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Wanessa WIESER 1
Sérgio Tibiriçá AMARAL2
1. Introdução
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Discente do 5º termo do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antonio Eufrásio de
Toledo” de Presidente Prudente e integrante do grupo de Iniciação Cientifica do Profº Ms.
Sergio Tibiriçá Amaral (Unitoledo-PP)
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Docente e coordenador do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antônio Eufrásio de
Toledo”, Mestre de Direito pela Ite-Bauru e pela Unimar. Doutorando em Direito pela Ite-Bauru,
sergio@unitoledo.br
2. Uma visão antropológica
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Teólogo e doutor em Antropologia. Membro da American Anthropological Association. Pastor
presbiteriano e membro da APMT e Missão AMEM. Consultor e autor de projetos de direitos
humanos e reorganização social pós-guerra em Gana, África, entre 1995 a 1999.
Este relativismo de uma forma radical impossibilita o individuo de
propor mudanças dentro de sua própria cultura por entender a cultura como um
sistema imutável.
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Diplomata, filósofo, antropólogo, tradutor e ensaísta brasileiro. É membro da Academia
Brasileira de Letras desde 1992.
No entanto, apesar da Constituição Brasileira garantir, num
capítulo especial, artigos 231 (desdobrado em seis parágrafos) e 232 os
direitos dos índios, onde ressaltam o reconhecimento da identidade cultural
própria e diferenciada dos grupos indígenas (organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições), o Estado devera ainda adotar uma política
antropológica comunicativa, facilitando assim o dialogo entre culturas distintas,
respeitando a existência do dinamismo cultural.
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Etnolingüista com mestrado em lingüística indígena pela Universidade Federal de Rondônia.
Presidente do conselho deliberativo da entidade Atini-Voz pela Vida , que assessora famílias
de índios contrárias ao infanticídio
translado dos bebês e seus familiares. "Se eles não fossem levados para
tratamento, certamente seriam sacrificados", afirma Márcia.
Como podemos ver nos relatos de Quebrando o Silencio um
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debate sobre o infanticídio nas comunidades indígenas “Uma das crianças,
Iganani, era portadora de paralisia cerebral e a outra, Tititu, recebeu o
diagnóstico de hermafroditismo. Iganani chegou a ser deixada na mata para
morrer, mas sua avó conseguiu convencer a mãe a ficar com ela. Já Tititu
quase foi morta pelo pai, que ameaçou flechá-la, mas acabou decidindo levá-la
até os "brancos", para ver se saberiam o que fazer”.
“Se o médico operar a minha filha, meu coração vai ser só sorriso”. Se o
médico não operar, eu vou ter que dar veneno para ela, ela vai morrer. Meu
coração vai ser só tristeza. Eu também acabaria tomando veneno, eu iria me
matar’. 7
Como se pode observar no depoimento subscrito, nos seres
humanos apesar dos diferentes valores sociais, compartilhamos os mesmos
sofrimentos humanos e culturais.
Segundo relatos de Suzuki e Márcia, Tititu foi operada em
São Paulo e voltou para a aldeia em dezembro de 2005, onde foi bem aceita e
recebida com alegria pela tribo. Iganani, nascida com paralisia cerebral, estava
fazendo tratamento no DMR (USP-HC) em São Paulo e estava tendo
progresso. Recebeu licença para visitar os parentes na tribo em dezembro de
2005 e deveria retornar para continuar o tratamento em SP no mês de
fevereiro. Na aldeia sua mãe ainda enfrentou dificuldades, pois alguns parentes
queriam que ela fosse sacrificada. A mãe voltou para a cidade em fevereiro,
disposta a continuar o tratamento da filha, lamentavelmente a continuidade do
tratamento iniciado em São Paulo atrasou, por questões burocráticas e outras,
ainda por esclarecer, pondo em risco a família Suruwahá. As crianças
poderiam ser mortas na aldeia e os adultos se suicidariam em conseqüência.
Mesmo assim as dificuldades foram inúmeras com FUNASA(Fundação
Nacional de Saúde) e FUNAI (Fundação Nacional do Índio ), e então se iniciou
um movimento no país e fora, a fim de chamar a atenção das autoridades
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Documentário elaborado pela jornalista indígena Sandra Terena.
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Naru Suruwahá, em entrevista ao programa Fantástico,Rede Globo, outubro/2005. Sua filha,
pseudo- hermafrodita,precisava de uma cirurgia corretiva do órgão genital
sobre o direito dos índios de tratarem seus filhos e serem justa e
adequadamente atendidos pelas instituições responsáveis, além de terem seu
direito à intérprete respeitado.
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Artigo sétimo da Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU 1948
O Direito à diversidade cultural é um direito legitimo, mas
limitado, não podendo ser usado para justificar qualquer violação aos direitos
humanos. Como se pode ver, por exemplo, nenhum Estado poderá evocar de
suas tradições culturais para justificar a pratica da escravidão ou tortura. Da
mesma forma não poderia o direito a diversidade cultural ser forma de
legitimação a violação a vida. Portanto qualquer tentativa de justificar as pratica
de infanticídio não possuem respaldo em nenhuma legislação internacional.
6. Conclusões
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Professora do Departamento de Antropologia da UnB
A perspectiva comunicativa em oposição ao relativismo nos leva
a partilharmos e dialogarmos mesmo sendo o bem da vida com dignidade
muito importante. As etnias indígenas são racionais e dinâmicas, capazes
desse feito, embora tenham outros valores.
Todo o individuo tem direito de reconhecer e se levantar contra
os valores culturais experimentados, e propor novas alternativas para solução
de seus conflitos mesmo em se tratando do valor vida. De certo, nenhuma
cultura é estática ou isolada da sociedade humana, todos nos partilhamos dos
mesmos sonhos e sofrimentos. Estas não podem ser mantidas estanques
umas das outras, pois o dialógo é importante para o progresso moral da
humanidade.
O Estado brasileiro deve tratar o infanticídio de forma ativa,
informando e argumentando com as sociedades indígenas a respeito de
alternativas para a solução de seus conflitos internos dentro dos direitos
humanos. Esta pratica garantiria então o direito a vida, respeitando o principio
da dignidade humana, independente dos segmentos étnicos de cada povo. A
solução deve focar que a criança indígena tem direito a uma vida digna e não
apenas à vida. Portanto, se a comunidade aceitar o tratamento de forma que a
criança possa ser colocada no convívio da sua comunidade, sem rejeição,
estará efetivado o direito fundamental básico da dignidade do ser humano.
Caso contrário, a criança, embora via estaria condenada a um tipo de
“ostracismo”, que o afastaria dos seus familiares e etnia. Portanto, haveria um
tipo de punição. Trata-se de um dilema que merece um estudo mais
aprofundado não apenas no campo do direito e da antropologia, mas de outras
ciências.Todavia, qualquer punição deve ser descartada de pronto, a fim de
que se comece a entender a problemática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS