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Curso de Formação Especializada em Educação Especial, Domínio Cognitivo-Motor

Unidade Curricular de Transição para a Vida Pós-Escolar dos alunos com NEE

Joana Filipa Moreira de Sousa

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE INCLUSÃO E MERCADO DE TRABALHO

Professora Doutora Maria Celeste Lopes

Fafe

21 de novembro de 2020
INCLUSÃO E MERCADO DE TRABALHO

O artigo de Carlos Afonso (2005) dá-nos a oportunidade de refletir sobre


a temática da inclusão, do seu conceito, da sua prática e da ideologia adjacente
que poderá ser controversa. Também nos apresenta um estudo que remete para
a questão da inserção para o mercado, e a sua real inserção, salientado as
dificuldades e obstáculos de acesso ao emprego.

A transição para a vida adulta é apenas uma das componentes do


processo que nos aponta Afonso (2005) e faz-nos refletir sobre a sua visão
ampla e abrangente. Esta reflexão crítica assenta na leitura deste artigo assim
como outros documentos disponibilizados.

Iniciando por promover uma discussão sobre a inclusão, o seu conceito e


a prática desejada, remete, de uma forma muito pertinente, a nossa atenção para
as “ciladas da diferença” que podem originar a tendência para a uniformização
(Afonso, 2005) quer no ensino, quer na sociedade em geral, resultado de
modelos de intervenção demasiado centrados na criança e nas suas
especificidades, quer para os efeitos, igualmente viciosos, de uma determinada
ideologia da inclusão, baseada na defesa da igualdade, nomeadamente, para a
tendência para a homogeneização, resultado de uma escola de massas que
ainda está muito voltada e inspirada na ideia de “aluno tipo” ou do aluno médio
esquecendo-se dos outros dois extremos. Assim, surge a dúvida referida por
Rodrigues (2003 apud Afonso, 2005, p. 54) “poderá existir uma escola inclusiva
numa sociedade que não o é?”. Por vezes, as escolas estão de “costas viradas”
para o meio, ignorando a riqueza e a diversidade cultural.

Partindo do pressuposto que Educar é preparar os alunos para que


possam viver e estar na sociedade é esperado é que haja a inclusão de todos
os alunos na educação, mas será que é possível? A inclusão total parece ser
uma questão utópica pois há sempre um indivíduo que não está incluído e sem
acesso aos mesmos direitos de todos. A inclusão é um processo natural porque
os princípios nem sempre são praticáveis.
Uma alteração importante nas escolas diz respeito à preocupação do
professor na planificação das atividades e, segundo Ainscow (1997 p. 16, apud
Afonso, 2005 p.55), a preocupação do professor deve ter a ver com “a
planificação das actividades que dizem respeito à classe, no seu conjunto”.
Nessa medida, a escola inclusiva não é apenas a escola que dá a resposta mais
adequada aos alunos com deficiência ou com necessidade de medidas de apoio
e suporte à aprendizagem, mas que dá uma resposta potencialmente melhor às
solicitações de todos, quaisquer que sejam as suas características e
individualidades. No entanto, isto não significa não reconhecer a diferença, mas
sim, o acréscimo de valor onde a diferença adquira não apenas o estatuto de
cidadania mas também estatuto pedagógico e organizacional. Implica assim
encarar a escola como um espaço onde todas as crianças e jovens têm lugar
para aprender e adquirir conhecimento e para desenvolver-se enquanto pessoa.
Neste sentido, a escola deve adotar estratégias de intervenção que promovem
a educação de todas as crianças permitindo a possibilidade de sucesso.

