Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escolar da Educação
Básica
Organização e Gestão
Escolar da Educação Básica
1ª edição
2017
Unidade 3
Função social da escola
brasileira
3
Para iniciar seus estudos
Objetivos de Aprendizagem
3
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
A escola, como principal responsável pela aprendizagem sistemática, deve propiciar a todos os sujeitos o acesso
aos instrumentos necessários à construção do conhecimento sistematizado, pois é essa apropriação que justifica a
sua existência. O conhecimento prévio, a experiência e a opinião devem ser valorizados, pois através de outros tipos
de conhecimento (filosófico, ideológico, senso comum, entre outros) é que se constrói o conhecimento científico.
Para Demerval Saviani (2008), muitas vezes a escola perde de vista a sua função. O trabalho fundamental que
ela deve desenvolver nos estudantes é referente à leitura, à escrita, à matemática, às teorias básicas das ciências
naturais e da história e geografia humana, vinculado à realidade do estudante. Quando a escola foge do seu
foco, não garantindo a construção do conhecimento, tende a desfavorecer as classes mais vulneráveis financei-
ramente, pois estas necessitam da escola para ascenderem socialmente, superando as condições previamente
impostas. De acordo com Saviani (2008), a função social da escola é:
[...] impedir o desenvolvimento da ideologia do proletariado e a luta revolucionária. Para isso ela
é organizada pela burguesia como um aparelho separado da produção. Consequentemente, não
cabe dizer que a escola qualifica diferentemente o trabalho intelectual e o trabalho manual. Cabe,
4
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
isto sim, dizer que ela qualifica o trabalho intelectual e desqualifica o trabalho manual, sujeitando
o proletariado à ideologia burguesa sob um disfarce pequeno-burguês. (SAVIANI, 2008, p. 23).
Pode-se corroborar que as afirmações colocadas no parágrafo anterior não perderam sua validade. Entretanto,
espera-se muito mais da escola, pois o conhecimento e a informação adquiriram abrangência muito mais dinâ-
mica e passaram a “constituir força produtiva direta, afetando o desenvolvimento econômico” (LIBÂNEO; TOS-
CHI; OLIVEIRA, 2012, p. 43).
A literatura considera que a finalidade da educação é resultado da estrutura do ambiente social e é identificada
como o conjunto de interesses comuns de um determinado grupo, e se efetiva de forma igualitária em todos os
seus membros.
O contexto que se impõe sobre os meios de produção e sobre o campo educativo diz respeito mais especifica-
mente à revolução da microeletrônica. Em nosso cotidiano, percebemos a presença diante de manifestações
relativas a aparelhos domésticos, smartphones, aparelhos de TV e som, serviços bancários, entre outros. Tais
manifestações nos fazem criar cada vez mais necessidades tecnológicas. Entretanto, no campo da produção, a
microeletrônica vem intensificando a automação industrial.
Observa-se a presença de técnicas de gestão do trabalho nas grandes indústrias relativas ao toyotismo, just in time
e kan ban. Assim, a microeletrônica permite:
a. o aumento da produção em tempo menor;
b. a eliminação de postos de trabalho;
c. maior flexibilidade e, ao mesmo tempo, maior controle sobre os processos de produção de trabalho;
d. barateamento e a melhoria da qualidade dos produtos e serviços. (LIBÂNEO; TOSCHI; OLIVEIRA, 2012, p. 77).
Tal realidade remete às novas organizações capitalistas e seus modos de produção. O homem deixa de ser aquele
ser histórico que mediante as relações que estabelece com outros se humaniza, mas torna-se um fator de pro-
dução, que precisa vender a sua força de trabalho.
Glossário
Nessa perspectiva, constata-se que os ideais de educação não são mais os mesmos para todos, tendo em vista
que não somente a classe dominante possui ideais distintos dos defendidos pela classe dominada como também
quer impor os seus ideais, fazendo com que a classe dominante os aceite.
Segundo Saviani (2008), a construção de um sistema educacional deve promover a transformação de toda a
estrutura social de maneira que a educação não se transforme em uma concepção mecanicista “segundo a qual,
enquanto reflexo da estrutura social, a educação não pode senão estar a serviço da classe dominantes.”
