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Indivíduo, cultura e sociedade

Luiz Fernando Rolim Bonin


O homem é também um animal, mas um animal que difere dos outros por ser cultural.
Os outros primatas podem ser considerados como entes protoculturais, pois transmitem hábitos
através de gerações, como por exemplo, cultivar alimentos. Usam instrumentos simples e
aprendem por observação o comportamentos dos outros.
Teoria histórico-cultural: o primata humano pode ser definido como um ser biológico antes de
possuir o domínio da fala mas pode-se considera-lo como tendo uma protocultura.
O ser humano, ao nascer, traz consigo determinado comportamentos inatos, ligados a sua
estrutura biológica. Entretanto, no decorrer de seu desenvolvimento, é moldado pelas atividades
culturais de outros com quem ele/ela se relaciona. Cada indivíduo ao nascer, encontra um
sistema social criado através de gerações já existentes e que é assimilado por meio de inter-
relações sociais.
A sociedade não e gestalt (forma) física como uma casa com tijolos, mas sim inter-relações
individuais em constante mobilidade.
O ser humano desenvolve, através dessas relações, um "eu" ou pessoa (self), isto é, um
autocontrole "egóico". que é um aspecto do "eu" no qual o indivíduo se controla pela
autoinstrução falada, de acordo com sua autoimagem ou imagem de si próprio.
É um ser que, tendo "instintos" ou comportamentos pré-programados, passa através da vida
social a adquirir a fala e planejar e controlar a sua atividade e de outrem, através de
representações mentais.
A noção do "eu" possui dois aspectos fundamentais: o primeiro a do sujeito ativo que toma
decisões e se orienta no mundo e uma autoimagem e autoestima que, para alguns autores, estão
relacionadas ao conceito de identidade e constituem o que o George Mead denominou de "me" ou
"mim".
O desenvolvimento do controle do controle da fala sobre o comportamento é realizado a partir
dos comandos da mãe sobre a criança (relação interpessoal), que passa a se auto instruir sobre
como deve se comportar (controle-intrapessoal).
O indivíduo passa de uma relação interpessoal para um controle e planejamento intrapessoal da
sua própria atividade.
Isso se torna possível por conta do desenvolvimento da fala.
Não há, basicamente, uma contradição entre o indivíduo e a sociedade.
O indivíduo é um ser histórico-cultural que é constituído pelas inter-relações sociais.
Mesmo quando está sozinho o ser humano ainda tem o hábitus de uma sociedade. Isto é, tem o
mesmo jeito de andar, o hábito de higiene pessoal, de expressar emoções etc.
Os papéis sociais e as instituições humanas se originam de inter-relações pessoais que são
cristalizadas através de regras e que inicialmente são hábitos adquiridos e as instituições, além
das relações sociais, envolvem também determinados materiais e artefatos e códigos.
Sendo assim, uma universidade é uma instituição de inter-relações humanas e locais como
laboratórios, onde existem determinados materiais aparelhos e instrumentos. Como já se sabe, é
possível estudar a sociogênese das instituições através da história.
O termo cultura pode ser definido como um conjunto de hábitos, instrumentos, objetos de arte,
tipos de relações interpessoais, regras sociais e instituições em um dado grupo. Temos a cultura
como uma variável independente em que cultura e mente eram consideradas separadas, em
seguida, a perspectiva de que a mente está inserida nas práticas e atividades culturais. A cultura
na mente, ou seja, a cultura como uma descrição ou narração das atividades e práticas de um
grupo. A cultura e a pessoa, isto é, como agente intencional em um mundo que é constituído de
interpretações e objetos culturais.
Nas décadas de 60 e 70 a cultura era considerada como variável independente e a atividade
mental e prática como variável dependente. O mental era concebido como um processador
interno de alguma coisa que poderia ser pensamento abstrato, raciocínio etc., que era afetado de
A cognição passa a ser estudada como uma habilidade prática na vida cotidiana.
Estuda-se a cognição nas diferentes formas de escritas na cultura.
Vigotsky afirma que o que ocorre no plano interpessoal passa para o plano intrapessoal.
A tradição cultural se faz através de ações e interpretações nas práticas cotidianas que são
transmitidas através das histórias de um grupo.
Propõe-se que, nas atividades culturais, membros de uma coletividade, ensinam os mais
inexperientes através da manutenção de interesse, apresentando um modelo de tarefa e modelos
de inter-relações, oferecendo suporte ou apoio, conforme o nível de progresso de sua aquisição.
A ação dos novatos não é passiva mas participativa nas atividades do grupo. Os novatos
procuram se inserir e ter um papel na conta de atividades.
A prática de uma cultura não se reduz a uma dimensão abstrata ou ao estudo de variáveis
independentes.
É necessário entender os processos no contexto da atividade grupal.
O enfoque envolvendo a relação indivíduo cultura é denominado a cultura na mente ou na
narrativa dos autores culturais. Aqui as tarefas cognitivas não são mais unidades de análise.
Essa proposta supõe um conjunto de interpretações ou, mais especificamente, as narrativas das
atividades do sujeito no cotidiano, isto é, descrições sobre modos de pensar e agir que incluem
ações, situações e intenções.
Toda a atividade humana implicaria em numa classificação e interpretação. Qualquer ou ação
seria mediada pelo simbólico.
O ultimo tipo de teoria da Psicologia Cultura, propõe a cultura na pessoa, considerada como
agente intencional em atividade prática no seu grupo.
O sujeito cria e seleciona o sujeito de ação, podendo aceitar ou não a interferência de outrem.
