesar de não ter
acontecido muita coisa, havia sido algo realmente bom para mim, mesmo que
em alguns momentos meu marido tenha agido como um completo idiota.
Não posso negar o quanto foi delicioso meu primeiro contato sexual
com ele, o que me deixa a cada segundo com o sangue fervendo. É como se
meus pensamentos estivessem voltados somente para isso, desejando tê-lo
por completo, mesmo sabendo que não passaria de sexo e nada mais. Gael,
em uma de nossas conversas, havia deixado claro que nunca amou e não
havia nascido para isso.
Mesmo sabendo que não o amo, por que este fato me incomoda tanto?
***
— Está preparada para a viagem de avião? — pergunta quando
estamos no hangar.
Vejo nossas malas serem postas no avião e nego.
— A última vez não foi muito convidativa.
— Pense, teremos champanhe — diz piscando.
Fico em silêncio e logo estamos dentro do local, sentados em nossos
devidos lugares. Vejo que é outra aeromoça e ela se aproxima com uma
garrafa de champanhe e duas taças.
— Aceita champanhe? — pergunta abrindo a garrafa.
Olho para Gael e vejo seu sorriso egocêntrico estampado em seus
lábios.
Que merda!
Estou mais do que curiosa para saber a respeito da tal “taça”.
— Pode deixar a garrafa — murmuro olhando para o meu marido.
Ele ergue a sobrancelha surpreso e a mulher assente se afastando de
nós logo em seguida.
— Estou curiosa com o que vem a seguir.
Gael levanta e serve as duas taças, me entregando uma.
— Infelizmente desta vez não vem nada, sei que está curiosa com o
que disse dias atrás, mas não dá...
Suas palavras se perdem no ar e fico sem entender.
— Por que não dá?
— Laureen, você é virgem — diz com a testa franzida. — O que
quero fazer com você, não é tão simples quanto imagina, sua mente é tão
inocente assim?
— Você está dizendo que para fazer o que me disse, eu preciso
perder a virgindade?
— Você conhece seu corpo? — rebate. — Sabe que tem um hímen no
seu sexo que é rompido durante o primeiro ato sexual, não sabe? Algumas
mulheres o rompem de outras formas, mas o mais comum, é durante o sexo.
Fico envergonhada ao ouvir o que ele diz, é claro que conheço meu
corpo, apenas não o explorei como pensei que podia ser explorado. Gael
não sabe, mas nos últimos dias, venho me tocando da mesma maneira que ele
fez eu me tocar na sua frente.
— Entendo... — É a única coisa que consigo dizer. — Bem, se não
podemos fazer o que me disse...
— Não, agora não — responde me cortando. — Espere, você está
tão curiosa assim?
— Sim, estou, por quê?
— Até parece que você confia em mim — diz divertido.
— É necessário confiança para isso? — pergunto inocentemente.
— Você deixaria qualquer pessoa enfiar uma garrafa de champanhe
na sua boceta?
Meu rosto arde de vergonha e fico surpresa.
É isso que ele quer fazer comigo?!
— Então é isso — digo surpresa. — Parece nojento.
Gael ri e nega com a cabeça.
— Quando se sente prazer, nada é nojento.
***
Acordo ao sentir o avião pousar e encaro Gael ao meu lado sentado,
mexendo no celular.
— Chegamos.
Me ajeito na poltrona, percebo que não temos mais o champanhe e
tento me lembrar do momento em que dormi. Depois da conversa que tive
com meu marido, não me lembro de muita coisa.
— Graças a Deus — digo soltando o cinto.
Ele me ajuda e logo descemos.
Sinto o vento bater no meu rosto e sorrio ao saber que estou cada vez
mais perto de casa. Meu marido se afasta atendendo o celular que toca,
enquanto ele fala no seu, procuro o meu e ligo para Lucy que atende de
imediato.
— Eu estava quase pegando minhas economias e mandando um
helicóptero te procurar — diz aflita.
— Que saudade estava sentindo de você, amiga — respondo rindo.
— Não tem necessidade, agora estou de volta.
— E como você está? Estou morta de saudade!
— Acho que bem — digo suspirando. — Já está na minha casa nova?
— Como combinamos — diz com alegria na voz. — Está tudo
pronto para a sua chegada e do senhor Brown.
— Em breve estaremos aí, acabamos de pousar. Como mamãe e
papai estão?
— Não tenho os visto muito, mas acredito que estejam aflitos assim
como eu, tivemos poucas notícias sobre seu paradeiro.
— Acredito que Gael apenas desejava um pouco de privacidade,
com certeza os paparazzis cairiam em cima se alguma informação vazasse.
— Deve ser isso — responde displicente.
Concordo e sorrio.
— Não vejo a hora de nos encontrarmos, temos muitos o que
conversar.
— Quero saber de tudo!
Concordo encerrando a ligação e avisto Gael se aproximar com um
sorriso estampado no rosto.
— Nosso carro chegou, está pronta para ir embora?
Assinto sorrindo e pensando no quanto preciso conversar com Lucy.
Não vejo a hora dela saber de tudo que aconteceu nessa viagem
detalhadamente.
Conversa
Sinto a alegria transbordar quando chegamos em casa e vejo
Lucy parada do lado de fora vestida com uma saia azul-marinho e um blazer
na mesma cor. Seu cabelo está preso e o sorriso largo em seu rosto.
Sorrio e saio rapidamente do veículo assim que ele para. Corro na
direção da minha melhor amiga, a abraço e damos gritinhos de alegria ao nos
ver enquanto Gael apenas nos observa.
Sei que muitos achariam estranho ver uma empregada e sua patroa
agirem deste jeito, porém, nunca vi Lucy desse jeito e, às vezes, sem mamãe
saber, a ajudava no seu trabalho para termos mais tempo livre juntas.
— Estava morrendo de saudade — digo separando nossos corpos.
Lucy sorri e acaricia minha bochecha.
— Eu também, depois quero saber tudo sobre sua viagem — diz
alegre.
Gael se aproxima e minha amiga o encara.
— Senhor Brown, bem-vindo de volta ao seu lar.
— Obrigado, Lucy, não precisa de tanta formalidade, se você é
amiga da minha esposa, então se torna minha amiga também.
Lucy e eu nos olhamos e ela concorda sem graça.
— Certo, obrigada.
Meu marido sorri e logo nossas coisas são levadas para dentro da
casa, entro logo em seguida agarrada a minha amiga.
— Seu sogro está aqui, ele chegou tem pouco tempo — sussurra no
meu ouvido.
O sorriso que trazia em meu rosto se desmancha e suspiro.
— Com certeza veio ver o filho e saber como está nosso casamento.
Minha amiga assente e assim que passamos pela porta, vejo Eduardo
parado, com um copo com uísque nas mãos e um sorriso no rosto. Assim que
nos vê, seu sorriso vacila ao ver o braço de Lucy entrelaçado ao meu e fico
sem entender.
— Filho — diz com a voz grave.
— Pai — responde meu marido fazendo um movimento com a
cabeça.
— Vejo que as coisas estão diferentes aqui, mesmo que tenham
acabado de voltar — diz com o olhar fixo em Lucy e eu.
— Como assim? — questiona Gael.
— Os empregados se misturando com os de classe alta — diz
torcendo o nariz. — Mas isso não me espanta, colocou esta mulher como
madrinha de casamento.
— O que foi que disse? — pergunto dando um passo em sua direção.
Gael coloca a mão na minha frente, me impedindo.
— Não é nada pessoal, querida — diz para Lucy. — Só não estou
acostumado a ver pessoas da sua laia, misturados com os de alta sociedade.
— Papai, por favor...
— O senhor fale direito com minha amiga, por favor — peço ríspida.
Ele me encara e vejo o olhar aflito de Lucy.
— Acho que por hoje já deu, não é, pai? — diz Gael nervoso.
Eduardo nos encara e balança a cabeça em negativa, mostrando o
desapontamento.
— Estarei no seu escritório para conversarmos — diz nos encarando
uma última vez e se afastando.
Assim que some da nossa visão, Lucy soluça e começa a chorar.
— Me perdoem por isso, por favor — diz Gael sincero.
— Vá conversar com seu pai para que ele vá embora da nossa casa
logo — digo nervosa. — Agora eu sou sua esposa, fiz um juramento no altar
e irei mostrar que não sirvo só para tomar chá com outras mulheres.
— Laureen... — diz Lucy chorosa.
— Vamos para o meu quarto. — A corto, fuzilando Gael, como se ele
tivesse culpa. — Nos avise quando ele for embora, por favor.
Ele assente e acudindo minha amiga, subo a escada, seguindo para
meu quarto.
***
Gael Brown
Perco Laureen de vista e suspiro ao seguir para o escritório
cabisbaixo. Assim que entro no local, vejo meu pai sentado na minha mesa,
ainda fumando e bebendo. Seu olhar é sério, demonstra nervosismo e eu sei
bem o motivo.
— Vejo que sua esposa está muito bem, diria até mesmo que
engordou um pouco depois do casamento, aparentemente essa viagem fez
bem a ela, e a você, é claro.
— O que o senhor quer? Seja direto.
— Direto — repete levantando, se aproxima de mim.
Observo ele parar na minha frente e seu pomo de adão se mexer.
— Primeiramente quero saber de quem é sua lealdade.
— Como assim?
— Você é leal a quem, meu filho?
— Ao senhor — digo cabisbaixo.
— Se é leal a mim, por que sua esposa parece tão bem? — questiona
com fúria na voz. — Pensei que tivéssemos arquitetado um plano para
destruir os Vargas.
— E vamos, mas repensei algumas coisas e...
Não termino de falar, pois um golpe no meu rosto me impede de fazer
isso, me fazendo cair para trás, além de uma cuspida que papai dá em mim.
Me levanto devagar, sentindo a dor se alastrar pela região acertada, limpo o
cuspe e o encaro.
— Repensou algumas coisas — diz com desprezo. — Não é você
que manda nesse plano.
— Se o senhor ao menos deixar eu terminar de falar.
— Vai me dizer o quê? Que está arrependido de se casar com aquela
mulher e não quer mais vingança pela morte da sua mãe?
— É claro que eu quero! — respondo enfurecido. — Isso tudo
aconteceu porque o senhor permitiu, por que não destruiu Jorge Vargas anos
atrás?!
— Veja como fala comigo — responde andando de um lado para o
outro. — O nosso plano era simples, permitir que a vadia passasse fome e
desestabilizá-la emocionalmente, mas você não foi capaz de fazer isso!
— Sinto muito, ok? Mas não consigo mais enxergar isso como
correto, temos que atingir Jorge diretamente, não sua filha que nem era
nascida naquela época.
— Você fala de um jeito como se nutrisse sentimentos por aquela
mulher.
Percebo que suas palavras demonstram desprezo.
— Está enganado, não sinto nada por Laureen, mas não acho justo
nos vingarmos do pai dela, atingindo-a.
— Antes você achava um bom plano... Você aceitou de imediato
quando propus isso e agora está se mostrando um verdadeiro covarde.
Fico em silêncio, sabendo que ele está certo.
Havia aceitado sim o seu plano de me vingar de Jorge Vargas
atingindo Laureen, porém, poucos dias ao seu lado me desestabilizou
completamente.
A sede de vingança ainda é palpável, porém, não dessa maneira.
Inúmeras vezes tentei maltratá-la, mas simplesmente não conseguia.
“O que está acontecendo comigo, afinal?”
— Não sou covarde — respondo fechando os punhos. — Irei me
vingar da maneira correta, vou destruir diretamente Jorge Vargas.
— E se vai fazer isso, o que pretende com este casamento? —
pergunta me analisando.
— Continuarei casado com Laureen, ela será a maneira de me
aproximar do seu pai e arrancar a verdade dele de uma vez por todas,
quando isso acontecer, colocarei um ponto final nesta relação.
Meu pai me encara e assente a contragosto.
— Vou te dar este voto de confiança, não faça com que eu me
arrependa.
O vejo seguir até a porta e sair, me deixando sozinho com milhões de
pensamentos perturbando minha mente.
***
Laureen Vargas Brown
Entro no quarto com Lucy ainda chorando e a coloco na cama,
pegando um lenço e entregando a ela.
— Me perdoe por este constrangimento, nunca imaginei que aquele
velho faria uma coisa dessas — digo chateada.
— Não se culpe, ele está certo, sou uma empregada... Nem deveria
estar aqui no seu quarto.
— Nunca mais repita isso — digo apontando o dedo para ela. —
Você é minha melhor amiga e sempre vai ser, sua condição financeira não
tem nada a ver com sua índole. Veja, Eduardo, é rico e sem caráter!
Vou até ela e a abraço, beijando o alto da sua cabeça.
— Obrigada, amiga — diz sorrindo.
— Não tem o que agradecer, e para ficar melhor, durma comigo aqui
hoje.
— Mas e seu marido? — pergunta maliciosa.
— O que tem ele?
— Pensei que dormiriam juntos.
Reviro os olhos e dou um tapa fraco no seu braço.
— Não seja boba, nunca dormimos juntos e duvido que isso venha
acontecer.
— Então nessa viagem não aconteceu nada? — pergunta horrorizada.
— Sim..., mas nada demais! Apenas alguns beijos e...
— Conte a verdade, Laureen, eu te conheço, vocês transaram?
— Não, mas ele me chupou e me ajudou a me explorar — digo
animada.
Lucy e eu nunca tivemos problemas em conversar sobre as nossas
intimidades, ela me conhece tão bem quanto eu ela.
— E você se explorou como?
— Eu me masturbei, acho que é isso.
— Aí... Meu... Deus! — diz pausando cada palavra. — Gozou ao
menos?
— Eu não sei! Nunca senti essas coisas antes, é tudo novo para mim.
Conto detalhadamente para Lucy o que havia acontecido, com minha
amiga se divertindo com os detalhes.
— Amiga, o líquido viscoso é gozo — diz rindo. — Sério, sua mãe
nunca ter falado de sexo com você é tão século passado!
— Chega a ser ridículo — digo pensativa. — Eu nem sabia que
gozar sendo virgem é possível.
— É claro que é, atingir orgasmo não tem nada a ver com penetração.
— Suspira, com o sorriso largo, nem mesmo parecendo que passamos por
um momento tão constrangedor com Eduardo. — Agora que vocês estão mais
próximos, você acha que vai rolar?
A encaro e dou de ombros.
— Eu não sei, mas estou louca para descobrir.
No momento certo
Depois da conversa com Lucy, as horas passam rapidamente e
logo após um banho e uma xícara de chá, me deito. Não volto a ver Gael, o
que de certa forma me incomoda um pouco, sei que ele não tem nada a ver
com a ignorância do seu pai.
Quando Lucy finalmente adormece, me levanto e saio do quarto, a
sua procura. Ando pelo corredor escuro e bato na porta do seu quarto, com
ele a abrindo rapidamente.
— Laureen — sussurra me encarando. — Está tudo bem?
— Sim, vim vê-lo — digo me sentindo ridícula.
— Me ver?
— Exatamente, posso entrar?
Ele estranha e concorda me dando passagem.
Olho o quarto e vejo um ambiente bem-organizado e simples.
— Tem algo a me falar? Se não se importa em ser breve, amanhã
tenho que voltar para a empresa.
— Achei que ficaria uns dias em casa — digo torcendo as mãos. —
Quero dizer, nos casamos recentemente...
— Eu ficaria, se estivéssemos em lua de mel e fôssemos um casal de
verdade — responde me observando.
Noto que seu peitoral está de fora e ele usa apenas uma calça de
moletom, que marca seu pênis volumoso.
— Se fôssemos um casal... — repito suas palavras assentindo.
— Sim.
— Me desculpe, é melhor eu ir para o meu quarto, já que amanhã
você vai trabalhar, não quero atrapalhá-lo.
Sigo em direção a porta e ele para na minha frente, o que me faz
esbarrar em seu peito e sentir sua pele quente, me causando um arrepio na
espinha.
— Fale, se veio até aqui, deve ser algo realmente importante.
Afinal, para que mesmo eu tinha vindo até aqui?
— Só queria saber como ficaram as coisas entre seu pai. — Minto
desviando meu olhar do seu.
— Estão bem — diz se virando.
Noto uma pequena mancha em seu rosto e estranho, tendo a certeza
de que ela não estava ali antes.
— O que aconteceu com seu rosto? — pergunto me aproximando e
encostando em sua pele.
Ele geme baixo e se afasta, dando um passo para trás.
— Não foi nada demais, fique tranquila.
— Sou sua esposa, tenho o direito de saber a verdade.
— Então agora você é a minha esposa? — questiona de forma
arrogante. — Estamos casados tem mais de uma semana e até agora o que
menos você é, é ser minha esposa.
— Do que está falando?
— Que, como você mesma gosta de lembrar, nosso casamento é um
contrato. Não finja que se importa.
— Mas eu me importo... Pode parecer ridículo, mas realmente me
importo, apesar de não sermos amigos ou algo parecido. Me diga o que
aconteceu, por favor.
Ele me encara e solta um suspiro.
Observo seu peito subindo e descendo vagarosamente.
— Meu pai me deu um soco, satisfeita em saber?
— Mas por que ele faria isso? — pergunto sem entender.
— Infelizmente isso eu não posso te dizer. Por acaso você falou com
seus pais?
— Está mesmo mudando de assunto?
— Falou ou não?
— Não — admito sem entender o seu interesse. — Amanhã como
você vai trabalhar, irei visitá-los, se não se importa.
— Claro, meu motorista irá com você — diz indo até o frigobar e
pegando uma garrafa de uísque.
O vejo encher o copo e bebericá-lo.
— Certo, então acho que é melhor eu ir para o meu quarto.
— Ainda não me disse o que veio fazer aqui.
— Já respondi, vim saber como ficaram as coisas entre seu pai e
você.
— E você acredita mesmo que eu caio nessa mentira, Laureen? —
questiona levando o copo aos lábios.
Fico em silêncio e dou de ombros.
Mas que merda!
Nem eu mesma sabia o motivo de estar aqui, no quarto dele, apenas
de lingerie e roupão, enquanto ele só usa uma calça.
— Precisava te ver, esta é a verdade, não queria dormir sem antes...
— Sem antes o quê?
— Beijá-lo — admito sentindo meu rosto arder.
Gael coloca o copo de lado e me encara com um sorriso de lado.
— Então você quer um beijo meu?
— Sou sua esposa, não sou?
— Sim, mas desde que nos casamos, você quase não me deu nada —
diz divertido.
Reviro os olhos, ciente do que ele está falando.
— Se vai me provocar, é melhor eu ir para o meu quarto — digo
voltando para a porta.
Mais uma vez Gael é mais rápido e para na minha frente.
— Vai embora sem antes ter o que veio buscar? — questiona me
puxando para perto do seu corpo.
Solto um gemido e sinto sua mão descer pelas minhas costas,
parando próximo a minha bunda.
— Alguma vez já te falaram que você é convencido?
— Sim, já falaram, e a mulher em questão acabou na minha cama.
Reviro os olhos e devagar, coloco meus braços em volta do seu
pescoço, aproximando minha boca da sua.
— Deve ser bem chato para você não ter feito o mesmo comigo.
— É mais do que você imagina, mas sei esperar o momento certo
para isso acontecer — sussurra mordendo meu lábio inferior.
Fico sem reação.
Devagar, ainda mordendo minha boca, Gael começa a chupá-la,
causando ondas de prazer pelo meu corpo. Quando menos espero, ele
entrelaça sua língua na minha, solto um gemido, apertando-o contra mim e
retribuindo o delicioso beijo. Sinto o sabor da bebida enquanto nossas
línguas dançam uma com a outra, fazendo com que ondas de eletricidade
percorram meu corpo, enviando sinais para o meu sexo. Sinto a ponta dos
meus seios ficarem rígidas e minha calcinha umedecer, como se estivesse
molhada. Não entendo, porém, não paro o beijo e sinto Gael segurar minha
mão e levá-la devagar até o meio de suas pernas.
— Pega nele — sussurra voltando a me beijar.
Faço o que ele me pede e pela primeira vez, levo minha mão até seu
pau, o apalpando. Vejo o quanto ele está duro e mostrando-se pelo tato ser
grosso e grande.
Aperto com vontade ainda beijando-o, puxo o cós da calça e a desço
devagar. Gael tira seus lábios dos meus e começa a beijar meu pescoço,
fazendo com que mais gemidos saiam da minha boca. Assim que desço sua
calça um pouco mais, puxo o cós da boxer e enfio minha mão dentro dela,
sentindo sua pele em contato com a minha. Seu pau pulsa e me arrepio,
pegando-o com vontade. É realmente grande, grosso e quente, o que me
deixa preocupada.
E se um dia eu me entregar a este homem?
Esqueço isso e aproveito o momento, apertando com vontade,
enquanto meu marido beija meu pescoço e abre meu robe, encontrando meus
seios por debaixo da lingerie.
— Você está me deixando maluco, é melhor pararmos antes que eu
queira tê-la em minha cama.
Ouço isso e sorrio, continuando a apertar seu pau.
— Você gosta disso?
— Bastante — diz rosnando. — Droga, mulher! Você vai me fazer
gozar sem nem me tocar direito.
Rio e fecho minha mão em volta do seu pau, sentindo seu pênis
umedecido.
— Quer que eu o coloque na boca? — pergunto de maneira ousada.
— Como eu quero, mas hoje não — diz me afastando.
Fico perplexa e arregalo os olhos.
— O quê?
— É isso mesmo, estou com muito tesão e não quero que você faça
algo por conta do calor do momento — diz me encarando. Ele ajeita sua
calça e observo o volume insistente no meio de suas pernas. — Sei que você
está com tesão e não quero que perca a razão por causa disso.
— Você está certo, estou com tesão e quero isso.
— Você quer mesmo, para depois se arrepender e ficar chorando
pela casa? — pergunta estreitando os olhos. — Somos casados, se for para
acontecer, vai ser quando menos esperarmos, não apresse as coisas.
— Eu sou virgem, eu queria perder... Eu...
— Você quer perder a virgindade assim, simplesmente por tesão?
— Sim — respondo convicta.
— Droga, mulher! Você me fode desse jeito.
— Eu quero que você me foda.
— Então foi isso que você veio buscar aqui hoje, uma foda bem
dada?
— Não! — respondo confusa. — Quero dizer, não pense que só vim
aqui para isso, eu nem sei o que aconteceu comigo direito.
Ele ri e assente.
— É melhor ir para o seu quarto, eu estou louco para gozar e não
quero usá-la deste jeito.
Analiso a situação e assinto, pois ele está certo.
Mesmo eu estando louca para perder a virgindade e me sentindo
atraída por ele, não quero que seja assim.
Que vida maluca, dias atrás eu nem queria me casar e agora quero
transar!
— Tudo bem, é melhor eu ir nessa, nos vemos amanhã.
Abro a porta e Gael me puxa, colocando o dedo na minha têmpora.
— Quando você realmente estiver preparada para isso, eu estarei
aqui, não se sinta rejeitada, por favor, porque a desejo mais do que imagina,
mas quero que seja feito da maneira correta. — Beija minha cabeça.
Concordo saindo do seu quarto e sigo para o meu, completamente em
choque por conta de tudo o que acabou de acontecer.
Sangue, dor e corpos
Acordo assustada, olhando em volta para me recordar onde
estou. Vejo Lucy em pé e em seu rosto há um sorriso reconfortante, me
trazendo para a realidade.
— Bom dia, dorminhoca — brinca terminando de se arrumar.
Balbucio palavras inaudíveis, me espreguiço, levanto e vou para o
banheiro. Faço minhas necessidades e rapidamente começo a me preparar,
ansiosa para poder ver meus pais, quer dizer, mamãe, para ser mais sincera.
Penteio meu cabelo, escovo os dentes, lavo o rosto e me maquio.
Assim que termino, sigo para o quarto novamente e procuro algo confortável
para vestir. Minhas coisas estão organizadas nos cabides, o que facilita,
escolho uma calça social, sapatos de salto agulha e uma blusa de seda clara.
— Como estou? — pergunto a Lucy, que está parada, me observando.
— Linda, como sempre — diz sorrindo.
Agradeço e uma batida na porta nos tira a atenção.
Prontamente Lucy vai até a porta e abre. Vejo Gael entrar no quarto e
olhar em volta, parando com seus olhos em mim.
— Você está linda — diz com um sorriso no rosto. — Bom dia,
esposa.
— Bom dia, marido — digo rindo do seu jeito engraçado. —
Obrigada pelo elogio, você também não está nada mal.
Vejo Lucy sair na ponta dos pés e ficamos a sós, com ele se
aproximando. Está usando um terno bem alinhado e gravata, o que dá um ar
másculo nele.
— Obrigado, vim convidá-la para tomar café comigo, antes que eu
vá para a empresa.
— Mas é claro.
Meu marido se aproxima cada vez mais e para próximo ao meu rosto,
acariciando minha pele com a ponta dos dedos.
— Como passou a noite?
Sei do que ele está falando, depois que sai do seu quarto e vim para
o meu em chamas por conta da vontade louca de prová-lo, fiquei com insônia
e com muito custo consegui descansar.
— Devo confessar que se estivéssemos juntos, teria sido mais
interessante. Lucy ronca um pouco — digo em tom divertido.
Ele ri e o acompanho.
— Não se preocupe, podemos passar a noite juntos se quiser, somos
casados, lembra-se?
Concordo, sabendo que isso não é fácil de esquecer.
— Tudo bem — digo por fim.
— Vai ver seus pais que horas?
— Estava pensando em ir vê-los depois que você fosse trabalhar...
— Não quer me acompanhar na empresa para conhecer um pouco do
seu império?
— Meu império? — Estreito os olhos.
— Somos casados, Laureen.
— Eu sei, mas não trate como se fosse um casamento convencional,
isso tudo não passa de um acordo feito para salvar minha família de uma
encrenca maior com a sua.
— Sim, mas isso não significa que não te dê direito a algumas coisas
— sussurra passando os braços em volta do meu corpo. — Por exemplo, se
você quiser, posso ser seu.
Meu rosto ruboriza e sorrio sem graça.
— Não conhecia este seu lado divertido.
— É porque não existia, você que está causando isso em mim.
— Melhor irmos tomar café, o que acha? Está ficando tarde.
Gael assente, sabendo que estou querendo mudar de assunto e me
solta, dando passagem.
Ando em direção a saída do quarto e seguimos para o andar debaixo
em silêncio.
Me sento ao seu lado na sala de jantar enquanto sou servida com café
e leite, percebo que Lucy está em pé, no canto do cômodo nos olhando.
— Junte-se a nós, Lucy — Gael diz me deixando surpresa.
— Desculpe, senhor, mas acho que é melhor não — responde
cabisbaixa.
— Eu insisto, é o mínimo que posso fazer por conta das atitudes do
meu pai ontem.
Ela me encara e sorrio.
— Por favor — sussurro.
Minha amiga se aproxima ainda mais sem graça e senta ao meu lado,
servindo-se de uma xícara de café com leite.
— Se você é amiga da minha esposa, também é minha, não pense que
só porque somos de classe social diferentes, somos melhores — diz meu
marido comendo.
— Obrigada — digo segurando sua mão.
Ele analisa o gesto e a solto ficando sem graça.
Começo a comer em silêncio e Lucy faz o mesmo. Quando Gael
finaliza, fica olhando o celular enquanto me espera. Assim que finalmente
termino de comer, me viro para minha melhor amiga e digo:
— Vou para a empresa com Gael agora na parte da manhã e quando
estiver indo para a casa dos meus pais, eu te aviso.
— Tudo bem, senhora Brown — diz piscando.
Reviro os olhos e levanto, com Gael fazendo o mesmo.
— Está pronta?
— Acho que sim.
Ele assente e Lucy levanta, me abraçando.
— Nos vemos mais tarde.
Concordo e me despeço.
Saio com Gael e já do lado de fora, entro no carro e ele faz o mesmo,
sentando ao meu lado.
— Peço que ao chegar na empresa, compreenda que as pessoas irão
chamá-la de senhora Brown, afinal, agora você é uma.
— Tudo bem — digo dando de ombros. — Eu até gosto.
— Não pareceu quando Lucy a chamou assim — diz provocante.
Rio e nego com um movimento de cabeça.
— É só para provocá-la, a maneira que me chamam não me importa,
isso não difere quem eu sou.
— É bom saber isso, senhora Brown — diz sorrindo.
— Saber o quê?
— Que está começando a se acostumar em carregar meu sobrenome,
será que também está começando a gostar da ideia de ser casada comigo?
O encaro e fico em silêncio, sabendo que quem cala, de alguma
forma, consente.
***
O prédio é enorme, com várias pessoas nos cumprimentando e
parabenizando pelo nosso casamento. Fico sem graça em como as pessoas
me tratam, até parece que sou uma rainha e eles os meus súditos, o que chega
a ser ridículo.
Percorremos o caminho até a sala do meu marido, entramos e me
surpreendo com tamanho do lugar que tem uma vista exuberante, revelando
toda a cidade pela enorme janela de vidro.
Ele senta na cadeira e aponta para uma que está a sua frente, me sento
e analiso detalhadamente o ambiente. O chão é de mármore, as paredes são
claras e no seu escritório tem um minibar.
— Só vou enviar alguns relatórios e já iremos passear pela empresa
— diz sério, analisando a tela do computador.
— Claro.
Me levanto e observo a estante que tem no ambiente, passando a
ponta dos dedos pelas lombadas, maravilhada ao ver tantas obras
interessantes.
— Realmente você é amante da literatura, é engraçado como isso me
surpreende.
— Surpreende por quê?
— Não é tão comum ver homens como você com tempo para ler,
realmente você é uma caixinha de surpresas.
— Tenho muito para surpreendê-la ainda, Laureen.
Meu nome estala na sua boca e concordo.
— Como é para você ter que trabalhar com seu pai?
— Na maioria das vezes é um pé no saco — diz me fazendo rir. —
Meu pai não é tão tranquilo quanto parece.
— Eu percebi isso — respondo me lembrando do acontecimento com
Lucy e do seu rosto machucado, que por sorte não ficou um hematoma mais
forte.
Ele me encara e volta sua atenção para o computador, já eu, continuo
observando os livros. Me sento em uma poltrona próxima da estante e cruzo
minhas pernas, notando Gael intercalar seu olhar entre o computador e eu.
Vejo que ele passa a língua nos lábios e respira profundamente, como se me
olhar deste jeito fosse uma tortura.
Decido provocá-lo, sentindo a mesma sensação do dia seguinte na
boca do meu estômago. Esfrego um pouco as mãos na calça, puxando-a e
revelando minhas pernas. Meu marido passa a mão na barba e dá um
sorrisinho de lado, fixando seus olhos na tela do computador.
Não demora e ele levanta, vindo em minha direção e parando bem na
minha frente.
— O que você pensa que está fazendo, Laureen?
— Nada, apenas estou com um pouco de calor — digo passando as
mãos pelo meu abdômen e subindo pelo seio. — Você não está?
Ele ri concordando, retira o paletó, afrouxa a gravata e desabotoa a
camisa.
— Está quente mesmo — murmura com intensidade na voz.
Gael abaixa ao meu lado e coloca sua mão na minha perna.
— Quer ajuda para se refrescar?
— Que maneira você pode me ajudar? — questiono maliciosa.
— Deixe-me mostrar — murmura levando a mão até o botão da
minha calça.
Gael a desabotoa e a puxa para baixo, deixando na altura do meu
joelho. Ele analisa minha lingerie e sorri, lambendo os lábios, então o vejo
levar os dedos até a renda fina e puxa devagar de maneira despreocupada.
Não me importo em saber que estamos em seu escritório, com
pessoas do lado de fora trabalhando. Pelo contrário, a sensação de perigo
causa ondas de eletricidade pelo meu corpo, me deixando com uma vontade
louca de acabar passando dos limites com ele. Não sei explicar o motivo de
sentir isso nos últimos dias, mas eu quero saber como é fazer sexo, e mesmo
não sendo casada de livre e espontânea vontade, desejo que isso seja com
Gael Brown.
Minha calcinha fica até a altura dos meus joelhos e ele abre minhas
pernas, analisando minha boceta.
— Eu quero tanto te comer, Laureen, e se você continuar me
provocando deste jeito, não vou conseguir manter minha promessa.
— Então ontem foi isso, uma promessa? — questiono arfando.
— Não, mas se quiser, pode ser...
— Neste momento eu só quero que você repita o que fez comigo e
chupe minha boceta — murmuro ansiosa.
Estou suando de tanto prazer e isso me assusta.
— Você quer me dar sua boceta? Quer que eu prove do seu gosto?
— Eu quero — murmuro convicta.
Ele lambe os lábios concordando, puxa meu corpo e me levanta.
Solto um gritinho de surpresa quando Gael me pega no colo, dando um tapa
de leve na minha bunda e me leva em direção a sua mesa. Vejo tudo que está
em cima dela ir direto para o chão e meu marido me colocar no lugar, me
encarando.
— Você sabe o que é gozar, Laureen?
— Acho que sim, aconteceu comigo no dia que você...
— Te chupei — completa. — Mas você realmente sabe a sensação
de uma gozada de verdade? De um homem te chupar até seu corpo enrijecer
e sua boceta responder por ele, dando ondas de orgasmos?
— Não — respondo envergonhada.
Mesmo realmente atingindo o famoso orgasmo com Gael e com meus
toques enquanto viajávamos, gozar realmente de verdade, sabendo que isso
aconteceria, nunca aconteceu.
— Então quero que você relaxe para que possamos fazer isso, ok?
Quero sua boceta relaxada para mim.
— Ok — murmuro.
Ele sorri e tira minha blusa, assim que fico apenas de lingerie, Gael
tira o terno junto com a camisa e fica com o peitoral de fora, se aproximando
de mim e levando minha mão até seu peito.
— Você gosta do que vê?
— Muito.
— E aqui embaixo? — minha mão é guiada até seu pau rígido e me
arrepio, mesmo já o pegando antes.
— Gosto sim — murmuro.
— Quer tê-lo em você?
— Sim, por favor, não faça uma promessa que não vá cumprir, vamos
até o fim.
— Você tem certeza disso? Não quero parecer um canalha... Olha
onde estamos.
— Tenho certeza. — Minha voz é firme e meu corpo todo está em
combustão.
Ele me encara segurando meu rosto com as duas mãos, se aproxima e
me beija. Sua língua me invade e retribuo o ato, passando minhas mãos em
volta do seu corpo. Gael percebe que minha calça o atrapalha e sem
desgrudar da minha boca, a puxa com brutalidade, se envolvendo no meio
das minhas pernas.
Me envolvo nele e o aperto com vontade, passando minhas mãos por
todo seu delicioso corpo, deixando meu marido ainda mais excitado.
Ele belisca meu seio direito e abre o sutiã, jogando-o para o lado.
Meus seios ficam a mostra e separando nossas bocas, Gael segue até eles,
lambendo e depois chupando. Solto um gemido, com meu marido colocando
sua mão livre na minha boca, a fim de abafar o som que emito. Me seguro ao
máximo para não fazer barulho e ele continua chupando meus seios,
intercalando entre um e outro.
Sinto meu corpo relaxar, como se isso fosse um sonífero, me
causando o melhor dos descansos. Quando vejo, ele beija minha barriga e
vai descendo, me deitando sobre a mesa e enfiando o dedo na minha boca.
Enquanto ainda me beija, chupo seu indicador, surpresa com isso, mordo
devagar, com Gael gemendo baixo.
Continuamos nesta posição por um bom tempo e ele me encara,
próximo a minha vagina.
— Repita para mim, Laureen, você quer me dar a sua boceta?
— Sim, eu quero.
— Vai deixar eu fodê-la bastante?
Penso nisso me lembrando que ainda sou virgem.
Estou mesmo pronta para perder a virgindade, ainda mais em um
escritório?
— Por favor, faça isso.
Ele sorri e concorda, abrindo sua calça devagar e a abaixando. Vejo
o volume na boxer branca e lambo os lábios, deliciada com a imagem.
