Você está na página 1de 121

Copyright © 2021 C.M.

Meyer

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem consentimento e autorização por escrito da
autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Epílogo
Sinopse

Simonetta nunca pensou que precisaria se casar aos vinte anos para salvar a empresa de sua
família, e muito menos que seu marido seria um homem como Tony Bennett: mais velho, festeiro e
nada responsável, porém, herdeiro da maior marca de cosméticos do país.
Um sentimento de amizade tentou nascer logo após o casamento, mas as diferenças entre os
dois não permitiu que isso acontecesse.
Ambos não contavam com o desejo que sentiriam um pelo outro. E jamais imaginariam que
desse contrato surgiria uma paixão tão avassaladora.
* Contém cenas inapropriadas para menores de 18 anos.
Prólogo

TONY
Olhei para a janela branca que estava ao meu lado. O sol brilhava lá fora.
Eu odiava cheiro de hospital, porém, estar ali não era uma escolha minha. Apesar de meu pai
e eu nunca termos nos dado bem, eu o amava, e estava sofrendo por ele estar doente.
— Obrigada. Estou exausta — sussurrou minha mãe enquanto pegava o copo de café que eu
acabara de trazer.
— Vá para casa, descanse um pouco. Eu fico com ele agora — falei tentando fazer com que
ela relaxasse um pouco.
Não que eu gostasse de ficar no hospital, mas ver minha mãe sofrer estava me deixando
chateado. Eu sempre fui mais próximo dela do que de meu pai.
— Antes de ir, quero conversar você — falou enquanto bebia um gole do seu café.
Caminhamos alguns metros pelos corredores vazios.
— O que foi?
— Você sabe o que o médico disse. Seu pai logo irá nos deixar. — Ela fez uma pausa,
olhando para as paredes branca. Sua tristeza era nítida. — Ele será liberado logo para ir para casa.
A nossa obrigação é deixá-lo confortável nesses últimos meses.
— Sim, eu sei. Vou fazer o possível. Vou tentar ficar mais tempo em casa com ele para ajudar.
— Seu pai sempre teve o sonho de ser avô.
— Nem comece com isso — alterei o meu tom de voz no mesmo instante.
Meus pais insistiam nessa história de querer que eu case e tenha filhos. Já falei um milhão de
vezes que não é isso que eu quero.
— Se você não tomar jeito, a empresa ficará com a Gwen.
— Isso não é justo! Eu sou o filho mais velho, a empresa é minha por direito.
Esse assunto me tirava do sério. Apesar de minha irmã ser inteligente e estudiosa, não seria
justo ela ficar com a empresa da família. Eu não deixaria isso acontecer.
— Tony, fique calmo. Estamos no hospital.
— Não ficarei calmo enquanto a senhora não esquecer essa ideia.
— Você precisa ter um rumo na vida. Você já tem trinta de seis anos. Eu achava que essa sua
ideia de ficar indo em festas todo final de semana seria apenas uma fase. Todos os filhos dos nossos
amigos já estão casados e com filhos. Já estou cansada de defender você. Seu pai está certo — falou
enquanto bebia o último gole de café.
— Agora a senhora ficará ao lado dele? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. — Eu não
preciso casar e ter filhos para comandar uma empresa.
— Tony! Não tenho mais paciência para você. Semana passada enquanto todos estávamos
exaustos, você estava em festas como se nada estivesse acontecendo.
— Eu já havia feito a minha parte. Já tinha ficado com ele. Agora tenho que ficar 24 horas
por dia aqui? E como a senhora mesma disse, eu já tenho trinta e seis anos. Tenho a minha própria
vida.
— Fale baixo!
Ela parecia inquieta. Já havia amassado todo o copo de café.
— Mãe, vá para casa.
Eu já estava cansado dessa discussão.
— Eu ainda não terminei. — A mulher respirou fundo, parecia procurar as palavras. — Você
está noivo. Já está decidido. Combinei tudo com o irmão da Simonetta Jones. Sexta será o jantar de
noivado para formalizar.
Arregalei os olhos, tentando processar o que havia acabado de ouvir.
— O que a senhora está falando? — questionei sem acreditar no que estava acontecendo.
— Você e Simonetta irão se casar. Ela é uma ótima menina. A família dela tem nome. Sem
falar que será ótimo para a nossa empresa.
— Eu não vou casar. A senhora só pode estar ficando louca — falei soltando uma pequena
risada.
Só podia ser brincadeira. Eu nunca iria me casar, principalmente com Simonetta. Eu mal a
conhecia, havíamos nos visto de longe em alguns eventos, já que seus pais eram nossos concorrentes.
Pelo que eu lembre era uma garota muito nova e sem graça. Com certeza o tipo de mulher que eu
nunca teria interesse.
— Tony, eu estou fazendo isso por você, por nossa família.
— Não. A senhora só se importa com as aparências.
— O pai dela morreu recentemente. Eles estão com problemas financeiros. Pense que será
apenas um casamento de negócios. Será ótimo para você e sua imagem ter uma mulher como
Simonetta ao seu lado.
— Mulher? É uma menina, muito jovem para mim.
Eu estava inquieto, minhas mãos estavam suando e eu estava sentindo um calor desesperador.
Não queria perder a paciência com minha mãe, mas eu não iria ceder. Não a deixaria tomar as
minhas decisões, principalmente uma tão importante como essa. Era triste que meu pai nunca seria
avô, pois sei que ele queria muito isso. Mas eu não sacrificaria a minha vida pela felicidade dos
outros.
— Eu preciso de um banho. Vou para casa. Terminamos essa conversa depois.
— Tudo bem.
Sentei em uma das cadeiras que ficava no corredor. Eu precisava urgentemente de uma
bebida. Queria esquecer tudo que tinha acabado de ouvir.
Capítulo 1

SIMONETTA
Caminhei pela enorme casa até o quarto de minha irmã. Sua porta estava aberta. Ela pareceu
não notar minha presença. Estava acariciando sua barriga.
Lavínia tinha apenas dezessete anos, mas já estava grávida do seu primeiro filho. O pai do
bebê era um garoto que ela mal conhecia, ele disse que não aguentaria a responsabilidade e a
abandonou, porém, iríamos criar essa criança juntos, em família.
— Simonetta! Não vi você aí.
— Tudo bem — falei enquanto entrava em seu quarto. — Já consegue sentir o bebê?
— Ainda não. Estou tão ansiosa. Não vejo a hora da barriga crescer.
— Acho que acontecerá logo.
A garota sentou na ponta da cama e olhou para a janela que estava ao seu lado, em seguida
desceu o olhar para o chão. Ela tentou esconder, porém, percebi que algumas lágrimas brotaram em
seus olhos.
— Ele não pôde conhecer o neto. Sinto tanta falta dele.
— Eu também. Tem sido muito difícil sem ele. Vamos enfrentar isso juntas.
Nosso pai faleceu há algumas semanas, ainda era muito recente. Estávamos todos sofrendo
muito, principalmente Lavínia, eles sempre foram muito próximos. Como ele mesmo falava, Lavínia
sempre foi a sua garotinha, talvez por ser a caçula.
Sentei na cama ao seu lado e a abracei. Fomos interrompidas por uma leve batida na porta.
Era nosso irmão, Leonardo.
— Simonetta, posso falar com você?
— Claro.
Dei um leve sorriso para minha irmã e saí do quarto. O segui até a sala de estar.
— Algum problema?
— Na verdade, sim. — O homem estava nitidamente nervoso. Pude perceber sua respiração
ofegante. — Acho que você ainda não sabe, mas a nossa situação é pior do que imaginávamos. —
Ele finalmente sentou em uma poltrona que estava ao nosso lado. — Você sabe que nosso pai tinha
alguns vícios, não sabe?
— Sim, eu sei. Ouvi muitas brigas por conta desses vícios.
— Antes de morrer ele deixou a empresa totalmente afundada.
— Como assim? — questionei.
Eu sabia que estávamos com alguns problemas, mas não imaginei que fosse tão sério.
— Ele fez muitas dívidas. Usou todo o caixa da empresa e fez alguns empréstimos para tentar
cobrir, mas só conseguiu piorar ainda mais a situação.
Eu estava em choque, não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Eu não fazia ideia — falei em um quase sussurro.
— Se não conseguirmos pagar as dívidas, vamos ter que vender essa casa.
Percebi que Leonardo ainda estava ansioso. O homem não parava de mexer nas próprias
mãos, e suas unhas estavam ruídas. Será que tinha mais notícias ruins?
— Calma. Vamos resolver isso. Eu posso trabalhar, posso tentar vender alguns de meus
desenhos.
— Simonetta! Caia na real! Não iremos conseguir pagar dividas milionárias com os seus
desenhos. — Ele levantou da poltrona e foi até a janela. Por alguns instantes ficou de costas para
mim. — Eu tenho a solução. Você irá se casar — murmurou.
— O que? — gritei.
— Com Tony Bennett.
— Do que você está falando?
Meu irmão então voltou sua atenção para mim.
— Eu estive conversando com Mary Bennett, mãe de Tony, e chegamos em um acordo.
— Espera! — Eu o interrompi. — Como assim casar?
— Tony precisa de uma esposa, e nós de dinheiro. Imagina termos parceria com a Bennett
Cosmetics. Eles são uma das maiores empresas do país. Iremos expandir e nosso nome será
conhecido, não apenas aqui em Miami, mas sim em todo o país. Será, como disse Mary: um
casamento de negócios. Apenas por dois anos.
— Sem chances! Eu não vou casar.
Senti que minhas bochechas estavam vermelhas, e meu corpo estava trêmulo. Como Leonardo
tinha coragem de falar tudo isso para mim?
— É por nossa família.
— Nunca!
Saí correndo da sala em direção ao meu quarto. Eu estava fervendo de raiva.
— Simonetta.
— Por favor, me deixe em paz!
Entrei no quarto e me joguei na cama. Não consegui conter as lágrimas que estava segurando.
Será que era uma brincadeira de péssimo gosto? Não bastava eu estar sofrendo pelo meu pai, iria ser
obrigada a casar. Isso não poderia estar acontecendo.
Vinte minutos se passaram. Eu estava mais calma. As lágrimas haviam secado quando ouvi
uma batida na porta.
— Simonetta, vamos conversar.
Era Leonardo. Pensei em manda-lo embora, mas decidi que era melhor falarmos sobre isso.
Iria dizer que estava decidida, e não mudaria de ideia.
— Entre.
— Está mais calma?
— O que você ainda quer? — falei em um tom alto e firme.
— Você deveria ser menos egoísta.
— O que?
— Já pensou o que será de nossa mãe? Ela já tem idade. E Lavínia? Já foi abandonada, terá
que trabalhar e cuidar de um bebê sozinha?
— Eu posso trabalhar. Vou ajudar em tudo que puder.
— E o que você sabe fazer além de desenhar? Nem faculdade tem. Lavínia mal tem o ensino
médio.
De certa forma, ele tinha razão.
— Olha, não é uma coisa definitiva. É só por algum tempo. Mary está desesperada, será um
relacionamento de fachada.
— Mas por que isso? Qual a história da Mary e desse filho?
— Pelo que eu entendi o senhor Bennett está com câncer no hospital. Ele sempre quis um
neto, porém, Tony, seu único filho, nunca quis casar. Mary disse que é um irresponsável, só quer
saber de festas, mas não é má pessoa. Não se preocupe, não precisará engravidar dele. É só para o
pai ter um tipo de conforto no final da vida.
— Acho que já vi ele algumas vezes. Ele parece velho.
— Tem trinta e seis anos, mas Simonetta, será só por algum tempo. Eles são bilionários, vão
nos ajudar a sair dessa situação desesperadoras em que estamos. A única coisa que você precisa
fazer é fingir.
— Bilionários? — indaguei, parando pra refletir por alguns segundos.
— Sim. Sem falar que são uma das maiores empresa de cosméticos do país.
Respirei fundo. Eu precisava pensar.
— Preciso ficar sozinha.
— Tudo bem. Vou deixar você descansar.
Leonardo tinha razão, mas eu não queria casar obrigada. Mal conhecia esse Tony, sem falar
que era um homem muito velho para mim. Eu sempre fui romântica, sempre tive o sonho de encontrar
o meu amor verdadeiro, ter filhos e formar uma família perfeita. Será que teríamos que ter algum tipo
de intimidade ou seria só fachada mesmo? Pois eu não estava disposta a perder minha virgindade
com um desconhecido.
Depois de longos minutos pensando, decidi conversar com minha mãe. Queria saber o que ela
achava dessa história.
Assim que entrei no quarto pude ver a grande réplica do quadro Nascimento de Vênus
pendurado na parede.
Minha mãe estava mexendo em sua caixa de joias.
— Mãe, o que está fazendo?
— Vou me desfazer de algumas joias. Precisamos de dinheiro.
— Mas você adora esse anel, é uma herança da vó — falei enquanto pegava a peça de cima
da cama.
— Mas é um anel muito valioso.
Sentei ao lado das joias.
— Leonardo quer que eu case com Tony Bennett — falei.
— O que? Ele está levando isso a sério?
— A senhora sabia disso?
— Ele comentou comigo, mas eu disse que era uma ideia sem sentido.
— Na verdade, nem tanto. — Respirei fundo, dando uma pequena pausa. — Eles são
bilionários, e estamos falidos. Por que a senhora não me contou isso, mãe?
— Eu não queria preocupar você. Vamos dar um jeito.
— Não tem jeito. Lavínia logo irá dar à luz e precisamos de dinheiro, precisamos de
conforto, para ela e para o bebê.
— Você está pensando em levar isso a diante?
— Sim — falei em um sussurro.
— Deve haver outra solução.
Eu podia ver a tristeza em seu olhar, porém, eu não tinha escolha. Faria isso por minha
família. E como disse Leonardo, não seria para sempre. Seria apenas por dois anos.
Capítulo 2

Eu finalmente decidi aceitar o casamento. Era um sacrifício necessário, seria por minha
família. Eu ficava o tempo inteiro repetindo a frase de Leonardo em minha cabeça: é só por um
tempo, não é para sempre.
Fiquei sabendo que Lorenzo, o pai de Tony, teve alta do hospital. O homem estava muito
doente, e parecia que não tinha mais nada que os médicos pudessem fazer. Por conta disso, o jantar
de noivado seria na casa dos pais de Tony.
Parei em frente ao espelho e observei meu reflexo. Nunca imaginei que me casaria aos vinte
anos, e, principalmente, sem amor. Eu estava claramente abatida, porém, precisava esconder isso.
Fiz uma maquiagem completa em um tom vermelho. Dei destaque para os olhos, usando uma
sombra na cor vinho, e nos lábios um batom vermelho vivo. Cores quentes combinavam com a minha
pele marrom clara e destacavam meus olhos castanhos. No cabelo fiz apenas uma chapinha rápida já
que ele era liso. Herança da minha avó que tinha origem indiana. A roupa eu optei por algo um pouco
mais básico, já havia exagerado na maquiagem. O clima estava quente, então escolhi um vestido na
cor preta, era simples, porém muito bonito. Justo na cintura e com babados e volume na saia. Dava
destaque para meu corpo magro.
Estava pronta para ir.
— Simonetta, você está incrível!
— Obrigada, mãe.
— Vão indo para o carro. Quero um minuto com Simonetta — falou Leonardo.
Minha mãe e Lavínia concordaram.
— Queria agradecer tudo que está fazendo por nossa família. Obrigado.
— Bom, é minha obrigação.
Ele me puxou para um abraço apertado.
Sempre fui muito íntima de meus irmãos, principalmente de Leonardo, mesmo ele sendo dez
anos mais velho do que eu, nós éramos melhores amigos, apesar de eu achar que ele me escondia
algo. Já fazia um tempo que eu tinha a desconfiança de que meu irmão não era hétero, pensei em
questionar várias vezes, mas estava esperando que ele estivesse confortável o suficiente para contar.
— Só não esqueça, o pai de Tony está muito doente, ele não sabe de nada. Pensa que o
relacionamento é de verdade.
— Tudo bem. Pode deixar que vou fingir estar feliz.
Ele deu um pequeno sorriso.
— Agora vamos. Não podemos chegar atrasados — falou, olhando para seu relógio de pulso.
O caminho foi rápido, sem demora.
Assim que chegamos, fiquei impressionada com a decoração da casa. Tudo perfeito e no seu
devido lugar. Era um pouco maior que a nossa e tinha um lindo jardim na entrada.
Fomos recebidos pela governanta, que nos guiou até a sala de jantar. Pude perceber uma
mulher mais velha, muito elegante. Era Mary, sentado em seu lado estava um homem frágil, que com
certeza aparentava mais idade do que realmente tinha.
— Simonetta, sou a Mary Bennett. Já nos vimos algumas vezes de longe, mas nunca fomos
formalmente apresentadas. Muito prazer — disse a mulher estendendo a mão para um cumprimento.
— O prazer é meu, senhora Bennett.
— Me chame apenas de Mary. — A mulher fez uma pequena pausa. — Esse é meu marido,
Lorenzo Bennett.
Fui até ele e o cumprimentei. Por alguns instantes fiquei um pouco triste por ele, pois sabia
que estava muito doente. Me fez lembrar do meu pai.
— Sou Eliza Jones — falou minha mãe se apresentando.
— Prazer me conhece-los. Tony e Gwen descerão logo — falou o mais velho com a voz
fraca.
Sentamos na enorme mesa e começamos a conversar.
O senhor Bennett queria saber mais sobre mim, perguntou sobre o que eu gostava de fazer.
Falei sobre os meus desenhos e minha paixão pela arte.
Logo fomos interrompidos por Tony e Gwen.
— Essa é minha filha Gwen — apresentou Mary orgulhosa.
Eu não a conhecia. Era uma mulher extremamente bonita. Alta, magra e com longos cabelos
pretos. Parecia ser alguns anos mais velha do que eu. A cumprimentei, e assim como os pais, ela
parecia ser muito simpática.
Eu e Tony não fomos apresentados. Provavelmente ele também estava avisado a fingir na
frente do pai. O homem veio até mim e me comprimento com um leve beijo no rosto.
— Como está, Simonetta? — falou ele com um sorriso forçado.
Era nítido que ele não queria estar ali. Estava tão desconfortável quanto eu.
Mary puxava um assunto atrás do outro. Ela parecia estar gostando da situação.
— E você Tony? O que gosta de fazer quando não está trabalhando? — perguntou minha mãe.
— Gosto de ir em festas e beber um bom drink. Gosto de me divertir.
Percebi que o senhor Bennett ficou um pouco sem jeito com a resposta do filho. E não era
para menos. Eu imaginei que um homem de trinta e seis anos tivesse hobbys mais interessantes. Isso
soou um pouco imaturo para mim.
— A comida está maravilhosa, Mary — comentou Leonardo.
Meu irmão estava nitidamente puxando o saco da família, mas eu não o julgava. Afinal
estávamos ali por interesse mesmo.
Quando acabamos a comida, Mary mandou servir a sobremesa. Cheesecake de morango.
Estava com uma cara ótima. Eu adorava doces, e cheesecake era um dos meus preferidos.
Assim que o doce foi servido, percebi a cara de desânimo de Tony.
— Mãe! Morango? A senhora sabe que não gosto de morango.
— Me desculpe. Eu tinha tanta coisa para resolver que acabei esquecendo. Vou ver se tem
algum outro doce pronto para você.
A mulher chamou uma das empregadas e pediu para trocar o prato do filho imediatamente.
Todos ficaram visivelmente envergonhados, principalmente o senhor Bennett. Vi que suas
bochechas estavam ficando coradas.
Aquilo era inacreditável! Ele realmente era mimado, e pelo que eu percebi, a mãe fazia todas
as suas vontades.
Em poucos minutos a empregada chegou com uma travessa, onde estavam vários pedaços de
bolo.
— Brownie — resmungou Tony em voz baixa.
— Eu adoro brownie — disse Lavínia cortando o clima tenso.
— Pegue alguns — ofereceu Mary.
Minha mãe e Mary tentavam deixar a conversa agradável, porém, Tony fazia questão de
sempre fazer comentários desnecessário e inconvenientes.
Eu estava impressionada com tudo que acabara de ver. O homem era pior do que imaginava.
Além de mimado, era bruto e grosseiro, parecia não respeitar a própria mãe.
Eu não via a hora de ir para a casa e sair dessa situação. Agradeci mentalmente por estarmos
acabando de comer a sobremesa. Foi quando vi algumas empregadas entrando com taças a
champanhe. Ainda faltava o brinde oficial de noivado.
— Desculpe Mary, mas não tomo bebidas alcoólicas. Você pode pedir para trazerem um
suco? — sussurrei.
— É claro que sim.
Foi um alívio eu estar sentada ao lado de Mary na mesa, não queria ter que falar em voz alta
para todos ouvirem.
Ela chamou uma das mulheres e pediu para trazer um suco. Em poucos segundos uma jarra
estava sobre a mesa.
Tony rapidamente levantou de sua cadeira.
— É com imensa felicidade que anúncio o meu noivado com Simonetta Jones.
Todos levantaram suas taças e brindaram. Forcei um sorriso
— Bem vinda à família. Fico feliz em poder viver para ver esse momento — disse o senhor
Bennett.
Eu estava com pena. Ele aparentava ser uma ótima pessoa, e todos ali o enganando desse
jeito.
Logo depois do brinde, Mary nos convidou para irmos para o jardim. Eu não queria mais
prolongar essa visita, então tive que mentir.
— Seria um prazer, mas Lavínia já está cansada.
A garota percebeu que eu estava querendo ir para casa e concordou.
Nos despedimos e finalmente voltamos para a casa.
— Gostei muito de Lorenzo, um homem muito gentil — comentou Leonardo enquanto dirigia.
— Eu também. De certa forma fez lembrar o nosso pai.
Entrei em casa e fui direto para meu quarto. Tudo que eu queria fazer era chorar. Pensei em
desistir, não sabia se teria forças para aguentar esse casamento.
Capítulo 3

O dia do casamento chegou mais rápido do que o esperado. Foi tudo planejado às pressas,
pois queriam que Lorenzo estivesse presente.
Seria uma comemoração simples, no jardim dos Bennetts, apenas para convidados próximos.
Sinceramente não tive vontade de convidar ninguém, nenhuma de minhas amigas. Imagina ter que
contar que eu casaria com um homem bruto e mimado.
Escolhi um vestido na cor azul claro, longo e justo. Para a maquiagem contratamos uma
maquiadora profissional, não que eu fizesse questão, mas minha mãe insistiu. Soltei meus cabelos
castanhos e era isso. Eu estava pronta.
Era um lindo dia de primavera, o sol brilhava forte, o calor estava ameno, um clima muito
agradável. A típica temperatura de Miami.
O jardim estava todo decorado com flores.
Fizemos uma rápida cerimônia. Um padre estava presente. Lorenzo e Mary eram muito
religiosos. Assim que o padre nos abençoou, Tony me deu um leve beijo no rosto. Nós ficamos lado a
lado, estávamos fingindo e parecendo felizes. Os convidados dos Bennetts pareciam acreditar na
nossa felicidade.
Depois de “casados”, começou uma pequena festa. Havia várias mesas, com aperitivos,
doces, bebidas e um grande bolo.
Os convidados vinham nos cumprimentar, e apesar de eu não conhecer ninguém, tentei
parecer simpática.
A música começou a tocar e algumas pessoas foram para a pista de dança improvisada bem
no centro do jardim. Mary veio discretamente em nossa direção.
— Vocês deveriam dançar, as pessoas podem desconfiar — sussurrou Mary.
A última coisa que eu queria era dançar com Tony, porém, sabia que ela tinha razão. Os
recém casados tinham que dançar juntos.
— Me daria a honra? — disse Tony com um sorriso sarcástico.
Não respondi, apena o acompanhei até a pista de dança.
Tony colocou suas mãos em minha cintura e colou nossos corpos, pude sentir a sua
respiração. Eu não estava feliz com essa situação, mas apenas me deixei levar pelo ritmo da música.
— Podia colocar um pouco mais de esforço nisso — comentou.
— O que? — perguntei, demorando um pouco para processar o que ele disse.
— Sorria mais, ou qualquer pessoa que olhar para uma única foto desse casamento vai
descobrir que tudo é uma grande farsa.
— Desculpe se eu não pareço estar feliz sabendo que os próximos dois anos da minha vida
serão um inferno.
Ele não falou mais nada depois disso.
Depois da dança, eu estava exausta e cansada de fingir. Servi uns aperitivos e um suco, fui
comer isolada em um canto do jardim. Avistei um banco perto de algumas árvores, pensei que seria o
lugar perfeito para ficar um pouco sozinha.
Sentei, observando as pessoas na festa. Pareciam tão felizes, não tinham ideia do quanto a
própria noiva estava infeliz.
Avistei Tony. Ele estava sem o paletó e com a camisa branca agarrada em seus músculos,
enquanto bebericava uma taça de champanhe.
Eu não podia negar o quanto ele era atraente. Absolutamente todas as suas características
físicas deixariam qualquer pessoa que gosta de homens em chamas. Se não estivéssemos naquela
situação medíocre, talvez eu me interessasse por seu corpo musculoso, mas, com certeza, só pelo
corpo.
Balancei a cabeça e tirei todos esses pensamentos da minha mãe.
Não estava com pressa comendo os aperitivos. Imaginei que ninguém notaria minha ausência
por alguns minutos, porém, minha paz durou pouco tempo.
— Espero que aprenda a ser uma melhor mentirosa — disse Tony, vindo de trás de uma
árvore.
— E você está de parabéns — falei enquanto tomava um gole de suco de maçã.
O homem veio até mim e sentou no banco ao meu lado.
— Fale a verdade. Sei que no fundo está gostando de toda essa atenção. Quem não gostaria?
Não me venha com essa de viver dois anos em um inferno.
— Do que você está falando? — questionei.
— De casar comigo, é claro. Qualquer mulher daria tudo para casar com o herdeiro Bennett.
— Bom, qualquer mulher menos eu. Não sei se você sabe, mas só estou fazendo isso porque
estamos em uma situação muito difícil. Precisamos nos reerguer.
Era inacreditável, além de todos os defeitos, Tony era convencido. Devia estar acostumado a
ter todas as mulheres aos seus pés. Ele era alto, moreno e tinha lindos olhos verdes. Apesar de sua
ótima aparência, eu nunca teria interesse em um homem como ele.
— Se você está dizendo, mas duvido que resista ao meu charme por muito tempo — falou
com um sorriso malicioso nos lábios.
Senti minhas bochechas queimando. Ele estava literalmente me tirando do sério.
— Por favor, me deixe comer em paz. Vá fingir para seus amigos.
Essa não era a resposta que eu gostaria de dar, mas não arrumaria confusão na festa de
casamento. Sabia que qualquer coisa fora no normal que acontecesse nessa festa, seria notícia em
algum site de fofoca no dia seguinte. Lorenzo não merecia isso.
Ele não esperava minha reação. Apenas me lançou um olhar e saiu. Respirei aliviada por
estar sozinha novamente.
Depois que terminei de comer era hora de voltar. Eu evitaria Tony, pensei em ficar perto de
Leonardo e Lavínia.
Enquanto estava com meus irmãos, percebi uma pequena movimentação. Mary estava
inquieta, Tony estava em um lugar um pouco isolado com uma mulher, eu não conseguia ver
perfeitamente, mas era uma mulher ruiva e alta, aparentemente muito bonita. Mary foi até eles,
pareciam estar discutindo.
— Aquilo é uma briga? — questionou Lavínia enquanto observamos de longe.
— Parece, mas não tenho certeza.
Ficamos observando por alguns instantes, Mary parecia furiosa. Em seguida vimos a mulher
ruiva sair do jardim em direção ao portão. Tony ficou visivelmente abalado. Fiquei curiosa sobre o
que poderia ter acontecido, mas não ousaria perguntar.
O resto da festa foi tenso. Os convidados começaram a ir embora e Tony parecia abatido.
Não estava mais conseguindo fingir. Lorenzo pareceu não perceber nada, o homem estava radiante.
Na hora da despedida, minha mãe veio até mim.
— Eu nem sei como agradecer o que você está fazendo por nossa família — disse ela com
lágrimas nos olhos.
— Tudo voltará ao normal mãe, eu prometo.
Ela me envolveu em um abraço apertado, como há muito tempo não fazíamos.
Assim que nos separamos, olhei para minha irmã que estava ao meu lado. Sua barriga já era
visível. Fiquei pensando em meu sobrinho que iria nascer, e então tive certeza que meu sacrifício
valeria a pena. Teria uma infância boa e com conforto, assim como eu e meus irmãos tivemos.
Capítulo 4

