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Disciplina: Psicologia Social Noções Introdutórias

Profª Andrea Veloso

Aluna: Ana Márcia Rocha Carvalho

1º Semestre – Curso de Psicologia – Noturno

RA: 127132414365

RESUMO

INDIVÍDUO, CULTURA E SOCIEDADE - Luiz Fernando Rolim Bonin

Para compreender o ser humano, além de estudar seu corpo e sua origem animal, é necessário pesquisar,
principalmente, como ele se constitui em um contexto Sociocultural. O homem é um primata, que se difere
por ser cultural.

Para a teoria histórico-cultural, o primata humano pode ser definido como um ser biológico antes de possuir
o domínio da fala, mas pode se considerá-lo nessa fase como tendo uma protocultura. Por exemplo, as
crianças de um a dois anos já aprendem usar instrumentos simples da cultura por imitação ou reforço, mas
não entendem ainda uma informação verbal.

No entanto, entram num processo plenamente cultural quando já dominam o uso da fala, o que as permite
processar o simbólico contido nas instituições culturais. No início do desenvolvimento da criança, os
processos da atividade se dão de maneira semelhante à de outros primatas, isto é, não envolvem a fala, ou
melhor, processos simbólicos.

A primeira expressão direta do estado afetivo é o choro, ainda que não seja uma comunicação de
representação mental. A teoria histórico-cultural considera importante a filogênese dos processos
psicológicos.

O ser humano, ao nascer, traz consigo determinados comportamentos inatos, ligados à sua estrutura
biológica. Entretanto, no decorrer de seu desenvolvimento é moldado pela atividade cultural através da
inter-relações sociais a qual se relaciona. Uma dança de quadrilha seria uma metáfora adequada, já que os
indivíduos não só interagem exteriormente como bolas de bilhar, mas também se interrelacionam cada um
procurando entender e se adaptar aos movimentos intencionais os futuros de outrem.

Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento. O
ser humano desenvolve, através dessas relações, um "eu" ou pessoa (self), isto é, um autocontrole "egóico",
que é um aspecto do "eu" no qual o indivíduo se controla pela autoinstrução falada, de acordo com sua
autoimagem ou imagem de si próprio. É um ser que, tendo "instintos" ou comportamentos pré-
programados, passa através da vida social a adquirir a fala e planejar e controlar sua atividade e de outrem,
através de representações mentais.

Neste ponto, é importante mencionar que a noção de "eu" supõe de dois aspectos fundamentais: 1. sujeito
ativo que toma decisões e se orienta no mundo e 2. uma autoimagem e uma autoestima que está ligado ao
conceito de identidade do “me” ou “mim”. Seu desenvolvimento passa inicialmente pelo controle da mãe
(relação interpessoal) passando posteriormente para um controle e planejamento intrapessoal da sua
própria atividade.
Mesmo quando está sozinho, é um ser humano que tem hábitos de sua sociedade, ainda que possam
representar um ser isolado em oposição à sociedade, os instintos e as emoções sofrem transformações no
decorrer da vida. Ainda que os papeis e as instituições humanas se originam de inter-relações pessoas que
são cristalizadas através das regras originados por hábitos, o qual existem caminhos para resolver conflitos
em direção ao consenso.

Cultura, indivíduo e atividade

O termo cultura pode inicialmente ser definido simplesmente, como um conjunto de hábitos, instrumentos,
objetos de arte, tipos de relações entre pessoas, regras sociais e instituições em um determinado grupo.

a) cultura é uma variável independente da mente: Nas décadas de 60/70, a cultura era considerada como
varável independente e a atividade mental como variável dependente. Certos estudos de alfabetização em
certas culturas estavam relacionados a testes de memória e outras atividades cognitivas.

O mental foi concebido como um processador interno de alguma coisa que poderia ser pensamento
abstrato, raciocínio etc., que foi afetado externamente pela cultura, mas não constituído por ela, mesmo
que parcialmente. Nesta época, passou-se a estudar o efeito da escolaridade e tipos de escrita de uma
sociedade, procurando-se a interação entre a mente e cultura.

