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Copyright© 2024 – Ana Vêronica

Edição 01
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída
ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros
métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da autora, exceto no caso
de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos
pela lei de direitos autorais.

1. Literatura Brasileira 2. Romance 3. Jovem Adulto

4. Contemporâneo

Capa: Mari Designer editorial


Revisão: Mariana Barbosa
Betagem: Sabrina Beatriz
Diagramação: B. S. Oliver
ATENÇÃO

Este livro inclui passagens que podem ser desafiadoras para alguns leitores, abordando
temas sensíveis como traumas psicológicos, tentativa e abuso sexual. Contém cenas explícitas de
violência física e tortura. Se você é sensível a esses conteúdos, recomendo que evite a leitura e
cuide de si mesmo. É importante ressaltar que a autora se posiciona contra qualquer forma de
violência e discorda dos métodos cruéis mencionados no livro.
NOTA DA AUTORA
"Obsessão do Mafioso" é o terceiro e último livro da trilogia "Herdeiros da Máfia",
revelando um anti-herói sombrio e atormentado, bem como o inesperado objeto de sua obsessão.
Este romance mergulha nas profundezas da máfia russa, e uma edição especial será lançada,
destacando um personagem viciante apresentado no primeiro livro, Alessio Ruggiero. Por que
menciono isso? Bem, o terceiro livro aborda algumas pontas soltas que encontrarão seu desfecho
na edição especial de nosso psicopata insano, prometendo um romance explosivo. Aguarde, pois
a trama está prestes a atingir seu ápice.
Dedico este romance a todas as minhas Marias mafiosas que chegaram até aqui: sem vocês, nada
seria possível. Obrigada!
Para o submundo sombrio da máfia, onde os corações são envoltos em trevas e o amor é tingido
pelo sangue derramado.
PLAYLIST
Sumário
SINOPSE
NOTAS DE ESCLARECIMENTO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo
SINOPSE

MILENA SALVATORE

Sempre confiei no lado bom das pessoas, até me ver completamente sozinha e indefesa.
A máfia russa invadiu o meu casamento, transformando-o em uma carnificina brutal.
Agora, estou aprisionada em sua masmorra, consumida pelo terror. Eles podem ter roubado
minha paz, mas não vão me quebrar. Até que entendi que os monstros não nascem, são forjados,
muitas vezes com sede de vingança.
Aleksey Volkov, o líder, era ambos, e simplesmente não percebi isso até que fosse tarde
demais. Eu me apaixonei por ele.

ALEKSEY VOLKOV

Quando a conheci, eu era apenas uma sombra alimentada por uma sede desenfreada por
vingança. Eu não poderia ficar com ela, não importa o quanto eu quisesse. Ela era perfeita. E eu
não a merecia.
Fui tentado por sua inocência e seu doce coração ingênuo, esforcei-me para mostrar-lhe
o monstro cruel que sou.
Ela se recusou a ver.
Eu jurei vingança.
Ela arruinou tudo.
Milena Salvatore me envolveu em sua teia, tornando-se a minha obsessão.
NOTAS DE ESCLARECIMENTO

Por conter citações de palavras em russo ao longo do livro, visando facilitar o


entendimento, apresento as traduções:

“Lisicka" é a forma diminutiva da palavra russa "лиса" (lisa), que significa "raposa".
Portanto, "Lisicka" pode ser traduzido como "raposinha" ou "pequena raposa" em russo.

“Malyshka" (Малышка) em russo é um termo carinhoso que significa "pequenina" ou


"querida".

“Nyet" (нет) em russo significa "não”

"Moya zaichonok" (моя заичонок) em russo é uma expressão carinhosa que pode ser
traduzida como "minha lebre" em português.

“Bratva”- (братва) é uma palavra em russo que significa "irmandade" ou "fraternidade".


No entanto, frequentemente é usada para se referir à máfia russa ou a organizações criminosas
similares, refletindo a ideia de uma "irmandade" criminosa.

“Pakhan” (пахан) – o chefe da máfia russa.

“Yagnyonok" (ягнёнок) é uma palavra russa que significa "cordeirinho.”

"Kotyonok" (котёнок) em russo significa "gatinho" ou "filhote de gato"

“Dusha moya - душа моя “minha alma”, “alma gêmea.”

"Malysh" (малыш) em russo é uma forma carinhosa de se referir a uma criança ou um


bebê. É como dizer "pequenino" ou "querido.”
Nota: A tradução foi realizada com base em pesquisas simultâneas em páginas da
internet.
Capítulo 1

Assisto à serenidade da paisagem além da janela, onde o crepúsculo pinta o céu com tons
dourados e rubros, completamente absorta na melodia fluindo que ressoa do piano. Meus dedos
doem, mas, ao mesmo tempo, acolho a dor. Ela pulsa dentro de mim, arrancando um soluço
estrangulado do fundo da minha garganta. Eu me sinto profundamente sozinha, sem Mia e
Giovanna aqui, está difícil suportar toda essa solidão.
Enrico tem me ignorado e, quando não me dirige olhares de desprezo, lança-me insultos
e maldições. Ele sabe que eu ajudei Giovanna a fugir e não me arrependo disso. Ele surtou após
sua fuga, e o fato de Massimo ter o ameaçado com uma guerra não ajudou muito. Enxugo as
lágrimas e continuo tocando quando a porta se abre de repente com um baque e Enrico e Antônio
atravessam o hall de entrada. Meu irmão, por incrível que pareça, está de bom humor. Ele anda
até o bar da sala e se serve com uma generosa dose de uísque, seus olhos castanhos se fixam nos
meus e eu vejo o exato momento em que um sorriso sarcástico se desenha em seus lábios. Aperto
os olhos e congelo, meus dedos trêmulos perdem o ritmo, transformando a melodia suave em
uma cacofonia incompressível.
Antônio acena para Enrico e desaparece, nos deixando a sós. Minhas entranhas se
reviram quando escuto os passos pesados do meu irmão se aproximarem e pararem ao meu lado.
— Sabe, apesar de toda a merda que Mia, Giovanna e você fizeram com a nossa família,
consegui finalmente entrar nos trilhos. — Ele leva o copo aos lábios, saboreando o líquido âmbar
com o mesmo sorriso doentio nos lábios.
Aperto os lábios em uma linha, reprimindo o desejo de mandá-lo calar a porra da boca e
me deixar em paz.
Um arrepio percorre minha espinha quando sinto sua mão acariciar o topo da minha
cabeça. O Enrico de hoje nunca me teria feito um carinho sequer.
— Graças a você, a paz será selada, cara — murmura em um tom frio, agarrando o meu
queixo e obrigando-me a olhá-lo nos olhos. — Dessa vez, me certificarei que não haja fugas.
Ofego, estremecendo com o seu aperto que está se tornando uma agarre de aço na minha
pele.
— O que você quer dizer com isso?
Enrico solta uma risada de escárnio e se inclina com seus lábios rentes ao meu ouvido.
— Você se casará com Massimo dentro de cinco meses, cara — sussurra, com seu hálito
quente exalando na minha bochecha.
— N-ão! Por favor, Enrico. Não faça isso. Por… — suplico.
Seu aperto se intensifica, me fazendo calar e fechar os olhos, dominada pela dor que
irradia e o pânico por ter que me casar com um homem tão desprezível como Massimo
Provezano.
— Não gaste sua saliva, cara Mia. Já está tudo decidido, mas está aqui um incentivo,
caso pense em bancar a idiota como as nossas irmãs e decida fugir, a Outfit se unirá com
Ndrangheta e até mesmo à Camorra e juntos iniciaremos uma guerra contra a Cosa Nostra, e
posso garantir, só vamos parar quando aniquilarmos todos aqueles filhos da puta — rosna, me
soltando com um empurrão brusco.
Lágrimas descem pela minha face e cubro a boca para reprimir um soluço.
Enrico não se afasta e continua à espreita, me olhando de cima, usando sua presença
ameaçadora para me assustar.
— Quando eu digo todos, cara, são todos! Incluindo nossas irmãs e suas malditas
ninhadas.
Fecho as mãos em punho e me ergo, o encarando por cima da nuvem de lágrimas que
cobre os meus olhos.
— Como você consegue se olhar no espelho, Enrico? — pergunto entredentes. — Será
que o nosso pai o corrompeu a tal ponto de não restar um pingo de humanidade aí dentro? —
Aponto o dedo em riste para o seu peito coberto por um terno preto bem alinhado ao seu corpo.
Sua expressão se torna mortal e, em um movimento, ele se vira e lança o copo na parede mais
próxima, o fazendo estilhaçar em um milhão de pedaços.
Me encolho com o susto e levo as mãos ao peito, sentindo meu coração bater
violentamente na minha caixa torácica.
— Cala a porra da boca, Milena, ou eu farei — ameaça.
— Eu não vou me calar, Enrico. Você não tem o direito de decidir a minha vida. —
Solto um grito quando ele avança sobre mim, com sua mão direita suspensa no ar.
Ergo o queixo e seguro o seu olhar furioso, mesmo que, por dentro, esteja morrendo de
medo. Não é como se ele não tivesse encostado a mão em mim antes, foi isso que ele fez quando
descobriu a fuga da Giovanna, mas agora não me importo, se ele quer me espancar até a morte,
que seja. Eu não vou me dobrar à sua vontade. É isso que minhas irmãs fariam se estivessem no
meu lugar. O enfrentaria como já fizeram no passado.
Quando Enrico percebe que não vou recuar, ele respira fundo e passa as mãos pelo
cabelo, em seguida, retira algo do bolso do terno e joga sobre o piano. Estreito os olhos e vejo
que são fotografias, várias delas. Hesitando, pego algumas fotos em minhas mãos e meu coração
erra uma batida. Em muitas delas, estão Giovanna, Mia e Asher, que repousa ao lado dela.
Minhas irmãs estão no jardim da mansão de Dário e parecem tão… felizes. Aperto as fotografias
contra o meu peito, meu olhar travando em Enrico, que agora exibe um sorriso afiado. Maldito
seja! Ele está me chantageando.
— Cinco meses, Milena — adverte, girando em seus calcanhares e indo em direção às
escadas, rumo ao seu quarto, ou melhor, do nosso pai. O cretino já o ocupou, alegando ser seu
por direito.
— E arrume-se, seu noivo quer encontrá-la esta noite — diz por cima dos ombros e
meus joelhos cedem. Me encolho, abraçando o meu próprio corpo enquanto sinto braços me
envolverem.
— Vai ficar tudo bem, Milena. Vamos encontrar uma saída. — A voz de Lana ecoa
distante, em meio aos meus soluços intensos.

Nada ficou bem, na verdade, nunca ficará. Massimo tem me visitado com frequência e
me levado para inúmeros jantares e até em reuniões entediantes de trabalho. Aguentar aquele
homem está sendo um martírio e enfrentar os seus avanços têm me enviado ao limite. Sentir o
seu toque repulsivo no meu corpo, sua voz rouca no meu ouvido e suas palavras me faz sentir
suja, como um objeto sem valor.
Uma noite, quando estávamos em seu carro, ele queria me obrigar a chupá-lo, neguei, ele
ficou irritado e prometeu que, quando nos casássemos, iria me disciplinar e nunca mais negá-lo.
Confesso que tenho desejado a sua morte incansavelmente. Algo acidental, como um infarte
fulminante, engasgar-se com a própria comida, um acidente, não sei. Até mesmo um assassinato,
mas, para a minha desgraça, nada acontece, e assistir impotentemente aos meses passando só
aumenta ainda mais o meu desespero. Para me tirar desse destino horrível, só mesmo um
milagre.
Capítulo 2

05 meses depois…
Chicago – Dia do casamento

Olho para as minhas mãos controlando o impulso esmagador de chorar. Este é o dia para
o qual toda mulher anseia. Casar-se em uma igreja, formar uma família. Mas, quando eu me
lembro em quais circunstâncias irei me casar, o meu estômago dá um nó e é quase doloroso não
deixar que as lágrimas tenham o melhor de mim.
Estou me casando para evitar um banho de sangue entre a máfia do meu futuro marido,
Outfit e a Cosa Nostra. Amo minhas irmãs e meus sobrinhos demais para deixar que isso
aconteça. Enrico foi categórico em suas ameaças e após descobrir a gravidez de ambas, dadas as
prévias que ele me deu, não posso arriscar a segurança de ninguém. Eu sei que ele está por trás
do atentado contra Giovanna, pode não ser diretamente, mas tem, sim, o seu dedo podre. De
soslaio, vejo Lana alcançar o buquê de rosas brancas em cima da cama. Eu forço um sorriso,
pois, apesar de odiar Enrico com todas as forças agora, Lana tem se mostrado uma ótima amiga.
Ela coloca uma mecha grossa do seu cabelo castanho atrás da orelha, que se soltou do
elegante coque no topo da cabeça, e morde o lábio inferior.
— Ainda acho que devia ter escutado o que Mia e Giovanna tinham a dizer. — Eu
suspiro, desviando o meu olhar para o mural de fotos atrás dela. Em todas as imagens, minhas
irmãs estão presentes. É tão doloroso vê-las e não poder dar um longo abraço. — Milena, não
pode se casar com aquele… — Ela pausa, comprimindo os lábios, parecendo pensar em algo.
— Ele tem a idade para ser seu pai, avó, ou sei lá o quê. Podemos tentar algo, mas você
não pode simplesmente se casar com ele. — Eu encolho os ombros e olho para ela através da
nuvem de lágrimas que começa a se formar em meus olhos.
— Me diga, Lana, por que ainda está ao lado do meu irmão se o que ele faz a incomoda
tanto?
Os olhos de Lana brilham com pesar, arrependimento e algo mais que eu suspeito que
seja.
— Eu o amo, mesmo que eu me condene todos os dias por isso. Sei que Enrico não sente
o mesmo, nada além de desejo e luxúria — Lana murmura com um olhar distante. — É mais
forte que eu, Milena, não consigo deixá-lo.
Ando até ela, capturando uma lágrima solitária que escorre em sua bochecha. Seus olhos
verdes se fixam nos meus e, enquanto eu pego o buquê de suas mãos, sorrio um pouco.
— Aqui está: assim como você ama Enrico, eu amo as minhas irmãs e o simples
pensamento de algo ruim acontecer com elas me dilacera por dentro, então, farei qualquer coisa
para protegê-las.
Lana balança a cabeça veemente. Embora eu esteja sentindo o meu peito sangrar, não
posso voltar. Meu futuro marido já deixou claro na noite anterior o que acontecerá se eu
simplesmente aprontar algo. Assim que Enrico nos deixou a sós, fui obrigada a suportá-lo me
tocar e pressionar os seus lábios ressecados nos meus. Nunca me senti tão suja como naquela
noite. Ele levou suas mãos imundas para debaixo do meu vestido, me deixando paralisada
quando tentou avançar, então, o empurrei, ele grunhiu e veio até mim novamente, seus olhos
pretos como a escuridão me fizeram tremer, e arrepios cobriram todo o meu corpo. — Espero
que, em nossa lua de mel, não se comporte assim — rosnou a centímetros da minha face —, pois
saiba que não gosto de dramas. Por isso, quero que abra bem essas pernas bonitas e deixe seu
marido satisfeito. Caso contrário, nossa lua de mel poderá tomar rumos sombrios. Vai por mim,
querida, seja submissa e não teremos problemas.
Eu fecho os olhos ainda escutando sua voz profunda cheia de ameaças ecoando na minha
mente. Céus! Não sei como suportarei passar uma noite com aquele velho desprezível, quem dirá
uma vida. Espero que ele enjoe de mim logo e arrume uma amante.
Lana limpa a garganta, parecendo consternada.
— E quem irá protegê-la, Mi? — Seus olhos estão assombrados, e sua pergunta me faz
desmoronar brevemente.
— Não importa. Eu só quero que minha família fique bem. — Eu me obrigo a respirar
fundo e engulo o nó que cresce em minha garganta. Sem dizer nenhuma palavra, olho-me no
espelho e aceno, encontrando os seus olhos. — Vamos, não quero que Enrico surte e venha até
aqui.
Enquanto saio do quarto em passos lentos, Lana vem no meu encalço, alcançando a
longa cauda do meu vestido branco e grinalda, levantando-os com cuidado, esperando
pacientemente que eu desça degrau por degrau.
A cerimônia está acontecendo no vasto jardim da mansão. Como ainda estamos sob
ataques, Enrico achou melhor realizar o casamento em nosso teto. A segurança foi reforçada,
com alarmes extras em cada perímetro.
Quando alcanço o hall de entrada, através da porta principal de vidro, vislumbro
Massimo no altar, com seus cabelos grisalhos, alto, com uma avantajada barriga e seu olhar frio
e insensível quase devorando uma garçonete que passava em sua frente, servindo taças de
champanhe para os convidados. Eu não poderia me importar menos com o fato de que o homem
com quem irei me casar está praticamente fodendo a garçonete da nossa festa com os olhos. De
repente uma sinfonia suave começa e Enrico vem em minha direção. Ele exibe um largo sorriso,
apesar dos seus olhos estarem emitindo alertas o tempo todo.
— Você, com certeza, é a mulher mais linda dessa festa, só precisa colocar a porra de
um sorriso nesse rosto. — Ele se inclina, rosnando baixo.
Eu mordo a língua, gostaria de mandá-lo à merda, mas Enrico não vale o esforço.
Ele ergue seu braço, com relutância, enlaço o meu ao seu, e devagar caminhamos sobre o
longo tapete vermelho coberto por pétalas de rosas. Meus olhos viajam até algumas pessoas
organizadas metodicamente de cada lado. Há fileiras de mesas e cadeiras com ornamentos florais
e velas. Massimo passa a mão pelas lapelas cinza do seu terno e solta um sorriso arrogante, como
se mal pudesse esperar para estarmos a sós. Eu desvio o olhar para longe dele e meu coração se
quebra em milhões de pedaços.
Em uma das primeiras fileiras, estão Mia e Giovanna, ambas lindas, exibindo suas
barriguinhas de grávida. Lágrimas escorrem de suas faces e tanto Dário, quanto Pablo tentam
consolá-las.
Felizmente a caminhada até o altar chega ao fim e algo como pânico começa a emergir
dentro de mim. Meu noivo vem até nós e, com um aperto firme de mãos de Enrico, ele se inclina,
deixa um beijo casto na minha testa e se afasta minimamente para me olhar. Admiração e
possessão doentia dançavam em seus olhos. Eu me contorço, desejando que o chão se abra sob
os meus pés.
O padre designado pela Outfit para realizar a cerimônia respira fundo e começa a
proclamar algumas palavras. A mão do meu noivo agarra a minha cintura e descansa-a na minha
pele. Uma vez ou outra ele aperta como se quisesse reforçar as suas ameaças e, quando chega a
hora de dizer sim, uma luz vermelha no alto do telhado esculpido da mansão chama atenção. Mal
tenho tempo para piscar e tudo acontece muito rápido.
Balas começam a cortar o ar em toda a direção. Um corpo que eu não reconheço esmaga
o meu, me levando ao chão. Gritos e ordens são escutados em meio aos estampidos e explosões.
Eu tento erguer a cabeça e, quando isso acontece, um grito gutural escapa da minha garganta ao
ver um homem alto, todo vestido de preto, com a balaclava da mesma cor, cravar um punhal no
peito do meu irmão, que cai de joelhos, balbuciando sem parar. Lana, desesperada, corre na
direção dele, mas seus passos são interrompidos quando outro homem misterioso surge com uma
arma em punho e dispara, a atingido na cabeça.
— Não! — grito e tento me desvencilhar do peso que oprime o meu corpo.
— Sem chance. Não vou deixá-la sair no meio de um ataque. Você seria alvo fácil.
Ainda em choque, solto um suspiro, reconhecendo a voz irritante do Alessio. Eu olho
para ele, que continua concentrado em efetuar um disparo através de duas pistolas em suas mãos
ágeis.
— Porra! — cospe quando vê um dos inúmeros atiradores investir contra Dário e Mia.
Ele alcança uma mesa redonda e a coloca na minha frente como um escudo e ordena que eu fique
atrás dela e não saia por nada. Eu fecho os olhos, fazendo uma oração silenciosa quando avisto
mais homens invadirem o jardim. Deus! Isso será um verdadeiro banho de sangue.
Levando as mãos à boca com horror, assisto, completamente atordoada, quando um
homem do grupo mascarado grita algumas palavras que acredito serem em russo e aponta uma
arma para a cabeça de Massimo, que, apesar da fúria iminente, está de joelhos, com suas mãos
espalmadas para cima. Com uma risada gutural, o russo literalmente atira explodindo os seus
miolos. Eu não consigo segurar a bile subindo e inclino-me para o lado, vomitando tudo que
estava no meu estômago. Pontos pretos dançam em minha vista quando, de súbito, um homem se
aproxima. Tento correr, mas sou imobilizada e jogada contra a mesa, que se parte em duas.
Minhas pernas vacilam e, mesmo que não tenha força suficiente, me levanto disposta a lutar se
for preciso.
Ele diz algo que eu não consigo entender e mãos ásperas me agarram por trás. Grito e me
debato, vislumbrando o desespero no olhar das minhas irmãs, que estão sendo protegidas pelos
seus maridos e guardas. Lágrimas transbordam em suas bochechas.
— Milena! — Mia e Giovanna gritam em uma fração de segundos, sinto uma pontada no
meu pescoço e a escuridão profunda começa gradativamente me puxar para baixo até não restar
mais nada.
Capítulo 3

Moscou - Rússia

Respire!
Com uma doce melodia ecoando suavemente em minha mente, aplico um esforço
considerável para abrir os olhos. Pisco algumas vezes, mas não encontro mais do que uma
iluminação tênue, proveniente de algumas velas acesas. Suas chamas tremeluzem, lançando
sombras dançantes nas paredes de pedra ao redor. Uma garra afiada envolve minha garganta
quando percebo que não estou em nenhum lugar que eu conheça. O ambiente mais parece uma
caverna, com imagens e símbolos esculpidos como se quem o fez estivesse desesperado,
manchas vermelhas salpicam as paredes e um cheiro pungente e fétido me atinge em cheio.
Horror e pânico me enchem completamente ao avistar uma maca velha desgastada no
canto com instrumentos de tortura sobre ela. Eu sei disso, pois, movida por curiosidade, já assisti
ao meu irmão usá-los algumas vezes, e tento controlar o impulso para não vomitar novamente.
Eu solto um gemido baixo e tento me levantar, sentindo cada centímetro do meu corpo doer e
latejar como um inferno, mas algo me puxa para baixo, não permitindo que eu me mova
livremente. Meus olhos rapidamente correm para baixo, avistando correntes em volta dos meus
tornozelos e não só isso, minhas mãos estão completamente algemadas. Lágrimas pesadas
escorrem pelo meu rosto enquanto tento estender a mão e agarrar as correntes, forçando-as para
cima em um ato desesperado. O que é inútil, pois eu nunca conseguiria arrancá-las assim.
— Nyet! — Uma voz ecoa em algum lugar e, através das sombras, uma figura
imponente emerge com seus passos lentos e pesados direcionados em minha direção.
Eu me encolho como um animal indefeso, sentindo meu sangue gelar em minhas veias.
Sob a precária iluminação, vislumbro nuances do seu rosto com feições duras e um olhar cruel.
Seus olhos azuis se fixam em mim, enquanto suas pernas largas cortam a distância entre nós. Ele
parece ter um pouco mais de cinquenta anos, com uma barba densa e cabelo preto com fios
brancos sobressaindo em ambos. Diversas cicatrizes adornam o seu rosto, o deixando ainda mais
assustador.
Com uma falsa quietude, ele abre os primeiros botões do seu terno preto e dobra as
mangas até os cotovelos, revelando uma sequência de tatuagens e enormes rastros de
queimaduras. O homem se agacha e, em um movimento rápido, agarra um punhado do meu
cabelo, me fazendo estremecer, sentindo o seu aperto de aço no meu couro cabeludo. Ele ruge
palavras em russo e suas veias do pescoço pulsam com cada sílaba dita, enquanto eu permaneço
em silêncio, com os lábios pressionados numa linha firme. Sinto um impacto lancinante em meu
rosto, um gosto metálico explode na minha boca e sou arremessada contra uma cama de concreto
logo atrás de mim, forçando as correntes que restringem os meus movimentos, provocando uma
dor aguda em meus membros.
— P-are! — grito, tentando me livrar do seu agarre.
O som de tecido sendo rasgado ecoa no ar e mais uma vez congelo, com meu pulso
acelerando loucamente. O homem, com uma construção sólida e força descomunal, monta em
meu quadril e continua a arruinar o meu vestido, deixando totalmente em frangalhos. Eu choro
copiosamente, sentindo minhas forças se esgotarem lentamente. Lutar é inútil. Passei todos os
anos da minha vida tentando ignorar o lado feio e hediondo da humanidade, não quero mais
fechar os olhos para isso. Soluços intensos escapam do fundo da minha garganta e, quando
acredito que não poderei mais lutar o peso que esmaga, o meu corpo é removido e um par de
olhos pretos me encara furiosamente.
Eu pisco, sentindo meu corpo todo tremer e arquear sobre a superfície dura da cama, e
novamente sou tragada por uma silenciosa escuridão.

A confusão nubla os meus pensamentos quando sinto os meus sentidos entrarem em


foco. Sobressalto e percebo que minhas mãos estão livres, mas os meus tornozelos continuam
presos a longas correntes. Olho para baixo, meus olhos percorrendo todo o meu corpo quase
revelado pelo que sobrou do meu vestido de noiva. Levanto-me e, hesitante, caminho até a
grande porta de ferro, tentando espiar através da tímida janela. Não consigo ver nada além de
uma escuridão assustadora. Afasto-me e corro de volta para a cama quando ouço passos pesados
ecoarem atrás da porta. Ao som de uma fechadura sendo aberta, me desespero.
Meus membros ficam instáveis e meu estômago embrulha quando o pânico toma conta
de mim novamente. E se for aquele homem de novo? Se ele decidir terminar o que começou?
Encolho-me no final da cama, abraçando os meus próprios joelhos.
A porta lentamente se abre, revelando um rosto jovem, alto, forte, com olhos castanhos e
cabelos escuros como ébano, e com uma expressão dura, porém, nada tão assustadora como o
anterior. Ele veste roupas escuras e botas de combate. Como se avaliasse o meu estado, ele solta
um suspiro. Tenta se aproximar, mas, quando percebe que estou tremendo e praticamente me
fundindo com a parede, recua.
Diz algumas palavras em russo, balançando a cabeça veemente. Seus olhos disparam
para os meus e o vejo apontar para uma bandeja em suas mãos que começa levá-la com cuidado
até o chão imundo da cela ou masmorra, seja lá o que esse inferno seja.
— Coma! — diz na minha língua, me pegando de surpresa.
Olho para o prato de sopa com fatias de pão ao lado e uma garrafa de água. Meu
estômago ronca e, mesmo que eu esteja faminta, não tocarei em nada que eles trouxerem. Quem
garante que não está envenenado com alguma droga?
Balanço a cabeça, viro o rosto e ouço o cara grunhir e soltar algo que acredito ser algum
palavrão.
— Não é prudente bancar a rebelde, garota! Se eu fosse você, procuraria ficar fora do
nosso radar. — Eu o encaro, o observando se escorar contra a porta e cruzar os braços. Seu olhar
duro se fixa nos meus.
— Por que estou aqui? — pergunto baixinho.
Ele trava o maxilar e se afasta com um bruto empurrão da porta.
— Vocês tiraram algo de nós — diz com um rosnado. Seus olhos castanhos olham-me
com uma indiferença sombria. — O que você acha?
Eu nego, reprimindo a vontade de gritar. Eu não sei por que estou aqui! Se vão me
torturar e matar, que façam de uma vez. Quando abro a boca para responder, uma batida na porta
me interrompe.
— Ivan! Saia agora, porra! — uma voz grave rosna, irritada do outro lado.
Ele se vira e, sem dar um último olhar na minha direção, abre a porta e desaparece,
deixando um rastro de escuridão e temor. Eu me encolho novamente e as garras assombrosas do
medo voltam a cavar fundo no meu peito. Jogo a cabeça para trás, fitando o teto inóspito. Estou
completamente esgotada e, embora esteja com muita fome, permaneço imóvel no lugar até sentir
minhas pálpebras pesarem e fecharem completamente. Flashes do dia do meu casamento
explodem em minha mente. Os incessantes estampidos cortam o ar, Enrico agonizando de
joelhos enquanto tem um punhal atravessando o seu peito, e Lana… Deus!
Eu me debato com algo que domina o meu corpo, vislumbrando os olhos amedrontados
de Giovanna e Mia. Eu grito, mas algo me cala, eu o sinto apertar a minha garganta e o ar deixar
os meus pulmões. Meus olhos se abrem subitamente, praticamente saltando de suas órbitas. Eu
me pego em uma realidade brutal, e um par de olhos azuis cruéis cruzam os meus e seu hálito
quente, mesclado ao cheiro irritante de cigarro e álcool, me atinge em cheio. Ele está em cima de
mim e seu corpo cheio de músculos está esmagando o meu.
Atordoada com seu ataque, grito e tento empurrá-lo para longe. O infeliz sorri, e sua
risada gutural ecoa em cada pedra cimentada nas paredes. Rosnando algo em russo, ele rasga o
que sobrou do meu vestido, deixando-me parcialmente nua. Leva uma mão para a minha
calcinha e a transforma em meros fios de trapos.
Lágrimas copiosas escorregam da minha face enquanto tento inutilmente escapar do seu
agarre. De repente uma sombra paira sobre nós. Feições duras e olhos ferozes com bordas letais
me encaram brevemente antes de, apenas com um movimento, imobilizar o meu algoz, o levando
para longe de mim e o atirando contra a outra extremidade da parede.
Estou ofegando e tremendo, e não consigo ver nada através da nuvem de lágrimas que
cobrem os meus olhos. Deslizo o dorso da mão pelo meu rosto e encaro o meu salvador a minha
frente, se é que posso chamá-lo disso, reparando em seu cabelo preto como ônix e rosto
esculpido, embora tenha traços duros e implacáveis, além de uma cicatriz no lado esquerdo do
supercílio, enrugando minimamente a sua pele alva.
Ele usa vestimentas pretas, parece ser o único padrão aqui. O homem mais parece o
cavalheiro da morte pronto para arrebatar sua vítima. Ele dá um passo à frente, e eu posso vê-lo
sob a luz suave das velas acesas e como a sua surpreendente altura e os músculos intimidam. A
impressão que eu tenho é que ele pode me quebrar ao meio apenas com um toque. Obviamente
alguém aqui gasta boa parte do tempo com treinos intensos.
— Não devia estar aqui! — Sua voz profunda interrompe o silêncio.
Eu franzo o cenho e limpo meu rosto mais uma vez antes de olhá-lo. Ele não esboça
nenhuma reação quando me encara de volta, exceto por um músculo saltar de sua mandíbula. Ele
se vira com os punhos cerrados, lançando um olhar para o infeliz do meu atacante, soltando um
rosnado.
— Espero não ter que repetir. Eu já disse, ninguém toca em um fio de cabelo dela. Não
sem uma ordem direta. — Endireito a coluna, sentindo minhas entranhas se revirarem com sua
última palavra.
— Aleksey… — o velho tenta retrucar, mas o homem o ignora, avança contra ele e o
prensa contra a parede, dizendo palavras em russo, e, por fim, o solta com um empurrão brusco.
— Não ouse me desafiar, tio. Ou eu juro, esquecerei que compartilhamos o mesmo
sangue. Quem está no comando agora? — Seu tom é baixo e firme, embora sua postura exale
algo semelhante a uma calma disfarçada.
O velho recua com um gesto, baixando a cabeça em um claro sinal de respeito.
— Desculpe, isso não irá se repetir… pakhan!
Arregalo os meus olhos e suor escorre por minhas têmporas. Pakhan? Eu repito
mentalmente. Então o homem que acabou de me livrar de um ataque é o… líder? Como se
conseguisse ouvir os meus pensamentos, ele se vira e seus olhos pretos e indiferentes se fixam
nos meus.
— Saia! — ordena sem tirar os olhos dos meus. — E não volte aqui sem uma ordem
direta do seu pakhan.
O homem deixa a cela sem retrucar. Em silêncio, o meu salvador anda até mim com seus
olhos escuros analisando-me como um experimento de laboratório. Ele estreita os olhos e,
alcançando algo no bolso dos seus jeans escuros, se agacha e abre os braceletes com correntes
que envolviam os meus tornozelos.
Marcas salpicadas com vermelho e roxo adornam minha pele. Seu polegar desliza sobre
elas em uma espécie de referência distinta. Eu continuo olhando para ele e, quando sou pega por
suas íris escuras, ele se afasta e uma carranca profunda toma conta das suas feições, mas seus
olhos continuam em mim, em uma varredura minuciosa pelo meu corpo nu.
Minhas bochechas esquentam rapidamente e, com o maxilar apertado, ele tira sua camisa
preta de manga longa e a joga na minha direção. O tecido suave colide com minha face,
espalhando um cheiro rico, viciante e amadeirado, enchendo os meus sentidos.
— Vista, lisichka — diz em um tom sinistro e profundo.
Minha respiração fica presa e, ao mesmo tempo, sinto o meu corpo tremer com a
retaliação velada que vejo brilhar em seus olhos. Alertas disparam na minha mente e constato
que me salvar de um ataque dos seus próprios homens é o menor dos meus problemas.
Capítulo 4

Olhos azuis como safiras me encaram e algo profundo toca o meu peito. Esses olhos…
Embora haja medo e desespero brilhando através deles, vejo algo suave e quase pacífico, mas
nada comparado ao caos que estou acostumado. Eu me viro enquanto ela se veste, mantê-la nua e
confinada em uma cela não estava nos meus planos, assim como sua presença no meu território.
Não sei por que diabos o meu tio achou que trazer uma Salvatore teria alguma serventia. Enrico,
como o seu pai, está morto. Devemos focar todas as nossas forças no capo da Cosa Nostra, esse,
sim, é o meu alvo e não sossegarei até ter sua cabeça em uma bandeja. Os outros malditos
Ruggiero serão uma doce recompensa. Eles torturaram o meu irmão, mataram o meu pai, Nikita
Volkov, e tentaram o mesmo comigo, mas falharam miseravelmente.
Depois do tiro no peito e a explosão do armazém, fiquei em coma por dois anos. Meu
tio, Konstantin Voronin Volkov, o segundo no comando, assumiu a tarefa como pakhan até eu
estar totalmente pronto para assumir a Bratva. Não me lembro de nada que aconteceu antes,
exceto minha infância, mas tenho tido pesadelos que me assolam uma vez ou outra. Tudo não
passa de um borrão.
Assim que eu saí do hospital, meu tio me colocou a par de tudo, principalmente das
mortes da minha família. Todo esse tempo fui alimentado com fúria e sede de vingança. A cada
dia, esses sentimentos crescem em mim como erva-daninha e eu não morrerei sem ter a cabeça
do homem responsável por isso entalhada na minha parede. Dário Ruggiero.
Fecho as mãos em punho quando ouço uma voz baixa e suave ecoar atrás de mim.
— Por que… estou aqui? O que pretendem fazer comigo?
Eu me viro lentamente e olho para ela, seu rosto angelical e as feições delicadas são
como uma provocação perigosa, o que me envia ao limite.
— Acertos de contas, yagnyonok — digo, andando em sua direção. Seus olhos se
arregalam como pires e a vejo engolir em seco.
Agarro sua garganta, sentindo o seu pulso pulsar sob o meu toque, e lambo os lábios.
— Eu não… entendo! Por que eu?
Seus lábios rosados tremem em um fio de voz. Meu aperto vacila e, evitando olhar para
os seus olhos que parecem enxergar através de mim, rosno, apertando o meu aperto, escutando-a
ofegar e arranhar a minha mão, tentando afastá-la.
— Porque não somos bons, e muito menos justos. Tiraram muito de nós, agora é nossa
vez.
Eu a solto com um empurrão. Ela tosse e leva as mãos ao pescoço, respirando com
dificuldade.
— Não faça perguntas se não aguenta lidar com as consequências, yagnyonok. Agora
durma. Logo tudo isso acabará.
Lágrimas se acumulam em seus olhos e, por mais que eu não me importe, algo queima
aqui dentro cada vez que eu olho para ela. Praguejo baixo e giro em meus calcanhares. Abro a
porta pesada de ferro e a fecho com um baque, a escutando soluçar e implorar para que eu a
solte. Seus gritos guturais ecoam a cada passo que dou. Calando qualquer voz na minha mente,
atravesso o extenso corredor do castelo, avistando Maksim com uma carranca, escorado na
parede de pedras com um punhal, rodopiando entre os dedos.
— Aleksey… — diz entredentes assim que percebe a minha presença, e eu estreito os
olhos para ele, que desvia o olhar com um suspiro.
— Pakhan, por que estamos perdendo tempo vigiando uma Salvatore? Pensei que a
vingança viria em primeiro plano. Por que não a matamos e nos livramos dela de uma vez? Ter
essa garota aqui é inútil!
No momento que ele termina de falar, tenho meu cotovelo pressionado contra a sua
jugular. Os olhos escuros de Maksim se arregalam em choque, mas logo é substituído por uma
fúria crescente.
— Não me diga o que fazer, irmão. Apenas se cale e não ouse seguir sem uma palavra
do seu pakhan, fui claro?
Eu me inclino, olho-o nos olhos e cerro os dentes. Maskim não consegue esconder o
desgosto, mas sabe quais batalhas deve escolher, e esta definitivamente não é a sua. Ele consegue
desvencilhar do meu aperto e toma uma distância segura. Seus olhos pretos disparam punhais em
minha direção. Para os nossos inimigos, um olhar mortal e seu um metro e oitenta bem
distribuídos em músculos sólidos seriam o bastante para intimidar o adversário, o que não é o
meu caso. Supero sua altura com louvor e não costumo fugir de uma boa luta, mesmo que o meu
adversário seja meu irmão.
— O tio tem razão quando diz que você não é o mesmo.
Eu fecho os punhos, tentando silenciar o desejo de quebrar algo ou parti-lo em dois.
Meus lábios se esticam em um sorriso de escárnio e dou um passo à frente, deixando
visível a minha fúria assassina.
— Que ele pare de falar merda, ou eu o farei — ameaço e passo por ele.
Continuo andando pelo extenso corredor em passos largos. Minha cabeça começa a
latejar e novamente sou tomado por um ruído de vozes e explosões. Uma dor irradia na parte de
trás do meu crânio e, de súbito, espalmo as mãos na parede, quase perdendo o equilíbrio. Respiro
fundo, erguendo os olhos à frente, enxergando pontos borrados através da minha visão. Outra
onda de vertigem me atinge e sou tragado por uma escuridão esmagadora.
— Você garantiu que eventos como esses não se repetiram, porra! — uma voz distante
esbraveja.
— O senhor Volkov teve uma recuperação surpreendente. Talvez ele esteja sob muito
estresse, o que pode ter desencadeado o seu desmaio. Não há nada para se preocupar.
Abro os olhos imediatamente, reconhecendo a voz do doutor Dmitry, médico da Bratva,
responsável pela minha recuperação.
— Não há nada para se preocupar? — meu tio retruca furioso. — Aleksey vive dando
defeito, a Bratva não pode ter um líder assim. Talvez seja melhor interná-lo novamente na
clínica, quando ele estiver totalmente recuperado, volta ao comando.
Travo o maxilar e me levanto, seus olhos azuis se arregalam quando percebe que estou
desperto e, pela expressão alarmada que vejo no seu rosto, reflete o medo de que suas palavras
tenham sido ouvidas por mim.
— Voltar para a clínica não é uma opção. — Minha voz sai firme, cortando o silêncio
tenso entre nós. — Eu não sou um maldito quebra-cabeça para ser consertado. Eu lidero a
Bratva, e todos devem aceitar isso.
O olhar de desaprovação do meu tio é palpável, mas ele se retira da sala sem dizer mais
nada. Fico ali, encarando a porta fechada, enquanto a ira cresce dentro de mim, alimentada pela
constante resistência à minha liderança. Ao virar para Dmitry, a fúria ainda ferve em minhas
veias.
— Algo me diz que meu tio não deixará isso barato. Caso ele o procure com alguma
proposta absurda, venha imediatamente a mim e relate tudo. — Dmitry passa a mão por sua
densa barba grisalha e, com um olhar firme, assente. Posso ter perdido a memória, mas sinto que
nele posso confiar. Até agora, não deu motivos para pensar o contrário.
Com um aperto firme em meu ombro direito, ele me encara.
— Konstantin não está feliz por Igor ter sido promovido para o segundo no comando.
Nikita sempre manteve vocês e seus irmãos afastados do poder. Creio que deve manter os olhos
bem abertos, Aleksey. Quando seu pai comandava a organização, seu tio tentou manipulá-lo
diversas vezes e obteve êxito em muitas delas.
Fecho os punhos com força enquanto uma veia salta do meu pescoço.
— Por todos os meios, que ele tente — rosno. — Eu não sou o meu pai.
Dmitry inclina a cabeça em sinal de compreensão, seu olhar sério denota a gravidade da
situação.
— Lembre-se, Aleksey, o respeito na Bratva é conquistado com pulso firme, não com
complacência. Seu pai soube manter essa linha com maestria, e você precisa seguir seus passos.
A batalha pelo comando é constante, e cada movimento deve ser calculado.
Depois de me despedir de Dmitry, dirijo-me à minha mesa e ligo o laptop, cuja tela se
ilumina minutos após, revelando uma figura frágil e vulnerável. Estreito os olhos ao notar a
bandeja de comida intocada no chão, o que provoca um leve sorriso. Observo a garota
maltrapilha mover-se de um lado para o outro na cela, seus olhos azuis varrendo cada centímetro
do espaço.
De repente, como se sentisse que está sendo observada, ela olha diretamente para a
pequena câmera escondida entre as rochas das paredes; seus lábios pálidos tremem e seus olhos
parecem implorar por algo. Liberdade! Ela leva as mãos aos fios de seu cabelo loiro e puxa-os
violentamente, à beira de um colapso nervoso. Minhas mãos começam a tremer
involuntariamente e, com toda a força que tenho, fecho o aparelho com um golpe bruto. Que se
foda. Não me importo. Assim que Igor trouxer novas informações, me livrarei dela. Nenhum
maldito Salvatore ficará no meu caminho.
Capítulo 5

