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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

LUCCA MORO COSTA

A CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS E O DIREITO A UMA MORTE


DIGNA

LISBOA

2023
Lucca Moro Costa

A CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS E O DIREITO A UMA MORTE


DIGNA

Projeto de paper a ser entregue no âmbito da disciplina de


Proteção Internacional dos Direitos da Pessoa Humana.

Professora-regente: Maria José Reis Rangel Mesquita

Professora-assistente: Vladyslava Kaplina

Lisboa

2023

1
ÍNDICE

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………3
REFERENCIAL TEÓRICO………………………………………………………4
CONCLUSÃO…………………………………………………………………….21

2
1 INTRODUÇÃO

O presente paper possui como escopo analisar como o sistema europeu de


proteção dos direitos humanos se posicionou em julgamentos recentes sobre a
legalidade, de acordo com a Convenção Europeia de Direitos Humanos, de
legislações nacionais que regulamentam a prática do suicídio assistido e da
eutanásia. As discussões sobre as referidas práticas são relativamente recentes e
estão sendo aos poucos discutidas mais profundamente ou sendo implementadas
em alguns países do continente europeu, como França, Itália e Portugal.

Em que pese a Corte Interamericana de Direitos Humanos ou o Tribunal


Africano dos Direitos do Homem e dos Povos ainda não tenham sido instados a se
manifestarem sobre referida questão, há um importante número de julgados sobre
tal matéria no âmbito da Corte Europeia de Direitos Humanos, a qual tem apostado
em uma postura de autonomia dos Estados-signatários da Convenção para definir a
adequação da medida.

Entende-se que a análise da jurisprudência da Corte regional sobre os direitos


de morte digna possam ajudar a elucidar questões relevantes da bioética e do
biodireito. A metodologia do presente paper se dará mediante uma técnica de
pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, principalmente a partir da análise de
julgados da Corte Europeia de Direitos Humanos.

Como objetivos do paper buscar-se-á apresentar os posicionamentos da


Corte Europeia de Direitos Humanos sobre o direito à morte com dignidade, analisar
a possibilidade de justificação destes direitos como sendo um direito humano
passível da proteção da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e de outros
tratados internacionais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. A morte clinicamente assistida: eutanásia e suicídio assistido

A morte clinicamente assistida (medical assistance in dying, em inglês), ainda


que de modo bem rudimentar, é um conceito antigo na clínica médica e no campo
da bioética.

Na Grécia Antiga, a versão original do “Juramento de Hipócrates” previa a


proibição aos exercentes da medicina de fornecerem drogas letais aos pacientes
que assim requererem, bem como a vedação ao aconselhamento à tomada de tal
decisão. A própria origem do nome “eutanásia” remonta ao grego, na medida em
que “eu” significa “bom”, enquanto “Thanatos” é a personificação da morte na
Mitologia grega.

Já durante a Era Romana, Sêneca e os estóicos, bem como os epicuristas,


contemplaram diversas vezes o problema do suicídio, sendo que os últimos, com
sua filosofia de maximização do prazer, argumentaram que o suicídio poderia ser
justificado como ultima ratio para pessoas com sofrimento interminável. Ainda
durante o Império Romano, com a Lei das Doze Tábuas, em que há a especificação
de uma ideia de suicídio piedoso com a eutanásia de crianças que nasceram mal-
formadas (Tábua IV, 1).

A ascensão do Cristianismo como principal religião na Europa Ocidental e a


consolidação da ética cristã levam a um repúdio ainda maior à ideia de suicídio, já
que o conceito de morte clinicamente assistida ainda não era algo completamente
elaborado. São Tomás de Aquino, na segunda parte de sua Summa Theologica,
dispõe sobre a santidade e o valor intrínseco da vida humana e sobre como esta
seria um presente de Deus, de modo que qualquer tentativa de tirar a vida seria vista
como um pecado da mais alta ordem.

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Com o advento do Renascimento e, posteriormente, do Iluminismo, com os
quais as ideias de autonomia e liberdade individual atingem um patamar elevado e
com o contínuo decaimento da ética cristã como estrela-guia universal do
comportamento individual, a discussão sobre a morte assistida gradativamente
ganha terreno. Já no século XVI, Sir Thomas More, em Utopia, descreveu que na
comunidade utópica por ele envisionada, haveria auxílio ao suicídio daqueles que
assim desejassem e estivessem vivendo um sofrimento incurável e intenso.