Depois do casamento fomos para a casa de Tony. Não viajamos em lua de mel, e a desculpa
que daríamos caso alguém perguntasse seria por conta da saúde debilitada de Lorenzo. Com certeza
todos iriam acreditar.
A casa de Tony ficava no bairro vizinho da casa de seus pais. Era enorme e luxuosa.
— Linda decoração — comentei assim que entramos.
— Obrigado. Minha mãe quem decorou. Na verdade, ela comprou essa casa, e quando vim
para cá já estava decorado. Foi ela quem fez tudo.
— Ela fez um ótimo trabalho. — Era exatamente como eu imaginava, a mãe literalmente fazia
tudo por ele. — E essas medalhas e troféus? — falei apontando para um canto da sala.
— Eu praticava judô. É minha grande paixão, desde criança. E modéstia parte eu sempre fui
muito bom nisso. Participei de vários campeonatos e ganhei muitos deles.
— Parabéns.
Me aproximei de um pequeno quadro na parede. Era uma foto, onde ele parecia ter uns
quatorze anos. Estava com um grande troféu na mão.
— Esse foi o maior prêmio que ganhei. Foi nível nacional.
Ele ficou observando a foto, pareceu voltar no tempo.
— E o que aconteceu? Porque não continuo competindo?
— Comecei a trabalhar na empresa de meu pai. Ele nunca apoiou totalmente o judô, tratava
mais como um hobby do que como uma carreira. Fui abandonando aos poucos, até que parei
completamente, mas hoje sou um grande fã de judô, de esportes em geral.
Percebi em seu olhar que ele tinha uma certa mágoa em relação a isso.
— É uma pena — falei enquanto olhava as outras fotos.
Ele apenas tentou dar um sorriso forçado.
— Venha, vou mostrar seu quarto.
Subimos a grande escada até o andar superior. Haviam várias portas, o que me fez imaginar
quantos quartos teriam na casa.
— Espero que fique confortável — falou enquanto abria uma delas.
— Ficarei, o quarto é lindo.
O homem começou a dar alguns passos pelo cômodo. Parecia inquieto.
— Eu preciso sair um pouco. Tem comida no freezer, caso fique com fome.
— Tudo bem — respondi enquanto sentava na ponta da enorme cama.
— Eu volto logo.
Ele saiu do quarto e ouvi seus passos rápidos descendo as escadas.
Fui para a janela e fiquei observando quando seu carro saiu. Eu tinha quase certeza que ele
tinha ido encontrar com aquela mulher ruiva.
Fiquei imaginando qual seria a história deles. Será que estavam apaixonados e por algum
motivo não poderiam ficar juntos? Era o mais provável. E se realmente fosse isso, era uma história
muito triste.
Deitei na cama e fiquei refletindo sobre o rumo que minha vida estava tomando. Sabia que a
convivência com Tony não seria nada fácil, por outro lado, eu estava feliz em poder ajudar minha
família. Sabia que nesse momento a grande dívida de meu pai já estava começando a ser paga. Só de
saber que minha mãe estava bem eu já estava satisfeita.
Peguei meu celular e fiquei um tempo navegando pela internet. As notícias do casamento já
estavam em alguns sites, afinal era exatamente o que Mary queria: que todos soubessem que seu filho
tinha casado.
Vi que algumas amigas estavam mandando mensagens, perguntando sobre o casamento. Eu
não havia contado para ninguém. Apenas ignorei todos os recados, não queria dar nenhuma
explicação agora.
Depois de mais de uma hora, senti que estava com fome. Eu não queria sair e andar pela casa.
Pretendia ficar a maior parte do tempo no meu quarto, mas lembrei que Tony falou sobre a comida
congelada.
Desci as escadas e fui em direção à cozinha. A limpeza estava impecável, o que me fez
pensar que alguma faxineira deveria vir de vez em quando. Olhei no freezer e haviam vários pratos
congelados. Peguei uma lasanha de frango. Eu amava lasanha, era um dos meus pratos preferidos,
mesmo sendo a congelada. Coloquei no micro-ondas e aguardei o tempo. Peguei um suco de laranja
na geladeira e sentei na bancada para comer.
A lasanha estava maravilhosa, não sabia que estava com tanta fome até dar a primeira
garfada. Enquanto comia ouvi um barulho, e em poucos instantes Tony entrou na cozinha.
— Senti o cheiro de lasanha.
— Eu estava morrendo de fome. Quer um pouco? — ofereci.
— Claro.
Ele pegou um prato e sentou na bancada à minha frente.
Percebi que seus olhos estavam vermelhos, imaginei que tinha chorado.
Enquanto comíamos notei que ele estava calado, diferente do homem mimado que eu tinha
conhecido.
— Sei que não é da minha conta, mas está tudo bem?
Me arrependi da pergunta assim que a fiz. Eu não tinha que ter questionado. Nosso casamento
era de fachada. Não tínhamos nada. Mas a curiosidade me venceu.
— Na verdade não, muito bem — falou enquanto bebericava seu suco de laranja.
— Desculpe perguntar. Eu não tenho nada a ver com isso.
— Não se desculpe — falou enquanto remexia a comida em seu prato.
Ficamos em silêncio. Eu sabia que estava passando por uma situação difícil. Percebi que ele
queria falar sobre o assunto.
— Quer conversar sobre isso? Tem a ver com a mulher ruiva que estava no casamento?
— Você a viu? — perguntou desviando o olhar do prato e voltando a atenção para mim.
— Na verdade, sim. Eu estava com meus irmãos. Vimos vocês juntos e depois quando Mary
se juntou a vocês.
— O nome dela é Camila. Nos conhecemos há 5 anos. Temos um relacionamento desde então,
porém, meus pais nunca apoiaram nossa relação.
— Qual o motivo disso?
— Segundo eles, ela não é mulher para mim. Tem um filho adolescente, não tem emprego fixo
ou faculdade. Vive de pequenos bicos e mora com a mãe. — Ele fez uma pequena pausa. Desviou o
olhar para os eletrodomésticos que estavam ao nosso lado. — Eles nunca a aceitaram.
— Eu sinto muito. Deve ser muito triste não poder ficar com quem se ama.
— E quem disse que eu a amo? — perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Não ama? — indaguei curiosa.
— Não, mas digamos que isso é o mais próximo que eu vou chegar do amor. Meu
relacionamento com ela nunca me impediu de ficar com outras mulheres.
Por um momento esqueci do homem sem noção e mimado que Tony era, mas ele fez questão
de me lembrar.
— Você é inacreditável — falei soltando uma pequena risada.
— Eu só aproveito a vida. Não tenho intenção de ficar preso a uma mulher só. Camila
também pensa assim. Queríamos ficar juntos, mas falamos muitas vezes sobre um relacionamento
aberto, sem cobranças.
— Relacionamento aberto? — falei chocada.
— Sim, sem compromisso. Não gosto de rotina.
— Eu nunca conseguiria. Sou muito romântica, sempre tive o sonho de me apaixonar, casar e
ter filhos.
— Mas você pode se apaixonar, casar e ter filhos em um relacionamento aberto — afirmou.
— Acho que ainda tenho uma mente fechada para esse assunto.
Enquanto eu falava sobre relacionamento, Tony levantou a foi até a geladeira. Pegou alguns
doces que sobraram da festa de casamento.
— Mas me fale mais de você. De onde sua mãe tirou o nome Simonetta? — falou enquanto
comia um pedaço de bolo.
— Minha mãe é muito fã de arte. A inspiração foi a Simonetta Vespucci. Todos nós temos
nomes renascentista.
Tony pareceu confuso. Não tinha a mínima ideia do que eu estava falando.
— Simonetta Vespucci?
— Sim. Você sabe. O quadro O nascimento de Vênus.
— Não sou muito ligado a arte.
— Pensei que todo mundo conhecesse esse quadro — falei sem acreditar no que estava
ouvindo.
— Eu odiava artes da escola. Preferia aula de educação física.
Precisei esconder minha decepção. Eu era tão ligada a arte que achei inacreditável que
alguém não conhecesse esse quadro tão famoso.
Finalizamos nossa primeira noite de casados ali, comendo lasanha congelada e falando sobre
os tempos da escola.
Capítulo 5

Abri os olhos e demorei alguns segundos para raciocinar que eu não estava no meu quarto.
Minha primeira noite na casa de Tony não havia sido muito boa, senti falta da minha casa, acordei
várias vezes durante a noite. Eu era muito próxima da minha mãe e dos meus irmãos, apesar de
Leonardo não morar mais conosco, estávamos sempre juntos. Eu sentiria falta da companhia deles.
Acordei cedo como de costume, não gostava de dormir até tarde. Troquei de roupa e desci em
direção à cozinha. Senti o cheiro de café antes mesmo de chegar.
— Bom dia — disse Tony terminando de prepara-lo.
— Bom dia.
— Como passou a noite? Dormiu bem? — perguntou sentando na bancada.
— Não muito bem. Senti falta de casa, mas vou acabar acostumando.
Sentei ao seu lado e servi uma xícara de café.
— Se precisar de algo, é só pedir — falou bebendo o líquido da sua caneca rapidamente.
— Obrigada — respondi.
— Vou tomar um banho rápido e já vou para a empresa. Não posso chegar atrasado.
Ele saiu praticamente correndo.
Fiquei pensando o que comeria junto com o café, eu não queria ficar olhando os armários,
mas não tinha escolha. Tony não me ensinou nada, não disse onde guardava as coisas. Abri a porta de
cima do armário e achei alguns pacotes de torrada.
Enquanto comia, o celular de Tony começou a tocar. Ele havia o esquecido em cima da
bancada. Olhei para o aparelho e vi “mãe” brilhando na tela. Sem demora peguei o celular e comecei
a andar pela casa procurando o homem. Lembrei que ele falou que iria tomar banho. Cheguei perto
do banheiro e ouvi o barulho da água correndo. Eu não iria interromper, não entraria lá no meio de
seu banho. Fiquei andando de um lado para o outro no corredor em frente ao cômodo. Não sabia
exatamente o que fazer.
O celular não parava de tocar. Comecei a pensar se não teria acontecido alguma coisa séria,
teria a ver com o estado de saúde de Lorenzo? Eu sabia que atender era errado, mas a vibração e o
volume estavam me deixando preocupada. Em um impulso resolvi atender.
— Alô, Mary?
— Simonetta, é você?
— Sim, sou eu. Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?
— Tudo ótimo. Só queria falar com Tony antes de ele ir trabalhar.
— Ele está no banho.
— Ah sim. Queria convidar vocês para virem almoçar aqui no domingo.
Respirei aliviada. Pensei que poderia ter acontecido algo grave.
— Eu dou o recado assim que ele sair do banho.
— Tudo bem. Peça para ele me ligar, e não deixem de vir. Será o nosso primeiro almoço de
domingo em família.
— Pode deixar. Até mais.
A mulher parecia extremamente empolgada do outro lado da linha.
No momento em que eu estava encerrando a ligação, Tony abriu a porta do banheiro.
— O que está fazendo com o meu celular na mão?
— Estava tocando sem parar. Era sua mãe.
Sua expressão era de raiva. Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Você não tinha nada que estar com o meu celular — esbravejou enquanto tirava o aparelho
de minhas mãos.
— Me desculpe.
Ele começou a dar passos sem rumo pelo corredor. Parecia transtornado.
— Saia da minha frente — falou em um tom alto.
— Fique calmo. Não foi nada demais.
— Eu disse saia — gritou.
— Pare de gritar comigo. Eu não mexi em nada. Apenas atendi sua mãe! Você está louco?
Fiquei parada olhando para ele por alguns segundos. Tony estava mesmo gritando comigo
daquele jeito? Por uma coisa tão sem importância. E se fosse algo sério? Ele nem perguntou o que
sua mãe queria, poderia ter acontecido alguma emergência médica com seu pai.
— O que ainda está fazendo aqui? Eu mandei sair — falou gritando cada vez mais alto.
— Você definitivamente é louco!
Virei as costas para sair da casa quando ouvi um barulho alto, voltei minha atenção para ele e
vi um vaso quebrado no chão. O homem estava tremendo de ódio.
Tive medo. Apenas sai correndo sem olhar para trás.
Fui em direção à porta principal. Senti que um nó havia se formado em minha garganta. Eu
estava trêmula e suando.
Olhei para o enorme jardim e avistei um balanço. Fui até lá e me sentei. A única coisa que eu
queria fazer era chorar, então deixei que as lágrimas caíssem. Minha respiração estava ofegante, eu
sentia como se não tivesse ar o suficiente para respirar.
Me arrependi profundamente de ter aceitado esse casamento. Ontem, por alguns instantes,
pensei que poderia dar certo, que poderíamos ser amigos e conviver bem, mas eu estava enganada.
Ele era instável mentalmente, e com certeza tinha algum tipo de problema com raiva.
Demorou alguns minutos para ele sair. Entrou no seu carro e dirigiu para fora do portão. Não
sei se ele havia percebido minha presença, e se percebeu, fingiu que não notou.
Depois que minhas lágrimas cessaram, voltei para dentro da casa. Tomei um banho e decidi
que iria até à minha casa. Tudo que eu queria nesse momento era ver minha mãe.
Enviei uma mensagem para Lavínia, avisando que eu estava chegando.
Peguei um Uber e cheguei rapido. Eu não tinha dinheiro em mãos. Minha mãe e Lavínia
estavam me esperando com o dinheiro para o motorista.
— Mãe, senti sua falta — falei a envolvendo em um abraço assim que a vi.
— Nós nos vimos ontem, querida — disse ela. — Está tudo bem? Você está nervosa? Andou
chorando?
— Não sei se irei suportar esse casamento.
Entramos na casa e resumi tudo o que tinha acontecido. Falei que Tony estava amigável na
noite anterior e que teve um surto quando atendi a mãe dele.
— Entendo o seu lado, mas você também fez errado. Celular é uma coisa pessoal. Imagina
ver uma pessoa que você não conhece, segurado e atendendo seu telefone — falou Lavínia.
— Eu só atendi porque vi que era sua mãe, e ela insistiu muito. Pensei que poderia ter
acontecido alguma coisa com Lorenzo.
— Eu entendo. Você ficou preocupada. Na verdade, os dois erraram. Vocês deviam conversar
— disse minha mãe.
— Não sei se irei conseguir. — Meu tom saiu mais baixo do que eu pretendia.
Depois de algum tempo começamos a conversar sobre outros assuntos. Por alguns minutos, eu
acabei esquecendo tudo que estava acontecendo.
— Vamos fazer o almoço? Vocês me ajudam? — perguntou minha mãe levantando do sofá.
— Claro.
Estávamos sem empregada há algum tempo. Minha mãe fazia todo o serviço da casa, eu
ajudava como podia. Nunca pedíamos a ajuda de Lavínia por a garota estar grávida. Ela falava que
estava grávida e não doente, mas sempre queríamos evitar que fizesse algum esforço.
Passamos uma manhã agradável. Conversamos, brincamos e preparamos a comida.
Depois do almoço queria ter uma conversa séria à sós com minha mãe.
— Mãe, podemos conversar?
— Claro. Vamos até meu quarto.
Segui ela pela casa em direção ao cômodo.
— Como estão as coisas na empresa? — perguntei
— Pelo que Leonardo falou, logo será pago uma parte da dívida de seu pai. Estou ansiosa por
notícias. Ele passará aqui no final do dia para nos dar informações.
Sentei na cama e fiquei pensativa. Será que valeria a pena continuar com esse casamento?
— Mãe, como era na sua infância e adolescência? Antes do pai, antes da empresa. A senhora
sempre disse que era muito pobre, mas nunca deu detalhes.
Sua expressão ficou séria.
Ela sentou na cama ao meu lado.
— Eu não gosto de falar sobre isso. É uma parte da minha vida que queria esquecer.
— Porquê? O que aconteceu?
— Foi muito difícil. Minha mãe criou três filhos sozinha. Passamos por muita necessidade.
— Ela fez uma pequena pausa. Sua respiração estava ofegante. — Muitas vezes não tínhamos o que
comer. Íamos para rua pedir dinheiro para as pessoas. Eu era criança, não entendia muito bem.
Quando eu tinha uns doze anos já tinha entendido a situação. Comecei a trabalhar, fazer pequenos
bicos, tudo o que tivesse ao meu alcance. A situação só melhorou quando conheci seu pai.
Trabalhamos muito e começamos a empresa.
— Sinto muito por fazer a senhora relembrar esses tempos difíceis. Eu não sabia que tinha
sido assim.
— Aprendi muito com seu pai. Ele tinha uma vida mais estável, me ensinou muitas coisas, ele
que me incentivou a gostar de arte. — Ela olhou para a janela ao nosso lado. Parecia perdida em
seus pensamentos. — Uma pena ele ter colocado tudo a perder por conta dos seus vícios —
lamentou.
— Está tudo bem, mãe. Vocês fizeram um ótimo trabalho juntos. Nós vamos resolver essa
situação.
Aquela conversa me fez refletir. Eu estava quase certa a desistir do casamento, mas depois de
tudo que minha mãe falou, pensei em reconsiderar. Eu sempre tive dinheiro, nunca passei por nenhum
tipo de dificuldade financeira, não sabia o que era passar fome. Não queria trazer de volta os traumas
de minha mãe, não queria que Lavínia passasse por dificuldade com um bebê recém-nascido. Eu
voltaria para a casa de Tony, faria isso por minha família.
Capítulo 6

Depois de passar o dia com minha família, decidi voltar para a casa de Tony. Estava disposta
a conversar, caso se desculpasse, porém, eu queria o mínimo de contato com ele. Ficaria a maior
parte do tempo em meu quarto, ou visitando minha mãe.
Entrei na casa e o vi na sala de estar. Ele estava sentado no sofá, com uma bebida na mão.
— Simonetta, estava esperando por você — falou, levantando e vindo em minha direção.
— O que você quer?
— Eu queria pedir desculpas. Não sei o que aconteceu. Eu exagerei e sinto muito por isso.
— Você surtou. Eu só quis ajudar. Só atendi porque era a sua mãe. — Fiz uma pausa olhando
fixamente em seus olhos. — Me desculpe também, eu não deveria nem ter chegado perto do seu
celular.
— Vamos esquecer isso — falou enquanto tomava um gole da sua bebida.
— Tudo bem. Passou.
— Venha, beba comigo. Gosta de vinho branco?
— Não gosto de bebidas alcoólicas. Obrigada.
— Tudo bem, eu pego um suco para você.
— Não precisa.
Antes que eu pudesse terminar a frase, ele já havia saído da sala.
— Suco de abacaxi. Você gosta? — perguntou me entregando um copo com a bebida.
— Adoro.
Forcei um sorriso. Eu não queria ficar em sua presença. Minha intenção era chegar e ir
diretamente para o quarto.
Ele sentou novamente no sofá onde estava.
— Me diga, porque não gosta de vinho branco? Aposto que experimentou um de baixa
qualidade. Eu só tomos os melhores vinhos. Você pode beber sem medo.
Sentei em uma poltrona preta que estava ao lado do sofá.
— Não é isso. Na verdade, eu nunca bebi nenhum tipo de bebida alcoólica. — Desviei o
olhar para o copo de suco que estava em meu colo. — Tenho traumas de bebidas por causa dos
vícios de meu pai.
Ele ficou sem reação, foi pego de surpresa.
— O que aconteceu exatamente? Minha mãe falou que seu pai afundou a empresa que ele
mesmo construiu e por conta disso vocês estavam nessa situação, mas não deu detalhes.
— Desde que eu me lembre ele sempre teve problemas com bebidas, porém, na maior parte
do tempo, minha mãe conseguia o controlar, mas foi ficando cada vez pior. Descobri há pouco tempo
que ele também era viciado em sexo... com prostitutas. Minha mãe sempre soube, disse que ficava ao
lado dele para tentar ajudá-lo. — Fiz uma pausa para beber um gole de suco. Sentia que minha
garganta estava seca. — Ele gastou muito dinheiro com mulheres e bebidas. Começou a usar o
dinheiro da empresa para encobrir suas escapadas, mas tudo piorou quando começou a pegar
empréstimos. Ele nunca conseguiu pagar, e virou essa bola de neve.
Respirei fundo. Senti que estava sem ar. Relembrar tudo isso era muito doloroso para mim.
— Sinto muito — falou tomando o último gole do líquido em sua taça.
O clima estava pesado. Percebi que Tony ficou impressionado com tudo que eu acabara de
falar. Decidi quebrar o silêncio.
— E sua mãe? Falou com ela sobre o almoço de domingo?
— Sim, disse que iriamos almoçar lá. Tudo bem para você?
— Claro, eu gosto muito de sua mãe. Será um prazer. — Olhei para os lados, tentando pensar
em uma desculpa para ir para meu quarto. — Eu estou cansada. Vou descansar. Boa noite.
— Não quer jantar?
— Estou sem fome, mas qualquer coisa eu faço um lanche mais tarde. Não se preocupe
comigo — falei levantando da poltrona.
— Tudo bem. Boa noite.
Subi as escadas e fui diretamente para meu quarto. Eu até poderia ter ficado com Tony,
poderíamos ter jantado e jogado conversa fora, exatamente como fizemos na noite anterior, mas ele
era instável. Eu não havia esquecido a cena de hoje cedo. Falaríamos apenas o necessário.

