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representam avanços significativos na valorização da carreira docente ao definir em seus textos


garantias que trouxeram mudanças significativas para a prática e carreira docente.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição Federal de 1988


BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei nº 9.394/96
CÁCERES, Lei n° 2.863 de 11 de maio de 2020. Disponível em: http://leismunicipa.is/pyker,
acesso em 30 de ago. 2022.
CÁCERES, Processo Judicial Eletrônico, PJE, N° 1011258-41.2022.8.11.0000
CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa:
enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, Vozes, 2008.
RIBEIRO, J.M.C. Valorização dos Profissionais da Educação Básica no Brasil. In:
Valorização dos profissionais da Educação no contexto do FUNDEB e do PSPN. RIBEIRO;
FIGUEIREDO (org). Tangará da Serra-MT. Editora: Unemat. 2020.
SAVIANI, Dermeval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no
contexto brasileiro. In_: Revista Brasileira de Educação: Abril, 2009, vol.14, no.40, p.143-
155. ISSN 1413-2478.
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LEI DE BONIFICAÇÃO POR DESEMPENHO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE


VITÓRIA: POSICIONAMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

Zoraide Barboza de Souza


Mestra do Programa Educação: História, Política, Sociedade da PUC-SP
Professora Especialista de Educação Infantil da Rede Municipal de Vitória - ES

Keila Bárbara Ribeiro da Silva


Especialista em: História e Política Social pela UFES
Professora de Ciências Sociais da Rede Municipal de Vitória - ES

INTRODUÇÃO

No dia treze de abril de 2022 foi aprovado em plenária do Conselho Municipal de Educação
(COMEV) o Parecer/COMEV 02/2022 - Técnico da Comissão de Legislação e Normas - CLN,
acerca da Lei Municipal no 9777/21, que institui a Bonificação por Desempenho no âmbito da
Secretaria Municipal de Educação (SEME), cria a Comissão de Bonificação por Desempenho
e dá outras providências.

Vitória tomou como referência os preceitos que orientam a administração pública na


contemporaneidade, seguindo as concepções e os fundamentos do sistema capitalista, numa
perspectiva de que apenas o lucro importa. Idealizando o alcance da eficiência e eficácia do
mercado, quando o município toma a iniciativa de enviar para a Câmara de Vereadores o projeto
lei de bonificação por desempenho.

Com essa ação da gestão, de enviar o referido projeto de lei, o COMEV é instigado a se
posicionar por meio de Parecer conforme legislação municipal, Lei 4746/1998 em seu artigo
terceiro quando fala das suas competências “[...]emitir parecer sobre questões e assunto de
natureza pedagógica e educacional que lhe sejam submetidas pelo Governo do Município, pelo
Secretário Municipal de Educação, bem como por outras autoridades, entidades e pessoas
interessadas.” (VITÓRIA, 1998, p. 02).

O foco deste estudo é discutir sobre o Parecer/COMEV 02/2022 que se posiciona a respeito da
lei 9.777/2021 do município de Vitória, que institui a bonificação por desempenho no âmbito
da SEME. Tendo como referência a retirada de direitos conquistados pelo magistério ao longo
do seu processo de lutas, quando regulamenta que para ter “direito” à bonificação, o docente
deve abdicar do direito de licença médica, licença para acompanhar familiares em atendimento
médico, licença nojo, licença gala. Nessa perspectiva, pode-se construir reflexões que para
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alcançar a recompensa disponibilizada pela administração, o/a professor/a não poderá adoecer,
enlutar-se ou mesmo comemorar casamento.

Outro aspecto também que abordaremos é a relação da bonificação com a implantação do


modelo produtivo e competitivo por parte da administração, na busca de que professores/as
alcancem a suposta qualidade produtiva, fazendo com que recaia sobre professores/as e
estudantes a responsabilidade de fracasso/sucesso. Em um artigo, EVANGELISTA e
VALENTIM (2013, p. 1009) sinalizam que “[...]A ansiedade gerada na longa espera pela
divulgação do resultado das metas, bem como as consequências que isso traz, pode engendrar
sentimentos como culpa orgulho, competição, vergonha e inveja”.