“Mas que homem...”
Gael é delicioso, com um ar angelical e bem-dotado, o que me deixa
receosa.
Será que vai me machucar?
— Fique relaxada, esposa — diz como se pudesse ouvir meus
pensamentos.
O volume continua marcando sua cueca e concordo, vendo-o abaixá-
la. Seu pau pulsa e ele o segura, voltando sua atenção para a minha vagina.
— Vou chupar sua boceta até sentir que realmente está pronta para
isso, não quero machucá-la.
Assinto, feliz em saber que ele se preocupa com meu bem-estar.
Gael vai em direção ao meu sexo e coloca a língua para fora,
mergulhando nela até o ponto que consegue. Solto um gemido, levando
minhas mãos até a boca e me contorço de prazer ao senti-lo morder meu
clitóris.
A sensação que isso me causa é inexplicável, somente sentindo para
saber como realmente é. Me recuso a ficar sem isso e fecho minhas pernas
em volta do meu marido, prendendo-o a mim, enquanto ele continua
devorando minha boceta com prazer.
Sua língua a envolve por completo e Gael leva dois dedos até meu
clitóris, o esfregando com precisão. Fico sem ar ao sentir isso e continuo
segurando os gemidos, para que ninguém do lado de fora possa escutar.
Sinto meu sexo molhado e Gael se afasta.
— Sua boceta está pronta para mim — murmura.
O medo toma conta do meu corpo e o desprendo de mim, abrindo
minhas pernas e vendo Gael se ajeitar.
— Você tem certeza de que quer fazer isso aqui, agora?
— Tenho — murmuro.
— Está certa disso? Não quero que se arrependa depois, Laureen.
— Não vou, Gael — murmuro seu nome como um cântico.
Ele concorda se posicionando próximo a minha entrada.
Meu marido puxa meu corpo para a beira da mesa e segura seu pênis,
o masturbando.
— Não temos preservativos, esposa.
— Tudo bem, vamos sem desta vez.
— Você confia em mim a este ponto?
— Eu não deveria confiar? — Vejo seu olhar inexpressivo.
Ele concorda se dando por vencido.
— Vou devagar, se estiver machucando, quero que me avise,
entendeu?
Assinto.
Gael se posiciona no meio das minhas pernas e leva seu pau até a
minha vagina, sinto-o encostar na minha pele e um arrepio percorre todo meu
corpo, causando uma onda de prazer. Devagar, como um mantra, ele vai se
aprofundando em mim e sinto uma dor misturada com um desconforto, o que
me faz soltar um gemido baixo, fazendo-o, sem querer, se afastar.
— Não! — Envolvo minhas pernas nele e o trago de volta para perto
de mim. — Não pare!
Ele assente e volta a enfiar seu pau em mim, causando novamente o
desconforto. Decido relaxar, sabendo que estou fazendo isso por livre e
espontânea vontade, como combinamos desde o começo. Ouço um estalo,
como se algo dentro de mim houvesse rompido, causando um alívio no meu
sexo. O pau de Gael desliza devagar pela minha boceta e volto as mãos para
a boca, segurando o gemido.
— Não se impeça de demonstrar o que sente, Laureen — diz tirando
as mãos da minha boca. — Permita-se.
— Pensei que não pudesse, já que estamos no seu escritório...
— Eu sei, mas sou o chefe, lembra? — Me corta.
Concordo e ele volta a se aprofundar em mim, comigo soltando um
gemido baixo.
A sensação até que é gostosa, mas um pouco desconfortável, o que
me causa arrepios por todo meu corpo.
— Quer que eu tire?
— Não, só vá devagar — peço e ele faz isso, movimentando seu
quadril de maneira lenta e dolorosa.
O vejo rebolar e solto mais um gemido, mordendo meu lábio até
sentir o gosto de sangue.
Gael continua lentamente, colocando apenas metade do seu pau
dentro de mim. Me sinto cada vez mais relaxada, me entregando ao prazer e
desejo de tê-lo. Aos poucos, as movimentações aumentam e o puxo para mim
com as pernas, o envolvendo e soltando um grito de prazer.
Gael trava me encarando sem entender e nego com a cabeça.
— Não pare!
Ele faz o que peço e volta a se movimentar. Agora quase todo seu
pau está dentro de mim. Devagar, levo minha mão até os lábios da minha
boceta e começo a acariciar meu clitóris, sentindo seu pênis entrar e sair em
um ritmo frenético, causando um frenesi em mim. Começo a esfregar com
agilidade, me lembrando do dia em que ele me ensinou a fazer isso e meu
marido continua com as estocadas dolorosas e deliciosas.
Sinto medo, prazer e desejo, tudo em uma mistura de suor, dor e os
nossos corpos, que me causam uma confusão.
Como isso poderia ser tão desconfortável e ao mesmo tempo
delicioso?
Ele continua investindo em mim e me encara, com o suor cobrindo
seu rosto.
— Estou quase lá, meu amor, não vou conseguir fazê-la atingir seu
orgasmo enquanto te fodo.
Ouço ele me chamar de amor e arregalo os olhos, continuando a
esfregar meu clitóris.
— Não para.
— Tudo bem.
Os movimentos continuam cada vez mais rápidos e esfrego com
agilidade meu clitóris. Uma sensação na boca do estômago me envolve e
solto um grito, sentindo o líquido viscoso envolver minha mão e o pau de
Gael. Rapidamente ele retira seu pênis da minha boceta e vejo a cabeça
manchada de vermelho, então meu marido solta um gemido e goza em cima
da mesa, me encarando com um sorrisinho no rosto.
— Você é deliciosa, esposa.
— Você também — murmuro sem graça.
Ele vai até o banheiro, enquanto me mantenho na mesa, pega uma
toalha e volta na minha direção.
— Vou cuidar de você — diz e limpa minha boceta.
Vejo a toalha manchada de sangue e levo a mão até meu sexo,
sentindo o líquido ainda escorrer um pouco.
— O que foi isso? — Aponto para a toalha de maneira inocente.
— Você sangrou, Laureen, é normal isso acontecer com mulheres
virgens, mas não se preocupe, é só desta vez que acontecerá.
Concordo me sentindo uma idiota, por não saber as coisas sobre meu
corpo.
Como o ensinamento faz falta!
Saio dos pensamentos e vejo Gael limpar seu pênis, arrumando a
boxer e se vestindo. Decido fazer o mesmo, ainda surpresa com o que vem
acontecendo.
Estou no escritório do meu marido e acabo de perder a virgindade
com ele.
É como se uma avalanche caísse sobre mim, me trazendo para a
realidade.
É real, estou mesma casada com um homem que quase não conheço e
acabo de entregar minha virgindade a ele.
E isso não é o pior...
Estou começando a olhá-lo com outros olhos.
Acho que estou apaixonada.
Pedido de ajuda
Assim que termino de me ajeitar, Gael se aproxima e segura
meu rosto com as duas mãos, beijando o alto da minha testa.
— Espero que eu não a tenha machucado.
— Não machucou — garanto sorrindo sem graça.
— Você gostou?
— Sim, apesar de ainda ser tudo novo para mim — digo sentindo
meu rosto ruborizar.
— Não precisa sentir vergonha, somos casados, e é natural você
sentir prazer, sexo faz parte da vida das pessoas.
Concordo, sabendo que ele tem razão.
— Que horas são? Estou perdida no tempo.
— Quase hora do almoço, quer sair para comer alguma coisa? —
pergunta sorrindo.
Concordo meio sem jeito ao me recordar que ele me chamou de
amor.
O que foi isso?
Tesão por conta do sexo?
Com certeza, não é todo dia que um homem tira a virgindade de uma
mulher.
Mas e se não fosse só isso?
E se realmente Gael me chamou de amor por gostar de mim de
verdade?
“Não seja ridícula, você é burra, mas não tanto, este casamento
não envolve amor e ele mesmo deixou claro que não nasceu para isso.
Esqueça que está supostamente apaixonada por ele ou vai piorar tudo!”
Fico quieta, sabendo que meus pensamentos estão certos.
Este casamento nunca terá amor, é apenas um contrato, um pedaço de
papel que não tem significado algum.
Ter transado com Gael só faz parte disto, ele não ficaria com uma
mulher para o resto de sua vida sem ter relações sexuais. Esta é a realidade,
sou um objetivo e nada além disso.
— Está pronta?
Sou tirada dos meus pensamentos e o encaro, notando que ele
também se sente incomodado com alguma coisa, porém, não consigo saber o
que é.
“Talvez ele tenha percebido que fez besteira em me chamar de
amor.”
Me sinto chateada com o meu pensamento.
— Estou sim — respondo deixando meus pensamentos de lado.
— Então vamos — diz forçando um sorriso.
***
Meus pensamentos dão uma trégua quando chegamos em um
restaurante próximo da empresa e sinto a fome bater. Assim que somos
direcionados para uma das mesas, olho o cardápio e acabo escolhendo
temaki, sushi e hot roll.
Gael fica surpreso em ver tanta coisa e acaba escolhendo o mesmo
que eu.
— Não sabia que você gostava de comida japonesa — diz bebendo
água.
— Como você disse, existem muitas coisas que você não sabe de
mim. — Pisco.
Ele sorri sabendo que isso é verdade.
— O bom de termos uma vida inteira um ao lado do outro é isso.
— O que quer dizer?
— Que assim poderei conhecê-la — diz lambendo os lábios.
— Por favor, não faça isso.
— Isso o quê?
— Lamber seus lábios desta maneira, me causam sensações...
As palavras se perdem no ar e ele solta uma risada debochada.
— Você lembra das vezes que chupei sua boceta, é isso?
— Gael! — repreendo olhando em volta para me certificar que
ninguém está olhando.
— O que foi? Tenho certeza de que a maioria dessas pessoas já
transaram alguma vez na vida.
Continuo olhando em volta, analisando sobre o que ele diz e
pensando se existe ao menos uma pessoa neste lugar que seja virgem.
— Melhor mudarmos de assunto.
— E sobre o que você quer falar?
— Eu não sei, qualquer coisa menos isso.
Ele me encara e estreita os olhos.
— Estou curioso com uma coisa.
— O quê?
— Você aceitou vir ao escritório comigo só para me provocar?
— Na verdade, não, aquilo foi só um acaso. — Dou de ombros e ele
concorda, rindo.
— Se você está dizendo...
Ficamos em silêncio e nossos pedidos são colocados sobre a mesa,
provo do sushi assim que o mergulho no molho shoyo. O gosto delicioso
invade minha boca e sem querer, solto um gemido baixo, com meu marido
me encarando.
— Você é boa em gemer.
Acabo tossindo e cuspindo o sushi que estava comendo.
— Gael Brown! — repreendo vendo-o se divertir com isso. — Isso
é coisa para se dizer?
— E, não é?
— Claro que não, ainda mais quando estamos em um restaurante com
pessoas à nossa volta — digo notando alguns olhares sobre nós.
— Não me importo com as pessoas, se querem nos olhar, fiquem à
vontade.
— Você está acostumado com a mídia, eu não.
— Realmente você não está familiarizada com isso, você sequer me
reconheceu quando nos esbarramos naquele acidente de trânsito.
O acidente, parece tão distante que nem me lembrava direito dele.
Como as coisas se esvaem de nossa mente com rapidez!
— Não te conhecer, não significa não estar na mídia, para falar a
verdade, não procurei saber como era por opção, como já te disse.
— O medo de encontrar um homem tão feio te incomodava? —
brinca rindo.
— Só estava com medo de vê-lo e perceber que isso é real.
— E agora estando casada comigo, você sente medo?
— Não — admito. — E você?
— Nem eu.
***
Ligo para Lucy e ela vem com um motorista me buscar na empresa de
Gael, me despeço dele com um abraço desajeitado. Quando entro no carro, o
veículo começa a se movimentar e Gael se transforma em um simples
borrão, causando um aperto no meu coração.
— Precisamos conversar — digo a Lucy que me observa na hora.
Percebo que ela está com o olhar sério, mas curioso.
— Estou ouvindo.
Encaro o motorista a frente e aponto para ele, mostrando a ela que
agora não dá, mesmo precisando desabafar urgentemente.
— Quer parar para tomar um café? — diz entendendo o recado.
— Claro.
Ordeno ao motorista que pare na cafeteria mais próxima e assim que
ele o faz, saio do carro e sigo para dentro, procurando uma mesa mais
reservada.
Uma jovem se aproxima com o sorriso no rosto e pega um bloquinho
com lápis.
— Boa tarde, o que desejam?
— Quero dois expressos, por favor — diz Lucy sorrindo.
A moça concorda se afastando e minha amiga e confidente me encara.
— Agora você já pode dizer o que está escondendo.
— Aconteceu — disparo assim que ela para de falar.
— Você está me dizendo sobre aquilo lá? — pergunta eufórica.
— Sim, aconteceu no escritório, mais cedo.
Lucy arregala os olhos e bate palminhas, feliz.
— Eu não acredito, Laureen! Você é uma safadinha. — Aponta o
dedo para mim e ri. — Como você se sentiu?
— Eu gostei, teve alguns momentos de desconforto, dor, mas no final
foi excelente!
Ela ri, divertida e a acompanho, passando a próxima meia hora
contando cada detalhe do sexo entre Gael e eu.
— E ele, como agiu?
— Bem, Gael me chamou de amor enquanto fazíamos, mas não sei o
que significa, com certeza isso só aconteceu porque ele tirou a minha
virgindade — sussurro para que ninguém possa nos ouvir.
— Será que é isso ou ele gosta verdadeiramente de você? — Estreita
os olhos pensativa, colocando o dedo na têmpora.
— Prefiro não pensar sobre isso, nos casamos por causa de um
contrato, com certeza não passa disso.
— Você não pode ter certeza sobre as pessoas, apenas sobre si
mesma — comenta bebendo o café que nos é servido. — Para saber se ele
realmente gosta de você, terá que perguntar ou deixar as coisas acontecerem.
— Prefiro a segunda opção, seria constrangedor perguntar isso a ele.
Lucy segura minha mão e a acaricia com a ponta dos dedos.
— Quero conversar algo com você.
— Estou ouvindo.
— É sobre minha mãe, ela precisa de ajuda — diz de maneira tímida.
— Ajuda? Você está precisando de dinheiro? Tenho algumas
economias, posso te dar...
— Não é isso — diz aflita.
Percebo neste momento o seu rosto perder a cor.
— Tem uns dias que estou ensaiando para te contar isso...
— Lucy, você está me assustando — digo temerosa. — O que houve?
— Minha mãe está presa, descobriram que ela está na Alemanha
ilegalmente e ela acabou tentando fugir, porém, foi pega e levada para um
consulado do país, onde está detida até ser deportada.
— E o que podemos fazer para ajudá-la? — pergunto sem entender
do assunto.
— Ela precisa de um advogado, mas não temos condições de pagar...
— Não se preocupe com isso, posso ver com Gael para ele ajudar,
tenho certeza de que não irá se opor.
— Você faria isso por mim? — diz com lágrimas nos olhos.
Dou a volta na mesa e me sento do seu lado.
— Mas é claro, você sabe o quanto é importante para mim, não
deixaremos sua mãe nesta situação, está na hora dela voltar para perto de
você.
Lucy funga, chorosa e agradece, me abraçando novamente.
— Obrigada, Laureen, serei grata para sempre, se não fosse você, eu
já teria desistido de tudo.
— Não pense nisso, vamos para casa, outro dia vejo meus pais, não
podemos perder mais nenhum minuto.
Ela volta a chorar e assente.
Nos levantamos, pagamos o café e voltamos para o carro.
— Nos leve para a casa, por favor, vou pedir para Gael ir embora.
— Por favor, não quero atrapalhá-lo — balbucia Lucy.
— Não vai, sei que ele fará isso — digo firme, torcendo para que
realmente Gael possa nos ajudar.
Envio uma mensagem para ele, pedindo para que vá para casa por
ser importante e quando vejo já estamos próximos da residência. Assim que
desço do carro com Lucy, vejo meu marido chegar em outro veículo com o
olhar aflito.
— Está tudo bem? Sua mensagem parecia urgente — diz nos
encarando. — Você não foi para casa dos seus pais?
— Não, por favor, vamos entrar, temos muito o que conversar.
Ele concorda sem hesitar e seguimos para dentro da casa, indo até a
sala de estar. Peço para nos servir chá e meu marido se recusa, pedindo uma
dose de uísque. Assim que estamos os três sentados um de frente para o
outro, torço as mãos e o observo.
— Fale, estou ouvindo.
— É a mãe da Lucy... Ela precisa de ajuda, está na Alemanha e foi
presa.
— Como assim? — questiona sem entender.
Rapidamente explico a situação da mãe de Lucy para Gael, enquanto
minha amiga está ao meu lado chorando copiosamente. Ele ouve tudo em
silêncio, compreendendo a gravidade da situação, pois não sabemos o que
pode acontecer com a mãe da minha amiga.
— Qual o nome da sua mãe?
— Odete — diz minha amiga cabisbaixa. — Por favor, se não fosse
realmente importante, não pediria a ajuda de Laureen e a sua.
— Não se preocupe com isso, preciso que me explique a situação
dela. Como sua mãe parou ilegalmente na Alemanha?
Lucy o encara com os olhos inchados e suspira.
— Eu era apenas um feto quando ela foi para lá, me contou que fugiu
daqui por causa do meu pai, que era um homem agressivo. Ela não tem
ninguém além de mim e foi o senhor Vargas que nos ajudou durante esses
anos.
Gael estreita os olhos, me encarando.
— Como assim?
— Lucy está conosco desde nova. Papai sempre ajudou pessoas com
baixo recurso, foi quando Lucy veio morar conosco e desde então, trabalha
para mandar dinheiro para a mãe.
— E vocês conversaram com seu pai a respeito disso?
— Não, viemos direto para cá, pensei que seria melhor conversar
com você, já que é meu marido... —Deixo as palavras se perderem e ele
concorda.
— Claro, vocês fizeram o certo, preciso saber exatamente onde sua
mãe está que mandarei um advogado até lá para cuidar de tudo.
— Você vai fazer isso mesmo pela mãe de Lucy? — pergunto
emocionada.
— Sim, não vejo problemas, eu tenho os recursos, posso ajudá-la,
fique tranquila que sua mãe estará com você em breve, entrarei agora mesmo
em contato com meu advogado para ele viajar o quanto antes.
Fico emocionada com suas palavras, me levanto indo em sua direção
e o abraço no impulso. Beijo seus lábios demoradamente e ele retribui, me
apertando contra ele.
— Laureen, não estamos sozinhos — diz apontando para a minha
amiga.
Dou risada entre as lágrimas e me separo dele.
— Tudo bem, senhor Brown — diz minha amiga sem graça.
— Me chame de Gael, como disse antes, se você é amiga da minha
esposa, é minha amiga.
Ela concorda ainda chorando e voltando em sua direção, a abraço.
— Viu, eu disse que daríamos um jeito, vai dar tudo certo, tenha
certeza disso.
Ela assente.
Vejo meu marido fazendo uma ligação para o advogado, conversar
algumas coisas com o mesmo que não entendo e depois pedir algumas
informações para Lucy, que esclarece tudo que sabe. Sinto meu coração mais
calmo com isso, com o pensamento de que tudo irá se encaixar e sorrio para
Gael, que finaliza a ligação se aproximando.
— Falei com meu advogado, passei tudo que Lucy me disse e ele me
garantiu que a situação é fácil de resolver.
— Isso é maravilhoso — digo animada.
Minha amiga me abraça e sorrio.
— E quando tudo será tratado?
— Ele viaja amanhã mesmo para protestar sobre a prisão de Odete,
assim que tiver novidades, me avisará, mas acredito que em dois, no máximo
três dias, você vai ter sua mãe do seu lado, Lucy.
Minha amiga fica ainda mais emocionada e a aperto contra mim.
— Viu como a vida é uma caixinha de surpresa? — brinco. — Temos
que preparar um quarto para ela ficar.
— Pode ser no mesmo andar que o nosso — diz Gael. — Vou pedir
para alguém cuidar disso, é melhor descansarem por enquanto.
Assinto e sorrio agradecida.
— Obrigada por nos ajudar.
— Tudo que estiver ao meu alcance para fazer por você, eu farei,
Laureen.
Sinto meu rosto ficar vermelho com isso e Lucy sai, nos deixando
sozinhos.
— Quando você disse que eu não te conhecia, não esperava que
encontraria um homem bondoso deste jeito, mesmo tendo um humor e tanto
às vezes.
Ele se aproxima e sorri lambendo os lábios.
— Você ainda vai se surpreender muito comigo, Laureen, acredite.
Dúvidas
Fico extasiada ao ver como Gael se prontifica em ajudar Lucy
e rebato suas palavras na minha mente...
“Tudo que estiver ao meu alcance para fazer por você, eu farei,
Laureen.”
Suspiro, andando de um lado para o outro no meu quarto, até que
decido sair e ir atrás dele.
Bato na porta do seu quarto e não sou correspondida, então desço a
escada e resolvo ir para a biblioteca, a fim de esquecer o que minha mente
perturbada me lembra.
Estou apaixonada por Gael...
É realmente possível nos apaixonarmos tão rapidamente por uma
pessoa que nem conhecemos direito?
Penso o quanto a vida é realmente ridícula em alguns aspectos.
Dias atrás, eu sequer queria me casar e agora estou apaixonada pelo
homem o qual meu pai me obrigou a me unir para salvar as nossas vidas.
— E pensar que você disse a ele que não se apaixonaria por este
homem — sussurro.
— Falando sozinha, senhora Brown?
Me viro assustada e vejo Gael usando apenas calça moletom com um
copo de uísque na mão e entre seus dedos um charuto.
— Estava procurando você — digo acanhada.
Por que me sinto assim?
— Bem, encontrou — diz bebendo o líquido âmbar. — Precisa de
algo?
— Podemos conversar?
Preciso criar coragem para falar com ele a respeito do que estou
sentindo e dele ter me chamado de amor durante o nosso sexo...
— Claro.
Gael segue até a cadeira que há na biblioteca e me sento de frente
para ele, respirando fundo.
— Como foi para você o nosso... Sexo? — pergunto envergonhada.
— Por que quer saber? — Ele estreita a sobrancelha e fuma o
charuto, me olhando fixamente.
— Preciso de respostas — digo desviando meu olhar do seu. —
Durante o ato, vo-você me chamou de amor.
— Sim — afirma sabendo do que estou falando.
— Você me ama? — pergunto surpresa com a minha coragem. — Me
desculpe, isso é ridículo, é claro que você não me ama e disse isso apenas
no calor do momento.
Me levanto e sigo para perto das prateleiras, tentando esquecer o que
acaba de acontecer.
— Nos casamos têm poucos dias, Laureen — sussurra atrás de mim.
— Mal nos conhecemos e isso é tudo novo para nós dois.
— Eu sei, me desculpe...
— Mas estou começando a gostar de você sim — diz me
interrompendo e me deixando surpresa. — Não digo que a amo, porque
estaria mentindo, mas sim, estou começando a me apaixonar pela minha
esposa desconhecida.
Fico em silêncio, sentindo vontade de chorar e não sei o motivo.
Gael está mesmo assumindo que está apaixonado por mim?
— É incrível que eu sinto o mesmo, marido desconhecido. — Sorrio
de lado e ele acaricia meu rosto. Noto neste instante que ele não está mais
com o copo e o charuto. — Estou apaixonada por você.
— Me perdoe pela nossa primeira vez... A sua primeira vez... Por ter
sido no meu escritório.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Você não merecia perder a virgindade deste jeito, deveria ser algo
especial, para se lembrar futuramente, isso é, se quiser.
Nós dois rimos e assinto.
— Não foi como imaginei em relação ao local, mas foi ótimo.
— Ótimo, mas prometo dar um jeito de recompensá-la.
Gael se aproxima e beija o alto da minha testa, descendo com seus
lábios pelo meu pescoço e seguindo para minha orelha. Ele a morde e me
arrepio com seu toque suave, pensando em diversas maneiras de termos
prazer esta noite.
De repente, nossos lábios se conectam e passo meus braços em volta
do seu pescoço, ele ergue meu corpo e tranço minhas pernas em volta da sua
cintura.
Gael anda, comigo em seu colo, pela biblioteca e me coloca sobre a
mesa.
— Acho que temos uma tara por mesa — brinca voltando a me
beijar.
Me entrego ao beijo apaixonante, ansiosa em tê-lo em mim.
Como podemos sentir tanta vontade de transar?
— Gael, por favor...
— O quê?
— Eu quero, aqui.
Ele me encara nos separando e estreita as sobrancelhas.
— Acabo de dizer que você merece uma primeira vez decente e você
quer transar na biblioteca? — pergunta em tom de brincadeira.
— O que posso fazer se você me causa tanto prazer?
Ele me encara e sorri de lado.
— Tudo bem, mas vamos fazer isso direito.
Gael me pega no colo novamente e solto um gritinho, sendo guiada
em seus braços para o lado de fora. O vejo passar pelo corredor
tranquilamente me segurando e dou risada do momento descontraído, então
Gael sobe a escada e quando dou conta, estamos parados em frente ao seu
quarto.
— Você realmente quer isso?
— Sim, eu quero.
— Você é uma safadinha, transamos mais cedo e agora quer de novo?
— Sim, a minha primeira vez decente. — Pisco.
Ele ri, revelando seus dentes brancos.
Observo o quanto ele é bonito, claro que já havia notado isso antes,
mas é como se, ao assumir que estamos apaixonados, seu ar angelical ficasse
mais intenso.
Como um homem pode ser tão lindo?
— Então vamos a sua primeira vez de verdade, esposa.
Entramos no quarto e sinto meu coração acelerar ao ver a cama
enorme, onde Gael me coloca. Ele me encara e fico deitada, contemplando-o
tirar sua calça e ficando apenas de cueca boxer. Mordo o canto da boca em
um gesto sensual e me ajeito no colchão, começando a desatar o nó da
camisola, escorregando pelos meus braços e ficando apenas de lingerie.
— Mulher, você é linda — diz me encarando.
— Você também, Gael — sussurro.
— Quero provar de você como mais cedo.
— Fique à vontade.
Ele concorda se posicionando em meio as minhas pernas.
Sinto seus dedos acariciarem minha pele e sorrio.
— Você está feliz com isso?
— Com o quê?
— Nosso casamento.
— Nunca imaginei que me veria casada com um CEO, ainda mais
desconhecido, sempre imaginei vocês sendo uns esnobes insuportáveis, mas
devo admitir que têm suas vantagens. — Ele sorri. — Estou começando a me
sentir feliz sim.
— Eu também — vejo uma tristeza em seus olhos, como se quisesse
me dizer algo. — Você é especial, Laureen, uma mulher como você merece
ser amada de verdade.
— Todos merecemos ser amados, Gael.
— Se você soubesse quem realmente sou...
— Quero conhecê-lo e isso vai acontecer aos poucos — digo
acariciando seu rosto que expressa dor. — Por favor, não interrompa o que
estamos tendo.
— Não irei — sussurra. — Você é maravilhosa, sabia?
Sorrio, agradecida.
Gentilmente Gael tira minha calcinha e deposita um beijo em meu
sexo, me fazendo estremecer de tesão. Começamos a nos beijar enquanto
meu marido acaricia minha pele.
Diferente de mais cedo, nosso sexo é menos intenso, aproveitando a
proximidade, ele baixa as alças do meu sutiã, deixando meus seios expostos,
lambe um dos mamilos enquanto acaricia o outro. Facilmente nossos corpos
se conectam quando ele entra em mim e arranho suas costas. Sinto Gael
movimentar seu quadril ao mesmo tempo que chupa meu seio me fazendo
gemer involuntariamente e sentir uma sensação deliciosa. Agarro seu corpo
com as pernas, envolvendo-as nele e seu pênis entra completamente em mim.
Não sinto dor como mais cedo, o que me causa ainda mais prazer.
Continuamos na mesma posição e os movimentos aceleram, Gael
beija minha boca e afaga meu cabelo. Afastamos nossos lábios para tomar
fôlego e nos encaramos. Ele sorri, ainda me provando, aproxima seu rosto
do meu e o abraço apertado, maravilhada com o momento íntimo que
estamos tendo.
Logo meu marido leva a mão até meu clitóris e continua me olhando,
enquanto os movimentos continuam rápidos. Não demora e eu gozo,
reconhecendo que é isso que está acontecendo, enquanto ele solta um gemido
se desconectando do meu corpo.
Gael se deita ao meu lado e vejo seu peito subir e descer
rapidamente, com a respiração acelerada, então me deito sobre ele e meu
marido beija meu cabelo.
— Dorme comigo esta noite?
O observo e sorrio ao beijar seus lábios.
— Durmo.
Ele volta a me beijar, nos ajeitamos na cama e sou abraçada por
Gael.
Deitados e nus, penso na loucura que estamos fazendo, admirada em
como as coisas mudaram em tão pouco tempo, então caio no sono e sonho
com momentos tranquilos ao lado do meu marido, torcendo para que isso um
dia seja verdade.
***
Gael Brown
Levanto na manhã seguinte um tanto atordoado ao me lembrar do que
houve na noite passada. Laureen e eu transamos na minha cama e dormimos
juntos, mas, além disso, assumi para ela que estou apaixonado e descobri,
por meio da sua confidência, que o sentimento é recíproco.
Tomo um banho em silêncio para não a acordar e assim que finalizo,
me troco e estou pronto para trabalhar. Analiso sua expressão calma; seu
peito subindo e descendo vagarosamente, enquanto suas feições demonstram
tranquilidade. Me repreendo mentalmente por isso, pensando o que papai
acharia se soubesse que estou nutrindo sentimentos pela mulher que é filha
do nosso inimigo e que jurei destruir para vingar a morte de mamãe.
Suspiro e saio sem acordá-la, seguindo direto para o trabalho sem ao
menos tomar meu café.
Fico pensativo o caminho inteiro, analisando a besteira que fiz na
minha vida.
Estou apaixonado pela mulher que jurei destruir e não sei o que fazer.
Devo deixar o amor falar mais alto ou continuar sedento pela minha
vingança?
“Estou apaixonada por você.”
Suas palavras rebatem em minha mente como um sino, como será de
agora em diante em relação ao meu papel nesta vingança?
O que papai faria se descobrisse que falhei com ele?
Tento esquecer isso e suspiro, sabendo que estou ferrado.
***
Laureen Vargas Brown
— Laureen, o jantar já vai ser servido — diz Lucy entrando no meu
quarto.
O dia havia passado rapidamente e quando vi, já era noite.
Não vi Gael sair para trabalhar e sequer nos encontramos, o que me
deixou aflita.
Penso em tudo o que havia acontecido entre nós; Gael assumiu que
está apaixonado por mim e acabamos fazendo sexo novamente, dessa vez
bem diferente da primeira vez, e em consequência, dormimos juntos após a
consumação do ato.
Quando acordei, vi seu lado da cama vazio, deduzi que havia ido
trabalhar e não quis me acordar, o que me incomoda um pouco. Também não
nos falamos durante o dia, o que causa uma confusão em meus pensamentos.
Será que ele havia se arrependido de ter assumido que gosta de mim?
Suspiro e esqueço isso, ficando animada com o fato de que a mãe de
Lucy voltará para ela em poucos dias, se tudo der certo.
— Você é uma boa governanta. — Encaro minha amiga ao sair dos
meus pensamentos e sorrio, vendo-a rir.
— Eu sei, cuido bem das coisas, a única coisa que me incomoda são
estas roupas que tenho que usar.
— Elas não combinam mesmo com você — digo observando a saia,
terno e o cabelo preso em um coque.
— Obrigada por ser tão sincera — diz rindo.
Rio e me levanto da cama, indo até a penteadeira para me analisar no
espelho. Meu cabelo está encaracolado naturalmente, então o prendo em um
coque frouxo e passo um pouco de maquiagem no rosto.
— Está se arrumando para seu marido?
Mostro a língua para ela e nego com a cabeça.
— Não sei, pode ser que sim, não sei do seu paradeiro, depois que
acordei e não o encontrei deitado comigo, fiquei meio confusa em relação a
algumas coisas. — Dou de ombros e suspiro.
Eu havia falado para Lucy sobre Gael e eu termos dormido juntos,
sobre o sexo e a nossa declaração um para o outro, o que causou uma
avalanche de euforia nela.
— Não pense nisso, Gael deve ter ido trabalhar, como disse que
faria, e com certeza não a acordou para não a incomodar. Vocês terem
dormido juntos e exposto seus sentimentos, é um passo e tanto.
Penso sobre o que ela diz e vejo que ela está certa.
— Você está certa, deixarei de paranoia e conversarei com ele
durante o jantar, isso é, se chegar a tempo.
— Boa sorte, senhora Brown — diz piscando.
Agradeço, saindo do quarto e sigo pelo corredor. Caminho até a
escada e descendo devagar, ouço ao longe uma música ser tocada no piano, o
que me faz estreitar os olhos, curiosa com o som.
Sigo o som passando pelo corredor que me leva para a sala de estar.
Entro e vejo meu marido sentado em frente ao piano, tocando tranquilamente.
Fico surpresa com o que vejo, sem acreditar que Gael Brown toca tão bem e
por saber que ele chegara e não me avisou.
“Realmente ele é uma caixinha de surpresas...”
Continuo contemplando o espetáculo e ele me encara sorrindo. Com
um movimento de cabeça, me convida para me aproximar dele e faço isso,
me sentando ao seu lado.
— Sabe tocar? — pergunta ainda passeando com os dedos pelas
teclas.
— Tive aulas quando tinha seis anos, não me lembro muito bem.
— Diga uma canção que sabe para tocarmos juntos.
— E se você não souber?
— Está duvidando dos meus dons? — diz com a sobrancelha
erguida.
— É claro que não. Que tal tocarmos a Sinfonia nº 9 de Beethoven?
Ele me encara intrigado e concorda, começando a tocar os primeiros
acordes da canção.
Fico maravilhada com isso e o acompanho, nos divertindo com este
momento despreocupados.
A música ecoa por todo o ambiente e me animo com isso, feliz por
ainda me lembrar como tocá-la.
Foi por influência de mamãe que entrei na aula de piano, ela dizia
que era algo bom para se aprender e decidi aceitar.
— Você toca muito bem, Laureen — diz Gael quando finalizamos a
música.
— Eu sei, obrigada — digo piscando. —Você também não toca nada
mal.
Ele revira os olhos e suspira.
— Obrigado.
— Não o vi sair hoje para o trabalho — digo o encarando.
— Achei melhor não a acordar, parecia um anjo dormindo.
Sinto o tom de brincadeira em sua voz e dou de ombros.
— Chegou tem muito tempo?
— Na verdade, não, por quê?
— Nada — respondo sabendo que ele não me deve explicações.
“Não é porque vocês se declararam que ele deve dizer cada passo
que dá.”
— Tem certeza?
— Sim. — Assinto e ele concorda.
— Como Lucy está? — pergunta, talvez mudando de assunto.
— Mais tranquila, não conversamos ontem direito, mas obrigada por
ajudá-la, é muito importante para mim.
Ele assente e desvia o olhar do meu.
— Ajudei porque sei o quanto é ruim não ter uma mãe ao seu lado —
diz suspirando. — E como eu disse, se eu posso ajudar, por que não?
— Você é mesmo um cavalheiro — digo sincera. — Faz muitos anos
que Lucy não vê a mãe, não consigo imaginar o quanto deve ser difícil para
ela.
Ele concorda agora tocando suavemente o piano.
— Que bom que seu pai a ajudou, não é mesmo? — questiona com a
testa franzida.
Fico sem entender seu gesto e concordo.
— Sim, foi uma das melhores coisas que aconteceu, desde que a
conheço, tivemos uma conexão muito forte.
— Como seus pais agiram diante disso?