Forço meus olhos a permanecerem abertos, dominada pelo pânico de adormecer e


acordar novamente sob o peso daquele homem terrível em mim. Perdi a noção do tempo, sem
saber por quantos dias estou aqui. À beira da insanidade, a fome ronca alto em meu estômago.
No entanto, não posso ceder. Rumores sobre a máfia russa ecoam em meus ouvidos, sobre como
conseguem suas "prostitutas". Drogam-nas, levam-nas para longe e as mantêm presas, indefesas,
alimentando-as com vícios para tê-las sempre à sua mercê.
Um sobressalto me atinge quando Ivan, o garoto que traz minhas refeições, passa pela
porta. Seu olhar frio encontra o meu e, antes que ele diga algo, seus olhos escuros percorrem
lentamente meu corpo, causando desconforto. Cruzo os braços acima do peito, tentando ocultar o
contorno dos meus seios.
Ele ergue o queixo, apontando para a porta de ferro aberta.
— O pakhan exige sua presença.
Recuo, balançando a cabeça negativamente, sentindo meu sangue gelar nas veias. Ivan
dá um passo à frente e seus lábios se esticam em um sorriso cruel.
— Não é um pedido, kotyonok. Agora ande, ou prefere que eu a leve arrastada?
Meu batimento cardíaco acelera e um arrepio percorre minha espinha. Em poucos
passos, ele me alcança e me empurra em direção à saída. Meus olhos percorrem o longo corredor
meio escuro, iluminado apenas por um punhado de tochas colocadas aleatoriamente, então
observo as paredes úmidas e fétidas com manchas de sangue, o que faz o meu estômago se
contorcer. Meus pés descalços pisam em poças pegajosas e eu fecho os olhos, inalando com
força. Logo atrás de mim, escuto um risinho e não preciso me virar para saber que estou
divertindo o idiota atrás de mim.
Quando paro em uma grande porta de ferro, Ivan assobia e ela é aberta silenciosamente.
Meus olhos piscam para se acostumarem com a claridade e, quando consigo focar no ambiente
em minha frente, minha boca abre e fecha. É um castelo. Divago mentalmente. A imponência e
elegância da estrutura são ofuscadas pela sensação sufocante que a atmosfera carrega. O som dos
meus passos ecoa pelo salão luxuoso e sombrio enquanto Ivan me guia pelo tapete vermelho que
se estende até um trono de aspecto intimidador. Sinto o olhar pesado dos retratos nas paredes,
rostos de homens que parecem desafiar qualquer coragem.
Meus pensamentos se perdem quando percebo que chegamos ao centro e vários pares de
olhos estão focados em mim. Minha respiração engata quando um par de olhos gélidos
encontram os meus, e uma tensão palpável preenche o ar. Meu coração martela no peito
enquanto uma risada baixa ecoa, revelando que este não é um simples castelo, mas o palco de um
jogo perigoso.
Com uma falsa bravata, ergo o queixo e travo meus olhos nos seus. É leve, mas
sutilmente assisto a um canto dos seus lábios levantar-se. Um silêncio esmagador paira sobre nós
e só então percebo um homem que não tinha visto antes parado ao lado de Aleksey. Sua altura é
impressionante, como todos os demais aqui, com um corpo constituído de músculos e um rosto
incrivelmente agradável, exceto pela sua expressão afiada. Ele aperta os olhos na minha direção,
como se estivesse me analisando. Seus olhos são de um verde-musgo quase dourado, com
cabelos pretos, e tem um olhar brutal, embora pareça silencioso. Ele segura um tablet em uma
das mãos e digita algo, então ouço um estalo e um painel começa a descer lentamente no meu
campo de visão. Aleksey tem um olhar estranho e percebo quando um músculo salta do seu
pescoço.
— É hora do show! — rosna uma voz grave em algum lugar e um grito escapa do fundo
da minha garganta quando alguém dá play no vídeo da tela. Meus lábios tremem e meus ombros
se sacodem, irrompendo em soluços.
Através da minha visão embaçada, observo dois caixões fechados e pessoas vestidas de
preto expressando a solenidade do luto. Dois rostos em especial chamam a minha atenção e é
como se uma adaga estivesse atravessando o meu peito. Mia e Giovanna. Sei que nosso irmão foi
um carrasco como nosso pai era com elas, mas antes de Enrico ter se tornado um monstro, ele foi
o nosso irmãozinho, aquele que nos protegia de tudo e todos, aquele que enxugava as nossas
lágrimas e nos defendia até do nosso pai. Fecho os meus olhos e um flash de Enrico tendo seu
peito atravessado por uma adaga explode na minha mente.
E Lana! Deus! Ela o amava, e, no fundo, tinha esperança de que um dia ele enxergasse
isso. Minhas pernas cedem e, com uma respiração sôfrega, caio de joelhos no chão. Não consigo
olhar para a cena novamente, eu simplesmente não posso! Perdida em meu sofrimento, escuto
risos de zombaria e maldições em russo.
— Olhos na tela, Lisichka! — a voz do líder da máfia russa ordena friamente.
Eu prendo a respiração e, relutantemente, olho para a tela. Meus olhos se arregalam e
começo a balançar a cabeça veemente.
— Por favor… — Meu sussurro é quase inaudível e, com um impulso difícil, me levanto
quase falhando no processo. A bile ameaça subir à medida que os rostos das minhas irmãs com
pontos vermelhos na testa preenchem a tela.
— N-ão! — grito, fechando as mãos em punho, vislumbrando os olhos azuis daquele
homem desprezível logo atrás de Aleksey se deleitando com a cena.
— Só há uma maneira de poupá-las, Lisichka — Aleksey murmura com um ranger de
dentes, fazendo uma pausa em seguida — Conte-me tudo que precisamos saber sobre o Don da
Cosa Nostra e garanto que suas irmãs e sobrinhos ficaram fora disso. — Eu pisco, um pouco
assombrada por sua oferta.
— P-or favor… não me peça isso. — Eu choro, deixando escapar um soluço
estrangulado.— Eu não sei como posso fazer. Eu não sei de nada.
Aleksey se levanta e, embora exale uma calma serena, seu corpo parece mais com uma
arma letal. Posso sentir em cada osso do meu corpo que um pequeno deslize e eu serei dilacerada
com um servo indefeso.
— Não sabe… — ele replica e começa a descer um degrau de cada vez seus olhos em
mim em uma ameaça silenciosa. Seguindo o meu instinto de autopreservação, começo a recuar a
cada passo seu até sentir os meus calcanhares baterem em algo.
— Peguei você! — A voz zombeteira de Ivan estala atrás de mim ao mesmo tempo em
que seus braços se fecham em minha cintura.
Aleksey estreita o olhar e para a um fio de distância e os braços de Ivan desaparecem.
Eu desvio o olhar para o outro lado, sua presença imponente me incomoda
extremamente. Não sei explicar. Há algo nele, no seu olhar, que me deixa atordoada. Eu não
consigo ter um pensamento coerente e alertas disparam na minha mente o tempo todo.
Agarrando firmemente o meu queixo, ele o inclina até me ter presa na escuridão do seu olhar.
— Não minta para mim, Lisichka. Ou serei obrigado a dar-lhe uma pequena prévia. —
Ele olha por cima do ombro em direção ao homem e diz: — Igor trouxe informações
privilegiadas da Cosa Nostra. Após o fiasco do seu não casamento, as coisas parecem ter
desandado para Dário. Novos inimigos surgiram, e sabe o que isso significa? — pergunta,
retornando os olhos cruéis para os meus enquanto uma respiração trêmula escapa dos meus
lábios.
Balanço a cabeça e seu aperto aumenta ainda mais no meu queixo, fazendo-me
estremecer.
— Use as malditas palavras, Milena. — Arregalo os olhos quando ouço meu nome cair
como um rugido dos seus lábios. É a primeira vez que ouço ele falar assim, e é como se minha
mente estivesse sendo completamente devastada.
— Eu... não sei — finalmente deixo escapar. — Seu indicador começa a traçar meu lábio
inferior, uma sensação escaldante me atinge e então suas palavras afiadas retumbam entre nós.
— Sua cabeça está a prêmio. — Risadas masculinas ecoam ao nosso redor e, liberando-
me do seu aperto com um empurrão, vislumbro severidade glacial brilhando em seus olhos. —
Aquele filho da puta é meu! — sentencia, batendo no peito furiosamente — Será a sua cabeça
que terei entalhada na minha sala.
Capítulo 6

Meus olhos se abrem e disparam para a porta sendo aberta. Konstantin entra e acena,
seus olhos azuis estreitos em mim estão cobertos de malícia e escuridão.
Após o pequeno aviso que enviei para Milena, ordenei que Igor a levasse de volta para a
masmorra. Apesar de sempre parecer imperturbável, dessa vez ele não conseguiu esconder o seu
desagrado. Ter uma mulher indefesa como prisioneira deve ter reaberto antigas feridas.
Meu tio anda até o pé da cama e se escora, olhando rapidamente em volta. Meu quarto
sempre esteve fora dos limites, às vezes me sinto sufocado pelo caos que é a minha mente,
perder quase toda a minha memória é algo que ainda me deixa atordoado. É como se uma parte
de mim tivesse sido empurrada para área movediça e a qualquer momento ela irá me engolir por
inteiro.
— Aleksey, o tempo está passando. Não podemos desperdiçar o trunfo que temos em
nossas mãos — Konstantin diz com uma ameaça velada.
Lançando-lhe um olhar de advertência, levanto-me da cama e ando até a grande janela,
observando a neve cair lá fora, formando uma crosta alva nas árvores da imponente floresta
escura ao redor do castelo. Apesar de não me lembrar de muita coisa, minha infância não foi
totalmente perdida. Tenho pequenos flashes de quando corria pelo jardim com Igor e mamãe
logo atrás no nosso encalço. Seus longos cabelos escuros balançavam no ar enquanto um sorriso
brilhante escorregava dos seus lábios, e este era um dos raros momentos que eu a via sorrir.
Uma nova pontada me atinge em minhas têmporas, irradiando para a parte superior da minha
cabeça. Eu respiro fundo e cerro os dentes, mantendo minha expressão firme, e me viro para o
meu tio, deixando de fora o meu estado caótico.
— Eu decido quando for a hora, já devia saber disso, tio — aviso, e uma lasca de
desgosto e irritação passa em seus olhos.
— Aleksey… — diz, fazendo uma pausa, puxando uma longa respiração profunda.
— Os albaneses estão pressionando, querendo respostas. Manter essa garota aqui, viva, é
uma afronta, pelo amor de Deus! — Estreito os olhos, sentindo um gosto amargo na minha boca.
— Fizemos um acordo com eles, Aleksey. Os albaneses cumpriram sua palavra. Nos ajudaram
com suas conexões a entrar no território da Outfit e eliminar Enrico Salvatore e Massimo
Provenzano. Manter uma Salvatore respirando é…burrice! Não é assim que seu pai costumava
agir.
Meu sangue ferve em minhas veias e travo o maxilar, invadindo o seu espaço pessoal,
nossos narizes a um fio de distância de se tocarem.
— E o que você sugere que eu faça, tio? — rosno em seu rosto.
— O que o grande Nikita Volkov faria em uma situação como essa? — Konstantin
recua, seus lábios curvados em um sorriso desprezível. — Jason foi brutalmente torturado até a
morte, teve seus membros dilacerados como um porco e, uma semana depois, recebemos sua
cabeça em uma caixa.
Fecho os olhos, sentindo uma onda de náusea e fúria espiralando dentro de mim. É
sufocante e tenho que respirar algumas vezes para manter o controle. Abro os olhos e vejo meu
tio olhando para mim, com sua expressão sagaz, inabalável enquanto continua o seu relato
macabro.
— Lembro como meu irmão desmoronou quando viu a cabeça do próprio filho
decapitada, seus olhos sem vida…, mas sabe o que me lembro, Aleksey? — Quando não
respondo, meu tio segura minha face com ambas as mãos, com seus olhos frios fixos nos meus.
— De como a expressão do meu sobrinho exalava dor. Era crua, pungente, do tipo que sentíamos
em cada fibra do nosso ser. Aqueles desgraçados não tiveram o menor remorso. Por que
devemos ter misericórdia por aquela puta americana?
Eu me desvencilho de suas mãos, ignorando a pontada silenciosa que dispara no meu
peito por ouvi-lo falar de Milena dessa forma. Foda-se! Ela é a minha inimiga, então não devo
me importar menos.
— Logo depois, você e Nikita foram emboscados e sequestrados pela Cosa Nostra. O
resto você já sabe. Eles explodiram o meu irmão e você… felizmente eu e nossos homens
conseguimos salvá-lo a tempo.
Meus olhos disparam para sua expressão mascarada, e seu tom, embora seja firme,
parece esconder algo muito profundo. O que será que o meu tio está deixando de fora? Eu posso
ter perdido metade da minha memória, mas sei identificar quando uma pessoa está mentindo, e
definitivamente Konstantin Volkov esconde algo debaixo do tapete.
Ele me lança um olhar afiado.
— Então, Aleksey, nossa família foi dizimada, acha mesmo que deve misericórdia a uma
Salvatore? Os albaneses querem o sangue dela. Mantê-la irá contra o que estamos buscando:
vingança! Mate-a e mande os pedaços dela em uma caixa diretamente para a Cosa Nostra, já que
a Outfit se acovardou e a deixou à própria sorte.
Eu estremeço e o olho fixamente.
Um grunhido escapa dos seus lábios enquanto ele se vira e anda em direção à porta. Com
a mão na maçaneta, seus pés cessam e calmamente ele joga por cima do ombro:
— A cabeça fica — diz friamente, e irritação acende em meu peito, estreito os olhos em
suas costas largas, reprimindo o caos que começa a sacudir a minha mente. Explosões. Gritos.
Morte. — Você perguntou o que Nikita faria, está aí sua resposta. Está na hora de provar para
toda a Bratva que você tem o sangue de Nikita correndo em suas veias, Aleksey. Você deve isso
a todos nós, principalmente à memória do seu pai e irmão.
Após o estrondo da porta se fechar, avanço na sua direção, golpeando a madeira com
uma força descomunal. Uma dor lancinante percorre meu punho, irradiando-se por todo o braço.
Suspiro profundamente, sentindo o pulsar persistente da dor, uma lembrança viva do preço que
estou disposto a pagar. Em meio ao iminente caos, ergo a cabeça com a determinação
incendiando meus olhos. Minha mão encontra a empunhadura firme da pistola semiautomática e
fixo meu olhar no lobo gravado na coronha. Sou o líder desta matilha; não posso fraquejar agora.
Se meus homens esperam que eu derrame o sangue de uma Salvatore, é isso que terão. Guardo a
arma nas costas e avanço em passos decididos em direção à porta.
Sem pensar, apenas avanço, cruzando os corredores sombrios do lado sul do castelo em
direção à masmorra. Ao alcançar a porta de ferro, abro-a com a chave e a chuto, fazendo a
grande estrutura bater com força na parede de pedras, com o barulho ecoando pela
semiescuridão. Encaro Milena, a pequena figura que se projeta da cama, seus olhos arregalados
como pires refletem o brilho das velas que dançam sobre os castiçais dourados no topo de sua
cabeça. A garota se encolhe quando dou um passo à frente e abraça o próprio corpo.
— O que está acontecendo? — sua voz trêmula ecoa e seus lábios rosados tremem em
desespero. Desvio o olhar rapidamente, minha atenção está voltada para o corpo dela, vestida
com minha camisa preta de manga longa que dei a ela em uma noite, calça de moletom e meias
da mesma cor, enrolada em um cobertor cinza que parece bastante aconchegante.
A constatação de que essa pequena Lisichka tem manipulado meus homens incendeia
meu interior. Mas isso, agora, chega ao fim. Avanço em sua direção e arranco o cobertor do seu
corpo, o que a faz soltar um grito agudo, em seguida, agarro seu braço, puxando-a
implacavelmente para cima, e seus olhos assustados encontram os meus. O pânico brilha
intensamente através deles, ecoando em meu próprio interior, mas eu resisto. Foda-se! Não
permitirei que uma Salvatore invada minha mente. Empurro-a para frente, e Milena tropeça nos
próprios pés antes de manter o equilíbrio.
— Ande, Lisichka e não pare até que eu diga que possa — exijo com a voz carregada de
autoridade e ira, cortando o silêncio perigoso do corredor.
Milena vacila por um momento antes de engolir em seco e começar a andar à minha
frente, enquanto nossos passos ecoam na escuridão. Alguns minutos depois, estamos saindo do
castelo, os guardas que patrulham a noite apenas nos olham e rapidamente desviam o olhar para
longe.
Milena estremece assim que a grande floresta escura se estende diante de nós. As suas
árvores altas e imponentes testemunham o tumulto que permeia o ar gélido. A neve cai em flocos
lentos, criando um cenário etéreo ao nosso redor enquanto prosseguimos. Milena continua a
caminhar em passos hesitantes na minha frente, seus movimentos rígidos como se a qualquer
momento pudesse desmoronar. O silêncio entre nós é interrompido apenas pelo sussurro suave
da neve ao tocar o chão, mas a tensão no ar é palpável.
— Onde você está me levando? — Sua voz é um sussurro, carregado de medo, mas eu
permaneço em silêncio, perdido em minha própria fúria obscura.
Minha mente está em um complexo e tumulto, tentando compreender o caos que essa
Salvatore trouxe. A raiva fervilha em mim e uma chama ameaça consumir qualquer resquício de
razão, no entanto, uma parte de mim hesita e uma sombra de dúvida que ousa desafiar-me.
Continuamos pela floresta, o caminho tortuoso acentua o desconforto. Então, Milena vê
algo à distância, um cervo machucado, e sua expressão se transforma rapidamente em
compaixão. Cerro os dentes quando ela corre em direção à criatura ferida e se agacha para
examiná-lo com seus olhos encapuzados de tristeza e preocupação.
Nesse instante, a fúria em mim clama por vingança e vejo a oportunidade perfeita para
silenciá-la de uma vez por todas. Trago a pistola das minhas costas e empunho na minha mão
enquanto me aproximo lentamente dela, prestes a pôr fim a tudo. No entanto, algo nela, na
vulnerabilidade do momento, me paralisa. Milena se curva sobre ele e o acaricia suavemente. O
bicho solta pequenos ofegos e grunhidos, parecendo apreciar as suas carícias. Estreito o olhar
quando vislumbro rastros de lágrimas cobrindo as suas bochechas.
Seus lábios pálidos agora se projetam e ouço quando ela murmura que ele vai ficar bem
antes de passar o dorso da mão esquerda na bochecha amarronzada do animal. Estando a um fio
de distância, miro na cabeça da garota e um movimento me chama a atenção. Os olhos do bicho
travam nos meus. Eles são grandes e tão cheios de medo; ele sabe que vai morrer, seu pescoço
foi esgorjado por algum animal grande, mas terá uma morte lenta e agonizante, uma vez que
morrerá congelado, pois uma forte tempestade de neve se aproxima e os níveis costumam cair
ainda mais. Ele fecha os olhos e os abre novamente com um breve gemido. Minha mão vacila
ainda apontada para a cabeça da Milena. Posso fazer isso! Murmuro mentalmente. Matar dois
coelhos com uma cajadada só.
Respiro fundo e olho em volta, a floresta, as árvores altas, a neve que cai
silenciosamente. Tudo parece congelar, inclusive eu. Mudo a rota, direcionando a mira para o
outro lado, e um clique ressoa alto. Milena grita a pleno pulmões e se afasta, olhando com horror
e desespero para suas mãos cobertas de sangue, e não só isso, ela está completamente encharcada
dos pés à cabeça com o sangue daquele animal. Ela continua a gritar histericamente e seus olhos
finalmente encontram os meus. Há tanta dor ali que me sinto completamente sufocado. Milena
está hiperventilando quando tento me aproximar dela. Balança a cabeça veemente balbuciando
palavras sem sentido até que ela ergue o queixo e me olha enojada.
— V-ocê… você é um monstro! — rosna, suas palavras acusatórias atravessando-me
como punhais, e a dor em seus olhos sufoca-me.
Travo o maxilar quando uma pontada de dor me atinge na parte frontal da minha cabeça,
dessa vez perco momentaneamente os sentidos e caio de joelhos a centímetros dela. Minha visão
fica borrada e apenas escuto sem gritos e xingamentos ecoando cada vez mais distantes. Sinto
um gosto amargo na boca, tenho a sensação de que minha cabeça está sendo esmagada e um sino
ecoa sem parar com um maldito relógio cuco. Levo as mãos aos ouvidos, que zumbem
freneticamente e, enquanto Milena histericamente grita, a dor na minha cabeça aumenta.
Seu desprezo ecoa em meio à confusão. Mesmo com a visão embaçada, vejo o exato
momento em que ela se levanta e corre, deixando-me para trás, torturado pela própria mente em
colapso. Respiro fundo algumas vezes, meu fôlego é turvado pela intensidade do momento, e
ergo-me, forçando cada músculo a colaborar. Corro atrás dela, meu coração troveja no peito, sua
pulsação ecoa como um tambor frenético na caixa torácica. Com agilidade, oculto a arma nas
costas, mas uma leve desatenção quase me faz perder o equilíbrio ao vislumbrar Milena entre
árvores caídas pelo caminho. Seu cabelo loiro irradia luminosidade, captando flocos de neve que
pairam sobre ela.
Grito seu nome, um eco na paisagem invernal instigando ainda mais sua corrida.
Desenhando uma respiração profunda, alcanço um tronco caído e acelero, impulsionando-me
para alcançá-la. Num instante, me choco contra ela, levando-a para o chão, meu corpo
protegendo-a do gélido impacto contra a neve. Milena se debate e chuta com os pés, mas meu
aperto é firme, limitando seus golpes, até que ela alcança a palma da minha mão direita e afunda
os seus dentes. Estremeço, sentindo seus dentes penetrando na pele. A dor é aguda, mas
mantenho a firmeza.
— Lisichka…, está tudo bem. Por favor, acalme-se! — digo em seu ouvido, sentindo seu
corpo se retesar contra o meu, e lentamente ele libera a minha mão do seu ataque.
— Solte-me! — diz entre soluços, o que me faz sentir uma pontada no peito.
Mantenho meus lábios fechados enquanto sinto seu corpo sacudir com a voracidade dos
seus soluços. Deus! Isso não deveria me afetar, mas vê-la em completa devastação está acabando
comigo.
Retiro uma mecha loira do seu cabelo grudado em sua têmpora e beijo o topo da sua
cabeça.
A imagem de olhos azuis, doces como os de Milena, invade minha mente, atordoando-
me. Fecho os olhos, abrindo-os novamente para testemunhar Milena desfalecer nos meus braços.
Droga! Ela desmaiou em mim.

O olhar gélido dos meus homens para o corpo ensanguentado e inerte de Milena em
meus braços quase me arranca o último resquício de sanidade. A satisfação doentia brilha em
seus olhos como brasas, alimentando uma fúria assassina dentro de mim. Embora a lógica
implore que é o esperado quando se tem o inimigo à mercê, a vontade incontrolável de arrancar
suas vidas com minhas próprias mãos pulsa em minhas veias. Que demônios há de errado
comigo?
Atravesso a ala sul, seguindo um atalho que me conduz diretamente ao corredor do meu
quarto. O grito de Igor ressoa atrás de mim, mas não paro para ouvi-lo. Corro em direção à
minha cama e deposito Milena sobre ela. Seu corpo flácido encontra o centro como se fosse um
sacrifício involuntário.
Os passos pesados de Igor se aproximam, acompanhados por um rosnado prolongado
que estala no quarto.
— Que inferno, Aleksey! Não precisava ter feito isso, ela... é apenas uma garota
inocente, droga! Poderíamos tê-la enviado de volta, sugerido uma troca com o novo Don da
Outfit ou até mesmo com o Ruggiero — Igor vocifera, exasperado.
Meus ombros se tensionam com a ideia repentina de enviá-la de volta. Que merda foi
isso?
Volto-me para ele com os dentes cerrados, encarando seus olhos verdes que faíscam
desgosto e fúria.
— Ela não está morta, Igor — brado, enviando-lhe um olhar afiado. — Agora pare de
agir como uma mulher histérica e traga Irina para cuidar de Milena, agora!
Igor trava o maxilar, mas permanece em silêncio antes de se virar nos calcanhares e
desaparecer. Acomodado na poltrona de ébano no canto do quarto, a escuridão se torna aliada de
meus pensamentos tortuosos. Observo Milena adormecida, uma visão angelical em meio às
sombras, com seu corpo delicado envolto em lençóis cinza. A adulação que minha mente
concede a ela é perturbadora, como se a escuridão em mim se curvasse diante de sua luz.
Observo seu longo cabelo loiro brilhante esparramado pelo travesseiro parecendo um halo e um
suspiro involuntário escapa dos meus lábios. O que vou fazer com ela agora? Matá-la ou propor
uma troca?
Enquanto Irina, a empregada, a lavou e trocou suas roupas, meu olhar meticulosamente
percorreu cada centímetro dela, capturando detalhes que me intrigam e assombram. Pensamentos
sombrios e possessivos derramam como lava quente sobre mim. Sinto-me sufocado por uma
estranha fascinação que não compreendo. Meus olhos disparam para seus lábios pálidos,
fazendo-me balançar a cabeça levemente. Como ela, que agora repousa inerte, poderia sobreviver
ao frio infernal lá fora se eu não conseguisse alcançá-la? Não deveria, mas a questão me
perturba, roubando minha frieza habitual.
A ideia de Igor, sugerindo que pressionemos a Outfit e a Cosa Nostra em uma troca por
Milena, ressoa em minha mente e, por um momento, considero a ideia. Manter Milena aqui foi
um erro e não estou disposto a cometer mais equívocos. Quando a observo, flashes de seus olhos
cobertos de medo e repulsa após eu ter eliminado o cervo ecoam incessantemente em minha
mente como um looping perturbador.
Enquanto a lua lança sua luz pálida pela janela, fecho os olhos com minha decisão
cimentada. Não há mais distrações. Milena irá embora, e eu terei minha vingança. Com uma
última olhada em sua face, escutando o seu ressonar baixinho, me levanto e ando em direção ao
quarto de Igor na outra ala. Milena Salvatore, em breve, será uma lembrança apagada.
Capítulo 7

Um gemido involuntário escapa de meus lábios ao abrir lentamente os olhos. Fito o teto,
uma peça central arquitetônica, com lustres de cristal pendurados, detalhes em dourado e cinza
adornados, emitindo uma luz que se reflete nas superfícies polidas dos móveis e espelhos
ornamentados. Engulo o nó que se forma em minha garganta em um prelúdio do pânico que se
enraíza e levanto-me abruptamente, rastreando cada detalhe do ambiente com os olhos.
O quarto desdobra-se como uma tapeçaria real encharcada de sombras. Paredes
absorvem a essência da realeza, e papel de parede florido e móveis robustos emanam uma
elegância sóbria. Ao fechar os olhos, a mão direita pressiona o peito, e escuto o martelar
frenético do meu coração, em uma inquietação ecoando fortemente. Flashes da floresta escura e
do cervo ferido assaltam a minha mente e recordo-me dos olhos grandes e compassivos do
animal e dos grunhidos de dor que ecoaram pela noite silenciosa.
O estômago revira-se quando vejo a imagem cruel de Aleksey, sem remorso, pondo um
fim na vida da criatura inocente. A frieza do homem transpassa meu ser como uma lâmina
afiada, e o pânico que se apoderou de mim naquele momento, enquanto encarava minhas mãos
manchadas de sangue, ressurgindo com uma intensidade esmagadora.
A porta do quarto se abre de repente, e meus olhos se arregalam num instante e um
arrepio de medo percorre minha espinha, temendo que seja Aleksey. Para meu alívio, uma figura
feminina atravessa a entrada. A garota, parecendo ter dezessete anos, veste um vestido azul-bebê
e um avental preto amarrado em sua cintura. Seu cabelo castanho-escuro está puxado para um
coque firme no topo da cabeça. Olhos castanhos como chocolate derretido me estudam
brevemente antes de ela depositar uma bandeja de aço repleta de guloseimas e uma pequena jarra
de suco sobre a penteadeira de madeira ao lado.
Observo enquanto ela se afasta com as mãos recatadas atrás das costas, o que me faz
franzir o nariz.
— Por que estou aqui? Onde está Aleksey? — indago e minha voz ecoa no quarto.
A garota, visivelmente assustada, me encara dos pés à cabeça e balança a cabeça
negativamente, pronunciando um punhado de palavras apressadas em russo. Quase como se suas
roupas estivessem em chamas, ela deixa o quarto em disparada, deixando-me perplexa com sua
reação assustada.
Mas o que aconteceu com ela?
Eu só fiz uma pergunta.
Torço os lábios, focalizando a bandeja tentadora diante de mim, com fatias de bolo,
morangos frescos e algumas torradas descansando sobre a madeira polida. Meu estômago ronca
alto e, com um suspiro profundo, pego um morango entre os dedos, dando-lhe uma mordida
generosa, perdendo-me na deliciosa explosão adocicada da fruta. Definitivamente, esta é a oitava
maravilha do mundo e se estiver envenenado… Bem, que seja! Sinto que não irei escapar daqui
tão cedo com vida mesmo.
Enquanto devoro a comida, meus olhos disparam para os meus pés envoltos em meias
brancas com bolinhas vermelhas e deslizam lentamente para o comprimento das minhas pernas,
que exibem longas faixas rosas nas laterais e dezenas de imagens de ursos na estampa. Eu
estreito os olhos quando a constatação que Aleksey cuidou de mim toma forma, e uma onda de
pânico se instala. Não são as roupas que um dos homens de Aleksey me deu há uma noite.
Confesso que, quando ele apareceu com algumas peças e um cobertor, desconfiei da sua atitude,
mas, ao questioná-lo por que estava fazendo isso, ele apenas me lançou um olhar inelegível e
balançou a cabeça.
— Você não é minha inimiga, Milena. — E, após dizer isso, virou as costas e foi embora.
Agora voltando para a realidade, a possibilidade de Aleksey ter me visto nua converge
em uma onda de desconforto e desamparo. Respiro fundo e olho em volta, me sentindo sufocada.
O medo de ser devolvida à masmorra, onde o desconhecido se transforma em um temor palpável,
se intensifica. A ideia de morrer longe de minhas irmãs e sobrinhos, sem a chance de vê-los
novamente, me assombra como um maldito looping implacável.
Disposta a lutar, me levanto e ando até a porta. Minha mão trêmula alcança a maçaneta
e, para o meu desespero, está trancada. Bato a palma da mão contra a madeira, sentindo o meu
coração pulsar freneticamente no peito. Merda! Eles apenas me realocaram de lugar, porque não
importa onde eu esteja, ainda estou sob a sua mercê.
Eu ando de um lado para o outro, pensando como poderei me livrar dessa situação, até
que a exaustão me atinge e eu desabo na poltrona do canto, olhando fixamente para a cama.
Minhas pálpebras vibram e lentamente se fecham, e sou engolida pela escuridão completamente.
Horas mais tarde, eu desperto confusa, piscando algumas vezes. Eu passo a mão no outro lado da
cama vazia, me perguntando como vim parar aqui. Olho em volta e o quarto continua silencioso,
e se não fosse o cheiro amadeirado exalando no ar, diria que não estou sozinha no quarto.
Rapidamente me levanto e meus olhos vão direto para a poltrona no canto, o que me faz
respirar fundo. Céus! Eu estou enlouquecendo. Não há ninguém aqui. Mas eu podia jurar que
tinha.
Esfrego os olhos, lutando contra a sonolência persistente que me envolve. Decido tomar
um banho para me livrar da sensação de confusão que ainda paira sobre mim. Vou até o
banheiro, uma extensão do luxo do quarto do castelo. As paredes revestidas de mármore creme
refletem a suavidade da luz dourada dos lustres, enquanto um espelho de corpo inteiro adorna
uma parede, meus olhos percorrem o box transparente, onde, além dele, uma banheira de
porcelana com pés dourados se destaca no centro, muito convidativa. Entro no box, ligo o
enorme chuveiro quadrado e deixo a água quente envolver meu corpo, me fazendo sentir o
conforto que tanto anseio agora.
Poucos minutos depois, enrolada em uma toalha, volto para o quarto, encontrando não
apenas uma farta bandeja de café da manhã, mas também um vestido verde de alças finas, um
cardigã rosa grosso e meias brancas sobre a cama. Surpresa preenche meu rosto enquanto minha
mente tenta decifrar as intenções por trás desse gesto.
Balanço a cabeça e decido vesti-las. Pode ter sido trazida por aquele homem de olhos
verdes, o mesmo que me levou roupas limpas e cobertas naquela cela imunda. Respiro fundo e
pego o vestido em minhas mãos, sentindo a maciez do tecido. Deixo a toalha cair em meus pés
quando, de súbito, a porta é aberta. Arregalo os olhos, sentindo meu coração disparar quando
Aleksey entra e, num instante, ele testemunha minha nudez. Seus olhos escuros brilham ao
mesmo tempo que seu maxilar se aperta. Solto um grito histérico e me jogo na cama, cobrindo
meu corpo com a coberta até o queixo enquanto seus olhos se encontram com os meus em um
instante de puro choque.
Aleksey, inicialmente paralisado, mantém o olhar fixo em mim. Sua expressão, por um
momento, é indecifrável, mas logo seus olhos se estreitam e sua feição se fecha. Ele vira-se
abruptamente e deixa o quarto, com uma fúria contida evidente em seus passos duros ao
atravessar a porta e fechá-la com um baque. Solto o ar lentamente, ainda em choque,
contemplando o silêncio que se instala, apenas sendo interrompido pelos ecos das batidas
enlouquecidas do meu coração.
Eu pisco, pressiono meus lábios e me deito, cobrindo-me completamente dos pés à
cabeça, perplexa com o que acabou de acontecer. Aquele homem me viu nua, porra! E parece
que, por algum motivo, não… gostou do que viu.
Capítulo 8

A imagem da Milena nua e vulnerável persiste em minha mente enquanto saio do quarto,
deixando-a sozinha. A fúria contida cede lugar a uma tempestade de emoções conflitantes. Sinto-
me atordoado pela presença dela, uma força magnética que parece desafiar minha resistência.
Desde que a vi nua, algo mudou. Um desejo proibido e reprimido ganha força, mas luto para
conter essa urgência avassaladora. Cada curva de seu corpo se torna um tormento, uma tentação
que testa meus limites. A lembrança de sua pele alva sob a luz da lua invade meus pensamentos,
criando um anseio que ameaça romper as barreiras da razão.
De volta ao seu quarto, sentado em uma poltrona, absolvido nas sombras, desenvolvi o
hábito de observá-la enquanto dorme. Meus olhos percorrem a sua face delicada e um gemido
suave escapa de seus lábios rosados enquanto ela se remexe sob as cobertas. O quarto está
imerso na escuridão, salvo pelos tênues raios de luz da lua que banham o ambiente.
Milena, invariavelmente, deixa as cortinas afastadas, permitindo que a luz noturna entre
suavemente. Não compreendo completamente o que me faz ficar tão hipnotizado por ela. Seja a
sua vulnerabilidade, seja a sua coragem, seja a mistura de ambos, algo me atrai de maneira
irracional. Não posso negar que, por um momento, minha fachada de frieza se desvanece quando
estou perto dela. A presença de Milena mexe com algo dentro de mim, algo que venho
reprimindo há muito tempo. Novamente ouço o seu gemido e choramingo e levanto-me em um
pulo, aproximando-me em passos lentos parando ao lado dela. Suas sobrancelhas claras sulcam
um pouco e observo intrigado seus lábios se abrirem em um “O” perfeito. Eu rolo os olhos para o
topo dos seus seios e tenho que respirar fundo.
Milena não está usando o cardigã que Irina trouxe, apenas o vestido. Balanço a cabeça
disposto sair antes do amanhecer como sempre venho fazendo, mas apenas não consigo me
mover, então, tomado por um impulso, inclino-me e pairo sobre ela, acolhendo uma mecha
macia do seu cabelo loiro que grudou em seus lábios carnudos, a levando até o nariz e sentindo o
cheiro inebriante de lírios em seu cabelo.
Eu deixo meus olhos viajarem sob seu corpo, e eu tenho que respirar fundo para não
sucumbir ao desejo infernal que está me corroendo agora. Ela é cunhada do meu inimigo. Uma
deles! Não preciso complicar tudo ainda mais. Deixo minha mão cair, a mecha loira
escorregando entre os meus dedos, e saio. Passo pela porta, pela única parede que nos mantém
longe um do outro, e tranco, jogando a chave longe.
Milena Salvatore definitivamente é mais perigosa do que imaginei. Ela apenas não tem
noção de quanto sua beleza angelical e suas curvas infernais são capazes de enlouquecer um
homem.
Conforme os dias vão avançando, minha necessidade por Milena aumenta, cheguei ao
ponto de ansiar para que a noite caia e enfim eu possa mergulhar nas sombras e olhá-la. Já se
passou uma semana e, durante o dia, tenho me mantido longe do quarto.
Irina, como ordenei, tem cuidado de Milena, levando comida e roupas novas que mandei
comprar. Ivan e Maskin não escondem o desgosto por eu ter tirado-a da masmorra, enquanto Igor
tem se mantido firme com a decisão de enviá-la de volta para a Outfit. Seguem rumores que
Antônio, braço-direito de Enrico, sobreviveu ao ataque e assumiu o comando. Ele é um rato
covarde, duvido muito que ele pense em resgatar Milena. O que me leva ao meu alvo principal,
Dário Salvatore.
Ao anoitecer, durante o jantar de canto de olho, vejo Irina descer com a bandeja vazia,
pelo visto a nossa prisioneira começou a se alimentar após dias fazendo greve de fome. Enquanto
Maskin e Ivan se levantam e saem da mesa, Igor limpa a garganta e, depois de levar uma garfada
generosa de cordeiro aos lábios, ele olha entre mim e Konstantin.
— A Cosa Nostra tem enviado soldados para a Rússia. — Sorrio e bato o indicador na
coxa ritmicamente.
— Bem, talvez devêssemos enviar nossos comprimentos. Maskin cuida disso. — Igor
acena em concordância, embora haja desgosto em suas feições.
— Alessio também está aqui. Você pode não se lembrar, Aleksey. Mas o cara é
completamente louco, já matou muitos homens da Bratva, sabe como o chamam por aí?
Eu pisco, não dando a mínima para merda nenhuma que diz respeito aos Ruggiero, em
breve eles deixarão de existir. Quando continuo em silêncio, ele bate a mão aberta na madeira
escura da mesa de jantar e respira fundo.
— Açougueiro da morte. Além de matar ser um dos seus inúmeros hobbies, rastrear
pistas é o melhor deles.
Levo a taça de vinho aos lábios e bebo, apreciando o gosto suave e adocicado da bebida.
Deixo a taça sobre a mesa e encaro Igor.
— Nenhum maldito Ruggiero descobrirá nossa localização. E, caso aconteça, que eles
tentem a sorte. Estamos prontos, não só com a nossa tecnologia avançada, como nossas armas.
Erguendo-me, seguro os seus ombros tensos. Igor é alto, herdou a altura do nosso pai,
mas ainda o supero em uns bons centímetros. Ele ergue o queixo, seus olhos verdes, como da
nossa mãe, se fixam nos meus.
— É uma merda que não consiga se lembrar de tudo, Aleksey — murmura, sua voz
soando distante. Ele desvia o olhar por um segundo e então olha para o nosso tio, que parece
estar focado em nossa conversa. — Seria tudo mais fácil. — Igor se afasta e vai embora.
Konstantin não diz nada, mas observo como os cantos dos seus lábios se levantam quase
discretamente.
Lanço-lhe um olhar antes de também deixar a sala de jantar. De repente dividir o mesmo
espaço com ele tem se tornado um martírio.
Subo o lance de escadas e ando diretamente para o meu quarto, entro e, como se fosse
um ímã, meus olhos são atraídos para a grande porta de madeira à frente. Precisando de uma
válvula de escape, alcanço a chave no bolso do meu jeans e destranco a porta. Apenas olhar para
ela faz o caos em minha mente cessar, e eu desfruto de uma calmaria que não lembro de já ter
sentido antes. Abro a porta lentamente e, para a minha surpresa, a cama está vazia. Entro no
espaço opulento, sentindo o cheiro delicioso de lírios no ar. Quando me aproximo da poltrona no
canto do quarto, uma voz baixa me faz parar.
— Então eu estava certa, você tem me observado enquanto estou adormecida —
sussurra por trás da grossa cortina dourada.
Eu me viro totalmente para ela, meus olhos contornando preguiçosamente cada traço do
seu rosto: olhos azuis redondos, nariz empinado e lábios carnudos rosados. Ela dá um passo à
frente com os braços cruzados rentes ao peito, seu queixo erguido, embora sua expressão
demonstre lascas de pânico. Vestida com um conjunto de pijama um pouco maior que o seu
corpo, ela avança mais um passo e me pego observando os girassóis estampados em sua calça.
Milena arqueia uma sobrancelha e prende o lábio inferior entre os dentes, um gesto inocente,
mas o suficiente para fazer o meu pau pulsar dolorosamente.
Eu corto nossa distância e agarro seu queixo entre os dedos, contornando levemente o
seu lábio, o soltando do seu golpe. Ela estremece, e seus olhos fixam nos meus. Continuo
acariciando até que vislumbro um rastro de rubor em suas bochechas. Flashes de Milena nua e
corada embaixo de mim atravessam a minha mente e a ideia de tê-la está me deixando insano.
Porra!
— O… que está fazendo? — Milena respira fundo, enquanto minha mão livre agarra a
sua cintura.
Inclino-me roçando o lóbulo da sua orelha e sinto seu corpo retesar contra o meu, meus
lábios afundam na curva do seu pescoço, deixando um rastro de beijos de lábios abertos. Ela
solta um grunhido e espalma as mãos no meu peito, cavando suas unhas na minha pele nua e,
quando imagino que vá me empurrar para longe, ela as mantém lá, como se quisesse se
resguardar de algo. Eu continuo avançando, escutando sua respiração quente resvalando no meu
peito.
Um segundo, levo minha mão livre até a sua nuca e agarro um punhado do seu cabelo
loiro, enquanto a outra abandona seu queixo e desliza para baixo, encontrando o cós da sua calça,
então, eu paro para olhá-la nos olhos. Minha pequena Lisichka cerra os dentes como se estivesse
furiosa, embora eu possa ver em seus olhos como a luxúria está assumindo o controle pouco a
pouco. Aproximando os seus lábios dos meus, deslizo minha mão para dentro da calça,
encontrando o material rendado da sua calcinha. Eu gemo, sentindo como o tecido está molhado.
Caralho! Milena arregala os olhos e tenta se afastar, mas é tarde demais, estou muito longe para
parar agora. Acolho um gemido dos seus lábios quase enlouquecendo com a necessidade urgente
de beijá-la quando coloco sua calcinha para o lado, roço o seu clitóris com as pontas dos dedos e
massageio sua entrada encharcada.
Milena estremece nos meus braços e descansa sua testa no meu peito, escondendo suas
reações de mim, mas isso não está acontecendo. Intensifico o meu agarre no seu cabelo e a trago
para cima, nivelando o seu olhar selvagem no meu.
— Olhe para mim, Lisichka. Quero ver esses lindos olhos quando eu a fizer gozar em
meus dedos.
Milena ofega assim que introduzo um dedo em sua boceta. Eu sugo uma respiração
quando a sinto apertar como um torno e leva tudo de mim para não a curvar na cama e fodê-la
até o esquecimento. Seu cheiro delicioso sobe direto para minha cabeça e empurro mais um dedo
em seu calor, arrancando um grito rouco de seus lábios. Suas unhas afiadas se afundam ainda
mais na minha pele. Mordo o seu queixo e sinto a pulsação do seu pescoço, e seu pulsar
freneticamente em minha língua. Empurro Milena para trás, a levando diretamente para a cama.
Quando a parte de trás dela alcança a cama, vejo seus olhos se arregalarem em espanto.
Em um movimento rápido, retiro o meu toque do seu calor e puxo sua calça e calcinha
para baixo, deslizando-as por suas pernas torneadas. Ela balança a cabeça resmungando baixinho
enquanto cai de costas com o meu corpo encurralando o seu sobre o colchão. Estou tão
sobrecarregado por seu cheiro doce e suas curvas pecaminosas que não percebo que seu corpo
está rígido embaixo do meu. Toco sua bochecha, e Milena, com as malditas bochechas coradas,
fecha os olhos. Ela parece tão pura e inocente, céus! O que estou fazendo? Mas agora que a
toquei como um maldito bastardo, eu não quero parar.
— Eu não vou foder você, ainda, Lisichka. Não está pronta. — Eu respiro o cheiro
viciante da sua pele, observando como seus olhos estão vidrados em cada movimento meu,
brilhando com um misto de pânico e outro sentimento que não consigo decifrar.
Me afasto da sua face e desço por seu corpo, serpenteando minhas mãos por dentro da
blusa ridícula do seu pijama, alcançando os seus seios, que são dois montes intumescidos e
suculentos. Solto um rosnado rouco em sua pele e desço até o meio das suas coxas, abrindo-as
lentamente.
Milena abre a boca e se ergue em seus cotovelos com seus olhos fixos em mim o tempo
todo.
— Por… favor, não faça… — Mas para no meio da frase quando pressiono minha boca
contra sua doce boceta.
Sorrio, exalando o meu hálito quente, e imediatamente seus dedos se agarram no meu
cabelo em um movimento duro e, pela respiração entrecortada, diria que ninguém a tocou tão
intimamente, o que desperta uma onda de possessão doentia. Arranho com os dentes seu ponto
pulsante enquanto, com as pontas dos dedos, volto a torturar a sua entrada. Milena arqueia para
fora da cama, empurrando-se contra os meus lábios. Um gemido de apreciação me escapa ao
sentir o seu gosto maravilhoso. Ele é ainda melhor do que imaginei. Me enterro entre suas coxas
tensas, lambendo-a lentamente.
Milena se contorce e, quando mergulho minha língua dentro dela, um grito rouco escapa
dos seus lábios. O aperto no meu cabelo se intensifica, arranhando o meu couro cabeludo, me
deixando ainda mais duro. Ergo os olhos para sua face e vislumbro suas bochechas coradas e
seus olhos se fecharem brevemente. Trago seus mamilos intumescidos entre os dedos e torço-os
duramente, a fazendo abrir os olhos, e um sorriso sardônico se desenha em meus lábios.
— Olhos em mim, pequena lisichka. Não quero que perca o que está por vir…
Empurrando dois dedos em sua boceta apertada, chupo o seu clitóris batendo
profundamente dentro dela. Milena estremece e arqueia, então seu corpo começa a convulsionar,
suas paredes internas me apertam e ela grita, caindo em um prazer avassalador. Eu não paro os
meus golpes, não até que seus olhos azuis estejam mais suaves e vulneráveis, suas pálpebras
vibram e seus lábios se abrem com um gemido baixo.
Abaixo suas coxas e dou um beijo em cada uma delas, me afastando em seguida.
— Tenha bons sonhos, lisichka. — Porque definitivamente eu terei um inferno de uma
noite para lidar.
Sem esperar por sua resposta, levo minha mão esquerda para a minha pesada ereção com
um aperto firme. Meu sangue ferve em minhas veias e a vontade de dar meia-volta e me enterrar
todo dentro dela me consome, mas eu resisto bravamente. Ela ainda não está pronta.
Capítulo 9
Mal consegui pregar os olhos depois de tudo que aconteceu. Eu só posso estar
desenvolvendo a síndrome de Estocolmo, não há outra explicação plausível para o que aconteceu
na noite passada. Eu só queria confrontar Aleksey, pois tinha quase certeza de que ele tem me
observado enquanto durmo e isso é… insano. Mas ele não só se desvencilhou da minha pergunta,
como me encurralou como um maldito predador e me fez gozar com uma depravada.
Jesus! O que aquele homem fez com os dedos e os lábios devia ser pecado. Eu nunca
tinha experimentado um prazer tão cru e avassalador como aquele, não tenho experiência alguma
para comparar e o pior é que, se ele quisesse me foder, eu não teria resistido. Mordo o lábio
inferior entre os dentes e imagens da sua expressão de prazer e satisfação atravessam a minha
mente como uma avalanche poderosa, exibindo em looping seus golpes impiedosos, com seu
sorriso afiado em minha pele.
Me viro para a janela com um grunhido de frustração que me escapa e eu bato com a
palma da mão aberta na minha testa para ver se alguma razão volta quando a porta é aberta. Meu
coração dispara no peito e eu me viro, segurando a respiração quando encontro a empregada,
Irina, como escutei Aleksey chamá-la outro dia, entrar com uma bandeja de café da manhã nas
mãos. Ela me olha por um momento e, meio desajeitada, ela coloca a bandeja sobre a mesa de
cabeceira. Percebo uma mancha roxa em sua bochecha direita que ela tentou esconder
provavelmente com alguma base e pó e estreito os olhos para ela.
— Está tudo bem? — pergunto baixinho, me aproximando lentamente dela. Irina recua,
parecendo um animal selvagem, e eu paro com um suspiro. — Apesar de ser prisioneira aqui,
não sou perigosa. Juro! Minhas irmãs até ririam se alguém dissesse que sim. Eu só… quero
conversar. — Eu olho para ela com um meio-sorriso.
Irina fecha os olhos e meu coração se aperta quando uma lágrima solitária rola em sua
bochecha.
— Obrigada, senhora. Mas eu tenho que ir — responde em minha língua, me deixando
brevemente confusa. Pensei que ela só falasse russo. E, antes que eu pudesse perguntar algo, ela
vai embora, fechando a porta, em seguida, ouço o clique da fechadura. Ótimo! Trancada outra
vez.
Ergo-me da cama, deixando para trás a suavidade dos lençóis, e caminho em direção ao
amplo closet que se estende em uma extremidade do quarto. Visto-me e, ao observar meu reflexo
no espelho, deparo-me com uma imagem diferente. Estou envolta em um delicado vestido rosa
com alças finas, combinado com botas pretas de salto baixo. Cada detalhe é notado, ressaltando a
ausência das estampas infantis que caracterizavam o lote anterior de roupas. Uma expressão de
desconforto se instala em meu rosto enquanto balanço a cabeça, ciente de que o confinamento
começa a deixar suas marcas.
Retornando à cama, dou início ao meu café da manhã, apreciando os sabores
cuidadosamente preparados. Ao finalizar, meu olhar é atraído por um livro estrategicamente
deixado próximo a mim. Apesar de não ser o tipo usual de leitura, a curiosidade me impulsiona a
pegar o livro e me acomodar na poltrona, imersa no aroma amadeirado e marcante de Aleksey
que permeia o estofado.
Concentrada na leitura, minutos se transformam em uma envolvente jornada pelas
páginas quando a porta se abre novamente. Irina, com os olhos arregalados, entra
apressadamente e informa que Aleksey exige minha presença na sala, lá embaixo. Relutante e
com o coração acelerado, quase audível em minha própria cabeça, a sigo.
Descendo as escadas, deparo-me com um cenário inquietante – dois homens
ensanguentados, amarrados nos pés e mãos, junto ao homem que anteriormente tentara me
machucar. Ao lado deles, estão Ivan, Maskin e o homem de olhos verdes, além do próprio
Aleksey, cujo olhar cortante me encontra com uma expressão imperturbável.

