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RESUMO
O adoecimento e sofrimento atingem diversas pessoas nas mais várias áreas da vida. Estão
ligados ao processo de sociabilidade capitalista tendo na reestruturação produtiva expressiva
disseminação. A inserção na Universidade e o confronto entre sobrevivência e cumprimento das
exigências acadêmicas colocam acadêmicas (os) em exposição ao adoecimento e sofrimento,
especialmente por projetarem o sucesso e a superação das situações de pobreza vivenciadas
antes mesmo de ingressarem na vida acadêmica. O presente artigo tem como objetivo analisar
o processo de adoecimento e sofrimento dos discentes da graduaçao da Universidade Estadual
de Montes Claros – UNIMONTES, e compreender os elementos que corroboram para o adoeci-
mento e sofrimento no processo de formação. Sob isso, inquieta-se apreender se os acadêmicos
trabalhadores estão mais suscetíveis a um processo de adoecimento e sofrimento? Se os discen-
tes do curso de Serviço Social apresentam algum tipo de adoecimento e sofrimento em virtude
da relação trabalho e formação profissional? Trata-se de uma pesquisa de viés qualitativo que
se apropria de procedimentos de coleta de dados primários e secundários. Considera-se o adoe-
cimento e sofrimento como fenômenos de ascensão, que precisam de estudos e, em especial es-
tratégias de enfrentamento que assegurem a conclusão da formação no âmbito da graduação.
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Palavras chaves: Adoecimento. Sofrimento. Trabalho. Formação profissional.
INTRODUÇÃO
1 A pesquisa que é fonte desse artigo está em processo de desenvolvimento e compõe os pré-requisitos da
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graduação no âmbito da produção monográfica do Curso de Serviço Social Unimontes.
TRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
O sistema econômico capitalista no Brasil nos anos 1980 passou por grandes transfor-
mações no âmbito do trabalho e na sua estrutura produtiva. Uma década onde a tecnologia teve
um significativo avanço influenciando diretamente nas relações de trabalho e na produção do
capital, que visavam à adequação da sua produção à lógica do mercado. Para Alves (2007), o
capital como sistema de controle sócio-mentabólico institui diversas formas de subjetivação,
para ele “a subjetividade como categoria legítima, embora problemática, no plano do ser social
capitalista, é produto irremediável do desenvolvimento do processo civilizatório’’, processo
esse que tem suas transformações visando à busca desse ajuste à lógica de mercado. Aderiram
à flexibilização aos novos processos de trabalho, o que acarretou mudanças não somente nessa
esfera, mas também no que diz respeito aos direitos trabalhistas, que passam a ser aniquilados.
Antunes (2006), em seu livro Adeus ao trabalho? Ensaio as Metamorfoses e a Cen-
tralidade do Mundo do Trabalho remete as transformações no mundo de trabalho e como elas
refletem na contemporaneidade e como suas crises tem afetado a sociedade, além da análise da
real centralidade do trabalho. Reafirma a tese de Clarke (1991), que a especialização flexível
ocasionou a intensificação do trabalho e relaciona-se a um meio de desqualificá-lo e desorgani-
zá-lo. Flexibilização essa que abrange padrões de desenvolvimento desigual intensificada pela
exploração do trabalho.
Segundo Antunes (1995), a maior consequência negativa desse processo, foi a expansão
do desemprego estrutural que se instaurou em um contexto global. Caracteriza-se com o núme-
ro de desempregados que é superior ao de inseridos no mercado o que potencializa o desejo de
entrar nesse mercado, obrigando aos que estão inseridos a aceitarem as condições estabelecidas,
pois a sua vaga seria facilmente ocupada devido ao grande número de desempregados. Sabendo
da necessidade de sobrevivência e a aceitação a certas condições para alcançá-las, institui-se a
precarização do emprego e da remuneração, a desregulamentação das condições de trabalho,
agressão aos direitos sociais, além de configurar a individualização dos sujeitos e que conse-
quentemente aumentou a exploração da força de trabalho.
Considera-se ainda que a demanda imposta pelo capital de qualificar a mão de obra per-
passa pelo processo de intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora visando o forta-
lecimento do capital e aumentando a sua força no mercado, porém de forma contraditória, pois
ao mesmo tempo em que precariza as várias instâncias do mundo do trabalho e o desqualifica,
necessita de sua qualificação para acompanhar as mudanças que o segue. Cabe aqui abordar a
formação profissional como forma de qualificação que atende tanto à lógica do mercado, como
a necessidade de sobrevivência por meio do trabalho para suprir as necessidades vitais.
Isso posto, os impactos das novas formas de gerenciamento no trabalho provocou uma
certa exigência na educação superior no Brasil. Em meados dos anos 1990 de acordo com
Paula (2008) deixou de ser vista como dever do Estado e direto do cidadão, e passou a “ser
concebida como serviço, mercadoria, perdendo assim o seu caráter eminentemente público”.
Nesse contexto, ocorreu o desfinanciamento das Universidades públicas que consequentemente
contribuiu para o surgimento de instituições privadas de ensino superior, logo um abandono 2062
em relação ao ensino superior público, além de da fragmentação do processo de formação, que
acelerou o processo de precarização do ensino.