[...]
Alguns dias haviam passado desde o casamento. Eu mal tinha contato com Tony. Não
levantava até ele sair para trabalhar. As tardes eu ia para a casa da minha mãe, ficar com ela e
Lavínia, voltava no início da noite e ia direto para meu quarto. Eu o via sair pela janela do meu
quarto, provavelmente para encontrar com Camila.
Hoje seria diferente, era domingo. Teria que interagir com Tony, e não só com ele, mas sim
com sua família.
Eu não estava com a mínima vontade de sair e principalmente ter que fingir para Lorenzo que
gostava de Tony, porém, eu faria isso por Mary. A mulher sempre foi muito simpática comigo.
Tomei um banho rápido, em seguida desci para comer algo. Tony já estava na cozinha.
— Bom dia — falou já sentado na bancada e tomando um gole de café.
— Bom dia.
Sentei ao seu lado e servi uma xícara também. Tony também não estava fazendo questão de
puxar assunto, pareceu ter percebido.
— Sairemos em duas horas — falou, caminhando para fora da cozinha.
— Tudo bem. Estarei pronta.
Fiquei aliviada por ele ter saído. O clima estava tenso entre nós.
Terminei o café e voltei para meu quarto. Iria aproveitar que estava com tempo para fazer
uma maquiagem. Não era exatamente o programa que eu gostaria de fazer no meu domingo, mas não
sabia quando teria outra oportunidade de maquiar. Mal saía de casa, a não ser para ver minha mãe.
Fiz uma maquiagem colorida, usei tons diferentes de azul. Achava que combinava com minha
cor de pele. Na boca optei por um tom nude.
O cabelo apenas deixei secar ao natural, gostava dele solto e simples. E para finalizar,
perfume. Ele era doce, exatamente do jeito que eu gostava.
Observei meu reflexo no espelho. Eu estava satisfeita com o resultado.
Escolhi um vestido na cor cinza escuro. Eu amava esse vestido, além de lindo, era super
confortável, porém, o fecho dele era atrás, teria que pedir a ajuda de Tony para fechar. Pensei em
escolher outra roupa, mas esse vestido seria perfeito para a situação.
Vesti e tentei fecha-lo, porém, era impossível. O fecho ficava bem no meio das costas.
Saí do cômodo procurando por Tony, imaginei que estaria em seu quarto.
— Tony? — Dei uma leve batida na porta.
— Pode entrar.
Ele estava terminando de se vestir. Mesmo usando uma roupa mais casual, estava muito
elegante.
Confesso que gostava do seu estilo.
— Você pode fechar o meu vestido, por favor?
— Claro.
Me aproximei e virei de costas para ele.
Ouvi o barulho discreto do fecho.
Quando já estava pronta para me afastar, senti sua mão de leve em meu pescoço.
— Você está cheirosa.
— Obrigada. Gosto muito desse perfume.
— Posso?
— Pode.
Senti sua respiração em meu pescoço. Fiquei arrepiada no mesmo instante.
— Eu adoro perfumes doces — sussurrou em meu ouvido.
Fiquei parada, sem reação, não estava esperando por isso.
Quando eu menos esperava, senti seus lábios em contato com minha pele. Apenas fechei os
olhos e aproveitei a sensação. Suas mãos desceram até a minha cintura. Todos os movimentos eram
feitos bem devagar.
Os beijos no pescoço aumentaram. Em um impulso, virei para ele. Observei seus olhos
verdes, eram atraentes e penetrantes. Tony se aproximou lentamente, senti seus lábios encontrando os
meus. Demos início a um beijo calmo.
Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, até chegar em minha bunda e aperta-la. Os beijos
ficaram mais urgentes. Por alguns instantes me afastei e o observei. Não consegui falar nada.
— Eu sei que você quer — disse ele, voltando a me beijar em seguida.
Sua mão apertou um de meus seios.
— Tony — sussurrei, em um quase gemido, mesmo não sendo o que eu queria fazer.
— Vamos tirar esse vestido — disse, tentando descer o zíper que tinha acabado de fechar.
— Pare.
Ele parou e olhou para mim.
— O que foi? Nós ainda temos tempo.
— Não é isso. — Desviei o olhar por um momento.
— Então relaxe — ele falou, voltando a atenção para meu pescoço.
— Eu não quero que minha primeira vez seja assim.
— O que? — Tony parecia surpreso.
— Assim, correndo e com pressa.
— Você é virgem? — perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Sim.
Ele se afastou no mesmo instante, parecia chocado.
— Eu não acredito que você é virgem.
— Qual o problema?
Tony fez um sinal negativo com a cabeça.
— Não vou transar com você. Não quero tirar sua virgindade.
— Porque não?
Ele não respondeu. Apenas deu alguns passos para trás.
— Saia do meu quarto — pediu.
Eu não estava entendendo o porquê da sua reação, mas concordei. Apenas virei as costas e
saí de lá.
Eu sabia que aquele domingo não seria fácil, ter que ficar em sua companhia, e o pior, fingir
estar feliz.
Capítulo 7

Pensei que o domingo na casa dos Bennetts seria difícil, mas não foi. Mary e Lorenzo eram
muito gentis. Também tive oportunidade de conhecer Gwen um pouco melhor, era uma ótima garota,
muito simpática e doce, diferente do irmão. A única coisa que me preocupou foi a saúde de Lorenzo,
o homem parecia frágil e abatido. Eu queria ter tido a oportunidade de ter o conhecido antes.
A segunda-feira finalmente chegou, isso significava que Tony ficaria na empresa a maior parte
do tempo. Eu estaria livre dele por algumas horas. Aproveitei o tempo sozinha para refletir.
O que ele quis dizer com “não quero tirar sua virgindade”? Não que eu quisesse algo com
ele, porém, isso me deixou curiosa. Eu ser virgem era um problema? Decidi que iria perguntar
quando ele chegasse no final da tarde. Queria saber o que ele tinha a dizer sobre isso.
Esperei ansiosamente Tony chegar do serviço e logo ouvi seu carro entrando na garagem.
Deixei que ele entrasse e relaxasse um pouco. Depois de alguns minutos, fui procura-lo pela casa e o
encontrei na sala de estar assistindo televisão, com uma bebida na mão, parecia ser vinho branco.
— Tony, queria conversar com você — falei entrando no cômodo.
— Fale. Aconteceu alguma coisa?
Fiquei um pouco tensa, me perguntei se eu deveria mesmo estar puxando esse assunto.
— Sobre ontem. O que você quis dizer com: não quero tirar sua virgindade? — Sentei no
sofá que estava a sua frente.
— Exatamente isso. Não quero transar com você — respondeu bebendo um gole do seu
vinho.
— Por qual motivo? Qual o problema eu ser virgem? Não que eu queira transar com você,
mas achei curioso.
— Eu não posso simplesmente não querer fazer sexo com você? — disse alterando seu tom
de voz.
— Pode, mas você queria antes de descobrir que eu era virgem.
— Eu estou assistindo televisão, por favor, saia — disse voltando sua atenção para o
aparelho.
— Não. Vamos falar sobre isso. — Levantei e fiquei entre ele e a televisão.
— Eu não quero conversar e muito menos transar com você. Agora saia da minha frente —
falou, quase gritando.
— Não vou sair enquanto não conversamos sobre isso.
Antes que ele pudesse responder seu celular tocou. Ele pareceu nervoso quando olhou o nome
no telefone.
— Mãe? Está tudo bem?
Não sei o que Mary falou do outro lado da linha, mas sua expressão, que antes era de raiva,
mudou em um segundo para preocupação. Eles conversaram por alguns segundos. Quando desligou,
percebi seus olhos enchendo de lágrimas.
— O que aconteceu? — perguntei curiosa.
— Meu pai passou mal. Estou indo para o hospital.
— Eu vou com você.
— Não. Eu não quero sua companhia.
O homem virou as costas e saiu da sala rapidamente.
Deitei na cama e fiquei pensando em Lorenzo. Todos já sabiam que ele não tinha muito tempo
de vida, mesmo assim, nunca estamos preparados para perder alguém. Pensei em Mary, ela era uma
mulher tão amorosa, sofreria muito com a morte do marido.
Tony passou a noite toda fora. Acordei várias vezes durante a madrugada. Olhava o celular,
esperando alguma notícia. Eu sabia que não merecia, porém, eu estava preocupada com ele. Fiquei
arrependida de ter puxado aquele assunto. Ele não queria transar comigo, estava curiosa para saber o
motivo, mas não iria perguntar novamente. Iria esquecer tudo isso e continuar conversando apenas o
necessário.
Assim que amanheceu desci para tomar o café da manhã. Eu estava faminta, fiquei acordada
grande parte da noite. Enquanto fritava alguns ovos, ouvi um barulho vindo da sala.
Devia ser Tony chegando.
Em poucos segundo ele entrou na cozinha. Estava com uma aparência péssima, parecia não
ter dormido a noite inteira, seus olhos estavam vermelhos.
— Como está seu pai? — perguntei assim que o vi.
— Nada bem. Os médicos não deram muitas esperanças.
Ele sentou na bancada e baixou a cabeça. Eu queria o confortar, porém, não sabia exatamente
o que dizer.
— Eu sinto muito. Sei exatamente o que você está sentindo — falei sentando ao seu lado.
— Eu fiquei distante dele nesses últimos anos. Sinto que não aproveitei o tempo com ele.
Poderíamos ter feito mais coisas juntos.
Percebi uma lágrima deslizando pelo seu rosto. Em um impulso segurei sua mão e acariciei
seus dedos.
— Eu estou ao seu lado.
— Obrigada — falou retribuindo o carinho e segurando minha mão.
Ficamos em silêncio. Depois de alguns instantes Tony decidiu quebra-lo.
— Cheguei bem na hora do café. O que temos para comer? — perguntou secando a última
lágrima que desceu por seu rosto.
— Estou fazendo ovos. Você quer?
— Quero. Estou com muita fome.
— Quer suco de laranja ou café? — indaguei, terminando de fritar os ovos.
— Café. Preciso ficar acordado. Tenho que ir para empresa resolver algumas coisas.
— Sem dormir?
— Sim. São assuntos urgentes. Vou tentar voltar mais cedo para descansar um pouco. Estou
exausto.
Logo depois do café, Tony saiu para trabalhar. Eu estava cansada por conta da noite mal
dormida. Iria aproveitar o dia para dormir e descansar.

[...]
Acordei no meio da tarde. Eu estava renovada, algumas horas de sono era tudo que eu
precisava. Fiquei um pouco perdida por estar na casa de Tony. Desde que casei, eu passava as tardes
na casa de minha mãe. Decidi que seria uma boa oportunidade para desenhar.
Eu estava um pouco sem prática, demorei para acostumar com o lápis novamente. Desenhar
era a minha grande paixão, desde sempre. Eu perdia a noção do tempo quando estava desenhando.
Olhei para a janela do quarto e vi que o sol já estava se pondo. Eu estava ali por horas, e
para mim pareceram apenas alguns minutos.
Olhei mais uma vez para meu último desenho. Estava perfeito, exatamente como eu queria.
Era uma floresta, com árvores e alguns animais. Fiquei admirando por alguns instantes. Enquanto
pensava se desenhava outro ou não, ouvi uma leva batida em minha porta.
— Simonetta, está aí?
— Tony! Não vi você chegar.
Eu estava tão concentrada em meus desenhos que não ouvi o barulho do carro chegando. Era
como se eu perdesse o contato com o mundo real e entrasse dentro dos meus desenhos.
— Queria ter vindo mais cedo, mas acabei ficando enrolado na empresa.
— Como está seu pai?
— Um pouco melhor. Está confortável e sem dor. Minha mãe ficará com ele essa noite.
— Fico feliz em saber disso.
Tony deu alguns passos para dentro do cômodo.
— O que é isso? — questionou, olhando para meu material de desenho espalhado pelo
quarto.
— São meus desenhos. Acabei ficando empolgada.
— Eu não sabia que você desenhava — falou, arqueando uma sobrancelha.
É claro que não. Você não sabe nada sobre mim, pensei.
— Eu estava parada. Fazia um tempo que não desenhava.
Ele se aproximou e pegou uma das folhas de papel que estava em cima da cama.
— Você é muito boa. Tem muito talento.
— Obrigada.
— O que você gosta de desenhar? Gostaria de ver mais.
— Gosto de tudo um pouco. Animais, paisagem, flores — falei pegando um dos meus
cadernos de desenhos. — Estou tentando desenhar pessoas, mas ainda é muito difícil. Preciso
praticar mais.
Tony olhava meus desenhos enquanto eu falava um pouco sobre eles.
— Eu não imaginava que arte poderia ser tão interessante — disse ele com um sorriso nos
lábios.
Capítulo 8

Lorenzo continuava no hospital. Seu estado era grave, porém, ele tinha períodos de melhoras.
Minha relação com Tony estava um pouco melhor. Eu estava tentando dar apoio.
Algumas vezes jantávamos juntos e conversávamos sobre coisas aleatórias. Outras ele saía e
só voltava de madrugada, provavelmente ia encontrar com Camila.
Eu estava assistindo um filme qualquer quando Tony chegou do trabalho.
— Como passou o dia? — perguntou.
— Bem e você?
— Foi um dia cansativo. O calor estava demais.
— Sim, o ar condicionado não estava dando conta.
— Vou tomar um banho gelado para relaxar um pouco, mas antes queria fazer um convite.
— O que?
— Na sexta-feira faremos um pequeno evento para comemorar o nosso último lançamento da
linha de skin care. A imprensa estará lá. Seria interessante se você fosse comigo. Você aceita me
acompanhar?
— Aceito sim. Pode contar comigo.
— Ótimo!
Ele foi para o banho.
Fiquei pensando que seria uma ótima oportunidade para sair. Eu estava há dias em casa, saia
apenas para ir à casa da minha mãe. Eu estava sentindo falta de ver pessoas novas. Fiquei empolgada
com o convite.

[...]
Passei a sexta-feira pensando na roupa que usaria. Eu queria alguma coisa bem chamativa.
Escolhi um vestido na cor vermelha, era justo, marcava bem o meu corpo. O comprimento era
curto, mas não exagerado. Passei horas fazendo a maquiagem, usei marrom e preto nos olhos, e para
os lábios, batom vermelho, combinando com o vestido.
Quando terminei fiquei impressionada com o resultado. Eu estava maravilhosa! Não pensei
duas vezes antes de pegar o celular e tirar uma foto para postar no Instagram. Eu estava afastada das
redes sociais desde o casamento, pois não queria ter que explicar o relacionamento repentino, porém
eu não poderia deixar essa produção passar.
Quando terminei fui para a sala e esperei por Tony. Ele ainda estava se arrumando. Em
poucos minutos o homem apareceu. Ele estava com o seu terno impecável, muito elegante.
— Você está incrível — falou enquanto observava cada centímetro do meu corpo.
— Obrigada. Você também está ótimo.
— Com certeza seremos o assunto da festa.
— Amanhã estaremos em todos os sites — falei, pegando minha pequena bolsa.
Entramos em seu carro e começamos o nosso caminho. Ao contrário dos últimos dias, hoje o
clima estava leve. Tony estava estranhamente gentil.
— Onde você aprendeu a fazer maquiagem assim? — questionou enquanto parávamos em um
semáforo.
— Eu assisto muitos vídeos na internet. Gosto de acompanhar blogueiras e maquiadores.
— Você fez um ótimo trabalho. Poderia trabalhar como maquiadora profissional.
— Obrigada. Eu gosto bastante, porém acho que não seria minha profissão, gosto mais como
um hobby. Se fosse escolher, ganharia dinheiro com os meus desenhos.
— Você deveria investir nisso. Nunca vi desenhos como os seus.
O caminho foi mais rápido do que imaginei. Talvez por estar conversando, acabei não vendo
o tempo passar.
O lugar era grande e luxuoso. As pessoas estavam muito bem vestidas, todas muito elegantes.
Eu e Tony ficamos juntos quase o tempo todo. Ele me apresentou para alguns de seus amigos.
Foram todos muito simpáticos.
Todos estavam bebendo e se divertindo. O lançamento do produto novo seria um sucesso.
Aparentemente a festa estava indo muito bem.
Depois de algumas horas, muitas pessoas já estavam começando a ir embora. Decidi ir para a
rua, pegar um ar, não gostava de lugares muito cheios, nunca fui de gostar de multidões.
Peguei um suco de uva e fui para a sacada. Tony estava a alguns metros de mim, conversando
com um casal. Eu conseguia o observar.
Percebi que havia um homem por perto e ele estava me encarando. Eu estava ficando
desconfortável.
Pensei se deveria ir até Tony, porém, antes que eu fizesse isso, ele se despediu do casal e
veio até mim.
— Se divertindo? — questionou se aproximando.
— Claro, a festa está ótima.
Em poucos segundos, o homem estranho se aproximou.
— Tony, como vai?
— Matt! Não sabia que estaria aqui. Tudo bem e com você?
— Vou levando.
— Essa é minha esposa, Simonetta.
— Prazer — falei o cumprimentando.
— Esse é meu amigo, Matt. Nos conhecemos desde os tempos da faculdade.
Eu definitivamente não simpatizei com Matt. Não estava gostando do jeito que me olhava, não
era jeito de olhar para uma mulher casada, principalmente, casada com um amigo seu.
Matt sugeriu passarmos um tempo juntos. Nós três, e Tony concordou.
— Domingo à noite? Podemos jogar cartas, beber e colocar o papo em dia — falou Tony.
Matt concordou. Pareceu gostar do convite.
Eu não queria participar, porém, sabia que Tony faria questão da minha presença, já que eles
falaram “nós três”.

[...]
Passei o domingo todo tensa. Ter a presença de Matt em casa não estava me deixando
confortável.
Tony avisou que ele viria no início da noite. Comprou alguns petiscos e bebidas.
O calor não estava tão forte quanto nos dias anteriores. Escolhi uma calça jeans e uma regata.
Queria parecer o mais simples possível.
Minha intenção era ficar um pouco com os dois e logo me retirar, poderia dizer que estava
cansada ou indisposta.
Revirei os olhos quando ouvimos o carro de Matt chegar.
— Você está muito bonita hoje, Simonetta — comentou Matt assim que me viu.
— Obrigada.
Já chegou sendo inconveniente.
— Vamos jogar um pouco de cartas — sugeriu Tony.
— Eu já aviso que sou um ótimo jogador — respondeu Matt.
— Vamos ver então.
Começamos a jogar e o homem não estava mentindo. Realmente era um bom jogador. Estava
ganhando as duas primeiras partidas.
— Eu avisei vocês. Sou praticamente invencível.
Tive que me controlar para não fazer uma cara de nojo.
— Vou buscar mais vinho branco — falou Tony levantando e largando suas cartas na mesa.
— Tudo bem. Eu tomo conta de Simonetta.
Não respondi, e pela expressão que fiz, Matt percebeu que eu não gostei do comentário.
— Já volto.
Ficamos sozinhos por alguns instantes.
— Reparei que você ficou apenas tomando suco. Não gosta de vinho? — perguntou, tentando
puxar assunto.
— Não, não bebo nenhum tipo de bebida alcoólica.
— Que pena. Você deveria experimentar.
— Não. Obrigada.
Ele levantou e se aproximou de minha cadeira.
— Vamos.
— Por favor, não insista.
Pensei que ele se afastaria, mas ao invés disso ele foi para trás de mim, e quando menos
esperava senti um toque em minha cabeça.
— O que acha de irmos lá para dentro?
— Não encoste em mim. — Levantei da cadeira rapidamente.
— Não se faça de inocente. Vamos nos divertir.
Antes que eu pudesse responder, Tony estava de volta.
— O que está acontecendo aqui? — Ele pareceu perceber que havia algo errado.
— Seu amigo estava dando em cima de mim, na verdade, mais que isso. Estava me
assediando!
Eu estava nervosa, minhas mãos estavam começando a suar.
— Eu só achei que íamos nos divertir juntos hoje.
— Matt. Vai embora — ordenou Tony.
— Mas eu mal cheguei. E a festinha que combinarmos?
— Que festinha? O que está acontecendo? — perguntei alterando o meu tom de voz.
— Ele não contou?
— Contou o que? Tony, do que ele está falando?
— Tínhamos combinado de fazer sexo a três. A ideia foi totalmente do Tony. Foi para isso
que ele me trouxe aqui!
— Eu não acredito — sussurrei.
Eu estava totalmente sem reação. Não sabia o que pensar.
— Seu filho da puta! — Tony gritou.
Ele foi para cima de Matt, o agarrou e o prensou na parede.
— Calma. Só achei que íamos nos divertir — insistiu.
Fiquei olhando a cena. Não pensei em intervir, Matt merecia apanhar.
— Vá embora agora!
Ele o soltou e Matt apenas saiu rapidamente.
Olhei para Tony e o encarei. Aquilo tudo tinha sido ideia sua! Eu estava decepcionada.
Não falei nada, apenas virei as costas.
— Simonetta! Espere. Isso tudo foi antes.
— Antes?
— Sim. Antes do nosso casamento. Eu e Matt vamos há algumas festas juntos. Quando eu
descobrir que precisaria casar, fiquei furioso. Comentei com Matt que quando casasse poderíamos
nos divertir a três. Falei que eu queria as vantagens de ser casado. Eu sinto muito por isso.
— E sexta-feira? Porque você não impediu isso? Porque manteve o convite?
Minha respiração estava ofegante. Eu já sabia que Tony era um mimado e sem noção, mas
isso era demais.
— Não achei que ele fosse levar a sério. Eu nem lembrava que tinha dito isso, foi em um
momento de raiva — lamentou descendo o olhar para o chão.
— Mas não fez nada para impedir.
Antes que ele pudesse responder, virei as costas e caminhei rapidamente para dentro da casa.
Eu estava segurando as lágrimas. Entrei em meu quarto e as deixei cair. Deitei na cama e chorei. Era
um misto de raiva e decepção. Tony estava tão amigável nos últimos dias, não conseguia acreditar
que ele tinha planejado tudo isso.
Depois de alguns minutos, ouvi uma batida na porta.
— Vá embora Tony! — gritei
Fiquei surpresa quando o vi abrindo a porta e entrando no cômodo.
— Eu preciso que me desculpe.
— Saia do meu quarto! — Sentei na cama, furiosa.
Ele deu alguns passos e sentou na cama ao meu lado.
— Isso foi antes. Simonetta, eu nunca faria algo contra sua vontade.
Ele se aproximou e colocou a mão em meu rosto, secando uma lágrima que insistia em cair.
Observei seus olhos verdes e suas feições. Ele parecia triste, talvez com uma certa pena. Seu
olhar correu por meu rosto e parou em meus lábios carnudos. Em um impulso, Tony colou nossos
lábios. O homem começou a me beijar lentamente.
Sua boca se arrastou por minha pele até chegar em meu pescoço. Exatamente como fez no
outro dia.
Uma de suas mãos desceu até minha coxa, apertando com força. Ele arrastou os dedos até o
botão da minha calça, sem tirar os lábios do meu pescoço. Então Tony o abriu, descendo o zíper com
facilidade. Levantei e rapidamente me livrei da peça.
— Tem certeza de que quer continuar?
— Eu estava esperando por isso — sussurrei.
Voltei a sentar na cama.
Ele afastou levemente minhas pernas. Passou os dedos de forma sutil na parte de dentro da
minha coxa, chegando até a minha calcinha.
Soltei um gemido fraco ao sentir esse toque. Ele fazia movimentos circulares leve por cima
do pano fino, mas isso já foi o suficiente para me deixar totalmente excitada.
Uma de suas mãos apertou meus seios, ainda de regata. Ele baixou a peça alguns centímetros,
deixando meus seios à mostra. Tony acariciava e passava os dedos por meus mamilos. Eu já estava
latejando de tanto desejo.
Passei a mão por seu abdômen definido, ainda de camiseta. Ele não demorou para tirar a
peça. Fiz o mesmo com minha regata.
Pela primeira vez eu estava quase nua na frente de um homem. Tony me deitou na cama, o
senti por cima de mim. Ele continuou me beijando, logo tirando minha calcinha, em seguida descendo
até a minha barriga, distribuiu beijos por minhas coxas antes de chegar no principal. Senti sua língua
entrando em contato com a pele entre minhas pernas e soltei um leve gemido.
Os movimentos eram lentos, mas firmes e em vai e vem. Seus dedos massageavam meu
clitóris enquanto sua língua me penetrava. Aquela cena estava me deixando extremamente excitada.
Sentia que teria meu primeiro orgasmo a qualquer momento. Contorci meu corpo de tesão, e Tony
percebeu.
— Goza na minha boca — pediu.
Foi exatamente o que fiz.
Fechei os olhos aproveitando a sensação boa que ainda estava em meu corpo.
— Vou até meu quarto pegar uma camisinha.
Permaneci deitada, esperando.
O homem foi e voltou em poucos segundos, já que nossos quartos ficavam próximos.
Ele voltou a deitar em cima de mim. Senti seu pênis roçar em mim.
Tony começou a introduzir lentamente.
Eu o sentia entrando, junto com uma dor um pouco ardida. Soltei um leve gemido de dor.
— Está tudo bem? Quer que eu pare? — Ele tirou rapidamente.
— Não! Continue.
O moreno voltou a me beijar, na tentativa de me fazer relaxar.
— Vou ir bem devagar.
Tony me penetrou mais uma vez, bem lentamente. Ainda estava doendo, mas um pouco menos.
Depois de alguns movimentos a dor estava bem mais amena. Tony pareceu percebe e aumentou a
velocidade gradativamente. Ele entrava e saia cada vez mais rápido. Nossa respiração estava
ofegante. Pude reparar que ele estava chegando no ápice de seu prazer.
— Vamos. Quero ver você gozar — sussurrei em seu ouvindo entre gemidos.
Não demorou muito para Tony chegar ao seu orgasmo.
Ele deitou na cama ao meu lado e me puxou para perto de si.
Seu peito subia e descia com rapidez, tentando puxar o ar que faltava.
Eu estava extasiada.
Ele me abraçou e eu não esperava aquela reação sua. Não pude deixar de envolver meus
braços ao redor de seu corpo também.
Ficamos ali, deitados lado a lado, apenas aproveitando a companhia um do outro até
adormecer.
Capítulo 9