Aleksey acena para Irina, que, imediatamente, desaparece do meu campo de visão. Em
passos largos, ele corta a nossa distância com seus olhos escuros como a noite fixos nos meus.
Uma sensação de queimação se espalha pelo meu corpo quando vejo um sorriso cruel
espreitar por seus lábios. Aleksey remove uma mecha de cabelo, a levando para trás da orelha e,
em um movimento rápido, ele enlaça a minha cintura colando minhas costas em seu peito duro.
Arregalo os olhos e minhas bochechas esquentam, percebendo que todos ao nosso redor estão
olhando diretamente para mim. Exceto os dois soldados, que lançam olhares de pena, não
escondendo a desolação evidente em suas faces.
— Diga-me, Lisichka, conhece os nossos novos amigos?
Mordo a parte interna da bochecha, sentindo o seu hálito quente na curva do meu
pescoço, desencadeando um arrepio de corpo inteiro.
Balanço a cabeça, levando o meu olhar para os dois homens amarrados a minha frente.
Um é alto, forte, de ombros largos e me lembra muito Enrico, com olhos castanhos, cabelo preto
e uma cicatriz no queixo. Ele não desvia o olhar, embora eu veja como eles brilham
atormentados pela ameaça iminente. O outro é da mesma altura, mesmo que não compartilhe o
porte atlético do seu colega, tem olhos verdes, cabeça raspada e cheio de tatuagens, e um brinco
adorna sua orelha esquerda. Ele possui um olhar feroz e, ainda que saiba que não sairá viva
daqui, parece não se importar, pois mantém a expressão em branco, com seus olhos fixos em
Aleksey como se desejasse arrancar-lhe a cabeça.
Aleksey roça os lábios no lóbulo da minha orelha e respiro fundo, tentando me afastar
dele.
— Use as palavras, Lisichka. — Ele respira, pressionando o seu corpo ainda mais contra
o meu.
Eu mordo a parte interna da minha bochecha antes de murmurar uma resposta.
— Não.
Ele leva o indicador contra a veia pulsante do meu pescoço enquanto seus lábios
pressionam o meu ouvido.
— Luca e Amadeu, soldados da Cosa Nostra, fazem parte de uma equipe que foi
designada para encontrá-la. — Ele sorri. — É uma pena que todos foram mortos em combate
com a Bratva.
Fecho os olhos e respiro fundo, tentando bloquear a onda de imagens de corpos
mutilados em poças de sangue começando a torturar a minha mente, como todas as famílias que
agora choram suas mortes e não podem sequer dar-lhes um enterro digno.
— P-or favor… liberte-os. — Tento me virar para ele, mas seu aperto em minha cintura
se torna um agarre de aço, não permitindo que eu me mova um centímetro.
— Por que eu faria isso, Lisichka? — pergunta entredentes, me fazendo estremecer com
o tom cortante da sua voz.
O homem de cabelos e olhos escuros que se parece com Aleksey, dá um passo à frente,
retirando uma pistola do coldre escondido em sua jaqueta, e aponta para o primeiro soldado, que
trava o maxilar, rosnando inúmeros palavrões, o que faz todos os presentes na sala rirem,
inclusive Aleksey, que solta uma risada profunda na minha nuca.
— Maskin está impaciente, Milena. Vamos, nos dê um bom motivo para não estourar os
miolos desses filhos da puta!
Coloco minhas mãos em seus braços e sinto como Aleksey trava, parecendo afetado com
o meu toque. Respirando fundo, tento usar isso ao meu favor.
— E-les só estão cumprindo ordens — murmuro em um fio de voz. — Se desejam
mandar um aviso, se alguém precisa morrer, que seja eu, então. Não eles!
Um silêncio opressor paira sobre nós, Aleksey se afasta abruptamente, como se o seu
corpo estivesse em chamas e, em seguida, ouço o eco de uma arma sendo engatilhada em algum
lugar e congelo, sentindo meu sangue sendo drenado das minhas veias.
Um tiro ecoa, seguido por outro, e gritos guturais rompem o silêncio entre nós.
Olho para a frente, encontrando os dois soldados sangrando, o primeiro com um tiro na
coxa direita, sua expressão se contorce e ele urra de dor, o segundo, com um tiro de raspão no
braço, seus dentes cerrados com força enquanto ele encara mortalmente alguém atrás de mim,
Aleksey. Ofego, me sentindo doente com a quantidade de sangue exposto e tenho que respirar
algumas vezes para controlar a bile que ameaça subir em minha garganta.
— Não é assim que funciona, Lisichka. Eu decido quem vive e quem vai morrer.
Minha visão borra enquanto assisto a Aleksey parar na minha frente com uma expressão
em branco. Ele leva o cano da pistola em suas mãos para o meu queixo, erguendo-o gentilmente.
— Não costumo ter misericórdia com os meus inimigos, mas tenho uma proposta para
você. — Ele pega as minhas mãos e as envolve em torno da sua arma. Meu dedo trêmulo para no
gatilho, mas, em seguida, ele circula o meu corpo, parando nas minhas costas. — Você terá a
chance de salvar um, Lisichka. Escolha agora e mate o outro.
Tento me afastar dele, sentindo minhas entranhas se revirarem. Eu não posso fazer isso.
Minhas mãos tremem e, se não fosse o aperto de Aleksey, minhas pernas teriam cedido.
— Eu… não posso fazer isso — sussurro sob minha respiração trêmula. Aleksey afunda
o nariz na curva do meu pescoço e, com uma longa respiração, ele aperta a minha cintura.
— Nesse caso… — rosna casualmente, enquanto luto para respirar. — Será a vida de um
deles pela sua. Você decide, Lisichka. Mate ou morra — sentencia, e um soluço feio e
atormentado escapa dos meus lábios enquanto nego e abaixo a arma.
Sinto todos os olhos em mim, julgando, enojados com a minha fraqueza. Não ligo. Não
quero morrer com um peso na consciência e, se eu tiver que enfrentar a morte por isso, que seja.
Com um grunhido raivoso, sou arrancada do meu estado caótico de desolação a tempo de ver a
cabeça de Luca, o primeiro soldado, explodir diante dos meus olhos arregalados. Amadeu se
contorce no lugar, rosnando como um louco, enquanto seu corpo e face estão cobertos de sangue
de Luca. Me sinto zonza e meus ouvidos zumbem em uma velocidade supersônica.
Aleksey guarda a arma nas costas e se inclina para sussurrar no meu ouvido.
— Se houver uma próxima vez, não terá chance de escolher. Mate, ou será morta.
Meus olhos disparam para o seus quando me viro, vislumbrando chamas sombrias
dançarem em seus olhos. É como se houvesse algo o consumindo de dentro para fora, e não
consigo entender por que ele me intriga tanto, por que simplesmente o deixei me tocar daquela
forma, o homem que está visivelmente em busca de vingança, que quer aniquilar a minha
família.
Com os punhos cerrados, ele ordena que Ivan me leve de volta para cima e tranque a
porta, enquanto, de relance, vejo Maskin sacar a arma e pressionar na têmpora de Amadeu. Ivan
segura o meu braço e praticamente me arrasta para fora, mas, antes que alcance as escadas,
escuto a voz grave de Aleksey estalar com um trovão poderoso.
— Você levará uma mensagem minha para o seu capo, ou terá o mesmo fim do outro, e
o aconselho a aceitar a proposta que eu tenho para oferecer.
Capítulo 10

O cano da arma de Maskin continua pressionado na têmpora do infeliz enquanto sangue


jorra do corte do seu braço. O tiro foi de raspão, mas, se ele continuar a resistir, o próximo será
na sua cabeça. Quando minha mente volta a segundos atrás, no exato momento em que Milena se
oferece para morrer no lugar dele, sinto uma fúria assassina e tenho vontade de estripá-lo como
um porco. Não posso acreditar que minha pequena Lisichka seja tão ingênua a ponto de sacrificar
sua vida pela de outra pessoa, mesmo essa não sendo do seu sangue. Milena me intriga tanto
quanto mexe com algo dentro de mim que não sei explicar. Mas ela, querendo ou não, ela é
minha inimiga, e não posso deixá-la foder a minha mente, ou eu teria um inferno para lidar. Um
grito rouco me tira dos meus devaneios, me trazendo para a realidade, precisamente para o meu
irmão, que tem uma de suas mãos enterradas no cabelo grosso do soldado da Cosa Nostra.
Maskin mantém o seu agarre de aço enquanto puxa sua cabeça para cima, enfiando o cano da
pistola dentro da boca do homem, que se debate incessantemente. O som irritante da cadeira
raspando contra o mármore polido me faz travar o maxilar.
— Manter a sua lealdade não fará você escapar da morte, filho da puta! — Maskin rosna
com seus olhos escuros brilhando devido a um doentio sadismo.
Mesmo desejando que meu irmão acabe com esse bastardo de uma vez, o faço parar
imediatamente.
— Espere — ordeno com os olhos fixos em Ivan.
— Reviste esse infeliz e encontre o celular dele, já que ele se recusa a ser a nossa ponte,
faremos isso nós mesmos.
Ivan acena enquanto anda até o homem e chuta os pés da cadeira de ferro com força, a
fazendo tombar para o lado com Amadeu, que cai sobre o ombro ferido. Suas feições endurecem
enquanto Ivan se agacha e começa a revistar o nosso prisioneiro. Minutos depois, Ivan encontra
o pequeno aparelho dentro de uma de suas botas e se ergue com um sorriso eufórico no rosto,
exibindo-o entre os dedos. Ele olha para a tela, clica em algo e, por fim, um suspiro de frustração
escapa de seus lábios.
— Espero que saiba rezar, filho da puta — Ivan murmura, levantando o homem ainda
amarrado na cadeira. Sua mandíbula se aperta ao mesmo tempo em que seu rosto fica todo
vermelho. Meu irmão caçula envolve sua garganta por trás e coloca a tela no celular em seu
rosto, o que faz Amadeu soltar alguns palavrões em italiano. Com um empurrão, Ivan se afasta
do homem e anda em minha direção.
— Feito! Adivinha quem foi sua última ligação?
Meu sorriso se alarga quando vislumbro o nome do maldito Ruggiero na tela. Clico em
retornar e, no terceiro toque, uma voz grave ecoa do outro lado da linha.
— Conti, me diga que tem alguma novidade, já soube das baixas com a Bratva, o que
aconteceu? — rosna, seu tom mortal como sua própria personalidade. — Sorrio e uma pausa se
segue na linha antes de um estrondo seguir. — Com qual maldito rato da Bratva eu estou a
falar? — Dário pergunta em tom de desafio.
Travo o maxilar, mantendo o aperto de aço no aparelho.
— Não sou qualquer rato, meu caro. Apenas o pakhan. Vejo que você precisa treinar
melhor seus homens, foi muito fácil abatê-los, afinal — digo.
Uma gargalhada rouca escapa de Maskin, que golpeia o soldado na cabeça com o cabo
da sua arma. Amadeu range os dentes e o encara, lançando-lhe um olhar mortal.
— Estou certo de que não ligou para falar dos meus homens, o que quer?
Outra risada me escapa.
— Sempre direto. Pois bem, senhor Ruggiero. Como sabe, sua doce cunhada está em
nossas mãos e, se quiser tê-la viva e sob sua proteção, terá que pegá-la você mesmo. Sozinho.
Nos termos da Bratva. — Um ranger de dentes e outro estalo retumba do outro lado da linha. —
Imagino que sua esposa esteja arrasada e, se sua irmã morrer, será uma rachadura enorme na
família. Está disposto a assumir as consequências disso? — provoco, recebendo um ofensivo
palavrão em italiano.
— Volkov, eu vou adorar rasgar a sua garganta e depois cortá-lo em pedacinhos. É
uma promessa.
Meus lábios se curvam um pouco.
— É patético que o seu ponto fraco seja justamente uma mulher…
— Basta! — grita. — E não se atreva a encostar suas mãos sujas em Milena, ou eu
juro… elas serão as primeiras que arrancarei.
Meu corpo estremece ao ouvir o nome de Milena e as lembranças do seu rosto corado e
dos olhos brilhantes surgem através das minhas pálpebras. Prendo a respiração, travando o
maxilar, imaginando quão satisfatório será quando eu cortar a sua garganta. E Milena…
definitivamente não está voltando para as suas mãos. Um monstro possessivo se ergue dentro de
mim, e ele não deixará que ninguém a toque. Mascaro um rosnado que ameaça escapar e decido
continuar o provocando.
— Ruggiero, não seja um estraga-prazeres, estou me divertindo muito com a garota
Salvatore… digamos que ela é muito…doce — murmuro, sentindo um gosto amargo na boca.
Meu coração dá um salto, como se estivesse sendo esmagado no peito, e, ao encarar o olhar de
reprovação de Igor, fica ainda pior. Eu desvio o olhar, escutando Dário rosnar como um animal
selvagem na linha.
— Maldito, bastardo! É isso. Eu vou caçá-lo pessoalmente e torturá-lo até a morte. Farei
que se arrependa, em primeiro lugar, de ter machucado Milena.
Meu temperamento ferve e, quando abro a boca para retrucá-lo, a linha fica muda.
Inferno! Ruggiero não tem noção do que o espera. Fervendo de raiva, lanço o celular
dentro da lareira, em seguida, passo por Ivan e Maskin e saco minha pistola, atirando duas vezes
na cabeça do maldito soldado.
— Tire as roupas dele e o mande para a Cosa Nostra. Certifique-se que Dário receba alta
e clara a minha proposta. Ele em troca da sua cunhada. Mas será nos meus termos. Dia, hora,
localização, mandarei tudo quando eu decidir que é o momento certo.
— Se Dário decidir que virá, você devolverá Milena? — Igor pergunta, bloqueando os
meus passos.
Aperto os olhos e avanço em sua direção, nossos narizes a centímetros de se tocarem.
— E o que isso importa para você? — pergunto com um ranger de dentes, o modo como
Igor sempre intervém sobre Milena está começando a me enervar. Ela não é problema dele.
— Você pode não se lembrar, mas Anastácia... — ele diz, olha brevemente para
Konstantin, em seguida, desvia o olhar e respira fundo. — Nossa prima era como Milena, doce e
inocente. Alguém com sede de vingança a pegou e, desde então, não temos notícias dela, só
rumores horripilantes do que poderia ter acontecido com ela.
Konstantin rosna com um olhar indecifrável para Igor e sai da sala a passos largos.
Anastácia era a sua única filha. Após a morte misteriosa da sua esposa, ele a criou sozinho, no
entanto, ele nunca demonstrou qualquer sentimento desde o seu desaparecimento, nada que um
pai deveria sentir. Igor bate no peito e meus olhos se fixam em seus olhos verdes atormentados.
— Devolva Milena e eu pessoalmente trarei a cabeça do maldito Ruggiero em uma
bandeja de prata para você — vocifera, as ignoro as palavras fervorosas de Igor, sentindo a
tensão no ar enquanto ele se posiciona como protetor de Milena.
— Eu cuidarei de Milena à minha maneira, Igor. Quanto a Dário, logo teremos sua
cabeça entalhada em nossa parede. — Minha voz é fria e cortante como a lâmina de um punhal.
Igor aperta a mandíbula, e um lampejo de frustração brilha em seus olhos antes de ele
abandonar a sala.
Antes de fazer o mesmo, ordeno a Maskin e a Ivan que lidem com o corpo, e eles saem
sem um último olhar. Minha mente agora está em um caos completo, atormentada por Milena, e
a imagem dela se torna um eco constante em meus pensamentos.
A possessividade que sinto em relação a ela é algo assustador e novo para mim, um
espectro que se manifesta dos recessos da minha mente. Ao mesmo tempo, lembranças da minha
infância começam a emergir, mas minha cabeça lateja com fragmentos desconexos. Respiro
fundo, afastando a névoa que ameaça me consumir, e resolvo sair um pouco do castelo, pois
caminhar pela floresta talvez me traga algum sentido.
Capítulo 11

Meus olhos fixam-se na porta, implorando silenciosamente para que Aleksey não a
atravesse. O caos que ele provocou em meu peito é avassalador, estou em uma confusão de
emoções que mal consigo assimilar. Há medo entrelaçado a cada batida descompassada do meu
coração, e estou temerosa do que essa conexão indesejada pode significar. Aleksey me obrigou a
tirar uma vida, forçou minha mão a um ato selvagem e as insinuações de que eu poderia ser sua
próxima vítima ecoam em minha mente. Deus! A repulsa invade o meu ser, consciente de ter
permitido que o inimigo me toque tão intimamente. De maneira doentia, meu corpo parece
lembrar-se de cada segundo, criando um anseio perturbador por mais. O confinamento aqui está
corroendo minha sanidade, deixando-me quebrada, além de qualquer reparo.
Sinto-me como se estivesse perdendo a essência de quem sou, aquela mulher composta e
inocente já não é mais reconhecível. A imagem refletida no espelho parece ser apenas um esboço
patético daquilo que eu era. As palavras de Enrico ressoam em minha mente, ecoando a verdade
de que ter sido criada em uma redoma pelo nosso pai seria minha ruína no meio desses leões do
submundo. Sinto que, a qualquer momento, serei dilacerada em um piscar de olhos.
Quando anoitece, ouço a porta do quarto abrir e Irina passa por ela. Seus olhos verdes se
abaixam quando ela percebe que estou olhando. Com uma bandeja do jantar nas mãos, ela se
curva e descansa a peça sobre a cama. Saio da frente da janela e ando até a cama em passos
lentos, dessa vez Irina não vai embora como de costume. Ela paira ao lado da mesinha de
cabeceira com um olhar estranho.
Eu me sento no colchão, pego o garfo e a colher e começo a cortar o peixe calmamente,
sentindo os olhos da garota sobre mim. Solto um suspiro e balanço a cabeça, soltando os talheres
sobre a bandeja, provocando um estalo metálico. Olho para Irina, confrontando seu olhar
curioso. Não é comum ela permanecer aqui enquanto como.
— O que há de tão interessante, Irina? — pergunto, tentando decifrar a expressão em seu
rosto.
Ela hesita por um momento antes de falar.
— O senhor Volkov ordenou que eu ficasse e garantisse que você se alimente.
Um arrepio percorre minha espinha. As ordens de Aleksey parecem se estender a cada
detalhe da minha vida aqui. Engulo em seco e volto a comer, não sentindo mais o sabor do peixe,
mas o gosto amargo da minha situação. Quando eu estendo a bandeja, ela retira algo do bolso do
seu avental.
— Vi que estava lendo um livro outro dia, trouxe esse.
Olho para a sua mão e vejo um livro de capa vermelha, parece ser uma história de
romance de época. Sorrio com um aceno de cabeça e com a minha curiosidade sendo despertada
pela inesperada oferta. Ao pegar o livro, noto a textura áspera da capa e as páginas amareladas
pelo tempo. Uma sensação estranha de gratidão se mistura com o desconforto de estar presa a
este lugar.
— Obrigada, Irina.
Ela apenas acena e se retira do quarto, fechando a porta atrás de si. Com o livro em
mãos, deixo minha mente vagar para longe da realidade opressiva deste castelo, buscando um
refúgio nas páginas de uma história que não é a minha.
Na manhã seguinte, me encontro sozinha no quarto, apenas com a presença de Irina com
o café da manhã e as refeições. Imersa no romance de Valentina, a filha do grande rei da Itália, e
Estefano, o filho do sapateiro, passo o meu tempo. Não vejo Aleksey desde o incidente na sala,
mas sinto sua presença quando a madrugada cai, seu cheiro flutua no ar e é como um maldito
lembrete que, mesmo inconsciente, meu corpo sabe que ela está lá, à espreita, mergulhado nas
sombras, estando ele pronto para atacar.
Aos poucos, tenho conquistado algumas palavras de Irina, ela mora no castelo com o
irmão, Mikhail, um dos soldados de Aleksey. Ele é sua única família, então, assim como eu, eles
são órfãos de pais. Quando ela percebe que está falando demais, ela se retrai e vai embora.
Os dias avançam e já não sei mais há quanto tempo estou aqui. Numa noite, enquanto o
silêncio reinava, a porta rangeu ao abrir-se e o inconfundível perfume de Aleksey impregnou o
quarto, marcando sua presença como uma sombra que emerge do escuro. Eu tentei ignorá-lo,
mas, quando senti o seu toque sutil em minha bochecha, meus olhos se abriram e ficamos nesse
impasse, com nossos olhares fixos um no outro: o meu, repleto de pavor e ansiedade e o seu,
brilhando algo insano, como a mais pura necessidade.
O colchão cede sob seu peso, e ele se inclina sobre mim. Sinto seu polegar deslizar com
uma suavidade torturante pela minha bochecha, maxilar, até a extensão vulnerável do meu
pescoço.
— Seus olhos... — exala, como se cada olhar lhe causasse dor.
Meus lábios se apertam, pois o calor deixado por seu toque é um rastro de fogo na minha
pele. Ele inspira profundamente, desviando a cabeça.
— Sinto que estou enlouquecendo, Lisichka. Talvez eu deva acabar com tudo de uma
vez por todas. — Sua voz soa sombria e seus olhos retornam aos meus.
Um olhar atormentado preenche seus olhos, atingindo-me diretamente no peito. Sua mão
escorrega, deixando minha pele, e solto um suspiro frustrado. Aleksey Volkov é meu inimigo e
está determinado a destruir minha família. Nutrir sentimentos por meu algoz é doentio, mesmo
para mim. Ele se levanta, lançando-me um último olhar antes de girar nos calcanhares e partir.
— Tenha uma noite sombria, Lisichka.
Capítulo 12

Bato os dedos ritmicamente sobre a coxa, observando Artan do outro lado da mesa.
Inicialmente, parecia ser apenas mais uma reunião de negócios entre líderes da máfia, mas
percebo que o chefe da máfia albanesa está tentando me persuadir a algo.
— Não tenho interesse em envolver-me com prostituição, Artan. Se é apenas isso...
O homem de olhos castanhos e sorriso sujo se inclina com suas mãos passando
nervosamente pelo cabelo escuro. Artan, aos 39 anos, é conhecido por seu temperamento
explosivo e pelas táticas questionáveis. Geralmente, ele consegue o que deseja, mas, desta vez,
não será assim. Meu lucro vem com o comércio de drogas, cassinos, clubes, restaurantes e
diversos investimentos em toda a Rússia, e a prostituição, definitivamente, não faz parte desse
cenário.
Seus olhos afiados deslizam pelo clube, percebo suas sobrancelhas arqueadas enquanto
seus lábios se curvam para cima.
— Pense bem, Volkov. A Bratva poderia ganhar muito se tivesse algumas atrações para
distrair os seus clientes. Tenho produtos de primeira linha; Konstantin já provou e sabe do que
estou falando.
Aperto os olhos em sua direção, digerindo suas palavras. Konstantin, mais uma vez,
agindo pelas minhas costas. Isso precisa parar; não vou permitir que ele decida por mim.
— Konstantin não decide por mim, você tem consciência disso, não é, Artan? Espero
que não haja mal-entendidos. — Seu olho esquerdo se contrai, e Artan aperta o maxilar com
força.
— Espero que não tenha esquecido que começamos uma guerra por vocês. Temos um
acordo — rosna com os dentes cerrados.
Relaxo na cadeira e cruzo os braços, analisando sua expressão furiosa.
— Um acordo que estamos cumprindo perfeitamente, com cargas de armas de ótima
qualidade e drogas que alcançam um padrão elevado. — Levanto-me com um olhar afiado e
aponto o dedo em riste. — Não me ameace, ou eu prometo, não gostará do resultado.
Artan se levanta com um rosnado, sua imponente estatura rivaliza com a minha, embora
eu tenha alguns centímetros a mais. Seu olhar raivoso corta o espaço entre nós, praticamente
clamando por retaliação.
— Cuidado, Volkov. Não lido bem com ameaças — adverte.
— Vamos fingir que esta conversa nunca ocorreu entre nós. Mas, caso reconsidere,
deixe-me saber.
Balanço a cabeça e saio sem esperar por mais. Artan é um caso perdido, mas algo me diz
que preciso ficar de olho. Ele é perigoso e pode atrapalhar os meus planos. Caminho pelo
corredor principal, próximo à entrada, encontrando Igor conversando com nosso chefe de
segurança ao lado do bar.
— Quero que fique de olho em Artan e Konstantin. Se meus instintos estiverem certos,
eles estão tramando algo — digo a Ilia, meu chefe de segurança, parando ao seu lado.
Ele concorda com um aceno, enquanto Igor me encara com a sobrancelha erguida. Faço
um gesto dispensando Ilia, notando a expressão impassível de Igor.
— Não queria falar nada sem investigar mais a fundo, mas o nosso tio tem tido muitos
encontros misteriosos com Artan e o seu segundo em comando. — Ele suspira, e algo em sua
expressão me deixa alerta. — Suspeita de algo? — pergunto, observando Igor apertar o maxilar
com força.
— Konstantin sempre quis o lugar do nosso pai e, quando você ficou em coma, ele não
pensou duas vezes em assumir a liderança, colocando o resto de nós em escanteio. Ele foi muito
venerado enquanto era o pakhan, Aleksey. E você sabe que ainda não conquistou inteiramente a
confiança dos nossos homens, eles apenas o toleram.
— Em outras palavras? — inquiro, observando seu maxilar contraído e uma fúria
contida em seus olhos.
— Konstantin não está nos dizendo tudo. Apenas… Tome cuidado.
Enquanto Igor se afasta, o eco das suas últimas palavras ressoa no clube, deixando um
rastro de inquietação no ar. Sempre mantive uma desconfiança latente em relação ao nosso tio,
mas agora sua maestria na manipulação se revela como uma bomba prestes a explodir.
Subestimar as peças que ele movimenta nos bastidores parece ter sido meu erro. Há uma
sensação inquietante, e algo me diz que Konstantin Volkov está prestes a fazer sua jogada, e
quero estar completamente pronto quando esse momento chegar.

O jantar é servido em um silêncio tenso. De canto de olho, percebo os olhares trocados


cheios de hostilidade de Igor para Konstantin, que revida com um olhar inflamado. Sei que todo
esse ódio do meu irmão tem a ver com o sumiço da nossa prima Anastácia. Igor e ela eram muito
próximos. Meu irmão ainda não superou sua perda e culpa nosso tio por isso. Segundo ele,
Konstantin tem algo a ver, já que se mostra totalmente indiferente ao desaparecimento da única
filha.
Eu olho para Igor e balanço a cabeça quando ouço passos apressados e Ivan e Maskin
atravessam a sala cobertos de sangue, roupas rasgadas e hematomas visíveis pela face e braços.
Maskin solta um grunhido e joga um saco preto em cima da mesa com um sorriso
distorcido nos lábios.
— Alessio Ruggiero atacou um de nossos restaurantes e matou muitos dos nossos
homens, mas olha só…
Ele abre o saco e exibe uma cabeça decapitada, arrancando um grunhido raivoso de Igor,
que o fulmina com o olhar.
— Porra! Obrigado por estragar o meu jantar, Maskin — rosna, empurrando o prato para
longe.
Ivan solta uma risada rouca com uma mão enrolada na costela direita.
— Aquele maldito Ruggiero me acertou enquanto estava distraído, mas, na próxima, vou
arrancar sua cabeça antes que ele pense em revidar.
Chamo Irina com um aceno e peço para ela limpar a bagunça. A garota arregala os olhos,
mas se recupera e concorda com um aceno. Ivan puxa uma cadeira e se senta com um suspiro
profundo.
— Ruggiero é completamente louco, se ele conseguir chegar até nós, teremos que ser
rápidos e aniquilá-lo — Konstantin resmunga, olhando para a cabeça jazida na nossa mesa.
Os olhos escuros e vítreos do guarda olham diretamente em minha direção. Maskin se
aproxima e segura um dos meus ombros.
— Peço permissão para caçar o maldito psicopata louco do Ruggiero e matá-lo. —
Quando não respondo, ele acena com a cabeça para Ivan, que resmunga como está louco para
acabar com a vida do maldito italiano louco.
— Se eu não estivesse lá, ele teria matado o Ivan. Aleksey…
Eu fecho os olhos e aperto a ponte do meu nariz. Eu quero os malditos Ruggiero mortos?
Sim. Mas gostaria de matá-los eu mesmo. Mas, conhecendo bem o meu irmão, ele não
descansará até que tenha o sangue do infeliz em suas mãos, então me vejo concordando.
— Faça isso. Mas, lembre-se, Dário é meu.
Um sorriso sardônico se espalha em seus lábios e ele retira a mão do meu ombro.
— Espero que a Cosa Nostra tenha um executor substituto, porque aquele filho da puta
já está morto!
Konstantin sorri enquanto continua comendo, parecendo estar em êxtase com as palavras
de Maskin.
Eu deixo que eles comemorem e vou em direção ao meu quarto, tenho evitado encontrar
Milena durante o dia. Apenas quando escurece e as sombras são a minha aliada que atravesso a
única barreira que nos mantém afastados. A porta se fecha silenciosamente atrás de mim e eu me
aproximo da poltrona, repetindo o ritual noturno que se tornou meu vício.
Por mais absurdo que seja, a necessidade de observá-la e estar próximo aumenta como
uma maldita erva-daninha dentro do meu peito a cada dia que passa. Milena exala um suspiro
suave, e observo atentamente enquanto um tênue raio de lua acaricia sua face, moldando-a em
um esboço angelical. É doloroso encará-la enquanto se entrega serenamente ao sono. Um
murmúrio inaudível escapa de seus lábios rosados, ela rola para o lado, e o lençol cinza desliza
para revelar um punhado de pele alva.
Agarro a poltrona dos dois lados, apertando com força, enquanto meus olhos se
embebem com sua silhueta e os fragmentos da calcinha branca. Respiro fundo, decidindo que já
lidei o suficiente. Ergo-me, determinado a sair e enterrar essa maldita imagem na minha mente,
mas congelo a meio caminho da porta. Sua voz doce e aveludada chama um nome, ou melhor,
geme!
— A-leksey…
Minha respiração engata e fecho os meus olhos, respirando pesadamente. A necessidade
crua de me virar e correr até ela está correndo o meu interior. Minhas mãos começam a tremer, e
eu xingo, agarrando a maçaneta como se minha vida dependesse disso. A raiva ferve dentro de
mim e, ignorando o modo como os seus pequenos gemidos estão me enviando ao limite, saio
sem olhar para trás, temendo que, se fizesse isso, não seria capaz de me controlar.
Capítulo 13

Permaneço no assento da janela, deslizando meus dedos pelo vidro frio enquanto traço
padrões abstratos. Meus olhos seguem a dança hipnotizante da neve lá fora, exalando um suspiro
carregado. Repito para mim mesma que tudo ficará bem, mas a verdade é que estou à beira de
um colapso interno. Cada desenho no vidro é como um esforço para conter a tormenta de
emoções que ameaça consumir o pouco de sanidade que ainda resta dentro de mim quando, de
súbito, a porta é aberta, mas, ao pensar que seria Irina, o homem de olhos verdes surge e seus
olhos se fixam nos meus com uma expressão estranha. Ele para no centro do quarto e seus olhos
suavizam um pouco, o tornando menos assustador.
— Desculpe, não quis assustá-la — diz, dando um passo à frente, com suas mãos com as
palmas viradas para cima. — Me chamo Igor, eu não vou te machucar, só quero conversar um
pouco.
Mordo o lábio inferior e me afasto da janela, relutantemente concordando com a cabeça.
Ele suspira e dá mais um passo, fazendo-me recuar. Por mais que eu sinta que ele não representa
perigo, meu instinto de autopreservação reage e simplesmente não consigo controlar a reação do
meu corpo. Igor congela, percebendo o desconforto em meus olhos.
— Desculpe — ele diz, dando um passo para trás. — Não deveria ter me aproximado
tanto. Se preferir, posso ficar aqui na porta.
Mantendo minha postura cautelosa, concordo com um aceno de cabeça. A presença de
Igor não é ameaçadora, mas a sensação de vulnerabilidade me atinge, tornando difícil confiar,
especialmente quando estou rodeada por inimigos.
— Eu sinto muito, Milena. Por tudo — murmura com os olhos fixos nos meus. —
Depois da morte do nosso irmão e pai, Aleksey tem ansiado por vingança. Na verdade, todos
nós. Mas sequestrá-la não fazia parte dos nossos planos, acredite em mim. Nosso tio Konstantin
foi contra nossas ordens.
Meus olhos se arregalam novamente depois de escutar as suas palavras. Nosso irmão…
tio. Igor é irmão de Aleksey, é claro. Eles não têm muitas semelhanças físicas, mas algo em sua
feição o denuncia. E agora, parando para refletir, Ivan e o outro se parecem demais. Eles são
irmãos!
Quando meus olhos retornam para os deles, me vejo suplicando.
— Se sente muito como diz, por favor… deixe-me ir.
Igor fecha os olhos brevemente e nega, balançando a cabeça. Quando os abre, seu olhar
está brilhando com pesar e culpa.
— Não posso. — Seus ombros se curvam um pouco e um sorriso desgostoso atravessa
seus lábios. — Mas não se preocupe, Milena, logo tudo acabará e você vai voltar para a sua
família.
Eu pisco e uma pequena luz de esperança aquece o meu peito.
— E quando isso vai acontecer?
Igor dá de ombros e alcança o livro que Irina me trouxe pela manhã sobre a cama.
— Você saberá quando for a hora — responde em um tom enigmático, segurando o livro
em suas mãos, observando-o por um momento antes de ler o título em voz alta. — "Sombras do
Passado". Interessante escolha de leitura. — Igor percorre as páginas parecendo pensar em algo.
— Não posso libertá-la no momento, mas posso lhe mostrar a biblioteca, o que acha? — oferece,
e eu engulo em seco, soltando um suspiro de frustração. Se não pode vencer os seus inimigos,
junte-se a eles, como papai costumava dizer.
Finalmente, aceito a oferta de Igor, e ele me conduz porta afora. Caminhamos pelo
extenso corredor, enquanto meus olhos memorizam cada detalhe, desde as esculturas de bronze,
quadros valiosos e tapeçarias antigas. Descemos um longo lance de escada em formato de
caracol, em seguida, passamos por um grupo de guardas que lançam olhares rápidos em nossa
direção e, por fim, paramos em frente a uma enorme porta dupla de madeira com gravuras e
arabescos entalhados nela. Com cuidado, Igor abre as portas com um rangido suave, revelando
um cenário deslumbrante.
Abro e fecho a boca, perdendo-me na vastidão que se desdobra diante de mim. Estantes
imponentes se erguem até o teto, cada uma carregada de tomos encadernados em couro, criando
um labirinto perfeito.
— Esta é uma das maiores bibliotecas particulares da Rússia — Igor comenta, e meus
dedos roçam as lombadas empoeiradas enquanto absorvo a grandiosidade do local.
Continuo minha exploração entre as estantes, e o aroma amadeirado e antigo dos livros
impregna o ar. A iluminação suave destaca a riqueza das capas e a textura das páginas
amareladas pelo tempo. As janelas altas na frente oferecem vislumbres de um mundo coberto de
árvores e neve lá fora, enquanto o crepitar da lareira reveste o ambiente de vida e calor.
— Impressionante — sussurro, admirando a vastidão do local, tentando ignorar a
realidade de que estou presa em um castelo com inimigos.
Curvando-me para examinar um livro antigo, contemplo as gravuras meticulosas nas
páginas amareladas, e, curiosa, pergunto a Igor sobre Aleksey.
— Ele sempre foi assim tão cruel? — A preocupação se reflete em meus olhos enquanto
tento desvendar o que moldou o homem que agora governa um império com implacabilidade.
Igor solta um suspiro pesado, como se carregasse o peso das escolhas do irmão.
— Não era assim. A vida que moldou Aleksey dessa maneira. Pode se dizer que ele foi
vítima das circunstâncias. — Observo o rosto de Igor em busca de respostas, tentando entender o
que aconteceu para transformar Aleksey em alguém tão implacável. — Às vezes, a crueldade é
uma armadura que as pessoas usam para proteger o que resta delas mesmas — Igor adiciona, seu
olhar perdido em lembranças sombrias.
— Ou é uma forma de se esconder dos seus próprios medos — murmuro, balançando a
cabeça como se estivesse tentando escapar da minha própria mente. Não quero ir lá.
Desde que assisti à morte de Enrico e Lana, tenho pesadelos intermináveis. Em todos
eles, seus olhos vítreos e sem vida têm me perseguido, transformando minha mente em um caos
de dor. Sugo o lábio inferior e pego um livro de capa dura em minhas mãos, observando o
desenho abstrato na capa.
— Seja lá o que tenha motivado a sua vingança, eu só quero que pare. Não desejo perder
mais do que já perdi.
— Isso não é você que decide, Lisichka.
O delicioso estrondo de sua voz reverbera, fazendo-me congelar no lugar. Percebo que
ele tem se esquivado dos encontros diretos, embora seus hábitos de observador persistam. Não é
necessário vê-lo para constatar que, todas as noites, ele tem sido meu espectador, um maldito
stalker silencioso que me observa enquanto durmo.
Eu me viro não preparada para a intensidade do seu olhar. Aleksey está em pé, escorado
em uma das estantes, de braços cruzados rente ao peito, ombros largos e uma expressão que grita
perigo. De repente seu olhar pega fogo, encarando Igor atrás de mim, então lentamente ele passa
a língua pelos dentes e se empurra da estante, vindo em minha direção.
— Preciso falar com minha prisioneira a sós, irmão. — Aleksey praticamente expulsa
Igor, que se retira, lançando-me um olhar cauteloso por cima do ombro.
Observo suas costas largas atravessar a porta quando sinto um hálito quente soprar na
minha nuca, me fazendo estremecer.
— Não quero ter que machucar o meu próprio irmão, Lisichka, então, não me obrigue —
diz, roçando suavemente com as pontas dos dedos a pele exposta da minha coxa direita, subindo
com rapidez a bainha do meu vestido branco.
Uma onda nebulosa de luxúria se acumula na parte inferior do meu estômago, me
fazendo sugar o lábio inferior entre os dentes, reprimindo qualquer som que denuncie o meu
estado de mendicância e exploda.
Fecho os olhos, deixando escapar uma respiração trêmula, e agarro sua mão,
bloqueando-a de avançar mais para o sul, impedindo que ele encontre minha calcinha
completamente encharcada.
— Você… p-or que faria isso? — A pergunta escapa enquanto tento controlar a dor que
pulsa diretamente entre minhas pernas.
A dor se intensifica quando ele envolve a mão no meu cabelo e puxa a minha cabeça
para trás, murmurando em um tom sombrio contra o meu ouvido:
— Porque não compartilho. — Fecho os olhos enquanto pequenas lufadas de ar
escapam, meu peito subindo e descendo, sentindo seus lábios sugarem avidamente o lóbulo da
minha orelha.
— Diga-me, Lisichka. Tem sonhado comigo devorando a sua doce boceta? — range,
apertando ainda mais o seu aperto no meu cabelo, fazendo-me ofegar em resposta.
— É por isso que você geme meu nome como se não houvesse amanhã?
Meus olhos se arregalam e a mortificação me atinge com força. Tenho sonhado todas as
noites com Aleksey devastando o meu corpo, mas nunca, em voz alta, direi isso a ele, então
rosno e sinto o seu sorriso na minha pele, eu não preciso responder, minha expressão parece
dizer tudo.
— Bom... — ele retruca, virando-me bruscamente.
Num piscar de olhos, estou suspensa no ar, com as pernas enroladas em seus quadris e as
costas pressionadas contra uma estante, provocando um baque surdo.
Com os olhos semicerrados, Aleksey agarra meus quadris de cada lado e, com um
grunhido poderoso, sua boca esmaga a minha, sua mão escorrega segurando meu rosto,
mantendo-me no lugar, enquanto sua língua invade e reivindica a minha em um beijo profundo,
cheio de necessidade e luxúria. Ofego em seus lábios à medida que o calor do seu corpo penetra
o meu.
Seguindo por um impulso insano, travo minhas pernas atrás das suas costas, seu pau
duro pulsa entre minhas pernas e a sensação deliciosa me faz gemer sentindo uma descarga
escaldante percorrer todo o meu corpo. Levo as mãos para o seu cabelo, agarrando um punhado
dos fios macios, puxando-os levemente a cada investida do seu quadril contra o meu. Aleksey
cessa o beijo e começa a deslizar os lábios pelo meu maxilar, meu pescoço e o topo dos meus
seios, mordiscando e lambendo no mesmo ritmo, me fazendo ofegar e gemer, cravando as unhas
em suas costas.
Quando ele mergulha uma mão na minha boceta e roça o polegar, encontrando a
umidade no tecido, seus olhos encontram os meus em uma batida e o que vejo neles provoca um
arrepio de corpo inteiro.
— Está tão molhada para mim, Lisichka. — Sua voz rouca soa, e uma expressão
predatória domina seu rosto. Ele mergulha dois dedos habilidosos sob o tecido, fazendo-me
arquear as costas, totalmente rendida ao seu toque. — É hora de transformar seu sonho em
realidade... — profere, arrancando um suspiro sôfrego dos meus lábios. Com agilidade, Aleksey
engancha um dedo no elástico da minha calcinha e a puxa, transformando-a em meros farrapos.
Em seguida, escuto o som do cinto sendo desafivelado e o zíper aberto, então congelo,
imediatamente levando minhas mãos espalmadas em seu peito. Lambo os lábios com um calor
incandescente caindo sobre as minhas bochechas.
Hesito por um momento antes de dizer:
— Eu... sou virgem — admito, desviando o meu olhar.
Aleksey puxa uma longa respiração e agarra meu queixo, virando-me em sua direção,
seu olhar agora fixo no meu, sua testa descansa contra a minha e sua respiração quente bate em
meus lábios.
— Milena... — Calor e luxúria vibram em sua voz, então, em um segundo, estou em
meus próprios pés. Aleksey balança a cabeça e rosna, parecendo à beira do descontrole. —
Porra! — Caindo de joelhos aos meus pés, Aleksey agarra meu quadril e pressiona minhas coxas,
abrindo-as para ele, levando uma perna para seu ombro, e tomando minha boceta em sua boca.
— Deus… — Ofego e paro de respirar, fechando os olhos.
O que sua boca está fazendo na minha carne é… loucura! É quase como se ele estivesse
me devorando com lambidas vorazes, mordidas e sucções lentas e ritmadas e, quando acho que
estou à beira do precipício, pronta para cair de cabeça, ele desliza os dois dedos e me fode sem
piedade.
Um grito rouco irrompe da minha garganta e agarro um punhado do seu cabelo, sentindo
meu corpo tremer e sucumbir às ondas violentas de um orgasmo poderoso, a ponto de pontos
vermelhos dançarem através das minhas pálpebras. Ele aperta firme minhas coxas enquanto
inspira e expira sobre minha carne sensível e, com uma última lambida, ele se ergue e me pega
em seus braços, levando-me direto para um divã marrom no último corredor. Ele abaixa-me com
cuidado e lentamente começa a se livrar das suas roupas. Pisco ainda atordoada com a névoa de
prazer, tentando pegar um vislumbre de seu rosto e corpo sob as luzes suaves dos lustres sobre
nós. Ele retira a camisa, me fazendo salivar com o seu peito rígido e inúmeros desenhos e
números gravados em sua pele alva, seu abdômen trincado e logo abaixo o seu pau ereto após
sua calça e boxer serem excluídas.
— Jesus! — Ofego e o encaro, sentindo meu coração bater com tanta força que seria
capaz de explodir em minha caixa torácica. Ele é enorme, não acho que saberei lidar com ele.
— Não se preocupe, minha pequena Lisichka. — Ele expira com força. — Você foi feita
para mim, sua boceta… é minha, porra! Então, não se preocupe, você será uma boa menina e
tomará todo o meu pau, cada maldito centímetro. — Seu tom profundamente rouco me faz
apertar as coxas, sentindo uma pulsação suave começar a latejar no meu clitóris.
Aleksey dá um passo após outro e mordo o lábio inferior. Medo e outro sentimento
desconhecido borbulham por baixo da minha pele, seguidos por um rastro de arrepios.
O canto dos seus lábios se estica em um sorriso cruel quando ele se eleva sobre mim.
Seu quadril se acomoda entre minhas pernas completamente abertas para ele enquanto, com um
movimento rápido, rasga o meu vestido, a última peça que restava entre nós. Seus olhos
selvagens saltam para os meus seios intumescidos e apertados. Seus lábios pairam sobre os meus
e uma pausa se segue até o seu polegar deslizar em minha bochecha em uma carícia lenta e
sensual.
— Quando eu olhei nos seus olhos pela primeira vez, eu soube que você, Milena
Salvatore, seria a minha ruína. E eu sou um bastardo egoísta porque eu quero a sua inocência. —
Suspira, enterrando o nariz na curva do meu pescoço, me enviando arrepios e calor aquecendo
minha pele.
— Isso será um desastre — argumento, meus olhos começam a arder, e tudo o que
queria era chorar, pois não quero que ele pare, mesmo sendo contra tudo o que eu acredito. O
meu inimigo, meu algoz, o homem que jurou vingança contra a minha família.
— Quero sujá-la, quebrá-la e, acima de tudo, quero possuir você…
Minha respiração engata e lambo os lábios, cravando as unhas em suas costas quando
sinto a cabeça do seu pau alinhar na minha entrada, esfregando em um ritmo tortuoso, para cima
e para baixo, para cima e para baixo, até que, em um golpe, ele desliza lentamente para dentro de
mim. Meu corpo retesa e fecho os olhos, estremecendo com sua invasão. Aleksey pende a
cabeça, olhando-me com um misto de luxúria e preocupação.
— Se for demais para você, Lisichka. É só pedir para parar... Eu não quero machucá-la.
Prefiro arrancar uma perna a causar mais dor do que já existe.
Um peso incomensurável se instala na boca do meu estômago quando sinto uma
vulnerabilidade crua atrás das suas palavras, então assinto com um suspiro, envolvendo o seu
pescoço, roçando os seus lábios. Em um ímpeto, Aleksey toma a minha boca na sua e escorrega
uma mão livre entre nós, massageando suavemente o meu clitóris, me fazendo relaxar um pouco
enquanto ele continua a empurrar profundamente, arrancando gemido alto da minha garganta.
Uma pontada de dor aguda pulsa, como se eu estivesse sendo esticada, mas, à medida que ele
avança em investidas lentas e profundas, algo começa a substituir a dor, crescendo no meu
estômago e espalhando por todo o meu corpo. Afundo minhas unhas em sua pele, arrancando um
grunhido rouco dele, e o pânico que me assombrava se dissipa, dando lugar a uma miríade de
sensações.
Aleksey morde o meu lábio inferior e o acaricia com a ponta da língua, combinando com
suas investidas, ora lentas e profundas, ora rápidas e punitivas. Então, sou consumida pela
voracidade do seu ritmo enquanto ele me fode sem pudor. Ele se afasta dos meus lábios e agarra
um mamilo em sua boca, me fazendo curvar os dedos dos pés e gritar. Suga o outro seio e
mordisca o mamilo enrijecido, em seguida, o abandona com um barulho, deixando um rastro de
saliva para trás, nivelando sua face com a minha. Seus olhos escuros e sombrios travam nos
meus, Aleksey balança a cabeça, uma expressão doentia e lasciva explode em seu belo rosto,
então desliza seu pau para fora e bate em mim outra vez com força. Me engasgo, perdendo o
fôlego, e gemo quando os espasmos começam na minha boceta, apertando o seu pau como um
torno, o fazendo ofegar e rosnar, estocando cada vez mais rápido.
— Milena… Porra! — vocifera, enquanto outro orgasmo rasteja, atingindo-me com
força.
Um grito rouco me escapa e Aleksey estoca uma última vez antes de seu corpo retesar e
eu sentir a sensação do seu gozo quente derramando dentro de mim, fazendo o meu sangue
esfriar nas veias e congelar.
Lágrimas brotam dos meus olhos e tento controlar o nó que cresce em minha garganta
com a amarga constatação que eu deixei o cruel Aleksey Volkov me foder sem pensar nas
consequências. Fecho os olhos, sentindo o peso do seu corpo afundar contra o meu e sua
respiração quente soprar no meu pescoço. Suas palavras anteriores ressoam, zombando na minha
mente:
“E eu sou um bastardo egoísta porque eu quero a sua inocência”.
Começo a hiperventilar e tento me desvencilhar do seu corpo em cima do meu.
“Quero sujá-la, quebrá-la”.
E eu o deixei. Porra! Mordo o lábio inferior, impedindo que as lágrimas escorram pelo
meu rosto. Deixei que o meu algoz fosse o meu primeiro, que ele marcasse o meu corpo e, o
pior, não me arrependo disso. O que há de errado com a minha maldita mente?
Respirando fundo, balanço a cabeça e empurro o seu peito. Levanto-me e alcanço a sua
camisa no chão, cobrindo a minha nudez e ignorando os seus apelos atrás de mim.
Aleksey agarra meu braço e bruscamente me vira para encará-lo. Sugo uma respiração
lenta, desviando os meus olhos do seu corpo ainda nu, vendo seu peito magnífico tatuado e
abdômen trincado cobertos com uma camada fina de suor e seu pau já totalmente duro outra vez
apontando em minha direção, com pequenas manchas de sangue impressas nele. O meu!
Jesus! O que foi que fiz?
— O que há de errado? — pergunta, parecendo genuinamente confuso.
Cerro os dentes, erguendo o queixo e sentindo seu aperto vacilar no meu braço.
— Já terminou. Você não precisa fingir que se importa.
O aperto no meu braço desaparece, e ele recua, parecendo ressentido.
— O que é tudo isso? — murmura rude, e suas palavras causam estragos em minha
cabeça, fazendo meu temperamento ferver.
— Arruinar, quebrar… — Meus lábios se curvam em um sorriso forçado e começo a
recuar para longe dele.
— Você conseguiu. O grande e cruel Aleksey Volkov já pode terminar com a sua
vingança — rosno asperamente, lançando um olhar rápido e desgostoso para o divã, que também
tem sinais do meu erro épico. Aleksey fica imóvel por um momento, mas logo sua expressão se
recupera e endurece, e seu olhar se torna frio e implacável, deixando-me alerta. Sentindo a
estrutura de madeira de uma estante nas minhas costas, agarro-a com as duas mãos e me viro,
correndo em disparada, escutando um rosnado ecoando no meu encalço.
Capítulo 14

