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QUANDO O SONHO VIRA PESADELO: UMA ANÁLISE DO

ADOECIMENTO E SOFRIMENTO DOS DISCENTES NA


GRADUAÇÃO

Cuando el sueño se vuelve pesadilla: un análisis de la en-


fermedad y del sufrimiento de los alumnos en la graduaci-
ón

Maria Vitória Oliveira Silva1


Profa. Dra. Leni Maria Pereira Silva²

1 Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)


DPCS-Serviço Social Unimotes
viickoliveira1@ otmail.com

2 Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)


DPCS-Serviço Social Unimotes
leni_25@outlook.com

RESUMO

O adoecimento e sofrimento atingem diversas pessoas nas mais várias áreas da vida. Estão
ligados ao processo de sociabilidade capitalista tendo na reestruturação produtiva expressiva
disseminação. A inserção na Universidade e o confronto entre sobrevivência e cumprimento das
exigências acadêmicas colocam acadêmicas (os) em exposição ao adoecimento e sofrimento,
especialmente por projetarem o sucesso e a superação das situações de pobreza vivenciadas
antes mesmo de ingressarem na vida acadêmica. O presente artigo tem como objetivo analisar
o processo de adoecimento e sofrimento dos discentes da graduaçao da Universidade Estadual
de Montes Claros – UNIMONTES, e compreender os elementos que corroboram para o adoeci-
mento e sofrimento no processo de formação. Sob isso, inquieta-se apreender se os acadêmicos
trabalhadores estão mais suscetíveis a um processo de adoecimento e sofrimento? Se os discen-
tes do curso de Serviço Social apresentam algum tipo de adoecimento e sofrimento em virtude
da relação trabalho e formação profissional? Trata-se de uma pesquisa de viés qualitativo que
se apropria de procedimentos de coleta de dados primários e secundários. Considera-se o adoe-
cimento e sofrimento como fenômenos de ascensão, que precisam de estudos e, em especial es-
tratégias de enfrentamento que assegurem a conclusão da formação no âmbito da graduação.

2060
Palavras chaves: Adoecimento. Sofrimento. Trabalho. Formação profissional.
INTRODUÇÃO

O presente artigo compõe agenda de investigações, em desenvolvimento1, na graduação


em Serviço Social. Destaca-se que os estudos são iniciais, nesse constam em primeiro plano
uma apresentação conceitual, em segundo análise de dados secundário coletados que tratam da
relação, de um lado, as mutações do trabalho que se configuram cada vez mais exigente e vin-
culadas a sobrevivência, única exclusivamente e, de outro as exigências da vida acadêmica que
trazem os processos do mercado e seus dispositivos para o cotidiano da vida acadêmica, além
de dispor de uma carga de exigências que se manifestam para os acadêmicos como demandas
do processo de formação.
Nesse sentido autores como Sawaia (2008), Dejours . Dal Rosso (2008) , Selgman-silva
(2009) entre outros apresentam que o processo de acumulação de riqueza tem acarretado para
a vida da classe trabalhadora um asseveramento das formas de exploração. Segundo Dal Rosso
(2008) o mais trabalho do século XXI é a representação da mais valia absoluta.
Para Dejours (2008) o trabalho é espaço de sofrimento e adoecimento. As formas de explo-
ração tem lesionado tanto o físico como psicológico. Tendo efeitos danosos e nocivos a saúde
do trabalhador.
Para os estudantes, que estão no processo de formação superior, essa realidade não é dife-
rente. Talvez se manifestes de forma mais acentuada, pois trata-se da classe trabalhadora que
tenta equilibrar trabalho, sobrevivência e formação profissional. Um quadro cada vez mais
comum no meio acadêmico tem sido o processo de sofrimento e adoecimento.
Numa realidade em que a competição por benefícios ligados a qualificação educacional se
apresentam como instrumentos de subsistência e possível conciliação de ter renda e estudar
concomitantemente no mesmo espaço tem agravado o processo de sofrimento elevando a um
quadro de adoecimento os acadêmicos.
Parte-se do pressuposto que o processo de adoecimento e sofrimento dos acadêmicos da
graduação tem um relação direta com a necessidade de atender tanto as exigências do trabalho
(como única garantia de prover a sobrevivência ) como aquelas que estão no campo da for-
mação profissional. Uma vez que cada vez mais, especialmente nos últimos dez anos, a classe
trabalhadora tendo maior acesso ao ensino superior tanto público como privado, se depara com
uma realidade desigual tanto das condições objetivas para alcançar um desenvolvimento con-
dizente para com exigências acadêmicas em virtude de ter que conciliar trabalho e formação,
quanto subjetivas , em que o confronto com a realidade e do eminente conflito entre necessidade
de sobrevivência (por via da venda da força de trabalho) e a de ter uma formação superior tem
contribuído, cada vez mais, para o asseveramento dos dados relacionados ao adoecimento na
graduação.

