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Pessoa e personalidade

A origem da palavra pessoa é muito antiga e remonta à Antiguidade Clássica (séculos VIII
a.C.-V d.C.). Foi usada no teatro, durante séculos, com o sentido de personagem, isto é,
de máscara usada pelos atores nos diversos papéis interpretados.

Na Idade Média, passou a ter um novo significado, referindo-se a "substância individual


de natureza racional" (Boécio, séc. V-VI). Uma pessoa é, pois, um indivíduo racional
dotado de personalidade. A personalidade é o que permite distinguir os indivíduos pelas
características próprias de cada um, como as formas de pensar, de sentir e de agir.

No século XX, o termo pessoa alcançou outros sentidos.

Após duas guerras mundiais e períodos de grande convulsão política, social e moral, o
conceito de pessoa foi encarado de forma absoluta e o seu valor tornado supremo. O
expoente máximo desta nova condição é a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
proclamada em 1948 pelas Nações Unidas, que promove o valor de cada pessoa,
estipulando os seus direitos mais básicos e fundamentais, estando na base de muitas das
legislações nacionais de Estados democráticos.

Nos nossos dias, pessoa significa ser humano dotado de direitos e deveres, ou seja, ser
auto consciente e racional.

O que é ser pessoa?

Ser pessoa é ser-se um ser humano único, singular e irrepetível.

Não existem dois seres humanos iguais, cada um tem as suas características e a sua
forma de ver, pensar e agir sobre o mundo, construindo e afirmando a sua identidade em
todas as dimensões da vida. Cada pessoa constrói uma identidade que a distingue das
demais.

É ser-se racional, livre e responsável, capaz de criar um projeto de vida, definir objetivos e
agir de modo a concretizá-los.

Uma pessoa é um ser livre e autónomo, que responde pelas consequências dos seus
atos, tornando-se, assim, responsável.

É um estado de permanente insatisfação e orientação da ação para a auto-realização.

O ser humano procura realizar-se a cada momento e proieta no futuro os desejos do


presente, pelo que tem sempre algo a conquistar para se sentir feliz, realizado e completo,
seja a nível material ou espiritual. Ser pessoa exige abertura em relação ao mundo e aos

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outros: a comunicação e a interação com os outros são características fundamentais da
existência humana, tanto a nível individual como a nível social/coletivo.

Se o processo de socialização molda o individuo de acordo com a realidade que ele vive,
isso quer dizer que estamos condenados a, fatalmente, sermos o que essa realidade
determinou? Felizmente, não. O processo de socialização é construído no meio social,
mas não quer dizer que a individualidade do sujeito inexista ou que ela não esteja ligada
ao processo. Embora o nosso convívio com os diferentes atores do mundo social exerça
forte influência na construção do indivíduo social, a liberdade e a individualidade também
tomam parte na construção da nossa identidade. É a identidade do indivíduo que é parte
fundamental da construção da individualidade do sujeito, já que é nela que estão inseridas
as particularidades de cada um: as nossas prioridades de valores, crenças, orientação
sexual, nacionalidade, etc.

Que fatores influenciam a personalidade?

Cada pessoa é dotada de personalidade, a qual lhe confere características próprias. A


personalidade é o resultado da combinação de fatores genéticos e ambientais. Constrói-
se com base em quatro princípios fundamentais:

 totalidade - integra todas as características de um indivíduo (aspetos fisiológicos,


morais, psicológicos e sociais);

 singularidade - diferencia um indivíduo de outros;continuidade - comportamento


constante e, muitas vezes, previsível de um individuo;

 dinamismo - reflete o estado de permanente construção dos indivíduos.

A herança genética, as experiências pessoais e o meio social são as principais


condicionantes da formação da personalidade. Mas a sua construção é um processo
complexo, nunca acabado e depende de um vasto conjunto de fatores e do impacto que
causam nos outros (aprovação ou desaprovação).

Fatores que influenciam a personalidade

São três os fatores que influenciam a personalidade, embora a influência desses fatores
seja diferente nos diferentes indivíduos e nas diferentes fases da vida.

Influências hereditárias: cada pessoa apresenta-se na sua singularidade fisiológica e


morfológica. Nas características da personalidade de um indivíduo estão as variações
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individuais do organismo, concretamente a constituição física e o funcionamento do
sistema nervoso e do sistema endócrino, que são em grande parte hereditários. Além
disso, os fatores somáticos ou orgânicos, como o peso, a altura e o funcionamento dos
órgãos dos sentidos, podem também afetar o desenvolvimento da personalidade.