Todavia, durante o período da Segunda Guerra Mundial, a “eutanásia 1” foi


utilizada como um programa de eugenia por parte do Estado alemão para a
perpetuação de um genocídio de minorias raciais e portadores de deficiências
graves. Em 1939, o governo alemão, então já amplamente comandado pelo Partido
Nacional-Socialista, institui, em um primeiro momento secretamente, o programa
“Aktion T4”, em que profissionais de saúde eram forçados a reportar pessoas com
deficiências mentais e físicas de natureza grave e incurável que estivessem sob
seus cuidados. Apresentada ao povo alemão como uma política pública não apenas
de purificação racial mas também como sendo de certa forma “piedosa”, foi
abandonada em 1941. Todavia, estima-se que o número de mortos por conta dessa
política de sistematização de uma suposta “eutanásia” seja de aproximadamente
250.000 pessoas, as quais eram mortas em câmaras de gás instaladas dentro de
hospitais e centros de tratamentos paliativos com gás de monóxido de carbono.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, na medida em que os horrores do


período nazista na Alemanha e nos territórios ocupados passaram a ser amplamente
conhecidos, ocorreu uma revolução no campo da bioética que permitiu, anos depois,
a introdução de mecanismos legais para regulamentação da morte clinicamente
assistida.

O advento de uma teoria bioética principialista, baseada nos princípios da


autonomia do paciente, da beneficência, da não-maleficência e da justiça, colocam a
1 Utiliza-se a expressão “eutanásia” entre aspas, na medida em que o significado da palavra
origina do grego para “boa morte”, “morte serena, sem sofrimento”. A utilização da palavra
sem o uso das aspas contribuiria para uma deturpação do real significado da expressão, já
que o Estado alemão fez uso da ferramenta para a perpetuação de um genocídio em
pessoas com o intuito de “purificação” da raça ariana.
5
vontade do paciente em um primeiro plano, permitindo o surgimento de legislações
nacionais sobre o tema. Desde então, diversos países adotaram legislação sobre o
tema.

Na Europa, cuja experiência será abordada neste estudo, a Holanda, em


2002, foi o primeiro país a permitir a morte clinicamente assistida, com a
regulamentação da eutanásia e do suicídio assistido. No mesmo, a Bélgica
descriminalizou a prática da eutanásia em certos casos. Desde então, Luxemburgo,
Espanha e Áustria apresentaram legislação semelhante, enquanto Suíça e
Alemanha permitem o suicídio assistido por conta de omissão legal da tipificação do
crime de auxílio ao suicídio.

Passemos, neste momento, a uma análise dos conceitos bioéticos de suicídio


assistido, e eutanásia, os quais compõem, de modo basilar, a ideia de morte
clinicamente assistida.

2
De acordo com o National Health Service (NHS), sistema público de saúde
do Reino Unido, o suicídio assistido pode ser definido como “o ato de
deliberadamente auxiliar outra pessoa a tirar sua própria vida”. Já José Roberto
Goldim3, um dos maiores especialistas brasileiros em bioética e catedrático da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dispõe que o “o suicídio assistido
ocorre quando uma pessoa, que não consegue concretizar sozinha a sua intenção
de morrer, solicita o auxílio de um outro indivíduo. A assistência ao suicídio de outra
pessoa pode ser feita por atos (prescrição de doses altas de medicação e indicação
de uso) ou, de forma mais passiva, através de persuasão e encorajamento. Em
ambas as formas, a pessoa que contribui para a ocorrência da morte da outra,
compactua com a intenção de morrer através da utilização de um agente causal.”.

2 NATIONAL HEALTH SERVICE. Euthanasia and Assisted Suicide. Disponível em:


https://www.nhs.uk/conditions/euthanasia-and-assisted-suicide/

3 JOSÉ ROBERTO GOLDIM. Bioética: índice geral de textos, resumos, definições, normas
e casos. Disponível em: https://www.ufrgs.br/bioetica/suicass.htm

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Cumpre esclarecer que o conceito de suicídio assistido a ser aqui trabalhado
envolve o que é realizado no âmbito da morte clinicamente assistida, acompanhado
por profissional da saúde e realizado apenas mediante consentimento livre e
informado de paciente acometido de doença grave, incurável e que traz profundo
sofrimento.

Definição mais adequada talvez possa ser encontrada no âmbito do Código


de Ética da Associação Médica Americana 4, que define o suicídio medicamente
assistido como: “aquele que ocorre quando o médico facilita a morte do paciente ao
providenciar os meios necessários e/ou informações que permitam ao paciente
realizar o ato de terminação da vida (p. ex., o médico providencia pílulas soníferas e
informações sobre a dose letal, ciente de que o paciente poderá cometer suicídio).

Por outro lado, a eutanásia retira das mãos do paciente o ato de terminação
da própria vida e coloca a injeção do fármaco letal nas mãos do profissional de
saúde. Luciano Maia Alves Ferreira 5, em sua obra “Eutanásia e Suicídio Assistido”,
define a eutanásia como aquele que “provoca também a morte antes da hora, porém
de maneira suave e indolor, a pedido de um paciente terminal e em sofrimento, sem
perspectivas de melhora e justamente por isso torna-se tão atrante para tantas
pessoas.”