1 A pesquisa que é fonte desse artigo está em processo de desenvolvimento e compõe os pré-requisitos da
2061
graduação no âmbito da produção monográfica do Curso de Serviço Social Unimontes.
TRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O sistema econômico capitalista no Brasil nos anos 1980 passou por grandes transfor-
mações no âmbito do trabalho e na sua estrutura produtiva. Uma década onde a tecnologia teve
um significativo avanço influenciando diretamente nas relações de trabalho e na produção do
capital, que visavam à adequação da sua produção à lógica do mercado. Para Alves (2007), o
capital como sistema de controle sócio-mentabólico institui diversas formas de subjetivação,
para ele “a subjetividade como categoria legítima, embora problemática, no plano do ser social
capitalista, é produto irremediável do desenvolvimento do processo civilizatório’’, processo
esse que tem suas transformações visando à busca desse ajuste à lógica de mercado. Aderiram
à flexibilização aos novos processos de trabalho, o que acarretou mudanças não somente nessa
esfera, mas também no que diz respeito aos direitos trabalhistas, que passam a ser aniquilados.
Antunes (2006), em seu livro Adeus ao trabalho? Ensaio as Metamorfoses e a Cen-
tralidade do Mundo do Trabalho remete as transformações no mundo de trabalho e como elas
refletem na contemporaneidade e como suas crises tem afetado a sociedade, além da análise da
real centralidade do trabalho. Reafirma a tese de Clarke (1991), que a especialização flexível
ocasionou a intensificação do trabalho e relaciona-se a um meio de desqualificá-lo e desorgani-
zá-lo. Flexibilização essa que abrange padrões de desenvolvimento desigual intensificada pela
exploração do trabalho.
Segundo Antunes (1995), a maior consequência negativa desse processo, foi a expansão
do desemprego estrutural que se instaurou em um contexto global. Caracteriza-se com o núme-
ro de desempregados que é superior ao de inseridos no mercado o que potencializa o desejo de
entrar nesse mercado, obrigando aos que estão inseridos a aceitarem as condições estabelecidas,
pois a sua vaga seria facilmente ocupada devido ao grande número de desempregados. Sabendo
da necessidade de sobrevivência e a aceitação a certas condições para alcançá-las, institui-se a
precarização do emprego e da remuneração, a desregulamentação das condições de trabalho,
agressão aos direitos sociais, além de configurar a individualização dos sujeitos e que conse-
quentemente aumentou a exploração da força de trabalho.
Considera-se ainda que a demanda imposta pelo capital de qualificar a mão de obra per-
passa pelo processo de intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora visando o forta-
lecimento do capital e aumentando a sua força no mercado, porém de forma contraditória, pois
ao mesmo tempo em que precariza as várias instâncias do mundo do trabalho e o desqualifica,
necessita de sua qualificação para acompanhar as mudanças que o segue. Cabe aqui abordar a
formação profissional como forma de qualificação que atende tanto à lógica do mercado, como
a necessidade de sobrevivência por meio do trabalho para suprir as necessidades vitais.
Isso posto, os impactos das novas formas de gerenciamento no trabalho provocou uma
certa exigência na educação superior no Brasil. Em meados dos anos 1990 de acordo com
Paula (2008) deixou de ser vista como dever do Estado e direto do cidadão, e passou a “ser
concebida como serviço, mercadoria, perdendo assim o seu caráter eminentemente público”.
Nesse contexto, ocorreu o desfinanciamento das Universidades públicas que consequentemente
contribuiu para o surgimento de instituições privadas de ensino superior, logo um abandono 2062
em relação ao ensino superior público, além de da fragmentação do processo de formação, que
acelerou o processo de precarização do ensino.
Um destaque foi o incremento da flexibilização do ensino quando passa a se ofertar:
cursos de curta duração, a longa distância, cursos técnicos, etc. Essas alternativas são postas
com a intenção de oferecer alternativas mais rápidas e de menor custo, seja ele de tempo ou
financeiro com o intuído de atender as demandas dos usuários desse serviço ou política que
procuram o ensino superior visando o mercado de trabalho, produzindo uma nova divisão no
mundo do trabalho, como destaca a autora:

