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Concepção de

INFÂNCIA/
identidade
Dra. Sumika Freitas
PMV-ES/GRUFOPEES/
Pós-doutoranda PPGE/UFES
CNDE/FOPEIES/MIEIB/FMEV
Infâncias
 Plurais
 Categoria geracional
 Para além de uma infância tradicional e NÃO
olhar as crianças como apenas um ser bio-
psicológico
PRIMEIRA INFÂNCIA

A idade da primeira infância é aquela que compreende o período que vai do
nascimento aos 6 anos de vida. Importante ressaltar que ela se configura como uma
etapa determinante para o estabelecimento de habilidades fundamentais aprendidas
pelo pequeno.
 O ESTUDO CIENTÍFICO
DA CRIANÇA: UM
POUCO DE HISTÓRIA
 A preocupação com o estudo
da criança é bastante recente
na história da humanidade.A
própria idéia de criança, tal
como pensamos hoje (como
um ser que tem necessidades,
interesses, motivos e modos
de pensar específicos), não
existia antes do século XVII.
 As crianças eram consideradas como adultos em miniatura.
A convivência com um índice de mortalidade infantil
extremamente alto fazia com que a morte das crianças fosse
considerada natural e que a duração da infância fosse limitada
a um período muito curto na vida dos indivíduos. Ela
correspondia ao período em que, para sobreviver, a criança
necessitava de cuidados físicos. Quando sobrevivia, com 6 ou
7 anos, após o desmame tardio, a criança “ tornava-se a
companheira natural do adulto” ( Ariès, 1981), com quem
passava a conviver o tempo todo. Participava das atividades do
adulto, compartilhando com ele o trabalho nos campos ou nos
mercados, os jogos e as festas.
 No século XVIII, os filósofos começaram a
apontar a existência de um mundo próprio e
autônomo da criança. Rousseau e outros
consideraram que a mente infantil opera
diferentemente da dos adultos. Isso possibilitou
o estudo científico da criança e seu
desenvolvimento em suas formas próprias de
organização ( Charlot,1979).
 Foi no início do século XX que se iniciou efetivamente o
estudo científico da criança e do comportamento infantil.
 Diversas abordagens sobre os processos de aprendizagem
e desenvolvimento foram elaboradas, a partir de questões e
interesses específicos e com base em diferentes métodos
de investigação.
 Entre elas destacam-se a inatista-maturacionista, o
comportamentalismo, a piagetiana e a histórico-
cultural.
Imagens sociais da infância
 - A criança inocente funda-se no mito romântico da
infância como a idade da inocência, da pureza, da beleza e
da bondade. O teórico que marca esta linha é Rousseau em
Emílio. A tese aqui dominante é a de que a natureza do
homem é boa e só a sociedade perverte. Estas concepções
têm uma ampla discussão no campo pedagógico.
 -A criança imanente - a idéia de um potencial de
desenvolvimento da criança, não a partir de uma
natureza intrinsecamente boa, mas da
possibilidade de aquisição da razão e da
experiência, aparece na formulação filosófica da
teoria da sociedade de John Locke. Para o
filósofo inglês do século XVII a criança é uma
tabula rasa na qual podem ser inscritos quer o
vício quer a virtude. A imanência da criança
torna cada ser humano um projeto de futuro,
mas que depende sempre da "modelagem” a que
seja submetido na infância. A concepção
lockiana propõe uma atenção às disposições e
motivações infantis e nesse sentido precede
concepções desenvolvimentistas.
 - A criança naturalmente desenvolvida - a
psicologia do desenvolvimento, a partir
especialmente dos trabalhos de J. Piaget, com
profunda influência na pedagogia, nos cuidados
médicos e sociais, nas políticas públicas e na
relação quotidiana dos adultos com as crianças é
o entendimento e a interpretação da criança no
século XX ( SARMENTO, 2007, p. 32). Os
autores ( James, Jenks, Proust) sinalizam essa
imagem em torno de duas idéias centrais: as
crianças são seres naturais, antes de serem seres
sociais, e a natureza infantil sofre um processo
de maturação que se desenvolve por estágio de
desenvolvimento cognitivo.
 A literatura revisada indica que o conceito
de infância utilizado pela pedagogia ainda
nos remete às marcas de sua formulação
original. Tais marcas estão presentes em
nosso cotidiano escolar, no que diz
respeito à idéia de uma natureza infantil
que define a criança como um ser
abstrato, inocente, sem linguagem (In-
fans).
 Podemos encontrar sinais dessa herança na pedagogia
tradicional e nova.
 Para a pedagogia tradicional, a natureza da criança é
originalmente corrompida, cabe à educação inculcar-lhe
regras por meio da intervenção direta do adulto e da
transmissão de modelos.
 Para a pedagogia nova, ao contrário, a natureza da criança
é concebida como inocência original; a educação deve
preservar a criança da corrupção da sociedade
salvaguardando sua pureza, baseando-se, assim, na
liberdade da criança e na expressão de sua espontaneidade.
( (MUNIZ,1999, p. 247),
ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL
 BASE DA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL EM
PSICOLOGIA- é o interesse em explicar como se formaram,
ao longo da história do homem, as características
tipicamente humanas de seu comportamento e como elas se
desenvolvem em cada indivíduo.
 PRINCIPAIS REPRESENTANTES- VYGOTSKY, LURIA,
LEONTIEV, ELKONIN E OUTROS.
 CRIANÇA- analisam Vigotski e seus colaboradores,
não nasce em um mundo “natural”. Ela nasce em um
mundo humano. Começa sua vida em meio a objetos
e fenômenos criados pelas gerações que a
precederam e vai se apropriando deles conforme se
relaciona socialmente e participa das atividades e
práticas culturais.
 Desde o nascimento, a criança está em constante
interação com os adultos, que compartilham com
seus modos de viver, de fazer as coisas, de dizer e de
pensar, integrando-a aos significados que foram
sendo produzidos e acumulados historicamente. As
atividades que ela realiza, interpretadas pelos adultos,
adquirem significado no sistema de comportamento
social do grupo a que pertence.
 É na relação com o outro que a criança vai se apropriando
das significações socialmente construídas. Desse modo, é o
grupo social que, por meio da linguagem e das significações,
possibilita o acesso a formas culturais de perceber e
estruturar a realidade.
 A partir de suas relações com o outro, a criança reconstrói
internamente as formas culturais de ação e pensamento,
assim como as significações e os usos da palavra que foram
com ela compartilhados. Esse processo interno de
reconstrução de uma operação externa é chamado de
internalização.
 ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
 NÍVEL REAL NÍVEL POTENCIAL
 Segundo sua análise, o aprendizado (a atividade interpessoal) precede
e impulsiona o desenvolvimento, criando zonas de desenvolvimento
proximal, ou seja, processos de elaboração compartilhada.
 Vygotsky diz que o nível real é “o nível de desenvolvimento das funções
mentais da criança que se estabeleceram como resultado de certos
ciclos de desenvolvimento já completados”(Vygotsky, 1984).
 Os indicadores do desenvolvimento proximal seriam as soluções que a
criança consegue atingir com a orientação e a colaboração de um
adulto ou de outra criança.
 Observar a atividade compartilhada da criança possibilita olhar para
o seu futuro, pois “o que é o desenvolvimento proximal hoje será o
nível real amanhã – ou seja, aquilo que a criança é capaz de fazer com
assistência hoje ela será capaz de fazer sozinha amanhã.”
(Vigotski,1985).
 ESCOLA É LUGAR DE COMPARTILHAR
CONHECIMENTOS
 Vigotski– destaca a necessidade de diferenciarmos as
condições em que a elaboração do conhecimento se
dá nas relações cotidianas e nas relações de ensino
vividas no contexto escolar.
 Relações cotidianas- o adulto participa
espontaneamente do processo de utilização e de
elaboração da linguagem pela criança.
 Interações escolarizadas- têm uma orientação
deliberada e explícita para seus participantes, que
nela ocupam lugares sociais diferentes: a criança, no
papel do adulto, é colocada diante da tarefa de
compreender as bases dos conceitos sistematizados
ou científicos; o professor é encarregado de orientá-
la.
 Papel do professor- não implica ensinar ou explicar
diretamente o significado de uma palavra à criança. Isso
é impossível, assegura ele, porque “ quando se explica
qualquer palavra, colocamos em seu lugar outra palavra
igualmente incompreensível, ou toda uma série de
palavras, sendo a conexão delas tão ininteligível quanto
a própria palavra.”. O que a criança necessita, é de
oportunidades para adquirir novos conceitos e
palavras na dinâmica das interações verbais,
mediadas pelo professor. O professor participa
ativamente do processo de elaboração conceitual da
criança.
 Sitematização-é uma tarefa que as
crianças não podem realizar
sozinhas, pois requer o domínio de
informações e de operações
intelectuais que ainda estão fora de
seu alcance. Elas necessitam de
mediação do professor para realizá-
la.
 Relações de ensino
compartilhadas- professor e
crianças ensinam e aprendem. Eles
aceitam juntos os desafios das
palavras, mergulhando na história,
nas práticas sociais de
conhecimento.
 “ Nós, professores, como
parceiros sociais da criança,
tomamos contato com os sentidos
e saberes que ela traz para a sala
de aula e, levando-o em conta,
participamos ativamente dos seus
processos de conhecimento e
desenvolvimento. Para isso
destacamos outros significados e
sentidos além dos que ela já
conhece, outros modos de
organizar e articular os
conhecimentos, tendo em vista
chegar ao conhecimento
sistematizado.” (Fontana e Cruz,
1997)
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
EDUCAÇÃO INFANTIL
Objetivos de
Direitos de Aprendizagem Campos de Experiências Aprendizagem e
desenvolvimento