5
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Por outro lado, as marcas indeléveis da atualidade econômica recaem sobre a educação impondo drastica-
mente reformas estruturais em sua base social. Nesse sentido, Libâneo, Toschi e Oliveira (2012, p. 43) afir-
mam a urgente necessidade de reforma do sistema educativo, principalmente em países em desenvolvimento.
Esses autores afirmam:
O raciocínio sistematicamente reiterado por agências financeiras internacionais, como o Banco
Mundial, é o seguinte: novos tempos requerem nova qualidade educativa, o que implica mudança
nos currículos, na gestão educacional, na avaliação dos sistemas e na profissionalização dos profes-
sores. A partir daí, o sistema e as políticas educacionais de cada país precisam introduzir estratégias,
reorganização curricular, autonomia das escolas, novas formas de gestão e direção das escolas,
novas tarefas e responsabilidades dos professores. (LIBÂNEO; TOSCHI; OLIVEIRA, 2012, p. 43-44).
Nesse contexto, a educação brasileira procura se aproximar da realidade mundial a partir da Conferência Mun-
dial sobre Educação para Todos, realizada na Tailândia em 1990, e das orientações para a educação formula-
das pela UNESCO.
Você, cara(o) aluna(o), aprofundou seus conhecimentos sobre as políticas educacionais e sobre a Unesco na Uni-
dade de Ensino 2 e pôde compreender como as políticas públicas sociais da educação são elaboradas. Assim,
prosseguimos a apresentação desta unidade com foco nas mudanças educacionais brasileiras face às demandas
geradas pelo processo de globalização, fatores socioeconômicos e sobretudo pela função social da escola.
Diante do exposto, a formulação da legislação educacional brasileira procedeu ao atendimento dos pressupostos
de ampliação do atendimento escolar da educação básica por meio de diferentes planos e projetos governa-
mentais, implementando ações de ampliação da autonomia dos sistemas estaduais e municipais, das unidades
escolares, dos professores, como expresso no PNE 2014-2024:
O segundo Plano Nacional de Educação aprovado por lei representa uma vitória da sociedade
brasileira, porque legitimou o investimento de 10% do PIB em educação e adotou o custo-aluno-
-qualidade. Afinal, a Meta 20 existe para garantir todas as outras metas que trazem as perspec-
tivas de avanço para a educação brasileira, nas dimensões da universalização e ampliação do
acesso, qualidade e equidade em todos os níveis e etapas da educação básica, e à luz de diretrizes
como a superação das desigualdades, valorização dos profissionais da educação e gestão demo-
crática. (BRASIL, 2014, p. 23)
Entretanto, as reformas educacionais e as medidas implementadas de fato nem sempre acompanham as
intenções declaradas em virtude da obrigação política relacionada a procedimentos econômicos, interesses
governamentais em detrimento de uma política de Estado em favor do estabelecimento de um real sistema
de ensino nacional.
A preocupação com a realidade da educação brasileira, portanto, faz com que nos remetamos às transforma-
ções da sociedade no contexto da globalização quanto aos aspectos políticos, culturais, sociais, formação de
professores, organização do trabalho, gestão, entre outros aspectos a serem analisados no decorrer dos nossos
estudos. Vejamos o quadro 3.1, analítico das novas demandas para a educação.
6
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Modificam os objetivos e as
Desenvolvimento social e econômico
prioridades da escola
Desenvolver conhecimentos,
capacidades e qualidades para a
Autonomia
autonomia, consciência criticada
cidadania.
No contexto da revolução tecnológica, a educação assume, ao lado da formação para a cidadania, a finalidade
de desenvolver habilidades técnicas, sociais para servir ao mundo do trabalho, como descrito no parágrafo a
seguir. Logo, a educação é apropriação de saber social e desenvolvimento de potencialidades, com vistas à
formação integral do homem, ou seja, o desenvolvimento físico, social, profissional, político, cultural, afetivo,
filosófico, entre outros.
Nesse sentido, a política educacional tratou de aprimorar critérios para o oferecimento do ensino profissional com
a promulgação, em 2012, das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio:
Art. 2º A Educação Profissional e Tecnológica
Parágrafo único. As instituições de Educação Profissional e Tecnológica, além de seus cursos
regulares, oferecerão cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional para
o trabalho, entre os quais estão incluídos os cursos especiais, abertos à comunidade, condicio-
nando-se a matrícula à capacidade de aproveitamento dos educandos e não necessariamente
aos correspondentes níveis de escolaridade. (BRASIL, 2012)
7
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Em paralelo as concepções apontadas acima, Saviani (2008) lembra o surgimento de algumas teorias, com o
objetivo de contrapor às teorias vigentes, fazendo a crítica e apontando as consequências sociais, políticas, eco-
nômicas, culturais da pedagogia oficial que era a pedagogia tecnicista. Decorrente dessa situação, nasce um
problema: a necessidade de se construírem pedagogias contra-hegemônicas, ou seja, que em vez de serem sub-
servientes aos interesses dominantes se alinhassem aos interesses dos dominados.