Meio social: desempenha um papel determinante na construção da personalidade que se


forma num processo interativo com os sistemas de vida que envolvem a pessoa, como a
família, o grupo de amigos, a escola, o trabalho, etc.

Experiências pessoais: a qualidade de relações precoces e o processo de vinculação na


relação mãe/filho são fundamentais na estruturação e organização da personalidade. A
complexidade das relações familiares vai influenciar as capacidades cognitivas,
linguísticas, afetivas, de autonomia, de socialização e de construção de valores das
crianças e jovens. Outro aspeto muito importante na construção da personalidade é a
adolescência, com a formação de uma identidade que se reflete no vestir, nas ideias
defendidas e nas formas de se expressar.

Ao longo de toda a vida, decorrem acontecimentos que marcam a personalidade de quem


os vive, tais como mortes, violações, frustrações, cura de uma doença grave, divórcio, etc.

A forma como representamos essas experiências,o modo como conseguimos (ou não)
superá-las e integrá-las na nossa vida são o reflexo de uma personalidade.

Herança biológica

O ser humano é o resultado de uma história em que interagem fatores hereditários e


fatores ambientais, ou seja, a complexidade que nos caracteriza deriva da combinação
entre o potencial herdado geneticamente e a influência do meio que nos rodeia. Somos
seres biológicos, sociais e culturais, isto é, bio-socio-culturais. Somos seres biológicos,
porque fazemos parte da natureza, apresentando características comuns a outros seres
vivos: comer, andar, deitar, brincar, acasalar, procriar, etc. Somos seres sociais, pois
vivemos em comunidades, entre pessoas que partilham propósitos, gostos, preocupações
e costumes e que interagem entre si; somos seres culturais porque, ao contrário dos
outros seres vivos que nascem adaptados à natureza e agem por instinto, criamos cultura,
transfiguramos a realidade, e usamo-la para nos adaptarmos ao meio e sobrevivermos.

Que tipos de hereditariedade existem?

Cada ser humano tem características comuns (idênticas) a outros seres da mesma
espécie, mas também tem características que lhe são próprias. Em termos genéticos,

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existem dois tipos de hereditariedade que coexistem no mesmo indivíduo: a
hereditariedade específica e a hereditariedade individual.

Hereditariedade individual - Conjunto de informações genéticas responsável pelas


características próprias de um indivíduo define como seres humanos, diferentes de qual
duo e que o distingue de todos os outros quer outra espécie: constituição do rosto (testa,
membros da sua espécie (espessura dos olhos, sobrancelhas, nariz, lábios...) e das mãos
lábios, formato do queixo, cor dos olhos e do (cinco dedos, sendo o polegar oponível aos
cabelo, tom de pele, altura, etc.).

Hereditariedade específica - Conjunto de características comuns que nos define como


seres humanos, diferentes de qualquer outra espécie: constituição do rosto (testa, olhos,
sobrancelhas, nariz, lábios…) e das mãos (cinco dedos, sendo o polegar oponível aos
outros), estrutura do esqueleto, do cérebro, etc.

O aspeto, os hábitos e os comportamentos não resultam unicamente da transmissão


genética. A sociedade a que cada um pertence também influencia os comportamentos e
atitudes que nos caracterizam.

Socialização: nós com os outros

A aprendizagem de comportamentos, valores, regras e formas de estar e de agir e de


hábitos que são transmitidos entre gerações é parte integrante do processo de
socialização.

Socialização é, assim, o processo pelo qual os indivíduos se integram num grupo social,
assimilando as práticas sociais e culturais mais significativas desse grupo e assumindo-as
como suas. Socializar-se, consiste, então, em adaptar-se a uma sociedade.

A socialização começa com o nascimento. Através da observação e imitação de modelos,


a maior parte das vezes sem disso termos noção (assimilação espontânea), cada um de
nós está, constantemente, a ser condicionado pelos outros e pelo meio social e cultural,
dos gestos mais simples aos comportamentos mais complexos. Vamos assimilando,
paulatinamente, os comportamentos, as ideias e os modos de ser comuns aos membros
de uma mesma comunidade.