PROBLEMA

Ao ponderar a respeito dos elementos que orientam a bonificação na educação do município,


pode-se questionar: quais as considerações que o Parecer/COMEV 02/2022 apresenta em
relação à perda de direitos, ou seja, desistência de licença médica, licença para acompanhar
familiares em atendimento médico, licença nojo, licença gala? Ainda, qual a relação da
bonificação com o modelo produtivo e competitivo do mercado e as implicações para
professores/as e estudantes?

O objetivo deste trabalho é analisar as perdas de direitos que os/as professores/as tiveram ao
serem submetidos à lei 9.777/2021 de bonificação por desempenho da SEME, do município de
Vitória, relacionando a responsabilização do fracasso/sucesso para professores/as e estudantes.

METODOLOGIA

Este trabalho tem como abordagem o relato de experiência. Fizemos essa escolha pelo nosso
envolvimento com o processo de elaboração do Parecer/COMEV 02/2022, sendo que uma
compõe a relatoria e a outra atuava como presidenta do COMEV. Nossa vivência com a feitura
do documento, coloca-nos em condições de relatar o percurso de reflexões produzidas nos
encontros e lives promovidas pelo COMEV. O roteiro a ser usado poderá auxiliar na
compreensão do referido parecer, fazendo com que amplie o entendimento da temática.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Aos falarmos sobre a perda de direitos do magistério, o parecer explicita críticas à SEME por
falta de políticas públicas e faz inferência a respeito das licenças médicas e licença para
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acompanhar familiares, afirmando que a referida lei de bonificação “[...]deixou descobertos/as


os/as servidores/as atacados/as por doenças profissionais produzidas pelo próprio sistema, a
maior parte dos/das licenciados/as do magistério que se enquadram neste critério são de doenças
psiquiátricas e ortopédicas”. (VITÓRIA, 2022, p. 02). Sinaliza também a falta de sensibilidade
por parte da administração em trazer uma lei que não leva em conta que a humanidade está
voltando de uma pandemia em decorrência da Covid19.

Outro aspecto que o parecer faz referência é a destituição do direito de celebrar o amor, ou seja,
os/as professores/as tinham direito à licença gala de 07 dias para celebração de seu matrimônio.
A partir da lei 9.777/2021 o profissional que fizer a escolha de usufruir seu direito “[…]ao
tirarem licença gala, perdem a ‘valorização’ e caem na classificação dos/das sem mérito, pois
apenas os/as ‘preguiçosos/as’ celebram o amor e a vida.” (VITÓRIA, 2022, p. 03).

Outro aspecto dessa lei de bonificação é a busca de culpabilização do fracasso de professores/as


e estudantes, bem como premiação aos mesmos pelo “sucesso” alcançado, implantando o
modelo produtivo e competitivo do mercado. “Os modelos administrativos podem ser
considerados, portanto, roupagens bonitas, ou seja, instrumentos que visam à construção e
naturalização de valores, comportamentos, modos de sentir e viver: políticas de subjetivação.”
(EVANGELISTA e VALENTIM, 2013, p. 1006).

O parecer sinaliza com base em Esteban(2008) que o discurso oficial indica os dados das
avaliações padronizadas como mecanismo de melhoria da educação. No entanto, a referida
autora aponta que “[...]as avaliações externas pouco contribuíram, ao longo dos anos, para a
educação e para a melhoria da aprendizagem. (VITÓRIA, 2022, p. 08).

Dessa forma, a lei de bonificação tem como referência as metas determinadas para as Unidades
de Ensino e no índice do PAEBES. Nesse contexto, a organização pedagógica pode caminhar
na perspectiva de resultados e é assombrada pela vigilância severa dos organismos externos.
"[...]o que está em jogo não é a possível certeza de ser sempre vigiado, tal como no clássico
panóptico, e sim a incerteza e a instabilidade de ser avaliado de diferentes maneiras, por
diferentes meios e por distintos agentes” (BALL, 2001, p. 110).

O parecer questiona o fato do município ter adotado o Programa de Avaliação da Educação


Básica do Espírito Santo (PAEBES) para balizar os indicadores do desempenho institucional
das escolas e dos/das profissionais da educação, pois o município possui um sistema de
avaliação próprio, Lei 8.051/2010 do SAEMV (Sistema de Avaliação Municipal de Vitória),
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que foi desenvolvida e amplamente discutida junto à comunidade escolar e dialoga com as
realidades educacionais do município.

