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CAMINHOS PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Amanda Ferreira Garcia


Alejandra Iturrieta Leal (Orientadora)

RESUMO
     
A seguinte pesquisa propõe estudar a importância do processo educacional de
escolas brasileiras, observando o passado, presente e visando futuros possíveis
para a transformação social nesse âmbito. Então, neste trabalho será possível
encontrar, através de definições históricas do que é educação e suas
transformações ao longo do tempo, e com o que preconiza em relação à uma
educação libertadora, reflexões acerca dos caminhos para a transformação social e
possibilitar ao leitor suas próprias reflexões dentro da temática proposta.

PALAVRAS-CHAVE: Educação; escola; social; pedagogia.

1 INTRODUÇÃO

Nota-se que o sistema educacional brasileiro passa por dificuldades em sua


estrutura geral, principalmente no que se diz respeito ao poder das transformações
sociais do indivíduo. Um sistema que se percebe obsoleto e desorganizado em
diversos aspectos, o que causa impacto direto na formação de toda uma sociedade,
algo que vem cada vez mais sendo percebido pela mesma.
A expectativa pela melhoria do sistema educacional brasileiro vem se
intensificando nos últimos anos pela sociedade brasileira. A conclamação por
políticas públicas, que venham atenuar os problemas educacionais, tem se tornado
cada vez mais frequentes. Ideologias entrelaçam-se com olhares convergentes em
busca da tão sonhada cidadania, e a facilidade para adquiri-la através da educação.
Quando o assunto é a educação brasileira, entende-se que ela deve ser uma
educação libertadora, entendida por Freire (1980) como uma epistemologia da
educação, uma possibilidade de o aluno enxergar a realidade no que se escreve e
lê, se conscientizando frente os desdobramentos mundiais e refletir sua atuação no
mundo, nas mais diversas vertentes da vida social. E deve-se refletir e se
questionar: qual o impacto direto da construção de toda uma sociedade com base
em seu sistema de educação? Um sistema mais bem construído, contundente e com
processos organizacionais competentes não seriam diretos responsáveis pelo
desenvolvimento de uma sociedade mais ética, próspera e com total ciência do seu

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papel, seja individual, seja coletivo? Toda uma nação com um sistema organizado
de forma unificada e com essas virtudes não seria uma nação com grande potencial
a ser trabalhado e com a possibilidade de grandes frutos a serem colhidos? E, se de
certo modo, a resposta para essas perguntas parece óbvias, por qual motivo não se
pensam tais melhorias e mudanças no atual sistema educacional, mudanças essas
tão solicitadas por milhares de cidadãos brasileiros?
Portanto, aborda-se neste trabalho a análise do passado e os diversos
períodos a qual a educação passou com suas constantes transformações devido a
questões históricas e políticas, reformulações e inserções de novas diretrizes.
Pensando na educação brasileira, historicamente deve-se levar em consideração
que o papel da escola passou por mudanças significativas quanto ao seu objetivo e
as movimentações políticas e econômicas que implicaram em sua mudança, e para
esta reflexão é de grande importância a contextualização desses períodos, já que
ela é fruto de sua temporalidade e vivências, como visto em Freitas (2007).
Estudar o sistema de educação, sua construção, e suas constantes e
variadas transformações ao longo dos anos pelos motivos citados acima são de
grande importância para que possamos compreender o momento atual desse
sistema, identificar possíveis falhas ou pontos obsoletos e a partir daí trabalhar nas
ideias que possam revitalizar e tornar tal sistema algo que passe confiança,
sustentabilidade e acessibilidade a toda a sociedade brasileira, que tanto anseia por
essas mudanças.
A partir dos pontos que serão levantados, o foco deste trabalho é analisar as
políticas educacionais brasileiras das últimas décadas, possibilitando identificar o
poder da educação frente a transformação social, além de traçar possíveis caminhos
para pretensas melhorias junto ao sistema educacional do país.