“Dentro de uma mesma instituição universitária, os alunos com menor capital social
e cultural, em geral, dirigem-se para os cursos aligeirados, que exigem menos inves-
timento material e cultural, enquanto que as elites dominantes continuam chegando
em maior quantidade aos cursos que dão mais status profissional, que exigem um acu-
mulo maior de capital social e cultura. Isso demonstra que essa iniciativa, ao invés de
contribuírem para democratizar o ensino superior, na verdade, apenas reproduzem e
reforçam as desigualdades sociais do sistema capitalista.” (PAULA, Maria de Fátima
de, p. 82,2009)

As mudanças tanto trabalho impacta um novo processo de exigência aos trabalhadores.


Cada vez mais, se exige a comprovação do ensino superior para o ingresso nas “poucas” vagas
disponibilizadas pelo mercado de trabalho. Essa exigência aliada a uma abertura de ensinos das
mais variadas modalidades, em especial, o ensino a distancia, vem cumprir um exigência de
mercado mas, o que está para além de uma qualificação dos sujeitos no campo do direito e da
emancipação.
Para Iamamoto (2014) essa situação tem sido presente quando se observa uma expressi-
va inserção de talhadores economicamente ativos ou latentes no ensino superior visando meios
de ascensão social e elevação no status social, porém a massificação e a perda de qualidade da
formação profissional facilitam a submissão dos discentes e futuros profissionais às demandas
e normas estabelecidas pelo mercado. Seguindo à lógica do mercado há a precarização das con-
dições de ensino e de trabalho, aumentando a insegurança não só profissional, mas na vida.

SOFRIMENTO E ADOECIMENTO

O adoecimento deve ser apreendido como um fenômeno ligado a sociedade moderna.