Identidade individual

A identidade individual é um conjunto de caraterísticas exclusivas de uma pessoa. Alguns


elementos definem aspetos da nossa identidade, como o lugar onde nascemos e onde

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vivemos, a data do nosso nascimento, que nos situam no espaço e no tempo, ou o nome
dos nossos pais que define a nossa pertença familiar, indicando a nossa ascendência
direta.

Outros dados reportam-se ao nosso corpo único e inconfundível, como a impressão digital
que nos distingue de outros milhares de milhões de seres humanos.

A identidade depende da diferenciação que fazemos entre o "eu" e o "outro". Passamos a


ser alguém quando descobrimos o outro, porque, desta forma, adquirimos termos de
comparação.

Socialização

Socialização - processo dinâmico através do qual os indivíduos aprendem e assimilam os


valores, as regras e as práticas da sociedade a que pertencem. Visa a integração do
indivíduo em múltiplos e variados grupos ao longo da vida.

A socialização permite que o indivíduo aprenda a viver em sociedade, tornando-se seu


membro.

Somos possuídos pela sociedade, porque recebemos a linguagem, recebemos a cultura,


que se colocam no interior de nós mesmos, o que quer dizer que, não somente os
indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade está no interior deles. Não somente os
indivíduos estão no espaço, mas o espaço está no interior deles.

A socialização é num processo de aprendizagem contínuo e ao longo da vida que permite


a integração do indivíduo na comunidade a que pertence. Ocorre através de dois tipos de
processos: socialização primária e socialização secundária.

Socialização primária: processo que decorre, essencialmente, durante a infância e a


adolescência. Através dela, o indivíduo adquire um conjunto de saberes básicos
necessários que lhe permitirão adaptar-se às mais diversas situações da vida quotidiana,
como, por exemplo, comunicar com os outros; regras básicas de educação (limpar a boca
ao guardanapo, comer de faca e garfo, vestir determinadas peças de roupa, etc.) e boas
maneiras (dizer obrigado, cumprimentar as pessoas, não cuspir para o chão, etc.);
comportamentos respeitadores do convívio social (não ser ofensivo na forma como se
dirige ao outro, manter um tom de voz de acordo com a situação, discutir com o outro os
seus pontos de vista sem utilizar gestos e palavras impróprios, etc.).

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Neste processo, a família, a escola e o grupo de pares são os principais agentes da
socialização, ou seja, são quem transmite as principais regras, princípios e hábitos da
vida em sociedade, os quais serão fundamentais para estabelecer uma relação
harmoniosa entre o indivíduo e a sociedade que habita.

Socialização secundária.

Socialização secundária: processo que acontece sempre que o indivíduo, já na idade


adulta ou posterior, tem de se adaptar a novas atitudes e adotar novos comportamentos.
É um processo de adaptação constante, pois a vida está em permanente transformação.
Este tipo de socialização acontece sempre que ocorrem alterações no estatuto pessoal,
profissional ou social de cada pessoa, como, por exemplo, um casamento ou um divórcio,
a viuvez, a parentalidade, o emprego e o desemprego, a emigração, etc.

Agentes e mecanismos de socialização

O ser humano é um ser social, gregário (vive em grupo), interagindo continuamente com
agentes socializadores. Nesse processo, através de diversos ou indiretamente,
contribuem mecanismos de socialização (imitação, aprendizagem,...) constrói a sua
própria personalidade e assimila os valores e as regras de comportamento da sociedade
a que pertence, num processo contínuo de integração social.

Que tipo de agentes socializadores existem?

Família - é na família que o indivíduo aprende os primeiros hábitos de higiene, trabalho,


conduta e convivência, assim como a linguagem e as regras e os valores da sociedade a
que pertence. Esta aprendizagem ocorre ao longo de toda a vida. A família tem, pois, um
papel fundamental na socialização, sobretudo na primária, assegurando não só a
continuidade biológica, mas também a continuidade cultural.

que um indivíduo é integrado na estrutura da sociedade, partilhando as suas normas,


valores, cultura, etc.

Escola - tem como principais funções a transmissão de conhecimentos técnicos,


científicos e culturais, o desenvolvimento de capacidades cognitivas, afetivas e relacionais
e a promoção de competências comunicativas e de participação na formação da
identidade individual de cada aluno.

