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2022

Nome da obra: PROMETIDA PARA UM MAFIOSO


Preparação de Texto e Revisão: Dani Smith Books
Diagramação: MAVLIS
Capa: Mavlis
Nome do autor: Mari Cardoso
http://www.maricardoso.com.br/

Copyright © 2022 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e
mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de
direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais
é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
A autora não autoriza a cópia em pdf e se reserva no
direito em agir legalmente contra o compartilhamento
ilegal.
Sumário
SINOPSE
CARTA DA AUTORA
Prólogo | Danilo.
1 | Bella.
2 | Bella.
3 | Danilo.
4 | Bella.
5 | Bella.
6 | Danilo.
7 | Bella.
8 | Bella.
9 | Danilo.
10 | Bella.
11 | Bella.
12 | Danilo.
13 | Bella.
14 | Bella.
15 | Danilo.
16 | Bella.
17 | Bella.
18 | Danilo.
19 | Bella.
20 | Bella
21 | Danilo.
22 | Bella.
23 | Bella.
24 | Danilo.
25 | Bella.
26 | Bella.
27 | Danilo.
28 | Bella.
29 | Bella.
30 | Danilo.
31 | Bella.
32 | Bella.
33 | Danilo.
34 | Bella.
35 | Bella.
36 | Danilo.
37 | Bella.
38 | Bella.
39 | Danilo.
40 | Bella.
Epílogo | Danilo.
Epílogo | Bella.
Cena extra 1
Cena extra 2
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIM ENTO S
SINOPSE
Danilo Venturinni comandava a Calábria com punho de ferro.
Mantendo seu território a salvo da guerra sangrenta entre os russos e
italianos por parte das outras famílias, não significava que não tinha sua cota
de inimigos. Ele era um homem perigoso que protegia os seus, sendo um
líder que honrava a todos.
Sua família era conhecida por assassinatos sangrentos e por causar
horror nas ruas da cidade. Os Venturinni davam rostos aos monstros que
viviam na escuridão.
Com planos ambiciosos para avançar em Las Vegas, ele se depara com
uma batalha, enquanto precisa se casar com uma jovem aparentemente
inocente. Ele não precisava comprar uma briga com os sérvios por um
território tão complicado quanto Vegas, mas Danilo conseguia tudo o que
queria.
Bella Mansueto cresceu na máfia italiana. Ela conhecia os termos e as
regras. Foi criada nas ruas da Calábria e se mudou com os pais e irmãos
para Vegas ainda nova. Seu pai fazia parte da liderança que tomaria o lugar,
mas em um território em guerra, coisas ruins podem acontecer e sendo
testemunha de um massacre sangrento, ela se torna peça importante de um
jogo cruel entre homens poderosos.
Ela não conhecia Danilo, mas iria matá-lo se tentasse destruí-la.
Já Danilo, destruiria quem estivesse em seu caminho para mantê-la a
salvo.
"— Você não precisa ter medo, Bella. Já te
disse e vou repetir para sempre. Tudo que tem
em mim, é seu. Meu corpo, meu coração
maldoso, minha alma condenada, minha mente
perturbada… meus sorrisos, meus olhares e
meus pensamentos. Tudo é seu."

DANILO VENTURINNI
CARTA DA AUTORA

Cada vez que consigo concluir uma história da máfia, meu peito alivia
a pressão que coloquei em mim mesma ao criar esse universo enorme. Se
você é meu leitor e está um pouco perdido, ou é novo por aqui: saiba que
todos os meus livros podem ser lidos separadamente, contendo um pouco de
spoiler do anterior, porém, nada que atrapalhe a leitura. Eu também costumo
explicar em cada personagem mencionado quem ele é e de qual livro faz
parte.
A história desses dois é diferente, gostosa, apaixonante, vibrante e
intensa. Caramba, por dias, eles me consumiram! Sabe o amor louco? Sim, é
deles! E tudo culpa do meu mais novo cadelinha emocionado por sua amada.
Danilo é fogo puro, calor humano, toque, possessão e domínio. Já a Bella,
com uma criação emocionalmente distante, é fria e na dela.
Eu amo a evolução dos dois como casal, como humanos e como
mafiosos. Eles são pais do Félix, que será marido da Aria Rafaelli (filha
caçula do Enzo e Juliana de Perigoso Amor). Por que estou escrevendo a
história dos pais deles? Não é justo que vocês não saibam o passado de
personagens que irão amar muito no futuro.
Obrigada a todas as leitoras que torceram pela publicação desse livro.
EU TENHO AS MELHORES LEITORAS DO MUNDO! Vocês são demais!

AVISOS: O começo desta história se passa junto com os


acontecimentos dos livros Perigoso Amor e Império Perigoso. Não será
preciso a leitura dos livros citados para compreensão desse, é apenas um
alerta para quem está familiarizado com a linha do tempo.
Pode conter gatilhos. Apesar da temática da presente obra poder ser
considerada um conteúdo sensível, esse NÃO é um romance dark. Ainda
assim, é necessário que seja reforçado que por se tratar de uma história
sobre a Máfia, certas passagens podem ser desconfortáveis em algum
nível.

Esse é um romance na máfia italiana. Se você espera encontrar cenas de


extremo abuso, violência (principalmente contra mulher) ou uma história
dark, essa história não corresponderá suas expectativas.

ESTE LIVRO CONTÉM: Cenas de sexo e pode conter gatilhos emocionais.


Para maiores de 18 anos.
Prólogo | Danilo.
Calábria.

O começo desta história se passa junto com os acontecimentos dos livros


Perigoso Amor e Império Perigoso. Não será preciso a leitura dos livros
citados para compreensão desse, é apenas um alerta para quem está
familiarizado com a linha do tempo.