Além de ser um dos elementos constitutivo para a compreensão do pertencimento à classe
trabalhadora, cada vez mais impacta pelas mudanças da sociabilidade capitalista.
Para Franco, Druck e Seligmann-Silva (2010), o trabalho é ainda referência para a cons-
trução da identidade social, sendo os frutos dele incumbido de proporcionar cultura, lazer, saú-
de, segurança, educação, etc. Contudo, em era de precarização é espaço de violências e adoe-
cimentos estabelecendo condições de vulnerabilidade para os sujeitos sociais e dificultando os
acessos, ressaltando a classe trabalhadora, pobre e de pouca escolaridade que são mais propicias
aos processos de esgotamento, pois almejam sair desta condição, e o estreitamento do mercado
de trabalho alimenta esse processo.
Se o trabalho, a cada processo de engenhoso e destrutivo de seu sentido ontológico, 2063
deixou de ser o lugar da criatividade logrando emancipação, nessa quadra histórica passa a ser
lugar de sofrimento.
O trabalho moderno está para homem moderno como esteve para Sisifo. Algo tenebro-
so, inútil, penalizador . Sendo notório sua relação com processos de estranhamento construído
sob bases de sofrimento e adoecimento da classe trabalhadora .
Um trabalho que faz sofrer segundo de Dejours (1998), é aquele em que as exigências
do trabalho e da vida são uma ameaça ao próprio trabalhador, que acusa riscos de sofrimento (o
que era conhecido como Miséria Operária), que se compara a uma doença contagiosa, devendo
ser encarada e tratada como tal, surgindo daí um movimento denominado higienista como res-
posta social ao perigo. Segundo o autor os impactos sobre o corpo, especialmente campo físico,
o corpo dócil e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes à atividade laborativa; e, dessa
forma, projeta-se um corpo sem defesa, explorado e fragilizado pela privação de seu protetor
natural, que é o aparelho mental.
Dejours (1998) averba que dentre os efeitos mais devastadores que o trabalho moder-
no incide sobre o sujeito está a sua perda de criatividade representada pela frustração de suas
expectativa iniciais sobre o mesmo, à medida que a propaganda do mundo do trabalho promete
felicidade, e satisfação pessoal e material, para o trabalhador; porém, quando lá adentra, o que
se tem é infelicidade e, na maioria das vezes, a insatisfação pessoal e profissional do trabalha-
dor, desencadeando, então, o sofrimento humano nas organizações.
Segundo o autor o momento em que se apreende essa manifestação foi com o advento
da aceleração desigual das forças produtivas, das ciências, das técnicas e das máquinas. Todos
esses fatores, aliados às novas condições de trabalho - que podem ser entendidas por meio do
ambiente físico (luminosidade, temperatura, barulho); do ambiente químico (poeiras, vapores,
gases e fumaças); do ambiente biológico (presença de vírus, bactérias, fungos, parasitas); pelas
condições de higiene, de segurança e as características antropométricas do posto de trabalho
nas indústrias; facilitaram o aparecimento de sofrimentos insuspeitos na vida dos operários
(DEJOURS, 1998, p.121).
Dal Rosso (2008) em sua obra “Mais trabalho” conclui que essa fase histórica se dá
pelo processo de intensificação do trabalho. Alerta o autor que não há possiblidade do trabalho
acabar, mas sim, reconfigurar o seus sentido e aumentar a exploração. A intensificação do tra-
balho tem sido comparada a um processo de agudização da precarização do trabalho e da vida
dos trabalhadores. Um processo que modifica a produção de mercadorias como dilacera a vida
cotidiana dos classe trabalhadora.
Um trabalho é adoecedor. Nos estudos de Seligmann-Silva et al. Advertem que o con-
texto de precarização e flexibilização faz os trabalhadores vivenciarem seu trabalho de forma
insegura, altamente competitiva, individualizada e em “tensão permanente”. Situações que cor-
roboram para conduzir a sérios problemas relacionados à saúde mental, como síndrome de bur-
nout, depressão, suicídios, abuso de álcool e drogas, psicossomatização, stress, fadigas, entre
outros.

2064
VIDA ACADÊMICA : DADOS SECUNDÁRIOS SOBRE ADOECIMENTO E
SOFRIMENTO DISCENTE NA GRADUÇÃO

Os sujeitos que ingressam as universidades, o fazem com o intuito de profissionaliza-


