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LINHATEMÁTICA:

Responda:
1) Possui diploma de graduação em Licenciatura? (X) SIM ( ) NÃO
2) É professor atuante na educação básica? Está em sala de aula? ( X ) SIM ( ) NÃO
3) Está ciente de que as aulas do PPGEH ocorrem às segundas-feiras, terças-feiras e,
eventualmente, aos sábados? ( X ) SIM ( ) NÃO
4) A sua proposta de pesquisa está no contexto do Ensino de Humanidades? ( X) SIM ()
NÃO

[I-] AÇÕES AFETIVAS DE APOIO SOCIAL NO COMBATE À EVASÃO E


AO ABANDONO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)
DA REDE PÚBLICA DE EDUCAÇÃO DA CIDADE DE
CARIACICA/ES – 19962000/2020

II – A QUE FASE OU MODALIDADE DA EDUCAÇÃO REFERE-SE O SEU


TRABALHO?
( ) Educação Infantil
( ) Fundamental I (1 ao 5 ano)
( ) Fundamental II (6 ao 9 ano)
(x) Ensino Médio
( ) Espaços de educação não formal
( ) Ensino Superior
III-INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA

A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – LDB no 9394 de 1996,


que estabeleceu e estabelece a EJA como uma modalidade da Educação Básica,
ensino fundamental e médio, foi um importante passo para inclusão de jovens e
adultos que se encontravam fora da escola dentro do campo da educação formal.
Contudo, a lei veio acompanhada de uma série de desafios para que essa proposição
se tornasse realidade.
A questão do retorno, permanência, abandono e evasão dos alunos na EJA, como
em outras modalidades, é um dos sérios problemasdesafios que afetam a educação
pública brasileira. No caso específico do Espírito Santo, há certo tempo, a
comunidade escolar vem se perguntando sobre as melhores estratégias de prevenção
do abandono e da evasão escolar, como confirma o relatório ,de 2008, do Encontro
estadual preparatório para a VI Conferência internacional da Educação de Jovens e
Adultos, organizado pela Secretaria de Estado de Educação.
Segundo dados do INEP para o censo educacional de 2018, o governo do Estado
é responsável por 96,2% das matrículas da EJA de nível médio na zona urbana,
sendo a maioria do alunado composta de jovens na faixa etária de menos 20 anos, do
sexo masculino, pretos e/ou pardos.1 De acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD), no segundo trimestre de 2017, na realidade
capixaba, 1996 adolescentes e crianças, entre 14 e 17 anos, estavam fora da escola.
No entanto, faltam dados mais detalhados para avaliarmos o número de jovens e
adultos que não conseguiram completar a educação básica.
O município de Cariacica, parte da Grande Vitória, conta hoje com uma
população estimada de 383 mil e 917 pessoas2. Dos 85.589 alunos matriculados nas
193 escolas da rede pública e privada, 7208 alunos são da EJA. Fato é que parte
desse alunado abandona ou evade, como sugerem as reportagens veiculadas pela
mídia, monografias e depoimentos informais dos professores. Tanto é assim que, na
cidade, em 2019, por iniciativa da Superintendência Regional de Educação, foi
criado um Comitê de Combate à evasão e à reprovação.
Sabemos, em função das pesquisas (CARDOSO; FERREIRA, 2012; PREMOLI;
CADE, 2012) e por vivência em sala de aula que, por parte de sucessivos governos,
a EJA não vem gozando da mesma preocupação e atenção que recebem as outras
modalidades de Ensino. Esse descaso dificulta ainda mais criarmos condições para a
permanência dos alunos na rede escolar, haja vista que as questões que afetam a
EJA não são exatamente as mesmas das outras modalidades. E, sem políticas
públicas de permanência, tudo fica ainda mais difícil.
Contudo, para refletirmos sobre o abandono e a evasão, gostaríamos de olhar em
uma outra direção, não na dos alunos que abandonaram ou evadiram, mas naquela
dos alunos que permaneceram e conseguiram concluir o Ensino Médio.
Desconfiamos que as razões da permanência dialogam com as razões do abandono
e, para além da força de vontade dos alunos, ambas têm relação com as ações de

