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Papel da deontologia na construção de uma cultura organizacional

Conceitos-chave: motivação; ética; deontologia; organização; relações interpessoais;


multiculturalidade.

 Códigos de conduta no contexto profissional


- Pertença e lealdade no colectivo
- Relacionamento e inserção multicultural no trabalho
 Participação na construção dos objectivos organizacionais à luz de uma cultura de rigor
- Mecanismos de motivação e realização pessoal e profissional e sua relação com a
produtividade
- Convergência entre os objectivos organizacionais e as motivações pessoais
 O papel da autonomia e da responsabilidade no planeamento e estruturação de metas
 Quando falamos em sociedade, referimo-nos a um
conjunto de pessoas que se relacionam entre si e que, de
uma forma mais ou menos organizada, interagem umas
com as outras. O modo da vida próprio de cada sociedade
é o que se designa por cultura. Trata-se de um fenómeno
universal, verificando-se desde sempre em todas as
sociedade, diferindo, no entanto, de sociedade para
sociedade.

 Cada indivíduo nasce num grupo, a família, que lhe vai


dando a conhecer os elementos constituintes e
caracterizadores da cultura da sua comunidade. A criança
interioriza estes elementos absolutamente necessários para
a sua integração na sociedade.
 Desta forma, a cultura vai constituir um modo de adaptação e um conjunto
de respostas às necessidades e desejos humanos.

 Esses elementos são de carácter instrumental e ideológico. Dentro dos


elementos materiais temos, por exemplo, os diversos objectos, o nosso
vestuário ou as nossas habitações. Dentro dos elementos ideológicos, que
são imateriais, podemos referir os seguintes:

- os valores, pelos quais guiamos as nossas condutas, como o bem, a


justiça, o belo, o saboroso, o saudável, o sagrado ou o útil;

- as ideias ou crenças políticas, filosóficas, religiosas ou económicas;

- as tradições e costumes, como as maneiras de cumprimentar ou de


estar à mesa;
Estes elementos que constituem a cultura de uma dada
sociedade (a portuguesa, a brasileira, a japonesa, …) vão
influenciar os indivíduos dessa comunidade na sua forma
de pensar, sentir, agir, condicionando decisivamente, a
leitura que fazem do mundo que os rodeia – o europeu
utiliza talheres para se alimentar, os orientais servem-se
de pauzinhos; é conhecido o quimono japonês, o sari
indiano ou o fato ocidental; o hindu não se alimenta de
carne de vaca (trata-se de um ser sagrado nesta religião)
ao contrário dos cristãos; a poligamia é legal nas
sociedades árabes, mas ilegal no ocidente.
 É ela que institui as regras-normas que organizam a
sociedade e governam os comportamentos dos
indivíduos.”

 Os critérios pessoais de avaliação e valoração não são


imunes aos valores adoptados e seguidos pela
comunidade onde nos formámos como seres humanos.
Desta feita, a nossa hierarquia de valores traz a marca
da hierarquia de valores da nossa época e da nossa
sociedade. E a infinidade de hábitos e costumes, modos
de estar e pensar estão na dependência da diversidade
cultural que enriquece o nosso planeta.
 ”O homem recebe do meio, em primeiro lugar, a definição do bem e do mau, do
confortável e do desconfortável. Deste modo, os chineses preferem os ovos
podres e os oceanenses o peixe em decomposição. O homem recebe do seu meio
cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os
homens mais velhos do que parecem (…). O homem retira também do meio as
atitudes afectivas. Entre os maoris, onde se chora à vontade, as lágrimas correm
só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos esquimós, que praticam a
hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu, tal como na Samoa; (…) a morte
não parece cruel, os velhos aceitam-na como um benefício e todos se alegram
por eles. Nas ilhas Alor, a mentira lúdica considera-se normal; as falsas
promessas às crianças um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito
encontra-se na ilha Normanby, onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho
que está a mamar. (…) O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem
nas ilhas do Estreito de Torres e nas ilhas Andaman, em que o filho ou a filha
são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos
vizinhos, em sinal de amizade.”
Lucien Malson, As crianças selvagens
 A sociedade não se constitui como uma massa amorfa de indivíduos. Pelo
contrário, a vida em sociedade caracteriza-se pela inserção dos indivíduos
em grupos, que podem ser essencialmente afectivos, como a família ou
amigos, ou grupos que se caracterizam pela formalidade e impessoalidade

como as empresas ou partidos políticos.