ção. Este público que em sua maioria acaba de sair do ensino médio e passa agora a assumir res-
ponsabilidades muito maiores do que as que estavam habituados. Em seus estudos, Tarnowski
e Carlotto (2007), apontam as dificuldades de adaptação que os estudantes sofrem ao iniciarem
a sua vida academia, analisando a necessidade de maior autonomia e responsabilidades. Res-
gatam ainda a importância de um contextualização desde a saída do ensino médio ao ingresso
no ensino superior onde as dificuldades vivenciadas ao longo da graduação e principalmente a
expectativa ao ingressarem ao mundo do trabalho apresentam-se como fatores que ocasionam
desgaste e exaustão emocional (Padovani apud Tarnowski e Carlotto, 2007).
A universidade então é provocadora de ações que estão presentes no cotidiano do ser
que nela ingressa, que reforçam a lógica da competitividade, individualismo, que é reproduzida
pelo discente que tem visado sair da condição de submissão, mas, que sem percebe se submete
a um processo desgastante e de esgotamento tão grande quando ao do processo de trabalho.
Esses processos de desgaste e de esgotamento que acarretam um sofrimento psíquico,
que para Freud (1930), é um processo intrínseco a condição existencial do sujeito tento ma-
nifestação em várias fases de sua vida. Contrapondo o processo de sofrimento há a busca por
satisfação dos prazeres. Contudo, aponta a improbabilidade dessa satisfação plena vinculada a
uma sociedade com estruturas criadas para que isso não ocorra e sigamos uma busca incessante
para alcançá-la.
Não é a Universidade responsável exclusivamente pelo adoecimento dos discentes, mas
principalmente a sociedade contemporânea na formatação de trabalho que é adoecedora e que
corrobora para que os alunos já cheguem fragilizados ao espaço da Instituição. Cabe aqui apon-
tar os fatores subjetivos postos por um processo de transição e consolidação de papeis sociais
que nem sempre é abordado pela instituição, que pouco manifesta interesse na relação da cons-
trução da identidade pessoal, mas sim na instrumentalização do sujeito, visando à construção de
um profissional que vislumbre o mercado de trabalho como solução para os seus sofrimentos.
Porém, buscar esses ideais também pode se tornar um processo adoecedor, uma vez que
há fatores que possam dificultar o reconhecimento pessoal e profissional, diante do contexto
social e dos limites do sujeito em responder essas expectativas.
Os estudos sobre a relação do trabalho, da formação profissional, do sofrimento e do
adoecimento têm apontado o aumento do desgaste mental. Seligmann-Silva (2017) conceitua o
desgaste mental como “um processo que abrange tanto a dimensão psíquica (sofrimento men-
tal) como a psicofisiologica (estresse laboral e aspectos psicossomáticos)” tais danos podem
afetar o funcionamento e desenvolvimento de todo o organismo, além de afetar os relaciona-
mentos sociais na esfera familiar e comunitária, que é afetada não somente pelo trabalho, mas
também pelas suas condições precárias e também pela falta do trabalho (desemprego), que para
os estudantes enquanto sua formação se caracteriza como suas preocupações principais, pois 2065
diz respeito ao seu futuro.
Faz-se necessário nesse sentido, analisar todas as instancias da vida social e a singula-
ridade dos sujeitos que participam do constante processo de evolução do indivíduo e do mundo
do trabalho, ainda mais por se considerar que o que está em jogo nessa relação é consequente-
mente o projeto de vida deste sujeito numa sociedade onde as posições sociais são quase sempre
determinadas pelas atividades produtivas e seus benefícios.
Além do adoecimento dos discentes ser um tema que é a cada dia mais estudado, há a
necessidade de se debater como ele tem se manifestado na Unimontes com os seus acadêmicos.
Compreender o processo de adoecimento discente no processo de formação acadêmica, uma
vez que grande maioria dos estudantes concilia os seus estudos e as atividades laborais oca-
sionando o cansaço mental e físico que se expressa em diversas preocupações, experiências de
esgotamento, ansiedade, angustia, depressão, exaustão física e emocional, entre outros.
A escolha por investigar o processo de adoecimento dos discentes do curso de Serviços
Social da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes se faz frente à importância em
se discutir um tema que tem sito pouco problematizado mesmo diante a realidade que tem sido
tratada como evasão ou por trancamento de matricula. Uma realidade que pode ser considerada
como uma estratégia de mascarada os fatos.
Días e Gómez (2007) apontam que os espaços acadêmicos se tornam estressantes quan-
do há a falta de condições que proporcionem em relação saudável entrem as diversas instâncias
da vida do sujeito, tanto da vida acadêmica quando dos vínculos familiares, tanto com a socie-
dade e seus espaços.