— Uma noiva? — Soltei uma risada irônica. — Foi mordido pelo


matrimônio e deseja que todos casem?
— Eu não fui mordido pelo matrimônio. Embora esteja noivo, isso não
acontecerá agora. — Damon Galattore[1] soprou a fumaça do charuto que
fumava. — Quando haverá uma senhora nesta terra?
— Em breve. Está na hora de constituir família e dar sequência à
linhagem.
— Porra… e depois me pergunta se eu fui mordido pelo casamento!
— Não quero uma esposa para fins românticos e muito menos
comerciais, ela será a mulher desta casa e mãe dos meus filhos. Nada além.
Damon sorriu torto e bateu o charuto no lugar, sinalizando para seu
homem se aproximar com a mala. Ele abriu e mostrou os belos produtos ali
dentro.
— Todas puras. Basta uma por noite, mas algumas pessoas gostam de
levar mais à boca. — Ele me entregou um pacote, ergui contra luz e
verifiquei as balas de goma ali dentro. Inclinei a cabeça, aceitando a
cortesia.
Aquela visita não era nada além de paz. A Calábria não brigava com as
famílias Galattore e Rafaelli [2]há muitas gerações, embora eu quisesse enfiar
uma bala na cabeça de Vicenzzo Rafaelli. Por respeito ao chefe de todos os
chefes e honra à minha palavra, eu nunca o fiz.
Talvez Enzo sequer se importasse que eu matasse o avô dele, mas eu
era um homem que honrava seus deveres e comandar a Calábria implicava
em saber fazer a política no momento certo. Eles não se intrometiam nas
minhas guerras e ainda mandavam reforços conforme seus interesses, então,
eu não tinha motivos para reclamar.
— Meu primo se casará e a família Valentinni mantém Vegas a duras
penas. Esse será o seu momento. Depois do casamento, se ousar pisar
naquele território, passaremos por cima. — Damon pegou seu casaco. —
Boa sorte.
Ele saiu com seus homens e eu sorri. Vegas era um interesse. Eu batia
de frente com a família Valentinni há muitos anos, saber que os Rafaelli
estavam acolhendo a princesinha da máfia não mudava em nada para mim.
Eles aprenderam a não me encher o saco depois que mandei algumas
cabeças de volta como recado para o tio de Juliana, noiva de Enzo.
A famiglia Rafaelli estava alguns passos à frente. Enzo [3]comandava
todas as famílias por dominar a maior parte dos territórios. Damon era seu
primo e tinha a segunda maior parte. O restante do território, um dia foi
dividido por mais três famílias: Mansueto, Valentinni e Venturinni.
Os Mansueto foram exterminados por Damon e seus homens quando ele
dominou toda Sicília. Alguns dos homens se renderam a ele, outros correram
e pediram abrigo no meu território. Muitos morreram em batalhas por
dominação, restando apenas um Mansueto original, com três filhos. Um
homem leal e totalmente devotado a mim, o que me agradava
completamente.
Ele tinha algo que eu desejava.
Sua filha caçula estava prometida a mim… e ela ainda não sabia
disso.
1 | Bella.
A noite em Vegas nunca era vazia.
Nunca escura.
Sempre perigosa.
Entre luzes brilhantes e sons de máquinas caça-níqueis, muita coisa
acontecia nos becos que atravessavam os prédios luxuosos. Ali existia de
tudo: drogas, prostituição, medo e dor. Um submundo perigoso dominava.
Famílias italianas de um lado, latinos do outro, polícia buscando manter as
aparências e uma guerra que acontecia enquanto turistas do mundo inteiro se
divertiam nos cassinos.
Minha família foi enviada como espiã para estar ali e lentamente,
implementar nossa ordem. Meu pai era herdeiro de uma dinastia que foi
exterminada por um dos chefes poderosos que comandavam nosso mundo.
Nós fomos acolhidos em um território sangrento. Ali não era sobre política e
dinheiro, era sobre sangue. Dor. Eles eram influentes, porém, reclusos. Não
estavam interessados em fama, e sim em poder.
A ordem era dominar. Meu pai estava disposto a fazer seu nome e
agradar nosso chefe, Danilo Venturinni. Eu o vi uma vez, no funeral do pai,
dois anos atrás. Todos os chefes poderosos se encontravam ao redor do
caixão: Enzo Rafaelli, o homem que matou o antigo chefe para que Danilo
pudesse assumir. Damon Galattore, que assassinou meus tios e primos,
acompanhado pelo pai, Francesco[4], que dominou a Sicília mesmo estando
em Chicago, posando com políticos e famosos.
Por último e não menos importante, o homem que meu pai mais odiava
na vida: Vicenzo Rafaelli[5]. Foi muito difícil para meus pais e irmãos
estarem ali com tantos inimigos, sem poder fazer nada. Confiávamos no jogo
de Danilo e por ele, nos calamos.
Eu não fui criada com qualquer relação de afeto com a parte da minha
família que foi morta. Eles consideravam meu pai o membro fraco por não
ser o mais forte fisicamente e nos excluíram. Foi por isso que conseguimos
fugir. Papai previu o que aconteceria, analisou friamente os ataques e antes
que chegassem em nossa casa, já estávamos na estrada a caminho da
Calábria. Com ouro e joias, pagamos nossa entrada.
Papai mostrou seu valor a Danilo através de uma declaração sangrenta.
Mamãe chorou, sentindo medo, mas eu sabia que não precisávamos temer. A
mente do meu pai era dura. Difícil quebrá-lo. Ele era frio e distante. Em
nossa casa, havia respeito e companheirismo, mas nós não éramos amorosos
um com o outro.
Nunca houve trocas de abraços, festas e feriados comemorativos com a
casa decorada. Era apenas… cinco pessoas vivendo juntas.
Meu pai, Fernando Mansueto, conheceu minha mãe, Letizia, nascida na
Itália e filha de espanhóis, em uma festa e ao contrário de todos os irmãos,
ele não teve um casamento por conveniência. Era um verdadeiro mistério
como uma pessoa tão fria e introspectiva conseguiu conquistar alguém.
Minha mãe era uma mulher muito quieta, oprimida, entre os homens da casa
era a última a ter opinião.
Eu não podia reclamar muito. Fui criada como meus irmãos e, ao
mesmo tempo, para também ser uma mulher um tanto feminina.
— Bella! — Assis, meu irmão mais velho, me gritou do primeiro
andar. — Vamos!
— Estou quase pronta! — gritei de volta. Terminei de passar gloss e
olhei para minha aparência. Eu gostava de ser estilosa e valorizar meu
corpo, meus cabelos eram longos e escuros como a noite, olhos azuis como o
mar em um dia límpido e a boca um pouco maior do que eu estava
confortável.
Meus pais me deram o nome de Isabella, mas todos me chamavam de
Bella. Papai dizia que não existia mais linda que eu e era como um trunfo
para minha família ter uma herdeira tão bonita. Eu não me via como eles
viam. No espelho, via beleza, nada extraordinário, que fosse único. De todos
na minha casa, era a única que mantinha os pés no chão. Tanto que sempre
insisti para aprender a lutar como meus irmãos.
Mulheres no mundo em que vivíamos eram uma peça vulnerável.
Éramos vendidas, prometidas e normalmente, as primeiras a morrer em uma
guerra. Minha mãe mal sabia pegar em uma faca e eu achava completamente
inadmissível. Meu corpo era torneado por lutar desde nova, malhava e assim
como Assis e Mariano, estava no tatame toda manhã antes de sair para a
faculdade.
Nosso disfarce era levar a vida mais normal possível. Meus irmãos
trabalhavam de dia na empresa de fachada do nosso pai, enquanto eu ia para
a faculdade e ajudava minha mãe na floricultura, um negócio real que
montamos para que ela não ficasse sozinha o dia todo em casa.
— Ainda não sei porque me ensinaram a dirigir se eu não posso andar
sozinha — reclamei ao entrar no carro de Assis. Ele me levava para todo
lado, sempre me apressando.
— Você é uma dama. — Assis saiu da garagem e me deu um sorrisinho.
— Vocês se preocupam com a minha virgindade mais do que eu.
— Seu futuro marido apreciará a nossa preocupação. — Ele estava
certo que papai faria um grande acordo de casamento. Não havia outra
família do nosso lado em Vegas, esperava que não me usasse para fazer
alianças políticas com os Valentinni.
— E os maridos das mulheres que come por aí? — Cutuquei-o, ele riu
e me empurrou, ordenando que colocasse o cinto. — Nunca terei prática.
Assis soltou um resmungo, dizendo que eu era chata demais. Nossa
diferença de idade era de quatro anos. Mamãe teve um atrás do outro.
Mariano tinha vinte e um e eu, dezenove.
— Vou te levar para as estradas para praticar no final de semana, agora
pare de reclamar.
Fiquei no telefone olhando meus sites favoritos na internet até que me
deixou na porta do prédio da minha primeira aula, avisando que voltaria
para me buscar. Eu não andava armada, meus irmãos sim, mas ganhei um
canivete de Mariano e um spray de pimenta. Era difícil relaxar fora de casa.
Ali não era nosso lado, não era seguro e éramos observados a todo
momento.
Ficar em alerta o tempo todo me deixava cansada no final do dia.
— E aí, garota! — Lauren sentou ao meu lado na aula. — Está sabendo
dessa festa?
Peguei o folheto e li que seria em uma fraternidade. Eu adoraria ir e me
divertir. Se fosse uma garota normal, com liberdade para errar e ter
experiências comuns, já teria beijado metade dos garotos bonitos e ido em
quase todas as festas.
— Duvido muito que meu pai me deixe ir. — Devolvi e peguei meu
notebook.
— Esse é o lado ruim de ainda morar com os pais.
— É verdade. Deveria ter ido para uma universidade longe de casa —
brinquei. Nunca seria possível. Morar sozinha? Nem mesmo viúva. Ter a
minha própria casa e autonomia significava ter um marido.
Lauren era uma garota livre e desapegada. Seus pais moravam perto,
mas não se intrometiam em sua vida e muito menos implicavam se ela saísse.
Saiu de casa para morar sozinha quando começou a faculdade. Vivia com
uma mesada e estava por todo lugar, conhecia todo mundo e era bem popular.
Por causa dela, alguns me conheciam, porém, também sabiam que meus
irmãos marcavam em cima e como eram assustadores, ninguém se
aproximava.
Havia um garoto da minha turma que eu era louca nele. O jeito que
andava, o tipo badboy, ele sempre sorria quando me via passar e eu me
sentia à beira dos risinhos, como uma idiota. Nunca dei confiança. Por mais
que não fizesse o tipo romântica incurável e muito menos a mais empática
para me importar com a vida de outra pessoa, ele morreria por tocar em
mim. Minha família faria questão de honrar minha virtude com sangue,
porque era o esperado.
Eu não precisava que ele morresse por causa de um beijo.
Assis estava pontualmente do lado de fora da minha última aula,
encostado na pilastra com um monte de garotas ao redor. Revirei os olhos e
passei direto, seguindo para o carro. Ele riu ao se despedir delas,
caminhando atrás de mim sem pressa.
— As garotas do cassino não são o suficiente?
— Não se meta na minha vida.
Dei a ele o dedo do meio, irritada com as meninas que ficavam acesas
feito vaga-lumes em cima dos meus irmãos. Eles podiam transar com a
cidade toda enquanto eu era excessivamente protegida. Peguei um dos
chicletes no painel, prendendo meu cabelo no alto e enrolei bem para
refrescar minha nuca. Ainda não era verão mas já estava muito quente.
Assis mudou a direção, acelerou e ficou mais defensivo, pegando sua
arma e deixando no colo. Abaixei no banco e mudei de posição, para olhar
pelo retrovisor quem poderia estar nos seguindo.
— Os latinos novamente?
— Eu não sei e odeio que não podemos reagir — ele grunhiu, irritado.
— Vou te levar para casa. Não quero que fiquem te observando na rua.
— E mamãe?
— Mariano vai cuidar disso. — Ele acelerou ainda mais.
Ciente que coisas perigosas estavam acontecendo em algum canto da
cidade, ao chegar em casa, subi direto para meu quarto e peguei minha 9mm,
verificando as balas e deixando preparada para uso. Mariano entrou com
mamãe alguns minutos depois. Ajudei-o a fechar as cortinas e liberar as
armadilhas. Nossa vizinhança pacata jamais imaginaria o armamento pesado
que tínhamos em casa.
— O que está acontecendo?
— Papai rastreou um empresário sérvio na cidade. Ele se reuniu com o
líder dos latinos — Mariano me respondeu, carregando a arma. — Fique
aqui com a mamãe. Tenho que olhar a vizinhança.
Mamãe me deu um olhar e foi para a cozinha. Era seu lugar de conforto
na casa. Sempre cozinhando, mesmo que raramente comêssemos na mesma
mesa devido aos horários malucos. Apenas meu pai fazia questão de manter
as refeições com ela, mas nós, os filhos, não havíamos sido criados com
essa mesma rotina.
Parei em frente à janela, observando um carro preto passar lentamente
na rua e uma mulher andando com um cachorro, sem saber o perigo que
corria.
2 | Bella.
Papai chegou em casa muito tarde. Ele e Assis entraram pelos fundos,
tensos e armados. Mamãe estava com o jantar pronto e eu sentada no balcão,
olhando para as câmeras. Não havia movimentação na rua há algumas horas.
A tensão era grande em meus ombros, eles não disseram nada, apenas que
deveríamos continuar de olhos abertos. O chefe estaria na cidade em alguns
dias e haveria uma reunião.
Deixei meus pais sozinhos e fui para meu quarto. Tomei banho e
coloquei roupas confortáveis, porém, não de dormir. Mariano entrou, deitou-
se em minha cama e cruzou as pernas. Entre ele e Assis, nós éramos mais
próximos, pelo menos, era o único que me defendia nas minhas exigências.
Nosso irmão mais velho era mais distante, como papai, nunca agia por
impulso. Mariano era letal. Ele sempre estava com sangue quente.
— Brigou na gaiola hoje? — Peguei sua mão e vi os nós.
— Treinei um pouco com Don Hedrer. Estou investindo, quero que
ganhe.
Ganhar = levar o oponente até quase a morte. Don não matava, mas
ele destruía, era a única maneira de continuar participando das gaiolas.
Todos sabiam que era obrigado pelo pai, afinal, era muito jovem.
— Não suporto o pai dele — comentei, pegando minha escova.
— É… eu daria um tiro bem no meio da testa do velho abusado —
Mariano refletiu.
— Acha que papai vai acertar nas previsões dessa vez?
— Ele é humano e estamos lidando com pessoas perigosas, não durma
desarmada — me respondeu e pegou o telefone. — Vou começar o turno essa
noite. Não gaste suas energias, nunca sabemos quando iremos precisar.
— Quer companhia?
— Não.
Assis passou pelo meu quarto, me mandando dormir e eu não retruquei
por ser mais velho. Eu o respeitava muito. Decidi fazer alguns trabalhos,
mesmo que a probabilidade de eu trabalhar com administração no futuro
fosse mínima, não gostava de tirar notas baixas e enquanto não era prometida
em casamento, treinava o que aprendia cuidando do negócio da minha mãe.
No meio da madrugada, meu pai me enviou uma mensagem, pedindo
para que o encontrasse em seu escritório. Ele e meus irmãos estavam
andando pela casa, falando baixo, fazendo ligações, mas não me diziam o
que estava acontecendo. Não adiantava perguntar. Desci as escadas
rapidamente e bati na porta antes de entrar.
— O que precisa, papai?
— Nosso chefe estará na cidade nos próximos dias para nos apresentar
aos novos membros que ficarão na cidade conosco. É oficial que todos
saibam da nossa intenção e as coisas ficarão tensas por um tempo. Por isso,
ele deseja oficializar o noivado — falou com tranquilidade, como se eu
soubesse que em algum momento estive prometida a alguém.
— Noivado? Entre mim e ele?
— Sim. Fizemos esse acordo há muitos anos, quando chegamos à
Calábria. Na época, ele era muito jovem e não tinha interesse no casamento,
assim como você estava longe da idade adulta. Escolha um bom vestido,
faça compras se for necessário.
Assenti e saí, ele não falaria mais nada. Eu tinha doze anos quando fui
prometida a um homem que, provavelmente, era dez anos ou mais velho que
eu. Nada surpreendente. Bastava que a noiva fosse maior de dezoito para
que acordos de casamento fossem feitos, a idade dos noivos não importava.
Danilo devia ter trinta ou quase isso.
Não consegui conter o arrepio. Ele era cruel. Eu não sabia se era
verdade, mas não duvidava da fofoca de que ele torturava todas as amantes.
A última, um dos funcionários do casarão contou para minha mãe que ela se
matou porque ele a fez sentir que sua vida era inútil. Todos diziam que não
havia ninguém pior do que ele para jogos psicológicos. Nenhum homem
sobrevivia às suas torturas.
Meu coração disparou. Sempre precisei lutar para ter um pouco de
respeito, eu sabia que seria uma peça muito fraca no meu casamento. Ele me
massacraria como se fosse um inseto no caminho. Lembrei dos seus olhos
frios no enterro do pai e encostei contra a porta do meu quarto, respirando
fundo.
Não adiantava bancar a garotinha romântica. Amor não existia na
minha vida. Nunca existiu e não seria em um casamento arranjado com um
homem, que pessoas normais jogariam na cadeia por ser um psicopata
completo. Não que eu fosse santa…
Nunca matei uma pessoa antes, mas não hesitaria se fosse necessário.
Sentir medo do meu futuro era tolice, pensar em fugir mais ainda,
porém, me conhecia o suficiente para saber que, por mais que Danilo me
derrubasse, eu não cairia sem lutar.
Contei a Mariano que ficaria noiva dentro de alguns dias e seu olhar
demonstrou surpresa ao saber com quem seria. Assis manteve sua expressão
impassível. Sem uma confissão, eu nunca saberia se a informação era uma
novidade ou não. Enquanto um foi para um lado da casa, aparentando não se
importar com meu futuro, outro me seguiu e observou enquanto arrumava
minha cama para tirar algumas horas de sono.
— Não fale nada — pedi ao deitar. Nada do que ele dissesse iria me
confortar.
— Não vou falar nada sobre isso. Vamos treinar duas vezes ao dia a
partir de amanhã.
— Tudo bem.
Aquela era a maneira do meu irmão demonstrar que se importava
comigo.
Ele saiu do meu quarto e fechou a porta. A parte boa de não ter sido
criada assistindo a desenhos românticos e imaginando um futuro brilhante
como nos filmes que faziam sucesso, era que eu estava conformada e
planejando alternativas para garantir a minha sobrevivência. Eu tinha que
treinar a minha mente para me manter forte e pensando na imagem que queria
passar, contrariei a escolha de vestido simples e romântico que minha mãe
encomendou em uma butique no centro. Troquei a peça por um provocante
vestido preto.
Seria vantajoso enganá-lo e fazer parecer que eu era a doce noiva
inocente que um homem de sua posição gostaria de ter, mas ele também
precisava saber que não me tornaria uma mulher fácil de lidar. No dia do
noivado, Mariano me levaria sozinho. Assis e meu pai foram convidados
para uma reunião antes do jantar e na falta de mulheres para organizar a
refeição, minha mãe ficou responsável pelo buffet.
Tive o trabalho de cachear meu cabelo para que ficasse volumoso,
esfumei um pouco de sombra marrom visando escurecer um pouco meus
olhos, passei bastante rímel para marcar os cílios e mantive minha boca
livre de cor forte. A roupa já era o suficiente.
— Você quer que ele te mate ao invés de colocar uma aliança no seu
dedo? — Mariano levou a mão à nuca.
— Quero que ele saiba bem o que está levando para casa. — Dei-lhe
um sorriso.
Meu irmão parecia ter gostado da ideia de ver o caos. Ele ofereceu seu
braço, lembrando de ser um bom homem e ajeitei sua gravata rapidamente.
Meu lascado mostrava um pouco mais de perna que qualquer mulher da
família estaria confortável, seguindo todos os protocolos de vestimenta para
nunca faltar com respeito às tradições. Talvez eu não ousasse tanto em um
evento público, mas ali era a minha primeira batalha com Danilo.
Muitos homens no hotel pararam para me ver passar. Mariano ficou
tenso e ameaçador, mas a nossa semelhança deixava claro que éramos
irmãos.
Danilo reservou o salão de jantar do último andar. Ele estava
hospedado na luxuosa suíte presidencial de um dos hotéis mais caros da
cidade e pelo que sabia, uma festa estava programada para depois e
duvidava que pudesse ir.
As portas do elevador se abriram e ele foi a primeira pessoa que vi.
Parado no meio do salão, abaixo do lustre, com um cigarro em uma mão e
arma na outra. À sua frente, havia um homem de joelhos, implorando pela
vida. Eu saí e caminhei decidida até a ponta da escada. Mariano parou ao
meu lado, analisando a situação.
Os olhos do meu futuro marido eram selvagens. Ele estava furioso.
— Você me traiu. — Sua voz saiu fria. Não foi uma pergunta, nem uma
acusação, ele constatou um fato que, para ele, era sentença de morte. —
Tirem minha noiva da sala. Ela não precisa ver a sujeira que irei fazer
agora.
Mariano tocou meu cotovelo e levou-nos para um escritório em anexo à
cozinha, que estava repleta de funcionários preparando o jantar sem saber
que do lado de fora haveria uma execução. Minha mãe me deu um olhar
horrorizado pela minha roupa e crispou os lábios. Ela nunca perderia a
compostura publicamente, eu sabia que ouviria muito ao chegar em casa.
Meu pai não falou e não demonstrou nada, voltou a focar no que
acontecia na sala. Mariano me fechou no escritório e assim fiquei sozinha.
As duas poltronas disponíveis estavam posicionadas de costas para a
porta. Eu nunca sentaria de costas. Ocupei a mesa, cruzando minhas pernas e
simplesmente esperei. Com a barulheira da cozinha, eles não perceberam o
baque surdo de um corpo sem vida caindo no chão. O sussurro de uma arma
com supressor era uma música conhecida em meus ouvidos.
Danilo entrou no escritório e fechou as persianas que me permitiam ver
a cozinha. Ele fechou o escritório e trancou a porta, quando seu olhar
encontrou o meu, me senti torcida ao meio. Fiquei parada na mesma posição,
esperando seu próximo passo. Ele tirou um lenço do bolso e limpou a lâmina
suja de sangue.
Sem nenhum aviso, tirou a aliança do bolso.
— Me dê a sua mão.
Ergui meu braço inteiro e estiquei os dedos. Ele pegou meu pulso,
deslizando a aliança. Mal tive tempo de percebê-la fria em mim quando senti
a faca no meu pescoço. Seus olhos cor de caramelo eram intensos e
queimavam como o inferno.
— Você é minha, Isabella. A partir de agora, você respira pela minha
vida, você anda por mim e fará tudo por mim. Eu não tolero traição e irei te
destruir se ousar pensar em me trair, em todos os sentidos da palavra. — Ele
pressionou a lâmina. — Seja leal a mim.
Travei minhas pernas em sua cintura e ele perdeu parte do equilíbrio,
puxei sua gravata e apertei. Ele estava quase sufocando.
— Serei leal a você enquanto for leal a mim. Me honre e terá a minha
honra, caso pense que irei tolerar falta de respeito e traição, me mate agora,
porque senão, eu irei matá-lo na oportunidade que tiver — falei, olhando em
seus olhos. — Serei sua se for meu. Não espere doação sem retribuição.
Danilo soltou a faca, que cortou um pouco da minha pele, agarrou
minha bunda e me ergueu em seu colo. Me pressionou contra a parede e
toquei meu pescoço, sentindo o sangue. Ele pegou meus dedos e lambeu, em
seguida, chupou o pedaço de pele ferido.
— Você me terá, Bella.
Mordendo meu lábio inferior, encostou a testa na minha. Para sentir um
pouco mais de seu gosto, com minha respiração tão ofegante e inebriada por
seu perfume, Danilo olhou em meus olhos.
— Você me terá por completo.
Eu podia aceitar aqueles termos de promessa.
3 | Danilo.
As luzes pulsantes da festa fizeram a garota chapada na minha frente
jogar a cabeça para trás e rir. Ela era namorada ou apenas acompanhante do
rico empresário com quem eu estava negociando coisas interessantes. Para
distraí-la, dei-lhe uma das balas, não era sua primeira vez. Eu não me
drogava, mas não estava interessado em vê-la soltando risinhos e se metendo
na minha conversa.
Desviei meu olhar do casal para minha noiva na beira da pista,
bebendo alguma coisa colorida com o canudinho na boca e seus dois irmãos
ao lado como armários. Minha aliança estava em seu dedo apenas por
algumas horas e todas as pessoas que importavam sabiam que Isabella era
minha. Oficialmente. Guardei a promessa de seu pai para o momento certo e
dentro dos meus planos, estava na hora de casar e ser “um homem de
família”.
Bella não ficaria longe do meu campo de visão. Eu não confiava em
ninguém para manter minha noiva segura, nem mesmo em seus irmãos, ela
era minha portanto, minha responsabilidade. O casamento já estava marcado
para dali a dois meses e eu não esperaria um dia sequer. Estava pouco me
fodendo se não era socialmente aceitável que ela passasse a viver comigo
antes do casamento. Minhas tias ficaram horrorizadas quando mandei
preparar a casa para a chegada da mulher que comandaria o lugar.
Eu não vivia na América e ainda não tinha planos de, apenas queria
minha passagem livre para entrar e sair sem retaliações porque o território
se tornaria meu, cedo ou tarde.
Ela virou o rosto em minha direção, sinalizei para que se aproximasse
e vi em seu olhar que não gostou muito. Eu sorri, divertido, adorando ver a
fúria sendo controlada. A mulher tentou me enforcar e enfiar a porra do salto
na minha perna porque não aceitaria ser subjugada. Era até engraçado, uma
mulher pensando que podia contra mim.
Muita ousadia.
Sorte a dela que eu gostava de mulheres ousadas.
Ao se aproximar, agarrei seu quadril e a coloquei sentada em meu colo.
Assis moveu um músculo do rosto. Eu entendia que eles precisariam de um
pouco mais de tempo para se acostumar com um homem tocando livremente
o corpo de sua irmãzinha caçula. Mariano, o mais volátil, olhou para a
expressão da irmã antes de relaxar nesse quesito e encarar o casal com um
brilho de desafio.
Jogando o cabelo para o lado, Bella encarou a mulher do outro lado.
Ao lado, uma dançarina nua abria as pernas e rebolava. Ela se inclinou,
sabendo quem eu era e esticou a mão. Queria atrair minha atenção para
ganhar gorjetas da mala de dinheiro que estava aberta na mesa à minha
frente.
Bella cruzou as pernas, pegou a bebida da mão do irmão e deu um gole.
Ela parecia analisar friamente o casal à nossa frente.
— Sua mulher é tão linda… poderíamos levar essa festinha para um
lugar privado?
— Claro que não — Bella respondeu com um sorriso frio.
Meu negociante cochichou no ouvido e a acompanhante saiu, dizendo
que iria dançar.
— Vá para o meu quarto — falei com Bella. — Sua mãe deve enviar
suas coisas em breve e tem outras que mandei preparar.
— Não voltarei mais para minha casa?
— Falaremos sobre isso depois. — Finalizei.
Bella levantou e sinalizei para que Mariano a acompanhasse. Os dois
saíram e Assis sentou em posição defensiva, para que pudesse finalizar
minha transação. Peguei meu copo de uísque e virei tudo, empurrando a
bolsa para Cássio pegar. Meu homem saiu e Assis entregou os pacotes
pequenos da mercadoria.
— Aproveite a festa — avisei, ciente que ele estava louco demais.
Eu nunca iria entender como um homem poderia misturar negócios com
prazer. Estar bêbado em uma transação financeira era o mesmo que segurar a
mão da morte. Se eu estivesse interessado, poderia matá-lo, ficar com a
minha mercadoria e o dinheiro dele, ainda fazendo um favor para seus
inimigos. No entanto, eu ainda não estava ali para eliminar potenciais
distribuidores, apenas para espalhar meus produtos de boa qualidade nas
festas da cidade.
Entrei no elevador sozinho. Eu não precisava de proteção.
Minha suíte se encontrava escura em sua maior parte. Bella estava
contra a janela, olhando a cidade, descalça, com os cabelos soltos e usando
minhas roupas mais comuns.
— Pensei ter mandado comprar as mais belas camisolas para você.
— Sim, são lindas, belas, sensuais e não funcionais.
Tirei meu terno e o deixei em cima da poltrona.
— Funcionais?
— Não durmo com roupas não práticas — me respondeu e jogou fora a
garrafa de água. — O que acontece agora?
— O que espera que aconteça? — Deixei meu olhar correr por seu
corpo. A mulher era tão bonita que minhas roupas ficavam boas nela, mesmo
largas. — A partir de hoje, estaremos juntos. Sempre juntos. Onde estiver,
você estará.
— Isso não é muito convencional. Normalmente, as noivas só ficam
sozinhas com seus noivos quando eles se tornam maridos. — Ela enfiou as
mãos nos bolsos da minha calça de moletom. — Está disposto a quebrar
todas as regras por algum motivo especial?
— Minha vida não é convencional. Não sigo regras porque não preciso
delas.
Bella cruzou os braços, arqueando a sobrancelha, com um ar de
desafio.
— Meu pai está de acordo?
— Não preciso da aprovação do seu pai, ele me prometeu uma linda
herdeira no dia que nos conhecemos e agora, eu peguei a minha promessa.
Tem algum problema quanto a isso? Se sim, lide com isso, se não, vá para a
cama. — Apontei para o quarto.
— Na mesma cama que você? Eu dispenso. Ficarei no sofá até ter
obrigações como esposa. — Ela riu. Eu podia tolerar dormir em camas
separadas até o casamento ou até que confiasse em mim como seu homem e
seu protetor. No entanto, ela riu com desafio e deboche.
Minha noiva riu de mim em nossa primeira noite juntos.
Dei uns passos à frente, pressionando-a contra o vidro e prendi suas
mãos atrás de seu corpo. Mordi o lóbulo de sua orelha, soltando minha
respiração.
— O quanto antes entender que não deve me desafiar, melhor será a
nossa relação. Quando disser que deve ir para a cama, vá para a porra da
cama e durma.
Eu senti seu medo. Ela tremeu e o pulsar do coração estava tão forte
que sua carótida palpitava contra minha bochecha. Dei uma breve mordida
em seu ombro, incapaz de resistir ao cheiro delicioso e a pele macia,
totalmente convidativa.
Também deveria prever que mesmo com medo, ela não recuaria.
— Ou então o quê? Vai me punir, torturar e me fazer duvidar da minha
própria sanidade?
Soltei uma risada, parei com meu rosto em frente ao dela e a joguei na
cama. Pairei por cima, passeando com meu nariz por sua pele. Mordisquei
sua boca, louco para beijá-la e transformar aquele quarto em um antro de
putaria e prazer, porque sexo era exatamente o que eu precisava depois de
um dia com muito estresse.
— A única tortura que estou disposto você ainda não está preparada.
Bella escolheu ficar quieta por um tempo, apenas olhando para meu
rosto, como se memorizasse minhas expressões, então, ela fechou os olhos e
me beijou. Tocou os lábios nos meus com insegurança e hesitação, segurando
minha nuca pedindo por mais. Deixei que sentisse meu peso e que
experimentasse o sabor da minha língua.
Ao se afastar, ela parecia satisfeita, como se a experiência do beijo
fosse melhor que sua mente havia lhe dito. Afastei-me e tirei a minha roupa
na sua frente. Sem parecer amedrontada ou minimamente assustada, deixou
que o olhar curioso passeasse pelo meu corpo. Só de cueca, subi na cama,
deixando minha arma ao lado porque havia outra por perto.
Se arrastando para o lado, puxou as cobertas e se enfiou embaixo. Ela
estava desconfiada. Fingi dormir para que dormisse, porém, Fernando nunca
contou que criou a filha para estar alerta. Eu ri quando Cássio entrou no meu
quarto, ela puxou a 9mm e apontou, atenta e um tanto assustada.
— Desculpe. Eu esqueci que estava acompanhado. — Ele olhou para
Bella. — Perdão.
— Acredito que não conhece meu irmão caçula.
— Sou Cássio e ao seu dispor, cunhadinha.
— Não entre no meu quarto sem avisar — Bella resmungou, abaixando
a mão, mas não recolhendo a sua defesa. Toquei seu joelho.
— Você pediu para ser avisado quando as cargas de Chicago fossem
entregues. Elas chegaram e estão sendo embaladas para distribuição.
— Ótimo. Fique de olho.
Cássio assentiu, olhou para minha noiva divertido e saiu. Voltei a
fechar meus olhos, nem um pouco preocupado se ela estava com raiva e
armada. Bella voltou a deitar, enfiando a arma debaixo do travesseiro e
virou de costas para mim. Aproveitei sua bunda em minha direção e a
abracei, porque queria que ela se acostumasse com meu toque e não se
retraísse ao sentir meu corpo.
Foi a primeira vez que ela dormiu e já estava quase amanhecendo.
Pela manhã, suas coisas pessoais chegaram, enviadas pela mãe. O pai
me ligou cedo, falando sobre o que lhe ordenei na noite anterior e querendo
sondar se a filha estava bem. Eu não lhe dei as respostas que queria, porque
Bella havia deixado de ser a responsabilidade dele. Apenas minha.
Saí antes que acordasse. Eu tinha muita coisa para fazer em pouco
tempo disponível na cidade. Cássio ficou no hotel, que depois da primeira
reunião da manhã, se tornou meu. Enzo não confiava nos Valentinni, não
importava o fato de estar casando com uma delas e abrindo um enorme
buraco como um cavalo de Tróia para eliminar um a um sem parecer o
culpado.
Eu não estava me importando que a culpa caísse nas minhas costas.
Vegas seria minha e ponto. Chutaria a porra dos latinos e os imbecis
dos Sérvios para o fim do estado e que ficassem satisfeitos.
Retornei no final da tarde.
— Onde ela está? — questionei a Cássio.
Meu irmão parecia muito divertido.
— Treinando com o irmão.
Segui para a academia e antes de vê-la, ouvi os sons de pancadas.
Mariano incentivava, ditando o que ela deveria fazer em uma sequência de
movimentos técnicos. Bella batia com força. Vermelha, suada, com os
cabelos bagunçados e mostrando o quanto seus músculos estavam sendo
trabalhados, ela soltava sons de fúria por estar indo além do limite. Eu
observei o quanto Mariano tinha técnica e agilidade, ele era além do que
transparecia e podia matar um com os próprios punhos.
— Ela não é nada do que esperava, certo? — Cássio riu atrás de mim.
— Não. Definitivamente não — refleti, sem desviar meus olhos.
Bella parecia ser melhor do que me foi prometido.
E era bom que não me decepcionasse.
4 | Bella.
Mariano sinalizou que nosso treino estava terminado e parei de bater
no saco de areia. Suada como estava, podia sentir meus pés molhados. Me
entreguei totalmente ao ponto de sentir meus músculos dando choque, como
se estivessem ligados na tomada. Peguei minha toalha e bebi água
lentamente, quando ouvi Cássio perguntar se meu irmão ainda tinha
disposição para um treino mais violento e menos técnico.
Ignorei os dois, saindo do tatame e pulei a escada, sonhando com um
banho e uma roupa fresca. Entrei na suíte e parei ao ver Danilo jogado no
sofá, com seu telefone no ouvido, arma na barriga e algumas bebidas abertas
na mesinha à frente. Ele me deu um meio sorriso, olhei para o banheiro e de
volta para sua figura bem na direção do chuveiro. O layout do quarto, apesar
de amplo como um apartamento, era aberto.
Não havia porta no banheiro. Soltei a respiração para controlar minha
adrenalina, fui até o armário e vi que a funcionária havia arrumado todas as
minhas coisas ordenadamente junto às dele. Busquei um vestido bonito e
confortável, um short estilo cueca para usar por baixo e sutiã. Peguei uma
toalha limpa e organizei os produtos que gostava de usar no banho no apoio
da banheira, que ficava ao lado da área espaçosa do chuveiro.
Voltei para a sala.
— Precisa de alguma coisa? — Danilo questionou, relaxado no sofá.
— Tomar banho.
— O banheiro está livre. — Apontou com um sorrisinho irritante.
— Eu não vou ficar nua na sua frente só porque estamos noivos.
Ele continuou rindo.
— Cedo ou tarde isso irá acontecer.
Se ele falasse que era seu direito como marido eu ia perder a minha
cabeça.
— Eu não vou sair do quarto para tomar banho, Isabella. Se quiser, use
o banheiro ou fique assim. Não me importo com seu ataque de moça
recatada.
Coloquei minhas mãos na cintura, quase perdendo o controle. Como ele
conseguia me tirar do sério com tão poucas palavras?
— É isso? Meus pais me privaram e impediram de viver qualquer
normalidade, loucos para preservar minha pureza para simplesmente chegar
aqui e ficar nua na sua frente como se fosse um fato comum na minha vida?
— Sim. É assim que meu mundo funciona.
Lambi meu lábio, pensando o quão incrível seria avançar nele.
— Quer me bater? Vai tornar nossa relação ainda mais interessante. —
Sorriu de lado e eu odiei o quanto quis suspirar por sua beleza. Sombrio,
sexy e excitante, era assim que eu podia descrevê-lo. Sua altura e
constituição muscular eram atraentes.
Não era difícil entender porquê a louca bêbada queria uma festinha em
grupo e a dançarina estava quase me empurrando para sentar no colo dele.
Danilo tinha uma presença de tirar o fôlego.
— Eu não vou te dar o prazer de me ver perdendo a compostura. —
Dei a ele um sorriso e fui para o banheiro. Na frente do espelho, enrolei meu
cabelo no alto para não prender no top, que foi a primeira coisa que tirei.
Abaixei meu short, tirando os tênis e as meias. Deixei o par no canto e
coloquei toda a roupa suja no cesto.
Ignorando-o e sentindo um pouco de constrangimento, acionei o
chuveiro. Meu cabelo caiu como uma cascata nas minhas costas e eu sabia
que, pelo arrepiar da minha pele, Danilo me olhava. Para mim não havia
tabu com nudez, não era do tipo que ficava constrangida fácil, era preciso um
pouco de esforço para me causar desconforto, mas eu não fui criada com
intimidade. Minhas coisas e meu quarto sempre foram privados, meus irmãos
sabiam que a hora que podiam entrar era quando a porta estava aberta e
nunca invadiam meu espaço.
Pronta e perfumada, percebi que ele manteve os olhos em mim o tempo
todo. Passei direto para o bar, pegando uma garrafa de água e meu corpo,
relaxado, pedia pela cama.
— Vem aqui, Bella. — Danilo bateu no lugar ao lado, mas sentei na
outra ponta. — É divertido ser difícil?
— Não estou sendo difícil, talvez precise se acostumar com mulheres
que não ficam de joelhos na sua frente, com a boca aberta, esperando uma
recompensa. — Abri minha garrafa, dobrando minhas pernas e puxando a
colcha.
— Ninguém nunca reclamou das minhas recompensas — ironizou. —
Se eu quisesse casar com qualquer puta que comi ao longo da minha vida, eu
não estaria noivo agora.
— Putas? É assim que resume as mulheres que foram parar na sua
cama? Tão animador!
— Ah, porra! Agora o caralho do seu problema é como me refiro às
minhas antigas amantes?
— Amantes soa muito melhor. — Sorri com cinismo.
Danilo bufou e me agarrou pelos tornozelos, puxando-me pelo sofá.
Minha água voou longe e eu gritei, batendo em seu braço repetidamente por
me assustar. Caindo na gargalhada, ajeitou a colcha ao meu redor e bufei. A
maneira com que fui parar em cima dele me deixou bagunçada, nada
atraente.
— Quero falar sobre o casamento e sua boca esperta está me
atrapalhando.
— Já tem uma data em mente?
— A não ser que queira um grande casamento, acredito que em dois
meses, tempo ideal para a documentação ficar pronta.
Hum… nosso casamento seria completamente legítimo. Por um
instante, cogitei que ele não fosse do tipo que se amarraria a uma pessoa
legalmente. Casamentos não legais não eram permitidos, iam contra nossas
regras, mas uma mulher dormir com o noivo também. Ele dizia não se
importar com as convenções tradicionais que moviam a vida das matriarcas.
— Eu não faço questão de um grande casamento.
— O show é todo seu, por mim, apenas o padre tem que estar lá.
— Quero que minha família esteja presente.
Para meu pai e irmãos seria apenas mais um evento da família, mas a
minha mãe já havia enviado milhares de fotos de vestidos e uma longa lista
de lojas para visitarmos enquanto ainda permanecesse na cidade, para que
meu vestido de noiva pudesse ser levado para a Itália.
— Resolva todos os detalhes importantes com sua mãe, ela já sabe que
deve coordenar o evento com minha tia. Cássio será seu guarda-costas aqui,
mas eu irei levá-la onde for necessário.
— Até mesmo nas provas de vestido? O noivo não pode ver antes do
casamento… isso dá azar — provoquei e ele relaxou mais no lugar, fazendo
com que ficasse montada em seu colo. — Ou é uma besteira que não
acredita?
— Nenhum evento causado pelo azar vai me impedir de casar com
você em dois meses. — Ele desceu as mãos da minha cintura para minha
bunda, apertando para me puxar para frente.
Emocionalmente falando, era algo novo sentir o corpo quente e
musculoso de um homem tão perto. Fisicamente… era bom. Mais do que
imaginei. Eu gostei e senti excitação a cada toque, porque era novidade e por
ser algo natural, que sempre quis evoluir na vida e fui impedida.
Racionalmente, quanto mais Danilo estivesse envolvido comigo, mais segura
estaria. Enquanto ele me visse como sua posse, sua joia particular, ele não
me machucaria.
— Coitado do destino se ele ousar preparar algo diferente.
— E de quem colaborar com ele. — Danilo segurou meu queixo. —
Me dê sua boca, Bella.
— Vem aqui buscar, chefe.
— Tão provocante. — Ele riu e me beijou. Sua boca era tão boa que
mesmo inexperiente, eu não queria parar. As mãos subiram por minhas
costas, afrouxando meu vestido e eu permiti, querendo saber o que viria a
seguir. As alças caíram frouxas e ele apenas puxou com a boca, dando um
beijo em cada seio.
Fiquei tão arrepiada que meus mamilos pareciam que iam furar o
tecido. Ele beijou a área dolorida do corte, passando sua língua com um
carinho gostoso e voltou a me beijar. Beliscando meu bico, arranhei sua
nuca, puxando alguns fios de cabelo. Soltei um gemido e foi como um
gatilho, ele me olhou com fome e ferocidade, me jogando no sofá.
— Gema assim de novo e eu voltarei a ser a porra de um adolescente.
— Ele mordeu minha clavícula. Puxando meu vestido completamente,
expondo meu sutiã, desceu a boca para o meu peito. Caramba… o homem
era um carro desgovernado. Eu queria ser do tipo que me debruçaria sobre o
pensamento de que estava tudo sendo rápido demais, ao contrário disso,
desejava acelerar tanto quanto. — Sua boca é a minha tentação. — Danilo
me ofereceu o polegar e chupei. — Ah, bebê. É isso… — Desceu o dedo
molhado pela minha boca inchada, o queixo, até entre meus seios.
Seu telefone tocou insistentemente, me fazendo desconcentrar por
completo. Irritado, atendeu e em italiano, respondeu que estava indo.
— Eu já volto. Vista-se para a festa de hoje à noite e me espere. —
Beijou meus lábios.
Danilo me deixou ofegante e com a calcinha molhada. Fiz um beicinho,
me ajeitando e fui para a cama descansar antes da noite começar. Enquanto
ele estivesse na cidade, muitas festas seriam organizadas para que pudesse
estreitar laços com negociantes locais. Mariano me contou parte dos
compromissos, assim eu já sabia que toda noite estaria na rua com Danilo,
assim como durante o dia, precisando organizar detalhes do casamento.
Acordei na hora certa e comecei a me arrumar. Ergui o vestido na
frente do espelho, me perguntando qual seria a reação de Danilo ao perceber
meu modelito. Não iria vestida como uma freira em uma festa em Vegas.
Garotas seminuas andavam por ali o tempo todo. Prendi meu cabelo em um
rabo de cavalo bem arrumado e fiz uma maquiagem mais pesada.
A parte de cima do vestido era como um corpete transparente, mas
tinha um forro da cor da pele e a saia justa, aparentando ser de couro, mas
não era. Puxei uma meia 3/4 até os joelhos, usando o sapato scarpin preto
mais confortável que tinha. Danilo não me viu imediatamente, foi direto para
o chuveiro, sujo de sangue.
Curiosa, me aproximei, olhando a tonalidade da água. Nu como veio ao
mundo, pude perceber que não estava ferido. Aproveitei para simplesmente
beber sua imagem.
— Aconteceu alguma coisa?
— Apenas eventual… — Ele virou e mordi minha boca ao ver seu
pênis. Não estava ereto. Interessante. — Que porra de roupa é essa?
— Se reclamar, vai ficar ainda mais curta. — Dei-lhe um sorriso e
voltei para a penteadeira, continuando a minha arrumação.
Danilo saiu do banheiro nu, um pouco molhado e parou atrás de mim.
Meu coração acelerou forte no peito. Tirando o rabo de cavalo do caminho,
beijou meu pescoço e seu olhar apenas analisava minha roupa. Virei o rosto,
querendo observar melhor sua expressão e ganhei um beijo na boca. Sem
falar nada, Danilo me soltou e foi para o closet. Foquei minha atenção no
perfume, colocando minhas joias e tentei não olhar muito…
Puta merda, que gostoso!
5 | Bella.
Danilo me algemou nele. Eu estava presa a seu braço através de uma
corrente. Enquanto isso, bebia tranquilamente, observando a festa e me
mantendo por perto com os trinta centímetros de corrente média entre nós.
Meu irmão analisou a ligação e riu. Bati em seu braço, furiosa, porque era
inadmissível estar presa a um homem em público. Ele me prendeu sem que
eu percebesse, só me soltaria se trocasse de roupa.
Eu não iria trocar. Então, entramos em um impasse.
Continuei em minha roupa curta, acorrentada a meu noivo.
Assis me entregou uma bebida. Considerando o quanto a dele estava
forte, a minha parecia suco de criança. Fiz uma careta e peguei um
espumante. Danilo parou meu movimento de levar o copo à boca, cheirando
o líquido e devolveu. Falou baixo com um garçom e uma garrafa foi
entregue, ele abriu e me serviu sem permitir que qualquer outro tocasse em
minha taça.
— Eu não quero que você use drogas — falou no meu ouvido em tom
de comando.
— Não iria usar. — Franzi o cenho.
Mariano me cutucou discretamente, preocupado que estivesse sendo
petulante.
— As bebidas gratuitas podem estar batizadas — esclareceu e assenti,
não sabia. Ninguém podia me culpar por não saber como me portar em uma
festa sendo que era uma das minhas primeiras vezes. — Só beba o que eu te
der.
— Meus irmãos não vão me drogar — rebati, meio irritada com a sua
possessão.
— Você é a minha responsabilidade. — Beijou minha boca, passando
o braço por minha cintura e me pegando firme. Sua mão descansou em minha
bunda.
— Quero ir ao banheiro. Vai me soltar?
— Não. Você quis vir com essa roupa sabendo que ficaria algemada a
mim e só irei te soltar quando voltarmos para o quarto.
— Preciso fazer xixi.
— Ok.
Filho da puta. Ele não ia me soltar.
Resignada, segui-o em direção aos banheiros. Cássio expulsou a
mulherada que estava dentro para que eu pudesse entrar. O cubículo era um
pouco apertado, para me movimentar melhor, subi a saia e ganhei um
assobio, encostei a porta e me equilibrei para não tocar em nada. Me limpei
e dei descarga toda atrapalhada com a mão presa. Ele não me soltou e
parecia muito bem, sé me esperando terminar.
Enquanto lavava as mãos, ele parou atrás de mim e me pressionou
contra a pia. Suas mãos tentaram puxar minha saia para baixo, eu ri e tirei o
gloss do decote, passando nos lábios.
— Normalmente, mulheres fazem grupinho no banheiro com as amigas.
— Nunca entendi porque vocês gostam dessa merda. Na próxima vez
que estivermos em um local assim, vamos transar.
— O quê?
— Quê o quê? Acha que sexo é só no quarto? — Arqueou a
sobrancelha, ainda me olhando pelo espelho.
— Nós sequer fizemos sexo — rebati, meio mal humorada. — Minha
primeira vez não será no banheiro. Nem ouse tentar. — Dei-lhe uma
cotovelada. Danilo fingiu que doeu muito.
— Tem certeza? — Ele riu, demonstrando que estava brincando.
Beijando minha nuca, segurou minha mão e levou-nos de volta para o lado
de fora.
A música que estava tocando era uma das minhas favoritas. Comecei a
dançar. Danilo me abraçou por trás, dançando junto, mas com o único intuito
de marcar território, já que havia outros homens na pista e alguns, antes de
percebê-lo, me comeram com os olhos. Mariano se aproximou e pedi que
ajeitasse minhas meias, se eu abaixasse, todos veriam minha bunda.
Meu irmão ajeitou e riu, pelo reflexo dos espelhos, uma luz bateu no
rosto de Danilo e pude ver sua irritação.
— Bella… — Danilo falou meu nome em tom de exasperação.
— Eu não abaixei!
— Foi quase!
— Se continuar reclamando…
— Eu vou te amarrar dentro do quarto e não vai sair até usar roupas
normais — ele não estava brincando. Cássio inclinou a cabeça, mostrando
que no camarote, os negociantes já estavam aguardando. Pensei que fosse me
soltar, mas me levou junto, sinalizando para que meus irmãos nos seguissem.
Assis parou na porta.
Mariano fingiu estar amarrando o sapato e na verdade, subiu um
elástico por minha perna prendendo uma pequena pistola entre minhas coxas.
Dei a ele um sorriso discreto.
— O que foi de novo, porra? — Danilo explodiu.
— Minhas meias! Elas estão caindo! — respondi, exasperada.
Sem falar nada, me puxou para sala e se sentou. Nossas mãos ficaram
unidas o tempo inteiro enquanto estava ao lado dele. Havia carreiras de
cocaína na mesa, dinheiro, armas e novas munições. Era uma transação
comercial em um clima amistoso. Um deles, no entanto, me chamou atenção.
Mariano e eu trocamos um olhar. Papai sempre nos ensinou a como
reconhecer a polícia entre nós, a boate era escura e seria praticamente
impossível ouvir a conversa com tantos ruídos.
Aquele homem era um federal.
Refinado demais para ser da polícia local, até porque, saberíamos de
qualquer operação. Eles estavam na folha de pagamento. Danilo manteve o
braço apoiado nas minhas pernas cruzadas e a mão na panturrilha,
acariciando, brincando com minhas meias enquanto conversava com eles.
Para disfarçar minha análise no homem, beijei o ombro do meu noivo, ele se
aproximou e continuei com beijos em seu pescoço. Arrepiado, virou o rosto
e sorriu, tomando minha boca em um beijo feroz que mal soube acompanhar.
Percebi que me soltou apenas porque senti meu pulso ficar livre. Ele
continuou me beijando, me inclinando no banco e olhando em meus olhos.
— Você quer fazer isso, bebê?
Entendi o que queria dizer imediatamente apenas pelo olhar demoníaco
que surgiu. Exatamente como na primeira vez que nos vimos.
— Eu quero.
— Deixe-o vivo — sussurrou no meu ouvido.
Ele voltou a me beijar e correspondi, sentindo suas mãos entre as
minhas pernas. Sua jaqueta me cobria parcialmente. Fiquei tensa e excitada
com seus dedos perto da minha boceta, ele aproveitou para dar uma leve
pressionada enquanto mordia minha boca. Subi minhas mãos por seu peito,
agarrando a arma e tirando-a do coldre, que já estava aberto. Danilo soltou a
arma e nós viramos ao mesmo tempo.
Atirando contra o homem que eu acreditava ser um policial, mirou no
meio da testa, mas eu foquei no outro negociante, acertando seus joelhos. Ele
gritou e caiu no chão. Assis andou até ele, pisando no pescoço e pedindo
bem baixo que ficasse calado.
Cássio saiu de seu lugar e me pegou pela cintura, antes que o sangue
sujasse meus sapatos. Passando para o outro lado do sofá, fiquei de pé e
devolvi a arma para Danilo. Ele pegou a minha e enfiou no bolso.
— Cássio, fique com Assis. Limpem tudo. Quero informações pela
manhã.
Mariano vestiu seu casaco. A festa continuou normalmente, ninguém
percebeu nada no camarote fechado. Meu irmão abriu a porta no exato
segundo que Danilo segurou minha mão, pronto para sairmos pelos fundos.
No primeiro andar, os reforços do federal tentavam passar e eram
impedidos, não só pela multidão, como pelos seguranças da casa que
pareciam não compreender nada sobre a invasão.
O carro estava em um beco com um dos homens que chegou da Itália
com Danilo. Entrei atrás com meu irmão, ele estava em alerta e eu com a
cabeça girando, pensando se a polícia estava atrás de nós. Evitei olhar para
trás, para não fazer parecer que estava preocupada e ao invés de irmos para
o hotel, entramos em uma casa luxuosa.
Mariano saiu e sinalizou para outros homens, eles desapareceram
apenas porque eu iria passar. Não sabia que Danilo estava com um grupo
grande, porém, não era incomum. Se ele estivesse na cidade e precisasse de
reforços, seus homens escondidos deveriam estar prontos.
— O que é esse lugar? — questionei ao sair do carro.
— Nossa casa. O hotel é vulnerável agora.
— E as minhas coisas?
— Mamãe esteve lá com outras mulheres. Elas organizaram a maior
parte no tempo que tinham disponível — Mariano me respondeu e tocou meu
cotovelo. Eu deveria entrar.
Caramba. Mamãe sabia como arrumar nossas coisas mais rápido que
qualquer um. Ela era ótima com fugas.
Não foi difícil encontrar o quarto principal. Ele era enorme e
centralizado, com uma escada que dava para a piscina nos fundos. As duas
casas ao lado também eram mansões e pelos homens na varanda, ocupadas
por nós. Danilo encontrou uma casa maravilhosa, era linda e os móveis
perfeitos. Meu lado mulherzinha estava gritando, mas eu pirei mesmo com a
academia equipada.
Depois de explorar todos os cômodos da casa, quis comer alguma
coisa, mas a geladeira estava vazia e parecia recém-ligada. Mal acostumada
com minha mãe preparando todas as minhas refeições, eu não sabia como
fritar um ovo direito. Voltei para o quarto, tomei banho e escovei todo meu
cabelo. Ainda enrolada no roupão, busquei uma calça de Danilo para dormir.
Ele entrou quando estava escolhendo uma cinza.
— Você não tem suas próprias roupas? — resmungou, tirando a peça
da minha mão e pegando uma cueca samba canção que parecia muito
confortável. Aceitei e sorri de volta.
— Eu tinha roupas adoráveis até meu noivo se intrometer em como
devo me vestir.
Tirei o roupão, ele parou atrás de mim e segurou minha cintura.
— Se isso fosse verdade, aquele vestido teria sido picotado — falou
próximo ao meu ouvido. — No entanto, você estava tão gostosa que meu pau
ficou em alerta a noite toda. Infelizmente, eu não fui o único. Eu vi como
todos os filhos da puta queriam o que é meu.
— Se você sabe que sou sua, não faz nenhum sentido ter ciúmes. —
Olhei em seus olhos através do espelho.
— Bonito, filosófico e inútil para mim. — Sorriu de lado, beijando
meu pescoço. Ele agarrou meus seios, parecendo feliz por poder segurá-los
e eu ri de sua expressão. — Eu queria ficar com minha boca neles o tempo
todo. Durma assim… — pediu baixinho. — Talvez eu não te deixe dormir
tanto. A próxima vez que minha mão estiver entre suas pernas será para te
fazer gemer gostoso de tanto prazer.
Deixei que me levasse para a cama.
Assassinos não se importavam com suas vítimas. Para mafiosos, tudo
era jogo, inclusive o momento que permiti que ele tirasse minha calcinha
para me tocar. Ele estava me dando prazer, me fazendo sentir gostosa, com
um fogo correndo pela minha corrente sanguínea e ansiando absolutamente
tudo que poderia me dar. Era algo sem comparação; seu corpo quente e
tatuado, suas mãos me pressionando nos lugares certos e a boca pecaminosa
capaz de me transformar em uma massinha excitada gemendo baixinho por
mais.
Eu estava cedendo fisicamente para me proteger mentalmente. Danilo
provou que observava tudo. A arma que Mariano colocou na minha perna, o
policial, toda festa ao redor. Nada passou despercebido. Ele sabia que eu
estava entregue em sua cama porque queria controlar a besta. Não me
tornaria uma mulher destruída ao lado dele. Ele não iria me esmagar como
fez com todas as outras antes de mim.
— Você é minha? — Danilo agarrou meu queixo, me beijando com
brusquidão. — Eu vou te devorar por completo. Não haverá uma única parte
do seu corpo que não tomarei para mim.
Meu coração acelerou, me deixando sem fôlego. Era um caminho sem
volta. Meu pai me prometeu a ele, meu destino estava selado.
— Eu sou sua. — Minha voz saiu baixa.
— Bom… muito bom. — Deitado em cima de mim, ele não estava
forçando peso e muito menos tocando minhas partes íntimas. Ainda não.
Danilo estava me lendo. — O que você quer, Bella? Lutar de verdade ou
embarcar em uma guerra fria? Quer dançar minha música? Hum?
— Eu não vou permitir que me destrua. Você vai ter meu corpo, mas
não terá minha mente.
Danilo sorriu torto.
— Sou quebrado, Bella. O que te faz pensar que não irei te quebrar
também? É um caminho sem volta, bebê. Quanto antes desistir, será melhor,
porque eu vou dominar tudo. É assim que eu sou. — Ele desceu a boca para
o meu ouvido. — Mas você aguenta. Você é a única que pode me matar e eu
permito que durma ao meu lado.
Peguei a pistola que estava na cama conosco e coloquei o cano em sua
testa.
— Prometa que vai me honrar como sua mulher.
Ele pressionou-me ainda mais, sabendo que meu dedo estava no
gatilho.
— Eu prometo com a minha vida que irei honrar a sua existência como
minha mulher, esposa e mãe dos meus filhos.
Tremi, sem fôlego e abaixei a arma, olhando em seus olhos, sentindo as
lágrimas acumulando nos cantos dos meus. O quarto estava escuro, o ar
parecia pesado e um calor subia por minhas pernas.
— Me tome.
Danilo mordeu meu lábio, com uma expressão divertida.
— Eu vou tomar tudo.
6 | Danilo.
Bella estava deitada no centro da cama, mordendo o lábio, o peito
subindo e descendo, mostrando o quanto ela tinha controle em demonstrar as
emoções. Seus olhos aparentavam curiosidade e nervosismo, o corpo
arrepiado de desejo e prazer, a boca implorando por mais beijos e a
respiração foram os únicos indícios que em algum momento da nossa
conversa, o nervosismo bateu.
Ela já tinha minha promessa e sabia que nunca deveria duvidar. Um
homem como eu, criado com honra, sabia como manter a palavra até o fim da
vida. Prometi ao meu pai que nunca o mataria, mesmo ele merecendo por ter
matado minha mãe e meus dois irmãos mais velhos. E eu não o matei.
Também sequer estive por perto para ter qualquer impulso de proteção
quando foi morto.
Eu sabia que todas as mulheres que entraram em minha vida, saíram
destruídas. Elas queriam amor, me colocar em um lugar de mansidão, me
adestrar. O monstro que vivia dentro de mim não gostava de ser controlado.
Isabella já era minha e de ninguém mais. Seu ventre carregaria meus filhos,
mas ela não podia esperar de mim qualquer emoção remotamente romântica.
Bella estava com o instinto de sobrevivência lhe ditando o que fazer.
Ela queria ser útil para mim, para que eu não lhe quebrasse por completo.
Era inútil. Nada na minha vida ficava inteiro por muito tempo.
Dei-lhe um sorriso, mordendo o lábio.
— Vamos nos casar amanhã — avisei. Não era um pedido.
— Tudo bem.
— Faremos a festa depois, com o casamento italiano como manda a
tradição. — Abaixei e dei um chupão em sua coxa.
— Você pode marcar meu corpo inteiro. Isso não vai me impedir de
usar roupas curtas. — avisou e bufei. A mulher era mais teimosa que uma
mula. — Danilo! — gritou, batendo em minha cabeça para encerrar meu
ataque. — Porra, isso dói!
— Dor faz parte. — Subi com minha boca um pouco mais. — Também
há prazer nela. — Mordi a parte interna de sua coxa e ela gemeu, soltando
um silvo. Coloquei minha mão em sua barriga torneada, impedindo que
erguesse o quadril por estar desesperada pela minha boca. Beijei o monte
com poucos pelos, afastando seus lábios com minha língua e a lambi.
— Ahh!
Capturei o clitóris com minha boca, chupando. Seu corpo respondia tão
bem a mim que era lindo. Bella agarrou meu cabelo, querendo mais.
Belisquei seu mamilo, puxando, mergulhado em seu gosto, no quanto estava
molhada.
Afastei meus lábios.
— Você não faz ideia do quanto isso aqui é lindo. — Olhei para seu
rosto perdido e voltei a chupá-la, pressionando sua entrada. Ela não se
retraiu. Mantive meus olhos nos dela até vê-la gozar. Segurei suas coxas,
percebendo que ela tinha força o suficiente para me sufocar no meio do
orgasmo. Não parei, não conseguiria.
— Danilo, Danilo! — Ela cantou, se contorcendo. — Puta que pariu!
— Isso, bebê!
— Ah, caralho! — Puxou meus cabelos e me permiti ir. Mordi sua
cintura, chupando cada peito antes de tomar sua boca. Bella levou a mão
para entre as pernas, tocando a si mesma e pressionando, ainda delirante. —
O que é isso?
— Prazer. Puro e simples. — Esfreguei meus lábios nos dela.
— Eu quero mais…
— Vou te dar mais, bebê. Muito mais. Nada vai me manter longe da sua
boceta. — Peguei seu pulso e tirei a mão, tocando enquanto a beijava. Minha
língua estava com seu gosto, ela não se intimidou, apenas saboreou, gemendo
e ondulando contra mim. Dei um tapa em sua boceta. — Você está pronta
para mim?
Bella assentiu, com a boca inchada, olhando em meus olhos.
— Tem camisinha?
— Por que precisamos de uma? — rebati, confuso. Eu não usaria
proteção com a minha esposa. Não fazia sentido algum, cacete.
— Eu não quero engravidar agora — respondeu baixinho. — Não tomo
pílulas.
Foda-se, não teria aquela conversa. Não com meu pau muito duro
querendo muito estar dentro de sua boceta. Peguei a camisinha e coloquei
sob seu olhar atento. Sempre que olhava para meu pau, era com curiosidade
e diversão, naquele momento, só havia muito desejo. Era foda pra caralho
lembrar que precisava ir com calma, violenta ou não, seria a primeira vez
dela.
Bella suspirou, cravando as unhas nos meus braços, franzindo o cenho
com uma expressão de dor. Mantive meu ritmo lento, metendo gostoso,
fazendo de tudo para não machucá-la. Buscando minha boca, fechou os olhos
e lágrimas escorreram por sua bochecha. Lambi todas elas, mordendo o
ponto que ligava seu pescoço e ombro. Soltando um gemido, arranhou
minhas costas e apertou minha bunda. Não fiz esforço para segurar o gozo,
ela ficaria grata.
Puxei fora, segurando a camisinha para não ficar presa e vi os
resquícios de sangue.
— Vai mostrar os lençóis?
— Quer que eu mostre?
— Não é uma tradição obrigatória? — Ela arqueou a sobrancelha.
— Sim, é. Estou muito tentado a exibir isso por aí, vou guardá-lo para
decidir. — Sorri com a careta que ela fez.
Bella não ficou emocionada ou romântica por conta do que fizemos.
Foi tomar um banho mais longo do que a chuveirada que tomei. Acendi um
cigarro, fumar depois do sexo era tradição. Faltava pouco para amanhecer,
Assis ainda estava lidando com o que pedi e Cássio não demoraria a
arrancar informações da negociante filha da puta que tentou me passar a
perna.
Era esperado que fossem me atacar por todos os lados e por isso, a
minha política era bem intolerante. Ninguém ficaria vivo para contar
história.
Ela saiu do banheiro, cabelo molhado, pegou uma camiseta que ficou
curta e foi saindo do quarto.
— Onde vai?
— Estou morrendo de fome.
— Usando apenas isso?
— Você disse que aqui era minha casa. Minha boceta está ardendo
porque você meteu algo duro como madeira dentro, mal consigo andar, meu
quadril dói e estou odiando que uma mulher precisa passar por essa
humilhação para não ser mais virgem! — gritou comigo e foi andando.
— Há outros homens na casa. — Adicionei em um tom seco. Ela
precisava se exibir por aí o tempo todo? Porra!
— É melhor que eles não passem na minha frente. Estou armada —
resmungou, descendo as escadas. Fui atrás, querendo ver se realmente
atiraria em alguém. Pela expressão, seu irmão ficou cauteloso. Ele comia
uma pizza no balcão da cozinha e não reclamou por ter ficado sem um
pedaço. — Peça mais.
— Tem mais nos fundos.
— Então, pegue para sua irmã favorita. — Ela soltou uma voz doce que
a fez parecer assustadora. Agarrei uma cerveja.
Mariano saiu depois que sinalizei e voltou com mais pizzas. Bella só
pareceu minimamente agradável depois de quatro pedaços e duas cervejas,
desejou bom dia e foi para a cama, deixando o quarto escuro, o ar ligado e
escondendo-se debaixo das cobertas. Fiquei ao lado dela, controlando tudo
que podia por telefone. Não era hora de nos expor na rua.
Perto da hora do almoço, seu rosto finalmente saiu de baixo das
cobertas. O cabelo estava bagunçado, rosto inchado e o olhar mortal.
— Estou com fome de novo — reclamou, me fazendo sorrir.
— Está na hora de comer. Mandei fazer compras e a cozinheira está
preparando. Vamos sair depois que voltar a sentir-se humana.
— Não quero sair.
— Vamos nos casar. — Dei-lhe um beijo. Ela me agarrou e fechou os
olhos novamente, voltando a dormir com a perna em cima da minha. Depois
de uma hora, levantou. — Por que está tão brava? Foi tão ruim assim?
— Como foi quando perdeu a sua virgindade?
— Acho que foi mais divertido para mim do que para ela. — Soltei
uma risada. — Está com raiva por causa do sexo?
— Eu queria transar, era certo, estava desejosa e muito excitada. A
primeira parte foi incrível, mas a coisa toda do hímen, a dor e a invasão que
não tem muito prazer e é humilhante. Não estou com raiva de você e não
achei que foi ruim, espero fazer mais vezes e que seja bom como todas as
pessoas falam. Estou indignada de verdade que uma mulher precise passar
por isso — reclamou e não me contive para rir. Ela jogou um travesseiro em
mim, aproveitei que estava perto para puxá-la. Tendo-a deitada por cima do
meu corpo, passei meus braços ao seu redor. Ela estava atentando meu raro
bom humor. — Mesmo que não tenha sido divertido para ela, não foi tão
humilhante.
— Para um homem, gozar rápido e deixar sua parceira na mão é
humilhante.
Bella soltou um bufo.
— Não era disso que as meninas da faculdade reclamavam. — Sua voz
saiu abafada no meu peito. — Vou me vestir para o nosso casamento.
— O que posso fazer para melhorar seu humor? — Apertei sua bunda.
— Me dê alguns milhões e talvez eu volte a sorrir. — Ela soltou uma
risada e saiu correndo.
Atentada e ousada, aquela mulher era um perigo com belas pernas.
Por que pensei que ela tinha belas pernas? Isabella saiu do closet
usando um curto vestido branco, saltos altos, maquiada e meu pau disse olá.
Ela estava ainda mais gostosa. Da cama, apertei-o por cima da cueca, ela riu
e foi para o banheiro com um perfume na mão. Parei atrás dela, erguendo seu
vestido e olhei a calcinha enterrada entre suas nádegas.
— Estou com uma marca de mordida no ombro que não escondi com a
maquiagem, não precisa ter um colapso. Meu vestido do casamento italiano
será mais comportado, eu prometo.
Beijei seu ombro.
— Não me tente ou ficará algemada de novo. — Dei um tapa em sua
bunda e fui me vestir.
Cássio finalmente me deu um retorno e era o que imaginava, fiquei
satisfeito com o que ouvi. Eles foram bons em não deixar rastros. Já pronto,
encontrei-a colocando joias. Ela me observou pegar dinheiro e armas, sem
perceber, empinando a bunda para amarrar as sandálias. Eu gostava do fato
de que ela ainda não fazia movimentos maldosos para me excitar. Mas
aprenderia com o tempo.
Mariano foi o único a nos acompanhar na capela. Legalmente,
podíamos nos casar nos Estados Unidos e fazer outro casamento na Itália,
ambos teriam validade. Em Vegas, qualquer um poderia ter um casamento
legal, mas o prejuízo de um divórcio era alto. No entanto, eu não precisava
me preocupar com isso, afinal, uma vez casado, era para sempre.
7 | Bella.
Ninguém me levou até o altar para o casamento na capela. Não falava
com meus pais pessoalmente há dias. Exceto uma breve troca de mensagens
com minha mãe para saber se estava tudo bem, dicas de cardápios para o
casamento na Itália e reproduzindo as exigências das tias de Danilo, que eu
cortaria assim que assinasse a certidão de casamento. Depois que me
tornasse uma Venturinni, ninguém iria me segurar. Eu não precisaria me
dobrar a nenhuma matriarca.
Eu disse sim a Danilo. Ele também disse, sem hesitar. Passamos a usar
a aliança ostentosa que compramos juntos a caminho da capela.
Mariano, o único que estava nos acompanhando, tirou uma foto e pedi
que enviasse a mamãe. Relaxaria os nervos dela sobre perder minha
virgindade antes do casamento. Foi algumas horas antes, então talvez
estivesse bem dentro das tradições que eu odiava e não me importava.
Beijei-o, jogando meus braços em seus ombros e ele seguiu me segurando de
maneira possessiva.
— Se esticar mais um pouco, esse Elvis que está prestes a mijar nas
calças vai ver a sua bunda — murmurou contra minha boca.
— Por que esconder uma bunda bonita?
— Isabella… — ele soou ameaçador e ri, me ajeitando. Ainda não
queria atentar o homem ao ponto de que perdesse as estribeiras. Já havia
passado a noite com um humor tão ruim que não pude controlar.
Parecia que nada havia mudado na minha vida por ser uma mulher
casada. Danilo chegou com os pés na porta, derrubando tudo que eu tinha
como vida, dominando e bagunçando tudo com seu jeito autoritário. Sua
arrogância masculina não era diferente da dos machos alfas italianos que
tinham muito poder e dinheiro.
Aproveitei que estava na rua para torturar Mariano e acabei jogando
Danilo no bolo. Fui às compras. Não podia fazer sozinha, então, por que não
experimentar todas as peças possíveis e desfilar na frente do espelho? Não
estava com pressa.
— Você está brincando comigo, porra? — Mariano apontou para o
relógio.
— Estou te atrasando para alguma foda? — questionei, erguendo um
vestido vermelho na minha frente. Danilo balançou a cabeça negativamente.
Coloquei na pilha que iria levar.
— Esqueceu que eu não sou casado? Tenho minhas coisas para fazer!
— Engana-se se pensa que sexo acontece o tempo todo no casamento.
Até agora, sua irmã só aparentou ser um completo monstro. — Danilo riu,
sentado em sua cadeira.
— Ela sempre foi um monstro. — Mariano deu de ombros. Chutei sua
canela. Como ele podia dizer isso para o meu marido?
— Não faça parecer que ele fez um péssimo acordo.
— Duas horas fazendo compras, Isabella. — Danilo ergueu dois dedos
para dar ênfase.
Não foi ele que disse que eu não poderia sair sozinha e que faríamos
tudo juntos? Não foi ele que me prendeu em uma algema por causa da minha
roupa e ainda tive que fazer xixi na frente dele? Então… ele podia aguentar
minhas compras. Mais de uma hora depois, pagou a conta e meu irmão