A eutanásia aqui analisada e que é a implementada nos países europeus,


consiste na eutanásia voluntária e com fins humanitários, sendo um protocolo
médico de assistência à morte de paciente em condição de terminalidade,
impossibilidade de cura e sofrimento intenso. Subtrai-se, portanto, do objeto de
estudo do presente paper qualquer ideia sobre eutanásia involuntária, a qual é
completamente incompatível com ideais de direitos humanos e respeito à dignidade
humana.

4 AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION, Code of Medical Ethics, from https://code-medical-


ethics.ama-assn.org

5 LUCIANO MAIA ALVES FERREIRA, Eutanásia e suicídio assistido: uma análise normativa
comparada/ 1º ed. 2018.

7
Subscreve-se, portanto, à definição de eutanásia apresentada pela
Associação Médica Americana6, que dispõe: “eutanásia é a administração de um
agente letal por outra pessoa a um paciente com o propósito de aliviar o sofrimento
intolerável e incurável deste paciente.”

O procedimento para consumação tanto da eutanásia quanto do suicídio


assistido sempre deve levar em conta a dignidade humana, de modo a garantir o
menor sofrimento possível ao paciente. Métodos cruéis e dolorosos jamais podem
ser considerados, visto que evitar a dor e diminuir o sofrimento são componentes
importantes do direito a uma morte digna, clinicamente assistida.

2.2. A Corte Europeia de Direitos Humanos e o Conselho da Europa.

A Corte Europeia de Direitos Humanos teve sua origem com a formação do


Conselho da Europa em 1949. Após a assinatura da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem pelos Estados-membros do Conselho da Europa, foi criado um
sistema de proteção regional dos direitos humanos no continente europeu.
Inicialmente, o sistema consistia da Comissão Europeia dos Direitos Humanos,
criada em 1954, que as denúncias e as investigava, e do Tribunal Europeu de
Direitos Humanos, criado em 1959, que julgava as denúncias apresentadas pela
Comissão.

O advento do Protocolo nº 11 em 1998 alterou esse paradigma ao extinguir a


Comissão e fundir os dois órgãos em um só, permitindo que os denunciantes, sejam
eles Estados-membros ou pessoas cujos direitos foram violados, arguam perante a
Corte e reclamem os seus direitos.

A principal atribuição do Tribunal Europeu de Direitos Humanos é interpretar a


Convenção Europeia de Direitos Humanos e julgar os Estados contratantes por
eventuais violações de direitos, não servindo, de qualquer modo, como um tribunal
de apelação supranacional.

6 AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION, Code of Medical Ethics, from https://code-medical-


ethics.ama-assn.org
8
A primeira manifestação do Conselho da Europa sobre o tema da morte
clinicamente assistida se deu com a expedição da Recomendação nº 1418/1999. Na
ocasião, a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa manifestou que o
suicídio clinicamente assistido e a eutanásia representam violações ao direito à vida
consagrado no artigo 2º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

Desde então, a Corte Europeia de Direitos Humanos, como órgão do


Conselho da Europa, tem sido o ente que mais se manifestou sobre essa questão, a
qual analisaremos a seguir.

2.3. A Corte Europeia de Direitos Humanos e a morte clinicamente assistida.

Desde 2000, a Corte Europeia de Direitos Humanos já julgou, seja em


julgamentos de mérito ou decisões de rejeição da admissibilidade, 13 (treze)
denúncias de violações aos direitos humanos que envolvam, em alguma medida, a
questão da morte clinicamente assistida.

Sanles Sanles vs. Espanha (2000), Ada Rossi e outros vs. Itália (2008),
Nicklinson e Lamb vs. Reino Unido (2015), Gard e outros vs. Reino Unido (2017) e
Afiri e Bidarri vs. França (2018), são casos que envolvem a morte clinicamente
assistida e obtiveram decisões de rejeição da admissibilidade que impediram a
análise mais profunda do mérito.

O primeiro caso em que houve uma análise aprofundada do direito à morte


digna se deu com Pretty vs. Reino Unido (2002), um paradigmático julgamento que
colocou, pela primeira vez, a câmara de julgamento da Corte Europeia de Direitos
Humanos frente a questão do suicídio assistido.

2.3.1. Pretty vs. Reino Unido (2002)

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Diane Pretty era uma cidadã britânica da cidade de Luton, na Inglaterra.
Pretty sofria de uma rara e fatal doença neurodegenerativa chamada doença do
neurônio motor (motor neurone disease). Com o avanço da doença, Pretty perdeu a
capacidade de fazer tarefas básicas diárias e, eventualmente, ficou impossibilitada
de se mover, falar e deglutir alimentos.