Os dados secundários que compõem a pesquisa foram realizados em sítios institucio-


nais de Universidades, repositórios e base Scielo2. Nesses a princípio foram encontrados cerca
de 25 trabalhos que discutem o adoecimento na graduação. Especialmente no campo da saúde,
psicologia e um em específico das terapia ocupacional.
Isso posto, a pesquisa desenvolvida por Neves (2015) aponta dados significativos nos
estudos realizados sobre a saúde dos estudantes universitários da Faculdade de Ceilândia - FCE/UnB
com amostra de 323 estudantes universitários de seis cursos da FCE/UnB identificou :

O estudo revelou um perfil de estudantes mulheres, jovens, com mé-


dia de faixa etária de 26,8 anos, que residem próximo à universidade, sendo a
maioria do curso de terapia ocupacional. No universo da amostra 85,4% dos
estudantes relataram estar sobrecarregados pelas atividades acadêmicas. Os
sintomas mais prevalentes entre universitários foram: cansaço físico (86,1%),
ansiedade (81,7%), sonolência (70%) e dores de cabeça (68,7%). Entre as
causas de afastamentos por doença dos estudantes 58% eram de transtornos
mentais e comportamentais. (NEVES, 2015,p.15)

Diante os dados, percebe-se que existe uma relação entre as exigências da formação
acadêmica e o processo de adoecimento. Os acadêmicos passam a apresentar sintomas físicos
diante as pressões que estão expostos no cotidiano da vida acadêmica.
2 Destaca-se que esse assunto tem assumido significativas proporções e blog de psicologia e áreas afins.
Especialmente quando o sofrimento desencadeia algum tipo de adoecimento podendo desencadear uma onda
2066
(como já se tem notícias) de suicídios em Universidades Públicas .
Segundo o Mapa da Violência (2013), estudo feito a partir de dados oficiais do Sistema
de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 aumentou a taxa
de suicídio entre adolescentes (dos 10 aos 19 anos) no Brasil, chegando a 792 casos. Em 2014,
foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos – faixa etária que compreende a fase univer-
sitária.
No ano de 2017 a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve em apenas
duas semanas no primeiro semestre de 2017 duas mortes e uma tentativa de suicídio de alunos
da instituição. Caso que também a atenção foi os seis casos de tentativa de suicídio entre estu-
dantes do quarto ano do curso de medicina, em abril deste mesmo ano da USP.
O aumento do Suicídio entre Universitários tem provocado as Universidades públicas a
planejar ações de controle, atendimento e prevenção, exemplo tem sido pensado A Frente Uni-
versitária de Saúde Mental, organizada por alunos de diversos cursos da USP; a Liga Acadêmica
de Saúde Comunitária (LASC), criada por acadêmicas de psicologia da Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF),
De acordo com um levantamento divulgado em 2016 pela Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que entrevistou 939,6 mil
alunos brasileiros, três em cada dez estudantes de universidades federais brasileiras (o que cor-
responde a 30,45%) já tiveram atendimento psicológico pelo menos uma vez na vida.
Estudos já são desenvolvidos para compreender quais as situações que estão na relação
entre realidade, trabalho e formação superior que corroboram para desencadeamento de sofri-
mento e adoecimento. Segundo Castanho (2016), professor e coordenador da clínica-escola
Durval Marcondes do Instituto de Psicologia da USP, trata-se de um fenômeno que já existe há
mais de 20 anos eu já que “essa demanda de sofrimento psíquico dos alunos de graduação e pós
tem chamado bastante atenção na USP e no exterior”.
Dos motivos que corroboram para o adoecimento e sofrimento na graduação, segundo
Castanho (2016) há quatro elementos que podem explicar a ocorrência de sofrimento psíquico
e adoecimento em acadêmicos da graduação

