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Ijuí (RS)
2011
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AGRADECIMENTOS
A MORTE
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 43
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INTRODUÇÃO
Por fim, sugerir-se-á também, a doação de órgãos dos pacientes que optarem
pela efetivação da eutanásia, com o consentimento destes. A partir disso, passar-se-
á à reflexão dessa última alternativa, como forma do Estado conceder ao enfermo o
direito de escolha acerca de sua morte, bem como garantir o direito à vida para
aqueles doentes que dependem de um transplante para tornarem-se saudáveis,
tendo em vista que as filas de espera para transplantes são enormes e vagarosas, e
em razão disso, muitos pacientes acabam morrendo antes de realizar o transplante.
Segundo os estóicos, a dignidade seria uma qualidade que, por ser inerente
ao ser humano o distinguiria dos demais. Com o advento do Cristianismo, a
idéia ganha grande reforço, pois, a par de ser característica inerente apenas
ao ser humano, este ser, na concepção cristã, foi criado à imagem e
semelhança de Deus. Ora, violar a dignidade da criatura seria, em última
análise, violação à vontade do próprio Criador. (BERNARDO, 2010, p. 223).
valor da dignidade de uma pessoa não tem preço e que estes jamais poderiam ser
coisificados como um objeto para a obtenção de algo em troca (BERNARDO, 2010).
Segundo Maria Celina Bodin de Moraes (apud BERNARDO, 2010, p. 235) “[...]
será desumano, isto é, contrário à dignidade da pessoa humana, tudo aquilo que
puder reduzir a pessoa (o sujeito de direitos) à condição de objeto.”
O direito à morte se existisse, nada mais seria que o oposto ao direito à vida,
ou seja, seria o direito de acabar com a vida. Mas é forçoso afirmar que ele
não existe porque o direito à vida, assim como todos os demais direitos
fundamentais, é, segundo a doutrina, imprescritível, inalienável e
indisponível. (RODRIGUES, 2008, p. 2).
No caso verídico da italiana Eluana Englaro, uma jovem de 21 anos que, após
sofrer um acidente de trânsito, em 1992, ao voltar de uma festa, “viveu” durante 17
anos em uma cama hospitalar, em estado vegetativo, ou seja, durante todos esses
anos, foram apenas máquinas e equipamentos hospitalares que viveram por Eluana.
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Eluana teve a alimentação e a hidratação reduzidas em 50% na sexta-feira e interrompidas no
sábado na clínica La Quiete. O neurologista Carlo Alberto Defanti, que acompanhava o caso há anos,
disse estar surpreso e que a morte repentina pode ter sido devida a uma crise. Antes, ele próprio
dissera acreditar que ela viveria mais 12 ou 14 dias (O GLOBO, 2009).
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Contrário à morte da paciente, o governo italiano tentava aprovar em caráter de urgência um projeto
de lei que revertesse a decisão judicial. A votação do decreto de emergência estava marcada para
terça-feira, com a conclusão prometida para quarta-feira, quando, acreditavam os médicos, ainda
daria tempo para reverter o quadro médico de Eluana (O GLOBO, 2009).
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Outro fator que influencia a maioria das pessoas a serem contrárias à prática
da eutanásia, é notadamente imposto pela ortodoxa igreja católica que, a cada dia,
torna-se mais conservadora e indiferente à evolução dos tempos.
Por esse motivo, manter um paciente preso a uma cama hospitalar, a cada
dia, só dificulta mais a vida dele e dos familiares que estão à sua volta. Ao
compreender essa situação e perceber que o sofrimento da filha ultrapassava as
razões para mantê-la viva, o pai de Eluana empenhou-se para conseguir dar um fim
digno para esta.
Dessa forma, deve-se respeitar a vontade do enfermo e, quando este não tiver
mais condições de opinar acerca do seu fim, a decisão deve ser concedida para a
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sua família, a qual deverá decidir com base nos princípios que o paciente expressava
em vida, partindo do pressuposto que viver é um direito inerente à pessoa humana e
não pode ser confundido com uma obrigação.
Para outra paciente, comer era o que fazia sentido na vida. Mas ela estava
num estágio em que vomitava tudo o que ingeria. Mesmo assim, não queria
ser alimentada por uma sonda. “Comer, para mim, é o sabor da vida”, disse
à médica Veruska Hatanaka, de 34 anos. Mesmo vomitando, para ela valia a
pena. A equipe respeitou sua vontade. Ela comeu e vomitou até morrer.
Viveu.