Paro (2012) elabora uma crítica sobre a remuneração por mérito aos professores dizendo que é
uma medida descabida que revela o desconhecimento das condições da atividade pedagógica,
e, nela, revelam-se dois supostos: “[...]suposição da incúria do professor no desenvolvimento
de suas atribuições”, precisando ser estimulado para tal como acontece na produção capitalista;
e, o segundo, “[...]o reconhecimento (não explícito) de que o salário do professor não é
suficiente para propiciar-lhe condições mínimas de trabalho” (PARO, 2012, p. 601).

CONCLUSÃO

A sobrecarga de trabalho e as condições de estresse, com a nova matriz curricular e as inúmeras


cobranças por índices a serem alcançados, tem causado danos a saúde do Magistério de Vitória,
que com os salários achatados, e na busca por maiores recursos financeiros, passam a ser
pressionados pelas circunstâncias a não faltar ao trabalho, mesmo quando estão doentes.

Destacamos que a valorização salarial é algo que se reflete ao longo da carreira das/dos
professoras/es e impacta positivamente na sua qualidade laboral e de vida e que, de acordo com
a Constituição Federal, os vencimentos de um/uma trabalhador/a precisam suprir as suas
necessidades vitais básicas, bem como as de sua família, com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.

A precarização do investimento em educação do município se transveste em fracasso individual


dos professores eximindo assim o poder executivo e legislativo da responsabilidade por
assegurar infraestrutura, segurança e valorização salarial.

A construção de uma política efetiva de valorização dos/das profissionais do magistério, deve


garantir os direitos já conquistados, proporcionar melhorias e o aprimoramento permanente da
qualidade da Educação Pública socialmente referenciada, e estimular a busca pela melhoria
contínua do aprendizado dos/das estudantes e da gestão das unidades escolares e
administrativas.

REFERÊNCIAS

BALL, S. Diretrizes. Políticas Globais e Relações Políticas Locais em Educação. Currículo


sem Fronteiras s, v.1, n.2, pp.99-116, Jul/Dez 2001.
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EVANGELISTA Simone Torres e VALENTIM Igor Vinicius Lima. Remuneração Variável


de Professores: controle, culpa e subjetivação. Porto Alegre: Educação & Realidade, v. 38,
n. 3, p. 999-1018, jul./set. 2013.

PARO, Vitor Henrique. Trabalho docente na escola fundamental: questões candentes.


https://www.scielo.br/j/cp/a/9Dh3nRBRrYmmBBddSGtbHkN/?format=pdf&lang=pt Acesso
em 22.08/2022

VITÓRIA. Parecer Técnico da Comissão de Legislação e Normas - CLN, acerca da Lei


Municipal no 9777/21, que institui a política de bonificação por desempenho no
município de Vitória-ES e cria a Comissão de Avaliação remunerada. Vitória: COMEV,
2022.

VITÓRIA. Lei nº 4746 - Dispõe sobre a organização e funcionamento do Conselho


Municipal de Educação de Vitória. Vitória: Prefeitura Municipal de Vitória, 1998.

VITÓRIA. Lei nº9.777/2021- Institui a Bonificação por Desempenho no âmbito da


Secretaria Municipal de Educação (SEME), cria a Comissão da Bonificação por
Desempenho e dá outras providências. Vitória: Prefeitura Municipal de Vitória, 2021.
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“CINECONVERSAS” SOBRE A SÉRIE “FAMÍLIA DINOSSAURO”:


IGUALDADE E DIFERENÇA A ESCOLA COMO CONSTRUÇÃO DE
IDENTIDADE

Gabriel Lecoque Francisco


Universidade Federal do Espírito Santo
PPGMPE Espírito Santo/ ES/ Brasil.
gabrielecoque@gmail.com

Letícia Lopes Bortolotti Batista


Universidade Federal do Espírito Santo
PPGMPE Espírito Santo/ES/Brasil.
leticia.bortolotti@edu.ufes.br

Simara Santos Silva


Universidade Federal do Espírito Santo
PPGMPE Espírito Santo/ ES/ Brasil.
simaraufes88@gmail.com

INTRODUÇÃO

O presente resumo apresenta o trabalho docente com audiovisuais discutindo temas como
ecologia, discriminação e preconceito dialogados na disciplina de Diversidade e Diferença na
Educação, ministrada pela professora doutora Patrícia Gomes Rufino Andrade47, no mestrado
profissional em educação da UFES.