Quando acordei Tony estava dormindo ao meu lado. Me virei lentamente, mas foi suficiente
para o acorda-lo.
— Bom dia — falei assim que ele abriu os olhos.
— Bom dia. Que horas são?
Estiquei meu braço e peguei o celular que estava na pequena cômoda ao lado da cama.
— São oito e quinze.
— Estou atrasado. Eu já deveria estar na empresa — falou pulando da cama.
Percebi que ele estava olhando para todos os lados, procurando sua camiseta.
— Está ali no chão. — Apontei para um quanto quase embaixo da cama.
— Até mais tarde.
— Bom trabalho — respondi.
Ele saiu do quarto rapidamente.
Eu ainda estava cansada. Decidi dormir um pouco mais.
Acordei duas horas depois, totalmente sem sono e disposta. Fiquei na cama de Tony,
refletindo sobre a noite anterior.
Tony era extremamente sexy. Se eu fechasse os olhos ainda conseguia o sentir em cima de
mim. Eu o queria novamente. Pensei em ser mais ousada, achei que fui um pouco tímida, mas relevei
já que foi minha primeira vez. Hoje à noite seria a oportunidade perfeita.
O dia passou lentamente, talvez por eu estar esperando por Tony.
Fui até a sacada do meu quarto, já era final de tarde. O vento fresco soprava, fazendo meus
pelos do braço ficarem arrepiados. Eu adorava esse clima, quente durante o dia e fresco de noite.
Fiquei observando o sol se pondo atrás das casas, com certeza o pôr do sol era o meu momento
preferido do dia.
Vi quando o carro de Tony estava se aproximando, entrei de volta para o quarto rapidamente.
Não queria que ele pensasse que eu estava à sua espera, pois não estava. Deitei na cama e voltei a
mexer no celular, exatamente como estava fazendo antes. Fiquei prestando atenção nos barulhos,
queria ouvir, caso ele subisse as escadas e fosse para seu quarto. Nada aconteceu.
Levantei da cama e fui até o espelho. Baixei o decote da minha blusa, deixando meus seios
mais a mostra. Coloquei meus cabelos castanhos para o lado para dar mais volume, então decidir
descer e procurar por Tony.
Ouvi um barulho de chuveiro assim que desci as escadas. Ele estava tomando banho no andar
de baixo. Fui diretamente para a sala de estar, provavelmente ele iria para lá, relaxar e beber alguma
coisa depois do banho.
Liguei a televisão e coloquei um filme de comédia. Eu sabia que ele gostava desse tipo de
filme, já tinha o visto assistir. Puxei meus shorts o mais para cima que consegui, deixando uma parte
da minha bunda a mostra. Deitei de barriga para baixo em um dos enormes sofás. Minha bunda estava
em evidência, ele iria ver assim que entrasse na sala de televisão.
Eu estava certa. Em poucos minutos Tony entrou no cômodo.
— Simonetta. Não sabia que estaria aqui.
Não levantei ou saí do lugar, queria ver se ele viria até mim.
— Tony! Como foi o trabalho? — Tentei parecer surpresa, como se eu não soubesse que ele
estaria vindo para cá.
— Ótimo. O evento foi um sucesso. Já vendemos milhares de kits skin care em todo o país.
— Fico feliz em saber disso. Produtos bons se vendem praticamente sozinhos. — Dei um
sorriso malicioso. — Quer assistir ao filme comigo? Acabou de começar.
— Quero. Adoro esse filme. Vou pegar uma bebida. Quer um suco?
— Claro, pode ser o de laranja, vi que ainda tem na geladeira.
O homem foi e voltou rapidamente, sentou na poltrona ao meu lado. Não era exatamente isso
que eu estava esperando.
Depois de quase quinze minutos de filme ele ainda não havia tomado nenhuma iniciativa.
Levantei e sentei normalmente, eu estava ficando dolorida e desconfortável. O filme terminou e nada.
Comecei a refletir se eu teria feito algo de errado. Eu não costumava ser insegura, mas era quase
impossível não pensar nisso.
— Que tal uma pizza? — sugeriu assim que o filme acabou.
— Eu quero de calabresa.
Tony colocou outro filme qualquer enquanto esperávamos a pizza. Eu já estava ficando
impaciente. Será que eu deveria ir para cima? Achei que minhas insinuações fossem o suficiente. Eu
não tinha muita experiência com isso, não sabia exatamente como seduzir um homem.
Nossa comida demorou mais do que o previsto para chegar. Começamos a comer enquanto
assistíamos o filme.
— Essa pizza está maravilhosa — afirmou Tony pegando mais um pedaço.
— Uma das melhores que já comi. Acho que só perde para as pizzas que experimentei na
Itália.
— Concordo com você. Nada como a comida italiana. — Ele fez uma pausa e seu olhar ficou
perdido. Pareceu estar relembrando. — E que outros lugares você já visitou?
— Não muitos. Além da Itália, conheço muito bem a Índia, minha avó paterna nasceu e ainda
mora lá. A visitamos sempre que possível. — Parei um pouco para respirar enquanto dava mais uma
mordida no meu pedaço. — Nossas férias normalmente passávamos no Canadá ou no México.
Sempre discutimos sobre isso, minha mãe queria aproveitar o frio do Canadá, já o meu pai preferia o
calor do México. — Um sorriso se formou em meus lábios ao relembrar de meu pai. Éramos tão
felizes, nessa época minha mãe ainda conseguia o controlar. — Ou melhor, discutíamos.
— Eu adoro o México. Gosto muito de tacos e comida apimentada — falou.
— Também adoro tacos. Faz tempo que não como.
Não percebi o tempo passar, só reparei quando vi que o filme havia acabado.
— Eu já vou para meu quarto. O dia foi bem cansativo hoje — disse levantando do sofá.
— Tudo bem. Boa noite.
— Boa noite.
Ele pegou a caixa de pizza e os copos das bebidas e foi em direção a cozinha. Ouvi quando
subi as escadas.
Fiquei ali, sozinha e decepcionada. Eu havia esperado o dia inteiro imaginando que teríamos
uma noite de sexo. Minha vontade era entrar em seu quarto e o agarrar. Será que eu teria essa
coragem? Pensei por alguns minutos, e então decidi.
Subi as escadas em direção ao seu quarto. Dei uma leve batida na porta, porém não esperei
resposta.
— Aconteceu alguma coisa?
Tony pareceu surpreso ao me ver.
Ele já estava na cama, sentado, escorado na cabeceira. Vi que tinha um livro entreaberto na
cômoda ao lado da cama. Imaginei que ele fosse ler quando eu o interrompi.
— Eu não queria ficar sozinha. Vim passar a noite com você — falei me aproximando.
— O quê? — Ele pareceu confuso.
— Você não quer que eu fique aqui? — perguntei, sentando na cama ao seu lado.
— Eu vou ler um pouco e dormir cedo.
— Tem certeza? Eu posso dormir aqui com você? — questionei passando minha mão por seu
peito.
Ele segurou meu braço.
— Vá para o seu quarto agora.
— Qual o seu problema? — falei levantando da cama.
— Eu quero ficar sozinho.
Tony estava calmo. Não pareceu ficar alterado. Ao contrário de mim, que estava sentindo
minhas bochechas queimando.
— Achei que estávamos nos entendendo, que você estava diferente, mas pelo visto não.
— E nós estamos, mas ontem foi um erro. Não vai mais acontecer. Agora por favor, saia do
meu quarto.
Eu estava confusa e com raiva. Não estava conseguindo entender as suas ações e isso era
frustrante.
Não insisti mais, eu ainda tinha um resquício de dignidade.
Fui para meu quarto, deitei na cama e tentei voltar a razão.
Capítulo 10

As coisas estavam tensas desde que entrei no quarto de Tony naquela noite. Me arrependi
amargamente de ter feito aquilo. Eu estava evitando a presença dele, quase não conversávamos.
Visitava minha mãe com frequência, e quando estava em casa, tentava ficar o máximo de tempo em
meu quarto.
Eu estava terminando de fazer um desenho quando ouvi meu estômago reclamar de fome. Eu
perdia a noção do tempo quando começava a desenhar.
Olhei para o relógio e percebi que já era tarde da noite. Tony provavelmente já estaria
recolhido em seu quarto. Era uma boa oportunidade para fazer um lanche noturno sem ter que o
encontrá-lo pela casa.
Quando entrei na cozinha tive uma surpresa ao vê-lo escorado na bancada. Ele estava com um
copo de água na mão. Sua expressão não estava muito boa. Fiquei na dúvida se perguntava ou não o
que havia acontecido.
— Está tudo bem? — questionei.
— Não estou conseguindo dormir. Fico virando de um lado para o outro na cama. — Ele
bebeu um gole da água que estava em seu copo. — Estou preocupado com meu pai. Ligo para a
minha mãe e ninguém atende.
— E como está o estado dele nesses últimos dias?
— Ele teve uma piora hoje de manhã. Já faz algumas horas que minha mãe não dá notícias.
— Fique calmo e tente dormir um pouco. Ficar nesse estado não vai ajudar em nada.
— Você tem razão. Vou tentar dormir. Boa noite.
— Boa noite.
Ele largou o copo na pia e deu passos lentos para fora da cozinha.
Fiquei com pena de Tony, mesmo ele sendo tão irritante, ninguém merecia perder o pai,
principalmente daquela forma. Vê-lo morrer aos poucos com certeza era terrível.
Fiz apenas um pão com geleia. Ver Tony naquela situação acabou tirando minha fome.
Voltei para o quarto e guardei meu material de desenho. Minhas costas estavam doendo um
pouco depois de passar as últimas horas desenhando. Vesti uma roupa confortável e deitei na cama.
Estava navegando na internet, esperando o sono chegar, quando ouvi a voz de Tony. Ele
parecia nervoso. Fui até a porta para ouvir melhor. Ele falava coisas como: mãe, fique calma. Pensei
que o pior teria acontecido. Assim que ele desligou o telefone, não pensei duas vezes em ir até lá. A
porta do seu quarto estava entreaberta, então a abri lentamente.
— Tony?
— Meu pai morreu!
Ouvir aquelas palavras fez meu coração se partir ao meio.
Fui em sua direção e o abracei. Sua respiração estava ofegante. Ele tentava esconder as
lágrimas, mas eu sabia que estava chorando.
— Eu sinto muito. — Foi tudo que consegui dizer.
— Obrigado. — Falou com a voz falhada
— Você quer conversar um pouco sobre isso?
— Não. Vou fazer companhia para minha mãe. Ela precisa de mim.
— Eu posso ir com você.
— Não. É um momento em família — falou tirando a camiseta. — Agora preciso me vestir.
— Tudo bem.
Ele não respondeu. Saí do seu quarto e voltei para o meu.
Apesar da minha relação com Tony não estar das melhores nesses últimos dias, eu queria
ajudá-lo. Sabia que esse momento era extremamente delicado. Queria mostrar minha solidariedade.
Passei a noite praticamente em claro. Lorenzo parecia ser uma ótima pessoa, queria ter o
conhecido antes. Ficava pensando em Mary, apesar de a conhecer a pouquíssimo tempo, eu já tinha
um afeto especial por ela.

[...]
Depois do café da manhã, liguei para minha mãe e contei o que havia acontecido. Ela me
convidou para passar o dia com ela e Lavínia para não ficar sozinha em casa, mas eu recusei, queria
ficar, caso Tony precisasse de alguma coisa.
As horas foram passando e não tive nenhuma notícia. Decidi ir desenhar um pouco, era uma
das únicas coisas que me distrairia. Eu estava certa, por alguns instantes esqueci de toda a situação.
Um leve barulho chamou minha atenção. Parecia ser a porta de entrada. Olhei para a janela,
já era final de tarde. Ele passou a noite e boa parte do dia fora. Desci as escadas a sua procura. Fui
até a sala de estar e nada, tentei na cozinha.
Ele estava lá, sentando na bancada, bebendo uma xícara de café.
— Tony, como você está?
— Bem, na medida do possível.
— E sua mãe e a Gwen?
— Estão arrasadas. Gwen era muito apegada ao meu pai.
Ele bebeu um gole do café. Sua aparência estava péssima.
— Eu estou com vocês — falei sentando na bancada ao seu lado.
— Obrigado — falou levantando rapidamente. — Eu vou tomar um banho e já vou voltar.
Venho buscar você amanhã de manhã para o enterro.
— Tudo bem.
Ele saiu em seguida.
Sabia que Tony estava escondendo seus sentimentos, não queria mostrar o quanto estava
sensível
Tudo que eu queria fazer nesse momento era dormir e descansar. Sabia que teria um longo dia
pela frente amanhã.

[...]
Despertei cedo para esperar por Tony, fiquei surpresa por ter conseguido dormir tão bem.
Acordei pouquíssimas vezes durante a noite.
Escolhi um vestido preto simples e uma sapatilha para acompanhar. Não usei maquiagem,
apenas um hidratante no rosto e um Lip Tint nos lábios.
Fui para sala e aguardei. Ainda era cedo quando ele apareceu.
— Vou tomar um banho rápido e já vamos — anunciou.
— Tudo bem.
Em poucos minutos ele estava de volta. Entramos em seu carro e começamos o nosso caminho
até o cemitério. A viagem foi silenciosa, Tony não falou uma palavra, e eu preferi não incomodar.
Assim que chegamos, pude ver Mary e Gwen. Fui até elas e dei um abraço apertado. Queria
mostrar meu apoio.
Imaginei que o lugar estaria lotado, mas não, poucas pessoas estavam presente. Apesar de
Lorenzo ser uma pessoa muito conhecida, ele era um homem discreto. Mary comentou que ele mesmo
havia pedido um enterro mais íntimo, apenas com a família e os amigos mais próximos.
A despedida foi triste, apesar de mal o conhecer, algumas lágrimas rolaram pelo rosto. Era
como se eu revivesse a morte de meu pai.
Em alguns momentos, reparei em um homem, ele estava por perto, mas não estava fazendo
parte da despedida. Parecia estar espiando. Era mais velho, talvez uns sessenta anos. Achei estranho,
porém, ninguém pareceu reparar.
As pessoas começaram a ir embora, e o homem estranho ainda estava lá. Cheguei bem perto
de Tony e cochichei:
— Você conhece aquele homem? Já faz um tempo que ele está nos observando — falei
olhando na direção onde estava o estranho.
— Não conheço. Deve ser algum curioso. Ou algum amigo que não quis se aproximar. Meu
pai conhecia muitas pessoas.
Ele pareceu não dar muita importância
Depois do enterro, Mary nos convidou para fazer companhia. Ela disse que preferira não
ficar sozinha nesse momento.
Assim que chegamos na casa, Tony foi preparar um chá. Disse para a mãe que o chá iria fazer
ela se sentir melhor. Ficamos na sala com Gwen. A garota ainda estava extremamente abalada.
— Eu prefiro ficar um pouco sozinha. Vou para meu quarto — falou Gwen enquanto as
lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto.
Tony retornou em poucos minutos com quatro xícaras de chá.
— Onde está Gwen? — questionou.
— Ele preferiu ficar sozinha — falou Mary, pegando sua xícara.
Ficamos algum tempo ali, em silêncio, apenas tomando a bebida quente. O clima era pesado e
triste.
— Preciso tentar distrair a mente. Vou fazer alguns sanduíches para o almoço — disse Mary
levantando do sofá.
— Mãe, não precisa. Não estamos com fome. Tome um calmante e tente dormir um pouco.
— Também não estou com fome, mas quero fazer alguma coisa.
— Eu ajudo — ofereci.
— Obrigada.
Fomos para a cozinha. Já que Mary havia dispensando os empregados por dois dias.
Sabíamos que provavelmente ninguém iria comer, mas estava ajudando a mulher a se distrair um
pouco. Mary começou a cortar o frango, enquanto eu separava e lavava a alface. Pensei em falar
algumas palavras de conforto, porém, sabia que ele não queria isso nesse momento, então tentei
puxar algum assunto aleatório.
— Sanduíche me faz lembrar os meus avós. Eles moram na Índia. Tem um hambúrguer de
batatas que é muito popular por lá.
— Vada Pav? — questionou.
— Sim, é esse o nome. É muito bom.
— Eu já experimentei. Realmente muito bom.
— Você conhece a Índia? — perguntei, terminando de lavar a última folha da salada.
— Sim. Fomos lá duas vezes. A primeira foi assim que conheci Lorenzo, ainda nem tínhamos
o Tony, éramos tão jovens.
Seu olhar se perdeu, ela pareceu relembrar. Um leve sorriso se formou em seus lábios.
— É um país maravilhoso — comentei.
— Concordo com você. Gostaria de visitar novamente.
Fizemos três sanduíches e levamos para a sala. Tony estava exatamente na mesma posição de
quando saímos.
Assim que dei a primeira mordida em meu sanduíche, percebi que estava com fome. Depois
de comer Mary parecia exausta.
— Acho que vou aceitar sua sugestão e dormir um pouco. Esses últimos dias foram muito
cansativos — falou Mary levantando do sofá.
— Descanse, mãe.
Ela veio em minha direção.
— Obrigada, Simonetta. Por ter ficado ao nosso lado, por fazer parte da nossa família.
Não falei nada, apenas a abracei.
No momento em que ela subiu as escadas Tony levantou e saiu da casa. Olhei pela enorme
janela da sala e o vi sentado em um banco no jardim, na frente de uma pequena árvore. Fiquei o
observando antes de ir até lá.
Permaneci em silêncio e sentei ao seu lado.
— Eu e meu pai plantamos essa árvore juntos quando eu tinha doze anos. Todos os dias
quando eu acordava, a primeira coisa que fazia era correr até aqui para ver o quanto ela tinha
crescido. — Ele secou uma lágrima. — Vou sentir falta dele.
— Entendo a sua dor. Meu pai faleceu há alguns meses e ainda não acostumei. Parece que ele
vai voltar a qualquer momento.
Virei discretamente o rosto, queria disfarçar que meus olhos estavam marejados.
— Obrigado pelo apoio que deu a minha mãe. Ele quer parecer forte e tentar disfarçar, mas
sei que ela está arrasada.
— Sei como ela se sente.
Me aproximei a escorei a cabeça em seu ombro. Ele não reagiu, continuou parado, sem se
mexer.
Capítulo 11

Tony optou por ficar uns dias na casa de Mary. Ela e principalmente Gwen precisavam do seu
apoio.
Aproveitei para ir para a casa de minha mãe, estava com muitas saudades dela e dos meus
irmãos.
Estávamos na cozinha, lavando a louça do almoço.
Quando estava com minha mãe e minha irmã, acabava esquecendo um pouco dos problemas,
apesar do momento ainda ser delicado por conta da morte de Lorenzo.
— Mas me conte. Como está seu relacionamento com Tony? Estão conseguindo conviver
bem? — perguntou minha mãe enquanto guardava um copo no armário.
Fiquei na dúvida se contava ou não sobre minha noite com Tony, porém, eu não tinha segredos
para minha mãe e Lavínia.
— Ele é um pouco instável. Estávamos nos dando bem, e ...
Deixei a frase no ar. Estava um pouco sem jeito de falar.
— E o que? — questionou Lavínia.
— E fizemos sexo.
— Como assim? — Minha mãe franziu o cenho, estranhando.
— Eu sabia que isso iria acontecer. Percebi quando vi vocês dois juntos dançando no
casamento. Senti que tinha um clima no ar.
— Um clima de ódio, só se for — ironizei. — Não! Não tinha. Isso só aconteceu agora a
pouco, dois dias antes da morte de Lorenzo. — Sentei na cadeira em frente a pequena mesa assim que
guardei o último prato. — No primeiro dia estávamos conversando, depois ele simplesmente parou
de falar comigo. Agora a pouco estávamos de boa novamente. Eu não o entendo — lamentei.
— Tá, mas conte como foi a noite de sexo — pediu Lavínia empolgada.
— Foi maravilhosa! Exatamente como imaginei que seria a minha primeira vez. Tony é muito
sexy e sedutor — falei ao lembrar de seu abdômen definido.
— E depois disso? Como ficaram? — perguntou minha mãe.
— Ele se afastou completamente. Provavelmente por conta de Camila. Eles têm um
relacionamento há anos.
— A mulher que vimos no casamento?
— Ela mesma.
Contei com detalhes sobre minha situação com Tony e sobre o incidente com Matt.

[...]
Acordei com o despertador do celular. Eu estava acostumada a acordar cedo sem nenhum
esforço, porém, não poderia correr o risco de dormir demais. Iria até à casa de Mary para ajudar
Tony e Gwen e separa as coisas de Lorenzo. Tudo iria para a doação, a não ser as coisas mais
pessoais. Na verdade, não sabia exatamente porque fui convidada, eu mal conhecia Lorenzo, esse
deveria ser um momento em família, mas claro que eu não iria desapontar Mary.
Demorei alguns instantes para levantar, acordar em meu antigo quarto era reconfortante. Eu
sentia falta de estar em casa, da companhia da minha família.
Me despedi de minha mãe e Lavínia, pois depois voltaria para casa de Tony.
Peguei um Uber e fui até lá.
Mary me recebeu, já estava com uma aparência bem melhor.
— Estávamos esperando por você para começar a separar as coisas — falou Gwen.
Tony estava ao seu lado, porém, mal me cumprimentou.
Fomos até o quarto de Mary e Lorenzo para começar. A mulher disse que não iria participar.
Mexer em tantas lembranças ainda era muito doloroso para ela.
O quarto era enorme. Com certeza teríamos muito trabalho pela frente. Começamos pelas
roupas. Tiramos todas do lugar, colocando em caixas e sacos plásticos.
Enquanto separávamos, Tony e Gwen relembravam alguns acontecimentos quando Lorenzo
usava determinada peça. Eu estava gostando de saber um pouco mais sobre ele.
Lorenzo era um homem muito elegante, haviam muitos ternos e roupas formais, a grande
maioria delas praticamente sem uso.
Depois de quase duas horas, Gwen sugeriu uma parada.
— O que vocês acham de um suco? O calor está forte.
— Ótima ideia — respondeu Tony.
— Eu já volto.
Gwen saiu do quarto. Deixando-me sozinha com Tony.
— Como você está nesses últimos dias? — perguntei, quebrando o silêncio.
— Um pouco melhor. Estou tentando pela minha mãe e pela Gwen.
— Eu percebi que sua mãe está um pouco mais conformada.
— Sim, está.
O homem chegou a abrir a boca para falar mais alguma coisa, mas pensou duas vezes e
acabou desistindo.
— O que você ia falar?
— Nada.
— Pode falar. Tem a ver com sua mãe ou a Gwen?
— Na verdade, não — falou, colocando uma camiseta dentro de uma caixa.
— Qual o problema? — questionei.
— Porque você está aqui? Esse deveria ser um momento em família, e nós dois sabemos
muito bem que você não faz parte da família. Não precisamos fingir enquanto estivermos dentro de
casa.
— Eu sei, mas sua mãe fez questão.
— Acho que ela está tentando forçar uma relação — comentou, sentando na cama.
— Como assim forçar? De certa forma nós temos uma relação. Gosto muito dela e da Gwen,
e nós dois...
Deixei a frase no ar.
— Nós dois o quê? — perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Você sabe, também temos uma relação.
— Não mesmo! — falou alterando um pouco o seu tom de voz. — Olha, não temos nenhum
tipo de relação. Só estamos juntos por conta de um contrato, e sinceramente, eu não vejo a hora desse
contrato terminar. Até lá, vamos apenas mentir e fingir na frente das pessoas. Você entendeu?
— Entendi. — Engoli em seco.
Eu queria falar alguma coisa, não queria deixá-lo falar tudo isso para mim, mas ouvi os
passos de Gwen subindo as escadas.
— Suco de maçã bem geladinho — disse me entregando um copo.
— Obrigada.
Voltamos ao trabalho. Iríamos separar os acessórios.
Eu ainda não havia esquecido as palavras de Tony. Queria responder. Estava ansiosa para
chegar em casa e voltar nesse assunto. Eu sabia que nosso relacionamento era falso, mas a nossa
noite de sexo foi real. Achei que estávamos nos entendendo.
— Olhem que lindo esse relógio — comentou Gwen.
— Era um dos favoritos dele — disse Tony.
— Acho que vou ficar com ele, de recordação — falou Gwen enquanto o admirava.
Lorenzo tinha uma coleção de relógios, eram todos muito luxuosos.
Eu estava separando as gravatas quando vi o que parecia ser um pequeno livro no fundo do
armário.
— Seu pai tinha um diário? — questionei enquanto o pegava.
— Se tinha eu nunca soube, porém, não seria nenhuma surpresa, ele gostava de escrever no
papel. Dizia que esse mundo digitar tirava todo o prazer de poder escrever.
Gwen o pegou rapidamente de minha mão. Pareceu cair algumas cartas do meio do livro.
Não era exatamente um diário, era mais um caderno de lembranças. Haviam algumas fotos.
De Lorenzo com Mary, com os filhos e algumas fotos dele com um homem estranho.
— Olhem! É o homem estranho do cemitério — falei, apontando para a foto.
— Que homem? — Gwen não havia visto ninguém.
— No dia do enterro, vi um homem por perto, ele perecia estar espiando. Achei muito
estranho.
— Eu o vi, mas não reconheci. Quem será ele?
Continuamos folheado o caderno. Nas últimas páginas haviam mais fotos desse homem
estranho, e mais que isso, fotos dos dois juntos. Em uma delas tinha uma declaração.
“Hoje estamos comemorando trinta anos juntos. Te amo para sempre. Richard.”
— Eles tinham um caso? — sussurrou Gwen sem acreditar no que estava lendo.
— Acho que mais do que isso. Eles estavam juntos há muito tempo — falou Tony.
Olhando as outras páginas, encontramos uma carta. A folha estava totalmente amarelada.
Parecia ser bem antiga.
“Me desculpe por ontem, mas eu queria que todos soubessem o quanto nos amamos.
Entendo que não podemos assumir o relacionamento agora pelo bem da sua empresa. Ficarei
aguardando ansiosamente o dia em que ficaremos juntos para sempre. Quando decidir assumir sua
homossexualidade, eu vou estar ao seu lado. Richard.”
Além dessa, haviam várias outras cartas, bilhetes, declarações de amor e desculpas. Eles
pareciam se comunicar por cartas.
Decidi não falar nada. Eu não queria me meter em assuntos extremamente pessoais.
— Eu não acredito que ele tinha uma vida dupla! — Tony parecia transtornado, jogando todos
os papéis que estavam nas suas mãos no chão.
Gwen estava em silêncio. Parecia sem reação.
— Será que a mãe sabe disso? — perguntou Gwen.
— Se não sabe, saberá agora mesmo — disse Tony, levantando e saindo do quarto
rapidamente.
Eu e Gwen ficamos em silêncio. A garota continuava a folhear o caderno.
Em alguns minutos Tony e Mary estraram no quarto. O homem estava afobado.
— O que está acontecendo exatamente? — perguntou a mulher sem entender o que estava
acontecendo.
— Ele era gay. Tinha um caso com um homem a mais de trinta anos! — falou Tony mostrando
o caderno.
— Como assim? — Mary pareceu prender a respiração por um segundo.
— Veja isso — disse Gwen.
Os irmãos mostraram tudo o que haviam encontrado para a mãe.
— Eu não fazia ideia de nada disso. Nunca vi esse homem antes. — Mary ainda estava
olhando para as fotos, sem acreditar no que via.
— Ele mentiu para nós — lamentou Tony.
— Entendo o lado dele. Imagine como seria difícil assumir um relacionamento como outro
homem. Principalmente há trinta anos. O vô nunca aceitaria isso. Tenho certeza que esse foi um dos
motivos dele ter mentido — falou Gwen.
Eu fiquei calada. Apenas ouvindo, não sabia como agir, nem o que dizer. Tony estava
nervoso, dizia não aceitar a mentira do pai. Mary e Gwen ficaram mais calmas depois do choque
inicial, estavam tentando acalmar Tony. Seria mais uma coisa que ele teria que superar.
Capítulo 12