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Grupos de amigos ou grupos de pares - são muito influentes e desempenham um
papel fundamental no processo de socialização e de construção da identidade social.
Pessoas com idades próximas e/ou interesses comuns desenvolvem fortes laços
relacionais, construindo relações privilegiadas de solidariedade, cooperação e
reciprocidade. Também os grupos sociais de natureza diversa (religiosos, políticos,
associativos, etc.) constituem importantes agentes socializadores.

Meios de comunicação social - exercem uma influência significativa sobre os indivíduos.


Transmitem modos de estar, de pensar e de ler o mundo, criando uma certa hegemonia
na interpretação da realidade.

O cinema, a televisão, os jornais, as revistas, a rádio e a internet, por exemplo, são meios
de comunicação que induzem comportamentos e atitudes. A publicidade veiculada pelos
meios de comunicação, por exemplo, formata atitudes e modos de consumo. O discurso e
as imagens utilizados têm um forte poder de persuasão e de inculcação de necessidades
e valores nas pessoas, promovendo estilos de vida e criando a perceção de que se estes
forem seguidos o processo de integração social será bem-sucedido.

Há uma forma de mudança que se dá gradualmente, por pequenos passos quase


impercetíveis. É a forma mais frequente de mudança que muitos consideram ser a única
importante e natural. É a lenta adaptação quase inconsciente à transformação social. Nós
estamos inseridos numa realidade económica e produtiva que se transforma. Superamos
provas, temos promoções, são-nos entregues novas tarefas, mudamos de empresa, de
trabalho, de universidade, de país. Mas muda também o clima político, mudam os valores
sociais e nós adaptamo-nos a eles. Primeiro, resistimos aos valores novos, depois,
continuando a ouvi-los repetidos pela televisão, pelos jornais, tornamo-los nossos até nos
convencermos de que aquilo que pensamos agora, sempre o pensámos.

Mudança social

A sociedade está em permanente transformação. As mudanças podem ocorrer nas


normas, nas tradições, nos valores, refletindo-se nos modos de organização social das
comunidades. Podem ser mudanças progressivas e graduais, resultantes de um processo
cumulativo de transformações, ou abruptas e de rutura, resultantes, por exemplo, de
revoluções.

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As mudanças sociais são fenómenos que têm, entre outras, as seguintes características:

 coletivas: abrangem vários grupos sociais e têm um impacto significativo em


muitas pessoas;

 estruturais: originam alterações profundas na organização social, transformando,


muitas vezes radicalmente, o modo de organização social anterior;

 datadas historicamente: ocorrem num determinado tempo histórico,


estabelecendo um antes e um depois na realidade social.

Socialização no espaço e no tempo

Cidadãos integrados socialmente contribuem para a coesão social, na medida em que


partilham um território, uma história, uma cultura e uma língua comuns e se reconhecem
como sua parte. Do mesmo modo, aceitam as instituições criadas para darem suporte ao
modelo social escolhido, sejam elas o governo, a escola, os tribunais, entre outras.

As sociedades são dinâmicas e resultam de diversos fatores. Os processos de


socialização variam no espaço e no tempo, de acordo com a multiplicidade e diversidade
de sociedades no mundo.

Os fenómenos humanos devem ser entendidos nos contextos históricos em que ocorrem
e através das relações estabelecidas pelas pessoas que habitam um determinado
território ou espaço. Ou seja, as relações sociais devem ser compreendidas tendo em
conta o espaço e o tempo em que ocorrem. Os fenómenos sociais não devem ser
analisados como acontecimentos isolados, devem antes ser percebidos como resultado
de diversas relações interdependes, uma vez que as sociedades não são apenas o
conjunto das pessoas que as compõem, mas o resultado das interações e relações que
se estabelecem entre elas.

Alguns sociólogos utilizam o conceito de sociedade global para designar a ligação das
sociedades a uma entidade mais abrangente, marcada por características comuns,
associadas a instituições, crenças e comportamentos dos indivíduos.

Atualmente, devido à globalização (cultural e económica), muitos dos aspetos sociais


característicos de um determinado espaço - vestuário, práticas culturais, gastronomia -
perdem-se, atenuam-se ou expandem-se. As fronteiras diluem-se e muitas das
características de determinadas sociedades são assimiladas por outras, ao mesmo tempo
que outros hábitos sociais entram em desuso.

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