carregou as muitas bolsas da loja de luxo para o carro.
— Vamos para casa. Hoje não é seguro passar muito tempo na rua. —
Danilo passou por mim e abriu a porta.
— Alguma coisa sobre ontem?
— Nada que precise preocupar sua linda cabecinha. — Colocou os
óculos escuros e foi para o assento da frente.
Sempre detestei sentar atrás como uma criança pequena castigada. Meu
pai raramente me deixava sentar no banco do carona. Tirando meus irmãos
(porque eu batia neles), poucos me levavam a sério. Danilo preferia que
Mariano ficasse ao seu lado em uma direção defensiva. Estávamos em um
lado da cidade que, teoricamente, não pertencia a ninguém, então, talvez
reagissem por não nos desejarem ali ou deixariam para ver o que iriam fazer.
Assis abriu a porta do carro quando chegamos.
— Parabéns pelo casamento, irmã. — Ele passou o indicador da minha
testa ao nariz, algo que fazia desde que era nova. Era seu único toque.
— Obrigada, irmão. — Apertei seu nariz.
Papai estava na cozinha, no computador. Toquei seu ombro ao passar,
ele acariciou meus dedos brevemente e fui até minha mãe, que mexia uma
grande panela de molho de tomate.
— A cozinheira não ficará aqui todos os dias, então, estou adiantando
algumas coisas essenciais para preparar as refeições. Agora é uma mulher
casada, precisa assegurar a refeição do seu marido — ela falou em um tom
de voz calmo.
— Mamãe, só tem adulto nessa casa. Quem estiver com fome que
procure comida.
— Isabella! Não foi assim que te criei! — ela ralhou.
— Vou treinar — cantarolei e saí da cozinha.
Danilo e meu pai ficaram fechados no escritório a tarde inteira. Minha
primeira parte do treino foi com Assis e a outra metade, com Mariano.
Cássio ficou na beira do tatame dando dicas, torcendo como se estivéssemos
em uma luta de verdade. Eu estava exausta e suada quando Danilo apareceu
com suas roupas de treino e mesmo sem falar nada, todos saíram, nos
deixando sozinhos.
— Ainda tem disposição?
Foda-se, não mesmo.
— Claro que sim. Foi só aquecimento. — Fiquei de pé, sequei meu
rosto e molhei um pouco a boca para não tossir com a garganta seca. —
Como gosta de treinar?
— Só vem pra cima. Vamos ver o que sabe fazer…
Humm. Ele queria me testar já cansada? Filho da mãe!
Disfarcei minhas intenções, bebendo água. Prendi o cabelo novamente
e já que estaria treinando sozinha com o único homem que me viu nua, tirei a
camiseta. Meu pai nunca permitiu que treinasse só de top mesmo com meus
irmãos, qualquer incidente que deixasse meus peitos de fora, a blusa
protegeria. Danilo já tinha visto meus peitos de qualquer maneira.
Ele soltou um assobio. Era inegável que o homem gostava do que via
em mim. Eu sempre soube que de corpo, encaixava em um padrão atraente,
principalmente por ter músculos trabalhados, seios de um tamanho razoável
e o glúteo torneado. Não era por estética. Eu poderia ser apenas uma
patricinha malhada, mas preferi aprender a levar meu corpo ao máximo de
força e desenvoltura para sobreviver.
Ataquei-o sem aviso. Danilo me pegou e pressionou-me contra o saco
de areia, beijando minha boca. Cruzei minhas pernas em sua cintura.
— Tente algo melhor — falou contra a minha boca, atiçando minha
fúria.
De volta ao chão, simplesmente começamos a lutar. Ele era mais forte,
porém, sua brutalidade me enervava. Eu estava perdendo meu foco apenas
por vê-lo mantendo o sorriso no rosto e um ar de quem não estava fazendo
esforço. Chutando suas pernas até acuá-lo no canto, parti para socos. Ele
desviava, mas não conseguia me pegar. Estar suada ajudava a escorregar de
suas mãos.
Sem aviso, ele me jogou no chão, me arrastei e virei, ficando de pé
próxima a um saco. Danilo me pegou e não tive como fugir.
— Se um homem te pegar por trás, não se debata. Ele vai perder a
paciência e te acertará na cabeça, fique mansa para depois atacar.
Meu peito subia e descia ofegante, chutei sua canela, agarrei suas
orelhas e ao tentar fugir, minhas unhas arrancaram sangue de seu pescoço.
— Porra! — Ele colocou a mão em cima. — Sangue é sacanagem.
— Foi sem querer. — Sorri, inocente.
— Vamos treinar no chão. Você é ótima na esquiva e no equilíbrio, mas
eu poderia ter chutado sua coluna quando caiu. Precisa saber se defender no
chão. — Ele abaixou na minha frente e pediu que deitasse. Encaixando entre
minhas pernas, começou a instrução básica de jiu-jitsu. Eu desconfiava que
ele tinha alguma experiência devido às marcas em suas orelhas, eram
estouradas, como quem treinava sem usar proteção.
No começo, prestar atenção foi fácil. Não era um esporte erotizado,
cansei de assistir lutas com meus irmãos e sabia que na hora séria, não havia
a questão de sentir prazer com a proximidade de outro lutador. No entanto,
com Danilo sem camisa e me pressionando em todos os lugares certos, com
o tempo, fui ficando distraída e excitada.
Danilo percebeu minha desatenção e olhou em meus olhos. Ele sorriu,
passando os polegares em meus mamilos marcados.
— Você nunca vai treinar no chão com outro homem além de mim. —
Beijou minha boca.
— O que te faz pensar que outro homem me deixaria excitada?
— É corpo. É algo físico. Você esteve cercada por dois homens
protetores, que são seus irmãos, mas é a primeira vez com alguém diferente.
Não digo que irá me trair, mas não poderá culpar seu corpo por reagir —
respondeu baixo.
— Eu vou te matar se usar essa desculpa para me trair, Danilo. Está me
ouvindo bem? Eu sei que atração física acontece, mas traição nunca terá
explicação para mim. — Agarrei os cabelos de sua nuca e ele me beijou,
excitado, pressionando o pau duro em mim. Ainda bem que não era a única
desejosa. Ele tirou meu top, jogando perto da minha camiseta. — Nós vamos
fazer isso aqui?
— Gosto do tom da sua voz quando está excitada. — Ele sorriu antes
de chupar meu peito. Porra, que delícia. Fiquei hipnotizada com sua língua
trabalhando em meu mamilo. Era uma ligação direta com o meio das minhas
pernas. Minha boceta pulsava. — Temos que ter nossa lua de mel.
— Ela começa agora?
Por mim, não havia maneira melhor de comemorar um casamento do
que estar em um tatame. Danilo puxou meu short e ele não precisava dizer
mais nada.
8 | Bella.
Virei na cama, acordando com o som de uma música e sentei, olhando
para a porta. Danilo deixou o quarto todo escuro, acendi o abajur e parei
para prestar atenção. Definitivamente, uma música pulsante. Peguei meu
telefone, sem mensagens. Estava nua desde o banho muito necessário depois
de tudo que fizemos no tatame e terminamos na cama. Ele deitou comigo,
fiquei exausta. Sexo e exercícios estavam fodendo com meus sentidos.
Encontrei um vestido azul e coloquei, prendendo meu cabelo e saí do
quarto. A casa parecia vazia, exceto pelas paredes vibrando. Desci as
escadas com cuidado, olhando os corredores antes de entrar. Na cozinha,
havia uma grande quantidade de caixas de bebidas e de diversos
restaurantes.
— Ele está dando uma festa? — questionei a mim mesma.
Desci mais um lance de escada e dois guardas ficaram de pé. Eles não
me impediram de passar, mas pareceram receosos. Descalça, com o rosto
amassado de sono e um vestido curto, empurrei a porta da boate aberta.
Vários homens estavam lá dentro, incluindo meu marido e uma seleção de
mulheres de biquíni dançando no centro.
Danilo me viu e parou com o cigarro na boca. A maioria dos homens,
na verdade, pararam para me ver. Havia uma mulher empinada na direção
dele, com a bunda bem em frente a seu rosto, com um biquíni tão pequeno
que nem parecia estar usando um. Eu queria dizer que senti raiva ou qualquer
emoção para explodir. Mas nada aconteceu.
Eu queria atirar em todos? Sim. Mas também queria enfiar Danilo
picadinho no forno e dar para os cães que ainda não tinha. Era aquilo que ele
queria? Me deixar dormindo enquanto havia mulheres nuas ao seu redor?
Tudo bem. Dei as costas e saí da boate. Subi as escadas novamente e ele não
apareceu atrás de mim, o que era ótimo.
Escovei meu cabelo, escolhi um par de sapatos altos e fiz uma
maquiagem. Arrumei a bolsa e silenciosamente, fui até a garagem. O guarda
não me viu pegando as chaves, distraído com algum convidado bêbado
querendo saber onde era o banheiro. Eu o conhecia da Itália. Provavelmente,
nossos homens conseguiram entrar na cidade e Danilo estava festejando.
Por algum motivo, eu queria festejar também. Sem ele.
Dançar sem ele.
Não era raiva. Eu me conhecia com raiva…
Por que eu ficaria com raiva dele? Nós havíamos nos casado por
acordo naquela manhã, não havia a mínima necessidade de levar suas
atitudes para o meu coração. Era assim que ele encontraria uma brecha para
me quebrar. Seu corpo quente, tatuado e cheiroso não me controlava. Peguei
um dos carros e saí da garagem, acelerando para os portões de ferro que
estavam abertos.
Acelerei pelo bairro, buscando a estrada que era em alguma saída em
direção à cidade. Na parte debaixo do banco tinha uma arma e seria com ela
que ficaria. Eu não sabia andar sozinha e com o carro tão potente e sem
prática, me vi em alta velocidade mais rápido do que imaginei conseguir
controlar. Diminuí o peso do meu pé e entrei na avenida, estava escuro e
poucos carros passavam.
Pelo retrovisor, vi um farol alto se aproximar, estava prestes a mudar
de pista para que me ultrapassasse quando ele caiu para o lado e virou
bruscamente, fechando toda pista. Pisei no freio. Danilo saiu do carro e
bateu no capô, mandando abrir a porta e eu não abri.
— Sai da porra do carro, Isabella! — ele gritou do lado de fora.
Volte para sua festa, idiota. Ele estava gostando da garota nua
dançando praticamente em seu colo? Ótimo. Eu não me importava. Engatei a
ré, ele xingou e simplesmente sacou a arma, como se fosse atirar contra os
pneus. Parei o carro. Ele avançou e ficou entre as luzes.
— Saia desse carro agora!
Abri a porta e ele avançou.
— É o carro que você quer? Tudo bem! — gritei de volta. — Volta pra
porra da sua festa! Quer mais putas? Vá buscar! — Apontei para a estrada e
com meus saltos finos, andei pelo acostamento.
— O que aconteceu com amantes ao invés de putas? — ele questionou
e virei.
— Babaca!
— Entra no carro e vamos voltar para casa!
— Não. — Voltei a andar.
Danilo deu passos firmes e me agarrou pela cintura. Disse para que eu
nunca me debatesse, mas queria tanto irritá-lo que o atingi de todas as
maneiras que consegui. Eu achei que não estava com raiva, mas ao ser
jogada no carro, me senti à beira da explosão. A fúria era tão grande que
apertava minha garganta. Ele deu a volta e entrou no carro, batendo a porta
com força.
— Eu quero saber que caralho você estava pensando em sair sozinha!
— Tentou me agarrar e me esquivei.
— Não volte a encostar em mim. Você está fedendo a perfume barato.
— Empurrei sua mão para longe. Danilo me encarou com tanta raiva que sua
veia parecia que ia explodir.
— Não vou lidar com você agora.
Ele não lidaria comigo em momento algum. Cássio devia estar no
outro carro, os dois veículos entraram juntos na propriedade. A festa ainda
acontecia, fui direto para o quarto e peguei algumas coisas, procurando outro
quarto e trancando a porta. A cama estava livre. Passei a noite acordada e
pela manhã, me sentia miserável, com dor de cabeça e um tanto enjoada por
não ter comido muito.
Havia um grupo de faxineiras espalhadas pela casa, para limpar a
bagunça da festa que durou até o amanhecer. Ao invés de treinar na
academia, decidi que iria nadar. Depois de comer, fui até o quarto principal,
agradecendo que Danilo não estava ali. A cama parecia feita. Ou ele não
dormiu ali ou alguém arrumou.
Vesti um biquíni preto, pequeno como costumava usar na piscina de
casa e me enrolei no roupão. Meu pai só permitia que usasse maiô se fosse
nadar na presença de homens que não eram meus irmãos, mas aquela era
minha nova casa, quem se incomodasse, que saísse.
Ignorei os guardas que estavam na área porque sabia que iriam sair.
Eles dispersaram sem falar nada. Dei o primeiro mergulho, nadando de um
lado ao outro como um peixinho, dando braçadas e fazendo voltas. Fiz
diversos percursos até cansar. Forrando uma toalha na espreguiçadeira,
deitei de bruços por um bom tempo. Ouvi a voz dele e fiquei arrepiada, não
de uma boa maneira. Queria arremessar uma cadeira em sua cabeça.
Levantei e sem me enrolar em nada, passei direto por ele, me
esquivando de seu movimento para me puxar. Cássio e Mariano ficaram
quietos. Danilo não veio atrás de mim, o que me fez crer que era puro
orgulho. Ele já havia me buscado na estrada, era o suficiente. Meu telefone
apitou, informando que as encomendas da minha mãe, que eram toalhas do
casamento, seriam entregues e mandei uma mensagem pedindo para Mariano
receber.
— Tem certeza que vai continuar com isso? — Ele se aproximou.
— Não se meta. Você é meu irmão, mas parece que a união masculina
falou mais alto.
— O quê? Você está delirando, sabia? Foi só uma festa!
— Para você sim, para ele não deveria ter sido festa nenhuma. Se eu
não posso festejar sem a companhia do meu marido, ele também não pode.
— Você é louca se acha que vai mudar as regras da família. Esposas
sempre ficaram em casa enquanto homens curtiam com os seus. Não quer
dizer que ele te traiu, fala sério, eram apenas putas.
— Você é outro imbecil — resmunguei e saí.
— Vá colocar uma roupa. Ninguém precisa ver seu corpo. Esse biquíni
é muito pequeno para uma mulher de respeito como você — ele grunhiu.
Meu irmão era um poço de machismo. Idiota.
— Eu vou andar nua se eu quiser! — Ergui meu dedo e fui andando.
Sem ter nenhum compromisso fora de casa e aparentemente, Danilo
também, porque ouvia a voz dele o tempo todo, fiquei entre o segundo quarto
e a varanda, lendo pelo meu telefone e usando o computador para pesquisas
aleatórias, só para matar o tempo. Nunca fui de cultivar amizades e naquele
momento, senti falta de ter alguém além dos dois idiotas com quem fui criada
para conversar. Minha mãe apoiaria Danilo. Ela era muito fechada.
Meu pai não diria nada. Eu era esposa de Danilo, portanto, um
problema que não o pertencia mais. Jantei sozinha no quarto, ignorei a mesa
pronta para dois de propósito e me preparei para dormir. Liguei a televisão,
assistindo a um filme de ação muito antigo e fui pegando no sono. A porta foi
bruscamente arrombada, me assustei e enfiei a mão no travesseiro.
— Não adianta pegar a porra dessa arma, não. — Danilo me pegou no
colo com as cobertas. Ele atravessou o corredor e me jogou na cama. —
Quer ficar puta? Ótimo! Mas vai ficar com ódio aqui. Você não vai dormir
em nenhuma cama além da nossa.
— Solte-me — falei baixo. Ele soltou as mãos, puxei as cobertas, me
cobri e escondi meu rosto. Danilo bufou, deitando na cama de qualquer jeito,
fumou e falou ao celular por um tempo antes de sossegar.
Acordei abraçada nele. Olhei para seu peito antes de me afastar, mas
seu braço me impediu.
— Não quero ficar junto.
— Bella, porra. Vai continuar com isso até quando?
— Até quando quiser. Talvez para sempre.
— O que aconteceu que está parecendo uma louca?
— Você deu uma festa, Danilo. Me deixou dormindo como a esposa
que fica em casa esperando o marido e foi se reunir com seus homens e
várias mulheres. Ela estava com a bunda no seu rosto. O que faria se fosse o
pau de um homem na minha frente?
Ele franziu o cenho.
— Não te traí.
— Não me interessa. Eu não posso fazer nada sem você e aceitei isso,
desde que não faça nada sem mim. Fiquei com raiva e estou com mais ódio
ainda por sentir raiva.
Danilo puxou minhas mãos.
— Eu não te traí e é melhor que entenda que o dia que ficar com outra
mulher, eu vou dizer. Não sou mentiroso, porra. Era só uma festa, como
muitas que faço, não te acordei porque não achei que deveria, não quis e não
quero brigar por isso.
— Tudo bem, não vamos brigar. — Ele me analisou, não acreditando
na minha palavra.
— Não vamos brigar e você vai simplesmente agir como está agindo?
— Eu não farei nada, Danilo. Não é isso que espera de mim?
Não queria estar nos braços dele, mas fiquei. Fervendo por dentro,
com uma expressão doce por fora. Fui nadar sob seu olhar atento. Também
malhamos juntos. Ele não tentou me beijar, o que estava ótimo, mas queria
que fizesse para sentir que no lugar do fogo havia gelo. Assis e Mariano
ficaram quietos, assim como Cássio, os três esperando uma explosão durante
o jantar.
Já tinha falado demais, agido por impulso, quente e explosiva. Ele não
merecia isso. Não merecia qualquer movimento ciumento da minha parte se
não iria me respeitar como mulher. Eu não ficaria tão furiosa se tivesse me
acordado, dito que haveria uma festa com seus homens e saísse. Não era
estúpida, sempre haveria mulheres e eu teria que lidar com isso.
Desconsiderar meu papel de esposa e dona da casa era falta de respeito.
Pela primeira vez, abri a gaveta com as lingeries finas e camisolas.
Escolhi um conjunto branco com uma peça transparente de colocar por cima.
Passei gloss e deixei meu cabelo solto. Ele me viu desfilar pelo quarto e não
falou nada, só observando como um leão prestes a atacar. Desarrumei a
cama, jogando as almofadas no chão e deitei para dormir.
Pelo reflexo da janela, vi que mexeu em seu telefone e fechou a porta,
apagando as luzes. Nu, deitou atrás de mim, encaixando meu corpo
perfeitamente no seu.
— Esse jogo está ficando divertido — falou baixo e fiquei arrepiada
só de sentir seus lábios roçando no meu ouvido.
— Não é um jogo. — Segurei sua mão em cima do meu peito.
— Não vai me perdoar? — Ele arrastou a língua até meu pescoço.
— E você é capaz de pedir perdão?
— Nunca precisei.
— Tocou em alguma mulher?
— Claro que não, Isabella. Que porra… eu não sou um adolescente. —
Ele soou irritado. Alguém não gostava que sua palavra fosse colocada em
pauta.
— Você vai me avisar quando for fazer uma festa. Essa casa é minha
também e eu vou dizer se quero, se pode e se poderá ter outras mulheres.
Você pode ser o chefão da porra toda, mas aqui, é meu marido e se terei o
papel de dona de casa, não serei diminuída. Faça uma festa novamente e eu
irei incendiar a boate. — Acariciei seu braço. Eu queria que ele pedisse
desculpas. Para um homem da máfia, pisar na ordem de uma dona de casa
era um pecado.
— Eu não analisei a situação por esse ângulo.
Filho da puta. Ele não pediria desculpas.
— Sei o que quer e não vou dar, está sendo petulante e cansativa. —
Ele mordeu o lóbulo da minha orelha. — Podemos resolver isso começando
do zero. Não irei errar novamente e você não vai sair sozinha e muito menos,
fugindo com raiva sem me falar.
— Você faz parecer que devo agradecer pela sua paciência.
— Estou sendo paciente, Bella. Até porque, tudo é novo para nós,
principalmente para você. Eu sou o tipo de homem que dá um único aviso.
Não faça novamente e ficaremos bem.
Aquela era a maneira dele de me fazer relaxar e permitir que entrasse
em minha mente, me fazendo acreditar que banquei a maluca por nenhum
motivo.
— Boa tentativa. — Virei e dei um sorriso. Ele parou com a boca
próxima à minha. — Peça desculpas. Só quero ouvir isso. Já entendi que não
fará novamente.
— Alguém já te disse que é a pessoa mais difícil do mundo?
— Desculpa te informar. Meu pai fez um excelente acordo de
casamento, não posso dizer o mesmo da sua família. — Soltei uma risada,
virei de frente e empinei minha bunda ainda mais. Danilo grunhiu, xingando
mil palavrões, misturando com uma reza em italiano. Seu pau estava duro,
ele queria transar e eu só daria se pedisse desculpas.
— Você está exigindo desculpas por ego ou como minha esposa?
— Como esposa, é claro — retruquei com uma voz doce.
Ele sabia que estava mentindo, mas se era o que queria para não ferir
seu ego, eu podia ser como uma santa.
— Desculpe-me por ferir as regras da casa, esposa — Danilo falou tão
baixo, com os dentes trincando, que mal ouvi. Virei completamente na cama
e o beijei, mesmo sem experiência e muita desenvoltura, mostrei a ele que
estava perdoado e o queria.
9 | Danilo.
Isabella passou por mim usando um short curto e uma camisa do meu
armário, preparando um drinque no bar. Ela estava há uma semana no modo
boa esposa para me enervar — e estava conseguindo. Dona de um gênio
indomável, a mulher sabia ser fria e pegar fogo, não só na cama, como uma
aprendiz ansiosa e muito excitada.
Sexo estava sendo uma descoberta para ela. Pensei que seria
mortalmente maçante estar com alguém virgem e inexperiente, mas Bella era
gostosa, sabia que tinha um corpo que me deixava maluco e aprendeu a
rebolar aquela bunda com meu pau todo enterrado em sua boceta bem
rápido. Ainda tinha muitas atitudes virginais e até podia ser fofa com o olhar
curioso, experimentando. Quando usava a boca, ainda desleixada e confusa,
sabia encontrar um caminho para me fazer gozar.
No entanto, ela era cruel quando se tratava do que queria. Não fiz a
festa para magoá-la, sequer pensei nela, porra. Estava dormindo como um
anjo e acordou possuída pelo demônio. Fez a porra do inferno parecer um
passeio, difícil e teimosa.
— Sua bebida, marido. — Seu tom de voz doce me deixava arrepiado.
Dei um tapa forte em sua bunda e a peguei bruscamente.
— Deixa de ser debochada, sua safada. — Agarrei seu queixo e beijei-
lhe a boca.
— Estou sendo a esposa doce que meu marido merece.
— Foda, Isabella. Foda.
Ela riu e ficou confortável em meu colo. Sorte que era linda e que
estava disposto a tentar ser um bom marido.
— Quer que eu pare de te provocar por causa da festa? — Ela lambeu
minha boca. Se continuasse daquele jeito, nós não conversaríamos nunca. Só
queria estar dentro dela todo tempo possível.
— Sim. Já te pedi desculpas.
— Eu vou parar — prometeu e voltei a beijá-la. Sua língua estava com
um gosto delicioso. Eu odiava dizer que havia aprendido a lição. Minha tia
me avisou para nunca provocar a fúria de uma esposa e eu não levei a sério,
porque bem… o que uma mulher poderia fazer? Em dois dias de casado,
Bella mostrou que podia me fazer infartar. — Gosto quando me beija assim.
Porra. Enfiei a mão em sua blusa e belisquei seu mamilo.
— Gosto quando não usa um sutiã. Que delícia… Eu amo chupar esses
peitos.
A família estava confusa com meu casamento repentino, mas eles
entenderam que eu não queria desonrar uma noiva se não conseguiria me
controlar. Todos os outros chefes acharam divertido o fato de eu
simplesmente ter pulado as etapas. Minha família, tias e tios, não queriam
que eu fodesse com a honra que restou dos Mansueto transando com a filha
deles mesmo estando noivo, então, eles aplaudiram o casamento de olhos
fechados.
Os pais dela não se importaram de estar fora do casamento na capela.
Eles não pareciam ser do tipo calorosos.
Isabella montou em meu colo. Eu estava acostumado a ter uma vida
sexual ativa, sempre mantive minhas amantes por perto porque gostava muito
de sexo e queria fazê-lo o tempo todo. Imaginava que seria diferente com
minha esposa. Todos os homens que conheci reclamavam que elas não eram
as mais empolgadas e ficava na dúvida se era porque eles não as satisfaziam
ou se era do consenso geral que uma aliança no dedo cortava a libido.
Não parecia ser meu caso.
Cássio bateu na porta. Bella olhou na direção dela e voltou a tirar meu
coldre com maestria, deixando minha arma em cima da mesa ao lado. Abriu
minha camisa, descendo para minha calça. Eu não usava um cinto e nem
cueca. Enquanto me beijava, tocava punheta.
— Não atenda — pediu baixo. — Só depois que terminarmos.
— Pode ser importante.
— O que é mais importante que sua mulher com tesão? — Ela sorriu e
ficou de pé, tirando a camisa e o short. Sua calcinha marcando os lábios
molhados me fez inclinar para frente e lamber por cima do tecido. Ergui sua
perna, explorando suas dobras com minha língua. Vendo-a nua da cintura
para cima, cheguei à conclusão de que o formato dos seus seios era perfeito,
ela olhou para porta e sorriu, travessa.
— Está adorando fazer isso com alguém nos ouvindo?
— Esse é o máximo que posso ir — retrucou baixinho.
— Eu nunca vou compartilhar você. — Agarrei sua cintura e fiz que
sentasse em meu colo, mantendo sua calcinha para o lado e ela me olhou,
insegura. — Vamos fazer assim.
Ela desceu sobre mim, me engolindo por completo. Joguei minha
cabeça para trás, tão apertada ainda, podia sentir sua pulsação. Respirou
fundo, se acostumando. Dei um aperto nos glúteos, induzindo os movimentos.
Não levou muito tempo para que ela controlasse e encontrasse a posição
mais confortável para continuar sozinha. Gemeu alto, e eu sabia que Cássio
estava ouvindo do lado de fora e se afastou da porta.
Já havia compartilhado mulheres e participado de muitas festinhas de
sexo, mas eu era o único homem autorizado a ver o espetáculo da minha
mulher gozando. Ela era minha. Nada e nem ninguém ficaria entre nós.
— Vem, bebê. Goza no meu pau — pedi, batendo em sua bunda. Bella
gozou, me arranhando e sem camisinha, saí de dentro, gozando em toda sua
boceta por fora. Ela ia se afastar, como sempre, mas a segurei contra mim e
fiz com que deitasse no meu peito. — Vamos acabar fazendo um filho assim.
— Eu vou pegar minha receita para as pílulas amanhã — falou baixo,
no tom de voz mole. Sexo sempre a fazia dormir. Ela costumava ter um sono
muito leve, acordava com qualquer barulho, exceto depois de transar.
— Bom. É uma delícia sem camisinha, com você, eu não quero
barreiras. — Beijei sua testa suada. Eu passei as últimas noites fora de casa.
Mariano disse que ela não dormiria e estava certo. Bella ficou de guarda
como se eu não tivesse deixado a casa muito bem segura.
— Sempre se cuidou, certo? Eu fico tensa porque suas atividades
sexuais eram intensas antes de mim e eu não quero nenhuma doença.
— Claro que sim, eu gosto de foder, não de foder com a minha vida. —
Soltei uma risada com a preocupação. Era normal, porém, desnecessária.
Apesar do meu estilo de vida, não ignorava coisas vitais, como saúde
íntima.
Bella soltou um bocejo e fomos tomar banho. Ela deitou na cama e eu
fui para o porão. Mariano e Cássio estavam com o médico que trouxemos da
Itália. Era preciso manter um homem formado em medicina e de confiança
por perto. Além dos motivos óbvios de não podermos estar em um hospital
por ferimento a bala, eles também nos ajudavam a manter alguns convidados
vivos por mais tempo.
O chão estava sujo de sangue.
— Ele está pronto para falar — Cássio avisou com um sorrisinho.
Sexo e uma confissão antes do jantar. Era meu dia de sorte.
Peguei meu canivete e sentei à sua frente, fazendo um corte longo em
sua perna por puro prazer de ver a dor crescer. Ele me olhou, sem brilho e
começou a balbuciar as informações que eu queria ouvir. Os espasmos do
frio da morte chegaram. Ele foi indo embora, sem dizer adeus, tendo meu
rosto como a última pessoa que viu na vida.
Podia perdoá-lo por me trair? Talvez. Era novo no lugar e eles ainda
não sabiam o que eu era capaz de fazer. Mas eu nunca perdoava nenhuma
traição. Todas mereciam a morte e a teriam.
— Assis.
— Já sei, senhor — disse baixo e saiu.
— Mariano, feche os portões da propriedade. Ficaremos reclusos essa
noite. Quero todos fora do casarão principal, espalhem-se pelos bairros.
— Sim, chefe. — Ele também saiu rapidamente.
Cássio ficou nos fundos.
— Tire um tempo para ficar sozinho com a sua esposa, irmão.
— Está querendo me dizer o que fazer, merdinha? Eu troquei suas
fraldas, me respeite. — Joguei uma faca em sua direção, ele riu e se
esquivou.
— Cale a boca. Mamãe nunca teve muita atenção do papai e você
prometeu que teria uma esposa e faria diferente. — Enfiou as mãos nos
bolsos.
Era foda lembrar que Cássio tinha só dezoito. Era um menino, que eu
criei e transformei em homem. Nossa mãe morreu com ele em seus braços e
obviamente, meu irmão lembrava disso. Cássio nunca conseguiu esquecer
dos olhos dela sem vida.
Nosso pai a odiava, assim como odiava meus irmãos mais velhos. Ele
não nos matou porque parecíamos com ele e tinha certeza que éramos seus
filhos.
— Esse sentimentalismo vai te matar. Te protegi demais. — Fiquei de
pé e segurei sua nuca. — Meu monstro não gosta de machucar mulheres.
— E quanto a Carol?
Bufei. Carol. Ela se jogou do segundo andar da casa. Cássio nutria um
amor secreto e ela sabia disso. Tentava me manipular usando meu irmão. Eu
estava feliz que a vadia maluca estava fora das nossas vidas.
— Esquece isso. É uma ordem. — Olhei em seus olhos. — Não vou
machucar Isabella e isso é tudo que interessa. Agora, mande alguém limpar
isso aqui e vá foder uma boceta antes que eu transforme seu rosto em uma.
Deixei-o sozinho para não me irritar. Fiquei no escritório esperando
que liberasse a casa e assim que todos saíram, ativei os alarmes, fechando as
janelas e isolando meu contato com o mundo. Na sala, deixei a televisão
ligada em todas as câmeras da propriedade e fiquei atento a Assis com o pai
na rua, espiando o que eu precisava.
— O que está acontecendo? — Bella desceu a escada só de calcinha e
um top. — Estava trocando de roupa para treinar quando achei que a casa
estava silenciosa demais.
— E assim decidiu descer de calcinha?
— Qual a diferença dessa aqui para um biquíni? Além do mais, eu já te
avisei para não manter a casa cheia. — Ela sorriu. Megera.
— Vem aqui, bruxa.
Sem se abalar com meu apelido carinhoso, ela desceu a escada
desfilando com seu andar seguro e sentou ao meu lado.
— Aconteceu alguma coisa?
— Vamos ficar sozinhos até nossa ida para a Itália amanhã.
— Já deixei tudo pronto. Você precisa olhar sua bolsa e verificar se
falta algo do que quer levar. E meus irmãos?
— Deixe apenas roupas, leve tudo que é pessoal. Seus irmãos
trabalham para mim, eles estão onde eu quero.
Bella virou o rosto e me deu um olhar gelado. Era isso. Fim da minha
paciência. Puxei-a bruscamente, ela gritou e se debateu, coloquei de bruços
no meu colo e apertei sua bunda. Ela ameaçou sair e a prendi com mais força
até parar. Insolente, fez uma expressão entediada.
— Vou te ensinar como respeitar seu marido. — Dei um tapa firme em
sua nádega.
— Quero saber em que momento olhar para você foi falta de respeito
— grunhiu.
— Você sabe como olhou. — Bati do outro lado e fiz cosquinhas.
— Eu não tenho culpa! — gritou, soltando uma risada. — Pare com
isso!
— Diga que vai me respeitar como marido. — Cutuquei do outro lado
e ela se debateu, conseguindo fugir e avançando em cima de mim, me
batendo e mordendo o ombro. Agarrei sua cintura, derrubando-a no sofá e
caí por cima. — Sua mordida está latejando.
— Faça cosquinha novamente e eu vou arrancar um pedaço fora! —
rosnou. Hum… furiosa? Sorrindo, levei meus dedos para sua costela, ela
gritou e começou a rir sem parar, com lágrimas escorrendo pelos olhos.
Parei e fez um beicinho charmoso. — Isso é um tipo de tortura. Está me
torturando?
— Não, bebê. — Esfreguei meus lábios nos dela.
Bella segurou minha nuca e me beijou. Ela desistiu de treinar e eu
esqueci que precisava fazer qualquer coisa na urgente necessidade de estar
dentro dela novamente.
10 | Bella.
Danilo estava dirigindo sem camisa, reclamando do calor. Ele exibia
o peito tatuado, ignorando as regras locais e avançando pelas avenidas até o
aeroporto privado. Meus irmãos foram na frente com as malas e fiquei
surpresa ao encontrar meus pais ao lado do carro, assim que paramos. Eles
estavam ali para se despedir de Mariano e eu.
— Mãe? O que tem a dizer?
— Respeite seu marido, Bella. Saiba que seu lugar é de extrema
importância. — Ela tocou meus ombros. — Uma mulher sábia descobre
como fazer o marido ouvir e olhar na direção necessária. Seja firme e
resiliente, seja fria. Pense, analise e domine. Você é a mulher mais
importante da nossa família agora. — Beijando minha bochecha, falou baixo.
— Escolha as suas batalhas.
— Obrigada, mãe. — Abracei-a brevemente, sem saber como fazer
aquilo. Ela também ficou desajeitada e sem graça. Nos afastamos e virei
para meu pai, ele não disse nada, beijou minha testa e deu um passo para
trás. Assis fez o gesto de descer o dedo por meu rosto, apertando meu nariz.
— Prometa que vai me ver logo.
— Estarei lá no casamento — ele prometeu baixinho.
Eu nunca fiquei longe da minha família. Estar em outra casa trouxe um
sentimento esquisito, mas ao entrar no avião e perceber que ficaria em outro
país, me senti desconfortável. Mariano já estava do lado de dentro, sentei ao
seu lado. Meu irmão apenas piscou, trazendo tranquilidade. Danilo foi o
último a entrar, sentando nos fundos e sozinho.
Descobri que a parte de trás da aeronave estava vazia. Entrei e fechei a
porta. Odiava voar e não queria que os outros vissem o quanto ficava
enjoada na decolagem. Separei um calmante, confiando que Mariano
cuidaria de mim se perdesse completamente o controle, mas esperava
conseguir manter a linha.
— O que está fazendo sozinha aqui? — Danilo entrou e fechou a porta.
— Achei que gostaria de privacidade para ficar com seus homens.
— Ainda com a porra da história da festa, Bella?
— Não. — Amuei ao perceber o sinal de que iríamos decolar.
Danilo sentou à minha frente e prendeu o cinto. Fiz o mesmo e evitei
olhar para fora. Eu odiava a decolagem (e o pouso). Mantive meus olhos
treinados na placa acima da cabeça dele, sentindo meu estômago parar na
cintura de tanto enjoo. Agarrei o banco, empurrando minhas unhas no
assento. Fechei os olhos para controlar a náusea e, logo que foi permitido
circular, me abanei. Meu marido saiu do lugar e sentou ao meu lado.
— Você vai vomitar? — Pegou o saco próprio e abriu.
— Acho que sim.
— Aqui, vem. — Ele massageou minha nuca. — Deveria ter me dito
que tem medo de voar.
— E o que isso mudaria? Não dá para ir a pé para a Itália.
Danilo grunhiu.
— Vamos conversar sobre afiar sua ferradura depois. — Ele me
colocou deitada no banco com a cabeça elevada.
— Não tenho medo de voar. Não tenho medo de nada.
— Assumir seu medo não te faz fraca. Apenas como você lida com ele,
sim. Está indo bem, controle sua respiração, esqueça onde estamos e feche
os olhos. Não vou te deixar cair. — Danilo puxou minhas pernas e manteve
em cima das suas.
Não confiava nele. Não ainda. Fiz uma promessa que seria dele e isso
implicava aceitar seus cuidados como marido. Aceitei deitar a cabeça em
seu peito e a maior parte da viagem fiquei de olhos fechados, reclusa,
vomitando e evitando atirar nos nossos irmãos por sugerir que um mini
Danilo estava a caminho.
— Se ela bater em vocês, eu não farei nada — Danilo brincou atrás de
mim, segurando meu quinto saco de vômito. — Quando engravidar,
passaremos por isso?
— Eu espero que não — resmunguei. Minha mãe dizia que apenas na
minha gravidez ela ficou bem. Meus irmãos a deixaram de cama, cansada e
muito enjoada.
— Vai ficar tudo bem. — Ele acariciou meu cabelo e só joguei meu
corpo, exausta.
Desembarcamos em Milão porque Danilo tinha negócios na cidade e
agradeci por não aparecer completamente destruída na frente da família dele
pela primeira vez. Ficamos em um hotel maravilhoso na melhor localização
da cidade, com uma banheira que foi a primeira coisa que usei. Suada e com
um gosto horrível na boca, literalmente ignorei a existência de Danilo e me
tranquei no banheiro, cuidando de mim mesma para voltar a me sentir
humana.
Em três semanas casada, descobri uma coisa sobre Danilo. Ele era um
homem parcialmente tranquilo a maior parte do tempo. Tirando o cigarro, as
armas, tatuagens e um monte de palavrão que saía de sua boca, ele era
comum. Trabalhando e com um bom humor. No entanto, em situações
específicas, virava uma chavinha em sua mente que o olhar mudava e parecia
possuído por algo tão ruim que, mesmo estando acostumada com o medo, me
assustava.
— Quero uma nova remessa — ele falou ao telefone, entrando no
banheiro. — Não. As balas saíram muito rápido. Terá que aumentar a
produção. Minha parte será entregue essa noite.
Jogou o aparelho no balcão e tirou a roupa. Eu estava sentada na ponta
da banheira, com meus cremes e usando o chuveiro pequeno como auxílio.
— Está demorando uma eternidade, eu também quero tomar banho. —
Acionou o chuveiro maior. Ele pegou meu sabonete de rosto, bati em sua
mão e entreguei o líquido.
— Ainda estou depilando minha perna — avisei.
— Sou muito bom com uma navalha. Por que não me chamou?
— Porque sou ótima com ela também. — Dei-lhe um sorriso. Seu olhar
brilhou divertido e apontou para entre minhas pernas. — Tiro a cera. Nem
vem.
— Consegue fazer isso sozinha?
— Claro que não. Eu fui ao salão naquele dia e enquanto esperava do
lado de fora, fiz a minha depilação, ou acha que ela ficou sem pelos do nada
por pura mágica?
— Era uma mulher?
— Não. Um homem de dois metros de altura. — Revirei os olhos.
Danilo acertou um jato de água gelada em mim. Joguei o frasco do meu
xampu nele. — Claro que era!
— E eu já te disse para afiar a porra da ferradura depois. — Ameaçou
jogar mais água e levantei, tomando o chuveirinho de sua mão, lavando
minhas pernas. — Deixe-me ver se essa mulher fez um bom trabalho.
— Agora? — Eu ri. — Esteve com o rosto a centímetros dela na outra
noite. Não percebeu?
— Estava muito ocupado para me ligar nos detalhes.
— A sua vida se resume a me ter de pernas abertas na sua frente, é? —
Peguei o sabonete líquido, esguichei uma boa quantidade na palma da mão e
esfreguei para criar espuma. Ele ficou quieto, me deixando explorar seu
torso com as mãos.
— Se fosse humanamente possível, faríamos sexo o tempo todo. Sem
comida. Sem precisar dormir. Apenas prazer em tempo real e completamente
alucinante. — Ele passou as costas dos dedos nos meus mamilos. — Pode
imaginar o quão incrível seria transar o tempo todo?
Danilo não precisava se preocupar com a falta de sexo entre nós se
continuasse tão bom quanto era. Eu não tinha experiência, mas sabia que
homens podiam ser egoístas e deixar suas parceiras completamente
insatisfeitas. Ele saciava muito bem meu desejo, que a cada vez, crescia e
tomava uma forma diferente. Sem o desconforto das primeiras vezes e mais
desinibida com meu tesão, ele nunca me fez sentir usada e frustrada.
Podia ser cedo para afirmar, mas no minuto que ficasse preguiçoso, eu
também não faria muito esforço por nós. Sabia que conseguia separar sexo
dos meus sentimentos, ou ele não teria nenhuma ação depois de me irritar o
dia inteiro, se intrometendo em absolutamente tudo que faço.
— Você está descendo as mãos tão lentamente para me provocar? Se
sim, está conseguindo. — Ele apoiou as dele na parede atrás de mim 4
continuei saboreando o toque em seu abdômen malhado.
— Eu sei que ele quer minha atenção.
— Ele quer você de joelhos e chupando.
— Adora me ter em posição de submissão na sua frente, não é?
Danilo riu sombriamente e me beijou, pressionando minhas costas na
parede.
— Não se preocupe. Nunca vou me importar de ajoelhar para te
chupar. Se isso é ser submisso, eu não me importo, desde que minha boca
esteja na sua boceta. Agora, ajoelha e me chupa — ordenou baixinho. Tão
dominante e possessivo, eu odiava o quanto gostava.
Caí de joelhos à sua frente, dando o que queria, mas não permaneci
muito tempo naquela posição quando ele percebeu que estava tocando a mim
mesma enquanto o chupava. Danilo perdeu a cabeça, me levou para a cama e
na brutalidade, descobri o quanto ainda se segurava no sexo comigo. Foi
rude e intenso, ele gostou de me ver tocando entre minhas pernas e me
levando ao ápice sozinha bem diante dos seus olhos.
— Não existe absolutamente nada mais belo. — Ele beijou minha
barriga e lambeu meus dedos. — Que gosto maravilhoso…
Danilo sempre me mantinha por perto depois do sexo. Eu nunca sabia o
que fazer. Abraços e beijos era novo. Ele era carinhoso e tinha uma
necessidade de sentir carinho. Travei um pouco ao perceber sua intenção,
ele suspirou e só não ficou irritado porque estava sob efeitos de um
orgasmo.
— Por que não gosta de abraçar? Você sempre se afasta.
— Não me faça sentir arrependimento por ser honesta — avisei bem
severa. Ele riu. Oh, idiota! — Eu não sei abraçar, o que leva pessoas a
trocarem coisas afetivas. O sexo parece fácil, é muito mais instinto, desejo,
eu me perco e me entrego porque é prazer cru sem impedimentos. Agora, um
abraço, é íntimo. Como se eu permitisse que alguém fizesse parte do meu ser
e eu não fui criada dessa maneira. Nós não somos afetivos em casa.
Danilo deitou de lado e observou meu rosto.
— Meu pai matou minha mãe na minha frente, enquanto ela segurava
Cássio. Meus dois irmãos mais velhos ganharam um tiro na testa cada, bem
ao meu lado. Eu assisti tudo. Meu pai nunca me abraçou e eu não quis
abraçá-lo. Eu o odiava e pra mim, a existência dele era indiferente — ele
contou e percebeu o quanto fiquei arrepiada. — Demonizei muita gente e
sim, sei que fui a pior experiência para quem fez parte da minha vida a longo
prazo, mas Cássio é diferente. Ele era um bebê que dormia comigo porque
eu tinha medo que nosso pai o matasse.
Puta que pariu. Eu nunca soube da história, foi muito antes da minha
chegada. Era simplesmente um horror pensar em um marido matando a
esposa e filhos. Meu pai era o único exemplo de homem em casa, ele podia
ser quieto e frio, mas era bom para minha mãe dentro dos padrões do nosso
mundo. Nunca bateu, gritou ou a humilhou. Da maneira dele, demonstrava
seu afeto.
— Você não precisa abraçar a todos, apenas aqueles que importam. Na
vida que levamos, ter lealdade do seu próprio sangue é a maior benção.
Eu nunca abracei meu irmão e ainda assim, ele deixou a vida em Vegas
para me seguir até a Itália. Danilo não trazia mais sua arma para a cama. Ele
ainda podia me subjugar, não muito facilmente, mas sim, poderia me
machucar ao ponto de me paralisar. Também sabia que um homem da sua
posição nunca ficava desarmado. Ele estava demonstrando a sua promessa,
sem palavras, e sim com atitudes.
Mudei de posição na cama e analisei como poderia me encaixar em
seus braços. Ele riu da minha careta e lentamente, me posicionou. Deixei
meu braço em seu peito e a perna acima da dele. Era possível ouvir seu
coração e por algum motivo muito idiota, achei o som lindo. Ele beijou
minha testa e com o silêncio do quarto, finalmente relaxamos.
11 | Bella.
Danilo já havia saído há horas. Foi fazer a troca de um carregamento
e encontrar com Damon Galattore enquanto Enzo Rafaelli se preparava para
o casamento. Por mais que soubesse que era somente uma transação
comercial, era inevitável não ficar tensa por ele estar com quem estaria. Os
Galattore mataram todos da minha família e eu retribuiria o favor apenas por
um insano desejo de vingança por não existirmos mais.
Com fome, saí do quarto e encontrei meu irmão e Cássio do lado de
fora.
— Danilo foi sozinho? — Coloquei minhas mãos na cintura.
— Ele disse que deveríamos ficar hoje — Cássio respondeu.
Soltei um grunhido, olhando a hora.
— Seu jantar está na mesa, aquecido no buffet. Quer beber alguma
coisa? — Cássio ficou de pé e destampou o filé de peixe com legumes
grelhados acompanhado de um purê de batatas.
— Vou pegar vinho. — Mariano saiu de seu lugar.
Saber o que Cássio passou me fez olhá-lo diferente. Agradeci pela
maneira que arrumou a mesa para mim e pelo bombom que meu irmão deixou
junto à taça de vinho. Apertei seus dedos, ele sorriu e foi se sentar. Não era
o melhor momento para fazer uma refeição, mas eu estava com os horários
trocados, dormi depois que Danilo saiu e estava com dor de cabeça de tanto
que havia passado mal.
Meus acompanhantes não estavam de folga. Percebi pela postura de
ambos que foram designados para cuidar de mim, como se eu precisasse de
proteção. Voltei para o quarto e fiquei na poltrona, perto da varanda, com
ampla visão para o quarto e olhando a noite. Queria passear em Milão. Meu
pai não me deixava sair direito e com meus irmãos, eles precisavam estar de
bom humor. Danilo disse para fazer compras necessárias antes de irmos
embora, mas não era divertido seguir uma lista interminável de itens do
enxoval que deveria ter feito com calma.
Algumas coisas comprei pela internet. Pratos, copos, toalhas e itens de
decoração. Não conhecia o casarão dos Venturinni por dentro. A Villa deles
era enorme, na encosta do mar, com uma praia privada e diversas casas do
outro lado. Só estive no pátio principal em uma festa, não muito perto da
casa e sim das de hóspedes e funcionários.
Com o pensamento de matar o tempo, continuei fazendo compras pela
internet até que ouvi um barulho na porta. Danilo entrou sem camisa, suado,
com a arma na mão e um olhar assassino. Ele foi para o banheiro, tirando a
roupa e lhe dei espaço para simplesmente chegar e se encontrar. Desliguei o
computador, pegando a roupa suja do chão e enfiei em um saco para que
Cássio pudesse desaparecer com ela e qualquer evidência.
— Deu tudo certo ou tudo errado? — Encostei na soleira da porta.
— Deu tudo certo. — Ele sorriu e lavou o cabelo.
— Parece que entrou em uma briga.
— Foi por pura diversão. — Esfregou o rosto.
Ainda fiquei desconfiada, mas não discuti. Danilo vestiu uma cueca e
foi para a sala. Mariano e Cássio não estavam mais ali, provavelmente
foram descansar já que meu marido estava de volta. Peguei umas frutas,
ansiosa e o segui por todo lado, querendo analisar a situação. Danilo não me
falava nada, era irritante, eu não sabia se tudo estava bem ou prestes a
desmoronar. Ele me queria em uma posição de esposa protegida em casa
sem entender que eu nunca ficaria totalmente bem se não soubesse o
momento certo de agir.
— Brigou por diversão?
— Damon e eu estávamos entediados enquanto o negociante não
chegava. — Ele deu de ombros e pegou uma toalha. — É bom saber como
anda o treinamento de quem está ao meu redor.
Damon era lindo, eu não era tonta de negar e por um segundo imaginei
o quão excitante deve ter sido os dois lutando sem camisa e querendo saber
quem sairia melhor.
— Tire esse olhar safado do rosto!
— Eu? Me respeita! Não tenho um olhar safado, sou uma dama —
rebati. Ele riu e me pegou antes que eu fugisse, pedi desculpas para não
sofrer outro ataque de cosquinhas. — Apenas acho sexy quando está
lutando.
— Vamos treinar mais quando chegarmos em casa. Eu adorei estar no
tatame com você.
— Ainda terei resistência e não ficarei excitada a cada novo treino. —
Encolhi os ombros. Foi gostoso transar ali, mas tinha que ser madura e dona
do meu próprio corpo. Controlar a libido.
— Vem aqui, minha dama. Me beije. — Ele desceu as mãos para minha
bunda, apertando de forma divertida. — Hora de dormir. Amanhã será um
longo dia antes de irmos para casa.
Casa para ele não significava a mesma coisa para mim. Eu não
conhecia sua família, estava munida de fofocas e medo. Sem fazer ideia do
que me aguardava, era difícil deitar e simplesmente relaxar como se não
estivesse prestes a enfrentar um mundo desconhecido. Meus nervos estavam
à flor da pele, o que significava um humor ruim e sendo uma pessoa difícil
de lidar. Danilo estava divertido. Ele tinha um prazer em particular de me
ver fora da minha zona de conforto.
Nós chegamos à vila no começo da noite. Todos os membros pareciam
aguardá-lo. Sua tia era uma senhora de expressão sombria usando um longo
vestido preto. O cabelo grisalho estava preso em um coque apertado com
tranças nas laterais. Seu marido era um homem alto, robusto, que olhou
tempo demais para o meu corpo, de uma maneira que pareceu crítica.
— Quero que conheça Tia Edna e seu marido, Tomás — Danilo
apresentou. — Ela é irmã da minha mãe e ele irmão caçula do meu pai.
Interessante. Dei um aceno para ambos. Nada de beijos e abraços, eu
não me forçaria àquilo. Já bastava Danilo me segurando o tempo todo. Fui
apresentada aos funcionários mais próximos. Eles pegaram nossa bagagem e
levaram para o quarto enquanto a governanta, tagarela e efusiva, fazia um
enorme floreio sobre o banquete que preparou para o nosso jantar.
Sua tia era ruim. Reconhecia uma pessoa amarga de longe. Meu pai me
treinou para lidar com elas, sempre dizendo que não era a frieza ou a dor a
pior parte do ser humano; era a inveja. Deixei passar as primeiras
alfinetadas porque não me importava. Ela sentiu meu olhar gélido, chegando
a se mover desconfortável na cadeira, procurando não me encarar.
Não foi o suficiente para desistir.
— Nós estávamos muito ansiosos para conhecer a mulher do meu
sobrinho. — Edna segurou a mão do marido e apertou. — Ficamos
desconfortáveis com um relacionamento antes do casamento. Não é comum
entre nós.
Danilo ia falar e eu toquei sua coxa.
— A promessa de casamento foi feita entre nossos pais, mas a decisão
do relacionamento coube apenas a Danilo e a mim. Como chefe e agora,
marido, ele fez o que achou melhor. Não há absolutamente ninguém acima
dele… ou de mim — falei pausadamente. — Entendo que esteja acostumada
a ser a mulher desta casa. Agradeço o empenho em manter a residência em
pleno funcionamento, mas a partir de agora, é comigo.
— Estou aqui para ajudar no que for necessário. Danilo sabe que
sempre tenho as melhores intenções como família. Vivemos aqui por amor e
por obediência ao que acreditamos — ela rebateu, com um sorriso que não
parecia natural em seu rosto.
— Minha esposa deseja que a residência seja apenas nossa. Eu
informei com antecedência que deveriam retornar para casa. — Danilo soou
frio. Ela o desobedeceu?
— Só esperamos a sua chegada, sobrinho. A mudança já foi feita — o
tio falou com tranquilidade.
— Ótimo.
— E quanto a Cássio e Mariano? — Ela quis saber.
— Viverão na casa em anexo. Eles estão de acordo.
— Então, só me resta desejar felicidades ao casal. — Edna limpou a
boca. — Se importa se eu verificar a sobremesa ou já gostaria de assumir
essa função?
Ela achava mesmo que eu me resumiria a dona de casa, descalça e
grávida? Danilo apertou meus dedos, provavelmente percebendo que minha
veia da testa parecia prestes a explodir.
— Essa função é da governanta, mas a senhora está livre para ir. — Fiz
um gesto suave com a mão. Ela saiu sem olhar para trás. Danilo foi até o bar
pegar mais bebidas. Fiquei sozinha com seu tio e em um arremesso suave,
cravei a faca no pão que sobrou em seu prato. Ele saltou, distraído demais
por estar salivando no meu decote. — Olhe para os meus peitos novamente e
eu colocarei seus olhos como decoração dentro da jarra de cristal que está
na entrada. Eu sou a sra. Venturinni e não importa o que vestirei, você
sempre deverá ser respeitoso e leal a mim e ao meu marido.
Ele me encarou com fúria e ultraje.
— Apenas me poupe das suas palavras e saia da minha frente.
Tomás saiu quase tombando a cadeira. Danilo voltou com um charuto
aceso e equilibrando dois copos de uísque. Ele me deu um e beijou minha
cabeça.
— O primeiro jantar foi um completo sucesso, esposa. Colocou minha
tia maluca em seu devido lugar e quase esfaqueou meu tio tarado. — Sorriu.
O filho da puta percebeu tudo o tempo todo e estava esperando a minha
reação. — Minha esposa furiosa. — Inclinou-se e me deu um beijo na boca.
A governanta nos serviu com o delicioso pudim de chocolate
caramelizado e eu gemi de pura apreciação. Não era do tipo de fazer falsos
elogios, depois de um jantar cheio de embates e toda a tensão de chegar a um
novo lar, aquilo era merecido. Aceitei mais um pedaço. Danilo pegou minhas
pernas e colocou-as em seu colo. Com uma bebida e seu charuto, parecia em
paz por estar em casa.
12 | Danilo.
O som das ondas batendo nas pedras acordou minha esposa. Ela saiu
do casulo das cobertas, com as pernas emboladas nas minhas. Nua, ergueu-
se da cama como uma sereia, me hipnotizando e foi para a janela. Ela
admirou a paisagem do dia nascendo. Parei atrás dela, beijando seus
ombros. Era nossa primeira noite como marido e mulher naquela casa, que
eu nasci e cresci, sempre foi meu lado e passou a ser o dela desde a noite
anterior.
— Seus olhos são da cor do oceano.
Bella virou e me encarou com um ar divertido.
— Está muito cedo para soar piegas no meu ouvido. — Ela riu e pela
primeira vez, me abraçou. Deitou a cabeça em meu peito, acariciei sua nuca,
jogando o cabelo longo para o lado. — Foi uma noite longa. Eu diria que
seus olhos são da cor do mel que eu quero agora no café da manhã.
— Isso é uma sutil dica que minha esposa está com fome? — Acariciei
suas costas.
— Ainda bem que é um homem inteligente. — Soltou um bocejo.
— Vou te alimentar.
Nos preparamos para o dia. Eu trabalharia de casa de dia e sairia à
noite, avisei que poderíamos treinar no fim da tarde. Comemos sozinhos no
pátio da casa, com a privacidade que eu gostava de manter ao meu redor.
— Soube que tem muitas caixas te aguardando no depósito.
— Agora que vi a casa um pouco melhor, sei como irei mantê-la, mas
não espere que fique atenta apenas nisso. Como vão ficar as coisas em
Vegas? Quem vai fazer a retaguarda deles? — Ela soou atenta e preocupada.
Segurei sua mão, aprendi que quando ela permitia, era porque estava
disposta a me ouvir. Quando retraía ao toque, eu podia desenhar no céu que
não ganharia a atenção.
— Temos mais espaço e mais homens, sua família não está
desprotegida. Seu pai sabe o que faz e Assis é muito competente. — Apertei
seus dedos, ela abriu a mão e entrelaçamos.
— Eu sei que minha família não é o perfeito exemplo de um comercial,
mas eu me importo com eles. Quero que todos fiquem bem.
— Em uma guerra, há sacrifícios. Não esqueça disso.
— Danilo, existe alguma coisa que eu possa fazer além de ser linda,
bela, gostosa e manter a casa em ordem? Nós concordamos que ter filhos
agora não é exatamente um bom momento.
— Eu quero dominar Vegas, mas isso não vai me impedir de ser pai.
— Ok! Mas…
— Eu sei, Bella. — Suspirei. Cacete, como era cansativa. — Eu vou
descobrir algo que você possa fazer além de ser dona de casa. Na minha
vida e na minha família, as mulheres ficam em casa e têm filhos.
— E depois você não sabe por que sua tia é assim? Puxa vida! — ela
rebateu com seu clássico deboche. Qualquer outro marido não toleraria uma
esposa insolente, mas com Isabella, era isso ou uma parede de gelo enorme e
muita falsidade. Decidi que não queria que a minha esposa fosse um
personagem ou um fantoche ao meu lado.
O jeito era saber lidar com ela. Ou pelo menos tentar.
— Bella…
Ela grunhiu e revirou os olhos, aceitando.
— Mostre que está de acordo e me dê um beijo.
— Não estou de acordo, me resta aceitar — ela retrucou, me fazendo
rir. — Mas te darei um beijo mesmo assim. — Sorriu e se inclinou. Sacana
como era, simplesmente a puxei para o meu colo. Bella soltou um gritinho e
me agarrou.
— Vou te deixar sozinha pela casa. Tente não colocar olhos no jarro de
cristal.
— Tudo bem, mas não faço promessas sobre qualquer outra parte do
corpo. — Esfregou o nariz no meu e foi embora para o depósito, abrir as
caixas das encomendas.
Cássio e Mariano entraram no pátio juntos. Foram treinar cedo e
saíram para fazer as coisas que eu pedi. Com fome, atacaram o que sobrou
do café, falando de boca cheia. Deixei passar por estar com um excelente
bom humor. Acendi meu cigarro, ouvindo o relatório. Meus homens queriam
festejar meu retorno, deixei que marcassem a festa e organizassem tudo.
Saberiam na hora que não estava disposto a olhar para suas caras feias
estando recém-casado.
O fato de não poder tirar uns dias de folga para minha lua de mel não
significava que eu deixaria Bella em casa para sair. Ela iria querer sair
mesmo que não houvesse outras mulheres, usaria suas infelizes roupas curtas
e nós brigaríamos ao invés de estarmos em casa transando. Eu queria
conquistá-la. Se era capaz de dominar territórios e ter homens dobrados aos
meus pés, por que minha esposa seria mais difícil?
— E você vai na festa? — Cássio quis saber.
— Que festa? — Bella questionou ao se aproximar. Ela parou ao meu
lado.
— Festa de comemoração pelo retorno do meu irmão.
Bella mordeu o lábio, me deu um olhar e se afastou, rebolando. Deve
ter sido muito difícil não retrucar na presença dos nossos irmãos.
Retornando para o quarto, ela me enviou uma mensagem apenas com uma
interrogação e nada mais. Podia sentir seu olhar questionador queimar em
minha nuca e pela expressão divertida de Mariano, ele também.
— Estou em reclusão temporária com a minha esposa, irmão. Quero
que você e Mariano me representem, agradem a todos e voltem para casa.
Cássio parecia divertido e saiu logo que terminou de comer. Mariano
foi falar com a irmã e avisou que iria cuidar dos carros. Ele era
excessivamente preocupado com coisas mínimas, por ser muito quieto,
passava despercebido entre os cômodos da casa e pelo histórico, matava
sem que suas vítimas percebessem a aproximação. Saber que meu novo
cunhado deixava metade dos meus homens de cabelos em pé me agradava
muito.
Fiquei no mesmo lugar com meu computador. Bella conversou com as
funcionárias, repassou o cardápio, organizou a adega e distribuiu novas
tarefas contrariando toda rotina que minha tia criou. Ela sabia que eu queria
refeições no horário e a casa limpa, todo restante era de sua decisão.
Quando o almoço ficou pronto, um pouco mais tarde devido a todas as
mudanças, minha esposa apareceu cheirosa, usando um biquíni.
— O que é isso?
— Vou nadar. O mar está lindo, quero conhecer a praia e desde que fui
para Vegas, não sei o que é mergulhar em águas salgadas.
— Se comporte. Nada de nudez.
— Estou vestida. — Exibiu seu biquíni e me deu um sorriso traquina.
— Quem achar que não, que enfie o dedo no… — Limpei minha garganta. —
E rasgue. Calma. Foi só uma sugestão hipotética.
— Ah, Isabella! O que eu vou fazer com você e essa sua boca
insolente?
— Sei que é um homem muito criativo.
Provocante.
Isabella foi para a praia sozinha. Não havia ninguém por lá, até a
piscina estava vazia e o mar tranquilo. Fiquei vigiando-a do meu escritório,
um olho na planilha de remessas e outro nela, nadando de um lado ao outro,
tomando sol e apreciando a tranquilidade da tarde. Eu sabia que estava
encantada com a beleza apenas por sua expressão contemplativa, algo raro,
pois sempre demonstrava tensão e olhares atentos.
Terminei meu trabalho no entardecer, o jantar estava pronto e a casa
vazia, do jeito que planejei para ter meus primeiros dias com Isabella. Havia
motivos pelos quais era importante para mim ter uma conexão e tinha tudo a
ver com confiança. Meu pai não confiava na minha mãe, o casamento deles
foi um acordo e nunca tiveram afinidade. Quatro filhos, poucas palavras e
paranoias extremas o levaram ao ápice da insanidade.
Eu não permitiria que Bella entrasse tanto na minha mente ao ponto de
me destruir. Ela jamais se renderia a mim completamente se não me
conhecesse.
Vesti um calção de banho e desci as pedras até a praia. Ela virou o
rosto na minha direção, parecia uma sereia, com os longos cabelos pretos
molhados, jogados para trás e os olhos da mesma cor do oceano. Estava um
pouco vermelha, com o biquíni fora do lugar, como se estivesse
incomodando. Passei por ela e mergulhei primeiro, precisando acalmar o
calor.
Bella voltou para a água e emergi na sua frente, beijando o vale dos
seus seios antes de beijar-lhe a boca. Peguei seus braços e fiz com que me
abraçasse, ela só o fez quando entendeu a minha lógica de tê-la agarradinha
para boiarmos. Ela gritou quando mergulhei de repente e soltou uma risada
linda. Assustada, tentou me afogar.
— Você é tão bruta! — Segurei seus pulsos.
— Diz o bebê delicado dessa relação. — Agarrou minhas orelhas e lhe
dei um beijo.
— Estou sendo um anjo.
— Sim, até posso ver a auréola na sua cabeça. — Ela bufou e cruzou
as pernas em minha cintura. Ficamos no mar por muito tempo, até o sol
começar a se pôr e fomos para a piscina. Preparei drinques para nós dois,
para ela um cuba libre e para mim, uísque puro. — Isso é bom.
— Nunca bebeu antes?
— Além de espumantes? Nada. Meus pais não acreditam que bebida
alcoólica possa ser uma boa coisa considerando o quanto desgasta o corpo.
— Já ouvi seu pai dizer essa besteira. Não que seus irmãos
concordem.
— Eles são homens e podem fazer o que bem entendem, desde que
tenham uma arma nas mãos. — Ela deu de ombros, parecendo petulante e me
fez rir. — Para os homens, tudo é fácil nessa família.
— Sem beicinhos hoje. — Agarrei suas bochechas.
— Faz outro? — Esticou o copo vazio. Só tinha gelo e o canudinho. —
Não gosto de beber refrigerantes, mas isso aí está muito bom.
Preparei mais um e sentei atrás dela, com suas costas em meu peito.
Considerei uma pequena vitória sentir sua carícia na minha coxa. Eu entendi
quando ela disse que não teve afeto, porque eu também não tive e dado ao
fato de que era seu primeiro relacionamento na vida, era fácil compreender
porque não me tocava livremente. Sendo um homem possessivo, ter o
carinho da minha mulher era uma das minhas prioridades.
— Acha que vamos conseguir ter mais dias apenas observando o sol se
pôr?
— Se você quiser, sim.
Bella ainda precisava entender que sendo minha esposa, ela teria o
mundo aos seus pés.
— Tudo em Vegas era tão tenso, eu nunca sabia se deveria dormir ou
ficar de guarda — confessou baixo. A bebida a fez relaxar o suficiente para
se abrir. Eu não entendia porque o pai permitiu que ela carregasse tanto peso
sendo mulher. Deveria ser protegida e cuidada. Idolatrada. Não viver
preocupada se a casa seria invadida a qualquer momento.
— Aqui é o seu lar. Nosso lar.
Aquela terra me pertencia e quem ousasse tomar, morreria em falha.
Ninguém iria atingi-la e os que tentassem, descobririam o tamanho da minha
fúria.
13 | Bella.
Senti os pés de Danilo e então, ele me abraçou pela manhã, beijando
meu ombro e sussurrando baixinho “cheiro bom”. Por algum motivo, ele
gostava do meu perfume e estava sempre dando um jeito de estar com o nariz
entre meus seios e pescoço. Me aninhei nele, gostando de estar em seus
braços e principalmente do quanto me sentia segura. Era novo ter essa
proteção e me envaidecia ter alguém desejando ser meu protetor mesmo que
eu não precisasse, pois, sabia como me defender.
Beijei seus bíceps e voltei a fechar os olhos, querendo tirar um
cochilo. Ele estava nu. Raramente colocava roupas dentro do quarto e como
estávamos praticamente sozinhos dentro de casa por quase uma semana, ele
não sentia necessidade de se cobrir e muito menos de me pedir para colocar
roupas (como se a presença de outras pessoas fosse me impedir de andar do
jeito que quisesse). Pensei que seria insuportável não ter nada para fazer.
Desvencilhei dos seus braços, ele reclamou e ignorei, precisando fazer
xixi. Da cama, soltou outro resmungo, dizendo que só estávamos dormindo
por duas horas e não queria acordar ainda. Tomei um banho rápido, só para
refrescar, escovei os dentes e os cabelos, voltando nua para onde estava. Ele
abriu os olhos, me analisou e me abraçou de novo. Beijei seu pescoço,
salpicando vários beijinhos, dando uma leve mordida em seu queixo
enquanto descia as mãos para sua barriga trincada.
No casulo da cama, Danilo suspirou e buscou minha boca, toquei-o,
sentindo prazer ao vê-lo tão excitado por minha causa. Ele virou de barriga
para cima conforme escorregava para debaixo das cobertas. Estabelecida
entre suas pernas, levei-o à boca, admirada com seu olhar cheio de tesão.
Agarrando meu cabelo, mordeu o lábio.
— Leve tudo à boca — ordenou, lutando para não erguer o quadril.
Soltei seu pau com um estalo suave. Ele gemeu.
— Você quer foder minha boca? — ofereci com um sorrisinho.
— Porra, sim.
Foi totalmente novo sentir o quanto ele podia ser áspero no sexo oral.
Ele gozou na minha boca e engoli, fazendo o showzinho que parecia gostar
muito. Danilo sorriu de um jeito safado com os beijos que distribuí por seu
abdômen até a boca. Ele não se importou em sentir seu gosto na minha
língua, até brincou com ela e voltou a me beijar. Eu gostava de ficar por
cima, me dava a sensação de controle. Desci sobre seu pau, rebolando com
as mãos apoiadas em sua barriga.
— Você está me torturando — ele gemeu com meu lento rebolar.
— Não estou com pressa. — Soltei um gemido.
Apertando meu mamilo, acariciou minhas coxas e chupou meus peitos.
Esfregando meu clitóris com o polegar, me levou a um orgasmo gostoso para
começar o dia.
— Empina essa bunda. Eu sei onde quero gozar…
Virei meu rosto para o espelho, nos observando. Era lindo. Uma
química deliciosa. Ele segurava meu quadril, metendo gostoso e cada nova
estocada me deixava sem fôlego. Seus tapas eram duros, deixariam marca,
mas não estava me importando. Só conseguia proferir palavrões e me perder
novamente na maneira incrível que ele me fodia. Gozei de novo, ele puxou
fora e espalhou seu esperma pelas minhas nádegas.
— A marca dos meus dedos com a minha porra. Não existe beleza
melhor. — Beijou minha nuca. Sem aviso, me pegou no colo. — Vou limpar
o que sujei.
Descemos para comer depois do banho. Danilo simplesmente sentou e
perguntou o que eu iria preparar. Tive vontade de gritar e jogar os ovos em
seu rosto, mas decidi que pagaria fazendo-o experimentar a minha culinária
incrível. Café era a única coisa boa que sabia preparar e o que eu beberia.
Para ele, cortei os pães e selecionei os ovos, pimenta e sal. Não entendi
porque a frigideira havia ficado quente rápido demais e ao colocar a
manteiga, levantou um mundo de fumaça.
Cortei as pimentas e joguei o sal, misturando aos ovos que haviam
caído com um pouco de casca junto. Tentei tirar e queimei meus dedos.
Soltei um palavrão e ele parecia pleno, olhando para o telefone, esperando a
comida. Maldito. Assim que pareceram prontos, virei no prato e coloquei à
sua frente junto com os pães. Sentei na outra ponta com minha caneca de
café.
— Puta que pariu, Isabella! O que é isso?
— A comida que preparei com todo meu amor. — Dei-lhe um sorriso.
— Talvez devesse dizer que eu não sei cozinhar e se quer algo melhor que
isso, precisará fazer ou mandar alguém comprar.
Danilo engoliu o ovo muito salgado e apimentado, bebendo um pouco
do café.
— Eu vou cozinhar — resmungou.
— Estou com fome também! — gritei da sala de jantar, ele bufou e
pegou os ovos.
Meu marido preparou um super omelete, torradas e ainda encontrou
biscoitos para que pudesse comer com o patê de húmus que a governanta
deixou pronto antes de sair de folga. Ele fez um delicioso banquete. Comi
tudo e agradeci com um beijo, sentando em seu colo e rindo do prato de ovos
que fiz, intocado.
— Nem os cães vão se interessar por isso. — Danilo ergueu e cheirou.
— Como vamos fazer? A governanta volta semana que vem e eu não tenho
como cozinhar o tempo todo.
— Farei uma dieta. — Dei de ombros, ele me olhou sério e fiz um
beicinho escondendo o rosto em seu pescoço.
— Eu preparo o café e você o jantar, podemos comer um lanche no
almoço. — Ele me deu um tapinha na bunda. — É a refeição mais importante
do dia. Minha governanta segue um cardápio de chef. Sou muito exigente.
— Já cogitou a possibilidade de que eu não sou sua funcionária e muito
menos sua mãe? Tenha sorte e seja grato com o que tiver no seu prato à
noite.
— Isabella… — Ele soou ameaçador. Eu podia levar a curta paciência
dele ao limite.
Danilo foi trabalhar. Sem sair e sem estar nos negócios
presencialmente devido ao nosso período de lua de mel, ele precisava ficar
com um olho atento em outros empreendimentos e ainda por cima,
verificando seus homens. Coloquei um short para não ficar perambulando de
calcinha pela Villa, peguei um chinelo e espiei antes de abrir a porta da
cozinha. Na ponta dos pés, bati na porta da casa que meu irmão estava
dividindo com Cássio.
Foi meu cunhado que abriu a porta, armado e sem camisa.
— Aconteceu alguma coisa?
— Mariano está?
— Não. Ele… — Cássio coçou a nuca.
— Está com alguma mulher, tudo bem. — Suspirei, pensando em quem
poderia me ensinar a cozinhar. — Quando ele chegar, peça para me procurar.
— Tudo bem. É só com ele?
— Só se souber cozinhar. Seu irmão quer que eu faça o jantar, é uma
troca justa, porque ele vai preparar o café. O ponto principal é que se não
sei fritar ovos, eu não saberei preparar um jantar como a governanta faz. —
Cruzei meus braços.
Cássio disfarçou a risada com uma tosse muito fajuta.
— Eu sei cozinhar. Posso te ajudar. O que pretende fazer?
— Quem te ensinou a cozinhar? — Arqueei a sobrancelha. Cássio era
mais novo que eu por pouco mais de um ano.
— Danilo. Ele cozinha muito bem.
Hum…
— Já sei o que farei. Obrigada pela dica! — Dei meia volta, correndo
para casa. Cássio ficou com o olhar de quem não estava entendendo nada.
Analisei a despensa e o freezer, buscando um cardápio na internet.
Separei tudo e deixei na refrigeração para mais tarde. Treinei sozinha, corri
na praia e depois, voltei para minha aventura de jogar coisas fora. A tia de