É importante flexibilizar o currículo como forma de resposta educativa


para adaptar os conteúdos curriculares para desenvolver estratégias de acordo
com as necessidades individuais de cada aluno, respeitando sempre o ritmo de
aprendizagem e espectativas inerentes. O atendimento à diversidade, associado
às diferentes constantes, leva a que o professor tenha de organizar a ação
educativa e repesar num currículo que seja funcional e personalizado para
aquele aluno. A transição para a vida adulta é transversal a toda a sociedade e
não exclusiva de jovens com características específicas. Neste sentido, a escola
deve preparar cuidadosamente a transição dos jovens para a vida ativa, de forma
a permitir a sua independência económica e dotá-los das competências
necessárias à vida diária. Percebemos, aqui, a necessidade da intervenção da
escola deixar de ser somente centrada nos alunos para passar a centrar-se mais
nos currículos, tendo em conta os contextos, não só dos alunos, mas também
da própria escola. Para que tudo funcione em prol do currículo funcional e de
uma educação inclusiva é necessário criar um conjunto de condições para a
transição ser realizada com êxito. Tudo isto é determinado também e pela
vontade e esforço dos intervenientes em ultrapassar as dificuldades que são
levantadas.
Numa escola inclusiva é necessário uma boa interligação com o meio
envolvente como a comunidade para dar resposta aos problemas em que a
comunidade ajuda a resolver problemas e a adquirir competências no contexto.
Após a saída da escolaridade obrigatória o jovem está preparado para trabalhar
de acordo com as suas limitações e potencialidades? A questão da inserção no
mercado de trabalho é pertinente porque uma escola deve ter em conta a
transição dos seus alunos. No entanto, há diversos fatores que criam
dificuldades acrescidas no acesso ao mercado de trabalho como refere Azevedo
(2005, apud Afonso 2005) como obstáculos, por exemplo, a falta de flexibilidade
na adaptação dos postos de trabalho e nos horários, o entrave de investir nas
adaptações necessárias à promoção do emprego, a falta de informação sobre
apoios e incentivos à contratação, entre outros. Sabendo a importância que o
trabalho tem na inserção de todos na sociedade, é necessário continuar a
promover e consciencializar os empresários para a inclusão e oportunidades de
emprego.

Atualmente, esta crise económica que se estende de forma generalizada,


dificulta, ainda mais, a inserção do jovem com deficiência no mercado de
trabalho. Que efeitos tem/terá a crise na inclusão e inserção no mercado de
trabalho? A reivindicação por oportunidades de emprego torna-se ainda mais
necessária. O que já era difícil, agora ganha contornos mais críticos e revela um
grande desafio pela frente.

Quando refletimos sobre a sociedade que vamos ter temos de


compreender que, nós, como profissionais e educadores também temos um
papel preponderante nesta mudança levando a questionar-me: que jovens nós
vamos “colocar” na sociedade? Assim sendo, é relevante sensibilizar os jovens
de hoje porque serão os empresários de amanhã.

O estudo apresentado por Afonso (2005) remete-nos para o pensamento:


e depois da escola? O tempo de escolaridade obrigatória que é marcado por
rotinas relacionadas com o período escolar em que o há um suporte de apoio
maior. Nesta próxima fase, o papel da família é de extrema importância pois esta
vive na ambivalência entre a angústia e as expectativas. Por um lado querem
que os jovens sejam mais autónomos, por outro lado sabem que vão encontrar
outras dificuldades que ainda não tinham deparado, o que leva a uma proteção
extra por parte dos pais. Há uma contradição entre as expectativas e a realidade.
Importa assim que haja um programa bem estruturado e adequado e elaborado
pela equipa multidisciplinar juntamente com o jovem e a família para estruturar
e delinear o caminho a seguir. Para que a transição seja mais eficaz e não seja
realizada de forma abrupta passa por conhecer as histórias de vida do jovem e
da família, ter conhecimento do contexto envolvente para que possam enquadrar
tudo na análise para promover a construção de um projeto de vida adequando
as suas capacidades ao ambiente social.

A possibilidade de experimentar situações reais de formação prática, em


contextos específicos, e promover um acompanhamento dos alunos após a
saída da escola juntamente com o trabalho de cooperação e orientação
vocacional, com o propósito de reunir condições para intensificar o seu potencial,
são atitudes que proporcionam uma transição de sucesso.

A Educação Especial deve mostrar possibilidades, métodos e recursos


atendendo à diversidade e inclusão. Os profissionais devem estar bem
informados das possibilidades do mercado de trabalho, aproveitar as
capacidades da escola para estabelecer parcerias e assegurar o
acompanhamento dos alunos após a saída da escolaridade obrigatória. Todas
as dimensões abrangentes deste processo visam facilitar o processo de
transição tentando minimizar os problemas que os alunos enfrentam atualmente.

Referências:

Costa, A.M. (2006) Currículo Funcional no Contexto da Educação Inclusiva. Sintra.


Disponível em: http://redeinclusao.pt/storage/fl_46.pdf, consultado a
19/11/2020

Joana Filipa Moreira de Sousa

Nº aluno: 36283

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