Pretty, por conta da condição e da impossibilidade de viver uma vida


razoavelmente normal, decidiu que queria pôr um termo à sua própria vida e desejou
praticar o suicídio. Todavia, estava impossibilitada de fazê-lo, visto que não
conseguia mais se mover, necessitando, para tanto, do auxílio de seu marido, Brian
Pretty. O esposo de Diane, contudo, poderia ser processado criminalmente pela lei
britânica por prestar auxílio ao suicídio de outrem, tendo em vista que o Reino Unido
criminaliza o auxílio ao suicídio de acordo com a Seção 2, § 1 do Suicide Act de
1961.

Diane Pretty, ciente da possibilidade de processamento criminal do marido e


ainda mantendo seu desejo de pôr fim à sua vida, elaborou um pedido ao
Department of Public Prosecutions (DPP) para que seu marido não fosse
processado criminalmente pelo Departamento caso prestasse o auxílio. O pedido foi
negado e as Cortes britânicas mantiveram a negativa, dizendo que não haveria
qualquer violação da Convenção Europeia de Direitos Humanos no Suicide Act.

Irresignada com a decisão, Diane Pretty apresentou denúncia junto à Corte


Europeia de Direitos Humanos alegando a violação de cinco artigos da Convenção
Europeia de Direitos Humanos: artigo 2 (direito à vida), artigo 3 (proibição de
tratamento ou punição desumanos ou degradantes), artigo 8 (respeito à vida
privada), artigo 9 (liberdade de consciência) e artigo 14 (proibição da discriminação).
Em síntese, Diane Pretty alegou que o direito à vida seria corolário do direito à morte
digna e que existiria uma obrigação positiva por parte dos Estados de providenciar
meios para as pessoas exercerem sua autonomia. Além disso, alegou que, ao não
editar lei que possibilitasse o suicídio assistido, o governo britânico estaria sujeitando
seus cidadãos a tratamento desumano e degradante. A violação ao artigo 8 se daria
na medida em que não haveria respeito à autodeterminação com a proibição do

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suicídio assistido, enquanto a violação aos artigos 9 e 14 corresponderiam a
infringimentos da liberdade de consciência e da proibição da discriminação, na
medida em que o Estado britânico estaria violando o direito de se suicidar de uma
pessoa que estaria impossibilitada fisicamente de fazê-lo.

Em que pese a Corte tenha reconhecido a situação de extrema debilitação e


vulnerabilidade pela qual Diane Pretty passava, reconheceu que a proibição à
prática do suicídio assistido, neste caso, não violaria a Convenção Europeia dos
Direitos Humanos, em quaisquer dos artigos suscitados. Em breve síntese, a Corte
decidiu que a imposição do respeito ao direito à vida (Artigo 2), não poderia ser
interpretada como um dever corolário de o Estado garantir um direito à morte. Com
relação ao Artigo 3, a Corte concluiu que não haveria uma obrigação positiva por
parte do Estado em providenciar uma solução para que a pessoa encerrasse a sua
própria vida sem que entrasse em conflito com o disposto no Artigo 2 da Convenção.
Com relação às demais violações, a Corte entendeu que não haveria de se falar
nelas, aduzindo que o banimento ao suicídio assistido pode ser interpretado como
uma norma garantidora do cumprimento do Artigo 2 da Convenção.

Pretty vs. Reino Unido é um marco importante da jurisprudência da Corte


Europeia de Direitos Humanos na medida em que foi a primeira vez que o Tribunal
se viu diante da questão da morte clinicamente assistida. Na ocasião, o julgamento
foi duramente criticado por ativistas do direito à morte digna, mas também celebrado
por aqueles que são contra as referidas intervenções.

2.3.2. Haas v. Suíça (2008)

Ernst Haas, um cidadão suíço, sofria de transtorno bipolar grave há mais de


20 anos e decidiu que, desse modo, não conseguiria mais viver dignamente. Haas
havia tentado pôr fim à sua própria vida por duas vezes, mas sem sucesso. Decidiu
que queria morrer de forma digna e eficaz e que, para tanto, necessitaria adquirir
pentobarbital sódico, substância utilizada para fabricação da eutanásia, em
quantidades suficientes para pôr um termo à própria vida. Todavia, os médicos que

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o acompanhavam se recusaram a fornecer a requisição para aquisição da
substância nas quantidades necessárias para realizar o suicídio.

Irresignado com a situação, Haas procurou as autoridades judiciárias suíças


alegando que a exigência de receita médica para aquisição do fármaco
representaria uma violação ao Artigo 8 da Convenção Europeia dos Direitos
Humanos, o qual prevê a necessidade de respeito à vida privada e familiar. Haas
entendia que haveria um dever positivo do Estado de permitir que ele adquirisse a
substância sem a necessidade de prescrição médica e que essa exigência violaria o
respeito à vida privada consagrado na Carta. Entretanto, seus apelos foram todos
denegados pelas Cortes suíças e, esgotando as vias internas de apelação,
apresentou denúncia à Corte Europeia de Direitos Humanos. Em síntese, alegava
que o seu direito de privacidade e de autodeterminação havia sido negado pelo
Estado suíço na medida em que não conseguiria encerrar a própria vida em seus
termos e de modo eficaz e seguro.