a). Influência do mercado de trabalho - as universidades estão cada vez mais próximas do
mercado de trabalho e as cobranças que existem na atividade profissional chegam à universi-
dade. “Isso vulnerabiliza muito a pessoa”. E, nesse contexto determinações do mercado como
“competição predatória”, segundo por bolsas de estudos, vagas de estágio, liderança nas em-
presas júnior e intercâmbio, por exemplo produzem angustia, sofrimento e sentimento de inca-
pacidade. Em alguns casos desenvolve depressão.
Nesses casos, meritocráticos, como as vagas são menores que a demanda a máxima que
perdura é “ para um acadêmico ser inserido, é preciso que outro não seja aprovado nos pro-
cessos seletivos internos ir mal. Então acontecem coisas como alunos que escondem livros da
biblioteca, ou arrancam páginas para que outros não consigam estudar”, conta Castanho.

b). A desarticulação do coletivo – situação que está vinculada a primeira que tem como carro
chefe a competição, a desarticulação está na exposição de notas, conceitos e outros elementos 2067
de avaliação corroboram para a diminuição da participação coletiva. A pressão por resultados
c). Crise do modelo de vida – “o jardim do outro é mais verde” esse dito contribui para um
corrida louca para a realização e ascenção social determinada pelo processo de sociabilidade
capitalista. Uma outra situação é ter na universidade a revelação da condição de vida precária,
limitada e subalterna. O resultado tem sido o desencadeamento de um sofrimento psíquico
pode estar associado a uma crise do modelo de vida que muitos estudantes levam até chegar a
universidades.
d). Perda de referências- a migração de milhares de jovens, cerca de 30% dos alunos do curso
de graduação, a exemplo Serviço Social da Unimontes, são oriundos de cidades circunvizinhas.
A mudança de vida, de hábitos e o distanciamento da família traz sofrimento. Em especial
eleva-se a categoria de adoecimento devido a recorrência a postos ambulatória, consultas psi-
cológicas como apresentou a ANDIFES.
No âmbito da Unimontes poucos estudos se dedicam a apreender esse fenômeno. O
que se tem como dados preliminares são as constatações por meio dos pedidos de tratamentos
especial em que depressão, fadiga e stress aprecem. Outro dado importante é o numero de evasão
na universidade. Quanto a esse destaca-se a necessidade de estudos, uma vez que, é possível
considerar que trata-se apenas de um pedido de saída da universidade mas, um indicador que
algo está incomodando, fazendo sofrer ou já se manifesta como adoecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O adoecimento ligado a sociedade moderna se apresenta como expressão latente das


metamorfoses do mundo do trabalho. Pondera-se que seu agravamento está ligado cada vez
mais às determinações do mercado de trabalho. Isso posto, compreende-se que a escolha
por uma profissão está tanto vinculada a necessidade de buscar melhores condições de vida
como também a atender as exigências do mercado, idealizando na formação o rompimento da
trajetória de pobreza que foram submetidos antes mesmo de ingressarem na vida acadêmica.
Nesse sentido a soma entre formação e trabalho é causadora de pressões sob os sujeitos o que
tem ocasionado alguns processos de adoecimento
Em dados preliminares pelos processos de pedidos de tratamento especial ou trancamento
de matricula sinalizam que o sofrimento dos discentes é uma realidade na Unimontes. Situações
como fadiga, cansaço, stress, ansiedade quanto ao adoecimento tem-se a depressão e outros
compõem o universo do adoecimento e tem representado os motivos que levam os alunos a
evadirem da vida acadêmica.
Acadêmicos submetidos a fortes cobranças tanto do mercado quanto da formação profis-
sional desenvolvem algum tipo de adoecimento. Nesse sentido faz-se necessária a intervenção
por parte da Universidade no sentido de prestar suporte social aos seus discente. Não podendo
simplesmente ignorar o fato das diversas vulnerabilidades vivenciadas pelos seus acadêmicos.
Destaca-se a necessidade de empreender um processo de investigação sobre essa temá-
tica na Unimontes para que estratégias possam ser criadas com o fito e se prevenir situações de
adoecimento e de risco para os acadêmicos. Que se haja para acadêmicos nutram sonhos e não 2068
pesadelos.
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