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INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA - IFSC

Pós-Graduação em Educação e Diversidade – Campus São Carlos


Cidadania e Direitos Humanos – Profa. Dra. Gabriela C. da Silva e Prof. Me. Felipe J. Schmidt
Sujeitos da Diversidade: Pluralidade Cultural e Educação – Profa. Dra. Marluse C. Maciel

CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

BENEVIDES, M. V. Cidadania e Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados, São Paulo:


Universidade de São Paulo (USP), 2012. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/
textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf/view>. Acesso em 23/11/2021 às 17:20hrs.

Marciel Domingues Ferreira Junior 1

Considerando a evolução humana pela perspectiva biopsicossocial, bem como,


tendo em vista as perspectivas sociais do que seja (ou não) cidadania e direitos
humanos, e as respectivas divergências etimológicas desses termos, temos que o
artigo “Cidadania e Direitos Humanos”, de autoria de Maria Victória de Mesquita
Benevides Soares, segue nesse enfoque e, por isso, aborda, como temática, sobre a
necessidade de discussão relativa às elementares e preceitos de cada um desses
institutos e, com isso, a delineação das diferenças, convergências, evolução histórica
e dos possíveis conflitos entre o que seja cidadania e o que seja direitos humanos.

Dessa forma, a obra pauta-se sobre as questões atuais voltadas para a


concepção social de Direitos Humanos (DH) que, ao contrário do que deveria
acontecer na prática, tem sido muito hostilizada e, no que tange a concepção
etimológica desse direito, deturpada. Nesse passo, com maestria, a autora esclarece
a real finalidade e razão de ser dos Direitos Humanos, bem, como disserta sobre a
necessidade do debate do tema, como uma forma de difusão e promoção desse
conhecimento para a sociedade, que, em várias oportunidades, tem criticado
veementemente esse direito, de modo a marginalizá-lo e, assim, estigmatizá-lo como
direitos relacionados à defesa de bandidos, ainda mais, aqueles de classes baixas.

1
Bacharel em Direito pela Faculdade Quirinópolis (FAQUI). Pós-graduando em Educação e Diversidade
pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Pós-Graduando em Direito Penal e Processo Penal pelo
Instituto Elpidio Donizetti (IED). Pós-Graduando em Direito Constitucional pelo Instituto Elpidio
Donizetti (IED). Graduando do curso de Teatro pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). End.
Eletrônico: marcieldominguesferreirajunior@gmail.com

1
Sobre a autora, ela é socióloga, especializada na área do Direito e da Ciência
Política, como, em temas da Educação e da História Política no Brasil. É mestre e
doutora pela USP, e tem pós-doutorado pela Social Sciences Research Counsil.
Desde 1996 é professora titular da Faculdade de Educação da USP, onde leciona
Sociologia, e, como cidadã e acadêmica, é participativa em debates públicos e
campanhas sobre a reforma política relativa a implementação de mecanismos
institucionais de democracia direta, o qual é objeto de estudos dela há vários anos.
Enquanto Militante dos Direitos Humanos, também tem participação ativa em órgãos
públicos e entidades da sociedade civil voltados para essa área.

Pertinente ao artigo, inicialmente, a autora informa e explica sobre a existência


de entidades internacionais e suas funcionalidades, que se organizam por cátedras
para o debate e deliberações de temas de relevantes interesses sociais e
internacionais. Em seguida, a autora indaga sobre os motivos que levam o tema,
Cidadania e Direitos Humanos, ser tão necessário e oportuno numa Faculdade de
Educação no Brasil. Como resposta, a própria autora explana que, se de um lado, tem
havido muita confusão do que seja cidadania e, por isso, o tratamento de cidadania
enquanto sinônimo de exercício da democracia pelo povo, de outro, pela sociedade,
há a concepção de Direitos Humanos num sentido pejorado.

Assim, a autora relaciona esses fatores com o período de regime militar, pondo
em evidência a relação política dos Direitos Humanos, e, ainda, ressaltando a
hipocrisia e ignorância sociocultural de grande parte da sociedade. Porquanto, em
tempos de repressão generalizada a direitos fundamentais, todos reivindicavam por
aqueles direitos (enquanto instrumento universal para salvaguardar a integridade do
ser humano), entretanto, a partir do momento que houve um relaxamento da
repressão militar, a ideia de que, independentemente da classe social, todos seriam
merecedores da garantia dos direitos fundamentais, restou infrutífera, tendo, como
efeito, a associação desse direito a defesa de marginais que pertencem, na maioria
das vezes, às classes populares.