O trabalho docente envolve uma diversificação de metodologias e práticas, que façam sentido
aos estudantes e promovam conhecimento e cidadania. Uma dessas oportunidades são as
práticas escolares com audiovisuais nos quais um assunto pode ser introduzido, ou ainda uma
oficina pode ser criada. O artigo aqui apresentado abordou os assuntos já citados através do
episódio “O casamento de Roy” da série “Família Dinossauro” em que ocorreram conversas a
partir do episódio culminando com algumas atividades.

METODOLOGIA

Buscando uma aproximação de discussão com a igualdade e diferença trouxemos para


discussão o episódio “O casamento de Roy”. Onde percebemos que os dispositivos
democráticos de igualdade formulados dentro das sociedades ocidentais são marcados por

47
A professora faz parte do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros. É professora Adjunta do Centro de Educação,
UFES.
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diferenças de status e de hierarquias, de modo que a mera introdução de dispositivos legais não
é suficiente para garantir a compreensão do debate que perpassa as definições de igualdade e
diferença. A diferença não é uma característica natural, esse processo acontece na relação social
e é produzido em conexão com as relações de poder e em meio a essa estrutura a diferença é
avaliada de forma negativa em detrimento ao não diferente, contudo “[...] “essa outra coisa”, o
“não diferente”, também só faz sentido, só existe na “relação de diferença” que a opõe ao
“diferente” (SILVA, 2007, p. 87). Alguns episódios da série televisiva “Família Dinossauro”,
contribuem neste artigo para dialogar sobre igualdade e diferença ao trazer o audiovisual como
ferramenta acessível, que aproxima e transmite o texto científico por meio de imagens e sons.
No episódio “O casamento de Roy”, retornando a fala onde o personagem Dino dialoga com
seu filho Baby:

Baby: Porque os quadrúpedes são maus?


Dino: Deixa eu explicar filho, sabe nós andamos com as duas patas e eles
andam com as quatro, então eles são diferentes e portanto maus.
Baby: Eu tenho quatro patas!
Dino: Não, não! Esses são braços!
Baby: Mas eu ando com eles!
Dino: Não! Talvez você seja jovem demais para entender a sutileza da
discriminação racial.

A narrativa acima, revela um “tipo ideal” de dinossauro construído ideologicamente pela classe
dominante, onde os seres que andam apenas com duas patas são considerados bons, aceitáveis
dentro da sociedade dos dinossauros, por sua vez os dinossauros que andam com as quatro patas
são considerados maus, pois dentro de uma visão estereotipada da sociedade em que vivem,
correspondem a seres biologicamente inferiores. A ideia que relaciona os dinossauros
quadrúpedes a seres maus, pode ser considerada preconceito racial, pois ao se espalhar nas
relações sociais carregando tais estereótipos, impede o “ser diferente” de ampliar seus espaços
sociais, se configurando na discriminação.

Processos sistemáticos de exclusão social dificultam a percepção do valor


pessoal dos indivíduos pela sociedade; os processos de estigmatização não
apenas dificultam a construção de um sentimento de solidariedade entre os
membros da comunidade política, mas também criam obstáculos para a forma
de uma concepção integrada do psiquismo individual (MOREIRA, 2020,
p.131,132).

A discriminação e o preconceito são fenômenos culturais e sociológicos, que se constituem


como verdadeiros obstáculos impedindo os dinossauros quadrúpedes de se beneficiar de
oportunidades nos diversos âmbitos da sociedade. Na narrativa citada abaixo demonstra os
efeitos da discriminação e do preconceito em mais uma cena:
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Mônica: Fran, não acredito!!! Fui despedida do meu emprego hoje, só porque
sou quadrúpede!
Fran: O que? Mônica que loucura!!! Tem certeza?
Mônica: Tenho, a ordem saiu da diretoria, se você tem quatro patas está fora,
dispensaram a mim, duas mesas e uma mesinha de café.
Charlene: Mãe, corre liga a tv! Oi Mônica, você precisa ver isso!
Voz do apresentador na tv: Hoje uma reunião especial do conselho de sábios,
mudou radicalmente a legislação tornando ilegal qualquer um que tenha
quatro patas. Todos os dinossauros quadrúpedes têm vinte e quatro horas para
abandonarem suas propriedades e voltarem para o outro lado do pântano a não
ser que sejam casados com um bípede ou se disponham a passar pelas
alterações cirúrgicas necessárias.