Em que pese a Corte Europeia de Direitos Humanos ter entendido pela


inexistência de violação ao Artigo 8 da Convenção, Haas vs. Suíça é um caso
paradigmático na medida em que pela primeira vez o Tribunal reconheceu uma
margem de apreciação que os Estados-membros do Conselho da Europa possuíam
para regular a morte clinicamente assistida. Desse modo, de acordo com o Artigo 8
da Convenção, não seria contrário às normas internacionais de direitos humanos
que um Estado permitisse a eutanásia ou suicídio assistido. A morte clinicamente
assistida de indivíduos que possuíssem capacidade de decisão e optassem por
fazê-lo não seria, portanto, ofensiva aos direitos humanos.

No caso Haas vs. Suíça, a Corte entendeu que deveria haver um


balanceamento entre o direito à vida (Artigo 2) e o direito à privacidade (Artigo 8) e
que a proibição, pelo Estado suíço, de aquisição do pentobarbital sódico sem
receituário médico existe com o intuito de evitar que cidadãos ponham a vida em
risco de modo indiscriminado, sem quaisquer tipo de garantias. Desse modo, a
proibição estaria de acordo com o disposto no Artigo 8 § 2 da Convenção, que prevê
que o direito à privacidade pode ser cerceado pelos Estados com o intuito de

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garantir a saúde e a segurança públicas. A necessidade de receituário fornecido por
médico após meticulosa consulta psiquiátrica, segundo a Corte, seria uma forma de
garantir que aquele que deseja cometer o suicídio assistido possua discernimento e
capacidade para tomada de tal decisão, de modo que o requisito visaria, também,
garantir a autodeterminação individual.

Em síntese, Haas vs. Suíça é importante na medida em que a Corte


reconheceu, ainda que não influindo diretamente na decisão, a possibilidade de os
Estados regularem a morte clinicamente assistida sem que represente violação ao
Artigo 8 da Convenção. Além disso, fixou entendimento sobre a importância de uma
jurisprudência que interprete a Convenção como um sistema e como fazer o
balanceamento entre princípios basilares da Carta de Direitos.

2.3.3. Koch vs. Alemanha (2012)

A esposa de Ulrich Koch (requerente) possuía quadriplegia depois de uma


queda sofrida em casa, de modo que necessitava de ventilação artificial e cuidados
constantes para sobreviver. Devido ao extremo sofrimento que passava, decidiu que
poria termo à própria vida em casa, na Alemanha. Para tanto, formulou pedido ao
Instituto Federal de Drogas e Aparelhos Médicos para ter acesso ao pentobarbital
sódico na quantidade necessária para o suicídio. Todavia, o pedido foi negado com
base pelo órgão e Ulrich Koch e a esposa foram para a Suíça para que ela pudesse
realizar a morte com dignidade de modo seguro e eficaz.

Posteriormente, buscando representar os interesses póstumos de sua


esposa, Ulrich Koch apelou da decisão do Instituto Federal de Drogas e Aparelhos
Médicos às Cortes alemãs para que, postumamente, revertesse a decisão
administrativa. Todas as Cortes alemãs provocadas negaram o apelo, definindo que
a decisão do Instituto seria legal e que Koch não teria legitimidade para formular o
pedido, visto que não seria a vítima da violação de direitos alegada.

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Koch, portanto, aciona a Corte Europeia de Direitos Humanos, alegando
violação aos artigos 8 e 13 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Em
suma, alegou que a violação ao Artigo 8 consistiria na recusa em garantir, por parte
do Estado alemão, a morte dignificada e que respeitasse os direitos à vida privada e
familiar. Já a violação ao Artigo 13, o qual prevê o direito a um recurso processual
efetivo, se daria com a recusa das Cortes alemãs em analisar o pedido formulado
por Ulrich Koch com base na sua suposta ilegitimidade.

Em sua análise do caso, a Corte considerou que houve sim uma violação ao
Artigo 8 da Convenção por parte do Estado alemão. Neste caso, a Corte Europeia
entendeu que Ulrich Koch poderia ser considerado vítima de violações de direitos
humanos no caso analisado, já que era pessoa extremamente próxima (esposo) e
cuidador da sua mulher, com a qual esteve casado por 25 anos. A Corte esposou
entendimento de que Koch possuía “claim” dos direitos de sua falecida mulher,
considerando-o como também vítima da violação de direitos. Segundo a Corte, as
autoridades judiciais alemãs possuíam um dever de analisar o mérito do caso, não
importando se a decisão que tomasse fosse a favor do postulado pela requerente ou
não.