1
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP- Censo 2019,
http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao

2
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo - 2010 -
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/es/cariacica/panorama
apoio disponíveis na rede social vivenciada pelo alunado, fruto de um capital que
pode ser entendido do seguinte modo:
O capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão
ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos
institucionalizadas de interconhecimento e de interreconhecimento ou,
em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes
que não somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de
serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles mesmos),
mas também são unidos por ligações permanentes e úteis
(BOURDIEU, 2002, p. 67)

V- PERGUNTA(S) DE SUA PESQUISA E OBJETIVOS GERAL E


ESPECÍFICOS DA PESQUISA

Ao navegarmos pelas páginas de programas de Pós-Graduação, revistas


especializadas, sites voltados para o campo da educação, encontramos monografias,
artigos, dissertações e teses que tratam das razões da evasão e do abandono na
Educação de Jovens e Adultos em diferentes regiões do Brasil (MOTTA;
MARTINS, 2020; PEDRALLI; RIZATTI, 2013).
Cansaço, horário de trabalho, doenças, cuidado com a casa e filhos, falta de
motivação, métodos de ensino, entre outros, são alguns dos motivos que levam
jovens e adultos a abandonarem ou evadirem da EJA. Ora, no campo do senso
comum, tantas vezes influenciado por uma visão de mundo liberal e imediatista, são
veiculados discursos que apresentam a força de vontade como o fator exclusivo da
vitória do aluno sobre esses fatores de problemas responsáveis pela sua desistência e
de sua permanência na escola.
No entanto, na atual conjuntura política de orientação neoliberal, por partirmos
de uma perspectiva diferente desta abordagem individualista meritocrática, estamos
alinhados com a premissa sociológica de que a nossa existência particular não está
desvinculada de nossas trocas coletivas. Em outras palavras, entendendo que o apoio
recebido pelo aluno dependerá de seu capital social, da extensão de sua rede de
relações, elaboramos a seguinte pergunta para nortear a nossa investigação sobre a
trajetória escolar desses alunos:
Em que medida, para além da força de vontade individual, o apoio social de
pessoas e instituições foram importantes para a frequência, a permanência e a
conclusão do Ensino Médio daqueles alunos que conseguiram se formar na
Educação de Jovens e Adultos (EJA)), da rede pública da cidade de Cariacica/ES,
entre os anos de 19962000 e 2020?

Objetivo geral:

Compreender em que medida, para além da força de vontade, ações afetivas do


apoio social (sejam grandes ou pequenos gestos) podem ou não contribuir para a
frequência, permanência e conclusão de curso dos alunos jovens e adultos que
conseguiram se formar no Ensino Médio /EJA, na rede pública da cidade de
Cariacica, entre os anos de 19962000/2020.
Objetivos específicos:

- InvestigarMapear, de modo geral, o papel que pessoas e instituições dentro e fora


da escola tiveram e têm no percurso escolarperfil dos alunos formados no Ensino
Médio da Educação de Jovens e Adultos.

- Avaliar a pertinência de políticas públicas inclusivas de jovens e adultos fora da


escola dentro do sistema de ensino formal.

- Identificar estratégias de enfrentamento do abandoabandono e da evasão escolar


para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em função de seu capital social.

