Você está na página 1de 4

O contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil

A história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, é marcada


pela trajetória de ações e programas destinados à Educação Básica e, em
particular, aos programas de alfabetização para o combate ao analfabetismo. E
apresenta variações ao longo do tempo, demonstrando estar estreitamente
ligada às transformações sociais, econômicas e políticas.

Com base nas leituras de Haddad e Di Pierro (2000) podemos observar


que esse processo de escolarização da EJA, teve grandes avanços e
retrocessos ao longo do caminho. Segundo os autores a década de 40 inicia-se
com mudanças e com uma preocupação geral para a educação das camadas
populares.

Em 1920, houve uma movimentação por parte dos educadores no intuito


de ampliar as escolas e melhorar a qualidade do ensino popular,
principalmente no estabelecimento de condições favoráveis à implementação
de políticas direcionadas à educação de adultos. Sob a gestão de Getúlio
Vargas, com a Revolução de 1930, as novas exigências no campo educacional
brasileiro tiveram início. Nesse período, a educação de adultos é liderada pelo
Estado, na Constituição de 1934, que institui a implementação do primeiro
Plano Nacional de Educação - PNE, com oferta do ensino primário integral,
frequência obrigatória e gratuita, estendendo-se aos adultos.

Na década de 40, o Estado instituiu o fundo para alfabetização de


adultos, devido aos elevados índices de analfabetismo por conta da má
estruturação política educacional das décadas anteriores. Cabe ressaltar que a
“extensão das oportunidades educacionais por parte do Estado a um conjunto
cada vez maior da população”, servia como um mecanismo que pudesse
fortalecer a democratização do país, com a valorização da educação escolar
(Haddad; Di Pierro, 2000, p. 111).
O final dos anos 50 e o início dos anos 60 foram períodos de grande
mobilização dos educadores brasileiros a respeito das reformas da educação,
como o II Congresso Nacional de Educação de Adultos, que aconteceu em
1958, na cidade do Rio de Janeiro. Com esse novo olhar para pensar a
estrutura pedagógica da alfabetização de adultos, no congresso realizado em
Recife, com a presença marcante do educador Paulo Freire, as discussões
direcionavam-se para o entrelaçamento entre os problemas educacionais
vigentes e a problemática social.
O trabalho desenvolvido por Freire com a educação de adultos
possibilitou a organização do Programa Nacional de Alfabetização de Adultos.
Outros elementos consideráveis foram a criação do Mobral, em 1968, e a
expansão do Ensino Supletivo (CES), criado em 1972. Os documentos
expressam que a oferta do Mobral e do Supletivo foram tentativas utilizadas
como estratégias do Estado para saber lidar com a tensão arraigada desde os
primórdios da educação popular e para atender às orientações da Unesco
(Ventura, 2011).
Refletindo sobre a lógica burocrática que ainda perpassa as ações da
EJA, verifica-se que todo o avanço da educação para a classe trabalhadora foi
conduzido por lutas e por concepção democrática da sociedade, na busca por
igualdade de oportunidades e igualdade de condições sociais. A importância
para tal reconhecimento deve-se ao engajamento de educadores que, de forma
geral, deram conta do direito à educação permanente para todos. É na luta que
as condições são criadas e afirmadas, não só para democratização da
educação, mas para a participação social, que inclui a “socialização das
gerações mais iguais e menos injustas” (Cury, 2002, p. 247).
Os desdobramentos que merecem nossa atenção referem-se às
normas oficiais que evidenciam as finalidades da EJA e estão pautadas no
aperfeiçoamento e na qualidade, atribuindo significado ao conhecimento
educativo e, sobretudo, na formação geral do jovem e do adulto estudante.
Inegáveis os desafios que ainda são enfrentados no cotidiano de nossas
escolas, de como ainda estamos à margem dos sistemas educacionais; essas
ideias não são acabadas, são decorrentes das observações como professores
da EJA no sistema estadual de ensino.
De acordo com Machado (2009, p.19), vemos que, no Brasil, a denúncia
de descaso para com a EJA aparece em estudos e pronunciamentos de vários
educadores. Em 1938, Paschoal Lemme (2004, p. 65) já destacava que
“mesmo entre as pessoas que têm certo trato com os problemas de educação
e de ensino é comum verificar-se um completo desconhecimento da
importância e da significação hoje emprestadas ao problema da educação de
adultos”. Passados 71 anos dessa afirmação, o que podemos dizer sobre a
Educação de Jovens e Adultos no Brasil?
Vale lembrar aqui que Paschoal Lemme, em 1938, concorreu ao
concurso para técnico de educação do então Ministério de Educação e Saúde
apresentando como tese um trabalho exatamente sobre educação de adultos.
Impossível não destacar que a EJA sempre foi tratada pelo Estado como uma
segunda opção, pelo baixo rendimento do sistema educacional, que acaba por
se tornar seletivo, excludente e muitas vezes marginalizado, ou com um
expressivo quantitativo da população que consegue ingressar na escola. Além
disso, é visível que tanto a oferta quanto o rendimento dos alunos são
diferentes, à medida que a localização dificulta o acesso.
Deve-se aqui atentar para os desdobramentos expressos da Educação
de Jovens e Adultos como sendo uma educação escolar que certifica e prepara
para o trabalho; há também a desqualificação do ensino da EJA, caracterizado
como fraco e de mau rendimento. A respeito da democratização da educação e
da superação do analfabetismo, o que contribuiu para refletirmos sobre a
qualidade da educação e suas interfaces é que, apesar da universalização e da
possibilidade de vagas ao ensino público, ainda há uma defasagem e isso vem
afetando substancialmente a jovens e aos adultos, pois em suas trajetórias
escolares não estão conseguindo dar conta do sistema de ensino.
Na realidade, o que nos resta entender, em termos sociais, é quem é
mais atingido pela qualidade da oferta e da seletividade do sistema. As
interrogações valem como um alerta para a necessidade de um exercício de
reflexão para compreender por que a EJA é menos estruturada do que os
demais sistemas de ensino e por que seus objetivos não são claros como os
demais.
Talvez por não incluir só a educação da segunda chance, mas também a
educação continuada. Esse processo interrogativo leva-nos a entender os
discursos recentes que envolvem a EJA no que se refere à precariedade de
seus valores e da sua organização, estando sempre vulneráveis às estratégias
governamentais.

Você também pode gostar