— No início minha mãe não gostou muito da ideia, já meu pai sempre
foi mais tranquilo e reservado. Apenas me dizia para não a confundir como
alguém da família, porque não é, mas sempre a tratei como uma irmã. Com o
passar dos anos, mamãe aceitou nossa amizade e hoje em dia gosta muito de
Lucy.
— E quando foi que seu pai a levou para morar com vocês? —
pergunta com a sobrancelha erguida.
— Pelo o que eu me lembro, papai trouxe Lucy para morar conosco
quando eu tinha seis anos e ela tinha dez.
Gael assente pensativo.
— Então ela tem vinte e quatro anos?
— Sim — digo.
Ele pensa e coça a cabeça.
— Então já faz quatorze anos que ela mora com vocês.
Percebo que não é uma pergunta.
— Sim — afirmo sem entender. — Mas qual o motivo destas
perguntas?
— Nada — responde se levantando. — Vou para o meu quarto, estou
sem fome, nos vemos amanhã?
— Claro — digo sem entender sua atitude.
Gael sai após dar um beijo no meu rosto e desaparece do meu campo
de visão, me deixando completamente confusa com a conversa que tivemos.
Por que este interesse todo em saber sobre o passado de Lucy e por
que ficou tão estranho depois de conversarmos?
Suspiro chateada seguindo para a sala de jantar, sirvo meu prato e
como sozinha, em silêncio.
Parece que quando Gael e eu estamos nos resolvendo, algo se coloca
entre nós e nos atrapalha.
Termino de comer e subo para o quarto, passando pelo corredor e o
ouvindo conversar no telefone com alguém.
— Descubra tudo o mais rápido possível — diz ficando em silêncio
logo em seguida.
Arrisco bater na porta e ele me atende com o olhar aflito e os olhos
vermelhos.
— Laureen, o que quer?
— Está tudo bem? — pergunto preocupada.
— Sim, está, do que você precisa?
— Nada, eu só iria perguntar se podíamos dormir juntos novamente.
Ele me encara e suspira.
— Eu adoraria, mas hoje não estou com cabeça para isso, podemos
fazer isso outro dia?
Fico chateada, mas assinto sem alternativas.
— Claro, até breve.
Sigo em direção ao meu quarto e ele puxa meu braço me encarando.
— Não pense que é algo com você, ok? Só não estou bem hoje.
— Se não está bem, me deixe ficar com você.
— É melhor não, vá se deitar, nos vemos amanhã.
Ele me solta suspirando, dou as costas e entro no meu quarto, ficando
sem entender o motivo de Gael ter mudado de humor tão de repente.
O que será que está acontecendo e com quem ele falava no telefone?
Eu preciso dar um jeito de descobrir.
***
— Qual é o sobrenome de Lucy mesmo? — pergunta Gael enquanto
tomamos café da manhã.
— Connor, Lucy Connor — digo mordendo a torrada. — Alguma
novidade sobre o paradeiro da mãe dela?
— Não, meu advogado já está na Alemanha e verá o que pode ser
feito, peço que a tranquilize, vamos fazer o possível para trazer a mãe de
Lucy para casa.
Assinto feliz com isso.
— Obrigada de coração — digo me lembrando da noite anterior
enquanto ele falava com alguém no telefone. — Posso fazer uma pergunta e
promete que não ficará chateado?
— Faça, mas não posso prometer nada.
— Tem algum interesse em Lucy além de ajudá-la com a mãe? —
pergunto me sentindo uma idiota.
— Você está com ciúme por acaso?
— É claro que não! Você entendeu a pergunta errada... Quero dizer,
você fez isso para ajudá-la ou por que eu pedi?
Gael estreita os olhos e pigarreia.
Observo que ele está pronto para ir trabalhar, usando o paletó escuro
e a gravata alinhada.
— Fiz porque me pediu, já te disse isso — diz demonstrando
sinceridade.
— É que você ficou meio estranho ontem depois da nossa conversa
sobre Lucy e o tempo que ela está conosco...
— Não leve tudo para o pessoal. — Me corta, dando de ombros. —
Apenas fiquei curioso porque faz vinte quatro anos que minha mãe morreu.
— Tudo isso? — questiono surpresa. — Pensei que fosse menos.
— Sim, eu tinha dez anos quando ela faleceu, fui criado apenas pelo
meu pai — responde com os olhos fixos em mim.
— Mas o que Lucy tem a ver com isso tudo?
— Bem, seu pai a levou para morar com vocês quando tinha dez
anos... O décimo ano da morte de mamãe.
Estreito os olhos, sem entender onde é que ele quer chegar.
— Sim — confirmo. — Está insinuando alguma coisa que eu deva
saber?
— Não. — Gael levanta e suspira. — Vou trabalhar agora, nos
vemos mais tarde, quando tiver notícias, entro em contato com você.
Concordo e meu marido sai após dar um beijo no alto da minha
cabeça, me deixando confusa com toda essa história.
***
Gael Brown
Já faz vinte e quatro anos que mamãe está morta, o que me faz
acreditar em como o tempo passa rapidamente. Pensando a respeito de tudo,
reflito sobre algumas coisas do passado, principalmente sobre Lucy Connor
e Laureen Vargas.
Quando Lucy surgiu na família Vargas, ela tinha apenas dez anos, e
Laureen seis, o que me deixa com uma pulga atrás da orelha.
Por que Jorge demonstrou tanto interesse em ajudar esta garota e
colocá-la dentro da sua casa para transformá-la em sua empregada anos mais
tarde?
Penso a respeito de quando mamãe morreu, Lucy poderia ter acabado
de nascer e Laureen sequer era nascida, o que faz tudo ficar ainda mais
confuso.
“Por que estou pensado essas coisas?”
Suspiro, confuso e ando de um lado para o outro no meu escritório
até a porta ser aberta e eu ver papai entrar com o sorriso cínico no rosto.
— Pai — digo com um gesto de cabeça.
— O que quer, meu filho? No telefone parecia sério.
— Vamos beber, a conversa será longa — digo seguindo até o bar e
preparando duas doses de uísque.
Entrego um dos copos para ele, papai se senta e eu o acompanho me
sentando ao seu lado.
— Diga.
— Quero conversar com o senhor sobre Lucy Connor e Jorge Vargas.
— Começo a falar e o vejo estreitando as sobrancelhas.
— O que tem Jorge e sua empregada, são amantes? Não duvidaria.
— Não acho que seja isso, papai — digo com a voz embargada.
— Então me diga logo o que quer.
— Laureen me procurou pedindo ajuda para resgatar a mãe de Lucy,
que está ilegalmente na Alemanha e acabou sendo detida. Mandei um
advogado até o local para averiguar a situação, mas algo me deixou confuso.
— E o que foi?
— Laureen me contou que elas se conheceram quando Lucy tinha dez
anos, dizendo que foi quando a melhor amiga foi morar com eles. Parece que
Jorge a levou para a casa dos Vargas e depois que a jovem pegou uma boa
idade, a colocou para trabalhar na mansão, talvez como pagamento por tê-la
ajudado desde pequena.
— É típico de Jorge fazer uma coisa dessas, ele é um canalha
mesmo, não duvido...
— O senhor não está entendendo onde quero chegar — digo nervoso.
— Então me diga.
— Você me disse que o corpo de mamãe foi identificado no carro
incendiado apenas por causa dos destroços das joias e vestes, certo?
— Sim, joias valiosíssimas que dei a ela quando nos casamos.
— O senhor acha que seria possível o que estou pensando?
— Depende do que esteja pensando, meu filho, você sabe que Jorge
e Malorie tiveram um caso, eu já te contei isso... Sabemos que sua mãe foi
influenciada por ele para nos trair e acabar transando com aquele porco.
Agora me diga, o que isso tudo tem a ver com Lucy?
Suspiro negando com a cabeça.
— Acho que nada, só estou ficando maluco com toda esta história,
precisamos criar algum plano logo para acabar com Jorge, antes que eu... —
Deixo as palavras se perderem no ar e meu pai franze a testa.
— Antes que você o quê?
— Nada, papai, esqueça.
— Antes que você se apaixone por aquela vagabundinha? — diz se
levantando e jogando o copo longe. — Eu disse para você que poderia fodê-
la, mas se apaixonar está fora de cogitação!
— Não estou apaixonado por Laureen. — Minto encarando-o
atentamente.
— Não minta para mim, seu imprestável!
Ele se aproxima e desfere um tapa no meu rosto, com a ardência
tomando conta rapidamente.
— Você é igualzinho a sua mãe, se deixa ser influenciado pelos
Vargas sem poupar esforços. Quero que acabe com sua esposa o mais rápido
possível, me entendeu? Se não fizer isso, saberei de que lado está.
Vejo-o seguir até a porta e vou até ele.
— Antes que o senhor vá, me diga, você tem acesso as transações da
empresa do pai de Laureen?
— Sim, depois que me tornei dono das ações, tive acesso a tudo, por
quê?
— Só quero averiguar algumas coisas em relação as transações
bancárias, entre outros — digo com a voz embargada e o rosto doendo.
— Faça o que quiser, desde que isso os destrua.
Papai se afasta e o vejo desaparecer do meu campo de visão, me
deixando sozinho em meu escritório completamente atordoado com toda essa
história e me sentindo um verdadeiro maluco.
Meu pai está certo...
Estou mesmo apaixonado por Laureen e isso não é nada bom.
Estou fodido!
***
Me recomponho e peço para um dos meus funcionários me trazer
todos os relatórios das últimas transações de Jorge Vargas sem que ele saiba.
Analiso cada uma, vendo o motivo dele ter falido tão rapidamente, diversas
vezes gastou dinheiro com prostitutas, com drogas, casas luxuosas, carros,
bebidas e cigarros, o que me deixa espantado em saber como uma pessoa
consegue fazer isso.
Noto também que mensalmente ele faz uma transação para uma conta
bancária de uma mulher, talvez ela seja sua amante e peço para que meus
empregados cuidem de descobrir tudo sobre essas transações, enquanto eu
fico cada segundo mais paranoico.
Meu advogado me ligou e me disse que está tudo certo para que a
mãe de Lucy possa voltar para o país, pelo que me disse ao telefone, a
situação dela é pior do que imaginávamos, mas nada que voltar ao seu país
de origem não faça se reverter, outra coisa que me causa uma confusão na
mente...
Como uma mulher conseguiu se manter tantos anos ilegalmente em um
país?
Claro que isso é possível, existem casos de pessoas em países
ilegalmente que vivem tranquilamente.
Seria este o caso da mãe de Lucy?
Se a mãe de Lucy morava aqui, por que foi embora para um país
ilegalmente e depois mandou sua filha de volta com um desconhecido?
Isso é se realmente fosse desconhecido para ela.
— Senhor...
Sou tirado dos meus pensamentos quando Guillén, um dos meus
funcionários, entra na sala e me entrega alguns papéis.
— Descobri o que me pediu.
— Ótimo, excelente trabalho, você nunca me decepciona.
Ele sorri concordando, sai e fecha a porta.
Olho os papéis atentamente e vejo o que eu já suspeitava, todas as
transações, em valores altíssimos, foram para Odete Connor...
Mãe de Lucy.
— Filho da puta! — sussurro dando um soco na mesa e ficando cada
vez mais confuso com toda essa história.
Se a mãe de Lucy recebeu todos esses valores, por que simplesmente
não voltou sozinha para o país?
E por que deixar sua filha trabalhando como empregada para ajudá-
la, se recebe dinheiro de Jorge?
Por que ele manda dinheiro para a mãe de Lucy?
Fico mais confuso ainda e vou até o bar, bebo uma, duas, três doses
de uísque, sentindo meu corpo ficar cada vez mais entorpecido e continuo
pensando em Odete Connor e Jorge Vargas.
Se existe algo entre os dois, eu preciso descobrir...
Quem sabe essa não é uma boa maneira para destruí-lo?
Um encontro inusitado
Não encontro Gael para tomar café da manhã no dia seguinte, o
que me deixa preocupada e ansiosa. Vou até seu quarto e bato na porta,
porém, ninguém me responde. Giro a maçaneta e vejo que está aberta, com a
cama arrumada e nenhum indício de que ele tenha passado por aqui na noite
passada.
Depois que ele foi trabalhar, não voltamos a nos ver e sequer nos
falar, me causando preocupação.
Suspiro nervosa pegando meu celular, ligo para ele, que não atende
de jeito nenhum. Penso em diversas coisas tenebrosas...
E se ele tivesse sofrido um acidente e morrido?
Com certeza os jornais já estariam dando a notícia e eu, como a
esposa, saberia de imediato.
E se ele tivesse sido sequestrado?
Bem, os sequestradores já teriam entrado em contato para pedir
dinheiro.
E se ele estiver com outra mulher?
O pensamento de que Gael possa estar na cama com outra me invade
a mente e fico pensativa, sabendo que não deveria me importar com isso,
afinal de contas, ele havia se declarado para mim, certo?
Afasto o pensamento, vendo o quanto realmente é ridículo e suspiro
tristonha, voltando para o meu quarto, onde Lucy está sentada, quieta.
— O que foi, amiga? — pergunto me aproximando dela.
— Só estou nervosa — diz suspirando. — Se tudo der certo, mamãe,
estará comigo amanhã, mas eu sequer me lembro como ela é...
— Deve ser bem difícil essa situação — digo apertando sua mão.
— Sim, mas se o senhor Vargas não tivesse me ajudado, me pego e
criado, poderia ser muito pior.
Concordo sabendo que ela está certa.
— Já parou para pensar o quanto isso é estranho?
— O quê?
— Meu pai tê-la pegado e ajudado.
Lucy assente concordando.
— Já pensei algumas vezes também que é realmente estranho, mas se
não fosse a ajuda dele, eu poderia estar morta.
— Não pense nisso, você disse certo, poderia, mas não está. — A
abraço sorrindo. — Em breve sua mãe estará aqui com você, matando toda a
saudade que sentem uma da outra.
Minha amiga assente e somos surpreendidas quando Gael entra no
meu quarto com a mesma roupa do dia anterior, com o cabelo bagunçado e a
gravata torta.
O encaro e vejo pelo seu olhar que ele está embriagado.
— Se arrumem — ordena apontando o dedo para nós. — Vamos para
a Alemanha em uma hora.
— O quê? — pergunto surpresa.
— É sério? — questiona Lucy alegre.
— Façam o que mandei... De preferência, coloquem roupas quentes,
o tempo lá está frio.
Lucy pula de alegria e Gael sai do quarto seguindo em direção ao
seu.
— Veja uma de minhas roupas — digo a minha amiga e saio do local
seguindo meu marido. — Onde você esteve? Não veio a noite passada para
casa.
— Podemos conversar outra hora? Minha cabeça está doendo.
— Acho que esta é a hora apropriada — digo cruzando os braços.
— Que seja — diz suspirando e arrancando a roupa.
Vejo-o apenas de cueca.
Ele segue para o banheiro eu o sigo.
— Você poderia ter me ligado, sabia? — disparo irritada. — Passei
a noite pensando que aconteceu algo com você, e você estava bebendo?
— Me perdoe, não estou acostumado com isso. — Aponta para mim
e estreito os olhos.
— Isso o quê?
— Ser casado, ter que dar satisfações.
— Então é bom que se acostume — respondo nervosa. — E se
acontecesse algo com você, o que eu faria?
— Então você assume que se me perdesse, ficaria mal com isso? —
Um sorriso de lado se forma em seu rosto e reviro os olhos.
— Não é hora para brincadeiras, estou falando sério.
— E eu também. — Ele se aproxima e acaricia meu rosto suspirando.
— Desculpe, tá legal? Passei a noite no escritório e acabei bebendo além da
conta, nada além disso.
— Você tem certeza?
— Você acha que estou mentindo?
Dou de ombros e me encolho.
— Só senti medo, prometa que não irá se repetir.
— Eu prometo. — Dá um beijo na minha bochecha e sorri. — O que
você fez comigo, Laureen?
— Como assim?
— Nada, mulher, só vamos resolver isso logo e acabar com toda essa
história.
— Do que você está falando? — pergunto sem entender uma única
palavra do que diz.
— Não importa, você deveria se arrumar logo, vamos viajar em uma
hora.
— Antes me diga se está tudo bem entre nós. — Seguro seu braço e
ele se vira para mim, sorrindo feito bobo.
Gael se solta e ainda parado a minha frente, puxa a cueca para baixo
e fica nu, lambendo os lábios.
— Está sim, Lau, não é porque dormi fora, que as coisas mudariam.
— Tem certeza disso? — questiono me rendendo ao seu charme.
— Sim, eu tenho... Você me deixa doido, sabia?
Sua voz está mole, o que me faz revirar os olhos.
— Vou ajudá-lo a tomar banho e depois que estiver sóbrio,
conversamos.
— Você vai me dar banho é? Quer pegar no meu pau e está usando
essa desculpa? — Cai na gargalhada e acerto um tapa no seu braço. — Isso
doeu!
— Era para doer mesmo! — digo irritada. — Vamos, você precisa
estar sóbrio para quando formos encontrar a mãe de Lucy, ela poder
conhecer o homem que a ajudou.
— O homem que a ajudou. — Repete despreocupado. — Isso é
ridículo, você sabia? Seu pai é ridículo.
— Por que está dizendo essas coisas?
— Não sei, é isso que quero descobrir.
Fico surpresa ao ouvi-lo.
Gael abre a ducha, entrando embaixo e molhando seu corpo.
Fico o admirando enquanto ensaboa o corpo e esfrega seus músculos,
me deixando com água na boca.
— Pensei que você iria me ajudar a tomar banho, não ficar me
olhando como se quisesse me devorar, aliás, como se quisesse que eu a
devore. — Sorri e passa a língua no lábio inferior.
— Vejo que já está bem, sendo assim, vou me trocar, mas não pense
que depois não iremos conversar, pois quero entender tudo que disse.
Gael me encara e pega no seu pau me provocando.
— Não quer brincar antes de ir?
— Acho melhor não, isso será como um castigo por ter passado a
noite fora e me deixar sem nenhuma notícia.
Saio do banheiro, seguindo para a saída do quarto indo em direção
ao meu, com um sorrisinho travesso no rosto por deixá-lo na mão.
***
Coloco uma calça jeans, botas grossas, blusa de mangas compridas e
um casaco grosso por cima. Lucy se veste parecida comigo, usando uma das
minhas roupas.
— Como estou? — pergunta dando uma volta.
— Linda, amiga! Sua mãe vai adorar revê-la.
— Eu não vejo a hora disso acontecer — diz ansiosa.
Uma batida na porta cessa nossa conversa e vou até ela, abrindo e
dando de cara com meu marido.
— Sim? — questiono ainda chateada por ele ter dormido fora,
vendo-o usar calça jeans, botas e casaco.
— Estão prontas? — pergunta agora mais sóbrio.
Lucy eufórica para rever a mãe nem havia percebido que meu marido
estava bêbado e o quanto fiquei chateada após voltar do seu quarto.
— Estamos sim — digo forçando um sorriso.
Ele me observa e assente.
— Você está linda.
— Obrigada — digo de maneira ríspida para que perceba o quanto
estou chateada.
— Desculpa — sussurra sem que Lucy possa ouvir.
— Vou pensar a respeito disso.
Ficamos em silêncio e depois de um longo minuto, Gael pigarreia.
— Vamos para o carro, seguiremos até o hangar para embarcarmos e
seguiremos direto para a Alemanha. A viagem será longa, cerca de dezesseis
horas.
— Tudo isso? — pergunto surpresa.
— Sim, vamos em um voo direto, então não há com o que se
preocupar.
— O senhor pode me dizer como minha mãe está?
—Aparentemente ela está bem e só esperando a deportação, como
iremos buscá-la, meu advogado insistiu para que esperassem um pouco mais.
Lucy concorda e vibra de felicidade, arrancando um sorriso de Gael
e de mim.
— Obrigada — sussurro para ele.
— Por você, esposa — diz piscando.
***
O caminho é silencioso, com Lucy e eu sentadas no banco traseiro e
Gael na frente com o motorista. Assim que chegamos no hangar, saímos do
veículo e seguimos direto para o avião. Como não temos bagagem, é mais
rápido e logo estamos longe do solo.
Lucy está nervosa, consigo notar pelo seu olhar e por suas mãos, que
suam e não para de torcer uma na outra.
— Está tudo bem. — Seguro suas mãos e as aperto devagar. — Fique
calma.
— Estou nervosa — balbucia. — Faz tantos anos que não vejo minha
mãe, sequer lembro como ela é.
— Eu sei, mas vai dar tudo certo e logo esquecerão toda essa
saudade, você vai ver.
Ela assente e suspira sorrindo.
— Gael e você estão sendo maravilhosos para mim, obrigada por me
ajudarem.
— Não se preocupe com isso agora, sabe que eu farei qualquer coisa
por você, não sabe?
— Sim. — Ela sorri e seus olhos brilham. — Eu te amo.
— Eu também te amo.
Vejo Gael nos observar e a aeromoça se aproxima de nós.
— Vocês querem beber alguma coisa?
— Apenas uma água — digo sorrindo.
Ela concorda e se vira para a minha amiga, que pede o mesmo.
Apenas meu marido pede uísque.
— Assim você não terá fígado daqui uns dias. — Provoco.
— Não me importo — diz dando de ombros.
— Deveria se importar.
— Tenho motivos para isso?
— Não tem? — questiono o provocando cada vez mais.
Gael revira os olhos e ri.
— Tudo bem, quero uma água — diz para a mulher que está parada
nos olhando.
Ela assente e se afasta logo em seguida.
— É fácil te convencer das coisas — digo mordendo o lábio de
forma provocativa.
— Você pensa que é fácil e eu gosto de ver você achar que tem este
poder, mas não me subestime.
— Então te digo o mesmo. — Me aproximo dele, Lucy nos olha sem
graça e sorrio. — Não subestime uma mulher.
***
Gael Brown
A viagem é tranquila, no entanto, me sinto nervoso para descobrir
quem é a mulher que Jorge Vargas vem mandando tanto dinheiro e o motivo
dela não ter voltado para o país de origem sozinha.
Lucy está agitada, dá para ver em seu olhar que está cada vez mais
animada para reencontrar a mãe que não vê há anos. Penso sobre a situação,
sentindo um pouco de inveja pelo momento que está para acontecer.
Eu daria tudo para rever minha mãe ao menos mais uma vez na vida e
abraçá-la apertado, entretanto, isso é impossível porque Jorge a matou
cruelmente.
Quando papai me disse sobre a morte de mamãe, eu tinha apenas dez
anos e me lembro como se fosse hoje, ele entrando no meu quarto, se
sentando ao meu lado e dizendo, “Sua mãe está morta, eu sinto muito.”
Papai nunca foi um homem muito carinhoso e não ter minha mãe ao
meu lado para fazer este papel, me tornou o homem que sou hoje.
Não que eu não seja capaz de amar ou até mesmo me apaixonar,
porém, isso nunca foi prioridade.
“E agora você está apaixonado pela filha do seu inimigo...”
Suspiro e me levanto, vendo Laureen me encarar.
— Vou me deitar um pouco, você vem comigo?
Vejo seu olhar seguir para Lucy, que sorri sem jeito e minha esposa
assente.
— Claro. — Confirma se apoiando em minha mão estendida e me
acompanha.
Seguimos até a porta do quarto e assim que entramos, a fecho,
encarando minha esposa, que analisa o ambiente cuidadosamente.
— É aconchegante — diz sentando na cama de casal.
— Que bom que acha isso.
— Por acaso você me chamou aqui só para me deitar com você ou...
— O que você quiser, esposa, mas duvido que queira fazer alguma
coisa, sabendo que sua melhor amiga está do lado de fora.
— Você está certo, estou ansiosa por ela.
Laureen levanta e se aproxima de mim, acariciando meu rosto. Deixo
o gesto seguir, percebendo o quanto seu toque me fascina.
“Merda! Como deixei isso acontecer? Como lutar com o
sentimento que invade meu coração?”
— Me desculpe por ter dormido fora de casa, estou sendo sincero,
não vai se repetir.
Ela morde o lábio de forma provocativa e assente.
— Fiquei preocupada, pensei que tivesse acontecido alguma coisa...
Acaricio seu cabelo e sorrio.
— Não se preocupe tanto, não vai acontecer nada comigo.
Ela assente e se aproxima, encostando sua testa na minha.
Solto um suspiro, pensando o quanto estou indo contra todas as
minhas regras e sem me importar, a beijo, sentindo nossas línguas se
entrelaçarem. Laureen passa seus braços em volta do meu pescoço e seguro
sua cintura, desejando mais que tudo tê-la por completo para mim.
Como as coisas podem mudar tão rapidamente?
Em poucos dias nossas vidas mudaram da água para o vinho, da
infância para a fase adulta, do ódio para o amor, da sede de vingança, para a
sede de ser amado...
E isso, de alguma maneira, me quebra por completo.
***
Laureen e eu ficamos deitados durante a viagem.
Somos servidos com um jantar especial, depois de comermos um
pouco, voltamos a nos deitar e fico afagando seu cabelo.
Analiso cada traço dela e vejo o quanto esta mulher é linda, não que
eu não houvesse reparado antes, mas agora é como se sua beleza estivesse
ainda mais evidente. Tenho certeza de que isso tem a ver com a paixão que
sinto por ela.
Ainda acho tudo muito estranho e pouco conheço a mulher que está
deitada ao meu lado, mas apesar de desejar me vingar do seu pai e que ele
pague pelo que nos fez, não consigo cogitar a ideia de machucá-la.
— Estava pensando em uma coisa.
— O quê? — pergunta me olhando.
— As joias que te dei quando fomos para a lua de mel, você não as
usou ainda.
— Assim como você também não me fez ser sua taça — murmura
dando de ombros.
— Você era virgem, não tinha como fazer isso antes — digo sorrindo.
— Mas agora que não é mais, podemos fazer isso...
Ela me encara sorrindo com seu rosto ficando vermelho.
— Confesso que estou curiosa, mas é um fetiche muito estranho.
— Se você não se sentir à vontade, não faremos — afirmo.
Ela sorri e estreita os olhos.
— Bem, quem sabe algum dia, ainda estou com raiva de você.
— Está é? — Cerro meus olhos e passo a língua nos lábios. — Tudo
bem então, mas...
— O quê?
A encaro e com um sorriso no rosto, subindo sobre o corpo de
Laureen, que fica sem entender.
— Já que ainda está com raiva de mim, farei você não ficar.
— Como?
— Assim...
Começo a fazer cócegas pelo seu corpo e minha esposa cai na
gargalha, tentando se esquivar de mim. Ainda por cima dela, a provoco com
meus toques, passando as mãos pelos seus seios e seguindo pela sua barriga,
mantendo as cócegas.
— Gael, isso faz cócegas! — diz rindo enquanto ainda a provoco.
— Se renda as minhas desculpas e eu paro — digo em tom de
brincadeira.
— Não. — Provoca.
— Tudo bem então... — Continuo a provocando e Laureen ri, com
lágrimas escorrendo pelos cantos dos seus olhos.
O momento divertido me faz cair na gargalhada e ainda por cima
dela, rio sem parar.
— Ok, ok, você venceu! — diz se dando por vencida. — Eu me
rendo.
Paro de provocá-la sorrindo, me aproximo mais dela e beijo seus
lábios.
— Viu como é fácil também te convencer.
Minha esposa sorri e revira os olhos.
— Você se acha um garanhão!
***
Horas mais tarde, quando já estamos prestes a chegar no nosso
destino, Laureen e eu voltamos para o nosso lugar e vejo o sorriso divertido
de Lucy para a minha esposa.
Sorrio e nos sentamos, com a aeromoça se aproximando de nós.
— Já estamos quase chegando, senhor Brown — diz sorrindo.
— Obrigado, pousaremos em quanto tempo?
— Em dez minutos.
Concordo e me viro para as duas mulheres.
— Segurem-se com firmeza.
Elas concordam e respiro fundo, contando até três.
E se a mulher fosse amante de Jorge e por esse motivo ele envia
dinheiro para ela?
Lucy pode até mesmo ser sua filha, o que faria sentido, já que ele a
trouxe quando pequena para morar com sua família.
Por que não sai dos meus pensamentos que tem alguma coisa errada
nessa história toda, como se eu estivesse prestes a descobrir algo
completamente obscuro?
Minhas mãos gelam e meu coração acelera quando finalmente
estamos em solo alemão. Me sinto completamente extasiado quando a porta
do avião abre e desço a pequena escada com as duas mulheres logo atrás de
mim.
— Onde ela está? — questiona Laureen olhando em volta do local.
— Está vindo já, não se preocupe, está tudo sob controle.
— Este hangar é seu? — questiona minha esposa olhando o galpão.
— Não, tenho um sócio muito querido aqui na Alemanha, se chama
Pietro Davies, um homem viúvo e bastante gentil.
Ela assente e estreito os olhos.
— O que foi? — questiona percebendo meu olhar.
— Ficou interessada em conhecer Pietro por acaso?
— O quê? Claro que não, não seja bobo.
Laureen cruza os braços e suspira, colocando uma mecha do cabelo
para trás da orelha.
— Se você está dizendo... — Provoco.
Ela mostra a língua para mim de maneira divertida.
De repente, congelo ao ouvir Lucy cantarolar uma canção de ninar
que me remete ao passado...
— Lucy, poderia cantar esta canção em voz alta? — pergunto
engolindo em seco.
Estou ficando louco, tenho quase certeza disso.
— Que canção?
— A que estava cantando agora baixinho.
— Ah, senhor Brown, é bobagem, é só uma música que mamãe
cantava para eu dormir quando era criança.
“Estou realmente ficando maluco?”
— Cante por favor, eu insisto.
Laureen e Lucy me encaram sem entender e ela começa a cantar:
“Quando a noite vem.
O sono se junta a nós.
O medo se esvai.
E os sonhos transbordam.
Durma, minha criança.
Durma.
Os anjos cuidarão de você.
Até o amanhecer.
Durma, criança, durma.
Os anjos estão com você.”
Sinto as lágrimas cobrirem meus olhos e soluço, desacreditado com
o que ouço.
“Não pode ser! O que está acontecendo?”
— Gael? — Vejo Laureen se aproximar e tocar meu braço, me
causando conforto. — Você está bem?
— Senhor Brown? — Ouço a voz de Lucy.
Continuo em choque, surpreso com a coincidência da canção de ninar
que mamãe cantava para mim.
Como pode ser tão igual se quem inventou havia sido mamãe e eu?
— Lucy, quem é sua mãe? — pergunto temeroso.
Vejo o sorriso dela se alargar e apontar para trás de mim, agora com
lágrimas nos olhos.
— Mamãe! — diz chorando.
Me viro como se estivesse em câmera lenta e a vejo.
Ela parece um anjo....
É ela!
Não estou ficando louco!
— Mãe — sussurro sem acreditar.
Minha esposa me encara incrédula com o que ouve.
A vejo se aproximar, Lucy corre ao seu encontro e abraça mamãe
apertado, que me encara por cima do seu ombro. Logo depois, elas se
aproximam e ouço sua voz, percebendo que nada havia mudado desde a
última vez que nos vimos.
— Oi, Gael — murmura com um sorriso no rosto.
Momento divertido
Gael Brown
Me lembro de quando era criança e mamãe e eu ficávamos
deitados no meu quarto. Ela lia para mim e após a leitura, ficávamos
debatendo sobre o livro.
Graças a ela, criei o hábito de ler, o prazer de cozinhar e tocar piano.
Em uma de nossas eternas noites de risadas e chocolate quente,
criamos uma canção de ninar, mesmo eu alegando que era grande o suficiente
para isso.
— Pode passar mil anos, você sempre será meu garotinho.
No dia que soubemos da sua morte, meu mundo acabou. Era como se
o chão deixasse de ser sólido e eu me enfiasse em um buraco obscuro, sem
chances de sair. Papai me transformou e o garoto doce e aventureiro que
mamãe tinha gosto de chamar de filho, foi crescendo, entrou em aulas de luta,
ganhou um cargo na empresa sem nem saber direito o que deveria fazer e no
lugar do coração, surgiu uma pedra.
Com o passar dos anos, soube sobre Jorge e papai me disse que tinha
certeza de que ele era o verdadeiro culpado na morte da mamãe. Sem
ninguém além dele ao meu lado, acreditei no que ele me disse e jurei que iria
me vingar.
Mas e agora, diante da verdade que não sei qual é, o que devo fazer?
Estou surpreso.
É exatamente assim que eu estou me sentindo ao olhar para a mulher
que achei estar morta.
Feliz?
É claro, que sim, mas será que realmente isso é real?
É como se eu estivesse sonhando, até mesmo parece que desmaiei e
me encontro em um sonho bom. Muito bom, porém, quando sinto a mão de
Laureen apertar a minha e percebo a confusão em seu rosto, vejo que é real.
Mamãe está aqui mesmo.
Depois de vinte e quatro anos jurando que ela estava morta, mamãe
está parada diante de mim.
— O que está acontecendo? — pergunta Lucy ao lado da mãe.
Sua voz me traz para a realidade e tudo se conecta rapidamente; Lucy
é filha de mamãe...
Sendo assim, ela é minha irmã.
Mamãe continua do mesmo jeito que me lembro; cabelo castanho e
comprido, pele clara, maquiada e vestes boas. Não parece uma mulher que
supostamente estava presa por estar em um país ilegalmente.
— Quem é você? — pergunta Laureen tão confusa quanto eu.
— Lau, é mamãe — diz sua amiga animada. — Quase não a
reconheci, mas é ela mesma.
— Mas o Gael...
— Oi, Laureen, é bom finalmente conhecê-la.
Ouço a voz da mamãe.
Ela está mesmo aqui?
— Você não está morta — consigo dizer secando as lágrimas.
— Não, mas teremos tempo para conversar — murmura ainda
abraçada a filha que está tão confusa quanto eu.
— Mãe, o que está acontecendo? Como a senhora conhece o senhor
Brown? Laureen é aceitável, sempre falei dela para você, estou cada vez
mais confusa.
— Ela é minha mãe — digo surpreso por falar isso em voz alta. —
Você a conhece como Odete Connor, eu a conheço como Malorie Brown.
Lucy olha para mim e em seguida para a mulher ao seu lado, caindo
na gargalhada.
— Senhor Brown, realmente obrigada por ter nos ajudado, mas não
estou entendendo aonde quer chegar com esta brincadeira.
— Não é brincadeira, filha — diz Malorie forçando um sorriso.
Vejo o espanto no olhar de Lucy e minha esposa fica em silêncio, sem
acreditar no que está ouvindo.
— Não parece que estava sendo deportada — digo a encarando. —
Aliás, parece muito bem para uma mulher que morreu há vinte e quatro anos.
Ela abaixa a cabeça e suspira.
— Não estava sendo deportada, vi nos noticiários seu casamento e
Jorge me deixou por dentro do assunto, então inventei essa história sabendo
que Lucy pediria ajuda a Laureen e consequentemente a você. Seu advogado
me ajudou, eu pedi para que não contasse nada a você, porque queria fazer
uma surpresa.
Jorge...
Então de fato ela tem contato com ele.
Aquele filho da puta sempre soube que mamãe está viva!
— Então não passou de um plano — afirmo o óbvio. — Me diga,
Jorge tem tudo a ver com isso? Descobri sobre as transações bancárias. Você
planejou isso tão bem que falsificou seus documentos, realmente estava aqui
ilegalmente?
— Filho, sei que tem muitas perguntas, mas irei respondê-las no
tempo certo...
— Diga! — vocifero a cortando.
— Não estava aqui ilegalmente, como disse, usei isso porque sabia
que Lucy pediria ajuda a Laureen e você.
— O que meu pai tem a ver com isso tudo? — pergunta minha esposa
assustada com toda essa situação.
— Isso é algo que ele deve falar a você, querida, não eu.
— Os dois têm muito o que falar — respondo andando de um lado
para o outro, completamente aflito. — Me diga, quem você realmente é hoje
em dia?
— Sou Odete Connor para alguns, e Malorie Brown para outros,
mudei meu nome e me tornei outra mulher. Lucy Connor é minha filha e sua
irmã.
