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BOCK, Ana Mercês Bahia, Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia.

São Paulo:
Saraiva Educação, 2018. Pág. 175 – 217.

Ao falar sobre psicologia sócio-histórica falamos sobre uma psicologia que veio através do
pensamento marxista lá do século XX, ela se derivou de perguntas como: “Quem somos? Como
somos o que somos? De onde vem as habilidades que temos e como elas são desenvolvidas, se
é que são desenvolvidas”.

O objeto de estudo de tal psicologia, é o fenômeno psicológico, que nada mais é que, a
experiencia pessoal de cada sujeito. Ou seja, ele não será algo assertivo, visto que cada ser
humano foi criado em culturas e lugares distintos, além de não obter o mesmo pensamento e
percepção das coisas mesmo estando diante da mesma situação. Não podemos falar sobre
experiencia pessoal sem falar de antepassado, pois, maior parte do que você é aqui e agora foi
construído a milhões de anos atrás e para estudar e compreender quem somos hoje,
precisamos analisar a nossa história antes mesmo de virmos a existir. Devido a isso que a
Psicologia Sócio-histórica estuda o ser humano e seu mundo psíquico como uma construção.

O mundo psíquico tem total ligação com o mundo material e físico e ao que acontece na
sociedade nos dias de hoje. Os primeiros seres humanos, utilizavam da pedra para fazer fogo e
lapidavam ossos para usarem como ferramentas de caça, olhando isso por uma outra
perspectiva vemos que eles deram utilidade a peças naturais para as fazerem de ponte para
conseguirem o que queriam. Atualmente, os seres humanos trabalham com aeronaves
poderosas para procura de vida em outros planetas e isso nos leva a enxergar o quanto de
mudança na capacidade humana aconteceu e muito além disso, todas essas melhorias fizeram
com que o ser humano que conhecemos hoje, nascesse.

Num instante, estávamos usando um osso afiado como instrumento de caça, em outro instante
estamos construindo um robô para realizar um trabalho no nosso lugar, tudo isso produz
formas de subjetivação. O mundo psicológico nunca para e todas as informações que temos
hoje sobre ele, serão consideradas como pouco conhecimento sobre o homem futuro. Não
podemos ignorar que faz parte da condição humana, se recriar, independente de condições
físicas ou biológicas, é como se fosse até mesmo uma forma de sobrevivência, é mais que
cultural.

De acordo com a perspectiva da Psicologia Sócio-histórica, o sujeito e o mundo são concebidos


como âmbitos distintos, mas interdependentes, que são criados no mesmo processo. Nessa
abordagem, acredita-se que a interação entre os indivíduos e o ambiente social é fundamental
para a constituição e construção tanto do sujeito quanto do mundo ao seu redor. Ao interferir
no mundo material de forma transformadora, o ser humano não apenas molda e transforma
seu ambiente, mas também se constitui como sujeito. Isso significa que as ações e interações
dos indivíduos têm um impacto tanto na formação da sua subjetividade individual quanto na
construção do mundo social. Dentro dessa perspectiva, sujeito e mundo não são considerados
âmbitos ou dimensões antagônicas, mas sim complementares. Eles se influenciam
mutuamente e se referem um ao outro.

Já a realidade é construída social e historicamente em um processo que envolve a interação


entre objetividade e subjetividade. A objetividade, composta por elementos materiais e sociais,
incorpora a subjetividade na medida em que é transformada pela ação dos seres humanos que
atuam coletivamente. Nessa abordagem, compreende-se que não é possível estudar a
realidade sem levar em conta a dimensão subjetiva, pois os fenômenos sociais são construídos
pelos próprios sujeitos. Existe uma relação de constituição mútua entre o sujeito ativo, social e
histórico e todos os fenômenos sociais. Os aspectos de subjetividade estão presentes nos
fenômenos sociais, enquanto os aspectos da objetividade, incluindo as relações com outros
sujeitos, estão presentes na constituição da subjetividade.

Ao trazer a concepção do ser humano ser ativo, social e histórico; se é remetido a ideia de que
os seres humanos constroem sua existência por meio de ações direcionadas a satisfazer suas
necessidades, porém, essas ações e necessidades são fundamentalmente sociais e produzidas
historicamente em sociedade. As necessidades básicas do ser humano não se limitam apenas
às necessidades biológicas, mas também são influenciadas e moldadas pelos aspectos sociais e
culturais. Por exemplo, os hábitos alimentares e o comportamento sexual não são
simplesmente determinados pela biologia, mas são formas sociais e culturalmente construídas
de satisfazer as necessidades biológicas.

Essa psicologia utiliza diversas categorias de análise que são fundamentais para compreender o
processo e o movimento humanos. Essas categorias ajudam a investigar e descrever os
fenômenos psicológicos dentro do contexto social e histórico em que ocorrem. Alguns
exemplos dessas categorias são:

• Atividade: Refere-se às ações humanas direcionadas a alcançar determinados objetivos


e satisfazer necessidades. A atividade humana é entendida como uma forma de
interação ativa com o mundo e com outros indivíduos.
• Consciência: Diz respeito à capacidade do ser humano de ter uma compreensão
reflexiva de si mesmo, dos outros e do mundo ao seu redor. A consciência é
socialmente construída e influenciada pelo contexto histórico e cultural.
• Identidade: Refere-se à forma como os indivíduos se percebem e se concebem em
relação aos outros e à sociedade. A identidade é construída por meio de processos
sociais e históricos e está em constante transformação.
• Afetividade: Envolve os aspectos emocionais e afetivos da experiência humana. A
afetividade é influenciada pelas relações sociais, pelas normas e valores culturais e
desempenha um papel importante na formação da subjetividade.
• Linguagem: Desempenha um papel central na constituição da subjetividade humana e
na comunicação entre os indivíduos. A linguagem é uma forma de representar e
interpretar o mundo, sendo mediada pela cultura e pelas práticas sociais.
• Sentido e significado: Referem-se à atribuição de sentido às experiências e eventos
vivenciados pelos indivíduos. O sentido é construído a partir das práticas sociais, das
representações simbólicas e das interações com os outros.

Essas categorias de análise são usadas pela Psicologia Sócio-histórica para compreender a
complexidade da experiência humana, a perspectiva de tal é aplicável em diversos contextos
práticos, como consultórios, escolas, organizações, instituições de saúde, sistema de justiça,
esporte e outros territórios. Essa abordagem permite que os profissionais trabalhem para
promover a compreensão e a apropriação dos sujeitos, grupos e instituições de sua forma de
estar no mundo, bem como incentivem sua participação ativa na transformação de si mesmos
e do mundo ao seu redor. Nesse sentido, a tarefa dos profissionais é construir condições para
que cada sujeito, grupo ou instituição desenvolva uma consciência crítica de sua realidade,
compreendendo como são afetados pelas relações sociais, históricas e culturais. Essa
compreensão pode ser trabalhada por meio da reflexão sobre os sentidos construídos ao longo
da experiência concreta de vida e da análise das dimensões subjetivas da desigualdade, por
exemplo, na sociedade brasileira.

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