Outro marco da decisão da Corte foi, mais uma vez, reassegurar a existência
da margem de apreciação válida para que os países-membros do Conselho da
Europa pudessem regular a questão da morte clinicamente assistida. A Corte decidiu
que a análise do mérito da questão deveria ser propriamente feita pelos Tribunais
alemães, na medida em que não haveria consenso entre os membros do Conselho
da Europa sobre como regular o suicídio assistido.

Koch vs. Alemanha mostra a Corte Europeia de Direitos Humanos, mais uma
vez, indo em uma direção de autonomia dos Estados para regulamentar a morte
clinicamente assistida, sem incorrer em violação da Convenção.

2.3.4. Gross vs. Suíça (2014)

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Alda Gross, cidadã suíça, não possuía qualquer doença clínica diagnosticada
mas, devido ao avanço da idade e à debilitação física e psíquica, decidiu que poria
fim à própria vida por meio do suicídio assistido. Todavia, Gross não conseguia obter
autorização médica para aquisição do pentobarbital sódico necessário, justamente
por não possuir doença diagnosticada que justificasse o fornecimento do fármaco.

Diante dessa situação, Gross apelou às Cortes suíças para que recebesse o
receituário. O caso chegou até à Suprema Corte suíça, a qual não acolheu os
suplícios da autora. Segundo a Corte suíça, não haveria qualquer obrigação por
parte do Estado em garantir o acesso ao referido medicamento, bem como que os
requisitos estabelecidos pela Academia Suíça de Ciências Médicas não teriam sido
atingidos, já que Gross não sofria de doença terminal.

Na denúncia apresentada à Corte Europeia de Direitos Humanos, Gross


alegou que houve violação ao direito à privacidade e à vida familiar (Art. 8 da
Convenção).

Em seu julgamento, a Corte entendeu, em uma breakthrough decision, ter


havido violação do direito consagrado no Artigo 8 da Convenção por parte do Estado
suíço. Segundo a Corte, ao não estabelecer parâmetros claros sobre quem poderia
ter acesso ao suicídio medicamente assistido, a Suíça causaria confusões nos
cidadãos que buscassem acesso ao serviço. Neste caso, a decisão da Corte
estabeleceu que o Estado suíço deveria apresentar guidelines mais claras sobre
como acessar o suicídio assistido. Considerando a já fixada jurisprudência da Corte
sobre deixar margem de apreciação aos Estados-membros do Conselho da Europa
sobre como regulamentar a morte clinicamente assistida, não foi exarada decisão
sobre quais deveriam ser as guidelines.

Após o julgamento inicial na Câmara de Julgamento, o governo suíço propôs


que o caso fosse reexaminado pela Grande Câmara de Julgamento. Durante o curso
do processo, o governo suíço informou a Corte de que Alda Gross cometeu suicídio
assistido com o auxílio da organização EXIT. A informação foi fornecida à Corte pelo
governo e o advogado da requerente também não havia sido informado. Deste

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modo, a Corte entendeu que Gross deliberadamente havia omitido e violado a boa-
fé que deveria possuir com seu advogado e perante à Corte. Desse modo, após
requerimento do governo suíço, o caso foi extinto sem julgamento de mérito, sendo
que a Corte considerou que Alda Gross havia cometido um abuso do direito de
petição individual.

2.3.5. Lambert e outros vs. França (2015)

Vincent Lambert, cidadão francês, sofreu um grave acidente de carro em


2008, que o deixou com severas lesões cerebrais. Em decorrência do sinistro,
Lambert ficou tetraplégico e, com o agravamento das lesões, em estado vegetativo.
Em que pese tenham sido feitos esforços para que Lambert recuperasse algumas
funções motoras e a fala, o paciente jamais se melhorou.

Após deliberações com a esposa de Lambert e uma equipe médica, o médico


que cuidava de Vincent decidiu que iria descontinuar a alimentação artificial e a
hidratação do paciente. Todavia, os pais e irmãos de Vincent buscaram uma
injunção junto ao Poder Judiciário francês para que não houvesse o interrompimento
dos suprimentos que garantiam a vida de Vincent.

O caso de Vincent Lambert foi parar junto ao Conselho de Estado francês - a


mais alta instância administrativa do país - que, amparado num laudo médico
elaborado por seis médicos que acompanharam o caso e analisaram a situação,
decidiram que a decisão inicial do médico de descontinuar os mantimentos que
permitiam a Vincent seguir vivendo era legal e que havia seguido os procedimentos
previstos em lei para desligamento dos aparelhos que sustentavam a vida de
Vincent.

Os pais e irmãos de Vincent Lambert apresentaram denúncia à Corte


Europeia de Direitos Humanos argumentando que a decisão do Conselho de Estado
de permitir a descontinuação da alimentação e da hidratação de Vincent

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representaria uma violação ao dever dos Estados-membros do Conselho da Europa
de proteger a vida, previsto no Artigo 2 da Convenção.