Chegamos em casa e Tony foi direto para seu quarto. Ele ainda estava inconformado. Segundo
ele, não pelo fato de seu pai ser gay, e sim por ter escondido isso de todos a vida inteira. Eu queria
conversar sobre o assunto que falamos mais cedo, mas o deixaria descansar. Poderíamos falar
amanhã.
Fui para meu quarto, em seguida tomei um banho frio. O dia havia sido quente e abafado, tudo
que eu queria fazer era relaxar.
Acordei com uma mensagem de Leonardo. Era uma ótima notícia: os Bennetts haviam pago
mais uma parcela da dívida. Ele estava tão empolgado que queria marcar um jantar na casa de nossa
mãe para comemorarmos. Não pensei duas vezes em responder que iria.
Eu estava com saudades de Leonardo, fazia tempo que não o via. Nos dias que fiquei em
casa, ele estava trabalhando até tarde na empresa, e no final da tarde ia direto para sua casa. Eu
pensei em ligar para minha mãe e contar tudo que tínhamos descoberto sobre Lorenzo, mas deixei
para contar pessoalmente, no dia do jantar.
O ar condicionado estava ligado, e ainda assim eu estava com calor. Sabia que seria mais um
dia quente. Tomei um banho frio para me refrescar. Escolhi uma roupa leve. Um short jeans cintura
alta e uma blusa com alças, era larga e bem confortável. Dispensei o sutiã, não gostava de ficar
apertada. Deixei meus seios livres.
Desci para a cozinha para tomar café, Tony já tinha saído para o trabalho. Respirei aliviada
por isso, pois nos últimos dias nossa convivência não estava nada fácil, por algum motivo parece que
ele sempre queria se afastar.
Depois do café, fui assistir um pouco de televisão. Eu estava me sentindo feliz e animada. A
notícia de Leonardo foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido. Principalmente depois
dos acontecimentos dos últimos dias.
Pensei em fazer alguma coisa para o almoço. Depois de desenhar, cozinhar era uma das
coisas que eu mais gostava de fazer. A dispensa de Tony estava lotada, ingredientes não seriam um
problema. Fui para internet procurar alguma receita para fazer. Nenhuma parecia boa o suficiente.
Lembrei da lasanha de frango que comi quando cheguei. Foi minha primeira refeição na casa, apesar
de ser congelada, estava muito boa, porém, nada como uma lasanha caseira, feita na hora. Decidi que
seria lasanha de frango. Comecei a cortar os ingredientes. Coloquei uma música no celular enquanto
cozinhava.
Depois de quase duas horas, estava pronta. Ficou com uma ótima aparência. Sentei na
bancada da cozinha para comer. Estava maravilhosa, exatamente como a da minha mãe. Comi dois
pedaços grandes e guardei o que sobrou para comer mais tarde.
Depois de comer e lavar a louça, fui para a sala de televisão.
Passei a tarde assistindo filmes. Quando olhei para o celular, já estava perto do horário de
Tony chegar. Minutos depois ouvi o barulho da porta. Era ele. Continuei onde estava. Ele passou pela
sala de televisão e foi direto para o andar de cima.
Quarenta e cinco minutos haviam se passado. Eu queria conversar, não havia esquecido às
palavras do dia anterior. Subi as escadas e bati na porta do seu quarto.
— Entre.
Ele estava sem camisa. Sentado na cama, mexendo em um tablet.
— Como você está? — perguntei assim que entrei.
— Um pouco melhor. O que você quer?
— Conversar.
— Não é uma boa hora.
— Será rápido.
Ele deu um longo suspiro.
— Fale — disse enquanto largava o tablet na mesinha ao lado da cama.
Dei alguns passos em sua direção. Eu não sabia exatamente o que falar.
— Sobre a nossa conversa de ontem. Fiquei um pouco chateada.
— Por qual motivo?
— Não concordei com o que você disse. Nós temos sim uma relação. Gosto de Mary e Gwen,
não é uma situação forçada. E quanto a nós, estávamos nos dando bem, e a nossa noite de sexo foi
real.
— Aquilo foi um erro. Nunca mais vai acontecer.
— Porque você faz isso? Porque se afasta quando estamos nos entendendo?
— Tudo isso é porque você quer transar comigo novamente? Será que está apaixonada? —
falou com um sorriso sarcástico.
— Não fale bobagens, mas se vamos ter que conviver por dois anos, deveríamos ter pelo
menos uma boa relação de amizade.
— Acho que não é só a minha amizade que você quer.
— Do que está falando?
— Pensa que eu não percebi? Você está fazendo tudo para chamar minha atenção, mas
infelizmente não vou lhe dar esse prazer de novo.
— E quem disse que eu quero?
— Vai dizer que não gostou da nossa noite? — perguntou, levantando da cama.
— Não! Não gostei — falei dando alguns passos para trás, em direção à porta.
— Não foi o que pareceu.
Ele veio até mim. Senti que minha respiração estava acelerada.
— É impossível conversar sério com você — falei aumentando meu tom de voz.
Virei as costas para sair do quarto, porém, Tony segurou meu braço.
Ele me puxou e colou nossos corpos. Suas mãos estavam em volta da minha cintura. Eu
conseguia sentir sua respiração. Fui pega de surpresa, não sabia como reagir.
— Eu posso abrir uma exceção para você. Acho que podemos repetir se faz tanta questão
assim — sussurrou.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Tony me beijou ferozmente. Retribuí o beijo. Senti
sua mão descer pela minha cintura até chegar em minha bunda. Sua boca deslizou até meu pescoço.
Ele usou uma de suas mãos para jogar meu cabelo para trás. Joguei a cabeça para o lado para
facilitar. Fiquei arrepiada ao sentir sua língua passando por minha pele. Ele voltou a beijar meus
lábios. Por um breve momento, me afastei.
— E quem disse que eu quero repetir?
Ele olhou para mim. Fiquei encarando seus olhos verdes enquanto sua mão tentava abrir meus
shorts jeans. Assim que conseguiu, colocou a mão por dentro da minha calcinha. Senti seu toquei em
meu clitóris.
— Eu sei que você quer. — Ele rapidamente tirou meus shorts junto com minha calcinha. —
Confesse, você estava esperando por isso.
Não falei nada.
Ele me guiou até a cama. Deitei e logo senti seu corpo em cima de mim. Ele voltou a atenção
para meus lábios, enquanto uma de suas mãos levantava minha blusa e acariciava meus seios. Por
alguns segundos, Tony parou de me beijar e me encarou. Ele arqueou uma sobrancelha. Eu sabia que
estava esperando uma resposta minha.
— Eu estava esperando por isso — falei com a voz um pouco falhada.
Ele desceu alguns centímetros e começou a beijar meus seios. Ele brincava com meus
mamilos, passando a língua delicadamente. Eu estava ficando cada vez mais excitada. Tony continuou
deslizando sua boca pelo meu corpo, passando por minha barriga e chegando até minhas coxas. Ele
afastou minhas pernas rapidamente e foi direto ao ponto, diferente da outra vez. Quando senti sua
língua em meu clitóris soltei um gemido baixo. Ele fazia movimentos leves, enquanto eu me contorcia
de prazer. Tony vendo a cena aumentou a velocidade gradativamente. Eu apertava minhas pernas
contra seu rosto, estava gostando dessa situação.
—Venha! Fique de joelhos. O que acha de experimentar o meu gosto? — questionou com um
sorriso malicioso.
— É uma boa ideia.
Fui para o chão e fiquei de joelhos. Eu não sabia o que fazer exatamente. Tudo era uma
experencia nova para mim. Comecei passando a língua por seu pau, pensei que não conseguiria
colocá-lo todo dentro da boca. Ele segurou meu cabelo para trás, fazendo pequenos movimentos de
vai e vem. Minhas mãos estavam arranhando suas coxas. Olhei para cima e vi Tony delirando de
prazer. Aumentei minha velocidade, e para minha surpresa, consegui colocá-lo quase todo para
dentro, mas apenas por um ou dois segundos.
Senti meus olhos lacrimejarem ao fazer aquilo, mas Tony pareceu gostar.
Ele segurava meus cabelos com mais força a cada segundo, me deixando sufocada algumas
vezes.
— Venha! Fique de quatro — ordenou.
Fiz o que ele pediu com rapidez. Enquanto isso, Tony foi até à cômoda do lado da cama, abriu
a primeira gaveta e pegou uma camisinha.
— Vá devagar — pedi.
Estava com um certo receio, pensei que talvez pudesse doer um pouco no começo.
Tony me penetrou sem demora. Começou devagar e foi aumentando a velocidade aos poucos.
Ao contrário do que pensei, não senti nenhuma dor, apenas prazer.
Sentia cada centímetro de seu pênis entrando e saindo. Ele apertava minha bunda com força.
Comecei a rebolar, fazendo com que ele aumentasse a velocidade. Eu conseguia ouvir a sua
respiração ofegante. Sabia que ele não demoraria a chegar a seu ápice.
— Venha! Quero gozar nos seus peitos.
Deitei na cama com a barriga para cima e vi quando ele tirou a camisinha e se aproximou.
Tony gozou em meus seios, despejando todo o seu líquido em mim. Ele olhou em meus olhos e deu
um pequeno sorriso. Deitamos lado a lado na cama, tentando recuperar o fôlego.
Ele não disse mais nada, apenas levantou e foi para o seu banheiro.
Eu não tinha mais o que fazer ali, então voltei para o meu quarto e fui direto para o banho.
Capítulo13

Eu estava ansiosa pelo jantar na casa de minha mãe. Queria muito passar um tempo com meus
irmãos.
Como era de se esperar, Tony havia se afastado depois da nossa última noite de sexo, porém,
eu já estava acostumando a lidar com seu temperamento instável. Não iria mais atrás dele, caso ele
quisesse falar comigo, ele viria até mim.
O calor não estava tão forte, diferente dos últimos dias. Escolhi um conjunto, um cropped e
uma saia com babados. Queria estar confortável.
Peguei um Uber e saí de casa antes de Tony voltar. Eu já havia comentado com ele que estaria
com minha família.
Quando cheguei fui recebida por Lavínia. Minha mãe estava preparando o jantar. Leonardo
ainda não havia chego, estava trabalhando na empresa. Chegaria em seguida.
— O cheiro está maravilhoso — comentei assim que entrei na cozinha.
— Simonetta! Senti sua falta — disse enquanto vinha até mim.
Nos abraçamos forte. Já fazia alguns dias que não nos víamos.
— Também senti a sua, mãe.
— Conte, como estão as coisas com Tony? — perguntou enquanto mexia uma das panelas.
— Estão indo. Tenho tanta coisa para contar.
— Venha me ajude com a comida e me fala das novidades.
Resumi sobre minha relação com Tony. Contei que fizemos sexo novamente.
Eu queria falar sobre tudo que tínhamos descoberto sobre Lorenzo, mas esperaria Leonardo
chegar, Lavínia também não estava presente, já que havia ido descansar assim que cheguei.
— Acho que estão começando a gostar um do outro — falou enquanto escorria o macarrão.
— Claro que não! Foi apenas sexo, e não acontecerá mais, como ele mesmo falou. Nossa
relação é apenas de negócios.
— E transar faz parte dos negócios? — questionou minha mãe com um leve sorriso no rosto.
— Tudo bem, eu confesso. Ele é muito atraente e sedutor, mas é apenas isso. Eu nunca me
apaixonaria por um homem como ele.
Terminamos de fazer a comida e começamos a arrumar a mesa de jantar. O cardápio seria
macarrão com frutos do mar. Eu amava frutos do mar, principalmente camarão.
Enquanto terminava de levar a comida para a mesa Leonardo chegou. Pude ver assim que
entrou na sala que ele estava radiante.
— Simonetta! — falou me envolvendo em um abraço. — Tenho ótimas notícias.
— Estou ansiosa para ouvi-las
— Vou contar com todos a mesa.
Eu sabia que a dívida estava sendo paga. Não via a hora de saber de tudo com detalhes.
Sentamos a mesa e começamos a comer. Enquanto isso Leonardo contou que quase metade da
dívida já estava quitada. Fiquei aliviada ao ouvir suas palavras.
— Já estamos pensando no próximo lançamento. Desde o casamento as vendas aumentaram
bastante. Os Bennetts realmente são muito influentes — falou Leonardo enquanto tomava um gole de
vinho.
— E devemos tudo a Simonetta — comentou Lavínia sorrindo.
Eu estava feliz e realizada por ajudar minha família.
Tivemos um jantar divertido e agradável, como há muito tempo não tínhamos. Leonardo
contou todas as novidades sobre a empresa. Disse que estavam desenvolvendo uma nova máscara de
cílios a prova d` água, e com certeza seria um sucesso de vendas.
Depois do jantar fomos todos para a sala de estar. Lavínia havia feito um bolo de nozes para
a sobremesa.
— Com certeza o melhor bolo que já comi — comentou minha mãe entre um pedaço e outro.
— Você sempre fala isso com todas as comidas que eu faço — respondeu Lavínia.
— Por que você se supera a cada dia.
Isso era característico da minha mãe, sempre nos incentivando. Admirava isso nela.
— Vocês não vão acreditar no que descobrimos — falei comendo o último pedaço de bolo.
— O que? — Leonardo parecia curioso.
— No dia em que fomos separar as coisas de Lorenzo para a doação, achamos uma espécie
de caderno. Descobrimos que ele era gay, e mais do que isso: mantinha um caso com um homem há
mais de trinta anos.
— Como assim? — questionou minha mãe chocada.
— Haviam várias fotos e declarações. Pelo que eu entendi o homem queria assumir o
relacionamento dos dois, mas Lorenzo não queria. Não consigo nem imaginar o quanto ele sofreu
durante a vida inteira por não poder ser quem realmente era.
— E como a família reagiu? — perguntou Lavínia.
— Mary e Gwen tiveram um choque no começo, mas já estão digerindo a situação. Para Tony
está sendo um pouco mais compilado. Ele disse que não perdoa o fato de o pai ter mentido durante
todos esses anos.
Enquanto todos nós comentávamos sobre a situação, Leonardo continuava em silêncio. Será
que eu tinha razão? Talvez essa história tivesse o deixada um pouco abalado.
— Eu sei que você acha Tony um mimado, mas de certa forma preciso concordar com ele.
Foram trinta anos escondendo um segredo. Eu também ficaria chateada — falou Lavínia.
— Talvez ele tivesse medo de não ser aceito — falou Leonardo se pronunciando pela
primeira vez sobre o assunto. — Principalmente na posição dele. Um homem tão importante e gay.
Com certeza ele seria julgado.
— Então seria melhor viver a vida inteira em função das outras pessoas? — Lavínia alterou
um pouco o seu tom de voz.
— Não foi isso que eu disse, mas entendo Lorenzo. Não o julgo por nunca ter contato.
Leonardo ficou cabisbaixo. Parecia que sentia a dor que Lorenzo sentiu por nunca ter
conseguido falar a verdade.
— Entendo que poderia ter sido difícil, mas concordo com Lavínia. Acho que ele deveria ter
contado — falou minha mãe.
— Nós não somos ninguém para discutir o que ele deveria ter feito ou não. Se ele achou
melhor não assumir, a escolha era dele. Concordo que enganar a esposa não foi legal, mas talvez a
pressão da família e da sociedade o tenham levado a isso — disse Leo, tentando manter a calma. —
Vou beber um pouco de água. — Leonardo levantou rapidamente e saiu da sala em direção à cozinha.
Fiz sinal para que as duas ficassem na sala e fui atrás dele.
— Está tudo bem?
Ele estava parado, escorado na pia.
— Sim. Só vim beber água.
— Não é o que parece.
— Fiquei um pouco nervoso com tudo isso que acabei de ouvir, só isso.
Me aproximei dele e peguei em sua mão, estava fria e suada.
— Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?
— Eu sei — disse em um quase sussurro, descendo o seu olhar para o chão.
— Você quer conversar? Podemos ir para meu antigo quarto.
Ele concordou.
Chegamos no quarto e fechei a porta. Sentei na cama e fiz sinal para que ele sentasse também.
— Essa história sobre o Lorenzo me fez repensar. Imagina como deve ser triste viver em uma
mentira a vida inteira. — Por alguns instantes ele ficou encarando o tapete do chão. — Eu não quero
ser igual a ele. Não quero chegar no final da minha vida e me arrepender de coisas que não fiz.
— Leonardo, eu...
— Deixe-me terminar — falou me interrompendo. Ele olhou fixamente para mim. Seu
nervosismo era visível. — Eu sou gay.
— Está tudo bem. Na verdade, eu já desconfiava há algum tempo. Porque você vem
guardando esse segredo?
— Medo. Não sei o que as pessoas podem falar. Tenho receio de achar que eu não serei um
bom CEO por ser gay, de não ser respeitado, medo de ser zoado, ouvir cochichos na empresa,
receber olhares de desaprovação nas reuniões.
— De certa forma, eu entendo você.
— As pessoas são tão maldosas — lamentou.
— Mas eu estou ao seu lado, e tenho certeza de que a mãe e Lavínia também ficarão. As
pessoas terão que aceitar. É a sua vida. É uma questão que só cabe a você.
— Obrigada pelo apoio. Eu vou contar. Vou tomar coragem, mas não agora. Só me dê um
tempo.
— O tempo que precisar — falei sorrindo. — Agora me conte. Como foi quando você
descobriu que era gay? Quando teve certeza?
— Na verdade, eu sempre soube. Na escola via todos os meus amigos namorando com as
meninas, porém, eu nunca tive interesse. Para mim eram apenas amigas. Depois de um tempo eu não
aguentei a pressão. Todos já tinha beijado, menos eu. Minha primeira experiência foi péssima. Sabia
que não era isso que eu queria.
— E mesmo assim você continuou tentando ficar com meninas?
— Sim. Eu achava que tinha alguma coisa de errado comigo. Eu parecia não gostar de garota
nenhuma. Só tiver a certeza quando conheci o James.
— Ah sim. Eu lembro dele. Vocês estavam sempre juntos.
— Eu tinha quatorze anos quando nos conhecemos e desde então sentia uma coisa diferente
quando estávamos juntos, mas obviamente eu nunca disse nada a ele. Quando tinha dezesseis anos, fui
em uma festa. Um menino na pista de dança não parava de dar em cima de mim. Foi aí que tive
minha primeira experiência. Depois disso tive certeza que era gay.
— Isso já faz quinze anos. Não acredito que você conseguiu esconder isso todo esse tempo.
— Como eu disse, medo.
— Eu sinto muito.
— Está tudo bem. Já estou trabalhando nisso. Só peço que por enquanto não conte nada para
ninguém. Falarei quando estiver preparado
Concordei. Eu nunca faria nada contra a vontade de meu irmão. Eu estava com uma certa pena
dele. Não deve ter sido nada fácil mentir e se esconder durante todo esse tempo. Por outro lado, eu
estava feliz, sabia que ele iria conseguir, e eu estaria ao seu lado, como sempre estive.
Capítulo 14

Eu estava tensa. Um furacão categoria dois estava previsto para chegar na costa de Miami. Eu
tinha muito medo de vento, tempestades me assustavam desde criança.
Passei a tarde toda andando de um lado para o outro. Tentei me distrair assistindo televisão,
mas não consegui me concentrar em nada. As notícias não eram das piores, a tempestade deveria
perder forças quando entrasse na costa, mesmo assim eu estava apavorada.
Um pouco antes do horário de Tony voltar, eu fui para o meu quarto, como de costume.
Eu não parava de olhar pela janela. Já conseguia ver sinais de que a tempestade estava
próxima. Estava observando o clima quando vi o carro de Tony chegar. Ele foi diretamente para seu
quarto.
Quando as primeiras rajadas de vento começarem, decidi descer para o andar de baixo,
achava que seria mais seguro do que o andar superior. Abri a porta principal para olhar para fora,
avistei um raio ao longe e fechei a porta rapidamente. Pensei em ir para a sala de estar e ligar a
televisão, queria ver o noticiário. Quando estava caminhando até lá, vi Tony. Senti seu perfume
amadeirado. Ela já havia tomado banho e trocado de roupa. Estava arrumado, parecia que iria sair.
— O que está acontecendo? Parece inquieta.
— Estou nervosa. O furacão deve chegar logo.
— Pelo que eu vi. Não será muito forte, não pior do que os temporais que temos.
— Eu sei, mas tenho um pouco de medo de tempestades.
— Um pouco? — questionou com um sorriso sarcástico.
— Tudo bem, muito. O vento é assustador.
— Não imaginei que você tivesse tanto medo assim.
— Sempre tive. Desde criança.
Ouvimos um trovão. Parecia estar se aproximando. Minhas mãos começaram a suar no mesmo
instante. Tony pareceu perceber.
— Fique calma. — Ele deu alguns passos até mim. — O que acha de comermos alguma
coisa? Podemos fazer o jantar. Quem sabe você se distrai um pouco.
— Não obrigada. Estou sem fome.
— Vamos assistir alguns episódios de uma série que você goste. Quando der conta a
tempestade já passou.
— Tudo bem.
Fomos até a sala de estar. Enquanto eu ligava a televisão, vi Tony digitando alguma coisa no
celular. Ele parecia estar pronto para sair, provavelmente com Camila. Decidi não questionar, pelo
menos por enquanto.
— Então o que vai ser? — perguntou Tony sentando no sofá.
— Que tal Scream? Você já assistiu?
— Ainda não. É boa?
— É ótima! Uma das minhas séries preferidas. Um grupo de amigos e um assassino louco
começa a matar todo mundo.
— Clássico — falou dando uma pequena risada.
A ideia de Tony deu certo por um tempo. Consegui esquecer os trovões durante o primeiro
episódio, porém assim que colocamos o segundo, o vento aumentou.
— Parece que está piorando — comentei.
— Estamos seguros aqui dentro.
— Não entendo como você pode estar tão calmo.
— Nunca tive medo de tempestades, raios e trovões não me assustam.
No instante em que Tony terminou sua frase, a energia acabou.
— Eu odeio escuro — resmunguei.
— Eu tenho uma luz de emergência no meu quarto.
Ligamos nossas lanternas nos celulares e fomos até seu quarto. O vento estava forte,
conseguia ouvir o que pareciam ser coisas sendo arrastadas lá fora. Ficava com medo só de pensar
no estrago.
— Acho que está pior que a previsão anunciou — falei, subindo as escadas.
— Eu não acho. Deve ser porque você está nervosa. Não está pior do que outras tempestades.
— Eu estou ouvindo uns barulhos vindo lá de fora.
— Provavelmente os bancos e cadeiras do jardim balançando — falou entrando em seu
quarto.
Ele pegou a luz de emergência e a ligou rapidamente.
— Obrigada. Já me sinto um pouco melhor.
— Você quer levá-la para seu quarto?
— Não. Posso ficar aqui até passar? Não quero ficar sozinha — falei sentando na poltrona
perto da cama.
— Sabe, eu tinha muito medo de escuro quando era criança. Eu nunca dormia com a luz
apagada. Sempre deixava a porta entreaberta e o abajur ligado. Não conseguia dormir se não fosse
assim — disse sentando na cama.
— E como você superou isso?
— Tratamento de choque. Em uma noite de tempestade corri para o quarto do meus pais,
como sempre fazia quando faltava energia, mas naquela noite meu pai não me deixou ficar. Disse que
eu teria que dormir no meu quarto, sozinho e com a porta fechada. Eu já tinha treze anos, meu pai
falava que eu não era mais criança, que não poderia continuar com esses medos infantis. Minha mãe
tentou me defender, mas não conseguiu. Eles tiveram uma pequena briga naquela noite.
— E você conseguiu dormir?
— Demorou, mas dormi. Depois disso nunca mais tive medo, e hoje adoro dormir no escuro.
Qualquer luz, por mínima que seja, me atrapalha.
— Então no final deu tudo certo.
— Pode se dizer que sim.
A tempestade continuava forte. Os trovões estavam quase constantes.
— Acho que o meu medo do escuro não passaria com um tratamento de choque,
provavelmente até pioraria.
— Porquê?
— Quando eu tinha nove anos eu vi um fantasma no closet. Estava escuro, mas eu o vi.
— Sério? — questionou com um sorriso. Parecia não acreditar no que eu estava falando.
— Sim. Eu vi. Claro que ninguém acreditou em mim. Falavam que era coisa de criança, mas
eu nunca esqueci o que vi.
— E como você tem tanta certeza já que estava escuro?
— Estava escuro no closet, mas vinha uma leve claridade do meu quarto. Era como se fosse
uma pessoa, um homem, lá, parado bem no meio do meu closet. Quando chamei meus pais já não
tinha mais ninguém.
— Acredito em você. Se você disse que viu, então você viu.
Um raio forte iluminou o quarto.
Tony tirou os tênis e sentou confortavelmente na cama. Ele fez sinal para que eu sentasse com
ele.
Fiquei pensando se iria ou não. Ele sempre fazia isso, era legal comigo por um tempo e
depois se afastava como se eu nem existisse.
— Não sei. Acho que vou ficar aqui.
— Venha. Eu quase não consigo ver o seu rosto daí. Não gosto de conversar e não olhar para
a pessoa.
Não acreditei muito nessa história, mas acabei cedendo. Ele deu espaço e sentei na cama ao
seu lado.
— E como você está nesses últimos dias? Digo, sobre o que descobrimos sobre o seu pai.
— Melhor. Conversei bastante com Gwen sobre isso. Ela me fez abrir os olhos. Já não o
julgo tanto. Consigo entender os seus motivos por ter guardado esse segredo por tanto tempo. — Ele
deu um longo suspiro. — O que me deixa arrasado é saber que ele não confiou nem mesmo na gente,
na sua família. Que teve que mentir por tanto tempo.
— É realmente triste — lamentei.
Nós estávamos lado a lado na cama. Conseguia sentir o seu perfume. Minha respiração estava
um pouco acerelada. Não sabia ao certo se por conta dos raios, ou da minha proximidade com Tony.
Quando parecia que os raios haviam cessados, um grande trovão estremeceu a casa. Eu não
estava esperando. Em um impulso segurei a mão de Tony.
— Calma. Está tudo bem — disse ele com um tom calmo.
— Desculpe — falei sem jeito. — Eu quero perguntar uma coisa.
— Pode perguntar.
— Àquela hora, você estava saindo, não estava? Sinto que atrapalhei alguma coisa.
— Estava, mas eu não poderia sair e deixar você sozinha naquele estado.
— Eu deveria ter ficado no meu quarto. Acabei estragando seu compromisso.
— Não era tão importante assim — falou olhando para mim.
Seus olhos verdes pareciam ainda mais destacados com a luz baixa. Por um momento pensei
em perder a razão. Minha vontade era de agarra-lo ali mesmo. Eu sei que não deveria, mas eu o
desejava. Era quase impossível resistir.
— Me desculpe. Não foi minha intenção atrapalhar.
— Você não tem nada que pedir desculpas. Foi escolha minha não ir.
Ficar perto de Tony me acalmava, mesmo com os raios e o vento lá fora.
Ele contou algumas histórias do tempo que lutava judô, falou sobre suas viagens e
competições. Estava tentando me manter distraída.
Depois de um tempo o pior da tempestade já havia passado, mas eu não queria voltar para
meu quarto. Estava gostando da companhia de Tony, de conhece-lo um pouco mais. Enquanto ele
falava, interrompi com um bocejo.
— Estou ficando com sono — comentei.
— Quer ir dormir? Acho que já está passando.
— Não. Quero ficar mais um pouco. Gostei de saber um pouco mais sobre você.
— Viu, não sou tão chato como você pensava.
— Talvez não — respondi com um sorriso.
Enquanto Tony falava, meu sono aumentava. Me escorei em seu ombro e acabei cochilando.
Acordei sonolenta quando ele tentou se mexer.
— Desculpe. Acordei você.
— Tudo bem. Vou para o meu quarto — falei, levantando da cama.
— Simonetta, fique. Me faça companhia essa noite.
— Eu fico.
Ele abriu um largo sorriso.
Fiquei surpresa com o seu pedido, mas não hesitei em voltar para a cama. Ele deitou ao meu
lado. Passamos a noite juntos. Ouvi a tempestade se afastar, antes de adormecer completamente.
Capítulo 15