Um destaque foi o incremento da flexibilização do ensino quando passa a se ofertar:
cursos de curta duração, a longa distância, cursos técnicos, etc. Essas alternativas são postas
com a intenção de oferecer alternativas mais rápidas e de menor custo, seja ele de tempo ou
financeiro com o intuído de atender as demandas dos usuários desse serviço ou política que
procuram o ensino superior visando o mercado de trabalho, produzindo uma nova divisão no
mundo do trabalho, como destaca a autora:
“Dentro de uma mesma instituição universitária, os alunos com menor capital social
e cultural, em geral, dirigem-se para os cursos aligeirados, que exigem menos inves-
timento material e cultural, enquanto que as elites dominantes continuam chegando
em maior quantidade aos cursos que dão mais status profissional, que exigem um acu-
mulo maior de capital social e cultura. Isso demonstra que essa iniciativa, ao invés de
contribuírem para democratizar o ensino superior, na verdade, apenas reproduzem e
reforçam as desigualdades sociais do sistema capitalista.” (PAULA, Maria de Fátima
de, p. 82,2009)
SOFRIMENTO E ADOECIMENTO
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VIDA ACADÊMICA : DADOS SECUNDÁRIOS SOBRE ADOECIMENTO E
SOFRIMENTO DISCENTE NA GRADUÇÃO
Diante os dados, percebe-se que existe uma relação entre as exigências da formação
acadêmica e o processo de adoecimento. Os acadêmicos passam a apresentar sintomas físicos
diante as pressões que estão expostos no cotidiano da vida acadêmica.
2 Destaca-se que esse assunto tem assumido significativas proporções e blog de psicologia e áreas afins.
Especialmente quando o sofrimento desencadeia algum tipo de adoecimento podendo desencadear uma onda
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(como já se tem notícias) de suicídios em Universidades Públicas .
Segundo o Mapa da Violência (2013), estudo feito a partir de dados oficiais do Sistema
de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 aumentou a taxa
de suicídio entre adolescentes (dos 10 aos 19 anos) no Brasil, chegando a 792 casos. Em 2014,
foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos – faixa etária que compreende a fase univer-
sitária.
No ano de 2017 a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve em apenas
duas semanas no primeiro semestre de 2017 duas mortes e uma tentativa de suicídio de alunos
da instituição. Caso que também a atenção foi os seis casos de tentativa de suicídio entre estu-
dantes do quarto ano do curso de medicina, em abril deste mesmo ano da USP.
O aumento do Suicídio entre Universitários tem provocado as Universidades públicas a
planejar ações de controle, atendimento e prevenção, exemplo tem sido pensado A Frente Uni-
versitária de Saúde Mental, organizada por alunos de diversos cursos da USP; a Liga Acadêmica
de Saúde Comunitária (LASC), criada por acadêmicas de psicologia da Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF),
De acordo com um levantamento divulgado em 2016 pela Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que entrevistou 939,6 mil
alunos brasileiros, três em cada dez estudantes de universidades federais brasileiras (o que cor-
responde a 30,45%) já tiveram atendimento psicológico pelo menos uma vez na vida.
Estudos já são desenvolvidos para compreender quais as situações que estão na relação
entre realidade, trabalho e formação superior que corroboram para desencadeamento de sofri-
mento e adoecimento. Segundo Castanho (2016), professor e coordenador da clínica-escola
Durval Marcondes do Instituto de Psicologia da USP, trata-se de um fenômeno que já existe há
mais de 20 anos eu já que “essa demanda de sofrimento psíquico dos alunos de graduação e pós
tem chamado bastante atenção na USP e no exterior”.
Dos motivos que corroboram para o adoecimento e sofrimento na graduação, segundo
Castanho (2016) há quatro elementos que podem explicar a ocorrência de sofrimento psíquico
e adoecimento em acadêmicos da graduação
a). Influência do mercado de trabalho - as universidades estão cada vez mais próximas do
mercado de trabalho e as cobranças que existem na atividade profissional chegam à universi-
dade. “Isso vulnerabiliza muito a pessoa”. E, nesse contexto determinações do mercado como
“competição predatória”, segundo por bolsas de estudos, vagas de estágio, liderança nas em-
presas júnior e intercâmbio, por exemplo produzem angustia, sofrimento e sentimento de inca-
pacidade. Em alguns casos desenvolve depressão.
Nesses casos, meritocráticos, como as vagas são menores que a demanda a máxima que
perdura é “ para um acadêmico ser inserido, é preciso que outro não seja aprovado nos pro-
cessos seletivos internos ir mal. Então acontecem coisas como alunos que escondem livros da
biblioteca, ou arrancam páginas para que outros não consigam estudar”, conta Castanho.
b). A desarticulação do coletivo – situação que está vinculada a primeira que tem como carro
chefe a competição, a desarticulação está na exposição de notas, conceitos e outros elementos 2067
de avaliação corroboram para a diminuição da participação coletiva. A pressão por resultados
c). Crise do modelo de vida – “o jardim do outro é mais verde” esse dito contribui para um
corrida louca para a realização e ascenção social determinada pelo processo de sociabilidade
capitalista. Uma outra situação é ter na universidade a revelação da condição de vida precária,
limitada e subalterna. O resultado tem sido o desencadeamento de um sofrimento psíquico
pode estar associado a uma crise do modelo de vida que muitos estudantes levam até chegar a
universidades.
d). Perda de referências- a migração de milhares de jovens, cerca de 30% dos alunos do curso
de graduação, a exemplo Serviço Social da Unimontes, são oriundos de cidades circunvizinhas.
A mudança de vida, de hábitos e o distanciamento da família traz sofrimento. Em especial
eleva-se a categoria de adoecimento devido a recorrência a postos ambulatória, consultas psi-
cológicas como apresentou a ANDIFES.
No âmbito da Unimontes poucos estudos se dedicam a apreender esse fenômeno. O
que se tem como dados preliminares são as constatações por meio dos pedidos de tratamentos
especial em que depressão, fadiga e stress aprecem. Outro dado importante é o numero de evasão
na universidade. Quanto a esse destaca-se a necessidade de estudos, uma vez que, é possível
considerar que trata-se apenas de um pedido de saída da universidade mas, um indicador que
algo está incomodando, fazendo sofrer ou já se manifesta como adoecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930). ESB, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago,
1969.