2 METODOLOGIA
Este é um trabalho com fins explicativos, uma vez que tenta expor e detalhar
os fenômenos de uma dada realidade, identificando as variáveis do processo. Para
alcançar esta finalidade, segue a partir de uma abordagem qualitativa, já que não
foram utilizados dados, mas sim descrições através de revisão bibliográfica e análise
documental, pois desta forma poderemos alcançar os objetivos propostos com maior
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facilidade, nos debruçando sobre o contexto histórico da temática proposta de Gil
(2002).
Para a realização desta pesquisa tive as contribuições de Freire (1980), foram
extraídas de suas próprias obras ou de autores que se utilizam de suas obras como
base, como Tardif (2002) e Almeida (2010).
Foram pré-selecionados obras incluindo artigos e livros e para inclusão das
que foram apresentadas neste trabalho, foi adotado como critério: publicações
recentes, levando em consideração a pouca quantidade de artigos entre os anos de
2019 e 2021 devido a pandemia de COVID-19 e obras que tratam da educação
brasileira a partir da ótica libertadora proposta por Freire (1980).
Foram excluídos deste trabalho as obras com mais de 10 anos de sua
publicação e obras com pouca apresentação de historicidade e/ou que focaram em
momentos específicos da educação brasileira.
Como o trabalho se propôs à revisão bibliográfica não foi necessário a
aplicação de questionário, visitas ou tarefas extras.

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Pode-se afirmar que não existe apenas um modo para a prática da educação,
uma vez que não há uma forma unificada de comportamento de aprendizagem dos
indivíduos, sendo assim, plural, como defende Almeida (2010).
Em uma tentativa de construir uma teoria ampla da educação, Tardif (2002)
diz que podemos perceber a educação nos mais diferentes ciclos da vida do ser
humano, seja na vivência diária, em casa, trabalho, igreja ou na escola. Com esse
movimento de aprendizado levado em consideração, o autor coloca em pauta a
escolarização, e sua diferença frente ao que se entende por aprendizagem.
Segundo Almeida (2010), a escolarização é a educação transmitida pela
escola, e a coloca como centro do processo educacional, mas não o único centro de
produção de conhecimento e de educação.
Para um panorama amplo do sistema educacional, Mendonça Neto et. al.
(2018) fazem um recorte dos últimos 90 anos da educação brasileira e a
interferência do processo de industrialização nas políticas públicas de educação.

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Com a criação do Ministério da Educação e da Saúde em 1930, a Era Vargas
traz a organização e sistematização de universidades, abrindo caminho para a
reforma do Ensino Secundário enquanto uma estrutura, dividindo ciclos e séries,
propondo um currículo base e norteador e definindo frequência obrigatória para que
as pessoas conseguissem acesso ao Ensino Superior, que ecoa até os dias de hoje
- Mendonça Neto et. al. (2018).
Rodrigues (2019), complementa o cenário educacional pós Era Vargas,
trazendo em pauta a fundação do SENAC e do SENAI em 1946, abrindo espaço
para o ensino profissional frente a entrada de capital estrangeiro, reformulando a
educação e o propósito dela para década, principalmente com influência do embate
ideológico entre católicos e liberais.
Em 1961, houve a aprovação da Lei 4024 das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, e nela foram atendidas as reivindicações tanto dos católicos
quanto dos liberais, mas beneficiou também as tendências de educação pelo
conteúdo - Rodrigues (2019).
No decorrer dos anos e com a ascensão e queda de alguns governos, a
educação passou por diversas reformas, que acompanhavam as ideologias em alta,
bem como a Guerra-fria e a Ditadura Militar - Mendonça et. al. (2018).
Segundo Rodrigues (2019), após o fim do regime militar e a redemocratização
no território brasileiro, a educação passa a ser um direito e bandeira de movimentos
sociais.
A partir da força que a educação tomou depois da redemocratização foram se
abrindo discussões e caminhos para a transformação social com base na educação,
ou melhor, na escolarização.
Como afirma Freire (1980), a transformação social só acontecerá a partir da
ação e da reflexão crítica do docente sobre a sociedade a qual está inserido,
percebendo assim as mudanças que serão precisas.
Sendo assim, como propõe Santana (2018), para que essa reflexão seja
alcançada a pedagogia por trás deverá ser libertadora, ou seja, proporcionar
reflexões e críticas constantes.
Para além do ponto pedagógico, a escola reverbera em outros âmbitos da
sociedade, uma vez que ela forma os agentes da sociedade, como operários,