Propõe-se que a cultura seja definida pelo uso de mediações, ou seja, artefatos físicos e simbólicos, ou
então, além de considerar um conjunto de condições biológicas, é preciso levar em conta mediações como o
uso de artefatos para compreender ou desenvolver humanos. Nesse período, os seguidores de Piaget
estavam interessados em provar que as etapas do desenvolvimento infantil eram universais e, portanto,
pouca atenção era dada a como os processos culturais a cognição e a fala. O sujeito não era concebido como
ativo intencional.

b) a mente está inserida nas práticas e atividades culturais: a ideia que a mente esta inserida nas práticas e
atividade de um grupo cultural, revelados nos objetos utilizados e/ou fabricados pelo homem, ou seja, em
um contexto de atividade prática. Por exemplo, observou-se que pessoas em determinadas culturas teriam
mais facilidade para utilização de determinados objetos tanto para medida quanto como figura geométrica.
As atividades passam a ser apropriadas pelas crianças com orientação dos adultos, onde o trabalho de
cognição passar a ser estudada como uma habilidade pratica na vida cotidiana. O comando verbal de um
adulto a criança passa a ser utilizado como autoinstrução para comandar o próprio comportamento, fazendo
com que a criança internalize o que aprende nas relações interpessoais, possibilitando amanhã poderem
fazer sozinhos.

c) a cultura na mente ou na narrativa dos atores culturais, ou seja, como descrição ou narração das
atividades e práticas de um grupo: esta proposta supõe as narrativas das atividades do sujeito no cotidiano,
isto é, descrições sobre modos de pensar e agir que incluem ações, situações e intenções. Na se limite a
categorias cognitivas como memoria, pensamento, percepção e motivação, mas sim em pensar sobre a vida
e o cotidiano. Toda a atividade humana implicaria numa classificação e interpretação; qualquer percepção
ou ação será mediada pelo simbólico. Assim, os bebês podem descobrir informações sobre objetos, sem que
outrem os ensine, ou guiada por um membro experiente no período em que não domina a fala. A questão
central é a discussão entre uma aprendizagem mediada e não mediada pela fala.

d) cultura e pessoas: último tipo de teoria de Psicologia Cultural, é a que propõe a cultura na pessoa,
considerada como agente intencional em atividade prática no seu grupo. O sujeito cria e seleciona percursos
de ação, podendo aceitar ou não a interferência de outrem. Por-exemplo, pode-se acionar um despertador
para despertar ou um bilhete na geladeira para não comer ou, ainda, colocar objetos longe do alcance de
crianças. Esta posição supõe que a pessoa seja um agente intencional em um mundo de objetos culturais e
que o mundo é constituído de interpretações. As relações interpessoais revelam significados. Características
bastante próprias do ser humana.

Outros enfoques sobre a relação individuo-cultura

As pessoas não são constituídas automaticamente pelo processo narrativo cultural estabelecido, elas
recebem e constroem criativamente e coletivamente um processo cultura em determinadas épocas
históricas. Vale enfatizar que a Psicologia Cultural em uma longa história, datada do século XVII, porém é um
tópico bastante recente na América Latina.

A teoria histórico-cultural não enfatiza apenas as mediações, mas também leva em conta o papel da pessoa
como sujeito e não se limita aos processos lógico-cognitivos.

Em defesa dessa posição teórica, pode-se dizer que a mente não é um componente, mas sim um produto
emergente da inter-relação entre pessoas diante de objetos, pressupondo também o uso de instrumentos.

A mente não está no corpo e em nossos instrumentos, mas se revela através das atividades humanas, na
cultura. Os sujeitos também criam regras e instituições através das atividades, na cultura.

Uma outra vertente enfatiza a questão semiótica e focaliza a mente como formada por meio de um diálogo
de vozes, envolvendo a produção de representações e ideologias. O ser humano assimila a narrativa de sua
cultura, que supõe uma diversidade de diálogos que incluem conformidade, contradição e discordância.

Por exemplo, a apresentação de um quarteto tocando Beethoven pressupunha a habilidade de dois músicos
para tocar, assim como a sensibilidade e conhecimento dos dois ouvintes. Produzir música envolve ações
humanas não ao longo do tempo, mas não cabe aqui mencionar especificamente criações, conhecimentos e
outros processos mentais individuais.

Outro enfoque que enfatiza a questão é a semiótica (ciência que trata de sinais e símbolos), concentrando-se
simbólico-interpretativo. Resumidamente, as instituições envolvem recursos, tipos de inter-relações
pessoais, regras e esquemas, supondo recursos materiais e simbólicos. É importante considerar que o sujeito
humano é criado dentro de instituições e que pode, coletivamente, alterá-las, assim como é por elas ser
afetado. Gandhi é um exemplo encarnado do processo de valorização e de resistência cultural.