Com um estrondo, golpeio a estante a minha frente, derrubando fileiras de livros,


sentindo a raiva ferver dentro de mim.
Que merda ela estava falando?
Embora ela faça parte da minha vingança, isso que aconteceu entre nós não tem nada a
ver com isso. Eu a quis, tenho a desejado como um louco por dias. Quando ela confessou que era
virgem, eu perdi o controle, o simples pensamento que outro poderia reivindicá-la me deixou
completamente insano.
Ela é minha!
Não importa o que aconteça, mesmo que sejamos inimigos. A imagem dela se
desfazendo embaixo de mim, os sons sensuais dos seus gemidos, e o olhar suave e selvagem que
vi brilhando em seus olhos, ninguém apagará da minha mente. Começo a me vestir
apressadamente quando cesso minha mão no meu pau. Há algumas manchas de sangue nele e
algo profundo e escuro me atravessa.
Eu fui o primeiro a tocá-la, porra, uma vez que a provei, não sei se seria capaz de deixá-
la ir. Balanço a cabeça e termino de colocar a boxer e a calça e saindo a passos largos em direção
ao meu quarto. Milena não pode simplesmente lançar acusações e correr como uma covarde. Se
ela tem algo a dizer, terá que olhar dentro dos meus olhos para isso.
Quando alcanço o corredor e entro no meu quarto, encontro a sua porta aberta e Milena,
encolhida próxima à janela, seu peito sobe e desce e lágrimas continuam a rolar em sua face.
Quando ela sente minha aproximação se levanta e me encara, logo um nó se forma na minha
garganta e aperto o maxilar com força. A maneira que ela me olha não deveria doer tanto. Há
arrependimento brilhando em meio às lágrimas, culpa e outro sentimento que não consigo
decifrar.
Ela espalma a mão no ar enquanto dou um passo e depois outro em sua direção. Meus
olhos percorrem sua face corada, deslizando para as suas pernas torneadas, assistindo ao meu
gozo escorrer entre elas.
Deus! Isso é doentio, mas eu não consigo desviar os olhos. Estou tão cheio e
sobrecarregado dela que ver minha porra deslizar do seu calor torna tudo ainda mais intoxicante.
Ela mantém a mão no ar, como se quisesse impedir meu avanço, mas a expressão em
seus olhos contradiz qualquer sinal de resistência real.
Cortando a distância entre nós, seguro sua face de cada lado, enxugando as suas
lágrimas.
— Eu realmente sou um maldito bastardo e egoísta, Lisichka, mas não me arrependo de
ter te tocado. — Ofego em seus lábios trêmulos, desejando mais uma vez prová-los.
Que merda ela está fazendo comigo?
— Vingança foi a última coisa que passou pela minha cabeça quando estava me
enterrando em você.
Milena suspira e fecha os olhos, se desvencilhando do meu toque.
— O- que acontece agora, Aleksey?
Os músculos dos meus braços tensionam, mas mantenho o olhar focado em seus olhos
azuis assustados. Uma faísca aquece meu corpo e o peso da incerteza esmaga o meu peito. Puxo
uma longa respiração e a envolvo com os meus braços. Sinto o seu corpo congelar, e a aperto
mais contra o meu peito.
— Eu não sei — admito sinceramente.
Mas de algo eu tenho certeza, agora que sei como é bom pra caralho tê-la em meus
braços, não quero que isso acabe, não até eu conseguir arrancá-la de uma vez por toda do meu
sistema.
Milena estremece e se afasta, negando veemente. Novas lágrimas deslizam novamente
pelo seu rosto em erguendo o queixo, ela me encara por entre seus cílios grossos.
— Estou cansada demais para os seus jogos, Aleksey. Só…, por favor, deixe-me
sozinha.
Incapaz de atender o seu pedido, ando em silêncio até ela e a levanto em meus braços, a
pegando de surpresa. Milena abre e fecha a boca, com seus olhos arregalados olhando para mim.
— O que você está fazendo? — pergunta, olhando para mim com uma expressão
angustiada.
Lambo os lábios e ando até o banheiro, colocando-a em seus próprios pés, então,
incentivo-a a levantar os braços e retiro minha camisa do seu corpo, jogando-a no canto. Milena
ofega, o topo cremoso dos seus seios sobem e descem e tenho que me controlar para não deixar
essa visão me consumir por inteiro. Eu só quero cuidar dela nesse momento, e é o que faço.
Me livro das minhas roupas e nos levo diretamente para baixo do jato quente. O vapor
começa a subir e envolver-nos em uma névoa quente e erótica. Pego uma esponja e coloco um
pouco do seu sabonete líquido de lírios, lavando cada centímetro dela, deslizando a esponja com
cuidado pelo seu corpo.
Caio de joelhos uma segunda vez para dar a devida atenção para suas pernas, o meio
delas, observando as manchas de sangue seco entre elas. Ergo o olhar e flagro Milena me
olhando com um rastro de rubor se espalhando por suas bochechas. Se ela soubesse como está
sexy agora… É difícil me controlar com seus olhos azuis brilhantes como dois faróis fixos em
mim.
Após terminar de lavá-la, me elevo sobre ela e dou a mesma atenção ao seu cabelo.
Milena solta um gemido baixo de apreciação quando passo os meus dedos por seus fios loiros e
começo a massagear o seu couro cabeludo. A água desce por suas mechas e face como riachos
enquanto sua pele alva e os seios magníficos reluzem sobre ela.
Pairo com minha testa contra o mármore frio a centímetros do topo da sua cabeça e
respiro fundo. Eu não sei o que estou fazendo, na verdade, estar com Milena agora me deixa
confuso. Eu a quero muito, mais do que qualquer coisa, no entanto, a raiva e o desejo de
vingança queimam com lava em minhas veias.
Sacudo a cabeça para dissipar meus pensamentos, então a enrolo em uma toalha e a
seguro em meus braços novamente. Com cuidado, a levo diretamente para a cama, depositando-a
suavemente no colchão. Acomodo-a, certificando-me de que ela esteja confortável. A observo
por um momento, contemplando os traços suaves de seu rosto. Ela parece vulnerável, e uma
mistura de emoções tumultua meu interior.
Instintivamente, deslizo a ponta dos meus dedos pelo contorno do seu rosto, buscando
absorver cada detalhe. A respiração dela é suave, e o ambiente é preenchido por um silêncio
esmagador. Recolho uma mecha úmida do seu cabelo atrás da orelha e me afasto, sentindo que
preciso de um tempo sozinho para respirar. A necessidade de ficar, abraçá-la e me perder
novamente no seu calor está me comendo por dentro, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim
hesita, onde a vingança ecoa e pulsa, gritando que tudo isso acabará logo, seja lá o que esteja
acontecendo entre nós.
— Durma bem, Lisichka — digo em uma voz tensa e a deixo repousar na cama,
resistindo à tentação de ficar ao seu lado.
Enquanto saio do quarto, o peso das minhas escolhas se faz sentir a cada passo, mas é
melhor assim, principalmente para preservar a sua sanidade.

Travo o maxilar, fechando as minhas mãos em punho. O terror nos olhos dela me atinge
com um punhal no meu peito à medida que seus passos firmes ecoam no piso destruído do velho
armazém. Tento me mover, mas o meu corpo não reage, é como se os meus membros estivessem
congelados no lugar.
Uma dor irradia pelo meu maxilar apertado quando o vejo erguendo a mão no ar e
desferir um tapa em sua face, que se vira violentamente com o impacto do golpe. Eu me
contorço no lugar, rosnando furioso para ele parar, mas ele não ouve, sequer olha em minha
direção, parece em êxtase, satisfeito demais em torturá-la.
Eu caio da cadeira que estou sentado, com o cheiro fétido das paredes imundas me
acertando em cheio. Meu sangue começa a ferver em minhas veias, enquanto tento me libertar
das cordas que prendem minhas mãos e pés. Um grito rouco escapa da minha garganta e o
desespero me consume quando o homem alcança uma arma no coldre nas costas e vejo o anel
com um diamante negro em formato de caveira brilhar na precária iluminação. Meu pulso
acelera e meu corpo enrijece. Nikita Volkov, meu pai, leva sua arma para o peito de Milena,
seus lábios se curvam em um sorriso cruel, com seus olhos escuros encontrando os meus, frios e
totalmente indiferentes.
— Estou fazendo o que você deveria ter feito, Aleksey — murmura com uma risada
profunda. Seus olhos brilham de forma demoníaca e, de repente, o seu sorriso desvanece e sua
expressão se torna sombria. Uma batida de um clique ressoa alto, me fazendo arregalar os
olhos com a cena à minha frente!
— Deus! Não! — grito e, em um impulso, consigo ficar de pé, percebendo que as cordas
misteriosamente desapareceram.
Mas que merda é essa?
Corro na direção de Milena, sentindo o peito em chamas. Alcanço o seu corpo mole em
minhas mãos trêmulas, contornando o seu rosto pálido com o polegar.
— Lisichka… por favor… — digo baixinho, nunca havia sentido tanto medo como
agora.
Suas pálpebras tremem levemente e seus olhos se abrem fitando os meus, totalmente em
branco. Mas esse não é o olhar que estou acostumado, não são brilhantes e suaves. Essa não é a
minha… Lisichka.
— Aleksey! — alguém grita atrás de mim, essa voz?
Me viro rapidamente e vejo Nikita segurando Milena pela garganta. Lágrimas pesadas
descem por suas bochechas e ela murmura. Nikita continua com um sorriso desprezível, levando
um punhal até o pescoço de Milena.
— Eu avisei, filho! — Dizendo essas palavras, ele afunda a lâmina na jugular dela.
— Não!
Acordo com um sobressalto, sentindo um toque suave na minha face.
Abro os olhos com uma respiração entrecortada, encontrando um par de olhos azuis
suaves fixos nos meus. Milena está de joelhos sobre a cama, trajando uma camisola branca de
seda, com as bochechas coradas enquanto seus fios loiros estão desalinhados e soltos em cada
lado do rosto.
— Malyshka … — Suspiro, envolvendo-a em meus braços.
Milena estremece por um instante, mas gradualmente sinto seu corpo relaxar contra o
meu enquanto ela enterra o rosto na curva do meu pescoço. De repente, tê-la assim, em meus
braços, nunca pareceu tão certo.
Capítulo 15

Solto um suspiro trêmulo e me remexo na cama, percebendo o lado de Aleksey vazio.


Uma onda de frustração me atinge, não que eu esperasse acordar acolhida em seus braços. Na
noite passada, enquanto dormia, fui despertada por seus gritos guturais que rompiam o silêncio
da noite. Seus pesadelos pareciam tão reais que, por um momento, hesitei em acordá-lo. No
entanto, agora, com o lado da cama vazio, a sensação de solidão me envolve.
Levanto-me devagar, tentando não perturbar o silêncio tenso que paira no quarto. A
visão do seu corpo esguio e cheio de músculos, de pé na janela, olhando para o horizonte, me
deixa intrigada. O que o atormenta tão profundamente? Sinto a necessidade de descobrir, mas, ao
mesmo tempo, receio entrar no tumulto dos seus demônios interiores.
Mordo o lábio inferior e me aproximo, pairando a um fio de distância quando ele se vira
com uma sugestão de um sorriso em seus lábios. Aleksey dá um passo e enlaça a minha cintura.
Com a mão livre, ele segura a minha nuca e agarra um punhado do meu cabelo, puxando minha
cabeça para trás, enterrando sua face na extensão do meu pescoço e inalando profundamente.
Meus olhos se fecham e minhas mãos vão para os seus ombros, com minhas unhas
ficando-se em sua pele.
— Se não estivesse dolorida, eu iria me enterrar em você agora mesmo, Lisichka — diz,
olhando em meus olhos.
Sua expressão está lívida, como se nada tivesse acontecido. Franzo o cenho claramente
chocada por Aleksey está evitando o grande elefante branco na sala. Ele morde o meu lábio
inferior e, quando percebe que não o correspondo, ele se afasta minimamente e pende a cabeça
como se estivesse me analisando.
— Não me faça perguntas que sabe que não terá respostas, malyshka — avisa em um
tom indiferente.
Afasto suas mãos, suspirando audivelmente.
— Eu vou tomar um banho — digo, passando por ele e engolindo minha frustração.
Quando atravesso a porta adjacente ao meu quarto, sou parada por seu braço em volta de
minha cintura, colando as minhas costas em seu peito rígido. Um suspiro trêmulo me escapa e
fico ali, parada, sentindo a tensão dominar o meu corpo.
— É um convite? — sussurra, mordiscando o lóbulo da minha orelha, e Deus! Tenho
que reprimir o gemido que ameaça escapar do fundo da minha garganta e, por mais que eu esteja
dolorida, o leve pulsar no meio das minhas coxas me diz que adoraria tê-lo novamente dentro de
mim.
Balanço a cabeça e nego com um sussurro baixo.
— Acho que não poderia lidar com você agora, Aleksey.
Ele beija o topo da minha cabeça e mantém o seu agarre em mim.
— Tudo bem, Malyshka. De qualquer forma, tomarei um banho sozinho. — Faz questão
de pontuar e continua: — Te esperarei para tomarmos o café da manhã juntos.
Abro e fecho a boca, mas finalmente concordo. Ele afrouxa o seu agarre e me afasto,
indo direto para o banheiro.

Quando Aleksey falou sobre tomarmos café da manhã juntos, jamais imaginei que seria
aqui embaixo, com uma mesa farta e, em volta dela, seus irmãos e tio, que me fulmina com o
olhar. Aperto as mãos em punho, as unhas cravando nas palmas das minhas mãos. Jesus! Se
olhares pudessem matar, eu já estaria morta.
Sinto a presença de Aleksey nas minhas costas, onde ele espalma uma mão, cobrindo o
meu corpo de arrepios calorosos. Ele me empurra gentilmente para a frente antes de sussurrar na
minha orelha.
— Vamos, Lisichka. Sente-se ao meu lado. — Ele puxa a cadeira e me faz sentar ao seu
lado, na cabeceira da mesa.
Um rosnado ecoa pelo ambiente, e não preciso olhar para saber de onde vem.
— O que é isso, Aleksey? Agora vamos ser obrigados a dividir a mesa com essa…
— Basta! — Aleksey vocifera, seus olhos furiosos se fixam em seu tio, que devolve na
mesma intensidade. — Sinta-se à vontade para deixar a mesma, tio. Agora!
Konstantin me lança um olhar que faz gelar todos os meus ossos antes de jogar o
guardanapo sobre a mesa e abandoná-la em passos largos.
Aleksey aperta os olhos e percorre a mesa, encarando os irmãos com uma sobrancelha
erguida.
— Se alguém mais quiser segui-lo… — sugere, levando um pedaço de pão aos lábios.
Ivan revira os olhos e volta a comer, enquanto Igor e Maskin, uma vez ou outra, lança-
me olhares breves.
— Então, ela não é mais a nossa prisioneira, é isso? — Ivan pergunta com um leve tom
de deboche.
Cerro os punhos por debaixo da mesa e tento manter minha respiração controlada.
— Nada mudou — Aleksey responde, fazendo o meu coração afundar no peito.
— Mas Milena tem carta-branca para andar livremente pelo castelo, até ir ao jardim se
quiser, claro, desde que tenha alguém em seu encalço.
Meu estômago se revira e está cada vez mais difícil me manter em silêncio.
— Posso imaginar o que aconteceu para gerar essa mudança — Maskin comenta com
um sorriso de escárnio vibrando em seus lábios.
Eu fecho os olhos brevemente e tento me levantar com a intenção de deixar a mesa, mas
uma mão firme agarra a minha coxa, me fazendo cair de volta no assento. Seus olhos, como dois
abismos escuros, olham mortalmente para o irmão.
— Já chega, Maskin — rosna entredentes. — Cuidado com as palavras. — Ele olha para
o irmão e, em seguida, seus olhos deslizam para Ivan e Igor, que, por enquanto, se mantêm
impassíveis, completamente em silêncio.— Escutem todos — Aleksey avisa em tom ríspido. —
Não quero mais esse tipo de comentário, principalmente quando Milena estiver por perto.
— Ela é a nossa prisioneira! — Maskin rebate com indignação.
— Sim, como já disse, nada mudou. Eu só quero que fiquem de olho, mas não a
destratem. Não enquanto ela estiver sob nosso teto.
Ivan solta uma longa risada e, em seguida, se levanta fazendo uma reverência de forma
exagerada.
— Sim, mestre. — Gira em seus calcanhares e vai embora, pisando duro.
Maskin espalma as mãos sobre a mesa de carvalho escuro e encara Aleksey, seus olhos
sombrios fervem com uma fúria assassina.
— Espero que saiba o que está fazendo, irmão. — Desvia o olhar e trava no meu. —
Uma boceta não pode ser mais importante do que sua família.
Minhas entranhas se reviram em desconforto e mal consigo respirar direito. Maskin,
seguindo o exemplo do seu irmão, abandona a mesa, só restando Igor, que me lança um olhar de
pesar. Ele começa a se servir assim que Irina entra com uma jarra de suco e uma bandeja com
bolo, enquanto o meu café continua intocado. Em um momento, sinto um toque quente acariciar
a minha bochecha.
— Não ligue para eles, Lisichka. Ivan e Maskin não vão te machucar — assegura com
um olhar penetrante, o que faz meu coração palpitar de uma maneira estranha.
Assinto, na verdade, pouco me importo com eles. É que tudo está acontecendo muito
rápido, e me envolver com o meu inimigo é uma complicação a mais para lidar.
Quando finalmente termino o café da manhã, resolvo não arriscar outra saída, pelo
menos por enquanto. Os irmãos e o tio de Aleksey já demonstraram que me odeiam, e isso é
recíproco, devo acrescentar, mas eu não posso enfrentá-los, pois seria facilmente esmagada como
um inseto insignificante.
Como de costume, naquela tarde, Irina me trouxe chá e algumas torradas, e ficamos
conversando, no entanto, a garota é escorregadia e se esquiva das minhas perguntas. Ela sempre
parece à beira de confidenciar algo, então desiste, mas não vou sossegar sem descobrir o que é.
Leio outro livro que peguei furtivamente da biblioteca e não percebo que o dia havia
acabado. Tomo um longo banho relaxante e ainda em volta da toalha, retorno para o quarto,
sendo surpreendida por uma figura sombria sentada na poltrona. Ele me observa predatoriamente
enquanto mantém suas mãos firmes embaixo do queixo, formando uma torre. E fica lá, em
silêncio, apenas me observando, transformando todos os meus membros em mendicância líquida.
Se elevando em toda a sua incrível altura, dá um passo à frente, seus músculos se
contraindo em toda parte, exibindo seu torso nu e tatuado, e usa somente uma calça de moletom
preta. Ele corta a nossa distância e puxa a toalha rapidamente do meu corpo. Uma mecha úmida
do seu cabelo cai em sua testa e fecho as mãos em punho, morrendo de vontade de colocá-la no
lugar.
— Sei que ainda está dolorida, malyshka, mas não consigo controlar essa necessidade
urgente de me enterrar em você — rosna, levantando-me no ar e me fazendo enlaçar o seu
quadril com minhas pernas.
Em seguida, me toma em um beijo profundo enquanto me prensa contra a parede, sua
língua invade e provoca a minha, devorando-a em movimentos intensos e poderosos. Gemo e
ofego, mergulhando minha mão dentro da sua calça, encontrando o seu pau duro, e o acaricio
lentamente, sentindo-o grunhir nos meus lábios.
— Coloca-me para dentro, malyshka.
Sorrio e o levo ansiosamente para a minha entrada molhada, reprimindo um silvo
quando me afundo lentamente sobre sua ereção.
Jesus!
Ainda dói tê-lo dentro de mim, é como se estivesse me esticando pela milésima vez e
tenho que respirar fundo para continuar, até que o tenho totalmente dentro, me empalando me
fazendo sentir faíscas de calor percorrer cada centímetro da minha pele.
— Aleksey… — sibilo, agarrando os seus ombros, cravando minhas unhas em sua carne
e criando um ritmo prolongado e sensual.
Seus dedos firmes se entrelaçam em um punhado do meu cabelo, e nossos olhares se
encontram por um breve segundo antes dele quebrar o contato visual, parecendo atormentado, à
beira de perder o controle. Cada estocada reverbera através de mim em uma mistura crua de
prazer e dor.
Sinto-me aprisionada nesse êxtase, perdida em um abismo de sensações arrebatadoras. O
quarto ecoa com nossos gemidos e suspiros e, segundos depois, sou consumida por um orgasmo
poderoso. Seus lábios exalam uma respiração quente no meu ouvido enquanto suas estocadas se
intensificam, me fazendo fechar os olhos e abrir os lábios.
— Malyshka… Porra! É tão bom me enterrar em você — range, depositando um beijo
no lado do meu pescoço. — Tenho sonhado com essa sensação…
Gemo baixinho em resposta, jogando a cabeça para trás no exato momento em que seu
corpo estremece e ele goza dentro de mim.
Encontro-me exausta e com um maldito sorriso preguiçoso dançando em meus lábios.
Nas noites seguintes, no meio da penumbra, Aleksey tem invadido o meu quarto e me fodido
sempre que tem oportunidade. É insano como só preciso do seu toque quente na minha pele e de
suas palavras ásperas sussurradas no meu ouvido para o meu corpo entrar em um estado de
completo êxtase, desejando que ele me foda até o esquecimento e que me degrade a ponto de não
sobrar nada, apenas um amontoado de contentamento e prazer.
No entanto, Aleksey tem desenvolvido um modus operandi, ele nunca mantém o contato
visual quando estamos conectados, optando por sempre me pegar por trás, de quatro, ou em pé,
com as mãos espalmadas na parede, ou na janela, correndo o risco de sermos flagrados. Acho
que isso o excita e, para ser sincera, a mim também. Fico molhada só de imaginar que um dos
seus guardas possa estar nos observando. E, quando tudo termina, ele me conduz ao banheiro,
dedicando-se a lavar meticulosamente cada centímetro do meu corpo antes de me acomodar na
cama e, em seguida, se retira para seu próprio quarto.
Dizer que ele está mantendo um muro entre nós seria um verdadeiro eufemismo, mas o
fato de Aleksey evitar me encarar nos olhos apenas intensifica o anseio e a necessidade que
tenho em estar em seus braços. Às vezes, imagino o que ele esconde por baixo do seu escudo e
olhar evasivo e por que reluta tanto em se entregar por inteiro, mas tão rápido o pensamento
desaparece quando um lembrete acende em minha mente. Somos lado opostos aqui, Aleksey
deseja vingança e está disposto a ir até o fim. E, em breve, ambos seremos apenas uma vaga
lembrança, ou um erro infeliz que nunca mais poderá se repetir.
Capítulo 16

Enquanto Maskin lidera o caminho vibrando de entusiasmo, sigo o seu encalço com
meus olhos percorrendo o velho e decadente armazém que mantemos longe da nossa localização
para cuidar de assuntos mais urgentes. O cheiro fétido e o visual exalando podridão e desespero
me fazem ter algumas lembranças de algo que vivi no passado, mas são fragmentos
completamente desconexos que não consigo discernir o que é real ou ilusão.
Um grunhido rouco quebra o silêncio, mesclando com os nossos passos pesados. Caixas
velhas estão amontoadas em toda parte, juntamente com sucatas de carros e motos na parte
inferior do armazém. À medida que avançamos, é possível ouvir sons de descarga elétrica
estalando no espaço, logo ergo a sobrancelha para meu irmão, que apenas dá de ombros.
Ao que parece, confiar a vigilância do nosso prisioneiro ao Ivan foi um erro terrível.
Maskin bate uma palma na outra, chamando a atenção do nosso irmão caçula, que ergue a cabeça
após submergir o homem à sua mercê em um barril eletrizado com uma voltagem sutil, o
necessário apenas para provocar uma agonia contínua.
Um sorriso orgulhoso se desenha em seus lábios enquanto ele intensifica o aperto no
punhado de cabelos loiros, trazendo-o à superfície repetidas vezes em uma sequência rápida, sem
dar espaço para respirar. O infeliz estremece a cada vez, mas não demonstra qualquer sinal de
fraqueza humana, o que me faz perder a paciência. Pelos rumores que circulam, o maldito
psicopata pode resistir a horas de tortura, e isso só aumenta minha frustração.
— Basta!
Ivan o levanta e o joga bruscamente na cadeira, enquanto me aproximo, parando a
poucos centímetros do maldito. Com a roupa destruída e molhada, o rosto esfolado e um olho
inchado que mal se abre, ele sorri e tosse, cuspindo sangue no desgastado chão batido, mas,
ainda assim, o sorriso sardônico não abandona o seu rosto machucado.
— Então estou diante de Aleksey Volkov, o pakhan em pessoa — zomba. — O mesmo
que ressuscitou dos mortos — continua a provocar.
Aperto o maxilar e inclino a cabeça, analisando com desgosto o executor da Cosa
Nostra, o maldito filho da puta do Alessio Ruggiero. Veremos se ele é inquebrável como dizem
por aí. Ando até a velha maca com instrumentos de tortura e pego um martelo. Seu olho bom
segue cada movimento meu e o vejo lamber os lábios rompidos e se empertigar no assento, fora
isso, nada. Ele parece um robô, sem nenhuma emoção humana sequer.
Com o martelo em mãos, dou um passo atrás, observando o olhar desafiador de Alessio.
Seu silêncio insolente me provoca, mas sei que precisarei ir além para arrancar dele qualquer
informação útil.
— O silêncio não vai te proteger, Ruggiero — murmuro, aproximando-me lentamente.
— Você acha que é inquebrável, mas vou fazer você implorar por misericórdia.
Alessio apenas solta uma risada rouca e desdenhosa, desafiando-me. Sem hesitar, ergo o
martelo, e a sensação de poder sobre ele é embriagante. A primeira pancada é lançada em sua
mão direita aberta sobre a bancada de concreto à frente. Maskin e Ivan o tem em seu agarre e
grunhidos raivosos ressoam pelo armazém. A cada golpe, tento extrair dele qualquer informação
sobre os planos da Cosa Nostra. A dor é intensa, porém, não parece amolecer a sua determinação
de aço.
Ao meu redor, o ambiente úmido e sujo do armazém parece ecoar os gemidos abafados e
o som metálico dos golpes. O cheiro de sangue e a sensação de vingança pairam no ar. Faço uma
pausa, observando seus membros esmagados, e jogo o instrumento no chão, me inclinando e o
socando com toda a força, fazendo seu corpo pesado balançar contra a cadeira de metal.
— Filho da puta! Pode me torturar a noite toda se quiser, mas não me verá quebrar —
Vocifera enquanto o que sobrou da sua roupa começa a se tingir de carmesim. — É só isso que
tem? — grita, jogando a cabeça para o lado, gargalhando sem parar.
Tento controlar a fúria assassina que está me consumindo para não o matar agora, a
morte seria muito fácil para esse bastardo. Ainda não. Quero que sofra como a minha família
sofreu.
— Que tal se eu te disser que foi da minha arma que partiu o tiro que o acertou no peito
naquela noite no armazém?
Meu temperamento ferve e meus olhos saltam para ele, observando a seriedade em sua
face estoica. Seria muito fácil identificar se estivesse mentindo, mas, definitivamente, ele não
está.
— E isso foi péssimo. Não sou homem de fazer nada pela metade — retruca com um
sorriso amargo.
Mordo a parte interna da bochecha e retiro o meu terno, em seguida, dobro as mangas e
faço um sinal para os meus irmãos nos deixarem sozinhos, depois alcanço um alicate sobre a
maca.
— Faço das suas palavras as minhas — rebato, puxando com o alicate a sua unha do
polegar. — Você pode até resistir à dor física, mas estou prestes a explorar terrenos mais
profundos — aviso, observando-o de perto. Meu olhar afiado busca qualquer sinal de fraqueza.
— Não espere que isso vá quebrar meu espírito. — Ele solta uma risada áspera.
Com calma, inclino o alicate, sentindo o peso em minhas mãos.
— Sua coragem é admirável, mas o físico é só o começo. — Encaro-o antes de começar
a extrair outra unha, percebendo uma dor aguda manchando a sua expressão.
Alessio range os dentes, mas não emite um som sequer. Continuo a tortura e decidido
testar até onde ele poderá ir com sua maldita resistência.
— Aquele tiro foi apenas o início do seu tormento. — Deixo minhas palavras pairarem
no espaço sombrio do armazém. — E, acredite em mim, há mais de onde isso veio. Vocês,
maldito Ruggieros, estão com os dias contados.
— Filho da puta, sádico! — Maskin grita, alcançando a arma no coldre em sua coxa e
apontando para a cabeça caída de Alessio.
O bastardo desmaiou durante a tortura, usei quase todo o repertório possível com ele e
nada do infeliz abrir a boca ou implorar. Pelo visto os rumores são verdadeiros, Alessio Ruggiero
é um maldito sádico que parece amar sentir dor, ou é completamente imune a ela.
Ignoro os protestos de Ivan para matá-lo e ando até Maskin, agarrando o cano da sua
arma, levando-a para baixo. Ele range os dentes e me olha com uma interrogação nos olhos.
— A morte seria muito fácil. Agora que sei que ele foi o responsável por me mandar
diretamente para o coma, quero que ele sofra bastante, se for possível, por dias.
Estreito o olhar para o corpo musculoso quase sem vida acorrentado na cadeira e receio
que ele não vai durar muito.
Ivan e Maskin o deixaram em um estado deplorável antes da minha chegada e, depois da
nossa sessão de tortura, sua situação se deteriorou. Mas pouco me importa, fiquei muito tempo
fora de combate por sua causa, agora chegou a hora de um acerto de contas e logo depois será a
vez do seu irmão, Dário.
— Aplique uma dose cavalar de adrenalina no nosso convidado e o deixe em paz. Mais
tarde volto para uma segunda rodada. — Faço contato visual direto com Maskin, que
relutantemente concorda.
Me despeço dos dois e sigo para fora, encontrando Ilia com a porta traseira aberta para
mim.
Olho para as minhas mãos cobertas de sangue e de repente uma pontada de dor familiar
atravessa o meu cérebro, a ponto de enxergar pontos pretos borrando a minha visão. Tento
respirar fundo quando outra pontada me atinge e, em um rompante, arranco minha jaqueta preta
e a jogo no chão. Pelo espelho retrovisor, os olhos castanhos de Ilia observam a cena com
apreensão.
— Está tudo bem, chefe? — pergunta.
Apenas aceno e peço para ele seguir para o castelo. Jogo a cabeça para trás e descanso
no estofado quando flashes e vozes masculinas estouram através das minhas pálpebras.
“Seu ingrato! Você deveria morrer, não ele”.
Congelo brevemente quando outro fragmento surge. Milena está amarrada em uma
cadeira, seu rosto, machucado e marcado por lágrimas.
Que porra é essa?
Quando finalmente chego ao castelo, atravesso o extenso corredor encontrando Irina,
que arregala os olhos quando me nota. Logo atrás dela, está o meu tio, que me lança um olhar
inelegível.
Passo por eles e ando a passos largos para o meu quarto. Posso sentir o olhar pesado de
Konstantin abrir buracos na minha cabeça, mas não quero lidar com suas articulações agora,
preciso pensar e, acima de tudo, preciso de respostas.
O aparecimento de Milena em uma lembrança me assustou, isso significa que minha
mente está projetando em vez de revelar a realidade, o que me deixa ainda mais confuso. Preciso
me encontrar com o doutor Dmitry outra vez, ele avisou que isso poderia acontecer, mas
confesso que ainda tinha esperanças de que pudesse recuperar a minha memória. Segundo
Dmitry, eu poderia acordar um belo dia e me lembrar dos últimos anos perdidos, ou nunca mais
me lembrar.
Porra!
Solto o ar lentamente e puxo minha camisa pela cabeça assim que entro no quarto, mas,
quando os meus olhos capturam a figura pequena em frente à minha janela, algo aquece o meu
peito.
Droga! Isso não deveria acontecer.
Meu corpo parece estar acondicionado ao seu, pois, basta apenas olhá-la para ele entrar
em chamas. Seu cabelo loiro e solto paira em sua cintura estreita, enquanto meus olhos absorvem
as curvas deliciosas do seu corpo em um vestido azul-bebê simples, de alças, que nela parece a
porra da melhor roupa de grife. Me aproximo lentamente, evitando fazer barulho enquanto o
crepitar da lareira reveste o ambiente. Quando estou a um fio de distância, nossos olhos se
encontram através do vidro e ela se vira, seus olhos azuis arregalados como pires me encaram e
algo na sua expressão me frustra. Estou coberto de sangue do filho da puta do Ruggiero e,
quando a vi esperando por mim, parei de raciocinar.
Milena está visivelmente enojada, não posso dizer que a culpo. Ela é tão pura, a criatura
mais linda que os meus olhos já viram. Eu já a arruinei quando a toquei, não quero também sujá-
la com o sangue de uma pessoa. Ela não aguentaria.
Quando ela avança em minha direção, recuo.
— Aleksey… — Sua voz suave ecoa atrás de mim quando giro em meus calcanhares e
ando direto para o banheiro.
Me livro do restante das minhas roupas e entro embaixo do jato quente, deixando a água
correr livremente pelo meu corpo, lavando cada centímetro dele. Descanso a cabeça no mármore
creme, observando o riacho carmesim que se forma sob meus pés desaparecer por entre o ralo.
Segundos se passam até eu sentir braços delicados envolverem as minhas costas, me fazendo
retesar.
— Malyshka, não deveria estar aqui. — Suspiro sentindo suas mãos deslizarem
lentamente pelo meu peito, fazendo movimentos circulares. — Eu sou um monstro, Milena. Isso
deveria ser o suficiente para mantê-la longe de mim.
Olho para baixo, novamente vislumbrando o carmesim gradualmente se dissipando,
deixando a água em sua transparência natural.
— Não tenho medo de monstros, Aleksey. Cresci no meio deles a minha vida toda. Se
quer me afastar, terá que usar outro argumento.
Minhas mãos tremem quando eu encontro as dela, entrelaço os nossos dedos e as levo
para os meus lábios, beijando cada junta.
O que você está fazendo comigo, Lisichka? — sussurro mentalmente. Porque o meu
plano de vingança, a cada dia que passa, está ficando distante. É como se, ao seu lado, nada mais
importasse. Só ela, seu cheiro, seus beijos, seu sorriso. Estou tão cheio dela que, às vezes, me
falta o ar para respirar.
Talvez esteja na hora de acabar logo com isso, mas, quando eu me viro, pronto para
mandá-la de volta para o seu quarto, sou atingindo em cheio pelos seus olhos suaves e selvagens.
Seu lábio inferior está sendo castigado entre os dentes e tudo em volta desaparece. Enjaulo o seu
corpo com o meu contra o mármore frio e seguro seus pulsos acima da sua cabeça.
Milena é tão pequena que eu me inclino sobre o seu corpo, mergulhando para alcançar os
seus lábios. Jesus! Beijá-la tem se tornado o meu vício. Seus lábios macios estão nos meus, sinto
seu corpo vibrar e engolir cada um dos meus gemidos. Seguro seus pulsos com uma mão e, com
a outra livre, escorrego por suas coxas, segurando sua boceta rosada. Tão molhada… Ofego em
seus lábios, deslizando meus dedos por suas dobras lisas. Milena arqueia as costas e choraminga,
o som rouco e necessitado envia uma descarga escaldante direto para o meu pau, que já está duro
como pedra.
Acaricio preguiçosamente seu clitóris e, em seguida, a giro, colocando sua face colada
na superfície gelada. Ela sussurra algo que parece ser frustração, então a agarro pelos quadris,
puxando-a e empinando sua bunda redonda para mim. Quando minha ponta escorrega para a sua
entrada, o ar fica preso nos meus pulmões.
Puta que pariu!
Em um só golpe, me enterro todo dentro dela. Eu repito para mim mesmo que vou parar
em breve, mas a verdade é que não consigo. Será preciso um esforço descomunal para esse
anseio, essa urgência de tê-la a todo momento desaparecer por completo. Ergo-me sobre seu
corpo, provocando arrepios ao arrastar meus dentes pelo lóbulo de sua orelha. Seus gemidos
ecoam em resposta aos meus golpes intensos. Milena lança um olhar penetrante por cima do
ombro, como se visse fundo em minha alma, despertando uma sensação desconcertante. Fecho
os olhos, mordendo levemente seu queixo, e, em seguida, seguro firme um punhado do seu
cabelo, intensificando nossos movimentos.
Marcas inevitáveis se formarão em sua pele alva, mas a intensidade do que ela desperta
em mim é insana. A cada investida, troca de olhares e sussurros, parece que ela extrai um pedaço
meu. Seu corpo entra em convulsões, os lábios entreabertos foram um silencioso "O" perfeito, e
sua boceta me aperta enquanto continuo movendo-me dentro dela, levando-a ao êxtase, que
culmina em seus gritos gemendo o meu nome, desencadeando finalmente minha própria
libertação.
— Malyshka… — rosno sobre minha respiração, afundando meu rosto em seu pescoço
delicado enquanto mordisco seu ombro, sintonizando-me com as batidas aceleradas do seu
coração.
Não consigo olhá-la nos olhos, pois poderia facilmente ser consumido pela miríade que
nos envolve agora.
Lentamente escorrego para longe dela e volto para o jato de água quente. Milena
continua de costas, seu peito subindo e descendo, então ela se vira com seus olhos em branco e
sua expressão congelada, é como se ela tivesse educado suas feições. Espero que ela se junte a
mim, mas não é isso que acontece. Lançando-me um olhar vazio, gira em seus calcanhares e vai
embora. Soco a parede à minha frente com um nó na garganta. Não era para ser assim, não
deveria ter deixado ela ficar sob minha pele.
Capítulo 17