As discussões desenvolvidas até aqui nos possibilitam constituir outras reflexões e práticas,
entendendo que as disparidades que atravessam as diferenças e igualdades têm profundas raízes
que estão ligadas à raça, gênero e cultura.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após tecer um plano de aula com as ideias principais a serem discutidas, o episódio foi levado
para a sala de aula, buscando compreender as percepções dos estudantes do 6º e 8º ano do ensino
fundamental, na disciplina de Geografia. Tendo como embasamento teórico o pensamento de
Paulo Freire: “A teoria sem a prática vira ―verbalismo, assim como a prática sem teoria, vira
ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e
modificadora da realidade.” (2021, p.25)

Antes da exibição do episódio, foi explicado um pouco sobre a série, sendo que alguns
estudantes disseram que conheciam a “Família Dinossauros”, outros reconheceram durante o
episódio. Nas aulas anteriores a exibição do episódio haviam sido discutidos os temas principais
contido no mesmo, como os problemas ambientais com o 6º; e discriminação e preconceito ao
abordar as migrações na América Latina com o 8º ano. Lembremos que estes são temas
transversais da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e podem ser discutidos em várias
disciplinas e séries do ensino fundamental e médio.

Ao discutir o episódio foram feitas algumas problematizações: Qual o tema central do episódio?
Quais assuntos foram abordados? O que mais chamou atenção? O objetivo era ouvi-los falar,
deixando livres.

Algumas dificuldades inerentes há muitos cotidianos escolares aconteceram, como o áudio não
ser tão bom em uma aula devido há outro evento na escola, a imagem não ser tão visível, pois
a sala de vídeo tinha muita claridade. Apesar dos problemas, o diálogo com os educandos foi
muito interessante, destacando a seguinte fala: “Este episódio possui muita crítica social”.
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Outros temas levantados pelos estudantes foram: casamento, casamento forçado, machismo,
preconceito, desmatamento, desemprego, discriminação. Determinados temas foram mais
abordados em algumas turmas que em outras, mas sabemos enquanto professores, que
diversidade de pessoas promovem também aulas diferentes. Na aula seguinte foi retomado o
diálogo e uma nova conversa sobre o tema foi iniciada. Após esse momento foi solicitado uma
atividade, sendo que, como registro no caderno, poderia ser um breve resumo sobre o episódio,
uma comparação entre o que foi visto com a realidade, ou ainda um desenho.

Dentre os estudantes, o que chama a atenção é a lembrança da indagação da criança dinossauro,


o Baby, sendo destacado por muitos educandos, apesar de aparecer pouco no episódio. Assim
um estudante fala: “O Baby perguntou ao pai, mas ele não ligou. Não deu atenção e continuou
preconceituoso”. Aqui refletiremos, será que esta criança não tem atenção em casa quando quer
falar sobre temas polêmicos, ou já viu isso em alguma situação nos ambientes em que
frequenta? No texto que poderia fazer um paralelo entre o episódio e a realidade uma estudante
escreveu: “Sou negra e de família negra, já vi isso (discriminação) acontecer como os
quadrúpedes”. Uma referência a situação vivida no episódio e discutida na sala, em que
preconceito contra os latinos (referência as aulas anteriores) aos negros e deficientes foram
abordadas. Sendo livre o desenho, tivemos como foco dos estudantes o casamento devido a
situação de permanecer na comunidade, o problema ecológico do desmatamento, os discursos
preconceituosos pelo governo, entre outros temas.