V- RESUMO DO PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA)

Essa pesquisa se apresenta como uma investigação de natureza qualitativa. Ela


tem o caráter exploratório, procurando fazer uso de uma entrevista de história de
vida com uma escuta sensível para tentar evidenciar, juntos com eles, os sujeitos da
pesquisa, se os (as) alunos (as), jovens e adultos, que se formaram no Ensino
Médio/EJA, na cidade de Cariacica, entre os anos de 19962000/2020, contaram com
a cooperaçãoo apoio e a solidariedade das pessoas e instituições com as quais
conviveram em sua trajetória no curso. De certo modo, indo em direção contrária à
ideologia meritocrática neoliberal, a ideia é de que os alunos egressos da EJA
produzam informações que possam colaborar com aqueles que hoje se encontram no
Ensino Médio/EJA enfrentando desafios similares aos que eles enfrentaram.
(Dados EJA em O lócus da pesquisa serão aquelas escolas da rede pública de
Cariacica –/ES que oferecem a modalidade da EJA, como no exemplo da Escola
Jesus Cristo Rei e da Escola João Crisóstomo Belesa, nas quais trabalhamos no ano
de 2019. Faremos um levantamento dos alunos- etc)

Dividiremos formados e dividiremos os sujeitos dessa pesquisa a partir de cada


uma das escolas que possui EJA.. Nestes termos, serão 4 alunos por unidade escolar,
sendo eles de diferentes anos de conclusão do curso, gerações, gênero, etnia, religião
e estado civil, somando um total de mais 20 pessoas. É fato que, a partir da futura
revisão desse anteprojeto, o número escolhido poderá ser modificado, de acordo
com a realidade encontrada no campo ou da adequação teórica-metodológica ao
prazo do programa.
Os dados serão coletados por meio de uma entrevista de história de vida
temática. A entrevista será filmada e seguirá um roteiro semiestruturado, mas, no
entanto, bem aberto para que o entrevistado possa fazer as devidas articulações entre
a sua experiência no espaço escolar e fora dele, principalmente dentro do período
em que frequentou o Ensino Médio na Educação de Jovens e Adultos. O foco
principal será pensar se houve ou não cooperaçãoapoio e solidariedade dos mais
próximos e, em que medida, esses gestos concorreram para que eles (as)
conseguissem frequentar, permanecer e concluir o Ensino Médio naquela ocasião.
A escuta sensível, conceito/procedimento desenvolvido por Barbier (2007)
propõe que o pesquisador acolha e compreenda o outro, sem julgá-lo. Portanto, se
faz necessário uma aceitação incondicional do próximo, de modo a não classificá-
lo, medi-lo, compará-lo e rotulá-lo. É uma escuta que deve estar atenta à dimensão
científica do projeto, ao poético existencial da experiência do outro, assim como
aos aspectos filosóficos e espirituais do relato, aquilo que dá o sentido mais
profundo da existência do sujeito da pesquisa.
A escuta sensível apoia-se na empatia. O pesquisador deve saber
sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para
‘compreender do interior’ as atitudes e os comportamentos, o sistema
de ideias, de valores, de símbolos e de mitos (BARBIER, 2007, p. 94)

A análise do material coletado será feita com base nas referências teóricas
construídas ao longo do caminho desse trabalho, em função de nossa experiência em
sala de aula e das sugestões que forem proporcionadas pelos sujeitos da pesquisa em
sua interação conosco. Para tanto, faremos também a transcrição dos trechos
ilustrativos das entrevistas e, com a devida autorização dos envolvidos, deixaremos
o material à disposição de outros pesquisadores, assim como também construiremos
um recurso pedagógico com a participação dos sujeitos da pesquisa, que serão
convidados para essa tarefa.