Meu pai sempre enfatizava que nenhum Salvatore deveria se sujeitar a ninguém, e menos
ainda mostrar fraqueza, pois isso poderia ser explorado pelos nossos inimigos para nos destruir.
Estou determinada a seguir esse princípio. Tenho tentado ignorar todos os sentimentos
que ameaçam me consumir por inteira, bem, quase todos. A atração que sinto por Aleksey não é
uma delas. Por mais que eu tente, não consigo me manter longe, mesmo com o seu tratamento
frio.
Todas as noites tenho ansiado pelo seu toque em meu corpo, a conexão carnal que me
leva aos céus, mas, ainda assim, não é o suficiente. Após estarmos suados e saciados, Aleksey se
mantém atencioso, lavando-me com cuidado antes de me conduzir até a cama. Em seguida, ele se
retira para o seu próprio quarto e é como se ele tentasse manter uma barreira entre nós, como se o
seu coração estivesse envolto por camadas impenetráveis.
Apesar de estar fisicamente satisfeita, meu coração ainda clama por algo mais. Anseio
por desvendar os mistérios que o envolvem, por encontrar, naquele olhar frio e semblante
imperturbável, as respostas que me escapam. No entanto, quanto mais eu me aproximo, mais ele
parece se afastar, como se o medo de se entregar fosse maior do que qualquer desejo que
possamos compartilhar.
Suspiro ao observar os flocos de neve dançarem lá fora através da janela quando ouço
passos se aproximando por trás. Ao me virar, deparo-me com Irina parada no limiar da porta. Ela
exibe uma expressão tensa e seu cabelo desalinhado em um coque desajeitado no topo da cabeça.
Ao fixar meus olhos em seu rosto, surpreendo-me ao ver um rastro de lágrimas copiosas
escorrendo por suas bochechas e seu lábio inferior ferido. Ela hesita por um momento antes de
dar passos vacilantes em minha direção e me abraçar de repente, me pegando de surpresa. Ainda
atordoada por seu gesto, envolvo meus braços ao seu redor, deslizando as mãos pelas suas costas,
para cima e para baixo.
Quando ela se afasta, percebo que seu vestido está rasgado, manchado e com vestígios
de sangue. Minhas entranhas se retorcem e seguro sua mão, conduzindo-a para a cama. Com o
polegar, suavizo as lágrimas em seus olhos.
— Estou aqui, Irina, quando estiver pronta — murmuro suavemente, testemunhando-a
fechar os olhos por um momento e a sua respiração trêmula.
Ao abri-los novamente, seu olhar evita o meu, como se não conseguisse encarar-me nos
olhos. Meu estômago se aperta diante da vulnerabilidade e desolação evidentes em sua
expressão. Suspirando, seu sussurro quase inaudível quebra o silêncio.
— Eu tinha doze anos quando tudo começou. Meu pai era um soldado da Bratva.
Quando minha mãe morreu, o senhor Volkov permitiu que morássemos no castelo. Eu, meu pai e
meu irmão, Mikhail. — Ela faz uma pausa e respira fundo. — Em uma noite, após nosso pai sair
para uma missão, recebemos a notícia que ele foi morto em combate. Deus! — Ela ofega,
parecendo buscar ar para respirar. Quando seus olhos encontram os meus, meu peito se aperta.
Há tanta dor e revolta neles. — Mikhail só tinha dezesseis anos e cuidou de mim como o nosso
pai sempre fez, embora ele não tenha conseguido me proteger de tudo. — Seus lábios tremem e
ela agarra um punhado do seu cabelo e o puxa com força. — E-u não aguento mais, senhora. Eu
quero morrer. Toda vez que ele me toca, que me obriga a fazer todas aquelas coisas nojentas,
eu…
Meu sangue gela nas veias e meus lábios tremem sem saber o que dizer. Não penso
quando a envolvo novamente em meus braços, apertando-a forte.
Jesus! Irina era só uma criança e não merecia passar por isso. Ela chora no meu ombro,
seus soluços intensos balançando o seu corpo pequeno. Continuo deslizando as mãos por suas
costas quando pergunto:
— Konstantin… ainda está machucando, você? — Sinto seu corpo resetar e estremecer
contra o meu. Seus olhos verdes encontram os meus, arregalados em choque.
— T-odas as noites. Às vezes, durante o dia. Eu só quero que tudo isso pare, senhora. —
Sua voz soa estranha, quase assombrada quando responde.
Seguro gentilmente em seus ombros e a afasto.
— Irina, presta atenção. Ele nunca mais vai te machucar, você me ouviu? Vou falar com
Aleksey, ele não…
Irina balança a cabeça e nega, levantando-se em um pulo.
— S-enhora, não. Por favor, o senhor Volkov nunca irá acreditar em mim, sou apenas
uma empregada. — Irina recua, abraçando o próprio corpo.
— Irina, você não é apenas uma empregada. Ninguém merece passar por isso, vou
ajudá-la, e isso inclui falar com Aleksey. Ele precisa saber o que está acontecendo.
A garota continua a negar, seus soluços e súplicas aumentam a cada minuto.
Meu temperamento sobe, nunca fui uma pessoa violenta, ou uma que costuma usá-la
para resolver algo, mas é difícil não desejar matar o porco desgraçado do Konstantin Volkov
com minhas próprias mãos. Aquele velho desprezível, não foi difícil perceber de quem ela estava
falando, já que ele tentou fazer o mesmo comigo assim que cheguei aqui. Se não fosse Aleksey,
ele teria conseguido alcançar o seu objetivo. Eu o odeio com todas as minhas forças. Quero
acreditar que Aleksey não sabia de tudo isso e que, assim que eu contar, faça-o pagar.
Alcanço Irina outra vez e, com cuidado, a levo até minha cama e a faço se deitar, a
cobrindo com um lençol. Peço que ela fique e não saia até eu chegar, vou resolver isso agora
mesmo. Essa garota precisa de ajuda, está nítido o seu descontrole.
Saio do quarto, fecho a porta e passo pelo quarto de Aleksey, sentindo seu perfume
exalar no ar. Balanço a cabeça e sigo pelo corredor, descendo o grande lance de escadas. Procuro
primeiro na ala sul, mas encontro alguns guardas que informam que o chefe está em seu
escritório, que não sei onde fica. Peço instruções, e um deles, com expressão indiferente, me
guia. Leva mais tempo do que achei que precisasse para encontrá-lo.
Aleksey está sentado atrás de uma grande mesa de mogno escuro, concentrado em seu
laptop aberto à sua frente. Vestido com uma blusa preta e jaqueta de couro, ele digita
freneticamente. Quando percebe minha presença, suas sobrancelhas se franzem.
— Bem, estou realmente curioso, aconteceu alguma coisa? — Mordo o lábio inferior,
adentrando o espaço, observando-o me encarar enquanto corre os dedos pelo seu cabelo escuro.
Tenho que ignorar as cenas da noite passada que atravessam a minha mente, lembrando de seus
lábios devorando a minha boceta enquanto agarrava um punhado do seu cabelo macio.
Seus olhos brilham, parecendo ler meus pensamentos e, como se não bastasse ser pega
em flagrante, minhas bochechas esquentam. Limpo a garganta e me aproximo.
— Aconteceu, Aleksey. Venha comigo, e eu lhe explicarei tudo.
Ele estreita o olhar antes de se levantar e vir em minha direção. Aleksey me surpreende
quando segura minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Lidere o caminho, Lisichka.
Aleksey segue ao meu lado enquanto o conduzo pelos corredores, tentando manter a
calma, apesar da tensão entre nós. As palavras estão prontas para serem ditas, mas hesito em
romper o silêncio até que estamos quase chegando no seu quarto. Quando passo por ele e abro a
porta adjacente, Irina, com os olhos vermelhos e inchados, salta da cama e começa a gritar. Ando
até ela e a abraço pelos ombros, tentando acalmá-la.
Aleksey está escorado na porta, seus olhos estreitos em uma avaliação meticulosa sobre
nós. Ele ergue o queixo e acena na direção da garota, que continua a chorar nos meus braços.
— O que aconteceu com ela e por que está no seu quarto? — pergunta com seus olhos
cravados nos meus.
Sinto um aperto no estômago ao ter que abordar o assunto.
— Irina vem sendo... machucada, Aleksey. Desde os doze anos. — Ele dá um passo para
trás, visivelmente chocado. — Pelo seu tio Konstantin. — Meus dedos se apertam em torno dela.
— Ela tinha acabado de perder o pai, era apenas uma criança... — desabafo, observando seus
olhos se tornarem escuros como a noite, sombrios e completamente assustadores.
Aleksey vira-se e chuta a poltrona atrás de si, rosnando palavras em russo. Encolho-me
diante de sua fúria e o vejo puxar uma longa respiração antes de se virar novamente.
— Vá para o meu quarto e feche a porta, Lisichka — ordena. — Quero conversar com
Irina a sós — exige, e percebo a garota começar a tremer. Ela reluta em me deixar ir, mas, à
medida que me afasto, deixo um beijo em sua bochecha, assegurando que tudo ficará bem.
Fechando a porta atrás de mim, ando até sua cama e alcanço o seu travesseiro, o levando
ao peito, enterrando o meu nariz no tecido macio, sentindo o seu cheiro delicioso amadeirado.
Com um suspiro, devolvo o travesseiro e começo a andar pelo quarto, observando a mobília
escura e elegante, as pesadas cortinas que ocultam a paisagem lá fora e seu closet amplo. Vou até
ele, encontrando suas peças bem-organizadas metodicamente por cores e sessões.
Abro uma gaveta, deparando-me com um mostruário de relógios e abotoaduras. No meio
deles, encontro um colar delicado de ouro com um longo pingente de cruz. Pego-o nas mãos,
admirando a peça, quando percebo um nome gravado atrás do pingente.
Dasha. É o nome que está escrito Será da sua namorada? Só pode ser de alguém
importante, se não ele não teria guardado. Fecho os olhos, largo o colar onde estava e me afasto.
E daí que Aleksey tenha alguém? Não sou eu que precisa se preocupar com isso.
Continuo esperando até que, meia hora depois, ele aparece.
— Aleksey…, o que vai fazer agora? — sondo-o quando ele tenta passar por mim feito
um furacão.
— Não se preocupe com nada, Malyshka. Só cuide de Irina até eu chegar, sim?
Quando não respondo, seus lábios roçam minha bochecha antes de ele partir.
Volto para o quarto e encontro Irina sentada na poltrona, olhando fixamente para as
mãos empoleiradas no colo. Ela parece perdida em pensamentos, no entanto, não há mais
lágrimas em seu rosto. Ando devagar e me agacho, tocando suas mãos suavemente. Seus olhos
verdes se erguem para os meus, ainda marejados.
— O senhor Volkov… — Ela puxa uma longa respiração e seus lábios se curvam, me
fazendo franzir o cenho. — Ele me garantiu que ninguém nunca mais me machucará. Nem
mesmo… ele.
Sorrio e acaricio sua bochecha, aliviada por Aleksey não ser tão frio como suspeitava.
Irina tomba a cabeça para trás e começa a rir histericamente em meio a um caos de lágrimas.
— Acabou! — repete entre soluços estrangulados.
Nem percebo que lágrimas escorriam pela minha face até senti-las cair na minha coxa.
Depois de nos recompor, uma batida ecoa na porta e Ivan passa por ela. Seus olhos castanhos
recaem em Irina e algo profundo em sua expressão denota uma estranha empatia. Ele engole em
seco e, em silêncio, se aproxima da garota.
— Aleksey me pediu para ajudá-la na mudança. Vamos? — pergunta hesitante, seu olhar
encontrando o meu, confuso.
— Mudança?
Irina balança a cabeça e toca o meu ombro enquanto se levanta.
— O senhor Aleksey sugeriu que eu e meu irmão mudássemos de ala.
Ivan limpa a garganta, parecendo impaciente, e apenas assinto em concordância. Antes
de sair, Irina me abraça e agradece novamente, prometendo voltar para conversarmos.
— Obrigada, senhora. Eu nunca esquecerei o que fez por mim hoje.

Após uma sessão tórrida de sexo, aguardo o momento em que Aleksey se retirará para
seu quarto, como de costume. No entanto, para minha surpresa, sua respiração persiste,
aquecendo o topo da minha cabeça. Ergo os olhos e encontro seu olhar, vendo perplexidade se
desenhando em meu rosto.
— Ele sabia — rosna, sua voz está endurecida com nada além de nojo e desgosto.
Quando permaneço em silêncio, esperando ele continuar. Seus dedos traçam a minha
bochecha em uma cadência lenta e sua expressão está distante.
— Porra! Meu pai sabia o tempo todo o que o irmão fazia com aquela garota, mas
apenas escolheu ignorar os apelos delas, os gritos e todos os hematomas que aquele infeliz
deixava nela.
Aleksey fecha os olhos e percebo a tensão em seu maxilar. Então compartilha num
rosnado:
— Se Maskin não tivesse chegado, eu teria matado-o com minhas próprias mãos. — As
palavras escapam entre os dentes cerrados.
Espalmo seu peito, e Aleksey abre os olhos. Soltando um suspiro baixo, descanso o meu
queixo entre as mãos, sentindo as vibrações das batidas do seu coração.
— Eu o confrontei sobre Irina, mas ele negou como um rato que é. E depois ele tentou
culpá-la dizendo que ela o procurava, que o seduzia, e que gostava quando ele era rude e a
marcava.
Estremeço sentindo a bile ameaçando subir pela minha garganta. Irina é jovem, tem
apenas dezoito anos, e quando ela tinha doze anos? Ela era apenas uma criança. Parecendo ler os
meus pensamentos, ele se eleva, escorando o dorso nu na cabeceira de ferro da cama.
— Sete anos de abuso, como não percebi?
— Não se culpe. Ele a ameaçava constantemente, e Irina sempre escondeu todos os
hematomas que ele deixava, inclusive do seu irmão.
Aleksey fica tenso e olha na direção da janela.
— Irina me fez prometer não contar nada a Mikhail, ele é um bom soldado, mas tem um
temperamento difícil. Ela tem medo do que ele possa fazer. — Seus olhos escuros encontram os
meus com um brilho sadista brilhando neles.
— Confesso que adoraria que Mikhail soubesse de tudo. Daria carta-branca para ele
acabar com a vida miserável daquele infeliz, mas não é algo meu que eu deva contar. —
Concordo, alinhando-me à sua postura ao permanecer ao seu lado.
— E agora, o que acontece? — indago em tom baixo.
— Irina ficará em outra ala do castelo com seu irmão, e Ivan será responsável por
protegê-la quando Mikhail não estiver por perto, caso Konstantin decida perturbá-la novamente.
— Tenho a sensação de que seu tio não deixará isso passar em branco — reflito,
recordando dos olhares assassinos que ele me lança sempre que tem oportunidade.
Aleksey se endireita.
— E você está certa. Konstantin não é do tipo que esquece facilmente. Por isso, ainda o
mantenho por perto.
Busco em seu olhar alguma sugestão, mas Aleksey mantém seus pensamentos
resguardados. Então, concluo que o assunto está parcialmente encerrado.
Ao ser envolvida por seus braços, aproveito a oportunidade para enterrar meu rosto na
curva de seu pescoço, inalando o fraco aroma de seu perfume e sexo. Ele aperta gentilmente meu
quadril antes de nos acomodarmos no colchão.
Desejo perguntar se ele passará a noite comigo, mas receio estragar o momento. Opto
por me aconchegar em seus braços, absorvendo o calor de seu corpo contra o meu.
— Tenha bons sonhos, malyshka — sussurra, proporcionando um alívio que me guia
para um sono tranquilo.
Capítulo 18

As últimas vinte e quatro horas parecem estar deixando sua marca. Consegui dormir
algumas horas ao lado de Milena, mas os pesadelos persistentes voltaram, todos com meu pai
como o carrasco. Começo a suspeitar que algo não está se encaixando como deveria. Apesar de
ainda buscar honrar sua morte, o desejo insano que alimentei nos últimos três anos está
gradualmente enfraquecendo, e não ajuda ter que encarar o olhar atordoado de Milena sempre
que entro em seu quarto.
Alessio Ruggiero permanece à nossa mercê, frágil e em um estado decadente. Acredito
que ele não suportará por muito mais tempo. Tenho sido assíduo em minhas visitas, implacável
na tortura e sempre buscando inovar. No entanto, o bastardo é difícil de quebrar, nem mesmo a
morte o assusta. Paro a minha moto do lado de fora de uma igreja, que a Bratva usa como
fachada para encontros com outros líderes, quase simultaneamente de um Porsche Cayenne
Turbo, que freia abruptamente à minha frente. Retiro o capacete rapidamente, deslizando a mão
até a coxa, onde sinto o cabo da minha arma.
Artan emerge do veículo com um terno vermelho-sangue extravagante, acompanhado
por seu segundo em comando, ambos ostentando expressões ferozes.
— Espero que tenha uma explicação para o encerramento do nosso acordo, Aleksey —
vocifera, avançando rapidamente em minha direção. De soslaio, percebo Besnik se aproximando
com uma arma na mão, o que não me surpreende. Matar ou morrer, esse é o lema deles se as
coisas não saem como esperado.
Balanço a cabeça, erguendo uma sobrancelha.
— Não tenho nenhuma para dar — brado secamente. — Principalmente se os meus
parceiros de negócios estão armando pelas minhas costas.
Artan arregala os olhos brevemente, então nega, me dando um olhar avaliativo.
— Achou mesmo que, interceptando cargas da Bratva, colocando fogo em nossos
armazéns e entregando todo o nosso esquema para o governo, não chegaria até mim?
Desço da moto e, num movimento rápido, alcanço um punhal do coldre da minha
cintura, lançando-o contra a mão de Besnik, que segurava sua arma apontada para mim,
escutando seu grunhido profundo. O albanês cai de joelhos, falando palavras desconexas
enquanto tenta arrancar o punhal de sua carne. Dou um passo à frente, mas Artan grita,
ameaçando estourar meus miolos.
— Na próxima, vou me certificar de arrancá-la — zombo com um sorriso de escárnio, e
seus olhos pretos se arregalam em fúria. Olho para Artan, que continua com sua arma apontada
para minha cabeça e sua expressão mergulhada em raiva e desgosto.
— Sei que você e meu tio são cúmplices.
Ele ergue o queixo, parecendo orgulhoso, e os cantos dos seus lábios se levantam em um
sorriso arrogante.
— Seu tio é um homem de visão, Volkov. Ao contrário de você, ele, sim, merece liderar
a Bratva. Todos nós sairemos ganhando.
Meu corpo endurece quando registro a insinuação por trás das suas palavras. O filho da
puta está prestes a atirar em mim. Com a minha morte, Konstantin teria o caminho livre para
tomar o poder para si.
Aperto o maxilar com firmeza e, em um movimento ágil, alcanço minha pistola quando
um som de estampido ecoa. Um grunhido acompanha o barulho, revelando que o ataque veio de
outra direção. Estreito os olhos para identificar a fonte do disparo e vejo Maskin parar a sua moto
de qualquer jeito com duas pistolas em punhos. Logo atrás, estacionando, a SUV de Ilia. Ele
desce e corre em minha direção, também armado, e seus olhos afiados deslizam por todos os
lados.
— Filhos da puta! — Artan grita atrás de mim. Quando me viro, deparo-me com ele
caído no chão e o ombro sangrando pela bala.
Ando a passos firmes e, de soslaio, vejo o seu segundo em comando com a mão boa,
apontando sua arma para a minha cabeça. Sorrio e me viro, disparando primeiro, acertando o
meio dos seus olhos.
— Muito lento!
Viro-me e continuo andando em direção a Artan, o infeliz estremece e tenta alcançar sua
arma. Cortando a distância entre nós, chuto a arma para longe e aponto a minha para a sua
cabeça.
— O que você estava dizendo, Artan? Todos lucrarão com a minha morte? — pergunto,
observando com satisfação o pânico dançar em seus olhos.
Artan grunhe e rosna palavras em sua língua nativa. Me aproximo um passo a mais,
chutando suas costelas.
— Última chance! — rosno asperamente, pressionando a ponta do meu coturno na ferida
do seu ombro, ouvindo seus gritos e contorções.
— Vá para o inferno, Volkov! — grunhe por entre os dentes cerrados, e isso é tudo.
Aperto o gatilho, provocando um estalo, e sua cabeça explode, caindo para trás,
respingando sangue na minha calça preta.
— Droga, Aleksey! Só avise quando for sair para se divertir. Estou ficando entediado
com o Ruggiero.
Maskin ergue o queixo para mim, a expressão afiada dando lugar a um olhar avaliativo.
O cheiro de cigarro paira no ar quando ele se aproxima e encara os corpos inertes de Benisk e
Artan.
— Parece que você resolveu o problema, chefe, o que planeja agora?
— Acione a limpeza e mande alguém se livrar dos corpos.
— Não vão demorar muito para perceber que o líder e o segundo em comando
desapareceram. Só cuidem para não deixar teatros.
Caminho por cima dos cadáveres aos meus pés, ponderando sobre o que devo esperar de
Konstantin quando descobrir que está por conta própria. Olho por cima do ombro e aceno para
Ilia, chamando também a atenção do meu executor.
— Não quero que o que aconteceu aqui seja mencionado. Pelo menos por enquanto.
Ilia concorda sem relutância, enquanto Maskin me observa incisivamente antes de
assentir.
Deixando-os para trás, subo os degraus de pedra em direção à antiga catedral. Sua
fachada ornamentada por ícones sagrados e torres altivas revela uma expressão divina. Sigo pelo
corredor ladeado por afrescos que contam histórias bíblicas, e suas cores vívidas e detalhes
intrincados capturam a atenção. Contudo, ao atravessar a sacristia, mergulho no subsolo da
igreja, onde a atmosfera sombria e silenciosa mostra a verdadeira natureza oculta da Bratva.
Ao atravessar a grande porta de ferro vigiada por dois seguranças corpulentos, meus
olhos deslizam pela sala, encontrando homens semblantes sérios e olhares calculistas, membros
tradicionais da organização e figuras, como o senador e um deputado, marcam presença, cada um
com seus interesses e conexões distintas.
Ao ocupar a cabeceira da mesa, encaro o senador Ivanov, de terno escuro e cabelos
grisalhos espelhando a experiência política. À minha direita, o deputado Petrov, jovem e
notavelmente astuto.
Ao assumir a liderança da Bratva, reestruturei completamente nossas operações e não
descansarei até que todos os territórios estejam firmemente sob nosso controle. E isso envolve
estabelecer alianças com políticos que estejam ao nosso favor. Pode parecer ambicioso, mas é
hora dos meus homens entenderem que, tendo um líder como eu, só terão a ganhar.
Terminando a reunião próspera, saio encontrando Ilia do lado de fora. O cenário anterior
está completamente limpo, sem vestígios de dois cadáveres em suas poças de sangue.
Sigo em direção a minha moto sentindo urgência para voltar para o castelo. Poderia
afirmar que preciso ficar de olho em Konstantin, mas esse infeliz é a última pessoa que passa na
minha mente agora. Alcanço o capacete no guidão e subo na moto, colocando-a em movimento,
acelerando-a, como se minha vida dependesse disso. Minutos depois, estou atravessando os
portões de ferro com a entrada de pedras, olhando por cima dos ombros não avistando o SUV do
meu chefe de segurança.
Deixo minha moto na garagem e caminho direto para a minha ala. Encontro Irina saindo
do meu quarto com um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Ela parece bem, diferente da
expressão catatônica da noite passada. Trajando um vestido rosa, de mangas longas, e com
tranças de ambos os lados do rosto, seus olhos verdes encontram os meus, se arregalando em
embaraço.
— Desculpe, senhor Volkov. Eu só estava querendo conversar com a senhora Salvatore.
Mas o quarto está vazio — diz calmamente, ainda evitando contato visual.
Me afasto para o lado e enfio as mãos nos bolsos, tentando mascarar a insana
curiosidade de perguntar para onde ela foi.
— Tudo bem, Irina. Obrigado — agradeço enquanto ela acena, me olhando com uma
expressão cuidadosamente cautelosa.
Concluindo nossa breve interação, observo Irina se afastar pelo corredor. Entro no quarto
e decido tomar um banho. Confesso que esperava encontrar Milena, quem sabe mergulhar no seu
calor apertado, escutando os sons deliciosos dos seus gemidos enquanto ela se contorce embaixo
de mim. Estou completamente enredado nela, e conter a explosão de sentimentos que se prepara
para explodir dentro de mim torna-se uma batalha cada vez mais árdua.
Capítulo 19

Enquanto percorro os corredores intermináveis de estantes empoeiradas, braços fortes


me cercam no lugar, mantendo-me imóvel, com apenas o seu cheiro amadeirado exalando no ar.
Sinto o seu suspiro na minha nuca, enviando um arrepio caloroso pela minha espinha, e não
preciso me virar para saber quem é. Meu corpo vibra com antecipação e êxtase espiralando
dentro de mim. Tenho me mantido fora do radar dos irmãos Volkov, principalmente do tio deles,
Konstantin, mas não há como ignorar Aleksey, ele é um ímã, uma força irresistível que me atrai,
mesmo quando tento resistir. Seus dedos traçam padrões sutis na minha pele, provocando
arrepios, enquanto sua respiração quente dança no meu pescoço. Em um sussurro rouco, ele
quebra o silêncio:
— Lisichka, você não pode se esconder de mim o tempo todo.
Sua voz ressoa profundamente rouca, envolvendo-me em promessas proibidas, e eu me
vejo cedendo à atração que tanto tentei resistir. Concentro-me na capa escura do livro à minha
frente, deslizando meu polegar pelas palavras douradas impressas nela. Cada detalhe me fascina,
mas não é suficiente para apagar a sensação do toque sutil, porém, firme em minhas coxas,
subindo a bainha da minha saia verde plissada e agrupando-a no quadril. Céus! Meu cérebro
parece derreter, e não há mais barreiras entre mim e Aleksey para lidarmos.
Ele pressiona minhas costas contra seu peito rígido, e consigo sentir o quanto está duro.
Um suspiro involuntário escapa dos meus lábios e inclino a cabeça para trás, descansando-a em
seu ombro, enquanto minhas coxas se afastam lentamente.
Seus dedos escorregam pela minha calcinha de renda e agarra o tecido bruscamente,
esfregando-o entre minhas dobras encharcadas. Solto um gemido estrangulado e mordo o lábio
inferior, reprimindo mais sons, para escaparem dos meus lábios.
Aleksey continua suas ministrações e meu corpo convulsiona, me fazendo agarrar com
força a estrutura de madeira da estante.
— Segure-se firme, lisichka — ordena com a voz rouca sussurrando no meu ouvido.
— Aleksey… — digo, lambendo os lábios, moendo a minha bunda na sua pulsante
ereção.
Com um rosnado profundo, ele rasga minha calcinha, e as tiras arruinadas caem sobre
meus pés. Agarrando meu quadril, ouço o farfalhar das roupas atrás de mim, e a ponta do seu pau
esfregar a minha entrada. Estremeço quando, em um único golpe, ele se empurra profundamente
em mim. Jesus! Meu corpo balança para frente, e meus dedos se apertam em torno da madeira,
derrubando alguns livros no processo. No entanto, o caos que estamos desencadeando é
irrelevante agora. O que realmente importa é o êxtase, a plenitude de sentir seus golpes
impiedosos e ouvir sua voz rouca proferindo palavras sujas no meu ouvido. A sensação é
avassaladora, meu corpo se contrai ao redor dele, com cada investida enviando ondas de prazer e
êxtase. Suas mãos exploram vorazmente, apertando, acariciando e marcando-me como se eu
fosse sua presa. Meu pulso acelera e eu sinto um poderoso orgasmo se formando. Levo uma mão
para trás, agarrando um punhado grosso do seu cabelo, e gemo, sentindo suas estocadas fortes
alcançarem um lugar que me faz ofegar e gritar o seu nome.
— Você está bagunçado todo o meu pau, lisichska — murmura com um tom áspero,
fodendo minha boceta como se sua vida dependesse disso. É tão brutal e viciante a maneira que
ele me quebra e depois suaviza com palavras sujas que meu corpo e mente adoram ouvir.
— Jesus! Só não… pare agora, eu… — A frase incompleta paira no ar, meus lábios
tremem enquanto minhas unhas se ficam na sua carne, marcando-o como meu.
Meu! Minha mente grita e pensar nessa palavra faz uma agitação emergir no meu
estômago, e que se foda! A primeira onda de espasmo me atinge, seguida por outras, trazendo
com elas uma avalanche poderosa. Seus dedos se enredam pela minha nuca, segurando um
punhado do cabelo, puxando-me ainda mais para si me fazendo revirar os olhos e gemer o seu
nome, sendo consumida por um orgasmo insano. Estocando mais algumas vezes, seu corpo
tensiona e sua boca esmaga a minha com um beijo quente e profundo enquanto sinto a explosão
do seu gozo quente se derramando em mim. Seus lábios deixam os meus, deslizando para a curva
do meu pescoço, onde ele crava os dentes, deixando em seu rastro um gemido de apreciação.
— Malyshka…
Descanso a cabeça em seu ombro novamente, tentando controlar a minha respiração
acelerada. Aleksey se mantém imóvel por alguns segundos até deslizar para fora, seus dedos
gentilmente seguram cada lado do meu corpo, enquanto reúno coragem e me viro para encará-lo.
Seus olhos escuros encontram os meus e me sinto como se tivesse caindo em um abismo
sombrio, pois não sei o que me espera quando atingir o chão.
Ele toca a minha bochecha suavemente e se inclina para beijar a minha testa. É um gesto
sutil, mas faz acender uma fogueira no meu peito. Mordo o lábio inferior e suspiro, sentindo o
seu toque percorrer o meu rosto como se quisesse gravar cada traço dele. Ele remove uma mecha
grossa do meu cabelo da minha têmpora e o enrola entre os dedos, em seguida, olha para baixo,
para o meio das minhas coxas, e vejo algo reluzir em seus olhos. Meu coração dispara no peito e
inevitavelmente minhas bochechas esquentam, o que parece fascinar o homem de pé à minha
frente. Ele persegue o rubor em minha pele com o seu toque quente, em seguida, alcança um
lenço no jeans e se agacha, limpando toda a evidência do nosso sexo. Solto um gemido
estrangulado quando sinto os seus dedos se arrastarem pelo meu centro, provocando ondas de
calor. Parecendo satisfeito consigo mesmo, Aleksey se levanta, guarda o seu pau semiduro e me
encara com um olhar inelegível.
— Vamos, precisamos de um banho.
Um raro e discreto sorriso se estica em seus lábios antes de ele agarrar as minhas coxas e
me levantar como se eu não passasse nada. Minhas pernas se enrolam ao seu redor e, sorrindo
genuinamente pela primeira vez desde a morte da minha mãe, acaricio sua face com as pontas
dos dedos escutando algo, se reconstruindo dentro do meu peito.
Aleksey continua com os olhos cravados nos meus, rompendo pelos corredores
silenciosos do castelo e subindo lances de escadas. De soslaio, vejo alguns dos funcionários e
guardas que encontramos pelo caminho nos lançarem olhares chocados. Bem, se serve de
consolo, eu também estou chocada, jamais imaginei estar assim, com as pernas enroladas em
torno do meu sequestrador.
Após esse dia, Aleksey e eu nos tornamos mais próximos. Depois de transarmos como
dois insanos, conversamos sobre algumas coisas do nosso passado, claro, com ele ainda não
tenho carta-branca para perguntar tudo, principalmente como era a relação com o seu pai. Sinto
que há algo errado aí, ele sempre fica tenso, então deixo para lá, pressioná-lo pode o afastar, e
não é isso que desejo.
Ele tem insistido para que eu durma na sua cama e todas as vezes eu nego, tentando não
me tornar uma completa dependente dele, do seu corpo, mas, quando amanhece, estou acolhida
em braços fortes e sobre um peito duro e tatuado. Nossas manhãs são preenchidas com corridas
pela floresta, uma prática que, inicialmente, relutei, especialmente devido ao frio constante. No
entanto, com o tempo, anseio por esses momentos, pois Aleksey me leva a um pico com vista
para um lago congelado e me fode no chão frio e úmido, nossos corpos aquecendo um ao outro,
enquanto nossos gemidos e sussurros roucos ecoam pela floresta. Ele é sempre tão possessivo e
bruto com os seus toques e palavras sujas e está cada vez mais difícil não vomitar três palavras
que estão presas na minha garganta.
No final, ele fez o que prometeu, me quebrou de diversas maneiras, me possuiu e sujou,
e tornou-me uma completa viciada, sempre ansiando, implorando por pequenas doses dele.
Aleksey Volkov me arruinou para qualquer outro homem.
Capítulo 20

Uma fina camada de neve paira sobre nós, meu sangue pulsa em minhas veias enquanto
acelero os meus passos, focado no pequeno ser trajando um par de tênis esportivo branco pérola
e um conjunto de moletom rosa à minha frente. Vislumbro um largo sorriso iluminar a sua face e
um nó se forma na minha garganta, pois, por mais que eu sinta algo forte por ela, sei que seja lá o
que temos tem um prazo de validade e logo acabará.
Dário está com sangue nos olhos; na noite passada, tivemos um embate terrível nos
limites de Moscou, onde muitos dos meus homens foram aniquilados. Ele colocou minha cabeça
a prêmio e não vai descansar enquanto não me matar e resgatar o infeliz do irmão. Antes, tentou
inúmeros contatos para uma troca, Milena e Alessio por ele. Não aceitei de primeira, mas não
tenho por que prolongar o inevitável. Dário morrerá por minhas mãos. No entanto, para isso
acontecer, Milena terá que partir.
Seus olhos azuis me fitam por um segundo cobertos de curiosidade enquanto corta os
centímetros que restam entre nós. Ela alcança uma mecha úmida do meu cabelo da testa e a
empurra gentilmente para cima. Me inclino sobre seu toque, e a maneira apaixonada que ela me
olha me deixa doente. Porra! Por que ela está me olhando assim? Essa garota não tem um pingo
de autopreservação?
Seu cabelo loiro está amarrado em um alto rabo-de-cavalo e há alguns fios ensopados de
suor. Levo uma mão para o elástico que mantém os seus fios presos e retiro-o, observando uma
cascata dourada cair, emoldurando o seu rosto perfeito. Jesus! Ela é a criatura mais linda que os
meus olhos já viram.
A neve persiste, adornando suavemente os galhos das árvores enquanto o frio sutilmente
envolve nossos corpos. Apesar do cortante frescor, meu sangue pulsa aquecido pela corrida
intensa, amplificado pelo olhar penetrante de Milena.
— O que há de errado? — pergunta timidamente, e engulo em seco quando aqueles
olhos azuis cristalinos deslizam pelo meu rosto, demorando por um breve momento em meus
lábios, fazendo o meu coração bater forte no peito. Desvio o olhar, perdendo-me por um instante
em meus pensamentos quando a sua voz macia me traz de volta à realidade.
Seguro cada lado da sua face e beijo a sua testa, em seguida, me afasto, observando sua
expressão confusa, segurando o seu olhar.
— Nada, malyshka. Eu apenas... Estou admirando a paisagem. Você! — murmuro sem
dizer a última palavra. A verdade é que não consigo deixar de admirá-la. Milena não precisa de
muito para transformar o cenário gélido à nossa volta em algo encantador.
Depois de nós exercitamos, retornamos para o castelo, e eu finjo não perceber os olhares
de desprezo dos meus homens para Milena, mas é difícil quando eu vejo os seus ombros tensos a
cada passo que damos. Corro o meu olhar para dois guardas à frente e deixo visível a minha
expressão assassina direcionada a eles. A verdade é que eu me importo com ela mais do que
deveria, e é uma conexão irracional que desafia qualquer vontade que eu tenha de evitá-la. Deixo
que ela siga para o quarto sozinha e encaminho-me para a ala destinada aos treinamentos.
Raramente venho aqui, pois temos uma academia bem equipada na nossa própria ala, mas, neste
momento, sinto-me sufocado, como se precisasse do rigor físico para aliviar a pressão que se
acumula dentro de mim. Ao chegar ao grande salão, encontro Igor, cujo silêncio habitual
contrasta com a brutalidade dos treinos que impõe..
Quando alcanço o grande salão e assisto com um arquear de sobrancelhas enquanto ele
desfere golpes certeiros em Ilia, tombando sua estrutura imponente musculosa no chão após um
gancho de direita. Em um movimento enérgico, Igor retira a arma e a aponta para a testa de Ilia,
criando uma pausa tensa antes de suspirar e devolver a arma ao coldre em sua coxa. Estende a
mão para ajudar Ilia a se levantar, mas ele a ignora, erguendo-se por conta própria com um
sorriso imperturbável nos lábios.
— Nada mal — Ilia murmura, deslizando o polegar pelo lábio inferior ensanguentado.
Igor balança a cabeça e finalmente nota a minha presença. Seus olhos frios como o aço
revelam pouca emoção.
— Precisa de alguma coisa? — pergunta, sua voz calma contradizendo com a violência
carregada de segundos atrás.
Sorrio, livrando-me do meu moletom, e entro no ringue, passando pelas cordas e o
alcançando enquanto Ilia acena e nos deixa, antes que eu pudesse pedi-lo para fazer.
— Preciso descarregar a tensão dos últimos dias. E, pelo visto, você também, o que
acha? — pergunto, vislumbrando um sorriso cruel dançando em seus lábios.
Igor assente e se afasta, assumindo uma posição de luta. Seus punhos cerrados à frente
do corpo denotam serenidade enquanto respira lentamente e avança em minha direção. No
silêncio tenso do ringue de treinamento, o som amortecido dos passos ecoa, com cada
movimento carregado de uma energia reprimida.
O primeiro soco corta o ar em direção ao meu queixo e, por pouco, não sinto seu
impacto. Rápido, abaixo-me a tempo de contra-atacar, meu punho encontrando sua costela
direita, arrancando um grunhido feroz do fundo da sua garganta. A adrenalina inunda minhas
veias, distorcendo minha visão, até que não vejo mais meu irmão à minha frente, mas, sim, um
adversário. Igor se afasta, cambaleando, e não dou tempo para que recupere o equilíbrio. Giro
meu corpo, lançando minha perna em um arco controlado, acertando sua panturrilha esquerda.
Desta vez, nenhum som escapa dele. Desestabilizado, ele cede com um joelho tocando o chão,
enquanto sua mão esquerda espalma o piso de lona, tentando equilibrar o seu corpo.
Ofego andando em círculo ao seu redor, apertando os olhos, tentando decifrar qual será o
seu próximo passo, quando em uma batida meu irmão lança uma rasteira em minha direção,
visando minhas pernas capturadas pelo golpe preciso, e caio de costas, sentindo o impacto do
meu corpo contra o piso do ringue. Igor se abaixa, prendendo minha jugular com um joelho, e
seus olhos verdes brilham com entusiasmo. A pressão aumenta na minha garganta, roubando
parcialmente o ar dos meus pulmões. Minha mão dispara para o seu joelho, mas, quando olho em
seus olhos, vejo que ele não está em sua mente, seu olhar vazio me diz que Igor não está presente
naquele momento. Minha mente começa a se dispersar, atraída pelo próprio caos e escuridão
quando ele pragueja e finalmente se afasta.
— Porra! Por que não me parou, droga? — rosna, se afastando enquanto passa as mãos
pelo rosto suado.
Tusso algumas vezes, tentando recuperar o fôlego quando me levanto e sento-me
assistindo ao seu desespero.
— Você tem peso e altura superiores aos meus, não venha me dizer que não teve a
chance de me impedir.
— Você precisava liberar o que tem aí dentro, você sabe — digo calmamente.
Igor então se vira com sua expressão furiosa, mas há uma pontada de culpa ali.
— Não com você, Aleksey — murmura, parecendo frustrado.
Levanto-me, imitando sua posição inicial com um sorriso ameaçador. Meu segundo em
comando não sorri de volta, mas ergue o queixo com determinação letal. Apesar do olhar
selvagem, sei que, por dentro, ele luta com seus próprios demônios. Igor culpa Konstantin pelo
desaparecimento de nossa prima Anastácia, mas, no fundo, se culpa também. Ana era como
nossa irmãzinha caçula e, após seu desaparecimento, ele se fechou completamente. Seus sorrisos
foram silenciados, assim como sua voz e toda a felicidade que sentia.
Tento acertá-lo desta vez com um soco, mas sou pego de surpresa quando me atinge com
um gancho de direita potente, deixando-me zonzo imediatamente. Sei que esse golpe não era
para mim; sua raiva e desprezo estão contidos nesse movimento. Sabemos que o único que
merece esses golpes está a poucos metros de distância de nós. Konstantin. Não posso dizer que
não gostaria de ver esse dia chegar. Continuamos a intensa sessão de golpes no ringue, com um
placar empatado para os dois. Ambos suados e com alguns hematomas, deixamos o armazém. Na
verdade, minha intenção era calar e exorcizar todas as vozes da minha cabeça. Não quero ser
consumido por todos os sentimentos que me assombram. Gostaria de voltar ao estado letárgico
de antes e não sentir nada além da sede de vingança.
Retorno para a ala principal e subo os degraus em direção ao meu quarto. Quando
alcanço o corredor, vejo Konstantin agarrar Milena violentamente pelo braço, enquanto ela se
debate e tentar se desvencilhar do seu agarre, o que não funciona. Konstantin rosna algumas
palavras para ela em russo, a chamando de prostituta barata, e Milena ofega e se encolhe,
travando o maxilar com força. Apesar das lágrimas escorrendo por suas bochechas coradas, ela
ergue o queixo e cospe em sua face. A expressão do meu tio se torna assassina e, quando sua
mão se ergue no ar, acabo com a distância e agarro o seu braço. Agora percebo que aquela sessão
de treinamento com Igor foi apenas um aquecimento, porque, da forma que o meu sangue ferve
nas veias, irei matar esse infeliz com minhas próprias mãos e, desta vez, ninguém me impedirá.
— Se encostar um dedo nela, vou assegurar que seja a primeira e última vez — rosno
com os dentes cerrados, agarrando sua garganta e o prensando contra a parede ao lado.
Os olhos do meu tio se arregalam e, apesar da sua aura sombria, vejo pânico piscar em
suas íris azuis.
— É isso, então? — grita, tentando me empurrar para longe. — Está preferindo ficar do
lado do nosso inimigo em vez da família? — Indignação ecoa da sua voz.
Meu aperto na sua garganta aumenta a ponto de suas mãos dispararem para as minhas,
na tentativa de pará-las.
— Você está escolhendo-a — diz, parecendo enojado, e eu o afasto com um empurrão
brusco.
— Você não está me manipulando dessa vez, tio. Aliás, sinto informá-lo que suas
tentativas ridículas de tomar o meu lugar foram um fracasso.
Sua expressão se contorce e seu olhar se torna afiado como uma lâmina.
— O que está dizendo, seu ingrato? A boceta dela vale tanto assim que está o colocando
contra a sua própria carne? — escarnece, apontando o dedo indicador em direção a Milena, seu
olhar predatório percorre seu corpo através do modesto vestido branco de mangas longas. Ela
arregala os olhos enquanto horror e nojo estampam sua expressão.
Travo o maxilar e me lanço na direção dele, meu punho se conectando com sua face, o
acertando em cheio. Cambaleando para trás, ele se empertiga, passando o dorso da mão no
queixo, e seus olhos azuis me encaram como nada além de desprezo.
— Você tem quarenta e oito horas para deixar este castelo, caso contrário, eu o matarei e
queimarei o seu corpo. Te fiz entender, tio?
Algo escuro e desagradável toca suas feições, mas, como um ser escorregadio e
manipulador, ele me encara, baixando a voz.
— Está certo de sua decisão, meu sobrinho? — provoca, e saboreio um tom de ameaça
por trás de suas palavras.
— Tão certo quanto suas tentativas infrutíferas de roubar o meu lugar por direito.
A curva de seus lábios se estica em um sorriso sardônico, enquanto seus olhos deslizam
entre mim e Milena.
— Você é um tolo, garoto. Não sabe o que diz. — Dá de ombros. — Acha que vai
conseguir a lealdade dos nossos homens mantendo essa garota aqui, brincando de casinha com
ela? Você está apenas prolongando o inevitável.
— Que seria? — interrompo-o, dando um passo à frente, ampliando a minha postura.
Konstantin solta uma risada ácida, com seus olhos brilhando como se ele soubesse de
algo. Ou o próprio está armando como sempre fez secretamente.
— Uma rebelião e então… a derrocada de um rei — murmura friamente com seu olhar
repleto de ameaças ocultas.
E é o bastante! Acabo com a nossa distância e o agarro pela garganta, jogando-o com
toda força contra a parede.
Ouço Milena gritar atrás de mim, mas bloqueio sua voz. Seguro as lapelas do seu terno e
mantenho-o preso contra a superfície fria.
Seu rosto se contorce em uma careta de dor, mas seus olhos continuam desafiadores,
como se a violência física fosse apenas um incômodo passageiro.
— Isso é tudo que você tem, Aleksey? — Konstantin zomba, mesmo com a minha mão
apertando sua garganta.
Um sorriso irônico brinca em meus lábios:
— Você não tem ideia do que sou capaz. E, quanto à rebelião que mencionou... posso
garantir que qualquer ameaça contra o meu reinado será eliminada, começando por você — aviso
com um rosnado baixo, mantendo o meu aperto com um agarre de aço.
Seu rosto alvo começa a perder a cor, assim como os seus olhos estão praticamente
saltando de suas órbitas. Apesar de sua grande estrutura, meu tio não é páreo para mim. Eu vou
matá-lo.
— Aleksey! — Milena grita, chamando a minha atenção, com seus olhos azuis
angustiados fixos nos meus. — Por favor…, não faça isso — sussurra, por mais que eu sinta
hesitação em seu tom de voz.
— Você, de todas as pessoas, devia querer isso, malyshka.
Ela assente com um suspiro trêmulo, seu corpo está tenso enquanto recua balançando a
cabeça lentamente.
Não consigo segurar a onda de fúria que ameaça explodir dentro de mim com as
lembranças amargas do meu tio atacando-a enquanto ela era nossa prisioneira na masmorra.
Porra! Somos corruptos, assassinos de sangue-frio, mas nunca precisamos forçar uma mulher. E
garanto que o infeliz a minha mercê também não precisa, mais obviamente tomar a força deve
ser o seu fetiche.
Meu olhar recai em Milena novamente, que parece estar catatônica.
— Malyshka, olhe para mim — peço, enquanto Konstantin tosse em uma tentativa falha
de zombar da situação.
— Eu… quero. Mas não que seja pelas suas mãos — confessa, seus lábios rosados
tremendo diante das lágrimas que começam a deslizar por suas bochechas. Praguejo
mentalmente, sentindo um aperto no peito e um estranho desejo de protejá-la de tudo e todos.
Finalmente cedo e, antes de soltar o maldito bastardo, o sacudo, batendo seu corpo pesado com
força contra a parede.
— Quarenta e oito horas… — o lembro. — Se o encontrar novamente no meu território,
estará morto e garanto, dessa vez ninguém irá me impedir.
Konstantin range os dentes com um músculo saltando do seu pescoço enquanto se afasta
e ajeita o terno no corpo.
— Você vai se arrepender disso, Aleksey. — A voz distorcida de Konstantin ecoa,
desafiadora.
Meus dedos cerram-se em punhos enquanto o encaro com um olhar que poderia
incendiá-lo.
— Já me arrependo de muitas coisas, tio. Adicionarei sua morte à minha lista, e você
estará no topo. Desapareça antes que eu me arrependa.
Ele lança um último olhar para Milena que a faz encolher, antes de girar nos calcanhares
e desaparecer pelo corredor.
Amaldiçoando baixo, observo suas costas largas sumirem completamente. Konstantin
pode pensar que o deixei ir, mas, na verdade, sua liberdade lhe custará caro, assim como sua
traição contra a Bratva. Ele não perde por esperar. Assim que reunir provas suficientes, revelarei
a todos que o homem que nos jurou lealdade estava tramando pelas costas de todos.
Capítulo 21