Glossário
Como prática social, a educação se desenvolve nas relações estabelecidas entre os grupos, seja no ambiente da
escola, seja em outros grupos da vida social, caracterizando-se também como espaço social de disputa hegemô-
nica, esta no sentido de organização das atividades e conteúdos aos interesses das classes.
Diante das novas exigências para a educação a legislação educacional, em especial o Plano Nacional de Educa-
ção – PNE 2014-2015 – estabeleceu em suas metas bases para a educação profissional, como expresso na Meta
10 e em suas estratégias, entre as quais citamos as de número 10.2 e 10.3:
Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos
fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional.
Estratégias:
10.2. expandir as matrículas na educação de jovens e adultos, de modo a articular a formação ini-
cial e continuada de trabalhadores com a educação profissional, objetivando a elevação do nível
de escolaridade do trabalhador e da trabalhadora;
10.3. fomentar a integração da educação de jovens e adultos com a educação profissional, em
cursos planejados, de acordo com as características do público da educação de jovens e adultos
e considerando as especificidades das populações itinerantes e do campo e das comunidades
indígenas e quilombolas, inclusive na modalidade de educação a distância (BRASIL, 2013).
Em conclusão, reafirmamos que, no desempenho de sua função social, a escola precisa ser um espaço forma-
dor de sujeitos e que permita a socialização do conhecimento que vai sendo construído paulatinamente. Dessa
forma, a educação resulta da interação entre a atividade humana e histórica que vai se construindo mediante as
relações sociais.
8
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Um grande grupo de pessoas ao redor de um livro formado também por pessoas, educação solidária na atualidade.
Fonte: https://br.123rf.com/search.php?word=fun%C3%A7%C3%A3o+social+da+escola&srch_lang=br&imgtype=2&t_
word=Social+function+of+the+school&t_lang=br&mediapopup=41394959
A ação educativa visa à humanização do homem por meio da identificação dos elementos culturais acumula-
dos historicamente. Na escola são identificados e selecionados os elementos necessários e imprescindíveis ao
processo de aprendizagem. A escolha das metodologias, a organização dos meios, espaços e conteúdos são de
competência do currículo escolar, que deve estar alinhado ao projeto pedagógico, elaborado a partir das espe-
cificidades da escola. Tais proposituras seguem a base da formulação da Constituição Federal de 1988 para a
educação, conforme o art. 5:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incenti-
vada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (EC no 19/98 e EC no
53/2006)
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
9
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
O Quadro 3.2 descreve algumas das ações governamentais sobre as políticas educacionais e seus efeitos na
organização escolar, bem como na condução dos seus processos pedagógicos. Entretanto, tais formulações
devem ser vistas pelos educadores como novas formas de proceder os processos de ensino-aprendizagem de
maneira que se preserve seu caráter de formação cidadã por meio dos novos conhecimentos e habilidades téc-
nicas exigidos.
10
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Na perspectiva da articulação da escola com o mundo do trabalho, a solidariedade, a preservação dos valores
nacionais, as lutas pela democratização do ensino devem fazer parte das novas formas de ensinar e de aprender
de maneira que se construa uma ação educativa dualizada com a formação para a produtividade ao mesmo
tempo desenvolvendo a capacidade crítica, a consciência da importância da participação social e a formação
ética. (LIBÂNEO; TOSCHI; OLIVEIRA, 2012, p. 133).
