CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A Educação de jovens e adultos – EJA em nosso território brasileiro é permeada
por diferentes disputas, avanços e retrocessos, mas é também marcada por especificidade importantes para quem vivencia este processo. Esta modalidade vem defendendo características – que será explicitado ao longo desta escrita – próprias que buscam assegurar o direito à educação aos indivíduos que por diferentes motivos não conseguiram concluir seus estudos da educação básica em determinado período da vida.
Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino da
Educação Básica nos níveis fundamental e médio, com características próprias (modelo pedagógico, currículo, material didático, tempos, espaços, processos avaliativos próprios) e funções definidas que objetivam o alcance de um direito negado historicamente, além de igualdade de acesso, condições de permanência e aprendizagens significativas na escola, de jovens, adultos e idosos, com trajetórias escolares prévias ou não. Ela também compreende o que se denomina aprendizagem ao longo da vida, no contexto da educação continuada, no sentido da garantia do direito de todos à educação. Assim, a EJA é uma exigência da própria sociedade, alijada historicamente do direito à educação escolar. (SILVA, p. 02, 2021)
O investimento nesta modalidade segundo a autora, ocorre desde 1940 a partir
de iniciativa do governo, mas também se deu por diferentes movimentos populares que permitiram que essa modalidade fosse consolidada formal e informal. Foi a partir desse movimento que passa a problematizar a alfabetização para esta população, emergindo uma série de políticas públicas que muitos de nós conhecemos, embora que para essa etapa ainda tenhamos muito a avançar. Os dados a seguir nos faz compreender a atual conjuntura da alfabetização nesta modalidade:
Refletir sobre a atualidade da alfabetização na Educação de
Jovens e Adultos (EJA) no Brasil significa reconhecer e problematizar os dados sobre a taxa de analfabetismo da população acima de 15 anos de idade, que são da ordem de 6,8%, o que equivale a 11 milhões e 300 mil pessoas (IBGE, 2018). Além disso, 29% são consideradas analfabetas funcionais, indicando que o Brasil está longe de cumprir a meta nove do Plano Nacional de Educação (PNE), que visa erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional até o final da vigência do PNE, no ano de 2024 (BRASIL, 2014). Outro fator importante no reconhecimento da atualidade da alfabetização na EJA diz respeito aos índices de matriculados na modalidade. Dados do Censo Escolar da Educação Básica, 2019, apontam que houve uma redução no número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos de 7,7% em relação ao ano de 2018, apresentando um total de 3.273.668 estudantes matriculados (INEP, 2020). Apenas observando os dados de matrículas é possível inferir que a EJA não consegue atingir os mais de 11 milhões de brasileiros não alfabetizados. (SILVA, p. 02, 2021)
Os resultados das avaliações de pequena e larga escala nos apontam o baixo
índice de analfabetismo ainda na EJA, bem como a falta da procura da população para se inserir nesta modalidade. Isso também é em decorrência a falta do olhar e investimento do setor público nesta modalidade, uma vez que, se olharmos para a história da EJA, pouco se teve uma preocupação, estratégias e políticas públicas da parte do órgão federal para alcançar as metas que atualmente estipulam. A falta de manutenção, acompanhamento pedagógico, condições de acesso, formação continuada, bem como a invisibilidade dos sujeitos nesta modalidade ainda é um desafio, como por exemplo também, a falta desta modalidade no SECADI, CNAEJA e até mesmo o PNA ao limitar as especificidades desta modalidade.
Diante desta conjunta, me pergunto: Como garantir uma educação de qualidade
nesta modalidade diante de tantos avanços e retrocessos? É muito delicado quando falamos em alfabetização na EJA, pois mesmo diante dessa conjuntura atual, os professores e instituições problematizam este campo para que possam promover uma educação dentro das especificidades que a EJA propõe. Para a alfabetização de Jovens e Adultos nesta modalidade é compreendida enquanto processo, partindo prioritariamente do contexto social e experiências do sujeito, campo este que torna tão complexo e peculiar no que se pauta a alfabetização.