Ainda paralisada, sinto meus membros dormentes enquanto a voz profunda de Aleksey
ecoa ao meu redor. Fecho os olhos, soltando um suspiro trêmulo. As lágrimas escorrem sem
permissão pelas minhas bochechas, e só percebo quando seus dedos quentes as enxugam.
— Shhhi, malyshka, acabou! — Aleksey me envolve em seus braços, e enterro minha
face em seu peito duro, agarrando seu moletom. Um gemido escapa dele e, ao abrir os olhos,
vejo sua face contorcida em uma careta. Antes que eu possa questioná-lo, ele acena, seus olhos
aquecidos com uma expressão indecifrável.
— Estou bem, Lisichka. Digamos que Igor e eu nos empolgamos na ala de treinamento.
— Solto um suspiro, retornando para o calor do seu corpo. — Vamos para o quarto. — Ele
enterra os dedos em meu cabelo, acariciando o couro cabeludo gentilmente. Meu corpo vibra
com seu toque, dissipando a dormência, como se estivesse voltando à vida. Não quero perder o
que temos agora, mesmo sabendo que minhas irmãs ainda sofrem por minha causa.
— Não deveria ter deixado o quarto sozinha, Milena — repreende com seus olhos
intensos fixos nos meus enquanto delicadamente coloca uma mecha rebelde do meu cabelo atrás
da orelha.
Há algo tenso em seu rosto, uma expressão que não consigo decifrar. Após a corrida,
percebi que Aleksey se tornou distante, uma sombra pairando entre nós. O medo sutilmente se
instalou em meu peito e, cansada de fugir, decidi encarar a verdade. Queria que ele me
explicasse, que olhasse nos meus olhos e revelasse o motivo dessa mudança súbita.
Após um longo banho, preparando-me para o confronto, procurei por ele. Foi então que
Konstantin me emboscou, lançando absurdos cruéis e profetizando que Aleksey logo se cansaria
de mim e que eu terminaria arruinada para sempre.
Um arrepio gelado percorre minha espinha, deixando-me devastada diante da
constatação que tudo pode acontecer em um futuro breve. Balanço a cabeça, buscando clareza, e
sinto Aleksey entrelaçar nossos dedos, guiando-me em silêncio para o quarto. Ao retirar o seu
toque, o observo ir até a janela, parecendo alheio novamente. Um vinco se forma em sua testa, e
ele passa a mão pelo cabelo escuro, estremecendo. Subitamente, espalma as mãos no vidro, e
vejo seu rosto contorcido como se estivesse sentindo uma dor intensa.
Caminho em sua direção, segurando sua face de cada lado. Seus olhos estão apertados,
assim como o maxilar tenso.
— Aleksey, você está bem? Por favor, me diga o que está acontecendo?
Ele pega minhas mãos e me observa por alguns segundos antes de concordar.
— Estou bem. Não se preocupe, lisichka — responde e deixa um beijo rápido na minha
testa antes de seguir para o banheiro.
Deixo-o ir, porque não estou pronta para termos essa conversa agora. Há muito para ser
dito, e talvez eu não possa lidar com a possibilidade de sua rejeição.
O dia se estende arrastadamente e, após um banho demorado, Aleksey se fecha no
escritório na companhia de seus irmãos. Não os vi durante o almoço e apenas os reencontro no
jantar. O clima permanece tão tenso quanto antes e, a cada olhar, percebo a ferocidade contida
nos olhos afiados de Maskin e Ivan voltados para mim. Faíscas de uma fúria contida dançam em
seus olhos e sinto que, a qualquer momento, estarei na linha de frente, prestes a enfrentar a ira
dos Volkov.
Após o jantar, todos se dispersam e resolvo ir à biblioteca com um guarda de Aleksey no
meu encalço, seguindo ordens dele. Konstantin, pelo que sei, ainda está no castelo e todo
cuidado é pouco. Alcançando a biblioteca, ando até a última fileira e pesco um livro de fantasia.
Quando me viro para pegar outro, um baque no lado esquerdo me faz pular, e tudo acontece
muito rápido. Sou prensada com força contra a estante e uma mão pesada e implacável envolve
minha garganta, apertando com firmeza. Pisco atordoada, encarando grandes olhos azuis frios e
cruéis.
O ar se torna um bem escasso enquanto tento desesperadamente entender o que está
acontecendo. O livro escapa de minhas mãos, caindo no chão com um som surdo. A estante de
livros parece girar em meu campo de visão, enquanto a pressão na minha garganta aumenta,
cortando qualquer possibilidade de respiração.
— Eu poderia matá-la agora mesmo — escarnece com um sorriso desprezível se
formando em seus lábios.
Tento desesperadamente me desvencilhar do seu aperto, mas é impossível. Estou à beira
do desmaio e a pressão em meus pulmões torna-se insuportável.
Konstantin solta uma risada gutural, afrouxando o aperto por um breve momento. É
como se estivesse brincando comigo, saboreando cada instante de desespero. Seus olhos azuis
continuam me encarando impiedosos e cruéis, como se estivessem prontos para dilacerar minha
alma.
— Você é fraca, garota. — Sua voz é um rosnado venenoso. O alívio temporário de sua
mão afrouxando o domínio sobre minha garganta é substituído pelo pânico iminente. Konstantin
parece desfrutar do jogo, prolongando minha agonia, enquanto tento recuperar o fôlego.
— Solte-me e deixe-me ir, eu não tenho medo de você — digo por entre os dentes,
manipulando minha voz para ocultar o pânico que ameaça transbordar.
Os olhos sombrios de Konstantin faíscam com um misto de desdém e diversão. Ele se
aproxima com seu rosto a poucos centímetros do meu e um sorriso cínico brincando em seus
lábios, revelando a satisfação doentia em sua mente distorcida.
— Medo? Não, Milena, é a sua fraqueza que me diverte — sussurra, a respiração quente
batendo em meu rosto. — Embora não seja eu a quem você deve temer. Não sou seu inimigo,
querida. — Mordo o lado interno da bochecha, observando-o retirar algo do bolso da calça e
brincar com um celular preto entre os dedos. Ele o leva até meu rosto, acariciando o arco dos
meus lábios com o aparelho, provocando um estremecimento que faz o sangue gelar em minhas
veias. — Veja por si mesma. Tudo que eu disse era verdade. — Ele finalmente me solta e
empurra o dispositivo na minha mão. — Aleksey já terminou com você. Em breve, não passará
de uma lembrança apagada. — Konstantin sorri, provocando um pequeno ruído de diversão.
— Cale a boca! — explodo, sentindo as lágrimas arranharem atrás dos meus olhos. Ele
avança e agarra meu queixo.
— Você acha que sou o monstro nessa história? — Konstantin murmura, virando meu
queixo para encará-lo, e eu vejo um sorriso cruel dançando em seus lábios. — Espere até ver o
que há neste pequeno aparelho.
Minha garganta aperta com o tom sombrio de sua voz e minha mão, instintivamente, se
retrai, libertando-me do toque repulsivo. Ele solta uma risada de escárnio enquanto se afasta.
— Apenas veja e tire suas próprias conclusões.
Levo um tempo para me recompor, meu coração martela no peito enquanto encaro o
pequeno aparelho em minhas mãos, desbloqueado, com apenas uma pasta na tela inicial. O
objeto parece pesar mais do que realmente é, carregando algo que eu sinto que preciso ver. Fecho
os olhos por um segundo, tentando controlar a torrente de emoções que ameaça me consumir.
Lentamente, guardo o celular na minha bota, consciente de que não posso fazer isso aqui. A
biblioteca não é segura, isso ficou claro com a entrada inquestionável de Konstantin, autorizada
pelo guarda de Aleksey. Pelo visto, seus homens não são tão leais.
Cautelosamente, deixo a biblioteca para trás, me afastando dos corredores silenciosos,
indo em direção ao quarto. Para o meu alívio, Aleksey ainda não está de volta, tomo o cuidado
de verificar cada centímetro para ter certeza, até os corredores novamente, antes de fechar a porta
atrás de mim. Sento-me no peitoril da janela, alcançando o aparelho nos meus dedos. A tela se
ilumina e, com último olhar para baixo, para o pátio totalmente silencioso, olho por cima dos
ombros, nada a vista. Clico na pasta e um vídeo surge. Aperto em play e uma imagem escura
emerge com alguns segundos de silêncio até tudo se iluminar e duas silhuetas aparecerem
arrastando um homem desacordado pelos pés.
O local é deplorável e parece sujo e inabitável. Vejo grandes caixas de madeira
empilhadas contra a parede e barris de metal. Há uma maca desgastada ao lado de uma estrutura
de pedra que se assemelha a uma mesa e, no centro, uma cadeira velha de ferro. O primeiro
homem, vestindo roupas táticas pretas, com o rosto coberto por uma balaclava da mesma cor,
ajuda o companheiro, que segue o mesmo padrão de vestimenta, a levantar o cara desacordado e
o colocar sentado na cadeira. Em seguida, eles amarram os seus pulsos e os tornozelos, e a
câmera lentamente se aproxima revelando vislumbres da face do homem.
Estou prestes a identificá-lo quando a porta se abre abruptamente, quase me fazendo
cair. Aleksey entra com olhos apertados na minha direção. Levanto-me rapidamente, recuando
para a poltrona, conseguindo esconder o celular atrás do grande móvel. Graças aos céus, o objeto
cai sem fazer barulho, já que o chão é coberto por tapetes grossos. Ele me observa em silêncio
com seus olhos fixos nos meus enquanto se aproxima. O ar fica preso nos meus pulmões e algo
estala no meu peito a cada passo. Sinto que estou o traindo, fazendo algo errado. Mas e se o que
estiver no vídeo provar que não devo me sentir assim? Que eu não devo nada?
Aleksey envolve minha cintura, e seus lábios descem nos meus em um beijo que começa
calmo, suave e carinhoso, ou será minha mente hiperativa projetando sentimentos novamente.
Em segundos, nos perdemos em uma mistura caótica de lábios abertos, mordidas e gemidos
ecoando por todo o quarto. Finalmente, alcanço o ápice da noite, aquele que se torna a minha
parte favorita. Quando ele me envolve em seus braços, acariciando gentilmente meu cabelo até
minhas pálpebras pesarem e eu adormecer, mesmo que ainda atormentada pelo que possa
encontrar naquele aparelho.
Soltando um suspiro, meu dedo vacila no play do vídeo enquanto observo Aleksey
dormindo profundamente. Deus sabe como foi difícil sair de seus braços, mas pesadelos
intermináveis me atormentaram, impedindo-me de fechar os olhos. Resgato o celular atrás da
poltrona, corro para o banheiro e sento-me sobre a privada, determinada a encerrar logo essa
agonia.
Com o coração pulsando descontroladamente, reluto a dar continuidade ao vídeo e, a
cada novo segundo, minha incredulidade se transforma em choque avassalador. Meus olhos se
deparam com a imagem desfigurada de Alessio Ruggiero e, por um instante, o tempo parece
congelar. Fecho os olhos, buscando desesperadamente uma pausa para respirar fundo e conter a
bile que insiste em subir pela minha garganta. As imagens revelam Alessio envolto em uma
tormenta de torturas implacáveis, perpetradas por Ivan, Maskin e os capangas sádicos de
Aleksey.
Jesus! Isso é... insano!
Cada cena é como um soco brutal no estômago, uma avalanche de horror que me deixa
sem fôlego. Apesar de ter crescido neste mundo sombrio, assistir a tudo isso me deixa
completamente enjoada. Alessio tentou salvar minha vida no atentado do meu casamento, não
posso permitir que o matem. Um arrepio gelado percorre meu corpo.
E se ele já estiver morto?
Reprimo um grito, abafando-o com a palma da mão, quando Aleksey entra em cena.
Atordoada, observo seus olhos brilhando sombriamente e o sorriso cruel desenhando-se em seus
lábios enquanto começa a torturar Alessio. O vídeo ultrapassa uma hora, e Aleksey não desiste,
inovando nos métodos de tortura a cada momento. O ápice ocorre quando ele extrai todas as
unhas de seu prisioneiro, fazendo Alessio desmaiar em seguida.
Paro o vídeo, sentindo lágrimas pesadas escorrerem por minhas bochechas, incapaz de
suportar mais daquilo. É minha culpa. Alessio deve ter sido capturado enquanto procurava por
mim. E Aleksey? Como ele pôde fazer isso e depois olhar nos meus olhos? Meu estômago se
contrai e me levanto rápido o suficiente para abrir a tampa da privada e me curvar sobre ela,
lutando contra o enjoo. A sensação de traição esmaga o peito. Meu corpo começa a convulsionar,
lançando todo o meu jantar para fora.
Ao erguer-me lentamente, encaro meu reflexo no espelho embaçado pelas lágrimas.
Meus olhos estão vermelhos e inchados, e a expressão no rosto não passa de uma mistura de dor
e desespero. A verdade está diante de mim, e a decisão de confrontar Aleksey e exigir uma
resposta se torna um fardo pesado sobre os meus ombros.
Escoro-me contra o azulejo frio, fechando os olhos para tentar organizar os meus
pensamentos tumultuados. Logo amanhecerá, e Aleksey, como sempre, estará pronto para nossa
corrida matinal. Solto uma respiração resignada. Este pode ser o momento perfeito para
confrontá-lo. Sem ninguém por perto, quem sabe assim consiga arrancar alguma coisa dele.
Está nevando, e os galhos secos cedem com as nossas pisadas, quebrando-se com um
murmúrio frágil. Em meio ao silêncio branco e frio, meu coração afunda no peito e um
sentimento cru e devastador se espalha dentro de mim. Aleksey cessa os passos, olha por cima
dos ombros e lança um dos seus raros sorrisos. É breve e contido, capaz de aquecer minha pele
sem mesmo tocá-la. Seus olhos escuros encontram os meus, e há aquele lampejo frio e suave,
como se algo maior estivesse lutando para emergir. Meu coração salta no peito, imaginando que,
em um futuro iminente, não o verei mais, que, em breve, Aleksey Volkov não passará de uma
lembrança apagada.
Recordo as palavras cruéis de Konstantin, e ele tem razão. Um dia não doerá tanto,
talvez eu possa pronunciar seu nome em voz alta e não sentir nada. E voltaremos ao início,
quando Aleksey era meu inimigo, meu algoz. Em um universo paralelo, nunca existirá um "nós".
Não posso amar um homem cuja crueldade e sede de vingança extrapolam os limites de qualquer
ser humano. Não posso acreditar que as mãos que me acariciam e protegem durante o sono são
as mesmas que torturam e matam sem nenhum pudor.
Ele vira seu corpo na minha direção, vestindo um conjunto de moletom preto que
contrasta com seus fios escuros e seus olhos sombrios escondidos no capuz. Seus passos
decididos ecoam em minha direção, e minhas pernas vacilam. A bile ameaça subir novamente.
Respiro fundo várias vezes, mas é difícil silenciar o caos em minha mente. Todas as cenas do
vídeo ressoam com um looping interminável, os olhos de Aleksey brilhando de satisfação, seu
sorriso sardônico enquanto Alessio se retorcia, rangendo os dentes.
Olho para ele através da névoa de culpa e raiva que começa a envolver a minha mente e
dou um passo para trás quando ele finalmente encurta a distância entre nós. Não posso fraquejar,
se eu não o confrontar agora, me perderei nos sentimentos que estão me consumindo, e isso não
pode acontecer.
Respiro fundo com meu coração batendo forte na minha caixa torácica.
— Solte o Alessio — exijo, vislumbrando um lampejo de surpresa e algo escuro e
perigoso, beirando à possessão, passando por seus olhos.
— Gostaria de dizer que não sei o que está falando, ou melhor, descobrir como obteve
essa informação, mas não gosto de joguinhos, Malyshka. — A mandíbula de Aleksey aperta. —
Irei apenas alertá-la que quem é meu prisioneiro não é assunto seu. Muito menos um maldito
Ruggiero.
Engulo em seco, recuando com a ferocidade do seu olhar.
— Eu não me importo com as consequências, apenas quero que pare. Alessio, ele… não
merece ser torturado quando apenas está tentando me salvar, que tipo de ser humano é você?
Não quero acreditar que eu me a…
Balanço a cabeça, negando veemente e recriminando o meu cérebro por ser sentimental
agora.
— Milena… — Seu alerta escapa dos seus lábios em um rosnado profundo, arrepiando
os pelos da minha nuca. — Por que se importa tanto com o maldito psicopata? Você tem
sentimentos por ele, é isso? — As palavras de Aleksey cortam o ar como lâminas letais de gelo.
Recuo novamente, abrindo e fechando a boca quando um músculo salta do seu pescoço
e, em uma batida, ele avança em mim, agarrando minha garganta e aproximando seu rosto do
meu, deixando apenas um fio de distância.
— Você está me machucando. — Solto com um suspiro trêmulo.
Um breve arrependimento cobre sua expressão, mas logo ele se recupera. A raiva flui
através de ondas e seu corpo fica tenso, esmagando o meu.
— Essa não é a minha intenção, malyshka, mas é difícil ser racional quando minha
mente evoca cenas de outro homem tocando você. — Faz uma pausa. — Sou capaz de matá-lo
com minhas próprias mãos. — Os olhos de Aleksey dilatam em um misto de êxtase e retaliação.
Lambo meus lábios nervosamente, sentindo o estremecimento da sua fúria em cada
centímetro do meu corpo, e é preciso um esforço sobrenatural para desviar meus olhos dos dele.
Ele aperta seu domínio e me faz olhá-lo, dessa vez, exigindo toda a minha atenção.
— Posso ser completamente insano, lisichka. Basta deixar outro homem tocar no que é
meu.
— Eu não sou sua, Aleksey! — digo entre dentes cerrados, desafiando a pressão
crescente em minha garganta. — E não sou nenhum objeto.
O frio na atmosfera parece intensificar-se, como se a própria temperatura respondesse à
tensão entre nós. Os segundos se esticam e a pressão em minha garganta ameaça sufocar a
própria respiração. Meus olhos encontram os dele, frios e inabaláveis, revelando uma
profundidade sinistra e sombria.
— Você não é um objeto, malyshka, mas certamente é minha. — A voz dele é um
sussurro áspero e suas palavras ecoam com uma possessividade ameaçadora. — Ninguém mais
pode ter você.
As palavras reverberam no ar, e, por um momento, o único som audível é a pulsação
frenética do meu coração. Cada célula em meu corpo está alerta e tensa diante da presença
opressiva e da ameaça de Aleksey.
Finalmente, ele solta minha garganta, recuando alguns passos. Juntando o pouco de
bravura que ainda me resta, viro-me nos calcanhares e corro para longe dele. Estou
sobrecarregada com tudo ao meu redor, e suas palavras cheias de possessão e ameaças pesam no
meu estômago, cimentando sua afirmação. A cada passo, a sensação de confinamento ganha
forma, com suas garras afiadas cravando-se em minha jugular, tornando minha respiração
impossível.
Capítulo 22

Corro desesperadamente pela neve densa, sentindo o frio penetrar os meus ossos. Cada
floco de neve parece um suspiro gelado em minha pele enquanto o monstro continua no meu
encalço. Seus passos pesados ecoam atrás de mim, me perseguindo e me encurralando.
— Não adianta correr, moya zaichonok — ruge. A certeza em suas palavras troveja na
floresta sombria e silenciosa. — Eu sempre vou alcançá-la.
Continuo correndo, sentindo a adrenalina percorrendo minhas veias quando braços fortes
enlaçam a minha cintura, fazendo minhas costas colidirem com o seu peito duro. Debato-me
contra ele, rangendo os dentes e cravando minhas unhas em seus braços cobertos pelo tecido de
algodão do seu moletom. Aleksey sopra na minha orelha, seu hálito quente provocando a minha
pele.
— Eu avisei que não importa para onde corra, malyshka.
Ele gira o meu corpo, colando os nossos corpos enquanto seus olhos escuros e sombrios
fitam os meus, mantendo-me cativa por alguns segundos. Sinto o cabo da sua arma entre nós e,
em um movimento desajeitado, consigo retirá-la da sua cintura, apontando-a diretamente para o
seu peito.
Aleksey congela, e sua expressão confusa logo se transforma em afiada. Estreitando o
olhar, ele recua, levantando as mãos com as palmas viradas para cima. Imitando seus passos,
recuo com as pernas instáveis e me concentro em Aleksey, mantendo a arma apontada para ele.
— Atire, malyshka, se isso for aliviar sua consciência — zomba. — Tudo que a fizer
dormir melhor à noite. Exalo um longo suspiro, sentindo minhas mãos tremerem. — Vamos! —
grita. — Porque eu não vou parar até ter a minha vingança concluída.
Enquanto ele olha para mim, seus olhos queimam com fúria e outro sentimento
desconhecido, mas é esmagador e ameaça destruir o pouco controle que me resta. Ele dá um
passo, fazendo meu dedo vacilar no gatilho. Suor frio escorre na minha espinha, então, balanço a
cabeça, implorando com os olhos.
— Por favor… Só fique parado.
Um canto dos seus lábios se levanta, e ele dá mais um passo em minha direção.
— Esqueça o seu coração agora, lisichka. Ele não será capaz de ajudá-la. Atire! —
ordena, batendo no peito, apontando para o seu coração.
Apesar das suas palavras, meu peito aperta com o pensamento de machucá-lo. Solto um
suspiro frustrado, me odiando por não conseguir feri-lo como ele faz com todos ao seu redor.
Recuo novamente, erguendo o queixo para encará-lo, mostrando que, por mais doloroso que seja
o pensamento de feri-lo, não deixarei que chegue até mim sem uma luta.
— Se… continuar se aproximando, vou atirar em você, está me ouvindo? — grito em
meio a um caos inesperado de lágrimas e soluços. Aleksey paralisa, seus olhos brilham e sua
expressão murcha em total arrependimento.
— Malyshka… Eu não…
O zumbido baixo e ensurdecedor é o único som, interrompendo a sua voz. Olho para as
minhas mãos trêmulas com um grunhido abafado e volto os olhos para Aleksey, que espalma
parte do seu estômago com uma expressão contorcida de dor. Lentamente, ele se ajoelha com
uma mão apoiando no chão frio coberto de neve e seus olhos disparando para os meus, me
pegando em um redemoinho de vulnerabilidade.
Depois da onda de choque e pânico se dissiparem um pouco, forço minhas pernas a se
mexerem e caio de joelhos à sua frente, abandonando a arma ao lado. Levanto as mãos para
segurar seu rosto, mas algo me impede; seu olhar ferido e a forma como me encara como se
dissesse: "você fez isso comigo".
Soluços intensos irrompem da minha garganta, então me levanto, sentindo o mundo girar
ao meu redor. A incerteza do que virá a seguir envolve-me como uma sombra. E se ele morrer?
Não suportaria viver com essa culpa. Giro o meu corpo e fico de costas, escutando sua respiração
acelerada e grunhidos de dor. Fecho os olhos e respiro fundo, esperando que isso acalme meus
nervos.
— Malyshka… essa é sua chance de fugir. Vá! — murmura com um gemido rouco.
Balanço a cabeça, negando. Eu não posso simplesmente ir e deixá-lo ferido, por mais
que devesse, afinal, ele quer destruir minha família. Enquanto lágrimas pesadas escorrem pelas
minhas bochechas copiosamente, viro-me e caio de joelhos novamente, enlaçando seu pescoço e
enterrando minha face na curva dele, sentindo o cheiro de sua colônia amadeirada e do gel de
banho invadir minhas narinas, provocando um estremecimento no meu corpo.
— Eu gostaria de ir… de deixá-lo. Eu me odeio por ser tão fraca — confesso, deixando
que as lágrimas tenham o melhor de mim.
— Você não é fraca, malyshka. Nunca mais repita isso… — O tom áspero de suas
palavras arranha minha pele.
Aleksey grunhe com um solavanco, então me afasto, observando seu rosto pálido e o
sangue jorrando do ferimento. Entro em pânico, arranco meu moletom rosa e pressiono no local.
Aleksey range os dentes com sua expressão se contraindo, mas ele não recua. Seguro o moletom
com firmeza, tentando estancar o sangue que insiste em escapar.
— Não… se sinta culpada — sussurra entre respirações entrecortadas.
Ignoro suas palavras, concentrada em amenizar o ferimento. Cada segundo parece uma
eternidade, e minha mente oscila entre a compaixão e a razão de que ele é uma ameaça para tudo
que amo.
— Não tente foder a minha mente, Aleksey. Você é o único culpado aqui. — Meus
dedos ficam brancos em torno do moletom, que rapidamente fica escurecido com o líquido
carmesim. Seus ombros tremem com o esforço de um pequeno riso silencioso. — Não pense que
isso muda alguma coisa entre nós — aviso, e Aleksey solta um suspiro.
— Milena, eu… — Seus olhos encontram os meus, revelando vulnerabilidade.
Balanço a cabeça, o interrompendo. As lágrimas continuam a fluir, e meu corpo treme
com a intensidade da emoção. Ergo o olhar para o rosto dele, buscando respostas e talvez algum
indício de redenção.
— Seu mundo é sombrio e cruel, Aleksey. Mas eu... eu não quero me afundar com você
— murmuro mais para mim mesma do que para ele.
O frio ao nosso redor parece mais penetrante, como se o próprio ambiente reagisse à
tensão entre nós. Mesmo com a arma agora caída na neve, sinto que não posso sucumbir à
escuridão.
Olhando nos olhos de Aleksey, tomo uma decisão. Seguro em um dos seus braços e
enlaço sua cintura com um esforço difícil, ergo-nos e ficando de pé, o levando rumo ao castelo.
Meus membros vacilam com o esforço de apoiar todo o seu peso em um metro e noventa, mas
obrigo as minhas pernas a andarem, enquanto Aleksey se apoia em mim. Meu corpo inteiro fica
instável e puxo uma longa respiração, nos guiando para fora da floresta.
— Continue pressionando o ferimento. Logo teremos ajuda. — Tento manter minha voz
calma e uniforme para tranquilizá-lo.
Aleksey respira fundo, grunhindo com os dentes cerrados, e meus olhos correm para
baixo, observando a neve alva e os galhos secos engolirem nossos passos. Meus pulmões se
enchem de ar, mas sinto o sufocamento com o peso sobre mim. Não posso ceder agora, se não
socorrido a tempo, as consequências podem ser devastadoras.
Minha respiração engata superficialmente, e uma garra invisível parece se apertar ao
redor do meu pescoço, cavando na minha pele e fazendo-me provar uma pitada de dor. Empurro
nossos passos por mais alguns metros até alcançarmos a entrada do castelo. E, ao entrar, os
portões maciços de ferro se abrem lentamente, revelando o corredor majestoso de pedra e o chão
revestido com lajes polidas e gastas pelo tempo. Continuo conduzindo Aleksey, alcançando os
guardas de plantão. Seus olhos saltam em nossa direção e, dentre eles, Ilia, o chefe da segurança,
vem ao nosso encontro com sua expressão estoica dando lugar a uma mistura de surpresa e
preocupação.
— O que aconteceu? — Ilia questiona, lançando-me um olhar sombrio com seus olhos
perfurando-me antes de fixar-se no ferimento de Aleksey.
— Ele precisa de cuidados urgentes. — Aperto os lábios em uma linha fina, reprimindo
a verdade que ameaça escapar através do meu complexo de culpa.
Os olhos afiados de Ilia brilham em pura desconfiança.
— Fomos atacados enquanto corríamos na floresta — Aleksey sibila, apertando o
maxilar.
Franzo o cenho, mascarando minha surpresa por ele não ter dito a verdade.
— Chame Dmitry aqui, ele saberá o que fazer — exige, tentando se afastar do meu
agarre.
Os guardas imediatamente se movem para ajudar, enquanto Ilia assume a liderança e
ordena que o levem para o quarto. Eu os sigo pelo corredor e, à medida que avançamos, o pânico
me assombra de uma forma endurecedora.
O que acontecerá agora?
O médico da Bratva finalmente chega com uma equipe e pede que os deixemos a sós.
Escoro-me na parede, exausta, sentindo meus membros um pouco dormentes e a mente em um
completo caos quando passos firmes ecoam pelo corredor e três pares de olhos surgem, dois
deles me fuzilando como era esperado, dado ao meu status de prisioneira.
— Diga o que aconteceu com Aleksey — Ivan rosna, avançando em minha direção, mas
é contido por Igor, que o prensa contra a parede.
— Acalme-se, porra! Agora não é hora para surtar — Igor sibila, apertando o seu
domínio sobre o irmão mais novo.
— Não vai defendê-la agora, vai? Está na cara que foi ela, droga! — acusa. — Nossos
homens verificaram cada perímetro, não tinha ninguém nos arredores e não acharam pegadas
além das deles, mas encontraram a arma caída em um ponto perto do lago.
Igor o interrompe.
— Não estou defendendo ninguém. Ilia disse que o próprio Aleksey informou que foi
um ataque.
Uma risada de escárnio ressoa e encontro um par de olhos pretos encarando-me
propositalmente. Maskin para ao meu lado com seus olhos queimando sobre mim.
— Ele só disse isso para proteger alguém. — Seu indicador desliza rudemente pela
minha bochecha, fazendo uma pausa. — Sua prisioneira de estimação. — Cerro os punhos em
ambos os lados do corpo quando seu toque se torna áspero e incômodo. E, agarrando meu
maxilar, ele me obriga a encará-lo. — Agora, nos diga o que pretendia com isso, ou voltará para
a masmorra — rosna severamente, recebendo um olhar enviesado de Igor.
Engulo em seco, lutando para me desvencilhar do seu agarre.
— Solte-me! — ordeno, minha respiração trêmula. — Não tenho nada para falar.
Aleksey já disse o que aconteceu.
— Maskin… — Igor adverte, lançando-lhe um olhar sério. — Deixe-a ir. Sabe que não
podemos tocar em um fio de cabelo dela. Aleksey não ficaria feliz. — O tom de Igor traz consigo
uma tensão palpável.
Uma sombra escura perpassa os olhos de Maskin antes de ele respirar fundo e me soltar
com uma ameaça sussurrada.
— Isso não acabou.
Eu me afasto dos três, parando em frente a uma janela ampla com vista para o jardim do
castelo, esperando nervosamente por notícias de Aleksey. Fixo meus olhos nos flocos de neve
caindo lá fora, desenhando padrões aleatórios no vidro enquanto os minutos se transformam em
horas. Até que, em um momento, a porta se abre e Ivan é o primeiro a passar por ela, seguido por
Maskin e Igor, este último lançando-me um breve olhar por cima dos ombros.
Fico ali parada, sentindo um peso esmagador no meu peito. Tento dissipar o sentimento
de culpa que está corroendo-me por dentro, continuando a minha tarefa inútil de desenhar
padrões aleatórios. Não demora muito para que novamente a porta seja aberta e o médico saia
acompanhado da sua equipe, seguidos pelos irmãos Volkov.
Ivan trava o maxilar, desviando os olhos para longe, deixando o corredor, e Maskin faz o
mesmo. Observo cautelosamente Igor vir em minha direção com uma expressão serena.
— Aleksey pediu para vê-la, Milena.
A tensão dispara pela minha espinha e aquiesço. Igor acena e vai embora. Hesitando por
alguns segundos, ando até a porta, alcançando a maçaneta enquanto a pressão em torno do meu
peito aumenta. Com um suspiro resignado, abro a porta lentamente e lá está ele, sentado na
cama, com as costas descansando em uma pilha de travesseiros enquanto tem um acesso
introduzido em seu braço direito. Seu dorso nu, com o lado direito coberto por longas faixas
brancas, que contrasta com toda a tinta preta gravada em sua pele. Exalando uma aura sombria e
taciturna, olha fixamente para a janela quando, em uma batida, seus olhos escuros encontram os
meus, fitando-os com aquela intensidade que já estou familiarizada, com calor e pura
necessidade. E, por mais que eu lute contra ele, não consigo desviar o olhar.
Capítulo 23

No instante em que o rosto de Milena aparece, a sensação é de que o quarto estava


mergulhado nas sombras, e sua entrada intensificou o turbilhão de sentimentos borbulhando em
minhas veias. Traição é uma delas, mesmo que eu não consiga condenar a sua atitude. Não a
odeio por isso, só lamento que estamos em lados opostos. Gostaria de ter encontrado-a em outro
momento da minha vida, um que não tivesse o foco de dizimar tudo que ela ama.
Minha respiração fica entrecortada enquanto a observo fechar a porta atrás de si, e o
silêncio é apenas quebrado pelo leve estalo do trinco. Meu olhar, normalmente austero, busca os
olhos dela, ansioso pela suavidade que sempre encontro neles. Milena se aproxima, movendo-se
como uma sombra cautelosa.
— Como você está? — Sua voz é uma mistura de remorso e preocupação enquanto seus
olhos percorrem o acesso em minha veia.
Respiro fundo, sentindo a pressão no meu lado esquerdo, onde a bala fez sua marca. As
faixas brancas funcionam como um lembrete visível de que os sentimentos podem machucar
além do físico. Milena atirou em mim e, por mais que merecesse, ela não me deixou sozinho,
poderia, mas não o fez.
— Melhor do que mereço, Milena — murmuro com uma pitada de sarcasmo,
observando-a se encolher em uma poltrona próxima.
Seus olhos azuis encontram os meus e, nesse momento, algo se quebra entre nós, como
lâminas afiadas cavando fundo. Não posso mantê-la presa aqui, mesmo que meu peito se encha
de pânico por perdê-la. Milena irá me agradecer quando tudo acabar.
— O médico fez um trabalho decente e disse que a bala não atingiu nada vital —
informo em um tom apático, observando sua expressão rígida se derreter em contemplação.
Milena desvia o olhar, escutando, em silêncio, o peso das palavras não ditas pairando
sobre nós.
— Apesar de odiar a ameaça que você representa, eu não queria feri-lo. — Sua voz soa
baixo, exalando uma respiração irregular. — Eu só… queria me afastar, porque, a cada segundo
perto de você, é como se eu estivesse traindo a minha família, pelo menos o que restou dela. —
Ela faz uma pausa e seu rosto contorce em nada além de dor enquanto analisa meu queixo tenso
e postura rígida.
— Família… — reflito com um sorriso de escárnio. — É bem irônico você falar isso
quando a sua família e Dário eliminaram parte da minha.
Seus lábios se abrem silenciosamente e uma centelha de raiva queima em seus olhos.
Bem, que se foda isso. Milena pode me odiar agora, mas não vou recuar.
Deixei que ela me distraísse tempo demais, tirando o foco do que realmente importa:
aniquilar os meus inimigos.
— Por que não diz de uma vez o que aconteceu, Aleksey? Tenho estado no escuro desde
que cheguei aqui. — Deixa escapar uma respiração trêmula com seus olhos fixos nos meus. —
Nada do que você fala faz sentido para mim. E, caso não tenha percebido, eu também perdi parte
da minha família, você fez um ótimo trabalho no dia do meu casamento.
Um músculo salta do meu maxilar.
— Não me culpe, Lisichka. Não fomos nós que começamos essa guerra.
Seus punhos cerram ao lado do corpo.
— Mas voce pode acabar com ela.
Nego veemente.
— Nunca! Nada e nem ninguém me fará desistir agora — rosno em um tom firme,
embora sinta minhas entranhas se retorcerem com o vislumbre de decepção brilhando nos olhos
de Milena.
Ela fecha os olhos e estremece.
— Eu sinto muito, Aleksey — murmura. — Espero que um dia possa seguir em frente
sem ter sua alma corroída por esse sentimento desprezível de vingança. — Ela abre os olhos e se
levanta, ficando de costas. — Porque todo mundo merece uma segunda chance.
Lambo meus lábios com os músculos enrijecidos assistindo a Milena seguir para o
quarto adjacente. Fazia semanas que ela dormia em meus braços, e sei que, depois dessa
conversa, nossas noites compartilhadas serão apenas uma lembrança.
Alcançando a maceta da porta, seus ombros ficam tensos e a ouço suspirar
profundamente.
— Se, em algum momento, eu signifiquei algo para você, liberte o Alessio. Ele só estava
querendo me proteger.
Minha expressão se torna sombria, e o ar fica pesado com a animosidade ao ouvi-la
implorar por ele, usando o que sinto como alavanca.
— Não implore pela vida de outro homem. — Meu maxilar se contrai, e o monstro da
possessão revela suas garras, pronto para dilacerar qualquer um que ousar tocá-la. — Isso não
está acontecendo.
Ela acena com a cabeça uma vez antes de abrir a porta e desaparecer.

Na manhã seguinte, Dmtry e uma enfermeira vêm checar-me mais uma vez. A bala não
atingiu nenhum órgão, mas o meu estado ainda inspira cuidados.
— E como está a cabeça, Aleksey? Alguma nova lembrança, pesadelo, ou dores? —
pergunta enquanto verifica o ferimento.
Encaro a janela, relembrando os pesadelos recentes e os fragmentos de lembrança que
não parecem fazer sentido.
— Tenho tido pesadelos com certa frequência, são tão reais e viscerais que chego a
pensar que aconteceu, que era uma lembrança do meu passado.
Dmtry me encara por um segundo, mas sua expressão é difícil de decifrar.
— Pesadelos podem ser desafiadores, mas, às vezes, são apenas resquícios do nosso
subconsciente tentando lidar com eventos traumáticos — comenta Dmitry, mantendo sua calma
habitual. — Continuemos monitorando e, se necessário, podemos considerar opções para ajudar
a controlar os pesadelos. — Há algo importante que se lembre? — pergunta com um toque de
preocupação.
Penso em tudo que veio com os pesadelos e decido ocultá-los por enquanto. Apesar de
perder parte da minha memória, meu instinto de autopreservação ainda permanece. Confio em
Dmitry por ora, mas não sei até onde essa confiança vai.
— Não — respondo.
— Não fique agitado, Aleksey. Você foi baleado, sofreu um grande trauma na cabeça e
sobreviveu por um milagre. Já conversamos sobre isso, você pode recuperar a memória em um
belo dia, ou nunca acontecer. É uma consequência, deve estar preparado — continua Dmitry.
Deixo as palavras dele se assentarem em minha mente e solto o ar lentamente, afastando
a agitação dos meus ombros, concordando em seguida. Dmitry e sua enfermeira se despedem,
prometendo voltar novamente. Após a sua saída, meus olhos vagam pela porta à frente. Como eu
suspeitava, Milena não veio me ver. Não é preciso muito para entender que ela escolheu encerrar
o que tínhamos.
Um sorriso amargurado surge em meus lábios. Não posso culpá-la; uma hora ou outra,
isso aconteceria. Estava apenas prolongando o inevitável. Porra! Não pensei que seria tão difícil
me desligar dela. Tenho gravado na porra da minha mente cada momento que compartilhamos.
Seu cheiro suave impregnado na minha pele, junto do som rico da sua risada. Deus! Se eu fechar
os olhos, posso ver seu rosto corado e suado enquanto seu corpo se retorce de prazer debaixo do
meu.
Milena acredita que eu sou um monstro cruel e insensível, mas, para o seu próprio bem,
para mantê-la longe e segura, farei o que for necessário, mesmo que isso signifique quebrar seu
coração.
Antes que minha mente pudesse afundar-se em mais lembranças de nós, uma batida ecoa
na porta, e o rosto ligeiramente preocupado de Igor surge.
— Entre — digo, estreitando o olhar.
Igor parece tenso, seu nervosismo é visível, uma característica que não coincide com sua
personalidade silenciosa.
— Diga, Igor. Por que parece tão tenso, o que está acontecendo?
Cautela aparece em sua expressão.
— Eu sinto muito, Aleksey. Alessio Ruggiero escapou ontem à noite.
Cerro os dentes, lançando um olhar assustador para ele.
— Como diabos isso aconteceu? — brado entredentes. — E por que não fui comunicado
imediatamente?
Igor solta um suspiro, sua coluna endurecendo ao olhar para mim.
— Alguém o resgatou, Aleksey. Pelo que entendi, um grupo de homens fortemente
armados invadiram o armazém e o levaram. — Ele faz uma pausa, como se estivesse escolhendo
melhor as palavras. Quando abre a boca novamente, vejo hesitação em seus olhos. — Maskin foi
pego no fogo cruzado, sendo atingido na coxa e ombro.
Minha pulsação salta acelerada e sou dominado por uma fúria profunda. — Porra! Ele
está bem. Está sendo tratado em sua ala, já está até resmungando.
Tento me levantar e arranco o maldito acesso do meu braço quando Igor me impede com
um grunhido.
— Eu vou matar quem atirou no meu irmão — rosno, meu temperamento explodindo
feito pólvora.
— Se acalme! — Igor sibila e me agarra pelos ombros, fazendo-me sentar na cama
novamente. — Já estamos cuidando disso. E, quando o pegarmos, você lidará com ele. Mas já
sabemos que Dário está por trás disso. Afinal, Alessio é seu irmão, além de ser o melhor
executor da Cosa Nostra.
Meus músculos estalam em uma linha rígida e cerro os dentes.
Sei disso e, guiado pelo meu instinto, algo me diz que ele não acabou aí. Dário, sem
dúvida, está tramando um golpe maior, mas quero estar preparado quando esse momento chegar.
Sinto em meu âmago que será muito em breve.
— Informe Ilia que reúna nossos melhores homens e organize equipes para proteger o
castelo. Prevejo que vem chumbo grosso por aí.
Igor concorda e deixa o quarto em passos largos. Se os rumores são verdadeiros, Dário
encontrará um meio para retaliar com direito a proporções épicas.
Meu olhar desliza novamente para a porta, logo tudo terminará e Milena deixará de
existir no reinado Volkov, mesmo que isso seja capaz de matar o único sentimento bom que
restava no meu peito.
Capítulo 24