Minha relação com Tony estava melhor do que nunca. Ao contrário do que pensei, ele não
havia se afastado, e desde o dia da tempestade estamos nos dando bem. Não ficava mais só no
quarto. Jantamos juntos na maioria das noites e assistimos séries. Já tínhamos terminado Scream e
estávamos começando a assistir Supernatural. Ele ainda saía de vez em quando, mas não com tanta
frequência. Eu estava gostando dessa nova situação. O clima era muito mais leve, estávamos nos
divertindo juntos.
Segundo a previsão do tempo, seria mais um dia quente, eu até gostava do calor, mas esses
últimos dias estavam quase insuportáveis.
Passei a tarde desenhando e assistindo filmes. O calor me afugentou de ir para a casa da
minha mãe. Só queria ficar no ar condicionado e relaxar.
Eu estava voltando para a sala com um sorvete de chocolate nas mãos quando Tony chegou do
serviço.
— Como passou o dia? — perguntou assim que me viu.
— Passei bem, e você?
— Ótimo. Nossos últimos lançamento estão vendendo como água — disse sorridente.
— Fico feliz em saber.
— E você tem participação nisso. Todos ligam os produtos ao nosso casamento. — Ele se
aproximou alguns centímetros.
— Formamos uma bela dupla.
— Concordo com você. Leonardo tem me dado ótimas notícias também. O que acha de
saímos para comemorar? Que tal um jantar?
Pensei que sair para comer não seria nada mal. Fazia um bom tempo que eu não sabia o que
era isso.
— Eu aceito. Vai ser bom sair um pouco.
— Vou tomar um banho e vamos em seguida.
— Tudo bem — concordei.
Tomei um banho e fiquei esperando por Tony na sala. Por conta do calor, optei por usar pouca
maquiagem, quase nada na verdade.
Sabia que Tony estava chegando antes mesmo dele descer as escadas, pude sentir seu perfume
amadeirado. Ele estava elegante como sempre, mesmo vestindo uma roupa mais simples.
Quando fomos para a rua, a noite já havia caído. Senti o vento fresco em contato com a minha
pele.
— Então? O que você quer comer? Tem alguma sugestão?
Fiquei em silêncio por alguns segundos. Ainda não havia pensado nisso.
— O que acha de comida mexicana? Estou com vontade de comer tacos.
— Gostei da ideia. Adoro comida apimentada — falou dando partida no carro.
Quase chegando no restaurante, passamos pela avenida à beira mar. Fiquei observando a
praia pela janela do carro. O mar durante a noite era lindo e assustador.
— Podemos vir a praia qualquer hora dessas — sugeriu Tony.
— Eu iria adorar. Já faz séculos que não venho à praia.
O lugar era enorme. Todo decorado com as cores da bandeira do México. Eu já o conhecia,
havia ido algumas vezes com meus pais. Pelo que eu lembrava, a comida era excelente.
Assim que dei a primeira mordida no meu taco tive a certeza que a comida dali era realmente
maravilhosa.
— Me conte o motivo de fazer tanto tempo assim que você não vai à praia? — perguntou
Tony enquanto comia o seu burrito.
— Meu pai ficou doente por um bom tempo antes de morrer. Praticamente parei de fazer
qualquer coisa, ficávamos todos em volta dele, foi bem difícil. E depois que ele morreu, veio a crise
da empresa, causada por ele mesmo, em seguida o casamento. Foi tudo muito rápido. — Fiz uma
pausa para beber um gole do meu suco de abacaxi. — Quando era criança estávamos sempre na
praia. Era o nosso programa preferido. Penso que agora esse programa perdeu um pouco o brilho.
Acho que você entende.
— Entendo você, mas vamos resolver isso — falou sorrindo.
O jantar com o Tony estava ótimo. Conversamos, rimos e nos divertimos. Ele realmente
estava mudado nessas últimas semanas.
— Hora da sobremesa. Aqui eles servem mini churros com sorvete de creme.
— Com sorvete? Acho que nunca experimentei. Parece bom — falei arqueando uma
sobrancelha.
— Você nunca mais vai querer comer outro churros, garanto.
Tony tinha razão. Os churros com sorvete eram uma combinação perfeita. Com certeza
voltaria para comer novamente.
Depois da sobremesa, percebi que Tony estava olhando para o relógio.
— Se você quiser, podemos ir embora. Já estou satisfeita.
— Tem certeza?
— Sim. Não aguento mais comer, na verdade.
— Tudo bem. Vou pedir a conta.
— Ainda é cedo. Quem sabe da tempo de chegarmos em casa e assistir um episódio de
Supernatural — falei bebendo o último gole de suco que havia em meu copo.
— Acho que está ficando viciada — falou com um sorriso.
— É quase impossível de parar.
Tony pagou a conta e fomos em direção ao carro. Assim que entramos, Tony olhou para mim.
— Acho que Supernatural pode esperar até amanhã. O que acha de um passeio na praia?
— Agora? — perguntei surpresa.
— Sim. Ainda está cedo.
— Acho um pouco perigo.
— Não se preocupe. As ruas estão cheias de pessoas. Não tem perigo. É emocionante ver o
mar à noite. Você pensa demais. Precisa se aventurar.
— Eu sou prevenida. Não gosto de passar perigos desnecessário, mas tudo bem, só um
pouquinho. Tenho medo da escuridão.
— Eu estarei com você — disse sorrindo.
Tony dirigiu alguns metros e logo estacionou na avenida beira mar. A rua realmente estava
cheia, havia vários bares e restaurantes abertos.
Tirei a sandália assim que coloquei os pés na areia. Era um pouco estranho estar ali durante a
noite.
Tony sentou na areia e fez sinal para que eu sentasse ao seu lado.
— A lua está linda hoje — falei enquanto sentava. — Será que está cheia?
— Acho que ainda não está completa. Talvez em alguns dias.
— Vou lembrar disso e reparar nos próximos dias.
Estávamos sentados lado a lado. Ouvindo apenas o barulho do mar. Por algum motivo eu
sentia as batidas do meu próprio coração. Não entendia muito bem o motivo, poderia ser a emoção
de estar ali com toda aquela escuridão, ou talvez por estar tão perto de Tony, eu não tinha certeza.
— Eu adoro olhar o mar. Quando eu era adolescente e brigava com meus pais, sempre vinha
para cá. Ficava horas sentado aqui e observando. Me traz uma certa paz — falou Tony.
— Também gosto, mas confesso que nunca fiz isso a noite.
— Eu tenho um presente para você — falou, tirando um pequeno embrulho do bolso.
O peguei e abri. Era um pequeno elefante. Eu não tinha certeza do que era feito, mas era
lindo. Coloquei o objeto em pé, na palma de minha mão.
— É lindo! Eu adorei. Obrigada — falei olhando para ele.
— Elefante é um dos símbolos da Índia, e sei o quanto você gosta de lá. Imaginei que iria
gostar.
— Eu amei, de verdade.
— Em breve te darei outro presente. Já encomendei.
— O que é? — perguntei curiosa.
— É surpresa, mas tenho certeza de que irá gostar.
Tony colocou o braço em volta do meu ombro, eu apoiei a cabeça levemente. Ficamos em
silêncio por alguns segundos. Apenas observando.
Depois de alguns instantes, Tony se afastou um pouco e olhou fixamente para mim. Vi um leve
sorriso se formar em seus lábios.
— O que foi? — questionei.
— Você fica ainda mais linda a luz do luar.
— Que cantada mais brega! — falei soltando uma risada.
Tony continuava sorrindo, então se aproximou lentamente. Ele beijou meus lábios com
delicadeza. Passei a mão por sua nuca. Nossas línguas estavam em perfeita sincrônica. Assim que se
afastou, ele passou a mão por minha bochecha.
— Não é uma cantada. É a mais pura verdade.
Dessa vez, tomei a iniciativa e o beijei novamente. Os beijos eram mais urgentes do que os
anteriores. Ele acariciou meus seios.
— Tony! Aqui não.
— Porquê? Não tem ninguém aqui, e mesmo se tivesse, está escuro.
Nunca pensei em fazer sexo na praia, mas confesso que essa ideia me parecia interessante.
Enquanto me beijava, Tony abriu sua própria calça jeans e levou minha mão até seu pênis. Comecei
fazendo caricias leves. Tony estava ficando cada vez mais excitado, então comecei a aumentar a
velocidade. Sua mão parou dentro da minha calcinha, então Tony também passou a me masturbar.
Eu podia sentir o fogo subindo por meu corpo conforme aumentávamos as carícias.
Antes que chegasse em seu orgasmo, ele segurou minha mão e me deitou na areia.
Olhei para os lados, para ter certeza que não havia ninguém por perto. Ele levantou minha
saia e colocou minha calcinha para o lado. Eu já estava totalmente molhada. Ele deitou ao meu lado e
começou a fazer movimentos leves em meu clitóris novamente, certificando-se que eu estava pronta
para recebe-lo.
Tony parou por alguns instantes e pegou sua carteira no seu bolso de trás. Estava à procura de
uma camisinha. Assim que a encontrou a colocou rapidamente.
— Tony! E se alguém nos ver?
— Não se preocupe com isso.
Senti o seu corpo em cima do meu.
Tony começou a me penetrar devagar, aumentando a velocidade aos poucos. Sua boca estava
em meu pescoço, dando alguns cupões de leve.
A sensação de poder ser pega a qualquer momento me deixava mais excitada ainda. Não
pensei que fosse gostar desse tipo de adrenalina, mas estava errada.
Eu sentia sua respiração ofegante. Ele passou a se mover cada vez mais rápido, antes de
fechar os olhos e chegar ao seu orgasmo.
Tony saiu de cima de mim rapidamente e arrumou suas roupas. Ele olhou para o meu rosto e
sorriu.
— Acho que seria injusto fazer você passar pelo perigo de ser pega e não te satisfazer —
comentou.
— Se formos presos, a culpa é sua — brinquei.
Sua mão voltou para dentro da minha calcinha, então Tony estava ali, me masturbando mais
uma vez.
Ele me beijava ardentemente enquanto enfiava dois dedos em mim. Sua boca abafava os
gemidos que eu queria soltar. Meus olhos estavam fechados e eu tentava puxá-lo cada vez mais para
perto de mim.
A sensação de gozar com uma penetração foi totalmente diferente. Era ainda mais excitante.
Mordi o lábio inferior, ainda de olhos fechados enquanto aproveitava a sensação.
— Só você para me fazer gozar na areia da praia — falei.
— Eu tenho muitos dons.
— Quero conhecer todos.
Voltamos a sentar lado a lado, enquanto eu arrumava minha saia.
A sensação de estar com a calcinha molhada não era nada boa, mas ficamos ali apenar por
mais alguns minutos antes de irmos para a casa.
Capítulo 16

Acordei animada. Lavínia enviou mensagem, disse que já está começando a sentir o bebê.
Logo eu conheceria meu sobrinho. Estávamos todos muitos ansiosos por esse momento.
Tony já havia ido para o trabalho. Nesses últimos dias eu estava acordando tarde,
provavelmente por ficar assistindo séries com Tony até alta horas.
Desci para tomar café da manhã, eu estava faminta. Pensei em ovos fritos e bacon.
Assim que sentei na bancada para comer, recebi uma mensagem no celular. Achei estranho,
pois era de um número desconhecido. Assim que abri, tive uma surpresa: era um vídeo de Tony e
Camila, no dia do nosso casamento. Parecia ser em um canto do jardim. Estavam conversando, mas
logo começaram a se beijar. A imagem estava um pouco fora de foco, a câmera estava longe, mas era
ele mesmo, não havia dúvidas. Os beijos ficaram mais quentes, até que Mary aparece. O vídeo não
tinha áudio, mas pareceu começar uma leve briga. Os três começam a caminhar e continuam
discutindo. Foi o momento que eu e meus irmãos vimos. Então o vídeo acaba. Tive que assistir mais
de uma vez para digerir o que estava vendo. Enquanto estava repetindo, chegou uma mensagem de
texto.
“Não sei se você sabe, mas eu e Tony estamos juntos há muito tempo. É a mim que ele ama, e
essa é a prova. Camila.”
Camila?
Senti minhas bochechas ardendo. Como ela teve coragem de me enviar esse vídeo? O que ela
estava querendo? Será que pensava que Tony e eu tínhamos alguma coisa?
Eu estava furiosa. Minhas mãos estavam suando. Um nó se formou em minha garganta, minha
vontade era de chorar, estava com muita raiva. Como eles foram capazes de gravar isso? E se
chegasse na impressa? Seria o fim do nosso casamento de fachada. Eu sempre soube que eles tinham
um relacionamento, mas filmar era demais para mim.
Não consegui tomar meu café da manhã. Esse vídeo havia me deixado totalmente sem apetite.
Ficava pensando se Tony estava de acordo com o envio desse vídeo, e se estava, queria saber o que
eles pretendiam com isso. Pensei em ligar para Tony, eu queria o confrontar, cheguei a pegar o
celular, mas desisti, sabia que não deveria o incomodar na empresa. Iria esperar ele chegar em casa.
Conforme o dia foi passando, fui ficando mais calma. Foi até bom Tony não estar em casa no
momento em que recebi o vídeo, pois com certeza teríamos discutido.
No almoço comi apenas um sanduíche de peito de peru, ainda não estava com fome. Depois
de comer fui para a sala de televisão, havia perdido a minha inspiração para desenhar. Coloquei
Harry Potter e a Pedra Filosofal, era um dos meus filmes preferidos, com certeza iria me distrair um
pouco.
O filme acabou e eu ainda estava na espera de Tony. Dei uma volta pela casa antes de voltar e
colocar o próximo filme, Harry Potter e a Câmara Secreta. Quando o filme estava quase no final,
ouvi um barulho na porta. Era ele. Eu já estava mais calma, mas não deixaria essa história passar.
Para todos os efeitos, nós éramos casados e felizes.
Ele entrou na sala. Parecia não estar muito bem.
— Tony! Quero conversar com você.
— Não é o melhor momento — disse tentando subir as escadas.
Me parei em sua frente, bloqueando sua passagem.
— Precisa ser agora. Eu recebi um vídeo.
— Você também recebeu?
— Espere. De qual vídeo você está falando? — perguntei confusa.
— Recebi um vídeo de Camila — falou um pouco sem jeito.
— É sobre isso que eu quero falar. Também recebi. Tony! O que você estava pensando? Não
sabe que todos precisam acreditar em nosso casamento? Agora que as coisas estão melhorando e a
dívida de meu pai estava sendo paga. O que vocês pretendem com isso? — disse alterando o meu
tom de voz.
— Eu não sabia da existência desse vídeo. Ela nos gravou escondido — Tony começou a
subir os degraus da escada lentamente. — Camila me enviou esse vídeo hoje de manhã. Ela está me
chantageando, querendo dinheiro.
— Como assim? Não estou entendendo — falei enquanto o segui para o andar superior.
— Desde que a conheci eu a ajudava financeiramente. Ela não tem trabalho fixo, mas sempre
tinha tudo que queria, pois eu dava tudo com muito prazer. Nunca fui de ser muito pegado ao
dinheiro. Eu gostava de ajudar, porém nessas últimas semanas eu fiquei um pouco distante dela.
Tony foi diretamente para seu quarto. Fui atrás. Assim que entramos ele tirou a camisa. Tentei
não olhar, não queria que ele pensasse que eu tinha algum interesse.
— Então tudo isso é por dinheiro? — perguntei desviando o olhar para a janela.
— Sim. Ela está me chantageando. Disse que se eu não desse dinheiro ela postaria o vídeo na
internet — falou enquanto vestia uma camiseta confortável.
— Eu achei que vocês estavam juntos nessa.
— E por que eu faria isso?
— Não sei. Por um momento pensei que vocês queriam me expor na internet.
— Você acha que eu faria uma coisa dessas?
— Não sei. Eu fiquei confusa. Junto com o vídeo tinha também uma mensagem.
— Deixe-me ver.
— Meu celular está na sala de estar.
Descemos as escadas até a sala. Peguei meu celular e mostrei a mensagem.
— Ela está ficando louca. Eu vou acabar com isso agora mesmo.
Percebi que seu rosto ficou vermelho. Ele parecia nervoso.
— O que você vai fazer?
— Vou enviar uma reposta. Falar que não adianta me chantagear.
— E se piorar? Tony, ela pode espalhar esse vídeo. Seria péssimo para os nossos negócios.
— Ela não teria essa coragem. — Tony digitou alguma coisa e largou o celular no sofá —
Pronto. Problema resolvido.
— Espero que sim.
Ele respirou fundo, tentando manter a calma.
— O que acha de fazermos alguma coisa para jantar? Estou com fome — indagou, mudando
de assunto com rapidez, mas ainda parecia muito abalado.
— Claro. O que está com vontade de comer? — perguntei enquanto íamos até a cozinha.
— Que tal risoto?
— Ótima ideia. Adoro risoto.
Chegamos na cozinha e começamos a preparar a comida. O clima ainda estava um pouco
tenso, eu ainda estava pensando em Camila, mas Tony logo tratou de mudar de assunto.
— Onde você aprendeu a cozinhar?
— Com a minha avó. Sempre que passávamos férias na Índia ficávamos horas cozinhando.
— Você sabe fazer algum prato indiano? — perguntou enquanto fechava a panela.
— Sei sim. Vários. A comida lá é muito temperada e saborosa.
— Gostaria de experimentar algum dia — falou olhando para mim.
— Eu posso fazer para você, se quiser.
— Será um prazer experimentar a sua comida. — Ele mordeu o lábio inferior.
— Tenha certeza de que irá gostar.
O cheiro de comida estava invadindo a cozinha. Sabia que o sabor estaria tão bom quanto o
cheiro.
— Eu estava pensando em uma coisa. Quando cheguei, percebi que você estava transtornada.
Tudo isso era ciúmes de mim? — perguntou com um sorriso malicioso.
— O quê? Você acha que tenho ciúmes de você? — falei dando uma risada irônica.
— Foi o que pareceu.
Senti minhas bochechas queimando de vergonha.
— Você sabe muito bem que quero manter as aparências de um casamento feliz, só isso.
Ele se aproximou.
— Não tenho certeza se é só isso. — Tony pegou uma mecha de meu cabelo que estava caída
no ombro e o colocou para trás. — Acho que pode ter algo a mais — sussurrou em meu ouvido.
— O que você acha que tem?
Ele segurou minha cintura com força.
— Acho que pode estar rolando alguma coisa entre nós.
Olhei fixamente para ele. Aqueles olhos verdes me tiravam do sério, mas eu queria manter o
controle.
— Da minha parte não está rolando nada — falei com um sorriso.
— Tem certeza? — Tony encostou delicadamente os lábios em meu pescoço.
Senti um arrepio percorrer o meu corpo. Não consegui responder. Apenas fechei os olhos e
aproveitei a sensação. Ele parou por alguns instantes, em seguida beijou meus lábios. Era um beijo
calmo e suave. Eu sabia que não deveríamos estar nos beijando. Não queria estragar a amizade que
estávamos construindo.
— Tony, a comida — falei entre um beijo e outro.
Ele foi até o fogão e rapidamente desligou o fogo.
— Acho que a comida pode esperar um pouco.
— Também acho — falei.
Ele voltou a me beijar. Eu pensei em parar, mas não consegui. Era mais forte do que eu. Suas
mãos apertavam meus seios por cima da blusa.
— Não paro de lembrar da nossa noite na praia. Estava sentindo falta dos seus beijos —
falou em meu ouvido.
— Eu também. Na verdade, eu estava esperando por isso — confessei.
Ele tirou minha blusa. Eu estava sem sutiã, como de costume. Tony me envolveu em seus
braços. Me pegou no colo com facilidade, fazendo eu sentar na bancada, de frente para ele. Ele
passou os dedos por meus mamilos, antes de usar a língua. Tony fazia leves movimentos com a boca,
mas já era o suficiente para me deixar excitada. O puxei para mim, beijando seus lábios ferozmente.
— Está apressada hoje — comentou mordendo o lábio inferior.
Tirei sua camiseta passando a mão por seu abdômen definido. Desci até seu pênis, o apertei
de leve por cima da calça. Eu estava abrindo o botão dos seus jeans quando ouvimos um barulho,
parecia ser a campainha.
— Quem será? — perguntei curiosa.
— Não faço ideia. Não estou esperando ninguém.
Colocamos nossas roupas de volta rapidamente. Tony foi até a porta, fui atrás dele.
— Camila? — falou surpreso.
— Resolvi vir fazer uma visita — disse a mulher entrando na sala.
— Saia da minha casa agora mesmo — ordenou Tony.
— Essa é sua esposa? Foi por ela que você me trocou? — perguntou olhando para mim.
Não falei nada.
— Camila o que você quer?
— Acho que não levaram a sério o vídeo que enviei. Vocês não têm medo de eu postar na
internet e acabar com esse casamento falso? Ou nem tal falso assim. Estou sentindo cheiro de
comida. Eu interrompi alguma coisa? — falou Camila em um tom sarcástico.
— Você não tem nada a ver com isso. Agora vá embora — disse Tony, apontando para a
porta. Ele parecia estar perdendo a paciência.
— E como foi com Matt? Se divertiram juntos? Poderiam ter me chamado. Eu teria adorado
participar — disse ela sentando no sofá.
— Do que você está falando? — perguntei.
— Tony falou várias vezes que se fosse obrigado a se casar, iria tirar proveito da situação.
Na primeira noite de casado de vocês nós passamos juntos. Boa parte da noite fazendo sexo e
falando mal de você e desse contrato.
Senti um nó em minha garganta. Eu sabia da história de Matt, ele mesmo havia confessado,
mas falar mal pelas costas me pegou de surpresa.
— Simonetta, isso foi antes — Tony tentou argumentar.
Eu estava sem palavras. Não sabia o que falar.
— Você achava que ele estava gostando de você? — questionou Camila soltando uma
gargalhada.
Tony ficou furioso. Foi até ela e a levantou do sofá segurando seus braços com força.
— Você nunca mais verá o meu dinheiro.
— Será mesmo? Mary irá adorar ver esse vídeo.
Ele a arrastou pelo braço até a porta. Camila continuava debochada. Fazendo piada da
situação. Assim que ele fechou a porta, voltou sua atenção para mim.
— Simonetta, eu mudei meus pensamentos. Isso foi antes de conhecer você de verdade.
Não queria ouvir suas explicações. Apenas subi as escadas correndo e fui para meu quarto.
Deitei na cama e algumas lágrimas escorreram, mas tratei de seca-las.
Como eu pude ter sido enganada? Eles estavam o tempo inteiro rindo de mim, enquanto eu
achava que éramos amigos. Estava totalmente decepcionada com Tony, mesmo que tenha sido antes.
Ele achava o quê? Que a culpa era minha? Falar mal de mim enquanto transava com outra iria
ajudar em alguma coisa?
Capítulo 17