Danilo, por algum motivo bizarro, guardou milhares de coisas do pai
asqueroso do meu marido, como um santuário em um quarto. Havia um baú
de roupas da mãe de Danilo, assim como do bebê que ela carregava e de
Cássio.
Era horripilante mexer em tudo aquilo. Danilo pediu para jogar fora.
Eu queria olhar item por item porque deveria haver algum motivo para que
aquelas coisas estivessem nos quartos do terceiro andar. No futuro, pretendia
criar uma biblioteca no maior cômodo e reservar o escritório de Danilo em
um lado mais tranquilo da casa.
— O que essa mulher tinha na cabeça? — murmurei para mim mesma.
— Ela borrifava perfume nas roupas?
Tudo parecia limpo e cheiroso, quase como se tivesse sido conservado
em museu. Dobrei tudo e empurrei para o lado de fora, deixando no
corredor. Mariano chegou e perguntou se eu ainda queria aulas de culinária.
Depois de terminar com as roupas femininas, fui para a caixa e encontrei
joias. Muitas. Anéis, colares, brincos e pulseiras. Não eram falsas.
Reuni tudo e levei até o escritório, batendo na porta. Danilo estava
muito sério.
— Ei, aconteceu alguma coisa?
— Acabei de saber que os Valentinni tentaram matar Juliana[6] essa
madrugada.
— Isso é um ato de traição muito cruel. Era para o casamento não
acontecer?
— Sim. Seria a oportunidade perfeita para uma nova guerra por
território começar, mas isso só vai atrasar nossos negócios e vamos perder
dinheiro — refletiu. — Bom para mim, ganhei uma nova distração sobre
Vegas.
— Tem interesse em dominar outros territórios?
— Não. Quero Vegas por um tempo, por um propósito. Enquanto
Damon e eu vendermos drogas, não me interesso onde Enzo estará, contanto
que sejamos nós, famílias italianas. Os Valentinni estão errados e por isso,
devem ser eliminados. — Ele reclinou na cadeira. — Você não gosta de
Damon.
— Não. Ele matou toda minha família e nos fez fugir. — Coloquei a
caixa em cima da mesa.
— Ele matou sua família porque era sobre território. Seus tios iam se
aliar aos Valentinni, isso nunca poderia acontecer. Racharia um acordo que
foi feito há muitos anos. Para mim, seria ruim, estou encurralado entre o mar
e os Valentinni, mas seria bom porque poderia matar Vicenzo Rafaelli. —
Ele sorriu de lado. — E se Damon quisesse sua família morta, ele já os teria
eliminado. Ele sempre soube que seu pai estava fora dos planos dos irmãos
e por isso, vocês fugiram. Seu pai foi excelente em prever o caos, ele é
ótimo nisso, mas era um homem fugindo com a esposa e filhos. Você sabe o
que eu faria.
Danilo nos mataria no meio do caminho.
— Então, ele sabia que íamos fugir?
— Sim e não fez nada, porque não era interessante para ele matá-los. A
parte boa sobre a dupla de primos, é que eles são excelentes na política,
sabem como causar o caos, mas só matam seus alvos marcados.
— Você não se incluiu nisso.
— Eu gosto do meu jeito e não quero mudar.
Se tudo que ouvi sobre ele era verdade, entendia porque os três se
uniram para fazer um acordo de convivência. Não só porque Enzo era o
chefe de todos, por ter mais territórios em sua dominação, mas sim porque
eles podiam brigar entre si e não permitiriam que outras organizações, de
origens diferentes da nossa, conquistassem o que deveria ser nosso. Era
inteligente, assumia. Cada família com sua parte, cada um agindo de um lado
e Danilo correndo pelas sombras.
Os inimigos nunca saberiam quem de fato estava atacando.
Pela primeira vez entendi porque Danilo nunca tomou os territórios.
Ele seguia ganhando dinheiro, fazendo um trabalho sujo e silencioso sem se
expor ao mundo. Ninguém sabia quem era ele. Damon e Enzo estavam por aí
nos tabloides e se envolvendo com a política, enquanto isso, da maneira
mais sorrateira possível, ele espalhava as drogas e provocava inimigos que
não sabiam da nossa existência. Era por isso que ele estava em Vegas.
Os Valentinni estavam ocupados demais odiando os Rafaelli com o
casamento para perceber a nossa chegada.
Todo o plano era um jogo muito ambicioso e ainda assim, eu não sabia
se perdoaria Damon Galattore e os Rafaelli por exterminarem meu
sobrenome.
14 | Bella.
Danilo guardou as joias no cofre e disse para jogar tudo que não era
de valor fora. Ele não estava interessado em manter qualquer velharia pela
casa que iríamos morar. Cansada daquela tarefa, fui me preparar para o
jantar. Mariano me enviou uma mensagem avisando que estava em minha
casa e se recusou a subir sem um convite do meu marido.
— Se você não subir aqui eu vou te bater! É a minha casa também!
— Sou homem e respeito o homem da casa.
— O homem dessa casa não manda em quem eu convido para o meu
quarto! — gritei de volta. Mariano riu quando Danilo apareceu de braços
cruzados.
— Essa frase está mal colocada, querida. Eu mando nessa casa sim e
principalmente, em quem vai entrar no nosso quarto. Está maluca, porra? —
Ele arqueou a sobrancelha.
— Em primeiro lugar, eu vou ficar maluca se essa palhaçada continuar.
Em segundo… claro que não manda em tudo. Eu não sou seu fantoche e eu
quero que meu irmão suba!
— Mariano e Cássio sabem que estão proibidos de circular pelas áreas
privadas da casa.
— São nossos irmãos! Tudo bem dizer para não entrar sem aviso, mas
olá? Eu quero falar com meu irmão enquanto me arrumo! Estou vestida! Qual
a droga do problema?
Danilo analisou minha roupa e olhou para baixo, sinalizando que
Mariano podia subir.
— Agora eu não quero mais! — Voltei para o meu quarto e bati a porta.
Como assim meu irmão só podia subir se ele deixasse?
Terminei de me arrumar e saí do quarto quando Danilo entrou, sem
querer dar assunto. Mariano estava na cozinha quando desci, lendo algo em
seu telefone e me deu um olhar reprovador. Eu conhecia bem. Foi do mesmo
jeito que mamãe me olharia por não ser feminina e submissa como
mandavam as regras.
— Ainda precisa da minha ajuda?
— Não vai pedir permissão a Danilo para falar comigo?
Mariano riu.
— Eu já pedi e ele deixou — rebateu.
Ah, filho da mãe!
Agarrei a faca e girei para arremessar. Danilo me agarrou a tempo,
batendo em meu braço e a faca parou na porta. Mariano abaixou, rindo e me
deu a língua, tirando a faca da madeira e deixando perto da pia. Ele saiu,
assobiando, feliz por me tirar do sério.
— Apenas seu irmão consegue uma reação furiosa. Interessante. —
Danilo me soltou.
— Como se eu tivesse aceitado aquela festinha que deu com flores e
corações.
— Pelo menos não arremessou nada na minha direção. — Ele sorriu,
convencido.
— Não me faltou vontade. Faça de novo, Danilo. — Apontei meu
dedo, ainda irritada. Ele mordeu meu indicador. — Eu não quero me sentir
assim. Como se precisasse de autorização para respirar apenas porque sou
sua esposa.
— Normalmente, mulheres da família ganham o prazer de viver…
— Termine essa frase do jeito que estou pensando e você será o
jantar!
Ele jogou a cabeça para trás e explodiu em uma gargalhada. Grunhi ao
perceber que caí em uma provocação dos dois. Estávamos sozinhos, eles
precisavam encher o saco de alguém e fui escolhida.
— Claro que seu irmão pode te ver. Eu não sou doente ao ponto de
sentir ciúme dele… se fossem apenas meio irmãos ou ligados pelo
casamento, talvez eu sentisse. — Danilo me puxou para seus braços,
querendo me fazer relaxar. — Ele só queria pegar no seu pé e eu participei.
— Mariano sempre consegue me tirar do sério. Assis não se dá ao
trabalho propositalmente, ele me irrita sendo daquele jeito. — Segurou
minha cintura e me balançou de um lado ao outro.
— Então, o que preparou para o nosso jantar?
— Nada. Estive pensando em como é injusto me colocar em uma
posição tão complicada sem o devido preparo. — Me afastei dele e mostrei
as coisas no balcão. — Que tal me ensinar? Ouvi dizer que é um excelente
cozinheiro e depois do café de hoje, não duvido.
Danilo analisou os ingredientes que separei e pegou a faca, unindo os
alhos em um canto. Abri o vinho, servi nas taças e sentei em um banquinho.
Eu estava plena observando-o separar tudo quando ele simplesmente me
convidou a ficar de pé ao lado dele.
— Aprendo melhor observando — falei ao pegar uma cebola. Ele tirou
da minha mão e pegou a lata de tomates pelados.
— Eu não vou cair nessa historinha. — Riu e parou atrás de mim. —
Te ensinar a cozinhar vai ser muito interessante — sussurrou em meu ouvido,
dando uma mordida no lóbulo da minha orelha. — Vamos começar pelos
temperos e depois, com a carne e o molho. — Beijou meu ombro, me
pressionando no lugar certo e fiquei arrepiada. — Beba seu vinho.
— Isso faz parte da receita?
— Quero que fique relaxada. Nada de sexo bêbado, eu não quero ser
vomitado.
— Grande altruísmo. — Revirei os olhos e peguei a faca. Ele instruiu
baixinho como cortar tudo, incluindo as coisas verdes cheirosas que eu não
fazia ideia do nome. Definitivamente, precisaria de um bloquinho para saber
o nome de tudo. Conhecia algumas coisas por alto.
— É uma boa coisa minha mulher ter habilidades com a faca. Agora,
vamos para a próxima parte! — Ele estalou os dedos.
— Cuidado que sua língua pode vir parar nessa tábua — resmunguei
com sua ordem.
Peguei o espaguete com cuidado e segurei com as mãos. Ele gritou para
não quebrar e levei a ofensa para o lado pessoal.
— Eu não ia quebrar! Você está maluco?
— Você está gritando comigo de novo? — Danilo ficou irritado.
— Você gritou primeiro!
— Porque parecia que ia quebrar! Não se quebra! Vai que o tempo que
morou na América e dadas as suas poucas habilidades na cozinha…
— Danilo… estou com vontade de quebrar você — sussurrei, sentindo
um tremor de tanta raiva. Ele sorriu. — Descobri que odeio quando me dá
esse sorriso no momento que estou fervendo.
— Parece que a princesa de gelo não é tão fria assim. — Ele continuou
rindo e me beijou de forma brusca. — É para ser divertido. Não vamos
brigar!
— É só não gritar comigo. Ensine direito e com paciência.
— Perdão, bebê. Não vou mais gritar — soou comedido e eu tinha
certeza de que isso era pelas intenções de querer transar mais tarde. Ele
sabia como acalmar os ânimos no momento certo para ter o que queria.
— Sonso.
— Bruxa. Megera — recitou lentamente e acabei rindo.
Voltando para sua aula, me concentrei com calma e acabou que ficou
gostoso, mas só porque ele estava consertando meus erros rapidamente.
Sentamos na varanda de frente para o mar, iluminados pela luz azul da
piscina e devoramos quase toda massa ao molho simples com tomates e
manjericão. Foi a refeição completa do dia, com o treino e o esforço, meu
corpo apreciou bastante o carboidrato.
— Quer mais vinho? — Ele pegou a garrafa vazia e colocou no chão.
— Não, ou eu vou dormir. — Esfreguei minha barriga. — Comi
demais. Você me fez ficar gulosa.
— Não só de comida.
Dei-lhe um chute, ele se esquivou e riu, pegando minhas pernas e
colocando-as em seu colo. Brinquei com meus dedos em sua virilha e,
acariciando meu calcanhar, apertou minha panturrilha, apenas apoiei-me nos
braços da cadeira para subir em seu colo. Com as mãos apoiadas em suas
coxas, me encaixei propositalmente.
— Eu gosto quando senta assim na cama e sem nada entre nós. —
Segurou o zíper frontal do meu vestido e foi abaixando lentamente.
— Nossa lua de mel está acabando. O que faremos em seguida?
— Nosso casamento tradicional está se aproximando na velocidade da
luz. Estou dividido entre te levar comigo para Vegas ou te deixar aqui
cuidando dos detalhes da nossa festa.
— Não tem muito mais o que fazer. Eu posso ir, mas se não for, quero
que traga meu vestido sem olhar. Essa é a única tradição que meu ego deseja
não perder.
— Sei que vai estar linda.
— Eu sou a mais bela de todas as belas. — Joguei meu cabelo para
trás, fazendo charme.
— Estamos juntos apenas há algumas semanas e você já está
absorvendo meu ego. É impressionante como a osmose funciona. — Ele riu e
o abracei. Era bom ficar próximo daquela maneira, sem inibições. Deitei
minha cabeça em seu ombro, ficando grudada nele como um macaquinho.
Danilo riu e ficou de pé sem nenhuma dificuldade, me carregando até nosso
quarto.
Foi fofa a maneira como me deitou, nem parecia que gritamos um com
o outro durante o preparo do jantar e eu ameacei picar seus dedos, ele
resmungou que bateria na minha bunda até me deixar sem andar. Nosso jeito
de ser um casal era muito bruto. Soltei um bocejo e sorri ao perceber que ele
estava me despindo, mas não era para o sexo, e sim para me fazer dormir.
— Você tem um lado fofo escondido aí?
— Acho que só a minha esposa tem o dom de me fazer ser um pouco
mais suave — ele resmungou, sem assumir que era fofo sim. — Afinal de
contas, se eu não for doce com você, outro otário vai ser e eu terei que matá-
lo.
— E não vai me matar se eu te trair?
— Acho que uma vida punitiva ao meu lado é muito mais vantajosa que
a morte. — Tirou meu vestido e pegou minha camisola, ajudei facilitando
com os braços e a cabeça.
— Pois eu vou te matar se me trair. Apenas no caso de ter esquecido
que sou louca, psicótica e ciumenta — avisei. Ele riu e me beijou como se
minha descompensação emocional fosse motivo para muito orgulho. Doente.
— Imagino que vá me fatiar por completo e ao ver sua habilidade com
o bacon no jantar, já sei que pode me fazer desaparecer como carne moída.
— Deitou ao meu lado. — Seus olhos estão pesando. Mar e treino estão te
derrubando.
— Eu vou me acostumar. — Soltei um bocejo, fechando os olhos, me
aninhando nele. — Além do nosso casamento, quais são seus ambiciosos
planos?
— Matar toda a organização Jankovic[7].
Ergui meu rosto, quase perdendo o sono. Eles eram muito conhecidos
no submundo pelo tráfico de mulheres e principalmente, crianças. Soube, que
no passado, Danilo roubou um caminhão de mulheres. Ele tinha intenção de
usá-las nos prostíbulos da família, que eram muitos. No entanto, para irritar
ainda mais a organização rival, espalhou as mulheres pelo mundo e
“afrouxou” a segurança para que pudessem escapar.
A máfia não sequestrava mulheres para fazer parte das casas noturnas.
Elas entravam e talvez tivessem um pouco de dificuldade para sair com
dívidas acumuladas. Muitas delas eram usuárias de drogas e acabavam se
viciando na prostituição também.
— Você vai começar uma guerra diretamente?
— Eles mal irão saber o que lhes atingiu se continuarem tentando tomar
Vegas. — Danilo esfregou minhas costas e beijou-me a testa. — Durma. Sua
única preocupação agora é ser uma noiva muito linda no nosso casamento.
Eu ia tentar não me apegar ao assunto. Papai já estava preocupado com
o crescimento da organização ao nosso redor em Vegas, mas saber que meu
marido planejava contra-atacar significava que eles estavam incomodando
muito mais do que a maioria dos homens deixavam transparecer na minha
frente. Isso era mais do que duas famílias italianas brigando pelo mesmo
território.
Seria uma guerra devastadora.
15 | Danilo.
Entrei na boate lotada pela porta lateral. A parte da frente estava
tomada por moradores locais e turistas querendo garantir uma participação
na festa badalada que minha equipe oferecia. Era tudo sobre um clube quente
com uma atração especial. Passei pela pista de dança, driblando a massa de
pessoas dançando e olhei para o alto. Bella estava no parapeito, olhando
para baixo e me deu um sorriso provocante antes de voltar a dançar.
Filha da puta, bruxa, megera, miserável.
Ela ia me matar.
Subi as escadas a passos largos e empurrei a porta do camarote aberta,
ela seguiu dançando, de costas para mim e rebolando sem parar. Com os
olhos fechados, ergueu as mãos. Marino e Cássio sumiram da zona de guerra.
Bella virou e me puxou pela gravata, batendo a boca na minha e forçou sua
língua. Eu não resistia ao seu beijo e não a impedi ali.
Agarrei sua bunda, tateando a porra da saia curta e ela só ergueu a
perna.
— Eu mandei que esperasse na porra do meu escritório.
— Você me fez ficar sentada por cinco horas! — Cutucou meu peito. —
Eu vim dançar com meu marido e fiquei olhando para as paredes! Decidi vir
festejar enquanto isso!
— Estava ocupado.
— Tudo bem. — Sorriu de lado e virou de costas, rebolando.
— Não era para estar com essa roupa tão curta. Eu não te pedi uma
calça?
Bella parou de dançar e cruzou os braços.
— Quando começar a fazer as coisas que eu peço, eu farei. Por que não
me ligou? Já parou para pensar que se comunicar é tão difícil para mim
quanto é para você? Mas estou tentando! — Ela olhou em meus olhos. — Eu
só quero que você me diga se está vindo, se vai demorar, se aconteceu
alguma coisa. Não precisa ser uma ligação ou um texto enorme. Apenas
quero que me mande algum sinal.
Analisei sua expressão e sorri. Ela revirou os olhos, querendo sair de
perto e não deixei.
— Estava preocupada comigo, bebê?
— Não me importo com o que irá acontecer. Se você morrer, terei
dinheiro, solteirice e farei o que quiser — gritou acima da música e
gargalhei só para irritá-la um pouco mais.
— Nós dois sabemos que até a parte do dinheiro, está certa, mas será
uma Venturinni e provavelmente meus tios escolherão seu novo marido.
— Ah puta merda, então, é melhor que fique vivo ou serei obrigada a
exterminar toda sua família. Até mesmo Cássio, e eu gosto dele.
— É só assumir que se preocupa comigo.
— Eu não me darei o trabalho. — Ela passou o polegar em meu lábio
inferior.
— Só para constar, me atrasei porque encontrei alguns idiotas do outro
lado do território fazendo arruaça. Enzo deveria lidar com isso, mas hoje é o
casamento dele e eu não quis incomodá-lo. — Pisquei. Ela riu, ciente que foi
meu último segundo provocando os Valentinni impiedosamente. Enquanto o
tio de Juliana, o antigo chefe até Enzo assumir, estivesse vivo, eu não
confiaria em absolutamente ninguém do outro lado.
— Foi se divertir em uma tortura sem mim e ainda quer que eu te
perdoe?
— Minha esposa não sujará as mãos de sangue a não ser que seja
inevitável. Você é a minha rainha. — Dei um beijinho suave em seus lábios.
Bella fez um beicinho, derreteu um pouco, mas era uma pedra de gelo
difícil de derreter.
Voltei a fazê-la dançar e, mais relaxada, me perdoou aos poucos.
Satisfeita por ter saído de casa, na volta, ela disse que estava com fome.
Mariano me deu um sorriso antes de nos conduzir para um restaurante que
ficava aberto a noite toda, servindo todo tipo de prato, mas a especialidade
deles era hambúrguer.
— Quero com duas carnes, dois queijos e muito bacon! — Bella
cutucou o irmão.
— Você não está na América. — Mariano bateu nela. Eles pareciam
crianças juntos.
— Eu lembro bem como era o hambúrguer daqui e ele vai caprichar
porque meu marido vai pedir com jeitinho.
Cássio riu da maneira provocante e saiu do carro, para fazer os
pedidos. Mariano ficou do lado de fora, encostado na porta do motorista,
olhando para a rua. Cássio encostou na parede do restaurante, sem deixar a
distração pela comida tomar o foco da proteção. Não era por minha causa.
Se Isabella estava na rua, eles precisavam fazer o impossível para que ela
não quebrasse nem a unha.
— Está muito tenso. Tem certeza que está tudo bem?
— Estarei tenso sempre que estiver fora da Villa. Aqui é meu
território, mas estamos em transição. Até que sinta a tranquilidade
novamente, ficarei em alerta. — Beijei sua bochecha.
— Entendi. — Ela se esticou e olhou ao redor, enfiando as mãos por
baixo da saia e tirando a calcinha. — Guarda para mim? Estou sem bolsa.
— Eu sei que você está ficando bem safada, mas não dará tempo para
fazermos isso enquanto eles estão fora. — Peguei sua calcinha e enfiei no
bolso.
— Coloquei essa coisa ridícula porque dava para segurar o vestido,
por ser mais grossa, mas ela estava me apertando muito. Acho que estou toda
assada, que inferno — reclamou, ignorando completamente a minha
piadinha.
— Vamos cuidar disso em casa — prometi, acariciando sua coxa.
Minha mão estava quase debaixo de sua saia quando Cássio abriu a
porta de novo. Ele nos entregou o lanche e saímos de lá rapidamente. Bella
ficou nua no segundo que fechei a porta. Sentada no balcão da cozinha, sem
se importar que era o local que fazíamos a comida, pediu gelo para seu
refrigerante enquanto devorava um hambúrguer tão grande quanto a sua
cabeça.
— Isso está bom?
— Eu estou com fome, ia jantar com meu marido, mas ele sumiu —
retrucou. Ok. Ela não pararia de jogar na minha cara até esquecer.
— Sumi e apareci de novo. É um dom excelente.
— Para de ficar encarando meus peitos como se eles não ficassem
mais tempo na sua boca do que em um sutiã — reclamou e comeu o que
restou das batatas. — Vai beber o refrigerante?
— Sabe que sem um rum dentro, eu não bebo essas porcarias doces. —
Entreguei-lhe o copo. — A geladeira está cheia de doces.
— A culpa é toda da governanta que voltou querendo fazer todas as
minhas vontades. Estou sendo um pouco mimada, nem mesmo minha mãe fez
tantas coisas para me agradar.
— Você é a rainha, já disse isso. — Beijei sua boca. — Chega dessa
comilança, quero te levar para a cama e ter a noite romântica que uns idiotas
atrapalharam.
— Sim, depois que eu comi um hambúrguer, vai ser muito romântico.
— Revirou os olhos e me deixou tirá-la do balcão.
Ela sempre fazia pouco caso e me pentelhava quando eu tentava ser um
homem doce. Era difícil pra caralho subjugar minha natureza para ser o
melhor. Bella tinha sorte que percebia seu esforço em estar por perto. Eu não
sabia como era o casamento dos pais dela, porém, definitivamente, não
queria estar envolvido com alguém para ser um marido como meu pai. Minha
vida seria infinitamente mais fácil se ela fosse submissa e agradável.
No entanto, a vida decidiu que minha esposa seria espinhenta, furiosa,
boca suja e intolerante. Bella não me dava sossego. Nosso casamento
tradicional seria mera formalidade, principalmente porque a parte real da
convivência estava começando a aparecer e era foda lidar com a rotina, as
mudanças e o quanto éramos diferentes no comportamento e iguais no gênio
forte.
Não dormi muito. Deixei as janelas abertas e as portas da varanda para
poder fumar. Bella mudou a posição da cama para que o cheiro não a
incomodasse. Ela cismou que eu deveria parar de fumar e estava fazendo
ameaças sutis sempre que me pegava com o cigarro na boca. Onde já se viu
uma mulher me dizer o que fazer? A megera sabia que eu não iria brigar de
volta. Eu tinha uma tolerância muito grande com seus rompantes.
Engatilhei meu dedo na pistola e saí da cama. Bella se mexeu e pedi
para que continuasse deitada. Cássio estava no corredor, ele fez sinal que
seguiria por ele. Fui para o outro lado silenciosamente e virei, percebendo
que a janela do quarto de cima estava aberta e com o vento, batia sem parar.
Bella não deixaria o quarto com tantas folhas importantes desprotegido do
tempo.
Olhei para baixo e suspirei. Avistei um par de sapatos que conhecia e,
porra, aquilo seria um problema.
Ouvi um grito feminino e subi devagar. Não era o grito da minha
esposa. Cássio apareceu correndo. Bella estava vestida com a minha cueca e
uma camisa larga, o pé esmagando a garganta de Carol.
— Eu quero saber como essa vagabunda entrou nessa casa usando tão
pouca roupa e porquê ela achou que seria bem-vinda assim. — Isabella me
deu um olhar furioso.
— Ela é um problema dele. — Apontei para Cássio. — Eu já me livrei
disso.
— O que está fazendo aqui, Carol? — Cássio correu para tirá-la de
perto de Bella.
— Eu vim fazer uma surpresa! — gritou, massageando a garganta. —
Não sabia que você já estava casado com uma psicótica!
— A surpresa era para o meu marido? — Bella virou, pronta para
atacar de novo.
— Cássio, leve sua amiguinha daqui e desapareça.
Meu irmão suspirou, exasperado. Ele até podia ter sentimentos por
Carol, mas também não tinha paciência e o que tinha de amor-próprio
impedia de ceder às chantagens emocionais dela.
— Como ela entrou aqui e por que nesse mundo achou que iria gostar
de uma surpresa? — Bella estava tão vermelha que suas veias pareciam
salientes. — Quem diabos é essa mulher para começo de conversa?
— Ela cresceu aqui na Villa e conhece a casa muito bem, no passado,
já foi minha amante. Eu a dispensei quando começou a ficar louca demais.
Foi ela que se jogou do segundo andar. Achou que eu iria me importar e sigo
não me importando.
— Ela tentou se matar por sua causa?
— Segundo os médicos, ela sofre de bipolaridade. Ficou internada em
uma clínica e aparentemente, saiu de lá livre, leve e solta. Ainda maluca, no
entanto. — Dei de ombros. — A casa sempre foi de livre acesso aos
moradores da Villa, a maioria aqui é parente de alguma maneira. Eu nunca
pensei em trancar nada aqui como é em Vegas, cheio de alarmes e sensores.
— Continue tagarelando enquanto penso se irei te matar ou não. — Ela
inclinou a cabeça para o lado. — Saiba de uma única coisa, Danilo. Sua
antiga amante não vai morar aqui nessa casa ou nessa Villa. Você vai mandar
seu irmão despejar a maluca na puta que o pariu!
— Cadê o seu feminismo e sororidade, bebê? Não é isso que você
resmunga quando chamo uma vadia de vadia?
— Danilo! — seu grito tremeu as paredes.
— Tudo bem, tudo bem. Se acalme. — Ergui minhas mãos. — Ela não
vai morar aqui.
— Ótimo!
— Quando vai assumir que morre de ciúmes de mim? — Fui andando
atrás dela. — E assumir que se importa comigo, que não quer ficar longe de
mim…
— Eu não quero ouvir suas piadinhas. Estou furiosa.
— Estava dormindo do seu lado, desde que coloquei a aliança no seu
dedo não ficamos longe um do outro, seja menos psicótica.
— Como se não tivesse feito uma festa com um monte de putas —
resmungou e foi para a cama novamente, se cobrindo. Deitei atrás dela,
puxando-a para um abraço. — Abri a porta e dei de cara com uma loira
aguada fazendo pose sensual, sinceramente, eu não preciso passar por isso.
— Não precisa e eu jamais faltaria com tanto respeito. Eu te honro,
nunca farei algo do tipo, me desculpe por sua chateação. Isso nunca mais se
repetirá, eu prometo. — Beijei seu ombro.
Eu exigia muito dela. Sua fidelidade e total devoção. Ela sabia que era
minha, de corpo e alma, mas prometi que nunca teria motivos para
desconfiar da minha palavra como homem, marido e chefe. Nunca trairia
nosso casamento. Eu tinha a opção de ficar solteiro, produzir um herdeiro ou
apadrinhar uma criança.
Ter uma esposa era uma honra no meu meio.
Depois de um longo tempo, ela virou e aceitou que a abraçasse
completamente. Senti alívio. Eu não queria que a ponte que construímos até o
outro ruísse por uma coisa tão estúpida quanto a aparição de Carol.
16 | Bella.
Cássio estava na academia quando entrei, enrolando faixas nos dedos
para treinar, eu só não sabia se seria antes ou depois de mim. Seu olhar me
acompanhou desconfiado. Não sabia se estava chateado porque sufoquei sua
amiguinha ou cauteloso por ter explodido bem na sua frente. Em todo caso,
estava emburrada e todo mundo andando na ponta dos pés ao meu redor. A
governanta, tia avó da Carol, já havia pedido desculpas pelo acontecido.
Não era culpa dela. Na verdade, de ninguém. E dependendo do modo
como Danilo agiu no passado, não deveria ser culpa da própria Carol. Eu
não podia dar uma crise completa sobre um relacionamento sexual que ele
teve antes de mim, sequer sabia que tínhamos uma promessa de casamento e
ele, sendo um homem, teve liberdades que eu não tive. Disso eu podia ficar
com raiva. Da mulher e dele, não exatamente.
Assim como não era obrigada a simplesmente aceitar uma mulher de
calcinha e sutiã na porta do meu quarto para surpreender meu marido. Foi
engraçada a expressão de surpresa. Levei-a ao chão com facilidade, pelo
estágio letárgico de seu corpo, devia estar medicada ou sob efeitos de
drogas. Danilo e a tia disseram que não acreditavam que ela estava drogada,
mas, tomava remédios prescritos para o tratamento de bipolaridade.
— Está chateada pela Carol? — Cássio me ajudou a pegar os pesos.
— Sim, muito.
— Danilo não a amava. — Ele se adiantou. — Carol cresceu aqui e ela
o queria, mas ficou difícil aceitar que seria apenas uma amante temporária.
Meu irmão nunca mentiu, mas ela sempre queria mais, forçava e acabava
sofrendo. Ela se cortou várias vezes para ter a atenção dele e até se jogou,
mas Danilo disse que não seria mais que amante e quando ele diz não, é
simplesmente não.
— Você fala dela com muito carinho e é mais velha que você.
— Em algum momento, reconheço que deixei que ela chegasse perto
demais.
— Já ficaram?
— Sim, várias vezes. Eles não eram monogâmicos. Danilo ficava com
quem queria e não cobrava o mesmo dela. Para meu irmão sempre foi
diversão. — Cássio puxou as cordas do meu caminho.
— Sempre ouvi rumores que as mulheres que ele se envolvia ficavam
malucas.
— Já parou para pensar que talvez elas não sejam tão normais? Ele só
ficava com as loucas porque elas topavam as coisas absurdas que gostava,
como sexo em grupo, viagens perigosas… nenhuma mulher com a sanidade
em dia mergulha em algo assim sabendo que poderá se machucar. — Cássio
me pegou pela cintura e ergueu. Eles aumentaram a altura do tatame e eu não
conseguia alcançar sozinha.
— Obrigada. Então, seu irmão gostava de sexo em grupo?
Cássio deu um sorriso de lado.
— Qualquer homem da família passa por essa fase. É normal. — Ele
deu de ombros.
— Você está dedurando o passado do seu irmão para a esposa dele? —
Mariano entrou na academia. — O chefe vai te matar mesmo sendo o
caçulinha.
— Vai se foder — Cássio resmungou, irritado.
— Ele quer que eu perdoe o irmão dele porque a ex é maluca e
também, para garantir que a doida seja doida mesmo. Assim eu não matarei
nenhum dos dois. — Vesti as minhas luvas. Cássio me deu um olhar e soltou
um risinho. Ele queria proteger Danilo. — Já me entendi com Danilo, só
estou dando um tempo difícil porque ele merece. E quanto à louca?
— Eu a mandei para Milão para ficar com uma tia. Ela entendeu que
pisou na bola, que poderia ter morrido e não vai voltar para causar
problemas — Cássio me respondeu e lhe dei um aceno.
Era melhor mesmo que ficasse bem longe.
Mariano e eu começamos a treinar. Meu irmão estava com energia de
sobra, querendo me derrubar a todo custo e como eu estava com raiva
acumulada foi bom explodir para cima dele, dando diversos socos e chutes.
Ele pulou tentando fugir de mim, rolando e me joguei nele, ganhando
vantagem para o chão, conforme Danilo havia me treinado.
Ele entrou na academia e parou próximo ao tatame, soltando sons que
fazia sempre que estávamos treinando. Eu me sentia um cachorro, mas
Mariano não sabia e não tinha como prever meus movimentos. Consegui
imobilizar meu irmão com custo. Ele era muito mais alto e mais forte, pesava
mais de cem quilos. Eu tinha um metro e sessenta e cinco, com sessenta e
sete quilos e pouca gordura corporal devido ao tempo que gastava
treinando.
Mariano rolou para um lado e eu para o outro. Danilo tirou a camisa,
ficando só com uma calça de moletom que marcava o corpo. Ele ficava tão
gostoso que não disfarcei o olhar. Cássio e Mariano não podiam suportar
quaisquer demonstrações públicas de afeto.
— Mandou muito bem, bebê. — Danilo me deu um beijo.
— Parem de soltar sons de enjoos ou eu buscarei esposas para vocês
— avisei para nossos irmãos, eles correram de perto de mim como se eu
tivesse ameaçado jogar um vírus letal em cada um.
Corri na esteira enquanto Danilo treinava com Mariano. Eles batiam
muito mais forte do que comigo, os sons eram assustadores e me deixavam
um pouco arrepiada. Terminei a minha corrida e nojenta de suor, subi
correndo para o quarto e tirei a roupa com dificuldade de tão molhada que
fiquei. Danilo sabia que de manhã, o banheiro era meu e se ele estivesse
desesperado, que buscasse outro. Normalmente, o senhor “não precisamos
de privacidade” usava-o junto comigo.
Ele entrou quando estava com muito creme hidratante no cabelo e óleo
no corpo.
— Gosto da maneira que seu corpo brilha.
— Estou me hidratando. Praia e sol têm feito estragos na minha pele —
falei do meu lugar do box, sentada na ponta da banheira. A casa era muito
antiga por fora, preservando a arquitetura da região, mas por dentro era
moderna. Para minha felicidade e facilidade de vida, porque os banheiros
antigos da casas que morei na cidade eram insuportáveis.
— Seus documentos de casada foram entregues. Vai seguir com o
mesmo curso na universidade ou vai trocar?
— Vou seguir com o mesmo. Só quero saber como vai ser para
organizar as matérias ou se terei que começar do zero. — Comecei a lavar
meu cabelo. Ele entrou no chuveiro comigo, tomando um banho mais rápido
que o meu.
— Fará a maior parte à distância, o tempo será irrelevante, contanto
que termine como quer. Posso te ajudar a esfregar esse óleo?
— Por favor, marido. — Dei-lhe um sorriso provocante.
Danilo tomou cuidado para que eu não escorregasse e me ajudou a
lavar todo o corpo, sem maldade. Ele ajoelhou na minha frente, esfregando
minhas pernas e meu coração acelerou pela doce maneira que suas mãos
passeavam pelo meu corpo. Com um olhar suave, beijou meu ventre e foi
para a outra perna. Não era um toque com segundas intenções embora eu
amasse senti-lo. Foi diferente. Um tipo de carinho e cuidado que só podia
existir entre duas pessoas que queriam intimidade.
Eu me perguntei se em algum momento, seríamos mais que sexo e
parecia que sim. Haveria a chance de sermos parceiros fora da cama. Não
queria ser uma esposa muda e anulada como minha mãe, mesmo que seu
discurso no dia que nos despedimos tenha me dado uma noção de que ela
apenas não discutia publicamente com meu pai. Na intimidade do quarto,
eles lavavam a roupa suja. Danilo nunca deixaria de ser a figura dominante
da nossa relação, ele era meu marido e eu o honraria como homem a todo
instante.
Só nunca desejei não ser honrada de volta. Não toleraria falta de
respeito.
— Prontinho. O que passamos depois?
— Apenas o creme na cama. — Minha voz saiu baixa do quanto estava
me sentindo sufocada de tantos sentimentos. Eu queria beijá-lo e dar-lhe um
abraço, era tão esquisito.
— Acabou o cabelo?
— Vou secar depois que terminar com o creme do corpo — sussurrei.
Danilo ficou de pé e parou bem pertinho, esfregou o nariz no meu e passou a
língua por meu lábio.
Pegou o frasco do creme e passou em cada pedaço de pele com
carinho, distribuindo beijos nas partes que secavam mais rápido. Assim que
terminou, toquei seu rosto e o beijei. Ele sorriu, chegando mais perto e me
abraçou.
— Esse é um beijo diferente — falou baixinho contra a minha boca.
— É um beijo de gratidão por ser tão carinhoso.
— É o meu dever, bebê. — Ele beijou meu pescoço, descendo a boca
para meus seios e segurou minha cintura, deitando-me na cama lentamente.
Aquele momento pós-treino era o que eu tirava para relaxar. Ele ficava no
escritório, mas fiquei feliz em ter sua companhia.
Apenas conversamos e nos beijamos. Trocamos carícias doces e ele
acabou decidindo que sair da cama era superestimado. O dia estava
tranquilo, com compromissos à noite nos empreendimentos, disse que só iria
verificar o andamento e voltaria para ficar comigo. Sem ficar a noite toda,
porque eu não queria ficar cansada me expondo toda noite.
Ele trabalhou no escritório de casa e eu arrumei um pouco das coisas
sem vontade, então, não me esforcei muito. Gastei o tempo que tinha com a
governanta. Ela era uma mulher reservada, que não parecia intrometida, mas
eu sabia fazer as perguntas certas.
— A antiga senhora da casa não gostava que o jantar fosse servido fora
da sala de jantar ou da mesa principal do pátio — ela comentou, limpando as
mãos.
— Você diz a mãe ou a tia do meu marido? — Peguei um tomate
lavado, cortado sem as sementes e joguei sal em cima, dando uma mordida.
— A tia, é claro. A mãe do senhor não era muito ligada nas coisas de
casa, ficava com os filhos o tempo todo.
Danilo não falava da mãe com muitas memórias afetivas.
— Você vai ficar bem. A mãe do senhor mal podia abrir a boca,
enquanto a senhora, tão jovem e destemida, está voltando para faculdade.
Ele realmente me fez pensar que não poderia seguir com os estudos.
Não reclamei muito porque sabia que jamais poderia assumir qualquer
negócio para administrar sendo apenas esposa. Como parecemos ter
acordado que filhos não aconteceriam imediatamente, o que estava tudo bem
para mim, ele relaxou sobre a universidade, principalmente porque encontrei
um meio de fazê-la online e assim, não me impediria de estar ao lado dele
sempre que necessário.
Por mais que as mulheres da família dissessem que era um completo
privilégio estar estudando, me perguntei o quão solitária e oprimida a minha
falecida sogra era, com um marido babaca e uma irmã amargurada
sufocando-a.
— Foi terrível para essa casa a morte dela. Era uma mulher muito
gentil. — Nanci continuou comentando sobre a mãe de Danilo.
Se ela era uma boa mulher… por que o marido a matou por traição?
17 | Bella.
Voltar a Las Vegas casada tinha um sabor diferente. A primeira vez
que Danilo esteve ali, foi tão rápido e sufocante com as mudanças, que
chegar na nossa casa como sua mulher e poder organizar tudo foi melhor que
ter sido tirada da minha casa para começar a conviver com ele como se
fosse normal. Já acostumada e com uma rotina, nós tivemos uma pequena
briga sobre sua festa de despedida de solteiro na cidade.
— Você não está mais solteiro e se não fez isso antes do nosso
casamento na capela, o problema não é meu. — Dei a ele um sorriso. Danilo
estava consternado que eu estava brava. Na verdade, não estava me
importando muito se ele ia festejar ou não, principalmente porque só haveria
homens, charutos e bebidas.
Até pensei em ser boazinha e liberar mulheres, mas antes, eu precisava
fazer meu marido suar. Era divertido vê-lo preocupado com a minha reação.
Eu entendia, também me preocupava se ficaria chateado com alguma atitude
minha. Tirando minhas roupas curtas, todo restante considerava seus
sentimentos porque não queria que ele me atropelasse.
— Eu fiz a coisa certa casando naquela época.
— Você queria transar sem que me difamassem — rebati, passando um
gloss nos lábios. Ele ficou de pé e me abraçou por trás. Meu mafioso
carente. — Tudo bem, festinha liberada, mas é melhor se comportar.
Ele prometeu que nunca mais faria uma festa sem falar comigo e
cumpriu a palavra. Aquilo era ser um homem de honra, ele tinha todo direito,
na posição de poder, de me ignorar completamente e passar por cima dos
meus sentimentos como marido porque era o chefe. Ninguém o condenaria.
No nosso meio, ele seguiria sendo idolatrado.
Fora do quarto, ninguém sabia. Nunca desrespeitaria meu marido em
público, muito menos o desafiaria. Dentro da nossa intimidade, era uma
conversa com um tom diferente.
— Gostosa. — Beijou meu pescoço. — Quer vir festejar comigo?
— O que quer dizer?
— Comemorar o fim da nossa solteirice juntos. — Esfregou o nariz em
meu ombro. Acariciei seus braços, já muito familiarizada com os desenhos e
seu perfume.
— Não. Vá se divertir com os homens. Eu preciso descansar o máximo
para não parecer uma completa bruxa no dia do nosso casamento. — Beijei
sua bochecha, ele me virou e me beijou na boca, amassando minha bunda
apenas porque gostava de me apertar o tempo todo.
Danilo estava de bom humor. Ele foi fazer uma ronda, reunir com um
fornecedor e eu fiquei em casa com minha mãe. Apenas porque ele
cozinhava para mim o tempo todo, estava disposta a aprender cozinhar, mas
só porque ele também fazia a mesma tarefa que eu. Se fosse apenas para ser
uma esposa completa, por mim, morreríamos de fome ou Nanci, nossa
governanta, nunca teria folgas.
Minha mãe me ensinou a fazer molho e algumas carnes, assim como
frango assado. Todos os pratos ficaram deliciosos e os homens comeram
tudo, sem deixar uma migalha para trás. Senti um pouco mais de confiança
para provocar e competir com Danilo na cozinha. Não estava aprendendo
para simplesmente vestir um avental, ficar descalça e grávida.
— É uma evolução muito grande estar aqui calma e quieta com seu
marido se preparando para sair. Seu pai me contou o escândalo que deu na
última festa. — Mamãe pegou as louças para lavar e estalei os dedos para
Mariano e Cássio chegarem perto da pia. — Bella!
— Mãe! Eles comeram até passar mal! O que custa lavar a louça? —
rebati, pegando o pano de prato. — Nós cozinhamos, eles lavam. — Dei de
ombros.
Cássio pegou a esponja e Mariano segurou um copo sujo como se uma
bomba fosse explodir à sua frente. Ela se afastou, incerta em deixar dois
homens lavando os pratos, fui até o bar e servi um drinque para nós duas. O
meu favorito com refrigerante, muito gelo e por minha conta, uma pitada de
hortelã. Mamãe cheirou antes de dar um gole, fez uma careta como se
estivesse forte e depois, bebeu mais tranquilamente.
— Nada de ficar bêbada em casa, menina. — Me deu um tapinha.
— Meu marido adora quando fico induzida pela bebida, segundo ele,
pareço até fofa. — Abri um sorriso e mamãe fez uma expressão de que eu
deveria me controlar. — Precisa relaxar mais, mamãe. Agora eu sou uma
mulher casada e você não pode mais me controlar. — cantarolei. Ela não riu,
era difícil vê-la sorrir. — Nunca te perguntei sobre o casamento.
— Sempre foi assim na família, eu não me oporia à decisão do seu pai.
Em quase trinta anos juntos, ele sempre soube o que fazer.
Meu pai, frio e controlador, dominava a mente e o coração da minha
mãe sem muitas palavras. Sempre me impressionei no quanto a dominação
dos homens era forte na família. Se eu escorregasse, Danilo me tomava a
mente. Ele era tão possessivo e controlador, que me seguia pela casa apenas
para saber se estava fazendo o que disse que iria. Mariano me disse para ter
paciência. Ser um marido para ele era tão novo quanto ser uma esposa era
para mim. Assim como eu tinha rompantes, ele também tinha.
O mais impressionante de tudo isso era que meu irmão e seu cérebro de
azeitona chegaram a essa conclusão emocional sozinho.
Mamãe terminou seu copo e foi verificar a louça. Eu fiz outro copo.
Assis entrou pelos fundos e parou ao meu lado, achando divertido Mariano
resmungar que Cássio não estava esfregando os pratos direito.
— Quer entrar na rodada? — Cutuquei seu ombro.
— Tenho mais o que fazer do que bancar a mulherzinha. — Assis
apertou meu nariz e foi embora, em direção ao escritório de Danilo.
Meu pai estava lá dentro, quieto, mal falou comigo, o que não era uma
novidade. Ele sempre foi do tipo “mantenha a distância”. Foi do nada que os
telefones deles começaram a tocar. Cássio e Mariano deixaram tudo e saíram
correndo, Assis passou por mim e meu pai ordenou que fôssemos para o
quarto do pânico até que voltassem. Mamãe paralisou no meio da cozinha,
agarrei seu pulso, puxando-a para a escada e no caminho, peguei uma
semiautomática no armário de armas, carregando e apertando o botão de
entrada.
— Fique aqui, mãe. — Empurrei-a para dentro.
— Onde você vai? — ela gritou, tentando me segurar.
— Descobrir o que está havendo e se é melhor ficarmos presas ou
sairmos.
Dei meia volta, subindo as escadas rapidamente até o terceiro andar e
olhei todo o terreno. Os homens que ficaram estavam armados, defensivos,
eu podia ver os carros que saíram da propriedade na estrada, avançando em
direção ao deserto. Corri para o outro lado e vi que nos fundos, os soldados
estavam mais alertas e falando em seus rádios.
Se houvesse uma invasão, eu precisava sair com minha mãe pela frente.
Qualquer um que fosse entrar, estava contando com os fundos.
Meu telefone vibrou no bolso. Era Danilo.
— A casa será invadida.
— Vá para o quarto do pânico agora! — ele gritou.
Fiquei em silêncio, calculando se era melhor sair ou confiar na defesa
do quarto.
— Eu sei que você precisa estar no controle quando se trata da sua
segurança, mas eu preciso que confie em mim e vá para porra do quarto
do pânico agora mesmo!
Soltei um gemido e desci as escadas, tranquei a porta do quarto
principal e entrei no quarto. Mamãe ficou de pé, nervosa e eu odiei a
sensação de me sentir impotente ali dentro. Pelas câmeras, vi toda
movimentação. Os homens que ficaram conseguiram conter a invasão. Danilo
bloqueou a porta e ela só abriria com a digital dele. Ele podia fazer isso
acessando o sistema da casa.
— Consegue saber se seu pai e irmãos estão bem? — Mamãe tocou
meu ombro. Eu sabia que ela só estava preocupada com meu pai. Não era
ciúme, apenas um fato. Nós três éramos um fruto para que tivessem uma
família, mas nunca foi amor.
Eu nem sabia o que era amor.
— Alguém teria nos dito. — Cruzei meus braços.
— Espero que seu pai esteja bem.
Bingo. Dei a ela um olhar e ri, mas não podia conter o sentimento de
que também esperava que Danilo estivesse bem, inteiro, sem faltar um
mísero pedacinho. Pela câmera, vi o momento em que ele chegou junto a
vários outros carros, estava sem camisa e com a arma em punho, berrando
ordens. Os portões foram fechados, os vizinhos mais próximos estavam a
uma distância de um quarteirão e qualquer barulho dos carros na
propriedade poderia ter sido abafado pelos contatos na polícia.
Ninguém iria verificar se os feridos eram fora da lei.
Danilo abriu a porta, suado e com o lábio cortado, seu olhar para
minha mãe foi gélido. Ela saiu sem que precisasse dizer nada. Ele ficou
parado, com o peito arfando e a expressão demoníaca que assustava até meu
último fio de cabelo e ao mesmo tempo, meu interior contorcia com a alegria
ao vê-lo inteiro na minha frente.
Não aguentei e me joguei nele. Danilo me abraçou apertado, chegando
a machucar. Ele enfiou o rosto no meu pescoço, podia sentir seu coração
batendo forte contra o meu. Nosso ritmo era o mesmo: cru, desesperado,
intenso e assustado. Não do mundo, mas do sentimento sufocante que estava
crescendo entre nós. Essa mesma emoção trazia a paralisia apavorante de
perder um ao outro.
— Você está aqui, bebê. — Ele respirou, agarrando meu cabelo. —
Perdi as imagens, não sabia se tinha entrado ou só…
— Foi difícil ficar ali, trancada.
— Não quero que nada aconteça, Bella. Você tem que me ouvir. —
Beijou minha testa.
Segurei seu rosto e o beijei, aliviada. Nada no mundo me faria ficar
longe dos braços de Danilo.
18 | Danilo.
Bella poderia ter se ferido. Os filhos da puta miseráveis acharam que
podiam entrar na porra da minha casa com a minha esposa ali. Se eu estava
com ódio? Não. Meu sangue fervia de uma maneira tão intensa que sentir
ódio era muito pouco. Minhas veias pulsavam e tudo que queria ver na minha
frente era muito sangue.
Eu não previ a armadilha, mas saí dela rapidamente e pude conter o
caos. Era sobre proteger a casa principal acima de qualquer coisa. Bella
tinha o instinto cruel de matar e correr, ela não pensaria em se preservar
para sobreviver. Sabia que preferia lutar a se esconder, foi preciso implorar,
ou a encontraria na estrada causando o caos.
Assis tinha um bom plano. Conter a ameaça sem chamar muita atenção,
para isso, eles precisavam entrar na propriedade. Não alertaria possíveis
vizinhos assustados que poderiam insistir com a polícia. Não precisava de
ninguém enfiando o nariz nos meus negócios. Até porque, eu precisava de
muita privacidade para lidar com meus novos visitantes.
— Você vai descer agora? — Bella se afastou e beijou meu queixo.
— Tenho que obter informações. — Esfreguei seus braços. — Os
homens estão tensos e ariscos, fique no quarto. Sei que pode lidar com eles,
mas prefiro que não tenham mais brigas.
— Tudo bem — ela milagrosamente concordou.
Observei-a ir para o nosso quarto. Sua mãe estava fora da minha vista,
eu não precisava de uma mulher chorosa na minha frente. Assis e Mariano
ficaram no porão com Fernando. Cássio observava os demais homens no
segundo andar, eles sempre ficavam nervosos com ataques. Acostumados
com o ritmo da Itália, ainda precisavam se ajustar à maneira com que os
negócios precisavam funcionar na América.
Na sala de depósito ao lado da boate, dois homens estavam presos em
suas cadeiras. Eles estavam com suas cabeças tombadas, ainda vivos e eu
não estava com paciência para aguentá-los por muito mais tempo. A bandeja
com nossos itens favoritos para uma conversa especial estava ao lado,
peguei um bisturi muito afiado querendo ver um pouco de pele, sangue e
gordura ao som de gritos agonizantes.
Eu saí da sala banhado em sangue e fui direto para o chuveiro. Bella
ficou sentada no canto, me dando tempo para absorver tudo que ouvi na sala.
Ainda não tinha um nome de quem estava encabeçando a liderança da
organização sérvia que queria o território que conquistei dos Valentinni, mas
era questão de tempo agora que mandei a cabeça dos seus homens para que
pudessem enterrar.
Foi um recado explícito para que ficassem longe.
Não iam ficar, por minha experiência, não parariam tão cedo. Era por
isso que Bella ficaria em segurança na Itália depois do nosso casamento e
não sairia de lá. Não estava disposto a arriscar seu bem-estar.
— Faça as malas. Vamos retornar mais cedo. — Saí do banheiro nu e
peguei um cigarro. Meu nível de estresse estava batendo no teto. — Eu vou
fumar. Não me irrite.
— Não ia falar nada dessa vez. — Ela encolheu os ombros. — Vou
preparar nossas coisas para irmos embora. Não quer me contar o que
aconteceu?
— Não.
Bella ignorou meu tom seco e saiu de sua cadeira, sentando na ponta da
cama. Ela mordeu o lábio, pensando se deveria insistir em querer saber ou
se me deixaria quieto.
Com um suspiro, saiu da cama e foi para o closet pegar a mala. Nós
não trouxemos muita coisa e não levaríamos de volta. Com cuidado, guardou
o vestido de noiva e os sapatos. Eles disseram que iriam tirá-la de mim, que
saber do casamento foi saboroso para seus planos e por mais que não tenha
demonstrado me importar com Bella, conforme minha fama precedia por aí,
eles sabiam que um homem italiano tem sua esposa como troféu particular.
Era uma provocação fácil.
Meu peito queimava. Era impossível relaxar sabendo que queriam
machucar minha mulher.
Era assim que eles agiam, traficando mulheres ao redor do mundo e
prostituição, principalmente, roubo de crianças. Não era o tipo de negócio
que eu achava atraente. Eu tinha muitas prostitutas nas minhas casas noturnas,
mas elas entravam porque queriam e precisavam de dinheiro, ficavam por
vício, por não ter como sair e por não ser tão simples assim.
Contanto que fizessem seus trabalhos e ficassem na linha, eu não estava
interessado em suas tristes histórias particulares.
Bella terminou de guardar tudo, pegou o terceiro cigarro que eu fumava
e apagou. Sentou no meu colo e apoiou as mãos no meu peito, olhando as
contusões da briga corpo a corpo que tive na emboscada. Eu estava no meio
de uma negociação de pontos de drogas quando percebi o imbecil inquieto.
Ele estava suando feito um porco. Minha esposa daria um tiro na testa dele
só por gaguejar.
— Você matou todos eles?
— Claro que sim.
— Mariano disse que matou um deles apenas com os punhos. — Ela
desceu as mãos para minha barriga e se inclinou, beijando meus lábios.
— Não pense nisso.
— Eu não consigo. — Deitou a cabeça em meu peito.
Decidi importuná-la um pouco.
— Ficou preocupada comigo? Assuma que não pode viver sem mim…
— Cale a sua boca, idiota. Eu já disse o que farei se ficar viúva, então,
é melhor tomar cuidado. Sou uma grande gostosa, baby. Serei plena quando
estiver solteira.
Bati em sua bunda para deixar de ser insolente. Ela gostava de me
provocar. Beijando meu pescoço, ficou aninhada em mim de uma maneira
que não costumava fazer sem estar com sono ou querendo me encher o saco.
Acariciei suas costas, sentindo que precisava ficar calma. Não haveria
chance de apagar o fogo no meu estômago e a vontade de sair por aí matando
quem estava ameaçando a vida da minha família.
Todos nós embarcamos no avião tarde da noite. Era seguro deixar
Vegas com os grupos familiares que deixei ali, para começarem a se
espalhar pelos bairros e dominar um dos lados mais fortes da cidade. Em
pouco tempo, seríamos tão numerosos e naturais que ninguém desconfiaria
da comunidade italiana crescendo aleatoriamente.
Não levou uma hora de voo para Bella começar a ficar verde. Peguei o
saco de vômito a tempo ou eu teria meus sapatos batizados.
— Se alguém disser que estou grávida, cometerei um assassinato! —
Bella resmungou, a testa suada. Usei meu lenço para limpar seu rosto.
— Nós não íamos falar nada — Mariano provocou.
— Mas não pode nos impedir de pensar — Cássio disse dos fundos.
— É engraçado e até intrigante o quanto a intimidade faz com que
homens percam o amor à vida — Assis comentou inexpressivo.
— Deixem sua irmã em paz. — Fernando mal desviou os olhos do
computador, como se a cena de provocação fosse comum em casa e ele não
se importava.
Bella se enrolou como uma bola, enjoada demais para ser gentil. Ela
ficou bem no voo de ida para Vegas, só podia concluir que passava mal
justamente por estar nervosa ou passando por algum estresse. Assim que
pousamos, meu telefone tocou.
— Isso é sério? — Enzo questionou, com a voz rouca e distante, como
se dirigisse e fumasse ao mesmo tempo.
— Muito sério.
— Puta que pariu.
— Ao que parece, eles querem Vegas, pela facilidade de fazer a troca e
venda de suas mercadorias vivas.
— Não lá. Isso atrai muita atenção da mídia, ficaremos descobertos
com os contatos na polícia. Local muito turístico e assim vamos perder a
porra do controle em um piscar de olhos. — Ele soou agitado. — Ainda
não obtive um nome.
— Assim que tiver, me diga imediatamente. A situação está sob
controle por enquanto, mas não ficará assim. Eles sabem sobre meus
encontros com Damon e será preciso trocar o local.
— Vamos agitar isso. Até breve.
Enzo não levou para o coração o quanto chutei os Valentinni para fora
de Vegas. Ele não se importava com a família da esposa até que dominasse
todos eles completamente. Enquanto isso, me deixaria brincar de persegui-
los e aqueles que caíssem na minha teia, morreriam sem que houvesse
vingança. Uma coisa que os chefes tinham em comum, era odiar ratos que se
escondiam nos bueiros para agir de maneira traiçoeira. Existia uma ordem e
ela deveria ser seguida.
Cássio se aproximou antes que entrasse no carro.
— Nevile acabou de informar que os olheiros reconheceram Alonzo
Rafaelli em nossa fronteira. Ele estava sozinho inicialmente, encontrou com
um homem e desapareceu pelas ruas. Eles não seguiram quando chegou no
território dos Valentinni, sem querer irritar Enzo por passarmos para o outro
lado sem aviso — falou baixo.
— Mandem que todos fiquem de olho. Esse traidor não vai fazer
morada no meu território. Não quero absolutamente ninguém recebendo-o,
mesmo por ser italiano. Alonzo traiu seu próprio sangue e nada o impedirá
de nos trair também.
Cássio assentiu. Alonzo significava problemas. Ele nasceu como filho
de um poderoso chefe, mas ao se aliar a pessoas erradas, tornou-se
assassino de aluguel e mercenário. Ele não era leal às nossas leis e
tradições, cuspiu no sangue que corria em suas veias. Se nem mesmo os
parentes desejavam tê-lo por perto, não seria no meu lar que ele encontraria
abrigo.
Eu tinha muita vontade de matar a maioria dos Rafaelli, eles me
irritaram muito ao longo da vida. A sorte deles era que Enzo era um homem
de honra como eu, algo que não herdou dos patriarcas. Para muitos do meu
meio, respeitar outro homem era fraqueza, mas era assim que os negócios
funcionavam. Eu tinha respeito dos meus homens e da minha comunidade
porque para ter poder, é preciso saber lidar com ele.
Poder demais é perigoso.
E quem domina o perigo, na verdade, está dominando a todos.
19 | Bella.
Eu nunca pensei que seria o meu marido a pessoa a me ajudar no dia
do meu casamento. Não que eu tivesse fantasiado com madrinhas e minha
mãe me rodeando, mas fiquei infinitamente decepcionada quando ela não
apareceu para estar comigo no excelente café da manhã que Danilo pediu
que preparassem, muito menos que não estaria dando opinião sobre meu
penteado. Não era como se ela fosse a mãe mais amorosa do mundo, do tipo
calorosa como Nanci era sempre que eu chegava da rua, preocupada se eu
tinha comido ou coisa parecida.
Casei em uma capela e eles não se importaram muito, estava tudo bem,
mas esse casamento tradicional era por nossas famílias e todos os outros que
gostariam de ver o chefe unindo-se em matrimônio com sua prometida. Meus
pais me prometeram a ele, não foi o contrário, era para esse dia ser o evento
do ano da minha família.
— O que foi? — Danilo questionou e eu ri da maneira engraçada que
ele segurava grampos para fixar meus cachos conforme o orientava.
— Em algum momento, conviver com você me fez ser uma manteiga
derretida. Estou me importando com coisas que nunca me importei antes, que
jamais fariam sentido gastar minha energia.
— Fico feliz em saber que estou conseguindo derreter o iceberg do seu
coração.
— Idiota.
— É proibido xingar seu marido no dia do casamento.
— É proibido matar, roubar, ver a noiva antes da cerimônia e se ver no
espelho, mas ei! Aqui estamos nós! — Fiz uma expressão debochada.
— Está chateada?
— Estou e só vou confessar isso se prometer que vai me ouvir como
marido e não agir como chefe. Agora não preciso dos seus gritos e ordens —
falei baixo e ele me olhou desconfiado. — Se você não estivesse me
ajudando, estaria um pouco mais perdida. Sei que nós dois não ligamos para
tradições, mas… pensei que seria um momento mãe e filha. Acho que para
ela é só mais um evento da família.
— Eu sinto muito. Como seu marido, a única coisa que posso prometer
é que nossa futura filha terá o dia da noiva com a mãe. Como chefe, posso
ordenar que ela esteja aqui e sendo a melhor mãe do mundo. O que você
quer?
— Só a promessa do dia da noiva com nossa futura filha. Sua ajuda é
tudo que preciso hoje.
— Bom. Eu poderei dizer a todos que minha noiva está linda porque eu
arrumei.
— Olá? Eu sou linda! — Estalei os dedos. Ele riu e roubou um beijo
antes de voltar para sua tarefa, com um sorrisinho provocante nos lábios.
Danilo levou muito tempo prendendo meu cabelo. Fiz a minha
maquiagem sozinha, dei uma pausa para almoçar, escovei os dentes com
muito cuidado e com pouquinho tempo de sobra, tirei um cochilo enquanto
ele se arrumava. Acordei com a música começando a tocar, os sons de
alguns convidados conversando e sozinha, me vesti. Ele não viu o vestido,
pelo menos teria alguma surpresa para o nosso casamento.
Nanci me ajudou com os botões e Mariano se intrometeu a ser
fotógrafo, registrando algumas fotos minhas. Pelo visor de sua câmera,
percebi que meu irmão tinha um talento escondido.
— Não vou contar para ninguém esse seu lado romântico. Ficaram
lindas, obrigada.
— Você está linda de noiva. — Ele me parou antes de seguir para a
sala. — Sei que é esquisito falar isso, mas você e Danilo são loucos e
acabam combinando. Serão felizes.
— Obrigada por deixar Vegas e vir viver comigo. Eu não disse antes,
mas isso foi muito importante para mim. — Apertei sua mão.
— Será que posso ver a noiva? — Assis se aproximou pelo corredor.
— Você está linda, Bella. — Passou o dedo no meu nariz e apertou. — E
muito maquiada. Eca!
— Obrigada, irmão.
Nós três ficamos em silêncio, senti vontade de fazer algo que nunca fiz
na vida com meus irmãos e culpei toda a emoção do casamento ao jogar
meus braços ao redor de ambos. Eles ficaram surpresos, tensos, mas deram
tapinhas desajeitados nas minhas costas quando entenderam que era só um
abraço de uma noiva sendo boba.
Sem falar mais nada, reuni as saias do meu vestido e desci a escada.
Escolhi um modelo moderno, porque eu não fazia o tipo romântica e muito
menos bancaria a princesa. Ele era justo, modelado ao meu corpo, com uma
fenda até os joelhos mesmo com a saia mais fluida. Escolhi um véu de rosto,
que ficava preso no meu cabelo por uma linda presilha de safiras que Danilo
me deu na noite anterior.
Meus olhos estavam trabalhados com o rímel, apenas com um brilho
iluminando as pálpebras e com o batom vermelho. Meu buquê era de rosas
vermelhas, escolha do meu marido e aceitei. Ele disse que eu não era fofinha
para flores românticas, algo sensual e marcante como as rosas nos
representava mais do que qualquer conjunto de lírios.
Papai me deu um raro sorriso ao pegar minha mão. Entre ele e minha
mãe, eu sabia que foi o único a realmente querer filhos, só não sabia se era
para perpetuar seu sobrenome, um desejo primário e masculino de se
reproduzir, ou por amor. Minha mãe ficaria eternamente satisfeita em ser
apenas eles.
— Você está perfeita, Bella — ele falou baixo, em seu jeito contido.
— Obrigada, pai.
Nanci nos orientou em como posicionar os braços e o buquê, a música
começou a tocar e era a deixa para seguirmos pelo tapete vermelho. Eu tinha
que admitir, a decoração estava perfeita. Não dei muito crédito quando
Nanci disse que bastavam luzes e arranjos de flores nos locais certos porque
a Villa já era muito bonita sozinha. Tudo parecia rústico e até romântico, um
clima doce para um casamento. Não importava que os convidados
pertenciam a uma organização criminosa.
Aquela era nossa vida e, como qualquer outro, tínhamos o direito de
comemorar.
Danilo me esperou com um sorriso que eu já conhecia como a prévia
de alguma besteira que iria falar. Ele cumprimentou meu pai na mesma frieza
que eles me tratavam e isso trouxe um pouco de emoção ao meu coração. Ele
me protegia em tudo, até em uma coisa pequena como o modo que minha
família agia. Quando segurei seu braço, ele olhou para meu decote, descendo
o olhar para o meu vestido. Antes de virarmos para o altar, inclinou-se em
meu ouvido.
— Eu vou te foder com essa roupa bonita.
Puta merda!
— Obrigada por você gostar do meu vestido.
Ele se afastou.
— Gostar é pouco.
Ele tinha que ser safado no dia do nosso casamento, meu pervertido.
Nós nos concentramos na cerimônia, que não seria muito longa. Danilo
tinha uma paciência curta para ficar parado fazendo a mesma coisa, ele
pediu que fosse uma benção direta ao ponto. Ao ajoelhar, ele viu o coldre na
minha coxa e me deu um olhar como se fosse um absurdo ter uma noiva
armada.
— Você também está — sussurrei, segurando suas mãos.
— Eu sou o chefe — retrucou, entrelaçando nossos dedos.
— E eu sou a esposa do chefe.
Seu olhar quase me fez rir.
Aceitamos um ao outro, o sim já havia sido dito na capela em Vegas,
mas daquela vez foi por obrigação. Eu senti que meu segundo sim foi porque
em dois meses ele me fez desejar ser a esposa dele. Diante de todos,
trocamos alianças e um beijo possessivo. Cássio foi nosso padrinho e
madrinha ao mesmo tempo, já que eu não tinha amigas.
Ao virar para os convidados, registrei rostos desconhecidos que
pareciam felizes, mas também vi a alegria de Nanci e o carinho dos nossos
irmãos. Tirando o sorriso amarelo comum dos meus pais, também observei o
olhar cruel da minha nova tia por casamento. Ela pensou que eu não tinha
visto e tentou disfarçar, mas recebeu o meu retorno.
Eu não era como a mãe do meu marido. Sua maldade não podia contra
mim.
Dei a ela um sorriso provocante.
Danilo nos conduziu até a entrada para que pudéssemos esperar os
convidados na área da piscina, onde as mesas estavam montadas para a
festa. Aproveitando que estávamos sozinhos, passou o indicador em meu
decote, enganchando o dedo no meio e me puxando para si. O beijo foi uma
delícia. Era o beijo que me fazia derreter e ansiar por mais, querendo seu
toque em todo lugar. Ele sabia como me provocar com a língua e os lábios
macios.
Agarrei seu terno, pressionando-me a ele e ergui minha perna. Ele
pegou, apertando minha coxa e sentindo o coldre no processo.
— Definitivamente eu vou foder minha mulher armada e de noiva. —
Soltou um grunhido.
— Agora? — Ofeguei, pouco me importando com a festa nos
aguardando.
— Eu sinto muito. — Cássio coçou a nuca. — Eu já ouvi vocês
transando e esse diálogo quero deletar da minha mente.
— É só sair de perto. — Danilo tentou enxotá-lo.
— Não, foda-se. Solte a perna dela e se aprume, chefe. Você tem
pessoas para mostrar o seu poder agora.
Eu fiz um beicinho. Danilo riu e ajeitou a roupa. Dei um olhar maldoso
para Cássio.
— Terão muitos dias para produzirem sobrinhos para mim.
— Só se você for a babá. — Apertei a bochecha do meu cunhado.
— Vou deixar esse trabalho para Mariano.
Danilo parou perto da porta da festa e me ergueu no colo, passando
pelo portal de flores. Com a chuva de arroz e pétalas de flores, nós fomos
anunciados como marido e mulher. O submundo inteiro saberia que Danilo
Venturinni tinha uma esposa e estava se preparando para herdeiros em meio
ao caos. Era o momento perfeito para que nos atacassem.
Estávamos prontos e esperando.
20 | Bella
Uma festa de casamento italiana podia durar dias se os convidados
estivessem dispostos. Felizmente para mim, meu noivo muito bêbado deu fim
a ela quase no amanhecer do outro dia ou os empolgados seguiriam para o
café. Eu não aguentava mais, meus olhos ardiam e os gritos para que ele
tirasse minha virgindade foram substituídos por obscenidades piores. Foi
difícil bancar a esposa quieta e comedida, controlar a vontade de revirar os
olhos e mandar todos eles para a puta que pariu e pararem de me encher.
Meu marido não podia contar com qualquer tipo de núpcias. Eu tomei
banho e tirei a fantasia de noiva, pegando uma camisa dele e cueca. Nada de
camisolas sensuais e sexo alucinante. Ele cheirava a charuto e uísque, nada
atraente e meus pés estavam doloridos demais para bancar a aventureira.
Danilo saiu do banheiro ainda exalando a bebida. Sendo um homem feito, ele
raramente bebia de perder seus sentidos. Seria estupidez e um atestado de
morte.
— Se você não escovar os dentes, não vai dormir nessa cama. —
Apontei novamente para o banheiro. Ele cheirou o próprio hálito.
— Já escovei os dentes.
— Escove novamente. Na verdade, acho que vai precisar beber seu
perfume para sair o odor.
— Fale baixo — pediu e eu ri, pensando se deveria elevar minha voz a
alguns decibéis para provocá-lo. Ele foi escovar os dentes de novo e deitou
na cama. — Estou fodido. Eu vou matar Cássio por me fazer beber demais.
— Eu não te matei por fazer chantagem emocional para ir a Vegas com
você.
— Você foi uma noiva linda e não uma noiva cansada, apesar de tudo
que aconteceu, não encontrei olheiras e bolsas, sei lá o que disse —
resmungou sonolento e a maneira que falou foi engraçada. Puxei a colcha e
beijei sua testa. Ele soltou um bufo engraçado, começando a roncar.
Seria uma longa manhã…
Escorreguei mais na cama, fechando meus olhos e de tão cansada que
estava, o ronco dele não me incomodou. Danilo dormiu quase o dia todo, era
raro e não reclamei. Minhas horas de sono ficaram confusas desde que nos
casamos. Ele era uma criatura agitada que me perturbava incansavelmente.
Estava escuro quando finalmente abriu os olhos.
Ele olhou ao redor e virou na cama, escondendo o rosto no meu
pescoço.
— Está com fome?
— Não de comida. Porra, eu amo seu cheiro. — Ele esfregou o nariz
no meu ombro.
— Só o meu cheiro?
— Não. Amo a sua pele. — Desceu as mãos para minha cintura. —
Amo esse quadril bom para agarrar enquanto te como por trás. — Virei meu
rosto e sorri. — Adoro a curva desse sorriso safado. — Inclinou-se e beijou
minha boca. Ele ergueu minha camisa e me afastei para tirá-la, empurrando a
cueca para baixo porque não precisava de roupas.
Meus seios livres ficaram bem à frente de seu rosto, ele nunca resistia.
A boca estava no meu mamilo segundos depois, carinhoso, chupou olhando
em meus olhos sabendo que eu adorava o prazer que aquilo me dava. Danilo
conhecia meu corpo, ele sabia cada reação e como cada toque iria me fazer
reagir. Deitei na cama novamente, afastando meus joelhos.
— Ah, eu amo essa boceta também. — Ele me deu o sorriso safado que
me trazia arrepios.
Tateei sua cueca, acariciando seu pau. Danilo ficou nu, para que o
tocasse. Não estávamos com pressa, embora o desejo fosse grande, ficamos
aos beijos.
— Sempre odiei beijar. — Danilo arrastou os lábios pela minha
bochecha e parou no meu ouvido. — Mas eu viveria com minha boca em
você, bebê.
Segurei sua nuca, mordi sua boca e empurrei-o deitado. Ele caiu de
costas, com o olhar intenso em mim e levou as mãos para trás da cabeça
apenas para apreciar. Beijei a cabeça de seu pau, provocando-o com minha
língua. Um pouco mais experiente e segura, aquele ato estava mais natural e
confortável para nós dois. Ele foi paciente e um professor dedicado,
adorando cada nova tentativa. Eu sabia que ia bem quando perdia a pose de
poderoso.
— Porra, Bella! Que gostoso… ah… isso. — Ele agarrou meu cabelo,
empurrando contra minha boca. — Amo foder sua boca. Leve tudo.
