Você está na página 1de 5

A importância da cultura no comportamento humano

 O que é a cultura?
1.A cultura não é algo de congénito, mas algo que se aprende. Podemos nascer programados
para aprender, mas não nascemos na posse do conjunto de informações e de conhecimentos a
que chamámos cultura.
2.A aquisição de cultura significa que alguém foi instruído e educado. E que outras pessoas a
instruíram e educaram. A transmissão cultural é, pois, um processo social. Precisamos dos
outros para aprender.
3.Ser culto não significa somente ter realizado aquisições importantes no campo das artes e
das letras (a chamada cultura artística e literária).

A cultura é o conjunto de valores, crenças, conhecimentos, instituições, normas,


comportamentos, produções artísticas e técnicas partilhados pelos membros de uma
sociedade, transmissíveis às gerações seguintes e resultantes da interação social.
•O conteúdo espiritual é constituído pelas instituições, pelos valores, pelas normas, pelas
crenças, pelos conhecimentos e ideias, pelas produções literárias e artísticas.
•O conteúdo material é constituído pelas coisas e objetos produzidos e pela tecnologia para
produzir objetos e instrumentos, para adquirir produtos, para os transportar, etc.

 A transmissão cultural como fator humanizador: não basta nascer


humano porque temos de nos tornar humanos
A sobrevivência exclusivamente através dos instintos não é possível e denota um ser humano
incompleto.
Poderíamos afirmar que, se nascemos programados para aprender, nascemos também
geneticamente programados para nos relacionarmos com os outros. Talvez seja esta,
igualmente, uma das aquisições da evolução. Sem um meio social no qual nos integrarmos
desde os primeiros dias de vida, não desenvolveremos as capacidades e comportamentos que
fazem de nós membros do género humano.

 A transmissão cultural realiza-se numa determinada sociedade: o


processo de socialização
Para aprender e desenvolver a sua capacidade de adaptação, não basta ao ser humano um
programa genético aberto e um cérebro complexo. Estas condições são necessárias, mas não
suficientes. Este é o meio social e cultural constituído por outras pessoas e pelos valores e
padrões de comportamento que as regulam, enquanto grupo.

Atuam sobre cada indivíduo desde que nasce – e mesmo antes, no período pré-natal, pela
influência que exercem sobre a mãe. Esses fatores completam o desenvolvimento que se havia
iniciado no feto e prolongam-se durante anos numa longa interação, não linear, ao longo da
vida. Quando nascemos, já estamos inseridos numa cultura, porque fazemos parte de um
grupo que partilha um conjunto de regras, normas, valores e aquisições materiais e
espirituais.

Este enorme espetro de comportamentos, de regras, de valores e de competências é


transmitido durante o processo de socialização.
É um constante processo de aprendizagem que nos torna relativamente sociáveis, nos integra
num meio sociocultural e nos faz pertencer a vários grupos. Mediante esse processo,
aprendemos a ler, a escrever, a falar, a distinguir alimentos comestíveis de não comestíveis e
consumi-los de certas formas. Criamos laços afetivos. Adquirimos conhecimentos sobre o
mundo e sobre o que é moralmente certo e errado. Aprendemos, entre muitas outras coisas,
uma profissão.

•Socializar não é “programar socialmente” um indivíduo, como se fôssemos totalmente


determinados pelo que nos transmitem. Também somos agentes da nossa própria
socialização, ou seja, indivíduos socialmente ativos. Não nos limitamos a guardar o que nos é
transmitido. Reagimos, protestamos, propomos mudanças, inovamos.

 Socialização primária e secundária


Os psicólogos e sociólogos distinguem-se dois tipos de socialização: a socialização primária e a
socialização secundária.
•A socialização primária realiza-se, no seio da família, da escola e dos grupos de pares,
durando desde os primeiros meses de vida até à adolescência e consistindo na adaptação aos
padrões culturais fundamentais da sociedade em que nos inserimos.