 O homem é um ser social, a sua vivência é
convivência. Cada um de nós faz-se ser humano no
contacto, na interacção com o outro.

 Todos nascemos numa família, que constitui o grupo


basilar em qualquer povo do globo. É nos laços
estabelecidos entre a criança e os pais, que a relação
com o outro se inicia, alargando-se progressivamente a
outros elementos da sociedade: colegas da escola,
grupo de amigos, colegas de trabalho, etc. A pertença
ao grupo familiar e a integração noutros grupos e, em
última análise, na sociedade, confere a cada um de nós
o estatuto de ser humano.
 O desenvolvimento de cada indivíduo faz-se em estreita correlação
com o processo de socialização, processo este que exige a presença
do outro. Mas este processo terá as suas lacunas se não se orientar
por princípios e valores que visem uma inserção saudável na
comunidade.

 O indivíduo a partir do momento em que faz parte de um colectivo


profissional deve basear e fortalecer a sua relação com o grupo nas
ideias de pertença e lealdade, tendo como argumento que todos
juntos, melhores resultados obterão.

 O sentimento de pertença ajuda a estimular a responsabilização, a


lealdade e o profissionalismo. O facto de pertencer a uma equipa de
trabalho forte e com identidade própria é um dos trunfos de
qualquer empresa.
Pertença (sentimento de)- o “sentimento de pertença” constrói-se por um
processo de tripla identificação:

identificação do outro,
identificação com o outro
identificação pelo outro.

 É definido como a consciência individual de partilhar uma ou mais identidades


colectivas e, assim, de pertencer a um ou vários grupos de referência dos quais o
indivíduo integra um certo número de traços identitários (valores, modelos
comportamentais e interpretativos, símbolos, imaginário colectivo, saberes
partilhados, etc.)
Imagine uma cidade que está sob a ameaça de um bombardeiro.
Um homem pede-lhe que tome uma decisão imediata.
Existe um abrigo subterrâneo que só pode acomodar seis
pessoas
Há doze que pretendem entrar.
A seguir apresenta-se uma relação das doze pessoas que estão
interessadas em entrar para o abrigo.
 Um violinista com 40 anos de idade, viciado em narcóticos
 Um advogado com 25 anos de idade.
 A mulher do advogado com 24 anos de idade, que acaba de sair do manicómio.
Ambos preferem, ou ficar juntos no abrigo ou ficar fora dele.
 Um sacerdote com a idade de 75 anos.
 Uma prostituta com 34 anos de idade.
 Um ateu com 20 anos de idade, autor de vários assassinatos.
 Uma universitária que fez voto de castidade.
 Um físico com 28 anos de idade, que só aceita entrar no abrigo se puder levar
consigo a sua arma.
 Um declamador fanático com 21 anos de idade.
 Uma menina com 12 anos de idade e baixo Q.I..
 Um homossexual com 47 anos de idade.
 Uma débil mental, com 32 anos de idade, que sofre de ataques epilépticos.
 Objectivo:

Mostrar que os valores e as crenças adoptados e inerentes a cada sujeito,


determinarão não só a sua acção, mas também as suas opções. Os valores
diferem não só de grupo para grupo, mas também de pessoa para pessoa.
Os vários elementos do grupo discordam, muitas vezes, porque os seus
valores e crenças diferem.

Compare a sua selecção com a dos seus colegas.


Verifique se depois da discussão alguns dos seus elementos mudaram de situação.
O trabalho em grupo é um processo baseado em princípios e valores que estão claramente
definidos e entendidos. O verdadeiro trabalho em grupo é um processo contínuo
interactivo de um grupo de pessoas aprendendo, crescendo e trabalhando
interdependentemente para alcançar metas e objectivos específicos no suporte a uma
missão comum.

 Uma das condições básicas para que os membros do grupo cooperem é a CONFIANÇA
que se deverá desenvolver entre eles.
 Nos grupos, onde a cooperação é elevada, as
pessoas sentem-se motivadas pelo trabalho
produzido e mantêm um alto nível de frequência
de comportamentos que os levam à solução dos
problemas.