Fico perplexo com isso, mesmo sabendo o óbvio.
— Você mentiu para mim todos esses anos? — pergunta a filha
inocentemente.
— Sinto muito, querida, mas foi necessário para o seu bem... Para o
nosso. Se eu não tivesse mentido, poderíamos estar mortas agora.
— Mortas? Por quem?
— Eduardo Brown, o seu pai — diz de maneira simples. — Filho,
sei que está confuso, os três estão, e prometo que saberão de toda a verdade,
mas até isso acontecer, posso te dar um abraço?
Um abraço?
Quero rir, pensando no quanto a vida é uma filha da puta que gosta de
pregar peças em nós. Minutos atrás eu estava com inveja de Lucy, desejando
um abraço de mamãe e agora ela está aqui, na minha frente, me oferecendo
justamente isso.
— Mãe — sussurro.
Me aproximo dela, apertando-a contra meu corpo de maneira brusca,
é como se toda a raiva se dissipasse neste momento, arrancando de mim o
homem que meu pai me tornou e voltando a ser apenas o garoto que mamãe
amava. Ela solta um gritinho e ri, comigo a rodopiando no ar.
— Você está aqui mesmo?
— Estou, meu filho, estou — diz sorrindo.
Volto a abraçá-la e choro descontrolado, pensando em tudo que havia
passado nos últimos vinte e quatro anos, me lembrando das diversas noites
que tive pesadelos ao me recordar dela.
Penso na vingança que planejava para Jorge Vargas e na maneira que
calculei quebrar Laureen, minha esposa. Me separo dela e mamãe com um
enorme sorriso em seu rosto, coloca suas mãos no meu rosto.
— Você está lindo, se tornou um grande homem.
— A senhora também está, mamãe — digo limpando os olhos.
Nos afastamos e puxo Laureen para perto de mim.
— Como sabe, esta é a minha esposa.
— Olá, senhora Bro... Connor — diz sem graça, estendendo a mão.
— Deixa de bobagem, me chame de Malorie ou de Odete, como
preferir — diz a puxando para perto e abraçando.
Levo meu olhar até Lucy, que continua parada, sem acreditar no que
está acontecendo.
— Lucy.
Ela me olha e começa a chorar.
Eu me aproximo e a aperto contra o meu corpo. Lucy Connor, a
melhor amiga da minha esposa, é minha irmã.
— Me desculpe, eu não sabia de nada, eu juro — diz entre soluços.
— Não tem por que se desculpar — digo afagando seu cabelo. — E
caso queira saber, sempre quis uma irmã.
Ela sorri e mamãe se aproxima de nós, nos abraçando apertado.
Ficamos os três nesse abraço, com minha esposa apenas contemplando a
loucura que vivenciamos e sorri, feliz pela amiga e por mim.
— Eu senti tanta saudade de vocês dois, não imaginam o quanto me
doeu deixá-los todos esses anos sozinhos. — Ela suspira e enxuga as
lágrimas, com Lucy e eu fazendo o mesmo. — Sei que estão confusos, mas
não podemos perder tempo e devemos voltar logo, afinal, temos muitas
coisas para esclarecer.
Concordo segurando sua mão e sorrio.
— Então vamos para casa porque temos muito para conversar.
***
Ainda confuso com tudo que está acontecendo, nós quatro seguimos
para dentro do avião e Laureen decide repousar, alegando que eu preciso de
um tempo sozinho com minha mãe e minha mais nova irmã. Nos ajeitamos
em nossas poltronas e as encaro, percebendo o quanto são semelhantes.
Como não pude perceber isso antes?
É notável que Lucy tem o cabelo de mamãe, o olhar e até mesmo o
sorriso, o que me deixa completamente confuso em relação a uma coisa.
Ela seria filha de papai?
— Filho, está tudo bem? — Ela me encara e assinto.
Inclino meu corpo para frente e seguro sua mão, faço o mesmo gesto
com Lucy, que ainda está receosa com toda a revelação. Ela a pega e aperta
gentilmente.
— Só estou feliz por podermos estar juntos neste momento — digo
sorrindo e uma lágrima escorre pelo meu rosto.
A melhor coisa disso tudo é que, com mamãe viva, a vingança
planejada, poderia ser descartada, porém, ainda havia muita coisa a ser
resolvida, principalmente em relação a Jorge Vargas e o que de fato
aconteceu vinte e quatro anos atrás.
— Fiquei longe de você por todos esses anos, mas sei que estão
pensando sobre o que pode ter acontecido.
— Você me conhece tão bem — digo rindo.
— Confesso que também estou curiosa, mãe. Por que todos esses
anos a senhora ficou desaparecida e não me falou a verdade? — diz minha
irmã, que parece estar bastante magoada.
— Se você soubesse, iria acabar contando para Laureen, querida.
Sinto muito por ter mentido para você, não me orgulho disso, mas foi
necessário.
— Mas necessário por quê?
— Como eu disse antes, vocês saberão de tudo, mas no momento
certo. E sobre o dinheiro que você me enviou todos esses anos, Lucy, está
guardado em uma poupança que fiz para você ainda pequena.
Penso a respeito disso e a encarando, me dou por vencido, sabendo
que não adianta perguntar sobre as transações de Jorge nesse momento, como
ela mesma disse, na hora certa a verdade virá à tona.
— Certo, então vamos ao menos aproveitar que estamos juntos agora.
Devo contar ao papai?
— Não, agora não — diz com temor nos olhos. — Seu pai irá saber
no momento certo, meu filho, sei que é fiel a ele, mas pode fazer isso por
mim?
Penso a respeito do seu pedido e fico confuso.
Por que esconder a verdade de papai, afinal de contas?
— Claro, mãe.
Ela sorri e aperta a minha mão e a da Lucy, sorrindo.
— Eu amo tanto vocês, senti tanta falta, me perdoem por isso.
A encaro e assinto.
— Confesso que esses vinte e quatro anos não foram fáceis, mas o
que importa é estar aqui agora.
— Só nos prometa uma coisa — Lucy me encara e sorri.
— O que quiserem.
— Nunca mais nos abandone, por favor.
Mamãe sorri e assente.
— Não farei isso.
***
As horas passam rapidamente, enquanto não chegamos em casa,
aproveitamos a viagem colocando o papo em dia e Lucy e eu contamos tudo
que passamos. Mamãe não fala muito e percebo que ela está receosa em nos
contar o que de fato aconteceu. No entanto, não a forço, sabendo que
cumprirá sua promessa e nos contará na hora certa. Se mamãe voltou agora,
depois de tantos anos longe, com certeza ela tem algum plano em mente.
Laureen se juntou a nós, mamãe pediu para que eu a chamasse e
conversaram um pouco sobre a vida de casada. Para minha surpresa, Lau diz
que está gostando de estar casada, o que me alegra.
— Vocês se casaram sem opção não foi?
— Como sabe? — pergunta minha esposa ao lado da amiga, até
então, minha irmã e sua cunhada agora.
Que loucura!
Esse tempo todo minha irmã esteve ao meu lado e eu não fazia ideia.
— Seu pai me disse. — Mamãe fica cabisbaixa.
— Senhora Brown, se me permite chamá-la assim, o que você tem
com meu pai?
— Você saberá em breve, querida.
— Para todo esse suspense, deve ser algo bem importante — diz
Lucy rindo.
A aeromoça nos serve champanhe e rio, pensando na conversa de
mais cedo com Laureen.
— Tudo será esclarecido, agora quero apenas aproveitá-los — diz
mamãe sorridente.
— Vamos chegar quase na hora do almoço, mandarei providenciar
uma boa refeição para nós — digo procurando o celular.
— Por que não fazemos diferente? — questiona Laureen depositando
a mão sobre a minha.
— O quê?
— Você cozinhar para a gente — sugere sorrindo.
Penso sobre o assunto e sorrio alegre.
— Boa ideia, esposa.
***
Laureen Vargas Brown
Estou confusa com tudo que está acontecendo e cada vez mais
curiosa para saber a respeito do que meu pai me esconde. Malorie ou Odete,
ainda não sei como chamá-la, havia dito que papai teria muito o que me
contar.
Mas contar o que exatamente?
— Está tudo bem? — pergunta Lucy segurando minha mão.
— Sim, agora que você sabe que Gael é seu irmão, somos cunhadas
— digo pensando na enorme loucura que isso é.
— Que mundo pequeno — diz balançando a cabeça. — Mas o que
importa é que tenho você ao meu lado. Estou magoada pela mentira, porém
feliz em tê-la conosco.
— Isso você terá sempre — digo piscando. — Não deixe esse
sentimento ser maior que a felicidade de ter sua mãe ao seu lado. Ela teve os
motivos dela e logo saberemos quais foram.
Seguimos o restante da viagem em silêncio e algumas horas depois,
estamos dentro do carro seguindo para a nossa residência. Malorie está em
silêncio, enquanto seus dois filhos estão em êxtase pela presença dela e
penso o quanto isso tudo é louco.
Esse tempo inteiro o caminho de Lucy e Gael estavam interligados e
por minha causa, acabaram se conhecendo.
Como a vida conseguia nos surpreender desta maneira?
Esqueço isso por um tempo e vejo o carro parar em frente à nossa
casa. Gael me ajuda a descer e logo em seguida Lucy e sua mãe, que encara
a frente do local e suspira.
— Tenho tantas lembranças daqui, jamais imaginei que seu pai
manteria esta casa — diz suspirando.
— Ele queria vender, mas pedi que a deixasse para mim — diz Gael.
— Vamos entrar? Está exatamente do jeito que você se lembra.
Malorie concorda e entramos no local, enquanto ela observa cada
detalhe e fica emocionada.
— Bem-vinda a sua casa novamente, senhora Brown — digo
sorridente.
Ela me encara se aproximando, me abraça e faz o mesmo com os
filhos.
— Obrigada, querida, vejo que vocês cuidaram muito bem daqui.
— Mantive a originalidade para me recordar dos nossos momentos,
mamãe — diz Gael.
— Acho que um banho cairia bem em todos nós agora, o que acham?
— pergunto nos olhando.
Lucy sorri e assente.
— Preparamos um quarto para você, mamãe. Gael estava disposto a
hospedá-la aqui e agora que sabemos a verdade, há mais motivos para que
isso aconteça.
Malorie sorri abraçando a filha e concorda.
— A ideia do banho é excelente, que tal você me mostrar meu quarto,
filha?
Lucy concorda e Malorie se despede de Gael e eu, subindo a escada
e nos deixando sozinhos.
— Meu Deus, que loucura — murmura meu marido suspirando.
— Como você está se sentindo?
— Feliz, confuso, são tantas emoções que não sei explicar — diz se
aproximando de mim.
Gael para na minha frente e sorrindo me beija.
Retribuo o gesto e o aperto contra mim, deliciada com isso. Ficamos
um bom tempo aos beijos e após nos separar, Gael me encara.
— Precisamos conversar a respeito de uma coisa.
— Pode dizer.
Ele suspira e desvia o olhar do meu.
— São tantas coisas, Laureen, eu não sei nem por onde começar.
Fico sem entender e mordo o canto da boca.
— Se quiser conversar quando se sentir à vontade...
— Sim... No momento certo iremos conversar. — Fico confusa e
concordo, com ele voltando a me beijar. — Toma banho comigo? —
pergunta após nos separar novamente.
Sorrio e concordo.
— Claro.
Seguimos em direção ao segundo andar e sou surpreendida quando
Gael me pega no colo, arrancando um grito meu, seguido de risada.
— Parece que alguém está realmente feliz hoje — digo o encarando,
enquanto anda em direção ao quarto.
— Estou mais do que feliz, descobri que tenho uma irmã, mamãe está
viva e de volta depois de tantos anos... Além de que estou cada vez mais
apaixonado pela mulher que jurei não me apaixonar.
— Então você jurou é?
— Sim, assim como você. — Ele sorri.
Concordo sabendo que é verdade.
Entramos no quarto e ele me coloca no chão, desabotoando os botões
de sua camisa e ficando somente de cueca rapidamente. Fico fascinada ao
olhá-lo e me dispo, ficando apenas de lingerie em sua frente.
— Venha comigo.
Gael me puxa em direção ao banheiro, assim que entramos, ele fecha
a porta e começa a encher a banheira. Enquanto ele prepara nosso banho,
continuo a observá-lo e sorrio com tudo que está acontecendo, ainda sem
acreditar que possa ser verdade. Malorie está viva e é mãe dele e da minha
melhor amiga.
Decido esquecer isso e aproveito intensamente o momento que estou
tendo com meu marido. Assim que a banheira fica cheia, ele se vira para
mim e me aproximo, ficando completamente nua, assim como ele. Entro com
Gael na banheira e ele se encaixa atrás de mim.
— Cheiro de jasmim... — Sinto o cheiro do perfume e Gael sorri,
acariciando meu cabelo.
— Você gosta? — pergunta beijando meu ombro.
— Bastante, é o meu favorito.
— Que bom saber disso.
Sorrio e sinto seu pênis encostar nas minhas costas, já completamente
excitado. Finjo que não reparo e Gael molha meu cabelo, pegando o xampu e
o lavando. Fecho meus olhos e relaxo diante do cafuné, soltando um gemido
baixo ao sentir seus dedos descerem pelo meu pescoço e parar na minha
clavícula.
— Seu toque é tão gostoso — murmuro maravilhada.
Gael continua a massagear minha cabeça, depois de enxaguar meu
cabelo, ele o condiciona e assim que finaliza, esfrega o sabonete na minha
pele, me fazendo virar de frente para ele e nossos corpos se encaixarem.
Sinto seu pau ainda mais duro e ele passa as mãos pelos meus seios,
enquanto acaricio seu peitoral forte.
— Você é perfeita, sabia? Tudo em você é maravilhoso.
Sinto meu rosto queimar de vergonha e sorrio de lado.
— Obrigada, você também é, agora me deixe ensaboá-lo.
Ele concorda e coloca as mãos para o lado.
Pego o sabão, esfrego sua pele, passando pelo pescoço, descendo
para o peitoral e seguindo para sua barriga que está imersa na água.
Devagar, olhando dentro dos seus olhos castanhos, mergulho minha mão e
sigo para seu pênis, que pulsa assim que tem contato com minha pele. Ele me
encara e sorri, passando a língua pelos dentes e piscando.
— O que é isso? — pergunto me fazendo de boba.
— É o jeito que você me deixa, mulher, completamente louco para
devorá-la por completo.
— E por que não devora? — pergunto apalpando seu pau.
Sinto os bicos dos meus seios enrijecerem e ele me analisa.
— Aqui, agora?
— E por que não?
— Você é uma safada, senhora Brown.
— Meu marido que faz isso comigo — brinco.
— Então seu marido é um sortudo do caralho por ter uma mulher
deste jeito.
Dou risada e ele me puxa para mais perto.
— Gael, me deixe terminar de te ensaboar.
— Faça isso depois, agora eu quero provar sua boceta e sentir se ela
está molhada para mim.
Me arrepio com suas palavras e concordo me levantando.
Ele me encara fazendo o mesmo e depois saímos da banheira.
Quando estou prestes a me enrolar na toalha, Gael me puxa pelo pescoço e
viro abruptamente, com nossas bocas se encaixando. Solto um gemido
durante o beijo e suas mãos percorrem meu corpo, o que me faz perceber a
urgência que ele tem para me ter só para ele. Fico ainda mais fascinada com
isso e sem pudor nenhum, o empurro contra a parede, beijando sua pele
molhada e Gael geme de tesão.
— Você quer me dar?
— Sim, eu quero.
— Então me diga, Laureen, o que quer que eu faça com você?
Sinto minha pele pegar fogo e sorrio.
— Quero que você me foda, aqui, neste banheiro.
Gael concorda e me vira de costas, inclinando meu corpo para frente.
Me apoio na pia e ele abre minhas pernas, acertando um tapa na minha
bunda. Solto um gritinho e meu marido se aproxima, segurando o seu pênis,
que lateja de tesão. O sinto encaixar na minha boceta e assim que me
penetra, solto um gemido alto, deliciada com a sensação que isso me causa.
— Agora que estou com meu pau na sua bocetinha, me diga o que
quer que eu faça, esposa.
Sinto meu sexo pulsar de tesão e o encaro de lado.
— Me foda, marido, por favor.
Ele dá uma estocada e minha boceta se contrai.
— Você gosta disso, sua safada?
— Sim, eu gosto.
Gael tira seu pau de dentro de mim e o enfia com brutalidade, me
fazendo gemer ainda mais.
— Como isso é gostoso.
Ele sorri e segura meu quadril.
— Então se prepara que vou passar a próxima meia hora comendo
sua boceta.
Assinto e Gael começa com os movimentos lentos e torturadores,
causando uma sensação deliciosa no meu ventre.
Seu pau desliza pela minha boceta e gemo ainda mais, enquanto ele
acerta tapas periódicos na minha bunda. Levo minha mão até meu seio e
passo os dedos pelo bico, me arrepiando por inteira, maravilhada em como
consigo sentir prazer em várias partes do meu corpo.
Meu marido não para seus movimentos que continuam precisos e
gemo enquanto ele me penetra, pensando em como vivi tanto tempo sem isso.
Enquanto ele me come, desço a mão pela minha barriga e paro no meu sexo,
esfregando meu clitóris, me recordando da primeira vez que fiz isso, ainda
em nossa lua de mel.
A lembrança é tão distante que me espanto, e me toco, enquanto os
tapas na minha bunda são desferidos e o meu marido mantém as estocadas
fortes.
— Acho que vou gozar, Gael — digo sentindo a sensação na boca do
meu estômago.
— Goza no meu pau, meu amor, goza para mim.
Ele continua com os movimentos e me sinto maravilhada ao ouvi-lo
me chamar de amor pela segunda vez em tão pouco tempo, então meu corpo
relaxa e gozo, soltando um gemido alto. Gael geme e percebo que ele
também goza, me deixando completamente suja.
— Isso foi delicioso, agora venha, vou te lavar.
Concordo me aproximando dele, deposito um selinho em seus lábios
e voltando para dentro da água fria, aproveito o banho com meu marido.
Almoço em família
Após o banho delicioso com Gael, sigo para o meu quarto
enrolada na toalha e me troco, colocando uma roupa leve. Não demora e
encontro Lucy e sua mãe, e juntas, vamos para a cozinha, onde encontramos
meu marido com o avental no peito, próximo das panelas.
— Qual o cardápio de hoje, meu filho?
— Farei algo rápido, pois estou faminto. Espaguete ao molho
bolonhesa caseiro, o que acham?
Recordo do dia em que estávamos na nossa lua de mel e sorrio.
— Eu acho ótimo.
Ele pisca para mim e vejo minha amiga e sua mãe nos olharem
atentamente.
— É impressão minha ou vocês estão juntos de verdade? — pergunta
Malorie.
— Não sei...
— Estamos juntos. — Gael me corta e sinto meu rosto corar.
— Isso é fantástico! — diz Malorie se aproximando e me abraçando.
— Obrigada por estar cuidando do meu filho e da minha filha.
— Não precisa agradecer, amo muito Lucy, ela é como a irmã que eu
não tive e Gael tem sido ótimo, não posso reclamar.
Ele me encara e balança a cabeça com um sorriso largo em seu rosto.
Olho para minha amiga e ela me abraça, com sua mãe ficando séria,
o que me faz estranhar.
***
Coloco uma música para tocar enquanto Gael prepara a comida e nos
sirvo de um vinho suave. Conversamos bastante, com Malorie dizendo o
quanto sentiu saudades dos seus filhos e posso ver em seus olhos que é
sincero. Enquanto o molho não fica pronto, Gael me puxa pelo braço e pede
ao colocar uma música para tocar:
— Dança essa comigo?
O analiso e ouço a música que tocou quando fizemos a nossa
primeira dança.
— A Thousand Years — sussurro.
Ele assente estendendo o braço para mim.
Me sinto sem graça com sua mãe a nossa volta e respiro fundo,
fechando os olhos e o encarando.
— Não se esqueça que tenho dois pés esquerdos.
— Eu não me importo, Laureen, desde que dance comigo.
Aceito seu pedido colocando as taças de lado.
Pouso uma mão sobre seu ombro e a outra eu seguro, enquanto a mão
livre dele pousa na minha cintura.
— Você vai ficar com os pés doloridos — brinco enquanto
dançamos.
— Faz parte do processo — brinca.
Dançamos como se estivesse somente nós dois ali, com nossos olhos
fixados um no outro. É neste momento que percebo o quanto estou
apaixonada por Gael Brown.
De uma incógnita, Gael se tornou o homem mais importante para
mim...
De desconhecido, se tornou o meu conhecido...
Percebo que os votos que fizemos no altar nunca fizeram0 tanto
sentido em nossas vidas. Estou pronta para tê-lo na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe.
A música para e ele me encara com um sorriso sincero e
deslumbrante.
— Adoraria saber o que está pensando, meu amor.
— Estou pensando no quanto gosto quando você me chama assim.
— Então você gosta?
— Bastante.
— Que bom, meu amor.
***
Gael dispensou seus empregados para aproveitarmos melhor o dia,
sendo assim, Lucy e eu arrumamos a mesa e quando tudo está pronto, nos
sentamos. Gael senta na cabeceira, me sento ao seu lado, sua mãe do outro e
Lucy perto dela.
Nos servimos e o cheiro delicioso do molho enche o ambiente.
Coloco o queijo no prato e como com os outros fazendo o mesmo.
— Humm, está delicioso! — diz Malorie.
— Está mesmo, Gael — murmura minha amiga um pouco sem graça.
— Agora que vocês sabem que são irmãos, como Lucy ficará? —
pergunto pensando sobre isso pela primeira vez.
— Como assim? — Meu marido me olha.
— Em relação a ela trabalhar como governanta.
— Ah, bem, ela deixará de trabalhar. Você tem direito a isso tudo,
Lucy, a fortuna que temos pertence a mamãe também, afinal ela ajudou papai
a construir o nosso império.
Concordo e reflito sobre o assunto.
Será que Eduardo que é o pai de Lucy?
Se sim, com certeza seria um desgosto e tanto para minha amiga, já
que ele mostrou ser um verdadeiro acéfalo em relação a ela.
“Não só a ela...”
— Eu não quero incomodar — diz Lucy.
— Tenha certeza de que não vai — responde seu irmão sorrindo.
— Vamos ter tempo de conversar sobre isso — responde minha
sogra. — Agora que estamos aqui, mais calmos, gostaria de pedir uma coisa
a vocês três.
— O quê? — questiono curiosa.
— Estive pensando enquanto estava no banho em revelar a verdade
sobre o meu paradeiro...
— Claro, teremos que fazer isso uma hora, afinal, teve um enterro...
Um corpo — diz Gael pensativo.
Um corpo....
Se Malorie está viva, quem foi enterrada em seu lugar?
A cada segundo essa história fica ainda mais interessante e me pego
pensando se papai tem alguma coisa a ver com tudo isso, afinal, Malorie
havia dito que ele tem muito a me contar.
— Falaremos disso no momento certo — sua mãe responde.
— Certo, e o que você estava pensando em fazermos para saberem
da sua volta e que está viva? — questiona Gael.
Lucy e eu apenas observamos.
— Estava pensando em uma entrada um pouco... Dramática, por
assim dizer... Uma festa.
— Uma festa? — pergunto.
— Sim, a fantasia, o que acham?
— Será uma entrada e tanto — afirmo.
— Podemos fazer isso, será realmente algo memorável — Gael diz
sorrindo.
— E quem será convidado? — pergunta Lucy.
Malorie nos encara com um sorriso no rosto.
— Estava pensando em começarmos por Eduardo Brown, Jorge e
Elizabeth Vargas, o que me dizem?
— Meus pais?
— Sim, querida, esta festa será o momento para todas as verdades
virem à tona.
— Inclusive sobre o corpo que papai e eu enterramos jurando ser o
seu? — Gael questiona.
— Sim, inclusive isso.
Fico temerosa e encaro meu marido que apenas assente.
— Bem, então acho que temos uma festa para organizar — diz
levantando. — Para quando você quer que seja, mamãe?
— Que tal para sábado?
— Temos dois dias para preparar tudo e enviar os convites — digo
analisando toda a situação e vendo o quanto essa história é cada vez mais
estranha.
— Os convites não serão um problema, mensagem é rápido de enviar
— diz Gael. — Bem, o tempo é curto, acho melhor começarmos a organizar
tudo.
Malorie sorri e concorda, me causando um certo desconforto com
isso tudo. Afinal de contas, quem é esta mulher e qual é a verdade que ela
esconde?
***
No dia seguinte à volta de Malorie, nossa casa está agitada e
completamente diferente das vezes que há vi. Gael não foi trabalhar, e com
isso, o vi o dia todo trancado no escritório com a mãe, preparando a festa.
Pelo pouco que ouvi, será algo grande que irá repercutir muito.
A entrada dramática da minha sogra será memorável.
Lucy ainda está um pouco acanhada e a compreendo, afinal de contas,
sua vida mudou completamente da noite para o dia.
— Você está bem? — pergunto a encarando sentada no degrau da
escada e minha amiga assente.
— Só estou achando tudo muito doido — diz dando de ombros. —
Até anteontem era governanta e agora sou irmã do chefe.
— É confuso para mim também, principalmente pelo fato de que se
eu não me casasse com Gael, Malorie não teria voltado e possivelmente
ainda estaria vivendo uma mentira.
Lucy meneia a cabeça sabendo que estou certa.
— Estou feliz em tê-la de volta, mas não compreendo o motivo de
tantas mentiras. A vida inteira pensei que mamãe se chamava Odete e agora
descubro que seu verdadeiro nome é Malorie, além disso, eu tenho um
irmão.
— E provavelmente um pai. — Completo com ela me observando.
— Você já pensou nisso?
— Confesso que sim, não dormi direito, pensando se Eduardo é meu
pai também.
Assinto.
— Pela sua idade, possa ser que sim, mas por que ela esconderia
isso dele?
Vejo o brilho no olhar da minha amiga e ela suspira.
— Espero que mamãe cumpra sua promessa e fale a verdade nesta
festa.
— Eu também espero.
***
Os dois dias passam rapidamente, Gael e eu dormindo juntos desde o
dia que voltamos da Alemanha. Ele está cada vez mais amigável comigo e
me vejo completamente rendida ao meu marido, coisa que ainda me deixa
surpresa e assustada. Confesso que mesmo a minha paixão sendo
correspondida, sinto um pouco de receio e medo.
E se os segredos que serão revelados nesta festa acabarem nos
atrapalhando?
Sinto que as coisas estão prestes a mudar e alguém sairá ferido, mas
quem?
Afasto os pensamentos e suspiro, me dando conta de que a festa está
prestes a acontecer e quero mais que tudo saber a verdade.
Com certeza esta noite será intensa, reveladora e tenebrosa...
A festa
Para minha surpresa, Gael prepara tudo com maestria,
enviando os convites por mensagem e preparando um enorme buffet em
nossa casa, com diversos tipos de comida.
O salão de festas, um cômodo que eu nem conhecia, é organizado
com máscaras penduradas e acabo escolhendo uma fantasia simples, se é que
pode se chamar assim. Comprei um vestido longo de seda na cor cinza, com
um enorme decote na frente e separei uma máscara estilo “O Fantasma da
Ópera”, que combina com a de Gael, que decidiu ir de “Zorro”.
Lucy escolhe o tema do seu livro favorito, “Alice no País das
Maravilhas.”
A cada segundo que a festa se aproxima, meu coração acelera ainda
mais para descobrir tudo que está acontecendo. Mesmo estando feliz com a
volta de sua mãe, Gael, assim como Lucy, precisam de respostas, e claro eu
também, levando em consideração que meu pai conhece Malorie e sabia
sobre seu paradeiro, o que deixou meu marido bastante irritado.
Em uma de nossas conversas durante a noite, ele me dissera que meu
pai teria muito a nos contar, principalmente este fato.
Não tiro sua razão, a curiosidade é algo que está presente nesta casa
nos últimos dias.
— Está pronta? — pergunta Lucy entrando no meu quarto.
— Acho que sim, como estou? — Me viro para ela, que assobia e
sorri.
— Está linda, mas você é que personagem?
— Eu não sei, apenas gostei desta roupa e a escolhi — digo dando
de ombros. — Mas você está linda de Alice.
— Obrigada — diz me abraçando. — Estou um pouco nervosa com
tudo que esta noite promete, é como se alguma coisa fosse acontecer.
— Que bom que não sou a única a sentir isso.
Minha amiga me analisa e assente.
— Estou pensando na nossa conversa... Será mesmo que Eduardo é
meu pai?
— Você chegou a questionar sua mãe?
— Sim, mas ela não me respondeu, só disse que tudo será
esclarecido hoje, o que me deixa ainda mais nervosa. Você sabe do Gael?
— Não, com os preparativos da festa, não tivemos muito tempo
sozinhos, e com o cansaço, ele dormia rápido.
— Então vocês estão juntos de verdade.
— Parece que sim. — Sorrio me lembrando de quando ele afirmou
que estávamos juntos para sua mãe.
— Estou tão feliz por você... Por mim... Por nós!
— Eu também estou... Agora o que me preocupa são meus pais.
Mamãe vem me ligando, querendo saber como estou, mas com toda essa
loucura, preferi não ir vê-la, sabendo que poderia soltar alguma coisa.
Lucy assente.
— Foi a melhor decisão que você tomou.
— Nossa vida mudou tanto no último mês — digo me lembrando do
meu casamento. — Antes a minha preocupação era me casar, agora é o que
esta festa tem a nos revelar.
— Eu sei, estou temerosa também.
— O que eu não consigo entender é onde meu pai se encaixa nessa
história e por que ele a levou para morar conosco. Será que Malorie queria
escondê-la do seu pai, com medo de que Eduardo pudesse fazer alguma
coisa?
— Eu não sei, amiga, realmente não faço ideia, mas espero que nesta
festa a gente possa descobrir tudo.
***
Lucy sai assim que meu marido entra no quarto e me encara.
— Você está pronta, senhora Brown? — pergunta vestido de “Zorro”
com os braços cruzados.
— Sim, estou.
— Ainda estou tentando entender sua fantasia.
— Não é uma fantasia — afirmo revirando os olhos e colocando a
máscara. — A não ser, é claro, a minha máscara.
— “O Fantasma da Ópera” — diz se aproximando de mim. — Você
está linda, senhora Brown.
— Obrigada, senhor Brown — respondo sem graça.
Gael fica ainda mais próximo de mim, sinto sua respiração acelerada
enquanto a minha está entrecortada.
— Estou louco para tê-la só para mim novamente, sabia? — sussurra
depositando a mão no meu rosto.
Sinto a maciez dos seus dedos em meu rosto e suspiro.
— Eu sei, você é um tremendo tarado — brinco arrancando uma
risada dele.
— Você me deixa assim, agora já que não está fantasiada, por que
não usa o colar que eu te dei?
Penso sobre o que diz, vou até meu porta-joias, o abro e vejo o colar
que meu marido me deu quando fomos para nossa lua de mel, junto com as
outras joias.
— Você acha que vai combinar?
— Qualquer coisa combina com você, e quando estivermos a sós, se
quiser, pode somente usá-lo para mim que não irei me importar.
Rio e entrego a joia a ele.
— Coloque em mim, por favor.
Meu marido assente, passa o colar pelo meu pescoço, fecha e me
encara.
— Viu o quanto fica bem em você?
Me olho no espelho e concordo, percebendo que é verdade.
A joia é realmente linda e se destaca na minha pele branca. Levo
meus dedos até ele e me imagino nua, apenas usando o presente que meu
marido me deu, em um momento de prazer, cheios de desejo, luxúria, paixão
e tesão.
— Se você se comportar, pode ser que eu o use, da maneira que
imaginou, mais tarde.
— Eu sei que você usará, afinal, não resiste aos meus encantos. —
Dou risada e me aproximo, beijando suavemente seus lábios doces e macios.
Gael retribui e se afasta sorridente. — Agora você está pronta para esta
noite.
Concordo e sorrio.
— Vamos ver o que ela tem a nos oferecer.
***
O salão de festa está cheio e as pessoas aproveitam da comida e
bebida. Mamãe assim que me vê, corre em minha direção e me abraça
apertado, sorrindo feito boba.
— Estávamos com saudade, querida — diz acariciando meu rosto.
— Por que não retornou minhas ligações e mensagens?
— Me perdoe, mamãe, os últimos dias têm sido uma loucura, depois
da nossa lua de mel, não tivemos muito tempo... — Fico quieta ao ver o
sorriso cínico dela.
— Então você e Gael estão se entendendo — diz e não é uma
pergunta.
— Possa ser que sim, mas conversamos sobre isso depois. Onde
papai está?
— No bar com Eduardo, vamos até lá para você vê-lo.
Concordo, sem muitas opções e sigo com minha mãe até onde meu
pai está.
Gael conversa do outro lado do salão com alguns convidados que diz
ele, serem muito importantes, já que são empresários parceiros dele e do seu
pai, e claro, repórteres.
A entrada de Malorie realmente vai ser majestosa.
— Filha.
Olho a minha frente e vejo papai, que está usando um terno simples e
com um copo na mão.
— Oi, pai — digo com um sorriso forçado no rosto e ele me abraça
meio sem jeito.
— Bela festa você e seu marido resolveram dar.
— Obrigada. — Agradeço sorrindo sem graça. — Senhor Brown.
— Oi, Laureen — diz meu sogro beijando a costa da minha mão.
Sinto repulsa e a puxo, limpando no vestido disfarçadamente.
— Gostei da festa, mas confesso que estou surpreso por meu filho ter
preparado tudo sem ter me avisado com antecedência.
— Preferimos fazer uma surpresa.
— Claro que sim — diz debochado. — Vou ao buffet, estou faminto.
— Sinta-se como se estivesse em casa, aliás, o senhor já morou aqui,
certo?
— Sim, mas após a morte da minha esposa, preferi deixar esta casa
de lado e Gael decidiu vir morar aqui quando ficou de maior.
Fico em silêncio e apenas concordo com um movimento de cabeça,
vendo-o se afastar rapidamente.
— Asqueroso — sussurro.
— Laureen, isso é modo de falar das pessoas? — pergunta mamãe
surpresa.
— Me poupe, mamãe, sei muito bem que você e papai detestam
Eduardo e estão fazendo esse teatro apenas por conveniência. Afinal, se não
fosse isso, não teriam me forçado a casar, não é mesmo? — Encaro meu pai
fixamente e me afasto, deixando-os sozinhos.
— Algum problema, esposa? — pergunta Gael vindo até a mim.
— Não, só quero que isso acabe logo — digo aflita.
Por que sinto que alguma coisa de ruim vai acontecer?
— Não se preocupe com nada disso, a noite só está começando, mas
se quiser, podemos dar uma escapadinha e brincar um pouco.
— Adoraria, mas aí que as pessoas falariam mais ainda... Só que
isso não quer dizer que depois que toda essa loucura passar, não podemos
brincar.
— Para quem transou poucas vezes e não sabia nem o que é orgasmo,
você é muito safada, Lau.
O apelido estala em sua boca e me arrepio.
— Acho que você desperta este lado meu — digo com a voz
embargada.
— Fico feliz com isso, agora vamos aproveitar um pouco esta festa
tediosa e ver o que vai acontecer.
***
Gael Brown
O plano está seguindo exatamente do jeito que mamãe planejou.
Ela se infiltrou entre os convidados e ninguém, nem mesmo papai, a
viu, o que chega a ser divertido.
Papai se incomoda com o fato de Laureen e eu estarmos nos dando
tão bem, o que me preocupa e me faz pensar a respeito de uma única coisa.
Como irei falar a verdade para a mulher que estou apaixonado, sem
que ela se magoe ou se afaste de mim?
Tive a chance de ser sincero e simplesmente me acovardei e não
consegui ir adiante.
Decido aproveitar a noite e bebo um pouco, dançando com minha
esposa e provando da comida. Lucy se diverte bastante, o que me deixa feliz.
Como as coisas podem mudar em uma dimensão curta de tempo.
— Filho.
Me viro de costas e vejo meu pai parado com o olhar sério e as mãos
nos bolsos da calça.
— Sim?
— Podemos conversar?
Olho para Laureen que fica com o olhar aflito e concordo.
— Volto já — sussurro.
Ela assente e segue para perto da amiga.
— Sua esposa está cada vez mais linda — diz bebendo o uísque.
A música toca alto em volta de nós e assinto.
— Que bom que notou.
O sorriso cínico se forma e ele volta a beber.
— E então, conseguiu descobrir algo que comprometa Jorge? Espero
que esta festa tenha sido feita para ridicularizá-lo na frente de todos.
— O senhor vai se surpreender e muito — afirmo sorrindo. — Não
se preocupe, a noite vai ser memorável.
— Então você conseguiu alguma coisa — diz e não é uma pergunta, o
que me diverte.
— Consegui mais do que imagina, papai.
Ele assente e finaliza a bebida.
— Não sei o que tem em mente, mas espero que não me decepcione.
Reflito após ouvir suas palavras.
— Você não vai.
Meu pai me encara fixamente e observa Lucy e Laureen conversando.
— Sua esposa precisa aprender que empregados não se envolvem
com os patrões, isso é realmente inaceitável, se as pessoas souberem...
— Não farão nada. — Corto-o. — Esta é a minha casa, se alguém se
sentir incomodado com alguma coisa, é só ir embora.
Ele ri e balança os ombros.
— Pelo jeito não é só sua esposa que precisa aprender certas coisas.
— Aproveite a festa, papai, a surpresa será logo e é melhor que
esteja sóbrio, então sugiro que pare de beber ou vai perder o espetáculo.
Meu pai estreita os olhos, trava o maxilar e seu pomo de adão desce
e sobe rapidamente.
— Vou me preparar para o seu espetáculo — diz se afastando.
Vejo mamãe passar ao seu lado, com uma máscara de palhaço
assassino e parar ao meu lado.
— Está chegando a hora, filho.
— Tudo bem, vamos animar isso aqui um pouco.
***
Laureen Vargas Brown
A hora passa rapidamente e todos aproveitam a festa, se divertindo,
comendo, bebendo e dançando. Quando finalmente está chegando o horário
de Malorie aparecer, as luzes diminuem e Gael sobe até o pequeno palco
improvisado que há no local.
— Boa noite, sejam todos bem-vindos. — Uma salva de palmas ecoa
pelo local e assim que o barulho cessa, Gael volta a falar. — Muitos estão
se perguntando o motivo de uma festa tão repentina e porque tudo foi tão
rápido, mas quero dizer a vocês que valerá a pena. Todos aqui sabem que
minha mãe morreu há mais de vinte anos, quando eu ainda era uma criança,
porém, ninguém se preocupou em descobrir a verdade sobre um acidente de
carro que carbonizou cada parte do seu corpo.
Olho para o lado, vejo meus pais sussurrarem e Eduardo com o olhar
de vitória, como se soubesse o que seu filho está prestes a fazer.
— Os anos se passaram, eu me tornei um homem e a sede de
vingança em saber o real motivo da morte de mamãe tomou conta de mim,
me trazendo alguns suspeitos. Mas olha como a vida é engraçada, não é
mesmo? Todos os meus suspeitos foram descartados.
“Bem, até certo ponto, mas deixemos isso para lá. Vocês devem estar
se perguntando o motivo de eu estar falando sobre isso e porque trouxe este
assunto em pauta nesta noite, estou certo?”
Algumas pessoas afirmam com o movimento de cabeça e burburinhos
surgem por todo o local, com meu marido sorrindo.
— Bem, vamos logo ao que interessa, quero que todos vocês deem
uma salva de palmas para Odete Connor, mais conhecida como Malorie
Brown.
Vejo meu marido apontar em direção à sua frente e as pessoas darem
espaço para a mulher que está passando entre eles.
Malorie está deslumbrante; usa um vestido vinho, até os pés e um
casaco nas costas. Assim como eu, seu único acessório é uma máscara, e,
diga-se de passagem, um tanto assustadora.
Ela segue até o palco e todos continuam batendo palmas, menos, é
claro, Eduardo, Elizabeth e Jorge Vargas, que estão em choque com a mulher
parada, ainda mascarada.
Devagar, vejo a mãe de Gael e Lucy descartar a máscara e sorrir
para a plateia. Uma sucessão de flashes começa a iluminar o palco e o
vozerio aumenta com tamanha surpresa.
— É bom estar de volta, e vocês não sabem a alegria que estou
sentindo neste momento.

Os segredos de Jorge Vargas


Os burburinhos e barulho de palmas continuam e assim que
cessam, Malorie se afasta do palco e Gael segue em direção ao microfone.
— Sei que muitos de vocês têm diversas perguntas, e com o tempo
iremos respondê-las, neste momento, peço apenas que fiquem felizes com
este milagre que nos aconteceu.
Algumas pessoas voltam a bater palmas e a cochichar, o que me
preocupa.
O que vai ser de agora em diante?
— Gael Brown. — Me viro de costas e vejo meu sogro parado no
meio do salão com o olhar sério e as mãos tremendo. — Estou esperando
você no seu escritório.
Todos ficam sem entender e ele se afasta, logo Gael vem para o meu
lado e sorri.
— Como fui?
— Fantástico — digo sorrindo. — Parece que seu pai que não gostou
muito disso, pensei que ele ficaria feliz com a volta da esposa.
— Não se preocupe, darei um jeito nele...
Ele para de falar e seu olhar segue em direção aos meus pais, que
vêm em nossa direção.
— Laureen, precisamos conversar — diz papai.
— Filha, você sabia disso? — questiona mamãe surpresa.
— Por favor, um de cada vez, iremos todos conversar, acredito que
muitas coisas precisam ser explicadas, e sim, eu sabia sobre a mãe de Gael.
— Desde quando?
— Não importa — respondo para papai que me olha aflito. — Vamos
todos para o escritório assim que os convidados forem dispensados. Não
criem uma cena, já não basta a de Eduardo.
Os dois assentem e se dando por vencidos, se afastam.
Logo em seguida Lucy vem em minha direção.
— Parece que algumas pessoas já estão indo embora, alguns
aparentam surpresa pela volta de mamãe, pelo pouco que ouvi, algumas
pessoas presentes participaram do suposto enterro e questionaram sobre o
corpo enterrado.
— Não se preocupe, Lucy, tudo será esclarecido, infelizmente com o
peso que os nossos sobrenomes têm na sociedade, serão necessárias muitas
explicações — digo confiante das minhas palavras.
Minha amiga assente e me encara.
— Seus pais pareciam aflitos quando os vi.
— Eu sei, eles vieram falar comigo, perguntaram se eu sabia sobre
Malorie.
— E você, o que disse?
— Que sim, agora isso não importa mais, mas sim a verdade que sua
mãe prometeu nos contar.
Vejo Gael distante, ele faz um gesto como se fosse finalizar a festa,
eu assinto e ele segue cumprimentando pessoas.
— O que será que acontecerá agora? Pelo que entendi, Gael vai por
todos para fora para nos reunirmos e saber mais sobre o tal mistério — diz
Lucy temerosa.
Estou me sentindo exatamente do mesmo jeito, é como se o medo
impregnasse no meu peito e tomasse conta por completo.
— Eu não sei, amiga, mas iremos descobrir.
— Juntas. — Ela segura minha mão e a aperto, vendo meu marido
conversando com os convidados.
Não demora muito e logo todos se dispersam, ficando apenas nós três
no local.
— Onde meus pais estão? — pergunto a Gael.
— Parece que foram para o escritório.
— Ótimo, vamos para lá então.
Ainda segurando a mão de Lucy, agarro com a livre a de Gael e
juntos, lado a lado, seguimos para o escritório em silêncio.
— Está pronta para saber a verdade? — pergunta meu marido parado
diante da porta.
— Acho que sim, me sinto nervosa.
— Vai ficar tudo bem, depois quero conversar com você a sós.
Concordo e assim que meu marido abre a porta, ouço o burburinho
de Eduardo e papai.
— A culpa é toda sua, seu miserável! — diz Eduardo. — Você é o
verdadeiro culpado disso tudo.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto seguindo para perto
deles.
Mamãe ainda está aflita, percebo pelo seu olhar, porém, além disso,
demonstra impaciência.
— Estão brigando por causa da verdade — responde Malorie
entrando no local.
Todos ficam em silêncio e a encaram, então Eduardo se aproxima e
para perto da ex-esposa.
— Você é uma vadia! — diz irritado. — Como pôde fazer uma coisa
dessas conosco?
— Papai, não chame a mamãe deste jeito — Gael diz calmo, mas
percebo a raiva em sua voz.
Eduardo cospe e limpa a boca na roupa, levando seu olhar até Lucy.
— O que a empregada está fazendo aqui? Vocês estão se misturando
mesmo com a corja! — dispara incrédulo.
— Não fale de Lucy assim! — disparo apontando em sua direção.
— Vai fazer o quê, hein?
— CHEGA, PAI! — grita Gael. — Não fale assim com minha irmã, por
favor.
Noto a surpresa no olhar do meu sogro e logo ele cai na risada.
— Irmã? Está dizendo que a empregadinha é sua irmã bastarda?!
— Pare, Eduardo, você tentando ofender a minha filha só o torna
mais ridículo — diz Malorie.
Me aproximo de Lucy e a abraço.
— Então você teve outra filha — responde nada surpreso enquanto
meus pais continuam em silêncio.
— Sim, e sei que devo explicações, mas não para você e sim para o
nosso filho.
— Nosso filho?! Meu filho! Você o abandonou na primeira
oportunidade, nos fez achar que estava morta, inclusive pensamos que Jorge
havia te assassinado!
Fico surpresa ao ouvir isso.
Como assim eles pensavam que papai havia matado Malorie?
Então me recordo do dia em que ouvi meus pais conversarem e sobre
mamãe dizer que supostamente ele havia participado de um crime, apenas
não quisera assumir.
Se Malorie está viva, quem havia sido assassinada em seu lugar?
— Jorge não me matou, como está vendo, mas me ajudou para que eu
parecesse morta. — Minha sogra começa a falar.
— Sim — papai afirma, nos deixando chocados. — É uma longa
história e desde já peço perdão, mas infelizmente as coisas aconteceram...
— Do que o senhor está falando, papai?
— Eu vou contar minha filha, do começo.
— Estamos ouvindo — diz Gael.
Meu pai assente e anda de um lado para o outro, pensativo.
Lucy, assim como os outros, espera que ele comece a falar. Vejo
papai levar o dedo até a têmpora e sentar na cadeira de frente para nós, que
continuamos em pé o analisando.
— Tudo começou quando Eduardo e eu ainda éramos amigos na
época da faculdade... A nossa amizade foi crescendo cada vez mais e quando
vi, tínhamos terminado os estudos, estávamos começando nossos negócios e
tudo ia muito bem, porém, a ganância e desejo de termos mais, nos afundou.
Aliás, me afundou. Acabei fechando um negócio arriscado e me vi perdendo
muito dinheiro, mas Eduardo estava lá e me ajudou, dizendo que eu poderia
pagá-lo quando tudo estivesse bem.
“Mas as coisas saíram do meu controle e as dívidas foram
aumentando, nisso, eu já estava casado com Elizabeth e ele com Malorie.
Não demorou muito e os dois tiveram um filho, mas minha esposa e eu
preferimos esperar um pouco mais, e conforme os anos foram passando,
vimos que ainda não estava na hora.
“E aí o inevitável aconteceu, para falar a verdade, nem sei como
explicar como isso ocorreu, mas quando vi, estava apaixonado pela mulher
do meu melhor amigo, e o pior; ela correspondeu.”
“Malorie e eu começamos a ter um caso sigiloso, mas como Eduardo
não era nada bobo, mandou investigarem e acabou descobrindo.”
Então Malorie era a amante de papai que mamãe havia me dito!
Fico completamente chocada ao ouvir isso e apenas assinto, com ele
me encarando.
— Sempre amei Elizabeth e agradeço por ela ter perdoado a traição,
mas vi que não poderia permitir que acontecesse algo de ruim com ela, nem
comigo e muito menos com Malorie, que naquele tempo, estava com medo
do que Eduardo poderia fazer.
“Então criei um plano maligno em minha cabeça e colocamos em
ação. Acabei contratando uma prostituta que tinha a mesma estatura e cor de
cabelo de Malorie e planejei sua morte. Infelizmente nem sempre saímos
com as mãos limpas e vi as minhas manchadas de sangue. Fui obrigado a
dopar a mulher, simular que ela estava dirigindo e dentro do carro havia uma
bomba, a qual programei para explodir em poucos minutos. A vesti com as
roupas de Malorie e até mesmo acessórios, como anéis, pulseiras e colares,
pois isso ajudaria a dar ênfase que o corpo carbonizado era dela, já que
encontrariam os restos das vestes e das joias, e a dariam como morta.”
“Na época funcionou, a polícia investigou e disse a Eduardo que
tinham implantado a bomba no carro dela, para não desconfiarem dele, já
que poderia ser o principal suspeito, ele deixou o crime para lá, já que não
tinham nenhum rastro do culpado. Porém, Eduardo sempre acreditou que eu
havia assassinado sua esposa. Na verdade, até matei uma mulher, mas não
ela.”
“Com o plano em ação e o enterro tendo ocorrido, entrei em contato
com Malorie, que tinha se escondido e dei dinheiro a ela, dizendo para que
fosse para outro país. Preparei os documentos falsos e fiz tudo às pressas
para que meu antigo amigo não fizesse nada com ela.”
“O único problema que tínhamos no caminho era que Malorie
descobriu que estava grávida. Sem opções, ela embarcou para Alemanha e lá
a ajudei a construir uma vida simples, sempre mandando dinheiro para
ajudar nas despesas dela e da criança.”
“Então ela entrou em contato comigo, anos mais tarde, quando tudo já
estava calmo. Eduardo havia aceitado a morte da mulher e Elizabeth e eu
tínhamos tido uma linda filha. Porém, Malorie me pediu algo inusitado; que
eu buscasse a menina...”
“De início achei a ideia uma loucura, afinal alguém poderia
descobrir, mas acabei cedendo e Elizabeth aceitou tranquilamente, até ver
que a pequena criança se dava bem com nossa filha.”
“Pedi a ela que não implicasse com isso e com o passar do tempo,
minha esposa aprendeu a amar a criança assim como eu, e a colocamos para
trabalhar na casa para despistar Eduardo, que mesmo tendo aceitado a perda
da mulher e não tendo a certeza de que eu era o culpado, continuava atrás de
alguma pista.”
“Os anos se passaram e ele me procurou, cobrando a dívida que eu
devia há anos a ele, mesmo sabendo que eu estava à beira da falência. Então
surgiu a proposta do casamento de contrato, ele queria que nossos filhos se
casassem e que eu desse as minhas ações. Sem escapatória, acabei aceitando
por Elizabeth, por Laureen e por Lucy.”
— Por mim? — questiona minha amiga em soluços.
As lágrimas cobrem meu rosto, me deixando completamente chocada
com as revelações.
— Sim, Lucy, por você — diz cabisbaixo.
— Por quê? — questiono.
— Porque ele é o pai de Lucy, Laureen — diz mamãe chorosa. —
Malorie estava grávida dele na época, ele me contou e eu o perdoei. Quando
a criança apareceu em casa, eu me recusei a aceitar, mas com o tempo peguei
amor por Lucy e a mantivemos como empregada para ninguém descobrir a
verdade.
— O-o quê? — sussurro surpresa.
— É isso mesmo, querida — diz ele coçando a cabeça. — Você e
Lucy são irmãs.
— Assim como Gael é irmão dela — completa Malorie.
Fico em silêncio, tentando processar tudo que acabo de ouvir.
Lucy minha irmã?
De Gael até havia sido fácil de compreender, mas eu, com uma irmã?
— Meu Deus — diz Lucy chorando. — Então todo esse tempo... Você
é meu pai?
— Sinto muito — diz papai.
— Eu queria ter voltado antes para esclarecer tudo, mas Jorge achou
melhor não. Com a união dos nossos filhos, ele me disse que era melhor
continuar vivendo na Alemanha, assim tudo ficaria escondido. Então me vi
obrigada a mentir para você, Lucy, e pedir socorro, sabendo que você
pediria a Laureen, sua irmã, e Gael, seu irmão, mesmo na época não sabendo
disso.
— Tudo não passou de um plano? — Gael diz pela primeira vez. —
Então a vingança do papai pela morte falsa foi tudo um engano.
— É claro que não foi! Mesmo Malorie estando viva, Jorge a tirou
de mim, de nós! Ele a roubou e ainda escondeu uma filha — diz Eduardo.
— Que vingança? — pergunto olhando para o meu marido.
— Laureen, por favor, podemos conversar depois? — pergunta
envergonhado.
Percebo isso em seus olhos.
— Conversar depois, você é igualzinho a sua mãe, um verdadeiro
covarde e traíra — balbucia Eduardo. — O casamento de vocês não passou
de um plano meu e do meu filho, querida nora, ele se casou com você, para
vingar a suposta morte da sua mãe. Você não passou de um fantoche, de uma
peça no nosso jogo, e se Gael não tivesse me traído, você estaria morta neste
momento!
— Não ouse falar assim com a minha filha! — dispara mamãe. — Se
tocasse em um fio de cabelo dela, eu mesma o mataria.
— Um fantoche — sussurro horrorizada. — Eu não passei disso para
você, Gael? Foi tudo mentira então? — Sinto as lágrimas escorrerem pelos
meus olhos e ele me encara.
— Laureen, por favor, eu sinto muito, quando meu pai e eu pensamos
em nos vingar do seu, eu achava que minha mãe estava morta e Jorge era o
culpado — dispara com a voz embargada. — Me perdoe, por favor, eu
jamais a machucaria.
— Não machucaria mesmo — completa seu pai rindo. — Um
verdadeiro inútil, quando se casaram, era para tratá-la como lixo e a viagem
para a ilha era justamente para deixá-la passar fome e definhar aos poucos,
mas não, ele fez tudo ao contrário.
— Você é cruel, Eduardo, como ousa pensar em pedir isso ao seu
filho? Você não queria vingança pela minha morte, você queria vingança por
eu ter me apaixonado por Jorge e tê-lo largado — diz a mulher próxima de
mim.
— Você é bem esperta mesmo — responde o outro rindo. — É isso
mesmo, eu não queria me vingar por você estar morta, para falar a verdade,
era um prêmio isso para mim... Eu queria me vingar por você ter me trocado!
— O senhor está dizendo que me usou? — pergunta Gael.
Continuo chorando abraçada a Lucy, sem acreditar em tudo que estou
ouvindo.
Tudo que Gael e eu vivenciamos nos últimos dias foi uma farsa?
Ele me chamar de amor foi mentira?
Nossos sexos, beijos, caricias, risadas, tudo não passou de um
plano?
Enxugo meus olhos, completamente horrorizada com tudo que acabo
de ouvir.
Como meu pai pôde matar uma mulher inocente apenas por conta de
uma paixão?
Como pôde esconder por quatorze anos que Lucy é a minha irmã?
Quanta loucura em apenas uma noite!
Como a vida poderia mudar assim tão de repente?
Penso no que Eduardo havia dito, então tudo não passou de um
maldito plano dissimulado dele e Gael. Meu marido queria me quebrar, me
torturar, por vingança de algo que eu sequer fazia ideia.
Nem mesmo nascida eu era na época em que isso tudo aconteceu!
— Vocês são doentes — digo secando as lágrimas. — Vocês todos,
papai por ter matado uma pessoa e esconder a real identidade da minha irmã
por vinte e quatro anos... Mamãe por aceitar isso calada e não fazer nada
para saber a verdade... Você, Eduardo, por ser tão manipulador e doente...
Malorie, eu pensei que poderíamos ser amigas, mas vejo que você também
tem culpa nisso tudo, e por fim você, marido. — Arranco a aliança do dedo
e jogo em sua direção. — Espero que esteja satisfeito com tudo que você me
fez, porque já que tudo está esclarecido, quero que este casamento seja
anulado o mais depressa possível.
— Laureen, por favor, vamos conversar — diz vindo em minha
direção.
— Não temos o que conversar, para mim está tudo muito claro, você
queria vingança e me usou para isso, mas não se preocupe, conseguiu o que
queria. Se seu objetivo era me quebrar, saiba que conseguiu.
Sigo em direção a saída e Lucy vem comigo, agora segurando minha
mão. Percebo que Gael corre em nossa direção, tentando me impedir.
— Me perdoe, estou realmente arrependido disso tudo — diz com a
voz embargada. — Laureen, eu te amo!
Ouço suas palavras e sinto como se facas atravessassem meu corpo,
dilacerando minha pele.
— Sabe o que mais me dói? — questiono limpando o rosto. — Que
eu aprendi a amá-lo também. — O encaro uma última vez e saio do
escritório, sentindo toda a dor e a angústia me cobrindo completamente.
Fim
Após toda a conversa reveladora, sigo para o meu quarto com
Lucy no meu encalço. Procuro minhas malas, as abrindo e jogando minhas
coisas dentro.
Minha amiga, que agora descubro ser irmã, apenas analisa e seco as
lágrimas que descem copiosamente pelo meu rosto, sentindo a dor no meu
peito por conta de toda a traição dos meus pais, dos pais de Gael e do meu
marido.
— LAUREEN, POR FAVOR, ME DEIXE ENTRAR... VAMOS CONVERSAR!
Ouço o grito de Gael do lado de fora e volto a chorar, tentando
ignorar as batidas frenéticas que ele dá na porta.
— Lau — a voz de Lucy me tranquiliza e a encaro, notando a
semelhança com Malorie.
— Por favor, Lucy, apenas não o deixe entrar. — Minha voz sai
embargada e ela assente, enquanto termino de guardar as roupas.
— Laureen, se você não abrir esta porta, eu juro que a arrebento.
Percebo que sua voz sai tremida, mostrando o quanto está nervoso e
possivelmente chateado.
Será que está mesmo?
Será que Gael se arrepende de tudo que me fez?
Da maneira que me usou, me conquistando para depois poder me
quebrar e me destruir.
— Se você não responder, entenderei isso como um sim e vou
arrebentar esta merda, se estiver atrás da porta, saia.
— Laureen — Lucy me olha com os olhos arregalados.
— Deixe-o, vamos ver se é homem mesmo para destruir a porta.
Ela fica em silêncio.
Analiso meu porta-joias, me lembrando do colar no meu pescoço e o
arranco. Pego as minhas coisas e quando estou prestes a colocar na mala,
ouço um estalo e a porta é destruída com Gael caindo pelos estilhaços da
madeira.
— MERDA! — grita limpando os braços e vejo o suor na sua testa. —
Eu disse que arrebentaria.
Fico quieta, em choque com a ousadia dele e o ignoro, que se
aproxima.
— Precisamos conversar.
— Não tenho nada a dizer — respondo o ignorando e voltando para
as malas.
— LAUREEN, POR FAVOR, ESTOU IMPLORANDO!
Fico em choque e o encaro, engolindo em seco.
— Desculpa, eu não deveria gritar.
— Você não deveria ter feito tantas coisas, Gael, mas preferiu fazer.
— Eu também fui usado! — esbraveja.
Olho para Lucy que continua parada, ainda em choque em ver que seu
irmão destruiu a porta.
— Me perdoe, ok? Eu errei e reconheço isso, mas, por favor, tente
entender meu lado.
— E existe um lado, Gael? Me diga, pois estou curiosa... Em algum
momento foi real o que tivemos, ou tudo não passou de um plano nojento seu
e de Eduardo?
— É claro que foi real, eu juro — balbucia. — Tudo foi real, Lau,
por favor, me dê a chance de consertar o que eu fiz.
Fico em silêncio, desejando acreditar que seja verdade, mas
simplesmente não consigo.
— Quando você bate, esquece facilmente, mas quando apanha, a dor
é mais difícil de dissipar. — Respiro fundo, me controlando ao máximo para
não chorar. — Esqueça isso tudo, Gael, foi um erro termos nos casado por
contrato e ainda pior por ter me entregado a você. Sugiro que, agora que
conseguiu o que queria, anule o mais rápido possível o nosso casamento e
esqueçamos que um dia fizemos parte da vida um do outro.
Ele me observa e as lágrimas transbordam dos seus olhos,
escorrendo pelo seu rosto.
Nunca imaginaria ver Gael Brown chorando na minha frente.
— Então você acredita mesmo que eu ter dito que te amo, é mentira,
sendo que fui sincero em dizer que não nasci para o amor?
— Eu não sei mais no que acreditar — murmuro. — Apenas me
deixe ir.
Volto minha atenção para as malas, pronta para fechá-las e vejo uma
atitude completamente inesperada de Gael.
Ele me impede de fechá-las e começa a jogar minhas coisas no chão
se sentando em cima de uma das malas vazias.
— Não vou permitir que você vá embora antes que ouça o meu lado.
— Que lado? Que você jurava que meu pai era um assassino e queria
vingança?
— Sim! — volta a esbravejar. — Entenda, eu cresci ouvindo isso do
meu pai, o sentimento de ódio e vingança me nutriu durante todos esses anos.
— MESMO QUE MEU PAI A TIVESSE MATADO, VOCÊ DEVERIA SE VINGAR
DELE, NÃO DE MIM! EU NÃO ERA NEM NASCIDA NA ÉPOCA QUE MALORIE SE FINGIU
DE MORTA! — Agora é a minha vez de gritar.
— Eu sei, meu amor, e o único culpado em toda essa história foi o
meu pai, ele também me usou — murmura em lágrimas.
— Você nunca pensou em me contar a verdade, em dizer que isso não
passou de um plano?
— É claro que eu tentei, eu queria ter falado antes, mas simplesmente
travei. Na noite que fizemos amor, eu tentei falar a verdade, mas não
consegui.
Sinto meu rosto arder por ver Lucy nos ouvindo, me lembrando da
noite que Gael cita. Ele havia tentado me dizer algo, mas depois disse que
me falaria depois.
“Então era isso...”
— Me deixe consertar a bagunça que eu fiz em nossas vidas,
Laureen, por favor.
— Você vai consertar. — Aponto o dedo em sua direção. — Dou
alguns dias para que você contate seu advogado e mande providenciar o
nosso divórcio.
Dou as costas para ele e encaro minha amiga/irmã, que ainda está
petrificada.
— Você vem comigo?
Ela encara Gael, que levanta e assente.
— Claro, sou sua irmã, lembra?
Sorrio, voltando a chorar ao passar por cima dos estilhaços da porta
e saio do quarto.
— MAS E SUAS COISAS?! — grita Gael.
— Você irá arrumá-las e mandar para a casa dos meus pais — digo o
encarando uma última vez. Desço a escada, encontrando meus pais, que estão
com seus rostos inexpressivos. — Vamos embora, Lucy vem com a gente.
Vejo Malorie se aproximar e meu pai assente, então saio da casa e a
encarando uma última vez, entro no carro. Assim que começa a entrar em
movimento, vejo o veículo se afastar e Gael gritar, em lágrimas, pelo meu
perdão.
***
Gael Brown
Perdi minha mulher!
Laureen foi embora e talvez não voltarei a ter a chance de me redimir
com ela.
Assim que o carro se afasta, volto para dentro de casa e mamãe me
abraça, acariciando meu cabelo, enquanto as lágrimas escorrem pela minha
face.
Vejo papai sair do escritório e vir até a mim, me encarando com
desprezo.
— Você — diz me olhando. — Como pôde me esconder que sua mãe
estava aqui?
— Faria diferença ter dito? Pelo que vimos hoje, você a queria morta
mesmo, mentiu todos esses anos para mim, apenas para me usar como parte
do seu plano ridículo para se vingar.
Ele ri e assente andando de um lado para o outro.
— Você está certo, se Malorie estivesse morta, seria melhor.
— Não ouse falar assim da mamãe! — esbravejo.
— Tudo bem, meu filho — diz mamãe me acalmando. — É normal
do seu pai esta atitude, ele sempre me quis morta, não é mesmo, Eduardo?
O homem à nossa frente, que passo a não reconhecer, assente com um
sorriso diabólico em seu rosto.
— Ah, Malorie, se eu soubesse que por vinte e quatro anos você se
fingiu de morta, teria ido atrás de você e cometido com minhas próprias
mãos esse crime.
— Você é podre, Eduardo, me admiro ainda conseguir amar nosso
filho.
Me ajeito limpando o rosto e ele nega dando de ombros.
— Você preferiu nos abandonar por uma bastarda e por um homem
que não esteve ao seu lado.
— Jorge esteve do meu lado durante esses anos, mais do que você
enquanto éramos casados. Eu sinto muito que eu tenha te magoado de alguma
forma no passado, mas a vida é assim, alguém sempre sai machucado.
Concordo com suas palavras em silêncio, realmente alguém sempre
sai ferido de alguma situação e neste caso, Laureen, foi a mais atingida,
depois Lucy e por último eu, que minha vida inteira fui usado pelo homem
que chamei de pai.
— Já deu — digo me posicionando. — Acabou o assunto, peço que
vá embora da minha casa, Eduardo.
— Então agora que esta vadia voltou, será assim, irá me tratar como
um qualquer?
— Isso não tem nada a ver com mamãe, mas sim com suas atitudes.
Você me usou, mentiu para mim, se neste momento eu te desprezo, é por sua
culpa.
Ele assente e lambe os lábios.
— Nos vemos na empresa.
— Não, não nos veremos... Como CEO das empresas Brown, eu o
demito.
— Você não pode fazer isso, não tem este poder — responde
indignado.
— Posso, tenho e estou fazendo — digo com o tom de voz tranquilo.
— O senhor está demitido.
— ESSAS EMPRESAS SÃO MINHAS, SEU MOLEQUE MIMADO! — grita
apontando o dedo na minha direção. — SE VOCÊ É ALGUMA COISA NELA, É
GRAÇAS A MIM.
— Sim, e reconheço isso, mas como o senhor mesmo me colocou no
poder, estou te desligando das empresas... Posso muito bem alegar para os
nossos sócios que você está envolvido em algum escândalo, isso seria muito
pior.
— Você não teria coragem.
— Então tente aparecer na empresa e verá que tenho.
Papai me encara e bufa, seguindo em direção à saída.
— Pode ter certeza de que isso não ficará assim.
— Eu aposto que não ficará mesmo.
Ele balança a cabeça e sai, deixando mamãe e eu sozinhos.
— Filho, o que você fez agora é realmente possível? — pergunta
mamãe em choque.
— Sim, como disse, posso alegar aos nossos sócios que papai está
envolvido em algum escândalo — digo dando de ombros. — Por quê?
— Porque com certeza seu pai e eu estaremos, meu filho, tivemos
testemunhas aqui esta noite, muitas pessoas me viram e com certeza já está
rolando na mídia sobre o meu paradeiro.
Reflito sobre tudo o que aconteceu e vejo que é verdade.
— Tudo bem, vamos dar um jeito de resolver esta situação, neste
momento quero apenas descansar um pouco.
— Quer companhia?
— Não, mamãe, me deixe sozinho.
Ela concorda se despedindo de mim e vou atrás de uma bebida,
pensando o quanto a noite que eu pensei que seria boa para Laureen e eu, se
tornou um verdadeiro pesadelo.
Afinal, como ela está nesse momento?
Documento
“A ganância do ser humano é o que leva ao fundo do poço...”
A frase rebate em minha mente durante horas, enquanto estou deitada
com Lucy, chorando ao me lembrar de tudo que nos foi revelado.
Só de pensar em todos os segredos que meu pai nos revelou, volto a
chorar descontroladamente e fico pensando sobre o motivo de Gael ter me
usado. Recordo do momento em que ele disse que me amava e na conversa
que tivemos no meu quarto, quando ele o invadiu, após quebrar a porta.
Apesar de toda a dor, penso como seria se eu tivesse o perdoado e enxugo os
meus olhos, olhando para o teto da casa dos meus pais, onde estou desde
toda a confusão.
Confesso que não perdoei meus pais, mas não tinha para onde ir e
acabei ficando aqui. Só saio do quarto para me alimentar e evito qualquer
contato desnecessário com eles, apenas me permito ter contato com Lucy que
assim como eu, foi magoada com as mentiras contadas por nossos pais.
Por sorte, Lucy, continuou ao meu lado, ela conversou com sua mãe e
disse que neste momento, eu precisava mais dela do que qualquer coisa.
Que sorte eu tenho em tê-la ao meu lado!
A parte boa disso tudo foi descobrir que somos irmãs, não que antes
não nos considerássemos assim, mas agora tendo o laço sanguíneo, é tudo
ainda mais forte.
Papai me procurou no dia seguinte das confissões, pedindo perdão
por tudo que havia feito no passado. Disse a ele que quem deveria perdoá-lo
não sou eu, mas sim a família da mulher que ele matou inocentemente apenas
para arquitetar um plano dissimulado com sua amante.
Como o crime já tem mais de vinte anos, acredito que não há nada a
ser feito, a não ser esquecer e viver nossas vidas. Porém, sei que isso será
impossível, afinal de contas, um corpo havia sido enterrado e com certeza as
pessoas iriam querer uma resposta.
Mas neste momento isso não é minha preocupação, e sim como
ficaremos de agora em diante em relação a este contrato de casamento.
Como meu pai não deve mais nada a Eduardo, já que ele tomou conta das
ações e apenas queria me usar para atingir meus pais, não há motivos para
continuar com a farsa.
Mesmo que isso não tivesse sido resolvido, com certeza Gael e eu
não continuaríamos casados, já que seu pai revelou o verdadeiro plano
deles, mostrando o quanto fui usada.
“Laureen, eu te amo!”
— Está tudo bem?
Sou tirada dos meus pensamentos ao ver minha irmã se mexer na
cama e pensar nisso me causa um sorriso sincero.
— Ainda estou magoada — digo fungando.
— Claro que está, todos nós estamos. Não é fácil estar aqui, nesta
casa, sabendo que agora não terei mais que limpá-la porque sou filha do
dono, que por sinal me escondeu isso.
— E pensar que tem quatorze anos que você está conosco.
Ela assente.
— Sei que você está chateada por causa de tudo que Gael disse, mas
não acha que seria melhor se vocês dois conversassem pessoalmente?
— Para ele quebrar outra porta e me impedir de pegar minhas
coisas? Acho melhor não — digo firme.
Depois do acontecido, meus pertences foram trazidos de volta para
casa, porém, o papel do divórcio não havia chegado.
— Acha? — pergunta estreitando os olhos.
— É melhor não — afirmo me sentando. — Eu não sei, só quero que
meu pai resolva tudo em relação ao divórcio e que eu possa seguir minha
vida e estudar.
Lucy assente e suspiro olhando para o nada.
Sou tirada dos meus pensamentos confusos ao ver a porta do quarto
sendo aberta e meu pai entrar.
— Filha, podemos conversar?
— Tenho escolha?
— É sobre o seu casamento com Gael. Acho que vai te interessar.
Me levanto e visto meu robe de seda por cima do pijama.
— Você vem? — pergunto a Lucy.
— Se você quiser.
— Eu quero.
Minha irmã concorda se levantando e seguimos meu pai em direção a
saída, indo até o escritório.
— O que tem de tão importante que não pôde falar no quarto?
— Você vai assinar o divórcio, o advogado está esperando.
Seguimos até o escritório e vejo mamãe na porta nos esperando.
— Assim tão rápido? — pergunto mais para mim do que para
qualquer pessoa. — Realmente foi um casamento por contrato.
— Gael atendeu ao seu pedido e por ser bastante influente, conseguiu
resolver tudo o mais breve possível. Pensei que ficaria feliz — diz mamãe.
Concordo dando de ombros.
Entro no escritório de papai, vendo o advogado sentado em silêncio.