Em casos como os relatados acima, por mais que a situação do enfermo seja
desgastante e extremamente complicada, constata-se que no fim da vida, a vontade
deles e de seus familiares foi respeitada, garantindo-lhes assim, menos sofrimento e
dignidade.
E, por fim, temos a mistanásia, a qual, segundo Namba (2009, p. 174), “[...] é
a morte miserável, fora e antes do seu tempo.”
Nesse sentido, Di Paolo et al. (2003, p. 3), destaca que “[...] Um dos grandes
contrapontos entre a mistanásia e a eutanásia é o resultado.” Ou seja, na eutanásia
a morte é antes do seu tempo natural, porém sem dor e sofrimento. Na mistanásia
também ocorre a antecipação da morte, porém há muito sofrimento por parte do
moribundo.
[...] o homem possui uma dignidade que decorre de sua posição mais alta na
hierarquia da natureza, já que é o único ser racional dentre os animais, o
que lhe assegura uma posição especial no universo (sentido absoluto de
dignidade).
para os maiores criminosos, visto que são iguais em dignidade, pois também são
reconhecidos como pessoas (SARLET, 2010).
Desta forma, sendo a dignidade uma qualidade que não pode ser perdida ou
alienada, ao mesmo tempo em que ela é um encargo dos poderes estatais, ela
também serve como forma de limite dessas atividades públicas, eis que a
individualidade e autonomia da pessoa devem ser respeitadas pelo Estado, tendo em
vista que se trata de sujeitos de direitos (SARLET, 2010).
Destarte, a ordem jurídica tutela pela proteção, bem como garante respeito por
parte do Estado a todos os seus cidadãos, tendo em vista que todos são iguais
perante a lei.
Desta forma, contata-se que, o que pode ser indigno para uns, não será,
necessariamente, indigno para outros. Como exemplo dessa situação, nos
deparamos com a pena de morte, a qual é adotada por vários Estados norte-
americanos, sendo que nesses Estados o mencionado procedimento pode não ser
aceito por toda população, mas é admitido pela maior parte da sociedade que
defende a pena de morte como forma de sanção.
Nos Estados Unidos, por mais que haja a pena de morte, a Suprema Corte
entendeu que o sofrimento desnecessário do sentenciado constitui uma causa
legítima de inviolabilidade do direito à dignidade, bem como mencionou que a morte
mediante injeção letal não viola os direitos da pessoa humana.
3
A dignidade da pessoa humana é reconhecida constitucionalmente, no entanto, ela não possui
plena eficácia.
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A eutanásia como uma exceção legítima, sob certas condições, como forma real de proteção do
estado pela vida (Tradução nossa).
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Os casos acima reportados são apenas exemplos dos milhares que tramitam
nos tribunais de justiça brasileiros. Porém, em outras situações, antes mesmo da
família recorrer ao Judiciário em busca de reparações, o caso vira notícia através da
mídia.
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5
Disponível em: < http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/11/morte-por-falta-de-atendimento-
medico-sera-investigada-diz-kassab.html> Acesso em: 1 mai. 2011.
6
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2010/05/25/maca-quebra-durante-parto-recem-
nascido-morre-na-queda-na-bahia-916683322.asp>. Acesso em: 1 mai 2011.
7
Disponível em: <http://www.clicapiaui.com/geral/38177/enfermeira-e-indiciada-por-aplicar-vaselina-
em-menina.html> Acesso em: 1 mai.2011.
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feira, que aplicou vaselina em vez de soro na veia da menina. Ela foi
indiciada sob suspeita de homicídio culposo (sem intenção de matar).
Stephanie foi internada com dores abdominais, diarreia e vômito, e morreu
na madrugada de sábado (4), após receber a dose de vaselina.
O advogado da auxiliar, Roberto Vasconcelos da Gama, afirmou que sua
cliente foi induzida ao erro. “O recipiente preparado pela Santa Casa
[mantenedora do hospital] não dispunha de elementos esclarecedores que
desse a ela condições de saber que se tratava de vaselina líquida” [...].
[...] situação vivida tanto pelos pacientes que aguardam tratamento para
doenças crônico-degenerativas (câncer, insuficiência renal, cardiopatias
etc.), quanto pelos que, em quadros agudos, perambulam por unidades de
urgência e emergência e hospitais até conseguirem atendimento. Denúncias
chegam às ouvidorias, à mídia e até mesmo ao Judiciário - exemplos de
que, contra fatos, não há argumentos ou meias-palavras capazes de
mascarar a realidade.