- A nível biológico e psicomotor, são-nos transmitidas normas respeitantes aos gestos e


atitudes corporais, aos horários das refeições, aos regimes alimentares, à forma de enfrentar o
calor, frio, etc.
- A nível afetivo, aprendemos a expressar sentimentos de forma considerada apropriada e a
reprimir e recalcar aqueles que não são socialmente permitidos ou estimulados.

-AAsocialização primária
nível ideológico, visa a adaptação
interiorizamos básicavalores,
conceções, dos indivíduos à sociedade de
ideias, preconceitos modo que na sua
e estereótipos
forma deda
próprios pensar,
culturaagir
emeque
sentir haja um marcando
nascemos, mínimo denominador comumem
progressivamente, quemuitos
os torne elementos
casos, um de
um mesmo meio sociocultural.
distanciamento crítico em relação ao que nos é transmitido.

•A socialização secundária é o processo de aquisição de um conjunto de saberes ou


competências especializadas durante a adolescência ou o período da idade adulta.

A socialização secundária começa na adolescência e pode durar o resto da vida. É constituída


por um conjunto de saberes especializados que integram o indivíduo em situações específicas
e com objetivos determinados.
Os agentes intervenientes são também designados por agentes de socialização secundária.
Estes permitem ajustar o comportamento do indivíduo em função de mudanças significativas
na sua condição social e na sua situação profissional.
São situações que implicam por parte do sujeito a adaptação a novas
aprendizagens pautadas pela aquisição de valores, normas e conceções de acordo
com as experiências e contextos onde o indivíduo se insere.
Socialização primária Socialização secundária
1.Processo de aquisição de saberes e competências 1.Processo de aquisição de um conjunto de
básicas que nos dão a capacidade para aprender a viver saberes ou competências especializadas.
em sociedade.
2.Decorre durante parte da adolescência e a vida
2.Decorre essencialmente durante a infância e a parte adulta.
inicial da adolescência, sendo mais intenso na primeira
das referidas fases.

 O papel dos significados atribuídos à experiência


É indispensável pensarmos na ideia de ser humano como um ser inacabado.
A criança começa a ver-se pelos outros, nas relações de socialização. O mundo dos humanos,
como vimos, é constituído por um conjunto de relações e de aquisições que só pode ser
adquirido em relação.

O completar do desenvolvimento humano faz-se a partir de uma narrativa composta das


experiências do corpo, dos significados que atribuímos às coisas, da forma como se intervém e
modifica o real, numa continuidade que se constitui como história pessoal, única e singular.
• A individuação é o processo ou o ato de atribuir singularidade e autonomia psicológica ao
indivíduo. A socialização permite integrar e normalizar, a individuação permite diferenciar.
O conjunto de processos e de influências que interiorizamos, que interpretamos e vivenciamos
formam em cada um de nós a permanência da mesma individualidade, constituindo uma
identidade única, o nosso “eu”, uma das bases da personalidade individual.
• É na interação com os outros que se forma a nossa identidade pessoal: a identidade não é
estática, mas dinâmica, desenvolve-se, aprofunda-se, nunca estando absolutamente definida.
É uma história.
•A nossa identidade pessoal depende das experiências que vivemos e do significado que lhes
atribuímos: o nosso modo próprio de ser define-se pela forma como interpretamos e reagimos
ao que vivemos.
•É na interação com os outros que se forma a nossa identidade social: quando digo “eu”, estou
a falar de mim, mas também a dizer que pertenço a uma “região”, que sou “português” e que
sou “europeu”.

 Auto-organização e criação sociocultural

A auto-organização permite a emergência de novos comportamentos a partir da sua


assimilação e da transformação do recebido ou do aprendido. Em quase todos os
comportamentos cabe ao ser humano dar sentido, coerência e continuidade aos episódios das
suas vivências e às experiências pessoais ou sociais, que se apresentam, muitas vezes,
fragmentados.
O ser humano é definitivamente um ser interativo que se auto-organiza e se adapta ao meio,
capaz de antecipar e de prever e não só de reagir automaticamente às solicitações, qualquer
que seja a sua origem.