O caso Lambert vs. França talvez seja a decisão da Corte Europeia de


Direitos Humanos que mais respaldo dê aos países-membros do Conselho da
Europa de regularem procedimentos de terminação precoce da vida.

Mais uma vez, a Corte Europeia de Direitos Humanos reafirmou a existência


de uma margem de apreciação válida para os membros do Conselho legislarem
sobre questões de morte clinicamente assistida ou, como no caso em comento, a
retirada do suporte vital de pacientes em estado terminal ou vegetativo.

Todavia, a Corte foi mais longe em Lambert vs. França. A CEDH analisou o
mérito da lei francesa que serviu de base para a retirada do suporte vital de Vincent
Lambert e chegou a conclusão de que esta possuía um framework de atuação
médica claro e seguro para a tomada de uma decisão deste tipo. Na ocasião, o
Tribunal entendeu que incumbia às Cortes francesas analisar se Vincent Lambert
atingia os requisitos necessários e que esta havia apresentado uma decisão
embasada em laudos médicos elaborados por um painel de profissionais
capacitados e que atestaram a irreversibilidade do quadro de Lambert. Segundo a
Corte, todos os pontos foram cuidadosamente analisados e a decisão exarada não
violaria a Convenção, na medida em que a análise do caso foi embasada e bem
fundamentada.

Lambert vs. França talvez tenha sido o caso em que a CEDH foi mais longe
em analisar a legalidade e legitimidade de normas balizadoras da terminação
precoce da vida, neste caso, a retirada do suporte vital. Foi uma decisão altamente
celebrada por ativistas do direito à morte com dignidade, na medida em que
garantiu, de modo claro e inequívoco, não haver incompatibilidade entre normas que
dispõem sobre casos similares e as normas de proteção do direito à vida constantes
na Convenção.

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2.3.6. Mortier vs. Bélgica (2022)

Este é o caso mais recente envolvendo a morte clinicamente assistida a ser


julgado pela Corte Europeia de Direitos Humanos. Além disso, pela primeira vez na
história do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos um caso dispondo
especificamente sobre eutanásia foi analisado. Todas as análises anteriores haviam
se dado sobre suicídio assistido ou sobre a retirada do suporte vital.

Tom Mortier é um cidadão belga cuja mãe optou por morrer pela injeção de
eutanásia. Todavia, Mortier estava extremamente irresignado com o fato de que não
foi informado da decisão da sua mãe pelas autoridades que acompanharam o caso.
No caso, a mãe de Tom Mortier sofria de depressão grave e crônica e recebeu a
autorização para realização da eutanásia por uma equipe médica que acompanhava
o caso. A paciente havia, de modo explícito, informado seu desejo de não envolver
os filhos no processo de tomada de decisão, mas deixou uma carta de despedida e
exigiu que os médicos não mantivessem contato com os filhos.

Mortier acionou a Corte Europeia de Direitos Humanos defendendo a


ocorrência de violação ao Artigo 2 da Convenção (direito à vida) e sustentando que
o Estado belga havia violado o direito de sua mãe ao não adotar as provisões
adequadas para garantir a vida de sua mãe e prevista na Lei da Eutanásia belga.
Alegou ainda violação ao Artigo 8 da Convenção (direito ao respeito à privacidade e
à vida familiar) na medida em que o Estado belga não teria respeitado a vida familiar
ao não informar a família.

Ao analisar o caso, a CEDH dividiu as possíveis violações do Artigo 2 em três


situações distintas. Primeiramente, se haveria alguma violação do direito à vida na
lei da eutanásia belga, se haveria desrespeito ao Artigo 2 no procedimento utilizado,
dentro da lei belga, para assessar o caso da mãe de Tom Mortier e se, por fim,
haveria ocorrido violação ao Artigo 2 na revisão do caso pela Comissão Federal de
Revisão e Análise da Eutanásia.

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Inicialmente, a Corte deixa bem claro que não analisará uma possível
incompatibilidade entre a eutanásia e a Convenção, mas sim se a lei belga estaria
dentro da margem de apreciação que o CEDH definiu como cabível ao procedimento
da morte clinicamente assistida pelos Estados-membros do Conselho da Europa.

Prosseguindo a análise do caso, a Corte entendeu que a lei belga sobre a


eutanásia não violaria o Artigo 2 da Convenção, na medida em que estabelecia
parâmetros corretos para aferir a capacidade do paciente de tomar a decisão,
garantindo autonomia e permitindo que o procedimento só ocorresse após análise
médica. Quanto se haveria tido violação ao Artigo 2 da Convenção no procedimento
da mãe de Tom Mortier, a Corte definiu que o médico que acompanhou o caso havia
seguido os requisitos delineados pela legislação belga, atestando que a iniciativa
havia partido da paciente e que esta havia, de modo contínuo e repetitivo, reiterado
o seu desejo pela eutanásia. Tais conclusões médicas foram embasadas pela
análise posterior do caso pelos investigadores criminais bem como pelo painel ético
que acompanhou a questão.