Ao longo da história e consolidação da EJA, houve um movimento de estudiosos
da área da educação problematizando essa modalidade, e construindo a partir da experiência e vivência especificidades que nos auxiliam a compreender a proposta e as especificidades pedagógicas. Como um dos autores mais importantes para o campo da EJA, Paulo Freire desenvolveu um método de alfabetização de adultos, na década de 1960, que valorizava o conhecimento que cada aluno trazia para a sala de aula. No livro “Pedagogia da autonomia”, Freire destaca a importância de conhecer e discutir o contexto social em que o estudante está inserido para a construção de práticas pedagógicas que valorizem as experiências e a realidade dos alunos. Outra importante contribuição de Paulo Freire é a crítica a educação tradicional centrada somente no professor, buscando a valorização de prática problematizadora que priorizava o diálogo e considerando o sujeito como ação educativa. Freire trouxe uma proposta em que os alunos pudessem refletir e compreender melhor seu contexto social e a partir dessa reflexão buscar alternativas para a mudança de sua realidade. Foi a partir destas considerações que houve um movimento de consolidação das propostas pedagógicas e especificidades que esta modalidade desafia, em especial no que diz respeito a alfabetização. Mamona (2018), nos ajuda a elencar estas especificidades ao dizer que: Ao pensar as especificidades da EJA, com base nas leituras e no contato de mais de duas décadas com a modalidade, alguns tipos podem ser observados, conforme descrição a seguir: I) etária ou geracional, inseridos num processo recente chamado de “juvenilização” da EJA; II) cultural; III) condição de trabalhador; IV) com marcas sociais e econômicas peculiares, que fazem referência à questões de gênero, raça/etnia, comunidades camponesas (da roça)/tradicionais, classe social; em privação de liberdade; V) Pessoas com deficiências; VI) em luta constante pelo direito à Educação; VII) Tempos diferenciados; VIII) espaços; IX) concepções de adulto, jovem e idoso; X) prática pedagógica; XI) política de financiamento; XII) alimentação; transporte, material-didático, estrutura física (lâmpadas, mobiliário, acessibilidade) e, por fim, XIII) gestão administrativa-financeira. As especificidades, destacadas acima, após analisadas foram agrupadas em três dimensões, a saber: A dimensão dos sujeitos da EJA; a dimensão pedagógica e dimensão político-administrativo. Todas essas dimensões, por sua vez, estão interligadas, em sua essência, em função dos sujeitos da EJA, razão de existir da própria modalidade. (MAMONA, p. 3177, 2018)
As contribuições da autora acima, nos dá indícios das especificidades que a EJA
carrega. A primeira dimensão Sujeito na EJA, entende-se em linhas gerais a realidade e vida dos alunos como um pilar significativo para a aprendizagem, trazendo suas experiências e marcas de vida para que possam resolver soluções para seu contexto. Se tratando de jovens e adultos é preciso ter um olhar para seu contexto de trabalhador, sua idade para garantir sua permanência, bem como as marcas sociais e econômicas, grupos vulneráveis, aquela população “invisível” muitas vezes perante a sociedade, são especificidades que partem de uma luta por uma educação de qualidade. Em resumo a dimensão pedagógica está atrelado ao cotidiano escolar, a prática e atendimento da EJA precisa ocorrer em diferentes espaços e tempos para atender estes sujeitos. Pensar o tempo de permanência desse grupo para não ocorrer evasão, é preciso pensar em estratégias do tempo de cada modulo, espaço físico (ainda muito precário), organização do material… para que haja motivação para que conclua seus estudos de forma produtiva dentro da sua realidade social e econômica. A concepção de jovens e adultos marca esta dimensão como forma de sempre fletir quem são este sujeitos, que caminhada realizaram e de qual realidade social e econômica vem para pensar em práticas que se aproximem desta realidade
E a última denominada dimensão político-administrativo está diretamente ligada
a gestão e as formas de conduzir esta modalidade, no que tange a formação de professores, o reconhecimento e investimento financeiro que ocorreu na história da EJA recentemente, questões no que diz respeito ao material didático, merenda, alimentação e saúde se inclui atualmente nesta dimensão a partir da legitimidade do Governo federal como um direito a estes sujeitos que vivenciam esta modalidade.
As particularidades dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita de
jovens e adultos advém destas especificidades elencadas acima, considerando a alfabetização a partir das vivencias, gostos e interesses destes sujeitos, promovendo um método adequado diante a realidade. Por fim concluo que a EJA ainda se encontra em um campo peculiar de significados, permeado em sua história avanços, retrocessos e disputa no que tange os direitos e as formas de alfabetizar nesta modalidade tão rica e importante para a sociedade.
REFERÊNCIAS:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004. MAMONA.Sara Soares Costa. Especificidades da EJA: um conhecimento necessário à formação de professores. Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/ Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia Baiano – IF Baiano, 2017. SILVA, Jaqueline luzia da. Desafios e pressupostos atuais da alfabetização na educação de jovens e adultos. Revista brasileira de alfabetização. (15), 2021,