Assim que nos vê, ele levanta e vem até a mim, estendendo a mão forte.
— Senhorita Vargas, me chamo Oliver, muito prazer em conhecê-la.
— O prazer é todo meu — digo apertando sua mão.
— Como sabe, estou aqui para tratar do divórcio da senhora e do
senhor Brown.
— Sem formalidades, me chame de Laureen, por favor.
— Claro — diz sorrindo. — Bem, como estava dizendo, vim tratar
do divórcio, os papéis já estão prontos e o senhor Brown já assinou.
— Onde eu assino?
Ele arruma alguns papéis sobre a mesa e aponta cada lugar onde
devo assinar.
— É só assinar que estará oficialmente divorciada.
Concordo pegando uma caneta sobre a mesa de papai.
Sem pensar duas vezes, os assino, não me dando o trabalho de ler.
Assim que finalizo, encaro minha caligrafia fina:
Laureen Vargas Brown
Suspiro ao perceber que será a última vez que usarei esse sobrenome
e entrego os papéis a ele. O vejo assinando-os, colocando dentro de uma
pasta e me entregando a cópia de cada um deles.
— O que são estes papéis? — pergunto curiosa.
— O que a senhorita acaba de assinar não é o seu divórcio, mas sim
documentos dizendo que está de acordo com a decisão do senhor Brown em
deixar para você algumas ações da empresa. Uma fortuna equivalente a dois
milhões e a ilha em que passaram a lua de mel.
— O quê? Eu não quero nada disso! — digo nervosa ao descobrir
que não estou livre de Gael.
— Você já assinou os papéis, Laureen, não há mais nada que possa
ser feito.
— VOCÊ MENTIU PARA MIM! — grito nervosa.
— Bem, isso foi um pedido do senhor Gael, sinto muito... Ele paga,
eu faço o que manda.
— E o que eu faço com isso agora? Quando o divórcio saíra?
— O dinheiro está em uma conta particular que ele abriu para você.
— Ele abre a mala e pegar um cartão com meu nome. — Aqui, a senha é o
dia que se casaram. Em relação ao divórcio, sugiro que a senhorita procure
seu marido para que possam conversar a respeito.
— E se eu não quiser usar este dinheiro? Apenas desejo me ver livre
de Gael, mas que merda!
— Bem, se não utilizar o dinheiro, ele permanecerá na conta. Sobre
as ações, a senhorita agora tem uma cadeira na empresa do seu marido e
deve ocupá-la.
— O quê?
A cada segundo a história fica ainda mais confusa, me deixando
irritada com Oliver e seu chefe.
— É isso mesmo que ouviu, Laureen, agora você ocupa uma cadeira
na empresa e pode ir quando quiser ao local. Recomendo que vá o mais
breve possível, já que o anúncio sobre sua chegada será feito em poucos
dias.
Fico incrédula com isso e o vejo se afastar, me deixando sozinha com
minha família e o pensamento de que Gael Brown é maluco, com certeza não
irei me livrar tão facilmente assim dele.
***
— Pelo menos este casamento trouxe alguma vantagem para você,
irmã, agora está milionária, tem ações na empresa dos Brown e ainda por
cima um cargo e uma ilha para viajar quando quiser!
— Queria que fosse fácil assim como é pensar — digo andando de
um lado para o outro no meu quarto. — Que loucura, o que Gael quer afinal
de contas?
— Estar perto de você, é claro — diz maliciosa. — Percebe o
quanto isso tudo é maluco? Somos cunhadas e irmãs!
Dou risada e concordo.
— Seu irmão é mesmo maluco. Meu Deus, como é estranho dizer
isso em voz alta.
Voltamos a rir e ela concorda.
— Mamãe me ligou, ela disse que preciso ir até a empresa, parece
que Gael faz questão de me dar um cargo também e pelo que soube, meu
irmão afastou Eduardo da empresa.
— Gael agiu certo em afastá-lo, agora que Malorie voltou, as
especulações sobre sua suposta morte vão voltar com tudo, principalmente
em relação ao corpo que foi enterrado e isso pode ser um problema.
Lucy concorda e suspiramos juntas.
— Então, me diga, o que você vai fazer em relação a esse tal cargo
que nem sabemos direito?
— Não posso aceitar, isso seria muito incoerente.
— Nossas vidas não são coerentes... Veja só, era empregada, agora
sou sua irmã, irmã do Gael, estou ligada a duas famílias declaradas inimigas,
minha mãe que eu mandava dinheiro para ajudar, vivia bem na Alemanha e
sem eu saber, era um cadáver ambulante.
— Meu Deus, você é péssima! — Rio e ela me acompanha.
— Eu sei, mas é a verdade.
Concordo.
— Fora que não citei a parte em que você assinou um documento sem
ler e ao invés de estar separada do meu irmão, agora é milionária e ainda
por cima com uma ilha.
— Você se esqueceu de uma cadeira na empresa do seu irmão. —
Suspiro irritada com isso. — Vou na empresa entregar pessoalmente este
cartão para Gael e dizer a ele que me recuso a aceitar isso tudo que ele
impôs, e claro, exigir o divórcio.
Lucy estreita os olhos e franze a testa.
— Vai é?
— Sim e você vai comigo.
— É só me dizer quando que iremos — diz animada.
Sorrio e cruzo os braços.
— Que tal hoje?
***
— Filha, podemos conversar?
Ouço a voz de papai assim que me vê descer a escada pronta para ir
à empresa de Gael.
Lucy está ao meu lado bem arrumada, assim como eu.
— Estou ouvindo.
— Podemos ir ao meu escritório?
— Por que tudo precisa ser resolvido no escritório? — questiona
Lucy arrancando uma risada minha.
— Coisa de homens — sussurro a ela, assentindo para o meu pai. —
Claro, desde que seja breve, estamos de saída.
— Eu sei, vai ser, eu prometo.
Concordo e seguimos até o escritório.
Papai fecha a porta e prepara uma dose de uísque para ele.
O vejo beber um gole e acender um charuto, o tragando.
— Imagine se fosse demorar — sussurra Lucy para mim.
Seguro a risada e encaro meu pai.
— Estou ouvindo.
Ele passa a mão na testa suada e lambe os lábios.
— Gostaria de pedir um favor, mesmo não estando em posição para
isso.
— Pode pedir.
— Com o seu casamento com Gael, minha dívida foi perdoada por eu
não ter mais as ações da nossa antiga empresa, porém, mesmo não devendo
Eduardo, as coisas não estão indo bem e com isso, estamos com pouco
dinheiro.
— Isso é consequência de uma decisão sua, papai.
— Sim, por isso eu iria pedir para que você não recusasse o dinheiro
que Gael te deu e nem o cargo na empresa.
— É claro, tudo gira em torno do dinheiro para o senhor — respondo
ríspida. — Me fez casar com Gael, sem opção de recusa e agora quer que eu
fique com o dinheiro que não me pertence?
— Em nome da nossa família, sim... Sua mãe está preocupada, a
nossa conta está quase zerada e se você recusar, estaremos perdidos.
Fico em silêncio ao ouvir isso.
“Estaremos perdidos?”
— Eu me perdi no momento que o senhor me fez aceitar o casamento,
papai, fui forçada a me casar com um desconhecido em nome dos negócios.
Sinto muito que esteja passando esta situação, mas infelizmente não posso
ficar com o dinheiro.
Ele me olha aflito e assente sem opção.
— Tudo bem.
— Não me leve a mal, papai, mas aceitar o dinheiro só comprovaria
que somos iguais a Eduardo e Gael.
— Eu sou igual, minha filha, talvez até pior.
***
Me sinto mal pela minha família, mas decido seguir até a empresa
com Lucy para recusar qualquer coisa de Gael.
Não posso dar esse gostinho a ele.
Em silêncio, seguimos o percurso e quando vejo, estamos próximas
da empresa que fui apenas uma vez.
— O tempo não tem dó mesmo da gente — sussurro pensando alto.
— Não mesmo, passa que nem percebemos — diz Lucy.
Assinto.
Nosso motorista para, sai do carro e abre a porta para nós.
Agradecemos e encaro o prédio luxuoso a minha frente, temendo o
que pode acontecer. De repente, minhas mãos suam e sinto minhas pernas
virarem gelatina, como se não fossem capazes de me sustentar.
— Estou tão nervosa.
— Então somos duas — responde minha irmã.
— No três entramos.
— Certo, um...
— Dois...
— Três — dizemos juntas seguindo para dentro do prédio.
Assim que passamos pelas portas de vidro, vários olhares recaem
sobre nós e me sinto exposta. Finjo que os olhares não são comigo e sigo até
a recepção.
— Olá, gostaria de ver Gael Brown.
— Claro, senhora Brown — responde uma mulher baixinha de
cabelo liso e olhos castanhos.
— É Vargas. — A corrijo, mesmo sabendo que ainda carrego o
sobrenome do meu suposto marido de contrato.
A mulher fica sem graça, pega o telefone e anuncia minha chegada.
Não demora, ela me entrega um crachá e outro para Lucy, depois
seguimos de braços entrelaçados até o elevador. Entramos, aperto o botão do
andar que vamos e meu coração fica gelado enquanto o elevador sobe.
O que vai acontecer agora?
Faz semanas que não vejo Gael, para ser mais exata, desde o dia em
que tudo foi revelado e decidi voltar para a casa dos meus pais.
Fico pensando em como ele está se sentindo em relação a isso tudo e
mais uma vez me vejo pensando em suas palavras.
“Laureen, eu te amo!”
Ouço o barulho das portas do elevador se abrirem e saio dos meus
pensamentos, seguindo em direção a saída completamente distraída.
Bato meu rosto em um peitoral forte e inalo o perfume da sua camisa,
sentindo meu corpo se arrepiar ao ser pega, me impedindo de cair. Então o
encaro; seus olhos brilham de forma intensa, a barba está bem-feita e o
sorriso de lado surge em seu rosto.
— Você precisa aprender a ser menos desastrada, senhora Brown —
diz Gael.
Provocações
Me recomponho e rapidamente me afasto de Gael, que ajeita a
gravata e se vira para Lucy, a abraçando.
— Oi, irmã — diz feliz em vê-la.
— Como você está? — questiona minha irmã.
“Droga, que confusão! Quando irei me acostumar com isso tudo?”
— Agora estou bem, você precisa ir jantar qualquer dia lá na nossa
casa, aliás, acho que já passou tempo demais com sua irmã, agora é a minha
vez.
Vejo o quanto isso é engraçado e ao mesmo tempo ridículo, dois
meses atrás nunca imaginaríamos que nossas vidas mudariam assim tão de
repente. E agora, Gael e eu temos uma irmã em comum, ainda estamos
casados por infantilidade sua e com certeza o escândalo sobre a suposta
morte de sua mãe está para explodir.
— Podemos combinar, mas por enquanto, minha irmã ainda precisa
de mim.
Sorrio com isso e Gael me observa.
— Você parece bem — comenta me analisando por completo.
Me sinto constrangida e dou de ombros.
— Você também parece.
— Obrigado, veio para sua posse na empresa?
— Claro que não — digo de maneira ríspida. — Vim conversar com
você a respeito do nosso divórcio, podemos?
— Claro — Gael se vira para Lucy. — Vou pedir para que mostrem a
empresa para você. Mamãe está aqui também, vai ficar feliz em vê-la.
— Tudo bem — responde Lucy sorrindo. Ela me abraça e afaga meu
cabelo. — Vai ficar bem sozinha?
— Eu dou conta. — Pisco.
Ela assente e Gael manda uma mensagem para alguém, não demora e
um homem bonito se aproxima e sorri.
— Guillén, esta é minha irmã Lucy, cuide de mostrar tudo para ela.
Vejo o olhar brilhante da minha irmã e o homem assente.
— Claro, chefe. — Ele me encara. — Senhora Brown.
— É Vargas — digo forçando um sorriso, mesmo que ainda carregue
seu sobrenome, não darei este gosto a Gael.
— Me desculpe — diz sem graça.
— Tudo bem, ainda não saiu o divórcio oficial, mas é bom já ir se
acostumando com a mudança.
Guillén assente e volta sua atenção para minha irmã.
— Vamos lá, senhorita...
— Connor — diz enfática. — Por enquanto ainda é Connor.
— Não se preocupe, meu advogado já está resolvendo isso — diz
Gael. — Vamos, Laureen?
Concordo e vejo minha irmã se afastar com o rapaz.
Sigo para o escritório de Gael, me lembrando do dia em que
acabamos transando aqui...
De quando perdi minha virgindade nesta sala.
— O que a traz aqui, já que não é para ocupar seu cargo na empresa
— pergunta irônico, indo até o bar e enchendo um copo de uísque para ele.
— Vim devolver seu cartão e dizer que não quero nada que te
pertence — digo com a voz firme. — E claro, além disso, exigir o nosso
divórcio, você usou seu advogado para que eu assinasse os malditos papéis
e agora estou presa a você.
Gael se aproxima e para na minha frente, bebendo o líquido âmbar
sem fazer qualquer careta.
— Poderia ter mandado alguém fazer isso, ou até mesmo enviado um
e-mail... Sobre os papéis, não ler causa isso, eu poderia estar declarando
por meio de um registro oficial que você é minha e nem se daria o trabalho
de olhar. — Suas palavras me fazem revirar os olhos. — Isso tudo é para se
livrar de mim logo?
— Com certeza! — digo de maneira ríspida. — Por isso preferi vir
pessoalmente. — Tiro o cartão da bolsa com o documento que seu advogado
me deu e levo em sua direção. — Aqui, pegue, não quero nada que te
pertença, o nosso único elo será Lucy e nada mais.
Gael encara minha mão e assente, pegando o cartão e o documento.
— Se você prefere assim...
— Sim, eu prefiro — respondo convicta.
— Tudo bem, não posso obrigá-la a aceitar o dinheiro, mas sei quem
aceitará de bom grado.
— Nem pense em dar dinheiro ao meu pai — digo apontando o dedo
em sua direção.
— Laureen, sei que está chateada comigo e não a culpo, mas por
favor, ouça meu lado.
— O seu lado por acaso existe nessa história?
— Sim, existe — responde suspirando. — Posso não ter sido o
homem mais correto, mas tive meus motivos.
— Seus motivos. — Rio debochada. — Percebe como as coisas são
engraçadas? Você queria se vingar do meu pai devido a morte da sua mãe,
iria me infringir dor para seu bel-prazer e no fim de tudo, ela está viva.
— Eu sei e me arrependo por isso... Se eu tivesse feito metade das
atrocidades que meu pai queria...
— Atrocidade. — A palavra estala em minha boca e sinto uma
lágrima escorrer pela minha bochecha. — Isso é tão doentio, Gael, como
você cogitou me machucar apenas para se vingar do meu pai?
— Eu pensava que ele tinha matado minha mãe! — Sua voz está
alterada e percebo o copo tremer em sua mão. — Entendo que esteja
chateada e que me odeia, mas se coloque no meu lugar. Eu fiquei vinte e
quatro anos longe da minha mãe acreditando que ela estava morta... O ódio e
a amargura me consumiram todos esses anos e eu apenas queria que o
culpado pagasse pelo que fez.
— Você poderia se vingar sim do meu pai, Gael, eu ficaria chateada,
mas não tanto quanto estou agora. Eu nunca tive nada a ver com o problema
de vocês!
— EU SEI, MAS EU TE AMO! — grita jogando o copo longe. — Porra,
você não vê o quanto me deixa desestabilizado? Estou completamente
arrependido de querer me vingar do seu pai a usando, mas entenda o meu
lado, por favor!
Fico em silêncio ao ouvir suas palavras e por incrível que pareça,
sinto verdade em cada uma delas.
Como perdoar o homem que poderia ter destruído minha vida apenas
por vingança ao meu pai?
— Entendo que você cresceu com sede de vingança e que tenha
pensado que meu pai tivesse matado sua mãe e para falar a verdade,
concordo que ele é culpado disso tudo, afinal, nossos pais se apaixonaram e
acabaram tendo um romance e com isso, nossa irmã. Só que isso não
justifica sua convivência com um ato atroz como este, planejado por seu pai.
Quero perdoá-lo, Gael, eu juro, mas não consigo! Eu também te amo e isso
dói demais em mim, se eu pudesse, arrancaria toda essa dor do meu peito.
— Me deixe ajudá-la com isso, meu amor. — Ele se aproxima e
encosta seu corpo no meu, causando uma onda de eletricidade entre nós. —
Por favor, sei que não será fácil recuperar sua confiança, mas me deixe
tentar.
— Gael, por favor...
— O que foi? — Ele acaricia meu rosto e enxuga minhas lágrimas.
— Eu te amo, Laureen, estou sendo sincero, me dê a chance de mudar.
— Droga, eu também te amo. — Desvio meu olhar do seu e ele
segura meu rosto, fixando nossos olhos.
— Me deixe te beijar — pede lambendo os lábios.
— É melhor não...
— Shhiii, eu sei que você quer, só não admite — responde colando
ainda mais nossos corpos. Sinto seu pau duro dentro da calça e solto um
gemido baixo. — Vamos relembrar o momento que tivemos aqui, o que acha?
— Você é um canalha, Gael Brown, mas tem lábia. — Reviro os
olhos, deslizo minha mão pelo seu peitoral, descendo até seu pênis por cima
da calça, o acaricio e o sinto pulsar.
— Viu como você me deixa? Estou louco por você, Laureen, vamos
recomeçar, temos muito o que viver ainda.
— Você não vê o quanto isso é loucura? Se voltássemos, seria como
se eu estivesse assinando minha sentença.
— Não pense nisso, por favor — pede passando a mão pela minha
pele, que se arrepia.
Continuo com a mão encostada no seu membro e ele segura meu
queixo.
— Podemos começar do zero, como duas pessoas comuns, sem
ninguém para ditar as regras.
Não digo nada.
Será que devo ou não aceitar esta oferta?
— Até parece que somos comuns. — Rio e ele me acompanha.
— Vai deixar eu te beijar agora ou continuará negando seus desejos?
Fico parada, sentindo o suor na minha testa escorrer e minha região
íntima ficar úmida.
“Merda, por que esse homem causa este tipo de coisa em mim?!”
— Eu que vou beijá-lo — digo sentindo a firmeza do seu pau, o
aperto e Gael solta um gemido. — Vou te mostrar o que você perdeu.
Vejo o sorrisinho sexy surgir em seus lábios, me aproximo dele
passando as mãos em volta do seu pescoço e beijo sua boca. A devoro,
invadindo com a minha língua e pulo no seu colo, passando as pernas pela
sua cintura.
Gael sobe meu vestido para ter acesso a minha lingerie, sinto o gosto
delicioso do seu beijo misturado a bebida ingerida e percebo o quanto sinto
falta disso enquanto ainda nos beijamos. Ele me guia para sua mesa me
apoiando nela e como da outra vez tudo vai ao chão.
Com urgência ele separa nossas bocas, desabotoa sua camisa e abre
o zíper da calça, ficando apenas com a cueca boxer preta, que marca seu pau
que lateja. Sorrio e acaricio seu peitoral forte, sentindo seus gominhos, então
vou descendo devagar e puxo o cós da cueca.
— O que você está pensando em fazer? — pergunta me vendo
levantar.
— Shhii, fica quietinho.
O empurro para a mesa fazendo com que ele se sente. Puxo a cueca
com determinação e passo a língua nos lábios ao ver seu pênis pulsar,
totalmente lubrificado.
— Eu nunca fiz isso, então caso o machuque, me avise.
— Espera, você vai chupar meu pau?
— Você não quer que eu chupe?
— É claro que quero, só estou surpreso.
Fico sem graça e dou de ombros.
Pego seu pênis e o masturbo enquanto encaro seus olhos fixamente.
— Se lembra que eu disse para não me subestimar?
— Sim, me lembro. — Seu tom de voz é neutro.
— Era sobre isso que eu estava dizendo.
Me abaixo seguindo em direção ao seu pênis e o abocanho, sentindo
o nervosismo tomar conta de mim e meu rosto arder de vergonha. Gael solta
um gemido e devagar engulo seu pênis, me sentindo uma idiota por não saber
se estou fazendo certo ou não. Passo a língua pelo comprimento e sigo para a
cabeça úmida, fazendo meu marido gemer mais alto.
— Meu Deus, para quem nunca fez um oral antes, você é muito boa
— diz e continuo chupando, quase me engasgando.
Tiro seu pau da boca e o masturbo, voltando a engolir até onde
consigo, então Gael empurra minha cabeça com tudo e chupo até o final, me
engasgando. Perco o ar com isso e assim que recupero, volto a chupá-lo, me
sentindo maravilhada com o que estou fazendo.
Neste momento, eu não quero saber se estou fazendo certo ou
machucando Gael, quero apenas aproveitar o momento.
Enquanto ainda mergulho no seu sexo, levanto a barra do meu vestido
e puxo minha calcinha para baixo, sentindo minha boceta molhada. Gael
apenas contempla a cena, gemendo deliciado e dizendo coisas sujas como,
“continue me chupando” e “sua boca é uma delícia”.
Tiro seu pau da boca para recuperar o ar e assim que o faço, volto a
chupar, sentindo meu maxilar começar a doer. Percebo que aos poucos a
vergonha vai ficando de lado e acaricio os lábios da minha vagina,
introduzindo um dedo devagar no meu sexo. Solto um gemido e o pau de
Gael pulsa entre meus lábios, então continuo chupando e me masturbo,
deliciada com o que estamos fazendo.
— Eu vou gozar — anuncia enquanto ainda o chupo. — Pode tirá-lo
da boca.
— Ainda não, Gael — digo chupando.
— Mulher, você acaba comigo.
— Então me deixe acabar ainda mais.
Antes que ele possa responder, me levanto e o empurro para trás,
deitando seu corpo. Gael me encara sem entender e sorrindo, tiro minha
calcinha por completo. Puxo o vestido que estou usando e subo no seu colo
com certa dificuldade.
— O que você vai fazer?
Me posiciono diante do seu pênis, o seguro e me sento com tudo no
seu pau. Nós dois soltamos um gemido juntos e me apoio no meu marido,
cavalgando no seu pau que pulsa dentro da minha boceta.
— Vou mostrar para você quem manda.
Ele fica quieto e continuo cavalgando, me sentindo realizada com
isso.
Seu pau me preenche e solto um gemido alto, maravilhada com a
sensação que me causa. Gael ergue minhas pernas um pouco e com
dificuldade, mete em mim, com seu pau me preenchendo ainda mais.
— Você gosta disso, Gael? — pergunto enquanto ele continua
estocando forte.
— Sim, meu amor, eu gosto... Você não tem noção de quanto sua
boceta é deliciosa.
Sorrio e continuamos na mesma intensidade.
— Aproveite bastante, você foi o único homem que me fodeu.
Volto a sentar em seu pau e Gael geme, revirando os olhos de tanto
tesão. Ele acerta um tapa na minha bunda e solto um gemido, o provocando.
— Eu não vou conseguir segurar por mais tempo, Laureen.
O ignoro e continuo cavalgando, esfregando meu clitóris e sentindo
meu sexo cada vez mais inchado. Vejo Gael se contorcer, se segurando ao
máximo e mantenho a velocidade.
— Laureen, tire — diz gemendo.
Nego olhando fixamente para ele enquanto continuo cavalgando.
— Porra, vou gozar!
Assim que diz, saio às pressas de cima dele e volto a chupá-lo. Sinto
o líquido viscoso invadir minha boca e meu corpo reage, gozando sem ao
menos me tocar. Fico surpresa em saber que meu corpo é capaz de produzir
tanto prazer e tiro o pênis de Gael da boca. Ele se levanta, pega a lixeira do
outro lado da mesa e vem em minha direção.
— Cuspa aqui.
Faço o que me pede e limpo a boca.
— Obrigada.
Ele traz água para mim e bebo, me sentindo aliviada pelo gosto sumir
da minha boca.
— Não precisa agradecer, agora me deixe limpá-la.
— Como?
Gael sorri e me pega no colo, fazendo com que um gritinho escape
entre os meus lábios. Ele me coloca sobre a mesa e inclina meu corpo para
trás, ajoelhando-se na minha frente e levando sua língua até a minha boceta.
Solto um gemido com isso e ele me chupa, me limpando
completamente. Assim que termina, Gael se levanta e arruma sua roupa me
encarando.
— O-obrigada — digo com a voz embargada.
— Por nada, meu bem, você queria me mostrar o que era capaz de
fazer e eu apenas retribui.
— Você é um canalha, isso sim!
Me ajeito e ele ri.
— E você é bem inocente em me provocar deste jeito, não é?
— Para você ver a mulher que perdeu.
Sigo em direção à porta e ele me segue.
— Vai para algum lugar? — pergunta sem entender.
— Embora, é claro — digo nervosa por permitir que isso aconteça.
— Apenas vim aqui para entregar o seu cartão, dizer que não aceito nada do
que quer me dar e que espero o divórcio.
— E a nossa transa?
— Foi só para provocá-lo, é claro — respondo irritada.
— O que foi que está tão brava, o feitiço virou contra a feiticeira?
Mostro o dedo do meio para ele e reviro os olhos.
— Adeus, senhor Brown.
— Eu não vou desistir de você, Laureen — diz se aproximando. —
Pode levar o tempo que for, eu vou reconquistá-la.
Dou de ombros e saio o ignorando.
Pensando no delicioso sexo oral que fiz em Gael e no sexo intenso
que tivemos, saio do seu escritório em busca da minha irmã.
Escândalo
Os dias vão passando rapidamente e quando dou conta, já tem
um mês que Gael e eu estamos brigados e ainda casados, já que ele se recusa
a assinar os papéis.
Gael não cumpriu sua palavra e deu o dinheiro ao meu pai, que à
beira da falência, agradeceu e aceitou. O único que não estava gostando nada
disso era Eduardo, que até então não interveio e nem nos procurou.
Não voltei a ver Gael após o dia que fui ao seu escritório
acompanhada por Lucy, que decidiu passar uns dias com a mãe, com o
coração na mão.
Malorie, por sua vez, me procurou para conversarmos e me pediu
perdão por conta da traição dela e do meu pai. Dando um voto de confiança,
aceitei, afinal, se mamãe fora capaz de perdoá-los e aceitar uma filha fora do
casamento, por que eu não poderia fazer o mesmo?
Mas tínhamos um problema no caminho que surgia devagar e quando
vimos, estava à tona, a falsa morte de Malorie, como presumi.
Com seu retorno e retomada do seu lugar nas empresas da família
Brown, os noticiários, com a intenção de ter algo para mostrar, questionaram
sobre o cadáver que havia sido enterrado.
— O que faremos? — pergunta mamãe, andando de um lado para o
outro, completamente aflita.
Estamos no escritório do papai que fuma e bebe em silêncio.
— Vamos dar um jeito — diz por fim. — Se eu for pego, estaremos
completamente arruinados e tudo irá acabar.
Suspiro chateada por ver que as coisas não melhoram mesmo para
nós. Mesmo tendo dinheiro, os problemas continuam, já que papai perdeu
tudo para Eduardo.
— E por acaso vão desenterrar os restos mortais para investigar? —
questiono.
— Na época da suposta morte de Malorie, alguns políticos se
envolveram na situação por serem amigos de Eduardo — diz papai.
— E não pensaram em fazer teste de DNA naquela época para saber
de fato se o corpo era dela?
— Não, Eduardo queria colocar um fim na investigação, como eu
disse, com medo de ser culpado. Ele pediu para encerrar e enterrou a
suposta mulher, mas agora com a volta de Malorie, ele não impedirá que isso
aconteça, afinal, seus amigos políticos irão pedir por isso com toda certeza,
para não mancharem o nome deles.
— E mancharem ainda mais o nosso, é claro, Eduardo não perderia
nada com isso, apenas o verdadeiro culpado.
Meus pais me olham e papai suspira.
— Se eu precisar me entregar, farei isso.
— Sinto muito que esteja passando por isso, papai.
— E o que você pretende fazer, Jorge? — pergunta mamãe. — Não
podemos ficar parados, se precisarmos fazer algo, faremos.
— Não adianta fazermos nada, querida, essa batalha perdi há anos e
chegou o momento de encerrá-la. — Ele se aproxima e acaricia meu rosto.
— Me perdoe por submetê-la a um casamento sem amor, você sempre esteve
certa, fui um covarde por fazer isso.
— Tudo bem, no fim das contas, não foi completamente ruim.
— Nunca pensei que Gael pudesse ser tão influenciado pelo pai,
quando Eduardo sugeriu o casamento, com medo, acabei aceitando sem
pensar direito, mas agora é nítido que ele apenas queria isso para se vingar.
— Sim, mas as coisas foram esclarecidas ao menos, se Gael e eu não
tivéssemos se casado, Malorie nunca voltaria para colocar a verdade à tona
e essa história de vingança continuaria.
— Essa história sempre continuará, minha filha, Eduardo nunca
aceitará que perdeu.
Assinto concordando e vejo um dos empregados entrarem no
escritório.
— Senhor Vargas, com licença, os seus convidados chegaram.
Vejo meu pai assentir e o homem se afastar.
— Que convidados, papai?
— Também estou confusa. Vamos fazer alguma coisa que eu não
saiba? — pergunta mamãe.
— Sim, mas esperem que já saberão o que é.
Fico confusa e quando vejo, Lucy entra no escritório e vem em minha
direção, me abraçando. Após nos separarmos, ela abraça mamãe e depois
papai, que aos poucos está aprendendo a amá-lo e a perdoá-lo por escondê-
la por tantos anos.
Porém, não para por aí, logo em seguida Malorie entra e atrás dela
surge Gael, que me encara fixamente. Nossos olhares se encontram e é como
se estivéssemos somente nós dois no local, causando uma onda de
eletricidade por todo meu corpo. O olhando neste momento, me recordo de
cada minuto ao seu lado, assumindo para mim mesma que este último mês
não foi fácil.
— Gael... — Seu nome escapa da minha boca e vejo que ele coloca a
mão dentro do bolso da calça social.
— Oi, Laureen.
Meu nome soa sensual e me reprimo.
— Malorie, como está? — pergunto desviando meu olhar do seu.
— Bem, querida. E você?
— Indo.
Ela assente e meu pai pigarreia.
— Você e sua mãe devem estar se perguntando o motivo desta
reunião — começa a dizer e assinto. — Bem, chamei Gael e Malorie aqui
por conta do que estávamos conversando antes.
— Da polícia investigar o caso de vinte e quatro anos atrás?
— Estão investigando já. Meu pai ordenou que o caso fosse reaberto,
com a influência que tem, o fizeram rapidamente.
— E isso quer dizer...
— Que a verdade chegará o mais rápido possível. — Completa
papai.
— E o que Gael tem a ver com isso?
— Se não sabe, esposa, Malorie é minha mãe e também está
envolvida no crime — diz enfaticamente. — Nossos pais cometeram essa
barbárie, mas agora que mamãe voltou, não permitirei perdê-la novamente.
— E o que vocês têm em mente?
— Em decisão unânime, seu pai e eu decidimos nos entregar para a
polícia — diz Malorie.
— O quê?! — questionamos ao mesmo tempo.
— Este não era o plano — declara Gael.
— Vocês não podem fazer isso! — rebate Lucy.
Mamãe se mantém em silêncio.
— Deve existir outro jeito — digo andando de um lado para o outro.
— Não podemos permitir que isso aconteça.
— O quê? — Papai me olha confuso. — Filha, sabemos que nada
fica escondido para sempre, a situação que passamos é prova disso.
— Eu sei, eu sei... Que droga, se vocês dois fizerem isso, tudo vai
piorar ainda mais e Eduardo vai ganhar esta batalha.
— E por acaso você tem algo em mente que possamos fazer? —
pergunta Malorie.
— Eu não sei, não entendo muito sobre isso, mas para um crime ser
comprovado, precisa de provas, não é mesmo?
Todos me olham, com expressão interrogativa em relação ao que eu
disse.
— O que você está pensando, Laureen? — pergunta Gael.
— É a palavra de Eduardo contra a nossa, somos seis contra um, ele
pode até reabrir o caso e fazer com que investiguem, mas não existem
provas, existe?
— Não, fiz tudo cuidadosamente na época, um capanga me ajudou.
Concordo, vendo o quanto sou horrível em arquitetar isso.
— Então, se a família da garota não a procurou, é porque não
quiseram saber sobre seu paradeiro.
— Como eu disse, ela era prostituta, então possa ser que a família
acredite que ela morreu em um beco qualquer — diz papai.
— Se Eduardo seguir com isso, ele pode ser o culpado do crime —
afirmo. — Seria plausível, não acham? O marido tentou matar a esposa, ela
fugiu e para não descobrirem seus podres, ele forjou a morte dela, sabendo
que não voltaria para dizer a verdade.
— Isso prejudicaria Gael em relação aos negócios, afinal, os bens
poderiam ser congelados para uma investigação — diz Malorie.
— Não me importo que isso aconteça, desde que você fique livre. Na
época, eu era uma criança, tenho meus advogados, eles podem cuidar para
que me deixem de fora.
— Você não se importa em prejudicar seu pai desta forma?
— Não, ele me usou, está na hora dele também ser usado.
— Mas isso é loucura — diz mamãe pela primeira vez. — Não
podemos envolver nossa filha nisso.
Assinto sabendo que ela tem razão.
— Não vão, vamos fingir que não sabemos de nada e seguirmos
nossas vidas.
— Mas você acha mesmo que as pessoas vão acreditar que meu pai é
culpado? — questiona Gael. — Por que ele reabriria um caso, se é o
assassino?
— Eu não sei, a fim de culpar uma pessoa inocente. — Olho para
meu pai que sorri.
— Filha, você é inteligente, mas não quero que carregue esta culpa
— diz preocupado.
— Eu também não quero, mas não vejo outro jeito. Se vocês se
entregarem, será muito pior, pois o que Malorie fez é crime, assim como o
que o senhor fez.
— Mas a imprensa vai questionar a minha volta, para falar a
verdade, desde o dia que eu voltei, repórteres me procuram para conceder
uma entrevista. — diz Malorie.
— Uma entrevista — penso colocando o dedo na têmpora. — E se
você desse uma?
— Acho que você está delirando, irmã — diz Lucy.
— Não, a ideia é boa. Mamãe poderia dar uma entrevista revelando
o que aconteceu e culpando papai.
— Sim, posso dizer que ele tentou me matar, o que sabemos que não
é mentira porque ele seria capaz de fazer isso, tanto que acabei fugindo,
então ele forjou minha morte — diz articulando o nosso plano.
— Tenho um plano melhor — diz mamãe.
— Qual?
— Vou dizer a vocês, mas Malorie terá que confiar em mim.
Vejo Malorie encará-la e assentir.
— Eu confio.
— Ótimo, Gael, você tem amigos jornalistas, não tem?
— Sim, senhora Vargas.
— Então sugiro que chame dois ou três de confiança, sua mãe tem
uma história e tanto para contar.
***
— Seus advogados já cuidaram de protegê-lo? — pergunto a Gael
dias depois do nosso plano no escritório do papai.
— Sim, como meu pai reabriu o caso, e foi afastado dos negócios,
tivemos maior facilidade em me proteger, já que na época eu era apenas uma
criança.
— Ele ainda está com raiva de você?
— É claro que está, mas não me importo, quero que ele pague por ter
me usado — diz rindo.
— Dói ser usado pelas pessoas — afirmo cabisbaixa.
A casa de Gael está pronta para a entrevista começar, decidimos que
ela passaria direto na televisão, com Malorie se preparando para encenar o
plano de mamãe.
Um plano maluco e genial, para ser sincera.
— Me perdoe... Sei que é difícil acreditar, mas estou fazendo isso
por você.
— Por mim? — pergunto surpresa.
— Sim, Laureen, eu quero que me perdoe e me dê uma chance de
recomeçarmos.
— E você seria capaz de prejudicar seu pai para obter isso? —
questiono já sabendo a resposta.
— Para tê-la de volta, sou capaz de tudo.