Desse modo, o artigo discorre sobre a diferença entre cidadania e direitos


humanos, sendo a cidadania relacionada ao que diz respeito às normas fundamentais
para organização de um estado – direitos e deveres civis -, e, os direitos humanos,
por sua vez, referem-se a direitos naturais e universais, que podem ser reivindicados,
por quaisquer pessoas.

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Nessa perspectiva, a autora elucida que, entender sobre a questão do que seja
direitos humanos (e suas funções) não é o problema em si, pois, de certo modo, todos
têm ciência de que não se deve discriminar ninguém em decorrência das diferenças
dela, sejam elas quais forem. Contudo, o problema reside na aceitação em não-
discriminar alguém, por julgamento moral, por mais difícil que seja de aceitar. Assim,
é exatamente o reconhecimento da humanidade em qualquer pessoa (ainda que seja
o pior dos criminosos), que tem sido o fator para a incompreensão e introspecção
social dessas condutas discriminatórias da sociedade.

Nesse caso, não é razoável a justificativa de uma percepção moral sobre uma
questão que ultrapassa a fronteira do social, vez que, não é pelo fato de cada um
poder ter um julgamento moral, que o leva a estigmatizar outrem e considerá-lo
merecedor das punições mais severas do ordenamento jurídico, que significa que
esse indivíduo estigmatizado deva ser excluído da vida humana. Portanto, o núcleo
fundamental dos Direitos Humanos se pauta justamente no direito à vida, até porque,
seria irrelevante os demais Direitos Humanos se, antes, não valesse o direito à vida.

Nesse ponto, a autora infere que, considerando o direito à vida como o núcleo
fundamental e, por isso, pressuposto de todo o resto, trata-se de um direito que evoluiu
com o decorrer do tempo e que, nos dias de hoje, ainda pode ser contestado em
função de especificidades culturais. Desse modo, no momento que se admite, por
exemplo, a escravidão de um semelhante, está, automaticamente, colocando em
xeque o direito à vida desse semelhante. Porquanto, a pessoa que tem o direito de
propriedade sobre outrem, tem, também, a decisão de vida dessa outra pessoa.

Ademais, no artigo é afirmado que os Direitos Humanos são, então, universais,


históricos, naturais, indivisíveis e interdependentes, de modo que, à medida que são
acrescentados ao rol dos direitos fundamentais do ser humano, não podem mais
serem divididos, e por isso são para todos, independentemente de quaisquer
diferenças. Por isso, trata-se de um direito considerado universal, o que explica, por
exemplo, a legitimidade de intervenção de um estado sobre outro, em casos de grave
violação a algum Direito Humano.

A autora também discorre sobre a evolução dos Direitos Humanos que,


didaticamente, fora dividido em três gerações. A primeira geração diz respeito as
liberdades individuais, consagradas com o advento do liberalismo em face da
opressão do Estado absolutista, as perseguições religiosas e políticas etc. A segunda

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geração é a dos direitos sociais, ligados tanto ao mundo do trabalho - direito ao salário,
à seguridade social, a férias, a horário, à previdência etc -, como outros de cunho
sociais - direito a educação, à saúde, à habitação. A terceira geração, por último,
refere-se aos direitos coletivos da humanidade - ao meio ambiente, à defesa
ecológica, à paz, ao desenvolvimento, à autodeterminação dos povos, etc.

Por fim, considerando toda essa evolução dos Direitos Humanos, ora exposta,
a autora defende que a igualdade não é o mesmo que uniformidade e/ou
homogeneidade. Porque o direito à igualdade pressupõe o direito à diferença,
enquanto direito de cada um poder ser tal como é. Logo, a diferença não pode ser
considerada com o mesmo sentido de desigualdade, pois, assim, estaria presumido
uma valoração de polos opostos (inferior e superior, positiva ou negativa etc). Nisso,
a igualdade significa a isonomia perante a lei e a justiça, e das oportunidades na
sociedade. Por isso, todos devem ser considerados igualmente portadores do direito
à diversidade cultural e da diferença de ordem cultural, de livre escolha e afins.

Contudo, o respectivo artigo, Cidadania e Direitos Humanos, trata-se uma obra


emblemática, no sentido de desconstruir uma concepção deturpada pela sociedade
sobre os Direitos Humanos, e, com isso, revigorar o real sentido e fins desses direitos.
Além do mais, considerando todo o conteúdo discorrido na obra, é possível verificar
que o tema é abordado com muita didática e riqueza de conteúdo, tanto histórico como
sociológico e jurídico. Disto, é possível compreender que os Direitos Humanos são
muito mais que um simples meio de fuga para aqueles que infringem as normas da
sociedade, tendo em vista que tais direitos se tratam de normas intrinsecamente
ligadas a pessoa humana, e que visam proteger a essência da razão de ser humano.

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