Danilo deu um tapinha no meu rosto, travando o maxilar e avisou que
iria gozar. Brinquei com seu esperma na minha língua, engoli e beijei a
barriga trincada. Ele me puxou, mordendo minha clavícula e apertou meus
seios, com chupadas rudes e dentes, soltei um gemido com outra mordida um
pouco mais dolorosa que, no fim, me fez rebolar contra seu quadril,
necessitada por atrito.
— Calma… Eu sei o que você quer.
— Então, me dê o que preciso — choraminguei.
— Temos a noite toda. — Ele acariciou meu clitóris, indo de um lado
ao outro preguiçosamente. — Quero te ver derreter de prazer e implorar por
mais.
— Filho da mãe…
Ataquei seu pescoço com um beijo meio chupão só para deixar marca.
Eu ficava muito marcada com seus toques e ele com sua linda pele morena,
bem no estilo italiano sexy, tinha um pouco mais de dificuldade. Escorreguei
pela extensão de seu pau, começando um movimento de vai e vem que estava
muito gostoso para mim. Arranhei seu peitoral.
— Promete que será minha para sempre? — Ele segurou meu rosto.
— Serei sua para sempre.
Danilo sorriu e me beijou, ao mesmo tempo, levei minha mão entre nós
e o encaixei na minha entrada. Ele nos virou na cama, mantendo o ritmo
lento, gostoso e foi a primeira vez que foi doce. Aos beijos, não havia como
saber onde começava um e terminava o outro. Éramos um só em uma dança
íntima intensa que me levou ao orgasmo forte e barulhento. Ele ficou de
joelhos, pedindo que deitasse de bruços e empinasse minha bunda.
Voltando para dentro, fechei meus olhos. Porra, era tão bom! Um forte
prazer queimava, espalhando brasas vivas pela minha corrente sanguínea,
entorpecendo meus sentidos porque tudo que importava era senti-lo. Eu me
perdi em um mar de emoções e gozei novamente, junto a ele. Rapidamente
virei e sentei na cama, ele se assustou.
— O que foi? O que, Bella? Sente alguma coisa?
— Meu coração parece que vai explodir — sussurrei. Ele colocou a
mão em cima. — Eu… não sei o que é. Não é como se me sentisse mal, mas
tudo que sinto agora é sobre você. Não consigo controlar. Não sei explicar.
Danilo me encarou sem saber o que dizer por um momento e
simplesmente me beijou. Com aquele beijo, não precisava de palavras. Seu
coração batia no mesmo ritmo que o meu. Estávamos sincronizados. Aquela
explosão dentro de mim também acontecia nele. Cheguei mais para frente,
com nossos joelhos se tocando e olhei em seus olhos.
— Você disse que iria dominar tudo em mim. — Eu ofeguei com a
realização. — E conseguiu. Você vai me destruir — falei com dor. Eu não
queria enlouquecer.
Seus olhos arregalaram.
— Se eu te destruir, significa que eu não existirei mais. Não existe um
eu sem você. — Ele pegou minha mão e beijou. — Você tem tudo de mim,
Isabella.
Porra. Exalei, assimilando suas palavras e meus olhos se encheram de
lágrimas. Eu chorei sem me importar se era vergonhoso ter uma crise
emocional na cama. Ele me puxou para um abraço do tipo que no começo, eu
não gostava de dar. Me aninhei em seu colo, com meus soluços fazendo com
que minhas costas pulassem.
— Não me deixa, tá? Sempre que sair, lembre-se do quão importante é
ficar vivo para estar comigo para sempre — falei baixo. Já não me
importava mais em parecer tão vulnerável depois do que disse. Eu senti a
verdade.
Pertencemos um ao outro.
— Eu prometo nunca te deixar e fazer de tudo para ficar vivo. Quero te
irritar até os últimos dias da minha vida. — Ele beijou meu ombro e tocou
minha nuca para ver meu rosto. Olhei em seus olhos, percebendo a emoção
brilhando em suas íris perfeitas espalhando para o tom de mel. — Minha
preciosa.
Ele nos deitou, nossas pernas ficaram entrelaçadas e beijei seu queixo.
Nós não queríamos sair daquele clima, mas a fome foi simplesmente falando
mais alto. Meu estômago roncou muito, Danilo ergueu o rosto e me deu um
olhar divertido. Tomamos banho e nos vestimos. A casa estava silenciosa,
meus pais foram para a casa que Danilo reservou para eles e nossos irmãos
bebiam na piscina, rindo baixo.
Nanci sorriu ao nos ver. Ela bateu palmas, feliz pelo casamento,
dizendo que ainda tinha muita comida. Comi alguns docinhos enquanto
esperava nossos pratos ficarem aquecidos o suficiente para comer. Danilo
preparou minha bebida favorita, com uma dose extra porque estava de bom
humor. Ele parou entre minhas pernas, acariciando minhas coxas.
— Devemos sair em uma lua de mel de verdade assim que possível.
Acho que vamos nos divertir. — Apoiei meus braços em seus ombros. — Se
não brigarmos.
— É só não cozinharmos juntos, ou dirigirmos, ou qualquer saída que
envolva meus cigarros e suas roupas curtas. — Ele me deu um sorriso torto
adorável. De fato, tínhamos muitas situações que causavam briga, tudo
porque ele não conseguia parar de fumar e aceitar minhas roupas. A direção
era questionável.
— Será uma lua de mel. Nenhum casal deve brigar em um momento
romântico.
— Eu não sou romântico.
— Sei disso. Eu também não. Vamos aprender juntos.
Danilo sorriu de um jeito amoroso que aqueceu meu coração.
— Gosto muito da ideia de aprendermos muitas coisas juntos.
21 | Danilo.
Bella estava com a boca cheia de sorvete, mostrando a língua e eu ri,
me inclinando e tentando chupar o doce que estava ali. Virou uma bagunça.
Nós rimos e tentei me limpar.
— Você está fazendo uma bagunça do cacete — reclamei. Ela não se
importava, com as bochechas coradas e o olhar brilhante. De tanto beber,
minha esposa estava soltinha. Enfiou mais uma colher de sorvete derretido
na minha boca, escorreu por meu queixo e ela lambeu. — Isabella…
— O que foi, marido? — Riu e balancei a cabeça, apenas resignado
que ela já estava além do álcool. O sorvete foi a minha tentativa de fazê-la
não passar tão mal pela manhã. — Acho que preciso dormir. Minha cabeça
está girando.
— Eu não quero ser vomitado. Vou ficar muito puto, não ligo de
segurar seu cabelo ou sacos no avião, mas não quero gosma de vômito em
mim. — Peguei-a no colo e ganhei uma risadinha de volta. Caminhei com ela
para nosso quarto, chutei a colcha sem jeito para fora da cama e a deitei. Ela
rolou, abraçando um travesseiro e finalmente ficou quieta depois de horas.
Era raro Bella relaxar ao ponto de se divertir. Ela nunca deixava o
controle ir embora, raramente dormia pesado, apenas quando o corpo
implorava. Era sábado, nossos irmãos estavam na rua a trabalho, a casa
vazia e os sons da pequena festa que os moradores da Villa faziam à noite
ecoavam através do vento. Passamos por lá para jantar e confraternizar com
Nanci.
Era meio da madrugada, peguei meu telefone para verificar o
andamento das boates espalhadas pelo meu território e ainda obtive um
relatório sobre a aquisição de algumas casas noturnas em Vegas.
Aproveitando que minha esposa estava dormindo, peguei um cigarro e fumei
na varanda dos fundos para que não sentisse o cheiro.
A mulher estava me infernizando para parar de fumar. Disse que não
criaria crianças em uma casa defumada. Pentelha pra caralho. Eu já não
podia deixar cuecas no chão e muito menos mexer na organização da casa.
Ela separou os pratos para dias especiais e os comuns, eu não podia tocar na
cristaleira. Parecia que casei com uma general militar com traços de
ditadora.
Dormi por algumas horas e acordei com ela se movendo na cama,
buscando meu corpo, reclamando que estava com frio. Costumava deixar as
janelas abertas, mas às vezes o vento da praia podia ser muito gelado na
madrugada e pela manhã mais ainda. Peguei a colcha do chão, cobrindo-a e
observei seu rosto adormecido com um pequeno beicinho formado nos
lábios.
Beijei a pontinha de seu nariz. Sem sono, ouvi as mensagens de Cássio
e outras de Mariano, avisando que iria dormir um pouco e depois, ia para a
oficina onde nossos carros ficavam. Ele os verificava diariamente, para
saber se estavam com algum rastreio ou escuta. Além de garantir o
funcionamento completo de todos os veículos.
Bella acordou quase uma hora depois, se esticou e foi para o banheiro.
Era sempre metódica com a rotina; banho, escovar os cabelos, dentes e
máscara facial enquanto se vestia para comer. Nem sempre colocava roupas
de treino. Mariano e ela se programavam com antecedência e eu me
intrometia se tivesse tempo.
— Bom dia, Nanci. A comida ontem estava maravilhosa. — Bella
entrou na cozinha na minha frente, alegre.
— Eu concordo plenamente. — Puxei uma cadeira para minha esposa
sentar.
— Estou faminta. Bebi demais ontem. — Bella pegou um pão fresco,
cortando ao meio. Nanci colocou mais comida na mesa. — Não quer comer
nada? — ela me questionou ao pegar o
café.
— Vou me servir.
Nanci podia falar e responder às próprias perguntas, já estava
acostumado, ela trabalhava na minha casa desde muito antes do meu
nascimento, quando ainda era uma adolescente. Foi minha babá por um
tempo, antes de ficar cuidando do Cássio integralmente. Meu irmão foi o
único a ter uma acompanhante até os quatorze anos, porque eu queria que ele
terminasse os estudos mesmo sendo um homem iniciado.
Ela conseguiu extrair um lado tagarela de Bella. As duas falavam
muito. Ficavam na cozinha conversando sem parar. Desde que meus sogros
foram embora, ela parecia ainda mais leve e esquecendo a chateação sobre o
dia do nosso casamento. Descobri o quão importante era vê-la feliz até ter
seus sorrisos estampados no rosto.
— Chefe — Mariano me chamou sério e olhou ao redor. — Temos um
problema.
Bella parou de falar e virou o rosto, alerta.
— Precisa vir comigo.
Deixei a mesa e saí com ele. Nós fomos direto para o carro. Mariano
não quis dizer com todas as palavras, estávamos sendo chamados na
fronteira e era melhor vermos pessoalmente. Foi tudo que Giovanni, da
família Valentinni, informou por telefone. Nós chegamos à pequena cidade
pouco mais de quarenta minutos depois ao dirigir em alta velocidade.
— O que você tem para mim?
— Deixaram esse pacote em uma das nossas praias com um bilhete
endereçado a você. — Giovanni apontou para a caixa no meio da estrada, na
divisa da nossa fronteira. — Eu abri e acho que não deveria.
— Vá ver o que é — ordenei a Mariano.
— Não é uma bomba. — Giovanni deu um sorriso, entrou no carro e
foi embora.
Mariano abriu a caixa e levou a mão à nuca, me deu um olhar esquisito.
Saí do carro armado e me aproximei. Ah, não! Caralho…
— Puta que pariu!
— Provocação direta — Mariano refletiu.
O corpo de Carol estava na caixa e eu não precisava descrever a
maneira para ninguém compreender como. Em sacos plásticos repletos de
formol, parecia que esteve refrigerado até ser entregue. O bilhete estava em
uma língua que eu não entendia, mas reconhecia bem. Meu nome era a única
coisa clara na porra do papel manchado com o sangue de um membro da
minha família. Eles a pegaram, cientes da ligação que um dia teve comigo
pessoalmente e pelo parentesco com a minha governanta.
— Chame os outros para lidarem com isso. Vou contar a Cássio
pessoalmente. — Enfiei minha arma na cintura e voltei para o carro.
Mariano pegou o telefone no momento que saí com o carro. No meio do
caminho, vi os demais homens seguindo na direção oposta, piscando os
faróis para mim. Voltei para a Villa, onde tudo parecia calmo e silencioso.
— Oi! Voltou rápido! — Bella estava na cozinha, separando alhos. —
Nanci precisou ir em casa. Ordens do Mariano. O que aconteceu?
— Eu tenho que ir até Nanci. Carol foi morta.
Bella soltou a faca e abriu a boca.
— O corpo foi entregue na praia do outro lado, fizeram com que
chegasse até aqui para que o recado fosse dado. Ainda não contei a Cássio
também.
— Meu Deus! Eu vou com você para contar a Nanci. — Ela correu
para lavar as mãos.
— Não quero que a notícia se espalhe antes de contar a Cássio.
— Eu vou cuidar disso — Bella me prometeu.
De mãos dadas, chegamos a casa de Nanci. Ela ficou de pé logo que
entramos, com os olhos arregalados e baixou o pano de prato que segurava.
— Foi a Carol, não é? Ela fez alguma besteira? — Se adiantou, com a
voz baixa.
— Ainda não sei como, mas ela está morta.
— Eu senti isso ontem e ignorei. — Nanci voltou a sentar. — Aquela
menina nunca soube como se entender e ser compreendida. Apenas trinta
anos de vida.
— Eu sinto muito, Nanci. — Bella apertou seu ombro. — Sei que vai
querer ligar para suas irmãs, podemos abrir uma das casas vazias para que
elas possam vir. Faremos um enterro tradicional. Vou ligar para o padre e
cuidarei de tudo. — Elas sentaram juntas. — Estou aqui com você.
Bella era uma combinação confusa. Podia ser muito cruel e ao mesmo
tempo demonstrar um coração empático e generoso nos momentos mais
inusitados. Ela gostava da Nanci de verdade. Talvez a primeira pessoa na
vida que ela não sentiu medo de trocar afeto. Com a cabeça quente e ainda
precisando falar com Cássio, deixei-as sozinhas. Minha esposa saberia
como agir sendo a matriarca e controlar a todos.
Subi as ruas novamente até a casa do meu irmão e entrei sem bater.
Para um lugar com dois homens solteiros, era limpo e até cheiroso. Mariano
nunca viveria em um chiqueiro e Cássio sabia que se tivesse baratas por seu
quarto, eu enfiaria a porrada nele até que perdesse a consciência. Ele estava
no quarto, acordado e olhava para a porta, me esperando entrar.
— Você veio verificar alguma coisa?
— Não. Sente-se — ordenei e pelo olhar atento, percebeu que eu não
estava ali para falar como irmão e sim, chefe. Ele ficou em alerta. — Carol
está morta.
Eu sabia o que viria a seguir.
— O que você fez?
— Eu não mandei matá-la. Foi entregue morta como um recado.
Cássio fechou os olhos, lívido.
— Você não tem tempo para ficar com raiva, assim como eu não tenho
tempo para lidar com a sua culpa. Não matei e não o faria, como prometi.
Levante-se e vá colocar uma roupa.
— Nem mesmo por Bella? — ele questionou.
Agarrei-o pelo pescoço e o pressionei contra a parede.
— Bella nunca me pediu para matá-la e sim para mantê-la longe.
Nunca mais ouse questionar minha palavra. Vá se vestir agora, porra — falei
entredentes e o soltei.
Não precisava tolerar sua culpa e muito menos o ódio. Eu não tinha
tempo a perder, precisava buscar quem matou Carol e fazê-lo sentir muita
dor antes de morrer.
22 | Bella.
Danilo não estava em casa há dias. Ele saiu depois do velório
tradicional que fizemos para Carol e não retornou. Mal mandava mensagens,
nunca fui de ficar tanto tempo com o telefone na mão, mas sua ausência
estava me fazendo sentir solitária e preocupada. Cássio foi com ele, o que
era motivo para meu estômago estar revirado. Os dois estavam brigando
muito desde que recebemos o corpo de Carol. Meu cunhado estava instável.
Não fiquei triste, não era algo que eu costumava sentir, mas lamentei a
dor da Nanci. Ela era importante para mim e me solidarizei com o luto de
sua família, preparando um funeral lindo. Algumas das matriarcas, incluindo
a tia megera do meu marido, resmungaram que era uma blasfêmia a Deus e
um gasto de dinheiro desnecessário para enterrar uma puta.
Todas foram silenciadas por mim e não foi com educação. A decisão
era minha e ninguém poderia contrariar a minha palavra como esposa do
Danilo. Elas engoliram, desviaram os olhos e agarraram seus terços na
desculpa de que iriam rezar por Nanci. Tia Edna ficou de bico, murmurando
que nunca foi tão violada. Soube por Nanci que Carol dormiu algumas vezes
com tio Tomás e entendi o motivo de tanta raiva.
Eu não queria saber dos atos de Carol. Foi a maneira que ela encontrou
para sobreviver sem os pais vivos, apenas com as tias. Depois que soube de
seu noivado fracassado, eu a compreendi. No passado, esteve noiva como
mandavam nossas tradições, mas sem esperar o casamento, teve relações
sexuais com o prometido. Ele a deixou para casar com outra menina, mais
jovem e segundo ele, que esperaria o casamento para romper sua pureza.
Todos ficaram sabendo. As tias tentaram controlar o dano das
humilhações sofridas, mas foi impossível encontrar um novo noivo.
Obviamente, o pai de Danilo não se importou com toda a fofoca e não fez
nada para punir o imbecil e sua família. Para fazer sexo, é preciso dois. Ela
consentiu, mas ele quis. Ele deveria fazer seu papel de homem e assumir, foi
mais fácil jogá-la na fogueira e casar com outra.
Depois disso, Carol mudou completamente e passou a ser tratada como
louca. Por mais que não tenha gostado de sua invasão e sentisse ciúme do
envolvimento que teve com Danilo, não desejei sua morte, muito menos seu
mal. Eu a queria longe do meu marido e principalmente de Cássio. Ela
sofreu e não era santa, sabia que Cássio era quem a mantinha viva e com
dinheiro.
Virei na cama, olhando para o teto e decidi levantar. Não estava
conseguindo dormir. Mariano devia estar acordado. Sem Danilo por perto,
meu irmão não iria descansar, segurando a promessa de que me manteria
segura. Desci a escada na ponta dos pés para fazer o mínimo de barulho
possível e fui para a cozinha, acendi a luz e encostei a porta.
Nanci estava de folga e eu comendo o que deixou congelado, para não
ter que cozinhar. Peguei algumas frutas e senti falta de Danilo cortando-as
para mim na desculpa de que eu era muito perigosa com uma faca afiada nas
mãos. Ele não deveria se preocupar se não me irritasse tanto. Distraída para
não estraçalhar as frutas, percebi passos se aproximando.
Ainda não era boa para definir o andar. Danilo sempre sabia se era eu
ou um dos nossos irmãos se aproximando pela maneira que pisavam no chão
e o som que a madeira do piso produzia. Ergui meu olhar e meu marido
encostou na soleira da porta. Seu cabelo estava despenteado e o rosto
denunciando que não dormia bem fazia um bom tempo.
— Você está de volta.
— Eu não podia ficar mais um dia longe. Está destruindo as frutas. —
Ele me deu um sorriso de lado, que fez com que sua covinha aparecesse.
Limpei minhas mãos e dei a volta, ainda mantendo uma distância.
— Voltou para me ajudar a comer?
— Vem aqui me dar um abraço.
Eu sorri e me joguei nele, abraçando-o apertado. Danilo me ergueu em
seu colo, enfiei o rosto no pescoço dele só para matar a saudade alucinante
do seu cheiro. Ele riu da maneira desesperada que agi, mas não me culpou
por sentir sua ausência.
— Você está bem? — Acariciei seu rosto, procurando qualquer sinal
de ferimento.
— Agora estou, sim. Em casa e com minha bela esposa.
— E Cássio?
— Tirou a cabeça da bunda antes que eu enfiasse a porrada nele. —
Bufou.
Danilo bateria em Cássio sim, não duvidava, mas ele tinha uma
paciência enorme e mesmo que preferisse cortar os dedos ao invés de
admitir, ele amava e mimava o irmão caçula. Sorri para sua resposta e o
beijei. Sem tirar a boca da minha, me colocou sentada no balcão e
permaneceu entre as minhas coxas. Seus olhos estavam vermelhos, decidi
acalmar nosso contato para que dormisse um pouco.
— Vi as fotos do casamento do Rafaelli. Foi bem bonito. Eles gostam
de chamar atenção da mídia, não é? — mudei de assunto.
— Faz parte do jogo dele. Usar muitos artifícios de distração, ter álibis
públicos e brincar com os outros. Dá certo.
— E por que não faz o mesmo?
— Se ninguém me conhece, ninguém vai saber meu rosto. Entro e saio
de vários lugares, posso estar como o homem rico que sou ou um homem
pobre em disfarce. A ignorância do mundo também é uma benção. Eu não
sou midiático, vou meter bala na primeira perseguição que tiver — explicou
e assenti, descendo do balcão. — Não vai comer?
— Era só para matar o tempo. Não estou com fome.
Danilo analisou meu rosto.
— Sentiu minha falta?
— Por que quer saber disso? — Mordi meu lábio, um pouco ansiosa
com a intensidade do seu olhar e com o quanto tê-lo na minha frente me fazia
feliz.
— Porque eu já fui babaca o suficiente nos últimos dias e não quero me
sentir idiota ao dizer que ficar longe de você foi difícil pra caralho.
Duas coisas em sua confissão me deixaram alerta: ele não obteve os
resultados que esperava e não estava com paciência para aguentar minhas
dificuldades emocionais. Normalmente, em seu estado de espírito comum,
ele tolerava minha incerteza em como agir e até mesmo os momentos em que
ser fria era tudo que eu sabia fazer. Danilo adorava brincar que estava
derretendo meu coração sem saber que meus pensamentos e tudo dentro de
mim eram o avesso do frio.
Era quente. Uma explosão. Eu mal sabia controlar meus pensamentos e
talvez fosse por isso que controlava tanto minhas atitudes. Tudo entre nós era
novo para mim, ele sabia o que era sentir qualquer tipo de afeto em suas
relações. Eu só entendi que amava meus irmãos porque vi o quanto Danilo
amava Cássio. Ainda não tinha certeza sobre o que sentia pelos meus pais…
Eu tinha tempo para descobrir.
Com ele ali só queria… o que eu precisava? Nada. Danilo preencheu
o vazio e o ardor da solidão. Ele trouxe de volta o calor e expulsou a
angústia. Até o enjoo e a dor de cabeça desapareceram. Perceber isso foi tão
forte que me deu vontade de chorar — e por que? A emoção estava além do
meu controle.
— Eu não vivi sem você aqui. O tempo ficou inerte, nenhuma atividade
pareceu atraente e eu não queria admitir isso porque você fez jus a sua
palavra. Tomou tudo de mim o tempo todo, até mesmo na ausência. Minha
parte racional, me diz para empurrar isso longe e me fechar, como fui criada
para sempre me defender. — Subi minhas mãos por seu peito. Não tive
coragem de olhar em seus olhos. Estava com medo de encontrar um sorriso
triunfante de vencedor. Danilo estava com o poder de me quebrar. Ele avisou
e eu achei que seria forte o suficiente para lutar. — A parte emocional, que
ganhou vida depois de você, apenas quer se aconchegar na cama e suspirar
que finalmente você chegou e está tudo bem.
Danilo segurou meu queixo e levantou de forma suave, basicamente me
obrigando a olhar em seus olhos. Ele sorriu, mas não foi vitorioso e sim
correspondendo a emoção intensa que pulsava no meu peito.
— Foi difícil respirar porque o vazio era tão grande que oprimia minha
caixa torácica. Você não precisa ter medo, Bella. Já te disse e vou repetir
para sempre: tudo que tem em mim, é seu. Meu corpo, meu coração maldoso,
minha alma condenada, minha mente perturbada… meus sorrisos, meus
olhares e meus pensamentos. Tudo é seu. — Ele pegou minhas mãos e beijou
as palmas. Fiquei na ponta dos pés e ainda assim, mal consegui alcançar sua
boca. Pegando minha bunda, terminou de me erguer. — Eu sabia que não
deveria ficar longe quando ficamos noivos e estava certo.
— Sei que fez o seu melhor em me deixar aqui segura, mas eu quero ir
sempre.
— Vamos sair em lua de mel.
Franzi o cenho.
— O quê? E os negócios? A viagem a Vegas?
— Seu pai ganha o suficiente para cuidar de tudo lá. Vamos sair apenas
eu e você. Quer?
Abri um sorriso enorme.
— É claro que sim. Tudo que mais quero agora é ficar do seu lado, não
importa o lugar, mas uma boa viagem vai ser bem interessante para nós dois.
— Dei-lhe vários beijos, completamente feliz com a ideia de termos um
tempo a dois, que era muito necessário.
Ele riu e me apertou ainda mais, rodopiando na cozinha, me fazendo
sentir jovem, feliz e amada.
23 | Bella.
Danilo e eu não éramos as melhores pessoas para organizar uma
viagem. Pensamos em vários lugares e sempre éramos barrados por alguma
coisa. Donos de territórios, o clima, nossa inexperiência em fazer qualquer
coisa a dois também não ajudou muito. Por fim, decidimos pela França. Era
um país que eu sonhava conhecer e queria muito aproveitar as praias. Não
quis saber se era a época perfeita ou não, organizei alguns dias em terra e
outros, fiz com que meu marido alugasse um iate para conhecermos o
máximo possível.
— Ei, gostosa. Minha mala está pronta. — Ele saiu do closet e deu um
tapa de mão cheia na minha bunda. Nós estávamos bem. O sentimento de
sufoco e medo estava sendo substituído por tranquilidade. Estava aceitando
a nossa rotina, o companheirismo que crescia e a vontade de ficar junto sem
me sentir perdedora por me entregar.
— Meu marido obediente.
— Não tente a sorte. — Bufou e saiu do quarto.
Nós tivemos pequenos desentendimentos desde que decidimos sair. O
principal foi sobre a mala. Ele queria que eu preparasse tudo. Em tempos
normais, quando estava muito ocupado e precisávamos sair rápido, eu não
me opunha em cuidar das coisas dele com carinho. Nós tínhamos horas e
além da mala dele, ainda precisava montar a minha. A recusa causou o caos.
Ele reclamando e eu segui plena negando, até que me estressei e disse que
não iria mais para “porra de lugar nenhum”.
Foi o suficiente para o homem, que parecia que ia morrer se
organizasse as próprias roupas, se mancar e entender que estava ocupada. Se
continuasse me enchendo, era melhor me estressar em casa do que em um
país diferente.
Para que ninguém soubesse da nossa ausência, iríamos sair sozinhos no
meio da madrugada. Danilo divulgou a informação de que estaríamos em
Londres e depois, na América, a negócios. Combinamos com nossos irmãos
de espalhar fofocas para manter todo mundo ocupado e com o interesse
longe do nosso refúgio romântico.
Separei todas as melhores roupas íntimas, fiz uma bolsinha com itens
que poderíamos usar para nos divertir e acrescentei um frasco de
lubrificante. Ele iria explodir com meus novos biquínis, era um bom
momento para estrear. Danilo não conseguia aceitar meu estilo, porém, não
faria nada além de me algemar nele porque gostava de me exibir como linda
e gostosa ao seu lado. Sua possessão era um misto de ciúme e orgulho.
— Minhas coisas estão prontas! — gritei da escada.
— Eu já vou! — ele gritou de volta.
Verifiquei minha bolsa de mão mais uma vez e tomei remédio para
enjoo, me preparando para a viagem e um calmante, assim não teria uma
crise nervosa no ar.
— Danilo!
— Caramba, mulher! Está com pressa agora? — Voltou para o quarto e
pegou sua camisa. Dei um beijo em seu abdômen, ele riu e segurou meu
rosto, me beijando. Caímos na cama e ficamos encaixados em uma posição
gostosa. — Acho que vou cancelar a viagem e trepar sem romance em casa.
— Usando o termo trepar, realmente, é muito sem romance. Embora
esteja gostoso, eu quero muito ter um momento fora de casa com você.
— Sim. Se Deus for bom, sua menstruação não vai descer.
Homem controlador ao ponto de saber os dias do período? Eu tinha um
exemplar completo.
Pegando as malas, levou para o carro, onde Mariano nos esperava para
levar-nos ao aeroporto. Eu nunca estive em um comum e talvez jamais
pisasse. Danilo não era um foragido da polícia, ele tinha o nome socialmente
limpo, foi acusado algumas vezes e inocentado por falta de provas. Apesar
da liberdade de ir e vir, era arriscado andar por aí como se fôssemos
pessoas comuns e, por segurança, era preferível nos locomovermos da
maneira mais privada possível.
O piloto e sua equipe estavam prontos, nos aguardando. Mariano
ajudou nas bagagens enquanto eu me acomodava no avião. Danilo ficou do
lado de fora, falando com meu irmão com uma expressão bem séria. Esperei
que entrasse e a decolagem para questionar.
— Aconteceu alguma coisa que eu deva saber? — Estiquei minhas
pernas, apoiando meus pés em sua coxa. Ele riu e guardou o telefone.
— Nada. Passando ordens. Eles vão ficar sozinhos e os dois juntos não
completam um cérebro no formato de uma azeitona sem caroço.
— Tem falado com Assis?
— O necessário. Seu irmão não se torna um falador comigo. É dele ser
muito quieto. Acho que está se acostumando com Cássio e Mariano andando
atrás de nós o tempo todo.
Eu sorri.
— Isso é verdade. Fico preocupada com meu irmão, mesmo que não
saiba como demonstrar.
— Meu iceberg lindo — brincou, apertando minha bochecha. Inclinei-
me para frente, nossos narizes se tocaram, fechei os olhos e saboreei seus
lábios devagar. — Essa porra de lua de mel vai ser incrível se me beijar
assim o tempo todo.
— Acho que sei uma maneira de me deixar distraída no voo. — Soltei
meu cinto e fui para seu colo. Danilo empurrou a porta que separava a
primeira parte do avião da do meio.
— Porra. E só me diz agora com a equipe de bordo completa? Eu
quero te foder até perder os sentidos e não vou fazer isso quieto.
— Vamos quebrar nosso jejum com estilo — prometi, ainda com meus
lábios nos dele.
Ele sabia que eu havia tomado remédio e por isso, me acalmou em seu
colo. Eu nunca imaginei que fosse tão bom ficar completamente agarrada a
uma pessoa como eu aprendi a ficar com ele. Não só porque era algo dele
ser carinhoso e necessitar de muito contato. Danilo precisava estar junto o
tempo todo, mesmo quando eu não queria, mas reconhecia que a maior parte
do tempo era gostoso.
— Minha rainha… nós vamos pousar. — Ele me acordou com beijos
suaves e uma fala doce. Ah… meu coração não resistia. Com cuidado, me
colocou sentada e ainda prendeu meu cinto. Sonolenta demais, mal percebi a
aterrissagem e pela primeira vez, não dei trabalho.
Danilo alugou um carro e com a equipe, guardou as malas. A partir
dali, estávamos sozinhos. Ele dirigiu usando o mapa, não era sua primeira
vez na costa francesa, mas era a minha e não tirei os olhos da estrada,
desejando ver tudo. Nosso hotel era lindo. Escolhemos uma suíte moderna
com piscina privada que parecia um apartamento luxuoso com muita
privacidade. Era ainda mais bonito pessoalmente do que pelas fotos do site.
O concierge provavelmente não sabia quem Danilo era de fato, mas
imaginou que deveríamos ser ricos o suficiente para pagar todas as diárias à
vista sem questionamentos. Ele nos recebeu efusivo, falando um italiano
engraçado e deixou champanhe, morangos e flores como presente de boas-
vindas.
— O que faremos primeiro? Sair para explorar ou… ficar no quarto
pelo dia de hoje? — Fechei a porta com o código indicado. Danilo tirou a
camisa e abriu o coldre, deixando sua arma na cintura. Longe de casa, ele
não ficaria desarmado nenhum minuto.
— Por que não aproveitamos a piscina privada?
— Eu vou colocar meu biquíni. Peça mais bebidas. — Apontei para o
bar, que só tinha miniaturas das garrafas.
Separei o biquíni e me refresquei com um banho rápido. Prendi o
cabelo e ajustei as tiras finas do modelo que escolhi. Danilo já estava com
calção de banho e molhado, deu um mergulho enquanto me esperava.
— Puta que pariu. Uma algema não seria o suficiente para você usar
isso em público! — Ele me pegou pelo quadril e ergueu, soltei um grito e me
preparei para o impacto na água. Estava um gelo. — O aquecimento começa
em breve.
— Isso foi uma coisa muito adolescente. — Sequei meus olhos. —
Meu biquíni saiu todo do lugar.
— Isso é um biquíni? No meu mundo, são cordas amarradas e parece
mais uma técnica de masoquismo do que uma roupa para sair em público. —
Ele ajeitou as cortininhas no lugar. — No entanto, é muito sexy…
— Então, quer dizer que recebi o selo de aprovação do meu marido?
— Brinquei um pouco com as alças e ele observou o movimento dos meus
seios lambendo os lábios. Com o indicador, empurrou o tecido para o lado e
arrastou o polegar pelo meu mamilo preguiçosamente.
— Sempre terá minha aprovação — falou rouco, excitado e abaixou o
rosto, lambendo meu biquinho arrepiado. Joguei minha cabeça para trás,
apoiando minhas mãos em seus ombros.
Danilo sentou em um dos degraus e me manteve em seu colo,
explorando minha pele arrepiada com a boca. Apertou meus peitos, unindo-
os e beijou minha boca do seu jeito rude, possessivo. Nas primeiras vezes,
aquele beijo me fazia sentir vendida. Depois, era emocionante, porque ele
era meu também. Todo meu. O cabo de guerra se rompeu ao meio, nós dois
saímos vitoriosos, com um sentimento tão avassalador que sequer podia
nomear.
Amor era pouco. O que tínhamos um com o outro era maior do que o
universo.
24 | Danilo.
Bella soltou um gemido gostoso, jogando a cabeça para trás e ao
mesmo tempo, movendo o quadril em busca de fricção. Segurei suas
nádegas, erguendo-a para o degrau acima, no qual ela não ficava coberta
pela água e soltei as cordas de seu biquíni minúsculo. Era como um pequeno
triângulo atrás e grande o suficiente para cobrir seus lábios, porém, era
possível ver a marca do outro biquíni que era maior.
Só de vê-la desfilando com aquele corpo lindo, meu sangue ferveu e
meu pau ficou pronto para brincadeira. Desde a minha partida que nós não
ficávamos juntos e foi muito mais difícil do que considerei ficar longe dela.
Eu nunca pretendi fazer qualquer viagem sem minha esposa. As coisas
mudaram quando ela se tornou alvo dos meus inimigos e os meus sentimentos
ficaram muito maiores do que previ. O corpo de Carol foi um recado, e eu
não permitiria que machucassem o alvo principal.
Eles não me venceriam.
Minha esposa era importante para mim. Viver sem ela seria um castigo.
A saudade do sexo era um complemento, mas senti falta das nossas
conversas e até mesmo das brigas.
Afastando as pernas, exibiu a boceta sem nenhuma vergonha. Foram
poucas as vezes que foi tímida, teve seus momentos de inexperiência, mas
nunca acanhada. Era uma mulher de mostrar o que queria e naquele momento,
seu desejo era por mim.
Beijei a coxa esquerda, dando uma leve mordida e com meu polegar,
esfreguei seu clitóris. Ela adorava o estímulo intenso e direto ali. Para mim,
era a visão mais foda do mundo ver minha mulher derreter de prazer com a
boceta encharcada na minha frente. Seu corpo tremulava, os lábios
entreabertos deixavam escapar gemidos deliciosos.
Passei meu indicador pela sua extensão, ouvindo o barulhinho suave da
umidade. Bella sentou, arranhando meus braços e beijou minha boca,
ofegante e desesperada para gozar. Eu não parei até seu orgasmo explodir de
uma maneira tão linda que era até artística. Passei meu braço ao redor de sua
cintura, levando-a para as almofadas. Ela puxou meu calção de banho e
liberou meu pau, me tocando com um sorriso safado.
Guiei meu pau para sua entrada, esfregando suas dobras, provocando o
clitóris e empurrei. Nós gememos juntos, deitei sobre ela e mantive minhas
estocadas leves. Bella segurou minha nuca e cruzou as pernas em minha
cintura.
— Sua boceta é meu vício, minha safada — gemi contra sua boca.
— Eu amo o jeito que você me fode. — Ela mordeu meu lábio.
— Você é uma delícia, meu amor. — Encostei minha testa na dela.
Bella olhou em meus olhos e sorriu.
— Meu amor, é?
Saí de dentro dela e a virei bruscamente. Sem precisar falar nada,
empinou a bunda na minha frente e rebolou, me dando uma visão erótica de
suas nádegas em um movimento perfeito. Dei dois tapas fortes em cada,
apertando de forma rude e meti com tudo. Acariciei suas costas, agarrando
seu rabo de cavalo e puxei.
— Quem é seu amor, baby? — ela gemeu com um sorriso convencido.
— Você, gostosa. Só você. — Mordi seu ombro.
— Porra, porra. Danilo! — Bella choramingou, gozando.
Estremecendo contra mim, continuou rebolando, me levando a gozar também.
Abracei-a, percebendo que seu corpo estava um pouco mole. Procurei sua
boca e nossas línguas brincaram preguiçosas uma com a outra. — É tudo tão
intenso que parece uma explosão de energia.
Sentia a mesma coisa. Bella sempre soltava sons de satisfação quando
cuidava dela de maneira carinhosa. Era novo para mim e repetia porque
adorava vê-la feliz, era minha missão de vida ver seu sorriso e o olhar
emocionado por receber de mim, seu marido, algo que nunca teve antes.
Havia brigas e ela tinha um dom do caralho de me tirar do sério, mas
ninguém havia me contado que essa outra parte do casamento era incrível.
Ficamos na piscina, bebendo e quando o sol se pôs, assistimos ao
espetáculo deitados na espreguiçadeira com as pernas emboladas.
— Precisávamos disso — Bella falou baixinho, sonolenta.
— Eu sei. Todo momento que ficamos juntos é bom, exceto quando
você cisma de teimar comigo por qualquer coisa. — Beijei seu pescoço. Ela
acariciou meu braço.
— Sua vida será infinitamente mais fácil se simplesmente concordar
comigo. — Deu de ombros como se eu fosse a pessoa errada. — Estou
sempre certa, entenda isso. — Deu uma bitoquinha nos meus lábios. — Estou
suada, pegajosa e com fome. Vamos tomar banho?
— Quer sair ou dormir?
— Estou exausta de toda brincadeira.
— Vamos dormir. — Acariciei suas costas.
Bella sabia que eu estava cansado. Não dormi desde o dia que saí de
casa. Não era minimamente seguro baixar a guarda. Cássio estava volátil e
Assis não se importava com Carol o suficiente, mas estava viajando comigo
por lealdade. Nós passamos alguns dias na Inglaterra obtendo informações
antes de voltarmos para Milão e refazermos os últimos passos de Carol.
Ela foi vista em um ponto de prostituição com uma amiga. Não estava a
trabalho. Elas iriam jantar juntas quando a amiga a convenceu a pegar uma
carona com um possível cliente e sumiram. Não deu para acompanhar muito
pelas câmeras que tivemos acesso, peguei alguns vislumbres dos dois e meus
contatos não haviam conseguido identificar ainda.
Era questão de tempo. O recado foi dado. Eles foram bem efetivos.
Talvez tenham pensado que eu me importaria com Carol, ou apenas queriam
mostrar o que fariam com a minha esposa. Foi uma viagem produtiva, sabia
exatamente como e onde agir. Se esperavam que eu mandasse uma bomba de
volta, não me conheciam.
Não iria me expor. Não precisava que ninguém visse a minha fúria e
conhecesse meu nome, era muito arriscado e perderia o sentido de proteger
Bella. Sua segurança dependia do nosso anonimato. Meu jeito de agir era um
pouco mais baixo e silencioso, definitivamente, com muito sangue.
Minha mulher saiu do banho com uma camisola sexy e os cabelos
molhados. Ela ficava linda com as camisas que roubava do meu armário e as
pequenas peças provocantes. Quando noivamos, imaginava que uma mulher
só deveria usar roupas luxuosas e lindas, mas Bella ficava gostosa até com
as minhas cuecas.
— Sem sono? — Esfregou as mãos com creme e deitou por cima de
mim.
— Te esperando. — Puxei o edredom, nos cobrindo completamente.
— Levei uma eternidade para desembaraçar meu cabelo. Acho que vou
cortar um pouco, está na cintura, não faz sentido bancar a Rapunzel morena.
— Gosto dele assim, mas sei que vai ficar linda de todo jeito.
— Vou procurar alguém para cortar amanhã. — Soltou um bocejo e
fechou os olhos.
Estar na França a passeio era estranho, seria ainda mais esquisito se eu
não aproveitasse a oportunidade para obter mais informações de quem
estava levantando-se contra mim em Vegas. Bella estava deitada tomando sol
na praia, a única com a parte de cima do biquíni, mas não ousou considerar a
possibilidade de tirá-la. Eu não era legal e não teria minha esposa com os
peitos de fora em público, não importando o quanto quisesse.
Na sombra, com meu drinque, observava todo lugar até que meu
compromisso sentou à minha frente. Rocco Sartori [8]tirou o chapéu e os
óculos, jogando-os na mesa e me deu um sorriso provocante antes de olhar
para minha esposa.
— Eu nunca imaginei que seria um homem de andar com a mulher em
todo lugar.
— Saberá mais sobre isso quando tiver a própria esposa, no mais, não
se meta. — Dei um gole em minha bebida e pedi uma para ele. — Trouxe o
que pedi?
— Uma parte deixei em seu quarto, está no cofre, outra está vindo a
qualquer momento.
Rocco era o que nós chamávamos de anjo da morte, o que vivia nas
sombras. Ele pertencia ao território dos Galattore, mas era um bem em
comum de todas as famílias italianas. Entrava e saía de lugares que
precisávamos desde que fizemos o acordo de que todas as organizações
eram nossas inimigas. Se uma família entrasse em um novo território,
deveria abrir portas para as outras também.
Tirei meu telefone do bolso e entreguei a ele, para que visse a imagem.
— Já viu algum deles antes?
— Não pessoalmente, só a descrição com alguns retratos falados. —
Ele analisou bem a foto. — Não são os líderes, agem mais como executores.
Soube por meio de um contato em Londres que querem expandir a área de
atuação na América e desejam Vegas pela diversidade de negócios lá.
Nem fodendo que eles venceriam a corrida pelo território.
— É fácil passar despercebido entre um monte de gente nos cassinos e
nas ruas. — Rocco completou. Um homem passou por nós e deixou um
envelope. Conferindo todas as folhas, empurrou na minha direção.
— Siga adiante — ordenei. Com um aceno, virou toda sua bebida e
desapareceu na multidão animada da praia.
Bella se enrolou na toalha, saindo de seu lugar no sol e ocupou a
cadeira ao meu lado. Com sede, bebeu quase toda a água que estava no gelo
e me encarou com curiosidade. Não falaria sobre aquilo em público, enrolei
os papéis e enfiei-os no bolso. Ela disse que estava com fome, então decidi
que podíamos comer no quarto e nos preparar para embarcar à noite de volta
para casa.
Sem falarmos muito, entramos no hotel e eu verifiquei todo o quarto
antes de permitir sua entrada. Ela tirou a roupa, foi tomar banho e conferi no
cofre os envelopes com as informações que Damon e Enzo acharam que não
deveríamos falar por telefone. A famiglia estava enfrentando problemas
internos enquanto Galattore e eu estávamos livres para correr por aí.
Dei uma lida por alto e encontrei brechas interessantes para cavar meu
novo inimigo em Vegas. Eles estavam comprando prédios e mais prédios na
cidade. Não eram os únicos a ter dinheiro. Precisaria estar em casa para
fazer uma ligação segura ao meu sogro e executar algumas ordens de
compras bem precisas.
— Eu amei o tempo fora. — Bella saiu do banheiro com uma roupa
confortável.
— Eu sei, seu bronzeado está lindo. Está com saudades de casa?
— Estranhamente, sim. — Ela riu e pegou a escova. — Ele deixou
tudo?
— Sim. Esses pacotes não podiam ser entregues publicamente.
Ela analisou friamente antes de virar um porta retrato com uma foto da
cidade para fora da janela, criando uma luz de reflexo solar um pouco
incômoda. Deu um passo para trás e inclinou a cabeça em direção ao lado de
fora. Encostei na parede e peguei a arma, dependendo de quem estivesse
observando nosso quarto da varanda ao lado, eu não hesitaria em abrir fogo.
— Não estamos mais sozinhos — ela falou baixo. — Podem tanto ser
vizinhos curiosos quanto não.
Com a ponta da minha arma, empurrei a porta da varanda fechada,
chutando a outra. Criei uma proteção para que Bella pudesse se mover sem
ser vista. Ela caminhou na minha direção e abriu a mala, pegando no fundo
uma das minhas pistolas.
— Organize nossas coisas. Darei uma olhada por aí — falei em seu
ouvido e beijei sua bochecha. Bella apagou todas as luzes, deixando o quarto
escuro e propositalmente, colocou um som de ruído irritante em seu celular.
Rocco me enviou um sinal de alerta, sem detalhes, o que significava que não
podia falar muito mais.
Parei na entrada do quarto para ouvir o concierge questionar o casal ao
lado. Eu não entendia francês muito bem, mas farejava medo de longe e a
mulher estava assustada, tentando disfarçar em suas respostas e se recusando
a abrir a porta. Bella terminou de fechar tudo, nós não deixávamos nossas
coisas espalhadas, sempre arrumadas justamente pela possibilidade de
precisarmos sair às pressas.
Com jeans, camiseta e tênis, ela enfiou a arma na cintura. O quarto já
estava pago, recolhi tudo e me vesti. Saímos em silêncio, usando a escada de
incêndio e a porta lateral, onde não havia muita movimentação para a
garagem. Aluguei dois carros, um era para emergências, o outro usamos para
circular. Guardei tudo na mala, ela entrou e saímos do hotel, parando na rua
ao lado.
— Já volto.
— O que vai fazer? — Ela se alarmou.
— Impedir que sejamos seguidos.
Voltei a pé para a garagem do hotel, abri a escada de incêndio e
disparei os alarmes. Uma sirene ruidosa começou a tocar e as portas foram
fechando automaticamente, um sistema criado para que os hóspedes saíssem
pelas portas determinadas e preparadas para situações críticas. Passei por
elas antes de fecharem completamente e voltei para o carro.
Bella ajustou seu retrovisor, pronta para vigiar o caminho enquanto eu
nos tirava da costa para o aeroporto onde nosso avião aguardava com a
tripulação.
— Por que não um pouco de adrenalina para encerrar nossos dias
sozinhos?
Ela me deu um sorriso tranquilo, nem um pouco estressada com o que
poderia ter acontecido. Ter uma esposa preparada para todo tipo de ataque
calhou ser uma benção ao invés de uma maldição.
25 | Bella.
Danilo não relaxou a tensão, mesmo quando chegamos em casa.
Estávamos seguros na villa e ainda assim, o vinco em sua testa não
desapareceu logo que soubemos que o casal no quarto ao lado, de fato,
estava sob domínio de uma dupla que a polícia francesa classificou como
perigosa.
O retrato falado batia com o que vi, mas eles não informaram quem ou
deram mais informações publicamente. O homem que meu marido encontrou
foi quem nos enviou fotos melhores e disse que estava no rastro deles,
conforme foi ordenado.
— Nova Iorque não pode dar atenção a isso. — Ouvi a voz de Damon
Galattore. — Os problemas internos estão maiores do que previmos e
ainda tem…
— A fodida Kátia Rostov. Ela roubou a porra da minha carga! —
Danilo explodiu.
Nanci se encolheu, um pouco assustada. Ele ficava tão quieto em casa,
em seu escritório, que ela nunca presenciou os ataques intensos dele. Dei a
ela um sorriso tranquilizante e voltei a prestar atenção na conversa.
— Enviarei homens para a divisa dos territórios — Damon retrucou
com tranquilidade. Não foram as drogas dele que foram roubadas, portanto,
ele não se importava completamente. — Precisamos nos reunir
pessoalmente. Há algo mais acontecendo.
— Estarei em Vegas em alguns dias.
Danilo encerrou a chamada e sentei-me ao seu lado.
— O que será que ele quis dizer com problemas internos?
— Traidores, é claro. A ambição do homem pode ser sem limites.
Corajoso quem deseja trair um chefe, mas tolo. A maior burrice que já
conheci — falou em tom de reflexão.
— Tem a ver com aquele tio do Rafaelli que mudou de lado?
— Com toda certeza. Só alguém que conhece o funcionamento para
conseguir causar tanto estrago em um comando apertado como o do Rafaelli.
Dei um aceno, compreendendo. Meu pai havia dito a mesma coisa
quando, no passado, questionei o fato de que apenas Danilo sabia dos seus
planos, mandando e desmandando sem que houvesse um conselheiro para
intervir naquele tipo de caos. Papai disse que era melhor assim: sem chance
de traição. Nem mesmo os subchefes faziam ideia do que meu marido
realmente queria. Funcionava para nós, que não tínhamos uma veia
completamente tradicional em seguir a cadeia de comando.
Ainda assim, eu achava completamente intolerante um tio querer
destruir o comando do sobrinho. Os tempos estavam mudando e distorcendo
o conceito de família. Danilo nunca matou o próprio pai, mesmo podendo
fazer e com motivos. Ele tolerava o tio. Era escroto, mas não infiel.
— Esse homem vai procurar abrigo aqui. — Recostei no sofá. Danilo
desviou os olhos do telefone. — Eu sei que você é um homem honrado, mas
ele não é e vai tentar te usar para conseguir derrubar o Rafaelli. Vai balançar
a oportunidade de derrubá-los aqui na Itália.
— Não vou abrir as portas do meu território para o mundo. Dominar
mais também significa se expor mais. Perderia o sentido fazer o que faço. Eu
continuo entrando e saindo dos lugares sem que saibam quem sou. Vendo
drogas em todo maldito lugar. Já tentaram me descrever e falharam. Ganho
tanto dinheiro quanto, com menos estresse. — Ele esticou as pernas, com um
sorrisinho feliz. — Se eles querem fama, parabéns. Eu quero dinheiro.
— Então, posso dormir tranquila que não terei um traidor andando
livremente pelo nosso lugar como se fosse um herói?
— Você não tolera traição nem mesmo por política?
— Não. — Fui enfática.
— Deveria perdoar os Galattore. Até onde sei, todos viviam em paz,
até que seus tios decidiram trair o acordo de honra.
Inclinei minha cabeça para o lado, meio intolerante. Não foi ele que
teve que fugir com pouca roupa, deixando uma casa e um mundo de
lembranças para trás.
— Não me olhe assim. Você nasceu nessa vida, sabe como as coisas
funcionam.
— Por que quer tanto que o perdoe? Ele nem é nosso amigo e sim um
aliado, uma condição temporária, também. Vivemos cada um de um lado do
território e isso é ótimo para mim.
— Perdoar foi um uso forte da palavra, mas eu tenho negócios e eu não
quero pensar em você matando-o por pura raiva. — Deu de ombros.
Caramba! Ele me achava tão rebelde e incontrolável assim?
— Óbvio que não farei isso…a não ser que seja necessário.
— Comporte-se, sua indisciplinada. — Ele me deu um beijo rude e
barulhento. — Iremos a Vegas. Preciso estar lá para verificar tudo e hoje,
vou para a rua. Quer ficar em casa?
— Eu vou à boate com Mariano e nos encontramos de madrugada.
— Tudo bem. — Me deu outro beijo e foi para o escritório.
Treinei com meu irmão e depois com Cássio, jantei com eles e fui me
arrumar. Danilo saiu e voltou diversas vezes no dia, ocupado com reuniões e
visitando os estabelecimentos sob seu domínio. Estava um pouco frio e
abusei das minhas roupas coladas, porém, cobrindo todo o meu corpo.
Mariano foi dirigindo enquanto Cássio me enviava mensagens, atualizando
sobre meu marido. Eu não me arrependia de subornar meu cunhado para que
me sentisse tranquila.
A boate era uma das principais e estava lotada quando chegamos.
Fiquei no escritório na primeira hora, observando meu irmão trabalhar e
metendo o nariz onde não era chamada. Do alto, observei o funcionamento,
analisando o comportamento das pessoas que já estavam loucas e não era
nem o meio da madrugada. Um grupo de mulheres da casa se aproximou do
que parecia ser uma despedida de solteiro.
— Alguém vai ficar bêbado, outro não vai lembrar o próprio nome,
mas todos ficarão com suas carteiras vazias essa noite — Mariano falou
atrás de mim.
— É assim que a casa sempre vende.
— Tenho que ir para o andar do cassino agora. Fique aqui, ok?
— Eu vou com você. Não quero ir para a boate ainda.
Em meio à multidão, eu não precisava segurar a roupa do meu irmão,
as pessoas abriam caminho para Mariano passar e com isso, eu ia atrás sem
problemas. Descemos para o nível dos jogos, o salão estava cheio, um
pouco nublado de tanta fumaça e com odor de perfume barato das garotas
que circulavam entre os homens. Nós fomos para o fundo, destrancando a
sala.
A gaveta já estava cheia de dinheiro, observei meu irmão separar as
notas e organizar em elásticos, enfiando-as em uma bolsa.
Da parede de vidro, na qual podíamos ver os jogos, mas os jogadores
não conseguiam nos ver, percebi que três homens de preto passaram pelas
mesas, determinados, até a sala. Eles entraram e o que estava na frente, me
deu uma olhada intensa. Ele sorriu para Mariano.
— Uau, homem. Não sabia que estavam com carne nova no pedaço. —
Ele soou animado, como se eu fosse uma das prostitutas do clube.
Mariano recostou na cadeira com um sorriso diabólico. Virei de lado,
apoiando-me na mesa e lhe dei um sorriso provocante.
— Não quer saber o nome da carne nova?
— Vou te chamar do que quiser, docinho. Mas, qual o seu nome? — Ele
riu com os amigos.
— Isabella Venturinni — respondi e eles ficaram sérios. Mariano
soltou uma risada. — Volte a me chamar de carne nova e será a sua em
vários pedaços que eu mandarei entregar na sua casa, de presente para a sua
esposa que está dormindo nesse momento, imaginando que o marido está no
trabalho.
Ele ficou vermelho e baixou o olhar para a bolsa.
— Pode pegar e sair. — Apontei e ele pegou. — Ah, e continue
andando na linha. Porque se eu souber de qualquer gracinha, não será com
meu marido que você deverá se preocupar.
Os três saíram da sala e com a ponta do meu sapato, empurrei a porta
fechada novamente.
— Pensei que ele fosse mijar nas calças bem aqui. — Mariano não
conseguia controlar as gargalhadas. Sentei na mesa e esperei que terminasse
de separar todo o dinheiro de pagamento da noite em bolsas específicas.
Danilo apareceu no fim da sala e todos mudaram suas posturas. Alguns
ficaram nervosos, as garotas saíram do caminho dele e eu ri de um garçom
tropeçando em seus pés para fugir do meu marido. Ele abriu a porta e fechou
com brusquidão, me olhando com intensidade.
— Não há um pedaço de pele aparecendo…
— Está sexy, esposa. Mas já entendi que vai chamar atenção mesmo de
burca. — Ele segurou meu pescoço e me beijou. Mariano saiu da sala sem
falar nada, ele fugia de me ver aos beijos, mesmo sendo com meu marido. —
Entrei e uma das primeiras coisas que ouvi foi que havia uma morena muito
gostosa com Mariano essa noite.
— Nós parecemos um com o outro. Como não perceberam que somos
irmãos?
— Acredito que só olharam para a sua bunda — ele rebateu de forma
seca. — Estou cansado de estar na rua. Vamos para casa. Fez um bom
proveito da sua noite?
— Aprendi bastante sobre o funcionamento.
— Que bom. — Ele sorriu de lado. — Quando estiver para menstruar,
vou te soltar aqui e fazer com que esses marmanjos urinem na própria roupa.
— Bobo. — Segurei seu rosto e o beijei. — Leve sua esposa para
casa.
De mãos dadas, saímos juntos. Quem não sabia, entendeu naquele
momento que eu era a esposa que poucos conheciam. Não olhei para os
rostos para não parecer que precisava de aprovação. A opinião deles sobre
mim não importava, ainda mais depois que a morte de Carol se espalhou nas
ruas com uma gama de fofoca que ela foi morta por eu ser ciumenta e
perigosa.
Eu não iria desmentir os rumores.
Era melhor que todos se preocupassem comigo.
26 | Bella.
— Bella? É você? — Lauren acenou do outro lado de uma loja de
luxo em um dos shoppings mais badalados de Vegas. Eu estava na rua por
duas horas e já havia encontrado cinco pessoas da minha antiga
universidade. Danilo grunhiu atrás de mim, cansado de me ver sendo
simpática com desconhecidos. — Garota! Você sumiu! Uau! Está um
completo arraso! — Ela me abraçou e se afastou rapidamente ao perceber
que não estava sozinha. — Quem é a porra do pedaço de mau caminho? —
cochichou, fazendo uma expressão de “nossa, que homem gostoso!”.
— Esse é meu marido, Danilo.
— Você sumiu e se casou? Uau!
— É, as coisas foram rápidas. Como estão todos?
— Ah, tudo na mesma… — Ela deu de ombros e de repente arregalou
os olhos. — Eu preciso te apresentar meu namorado! Ele não está aqui
agora, mas eu o conheci por sua causa, sabia?
— Minha causa?
— Sim! Ele estava na universidade em busca de modelos para uma
campanha. Te indicaram, ele disse até que você vivia cercada pelos seus
irmãos e trocamos telefone, para assim que te encontrasse novamente, falar
com ele. Você nunca aparecia e eu não sou idiota, peguei para mim. — Ela
sorriu, toda orgulhosa e disfarcei o frio na espinha com um sorriso. — Olha
só como ele é lindo! — Mostrou a tela do telefone e ouvi os dentes de
Danilo trincarem atrás de mim.
Era um dos capangas da máfia sérvia que conhecíamos. Ele estava
usando Lauren para saber do meu paradeiro.
— Vou contar a ele que te vi.
— Não precisa, boba. Aproveita seu novo namorado e seja a estrela da
campanha.
Ela me encarou como se eu tivesse dado o conselho mais ilustre de sua
vida.
— É verdade! Você não se importa, certo?
— Claro que não! O trabalho é todo seu. — Sorri, fingindo
empolgação.
Eu nunca trabalharia como modelo, não só porque não gostava, mas
principalmente porque minha família nunca permitiria. Ele deve ter feito
muitas perguntas na universidade para chegar até Lauren. Todos sabiam que
sentávamos juntas em algumas aulas e até saímos para comer algumas vezes
durante o dia.
Deixei minhas compras para trás. Danilo me tirou tão rapidamente do
shopping que fiquei zonza pela velocidade. Ele gritou ordens com Assis,
bufando de raiva.
— Ele chegou um pouco atrasado, se acalme.
— Esse é o ponto. Eles não conseguem saber se vivemos aqui ou na
Itália, não sabem onde estamos, o que significa que estão preparados para
qualquer eventualidade. Estão se armando porque não irão perder a
oportunidade que tiverem. — Ele acelerou ainda mais pela estrada. —
Todos precisam ficar em alerta.
— Tudo bem. — Suspirei e fiquei quieta. O enjoo estava quase me
sufocando.
Fechei os olhos e tentei ignorar a velocidade, os prédios passando com
rapidez e os outros carros. Assim que entramos na residência, abri a porta e
vomitei. Mariano chegou a derrapar enquanto vinha até mim. Danilo deu a
volta rapidamente, tirando meu rabo de cavalo do caminho. Assim que os
espasmos terminaram, ele me ergueu, entregando um lenço e me ajudando a
sair.
A revoada de vento frio me deixou ainda mais arrepiada. Mariano
gritou para alguém limpar o carro e o chão enquanto meu marido me levava
para dentro.
— Foi só um enjoo. — Tranquilizei-o.
— Desculpe, bebê. — Ele beijou minha testa. — Vou te levar para a
cama.
— Estou bem.
— Prefiro que descanse. Não é normal vomitar do nada, você só enjoa
no voo e tem conseguido controlar isso.
— Tudo bem — concordei para dar-lhe paz de espírito.
No quarto, ele preparou tudo para que eu ficasse confortável,
preocupado porque não era a primeira vez que demonstrava sinal de
fraqueza. Pela manhã, ao treinar com Mariano, me senti mal. Danilo ficou
irritado achando que meu irmão havia me machucado e depois furioso
porque não havia me alimentado direito. Chegamos pela madrugada, estava
com meus horários completamente trocados.
Esperei que fosse se reunir com seus homens para sair da cama de
fininho. Abri a porta do quarto em silêncio e fui à ponta dos pés até a sala de
segurança, onde imaginava que um dos meus irmãos estariam. Assis estava
lá, olhando para as telas e virou o rosto na minha direção com um franzir de
cenho.
— O chefe acabou de proibir todo mundo de respirar alto dentro de
casa porque você estava dormindo. O que está fazendo aqui?
— Preciso de um favor de irmão e que guarde segredo. Principalmente
de Danilo — falei e olhei ao redor. Assis fechou ainda mais a expressão.
— Eu não guardo segredos do chefe.
— Vai ter que guardar, porque estou pedindo! — Me inclinei e ele foi
para trás, tentando fugir de mim. — Compre um teste de gravidez.
— Você está grávida?
— Eu não sei, gênio. Quero descobrir, mas preciso da sua colaboração
— retruquei entredentes. Ele estava me irritando tanto! Por que irmãos
precisam fazer tantas perguntas?
— Nesse caso, acho que posso fazer o esforço. — Ele sorriu e pegou
suas coisas, saindo pela outra porta. Voltei correndo para o quarto e ao virar
o corredor, fui pega por Danilo.
— O que está fazendo fora da cama?
— Eu fui ver se tinha água no bar da varanda dos fundos — menti. O
bar estava vazio. — Não tinha.
— Vou pedir para alguém buscar. — Ele me olhou desconfiado.
Voltei para a cama e fechei os olhos, minha intenção era fingir dormir,
mas acabei pegando no sono enquanto ele acariciava meu couro cabeludo,
em um cafuné que eu adorava. Acordei com a bexiga explodindo e os pés
dele contra os meus, seu computador estava ligado e os dois telefones
vibrando sem parar. Ele analisava a tela com um semblante preocupado.
Saí da cama para o banheiro.
— Seu irmão deixou um pacote da farmácia para você.
Puta que pariu! Eu ia socar o rosto de Assis!
— Você abriu?
— Claro que sim! Não foi procurar água, foi pedir para seu irmão sair
e comprar um teste de gravidez. Por que eu não poderia saber sobre isso? —
questionou, chateado.
— Passou pela sua cabeça dura, que se der positivo, acabou de me
tirar o direito de fazer um anúncio? Se eu quisesse te falar, teria te pedido!
— Isso significa que está desconfiada de verdade e não é só para
entender seus sintomas? — Danilo sentou na cama e olhei bem para seu
rosto.
— Está nervoso?
— É um bebê em um momento fodido. — Puxou os cabelos. Seu tom
fez meu estômago doer. Eu não queria medo e desânimo se estivesse grávida.
Era só a droga de uma possibilidade.
— Animador. Era melhor a abstinência. Sexo traz filho, cedo ou tarde
— rebati, irritada com seu humor. Fechei a porta e tranquei.
— Ah, bebê! Eu sinto muito! — Ele bateu com o punho. — Abre, vai.
Me deixa participar disso com você.
— Eu não farei o teste, Danilo. Só quero fazer xixi em paz — menti de
novo. Não ia passar nem mais um minuto desconfiando que poderia estar
grávida.
— Sim, e eu sou um padre. Claro que vai fazer o teste! Eu te conheço,
abre a porta! Ou eu vou derrubar! — Ele chutou a porta, me fazendo rir. —
Anda, Isabella!
— Está engrossando o tom? Perdeu a noção do perigo? — Abri a porta
e ele sorriu. — Um homem sem amor à vida, é um homem corajoso. Não me
irrite.
— Vai fazer xixi. Eu quero saber se terei um pequeno moleque
correndo pela casa.
— Pode ser a nossa moleca.
— Minha filha vai ser uma princesa — rebateu. No meu estágio de
humor, virei, pronta para mordê-lo. Danilo riu e me segurou longe, batendo
em minha bunda e anunciando que iria me dar uma vacina para raiva. —
Jesus, mulher! Se acalma!
— Nossa filha vai ser o que ela quiser — resmunguei e peguei o teste,
lendo as instruções cuidadosamente. Era a minha primeira vez, não queria
fazer nada errado para arriscar qualquer alteração no resultado. Fiz xixi sob
seu olhar atento, não era novidade, meu marido desconhecia limites.
Coloquei o bastão no copinho, me limpei e lavei as mãos.
— E agora? É só esperar? — Ele parou atrás de mim e beijou meu
pescoço.
— Vamos ficar aqui apenas olhando? Não é melhor esperar no quarto?
— Que diferença faz? Está ansiosa?
— Acho que quero vomitar. — Escondi meu rosto em seu ombro.
— Covarde. Na hora de sentar…
— Filho da mãe! — Dei um beliscão em seu braço e ele riu, querendo
me tirar do sério, procurando me acalmar de um ataque histérico que estava
prestes a explodir. Arrepiada e com um pouco de medo do resultado,
aguentei a tensão, refugiada nos braços dele.
— Está pronta, bebê? Está preparada para o resultado?
— Apenas me diga se continuaremos dois ou se eu me tornei a casa de
um bebê.
Danilo me afastou um pouco, segurou meu rosto e só por seu olhar
doce, apaixonado e de uma maneira silenciosa, feliz, eu soube do resultado.
Engoli em seco, sem saber o que pensar, mas fui levada por sua emoção
tranquila.
— Você se tornou o lar do nosso bebê. — Ele desceu as mãos para o
meu ventre.
Virei e peguei o teste, que indicava positivo.
— Estou grávida. — Minha voz saiu um sussurro. — Estamos
esperando um bebê.
Aquele era o propósito do nosso casamento. Ser matriarca e ter filhos,
mas nós descobrimos que o casamento era completamente diferente do que
imaginamos. Havia tanto por trás de uma troca de alianças que estava com
um pouco de medo de estar grávida em um momento tão delicado. Ao mesmo
tempo, uma felicidade começou a borbulhar em meu peito.
— Está chorando? Está triste? — Danilo se desesperou.
— Estou feliz — sussurrei, secando minhas lágrimas. — Seremos pais
e isso me fez sentir uma felicidade tão desconhecida que me dá vontade de
chorar.
— Eu te amo, bebê. — Ele passou os polegares nas minhas lágrimas e
beijou minha boca, apaixonado. Grudei nele, apertando-o e acabamos rindo.
Caindo de joelhos na minha frente, ergueu minha blusa e abaixou um pouco
minha calça. — Oi, filhote. Você está bem aí?
— Estou tão bem que a mamãe precisa dizer que te ama de volta.
Danilo olhou para cima e sorriu, apaixonado. Naquele momento, eu
simplesmente soube que, diferente dos nossos pais, nosso bebê era
inesperado, nem um pouco planejado mas definitivamente recebido com
muito mais alegria. Não importava o que fosse acontecer lá fora, qual era a
nossa vida, dentro de casa, havia tudo que precisávamos para termos uma
família feliz como nunca tivemos.
27 | Danilo.
Bella estava grávida. Minha esposa estava gerando nosso primeiro
herdeiro em seu ventre. Deitado ao lado dela, não conseguia desviar os
olhos de sua barriga. Ainda estava plana, malhada, mas nós sabíamos que
ele estava ali dentro e até já tínhamos ouvido seu coração. Duas semanas
desde que soubemos a notícia, mal saímos de casa e não compartilhamos a
novidade com mais ninguém. Ela não queria, até completar o primeiro
trimestre e ainda restava um tempo.
A preocupação sobre sua segurança queimava dentro de mim. Eu não
podia provar — não que isso importasse —, que estava sendo traído, mas
simplesmente sabia que alguém estava repassando os poucos planos que
sabia e as minhas rotas para meus inimigos.
Não era escondida dentro de casa que Bella merecia passar as
primeiras semanas do nosso bebê. Ela deveria estar feliz e fazendo compras,
não deitada e armada.
— Ele nascerá na Itália? — questionei ao guardar os exames.
— Sim. Eu quero que ele ou ela tenha uma educação italiana
tradicional — Bella enfatizou o ela porque cismei que era menino. Ainda
usei a desculpa que era meu instinto paterno. — Tradicional, como eu fui.
Aprendi tudo sobre os nossos costumes e também a me defender como
mulher nessa família.
— Repito: minha filha será uma princesa. — Beijei sua boca com um
beicinho.
— Sorte a sua que é lindo e eu te amo, porque se insistir que ela será
uma princesa intocada eu juro que vou chutar suas bolas. Assim, ela será
filha única — falou contra meus lábios e eu ri, sempre desafiando o perigo.
Seu humor estava ainda mais volátil que o meu. Agarrou minhas orelhas e
gargalhei. — Sério mesmo que me irritar é seu prazer pessoal?
— Mentira. Te ver gozar é o meu maior prazer. — Arrastei meu
polegar em seu mamilo.
— Ao invés de me tirar do sério, essa é uma boa opção. — Sorriu de
lado, com o olhar safado que já conhecia bem, mas percebi outra coisa.
Silêncio. Cássio e Mariano pararam de falar na sala. — Vá vê-los. — Ela
esticou a mão para sua arma e engatilhou, saindo da cama atrás de mim e
parando próximo à porta, atenta.
Saí do quarto e olhei para baixo. Eles estavam quietos, observando a
televisão. As luzes da casa estavam apagadas para fazer parecer que não
havia ninguém. Todos os guardas se recolheram e observavam no escuro,
assim nenhum vizinho poderia dizer que havia quaisquer movimentações
além dos funcionários que viviam ali.
Recentemente, Rocco foi capaz de me enviar imagens e nomes. Meus
inimigos tinham um rosto e uma identidade, me dando a oportunidade de
atacar mais precisamente. Junto aos demais chefes, enviamos nossos homens
em grupos separados para um ataque em resposta. Um alerta do que viria se
eles continuassem no meu caminho.
O grupo de Nova Iorque foi capaz de obter mais informações e a
reunião pessoal com Nicola Biancchi limpou a cortina de fumaça que
jogaram em nós.
Eu não fazia jogo político. Minha dominação na Calábria não se deu
por adular quem subia em um palanque de terno e gravata. Na América
funcionava diferente e eu até poderia aceitar isso, contanto que eles nunca
esquecessem quem mandava nas ruas.
— Se eles acreditam que estamos fora da cidade, por que estão
vigiando nossa casa? — Bella se aproximou com cautela.
— Eles não acreditam mais.
— Temos tomado muito cuidado ao sair. — Ela mordeu o lábio,
preocupada.
— Vou te embarcar para a Itália assim que for seguro o suficiente.
Voltei a encarar a tela e vi a movimentação nos fundos, mas reconheci
o rosto de quem estava pulando o muro da minha casa com muita coragem. O
segundo apareceu em seguida, dei a ordem aos meus para não reagir
imediatamente, revirei os olhos e desci a escada com passadas largas.
Damon e Enrico[9] pararam na minha varanda, ambos suados e parecendo à
beira da explosão.
Aqueles dois nunca andavam separados e provavelmente estavam
fazendo merda juntos. Enrico era o segundo filho de Francesco Galattore.
— Quando dizem que homens têm vida curta, não é brincadeira —
Bella falou atrás de mim. — O que estão fazendo aqui?
Dei a ela um olhar, que fez uma expressão contrariada e cruzou os
braços.
— Sua casa está cercada. — Damon passou direto para a cozinha. —
Fomos seguidos na entrada da cidade. Precisamos despistar.
— Bem-vindo. Fique à vontade. — Bella ironizou pela maneira que ele
sentou confortavelmente na cadeira sem ser convidado.
— Estamos fodidos e ilhados. — Ele me deu a notícia em um tom
tranquilo que me enervou. — São muitos. Na escuridão, conseguimos contar
seu agrupamento.
Foda-se.
— Avise aos outros para se prepararem — pedi a minha esposa. Ela
me deu um olhar meio preocupado e saiu rapidamente. — O que estão
fazendo aqui em Vegas?
— Eis o ponto. Nós não viríamos para Vegas se não tentassem nos
matar na estrada. Precisamos de um plano para sairmos daqui e levarmos sua
esposa para um local ainda mais seguro. — Damon esfregou a nuca.
Enrico apagou as luzes da cozinha e ficou olhando para fora, tenso, mas
não como eu estava. Era a minha esposa grávida que estava em perigo.
Nossas vidas não eram nada comparado à que crescia em seu ventre e eu
faria de tudo para mantê-los em segurança. O telefone de Damon vibrou e ele
rapidamente pegou, atendendo.