Sinto meus olhos encherem de lágrimas e dou risada.
— Nossos pais foram capazes de tudo pela paixão deles, até mesmo
cometerem um crime horrível, apenas para ficarem juntos.
— E mesmo assim não ficaram — Gael completa, olhando para sua
mãe que está conversando com o produtor que ajeita o microfone.
Meus pais não vieram para a entrevista, assim seria melhor.
— Sim, acredito que se fosse em outra circunstância, eles teriam
ficado.
— Possa ser que sim, mas neste momento não quero saber disso e
sim sobre nós que estamos aqui e temos a oportunidade que eles não tiveram.
Fico quieta, pensando a respeito do que ele diz e vejo Lucy se
aproximar.
— Está tudo pronto, vão entrar no ar em dez minutos.
— Ótimo, é melhor você se preparar — digo.
Ela assente e sorri.
— Estou nervosa.
— Todos estamos, mas vai dar certo.
Lucy faz parte do plano de mamãe, que aceitou de imediato ajudar a
sua mãe.
O que somos capazes de fazer para proteger quem amamos?
Talvez somos capazes de tudo.
***
— Nesta tarde, a senhora Malorie Eva Brown, decidiu nos
conceder uma entrevista para nos contar com exclusividade tudo sobre a
sua morte forjada vinte quatro anos atrás, onde um corpo foi encontrado
dentro de um carro em chamas, com suas vestes e joias. Durante nossa
entrevista, Malorie se emocionou contando tudo que passou nesses
últimos anos e o verdadeiro culpado do seu sumiço. Veja agora com
exclusividade.”
Encaro a televisão e mordo meu dedo, na esperança de que tudo
tenha saído perfeito, então a entrevista se inicia.
— Estamos nesta tarde com Malorie, aqui na residência do seu
filho, Gael Brown e ela irá nos conceder uma entrevista exclusiva nos
contando tudo o que realmente aconteceu vinte e quatro anos atrás.
Malorie, nos diga, como sobreviveu este tempo todo escondida?
— Não foi fácil, Edward, para falar a verdade, ainda me sinto
receosa por ter voltado, mas eu precisava retomar minha vida e explicar o
que realmente aconteceu.
— Fique à vontade para dizer quando quiser.
— Claro, obrigada. Para ser sincera com você, tudo começou
quando meu ex-marido, Eduardo Brown, começou a achar que eu tivesse
um amante.
— Mas esse amante de fato existiu?
— Sim, não posso negar, tivemos uma filha, Lucy, que soube sobre
o pai recentemente.
— Como está sendo isso para você, Lucy?
— Estranho, mas irei me acostumar — diz rindo.
— Certo, voltando ao assunto inicial, então você confessa que
teve realmente um amante?
— Sim, confesso, e para falar a verdade, não me arrependo,
Eduardo e eu nos casamos por conveniência da sua família, ele nunca foi
um homem amável e para falar a verdade, me assustava demais.
“Houve algumas vezes em que eu dormia trancada no quarto do
nosso filho, com medo do que ele pudesse fazer para me prejudicar.”
“Quando ele começou a desconfiar do meu amante, eu não vi uma
alternativa e fui sincera com ele, dizendo que não o amava e que era
melhor nos separarmos. Sem surpresa nenhuma, Eduardo não aceitou isso
muito bem e quis saber quem era o homem, mas é claro que eu não
revelei.”
— Há boatos de que o pai de Lucy é Jorge Vargas, que na época,
era muito amigo do seu ex-marido e recentemente, passou os negócios
para ele, estou certo?
— Sim, não são somente boatos, é verdade.
— Mas Jorge também era casado na época, que dizer, ainda
continua sendo.
— Sim, e sua esposa, Elizabeth Vargas, nos perdoou, o que é muito
importante para nós.
— O que ainda não entendemos é o seguinte, se vocês tiveram
Lucy e ela era criada com o pai, então Jorge sabia sobre seu paradeiro?
— Não, escrevi anonimamente a ele e contei que uma criança
precisava de ajuda. Eu sabia que Jorge não se recusaria, tanto que ele a
encontrou e a trouxe com ele, mas somente agora soube sobre a
paternidade de Lucy.
— E por que você desapareceu? Esta é uma pergunta que todos
querem saber. Qual foi o real motivo de tê-la feito desaparecer por tantos
anos?
— Foi Eduardo, é claro, como eu havia dito anteriormente, fui
sincera com ele e pedi o divórcio, mas ele não aceitou. Desde então, ele
começou a me seguir em todos os lugares que eu ia, inclusive em um bar
que eu frequentava para aliviar um pouco o estresse.
“E foi aí que tudo aconteceu...”
“É horrível só de lembrar e sinto muito que as coisas tenham
acabado deste jeito, mas senti medo e sabia que ele seria capaz de tudo
para acabar com minha vida.”
“No dia do meu desaparecimento, Eduardo me seguiu até o bar e
percebi que ele estava lá, convenci uma mulher, dando dinheiro a ela, de
trocar de vestes comigo para que eu pudesse fugir sem ele ver. Foi o que
fizemos, então, quando eu estava escapando, a mulher saiu e ele a seguiu.
O vi dopando-a, acreditando que era eu e então, gritei pedindo ajuda, mas
foi tarde, porque ela já estava desmaiada e ele se deu conta de que não era
eu.”
“Eduardo me ameaçou, é claro, disse que se eu contasse alguma
coisa para alguém, acabaria comigo. Ordenou que eu fosse embora, senão
mataria nosso filho. Não tive outra escolha e concordei, fugindo, então vi
nos jornais que supostamente estava morta e percebi que ele tinha
assassinado aquela pobre mulher apenas para dar veracidade ao seu
plano maluco.”
—Então você nos afirma publicamente que o culpado de tudo é
Eduardo?
—Sim, é ele, Eduardo matou aquela mulher e forjou a minha morte,
ele pensou que eu nunca voltaria, mas estou aqui, disposta a pagar pelos
meus erros e contar a verdade a quem for preciso. Ele não pode mais ficar
livre, está na hora de pagar por tudo que me fez e irei até o fim para que
isso aconteça.
***
Tempos depois
O plano de mamãe deu certo.
Com a notícia sendo espalhada pela televisão, Eduardo nos procurou
irritado, alegando que isso não passava de uma grande mentira e nos
ameaçou, o que ajudou ainda mais a dar veracidade a palavra de Malorie.
Jornalistas e mais jornalistas a procuravam, pedindo que contasse a
história novamente, e claro, com o escândalo vindo à tona, papai, mamãe,
Lucy, Gael e Malorie tiveram que ir até a delegacia depor em recorrência a
isso.
O caso foi investigado e acabou indo a julgamento, com a única
prova sendo a palavra de Malorie contra a de Eduardo. Ela ganhou, apenas
levando uma pequena pena e ele foi preso sem direito a fiança com regime
fechado. A família da prostituta, que foi reconhecida por teste de DNA,
nunca a procurou, por isso foi enterrada como indigente. O nome de Malorie
foi limpo e Gael escapou de qualquer problema, já que ele tinha diversos
advogados dispostos a ajudá-lo, fazendo o que fosse preciso para o
sobrenome Brown ser limpo.
Os negócios de papai voltaram a ser dele, com Eduardo preso, Gael
devolveu cada ação e Lucy assumiu um cargo importantíssimo na empresa.
Meu marido, que ainda não havia me entregado o divórcio, abriu mão
do cargo de CEO na empresa e quem assumiu foi Malorie, que teve direito a
boa parte da herança do ex-marido.
Mamãe decidiu se separar de papai, ela disse que, com a volta de
Malorie, a paixão dos dois poderia reascender e não queria ser um
empecilho, então pegou sua parte da herança após o divórcio e foi embora
para outro país, pedindo para mim sempre a visitar quando desse.
Continuei morando com papai e iniciei a faculdade de Medicina
Veterinária, a área me conquistou bastante. Por fim, decidi esquecer de uma
vez por todas os reais problemas das nossas famílias e seguir em frente.
O segredo de papai foi guardado a sete chaves, eu sabia que ele não
havia se perdoado por ter matado aquela mulher inocente, mas a culpa de
carregar isso com ele, neste momento, era o suficiente.
Gael e eu não voltamos, para falar a verdade, o sentimento que sinto
por ele, continua dentro do meu peito e cada vez que ele aparece em casa
para visitar Lucy, meu coração palpita mais do que o normal.
Com o passar do tempo, aprendi que ele apenas havia sido usado
pelo seu pai, mas neste momento não conseguia pensar em me relacionar
novamente, mesmo sentindo falta dos seus beijos, carícias e a vontade louca
de fazer sexo...
Coisa que não voltei a fazer.
Tudo está bem, parece que o maior empecilho de nossas vidas de
fato era Eduardo, ainda existem alguns repórteres a procura de algum podre
da família Vargas e da família Brown para espalhar para o mundo, mas isso,
eles não conseguiram.
Acredito que Eduardo não sairá da cadeia tão cedo e não me sinto
culpada por isso, mesmo ele não cometendo este crime, foi um dos culpados
por toda essa confusão.
Os amigos políticos dele não o apoiaram e Malorie teve uma
conversa com cada um deles, que a ajudaram e prometeram que jamais iriam
apoiar Eduardo novamente. Acredito que ela tenha usado algum método para
conseguir isso, mas não me importo.
Penso em toda a loucura que passei; me casei, descobri que minha
melhor amiga é na verdade minha irmã, assim como também é irmã do meu
marido, que amo. Meus pais se separaram, Malorie e Jorge estão se
entendendo, os negócios estão indo bem, estou estudando e me sinto na
melhor fase da minha vida.
Talvez as pessoas pensem que nós somos os vilões por termos
ocultado o verdadeiro culpado do assassinato de uma mulher inocente, mas
quando carregamos sobrenomes de famílias importantes, somos capazes de
tudo para nos proteger, esse é o nosso lema agora...
A nossa dinastia.
E mesmo achando uma loucura ter apoiado o plano de mamãe, eu me
sinto realmente feliz e nada pode estragar esta felicidade.
Estou pronta para seguir em frente.
Recomeços
O tempo passou rápido...
Os meses pareciam dias e os dias pareciam horas.
Quando me dou conta, estou presente na data em que me casei com
Gael um ano atrás, presa no aeroporto, esperando a chuva passar. Decidi
passar as férias na casa da mamãe e estou esperando meu voo.
Papai se casou com Malorie e estão em lua de mel, enquanto Lucy
está morando sozinha, conhecendo um rapaz e estudando nas horas vagas que
o trabalho permite. O dinheiro que ela mandava para sua mãe, que foi
guardado em uma conta, foi doado para uma instituição de caridade, o que
deixou minha irmã completamente feliz.
Penso em como tudo está diferente agora, um ano atrás estava
desesperada por saber que iria me casar com um homem que não conhecia e
acabei esbarrando com ele no trânsito.
Dou risada e me recordo do momento que o encontrei no altar, que
loucura, não?
E pensar que meu casamento não durou muito.
Não voltei a ver Gael e pouco sei da sua vida pessoal, evito ao
máximo saber dele para não ficar chateada, mesmo atrelada a ele legalmente.
Decidi esquecer isso por enquanto, sabendo que não fará diferença, já que
não estou disposta a conhecer outra pessoa, então, afastando isso dos meus
pensamentos, me levanto e vejo que meu voo está sendo anunciado.
Sigo distraída para o local de embarque puxando minha mala e olho
a hora no relógio de pulso, ainda são 15 horas.
Continuo andando cabisbaixa e acabo esbarrando com tudo em um
corpo forte, me fazendo cair para trás de bunda no chão.
— AI, QUE DROGA! — grito ganhando alguns olhares. Olho para cima
e fico surpresa ao ver quem é que me derrubou. — Gael?!
— Laureen? — diz tão surpreso quanto eu. — Me deixe ajudá-la.
Ele estende a mão para mim e a pego, levantando e sentindo a minha
bunda doer.
— Obrigada, mas a culpa foi sua.
— Minha, é claro. — Ele ri dando de ombros. — Mesmo após um
ano, nada muda e você continua caindo por aí.
— E você continua sendo o culpado.
Rimos e o encaro sentindo meu corpo entrar em formigamento ao vê-
lo parado na minha frente.
Isso é real ou estou ficando louca?
— O que faz aqui? Acredito que não seja para ficar caindo à toa.
— É claro. — Reviro os olhos. — Estou indo visitar mamãe, meu
voo sai em poucos minutos. E você?
— Estou indo viajar também. — Suspira e sorri. — Já faz um tempo.
— É, realmente faz... — Fico em silêncio e coloco uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha, sem graça.
— Você sabe que dia é hoje?
— É claro que sei, senhor Brown, iríamos completar um ano de
casados.
— Sim — ele ri. — O acidente de trânsito, o engraçado é que
estamos aqui, um ano depois e você se acidentando.
— Mais uma vez por sua culpa.
Voltamos a rir e desvio meu olhar do seu.
— Você está diferente, seu pai me disse que está estudando.
— Sim, estou cursando Medicina Veterinária — digo sem graça.
Por que ele me deixa desse jeito?
— Você já voltou a assumir seu cargo na empresa?
— Não, e nem pretendo, mamãe, está indo bem nos negócios.
— Alguma notícia do seu pai?
— Continua preso e ficará assim por um bom tempo.
Assinto e sorrio.
— Isso é bom, agora preciso ir, se não se importa.
— Claro, fique à vontade.
Gael me dá passagem e o encaro fixamente, pensando em tudo que
passamos. Me lembro da nossa lua de mel na ilha, que agora é minha, mesmo
eu não querendo, das noites calorosas que tivemos, da nossa primeira vez e
da última, que foi no seu escritório.
— Vai viajar para onde? — pergunto curiosa.
— Nova Iorque, e você?
— Também, mamãe está morando lá agora. — Fico surpresa. —
Espere, seu voo por acaso é o das quatro?
— Sim — afirma.
— Por que não usou o seu avião particular?
— Você está me interrogando, senhora Brown? — pergunta em tom
de brincadeira.
— Me desculpe, é que é muita coincidência.
Não ligo que me chame pelo seu sobrenome, dado as circunstâncias
que continuamos casados.
— Talvez o destino tenha decidido conspirar para que nos
reencontrássemos, Laureen. — Ele pisca e dou de ombros.
— O destino gosta de brincar com as pessoas. Aceita tomar um café
comigo?
— Claro, por que não?
Pego minha bagagem, percebendo agora que ele está com uma mala
estilo a minha. Seguimos para o café do aeroporto e após fazer nossos
pedidos, o encaro.
— Então, está indo visitar alguém, uma namorada talvez?
— O quê? — Sua testa franze e Gael ri. — Por que a curiosidade?
— Estou apenas tentando puxar assunto — digo dando de ombros.
— Sei.
— Pelo jeito, o tempo passa e você continua sendo convencido.
— E você ciumenta. — Gael ri e mostro o dedo do meio. — Estou
indo apenas para descansar mesmo, nada especial.
— Nova Iorque é um bom lugar — digo balançando a cabeça.
— Dizem que têm mulheres lindas lá.
Ignoro, sabendo que não posso sentir ciúme. Gael é um homem livre
e tem o direito de ficar com quem quiser, apesar de tudo.
— Então realmente está indo para o lugar certo.
— Sim, mas também existem homens galanteadores por lá, você pode
se dar bem.
— Não estou indo para isso.
— Se está dizendo.
— É sério, apenas estou indo visitar mamãe. — Pego o café que é
servido e bebo um gole. — Mas eu não preciso te dar explicações.
— Não mesmo, mas insiste em dar.
Fico em silêncio, sabendo que ele está certo.
— Mas então... — Decido mudar de assunto. — Você deve ter
alguém, um homem como você não fica sozinho por muito tempo.
— Está enganada sobre mim, Laureen, estou sozinho desde a última
vez que ficamos.
— Duvido que você não tenha saído com alguém.
— Bem, você não precisa acreditar... E você, saiu com alguém?
— Não. — Admito de imediato. — Estou sozinha também.
— Então você está dizendo que ninguém mais teve acesso lá
embaixo? — Aponta para baixo e reviro os olhos.
— Você é ridículo — brinco.
— E você gosta.
— Talvez um pouquinho.
Ficamos em silêncio, até que termino meu café, pago a conta e me
levanto.
— Senti sua falta, Laureen.
Sinto meu rosto arder e encaro seus olhos que demonstram
inexpressividade.
— Eu também senti a sua, Gael.
— Posso fazer uma pergunta?
— Sim.
— Você me perdoou?
Penso a respeito do assunto e analiso a situação, já faz um bom
tempo que tudo aconteceu e as verdades foram reveladas. Nesse período,
Gael me procurou sempre que podia para tentar obter o meu perdão, e agora,
pensando em como as coisas mudaram, vejo que saber que eu fazia parte de
um plano de vingança, não me dói tanto.
— Sim, perdoei. — Decido ser sincera e vejo o seu sorriso.
— Ainda me ama? — Ele me encara fixamente.
Assinto sentindo vontade de chorar.
Por que sempre tenho que chorar?
— Sim, Gael, até nos dias mais sombrios, eu ainda o amei e continuo
amando. Nosso amor surgiu de repente, de uma forma inusitada,
completamente fora do comum e mesmo assim, não se foi.
Ele assente estendendo a mão para mim.
— Eu também te amo, Laureen, e gostaria de fazer um pedido.
— Faça.
— Vamos nos dar a chance para recomeçarmos do zero e termos o
nosso final feliz?
Olho cada traço do seu rosto, vendo seus olhos marejados, a barba
bem-feita, o sorriso de lado e o cabelo para trás.
Devo me dar a chance de recomeçar com o homem que jurou me
destruir?
Devo me permitir amá-lo e viver uma história diferente do que
vivemos até então?
Suspiro e esboço um sorriso sincero no rosto.
— Eu aceito, Gael.
O abraço e beijo seus lábios, sentindo nossas lágrimas se
misturarem. Fico agarrada a ele, devorando sua boca e vendo o quanto senti
sua falta, então Gael nos separa e me encara.
— Obrigado por me dar a chance de realmente fazê-la feliz, prometo
que não irei decepcioná-la e se eu errar, farei de tudo para corrigir meus
erros.
— Antes de tudo me diga uma coisa.
— O que você quiser, meu amor.
— Você estar aqui foi coincidência mesmo ou alguém te avisou?
Gael sorri de lado e balança os ombros.
— Possa ser que eu tenha uma irmã maravilhosa, que é irmã da
mulher que eu amo, e ela deixou escapar, sem querer, que você estaria aqui.
— Lucy! — Dou risada com a informação. — Acho que devemos
agradecê-la por ter deixado esta informação escapar.
Gael concorda e me beija.
— Teremos tempo para isso, nesse momento só quero aproveitar com
você e ir em busca do nosso final feliz.
Sorrio e o abraço sussurrando em seu ouvido:
— Estou ansiosa para que possamos encontrá-lo.
Até que a morte nos separe
— F ilha, tem certeza de que vai usar o mesmo vestido? —
pergunta mamãe com a sobrancelha erguida ao me ver pronta para refazer
meus votos com Gael.
— Sim, mamãe, eu tenho certeza — afirmo ajeitando a tiara de vovó
na minha cabeça.
— Se quiser, tem o vestido que mandei Cayenne recentemente fazer,
ele está lindo também...
— Vou usar o meu mesmo, acho que combina com Gael e eu. E
apesar de tudo, fui eu que o escolhi quando nos casamos.
Ela concorda se dando por vencida.
Vejo Lucy e Malorie entrarem no meu quarto.
— Irmã, você está linda! Não que tenha mudado alguma coisa em
relação ao vestido da primeira vez, mas é realmente espetacular.
Rio e a abraço.
— A diferença é que esta renovação de votos será por livre e
espontânea vontade e com o homem que aprendi a amar.
Ela assente.
Malorie me abraça e retribuo o gesto.
— Como a vida é engraçada, você e Gael se casaram uma vez sem
amor e agora estão juntos — diz mamãe.
— Sim, esse tempo que ficamos separados, aprendemos muitas
coisas e amadurecemos. Agora será diferente, tenho certeza disso.
Rimos e mamãe me abraça.
— Obrigada por nos perdoar, querida, você merece mais do que tudo
ser feliz.
— Tudo bem, mamãe, no fim, o casamento por contrato me trouxe um
casamento real, aprendi a amar Gael e estamos felizes.
Ouço uma batida na porta e papai entra com um sorriso no rosto.
— Filha, você está linda! Vim ver se está tudo certo para a
renovação dos votos, irei com Malorie na frente para a nossa casa.
— Pensei que o senhor iria querer me levar até o meu marido desta
vez.
Vejo seus olhos marejados ao ouvir minhas palavras e mamãe sorri.
— Você tem certeza disso, minha filha? — pergunta com a voz
embargada.
— Sim, eu tenho.
Ele concorda.
Coloco o véu e pego o buquê que Lucy me entrega.
— O senhor está pronto, papai?
Ele me encara e assente
— Sim, estou.
***
Respiro fundo quando o carro para em frente à casa onde papai mora
com Malorie. Os dois entraram em acordo e decidiram mantê-la, já que
mamãe não se importou com isso.
Penso em como as coisas mudaram tão rapidamente e sorrio, vendo
que sobrevivemos.
Nunca na minha vida imaginei que meus pais poderiam se separar e
que papai se casaria com a mãe do meu marido, minha sogra.
Isso chega a ser engraçado, pois Malorie é minha sogra, madrasta,
mãe de Gael e Lucy, que é minha irmã e cunhada.
Que loucura, não?!
Esqueço isso e saio do carro.
Mamãe se aproxima e arruma a cauda do vestido, então olho para a
frente, ansiando o momento de entrar e estar novamente com meu marido.
Após nossa conversa no aeroporto e termos decidido voltar, Gael
sugeriu que, como o divórcio não havia acontecido, poderíamos procurar um
padre para ao menos refazermos nossos votos e continuarmos casados.
A proposta seria como um recomeço, já que não podíamos nos casar
novamente.
Meus pais, Lucy e Malorie acharam a ideia ótima, e para evitarmos a
mídia, tivemos poucos convidados. Apenas Preston, que é o braço direito do
meu marido, Guillén, que é seu funcionário mais confiável, e o namorado de
Lucy, que se chama Marc, um rapaz doce e gentil que ela conhece há um
tempo.
Esqueço isso e meu pai vem para o meu lado, me olhando
atentamente.
— É o mesmo vestido, mas você está ainda mais linda, minha filha.
— Obrigada, papai, por tudo. Apesar de todas as coisas que
passamos, se não fosse você e mamãe, eu não teria encontrado o amor da
minha vida.
— E pensar que naquela época você desejou nos matar — brinca
rindo.
Rio junto com ele, sabendo que é parcialmente verdade.
— Fico contente que você e Gael estão se dando bem, isso não se
deve ao fato de termos forçado vocês a se casarem naquela época, mas sim
de coração. Prova que o amor pode sim acontecer quando menos esperamos
e que a maldade humana, jamais será maior que esse sentimento.
— Eu sei que é, papai — concordo emocionada com suas palavras.
Ele sorri e me abraça.
— Vamos lá, estão nos esperando.
Concordo entrelaçando meu braço no seu.
Seguro a respiração e conto mentalmente até três, a soltando devagar
e dando os primeiros passos. Assim que passo pela entrada da casa que está
bem arrumada, ouço uma música tocar no fundo e sorrio ao avistar Gael com
o sorriso largo no rosto, usando o mesmo terno do dia em que nos casamos.
Quero rir, mas me seguro, andando devagar e olhando para papai.
Fixo meus olhos no homem a minha frente e sinto meu coração
palpitar cada vez mais quando paro na sua frente e meu pai o encara.
— Faça minha filha feliz desta vez.
— Pode ter certeza disso.
Sorrio e nossos olhares se encontram.
— Gostei do terno.
— Eu também gostei do seu vestido.
O padre pigarreia e lê uns versículos da bíblia.
— Em Coríntios 13: 4-7diz, “O amor é paciente, o amor é bondoso.
Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura
seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se
alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.” E em Provérbios 18-32 diz, “Quem encontra
uma esposa, encontra algo excelente, recebeu uma bênção do Senhor.”
Assim que termina, ele nos encara e sorri.
— Esta tarde, estamos aqui para celebrar os votos destes dois jovens
que passaram por diversas coisas e no fim, o amor resistiu a tudo. A
separação veio e com isso, o medo de não se encontrarem novamente, mas o
destino provou mais uma vez que quando uma história está escrita, chegará
até o final, independentemente do que aconteça. — Ele encara meu marido e
sorri. — Gael Brown, você uma vez disse “sim” a sua esposa, mas desta vez
quero saber se sua resposta continua sendo a mesma. Você promete amá-la,
respeitá-la, protegê-la e ampará-la até que a morte os separe, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença?
— É claro que prometo — diz sorrindo.
— Você, Laureen Vargas Brown, assim como seu marido, disse
“sim”, quero saber se sua resposta continua sendo a mesma. Promete honrá-
lo, ajudá-lo, guiá-lo e protegê-lo até o fim dos seus dias, na saúde e na
doença, na riqueza e na pobreza, até que morte os separe?
— Sim, prometo, até que a morte nos separe — digo com lágrimas
nos olhos.
— Sendo assim, podem fazer seus votos se desejarem.
— Eu quero — afirma meu marido sorrindo.
Decidimos trocar nossas alianças por questão pessoal por sabermos
que a primeira não carregava nosso amor.
— Laureen Vargas Brown, antes de tudo, obrigado por me aceitar
novamente. Quero dizer que cumprirei com a minha promessa e irei amá-la
para o resto dos meus dias, não importando seus dias de TPM ou mal humor.
Rimos e reviro os olhos.
— Você foi a melhor coisa que poderia acontecer na vida de um
homem ferrado como eu era, você me transformou, tirando uma negritude do
meu coração e dando lugar ao amor. Hoje apenas a agradeço por me dar a
honra de ser o seu marido.
Fico emocionada com suas palavras e sem dizer nada, avanço em sua
direção e o beijo, ouvindo os aplausos a nossa volta. Fico colada à Gael por
um bom tempo, sentindo nossas lágrimas se misturarem e assim que me
afasto, o encaro.
— Obrigada, por me mostrar que é um homem capaz de amar e que
não importa o ódio que tenhamos dentro de nós, o amor sempre vencerá,
independentemente de qualquer coisa.
— Eu te amo, meu amor, e seremos felizes até o fim dos nossos dias
— sussurra me olhando dentro dos olhos. — Você não vai se arrepender por
ter a mim ao seu lado.
— Disso eu tenho certeza, marido — digo sorrindo. — Esse é só o
começo, temos muito o que viver ainda.
— Sim, mal vejo a hora de passar cada segundo ao seu lado. — Ele
sorri e estende a mão para mim, que pego com alegria.
— Então vamos em busca do nosso final feliz, senhor Brown.
Pigarreando o padre se pronúncia interrompendo nosso momento e
diz:
— É com imenso prazer que renovo os votos de vocês. Desejo que
sejam felizes. Está finalizada a nossa cerimônia.
Nos beijamos novamente e saímos do local, prontos para irmos em
busca da nossa felicidade.
Felizes para sempre
A música toca baixo, encho duas taças de vinho e entrego uma
ao meu marido que toca piano na nossa casa.
— Você me fez uma promessa uma vez e até então não cumpriu —
digo bebendo.
Gael continua tocando A Thousand Years e me encara, sem entender
do que estou dizendo.
— Promessa? Que promessa?
— Acho que na verdade quem prometeu fui eu, não sei. — Rio me
aproximando dele que ainda está tocando, me sento e tocamos juntos.
— Estou curioso para saber que promessa foi essa.
— Meu marido me deu umas joias quando nos casamos e me falou
sobre champanhe... — Paro de falar e seus olhos se arregalam.
— Então você ainda quer fazer isso? — pergunta parando de tocar.
— Bem, naquela época, você falou sobre confiança, eu confio em
você... Acho que podemos testar novas coisas.
Meu marido me encara e lambe os lábios.
— Então você está curiosa sobre isso, senhora Brown.
— Desde o primeiro instante que você citou o champanhe. Meu
Deus, isso parece tão distante agora.
— Parece que quando estamos dispostos a amar e sermos amados, o
tempo é menor, como se quisesse nos castigar para sofrermos,
principalmente quando temos que ficar longe de quem amamos.
— Você fala como se ficássemos longe um do outro, trabalhamos
juntos na nossa empresa e o vejo quase o tempo todo.
Gael ri e concorda.
Depois de renovarmos nossos votos e com o passar do tempo,
abrimos a nossa própria empresa, dando emprego a pessoas refugiadas que
necessitavam de oportunidade para reconstruir suas vidas.
Bem, eu me tornei a CEO dos negócios, o que chega a ser engraçado.
Finalizei a faculdade de Medicina Veterinária e abri uma clínica, colocando
grandes profissionais para cuidar de tudo.
Meu marido preferiu não ter mais o seu cargo de CEO na empresa e
chegamos a brincar que inicialmente eu era casada com o CEO, e agora ele é
casado com a CEO.
Mamãe continua morando em Nova Iorque, ela se destacou no The
New York Times com uma matéria sobre seus chás no século XXI e a ensinar
como uma garota deveria se comportar nesses eventos, conseguindo até
mesmo um programa em um canal americano.
Lucy e seu namorado, Marc, também se uniram em prol do amor, já
que havia sido ela que pegou meu buquê, só soube disso quando voltei da
ilha e ela me contou.
Papai e Malorie, donos da Company Vargas e Empresas Brown,
viviam viajando em busca de novos sócios. Parece que com o tempo, meu
pai aprendeu e nunca mais ficou à beira da falência.
Eduardo, por sua vez, lutou na justiça para conseguir sair da cadeia e
seu pedido foi negado, sendo sentenciado a prisão perpétua. Gael não se
incomodava com esse fato, já que seu pai mostrou ser um verdadeiro
covarde quando fomos visitá-lo e humilhou meu marido com palavras
ofensivas, dizendo que não o amava e era melhor desconsiderá-lo como pai.
Apesar de termos forjado uma história e o verdadeiro culpado estar
solto, nos arrependemos disso e com o passar do tempo, meu pai, Gael,
Malorie e eu abrimos um instituto para ajudar pessoas na mesma situação
que a prostituta assassinada, pois mesmo tendo superado um pouco o crime
que papai cometera, no fundo ele nunca se perdoou de fato e essa foi a
maneira que encontramos para tentar sermos melhores seres humanos.
Nas nossas empresas abrimos vagas para pessoas que viviam desta
profissão tão arriscada, afinal, a maioria não ia por esse caminho por
escolha e sim, por necessidade.
Ainda que não seja uma pena equivalente ao que deveria, e não tendo
um perdão da situação do passado, aos poucos nos sentimos mais aliviados
ao saber que àquelas pessoas não estavam mais sem opções, pois estamos
dando a eles oportunidades para que consigam construir suas vidas de
maneira mais segura, trabalhando, estudando e formando novos
profissionais.
— Pensando em alguma coisa?
Meu marido me tira dos pensamentos e sorrio.
— Em tudo que passamos, só isso.
— E pensar que no dia que nos casamos, não queríamos isso.
Assinto e sorrio.
— É verdade, mas acho que devemos parar de falar e o senhor ir
atrás de uma certa bebida.
— Você tem certeza de que vai deixar eu fazer isso?
— Sim, eu tenho.
— Então não vejo escolha a não ser pegar uma boa garrafa de
champanhe.
Concordo e o vejo levantar, indo até o bar e procurar pela safra
desejada. Ele mexe a procura e assim que encontra a garrafa, me mostra.
— Acho que achei, meu amor.
— Ótimo, vou me preparar, me encontre no quarto em dez minutos.
Ele sorri de lado e se aproxima.
— Humm, estou curioso.
— Você vai descobrir logo menos, faça o que eu pedi.
Ele concorda dando um beijo na minha testa e sorrindo me afasto,
seguindo para o nosso quarto. Assim que chego ao local, retiro minhas
vestes, ficando completamente nua e vou até meu porta-joias. Rio ao me
recordar do momento em que eu fui embora daqui e Gael jogou minhas
roupas no chão, fazendo pirraça, confesso que agora a lembrança é divertida.
Como no dia eu não quis as joias, ele as guardou, então analiso os
brincos, a pulseira e o colar, colocando cada peça. Me analiso no espelho
nua, usando apenas as joias e sorrio, prendendo meu cabelo em um coque
frouxo.
Respiro fundo e conto até três. Coloco uma música para tocar, vou
até a cama, me deitando sobre ela e ouvindo uma batida na porta.
— Pode entrar — digo engolindo em seco.
Vejo a maçaneta girar e meu marido entra com a garrafa já aberta, me
olhando com surpresa.
— Uau! — balbucia maravilhado com a cena que contempla.
— Você está pronto para isso, Gael?
— Para você, estou pronto para tudo, mulher — diz e rio.
— Então venha e me faça ter o melhor orgasmo que já tive.
Ele sorri deixando a garrafa de lado, se despindo devagar, enquanto
remexe seu corpo, acompanhando a música. Rio com o momento
descontraído e o vejo apenas com uma cueca boxer preta, voltando a pegar a
garrafa e se aproximando de mim.
— O que você quer que eu faça, meu amor?
— Chupe minha boceta — peço sem pudor.
Ele sorri e me entrega a garrafa.
— Segure para mim, por favor.
Faço o que manda e ele sobe na cama, se aproximando e beijando
meu pescoço. Chupa meus seios, desce pela minha barriga e meu corpo se
contrai, completamente rendido ao desejo que Gael Brown me causa.
Quando dou por mim, ele invade minha boceta com sua língua, o que me faz
soltar um gemido e me remexer.
Meu marido segura meu corpo me olhando.
— Não se mexa, meu amor.
— Isso é quase impossível, se continuar, vou gozar antes da hora.
— Gozar nunca é antes da hora — diz e volta a me chupar,
mordiscando meu clitóris.
Gemo maravilhada, pensando o quanto amo este homem e do que ele
é capaz de fazer.
Gael me chupa por um bom tempo, até que para, me encarando e
estende a mão. Sem entender, com a mão livre a pego, sentindo meu corpo
ser puxado e um gritinho involuntário escapar da minha boca. Ele me olha
dentro dos olhos e sorrio, então nos beijamos, enquanto Gael esfrega o bico
do meu seio esquerdo. Fico em alerta, sentindo meu corpo entrar em
combustão em diversos pontos.
Como uma pessoa é capaz de fazer isso com outra?
— Você está linda usando as joias — murmura ao morder o lóbulo da
minha orelha. — Agora chegou o momento.
Fico temerosa com o que ele diz.
Ele volta a pegar a garrafa, me inclina e volta a olhar dentro dos
meus olhos.
— Se sentir algum incomodo, me diga, ok?
Concordo.
Meu marido aproxima a garrafa do meu sexo, passando a boca nos
lábios da minha vagina. Me arrepio com isso e devagar, ele a introduz na
minha boceta. Sinto um desconforto e meu sexo comprime, sentindo a rigidez
da garrafa.
Gael me encara e seguro a respiração.
— Vou virá-la, quero que você relaxe o corpo.
Não digo nada, apenas assinto e devagar, Gael a vira.
Sinto diversas sensações pelo meu corpo, causando um arrepio nos
meus braços.
A sensação que sinto é completamente diferente de todas que já senti,
é como se meu corpo entrasse em um estado de relaxamento e com isso, me
causa ondas de prazer, misturado com êxtase e um frenesi que nunca pensei
ser possível sentir antes. Enquanto continua virando o líquido refrescante em
mim, Gael sorri, demonstrando o quanto está maravilhado com isso. Antes
que eu possa dizer alguma coisa, ele inclina a garrafa em minha direção e
lambe os lábios.
— Meu Deus, Gael, isso é... incrível.
Ele sorri e concorda.