I-POSSÍVEL PRODUTO EDUCACIONAL

O material coletado nas filmagens será utilizado para a elaboração de um vídeo


como recurso didático, com a duração de 30 a 45 minutos, cujo tema será “O papel
da cooperaçãodo apoio e da solidariedade no enfrentamento dos desafios que a vida
coloca no caminho dos alunos da EJA”, retratando a realidade dos depoentes de
vários bairros de Cariacica e adjacências. Para tanto, convidaremos os sujeitos da
pesquisa para participarem da elaboração do roteiro do vídeo, escolhas temáticas e
definições dos modos de abordagens, destacando a “proposta de fazer pesquisa com
as pessoas ao invés de fazer pesquisa para as pessoas” (ANTOS; CARVALHO,
2019, p. 91).
Acreditamos que, com base nas entrevistas, esse documentário poderá abordar
temas considerados relevantes no currículo de Sociologia e das Ciências Humanas,
tais como: desigualdade social, relações étnicas, geracionais e de gênero, cidadania e
direitos sociais, violência entre outros. Assim, esses temas serão trabalhados a partir
da própria realidade dos alunos da cidade de Cariacica, destacando que as Ciências
Humanas nos ajudam a olhar para vários problemas do cotidiano a partir de outros
ângulos e buscando soluções compartilhadas, principalmente aqueles desafios que
levam em consideração o papel que a sociedade tem na vida do sujeito.
Buscaremos inserir o vídeo numa sequência didática para se trabalhar o
conteúdo da imaginação sociológica e do aluno pesquisador. Portanto, com a ajuda
dos egressos, é possível mostrar aos alunos cursistas que o desenvolvimento do
olhar sociológico pode levá-lo a pensar o cotidiano com um sentido mais
problematizador, ressaltando aquela dimensão da experiência social possível de ser
desnaturalizada e estranhada.
Dito de outro modo, na perspectiva de Mills (1972), o sujeito sociológico precisa
ser pensado a partir de sua biografia e do contexto histórico no qual se insere. Neste
caso, entendemos que a biografia resulta de uma trajetória de interações sociais ao
longo do curso de vida, na qual construímos a nossa identidade, na medida em que
significamos os outros e somos significados por eles. E nessas interações, a
cooperaçãoo apoio social e a solidariedade podem ter um papel fundamental, haja
vista que existem muitos desafios que só podem ser superados com a colaboração de
nossa rede de apoio, afeto e empoderamento.
Referências

CARDOSO, Jaqueline; FERREIRA, Maria José de Resende. Inclusão e exclusão:


o retorno e a permanência dos alunos na EJA. Debates em Educação Científica e
Tecnológica, ISSN 2179- 6955, v. 02, nº. 2, p. 61 a 76, 2012.
BARBIER, René. A pesquisa-ação. Liber Livro Editora,2007.
PEDRALLI, Rosângela; CERUTTI-RIZZATTI, Mary Elizabeth. Evasão escolar
na educação de jovens e adultos: problematizando o fenômeno com enfoque na
cultura escrita. Rev. bras. linguist. apl., Belo Horizonte , v. 13, n. 3, p. 771-788,
Sept. 2013 .
MOTTA, T.; TELIZ, R.; DA SILVA LIMA MARTINS, C. Evasão escolar na
EJA: causas influenciadoras. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e
Extensão, v. 8, n. 1, 14 fev. 2020.
ANTOS, Leonardo Bis dos; CARVALHO, Letícia Queiroz de (orgs).
Metodologias alternativas para o ensino de letras e humanidades. Vitória: Instituto
Federal do Espírito Santo-Ifes/Pedro &João Editores, p. 90-107. 2019.
MILLS, C. W. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
PREMOLI, Bárbara Elisa Uliana; CADE, Marcia Brandão Santos. A evasão e as
ações de sustentabilidade e permanência dos alunos da EJA E PROEJA IN:
Pesquisas em educação de jovens e adultos: caminhos para fortalecimento do
Proeja no Estado do Espírito Santo / Organizadores Rony C. O. Freitas ... [et. al.]. -
Vitória: Ifes, 2012.
In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A.(orgs.) Escritos de Educação, 3ª ed.,
Petrópolis: Vozes, 2001, pp.67-69.
BOURDIEU, P. O capital social: notas provisórias. In: NOGUEIRA, M. A.;
CATANI, A.(orgs.) Escritos de Educação, 3ª ed., Petrópolis: Vozes, 2001, pp.67-
69.

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