À cultura, ou "eu" e atividades, à emoção e motivação

Uma questão interessante é verificar como a construção do "eu" em diferentes grupos ou culturas afeta as
atividades de dois indivíduos.

Afirma-se que principalmente na cultura americana em geral as pessoas são vistas como independentes e
autônomas, possuindo habilidades e valores únicos e aumentando os segundos atributos internos.

Na cultura japonesa, existe uma ideia geral de que "você" não existe em si mesmo e é produto de
relacionamentos que definem um ao outro em determinadas situações - ou "você" faz parte do grupo ou da
família. Esta é uma visão contextualiza relacional na qual os outros participam da definição de si mesmo. Não
é esperado pelos outros, não se colocar em primeiro lugar, procurando harmonizar seus desejos e atributos
pessoais com os de outrem. É importante lembrar, que independente do pais, nele é possível observar
pluralidade cultural, a exemplo do próprio EUA, com a existência de um grupo como Amish.

Na cultura japonesa a concepção de “eu” envolve uma ênfase na empatia pelo outro, cujo resultado é um
comportamento polido e autocontido. Nos EUA e alguns outros países da Europa e América Latina, o
pesadelo é não se notado, não se distinguir do outro. É mais importante se sobressair-se, mesmo que isso
cause dificuldade para o outro, o que para a cultura oriental é sinal de imaturidade. Diferentemente de
outros países, a cultura japonesa procura “ler” a necessidade do outro. Portanto, o “eu” está relacionado a
forma de cognição: percepção, afeto e motivação, afetando a atividade cotidiana dos indivíduos. Ou seja,
estudos mostram que, os “eus” interdependentes sejam mais atentos dos que os “eus” independentes.
Pesquisas revelam que na cultura indiana as pessoas consideram seu “eu” mais semelhante ao de outro do
que o outro se considera em relação ao seu “eu”.

Apesar da emoção ser vista como uma expressão ligada a automanutenção do organismo, está também é
constituída pelo tipo de cultura. A emoção como frustação e agressão ou de orgulho podem ser
denominadas como focalizadas no “eu”. Um individuo que acredita que correu melhor que seu
companheiro, portanto, melhor que ele, é visto como individuo com ego independente, isto é visto como
dificuldade para uma harmonia grupal. Nas culturas que enfatizam o “eu” independente, a as motivações
estão ligadas a necessidades de expressar realização individual. Por outro lado, as culturas que enfatizam o
“eu” interdependentes, consideram mais importante demonstrar e desenvolver motivações sociais, como é
o caso de socorrer e proteger o outro, motivo pelo qual a auto consistência, autorealização e autoanalise,
terão suas formas e intensidades dependendo do tipo do “eu”.

Estudos mostram que motivação para auto consistência é menor em cultura que enfatizam o self
interdependentes, valorizando mais os papeis e obrigações sociais. Seus motivos ligados a autorealização
está mais inclinado a seguir as regras do grupo do que a de si próprio, enfatizando a busca pela harmonia do
grupo.

Considerações finais

Conclui-se que a necessidade das ciências sociais se posiciona aos achados da ciência biológica,
principalmente no que diz respeito ao comportamento animal, onde não pode ser ignorado a vida social,
cultural, faixas etárias e aspectos biológicos.

Assim como os antropólogos ainda debatem o conceito cultural, os sociólogos divergem quanto ao conceito
de instituição social. A sociedade não paira sobre os indivíduos é sim é o conjunto das relações interpessoais.
Estão são cruciais para conceituar instituições, atividades culturais, e o “eu”, sugerindo que, alguns grupos e
indivíduos apresentem resistência a práticas e valores culturais “globais” contrárias às suas identidades
grupais e pessoas.

Apesar do indivíduo ser concebido como um produto da história e cultura, é também um ser intencional e
criativo, em constante transformação, e que, coletivamente, pode mudar o próprio processo cultural que o
constitui. Reforçando que, o maior problema as pesquisas do tema, está relacionado ao fato de que nas
culturas não existem grupos totalmente homogêneos. O fato de um individuo pertencer a um grupo
interdependente não significa que não é solidário em relação a outros grupos. Em países como o Brasil,
existem inúmeras variações culturais e apesar disso, pode-se dizer que existem valores, preferencias e
maneiras de comunicação em comum.

SP/28.03.2022

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