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artistas, intelectuais, técnicos etc. necessários para o crescimento social e
econômico, descreve Tardif (2002).

Desta forma, segundo Tardif (2002), com a escola influenciando diretamente


a construção de uma sociedade, ao oferecer uma escolarização de qualidade, serão
formados cidadãos conscientes de seus papéis na sociedade e com capacidade de
transformá-la, aumentando a produtividade, criando mais acesso aos bens de
consumo para que haja um desenvolvimento sustentável do tripé educação escolar,
cidadania e participação.

Contrária à educação libertadora, encontramos uma escolarização deficitária


decorrente de formação em massa de qualidade inferior, que implicam na situação
atual no país.

Como analisa Losif (2007), quando a educação não oferece qualidade, a


participação social dos indivíduos é controlada e não contempla as necessidades de
uma sociedade em construção, estagnando a evolução, já que será criado “um
exército de analfabetos políticos”, como diz Brecht.

É a própria organização escolar do trabalho pedagógico que gera o insucesso


escolar, isto significa que o aluno encontra na escola um ambiente bem diferente do
que esperava, por este motivo, em algumas realidades, acaba sendo reprovado ou
obtendo baixo rendimento escolar, diz Perrenoud (2000).

A insuficiência na aprendizagem escolar pode estar ligada a essência de


estrutura cognoscitiva, que permite a organização dos estímulos e favorece a
aquisição dos conhecimentos. Todavia, a dificuldade em aprender pode estar
relacionada a determinantes sociais da escola, do olhar do professor e do próprio
aluno, ou seja, ligada a fatores internos (cognitivos/emocionais) e externos
(culturais/sociais/políticos), de acordo com Weiss (1997).

No entanto, segundo Guerra (2001), incapacidades de aprendizagem não


devem ser confundidas com dificuldades. Sendo assim, cabe a escola diagnosticar o
estado geral do aluno, desde o contexto familiar (nascimento ou morte de pessoa da
família, separação dos pais, desemprego ou doença, entre outros), levando em

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consideração as concepções de Roman e Steyer (2001), quando afirmam que os
conflitos emocionais podem interferir no rendimento do aluno.

Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússola para navegar


nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista de só oferecer
informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Deve oferecer
uma formação geral na direção de uma educação integral. O que significa servir de
bússola? Significa orientar criticamente, sobretudo as crianças jovens, na busca de
uma informação que os faça crescer e não embrutecer. Gadotti (2000).

Seguindo este raciocínio, Costa (2003) complementa: “A causa do fracasso


passa, assim, a ser situada na própria criança que de vítima se transforma em réu.
Dizemos vítima porque, segundo este ponto de vista, esquecemos de considerar
que esta criança sofre as consequências de um sistema social e educacional
perverso, que não lhe oferece as condições necessárias para se apropriar do
conhecimento dito formal, científico ou padronizado (ou seja, o conhecimento que a
escola objetiva transmitir).”

Colello (2004) afirma que grande parte do fracasso escolar é, ainda hoje,
tributário de um sistema impessoal que, desconsiderando as diferenças individuais
ou culturais, volta-se apenas para o grupo de alunos já em sintonia com o universo
escolar. Diz que a redução dos interlocutores e a apologia do silêncio em sala de
aula acabam por se configurar como mecanismos de incompreensão e abandono,
cujos resultados se fazem sentir nos índices de evasão, repetência, problemas de
aprendizagem ou comportamento.