Todavia, a Corte referiu ter havido violação ao Artigo 2 no processo conduzido


pela Comissão Federal de Revisão e Análise da Eutanásia para a análise do caso.
Segundo a Corte, a Comissão não possui a independência e equidistância
necessária para revisar adequadamente o procedimento, na medida em que o
médico que orientou a mãe de Tom Mortier fazia parte da própria comissão que
analisou a sua conduta no caso. Segundo a Corte, a ausência de independência por
parte da Comissão representaria uma violação do direito à vida da mãe de Tom
Mortier, pois não garantiria, por si só, o cumprimento dos requisitos. Além disso, a
demora para a conclusão da investigação criminal do caso pelo Estado também
contribuiria para essa violação.

Por fim, a Corte concluiu também não ter ocorrido violação ao Artigo 8 da
Convenção, entendendo que os médicos que acompanhavam a mãe de Tom Mortier
não descumpriram dever de informar aos familiares sobre o procedimento. Pelo
contrário, os mesmos teriam insistido em diversas oportunidades para que a
paciente informasse seus desejos aos seus filhos, mas esta havia se recusado. O

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CEDH referiu que os profissionais de saúde possuem um dever ético de
confidencialidade e de guardar os segredos confiados por seus pacientes, de modo
que não possuíam qualquer dever de informar a mãe de Tom Mortier do caso.

Mortier vs. Bélgica é marcante por ser o primeiro caso envolvendo eutanásia
a ser analisado pela Corte, mas também por conta de, mais uma vez, reiterar não
haver incompatibilidade entre leis estatais que regulamentam a morte clinicamente
assistida e a Convenção. Além disso, a lei belga, as quais é uma das mais atacadas
por opositores da eutanásia como sendo excessivamente permissiva, foi analisada
como sendo compatível com a Convenção, representando uma grande vitória aos
defensores da morte com dignidade.

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3 CONCLUSÃO

O entendimento da Corte Europeia de Direitos Humanos sobre a morte


clinicamente assistida apresentou uma evolução desde que o Tribunal se deparou
com o primeiro caso sobre suicídio assistido em Pretty vs. Reino Unido.

Inicialmente, o entendimento da Corte foi, indiretamente, no sentido que de


não haveria violações por parte dos Estados-membros em garantir a criminalização
do auxílio ao suicídio, mas, ainda assim, ainda que indiretamente, reconheceu a
possibilidade de que a possibilidade de alguém encerrar sua própria vida por estar
vivendo de modo indigno e doloroso estaria acobertada pelo Artigo 8 da Convenção,
que garante o respeito à vida privada.

Ao longo dos anos, em Haas vs. Suíça, por exemplo, houve um avanço, na
medida em que a Corte definiu que deveria haver um balanceamento entre os
princípios dos artigos 2 e 8, bem como estabeleceu a margem de apreciação dos
Estados-membros do Conselho da Europa para regularem a morte clinicamente
assistida. Gross vs. Suíça avança ao estabelecer que é possível e compatível com a
Convenção que os Estados-contratantes regulamentem a morte assistida quando
estabelecerem critérios claros e suficientes para garantirem a autonomia dos
solicitantes.

O princípio da subsidiariedade é marcante quando da análise da


compatibilidade entre a morte clinicamente assistida e os princípios da Convenção,
definindo a Corte Europeia que incumbe às cortes locais aferirem a compatibilidade
com mais profundidade. A CEDH atuaria com mais afinco nos casos em que os
tribunais locais não agissem adequadamente.

A margem de apreciação que os Estados-membros do Conselho da Europa


possuem é a definição marcante da CEDH quando julgam a morte com dignidade. A
CEDH já deixou claro não haver incompatibilidade entre o direito à morte assistida
com o direito à vida constante no Artigo 2 da Convenção, na medida em que o
primeiro estaria em consonância com o Artigo 8 da carta de direitos.

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O futuro ainda não é claro sobre como a Corte continuará a julgar casos
análogos, mas já há uma jurisprudência sólida sobre a possibilidade dos Estados-
membros regularem a morte assistida, desde que com critérios rigorosos e técnicos
que garantam todos os direitos do paciente.

A morte clinicamente assistida é pauta de discussão em diversos países


europeus, com a aprovação mais recente acontecendo em Portugal. França, Itália e
Irlanda também possuem discussões legislativas avançadas sobre a questão, de
modo que, é de se imaginar, que a Corte terá que enfrentar ainda mais casos
envolvendo o tema em um futuro não tão distante.

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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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