Diante do exposto sobre o caráter dualizado da educação referente à formação para a produtividade e formação
para a cidadania, destacamos a Carta Magna brasileira no que tange aos princípios norteadores básicos da edu-
cação no país:
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de
articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objeti-
vos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do
ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes
públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: (EC no 59/2009)
I – erradicação do analfabetismo;
II – universalização do atendimento escolar;
III – melhoria da qualidade do ensino;
IV – formação para o trabalho;
V – promoção humanística, científica e tecnológica do País;
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção
do produto interno bruto. (BRASIL, 1988)
Observamos, entretanto, que as políticas educacionais procuram aproximar a realidade das novas concepções
educacionais quando passam orientações para os sistemas de ensino estaduais e municipais fundamentarem
suas práticas regionais da maneira mais próxima possível da preservação dos valores principais da educação,
11
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
sem, contudo, eximi-los da responsabilidade de caminhar junto às novas exigências para a formação para o
mundo do trabalho.
Nessa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, considerando as novas exi-
gências para a formação dos sujeitos da educação básica, preconizam os seguintes objetivos:
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica contidos na Constituição, na
LDB e demais dispositivos legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a
formação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à
escola;
II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a formulação, execução e avaliação
do projeto político-pedagógico da escola de Educação Básica;
III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos,
funcionários – da Educação Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as
escolas que os integram, indistintamente da rede a que pertençam. (BRASIL, 2013, p. 9)
A escola, como principal responsável pela aprendizagem sistematizada, deve propiciar a todos os sujeitos o
acesso aos instrumentos necessários à construção do conhecimento sistematizado, pois é essa apropriação que
justifica a sua existência. O conhecimento prévio, a experiência e a opinião devem ser valorizados, pois através
de outros tipos de conhecimento (filosófico, ideológico, senso comum, entre outros) é que se constrói o conhe-
cimento científico.
Demanda, portanto, um currículo atualizado, métodos de ensino atuais, de forma que os professores desen-
volvam metodologias interessantes, dialógicas, participativas e desafiadoras, problematizando os conteúdos e
incentivando a reflexão, a pesquisa, a formulação de hipóteses, as questões, a manifestação de opiniões e dúvi-
das, a troca de ideias e experiências entre grupos.
12
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
A “Pátio – Revista Pedagógica” dedicou sua edição no 3, “Para que serve a escola?”, de
novembro de 1997, à reflexão sobre a função social da escola. Entre as seções do periódico,
apresenta artigos e matérias relacionadas ao tema, como o texto “Um Modelo para Priori-
dades Educacionais numa Sociedade de Informação”, de Fredric M. Litto. Fonte: http://sme-
duquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Forma%C3%A7%C3%A3o%20Continuada/Arti-
gos%20Diversos/internet/ARTIGO%20PATIO%20REVISTA%20PEDAG%C3%93GICA%20
N%C2%BA%203%20-%20nov%201997-jan%201998.htm.
13
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Houve consideráveis avanços quanto ao acesso à escola, no entanto o desafio reside na expansão das possi-
bilidades de permanência dos estudantes e na qualidade do ensino. Nos últimos anos, as ofertas de vagas nas
instituições escolares públicas foram ampliadas de forma significativa, em algumas cidades o atendimento foi
universalizado, no entanto ainda são bastante elevados os índices de reprovação e evasão. Para assegurar a per-
manência do educando na Educação Básica, a LDB instituiu em seu artigo 5o a obrigatoriedade conforme abaixo:
Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer
cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou
outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência federativa, deverá: I – recensear anualmente
as crianças e adolescentes em idade escolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram a
educação básica; II – fazer-lhes a chamada pública;
III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. § 2o Em todas as esferas admi-
nistrativas, o poder público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos
termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, con-
forme as prioridades constitucionais e legais.
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no
Poder Judiciário, na hipótese do § 2o do art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito
sumário a ação judicial correspondente.
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do
ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o poder público criará formas
alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização
anterior. (BRASIL, 1996)
A leitura do artigo 5o da LDB9.394/96 remete à qualidade social da educação com relação ao combate à evasão
escolar, à repetência e distorção idade/ano/série ao implementar a obrigatoriedade da matrícula na educação
básica a partir de quatro anos de idade.
Em paralelo às questões gerais referentes às políticas governamentais anteriores, apresentamos, para nossa
reflexão acerca dos problemas que permeiam a educação básica, ocorrências geradas a partir das novas dinâmi-
cas sociais que eclodem no interior das escolas e que fazem parte das reivindicações de educadores e pais para a
melhoria da qualidade do ensino.
Tais preocupações fazem parte das discussões que levam à elaboração de orientações oficiais presentes nas Dire-
trizes Curriculares Nacionais da Educação Básica 2013, como também dos planos dos sistemas de ensino dos
Estados e Municípios.