— Sim, pai — falou com respeito, ficando de pé como se o pai
estivesse ali para ver sua posição desleixada. — Puta que pariu! Sim, estou
em Vegas. Mande reforços. Vamos precisar muito.
— O que, porra?
— Meu pai acaba de sair de uma reunião com alguns investidores e lá
ele descobriu que a organização Jankovic está recebendo financiamento de
várias famílias ricas. Uma delas é grega e, aparentemente, tem interesse em
fixar negócios na cidade. — Damon guardou o telefone. — Eles estão se
preparando para atacar. O que você sabe?
— Nikolai Jankovic é o nome do líder. Ele tem três filhos que
comandam os capangas na cidade. O enfraquecimento dos Valentinni fez com
que eles conseguissem se estabelecer na cidade silenciosamente, só não
sabiam que eu estava fazendo o mesmo.
Mariano entrou na cozinha com armamento. Damon e Enrico
recarregaram suas armas, pegando novas facas e eu selecionei o que ficaria
comigo. Bella parou na entrada, usando roupas de ginástica e tênis, pegou um
dos meus casacos de moletom que ia até o meio das suas coxas.
— E por que querem atacar agora? Hoje? — Enrico virou o rosto
brevemente, com o cenho franzido.
— Eu soube de algumas coisas que eles queriam e peguei para mim.
Assis, sem querer usou seus punhos em um dos capangas, que no auge
da dor, confessou parte dos planos dos chefes. Em duas semanas na cidade,
tomei os cassinos e dois hotéis, além de colocar as pessoas certas na minha
folha de pagamento, com um pouco de persuasão amigável. Informei que ia
torturar seus entes queridos e dar um passeio com alguns filhos depois da
escola. Foi mais fácil ser ouvido nos meus termos.
— Seja o que for, Nikolai está com dinheiro o suficiente para não
parar. Se ele tomar Vegas, sentirá que é forte o suficiente para avançar em
nossos territórios. Isso não irei permitir. — Damon enfiou as armas na
cintura. Entreguei a Bella duas facas e uma nova pistola. — Temos que tirar
as mulheres que possam ser alvos da cidade. Eles jogam baixo, vão usar
tudo que conseguirem.
— Acabou a caçada. Agora é guerra. — Olhei para fora e depois,
encarei o rosto da minha esposa. Ela vai ficar bem. — Vamos sair.
Mariano alinhou os carros no pátio e com as luzes apagadas, saímos
pelas ruas do bairro até o ponto de encontro. Bella e a mãe foram para um
veículo diferente do meu. Assis conduziria até a casa segura, longe do caos.
Em público, ela estava distante e fria, da maneira que a conheci.
Sempre alerta e armada, a postura ereta denunciava o quão pronta para lutar
estava. Sem que qualquer outro percebesse, tocou minha mão e entrelaçamos
nossos dedos. Não foi preciso dizer, apenas olhei em seus olhos e ela
entendeu meu recado.
Te amo, fique bem.
Ela respondeu com um breve sorriso e o mesmo rubor nas bochechas
de quando falávamos algo mais íntimo. Bella construiu um muro ao redor da
nossa privacidade e eu sequer percebi. O que ela era comigo, ninguém sabia,
nem mesmo nossos irmãos.
— Faremos uma varredura essa noite. Te encontro daqui a pouco —
prometi.
— Estaremos te esperando — ela prometeu de volta.
Não estava mais sozinha e nunca criaria aquele bebê sem mim.
O carro saiu em alta velocidade para um lado e fui para o outro,
retornando para a cidade, onde meus homens rastrearam a posição do
agrupamento sérvio.
— Estamos sendo seguidos — Mariano avisou, olhando pelo
retrovisor. Damon virou no banco, abrindo a janela, pronto para atirar. —
São os latinos. Eu conheço quem está no motorista. Ele compra nossa
mercadoria no sul da cidade e está fazendo sinal de negociação.
— Ele quer falar. Pare o carro — ordenei e sinalizei para Enrico ficar
na retaguarda. Ele abaixou no banco para não ser visto. Damon e eu saímos
com Mariano, mas ficamos protegidos pelas portas blindadas.
— Mariano. — O latino cantarolou com o sotaque forte. — Vocês estão
indo para uma emboscada, mano. Estou tentando avisar desde cedo. Uns
homens de língua esquisita tentaram me fazer render, mas eu saí antes. Meus
irmãos foram abatidos por um tempo, mas sabe como são as coisas do meu
lado da cidade…
— O que, porra? — Explodi.
Mariano decidiu assumir o contato ou eu iria matar todos eles por
enrolação.
— O que você sabe?
— Eles passaram na estrada ao leste e eu vi seu pai. Ele me viu, olhou
diretamente para os meus olhos e fez sinal de silêncio. Estava ferido.
Puta que pariu! Não era com Fernando que estava me comunicando ou
ele estava coagido. Peguei meu telefone e liguei. Chamou duas vezes antes
de cair. Recebi de volta uma foto por mensagem e era da minha esposa,
caída em uma poça de sangue que eu não podia dizer se era dela ou não.
Damon agarrou meu braço, olhando para a tela e gritou para todos que
deveríamos ir.
Cássio saiu do outro carro e tropeçou ao meu lado, com os olhos
arregalados.
— Faça com que essa cidade queime até que eu encontre minha esposa
— ordenei baixo, meus dentes trincados com a fúria corroendo minhas veias
como ácido. — Eu quero todos de joelhos, começando por eles e terminando
nos sérvios.
Damon me deu um sorriso antes de estalar os dedos. Enrico saiu do
carro, atirando. Eles iriam descobrir que eu era um homem nada
diplomático.
28 | Bella.
Soube que era uma armadilha pelo olhar da minha mãe. Ela raramente
olhava em meus olhos e não lembrava a última vez que segurou minha mão,
apertando meus dedos. Tremendo, disfarçava o olhar de pânico com a
expressão neutra. Antes que pudesse alertar Assis, nosso carro foi atingido
pela lateral e eu gritei ao ver a estrada rodopiando ao meu redor. Bati com a
cabeça na porta e de repente, estava sendo puxada pelo banco.
Gritei e me debati. Ia reagir quando lembrei que eles só me
machucariam ainda mais e perderia a visão completa do que aconteceria
comigo. Fingi que estava desmaiada e fui jogada no fundo de uma van com
minha mãe chorando baixinho. Assis estava baleado e inconsciente, toquei
seu pulso e pescoço, sentindo a pulsação, mas pela maneira que perdia
sangue não tínhamos muito tempo.
— O que você fez?
— Eles levaram seu pai. Eu não tive escolha. — Mamãe chorou.
— Você é estúpida ou o quê? Meu pai daria a vida pela família e você
nos traiu! — Sacudi seus ombros, batendo contra a van. — Você condenou
todos nós à morte, incluindo o papai! Sozinho ele teria mais chances, sua
idiota! — Perdi completamente as minhas estribeiras.
Voltei a me encolher no canto quando ouvi os sons deles se
aproximando novamente e caí, fingindo estar apagada. Mamãe continuou
chorando por todo caminho, estava muito escuro para conseguir entender e
pela velocidade, falta de curvas e trepidação, estávamos em uma estrada reta
e lisa. Sem sons comuns da cidade, provavelmente estávamos indo para
dentro do deserto.
Não reagi quando amarraram meus punhos e depois os tornozelos,
deixando meu peso morto no ombro de um deles até ser transportada
novamente para outro carro. Eles jogaram Assis de qualquer jeito no chão,
fechei meus olhos novamente ao ser deitada em uma poça de sangue que não
sabia de quem era.
— Aproveitem enquanto ela está desmaiada. É a nossa moeda de troca,
então, cuidado. O chefe disse que não iremos matá-la até que ele faça o que
queremos. — Um dos homens falou. Nem todos eram estrangeiros. Alguns
tinham um sotaque carregado, mas eram americanos. Fui arrastada pelos pés
até um canto e deixada ali, Assis seguia no meio do galpão, sangrando.
Com meu cabelo no rosto, pude espiar ao redor. Minha mãe não estava
ali, eles a levaram junto. Tirando meu irmão, havia o corpo de uma garota
que eu conhecia bem. Lauren. Foi usada o tempo todo para chegarem até
mim. Busquei contar as portas, as janelas eram todas no segundo andar.
Parecia ser um depósito, não era muito antigo, as paredes pareciam novas
apesar de toda poeira.
Ouvi barulho de ferro e passos, fiquei imóvel, ainda podendo fingir
desmaio. Era meu pai. Ele estava todo ensanguentado, ferido, mancando e
com as mãos presas. Correndo até Assis, pressionou o ferimento.
— Diga-me o que sabe e eu darei meios de salvar a vida do seu filho
— o homem falou baixo. Papai apenas encarou meu irmão e beijou sua testa,
como uma despedida. Ele sabia que Assis entregou sua honra à família e
estava disposto a morrer por ela. — Sorte a sua que tem tempo para pensar.
Aproveite seus filhos.
Ficamos sozinhos e ergui meu rosto. Me arrastei até eles, papai passou
o braço por meu ombro e olhamos para Assis.
— Resista mais um pouco, irmão — falei baixinho. — Danilo já deve
ter percebido, pai.
— Espero que os latinos tenham entendido meu recado — ele retrucou,
igualmente baixo.
— Foi mamãe quem nos entregou.
— Eu sei. — Seu tom foi frio. — Ela tentou negociar por mim.
— Pai… — chamei-o e atraí seu olhar. — Estou grávida. Não posso
lutar.
Papai desceu o olhar para minha barriga e percebi que moveu os dedos
para tocar minha perna. Ele fechou os olhos, como se formulasse um plano.
Sua mente estava sempre correndo à frente, era tático e organizado.
— Daremos um jeito, confie em mim e não fale nada. Não importa a
dor. Encontre um lugar na sua mente e fique lá, siga quieta. Quanto mais
tempo conseguirmos, será melhor para todos nós.
— Como você foi pego?
— Bateram no meu carro e me jogaram da estrada, mataram meus dois
homens e eu vi a foto de sua mãe com eles. Eu sabia que ela não aguentaria e
falaria, se eu morresse, vocês não teriam chances se fossem pegos.
— Você se deixou ser capturado de propósito? — Arquejei.
— Eu sabia que eles pegariam vocês. Imaginei que fosse você ou
Mariano, devido aos laços estreitos com Danilo. Talvez não tiveram
oportunidade. Também considerei o Cássio. A intenção deles é jogar com a
mente e a emoção — Papai falou e olhou em meus olhos. — Não permita que
eles entrem na sua cabeça, como fizeram com sua mãe.
— Não vou.
— Finja fraqueza e fragilidade. Mostre que é apenas uma doce menina.
Na hora certa, vamos agir. Entendeu, Isabella?
— Entendi, papai.
Ele se fechou novamente em sua cabeça. Estava acostumada, mas
naquele momento, o medo me invadiu tanto que eu queria um pouco de
abraço e acalento. Danilo agiria diferente e talvez por isso estivesse me
sentindo desamparada. Não era o momento de permitir que minhas emoções
ficassem descontroladas. Meu bebê tinha onze semanas de vida e eu faria de
tudo para que continuasse crescendo saudável no meu ventre. Ele dependia
da minha força.
Meu pai poderia ter lutado até ser morto, mas ele se rendeu para nos
salvar e eu confiava que conseguiríamos sair dali. Danilo me encontraria.
Meu marido, de todas as pessoas no mundo, nunca desistiria de mim e do
nosso bebê.
Meu relógio foi quebrado no carro, o visor digital estava apagado, mas
os ponteiros ainda funcionavam e eu pude contabilizar o tempo. A porta foi
aberta novamente e parei meu movimento de tentar soltar meus braços,
puxando-os por dentro do casaco grosso de Danilo que usava. O aperto era
doloroso, mas havia mais chances de conseguir do que ter a braçadeira
direto na pele.
Mamãe foi jogada no chão à nossa frente. Papai não reagiu. Ele
manteve o semblante vazio, com um olhar vago, sem transparecer que
realmente se importava com o estado dela. Cabelos molhados de sangue, o
rosto machucado, a roupa rasgada e gritos horripilantes que me deram
vontade de vomitar. Assis soltou uma respiração um pouco mais forte, para
meu alívio. Ele estava resistindo.
Ergui meu olhar e eles estavam com os rostos parcialmente cobertos,
sem que pudesse reconhecer qualquer um. Fui erguida pelo cabelo, soltei um
grito e fui arrastada até minha mãe, arremessada à sua frente.
— Seu marido se recusou a cooperar. Será que ele vai abrir a boca
pela filhinha? Hum?
Fiquei quieta e foquei minha atenção no chão.
— Eu quero as rotas.
Filhos da puta! Eles queriam as rotas de carregamento entre Damon e
Danilo. Eram as famosas balas de goma, que eram populares entre as festas.
Estávamos vendendo mais do que o esperado. Só a máfia italiana podia
fornecer aquele tipo. Não tinha certeza se minha mãe sabia, meu pai sim,
porque ele recebia algumas remessas.
Assis era um dos únicos que tinha o mapa completo em sua própria
cabeça e estava inconsciente. Mamãe implorou baixinho, dizendo que não
sabia, mas não aguentou a pressão da tortura e deu um dos lugares que sabia
que meu pai passava um tempo. Fechei meus olhos, lívida. Não era pelas
drogas, era porque deixaríamos de ter utilidade.
— Será que é verdade? — O homem riu e ergueu a perna para chutar
minha barriga, me encolhi e rolei para o lado. Ele acertou meu joelho e a
explosão de dor quase me fez gritar. Mordi a boca para continuar quieta e
chorosa.
— Ela está mentindo — Papai falou baixo quando ele ia chutar
novamente. — Eu vou te entregar tudo. Posso desenhar o mapa. Apenas não
machuque minha filha, ela é inocente, não se envolve com os negócios. Mal
sabe dirigir.
— Bom. Talvez eu aceite seus termos. — Ele soltou uma risada e ouvi
o som do gatilho antes do disparo. Minha mãe caiu morta na minha frente,
tombando a cabeça no chão com o rosto virado para mim. — Esse é o
recado se tentar me enganar.
Mãe…
Não pude virar para saber a reação do meu pai, ele foi tirado da sala e
me mantive deitada, inerte, pensando que minha família estava sendo
executada bem na minha frente e eu estava de mãos atadas. Precisava reagir
de alguma maneira.
Rolei de volta para Assis e deitei ao seu lado. Com meus dedos, tateei
toda sua roupa em busca do canivete que ele mantinha no corpo. Com a
rapidez que ficou inconsciente, duvidava que eles o revistaram com afinco.
Encontrei uma pequena faca na parte de trás das suas botas e puxei, cortando
meus dedos com a lâmina antes de conseguir romper a braçadeira.
Liberei meus pés e arrastei meu irmão para o canto. Ele gemeu de dor,
quase reagindo e o silenciei. Não sabia o quão perto poderiam estar.
Busquei mais coisas por seu corpo, além de um isqueiro, não achei mais
canivetes. Eles tiraram tudo que estava comigo, estava em lugares óbvios
por não ter tido muito tempo para esconder.
— Assis! Acorda! — Dei uns tapas em seu rosto. — Acorda, anda,
anda!
Desorientado, ele levou a mão na barriga, soltando um resmungo
profundo de dor e abriu os olhos completamente. Não parecia que tinha
entendido o que cochichei, mas levantou usando toda a força que tinha e eu o
apoiei.
Andando pelo canto da parede, decidi que subir e sair era a maneira
mais eficaz de salvar meu pai. Carregar Assis foi a parte mais difícil, subir
com seu peso foi um pesadelo. Alcancei as janelas no segundo andar e a
porta de emergência de incêndio. Ela abriu com um ruído, mas não parecia
que havia ecoado muito longe.
— Temos que correr para a escuridão das pedras.
O deserto parecia assustador àquela hora da noite, seria muito fácil nos
perdermos completamente ali. Empurrei meu irmão abaixo, ele rolou e
silvou de dor. Com dificuldade, deixei-o deitado contra uma pedra.
— Pense rápido, pense rápido. Como avisar a Danilo? — Ofeguei
para mim mesma. Eu não podia voltar e ainda estava perto demais. Assis
mal parecia consciente. Se roubasse um dos carros, precisaria me afastar o
suficiente para usar o público como impedimento para um ataque.
Empurrei Assis para o canto da árvore que causava uma sombra ainda
maior na escuridão e usei as sombras para me mover e me orientar ao redor
do galpão. Eles estavam concentrados perto da estrada, onde esperavam uma
retaliação. Atrás só havia uma mulher morta, outra que parecia indefesa e um
homem morrendo. Não era o suficiente para suas preocupações.
De um lado, havia dois fumando. Parei atrás de uma pedra alta,
apertando minha visão. O solo estava confuso naquela parte e eu não poderia
correr em linha reta sem cair, se derrubasse um, com o peso e tamanho, teria
mais vantagem no chão. Bastava uma arma e um telefone. Eu não precisava
de mais nada para salvar meu pai e meu irmão.
29 | Bella.
Eu nunca senti medo. Não como nos segundos antes de tomar o fôlego
para atacar. Meu coração era uma explosão feroz. Fechei meus olhos,
pensando no meu bebê, nossa recente descoberta amada e no meu marido,
que eu pensei que me destruiria, mas que chegou e tornou a minha vida
infinitamente melhor.
Toquei meu peito, sentindo as batidas frenéticas e prometi a Danilo, em
um sussurro de oração, que se houvesse outras vidas, nós nos
encontraríamos. Mas aquilo era para que pudéssemos ter uma vida juntos,
com todos os planos que fazíamos na cama antes de dormir. O deserto era
tão letal quanto aqueles homens, o único jeito era conseguir um modo de me
comunicar com o mundo, mesmo que fosse pela emergência.
Só conseguia ouvir minha respiração acelerada. Desviei das pedras e
cheguei aos fundos do galpão, pegando o guarda desprevenido com um golpe
na nuca. Ele não caiu de imediato, tentou revidar. Era eu ou ele. A escolha
foi fácil quando apoiei meu pé na parede para ter impulso e quebrei seu
pescoço. Meus braços tremiam tamanha a força que usei. Peguei o rádio, que
estava em puro silêncio, sua arma e chaves de um carro. Ele não tinha
telefone celular.
Onde estariam os carros? Estava perdendo tempo demais. Já não sabia
se meu pai estava vivo, eles só pareciam não ter percebido que escapei e se
continuasse ali, poderia ser capturada novamente.
Com muito cuidado, andei ao redor e encontrei o carro. Como
conseguiria pegar Assis e fugir? Escorreguei para dentro da garagem do
galpão, abri um dos carros e travei ao ouvir o ruído do rádio na língua deles.
Não saber o que estavam falando era horrível. Dentro do carro, havia um
telefone com sinal, na escuridão, peguei-o e corri de volta para Assis.
Derrapei ao seu lado, ele se agitou achando que era um inimigo e se acalmou
quando me viu.
Digitei uma mensagem para Danilo, usando o GPS para tentar enviar a
localização. O telefone vibrou.
— Bella?
— Deus, Danilo!
— Onde você está? — Ele parecia ofegante e distante, como se
estivesse dirigindo em alta velocidade. Havia outras vozes masculinas, todas
furiosas. O sinal não estava muito bom.
— É no deserto. Eu não sei… — sussurrei e espiei a movimentação.
As portas bateram e o som de gritos chegou até mim. — Eles sabem que eu
fugi. Não tenho muito tempo. Só munição de defesa e Assis está gravemente
ferido. Estão com meu pai.
— Estou chegando com reforços, bebê. Estou chegando — Danilo
prometeu com todo seu coração. Rezei de alívio. — Não desligue, continue
falando, estou aqui com você.
— Aguente mais um pouco, irmão. — Toquei a mão fria de Assis.
— Estamos chegando.
Senti um frio na espinha quando eles saíram pelo deserto com
lanternas, procurando minhas pegadas. Contei que o vento baixo tivesse
apagado um pouco do meu rastro. Eles iam me encontrar e era melhor que
não fizessem isso com Assis. Eu era valiosa, meu irmão não. Corri o mais
longe que consegui e arremessei uma pedra na direção contrária, eles
viraram as lanternas para o outro lado, me dando oportunidade de chegar até
a estrada.
As luzes dos carros ao longe eram a minha esperança. Afundei em uma
vala na beira, segurando em alguns galhos secos e me arrastei no ponto de
direção de Assis. Eu ia atirar em qualquer movimento perto dele. Os carros
se aproximaram e quem estava dentro do galpão simplesmente saiu, atirando.
Danilo passou direto, entrando com seu carro blindado na parte da frente,
atropelando quem estava no caminho e jogando o portão no chão.
Eu sabia que era ele pelo modo maluco de dirigir.
Os sons dos tiros cortavam a noite, assim como os gritos e brigas. Eu
esperei o avanço para sair do meu lugar e circular um dos carros, topando
com um corpo duro que quase me jogou no chão. Ergui meu olhar e
reconheci Enrico.
— Preciso da sua ajuda agora! — Levantei com seu apoio.
Enrico não discutiu, ele correu atrás de mim e o levei até Assis. Ele
matou dois homens no nosso caminho com uma mira precisa.
— Temos que tirá-lo daqui. — Ajoelhei ao lado do meu irmão. Sua
pulsação estava muito fraca, tão pálido que parecia cinza. — Ele vai morrer!
Enrico agarrou meu irmão em um único movimento. Foi a minha vez de
simplesmente agir em defesa, mas o tiroteio havia silenciado, o que não
significava que o inimigo estava rendido. Sem perder tempo, entramos em
um dos carros. Enrico assobiou e Damon apareceu, sem camisa, suado e sujo
de sangue.
— Leve-a daqui. Danilo estará muito ocupado, mas deixarei que saiba
que está segura — ele prometeu e assenti, me segurando com o solavanco do
carro em alta velocidade. Segurei a cabeça do meu irmão, eu não conseguia
olhar para seu ferimento sem ter meu estômago revirado. Se ele havia
sobrevivido até aquele momento, certamente teria chances.
Assis era um homem forte.
Enrico freou bruscamente em frente a uma pequena clínica e saiu,
gritando por alguém. Sua reação brusca me fez sentir um pouco de medo por
estarmos sendo expostos. Senti alívio ao reconhecer um dos nossos médicos,
parecendo preparado para receber os feridos da noite intensa. O local estava
vazio e meu irmão foi empurrado para uma área onde eu não pude
acompanhar.
— O que vai acontecer agora?
— Os médicos vão cuidar dele — Enrico falou atrás de mim. — Você
precisa ser atendida?
Não estava gravemente ferida. Queria saber como meu bebê estava,
mas ali não era o local e não parecia seguro revelar a gravidez sem Danilo
por perto.
— Estou bem.
— Então, vamos. Não é completamente seguro aqui.
Sem a urgência de Assis, entrar no carro com ele foi estranho. Não
sabia onde era a casa segura, mas ela ficava completamente fora da rota e de
Vegas. Enrico saiu primeiro, pedindo para que eu ficasse dentro do veículo e
fez toda a verificação com arma em punho. Sinalizando para entrar, ele
fechou a porta e manteve as luzes apagadas. Preferi manter distância, por
mais bonito que fosse, Enrico me deixava receosa, subi as escadas e
encontrei um quarto.
Acendi a luz do banheiro e olhei meu estado. Havia sangue por todo
meu corpo. A maior parte não era meu. Tirando um corte na sobrancelha e
nos lábios, o restante era de Lauren e da minha mãe, até mesmo de Assis.
Minha roupa estava grudada e nojenta. Abri a torneira, usando uma toalha de
mão para tentar limpar meu rosto.
Meus dedos tremiam. Olhei para minhas mãos sujas e levei para meu
ventre, fechando os olhos. Com meu corpo esfriando de toda adrenalina,
comecei a sentir dor em todo lugar. Mal conseguia me mover, precisando me
apoiar nas paredes e na mesinha ao lado da cama para deitar.
— Isabella — Enrico me chamou e só enxerguei a tela. — Seu marido.
Agarrei o telefone.
— Oi, bebê. — Sua voz era de puro alívio. — Seu pai está vivo. Ele
foi enviado para o médico.
— Você está vindo agora? — pedi baixinho, feliz que minha família
estava sob cuidados.
— Estou indo ao seu encontro.
— Tudo bem.
Não conseguia falar muito mais, então fechei os olhos. Enrico ficou
perto da porta, parecia que estava disposto a me pegar se fosse cair. Minha
cabeça doía e meus olhos ardiam da tentativa de ficar em alerta.
Virei ao ouvir sons de passos na escada. Danilo entrou no quarto e
empurrou a porta fechada. Eu vi o corte em seu pescoço, a camisa
amarrotada e um filete de sangue escorrendo por seu braço. Deixando a arma
em cima da mesinha, subiu na cama e me abraçou. Meu choro explodiu,
agarrei-o tão apertado que cravei minhas unhas em seus braços, desesperada
por senti-lo.
— Minha mãe morreu. — Funguei em seu pescoço. — Foi ela que nos
entregou.
— Não precisamos falar sobre isso agora.
— Eu a chamei de idiota. Ela nos entregou para salvar meu pai…
E meu pai se deixou ser pego para libertar os filhos. Meu coração
estava esmigalhado no peito. Soltei um soluço e Danilo me ergueu, gritei de
dor, o que o deixou completamente apavorado, erguendo minha roupa e
gritando para que preparassem o carro porque ele me levaria para o hospital
imediatamente. Minha cabeça estava confusa, meu corpo berrava por um
alívio que não conseguia entender e parecia impossível de alcançar.
Comecei a tremer da cabeça aos pés. Danilo me levou para o carro,
sem me soltar para nada, nem mesmo para sentar. Não vi quem estava
dirigindo muito menos quem estava conosco. A cidade mais próxima fora do
deserto e sem pertencer a Nevada era território de Damon. Um corredor foi
esvaziado depois de uma conversinha baixa no ouvido de um médico e ele
selecionou enfermeiras para me atenderem.
— De quantas semanas está? — uma delas me questionou enquanto a
outra me ajudava a sair das roupas coladas. Danilo soltou um grunhido e
olhei para os hematomas crescendo por minhas coxas e barriga. Certamente
tinha mais nas costas.
— Completei onze há dois dias, segundo a primeira ultrassonografia.
— Vamos ouvir esse bebê. — Ela sorriu e deitei, com uma fina
camisola hospitalar. — Sou enfermeira da obstetrícia há vinte anos, sei o
que estou fazendo.
Danilo segurou minha mão e apertou meus dedos. Estava apavorada de
não ter batimentos cardíacos, que alguma coisa ruim tivesse acontecido com
meu bebê por causa dos eventos catastróficos da noite. Engoli em seco,
observando a tela e sorri ao ver o indicativo de som aumentar. Ela girou o
botão do volume, me permitindo ouvir enquanto fazia as medidas.
— Tudo parece normal com seu bebê, querida. Sim, está tudo bem
chorar. — Ela deu um tapinha na minha mão. — Vou passar todas as
informações ao médico. Sua dor vai passar.
Ela saiu e Danilo beijou minha testa.
— Nosso bebê está bem. — Ele suspirou. — Como eu pedi que vocês
estivessem vivos e bem… foi tão assustador. Eu prometi que ficaria segura.
— Eles iriam me usar para te atingir, antes, queriam a rota das drogas.
Minha mãe… ela ia entregar parte, não resistiu à tortura. Meu pai interviu,
porque o que era meu, estava guardado para mais tarde. E você nunca deixou
de cumprir a sua promessa, mas seria impossível contra minha mãe. —
Toquei seu braço, preocupada com o corte, ele abaixou um pouco mais para
beijar meus lábios. — Papai foi pego e isso a deixou cega. No fundo, todos
nós sabíamos que ela só se importava com ele.
— Não posso dizer que sinto pela morte dela. Ela nos traiu e te
colocou em risco. Isso nunca seria perdoado por mim. Eu a mataria na
primeira oportunidade. — Seu olhar demonstrou que o caos estava
controlado pela necessidade de cuidar de mim, porque precisava dele. —
Odeio te ver ferida. Isso está me machucando. Esse olhar triste…
— Agora que você está aqui, eu vou ficar bem. Vamos superar isso. —
Busquei seus lábios. Danilo me beijou e me abraçou, me fazendo sentir
segura, exatamente como eu precisava.
30 | Danilo.
Estalei meu pescoço, sentindo a aproximação silenciosa pelo
corredor e fiquei parado no mesmo lugar, sem desviar os olhos da minha
esposa. Bella estava dormindo na cama hospitalar, com as pontas dos dedos
enfaixadas pelos cortes, o braço esticado com a medicação, o torso
enfaixado e o rosto abatido, tamanho trauma e cansaço. Ela era tão forte…
Lutou e salvou a vida do irmão. Refiz o trajeto dela e até brinquei que todo
treino valeu a pena.
Bella conseguia me erguer do chão em nossas lutas, claro que no gás da
adrenalina, pegou Assis, com o dobro do seu peso, e o arrastou pelas terras
do deserto. Estava frio e ela nem percebeu. Era Natal e minha esposa presa
em uma cama de hospital porque filhos da puta queriam o que me pertencia.
Só de pensar que apenas conseguiram por causa da estúpida da minha sogra,
meu ódio fazia sentir que ia explodir.
— Como ela está? — Fernando se aproximou, mancando.
— Ainda está sonolenta e cansada. O médico quer que ela fique em
observação e eu não discuti quanto a isso.
— E o bebê? Ele está bem, certo?
— Está forte. O coração bate como galopadas de cavalo — respondi
com orgulho. — Ela também é muito forte.
— Gosto de ouvir o orgulho na sua voz — Fernando refletiu. — Bella
sempre foi diferente. Eu quis uma menininha, minha esposa não queria mais
filhos. Eu nem sei se um dia ela quis filhos de verdade, mas fez por mim,
porque eu queria tê-los. Cada um deles é de uma maneira. Ela é a mais
parecida comigo. Olhar frio, observadora e um tanto calculista.
Ele descreveu a mulher com quem eu me casei, que não era mais a
mulher deitada naquela cama. Bella ganhou fogo no lugar do gelo, ainda
podia ser calculista e era por ela prestar atenção demais que eu vivia em
problemas, sendo obrigado a pedir desculpas para ter paz.
— Por respeito a você, darei a sua esposa um funeral tradicional.
— Não. Ela me traiu, também. Sempre soube que a família e meus
filhos eram pelo que eu daria a minha vida. Não tinha o direito de fazer o
que fez, nem mesmo pela emoção mais crua. Como mãe, entregou nossos
filhos nas mãos do diabo e eu não posso perdoá-la, mesmo em sua morte. —
Ele foi duro. — Avise quando minha filha acordar. Eu quero vê-la.
Dei apenas um aceno como resposta. Fernando se afastou e foi em
direção ao quarto de Assis. Depois de longas horas em uma cirurgia, ele
finalmente pôde ser transferido. Estávamos fora de Vegas, abrigados
temporariamente no território de Damon por cortesia. O acordo de honra
entre a trindade das famílias italianas era importante. Brigávamos entre nós
sempre que necessário, mas nos uníamos contra qualquer outra organização
que poderia tentar nos derrubar.
Bella e Assis estavam seguros ali enquanto se recuperavam.
Damon virou o corredor com as mãos nos bolsos e parou, dando um
breve olhar para minha esposa. Sua expressão significava problema.
— Ele acordou e abriu a boca?
— Levou um tempo com Enrico para começar a falar. — Suspirou. —
Um dos nossos estava alimentando Nikolai com informações.
— Deixe-me adivinhar: Alonzo Rafaelli.
Filho da puta miserável. Se ele tinha problemas com o papai dele, que
resolvesse com o velho. Meu pai contou histórias bizarras que o patriarca
dos Rafaelli fez com os filhos. Não que ele tivesse sido um exemplo de pai
perfeito.
— Sim. Entregou a ele nosso funcionamento, nome da minha noiva, da
esposa do Enzo, sua mulher… nossas regras. Não foi falado do acordo,
imagino que seja porque Alonzo já estava um passo fora quando decidimos
isso. — Damon voltou a olhar para Isabella. — Talvez seja hora de levá-la
para a Itália. Ela matou o sobrinho do Nikolai.
— A nossa vantagem é Alonzo não saber do acordo. Nikolai vai tentar
nos atacar ao mesmo tempo ou armar para que aconteça uma briga entre nós.
Ele se aproveitou dos meus embates com os Valentinni para entrar em
Vegas.
— As coisas irão se acalmar por um tempo. Eles são do tipo covarde,
mas não quer dizer que acabou.
— Ah, pode apostar que não acabou mesmo.
Definitivamente, Nikolai Jankovic e seus filhos, mal sabiam que eu não
pararia até matar cada um deles pessoalmente. Eu destruiria qualquer um que
me impedisse e entrasse no meu caminho. Até seus inimigos seriam meus
inimigos, porque ninguém me roubaria o prazer de acabar com suas vidas.
Damon saiu, dizendo para nos encontrarmos mais tarde e me deu
privacidade para fazer papel de marido. Enquanto Bella estivesse na cama,
eu não era um chefe e sim o homem que ela precisava ao lado. Cássio e
Mariano estavam atentos, cientes que ninguém podia relaxar naquele
momento.
A televisão mostrava o alarde que a mídia estava fazendo sobre a
morte de um senador. Um pouco de caos havia acontecido em Nova Iorque e
não tinha necessariamente a ver comigo. Apenas outro reflexo das nossas
informações sendo vendidas por Alonzo.
O hospital estava decorado com coisas natalinas. Bella e eu não
estávamos acostumados a comemorar essas datas, mas talvez devêssemos.
Foi o seu renascimento e a prova de que eu não morreria do coração, porque
saber que ela foi levada quase me matou. A partir dali, ninguém mais
duvidava do que eu seria capaz. Em Vegas, a noite não tinha fim e a cada
esquina, meu nome não era mais do italiano misterioso que estava
dominando e sim do homem que deveriam temer.
Bella se moveu na cama e rapidamente entrei no quarto. Ela riu da
maneira desesperada em que apareci e soltou um bocejo.
— Sinto sono por toda uma população. — Abriu um sorriso tímido. —
Dormi de novo e pelo visto, por muito tempo.
— O médico disse que precisa descansar e não vamos contrariá-lo. Ele
estudou e sabe o que fala. — Agarrei sua mão e beijei. — Como está se
sentindo agora?
— Acredito que o sono excessivo e a fome tem tudo a ver com o bebê
que está usando meu corpo. Acho que ele pensa que meu estômago cabe
trinta quilos de comida pelo tanto que me faz querer comer o tempo todo. —
Ela levou a mão livre para seu ventre. — Tivemos uma conversa sobre todo
esse sono. Mamãe é ativa e não vai dormir a gravidez inteira.
Mamãe… porra, minha esposa, mãe. E eu um pai. Caralho.
— Esse bambino…
— Ou bambina.
— Meu instinto raramente me engana. Ainda teremos a nossa menina,
não se preocupe. — Dei-lhe um beijo nos lábios. Ela suspirou, apaixonada e
um tanto manhosa. — Hora de comer um pouco e depois poderá ver seu
irmão.
Isabella ficou internada por uma semana. Assis não tinha previsão de
sair. Ele passava mais tempo nocauteado por analgésicos do que lúcido.
Assim que se tornou meramente possível, levei minha esposa para Vegas. A
cidade parecia outra. Tranquila. A cada esquina, um aceno respeitoso. A
declaração sangrenta entre meus homens e a imposição de respeito com as
outras organizações acalmou os ânimos gerais.
Reafirmei negócios com pessoas importantes e comprei novos
estabelecimentos. Enquanto estivesse ali, iria lucrar ao máximo, para no
futuro, vender novamente. Era como um investimento imobiliário, mas no
meu caso, envolvia drogas e prostituição.
Cheguei em casa no meio da madrugada, depois de verificar o
andamento das boates e me preparar para sair cedo para a Itália. Bella
estava na cozinha, enfiada dentro da geladeira e me deu um sorriso de boca
cheia.
— Vive para comer. O que está fazendo de lanchinho?
— É essa criança! Mariano preparou um sanduíche perto da meia-
noite, mas eu acordei com sede e vi essas batatas com molho de carne…
— Está comendo frio? — Fiz uma careta.
— Não me julgue, você não está grávido! — rebateu e eu ri da maneira
furiosa com que soou, com a expressão “estou pronta para chutar sua
bunda”. — Já basta meu pai, com aquela expressão de pedra, dizendo que
vou ficar gorda.
— Ele é prático e sincero, sabe como a mente esquisita do seu pai
funciona. Você não vai ficar gorda, está carregando nosso bebê e como
marido, sei que vai continuar a mulher mais gostosa do mundo. — Segurei
sua cintura. Ela ainda estava comendo, o que me impedia de poder roubar
um beijo e ri de sua tentativa de pegar mais carne. — Tem que descansar.
Estamos indo para casa.
— Ainda me sinto esquisita em deixar Assis aqui.
— A vida dele é aqui, agora. Cássio e Mariano voltarão conosco.
Assentindo, furou uma batata com o garfo e enfiou na boca,
rapidamente me seguindo para a escada. Antes de deitar um pouco, escovou
os dentes e ajeitou as meias. Além do sono e fome, ela não estava com
sintomas absurdos da gravidez, como enjoo, que era a nossa preocupação.
De vez em quando ficava tonta, porém, também era efeito do corpo
recuperando-se do ataque. O médico desaconselhou os treinos, pedindo para
que esperasse um pouco mais e consultasse o médico na Itália.
— Vai tentar dormir um pouco comigo?
— Você quer companhia ou quer que eu durma?
— Eu tenho direito de querer as duas coisas. — Deu um tapinha na
cama.
— Tem algo a me dizer?
— Você está no modo Danilo assustador do dia do nosso noivado. Seu
olhar é cruel e feroz, como se fosse matar qualquer um a qualquer momento.
— Ela uniu as mãos e me deu um olhar compreensivo, que só aumentou a
raiva dentro de mim. Foi sequestrada e machucada, assistiu a mãe morrer e
teve que lutar pela própria vida. Como podia estar bem?
— Está com medo de mim? — Franzi o cenho. Estar com raiva era
tudo que conseguia, principalmente quando as contusões de seu corpo me
lembravam o que passou sozinha.
— Não tenho medo que me machuque, mas o que aconteceu trouxe o
monstro à tona e não está controlado. Você matou dois negociantes ontem.
Confio que não seja descuidado, mas foi a primeira vez que alguém que você
ama foi ferido com o poder de reagir. Quando sua mãe morreu, teve que
engolir a dor por obediência, mas eu estou viva. — Bella me segurou e ficou
de pé, para olhar em meus olhos. — Faça o que tem que fazer com nossos
inimigos. É o seu dever como chefe vingar o que aconteceu e defender a
nossa honra, porém, como esposa, não quero perder o homem que me
ensinou a amar.
Com carinho, segurei seu rosto e beijei a boca macia com o formato
perfeito que eu era intensamente apaixonado.
— Eu te amo por manter a minha cabeça no lugar.
— Serei sempre o seu equilíbrio.
— Nós dois contra o mundo para sempre. — Voltei a beijá-la. Era a
minha benção particular que, mesmo depois de um sequestro, minha esposa
estava viva em meus braços.
31 | Bella.
Danilo jogou a toalha molhada em cima de mim ao sair do banheiro,
fiz uma bola e joguei de volta. Implicante. Ainda nu, foi para o canto do
quarto, abriu a janela, pegou seu charuto e acendeu enquanto preparava uma
bebida. Rolei para o lado, abraçando o travesseiro, feliz por conseguir me
mover sem sentir dor ou ter medo de uma fisgada que me fizesse ver
estrelas.
Era nossa segunda manhã em casa, na Itália, com cheiro de mar e paz.
Logo que chegamos, não quis aturar as condolências falsas da tia do meu
marido e me refugiei na cama, sendo mimada por Nanci. Tia Edna ainda não
sabia da gravidez e eu queria esperar estar com mais semanas para que a
notícia se espalhasse. Meu bebê era minha prioridade e enquanto pudesse
proteger a sua existência, eu iria.
— Nanci quer saber se você já comeu. — Danilo leu a mensagem em
seu telefone e riu. — Devo dizer a ela que minha esposa mal deixou comida
nessa casa?
— Deixa de ser exagerado! Você que fez um sanduíche do tamanho de
uma ilha, como estava gostoso e eu odeio desperdício de comida, comi tudo.
Foi pelo bem das nossas finanças.
Pela primeira vez em semanas, ele gargalhou. Senti falta do som de sua
risada. Seu olhar sombrio e o humor ruim não eram direcionados a ninguém
exclusivamente. Ele foi protetor e leal, ficou ao meu lado nas crises de
choro, no medo de perdermos nosso bebê, não me desamparou como marido
e muito menos como chefe da nossa família, mas a monstruosidade dele
queria sair e estava com sede de matança. Mariano me contou por alto o que
foi feito em Vegas na noite que fui sequestrada.
Danilo não perdoava ninguém. Ele vivia na escuridão. Não sentia culpa
por matar, assim como não matava ninguém de graça. Lidar com a traição da
minha mãe estava sendo muito difícil para todos nós. Ela não era uma mulher
qualquer, sabia dos riscos, assim como tinha certeza que nunca foi enganada
sobre a honra do meu pai. Mamãe não agiu no desespero. Foi egoísta. Só se
importava com o papai e, sendo tola, quase nos matou.
— Eu rio e você fica séria. O que foi? — Danilo deu um trago, bem
longe de mim, para que não reclamasse do cheiro ou inalasse fumaça.
— Pensando na minha mãe.
— Alguma conclusão importante?
— Eu não vou dizer que não faria uma estupidez por amor, mas no
mínimo, seria mais inteligente. Talvez pensasse em como salvar a todos, ou
no mínimo, salvar quem amo.
— Espero que sempre salve nossos filhos — Danilo falou bem sério.
Não havia a mínima sugestão de brincadeira em seu tom. — Sou o homem
dessa família. Tatuei meu peito por ela e faço coisas que, se eu acreditasse
em pecados divinos, me condenaria por toda eternidade. Saberei como me
virar, assim como seu pai sairia dali ou entregaria sua vida, porque é isso
que significa para nós. Entramos vivos e saímos mortos. Não existe
redenção. No entanto, apreciaria que seu amor por mim nunca fosse maior
que o amor pelos nossos filhos.
— Eu vou te amar por toda eternidade, mas eu sei quem somos e o que
fazemos. Por mais que reze todos os dias para ficarmos velhinhos juntos e
torça por isso, sei que essa é a nossa vida. Não se preocupe quanto aos
nossos filhos, como mãe, eles terão o meu melhor. Sempre.
Danilo me deu um aceno, de volta ao buraco que se enfiou nas últimas
semanas. Saí da cama para tomar banho e começar meu dia. Ele dormiu até a
metade da madrugada, saiu e voltou agitado, tanto que o desjejum foi uísque
e charuto. Deixei-o quieto e me preparei, com disposição para sair do ciclo
vicioso de ficar na cama porque era mais confortável.
Vesti uma roupa de ginástica, prendi meu cabelo e peguei o tênis.
Meu marido, ainda no humor insuportável, decidiu que podia assobiar
para me fazer parar de andar. Ele tinha sorte que não estava com disposição
para arremessar nada em seu rosto.
— Pode parar aí! — Ele saiu do lugar quando não obedeci seu
comando. Ele bateu com a cabeça? Óbvio que não ia parar! Danilo me
agarrou na escada. Sabendo que detestava ser segurada, me encheu de beijos
no pescoço, acalmando qualquer reação furiosa que poderia ter. — Você não
vai treinar — falou baixinho no meu ouvido.
— Eu disse que ia treinar?
— Por que usaria roupas de ginástica?
— Elas são confortáveis caso eu precise chutar a bunda do meu marido
se ele assobiar pra mim de novo. Que tal esse motivo?
Danilo só franziu o olhar e me deixou ir. Desci a escada serelepe e
pensei que era o momento ideal para contar a Nanci que estava grávida. Ela
guardaria segredo.
— Bom dia, minha bambina. — Nanci me abraçou. — Deixe-me ver
esses machucados. — Ela ergueu minha blusa, pegou a pomada e passou em
todos os hematomas como uma mãe zelosa, ainda verificou as pontas dos
meus dedos. Alguns estavam com pontos. — Você vai ficar bem. Já comeu?
— Ainda não. Estou faminta. — Sorri e sentei no balcão, roubando
uma banana do cacho. Ela disse que faria meus ovos e o pão já estava
pronto. — Você lembra como era Danilo quando pequeno?
Nanci segurou a cesta com ovos e me encarou com o cenho franzido.
— Ele era um bebê gordinho muito rabugento, tudo era motivo para
franzir o cenho e resmungar. Adorava ficar no colo da mãe, do tipo bem
chameguento. — Ela sorriu um pouco. — A mãe dele era muito amorosa. Ela
vivia para os filhos, o tempo todo correndo atrás deles, educando e até
fazendo um pouco das vontades.
— Esse relato não faz sentido com o fim que ela levou. — Olhei para o
corredor, para saber se Cássio ou Danilo estavam por perto. — Acredita
mesmo que traiu o marido?
— Não. Nunca acreditei. Eu não podia dizer que havia amor, não era
nem mesmo uma relação amistosa e nem de longe, com o fogo e paixão que
vocês demonstram em casa. O mestre era muito bravo e grosseiro para ter
uma conexão com a esposa, no entanto, era possessivo e foi envenenado.
Mas não tenho provas, nunca tive.
— E alguém sabe quem seria o possível pai dos mais velhos?
— O melhor amigo do mestre. A única pessoa que ele confiava e foi
morto no mesmo dia, porque os homens Venturinni não perdoam traições. —
Ela me olhou cautelosa. — Cuidado com suas perguntas sobre o passado
dessa casa. Algumas pessoas fazem questão de manter as mentiras a salvo.
— Tudo bem. Só queria saber um pouco mais sobre meu marido
quando criança para fazer alguns comparativos.
— Comparativos?
— Ah, sabe, daqui a uns meses podemos ter uma versão do Danilo ou
uma minha, chorando por toda madrugada e nos enlouquecendo
completamente — falei como se não fosse nada demais, mas acariciei a
minha barriga ao mesmo tempo.
Nanci quase jogou os ovos para o alto, lembrou de colocar a tempo na
cesta e simplesmente me agarrou, pulando e gritando de alegria. Seu sorriso
me contagiou, acabei rindo da maneira efusiva que reagiu, disparando a fazer
planos sobre minha alimentação, repouso e o quarto do bebê. Abracei-a de
volta, aceitando seus parabéns.
Agitada, foi para a geladeira, tirando um monte de coisas de dentro.
— Vou preparar seu café caprichado. Aqui, beba a vitamina do Cássio
enquanto faço tudo. — Ela me entregou um copo cheio. Dei um gole,
testando se iria gostar e o gosto foi muito bem recebido. Bebi até a metade,
desci do balcão e avisei que faria alguns alongamentos na academia.
O quarto no terceiro andar era muito equipado, até para fazer
exercícios leves. Eu não precisava treinar luta, apenas pegar pesos leves e
esticar meu corpo. Desde que fiquei internada, parecia uma mola encolhida.
Meus músculos precisavam de um pouco de aquecimento.
— Isabella Venturinni! — Danilo entrou na academia. — Se isso não é
malhar, que porra está fazendo? — grunhiu.
— Aquecimento leve. — Coloquei os pesos no chão. — Só para me
sentir ativa e expulsar o sono. Vou me alongar agora. Quer me ajudar?
— Pare de desafiar a realidade. Está tudo bem, foi um verdadeiro
milagre que o bebê tenha sobrevivido dado aos seus ferimentos. Por que não
consegue ficar parada?
— Eu estou praticamente parada. Vem aqui — chamei e ele se
aproximou com relutância, parando atrás de mim e me ajudando com os
alongamentos.
Abaixei à sua frente, tocando o chão e mantive minha bunda empinada
na direção de sua virilha. Sem resistir, acariciou meus glúteos, dando uma
boa pressionada. Eu ainda não estava liberada para o sexo e depois de tudo,
queria mesmo transar até perder minhas forças. Aproveitando o ritmo da
música latina que tocava no meu telefone, rebolei.
— Ah, bebê. Deixa de ser safada. — Ele segurou meu quadril,
acompanhando o ritmo. — Estou louco para te foder bem assim e deixar seu
cuzinho cheio da minha porra.
— Essa conversa foi de zero a cem em um piscar de olhos. — Levantei
sorrindo e virei para agarrá-lo. Danilo apertou minha bunda. — Não é o
único com saudades. Depois do pesadelo, deitar e rolar é o que mais quero.
Parte disso, têm culpa os meus hormônios, porque ando cheia de tesão e
fantasias.
— Tesão e fantasias? Caralho… isso é mais que música para meus
ouvidos.
— Podemos quebrar o jejum…
— Não vai me convencer a isso. Meu pau está duro, mas meu sangue
não está todo nele. Sei que se transarmos sem o médico liberar, vai vir
malhar e começar a fazer esforço só para me enlouquecer. — Sorriu e me
deu um beijo rude. — Sou mais esperto que você.
Fiz um beicinho descarado, ainda tentando convencê-lo.
— É injusto. Sou sua mulher e estou grávida, eu quero malhar e transar.
Quero dançar e sentir que estou viva! Eu não quero me sentir como a mulher
frágil que foi sequestrada. — Agarrei seu colarinho.
— Frágil? Você soltou as próprias mãos, arrastou seu irmão mais
velho pelo deserto e ainda garantiu que ficassem vivos criando um plano
rápido, frio e tático. Matou pela primeira vez e não tremeu sobre isso.
Qualquer outra mulher no seu lugar estaria morta e se por um acaso tivesse
sobrevivido, provavelmente não teria saído da cama. — Danilo tirou meu
cabelo do caminho, abaixou o rosto e beijou meu pescoço acima da
pulsação. — Aqui bate o coração que eu pensei que nunca mais ouviria
bater. Então, não diga que é frágil. Você é a mulher mais foda e mais forte
que conheço na vida.
— Eu não sairia de lá sem Assis. Acho que nosso casamento me
ensinou muito sobre amor e lealdade. A honra é mais do que uma palavra
bonita tatuada no peito. Ela é real. Você me mostrou que sentir não me
mataria, ao contrário da crença do meu pai. Sentir tantas emoções,
principalmente o medo de nunca mais te ver e de perder o bebê, foi o que me
salvou.
— Só uma prova que o gelo no seu coração só precisava de um pouco
de fogo. Minha noiva prometida, nada doce, nada inocente e sem precisar ser
protegida. Ainda assim, farei o meu melhor para sempre.
32 | Bella.
Tia Edna organizou um jantar para comemorar meu retorno. Eu não
queria ir, mas fui para não causar um mal estar com as demais matriarcas por
minha desfeita. Escolhi um dos meus clássicos vestidos. Preto e longo, com
um belíssimo par de botas que apareciam de um jeito sexy no lascado. Eu
sabia que meu estilo ousado deixava a maioria das senhoras incomodadas,
principalmente aquelas que culpavam outras mulheres pela falta de controle
dos maridos.
A comida estava deliciosa e tudo era culpa do meu paladar grávido
que não rejeitava nada. Comer andava sendo minha atividade favorita. Ainda
passava ilesa com meu comportamento porque fora de casa conseguia me
controlar melhor e não tinha nenhuma barriga. O médico disse que em
algumas mães apareciam de primeira e outras demoravam um pouco mais.
No meu caso em particular, minha barriga era muito definida. Estava
louca para ter uma barriga de grávida logo. Danilo tocava meu ventre o
tempo todo como se pudesse sentir o bebê. Nós dois não sabíamos muito
como funcionava uma gestação de modo geral. Nanci estava nos ajudando
muito, principalmente me acalmando. Ninguém me disse que meus hormônios
confusos também me fariam ter tantas paranoias.
Antes da sobremesa, a conversa era sobre criação de filhos e eu fiquei
quieta, ouvindo. Pensei que algumas coisas eram meio absurdas, mas não
questionei. Só poderia falar quando passasse pela experiência e dado o tipo
de mãe que tive, não deveria usá-la como parâmetro. Observei um pouco ao
redor e vi uma mulher na janela de uma das casas, ela fechou a cortina
rapidamente.
— Quem mora ali? — questionei a Nanci de forma discreta.
Ela acompanhou meu olhar e crispou um pouco os lábios.
— Régia. Ela é viúva e não é próxima de ninguém.
— Viúva de quem? O rosto dela é familiar.
Entendi de quem só com um sutil aceno. Ah…
— Em casa falamos — Nanci desconversou quando percebeu que Tia
Edna estava prestando atenção em nós. Era de conhecimento público que as
matriarcas de boa condição, esposas de homens de alto escalão, ficavam
irritadas com a minha proximidade com Nanci e não com nenhuma delas.
Nanci nunca se casou e teve filhos, ela viveu cuidando da família
Venturinni, principalmente de Cássio. Assenti e voltei a conversar. Comi a
sobremesa e ri do carro preto parando de fininho na frente da casa. Danilo.
Meu grude favorito. Ele mal me deixava ir para o banheiro sozinha, foi
difícil convencê-lo de que não era necessário ter dois seguranças em um
jantar de senhoras. Eu podia quebrar qualquer uma delas sozinha.
Ele prometeu que viria me buscar no horário e chegou um tempo mais
cedo só para me olhar. Assim que acabou, não protelei sua tortura, agradeci
e me despedi de todas. Ganhei uma marmita, elas nem precisaram insistir.
Aceitei bolo e doces finos para comer mais tarde. Não dormiria cedo,
mesmo. Entrei no carro e percebi que Danilo estava olhando fixamente para
a casa da viúva. Mudou o rosto em minha direção, mas o olhar estava além.
— Foi tudo bem? Preciso descer e atirar em alguém?
Como se eu precisasse que ele me defendesse, mas deixava que
pensasse assim, principalmente depois do sequestro. Se meu marido ficava
bem sendo meu protetor, ele seria. Me inclinei no banco e beijei sua boca.
Relaxando um pouco, ele ainda deu mais uma olhada antes de arrancar com o
carro, fazendo um showzinho em alta velocidade pelas ruas.
Chegamos em casa e Mariano estava na cozinha, afiando as facas.
Cássio falava atrás dele, pareciam discutir estatísticas de jogo. Viviam
competindo.
— Oi, mamãe. — Mariano sorriu. Abracei meu irmão brevemente.
Prometi que nunca ficaria sem demonstrar o quanto amava meus dois irmãos
e todo dia abraçava o que ficava comigo o tempo todo. — Como foi o
jantar? Precisarei matar alguém?
— Não. Foi tudo bem. Trouxe bolo e doces. — Mostrei. Cássio
agarrou-os da minha mão, enfiando uma tortinha na boca.
— Tenha modos. — Danilo bateu na nuca dele, indo para a sala. — Te
eduquei melhor que isso, otário.
Cássio pareceu castigado como um irmão caçula obediente, mas logo
riu, enfiando mais na boca sem que Danilo visse. Sua atitude me fez rir.
Mariano pegou um, ele não era muito fã de doces. Sentei no balcão para
conversar com eles. Meu marido voltou cheiroso e com uma jaqueta de
couro. Vestido como um mafioso gostoso.
Será que eu podia matar meu médico por não liberar o sexo?
— Vai sair?
— Não passarei a noite fora — prometeu e me beijou rapidamente. —
Vá para a cama. Quanto antes melhorar, mais rápido faremos outra lua de
mel.
O homem estava subindo pelas paredes. Duvidava que ficou tanto
tempo sem sexo. Ele se casou no dia seguinte do noivado só para transar sem
manchar minha reputação. Seu humor estava um tanto irritante, não era só
pela abstinência, mas pela preocupação de modo geral. Meus exames não
estavam muito bons, o risco de ter qualquer complicação era um medo no
fundo das nossas mentes, sem contar nos filhos da puta dos sérvios dentro do
buraco esperando uma oportunidade para atacar.
Antes de dormir, liguei para o meu pai. Eu estava preocupada, ele
parecia tão… sem vida. Não que ele fosse um homem expressivo e cheio de
alegrias, mas estava apático. Assis dizia que ele continuava quieto e ao
mesmo tempo inconformado que nós quase morremos por causa da mamãe e
seu amor cego. Eu entendia o desespero dela como esposa. Se fôssemos
pessoas comuns, sua estupidez poderia ser perdoada, mas não éramos. Ela
sabia das consequências da vida que tínhamos. Papai escolheu honrar a
família com sangue, isso significava sacrifícios dolorosos.
Eu sabia que pela minha vida, Danilo daria a dele. Sabia o que era
esperado. Faria de tudo ao meu alcance para resgatá-lo. Até me entregaria
junto pelo bem dos nossos filhos, que eles sobrevivessem e ficassem
seguros. Mas nunca colocaria a vida dele acima da prole que teríamos.
Danilo sabia disso. Eu o amava, porém, o que sentia pelo serzinho que
crescia no meu ventre era maior que tudo e inexplicável.
Papai estava estoico e quis atualização do bebê. Ele prometeu vir me
ver logo e encerrou a chamada. Joguei meu telefone longe, sem sono, ainda
satisfeita com a comida e meus pensamentos me levaram para a viúva que
nos espiou de longe. Queria saber se ela era isolada ou se a isolaram devido
a toda confusão, afinal, o marido foi morto por trair o chefe e melhor amigo.
Curiosa, fui até o quarto que ainda tinha umas coisas dos pais de Danilo e
procurei por fotos.
Ajoelhada, peguei uma caixa e espalhei em cima da cama. Danilo era
muito parecido com o pai. Meu falecido sogro era muito bonito. Minha mãe
sempre fofocava que a mulherada da família era louca para que ele buscasse
uma nova esposa. Dava para ter noção que meu marido ainda tiraria meu
fôlego no futuro — e de muitas outras, infelizmente. Seus irmãos mais velhos
não pareciam com o pai, eram loiros como a mãe, mas isso não queria dizer
muita coisa.
Analisando, todos os irmãos se pareciam de algum modo. Danilo e
Cássio apenas eram morenos, pele mais escura e olhos castanhos. O mais
velho tinha o mesmo nariz do pai, não tão proeminente.
— Muito curiosa, cunhada? — Cássio parou na porta do quarto.
— Um pouco. O bebê tem me deixado ansiosa.
— Tipo o quê? — Ele entrou e sentou na ponta, não olhando para as
fotos.
— Saber como será o rostinho dele ou dela. Fico curiosa se vai
parecer comigo ou com Danilo. Eu acho que vai ser uma mistura dos dois.
— Organizei as fotos de novo e guardei quase tudo, salvando a que gostaria
de fazer perguntas para meu marido depois. — Não gosta de ver isso tudo?
— Eu não me importo com essa porra. Não lembro de ninguém, nem da
minha mãe, só sei o que Nanci me contou e um pouco que Danilo conseguiu
soltar. É meio indiferente pra mim. Nosso pai nunca falou sobre ela, era
como se nossos irmãos mais velhos e a esposa nunca tivessem existido. —
Ele esticou a mão para me ajudar a levantar. — Vamos sair daqui. Esse
quarto fica muito tempo fechado e não deve ser bom para você.
Aceitei sua ajuda e saímos juntos, fechei a porta e descemos um lance
de escada. Levei a foto para o meu quarto, guardei na gaveta e me deitei.
Ficar sozinha era um saco. Tentei pegar no sono e só rolei na cama,
querendo dormir com meu marido. Eu mal suportava uma pessoa perto de
mim e depois, não conseguia mais ficar sem ele.
Fui ao banheiro e ouvi Danilo entrar no quarto, jogando a jaqueta na
cadeira, tirando os sapatos e a camisa. Ele foi fazer xixi, emburrado e lhe
dei privacidade. Voltei para a cama, esperando-o e reparei que havia algo
diferente em seu peito.
— Fez uma nova tatuagem?
Ele riu e não falou nada.
— Não vai me responder, bobo?
— Espera, ansiosa. Vou te mostrar. — Acendeu a luz e sentou, me
inclinei para ver o desenho. Era mais bonito que os outros. — Gostou?
— Estava inspirado. Melhor que a caveira feia que fez da última vez.
— Você me mata fodendo minhas escolhas.
— Ninguém mandou não perguntar a opinião da sua esposa. — Beijei
sua boca e voltei a deitar. Danilo deitou a cabeça em meu ventre, fazendo
carinho e falando baixinho com o bebê que a mamãe era “chata pra caralho
e muito exigente”. — Ei! Fiquei te esperando para ser insultada?
— Tão sensível essa minha esposa. Sentiu minha falta, bebê? —
Rastejou para cima, sem jogar o peso em mim e procurou minha boca.
Relaxei contra seus braços, apreciando o beijo e querendo me fundir nele.
Ali era meu lugar de paz. Meu abrigo.
— Estou viciada em dormir com você.
— E eu sou viciado em você, minha rainha. — Esfregou o nariz na
minha bochecha, deitando de lado e me aconchegando. Fiquei tão
confortável ali que dormi antes de mostrar a foto para tirar minhas dúvidas.
Danilo ficou na cama no quentinho comigo até meu café ficar pronto.
Nanci estava tão focada em me manter alimentada que a primeira coisa que
fazia era a minha comida. Ela levou para o quarto bem cedinho, comi tudo e
aproveitei o momento para conversar com meu marido, que estava de bom
humor.
— Você acha mesmo que sua mãe traiu seu pai? — Analisei sua
expressão enquanto tomava meu iogurte. Danilo não me olhou, ficou
comendo minhas frutas e franziu o cenho.
— Por que quer saber sobre isso? Ela está morta.
— Nunca falamos sobre e eu tenho algumas dúvidas. Como por
exemplo, seus irmãos pareciam mais com sua mãe, porém, encontrei
semelhanças com seu pai. Acha mesmo que não eram filhos dele? — Deixei
meu copo na bandeja. — É estranho. Nanci fala muito que ela era amorosa e
vivia com vocês.
— Sim, eu lembro de estar sempre com ela e com meus irmãos. Mamãe
nos educou pessoalmente. Exceto o caçula. Não foi planejado e… — ele
parou de falar. — Eu não sei se ela o traiu ou não, apenas sei que ela morreu
na minha frente. Meu pai a matou por traição. Não tem perdão, não posso
julgá-lo.
Empurrei a comida para o lado e me arrastei para o seu colo. Ele me
recebeu meio relutante, irritado com o assunto que puxei. Danilo nunca
escondeu que não suportava a ideia de que eu o traísse. Era mais que seu ego
ferido e quebra de confiança. Era um trauma. Um marco.
— Vi umas fotos suas muito pequeno. Você tinha as bochechas mais
adoráveis — comentei baixinho e ele riu. — Ele ou ela terá quilos de
bochechas. Eu também tinha muito. Acha que terá os olhos claros?
— Acho que a nossa filha vai parecer comigo e o nosso filho, com
você.
— Ainda acha que é um menino?
— Sim. Espero que tenhamos uma menina, mas você, toda brava, tem
muita vibração de mãe de menino. Nossos moleques andarão na linha,
porque só de ouvir sua voz, vão sair correndo. — Ele riu e acompanhei,
imaginando crianças arteiras e barulhentas. — No fundo, não importa o que
seja, a porra da felicidade mais linda do mundo é saber que teremos um
bebê.
— É impossível explicar o amor que sinto.
Danilo beijou minha bochecha, virei meu rosto e mordi seu lábio antes
de beijá-lo.
33 | Danilo.
As gaivotas sobrevoavam o mar bem baixo, procurando uma próxima
refeição ou apenas divertindo-se em um dia bonito. Estava um clima ameno,
bom o suficiente para que Isabella pegasse sol à beira da piscina pela
manhã. Ela comia um pote de frutas cortadas que Nanci havia servido e
exibia a barriga de quatro meses longe dos olhos do público. Ninguém sabia
sobre a gravidez, talvez suspeitassem pelo fato de que minha esposa
desapareceu dos eventos da família nas últimas quatro semanas e não dei
quaisquer desculpas sobre isso.
Estava pouco me fodendo que as matriarcas ficariam ofendidas com a
ausência dela. Bella estava de repouso ainda, o médico disse que mulheres
grávidas eram fortes, mas os ferimentos nas costelas precisavam de atenção
e havia uma preocupação com a placenta. Eu não entendia nada, porém, para
irritação de todos, se ele disse que minha esposa precisava ficar quieta para
não perdermos o bebê, então, não havia o que discutir sobre isso.
Até Nanci foi alvo do humor ruim de Bella. Nossa governanta não se
importou e lidou com amor. Cássio e Mariano fugiam. Se minha mulher
virava de um lado, eles desapareciam por outro. Quase tremiam ao ouvir
seus nomes. Eu era o saco de pancadas favorito. Uma hora era fúria e na
outra, lágrimas dramáticas por não atender aos seus desejos insanos.
— Ei, bonito! — Bella gritou da piscina. — Pode vir aqui, por favor?
Apaguei meu cigarro, lavei a boca e peguei uma bala. Sim, eu era um
idiota que não pararia de fumar e também não queria arrumar uma guerra
com minha esposa. Desci as escadas e apareci do lado de fora, vendo-a sair
da cadeira em seu minúsculo biquíni.
— O que foi, meu amor? — Toquei sua barriga antes de beijar seus
lábios macios.
— Nada. Só queria sua boca na minha — respondeu baixo, manhosa.
Sorri contra sua bochecha, provoquei-a um pouco, beijando-a novamente e
dessa vez, apertando sua bunda. Estávamos desesperados um pelo outro e
aguardando boas notícias em nossa consulta médica. — Hoje é um grande
dia. Está ansioso?
— Muito. Saberemos se vem uma mini Bella aí. — Agachei à sua
frente. — Te amo, bebê.
Bella sorriu, amorosa, com o rosto demonstrando sinais da gravidez.
Nunca esteve tão linda. Minha esposa era perfeita. Quando abria a boca me
dava vontade de sair correndo, mas não deixava de ser a mulher da minha
vida. Namoramos um pouco como dois adolescentes cheios de tesão. Ela
estava irritável por não poder transar, toda noite era uma maldita tortura com
sua bunda esfregando em mim.
A maior prova de fidelidade era estar louco para foder e não fazer isso
com qualquer mulher. Em toda minha vida, se eu queria sexo, eu tinha. Na
minha cabeça, até mesmo depois do casamento poderia acontecer de sentir
tesão por outra mulher e por respeito, teria que me controlar. Se fosse outra
esposa, que eu não tivesse dado a minha palavra que nunca trairia, seria
fácil. Com Bella, dei a promessa e cumpriria, no entanto, me apaixonei e não
era bem assim que funcionava com o amor.
Meu desejo era por ela. Meu tesão era dela. Tudo que queria era ela.
Sempre seria por Isabella que meu corpo iria arder de paixão. Estávamos
loucos um pelo outro.
— Esse bebê já está mostrando que é empata foda.
— Não fale assim. — Bella riu, ainda agarrada a mim. — Nanci vai
poder olhá-lo sempre que precisarmos fugir um pouco.
— Só em casa. Eu não quero ficar longe dos nossos filhos, só por perto
sei que poderei protegê-los de tudo.
— Papai protetor. — Ficou nas pontas dos pés e me deu um beijo. —
Vem, vamos tomar banho. Precisamos sair logo.
Ansiosa para a consulta médica, se arrumou rapidamente, usando um
conjunto de moletom largo e tênis. Era proposital esconder a barriga. Por um
tempo, decidimos que faríamos um anúncio, depois, simplesmente pensamos
que a melhor alternativa era esconder até ser inevitável. Bella estava
decidida a não sair mais de casa e eu proibi que se aproximassem do
casarão sem aviso. Desde a invasão de Carol, passamos a trancar as portas e
janelas, mas com a gravidez, coloquei alarmes e sensores em todas as
entradas.
Já existia um sistema de câmeras, que mandei meu irmão se virar e
tornar ainda melhor, sem pontos cegos. Toda Villa estava sendo monitorada.
Antes só tinha adultos que sabiam como se defender. Depois, era sobre meu
pequeno ou pequena, precisando de um lar seguro e toda proteção do mundo
para crescer bem e saudável.
Cássio e Mariano já estavam prontos quando descemos, o carro ligado
na garagem. Nanci preparou uma bolsa com lanchinho para que Bella não
comesse “nada gorduroso e industrializado na rua”. Como se maçãs cortadas
fossem impedir o nariz de cão farejador da minha esposa detectar pizza e
fazê-la chorar de desejo. Puta que pariu! Ninguém contou que uma mulher
grávida era tão esquisita!
No caminho, ela começou a comer. Não era possível.
— Ah, porra. Você já está com fome?
— Você está dentro de mim para saber que essa criança está
consumindo tudo que como? — ela rebateu, enfiando uma cenoura pequena
na boca. — Além do mais, eu quero pizza, mas vou me sentir menos culpada
se comer coisas saudáveis antes.
— Nada de pizza, Bella — Mariano resmungou no banco da frente. Ela
pareceu pronta para matar, me fazendo rir. — É a quinta vez essa semana.
Essa criança vai nascer com formato de pizza!
Ao invés de contrariar como imaginei, ela enfiou uma cenoura na boca
e fez um beicinho. Peguei sua mão e beijei. Ficar quieta não significava que
ela não me irritaria até conseguir uma enorme e gordurosa pizza com muito
molho e massa areada no ponto certo de cozimento na lenha. Ela tinha uma
cantina favorita e a fatia tinha que ser dela, toda maldita vez, até mesmo de
madrugada se eu desse confiança.
O consultório médico, apesar de moderno por dentro, ficava em uma
pitoresca casa em um bairro tranquilo. O médico não fazia parte dos
negócios, porém, sabia quem eu era e que mandava no local. Sempre foi
atencioso com minha esposa, deixando-a confortável e era extremamente
sincero, sem adulações, o que me agradava.
Eu acompanhava cada exame, cada detalhe e observei de perto a
enfermeira pesar e aferir a pressão. Bella trocou de roupa e deitou na maca,
esperando o momento de descobrirmos o sexo do nosso bebê. Ignorei o
nervosismo dos funcionários ao nosso redor. Era melhor que tivessem medo,
assim nunca relaxariam no tratamento de rainha que minha esposa merecia.
A parte de ver nossa criança na tela e ouvir o coração era a mais
incrível de todas. Seu coração batia forte, era o som mais bonito. Isabella
buscou meus dedos e apertou enquanto o médico fazia medidas e elogiava o
crescimento.
— Acho que o senhor ficará feliz em saber que é um menino.
Ah, caralho! Um bambino!
— Sério? — Bella riu, incrédula. — Um menino?
Dei a ela um sorriso, tranquilo com as minhas emoções e permitindo
que ela fosse a mãe emocionada, porque eu não me importava que minha
esposa demonstrasse todo amor do mundo para nossa família. Daria minha
vida para protegê-los.
— Eu sabia que estava certo o tempo todo. — Pisquei brevemente e
voltei a encarar a tela.
— Estou tão feliz! — Bella suspirou, os olhos brilhando. — Nosso
pequeno Félix.
Aquilo era muito para meus ouvidos, caralho. Pai de menino. Estava
explodindo por dentro. Não contamos para nossos irmãos na rua, eu estava
atento e desconfortável em mantê-la fora da proteção da nossa casa por mais
tempo que o planejado. Bella estava em seu coma de felicidade. Só a
gravidez transformou a mulher atenta e sempre pronta para atacar em uma
bola de sentimentos, exalando fragilidade, fazendo o homem protetor dentro
de mim, berrar.
— Irmão. — Cássio sinalizou para meu Tio Tomás conversando com
um dos soldados perto da minha casa. Ele passou em alta velocidade e
entrou na garagem.
— Te vejo lá em cima. — Bella me deu um beijo. Mariano abriu a
porta e ofereceu a mão. Rindo, se jogou nele e agarrou as orelhas, pedindo
que voltasse na rua para comprar pizza, só para irritar.
— Eu não vou — Mariano falou pausadamente.
— Eu sou sua irmã grávida! Você vai, sim! — ela rebateu, sem se
abalar.
— Nada de pizza. Vá descansar, eu já vou te encontrar. — Fechei a
porta do meu lado. Bella nos deu a língua e entrou em casa. — Tranquem
tudo. Não quero visitas.
Mariano deu um aceno de entendimento e saiu. Cássio parou ao meu
lado, olhando para fora e enfiou as mãos nos bolsos. Ele odiava nossos tios.
Nunca soube explicar o motivo. Meu irmão sempre ficou comigo, eu o
levava para todo lado desde que nossa mãe foi morta. Nanci era a única
autorizada a cuidar dele. Tia Edna não tinha permissão, porque eu não
permitia. Nosso pai achou incrível o fato de que Cássio teria apenas
exemplos masculinos e viris em sua criação.
— Bella andou fazendo perguntas a Nanci sobre o passado. Eu ouvi
algumas respostas e fiquei curioso. Por que nunca falamos sobre isso?
— Pensar sobre o passado é perder tempo e energia. — Peguei meu
cigarro e acendi, tragando e olhando para fora.
— E se houve uma traição e não por parte da mamãe?
— Bella está te fazendo acreditar que nossa mãe não traiu o marido?
Minha esposa e seu faro investigativo interminável.
— Não sei. É algo abstrato para mim. Você lembra de alguma coisa ou
apenas se recusa a falar sobre isso?
— Sei o suficiente. — Traguei um pouco mais e ele me olhou com
esperança. Foda-se. — Não acredito que nossos irmãos não eram filhos do
papai, mas sei que ele era um homem grosseiro e negligente. Seu conselheiro