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Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
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Frisa-se, que diante dessa discussão, o bem maior tutelado é a vontade dos
pacientes em estado terminal, para que estes possam decidir a maneira mais digna
de viver os seus últimos dias, bem como a forma que desejam morrer, sem que isso
prejudique penalmente seus entes queridos ou executores de sua vontade.
Enfim. Por um lado, a eutanásia ainda demorará a ser legitimada pelo sistema
jurídico brasileiro. Por outro lado, trata-se de um tema que tem repercussão social e
midiática bastante crescente. Por este prisma, no tópico seguinte abordaremos o
lado positivo e o negativo deste instituto, bem como alternativas à sua prática.
Desde que nascemos aprendemos que a vida humana tem um começo, meio
e um dia chega ao fim. Aprendemos também, que a palavra morte é um tabu
indecifrável e que é melhor não tocar nesse assunto, eis que é amedrontador.
Acerca da doação de órgãos, sabe-se que ela é regulada pela lei n.° 9.434/97.
Ao analisar esta lei, constata-se em seu artigo 9°, que somente é permitida a retirada
e doação de órgãos e tecidos de um corpo vivo, quando houver consentimento
expresso do doador e quando for doação de órgãos duplos, sem que esse
procedimento impeça o doador de continuar vivo, bem como não cause risco a sua
integridade física10.
Da mesma forma, está estabelecido na lei que, para a doação de órgãos, deve
haver manifestação expressa dos familiares do indivíduo doador11.
É claro que para uma pessoa ser beneficiada com a doação de órgãos, deve
estar inscrita em uma lista única do Sistema Nacional de Transplantes, bem como
preencher burocracias definidas em lei, para que o procedimento seja justo e
universal, garantindo o acesso a todos que necessitarem de transplante de órgãos.
9
URBAN, Cícero de Andrade apud Revista de Direito Constitucional e Internacional. Disponível em:
<http://www2.oabsp.org.br/asp/esa/comunicacao/artigos/eutanasia.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2011.
10
Art. 9°, § 3º, da lei n.° 9.434/97. Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de
órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo
do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave
comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação
inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa
receptora.
11 o
Art. 4 A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou
outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade,
obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento
subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211,
de 23.3.2001).
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Ocorre que, é notório que a mencionada lista a cada dia cresce mais e muitas
pessoas portadoras de doenças cuja cura depende de um transplante, morrem na fila
de espera.
Por isso, sopesando os pontos acima referidos, bem como ponderando o fato
que a eutanásia está longe de ser legitimada no Brasil, verifica-se que a ortotanásia
surge como alternativa natural à eutanásia. Isso porque, neste instituto coexistem
12
Disponível em <http://www2.oabsp.org.br/asp/esa/comunicacao/artigos/eutanasia.pdf>. Acesso em:
23 abr. 2011.
38
Sinala-se que o parágrafo único, do artigo 4°, da lei n.°9.434/97, o qual previa
a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas foi vetado com
as seguintes justificativas13:
13
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/Mensagem_Veto/2001/Mv252-01.htm>.
Acesso em: 23 abr. 2011.
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CONCLUSÃO
Por tais razões, concluiu-se que o indivíduo tem o direito à vida, mas não tem
o direito sobre ela, tendo em vista que este não possui o poder de escolha acerca do
seu processo morte.
Por fim, ressaltou-se que a eutanásia deve ser legitimada apenas para casos
em que, de fato, não há perspectivas de cura e o sofrimento do paciente é maior que
o simples fato de viver. Do mesmo modo, frisou-se a importância acerca da vontade
e do livre arbítrio do paciente, ao passo que, quando este não tiver mais condições
para decidir, a legitimidade ou não acerca da eutanásia deve ser concedida para a
família do moribundo, garantindo-lhe, acima de tudo, a sua dignidade como pessoa
humana.
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REFERÊNCIAS
BRUM, Eliane e Marcelo Mim. A enfermaria entre a vida e a morte. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4270/Breve-estudo-juridico-acerca-do-
direito-a-vida-e-do-direito-a-morte> Acesso em: 24 mar. 2011
ELUANA Englaro. Está em estado físico ótimo, diz neurologista. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u500923.shtml>. Acesso em: 22 out.
2009.
NAMBA, Edison Tetsuzo. Manual de bioética e biodireito. São Paulo: Atlas, 2009.
Disponível em:<http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/Anais/sao
_paulo/2073.pdf>. Acesso em: 10 out. 2010.