Duas semanas depois…

Existe algo benigno na solidão. Apesar de muitas vezes ser dolorosa, ela nos leva a
apreciar cada detalhe ao nosso redor, não importando o quão pequeno. Bato o indicador na
janela, observando alguns guardas dando comandos aos cachorros lá fora. Olhos negros e as
expressões assassinas fixam-se nos seus treinadores, realizando as tarefas agilmente. Aleksey
havia dito que são da raça Doberman, com pelagem escura e curta, olhos e orelhas expressivas, e
uma expressão alerta e vigilante. São criaturas sombrias, condicionadas a atacar e dilacerar
qualquer um que represente perigo. Um deles ergue a cabeça, e um frio gelado percorre a minha
espinha.
Saio da janela e sento-me na poltrona, alcançando um livro de fantasia na mesinha de
cabeceira que peguei na biblioteca. Tenho evitado sair do quarto para não encontrar Aleksey.
Ainda dói pensar nele e vê-lo na minha frente agora seria um golpe duro que não aguentaria
lidar. Já se passaram duas semanas desde o incidente. Às vezes, vou até a biblioteca ou ao jardim
furtivamente, quando espio pela porta e o vejo em um sono profundo, ou então, Irina, como uma
boa amiga fiel, ainda traz o café da manhã, almoço e jantar, adicionalmente, um bom livro assim
que percebe que não desci para a biblioteca.
Confesso que há algo corroendo aqui dentro. Em uma das visitas do médico, acabei
escutando uma conversa entre ele e Aleksey que me deixou atordoada. O homem revelou que
Aleksey havia perdido a memória e que há o risco de nunca recuperá-la. Fiquei em choque,
processando essa informação por dias. Então algo apitou em minha mente. Em raras ocasiões, o
peguei alheio, apertando as sobrancelhas com uma expressão contorcida de dor e se apoiando em
algo. Quando eu perguntava se estava tudo bem, ele desconversava. Me lembrei dos seus olhos
vítreos e, em seguida, assombrados, como se travassem uma batalha interna e, quando me
encarava, havia escuridão e, também, uma borda de suavidade.
Eu queria confrontá-lo, no entanto, eu não podia. Teria que vê-lo cara a cara e lutar
contra ele, e isso eu não conseguiria. O que eu sinto por ele é forte demais, doloroso e sufocante.
Não sairia ilesa do seu quarto. Queimaria com sua energia destrutiva e me despedaçaria apenas
com um olhar dele.
Quando a noite caia, era impossível não sentir falta do calor dos seus braços em volta de
mim, da aspereza de sua voz sussurrante em meu ouvido e do olhar frio que se aquecia ao
encontrar os meus. Jesus! Será que um dia vou esquecê-lo?
Forço-me à leitura novamente até que a luz pálida da lua invada o quarto. Irina aparece
novamente com uma bandeja do jantar e o seu sorriso gentil à vista. Ela a deixa sobre a mesinha
e me encara com preocupação.
— Está tudo bem, Irina.
Percebo que minhas palavras não conseguem dissipar a sombra de preocupação nos
olhos de Irina. Ela permanece ali, como se buscasse algo não dito nas linhas do meu rosto.
Respiro fundo, tentando afastar as lembranças que teimam em me assombrar.
A lua continua a lançar sua luz suave pelo quarto, criando um jogo de sombras que
dança nas paredes. Irina quebra o silêncio tenso:
— Se precisar conversar, estarei aqui, senhora.
Agradeço com um aceno de cabeça, reconhecendo a oferta silenciosa de conforto.
Enquanto Irina se retira, mergulho novamente na leitura, mas a presença de Aleksey, sinto que
não desaparecerá nunca.
Após o jantar, uma ansiedade crescente se instala em meu peito, o desejo de vê-lo e
conversar domina meus pensamentos, contudo, o lado racional prevalece, levando-me para a
cama, onde resta apenas uma opção: entregar-me ao sono e desconectar-me do mundo.
No silêncio da noite, sou despertada por um grito angustiado ecoando pelo quarto. Meus
olhos se abrem abruptamente, e meu coração acelera ao reconhecer a voz rouca de Aleksey. Um
frio percorre minha espinha enquanto ele clama, envolto em pesadelos que parecem trazer à tona
seus demônios mais profundos.
Instintivamente, me levanto e me aproximo da porta, hesitando antes de tocá-la. Os
gritos de Aleksey continuam, penetrando minha alma com uma tristeza palpável. Decidida, abro
a porta devagar, encontrando-o enredado em lençóis suados, em uma postura selvagem refletindo
o tormento que o assombra.
— Aleksey, estou aqui. Você está seguro agora — sussurro, esperando que minhas
palavras alcancem.
Toco o seu rosto suavemente, buscando ancorá-lo no presente para dissipar os vestígios
do pesadelo que o aprisiona. Seu rosto, banhado em suor, revela a intensidade do tumulto
interior. Minhas palavras parecem ecoar em sua consciência, e seus olhos, antes fechados e
perdidos no pesadelo, começam a se abrir e a focar na realidade ao seu redor.
— Está tudo bem, Aleksey — repito enquanto meu toque suave o acalma. Aos poucos,
sua respiração desacelera, e a selvageria em sua postura cede.
Puxando o ar lentamente, Aleksey estremece e se afasta com seus olhos ônix
encontrando os meus e a escuridão crepitando em sua íris como chamas. Ele ergue a mão, seu
polegar contornando suavemente meus lábios enquanto descansa a testa contra a minha.
— Malyshka… — Suspira, parecendo atordoado.
— Você… está aqui. Deus! — ofega com sua respiração quente envolvendo meu rosto.
Prendo o lábio inferior entre os dentes e suspiro antes de me afastar do seu toque. É
doloroso demais estar tão perto dele e, ao mesmo tempo, tão distante. Uma dor que vai além do
físico, a ponto de dilacerar a alma.
— Você está bem? Teve um pesadelo. Quer… conversar sobre isso? — sussurro.
Embora ainda pareça distante, o aperto em seu maxilar não passou despercebido, assim
como a faísca nos seus olhos escuros. Aleksey fixa-me com seu olhar enervante.
— Não. Estou bem. Você já pode ir.
Meus lábios se entreabrem e, incrédula, começo a me levantar. Mas, então, lembro da
conversa que escutei semanas atrás com o médico e resolvo questioná-lo.
— Sem querer, ouvi você e o médico conversarem em uma de suas visitas, sobre… Você
realmente perdeu a memória?
Se o quarto não estivesse mergulhando na semiescuridão, seu olhar me levaria para algo
muito pior. Sua postura endurece, provocando arrepios.
— Não devia estar ouvindo atrás da porta, lisichka — murmura com a voz
perigosamente calma.
Nego com os olhos arregalados.
— Não era minha intenção ouvir vocês, Aleksey, acredite. Eu só queria saber a verdade.
— O que importa? — Sua mandíbula se aperta. — Isso não é problema seu, Milena. Vá
para o seu quarto e cuide de si mesma. — Sua voz sai áspera, embora um tom rouco sobressaia
sobre ela.
Aleksey fecha os olhos e parece estar à beira da explosão. Mordo o lábio, controlando a
nuvem de lágrimas que ameaça cobrir meus olhos. Eu não vou chorar. Aleksey Volkov não me
verá quebrar na sua frente, mesmo que eu sinta meu coração sendo esmagado com um agarre de
aço.
— Tem razão, não é problema meu. No entanto, você sempre fala dessa vingança e
quem garante que isso não é fruto da sua mente. Segundo o médico, isso não está descartado —
murmuro, esforçando-me para não encarar seus olhos.
Antes que eu possa pensar em alguma coisa, Aleksey está pairando sobre mim,
agarrando meu queixo com firmeza.
— Não me insulte, porra! Dário, com ajuda da sua família, matou o meu irmão e depois
nos enviou a cabeça. Não satisfeito com isso, nos emboscou e me sequestrou com meu pai.
Preciso dizer o que aconteceu depois? — rosna entredentes com seus ombros tensos.
O ar engrossa a nossa volta, e o silêncio é cortado somente pelo som acelerado da nossa
respiração. Minha mente estala, então me lembro do sequestro de Mia e como Dário moveu céus
e terra para encontrá-la. O líder da máfia russa a tinha em suas garras, e minha irmã foi torturada
por ele sem piedade. Mas, segundo Mia, o filho dele se voltou contra ele e, enquanto estava por
perto, seu pai não encostava um dedo nela. No fim, ele tentou ajudá-la, mas foi atingido no peito.
Jesus! Esse homem era Aleksey. Eu seguro o seu agarre, tentando fazê-lo olhar para mim.
— Aleksey, escute. Algo está errado nessa história. Ninguém o sequestrou. Seu pai fez
isso, ele sequestrou a minha irmã e a torturou por dias, só não…
— Cale-se! O que está tentando fazer agora contando essa merda? — Ele estreita o
olhar, soltando-me parecendo enojado, e eu me encolho, abraçando meu próprio corpo. —
Espere, não precisa falar nada. Eu respondo. Está tentando foder a minha mente. — Um sorriso
sombrio escorrega dos seus lábios. — Escute bem, querida, manipular-me com suas mentiras não
vai funcionar.
Respiro fundo, estremecendo com o impacto de suas palavras.
— Eu não estou tentando nada, droga! — grito, reprimindo um soluço estrangulado.
— Algo não se encaixa. Seu pai sequestrou a minha irmã gêmea e a torturou. Dário só
matou seu pai para proteger sua esposa grávida, Aleksey! Seu pai causou tudo isso.
Respiro fundo, observando-o recuar, negando veementemente.
— Eu levei um tiro e fiquei em coma por dois malditos anos. Como explica isso?
— Eu não sei — sussurro, exasperada, jogando as mãos pro alto. — Mia disse que houve
um grande confronto, talvez você tenha sido pego no fogo cruzado. — Avanço em sua direção,
olhando no fundo dos seus olhos. — Sua vingança não tem fundamento, Aleksey. Seu irmão
estava a mando do seu pai para seduzir e arruinar a minha irmã. Havia uma questão mal
resolvida entre ele e o meu pai, eu sinto muito — lamento.
Sua expressão escurece, e me vejo recuando.
— Por que está se esforçando tanto? Nada do que disser me fará desistir da minha
vingança, Milena. Nada!
A essa altura, um rastro de lágrimas cobre as minhas bochechas e, com a voz trêmula,
confesso algo que estava corroendo o meu peito todo esse tempo.
— Nem se eu disser que eu te amo, Aleksey? Que cada dia longe foi uma verdadeira
tortura. Muitas vezes, eu queria gritar, me fazer voltar à razão, mas sabe por que não o fiz?
Ele se inclina para frente com seu olhar intenso cravado nos meus. Choque e
incredulidade preenchem sua expressão.
— Nada do que eu venha fazer vai apagar o que vivemos, você está enraizado aqui. —
aponto para o meu coração — com uma maldita insistência que cresce sem temer as
consequências. — Ofego, minhas pernas vacilando.
— Você não quis dizer isso — rebate com a voz tensa.
Ergo o queixo desafiadoramente, sentindo as lágrimas caírem.
— Eu quis dizer cada maldita palavra.
Um frio se espalha em minha pele com o olhar de pesar dele em minha direção. Eu não
posso suportar isso, pena é a última coisa que desejo de Aleksey.
— Alguma coisa foi real, Aleksey? — pergunto com a voz embargada, sentindo um nó
crescer em minha garganta.
Seus olhos se fecham brevemente. Posso não ter elaborado a pergunta, mas ele sabe do
que estou falando, de quem.
Nós!
— Tudo, malyshka. — Sua mandíbula cerra, e meu coração se aperta por causa do seu
olhar penetrante.
— Você deixaria a sua vingança de lado se eu pedisse? — murmuro fracamente à beira
do pânico.
Sei que sua sede de vingança o corrói de dentro para fora, mas eu queria tentar, esta será
a minha última jogada. Aleksey se aproxima, sorrindo tristemente.
— Malyshka… Esta é a única coisa que você não deveria exigir.
Sim. Ele estava certo e, por um instante, as malditas borboletas levantaram voo no meu
estômago. Por um momento, acreditei que ele me escolheria. Que escolheria a nós.
Me afasto com um soluço e giro o meu corpo para sair do seu alcance quando sinto o seu
agarre no meu pulso. Não me viro para ele, não quero que veja como estou completamente
devastada.
— Milena, eu te…
Viro-me e o interrompo, silenciando com o polegar.
— Não, por favor — suplico, vislumbrando dor em seus olhos. — Só… não diga nada.
Isso só me fará sofrer ainda mais. — Seus olhos brilham com reconhecimento de aço.
Me libero do seu agarre e corro em direção à porta, adentrando o quarto e fechando-a
atrás de mim com um baque. Fecho os olhos, estremecendo com a intensidade dos meus soluços,
deixando para trás o meu próprio coração, que Aleksey arrancou e o transformou em pedaços
fragmentados.
Capítulo 25

Meu punho ressoa contra a mesa do escritório, meu maxilar está tenso ao confrontar o
dossiê entregue por Igor esta manhã. Nossas suspeitas se confirmaram: nosso tio estava por trás
dos recentes ataques à Bratva. Sua traição é evidente em cada página, abrangendo desde ataques
e roubos de cargas em nossos armazéns até desfalques chocantes em nossas empresas, cassinos e
restaurantes onde lavamos nosso dinheiro.
Com a morte misteriosa de Artan e seu segundo em comando, os Albaneses elegeram
um novo líder, que aceitou colaborar com informações privilegiadas. Através deles, descobri que
Konstantin era sócio do antigo líder em um vasto esquema de prostituição, sequestrando
mulheres de dezoito a vinte anos, mantendo-as presas e envoltas no vício de drogas pesadas para
torná-las facilmente controláveis. Não me surpreende, de Konstantin, só podemos esperar o pior.
Contudo, sinto que há mais sujeira escondida sob o tapete, pronta para explodir a qualquer
momento.
Soltando um praguejo, meus olhos disparam para a ampla janela que se estende do chão
ao teto, e o meu coração se acalma ao vislumbrar Milena sentada em um banco do gazebo no
jardim, imersa em um dos livros que escolheu em nossa biblioteca. Vestindo um elegante vestido
vermelho sob um grosso sobretudo branco, luvas e um par de botas da mesma cor, seu cabelo
loiro está amarrado em uma trança longa, permitindo vislumbres de sua garganta suave e de sua
pele alva, que combina com a paisagem invernal de Moscou.
Sulcos se formam entre suas sobrancelhas quando, de repente, seus olhos azuis como o
céu encontram os meus. Minha pulsação acelera e lentamente sinto o ar deixar meus pulmões.
Dois dias se passaram desde que discutimos no meu quarto. Milena não quis ouvir quando
finalmente eu diria as palavras que estão presas na minha garganta. Eu não insisti. Não queria
machucá-la ainda mais.
Ela pisca lentamente, um rubor cobrindo suas bochechas enquanto seu olhar ilegível arde
no meu. Milena parece pensar em algo, então suspira e desvia os olhos, retomando a sua leitura.
Sua expressão é imperturbável, como se tivesse me desligado completamente.
Ignoro o fio de desconforto que sua indiferença causou e pego meu celular sobre a mesa
para ligar para Ilia. Temos assuntos urgentes para resolver, como a localização de Konstantin,
chegou a hora do nosso acerto de contas.
Há rumores que Konstantin deixou Moscou. Ilia interrogou alguns homens que fizeram
trabalho sujo em seu nome, incluindo soldados que haviam prometido lealdade a mim. É claro
que me certifiquei de puni-los e que isso sirva de advertência aos demais. Quero que todos
compreendam que, ao trair seu Parkan, enfrentarão uma retaliação rigorosa. Sirvo-me de uma
dose generosa de vodca enquanto as engrenagens giravam em minha mente. Konstantin pode
desaparecer do nosso radar, mas não será por muito tempo. Não deixarei pedra sobre pedra até
tê-lo de joelhos diante de mim.
De repente, o mundo se move rápido demais até que minha consciência retorne e eu
saiba o que está acontecendo. O ar é dilacerado pelo estampido ensurdecedor de tiros em
sucessões assustadoras, acompanhado pelo estrondo de explosões.
O copo que estava em minhas mãos se estilhaça aos meus pés. Movido pela adrenalina
que ferve em minhas veias, ajo rapidamente, alcançando a pistola no coldre em minhas costas.
Em seguida, abro a última gaveta da minha mesa, removendo o fundo falso e pegando outra
pistola de longo alcance. Estrategicamente, em alguns pontos do castelo, ocultamos um arsenal
por trás de paredes falsas para emergências como esta.
Claramente, o castelo está sendo invadido e não preciso me esforçar muito para saber
quem é o mandante, a menos que ele esteja aqui, liderando tudo. Devidamente armado, engulo
em seco quando a estrutura ao redor estremece, provocando um caos com quadros caindo e
paredes desmoronando. Enquanto a tensão me invade, ligo para Ilia, que fala em uma voz
ofegante, como se estivesse correndo.
— Senhor, são mais de cem homens vestidos e armados com equipamento de guerra.
Estamos tentando evitar que entrem, mas não poderemos segurá-los por muito tempo.
Aperto o celular em minha mão, cerrando o maxilar com força.
— Porra! — praguejo alto e ordeno que ele entre e proteja Milena, Maskin, que ainda
está se recuperando, e Irina. Que venha então, não vou me esconder atrás dos meus homens.
— Chame reforços, agora. Ilia! — o chamo, respirando profundamente. — Leve-os para
o bunker, e só saiam quando eu disser que podem.
Ilia concorda, desligo o celular e saio do escritório, totalmente em alerta. Novas
explosões ecoam lá fora, os tremores sacudindo as estruturas do castelo. Com firmeza, movo-me
pelos corredores e, à medida que avanço, uma inquietante sensação de desgraça iminente paira
no ar.
Encontro alguns dos meus homens e ordeno que me deem cobertura. Ivan paira ao meu
lado, empunhando duas armas. Envio-lhe um olhar enviesado e solto um grunhido.
— Não! Você fica com os outros, Igor e eu cuidamos disso. Temos muitas equipes lá
fora, não saia até segunda ordem.
Ivan solta um rosnado e ergue o queixo, desafiando-me com o olhar.
— Não está acontecendo, Aleksey. Eu irei com você e lutarei ao seu lado. Não importa o
que diga.
Cerro os dentes, meu aperto na arma se tornando mortal. Pelo amor de Deus! Ivan é meu
irmão caçula, é meu dever protegê-lo, ele ainda não está pronto para lidar com uma invasão
dessa proporção. No entanto, diante da sua expressão determinada, não há muito o que fazer.
Desvio o olhar e corro em direção ao jardim, encontrando um verdadeiro cenário de guerra,
homens com roupas e balaclava pretas de combate dominando minhas equipes, um a um.
Armamentos pesados, granadas lançadas, destroços das torres do castelo se amontoando em
pilhas. Pedaços humanos se juntando a eles, e poças de sangue manchando o chão de pedras em
uma pintura macabra.
Num breve olhar lateral, percebo Igor correndo até nós, ofegante e com um semblante
preocupado.
— Cortaram nossa energia e estão usando um bloqueador de sinal. Não vai demorar
muito para o restante deles invadirem o castelo, Aleksey. — A tensão evidencia-se em suas
feições.
— Algo está errado. Eles parecem conhecer cada centímetro do castelo, inclusive sabiam
onde encontrar a sala de segurança, renderam todos que estavam lá.
— Maldição! — brado quando um forte estrondo de metal retorcido irrompe do lado de
fora. — Ligue o gerador. Esses bastardos não podem entrar no castelo.
— Já fizemos isso — estala e, no segundo seguinte, todas as luzes se apagam.
Inevitavelmente todo o castelo está mergulhado em escuridão absoluta, exceto pelas milhares de
luzes de holofotes, além dos pilares e o portão principal. Não demorou muito para o inevitável
acontecer: o portão foi derrubado. Correndo para uma pilastra, alcanço o rádio no bolso da frente
do meu jeans, tentando contatar Mikhail, mas ele não responde. Meu sangue ruge nos ouvidos
enquanto uma chuva de balas é lançada contra nós. Empunho minhas duas armas e atiro,
acertando dois homens e ferindo um terceiro. Ivan segue ao lado, atirando implacavelmente.
Estamos cercados, nossos guardas lutam bravamente, mas estão sendo pego no fogo cruzado.
Mais granadas são lançadas, e lascas de concreto e pedras voam sobre nós, atingindo-nos em
cheio. Ivan rosna, pois um fragmento acertou seu ombro esquerdo. Flexionando o maxilar, ele
solta o ar lentamente e volta a atirar. Dou-lhe cobertura, e logo Igor surge com um rifle de longo
alcance, disparando em sucessões rápidas, acertando um punhado em cheio.
Alguém grita através das luzes infravermelhas fornecidas por algum equipamento
acoplado em suas máscaras. A cena é caótica, com fumaça, escombros e cacofonia de gritos.
— Volkov! Não adianta se esconder, eu irei alcançá-lo. — A voz zombeteira e o sorriso
de escárnio de Dário Ruggiero me alcançam, e uma fúria assassina explode dentro de mim.
Maldito!
Ele pode tentar. Não me renderei sem uma boa luta.
— Vocês estão cercados como malditos ratos que são!
Um silêncio se estende, sendo quebrado por tiros explodindo na noite.
— Ivan, vá para o bunker e certifique-se de que Maskin não saia de lá. Ele ainda está se
recuperando e seria presa fácil aqui fora. — Ivan nega furiosamente, mas, ao olhar minha
expressão firme, respira fundo e corre em passos rápidos, desaparecendo logo depois.
Aceno para Igor com meus ombros tensos. Ele tem razão, algo não se encaixa. Os
malditos italianos conseguiram entrar sem que sequer os alarmes fossem disparados, e nem sua
chegada foi vista. Eles pareciam saber onde fica cada coisa.
O grito de Igor me traz de volta. Olho para ele e vislumbro sangue em seu braço
esquerdo. Ele foi atingido de raspão. Droga! Saio de trás da pilastra e atiro, derrubando cada
inimigo no caminho, esquivando-me das balas em minha direção. Um arrepio gelado percorre
minhas veias quando sou surpreendido pelo frio do aço contra minha nuca e, de súbito, minhas
armas são arrancadas das minhas mãos.
— Ajoelhe-se, porra! — Dário late em um rugido.
Travo o maxilar e permaneço em meus próprios pés. Prefiro morrer a ficar de joelhos
para esse bastardo. Quando não cumpro sua ordem, da minha visão periférica, vejo homens da
minha equipe se ajoelharem com armas apontadas para suas cabeças. Com um estampido, a vida
é sugada e somente olhos desfocados restam deles e seus corpos são mergulhados em poças
extensas de sangue.
O aperto em meu maxilar vacila quando Igor, sangrando, é jogado ao meu lado, com
suas mãos com as palmas viradas para cima.
— Você pagará por torturar meu irmão, mas, por ora, diga onde está Milena Salvatore?
— exige, chutando minhas panturrilhas e me fazendo cair de joelhos.
Solto um sorriso distorcido, reprimindo um gemido de dor.
— Isso não é nada. Você torturou o meu irmão até a morte, nos enviou a cabeça para nos
provocar, nos emboscou, matou o meu pai e, de quebra, me deixou em coma. — A raiva começa
a fervilhar sob a minha pele, então encolho os ombros.
— Isso foi apenas uma pequena retribuição. Então, mate-me — provoco, recebendo
outro soco no estômago. Só assim serei impedido de matá-lo com minhas próprias.
— Bastardo! — rosna em um tom sombrio. — Outro golpe me acerta, fazendo-me
curvar de dor.
— Você está certo em absolutamente tudo, Volkov, exceto que foram vocês que
começaram tudo, principalmente ao sequestrar a minha esposa grávida e torturá-la.
Minha expressão escurece e aperto o maxilar ao encará-lo. Como ele ousa negar o que
fez?
— Você e seus irmãos serão os próximos. Estou perdendo a paciência, Volkov! Diga, ou
estouro os miolos desse infeliz. — Aponta a arma para Igor.
Fecho os olhos, inspirando com força minha mente acelerada, tentando encontrar uma
maneira de quebrá-lo quando uma voz aveludada estala entre nós.
— Estou aqui! — Milena grita. — Por favor, não faça nada com eles.
Um rosnado profundo soa do fundo da minha garganta quando nossos olhares se
encontram.
Milena pisca, afastando as lágrimas do rosto, e caminha em nossa direção. Tento me
levantar, mas sou impedido pelo aperto de aço de Dário sobre meu ombro.
— Milena, o que está dizendo? Esses malditos a sequestraram e a mantiveram presa em
uma masmorra. Por que se importa tanto com a vida deles? — questiona indignado, irritação
fluindo de sua voz.
Minha coluna se enrijece com suas palavras. Dário certamente recebeu informações do
castelo por algum traidor, e só há uma pessoa na minha mente agora. Konstantin.
— Eu só não quero que mais sangue seja derramado por minha causa — murmura com a
voz embargada, e engulo o nó crescendo em minha garganta. Milena cessa os passos, pairando
ao lado de Dário, seu perfume suave me envolvendo como o calor de seus braços em mim.
— Você já devia saber que, em nosso mundo, tudo acaba em sangue. Não se preocupe,
nós vingaremos sua honra; agora afaste-se, Pablo a levará até o nosso carro e ficará segura.
Quando Dário termina de falar, longas pernas masculinas trajando terno escuro se
aproximam e param na frente de Milena, segurando-a pelo braço.
— Tire as mãos dela, porra! — rosno, me desvencilhando do seu agarre, meu
temperamento fervendo em ondas. Milena é minha, mesmo não ficando mais juntos, não quero
que outro homem a toque.
Novamente, sou agarrado em uma chave de braço, meus punhos imobilizados nas costas.
Parece que o subestimei, mas ver a desolação no rosto delicado de Milena e as mãos de outro
homem sobre ela é o bastante para me fazer reagir.
— Esse foi o último prego no seu caixão, infeliz — ameaça em um rosnado apontando
sua arma em direção. Cerro os dentes, contendo o desejo mordaz de atirar em sua cabeça. — Não
sou benevolente. Por isso, não pense que morrerá de maneira fácil, irei devolver cada maldita
tortura infligida a Alessio. Cada maldito grito arrancado dos seus lábios.
O cano da sua pistola reluz sobre o brilho da lanterna quando Dário a engatilha,
apontando-a para a minha perna direita, pronto para atirar quando um pequeno ser com um metro
e sessenta se interpõe entre nós, seu corpo funcionando como uma espécie de escudo.
Agarro os seus ombros, rangendo os dentes, tentando empurrá-la para trás de mim.
Milena se debate sob meu toque, os olhos brilhando com lágrimas e o queixo trêmulo.
— O que está fazendo, Milena? Perdeu o juízo? — Dário rosna e, ao encarar sua face,
realização preenche os seus olhos.
— Não posso acreditar, você está… protegendo ele? O homem que assassinou o seu
irmão, a sequestrou e a submeteu a situações inaceitáveis?
Milena encolhe os ombros, um soluço escapando de seus lábios e o som cru me rasgando
por dentro.
— De todas as pessoas no mundo, você é a única que não pode me julgar! — Ela ofega,
e Dário avança um passo, seu maxilar tenso enquanto sua arma continua apontada para mim.
— Você está fora de si. Agora saia da frente e deixe que eu lide com ele.
Negando veementemente, ela ergue o queixo e lágrimas escorrem por suas bochechas.
— Por quê? — Ele estreita o olhar, analisando-a meticulosamente.
Uma pausa se segue até seu suspiro ecoar entre nós e, abaixando a cabeça, ela sussurra;
— Porque eu o amo. É isso! Eu amo Aleksey Volkov.
O rosto de Dário está tenso de fúria e, a cada segundo, ela se intensifica, enquanto o meu
corpo paralisa, preso em suas palavras. Apesar de tê-la ouvido na outra noite, escutá-la
novamente faz meu coração querer saltar fora do peito.
As sobrancelhas de Pablo se contraem, agora ao lado do irmão, que continua a fitá-la
com um olhar severo.
— Não sabe o que está dizendo. Isso acontece e é uma doença, síndrome de Estocolmo,
bastam algumas sessões de terapia e você esquecerá essa besteira — murmura em seu tom
apático.
Meu sangue ferve em minhas veias e, antes que eu possa dizer alguma coisa, Milena
avança até estar a um fio de distância dele, seus olhos faiscando uma fúria assassina arranhando
a superfície, pronta para ser liberta.
— Você acha que sessões de terapias vão apagar o que sentimos? — Milena retruca com
coragem, desafiando Dário.
Sinto um aperto no peito ao testemunhar a bravura dela diante do homem cuja alma é tão
sombria e cruel quanto a minha.
— Bem, seu amor não mudará a situação aqui. É uma pena que terei que tirar essa ilusão
de você.
A tensão no ar é quase palpável quando ele acena para seus capangas, instigando-os a
agir.
Milena estremece, e eu a agarro novamente, dessa vez conseguindo colocá-la para trás,
com meu corpo protegendo o seu. Ela se agarra ao meu suéter preto e, de relance, vejo algo
brilhar em uma das torres que ainda restou. Merda! Um atirador. Milena grita e tenta passar por
mim, mas, agindo por impulso, a empurro para longe quando um impacto lancinante acerta o
meu peito em cheio. Ofego, perdendo o equilíbrio e caio de joelhos. Minha visão fica embaçada,
mas não passa despercebido o sorriso de satisfação escorregando dos lábios de Dário e de seu
conselheiro.
— A propósito, cortesia do seu tio. Konstantin manda lembranças. — Sua voz sai firme
e ameaçadora. — Isso é só o início do seu fim, Volkov
Capítulo 26

A voz de Dário reverbera, congelando tudo diante dos meus olhos. Minha pulsação
dispara e, movida pelo desespero, corro na direção de Aleksey. Minhas mãos trêmulas e
desesperadas alcançam-no no chão. O líquido viscoso e carmesim cobre minhas mãos, e soluços
irrompem do fundo da minha garganta. Suas pálpebras vibram, lutando para manter os olhos
abertos.
A voz de Igor ecoa atrás de mim, e sons de socos são trocados. Meu coração bate
descompassado enquanto eu tento desesperadamente conter a hemorragia, mas o sangue escapa
entre meus dedos. As lágrimas turvam minha visão, e meu corpo treme com a urgência e o medo.
— Aguenta firme, Aleksey. Você vai ficar bem. — Minha voz treme, mas busco manter
a calma.
— Malyshka… — Sua voz não passa de um sussurro frágil.
Pego em sua mão e a aperto, levando-a até a minha face, com minhas lágrimas
derramando em cascata sobre ela.
— Não. Por favor…, não fale nada — digo, acariciando seu rosto e vislumbrando
resignação brilhar através dos seus olhos.
— Milena, levante-se e se afaste desse infeliz! — Dário ruge, mas me nego,
pressionando-me ainda mais contra seu corpo.
— Vá! — Aleksey murmura com a respiração entrecortada.
Me inclino para trás, analisando sua expressão em branco.
Franzo o cenho, e os meus lábios trêmulos desejam ter entendido errado. Aleksey se
retira do meu toque e seu olhar indecifrável encontra o meu.
— Acabou, Milena! Sinto muito, você não é mais útil para mim.
Meu corpo endurece e não consigo deixar de sentir uma sensação de sufocamento, como
se estivesse me afogando em cada maldita palavra. Aleksey não está fazendo sentido.
— Você o ouviu, vamos embora — Dário insiste, mas não consigo ouvi-lo agora, pois
estou distante demais, tentando decifrar a indiferença estampada no rosto de Aleksey. Será que
ele me enganou todo esse tempo? Não signifiquei nada para ele? Mordo o lábio inferior e respiro
fundo, limpando as lágrimas das minhas bochechas.
— Aleksey, eu não estou entendendo. Por que… está fazendo tudo isso?
Seus olhos brilham, e o aperto em seu maxilar não passa despercebido. Uma fachada
perfeita de indiferença, mas sinto que há algo por trás de suas palavras ditas.
— Vamos, não se faça de boba. — Ele sorri com dificuldade. — Você foi uma boa
trepada, Salvatore. Mas me cansei, enjoo facilmente.
Meu coração dá um salto, e eu tremo com o esforço de não quebrar completamente
diante dos seus olhos.
— Você não pode estar falando sério… — lamento.
Piscando através das lágrimas que brotam dos meus olhos, eu tropeço para longe dele.
— Pelo amor de Deus! — Dário rosna entre dentes. — Não se humilhe ainda mais.
Levante-se, porra!
Eu estremeço diante do tom raivoso, mas, ainda assim, não me movo um centímetro
sequer, completamente entorpecida.
— Porra, Aleksey, o que pensa que está fazendo? — Ouço a voz abafada de Igor gritar
de algum lugar.
Aleksey o ignora e volta a focar seus olhos frios nos meus.
— Vá embora de uma vez, Milena. Como já disse, você não é mais útil, é carta fora do
baralho, completamente esquecível.
Um som cru e avassalador escapa dos meus lábios e, por um instante, juro ter visto sua
expressão implacável desmoronar. Eu não entendo… Por que Aleksey está sendo tão cruel e
insensível? Como ele tem coragem de esmagar o meu coração e transformá-lo em fragmentos
estúpidos? Estou tão imersa que mal percebo o meu estado de entorpecimento até braços me
arrancarem desse estado rudemente.
— Ela está em choque. Vamos levá-la para a mansão. — Dessa vez é a voz de Pablo que
me alcança, e seus olhos escuros como os de Aleksey me encaram com pena.
Mordo o lábio inferior, reprimindo a represa de lágrimas que ameaça se derramar e,
mesmo estando com o coração sangrando com a cruel rejeição de Aleksey, imploro pela sua
vida. Não saberia lidar com a sua morte.
Corro na direção de Dário, exausta, agarrando as lapelas do seu elegante terno preto.
Seus olhos se estreitam e as linhas duras de seu rosto esculpido se tornam aço.
— Eu irei com vocês, mas, por favor, não faça nada com eles.
Uma risada anasalada lhe escapa, e ele nega com um rosnado.
— Pare de implorar por eles. Eles morrerão e ponto-final.
Choro descontroladamente.
Pablo o envia um olhar estranho antes que Dário segure minhas mãos e as remova do seu
terno com um suspiro profundo.
— Tudo bem, vamos embora. Não os matarei hoje, mas não pensem que isso me
impedirá de matá-los em um futuro breve.
Solto um suspiro de alívio, e as lágrimas continuam a ter o melhor de mim.
Quando Dário, Pablo e seus homens me escoltam para longe do castelo, desmorono de
uma vez, evitando a todo custo me virar e olhar para trás, onde enterrei o meu coração e, junto
dele, a capacidade de amar.
Venho chorando por todo caminho. Chorei dentro do carro até adormecer e acordei horas
depois em seu jato particular.
Quando Ilia me conduziu até o bunker com Irina, Maskin surtou e desejava sair a todo
custo, mas o chefe de segurança de Aleksey conseguiu acalmá-lo. A situação desandou com a
chegada de Ivan ferido, e foi então que Maskin ordenou que eu fosse para a linha de frente para
salvar seus irmãos. No fundo, eu sabia que era a única que podia fazer isso, pois tudo estava
acontecendo por minha causa. Não hesitei. O amor nos dá coragem e nos cega, transformando-
nos em seres irracionais. Amo Aleksey e me atiraria no fogo por ele, se necessário. No entanto,
agora vejo a cruel realidade. Quão estúpida fui ao deixar o amor se tornar o meu maior erro!

Cansada e envergonhada, decido que quero ficar sozinha. Enquanto Dário está focado
em algo em seu celular, limpo a garganta, chamando sua atenção. Ele passa as mãos pelo cabelo
preto, lançando-me um olhar afiado.
— Não quero ir para a sua mansão — digo, umedecendo os lábios. — Deixe-me em
algum hotel em Chicago e diga a Mia que não precisa se preocupar comigo.
Mal me olha, voltando a focar no celular.
— No. Você irá para a mansão, onde estará protegida. Isso não está em discussão.
Solto um grunhido exasperado, cerrando os punhos ao lado do corpo, sentindo minhas
unhas cavarem a pele. Não quero que todos sintam pena de mim. Preciso ficar sozinha, lamber
minhas feridas e me acostumar com a ideia de que é assim que minha vida será de agora em
diante, completamente solitária.
— Realmente preciso ficar sozinha. Se deseja o meu bem-estar, me deixe digerir tudo e
colocar os pensamentos em ordem. Por favor…, me deixe fazer isso.
Uma batida se segue antes dele concordar com uma respiração profunda. Seja lá o que
ele tenha visto nos meus olhos, o fez mudar de ideia.
— Mas só a deixarei ir se cumprir minhas condições — fala, categórico em suas últimas
palavras.
Eu aceitaria tudo se isso me fizesse desaparecer para o mundo.
Na manhã seguinte, fui deixada em uma cobertura de Dário em Chicago, com uma
segurança reforçada que ninguém ousaria lidar. Essas foram as suas exigências. Era pegar ou
largar, e então eu as agarrei como se minha vida dependesse disso.
Estava imersa em um turbilhão de sentimentos, meu peito se apertava a cada repetição
das palavras de Aleksey em minha mente. Acreditei que o ver ferido pela segunda vez fosse o
ápice do meu desespero, mas estava enganada, sua rejeição não foi só humilhante, mais um golpe
cruel que matou qualquer sentimento bom que existia dentro de mim.
A pressão em meu peito se torna esmagadora, não consigo novamente controlar as
lágrimas. Soluços feios e intensos ecoam pelo quarto e deito-me na cama em posição fetal,
deixando que o mundo se apague lá fora.
Na manhã seguinte, não atendi as ligações das minhas irmãs, nem no dia posterior, no
outro e no outro. Perdi as contas de quantas ligações e chamadas de vídeo recebi, além das
mensagens. Não tenho coragem de encará-las agora. Já não basta Dário e Pablo terem
presenciado o momento que Aleksey me chutou para longe como se eu não fosse nada, olhá-las
nos olhos seria doloroso demais, porque sei que veria pena em seus olhos. Então continuo
fazendo o que faço de melhor: mergulhar-me em autopiedade.
Os dias seguintes foram iguais, entrando em um ciclo onde a autopiedade foi o primeiro
estágio; o segundo, um amargo gosto de negação, onde meu coração se recusava a aceitar que
todos os momentos entregues em total luxúria e paixão não passaram de um plano, e Aleksey só
estava me usando. O terceiro e último estágio trouxe raiva e traição ardendo dentro de mim. Não
queria mais ficar confinada derramando lágrimas por ele. Eu queria machucá-lo tanto quanto ele
me machucou, desejava que Aleksey sofresse e, no final, se arrependesse de tudo o que me disse.
Mas, quando esse momento chegasse, seria tarde demais.
Uma semana depois, ao abrir a porta, Mia e Giovanna, completamente grávidas, vestindo
estampas de girassóis e rosas-vermelhas, saltaram em minha direção. Elas passaram pela porta e
me envolveram em um abraço de urso, sem me dar tempo sequer para respirar. Lágrimas
desciam livremente pelos nossos rostos, transformando-nos em uma verdadeira bagunça
sentimental. Mia e Giovanna, mesmo sem entender totalmente o que aconteceu, compartilharam
a minha dor e, no abraço apertado delas, sinto um lampejo de calor humano. Suspiro, percebendo
que eu precisava disso, o carinho das minhas irmãs é como um bálsamo para a minha alma
dilacerada.
— Milena, desculpe, sabemos que queria ficar sozinha, mas precisávamos vê-la, saber
como está. Sabe que sempre estaremos aqui quando precisar — Mia murmura, tentando conter as
próprias lágrimas.
Giovanna assente com seus olhos expressando uma mistura de compaixão e fúria
contida.
— Quem é esse Aleksey? Precisamos resolver isso, não podemos deixá-lo sair impune.
Balanço a cabeça, afastando-me do abraço para encará-las. Limpo as lágrimas e forço
um sorriso trêmulo.
— Obrigada por estarem aqui, mas não quero mais falar sobre isso.
Mia suspira e seu polegar acaricia a minha bochecha.
— Tudo bem, não importa, de todo modo, acabou!
Meus lábios se curvam e aperto-os em uma linha fina. Acabou? Minha mente ecoa e uma
lágrima solitária rola, cessando na curva dos meus lábios. Giovanna se aproxima mais uma vez,
seu olhar sagaz vendo através de mim, desnudando minha alma.
— Milena… — diz, me envolvendo em seus braços.
— Não acabou, não é? Você o ama — sussurra no meu ouvido, e as lágrimas que tenho
reprimido por algum tempo se derramam, molhando nossas bochechas.
— Giovanna, eu... eu não sei — respondo com a voz embargada.
Ela se afasta um pouco para olhar em meus olhos, suas mãos firmes segurando meus
ombros.
— Dário e Pablo estão furiosos por não ter dado um fim naquele infeliz — comenta e
seus olhos se desviam para Mia por um segundo, que morde o lábio inferior e continua.
— Mas eles nos disseram algo. Você os enfrentou, estava disposta a tomar uma bala por
ele. E, apesar dele ter dito coisas horríveis para você, ele se importava e parecia sentir algo...
— Não! — grito, interrompendo-a.
Se quero esquecê-lo, não posso me encher de falsas esperanças. Aleksey foi claro ao
dizer que eu sou completamente esquecível. Fecho os olhos, enxugando as lágrimas com o dorso
da mão, e suspiro, guiando-nos até as poltronas na sala principal, mudando de assunto.
— Eu só não entendi como eles conseguiram a localização do castelo. Aleksey e seus
irmãos se orgulhavam da segurança deles e sempre falavam que estavam a um passo à frente de
qualquer ameaça.
Giovana franze a testa, pensativa.
— Pode ter havido um traidor entre eles. Alguém de dentro que forneceu informações.
Isso não é incomum em ambientes como o deles. — Encolhe os ombros.
Mia limpa a garganta, seus olhos azuis como os meus, brilhando pequenas lascas de
hesitação.
— Na verdade, em uma noite, escutei Dário e Pablo falarem sobre um benfeitor que
havia entregado a localização do castelo e uma planta de lá. Se não estiver errada, seu nome é…
Konstantin, isso.
— Maldito! — cuspo, dando-me conta de que ele seria o único a fazer isso. Pelo visto,
apunhalar as pessoas pelas costas é a marca registrada dos Volkov, penso com amargura.
Milena e Giovanna arregalam os olhos, e estremeço. Esse não é mais um assunto meu.
Nunca foi. Milena…, apenas deixe ir. Esfrego as mãos na barra do meu vestido preto e de
repente me sentindo doente. Não quero mais ter que ouvi-las falar sobre ele. Por isso, sirvo
xícaras de chás e torradas. Nossa conversa tensa de antes toma um rumo alegre, falando dos
meus sobrinhos.
Um mês antes do meu casamento com Massimo, Mia e Giovanna me contaram sobre
ambas as gravidezes. Fiquei em êxtase, desejando acompanhar o nascimento de cada um e vê-los
crescer. Agora, sem Enrico ditando regras, posso realizar o meu desejo.
Mia está com cinco meses de gravidez, com sua barriga visivelmente arredondada,
enquanto Giovanna, grávida de gêmeos, está com quatro meses e exibe uma barriguinha um
pouco maior. Independente de sabermos o sexo, visto que todos escolheram saber no dia do
nascimento, já são imensamente amados. Acaricio a barriga delas, sentindo a sensação gostosa
de senti-los ali dentro, sabendo que estão crescendo fortes e saudáveis.
Olho para as minhas irmãs, e uma felicidade avassaladora me invade. Para protegê-las,
eu moveria céus e terra, pisaria em brasas e repetiria isso quantas vezes fosse necessário. Pela
minha família, seria capaz de tudo.
O bate-papo segue entre risadas e lembranças da nossa infância até uma batida forte
ecoar na porta. Abro-a, e o rosto de Dário surge e sua expressão de poucos amigos revela que ele
ainda não se conforma com o que aconteceu. Mia anda até ele e o beija nos lábios. Dário acaricia
sua bochecha e ergue suavemente seu queixo, mordiscando-o de leve, arrancando um suspiro
baixo dela. Um rubor maldito explode em minhas bochechas e eu limpo a garganta, despedindo-
me de Giovanna, que reprime uma risada e, em seguida, de Mia, comprometendo-me visitá-las
na Sicília em breve.
Dário, com sua expressão estoica, apenas acena antes de praticamente arrastá-las para
fora.
Capítulo 27

O bip da máquina ecoa no silêncio. Meus olhos percorrem as paredes tingidas de branco
fosco, um quase cinza, assim como minha alma. Dizer tudo aquilo para Milena foi doloroso;
cada palavra foi como um punhal cravado fundo no meu peito. Desejei retirá-las no segundo
seguinte que vi seus olhos azuis vívidos perderem o brilho, presenciando suas lágrimas
derramadas, a súplica e a dor crua em sua voz.
Quando a vi partir, uma parte de mim se desfez. Cada passo que ela dava para longe
parecia uma eternidade. Mesmo sabendo que era necessário, não consegui evitar a sensação de
que estava arrancando meu próprio coração. Eu a machuquei profundamente, e essa consciência
se manifesta como um fardo insuportável, pesando sobre mim enquanto permaneço nessa sala
estéril, aguardando que o tempo cure feridas que eu mesmo causei.
Após a invasão no castelo, quando Dário e Pablo se retiraram com Milena, ele fez um
sinal discretamente para um dos seus homens e eles se moveram. A intenção era clara. Seríamos
levados para sermos torturados até a morte se reforços não tivessem chegado a tempo. Seria o
nosso fim. Então, buscamos refúgio em uma mansão com uma localização segura. O castelo
havia sido destruído, além das muitas baixas que tivemos com nossos homens.
Não voltaremos mais para lá, embora ele esteja sendo reconstruído. Queremos um novo
recomeço, Maskin, Ivan, Igor e eu, mesmo que seja difícil, especialmente por sentir o peso
esmagador da perda. Queria proteger Milena, não a arrastá-la para as minhas batalhas. Um
pânico me invade só de imaginar viver em um mundo onde ela fosse ferida ou não existisse. Ela
pode estar me odiando agora, mas tudo o que fiz foi para mantê-la fora da minha escuridão.
Milena é um ser de luz, e não queria manchá-la com toda a sujeira que me acompanha.
Da minha visão periférica, vejo Igor deitado em outra maca com sua expressão serena
enquanto ressona baixo. Estamos em um hospital mantido na folha de pagamento da Bratva para
casos urgentes. Enquanto observo meu irmão dormir, minha mente vagueia pelos eventos
recentes. Eu relembrei tudo e as memórias explodiram em minha mente como fogos de artifício.
Minha relação tumultuada com meu pai, constantes embates devido às suas atitudes e métodos
que eu não concordava. Sua ambição o cegou, e seu ódio pelos Salvatore o levou a persuadir
Jason a seduzir Mia, uma das filhas da família rival. O plano era arruinar a reputação dos
Salvatore através da filha prometida a Dário Ruggiero, e isso foi apenas a ponta do iceberg.
Jason, o filho preferido de Ryan Lewis, o famoso juiz de Chicago, foi morto e, movido pelo
desejo de vingança, meu pai nos levou a sequestrar a esposa do capo da Cosa Nostra.
Nikita nunca foi um pai exemplar e nunca nos considerou verdadeiramente seus filhos,
apenas Jason tinha sua preferência. Estou à beira da insanidade, se ele estivesse vivo agora, não
hesitaria em arrancar sua vida com minhas próprias mãos. Nosso pai, todo esse tempo, foi o
carrasco, e minha busca por vingança sempre foi vazia. No entanto, terei que segurar a fúria de
Alessio Ruggiero e, em algum momento, a minha conta chegará, mas não posso culpá-lo.
Submeti-o a torturas bárbaras, eu, no seu lugar, procuraria retaliação da mesma forma. E isso é
um ponto que temos em comum. Se temos um motivo para machucar e matar, não sossegaremos
até irmos às últimas consequências.
Deixo minha mente navegar até minhas pálpebras pesarem e a escuridão me envolver em
um sono profundo, acordando horas depois com a enfermeira verificando os meus sinais vitais.
Segundo o médico, a bala foi retirada com sucesso e por um milagre não atingiu nenhum órgão
vital, o que tornará a recuperação mais rápida. Tive sorte pela segunda vez, mas acho que, em
uma terceira vez, ela não se repetirá.
Conforme os dias passam, sinto a falta dela. O rosto de Milena está em meus sonhos e,
também, pesadelos, onde revivo, todas as noites, o momento em que vi ela partir. Acordo
molhado de suor, com um emaranhado de culpa e arrependimento. Para o seu próprio bem, tento
bloquear todos os nossos momentos juntos, não ter Milena ao meu lado está me deixando
maluco. Após um mês fora do hospital, me concentro em colocar os negócios em ordem. Mesmo
que, por dentro, nada esteja.
Consegui novos aliados e descobri que Konstantin não tem só a Bratva em seu encalço,
mas um líder do cartel do México também havia colocado sua cabeça a prêmio. Agora é questão
de tempo até descobrimos a sua localização. Sua sentença de morte já foi decretada, e nem a
Cosa Nostra, que parece ser sua aliada, terá nada a fazer.
Enquanto mantenho a mente ocupada, Ivan me surpreendeu em uma noite com um
dossiê sobre Milena, todos os seus passos desde que ela saiu de Moscou até o momento que
desembarcou em Chicago. Ela está hospedada em uma cobertura de Dário Ruggiero, o que
despertou uma fúria assassina dentro de mim. O infeliz está a vigiando dia e noite e, mesmo que
eu lute bravamente, não suportarei ficar longe dela por muito tempo. E esta pode ser a minha
ruína, mas, se eu tiver que ser morto para ver o seu rosto uma última vez, minha morte terá
valido a pena.