Para Costa (2003), a realidade mostra um cenário totalmente diferente onde à


escola, principal instrumento para a veiculação de conhecimento, não permite que
crianças pobres se apropriem deste conhecimento, já que não criam as condições
mínimas necessárias para que isto ocorra.

Seguindo este raciocínio, Costa (2003) complementa: “Enquanto as crianças


de classes sociais mais favorecidas têm oportunidade de acesso à escola desde
cedo, condições de aquisição de brinquedos pedagógicos, material pedagógico
diversificado, computador, livros privilegiados pela escola etc. grande parte das

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crianças pobres vislumbra na escola o lugar privilegiado para acesso a esses bens,
tendo, na maioria das vezes, sua expectativa frustrada.”

Também buscando uma causa para o fracasso escolar, Holt (1995)


argumenta que as crianças têm “medo entediado e confuso” e que isso combinado
com estratégias de ensino equivocadas e de um ambiente escolar que está
desconectado da realidade (aprendizagem real), resulta em um sistema escolar que
mata o desejo de aprender das crianças.

A respeito disto Hogart (1957) descreve: “Para os estudiosos que conceituam


o fracasso dos indivíduos, a privação cultural seria a causa desencadeante das
dificuldades escolares, devido estes alunos não serem bem estruturados em seu
seio familiar a cognição necessária para desenvolver habilidades matemáticas e
linguísticas. Quanto ao fracasso de uma classe social, os autores conceituam que os
próprios membros da classe pobre não valorizam a educação, para estes a evasão
escolar não é um problema, visto ser mais importante uma ocupação monetária do
aluno para auxiliar no rendimento familiar.”

A educação é direito de todos – ricos e pobres, negros e brancos, mulheres e


homens, índios e filhos de estrangeiros, habitantes da cidade ou da zona rural. O
Estado brasileiro, que se atribuiu essa obrigatoriedade, é também o responsável por
fazê-la valer. A colaboração da sociedade tem o sentido de assegurar que o ensino
seja compartilhado, que os projetos educacionais sejam desenvolvidos de forma
consensual e participativa. Chalita (2004).

A educação é tratada como um direito social por ser responsável pela


preparação da cidadania (que é um dos fundamentos da República Federativa do
Brasil, previstos no art. 1º) e para formação de recursos humanos que permitirá
garantir o desenvolvimento social construindo uma sociedade livre, justa e solidária.
Stefano (2014).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para analisar um contexto, como o da educação brasileira, devem ser levados


em consideração os caminhos, decisões e conceitos que se passaram e as

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transformações que se fizeram, justamente devido a esse aspecto as revisões
bibliográficas foram idealizadas focadas na historicidade, e com isso é possível
perceber que os movimentos feitos pela educação tomaram formas principalmente
frente as mudanças de ideologias políticas, acompanhando os objetivos de cada
tipagem de governo em alta.
Um dos pontos de enfoque deste trabalho era identificar o poder da educação
na transformação social, mas foi possível perceber que uma educação libertadora,
por mais que dependa dos órgão responsáveis pelo ensino e aprendizagem, é uma
ideologia e ela apenas entrará em prática na medida em que ela for colocada em
prática e na medida em que ela se tornar uma estrutura, uma vez que outras
metodologias de aprendizagem já são consideradas partes da estrutura da
sociedade devido ao tempo e ao reforço.
Uma revisão da história da educação pode ser considerado o pontapé inicial
para uma série de pesquisas que contemplem outros aspectos que são importantes
para a transformação social, como: a ótica da população sobre a educação nacional
e os objetivos governamentais para a educação, e a partir deste ponto poderem ser
elaboradas políticas públicas que atendam a todos os pontos em déficit.
Esses movimentos e reestruturações da educação interferem no
desenvolvimento da sociedade, e justamente por isso deve ser entendido como um
dos pontos de sofrimento da população e que se mudada, tem impacto significativo
e positivo na saúde pública, ou seja, tem impacto direto na transformação social.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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