Acordei várias vezes durante a noite. Quando consegui pegar no sono, já era quase de manhã.
Para compensar um pouco, dormi até mais tarde. Assim que acordei peguei o celular, haviam três
chamadas perdidas de minha mãe. Meu coração parou. Minha mãe nunca me liga ligava naquele
horário. Será que teria acontecido alguma coisa com Lavínia? Liguei de volta no mesmo instante.
— Mãe, está tudo bem?
— Você já olhou a internet hoje?
— Não. — Lembrei na hora de Camila.
— Está circulando um vídeo de Tony com uma mulher, no dia de seu casamento.
— Ah, ela postou! — exclamei.
— Como assim ela? O que está acontecendo Simonetta? Você conhece essa mulher?
— Eu a conheço sim, mãe. Depois eu explico tudo. Vou dar uma olhada na internet.
— Tudo bem. Me ligue mais tarde.
— Até mais.
Corri para o meu notebook. Abri um site qualquer de fofoca e estava lá, bem na primeira
página
“Empresário Tony Bennett trai a esposa no dia do casamento.”
Entrei no Instagram e também estava lá, várias páginas falando sobre o assunto. As pessoas
começaram a comentar em minhas postagens. Minhas fotos costumavam ter cerca de dez comentários,
mas a última já estava com mais de cem. Algumas pessoas demonstrando apoio e sentindo dó de
mim, mas a grande maioria estava zoando. Meus seguidores também aumentaram absurdamente.
Todos estavam comentando. As mensagens privadas também não paravam de chegar. Fizeram várias
montagens e memes com o vídeo. Privei o meu perfil e os comentários, mas já era tarde demais. O
vídeo já tinha se espalhado.
Fiquei cerca de vinte minutos na internet. Olhava cada postagem, cada comentário maldoso.
Sentia meu corpo inteiro tremer, lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, sentia que faltava ar
para respirar. Eu estava arrasada. Nunca gostei da vida pública, sempre fui uma pessoa reservada,
mesmo saindo na mídia de vez em quando por conta da influência de meu pai. E agora isso. A culpa
era toda de Tony, ele não tinha nada que estar com Camila no casamento. Ele não podia ter deixado
esse vídeo vazar. Eu iria o confrontar.
Peguei um Uber e fui para a empresa, não teria paciência para o esperar em casa.
Cheguei rapidamente. A raiva estava tomando conta de meu corpo. Senti que até o motorista
de Uber estava me olhando estranho, com certeza já tinha assistido ao vídeo. Eu estava passando o
ridículo na frente de todos. Fui diretamente para o décimo nono andar, onde ficava seu escritório.
Avistei uma mulher perto da porta, provavelmente sua secretária, ela tentou falar alguma coisa, mas
eu a ignorei. Entrei bruscamente na sala de Tony. Ele estava em sua mesa.
— Simonetta! — Ele parecia surpreso ao me ver.
— O vídeo vazou. Está em todos os sites! — falei com a voz falhada.
— Eu vi. Fique calma. Vamos resolver isso. — Tony levantou da cadeira.
— Resolver como? Eu sou motivo de piada na internet! Todos estão zombando de mim —
falei alterando meu tom de voz.
— Fale baixo. Estamos no meu lugar de trabalho.
— Eu não vou falar baixo e não vou me acalmar. — Eu andava de um lado para o outro.
Minhas mãos estavam suadas.
— Já falei com o meu advogado.
— O estrago já está feito. Eu tive que bloquear o meu Instagram porque as pessoas estavam
fazendo comentários maldosos.
— Não se preocupe. Em pouco tempo ninguém mais irá lembrar disso.
Ele estava calmo. O que me deixava ainda mais irritada. Como ele conseguia manter a calma
em uma situação como aquela?
— A culpa é toda sua! Como você teve coragem de se envolver com uma mulher como essa?
E precisava mesmo encontrar com ela no dia do casamento? — Minha voz estava alterada. Eu estava
quase gritando. Com certeza as pessoas lá fora já tinham ouvido nossa discussão.
— Pare de gritar. Você está fora de si — disse alterando seu tom de voz pela primeira vez. —
Você fala que sou mimado, mas olhe só para você. Totalmente desequilibrada, só por conta de alguns
comentários na internet.
Não queria chorar na frente de Tony, mas não consegui controlar.
— Eu achei que você tinha mudado, mas você nunca irá mudar. Vai continuar sendo esse
irresponsável!
— Vá para casa. Falamos mais tarde — disse sentando em sua cadeira.
— Acha que as pessoas vão continuar acreditando nesse casamento de fachada? Sendo que o
noivo estava com outra no dia do casamento.
— Fale baixo!
— Me arrependo de ter aceitado esse casamento — falei descendo o olhar para o chão.
— Faço das suas as minhas palavras. Se eu soubesse que você seria uma louca
desequilibrada, nunca teria aceitado esse casamento!
Ficamos em silêncio. Só conseguia ouvir a minha própria respiração ofegante.
— Vou para a casa de minha mãe. Não vou voltar hoje. — Quando virei as costas para sair,
percebi que ele levantou de sua cadeira novamente.
— Pensei que ficaria do meu lado. Você viu exatamente o que Camila fez ontem. Achei que
enfrentaríamos isso juntos, mas você escolheu colocar toda a culpa em mim. — Ele fez uma pequena
pausa. — Lamento ter casado com você.
Saí de sua sala em direção ao elevador. Eu estava chorando quase sem controle. Assim que
saí do prédio fiquei aliviada por respirar ar fresco. As pessoas na rua passavam olhando, mas eu não
me importava, a única coisa que eu queria fazer era chorar.
Pedi um Uber e fui direto para a casa de minha mãe. Enviei uma mensagem dizendo que
estava a caminho. Assim que desci do carro eu a vi, ela estava esperando por mim na calçada.
Abracei ela e chorei.
— Venha. Vamos entrar.
Entramos na casa e Lavínia veio em minha direção.
— Fiquei calma. Você está em casa agora.
— Traga uma água para ela — falou minha mãe.
Eu não conseguia falar nada. Queria parar de chorar, mas não conseguia.
— Beba um pouco — falou Lavínia me entrando o copo de água.
Comecei a beber até a vontade de chorar diminuir.
— Está melhor? — questionou minha mãe.
— Um pouco melhor — falei ainda com a voz trêmula.
— Quer falar sobre isso?
Sentamos as três na sala e eu resumi toda a minha briga com Tony. Também falei sobre
Camila, sobre sua visita na noite anterior.
— Não acredito! A mulher que vimos no dia do casamento — comentou Lavínia.
— Faz anos que eles têm um relacionamento. Ele me contou sobre a história deles na nossa
primeira noite de casados. Eu não me importava com ela. Ele saía algumas noites, e estava tudo bem.
— Eu não fui com a cara dela desde o dia do casamento. Ela causou uma briga entre Mary e
Tony — falou Lavínia.
— E o que exatamente fez ela surtar? — perguntou minha mãe.
— Pelo que eu entendi, dinheiro. Tony sempre dava tudo que ela queria, a ajudava
financeiramente. Parece que de uns tempos para cá, ele se afastou um pouco dela. Então ela resolveu
usar o vídeo.
— Por sua causa, claro. — falou Lavínia.
— Eu não tenho nada a ver com isso.
— Claro que tem. Vocês estavam ótimos amigo. Falou que jantavam juntos quase todas as
noites e depois assistiam televisão até tarde. Ele começou a passar mais tempo com você do que com
ela. Foi isso — disse Lavínia.
— Pode até ser, mas eu não pedi por isso. Nossa amizade foi crescendo a cada dia.
Minha mãe e Lavínia insistiam em falar que eu e Tony tínhamos alguma coisa. Eu falava que
era apenas uma relação de amizade. Era...
— O que acha de saímos para almoçar? Você precisa se distrair — falou minha mãe.
— Não. Prefiro ficar aqui. O vídeo está em todos os cantos da internet. Com certeza alguém
irá me reconhecer.
— E que tal pedirmos? — sugeriu Lavínia.
— Ótima ideia — concordei.
Escolhemos hambúrguer com batata frita. Lavínia disse que estava pensando em batatas fritas
há dias, mas que estava evitando alimentos muito gordurosos por causa do bebê.
Fizemos nosso pedido em um aplicativo de comida. Para acompanhar fizemos um suco de
laranja natural enquanto esperávamos. A comida chegou sem demora.
— Esse hambúrguer é maravilhoso — comentou Lavínia entre uma mordida e outra.
— Concordo. Eu nem estou grávida e estava com desejo de comer esse hambúrguer —
brincou minha mãe.
Depois do almoço Lavínia foi descansar um pouco. Sua barriga estava crescendo cada vez
mais. A garota ficava cansada com facilidade.
Minha mãe e eu decidimos relaxar na sala de televisão.
— Não quero voltar para a casa de Tony — falei sentando no enorme sofá.
— Eu acho que vocês devem conversar — disse minha mãe.
— Não tem conversa. Ele me falou coisas horríveis. Disse que eu era louca e desequilibrada.
Sem falar na chacota que me fez passar na internet. Estou tão envergonhada.
— Isso logo vai passar. Enquanto isso, estamos aqui com você.
— Não sei o que faria sem vocês — falei a abraçando forte.
— Vai ficar tudo bem.
— Eu prefiro ficar aqui essa noite. Amanhã eu volto para a casa de Tony.
Eu não sabia se esse casamento ainda teria futuro. Não sei se as pessoas acreditariam que eu
perdoei uma traição no dia do casamento. Iria conversar com Leonardo e pedi sua opinião, mas eu
hoje eu só queria esquecer e descansar.
Capítulo 18

As semanas foram passando lentamente. Aos poucos as pessoas começaram a esquecer do


vídeo. Meu Instagram ainda estava privado. De vez em quando eu ainda recebia um ou outro
comentário maldoso, mas eu sempre ignorava. Eu e Tony quase não estávamos nos falando. Confesso
que fiquei esperando um pedido de desculpas, ele me falou coisas horríveis. Para mim a amizade
havia acabado. Agora era só esperar o tempo que ainda restava de contrato para nos separarmos e eu
voltar para casa. Eu contava os meses para isso acontecer.
Passava a maioria das tardes na casa de minha mãe. A barriga de Lavínia estava grande, eu
fazia companhia para ela e minha mãe.
— O parto está se aproximando e eu não consigo decidir o nome do bebê — reclamou
Lavínia — O que você acha, Simonetta? Rafael ou Miguel? Me ajude.
— Eu já falei centenas de vezes, os dois são lindos, mas quem tem que escolher é você.
— Não consigo escolher. Que dúvida.
— Se é para lembrar um nome renascentista, acho que Rafael — falei.
— Mas o Miguel foi um grande poeta. Quem nunca ouviu falar em Dom Quixote? Acho que
Rafael é mais impactante por conta das tartarugas ninjas.
— Também acho — falei soltando uma pequena risada.
Lavínia queria seguir a tradição de nossa mãe e colocar um nome renascentista em seu filho,
assim como os nossos, e de Leonardo, que foi inspirado em Leonardo da Vinci.
Estávamos passando uma tarde agradável. O calor já não estava tão forte, mostrando que o
outono se aproximava. Eu adorava esse clima um pouco mais fresco.
Lavínia estava sentada em um banco no jardim quando começou a sentir dores.
— Você está bem? — perguntei.
Ela respirou fundo.
— Eu estou bem, foi só uma dorzinha.
Voltei a falar sobre as folhas que estavam caindo, mas ela fez mais uma careta.
— Lavínia! Você não está bem! O que está acontecendo?
Minha irmã colocou a mão sobre a barriga.
— Acho que vai nascer! Preciso ir para o hospital — falou com uma expressão de dor.
— Não pode ser. Ainda não está na hora — falei apavorada.
— Então tem alguma coisa errada.
— Fique calma. Vou chamar a mãe.
— Vai rápido!
Corri o mais depressa que pude para dentro de casa.
— Mãe! A Lavínia está com dor. Precisamos ir para o hospital agora.
— Pegue as chaves!
Ajudei Lavínia a caminhar até o carro. Fui atrás com ela. Eu estava quase passando mal de
tão nervosa, mas consegui não demonstrar.
— Rápido mãe, por favor — falou Lavínia com a voz fraca.
— Fique calma. Estamos quase chegando — disse segurando sua mão.
O caminho foi curto, mas pareceu ser uma eternidade. Entramos no hospital dizendo que
precisávamos de atendimento urgente.
Lavínia foi levada para dentro. Falaram que poderia entrar apenas uma pessoa nesse
momento para explicar o que estava acontecendo. Fiquei na sala de espera. Eu estava totalmente
desnorteada. Não sabia ao certo o que estava acontecendo. Era algo grave? Era teria o bebê antes do
tempo?
Sentei em uma cadeira, coloquei as mãos no rosto e chorei. Era desesperador não saber o que
estava acontecendo. Eu sempre pensei que o parto de Lavínia seria natural e tranquilo na medida do
possível. Isso se o parto realmente fosse acontecer agora.
Depois de me acalmar, liguei para Leonardo para contar o ocorrido. Ele disse que sairia da
empresa e viria nos encontrar no hospital.
Os minutos pareciam não passar. Eu não sabia o que estava acontecendo lá dentro. Respirei
um pouco mais aliviada quando vi Leonardo chegar.
— Simonetta, o que está acontecendo? — perguntou afobado.
— Eu não sei. Ela sentiu dores em casa. Viemos correndo para cá e não tive mais notícias.
Nenhum médico apareceu até agora.
Ficamos na sala de espera. Não tenho certeza que quando tempo passou, mas para mim
pareceu muito. Até que vi um médico vindo em nossa direção.
— São parentes da Lavínia?
— Sim, é nossa irmã. O que está acontecendo? — perguntei nervosa.
— Uma doença chamada pré-eclampsia. Vamos ter que antecipar o parto. Ela está sendo
preparada para uma cesariana.
— É muito grave? Como ela está? E o bebê? — questionou Leonardo.
— É grave, mas ela está bem agora, porém, seria arriscado para ela e o bebê prosseguir com
a gestação.
— Eu quero vê-la — falei.
— Agora não será possível — falou o médico.
— E minha mãe? — perguntou Leonardo.
— Irá assistir ao parto. Assim que possível eu trago notícias.
Leonardo me abraçou e ficamos ali, esperando.
Eu estava muito preocupada com o bebê, nasceria prematuro. Enquanto esperávamos, a única
coisa que conseguíamos fazer eram rezar pela vida de Lavínia e de meu sobrinho.
— Vou comprar um café. Quer um? — perguntou Leonardo.
— Quero sim. Quem sabe ajuda a me acalmar.
— Volto logo.
Eu estava tão ansiosa. Cada pessoas que passava eu pensava ser o médico com notícias.
Assim que Leonardo chegou com o café, eu avistei o médico, o mesmo que tinha falado
conosco anteriormente.
— Então doutor? — perguntei com a voz falhada. Estava com medo do que poderia ouvir.
— Nasceu! Mãe e filho passam bem.
Respirei aliviada.
— Nós podemos vê-los? Quando irão para casa?
— Fiquem calmos. O bebê é prematuro. Precisará ficar aqui até ganhar peso o suficiente.
Talvez Lavínia também precise ficar um pouco mais, para se recuperar completamente. Logo poderão
vê-la.
Eu queria perguntar exatamente o que aconteceu, mas não consegui. Estava tão feliz e
empolgada que deixei para mais tarde. Eu e Leonardo nos abraçamos e sorrimos. Sabíamos que iria
ficar tudo bem.
— Nem trouxemos a mala do bebê. Não pensamos que já iria nascer — falei lembrando que
saímos de casa correndo.
— Tudo bem. Eu vou buscar.
Fiquei andando de um lado para o outro. A noite já estava alta. Estávamos ali há horas. De
repente, minha mãe apareceu.
— Mãe, como ela está?
— Ela está bem. O parto foi emocionante.
— E o bebê?
— Ele está fraco, mas está bem na medida do possível.
Apesar de ter sido uma situação angustiante, eu estava feliz. Finalmente iria conhecer meu
sobrinho.
Enviei uma mensagem para Tony. Disse que estava no hospital e que Lavinia havia dado à luz.
Também falei que ficaria uns dias na casa de minha mãe, para fazer companhia e ajudar no que fosse
necessário. Ele respondeu, desejou melhores e pediu que o mante-se informado.

[...]
Lavínia estava um pouco pálida e parecia abatida, mas estava bem. Fiquei aliviada em vê-la.
— E afinal? Qual será o nome? — perguntei segurando sua mão.
— Rafael. Eu ainda tinha dúvidas, mas quando o vi pela primeira vez, tive certeza.
— É um lindo nome.
— Não vejo a hora de irmos para casa — falou.
— Logo vocês dois estarão em casa. Agora você precisa descansar.
Depois de ver Lavínia era hora de conhecer Rafael. Eu sabia que ele estaria na incubadora,
tentei me preparar psicologicamente para isso.
Fiquei impressionada assim que o vi, ele era tão pequeno. Estava ligado há alguns fios. Não
consegui conter a emoção e uma lágrima acabou caindo. Eu estava triste de o ver naquela situação,
mas ao mesmo tempo feliz, pois sabia que logo ele iria para casa. Como disse o médico, era só até
ele ganhar o peso necessário.

[...]
Depois de cinco dias, Lavínia finalmente teve alta. Ela precisou ficar um pouco a mais no
hospital para se recuperar completamente. Rafael ainda estava no hospital, mas estava melhor a cada
dia, em pouco tempo estaria em casa conosco.
— Estou tão cansada — comentou minha mãe sentando no sofá.
— Vá dormir. Vou ficar acordada mais um pouco caso Lavínia precise de alguma coisa.
— Você tem razão. Vou aproveitar para descansar, logo Rafael estará aqui e não vou querer
desgrudar do meu neto um só segundo.
— Eu vou logo em seguida.
Ela ficou seria por alguns instantes, parecia estar procurando as palavras certas.
— E como você e Tony estão?
— Na mesma ainda. Desde que o vídeo vazou, nós mal estamos nos falando, apenas o
essencial.
— E como você está lidando com isso? Antes, quando vocês estavam se dando bem, você
parecia mais animada.
— É que fica um clima tenso. Eu gostava da amizade dele. Nos divertíamos juntos.
— Amizade? Só isso? — perguntou minha mãe com um sorriso sarcástico.
— Tudo bem. Eu confesso. — Respirei fundo. — Talvez eu goste um pouco dele.
— Isso eu sempre soube. Se você gosta, vá atrás dele. Tente conversar e resolver a situação.
— Não! Eu não esqueci tudo que ele me fez passar na internet. E depois ainda me chamou de
desequilibrada por estar chateada com a situação. Ele é quem deve vir falar comigo. Ele precisa vir
me pedir desculpas. Do contrário, não voltarei a falar com ele.
— Esse orgulho está acabando com a relação dos dois, pois para mim também é nítido que
ele gosta de você.
— Não temos relação nenhuma. Ele mesmo disse isso.
Minha mãe foi dormir. Fiquei na sala, olhando para o teto e refletindo. Nesse tempo que
ficamos brigados, eu sentia sua falta. Lembrei das nossas sessões de filmes e séries juntos, da noite
em que ele deixou de sair para me fazer companhia, pois eu estava com medo da tempestade, do
restaurante mexicano e da noite na praia, lembrei até do evento que fomos, onde estávamos fingindo
estar felizes, porém percebi que ali eu já não estava mais fingindo. Eu gostava da companhia dele, e
sentia falta disso.

[...]
Rafael viria para casa em alguns dias, sua alta já estava marcada. Estávamos todos radiantes
com a sua chegada.
Eu sabia que já estava na hora de voltar para a casa de Tony. Durante esse tempo nos falamos
pouquíssimas vezes por mensagens. Eu o mantinha informado da situação.
Peguei um Uber e voltei para a casa dele. Cheguei no meio da tarde, ele ainda não estava em
casa. Fui direto para meu quarto.
Depois de algumas horas, meu estômago reclamava de fome. Iria descer para jantar, não
importava se Tony estava na cozinha ou não. Durante todo o tempo em que estávamos brigados, eu
evitava sua presença, ficava tentando ouvir os barulhos, para descer quando ele não estivesse, mas
agora eu estava cansada dessa situação.
Desci até à cozinha e peguei um prato pronto congelado. Era só aquecer no micro-ondas.
Enquanto comia fiquei lembrando o que minha mãe havia me dito.
Será que Tony tinha sentimentos por mim? E se tinha, por que não vinha me pedir desculpas e
falar comigo?
Olhei para a cozinha e lembrei da última noite que havia passando na casa de Tony. Foi
quando Camila apareceu. Um pouco antes disso, estávamos lá, cozinhando sem preocupações. Eu
sentia falta disso. Sentia falta de Tony e precisava admitir isso para mim mesma.
Terminei de jantar e saí da cozinha em direção ao meu quarto. Quando estava prestes a subir
as escadas, vi Tony no topo.
— Simonetta, como está sua irmã e o bebê?
— Estão ótimos. O bebê irá para a casa em poucos dias.
— Fico feliz em saber. Se você puder ligue para minha mãe. Ela me liga todos os dias, ficou
muito preocupada. Ela quer fazer uma visita assim que o bebê ir para casa.
— Tudo bem. Vou ligar — falei
— Boa noite — disse ele voltando para seu quarto.
— Boa noite.
Entrei no quarto e liguei para Mary. Me senti um pouco culpada por não ter ligado antes.
Sabia que ela estava preocupada, e apesar de sempre mandar notícias por Tony, eu sabia que ele
queria falar diretamente comigo.
Combinamos que ela iria visitar Rafael assim que ele fosse para casa. Ela disse que viria até
aqui para irmos juntos, dando a entender que Tony também iria.
Capítulo 19

Finalmente Rafael foi para casa e Lavínia estava totalmente recuperada.


Estava esperando por Mary, ela passaria aqui para irmos visitar o bebê. Tony viria conosco.
Quando Mary chegou, Tony ainda estava no banho. Ficamos esperando na sala.
— Como está Gwen? Faz tempo que não a vejo.
— Está ótima! Ela tinha um compromisso hoje, mas disse que virá na próxima visita para
conhecer o bebê.
— Estou pronto. Podemos ir — disse Tony.
Entramos no carro e seguimos. Durante a viagem Mary e Tony falavam sobre as novidades da
empresa, pelo que percebi os negócios estavam indo bem.
Assim que chegamos minha mãe nos recebeu. Logo Lavínia apareceu com Rafael em seu colo.
Era bom vê-lo em casa. Leonardo também estava presente. Nesses últimos dias ele saia da empresa
de ia direto ver Lavínia e o sobrinho.
— Eu posso pega-lo? — perguntou Mary.
— Claro.
Mary segurou Rafael com delicadeza. Era visível que ela tinha ficado emocionada ao
conhece-lo.
Minha mãe e Mary conversavam como se fossem velhas amigas. Tony estava um pouco
deslocado no começo, mas logo começou a interagir.
Minha mãe os convidou para jantar, mas eles recusaram.
Depois de um tempo, Lavínia começou a ficar cansada. A garota não estava acostumada com
a rotina de ter um recém-nascido em casa.
— Lavínia, deite um pouco e descanse. Pode deixar que cuidamos de Rafael — disse minha
mãe.
— Não se incomode com a gente — falou Mary.
A garota aceitou, disse que deitaria um pouco.
Rafael era muito calmo, quase não chorava. Ficava bastante tempo no carrinho sem reclamar.
— Eu já quero ver essa casa cheia de crianças iguaizinhos aos meus filhos! O próximo a me
dar um neto deve ser o Leonardo — falou minha mãe sorrindo.
Ele não disse nada, apenas sorriu em resposta. Eu sabia que ele havia ficado desconfortável.
Provavelmente ainda não tinha assumido sua homossexualidade.
— Que tal um suco para refrescar? O calor está horrível hoje — disse minha mãe.
— Seria ótimo. Odeio esse calor fora de época. Já estamos no outono, já deveria estar mais
fresco — comentou Mary.
Leonardo se ofereceu para buscar. Eu sabia que ele queria apenas sair daquela situação tensa
sobre filhos.
— Eu ajudo — falei levantando do sofá.
— Ótimo.
Questionei assim que chegamos na cozinha:
— Você ainda não contou?
— Eu vou contar. Já comecei várias vezes, mas perdi a coragem.
— Quanto mais tempo demorar, pior vai ficar.
— Pensei em contar hoje, mais tarde. Eu conheci alguém.
— Como assim? Você está namorando — questionei.
— Não exatamente, mas quase. Ele é maravilhoso — falou Leonardo com um sorriso nos
lábios. Com certeza estava apaixonado.
— Você não precisa ficar se escondendo. Tenho certeza de que todos irão entender.
— Eu sei. Estou decidido. Contarei hoje quando vocês forem embora.
— Ótimo. Me envie uma mensagem me dizendo como foi.
Ele concordou. Pegamos os copos e o suco e voltamos para a sala.
Depois de algum tempo Rafael acabou adormecendo no carrinho. Decidi levá-lo para outro
cômodo para não ser acordado. Do lado da sala de estar havia um antigo escritório, agora era mais
uma futura sala de brinquedos, com um berço, carrinhos de bebê e mais algumas coisas de Rafael.
Assim que o coloquei no berço ele acordou. O peguei novamente e o fiz dormir em meus braços.
Enquanto estava com ele no colo comecei a refletir.
Eu tinha o sonho de ser mãe. Sempre quis casar e ter filhos. Fiquei me imaginando tendo os
meus próprios filhos, porém uma voz me despertou de meus pensamentos.
— Simonetta? — falou Tony em um quase sussurro.
— O quê?
— Já estamos indo embora.
— Tudo bem. Vou colocá-lo no berço.
Consegui deixa-lo sem o acordar dessa vez. Por alguns instantes eu e Tony ficamos
observando Rafael dormir.
— Ele é lindo — comentou Tony.
— Ele é, né? Estou tão apaixonada. Já sinto sua falta ao ter que ir embora.
— Amanhã você estará de volta.
Olhei para Tony e o encarei.
— Você pensa em ter filhos algum dia? — questionei.
— Um dia. Acho que ainda não é o momento certo, mas se acontecesse, eu ficaria muito feliz.
Fiquei surpresa com sua resposta. Eu imaginei que ele dissesse que nunca iria ter filhos,
assim como disse que nunca ficaria preso a uma mulher só.
Chegamos em casa e fui direto para meu quarto, sem muita conversa, exatamente como
estávamos fazendo nesses últimos tempos.
Comecei a ler um livro enquanto esperava a mensagem de Leonardo. Estava curiosa para
saber como havia sido a conversa. Olhava o celular de minuto em minuto. De repente, vi uma
notificação na barra. Era ele.
“Contei tudo. A mãe ficou ao meu lado e me deu apoio. Estou tão aliviado.”
Sorri ao ler sua mensagem.
Respondi na mesma hora, dizendo que estava feliz por ele ter finalmente contado. Leonardo
disse que a mãe sugeriu um jantar para conhecer seu “quase namorado”. Respondi que iria. Estava
curiosa para conhece-lo.