A irresistível tentação de vê-la, mesmo à distância, me dominou. Decidido a mandar a


razão para o espaço, preparei meu jato particular para Chicago, com Igor como minha silenciosa
companhia. Embora ele aja com indiferença, sei que há algo relacionado ao fato de estarmos em
território inimigo. Igor teme que Alessio me encontre. Estamos há uma semana em Chicago e
tenho observado Milena de longe. Meu coração acelera a cada vislumbre de sua presença. O fio
tênue que segurava minha decisão de ficar afastado se rompeu, e agora, contra minha própria
lógica, sigo seus passos discretamente, como uma sombra que não consegue resistir à luz.
Tenho a seguido como um verdadeiro stalker e deveria me envergonhar disso, mas
nunca fiz o certo na minha vida, não começarei a fazer agora. Estou a par dos horários das aulas
de ioga, qual dia ela costuma ir a sua psicóloga, e até mesmo suas caminhadas matinais. Milena,
às vezes, anda até o parque e se senta em um banco acompanhada de um livro, e ali ela passa
horas absorvida em suas leituras, até que o sol se ponha completamente.
Observar sua rotina tornou-se uma necessidade, uma tentativa desesperada de me sentir
conectado, mesmo que seja apenas através da distância. Sei que esse comportamento é
condenável, mas a sede de tê-la, nem que seja somente visualmente, é mais forte do que qualquer
resquício de moralidade que ainda habite em mim. Enquanto ela mergulha nas páginas de seu
livro, fico ali, escondido nas sombras, como um intruso silencioso em sua vida.
No dia seguinte, como de costume, a sigo. O aperto em meu maxilar se torna mortal
quando vejo Milena voltar da sua aula de ioga, mas continuo a acompanhado de longe, mesmo
correndo o risco dos homens do Dário nos emboscar em uma das minhas espreitas. Já que a
seguem também a distância. Não pretendo fazer contato, sei que, aos poucos, sua vida está
voltando ao normal. Milena parece bem, e isso me deixa orgulhoso, sempre soube que, por trás
de toda doçura e suavidade, existia uma guerreira capaz de lutar suas próprias batalhas. O som do
grunhido impaciente de Igor ao meu lado me faz despertar dos meus devaneios.
— Até quando vamos ficar em Chicago, no encalço dela? — pergunta em voz tensa. Não
olho para ele, continuando a minha missão de adorá-la à distância. Estamos disfarçados em uma
van de pet shop, trajando uniformes laranja, boné e óculos escuros.
— Se a ama realmente, vá até ela, Aleksey. A confronte e confessa que se arrependeu de
tudo que fez e disse. Implore se for possível ou uma hora você vai acordar um belo dia e a
encontrará casada com os seus próprios filhos e você seguirá ressentido pelo resto da sua vida.
Uma veia salta do meu pescoço, e minha mente começa a girar, imaginando o cenário.
Milena vestida de noiva caminhando em direção ao seu noivo, um homem bondoso e com um
sorriso fácil. Ela reflete o sorriso dele enquanto avança com os olhos brilhando, exalando um
calor suave capaz de aquecer todos ao seu redor. Ela pronunciando o tão esperado "sim", e os
dois se casam. Após um ano de felicidade, celebram a chegada do primeiro filho. Cada
pensamento parece torcer minhas entranhas. E eu observo-a sorrindo docemente para um casal
de idosos e, em seguida, alimentando os pombos que pousam ao seu lado, com um segurança
mantendo distância.
É nesse momento que decido: não importa quão sombria seja minha alma, nem como
conseguirei seu perdão, no dia do casamento, é em minha direção que Milena caminhará, é um
"sim" que escutarei caindo de seus lábios, e usarei todas as cartas na manga, mas a terei de volta
em meus braços, em minha cama e em minha vida. Milena Salvatore será minha esposa e a mãe
dos meus filhos.
— Não se preocupe, meu irmão, isso não está acontecendo. Milena é minha, e darei o
espaço que ela precisa antes de reivindicá-la de uma vez por todas.
Capítulo 28

Observo o pôr do sol pela ampla janela da cobertura. Há alguns dias, decidi que
precisava de novos ares; talvez uma viagem me fizesse bem. Após pesquisar alguns lugares,
escolhi Paris. Meu pai prometeu que, algum dia, faríamos essa viagem juntos, mas ele nunca
cumpriu a promessa. Chegou a hora de erguer a cabeça e apreciar minha própria companhia.
Ao fechar a minha pequena mala, o som de uma mensagem em meu novo celular indica
a insatisfação de Dário com minha decisão. No entanto, lembrei-lhe que sou adulta e que não
serei sua prisioneira. Já passei por isso e ainda tento seguir em frente, reprimindo todos os meus
anseios, dores e sentimentos que a experiência me causou, bloqueando lembranças dolorosas que
ainda tentam emergir.
Paris será meu refúgio, um lugar para recomeçar e redescobrir a Milena que ficou
perdida no caminho. Enquanto as luzes da cidade se acendem, sinto um frio na barriga, misturada
com uma pitada de empolgação. O futuro é incerto, mas talvez seja exatamente isso que eu
precise. Alcanço o celular entre os dedos e abro outra mensagem, desta vez de Mia. Ela informa
que um carro me pegará em breve e que um jato já está pronto para minha viagem. Agradeço
sem hesitar, adicionando um emoji de coração.
Sete horas depois, estou desembarcando na Cidade Luz. Encontrei um hotel para me
hospedar, não sei quantos dias ficarei aqui, mas, quem sabe, não resolvo fixar minhas raízes de
vez. Excitação reveste as minhas entranhas, mas farei de tudo para essa cidade ser o meu novo
lar. Após tomar um longo banho e dissipar o pouco da exaustão, uma batida na porta ecoa e
mordo o lábio inferior nervosamente. Não havia feito nenhum pedido, muito menos esperava por
algum. O lado masoquista que habita em mim me faz estremecer, sentindo a minha pulsação
acelerar bruscamente. Será que é… balanço a cabeça e nego com os punhos cerrados.
Ando até a porta em passos firmes e a abro, encontrando um funcionário do hotel
trajando um uniforme vermelho, que me entrega um pequeno cartão e uma garrafa de vinho rosê
francês. Meus dedos se fecham em torno do cartão e um arrepio dispara em minha nuca como
uma espécie de premonição. Quando pergunto quem me enviou a garrafa, ele apenas dá de
ombros e se nega dar a informação, saindo em seguida.
Leio o bilhete com minhas mãos trêmulas, sentindo o ar escapar dos meus pulmões.
Não, Não! Ele não tem o direito!
“Eu sempre irei alcançá-la, malyshka”.
Meu coração bate descompassado enquanto leio as palavras impregnadas de possessão e
determinação no bilhete. A sensação de ser perseguida, mesmo a milhares de quilômetros de
distância, faz minha respiração vacilar. Ele não pode confundir a minha mente, não agora que
estou tentando me reerguer.
Jogo o cartão no lixo e passo a chave, trancando a porta, só por precaução. Meus olhos
disparam para a garrafa intocada e busco um saca rolha, não quero mais pensar em nada. Nele.
Então começo a tomar o líquido rosa pálido, no entanto, mesmo o néctar francês não é capaz de
dissipar a ansiedade que agora se instala em meu peito.
Deixando a garrafa de lado, procuro alguma distração no ambiente parisiense. Abro a
janela e permito que a brisa suave entre, trazendo consigo o aroma característico da cidade. O
calor do vinho ainda se mistura com a atmosfera fresca da noite, mas minha mente está em um
turbilhão. O grande e único culpado: Aleksey Volkov.
Na manhã seguinte, desperto com uma sutil dor de cabeça, mas não permito que isso me
impeça de explorar a cidade. Levanto-me e me arrumo com um vestido verde-esmeralda que
alcança abaixo dos joelhos, um par de botas pretas de cano alto, um sobretudo branco e uma
boina da mesma cor.
Caminho pelas ruas de paralelepípedos, absorvendo a arquitetura encantadora e o charme
único de Paris. Os cafés à beira da calçada convidam-me a saborear um croissant fresco enquanto
observo as pessoas passando. De repente, os pelos da minha nuca se arrepia e a sensação de estar
sendo vigiada surge. É como se meu corpo estivesse em sintonia, vibrando como se reconhecesse
o perigo.
Do outro lado da rua, vejo uma sombra. Olhos pretos, expressão impassível, trajando um
sobretudo longo e preto, e gorro da mesma cor, fitando-me com uma intensidade que posso sentir
na minha pele. A xícara de café paira a meio caminho dos meus lábios, com meus dedos
trêmulos, a abaixo, e fecho os olhos, jurando estar tendo alucinações. Abro os olhos com uma
respiração artificial, olhando na mesma direção. Nada. Solto um suspiro aliviada, mas uma parte
masoquista minha está completamente decepcionada. Inacreditável. Preciso mesmo pensar em
Aleksey depois de tudo que ele me fez e numa cidade tão maravilhosa?
Além disso, não tem a menor possibilidade de Aleksey estar aqui, e muito menos como
uma espécie de stalker. Não faz o tipo dele. Insensível, frio e completamente indiferente.
Após uma manhã inteira de passeios, volto para o apartamento, encontrando alguns
vasos com rosas de todas as cores e uma raposa de pelúcia na frente da minha porta. Minha
garganta arranha quando eu a alcanço em meus braços e uma raiva contida ameaça explodir no
meu peito. Quero olhar em seus olhos, gritar com ele e perguntar o que ele quer de mim depois
de ter me destruído completamente, apenas restando uma carcaça vazia, sem esperanças de
encontrar um amor que valha a pena.
Olho para um buquê de rosas ao lado e lá está outro cartão. Inclinando minha cabeça
para o lado, amaldiçoo baixinho, lendo a única frase que está escrito dusha moya (minha alma
gêmea).
Mordo o lábio inferior até sentir o gosto metálico explodir na minha boca, preciso sentir
dor e me lembrar como é ter o coração quebrado por um homem, cuja sede de vingança o cegou
para o mundo. Ele se recusou a ver o que tínhamos e a enxergar que eu o amava.
Abro a porta, ignorando as rosas lá fora, caminhando até a lixeira mais próxima e
jogando o cartão lá. Agora, mais do que nunca, eu sei e sinto que Aleksey está mais perto do que
antes. E, se for preciso confrontá-lo e pedir para me deixar em paz, eu farei, mesmo que o
simples pensamento de estarmos cara a cara me assuste, deixando-me à beira de um surto. Mas
não irei recuar e deixá-lo pensar que sua presença ainda me afeta. Isso era verdade, ele ainda me
afeta, mas não precisa saber disso.

Se eu pensasse que os seus envios parariam se eu os ignorasse, estava enganada. Eles


eram diários e insistentes, alimentando minha raiva. Eu os jogava no lixo, deixando de lado os
bilhetes frequentes que os acompanhavam. Cansada de ter meu apartamento abarrotado de flores,
e livros, decido sair e testar a sorte. Uma hora ou outra, Aleksey teria que aparecer.
Enquanto andava pelo Parc des Buttes-Chaumont, sentia a brisa suave da tarde acariciar
o meu rosto, carregando consigo o perfume das flores que adornavam os canteiros. As árvores
altas proporcionavam sombras reconfortantes, e o som suave da água corrente adicionava uma
melodia tranquila ao ambiente.
Mesmo em volta da serenidade do parque, minha mente não consegue escapar da tensão
que a persistência de Aleksey causava.
Cesso os meus passos abruptamente, estreitando o olhar para uma van preta com uma
logo de uma floricultura, parada alguns metros de distância. Eu posso estar enganada, mas algo
me diz que Aleksey está por trás disso, já que percebi que essa van sempre está por perto. Não
pode ser só uma coincidência, então, ando até lá. À medida que meus passos se aproximam, a
ansiedade aumenta, formando um nó apertado no meu estômago. Observo ao redor, buscando
algum sinal de Aleksey, ou de algum segurança.
Ao chegar mais perto, noto que a porta lateral da van está entreaberta. Um sinal claro de
que algo está prestes a acontecer. A curiosidade se mistura com a apreensão enquanto tomo a
decisão de abrir a porta e investigar.
Ao fazê-lo, sou recebida pelo interior escuro da van, mas logo a luz de um monitor pisca,
revelando a presença de algum tipo de equipamento. Meus olhos se ajustam, revelando uma tela
com imagens de câmeras de segurança, incluindo vistas do parque onde eu estive momentos
antes.
A percepção se instala: Aleksey não apenas sabia da minha presença, mas estava
monitorando cada passo meu. A raiva se mistura com a perplexidade enquanto tento processar o
alcance da sua vigilância.
Ainda tentando assimilar tudo, sou subitamente surpreendida por uma presença
imponente nas minhas costas e uma respiração quente envolve delicadamente o meu pescoço.
— Sentiu minha falta, lisichka?
Um arrepio percorre meu corpo, mas, para minha total frustração, não é um arrepio
desagradável. Então, as palavras sussurradas em meu ouvido pela sua voz penetrante começam
lentamente a demolir todas as barreiras que construí ao longo desse tempo. Por um momento,
permito-me respirar fundo antes de virar e encarar seus olhos. Meu corpo enrijece e o pânico
sobe na boca do meu estômago. Inspiro trêmula, observando seus olhos escuros com a mesma
intensidade à qual estou acostumada, ombros largos e físico intimidante, como se tivesse
gastado boa parte do seu tempo em uma academia, feições duras, vendo o calor e uma borda
suave brilhar através do seu olhar. Vestindo jeans, um suéter preto e um cachecol da mesma cor,
é como se o tempo não tivesse parado.
Aleksey estende uma mão em direção da minha bochecha, mas recuo, não permitindo
que me toque.
Sua expressão desmorona por um segundo e seus ombros ficam tensos.
— O que estava fazendo aqui, Aleksey? Achei que já tinha dito tudo — pergunto,
exasperada.
Um suspiro profundo escapa de seus e sua expressão resignada vacila.
— Malyshka…, eu não queria te mandar embora, eu só queria… te proteger, não
suportava a ideia de machucá-la de alguma forma e envolvê-la na minha maldita escuridão —
murmura com a voz rouca.
Nossos olhares estão fixos, e sei que eu poderia facilmente acreditar nas suas palavras e
me afogar nas profundezas escuras de seus olhos.
— Eu sinto informar, Aleksey, mas ninguém me machucou tanto como você — digo
com amargura, e ele fecha os olhos, reabrindo com uma pausa.
— Eu só queria um mundo melhor para você, Malyshka, porque o meu mundo de
escuridão e crueldade não a merece. Você é luz e ilumina todos à sua volta.
Meu coração se aperta ao ouvi-lo dizer cada palavra.
Dando um passo à frente, seu polegar desliza em minha bochecha, limpando uma
lágrima solitária.
— Fui um bastardo ao mandá-la ir. Não consigo respirar sem você por perto e, a todo
momento, desejo sentir você em meus braços. Além disso, nos meus sonhos, você é a
protagonista. Malyshka, eu amo você.
Com suas últimas palavras, minha resignação se transforma em pó e as lágrimas que eu
tentei reprimir descem pelas minhas bochechas, como um rastro de pólvora aquecendo minha
pele a ponto de ser doloroso.
Eu sempre desejei ouvi-lo dizer isso, no entanto, ouvi-las agora provoca uma dor
dilacerante no meu peito.
Eu recuo novamente e nego com a voz embargada.
— Pare! — digo entredentes, o fazendo arregalar os olhos.
— Você acha que vir aqui, me stalkear por dias e me enviar presentes vai me fazer
esquecer tudo? Você mandou eu ir, Aleksey! — grito, atraindo olhares de curiosos que passavam
ao nosso lado, mas eu não me importo. — Você me mandou ir quando tudo que eu desejava era
ficar ao seu lado — sussurro a última parte fracamente.
— Eu nunca a deixei ir, Milena. Não de verdade, mesmo quando eu deveria.
Arqueio uma sobrancelha e meus olhos percorrem a minha volta. Aleksey não pode ter
feito o que acho que fez…
— Desde Chicago, você nunca esteve sozinha, malyshka — confessa, confirmando
minhas suspeitas, mas dor atravessa os seus olhos.
Então prendo a respiração quando ele acaba com nossa distância, fazendo minha
pulsação disparar enquanto emoldura a minha face com as mãos.
— Deixa eu adivinhar, você colocou o seu pessoal no meu encalço? — Aleksey sorri,
parecendo culpando.
— Sim, depois de uma pequena substituição dos homens do Dário, exceto que eu me
encarreguei de assumi-la pessoalmente.
Aperto os meus lábios em uma linha fina, meu peito se enchendo de preocupação.
Como se lesse os meus pensamentos, Aleksey ergue o meu queixo gentilmente, seu
toque enviando um rastro de calor em minha pele.
— Ainda tenho o tempo que preciso até que Dário perceba que há algo de errado. Meu
pessoal está fazendo um ótimo trabalho, mandando os relatórios sobre você diariamente, como
os anteriores faziam.
Seu toque desce até a veia pulsante na extensão do meu pescoço, e me perco brevemente
antes de retomar a razão.
— E por que você precisaria de tempo?
Sua expressão escurece e seu maxilar se contrai, então sua testa descansa contra a minha.
— Para levá-la de volta a Moscou. — Solta um suspiro, fazendo-me estremecer com a
veracidade de suas palavras. — O seu lugar é ao meu lado, baby. — Aleksey se afasta, mas ainda
posso sentir o seu calor em cada centímetro do meu corpo. — Não suporto a ideia de existir em
um mundo onde você não está em meus braços. Eu te amo, Milena Salvatore. Mesmo que meu
lado sombrio tente nos alcançar, continuarei amando você com toda a intensidade do meu ser.
Sua mão dispara para cima e agarra o meu queixo. Prendo a respiração, encarando-o enquanto
ele se inclina em direção ao meu rosto. A sensação de rendição cresce no meu peito à medida que
seus lábios roçam suavemente nos meus, provocando uma chama que tentei desesperadamente
manter sob controle.
Então esmago os meus lábios nos seus, aprofundando o beijo e calando todas as dúvidas
e receios que praticamente gritam em minha mente, e me pego envolvendo meus braços ao redor
do seu pescoço. Aleksey segura a minha nuca firmemente, agarrando um punhado do meu
cabelo, e morde o meu lábio inferior, escorregando seus lábios em minha pele, distribuindo
beijos de lábios abertos pelo meu maxilar e pescoço, onde ele faz uma pausa, inalando-me
profundamente. Solto um gemido baixo, provocando grunhindo do fundo da sua garganta, e seus
braços descem, enlaçando minha cintura e tirando os meus pés do chão.
— Quero que tenhamos um novo começo, malyshka. Por isso, se disser que me perdoa e
que quer ficar comigo, será na posição de minha esposa — sussurra no meu ouvido.
Afasto-me, prendendo o meu olhar ao seu. Minha boca abre e fecha quando o
significado das suas palavras me atinge em cheio.
— V-ocê… está me pedindo em casamento? — gaguejo debilmente, assistindo a um
sorriso perigoso se esticar em seus lábios quando ele concorda.
Levando a mão para o bolso de trás do jeans, Aleksey estende uma pequena caixa
vermelha de veludo, revelando um anel de noivado elegante, com um diamante de corte clássico
que brilha delicadamente à luz.
Caindo de joelhos, para minha surpresa, Aleksey me encara com expectativa enquanto
suspiros se espalham ao nosso redor. Olho para ele atônita, nunca imaginei que Aleksey fosse do
tipo de fazer declarações e oferecer um anel de casamento. Tê-lo diante de mim, com olhos
escuros como a noite me fitando como se eu fosse o seu mundo, faz o meu coração quase parar
no peito.
Mordo o lábio inferior, refletindo sobre como o casamento com Aleksey impactará
minha vida. A guerra entre Bratva e Cosa Nostra não ajuda em nada. Sei que Dário não perdoará
e considerará traição, pois arriscou sua vida para me salvar. Alessio está sedento por vingança, o
que indica que a guerra se prolongará. Serei proibida de ver minhas irmãs e sobrinhos, o que me
causa uma dor profunda. No entanto, conforta-me saber que ambas estão felizes com as famílias
que construíram.
E constato que chegou a hora de construir a própria família, ter filhos e viver o resto da
vida com o homem que amo, mesmo que nosso mundo esteja mergulhado na escuridão. Balanço
a cabeça, suspirando ao observar um traço de pânico minar o sorriso de Aleksey. Sentindo a
garganta arranhar e lágrimas acumularem nos olhos, concordo, deixando escapar um sim quase
inaudível.
Aleksey estremece e respira fundo. Seu peito sobe e desce em uma cadência assustadora.
Parecendo em êxtase, ele alcança a minha mão esquerda, colocando o anel no dedo anelar, em
seguida, ele deixa um beijo breve e se levanta, me puxando para os seus braços, depositando
outro beijo no topo da minha cabeça, segurando minha mão na sua e entrelaçando nossos dedos.
— Vamos para casa, baby. Tenho muita coisa para te contar enquanto estivermos no
jato, mas, antes, quero saciar a saudade que me consumiu durante todo esse tempo longe de você
— profere, provocando um rubor nas minhas bochechas e um calor irresistível entre minhas
pernas. Seu sorriso se amplia, como se lesse meus pensamentos. O rubor se intensifica com o
desejo queimando por dentro.
Aleksey me beija novamente, e um gemido carente escapa dos meus lábios. Por muito
tempo, acreditei que o amor machucasse, mas agora percebo que é essa dor deliciosa que nos
leva às alturas mais intensas. E, se eu tiver que mergulhar na sua escuridão, farei de bom grado.
Capítulo 29

Minhas mãos agarram com firmeza um punhado dos cabelos de Milena enquanto a fodo
por trás. Graças aos céus, havia ordenado a Igor que voltasse para Moscou mais cedo, e mal
entramos na cabine do jato, já nos livramos de nossas roupas. Meu pau pulsa completamente
duro, e o mero aroma dela me enlouquece. Seus lábios rosados se abrem em um o perfeito e
minhas estocadas se tornam intensas. Um fio de suor escorre por sua espinha, e eu me abaixo
para capturá-lo, saboreando o sal delicioso de sua pele. Ela espalma as mãos no colchão,
cravando as unhas, enquanto meu membro lateja, ansioso pelo calor dela e pelos espasmos que
saltam de seu corpo. Um grito rouco ecoa na cabine, e sinto sua boceta apertada contrair-se,
fazendo-me ofegar e apertar os olhos.
Milena arqueia com o meu nome sendo sussurrado por seus lábios. Mordo seu ombro e
continuo estocando forte, prolongando seu orgasmo antes de me derramar dentro dela.
Respirando com dificuldade, deixo um beijo na sua nuca, contemplando seu corpo alvo, agora
impregnado por um rubor intenso. Seu aroma é enlouquecedor, e o brilho do anel de diamantes
em sua mão desencadeia meu lado possessivo com uma obsessão voraz.
Minha!
Deitado na cama com o corpo delicado de Milena pressionado sobre o meu, minhas
mãos percorrem suas costas em uma carícia lenta enquanto relato os últimos acontecimentos.
Falo sobre Konstantin e sua cabeça a prêmio por sua deslealdade com a Bratva, especialmente
por colaborar com a Cosa Nostra no ataque. Milena diz que já sabia, pois sua irmã lhe contou
que ele forneceu a localização do Castelo, além de uma planta detalhada de tudo. Meu maxilar se
aperta enquanto continuo contando sobre Dário, que deixou claro que o atirador que quase me
matou foi contratado pelo meu tio. Revelo sobre a recuperação da minha memória, reconhecendo
que minha relação com meu pai não era uma das melhores e que a culpa da morte de Jason era
exclusivamente dele, por sua ambição desenfreada.
O corpo de Milena enrijece, sua cabeça se ergue, e seus olhos azuis fitam os meus com
angústia e pânico.
— Com a perda da minha memória, me tornei o que mais temia, uma versão insana do
meu pai, e torturei Alessio alimentado por todas as mentiras que meu tio contou.
Milena suspira e acaricia meu peito.
— Eu sinto muito, Aleksey, por tudo. Vocês e seus irmãos foram enganados. Posso
tentar falar com Dário. Ele pode intervir e convencer Alessio a recuar.
Balanço a cabeça, apertando seu corpo contra o meu.
— Nem pense nisso. Não vou me esconder atrás da minha esposa.
Os lábios de Milena se curvam em um sorriso doce, e eu franzo a testa em confusão.
— Você me chamou de esposa, e nem estamos casados ainda.
Milena pisca para mim, depois balança a cabeça e murmura algo inaudível em seus
lábios.
— É um detalhe bobo, malyshka. E, em breve, iremos resolver isso.
Levo o indicador até o sulco no meio de suas sobrancelhas, massageando-o até
desaparecer.
— Não se preocupe com nada, apenas com o nosso casamento. Ok?
Ela concorda com uma expressão pensativa, deitando-se novamente e enterrando sua
face na curva do meu pescoço. Sei que Milena teme outra guerra, mas será inevitável, já que fui
eu mesmo que comecei tudo quando sequestrei e torturei um Ruggiero. Um dia a conta chegará,
mas, antes disso, aproveitarei ao máximo, e isso significa casar e ter filhos.
— Espero que não tenha se apegado ao castelo. Com a invasão, resolvemos nos mudar
para uma mansão.
Seus olhos se erguem e se fixam nos meus.
— Eu não me importo onde vamos morar, contanto que estejamos juntos. Você é o meu
lar, Aleksey.
Roço os lábios nos seus, acariciando sua bochecha.
— E você é o meu — sussurro antes de tomá-la em um beijo lento, repleto de
significados.
Mesmo que eu morra em breve, faria tudo novamente para tê-la como minha, exceto não
me deixar levar por manipulações que me levaram ao início de tudo.
Mais cedo, Milena mandou uma mensagem para as irmãs, anunciando sua decisão.
Minutos depois, ela recebeu uma ligação furiosa de Dário, deixando claro que Milena escolheu
seu lado, não sendo mais problema dele, ou da Outfit. Antônio, o novo líder, não quer nenhum
envolvimento com a Bratva. Seus olhos se encheram de dor enquanto ela pedia desculpas e
agradecia por tudo. Antes que a ligação se encerrasse, Milena pediu que ele continuasse
protegendo sua irmã.
"Sempre protegi o mio tesoro e só a salvei porque Mia implorou, já que a Outfit não se
moveu para ajudá-la", disse em sua voz apática, encerrando a ligação.
Após quatro horas de voo, desembarcamos em uma pista particular da Bratva, e Ilia e
Maskin, já recuperado, estão à nossa espera. Milena estremece quando percebe a presença do
meu irmão, com suas unhas cravando nos músculos do meu braço. Virando-me para ela, deixo
que minha expressão serena a acalme.
— Ninguém irá desrespeitá-la, malyshka — digo, colocando uma mecha loira do seu
cabelo atrás da orelha. — Antes de decidir ir atrás de você, deixei claro para todos que, se me
perdoasse, isso significaria que se tornaria a minha esposa.
— Eles não têm alternativa a não ser, aceitá-la. — Dou de ombros, alcançando sua mão
e entrelaçando nossos dedos. Ilia acena, em seguida Maskin anda em minha direção e envolve-
me em um abraço apertado. Ele se afasta e seus olhos frios encontram os da minha noiva.
— Seja bem-vinda de volta, Milena — diz em tom firme, embora sinta uma pontada de
tensão em sua voz.
Milena agradece, forçando um sorriso. Ajudo-a a entrar na parte traseira da SUV,
enquanto Ilia e Maskin assumem a tarefa de nos levar para casa. Casa! Testo a palavra em meus
lábios, sentindo uma sensação escaldante se derramar em meu peito. Pela primeira vez, em toda a
minha vida, sinto que realmente tenho um lar.
Olho para Milena, que está concentrada em olhar a paisagem lá fora, e a puxo para o
meu colo, deixando um beijo no topo da sua cabeça. Meus dedos escorregam por seus fios cor de
trigo e agarro um punhado, puxando sua cabeça para cima e nossos olhos fixam no outro.
— Eu prometo que será a mulher mais feliz desse mundo, malyshka. Arrancarei o meu
coração e lhe entregarei se for preciso, e darei a minha vida se isso a mantiver segura — sussurro
contra o seu ouvido, escutando-a suspirar baixinho.
— Eu amo você, Aleksey. — Seus olhos estão cravado nos meus, fitando-os por vários
longos segundos.
— Não será fácil, malyshka. Estaremos em perigo constantemente, pois há guerras
estourando por todos os lados e...
Milena me interrompe, silenciando-me com um roçar em meus lábios, seguido por uma
mordida no meu lábio inferior.
— Vamos conseguir. — Milena sorri, e um arrepio caloroso se espalha pelo meu peito
ao ouvi-la.
— Sim, malyshka. Vamos conseguir — digo, espelhando o seu sorriso.

Fim!
Epílogo

Moscou - Rússia
Dois anos depois…

Vislumbro o brilho da minha aliança de casamento enquanto me observo no espelho e


recordações começam a inundar a minha mente, levando-me de volta ao dia em que trocamos
votos na mansão que agora chamamos de lar.
Meu vestido era branco, de ombro a ombro, com uma cauda longa. Meus fios estavam
amarrados em um coque elegante, adornado por uma coroa e véu. Ele fluía suavemente enquanto
caminhava em direção a Aleksey. O contraste de sua figura imponente em uma calça escura e
blusa social branca, com botões e mangas longas, era hipnotizante. Seu sorriso lindo, irradiando
felicidade, me acolhia e aquecia meu coração.
Recordo da intensidade voraz de seus olhos escuros, queimando nos meus com uma
paixão enlouquecedora. Apesar de ter sido há um ano, cada palavra proferida na cerimônia ecoa
incessantemente em minha mente, reafirmando porque escolhi passar o resto da minha vida ao
seu lado. Ao final, nosso amor venceu. Devorou-nos, despedaçando nossos corações em um
milhão de pedaços, mas, no final das contas, nos tornamos mais fortes.
Meus olhos se disparam para o jardim, onde encontro Alexander, ou Sasha, um apelido
carinhoso de seu nome usado na Rússia. Ele é a cópia fiel do pai, exceto pelos olhos, enquanto
brinca com alguns soldadinhos ao lado de seu tio Ivan, que exibe um largo sorriso ao observá-lo.
Mordo o lábio inferior, reprimindo uma risada ao lembrar-me do seu olhar desconfiado assim
que cheguei à mansão. Ele não escondia o seu descontentamento por eu ter me casado com o seu
irmão, era hostil na maioria das vezes, mas, quando Sasha nasceu, há um ano, em um dia que
nevava muito, senti sua hostilidade aos poucos desaparecer. Sasha trouxe luz para as nossas
vidas, agora posso andar à sua volta sem me sentir intimidada.
Aleksey diz que Ivan gosta de mim, mas não é o tipo que dá o braço a torcer. Se um dia
eu estiver em apuros, tanto Maskin, quanto Ivan protegerão Sasha e eu com suas próprias vidas.
Segundo ele, às vezes, lealdade pode ser uma forma de demonstrar afeto. Sasha solta um grito
agudo, e seus olhos azuis como os meus brilham em uma direção, e sei que seu pai está aqui.
Aleksey saiu bem cedo com Ilia e Maskin e Igor. Deixando-me com Ivan e Irina que me ajudam
com o pequeno furacão que é Alexander. Desde a invasão ao castelo, a Bratva tem sido
bombardeada por ataques da Cosa Nostra. Claro que Alessio está por trás disso.
Durante um ano, ele ficou em silêncio, e sabemos que, para um homem completamente
implacável como ele, não é um bom sinal.
Após o meu menino completar um ano de vida, os ataques se tornaram recorrentes, cada
um mais violento que o outro, com várias mortes dos nossos homens. Aleksey tenta parecer
tranquilo, repetindo que está tudo bem e que não deixará nada de ruim acontecer com sua
família, mas eu sinto em meu âmago que algo ruim poderá acontecer.
Solto um suspiro trêmulo, olhando para Maskin e Igor, que abaixa e bagunça o cabelo
escuro do sobrinho quando Sasha solta uma risada gostosa e salta correndo, pulando diretamente
para o colo do pai, que está agachado com os braços abertos. Ele envolve o nosso filho,
enterrando a face no seu cabelo como se estivesse inspirando o seu cheiro doce delicioso. Ao
afastar-se, seu polegar corre em sua bochecha rosada, e palavras são sussurradas para ele. Posso
ler os seus lábios, sei o que ele está dizendo. Afinal, ele repete-as todos os dias para mim e seu
filho, desde o momento que descobrimos minha gravidez.
Aleksey ficou atordoado e riu enquanto lágrimas desciam copiosamente por suas
bochechas. Ele jurou que amaria o nosso filho incondicionalmente, e faria de tudo para ser um
pai melhor do que o seu foi.
"Eu amo você, malysh".
Repito baixinho no exato momento em que seus olhos se erguem para encontrar os
meus. Os cantos de seus lábios se curvam, e é insano o quanto aquilo me excita.
Aleksey beija o topo da cabeça do nosso filho e acena para Ivan, que caminha e pega
Sasha nos braços. Meu marido se ergue, sua presença imponente e avassaladora e seu olhar
retornam novamente para o meu. Seus olhos escuros como ébano brilham sombriamente, e tudo
à nossa volta desaparece.
Aleksey se move para dentro com passadas largas, como se estivesse com pressa. Minha
pulsação acelera e sei o que devo esperar dele. Longos segundos se passam antes de passos
pesados ecoarem no corredor. Subitamente, a porta é aberta, e meu marido passa por ela. Cada
passo em minha direção e uma peça de roupa é lançada pelo caminho. Quando ele corta a nossa
distância, está totalmente nu, com o seu pau pulsando ansiosamente por libertação. Seus ombros
largos e seu corpo esculpido como um verdadeiro deus do sexo pairam sobre mim, segurando
minhas coxas e erguendo-me do chão, fazendo-me soltar um grunhido quando ouço o som da
minha calcinha sendo rasgada e uma ardência salpicar a minha pele. Olho feio para ele,
recebendo um tapa forte em minha bunda, arrancando um gemido rouco do fundo da minha
garganta enquanto ele nos leva para o chuveiro.
Aleksey faz uma pausa para retirar meu vestido preto por cima da minha cabeça, e ergo
os braços para facilitar sua tarefa, ansiosa para tê-lo me preenchendo completamente.
Seus lábios envolvem o lóbulo da minha orelha, mordiscam e sugam. Ele alinha a cabeça
do seu pau na minha entrada encharcada e esfrega para cima e para baixo, me fazendo estremecer
com uma onda de espasmos.
— Aleksey, Sasha pode sentir a nossa falta — digo com um meio gemido, enquanto seus
lábios quentes sugam avidamente um mamilo enrijecido e, em seguida, o outro, e minhas pernas
apertam o seu quadril com firmeza.
Ele solta um rosnado, deslizando uma mão para cima até alcançar a minha garganta,
onde seus dedos apertam fracamente.
— Ele não irá. Ivan, Igor e Maskin estão o distraindo. Teremos tempo o suficiente —
sussurra com a voz ofegante no meu ouvido.
De repente, o ar fica preso em meus pulmões, e meus lábios se abrem silenciosamente
quando ele se enterra profundamente em mim com um único golpe. Minhas costas batem no
azulejo frio, e eu fecho os olhos em êxtase.
Sussurrando palavras sujas no meu ouvido enquanto sua mão áspera aperta a minha
garganta, ele retira o seu pau e retorna com força, penetrando mais fundo, me fazendo revirar os
olhos.
Seus movimentos se intensificam e ele parece à beira da insanidade, como se não tivesse
o suficiente de mim.
Mordo o seu ombro quando minha boceta se contrai ao seu redor e meu orgasmo
explode através das minhas pálpebras. Então solto um grito enquanto os tremores percorrem cada
centímetro do meu corpo.
Aleksey beija meus lábios, com os seus músculos abdominais flexionando contra minha
pele. Ele morde meu lábio inferior e estoca profundamente, gemendo meu nome enquanto se
derrama dentro de mim.
Respiro fundo, removendo uma mecha escura e úmida de sua testa. Aleksey ergue os
olhos, o tumulto refletido neles. Com o desaparecimento de Konstantin, ele teme pela segurança
de Sasha e a minha, e isso é uma frustração visível. No entanto, há também um brilho caloroso,
um lampejo que apaga qualquer receio. Aleksey sempre diz que eu fui sua salvação, a pequena
chama que o afasta da escuridão, só que ele foi a minha, estava destinada a uma vida infeliz,
cheia de dor e horror, ainda sinto a dor da ausência de minhas irmãs, mas ter minha própria
família, com um marido que amo e um filho que é meu maior tesouro, torna cada segundo
valioso.
— Obrigado por sempre estar ao meu lado e por me amar quando não me sinto digno de
você, malyshka — ele sussurra sem desviar seus olhos intensos dos meus.
— Obrigada por me presentear com nosso menino. Alexander é mais do que mereço.
Vocês são. — Seguro sua nuca, levando meus lábios a centímetros dos seus.
— Não há nada para agradecer, malysh. — Seus olhos brilham e um suspiro resignado
escapa de seus lábios.
— Você é digno do mundo, Aleksey.
Ele sorri.
— Vocês são o meu mundo, malyshka. E isso já é o bastante.

Fim!
DARK ROMANCE + CASAMENTO FORÇADO + ROMANCE MÁFIA + SLOW BURN +
AGE GAP + ENEMIES TO LOVERS

Mia Salvatore
O diabo me mostrou seu rosto hipnótico no meu vigésimo aniversário, ele me fez dançar em suas
sombras, mesmo eu temendo o escuro, e quando ele me viu completamente indefesa, ele cravou
suas garras em mim, sussurrou asperamente em meu ouvido, ele não quer apenas meu corpo, ele
quer minha alma, para quebrar e arruinar até que não haja mais nada. Dário Ruggiero, capo da
Cosa Nostra. Cruel. Arrogante. Impiedoso e brutalmente bonito. Ele apenas assumiu que eu era
dele e fez da minha vida seu inferno particular.

Dário Ruggiero
A máfia é minha vida, mas ela era minha obsessão. Mia Salvatore, filha do capo da Outfit, ela
está tentando escapar do nosso casamento há algum tempo, tornando nosso jogo o mais
agradável possível. Sua punição será minha recompensa... Mas quando suas íris azuis colidem
com as minhas, algo acontece, eu vejo sua alma e toda a escuridão que a cerca. E eu a quero para
mim, não apenas por uma noite, mas por toda a vida.
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Tate Cameron
Prazer era a única linguagem que eu conhecia até ela aparecer. Estou viciado nela. Aquela bela
mulher se tornou o meu vício proibido. Era para ser somente algumas noites de prazer sem
amarras ou intimidade. Algo não saiu como o esperado. Depois das nossas noites intensas de
pura paixão, eu a desejo como nunca. Obcecado, viciado, Tate Cameron fará de tudo para ter
Samantha Muniz em seus braços.

Samantha Muniz
Ele é como um ímã. Seus olhos transbordam perversão, seu corpo exala sexo, poder, domínio.
Não consigo resistir quando ele está perto. Estou me apaixonando e isso não é bom. Tate
Cameron é absurdamente atraente, sexy, rico e muito poderoso, tudo isso se torna letal na mesma
equação.

Não devia. Mas eu o desejo com todas as minhas forças.


Quando a paixão explode entre eles, resistir será uma tarefa impossível.

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Valentina Miller é uma jovem doce, delicada e ingenuamente sedutora. Sua vida controlada e
confortável a leva a um lugar onde ninguém deseja chegar: a traição.
Enfurecida e desapontada, por casualidade acaba conhecendo Jackson Carter, um misterioso
sedutor que provocará as mais deliciosas sensações e provará que a luxúria e o amor podem estar
do mesmo lado da moeda.
Com um passado cheio de mistérios e demônios que lutar, Carter terá que decidir entre
mergulhar nessa paixão avassaladora ou se render ao seu passado sombrio.
Com o desejo à flor da pele, a luxúria será uma promessa Irresistível.

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Comprada em um leilão por um misterioso CEO, uma garota terá que enfrentar a intensidade e o
domínio de um homem imponente, que despertará a insaciável luxúria em cada célula do seu
corpo.

Aron Maldonado.
Profundamente obscura, é assim que vejo minha alma. Tenho pensamentos sujos, perversos e
completamente insanos. A desejei desde o primeiro momento que a vi. Olhar afiado, sorriso
quente, provocando uma larva fervente em todo o meu corpo. A comprei e não me importo que
ela me odeie. Meu desejo é urgente de possuí-la de todas as maneiras. Serei aquele que domou o
seu coração selvagem. Que conseguiu romper todas as suas barreiras. Ela será minha! Ele queria
domínio. Ela só desejava ser livre. Ambos terão que lidar com seus medos e traumas e com um
novo sentimento que surgirá.

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Prazer Oculto
A circunstâncias a fizeram optar pelo caminho mais fácil da vida. Luxo, poder, ambição, todos
esses sentimentos estavam presentes em cada momento. Forjando um exterior desejável,
cobiçado e por mais que não seja quem ela é de verdade, é seu lado oculto. Uma mulher letal,
perigosa, capaz de danos irreversíveis.
Ela é Siena LeBlanc, uma acompanhante de luxo. Dona de uma exímia beleza que despertará o
interesse do solitário e atormentado Ivarsen MacKenzie, herdeiro de uma rede mundialmente
famosa de joalheria. Ela é

contratada para seduzi-lo e livrá-lo das correntes que o prende ao seu passado doloroso o levando
ao limiar do desejo e despertando uma intensa paixão avassaladora. Ambos com traumas e
passados difíceis encontraram no outro a possibilidade de um novo recomeço. A paixão e a fome
desesperada que os unem serão capazes de curar dois corações em pedaços?

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DARK HOT + CASAMENTO FORÇADO + ROMANCE MÁFIA + SLOW BURN + AGE
GAP + ENEMIES TO LOVERS

Pablo Ruggiero é conselheiro da Cosa Nostra, é reconhecido por suas estratégias pragmáticas e
instinto assassino. Junto ao irmão, ergueu um império invejável. No entanto, não se deixe
enganar pela calma disfarçada e rosto esculpido pelos deuses. Por trás de sua fachada
impenetrável, reside algo sombrio e profundo. Pablo é um homem insano, marcado pela
possessividade. Após uma noite ardente em que sua calma desmorona por conta de uma ruiva
sexy, irmã mais nova de sua cunhada, foi o suficiente para levá-lo à loucura, uma noite que
transformará sua vida completamente.

A escuridão do meu passado não me matou, apenas forjou o meu coração o tornando frio e
impenetrável até ela aparecer.

“Eu provei o seu gosto uma vez e agora quero fazê-la minha.”

Giovanna Salvatore

Ela anseia por liberdade tanto quanto precisa de ar para respirar. Rebelde, atormentada por
fantasmas do passado, ela luta bravamente, disposta a se despedir daquela vida. Mas quando o
seu caminho se cruza com um par de olhos escuros, o consigliere da Cosa Nostra, tudo muda. Ele
a sequestra, a obriga a se casar deixando-a sem escolhas e completamente à mercê dos seus
desejos. Ela achava que não havia ninguém em quem confiar.

Ele mostrou que tinha, embora esse laço fosse forjado em escuridão e sangue.
Nosso arranjo distorcido tomou proporções épicas e se transformou em algo que nenhum de nós
poderia prever…

“Ele foi o único que me enxergou de verdade. Preto e vermelho. Como a escuridão profunda que
nos cerca e o sangue que corre ferozmente em minhas veias.”

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