 O comportamento individual é importante para o


sucesso do grupo. O indivíduo sente-se apoiado e
aprovado pelos restantes membros do grupo. Tal
facto tende a aumentar o seu desempenho.

 O bom contributo de um membro de um grupo


conduz os restantes a reforçarem ainda mais o
seu desempenho
 Coesão de um grupo é o resultado de todas as forças que actuam sobre os
membros para que permaneçam no grupo.

 O conceito de coesão poderá também ser o de “atracção interpessoal”.

 As pessoas que constituem o grupo devem sentir alguma atracção entre si,
mantendo uma boa relação. Deste modo, as pessoas partilham algo de comum,
partilham uma determinada IDENTIDADE..

É pelo facto das pessoas cooperarem, e apresentarem atitudes


semelhantes, que se tornam coesas, existindo entre elas, atracção
interpessoal.
A coesão do grupo permite, de um modo geral:

- que os membros do grupo permaneçam juntos;


- que os membros do grupo confiem e sejam leais;
- que os seus membros se sintam seguros;
- que os seus membros se deixem influenciar pelo grupo;
-que aumente significativamente a satisfação dos seus membros, à medida
que o trabalho se desenvolve;

- que a interacção entre os seus membros se intensifique.


 Os elementos de um grupo não têm necessariamente que ter estruturas
pessoais semelhantes, para serem funcionais.

 No entanto, a cooperação é dificultada, se pertencerem a culturas ou


grupos sociais muito diferentes.

 O fundamental para o grupo é a CONFIANÇA INTERPESSOAL e


a motivação para a realização de uma tarefa comum.
- Já alguma vez trabalhou em equipa? De acordo com a sua experiência,
diga as vantagens e desvantagens de trabalhar em grupo.
 Pela nossa própria experiência, a convivência nem sempre é fácil. Os
desentendimentos e conflitos surgem nos mais variados espaços - na família e
entre amigos, no trabalho, no contacto com meros conhecidos e desconhecidos
(problemas no trânsito é um bom exemplo) e entre nações, como a história da
Humanidade tristemente testemunha.

 Alguns autores consideram que é bom tudo o que promover a dignidade de cada
um de nós. O respeito pelos outros, pelo seu desenvolvimento e realização pessoal
responsável são de valorar e promover, ao mesmo tempo que nos permite
distinguir o bom, o justo, o correcto do mau, do injusto e do incorrecto.
 Em função da valoração do outro como um ser
digno, racional e livre (como nós próprios), as
nossas condutas manifestarão a defesa de valores
como a justiça, a cooperação, a tolerância, a
solidariedade, a liberdade da opinião diferente, a
atitude dialogante, em detrimento da injustiça,
intolerância, indiferença ou discriminação.

 A tolerância na conduta pessoal, a abertura face


ao outro, a atitude dialogante e o respeito pelas
diferentes formas de pensar são muito
importantes nas situações de debate e intervenção
que enfrentamos todos os dias, inclusive no
exercício da nossa profissão.
 No nosso local de trabalho, todos os dias há
assuntos a discutir, imprevistos a ultrapassar,
estratégias a definir, decisões a tomar, situações
que exigem a troca de ideias, o diálogo, a
apresentação de argumentos. Assim, nestes
contextos de negociação e intervenção, torna-se
imperioso o respeito por certos princípios éticos
(que ajudam na procura do bem, do justo, do
correcto), de forma a promover um debate sério,
empenhado e sem constrangimentos, na busca
das melhores soluções para os problemas em
causa
 Destaca-se a liberdade de expressão e opinião, e consequentemente, o
respeito pelas ideias dos outros, ainda que configurem pontos de vista
diferentes dos nossos. Por trás destes princípios está uma atitude democrática,
de abertura ao diálogo, ao outro, ao diferente, e de cooperação, que se
manifesta no respeito pelos objectivos comuns ao diálogo, sobrepondo os
interesses de todos aos interesses de alguns.
 Relate uma situação em que tenha sido tolerante/intolerante para com o
outro. Em que medida o seu comportamento afectou a relação com os
outros.

 Já alguma vez sentiu que alguém tenha sido intolerante consigo? O que
sentiu?

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