 A diversidade humana

Qualquer um de nós que viaje numa grande cidade depara-se com uma enorme massa de
indivíduos vindos das mais diferentes partes do mundo. 
Essa diversidade, como podemos observar, é cultural e social, mas é, em primeiro lugar,
biológica.

 A diversidade biológica

Os organismos mais aptos são os que melhor se adaptam ao meio, mas, também, os mais
aptos a desenvolverem-se. Este processo, aliado às mutações e à reprodução sexuada,
conduziram à enorme diversidade de seres na Terra e à complexidade que neles observamos.

Exemplo: uma das fontes que explicam a diversidade do fenótipo corresponde às variações do
genótipo que ocorrem durante o processo de reprodução dos cromossomas. Este processo,
normalmente rigoroso, não é, no entanto, perfeito. Por vezes ocorrem neste processo
mutações que não são mais do que erros de replicação do ADN. Muitas destas mutações
ocorrem por acidente e favorecem o desenvolvimento do indivíduo. Mas outras existem que
podem prejudicar os organismos afetados. Algumas conferem vantagens na sobrevivência e na
reprodução, contribuindo dessa forma para a diversidade no interior das espécies.

 Diversidade funcional e cultural

O ser humano não está programado para responder de forma fixa aos problemas que o meio
coloca. Possui um certo grau de autonomia para reagir de modo diversificado, não só a
problemas diferentes, como também aos mesmos problemas. Em meios distintos e mediante
diferentes formas de aprendizagem e de adaptação ao meio, os vários povos criaram
diferentes formas de vida.
Esta diversidade e esta variedade foram muitas vezes também favorecidas pela falta de
contacto e pelo isolamento em que durante muitos séculos os seres humanos viveram uns em
relação aos outros.

Assim surgiu a diversidade cultural.

Tornamo-nos humanos através da interação de fatores ambientais, genéticos, socioculturais e


cerebrais, que convergem para aquilo que somos: seres individuais únicos.
- A diversidade funcional é a capacidade que a cultura tem, enquanto sistema simbólico, de
fornecer aos seus membros formas diferentes de interpretar e organizar a realidade.
- A diversidade funcional deve ser compreendida no quadro do que é ou não aceite como
normal numa cultura. Cada cultura constrói as suas opções a partir dos elementos que a
constituem: o seu sistema de crenças, de rituais e de comportamentos aprovados. Colocada a
questão de outra forma, cada cultura determina o quadro em que aceita o normal e rejeita a
diferença.

• O ser humano é um ser biologicamente inacabado, um ser dotado de um programa genético


aberto e flexível que concede muito espaço às aprendizagens. Deste modo, não estamos
programados para responder de forma fixa aos problemas que o meio coloca. Possuímos um
certo grau de autonomia para reagir de modo diversificado, não só a problemas diferentes,
como também aos mesmos problemas.

• O que significa relatividade cultural?


A expressão «relatividade cultural» significa que o comportamento humano não pode ser
compreendido e avaliado fora do seu contexto cultural, isto é, deve ser julgado consoante o
meio cultural, que o condiciona e em que se formou. Cada sociedade tem os seus próprios
padrões de cultura (normas, valores, conceções), e esses padrões ou modelos permitem-nos
compreender os comportamentos e as atitudes dos elementos que a compõem.

Assim, a relatividade cultural implica julgar uma cultura segundo os seus próprios padrões.
A negação desta atitude tem o nome de etnocentrismo.

- O etnocentrismo é a atitude caraterística de quem só reconhece legitimidade e validade às


normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade.
- Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como
valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua «superioridade»,
devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas.

Você também pode gostar