Conhecer-se Conviver ESPAÇOS, TEMPOS, O EU, O


QUANTIDADES, OUTRO, O Bebês
RELAÇÕES E NÓS
TRANSFORMAÇÕES Zero – 18m

Conhecimento
Ético
Expressar Estétic Brincar Crianças bem
pequenas
o Múltiplas Práticas
Político Linguagens Sociais CORPO, 19 m – 3a 11m
TRAÇOS, SONS, GESTOS E
CORES E IMAGENS MOVIMENTO
S

Crianças
Participar Explorar pequenas
ESCUTA, FALA,
PENSAMENTO E 4a – 5a 11m
IMAGINAÇÃO
DIREITOS DE APRENDIZAGEM A partir dos
princípios e
objetivos já
Conhecer-se Conviver anunciados nas
DCNEI, considera-
se que seis grandes
Ético DIREITOS DE
Expressar Brincar APRENDIZAGE
Político Estético M devem ser
garantidos a todas
as crianças nas
Participar Explorar
turmas de creche
ou pré-escolas.
CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS
Os campos de experiências são estruturados a partir do artigo 9º das DCNEI.

Não ocorrem de modo isolado.

Os campos de experiências são explorados a partir dos interesses das


crianças. Assim, colocam no centro do projeto educativo as interações e as
brincadeiras, de onde emergem as observações, os questionamentos, as
investigações e outras ações das crianças articuladas com as proposições
trazidas pelos/as professores/as.
A organização
curricular da CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS
Educação Infantil
ESPAÇOS, TEMPOS,
pode se estruturar QUANTIDADES, O EU, O
OUTRO, O
RELAÇÕES E
em eixos, centros, TRANSFORMAÇÕE NÓS
S
campos ou módulos
de experiências Conhecimento

que devem se
articular em torno Múltiplas Práticas
Sociais CORPO,
Linguagens
dos princípios, TRAÇOS, SONS,
CORES E IMAGENS
GESTOS E
MOVIMENTO
condições e S

objetivos propostos
nesta diretriz. ESCUTA, FALA,
(Parecer CNE, 2009, p. 16)
PENSAMENTO E
IMAGINAÇÃO
ÉTICA , POLÍTICA E
ESTÉTICA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Para organizar o currículo da Educação Infantil é preciso
considerar:
Éticos: da autonomia, da
 os dois grandes eixos, as interações e as brincadeiras; responsabilidade, da
solidariedade e do respeito
ao bem comum, ao meio
 os princípios éticos, políticos e estéticos; ambiente e às diferentes
culturas, identidades e
singularidades.
 a indissociabilidade entre o cuidar e educar; Políticos: dos direitos de
cidadania, do exercício da
criticidade e do respeito à
 a criança como ser integral que se relaciona com o ordem democrática.
mundo a partir do seu corpo em vivências concretas Estéticos: da sensibilidade,
com diferentes parceiros e em distintas linguagens; da criatividade, da ludicidade
e da liberdade de expressão
nas diferentes
manifestações artísticas e
culturais.
DCNEI – Art. 7º
“Só quem assume a história de sua
vida pode ver nela a realização de
si mesmo. A responsabilidade de
assumir o controle da própria
biografia significa ter clareza sobre
quem se quer ser”.
Jurgen Habermas

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