[...]
Leonardo estava um pouco nervoso com o jantar. Me enviou várias mensagens durante o dia.
Seu receio era que não gostássemos de Liam.
Tomei um banho demorado e relaxante. Primeiramente pensei em usar uma roupa básica e
confortável, porém mudei de ideia. Eu quase não saia de casa. Resolvi aproveitar a oportunidade
para me arrumar.
Escolhi um vestido preto, era simples, porém elegante. Era justo e marcava bem o meu corpo,
exatamente do jeito que eu gostava. Para a maquiagem escolhi marrom e preto para os olhos.
Finalizei com um batom marrom claro. Olhei meu reflexo no espelho mais uma vez antes de sair.
Estava satisfeita com o resultado.
Desci as escadas e Tony estava na sala. Pretendia passar reto, pois já tinha comentado que
iria nesse jantar.
— Você está incrível — comentou assim que me viu.
— Obrigada.
Ele ficou parado, olhando para mim. Em algum momento pareceu mexer os lábios, pensei que
fosse falar alguma coisa.
— Boa noite e divirta-se — falou, por fim.
— Obrigada. Boa noite para você também.
Saí de casa e chamei um Uber.
Será que realmente era isso que ele queria falar? Provavelmente eu nunca saberia.
Cheguei um pouco antes do horário. Leonardo e Liam ainda não estavam lá. Lavínia e Rafael
estavam descansando enquanto minha mãe deixava tudo pronto para o jantar.
— E qual foi sua reação quando ele contou? — perguntei enquanto arrumávamos a mesa do
jantar.
— Não fiquei surpresa. Acho que no fundo eu sempre soube.
— Uma pena ele ter guardado esse segredo por tanto tempo — falei.
— Foi exatamente o que eu disse para ele, podia ter nos contado logo.
Ouvimos um barulho de carro. Espiei pela janela e vi o carro de Leonardo.
Fomos até à sala. Leonardo entrou sorridente. Junto com ele um homem alto, loiro e muito
bonito.
— Esse é Liam — apresentou.
— Muito prazer — falei apertando sua mão.
Ele parecia ser muito simpático.
Fui até o quarto de Lavínia para avisar que o jantar estava pronto. Rafael estava ganhando
peso e saudável. Eu ficava feliz em vê-lo assim, depois de tudo que ele havia passado.
Começamos a comer e conversar
— Com o que você trabalha? — perguntou minha mãe.
— Sou cozinheiro. Pretendo virar o cozinheiro chefe, nas próximas semanas a vaga ficará em
aberto, mas minha meta mesmo é ter o meu próprio restaurante — falou bebendo um gole de suco de
uva.
— A comida dele é maravilhosa! Vocês precisam experimentar — falou Leonardo.
— Eu adoraria provar — disse minha mãe.
— Será um prazer cozinhar para vocês. Gosto muito de massas em geral. Pizzas, lasanhas, e
pães são minhas especialidades.
— Sou louca por pizza — comentou Lavínia.
Tive uma ótima impressão de Liam. Ele contou que começou a cozinhar desde cedo com sua
mãe. Trabalhava há dois anos nesse restaurante e começou a fazer faculdade de culinária há pouco
tempo. Leonardo parecia feliz e completo ao seu lado. Eu torcia para que desse certo.
Capítulo 20

Acordei e chequei o celular, como de costume. Havia uma mensagem de Débora, uma das
minhas melhores amigas. Eu não a via desde um pouco antes do casamento. Ainda assim nos
falávamos de vez em quando.
“Você viu essas fotos que estão circulando na internet?”
Parecia ser uma foto de Tony com uma mulher, mas não consegui ver com clareza. Abri o
Google e digitei Tony Bennett. Estava lá. As notícias eram de agora de manhã, talvez uma ou duas
horas atrás.
“Tony Bennett é visto aos beijos com morena em festa.”
Eu não podia acreditar no que estava lendo! Agora que as pessoas tinham esquecido o vídeo
do casamento, ele havia feito novamente!
Minhas bochechas já estavam vermelhas de raiva. Eu não iria aguentar passar por tudo
novamente. A única coisa que ele precisava fazer era não ser visto com outras pessoas.
Fui até seu quarto furiosa. Era domingo, provavelmente ele estaria dormindo, mas eu não me
importava. Queria o confrontar. O quarto estava vazio. Ele deveria estar no andar de baixo. Enquanto
descia as escadas, senti cheiro de café vindo da cozinha. Era lá que ele estava.
— Bom dia. Está tudo bem? — perguntou assim que me viu enquanto preparava a bebida
quente.
— O que é isso? — perguntei mostrando o celular para ele. Minha voz estava alterada.
— Me fotografaram ontem? — Ele parecia um pouco confuso.
— Agora todos vão começar a me zoar de novo! Será que você não tem noção? Precisa sair
beijando as pessoas em público?
— Era uma festa pequena. Não imaginei que tivesse imprensa ou fotógrafos. E essa mulher eu
nem sei quem é. Ela estava na festa. Nem lembro o nome dela — disse enquanto sentava na bancada
com uma xícara de café.
— Isso não importa. O que importa é que vou virar chacota na internet mais uma vez!
— Fique calma e beba um café. Já esqueceram uma vez. Logo vão esquecer de novo. Está
tudo bem.
— Não! Não está tudo bem. Eu já estou cansada disso. Será que você não consegue passar
um final de semana sem ir em festas? Ou pelo menos tomar cuidado? — Eu estava nervosa. Minhas
mãos estavam suando. Comecei a dar passos sem rumo pela cozinha.
— Você sabe que eu gosto de festas. Nunca escondi isso de você. E quanto as fotos, não foi
culpa minha. Nunca imaginaria que tivesse fotógrafos lá — falou enquanto dava uma mordida em sua
torrada.
— Eu não acredito que você está tão calmo assim!
— O que mais você quer? As fotos já estão na rede, tarde demais. Se é um pedido de
desculpas que você quer, então me desculpe, tomarei mais cuidado da próxima vez. Agora por favor,
me deixe comer. Você está acabando com a minha paciência — falou bebendo um gole em sua xícara.
— Eu estou acabando com a sua paciência? — perguntei irônica. — Eu não aguento mais
você e esse contrato de merda. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria aceitado esse casamento.
Preferia mil vezes estar falida do que ter de conviver com você.
Tony levantou da bancada. Vi que seu rosto estava ficando vermelho.
— Quem não aguenta mais esse contrato sou eu! Por mim esse casamento acaba aqui. Meu pai
está morto. Não vejo motivos para continuar com essa farsa — disse alterando seu tom de voz.
— Ótimo! Me avise quando tomar as providências.
Saí da cozinha em direção ao meu quarto. Eu não ficaria mais nem um minuto naquela casa.
Iria pegar algumas coisas e ir para a casa da minha mãe. Não aguentava mais ter que conviver com
Tony. Eu estava quase no topo da escada quando ouvi Tony gritar:
— Mas bem que você estava tirando vantagens disso, né? A empresa de sua família se
reergueu, estão vendendo como nunca, sua irmã teve o bebê no melhor hospital da cidade, e tudo isso
graças a mim e a influência do nome Bennett.
— Não fiz isso por mim, é sim por minha família. E paguei um preço muito alto. Tive que
aguentar a sua presença por meses.
Tony deu alguns passos na escada. Vindo em minha direção.
— Sai da minha casa agora! — Senti a raiva em sua voz.
— Será um prazer nunca mais ter que olhar para sua cara!
Não esperei resposta. Fui para meu quarto e fechei a porta. Eu estava fervendo de raiva.
Comecei a chorar enquanto procurava uma mala para colocar algumas roupas. Eu nunca mais
pretendia voltar.
Depois de encher uma pequena mala, sentei na cama e tentei me acalmar. Eu não queria pegar
um Uber e chegar na minha mãe naquele estado. Respirei fundo e sequei as lágrimas. Abri um pouco
a porta do quarto para saber se Tony estava por perto. Eu não queria ter que encontrar com ele
novamente.
Saí da casa rapidamente sem olhar para trás. Assim que fui para a calçada pedi um Uber.
Respirei aliviada por estar fora daquela casa. A partir de agora, Tony não faria mais parte da minha
vida.
Quando cheguei na casa de minha mãe já estava mais calma.
— O casamento acabou. Não quero vê-lo novamente — falei ainda com algumas lágrimas nos
olhos.
— Mas e o contrato? Não teremos que pagar uma multa gigantesca? — perguntou minha mãe.
— Acho que não se ele também quiser terminar o casamento. Vou falar com Leonardo mais
tarde. Ver o que ele me diz sobre essa quebra de contrato.
Enviei uma mensagem para Leonardo, dizendo para ele vir direto para cá depois do trabalho,
ele respondeu que viria. Estava curiosa para saber sua opinião. Agora que a raiva do momento
estava passando, senti um certo receio pela empresa. Será que eu havia colocado tudo a perder?
Aproveitei para passar o dia todo com Rafael, ele estava crescendo tão rápido. Estar com
meu sobrinho me fazia esquecer um pouco dos problemas.
Assim que Leonardo chegou fomos para meu antigo quarto, que agora seria o meu quarto
novamente.
Resumi tudo que havia acontecido. Ele ficou um pouco surpreso.
— Acho que se as duas partes querem romper, não há multa por quebra de contrato, mas vou
me informar melhor. Amanhã mesmo falo com o nosso advogado.
— Obrigada. Faça isso o quanto antes, por favor.
— Você tem certeza que não consegue mais um pouco? Esse casamento foi ótimo para a
empresa. Ter a nossa marca associada aos Bennetts foi a melhor coisa que poderíamos ter feito.
— Tony é insuportável! Nossa convivência é impossível.
— Tudo bem. Se é assim, vou tentar resolver.
Depois que Leonardo saiu, deitei na cama e fiquei pensando em toda a situação. Na hora eu
fiquei furiosa, mas agora já estava mais calma. O que restava era a mágoa. Mesmo se Tony pedisse
desculpas, não sei se seria capaz de o perdoar.
Capítulo 21

Acordei olhando para todos os lados. Depois de meses na casa de Tony, era estranho estar em
meu quarto novamente. Apesar de tudo, eu já estava acostumada com sua casa.
Pensei em fazer algo diferente. Queria aproveitar o tempo com minha mãe e minha irmã.
— O que acha de sairmos um pouco? Quem tal uma volta no shopping? — perguntei enquanto
tomávamos o café da manhã.
— Eu acho uma ótima ideia. Rafael está crescendo muito rápido. Precisa de roupas novas —
falou Lavínia terminando de comer os ovos que estavam em seu prato.
— Então está decidido. Vamos fazer compras, todas juntas — disse minha mãe animada.
Vesti uma roupa bem confortável, e para finalizar, tênis e um casaquinho leve, já que o clima
estava fresco.
Chegamos no shopping direto para uma loja de roupas de bebês. A variedade era enorme.
Lavínia queria levar tudo, e pelo que minha mãe falou, tínhamos condições para isso, claro que
graças aos Bennetts, mas essa parte eu queria esquecer.
Depois das compras de Rafael, decidimos escolher algumas coisas para nós mesmas. Escolhi
uma jaqueta de couro sintético na cor vinho para os dias mais frios que estavam se aproximando.
Também comprei uma bota cano baixo de salto fino e um vestido de mangas longas.
Fazia tempo que não fazíamos compras, na verdade, acho que nas últimas compras de roupas
o meu pai ainda estava vivo. Tanta coisa mudou desde então.
Rafael acompanhou todo o passeio, ele parecia não se importar de estar para lá e para cá.
Quase não chorou, a não ser quando estava com fome.
— Essas compras me deixaram faminta — comentou Lavínia assim que saímos da loja.
Olhei para minha irmã com um olhar sugestivo. Minha mãe percebeu.
— Querem lanchar, né? — perguntou a mais velha.
— Claro que sim — respondi.
Fomos até à praça de alimentação. O cheiro de comida estava me abrindo o apetite.
Depois de algumas horas no shopping era hora de finalizar o passeio e voltar para a casa.
— Devemos fazer isso mais vezes. É bom ficar em família — disse minha mãe assim que
entramos no carro.
— Eu acho que podemos fazer compras no mínimo uma vez por mês — disse Lavínia
empolgada.
— Tenho que concordar — falei.
Seguimos nosso caminho de volta para a casa. Quando estávamos entrando na garagem, tive a
impressão de ter visto um vulto perto da porta de entrada.
— Tem alguém ali? — perguntou minha mãe assustada.
Olhei para a porta e não acreditei no que vi.
— É o Tony! — falei chocada.
— O será que ele quer? — perguntou Lavínia.
— Não sei, mas já vou descobri.
Desci do carro e fui até ele. Minha mãe e Lavínia vieram atrás de mim.
— O que você quer? — perguntei assim que me aproximei.
— Eu não acredito que você está falando com advogados. Pensei que fosse só mais uma briga
boba.
Assim que Tony começou a falar, minha mãe e minha irmã entraram na casa. Nos deixando
sozinhos.
— Não é só uma briga. É o fim do nosso contrato — falei tentando me controlar. Não queria
fazer escândalos na porta de casa.
— Venha. Vamos voltar para a casa e acabar logo com isso.
— Não! Eu não vou voltar. Você me expulsou de lá, lembra?
— Você estava acabando com a minha paciência, assim como está fazendo agora. Avise sua
mãe e vamos embora.
— Eu já disse que não vou. Logo meu advogado entrará com o pedido de divórcio oficial.
Agora, por favor, não me procure mais.
Entrei na casa e bati a porta na sua cara, porém, pude ouvir a sua resposta.
— Como quiser.
Entrei em casa bufando.
— Da para acreditar nesse homem? Me expulsa de casa e agora aparece aqui com essa cara
de pau me pedindo para voltar!
— E porque você não voltou? Achei que estava gostando dele? — perguntou minha mãe.
— Como assim gosta? O que está acontecendo aqui? — questionou Lavínia.
— Eu pensei que estivesse gostando dele — falei sentando no sofá. — Achei que ele estava
mudando, mas me enganei. Ele nunca vai mudar. Será sempre esse imaturo, que acha que pode ter
tudo na hora que quer.
— E rolou alguma coisa entre vocês? Ele sente o mesmo?
— Se sente ele não demonstra muito. Nós transamos alguma vezes.
— O que? — falou Lavínia alterando o tom de voz. — E vocês estavam escondendo isso de
mim? — Eu achava que tinha sido apenas uma vez.
— Eu não queria contar. Queria esperar para ver se íamos nos entender.
— Mas vocês ainda podem se entender.
— Acho que não. — Respirei fundo, desviando meu olhar para a janela.
— É bem provável que ele só veio pedir para eu voltar porque Mary deve ter o alertado. Eu
teria voltado se ele tivesse se desculpado, se eu soubesse que ele realmente quer minha companhia,
mas não é o caso.
— Quem sabe ele tem dificuldade em expressar os seus sentimentos.
— Claro que não. Ele fica com todas as mulheres. Nunca pareceu ter nenhum problema com
isso. Ele quer apenas a parceria, o contrato de volta, e quem sabe se divertir comigo de vez em
quando, é só isso.
— Eu não tenho certeza. Acho que vocês deveriam conversar claramente sobre isso. Tenho a
sensação de que ele também gosta de você.
— Lavínia, eu não quero mais falar sobre isso. Essa é a minha decisão e está acabado.
— Tudo bem. — Ela concordou.
Fui para meu quarto. Queria ficar sozinha e pensar.
Fiquei refletindo no que Lavínia havia falando. Será que deveríamos falar abertamente?
Uma coisa era certa, eu não iria trás dele. Ele errou quando me expulsou de casa daquela
forma, e nem desculpas pediu.
[...]
Quando entrei na cozinha para jantar dei falta de minha irmã.
— Onde está Lavínia? Está tudo bem com Rafael? — perguntei preocupada.
— Sim, está tudo bem. Ele saiu, mas volta logo.
— Saiu e deixou o bebê? Ele nunca fez isso. Onde ela foi?
— Não sei. Ela não me disse.
— Mãe, a senhora é uma péssima mentirosa — falei com um leve sorriso.
— É coisa dela.
— Como assim coisa dela? Ela não tem segredos para mim.
— Pergunte para ela quando chegar. Ela só avisou que sairia e estaria de volta sem demora.
Aquilo era muito estranho. Minha irmã nunca sairia assim do nada. Será que ela havia ficado
chateada porque eu não contei que estava me entendendo com Tony? Seja o que fosse, minha mãe
sabia exatamente o que estava acontecendo.
Capítulo 22

Saí da casa de Tony praticamente correndo. Havia trazido apenas uma pequena mala.
Precisaria ir até lá para buscar minhas coisas, mas voltar na sua casa era a última coisa que eu
queria.
Os nossos advogados estavam trabalhando no divórcio. Logo seria finalizado.
— Vamos até à casa de Tony comigo? Não me sinto confortável em ir sozinha — falei para
minha mãe, entrando na sala.
— Desculpe. Não posso deixar Lavínia sozinha nem por um minuto. Rafael está muito
agitado, acho que ainda está com cólicas.
— Tudo bem. Eu volto logo.
Enviei uma mensagem para Tony avisando que estava a caminho. Era domingo,
provavelmente ele estaria em casa. Tony respondeu apenas com um ok.
Eu estava um pouco nervosa quando bati na sua porta. Minhas mãos estavam trêmulas e
suadas. Não sabia o que esperar.
Ele abriu a porta com um leve sorriso forçado.
— Eu só vim buscar algumas coisas. Serei rápida — falei entrando na casa sem esperar uma
resposta sua.
— Tudo bem. Fique à vontade.
Assim que entrei na sala, corri os olhos pelo local. Senti um sentimento nostálgico, e por um
pequeno segundo os momentos bons que vivi ali passaram por minha cabeça.
Percebi um quadro na parede, um quadro que eu nunca havia visto e franzi o cenho. Cheguei
mais perto para dar uma boa olhada.
— O que é isso? — perguntei apontando em sua direção.
Tony parou do meu lado, encarando a pintura.
— Lembra da noite em que estávamos na praia? Eu falei que tinha um presente para você.
— Lembro — falei com a voz fraca.
Era uma réplica do quadro Nascimento de Vênus, mas no lugar de Simonetta Vespucci, era eu.
Eu estava nua, com meus cabelos castanhos esvoaçantes. Fiquei sem palavras, não sabia o que dizer.
— Pensei que iria gostar.
Olhei para Tony, tentando evitar que meus olhos formassem algumas lágrimas. Eu estava
sensível.
— E porque você está com ele pendurado na parede? Nosso divórcio será finalizado em
alguns dias.
Ele desviou o olhar, hesitante. Não tenho certeza se ele queria falar, mas não viu muitas
opções.
— Eu sei, mas ele já estava encomendado há um tempo. Chegou há poucos dias. Quando olhei
para esse quadro, era como se eu estivesse olhando para você.
— Olhando para mim?
Ele deu alguns passos em minha direção. Seus olhos verdes estavam fixos nos meus, e eu me
senti quase hipnotizada enquanto o fitava.
— Eu sinto sua falta, Simonetta. De certa forma, eu estando perto dele, é como se eu estivesse
perto de você.
Sentia que meu coração acelerava a cada palavra que ele dizia. Eu queria abraçá-lo e beija-
lo ali mesmo, sem nenhum aviso. Saber o que Tony realmente estava sentindo era uma surpresa para
mim. A melhor surpresa que eu tive em muito tempo.
Abri a boca para falar, e apesar de quase ter decidido voltar a trás, confessei:
— Também sinto sua falta.
— Todos os dias, quando chego em casa, sinto que estou completamente perdido por você
não estar aqui. Entro no seu quarto e tenho a impressão de ainda sentir seu perfume doce. — Sua voz
estava um pouco falhada. — Assistir séries tomando sorvete de chocolate não tem mais a mesma
graça — falou, esticando a mão e acariciou meu rosto delicadamente.
Fechei os olhos por um momento e aproveitei o seu toque.
— Talvez eu possa vir. Podemos terminar de assistir Supernatural.
Tony negou com a cabeça.
— Não é exatamente isso que eu quero.
— E o que você quer? — perguntei olhando em seus olhos.
— Quero que você case comigo. E dessa vez de verdade.
— Já somos casados, tecnicamente — falei abrindo um largo sorriso involuntário.
Ele se aproximou e me envolveu em seus braços. Nossos lábios se encontraram, dando início
a beijo. Assim que nos afastamos, Tony colocou uma mecha de meus cabelos para trás da orelha.
— Simonetta, quer casar comigo?
— Quero. — Foi a única coisa que conseguir falar.
Voltei a beija-lo, agora com ainda mais vontade, com mais profundidade. Minhas mãos
envolveram sua nuca e seus dedos desceram por minhas costas.
Acabei com qualquer espaço que havia entre nossos corpos, colando um no outro.
Eu sentia tanta falta daquilo. Os seus toques, seu beijo, seu perfume amadeirado ficando em
minha roupa.
Suas mãos entraram por dentro da minha blusa, tocando minha cintura.
— Eu não quero mais que você saia da minha vida — disse ele antes de roçar a boca em meu
pescoço.
— Eu não vou sair.
Tony depositou beijos e chupões em minha pele sensível, fazendo um gemido tímido passar
por minha garganta.
Ele deu um passo para trás e sorriu. Estendeu sua mão e eu a peguei. O homem me guiou para
as escadas, então soube exatamente para aonde estava me levando.
Assim que entramos em seu quarto, Tony atacou meus lábios com ainda mais vontade, muito
mais selvagem do que antes.
Eu não consegui esconder o quanto queria senti-lo. Só de pensar no seu corpo enquanto o
beijava já ficava molhada.
Em poucos instantes minha roupa estava no chão do quarto, junto com sua camisa branca.
Deitei na cama e olhei para ele, passando as mãos por meus seios e sorrindo, como um convite.
Ele deitou ao meu lado e me beijou, descendo os dedos por meu corpo bem devagar e parou
em minha barriga, na altura do umbigo. Abri minhas pernas e vi Tony soltar uma risadinha.
— Quem disse que ia descer mais? — perguntou.
— Vai me fazer implorar?
Um sorriso malicioso se formou em seus lábios.
— Gostei dessa ideia.
— Se eu vou precisar pedir, quero que seja a sua boca.
— Então peça.
Puxei ele para mais um beijo quente, logo depois colando nossas testas e fechando os olhos.
— Eu quero que você me chupe, que me faça gozar só usando a língua — sussurrei.
— Só porque pediu com jeitinho.
Tony se colocou entre minhas pernas e não enrolou para começar.
Sentir a boca dele em mim era um misto de prazer, satisfação e ansiedade. Por um lado,
queria que ele fosse rápido e me fizesse chegar ao orgasmo em pouco tempo, por outro, queria que
aquela sensação nunca acabasse.
Ele olhava para mim com seu olhar mais sexy, então subiu a mão até meu seio e o apertou,
sem tirar a boca do meu clitóris.
Seus dedos brincavam com meu mamilo, o que só me deixava ainda mais excitada.
Sua língua alternava entre movimentos circulares e vai e vem, mudando também a velocidade.
Fechei os olhos, prestes a chegar no auge do prazer, mas Tony parou o que estava fazendo,
roçando os lábios por meu corpo e voltando a me beijar.
Ele esticou o braço até a gaveta do lado da cama e pegou uma camisinha. Terminou de tirar
sua roupa e se protegeu, mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, empurrei seu corpo de
surpresa, fazendo-o deitar.
— Hoje quem fica por cima sou eu — falei.
— Você quem manda — concordou.
Sentei lentamente em seu pênis, sentindo com detalhes quando me preencheu por inteira.
Passei a me mover, cavalgando com força enquanto meus seios saltitavam, esfregando meus
mamilos enrijecido em sua pele. Tony apertava minhas coxas, mas logo suas mãos foram até minha
bunda.
Joguei meu tronco para trás, sem parar os movimentos. Eu tentava ir cada vez mais rápido,
mas não queria cansar.
Usei uma de minhas mãos livres para me tocar, enquanto Tony observava toda a cena.
Sua respiração começou a acelerar e seus olhos fecharam. Ele passou a se mover embaixo de
mim, dando ainda mais força para as estocadas.
Aumentei a velocidade dos meus dedos quando percebi que ele estava perto do orgasmo.
Então, pouco tempo depois, gozamos quase ao mesmo tempo, com nossos corpos trêmulos de
tanto prazer, tentando fazer o ar entrar em nossos pulmões, encarando um ao outro.
Deitei ao seu lado, envolvendo-o em meus braços.
Ele olhava meus olhos com atenção, com um sorriso bobo nos lábios. Sua mão parou em
minha bochecha, acariciando.
Meus olhos também não conseguiam desviar. Abri um sorriso, antes de sentir um beijo em
minha testa.
Eu sabia que estava no lugar certo e com a pessoa certa, e eu pretendia nunca mais deixar
essa felicidade escapar.
Epílogo

Era o nosso aniversário de dois anos de casamento. Último dia de contrato.


Eu estava preparando o almoço enquanto Tony estava na sua sessão de terapia. Desde que
começou a frequentar um psicólogo, ele era outra pessoa. Muito mais calmo e controlado.
— O cheiro está ótimo — falou entrando na cozinha.
— Eu estava esperando você para comermos juntos. Como foi a sessão de terapia?
— Ótima. Está me fazendo muito bem. Deveria ter feito antes — disse, sentando na bancada.
— Eu sempre disse que seria bom.
— Tinha razão. — Tony começou a servir sua comida. — Vai até a sua mãe hoje?
— Sim. Vou passar lá mais tarde. Rafael está caminhando totalmente sozinho, sem nenhuma
ajuda. Preciso ver isso de perto.
— Me espere. Vou ir com você. Vou levar um presente para a Lavínia.
— Presente para Lavínia? — perguntei curiosa.
— Sim. Estamos comemorando hoje graças a ela.
— Como assim?
— Depois daquele dia que fui até à casa de sua mã, e você bateu a porta na minha cara, ela
veio falar comigo.
— Sua saída misteriosa — sussurrei ao lembrar.
— Ela me falou que você sentia minha falta, e que estava esperando um pedido de desculpas.
Falei para ela que iríamos nos entender, e que comemoraríamos todos juntos quando o contrato
acabasse. Quando o nosso casamento fosse de verdade. No caso o dia de hoje.
— Não acredito que vocês esconderam isso de mim — falei com um largo sorriso no rosto,
mas chocada.

[...]
— Rafael está enorme — comentou Tony assim que chegamos em casa.
— Sim. Alguns dias sem vê-lo dá a sensação de ter crescido mais ainda.
— Então, como será a nossa comemoração participar? — perguntou me puxando pela cintura.
— Pensei em assistimos alguma coisa com aquele sorvete. O que acha?
— Não poderia ser melhor.
— Concordo — falei o beijando.
Tony foi até à cozinha pegar o sorvete enquanto eu ligava a televisão. Ele voltou e sentou no
sofá. Sentei ao seu lado.
— Lembra de quando me perguntou se eu queria ter filhos, e eu disse que não era o momento?
— Sim, lembro.
— Acho que esse é o momento certo. Tenho pensando nisso já há alguns meses.
— Eu iria adorar ter um filho com você. Sempre foi o meu sonho, você sabe — falei
sorrindo.
— Quem sabe já podemos providenciar.
Tony me beijou enquanto acariciava levemente minhas costas.
Eu estava realizada. Não poderia estar mais feliz. Principalmente por saber que não iria
demorar para a nossa família aumentar, e eu estava exatamente com a pessoa que eu deveria estar.

Você também pode gostar