CONCLUSÃO

As práticas pedagógicas podem produzir reflexões nos docentes e discentes transformando as


relações sociais e as leituras de mundo, um olhar crítico e compreendendo as contradições
econômicas, sociais, raciais e históricas. Este entendimento vem com certo tempo, como Freire
escreve “a libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem (e mulher) que nasce
deste parto é um homem (e mulher) novo que só é viável na e pela superação da contradição
opressores-oprimidos, que é a libertação de todos. (p. 23, 1987, grifo nosso). Os contrastes da
sociedade são carregados de discursos que mais dificultam o diálogo e a cidadania, do que
buscam cooperar para resolver as problematizações como no episódio debatido neste artigo.
Cabe ao cotidiano escolar oportunizar redes de diálogos, sendo as “cineconversas” uma
metodologia de alcance para temas transdisciplinares, diversos e atuais.

REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 68 ª ed.


Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2021.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. 23ª impressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.

MOREIRA, Adilson José. Tratado de Direito Antidiscriminatório. São Paulo: Editora


Contracorrente, 2020.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Diferença e identidade: o currículo multiculturalista. In: ______.
Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2007. p. 85-90.

SILVA, Tomaz Tadeu da, et al. A produção social da identidade e da diferença: A


perspectiva dos Estudos Culturais. Ed. 15ª. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

SUCESSO NOS ANOS 90, 'FAMÍLIA DINOSSAURO' COMPLETA 25 ANOS. Correio 24


horas. Salvador, 27 de abr. de 2016. Obtido em
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/sucesso-nos-anos-90-familia-dinossauro-
completa-25-anos/. Acesso em: 02 jul. 2022.
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM ESPAÇOS FORMATIVOS,


REFLEXIVOS E COLABORATIVOS: RELATOS DE EXPERIÊNCIA DE UMA
PRÁTICA NO SISTEMA DE ENSINO DE VITÓRIA

Rodrigo Ferreira Rodrigues


Professor Permanente do PPGEH, Ifes
rodrigo.rodrigues@ifes.edu.br

Clarisse Oliveira da Rocha Fontan


Mestranda PPGEH – Ifes / Secretaria Municipal de Vitória
clarissefontan2015@gmail.com

INTRODUÇÃO

Partindo da Constituição Federal Brasileira de 1988, que cita em seu artigo 205 que a
educação é um direito de todos e dever do Estado contando com a colaboração e incentivo da
sociedade, seguindo pelo artigo 206 que cita um dos princípios sendo o da garantia do padrão
de qualidade para a educação e perpassando pela realidade encontrada no sistema educacional
brasileiro, em nossas experiências cotidianas como profissionais da educação, percebemos a
urgência em dialogar a respeito da qualidade da educação brasileira através de uma efetiva
cooperação.

A colaboração entre municípios, estados e federação se mostra incipiente e frágil. Podemos


tomar como exemplo, de vivências pessoais como profissional direta na educação no Espírito
Santo, em específico no município de Vitória, que, por exemplo, o Ensino Infantil,
Fundamental I e II sob responsabilidade do município apresenta uma constituição de sistema
completamente distinto do que é apresentado para o Ensino Médio sob responsabilidade do
ente Estado.

Os sistemas públicos de educação se subdividem tornando-se diferentes entre si, municípios


e estado, mas garantindo também a autonomia de cada ente federado para constituição de seu
próprio sistema educacional. Ou seja, é urgente e necessária a articulação de um sistema
nacional de educação que potencialize a consolidação de uma educação de qualidade e ao
alcance de todos.

Neste relato de experiência exploraremos a prática implementada na formação continuada de


professores na educação infantil no munícipio de Vitória junto a uma unidade de ensino do
sistema, como oportunidade de articulação de diferentes níveis de ensino para potencializar
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identidades e reconhecimentos locais para as necessidades educacionais respeitando-se a


região que se esteja inserida a unidade (ou unidades) de ensino, inclusive de diferentes
sistemas, num explícito espírito colaborativo.