era gentil e amoroso. Ela era mãe, mas também era mulher. Toda história tem
dois lados, mas a traição não perde o significado por isso.
Cássio olhou para o tio Tomás.
— Não se preocupe. Eles podem apenas ter sido os portadores da
notícia para que conseguissem uma boa vida na posição que tinham na
família. Não sou idiota, tia Edna sempre quis ser mais que uma cunhada para
nosso pai, porém, nunca conseguiu nada além de ser uma governanta um
pouco melhorada. Eles são inúteis.
— Por que Bella acha que é mais do que isso?
— Eu não sei. Ela tem um faro investigativo, se existir algo além disso,
vamos saber.
Eu odiava pensar e falar sobre a morte da minha mãe. Não foi o
momento mais bonito e não havia mais nada a fazer para consertar. Meus tios
eram dois sanguessugas filhos da puta que sempre desejaram mais do que
realmente mereciam, no entanto, não eram culpados pela escolha emocional
da minha mãe.
Apenas se tornaram pessoas que eu sabia que deveria tomar muito
cuidado.
34 | Bella.
Danilo esfregou as mãos cheias de loção e sentou à minha frente,
espalhando-a por minha barriga muito proeminente de oito meses de
gravidez. Faltava pouco, ainda não estava no tempo certo, principalmente
porque desejava ter um parto natural. Estava ansiosa para o nascimento do
nosso filho, mas, estar em casa por toda gravidez trouxe certa tranquilidade
para a minha vida. Meu marido era o único viajando e causando o caos por
aí, reafirmando seu poder em Vegas e em nosso território na Itália.
Nosso mundo parecia caótico com pequenos ataques irritantes dentro
dos nossos estabelecimentos. Houve um embate desconfortável entre Danilo
e os patriarcas dos Rafaelli, que com a intervenção de Francesco Galattore,
ocasionou em um pouco de paz forçada. Por um verdadeiro milagre Danilo
deu ouvidos, mas eu tinha certeza que as ligações secretas com Damon
tinham tudo a ver com um plano maior.
Enzo Rafaelli não pisava na Itália há tempos, mas tinha o perfeito
controle de tudo que acontecia, inclusive, buscando monitorar o quanto as
ações de Alonzo estavam impactando o nosso território. A trindade estava se
preparando para um grande ataque que ainda não era do meu conhecimento
porque meu marido estava no modo turbo de proteção e me mantinha longe
dos negócios. Não duraria muito tempo. Apesar do meu novo status de mãe,
eu voltaria a ser apenas eu, não só um lar para meu filho nascer saudável.
— Olha só como ele se mexe… — Danilo falou baixo, admirado com
os movimentos do pestinha. Ele não parava quando acordado. Era a prévia
do que viria. — Está respondendo ao papai?
— Está praticando chutes certeiros. — Sorri, colocando a mão na
ondulação. — Se controla, garoto — reclamei, com um pouco de dor. Danilo
inclinou-se e beijou o local, acariciando-o.
— É melhor obedecer à mamãe. — Ele sorriu e terminou com o creme.
— Prontinho. A senhora gostaria de algo mais?
— Beijos de boa noite.
— Todos os meus beijos são seus, bebê. — Danilo segurou meu rosto,
me beijando apaixonadamente. — Acha que está agitado por causa da nossa
trepada sacana?
— Bem… nós transamos e eu comi chocolate. Meus hormônios devem
estar induzindo nosso bebê a uma rave alucinante aqui dentro. — Soltei uma
risada. Danilo beijou meu pescoço, ainda carinhoso pós-sexo, banho cheio
de mimo e com todo amor, soterrando minhas inseguranças. A gravidez
trouxe um freio enorme na nossa vida sexual, levamos muitas semanas para
sermos liberados e com a barriga tão grande, com falta de ar, nem sempre
conseguia.
Afetou um pouco minha vontade e a maneira como me via no espelho,
além do medo infundado de não ser mais o suficiente para meu marido. Ele
provava todos os dias que seu amor não era como palavras ao vento; era
real. Meu companheiro que se empenhava muito em ser meu melhor amigo,
ouvindo cada vez que precisava desabafar sobre as mudanças do meu corpo.
Era confuso estar grávida, amava nosso filho e queria mais, porém, a
gestação me trouxe mais paranoias que o normal.
Danilo me fazia amá-lo ainda mais quando deixava o homem
monstruoso para fora do nosso quarto e não era nada além de incrível a cada
minuto. Ele ficava sem dormir para me segurar na melhor posição, fazia
massagem nos meus pés e cozinhava qualquer coisa que me desse desejo de
madrugada. Montou os móveis do quarto do bebê e obrigou nossos irmãos a
ajudá-lo. Até mesmo Assis, quando veio nos visitar, entrou na bagunça.
— Quer jantar agora ou me esperar voltar?
— Quero comer agora, talvez eu durma antes que volte da rua.
Ele ficou de pé e me ajudou a sair da cama. De top e uma das calças
dele de pijama, saímos do quarto juntos. Meu marido já estava pronto para
sair, ia verificar o andamento da noite porque havia umas garçonetes
reclamando da brutalidade de alguns clientes. Danilo não permitia que as
garotas sofressem violência. Muito menos as prostitutas. Elas escolhiam o
que faziam e como faziam, nem todas iam embora depois de pagarem suas
dívidas. Outras saíam e pediam para voltar quando a situação apertava
novamente.
Papai estava na cozinha com Mariano. Enquanto Cássio importunava
Nanci sobre o ponto da carne, meu irmão beijou minha barriga. Ele se tornou
abertamente afetuoso conforme a minha gravidez avançava. Já papai,
demonstrou estar realmente muito feliz em ser avô ao deixar Vegas por um
tempo e ficar por perto no meu último trimestre. Ele não disse nada, apenas
chegou e ficou. Nunca diria de fato. Nem mesmo seria um homem de
palavras calorosas.
Estar perto era a maneira dele de me dizer que me amava e esperava
pelo bebê.
Sem minha mãe, já não considerava casar-se novamente. Papai era
bonito e relativamente jovem, quem sabe a vida não lhe desse uma esposa
menos obcecada embora às vezes, eu pensasse que não desejaria para
ninguém um marido tão frio. Danilo dizia que era questão de opinião.
Somente uma mulher quente poderia derreter o coração de gelo do meu pai.
Nanci serviu meu prato. Ela me mimava mais do que qualquer pessoa.
Preparou filés com batatas assadas, uma salada verde deliciosa com tomates
e mussarela de búfala conforme meu desejo.
— Está muito bem temperado, Nanci. Obrigada. Queria tanto carne
com alho. — Soltei um gemido. Mariano riu. De todos, ele era o único que
surtava com meus desejos. Talvez por ser o escolhido que Danilo resolveu
perturbar e mandar buscar minhas comidas de madrugada.
Danilo ficou distraído com seu telefone e de repente, a expressão se
transformou completamente. Sem falar nada, se afastou. Falando entre os
dentes e bem baixo, não podia ser boa coisa. A maneira como seu olhar de
doce marido em um almoço em família mudou para o homem perigoso que
apavorava muitas pessoas me deixou arrepiada. Parecia o homem que
noivei, que tive que me levantar para ser respeitada.
Ao retornar, falou no ouvido do meu pai, que saiu. Com um único olhar,
Cássio limpou a boca e se levantou, abrindo o coldre.
— O que está acontecendo, amor? — Segurei o pulso de Danilo.
— Ainda nada. Fique aqui com Nanci. — Ele se inclinou e beijou
minha boca. — Te amo.
— Se cuida.
Aprendi a não morrer de preocupação cada vez que ele precisava sair.
Nanci se aproximou, secando as mãos no pano de prato e ao meu lado,
observou Cássio fechar todas as portas, bloqueando as janelas e indo até o
painel digital para bloquear tudo com as novas senhas. Com um pouco de
dificuldade, me movi da cadeira para o sofá, a área mais segura da visão
externa.
— Você vai me falar o que está acontecendo? — Fui direta ao
questionar meu cunhado. Ele raramente mentia para mim, só quando Danilo
pedia explicitamente para que não me preocupasse.
— Alonzo Rafaelli está na fronteira e quer falar com Danilo
pessoalmente.
Puta merda!
Não era possível que o diabo do homem ainda estava vivo!
Senti um arrepio subir pela espinha. Confiava que meu marido não
hesitaria em fazer o que fosse necessário para proteger nossa família. A
presença desse traidor em específico era preocupante. Ele era esperto
demais para saber que não seria morto, mas pela preocupação, fez alguma
coisa para garantir sua sobrevivência. Damon estava em Chicago desde a
repentina morte do pai, se preparando para tornar-se um marido a qualquer
momento e reforçar sua liderança.
Fiquei ansiosa em casa, observei o anoitecer aguardando notícias. Pela
primeira vez, eu não estava pronta para atacar. Queria ficar protegida. Minha
integridade física significava a vida do meu filho e quanto a isso, não existia
em mim nenhum instinto de guerra, apenas de sobrevivência. Acariciei a
barriga, Félix estava se movendo para todo lado e aceitei o suco fresco que
Nanci preparou quando ouvimos a proximidade dos carros em alta
velocidade.
Eu conhecia a maneira que Danilo dirigia e o jeito que freava
bruscamente.
Tentei ficar de pé o mais rápido que pude, mas a barriga não permitiu
muito e Cássio me ajudou.
Acariciei a coluna, cansada de tanto esperar sentada na mesma
posição.
— O que ele queria?
Danilo tirou a jaqueta e jogou no sofá, me abraçando e pressionando os
polegares nos pontos certos na base da minha coluna, me fazendo relaxar.
— Ele pegou um dos nossos e fez de refém para que não pudéssemos
acertar uma bala no meio da testa. — Suspirou, parecendo estressado. —
Segundo ele, Enzo está morto e queria fazer um acordo. Me oferecer
informações para a tomada de Nápoles e da Toscana por San Marino.
— Enzo está morto? Quem o matou?
Quando um chefe poderoso caía, todos os outros estavam em risco.
Principalmente Damon, o que não era exatamente uma preocupação para
mim, mas significava que a guerra lá fora poderia bater na porta do nosso lar
ou simplesmente invadir sem aviso. Estávamos expostos. Nosso mundo tão
obscuro dependia de um equilíbrio muito delicado. A morte de Enzo poderia
ter rasgado a cortina que nos escondia do mundo.
— Não sei se ele está morto de verdade. Apenas soube da morte do
Biancchi mais cedo, mas isso não quer dizer que Enzo também esteja. Há um
silêncio em Nova Iorque, porém, faz sentido que estejam de luto. — Danilo
esfregou meus braços arrepiados. — Vamos ficar bem.
— Você vai aceitar a proposta de Alonzo?
— Ele tem sorte que eu não quis que outro sobrinho de Nanci
morresse, ou eu mataria os dois. Fugiu antes que conseguisse pegá-lo, já
deixando uma rota de fuga pronta. Avisei a Giovanni que Alonzo pode estar
em qualquer lugar em San Marino. — Danilo beijou meus lábios. — Não
faço acordo com traidores. Eu os mato.
— O que faremos agora?
— Fecharemos as portas da Calábria para o nosso mundo. Tudo que
importa agora é o nascimento do nosso filho. Mas manteremos Vegas em
pleno funcionamento.
Assenti e relaxei contra o seu peito, confiando que tudo ficaria bem.
35 | Bella.
As últimas semanas da minha gravidez foram gastas preparando o
quarto e arrumando a bolsa da maternidade. Danilo me convenceu a não ter
um parto em casa, a não ser que fosse inevitável, e sim no hospital, onde
teríamos a melhor equipe da região à nossa disposição para o nascimento do
nosso filho. Eu só queria um momento privado e repleto de amor.
Algumas pessoas ao nosso redor não sabiam da gravidez. Nem mesmo
os tios do meu marido. A fofoca era que enlouqueci de ciúme ou que cansei
de ser simpática com as matriarcas, principalmente porque também houve a
proibição de circularem pela pequena enseada na encosta do casarão. Havia
muita curiosidade e estranhamente, ninguém duvidava de uma gravidez. Era
comum que homens ficassem orgulhosos dos seus filhos e espalhassem a
notícia por aí. Danilo escolheu não falar por amor e proteção.
Com trinta e nove semanas, contava os minutos para sentir as
contrações e empurrar. Ficar o tempo todo dentro de casa era chato e
também não havia muito que fazer, mas o isolamento era necessário. Danilo
estava atento ao que acontecia com as outras duas famílias. Era uma guerra
silenciosa e ao mesmo tempo muito sangrenta.
Em uma manhã comum e tediosa como todas as outras do último
trimestre, o telefone de Danilo tocou na cabeceira. Ele ergueu o rosto,
cansado e pegou, lendo a mensagem.
— Enzo está falando comigo.
— Tem certeza que é ele?
Nós nunca recebemos a confirmação de sua morte. Acompanhamos as
notícias de que estava por aí e sua esposa no comando dos negócios, mas
tudo era extremamente incomum e desconexo. Nada fazia sentido. Juliana
mostrou para o mundo que era uma mulher forte e não estava disposta a ser
subjugada. Tratei com ela diretamente duas vezes. Foi gentil, com uma voz
doce, mas era feroz. Nós concordávamos que a admiração era mútua, mesmo
que nossos maridos não fossem melhores amigos.
Danilo saiu da cama e foi até a janela. Seja lá o que Enzo falou, provou
que era ele de verdade e em seguida, meu marido ficou em silêncio, apenas
ouvindo.
— Não o vejo há semanas, ele fugiu. Sei que está buscando
mercenários. Meus homens estão de olho, mas ele sabe que não vai encontrar
abrigo aqui. Já tenho meus próprios inimigos para colecionar os dos outros.
Sim, vamos nos comunicando.
Não era porque os sérvios estavam quietos que Danilo havia esquecido
tudo que aconteceu em Vegas. Ele não deixaria de se vingar. Não importaria
o tempo que levasse.
— Tudo bem?
— Tudo voltando ao lugar certo. — Ele voltou para perto, deixando o
telefone na mesinha e se jogou na cama. Ainda de lado, fiquei quieta para
não sair da posição perfeita. Com meu marido atrás de mim, me segurando,
tentei pegar no sono.
Não me sentia bem pelos últimos dias e nem mesmo deitada encontrava
um conforto completo. Danilo dormiu e, quieta, passei a maior parte da noite
com a mente indo longe. Senti uma pressão no ventre assim como uma
fisgada dolorosa que me fez suspirar. Em seguida, minhas pernas estavam
molhadas.
— Sua bolsa rompeu? — Ele acendeu a luz do abajur. — O que está
sentindo?
— Acho que vem uma contração. — Suspirei e apertei seus dedos. Ele
aguentou sem se mover, quando afrouxei, saiu rapidamente, pegando toalhas
e acordando Nanci. Tomei banho e coloquei o vestido que separei para ir à
maternidade.
Danilo estava calmo e no controle, o que ajudou a controlar meus
nervos. Havia uma pontada de medo. Era algo novo. Apenas li e assisti a
documentários sobre o parto, me preparei da melhor maneira, ainda assim,
existia um pavor dentro de mim de tudo dar errado. As enfermeiras foram
muito atenciosas, elas riram porque Danilo mal dava espaço para que
trabalhassem comigo, acompanhando a evolução da dilatação e me ajudando
com exercícios para controlar a respiração.
Seis horas depois, Félix deu o seu primeiro grito no mundo. Ele não
chorou, foi mais um berro potente, deixando muito clara sua insatisfação. Ele
era grande, cabeludo e a criança mais linda do mundo inteiro. Danilo o
pegou primeiro. Sua expressão inicial foi bem engraçada, como se
perguntasse como iria fazê-lo parar de chorar e ao mesmo tempo,
constatando que nosso menino era real.
Depois de cortar o cordão, Danilo trouxe-o para mim. Ao segurá-lo em
meus braços, vermelho, se contorcendo, fiquei admirada com a perfeição.
Ofereci meu seio e sua boca acalmou. As pernas se moviam contra meu colo,
agitado, exatamente como se comportava na minha barriga. Com dificuldade,
tirei os olhos do bebê e fitei meu marido. Danilo estava inclinado, segurando
o pezinho dele, apaixonado. Cortou o cordão com o olhar mais feliz e ainda
permanecia ali, de um jeito bobo.
— Assim deve ser a pega. — A enfermeira me instruiu a posicioná-lo
melhor.
— Está doendo?
— É desconfortável — respondi ao meu marido. — Nada que não
possa suportar.
— Vou deixá-los um pouco. — Ela saiu discretamente.
— Bella… eu não sei explicar o quão lindo é vê-la com nosso filho. —
Ele beijou minha testa. — Te amo tanto por me dar esse presente. Que
dádiva segurá-lo.
— Ele é tão perfeito, amor. — Foi impossível não chorar um pouco. A
sobrecarga do parto estava me fazendo tremer, querer sair andando e deixar
que as lágrimas saíssem livremente.
— O cabelo é muito escuro, como o seu. Acho que eu estava certo ao
dizer que ele pareceria com você. — Danilo sentou-se ao meu lado,
passando o braço por meus ombros.
— Ainda está muito inchado. Acho que parece o Mariano em alguns
momentos. Talvez ainda mude um pouco…
— Sim. Ele irá mudar. — Danilo sorriu e beijou meus lábios. — Você
foi incrível no parto. Estou admirado com a sua força.
Senti orgulho de mim mesma. A dor do parto me assustava. A ideia de
não conseguir me deixou um pouco preocupada no último trimestre, mas a
energia que surgiu quando as contrações começaram era mais forte do que
qualquer medo.
— Eu te amo, marido.
Não conseguiria sem ele.
Com Félix em nossos braços, voltamos para casa dois dias depois.
Danilo finalmente anunciou para todos que meu desaparecimento se deu
devido ao fato de que estava gerando seu herdeiro. Com muita bebida e
charutos, recebeu os homens para comemorar a vinda do primogênito,
enquanto eu fiquei no andar de cima sendo paparicada por Nanci e sem
conseguir soltar meu filho. Pensar em ficar longe me causava ansiedade até
mesmo para tomar banho.
— Ele está querendo chorar de novo? — Mariano arregalou os olhos,
inclinando-se sobre o berço portátil do meu quarto. — Você só sabe chorar,
pentelho.
— Será que é fome de novo? — Assis saiu do canto, da postura de
guarda para mais perto.
Meus irmãos não conseguiam sair de perto do Félix. Ao invés de
festejar no primeiro andar, não desgrudaram do sobrinho. Papai segurou meu
filho por horas, mal me deixou amamentar. O futuro chefe da família mal
havia nascido e já tinha todos enrolados em seus pequenos e perfeitos dedos.
Seu papai era o primeiro na palma da mão.
— Ele quer colo. Tenho certeza — Mariano concluiu, já pegando-o. —
Então, o que você gostaria de ver enquanto sua mãe está jantando?
— Félix pode ser um Venturinni, mas tem nosso sangue. Como todo
homem da família, vai honrar nossa paixão por futebol. — Assis sorriu,
acariciando a cabeça do meu filho. — Sei que será um excelente jogador.
Danilo, Cássio, Assis e Mariano estavam incontroláveis em querer
ensinar tudo para o menino. Ele mal sabia mamar e já estava com a agenda
cheia. Terminei de comer e fui escovar os dentes, parei na frente do espelho
e percebi que meus seios estavam vazando. Meu corpo ainda se sentia
esquisito no modo pós-parto. Eu queria chorar a maior parte do tempo, mas
estava conseguindo controlar minhas emoções, respeitando todos os meus
limites.
Deixei claro que meu marido podia comemorar o quanto quisesse, mas
eu não queria participar. Meus seios doíam, minha barriga parecia uma
gelatina, minha vagina pariu um bebê com uma cabeça enorme e eu não
estava com humor para ser sociável. Não queria visitas, nem mesmo
agradecer presentes. Ficar no meu quarto me entendendo com a nova fase de
mamãe era tudo que podia suportar.
Sorte a minha ter Nanci. Eu sabia que minha mãe jamais estaria ao meu
lado, a não ser que meu pai ordenasse, porém, minha governanta era mais do
que uma mãe. Ela se tornou tudo na minha vida. Melhor amiga, conselheira,
avó babona e a paciência com as minhas lágrimas parecia nunca ter fim. Eu
não tive uma mãe normal e a vida se encarregou de me dar uma perfeita.
— Acho que agora é com você. Troquei a fralda. — Assis me entregou
Félix.
— Você se divertiu com seus tios, meu pequeno homem? — Fui para a
poltrona e me acomodei, usando uma toalha para abrir a blusa. Mariano me
entregou água e os dois saíram. — Enfim, sós. Foi um longo dia. Será que
vai dormir essa noite?
No hospital, ele chorou todo tempo possível. Danilo precisou dar umas
trezentas voltas para acalmá-lo. Era a nossa nova aventura: conhecer nosso
filho. A mistura dos nossos gênios estava parecendo muito explosiva.
36 | Danilo.
Pequenos pés que pareciam mini pães batiam no meu rosto. Segurei e
beijei, subindo com meus lábios até a coxa gordinha, cheia de dobras, do
menino sério que mamava no peito da mãe. Félix me deu um olhar de
esguelha, querendo sorrir, mas ainda estava chateado por ter chorado muito.
Ele ficou exigente quando resmungou e sua mãe não lhe deu muita atenção
por ainda estar ocupada. Foi o suficiente para o moleque abrir o berreiro.
— Eu sou enfezadinho, mamãe — Bella falou baixo com voz de bebê.
— Sou igual ao papai. Quero tudo na hora ou explodo em fúria.
— Ei! Eu não sou assim…
— Essa expressão impassível é da minha família, o pacote de raiva é
todo da sua. — Ela riu e beijou meus lábios. Félix resmungou, com sono, os
olhos azuis lindos como os de sua mãe. — Ele vai dormir e vou me arrumar.
Estou animada na minha primeira noite fora de casa desde que fiquei
grávida.
— Vai dançar muito?
— É aniversário do meu marido, o que acha? Eu vou rebolar bastante
essa noite… — Arqueou a sobrancelha, com um sorrisinho safado. Beijei
sua boca novamente, provocando um pouco. Sexo ficou ainda melhor depois
do resguardo, porque bem, não foi uma aventura completamente divertida
durante a gravidez. Se continuássemos nesse ritmo, Félix seria premiado
com o título de irmão mais velho muito em breve.
Bella não queria esperar muito tempo para engravidar de novo. Achava
melhor ter todos os bebês de uma vez só e permitir que eles crescessem
juntos. Para mim, estava ótimo. Já não dormia muito antes, porém, era
melhor enlouquecer de uma vez só com todos os choros e trocas de fraldas
noturnas. Um bebê era a demanda mais louca de toda minha vida. Félix era
lindo, minha vida mudou desde a primeira vez em que o segurei, foi para
melhor.
Eu fui honrado com um herdeiro.
Bella me entregou a criança quase adormecida. Terminei de fazê-lo
dormir quase uma hora depois, deitei em seu berço, conferi o sensor da
janela e encostei a porta, entregando a babá eletrônica para Cássio. Ele
ficaria em casa com Nanci para que Bella e eu pudéssemos festejar naquela
noite. Fazia tempo que minha esposa não saía.
Ela se recuperou bem do parto e o humor voltou a quase normal depois
do resguardo. Nas primeiras semanas, tínhamos um misto dela chorando
pelos seios doloridos e o bebê não querendo soltar a boca dos mamilos,
mesmo com sangue. Houve um pouco de surto generalizado. Eu estava
acostumado a viver no caos, não me importei nem um pouco que uma coisa
de três quilos e banguela deixou a casa de cabeça para baixo.
Quando pudemos ter mais tempo a dois e ela voltou a treinar, Bella
melhorou muito. Ter seu momento sozinha também passou a ser muito
importante.
Voltei para o quarto e a vi no closet.
Minha paz chegou ao fim.
Isabella estava com um curto vestido vermelho, botas de cano alto e os
seios exuberantes duas vezes maiores devido à amamentação, presos em um
decote de me fazer babar. Ela soltou o cabelo, distraída consigo mesma e
não me percebeu analisando-a. Fui tomar banho na tentativa de esfriar minha
cabeça para não surtar com aquela roupa.
Enquanto se maquiava, cantarolou uma música, tirou leite e depois
ajeitou o vestido. Peguei uma coisa especial na gaveta e enfiei no bolso.
— Não está faltando nada nesse look? — Parei atrás dela. De saltos,
sua bunda estava em uma altura perfeita, me enchendo de fantasias.
— Não gostou?
— Está gostosa — constatei, segurando seu quadril e me pressionando
em sua bunda. — Esse tecido não é longo o suficiente para cobrir sua
boceta. — Levei a mão para frente e passei o indicador no tecido. Ela riu e
afastou um pouco as pernas. — Você quer isso antes de sairmos?
— Não quero sair bagunçada. — Bella riu e empurrei sua calcinha
para o lado, traçando um caminho lento por suas dobras. Pressionei sua
entrada, movendo as costas do meu dedão contra o clitóris. Gemendo
baixinho, ergueu o braço, arranhando minha nuca e procurou minha boca.
Chupei sua língua, provocando-a intensamente, sentindo a umidade crescer.
— Ficando molhada, minha gostosa?
— Maluquinha por você.
— Está mudando de ideia sobre sair bagunçada?
— Não. — Ela riu contra a minha boca. — Me faça gozar e me leve
para a rua. — Rebolou e sentiu o quanto meu pau estava duro. Provocadora.
Abri a calça, tocando a mim mesmo e aninhei meu pau entre suas nádegas.
Bella inclinou-se para frente, dando a resposta que eu precisava para meter.
— Ai, porra! Que gostoso!
— Me dê uma de suas mãos, minha senhora safada. — Bati contra sua
bunda.
Bella obedeceu e prendi a algema.
— Danilo! Me solta! — gemeu, batendo a testa contra o espelho.
Empurrei tudo e parei, deixando-a apertando em desespero por mais. —
Porra, continue me fodendo! Ai, meu Deus!
— Goze no meu pau, bebê.
Bella me olhou pelo espelho, a boca em um formato perfeito, deixando
escapar os gemidos mais lindos. Gozamos juntos, a descarga de prazer foi
forte. Assisti minha porra escorrendo com um sorrisinho enquanto minha
esposa recuperava o fôlego e tentava se soltar.
— Se vai usar essa porcaria com a bunda quase aparecendo, vai ficar
presa. — Beijei seu ombro. — Até que não ficou tão bagunçada.
— Eu vou me vingar — avisou com um sorrisinho. — Vamos ao
banheiro. Nada que fizer vai impedir a mamãe aqui de rebolar na pista de
dança.
— Reserve todas as danças para mim. — Abracei-a por trás. Bella
sorriu, com o olhar apaixonado que causava reações estrondosas dentro do
meu peito. — Você é tão linda, bebê. Te amo pra caralho.
— Tudo em mim sempre será seu.
Uma hora depois, saímos algemados. Ela reclamou um pouco, tentando
achar as chaves nos bolsos da minha calça, beijando meu pescoço para
distrair e quase começamos uma nova rodada, porque o que fazia era
excitante demais. Cada oportunidade para transar depois de ter um filho era
incrível e bem-vinda. Félix ocupava o tempo de todo mundo com um
sorrisinho no rosto.
Bella dançou o quanto conseguiu, esfregando a bunda em mim e
rebolando como queria. Ainda ganhei uma rebolada especial de aniversário
no escritório. A festa duraria a noite inteira, meus homens estavam dispostos
a festejar e eu entendia o lado deles. Os últimos meses foram intensos com a
proteção do nosso território. No entanto, fui embora no meio da madrugada e
fiz um show para me despedir, propositalmente.
— Você viu o cara disfarçado entre um grupo de convidados do lado
leste? — Bella questionou no carro, acariciando o pulso um pouco marcado
pela algema.
— Vou te deixar em casa e sairei novamente. Terei o tipo de festinha
que um homem como eu adora em seu aniversário.
— Esteja em casa para o café. Nanci fará bolo e eu quero fotos suas
com Félix antes de assoprar as velas.
— Estarei, bebê — prometi, segurando seu queixo e beijando seus
lábios. — Te amo.
Bella entrou e avisou a Cássio. Ele saiu o mais rápido que pôde,
entregando minhas coisas e voltou. Mariano saiu da Villa em alta velocidade
e parou estrategicamente onde deixei um soldado observando o homem da
lei disfarçado. Ele não era da polícia local, apostava em algo como o FBI de
operações internacionais ou sendo usado pela Interpol. Os agentes secretos
costumavam ser mais discretos.
— Ele percebeu sua saída e está fazendo perguntas pelo bar. —
Mariano leu a mensagem em seu telefone.
— Vamos pegá-lo. Tem que ser até o amanhecer.
Mariano nos colocou em um beco escuro, aguardando. Quando ele
passou em direção ao carro, observei meu cunhado sair e agir nas sombras
da melhor maneira possível. Silencioso, pegou o homem de surpresa. Teve
um pouco de luta, não o suficiente para me intrometer. Ao colocar no porta-
malas, o carro sacudiu um pouco e fomos para um dos nossos lugares
favoritos de conversa.
— Você quer uma conversa rápida ou longa? — Mariano o jogou na
cadeira, amarrou cuidadosamente e riu. — Esse não vai acordar tão cedo.
— Chame os outros para vigiarem e começarem uma conversa.
— Quando começar a diversão, te ligo. Feliz aniversário. — Mariano
pegou o kit médico, também muito útil para torturas. — Guardem bolo para
mim.
Dei um aceno e ri, saindo da antiga casa. Do lado de fora, alguns dos
soldados riam e fumavam, por ser uma rua comum das nossas atividades.
Eles avisaram que logo entrariam, então segui para casa sozinho e justamente
por isso, andei do jeito que queria. Levantando poeira e fazendo muito
barulho nas ruas de pedra até a Villa. Entrei e ativei os alarmes, subindo
rapidamente para meu quarto.
Bella ainda estava acordada.
— Uau. Isso foi rápido.
— Essas palavras na boca da minha esposa nunca são uma boa coisa.
— Inclinei-me para beijar seus lábios.
— Pode ficar tranquilo. Ainda está se garantindo no sexo. — Esfregou
o nariz no meu. — O que houve?
— Seu irmão bateu forte demais e como quero conversar bastante antes
de matar, preciso que o convidado acorde sozinho. — Tirei os sapatos. —
Vou ficar igualmente cheiroso. Usou meu sabonete de novo?
— Esqueci de pegar o meu e quis tomar um banho silencioso. Félix
mamou e dormiu, ainda assim, fiquei preocupada que ele acordasse.
— Farei todo silêncio do mundo.
Não tinha intenção de ter um bebê a noite toda acordado. Ele ficava
insuportável na manhã seguinte. Eu não me importava tanto com datas
comemorativas. Aniversários eram dias comuns, mas desde que Bella
engravidou, começamos a pensar um pouco diferente. Acordei cedo para ter
meu bolo, velas e fotos com meu filho no colo.
Félix era difícil de rir como a mãe e somente ela, sua pessoa favorita,
assim como sua fonte de alimentação, conseguia arrancar sorrisos
facilmente. Eu precisava virar de cabeça para baixo e fazer dancinhas para
que ele esboçasse uma expressão divertida.
— Você quer um pedaço do bolo?
— Não dê doces a ele. — Bella passou por mim com a câmera. —
Vem aqui, meu bebezinho. — Segurou Félix e sentou no meu colo. Ter minha
família em meus braços era o verdadeiro presente de aniversário. Nosso
filho fez um pouco de charme, querendo o peito.
Mariano me ligou ao invés de mandar mensagens, como de costume.
— O que foi?
— Ele acordou e não era quem pensávamos.
— E quem diabos é, porra?
— Pierce Jankovic, segundo a identidade que achei escondida em
suas coisas. Apertei um pouco e descobri onde está ficando na cidade, vim
pessoalmente fazer a varredura. Foi enviado para reconhecimento do local
e segundo o aparelho que encontrei aqui, já entregou tudo. Jankovic vai
nos atacar dentro do território. Isso… se já não estiver com mais
disfarçados por aqui — Mariano falou rápido, como se estivesse em alerta.
— Não estou sozinho.
Antes de encerrar a ligação, eu ouvi um disparo.
37 | Bella.
Ouvi o som seco do disparo antes da ligação cair. Danilo me deu um
rápido olhar e por instinto, abracei Félix um pouco mais e o apertei, saindo
do colo do meu marido. Ele saltou, pronto para correr e ao mesmo tempo,
tomado pelo senso de proteção paternal em colocar nosso filho como
prioridade.
— Vai, vamos ficar bem — falei com convicção. — Confie em mim.
Danilo beijou a cabeça do nosso menino.
— Vá para o sótão… só saia de lá se for inevitável.
— Irei proteger a casa. Pode ir e traga nossos irmãos de volta. —
Segurei sua nuca e o beijei.
Nanci saiu da cozinha sem saber de toda a agitação e não pestanejou
quando disse que precisava que subisse com Félix. Eu iria encontrá-la em
breve. Danilo saiu às pressas, gritando por seus homens e para meu
completo horror, pude ouvir os sons de disparo ecoando pelo vento. Era tão
incomum, mesmo sendo em um território dominado por nós, que precisei
sinalizar para que as crianças entrassem em suas casas.
Chamei pelas senhoras com ajuda dos soldados que ficaram na Villa.
Agarrei um pequeno cachorro e o empurrei para o interior de uma casa que
eu nem tinha certeza se ele era dali. Morava uma prima do Danilo com o
marido e três filhos. Ela me deu um olhar assustado antes de recuar com as
crianças para o quarto dos fundos.
— Você precisa entrar! — Ricardo, um dos guardas mais próximos da
Villa, me agarrou.
Não discuti e corri para casa, mas derrapei ao olhar para a grande
janela dos fundos, que dava para a piscina. No mar, havia barcos se
aproximando. Eles planejavam invadir a nossa casa a todo custo e estavam
se aproximando com disposição, nos encurralando. Subi as escadas de dois
em dois degraus, indo até o armário de armas e muni uma semi automática,
acoplando o supressor. Olhei para o teto, onde meu filho estava no quarto do
pânico com a mulher que eu amava como minha mãe.
— Não vai dar tempo de subir sem que eles encontrem o bebê. —
Ricardo parou ao meu lado.
— Se esconda. Ligue para Danilo. Eles não vão me matar agora, não
antes de torturar meu marido. Eu vou me deixar ser pega para que não
cheguem perto do meu bebê e me prometa com a sua vida que jamais dirá
onde ele está. — Agarrei-o pelo colarinho.
— Nunca irão encontrá-lo — Ricardo prometeu.
— Vá. Agora. Fique à espreita, quando eu sinalizar, atire para matar o
que estiver me mantendo como refém — ordenei. Ele subiu correndo e se
pendurou no teto, deitando em uma das vigas. Danilo manteve todas as
evidências no pé direito da casa justamente por serem pontos de ataque
dentro de casa.
Fiquei escondida no primeiro pavimento. Os alarmes soaram baixo e
pude ouvi-los entrar, passando pela cozinha. Da minha posição, consegui
atirar na testa de quatro antes que o quinto me percebesse e começasse a
correr atrás de mim. Derrubei alguns móveis, criando obstáculos e usei uma
das colunas para impulsionar e me jogar nele, que caiu desprevenido, sem
esperar meu ataque. Finalizei com um mata-leão até senti-lo completamente
apagado, então atirei e corri.
Virei no corredor e me deparei com um rosto quase conhecido.
— Olá, Nikolai. — Dei a ele um sorriso sexy. — Não resistiu e veio
morrer de joelhos na minha frente?
— Bem que me disseram que a arrogância das italianas era difícil de
suportar — ele retrucou, com um sotaque forte misturado ao inglês. — Não
vim aqui para morrer. Seu marido matou meus homens e me expulsou do meu
território. Ele vai pagar com muita dor.
Arqueei a sobrancelha.
— Está falando do homem errado, Jankovic. No final deste dia, será o
único implorando por misericórdia.
— Tola.
Fui jogada no chão pelos cabelos e reagi, mas o homem que me
segurava era grande e provavelmente, ciente que eu não era o tipo de mulher
que deveria deixar as mãos soltas. Continuei me debatendo até conseguir
levá-los ao centro da sala e pela minha visão periférica, vi uma
movimentação do lado de fora, só não podia confiar se era fogo amigo.
Danilo passou pela porta sozinho. Ele exalava fúria. Seu olhar
demoníaco sempre causou arrepios na minha espinha, nunca me preocupei,
porque jamais me machucaria, mas aquela foi a primeira vez em que sorri ao
vê-lo daquela forma. Ele me encarou e seu olhar ficou brevemente divertido.
— Acho que temos visitas, amor. Por que não me avisou que teríamos
companhia para o jantar? — Ele deu um passo à frente, mesmo com várias
armas apontadas em sua direção. — Olá, Nikolai. Creio que já esteja
familiarizado com minha casa.
Dei uma mordida na mão do imbecil que me segurava.
— Eles destruíram o meu sofá, acredita? Tanta hospitalidade para
nada! — debochei um pouco para atrair atenção de Danilo e olhei
rapidamente para cima.
— Já chega! — Nikolai rugiu. — Desarme-o e coloque-o de joelhos.
Nikolai sabia que reforços poderiam chegar a qualquer momento e ele
não estaria mais na vantagem. Se Danilo retornou à Villa, foi porque abriu o
caminho para chegar até ali, e com certeza não foi pedindo licença
educadamente. Ele deveria saber que os Venturinni só buscavam uma
conversa quando mantinham um interesse, no mais…
Eu tossi e foi o alerta que Ricardo precisava. A cabeça do homem que
me segurava explodiu com um tiro, fazendo voar sangue por toda minha
blusa. Danilo avançou atirando, me puxando para trás de seu corpo. Puxei a
pistola de sua cintura, dando cobertura o suficiente para que Cássio e
Mariano invadissem pela janela. Foram poucos minutos de caos, o barulho
ensurdecedor cessou com o último suspiro dos nossos inimigos.
Nikolai ainda estava vivo, caído e gorgolejando. Um vibrar de telefone
quebrou o silêncio.
— Os reforços da Sicília acabaram de chegar. Giovanni está fazendo a
varredura com seus homens. — Cássio leu a mensagem. — Estamos com o
controle total novamente.
— Façam uma limpeza minuciosa. Ao anoitecer, quero a cidade como
amanheceu — Danilo ordenou. Ricardo desceu do teto. — Vasculhem tudo.
Quero ter certeza de que estamos sozinhos.
Saí de trás do meu marido e parei ao lado de Nikolai. Ele invadiu a
minha casa e colocou a vida do meu filho em risco. Sua descendência não
precisaria se preocupar com Danilo, apenas comigo.
— Por duas vezes, sua família achou que podia machucar a minha.
Imagino que seus filhos não devam estar aqui… quero que a última coisa na
sua mente seja a minha promessa de que não importa o tempo que leve, irei
encontrá-los e os matarei. — Apertei seu pescoço, alimentada pelo
desespero em seu olhar. Meu bebê poderia ter morrido. Eu podia ter partido
sem vê-lo crescer. Não me importava com mais nada, apenas com o ódio de
tudo que poderia ter acontecido. — Sabe por que nós italianos sobrevivemos
a tantas guerras e continuamos ricos? Temos honra. E essa graça vem com o
poder. Algo que você tentou ter e nunca conseguiu. Eu te avisei que seria o
único com dor hoje e ela só está começando.
Danilo tocou meu ombro e levantei. Ricardo arrastou nosso convidado
para fora e fiquei sozinha com meu marido. Ele tocou meu rosto com as
costas das mãos e encostou a testa na minha, beijando meus lábios
suavemente.
— Vá se limpar e prepare as coisas. Você e Félix ficarão fora enquanto
limpam tudo — falou baixo e assenti, com um nó na garganta inesperado,
querendo chorar. — Não derrame nenhuma lágrima enquanto eu não possa
estar ao seu lado para te abraçar. Faça o que te pedi agora. Preciso ficar em
paz com meu filho em segurança.
Balancei a cabeça e subi correndo. Parte do segundo andar e todo o
terceiro estavam intactos. Tomei banho para lavar o sangue, abri uma mala
que já ficava com algumas coisas necessárias e preenchi com o restante.
Separei a bolsa de Félix e abri a entrada para o sótão, subindo a escada e
abrindo a porta.
Nanci sorriu aliviada ao me ver.
— Ele dormiu o tempo todo e não ouvimos muita coisa. — Ela ficou de
pé e entregou meu menino. Senti que meus lábios tremeram, mas sufoquei.
Félix estava bem, a salvo e ainda permaneceria dessa maneira.
— Temos que sair. Vamos pegar suas coisas…
— Eu tenho roupas lá.
Nanci vivia há tanto tempo com Danilo que já sabia para onde iríamos
e não fez perguntas. Preocupada com meu estado de palidez, ela me envolveu
com uma manta. Junto a Mariano, cuidou de tudo, porque só conseguia olhar
para o meu bebê.
— Você está ferida, irmã? — Mariano me olhou pelo retrovisor, já no
carro.
— Não. Dolorida, mas ficarei bem.
Ele ainda me olhou mais uma vez para ter certeza e arrancou com o
veículo. Félix dormia na cadeirinha, sem se preocupar com a direção
defensiva do tio pelas ruas manchadas de sangue, nos levando para o mais
longe possível para mantê-lo em segurança. Danilo me enviou mensagens a
cada dois minutos. Havia muito a ser feito para tranquilizar a todos e
controlar os danos. Não era a primeira vez em um ataque e considerando o
último, saímos ilesos e vitoriosos.
Minha casa estava destruída por dentro, porém, novos móveis e uma
lavagem resolveriam o problema de imediato. A longo prazo, nunca
esqueceríamos do ousado inimigo que achou que podia nos derrotar em
nosso próprio lar e que seria um recado para o mundo do quanto éramos
fracos, ao invés disso, ele acabou anunciando que não éramos nada fáceis de
derrubar.
38 | Bella.
A família materna de Danilo possuía uma Villa de casas agradáveis
em Siderna, uma comuna praiana. Como herdeiro mais velho, fazia parte do
espólio que dividia com Cássio. A casa principal era adorável, linda por
dentro e por fora, equipada para muito conforto e também de frente para o
mar. O casal de senhores que cuidava de tudo nos recebeu muito bem. Nanci
conhecia a mulher e elas se reuniram para preparar uma deliciosa refeição,
arrumar o quarto e me deixar confortável com Félix.
— Papai quer falar com você. — Mariano se aproximou com o
telefone. — Por vídeo. Ele não acredita na minha palavra que está bem.
— É porque ele sabe que você vai mentir se eu pedir. — Segurei sua
mão e beijei. — Obrigada por tudo, irmão.
— Sempre com você. — Ele beijou minha testa e saiu.
Papai atendeu a chamada com um olhar clínico. Pediu para que eu
mostrasse Félix que, acordado no carrinho, estava sério, olhando para as
mãos com uma bolinha de cuspe formando nos lábios molhados de baba. Ele
me deu um olhar de cenho franzido e quando sorri, abriu as banguelas
gostosas que eu era apaixonada, se derretendo.
— Diga oi para o vovô, amor da minha vida.
— Esse bambino é apaixonado por você, Isabella. É assim que tem
que ser. — Papai soou calmo e, em seguida, pediu para ver minhas costelas.
— Estou sem hematomas e contusões, estou bem. De verdade, pai.
Apesar do susto e de toda raiva, estou bem e a salvo com meu filho —
garanti e ele assentiu. — Também te amo, pai.
Papai sorriu e encerrou a chamada. Depois, foi a vez de Assis. Ele
estaria saindo de Vegas nas últimas horas e encontraria com Danilo na
Calábria. Eu ficaria na casa de praia sem previsão de retorno e estava tudo
bem. Mariano avisou que sairia para comprar algumas coisas que Nanci
pediu. Observei pela janela, percebendo que os guardas não levaram dois
segundos para fechar os portões novamente e retornarem para suas posições
de guarda.
Félix mamou e dormiu depois de ter a fralda trocada. Daria um banho
nele mais tarde, coloquei no berço portátil e liguei a babá eletrônica, saindo
do quarto. Andei pela casa para poder conhecer melhor. Abri todas as portas
dos armários, espiei conteúdos de gavetas e encontrei um álbum de família
bem grande na biblioteca. Achei bonitinho que Danilo tinha um porte físico
parecido com o do avô materno, mas em sua maior parte, era a xerox do pai.
Analisei as irmãs da minha falecida sogra, todas parecidas, altas,
loiras, bonitas e com narizes proeminentes. Folheei quase todas as fotos
quando uma pequena, amassada, caiu. Peguei e abri, percebendo ser o pai do
Danilo, com a mãe dele nos braços, Régia, a viúva que poucos conseguiam
contar a história e o melhor amigo, que foi morto por traição também. Os
quatro eram amigos e pareciam próximos.
Continuei com as fotos até que a sra. Maresa entrou, segurando uma
bandeja com queijo, suco de laranja e torradas.
— Nanci disse que precisa se alimentar muito bem para amamentar.
Trarei a água em seguida — ela explicou e sorriu ao perceber as fotos. —
Conheceu a família do mestre?
— Não. Eu só conheci o pai de Danilo quando era nova e nunca fui
próxima. Sabe quem são?
— Essa é minha sobrinha, Régia. Ela cresceu nessa casa e foi aqui que
conheceu o marido, João, de descendência portuguesa também. Veio morar
com os donos da casa por ser filho de amigos íntimos. As meninas adoraram
a novidade, foi disputado por quase todas as irmãs. — Ela sorriu
tristemente. — Imagino que saiba do futuro deles.
— Sei que ele foi morto pelo meu sogro por traição. É verdade?
— Não posso provar. Nem mesmo minha sobrinha poderia, ela não
acredita até hoje, brigou com todos e se afastou. Vive no luto da melhor
amiga e do marido…
— E as irmãs da minha sogra? Elas…
— Apenas Edna está viva e ela diz ter certeza. Ah, Bella. Essas
famílias eram tomadas por inveja e competição. As irmãs ficaram furiosas
que a caçula foi escolhida para ser esposa do mestre, ele era um homem
lindo e dominava tudo, todas queriam ser dele. — Maresa pegou a foto. — E
ainda competiam pela afeição que Régia conseguiu de João. As duas se
tornaram inimigas das mais velhas. Foi difícil. Muita fofoca com a intenção
de destruir. Vidas foram levadas e ninguém sabe da verdade.
— O que você acha?
— Nanci e eu compartilhamos do mesmo sentimento. João jamais
trairia o melhor amigo, ele também amava a esposa. Era gentil e amoroso,
até mesmo com a senhora desta família, por afeição e não por interesse. Eu
acho que o mestre foi envenenado e usado na própria fraqueza: o ciúme
doentio da esposa e o orgulho ferido por ter sido traído. — Maresa me
devolveu a foto e disse que ia buscar minha água.
As histórias batiam em parte, havia carinho demais em ambas as
partes, o suficiente para que supostas inverdades se tornassem verdades. Eu
nunca iria descobrir se a mãe de Danilo realmente traiu o pai. Seria uma
incógnita que assombraria todas as próximas gerações dos Venturinni. Tudo
que me restava era criar Félix para ser um homem forte, que não se deixasse
dominar pelo veneno e principalmente, no futuro, amasse a esposa
incondicionalmente.
Guardei tudo e comi meu lanche, olhando o mar e decidindo por não
atormentar mais ninguém com a minha curiosidade sobre o passado.
Sem sono, fui obrigada a deitar para descansar ou não aguentaria a
madrugada. Mariano voltou e ficou o tempo todo atento ao que acontecia na
Calábria. Entre cochilos, ficava vigiando-o. Ele franziu o cenho ao ler uma
mensagem e guardou o telefone, soltando um suspiro cansado.
— O que foi?
— Danilo provavelmente te contará com detalhes, mas parece que o tio
Tomás pode estar envolvido. Cássio está me contando o que pode, porém,
ele não tem tempo de ficar me atualizando. — Mariano olhou para o alto. —
É fodida a sensação de termos sido traídos por um dos nossos.
Não parecia ter sido a primeira vez.
— Ele sempre me pareceu o irmão que não teve atenção por não ser o
herdeiro e por desejar ter mais do que é devido. — Dei de ombros. — Se
for verdade, o que torço que seja, não sentirei falta. Será que a sentença
poderá ser dada para a esposa nojenta, também?
— Sabe que, se ela sabia e não abriu a boca, não fará a mínima
diferença. Até parece que não conhece o seu marido, ele tem uma tolerância
do tamanho de uma uva normalmente, imagina sobre traidores na própria
família.
Hum… seria uma excelente oportunidade de obter respostas sobre o
passado. Mordi o lábio pensando na minha promessa de não mexer mais
com aquilo, porém, o destino parecia estar enviando a oportunidade de
respostas que precisava.
— Não vou pedir para Danilo perguntar sobre a mãe dele. — Mariano
ergueu a mão.
— Eu não falei nada! — Foi minha vez de erguer as mãos.
— Mas pensou. Está obcecada com isso e eu ouvi as mulheres na
cozinha, com aquela voz de pesar, falando do quão injusto foi a chacina. —
Revirou os olhos e bufei. — Considerando a nossa própria mãe, por que é
tão difícil para você aceitar que uma mulher traiu o marido? Não é porque
você é fiel, apaixonada e pelo que parece, tem um bom marido, que todas as
mulheres têm a mesma sorte. O antigo chefe era uma peste ruim, fui iniciado
por ele, sei do que estou falando. Não ruim como Danilo, que é chefe, pai,
marido e um cunhado. Ele era ruim em todas as áreas da vida.
— Acho que sinto revolta dela ter sido morta por trair o marido
enquanto vários homens sequer são punidos por traírem as esposas. Me
incomoda que Edna e Tomás lucraram com isso. É angústia sobre como
perdemos nossos direitos com um casamento. — Sentei na cama e meu irmão
se inclinou na minha direção.
— Você soube como subjugar o medo e impor respeito como esposa.
Quanto a Tomás e Edna… eles vão pagar por tudo que fizeram. — Apertou
meu queixo e piscou.
Mariano foi para a cozinha fazer um lanchinho e me deitei novamente,
com Félix mamando. Danilo não viria me buscar enquanto não achasse
seguro. Ele não queria desviar do foco e eu entendia e respeitava, sua
prioridade era a família e isso incluía voltar a deixar a Calábria um lugar
seguro, como sempre foi antes da invasão. Era por tudo, mas principalmente
por Félix. Esse território seria do nosso filho no futuro.
— Você, meu homenzinho, será treinado para ser chefe um dia. Mamãe
vai te ensinar tudo sobre como ser um homem bom para quem importa e o
papai, vai te provar duramente para ser um líder honrado como ele. —
Passei meu dedo por seu narizinho. — Terá um mundo inteiro nas suas mãos,
muitas vidas, farei o meu melhor para que quando ouvirem seu nome, sintam
o seu poder.
Havia uma parte que temia que Félix se machucasse, mas a maior, era
sobre ele ser um homem que tinha a combinação de duas famílias fortes no
sangue. Ele era um Venturinni. Andaria pelas ruas da Calábria de cabeça
erguida, jamais precisaria se esconder e teria muito orgulho de sua origem.
Desejava que o destino reservasse uma mulher igualmente forte, para que
juntos, dessem sequência no império que seu pai e eu estávamos
comandando.
39 | Danilo.
Sentei na escada da minha casa, observando a nova pintura, parecia
tudo novo. Alguns móveis ainda estavam no plástico e outros cobertos.
Assim como a propriedade principal, a cidade estava se restabelecendo
depois do ataque. Ruas sendo lavadas, casas revistadas e estabelecimentos
de volta às suas rotinas normais.
Manter o caos fora da mídia internacional foi fácil, bastou molhar as
mãos certas e controlar a boca — e os dedos, dos jornalistas locais.
Ouvi um barulho na escada do porão e olhei. Cássio estava limpando
sua faca e me deu um olhar cansado. Não dormimos muito ou comemos.
— Os dois não irão aguentar muito tempo. — Ele sentou-se ao meu
lado. — Foi estranho para você finalmente saber a verdade?
— Eu não faço a porra da ideia do motivo pelo qual perguntei. —
Esfreguei a nuca.
— Talvez você quisesse saber ou apenas contar para Bella depois. Em
todo caso, é um bom encerramento. Eu odiava os dois. Não quero dar à tia
Edna um enterro tradicional, ela armou a morte da própria irmã e mentiu a
vida toda. Tomás nos traiu, dando entrada aos homens de Nikolai.
— Você quer matá-lo?
— Sim.
— Certifique-se de fazer bem feito. Não há mais nada que ele possa
dizer que me interesse.
Com um aceno, ele saiu e desceu a escada novamente. Continuei no
lugar, peguei meu telefone e abri a última foto do meu filho, sorrindo no colo
da mãe. Bella tirou contra o espelho, eles estavam nus e molhados, mas não
dava para ver muito. Félix amava tomar banho no chuveiro. Estava com
saudades de ficar com ele na banheira, passando as páginas do seu livro de
borracha, tentando fazê-lo entender histórias que, em sua maior parte, eram
bobas e estúpidas, mas ele parecia gostar das cores.
Ainda com o aparelho na mão, senti ele vibrar. Era Rocco.
— Dois fugiram, não há sinal. A esposa se matou antes da minha
chegada, provavelmente sabia que não haveria perdão. Os mais velhos
estão comigo.
— Mande o resultado final. Quero que ele veja antes de partir.
Encerrando a chamada, fiz uma rápida ligação com os outros chefes.
Lorenzo Rafaelli[10] estava morto. Damon e Enzo queriam me encontrar
pessoalmente para contar uma novidade, mas entenderam que eu estava
ocupado demais para fazer uma visita fúnebre e ansiava por notícias da
morte do velho, o avô deles
Ele dizimou muitas famílias da Calábria quando meu pai ainda era
chefe, na tentativa nada honrosa de tomar o território. Eu era pequeno e vi o
caos. Fui protegido porque meu pai não queria que nada acontecesse com os
filhos, que acreditava serem seus únicos herdeiros.
A morte de nenhum patriarca foi lamentada por filhos e netos. O tempo
deles estava no fim, já que começamos uma nova maneira de comandar. Eles
não entendiam porque nunca foram à frente… e era tarde demais para
explicar.
Minha energia estava pesada e eu não queria estar perto da minha
mulher. Ela podia lidar comigo em qualquer estágio. Se existia alguém capaz
de domar meu monstro, era minha esposa, no entanto, eu havia matado tantos
homens nos últimos dias que mesmo sem o arrependimento, não queria
manchar sua iluminada e forte presença com meu caos. Eu tinha uma coisa
para terminar antes de correr para os braços dela.
Por uma semana, estive pelo território. Minhas famílias sabiam que
podiam confiar em mim. Eles eram leais e devotados à minha existência
porque dava a eles o melhor, a vida que mereciam, não apenas medo e o
alerta do que era capaz de fazer.
Bella enviou uma mensagem de voz e eu quase não ouvi, mas decidi
apertar o play. Ela gravou Félix soltando novos sons de resmungo. Um bebê
bravo como a mãe, quando explodia era parecido comigo, mas o humor frio
e um tanto ranzinza era todo dela. O garoto não teria paciência se
continuasse nesse ritmo e havia acabado de nascer. Sorri e outra mensagem
entrou, coincidência ou não, era a resposta sobre os filhos de Nikolai.
Eu não mexi com a família dele, nem com a esposa, até saber que ele
provocou a minha. Seus homens sabiam onde estavam se metendo, morreram
por causa dos ossos do ofício. Mas ele quis me fazer sentir dor, então, antes
de morrer, era ele quem sentiria. Desci as escadas e cumprimentei o médico
no porão. Nikolai não estava resistindo mais. A tortura era a parte mais
divertida da morte. Ou você luta ou se entrega. Ele lutou, se agarrando ao fio
de esperança de que iriam buscá-lo.
Fiz com que acreditasse que estávamos em perigo ainda, que perdi
alguns dos meus homens, que eles dominaram parte do meu território e
poderiam chegar a qualquer momento. Foi muito bom brincar com sua mente,
vê-lo lutar contra as emoções sendo um homem velho, experiente e
endurecido pela vida.
— Eis aqui, o melhor sabor das nossas conversas. — Mostrei a tela do
meu telefone. Ele tossiu. — Você mexeu com a família errada. Vá em paz
para o inferno.
Inimigos eram inimigos.
Não havia meio-termo, nem mesmo um ponto e vírgula.
Eles pagavam pelos atos com as vidas. Tudo era devolvido na
intensidade que atacavam. Aquela guerra era sobre Vegas, deveria ter
acontecido em Vegas e não ali, no meu lar, ferindo a proteção da minha
família. Se eles não sabiam como jogar, mostrei como jogava quando
ignoravam os limites da honra.
Assis se aproximou e confirmou a morte.
— Está terminado aqui. Limpe a bagunça e se prepare para sairmos —
avisei e saí, sem necessidade de fazer o serviço final.
Esperei anoitecer para sairmos. Assis era meticuloso, ele cuidou de
tudo nos mínimos detalhes e acompanhou de perto a lavagem do porão. Nos
próximos dias, cuidariam para que minha casa voltasse a ser um lar de
família e eu pudesse voltar com minha esposa e meu filho. Dirigindo até a
cidade natal da minha mãe, parei na entrada e pensei sobre a confissão de
minha tia antes de partir.
Minha mãe morreu por ter sido escolhida pelo meu pai, por ganhar a
atenção do seu melhor amigo e ter a amizade de Régia. Ela era odiada por
ser querida. Mesmo ciente que meus pais não se amavam, mas tinham o
desejo mútuo de ter uma família numerosa, eles usaram a possessão contra a
inocência da minha mãe, que queria uma única coisa: viver com os filhos.
Ainda não sabia se houve ou não traição. Ninguém sabia e me restou a
dúvida eterna. No entanto, pela primeira vez desde que a vi morrer e tirei
Cássio dos seus braços, eu não acreditava completamente que existiu um
caso. Pela primeira vez, entendi o quanto minha esposa odiava a história e se
sentia sufocada com a injustiça.
Finalmente compreendi a necessidade de Isabella em não ser
subjugada.
Entrei em casa e estava um silêncio. Mariano via televisão no mudo.
Assis foi imediatamente até ele, sentando-se ao lado, na maneira esquisita
que eles tinham de se conectar. Nanci estava na cozinha, ela sorriu e segurou
meu rosto, dando beijos barulhentos e me abraçou. Permiti porque ela… era
o alicerce. A força que nos mantinha em pé, limpos, alimentados e amados.
— Cássio está bem?
— Eu sempre soube que ele era o seu favorito — brinquei de volta.
— Não fale besteira, menino. — Apertou minha bochecha.
Cássio entrou e ela me deixou. Subi a escada e ouvi Bella cantarolar
no quarto do bebê. Estava sujo demais para sequer ficar perto deles, então
entrei no chuveiro, me lavando com precisão e rapidez. Escovei os dentes,
decidindo que a barba ficaria para outro momento.
— Amor? — Bella chamou baixinho. Apareci no quarto e seu olhar
brilhava. — Ah, você está em casa! Por que não me avisou?
— Era uma surpresa. — Fiquei parado, só absorvendo sua beleza. —
Senti sua falta.
— Eu também senti, a cada maldito segundo. — Ela sorriu e mordeu o
lábio. — O que foi?
— Ele dormiu?
— Sim e sei que está com saudades, mas não o acorde. — Fez uma
pequena careta e eu ri. Teria tempo para matar a saudade do meu filho.
Naquele momento, precisava de uma única coisa: me conectar com ela.
— Eu vou ficar com ele depois. — Dei um passo à frente e puxei a
faixa do roupão de cetim que usava, por baixo, avistei um pijama curtinho.
— Agora, eu quero você tão desesperadamente que mal consigo pensar.
Bella exalou, separando os lábios e em seguida, mordeu o inferior.
Segurei sua nuca, encostando minha testa na dela, nariz com nariz, a boca
ansiando tanto que chegava latejar.
— Minha esposa é foda pra caralho. Lutadora, corajosa e uma mãe
leoa. Eu vi as imagens internas… você protegeu nosso filho com tudo que
tinha. Porra, Bella. Eu morreria se te perdesse, morreria ainda mais se nós o
perdêssemos. — Tomei-a com um beijo desesperado, apertando sua bunda
de forma rude e chegamos a cair na cama. Ela riu e fungou ao mesmo tempo.
— Te amo incondicionalmente mais.
— Ah, Danilo! Você sabe que sempre farei de tudo para nos proteger.
Félix nunca precisará temer a sua vida enquanto eu existir. Sei que fará o
mesmo. Eu te amo. — Ela me deu um beijo. — Te amo muito. — Beijou
novamente. — Te amo, como você diz, pra caralho.
Eu sorri e não resisti em ficar longe, incapaz de parar de beijá-la. Ela
gemeu com o mover do meu quadril, buscando fricção para alimentar o
prazer que crescia lentamente, o desejo intenso que tínhamos um pelo outro
correndo por nossas veias. Lá fora, o mundo parecia fora de ordem e dentro
daquele quarto, havia finalmente a paz que eu precisava depois dos últimos
acontecimentos.
40 | Bella.
Danilo afastou um pouco o rosto e sorriu, olhando para minha boca,
que chegava a doer devido à pressão dos seus beijos. Meus mamilos
estavam duros contra o sutiã, ele nunca se importou com as mudanças da
amamentação, tanto que puxou minha blusa, querendo que tirasse. Ergui um
pouco o corpo e fiquei nua da cintura para cima. Ele sorriu, safado,
inclinando-se para beijar acima das minhas costelas, mordendo meu quadril
e subindo com beijos até meus seios.
Ele estava marcando meu colo com algumas mordidas e eu sabia que
ficaria um pouco de marca, mas não me importava muito. Eu era dele. Seus
chupões eram reflexos das noites insanas que compartilhávamos como
marido e mulher. Danilo engatou os dedos no meu short curto e puxou,
jogando-o por trás dos ombros. Afastei meus joelhos para dar-lhe a visão
completa de onde sentia muita saudade de seu toque.
Mordendo a parte interna da minha coxa, foi se aproximando da minha
virilha com beijos molhados, provocando minha pele sensível com a língua.
Agarrei seu cabelo, impaciente, querendo conduzi-lo para o lugar certo.
Rindo da minha pressa, mordeu minha outra coxa e com o indicador,
provocou meus grandes lábios.
Fiquei arrepiada, ergui o rosto e resmunguei. Ele me ignorou.
— Sem brincar com a esposa cheia de saudade!
— Não preciso correr. Estou em casa e com isso, estou bem. — Danilo
sorriu com um brilho maldoso no olhar, cheio de tesão e desceu a boca sobre
mim, me chupando delicadamente. Ah, sim… que delícia! — É tão lindo te
ver assim, minha rainha.
— Quero você — choraminguei, necessitada. — Quero seu pau.
— Você sempre terá tudo que quer — Danilo falou baixinho,
posicionando-se na minha entrada, metendo gostoso. Segurei seu braço,
arranhando um pouco. — Você me tem por completo — gemeu, me beijando.
— Você é meu. — Segurei sua nuca, fechando as pernas em sua cintura,
encontrando-o a cada estocada. — Oh, Danilo!
— Sou seu. — Ele mordeu meu pescoço. — Você é minha.
Sempre tive medo de pertencer tanto a Danilo que me perdesse
completamente. Eu tinha certeza que amá-lo iria me destruir. Nós dois
éramos uma combinação explosiva e incrivelmente perfeita. Duas peças
confusas que se encaixaram perfeitamente. A vida me surpreendeu com um
amor tão forte que ser dele era uma honra. Um orgulho. Ele era meu também
e me amava com a mesma força e intensidade.
Não havia o que temer.
Lágrimas escorreram dos meus olhos assim que gozei. Danilo me
beijou, passando os polegares nas minhas bochechas e gozou em seguida.
Ficamos abraçados, recuperando o fôlego e a vontade de estar junto. Seu
olhar estava mais suave, carinhoso. Todas as vezes que nos falamos por
vídeo, percebi que sua energia estava pesada demais para que fosse gentil e
ele controlava bem as palavras para não soar um completo estúpido.
Depois de um longo tempo juntos, levantamos, tomamos nosso clássico
banho cheio de putaria e terminamos conversando. Ele ficou com fome e
descemos. Nanci deixou comida pronta, esquentei e servi seu prato, atenta ao
monitor do bebê. Félix dormia até quatro horas seguidas, mas, às vezes, ele
acordava com fome e chorava.
Observei-o comer, sem falar nada, dando-lhe tempo para sentir-se
confortável em casa.
— Tenho muita coisa para te contar. — Danilo limpou a boca. — Acho
que vai ficar feliz em ouvir que pode estar certa sobre minha mãe.
— É mesmo? — Não consegui esconder minha surpresa. — Sua tia
confessou alguma coisa?
— Ela não sabe dizer se houve traição, apenas aproveitou a
proximidade e ciúme do meu pai para inflamar as relações. Tio Tomás fez a
parte dele, jogando o veneno. Meu pai acreditou.
— Existe a enorme chance de que sua mãe e irmãos foram assassinados
por pura fofoca?
Danilo parecia derrotado.
— Ouvi-la falar me fez lembrar do dia. Mamãe estava conosco no
jardim, servindo tortas em nossos pratos. Cássio queria pegar tudo, era
pequeno, tinha uma agilidade enorme para agarrar brincos e cabelos. Então,
ele chegou e atirou no mais velho. Henrique tinha dezoito, ele mataria nosso
pai. Em seguida, foi para Juan, com dezesseis. — Meu marido ergueu o
olhar. — Foi tão rápido. Não consegui reagir. Mamãe tocou meu ombro e
simplesmente esperou que ele chegasse nela. Lembro da expressão de dor
em seu rosto e ela cair, com Cássio nos braços. Foi como um clique na
minha cabeça, porque eu agarrei Cássio e corri para nos proteger. Eu o tirei
dela, cheio de sangue e tentei nos proteger.
— Eu sinto muito, amor. — Dei a volta no balcão e o abracei. — Sei
que não entende o que sentiu, mas era sua mãe, você era novo e
provavelmente a amava.
— Ele disse que não precisava me preocupar. Não estava interessado
em matar seus verdadeiros herdeiros. Nunca soube o que sentir pela minha
mãe e preferi não alimentar sentimentos. Meu amor é seu e do Félix, tendo
de sobra para nossos futuros filhos. — Danilo beijou meu ombro. — Tomás
cedeu às chantagens de Nikolai, mente fraca, nunca foi honrado o suficiente
para ser um homem da família. Meu pai sabia disso, tanto que nunca deu uma
posição de respeito para o irmão caçula.
— Ainda assim, ele o ouviu sobre sua mãe. É lamentável.
— Sabe como são os homens, eles preferem viver com tudo, menos
com o orgulho ferido. — Ele me deu um sorrisinho.
— Ego e orgulho significam ruína. Tenha equilíbrio. — Beijei seus
lábios e ouvimos um resmungar. — Acho que alguém quer acordar.
Danilo sorriu genuinamente e subimos para o quarto do nosso filho. Ele
se inclinou no berço, observando Félix se mover, resmungar e fazer alguns
beicinhos fofos com estalos de quem queria mamar. Ao abrir os olhos, ia
abrir o berreiro mas nos percebeu ali. Primeiro olhou para mim, fazendo
dengo e depois, para o pai.
— Oi, filho.
Félix riu. Encolheu e esticou as pernas, tentando chupar a mão. Danilo
o pegou, deu um cheiro e fomos para a cama juntos. Meus seios estavam
cheios, ele mamou nos dois e pareceu um pouco cheio, delirando por todo o
leite.
— A cagada vai ser feia. Precisa esvaziar para caber tudo — Danilo
brincou com ele, beijando-o na barriga. Com meu marido e filho ali, juntos e
felizes, meu coração finalmente podia bater sem medo e preocupação.
Permanecemos na casa de praia por mais uma semana. Cássio e Assis
foram na frente, organizar o casarão principal para meu retorno com Félix.
Nanci quis ir junto, só para deixar a casa do nosso jeitinho e eu aproveitei os
tempos de calmaria para namorar meu marido e paparicar meu filho.
Criamos uma rotina básica: café em família, treino durante o cochilo de
Félix, almoço e passeio ao entardecer com o carrinho pela propriedade.
Foi durante o treino que eu percebi que Danilo finalmente entendeu
meus posicionamentos. Ele sabia que eu queria ser protegida, que amava a
segurança que me passava como homem e chefe da família, principalmente
como pai. Mas eu tinha a minha força e não abriria mão dela para ser uma
esposa frágil e inocente.
Ele nunca deixaria de ser meu protetor apenas porque eu podia bater
tanto quanto.
— Quando você foi derrubada, ele não se atentou ao fato de que
poderia quebrar sua perna. Te incapacitaria facilmente. Dobre seus joelhos,
mesmo fingindo um desmaio, atente-se à contração do abdômen para ter
força… — Ele estava entre minhas pernas e eu deitada. — Use mais seu
antebraço. — Agarrou minha camisa e exemplificou sem me machucar. —
Temos que provocar mais lutas reais, porém, ainda precisamos de algumas
técnicas.
— Tudo bem. — Respirei fundo e me preparei. — Estou pronta. Eu te
amo, mas vou te machucar só um pouquinho.
— Você vai tentar. — Ele riu e me deu um beijo. Contamos até três
juntos, mas eu o ataquei inesperadamente. Danilo perdeu a estabilidade e se
recuperou, me prendendo no chão. — Trapaceira.
— Prefiro quando me chama de gostosa. — Esfreguei meus lábios nos
dele. — Vamos de novo? Quero tentar até conseguir te conter.
— Sabe que só tem esse poder quando meu pau está enterrado em sua
boceta.
Dei uma mordida forte em seu braço.
— Escroto!
Rindo feito um moleque perverso, me atacou novamente. Consegui
fugir e começar um treino justo, de pé. Ele era mais forte, mais alto e mais
treinado, fiquei satisfeita ao vê-lo ofegante e suado, porque dei trabalho.
Paramos quando Félix acordou. Ele ficou nos olhando impassível, sempre
analisando os próprios dedos e parecendo desconfiado. Danilo brincou que
era um pequeno chefe ranzinza que se achava bom demais para respirar o
mesmo ar que nós, meros mortais.
— Basta crescer um pouco que vai estar aqui, treinando com o papai,
aprendendo a chutar bundas e a como ter um corpinho digno de deixar as
senhoras de joelhos.
— Danilo!
— O que foi? — Arregalou os olhos, fingindo inocência.
— Você vai treinar nossa filha para que ela tenha um corpo de deixar
homens de joelhos?
— Com a minha falta de sorte, minha filha vai ser tão linda que
precisarei trancá-la em uma torre e colocar um dragão para que nenhum
imbecil chegue perto. — Ele sorriu, ciente que aquilo me matava de ódio. —
Estou brincando. — Ergueu Félix no colo e não pude arremessar meu tênis.
— Diga a mamãe que sua futura irmã vai puxar toda beleza dela e
principalmente, o humor. Um homem terá que ser muito corajoso para
conquistá-la, tal como papai foi. Sabe como papai conquistou a mamãe?
Félix o encarou, encantando com o mover os lábios de Danilo. Ele
adorava.
— Acha mesmo que me conquistou? — rebati, fazendo um teatro ao
revirar os olhos. — Fui eu que te conquistei. Tanto que, desesperado, casou
em menos de uma semana, todo possessivo, quase berrando e batendo no
peito: minha, minha e minha! Confessa, vai. Você me viu e caiu de joelhos.
Danilo riu e ri do pequeno rubor que surgiu em suas bochechas. Não
resisti e me joguei nele, abraçando-o junto a Félix, beijando sua boca.
— Deixa de ser abusada, minha senhora. — Deu um tapa na minha
bunda.
— Apenas confesse.
— A única coisa que sairá livremente dos meus lábios é que sou louco
por você — ele falou baixinho contra minha boca. — O que faremos com a
mamãe?
— Eu quero beijo dos homens da minha vida!
Félix soltou um gritinho com o queixo molhado, nos fazendo rir. Beijei
seus cabelos e ele se jogou na minha direção, tombando a cabeça nos meus
seios, sinal de que queria mamar. No tatame, bagunçada, com meu marido
sem camisa, exibindo o torso definido coberto por tatuagens, lembrei da
garota que foi prometida para o chefe da Calábria, confusa, com medo e
raiva. Pronta para lutar. Eu não voltaria no tempo para mudar nada.
Tudo aconteceu no momento devido e do jeito certo.
Cada felicidade e dor moldaram a mulher que me tornei, transformaram
meu casamento e me fizeram descobrir que, por baixo do homem assustador
que ameacei com uma arma na cabeça para que me respeitasse, estava
escondido o marido mais incrível e pai amoroso. Eu não me importava que
Danilo fosse o monstro do pesadelo de muitas pessoas fora da nossa casa.
Dentro, ele me amava e honrava.
E nossa história estava apenas começando.
Epílogo | Danilo.