Os objetos são criados coletiva ou individualmente e revelam uma intenção do produtor.
Pode-se fazer com que os objetos em um meio lembrem de nossas intenções para nos
autocontrolarmos.
As relações interpessoais não revelam só comportamentos sem significados, mas intenções e
ironias sobre as próprias intenções, através de gestos significativos.
O homem pode enganar facilmente, já que tem facilidade para se colocar no lugar de outrem e
mesmo tomar atitudes hipotéticas sobre suas interações.
George Mead já havia demonstrado que as relações interpessoais são uma conversão de gestos e, o
que é importante nessa atividade, é saber se colocar no lugar do outro. Essas características
parecem ser próprias do ser humano.
As pessoas se constituem em um sistema cultural dado previamente, formando uma rede inter-
relação, mas são sujeitos ativos e não constituídos passivamente pelo meio. Isso quer dizer que
não são constituídos automaticamente pelo processo narrativo cultural estabelecido.
As pessoas tomam posições fazendo novas interpretações, ou seja, recebendo e construindo
criativamente e coletivamente um processo cultural em determinada época histórica.
A teoria e não se limita a processo lógicos-cognitivo. Não deixa de lado a emoção e o contexto
onde surgem essas atividades.
Em defesa dessas suposições teóricas, pode-se dizer que a mente não é só um componente, mas é
produto emergente da inter-relação entre pessoas face a objetos, supondo também o uso de
instrumentos.
A mente não está no corpo e nem nos instrumentos, mas se revela através das atividades
humanas, na cultura.
Os sujeitos também criam regras e instituições através de atividades coletivas.
A teoria histórico-cultural, colocou também a questão da pessoa e da intencionalidade. Já uma
outra vertente enfatiza a versão semiótica e enfoca a mente como formada através de um
diálogo de vozes, envolvendo a produção de representação e de ideologia.
O ser humano assimila a narrativa de sua cultura, que supõe uma diversidade de diálogos que
incluem conformidade, contradição e discordância.
Para Geertz, a cultura não é redutível ao fenômeno mental nem a meros padrões de
comportamento e de desejos exclusivamente individuais.
O que importa é estudar esses processos em estruturas de significados formadas publicamente. O
público aqui significa que algo é compartilhado também visualmente, como em rituais e na
fabricação de uso de artefatos,
Outra questão concentra-se também nas questões semióticas dando enfoque na questão
simbólico-interpretativo e de caráter histórico-cultural que coloca a concepção de Geertz não da
suficiente atenção aos problemas de poder e de conflito nos contextos culturais, onde mensagens
são transmitidas e recebidas. Nessa visão também é importante considerar que o sujeito humano
é criado dentro de instituições que pode, coletivamente, alterá-las, assim como é por elas
afetados.
As instituições envolvem recursos, tipos de inter-relações pessoais, regras e esquemas, supondo
recursos materiais e simbólicos.
Considera-se importante também estudar a produção e reprodução do simbólico, seus agentes,
receptores e as condições de produção.
Os processos de formação de valores, legitimação de status, exclusão, estratégia de resistência e de
aceitação. As atividades de Gandhi na Índia servem como exemplos de encarnados do processo de
valorização e resistência cultural.
O "eu" é construído através da conversação de gestos em determinados grupos sociais. Esse "eu"
supõe um eu que decide sobre o curso das ações e um "me" ou "mim" que envolve autoestima ou
imagem de si próprio.
Atualmente o "eu" é mais enfatizado do que o "nós" na cultura Ocidental. Uma questão
interessante é verificar como a construção do "eu" em diferentes grupos ou culturas afeta as
atividades dos indivíduos.
Considera-se que o tipo de sistema "eu" está relacionado a formas de cognição (percepção, afeto e
emoção) afetando as atividades cotidiana dos indivíduos.
Apesar das emoções serem vistas como uma expressão de atividade formada na filogênese e
ligada a automanutenção do organismo, é também, em parte, constituída pela cultura, como por
exemplo no caso da emoção-sentimento de piedade e patriotismo.
As emoções complexas (emoção-sentimento) dependem do tipo de sistema de "eu", já que são
organizadas através de significados culturais, envolvendo ações interpessoais, que supõe
persuasão e justificação.
As emoções podem reforçar uma construção dependente ou independente do "eu".
Assim, emoções como frustração, agressão ou de orgulho (gabar-se) podem ser denominadas de
"focar no 'eu'".
Para que haja harmonia é mais importante demonstrar solidariedade e até mesmo timidez.
A motivação se revela através de sequências de ações, para atingir um objetivo maior, na teoria
histórico-cultural.
Nas culturas que enfatizam o "eu" independente, as motivações estão ligadas as necessidades de
expressar realizações individuais.
Assim, o indivíduo procura ser bem sucedido, realçar sua autoestima e aumentar a auto
realização. Por outro lado os "eus" interdependentes, consideram mais importantes demonstrar e
desenvolver motivações sociais, como é o caso de socorrer e proteger os outros, afiliar-se, procurar
ser modesto e agir segundo as expectativas de seu pares.
Pode-se propor que por motivos como autoconsciência, auto realização e autoanálise, terão suas
formas e intensidades dependendo do tipo de "eu".
Estudos revelam que a autoconsciência é menor em culturas que enfatizam o self
interdependentes. Nesse caso os indivíduos valorizam mais os papeis e obrigações sociais que seus
motivos privados de coerência.

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