DESENVOLVIMENTO

De 2015 a 2022, estive à frente da Direção no CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil)
Georgina da Trindade Faria, localizado em São Pedro, no município de Vitória – ES, onde
implementamos “Formação Continuada na Escola”, através do uso de Plataforma Digital
VIXEDUCA e também a Aprende Vix, ambas administradas e disponibilizado acesso pela
secretaria municipal de educação de Vitória para formação dos profissionais, o que
possibilitou maior alcance, qualidade de conhecimento e a construção colaborativa de
documentos coletivos para essa Unidade de Ensino, além é claro de ser economicamente mais
viável para participação de todos os interessados e palestrantes convidados. Diferentes
profissionais, vindos de setores diferentes, municípios da Região Metropolitana com sistemas
educacionais diferentes, conseguiram unir esforços e produzir uma diretriz interna para que
essas diferenças trazidas não interferissem e causassem divisões internas.

Iniciamos em 2015 como um projeto piloto da Secretaria Municipal de Educação de Vitória


(SEMEV) pois não havia regularidade nas formações ofertadas pela própria secretaria para as
escolas. Identificamos que os profissionais precisavam de estudo constante, troca e
atualização de ideias, bem como oportunidades de formação certificada que possibilitassem
ascensão no plano de carreira da Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) onde é necessário, a
cada 3 anos, apresentar certificados de cursos de atualização para progredir e que se
desdobram em vantagens financeiras.

Desde o primeiro ano de atuação apresentamos projeto de formação para Gerência de


Formação e Desenvolvimento em Educação (GFDE), para os servidores e colaboradores da
escola e naquele ano iniciamos as atividades de forma presencial e complementarmente com
atividades online nas plataformas supracitadas. A experiência logrou êxito e nos anos
seguintes continuamos com a proposta agregando também a comunidade escolar no geral
(conselho de escola e outros segmentos), onde servidores de outras UEs também participaram.

Novas concepções de formação trazem, como um dos eixos principais, os grupos de formação,
que não se constroem somente por meio da acumulação de saberes no processo de formação
inicial universitária e acadêmica, mas, sobretudo, por meio de um trabalho eminentemente
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reflexivo, o qual amplia e favorece as discussões e as trocas tão importantes para a construção
do conhecimento.

Em lugar de um conteúdo predeterminado, fechado, transmitido em um curso


convencional, de forma passiva e memorizada, cria-se um espaço especial de
construção do conhecimento em que a reflexão é a mola propulsora do trabalho [...].
O grupo de formação reflexiva está voltado para que seus professores componentes
tornem-se sujeitos de sua própria prática pedagógica e de seu processo de
conhecimento. Nesse contexto, ser sujeito significa ser capaz de refletir sobre sua
prática e transformá-la - tornando-a mais significativa, mediante o diálogo - pela
tomada de consciência da teoria que a embasa. (ABRAMOWICZ, 2003, p. 138-139).

Segundo Freire (2001), faz parte da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino... No meu entender, o que há de
pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que
se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a
busca, a pesquisa. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. (FREIRE,
2002, p. 14).
É na troca que o saber se complementa, pois cada pensamento se conecta a outro e vão se
formando novas ideias que levarão a novas buscas e consequentemente a novos saberes tecendo
assim uma teia de conhecimento construída coletivamente.
Os temas eram selecionados logo nos primeiros dias de atividades letivas no início de cada
ano, onde os servidores, livremente e espontaneamente indicavam temáticas e assuntos a
serem abordados em um processo de construção colaborativa da ementa a ser implementada
ao longo do percurso letivo.

Em março ou abril, com os temas escolhidos, projeto escrito e cronograma de execução,


iniciavam as formações. Algumas vezes administradas/apresentadas pelos próprios servidores
que faziam estudos prévios embasados por suas experiências, outras vezes com participações
externas de colaboradores diversos (professores da Universidade Federal do Espírito Santo
(Ufes), colegas de outras UE, servidores da SEME e etc.).

O cronograma de implementação do processo formativo aproveitava-se das datas previstas


em calendário letivo. Algumas datas reservadas pela própria SEME, mas também por outras
definidas pela unidade escolar que possuía autonomia na gerência de datas e consensuadas
pelo grupo, sempre garantidos no calendário e em horário de trabalho.

De modo geral a dinâmica de formação considerava debates que ocorriam nas datas agendadas
em calendário realizadas, portanto, presencialmente, mas de forma complementar também
recorria a sistemas online, disponibilizados pela SEME mas gerenciados pela equipe gestora
da unidade, onde cada participante realizava atividades na plataforma como forma de registro
das temáticas abordadas e complementando a carga horária de formação.

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