Alguns meses depois…


— Vocês vão se casar? — provoquei Enzo. Ele riu e Damon esticou a
mão, querendo uma aliança. — É admirável o que querem fazer, contem
comigo para honrar nosso acordo, mas eu prefiro ficar longe dos olhos do
público. Gosto de não existir.
— Imaginei que diria algo como isso. Faz sentido — Enzo refletiu após
dar um gole do uísque artesanal que ofereci na reunião. — É a nossa
essência fazer diversos tipos de jogo.
Damon assentiu, distraído com o telefone, sabíamos que estava
conversando com a esposa. Algo tão fodidamente comum que não
incomodava em nada. Bella e Juliana Rafaelli, esposa de Enzo, estavam no
andar de cima, falando baixo e de vez em quando, riam. Era nosso segundo
encontro sobre as mudanças na família, desde que eles decidiram ser um só e
estenderam o convite para mim.
Aceitei em parte. A trindade permaneceria mais forte, mas a minha
condição era continuar no anonimato. Eu queria manter meu território fora do
caos do mundo cheio de exibicionismo, redes sociais e a imprensa. Entramos
em um acordo de que eu nunca seria mencionado como alguém que sabia dos
planos e dos próximos passos, nem mesmo aos soldados mais leais e
subchefes poderosos.
Rocco seguiria sendo nosso ponto em comum.
— Confunde os inimigos. É melhor que eles pensem que nós não somos
a mesma coisa. É bom que acreditem na farsa. — Damon finalmente largou o
telefone. — Foi a nossa vantagem em muitos momentos e não devemos abrir
mão disso.
Enzo terminou de beber.
— Alonzo deixou muitos resquícios. Coisas ainda acontecerão a longo
prazo, não saberemos como e nem quando lidar com tudo. Saber que está
morto me alivia e ao mesmo tempo, preocupa, porque não sabemos até que
ponto fomos expostos. — Bati os dedos na mesa. — Já escolheu o seu
herdeiro?
Enzo e Damon trocaram um olhar.
— Ele ainda não está pronto para tudo, mas vai estar.
— Temos tempo. — Olhei para o mar, pensativo. — Muito tempo e
paciência para todos os nossos planos.
Erguemos nossos copos e brindamos. Não éramos amigos e nunca
seríamos. Talvez eles pudessem viver em harmonia, porque eram primos e
tinham sentimentos um pelo outro, mas a trindade era muito mais forte. Eram
três famílias que esperavam dominar o possível para manter nossos negócios
a salvo.
— Seu filho é um menino grande. Parabéns. Ele será um chefe e já tem
um olhar feroz! — Damon sorriu, olhando atrás de mim. Bella estava
mostrando alguma coisa para Juliana na academia. Virei e observei. — Ele
tem uma boa idade para um casamento no futuro.
Enzo bateu o copo na mesa e eu também.
— Nós nunca seremos da mesma família, caralho! — Falamos ao
mesmo tempo e nos encaramos. Aquela piada era a mais infeliz da vida.
Damon ergueu as mãos, com um olhar divertido. Ele estava apenas
provocando, como padrinho das filhas de Enzo, a última coisa que pensava
era em um casamento.
— Minha filha é boa demais para ser uma Venturinni.
Eu bufei.
— Sua filha teria sorte de fazer parte da minha família, mas eu
dispenso conviver com você pelo resto da minha vida.
— Isso é uma coisa que nós concordamos em nunca discordar, porra.
Epílogo | Bella.
Alguns anos depois.
Danilo sorriu da beira da piscina e se jogou na água, fazendo com que
os meninos gritassem. Assis e Mariano correram juntos e dessa vez, quem
gritou fui eu. Não adiantou nada. Fiquei ensopada e só cobri o copo de suco
que segurava. Olhei para os cinco e apenas os menores se encolheram,
porque sabiam que a mamãe era brava. Félix e Fabrizio saíram correndo,
querendo me abraçar. Meus dois menininhos lindos.
Félix era mais parecido comigo no gênio. Ambos tinham o cabelo
escuro da minha família e olhos azuis impressionantes, mas a pele morena do
pai, assim como o nariz e o sorriso irresistível. Engravidei de Fabrizio
quando Félix completou oito meses e não foi programado. Também não
estávamos evitando com muita seriedade.
— A mamãe nos perdoou? — Danilo gritou da piscina.
— Não sei, papai. Não te ouvi pedindo desculpas. — Félix foi sincero.
Ele era uma cópia irritante do meu pai. Danilo soltou uma gargalhada, sendo
arrogante e sem que eles vissem, dei meu dedo médio.
— Eu perdoei vocês dois. Seus tios terão que servir a mamãe em tudo
e papai vai pagar pela gracinha depois. — Beijei ambos. — Nanci tem o
almoço pronto. Peguem as toalhas, lavem as mãos e comam tudo.
Os dois deveriam estar com fome, porque foram correndo sem discutir.
Mariano e Assis continuaram na piscina. Danilo saiu e eu me deliciei com a
visão da água escorrendo por seu corpo perfeito, as coxas torneadas. O
idiota tinha até os pés bonitos. Que homem tem até os pés bonitos? Voltei a
olhar para cima e inevitavelmente sorri com meu nome em seu peitoral, de
ponta a ponta. Quase desfaleci de tanto chorar. Os meninos não entenderam
nada e ficaram chateados com o pai, sendo protetores comigo.
Sempre achei ridículo fazer tatuagem com nome do outro, permiti que
fizesse dos meninos a cada nascimento, mas nunca deixei que colocasse o
meu. Ele queria ter uma marca eterna do nosso casamento, tatuando minha
inicial em seu dedo anelar. Depois, me surpreendeu com quase uma placa
neon. Contrário à minha firme opinião inicial, adorei, fiquei emocionada e
retribuí com seu nome no meu quadril, em letras finas e elegantes.
— A senhora minha esposa está dizendo que só vai me perdoar mais
tarde? — Ele me agarrou pela cintura de forma brusca. — Vai pedir algo
especial para que mereça seu perdão?
— Sabe que sou uma mulher difícil. Terá que ficar de joelhos e
envolve sua habilidade com a língua. — Abracei-o. Danilo riu e arrastou os
lábios em meu ouvido.
— Vou te foder muito gostoso para merecer esse perdão.
— É uma promessa?
— Sabe que sempre cumpro com a minha palavra. — Ele piscou e nos
beijamos. Os meninos gritaram. Félix estava na fase de achar "ewww"
quando o assunto eram beijos e Fabrizio seguia o jogo, porque achava
divertido. Ele não se importava muito.
Danilo pegou meu copo de suco e foi implicar com eles. Sua
paternidade consistia em ser muito severo e ensinar as regras da nossa
família, criando dois meninos com honra e lealdade, ao mesmo tempo, ser o
mais companheiro e melhor amigo possível. Eles idolatravam o pai. Eram
menininhos da mamãe, viviam atrás de mim para tudo, mas sempre viam o
pai com adoração.
Era por isso que eu não estava nem um pouco preocupada em estar
grávida novamente. Dessa vez, consegui esconder tempo o suficiente para
conseguir saber o sexo e poder fazer uma surpresa, como sempre sonhei.
Danilo esteve comigo no primeiro teste e na segunda gravidez, sofri alguns
desmaios, o que me fez acreditar que estava doente e não grávida, então, ele
também estava comigo no médico.
— Você não quer seu drinque hoje? — Danilo foi para o bar.
— Quero treinar quando eles dormirem.
— Hummm… eu posso te derrubar mesmo bêbado. — Se gabou e
preparou uma dose de uísque, virando de uma vez só. Maldito engraçadinho.
Merecia um chute nas bolas só por se achar demais.
Decidi ignorar, fingir que suas provocações não estavam me abalando
e dei atenção aos meninos enquanto faziam bagunça para comer. Banho, um
pouco de televisão e cama. No final de semana eles podiam fazer tudo o que
bem entendiam, como tomar sorvete no sofá da sala e ficar descalço, sem
camisa. De segunda a sexta, era o momento em que a mente deles era
treinada para o futuro. Meu coração de mãe apertava sempre que eram
punidos por desviarem da ordem, ao mesmo tempo, sabia que todo treino era
garantia da sobrevivência deles em nosso mundo.
Quando eles acalmaram o fogo, Assis os encontrou no quarto, para
contar-lhes algo importante sobre família e como deveria ser a postura de
um homem. Papai fez isso com eles e meus irmãos, que não pretendiam casar
e ter filhos tão cedo, gastavam suas veias paternais com meus filhos.
Enquanto Danilo se reunia com seus homens no escritório, me arrumei para a
pequena surpresa que preparei. Ele iria surtar, pois tínhamos treinado a
semana toda normalmente e agora descobriria que seríamos pais mais uma
vez.
Ricardo passou por mim e parou, dando seu cumprimento. Com o
passar dos anos, ganhei a admiração e respeito dos homens, além dos que
protegiam minha casa. Eles sabiam do que era capaz, aceitavam minhas
ordens igualmente e com um pouco mais de maturidade, aprendi em quais
batalhas iria gastar minha energia. Trabalhei por um tempo nos cassinos,
porém, ser mãe de dois me consumia e precisava de muita dedicação.
— Está pronta? Fui tomar banho rapidinho. — Danilo entrou na
academia e jogou seu telefone no tatame. — Precisaremos estar em Vegas
nos próximos dias.
— Eles vão ficar. Não quero que faltem a escola.
Danilo bufou. Os meninos não tinham uma educação em casa. Ele
queria educá-los tradicionalmente, mas eu não quis. A escola era excelente.
Quase seis horas por dia de puro silêncio e paz na minha cabeça. Sem que os
dois tentassem se matar ou que eu quisesse me matar por tentar ensiná-los o
dever sem ter formação para aquilo. A escola era incrível.
Sem contar, que eles conheciam todas as crianças, filhos de homens
que pertenciam à nossa organização. Era seguro deixá-los em um ambiente
dominado e sustentado por nós, além de prover um dos melhores ensinos do
país.
— Sei que não gosta de ficar longe deles, mas terá que se acostumar.
Quando crescerem, vão viver suas vidas. Acha mesmo que vão desejar ficar
aqui quando há um mundo inteiro para conhecer?
— Eu ia dizer que fiquei, mas você sabe que é mentira. — Ele riu e foi
para o chão. — Vem aqui. Estou com um desejo imenso de te ajudar no
alongamento…
— Você só quer minha bunda na sua frente — rebati e peguei a caixa
que escondi atrás da esteira. — Quero te dar uma coisa antes de
começarmos.
— Não me diga que é nosso aniversário de casamento de novo. —
Danilo fingiu estar preocupado. Ele tinha sorte de ser bonito e por, pelo
menos, lembrar do meu aniversário. Ele nunca lembrava as datas dos nossos
casamentos, que eram importantes para mim. Talvez no passado, não ligasse,
mas foi ele que me transformou em uma completa boba muito apaixonada.
— Não me lembre porque não sei como te perdoo todo ano por
esquecer.
— Você me ama. — Ele agarrou a caixa. Sentei à sua frente, ansiosa
pela reação. — Um kimono? Porra, Isabella! — Puxou rapidamente e viu a
faixa rosa. Era uma versão pequena do que os meninos usavam para treinar
com ele diariamente. — Não, caralho, não me diga! Vamos ser pais de novo,
porra? É uma menina? — ele gritou, transtornado de alegria e esperança.
Assenti e ri muito de sua reação. — É uma menina!
— Descobri o sexo tem dois dias. Fiz o exame. — Peguei o envelope
na caixa, louca para mostrar as fotos, mas ele me derrubou no chão e me
beijou. — Ai, seu bruto!
— Pai de menina, é sério?
— Papai e mamãe de menina… seremos cinco agora — falei contra
sua boca.
— Todo dia você me faz o homem mais feliz.
Aquela era a melhor declaração que uma mulher podia ouvir do
marido. Ele me completava, respeitava, aprendeu a entender meus limites e
teve coração para aceitar as mudanças da minha vida como mãe, cada dia
mais buscando um papel de mais independência sem ferir nossos costumes.
Danilo era meu melhor amigo, parceiro nos negócios e um marido exemplar.
— Minha prometida perfeita. Muito melhor do que um dia esperei. —
Esfregou o nariz no meu e sorri, envaidecida. — Finalmente, teremos a nossa
princesa.
De repente, ele ficou sério.
— Caralho, Isabella! Vou ter que voltar a usar as algemas? Treinamos
pesado e você já sabia que estava grávida!
Soltei uma gargalhada que ecoou por toda a academia.
— Ah, Danilo… vem aqui e me beija. Deixa de ser surtado…
FIM

Confira as cenas extras a seguir.


Cena extra 1
— Temos o suficiente?
— Ainda não. Em breve Papadakis nos dará o suficiente para
voltarmos para o jogo.
— Soube que o filho dele já atingiu idade o suficiente… e está
apaixonado.
— Danilo Venturinni vai pagar pela destruição da nossa família.
Houve um silêncio no ambiente, até que a única mulher entre eles
resolveu falar.
— Precisamos derrubar Dante Biancchi. Ele é a fortaleza que mantém a
trindade de pé. Seus homens são leais e muito letais. Não será possível
chegar aos Venturinni sem fazer com que Biancchi perca a força — ela
concluiu.
Os homens apenas sorriram e empurraram uma foto na mesa.
— Dante tem alguns corações que batem fora do peito.
A imagem era de uma mulher rodeada por meninas mais jovens,
segurando um bebê.
— É essa. Ela será o nosso alvo. — A mulher bateu no rosto de uma
delas.
Cena extra 2
— Eu simplesmente vou matar os seus filhos quando eles passarem
por aquela porta! — Bella passou por mim, furiosa. Os meninos haviam
saído há cinco dias e não davam notícias. Não era exatamente incomum,
estavam na fase de festejar e pegar garotas. Eles queriam festas e putaria. —
É inadmissível a completa falta de respeito comigo!
— Isabella… se acalme. Eles estão bem — retruquei, sem desviar os
olhos do jornal.
— Não ficarão por muito tempo. — Ela se jogou na cadeira ao meu
lado. — Julieta… pare de dar pão para o cachorro. — Suspirou e nossa
menina apenas riu, com uma expressão culpada. — Ele vai passar mal,
querida. Não faça isso.
— Sinto muito, mamãe. Não farei mais. — Julieta sorriu.
Ela parecia com a mãe. Todos os nossos filhos eram mais parecidos
com ela do que comigo. Os meninos eram altos e tinham o porte físico de
deixar jogadores de futebol com inveja. Julieta era pequena e delicada, uma
princesinha, para consternação da minha esposa. Minha filha aceitava
aprender sobre como se defender, mas era fofa demais, sempre romântica e
suspirando pelos cantos.
Percebendo que Bella ainda estava preocupada, segurei sua mão e
apertei. Ela deitou a cabeça no meu ombro, com um bufo engraçado. Eles
aprontavam longe de casa, eu não era idiota. Criei dois monstros. Tentei dar
educação, mas o sangue sempre falava mais alto. Félix era terrível e
Fabrizio não ficava longe do comportamento do irmão mais velho.
Ouvimos barulho de um carro entrando em alta velocidade na garagem.
— Oi, família! — Fabrizio entrou suado, sujo e sangrando. — Estou
bem, antes que comecem a gritaria, não vai ser comigo que vocês vão querer
brigar. — Ele sorriu e saiu de perto antes que alguém o acertasse com algo.
— Volta aqui! — Bella gritou. — Cadê o seu irmão?
— Oi, mãe! — Félix entrou de mãos dadas com uma garota pequena,
muito bonita, que estava assustada e igualmente suja. Ela nos olhou com
medo e parecia estranhamente familiar.
— Aria? O que está fazendo aqui? — Minha esposa ficou de pé, em um
misto de preocupação com o ferimento deles e desejo de matar nossos filhos.
— Eu quero uma explicação, Félix! O que Aria Rafaelli está fazendo aqui?
Puta que o pariu!
Aria Rafaelli.
A filha mais nova de Enzo!
— Eu a sequestrei e nós nos casamos em uma capela não muito longe
daqui — Félix respondeu com um sorrisinho. — Quero que conheçam minha
esposa: Aria Venturinni.
Massageei minhas têmporas. Eu ia matar meu filho mais velho.
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PERIGOSO AMOR
Enzo e Juliana

Em algum momento no passado...


Toscana, Itália

A porta de madeira pesada foi aberta por um homem alto, que andava
puxando a perna e tinha uma cicatriz no rosto. Não era o mais temido do seu
meio, só era o único corajoso o suficiente para estar diante de alguém como
Lorenzo Rafaelli após uma traição.
— Sempre o destemido. — O chefe de uma das maiores famílias
mafiosas retumbou no ambiente escuro e silencioso. Rafaelli analisou o
homem à sua frente e foi inevitável não sentir certo pesar. Foi seu amigo de
infância, mesmo atualmente assumindo a posição de inimigo, havia algo em
seu coração por ele. Ambos foram criados para serem assassinos temidos e
poderosos em sua sociedade.
— É uma reunião entre antigos amigos de infância, não de inimigos. —
A voz rouca comprovava que os rumores sobre a doença não eram
infundados. A dinastia dos Valentinni estava terminando e isso agradava
Rafaelli além do saudável.
— E o que tem a dizer, meu caro? — Rafaelli bateu seu charuto no
cinzeiro, em seguida, pegou o copo de uísque.
— Quero fazer um acordo entre as nossas famílias. — Valentinni
falava baixo, sem desviar o olhar daquele com quem dividiu muitos jogos de
futebol e de quem recebeu o filho primogênito para apadrinhar.
— Não temos acordos! Desde que seu pai traiu a nossa família, nossa
irmandade, nosso elo familiar! — Rafaelli foi explosivo, como sempre era
quando se tratava daquele assunto tão delicado entre as duas famílias
poderosas.
— Eu sei e é por isso que trago uma oferta irrecusável. — Contrapôs
Valentinni. — Estou com problemas terríveis e não sei como resolvê-los
agora. Todas as possibilidades culminam no meu fim, devo fazer um acordo
de paz o quanto antes.
— Não existe paz após tamanha traição! — Rafaelli gritou tão alto que
seus homens se agitaram.
— Tenho uma única filha que não pode herdar a minha cadeira nos
negócios e então, tudo que tenho será do meu irmão. Não posso concordar
com os planos e desejos dele, portanto, preciso que a minha Juliana se case
com o seu filho mais velho. Espero que eles tenham a união mais forte e mais
poderosa da nossa sociedade. — Rafaelli o olhou com surpresa. Jamais
imaginaria que Valentinni renunciaria ao seu poder pela sua bambina. —
Quero que o meu afilhado seja meu herdeiro. Enzo precisa proteger Juliana
quando eu partir...
Aquela não era uma súplica de um chefe e sim... de um pai. Um pai
doente que estava com seus dias contados e se preocupava com o futuro da
sua princesa.
— Juliana é doce, mas ainda é uma bambina! — Rafaelli não podia
imaginar o seu explosivo Enzo concordando com um casamento arranjado,
porém, a proposta era tentadora. Dominar tantos territórios? Isso o
agradava muito, assim como agradaria aos seus associados.
— Não agora. O noivado deverá acontecer quando ela completar
dezoito anos ou antes, caso eu não sobreviva ao que está acontecendo, e o
casamento aos vinte um. Quero mostrar ao mundo que minha filha não está
sozinha e muito menos desamparada. Peço pela amizade que tivemos, acima
das escolhas ruins das nossas famílias, que a minha menina seja protegida.
Lorenzo Rafaelli amava seus três filhos, apesar de ter plena ciência
que não era um bom pai e muito menos presente. Sabia que seus herdeiros o
toleravam presencialmente e odiavam-no em segredo, mas ele tinha em
mente um plano. Tudo que fez Enzo passar para ser um chefe, jamais seria
perdoado, embora fosse para que ele se tornasse forte e imbatível.
O menino ainda era uma besta sem controle, muito maldoso e sem
educação. Esperava que chegasse a algum lugar antes que morresse.
Casando-se com Juliana, ele teria ainda mais poder, dominaria muitas
famílias e poderia garantir que a menina fosse protegida.
Rafaelli olhou para o homem na sua frente e sorriu.
— Considere feito.
IMPÉRIO PERIGOSO
Damon e Giovanna.

O barulho dos meus saltos contra o piso de madeira ecoava junto ao


som das rodinhas das malas que empurrava ao meu lado. Olhei para trás e
acenei para as amigas, que ainda estavam aguardando suas famílias ou a data
dos seus voos. Era estranho estar quase fora dos portões depois de três anos
vivendo na escola.
Passei algumas festas de fim de ano em casa e tive a minha festa de
noivado, quase um ano atrás, mas não fui para casa nem mesmo nas férias.
Estava com medo do mundo lá fora e ansiosa sobre tudo que iria
acontecer nas próximas semanas, sem saber exatamente o que esperar.
Nasci na região de Palermo, na Itália. Pertencia a uma intensa e
tradicional família italiana bem no seio da máfia. Meu pai era chefe dos
cassinos e, viciado em jogos, fez negócios realmente ruins, mesmo sabendo
que a banca sempre vencia – principalmente a banca da máfia italiana. Ao
invés de assumir os erros, ele resolveu fazer algo ainda pior: roubar.
Devido à sua posição de prestígio e por ele ser fiel à família,
Francesco Galattore, o nosso chefe, decidiu que ele poderia pagar a dívida.
Sem dinheiro e sem alternativas, meu pai teve a incrível ideia de me dar
como pagamento. Eu tinha quinze anos quando a minha mãe entrou na nossa
biblioteca, magoada, contando que papai praticamente me embrulhou para o
futuro chefe.
Damon Galattore.
Quando eu tinha quinze anos, ele me assustava até a morte. Era
misterioso, irritado, o perfeito bad boy da alta sociedade. Sendo oito anos
mais velho que eu, já era um homem quando eu ainda era uma menina, mas
essa diferença de idade, no nosso mundo, era nada. Era sorte meu pai não ter
arrumado um marido trinta anos mais velho, como a minha prima Bia, que foi
obrigada a casar com o pai de uma das nossas melhores amigas.
No nosso noivado, ele foi polido e distante, ficando próximo apenas
o socialmente aceitável e eu não podia decifrar se ele estava feliz, satisfeito
ou apenas resignado. E agora... ele era o homem mais importante da nossa
família. Com o repentino desaparecimento do chefe de todos os chefes e a
ascensão de sua esposa, em um momento de caos e confusão, Damon era o
homem no poder.
Em algumas semanas... eu me tornaria sua esposa.
Os portões se abriram e ele estava do lado de fora, próximo a um
carro esportivo de luxo e havia uma SUV escura, também muito luxuosa, com
dois homens familiares ao lado, vestidos de preto. Damon deu um passo à
frente, pronto para me levar definitivamente para a sua vida.
Pronto para me fazer sua mulher.
PERIGOSA TENTAÇÃO

Enrico e Luna.

Meus joelhos estavam doendo, mas eu mantive os braços cobrindo


meus seios, nublando a vergonha que sentia de estar nua, ajoelhada em um
punhado de feijão, controlando a respiração para não grunhir de raiva, dor e
humilhação. A toalha molhada atingiu as minhas costas mais uma vez e me
encolhi, murmurando uma oração muito baixa, pedindo que aquilo acabasse
logo.
Eu a odiava tanto.
— Peça perdão a Deus por ter feito um homem correto pecar. —
Minha tia bateu com a toalha nas minhas costas mais uma vez e murmurei. —
Não ouvi, Luna. — Bateu-me mais uma vez. Fechei os meus olhos,
humilhada.
Não fiz nada, por que tinha que pedir perdão?
Foi o marido dela que saiu e voltou cheirando a outra mulher.
Eu não fiz nada!
— Perdão, Deus. Não tive a intenção de fazer um bom homem pecar
— falei baixo e respirei fundo. Homem bom? Meu tio era um assassino da
máfia, como ele poderia ser um homem bom? Ele não tirava os olhos de mim
se usasse qualquer roupa minimamente reveladora. Era um tarado pedófilo
com tendências incestuosas.
Definitivamente não era do tipo bom.
— Nunca mais use aquelas roupas de prostituta. Eu queimei todas,
use apenas as que separei para você — Ela puxou meu cabelo de um jeito
doloroso. — Não vou dividir o meu marido com você. Me agradeça, eu te
protejo de algo pior, então, não faça nada — sussurrou e assenti. Eu não o
queria. Era óbvio. Tinha nojo do meu tio e muito medo, contava os segundos
para sair de casa.
Minha tia saiu, fechando a porta silenciosamente e trancou. Ela nunca
agia com brusquidão. Era silenciosa como uma cobra, maldosa e ciumenta.
Nunca me recebeu bem, foi obrigada a me aceitar em sua casa a pedido da
antiga esposa do chefe, Amber Rafaelli.
Quando os meus pais morreram na Itália, eu tinha oito anos, a Sra.
Rafaelli me trouxe pessoalmente e pediu com muito carinho que os meus tios
cuidassem de mim.
Meu pai foi um subchefe muito bem conceituado. Lembrava da noite
que eles morreram, saíram para jantar e na volta, sofreram um acidente de
carro e não sobreviveram. Meu tio me aceitou na ânsia de talvez assumir o
lugar do meu pai ou atingir uma boa posição em Nova Iorque. Ele realmente
ganhou um punhado de soldados para comandar, porém, a posição na Itália
foi assumida por outra pessoa.
Minha tia tinha uma filha pequena e ela claramente se ressentia por
ter que cuidar de mim.
Me levantei com dificuldade do chão e acariciei meus joelhos. Me
olhei no espelho e chorei, ressentida com a minha própria imagem. Vesti a
calcinha e o sutiã, passando a camisola de mangas longas pela cabeça. Tia
Selma trancava a porta do meu quarto toda noite e abria pela manhã, quando
me acordava para começar a limpar e cozinhar.
Me joguei na cama, abraçando o meu travesseiro, com os olhos
cheios de lágrimas que escaparam sem que tivesse controle. Não sabia
quanto tempo poderia suportar. Só um marido poderia me tirar de casa e eu
não sabia se seria uma liberdade ou mais uma prisão.
Não me importava que fosse outra prisão, contanto que saísse da casa
dos meus tios.
CORAÇÃO PERIGOSO

Dante e Mia.

Meu quarto estava escuro e eu estava terminando de tomar banho,


pensando no quanto queria sair um pouco. Minha mãe estava me mantendo
em casa desde que surgiram algumas fofocas no círculo das suas amigas
fofoqueiras, sobre a possível amante do meu pai estar esperando um filho
dele. Eu estava de saco cheio dos dois, e me escondendo sempre que o meu
pai chegava. Desde que a Luna se casou com um homem poderoso em
Chicago, meu pai ficou ainda mais estranho.
Não era segredo para nenhuma pessoa que vivia dentro da nossa casa
que o meu pai tinha olhos muito longos para a minha prima. Minha mãe
morria de ciúme e agia de maneira cruel com a Luna, sem que ela tivesse
culpa. Ficou ainda mais estressante permanecer em casa. Eu tinha medo
quando o meu pai bebia e ainda mais medo quando a minha mãe cismava de
descontar as suas frustrações em mim.
As surras que levava por não ser a filha perfeita estavam começando a
deixar marcas em minhas costas. Queria fugir, queria viver com a Luna ou
em outro qualquer lugar longe daqui. Ela parecia ser amada e adorada pelo
seu marido, Luna vivia rodeada de mansões, viagens, festas e demonstrava
ser mil vezes mais feliz do que um dia imaginou. Não conseguia esconder
que estava com inveja. Cansada de ser tratada como algo indesejado. Minha
mãe me fazia sentir como uma inútil, indesejada, um peso e era horrível
fingir que éramos uma família perfeita em público.
Não podia falar nada, estava apanhando de graça e com as minhas
costas ardendo com feridas ainda cicatrizando, me restava ficar calada. Saí
do banheiro com a minha camisola de dormir e parei assustada ao me
deparar com o meu pai sentado em minha cama.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntei desconfiada.
— Oi, Mia. — Ele estava muito bêbado. Seu olhar me deixou em
alerta.
Um arrepio de medo desceu pela minha espinha.
— MÃE! — Eu gritei, recuando para o banheiro. — MÃE!
— O que foi, garota? — Ela entrou irritada e olhou para o meu pai. —
Silvio, amor. O que houve?
— Nada, Selma. Estarei no escritório. — Ele saiu e bateu a porta em
um estrondo alto que me fez saltar.
Minha mãe virou o rosto lentamente e o seu olhar era de ódio.
— Eu me livrei da Luna e agora, você? — Ela falou baixo,
sussurrando como uma cobra. — Por que você deixou o seu pai entrar
vestida assim?
— Não deixei, mãe. Ele entrou aqui enquanto eu estava no banheiro.
— Ergui as mãos, pedindo calma. Ela puxou o cinto da sua roupa. — Mãe,
eu não fiz nada.
— Você não vai ser como a sua prima, Mia. Não vai roubar o meu
marido. — Ela deu com o cinto nas minhas pernas e eu gritei. — Quieta.
Quer ser uma prostituta? Eu vou te mostrar o que é ser uma.
Me agarrando pelo braço, me puxou para fora do quarto e literalmente
me rebocou para a escada. Tentei me forçar contra ela, mas o seu aperto era
tão forte que estava machucando o meu braço. Passamos pela cozinha e eu
entrei em pânico quando abriu a porta da sala dos seguranças e me jogou lá
dentro, fechando a porta atrás dela. Os guardas pararam o que estavam
fazendo, tão chocados quanto eu estava.
Um estava comendo um sanduíche em um sofá e dois estavam
limpando as armas. Eu estava chorando, ofegante e congelada em meu lugar,
usando uma camisola. Meu coração retumbava tão alto no peito que eles
poderiam ouvir. Eram homens da máfia. Farejam o medo por pura diversão.
Pensei que fosse desmaiar quando um deles se levantou, mas ele só
tirou o terno e me cobriu, passando as mangas pelos meus braços e fechou os
botões.
— Está tudo bem, bambina. — Ele falou baixo.
— Essa merda precisa acabar. — O que estava comendo o sanduíche
jogou o prato longe, parecendo irritado.
— Eu vou te acompanhar até o seu quarto, está bem?
Assenti, com medo, pensando em correr, mas a porta da frente estava
trancada e eu não tinha certeza se conseguiria fugir dele. Para a minha
completa surpresa, ele realmente me levou para o quarto. Meu coração
quebrou em milhares de pedaços ao perceber que a minha mãe sequer estava
por perto.
Ela me jogou para os lobos.
— Você tem um telefone, menina? — O guarda perguntou. Balancei a
cabeça e recuei contra a minha porta. — Sua prima é do alto escalão da
família, mande uma mensagem a ela, diga que os executores da família
devem estar no restaurante da rua seis, segunda-feira, meia noite e então,
isso vai acabar para você.
Não entendi nada.
— Menina, seu pai está quebrando as regras da família. Se ele for
morto, você estará livre. — Explicou bem baixo e saiu, sem se abalar.
Entrei em meu quarto e tranquei a porta, aliviada que finalmente estava
sozinha. Empurrei uma poltrona para a porta, me perguntando o que fazer. E
se fosse uma cilada? E se o soldado estivesse brincando comigo a mando do
meu pai ou pior, da minha mãe? O que eu podia fazer? Era tentador demais
acabar com tudo aquilo, eu não me importava com o meu futuro, mas se eu
ficasse sozinha, tinha certeza de que a Luna iria me acolher.
Corri até a minha mochila, peguei o meu telefone e liguei. Não tinha
acesso à internet em casa. Eu só podia falar em uma pessoa. Ela jurou que eu
poderia confiar nela quando me levou para um passeio, após ter descoberto
sobre os meus planos de fuga.
— Mia? Aconteceu alguma coisa? — A voz dela soou firme.
— Me desculpa ligar tão tarde. Estou com um problema.
— Estou ouvindo atentamente.
Juliana Rafaelli realmente me ouviu.
SALVA PELO MAFIOSO
Rocco e Maria.

Olhei para o meu reflexo no espelho e vi uma garota quebrada,


mostrando sua verdadeira face. Meus olhos estavam uma bagunça, parecia

um panda, as lágrimas sujas de rímel e delineador criaram um caminho


manchado para o queixo. Meu batom também borrou para o lado, quando

inutilmente tentei tirá-lo.


O vestido perfeito para minha noite de noivado estava

completamente amassado.
Resignada, tomei banho e lavei todo resquício do toque dele e vesti

meu pijama, sem me importar que havia uma festa no andar de baixo. Me
escondi nas cobertas, fechando meus olhos, desejando esquecer aquela

noite.

A aliança em meu dedo pesava dez quilos. Irritada, atirei-a longe no


quarto.

Ouvi uma suave batida na porta.

— Ei, o que houve? Seu noivado... — Anastácia[11] entrou e fechou a

porta. Ela subiu na cama. — O que aconteceu?


— Nada — menti.
— Eu te conheço. Me fala a verdade. — Seu tom de voz mudou. —

Você saiu sozinha com seu noivo e voltou direto para o quarto. Minha mente

está correndo para todos os lados, por favor, me diga alguma coisa.

Neguei e simplesmente a puxei para meus braços, chorando com o

rosto escondido em seu pescoço. Anastácia me manteve ali, apertadinha,


minha dor física e emocional era tão grande que só queria o conforto e

proteção da minha irmã e melhor amiga.

— O que aconteceu? — Ouvi a voz profunda do meu cunhado, que me

fez tremer de medo, com vergonha que ele soubesse.

— Eu não sei, mas sei que quero que você o pegue e o faça falar —
Anastácia determinou. Voltei a fechar meus olhos, protegida por quem

realmente me amava.
A HERDEIRA DESEJADA PELO BILIONÁRIO.
Apolo e Athena.

Apolo Megalos gostaria de esquecer o seu passado. Ele tentava, todos


os dias, apagar da memória o último dia em que viu o pai. O último dia em
que foi um garoto normal antes de ser enviado para longe de casa por estar
traumatizado demais.
Ao se tornar um homem adulto, ele tinha objetivo de viver um dia de
cada vez. Muito cético, raramente aceitava pessoas novas em sua vida.
Viajava pelo mundo com os melhores amigos, sempre hospedado na casa do
irmão, Aquiles.
Ele estava tentando esquecer os responsáveis por destruir a família
dele. O ódio borbulhava no peito, Apolo se controlava pela necessidade de
ser um adulto responsável e maduro. Até que em um dia quente, durante uma
festa em que ele não queria estar, tudo mudou novamente: ele a viu.
Athena Daskalakis.
Parecia um anjo com seu vestido branco, um ponto de paz no meio de
uma explosão de cores. Tão bela quanto perfeita aos olhos dele, Athena
ganhou a atenção que Apolo se recusava a dar a qualquer mulher. Ele a quis,
mesmo sabendo que era filha do seu maior inimigo.
SOBRE A AUTORA:
Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na região
dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que lia histórias
bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros.
Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da Saga
Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar escrever
originais. Em 2019 iniciou sua carreira como autora profissional e
hoje possui duas séries em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e
Honra, dezessete livros publicados e alguns milhares de leituras
acumulados.
Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance
Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
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www.twitter.com/eumariautora
www.mcmaricardoso.com.br
Grupo do Facebook.
AGRADECI MENTO S
Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda profissional da
revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula Guizi. Agradeço
imensamente o apoio destas mulheres no período de construção dessa. Não
poderia deixar de fora a torcida das minhas leitoras em nossos grupos de
contato e o carinho excepcional (e paciência) da minha amada mãe nos dias
de muito trabalho.

Obrigada as minhas leitoras da panela das ricas pela companhia nas


madrugadas para não me deixar dormir durante o processo da escrita.

Gratidão eterna.
[1]
Damon Galattore, chefe da máfia italiana e protagonista de Império Perigoso
[2]
Famílias que na série Poder e Honra comandam a maior parte do território italiano e no restante do
mundo.
[3]
Enzo Rafaelli, chefe de todos os chefes e protagonista do livro Perigoso Amor.
[4]
Pai do Damon e na linha do tempo da história, ainda chefe da máfia italiana.
[5]
Patriarca da família Rafaelli.
[6]
Juliana Rafaelli, chefe da máfia italiana, esposa do Enzo e protagonista de Perigoso Amor.
[7]
Primeira aparição em livro publicado: A Herdeira Desejada Pelo Bilionário.
[8]
Rocco é anjo da morte das famílias e protagonista do livro Salva Pelo Mafioso.
[9]
Enrico di Fabrizzi, irmão de criação do Damon, subchefe de Chicago protagonista do livro Perigosa
Tentação.
[10]
Pai do Enzo e um dos patriarcas da família Rafaelli.
[11]
Anastácia Carlucci – Livro A Escolhida do Mafioso

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