Nesse sentido, o educando do ensino fundamental é visto como o sujeito que relaciona a aquisição da leitura e
da escrita aos usos sociais, referentes ao convívio familiar, sendo que a escola é o principal lugar onde ela passa
a se expressar publicamente. Dessa forma, nesse período de aquisição dos saberes, um dos papéis educacio-
nais escolares é o reforço das normas da conduta social, intensificando habilidades facilitadoras do processo
ensino-aprendizagem.
14
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Os alunos adolescentes, com o desenvolvimento intelectual e afetivo, passam a elaborar pensamentos mais abs-
tratos e modificam seus relacionamentos sociais voltando-se para aqueles da mesma idade e também passam a
construir valores próprios. Nesse sentido, a educação escolar, por meio de uma relação dialógica, pode colaborar
com a importante fase por que passam os estudantes fortalecendo a construção da autonomia e a aquisição de
valores morais e éticos.
Tais premissas corroboram desafios para a escola no sentido de promover a inclusão digital dos alunos de forma
crítica e de acordo com os objetivos didáticos. Assim, cabe à escola problematizar o uso das novas tecnologias,
como também dos apelos comerciais no sentido de contribuir
[...] para transformar os alunos em consumidores críticos dos produtos oferecidos por esses meios,
ao mesmo tempo em que se vale dos recursos midiáticos como instrumentos relevantes no pro-
cesso de aprendizagem, o que também pode favorecer o diálogo e a comunicação entre profes-
sores e alunos. Para tanto, é preciso que se ofereça aos professores formação adequada para o
uso das tecnologias da informação e comunicação e que seja assegurada a provisão de recursos
midiáticos atualizados e em número suficiente para os alunos. (BRASIL, 2013, p. 113)
Para além do exposto com relação ao uso das novas tecnologias de forma crítica pelos estudante e à formação
adequada dos professores para o trabalho em sala de aula com os novos recursos tecnológicos, são enormes os
problemas que permeiam a educação básica, pois os problemas sociais, tais como violência, doméstica, abuso e
exploração sexual, exploração do trabalho, saúde, repercutem na vida escolar, e nem sempre a prática pedagó-
gica em sala de aula consegue resolver os problemas de aprendizagem.
Nesse sentido, a escola pode colaborar quando atua coletivamente, bem como quando se articula aos organis-
mos, Conselho Tutelar, para minimizar as questões sociais que afetam a educação. De acordo com a Lei no 8.069,
de 13 de julho de 1990 (que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente), são as seguintes as atribuições
do Conselho Tutelar:
15
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
16
Organização e Gestão Escolar da Educação Básica | Unidade 3: Função social da escola brasileira
Por outro lado, um dos problemas que envolvem a educação básica é a ausência dos pais. O envolvimento dos
pais nas atividades escolares deve se dar por meio dos órgãos de participação democrática, das reuniões de pais
e professores, das festividades etc., e não somente quando são chamados por indisciplina dos filhos.
O contato informal com os pais serve para que os professores compartilhem as responsabilidades pedagógicas,
respeitando-se as atribuições que cada sujeito deve ter nessa relação. Entretanto, é importante que fique claro
para os pais de que forma podem contribuir para a melhoria da qualidade do ensino.
Outro fator relacionado aos problemas vivenciados no interior das escolas está ligado às formas de comunicação
dos atos administrativos. Segundo Libâneo, Toschi e Oliveira referem-se à transparência na decisões e aprimora-
mento das formas de comunicação:
a. Comunicação como forma de competência dos indivíduos, isto é, saber comunicar-se com os outros e
ouvi-los;
b. A comunicação como característica dos processos de gestão, uma vez que as pessoas precisam estar
informadas das diretrizes do sistema de ensino, do que acontece na escola, das normas e rotinas admi-
nistrativas. (LIBÂNEO; TOSCHI; OLIVEIRA, 2012, p. 523-524).
Tais formações dizem respeito diretamente às intenções de melhorar as relações na escola e à eliminação do
autoritarismo, falta de respeito com o outro, entre outros aspectos das relações interpessoais e sociais que envol-
vem diretamente a participação da comunidade na escola.
Os problemas que permeiam a educação básica requerem da instituição escolar, assim como da família e dos
setores institucionais da sociedade, a promoção de articulações que levem à valorização da escola e do professor.