Se aproxima da minha boceta e olhando em meus olhos, puxa a
garrafa. Assim que ela perde o contato com a minha pele, a bebida inserida
expele em um jato e meu marido abre a boca, bebendo o líquido e se
deliciando. Meu corpo reage sozinho, como se eu estivesse no ápice do
desejo e ele volta a me chupar, enquanto me contorço.
Ele se diverte com o que acontece, noto isso em seu olhar.
Gael para de me chupar e sorri.
— Era isso que queria fazer com você, senhora Brown, você gostou?
— S-sim — balbucio completamente em êxtase.
— Agora eu vou te comer.
Concordo implorando por isso.
Gael arranca a cueca, levando seu pau duro em direção a minha
boceta. Assim que me penetra, gemo em resposta enquanto meu marido se
aproxima, beijando minha boca e sinto o gosto do champanhe.
Ele leva as mãos até as minhas e inclina meus braços para trás,
remexendo seu quadril, então segue em direção aos meus seios e os chupa.
Ficamos nesta posição durante um bom tempo, ele estocando com
força em mim e causando sensações que antes de conhecê-lo, jamais
imaginei que seria possível conhecer.
Ainda me fodendo, gemo e desvencilho meus braços dele,
acariciando seu rosto, que está coberto de suor.
— Eu te amo, Gael — digo entre beijos. — Sempre vou amá-lo.
— Eu também te amo, esposa, e sempre vou amá-la. — Ele sorri e
continua com os movimentos.
Vejo que esse é apenas o começo do nosso felizes para sempre e que
temos muito para aproveitar.
Por onde devo começar a agradecer?
A Deus, é claro, por permitir que esteja viva, realizando meu sonho
de escrever mais um livro e finalizá-lo.
Obrigada, Senhor, pelo Dom que me concedeu.
Agradeço a minha família que abraçou meu sonho...
A minha assessora, Penélope, que abraçou a ideia deste clichê e me
ajudou na construção dele, aguentando meus surtos, minhas lamúrias e meus
medos de não conseguir transpassar o que eu sentia.
A minha amiga Júlia, que assim como na minha duologia, me apoiou.
A Juliana, que me diverte todos os dias.
Ao meu namorado, por alegrar meu coração com suas atrapalhas.
E a você, que leu este livro, recomendou para alguém e me ajudou de
alguma forma.
Obrigada, obrigada, obrigada!
Você faz parte disso e é muito importante para mim!
Lembre-se sempre que, por mais que seu sonho possa parecer
impossível de acontecer, nunca desista, em momento algum, pois quando
menos espera, ele irá se realizar.
Por meio deste trecho, peço que neste momento tão difícil que
estamos passando, se cuide e cuide de quem você ama, afinal, a melhor arma
contra o inimigo, é o amor.
Obrigada a Laureen, Gael, Lucy, Jorge, Elizabeth, Malorie, Eduardo
e todos os outros que se fizeram presentes na minha vida durante um mês,
mesmo sendo simples personagens da minha imaginação, eu ainda consigo
aprender alguma coisa com cada um deles.
Obrigada!
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Convide uma amiga a conhecer esta história.
Com carinho e amor;
Beatrice Meirelles.
Sinopse
Meu nome é Estére Muller, e se você pensa que essa história é
comum, está enganado. Aqui, nós somos tratados como os inimigos. Eu me
trato assim. Veja bem, eu perdi uma pessoa importante para um maldito
câncer e adivinha o que fiz? Não consegui lidar bem com isso e me entreguei
a uma paixão avassaladora.
Acredite se quiser, eu não escolhi isso. Na verdade, nós não
escolhemos. Simplesmente as coisas foram acontecendo e quando vi, já
estávamos tão envolvidos que seria impossível revertermos a situação. Eu
sei que você deve estar pensando que sou uma péssima pessoa, mas, por
favor, não me julgue tanto. Frederic e eu já fazemos isso. Nos condenamos
por este pecado.
O pecado que eu cometi. Que nós cometemos.
Infelizmente, encontrei conforto nos braços do pecado, e é justamente
sobre ela que irei lhe contar.
Peço que ouça nossa história e apenas a conheça até o fim se estiver
à vontade. Tudo bem se não, muitas vezes eu também não estive à vontade
com tudo que aconteceu.
Mas, por favor, me ouça. Me ajude. E veja a loucura que foi eu
encontrar conforto nos braços do meu padrasto...
Alerta de gatilho: esse livro contém cenas de sexo explícito e
narrado. Contém tentativa de estupro, entre outras coisas que podem causar
desconforto. Se você não estiver à vontade lendo esta história, abandone a
leitura imediatamente.
Capítulo 1 — Estére
Ouço o barulho da chuva bater na janela e a porta principal da casa é
aberta. Não poderia ser mais ridículo do que está sendo, até mesmo parecia
que Deus olhava para gente e dizia: “Bem, já que sua mãe morreu, vou
mandar uma chuva forte para deixar você ainda mais triste, e com sorte,
cortar os seus pulsos e se juntar no inferno com ela”. O pensamento de que
mamãe agora está no inferno é triste, mas real. Não que ela tenha sido uma
pessoa ruim ou algo parecido, entretanto, eram assim as coisas. Quem
realmente ia para o céu? Deus deveria escolher a dedo as pessoas, e mesmo
minha mãe tendo morrido por causa de um maldito câncer, duvido que Ele
tenha tido piedade.
Suspiro, frustrada, e seco a lágrima que escorre pelo meu rosto,
encosto a cabeça na janela da sala e continuo olhando para o lado de fora,
vendo um casal jovem correr debaixo da chuva, sorrindo apaixonados.
Penso o quanto a vida as vezes é estranha; sim, estranha. Aqui dentro estou
eu, sofrendo pela morte de mamãe. E eles dois lá fora, sorrindo, se
abraçando e beijando-se debaixo da chuva como se fosse a coisa mais
comum do mundo.
Levanto-me e apanho meu celular que vibra na mesa de centro. Vejo
no visor que é uma mensagem do meu namorado, Collin Spellman. Apesar de
gostar muito dele, sempre achei seu nome um tanto ridículo. Fala sério, quem
coloca esse tipo de nome no seu filho?
Você se chama Estére, acha seu nome comum e bonito? Ouço meus
pensamentos dizerem.
— Estére? — Ouço a voz do meu padrasto me chamar e ele adentra a
sala, me encarando. Está usando um terno preto com a gravata torta. A
cabeça, com os cabelos em corte militar, está molhada por conta da chuva.
Seu olhar é frio e triste, por conta de ter perdido a esposa. O peitoral forte
sobe e desce por baixo da camisa.
Ele é muito mais jovem que mamãe, cerca de quase 12 anos.
— Oi — digo, ainda parada, com o celular na mão, pronta para
responder Collin.
— Vim ver se você está precisando de alguma coisa — diz Frederic.
Esse é seu nome, o que, na minha opinião, não combina muito com ele.
— Estou bem, na verdade, estava me preparando para tomar um
banho e me deitar.
— Você tem certeza? Não quer comer alguma coisa?
Nego com a cabeça, segurando o celular com firmeza.
— Obrigada, estou sem fome.
Silêncio. Ele fica parado onde está e concorda com um aceno de
cabeça.
— O funeral estava cheio, você não acha? — pergunta e sei o que ele
está fazendo.
— Você quer saber como estou, então pergunte logo — digo ríspida.
Frederic abaixa a cabeça e quando levanta, voltando a me encarar,
vejo seus olhos marejados.
— Só queria... você perdeu sua mãe, sinto muito.
— E você a sua esposa, também sinto muito, mas quando ela
descobriu sobre o câncer sabíamos que as chances disso acontecer eram
grandes.
Voltamos a ficar em silêncio e ele concorda.
— Ok, vou me deitar, amanhã o advogado vai vir ler o testamento,
sabemos que sua mãe não era rica, mas tinha um dinheiro considerável na
poupança.
— Pode ficar com o dinheiro, não vejo problema nisso — digo,
seguindo em sua direção e saindo da sala. Passo ao seu lado sem ao menos
encará-lo e Frederic segura meu braço, virando meu corpo para ele. — O
que foi?
— Não quero o dinheiro da sua mãe, apenas a quero de volta.
— Eu também a quero aqui, está bem? Mas sabemos que isso é
impossível! Não tem como ela voltar dos mortos.
Meu padrasto concorda e me desvencilho dele, seguindo pelo
corredor e subindo as enormes escadas da nossa casa. Vejo ele uma última
vez antes de me perder no corredor e entro para o meu quarto, deito-me na
cama e lamento a morte de mamãe.
Droga, como será de agora em diante?
Penso o quanto que a vida é injusta, por que perdíamos as pessoas?
Por que minha mãe havia partido tão cedo?
Sinto meu celular vibrando e saio dos meus pensamentos vendo que é
uma ligação de Collin. Decido atender para que ele possa me deixar em paz.
— Amor, como você está? Quer que eu vá para sua casa? —
pergunta com a voz rouca. Suspiro e me viro na cama, olhando a janela, que
continua chovendo do lado de fora da Cidade do Vale Sombrio[1], uma
cidadezinha interiorana que fica localizada na Europa. A cidade leva esse
nome por boa parte do tempo estar chovendo e ter um ar misterioso. Muitos
moradores até mesmo diziam que aqui habitava o próprio Diabo, o que eu
não duvido, já que é um verdadeiro inferno.
— Oi — digo. — Estou bem, não precisa, nos vemos amanhã, o que
acha?
— Tem certeza? Posso pedir um Uber — murmura do outro lado da
linha.
Collin é um homem muito bonito, isso não posso negar. Na nossa
faculdade ele sempre foi um dos caras mais desejados, tanto por mulheres
como por homens, no entanto, havia sido eu que acabara conquistando-o.
Começamos a namorar no segundo ano da faculdade e até então ainda
não havíamos ido para a cama. O que, de certa forma, sei que o incomoda,
mas desde então tem sido um cavalheiro e tanto comigo.
— Sim, nos vemos amanhã — digo com firmeza.
— Sinto muito que esteja passando por isso, minha garota — diz
ele. Sorrio da forma que diz e seco a lágrima que escorre pela minha
bochecha.
— Eu também sinto, mas não podemos fazer mais nada. Agora, se
não se importa, vou dormir, estou bastante cansada.
— Tudo bem, eu te amo, até amanhã.
Desligo sem respondê-lo e tomo um rápido banho, deito-me na cama
e durmo.
*
Acordo de madrugada um tanto assustada, com o vento forte batendo
na vidraça da janela e o barulho dos relâmpagos. Levanto-me e fecho a
cortina, observando o temporal continuar do lado de fora.
Bocejo e saio do quarto, vou até o banheiro, faço xixi e me encaro no
espelho, observando meus cabelos loiros bagunçados, meus olhos azuis
brilhantes e minha pele clara. Puxei as características de mamãe, que,
quando jovem e viva, era uma cópia perfeita de mim. Aliás, ao contrário.
A única diferença entre nós é que mamãe era séria demais e
determinada a fazer o que fosse necessário para alcançar seus objetivos. Já
eu não.
Sempre fui uma garota despreocupada, o que era um forte motivo
para mamãe e eu brigarmos. Até mesmo sobre eu ainda ser virgem era
assunto de brigas, o que me incomodava bastante.
Mas, pensando agora que a perdi, preferia mil vezes brigar com ela
do que tê-la perdido para o câncer.
Esqueço meus pensamentos melancólicos e saio do banheiro, sigo
pelo corredor e desço as escadas. Olho para o relógio na parede e vejo que
ainda são 4 horas da manhã. Sigo até a cozinha, abro a geladeira e pego um
pouco de leite.
— Sem sono também? — Ouço uma voz atrás de mim.
Me assusto e quase derrubo a caixa. Viro-me na ilha da cozinha e
coloco-a sobre o balcão.
— Droga, Frederic, você me assustou! — digo, encarando meu
padrasto. Vejo que sua pele morena brilha e seu peitoral está desnudo.
— Me desculpe, não foi minha intenção. Ouvi passos pela casa e
decidi verificar se realmente era você.
— Se não fosse eu, quem é que seria? — pergunto, revirando os
olhos.
Ele me encara e abre a boca pronto para proferir algo, porém, a
fecha e começa a gesticular com os braços.
— Eu não sei, me desculpe novamente, só não consigo dormir.
Concordo e viro meu corpo, sigo em direção ao armário e pego um
copo.
— Aceita um pouco? — pergunto, apontando para o leite, ele
concorda e pego dois copos.
Volto em sua direção e nos sirvo, entregando um a ele, que sorri
grato.
— Obrigado, Estére — diz, pronunciando meu nome devagar.
— Por nada. Agora me diga, não dormiu nem um pouco?
— É meio difícil, quando se está acostumado a ter outro corpo
esquentando o seu — diz, de maneira despreocupada. — Me desculpe, sei
que você nunca foi muito com minha cara, já que eu sou muito mais novo do
que sua mãe era...
— Não, por favor, não vamos falar sobre isso. Eu nunca disse que
não ia com sua cara, apenas me incomodava o fato de que meu padrasto tem
idade para ser meu irmão.
— Entendo, mas agora não sou mais seu padrasto, não se preocupe
com isso — diz, forçando um sorriso, forço outro apenas para correspondê-
lo.
— Acho que agora vou tentar dormir — digo, terminando meu leite e
colocando o copo sobre a pia. Frederic concorda e me despeço dele,
passando ao seu lado e me esbarrando sem querer no seu peitoral. Sinto a
quentura de sua pele e meus pelos se arrepiam. — Você está quente.
— Não se preocupe, sou assim mesmo — diz. Concordo e ergo a
sobrancelha.
— Se você está dizendo. Até mais tarde.
Volto para meu quarto e me deito, fecho os olhos e tento dormir, no
entanto, é em vão.
Capítulo 2 — Estére
Sinto uma mão passear pelo meu rosto e abro meus olhos devagar,
encarando Frederic sentado ao meu lado.
— O que está fazendo aqui?! — pergunto ríspida, esfrego meus olhos
e o encaro, vendo que na verdade é Collin.
— Oi, amor, me desculpe, pensei que havíamos combinado de nos
vermos hoje — diz ele, estreitando as sobrancelhas. — Está tudo bem?
— Como você chegou aqui? — pergunto, surpresa.
— Frederic abriu para mim — diz.
Fico surpresa com o que houve e balanço a cabeça. Apenas uma
confusão. É isso. Com certeza, se deve ao fato de ter visto meu padrasto de
madrugada e agora estou vendo coisas.
— Me desculpe — digo. Me aproximo dele e deposito um beijo
suave nos seus lábios, rapidamente me levanto e vou para o banheiro, tranco
a porta e o deixo para o lado de fora.
— Você quer sair para comer alguma coisa? — pergunta do outro
lado da porta. — Pensei que, como esta semana as aulas foram suspensas
por conta das fortes chuvas, seria legal se fôssemos juntos para algum lugar,
para você descansar, o que acha?
Faço xixi e escovo os dentes, lavo o rosto e prendo meus cabelos.
Passo desodorante e abro a porta, encarando o homem de 1,80 m, braços
musculosos, corpo malhado, cabelos arrepiados e olhar sério e gentil ao
mesmo tempo.
— Não estou muito no clima — digo, o encarando. Ele morde o
canto da boca e passo ao seu lado, indo até meu guarda-roupa. —, mas
aceito sair para comer, estou com fome.
— Ótimo, que tal irmos no Beer’s que você tanto adora? Hoje é dia
de panqueca.
Penso sobre o Beer’s, que é uma lanchonete-bar que sempre ia com
minha mãe quando ela estava de folga no trabalho.
— Pode ser, como o tempo está lá fora, abafado?
— Chovendo e abafado, como sempre, parece que estamos na boca
do inferno — diz, se aproximando com um sorriso no rosto. Solto uma risada
e ele me abraça, então deixo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto
que molham sua camiseta. — Sinto muito que esteja passando por isso,
minha garota, se eu pudesse arrancaria toda essa dor que está sentindo no seu
peito.
— Obrigada, Collin, de verdade. Mamãe gostava bastante de você,
ela ficaria feliz em saber que está me apoiando neste momento tão difícil.
Ele segura meu queixo e deposita um beijo em minha testa.
— Que tal você se trocar para irmos tomar aquele café de que
estávamos falando? — pergunta.
— Claro, não poderemos demorar muito, Frederic me disse que o
advogado vai vir em casa hoje ler o tal do testamento.
— Sua mãe tinha um testamento? — pergunta, sentando-se na cama.
— Parece que sim — digo procurando uma calça jeans, visto e
coloco uma blusa amarela, então vejo que é muito chamativa para quem está
de luto e coloco uma preta, que mostra minha barriga.
— E Frederic? Agora que sua mãe morreu, ele vai se mudar, não é?
— Eu não sei ainda como será, passamos tantos anos os três juntos
nesta casa...
— Sim, mas ele não é mais nada seu, deixou de ser seu padrasto
quando sua mãe morreu e foi enterrada — resmunga Collin. Dou de ombros e
passo um perfume qualquer.
— Conversaremos sobre isso depois, que tal irmos comer agora? —
Pego meu celular com a carteira e vejo uma mensagem de Frida, minha
melhor amiga, que “ganhou” esse nome por conta de os pais gays serem fãs
de Frida Kahlo.
— Certo, hoje você que manda — diz, passando o braço pelo meu
ombro.
— Eu mando todos os dias — digo, e ele ri.
*
Encontro Frederic no andar de baixo e ele me encara sorrindo.
— Bom dia, eu acho — diz. — Vão sair?
— Vamos, sim — digo. — Collin vai me levar para comer panqueca
no Beer’s, quer ir conosco?
— Ah, não, se divirtam. Se puder não demorar muito, o advogado
virá em breve.
Concordo e nos despedimos dele, saindo para o lado de fora, que
está garoando. Entramos no Porsche do meu namorado e ele sai do meio-fio,
seguindo pela estrada.
— Ir conosco? — pergunta ele, ligando o rádio, uma música da
Colbie Caillat toca baixo.
— Só quis ser educada — digo, revirando os olhos, ele forma um
sorriso e sorrio de volta. A Cidade do Vale Sombrio remete a uma floresta
em volta da pequena cidade que fica afastada de toda a Europa. Encaro as
árvores verdejantes e suspiro, cantando baixinho com a cantora. Logo a
música acaba e uma outra começa, de um cantor que não conheço.
Meia hora depois, Collin estaciona o carro em frente ao Beer’s,
conosco saindo e adentrando a porta, que toca um sino assim que passa. O
local está cheio, para uma quinta-feira comum, e alguns rostos me encaram,
reconhecendo-me. Isso que dá você morar em uma cidade pequena. Quando
algo acontece, todos os habitantes ficam sabendo rapidamente.
— Estére — diz o dono do local, o senhor Georgie. Ele é um homem
barrigudo, de olhos caídos e sorriso gentil, que pela primeira vez não está
estampado na sua face. — Sinto muito pela morte de Jolie, realmente foi
algo totalmente inesperado.
Quero dizer que foi inesperado para ele que não convivia com ela e
via a luta diária por conta do câncer, no entanto, apenas assinto e forço um
sorriso, agradecida.
— O que vão comer? Podem escolher o que quiserem, hoje é por
conta da casa — diz ele.
— Obrigada, Georgie — digo. — Vou querer panquecas com calda
de chocolate e morango, e ovos mexidos com bacon.
— É para já, minha jovem. E você, Collin?
— Pode ser o mesmo que o dela, e dois sucos de melancia, por
favor.
O homem concorda, se afastando e Collin me guia em direção à mesa
que fica próxima a janela. Nos sentamos e os olhares continuam sobre mim,
o que começa a me incomodar. — Fiz besteira em tê-la trazido aqui?
Poderíamos ter ido no Griu’s.
— Não, tudo bem, com certeza teriam pessoas lá me olhando iguais a
essas — digo. Ele concorda e resolvo responder à mensagem de mais cedo
de Frida.
“Oi, amiga, estou bem, não se preocupe. Vim no Beer’s com
Collin, o que está fazendo?”
“Por que não me chamaram? Estou em casa, meus pais estão
comigo, mal dormimos essa noite por conta da tempestade.”
“Mesmo se eu tivesse chamado, seus pais não deixariam você
sair, e foi de última hora. Combinamos outra hora de nos vermos.”
“Tudo bem, fique bem. Te amo.”
Sorrio, me despedindo dela e vejo os pratos serem depositados
sobre a mesa. O cheiro de ovos com bacon e das panquecas invadem meu
nariz e meu estômago protesta, me lembrando que a última vez que comi foi
antes de ir para o velório.
— Obrigada, Georgie — digo, forçando um sorriso.
— Por nada, Estére, espero que gostem.
Ele se afasta e pego o garfo, levando um pouco dos ovos e bacon
para minha boca. Engulo e bebo um pouco do suco e vejo meu namorado me
encarar.
— O que foi, vai ficar aí me encarando? — pergunto, ele ri e começa
a comer.
— É só que eu gosto de te observar, é isso — diz. Sorrio e comemos
em silêncio, comigo me deliciando nas panquecas.
— Este lugar nunca decepciona — digo, comendo tudo, Collin faz o
mesmo e após terminarmos, ele limpa minha boca com o guardanapo e
mordisca o canto da sua.
— Fico feliz em poder proporcionar um pouco de alegria neste
momento tão difícil — diz Collin.
— Você tem sido ótimo, não se preocupe, mais uma vez obrigada por
sempre estar comigo.
— Claro que estarei — diz, erguendo a mão em um sinal de
saudação, rimos e vamos até o balcão, prontos para pagar.
— Não precisa, como disse, é por conta da casa hoje — diz Georgie.
Agradeço a ele e me despeço, com Collin e eu voltando para dentro do
carro.
— Você tem que me levar para casa agora, é tempo do advogado
chegar — digo, ele concorda e após afivelarmos o cinto, Collin sai do
estacionamento, seguindo em direção à casa de mamãe. Minha. De Frederic.
Capítulo 3 — Estére
Assim que chegamos, saio às pressas por conta de a chuva ter
aumentado e adentramos a casa, com Collin se colocando ao meu lado no
sofá.
Vejo Frederic vir da cozinha e ele nos encara, forçando um sorriso.
Está usando calça jeans escura, uma camisa xadrez e botas grossas nos pés.
— Oi, onde está o advogado? — pergunto.
— Deve estar che... — Frederic é interrompido com o toque da
campainha e ele sorri. — Acho que chegou.
Vejo ele ir em direção à porta e abri-la, dando passagem a um
homem baixinho, de pele negra, careca e olhar sério. Ele nos encara e nos
cumprimenta.
— Olá, Estére, acredito que não se lembre de mim, sou Edie, o
advogado da família. Como está?
— Indo — digo, sorrindo, ele sorri e encara Collin, o
cumprimentando.
— Bem, como você sabe, sua mãe trabalhava com finanças e tinha
uma herança considerável, assim como esta casa, dois carros, um
apartamento, e outras duas casas, sendo um chalé e uma casa de campo, que
ficam localizadas pela Europa mesmo.
— Certo, meu avô deixou esse pequeno patrimônio para ela quando
morreu, como vovó já morreu também e ela era a única herdeira, ficou tudo
para mamãe.
— Assim como você, porém, preciso ler o testamento, pois antes de
morrer, em seus últimos dias de vida, sua mãe fez algumas mudanças — diz
Edie. Concordo, estranhando. O que mamãe havia mudado?
— Certo, estamos ouvindo — digo. Frederic se senta em uma das
poltronas e Edie abre sua pasta, pegando alguns documentos de dentro. Ele
pigarreia e começa a examiná-lo.
— Quer que eu leia em voz alta ou apenas cite as mudanças? —
pergunta.
— Seja objetivo e fale sobre as mudanças, por favor.
Ele concorda e limpa a garganta.
— Como imaginado, sua mãe te deixou o chalé, a casa de campo, um
dos carros e metade desta casa. Para Frederic ela deixou um carro, 20% do
dinheiro e metade desta casa.
— O quê? — pergunto, surpresa. Frederic está tão surpreso quanto
eu.
— É isso mesmo que eu disse, srta. Muller — diz Edie. — Metade
desta casa te pertence e a outra metade pertence a Frederic, o viúvo de sua
mãe.
— Só pode ser mentira — sussurro, acenando com a cabeça.
— Não tem como reverter isso? — questiona Frederic. — Não quero
a casa nem nada. Não podemos ir à justiça e cancelar esse testamento?
— Cancelar? Senhor, isso foi escrito pela sua própria esposa, seria
muito difícil conseguir cancelá-lo, fora que não há nada de errado em sua
esposa ter deixado um pouco da sua herança para o marido.
Ficamos em silêncio e suspiro.
— Tudo bem, mais alguma coisa? — questiono e me coloco de pé.
— Não, srta. Muller, apenas que assine alguns papéis se estiver de
acordo com o testamento.
— De acordo? Não tenho escolha — digo, me colocando de pé e me
aproximando dele. Edie suspira e pega os papéis, me entregando a caneta e
apontando onde devo assinar. Assino sem pensar duas vezes e encaro
Frederic.
— Vou sair, até mais. — Encaro Collin e ele se coloca de pé, se
despedindo dos outros. Abro a porta com brutalidade e saímos. Entro
rapidamente no carro.
Ótimo, perdi minha mãe e agora começaria um inferno na minha
vida.
Capítulo 4 — Estére
— Vocês podem vender a casa e como tem o chalé, pode se mudar
para lá — diz Collin seguindo pela estrada.
Ligo o som do rádio e ele me encara de canto de olho.
— É, não é uma má ideia, se desse para fazer isso. Como ainda tenho
20 anos, teríamos que esperar mais 4 para podermos colocar à venda. E o
chalé é muito longe, teria que sair de madrugada para chegar na faculdade.
— Isso é mesmo uma droga — diz ele.
— Sim, é uma droga — digo, triste.
— Quer ir ao cinema para se distrair um pouco? Eu pago.
— Não é uma má ideia — digo, sorrindo. Ele concorda e segue para
o cinema que tem na cidade.
Não demora e logo chegamos. Collin estaciona e abre a porta para
mim. Saio e vejo que não está chovendo, o que me deixa um pouco aliviada,
então seguimos para bilheteria e escolhemos um filme qualquer, apenas para
nos distrairmos um pouco.
— Vamos dar um passeio enquanto não dá a hora do filme — diz ele.
Concordo e seguro sua mão, andando pelo interior do cinema, onde tem
algumas lojinhas e uma livraria.
— Aqui — digo e entro na livraria.
— Estére, você tem mais livros do que consegue ler, a última vez que
viemos aqui, você comprou 8 e aposto que não leu nenhum ainda.
— Não li, mas livro nunca é demais — digo, já encarando as
prateleiras. — Qual é? Você mesmo disse para nos distrairmos, me deixe ver
alguns livros.
Collin revira os olhos e forma um sorriso, concordando.
— Tudo bem, você venceu — diz ele. Sorrio, batendo palmas, e
continuo olhando para as prateleiras, passando as mãos pelas lombadas dos
livros. Escolho alguns que me chamam a atenção e seguimos até o caixa para
pagar.
Assim que saímos da livraria, Collin passa o braço pelo meu ombro
e me encara.
— Eu estava pensando, já que você não pode vender sua casa por
causa de uma lei idiota por aí, e não quer se mudar para o chalé, que fica
longe, por que não vem morar comigo?
Congelo com suas palavras e ele para ao meu lado, me encarando de
sobrancelhas erguidas, sem entender.
— Como disse?
— Estou chamando você para morar comigo — digo.
— Mas e seus pais? — questiono.
— Bem, não posso expulsá-los de casa, não é mesmo? — questiona,
sorrindo.
Penso sobre aquilo e fico quieta, voltando a andar e chegando na fila
do cinema. Entrego os ingressos e vamos para a sala indicada, com Collin
me encarando, esperando uma resposta.
— Não seria como um casamento, sabe? Seria como se fôssemos
amigos — argumenta.
— Como se fôssemos amigos? Somos namorados, não tem como
namorados morarem juntos sendo como amigos. E eu tenho minha casa, não
sou uma sem-teto ou algo parecido.
— Não disse que é — diz, indo comigo buscar pipoca e refrigerante.
— Eu sei que não disse, mas... é que... — Fico quieta e Collin me
encara.
— Só estou querendo dizer que seria muito estranho você morar
naquela casa enorme com um homem, agora solteiro, e atraente — diz ele. —
Ele era seu padrasto, mas sua mãe morreu, a ligação que tinham acabou.
— Espera, você está dizendo que meu padrasto é atraente? O que
quer dizer com isso? — pergunto, sem entender. Às vezes sei me fazer de
uma bela otária.
— Só estou querendo dizer que ele pode tentar algo, sei lá...
— Frederic era o marido da minha mãe, como consegue pensar
nisso? Isso é ciúme? — questiono. — Droga, Collin, a ligação que tínhamos
como padrasto e enteada pode ter acabado, mas se você não ouviu o que
Edie disse, minha mãe deixou 20% da herança para ele, um carro e metade
da casa onde passei minha vida inteira! Então não faça esse assunto virar
seu, sendo que não é!
— Me desculpe, tá legal? Só queria ajudar a encontrar uma solução.
Pego a pipoca, mastigo e bebo um pouco do refrigerante, sentindo-me
nervosa. Como Collin pôde transformar o assunto em algo dele? Claro que
não tiro a razão de sentir ciúme de Frederic, afinal de contas, ele é sim um
homem bonito e atraente. No entanto, passou os últimos 8 anos casado com
minha mãe.
— Me ajude me levando para casa, por favor — peço, estarrecida.
Collin me encara e balança a cabeça em negativa.
— Pensei que iríamos ver um filme para nos distrairmos um pouco
— diz ele.
— É, eu também pensei, até você se colocar como o centro do
assunto quando nem faz parte dele — digo de maneira ríspida.
Vejo Collin assentir e pegar a pipoca e refrigerante da minha mão,
jogando-os na lixeira mais próxima. Algumas pessoas nos encaram e reviro
os olhos, saindo do cinema e seguindo para o carro.
Ele faz o mesmo e destrava a porta. Entro e passo o cinto pelo meu
corpo, ficando em silêncio.
Collin liga o veículo e acelera, me levando para casa. E durante todo
o caminho me mantenho em silêncio, pensando no que farei da minha vida.
*
Saio do carro quando Collin para em frente de casa e ele me encara
sério.
— Nos vemos quando? — questiona-me.
— Vamos conversando pelo WhatsApp — digo fechando a porta e
pegando meus livros, ele concorda e arranca o carro. Entro em minha casa e
bato a porta com força, sentindo-me chateada.
Ótimo, perdi minha mãe, estou presa nesta casa e ainda briguei com a
pessoa que se importa comigo.
Saio dos meus pensamentos e suspiro, vou até a cozinha e abro a
geladeira, pego uma garrafa de vinho e encho uma taça, bebo em um único
gole, então subo para meu quarto, enfiando meus novos livros na minha
estante. Mesmo tendo uma biblioteca em casa, sempre gostei de guardar os
meus livros comigo.
Saio do meu quarto e vejo Frederic de roupão e pantufas andando
pela casa, está com óculos de leitura e um copo com uísque nas mãos.
— Oi — digo, ele me encara e força um sorriso, fechando o roupão.
Vejo que por baixo está apenas de cueca.
— Me desculpe, não sabia que havia chegado — diz.
— Collin e eu brigamos, então vim embora antes do previsto —
respondo. Ele assente e desço as escadas, com ele me seguindo.
— Posso saber por que brigaram? — pergunta, curioso.
O encaro e aponto para o seu copo.
— Antes, aceito um desse — digo, ele forma um sorriso e concorda.
— É para já, espere só um momento.
Concordo e ele segue até a sala de jantar, onde fica o nosso bar. Não
demora e Frederic volta com um copo para mim e o seu cheio.
Bebo o líquido âmbar e sinto queimar meu estômago, então suspiro e
volto a observar Frederic.
— Collin me convidou para morar com ele, ele disse que seria
estranho vivermos aqui, juntos, já que não temos mais elo nenhum — digo.
Frederic ergue a sobrancelha grossa e morde o canto da boca.
— Por que estranho?
— Bem, ele acha que como você não é mais meu padrasto, seria
meio que convidativo a você tentar algo comigo. Eu sei, é doentio, mas você
quis saber.
Vejo ele rir e rio junto, voltando a beber.
— E você concorda com ele?
— Não, claro que não. Apesar de tudo, ainda somos uma família,
mesmo que diferente — digo, apontando meu copo para ele, que bate com o
seu e viramos de uma vez.
— Bem, se você quiser, posso me mudar, ou sei lá. Não quero deixá-
la desconfortável em aspecto nenhum.
— Não, tudo bem, se mamãe deixou esta casa para nós dois, é
porque ela queria que um apoiasse o outro. Seria injusto não realizarmos o
seu último desejo, porém, não irei levar a roupa na lavanderia e nem lavar o
banheiro. Ah, e cozinhar também não é comigo, minha comida sempre foi
horrível.
Rimos e ele sorri, estendendo o braço e passando os dedos nos meus.
— Obrigado, Estére. Apesar de ela ter partido, ainda a amo, e não
seria fácil me despedir daqui.
— Tudo bem, nem para mim. Eu cresci aqui junto com ela, já que
meu pai nunca foi um homem presente e nem sei da sua existência. Seria
injusto para ambos se tivéssemos que sair.
Frederic concorda e me coloco de pé.
— Se não se importa, vou para o meu quarto estudar um pouco.
— Como está a faculdade? — pergunta.
— As aulas foram suspensas por conta do temporal, mas estão indo
bem, estamos prestes a fechar a matéria e com sorte, passei em todas.
Frederic concorda e me despeço dele, seguindo para meu quarto.
Fecho a porta e passo a tranca. Não sei explicar o motivo.
*
Estudo um pouco, converso com Frida no telefone e assisto à
programas bobos na televisão, então, quando já está beirando 21h, peço uma
pizza para comer e assim que chega, jogo a caixa sobre a mesa e apanho um
prato, colocando duas enormes fatias nele. Pego um copo de suco e subo
para meu quarto, entrando e voltando a passar a tranca.
Como em silêncio, ansiando o momento de terminar para poder tomar
um banho e dormir. Assim que faço isso, coloco meu pijama e me aconchego
na cama, cobrindo-me com o edredom grosso. Deixo a janela fechada com as
cortinas abertas, avistando ao longe as árvores e a chuva, que já recaí sobre
a cidade amaldiçoada em que vivo.
Suspiro e fecho meus olhos, não demora e caio no sono.
*
— Filha? — Ouço a voz de mamãe. — Estére, está na hora de se
levantar, querida.
Levanto-me da cama, sem entender, abro a porta e sorrio ao ver
minha mãe parada, já vestida para o trabalho.
— Mamãe, pensei que estivesse...
— Morta? — completa. Assinto e ela sorri. — Mas eu estou.
Vejo seu rosto enegrecer e sua pele apodrecer, então me afasto e caio
para trás, desviando meu olhar. Encaro novamente e Frederic está parado na
minha frente, sem camisa, com os pés descalços e o zíper da calça aberto.
— Oi, Jolie — diz ele se aproximando.
— O quê? — questiono, mas sou surpreendida quando ele me pega e
prende-me nos seus braços, encarando meus olhos. Fixo os meus nele e
engulo em seco, notando o sorriso se formar em seus lábios.
— Jolie, você voltou para mim — diz ele, aproximando-se de mim e
me beijando.
Tento me afastar, mas é em vão, pois ele é muito mais forte. Então,
sem escolhas, entrego-me ao beijo, sentindo meu corpo se arrepiar por
inteiro. Ele passa as mãos pelos meus braços e desce para o meu quadril,
movimentando sua pélvis contra mim. Sorrio e o encaro, vendo que agora o
rosto é do Collin, que sorri maliciosamente e se aproxima do meu pescoço, o
mordiscando. Respiro fundo e o aperto contra mim, então ouço um barulho e
sou trazida para a realidade, com o despertador me acordando e me
mostrando que só posso estar ficando louca ao sonhar com isso.
*
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[1]
Cidade fictícia.

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