Da mesma forma, a gestão escolar deve cultivar o desenvolvimento de atitudes pautadas na ação participativa
em que todos participem da elaboração de normas de convívio e respeito registradas no Regimento Escolar, de
acordo com a legislação educacional.
Glossário
Efeito halo é um termo da psicologia que tem sido usado por autores da educação. É defi-
nido pela psicologia social como um fenômeno psicológico que interfere em um julgamento
correto dos fatos que vivenciamos no quotidiano. Descoberto em 1920 pelo psicólogo esta-
dunidense Edward Thorndike, o efeito halo fala a respeito de como temos uma primeira
impressão do indivíduo e como a usamos para criar uma impressão global dessa pessoa. No
caso da educação, o efeito halo diz respeito a julgamentos pré-estabelecidos que levam a
atitudes não condizentes com os princípios educacionais
17
Considerações finais
Nesta unidade de estudo vimos os seguintes pontos:
• A finalidade da educação é resultado da estrutura do ambiente
social, e é identificada como o conjunto de interesses comuns de
um determinado grupo, e se efetiva de forma igualitária em todos
os seus membros.
• Com as transformações trazidas pela sociedade capitalista e com
a revolução tecnológica, a organização da sociedade é modificada
e não só ela, mas as relações sociais de produção, o entendimento
sobre o homem, sobre o trabalho e a educação.
• No contexto da revolução tecnológica, a educação tem como
finalidade desenvolver habilidades técnicas e sociais para servir
ao mundo do trabalho. Logo, a educação é apropriação de saber
social e desenvolvimento de potencialidades, com vistas à forma-
ção integral do homem, ou seja, o desenvolvimento físico, social,
profissional, político, cultural, afetivo, filosófico, entre outros.
• A realidade atual e as novas formas de produção a partir da
revolução tecnológica, ou da sociedade do conhecimento, do
novo modelo de mercado, impõem mudanças educacionais que
não condizem com os parâmetros igualitários na formação de
todos os cidadãos.
• Diante das novas exigências socioeconômicas que recaem sobre
a escola, faz-se necessária uma análise crítica da realidade sobre
a formação dos sujeitos na educação básica.
• Houve consideráveis avanços quanto ao acesso à escola, no
entanto um dos problemas da educação básica reside na expan-
são das possibilidades de permanência dos estudantes e quali-
dade do ensino.
• Nos últimos anos, as ofertas de vagas nas instituições escolares
públicas foram ampliadas de forma significativa, em algumas
cidades o atendimento foi universalizado, no entanto ainda são
bastante elevados os índices de reprovação e evasão.
18
Considerações finais
• A leitura do artigo 5o da LDB 9.394/96 remete à qualidade social
da educação com relação ao combate à evasão escolar, à repetên-
cia e distorção idade/ano/série ao implementar a obrigatoriedade
da matrícula na educação básica a partir de quatro anos de idade.
• Diante dos problemas que permeiam a educação básica com rela-
ção aos problemas sociais, a educação escolar, por meio de uma
relação dialógica, pode colaborar com a importante fase por que
passam os estudantes fortalecendo a construção da autonomia e
a aquisição de valores morais e éticos.
19
Referências bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988: texto
constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações
determinadas pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94,
pelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legis-
lativo no 186/2008. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições
Técnicas, 2016. 496 p.
_______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei no 8.069, de 13 de
julho de 1990. Brasília: Casa Civil, 1990. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em: 29 maio 2017.
_______. Diretrizes e bases da educação nacional: Lei no 9.394, de 20
de Dezembro de 1996. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponí-
vel em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Lei 9.394/96, Brasí-
lia: Casa Civil, 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.
php?option=com_content&view=article&id=12907:legislacoes&catid=7
0:legislacoes>
_______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profis-
sional Técnica de Nível Médio. Brasília: Ministério da Educação. Secre-
tária de Educação Básica, 2012. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11663-
rceb006-12-pdf&category_slug=setembro-2012-pdf&Itemid=30192>.
Acesso em: 29 mai. 2017.
_______. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Minis-
tério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos
e Educação Integral. – Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra.
Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2005. 408p. (Docência em formação. Saberes pedagógicos).
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática.
6. ed. São Paulo: Heccus, 2015. 304p.
LUCK, Heloisa. Gestão educacional: uma questão paradigmática. São
Paulo: Vozes, 2006.
20